Date post: | 18-Jan-2023 |
Category: |
Documents |
Upload: | khangminh22 |
View: | 0 times |
Download: | 0 times |
C O M E N T Á R I O B Í B L I C O f l I O SANTIGO TESTAMENTO
:V i c t o r H h t t h e w s § M f l S K C h a v h l b s ■ ■■■■.■
-
••.. ■.. :
Walton, John H„ 1952-Comentário bíblico Atos: Antigo Testamento / John H. Walton, Victor H. Matthews,
Mark W. Chavalas; [tradutor Noemi Valéria Altoé]. - Belo Horizonte: Editora Atos, 2003.
Título original: The IVP Bible background commentary: Old Testament.Bibliografia.ISBN 85-7607-025-1
1. Bíblia. A.T. - Comentários I. Matthews, Victor H. n. Chavalas, Mark W. HI. Título.
_
índices para catálogo sistemático:1. Antigo Testamento: Bíblia: Comentários 221.72. Comentários: Antigo Testamento: Bíblia 221.7
Comentário Bíblico Atos — Antigo Testamento Copyright © 2003 Editora Atos
Tradução de The IVP Bible Background Commentary: , Copyright © 2000 p o r John H. Walton, Victor .The IVP B ible Background Commente ,Walton e Victor H. M atthews
Noemi Valéria Altoé da $ij
Supervisão dt Walkyria F reitar*
Revisão ( '\ { We) Nems Lima
ncev'd e Castro Filho
'ayfe Vilas Boas
’en te Mark W Chavalas
1euteronomy © 1997 p o r John H.
Projeto grá fico Rodrigo Ortega
Julio Carvalho
Editora Atos Ltda.(11) 33123330 Caixa Postal 40230161-970 Belo Horizonte MG www. editoraatos. com. br
Sumário
Prefácio da edição em inglês ..................................................................................................................... 7Referências bibliográficas..................................................................................................................... 11
Pentateuco: Introdução ....................................................................................................................... 21
GÊNESIS .............................................................................................................................................. 27A mitologia do Antigo Oriente Próximo e o Antigo Testamento ................................................ 30Relatos diluvianos do Antigo Oriente Próximo ............................................................................ 36A religião de A braã o ......................................................................................................................... 45Principais rotas de comércio no Antigo Oriente Próximo ........................................................... 70
ÊXODO ................................................................................................................................................ 77A data do Êxodo ............................................................................................................................... 86M a p a .................................................................................................................................................. 87
LEVÍTICO ............................................................................................................................................. 121NÚMEROS ...........................................................................................................................................147
DEUTERONÔMIO..............................................................................................................................175A aliança e os tratados no Antigo Oriente Próxim o ...................................................................... 178
Livros Históricos: Introdução.............................................................................................................215
JOSUÉ ................................................................................................................................................... 219Informações egípcias acerca de Canaã e Israel ...............................................................................223M a p a ................................................................................................................................................... 231
JUÍZES ................................................................................................................................................... 249Contexto político na Idade do Ferro Antiga ...................................................................................269
RUTE ..................................................................................................................................................... 2851 SAM UEL.............................................................................................................................................291
2 SA M U EL.............................................................................................................................................333I R E I S .....................................................................................................................................................367
2 R E IS ..................................................................................................................................................... 397As campanhas de Tiglate-Pilese III no Ocidente, 734-732 ......................................................... 415
1 CRÔNICAS ...................................................................................................................................... 425Significado das genealogias no período Pós-Exílio ........................................................................425
2 CRÔNICAS ...................................................................................................................................... 433As inscrições de Senaqueribe ........................................................................................................467L á q u is .................................................................................................................................................468
ESD RA S.................................................................................................................................................473
NEEMLAS ............................................................................................................................................ 487ESTER ...................................................................................................................................................499
Heródoto ............................................................................................................................................ 500
Livros Poéticos e de Sabedoria: Introdução....................................................................................507JÓ .............................................................................................................................................................511
O princípio da retribuição ............................................................................................................... 513S alm os ..................................................................................................................................................529Conceitos com uns .............................................................................................................................. 529Metáforas comuns de Deus ............................................................................................................. 533
SALMOS ............................................................................................................................................... 539PROVÉRBIOS .......................................................................................................................................579
Repercussão dos provérbios no Antigo Oriente Próximo ............................................................580Como os provérbios eram usados .................................................................................................... 582Provérbios como princípios gerais .................................................................................................. 583
ECLESIASTES....................................................................................................................................... 591CÂNTICO DOS CÂNTICOS ...........................................................................................................597
Metáfora da sexualidade ................................................................................................................... 598
Livros Proféticos: Introdução............................................................................................................. 603
ISAÍAS ....................................................................................................................................................605Crenças na vida após a morte em Israel e no Antigo Oriente Próximo ...................................... 625
JEREMIAS ............................................................................................................................................. 663Selos e bulas .......................................................................................................................................668
LAMENTAÇÕES DE JEREMIAS .................................................................................................... 707Lamentos pela queda de cidades no mundo an tigo .........................................................................708
EZEQUIEL............................................................................................................................................. 711D AN IEL..................................................................................................................................................751
O apocalipse acadiano ........................................................................................................................769OSÉIAS ..................................................................................................................................................775
JO E L ........................................................................................................................................................785O dia do Senhor ................................................................................................................................ 785
AMÓS ....................................................................................................................................................789Mudanças econômicas e classes sociais em Israel no oitavo século .............................................792
OBADIAS ............................................................................................................................................. 801JONAS ....................................................................................................................................................803
MIQUÉIAS ...........................................................................................................................................807N A U M ....................................................................................................................................................815HABACUQUE .................................................................................................................................... 819SOFONIAS ...........................................................................................................................................823
A G EU ......................................................................................................................................................825ZACARIAS ...........................................................................................................................................827
Literatura apocalíptica ..................................................................................................................... 828Resumo das relações entre a construção do templo e as visões de Zacarias ................................832
MALAQUIAS ...................................................................................................................................... 840
Glossário ................................................................................................................................................. 841Quadros e m a p a s.................................................................................................................................... 845índice tem ático.........................................................................................................................................859
Prefácio da edição em inglês
Esta obra tem o objetivo de preencher uma lacuna existente no vasto campo dos comentários bíblicos. Em vez de abordar os variados aspectos da teologia, da estrutura literária, do significado das palavras, da história da erudição e assim por diante, nosso desafio principal foi oferecer informações sobre os contextos histórico, geográfico e cultural do Antigo e do Novo Testamento.
Alguns talvez questionem até que ponto as informações relacionadas a esses contextos são importantes para a interpretação do texto. O que esperamos proporcionar ao leitor a partir das informações contidas nesse comentário? Tem sido corretamente demonstrado que o conteúdo teológico da Bíblia não depende do conhecimento de localidades geográficas ou do contexto cultural. Também é correto afirmar que é possível reunir todas as evidências históricas e arqueológicas que, por exemplo, atestam a ocorrência do êxodo israelita do Egito, sem, contudo, comprovar que Deus foi quem o orquestrou - e certamente o envolvimento de Deus é o aspecto mais importante para o autor do texto bíblico. Por que então, deveríamos investir tanto tempo e esforço tentando entender o contexto cultural, histórico, geográfico e arqueológico de Israel?
O objetivo desta obra não é apologético, embora algumas das informações aqui apresentadas possam ser usadas em discussões nesse campo. No entanto, não foi o interesse apologético que orientou nossa seleção e apresentação dos dados. Em vez disso, procuramos lançar luz sobre a cultura e a cosmovisão israelitas. Por quê? Quando lemos a Bíblia sob a ótica da fé, queremos extrair do texto o máximo de conteúdo teológico possível. Como resultado, as pessoas tendem a enxergar significados teológicos até mesmo nos detalhes. Se não estivermos atentos às diferenças existentes entre nossa maneira de pensar e a maneira de pensar do povo hebreu, estaremos inclinados a fazer uma leitura do texto bíblico com base em nossas próprias perspectivas e visão de mundo, na tentativa de entender seu significado teológico. O vasto mundo do antigo Oriente Próximo torna-se significativo na medida em que, muitas vezes, serve como janela para a cultura israelita. Ao oferecer uma compreensão correta do modo de pensar israelita ou do antigo Oriente Próximo, as informações contidas neste livro podem evitar algumas conclusões equivocadas por parte do estudioso. Assim, por exemplo, o significado teológico da coluna de fogo ou do bode expiatório ou o uso do Urim e Tumim pode ser interpretado de uma nova forma, a partir de sua relação com a cultura geral do antigo Oriente Próximo.
Não limitamos a identificação das relações de similaridade apenas a períodos precisamente definidos. Reconhecemos plenamente que a ocorrência de alguma característica cultural na cidade de Ugarit, em meados do segundo milênio pode não ter nenhuma relação com a maneira de pensar dos israelitas que viveram em meados do primeiro milénio. Não obstante, nosso interesse, muitas vezes, foi simplesmente mostrar a existência de certas idéias ou conceitos nas culturas do antigo Oriente Próximo. Há possibilidades de que tais idéias possam representar aspectos da matriz cultural geral do mundo antigo, por isso procuramos simplesmente citá-las como exemplos do tipo de pensamento existente no mundo antigo. Essas informações, porém, devem ser usadas com cautela, porque não podemos asseverar a existência de uma homogeneidade através das eras ou entre as regiões ou grupos étnicos do antigo Oriente Próximo. Seria o mesmo que falar atualmente de uma "cultura européia", dada nossa consciência das diferenças significativas entre italianos e suíços, por exemplo. Procuramos assim demonstrar certa sensibilidade nessas questões, mas não impusemos limitações estritas sobre as informações oferecidas.
O assunto em questão não é se os israelitas adotaram ou não algumas características de seus vizinhos. Não estamos procurando descobrir uma linha literária, nem acreditamos que seja necessário comprovar que os israelitas estivessem familiarizados com uma determinada obra a fim de adotar temas similares. Evitamos o uso de termos como "influência" ou "impacto" para descrever a maneira como as informações eram partilhadas porque tentamos destacar aqueles elementos que podem simplesmente ter sido parte da herança cultural do antigo Oriente Próximo. Essa herança pode estar refletida em diversas obras literárias, mas os israelitas talvez não tivessem conhecimento delas ou sofrido influência dessa literatura, que é simplesmente uma parte da matriz cultural comum. O processo pelo qual Deus se revelou a nós exigiu que Ele se irmanasse conosco, assumisse a nossa humanidade e se expressasse numa linguagem e através de metáforas familiares. Não devemos nos surpreender então, pelo fato de muitos elementos comuns da cultura da época terem sido adotados, algumas vezes adaptados, outras totalmente modificados, mas de qualquer forma, usados para cumprir os propósitos de Deus. Na verdade, o contrário é que seria surpreendente. Para haver comunicação, é preciso compartilhar de um círculo de convenções e entendimentos comuns. Quando falamos de "horário de verão", presumimos que quem está nos ouvindo entenda essa convenção estritamente cultural, sem necessidade de explicação. Alguém de uma época ou cultura diferente, que não tivesse o costume de ajustar o horário num determinado período do ano, ficaria totalmente perdido quanto ao significado da expressão e teria de familiarizar-se com nossa cultura a fim de entendê-la. O mesmo acontece quando tentamos penetrar na literatura israelita. Portanto, se a circuncisão deve ser entendida no contexto israelita, é útil entendê-la na forma como era praticada no antigo Oriente Próximo. Se quisermos aquilatar o valor dos sacrifícios em Israel, é bastante útil comparar e contrastar o que representavam esses sacrifícios no mundo antigo. Embora algumas vezes essa busca por conhecimento resulte em problemas difíceis de serem resolvidos, permanecer na ignorância não significa que esses problemas desapareceriam. Na maioria das vezes, novos conhecimentos trazem resultados positivos.
As vezes, algumas das informações apresentadas são meras curiosidades. Como professores, no entanto, temos aprendido que grande parte de nossa tarefa é despertar em nossos alunos uma curiosidade acerca do texto e então, procurar satisfazê-la, pelo menos até certo nível. Nesse processo, quase sempre é possível dar vida ao mundo bíblico, auxiliando-nos a sermos leitores atentos e informados. Quando alguma informação é fornecida em um verbete, isso não significa necessariamente que ela irá ajudar a interpretar a passagem; talvez esteja ali apenas para fornecer dados que possam ser pertinentes à interpretação daquele trecho. Assim, as informações encontradas no comentário sobre Jó 38 relacionadas às imagens mitológicas da criação no antigo Oriente Próximo não estão sugerindo que o ponto de vista presente no Livro de Jó deva ser considerado nos mesmos termos. Os dados estão ali simplesmente a título de comparação.
Esta obra é dirigida a um público leigo, e não tem a pretensão de atender às comunidades acadêmica e erudita. Se fôssemos apresentar notas de rodapé para cada uma das informações aqui apresentadas, de maneira que nossos colegas pudessem verificar as fontes e as publicações originais, acabaríamos com uma obra em diversos volumes, detalhada demais para ser usada por leigos, a quem desejamos oferecer esse trabalho. Embora muitas vezes tenha sido doloroso omitir referências bibliográficas de alguns periódicos e livros, reconhecemos nossa dívida para com nossos colegas e esperamos que as poucas referências bibliográficas oferecidas possam conduzir o leitor interessado na consulta às fontes por nós utilizadas. Além disso, procuramos agir com cuidado quanto à autoria de idéias e informações, a fim de que fosse mantido um padrão de integridade e ética. Outra conseqüência de adotarmos como público-
9 PREFÁCIO DA EDIÇÃO EM INGLÊS
alvo o leitor leigo é que nossas referências às fontes primárias foram, de certa forma, vagas. Em vez de citar a obra de referência e a data de publicação, tivemos de nos contentar em dizer: "As leis da Babilônia contêm..." ou "Os regulamentos hititas incluem..." ou ainda "Os relevos egípcios mostram...". Conscientes de que o leitor leigo geralmente não tem oportunidade nem interesse de procurar as fontes, e sabendo que muitas citações seriam obscuras e inacessíveis a esse tipo de leitor, concentramos nossos esforços em fornecer informações pertinentes, em vez de oferecer um roteiro de pesquisa bibliográfica. Reconhecemos que isso poderá gerar uma certa frustração naqueles que gostariam de seguir em busca de mais informações. Só nos resta recomendar a essas pessoas que retomem a bibliografia indicada e que, a partir daí, iniciem sua pesquisa. Para auxiliar os leitores que não estão familiarizados com certos termos que aparecem repetidamente, fornecemos um glossário no final da obra. Os asteriscos (*) no texto indicam ao leitor quais os termos que podem ser encontrados nesse glossário.
E possível que, ocasionalmente, algumas informações causem certa confusão ao leitor leigo. Nosso objetivo foi apenas oferecer as informações, sem entrar em detalhes sobre o modo como podem ser usadas ou o que comprovam ou refutam. Muitas vezes, o leitor talvez faça a seguinte pergunta: "Para que serve essa informação?". Em muitos casos, para nada em especial, mas ter acesso àquele dado específico pode evitar que alguém dê uma interpretação errada ao texto bíblico. Por exemplo, informações concernentes à "redondeza da Terra" citada em Isaías 40.22 (edição Revista e Atualizada) podem não resolver os dilemas dos leitores em relação a como considerar teologicamente o uso nas Escrituras das idéias do mundo antigo quanto ao formato da Terra, mas darão ao leitor dados suficientes para evitar a concepção errônea de que o texto bíblico contém, em suas entrelinhas, conceitos científicos modernos. De modo geral, mesmo que um dado específico não possa ser aplicado a nenhum contexto, permitirá ao leitor um melhor reconhecimento dos vários modos como Israel e o Antigo Testamento refletem a herança cultural do antigo Oriente Próximo.
Referências bibliográficas sobre o contexto cultural do Antigo Testamento
A relação a seguir fornece ao leitor algumas fontes importantes, que consideramos úteis para o desenvolvimento das informações apresentadas nesta obra. Não se trata de uma bibliografia "básica", visto que algumas das referências alistadas são de natureza bastante técnica e avançada. Tampouco pode ser considerada uma bibliografia exaustiva - muitas obras importantes, até mesmo de destaque, foram omitidas. Não obstante, essas podem ser consideradas as principais obras de consulta, caso o leitor queira obter mais informações sobre os tópicos apresentados.
Bibliografia geral
Biblical Archaeologist. Agora intitulado Near Eastern Archaeology.
Biblical Archaeology Review.
Boardman, John, et al. org. The Cambridge Ancient History. Cambridge: Cambridge University Press, 1970.
Botterweck, G. Johannes, e Helmer Ringgren, org. Theological Dictionary o f the Old Testament. Grand Rapids: Eerdmans, 1975.
Bromiley, Geoffrey, org. The International Standard Bible Encyclopedia. Grand Rapids: Eerdmans,1988.
Douglas, J. D., org. The Illustrated Bible Dictionary. Wheaton: Tyndale House, 1980.
Freedman, D. N., org. The Anchor Bible Dictionary. New York: Doubleday, 1992.
Hallo, W. W., e K. L. Younger, org. Context o f Scripture. Leiden: Brill, 1997.
Mazar, Benjamin, org. Views o f the Biblical World. Jerusalém: International Publications, 1959.
__________ , org. World History o f the Jewish People. Jerusalém: Masada, 1963-1979.
Meyers, Eric, org. The Oxford Encyclopedia o f Archaeology in the Near East. New York: Oxford University Press, 1997.
Pritchard, James, org. Ancient Near East in Pictures. Princeton, N. J.: Princeton University Press, 1954.
__________ , Ancient Near Eastern Texts. Princeton, N. J.: Princeton University Press, 1969.
Reiner, Erica, et al., org. Chicago Assyrian Dictionary. Chicago: University of Chicago Press, 1956-.
Ryken, Leland, et al. org. Dictionary o f Biblical Imagery. Downers Grove, III: InterVarsity Press, 1998.
Sasson, Jack. Civilizations o f the Ancient Near East. New York: Scribner's, 1995.
Stern, Ephraim, org. The New Encyclopedia o f Archaeological Excavations in the Holy Land. New York: Simon & Schuster, 1993.
Van der Toorn, Karel, et al, org. Dictionary o f Deities and Demons in the Bible. Leiden: Brill, 1995.
VanGemeren, Willem, org. New International Dictionary o f Old Testament Theology and Exegesis, Grand Rapids: Zondervan, 1997.
Obras relacionadas a aspectos particulares do contexto bíblico
Aberbach, Moshe. Labor, Crafts and Commerce in Ancient Israel. Jerusalém: Magnes, 1994.
Ackerman, Susan. Under Every Green Tree: Popular Religion in Sixth-Century Judah. Harvard Semitic Monographs 46. Atlanta: Scholars, 1992.
Aharoni, Yohanan. The Land o f the Bible. Philadelphia: Westminster Press, 1979.
Amiet, Pierre. Art o f the Ancient Near East. New York: Abrams, 1980.Anderson, B. W. Gemstonesfor Everyman. New York: Van Nostrand Reinhold, 1976.
Baines, John, e Jaromír Málek. Atlas o f Ancient Egypt. New York: Facts on File, 1980.
Beckman, Gary. Hittite diplomatic Texts. Atlanta: Scholars, 1996.
Beitzel, Barry. The Moody Atlas o f Bible Lands. Chicago: Moody Press, 1985.
Berquist, Jon. Judaism in Persia's Shadow. Minneapolis: Fortress, 1995.
Borowski, Oded. Agriculture in Iron Age Israel. Winona Lake, Ind.: Eisenbrauns, 1987.
____________ . Every Living Thing. Walnut Creek, Calif.: Alta Mira, 1998.
Bottéro, Jean. Mesopotamia. Chicago: University of Chicago Press, 1992.
Cansdale, George. All the Animals o f the Bible Lands. Grand Rapids: Zondervan, 1970.
Chirichigno, Gregory. Debt-Slavery in Israel and the Ancient Near East. Sheffield, U. K.: JSOT, 1993. _
Clifford, R. J. Creation Accounts in the Ancient Near East and the Bible. Washington, D. C.: Catholic Biblical Association, 1994.
Cook, J. M. The Persian Empire. New York: Schocken, 1983.
Crenshaw, James C. Educacion in Ancient Israel. New York: Doubleday, 1998.
Cross, F. M. Cananite Myth and Hebrew Epic. Cambridge, mass.: Harvard University Press, 1971.
Cryer, Frederick H. Divination in Ancient Israel and Its Near Eastern Environment. Sheffield, U. K.: JSOT, 1994.
Currid, John. Ancient Egypt and the Old Testament. Grand Rapids: Baker, 1997.
Dailey, Stephanie. Myths o f Mesopotamia. New York: Oxford University Press, 1991.
Davies, W. D. et al. The Cambridge History o f Judaism. Vol. 1, The Persian Period. Cambridge: Cambridge University Press, 1984.
Dearman, Andrew. Religion and Culture in Ancient Israel. Peabody, Mass.: Hendrickson, 1992.
Eshkenazi, Tamara, e Kent Richards, org. Second Temple Studies. Sheffield, U. K.: Sheffield Academic Press, 1994.
Fisher, Loren R., org. Ras Shamra Parallels 2. Roma: Pontifical Biblical Institute, 1975.
Forbes, R. J. Studies in Ancient Technology. 9 vols. Leiden: Brill, 1964.
Foster, Benjamin. From Distant Days. Bethesda, Md.: CDL, 1995.
Frankfort, Henri. Before Philosophy. Baltimore: Penguin, 1946.
Fritz, Volkmar. The City in Ancient Israel. Sheffield, U. K.: Sheffield Academic Press, 1995.
Gammie, John e L. G. Perdue, org. The Sage in Israel and the Ancient Near East. Winona Lake, Ind.: Eisenbrauns, 1990.
Gershevitch, Ilya, org. The Cambridge History o f Iran. Vol. 2, The Median and Achaemenid Periods. Cambridge: Cambridge University Press, 1985.
Gower, Ralph. The New Manners and Customs o f Bible Times. Chicago: Moody Press, 1987.
Grabbe, Lester. Judaism from Cyrus to Hadrian. Minneapolis: Fortress, 1992.
Haran, Menahem. Temples and Temple Service in Ancient Israel. Winona Lake, Ind.: Eisenbrauns,1985.
Hepper, F. Nigel. Baker Encyclopedia o f Bible Plants. Grand Rapids: Baker, 1992.
Hill, Andrew. Enter His Courts with Praise. Grand Rapids: Baker, 1993.
Hillers, D. R. Covenant: The History o f a Biblical Idea. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1969.
Hoerth, Alfred. Archaeology and the Old Testament. Grand Rapids: Baker, 1998.
Hoerth, Alfred, Gerald Mattingly e Edwin Yamauchi. Peoples o f the Old Testament World. Grand Rapids: Baker, 1994.
Horowitz, Wayne. Mesopotamian Cosmic Geography. Winona Lake, Ind.: Eisenbrauns, 1998.
Jacobsen, Thorkild. The Harps That Once... New Haven, Conn.: Yale University Press, 1987.
_____________ . Treasures o f Darkness. New Haven, Conn.: Yale University Press, 1976.
Keel, Othmar. The Symbolism o f the Biblical World. New York: Seabury Press, 1978.
Keel, Othmar e Christoph Uehlinger. Gods, Goddesses and Images o f God in Ancient Israel. Minneapolis: Fortress, 1998.
King, Philip. Hosea, Amos, Hosea, Micah: An Archaeological Commentary. Philadelphia: Westminster Press, 1988.
Kitchen, Kenneth A. The Third Intermediate Period in Egypt. Warminster, U. K.: Aris & Philips,1986.
Kloos, Carola. Yhwh's Combat with the Sea. Leiden: Brill, 1986.
Kuhrt, Amélie. The Ancient Near East: 3000-330 B. C. London: Routledge, 1997.
Lambert, W. G. Babylonian Wisdom Literature. Oxford: Clarendon Press, 1960.
Lichtheim, Miriam. Ancient Egyptian Literature. Berkeley: University of California Press, 1980.
Matthews, Victor. Manners and Customs in the Bible. Peabody, Mass.: Hendrickson, 1988.
Matthews, Victor e Donald Benjamin. The Social World o f Ancient Israel, 1250-587 B. C. E. Peabody, Mass.: Hendrickson, 1993.
_________ . Old Testament Parallels: Laws and Stories from the Ancient Near East, 2‘ ed. New York:Paulist, 1997.
Mazar, Amihai. Archaeology o f the Land o f the Bible. New York: Doubleday, 1990.
McNutt, P. M. The Forging o f Israel: Iron Technology, Symbolism and Tradition in Ancient Society. Sheffield, U. K.: Almond, 1990.
Millard, Alan. Treasures from Bible Times. Tring, U. K.: Lion, 1985.
Miller, J. Maxwell e John Hayes. A History o f Ancient Israel and Judah. Philadelphia: Westminster Press, 1986.
Miller, Patrick D. They Cried to the Lord. Louisville: Fortress, 1994.
Moore, Carey. Studies in the Book o f Esther. New York: Ktav, 1982.
Moran, William L. The Amarna Letters. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1992.
Morenz, Siegfried. Egyptian Religion. Ithaca, N. Y.: Cornell University Press, 1973.
Nemet-Nejat, Karen Rhea. Daily Life in Ancient Mesopotamia. Westport, Conn.: Greenwood,1998.
Oppenheim, A. L. Ancient Mesopotamia: Portrait o f a Dead Civilization. Chicago: University of Chicago Press, 1964.
___________ . Interpretation o f Dreams in the Ancient Near East. TAPS 46, n° 3. Philadelphia:American Philosophical Society, 1956.
Parker, Simon. Ugaritic Narrative Poetry. Atlanta: Scholars, 1997.
Paul, Shalom e William Dever. Biblical Archaeology. Jerusalém: Keter, 1973.
Perdue, Leo G. et al., org. Families in Ancient Israel. Louisville: Westminster John Knox, 1997.
Pitard, Wayne. Ancient Damascus. Winona Lake, Ind.: Eisenbrauns, 1987.
Rasmussen, Carl NIV Atlas o f the Bible. Grand Rapids: Zondervan, 1989.
Redford, D. B. Egypt, Canaan, and Israel in Ancient Times. Princeton, N. J.: Princeton University Press, 1992.
Reiner, Erica. Astral Magic in Babylonia. Philadelphia: American Philosophical Society, 1995.
Reviv, Hanoch. The Elders in Ancient Israel. Jerusalém: Magnes, 1989.
Roaf, Michael. Cultural Atlas o f Mesopotamia and the Ancient Near East. New York: Facts on File, 1990.
Rogerson, John. Atlas o f the Bible. New York: Facts on File, 1985.
Roth, Martha. Law Collections from Mesopotamia and Asia Minor. Atlanta: Scholars, 1995.
Saggs, H. W. F. Encounter with the Divine in Mesopotamia and Israel. London: Athlone, 1978.
__________ . The Greatness That Was Babylon. New York: Mentor, 1962.
__________ . The Might That Was Assyria. London: Sidgwick & Jackson, 1984.
Selms, Adrianus van. Marriage and Family Life in Ugaritic Literature. London: Luzac, 1954.
Shafer, Byron E. org. Religion in Ancient Egypt. Ithaca, N. Y.: Cornell University Press, 1991.
Snell, Daniel. Life in the Ancient Near East. New Haven, Conn.: Yale University Press, 1997.
Stadelmann, Luis. The Hebrew Conception o f the World. Rome: Biblical Institute, 1970.
Stillman, Nigel e Nigel Tallis. Armies o f the Ancient Near East. Sussex, U. K : War Games Research,1984.
Thiele, Edwin. The Mysterious Numbers o f the Hebrew Kings. Grand Rapids: Zondervan, 1983.
Thompson, J. A. Handbook o f Life in Bible Times. Downers Grove, 111.: InterVarsity Press, 1986.
Tromp, Nicholas. Primitive Conceptions o f Death and the Nether World in the Old Testament. Rome: Pontifical Biblical Institute, 1969.
Van der Toorn, Karel. From Her Cradle to Her Grave. Sheffield, U. K.: JSOT, 1994.
_________________ . Sin and Sanction in Israel and Mesopotamia. Assen, Neth.: Van Gorcum,1985.
Vaux, Roland de. Ancient Israel. New York: McGraw-Hill, 1961.
Walton, John H. Ancient Israelite Literature in Its Cultural Context. Grand Rapids: Zondervan,1989.
Weinfeld, Moshe. Social Justice in Ancient Israel. Minneapolis: Fortress, 1995.
Wiseman, D. J. Nebuchadrezzar and Babylon. New York: Oxford University Press, 1985.
Wright, Christopher J. H. God's People in God's Land. Grand Rapids: Eerdmans, 1990.
Wright, David. The Disposal o f Impurity. Atlanta: Scholars, 1987.
Yadin, Yigael. The Art o f Warfare in Biblical Lands. London: Weidenfeld & Nicolson, 1963.
Yamauchi, Edwin. Persia and the Bible. Grand Rapids: Baker, 1990.
Younger, Lawson. Ancient Conquest Accounts. Sheffield, U. K.: JSOT, 1990.
Zohary, Michael. Plants o f the Bible. Cambridge: Cambridge University Press, 1982.
Comentários e outras obras
GênesisHamilton, Victor. The Book o f Genesis. 2 vols. New International Commentary on the Old Testament. Grand Rapids: Eerdmans, 1990,1995.
Sarna, Nahum. JPS Torah Commentary: Genesis. Philadelphia: Jewish Publication Society, 1989.
Wenham, Gordon. Genesis. 2 vols. Word Biblical Commentary. Dallas: Word, 1987,1994.
ÊxodoBeegle, Dewey. Moses: The Servant ofYahweh. Grand Rapids: Eerdmans, 1972.
Davis, John. Moses and the Gods o f Egypt. Grand Rapids: Baker, 1971.
Durham, John. Exodus. Word Biblical Commentary. Dallas: Word, 1987.
Kelm, George. Escape to Conflict. Ft. Worth, Tex.: IAR, 1991.
Sarna, Nahum. Exploring Exodus. New York: Schocken, 1986.
___________ . JPS Torah Commentary: Exodus. Philadelphia: Jewish Publication Society, 1991.
LeviticoGrabbe, Lester. Leviticus. Old Testament Guides. Sheffield, U. K.: JSOT, 1993.
Hartley, John. Leviticus. Word Biblical Commentaries. Dallas: Word, 1992.
Levine, Baruch. JPS Torah Commentary: Leviticus. Philadelphia: Jewish Publication Society, 1989.
Milgrom, Jacob. Leviticus 1 - 16. Anchor Bible. New York: Doubleday, 1991.
Wenham, Gordon. The Book o f Leviticus. New International Commentary on the Old Testament. Grand Rapids: Eerdmans, 1979.
NúmerosAshley, Timothy. The Book o f Numbers. New International Commentary on the Old Testament. Grand Rapids: Eerdmans, 1993.
Levine, Baruch. Numbers 1 - 20. Anchor Bible. New York: Doubleday, 1993.
Milgrom, Jacob. JPS Torah Commentary: Numbers. Philadelphia: Jewish Publication Society,1990.
Wenham, Gordon. Numbers. Tyndale Old Testament Commentaries. Downers Grove, 111.: Inter Varsity Press, 1981.
DeuteronômioTigay, Jeffrey. JPS Torah Commentary: Deuteronomy. Philadelphia: Jewish Publication Society, 1996.
Weinfeld, Moshe. Deuteronomy 1 - 1 1 . Anchor Bible. New York: Doubleday, 1991.
JosuéBoling, Robert G. Joshua. Anchor Bible. New York: Doubleday, 1982.
Hess, Richard. Joshua. Tyndale Old Testament Commentaries. Downers Grove, 111.: InterVarsity Press, 1996.
(uizesBlock, Daniel I. Judges/Ruth. New American Commentary. Nashville: Broadman & Holman,1999.
Boling, Robert G. Judges. Anchor Bible. New York: Doubleday, 1975.
RuteBush, Frederic. Ruth/Esther. Word Biblical Commentary. Dallas: Word, 1996.
Campbell, Edward F. Ruth. Anchor Bible. New York: Doubleday, 1975.
Hubbard, Robert. The Book o f Ruth. New International Commentary on the Old Testament. Grand Rapids: Eerdmans, 1988.
1 -2 SamuelBergen, Robert. 1 & 2 Samuel. New American Commentary. Nashville: Broadman & Holman, 1996.
McCarter, P. Kyle. Samuel. 2 vols. Anchor Bible. New York: Doubleday, 1980,1984.
1-2 ReisCogan, Mordecai e Hayin Tadmor. 2 Kings. Anchor Bible. New York: Doubleday, 1988.
Gray, John. 1 & 2 Kings. Old Testament Library. Louisville: Westminster John Knox, 1970.
Jones, G. H. 1 & 2 Kings. New Century Bible. Grand Rapids: Eerdmans, 1984.
Wiseman, D. J. 1 & 2 Kings. Tyndale Old Testament Commentaries. Downers Grove, 111.: InverVarsity Press, 1993.
1 -2 CrônicasBraun, Roddy. 1 Chronicles. Word Biblical Commentary. Dallas: Word, 1986.
Dillard, Raymond. 2 Chronicles. Word Biblical Commentary. Dallas: Word, 1986.
Japhet, Sara. 1 & 2 Chronicles. Old Testament Library. Louisville: Westminster John Knox, 1993.
Selman, M. J. 1 & 2 Chronicles. 2 vols. Tyndale Old Testament Commentaries. Downers Grove, 111.: InverVarsity Press, 1994.
Williamson, H. G. M . 1 & 2 Chronicles. New Century Bible. Grand Rapids: Eerdmans, 1982.
Esdras, Neemias, EsterBush, Frederic. Ruth/Esther. Word Biblical Commentary. Dallas: Word, 1996.
Clines, D. J. A. Ezra, Nehemiah, Esther. New Century Bible. Grand Rapids: Eerdmans, 1984.
Fensham, Charles. The Books o f Ezra and Nehemiah. New International Commentary on the Old Testament. Grand Rapids: Eerdmans, 1982.
Fox, Michael V. Character and Ideology in the Book o f Esther. Columbia: University of South Carolina Press, 1991.
Williamson, H. G. M. Ezra and Nehemiah. Word Biblical Commentary. Dallas: Word, 1985.
Yamauchi, Edwin. Ezra and Nehemiah. Expositors Bible Commentary 4. Organizado por F. Gaebelein. Grand Rapids: Zondervan, 1988.
JoClines, D. J. job 1 - 20. Word Biblical Commentary. Dallas: Word, 1989.
Habel, Norman. Job. Old Testament Library. Louisville: Westminster John Knox, 1985.
Hartley, John. The Book o f Job. New International Commentary on the Old Testament. Grand Rapids: Eerdmans, 1988.
Pope, Marvin. Job. Anchor Bible. New York: Doubleday, 1965.
SaimosAllen, Leslie. Psalms 101 - 150. Word Biblical Commentary. Dallas: Word, 1983.
Anderson, A. A. Psalms. 2 vols. New Century Bible. Grand Rapids: Eerdmans, 1972.
Avishur, Yitzhak. Studies in Hebrew and Ugaritic Psalms. Jerusalem: Magnes, 1994.
Craigie, Peter C. Psalms 1 - 50. Word Biblical Commentary. Dallas: Word, 1983.
Dalglish, E. R. Psalm 51 in the Light o f Ancient Near Eastern Patternism. Leiden: Brill, 1962.
Goulder, M. D. The Psalms o f the Sons ofKorah. Sheffield, U. K.: JSOT, 1982.
Kraus, H. J. Psalms 1 - 59. Continental Commentaries. Minneapolis: Augsburg, 1988.
Sarna, Nahum. "Psalms, Book of". In Encyclopedia Judaica. Organizado por Cecil Roth, cols. 1316-22. Jerusalém: Keter, 1973.
Tate, Marvin. Psalms 51 - 100. Word Biblical Commentary. Dallas: Word, 1990.
Weiser, Artur. The Psalms. Old Testament Library. Louisville: Westminster John Knox, 1962.
ProvérbiosClifford, R. J. Proverbs. Old Testament Library. Louisville: Westminster John Knox, 1999. McKane, William. Proverbs: A New Approach. Louisville: Westminster John Knox, 1970.
Murphy, R. E. Proverbs. Word Biblical Commentary. Dallas: Word, 1998.Whybray, Norman. Proverbs. New Century Bible. Grand Rapids: Eerdmans, 1994.
EclesiastesCrenshaw, James. Ecclesiastes. Old Testament Library. Louisville: Westminster John Knox,1987.
Longman, Tremper. The Book o f Ecclesiastes. New International Commentary on the Old Testament. Grand Rapids: Eerdmans, 1997.
Murphy, R. E. Ecclesiastes. Word Biblical Commentary. Dallas: Word, 1992.
Seow, C. L. Ecclesiastes. Anchor Bible. New York: Doubleday, 1997.
Whybray, Norman. Ecclesiastes. New Century Bible. Grand Rapids: Eerdmans, 1989.
Cântico dos CânticosCarr, G. Lloyd. The Song o f Solomon. Tyndale Old Testament Commentaries. Downers Grove, 111.: InterVarsity Press, 1984.
Fox, M. V. The Song o f Songs and the Ancient Egyptian Love Songs. Madison: University of Wisconsin Press, 1985.
Keel, Othmar. The Song o f Songs. Continental Commentaries. Minneapolis: Fortress, 1994.
Murphy, R. E. The Song o f Songs. Hermeneia. Minneapolis: Fortress, 1990.
Pope, M. H. Song o f Songs. Anchor Bible. New York: Doubleday, 1977.
IsaiasOswalt, John. The Book o f Isaiah. 2 vols. New International Commentary on the Old Testament. Grand Rapids: Eerdmans, 1986,1997.
Wildberger, Hans. Isaiah 1 - 12. Continental Commentaries. Minneapolis: Fortress, 1991.
___________ . Isaiah 13 - 27. Continental Commentaries. Minneapolis: Fortress, 1998.
JeremiasHolladay, William. Jeremiah. 2 vols. Hermeneia. Minneapolis: Fortress, 1986,1989.
Thompson, J. A. The Book o f Jeremiah. New International Commentary on the Old Testament. Grand Rapids: Eerdmans, 1980.
Lamentações de JeremiasProvan, Ian. Lamentations. New Century Bible. Grand Rapids: Eerdmans, 1991.
EzeouielAllen, Leslie. Ezekiel. 2 vols. Dallas: Word, 1990,1994.
Block, Daniel I. The Book o f Ezekiel. 2 vols. New International Commentary on the Old Testament. Grand Rapids: Eerdmans, 1997,1998.
Bodi, Daniel. The Book o f Ezekiel and the Poem o f Erra. Freiburg, Switz.: Vandenhoeck & Ruprecht,1991.
Garfinkel, Stephen. S tudies in Akkadian Influences in the Book o f Ezekiel. Ann Arbor: University of Michigan Microfilms, 1983.
Greenberg, Moshe. Ezekiel 1 - 20. Anchor Bible. New York: Doubleday, 1983.
__________ . Ezekiel 21 - 37. Anchor Bible. New York: Doubleday, 1997.
Zimmerli, Walther. Ezekiel. Vol. 1. Hermeneia. Minneapolis: Fortress, 1979,1983.
DanielBaldwin, Joyce. Daniel. Tyndale Old Testament Commentaries. Downers Grove, 111.: InterVarsity Press, 1978.
Collins, John J. Daniel. Hermeneia. Minneapolis: Fortress, 1993.
Goldingay, John. Daniel. Word Biblical Commentary. Dallas: Word, 1989.
OseiasAndersen, F. I. e D. N. Freedman. Hosea. Anchor Bible. New York: Doubleday, 1980.
Macintosh, A. A. A Critical and Exegetical Commentary on Hosea. International Critical Commentary: Edinburgh: T & T Clark, 1997.Stuart, Douglas. Hosea - Jonah. Word Biblical Commentary. Dallas: Word, 1987.
Wolff, H. W. A Commentary on the Book o f the Prophet Hosea. Hermeneia. Minneapolis: Fortress, 1974.
JoelAllen, Leslie. The Books o f Joel, Obadiah, Jonah and Micah. New International Commentary on the Old Testament. Grand Rapids: Eerdmans, 1976.
Crenshaw, James. Joel. Anchor Bible. New York: Doubleday, 1995.
Dillard, Raymond. "Joel". In The Minor Prophets 2. Org. por T. E. McComiskey, pp. 239-313. Grand Rapids: Baker, 1990.
Finley, Thomas. Joel, Amos, Obadiah. Chicago: Moody Press, 1990.
Hubbard, David. Joel, Amos. Tyndale Old Testament Commentaries. Downers Grove, 111.: InterVarsity Press, 1989.
Stuart, Douglas. Hosea - Jonah. Word Biblical Commentary. Dallas: Word, 1987.
Wolff, Hans Walter. Joel and Amos. Hermeneia. Minneapolis: Fortress, 1977.
AmosAndersen, F. I. e D. N. Freedman. Amos. Anchor Bible. New York: Doubleday, 1989.
Paul, Shalom. A Commentary on the Book o f Amos. Hermeneia. Minneapolis: Fortress, 1991.
Wolff, Hans Walter. A Commentary on the Books o f the Prophets Joel and Amos. Hermeneia. Minneapolis: Fortress, 1977.
ObadiasRaabe, Paul R. Obadiah. Anchor Bible. New York: Doubleday, 1996.Wolff, Hans Walter. Obadiah and Jonah. Continental Commentaries. Minneapolis: Fortress,1986.
JonasSasson, Jack. Jonah. Anchor Bible. New York: Doubleday, 1990.
Walton, John. Jonah. Grand Rapids: Zondervan, 1982.Wolff, Hans Walter. Obadiah and Jonah. Continental Commentaries. Minneapolis: Fortress,1986.
MioueiasHillers, Delbert. Micah. Hermeneia. Minneapolis: Fortress, 1983.Waltke, Bruce. "Micah". In The Minor Prophets 2. Org. por T. E. McComiskey, pp. 591-764. Grand Rapids: Baker, 1993.
NaumBaker, David. Nahum, Habakkuk, Zephaniah. Tyndale Old Testament Commentaries. Downers Grove, III: InterVarsity Press, 1988.
Longman, Tremper. "Nahum". In The Minor Prophets 2. Org. por T. E. McComiskey, pp. 765829. Grand Rapids: Baker, 1993.
Roberts, J. J. M. Nahum, Habakkuk and Zephaniah: A Commentary. Old Testament Library. Louisville: Westmister John Knox, 1991.
HabacuQueRoberts, J. J. M. Nahum, Habakkuk and Zephaniah: A Commentary. Old Testament Library. Louisville: Westminster John Knox, 1991.
Smith, R. L. Micah -M alachi. Word Biblical Commentary. Dallas: Word, 1984
SofoniasBerlin, Adele. Zephaniah. Anchor Bible. New York: Doubleday, 1994.
Roberts, J. J. M. Nahum, Habakkuk and Zephaniah: A Commentary. Old Testament Library. Louisville: Westmister John Knox, 1991.
Smith, R. L. Micah - Malachi. Word Biblical Commentary. Dallas: Word, 1984.
AgeuMeyers, Eric e Carol Meyers. Haggai and Zechariah 1 - 8 . Anchor Bible. New York: Doubleday,1987.
Verhoef, Peter A. The Books o f Haggai and Malachi. New International Commentary on the Old Testament. Grand Rapids: Eerdmans, 1986.
Wolff, Hans Walter. Haggai. Continental Commentaries. Minneapolis: Fortress, 1988.
ZacariasEllis, Richard S. Foundation Deposits in Ancient Mesopotamia. New Haven, Conn.: Yale University Press, 1968.
Halpern, Baruch. "The Ritual Background of Zechariah's Temple Song". Catholic Biblical Quarterly 40 (1978); 167-90.
Meyers, Eric e Carol Meyers. Zechariah 9 - 14. Anchor Bible. New York: Doubleday, 1993.
MalaouiasGlazier-McDonald, Beth. The Divine Messenger. Atlanta: Scholars, 1987.
Hill, Andrew. Malachi. Anchor Bible. New York: Doubleday, 1998.
PENTATEUCO
IntroduçãoExistem várias razões para se considerar o Pentateuco uma obra literária única e dotada de unidade, no entanto, os elementos pertinentes ao contexto de cada Livro diferem grandemente. Em vista disso, oferecemos separadamente uma introdução para cada um dos cinco Livros.
GênesisO Livro de Gênesis geralmente é dividido em duas partes principais (capítulos 1 -1 1 e 12 - 50). O material de contexto de maior utilidade para compreender a primeira parte é a literatura mitológica do antigo Oriente Próximo. Tanto a mitologia mesopotâmica como a egípcia fornecem uma grande quantidade de material que referendam as perspectivas contemporâneas da criação do mundo e dos seres humanos. Essas obras incluem o Enuma Elish e o Épico Atrahasis, bem como uma série de mitos sumérios* da região da Mesopotâmia. No Egito há três textos principais sobre a criação, um em Mênfis, outro em Heliópolis (nos Textos Piramidais) e mais um em Hermópolis (nos Textos dos Esquifes). Além desses, existem diversas narrativas sobre o dilúvio na região da Mesopotâmia, encontradas no Épico de Gilgamés e no Épico Atrahasis. O exame dessa literatura nos ajuda a observar as várias semelhanças e diferenças entre os conceitos do antigo Oriente Próximo e de Israel. As semelhanças nos permitirão perceber a base comum existente entre Israel e os povos vizinhos. Por vezes, a semelhança estará nos detalhes da narrativa (por exemplo, soltar pássaros da arca) ou em aspectos do texto que passaram despercebidos (como dar nome às coisas, em combinação à sua criação). Outras semelhanças podem nos levar a questionar se enfatizamos demais o significado teológico em certos elementos do texto (por exemplo, a criação da mulher de uma costela), ou se deixamos de notar a importância teológica de alguns detalhes do texto (por exemplo, o passeio de Deus no jardim, quando "soprava a brisa do dia"). Em geral, tais analogias nos ajudam a entender os relatos bíblicos através de uma perspectiva mais ampla.
As diferenças entre a literatura do antigo Oriente Próximo e a literatura bíblica nos ajudarão a avaliar algumas das características tanto da cultura de Israel como da fé bíblica. Também aqui estarão incluídos alguns detalhes específicos (formato da arca, duração do dilúvio), bem como conceitos fundamentais (o contraste entre a visão bíblica da criação através da Palavra de Deus e a visão mesopotâmica que associava a criação do mundo ao nascimento das divindades cósmicas). Em muitos casos, as diferenças relacionam-se (direta ou indiretamente) à fé monoteísta de Israel, sem paralelo entre outros povos.
É possível encontrar semelhanças e diferenças num único elemento. A idéia da humanidade sendo criada: (1) a partir da argila da terra e (2) à imagem da divindade, é predominante no antigo Oriente Próximo, mas Israel concede a esse conceito um caráter ímpar, colocando-se assim numa esfera totalmente diferente.
Porém, nem sempre é possível identificar as diferenças e semelhanças de forma tão clara ou conclusiva como gostaríamos. Muitos eruditos terão opiniões divergentes das implicações de alguns conceitos por vezes devido às suas próprias pressuposições. As questões, muitas vezes, são bastante complexas e as conclusões pessoais de um erudito podem ter um caráter altamente interpretativo. Por essa razão, é mais fácil oferecer informações do que respostas satisfatórias.
Finalmente, a literatura comparativa não apenas apresenta informações paralelas a alguns dos relatos encontrados em Gênesis 1 - 11, mas também oferece uma comparação sobre a
estrutura total dessa parte. No épico mesopotâmico Atrahasis, assim como em Gênesis 1 -11, encontramos um resumo da criação, três ameaças e uma resolução. Observações como essas nos ajudam a entender os aspectos literários ligados a essa porção da Bíblia. Além disso, se esse paralelo for legítimo, pode nos ajudar a enxergar as genealogias sob uma ótica diferente. Ao apresentar as genealogias, o texto bíblico está refletindo a bênção de frutificar e multiplicar-se, presente no Livro de Gênesis, enquanto que no texto paralelo do Atrahasis, os deuses se mostram aborrecidos com o aumento da população humana e tentam refreá-lo.
Encontrar paralelos literários para o trecho de Gênesis 12 - 50 é um desafio maior. Embora os eruditos tenham tentado atribuir diversos termos descritivos às narrativas patriarcais (tais como "sagas" ou "lendas"), qualquer terminologia moderna é inadequada para abranger a natureza da literatura antiga e pode tanto servir de ajuda como prejudicá-la. Não existe nenhum paralelo na literatura do antigo Oriente Próximo para as histórias dos patriarcas. O material mais próximo encontrado no Egito é a Saga de *Sinuhe, embora esse relato seja restrito à vida de um homem, sem acompanhar as gerações seguintes e sem nenhuma relação com a posse da terra ou com o relacionamento com Deus. Até mesmo a história de José, se considerada à parte, é difícil de ser classificada e comparada. Novamente, podem ser feitas comparações com as histórias de Sinuhe, *Wenamon ou *Ahiqar (todas relacionadas à vida e época dos cortesãos reais), mas as semelhanças são bastante superficiais.
As informações contextuais que nos ajudam a entender essas narrativas originam-se de diferentes tipos de materiais. Esses capítulos tratam da vida dos patriarcas e de suas famílias, à medida que se dirigem da Mesopotâmia para Canaã e daí para o Egito, durante o processo de formação da aliança. Vários documentos (*Nuzi, *Mari, *Emar, *Alalakh) descobertos na Síria e na Mesopotâmia fornecem informações sobre a história, a cultura e os costumes do antigo Oriente Próximo durante o segundo milênio, permitindo uma melhor compreensão dos eventos políticos e do povoamento histórico da região. Também nos ajudam a entender como as famílias viviam e por que faziam certas coisas que hoje nos parecem estranhas. Paralelamente, obtemos informações importantes que nos ajudam a estabelecer comparação com o material bíblico. Por exemplo, geralmente procuramos uma orientação ética no comportamento dos personagens bíblicos (embora esse procedimento nem sempre seja produtivo).
A fim de entender por que as pessoas agem de determinada maneira e por que tomam certas decisões, é importante conhecer os padrões da cultura em que estão inseridas. Ao analisarmos alguns aspectos da cultura israelita, podemos descobrir, então, que determinadas atitudes dos patriarcas resultam de alguns costumes que não entendemos bem e que poderíamos facilmente interpretar erroneamente. Na maioria das vezes, esses documentos fornecem informações que permitem corrigir esses equívocos.
Uma das conclusões interessantes a que se pode chegar a partir desse tipo de análise é a compreensão de que a visão de mundo dos patriarcas e de suas famílias se diferenciava muito pouco da visão comum das culturas do antigo Oriente Próximo da época. Novamente, uma compreensão da cultura geral pode nos ajudar a identificar quais os elementos do texto bíblico que realmente contêm significado teológico. Por exemplo, a compreensão da prática da '"circuncisão dentro do contexto do antigo Oriente Próximo pode fornecer diretrizes úteis para a avaliação que fazemos dessa prática na Bíblia. Observações sobre o uso de tochas e incensórios em *rituais praticados no antigo Oriente Próximo podem ser a chave para descobrir o sentido de Gênesis 15. Até mesmo a compreensão que Abraão tinha de Deus pode ser melhor esclarecida pelas informações contidas em documentos do antigo Oriente Próximo.
Ao nos deparamos com tal quantidade de informação, o que nos chama a atenção é a freqüência com que Deus usa algo familiar para fazer pontes até o seu povo. A medida que
nos familiarizamos com os hábitos, costumes e crenças do povo de Israel, somos capazes de entender melhor o texto bíblico. Por outro lado, é importante entender que os propósitos do Livro de Gênesis ultrapassam em muito o de qualquer literatura disponível do antigo Oriente Próximo. O fato de existirem semelhanças não sugere, de maneira nenhuma, que a Bíblia seja simplesmente uma compilação de segunda mão ou de segunda categoria, de textos do antigo Oriente Próximo. Ao contrário, as informações relacionadas ao contexto bíblico nos ajudam a enxergar o Livro de Gênesis como uma obra teológica ímpar, ligada a pessoas e eventos inseridos num contexto cultural e histórico específico.
ÊxodoO Livro de Êxodo contém uma rica variedade de gêneros literários, incluindo textos narrativos, mandamentos e leis, além de instruções de arquitetura, todos harmoniosamente combinados para narrar a seqüência de eventos que levou um povo, que se sentia abandonado por Deus, a compreender que era o povo escolhido de Deus. Como resultado, existem várias fontes primárias que podem nos servir de ajuda.
Como seria esperado, o Livro de Êxodo apresenta mais conexões com as fontes egípcias do que qualquer outro Livro. Infelizmente, a incerteza quanto à data dos eventos e a ausência de dados sobre alguns períodos relacionados à história egípcia deixam muitas questões sem resposta. Conseqüentemente, dependemos não só dos textos de literatura histórica do Egito, mas de todas as fontes que contêm informações geográficas ou culturais. Conseguir localizar as cidades e lugares mencionados no texto bíblico é uma tarefa difícil, de forma que algumas dúvidas permanecem; no entanto, algumas das lacunas têm sido preenchidas gradualmente, conforme o avanço das investigações arqueológicas nos locais importantes.
As passagens que relatam as leis no Livro de Êxodo podem ser comparadas à ampla variedade de códigos de leis da Mesopotâmia, incluindo os textos das leis *sumérias, tais como a reforma de Uruinimgina (ou Urucagina), as leis de *Ur-Namu e as leis de *Lipite-Istar. São textos fragmentados que datam do final do terceiro milênio e início do segundo milênio a.C.. Os textos mais extensos são as leis de *Esnuna e *Hamurabi (do período *babilônico antigo, 18° século a.C.), as leis *hititas do século 17 e as leis medo-assírias, do século 12. Essas coletâneas legais, conforme indicam os parágrafos que as introduzem, tinham como objetivo testificar aos deuses o quanto o rei tinha sido bem-sucedido em estabelecer e manter a justiça em seu reino. Desta forma, as leis eram elaboradas de maneira a refletir as decisões mais sábias e justas que o rei poderia imaginar. Assim como um candidato em campanha eleitoral, em nossos dias, procura reivindicar como sendo de sua autoria todo e qualquer projeto de lei que possa encontrar, também o rei queria apresentar-se da melhor forma possível.
Essas leis nos ajudam a enxergar que a legislação que determinava o modelo da sociedade israelita não era tão diferente, na superfície, daquela que teria caracterizado as sociedades assíria e babilónica. A diferença estava no fato de que para Israel, a lei era vista como parte da revelação de Deus e de seu caráter. Os babilônios tinham proibições tão severas em relação ao homicídio quanto os israelitas, mas a diferença era que enquanto os babilônios refreavam o impulso para cometer esse crime para não quebrar a ordem social e os princípios da civilização, os israelitas refreavam seus impulsos assassinos por saberem quem era Deus. As leis podem parecer iguais, mas a base do sistema legal era notavelmente diferente. Para os israelitas, *Yahweh, o seu Deus, era a origem de toda a lei e o fundamento de todas as normas sociais. Na Mesopotâmia, o rei era investido de autoridade tanto para conceber como para estabelecer a lei. Os deuses não tinham um padrão moral, nem exigiam um comportamento moral, embora esperassem que os humanos preservassem os valores da civilização e, portanto, agissem de maneira ordenada e civilizada.
Assim, o caso em questão é que a lei dada no monte Sinai não necessariamente representa uma nova lei. Essa legislação, na verdade, talvez fosse bem parecida com as leis sob as quais o povo de Israel havia vivido no Egito, e era similar às leis encontradas em outras sociedades do antigo Oriente Próximo. A novidade está na revelação de Deus consumada através da institucionalização da lei como parte da *aliança entre Deus e Israel. A comparação da lei bíblica com os códigos de leis do antigo Oriente Próximo pode nos ajudar a entender tanto o conceito de lei e ordem, como seu embasamento teológico e filosófico.
Quando chegarmos na parte do Livro de Êxodo relacionada à construção do tabernáculo, talvez nos seja proveitoso entender o uso e a forma de construção dos santuários (móveis ou fixos) no antigo Oriente Próximo. A descrição detalhada dos materiais usados na construção do tabernáculo pode ser melhor entendida à medida que conhecermos o valor que a cultura atribuía a esses materiais. Por exemplo, considere o valor que nossa sociedade atribui a um casaco de pele de marta, a uma escrivaninha de madeira de lei, a uma poltrona de couro ou a um colar de brilhantes. Além dos materiais, também valorizamos o local, como no caso de um apartamento de cobertura, um escritório num bom ponto comercial ou uma casa nas montanhas. Assim, à medida que nos familiarizarmos com os materiais e lugares valorizados pelos antigos israelitas, poderemos avaliar o que motivou certos detalhes. Novamente, constataremos que em grande parte dos casos, o motivo é mais cultural do que teológico. Uma vez que entendemos os elementos culturais, poderemos evitar atribuir um significado teológico inadequado a alguns aspectos do texto.
LevíticoO Livro de Levítico contém instruções concernentes à manutenção do Lugar Santo, um local separado para a presença de Deus, incluindo detalhes do sistema sacrificial, instruções para os sacerdotes e leis concernentes à *purificação. No mundo antigo acreditava-se que a *impureza criava uma situação propícia à possessão demoníaca, assim a *purificação precisava ser mantida, sendo obtida geralmente através de um processo que envolvia certos *rituais e encantamentos. Para os israelitas, a *purificação era um valor positivo que incluía tanto regras para um comportamento ético, como normas de etiqueta.
O material do antigo Oriente Próximo que melhor pode nos servir para a compreensão do Livro de Levítico é aquele que oferece informações sobre sacrifícios, rituais e instruções para sacerdotes e sobre o tratamento dado à *impureza. Essas informações geralmente não estão reunidas em um único documento, portanto, foi preciso extrai-las de diferentes fontes. Existem, no entanto, alguns textos rituais importantes que servem como fontes significativas de informação. Embora a literatura *hitita esteja repleta de textos relacionados aos rituais, o texto Instruções para os Oficiais do Templo, de meados do segundo milênio, é um dos mais úteis, fornecendo detalhes dos recursos que deveriam ser usados para proteger o santuário contra invasões e impedir que fosse profanado. As fontes mesopotâmicas também são numerosas.
Os textos maqlu contêm oito tabuletas de encantamentos e uma de rituais ligados aos encantamentos. Esses encantamentos, na maior parte, eram uma forma de opor-se aos poderes da feitiçaria. Outras importantes séries incluem os textos shurpu, relacionados à purificação, os textos bit rimki, relacionados à ablução real e os rituais namburbu, que visavam à destruição.
A maioria desses textos estava inserida num contexto de magia e adivinhações, em que a feitiçaria, as forças demoníacas e os encantamentos representavam ameaças poderosas à sociedade. As crenças israelitas não compartilhavam dessa cosmovisão e seus conceitos de *pu- rificação e *impureza apresentavam diferenças marcantes. Não obstante, o estudo desse
material pode trazer à tona muitas facetas da cosmovisão do mundo antigo compartilhadas por Israel. Embora a literatura bíblica tenha eliminado o elemento mágico dos rituais, as práticas institucionalizadas e a terminologia usada para descrevê-los ainda contêm em certos aspectos, alguns resquícios da cultura mais ampla.
Certamente as crenças e os costumes israelitas estavam mais próximos dos conceitos de ritual, magia e *purificação do antigo Oriente Próximo, do que da nossa própria concepção sobre rituais e magias. Por termos uma compreensão limitada em relação à visão de mundo israelita, freqüentemente somos inclinados a fazer uma leitura bastante inadequada dos conceitos teológicos ou dos simbolismos de algumas de suas práticas e regras. Essa atitude, muitas vezes, acaba gerando uma visão equivocada da natureza e dos ensinamentos contidos no Livro. Ao tomarmos conhecimento da visão de mundo do antigo Oriente Próximo, podemos evitar esse tipo de erro e ter uma compreensão do texto mais próxima da maneira como os israelitas o entendiam.
NúmerosO Livro de Números contém instruções para a jornada do povo pelo deserto e sobre como erguer um acampamento, bem como registros dos eventos que aconteceram durante aproximadamente os quarenta anos que o povo de Israel passou no deserto, além de incluir uma série de trechos sobre rituais e leis. Várias fontes que auxiliam o entendimento dos Livros de Êxodo e Levítico também fornecem informações sobre o contexto do Livro de Números. Além disso, itinerários encontrados em documentos egípcios podem ajudar a localizar diversos lugares alistados durante a peregrinação de Israel. Esses itinerários encontram-se em uma série de documentos distintos, incluindo os Textos da *Abominação ou Execração (onde os nomes de certas cidades eram escritos em vasos que eram espalhados em rituais de maldição; 12a Dinastia, Idade d& Bronze *Média) e as listas topográficas esculpidas em relevo nas paredes dos templos, como em Karnak e Medinet Habu (Idade do Bronze Moderna). Esses registros apresentam mapas em forma de listas, permitindo encontrar o nome de cada cidade de acordo com o itinerário da viagem. É interessante que alguns lugares bíblicos, cuja existência é colocada em dúvida por alguns arqueólogos pela ausência de vestígios desse período no local, são citados nos itinerários egípcios dessa mesma época.
Números, como outros Livros do Pentateuco, contém informações sobre o calendário ritual de Israel. Essas informações sobre festas e rituais são abundantes no antigo Oriente Próximo, porque os calendários geralmente eram determinados pelos sacerdotes. No entanto, é difícil deslindar alguns detalhes importantes de suas práticas e, principalmente, descobrir o que está por trás da formação das tradições institucionalizadas nesses calendários. Embora haja evidências da existência de trocas culturais ou mesmo dependência em muitas áreas, é arriscado tentar estabelecer alguma relação entre festivais de diferentes culturas.
DeuteronômioO Livro de Deuteronômio acompanha o formato dos acordos entre as nações, conforme descrito na nota de rodapé intitulada "A Aliança e os Tratados no Antigo Oriente Próximo". Nesses pactos da Antigüidade, o trecho mais longo geralmente tratava das condições do acordo e detalhava as obrigações do vassalo, incluindo o que se esperava dele, de modo geral, - lealdade, por exemplo -, assim como alguns itens mais específicos, tais como pagamento de impostos e prover alojamento para as tropas que ocupavam o território. Não era permitido ao vassalo dar acolhida a fugitivos nem fazer alianças com outras nações. Além
disso, ele também era obrigado a colaborar para a defesa da nação suserana e honrar seus representantes.
Em Deuteronômio, as cláusulas são apresentadas na forma de leis, que detalham tanto as obrigações como as proibições. Alguns estudiosos acreditam que as leis apresentadas nos capítulos 6 a 26 (ou 12 a 26) estão organizadas de acordo com os Dez Mandamentos. Assim como os antigos códigos de leis tinham um prólogo e um epílogo, a fim de lhes conferir uma estrutura literária (ver a introdução a Êxodo), aqui é a aliança que concede à lei mosaica uma estrutura literária. A estrutura literária das leis de *Hamurabi nos ajuda a entender que esse código de leis não foi planejado apenas para estabelecer regras, mas para demonstrar o quanto o reinado de Hamurabi era justo. Do mesmo modo, a estrutura literária de Deuteronômio nos permite ter uma idéia do porquê dessas leis terem sido compiladas. A lei é apresentada no Livro de Deuteronômio não como um conjunto de regras, mas como uma *aliança.
Quando os povos do antigo Oriente Próximo concordavam com um tratado, eram obrigados a submeter-se aos termos e condições desse tratado. Seria o mesmo nível de obrigação relacionado às leis de uma nação, mas a diferença está na maneira como fun9
ciona, pois não está inserida no sistema legal. Por exemplo, no mundo moderno cada país tem suas próprias leis, aprovadas pelos órgãos legislativos, e que devem ser obedecidas pelos cidadãos daquele país.
Mas existem também leis internacionais que, em parte, foram estabelecidas por órgãos mundiais, muitas vezes como resultado de acordos ou tratados. Essas leis internacionais devem ser obedecidas pelas partes envolvidas no acordo. O tipo de compromisso exigido em Deuteronômio está mais ligado ao tratado do que à lei (ou seja, mais ligada à aliança do que às leis). Isso significa que as obrigações do povo de Israel estavam relacionadas à manutenção do relacionamento disposto na aliança. Se eles fossem realmente o povo de Deus (da aliança), deveriam se conduzir de acordo com as normas apresentadas (cláusulas).
Assim, não devemos entender essas leis como sendo apenas um conjunto de regras para a nação (embora elas tenham sido). Os israelitas não deveriam cumprir a lei apenas por obediência à lei, mas sim por ela ser um reflexo da natureza e do caráter de Deus. A lei revelava o que Deus esperava dos israelitas como seu povo e como eles deveriam obedecê-lo para desfrutarem de um relacionamento com Ele.
Uma característica adicional do Livro de Deuteronômio é o fato dele se apresentar na forma de exortações de Moisés ao povo. Conseqüentemente, Moisés é visto como o mediador da aliança, pois como mensageiro ou representante de Deus, é ele quem determina os termos do tratado. Nos tratados *hititas, consideravam-se apenas as determinações firmadas pelo acordo, sem dar importância à pessoa que enunciara os termos do tratado. Outros textos, porém, nos ajudam a entender melhor o papel do mediador. De modo geral, o mediador apresentava sua mensagem verbalmente, mas possuía também uma cópia escrita para fins de documentação e registro. As palavras de Moisés advertindo o povo a ser leal aos termos da aliança seguem a mesma linha daquilo que se esperava de um representante real. O vassalo deveria considerar um privilégio poder participar do acordo, portanto, deveria ser prudente e refrear qualquer ação que pudesse colocar em risco esse privilégio.
G Ê N E S I S
v1 .1 - 2.3Criação1.1. no princípio. Um texto egípcio de Tebas, ao referir-se à criação, fala do deus Am on que, no princípio, ou "n a primeira ocasião", expandiu-se. Os egiptólo- gos interpretam essa expressão não como uma idéia abstrata, mas como uma referência a um evento que aconteceu pela primeira vez. Do mesmo modo, a palavra hebraica traduzida como "princípio" geralmente refere-se não a um determinado ponto no tempo, m as a um período inicial. Isso sugere que o período inicial são os sete dias do capítulo um.1.2. sem form a e vazia. Na concepção egípcia sobre as origens, o conceito de "inexistente" pode ser bastante próximo a essa expressão encontrada em Gênesis. É a idéia de algo que ainda não foi diferenciado, ao qual não foi atribuída função, e cujos limites e definições ainda não foram estabelecidos. O conceito egípcio, porém , tam bém traz a idéia de potencialidade e a qualidade de um ser absoluto.1.2. o Espírito de D eus. Alguns hermeneutas traduziram essa expressão como um vento sobrenatural ou impetuoso (a palavra hebraica traduzida como "E spírito" às vezes é traduzida como "v en to" em outras passagens), que tem um paralelo no Enum a Elish babilónico. Nesse texto, o deus do céu, Anu, cria os quatro ventos que agitam as profundezas e sua deusa, Tiam at. N esse caso, é um vento rom pante que provoca agitação. O mesmo fenômeno pode ser visto na visão de Daniel sobre os quatro animais, em que "o s quatro ventos do céu agitavam o Grande M ar" (7.2), causando perturbação aos animais. Se esse emprego do termo estiver correto, então o vento seria parte da descrição negativa do versículo 2, em paralelo com as trevas.1.1-5. a tarde e a m anhã. O relato da criação não tem a pretensão de apresentar um a explicação científica moderna sobre a origem de todos os fenômenos naturais, e sim abordar os aspectos mais práticos da criação que cercam nossas experiências de vida e sobrevivência. Ao longo deste capítulo, o autor narra como Deus instituiu períodos alternados de luz e trevas - a base do tem po. A narrativa m enciona prim eiram ente a tarde, porque o primeiro período de luz está se findando. O autor não se aventura num a análise das propriedades físicas da luz, nem está preocupado com sua fonte ou energia geradora. A luz é o que regula o tempo.
1.3-5. luz. Os povos do mundo antigo não acreditavam que a luz se originasse do Sol. Na época, desconhecia-se o fato de que a lua simplesmente reflete a luz do Sol. Além do mais, não há nenhum indício no texto de que a "lu z do dia" fosse causada pela luz do Sol. O Sol, a Lua e as estrelas eram vistos como portadores de luz, mas a luz do dia estava presente mesmo quando o sol estava atrás das nuvens ou num eclipse. Ela chegava antes do nascer do sol e perm anecia após o pôr-do-sol.1.6-8. firm am ento. De m aneira semelhante, a extensão (às vezes chamada de "firm am ento") instituída no segundo dia é o regulador do clima. As culturas do antigo O riente Próxim o entendiam o cosm os como um a estrutura composta por três camadasios céus, a terra e o m undo inferior. O clim a se originou nos céus, e a extensão era considerada o mecanismo que controlava a umidade e a luz do sol. Embora no mun
do antigo a extensão geralmente fosse concebida de maneira mais concreta do que a entendemos hoje, não é a sua composição física que realmente importa, mas sim sua função. No épico babilónico da criação, Enuma Elish, a deusa que representava esse oceano cósmico, Tiamat, é dividida em duas por M arduk para formar as águas acima do firmamento e as águas que ficavam debaixo.1.9-19. função do cosm os. Assim como é D eus quem estabelece o tempo e determina o clima, Ele também é responsável por estabelecer todos os outros aspectos da existência humana. A disponibilidade de água e a capacidade da terra produzir vegetação; as leis da agricultura e os ciclos das estações; o desem penho específico de cada uma das criaturas de Deus - tudo isso foi ordenado por Deus. E tudo era bom, não tirânico ou ameaçador. Isso reflete o entendimento antigo de que os deuses eram responsáveis por estabelecer um sistema de operações. O funcionamento do cosmos era muito mais importante às pessoas do mundo antigo do que sua form a física ou composição química. Elas descreviam o que viam, e o mais importante, aquilo que experim entavam do m undo criado por Deus. O fato de que tudo foi considerado "b o m ", reflete a sabedoria e justiça de Deus. Ao mesmo tempo, o texto mostra algumas sutis discordâncias com a concepção do antigo Oriente Próximo. O m ais notável é o fato da narrativa evitar o uso das palavras sol e lua, que eram os nomes das divindades correspondentes
entre os povos vizinhos de Israel; e em vez disso, refere-se a eles como luminares m aior e menor.1.14. sin ais para m arcar estações, dias e anos. No prólogo de um tratado astrológico dos sumérios, os deuses principais, An, Enlil e Enki, posicionam a lua e as estrelas a fim de determinar dias, meses e presságios. No famoso Hino Babilónico a Shamash, o deus sol, também se faz m enção a seu papel de controlar as estações e o calendário de m odo geral. É intrigante que ele seja tam bém o patrono da adivinhação. A palavra hebraica usada para "sin al" tem um cognato na palavra acadiana usada para presságios. A palavra hebraica, no entanto, tem um sentido m ais neutro, e novam ente o autor esvazia os elem entos do cosmos de seus traços m ais personificados.1.20. répteis de alm a vivente (ARC). No Hino Babilónico a Shamash, o deus sol recebe louvor e honra até m esm o dos piores grupos. Incluídos na lista estão os temíveis monstros do mar. Logo, o hino sugere que há uma submissão total de todas as criaturas para com Sham ash, exatam ente com o o relato da criação do Gênesis mostra que todas as criaturas feitas por Yahweh estão subm issas a Ele. O m ito de Labbu registra a criação da serpente do mar, cujo comprimento era de sessenta léguas.1.20-25. categorias de anim ais. As categorias de animais incluem diversas espécies: seres que vivem nas águas, aves, criaturas que vivem na terra, subdivididas em animais domésticos e selvagens e ainda "criaturas que se arrastam no solo" (talvez os répteis e/ou anfíbios) e, por ultimo, os seres humanos. Os insetos e o mundo das criaturas microscópicas não são mencionados, mas as categorias são abrangentes o suficiente para inclui-los.1 .26 -31 . fu n çã o d as p esso a s . Em bora o en foque organizacional ou funcional do relato da criação tenha semelhanças com a perspectiva do antigo Oriente Próximo, a razão subjacente é bastante diferente. No antigo O riente Próxim o, os deuses criaram o m undo para seu próprio deleite e p ara nele viverem . As pessoas foram criadas apenas como uma decisão de última hora, quando os deuses precisaram de trabalho escravo para suprir as comodidades da vida (por exemplo, abrir sulcos de irrigação). N a Bíblia, o cosm os foi criado e organizado para funcionar a serviço das pessoas, idealizadas por Deus como peça central da sua criação.1.26-31. criação da hum anidade nos m itos do antigo O riente Próxim o. Nos relatos sobre a criação da antiga M esopotâmia, uma população inteira já civilizada é criada por m eio de uma m istura de argila e sangue de um deus rebelde. Essa criação acontece como resultado do conflito entre os deuses, obrigando o deus organizador do cosmos a controlar as forças do caos,
trazendo assim a ordem ao mundo criado. O relato do Gênesis retrata a criação não como parte de um conflito entre forças oponentes, m as como um processo determinado por Deus, controlado e sereno.1.26, 27. im agem de D eus. Quando Deus criou o homem, colocou-o como responsável por toda a criação. Ele foi feito à sua imagem e semelhança. No mundo antigo, acreditava-se que um a im agem continha a essência do que representava. A im agem de um a divindade, m esma terminologia aqui empregada, era usada na adoração porque continha a essência daquela divindade. Isso não significava que a imagem pudesse fazer o m esm o que a divindade, nem que se parecesse com ela. Ao contrário, a obra da divindade era desempenhada através do ídolo. De m odo semelhante, a obra de governar o mundo deveria ser desempenhada pelo homem, criado à imagem de Deus. Mas isso não é tudo. Gênesis 5.1-3 compara a imagem de Deus em Adão à im agem de Adão em Sete. Isso ultrapassa a noção de plantas e animais se reproduzindo de acordo com sua espécie, embora certamente os filhos compartilhem das características físicas e da natureza básica (geneticamente) de seus pais. A relação entre a imagem dos ídolos e a imagem dos filhos é o conceito de que a imagem capacita a criatura não apenas para servir no lugar de Deus (representando-o com sua essência), mas também para ser e agir como Ele. As ferram entas que Ele providenciou para que pudéssemos dar conta dessa tarefa incluem a consciência ou razão, a autopercepção e o discernim ento espiritual. As tradições m esopotâm icas falam de filhos à imagem de seus pais (*Enuma Elish), mas não falam de seres humanos criados à imagem de Deus; m as o texto egípcio, as Instruções de M erikare, identifica a hum anidade como formada por imagens de Deus, de cujo corpo se originaram. Na M esopotâmia, pode- se apreender um significado para imagem no costume que os reis tinham de erigir imagens de si m esmos em lugares onde queriam estabelecer sua autoridade. A parte disso, apenas outros deuses são feitos à imagem dos deuses (ver comentário em 5.3).2.1-3. descanso no sétim o dia. No relato egípcio da criação, em Mênfis, o deus criador Ptah descansa, após terminar sua obra. A criação dos hum anos pelos deuses da Mesopotâmia também é acompanhada de descanso. N a Mesopotâmia, porém, os deuses descansam porque as pessoas foram criadas para fazer o trabalho outrora feito por eles. Não obstante, o desejo de descansar é um dos elementos m otivadores dessas narrativas da criação. A destruição ou o controle de forças cósmicas caóticas, que constitui com freqüência a parte central das narrativas da criação do m undo antigo, culmina no descanso, na paz ou repouso dos deuses. Do mesmo modo, o Dilúvio é resultado da impossibi
lidade de os deuses encontrarem descanso em meio ao barulho e tumulto causados pela humanidade. Em todos os relatos, fica evidente que as ideologias antigas consideravam o descanso como um dos principais objetivos dos deuses. Na teologia israelita, Deus não precisa descansar por causa de certos incômodos cósmicos ou provocados pelo homem, mas Ele busca descanso em um lugar de repouso (ver especialmente SI 132.7, 8, 13, 14).2.1. o sábado como divisor do tempo. O costume de dividir o tempo em períodos de sete dias ainda não foi comprovado nas demais culturas do antigo Oriente Próximo, em bora na M esopotâmia alguns dias particulares do mês eram considerados de mau agouro, e freqüentem ente ocorriam com um intervalo de sete dias (ou seja, o sétimo, o décimo quarto dia do mês, etc.). A celebração do sábado em Israel não estava determinada a certos dias do mês, nem estava ligada aos ciclos da lua ou a qualquer outro ciclo da natureza; simplesmente era celebrado a cada sete dias.
2 .4 -2 5O homem e a mulher no jardim2.5. categorias de plantas. Encontramos apenas descrições gerais de plantas. Árvores, arbustos e plantas são mencionadas, mas nenhum gênero específico. Sabemos, porém, que as principais árvores encontradas no Oriente Próximo eram a acácia, o cedro, o cipreste, a figueira, o carvalho, a oliveira, a tamareira, a romã- zeira, a tamargueira e o salgueiro. Os arbustos incluíam o oleandro e o junípero. Os principais grãos cultivados eram o trigo, a cevada e a lentilha. A descrição das plantas nesse versículo difere daquela do terceiro dia em que são mencionadas plantas cultivadas e árvores frutíferas. Não se trata, porém, de um período anterior ao terceiro dia, mas sim ao fato de que ainda não havia a prática da agricultura.2.5. descrição das condições. Um texto de Nippur apresenta o cenário da criação dizendo que as águas não tinham ainda jorrado pela abertura da terra e que nada crescera e nenhum a porção de terra fora lavrada.2.6. s istem a de irrigação. A expressão usada para descrever o sistema de irrigação no versículo 6 ("brotava água da terra") é de difícil tradução, aparecendo apenas em Jó 36.27. Um a palavra semelhante aparece no vocabulário *babilônico originado do *sum ério, num a menção ao sistem a subterrâneo de águas, os lençóis de água que deram origem aos rios. O mito sumério de *Enki e Ninhursag também menciona um sistema de irrigação semelhante.2.7. o hom em do pó da terra. A criação do primeiro homem do pó da terra é semelhante ao que encontram os na mitologia do antigo Oriente Próximo. O Épico A trahasis retrata a criação da hum anidade feita de
argila m isturada ao sangue de uma divindade. A ssim como o pó na Bíblia representa o que o corpo se torna na m orte (Gn 3.19), a argila, no pensam ento *babilônico, era o que o corpo voltava a ser. O sangue da divindade representava a essência divina na hu
manidade, um conceito semelhante ao sopro de vida que D eus colocou em Adão. No pensamento egípcio, as lágrimas dos deuses são misturadas à argila para form ar o hom em , em bora as Instruções de M erikare tam bém m encionem deus soprando a vida no nariz do homem.2.8-14. localização do Éden. Com base na proximidade dos rios Tigre e Eufrates, e na lenda *suméria da terra mística e utópica de *Dilm un, m uitos eruditos identificam o Éden como um lugar situado na extrem idade norte do golfo P érsico , ou próxim o dali. *D ilm un foi identificado com a ilha de Bahrain. A posição "n o lado oriental", simplesmente indica a área geral da M esopotâm ia e é um a referência bastante típica das narrativas primitivas. Essa indicação som ada à direção do curso dos rios (a localização dos rios Pisom e Giom é incerta), levou alguns estudiosos a considerar a região da A rm ênia, perto da nascente dos rios Tigre e Eufrates, como o Éden. No entanto, as características de um jardim bem irrigado, onde as
pessoas não executam nenhum trabalho, ou m uito pouco, e onde a vida brota sem necessidade de cultivo
se encaixam às áreas pantanosas na base do golfo, e podem até m esm o ser um a área hoje coberta pelas águas.
2.8. um "jard im no Éden". A palavra Éden refere-se a um lugar bem irrigado, sugerindo um bosque exuberante. A palavra traduzida como "jardim " não se refere necessariamente a canteiros de plantas, m as a pom ares ou bosques arborizados.
2.9. árvore da vida. A árvore da vida é retratada em outras partes da Bíblia como provedora da continuidade da vida (Pv 3.16-18), sendo que às vezes ela é vista como possuidora de qualidades rejuvenescedoras. Diversas plantas com tais qualidades são conhecidas no antigo Oriente Próximo. No Épico de Gilgam és é citada um a planta cham ada "o homem velho torna-se jo vem ", que cresce no fundo do rio cósmico. As árvores geralmente ocupam um espaço proeminente na arte do antigo Oriente Próximo e em selos cilíndricos. Elas têm
sido interpretadas freqüentemente como representando a árvore da vida, m as tal interpretação n ecessita de m ais apoio na literatura para ser confirm ada.2.11. Pisom . Análises de amostras do solo da Arábia Saudita e fotos de satélite ajudaram a identificar o antigo leito de um rio que corria em direção ao nordeste pela Arábia Saudita, desde as montanhas Hijaz, perto de M edina, até o golfo Pérsico, no Kuait, próxi
mo da foz dos rios Tigre e Eufrates, que poderia muito bem ser o rio Pisom.
2.11. Havilá. Talvez pelo fato de se mencionar a presença de ouro em Havilá, essa localidade seja m encionada em diversas outras passagens (Gn 10.7; 25.18;
1 Sm 15.7; IC r 1.9). Sua localização tem sido freqüentemente apontada como na parte ocidental da Arábia Saudita, perto de M edina, ao longo do m ar Vermelho, uma região que produz ouro, bdélio e ônix. Gênesis 10.7 descreve Havilá como "irm ão" de Ofir, uma região também conhecida por suas ricas jazidas de ouro.2.21 ,22 . costela. O fato de Eva ter sido criada de uma costela de Adão pode ser m elhor esclarecido pelo co
nhecim ento da língua *suméria. A palavra suméria para costela é ti. E interessante saber que ti significa "v id a", exatamente o mesmo significado de Eva (3.20). Outros sugeriram que pode haver uma relação com a palavra egípcia imw, que significa argila (de onde o homem foi criado) ou costela.2.24. o hom em deixará pai e m ãe. Essa afirm ação constitui um a narrativa à parte, acrescentando um
comentário sobre o aspecto social da vida das pessoas nas épocas posteriores. A história da criação de Eva é
usada como base para o princípio legal da separação das famílias. Quando se efetivava um casam ento, a esposa deixava seus pais e juntava-se à fam ília de seu marido. Dessa maneira, novos compromissos de lealdade eram estabelecidos. Além do mais, a consuma
ção do casamento está associada aqui à idéia do casal tom ando-se uma só carne, assim como Adão e Eva
originaram-se de um mesmo corpo. A afirmação de que o homem deixará sua família não se refere neces
sariamente a um costume social específico, mas ao fato de que, nesse capítulo, é o hom em que busca uma
companheira. Também pode ser referência ao fato de que as cerimônias de casamento, incluindo a noite de núpcias, em geral aconteciam na casa dos pais da
noiva.
3.1-24 A queda e suas conseqüências3.1. o significado das serpentes no m undo antigo.Desde há m uito foi comprovado que a serpente é uma personagem significativa na arte e na literatura do antigo O riente Próximo. Talvez por seu veneno ser uma ameaça à vida e seus olhos desprovidos de pálpebra oferecerem uma imagem enigmática, a serpente tem sido associada tanto à morte quanto à astúcia. O relato do Gênesis evoca esses dois aspectos no astuto diálogo entre Eva e a serpente e na introdução da morte, após a expulsão do Éden. Semelhantem ente, *Gilgamés perde a chance de ser jovem para sempre quando um a serpente o engana e come uma planta m ágica que ele retirara do fundo do mar. A imagem sinistra da serpente está graficam ente representada nas curvas entrelaçadas de uma cobra cingindo a tribuna de um a seita em Bete-Shean. Seja como representante do caos primitivo (*Tiamat ou *Leviatã), seja como um símbolo da sexualidade, a serpente abriga m istérios para os seres hum anos. U m personagem particularmente interessante é o deus *sumério Nin- gishzida, retratado na forma de serpente e cujo nome significa "Senhor da Arvore Produtiva/Im utável". Ele era considerado um governante do mundo dos m ortos e "o possuidor do trono da terra", sendo uma das deidades que ofereceram o pão da vida a *Adapa (ver próximo comentário). Mesmo quando não estava relacionada a nenhum deus, a serpente representava astúcia (saber oculto), *fertilidade, saúde, caos e im ortalidade, e era, com freqüência, adorada.3.2-5. a tentação de ser com o Deus. A aspiração à posição de divindade assim como o relato de oportunidades perdidas de se igualar aos deuses aparece de forma proeminente em alguns mitos antigos. Na lenda de *Adapa, uma oferta do "alim ento da vida" foi inadvertidam ente recusada. Adapa, o prim eiro dos sete sábios antediluvianos, estava envolvido em levar as artes da civilização à prim eira cidade, Eridu.
A MITOLOGIA DO ANTIGO ORIENTE PRÓXIMO E O ANTIGO TESTAMENTONo mundo antigo, a mitologia ocupava o lugar hoje ocupado pela ciência no mundo moderno - ou seja, fornecia a explicação sobre a criação e o funcionamento do mundo. A abordagem mitológica procura identificar a função como conseqüência de um propósito. Os deuses tinham propósitos e suas atividades eram a causa daquilo que os humanos consideravam como efeitos. Em contraste, a abordagem científica moderna identifica as funções como conseqüência das estruturas e busca entender as relações de causa e efeito, baseando-se em leis naturais que estão ligadas à estrutura, ou às partes que compõem um fenômeno. Visto que nossa cosmovisão científica tem um grande interesse pelas estruturas, geralmente nos dirigimos ao relato bíblico procurando encontrar informações sobre as estruturas. Nessa área, porém, a cosmovisão bíblica é mais parecida com a de seus contemporâneos do antigo Oriente Próximo, isto é, nela a função é concebida como uma conseqüência do propósito. E disso que trata o primeiro capítulo do Livro de Gênesis - e por isso há pouco interesse nas estruturas. Essa é apenas uma das muitas áreas em que a compreensão da cultura, da literatura e da cosmovisão do antigo Oriente Próximo pode nos ajudar a entender a Bíblia, já que apontam para a verdade nela contida.
Muitos paralelos podem ser identificados entre a mitologia do antigo Oriente Próximo e passagens e conceitos do Antigo Testamento. Isso não quer dizer que o Antigo Testamento deva ser considerado simplesmente como mais um exemplo de mitologia antiga ou derivado daquela literatura. A mitologia serve como uma janela para a cultura, refletindo a cosmovisão
Como pescador, foi carregado certo dia, pelo vento sul, num a infeliz aventura que ocasionou seu encontro com o deus superior, Anu. Dando ouvidos aos conselhos do deus *Ea, Adapa recusou a comida oferecida pelo deus Anu, descobrindo depois que aquele alimento lhe daria imortalidade. A vida eterna tam bém escapa a *Gilgamés. No famoso épico que conta sua história, a morte de seu amigo Enkidu o faz sair em busca da imortalidade, que ele descobre ser inatingível. Nesses dois relatos, ser como os deuses significa atingir a im ortalidade, enquanto que, no relato bíblico, ser como Deus é entendido como obter a m esma sabedoria de Deus.3.7. significado das folhas de figueira. As folhas de figueira são as maiores encontradas em Canaã e poderiam fornecer um a cobertura lim itada ao envergonhado casal. O significado do uso da folha de figueira pode residir em sua sim bologia de fertilidade. Ao comer do fruto proibido, o casal deu inicio a seu papel como pais e como cultivadores de árvores frutíferas e grãos.3.8. soprava a brisa do dia. A terminologia *acadiana demonstrou que a palavra traduzida como "d ia" também tem o significado de "tem pestade". Esse significado também pode ser encontrado na palavra hebraica citada em Sofonias 2.2. É um a expressão freqüentem ente relacionada a uma tempestade trazida como castigo por alguma divindade. Se essa é a tradução correta da palavra nesta passagem , eles ouviram o trovão (a palavra traduzida para "v oz" é muitas vezes relacionada a trovão) do Senhor que se movia no jardim com o vento da tempestade. Nesse caso é bastante compreensível o fato de terem se escondido.3.14. com er pó. A descrição de pó ou poeira como alimento é típica das descrições do mundo dos m ortos na literatura antiga. No Épico de Gilgam és, em seu leito de morte, Enkidu sonha com o mundo inferior e o descreve como um lugar de trevas, onde o "pó é seu alimento, a argila, o seu pão", um a descrição também
conhecida no Descendentes de Istar. São características que geralmente reportam ao mundo dos mortos, por estarem relacionadas à sepultura. O pó enche a boca do defunto, m as tam bém encherá a boca da serpente, à medida que se arrasta pelo chão.3.14, 15. m aldições às serpentes. Os Textos Egípcios Piramidais (da segunda metade do terceiro milênio) contêm um a série de feitiços contra serpentes, mas também incluem feitiços contra outras criaturas consideradas perigosas ou pestes que am eaçam os mortos. Alguns desses feitiços ordenam que a serpente ande sobre o seu ventre (mantendo a cabeça no chão), em contraste com o modo como levanta a cabeça quando está em posição de ataque, prestes a dar o bote. Enquanto anda sobre seu ventre, a serpente não oferece perigo, m as quando se levanta, está se protegendo ou prestes a atacar. Ferir a serpente com o calcanhar nesses textos refere-se a um m eio de superá-la ou derrotá-la.3 .14 ,15 . todas as cobras venenosas. Em bora deva ser observado que nem todas as cobras são peçonhentas, a ameaça que algumas delas representam, no impulso de proteger-se, levaria alguém a atribuir tal característica a todas elas. Dentre trinta e seis espécies de cobras conhecidas naquela região, a víbora (Vipera palaestinae) é a única venenosa na região norte e central de Israel. Ocasionalmente, as cobras estão associadas à fertilidade e à vida (a serpente de bronze levantada no deserto). Entretanto, freqüentemente elas estão associadas à luta pela vida e à inevitabilidade da morte. As cobras venenosas seriam as mais agressivas, assim , o ataque de um a cobra sem pre seria visto como um golpe potencialmente fatal.3.16. dores de parto. Talvez para mostrar a dualidade da vida, a alegria da maternidade só pode ser obtida através da dor do parto. Sem a m edicina moderna, essas dores são descritas como o pior sofrimento possível ao ser humano (ver Is 13.8; 21.3) e aos deuses (note o grito da deusa *babilônica Istar, no épico do Dilúvio
e os valores forjados por ela. Muitos relatos encontrados no Antigo Testamento desempenharam na cultura israelita a mesma função exercida pela mitologia em outras culturas, ou seja, forneceram um mecanismo literário de preservação e transmissão de sua cosmovisão e valores.
Israel fazia parte de um amplo complexo cultural que existiu no antigo Oriente Próximo. Muitos aspectos desse complexo cultural eram compartilhados com as nações vizinhas, embora cada cultura tivesse suas características distintas. Quando procuramos entender a cultura e a literatura de Israel, esperamos justamente encontrar auxílio nesse cenário cultural mais amplo da mitologia, dos escritos de sabedoria, dos documentos oficiais e das inscrições reais.
A comunidade cristã não precisa temer pelo uso desses métodos que nos informam a respeito da herança cultural do Oriente Próximo. Nem a mensagem teológica do texto bíblico, nem seu status enquanto Palavra de Deus são ameaçados por esses estudos comparativos. De fato, visto que a revelação envolve uma comunicação efetiva, é de se esperar que, sempre que possível Deus usasse elementos conhecidos e familiares para comunicar-se com seu povo. A identificação de semelhanças, bem como de diferenças, pode fornecer dados importantes para uma compreensão apropriada do texto. Esta obra tem como objetivo oferecer informações, sem intenção de se engajar em discussões detalhadas sobre como cada semelhança ou diferença específica pode ser explicada. Para esse tipo de discussão, recomendamos a obra de John Walton, Ancient Israeltte Literalure in Its Cultural Context [A Literatura Israelita Antiga em Seu Contexto Cultural] (Grand Rapidz: Zondervan, 1987).
de *Gilgamés, quando ela vê o horror desencadeado pelo Dilúvio). Os *babilônios associavam demônios com o Lam ashtu às dores de parto e às condições lim ítrofes de vida tanto para a m ãe quanto para o bebê, durante o nascimento.3.16. relacionam ento entre m arido e m ulher. N a sociedade israelita antiga, os casamentos resultavam de arranjos familiares e não de um amor romântico. Entretanto, nessa sociedade carente de trabalhadores, tantos os homens como as mulheres tinham de trabalhar juntos, como uma equipe. Embora a gravidez e o cuidado dos filhos periodicamente limitasse o trabalho da mulher nos campos ou no mercado, a sobrevivência do casal dependia grandem ente do trabalho compartilhado e do núm ero de filhos que geravam. A dominação da mulher pelo marido, embora evidente em alguns casamentos, não era o padrão ideal para os relacionam entos na época. Am bos tinham seus papéis, ainda que os direitos legais relacionados a contratos, posse de propriedade e direitos de herança fossem prioritariam ente controlados pelos homens. Também é fato que a preocupação com a castidade da mulher fez com que fossem criadas sérias restrições
nos agrupam entos de m ulheres e perm itiu aos hom ens o controle do processo legal.3.17. fad iga (ARA). No pensam ento m esopotâmico, as pessoas foram criadas para serem escravas, devendo fazer o trabalho que os deuses estavam cansados de fazer, em grande parte relacionado à agricultura. No texto *Enuma Elish, o único propósito para a criação dos homens era aliviar os deuses de sua fadiga, ao contrário do relato bíblico, no qual o homem foi criado para governar, recebendo o fardo do trabalho pesado como conseqüência da Queda.3.18. esp inhos e ervas daninhas. No Épico de Gil- gamés, o lugar paradisíaco é descrito como um lugar onde as plantas e as árvores produzem gemas e pedras preciosas, em vez de espinhos e ervas daninhas.3.20. s ign ificad o de dar nom e às coisas. A nteriormente, Adão dera nome aos animais, o que demonstrava sua autoridade sobre eles. Aqui, ao dar um nom e à mulher, Adão é colocado em posição de liderança, conforme m encionado no versículo 16. No mundo antigo, quando um rei colocava no trono um rei vassalo, geralm ente lhe dava um novo nome, como demonstração de seu domínio sobre ele. Do mesmo m odo, quando D eus estabeleceu sua aliança com Abraão e Jacó, Ele m udou seus nomes. Um últim o exem p lo aparece no relato babilón ico da criação, *Enuma Elish, que se inicia com a situação anterior ao céu e a terra receberem nomes. No prosseguimento desse relato, os nomes vão sendo dados, exatamente como Deus nomeou as coisas criadas em Gênesis 1.
3.21. túnicas de peles (ARC). Um a túnica longa ainda hoje é a vestim enta básica para m uitas pessoas no Oriente M édio. Essa vestim enta substituiu a inadequada cobertura de folhas de figueira feita por Adão e Eva. D eus lhes forneceu essas túnicas com o um presente dado pelo senhor a um servo. Presentear com roupas é uma das práticas mais comuns m encionadas na Bíblia (ver José em G n 41.42) e em outros textos antigos. As túnicas também iriam protegê-los dos rigores do inverno e do trabalho que os aguardava. N a Lenda de Adapa (ver comentário sobre 3.2-5), depois que *Adapa perde a oportunidade de comer o pão e beber a água da vida, ele recebe roupas do deus Anu, antes de ser despedido de sua presença.3.24. querubins. Os querubins são criaturas sobrenaturais mencionadas mais de noventa vezes no Antigo Testamento, atuando geralmente como guardiães da presença de Deus. Como guardiães da árvore da vida, representados no enfeite na tampa da arca da aliança ou acompanhando a carruagem e o trono nas visões de Ezequiel, os querubins estão sempre intimamente associados à divindade, seja à sua pessoa ou à sua propriedade. As descrições bíblicas (Ez 1 ,10 ) concordam com as descobertas arqueológicas que sugerem que eles eram criaturas com postas (como grifos ou esfinges). Geralm ente, representações dessas criaturas são encontradas ladeando o trono do rei. Aqui em G ênesis, os querubins guardam o cam inho para a árvore da vida, agora propriedade restrita de Deus. Um interessante selo neo-assírio ilustra o que parece ser um a árvore frutífera ladeada por duas criaturas como essas, de pé e de costas, segurando um disco solar com asas.
4.1-16 Caim e Abel4.1-7. os sacrifícios de Caim e A bel. Os sacrifícios de Caim e Abel não são descritos como um pagamento pelo pecado ou um a busca de purificação. A palavra usada os designa de form a bastante genérica como "ofertas" - uma palavra que está intimamente relacionada à oferta de cereais, m ais tarde instituída em Levítico 2. Essas ofertas aparecem como uma demonstração de gratidão a Deus por sua bondade. Portanto é apropriado que Caim trouxesse uma oferta do produto da terra, uma vez que não era obrigatório o derram am ento de sangue nesse tipo de oferta. Deve ser mencionado que Gênesis não apresenta nenhum registro de D eus exigindo esse tipo de oferta, embora Ele a aprovasse como um meio de dizer "obrigado". A gratidão, porém, não é manifestada quando a oferta é feita por inveja, como foi o caso de Caim.4.11 , 12. estilo de v id a nôm ad e. O estilo de vida nômade e peregrino imposto a Caim representa um
dos principais aspectos econômicos da sociedade antiga. A ssim que os anim ais foram dom esticados, por volta de 8000 a.C., o pastoreio nôm ade tornou-se o principal empreendimento econômico para as tribos e vilas. Os rebanhos, de m odo geral, faziam parte da economia m ista das aldeias, que incluía a agricultura e o comércio. Entretanto, alguns grupos concentravam m ais seus esforços em conduzir rebanhos de ovelhas e cabras a novas pastagens, conforme as estações mudavam. Esses pastores seminômades seguiam rotas de m igração específicas, que garantiam água e pastos adequados a seus animais. Às vezes, os pastores faziam contratos com os vilarejos ao longo da rota, a fim de pastorear os rebanhos nos campos onde a colheita já havia sido feita. Esses pastores geralmente entravam em atrito com as com unidades locais já estabelecidas por causa do direito sobre o uso das águas ou por causa de invasões. Os governos tentavam controlar os grupos nômades dentro de sua área, mas essas tentativas, após longos períodos, saíam frustradas. Como resultado dessa situação, surgiram várias histórias que descrevem os conflitos entre pastores e agricultores, à medida que competiam pelo uso da terra.4.14, 15. vingança de sangue. Nas áreas onde o governo central não havia estabelecido total controle, era comum haver rixas de sangue entre as famílias. Essas rixas eram baseadas no princípio sim ples do "olho por olho", que exigia a morte de um assassino ou de um m em bro de sua fam ília, em restituição à vítima. Existia tam bém a premissa de que os laços de sangue incluíam a obrigação de defender a honra da fam ília. N enhum a ofensa podia ser ignorada, pois havia risco da fam ília ser considerada fraca demais para se defender e outros grupos se aproveitariam disso. O com entário de Caim dá a entender que a fam ília era m aior, e que algu ém da linh agem de Abel iria atrás de vingança.4.15. o sinal de Caim. A palavra hebraica usada aqui não indica que esse sinal fosse uma tatuagem ou mutilação, geralmente infligidas a escravos ou criminosos (mencionadas nas Leis de *Esnuna e no Código de *Hamurabi). Compara-se m elhor à marca da proteção divina colocada na testa dos inocentes em Jerusalém, citada em Ezequiel 9.4-6. Pode ser um sinal externo, que levaria outros a tratá-lo com respeito ou cuidado, mas pode tam bém representar um sinal de D eus a Caim, de que ele não seria ferido e as pessoas não iriam atacá-lo.
4 .17-26 A linhagem de Caim4.17. a construção da cidade. Visto que no mundo antigo a fundação de uma cidade está intimamente liga
da à formação de um povo ou de um a nação, histórias sobre o fundador e as circunstâncias da fundação fazem parte da herança básica de seus habitantes. Essas histórias geralmente incluem um a descrição dos recursos naturais que atraíram o construtor (reservatórios de água, pastos e terra para agricultura, defesas naturais), os atributos especiais do construtor (força descomunal e/ ou sabedoria) e a orientação do deus protetor. As cidades eram construídas ao longo ou nas proximidades dos rios e nascentes. Elas serviam com o pontos estratégicos para o com ércio e atividades culturais e religiosas, abrangendo com o tempo uma área maior, tom ando-se centros políticos ou cidades-Estado. A estrutura necessária para sua construção e depois para a manutenção de suas paredes feitas de tijolos de barro, co n trib u iu p ara o su rg im en to das assem bléias de anciãos e m onarquias para governá-las.4.19. poligam ia. A prática que perm ite ao hom em casar-se com mais de uma mulher é conhecida como poligamia. Esse costume era baseado em diversos fatores: (1) um desequilíbrio no núm ero de homens e m ulheres, (2) a necessidade de gerar m uitos filhos paxa ajudarem no pastoreio e nos campos, (3) o desejo de aum entar o prestígio e as riquezas por m eio de numerosos contratos de casamento e (4) a alta taxa de m ortalidade entre as parturientes. A poligam ia era m ais comum entre os grupos nômades de pastores e nas comunidades rurais, onde era importante que as mulheres estivessem ligadas a alguma família e fossem produtivas. Os monarcas tam bém praticavam a poligam ia, prioritariam ente com o um m eio de estabelecer alianças com fam ílias poderosas ou com outras nações. Nessas situações, as esposas muitas vezes tornavam-se reféns, no caso das relações políticas se deteriorarem .4.20. domesticação de animais. Criar gado é o primeiro estágio da domesticação de animais, que envolve o controle hum ano da reprodução, do suprim ento de alim entos e das terras. O velhas e cabras foram os primeiros rebanhos a serem domesticados, com evidências que rem ontam ao nono m ilênio a.C.. Animais de porte m aior vieram um pouco mais tarde e os registros de domesticação de suínos remontam ao sétimo milênio.4.21. instrumentos m usicais. Os instrumentos m usicais surgiram nos primórdios, constando entre as primeiras invenções do homem. No Egito, as primeiras flautas de sopro datam do quarto m ilênio a.C.. Uma série de harpas e liras, bem como um par de flautas de prata foram encontradas no cemitério real em *Ur, datando do início do terceiro milênio. Flautas de osso ou cerâmica remontam pelo menos ao quarto milênio. Os instrumentos musicais eram um a fonte de entretenimento, além de garantirem o ritmo para as danças
e *rituais, tais como procissões e dramatizações cultuais. Além dos instrumentos de percussão (pandeiros e chocalhos), os instrumentos mais comuns usados no antigo Oriente Próximo eram as harpas e as liras. Foram encontrados modelos desses instrumentos em escavações de sepulturas e também pintados em paredes de templos e palácios. São descritos na literatura como um a m aneira de acalmar o espírito, invocar os deuses e dar a cadência para a m archa de um exército. Os músicos tinham suas próprias corporações e eram al
tamente respeitados.4.22. m etalurgia antiga. C om o parte do relato do surgim ento de trabalh os e técn icas artesan ais na genealogia de Caim , é natural que se m encione a origem da m etalurgia. Textos *assírios m encionam Tabal e M usku como as primeiras regiões de fabricação de m etal, nas m ontanhas Taurus (leste da Turquia). Ferramentas de cobre, armas e utensílios começaram a ser fundidos e forjados no quarto m ilênioa.C.. Subseqüentem ente, as ligas de cobre, e principalmente as de bronze, foram introduzidas no terceiro milênio, à medida que foram descobertas jazidas de estanho fora do O riente Próxim o e as rotas de comércio foram expandidas para transportá-las para o Egito e Mesopotâmia. O ferro, por ser um m etal que exige tem peraturas m uito m ais elevadas e uso de foles (retratados nas pinturas do túm ulo egípcio de Beni Hasan) para fundição e manufatura, foi o último
a ser introduzido, já no final do segundo milênio a.C.. Ferreiros *hititas parecem ter sido os prim eiros a explorá-lo e a partir daí a técnica espalhou-se para o leste e para o sul. Os meteoritos, compostos de ferro, foram forjados a frio durante séculos, antes da fundição do ferro propriamente dita. Isso não representaria um a fabricação tão grande com o a de fundição de depósitos terrestres, mas explicaria algumas das primeiras m enções ao ferro, anteriores à *Idade do Ferro.
5.1-32A linhagem de Sete5.1. o livro das (to le d o th ). Este capítulo começa introduzindo "o livro das gerações de A dão", assim como em 2.4 se faz menção ao relato da origem dos céus e da terra. A expressão aparece onze vezes no Livro de Gênesis. Traduções m ais m odernas usam a palavra "relato" em vez de "gerações". Em outros lugares na Bíblia, a palavra, freqüentem ente, está associada a genealogias. A lguns acreditam que em Gênesis ela seja indicação das fontes escritas usadas pelo autor ao compilar o Livro. Outra suposição é que simplesmente esteja apresentando pessoas e eventos que "resultaram " do indivíduo mencionado em destaque. De qualquer maneira, os relatos das gerações servem como
um m arco divisório conveniente entre as diversas partes do livro.5.1-32. a im portância das genealogias. As genealogias representam continuidade e relacionamento. N o antigo O riente Próxim o, freqüentem ente eram usadas como demonstração de poder e prestígio. Genealogias lineares começam no ponto A (a criação de Adão e Eva, por exemplo) e terminam no ponto B (Noé e o D ilúvio). O objetivo das genealogias é estabelecer pontes entre os principais eventos. A s genealogias podem tam bém vir na form a vertical, traçando os descendentes de um a única fam ília (Esaú, em Gn36.1-5,9-43). No caso das genealogias lineares, a quantidade real de tempo representada pelas sucessivas gerações não parece ser tão importante quanto o sentido de realização ou cumprimento de um propósito (por exem plo, o desafio de ser fecundo e encher a terra), As genealogias verticais enfocam o estabelecimento de legitimidade para os membros de uma família ou tribo (como no caso das genealogias levíticas em Esdras 2). As fontes mesopotâmicas não apresentam m uitas genealogias, mas a maior parte das que se conhece, é de natureza linear. A maioria trata apenas de famílias reais ou de escribas, alcançando somente três gerações, sendo que nenhum a delas ultrapassa doze gerações. As genealogias egípcias basicamente descrevem as fam ílias dos sacerdotes e tam bém são lineares. Elas estendem-se no m áximo até dezessete gerações, mas quase não aparecem antes do primeiro milênio a.C.. Em geral, as genealogias são apresentadas num formato adequado para servir a um propósito literário. Assim , por exem plo, as genealogias de Adão a Noé, e de Noé a Abraão, contêm cada uma dez m embros, com o último gerando três filhos. Quando comparadas entre si, as genealogias bíblicas mostram que, muitas vezes, diversas gerações são omitidas em algumas apresentações específicas. Esse tipo de redução tam bém acontece nos registros de genealogias *assírias. Assim sendo, não precisam os achar que as genealogias devam representar necessariamente todas as gerações, como procuramos fazer em nossas árvores genealógicas modernas.5.3. Adão gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua im agem . Esse mesmo tipo de comparação é feito no *Enuma Elish entre as gerações dos deuses. A nshar gerou A nu à sua sem elhança, e Anu gerou Nudimm ud (Enki), à sua semelhança também.5.3-32. vida longa. Embora não haja uma explicação satisfatória para a longevidade antes do Dilúvio, existem registros *sumérios de reis que supostamente teriam reinado antes do Dilúvio por até 43.200 anos. Os sum érios usavam o sistem a num érico sexagesim al (uma com binação de base seis e dez), e quando os núm eros dessas listas são convertidos em decimais,
aproximam-se muito da média de idade das genealogias pré-diluvianas do Gênesis. Os hebreus, como a maior parte dos povos semitas, usavam um sistema de base decimal desde os primórdios da escrita.5.21-24. Enoque... não foi encontrado, pois Deus o havia arrebatado. Na linhagem de Sete, ocupando o décimo sétimo lugar, Enoque foi o indivíduo que mais se destacou. Como resultado de ter andado com Deus (uma expressão que denota piedade), foi "arrebatado" - uma alternativa para a morte, o destino declarado de todos os outros na genealogia. O autor não m enciona onde ele foi arrebatado, o que talvez seja um indício de que não soubesse. Poderíamos presumir, apropriadamente, que ele tenha sido levado para um lugar melhor, uma vez que seu destino foi considerado uma recompensa por sua intimidade com Deus, mas o texto não explicita se ele foi levado ao céu ou para estar com Deus. N as listas m esopotâm icas de sagas pré-diluvianas, o sétimo da lista, Utuabzu, teria ascendido ao céu. Nos Textos Egípcios Piram idais, Shu, o deus do ar, é orientado a levar o rei para o céu a fim de que não m orra na terra. Esses relatos representam a transição da mortalidade para a imortalidade. Os escritos judaicos após o período do Antigo Testamento oferecem extensas especulações sobre Enoque, retratando-o como uma antiga fonte de revelação e visões apocalípticas (1, 2 e 3 Enoque).5.29. nos aliviará. O nome Noé significa "descanso", trazendo novamente a importância desse tema no antigo Oriente Próximo (ver comentário em 2.1-3). Os deuses mesopotâmios enviaram o Dilúvio porque o tumulto dos humanos lhes perturbava o sono, im pedindo-os de descansar. N esse sentido, o Dilúvio trouxe descanso para os deuses. No caso de Noé, esse termo está m ais associado ao fato de proporcionar descanso para as pessoas frente à ira dos deuses.
6.1-4Os filhos de Deus e as filhas dos homens6.2. filhos de Deus. O termo "filhos de D eus" é usado em outras passagens no Antigo Testamento em relação a anjos, mas a idéia de filiação a Deus também é retratada para os israelitas, como grupo, e individualmente, para os reis. No antigo Oriente Próximo, acreditava-se que os reis tinham uma relação filial com os deuses, por terem sido gerados pela divindade.6.2. escolheram para si aquelas que lhes agradaram. A prática de casar-se com m ulheres "que lhes agradaram " tem sido interpretada por alguns com o um a referência à poligamia. Em bora a poligamia fosse praticada, é difícil imaginar por que esse fato mereceria menção, visto que a poligamia era uma prática aceitável até mesmo em Israel nos tempos do Antigo Testamento. E mais provável que seja um a referência ao
"direito da primeira noite", citado como uma das práticas opressivas dos reis no Épico de Gilgamés. O rei podia exercer seu direito, como representante dos deuses, de passar a noite de núpcias com qualquer mulher que tivesse acabado de se casar. Presumivelmente, esse ato era interpretado como um rito de *fertilidade. Se essa era a prática aqui m encionada, seria um a explicação da natureza da ofensa.6.3. 120 anos. O limite de 120 anos provavelm ente está relacionado à redução da longevidade humana, uma vez que contexto em que a afirmação está inserida é sobre mortalidade. Em bora esse versículo seja evidentem ente de difícil tradução, atualm ente há um consenso no sentido de traduzi-lo como "m eu espírito não perm anecerá no hom em para sem pre", confirm ando assim a m ortalidade. Assim com o a ofensa pode ser entendida à luz de informações contidas no Épico de Gilgamés, também essa afirmação pode estar relacionada à busca infindável pela imortalidade, que na verdade é o cerne desse épico. A pesar de Gilgamés ter vivido após o Dilúvio, esses elementos da narrativa são reproduzidos na experiência humana universal. U m texto de sabedoria da cidade de Emar cita 120 como o número m áximo de anos concedido aos humanos pelos deuses.6.4. gigantes (n efilin s ). Nefilim não é a designação de um grupo étnico, m as a descrição de um tipo particular de indivíduo. Em Números 13.33 eles são identificados como descendentes de Enaque, como alguns dos habitantes da terra de Canaã. São descritos como gigantes em algumas versões, mas não há razão para considerá-los assim . É m ais provável que o term o descreva guerreiros valentes, talvez o equivalente antigo a cavaleiro andante.
6.5-8.22 O dilúvio6.13. violência com o causa do dilúvio. De acordo com o relato do Épico de Atrahasis, os deuses decidiram enviar o Dilúvio por causa dos m uitos "ruídos" produzidos pela hum anidade. N ão seria necessariam ente diferente da razão b íblica, um a vez que "ruídos" podem ser o resultado da violência. O sangue de Abel clama desde a terra (4.10) e o clamor de Sodoma e Gom orra tem se m ultiplicado (Gn 18.20). Os ruídos poderiam ser produzidos tanto pelas inúm eras petições dirigidas aos deuses para que fizessem algo para conter a violência e o derramamento de sangue, como pelo choro e pelos gritos das vítimas em seu sofrimento.6.14. m adeira de gofer. Gofer é uma palavra hebraica traduzida como "m adeira de cipreste" na NVI. É um material desconhecido, embora indubitavelmente seja relacionado a algum tipo de árvore conífera conside
rada de grande resistência e durabilidade. O cipreste era usado geralmente na construção de navios no antigo Oriente Próximo. Do mesmo modo, os cedros do Líbano eram empregados pelos egípcios na construção de seus barcos de transporte no Nilo, por volta do século 11 a.C.. *Relatório de Wenamon.6.14. em barcações no m undo antigo. Antes do surgimento de navios com condições para navegar em alto m ar e com capacidade para transportar m arinheiros e cargas através do Mediterrâneo, a maioria dos barcos era feita de pele de animais ou de junco e sua constituição permitia que navegassem pelos charcos e pântanos ou nas m argens dos rios. Esses barcos eram usados para pesca e caça, e não tinham m ais que três metros de comprimento. Os verdadeiros navios, com 50 m etros de comprim ento, são ilustrados pela primeira vez na arte do Antigo Reino Egípcio (cerca de 2500 a.C.) e descritos em textos *ugaríticos (1600-1200а.C.) e fenícios (1000-500 a.C.). Destroços de navios naufragados de meados do segundo milênio (*Idade do Bronze Moderna) também foram encontrados no Mediterrâneo. Eles geralm ente navegavam próximo à costa, em viagens à Creta e Chipre, bem como aos portos ao longo da costa do Egito, do golfo Pérsico e da Ásia Menor.б.14-16. dimensões da arca. Com base na medida de um côvado, que equivale a 18 polegadas ou 45 centímetros, a arca construída por Noé deveria ter aproximadamente 135 metros de comprimento, 22 de largura e 13 de altura. Se tivesse um fundo reto, sua capacidade total seria cerca de três vezes a do tabernáculo (100 por 50 côvados, conforme Êx 27.9-13), com o deslocam ento de 43 m il toneladas. Em com paração, a arca construída por *Uta-napishitim, na versão babilónica do Épico de Gilgam és tinha a forma de um cubo
ou de um zigurate (120 por 120 por 120 côvados), com deslocam ento três ou quatro vezes m aior que o da arca mencionada no Gênesis. A arca de Noé não foi projetada para ser navegada - não se faz menção de lem e nem de velas. Assim , o destino de todos que estavam a bordo foi deixado nas m ãos de Deus. Em bora *Uta-napishitim empregasse um navegador, talvez o formato de sua arca fosse mágico, visto que ele não podia contar com a proteção dos deuses.6 .15 ,16 . comprimento. A unidade de medida padrão usada para o comprimento era o côvado, que media dezoito polegadas (45 cm). Essa medida tinha como base o comprimento do antebraço, desde a ponta do dedo médio até o cotovelo. Outras unidades incluiam o palmo e o dedo. É comum o uso de medidas como "quatro dedos equivalem a um palm o" e "24 dedos equivalem a um côvado" no antigo Oriente Próximo. Surgiram algumas variações dessas m edidas, como por exem p lo , sete palm os, que equ iv aliam a um côvado no Egito e 30 dedos, que correspondiam a um côvado na *Babilônia, até o período *Caldeu (talvez tendo como base o sistema m atem ático sexagesimal que usavam).6.17. evidências arqueológicas do dilúvio. Até hoje não foram encontradas evidências arqueológicas convincentes sobre o Dilúvio bíblico. O s depósitos de sedimentos exam inados em cidades sum érias como *Ur, Quis, Shuruppak, *Lagash e *U ruk (todas elas com níveis de ocupação que remontam pelo menos a 2800 a.C.) pertencem a períodos diferentes e não refletem o fato de ter havido um único Dilúvio inundando-as ao mesmo tempo. Semelhantemente, a cidade de Jericó, continuamente ocupada desde 7000 a.C., não apresenta nenhum depósito que indique a ocorrência de um Dilúvio. Estudos meteorológicos indica-
RELATOS DILUVIANOS DO ANTIGO ORIENTE PRÓXIMOOs relatos diluvianos mais importantes do antigo Oriente Próximo são aqueles encontrados no Épico Atrahasis e no Épico de Gilgamés. Nesses relatos, Enlil, o deus superior, estava irado com. a humanidade (no Épico Atrahasis ele estaria incomodado por causa dos "ruídos" provocados pelos homens; ver comentário a seguir) e, após tentativas fracassadas para remediar a situação, reduzindo a população através de secas e enfermidades, convenceu a assembléia dos deuses a aprovar um Dilúvio que culminaria no extermínio de toda a humanidade. O deus Ea, porém, conseguiu prevenir um rei, que era seu fiel adorador, instruindo-o a construir um barco que serviria não apenas para poupar sua vida e a de seus familiares, como também a de representantes habilitados nas diversas artes da civilização. Os demais moradores da cidade foram informados de que os deuses estavam irados com o rei e que ele deveria deixá-los. O barco coberto de piche é descrito em sete relatos diferentes, ora com o formato de um cubo ou, o mais provável, na forma de um zigurate (ver comentário em 11.4). A tempestade durou sete dias e sete noites, quando o barco ancorou no monte Nisir, e aves foram enviadas para determinar o momento de sair da arca. Assim que deixaram a arca, ofereceram sacrifícios aos deuses, que ficaram bastante agradecidos, pois estavam privados de comida (sacrifícios) desde o início do Dilúvio.
O Épico Atrahasis data do início do segundo milênio a.C.. Já o Épico de Gilgamés tomou sua forma atual na segunda metade do segundo milênio, apesar de adotar alguns relatos que já circulavam no final do terceiro milênio. A partir desse breve resumo, é possível detectar uma série de semelhanças e diferenças entre os relatos. Não há motivo para duvidar que as histórias do antigo Oriente Próximo e a narrativa do Gênesis refiram-se ao mesmo Dilúvio. Certamente isso deve ser considerado apenas em relação às semelhanças. As diferenças nos relatos resultam do fato de cada cultura encarar o Dilúvio a partir de sua própria teologia e cosmovisão, o que não deixa de ser, para muitos povos, uma preparação para a aceitação da verdade bíblica.
ram que o período de 4500 a 3500 a.C. foi significativamente m ais úmido nessa região, mas esse dado é insuficiente para qualquer conclusão. A busca pelos restos da arca de Noé ficou limitada ã região do pico do monte turco Agri Dagh (5 mil metros), próximo ao lago Vã. No entanto, nenhuma m ontanha específica da cadeia de montanhas do Ararate é mencionada no relato bíblico, e os fragmentos de m adeira ali encontrados, quando analisados através do carbono-14, de
monstraram ser de período anterior ao século V d.C..7.2-4. sete casais de cada espécie. Embora N oé tenha levado para a arca dois animais de cada espécie, ele é instruído no versículo 2 a tom ar sete pares de todo anim al lim po e de toda ave. H avia necessidade de um núm ero m aior de anim ais lim pos, pois seriam usados para o sacrifício após o D ilúvio, e tam bém empregados para uso humano no repovoamento mais rápido da terra. Em alguns *rituais sacrificiais, eram
oferecidos sete de cada espécie dos animais designados (cf. 2 Cr 29.21), m as é claro que N oé não iria sacrificar todos eles.7.2. lim pos e im puros, antes de M oisés. A distinção entre animais limpos e impuros não foi um a inovação estabelecida no monte Sinai; essa distinção remonta aos dias de Noé. Não há evidências, tanto no Egito como na M esopotâmia, de algum sistema equivalente a essa classificação israelita dos animais. Em bora existissem restrições alimentares naquelas culturas, elas eram mais limitadas, isto é, certos animais eram restritos apenas para certas classes de pessoas ou em
certos dias do mês. Mesmo aqui é possível presumir que essa classificação tivesse implicações na alimentação. Até esse período, não havia permissão de comer carne (ver 1.29). Quando a carne foi admitida como fonte alimentar para o homem, após o Dilúvio (9.2,3), não havia restrições a respeito de animais limpos e impuros. Como resultado, parece que nesse período a classificação era concernente a sacrifícios, e não a hábitos alimentares.7.11. as fontes das grandes profundezas jorraram . Otexto usa uma expressão poética, "janelas dos céus", para descrever a abertura por onde a chuva caiu. Não se trata de linguagem científica, apenas reflete a perspectiva do observador, assim como falaríamos do sol "se pondo". A única ocorrência de um termo como esse na literatura do antigo Oriente Próximo é encontrada no mito cananeu de *Baal, que ao relatar a construção de sua casa, descreve a "jan e la " como uma abertura nas nuvens. Mas mesmo nesse caso, a palavra não está associada à chuva. Um a term inologia semelhante aparece em alguns textos mesopotâmicos, onde são m encionados portões nos lados leste e oeste do céu, usados para o nascer e para o sol se pôr.
Nuvens e ventos, porém, também passavam por esses portões.7.11-8.5. duração do dilúvio. A duração total do Dilúvio é variável, dependendo dos dados que são considerados. Levando-se em conta as inform ações encontradas nos versículos 7.11 e 8.14, Noé e sua família
passaram doze meses e onze dias dentro da arca. O tempo exato de dias depende do número de dias que se calculava num mês e de algum ajuste feito entre os cálculos lunar e solar. Alguns consideram esses onze dias como um dado interessante, visto que o ano lunar de 354 dias tem onze dias a m enos que o ano solar.8.4. Ararate. As montanhas de Ararate estão localizadas na região do lago Vã, no lado leste da atual Turquia, na região da Arm ênia (conhecida como Urartu nas inscrições *assírias). Essa cadeia m ontanhosa (o pico m ais elevado alcança mais de 5 mil metros de altura) também é mencionada em 2 Reis 19.37, Isaías 37.38 e Jerem ias 51.27. O Épico de Gilgamés, porém, descreve o lugar específico em que a arca do herói do Dilúvio repousou: o topo do m onte N isir, no noroeste da Pérsia.8.6-12. uso de aves no antigo O riente Próxim o. Uma
das cenas mais marcantes no relato do Dilúvio é a de Noé soltando algumas aves para obter inform ações
sobre as condições fora da arca. As narrativas do Épico de Gilgam és e do Épico Atrahasis tam bém m encionam um uso semelhante de aves. Em vez de enviar um corvo e depois uma pom ba em três missões, encontramos uma pomba, uma andorinha e um corvo, enviados cada um por sua vez. A pomba e a andorinha retornam sem encontrar lugar para pousar, enquanto o corvo é descrito, como em Gn 8.7, voando e dando voltas, sem, no entanto, voltar (Gilg. 11.14654). N avegadores do m undo antigo faziam uso de aves para encontrar terra, mas Noé não estava navegando, pois já se encontrava em terra firme, logo seu objetivo ao soltar as aves não se referia a uma busca de direção. Sabe-se também que o padrão de vôo das aves muitas vezes servia como presságio, mas nem no G ênesis, nem no relato de G ilgam és aparecem observações sobre o vôo das aves enviadas.8.7. h áb itos dos corvos. Ao contrário dos pom bos, que voltam após terem sido soltos, o corvo é usado pelos marinheiros com o fim de observarem sua linha de vôo. Com base na direção tom ada pela ave, o marinheiro pode determinar a localização da terra. A estratégia mais sensata então, é soltar prim eiro um corvo e depois usar outros pássaros para determinar a profundidade da água e as condições de pouso do lugar. Os corvos se alimentam de carne em decomposição e, portanto, teriam comida suficiente disponível.
8.9. hábitos das pombas. Os pombos têm um a autonomia de vôo limitada, e por essa razão, são usados pelos navegadores como meio para determinar a localização de terra para pouso. Enquanto eles voltam, é sinal de que não há terra nas proximidades. O pombo vive em lugares pouco elevados e sua alimentação é à base de plantas.8.11. significado da folha de oliveira. A folha de oliveira trazida pela pomba sugere a duração de tempo necessária para que as folhas dessa árvore brotassem, após ter ficado submersa - uma indicação sobre a profundidade das águas do Dilúvio. Também é um sím bolo da nova vid a e da fertilidade que viriam após o Dilúvio. A oliveira é um a árvore que dificilmente morre, mesmo depois de ter sido cortada. Esse broto recém-arrancado m ostra a N oé que o período de recuperação já havia começado.8.20-22. uso de altares. Os altares são um elemento comum de muitas religiões, tanto antigas como m odernas. Na Bíblia, os altares eram geralmente construídos de pedra (bruta ou trabalhada), m as em certas circunstâncias até mesmo uma grande rocha era suficiente (Jz 13.19, 20; 1 Sm 14.33, 34). Muitos acreditam que o altar era o lugar onde se colocavam os alimentos para a divindade, visto que os sacrifícios eram popularm ente entendidos como a oferta de uma refeição aos deuses, em bora essa imagem não seja facilmente identificada no Antigo Testamento.
8.20. propósito do sacrifício de Noé. O objetivo do sacrifício oferecido por Noé não está explícito no Gênesis. O texto descreve o sacrifício como um "holocausto" ou ofertas queimadas, que tinham um a função bastante ampla no sistema sacrificial. Talvez seja mais impor
tante atentar para o que o texto não diz a respeito do sacrifício. Não é um a oferta pelo pecado, nem uma
oferta de gratidão especificamente designada. As ofertas queimadas geralmente aparecem associadas às petições ou súplicas dirigidas a Deus. Em contraste, no sacrifício oferecido após o Dilúvio, no Épico de *Gilga- més e na versão suméria anterior, aparecem libações e ofertas de grãos bem como sacrifícios de animais, com o objetivo de oferecer um banquete aos deuses. O propósito geral do sacrifício no mundo antigo era aplacar a ira dos deuses por meio de ofertas de alimentos e bebidas, e essa, provavelm ente, é a m otivação do herói do Dilúvio nos relatos mesopotâmicos.8.21 . arom a agradável. A qui, bem com o no Pen- tateuco, o sacrifício é descrito como produzindo um arom a agradável, term inologia preservada de contextos antigos em que o sacrifício era encarado como alimento para a divindade. Essa descrição fica muito distante do quadro pintado no Épico de Gilgamés, em que os deuses famintos (privados de comida durante
o Dilúvio) ajuntam-se ao redor do altar como "m oscas", contentes pela possibilidade de suspender o longo jejum.
9.1-17 A aliança com Noé9.2-4. a carne com o alim ento no m undo antigo. Acarne não era um prato comum na culinária do mundo antigo. Os animais eram mantidos para produzirem leite , peles e lã, não esp ecificam ente por sua carne, Assim, havia carne disponível apenas quando um anim al m orria ou era m orto em um sacrifício. Em bora nesta lista a carne passe a ser considerada como um alimento aceitável, ela não deve ser comida com sangue. Nos tempos antigos, o sangue era considerado a força da vida (Dt 12.23). A restrição não proibia o consumo de sangue em sua totalidade, apenas determinava que o sangue devia ser derramado. Derramar o sangue antes de comer a carne era uma maneira de devolver a vida do animal a Deus, que é quem concede a vida. É também uma demonstração do reconhecim ento de que a vida fora tirada com a perm issão de D eus e um m odo de com partilhar da generosidade de D eus com o seus convidados. Sua função é diferente da oraçãò de gratidão feita nos tempos modernos, antes de tomar uma refeição. Nenhuma proibição desse tipo é conhecida no mundo antigo.9.5, 6. pen a de m orte. A vid a hum ana, por ser à imagem de Deus, permanece sob a proteção de Deus. A responsabilidade de preservar a vida hum ana é colocada nas m ãos da humanidade, sendo assim instituída a vingança de sangue no m undo antigo e a pena de morte nas sociedades modernas. Na sociedade israelita, a vingança de sangue estava nas m ãos da família da vítima.9.8-17. aliança. Uma "aliança" é um acordo formal entre duas partes. A principal característica de um a aliança são as condições, que podem incluir exigências para am bas as partes ou para apenas um a delas. N esta aliança, Deus estipula condições a si mesmo, em vez de impô-las a Noé e sua família. Ao contrário da aliança posterior feita com Abraão, e de todas as outras alianças que se desenvolveram a partir de Abraão, esta aliança não im plica um a eleição ou um a nova fase da
revelação. Essa aliança tam bém inclui todas as criaturas vivas, não apenas os seres hum anos.9.13. o significado do arco-íris. O significado do arco- íris como um símbolo da *aliança não significa que essa tenha sido a prim eira vez que um arco-íris apareceu no céu. A função de um símbolo está conectada ao significado atrelado a ele. Do mesmo m odo, a C ircuncisão é apresentada como um símbolo da aliança com
Abraão, embora fosse uma prática antiga, e não uma novidade para Abraão e sua fam ília. No Épico de Gilgamés, a deusa *Istar identificou o lápis-lazúli (pedra semipreciosa de cor azul-escura, com vestígios de pirita de coloração dourada) de seu colar como a base de um juram ento pelo qual ela nunca se esqueceria dos dias do Dilúvio. Um relevo *assírio do século 11 mostra duas mãos saindo das nuvens, uma oferecendo bênção, a outra segurando um arco. Visto que a palavra para arco-íris é a m esma usada para armas, essa é uma im agem interessante.
9.18-28Declaração de Noé a respeito de seus filhos9.21. bebeu do vinho. A prova mais antiga da fabricação de vinho remonta ao período neolítico, no Irã (região de Zagros), onde os arqueólogos descobriram um jarro datando da segunda metade do sexto m ilênio, com resíduos de vinho no fundo.9.24-27. declaração patriarcal. Quando Noé ficou sabendo que Cam tinha sido indiscreto, proferiu uma maldição sobre Canaã e um a bênção sobre Sem e Jafé. N o contexto bíblico, a bênção patriarcal geralmente dizia respeito ao destino dos filhos concernente à fertilidade da terra, da família e ao relacionamento entre seus membros. Outros exemplos podem ser encontrados em Gênesis 24.60; 27.27-29, 39, 40; 48 .15 ,16 ; 49.128. A partir dessa prática podemos chegar a diversas conclusões em relação a essa passagem. Em primeiro lugar, a atitude indiscreta de Cam não deve ser vista como o "m otiv o" da m aldição, m as apenas como a situação que a desencadeou. Compare, por exemplo, quando Isaque pediu a Esaú que lhe preparasse uma refeição a fim de que o abençoasse; a refeição não foi o motivo da bênção, apenas criou um ambiente favoráv el a ela. Em segundo lugar, n ão devem os ficar incomodados com o fato de que Canaã aparentemente foi escolhido sem motivo. Podemos muito bem presum ir que a declaração de Noé tenha sido muito mais abrangente, incluindo algumas afirm ações desfavoráveis também a respeito de Cam. O escritor bíblico não tem a preocupação de preservar o todo - ele simplesmente seleciona as partes que são pertinentes ao que quer mostrar e que são relevantes para seus leitores, visto que os cananeus eram os camitas, com quem Israel tinha m uita fam iliaridade. Em últim o lugar, não devemos entender essas profecias como vindas de Deus. Não aparece nenhuma expressão "e disse o Senhor...". São palavras do patriarca, não de D eus (cf. o uso da primeira pessoa em 27.37). Ainda assim, elas foram entendidas seriamente e consideradas capazes de ter influência no desenrolar da história e no destino da pessoa.
10.1-32A origem dos povos10.1. critérios de divisão. A genealogia da fam ília de N oé fornece informações sobre a história futura e sobre a distribuição geográfica dos povos no antigo Oriente Próximo. Encontramos aqui pistas sobre o povoam ento das áreas costeiras, do norte da Á frica, da Síria, Palestina e M esopotâm ia. Todas as principais regiões estão representadas, bem como a maioria das nações e povos que de alguma form a iriam se relacionar com os israelitas, dentre eles o Egito, Canaã, os filisteus, os jebuseus, *Elão e Assur. Isso nos dá uma idéia da divisão política do "m u n d o" na época em que essa lista foi escrita, e fornece uma indicação definitiva de que as raízes dos israelitas estão na M esopotâmia. Não há, porém, nenhuma tentativa de estabelecer ligações entre esses povos tendo como critérios diferenças raciais. Os povos antigos estavam m ais preocupados com as diferenças baseadas na nacionalidade, língua e etnia.10.2-29. nom es: pessoais, patroním icos, políticos. Osnomes dos descendentes de Noé alistados na "origem dos povos" têm como objetivo retratar a totalidade da humanidade e dar pelo menos uma noção parcial de sua distribuição geopolítica e origem. Ao todo, setenta pessoas são alistadas, o mesmo núm ero encontrado no texto que calcula o número de pessoas da família de Jacó que foi para o Egito (Gn 46.27) e também dos representantes da nação (setenta anciãos, Êx 24.9; Ez 8.11). Outros exemplos do núm ero setenta representando a totalidade podem ser encontrados no número de deuses no panteão *ugarítico e no núm ero de filhos de Gideão (Jz 8.30) e Acabe (2 Rs 10.1). Alguns estudiosos têm considerado que as ligações de parentesco estabelecidas na lista dos povos refletem uma afiliação política (relação de senhor/vassalo), em vez de laços sangüíneos. Línguas aparentadas às vezes são usadas na Bíblia para retratar associações políticas (1 Rs 9.13). Alguns dos nomes que aparecem nessa lista sugerem ser nom es de tribos ou nações, e não de indivíduos. Na genealogia de *Hamurabi, vários nomes são tribais ou geográficos, o que permite concluir que não era algo incom um em documentos antigos. Por ser uma genealogia vertical, a lista simplesmente procura estabelecer relações de diversos tipos.10.2-5. os jafetitas. Em bora nem todos os descendentes de Jafé estejam presos a regiões contíguas, eles poderiam ser definidos, na perspectiva israelita, como um povo que veio do m ar ("povos m arítim os", no v. 5). Um m apa-múndi *babilôrúco do oitavo século ilustra a cosmovisão geográfica de que havia m uitos povos na periferia da civilização, no além-mar. Muitos aqui mencionados podem ser identificados com grupos da Ásia M enor (Magogue, Tubal, Meseque, Tirás,
Togarma) ou das ilhas lona (Rodanim), bem como de Chipre (Elisá e Quitim). H á também diversos outros povos que parecem ter se originado, de acordo com registros *assírios e *babilônicos/ na área a leste do mar Negro e no platô iraniano - os cimérios (Gômer), os citas (Asquenaz), os medos (Madai) e os paflagônios (Rifate). Társis é o que apresenta mais dificuldade por ser geralmente identificado com a Espanha, o que o afasta da esfera geográfica dos outros. No entanto, a denominação de povos gregos ou indo-europeus dada a essas "n açõ es" estabeleceria um a ligação com a Sardenha e possivelmente com Cartago.10.6-20. os camitas. O tema comum na genealogia dos camitas é sua forte importância geográfica, política e econômica para o povo de Israel. Essas nações aparecem como os principais rivais e literalmente cercam Israel (Egito, Arábia, M esopotâm ia e Sírio-Palestina). Ainda m ais im portante é o posicionam ento político dos grupos que pertenciam à esfera egípcia (Cuxe, Fute, M izraim e seus descendentes) e da esfera cana- néia (diversos povos, como os jebuseus e os heveus). É interessante notar que muitos deles são classificados e tn icam en te com o sem itas (can an eu s, fe n íc io s e *amorreus). A lista também é intercalada por narrativas breves (Ninrode e Canaã) que rompem a estrutura estereotipada das genealogias e faz ligações com áreas (*Babilônia, *Nínive, Sidom, Sodoma e Gomorra) que mais tarde se tom arão significativas na história de Israel.10.8-12. N inrode. Ao longo dos anos, muitos herme- neutas procuraram identificar Ninrode com a figura histórica conhecida como Tukulti-N inurta I (um rei *assírio do período dos juizes bíblicos), ou com divindades mesopotâmicas como Ninurta, deus da guerra e da caça, que num a lenda persegue um a série de criaturas fantásticas, derrotando-as ou matando-as. Em Gênesis, porém, Ninrode é claramente um herói humano, e não divino ou semidivino. U m a tradição posterior dos judeus, mais tarde assumida também pelos pais da igreja, afirmava que ele seria o construtor da torre de Babel e que teria originado a idolatria, mas essas idéias não encontram base no texto bíblico. A extensão de seu reinado, desde o sul até o norte da M esopotâmia (v. 10 ,1 1 ) corresponde ao crescimento do primeiro império conhecido na história, a dinastia de Acade, governada por Sargon e N aram -Sin (por volta de 2300 a. C.), dois heróicos reis da antigüidade. O reinado de Ninrode incluía Ereque (*Uruk), a cidade onde *Gilgam és reinou e um dos m ais antigos e maiores centros da cultura *suméria.10.21-31. os sem itas. Em bora Sem seja o filho m ais velho de N oé, sua genealogia é a últim a da lista, como geralmente acontece no Livro de Gênesis com o filho que o texto procura acompanhar mais de perto.
Há um a m istura de povos semitas e não semitas nesta lista (considerando nossos critérios étnicos). Por exemplo, *Elão (leste do Tigre) e Lude (Lídia, no sudeste da Á sia Menor) são considerados não sem itas, m as há fortes laços históricos entre essas duas áreas em períodos posteriores. Sabá, Ofir e Havilá fazem parte da região arábica e Arã originou-se a leste do Tigre e ao norte de Elão, mas passou a ser associado com os aram eu s, que d om inaram a S íria e o n oroeste da Mesopotâmia no final do segundo milênio a. C..10.25. a divisão da terra. Em bora essa expressão seja tradicionalmente interpretada como uma referência à divisão das nações depois do incidente da Torre de Babel (Gn 11.1-9), existem outras possibilidades. Poderia, por exemplo, tratar-se de uma divisão de comunidades humanas em grupos distintos de agricultores sedentários e pastores nôm ades; ou possivelmente seja o registro de uma migração de povos, que teria transformado drasticamente a cultura do antigo Oriente Próximo - talvez representado pela separação de um grupo que teria viajado para o sudeste, citado em Gênesis 11.2.
11.1-9A T o r r e d e B a b e l11.1. a tradição de um a língua comum. O registro de um a época em que toda a hum anidade falava uma ún ica lín gu a está p reserv ad o no ép ico *su m ério intitulado Enmekar e o Senhor de Aratta. Esse relato fala de um a época em que não havia animais selvagens e os povos viviam em harmonia: "O Universo inteiro falou em uníssono a *Enlil, em um a só língua". Em seguida, relata que a fala foi m udada, provocando "d iscórdia". Não há nenhum outro elemento paralelo à Torre de Babel, mas a confusão das línguas causada por um a divindade pode ser encarada como um tema antigo.11.2. Sin ear. Sinear é um a das designações bíblicas para a região mais baixa da planície dos rios Tigre e Eufrates. Tem sido tradicionalm ente identificada ao equivalente lingüístico de "Sum éria", nome designado para a mesma região que testemunhou o início da civilização. As principais cidades dessa região, nos tempos antigos eram *Ur, Eridu, *Uruk e Nipur.11.3. fabricação de tijo los. A passagem fala do uso de tijolos queimados no lugar de pedras. Na Palestina, as pedras de fácil acesso eram usadas para as fundações de importantes edifícios enquanto que os tijolos secos ao sol eram empregados na estrutura acima do alicerce. Não havia necessidade de tijolos queim ados em fom os e não foi comprovado seu uso na região. Nas planícies ao sul da M esopotâm ia, porém, as pedras teriam de ser extraídas e transportadas de um a certa distância. A tecnologia de assar tijolos foi desenvolvi
da já no final do quarto m ilênio, e o produto resultante, fixado com betum e, mostrou ser à prova d'água e tão resistente quanto a pedra. Visto que era um processo dispendioso, era usado apenas na construção de importantes prédios públicos.11.4. urbanização. Os sumérios foram os pioneiros na urbanização do sul da M esopotâmia, já nos primeiros séculos do terceiro m ilênio a.C.. As "cidades" desse período não eram planejadas para que as pessoas vivessem nelas. Elas abrigavam o setor público, em sua maioria prédios religiosos e instalações de armazenagens, e eram cercadas por um a m uralha. Visto que essas primeiras cidades eram governadas por um conselho de anciãos ligados ao templo, não havia prédios separados para a administração, embora possivelmente existissem residências para esses oficiais do governo. A determinação em construir uma cidade sugere um esforço no sentido de urbanização, que pode facilm ente ser interpretado como uma medida para evitar a dispersão das pessoas. A urbanização tom ou possível o modo de vida cooperativo, permitindo que mais pessoas vivessem juntas em uma determinada região, bem como o uso da irrigação em larga escala e uma produção excedente de grãos. A necessidade de dispersar os povos não-urbanizados fica evidente na história de Abraão e Ló em Gênesis 13.11.4. torre. A característica principal dessas primeiras cidades do sul da M esopotâm ia era o complexo do templo. M uitas vezes, esse com plexo era a própria cidade. O complexo do templo nesse período compreendia o templo em si, onde a divindade protetora era a d orad a e, com m aior d estaq u e , o z ig u ra te . Os zigurates eram estruturas projetadas na forma de escadarias e plataformas que pretensamente iriam desde os céus (o portão dos deuses) até a terra, de modo que os deuses pudessem descer até o templo e até a cidade trazendo sua bênção. Era um a providência bastante conveniente oferecida aos deuses e a seus mensageiros. Essas escadarias estão presentes na mitologia dos *sum érios e tam bém são retratadas no sonho de Jacó (Gn 28.12). Os zigurates eram construídos com tijolos secos ao sol ligados com barro e pedriscos e recobertos com um a camada de tijolos queimados em fom os. Não havia divisórias, câmaras ou corredores de nenhuma espécie no interior da construção. A estrutura em si era feita de m odo a sustentar a escadaria. N o topo havia um pequeno quarto para a divindade, equipado com um a cama e um a m esa regularmente abastecida com comida. Deste modo, a divindade poderia renovar suas forças durante a descida. Nenhum dos festivais ou *rituais fornecem indícios de que as pessoas tam bém faziam uso do zigurate por algum m otivo; ele era reservado aos deuses. Os sacerdotes certamente tinham de subir ao topo para levar
novos suprimentos, m as aquele era solo sagrado. O zigurate serviu como representação arquitetônica das religiões pagãs desse período, em que a divindade foi transformada à imagem do homem.11.4. um a torre que alcance os céus. De acordo com o costume acadiano, esta expressão é reservada quase que exclusivam ente para a descrição dos zigurates. Adicionalmente, existem alguns presságios intrigantes na série intitulada Summa Alu ("Se uma cidade...") que indicam uma desgraça iminente pairando sobre as cidades ou torres elevadas. Se uma cidade elevar- se a ponto de alcançar os céus, será abandonada ou haverá um a mudança no trono. A cidade que alcançar a altura do pico de uma m ontanha se tom ará em ruínas, e se subir ao céu como um a nuvem , haverá um a calamidade.11.4. um nome fam oso. As pessoas estavam interessadas em ter um nom e fam oso. Esse é um desejo reconhecido como legítimo por Deus em outros contextos, como quando Ele diz que o nome de Abraão e Davi será lem brado para sempre. Ter descendentes era um modo de ter o nome conhecido. Embora não haja necessariamente nada de mal ou pecaminoso em querer ter um nome famoso, devemos reconhecer tam bém que esse desejo pode tornar-se obsessivo ou levar a pessoa a elaborar planos maldosos.11.4. e não serem os espalhados. Do m esm o m odo que desejavam um nome famoso, as pessoas também queriam evitar serem dispersas. Embora Deus as tivesse abençoado com o privilégio de m ultiplicar-se de m odo a encher a terra, isso não significava que deviam se espalhar. O povoamento da terra estava se cumprindo pela multiplicação, e não pela dispersão dos povos. Com o tempo, as condições econômicas forçaram a ruptura de alguns grupos de pessoas, sendo esse o motivo de terem se esforçado pela urbanização. Deus os espalhou não porque não desejasse que permanecessem juntos, m as porque seus esforços unificados estavam provocando desordens (assim como nós separamos crianças que estão se comportando mal).11.5. desceu para ver. O zigurate teria sido construído apenas para permitir que Deus descesse por ele para ser adorado e para abençoar o povo. De fato D eus "d esceu " para ver, m as em vez de agradar-se por terem providenciado algo conveniente, ficou aborrecido ao ver o paganismo que perpassava os conceitos representados pelo zigurate.11.8. vestígios de povoamento da fase *Uruk. Muitos elementos desse relato apontam para o final do quarto milênio como cenário da narrativa. Este é o período em que a vazante das águas perm itiu o estabelecimento na bacia sul dos rios Tigre e Eufrates. Muitos povoamentos demonstram que seus ocupantes trouxeram consigo a cultura da região norte da Mesopo-
tâmia. É também nesse período conhecido como a fase Posterior *Uruk (quase no final do quarto m ilênio) que a cultura e a tecnologia desses povoamentos do sul da Mesopotâmia repentinamente começam a despontar em povoamentos ao longo de todo o antigo Oriente Próximo. Assim, tanto a migração mencionada no versículo 2, como a dispersão do versículo 9 encontram pontos de contato nos padrões de povoam ento identificados pelos arqueólogos no final do quarto milênio. A urbanização, a estrutura dos zigura- tes e experimentos com a fabricação de tijolos queimados ao forno também se encaixam nesse período.11.9. Babilônia antiga. Recompor a história antiga da *Babilônia é um a tarefa difícil. As escavações arqueológicas no local não podem alcançar os períodos anteriores ao início do segundo milênio porque o nível do lençol d'água do Eufrates mudou ao longo do tempo, destruindo os níveis m ais baixos. Na literatura da Mesopotâmia há pouca referência significativa a respeito da Babilônia antes de se tornar a capital do* Antigo Império Babilônio, no século 18 a.C..
11.10-32A descendência de Sem, a família de Abraão11.28. Ur dos Caldeus. A família de Abraão é originária de *Ur dos Caldeus. Por muitas gerações, a única *Ur conhecida dos estudiosos modernos era a famosa cidade *sum éria na região sul do Eufrates. Não se sabe ao certo por que essa cidade ao sul seria chamada de *Ur dos Caldeus, visto que nesse período os caldeus estavam estabelecidos principalmente na parte norte da M esopotâmia. Uma explicação possível foi oferecida quando a descoberta de provas textuais da M esopotâmia começou a dar indícios da existência de uma cidade m enor com o nom e de *Ur, na região norte, não muito longe de Harã (para onde Terá se mudou com sua família). Essa cidade poderia logicamente ser cham ada de *Ur dos Caldeus para diferenciá-la de sua homônim a, bem conhecida de todos, na região sul. Isso tam bém explicaria a razão da terra natal da família de Abraão sempre ser descrita como Padã-Arã ou A rã N aharaim (24.10; 28.2, descrições da região
norte da Mesopotâmia entre os rios Tigre e Eufrates).11.30. esterilidade no antigo Oriente Próxim o. No m undo antigo, não ser capaz de gerar um herdeiro era considerada uma calamidade de grandes proporções para a fam ília porque representava um a ruptura no padrão de herança das gerações e também por não deixar ninguém para cuidar do casal em sua velhice. Assim, foram criados recursos legais que permitiam a um homem, cuja esposa não tivesse lhe dado filhos, fecundar uma escrava (Código de *Hamurabi; textos de *Nuzi) ou uma prostituta (Código de Lipite-Istar).
As crianças nascidas desse relacionam ento podiam então ser reconhecidas como herdeiras legítimas pelo pai (Código de Hamurabi). Abrão e Sarai em pregaram a mesma estratégia quando recorreram a Hagar como mãe substituta para gerar um herdeiro ao casal já idoso (ver comentários em G n 16.1-4).11.31. Harã. A cidade de Harã ficava localizada a 880
quilôm etros a noroeste de *U r (sul), à m argem esquerda do rio Balique (um afluente do grande Eufrates). Atualmente, está localizada na Turquia, cerca de 16 quilômetros da fronteira com a Síria. É m encionada com grande destaque nos textos de *Mari (século 18 a.C.) como um centro habitado pelos *amorreus no norte da Mesopotâmia e como um importante cruzamento de rotas comerciais. Abrigou um tem plo de Sin, o deus da lua. As escavações arqueológicas na região têm sido dificultadas pelo fato de o local ser continuamente ocupado.
12.1-9Viagem de Abraão para Canaã12.1. a casa do pai. No mundo antigo, um homem era identificado pela sua posição como membro da casa de seu pai. Quando o chefe da casa morria, o herdeiro assumia aquele título juntam ente com as responsabilidades a ele atreladas. Essa expressão tam bém está relacionada à posse de terra e propriedades dos antepassados. Ao deixar a casa de seu pai, Abrão estava abrindo mão de sua herança e de seu direito sobre a propriedade da família.12.1. as prom essas da *aliança. Terra, família e herança eram alguns dos elementos mais significativos da sociedade antiga. Para os agricultores e pastores, a terra constituía seu meio de sobrevivência, enquanto que para os moradores das cidades, representava sua identidade política. Para os descendentes, a terra representava o futuro. Os filhos eram responsáveis pelo sustento dos pais, em sua velhice, e ao mesmo tempo possibilitavam que a linhagem passasse para a próxim a geração. Eram os filhos que garantiam um sepul- tamento adequado para os pais e honravam o nome de seus antepassados. Em algumas culturas do antigo Oriente Próximo, isso era considerado essencial para a manutenção de uma vida tranqüila no além. Quando Abrão se dispôs a deixar seu lugar na casa de seu pai, ele abriu m ão de sua segurança e colocou sua
sobrevivência, sua identidade, seu futuro e sua segurança nas mãos do Senhor.12.6. carvalho de M oré. Provavelm ente essa árvore servia com o um m arco em Siquém e talvez tenha funcionado como um lugar onde algum professor (o significado literal de Moreh) ensinasse ou um juiz atendesse a questões legais (tal como a palmeira de Débo
ra em Jz 4.5 e a árvore do julgam ento de Danilo, no Épico *Ugarítico de *Aqhat). Além de serem valorizadas por sua sombra, árvores como essa serviam como prova de *fertilidade e por essa razão eram freqüentemente adotadas como lugares de adoração (mas nem sempre como objetos de adoração).12.6. S iq u é m . A localização de Siquém tem sido identificada com Tell Balatah, no leste da atual Nablus, 56 quilômetros ao norte de Jerusalém. Talvez por estar próxima a dois montes da região, Gerizim e Ebal, tenha uma longa história como local sagrado. A posição estratégica de Siquém, na entrada leste de uma passagem entre as duas montanhas, também fez dela um importante centro de trocas. Já no período da Idade do Bronze M édia I*, Siquém é m encionada nos textos egípcios do faraó Sesostris III (1880-1840 a.C.).
Escavações recentes têm descoberto um povoamento aparentemente sem muros, da Idade do Bronze *Mé- dia IIA (cerca de 1900 a.C.), com o desenvolvimento de fortificações na Idade do Bronze M édia IIB (por volta de 1750).
12.6-9. sign ificado dos altares. O s altares funcionavam como plataformas sacrificiais. A construção deles tam bém estava ligada à introdução da adoração de um deus específico, num a nova terra. Ao construir altares em cada um dos lugares onde acampou, Abrão definiu as áreas a serem ocupadas na "Terra Prom etida" e posteriormente estabeleceu esses lugares como centros religiosos.
12 .10-20 Abraão no Egito12.10. fo m e n aq u ela terra. A região da Síria e da Palestina possui um ecossistema frágil que depende da precipitação das chuvas nos meses de inverno e primavera. Se as chuvas não ocorrerem na época certa, se o nível delas for além ou aquém do esperado ou se não chover, as plantações e colheitas serão afetadas negativamente. Era bastante comum ocorrerem secas
e conseqüentemente fome nessa região. O papiro egípcio Anastasi VI registra o desaparecimento de um clã inteiro no Egito, durante um período de seca. Arqueólogos e geólogos modernos descobriram evidências de secas cíclicas que ocorriam a cada trezentos anos, no final do terceiro m ilênio e no início do segundo milênio - um dos períodos da época de Abraão.12.11, 12. Esposa com o irm ã. A questão da esposa como irmã aparece três vezes em Gênesis. Funciona com o (1) um a estratégia de proteção usada pelos migrantes contra as autoridades locais, (2) um a disputa entre Deus e o faraó em Gênesis 12 e (3) um recurso literário idealizado para aumentar a tensão na narrativa, sempre que a promessa do herdeiro à *aliança é
ameaçada. A lógica para o uso desse recurso é possivelmente que, se um rei ou alguém no poder quisesse tomar uma m ulher para seu harém, ele iria negociar com o irmão, m as tenderia a eliminar o marido.
Em cada um dos casos citados, o casal foi novamente unido, enriquecido e o governante local envergonhado. No aspecto pessoal, esse incidente evidencia uma falha no caráter de Abrão, o que o torna mais humano do que em outras histórias.12.11. a b eleza da já idosa Sara. Sara é descrita como uma m ulher bonita, em bora nessa época ela já tivesse entre sessenta e cinco a setenta anos. A expressão aqui usada para descrever Sara às vezes é usada para descrever a beleza de um a m ulher (2 Sm 14.27), mas não apenas os atrativos e encantos fem ininos. Tam bém é usada algumas vezes para descrever a beleza m asculina (1 Sm 17.42), e é im portante m encionar que essa
m esm a expressão é em pregada para descrever um a espécie de vacas de excelente qualidade (G n41.2). Não devemos, portanto, presumir que Sara tivesse milagrosamente mantido a beleza estonteante de sua juventude. Sua dignidade, sua postura, sua discrição, sua m aneira de vestir-se, tudo poderia contribuir para a im pressão de que ela era um a m ulher deslum brante.12.10-20. a pintura na tum ba de Beni H asan. A pintura na tum ba de Khnumhotep III, da 12a Dinastia (século 19 a.C .), em Beni H asan (perto de M inya, no Médio Egito), ilustra um a das inúmeras caravanas de "asiá ticos" que levavam m atéria-prim a e produtos exóticos (incenso, lápis-lazúli). Esses comerciantes vestiam túnicas coloridas, eram acompanhados de suas famílias e viajavam com suas armas e mulas carregadas de couro de boi, barras de bronze e outras mercadorias. A aparência e a tranqüilidade com que eram capazes de viajar até o Egito perm ite supor m uito bem que esta pintura estaria retratando a casa de Abrão. O Egito servia como mercado e também como fonte de alimento e emprego temporário para muitos grupos de outras partes do Oriente Próximo que para ali eram levados pela guerra ou pela fome.12.17. origem das doenças. No m undo antigo, toda doença era considerada como um reflexo do descontentamento de um deus ou dos deuses. A maneira de lidar com as doenças infecciosas era através de sacrifícios seguidos de rituais de purificação, embora tam bém fossem tratadas com ervas m edicinais, m as a causa era sempre encarada como divina, não física. Assim, as doenças eram consideradas como resultado direto de pecado ou da violação de algum costume, e os antigos procuravam identificar qual deus seria o responsável pela punição e como ele poderia ser apaziguado. Rem édios m edicinais eram som ados a rem édios m ágicos e encantamentos.
13.1-18 Abraão e Ló13.1-4. o itinerário de Abrão. Visto que são descritos como pastores nômades, Abrão e Ló teriam que periodicamente fazer algumas paradas para encontrar pastagem e água para seus rebanhos. O N eguebe foi ocupado mais intensamente no início do segundo milênio e pode ter sido uma das áreas de acampamento durante essa jornada (ver Êx 17.1). O retorno às proximidades de Betei marca a retomada da narrativa da *aliança e prepara o cenário da separação de Ló. A distância entre a fronteira do Egito até a região de Betei e Ai seria de cerca de 320 quilômetros.13.5-7. estilo de vida e necessidades do pastoreio. Os principais requisitos para um pastoreio bem-sucedido são boas pastagens e fontes de águas. Os meses quentes e secos, de abril a setembro, exigiam que os pastores conduzissem os rebanhos a lugares m ais altos onde ainda havia possibilidade de encontrar pastos, riachos e fontes. Nos m eses mais frios e úmidos, de outubro a março, os anim ais eram trazidos de volta às planícies. Esse movimento sazonal exigia que os pastores se afastassem de suas aldeias por longos períodos ou então adotassem um estilo de vida seminômade, sem raízes, fazendo-se acompanhar por toda a família. O conhecimento dos recursos naturais ao longo de suas rotas de viagens era primordial para os pastores. Disputas relacionadas a terras para pastagens e direitos sobre o uso das águas eram os motivos m ais freqüentes de desentendimentos entre pastores.13.7. cananeus e ferezeus. Ver comentário em Êxodo3.7-10.13.10. o vale do Jordão. Seria possível avistar bem todo o vale do Jordão e da área norte do m ar Morto a partir das montanhas que circundavam Betei. Embora a área ao redor do m ar Morto não seja um a região particularmente convidativa hoje, esse versículo deixa claro que, antes do ju lgam ento de D eus, a área tinha um a qualidade bem distinta. É importante mencionar que existem extensas áreas ao longo do planalto do Jordão que fornecem amplas pastagens e talvez isso também esteja representado nessa narrativa.13.12. as fronteiras de Canaã. A fronteira leste de Canaã sempre é identificada como sendo o rio Jordão (ver especialmente Nm 24.1-12 e os comentários sobre esse texto). Assim , fica claro que ao m udar-se para perto das cidades da planície, Ló saiu da terra de Canaã, deixando-a inteiramente para Abrão.13.18. Hebrom. A cidade de Hebrom está localizada na região m ontanhosa da Judéia (cerca de m il metros acima do nível do mar), aproximadamente 30 quilômetros a sudeste de Jerusalém e 36 quilômetros a leste de Berseba. E um local onde convergem estradas antigas vindas do leste de Laquis e encontrando-se com
a estrada ao norte de Jerusalém , o que denota sua importância e ocupação contínua. Suas fontes de água e poços fornecem grande quantidade de água para a produção de azeitonas e uvas e teriam oferecido a base para uma economia m ista de agricultura e pastoreio, com o a descrita em Gênesis 23. H ebrom foi fundada "sete anos antes de Zoã" (Avaris, no Egito), datando do século 17 a.C. (ver comentário sobre Nm 13.22). A construção de um altar aqui, bem como em Betei, faz deste um importante lugar religioso e seu uso subseqüente com o lugar de sepultura para os antepassados estabeleceu sua importância política (refletida na narrativa davídica - 2 Sm 1.1-7; 15.7-12).
14.1-16Abraão resgata Ló14.1-4. os reis do leste. Os reis do leste permanecem desconhecidos até os dias de hoje, apesar das inúm eras tentativas de conectá-los a figuras conhecidas historicamente e da possibilidade de identificar com certa segurança as áreas geográficas representadas por eles. Sinear aparece em outros contextos na Bíblia referindo-se às planícies do sul da M esopotâmia, conhecidas em épocas anteriores como *Suméria e mais tarde relacionadas à *Babilôráa. Elasar corresponde a um antigo m odo de referir-se à * A ssíria (a.la .sar). *Elão é o nom e comum ente usado para a região que na época compreendia todo o leste da Mesopotâmia, desde o m ar Cáspio até o golfo Pérsico (atual Irã). Goim é uma expressão mais vaga, mas geralmente é associada aos *hititas (que ocupavam a parte oriental da atual Turquia) basicamente porque o nome do rei, Tidal, é facilmente associado a Tudhaliyas, um nome real hitita bastante comum . Com o referência a um grupo de pessoas, é m ais provável que Goim se refira a uma coalizão de povos "bárbaros" (de acordo com a designação *acadiana, Umman M anda). Em *M ari, é uma designação usada para referir-se aos heneus. Em bora em muitos períodos da primeira metade do segundo m ilênio os elam itas estivessem intimam ente associados ao poder na M esopotâm ia, é m ais difícil incluir os hititas nesse cenário. Sabem os que os mercadores *assírios tinham uma colônia de comércio na região hitita, mas não há indícios de empreendimentos m ilitares unificados. A história dos hititas em seu período inicial é bastante incompleta, e temos poucas informações quanto à origem ou sobre o período exato em que ocuparam a Anatólia. Os nomes dos reis do leste são suficientemente autênticos, mas nenhum deles foi identificado ou relacionado aos reis dessas respectivas regiões nesse período. Assim, por exemplo, existe um Arioque que foi príncipe em Mari, no século 18. Certamente não temos informações sobre o controle elam ita de partes da Palestina, com o o versículo 4
sugere, m as deve-se adm itir que há m uitas lacunas em nosso conhecimento da história desse período. Não há menção desses cinco reis de Canaã fora da Bíblia, mesmo porque a existência dessas cidades ainda não foi comprovada em outros registros antigos, apesar das afirmações ocasionais de possíveis referências a Sodoma.14.5-7. o itinerário e as conquistas dos reis do leste. Oitinerário da conquista é apresentado na form a com um aos textos cronológicos. A rota ia de norte a sul, seguindo o caminho conhecido como Estrada Real, a principal via norte-sul na Transjordânia, bem à leste do vale do Jordão. Asterote, cidade vizinha da capital, m ais tarde denom inada Carnaim , era a capital da região bem à lesle do m ar da Galiléia, habitada pelos refains. Não se sabe realmente nada a respeito desses povos, nem dos zuzins ou emins, embora todos eles sejam identificados como gigantes da terra, na época da conquista sob o com ando de Josué (cf. D t 2). A próxim a parada foi H ã, no norte de Gileade. Savé, tam bém conhecida como Quiriataim , fazia parte do território rubenita quando a terra foi dividida entre as tribos, fazendo divisa com a região dos moabitas. Os horeus eram o povo que vivia na região m ais tarde conhecida como Edom, a próxima região ao sul. Após terem alcançado a área do golfo de Á caba (a cidade de El-Parã = Elate?), os invasores se dirigiram para o noroeste para enfrentar os amalequitas, na região de Cades-Barnéia (na época cham ada de En-M ispate) e os *amorreus, na região m ontanhosa ao sul. Essa rota os conduziu até as cidades da planície, nas regiões sul e leste do m ar Morto. As cidades de Sodoma e Gomorra ainda não foram localizadas com segurança, embora alguns considerem a possibilidade de suas ruínas estarem submersas em alguma parte do mar Morto (ver comentários em G n 19). Após a batalha no vale de Sidim , os quatro reis atravessaram o lado oeste do Jordão e chegaram a D ã, no extremo norte da terra de
Canaã, antes de serem derrotados por Abraão e seus homens.14.10. poços de betum e. Os poços de betum e são bastante comuns nessa região; o betum e é tão abundante que grande quantidade dessa substância borbulha até a superfície e chega a flutuar no m ar Morto. A palavra traduzida como "poços" é a m esma usada para fontes de água no Antigo Testamento, portanto, de m odo geral, refere-se a um buraco que foi escavado. No vale de Sidim existiam muitos poços escavados para extração de betume, garantindo refúgio para os reis (eles "desceram para dentro deles", e não "ca íram nos poços").14.13. "o h e b re u " . A brão é m encionado com o "o hebreu". Nos primórdios, essa designação era tipicam ente usada apenas como uma referência a estrangeiros. Essa expressão é usada também para identificar José no Egito (p. ex., 39.14-17), os escravos israelitas em relação a seus senhores egípcios (Êx 2.11), Jonas em relação aos marinheiros (Jn 1.9), os israelitas em relação aos filisteus (1 Sm 4.6) e em outros contextos semelhantes. Alguns acreditam que o termo "hebreu", nesses casos, não seja uma referência étnica, mas uma designação, presente em m uitos textos antigos, da classe social de certas pessoas, conh ecid as com o "h abiru", isto é, povos sem posses.14.14-16. 318 hom ens treinados. A qui descobrimos que a fam ília de Abrão é significativam ente grande (318 recrutas ou agregados). A palavra usada para descrever esses homens não aparece em nenhum outro contexto no Antigo Testamento, m as ocorre numa carta *acadiana do século 15 a.C.. Independente da época em que Abrão esteja situado, seja no início da Idade do Bronze *Média, quando a área era predominantem ente ocupada por pastores e aldeões, ou na Idade do Bronze *M édia posterior, quando havia assentam entos m ais fortificados, seu exército poderia equiparar-se ao de qualquer outra força armada da
A RELIGIÃO DE ABRAAOÉ importante mencionar que a família da qual Abraão procedia não era monoteísta (ver Js 24.2, 14), mas compartilhavam das crenças politeístas do mundo antigo daquela época. Nesse sistema religioso, os deuses estavam ligados às forças da natureza e se revelavam através dos fenômenos naturais. Esses deuses não demonstravam sua natureza, nem davam indícios do que poderia fazê-los favorável aos homens ou provocar sua ira contra eles. A adoração consistia em serem adulados e bajulados, terem suas vontades e caprichos obedecidos e sua ira aplacada. Manipulação era o termo exato para seu modo de agir. Eram deuses feitos à imagem do homem. Uma das principais razões para Deus ter feito uma aliança com Abraão foi para revelar-se como Ele realmente era, corrigindo assim a falsa visão da divindade que as pessoas tinham desenvolvido. Mas essa revelação foi planejada para acontecer em estágios, não de uma única vez.
O Senhor, Yahweh, não é retratado como um Deus ao qual Abraão já adorava. Quando Ele aparece a Abraão, não lhe oferece uma explicação doutrinária, nem requer rituais ou faz exigências; Ele faz uma proposta. Yahweh não diz a Abraão que Ele é o único Deus, nem pede a ele que pare de adorar aos deuses que sua família vinha adorando. Ele não lhe diz para livrar-se de seus ídolos, nem proclama a vinda de um Messias ou da salvação. Em vez disso, Ele diz que tem algo reservado para Abraão, se ele, por sua vez, estiver disposto a abrir mão de algumas coisas.
Nos sólidos sistemas politeístas do antigo Oriente Próximo, as grandes divindades cósmicas, embora respeitadas e adoradas em contextos nacionais e nas cortes reais, tinham pouco contato com as pessoas comuns. Assim, os indivíduos focalizavam sua adoração pessoal ou familiar nas divindades locais ou familiares.
região. Até mesmo m ais tarde, na Idade *Amarna, os exércitos de qualquer cidade-Estado não seriam m uito m aiores que o de Abrão.14.15. táticas de batalha. Abrão alcançou o exército do leste na fronteira norte da terra, em Dã, usando como estratégia uma emboscada durante a noite. Essa tática é comprovada em textos antigos como os documentos do período dos juizes egípcios, bem como em documentos *hititas.
14.17-24 Abraão e Melquisedeque14.17-20. M elquisedeque. Melquisedeque é apresentado como rei de Salém e é retratado como o principal rei da região, sendo aquele que recebe um a parte dos despojos. Geralmente considera-se que Salém seja Jerusalém, em bora as evidências cristãs iniciais e o mapa M adeba a associem com Siquém. (O m apa M adeba é o mais antigo mapa da Palestina. É formado por um m osaico no piso de uma igreja do sexto século d.C.). Geralmente, um a cidade-Estado prevalecia em relação a outras cidades da região, como pode ser visto no Livro de Josué, onde os reis de Jeru salém e Azor fizeram coalizões unindo o norte ao sul. Não se pode facilmente determinar se M elquisedeque era cananeu, *amorreu ou jebuseu. O nom e de Deus que ele usa para abençoar Abrão, El Eliom ("Deus Altíssim o"), é bem conhecido como um a forma de referir-se ao deus cananeu *E1, na literatura cananéia.14.18, 19. encontro de Abraão com M elquisedeque. Esse encontro aconteceu no vale de Savé. A designação desse lugar como o Vale do Rei relaciona-o ao vale bem ao sul de Jerusalém , provavelm ente na junção dos vales Kidron e Hinnom. Num período posterior, Absalão construiu um monumento ali (2 Sm 18.18). A refeição que compartilharam indicaria um acordo de paz entre eles. Os tratados *hititas fazem referência à
provisão de alimento aos aliados, em tempos de guerra. M elquisedeque estava ansioso em fazer um acordo de paz com um a força m ilitar comprovada e Abrão se submete pagando o dízimo, reconhecendo assim a posição de M elquisedeque.14.21-24. acordo entre Abraão e o rei de Sodoma. Orei de Sodom a reconheceu que Abrão tinha direito aos despojos, m as pediu permissão para que o povo voltasse com ele. Abrão recusou tom ar parte dos despojos, com a explicação de que está sob juram ento a "E l Eliom " (que ele identifica como *Yahweh) de não lucrar com suas ações militares. É possível que esse acordo tenha ocasionado a elaboração de um documento para formalizar os termos. Tal documento poderia facilmente ter tomado a form a desse capítulo ou até m esm o ter sido um a fonte de pesquisa para a produção desse capítulo.
15.1-21 Ratificação da aliança15.1. visões. As visões eram um meio usado por Deus para comunicar-se com as pessoas. Todas as visões desse tipo citadas no Antigo Testam ento foram dadas a profetas (tanto a profetas escritores como a Balaão) e freqüentem ente resultaram em *oráculos proféticos que foram então entregues ao povo. As visões podem acontecer durante os sonhos, mas não são o mesmo que sonhos. Elas podem ser visuais ou audíveis. Podem envolver cenários naturais ou sobrenaturais e a pessoa que recebe a visão pode tanto ser um espectador, como um participante da mesma. As visões também faziam parte da instituição profética em outras culturas no antigo Oriente Próximo.15.2, 3. H erança ao servo. Caso o chefe da casa não tivesse herdeiro do sexo masculino, ele poderia adotar legalmente um servo, fazendo-o seu herdeiro, como demonstrado particularm ente num texto de *Larsa,
Podemos entender melhor essa questão por meio de uma comparação com a política. Embora respeitemos e reconheçamos a autoridade de nossos líderes políticos nacionais, quando enfrentamos um problema em nossa comunidade, procuramos resolvê-lo com a autoridade local, em vez de escrever uma carta ao presidente. Na Mesopotâmia, na primeira parte do segundo milênio, pode-se observar um importante desenvolvimento na esfera religiosa, que se aproxima desse senso comum na abordagem política. As pessoas começaram a relacionar-se com "deuses pessoais" que, freqüentemente eram adotados como deuses da família, através de gerações. Essa era geralmente a função das divindades menores e, às vezes, não era nada mais que a personificação da sorte. Acreditava-se que o deus pessoal tinha um interesse especial pela família ou por um de seus membros e com isso, tomava-se uma fonte de bênção e sorte, como recompensa por sua adoração e obediência. Embora o deus pessoal não fosse o único a ser adorado, a maior parte da adoração, tanto individual como familiar, estava centrada nele.
E possível que as primeiras reações de Abraão a Yahweh possam ter seguido essa linha - talvez Abraão tenha considerado Yahweh como um deus pessoal disposto a tomar-se seu "divino protetor". Embora não tenhamos nenhuma indicação de que Yahweh tenha explicado ou exigido uma crença monoteísta, nem que Abraão a tivesse adotado, é evidente que a adoração a Yahweh prevaleceu sobre a experiência religiosa de Abraão. Ao romper com sua terra, sua família e sua herança, Abraão também rompeu com todos os seus laços religiosos, visto que as divindades eram associadas às divisões geográficas, políticas e étnicas. Em sua nova terra, Abraão não teria deuses territoriais; para seu novo povo, ele não estava levando os deuses de sua família. Ao deixar seu país, ele não mais teria deuses nacionais ou de cidades, e foi Yahweh quem preencheu esse vazio, tornando-se o "Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó".
na * Antiga Babilônia. É bem provável que isso ocorresse com o últim o recurso, visto que significava a transferência da propriedade a uma pessoa (e à sua linhagem) que era (1) originalm ente um escravo ou servo e (2) não era um parente de sangue. Esse texto assinala a frustração de Abrão por não ter filhos, dizendo a Deus que designara Eliézer de Damasco como seu herdeiro, embora não fique claro se ele já adotara Eliézer ou se simplesmente estava se referindo a isso como a última opção que lhe restava.15 ,9 ,10 . o ritual de cortar os anim ais. Como no caso de Jeremias 34.18, onde um *ritual de *aliança é m arcado por dividir ao m eio um anim al sacrificado e andar entre as partes, aqui Abrão recebe o "sin al" da prom essa da aliança que pedira. Cada animal "com três anos de vida" (novilho, cabra, carneiro, rolinha e pombinho, os mesmos animais incluídos no sistema sacrificial descrito em Levítico) é cortado ao m eio, exceto as aves. Textos *hititas do segundo m ilênio utilizam um procedimento semelhante para a purificação, enquanto alguns tratados *aram aicos do primeiro milênio fazem uso de tais rituais a fim de colocar um a maldição sobre qualquer violação do tratado. Textos de *M ari e *Alalakh retratam o sacrifício de um animal como parte da cerimônia de um tratado. Andar no meio dos animais sacrificados pode ser entendido como uma ação simbólica representando tanto a prom essa de terra garantida na aliança, como uma m aldição sobre quem violasse a prom essa, em bora intérpretes têm questionado as implicações que uma maldição sobre si mesmo teria para Deus. A atitude de Abrão de enxotar as aves de rapina sim boliza a proteção futura que teriam contra seus inimigos, quando tomassem posse da terra.15.17. fogareiro esfum açante e tocha acesa. O fogareiro era feito de barro e poderia ter diversos tamanhos. Servia como um forno, principalmente para assar, inclusive ofertas de grãos (Lv 2.4). A tocha podia certamente ser usada para produzir luz, mas também era usada em contextos m ilitares ou para fa lar do ju lgam ento de D eus (Zc 12.6). Os rituais *mesopo- tâmicos deste período geralmente faziam uso de uma tocha sagrada e de um incensório na iniciação de ritos, particularmente nos ritos noturnos de purificação. A purificação podia ser alcançada movendo a tocha e o incensório ao redor de alguém ou de algo. Enquanto na Mesopotâmia a tocha e o forno representavam divindades particulares, aqui eles representam *Yahweh, talvez como o purificador. Esse é um dos muitos exemplos de como o Senhor fez uso de conceitos e temas fam iliares para revelar-se.15.18. ribeiro do Egito. A designação usual da fronteira sudoeste de Israel é o "ribeiro [wadi] do Egito",
identificado com W adi el'A rish a nordeste do Sinai (Nm 34.5). É improvável que esta expressão se refira ao rio Nilo. Outra possibilidade é que se refira ao afluente no extremo leste do delta, que desembocava no lago Sirbonis.15.19-21. h abitantes de Canaã. Esta é a m ais longa (incluindo dez grupos) das dezessete listas dos povos pré-israelitas que habitaram em Canaã (ver Dt 7.1; Js 3.10; 1 Rs 9.20). C ada um a delas, que geralm ente com p reen d e seis ou sete nom es, term ina com os jebuseus (talvez ligados à conquista de Jerusalém por Davi), m as a lista citada em Gênesis 15 é a única que exclui os heveus. Sobre os *hititas, ferezeus, *amorreus, cananeus e jebuseus, ver os com entários em Êxodo3.7-10 e Núm eros 13. Os queneus freqüentemente são associados aos midianitas e aparecem como um povo seminômade, das regiões do Sinai e do Neguebe. O nome sugere que eram metalúrgicos, ou latoeiros ou ferreiros. Os quenezeus, cadmoneus e girgaseus são pouco conhecidos, embora esse últim o povo também seja m encionado em textos *ugaríticos. Os refains são identificados como enaquins em Deuteronômio 2.11, que por sua vez aparecem como gigantes em Números 13.33. A lém dessas associações, nada se sabe a respeito deste grupo étnico.
16 .1-16 O nascimento de Ismael16.1-4. servas. Escravas ou servas eram consideradas
propriedade ou extensões legais de suas senhoras. Como resultado, é bem possível que Sarai usasse Hagar para a execução de diversas tarefas na casa, até mesmo como uma substituta para seu ventre estéril.16.2. acordos contratuais para casos de esterilidade. *Concubinas não tinham o mesmo status de esposas; eram jovens que não possuíam dote e cujo papel no relacionamento incluía gerar filhos. Como resultado, o concubinato não era visto como poligamia. Em Israel, como na maior parte do mundo antigo, a monogam ia era a prática com um . A poligam ia não era contra a lei, embora fosse economicamente inviável. Um dos principais motivos para a prática da poligamia era a esterilidade da primeira esposa. N a Bíblia, a m aioria dos casos de poligam ia entre hom ens do povo ocorre no período que antecede à monarquia.16.3, 4. m ães substitutas. M ães substitutas aparecem som ente nas narrativas dos patriarcas: H agar e as duas servas de Raquel e Lia (Gn 30). Não há referência a contrato aqui, visto que essas m ulheres eram consideradas extensões legais de suas senhoras e quaisquer filhos que gerassem poderiam ser designados como filhos de sua senhora. No Código *babilônico de *Hamurabi, do século dezoito a.C., aparecem contra
tos de substitutas para sacerdotisas que não tinham perm issão para conceber e gerar filhos. Com o nos exemplos bíblicos, essas substitutas ocupavam uma posição legal inferior à da esposa.16.5, 6. relacionam ento entre Sara e Hagar. As m ulheres no m undo antigo eram honradas através do casamento e dos filhos que geravam. Embora Hagar fosse um a serva, o fato de ter concebido um filho e Sarai não, deu a ela motivo para desprezar sua senhora. A reação de Sarai ao m altratar H agar pode estar baseada na inveja e na diferença social.16.7-10. an jos como m ensageiros. A palavra hebraica traduzida como "an jo" significa "m ensageiro" e pode ser usada tanto para m ensageiros humanos como sobrenaturais. V isto que esses m ensageiros representam Deus, eles não falam por si mesmos, mas somente em nom e de Deus. Portanto, não era incom um o fato de eles falarem na prim eira pessoa, "e u ". Eles tinham autoridade para falar no nome de quem representavam e eram tratados com o se fossem essa m esm a pessoa.
16.13,14. vendo D eus. H agar confirmou a identidade sobrenatural do mensageiro e poderia m uito bem ter acreditado que o m ensageiro era de fato um a divindade, m as o fato de ter demonstrado incredulidade sobre a possibilidade de ter visto um a divindade não significa que ela realm ente tenha visto um a (além
disto, o texto é de difícil tradução e talvez nem esteja sugerindo isso). É m ais provável que H agar esteja expressando surpresa por ter encontrado um a divindade inclinada a m ostrar favor a ela num lugar tão im provável.16.13. dar nome a D eus. O texto identifica a divindade como o Senhor (*Yahweh), mas não dá indicação de que H agar soubesse que se tratava de Yahw eh. Esse é o único exem plo no A ntigo Testam ento de alguém dando um nom e à um a divindade. G eralmente o ato de dar um nome a alguém ou a algo é uma forma de afirm ar autoridade sobre quem recebe o nome. Aqui, o m ais provável é que, um a vez que não sabe o nom e da divindade que lhe favoreceu, H agar designa um nome como um a identificação de sua natureza a fim de que poder invocá-lo no futuro.16.14. Cades e Berede. A localização do poço de Beer- Laai-Roi, onde Hagar passou por um a experiência de *teofania e soube a respeito do futuro de seu filho,
provavelmente seria no Neguebe, entre Cades-Baméia e Berede. O oásis de Cades-Baméia fica na parte nordeste do Sinai, na fronteira sul do Deserto de Sim (ver comentário em N m 13). Visto que Berede não aparece em nenhum outro texto, sua localização é incerta, embora Jebel um el-Bared, na direção do sudeste, seja uma boa suposição.
17.1-27Circuncisão, o sinal da aliança17.1, 2. E l Shaddai. *E1 Shaddai ("D eus todo-podero- so") no versículo 1 é um nom e relativam ente comum (citado 48 vezes) usado para o Senhor, no Antigo Testam ento, em bora as traduções convencionais sejam pouco mais que conjecturas. Aparece somente uma vez fora do Antigo Testamento, no nome "Shaddai-Am m i" inscrito num a estátua egípcia do período dos juizes, embora possa ser um a referência a seres Shaddai (ou seres todo-poderosos) na inscrição Deir Allah. Um a das hipóteses mais freqüentes sugere que Shaddai está relacion ad o ao term o *babilôn ico sadu , que sign ifica "estepe, m ontanha", mas as evidências são escassas.17.3-8. m udança de nom e. Os nomes tinham poder no m undo antigo. Ao dar nom e aos animais, Adão demonstrou que governava sobre eles. De modo sem elhante, o fato de D eus ter m udado o nom e de Abrão para Abraão e o de Sarai para Sara, representou tanto um a reiteração da prom essa da *aliança, como a designação de ambos como servos escolhidos de Deus.17.4. aliança com D eus. Não existem paralelos, no mundo antigo, de *alianças firmadas entre deuses e m ortais, embora certamente os deuses fizessem exigências e prometessem um tratamento favorável. Na maioria dos casos, os reis relatavam seus esforços e cuidados com os santuários da divindade e então diziam com o ela retribuiu com bênçãos. M as isso fica m uito distante de um acordo de aliança que tenha partido da divindade e se afirm ado conform e seus propósitos.17.9-14. circuncisão. A *circuncisão era largam ente praticada no antigo Oriente Próximo como um rito de pu berdad e, fe rtilid ad e ou casam ento. Em bora os israelitas não fossem o único povo a circuncidar seus filhos, esse sinal foi usado para marcá-los como m em bros da comunidade da *aliança. Quando usada em relação ao casamento, a terminologia sugere que era executada pelos novos integrantes (do sexo masculino) da fam ília, indicando que, nesse novo relacionamento, o noivo passaria a ficar sob a proteção da família. Quando realizada em crianças, a circuncisão era m ais um ritual sim bólico do que algo feito por razões de saúde. O fato de o sangue ser derramado tam bém significava que era um *ritual sacrificial e poderia funcionar em substituição ao sacrifício humano praticado por outros povos. Os *hititas tam bém tinham um ritual para o sétimo dia de vida do recém- nascido. A circuncisão pode ser vista como um dos m uitos casos em que D eus transform a uma prática comum para um novo propósito (apesar de não necessariamente relacionadas) ao revelar-se e relacionar-se com seu povo.
17.15-22. anúncio divino de filhos. O anúncio divino do nascimento futuro de um filho é um tema comum em toda a literatura do antigo Oriente Próximo. Talvez mais notável seja o anúncio feito pela divindade cananéia *E1 ao rei Danil de que ele finalmente teria um filho em idade já avançada, na história *ugarítica de *Aqhat. Exemplos adicionais são encontrados na lenda *hitita, em que o deus sol diz a Appu que ele terá um filho, e na literatura mesopotâmica, em que o deus Sham ash aconselha *Etana, rei de Kish, a conseguir um filho. Um fato digno de nota neste texto é a afirmação de que Sara será m ãe de reis. Isso seria uma indicação da longevidade e da grande im portância dessa linhagem.
18.1-15 Visitantes de Abraão18.1. à entrada da tenda, na hora mais quente do dia.As tendas confeccionadas com pele de cabra, característica dos povos nômades, eram projetadas de modo a manter o calor à noite, quando as abas eram abaixadas, e perm itir a passagem da brisa durante o dia, quando as abas ficavam levantadas. Sentar-se à entrada da tenda, durante o calor do dia, seria um a maneira de ficar à sombra e ao mesmo tempo desfrutar da brisa que passava e tom ar conta dos utensílios que ficavam dentro da tenda.18.2-5. hospitalidade (refeições). A tradição de hospitalidade requeria que fosse oferecido a todos os estrangeiros que chegassem a um a habitação a oportunidade de descansar, lavar-se e comer um a refeição. O objetivo desse tipo de atitude era transformar inim igos em potencial em amigos, pelo menos temporariamente. O protocolo exigia que a refeição servida ao hóspede deveria superar o que fora servido inicialmente. D esta form a, Abraão ofereceu apenas uma refeição, m as o que ele ordenou é que fosse preparado um pão assado na hora, um novilho e uma m istura de leite e iogurte. O que denota generosidade aqui é a carne fresca, um item que geralmente não fazia parte da dieta cotidiana. Essa refeição é semelhante àquela oferecida por D anil ao rep resentante dos deuses, Kathar-wa-Hasis (quando de passagem pela cidade), no épico ugarítico de Aqhat.18.4. água para lavar os pés. Lavar os pés dos hóspedes era uma parte indispensável da hospitalidade no clim a seco e em poeirado que caracterizava grande parte do antigo O riente Próxim o. As sandálias de couro abertas eram comuns, assim como as botas fechadas de couro macio. Nenhum estilo de calçado era capaz de impedir que a poeira da estrada sujasse os pés.18.6-8. farinha e assar pães. As três medidas de farinha (cerca de 7 a 14 litros) usadas para fazer pão,
novamente refletem a generosidade de Abraão para com seus hóspedes. Visto que os povos nômades não possuíam fom os, o jeito de assar pães era espalhando a m assa no fundo de um a vasilha aquecida ou de uma assadeira. Com isso, era possível fazer um pão redondo, ligeiram ente crescido. Coalhada (iogurte) e leite foram servidos junto com a refeição, como pratos complem entares e subprodutos norm ais do rebanho. O fato de Sara perm anecer na tenda pode sugerir que havia o costume de as mulheres não comerem junto com os homens.
18.16-33 Argumentação sobre a justiça e a misericórdia de Deus18.20, 21. juiz em busca de evidências. Existe uma m istura de antropomorfismo (Deus apresentando características humanas) e teodicéia (explicação da ação divina) nessa história e no episódio da Torre de Babel (Gn 11). Em ambos os casos, a fim de demonstrar sua ju stiça e eqüidade, D eus "d esce" para investigar a situação, antes de tomar uma atitude.18.22-33. Abraão intercede. Pechinchar faz parte das transações comerciais em todo o Oriente Médio. Nesse caso, porém , a determ inação de A braão quanto ao núm ero exato de pessoas justas necessárias para evitar a destruição de Sodoma e Gomorra garante uma demonstração repetida das justas ações de Deus. Um Deus justo não destruirá o justo sem aviso ou investigação. A té m esm o o injusto, nesse período inicial, pode ser poupado por causa do justo. Por outro lado, porém, não se faz justiça ignorando a impiedade. A discussão sobre o núm ero de pessoas justas pode estar se referindo não ao fato de haver um equilíbrio em relação à im piedade dos restantes, m as sim à possibilidade de, recebendo os justos um prazo maior, exercerem um a influência capaz de trazer mudanças.
19.1-29 A destruição de Sodoma e Gomorra1 9 .1 ,24. Sodoma e Gomorra. As "cidades da planície" ao longo da costa oriental do m ar M orto ainda não foram efetivam ente localizadas. Sua associação a Zoar (Zoara n o século sexto d.C ., de acordo com o m apa M adaba) e aos poços de betum e "n o vale de Sidim " (G n 14.10) apontam para a extrem idade sul do m ar M orto. Os argum entos para sua identificação com a extremidade norte baseiam-se na distância da viagem desde H ebrom (30 quilôm etros em relação a 64 quilômetros para a localização no sul) e a menção da "p lanície do Jordão", em Gênesis 13.10-12. As cidades localizadas nessa região árida sobreviveram e prosperaram por causa dos depósitos de sal, betum e e potássio ao redor do m ar Morto, e por atuarem como centros de
troca para as caravanas que viajavam pela estrada de norte a sul. H á cinco lugares de cidades da Idade do Bronze *Antiga na planície sudeste do mar Morto, demonstrando que populações relativam ente grandes já existiram aqui (período de ocupação: 3300 a 2100 a.C.): B a d -ed h D h ra ' (S od o m a?), S a fi (Z o ar), N u m eira (G om orra?), Feifa e Khanazir. Som ente em Bad-edh Dhra e Numeira foram feitas escavações e a destruição delas foi situada pelos arqueólogos por volta de 2350 a.C., período m uito posterior a A braão (embora cálculos cronológicos desse período sejam difíceis).19.1-3. sentado à porta da cidade. Nas cidades antigas, a área onde ficava o portão da cidade funcionava como uma praça. O constante fluxo de pessoas fazia desse lugar o recinto ideal para homens de negócio arm arem suas barracas e para os ju izes ouvirem as causas do povo. O fato de Ló estar sentado à porta da cidade sugere que estava negociando e que tinha sido aceito na comunidade de Sodoma.19.1. prostrou-se, rosto em terra. Uma das maneiras de demonstrar respeito aos superiores e de evidenciar intenções pacíficas era prostrar-se até o chão. Alguns textos egípcios de *E1 Amarna (século 14 a.C.) exageravam esse gesto, recomendando fazê-lo sete vezes.19.2. hospitalidade (hospedagem). Quando um anfitrião oferecia a um hóspede a oportunidade de passar a noite em sua casa, ele tam bém estava assumindo a responsabilidade pela sua segurança e bem-estar. A oferta geralmente se estendia por três dias ao todo.19.3. pão sem ferm ento. Como no caso do pão asmo comido na Páscoa, antes do Êxodo (Êx 12) do Egito, o pão sem fermento de Ló, foi feito às pressas. Era noite quando seus hóspedes chegaram e ele não teve tempo de deixar o pão crescer antes de assá-lo.19.4-10. comportamento dos homens de Sodoma. A visita dos anjos a Sodoma tinha como objetivo determ inar se havia dez homens justos na cidade. A estrutura sintática do versículo 4 deixa claro que todos os hom ens da cidade confrontaram Ló acerca de seus hóspedes. Somado ao fato de que a homossexualidade era considerada um a ofensa capital, a recusa desses homens em ouvir a razão e sua insistência unânime pelo uso da violência, ao forçarem a entrada na casa de Ló, confirmou o destino da cidade.19.8. Ló oferece suas filhas. Quando Ló ofereceu aos homens de Sodoma suas filhas virgens em lugar de seus hóspedes, ele estava cum prindo seu papel de um perfeito anfitrião. Ele estava desejoso de sacrificar seus bens m ais preciosos a fim de m anter sua honra em relação à proteção de seus hóspedes. Ló foi poupado de tamanho sacrifício, devido à recusa do bando e pela ação dos anjos.19.11. cegueira. A palavra usada para cegueira aqui aparece apenas em um outro contexto, para descrever
o que havia acontecido ao exército arameu em Dotã (2 Rs 6.18). E um term o relacionad o a um a palavra acadiana para cegueira diurna (pertinente ao contexto de 2 R eis 6) servindo tam bém no hebraico (ou no aramaico) para referir-se à dificuldade de enxergar à noite (cegueira noturna). De acordo com os textos acadianos, ambos os estados necessitam de remédios mágicos. A principal causa da cegueira tanto diurna como noturna é a deficiência de vitamina A; a falta de vitamina B pode tam bém contribuir para o senso de confusão evidente nas duas passagens. Portanto, é interessante notar que o fígado (rico em vitamina A) tenha um lugar de destaque em procedimentos mágicos para corrigir esses estados.19.24. fez chover do céu fogo e enxofre. O cenário é de castigo divino. Aparece aqui e em outros contextos como um agente de purificação e ira divina sobre os ím pios (SI 11.6; Ez 38.22). Os depósitos naturais de betum e e o cheiro de enxofre de algumas áreas ao redor do m ar M orto servem como um lembrete eterno da destruição de Sodoma e Gomorra. Tudo que há são especulações sobre o que de fato aconteceu, m as talvez a combustão de piche natural e os depósitos de enxofre, somados aos gases nocivos que geralmente são liberados durante um terremoto façam parte da história (Dt 29.23).19.26. coluna de sal. A história da punição da mulher de Ló é muitas vezes representada por alguns objetos incrustados no sal, com formas grotescamente hum anas, que se tornaram marcos na área do mar Morto (são m encionados no livro apócrifo "Sabedoria de Salom ão" 10.4). Esse fenômeno é resultado dos borrifo s de sa l so p rad o s p elo m ar M orto . E n orm es protuberâncias de sal ainda aparecem nas partes mais rasas do lago. Os sais m inerais da região incluem o sódio, o potássio, o m agnésio, os cloretos de cálcio e o brometo. Um terrem oto na área poderia facilm ente ter inflamado esses elementos químicos, levando-os a "chover" sobre as vítimas da destruição.19.30-38. origens dos m oabitas e amonitas. U m dos objetivos prim ordiais no relato dos ancestrais é demonstrar a origem de todos os povos que habitavam em Canaã e na Transjordânia. Pesquisas arqueológicas na área indicam um a reocupação nessas regiões entre os séculos 14 e 12 a.C ., e a língua tanto dos moabitas como dos amonitas é parecida com o hebraico.
Em bora ambas sejam consideradas nações inimigas durante a maior parte de sua história, é improvável que seu 'nascim ento', resultante da união incestuosa entre Ló e suas filhas (ver Dt 1.9; SI 83.5-8), seja simplesmente uma mancha política ou étnica. A iniciativa tom ada pelas filhas de Ló diante da possibilidade de não terem filhos e da conseqüente extinção da casa
de Ló, talvez representasse para elas a única opção viável em seu esforço desesperado.
20 .1-18 Abraão e Abimeleque20.1. Cades e Sur. Novam ente a história tem irúcio com o itinerário das viagens de Abraão, desta vez indo para o sul, num percurso entre Cades (um oásis cerca de 74 quilômetros ao sul de Berseba, na região nordeste do Sinai) e Sur. Esta última provavelmente seja uma referência ao "m uro" (shur) da fortaleza egípcia na região leste do D elta. A história egípcia de *Sinuhe (século 20 a.C.) menciona esse "M uro do Governador" como um a barreira às incursões asiáticas ao Egito.20.1. Gerar. Em bora não esteja na rota entre Cades e Sur, Gerar não devia ficar tão longe para um grupo de pastores nôm ades acostumados a viagens, como era o caso da família de Abraão. Sua localização exata, além da área geral a oeste do Neguebe, é incerta (Gn 10.19), e Gerar deve ser, na verdade, o nome de um território e não de uma cidade. A maioria dos arqueólogos, ao notar forte influência egípcia nessa região no período de 1550 a 1200 a.C., aponta para Tell Haror (Tell Abu H ureireh), 24 quilôm etros a noroeste de Berseba, como sua provável localização.20.3. Deus falando por sonhos a não israelitas. Existem alguns exemplos de mensagens do Senhor sendo transm itidas através de sonhos a israelitas, m as os sonhos eram considerados uma das formas mais comuns de revelação divina aos não iniciados. Nos textos de *M ari, recebiam m ensagens por m eio de sonhos geralm ente aqueles que não faziam parte do grupo de profissionais do templo. Em muitas partes da Bíblia onde aparecem relatos de sonhos, o texto não afirm a explicitam ente que D eus falou à pessoa naquele sonho (faraó, Nabucodonosor).20.7. intercessão do profeta. Abraão é identificado por Deus como um profeta capaz de interceder por Abimeleque. O papel exercido pelo profeta era facilmente compreendido no antigo Oriente Próximo, conforme sugerem as evidências de m ais de 50 textos encontrados na cidade de *M ari, registrando m ensagens transmitidas por vários profetas. Geralmente, o profeta apresentava um a m ensagem vinda da divindade, m as aqui Abraão está orando pela cura de Abim eleque e de sua casa (cf. v. 17). Isso reflete uma visão m ais abrangente do profeta como aquele que tem fortes vínculos com a divindade, a ponto de lançar m aldições ou cancelá-las. Um papel profético parecido pode ser visto nas Escrituras em 1 Reis 13.6. No antigo O riente Próxim o esse papel era tipicam ente desempenhado por um sacerdote feiticeiro.
20.11-13. relacionam ento de Abraão e Sara. Nessa repetição do tem a esposa/irm ã, Abraão revela que Sara é de fato sua meia-irmã. No período dos ancestrais, não havia o tabu do incesto contra esse tipo de casamento, e era um modo de assegurar que as filhas de um segundo casamento recebessem os cuidados e a proteção de uma família. O engano de Abraão para com Abimeleque é reforçado pela disposição de Sara em repetir a meia-verdade.20.16. m il peças de prata. Mil peças de prata é uma soma considerável. Na literatura *ugarítica, representa o valor do dote da noiva pago entre os deuses. Seria o equivalente a aproximadamente 11 quilos de prata, ou ainda correspondente ao salário recebido pelo trabalho de um a vida inteira. A generosidade do rei deve ser entendida como sua garantia de que Sara não havia sido tocada, m as tam bém como meio de
aplacar a ira da divindade que, literalmente, eliminara toda a fertilidade em sua família.20.17. doença na casa de Abim eleque. A praga da esterilidade ou da disfunção sexual recaiu sobre a casa de A bim eleque até ele devolver Sara a Abraão. A oração de Abraão fez com que Deus permitisse que as mulheres e servas da casa de Abimeleque pudessem ter filhos novam ente. E irônico notar que enquanto Sara foi negada a Abraão, foi negada também a Abimeleque a possibilidade de ter filhos (para informações sobre esterilidade no antigo O riente Próxim o, ver comentário em 11.30).
21 .1-21 O nascimento de Isaque e a expulsão de Ismael21.4. oito dias. De início, o período de espera de oito dias distingue Isaque de Ismael, que foi *circuncidado aos treze anos. Esse período servia tam bém para determ inar se a criança sobreviveria e pode estar ligado ao período de im pureza após o nascim ento (Lv 12.1-3).21.14. deserto de Berseba. A região sul do Neguebe, ao redor de Berseba, T ell es-Seba' é um a terra de estepes e bastante inóspita, a ponto de ser descrita como um deserto. Após ser expulsa do acampamento de Abraão, H agar vagou para o sudeste, passando por um a parte relativamente plana do Neguebe, em direção ao norte da Arábia.21.8-21. expulsão da esposa. Existia um contrato nos documentos de *Nuzi contendo uma cláusula proibindo à esposa principal expulsar os filhos da esposa secundária. A situação em G ênesis é diferente em dois aspectos: primeiro, foi Abraão quem os expulsou; e segundo, Hagar recebeu sua liberdade, o que, de acordo com o código das leis antigas (Lipite-Istar), significava que seus filhos ficariam privados de qualquer direito à herança.
21.20. flecheiro . A expulsão de H agar e Ism ael e sua subseqüente vida no deserto de Parã exigiram que ambos desenvolvessem m eios de sobrevivência. Com
sua habilidade com o flecheiro, Ism ael podia conseguir comida para sua fam ília e talvez até encontrar trabalho como mercenário (ver Is 21.17 para referência aos guerreiros de Quedar, filho de Ismael).21.21. D eserto de Parã. A região árida no nordeste do deserto do Sinai recebeu o nom e de Parã. Situada a oeste de Edom, aparece de forma destacada na peregrinação do povo de Israel pelo deserto (Nm 13.3, 26: D t 1.1) sendo a região em que Cades se localizava. Sua associação com o Egito provavelmente se baseia no comércio das caravanas e no interesse militar do Egito sobre o Sinai.
21.22-33 Abraão e seus vizinhos21.25-31. direitos sobre poços e água. Na região semi- árida ao redor de Berseba, a água era um bem precioso. Surgiam disputas entre pastores e agricultores a respeito de poços e fontes. Para evitar que isso acontecesse, tratados como esse entre Abraão e Abimeleque eram estabelecidos, firmando direitos de posse ou uso de poços. Note que o pagamento de sete ovelhas feito por Abraão fornece a base do nome Berseba (poço dos sete) e serve como um gesto de boa vontade para com o povo de Gerar.21.32. terra dos filisteu s. A primeira menção conhecida feita aos filisteus, fora da Bíblia, está nos registros do faraó Ramsés III (1182-1151 a .C ). Como parte dos povos *marítimos invasores, eles se estabeleceram em cinco cidades-Estado ao longo da costa sul de Canaã e foram empregados pelos egípcios como mercenários e parceiros com erciais. A figura de Abim eleque (um nome semita) como "rei de Gerar" na terra dos filisteus, não se encaixa ao que já se conhece sobre a história deste povo. Logo, essa narrativa pode representar o
contato com um grupo anterior de filisteus que ocuparam a área antes da invasão dos povos m arítimos ou pode simplesmente ser o uso *anacrônico da expressão "terra dos filisteus" para descrever a área e não o povo que Abraão encontrou.21.33. tam argueira. A tamargueira cresce em solo arenoso. É uma árvore resistente, podendo alcançar mais de seis m etros de altura, com folhas pequenas que excretam sal. Sua casca é usada como tintura e sua madeira, na construção e na produção de carvão. Os beduínos geralm ente plantam essa vigorosa árvore por causa de sua sombra e também pelos seus galhos que fornecem pasto para os animais. Ao plantar uma tam argueira, provavelm ente Abraão estaria estabelecen d o um sím b o lo do ju ra m en to qu e fiz e ra a
Abimeleque - uma planta que produz vida simboliza um futuro próspero e fértil.
22.1-24 Deus pede a Abraão que ofereça Isaque em sacrifício22.2. região de M oriá. A única indicação da localização de M oriá apresentada aqui é o fato de ficar a três dias de viagem de Berseba. Esse dado pode simplesm ente ser um núm ero convencional ao térm ino de um a viagem ; de qualquer m aneira, nenhum a direção é dada. Esse termo aparece m ais uma única vez, em 2 Crônicas 3.1, referindo-se ao lugar do templo de Jerusalém , m as não é fe ita n enhu m a referência a Abraão ou a esse incidente. Visto que as montanhas arborizadas ao redor de Jerusalém não exigiriam o transporte de lenha para o sacrifício, é mais provável que o uso desse nom e seja uma coincidência e não uma referência ao mesmo lugar.22.1, 2. sacrifício de crianças. No antigo Oriente Próximo, o deus da fertilidade (*E1) reivindica o direito de exigir uma parte do que foi produzido. Isso está expresso no sacrifício de animais, cereais e crianças. Textos referentes às colônias fenícias e púnicas, como Cartago, no norte da África, descrevem o *ritual de sacrifícios de crianças como um meio de assegurar a continuação da fertilidade. Os profetas bíblicos e as leis expostas em Deuteronôm io e Levítico proibiam expressamente essa prática, mas o simples fato de ser proibida tam bém é um indício de que ela continuava a ocorrer. De fato, a história do "sacrifício" de Isaque sugere que Abraão estava fam iliarizada com sacrifícios hum anos e não ficou surpreso com o pedido de *Yahweh. No entanto, a história também relata como Deus providenciou um animal como substituto para o sacrifício humano, o que claramente mostra a distinção entre a prática israelita e a das outras culturas.22.3. dom esticação de jum entos. O asno selvagem foi domesticado por volta de 3500 a.C.. D esde o início, ele era usado principalmente como animal de carga devido à sua capacidade de suportar pesados fardos e de sobreviver por longos períodos com pouca água. Como conseqüência, era um dos principais meios usados nas viagens e no transporte de longa distância.22.13-19. sacrifício como substituição. Nesta parte, o carneiro é oferecido como sacrifício, no lugar de Isaque.O conceito de sacrifício vicário não é tão comum como poderíamos imaginar. No antigo Oriente Próximo, os *rituais m ágicos de feitiçaria, geralmente incluíam o oferecimento de um animal que seria morto para remover a ameaça que pairava sobre um ser humano. M as o conceito que geralmente estava implícito no ato do sacrifício como instituição regular era oferecer um presente à divindade ou estabelecer comunhão com
ela. Até mesmo em Israel, há poucos indícios de que a instituição do sacrifício fosse entendida como tendo um elemento vicário ou de substituição. A redenção do primogênito e a Páscoa seriam exceções notáveis à margem da instituição do sacrifício.22.19. Berseba. Esta importante cidade, muitas vezes identificada com o limite sul do território de Israel (Jz 20.1; 1 Sm 3.20), é tradicionalmente localizada no norte do N eguebe, em Tell es-Seba' (aproximadamente cinco quilômetros a leste da localização atual da cidade). Seu nom e deriva de sua associação aos poços cavados para fornecer água às pessoas e aos rebanhos da região (ver Gn 26.23-33). Foram encontradas evidências arqueológicas de ocupação durante a m onarquia ao longo dos períodos persas. A falta de provas referentes ao período patriarcal pode sugerir que a cidade mudou de localidade/ porém m ais importante é a observação de que não há indícios no texto de que houve uma ocupação fortificada em Berseba. H á provas de um a ocupação anterior debaixo da atual cidade (Bir es-Saba') a cerca de três quilômetros do *monte artificial, onde alguns suspeitam que a antiga cidade de Berseba esteja localizada.
23.1-20Morte e sepultamento de Sara23.2. variações dos nom es de localidades. Os nomes dos lugares m udam conforme novos povos passam a viver naquela região ou--quando acontecem alguns eventos que são preservados na m em ória do lugar através da m udança de nome (ver Jebus e Jerusalém,1 Cr 11.4; Luz e Betei, G n 28.19). A associação de Hebrom a Quiriate-Arba ("aldeia de quatro") não está clara, mas pode estar relacionada à junção de quatro aldeias num único povoamento ou na convergência de estradas naquele lugar.23.3-20. h ítitas na Palestina. A origem da presença dos *hititas em Canaã é incerta, embora Gênesis 10.15 os identifique com os descendentes de Canaã, através de seu ancestral epônimo Hete. O uso de nomes semitas e a facilidade com que Abraão lida com eles em G ênesis 23 sugerem que esse grupo específico de hititas fazia parte da população nativa ou de um a colônia de m ercadores que assim ilou parcialm en te a cultura cananéia (ver G n 26.34). O im pério h itita da Á sia M enor (Anatólia, atual Turquia) foi destruído durante a invasão dos Povos *M arítim os por volta de 1200 a.C.. Um reino posterior de neo-hititas continuou a existir na Síria até o século sete a.C. e é mencionado em registros *assírios e *babilônicos. Esses registros freqüentemente referem-se à Palestina como a "Terra de H atti", confirmando a associação com esse povo. Os grupos conhecidos como hititas que ocuparam porções da Síria e de Canaã podem ou não estar relacio
nados a esses hititas. Os hititas que habitavam Canaã têm nomes semitas, enquanto que os de Anatólia têm nomes indo-europeus.23.4, 5. costum es de sepultam ento. Os costumes relacionados ao sepultamento eram bem variados no antigo O riente Próxim o. Os grupos nôm ades praticavam m uitas vezes o sepultamento secundário - transportavam os restos m ortais para um lugar tradicional, muito tempo após a morte. As sepulturas faziam par
te da cultura das aldeias. Elas podiam ser cavernas naturais ou escavadas à mão ou ainda subterrâneas e repartidas em diversas câmaras. Quase sem pre essas tumbas eram usadas por m uitas gerações. O corpo era depositado num a prateleira preparada, junto com alguns itens que iam para o túm ulo (alimentos, vasos de cerâmicas, armas, ferramentas, utensílios); depois
os restos eram removidos e colocados numa outra câm ara ou num a caixa ou ainda eram sim plesm ente varridos para o fundo do túmulo a fim de acomodar o
próximo enterro.23.7-20. posse da terra. A terra cultivável era um bemtão precioso que não devia ser vendida a ninguém que não pertencesse ao grupo familiar. A falta de um comprador dentro da fam ília e/ou as condições do negócio às vezes exigiam que a venda fosse efetuada a alguém de fora da família. Isso podia ser contornado legalm ente através da adoção do com prador ou da intermediação dos anciãos da aldeia que intercediam
em favor dele diante do proprietário. A designação de Abraão como "u m príncipe" sugere que ele era um vizinho agradável. A oferta de receber a terra como presente foi recusada por Abraão porque perm itiria que os herdeiros a reclamassem de volta após a m orte de Efrom.23.14.400 peças de prata. Quatrocentas peças de prata era um preço elevado. Seria o equivalente a aproxim adamente três quilos e m eio de prata. Como comparação, Onri comprou a colina de Samaria por 70 quilos de prata (1 Rs 16.24) e Davi comprou o terreno para a construção do templo por sete quilos e duzentos gramas de ouro (1 Cr 21.25), e a eira em si por 50 peças de prata (2 Sm 24.24). Jerem ias comprou uma propriedade por um preço m uito baixo: dezessete peças de prata (Jr 32.9). O pagamento de Abraão pode ser visto como exorbitante em vez de razoável, pois em vez de negociar, ele pagou o elevado valor inicial. E provável que ele estivesse ansioso em pagar o preço total, pois talvez um desconto poderia m ais tarde ser relacionado a dificuldades financeiras da fam ília, o que
permitiria que os herdeiros de Efrom reclam assem a terra de volta. U m trabalhador ou artesão que ganhasse dez peças por ano não conseguiria atingir esse valor nem após uma vida inteira de trabalho.
23.5-16. procedim entos de barganha. Pechinchar e barganhar são procedimentos típicos nos negócios no O riente M édio. São ao m esm o tem po divertidos e competitivos. Entretanto, quando fica claro que o comprador em potencial necessita ou deseja m uito uma m ercadoria, o vendedor usará a barganha em sua vantagem .23.16. peso corrente entre os mercadores. A terminologia de aparência contemporânea de cartas comerciais da Antiga Assíria sugere que essa expressão está em conform idade com o peso padrão usado para a prata em transações comerciais por terra.
24.1-67 Uma esposa para Isaque24.1-9. prestando juram ento. O juram ento era sempre feito em nome de um deus e colocava um a pesada responsabilidade sobre quem jurava, no sentido de cum prir sua parte no acordo, um a vez que estava sujeito à punição tanto divina como humana se não o fizesse. As vezes, como nesse caso, um gesto era acrescentado ao juram ento. O gesto geralm ente era um símbolo da tarefa a ser executada por quem fazia o juram ento. Por exemplo, ao colocar a mão debaixo da coxa de Abraão (perto de seus órgãos genitais), o servo associa seu juram ento de obediência à aquisição de uma noiva para Isaque e, conseqüentemente, à perpetuação da linhagem de Abraão.24.4. casamento na mesm a tribo. A prática de casar- se dentro da própria tribo ou fam ília é cham ada de endogamia. Geralmente, a endogamia obedece a critérios religiosos, sociais ou étnicos. Nesse texto parece que o critério é étnico, uma vez que não há indícios que a fam ília de Labão, Rebeca e Raquel com partilhasse das mesmas crenças religiosas de Abraão e sua família. De modo semelhante, a posição social representa um problema apenas quando há envolvimento entre nobres e plebeus ou entre certas classes da sociedade urbana encaradas como necessariam ente distintas. Os critérios étnicos geralmente giram em tom o de tradições do clã ou da manutenção de propriedades e terras da família. Em alguns casos, eles representam hostilidades de longa data estabelecidas entre dois grupos. N esse texto, a endogamia parece ser motivada pela *aliança, procurando evitar que Abraão e sua fam ília sejam contaminadas com a m istura étnica de Canaã.24.10,11. domesticação do camelo. Embora as ossadas de camelo encontradas na Arábia remontem ao ano 2660 a.C., os camelos domesticados não eram comuns na Palestina até 1200 a.C.. As referências ocasionais a eles em Gênesis são autenticadas por provas da domesticação desse animal encontradas em um texto da* Antiga Babilônia, de *Ugarite, datado do início do
segundo milênio. As evidências de que o camelo era usado como animal de carga na Arábia datam do final do terceiro milênio. Os estágios de domesticação podem ser traçados a partir do desenvolvim ento das selas. Os camelos eram animais extremamente valiosos, capazes de carregar pesados fardos por terrenos áridos e inóspitos. Logo, raramente eram usados como fonte de alimento, sendo um sinal de opulência.24.10. M esopotâm ia (Arã N aaraim ). *A rã N aaraim (Arã dos dois rios), tendo Harã à margem do rio Ba- lique, incluia a área geral entre o rio Eufrates e o rio Habur que formam um triângulo, no norte da Mesopotâm ia. O nom e tam bém aparece em D euteronôm io23.4, na nota introdutória do Salmo 60 e em 1 Crônicas19.6. P od e ser a m esm a N arim a das cartas de *E1 Am am a, datadas do século 14 a.C., entre o faraó egípcio e os governantes das cidades-Estado cananéias.24.11. ao cair da tarde, junto ao poço que ficava fora da cidade. O frescor da m anhã e do fim do dia seria a melhor hora para as mulheres da vila irem ao poço buscar água. Uma vez que os poços ficavam fora da cidade a fim de acomodar os rebanhos que ali bebiam, as mulheres normalmente iam até lá em grupos para se protegerem. Os que vinham de fora podiam usar o poço, mas esperava-se que pedissem permissão aos aldeões. Era costume da hospitalidade oferecer água aos viajantes.24.12-21. consultas ao oráculo. O servo de Abraão fez uso de um *oráculo a fim de identificar a futura noiva de Isaque. N um oráculo, um a pergunta do tipo "sim ou não" era feita à divindade, e a resposta era dada através de um a estrutura binária. No Israel pós-Sinai o sacerdote carregava as pedras de U rim e Tumim, que eram usadas nas consultas ao oráculo. O servo de Abraão teve de ser m ais criativo e usar uma estrutura natural para o oráculo. Sua dúvida era se a jovem com quem iria falar seria ou não a esposa certa para Isaque; para tanto, fez um a consulta ao oráculo baseando-se num a pergunta que iria fazer à jovem . Quando alguém pede água, geralm ente espera ter seu pedido atendido. Esse seria o comportamento norm al no contexto de etiqueta e hospitalidade. N esse caso, uma resposta negativa indicaria um "n ão" à sua pergunta. Como alternativa, o servo escolheu algo muito além da expectativa: se aquela jovem , m otivada por um pedido tão comum e humilde, decidisse voluntariamente dar de beber a todos os seus camelos, a resposta indicaria um "sim ". O raciocínio envolvido nesse processo é que se a divindade estivesse realm ente fornecendo a resposta, então ela poderia alterar o comportamento norm al e superar o instinto natural, a fim de comunicar sua resposta. Sobre mecanismos semelhantes de oráculos, ver Juizes 6.36-40 e 1 Samuel 6.712. Os profetas ocasionalmente faziam uso desse tipo
de consulta ao oráculo, só que se colocavam na posição de quem dá as respostas, nas situações em que apresentavam sinais para comprovar que eram realmente representantes de Deus, como em Números 16.28-30 ou 1 Samuel 12.16, 17.24 .11 ,13 . poço ou fonte? A diferença de terminologia entre o versículo 11 ("poço") e 13 ("fonte") pode refletir uma variedade no acesso à água. Há casos em que a água se originava de um a fonte, m as conform e o lençol subterrâneo foi diminuindo, foi necessário cavar um poço. Esse é o caso de Arad, onde um profundo poço agora substitui a fonte original.24.19, 20. quanto beb e um cam elo. Os camelos bebem apenas a quantidade de água que perderam , sem arm azená-la em suas corcovas. A concentração de gordura e a cobertura dos pêlos perm item a dissipação do calor, menos suor e uma variação maior da temperatura corporal tanto de dia como de noite. O cam elo tam bém consegue m anter um a quantidade de água constante no plasm a do sangue o que lhe permite suportar m elhor a perda de água que a m aioria dos anim ais. U m cam elo que tivesse passado alguns dias sem água poderia beber até 95 litros. Em contraste, os jarros usados para buscar água geralmente não comportavam mais que 11 litros.24.22. pendentes. Pendentes para o nariz eram especialmente populares durante a Idade do *Ferro (1200600 a.C.), em bora existam exem plos de seu uso em períodos anteriores. Feitos de prata, bronze e ouro, quase sempre com formato tubular, os pendentes eram arredondados e tinham duas pontas para inserção. Às vezes incluíam um discreto pingente. U m beca (medida de peso hebraica) corresponde à metade de um siclo e equivale a seis gramas.24.22. jóias. As pulseiras eram faixas usadas no pulso como braceletes. Eram muito populares e m uitas vezes encontradas nos braços e nos pulsos de m ulheres mortas, em suas tumbas. Ao colocá-las no braço de Rebeca, talvez o servo procurasse oferecê-las como símbolo de um contrato de casamento. Um a pulseira de dez siclos pesava cerca de 120 gramas. A lguns docum entos relacionados às leis datados da prim eira m etade do segundo milênio sugerem que o trabalhador poderia receber no máximo dez siclos por ano. Freqüentemente, ele recebia um valor inferior a isso. Esses siclos eram de prata, pois o ouro era m ais valioso.24.28. casa da m ãe. Seria natural que um a jov em solteira se referisse à casa de sua mãe como sua casa, até se casar (ver Cantares 3.4).24.50-59. presentes de noivado. Para que o casamento fosse acertado, a família do noivo deveria estipular o preço da noiva, enquanto a família da noiva providenciava o dote. Os objetos de prata e ouro e os vestidos oferecidos a Rebeca eram parte de sua transfor
mação num m em bro da família de Abraão. A palavra usada no texto denota um a transformação do metal em algo útil, como jóias ou pratos e outros utensílios domésticos. Os presentes oferecidos a seu irmão Labão e à sua m ãe dem onstram a riqueza de Abraão e o desejo de que o casamento se concretizasse.24.57, 58. a decisão de Rebeca. No mundo antigo não era comum que uma m ulher tom asse parte de decisões importantes. Rebeca não foi consultada em relação ao casam ento (v. 50, 51), m as quando o servo pediu para retom ar à casa de seu senhor im ediatamente, os homens aguardaram a opinião de Rebeca antes de consentirem na sua partida. Os contratos de casamento deste período geralmente demonstravam uma grande preocupação com a manutenção da segurança da m ulher na família de seu esposo. A presença da família da noiva era um a das garantias de que ela seria cuidada e tratada de form a adequada. Os dez dias solicitados pela família de Rebeca (v. 55) teriam lhes dado um pouco m ais de tempo para confirmar se as coisas eram realmente como pareciam ser. É provável que ela tenha sido consultada devido ao grande risco que estaria correndo em deixar a proteção da família em circunstâncias tão incomuns.24.59. ama de com panhia. Seria conveniente que a noiva de um homem rico tivesse um séquito de servas. A ama, porém, teria uma posição mais elevada, com a função de cuidar da filha que agora faria parte de uma nova casa, e também servindo como dama de companhia na viagem de volta.24.62. Beer-Laai-Roi. O nome do lugar significa "poço daquele que vive e me vê" e anteriormente apareceu associado à teofania de Hagar em Gênesis 16.14. Situava-se provavelm ente a sud oeste de H ebrom , no Neguebe. Talvez Isaque e Abraão tivessem transferido seu acampamento para o sul ou então Isaque estivesse morando separadamente.24.62-66. uso do véu. Como Rebeca estava viajando sem véu, ao encontrar-se com Isaque ela se cobriu, demonstrando assim que era a sua noiva. As noivas usavam véu durante o casamento, mas depois de casadas não o usavam mais. Os costumes sobre o uso do véu diferem de acordo com a localidade e a época. Nas pinturas da tumba de Beni Hasan (início do segundo milênio), as m ulheres asiáticas não estão cobertas pelo véu, mas pelas leis medo-assírias (final do segundo milênio) todas as mulheres respeitáveis deveriam sair em público usando véu.24.67. tenda de sua mãe. Provavelmente, a tenda de Sara não havia sido ocupada por ninguém desde a sua morte, devido à sua posição de senhora dentro do contexto fam iliar. Ao levar Rebeca para a tenda de sua mãe, Isaque estava demonstrando que ela agora seria a senhora da casa. É um fato que se assemelha à
im portância dada à entrada dos recém -casados em sua nova casa, presente em textos *ugaríticos.
2 5 .1 -1 1A morte de Abraão25.1-4. descendentes de Abraão e Quetura. Nem todos esses dezesseis nomes podem ser identificados, em bora a m aioria deles esteja associada ao deserto sírio-árabe, a leste do Jordão, e pode representar uma confederação de tribos envolvidas com o lucrativo comércio de especiarias. Dentre os seis filhos de Abraão e Quetura, Midiã é o nome mais proeminente no final da narrativa, sendo descrito como um povo que vivia na periferia do território israelita , nas regiões do Neguebe e do Sinai. Alguns desses nomes aparecem nos anais *assírios (Medã é Badana, ao sul de Temá; Isbaque é a tribo síria de Iasbuque, ao norte; Sabá fica na parte sudoeste da Arábia). Suá tam bém aparece em textos *cuneiformes como uma localidade no médio Eufrates, perto da foz do rio Habur (ver Jó 2.11).25.1-4. concubinas. As *concubinas ou esposas secundárias de Abraão foram H agar e Quetura. Geralmente, as concubinas eram m ulheres que não possuíam dote e assim, seus filhos não tinham, a princípio, direitos sobre a herança. No caso de a esposa principal não ter gerado nenhum filho, o pai podia escolher um deles como seu herdeiro. No entanto, se o pai não agisse assim, quaisquer reivindicações sobre a propriedade da fam ília teriam como base as condições dos contratos de casamento.25.2, 4. origem dos m id ian itas. M idiã era um dos filhos de Abraão e Quetura, e a referência a ele mostra o perm anente interesse do autor em estabelecer ligações entre Abraão e os povos da Palestina, Transjor- dânia e A rábia. Os m idianitas são freqüentem ente mencionados como um grupo de tribos nômades de pastores que viviam nos desertos do N eguebe e do Sinai. Foram os mercadores midianitas que levaram José para o Egito (Gn 37.28). Moisés se casou com a filha de Jetro, príncipe de M idiã, depois de fugir do Egito (Êx 2.16-21). Na narrativa da conquista de Canaã, os midianitas são aliados dos moabitas e considerados inimigos dos israelitas (Nm 25.6-18). Não existem informações fora da Bíblia sobre a origem e a história desse povo.25.5, 6. dar presentes. Era prerrogativa do pai designar seu herdeiro, porém, ele deveria prover algo para os outros filhos. Assim, ao dar presentes aos filhos que teve com Quetura e ao enviá-los para longe, Abraão repartia sua riqueza com eles, mas tam bém protegia a posição de Isaque como herdeiro da casa.25.6. terra do oriente. O termo hebraico qeden citado nessa única frase pode indicar tanto uma direção, "leste ", como o nome de um lugar. A história egípcia do
século 20 a.C. sobre o exüio político de *Sinuhe menciona a terra de Q edem como próxima a Byblos. Em outros textos bíblicos, o termo refere-se aos povos que habitavam a região desértica nas extremidades orientais de Israel (Jz 6.3; 7.12; Is 11.14).25.8. fo i reunido aos seus antepassados. Na cosmo- visão dos povos antigos, o passado se assem elhava mais a uma aldeia espalhada pelo vale, do que a um trem se afastando. Eles consideravam que estavam diante do passado (e não do futuro). Reunir-se aos antepassados expressava não apenas a idéia de ser enterrado no túm ulo da fam ília, mas tam bém a de fazer parte da galeria dos antepassados na "aldeia dos ancestrais" que incluía o passado. Esta visão está mais relacionada à história do que à vida após a morte.
2 5 .1 2 -1 8A linhagem de Tsmael25.12-16. descendentes de Tsmael. Continuando a lista dos descendentes de A braão que habitavam as regiões circunvizinhas, surgem os filhos de Ismael. O termo 'filho', às vezes, representa uma união política em vez de laços sangüíneos, mas qualquer que seja o caso, essa lista compreende a confederação de tribos que viviam no deserto sírio-árabe. A ocorrência desses nomes em registros *assírios, combinados aos nomes da lista de Quetura, sugere mudanças na aliança e na fidelidade entre as tribos. Dentre os nomes que se destacam estão Nebaiote, provavelmente o Nabaiati das campanhas de Assurbanipal contra as tribos árabes e possivelmente associado aos nabateanos posteriores de Petra; Tem á, um oásis a nordeste de Dedã, situado na rota das caravanas entre o sul da Arábia e a M esopotâmia; e Quedar, um povo mencionado em outros contextos como pastores nômades (SI 120.5; Is 42.11; 60.7).25.18. região dos descendentes de Ism ael. A região desde Havilá (ver G n 2.11; 10.7) até Sur (ver G n 16.7) provavelm ente correspondia às rotas de m igração e de caravanas dos descendentes de Ismael. Não era uma região apropriada para populações sedentárias numerosas, mas seria adequada para os grupos nôm ades de pastores. Essa área era o centro do comércio de especiarias do sul da Arábia, de onde saíam caravanas em direção ao Egito (oeste) e à Mesopotâmia e Síria (leste). Assur, nesse contexto, não seria o reino m esopotâm ico da região do alto Tigre, e sim uma região do norte da Arábia (ver G n 10.22; 25.3).
2 5 .1 9 -2 6O nascimento de Jacó e Esaú25.21. esterilidade. A esterilidade era um recurso usado nas narrativas antigas para aumentar a tensão da trama, como um fator de am eaça aos descendentes pro
m etidos (12.2) pela *aliança. Também era um a forma de tornar especial o filho nascido após longa espera, porque som ente Deus poderia anular a infertilidade.25.22, 23. resposta profética. A preocupação de Re- beca pela sua gravidez levou-a consultar o *oráculo. O texto não dá indícios dos meios usados por ela para consultar o Senhor. Ela não utiliza uma estrutura oracular que ofereça um a resposta do tipo "sim ou não". Não há referência a um profeta, sacerdote oracular ou a um anjo que transmitisse o oráculo. No Egito e na M esopotâmia, os oráculos como esse eram quase sempre concedidos pelo sacerdote. Um a outra possibilidade seria buscar um a resposta através de um sonho. N esse caso, geralm ente era necessário dormir num lugar sagrado. O texto se preocupa menos com o modo e mais com o conteúdo do oráculo em si. O oráculo não se refere especificam ente aos filhos, na medida em que trata do destino final da linhagem da família que cada um estabelecerá. Um oráculo como esse não implicaria um tratam ento diferenciado dos filhos por parte dos pais.25.24-26. dando nom e aos filh os. No mundo antigo, a escolha dos nomes era um ato significativo. Acreditava-se que o nom e poderia afetar o destino da pessoa; por isso quem o escolhia exercia um certo controle sobre o futuro da pessoa. M uitas vezes, os nomes expressavam esperanças ou bênçãos, ou preservavam algum detalhe a respeito da ocasião do nascimento, especialm ente se fosse algo considerado relevante. Aqui, Esaú recebeu um nome por causa de uma característica física, enquanto que o nome dado a Jacó estava relacionado ao seu com portam ento singular durante o nascimento. Nem sempre o significado dos nomes correspondia à palavra da qual se originavam, mas freqüentemente havia uma relação por meio de um jogo de palavras. Assim, a palavra hebraica para Jacó não significa "calcanhar", apenas soa como a palavra "calcanhar". Esperava-se que o nome desempenhasse um papel no desenrolar do destino do indivíduo e que assumisse um significado e se mostrasse adequado ao longo de sua vida, em bora fosse algo impossível de se prever.
25.27-34 Esaú troca seu direito de primogenitttra25.28. o papel da m ãe nas decisões de herança. Umcontrato cananeu de *Ugarite apresenta um a situação em que o pai perm ite à m ãe escolher o filho que deve receber tratamento preferencial na herança.25.29, 30. Jacó prepara um ensopado. O incidente do ensopado parece ter acontecido longe de casa, de outro m odo Esaú poderia ter apelado para seus pais. Jacó não era do tipo aventureiro, assim seria improvável que estivesse sozinho, longe do acampamento. Ele é
descrito como um homem que "vivia nas tendas", o
que pode ser um indício de que estivesse mais ligado ao cuidado do rebanho. Os pastores deslocavam seus acampamentos por uma ampla área de terra, a fim de encontrar água e pasto para os rebanhos. O mais provável é que Jacó tivesse saído para supervisionar alguns dos pastores num desses acampamentos, quando Esaú encontrou-se com eles. Jacó estaria no comando do acampamento, assim a decisão seria dele e haveria testemunhas quanto ao acordo feito com Esaú.
25.31-34. direito de primogenituxa. O direito de pri- mogenitura dizia respeito apenas à herança material proveniente dos pais. A herança era dividida pelo núm ero de filhos, m ais um, pois o m ais velho recebia duas partes da herança. Essa era uma prática comum no antigo Oriente Próximo. Em troca do prato de ensopado, Jacó com prou de Esaú essa parte adicional (provavelm ente não toda a sua parte da herança). Não há exemplos na literatura conhecida do antigo Oriente Próximo de um acordo como esse sendo feito. O relato que mais se aproxima, faz parte do material sobre leis de *N uzi, em que um irm ão vende uma propriedade já herdada a um de seus irmãos.
26.1-16 Isaque e Abimeleque26.1-6. fom e periódica. Às incertezas quanto à ocorrência de chuvas na estação própria e na quantidade adequada fizeram da seca e da fome episódios bastante comuns na antiga Palestina. O escritor menciona essa calam idade freqüente, distinguindo-a da fome ocorrida no tempo de Abraão (Gn 12).26.1. filis te u s na P alestina. Um grande núm ero de filisteus ocuparam Canaã, depois que a invasão dos Povos *Marítimos (1200 a.C.) derrubou o controle egípcio da área. N esse contexto, eles são mencionados nos registros de Ramsés III (1182-1151 a.C.). Os filisteus estabeleceram a pentápolis, uma união das cinco principais cidades-Estado (Gaza, Gate, A sdode, Ecrom , Asquelom) ao longo da planície da costa sul e rapidamente conquistaram o controle político sobre as regiões próximas (Jz 15.11). A menção deles em Gênesis pode referir-se a um grupo anterior que se estabeleceu em Canaã antes de 1200 a.C., ou pode ser um *anacronismo baseado em sua presença na região de Gerar, em períodos posteriores (ver G n 21.32), quando povos que ocuparam anteriormente essas proximidades foram denominados pelo nome conhecido dos leitores da época posterior. As evidências arqueológicas de sua presença são encontradas na introdução de novos tipos de cerâmica, objetos para sepulturas (por exemplo, sarcófago com traços humanos) e novas linhas arquitetônicas.
26.7-11. esposa como irm ã. O tema esposa/irmã aparece três vezes nas narrativas dos ancestrais (ver também capítulos 12 e 20). Aqui, Abimeleque (nome do trono ou da dinastia, significando "m eu pai é rei") é enganado por Isaque e Rebeca. Como resultado, eles obtêm a proteção real e o direito de cultivar a terra e criar rebanhos em Gerar.26.12-16. p lantações. Não era incom um que tribos nômades de pastores formassem lavouras ou colhessem o fruto das palmeiras, ao longo de sua rota usual de passagem. Talvez fosse um passo no sentido de se estabelecerem em aldeias, m as não é necessariamente o caso. Geralmente, o sedentarismo (fixação de raízes dos nômades) está m ais diretam ente relacionado às ações dos governantes ou a mudanças nas fronteiras políticas por onde os nômades conduziam seus rebanhos. O acúmulo de riqueza também poderia levá-los a se estabelecer num lugar, m as não era um a das principais razões.
26.17-35Os poços de Isaque26.17-22. direitos e disputas a respeito de poços. Ospoços eram geralm ente cavados e protegidos pelos habitantes das aldeias. A probabilidade de entupir ou ruir exigia que fossem vistoriados periodicamente. O trabalho envolvido e a necessidade de água tanto para o uso das pessoas como para plantações e anim ais, favorecia o aparecimento de disputas entre as aldeias e/ou entre pastores, que também reivindicavam a posse e o uso dos poços.26.20. dando nom e aos poços. Um a forma de designar o proprietário de um poço ou de outros recursos naturais era escolhendo um nome. Assim que o nome passasse a fazer parte da tradição, não seria difícil vincular a posse a quem deu o nome. Essa era uma maneira de resolver qualquer contenda que surgisse e de evitar disputas posteriores. A escolha de nomes também fazia parte das tradições de uma tribo, e seu conhecimento era passado de geração em geração.26.23-25. construir um altar, invocar, armar acampam ento, cavar um poço. As ações do versículo 25 são todas relacionadas à posse da terra e, portanto, uma resposta adequada à promessa da *aliança do versículo 24. O altar era um reconhecim ento da santidade do lugar onde o Senhor falara com Isaque. A rm ar um acampamento e cavar um poço eram os meios geralm ente aceitos para se estabelecer os direitos sobre uma terra que ninguém ainda havia tomado posse.26.26-33. acordo de paz. O acordo de paz dos versículos 28-30 constitui um reconhecimento por parte dos vizinhos de Isaque de que sua presença na região era aceita. O acordo era selado por um a refeição compartilhada pelas partes envolvidas e por m eio de jura
m entos. Assim como Abraão havia construído altares (cap. 12) e estabelecido direitos reconhecidos sobre a terra (cap. 23), Isaque faz o mesmo agora.26.33. etim ologia popular do nom e de cidades. Ber- seba fora assim denominada anteriormente por Abraão (em 21.31). A apresentação do significado de um nome não indica necessariam ente que tenha se originado naquela ocasião. Assim como o nome de pessoas pode ser reinterpretado (por exemplo, Jacó, em 27.36), tam bém pode acontecer o m esm o com o nom e de um lugar. Os antigos se im portavam m enos com a origem do nome do que com o significado adquirido ao longo do tempo. Essa cidade situada no extremo sul passou a ser a base da família de Isaque. A localidade identificada pelos arqueólogos como Berseba não apresenta ruínas anteriores ao período dos Juizes (Idade do *Ferro, 1200), mas não há indícios na história de Isaque da existência de um a cidade naquele lugar durante nessa época. De qualquer m odo, isso não representa um problema.
27.1-40Isaque abençoa seus filhos27.1-4. bên ção no le ito de m orte. Bênçãos ou m aldições proferidas pelo patriarca da fam ília sem pre eram levadas a sério e consideradas válidas. Tais palavras de um patriarca, ditas em seu leito de morte, seriam ainda m ais graves. Nesse texto, porém, Isaque não se encontrava em seu leito de morte, apenas estava bastante idoso, de modo que desejava colocar sua casa em ordem a fim de dar a bênção tradicional.27.4. am biente adequado para a bênção. O banquete que Esaú estava prestes a preparar garantiria um am biente agradável e adequado para a bênção e ao mesmo tempo serviria como uma celebração, que geralmente acompanhava os eventos significativos; algo semelhante ao que fazemos quando saímos para jantar num bom restaurante para alguma comemoração.27.11-13. transferir um a m aldição. A reação de Rebeca diante do temor de Jacó de ser descoberto e receber uma maldição é atrai-la sobre si, caso isso aconteça. Ela podia fazer isso? Como esse capítulo demonstra, um a bênção não é transferível, nem tam pouco uma maldição. Mas nesse caso, é m ais provável que Rebeca estivesse se referindo às conseqüências da m aldição, em vez da m aldição em si. V isto que a divindade seria responsável pelo cum prim ento da maldição, o reconhecimento de que ela forçou Jacó a enganar seu pai faria dela o alvo da maldição, caso fosse proferida.27.14. preparação do alim ento. Tanto homens como m ulheres costumavam preparar alimentos. Um a das maneiras de variar o cardápio das refeições (que em geral eram bastante monótonas e sem carne no cardá-
pio) era caçar anim ais selvagens. Com o essa carne costum ava ser rígida e de sabor forte, deveria ser cozida até tornar-se m acia, e tem perada com ervas para melhorar o sabor.27.27-29. tipo de bênção. A bênção que Isaque concedeu a Jacó (a quem confundiu com Esaú) lhe assegurava a fertilidade da terra, o domínio sobre outras nações, inclusive dos descendentes de irmãos, e um efei
to bum erangue para maldições e bênçãos. Esses são elementos típicos da bênção patriarcal e não têm nenhum a relação com a herança de bens materiais ou com a *aliança, embora algumas dessas características tam bém estejam presentes em benefícios da aliança que o Senhor prom etera a Israel. Eram elem entos
fundamentais para a sobrevivência e prosperidade. 27.34-40. im possibilidade de retirar a bênção. O poder das palavras proferidas era tal que não podiam ser canceladas; isso valia até mesmo fora da esfera da superstição, quando as palavras proferidas acabavam causando um benefício ou um malefício, independente da pessoa que falou ter mudado de opinião. Assim, as palavras concernentes ao destino de Esaú refletem
a realidade da bênção anteriormente concedida a Jacó. Não seria considerada uma maldição, pois admitia a continuidade da existência e um a libertação final. 27.37. "eu o constitu í". Isaque explicou a Esaú: “eu o
constituí senhor... a ele su p ri". O uso da prim eira pessoa mostra que Isaque não estava sugerindo que essa bênção era uma proclamação profética da divindade; tampouco recorreu à divindade para que ela se cumprisse. Expressões semelhantes na Mesopotâmia costumavam invocar a divindade em bênçãos e maldições como essa.
27.41-46 O resultado da fraude27.45. perder os dois num só dia. Rebeca expressa sua preocupação de que pudesse perder ambos em um só dia. Pode ser uma referência a perder Isaque e Jacó, isto é, Isaque morreria e Jacó seria m orto por Esaú; ou uma referência a perder ambos os filhos, Jacó e Esaú, isto é, Jacó seria morto por Esaú, que como
assassino, teria de fugir ou acabaria como vítima de um a vingança de sangue.27.46. m ulheres hititas. As mulheres *hititas com quem Esaú se casara faziam parte da população nativa de Canaã, nessa época. Em bora seja possível que esse grupo esteja relacionado aos famosos hititas da Anatólia, nosso conhecimento sobre a história e cultura dos hititas cananeus, no período patriarcal, é insuficiente para perm itir conclusões fundam entadas. Há indícios da presença dos hititas da Anatólia em Canaã durante a monarquia; mesmo antes da metade do segundo mi
lênio os textos de *A m am a contêm nomes próprios hititas e *hurrianos.
28.1-22 O sonho e o voto de Jacó28.2. Padã-Arã. Esse nome de lugar aparece apenas em Gênesis. Trata-se da designação de um a região geral no norte da Mesopotâmia (= Arã N aaraim em 24.10) ou talvez de um outro nom e para H arã. Em *acadiano, tanto padanu como harranu significam “cam inho" ou "estrad a". De qualquer maneira, Jacó foi instruído a retom ar à terra de seus ancestrais em busca de um a noiva, como parte da prática da endogamia (casamento dentro de um grupo restrito).28.5. aram eu. A origem dos *arameus é problemática. De fato, eles só aparecem nos registros m esopo- tâmicos dos anais *assírios de Tiglate-Pileser I (11141076 a.C.), datados do final do segundo milênio. No século nono, Salmaneser III menciona reis de A rã em Damasco (inclusive Hazael e Ben-Hadade III). Entretanto, essa ocorrência se deu m uitos séculos depois do cenário em que as narrativas ancestrais se desenrolaram. Provavelmente, a menção dos arameus em relação a Abraão e Jacó seja uma referência a tribos esparsas de povos, na alta M esopotâm ia, que ainda não tinham sido aglutinadas na nação de Arã, citada em textos posteriores. Tendo como base outros exemplos da literatura *cuneiforme, Arã pode de fato ter sido o nome de uma região (cf. Sippar-Am nantum do período da * Antiga Babilônia) e m ais tarde aplicado aos povos que lá viviam. Evidências atuais sugerem que os arameus habitaram a região do alto Eufrates, durante o segundo m ilênio, prim eiro como aldeões e criadores de gado, depois como uma coalizão política ou nacional.28.10-12. Itinerário de Jacó. Jacó seguiu pela estrada central, no desfiladeiro que atravessava a região montanhosa de Berseba, passando por H ebrom, Betei e Siquém até chegar à estrada principal, o Grande Tronco, em Bete-Sem. Provavelmente levaria alguns dias para ir de Berseba a Betei (cerca de cem quilômetros) e a viagem até H arã teria levado m ais de um mês (cerca de 880 quilômetros).28.13-15. escada. A escada que Jacó vê em seu sonho é a passagem entre o céu e a terra. A palavra correspondente em *acadiano é usada na mitologia meso- potâmica para descrever o meio usado pelo mensageiro dos deuses quando quer passar de um a dim ensão para outra. Foi essa escada mitológica que os b a b ilô nios procuraram representar na arquitetura dos zigu- rates, que foram construídos a fim de prover à divindade um caminho para descer ao templo e à cidade. A formação de Jacó perm itia que ele estivesse familiarizado com esse conceito, concluindo assim que estava
em solo sagrado, exatamente onde havia um portal aberto entre os dois mundos. Embora ele possa ver a escada em seu sonho, com os mensageiros (anjos) usando-a para passar de uma dimensão para outra (saindo e chegando de m issões, não em um desfile ou procissão), o Senhor não é visto fazendo uso dela, mas de pé ao lado da m esm a (essa é a tradução correta do hebraico).28.16,17 . casa de Deus, porta dos céus. Quando Jacó acorda, ele identifica o lugar sagrado como a casa de Deus (beth-el) e a porta dos céus. Na mitologia *aca- diana, a escada usada pelos m ensageiros subia até a porta dos deuses, enquanto o templo da divindade ficava localizado na parte inferior. D essa maneira, a divindade protetora podia deixar a assem bléia dos deuses e descer até o lugar de adoração.28.18.19 . coluna e unção com óleo. Colunas sagradas ou pedras erigidas são bem conhecidas na prática religiosa do antigo O riente Próxim o, remontando a períodos anteriores ao quarto m ilênio a.C.. Elas são retratadas principalmente nos locais cananeus de *cul- to, tais como o lugar alto em Gezer, sendo também usadas no templo israelita, em Arad. Algumas colunas de pedras eram erig idas sim plesm ente com o memoriais. O fato de serem encontradas vasilhas na base de tais colunas, permite inferir que libações (ofertas líquidas) eram derramadas sobre elas, como vemos Jacó fazendo em 35.14. A dedicação da coluna era representada pela sua unção com óleo.28.19. Betei/Luz. Como já foi mencionado em Gênesis23.2, a mudança no nome de um lugar se baseava no aparecimento de novos povos ou eventos significativos. Betei era uma im portante cidade localizada na região montanhosa central, bem ao norte de Jerusalém. Uma importante estrada leste-oeste ficava ao sul da cidade, transformando-a numa encruzilhada para viajantes, e favorecendo o surgim ento de locais de *culto. Há certa especulação de que Luz era a cidade original e Betei (literalmente "casa de D eus") era um local separado de culto, localizado fora da cidade. A ssim que os israelitas se estabeleceram na região, porém, a associação do lugar com Abraão (12.8) e Jacó teria substituído o nome antigo.28.20-22. votos. Votos são promessas atreladas a algumas condições, quase sempre feitas a Deus. No m undo antigo, a situação mais comum para um voto era quando se fazia um pedido à divindade. A condição implicava a provisão e o cuidado de Deus, embora os votos fossem geralm ente um presente à divindade. Geralmente, os votos tomavam a forma de um sacrifício, mas podiam ser também presentes para o santuário ou para os sacerdotes. O cum prim ento de um voto era geralmente realizado no santuário, publicamente. No voto de Jacó, as condições na verdade se
estendem até o final do versículo 21. Jacó prometeu dar o dízimo de tudo que recebesse, se seus pedidos fossem atendidos.28.22. dízimo. No m undo antigo, geralmente o dízimo era um tipo de cobrança de im postos. O s dízimos eram pagos ao templo e ao rei. Visto que os proventos e a riqueza de uma pessoa não eram primordialmente em forma de dinheiro, todos os bens eram incluídos nos cálculos do dízimo, conforme indicado aqui pela afirmação de Jacó "d e tudo o que me deres". O dízimo de Jacó era evidentemente voluntário, e não imposto, portanto não estaria associado a nenhum tipo de cobrança de tributos. Não havia templo ou sacerdotes em Betei, assim não se sabe a quem Jacó daria o dízimo. Provavelm ente Jacó estivesse prevendo que toda a riqueza que iria adquirir viria na form a de rebanho. Nesse caso, o dízimo seria representado na forma de sacrifícios oferecidos em Betei.
29.1-14Jacó encontra Labão e sua família29.2, 3, 10. poço tapado por um a grande pedra. Apedra tinha uma função dupla: proteger o poço de contaminação ou envenenamento da água e impedir que qualquer pastor da área tirasse m ais água do que a quantidade a que tinha direito. Aparentem ente, a água era escassa nessa ampla região e assim, o direito de usar o poço era resguardado com cuidado e zelo. Pastores beduínos sequer divulgam a localização dos poços em seu território, o que dem onstra que esse nível de segurança não está desproporcional. A pedra podia servir também como um disfarce da localização do poço para os transeuntes casuais. Os poços dessa época não eram cercados por um muro de proteção, assim a pedra também evitaria que animais (ou pessoas) inadvertidamente tropeçassem e caíssem neles.29.3. acordos a respeito do uso da água. N as regiões onde havia escassez de água, era necessário que os pastores fizessem um acordo acerca do uso do poço ou da fonte. A falta de confiança, porém , poderia resultar num a cena como a descrita no texto, em que todos os pastores se reuniam antes que alguém pudesse beber.29.6. pastora. Embora não seja difícil nos dias de hoje encontrar mulheres e crianças pastoreando rebanhos beduínos, na antigüidade as m ulheres só se dedicavam a essa tarefa se não houvesse nenhum descendente do sexo masculino na casa. Era uma atividade perigosa, visto que podiam ser m olestadas, m as era também uma meio eficaz de atrair um marido.29.11. beijo de saudação. A forma tradicional de saudação entre amigos e parentes no Oriente M édio consiste num abraço caloroso e um beijo em cada bochecha. Isso é feito entre parentes do sexo m asculino e feminino.
29.15-30Jacó trabalha por suas esposas29.17. os olhos de Lia. Na descrição comparativa entre Lia e Raquel, o único com entário sobre Lia diz respeito a seus olhos. O term o usado geralm ente é considerado positivo e indica fragilidade, vulnerabilidade, ternura ou uma qualidade delicada. Embora os olhos fossem um dos componentes principais da beleza no m undo antigo, as características positivas de Lia perdiam o brilho diante da graça de Raquel.29.18-20. sete anos de trabalho. Os arranjos típicos para o casamento incluíam um pagamento feito pelo noivo ou por sua família à família da noiva. Esse valor funcionaria como um fundo de reserva para sustentar a esposa, caso o marido morresse, a abandonasse ou se divorciasse dela. De maneira alternativa, às vezes era usado pela família para pagar o preço da noiva a seus irmãos. Em alguns casos, até mesmo retom ava à noiva por meio de um dote indireto. Nos textos de *Nuzi o preço típico de uma noiva é trinta ou quarenta siclos de prata. Um a vez que dez siclos correspondiam ao salário anual típico de um pastor, Jacó estava pagando um preço alto. Isso pode ser explicado, porém, pelas circunstâncias: Jacó não estava em posição de negociar e o pagamento seria feito em forma de trabalho.29.21-24. festa de casamento. O casamento era baseado num contrato entre duas famílias, sendo, portanto, semelhante a um tratado ou a transações comerciais. Da m esma forma, o casamento era consumado com uma refeição *ritual (um sinal de paz entre as duas partes envolvidas). Havia também uma procissão até a "prim eira casa" designada aos noivos (geralmente dentro da casa ou da tenda do pai do noivo, embora não seja esse o caso em G n 29), onde então o casal praticava o ato sexual. A noiva usava um véu durante essas festividades públicas e pode-se presumir que os ânimos exaltados tenham levado à embriaguez, fatores que explicariam a incapacidade de Jacó em identificar a substituição de Lia por Raquel durante a festa.29.24. um a serva com o presente. E ra bastante comum que a noiva recebesse uma serva como presente na ocasião de seu casamento. Dessa maneira ela obtinha seu próprio séquito ou serviçais na casa, o que lhe garantiria m aior prestígio e serviria de auxílio na execução das tarefas domésticas.29.26-30. costum e da mais velha casar-se primeiro. Era costume dos povos do antigo Oriente Próximo, e ainda nos dias de hoje é uma tradição naquela área, a filha mais velha casar-se primeiro. Isso evitaria que a irm ã m ais nova envergonhasse a m ais velha, que talvez não fosse tão bonita quanto ela, e tam bém evitava que a família esgotasse seus recursos por causa das filhas que permaneceram solteiras. As mulheres
eram usadas, através dos contratos de casamento, para obtenção de riqueza e prestígio para a fam ília. Se um a irm ã m ais velha ficasse para trás e nunca se casasse, a fam ília ficaria com a responsabilidade de cuidar dela.29.27. semana de núpcias. Talvez a origem da semana de núpcias esteja na relação entre os sete dias da história da criação e a criação de uma nova vida através do casamento. Afastar a noiva e o noivo de outras tarefas era também uma maneira de garantir a ocorrência de gravidez logo no começo do casamento.
29.31- 30.24 O s filh o s d e Ja có29.33. escolha do nome dos filhos. A escolha do nome de um filho era um ato cheio de significado e geralm ente representava algum a circunstância ou sentimento relacionado ao m omento do nascim ento, porém raramente afetava o provável destino da criança. Era crença geral que o nome não determinava o futuro da criança, mas estava diretamente relacionado à identidade pessoal e, portanto, esperava-se que se associasse de forma significativa à natureza e às experiências da pessoa.30.3-13. serva como esposa substituta. Assim como Sara deu a Abraão sua serva H agar como esposa substituta (16.1-4), também as esposas de Jacó lhe ofereceram suas servas. O objetivo era que a esposa estéril (ou não amada) tivesse filhos por meio dessa substituição legal. Esse costume tam bém encontra respaldo no Código de *Lipite-Istar e no Código de *Hamurabi, da Mesopotâmia.30 .14 ,15 . m andrágora. M andragora officinarum é uma planta perene, sem caule, da família das batatas, que cresce em solo arenoso, cujo formato assemelha-se a um ser humano. Possui propriedades narcóticas e purgativas, que explicam seu uso medicinal. Sua forma e fragrância penetrante provavelmente originaram seu uso em ritos de *fertilidade e como afrodisíaco (ver Cântico dos Cânticos 7 .13 ,14). Ela possui folhas ver- de-escuras ovais, de onde cresce um a flor purpúrea com formato de sino. Seu fruto é uma baga amarelada, aproxim adam ente do tam anho de um pequeno tom ate, que pode ser consum ido. A m andrágora é nativa da região m editerrânea, e pouco comum na Mesopotâmia.
30.25-43J a c ó c o m o e m p re g a d o d e L a b ã o30.22-25. o pedido de Jacó. Quando um a m ulher era incapaz de gerar filhos, sua situação na fam ília podia tornar-se m uito delicada. U m a m ulher estéril podia ser (e muitas vezes era) descartada, condenada ao ostracismo ou colocada numa posição inferior, encontrando
proteção junto aos seus parentes. Agora que a posição de Raquel está estabelecida na fam ília de Jacó, ele se sente livre para pedir perm issão para ir em bora.
30.27. adivinhação de Labão. Um leitor israelita teria ficado chocado com a sugestão de Labão de que *Yah- w eh lhe concedeu informações através de *adivinha- ção. Não se sabe que tipo de adivinhação Labão usou, mas essa prática foi m ais tarde proibida pela lei. A adivinhação se baseava na premissa de que era possível obter conhecimento das atividades e motivações dos deuses, através do uso de vários indicadores (por exemplo, as entranhas de animais sacrificados). Funcionava dentro de uma cosmovisão contrária àquela ensinada pela Bíblia. Não obstante, Deus ocasionalm ente escolhe usar alguns desses m étodos, como a estrela de Belém atesta.30.32, 33. raça de ovelhas. A s ovelhas m anchadas (salpicadas ou pintadas) escolhidas por Jacó geralmente representavam um a pequena porção do rebanho. Parece que Jacó está fazendo um acerto sobre uma parte que seria muito menor que a usual, de acordo com os contratos da época, que designavam até 20% das crias das ovelhas para o pastor (estudos m ostram que, atualmente, entre os beduínos o percentual comum é de 10%). Subprodutos (lã, derivados do leite) não são m encionados aqui, m as geralm ente um a porcentagem desses produtos também fazia parte da comissão do pastor.30.37-43. uso de galhos. A resposta de Jacó à deslealdade de Labão contém elementos de procriação científica e tradição folclórica. Obviam ente, os pastores tinham conhecimento do período de cio das ovelhas (que vai de junho a setem bro) e a observação teria
demonstrado que cruzar anim ais saudáveis produziria cordeiros resistentes. O que não é científico, no entanto, é o princípio de que certas características (coloração, por exemplo) possam ser determinadas por meio de auxílios visuais. Os galhos listrados colocados por Jacó diante dos bebedouros das ovelhas não poderiam afetar geneticamente a prole. Esse tipo de simpatia é encontrado em m uitas tradições populares (inclusive mitos modernos sobre mães que usam determ inadas cores para determinar o sexo do bebê). Esse ardil tem um papel importante no aspecto trapaceiro dessa narrativa e reflete uma cultura que depende da m istura de métodos mágicos e de senso comum para conseguir resultados.
31.1-21 A fuga de Jacó31.1. a queixa dos filh os de Labão. O sucesso de Jacó nos negócios com Labão naturalm ente im plicou na redução das posses de Labão e, portanto, na diminui
ção da herança que seus filhos esperavam receber. Assim, não é surpresa que eles alimentassem rancor contra o cunhado.31.13. D eus de Betei. Ao identificar-se como o Deus de Betei, o Senhor traz à m emória de Jacó o voto que fizera em 28.20-22. Embora seja verdade que para os cananeus cada lugar sagrado possuía sua própria divindade, não há indícios no texto de que Jacó considerava o D eus de Betei distinto de *Yahw eh, e certa
mente o autor do Pentateuco considera-os como um só Deus (compare v. 3 e 13).31.14-16. a qu eixa de R aq u el e Lia. R aquel e Lia expressam o desejo de ir embora com Jacó pela forma como foram tratadas por Labão em suas negociações financeiras. Alguns sugerem que elas poderiam estar
se referindo aos bens que geralm ente eram reservados para proteção da mulher, caso o marido morresse ou se divorciasse dela. Esses bens seriam parte do dote da noiva, que nesse caso, havia sido pago por Jacó com seu trabalho e não através de bens materiais. Se Labão não tivesse separado o valor dos catorze anos de trabalho de Jacó, não haveria nada reservado para a provisão das mulheres. Como resultado, elas não desfrutariam de nenhuma proteção adicional, em termos financeiros, se ficassem junto de sua família. Elas colocam-se como estrangeiras pela forma como foram tratadas, porque Labão havia enriquecido com o trabalho de Jacó, mas não tinha transferido o lucro a elas, portanto, era como se ele as tivesse vendido.31.18. Padã-Arã. Padã-Arã parece referir-se à região norte da Mesopotâmia e nordeste da Síria (ver comentário sobre 28.2). O acréscimo de *Arã sugere ligações com os arameus (ver comentário sobre 28.5).31.19. 20. tosqu iar as ovelhas. A tosquia das ovelhas domésticas para a extração da lã ocorre na primavera, poucas sem anas antes do nascim ento dos cordeiros. Essa prática permite o crescim ento do pêlo durante o verão, a fim de proteger os animais contra temperaturas extrem as. Os pastores levavam seus rebanhos a um lugar central onde a lã era processada, tingida e transformada em fio para a confecção de roupas. Escavações arqueológicas em Tim na (38.12) descobriram grande quantidade de teares, um indício de que ali funcionava um centro de tosquia e produção de lã. Como esse processo envolvia uma viagem, eram feitas provisões a fim de proteger os aldeões que ficavam. Havia tam bém um a celebração associada ao evento, assim que o árduo trabalho de tosquia term inava.31.19. íd olos do clã. Os terafins ou "ídolos do clã" estavam associados à sorte e à prosperidade da família. Supõe-se que, assim como os lares e penates da tradição rom ana, essas pequenas im agens guardavam a soleira da porta e o lar. Eram passados de
geração em geração, como parte da herança. O fato de Raquel ter conseguido escondê-los debaixo de sua sela dá idéia de seu tam anho reduzido, em bora alguns fossem m aiores (ver 1 Sm 19.13). Foram encontradas muitas dessas estatuetas na Mesopotâmia e na Sírio-Palestina. Elas faziam parte da religião popular do local e não estavam associadas aos templos ou *cul- tos nacionais das divindades m ais importantes. Um estudo recente sugeriu que seriam estatuetas dos an
cestrais, mas outros acreditam que estejam relacionados, de modo geral, à divindade protetora da família. O desejo frenético de Labão em conseguir de volta essas imagens perm ite avaliai* a im portância que tinham para sua família, em contraste com a disposição de Jacó em entregá-las, antes de partir para Canaã.31.21. m ontes de G ileade. Ao partir da região de Harã, Jacó seguiu em direção ao sud oeste, através do rio Eufrates, até a região da Transjordânia conhecida como Gileade. Essa área com preende grande parte do planalto jordaniano, entre o rio Iarm uque, perto do mar da G aliléia e da extrem idade norte do m ar Morto.
31.22-55O acerto entre Jacó e Labão31.27. instru m entos m usicais. Tam borins e harpas eram os instrumentos musicais comuns associados à celebração dentro da cultura aldeã. Eram usados para destacar eventos importantes, como vitórias militares (Êx 15.20), danças religiosas e celebrações (1 Sm 10.5) e, no caso, festas de despedida.31.35. a desculpa de R aquel. A desculpa de Raquel de que estava em seu período menstrual era suficiente para afastar Labão, porque no mundo antigo uma mulher menstruada era considerada um perigo, visto que havia a crença generalizada que o sangue menstrual era o habitat de demônios.31.38-42. responsabilidades do pastor. Foram descobertos docum entos em escavações na M esopotâm ia que explicam em detalhes quais eram as responsabilidades e qual o salário dos pastores. Neles são descritas atividades m uito parecidas com as dessa passagem: levar os animais a áreas adequadas de pasto e a fontes de água, cuidar do nascimento dos cordeiros, tratar dos animais enfermos ou machucados, proteger o rebanho dos predadores selvagens e recuperar animais perdidos. Estava implícito que perdas devido à negligência ou incapacidade de proteger o rebanho seriam descontadas do salário do pastor. Além disso, somente animais que tivessem sido m ortos ou m orressem de causas naturais poderiam ser comidos pelos pastores.31.42. divindade ancestral. O uso que Jacó fez dos term os "D eu s de m eu pai, o D eus de A braão e o
Temor de Isaque" garantia um sentido de parentesco, baseado na adoração de um a divindade ancestral praticada por esses povos tribais (ver 28.12; Êx 3.6; 4.5). A expressão "Tem or de Isaque" aparece apenas em Gênesis e talvez represente um cognom e (apelido) para o Deus da família, bem como uma ameaça im plícita contra qualquer violência que partisse de Labão (ver 31.29). A referência a protetores divinos, "A ssur, o deus de seus pais", também é encontrada em textos da antiga *Assíria (início do segundo m ilênio a.C.). 31.45-53. coluna de pedra como testem unha. O uso de uma coluna de pedras como marco de divisa, ou m em orial de um evento, ou ainda, para servir de testemunha a um a *aliança, aparece em diversos con
textos na Bíblia (ver 28.18; 35.20; Js 24.27). N a religião cananéia, a massebah (poste ou coluna sagrada) era erigida e considerada guardiã ou habitação de um deus (ver Dt 16.21, 22; 1 Rs 14.23). O fato de serem erigidas duas colunas aqui, cada um a recebendo um nom e diferente, sugere um *ritual de invocação em que o deus (ou deuses) de cada um a das partes envolvidas é cham ado para testem unhar a cerim ônia do acordo e fazer cum prir suas condições. As colunas gêmeas, Jaquim e Boaz, colocadas na frente do templo de Salomão, em Jerusalém (1 Rs 7.15-22), podem ser um possível paralelo.31.48-53. características do acordo. Assim como outros documentos de tratados no antigo Oriente Próxi
m o (tais com o os tratados *assírios dos súditos de Esaradon, no século sete a.C. e o tratado entre RamsésII e Hattusilis III, do século treze a.C.), os deuses de cada um a das partes são invocados como testem unhas, uma série de condições precisas são detalhadas e um sacrifício e um a refeição *ritual selam o acordo. Em bora a única cláusula explícita aqui seja a de que Jacó não tomaria outras mulheres, parece que a posição das colunas também serviria como um acordo de fronteiras e delimitação do território. A restrição de não tomar outra esposa encontra um paralelo nas lâm inas legais de *Nuzi (século 15 a.C.). A condição tem como objetivo proteger os direitos e a posição da atual esposa/esposas, especialm ente nesse contexto, onde a família da(s) esposa(s) não estava perto para assegurar um tratamento justo e imparcial.31.54. refeição sacrificial. Aparentemente era o procedim ento padrão usar uma refeição para selar um acordo (ver 14.18; 26.30; Êx 24.5-11). Assim como a comida fazia parte do *ritual de hospitalidade (18.25), aqui ela funcionava como um m eio de atrair as duas partes num a relação familiar e amigável. A inclusão de um elemento sacrificial garantia a participação dos deuses e aum entava o caráter solene da ocasião.
3 2 .1 -2 1O retorno de Jacó a Canaã32.1. encontro com anjos. Assim como Jacó passou por um a experiência angelical de *teofania, ao partir da terra prom etida (28.12), ele também teve um encontro com anjos na viagem de volta. Essa forma de narrativa é um recurso literário em que os m esm os eventos ocorrem no início e no final de um trecho literário e é visto como sinal da aprovação divina para o acordo recém-concluído e o restabelecimento do contato direto com o herdeiro da *aliança.32.2. dando nom e a lugares. Colocar nomes a lugares onde ocorreram eventos específicos, especialm ente *teofanias, é bastante comum nas narrativas antigas (ver 16.14; 21.31; 26.20, 33; 28.19). Era também uma form a de garantir a presença da divindade naquele lugar. Por exemplo, Betei, o local onde Abraão construiu um altar e Jacó passou por um a experiência de teofania, mais tarde tom ou-se um importante centro religioso. M aanaim , o nom e do lugar citado nesse versículo, significa "dois exércitos", m as a referência é desconhecida. Em bora não tenha sido localizada, esta cidade era bastante importante no território tribal de Gade (ver Js 13.26; 21.38; 2 Sm 2.8, 9).32.3. Seir. A terra de Seir geralm ente é identificada como a região m ontanhosa central de Edom (elevações com mais de 1500 metros de altura) situada entre W adi Al-Ghuwayr, no norte e Ras en-Naqb, no sul.32.3-5. a m ensagem de Jacó. A m ensagem de Jacó a Esaú tinha vários objetivos: Jacó queria mostrar que não estava entrando na terra sorrateiram ente ou se escondendo de Esaú e o m ais importante, que ele não estava voltando para reivindicar seus direitos de herança. Ao mencionar sua prosperidade e suas riquezas, Jacó insinuou que não havia voltado por estar falido ou para buscar aquilo a que tinha direito.32.13-21. presentes para Esaú. A generosidade expressa nos presentes de Jacó a Esaú pode ser melhor entendida se comparada ao valor dos impostos pagos por uma nação a outra. Assim, por exemplo, no século nono a.C., a cidade de H indanu pagou ao rei *assírio Tikulti-Ninurta II certa quantia em prata, pão, bebida ferm entada, trinta cam elos, cinqüenta bois e trinta jum entos. O presente de Jacó seria suficiente para perm itir que Esaú iniciasse seu próprio negócio no ramo de pastoreio ou seria usado para pagar os mercenários contratados por ele, que esperavam tom ar parte nos despojos.32.13-21. a estratégia de Jacó. Os presentes a Esaú demonstram claram ente a astúcia de Jacó. Além de ser uma tentativa de ganhar o favor de Esaú através de tam anha generosidade, a chegada daquela grande quantidade de rebanhos iria desm antelar qualquer esquema de emboscada e baixar o nível de pron
tidão m ilitar que Esaú estivesse planejando em seu encontro com Jacó. Som ando-se a isso, deslocar-se com tal quantidade de animais diminuiria o ritmo de Esaú e tornaria sua com itiva bem m ais barulhenta. Por fim, o plano acrescentava servos de Jacó à comitiva de Esaú, o que representava uma vantagem no caso de haver luta.32.22. lugar de passagem do Jaboque. Lugares de passagem (vaus) em rios funcionam como portões. Ambos são passagens que perm item a entrada e saída de um território. Ambos têm valor estratégico para os exércitos (ver Jz 3.28; 12.5; Jr 51.32). Por essa razão, estão associados a poderes tanto físicos como sobrenaturais. Logo, não é difícil im aginar que haja um a ligação entre a entrada de Jacó na terra prometida e sua luta com um ser sobrenatural à beira das águas, na passagem do ribeiro de Jaboque.32.24-26. lutando para ser abençoado. Um texto *ritu- al *hitita descreve um a luta entre a deusa Khebat e o rei, na qual a deusa é detida e surge a discussão sobre quem prevalecerá, culminando no pedido que o rei dirige à deusa, a fim de receber um a bênção.32.24. até o amanhecer. A referência ao tempo indica a duração da luta entre Jacó e o ser divino e serve também como um indicador da falta de percepção de Jacó durante a luta. O am anhecer ou "o cantar do galo" geralmente são vistos no folclore como o m omento em que as criaturas das trevas perdem o poder de atingir os seres humanos, embora esse não seja um traço fam iliar na literatura do antigo Oriente Próximo. No caso, a questão não é de poder, mas de suprem acia (como indicado pelo nome) e discernim ento (ver v. 29).32.28-30. m udança de nome. Existe, é claro, um aspecto etimológico (relacionado à origem) na m udança de nomes (por exemplo, Abrão passou a ser chamado Abraão, em 17.5, o que ratifica a promessa da *aliança de que ele seria o pai de muitas nações). Quando o anjo perguntou a Jacó o seu nome, isso fez surgir uma oportunidade de destacar a m udança do mesmo para Israe l. Logo, a m ud ança serviu para um objetivo etimológico (registrando esse evento como um m em orial em Peniel), mas também marcou a mudança de Jacó para Israel, ou seja, a transformação de um proscrito e usurpador em um herdeiro da aliança e líder escolhido do povo de Deus. A m udança de nome também era um a forma de exercer autoridade sobre um a pessoa. Quando um suserano colocava um vassalo no trono, costumava dar-lhe um novo nome, demonstrando assim seu domínio sobre ele.32.31, 32. com entário etim ológico. U m com entário etimológico fornece a origem de um nome, suas características ou uso. Comentários etimológicos folclóricos geralmente são fantasiosos (explicações sobre como o
camelo adquiriu sua corcova, por exemplo), enquanto que nas tradições nacionais ou étnicas, tendem a se transformar em lendas. Em bora tais relatos fantasiosos ou lendários possam muitas vezes ser fruto da imaginação, nem sempre os comentários etimológicos são inventados por uma imaginação fértil, mas podem de fato preservar a história acurada de um a tradição. O nome do lugar onde Jacó/Israel lutou com Deus se origina de sua exclamação de surpresa ao "ver Deus face a face" (um paralelo de seu encontro anterior em Betei, em 28.16-19). A nota final desse episódio fornece um a explicação para um a regra alimentar singular, que não aparece em nenhum a outra lei judaica. Mas seja como for, a proibição de comer "o músculo ligado à articulação do quadril" (possivelmente o nervo ciático) tem como base a recordação da luta de Jacó/Israel no Jaboque - de certa forma, comparável à instituição da circuncisão (17.9-14) - e serve como marca de confirmação da *aliança.
33.1-20O encontro de Jacó e Esaú33.1-3. curvou-se até o chão sete vezes. No mundo antigo, o ato de curvar-se até o chão era um a forma de dem onstrar respeito a um superior. Para conceder maior honra e demonstrar a subserviência da pessoa que se curvava, esse gesto podia ser repetido sete vezes. Alguns textos egípcios de El Am arna (século 14 a.C.) relatam de alguns súditos curvando-se sete vezes diante do faraó.33.16. Seir. Essa região com preende a área m ontanhosa que se estende até o sudeste de Arabá, entre o m ar M orto e o golfo de Acaba. Esse território mais tarde foi habitado pelos edomitas (ver 36.20; Jz 5.4). D evido à altitude e ao alto índice anual de chuvas, essa área possui água suficiente, além da água resultante do degelo da neve, para manter uma vegetação de m oitas e arbustos. Talvez essa seja a origem do nome Seir, que significa "cabeludo".33.17. Sucote. Uma cidade situada a leste do rio Jordão, perto de sua confluência com o rio Jaboque (Jz 8.5). Diversos arqueólogos a identificaram com Tell Deir 'A lia , com base em relatos egípcios (as esteias de Sisaque) e resquícios culturais que datam da Idade 'Calcolítica e da Segunda Idade do *Ferro. O nome, que significa "barracas", seria adequado como m oradia temporária da população m ista dessa região, formada de pastores nômades e mineiros (evidências de fundição de minérios foram encontradas em sedimentos da Primeira Idade do Ferro).33 .18 ,19 . S iquém . Identificada com Tell Balata, nas m ontanhas centrais, aproxim adam ente 56 quilôm etros ao norte de Jerusalém , Siquém é citada em muitas rontes antigas, inclusive nos registros egípcios de Sem-
Usert III (século 19 a.C.) e nas tábuas de *E1 Amarna (século 14 a.C.). Sua ocupação praticamente contínua é comprovada ao longo do segundo e primeiro m ilênios, o que dem onstra a im portância dessa cidade posicionada estrategicam ente entre as estradas que atravessavam o norte, partindo do Egito, passando por Berseba e Jerusalém , indo até D am asco. Foi a primeira parada de Abraão em Canaã (ver comentário sobre 12.6). O solo fértil dessa área favorecia a agricultura e proporcionava boas áreas de pastagem.33.19. aquisição de terra. Como no caso de Gênesis 23, essa transação de compra de terra inclui um preço estipulado (cem peças de prata), caracterizando assim um contrato de venda e não o pagamento de um a taxa para uso da propriedade. Pelo fato de estar fixando residência nos limites territoriais da cidade, Jacó tinha de adquirir a propriedade em que iria se estabelecer. A quantia que pagou é incerta, porque o valor da unidade monetária mencionada é desconhecido. Como em Gênesis 23, a terra também é usada para sepulta- mento (ver Js 24.32).33.20. significado do altar. U m altar serve com o um a plataforma de sacrifício. Sua construção também pode marcar a introdução do culto a um determinado deus, num a nova terra. A construção de altares para a adoração a *Yahw eh na terra prom etida (12.7, 8; 13.18; 26.25) representa um a ligação entre as gerações de líderes da *aliança. O nom e dado ao altar de Jacó/Isra e l, " E l E lo h e Is ra e l" é u m re co n h ec im en to da m udança de seu próprio nom e e a aceitação de seu papel com o herdeiro da aliança prom etida em Betei (28.13-15). Para outro exem plo de nom e de altar, ver Êxodo 17.15.
34.1-31Diná e Siquém34.2. heveus. A partir do surgimento dos heveus em diversas narrativas, aparentem ente eles habitavam um a área da região m ontanhosa central de Canaã, estendendo-se desde Gibeom, perto de Jerusalém (Js9.1-7), passando por Siquém e indo até o norte, no monte Herm om (Js 11.3; Jz 3.3). A origem dos heveus é incerta (seriam descendentes de Cam, conforme Gn10.17), m as é possível que estivessem relacionados tanto aos povos *hurrianos como aos *hititas estabelecidos em Canaã durante o período que vai desde meados do segundo milênio, até o início do primeiro m ilênio a.C..34.2. violência contra m ulheres. O estupro como meio para se obter um contrato de casam ento parece ser uma tática comum no antigo O riente Próximo. As leis que regulavam essa prática são encontradas em Êxodo22 .16 ,17 , Deuteronômio 22.28, 29, e também nas leis *m edo-assírias e *hititas. De m odo geral, essas leis
exigiam que o estuprador pagasse um preço especialm ente elevado pela noiva e, às vezes, proibiam a possibilidade de divórcio. A Lei *Sum éria 7, assim como Gênesis 34, relata o caso de uma jovem solteira que deixou a casa de seus pais, sem permissão, e foi estuprada. Como resultado, os pais decidiram que ela deveria se casar com o estuprador, mesmo sem o consentimento dela.34.7. conceito universal da lei. A literatura do antigo Oriente Próximo contém coleções de leis dessa época e de épocas anteriores que deixam claro que as proibições relacionadas ao comportam ento sexual ilícito e violento não eram uma inovação introduzida pela lei dada no m onte Sinai. Os códigos de conduta que norteavam a vida das pessoas dessa época revelam grande semelhança com as leis recebidas no Sinai e demonstram um senso universal de moralidade e ju stiça. As leis e regulamentos menos formais freqüentemente procuravam proteger a honra e a integridade da fam ília, a dignidade do indivíduo e a segurança da sociedade.34 .11 ,12 . dote e presente. O pagamento do dote e a oferta de um presente pela fam ília do noivo freqüentemente dependiam do desejo de que o casamento se concretizasse. Podia-se esperar um valor m ais alto caso a fam ília da noiva fosse socialmente superior à do noivo ou se existissem outros fatores (como por exemplo, a beleza da noiva) que elevassem seu preço. Nos textos de *Nuzi, um dote normal variava entre trinta e quarenta siclos de prata.34.13-17. circuncisão. N a época em que foi estabelecida a *circuncisão (Gn 17), tanto homens como meninos foram submetidos a esse procedimento, como um sinal de que eram m em bros daquela comunidade. A circuncisão era amplamente praticada no antigo Oriente Próximo como um rito de purificação, fertilidade ou casam ento, m as não por todos os povos. Os homens de Siquém concordaram em submeter-se a esse costume a fim de se tornarem aceitáveis como possíveis maridos para as filhas de Jacó. A circuncisão quando realizada em adultos é bastante dolorosa e teria praticamente debilitado toda a população de homens, durante vários dias.34.20. porta da cidade. A porta da cidade era um local de assembléia, tanto para transações comerciais como para questões relacionadas à lei. Também era usada nas reuniões públicas onde era necessária a presença de todos os moradores da cidade. As cidades da Antigüidade eram pequenas, comparadas às metrópoles de nossos dias; as casas eram próximas um as das outras e as ruas, estreitas. As únicas áreas m ais abertas e am plas eram o mercado (presente apenas em algumas cidades) e a região da porta, sendo que a primei
ra não era um local adequado para assuntos relacionados a negócios públicos.34.25-29. saquearam a cidade. A negociação entre as partes havia considerado uma recompensa adequada (preço da noiva) a Diná, devido ao fato de ela ter sido tomada à força. M as como fica evidente na narrativa, a compensação que os irm ãos de Diná consideraram
adequada foi o confisco da vida e dos bens de todos os homens da cidade. Situação semelhante ocorreu com os gregos na Ilíada, quando cercaram Trôade a fim de resgatar Helena.
35.1-15O retorno de Jacó a Betei35.1. construindo um altar. Quando Abraão construiu altares durante suas viagens (12.6-8), não tinha como objetivo oferecer sacrifícios, m as sim invocar o nome do Senhor. Também parece ser esse o caso de Jacó, visto que não há nenhum a referência a ofertas de sacrifícios sobre o altar. Alguns estudiosos sugerem que os altares serviriam para marcar o território da divindade. De qualquer form a, eram m em oriais ao nome do Senhor.35.2-5. livrando-se dos deuses estrangeiros. O apelo para livrarem-se dos deuses estrangeiros é um apelo para se com prom eterem exclusivam ente com *Yah- w eh. Isso não quer dizer que eles entendessem ou aceitassem o conceito filosófico de monoteísmo, mas que aceitavam *Yahweh como a divindade protetora de sua família. A crença num deus pessoal, capaz de garantir proteção e provisão às famílias, era comum na M esopotâm ia do início do segundo milênio. Essa divindade "fam iliar" não substituía os grandes deuses cósm icos, m as para o indivíduo era o principal objeto de adoração e devoção religiosa.35.2. purificação. A purificação geralmente era acompanhada de procedimentos *rituais, mas nesse caso, também poderia ser um a reação ao derramamento de sangue do capítulo 34. Em geral, incluía banho e troca de roupas. A preparação para a adoração e para os *rituais tam bém incluía abrir mão de qualquer sinal de lealdade a outros deuses. Todos esses fatos ocorreram em Siquém, 32 quilômetros ao norte de Betei. A adoração é representada como uma peregrinação, como indica a expressão do versículo 1. A relação entre os brincos usados nas orelhas e a adoração a outros deuses não está clara. Em bora o uso de brincos para adornar os deuses seja comprovado (Êx 32.2; Jz 8.24), assim com o o fato de geralm ente fazerem parte dos despojos de cidades saqueadas, nenhuma dessas passagens parece explicar essa ocorrência. Um a possibilidade é que talvez os brincos fossem algum tipo de *amuleto, podendo até m esm o estam par a im agem
de um a divindade, em bora não haja evidências de que os brincos tenham servido a esse propósito. Não obstante, existe um brinco com um a inscrição dedicada a uma deusa, datado do terceiro período de *Ur (cerca de 2000 a.C.).35.4. enterrou-os ao pé da grande árvore. Os objetos foram enterrados debaixo de uma árvore especial em Siquém , que possivelm ente tam bém é descrita em12.6, Josué 24.23-27 e Juizes 9.6, 37. As árvores sagradas desem penhavam um papel im portante na religião popular daqueles dias, que considerava pedras e árvores como lugares prováveis para habitação divina. N a religião cananéia acreditava-se que as árvores eram símbolos de ^fertilidade (ver Dt 12.2; Jr 3.9; Os 4.13), embora os resquícios arqueológicos ou literários da cultura cananéia sejam insuficientes para esclarecer o papel das árvores sagradas.35.14. ungiu a coluna. Assim como Jacó erguera uma pedra e a ungira, em 28.18, também aqui outra coluna é erigida e uma libação (oferta líquida) é derramada sobre ela para celebrar a *teofania (manifestação de Deus). Não era incom um encontrar diversas colunas erigidas num a mesma área.
35.16-29 A morte de Raquel e Isaque35.16-18. parteiras. As parteiras, que geralmente eram mulheres m ais velhas, ensinavam as mulheres mais jovens sobre a atividade sexual e as auxiliavam durante o parto. Tam bém faziam parte do *ritu al de escolha dos nom es e é provável que ensinassem as jovens m ães a amamentar e cuidar dos filhos.35.16-18. m orte no parto. A m orte durante o parto não era uma ocorrência incom um no mundo antigo. A literatura sobre feitiçaria da *Babilônia contém uma série de feitiços proferidos para proteger a m ãe e a criança d u ran te o p arto , p a rticu larm en te contra Lamastu, o demônio que, acreditava-se, atacava m ulheres e crianças.35.18. escolha do nom e. A ntes de m orrer, Raquel deu um nome a seu filho, que refletia seu sofrimento. Era costume na época que as circunstâncias relacionadas ao nascim ento servissem como sugestão para o nome. Nesse caso, Jacó mudou o nome da criança, o que era um direito do pai. Benjamim pode significar filho da direita (mão), com o sentido de lugar de proteção, ou filho do sul (uma vez que os israelitas se orientavam a partir do leste, o sul ficava à sua direita).35.19, 20. a sepultura de Raquel. A morte de Raquel após o parto aconteceu a caminho de Efrata, cerca de 20 quilôm etros ao norte de Belém , na fronteira dos territórios que mais tarde fariam parte das tribos de Judá e Benjamim (ver 1 Sm 10.2). Outro exemplo de
erigir uma coluna em m emória de um morto pode ser encontrado em 2 Sam uel 18.18. A últim a m enção à sepultura de Raquel, em Jerem ias 31, sugere que era um lugar de peregrinação bastante conhecido até o final do período monárquico. Tradições m ais recentes demonstram certa confusão entre um lugar identificado como a sepultura de Raquel em Belém e outro ao norte de Jerusalém.35.21. M igdal-Éder. O nome desse lugar significa "torre do rebanho", um alojam ento usado por pastores para proteger seus animais contra predadores. Baseado no itinerário de Jacó, que viajou para o sul após ter enterrado Raquel, Migdal-Éder ficaria perto de Jerusalém. Essa identificação pode ser reforçada pelo relato encontrado em Miquéias 4.8. Tradições posteriores, porém, a posicionam perto de Belém.35.21,22 . filho com a concubina do pai. *Concubinas eram m ulheres sem dote cujas responsabilidades incluíam dar filhos à fam ília. Gerar filhos era um a função im portante no m undo antigo, onde a sobrevivência da fam ília e m uitas vezes, de todos era no m ínimo precária. Como a concubina era tam bém uma parceira sexual, usar a concubina do pai era considerado não
apenas um ato incestuoso, m as também uma tentativa de usurpar a autoridade do patriarca da família.
36.1-30 A linhagem de Esaú36.1-43. os descendentes de Esaú. A genealogia de Esaú é apresentada em etapas, começando com suas três prim eiras mulheres (duas delas *hititas e a outra filha de Ism ael). C ontinuando a lista, doze nom es tribais são identificados (v. 9-14, exceto Am aleque, que é filho de um a *concubina), que coincidem com as listas genealógicas de Naor (22.20-24), Ismael (25.1316) e Israel. Um terceiro ramo de descendentes (v. 1519) aparentemente menciona nomes de clãs, com algumas repetições da lista anterior. O últim o grupo contém o nom e de oito reis que governaram em Edom, antes do estabelecimento da monarquia em Israel (v. 31-39). D entre os nom es que m ais se destacam em toda a genealogia estão Temã, identificado com a região sul de Edom, e Uz, que tem o mesmo nome da terra de Jó.36.12. origem dos am alequitas. Os am alequitas vagaram por extensas regiões de terra no Neguebe, na Transjordârtia e na península do Sinai. Sua existência não é comprovada fora da Bíblia, e nenhuma descoberta arqueológica pode ser ligada a eles de forma positiva. No entanto, pesquisas arqueológicas da região descobriram amplas evidências da presença de grupos nômades e seminômades, como os amaquelitas, durante esse período.
36.15-30. chefes. A inclusão de vários chefes de diferentes regiões faz essa lista parecer m uito mais uma relação de reis do que um a genealogia, na medida em que esses grupos beduínos possuíam um a forma de governo representada por chefes. A lista de reis da *Sum éria, de m odo semelhante, apresenta uma breve linhagem de reis associados a diversas regiões geográficas.36.24. fontes de águas quentes. Para distinguir pessoas com o m esm o nome em uma genealogia, era comum apresentar um breve comentário sobre seus feitos (ver Lam eque em 4.19-24; 5.25-31). Aqui, Aná é diferenciado de seu primo com a informação adicional de que descobriu as "fontes de águas quentes", um fenômeno natural que poderia ter beneficiado o clã. A tradução aqui se baseia unicam ente na Vulgata. A tradução judaica traduz a expressão como "m ulas" e dá a Aná o crédito de ter aprendido a cruzar cavalos com jumentos.
37.1-11 Os sonhos de José37.3. a tú n ica de Jo sé . A túnica esp ecial que José ganhou de seu pai significava uma posição de autoridade e predileção. Talvez fosse uma túnica colorida, m as tam bém poderia se d istinguir de outras pelo m aterial de que era feita, ou pelo tipo de tecido ou comprimento (tanto da barra como das mangas). Visto que a palavra hebraica usada para descrevê-la apare
ce somente aqui, é difícil afirmar com segurança que tipo de túnica era essa. Pinturas egípcias desse período ilustram cananeus bem vestidos, usando roupas bordadas de m anga comprida, com um a estola debruada colocada na diagonal, da cintura até o joelho.37.5-11. im portância dos sonhos. No m undo antigo, acreditava-se que os sonhos transmitiam mensagens divinas e, como tais, eram levados a sério. Considerava-se que alguns sonhos, concedidos a reis e profetas, fossem um m eio de revelação divina. D e m aneira geral, os sonhos, até mesmo de pessoas comuns, eram considerados presságios que comunicavam mensagens sobre as atividades dos deuses. Sonhos que continham revelações geralmente eram identificados pela divindade e a incluíam ; já os sonhos de presságio, geralm ente não faziam nenhuma referência à divindade. Como eram repletos de simbolismos, geralm ente os sonhos precisavam ser interpretados, em bora algumas vezes, os símbolos explicavam -se por si só. As informações recebidas em sonhos podiam ser alteradas. Sonhos como esse que José teve, revelando sua ascensão ao poder, eram comuns no antigo Oriente P róxim o, especialm ente um sonho que se refere a Sargon, rei de Akkad, quinhentos anos antes de José.
37.12-36 José vendido como escravo37 .12 ,13. apascentando rebanhos. A vegetação viçosa, resultado das chuvas de inverno, teria permitido aos pastores ficar em áreas de pastagens perto de suas aldeias e acam pam entos. A ssim que o período de chuvas terminasse, os rebanhos seriam levados para pastar nos campos ceifados e depois para as regiões montanhosas, onde a vegetação subsistia durante os meses de verão.37.17. D otã. Localizada em Tell Dotã, era um imponente lugar cobrindo uma área de 25 acres. Situava-se aproximadamente 22 quilômetros ao norte de Siquém, na estrada principal usada pelos mercadores e pastores que seguiam em direção ao norte, até o vale de Jezreel. Tom ou-se uma das principais cidades durante a Idade do Bronze * Antiga (3200-2400 a. C.) e funcionava como um ponto de referência natural para os viajantes. A área ao redor da cidade fornecia abundantes pastagens, o que explica a presença dos irmãos de José.37.19-24. poços. Poços (ou cisternas, nas versões mais antigas) eram escavados no leito de pedra calcária ou cavados e depois revestidos de cal para armazenar água das chuvas. Forneciam provisão de água para as pessoas e os animais durante grande parte dos meses de seca. Quando vazios, às vezes eram usados como celas temporárias para prisioneiros (ver Jr 38.6).37.25-28. com ércio de escravos. O comércio de escravos existiu desde os prim órdios, no antigo Oriente Próximo. Os escravos geralm ente eram prisioneiros de guerra ou pessoas apanhadas em invasões. Os comerciantes muitas vezes aceitavam escravos como pagamento, que depois eram transportados para outras áreas e vendidos. Essas pessoas raramente obtinham sua liberdade.37.25. comércio de especiarias e rotas de caravanas.As caravanas traziam incenso do sul da Arábia para Gaza, na costa palestina, e para o Egito, usando diversas rotas ao longo da península do Sinai. Provavelmente foi numa dessas rotas no Sinai que os midianitas encontraram os irm ãos de José e o compraram para revender no Egito, juntam ente com o restante de sua mercadoria.37.25-36. midianita/ismaelita. O uso alternado desses
dois nom es na história provavelm ente reflete um a forte afinidade entre os dois grupos. Alguns sugerem que os ismaelitas eram considerados uma tribo secundária dos midianitas. Outros sugerem que os midianitas sim plesm ente com praram José dos ismaelitas. No entanto, baseado na mistura dos nomes em Juizes8.24, parece que o escritor bíblico considerava uma relação entre eles ou então mostra a existência de um laço de parentesco.
37.28. vinte peças de prata. As vinte peças de prata pagas por José eram o preço normal de um escravo naquela época, como pode ser confirmado em outros textos co n tem p o rân eo s (por exem p lo , as le is de *Hamurabi). Seria equivalente ao salário de dois anos, aproximadamente.37.34, 35. sinais de luto. Os costumes relacionados ao luto geralm ente incluíam rasgar as vestes, chorar, jogar pó e cinzas na cabeça e vestir pano de saco. O pano de saco era feito de pêlo de bode ou camelo e era rústico e desconfortável, servindo em m uitos casos apenas como cobertura para os quadris. O período oficial de luto era de trinta dias, mas podia estender- se pelo período que a pessoa enlutada escolhesse.
38.1-30 Os filhos de Judá38.1. Adulão. Localizada em Shefelá, Adulão tem sido identificada com Tell esh Sheikh MadKkur, a noroeste de Hebrom (ver 1 Sm 22.1; M q 1.15). Ficava num a altitude um pouco abaixo de H ebrom (cerca de novecentos m etros acima do nível do mar) sendo correta a afirmação de que Judá “ desceu" (em algumas versões).38.6-26. obrigação de levirato. Um a solução para o rompimento da herança causado pela morte prematura de um hom em , antes que tivesse gerado um herdeiro, era o costum e do casam ento de levirato. Como apresentado em Gênesis 38, o irmão do falecido tinha de engravidar a viúva, a fim de que o nome de seu irmão (e conseqüentemente, sua parte da herança) fosse passado para a criança que nascesse como fruto de sua obrigação. U m estatuto parecido encontra-se na lei *hitita 193 e parte dela pode estar representada em Rute 4. A lei está detalhada em Deutero- nômio 25.5-10, onde o irmão do falecido tem a permissão de recusar-se a cum prir sua obrigação ao participar de um a cerim ônia pública em que a viúva o envergonha. Provavelm ente isso era necessário tendo em vista situações como essa que Judá enfrenta aqui, em que um irmão ganancioso (Onã) se recusa a engravidar Tamar porque sua parte da herança seria diminuída.38.11. viúvas. N um a sociedade onde as guerras e doenças era freqüentes, era comum encontrar viúvas. No antigo Israel lidava-se com esse problem a através do casamento levirato (para assegurar um herdeiro ao marido falecido) e do novo casamento das viúvas jo vens, o mais rapidamente possível, após o período de luto. As viúvas costumavam vestir roupas especiais que as identificavam como tais. Visto que não tinham direito à herança do marido, a lei garantia provisões especiais a elas, perm itindo a rebusca nos cam pos colhidos (Rute 2) e impedindo que fossem oprimidas (Dt 14.29; SI 94.1-7). Som ente a filha viúva de um
sacerdote poderia voltar com honra à casa de seu pai (Lv 22.13).38.13. Tim na. A localização exata da cidade nessa narrativa é incerta. É um nome bastante comum na lista de terras distribuídas às tribos e na narrativa épica de Sansão (ver Js 15.10 ,56; Jz 14 .1 ,2 ; 2 Cr 28.18), com vinculações com o território da tribo de Judá, na região m ontanhosa ao sul (possivelm ente Tell el- Batashi, cerca de seis quilômetros a leste de Tel Miqne- Ekron).38.13 .14 . roupas de viúva. As viúvas, assim como as
mulheres casadas, não usavam véu. Elas vestiam uma roupa especial que as destacava como viúvas. Essas roupas lhes garantiam os privilégios reservados pela lei às viúvas, como a rebusca e uma porção do dízimo.38.14, 21. Enaim . As duas referências a esse lugar nessa narrativa indicam provavelm ente tratar-se de um a cidade, talvez a m esm a cham ada de Enam (Js 15.34), cujo nome pode ter se originado das fontes de água locais. Entretanto, sua localização exata é desconhecida, em bora se saiba que esteja relacionada ao território de Judá.
38.15-23. prostituição. Na cultura cananéia havia o costume da prostituição *cultual como forma de promover a *fertilidade. As devotas da deusa-mãe *Istar ou * Anate moravam no próprio santuário ou nas proxim idades, e se vestiam com um véu, como noivas simbólicas do deus *Baal ou *E1. Os homens podiam visitar o santuário e fazer uso dos serviços das prostitutas cultuais antes de semearem seus campos, durante períodos importantes como a época da tosquia ou da procriação de rebanhos. Dessa m aneira, eles davam honra aos deuses e representavam o casamento divino, num a tentativa de assegurar fertilidade e prosperidade a seus campos e rebanhos.38.18, 25. selo, cordão e cajado. Um modo característico de assinar um documento no antigo Oriente Próximo era através de um selo cilíndrico contendo uma gravura ou inscrição esculpida, e que podia ser rolado num tablete de argila ou pressionado em cera. Foram descobertos pelos arqueólogos vários selos cilíndricos esculpidos em pedras preciosas ou semipreciosas, datados de quase todos os períodos após a Idade do Bronze *Antiga. Geralmente, o selo era preso a um cordão de couro e usado ao redor do pescoço de seu proprietário. N a Palestina, é m ais comum encontrar a estampa do selo do que o selo em si. Outra forma de identificação mencionada aqui é o cajado, um recurso de apoio para andar, que também funcionava como meio de incitar os animais e até como arma. Pelo fato de ser um objeto pessoal, provavelmente seria entalhado e polido, podendo assim identificar a pessoa a quem pertencia.
38.24. prostituição como crime capital. A prostituição ou m eretrício geralm ente era punida com apedrejamento até a morte (Dt 22.23, 24). A sentença de morte atribuída a Tamar de ser queimada viva é excepcional. Essa sentença é prescrita em outro contexto somente no caso da filha de um sacerdote se envolver em meretrício e em situações de incesto (Lv 20.14).
39.1-23 José na casa de Potifar39.1-20. lenda egípcia dos dois irmãos. A lenda da 19a Dinastia Egípcia (cerca de 1225 a.C.) de Anubis e Bata apresenta muitas semelhanças com a história de José e a m ulher de Potifar. Em ambos os casos, um jovem é seduzido pela m ulher de seu senhor e em seguida falsamente acusado de estupro, ao recusar-se a ceder aos desejos dela. Talvez essa história egípcia tenha se tornado popular (o papiro está escrito num estilo cursivo [hierático] e não com os caracteres mais formais dos *hieróglifos) devido à lenda comum da rivalidade entre irmãos (como Jacó e Esaú), pelo nível elevado de suspense e emprego de técnicas folclóricas (animais que falam, intervenção dos deuses). Mas além do cenário, a história de José não tem quase mais nada em comum com essa lenda egípcia.39.16. conservou o m anto. Além do paralelo interessante com o fato dos irmãos de José terem tomado sua túnica, deve-se mencionar aqui que novamente o manto serviu como sinal de identificação de José. As roupas continham indicações de status, posição ou função e, portanto, podiam ser usadas dessa maneira.39.20. prisão em que eram postos os prisioneiros do rei. Um a indicação de que Potifar havia percebido o que ocorrera de fato entre José e sua m ulher pode estar na escolha da prisão. Em vez de ser executado por estupro (como era ordenado, por exemplo, nas leis *m edo-assírias), José foi lançado na prisão real onde ficavam os prisioneiros políticos. É provável que as condições nessa prisão fossem um pouco m ais con
fortáveis (dentro dos limites de uma prisão), m as o mais importante é que ali José pôde entrar em contato com membros da corte de faraó (Gn 40.1-23).
40.1-23 O copeiro e o padeiro do Faraó40.1-4. a função do copeiro. O copeiro era um membro do alto escalão da corte de um m onarca (ver Ne 1.11). Precisava ser uma pessoa confiável, visto que sua responsabilidade prim ordial era provar toda a comida e bebida de seu senhor, evitando, assim, que fosse envenenado.40 .1 ,2 . ofensas contra o faraó. Ofensas contra o faraó certamente poderiam ser praticadas de muitas maneiras. É praticamente impossível saber se esses oficiais eram suspeitos de algum envolvimento num a conspiração ou simplesmente culpados de desagradar o faraó no cum prim ento de suas obrigações. Pode ser que estivessem sob prisão dom iciliar, aguardando a investigação das acusações contra eles.40.5-18. interpretação de sonhos. A interpretação dos sonhos geralmente era uma tarefa para especialistas que haviam sido instruídos na literatura sobre sonhos disponível na época. Existem mais informações sobre essa prática na Mesopotâmia do que no Egito. Tanto os egípcios como os *babilônios com pilaram o que cham am os de livros dos sonhos, que contêm exemplos de sonhos acompanhados da chave para sua interpretação. Visto que os sonhos muitas vezes dependiam de simbolismos, o intérprete precisava ter acesso a esses documentos, conservando assim os dados empíricos concernentes a sonhos passados e suas respectivas interpretações. Acreditava-se que os deuses se com unicavam através dos sonhos, m as não que revelassem o significado deles. Se fossem revelar o significado, por que fariam uso de um sonho? Mas José tinha uma posição diferente. Ele não consultou nenhuma literatura "especializada", e sim Deus. Não obstante, sua interpretação se aproxima bastante da-
PRINCIPAIS ROTAS DE COMÉRCIO NO ANTIGO ORIENTE PRÓXIMOO comércio era a principal atividade das civilizações do antigo Oriente Próximo. Existem evidências do comércio de obsidiana desde o norte da Anatólia por todo o Oriente Próximo, que remontam ao ano 5000 a.C.. Embora as viagens por terra fossem demoradas (25 a 30 quilômetros por dia, aproximadamente) e perigosas, o anseio por produtos exóticos e, em alguns casos, funcionais, era tão grande que os mercadores e governantes estavam dispostos a assumir os riscos, a fim de obter os elevados lucros envolvidos (no mínimo 100% de lucro). Por exemplo, documentos comerciais do antigo período assírio (2100-1900 a.C.) e dos arquivos de Mari (1800-1700 a.C.) mencionam caravanas de mercadores que viajavam pela Ásia Menor e norte da Síria, levando de duzentos a trezentos jumentos. Essas caravanas seguiam a rota de comércio que partia da capital assíria, Assur, no rio Tigre em direção ao ocidente para a região de Habur, até as montanhas de Taurus e daí para o centro comercial de Kanis, na região centro-oeste da Ásia Menor. A rota, então, continuava no sentido oeste pela Cilicia, até Antioquia, na Pisídia, seguindo por Filadélfia, Sardes, Pérgamo e Tróia, na costa do mar Jónico. Cada cidade oferecia abrigo e suprimentos, sendo também um mercado disponível para esses comerciantes empreendedores.
As rotas eram ditadas pela topografia das diversas regiões (as áreas pantanosas, infectadas por doenças e os terrenos irregulares ou escarpados eram evitados) e também de acordo com a situação política e comercial. Essas rotas partiam dos principais centros populacionais. Assim, a principal rota de comércio do Egito, conhecida como Grande Estrada do Tronco, começava em Mênfis, no Nilo, cruzava o norte da península do Sinai, seguia mais ao norte pela planície costeira de Canaã,
quela sugerida pela literatura sobre sonhos. Como na literatura m esopotâmica, ele chega a uma indicação de tem po a partir de um núm ero que aparece no sonho. Os símbolos que aparecem nesses sonhos são parecidos com os encontrados nos livros de sonhos. Uma taça cheia, por exemplo, indicava que a pessoa ficaria fam osa e teria descendência. Carregar alimentos na cabeça era sinal de sofrimento.40.22. execução. O enforcam ento era uma form a de desonrar o corpo da pessoa executada (ver Js 8.29; 2 Sm 4.12). No processo, a pessoa era suspensa com uma corda pelo pescoço ou em palada num a estaca. A form a com um de execução provavelm ente era por apedrejamento ou decapitação,
41.1-32 José interpreta os sonhos de Faraó41.1-55. id entid ad e do faraó. O nom e do faraó da história de José é desconhecido. Elementos da narrativa perm item deduzir que se trata do período dos*hicsos (1750-1550 a.C.) ou da Idade *A m am a (século 14 a.C.), quando uma grande quantidade de semitas se estabeleceu no Egito ou são m encionados em fontes egípcias ocupando posições de liderança no governo. O conhecimento atual da história e dos costumes egípcios confirma essa últim a como a época mais lógica e viável. Inform ações cronológicas da Bíblia, porém , levam alguns estudiosos a considerar um período anterior, durante o Reinado M édio da Décim a Segunda D inastia (1963-1786 a.C.). Como não há referências históricas específicas na narrativa, fica impossível fazer qualquer associação com um rei em particular. E característico do autor do Livro de Gênesis não m encionar nenhum faraó pelo nome. Talvez isso tenha sido intencional, visto que o faraó era considerado um deus pelos egípcios e os israelitas não queriam invocar o seu nome.41.1-7. sonhos duplos. No antigo Oriente Próximo, os sonhos eram geralmente considerados como m ensa
gens vindas dos deuses. Alguns eram bem simples e diretos (cf. o sonho de Jacó, em Betei, 28.10-22), mas nos casos relacionados ao rei ou ao faraó, muitas vezes ganhavam um a ênfase especial através dos sonhos duplos. Assim, nesse episódio, o faraó teve duas visões avisando-o de uma fom e im inente. Sem elhantemente, o rei *sumério Gudea, teria tido um sonho duplo, em que fora instruído a construir um templo. Em ambos os casos, os sonhos foram interpretados por m agos ou por um representante divino. De acordo com um texto de Mari, o mesmo sonho, repetido em noites consecutivas, acrescentava peso à m ensagem nele contida. No Épico de Gilgam és e em um poema sobre um sofredor justo, a repetição por três vezes de um sonho confirmava sua confiabilidade.41.8-16. m agos e sábios. No Egito, bem como no reino dos *hititas e na Mesopotâmia, havia associações de magos, cuja função era interpretar sinais e sonhos e preparar remédios para diversos tipos de problemas m édicos, através da m agia. Esses especialistas usavam o *exorcismo para afugentar demônios ou deuses, e feitiços e maldições para amaldiçoar pessoas ou lugares (ver nos textos egípcios de *maIdição e em Jr19.10-13). M ilhares de textos foram descobertos em todo o antigo Oriente Próximo, contendo feitiços para proteção, bem com o receitas para a confecção de *amuletos contra mau-olhado, bonecos, cumbucas de encantamentos e estatuetas elaboradas com o objetivo de causar a destruição dos inimigos. A feitiçaria meso- potâmica fazia distinção entre a magia negra e a branca, e assim, os praticantes eram divididos em feiticeiros e m agos ou sábios. No Egito, porém, não havia essa distinção. Embora sua função primordial fosse a cura de doenças, os magos egípcios pareciam adotar um procedim ento m enos tem eroso em relação aos deuses, inclusive fornecendo feitiços para as almas escaparem do castigo no Hades, ou m undo inferior (Livro dos M ortos). No Egito, era bastante incomum que um faraó precisasse de um intérprete para seus
depois seguia em direção ao oriente, pelo vale de Jezreel, em Megido e finalmente para o norte, até Hazor. Dali, a rota seguia em direção ao nordeste para Damasco, passando por Ebla e Alepo, na Síria, e depois chegava à extremidade noroeste do rio Eufrates, que servia como orientação em direção ao sul, até as principais cidades da Mesopotâmia. A outra rota importante, conhecida como Estrada Real, juntava-se às caravanas vindas do norte pela Arábia, atravessava a região da Transjordânia, desde o porto de Eziom-Geber, no norte do mar Vermelho, passando por Edom, Moabe, Amom, fazendo junção com a Estrada do Tronco em Damasco.
Visto que os desertos norte e central da Arábia eram desabitados, as rotas comerciais se desviavam deles pelo norte, viajando acima dos vales dos rios Tigre e Eufrates, sentido em direção oeste até Palmira e Damasco, e então para o sul, ao longo da estrada costeira da Palestina ou pela Estrada Real, na Transjordânia. Caravanas que transportavam especiarias (mirra, resina para incenso) e índigo seguiam pela costa ocidental da Arábia, atravessavam de navio até a Etiópia e mais ao norte, até o Egito, seguindo pelo Nilo. Mais tarde, esses mercadores alcançaram portos de mares profundos (muitos deles usados entre 2500-100 a.C., como Biblos, Tiro, Sidom, Aco, Ugarite, Acaba, Alexandria), garantindo-lhes acesso aos mercados e às fontes de recursos naturais (tais como as minas de cobre de Chipre) no Mediterrâneo (Creta, Chipre, ilhas dos mares Egeu e Jónico, costa da Turquia e norte da Africa), bem como ao longo da península da Arábia e no leste da África. O transporte marítimo era dominado por Ugarite (1600-1200 a.C.) e pelos fenícios (1100-600). As frotas percorriam as costas ou navegavam entre as ilhas do Mediterrâneo ou do mar Vermelho, viajando cerca de 60 quilômetros por dia.
sonhos, pois como o faraó era considerado divino, os deuses se com unicavam diretam ente com ele, e os sonhos eram apresentados de forma clara. A palavra hebraica para descrever os especialistas que faraó mandou chamar origina-se de um termo técnico egípcio, algumas vezes usado para descrever intérpretes de sonhos. E usado para descrever o famoso funcionário Imhotep, num a inscrição posterior (segundo século a.C.) em que é retratado aconselhando o faraó acerca de um período de sete anos de fome.41.14. barbear-se. A fim de estar m ais apresentável diante do Faraó, José barbeou-se. E provável que o ato de se barbear envolvesse rapar a cabeça (Nm 6.9), bem como fazer a barba (Jr 41.5). Ele teria desse modo, mudado sua aparência para ficar m ais parecido com um egípcio. Pinturas em paredes egípcias demonstram que os egípcios costum avam barbear-se completam ente.41.27-32. fom e no Egito. Embora o Egito fosse uma das maiores áreas produtoras de grão no antigo Oriente Próxim o, devido à regularidade das enchentes do Nilo, ocasionalmente sofria períodos de escassez. Uma calam idade sem elhante é m encionada nas Visões de N eferti, um docum ento egípcio da época do reinado de Am enem het I (1991-1962 a.C.). Como na narrativa de José, uma visão é interpretada e prevista um a calamidade nacional.
41.33-57O conselho de José e sua ascensão41.33-40. racionam ento de com ida. Em face da fome iminente, José aconselha o faraó a armazenar um quinto da produção de grãos a cada ano de boa colheita, que então seriam distribuídos às pessoas, conform e fosse necessário. A construção de armazéns também é sugerida nesse sensato conselho (ver Êx 1.11; 1 Rs 9.19).41.35. cidades de arm azenagem . O controle egípcio sobre o rio Nilo e sua previsibilidade fizeram do Egito um celeiro para os povos do antigo Oriente Próximo. As cidades de armazenagem eram a marca registrada de um povo próspero que sabia planejar para o futuro e perceber que a fome também era um a possibilidade a ser considerada. H avia praticam ente um a cidade- armazém no centro de cada região geográfica.41.40. o segundo, depois do faraó. M uitos nobres egípcios podiam reivindicar o direto de ser o segundo no reino, ficando abaixo apenas do faraó. Diversos títulos indicam essa posição, como "G rande Favorito do Senhor das Duas Terras" e "Principal dos Cortesãos", identificados em inscrições.41.41-45. a posição de José . A descrição da função e os detalhes da cerimônia de posse concedem a José uma posição no governo egípcio comparada à de "G rão- vizir" ou "Supervisor dos Estados Reais", ambas encontradas em documentos egípcios (ver 1 Rs 16.9; Is
22.15, 19-21, para o uso posterior de tais títu los na burocracia de Israel). Tal posição é detalhada em pinturas de túmulos egípcios, mostrando toda a seqüência de eventos desde a obtenção do título até a colocação de vestes e anéis no funcionário nomeado pelo faraó. José atua mais ou menos como "Supervisor dos Silos do Alto e Baixo Egito". Era raro um estrangeiro ocupar esse tipo de cargo antes do período dos *hicsos (1750-1550 a.C.), quando um grande número de semitas serv iu no Egito . Em *E1 A m arn a, no re in ad o de Akhenaton, foi encontrada a tum ba do funcionário semita Tutu, nomeado para ser "a mais alta voz em todo o país", um a posição com poderes semelhantes aos de José. Biografias encontradas em tum bas e nos textos da literatura egípcia, como a História de *Sinuhe, nos fornecem amplas informações sobre detalhes da vida dos funcionários do faraó. Não é raro encontrar relatos de funcionários que ocupavam posições inferiores e que depois foram promovidos para postos elevados de autoridade. N a história de Sinuhe, ele foge da corte e vive no exílio durante m uitos anos, para finalm ente retornar e ser honrado. D iante disso, a descrição da ascensão política e da honra concedida a José pode ser vista como uma característica do contexto egípcio da época. -41.42. anel-selo. Reis e administradores reais usavam um anel-selo para selar os documentos o fic ia is. E sse anel era distintivo e continha o nome (emblema, no Egito) do rei. Qualquer pessoa que o usasse, estaria agindo em nom e do rei (ver N m 31.50; Ester 3.10; Tobias 1.20; 1 M acabeus 6.15). A corrente de ouro e as vestes de linho fino eram dadas na cerimônia de posse, fornecendo ao nomeado os acessórios que demonstravam seu status, posição e função.41.43, 44. José é honrado. A ndar na carruagem real acompanhado de guardas que iam à frente abrindo caminho e proclamando sua posição como "segundo no comando" garantia a José um status extremamente elevado (ver 2 Sm 15.1; Ester 6.7-9). O título de segundo, abaixo apenas do faraó, ou vice-rei (em *acadiano, terdennu; Is 20.1 tartan) concedia a José extraordinários poderes, exigindo que todos, exceto o faraó, se curvassem diante dele. Além disso, visto que José recebera a proteção ou o favor do rei, ninguém tinha permissão de "levantar a mão ou o p é" contra ele ou opor-se às suas ordens (compare com os poderes concedidos, em Esdras 7.21-26).41.45. nom e eg íp cio . A intenção de dar um nome egípcio a José é com pletar o processo de m udança iniciado na cerim ônia de posse. Ao ter a aparência transformada de acordo com o estilo egípcio, era mais provável que José fosse aceito na corte e pelo povo egípcio (ver a lenda egípcia sobre o retom o de *Sinuhe ao Egito, lançando suas roupas de estrangeiro aos
"répteis do deserto"). O costum e de dar um novo nome a um funcionário semita também é encontrado no reinado do faraó M erenptah (1224-1208 a.C.). O significado do nom e egípcio de José é incerto, mas talvez seja "D eus falou e ele viverá" ou "aquele que
conhece".41.45. sacerdote de Om . O casamento arranjado para José ligou-o a uma das mais poderosas famílias sacerdotais do Egito. D urante o período de 1600 a 1100a .C , os sacerdotes de Ptah, em M ênfis eram os mais influentes. O sacerdote de Om celebrava todas as festas principais e supervisionava os sacerdotes menos importantes que serviam ao deus-sol, Rá, no templo da cidade de Heliópolis (16 quilômetros a nordeste do Cairo).
42.1-38 O primeiro encontro de José com seus irmãos42.6-17. espiões. Assim como mais tarde os israelitas enviaram espiões para fazer o reconhecimento da terra de Canaã, da m esm a form a os irm ãos de José foram
acusados de serem espiões de outra nação. Comerciantes e mercadores eram geralmente contratados para esse propósito, pelo fato de poderem se locom over sem que fossem notados e sem levantar suspeitas. Assim , era norm al que alguns governos suspeitassem de estrangeiros e a acusação de espionagem fosse sempre difícil de refutar.42.25-28. com ércio de prata. O uso de m oeda nas transações com erciais só 'aparece a partir do século sexto a.C.. Assim, metais preciosos, pedras, especiarias, incenso e outros artigos de luxo eram trocados de acordo com o peso. O valor relativo desses itens tam bém dependia de sua escassez. A prata era usada na A ntigüidade como artigo com um para o escam bo. Visto que no Egito não existiam reservas naturais de prata, esse metal era particularmente desejado como padrão nas transações comerciais.
43.1-34 O segundo encontro de José com seus irmãos43.11. produtos da terra. Os presentes enviados por Jacó a José representam o que havia de m ais caro e dispendioso, sendo assim os itens disponíveis que mais agradavam. Apenas o bálsamo, o mel e as amêndoas eram produtos naturais de Canaã. As especiarias e a m irra eram produtos importados, sendo, portanto, presentes preciosos que tinham a intenção de conquistar o tratamento favorável por parte do representante do faraó.43.16. A dm inistrador da casa. A casa onde morava alguém de tão elevada posição, como José, exigia uma equipe de empregados sob a orientação de um m ordo
mo-chefe ou administrador. Essa pessoa era responsável pela m anutenção da casa, cuidava dos compro
m issos financeiros e supervisionava o trabalho dos demais empregados. O fato de José tratar esse homem como seu confidente (ver Gn 44.1, 4) sugere que era um cargo de confiança. Aparentemente, ele também servia de intermediário para os pedidos que porventura fossem dirigidos a seu senhor (ver Gn 43.19-23).43.26. curvar-se até o chão. A m aneira com um de dem onstrar subm issão, no antigo Oriente Próxim o, era curvar-se até o chão. A arte egípcia representada nas tumbas está repleta de exemplos de servos e funcionários reais prostrando-se diante do faraó. Nas tábuas de *E1 Am arna (século 14 a.C.), o form ato de cada letra contém um a saudação, acom panhada de um m odelo para honrar ao faraó, curvando-se sete vezes para frente e para trás.
43.32. procedim entos para comer. Os egípcios consideravam todos os outros povos bárbaros. Assim, eles não se m isturavam com eles de form a direta, por exemplo, comendo à mesma mesa. A refeição de José também era servida separada tanto dos egípcios como dos filhos de Jacó, devido à sua alta posição.
44.1-34 O plano de José44.5. taça de adivinhações. A taça que José colocou na bagagem de Benjam im é identificada como a que ele usava para fazer *adivinhações. A ssim com o é com um nos dias de hoje procurar ler o desenho das folhas de chá no fundo da xícara, os antigos liam
presságios nos líquidos contidos nas taças. Um a das m aneiras de fazer isso era derram ar óleo na água para ver a form a que tom aria (chamada de lecano- mancia). M étodos m ais populares de adivinhação faziam uso de ocorrências do cotidiano, tais como a forma das entranhas de animais sacrificados ou o movimento de corpos celestes. A lecanomancia era usada no tempo de José, como pode ser confirmado em diversos textos de presságios da *Antiga Babilônia, que tratavam das diversas formas possíveis do óleo e suas respectivas interpretações. O utra técnica, a hidro- mancia, extraía suas observações dos reflexos na própria água. Não se conhecem mais detalhes específicos dessas técnicas egípcias de adivinhação, mas nesses períodos iniciais, apenas as pessoas que ocupavam altos cargos tinham acesso aos procedimentos de adivinhação.
45.1-28 José revela sua identidade45.8. títu los de José . É mais provável que o uso dotítulo "pai do faraó" [encontrado na edição revista e
atualizada] esteja relacionado ao título egípcio it-ntr, "p ai do deus", usado para referir-se a uma categoria
de fu n cion ários e sacerd o tes que serv iam n a co rte do faraó. "P a i" representa um a relação de conselheiro, talvez equiparada ao papel do sacerdote contratado
por M ica, em Juizes 17.10 ou ao papel de Elias como
conselheiro do rei de Israel, em 2 Reis 6.21.45.10. G ósen. O nome sem ita desse lugar provavel
mente se refere à região do delta no Baixo Egito, na área de W adi Tumeilat (desde o braço oriental do rio
Nilo até o Grande Lago Amargo). Textos egípcios do período dos *hicsos referem-se à presença de semitas nessa região, sendo também uma área de excelentes
pastagens para os rebanhos. U m outro dado favorá
vel a essa localização é o uso da expressão "n a região de R am essés" (47.11), usada com o equivalente de
Gósen.45.19. carruagens. As carruagens providenciadas para o transporte da família de José não comparam as car
ruagens do Egito às carruagens cananéias, m as são
sim plesm ente um gesto de cortesia, a fim de evitar
que as m ulheres e as crianças tivessem de fazer o percurso a pé, um a vez que os povos seminômades
geralmente não possuíam carruagens.45.22. provisões para Benjam im . Como adm inistra
dor no Egito, um a das funções de José era racionar e
distribuir comida e roupa para o povo (um aspecto com um nos textos do antigo O riente Próxim o da
*Babilônia e de *M ari). E le faz o m esm o com sua
fam ília (uma inversão irônica de papéis, visto que sua
história teve início com ele recebendo uma túnica de seu pai, 37.3). Assim como Jacó destacou José como
seu favorito, agora José demonstra sua predileção para com Benjamim, seu irmão também por parte de mãe,
ao dar-lhe cinco vezes m ais do que dera aos outros irmãos, além de uma grande quantidade de prata.
46.1-34Jacó e sua família viajam ao Egito46.1. sacrifício em Berseba. Apesar de os patriarcas
terem construído muitos altares, há pouca menção às suas ofertas de sacrifícios. A única referência anterior
está relacionada ao acordo entre Jacó e Labão (31.54).
Isaque construiu um altar em Berseba (26.25), mas não há nenhum registro quanto a ter oferecido sacrifí
cios nesse altar. Jacó aproveitou a viagem em direção ao sul para fazer um a peregrinação ao lugar onde crescera e ao santuário onde seu pai adorava.
46.29. carruagens. As carruagens egípcias desse perí
odo eram leves, feitas em estrutura de m adeira e
couro, com duas rodas raiadas. As carruagens ornamentais dos faraós (e sem dúvida, tam bém de seus
funcionários do alto escalão) são representadas muitas vezes na arte do Novo Império.46.34. pastores no Egito. É improvável que os egípcios desprezassem seus próprios pastores de rebanho. O conselho de José a seu pai é ao mesmo tempo um aviso sobre o modo como os egípcios tratavam os estrangeiros e uma atitude diplomática, pois evidenciava a independência deles (eles possuíam seus próprios rebanhos para seu sustento) e m ostrava que não eram um bando de ambiciosos que queria conseguir posições elevadas; ao contrário, estavam satisfeitos
como pastores.
47.1-12A família de Jacó se estabelece no Egito47.11. região de Ram essés. Aparece aqui uma equivalência entre a "região de Ram essés" e a terra de Gósen (ver 45.10). Essa parte nordeste do delta era conhecida por sua população semita, e foi o centro da atividade dos *hicsos, durante os séculos dezoito a dezesseis a.C .. Tam bém é equiparada à região de Tânis, onde se diz que foram escravos hebreus que construíram as cidades-armazém de Pitom e Ramessés (Êx 1.11). O faraó Ramessés II, que construiu cidades
nessa região, expandindo seus territórios, em m eados do século treze a.C., pode ser um a referência *anacrô-
nica nessa expressão.
47.13-31As estratégias de José na economia e na agricultura47 .16 ,17 . escam bo. O escambo ou troca era um a forma de comércio desde os primórdios. A troca de propriedades, bens ou produtos manufaturados, beneficiando ambas as partes envolvidas na transação, era a base da economia antiga, quando ainda não existia moeda. Nesse caso, os rebanhos foram usados como pagamento do trigo vendido por José, durante o perí
odo de fome.47.20-26. terra como propriedade do faraó. O gover
no adquiria terras através do confisco por dívidas, não pagamento de impostos e no caso da família não pos
suir herdeiros. Não tendo mais com que pagar pelo trigo, durante a fome, os egípcios tiveram de vender suas terras ao governo e assim tom aram -se arrendatá
rios do faraó.47.21-25. escravidão por dívida. A escravidão por dívida era bastante comum em todo o antigo Oriente Próximo. Lavradores que perdiam suas terras vendiam a si mesmos como escravos temporários para conseguir o sustento de suas famílias. O período de servidão podia durar um dia (Êx 22.26, 27) ou vários anos. Em Israel, o tempo de escravidão pox dívida não po
dia exceder aos seis anos (Êx 21.2). O caso egípcio que aparece nesse texto, porém, sugere uma servidão perpétua, com os egípcios permanecendo como arrendatários do faraó. O aluguel era pago com um quinto da colheita.47.22. isenção dos sacerdotes. A observação de que os sacerdotes eram sustentados regularmente pelo faraó e, portanto, não tinham de vender suas terras, reflete uma situação privilegiada para a classe sacerdotal, no Egito. O clero muitas vezes acumulava poderes políticos im portantes e fazia uso de seus amplos recursos econôm icos para m anipular esses poderes. M uitos faraós consideravam vantajosa a troca de favores com os sacerdotes. Em contraste, o sistem a israelita não permitia a posse de terra à tribo de Levi.47.24. um quinto ao faraó. A taxa de 20% não era incom um no m undo antigo, em bora o que se sabe sobre impostos no Egito seja pouco para esclarecer o imposto cobrado por José.47.28-31. túm ulo dos ancestrais. Assim que se estabelecia a tum ba de um a fam ília, a tradição m andava que cada membro fosse enterrado juntamente com os outros fam iliares. Essa prática ligava as gerações e, mais tarde, serviria para fortalecer o direito da família sobre a terra onde a sepultura estava localizada.
48.1-22Jacó abençoa Efraim e Manassés48.5, 6. Efraim e M anassés como primogênitos. Embora Jacó não deserde Rúben e Simeão, ele adota os filhos de José, Efraim e M anassés e dá a eles prioridade na herança. A prática de adoção e a fórmula aqui apresentada são m uito semelhantes àquelas atestadas no Código de *Hamurabi. U m texto *ugarítico relata também o caso de um avô adotando seu neto. Num certo sentido, essa adoção pode ser vista como um meio de José receber a porção dupla da herança que era devida ao prim ogênito, visto que dois de seus filhos recebem partes da herança de Jacó.48.7. sepultura de Raquel. A s recordações de Jacó sobre as circunstâncias da m orte de sua esposa Raquel revelam que sua sepultura se localizava nas proxim idades de Belém e Efrata (cf discussão a esse respeito em 35.19,20).48.12-19. bênção trocada. Nas narrativas patriarcais, o filho m ais novo recebe um tratamento privilegiado em cada geração. Isaque recebeu a herança, em detrimento de Ismael, e Jacó, em detrimento de Esaú; José foi favorecido em relação a seus irmãos e agora Efraim é favorecido em relação a M anassés. Na maioria das civilizações antigas o primogênito tinha certos privilégios na divisão da herança e em Israel não era diferente. Não obstante, exceções podiam ser feitas por
diversas razões. Sobre comentários acerca de bênçãos proferidas no leito de morte, ver 27.1-4.48.22. terra dos amorreus. Aparentemente a palavra *amorreu está sendo usada como um termo genérico para todos os povos que ocuparam anteriormente a terra de Canaã (ver 15.19-21), especificamente aqueles que habitavam as proximidades de Siquém, onde Jacó adquirira um lote de terra (33.18, 19). Em bora aqui não apareçam detalhes da diversidade étnica daquela região, certamente os amorreus, cuja área de influência pirm ordial foi o norte da M esopotâmia e da Síria, afetaram profundamente os costumes e práticas religiosas de Canaã.
49.1-33Jacó abençoa seus filhos ?
49.1. bênção patriarcal. N o texto bíblico, a bênção patriarcal geralmente está relacionada ao destino dos filhos concernente à produtividade do solo, fertilidade da família e relacionamento com os familiares. As bênçãos ou maldições proferidas pelo patriarca da fam ília eram sem pre levadas a sério e consideradas válidas, embora não fossem apresentadas como mensagens proféticas vindas de Deus.49.8-12. mão sobre o pescoço. A bênção de Jacó a seu filho Judá reflete a grande importância que mais tarde seria atribuída à tribo de Judá, na história de Israel. U m sinal de seu poder encontra-se na expressão "su a m ão estará sobre o pescoço dos seus inim igos", que significa controle ou domínio sobre os inimigos de Judá. A expressão "aquele a quem ele pertence", no versícu lo 10, de d ifíc il com p reensão, tem sido explicada de forma mais plausível como referência a uma oferta paga em tributo, ou "até que venha aquele a quem pertence o tributo".49.11. lavará no vinho as suas roupas. Nessa bênção de Judá, a prosperidade futura dessa tribo é simbolizada na fertilidade abundante. O vinho será tão farto que as pessoas poderão lavar suas roupas nele. Também é possível que essa seja uma referência às indústrias de tintura, m as caracterizando a prosperidade econômica futura.49.13. porto para os navios. Como o litoral não possuía portos naturais, o m ar geralmente era considerado apenas como fronteira para os israelitas. Som ente nas regiões costeiras ao norte teria havido alguma tendência para se desenvolver habilidades de navegação.49 .14 ,15 . atitudes dos jumentos. A bênção de Issacar contém a caracterização de um animal forte, que às vezes é teimoso e preguiçoso, podendo sentar-se e empacar de m aneira inesperada num lugar inconveniente. A im agem tam bém pode se referir a um a tribo que faz aliança com estrangeiros ou é forçada a servir outros (Jz 5.15).
49.17. dom esticação do cavalo. A m enção de um cavaleiro m ontando um cavalo presume um grau elevado de domesticação do cavalo, alcançado no terceiro milênio. Na M esopotâmia, aparecem descrições de cavaleiros na m etad e do terce iro m ilên io , m as nos documentos egípcios, somente a partir do quarto milênio. Os cavalos geralmente eram usados para puxar carruagens, e não era com um o seu uso para montaria.
50.1-14 O sepultamento de Jacó50.1-3. em balsam am ento. Em bora fosse uma prática comum no Egito para aqueles que tinham condições de pagar, o em balsam am ento de israelitas é citado apenas nessa passagem. Era um procedimento elaborado e repleto de *rituais, executado por um grupo treinado de sacerdotes fúnebres. Os órgãos internos eram removidos e o corpo ficava m ergulhado em fluidos embalsam adores durante quarenta dias. O conceito subjacente a essa prática baseia-se na crença egípcia de que o corpo tinha de ser preservado como um repositório para a alma após a morte. Jacó e José foram em balsamados e se, por um lado, foi uma forma de confortar os egípcios, por outro, serviu para preservar seus corpos para o sepultamento posterior, em Canaã.50.3. período de luto. Esse período talvez incluísse os quarenta dias necessários para em balsam ar o corpo, mais os trinta dias tradicionais de luto (ver Dt 34.8). Visto que os egípcios tam bém choraram a morte de Jacó,
de acordo com a narrativa parece que lhe foram conferidas honras reais, como a um visitante importante.50.10.11 . eira de Atade. Nenhum local exato foi identificado a esse lugar, descrito como situado a leste do Jordão. É estranho que os restos de Jacó tenham sido levados para o oriente através da Transjordânia, em vez de por uma rota mais direta até Hebrom. A cerimônia de luto solene de sete dias em solo sagrado é bastante apropriada. Esse é um lugar associado a negócios, leis e vida, e, portanto, adequado para se tornar o m emorial de um líder tribal (ver Nm 15.20; Rt 3.2; 2 Sm 24.16-24).50.11. A bel-M izraim . A escolha de um novo nome para o solo sagrado de Atade, juntam ente com a cerim ônia de luto solene realizada ali, proveu um m em orial perene a Jacó. O nom e em si contém um elemento familiar: abei significa "córrego" e aparece em diversos outros textos (Nm 33.49 - Abel-Sitim; Jz 11.33 - Abel-Queramim). Aqui, porém, há um trocadilho com a palavra hebraica ebel, que significa "lu to".
50.15-26 Os últimos anos de José50.26. A idade de José . José morreu com 110 anos, tem po de vida considerado ideal para os egípcios. Exames de múmias demonstraram que a expectativa média de vida no Egito era de quarenta a cinqüenta anos. O uso de esquifes ou sarcófagos na mumificação era um costume egípcio, não israelita.
Ê X O D O
vy1.1-22 Escravidão do povo de Israel no Egito1.8-14. um rei que nada sabia sobre José. O Livro de Êxodo m antém no anonimato os faraós que, de algum modo, estavam relacionados aos israelitas. Visto que nos registros egípcios não há nenhum relato a respei
to da presença dos israelitas, tampouco da opressão que sofreram e de seu êxodo, as tentativas de identificar esses faraós dependem de algumas pistas vagas
contidas na narrativa. Nos séculos 16 e 17 a.C., um povo conhecido como "h icsos", que não era egípcio nativo, governou o Egito. Geralmente acredita-se que o faraó mencionado nesse versículo representa o pri
meiro governante *hicso ou o prim eiro governante egípcio nativo, após a expulsão dos *hicsos. A diferença seria de no m ínimo cem anos (cerca de 1650 ou 1550a.C.), podendo chegar a duzentos anos, caso alguns
dos primeiros governantes *hicsos que detinham um poder apenas parcial, tenham sujeitado os israelitas à escravidão.
1.10. m otivo para subjugar Israel. O argumento para
escravizar os israelitas é que se eles não fossem subjugados, se aliariam aos inim igos e deixariam o país. Isso pode ser um indício de que esses fatos ocorreram no período em que os *hicsos estavam sendo expulsos da terra. Os egípcios teriam interesse em m anter os
israelitas no país por razões econômicas.1.11. trabalhos forçados. A mão-de-obra necessária para a construção dos imensos projetos de engenharia desenvolvidos no m undo antigo fazia do trabalho forçado uma alternativa bastante freqüente. Esse tipo de trabalho era usado tam bém como form a de pagam en
to de impostos (por exemplo, as pessoas comuns poderiam trabalhar de graça, um mês por ano, nas obras de construção do governo). Quando os projetos eram muito ambiciosos para serem tocados pela população nativa ou pelos prisioneiros de guerra, ou ainda se fossem muito onerosos, dificultando a contratação de m ão-de-obra, grupos populacionais vulneráveis ser tornavam alvo de trabalhos forçados.1.11. Pitom. Pitom tem sido identificada como a cidade egípcia de Pi(r)-Atum , "estado-real de A tum ", atualmente conhecida como Tell el-Rataba, ao longo do canal de Ism alia, aproxim adam ente cem quilôm etros a nordeste do Cairo. A identificação desses projetos de construção, no texto, como sendo de cidades-celeiros,
não significa que elas eram usadas apenas para o armazenam ento de grãos. Essas cidades eram importantes centros na região, podendo até m esm o ser consideradas como capitais.1.11. Ram essés. A localização da cidade de Ramessés foi motivo de controvérsia durante muitos anos, mas foi agora identificada com o Tell ed-D ab'a, cerca de trinta quilôm etros ao norte de Pitom. O lugar tem sido alvo de amplas escavações arqueológicas por M. Bietak. Foi a capital dos *hicsos,com o nome de Ávaris, e m ais tarde reconstruída por Ram sés II, como sua capital, Pi-Ramesse, durante o século 13. Foi destruída para construir Tânis (vinte quilômetros ao norte) como a capital do Delta, na Vigésim a Dinastia, durante o século 12 a.C. (período dos Juizes). Ram sés II escravizou diversos povos para trabalharem na construção da cidade, inclusive os "ap iru" (um termo usado no segundo m ilênio para designar povos sem posses), um a design ação que m ais tarde fo i ap licad a aos hebreus, bem como a outros povos.1.14. fabricação de tijo los. Os registros antigos concordam ao considerar a fabricação de tijolos como um trabalho im undo. Um a obra conhecida como Sátira sobre os Comércios comprova que as pessoas que faziam esse tipo de trabalho viviam constantemente sujas e na miséria. Casas, prédios públicos, muros ao redor das cidades e até m esm o pirâm ides eram às vezes feitos de tijolos. Literalm ente, havia necessidade de milhões de tijolos e a cota diária individual variava, dependendo do número de pessoas que faziam parte da equipe. O trabalho era dividido entre as equipes, que desempenhavam tarefas como colher e triturar a palha, transportar barro e água, dar form a aos tijolos, m anualm ente ou com o uso de m oldes, colocar os tijolos para secar ao sol e transportá-los, vários dias m ais tarde, para o local da obra. Os tijolos usados nas grandes construções tinham m ais de 30 centímetros de comprimento, 15 de largura e talvez o mesmo de espessura.1.15-22. a juda durante o trabalho de parto. No m undo antigo, as m ulheres geralm ente davam à luz de joelhos ou de cócoras. Banquetas, pedras ou tijolos eram usados para servir de apoio à m ãe, enquanto ela dava à luz. As parteiras não apenas auxiliavam no trabalho de parto como tam bém davam conselhos sobre todo o processo de concepção, gravidez, nascimento e cuidados com o bebê.
2.1-10O nascimento de Moisés2.1-10. heróis poupados ao nascer. No mundo antigo existem vários relatos de heróis sendo m ilagrosamente poupados ao nascer ou crescendo em circunstâncias inusitadas. A mais intrigante dessas obras literárias é A Lenda do Nascimento de Sargão (provavelmente século oitavo a.C.). Em vez de sacrificar seu filho (como as sacerdotisas tinham de fazer), a m ãe de Sargão o escondeu num cesto de junco, à beira do rio Eufrates. Depois de ser arrastado pelo rio, o bebê foi encontrado e criado pelo jardineiro real. Ele cresceu e tom ou-
se o fundador da dinastia de *Akad, no século 24 a.C.. Mas existem importantes diferenças entre os relatos. Geralmente, essas histórias narram como um personagem real, deixado à sua própria sorte é criada por pessoas comuns, enquanto que M oisés, sob cuidadosa supervisão, é resgatado pela realeza e criado em circunstâncias privilegiadas. Não há razão para presumir que essa filha do faraó ocupasse uma posição de poder ou influência. Em todas as cortes, existiam inúmeros haréns de filhos, sendo que as filhas eram con
sideradas inferiores aos filhos.2.3. cesto de junco vedado com piche e betume. A palavra hebraica usada para o cesto de M oisés é a m esma usada para a arca de Noé. O papiro ou junco usado para fazer o berço flutuante também era usado na construção de barcos leves, no Egito e na Mesopo- tâm ia, e os escritores bíblicos estavam a par desse costume (Is 18.2). Os feixes de junco eram sobrepostos em três camadas e o piche tinha a função de torná-lo im perm eável (Gn 6.14 usa um a palavra diferente, mas o conceito é o mesmo). No mito hitita intitulado A Lenda das Duas C idades: Kanes e Zalpa, a rainha de Kanes teria dado à luz trinta filhos num único ano e os teria colocado em cestos calafetados, lançando-os rio abaixo. O mito relata que os deuses os apanharam no mar e os criaram.2.8. ama-de-leite. A adoção de uma ama-de-leite para amamentar e cuidar da criança até que fosse desmamada era um costume norm al entre as famílias abastadas ou aristocráticas. Em bora a literatura e g íp c ia forneça pouca informação, os textos de leis mesopo- tâmicas mencionam o uso desse método quando uma criança abandonada era encontrada. A ama-de-leite tinha a função de um tutor legal, recebendo um pagamento pelos seus serviços; a adoção acontecia somente
após o desmame.2.10. o nome "M oisés". O nome Moisés vem do egípcio ms(w), que significa "g erar". É um elem ento comum presente em muitos nomes, geralmente relacionado ao nom e de um deus, assim com o Tutm ósis ("gerado de Tot" ou "nascid o de T ot") ou Ram sés
("gerad o de R á" ou "n ascid o de R á"). U m a outra hipótese é que como ms em egípcio significa "m enino", M oisés pode simplesmente ter recebido um nome genérico. O jogo de palavras se deve ao fato de que o radical hebraico mais próximo significa "tirar de".2.10. crescendo na corte do faraó. Crescer na casa de
faraó envolvia certos privilégios em termos de educação e formação, incluindo literatura, ensino das artes dos escribas e preparo bélico. Línguas estrangeiras eram consideradas im portantes para o desempenho de funções diplomáticas, e deste modo, deveriam fazer parte do processo de formação na corte. Um a das qualidades que os egípcios m ais adm iravam era a retórica (eloqüência e argum entação no discurso).
Obras literárias como O Camponês Eloqüente mostram como eles se impressionavam com alguém que fosse capaz de se expressar bem. Embora Moisés provavelmente tenha sido treinado na arte da retórica, ele não
se considerava habilitado nessa área (4.10-12).
2.11-25Moisés foge para Midiã2.12-15. o crime de M oisés. Os egípcios conservavam um forte senso de orgulho étnico, que os levava a considerar os estrangeiros como inferiores. Quando um estrangeiro matava um egípcio, era considerado um grande crime.2.15. fuga do Egito: Sinuhe. Numa das lendas mais populares do Egito, A História de *Sinuhe, o protagonista teme a desaprovação de um novo faraó, no início do segundo milênio a.C., e foge para a Síria, passando por Canaã. Lá, ele se casa com a filha de um chefe beduíno e tom a-se um poderoso líder entre esse povo.2.15. M idiã. Os m idianitas eram um povo sem inô- made, localizando-se de acordo com diferentes histórias e fontes, desde a Transjordânia e o Neguebe, na região da Palestina, até o norte do Sinai. A região leste do golfo de A caba, no noroeste da Arábia, no entanto, tem sido considerada a localização central do
povo midianita.2.16-19. pastoras. Normalmente só havia pastoras nas fam ílias que não tinham filhos homens. A s desvantagens dessa situação são destacadas nesse relato, em que outros pastores importunam as moças.2.23. a identidade do faraó. Novamente a identidade do faraó não é mencionada. M uitos concluem tratar-se
de Tutmósis III ou Ramsés II.
3.1- 4.17A sarça em chamas e o chamado de Moisés3.1. nom es diferentes: R eu el (2.18) e Jetro (3.1). No capítulo anterior, o sogro de M oisés é cham ado de Reuel, enquanto aqui é denominado Jetro e em Juizes
4.11 recebe ainda outro nome, Hobabe (ver N m 10.29). A dificuldade pode ser esclarecida assim que a ambigüidade da terminologia é identificada. O termo para designar parentes do sexo m asculino resultantes do casamento (sogro, cunhado, etc.) não é específico. Logo, o termo usado em relação aos fam iliares da mulher podia referir-se ao pai, ao irmão ou até m esmo ao avô. Grande parte das explicações para essa confusão de nomes leva isso em conta. Talvez Reuel seja o avô, chefe do clã, Jetro, o pai de Zípora, e Hobabe, o cunhado de M oisés, filho de Jetro. Outra explicação é a de que Jetro e Hobabe podiam ser os cunhados de M oisés e Reuel, o sogro.3.1. m onte de D eus. O monte de Deus aqui é designado como Horebe, e em outras passagens, como Sinai, embora ambos os nomes possam referir-se a uma área geral, a um a cadeia de m ontanhas ou a um monte específico. Provavelm ente Moisés o denomina "m on te de D eus" como reconhecimento da posição que irá adquirir ao longo da narrativa, e não devido a ocorrências anteriores ou superstições. No m undo antigo e no m undo clássico, acreditava-se que as divindades norm alm ente faziam das m ontanhas seu lugar de morada.
3.2-4. sarça em cham as. Explicações envolvendo fenômenos da natureza para o episódio da sarça ardente têm sido abundantes, desde o exemplo dos arbustos que exalam gases inflamáveis até aqueles cujas folhas e frutos têm cores fortes e brilhantes. Nos textos egípcios de Hórus do período posterior, encontrados no templo de Edfu, o deus do céu aparece numa visão, em forma de uma chama num tipo específico de arbusto, m as isso, um m ilênio depois de Moisés.3.2-7. Yahw eh, D eus de seu pai. A apresentação que D eus faz de si m esm o com o o "D eu s de seu p ai" sugere que o conceito de divindade protetora talvez ainda fosse a com p reen são m ais acu rad a que os israelitas tinham de *Yahweh. Esse título deixa de ser usado, assim que Yahw eh tom a-se a divindade nacional, no Sinai. Também serve para identificá-lo como o Deus da *aliança.
3.5,6. tirar as sandálias. Os sacerdotes tinham o costum e de entrarem descalços nos templos, a fim de evitar levar pó e impurezas de qualquer tipo.3.7-10. terra de leite e m el. A terra de Canaã é descrita como um a terra "ond e m anam leite e m el". É uma referência à exuberância da terra, favorável ao pastoreio, m as não necessariam ente adequada à agricultura. O leite é um produto dos rebanhos, enquanto que o m el representa um recurso natural, tratando-se provavelmente da seiva extraída da tâmara, e não do mel de abelhas. Um a expressão sem elhante a essa pode ser encontrada no épico *ugarítico de *Baal e
Mot, que descreve a volta da fertilidade à terra através de chum aços de onde escorria o mel. Os textos egípcios como A História de *$inuhe já descreviam a terra de Canaã como rica em recursos naturais e tam bém na produção agrícola.
3.8. povos de C anaã. N a lista dos seis grupos de povos que ocupavam Canaã, os três prim eiros são praticamente desconhecidos. Um a das primeiras referências a Canaã pode ser encontrada nas tábuas de Ebla (século 24 a.C.); os cananeus eram os principais habitantes das cidades fortificadas da terra, embora não pareçam ser nativos da região. Os *hititas eram originários da Anatólia, a atual Turquia, mas alguns grupos m igraram para o sul e ocuparam partes da Síria e de Canaã. Os *amorreus (conhecidos na Meso- potâmia como os amurru ou martü) são conhecidos a
partir de documentos já da m etade do terceiro m ilênioa.C.. A maioria dos estudiosos acredita que eles ocuparam m uitas áreas no O riente Próxim o, devido às suas raízes na Síria. Ainda existem dúvidas sobre o termo ferezeu, não se sabe ao certo se é uma classificação étnica ou sociológica (aqueles que habitavam em
povoados sem muros). Os heveus às vezes são relacionados aos horeus; nesse caso, pode tratar-se dos
*hurrianos. Os jebuseus ocuparam a região mais tarde associada à tribo de Benjam im , especialm ente a
cidade de Jerusalém , e freqüentem ente são ligados aos ferezeus, que habitavam essa m esma região. Não existem referências aos ferezeus, heveus ou jebuseus fora da Bíblia.3.11. objeção de M oisés. A objeção de Moisés não foi m uito convincente, devido ao treinamento que recebera na casa do faraó (ver comentário sobre 2.10).3.13. revelação do nom e divino. No m undo antigo, acreditava-se que os nomes estivessem intimamente relacionados à essência da pessoa. Conhecer o nome de alguém significava conhecer sua natureza e obter potencialmente, a possibilidade de dominá-lo. Como resultado, os nomes dos deuses, às vezes, eram cuidadosamente omitidos. Por exemplo, no Egito, o deus- sol, Rá, tinha um nome secreto, oculto, conhecido apenas por sua filha ísis. Ver comentário sobre 20.7.3.13-15. EU SO U . O nome pessoal do D eus de Israel, *Yahweh (geralm ente traduzido como SEN H OR; v. 15), é form ado a partir do verbo hebraico "se r". O versículo 14 faz uso de uma forma alternada do verbo na prim eira pessoa, "e u Sou o que Sou ". O nom e Yahw eh para o Deus de Israel é confirmado fora do Antigo Testamento, na Inscrição de Mesha, nos óstracos de A rad, nas cartas de Láquis e em inscrições de Khirbet el-Qom e Kuntillat Ajrud, apenas para citar algumas das principais fontes. Existe um a série de possíveis citações de Yahw eh ou Yah como nome de
um a divindade fora de Israel, embora sejam discutíveis. U m a das m ais intrigantes é a referência a "Yhw, na terra de Shasu", mencionada em algumas inscrições egípcias em N úbia (atual Sudão), datadas da m etade do segundo milênio. Os shasu são beduínos m encionados nas mesmas inscrições da área de Seir (ver Dt 33.2; Jz 5.4). Talvez seja uma confirmação da inform ação b íb lica de que Je tro , o m id ian ita , era adorador de Y ahw eh (cap. 18). D evem os lem brar, porém, que M idiã também era descendente de Abraão (Gn 25.2-4), podendo assim estar relacionado ao povo de Israel.3 .16 ,17. autoridades. A s autoridades ou anciãos aqui são os líderes dos clãs em Israel. Os anciãos geralmente formavam um a assembléia governante que supervisionava a liderança de uma aldeia ou comunidade. A ntes de aceitar a liderança de M oisés, as pessoas buscariam a aprovação dos anciãos.3.18-20. D eus dos hebreus. "D eus dos hebreus" é um título usado somente no contexto do êxodo. Visto que os israelitas geralmente referem-se a si mesmos como hebreus apenas para os estrangeiros, alguns relacionaram o term o hebreu às palavras apiru/*habiru, encontradas em textos antigos desse período. Apiru/habiru não é um a designação étnica, mas sociológica, que se refere a povos desalojados.3.18. cam inhada de três dias para oferecer sacrifício.O pedido feito a faraó é no sentido de obter permissão para um a peregrinação religiosa de três dias no de
serto. Geralmente, seriam dois dias para a viagem de ida e volta e um dia inteiro para as cerimônias religiosas. A recusa por parte do faraó acrescenta aos seus
crimes o de opressão religiosa.3.19, 20. poderosa mão de D eus. A imagem de uma poderosa mão ou braço estendido é comum em inscrições egípcias, representando o poder do faraó. E uma expressão usada em toda a narrativa do êxodo como sinal do poder de D eus, superior ao do faraó. Ver comentário de Deuteronômio 26.8.4.1-9. os três sinais de M oisés. É provável que cada
um dos sinais que o Senhor concedeu a M oisés tivesse um significado sim bólico. A vara era o sím bolo de autoridade no Egito; o faraó era representado pela figura da serpente, o uraeus, que se destacava em sua coroa. O primeiro sinal então, indicava que a autoridade do faraó estava totalmente nas mãos de Deus. O segundo sinal provoca um a doença de pele, geral
mente traduzida como "lep ra", na m ão de Moisés. Na verdade, esse term o é usado para descrever várias doenças de pele de m enor gravidade do que a han- seníase (lepra; ver comentário em Lv 13). Na Bíblia, quando essa doença é infligida a uma pessoa, é sinal de castigo por húbris, ou seja, quando alguém pre
sunçosamente, atribui a si um papel divino (Nm 12.112; 2 Rs 5.22-27; 2 Cr 26.16-21), demonstrando assim a intenção de Deus em punir o faraó. A doença implicava um afastam ento da presença de Deus, um a vez que a pessoa infectada tom ava-se impura. O terceiro sinal, transformação da água em sangue, demonstra que D eus era quem controlava a prosperidade do Egito, que dependia totalm ente das águas do Nilo. Tam bém é um a antecipação das pragas que D eus enviaria.4.17. a vara de M oisés. A vara de M oisés torna-se o sím bolo do poder de D eus e de sua presença com Moisés. Não possui nenhuma semelhança com os instrumentos de magia pelo fato de Moisés nunca fazer uso dela através de encantamentos ou palavras mágicas. Não é um objeto usado para m anipular Deus, e, exceto em um incidente infeliz (Nm 20), M oisés não tem controle sobre ela, mas apenas a utiliza de forma correta, conforme instruído.
4.18-26 A culpa de Moisés4.19. a situação de M oisés. O fato de os egípcios não mais buscarem a morte de Moisés pelo seu crime de assassinato não significa que ele tivesse sido absolvido de sua culpa nessa questão.4.20-23. endurecer o coração do faraó. Nesse trecho é m encionado pela prim eira vez o endurecim ento do coração do faraó, um tem a recorrente que aparece mais de vinte vezes nos próximos dez capítulos (desde o envio das pragas até a travessia do mar). Diferentes verbos são usados para descrever essa situação; algumas vezes, o faraó endurece seu próprio coração, enquanto que em outras, o coração do faraó é endurecido pelo Senhor. Esse conceito é semelhante a expressões egípcias que transm item idéia de perseverança, teim osia, persistência e um a natureza insubmissa. Podem ser qualidades ou defeitos, dependendo do tipo de comportamento ou atitude que a pessoa
demonstra.4.22. Israe l, o p rim ogên ito de D eus. A passagem coloca en gen h osam en te a qu estão da am eaça ao primogênito: o primeiro filho de Deus, Israel; o pri
m eiro filho do faraó e o prim eiro filho de M oisés. Israel é o prim ogênito de D eus por ser a prim eira
nação a iniciar um relacionamento com ele.4.24-26. o Senhor procurou matá-lo. O texto nos inform a que não havia m ais n ingu ém no Egito que quisesse matar M oisés (v. 19), m as diante de Deus ele ainda era culpado por ter derram ado sangue. Mais tarde, surgiram as cidades de refúgio, para garantir abrigo aos que haviam cometido um crime, até que a situação se atenuasse. M oisés buscou refúgio em Midiã.
Ao deixar seu lugar de refúgio, M oisés fica sujeito a
ter de prestar contas de seu crime. H á outros personagens, no Antigo Testam ento, que o Senhor chamou
para ir a algum lugar, mas depois abordou durante o caminho, como Jacó (Gn 31 ,32) e Balaão (Nm 22). Em
ambos os casos, D eus de fato queria que fizessem a
viagem, mas precisava resolver um assunto com eles, antes que pudessem seguir adiante.
4.25. pedra afiada. Era costume em Israel e no Egito
usar um a lasca de pedra para realizar a *circuncisão,
mesmo depois que instrumentos e artefatos de metal já tinham sido inventados. Eram pedras bem pontia
gudas, fáceis de serem encontradas, e o instrumento
tradicionalmente usado nos *rituais da Antiguidade.4.25. m arido de sangue. Estudos recentes sugerem,
que em muitas culturas, os homens eram Circuncidados pelos parentes de sua m ulher, que deste modo
estendiam a proteção dos familiares sobre o homem e
seus filhos. Se esse era um costume dos midianitas, podia servir como uma extensão do refúgio que Moisés
teve em Midiã. Em meio aos israelitas, o uso do sangue como sinal de proteção (através dos borrifos nos
umbrais das portas) também é encontrado no ritual da *Páscoa (12.7), oferecendo proteção contra a m atan
ça efetuada pelo anjo (12.44-48). O com entário de
Zípora de que Moisés era um marido de sangue indicaria tanto a necessidade que ele tinha de receber
proteção de sua família como a de expiar sua culpa.
4.27-31 O retomo de Moisés ao Egito4.29. autoridades. A s autoridades ou anciãos m en
cionados nessa passagem são os líderes dos clãs em Israel. Os anciãos geralmente atuavam como um a as
sembléia governante que supervisionava a liderança
de uma aldeia ou com unidade. N esse contexto, os anciãos reconhecem a legitim idade do papel e da
missão de M oisés, confirmando sua autoridade como líder de Deus.
5.1-21 Moisés defronta-se com Faraó5.1-5. festa no deserto. As festas, no mundo antigo, eram relacionadas aos ciclos da natureza (ano-novo ou
festas de *fertilidade), aos eventos mitológicos (entronização ou vitória da divindade sobre o caos), eventos
agrícolas (colheita) ou m emoriais históricos (dedicações ou libertações). Era costume celebrar alguns feitos da divindade, procurando com isso perpetuar a
ação da m esm a em favor deles. M uitas vezes, esses elem entos apareciam m isturados num a única festa.
Geralmente, as festas eram celebradas num lugar sa
grado, o que exigia m uitas vezes, que se fizessem peregrinações até o local.5.6-14. palha para tijo los . A palha servia como elemento para dar liga aos tijolos quando aquecidos. Se a palha fosse insuficiente ou de m á qualidade, os tijolos
não tom ariam forma facilmente e um grande número deles se quebraria, dificultando a tarefa de alcançar a cota exigida. Nem sempre os relatos egípcios esclarecem qual o núm ero de pessoas ou o prazo envolvido para um a determinada cota, mas sabemos que dificilmente elas eram atingidas.
5.22- 6.12 Deus anuncia a libertação6.3-8. SEN H O R. Um a leitura casual do versículo 3 pode levar à conclusão de que o nome *Yahweh (SE
NH OR) não era fam iliar aos patriarcas, em bora os textos de Gênesis 15.7 e 28.13 claramente sugiram o contrário. É verdade que El-Shadai (Deus Todo-pode- roso) era conhecido dos patriarcas e em Gênesis 17.1 e35.11 é El-Shadai que aparece associado aos aspectos da *aliança que vão sendo assimilados pelos patriarcas ao longo dos anos. Em contraste, *Yahweh está ligado às prom essas que demandavam longo prazo para serem cumpridas, particularm ente aquela relacionada a terra; assim é correto dizer que os patriarcas não conheciam esse aspecto de Deus (isto é, Ele não se revelou a eles dessa maneira). Os patriarcas provavelm ente não adoravam a D eus usando o nom e de Yahw eh, mas não podem os concluir por esse texto, que o nome era totalmente estranho a eles.6.6. braço estendido (ARA). Os egípcios estavam acostum ados a ouvir falar do braço estendido do faraó realizando grandes feitos. Agora o braço estendido de Yahw eh iria sobrepujar o braço do faraó. Deus está confirmando o cumprimento do juram ento que fizera a Abraão, representado pelo gesto de levantar a mão (em direção aos céus). Aqui, podemos ver que o gesto é simplesmente uma outra m aneira de Deus referir- se ao juram ento, visto que não há nenhum outro poder acima dele pelo qual pudesse jurar. Ver comentário em Deuteronômio 26.8.
6 .28- 7.13Moisés e Axão diante do Faraó 7.9. serpente. A serpente era considerada um a criatura sagaz e mágica no Egito. W adjet, a deusa protetora do Baixo Egito, é representada por uma cobra (uraeus) na coroa do faraó, que por sua vez, passou a ser um sím bolo do poder do faraó. Além disso, Apopis, o inim igo dos deuses, tinha a form a de um a cobra, e representava as forças do caos. Portanto não é por acaso que esse sinal representasse um a serpente, já
que, na concepção egípcia, não havia outra criatura tão agourenta.7.11-13. m agos do faraó. Os m agos do faraó eram especialistas em feitiços e encantam entos, e conheciam a fundo a literatura de presságios e sonhos. Eles faziam sim patias (com base na idéia de que existe uma relação entre o objeto e o que ele representa, por exem plo, o que é feito à fotografia de um a pessoa acontecerá à pessoa) e usavam suas mágicas para dar ordens aos deuses e espíritos. A m agia era o elemento que dava sustento a toda a criação, e era usada pelos que a praticavam, fossem eles humanos ou divinos, como meio de proteção e também para causar o mal.7.11. 12. varas transform adas em serpentes. Alguns afirmam que existe um tipo de cobra que pode ficar totalmente rígida se um a certa pressão for aplicada atrás de sua cabeça, o que talvez teria permitido que os magos egípcios dessem a impressão de estar segurando varas que se transform aram em cobras. Esse procedimento é retratado nos *amuletos egípcios de escaravelho e ainda hoje é praticado. Deve ser m encionado, no entanto, que a palavra traduzida como "serpente" nesse trecho não é a mesma usada em 4 .3 ,4 . A criatura a que se refere esse texto geralmente é considerada um m onstro de tamanho considerável (ver Gn1.21), apesar de ser usado como equivalente a "cobra" em dois outros contextos (Dt 32.33; SI 91.13). Essa m esm a criatura é com parada ao faraó em Ezequiel29.3 e alguns acreditam tratar-se de um crocodilo. N ão é necessário considerar esse incidente um simples truque dos magos do faraó, visto que eles eram mestres do ocultismo.7.12. a vara de A rão en gole as varas dos m agos.Quando a vara de Arão engoliu as serpentes dos m agos, o simbolismo implícito indicava que os israelitas iriam triunfar sobre o Egito. Assim, por exemplo, um
texto das pirâm ides, do período do Antigo Reinado representa um a coroa engolindo outra para ilustrar a conquista do Alto Egito sobre o Baixo Egito. De acordo com os Textos Egípcios das Tumbas, engolir era considerado um ato mágico, representando a absorção dos poderes do que foi engolido. Desse modo, os magos egípcios teriam concluído que o poder de suas varas
fora absorvido pela vara de Moisés.7.13. o coração se endureceu. Essa segunda menção ao endurecimento do coração do faraó (ver comentário em 4.20-23) reflete seu propósito de levar adiante a
decisão que tomara.
7.14- 11.10 As dez pragas7.14-11.10. pragas como ataques aos deuses egípcios e como ocorrências naturais. As pragas têm sido con
sideradas por alguns como ataques específicos aos deuses do Egito (ver 12.12). Isso é verdade no sentido de que os deuses egípcios foram incapazes de protegê- los e que as áreas supostamente sob jurisdição dessas divindades foram usadas contra os egípcios. É difícil, porém, afirmar se era dirigida a algum deus em particular. Seguindo outra linha, estão aqueles que sugerem que um a seqüência de fenôm enos naturais pode explicar as pragas, a partir de um ponto de vista científico. Todas as pragas seriam resultantes de uma enchente ocorrida nos meses de verão, que teria ocasionado um processo de causa e efeito até o mês de março. Aqueles que m antêm essa posição ainda assim terão de admitir a natureza m iraculosa das pragas quanto ao tempo e duração exata, a distinção entre egípcios e israelitas, seu anúncio prévio e a gravidade dos acontecimentos. Assim , no comentário de cada um a das pragas, apresentaremos tanto suas explicações naturais como aquelas que indicam que os deuses foram o alvo das pragas. Cabe ao leitor decidir qual o papel desem penhado por cada um a dessas explicações para a compreensão do texto.7.14-24. água em sangue. O Nilo era a vida do Egito. A agricultura e a própria sobrevivência dependiam das enchentes periódicas que tom avam a terra fértil em toda a extensão do rio, de mais de seis m il quilômetros. O obeso Hapi, um dos filhos de Hórus, não era propriamente o deus do Nilo, mas a personificação das inundações. A coloração vermelha de sangue tem sido atribuída ao excesso de terra vermelha, de algas brilhantes e de suas bactérias, também de coloração vermelha, que resultam de enchentes m ais intensas que o normal. Em vez de promover exuberância de vida, esse tipo de inundação causava a morte dos peixes e o empobrecimento do solo. Um fenômeno como esse se assemelha a um a observação contida
nas Exortações de Ipuwer (alguns séculos antes de Moisés) de que o Nilo se transformara em sangue e sua água não era adequada ao consumo. O comentário bíblico que menciona o fato dos egípcios cavarem buracos às margens do rio (v. 24) pode ser explicado como uma tentativa de encontrar água limpa que teria sido fil
trada pelo solo.7.19. vasilhas de m adeira e de pedra. No versículo 19, a maioria das traduções faz referência a reservatórios de m adeira ou pedra, sugerindo que a água contida nessas vasilhas também se transformara em sangue. O texto hebraico não diz nada a respeito de vasilhas. A com binação de "m ad eira e p ed ras" é usada na literatura *ugarítica para referir-se a regiões afastadas e improdutivas. O texto tam bém inclui canais, açudes e reservatórios, sugerindo os canais artificiais usados na irrigação.
8.1-15. praga das rãs. É natural que as rãs abandonassem as águas e brejos dos rios, abarrotados de peixes em estado de decomposição. A deusa H eqet era re
presentada na forma de rã e auxiliava o nascimento das crianças, mas é difícil imaginar de que maneira esse episódio poderia ser visto como uma vitória sobre ela. Os magos egípcios não conseguiram acabar com a praga, apenas intensificá-la.8.15. coração obstinado. Aqui, um verbo diferente é usado em relação às referências anteriores (ver comentários em 4.20-23; 7.13). Esse verbo significa "pesar" e é uma im agem bastante familiar para os egípcios. Na cena do julgam ento, no Livro dos Mortos, o coração do morto é pesado na balança tendo como contrapeso uma pena (representando Maat, a verdade e a justiça) para determinar se ele será conduzido à um a vida de felicidade no além ou será devorado. Aumentar o peso no coração do faraó é uma forma de expressar que sua sentença após a morte está selada.8.16-19. praga dos piolhos. O tipo de inseto envolvido nessa praga não está claro, visto que a palavra hebraica é usada apenas nesse contexto. M uitos estudos têm sugerido o pernilongo ou o carrapato como os mais prováveis. O primeiro se reproduziria em todas as poças de água resultantes da enchente. "D edo de Deus" pode ser uma expressão egípcia referindo-se à vara de Arão. O fracasso dos m agos e o reconhecimento de que Deus está agindo, é o início do cumprimento do propósito que o Senhor tinha: "saberão que eu sou *Yahw eh".8.20-32. terra arruinada pelas m oscas. O inseto que aparece na quarta praga não é identificado. Em vez disso, o texto fala de enxames, usando uma palavra conhecida apenas em relação a esse contexto. As moscas seriam a conseqüência lógica, tanto em relação ao clima como às condições existentes de peixes e rãs apodrecendo e vegetação em decomposição. Por ser um transmissor do antraz de pele (associado a pragas posteriores), a espécie Stomoxys calcitrans tem sido a identificação m ais popular. Tanto como peste, como transmissores de doença, esses insetos arruinaram a terra do Egito.8.22. Gósen. Essa é a primeira praga que não afeta os israelitas que m oravam em Gósen. A localização exata de Gósen ainda é desconhecida, embora certamente se situasse na parte leste da região do Delta do Nilo.8.26. sacrilégio para os egípcios. Quando o faraó propôs aos israelitas que oferecessem seus sacrifícios ali mesmo, em vez de reivindicarem a necessidade de conduzir o *ritual em local sagrado, Moisés argumen
tou que os rituais israelitas eram inaceitáveis para os egípcios, pois eles os consideravam como sacrilégio. O sacrifício de animais com o objetivo de providenciar
alimento aos deuses era uma prática religiosa bastante popular no Egito, como aparece retratada em m ui
tos relevos. Entretanto, os sacrifícios de animais desem penhavam um papel secundário nos cultos de adoração ao sol, ao rei e nas cerimônias *funerárias, que formavam grande parte da religião egípcia. M uitas vezes, considerava-se que o animal sacrificado representava um inimigo da divindade.9.1-7. praga nos reban h os. A praga nos rebanhos geralmente é identificada como antraz, contraída das bactérias que desceram pelo Nilo e infectaram os peixes, rãs e moscas. A deusa egípcia do amor, Hathor, tinha a forma de uma vaca e o touro sagrado Apis foi tão venerado que ao morrer, foi embalsamado e enterrado num a necrópole, em seu próprio sarcófago.9.8-12. punhado de cinza. Em bora alguns tenham sugerido que as cinzas foram extraídas de um forno de tijolos (simbolizando o trabalho dos israelitas), sabe- se que os egípcios geralmente usavam tijolos queimados ao sol e não em fornos. A fornalha mencionada aqui é de tamanho considerável e poderia ser identificada como o lugar onde as carcaças de animais mortos foram queim adas. O ato de espalhar cinzas às vezes é utilizado como um *ritual mágico no Egito, com o objetivo de provocar um a pestilência ou eliminá- la. Aqui, além da praga nos rebanhos, as cinzas foram uma calamidade para os homens.
9.10-12. feridas purulentas. O antraz de pele teria sido transmitido pela picada das m oscas que haviam tido contato com as rãs e com os rebanhos, gerando feridas, particularmente nas mãos e nos pés.9.13-35. efeitos do granizo. Um a tempestade de granizo provoca destruição não apenas às plantações, mas também a homens e animais. A designação no texto do tipo de plantações atingida (v. 31, 32) é um indício de que teria ocorrido no mês de janeiro ou fevereiro.10.1-20. praga dos gafanhotos. Gafanhotos eram bastante comuns no antigo Oriente Próximo, e famosos pela devastação e destruição que causavam. Os gafanhotos se reproduziam na região do Sudão e sua população estaria m aior do que a habitual, devido ao clima úmido que deflagrou toda a seqüência de fenômenos naturais. Sua m igração deveria acontecer em fevereiro ou março, acompanhando os ventos predominantes em direção ao Egito ou à Palestina. O vento oriental (v. 13) os teria trazido ao Egito. Um gafanhoto consom e por dia um a quantidade equivalente ao seu peso. H á notícias de enxames de gafanhotos que cobriram uma área de 640 quilômetros quadrados, sendo que um quilômetro quadrado pode conter mais de cinqüenta m ilhões de insetos. Certamente, tudo o que sobrevivera à tempestade de granizo, agora seria destruído, e no caso de os gafanhotos terem deixado ovos
antes de serem soprados para o mar, o problema aconteceria novam ente, tornando-se cíclico. A economia do Egito foi destruída, mas os deuses principais ainda
precisavam ser humilhados.10.19. vento ocidental. A praga foi eliminada por um "vento que veio do m ar". Em Israel, esse vento viria
do ocidente, mas no Egito, viria do norte ou noroeste e levaria assim, os gafanhotos de volta ao mar.
10.21-29. praga das trevas (que podiam ser apalpadas). O comentário de que as trevas podiam ser apalpadas (v. 21) sugere que seriam causadas por algo
transportado pelo ar, ou seja, as tempestades de areia
khamsin conhecidas na região. A quantidade excessiva de pó seria resultante da terra vermelha trazida e
depositada pelo Nilo, bem como do solo exposto pela ação do granizo e dos gafanhotos. A duração de três
dias é característica desse tipo de tem pestade, que geralm ente ocorre entre março e maio. O fato de o texto enfatizar as trevas e não a tem pestade de pó
pode indicar que o deus-sol, A m on-Rá, o deus do
Egito, o pai divino do faraó, era o alvo específico da
praga.11.1-10. a décim a praga e o faraó. No Egito, o faraó
também era considerado um a divindade e essa última praga é dirigida a ele. Na nona praga, seu "p ai",
o deus-sol havia sido derrotado e agora, seu filho, o
provável herdeiro do trono, seria morto. Isso repre
senta um terrível golpe à pessoa do faraó, ao seu
reinado e à sua divindade.11.2. ped ir o b je to s de prata e ouro. As instruções
dadas aos israelitas para que pedissem aos egípcios
objetos de prata e ouro e roupas (m encionadas em outras passagens), provavelmente estaria relacionada
à idéia de que os israelitas iriam fazer uma festa ao
seu D eus. Trajes elegantes e adornos eram usados nessas ocasiões e não é difícil imaginar que os escra
vos israelitas não possuíam tais luxos. A essa altura, o
povo do Egito estava desesperado por causa das pragas, e a idéia de que a ira do Deus de Israel poderia
ser aplacada com um a festa os teria deixado bastante
cooperativos.
11.4. o Senhor passará por todo o Egito. No Egito, o momento mais notável e esperado dos grandes festi
vais era quando a divindade se manifestava entre o
povo. A qui, porém , a passagem do D eus de Israel pela terra teria como propósito o julgamento.
11.5. m oinho. A escrava que trabalhava no moinho era considerada a pessoa que ocupava a posição social
m ais baixa. O moinho, ou moinho de mão, era feito
de duas pedras: um a na base, com um a superfície côncava e outra de forma arredondada, que era colocada por cima. A rotina diária de moer o trigo para
transformá-lo em farinha consistia no processo de arrastar a pedra de cima sobre o trigo que ficava espalhado na pedra de baixo.11.7. nem sequer um cão latirá. Os cães não eram vistos com o anim ais de estim ação e eram considerados indesejáveis e em geral, um transtorno, talvez do mesmo modo como os ratos são vistos hoje. A afirmação de que nem sequer um cão latirá sugere um a calma fora do comum, visto que esses anim ais errantes eram facilm ente hostilizados por motivos insignificantes.
1 2 .1 -2 8Páscoa12.1-28. origem da Páscoa. De acordo com o relato bíblico, a Festa da Páscoa foi instituída em associação com a décima praga, mas isso não significa que ela não tenha se originado de algum tipo de festival já existente. Devem os nos lem brar de que D eus instituiu a *circuncisão como um sinal da *aliança, usando um costume que já era praticado, só que com um novo propósito. M uitos elementos do *ritual da Páscoa sugerem que ela possa ter sido adaptada de algum *ri- tual nômade que visava proteger os pastores dos ataques demoníacos e assegurar a *fertilidade dos rebanhos. M as ainda que seja essa a origem, cada um dos elem entos é adequadam ente "convertido" ao novo contexto da décima praga e do êxodo do Egito. Se isso realm ente ocorreu, seria algo semelhante à substituição que os cristãos da Europa Ocidental fizeram com o Natal, colocando-o no lugar de seus festivais pagãos do solstício de inverno, e m antendo a presença de alguns símbolos, tais como visco, azevinho e os ramos de árvores sem pre verdes.12.1-11. calendário. Esse evento estabeleceu abibe (mais tarde chamado de nisa) como o primeiro mês do calendário religioso de Israel. Pelo calendário civil, o mês de tishri, seis meses m ais tarde, era o primeiro mês, em que o "D ia de Ano-Novo" era celebrado. O calendário israelita era lunar, com ajustes periódicos em relação ao ano solar. Abibe começava com a primeira lua nova depois do equinócio da prim avera, geralmente em meados de março, e ia até meados de abril.12.5. macho de um ano, sem defeito. Com um ano, o m acho teria superado seu período de vida mais vulnerável (os índices de mortalidade ficavam entre 20% e 50%) e estaria se preparando para assumir seu papel como membro produtivo do rebanho. Nos rebanhos, geralmente o núm ero de machos era menor que o de fêmeas, especialmente entre os bodes, sendo que m uitos machos eram abatidos com um ano de idade, para consumo de suas peles e carne. As fêmeas eram mantidas até a idade de oito anos, para procriação e também para produção de leite.
12.6. sacrificado ao pôr-do-sol. No calendário civil egípcio, cada mês tinha trinta dias, divididos em três períodos de dez dias. O calendário religioso egípcio, onde se incluíam, os festivais, m antinha o ciclo lunar como base. A décima praga e a celebração da Páscoa ocorreram na véspera do que os egípcios chamavam de "d ia da m etade do m ês". Visto que, pelo cálculo lunar, o mês começava com a lua cheia, a festa ocorreu no período da lua cheia, que sem pre se seguia ao equinócio de prim avera. A m atança aconteceria ao pôr-do-sol, quando a primeira lua cheia do ano israelita surgisse.12.7. função do sangue. N as religiões prim itivas, o sangue geralmente era usado como proteção contra os poderes do mal, enquanto que no *ritual israelita o sangue servia como elemento de purificação. Embora os israelitas conservassem alguns elementos primitivos em sua visão e prática religiosa e acreditassem, de maneira supersticiosa, que o sangue tivesse um caráter de proteção, não era essa a função pretendida. Os
umbrais das portas das casas na antiga Mesopotâmia freqüentemente eram pintados de verm elho porque havia a crença de que essa cor afastava os demônios.12.8. cardápio. O cardápio da refeição da Páscoa era bastante comum nas comunidades nômades de pastores. A proibição do ferm ento pode acrescentar um valor simbólico. Na literatura rabínica posterior e no Novo Testamento, o fermento é associado à ’'im pureza ou *sujeira. É difícil discernir se já nesse período o fermento tinha essa conotação. A s ervas amargas são identificadas na literatura rabínica posterior como alface, chicória, eríngio, raiz forte e serralha, todas de fácil preparo. Não se sabe ao certo, porém , se essas verduras estão incluídas na terminologia bíblica. Sabe-se que a alface era cultivada no Egito e a palavra hebraica traduzida como "ervas amargas" corresponde a uma palavra *acadiana (babilónica) para alface. A ordem para assar a carne perm ite duas possibilidades: seria um contraste com as festas pagãs da primavera que, às vezes, incluíam carne crua, e tam bém uma indicação de que as pessoas estariam com pressa, sem tem po para cozinhar a carne (seria necessário mais tempo para cortar, preparar e temperar a carne). Visto tratar-se de um a refeição sagrada, a carne não poderia ser com ida em nenhum outro m om ento e deveria ser eliminada da forma adequada.12.11. Páscoa. A tradução para a língua portuguesa da palavra "Páscoa" (do latim pascere: apascentar, alimentar) não faz jus à terminologia hebraica (pesah). O termo hebraico tem a ver com proteção, o que pode ser visto em Isaías 31.5, onde é comparado a um escudo e livramento. O Senhor é retratado passando pela terra e protegendo da ação do anjo todas as casas que
tivessem o sangue na porta. O sangue na viga superior e nas laterais da porta pode ser visto tam bém
como purificador da entrada, como uma preparação
para a presença do Senhor.
12.12-30 A décima praga12.12,13. festival egípcio da realeza. Pode haver uma
referência aqui ao fam oso festival egípcio Sed, que
representava a renovação da autoridade real. A celebração era planejada para que todos os deuses confir
m assem a autoridade real do faraó, enquanto aqui, como resultado das pragas, todos os deuses devem
reconhecer a realeza de *Yahweh, não com um a nova coroação, mas através do reconhecimento do seu po
der eterno. No festival Sed, o rei afirmava seu domí
nio passando por toda a terra (sim bolicam ente) da
forma que desejasse. A majestade do faraó é ridicularizada enquanto a de Yahw eh é confirmada, à m edi
da que Deus vai passando pela terra para firmar sua
autoridade por meio da praga.12.14-20. Festa do Pão sem Ferm ento. A Festa do Pão
sem Ferm ento é celebrada durante os sete dias da
Páscoa. Como uma comemoração da saída do Egito,
essa festa representa a pressa dos israelitas, que não
puderam esperar o pão crescer, tendo de assá-lo sem fermento. O fermento era produzido com a farinha da
flor de cevada, que ferm entava e era usada com o ferm ento. G eralm ente, pequ en as qu an tid ad es de
m assa ferm entada eram reservadas e depois usadas
em outras fornadas. Sem a porção "in icial" de reserva
(um pouco de massa já fermentada), o processo teria de ser começado de novo, levando de sete a doze dias
para chegar ao nível necessário de fermentação.12.16. reunião santa. Reuniões ou proclamações santas eram uma parte importante das práticas religiosas
no mundo antigo. Podiam ser reuniões locais ou naci
onais, para adoração pública ou congregacional. As pessoas normalmente se reuniam em locais distantes
de onde moravam.12.19. pão sem ferm en to e co lh eita de cevada. A
Festa do Pão sem Fermento coincidia com a colheita da cevada, que marcava o início da época da colheita. N esse contexto, o pão sem fermento significa um novo
começo e os primeiros frutos da colheita da cevada são comidos sem esperar a fermentação.
12.22. uso de h issop o . O sangue é espalhado nos um brais da porta com hissopo, uma planta aromática que passou a ser associada à purificação, provavel
mente devido a seu uso em *rituais como esses. Sua consistência era bastante adequada para escovas e vassouras.
12.23. o destruidor. O sangue nos umbrais da porta seria o sinal para que o Senhor protegesse do destruidor os que estivessem dentro daquela casa. Na Meso- potâmia, o demônio Lam astu (feminino) era considerado o responsável pela morte de crianças, enquanto que Mantaru (masculino) era o responsável pela praga. Os egípcios tam bém acreditavam em hostes demoníacas que ameaçavam a vida e a saúde das pesso
as. N essa passagem , no entanto, os dem ônios não agem independentem ente dos deuses, m as sim um mensageiro do julgam ento de Deus. Em Jeremias esse
mesmo termo é usado para designar um destruidor e saqueador das nações (Jr 4.7).
12.29, 30. prim ogênito. Em Israel, a dedicação do primogênito era uma forma de reconhecer que o Senhor era o provedor da vida, da fertilidade e da prosperidade. Ao tomar para si o primogênito, tanto dos homens como dos animais, Yahw eh novamente reafirma seu direito de ser reconhecido como a divinda
de responsável pela vida no Egito - um papel geralmente atribuído ao faraó.
12.31-42 A saída do Egito12.34. am assadeiras. A m aneira mais fácil de transpor
tar a farinha já preparada para o pão do d ia segu in te, de acordo com esse relato, era em am assadeiras, em brulhadas com panos para evitar que pegassem pó.
12.37 . ro ta do êxodo. R am sés é T ell e l-D ab 'a , no Delta oriental (ver com entário em 1.8-14), onde os
israelitas estavam trabalhando na construção de uma cidade para o faraó. Sucote tem sido identificada como Tell el-Maskhuta, em direção à extremidade leste do uádi Tumilate. Seria uma rota normal para deixar o
Egito em direção ao oriente, como diversos documentos egípcios demonstram. A jornada de Ram sés até
Sucote leva aproximadamente um dia. (Para a rota do
êxodo, ver mapa 1, na p. ).12.37. número de israelitas. O tamanho da população israelita tem sido considerado problem ático por diversas razões. Se realmente havia seiscentos mil ho
m ens, o grupo total ultrapassaria os dois milhões. A rgum enta-se que a região do D elta do Egito não
teria suportado uma população desse tamanho (esti
mativas sugerem que a população total do Egito nessa
época seria de apenas quatro ou cinco m ilhões). A
população atual da área do uádi Tumilate é de menos
de vinte mil. Os exércitos egípcios desse período com
preendiam um contingente de menos de vinte mil.
D e fato, na batalha de Cades (século 13), os *hititas
reuniram um exército de 37 mil homens (considerado
exagerado) que, acredita-se, tenha sido uma das m ai
ores forças m ilitares já reu n id as. Sh am shi-A d ad
(Assíria, 1800 a.C.) declarou ter reunido um exército
de sessenta mil para o cerco de Nurrugum. Se Israel
tivesse um a força m ilitar de seiscentos mil homens,
não teria o que temer.
À medida que seguiam, o povo formava um a fila de
mais de 300 quilômetros. M esmo sem animais, crian
ças e idosos, os viajantes dificilmente fariam mais de
30 quilômetros por dia (embora caravanas conseguis
sem avançar 30 a 35 quilômetros). Quando famílias e
anim ais se deslocavam, a média era de apenas dez
quilôm etros por dia. Seja com o for, o final da fila
estaria pelo menos algumas semanas atrás do grupo
do começo da fila. Isso causaria alguns problemas na
travessia do mar, que parece ter sido feita durante a
noite, embora alguns certamente já calcularam como
isso seria possível. Contudo, a fila seria suficiente
mente longa para alcançar desde o local da travessia
do m ar até o monte Sinai.
Além disso, se dois milhões de pessoas tivessem vivi
do no deserto durante quarenta anos e metade deles
tivesse morrido lá, os arqueólogos teriam encontrado
mais vestígios, principalmente em lugares como Cades-
Bam éia, onde os israelitas permaneceram por algum
tempo. Quando voltamos nossa atenção para a chega
da a Canaã, a situação não é melhor. A população de
Canaã, nesse período, era m uito m enor que a força
militar israelita e todas as provas arqueológicas suge
rem que houve um acentuado declínio na população
A DATA DO ÊXODODefinir uma data para o êxodo tem se mostrado uma tarefa difícil. Visto que no relato não é mencionado o nome de nenhum dos faraós, os eruditos tiveram de basear suas teses em dados mais circunstanciais. Essas informações podem ser divididas em dados internos (retirados do texto bíblico) e dados externos (reunidos a partir de pesquisas arqueológicas e históricas).
A evidência interna, que compreende principalmente intervalos de tempo genealógicos ou cronológicos apresentados no texto (p. ex„ 1 Rs 6.1), sugere uma data no meio do século 15 a.C.. Se essa data for adotada, tendo como base o texto bíblico, pode ser defendida em termos histórico-arqueológicos, mas tem de presumir que uma série de conclusões a que chegaram os arqueólogos não apresentam dados suficientes ou são o resultado da interpretação errada dos dados. Por exemplo, se o êxodo aconteceu por volta de 1450, a conquista de Canaã teria de ser designada na Idade do Bronze Moderna. Infelizmente, os arqueólogos que têm participado de escavações nas áreas da conquista israelita em Canaã não encontraram ruínas de cidades muradas desse período. Muitas dessas áreas não demonstram nenhuma evidência de ocupação durante a Idade do Bronze Moderna. Em contrapartida, tem sido sugerido que a destruição de grandes cidades fortificadas em Canaã, na Idade
Mapa I O ÊxodoEste mapa traça a possível rata do êxodo do Egito,
do Bronze Média, talvez esteja relacionada à conquista. No entanto, muitos arqueólogos têm geralmente datado o final desse período em cerca de 1550 e é bastante complexo tentar alterar em cem anos todo um sistema de datas.
Acredita-se que a evidência externa geralmente ofereça mais base para uma data no século 13, durante o período de Ramsés, o Grande. A partir dessa visão, alguns números do texto bíblico precisam ser interpretados de maneira diferente. ?or exemplo, os 480 anos em 1 Reis 6.1 teriam de ser considerados como doze gerações (12 x 40), o que pode representar um número significativamente menor do que 480. Além disso, apesar de ter sido afirmado que os dados histórico-arqueológicos do século 13 se encaixam melhor ao êxodo, uma série de dificuldades ainda permanece sem solução. Uma delas é uma inscrição do faraó Merenptah, já no final do século 13, fazendo menção a Israel como um povo de Canaã.
As duas datas propostas apresentam algumas dificuldades e é provável que certas pressuposições ainda estejam sendo sustentadas, nos impedindo de enxergar como as partes se encaixam. Talvez, com o tempo, as pesquisas históricas e arqueológicas sejam capazes de trazer maior clareza a essa questão. Até lá, teremos de nos satisfazer com nossas incertezas.
da região, na Idade do Bronze *M odem a, quando os israelitas tom aram posse da terra. Algumas estimati
vas do oitavo século a.C. indicam que ainda não ha
via um m ilhão de pessoas em toda a terra de Israel nem naquele período. A população atual de Israel,
mesmo considerando-se as grandes regiões m etropolitanas, é apenas o dobro do que teria sido a popula
ção do êxodo. Ainda assim, o texto é consistente em seus relatos quanto ao tam anho do grupo (ver Nm
1.32; 11.21; 26.51). M uitas soluções têm sido apresentadas, m as todas oferecem problemas. A conclusão a que podem os chegar é que os núm eros não devem
ser interpretados da forma tradicional. As pesquisas
relacionadas ao uso de núm eros nas inscrições assírias sugerem a possibilidade de que eles eram entendidos
e usados dentro de uma estrutura ideológica e não no sentido de oferecer um cálculo preciso. Mas é muito
difícil afastarmo-nos de nossas próprias expectativas culturais. A abordagem mais promissora parte do re
conhecim ento de que a palavra hebraica traduzida como "m il" pode ser traduzida também como "tropa
m ilitar"; nesse caso haveria seiscentas tropas m ilita
res. Para m ais informações, ver comentários em Josué
8.3 e Números 2.3-32.12.40. 430 anos. A cronologia desse período é muito
difícil. O texto de 1 Rs 6.1 relata que 480 anos sepa
raram o êxodo da dedicação do templo, em 966. Isso
posicionaria o êxodo em meados de 1400. O acréscimo de 430 anos a esse versícu lo sugeriria que os
israelitas dirigiram -se ao Egito na prim eira m etade
do século 19 a.C.. Existem muitas variações e opções
diferentes defensáveis, tanto a partir das evidências bíblicas, como das arqueológicas. Para um a discus
são m ais profunda, ver o artigo intitulado "A Data
do Êxodo", na p. .
12.43-51Leis sobre a participação na páscoa12.43. Leis da Páscoa. O versículo 38 m enciona que
muitos não-israelitas se juntaram ao êxodo, assim esse trecho trata de três regras adicionais sobre a Páscoa.
A prim eira estabelecia que somente quem fosse cir
cuncidado poderia participar. Isso indica que seria
um a celebração restrita à com unidade de Israel. A segundo lei dizia que nenhum pedaço de carne po
deria ser levado para ser com ido fora da casa, e a
terceira, que nenhum osso do anim al pod eria ser quebrado. Essas regras serviriam de orientação so
bre a m aneira como a refeição poderia ser compartilhada com estrangeiros que se integrassem à comu
nidade de Israel. O cordeiro devia ser assado intei
ro, dentro da casa.
13.1-16O primogênito13.1-3. consagração. O primeiro filho do sexo masculino nascido de qualquer mãe pertencia à divindade. N o antigo Oriente Próxim o esse conceito, às vezes, conduzia ao sacrifício de crianças, como meio de assegurar a *fertilidade. Como alternativa, nos cultos ancestrais, o prim ogênito herdava a função sacerdotal na família. Em Israel, esse costume conduz à consagração - a entrega do primogênito à autoridade divina, para servir nos cultos ou no templo, apenas para o serviço sagrado. O filho poderia ser redimido dessa posição, e de acordo com a lei israelita, seu lugar seria ocupado por um levita (Nm 3.11-13).13.4. abibe. O m ês de abibe abarca os meses de março e abril. É o antigo nome do mês que m ais tarde recebeu o nome de nisã, no calendário israelita.13.5. povos de Canaã e terra de leite e m el. Sobre os povos de Canaã e sobre a terra onde m anam leite e mel, ver comentários em 3.7-10 e 3.8.13.6-10. Festa do Pão sem Fermento. Ver comentário em 12.14-20.13.9. am uletos. * Amuletos eram usados no antigo Oriente Próximo como uma proteção contra espíritos do mal. M etais e pedras preciosas eram considerados particularmente eficazes. Às vezes, os amuletos incluíam algumas palavras mágicas ou feitiços. O costume israelita desaprovava os amuletos, mas o conceito foi assim ilado e convertido num a form a de recordar a lei (como é o caso dessa festa), ou, em outras passagens (ver Dt 6.8), tom aram -se m emoriais físicos, que continham orações ou bênçãos, tais como os pequenos rolos de prata encontrados em 1979, num túm ulo fora de Jerusalém, do período pré-exílio. Esses rolinhos contêm a bênção encontrada em Núm eros 6.24-26 e representam uma das cópias m ais antigas desse texto.13.11-16. sacrifício do prim ogênito. Os primeiros machos de todo rebanho eram sacrificados em gratidão ao Senhor, m as os jum entos não eram aceitos para o sacrifício. Dentro dos costumes cananeus, os jum entos eram esporadicamente oferecidos em sacrifício e nos textos de *M ari, há o relato de um a cerim ônia de confirmação de pacto que apresenta o sacrifício de um jum ento. A importância do jum ento como animal de carga provavelmente seja a causa dessa exclusão. Desta forma, os jum entos, à semelhança dos filhos prim ogênitos, deviam ser redim idos - isto é, outra oferta
devia ser dada em seu lugar.
13.17- 14.31 A travessia do mar13.17. rota dos filis te u s. A estrada que passava pela terra dos filisteus é uma referência à rota principal que
atravessava todo o C rescen te Fértil, do Egito até a Babilônia, conhecida como a Grande Estrada do Tronco. Essa estrada seguia ao longo da costa do M editerrâneo, passando pelo território dos filisteus, no sul da Palestina, antes de seguir para o interior, através do vale de Jezreel, bem ao sul do m onte C arm elo. N a região ao norte da península do Sinai, os egípcios se referiam a essa estrada como o Caminho de Hórus; era
um a estrada fortem ente protegida, por ser um a rota usada tanto pelos exércitos, como pelos mercadores.13.18. m ar V erm elho. O max que recebe o nome de “m ar V erm elh o" em m uitas versões da B íb lia, na verdade em hebraico é designado como "m ar de juncos" - um termo que pode ser usado para diferentes tipos de form ações aquáticas. Os juncos, provavelmente se referem aos papiros que proliferavam na área pantanosa que ia desde o golfo de Suez até o Mediterrâneo, atualmente eliminada em grande parte pelo canal de Suez. Esse tipo de junco cresce apenas em água doce. Seguindo ao norte a partir do golfo de Suez,o povo teria encontrado os lagos amargos, o lago Timsa, o lago Balá e, finalmente, perto do m ar M editerrâneo, o lago Menzalé. O uádi Tumilate, por onde Israel viajou, os teria conduzido ao lago Tim sa, o que permite a identificação desse último, neste contexto, como o mar de Juncos, embora existam argumentos favoráveis a cada um dos outros lagos. Se os israelitas inicialmente tivessem tomado o sentido noroeste, teriam voltado e se deparado com o lago Balá. Se tivessem tomado o sentido da região do Sinai, certamente não teriam descido até a parte oeste do golfo de Suez, e de qualquer maneira, estariam m uito longo de onde a narrativa sugere (cerca de 200 quilômetros de Sucote). Assim , em bora a tradução "m ar V erm elho" tenha sido a identificação mais comum, é a menos provável. Um a alternativa ao "m ar de Juncos" como um a distinção geográfica é a sugestão de que a tradução deveria ser "m ar da Destruição". Nesse caso, as águas que se d iv id iram p ara p erm itir a travessia do povo são identificadas m entalm ente com um tema comum no antigo Oriente Próximo, de que na criação as águas do caos foram dominadas e os inimigos de Deus foram derrotados.13.20. Sucote. Sucote geralmente é identificada como Tell el-M askhuta, na extrem idade leste do uádi Tumilate. Na literatura egípcia, essa área é conhecida como Tjeku, o equivalente egípcio à palavra hebraica sucote. Etã equivale ao term o egípcio htm, "forte" e poderia ser um a referência a algumas fortalezas existentes nessa área. Visto que Deus ordenou que m udassem de rum o, em 14.2, eles talvez ainda estivessem seguindo pelo caminho que vai para a terra dos filisteus, nesse prim eiro trecho do percurso. Se for
esse o caso, é m ais provável que Etã seja Sile, atual
Tell A bu Sefa, onde se localizava a prim eira fortaleza
que guardava a passagem pela fronteira, nos tempos
antigos. Este era o ponto de partida normal para expedições que iam a Canaã. N esse caso, 13.17,18 é descrito em detalhes em 14.1-3. O problema é que Sile fica
a 80 quilômetros de Sucote, e desta forma eles teriam
levado vários dias para chegar ali. Também há men
ção de um a fortaleza do faraó M erenptah (final do século 13) perto de Tjeku, no Papiro de Anastasi VI.
(Para uma possível rota do êxodo, ver mapa 1, na p . .)
13.21, 22. coluna de nuvem/fogo. Alguns acreditam que a m elhor explicação para as colunas de nuvem e
de fogo é que teriam resultado da atividade vulcâni
ca. Um a erupção na ilha de Tera (960 quilômetros a noroeste), em 1628 a.C. provocou a destruição da civi
lização minóica e é possível que seus efeitos fossem
sentidos no delta. M as a data é m uito anterior (ver artigo "A Data do Êxodo, na p. ), e essa teoria não
ofereceria explicação para o movimento das colunas
nem para a localização descrita no relato bíblico (em direção ao sudeste). O texto não sugere que as colunas
tenham surgido de maneira sobrenatural, apenas que
eram conduzidas por m eios sobrenaturais. Por essa
razão, alguns consideram que elas possam ter resulta
do de um tipo de braseiro, carregado num a vara, usado pelos primeiros exploradores, e freqüentemente
usado pelas caravanas. Por outro lado, as colunas estão sem pre em atividade (descendo, m ovendo-se) e
nunca são movidas pela ação humana, assim é difícil achar fundamento para essa teoria. No mundo antigo,
a divindade era sempre retratada com uma aura brilhante ou flam ejante à sua volta. Na literatura egíp
cia, essa aura é ilustrada pelo disco solar alado acompanhado de nuvens de tem pestade. Os *acadianos usam o termo melammu para descrever essa represen
tação visível da glória da divindade, que por sua vez é envolvida por fumaça ou nuvens. Alguns têm suge
rido que na mitologia cananéia, o conceito de melammu é expresso pela palavra anan, o mesmo termo hebraico
traduzido como "nuvem ", mas as ocorrências são muito
raras e obscuras para se ter certeza. De qualquer modo, as colunas seriam na verdade um a só: durante o dia,
somente a fumaça era visível, enquanto que à noite, a chama interna oculta pela nuvem podia ser vista.14.1-4. Pi-H airote. Pi-Hairote não tem nenhum outro
nome, mas muitos a interpretam como a "entrada das escavações", possivelmente uma referência ao traba
lho de escavação de canais. Sabe-se que um canal de
norte a sul estava sendo construído durante esse perí
odo (Seti I) e que o mesmo atravessava a região perto de Qantara, poucos quilômetros a oeste de Sile.
14.2. M igdol. M igâol significa "torre" ou "forte" em hebraico, sendo um term o em prestado das línguas sem itas para o egípcio. H avia diversas localidades assim designadas, sendo que um a delas, nessa época, ficava perto de Sucote.14 .2 . B aa l-Z e fo m . B aal-Z efom está re lacion ad a a Tafnes, em Jerem ias 44.1 e 46.14, que por sua vez é identificada como Tell Dafana, cerca de 30 quilômetros a oeste de Sile. Se os israelitas acamparam perto desse lugar, o lago Balá seria o "m ar" mais próximo.14.5-9. exército do Egito. A maioria das unidades de carros de guerra desse período possuía de 10 a 150 carros, assim 600 representa um grande núm ero, e seria apenas a unidade do faraó. Quando Ramessés II lutou contra os *hititas, na batalha de Cades, seu inimigo vangloriou-se de ter 2.500 carros.14.19, 20. escondidos pela nuvem . Os anais do rei *hitita M urshili relatam que o deus da tem pestade providenciou um a nuvem para escondê-los de seu inimigo, um a afirmação também feita por Priam, rei de Tróia, e também por outros, na Ilíada, de Homero.14.21, 22. m ar afastado pelo vento oriental. Se a água fosse rasa a ponto de secar pela ação do vento oriental e da m udança das m arés, não seria suficiente para afogar os egípcios ou formar paredes de água. Portanto, é difícil im aginar qualquer cenário natural para explicar os fatos relatados nesse texto. Esse vento não seria o mesmo que khamsin (siroco), associado à nona praga. Esse fenômeno era causado pelo forte sistema de baixas pressões, no norte da Á frica, geralm ente acompanhado de inversão de temperatura. O vento oriental mencionado aqui se originou de um sistema de alta pressão sobre a M esopotâmia e, ao contrário de um tom ado, que gira num sistema de baixa pressão, esse vento é caracterizado por um acentuado aumento na pressão barométrica.14.23-25. fim da m adrugada. O fim da m adrugada era o período entre duas e seis horas da manhã. A im agem da divindade como um a cham a flam ejante
no meio de uma nuvem é comum em todo o Oriente Próximo, como também na m itologia grega, presente na Ilíada de Homero, onde Zeus lança trovões e relâmpagos que derrubam os cavalos e quebram os carros. O deus guerreiro da M esopotâmia, Nergal, e o deus cananeu *Baal, afirmam sua superioridade no combate através de seu brilho ofuscante e fogo.
15.1-21 O cântico de Moisés e Miriã15.3. o Senhor é guerreiro. O Livro de Êxodo desenvolve a idéia de *Yahw eh lutando pelos israelitas contra os egípcios e seus deuses; deste modo, o Senhor é louvado como um guerreiro no cântico de Moisés.
Esse conceito é bastante significativo em todo o Antigo Testamento, e até mesmo no N ovo, recebendo destaque principalm ente nos livros de Sam uel, onde o título de "Senhor dos Exércitos" (Senhor das Hostes) é comum. Yahw eh é o rei e o defensor dos israelitas e os conduzirá vitoriosam ente nas batalhas. A m itologia antiga freqüentemente retrata os deuses em batalhas, mas essas imagens geralmente estão relacionadas ao domínio e à organização do cosmo. Tanto *M arduk (deus babilónico) como *Baal (deus cananeu) subjugam o mar, personificado em seu inimigo divino (*Tiamat e Yamm , respectivamente). Em contraste, esse cântico reconhece o modo como Yahw eh domina o mar (que não é representado por um ser sobrenatural) a fim de derrotar seus inim igos hum anos e reais. Tanto no texto bíblico como na literatura concernente às batalhas cósmicas, do antigo Oriente Próximo, promover a ordem durante um conflito, ser proclam ado rei e estabelecer um a morada são temas comuns.15.4. m ar V erm elho. A referência ao m ar Vermelho nesse versículo não coloca mais em questão as discussões a respeito de sua identidade (ver comentário em13.18), mas pode aludir a um trocadilho. A palavra hebraica suph não significa apenas "ju nco", pode ser interpretada tam bém como o substantivo "fim " e o verbo "v arrer" (ver SI 73.19).15.6-12. mão direita. A mão direita é aquela que segura a arma, e assim , aquela que traz a vitória. No versículo 12, não é a mão direita literalmente que faz a terra abrir. Em hebraico, o termo para "terra" pode ocasionalmente significar também "m undo inferior",
e parece ser o caso aqui. Dizer que o m undo inferior os engoliu é dizer que foram enviados à sua sepultura. Deve ser lembrado tam bém que de acordo com os conceitos egípcios de vida após a morte, os ímpios, quando não são capazes de convencer os juizes acerca de sua bondade, são devorados pelo "Engolidor".15.13-16. povos aterrorizados. O terror dos povos passa a ser um tema freqüente no relato da conquista. Embora os povos de Canaã estivessem anteriorm ente aterrorizados diante dos egípcios (como indicam as cartas de *A m am a desse período), não é m ais o braço do faraó, e sim o braço de Yahweh, responsável pela derrota do faraó, que representa uma ameaça a eles.15 .1 7 .1 8 . m onte da tua herança. A combinação das palavras "m onte", "herança", "habitação" e "santuário" sugere tratar-se de um a menção ao monte Sião
(Jerusalém).15.18. Y ah w eh com o re i. *Y ahw eh não é retratado como um rei mitológico, ou um rei dos deuses que subju g o u o c o s m o e re in a so b re os d em ais deu ses do panteão. Ao contrário, Ele governa realmente sobre seu povo, a quem libertou por meio das forças da nature
za controladas por Ele. Esse cântico não exalta sua vitória sobre os outros deuses ou sobre as forças cósmicas caóticas, m as sim seu poder sobre povos verdadeiros.15.20, 21. profetisa. Miriã, aqui aclamada como profetisa e irm ã de Arão (não se faz menção a Moisés), assume a direção do cântico. Essa é a única referência a Miriã pelo nome no Livro de Êxodo e o único lugar em que é descrita como um a profetisa. O outro relato em que seu nome é mencionado é quando a autoridade de M oisés é desafiada, em Núm eros 12. Outras profetisas de destaque no Antigo Testamento são Débora (Jz 4) e Hulda (2 Rs 22). Não há razão para se considerar estranho o fato de mulheres estarem ocupando essa função. Os textos proféticos de *Mari apresentam mulheres exercendo esse papel com a mesma freqüência que os homens. Era comum tam bém encontrar grupos musicais formados por mulheres. Havia um a relação entre a música e a profecia, visto que a prim eira era muito usada para induzir os transes dos quais provinham as revelações proféticas (1 Sm 10.5; 2 Rs 3.15).
15.22- 17.7 A provisão de Deus no deserto15.22-27. deserto de Sur. O deserto de Sur se localiza na região noroeste da península do Sinai. Um a rota leste-oeste atravessava a região que liga o Egito à Estrada Real, na Transjordânia, em Bozra, ou ia até a Palestina passando por Berseba. Os israelitas, porém,
não tomaram essa rota. Sur significa "m uro" ou "m u ralha" em hebraico, assim, é possível que esse termo se refira à conhecida seqüência de fortificações egípcias nessa região. Essa possibilidade encontra apoio em Números 33.8, onde Sur é cham ado de deserto de Etã (etã significa "fortaleza"). Construída alguns séculos antes para proteger as fronteiras do nordeste do Egito, essa série de fortificações era conhecida como a M uralha do Soberano. Essa região m arca o ponto de partida da fuga de *Sinuhe do Egito, no texto A História áe Sinuhe.
15.22. evidências arqueológicas no Sinai. Embora tenham sido encontrados, em toda a península, vestígios arqueológicos da população beduína que habitou o Sinai durante dez mil anos, as pesquisas arqueológicas não conseguiram achar nenhum a evidência da passagem dos israelitas por essa região.15.23. Mara. Os israelitas viajaram durante três dias para chegar a M ara ("am arga"). Se eles cruzaram o lago Balá, provavelm ente chegaram ao lugar atualmente conhecido como Lagos Amargos. Se a travessia foi mais ao sul, Mara talvez possa ser identificada com um oásis chamado Bir Mara, onde a água é salina e contém m inerais pesados.
15.25. arbusto transform a a água am arga em doce.Alguns comentaristas costumam citar as tradições locais a respeito de um tipo de arbusto de espinhos, nativo da região, que absorve a salinidade, m as nenhum a investigação científica conseguiu identificar ou confirmar a existência de tal arbusto. Numa época posterior, Plínio relatou que havia um tipo de cevada capaz de neutralizar o sal contido na água.15.27. oásis de Elim. O oásis em Elim, com doze fontes de água e setenta palm eiras é freqüentem ente identificado ao uádi Gharandal, cerca de cem quilômetros descendo a costa do golfo de Suez. Nesse local encontram-se tamargueiras (elim), palmeiras e fontes de água, servindo até hoje como um importante local de descanso para os beduínos. M ais perto de Mara, porém, fica Ayun M usa, poucos quilômetros ao sul da ponta do golfo de Suez. Esse local, além de ter um
bosque de tamargueiras e palmeiras, possui doze fontes, tendo a preferência.16.1-3. deserto de Sim. O deserto de Sim é uma área na região centro-oeste da península. Nesse ponto, a rota principal avançava para o interior cerca de dez a quinze quilômetros num trecho de 120 quilômetros e depois acom panhava novam ente o litoral em Abu Zenimah e na planície de El Markha. Pode ser o local em que os israelitas acamparam perto do m ar (Nm33.10, 11). Dali, eles seguiram em direção ao leste e nordeste cruzando o deserto de Sim , pelo caminho do uádi Ba'ba e Rod el 'A ir, até a região de Serabit el- Khadim, onde provavelmente ficava Dofca.16.1. tem po da jornada. Até aqui, a jornada levara cerca de um m ês (os israelitas partiram no décim o quinto dia do primeiro mês).16.3. panelas de carne. Nas lem branças exageradas da situação em que viviam no Egito, os israelitas mencionam as grandes panelas cheias de carne - poderíamos interpretar como "baldes de carne".16.4-9. pão do céu/maná. O pão do céu era chamado de "m an á", de acordo com o versículo 31 (ver tam bém Nm 11.7). O fato de que vinha com o orvalho sugere que D eus usou um processo natural em sua provisão miraculosa. Tem sido freqüentemente identificado com a secreção de pequenos afídeos (pulgões) que se alimentam da seiva das tamargueiras. Quando essa secreção endurece e cai no chão, pode ser colhida e usada como adoçante. O problem a é que isso acontece apenas durante certas estações (maio a julho) e somente nas regiões onde há tamargueiras. Ao final da estação, a produção inteira normalmente atinge cerca de 230 quilos, enquanto que no relato bíblico as pessoas juntavam cerca de 250 gramas cada uma diariamente. Outra explicação defendida por alguns se refere ao líquido adocicado da planta hammaâa,
comum no sul do Sinai, usada para adoçar bolos. A ssim como nas pragas, não é propriamente a ocorrência do fenômeno que é inusitada, mas sim o período em que acontece e sua magnitude. Não obstante, essas explicações naturais ficam m uito aquém dos dados apresentados no relato bíblico. A comparação, feita por muitas traduções, com a semente do coentro (raramente encontrado no deserto) parece ser mais um a tentativa de referir-se a uma categoria m ais genérica de plantas desérticas com sementes brancas, do que a
identificação exata.16.10,11 . a glória do Senhor na nuvem . "A glória do Senhor" refere-se ao brilho que sinalizava sua presença. A imagem de um a divindade se manifestando dessa m aneira não se restringia à teologia israelita, visto que na Mesopotâmia os deuses demonstravam seu poder através de seu melammu, ou brilho divino.16.13. codornizes. Bandos de pequenas e roliças co- dornizes m igratórias atravessam com freqüência o Sinai em direção ao norte, desde o Sudão até a Europa, geralmente nos meses de março e abril. Elas voam impelidas pelo vento e são atiradas ao solo (ou à água), se apanhadas por uma corrente contrária. Por causa do cansaço, algumas vezes elas voam tão baixo que podem ser facilmente capturadas. H á notícias de pequenos barcos que afundaram devido ao excesso de codornizes que buscavam ali um lugar para pousar e descansar. N o Sinai, elas já foram avistadas em tão grande núm ero, que forravam o chão e pousavam nas cabeças umas das outras.16.14-36. jarro/ômer. Um ôm er corresponde a uma porção diária de pão ou grãos, equivalente à medida de dois litros.16.20. deterioração. Se o m aná era a secreção dos afídeos (ver acim a sobre 16.4-9), as form igas eram responsáveis por carregá-lo todos os dias, assim que a tem p eratura aum entava, e tam bém eram atraídas pelos restos de maná que as pessoas por acaso tentassem recolher e guardar. A palavra hebraica traduzida como "b icho" pode referir-se a qualquer tipo de inseto com escam a, m as o term o usado para form iga é diferente. Além do mais, as secreções de insetos não
costumam estragar.16.34. ju nto às tábuas da aliança. Em bora esse versículo faça m enção às tábuas da aliança, provavelmente tratava-se da arca da aliança, que ainda não havia sido construída nessa altura da narrativa. Esse apêndice (v. 31-36) se relaciona ao final da peregrinação no deserto (ver v. 35), portanto, devemos entender que a porção de maná foi colocada no interior da
arca mais tarde.17.1. R efid im . Se aceitarmos a teoria de que o monte Sinai se localiza em direção ao sul da península, então
a jornada até Refidim deu início à m archa dos israelitas para o interior, seguindo um a rota mais agradável até a montanha. O uádi Refayid corta o uádi Feiran, poucos quilôm etros ao norte da m ontanha e tem sido freqüentem ente identificado como a localização de
Refidim .17.5-7. rocha do m onte H orebe. Em algumas traduções essa fonte de água é identificada como a rocha de H orebe, m as provavelm ente H orebe seja um a referência à região nas redondezas do monte Sinai (monte Horebe) como registra a NVI, e não a uma localidade específica.17.6. água da rocha. É fato que as rochas sedimen- tárias abrigam bolsões de água um pouco abaixo da superfície, e caso haja algum vazamento, é possível localizar esses bolsões e rom per a camada de pedra da superfície, chegando até o reservatório de água. Novamente, porém, trata-se de uma quantidade de água
muito maior do que essa explicação permite.17.7. M assá e M eribá. Massá e M eribá não representam novos lugares, m as sim se referem a esse local específico em Refidim.
17.8-15 A vitória sobre os Amalequitas17.8. am alequitas. Os am alequitas, que descendiam de Abraão, por meio de Esaú (Gn 36.15) eram um povo nômade ou seminômade que habitava a região do Neguebe e do Sinai, durante a segunda m etade do segundo m ilênio a.C..17.11, 12. sinais de batalha. Os sinais eram usados com freqüência para colocar as tropas em posição durante as batalhas. É possível que Moisés tenha usado os auxiliares com esse objetivo. Quando ele não conseguia repassar a orientação divina através de sinais, os israelitas não conseguiam vencer. Em textos egípcios, existem relatos do faraó com os braços levantados, trazendo proteção ao exército e, ao m esm o tempo, sinalizando o ataque.17.15. altar: "o Senh or é m inh a b an d eira". O altar construído por M oisés é em comemoração à vitória. O nom e dado a ele, "o Senhor é o m eu estand arte", reflete a teologia dos israelitas, que viam Yahw eh como o chefe de seus exércitos. As divisões do exército egípcio recebiam nomes de diversos deuses (p. ex., a divisão de Amun, a divisão de Set) e os estandartes continham alguma representação do referido deus, servindo para identificar a divisão.
18.1-27 Jetro e Moisés18.1, 2. sacerdote de que deus? Jetro é identificado como sacerdote de Midiã, e não como sacerdote de um
deus específico. Sabe-se muito pouco acerca do deus, ou deuses, que os midianitas adoravam nesse perío
do. Os sacerdotes não eram necessariamente ligados a um único deus, portanto o reconhecimento da superioridade de Yahweh, por parte de Jetro, não significava que ele fosse um sacerdote ou mesmo adorador de Yahweh. Os sacerdotes que serviam em um santuário eram considerados servos daquele respectivo deus, mas nem mesmo eles eram monoteístas; sendo assim, podiam reconhecer o poder de outras divindades quando se manifestavam.18.5. M onte de D eus. "M onte de D eus" é a expressão usada para descrever o monte Sinai. Em Refidim, os israelitas estavam na região do Sinai, mas esse capítulo provavelm ente registra eventos que aconteceram após eles terem montado acampamento ao pé desse monte.18.7. saudação respeitosa. A saudação de Moisés a Jetro acompanha o padrão da época. Era costume curvar-se para saudar alguém que ocupava posição social superior e tam bém como sinal de respeito. O beijo na face era uma saudação de amizade. Esse é o único incidente registrado em que são feitas am bas as saudações.18.9-12. Y ahw eh e os deuses. Ao reconhecer a superioridade de *Yahw eh em relação aos outros deuses, Jetro não está sugerindo que ele fosse ou tivesse se tom ado um adorador de Yahw eh. O politeísm o do mundo antigo permitia o reconhecimento das forças relativas de diversas divindades e era esperado que cada uma delas fosse enfaticamente louvada quando houvesse evidência de sua ação ou demonstração de seu poder. A despeito das convicções religiosas de Jetro, Y ahweh estava cumprindo seu propósito de que, através de seus poderosos feitos, "todo o m undo saiba que eu sou o Senhor".18.12. refeição sacrificia l. Os sacrifícios, no mundo antigo, freqüentemente eram oportunidades para refeições com unitárias. Em bora essas refeições geralmente acompanhassem uma ratificação formal de acordos, elas também faziam parte das ofertas de ação de graças, o que se encaixaria mais a esse contexto. Seria como um banquete, em que *Yahweh ocupava o lugar de convidado de honra.18.13-27. a cadeira de M oisés. A cadeira do ju iz era o assento ocupado por uma autoridade quando o "tribunal" estava "em sessão". N as cidades, essa cadeira geralmente ficava na entrada, à porta da cidade. Jetro aconselha M oisés a estabelecer um a hierarquia judiciária, onde ele deveria ocupar a posição mais elevada, como a de um rei em uma monarquia, ou à de um sacerdote ou patriarca, nas sociedades tribais. Nesse sistema, algumas disputas seriam resolvidas pela aplicação da lei e outras através de um claro discernimento
do problema (para informações sobre o sistema judiciário no antigo Oriente Próxim o, ver comentário em Dt 1.9-18). Alguns casos podiam ser resolvidos nas instâncias mais baixas. Havendo insuficiência de provas em casos complexos ou m ais sérios, a questão era tratada "profeticam ente", isto é, era trazida diante de Deus. Nesse ponto, o papel de M oisés era essencial. Sua função era o marco que separava os aspectos "c iv is" do sistema judiciário, com os quais ele não precisava se envolver, dos aspectos "religiosos". Esse sistem a não é diferente daquele encontrado no Egito, onde o faraó garantia a justiça, mas estabeleceu um sistema chefiado pelo vizir, que era o "Profeta de M a'at" (Ma'at é a deusa da verdade e da justiça) e ocupava a cadeira de juiz. O estabelecimento desse sistema formalizou o papel social, ou m esm o político, representado por M oisés, levando Israel a deixar de ser uma sociedade puram ente tribal para tornar-se um governo quase centralizado.
19.1-25Os Israelitas no monte Sinai19.1, 2. deserto do Sin ai. Os israelitas chegaram ao deserto do Sinai três m eses após terem partido do
Egito, embora não esteja claro se a expressão "n o dia em que" refere-se à lua nova ou à lua cheia. Seja como for, trata-se do mês de junho. A localização do monte Sinai ainda é incerta e pelo menos doze alternativas têm sido sugeridas, sendo que as m ais fortes são Jebel M usa e Jebel Serbal, no sul, e Jebel Sin Bishar, no norte. Jebel Musa (2.281 metros) fica no agrupamento de montanhas na região centro-sul do Sinai, e como é o pico mais alto da cadeia, tem recebido apoio tradicional, desde o quarto século d.C.. Essa região também compreende a planície de er-Raha, ao norte, que teria sido um lugar adequado para os israelitas acamparem (cerca de quatrocentos acres), apesar de não oferecer acesso direto à água. Jebel Serbal (2.069 metros) fica 32 quilômetros a noroeste de Jebel Musa, isolado do restante da cadeia de m ontanhas, sobre o uádi Feiran. O fato de se localizar perto de um oásis e de uma estrada principal que atravessa a região, faz dele um a alternativa atraente, em bora a área disponível para acampamento seja muito menor que a de Jebel Musa. Alguns preferem localizá-lo m ais ao norte, por presum irem que o pedido inicial de M oisés a faraó para uma peregrinação de três dias (5.3) os levaria ao monte Sinai. Os defensores dessa posição argumentam também que um a rota em sentido norte estaria mais diretamente ligada a Cades-Barnéia e às redondezas de M idiã, onde M oisés viveu por um tempo.19.4. transportar sobre asas de águia. Embora a águia não possa ser excluída, o pássaro aqui d escrito é
freqüentem ente identificado como o abutre branco, cuja envergadura é de 2,40 a 3,0 metros. Embora os livros da Bíblia m encionem m uitas vezes a m aneira como a águia carrega os filhotes em suas asas, enquanto eles ainda têm m edo de voar, ou com o os sustêm em suas asas, quando estão se debatendo em queda (ver D t 32.11), os naturalistas têm tido dificuldade para confirmar esse comportamento através da observação. De fato, a maioria das águias e abutres voa pela prim eira vez som ente com três ou quatro m eses de idade, quando já estão quase totalm ente crescidos. Além disso, observações de naturalistas têm confirm ado insistentemente que o primeiro vôo em geral é feito quando os pais estão longe do ninho. Se a metáfora aqui diz respeito a um abutre, pode ser um a referência de natureza política. No Egito, a deusa Nekhbet é a deusa abutre, que representava o Alto Egito e servia como um a divindade protetora do faraó
e da terra. Israel foi protegido no Egito até que Yahweh o trouxe para junto dele.19.5, 6. re in o de sacerdotes. A expressão "tesouro pessoal" utiliza um a palavra comum em outras línguas do antigo Oriente Próximo para descrever bens acumulados, seja através da divisão de despojos ou por direito de herança. A evidência de que essa expressão podia também ser aplicada a pessoas encontra-se no selo real de *Alalakh, onde o rei se identifica como o "tesouro pessoal" do deus Hadad. Semelhantem ente, em um texto *ugarítico, o re i vassalo de Ugarite recebe o favor de seu senhor *hitita, que o descreve como seu "tesouro pessoal". Além disso, os israelitas são identificados como "reino de sacerdo
tes", o que investe Israel de um papel sacerdotal entre as outras nações, como um mediador entre os povos e Deus. Há ainda um conceito largamente comprovado no antigo O riente Próxim o de que um a cidade ou povo podia ser liberto da sujeição a um rei para se sujeitar diretamente a um a divindade. Assim, Israel, libertado do Egito, é colocado agora num a posição sagrada (ver Is 61.5).19.7. autoridades. As autoridades ou anciãos eram os líderes tribais de Israel. Eles form avam uma assem bléia governante que supervisionava a liderança de um a aldeia ou com unidade. Eles representavam o povo no acerto do acordo da *aliança, que agora ultrapassa a esfera familiar de uma aliança feita com Abraão, séculos antes, e passa a ser um acordo de toda a nação.19.10-15. consagração. A consagração consistia numa série de passos que precisavam ser dados para tom ar- se ritualmente puro. Esse processo requeria em primeiro lugar lavar-se e evitar contato com objetos que pudessem tornar alguém impuro. O monte foi designado solo sagrado e até o simples fato de alguém tocá-
lo estando impuro, seria considerado sacrilégio passível de morte. O apedrejamento era a forma mais comum de execução; dessa forma, toda a comunidade assumia a responsabilidade pela execução da pena, em bora ninguém individualmente pudesse ser acusado de ter causado a morte do criminoso.19.13. com eta. A com eta no versículo 13 é mencionada por um a palavra diferente da usada para shofar (trombeta) no versículo 16, em bora talvez fosse usada para referir-se ao mesmo instrumento. O shofar é capaz de produzir um a variedade de tons, m as não uma melodia, assim é usado basicamente para emitir sinais sonoros tanto na adoração como na guerra. A corneta, feita de chifre de carneiro, era amolecida em água quente, entortada e achatada para adquirir diferentes formas.
20.1-17 Os dez mandamentos20.1-17. lei apodíctica. Um a série de documentos que registram leis dos tempos antigos foi encontrada, inclusive com pilações de leis *sum érias, babilónicas, *hititas e *assírias. A mais famosa é o Código de *Hamu- rabi, estabelecido muitos séculos antes de Moisés. Essas com pilações de leis consistem basicam ente de modelos de decisões judiciais relacionadas a casos específicos. Por tratar-se de casos jurídicos, os textos apresentam as penas aplicadas a vários tipos de culpas, sem especificar regras de comportamento sobre o "certo e errado" ou sobre o que as pessoas deviam fazer ou deixar de fazer. As leis encontradas nos Dez M andamentos, proibindo ou exigindo certos comportamentos, são chamadas de leis *apodícticas, que raramente são encontradas nas com pilações de leis do antigo Oriente Próximo.20.1-17. decálogo com o aliança (não com o lei). OsDez M andam entos não apenas estão relacionados à lei, eles também compõem uma parte da *aliança. A formulação literária da aliança é bastante semelhante às formulações de tratados internacionais do antigo Oriente Próxim o. G eralm ente, esses tratados determinavam o tipo de comportamento exigido ou proibido. N esse sentido, pode-se entender que a forma *apodíctica dos Dez M andamentos os classifica mais como aliança do que como lei.20.3. prim eiro m andam ento. Quando o texto diz que não deve haver nenhum outro deus "além de m im ", não está se referindo à existência de outros deuses inferiores a Yahwe. A introdução do versículo dois já pressupõe que Y ahw eh era o D eus deles. A frase "a lém de m im " significa "e m m inha presença" e, portanto proíbe que a existência de outros deuses seja considerada diante de Yahw eh. Essa proibição diz
respeito a diversos conceitos que faziam parte do sistem a de crenças do m undo antigo. A m aioria das religiões naquela época tinha um panteão, ou seja, um a assembléia divina que governava o m undo dos deuses, o m undo sobrenatural e, por fim, o mundo dos humanos. Uma divindade geralmente ocupava a posição superior do panteão, e à semelhança dos outros deuses, possuía um a consorte (parceira fem inina). Esse m andam ento proíbe que Israel tenha esse tipo de pensamento. Yahw eh não é o deus superior do panteão, tampouco possui um a consorte - não existem outros deuses além dele. A única assembléia divina legítima, de acordo com o modo de pensar israelita, é formada de anjos (1 Rs 22.19, 20), e não de deuses. Esse mandamento tam bém elim ina efetivamente, os aspectos da mitologia que tratam do relacionamento entre os deuses.20.4. segundo m andam ento. O segundo m andam ento estabelece a form a como *Yahw eh deve ser adorado, com a proibição de se fazer ídolos ou imagens dele (não de outros deuses; essa possibilidade já foi descartada no m andam ento anterior). O m andam ento não tem nada a ver com representações artísticas, embora as imagens esculpidas do mundo antigo fossem, de fato, obras de arte. Essas imagens eram entalhadas na m adeira, recobertas por lâminas de prata ou ouro e então, adornadas de ricas vestimentas. A proibição está mais relacionada ao uso das imagens e ao poder representado por elas. No antigo Oriente Próximo, era através das imagens que as divindades se faziam presente de forma especial, a ponto de o ídolo de *culto transformar- se no próprio deus (quando o deus assim favorecia seus adoradores), embora essa não fosse a única forma dele se manifestar. Como resultado dessa ligação, feitiços, encantamentos e outros atos mágicos podiam ser executados diante da imagem a fim de ameaçar, intimidar ou obrigar a divindade a fazer algo. P or outro lado, alguns ritos relacionados à im agem tinham como ob- ietivo ajudar ou cuidar da divindade. Assim , as im agens representavam um a visão de m undo e um conceito de divindade incom patível com a form a como Yahw eh se revelara. O m andam ento tam bém proíbe que se faça im agens de qualquer coisa no céu, na terra ou debaixo da terra. Em contraste com o Egito, na Sírio-Palestina não havia o costume de adorar animais e nem deuses em forma de animais. No entanto, acreditava-se que certos anim ais, tais com o o touro e o cavalo, representassem atributos da divindade, e assim, eram retratados artisticamente em esculturas colocadas no lugar da divindade.2 0 .5 ,6. castigo até a terceira e quarta geração. Castigo até a terceira e quarta geração não é prerrogativa de Hiízes humanos, m as de Deus. Expressa o fato de que
a violação da *aliança traz culpa sobre toda a família, e assim a menção à terceira e quarta geração é uma forma de referir-se a todos os m embros ainda vivos da família. M as em contraste, a bondade se estende sobre m il gerações enquanto que o castigo atinge apenas três ou quatro gerações.20.6. solidariedade da raça. No antigo Oriente Próximo a identidade do indivíduo estava ligada ao grupo do qual fazia parte, isto é, ao clã ou família. A integração e a interdependência eram valores importantes, contribuindo para a unidade do grupo. Como resultado, o comportamento individual não era considerado como algo isolado do grupo. Quando havia pecado num a família, todos os seus m em bros com partilhavam a responsabilidade. Esse conceito é conhecido como *solidariedade da raça.20.7. terceiro mandam ento. Enquanto o segundo mandam ento diz respeito à não existir nenhum poder acima de Deus, o terceiro volta sua atenção à utilização do poder de Deus sobre outras pessoas. Esse m an
damento não está relacionado à blasfêmia ou linguagem obscena. Ao contrário, seu objetivo é evitar que o nom e de Yahw eh seja utilizado para fins de magia ou encantamentos. Esse mandamento dá continuidade à preocupação presente no segundo mandamento, em relação à crença de que o nom e de alguém estava intimam ente ligado à essência da pessoa. Revelar o nome era uma demonstração de graça e confiança e, em term os hum anos, tam bém de vulnerabilidade. Israel não devia fazer uso do nome de Yahw eh num sentido mágico, na tentativa de manipulá-lo. O mandamento tam bém visava assegurar que o uso do nome de Yahw eh em juram entos, votos e acordos fosse levado a sério.20.8-11. quarto m andamento. Não se conhece nenhum conceito equivalente à guarda do sábado nas culturas do antigo Oriente Próximo. Seu caráter peculiar devese ao fato de não se ligar a qualquer padrão ou ciclo da natureza. Um term o parecido foi usado em alguns textos *babilónicos referindo-se a um dia de lua cheia, quando o rei oficiava ritos de reconciliação com a divindade, mas esse não era um dia de descanso nem se assemelhava ao sábado israelita. A lei não exige propriamente o descanso, mas estabelece como norm a o cessar dos trabalhos, interrompendo as atividades normais de cada um.20.12. quinto mandam ento. Honrar aos pais implicava em respeitar suas instruções acerca da *aliança e pressupõe a transmissão de um a herança religiosa. O lar era considerado um elo de ligação importante e necessário para a transmissão das instruções da aliança às gerações seguintes. Os pais eram honrados por serem representantes da autoridade de Deus na pre
servação da aliança. Se os pais não fossem considerados ou se sua autoridade fosse rejeitada, a aliança estaria em perigo. Nesse sentido, note que esse m andamento é acompanhado de um a promessa: vida longa na terra. No antigo O riente Próxim o não era a herança religiosa, e sim a estrutura da sociedade é que era am eaçada quando não havia respeito pela autoridade dos pais e as obrigações filiais eram negligenciad as. A s v io laçõ es inclu íam bater n os pais, amaldiçoá-los, negligenciar pais idosos e não providenciar um sepultamento adequado.20.12-17. os m andam entos e a comunidade. Os mandamentos de cinco a nove tratam de questões concernentes à *aliança dentro da comunidade, influindo na transmissão da aliança e na posição dos indivíduos na com unidade. São ordenanças que dizem respeito a tudo aquilo que colocaria em risco a continuidade da aliança nas gerações futuras ou que am eaçaria a linhagem ou a reputação da família. A aliança era transm itida pela família, logo, essa devia ser preservada. No antigo Oriente Próximo existiam questões semelhantes, m as o enfoque na preservação da comunidade era visto mais em termos sociais e civis. No Egito, foram encontradas listas de infrações éticas, no Livro dos Mortos, onde o indivíduo negava que tivesse com etido qualquer crime. Na Mesopotâmia, um a lista de feitiçarias conhecida como Shurpu contém uma relação de crimes confessados pelo indivíduo para que
possa ser absolvido de ofensas desconhecidas e assim aplacar a ira da divindade. No entanto, em nenhuma dessas obras tais ações são proibidas. Elas tam bém incluem uma grande variedade de ofensas.
20.13. sexto m andam ento. A palavra usada aqui não se restringe, literalmente, a assassinato, m as admite a pessoa como sujeito e também como objeto da ação. Pelo que se tem observado, é um termo usado somen
te no contexto de homicídio (seja acidental ou intencional, prem editado ou não, judicial, político ou de
qualquer outra natureza) dentro da comunidade da *aliança. D evido à n atureza do term o usado, esse versículo não pode facilm ente servir de argum ento nos debates sobre pacifismo, pena de morte ou vegetarianismo. Várias compilações de leis do antigo Oriente Próximo não m encionam qualquer tipo de punição para assassinato, enquanto que outras exigem como punição para esse crime apenas o pagamento de uma indenização. No entanto, o assassino ainda corria o risco de ser executado pela fam ília da vítima, numa vingança de sangue.20.14. sétim o m andam ento. O objetivo dessa lei era proteger o nome do m arido, assegurando-o de que seus filhos eram realmente seus. A lei não garantia a fidelidade conjugal; sua ênfase era a paternidade, não
a ética sexual. A integridade da família, e não a do casam ento, era protegida. Se um hom em casado se envolvesse com um a jovem solteira, isso não era con
siderado adultério. O transgressor tinha de pagar ao pai da jovem pelo prejuízo causado (22.16,17). Essa é
a conseqüência natural de uma sociedade polígama. O com portam ento prom íscuo não era aceitável (Dt 22.21; 23.2), m as não era considerado adultério se a
m ulher não fosse casada. Na Bíblia, a esposa é uma extensão do marido, cujo nome é m anchado pelo adul
tério. Em outras culturas, a esposa era considerada propriedade do marido e nesse caso, o adultério cau
sava danos apenas materiais. Não obstante, no Egito
(nos contratos de casamento), na M esopotâm ia (nos hinos a Ninurta e Shamash) e em Canaã (história do
rei de *Ugarite, que extradita e executa sua esposa), o
adultério era considerado extremamente prejudicial à sociedade, sendo caracterizado como anarquia. As leis
*hititas, *medo-assírias e o Código de Hamurabi con
têm leis contra o adultério. A proteção da integridade da família era importante, pois a fam ília era a base da
sociedade. A crise ou o esfacelamento da família acar
retaria a crise ou o esfacelamento da sociedade.20.15. oitavo m andam ento. O furto de propriedade é
evitado pelo décimo mandamento que trata do passo anterior ao ato em si. Em bora o verbo usado no oitavo
mandamento possa ser usado para roubo de bens, o
enfoque aqui é muito mais abrangente. Questões como
seqüestro (cf. D t 24.7) e danos m orais (privando o outro de dignidade, respeito próprio, liberdade, di
reitos) tam bém são importantes. A palavra tam bém é
usada para roubo no sentido de trapaça, o que signi
fica que obter algo de alguém por meio de trapaça tam bém é considerado roubo.
20.16. nono m andam ento. A terminologia indica que o enfoque principal está relacionado principalmente
à difamação e à calúnia dentro do contexto jurídico.
A manutenção da justiça dependia da confiabilidade da testem unha. Não obstante, destruir a reputação
de alguém, legal ou inform almente, constituía falso
testem unho e era considerada um a violação desse
m andam ento.20.17. décim o m andam ento. No antigo Oriente Pró
ximo o conceito de cobiça está presente em expressões
do tipo "levantar os olhos", mas era detectado e punido como crime somente quando o desejo se traduzia
em ação. A literatura do antigo Oriente Próximo mos
tra que ofensas como o roubo e o adultério podem ser descritas, de m odo geral, em term os do desejo que
desencadeia a seqüência de ações. Esse desejo ilegítimo por algo que pertence a outra pessoa é o cerne do
problem a e um a am eaça à comunidade, e qualquer
ação no sentido de satisfazer o desejo é tida como pecado.20.18. trovões e relâm pagos. Trovões e relâmpagos normalmente acompanhavam a chegada da divindade, segundo se acreditava, em bora muitas vezes isso acontecesse durante as batalhas, não num momento de revelação, visto que os deuses do antigo Oriente Próximo não costumavam revelar-se aos homens.
20.24-26 Altares20.24. a ltar de terra. A lguns altares desse período eram feitos de tijolos de barro, e ao mencionar altares de terra, talvez o texto se refira a isso. Outra possibilidade é que se refira a altares cujas paredes externas eram de pedras, mas preenchidos com terra. A Bíblia não menciona nenhum altar feito de terra e as escavações arqueológicas também não encontraram nenhum altax desse tipo.20.25. altar de pedras. Se o altar fosse construído com pedras, estas não deveriam ser lavradas. Nos altares israelitas descobertos por arqueólogos em Arad foram usadas pedras brutas, em bora alguns altares, como aqueles construídos em D ã e Berseba fossem feitos de alvenaria de silhar (um tipo de pedra lavrada).20.26. pudor sacerdotal. A nudez ritual era bastante difundida no antigo Oriente Próximo, enquanto que aqui toda precaução é tomada no sentido de assegurar a discrição. Os prim eiros altares com degraus construídos pelos cananeus foram encontrados em lugares como M egido. A lei israelita tam bém preservava a discrição ao prescrever túnicas longas e roupas de baixo para os sacerdotes.
21.1- 23.19 O livro da aliança21.1-23.19. le i casuística. No antigo Oriente Próximo, a lei era apresentada principalm ente em função de casos, ou seja, era um a lei *casuística. É caracterizada pela estrutura "se... então'7, baseada na idéia de causa e efeito. Nos códigos de leis israelitas, a justiça pressupõe a igualdade entre todos os cidadãos, portanto, a punição pelo crime não pode ser obstruída, atenuada ou intensificada pela condição social ou financeira do acusado. Não era isso, porém, que acontecia na Meso- potâmia, onde o código de *Hamurabi (c. 1750 a.C.) prescrevia diferentes níveis de punição (desde a aplicação de m ultas até a execução) a escravos, cidadãos livres e membros da nobreza. É possível traçar a origem do casuísmo nas leis *apodícticas (ordens), tais como as que se encontram nos Dez M andamentos. Visto que as pessoas cometiam crimes em circunstâncias variadas, era necessário ir além do mero estatuto
"não furtarás", e levar em conta questões como a hora do roubo e o valor do objeto roubado.21.1-23.19. natureza do livro da aliança. O código de leis encontrado nos capítulos 21 a 23 do Livro de Êxodo é denominado o "livro da *aliança" e provavelmente é o exemplo m ais antigo de lei *casuística na Bíblia.
Esse código aborda um a am pla variedade de situações legais (escravidão, roubo, adultério) e tende a impor sentenças bastante severas (nove exigem a execução), muitas das quais baseiam-se no princípio da Lex Talionis (lei de Talião) do "olho por olho". As leis procuram antecipar várias situações comuns dentro
da cultura das vilas de povoamento e no período inicial da m onarquia, e tam bém regulam entam o comércio, o casamento e as responsabilidades pessoais. O caráter dessas leis é menos teológico que as compiladas em Levítico e Deuteronômio.
21.2. hebreu. O termo hebreu é usado para designar o israelita que perdera suas terras e se tornara m iserável. Em bora essa pessoa pudesse ser forçada a vender a si m esm o e à sua fam ília com o escravos para o pagamento das dívidas, seus direitos como membro da comunidade eram mantidos e ele não podia perm anecer como escravo indefinidam ente. Após seis anos de trabalho, sua dívida era considerada quitada e ele deveria ser solto.21.2-6. escravidão por dívida. Devido à precariedade do meio ambiente em grande parte do antigo Oriente Próximo, os agricultores e os proprietários de pequenos lotes de terra m uitas vezes se endividavam. Os problemas podiam se agravar se a seca se prolongasse por m ais de um ano, provocando péssimas colheitas. Em situações assim, eles eram forçados a vender suas terras e propriedades, e às vezes suas famílias e seus próprios corpos. A lei israelita levava em conta essa situação, estabelecendo um período razoável de serviço ao credor, bem como um limite no tempo de servidão para todos os que se tom aram escravos por causa de dívidas. Ninguém podia perm anecer como escravo por mais de seis anos e, ao final desse período, a dívida era considerada quitada e a pessoa liberta. Para alguns, essa era um a boa solução, mas para aqueles que não tinham um a terra para onde voltar, era preferível continuar a serviço do credor, ou buscar trabalho nas cidades ou então alistar-se no exército.21.2-6. comparação com as leis sobre escravidão do antigo O riente Próxim o. As leis sobre escravidão dos israelitas tendem a ser mais hum anas que as encontradas em outros lugares no antigo Oriente Próximo. Por exemplo, nenhum escravo podia ser mantido em servidão perpétua sem que concordasse com essa situação. Escravos fugitivos não precisavam voltar para seus donos. Na Mesopotâmia, o escravo (geralmente
prisioneiro de guerra) podia ser liberto por seu senhor ou então comprar sua liberdade. As leis de Ha- m urabi estabelecem um lim ite de três anos para a escravidão por dívida, em oposição aos seis anos estipulados em Êxodo 21.2. Os escravos não tinham os mesmos direitos que os homens livres e no caso de
prejudicarem um homem livre, receberiam uma punição maior do que este receberia se tivesse cometido o m esm o delito.21.5, 6. furar a orelha à porta. As portas e passagens eram lugares sagrados e com significado legal. Quando um escravo escolhia permanecer nessa situação a fim de m anter a família que formara durante o tempo de escravidão, era levado à porta da casa de seu dono e ali, sim bolicam ente, era considerado preso àquele lugar ao ter o lóbulo de sua orelha furado. É possível que fosse colocado um brinco na orelha furada para marcá-lo como escravo permanente.21.7-11. filh a vendida como escrava. Quando um pai vendia sua filha como escrava, podia ter como propósito pagar uma dívida ou obter um marido para ela, sem o pagamento do dote. Nesse caso, ela tinha mais direitos que o escravo masculino, pelo fato de poder obter sua liberdade no caso de seu dono privá-la de alimento, roupas e dos direitos conjugais. A venda dos filhos como escravos é fato comprovado em toda a Mesopotâmia, em quase todo esse período de tempo.21.10. condições m ínim as. Visto que a escravidão permanente geralm ente era reservada a estrangeiros e prisioneiros de guerra, as pessoas que se tornavam escravas por causa de dívidas eram protegidas pela lei de serem abusadas por seus credores. A lei determinava o período de seis anos como suficiente para quitar qualquer dívida, sendo que no sétimo ano o escravo devia ser liberto (um paralelo evidente com o ciclo da criação em sete dias). As leis de *Hamurabi exigiam que esse tipo de escravo fosse liberto após três anos de servidão, abrindo assim um precedente para esse procedimento na Mesopotâmia.
21.10, 11. provisão para a esposa. A provisão para uma m ulher sob os cuidados de alguém no antigo Oriente Próximo consistia de alimento, roupas e óleo. O terceiro item na lista apresentada aqui ("direitos conjugais") é uma tentativa de traduzir uma palavra que, em todo o Antigo Testamento, aparece somente nesse contexto. A ocorrência freqüente do termo "ó leo" usado nesse contexto em inúm eros docum entos do Antigo Oriente Próximo levou alguns a suspeitar que a palavra no texto hebraico possa ser um termo pouco conhecido para óleo (compare Os 2.7; Ec 9.7-9).21.12. punição capital. A pena máxima era exigida nos casos em que o acusado era considerado um a ameaça ao bem-estar e à segurança da comunidade.
Assim , o assassinato, o desrespeito aos pais (maustratos), o adultério e a idolatria são crimes capitais, porque ofendem às pessoas e corrompem a sociedade. O princípio envolvido presum e que a indulgência m otivaria outras pessoas a praticar esses crimes. O apedrejamento era a form a usual de execução. Dessa maneira, nenhum indivíduo específico era responsável pela morte do réu, m as toda a comunidade participava na eliminação do mal.21.13. lugar do santuário. Nos casos em que o homicídio não fosse intencional, a pessoa envolvida tinha a chance de recorrer ao santuário, num lugar indicado, geralmente um altar ou lugar sagrado (ver N m 35.12; D t 4.41-43; 19.1-13; Js 20). Era uma forma de proteger o réu da família da vítim a e dar tempo para as autoridades ouvirem as testemunhas e chegarem a um juízo. A concessão para continuar no santuário dependeria então da forma como a m orte fosse julgada: se intencional ou acidental. Com o tempo, o núm ero de lugares de santuário teve de ser aumentado, à medida que a população crescia.21.15 ,17. am aldiçoar os pais. Ao contrário do que diz a tradução da N VI, estudos têm dem onstrado que a infração aqui não se tratava de amaldiçoar os pais, e sim de tratá-los com desprezo. Seria um a categoria m ais geral e certam ente incluiria a proibição de agredir os pais, em 21.15, e seria oposto à ordem do quinto m andamento, "honra teu pai e tua m ãe" (20.12). Cada uma dessas leis era designada para proteger a unidade da fam ília, bem como assegurar que as gerações seguintes garantissem aos pais o respeito, o alimento e a proteção que m ereciam (ver D t 21.18-21). Os códigos de leis e documentos legais da M esopotâmia também tratam da questão do desprezo para com os pais. As leis *sum érias perm itiam que o filho que renegasse seus pais fosse vendido com o escravo. O Código de *Ha- m urabi exigia que fosse am putada a mão do homem que agredisse seu pai. Um testam ento de *Ugarite ao descrever o comportamento de um filho usa esse mesm o verbo, determ inando que ele fosse deserdado.21.16. seqüestro (comércio de escravos). Os seqües- tros eram praticados esporadicamente, quando alguém não honrava o com prom isso de pagar um a dívida, mas muitas vezes simplesmente faziam parte do com ércio ilegal de escravos. Tanto a lei mosaica como a m esopotâm ica exigiam a pena de m orte para esse crim e. Um a pena tão severa reflete a preocupação com a liberdade individual e tam bém com a proteção contra a invasão de lares desprotegidos.21 .18 ,19 . le is sobre ofensas pessoais comparadas às do antigo O riente Próximo. A responsabilidade por injúria pessoal como resultado de um a briga, e não devido à ação premeditada, é tratada de modo seme
lhante na Bíblia e nos códigos legais do antigo Oriente Próximo. De modo geral, a vítim a tinha o direito de ser indenizada pelas despesas médicas, com alguns acréscimos a essa provisão nos diferentes códigos. O texto aqui considera se a pessoa m achucada recupera- se a ponto de conseguir andar, sem o auxílio de uma bengala. O Código de *Hamurabi avalia a morte re
sultante dos ferimentos e um a m ulta a ser paga, com base na posição social. O código *hitita exige que uma pessoa seja enviada para administrar a casa da vítima, até que ela se recupere.21.20,21. direitos humanos (escravo como propriedade). O direito básico à vida implica que nenhuma morte pode passar sem castigo. Sendo assim, se o proprietário de um escravo o espancasse até a morte, receberia uma p unição não esp ecificad a. No entanto, não haveria
punição se o escravo se recuperasse da surra. A premissa é que o proprietário tinha o direito de disciplinar seus escravos, visto que eram considerados como sua propriedade. Os direitos hum anos eram restritos, nesse caso, devido à condição de escravo.21.22. aborto. Diversos códigos antigos de leis incluem este estatuto que penalizava o homem que provocasse o aborto em um a mulher. As penas variavam, dependendo da posição social da m ulher (as leis de *Hamurabi estipulavam um a pequena multa no caso de ser uma escrava; as leis *medo-assírias especificavam uma multa elevada, cinqüenta açoites e um mês de trabalho, se alguém ferisse a filha de um cidadão) ou do motivo da agressão (as leis *sum érias prescreviam uma multa para ferimentos acidentais e outra multa bem maior para os deliberados). A lei do Êxodo considerava a hipótese da mãe, além da perda do feto, sofrer conseqüências m ais sérias, e im punha um a multa com base no valor estipulado pelo marido e na aprovação dessa quantia pelos juizes. O objetivo da multa é compensar a agressão cometida contra a mãe e não em relação à perda do feto. Entretanto, as leis medo-assírias exigiam que a morte do feto fosse compensada com o pagamento de outra vida.21.23-25. Lei de Talião. O princípio legal da Lei de Talião, "olho por olho", é baseado na idéia de reciprocidade e de uma retaliação equivalente (ver Lv 24.1020). Teoricam ente, quando um a ofensa era com etida contra alguém, a m aneira de fazer justiça era causando a m esm a ofensa ao culpado. Em bora pareça um recurso extrem o, na verdad e lim ita a punição a ser infligida ao culpado, isto é, o castigo não podia exceder ao prejuízo causado. Visto que a maioria das leis de responsabilidade pessoal implicava o pagamento de uma multa em vez da desforra pessoal da ofensa, é m ais provável que a afirm ação do ta lião seja um lim ite designado de compensação, com um valor estipulado
para cada parte do corpo ferida (ver as leis de *Esnuna, que determ inam m ultas específicas para ferim entos provocados no nariz, nos dedos, na mão e no pé). O princípio de Talião tam bém é encontrado em sua form a básica nos códigos 196-197 de *Ham urabi, m as as leis subseqüentes a esse trecho contêm variações com base na posição social das pessoas envolvidas (cidadãos livres, escravos ou membros da nobreza). N a maioria dos casos, aplicava-se a lei de talião quando havia intenção prem editada de prejudicar.21.22-36. responsabilidade pessoal. No antigo Oriente Próximo, dava-se grande ênfase à responsabilidade pessoal dos atos. Foram escritos vários estatutos no sentido de proteger a pessoa e sua capacidade de trabalho, detalhando como lidar com todo tipo de ofensas possíveis, praticadas por mão hum ana ou pela propriedade de alguém. O exemplo clássico é o caso do boi bravo. Além de ser encontrado no Êxodo, está presente tam bém nas leis de *Esnuna e *Hamurabi, onde a pena por deixar solto um boi que costum a chifrar as pessoas é limitada ao pagamento de uma multa. O exemplo bíblico, porém, exige que o boi e seu proprietário sejam apedrejados até a morte. Leis semelhantes tratam da falta de habilidade de um proprietário em lidar com situações que coloquem outros em perigo, como cães ferozes (Esnuna), transgressões do código (Esnuna; Êx 21.33, 34) ou quando um animal valioso era ferido por outro animal ou por uma pessoa (*Lipite-Istar; Hamurabi - prática veterinária indevida). G eralm ente, esses crim es eram punidos com multas baseadas no grau do ferimento e no valor da pessoa ou do animal ferido.
21.26-36. penas pela responsabilidade pessoal. As penas impostas nos casos de responsabilidade pessoal geralmente dependiam de quem havia sido ofendido e do tipo de ofensa. Se o proprietário de escravos abusasse deles a ponto de m utilá-los - inutilizando um olho ou arrancando um dente - então o escravo era liberto, como compensação. Nos casos em que o escravo chegava a morrer, a pena era decidida pelas
circunstâncias. Se um proprietário tom asse conhecimento de uma situação perigosa e não fizesse nada a respeito, deveria pagar com a vida no caso de alguém ser morto devido à sua negligência. De igual modo, se animais valiosos fossem mortos ou feridos, a pessoa responsável deveria providenciar uma compensação igual. A lei, no entanto abria uma exceção nos casos em que o proprietário não estivesse a par do perigo potencial, não o considerando assim totalmente responsável pelas perdas ou danos causados.22.1-4. furto no antigo Oriente Próximo. O furto pode ser definido como a apropriação de bens ou de propriedades sem autorização legal. A quantidade e a espe
cificidade das leis concernentes ao farto sugerem que esse era um problema sério no antigo Oriente Próximo. H á casos de arrombamentos (22.2,3; *Hamurabi); roubos (Hamurabi), saques durante incêndios (Hamu- rabi) e uso de propriedades ou de recursos naturais sem a perm issão do proprietário (por ex., levar os rebanhos para pastar no campo de outro homem, em Êx 22.5 e no Código de Hamurabi). A cultura mesopo- tâmica dava grande importância a documentos como contratos, recibos de venda e confirmação de um negócio por testemunhas (Hamurabi). Essas práticas comerciais, estabelecidas com o objetivo de evitar fraudes, também são mencionadas no texto bíblico, mas com m ais freqüência nas narrativas (Gn 23.16; Jr 32.815) do que nos códigos de leis. Nas situações em que não existiam provas físicas suficientes ou a responsabilidade pela perda era incerta, era feito um juram ento (Êx 22.10-13; H am urabi). D esse m odo, Deus era cham ado a ser testem unha e a pessoa que fazia o juram ento colocava-se à m ercê da justiça divina.22.1-4. pu nições para o fu rto . A punição prescrita para furto variava de acordo com a identidade do proprietário e com o valor do bem furtado. Nas leis de *Hamurabi, a pena de morte era exigida para pessoas que roubavam templos e palácios. No entanto, essa pena era reduzida a um a m ulta de trinta vezes o valor do objeto roubado, se a vítim a fosse um funcionário do tem plo ou do governo, e dez vezes o valor, se o objeto pertencesse a um cidadão. Essa m esm a lei impunha a pena de morte ao ladrão que não pagasse a multa. Êxodo 22.3 ameniza essa exigência ao permitir que o ladrão seja vendido como escravo para compensar o dano. As penas para esse tipo de crime, incluindo pesadas multas ou sentenças de m orte, dão um a idéia de como a sociedade da época levava a sério esse tipo de infração.22 .2 ,3 . arrombam entos. A lei parte do pressuposto de que as pessoas têm o direito de proteger sua propriedade contra o furto e de defender-se. A ssim , se um
ladrão arrombasse uma casa à noite e fosse morto pelo proprietário, era considerado um caso de autodefesa (ver exem plo nas leis de *U r-N am m u). Porém , se a invasão acontecesse à luz do dia, a situação era diferente porque o proprietário podia ver com m ais clareza o nível de ameaça e podia pedir ajuda. As leis de '‘Hamurabi acrescentam uma repressão simbólica para casos de arrombam entos sugerindo que se um ladrão fosse m orto durante um arrombam ento, seu corpo deveria ser emparedado para tapar o buraco que ele mesmo cavara na parede da casa de sua vítim a.22.5-15. proteção da prop riedad e. N a m aioria dos casos, a responsabilidade por perdas ou danos à propriedade baseava-se em circunstâncias ou contratos.
A restituição geralmente baseava-se na perda real da propriedade (animais, grãos, frutas) ou na perda da produtividade, em se tratando de campos ou pomares danificados ou im pedidos de produzir. H avia tam bém um forte senso de responsabilidade em casos de negligência, como incêndios que se alastravam por descuido, agressão de anim ais ou incapacidade de m anter açudes ou sistem as de irrigação. Em casos assim, a pessoa que se omitisse em situações perigosas ou que não tivesse controle sobre seus anim ais tinha de pagar uma restituição pelas perdas que provocara (como nos códigos de *Hamurabi e *Ur-Nammu). No entanto, nem todas as perdas eram cobertas. Nos casos em que as perdas eram decorrentes de eventos imprevisíveis ou estivessem previstas em acordos de aluguel, as reivindicações eram recusadas (22.13,15).22.5-15. penas para danos à propriedade. Visto que as perdas ou danos causados às propriedades podiam ser calculados em term os concretos, as penas eram estipuladas de modo a garantir a justa restituição do valor monetário. De acordo com os estatutos bíblicos, às vezes esse valor era estipulado pelos ju izes, enquanto que em alguns casos, estabelecia-se o dobro do valor dos bens prejudicados. Nos códigos mesopo- tâmicos as penas são mais específicas, estipulando-se a quantia exata a ser paga para os danos a um animal alugado, junto com a compensação equivalente (como no Código de *Lipite-Istar) e a exata quantidade de grãos por acre num campo inundado (*Hamurabi).22.16. contrato de casam ento. As famílias negociavam os contratos de casamento, estipulando um valor a ser pago pela fam ília do noivo e um dote pela fam ília da noiva. Assim que o casal se comprometesse ou acertasse o casam ento, eram considerados legalm ente unidos pelo contrato. Assim, a pena por estupro dependia da m ulher ser virgem e prom etida em casam ento.22 .16 .17. preço da noiva. A família do noivo pagava o preço da noiva como parte do acordo de casamento. Esse preço variava, dependendo da moça ser virgem ou ter sido casada anteriormente. Nesse caso, era exigido o preço para uma virgem, ainda que ela tivesse sido estuprada.22 .16 .17 . sexo antes do casamento. O sexo antes do casamento era desencorajado por diversas razões: 1) usurpava a autoridade do pai de fazer o contrato de casam ento; 2) reduzia o valor v irtual do preço da noiva; e 3) impedia que o marido tivesse certeza de que seu primeiro filho era de fato seu. Essa lei regulam entava o sexo antes do casam ento ao im por um casamento forçado ao culpado e/ou uma multa igual ao preço da noiva, em se tratando de um a virgem. Desse m odo, o pai era poupado da vergonha e da perda dos rendimentos ao negociar um contrato de casamento para uma filha que não era mais virgem.
22.18. fe iticeira. Praticantes de feitiçaria eram condenados à pena de m orte dentro da com unidade de
Israel (ver Lv 19.31; 20.27). Todas as leis concernentes
a eles encontram-se na forma *apodíctica, ou de uma ordem. Essa intolerância absoluta pode ser decorrente
da magia estar associada à religião cananéia ou sim
plesmente porque sua prática representava um desafio à suprem acia de Deus sobre a criação.
22.19. bestialidade. As leis que proíbem as relações sexuais com animais (ver Lv 21.15 ,16; Dt 17.21) tam
bém estão escritas em forma de mandamento. A bes
tialidade, assim como a hom ossexualidade, viola o princípio básico de ser fecundo e multiplicar-se (Gn
1.28; 9.1), e também corrompe as categorias da criação
ao misturar as espécies. Tais atos também são proibidos pelas leis *hititas.
22.21. proteção aos estrangeiros. A ordem para proteger o "estrangeiro" sempre é baseada na lembrança
do êxodo e na situação dos israelitas como estrangei
ros, antes de se estabelecerem na Palestina (ver Dt14.17-22). É basead a tam bém na im agem de D eus
como o protetor supremo dos fracos - seja um a nação
inteira ou os membros mais vulneráveis da socieda
de. O tratamento humano para com os estrangeiros acompanha o espírito do código de hospitalidade e
também reconhece a existência de pessoas que não desfrutam da cidadania, estando sujeitas à discrimi
nação ou abuso se não receberem uma atenção espe
cial por parte da lei.
22.22-24. proteção aos órfãos. Órfãos, estrangeiros e viúvas form avam as três categorias de pessoas des
providas na sociedade antiga. Deus dedicou um cuidado especial aos órfãos por serem indefesos, exigin
do que não fossem oprimidos, e caso fossem tratados assim, ameaçando seus opressores com a maldição de
que seus filhos também se tom ariam órfãos. As guer
ras freqüentes, a fom e e as doenças causavam um
grande núm ero de órfãos. Em bora pudessem contribuir para a força de trabalho, eles tinham de ser ado
tados para terem o direito de herdar propriedades ou
de aprender uma profissão como aprendizes (como nas leis de *Hamurabi).22.22-24. proteção às viúvas. Assim como estrangei
ros e órfãos, as viúvas muitas vezes dependiam de caridade para sobreviver. Esses três grupos necessitavam da proteção da lei porque eram incapazes de se
defender. As viúvas tinham permissão para rebuscar
nos campos, pomares e vinhas (Dt 24.19-21) e m antinham sua dignidade como um a classe protegida pelo
estatuto divino. Elas não podiam herdar a propriedade do marido e seu dote seria usado para sustentar os filhos (como nas leis de *Hamurabi). Em alguns casos
elas tinham direito ao casamento por levirato da parte dos familiares de seu falecido esposo (ver Dt 25.5-10 e leis *hititas), de outra forma eram forçadas a sair em busca de em prego ou de um novo casam ento (ver Rute).
22.22-24. tratam ento das classes desfavorecidas. Deacordo com as declarações encontradas nos prólogos dos Códigos de *Ur-Nammu e de *Ham urabi, os reis consideravam que parte de sua tarefa como "sábios
governantes" era proteger os direitos dos pobres, das viúvas e dos órfãos. Semelhantemente, no texto egípcio A Lenda do Camponês Eloqüente o queixoso começava seu discurso identificando o juiz como "o pai dos órfãos, o esposo das viúvas". Estatutos individuais (encontrados em diversas leis *medo-assírias) declaram o direito de um a viúva casar-se novam ente e prover seu sustento quando seu marido fosse levado como prisioneiro e dado como morto. Dessa maneira, essas pessoas menos favorecidas tinham suas necessidades supridas em todo o antigo O riente Próximo. Somente o "estrangeiro" não é mencionado especificamente fora da Bíblia. Isso não significa que os códigos de hospitalidade não vigorassem em outros luga
res, mas sim que o estrangeiro está associado à Bíblia devido à experiência ímpar do êxodo.22.25. cobrar ju ros. Dois princípios são evidentes na restrição quanto à cobrança de juros nos empréstimos: 1) Como comunidade agrícola vivendo em povoados, as pessoas perceberam que para sobreviver precisa
vam depender um as das outras; e 2) o pagamento de juros era uma característica dos mercadores que viviam nas cidades, com quem os agricultores às vezes tinham de negociar, m as que não se interessavam pela comunidade aldeã (ver Os 12.7, 8). Assim, a fim de m anter um padrão de igualdade entre todos os israelitas e evitar que o antagonismo entre cidadãos rurais e urbanos aumentasse (ver Ne 5 .7 ,1 0 ,1 1 e Ez22.12 para as violações da lei), a cobrança de juros entre o povo israelita tinha de ser eliminada (ver Lv25.35-38; Dt 23.19). Só poderia haver cobrança de ju ros nos empréstimos feitos a estrangeiros (Dt 23.20). Esse costume contrasta com as práticas comerciais de outros lugares e às relações periódicas dos juros que podiam ser cobrados de empréstimos, de acordo com as leis de *Esnuna e de *Hamurabi.22.25. regulam entação para em préstim o de dinheiro. Como nos dias de hoje, agricultores, artesãos e hom ens de negócios so licitavam em préstim os de especuladores para financiar o plantio do ano seguinte, expandir seus negócios ou iniciar um novo empreendim ento. Todos esses em préstim os eram feitos à base de juros e como os códigos de leis eram considerados a norma padrão para a comunidade, as taxas de
juros eram estipuladas pela lei. As leis de *Esnuna ofereciam detalhes técnicos sobre a taxa de câmbio no pagamento de juros tanto de cevada como de prata. A produção de uma colheita podia ser dada como pe
nhora de um empréstimo (*Hamurabi), mas se ocorresse um desastre natural, o pagamento dos juros seria cancelado (Hamurabi). Para evitar práticas fraudulentas, não era permitido aos especuladores participar da colheita de campos ou pomares a fim de tomar o que lhes era devido. Ao contrário, o proprietário fazia a colheita, assegurando assim que apenas a quantia justa seria paga; os juros não podiam ultrapassar os 20% (Hamurabi).22.26, 27. m anto como garantia. Trabalhadores diaristas geralmente penhoravam suas roupas em troca de um dia inteiro de trabalho. Em m uitos casos, o m anto era a única cobertura que tinham , além da roupa de baixo. Assim, a lei exigia que fosse devolvido ao final do dia, a fim de que não ficassem sem proteção durante o frio da madrugada (ver Dt 24.12, 13; Am 2.8). Se o m anto não lhes fosse devolvido, teriam de abrir mão de sua condição de homens livres e trabalhar como escravos. U m a inscrição hebraica do final do século sétimo a.C., de Yavneh-Yam, contém o apelo de um trabalhador rural cujas vestes foram tomadas de m aneira injusta. Ele pede que sejam devolvidos a ele seus direitos e sua liberdade, juntamente com a roupa.
22.28. b lasfêm ia contra D eus ou autoridade. O termo hebraico usado nesse versículo pode ser traduzido como "D eu s" ou "juizes", sendo que nenhum deles deve ser ignorado ou menosprezado. Tanto os juizes como os governantes deviam ser respeitados (antes da monarquia, o chefe da tribo era eleito pelos anciãos e confirm ado por Deus naquela posição). Havendo desrespeito, a autoridade dos anciãos e de Deus em
escolher um governante seria questionada; por essa razão, o desrespeito era punido com a m orte (ver 2 Sm 19.9; 1 Rs 21.10). Blasfêmia e rejeição do poder e da presença de D eus tam bém eram consideradas ofensas capitais (Lv 24.15, 16).
22.29. o fertas das co lh eitas. A s cidades arm azenavam suas colheitas em enormes celeiros em forma de fossos revestidos de pedra; já os camponeses tinham celeiros menores, construídos de pedra calcária nativa, situados próximos de suas casas. U m a parte de toda a colheita devia ser separada como oferta a Deus. Essa ordenança servia para lembrar o povo de separar aquela oferta antes de encher e selar seus arm azéns com a colheita.
22.29. sacrifício do prim ogênito. Geralmente acreditava-se que a fertilidade era assegurada somente se o primogênito do rebanho e de todas as famílias fosse
sacrificado a D eus (ver 13.2; Lv 27.26). A religião israelita proibia o sacrifício humano, assim a criança era substituída por um animal (ver Gn 22). Os levitas serviam a Deus em lugar dos primogênitos dedicados ao Senhor (Nm 3.12, 13).22.30. oitavo dia. A exigência de que os animais não fossem tirados de suas mães para serem oferecidos em sacrifício antes do oitavo dia após o nascimento (ver Lv 22.27) talvez seja (1) um paralelo com a Circuncisão dos filhos ao oitavo dia (Gn 17.12), (2) um a demonstração do tratamento bondoso concedido aos animais ou (3) uma tentativa de relacionar o sacrifício ao término do ciclo de sete dias da criação.22.31. carne de anim ais mortos. Como um sinal de que os israelitas eram o povo "separad o" de Deus, eles não podiam comer nada que ritualmente pudesse contam iná-los. Assim , o anim al que tivesse sido morto por feras não podia ser comido por causa do contato da carne com os predadores, que podiam ser anim ais im puros, e pela im possibilidade de confirmar se o sangue tinha sido derramado por completo (Lv 17.14).22.31. cães. M atilhas de cães ferozes geralmente são associadas à carniça (SI 59.6; 1 Rs 14.11). Os cães vasculhavam o lixo pelas ruas e arredores das cidades e aldeias, sendo identificados de modo geral como animais impuros. Essa palavra era usada para escarnecer de um inimigo ou ao fazer um juramento (1 Sm 17.43;2 Sm 16.9).23.1-9. m anutenção da im parcialidade no sistem a ju diciário. Qualquer sistema judiciário está sujeito ao abuso de autoridade quando seus funcionários são corruptos. Para preservar a integridade do processo legal em Israel, os juizes eram admoestados a manter um padrão de justiça igual para todos, a não executar sentença contra os inocentes e a não aceitar subornos. As testemunhas eram exortadas a não dar falso testemunho, a fim de não colaborarem com a condenação de inocentes. Nesse trecho, todos os israelitas são lembrados de sua responsabilidade de ajudar o próximo e tratar o estrangeiro com hospitalidade e justiça. Desse modo, as pessoas se sentiriam seguras quando procurassem os juizes e poderiam esperar um julgamento justo. Além disso, as pessoas ficariam mais tranqüilas ao saber que cada uma delas assim como suas propriedades diziam respeito a todos os cidadãos.23.1-9. condição dos pobres no antigo O riente Próximo. Visto que a maioria das culturas no antigo Oriente Próximo reconhecia a existência de classes sociais, os pobres nem sem pre recebiam o mesmo tratamento que os ricos e poderosos. *H am urabi descrevia a si mesmo como um "príncipe devoto e temente a deus", que praticava a justiça e protegia os mais fracos, em
bora haja num erosos indícios nos códigos de leis e em escritos criteriosos que as coisas não iam tão bem assim. O texto egípcio Ensinos de A m enem ope incluía repreensões contra aquele que roubasse do pobre, enganasse o aleijado e invadisse o campo de uma viúva. O discurso do "cam ponês eloqüente" (Médio Império do Egito, 2134-1786 a.C.) recordava ao magistrado que ele devia ser um pai para os órfãos e marido para as viúvas.23.8. suborno no m undo antigo. O suborno representa qualquer provento obtido por funcionários públicos ou juizes por meios ilícitos. Geralm ente o suborno tem como objetivo favorecer ou influenciar a decisão de um a ação judicial. Por se tratar de uma subversão da justiça, essa prática era oficialmente con
denada por todas as civilizações no mundo antigo. No Código de *Hamurabi há o caso de um juiz que foi exonerado por ter alterado uma decisão judicial firm ada, e a correspondência real de H amurabi menciona a punição de um funcionário que aceitou suborno. O
texto bíblico inclui as proibições legais (23.8; D t 16.19), sendo que o suborno de juizes é condenado também nos livros dos profetas (Is 1.23; M q 3.11).23.10 ,11 . ano de descanso. A orientação para deixar a terra descansar no sétimo ano acompanha o padrão da história da criação, quando D eus descansou no sétimo dia. E provável que os agricultores separassem a sétim a parte dos cam pos para um descanso anual, em vez de deixar toda a terra descansar um ano inteiro. Na M esopotâm ia, os campos entravam em rodízio de descanso com m ais freqüência a fim de limitar o impacto do sal presente na água usada na irrigação. Essa prática também ajudava a evitar a per- i a dos nutrientes, causando o em pobrecim ento do solo. O aspecto legal do bem -estar social do pobre explicado de forma m ais direta em Lv 25.1-7 e 18-22;
ver comentários desses versículos) é m ais um a vez contemplado pela lei.23.13. invocar o nome de outros deuses. Era costume r. o antigo O riente Próxim o invocar o nom e de um ieu s para abençoar as ações, as ofertas de sacrifícios :u as atividades diárias tais como axar a terra ou cons- m iir uma casa. Para evitar que os israelitas praticassem o politeísmo, foi preciso proibir o uso do nome de ?utros deuses e até mesmo o reconhecimento de sua existência (ver 20.3). Somente Yahw eh podia ser invocado para abençoá-los e ajudá-los.23.15. Festa dos pães sem ferm ento. A festa dos pães 5em fermento m arca o início da colheita da cevada março a abril). O pão sem fermento era feito com o
§jão recém-colhido e celebrado como o primeiro sinal ia s colheitas vindouras naquele ano. Essa festa provavelm ente originou-se das celebrações agrícolas
cananéias e passou a ser associada ao êxodo e ao festival da Páscoa pelos israelitas.23.16. Festa da colheita. O segundo dos três festivais da colheita acontecia sete sem anas após a colheita dos primeiros grãos (34.22; Dt 16.9-12) e é m ais conhecido como Festa das Semanas ou Pentecostes. Dentro do ciclo da agricultura, esta festa m arcava o final da colheita do trigo, e estava tradicionalm ente ligada à entrega da lei no monte Sinai. Também estava associada à renovação da *aliança e à peregrinação. A celebração consistia em dedicar um a "oferta sim bólica" de dois pães e um cesto de frutos maduros em gratidão pela boa colheita.23.16. Festa do encerram ento da colheita. A última
colheita do ano acontecia no outono, antes do início da estação das chuvas, e m arcava o começo de um novo ano agrícola. Era o momento de juntar e armazenar os últimos grãos e frutos maduros. Esse evento tinha a duração de sete dias e tam bém é conhecido como Festa dos tabernáculos, simbolizada pela construção de cabanas para os trabalhadores que participaram da colheita. O festival ligava-se à tradição israelita
como um a comemoração pela peregrinação no deserto. Também foi nessa ocasião que ocorreu a dedicação
do templo de Salomão em Jerusalém (1 Rs 8.65).23.17. peregrinação obrigatória. A exigência de que
todas as famílias israelitas (ver Dt 16.11,14) comparecessem diante de Deus, no templo, três vezes por ano está ligada ao calendário agrícola e aos três principais festivais: Festa dos Pães sem Fermento, Festa da Co
lheita e Festa dos tabernáculos. Essa obrigação religiosa proporcionava uma ocasião favorável para a realização de feiras, julgam ento de questões legais, cerim ônias de casamentos e ritos de purificação aos que haviam se contaminado física ou espiritualmente.23.18. ferm ento e sacrifício de sangue. O uso de fermento e farinha levedada em sacrifícios com animais eram estritamente proibidos. Essa restrição baseava- se na associação do fermento ao processo de corrupção. O sangue sacrificial, relacionado à vida, poderia assim ser aviltado ou corrompido se entrasse em contato com o fermento.23.18. o que fazer com a gordura. As partes gordurosas do animal sacrificado que estivessem na região do estôm ago e dos intestinos eram destinadas a Deus (29.12,13; Lv 3.16,17). Não deviam ser guardadas até a manhã seguinte porque, assim como o sangue, continham a essência da vida.23.19. primeiros frutos. Os primeiros frutos da colheita, associados à Festa da Colheita, deviam ser levados a Deus como oferta. Representavam a gratidão e tam bém uma parte simbólica da produção que ainda estava por vir, com a colheita do outono (ver D t 26.2-11).
23.19. cabrito no leite da m ãe. A proibição quanto a cozinhar o cabrito (talvez representando todos os anim ais jovens) no leite da própria m ãe tem sido inter
pretada como um a reação contra as práticas religiosas cananéias ou de outros povos (ver 34.26 e Dt 14.21). Os cabritos geralmente nasciam n a época da Festa dos tabernáculos e sua inclusão nas refeições de celebração talvez explique essa lei. Outra explicação baseie- se n a prescrição de tratar os anim ais bondosamente, visto que um animal que ainda não fora desmamado provavelm ente teria leite da m ãe em seu estômago. Existe ainda a consideração de que o leite da m ãe contém sangue e, portanto, contaminaria a carne ou a refeição sacrificial.
2 3 .2 0 -3 3A conquista de Canaã23.20. an jo preparando o cam inho. A prom essa de um anjo preparando o caminho para o povo segue o padrão da narrativa, mostrando a presença e orientação divinas, inicialm ente representadas pela coluna de nuvem e de fogo durante o êxodo (13.21, 22).23.21. nele está o m eu nom e. O "m ensageiro" ou anjo enviado por D eus é um a extensão do próprio Deus, representando sua presença contínua com o povo Israel. Como os nomes e a escolha deles (ver G n 17.5) eram considerados poderosos no m undo anú), (ver 9.16; Lv 19.12), dizer que Yahw eh colocara nome naquele anjo significava dizer que/e^d^v^a serobedecido da m esm a form a presença e o poder de Deus m ensageiro. O p o v o ^ n h
que D eus p rom etera^^23.23. povos de
ram em Can<
s. A ■S(Tnaquele
q u e ele faria o
os povos que habita- h diversidade étnica da-
Canaã servia como um a pon- ám ia e o Egito, e desta forma, foi
diferentes povos, colunas sagradas. Era comum que se erigissem
ocais de adoração, em Canaã, altares, postes e colunas sagradas. Essas últim as eram enormes pedras colocadas de pé que representavam o poder de um a divindade local. Podiam ser encontradas isoladas ou em grupo.23.28. vespas. O termo traduzido como "pânico" ou "terror divino" em algumas versões, no original tem m ais o sentido de "v esp as" (ver D t 7.20; Js 24.12), semelhante às pragas no Egito. Textos e relevos egípcios e *assírios retratavam seu deus como um disco alado que aterrorizava o inimigo antes da chegada de seus exércitos. Tam bém pode ser um trocadilho, pela sem elhança com a palavra usada para Egito (zirah e mizraim) indicando assim que Yahw eh teria usado as
campanhas m ilitares egípcias em Canaã para enfraquecer a área e tom ar a ocupação israelita possível. 23.31. fronteiras da terra. Os limites da terra prom etida são definidos pelo m ar Vermelho (golfo de Acaba) ou pela fronteira com o Egito a sudoeste, pela costa do m ar M editerrâneo a oeste, e pelo rio Eufrates e M esopotâm ia a leste. N a verdade, em nenhum período, nem m esm o durante o reinado de Salom ão, a nação israelita ocupou todo esse território. No entanto, de acordo com um a representação ideal, que incluía toda a área entre as duas superpotências daquele tempo, essas seriam as fronteiras naturais.
2 4 .1 -1 8A confirmação da aliança 24.1. setenta autoridades. Esses home; sentantes indicados pelas tribos^u nttf^áfffl M oisés, A rão e os filhos de Arão des^m^nnítm^er papel de
representantes da *a lian £a£A j^ W raJleles, bem como seu núm ero (set@ ta), (representava a nação como um todo aceitg, _
{ do ano 3100 a.C. é que Í£as evidências de sistemas de es-
friente Próxim o. Tanto os hieróglifos i escrita *cuneiforme da Mesopotâmia
éj^temas silábicos e complexos, havendo neces- ^ade de escribas profissionais que pudessem ler e
í escrever para a m aioria iletrada. Os exem plos m ais antigos de escrita alfabética no m undo encontram-se n a região do Sinai (Serabit el-Khadim) e rem ontam à m etade do segundo milênio (essas inscrições são cham adas de proto-sinaíticas, enquanto que as correlatas de Canaã são cham adas de proto-cananéias). Todos os alfabetos do m undo derivam dessa prim eira escrita. A invenção do alfabeto elevou radicalm ente o uso da escrita. N o início, a escrita era usada em documentos comerciais, tratados, relatos históricos, na literatura e em obras religiosas. N a M esopotâm ia utilizavam -se tabuletas de argila para escrever enquanto que no Egito eram usados rolos de papiro. Em ambos os lugares, existiam tam bém inscrições gravadas em m onum entos de pedra. Infelizmente, grande parte dos docum entos escritos em papiros ou em peles de animais
foi perdida, devido à decomposição ou deterioração ao longo dos séculos. Registrar algo por escrito era não só um a form a de preservar o conteúdo de alguma transação, m as tam bém representava a conclusão de um tratado ou de um a *aliança (como no caso desse versículo), sendo que o ato da escrita em si colocava em vigor o acordo.24.4. altar e doze colunas. Construir um altar e erguer colunas fazia parte da cerimônia de *aliança. As colunas representavam a presença de D eus e a reu-
nião das doze tribos de Israel num juram ento solene de m útua lealdade através de um acordo escrito e de um ato sacrificial (ver Gn 31.45-54 e Js 24.27 sobre outras colunas comemorativas).24.5. sacrifícios de comunhão. Esse tipo de sacrifício ajustava-se bem a uma cerim ônia de *aliança, visto que era com partilhado pelos participantes. Apenas uma porção do sacrifício era totalmente queimada no altar; o restan te era servido em um a refeição que consumava o acordo entre Deus e o povo.24.6. derramar sangue sobre o altar. Por ser a essência da vida, o sangue pertencia a D eus, o Criador. Assim, o sangue dos animais sacrificados quase sempre era derramado no altar, servindo para lembrar ao povo que o doador da vida é santo, assim com o a própria vida.24.7. livro da aliança. A leitura pública das condições da *aliança faz ia parte de toda cerimônia de confirmação desses acordos (ver Js 24.25-27; 2 Rs 23.2; Ne 8.59). A lei era então lida para o povo, apreciada e colocada em vigor a partir daquela data pelo povo de Israel. Diversos tratados *hititas do mesmo período também estipulam que o acordo deveria ser lido em voz alta periodicamente.24.8. aspergir sangue sobre o povo. A aspersão do sangue sacrificial sobre o povo era uma prática pouco comum, tendo ocorrido novam ente apenas na cerimônia de ordenação de Arão e seus filhos (Lv 8). Um laço especial era estabelecido através desse ato simbólico, marcando o povo como propriedade de Deus. N a verdade, talvez as doze colunas teriam sido aspergidas com o sangue, visto que representavam o povo e poderiam ser marcadas de uma só vez.24.10. viram o Deus de Israel. Ver a Deus face a face *teofania) é sem pre descrito como algo perigoso (Gn
16.7-13; 28.16, 17; 32.24-30; Jz 6.22, 23). Os representantes de Israel encerraram a cerim ônia da *aliança com uma refeição. Nesse caso, porém, a presença de Deus não representava perigo, pois eles estavam cum prindo a ordem de Deus e sob proteção divina.
24.10. pavim ento de safira. V isto que a safira era desconhecida no antigo Oriente Próximo, esse pavimento ricam ente decorado provavelm ente era feito de lápis-lazúli (levado para a região por mercadores do Afeganistão), usado para guarnecer câmaras reais e tronos (ver Ez 1.26). Alguns textos mesopotâmicos do primeiro m ilênio m encionam algumas tradições, provavelmente anteriores ao período cassita, que fa- j m de três céus. Cada nível do céu é descrito como rendo um tipo especial de pedra em seus pavimentos, sendo que os céus intermediários eram pavimentados de pedra saggilmud, parecida com o lápis-lazúli. Acreditava-se que essa pedra era responsável pela colora
ção azul do céu. Os céus intermediários eram o lugar
em que a maioria dos deuses habitava.24.12. tábuas de pedra. Era comum no antigo Oriente
Próximo gravar em pedra alguns documentos impor
tantes, códigos de leis e os registros reais de campanhas militares heróicas (ver comentário em 32.15, 16
para m ais inform ações sobre tábuas de pedra). As tábuas de pedra que Moisés recebeu de Deus no mon
te Sinai acompanham esse padrão. Infelizmente, não
se sabe ao certo o que estava escrito nessas tábuas,
em bora a tradição afirmando tratar-se dos Dez M andamentos seja m uito antiga. As tábuas originais foram destruídas (32.19) e posteriormente substituídas
por D eus (34.1). A segunda versão foi colocada na
arca da *aliança (Dt 10.5).
24.18. quarenta como núm ero aproxim ado? O número quarenta aparece muitas vezes como um núm e
ro final, significando a passagem de um determinado
período de tempo, ou seja: uma geração (Gn 25.20), a
chegada da maturidade (2.11), o período no deserto (16.35; N m 14.33), o m andato de um juiz ou chefe (Jz
3.11; 13.1). A regularidade com que esse núm ero sim
bólico é usado sugere que esteja impregnado de significado cultural e literário e, portanto, não deve ser
tom ado com o um núm ero preciso, na m aioria dos casos.
25.1- 27.21 O tabernáculo e seus objetos25.3. m etais preciosos. Ouro, prata e bronze eram
considerados os m etais e ligas mais importantes para
os israelitas no período pré-monárquico. Eram usados para troca e tam bém para decorar jóias, objetos de
culto e altares de incenso. N o caso desse versículo, representam a disposição do povo em contribuir com seus bens mais preciosos para a construção e provisão do tabernáculo.
25.4. fios de tecidos coloridos. Som ente os artigos
mais preciosos deveriam ser usados na decoração do tabernáculo. A s tintas, algum as delas feitas com o
fluido glandular extraído de moluscos marinhos e de certas plantas, eram extremamente caras e, geralmente, importadas. A s cores alistadas aqui estão em or
dem decrescente conforme seu valor e apreciação: azul, roxo e vermelho.
25.4. linho. Assim como outros tecidos, o linho feito de fibra batida era produzido em diferentes níveis de
qualidade. O linho rústico era usado para velas de embarcações, turbantes e túnicas. O termo usado aqui
é "linho fino", usado nas vestim entas dos funcionári
os egípcios (José, em G n 41.42) e nesse caso, seria usado para enfeitar o tabernáculo (ver 26.31,36 ; 38.9).
25.5. tinta verm elha. A preparação de tinturas não é mencionada muitas vezes no texto bíblico. Envolvia o uso de cal, casca de árvores e seiva de plantas, sendo necessário o acesso a um tanque com água. N esse caso, talvez as peles de carneiro fossem curtidas pelo sol ou tingidas de vermelho, ou as duas coisas, através de um processo artesanal.25.5. couro. N o original, o termo "couro" provavelm ente seja uma referência à pele de anim ais m arinhos (o peixe-boi ou dugongo, um mamífero herbívoro, e golfinhos) encontrados no m ar Vermelho, cujas peles seriam curtidas e usadas para decoração. Essas criaturas foram caçadas durante milênios no golfo árabe, por causa de sua pele. Essa palavra também pode ser comparada a um term o *acadiano que descreve um a pedra sem ipreciosa de cor am arela ou laranja, referindo-se assim à cor da tintura usada.25.5. m adeira de acácia. Trata-se de um a variedade de árvore do deserto encontrada no Sinai, muito utilizada no Egito, cuja m adeira é extremamente dura e adequada para a construção do tabernáculo e de seus utensílios.25.6. óleo da unção. As especiarias que deveriam ser usadas no preparo do óleo da unção eram a mirra, a canela, a cana arom ática e a cássia (ver receita em30.23-25). O objetivo era rem over qualquer vestígio de odores m undanos e transform ar o in terior do tabernáculo em um santuário adequado para a adoração e para a presença de Deus.25.7. pedras de ônix. Em bora seja traduzida aqui como "ô n ix", a identificação exata dessa pedra preciosa é desconhecida. Tam bém é m encionada em G ênesis2.12 como natural da terra de Havilá, perto ou dentro do jardim do Éden. Existem algumas possibilidades dessa pedra, que pode ser cinzelada, ser a lápis-lazúli ou o ônix, um a calcedônia com listras brancas leitosas e pretas.25.7. colete sacerdotal. Vestim enta sacerdotal reservada para o sumo sacerdote (ver capítulo 28). Era feita de ouro e adornada com pedras preciosas encravadas no peitoral. Era um a das vestes exteriores do sacerdote (28.25, 31), e fazia referência à autoridade do sumo sacerdote e à presença de Yahweh.25.8. id eolog ia do tem p lo. O tem plo não era um a estrutura para a adoração coletiva e sim um lugar onde Deus podia habitar no meio do povo. Para tanto, tinha de ser preservado em santidade e pureza, a fim de que a presença de Deus se manifestasse. A tarefa dos sacerdotes era m anter a pureza do local e controlar o acesso. O templo não foi idealizado para funcionar como um lugar de ofertas de sacrifícios. Ao contrá
rio, muitos sacrifícios tinham como objetivo prover o tem plo. A presença de D eus era o elem ento m ais
importante a ser preservado. As ofertas de sacrifícios pelo pecado (ver comentário em Lv 4.1-3) e pela culpa (ver comentário em Lv 5.14-16) tinham esse objetivo.25.10-22. a arca (dim ensões, m odelo, função). A arca era um a caixa de m adeira, aberta em cima, com aproximadamente um metro de comprimento, setenta centímetros de altura e setenta de largura. Era revestida por dentro e por fora de lâminas de ouro fino e tinha quatro argolas (também revestidas de ouro), duas de cada lado, onde passavam duas varas de m adeira revestidas de ouro, que eram usadas para carregar a arca e evitar que alguém, além do sumo sacerdote, a tocasse. Uma tampa de ouro puro, decorada com dois querubins com as asas estendidas, fechava a arca que continha as tábuas da lei. Sua função primordial era guardar as tábuas e servir como um estrado para o trono de Deus, garantindo assim uma ligação terrena entre Deus e os israelitas. N o Egito, era comum que im portantes docum entos confirm ados por um juramento (p. ex., tratados internacionais) fossem depositados aos pés da divindade. O Livro dos Mortos menciona uma regra escrita pela mão de uma divindade num bloco de m etal que foi depositado aos seus pés. Portanto a combinação "estrado/receptáculo" segue um conhecido costume egípcio. Nos festivais egípcios, as imagens dos deuses geralmente eram carregadas em procissão, dentro de barcas portáteis. Pinturas retratam procissões em que caixas semelhantes à arca eram carregadas por meio de varas e decoradas com im agens de criaturas em cima ou dos lados, como guardiãs. Um baú com argolas (para ser carregado), de tamanho semelhante, foi encontrado na tumba de Tutancâmon.25.10. côvado. A medida padrão do côvado israelita era a distância entre o cotovelo e a ponta do dedo médio. Pelas proporções do túnel de Siloé, descrito como tendo 1.200 côvados de com prim ento ou 528 metros, o côvado teria entre 53 e 55 centímetros. Como os arqueólogos ainda não encontraram nenhum indício sobre o côvado, sua medida real ainda é incerta.25.16. as tábuas da aliança. Esse term o refere-se às tábuas da lei que M oisés recebeu. Era bastante comum no antigo Oriente Próximo colocar códigos de leis em receptáculos construídos especialmente para representar a presença diante da divindade.25.17. o propiciatório (dim ensões, m odelo, função). O propiciatório ou "tam pa" era um a lâmina de ouro que servia como cobertura da arca (com as mesmas medidas especificadas no texto), mas por figurar como um item específico da arca, tinha um significado especial. Decorando o propiciatório havia dois querubins com as asas abertas, um de frente para o outro; as asas quase se encontravam acima da arca e serviam para
sustentar simbolicamente o trono invisível de Deus. Assim, tendo a arca como "estrado" e o propiciatório
como suporte para o trono, a presença de D eus era m anifestada ao povo.25.18-20. querubins. As descrições bíblicas, bem como as descobertas arqueológicas (incluindo algumas peças finas de marfim, de Ninrode, na M esopotâmia, de Arslan Tash, na Síria e da Samaria, em Israel) sugerem que os querubins eram criaturas múltiplas (com características de diversas criaturas, como a esfinge egípcia), geralm ente com cabeça hum ana, corpo de
animais quadrúpedes (leão) e asas. A figura de um querubim aparece com certa regularidade na arte antiga, ladeando tronos de reis e divindades. A combinação de todos esses elem entos (querubins com o guardiães do trono, arcas como estrados e afirmações no Antigo Testam ento, do trono de Yahw eh sendo sustentado por querubins, cf. 1 Sm 4.4) apóia a im agem da arca como uma representação do próprio trono invisível de Yahweh. O uso de tronos vazios era largamente difundido em todo o mundo antigo; esses tronos ficavam à disposição das divindades ou dos reis, quando estivessem presentes.25.23-30. m esa dos pães da Presença. A m esa da Presença era um a m esa de quatro pés revestida de ouro, também carregada por varas introduzidas em quatro argolas, duas de cada lado. Os pães sagrados eram colocados sobre ela (ver Lv 24.5-9) para serem vistos por :odos, sendo substituídos no final de cada semana.25.31-40. candelabro. O menorah (em hebraico) ou candelabro de ouro com sete castiçais ficava na parte externa do lugar santo do tabernáculo, na extremidade oposta à m esa da Presença. Em bora suas dimensões não apareçam no texto bíblico, o candelabro devia ser fund ido em um a única peça de ouro. Sua função era ilum inar o recinto sagrado e apenas Arão e 5-eus filhos tinham perm issão para cuidar dele. Inúmeros relevos e alguns mosaicos de candelabros já da epoca correspondente ao Novo Testamento foram encontrados, quando passaram a ser usados como símbolo do judaísm o e da vida eterna, m as acredita-se que não seguiam o m esm o m odelo do menorah dos .empos do Antigo Testamento. A m ais antiga representação do menorah encontra-se em uma moeda do primeiro século a.C., onde aparece o desenho de um
candelabro de sete castiçais bastante simples, com uma rase oblíqua. A lguns acreditam que o candelabro representava a Árvore da Vida - um símbolo recorrente em representações artísticas.26.1-6. cortinas de linho com querubins bordados. Das quatro cam ad as de cortin as que cercavam o tabernáculo, essas eram as m ais internas, sendo formadas por dez cortinas de linho fino, decoradas com
figuras de querubins. Cada cortina media vinte e oito côvados de comprimento e quatro de largura (doze metros de comprimento por um metro e oitenta centím etros de largura). Eram costuradas em grupos de cinco, formando duas cortinas mais longas, que por sua vez eram presas com laços de tecido azul e colchetes de ouro (medida total: 18 metros por 12).26.7-13. cortinas de pêlos de cabra. A s cortinas internas de pêlos de cabra serviam como um a cobertura
para proteger as cortinas de linho que cobriam o tabernáculo. Assim como as cortinas de linho, essas eram compostas de onze cortinas feitas separadamente e depois costuradas um as às outras e presas por meio de laços e colchetes de bronze (mediam 20 metros por 14).26.14. cobertura de pele de carneiro. Nenhuma medida é m encionada para essa terceira cam ada que cobria o tabernáculo por cima, feita de pele de carneiro tingida de vermelho. Essas camadas intermediárias tinham um duplo propósito: proteger o tabernáculo e servir como símbolo dos dois animais mais im portantes para a economia de Israel (ovelhas e cabras).26.14. cobertura de couro. As cortinas do tabernáculo seguiam uma progressão, indo do mais fino tecido até o couro mais resistente, garantindo assim que o recinto sagrado ficasse protegido por uma cobertura im permeável. As medidas dessa quarta camada de couro (pele de peixe-boi ou golfinho, que seriam m ais resistentes à água; cf. 25.5) não são apresentadas.26.15-30. as armações. A estrutura que sustentava as cortinas do tabernáculo era feita de m adeira de acácia. Era formada por três armações verticais de madeira ligadas por encaixes e travessões, que eram introduzidos em fendas revestidas de ouro e prata. Toda a estrutura media trinta côvados (aproximadamente 14 metros) de comprimento, dez côvados (aproximadamente cinco metros) de altura e dez de largura.26.31-35. o véu. O véu era um a espécie de cortina espessa na form a de um cubo e delimitava um espaço no átrio interno conhecido como Santo dos Santos, onde a arca da aliança era colocada. O véu media dez côvados (aproximadamente 5 metros) de cada lado, era pendurado com ganchos de ouro a quatro colunas de m adeira de acácia revestidas de ouro e fincadas em bases de prata. Era confeccionado com linho fino e fios de tecido colorido, e com bordados de figuras de querubins feitos por artífices habilidosos, assim como nas cortinas de linho na parte interna do tabernáculo.26.1-36. m odelo, dim ensões e traçado do tabernáculo. O tabernáculo era uma estrutura retangular (50 côvados de largura por cem côvados de comprimento, ou aproximadamente 25 m etros por 50), dividida em dois quadrados iguais, (cada um com 25 m etros de
cada lado) onde se localizavam três lugares sagrados: o Lugar Santíssimo que continha a arca; o Lugar Santo, fora do véu, que abrigava o candelabro, o altar de incenso e a m esa dos pães da Presença; e o átrio externo, onde ficava o altar de sacrifícios. Tanto a arca como o altar de sacrifício se localizavam exatamente no centro de seus respectivos quadrados sagrados. A entrada no átrio externo ficava do lado oriental e tinha vinte côvados de largura (dez metros). O acesso às áreas m ais sagradas do tabernáculo (orientadas num eixo oriental) só era possível através do átrio externo. Estruturas móveis de modelo semelhante (cortinas penduradas em travessões ou varas douradas), usadas tanto em atividades sagradas como seculares, tam bém existiam no Egito, remontando à metade do terceiro milênio. As tendas reais da décima nona dinastia eram feitas de duas câmaras, um a dentro da outra, sendo que a externa tinha o dobro do tam anho da interna.26.1-36. santuários m óveis no antigo Oriente Próximo. Não há evidências de outros santuários móveis
tão elaborados como o tabernáculo, m as é fato comprovado que grupos beduínos (tanto antigos como
m odernos) carregam consigo objetos sagrados e altares móveis de um acampamento para outro. Relatos do antigo Oriente Próximo também descrevem itinerários de procissões sacerdotais que carregavam imagens de deuses e objetos sagrados de uma cidade para outra. Esse costume era um a forma de permitir que a divindade visitasse os santuários, inspecionasse as dependências dos templos e participasse dos festivais anuais que aconteciam fora da capital. Textos religiosos cananeus também falam de tendas usados como habitação dos deuses. Os arqueólogos encontraram vestígios de um santuário m idianita instalado numa
tenda, em Tim ná, datado do século doze a.C ., que apesar de não ser portátil, era composto também de cortinas penduradas em varas.26.1-36. modelo de "eixo reto" do santuário. A arquitetura simétrica dos santuários antigos indica a importância dada à geometria do espaço sagrado na Anti
güidade. A entidade divina era considerada o centro de poder no Universo, portanto, o santuário deveria refletir esse papel central, pelo menos simbolicamente, dividindo o local em áreas progressivam ente sagradas e colocando o altar e os objetos associados à presença da divindade exatamente no centro do lugar m ais santo do santuário. D essa m aneira, criava-se um vínculo de poder e majestade, tornando mais efetivas as orações, os sacrifícios e as invocações ao deus. Os arqueólogos costumam classificar os templos de acordo com a organização das câmaras de acesso aos compartimentos m ais internos e pela posição da câmara
principal, que representava a presença da divindade. Uma arquitetura de "eixo reto" perm itia que a pessoa caminhasse num a linha reta desde o altar até o santuário interior (cela ou cubículo). Num a construção de "eixo inclinado", a pessoa precisaria fazer uma volta de 90 graus entre o a ltar e o lugar onde ficava a imagem. Na planta de acesso direto, a porta de entrada para a cela retangular podia ficar na parede curta ("largura da sala") ou na parede longa ("com prim ento da sala"). A planta do tabernáculo seguia o modelo do "eixo reto", m as não havia parede curta ou longa porque o Lugar Santíssimo (cela) era quadrado, não retangular.
27.1-8. altar. O altar era o lugar onde se queimavam os sacrifícios. Pelo fato de precisar ser facilmente transportado, sua forma era de um quadrado vazio (cinco côvados de cada lado e três côvados de altura) feito de troncos de acácia, com chifres em cada um dos quatro cantos, revestido de bronze e com um a grelha também de bronze. V ários utensílios (recipientes para recolher cinzas, pás, garfos e braseiros) eram usados para m anusear a carne sacrificial e as cinzas. Assim como a arca, o altar tinha argolas e varas laterais para facilitar o transporte. Em bora não fosse tão sagrado como a arca, o altar também era um local de contato com Deus, e ficava no eixo principal do átrio externo do tabernáculo. A ministração no altar era restrita à família sacerdotal de Arão, sendo que funcionava como meio de ligar o povo à promessa da *aliança (fertilidade e terra prom etida). A través dos sacrifícios, o povo reconhecia a generosidade de Deus e era conduzido a uma comunhão com o poder que os protegia e
abençoava.27.9-19. o pátio. A arquitetura do tem plo requeria que os recintos mais sagrados fossem separados do m undo profano da vida cotidiana por um a área cercad a - o pátio, no caso do tabernáculo. Essa área era demarcada por cortinas de linho (com aproximadamente dois metros de altura) fechando um pátio de
aproximadamente 990 metros quadrados (cem côvados por cinqüenta). Visto que a parte interna do tabernáculo tinha quatro m etros e m eio de altura, as paredes tapavam apenas parte da visão, deixando claramente visível o símbolo da presença de Deus. As cortinas do pátio eram presas em 56 colunas encaixadas em bases de bronze. O em prego de m aterial de m enor valor reflete o uso progressivo de materiais preciosos até os m ais comuns, na construção do tabernáculo.27.21. a Tenda do Encontro. A rão e seus filhos tinham de colocar azeite de oliva nas lâm padas que
ficavam diante da "Tenda do Encontro", o "lugar santo" que ficava do lado de fora do véu que separava aquela área do Lugar Santíssimo. A li a presença de
D eus se m anifestaria a M oisés e o povo receberia instruções através dessas mensagens oraculares (ver 39.32; 40.2; 6.29). Esse espaço, portanto, tinha uma função sim bólica e tam bém prática. A presença de Deus era reconhecida pelas lâmpadas que perm aneciam sempre acesas. A tarefa de m anter as lâmpadas acesas fornecia um papel para a comunidade sacerdotal, e era garantia de direção, prom etida prim eiro a Moisés e conseqüentemente ao povo, o que está im
plícito no nome "Tenda do Encontro".27 .20 ,21 . lâm padas sem pre acesas. O azeite puro de oliva devia ser usado para garantir um a luz perm anente à entrada do Lugar Santíssim o. O serviço relacionado a essas lâmpadas era feito por Arão e seus filhos, e sim bolizavam a presença de Deus. A continuidade dessa função sacerdotal é vista em 1 Sam uel 3.3.
28.1-43As vestes sacerdotais28.1. sacerdócio. A criação de um sacerdócio profissional é a m arca do am adurecimento de um sistem a religioso. Ao escolher Arão e seus filhos para o sacerdócio, Deus designou quem era digno de servi-lo no tabernáculo e estabeleceu a sucessão hereditária para as futuras gerações de sumos sacerdotes em Israel. A linhagem sacerdotal se originava da tribo de Levi e, especificamente, da descendência de Arão. As tarefas do sacerdote compreendiam apresentar sacrifícios pelo povo e celebrar os principais festivais religiosos, o que lhes conferia certos direitos e responsabilidades que ninguém mais tinha, como: uso de vestes especiais e direito a um a porção do sacrifício , que era separada para eles. Os sacerdotes não tinham permissão de possuir terras, nem de executar funções que não se relacionassem ao sacerdócio. Eles estavam presos a um padrão mais elevado de obediência e eram rapidamente punidos se fracassassem no eumprimen- :o de suas obrigações ou não servissem de exemplo adequado para o povo.28.1. sacerdotes no antigo O riente Próxim o. Todas as culturas do antigo O riente Próxim o desenvolveram algum tipo de sacerdócio. Apenas as tribos beduínas não costumavam separar alguns indivíduos para desempenhar funções estritamente sacerdotais. As funções exercidas por eles, como parte de um a comunidade sacerdotal, eram servir nos templos, realizar sacrifícios, dirigir cultos religiosos e participar dos festivais. O sacerdote recebia instrução no templo desde a mais tenra idade e sua posição na classe sacerdotal era hereditária, em alguns casos. Eles faziam parte do pequeno grupo de pessoas letradas da sociedade, que dependia deles para m anter os registros dos principais eventos e revelar-lhes a vontade dos deuses. Esse
processo era conhecido como *adivinhação e, junto com o sacrifício *ritual, era a principal fonte de poder e autoridade dos sacerdotes. Havia uma hierarquia entre os sacerdotes, que incluía o chefe dos sacerdotes, que às vezes, rivalizava com o rei em poder, os indivíduos de nível médio que executavam *rituais e sacrifícios diários, os músicos, e por últim o os servos do templo, que atuavam como zeladores e faziam os serviços domésticos necessários a qualquer comunidade
de tamanho considerável.28.6-14. éfode ou colete sacerdotal. A veste sacerdotal mais importante usada por Arão era o éfode, ou colete, que era uma roupa de linho que cobria a parte superior do corpo ou um a peça frontal presa aos ombros e atada na cintura. O uso de fios de tecido de cinco cores e de ouro, bem com o de duas pedras engastadas, indicam sua im portância. O nom e das seis tribos gravado em cada um a das pedras servia como um constante lembrete a todos de que ele era o representante da nação diante de Deus. Em passa
gens posteriores, o éfode aparece relacionado a ídolos e adoração falsa (Jz 17.5, 8; 24-27), sugerindo que era um a veste assim ilada da sociedade m esopotâm ica, talvez usada pelos sacerdotes ou para adornar ídolos. O peitoral (28.15), o Urim e o Tumim (28.30) e o éfode eram usados nas *adivinhações (1 Sm 23.9-11),assim, o sum o sacerdote vestia-se com roupas que auxiliavam no discernimento da vontade de Deus.28.15-30. peitoral. Usando um pedaço do mesmo linho colorido de que era confeccionado o éfode, fazia- se um bolso de 22 centím etros quadrados, dobrado em dois. Esse peitoral era então firm emente preso ao colete por meio de correntes de ouro e cordões azuis que passavam por argolas, prendendo-o às ombreiras e à cintura do colete. Presas em bases douradas do peitoral ficavam as doze pedras semipreciosas dispostas em quatro fileiras (compare à lista de pedras preciosas em Ez 28.13). Cada pedra tinha o nome de uma das tribos de Israel, servindo como uma lembrança adicional para todos (inclusive Deus) da responsabilidade do sacerdote como representante do povo. No bolso, eram colocados o Urim e o Tumim, que ficavam exatamente sobre o coração do sacerdote. Esses objetos, juntam ente com o peitoral, eram usados como instrumentos oraculares para discernir a vontade de Deus. No antigo Oriente Próximo acreditava-se que as pedras (inclusive gemas de diversos tipos) tivessem poderes *apotropaicos (ofereciam proteção contra forças espirituais). Um manual *assírio do sétimo século a.C. preserva uma lista de várias pedras e seus respectivos "pod eres", que variam desde "aplacar a ira divina" até "evitar enxaqueca". Um texto ritual alista doze pedras preciosas e semipreciosas que de-
viam ser usadas na confecção de um filactério que era
colocado ao redor do pescoço, como uma gargantilha.28.30. Urim e Tum im . Ao contrário da maioria dos
objetos descritos aqui, não há nessa passagem nenhum a referência à "confecção" do Urim e do Tumim.
Isso sugere que já eram usados anteriormente, e ago
ra passariam a ficar no peitoral para serem usados pelo sumo sacerdote (ver Lv 8.8 e D t 33.8). Nenhuma descrição desses objetos é encontrada nas Escrituras,
embora as tradições helenistas e de períodos posteriores indicam que serviam para revelar a vontade de
Deus, através da disposição formada ao serem lançados como dados (ver Nm 27.21; 1 Sm 14.37-41 e 28.6).
Não há nenhuma característica negativa atrelada ao
U rim e ao Tum im , como havia em outras práticas divinatórias, e tam bém nunca são m encionados em passagens relacionadas à adoração ou *rituais não
israelitas. De qualquer forma, a prática de apresentar perguntas do tipo "sim ou não" (oráculos) aos deuses
era bastante conhecida em todo o antigo Oriente Próximo. Nesse aspecto, são particularmente interessan
tes os textos *babilônicos tamitu, que preservam as
respostas a muitas perguntas oraculares. Pedras positivas e negativas (acredita-se que fossem pedras cla
ras e escuras) tam bém eram am plamente usadas na
M esopotâm ia, num procedim ento cham ado psefo- mancia. Em um texto *assírio, o alabastro e a hematita
são m encionados de m aneira específica. O processo
consistia geralmente em se fazer uma pergunta cuja
resposta seria "sim ou não" e a seguir tirava-se uma pedra. Para confirmar a resposta, uma pedra da mes
m a cor deveria ser tirada por três vezes consecutivas.
Urim é a palavra hebraica para "lu zes" e, portanto, estaria associada às pedras claras ou brancas. Um es
tudo recente mostrou que a hematita, por ser usada
para pesos e lacres, era chamada de "pedra da verdade" entre os *sum érios. A palavra hebraica Tum im
poderia ter um significado semelhante.
28.31-35. m anto. Sob o colete, o sumo sacerdote devia usar um largo manto azul que chegava quase até o
tornozelo. A gola era reforçada para que não se ras
gasse e o manto era sem mangas. A borda era rica
mente decorada com bordados de romãs e com sinos de ouro, que se alternavam por toda a volta.
28.33, 34. rom ãs. A borda do m anto do sacerdote
tinha romãs bordadas com fios de tecido azul, roxo e verm elho. Essa fruta é m encionada geralm ente em
narrativas e canções (Nm 13.23; 20.5; Ct 4.3; 6.7) e foi usada na decoração do templo de Salomão (1 Rs 7.18).
As romãs simbolizavam a fertilidade da terra prometida e também eram usadas na decoração de acessórios rituais em *Ugarite.
28.33-35. sinos de ouro. Pequenos sinos de ouro eram presos na borda do manto do sacerdote, intercalando- se com as romãs bordadas. A função deles era sinalizar os m ovimentos do sumo sacerdote dentro do Lugar Santíssimo, lembrando-o da responsabilidade de executar suas obrigações exatamente de acordo com a lei e indicando ao povo sua presença no recinto santo.28.36-38. diadema gravado. Como um memorial perpétuo de seu papel esp ecial com o sacerd ote, um diadem a de ouro gravado com a inscrição "C on sagrado ao Senhor" era preso ao turbante. Esse adereço era equivalente ao diadema da coroa do rei e simbolizava sua autoridade. O diadema tam bém responsabilizava pelas infrações a pessoa encarregada de todos os *rituais.28.38. levará a culpa. Como o responsável por todos os *rituais religiosos, era importante que o sumo sacerdote levasse seu ofício a sério. Assim, um diadema gravado era preso ao seu turbante como sinal de autoridade e para lembrá-lo de que ele levaria a culpa e o castigo por qualquer falha em obedecer às leis dos *rituais e sacrifícios.28.39-41. túnica. A vestimenta comum usada por homens e mulheres no período bíblico era uma túnica de linho. Era usada diretam ente sobre a pele, com com prim ento até o tornozelo e m angas compridas, oferecendo assim proteção contra o sol. As túnicas das pessoas abastadas (Gn 37.3 e 2 Sm 13.18, 19) e dos sacerdotes às vezes eram bordadas ou recebiam uma bonita aplicação na borda.
28.39. turbante. O turbante tam bém era feito de linho, e de acordo com Josefo, não tinha o formato de
um cone (.Antiquities o fth e Jews 3.7.6). É provável que o turbante do sumo sacerdote fosse mais elaborado do que o dos sacerdotes comuns (28.40), pois além de ter um diadema gravado preso a ele, era m ais colorido.28.42, 43. roupas de baixo. Ao contrário das pessoas comuns, os sacerdotes tinham de usar calções de linho debaixo de suas túnicas para cobrir seus órgãos genitais. Dessa forma não exporiam sua nudez quando
estivessem subindo os degraus do altar ou cuidando de sua lim peza. A nudez era um costum e comum entre os sacerdotes da Mesopotâmia, mas proibida na prática israelita.
29.1-46 A consagração dos sacerdotes29.1-46. cerimônia de ordenação. Após ter ordenado a construção do tabernáculo, da arca, do altar e de todos os objetos e enfeites relacionados, Moisés deu as instruções para a consagração desses objetos e dos sacerdotes ao serviço de Deus. Moisés exerceu as funções de um sacerdote na direção e execução dos *ri
tuais de consagração, que a partir daí ficariam a cargo de Arão e seus descendentes. U m ritual de sete dias marcou a inauguração e o uso do tabernáculo e do altar, mostrando os tipos de sacrifícios a serem feitos nos recintos sagrados e as funções e privilégios dos sacerdotes. O sangue, que sim bolizava a vida, era um dos elementos mais significativos do ritual, e foi aspergido sobre o altar e sobre as vestes dos sacerdotes. Elementos sacrificiais (trigo, bolos e azeite), bem como animais, foram oferecidos e queimados no altar. Desse m odo o tabernáculo e o altar foram purificados e preparados para uso. Alguns pedaços de carne foram usados como oferta m ovida e depois separados como porção reservada aos sacerdotes. Ao longo da cerimônia, formou-se um sentido de continuidade entre a primeira consagração e todas as ações sacerdotais subseqüentes.29.2, 3. m elhor farinha de trigo. Os elementos usados na consagração do tabernáculo, do altar e dos sacerdotes representam a fertilidade da terra, as dádivas de Deus ao povo. A farinha de trigo usada na fabricação de pães sem ferm ento e bolos tinha de ser da melhor qualidade, representando um sacrifício apropriado a pessoas que dependiam da agricultura para seu sustento.29.2, 3. bolos amassados com azeite. O trigo e o azeite de oliva eram os principais produtos agrícolas do antigo Israel. M isturá-los no bolo sacrificial era uma forma do povo reconhecer o papel de Deus em garantir a fertilidade do solo a cada ano. A seqüência das ofertas também sim bolizava os eventos sazonais de plantio e colheita e os festivais agrícolas.29.2, 3. pães finos untados com azeite. A entrega conjunta das ofertas de grãos e de carne simboliza a *aliança sendo aceita pelo povo e o reconhecimento de que Deus é o provedor da fertilidade. Embora o significado dos pães sem fermento, bolos e pães finos não esteja claro, talvez representem os melhores produtos assados da época ou elem entos separados para uso "ritual.29.4. lavar-se com água. N ão seria apropriado aos sacerdotes novatos vestirem suas vestes sacras novas sem primeiro tomar um banho ritual. Para isso, eles anham de ficar totalm ente im ersos na água, como rarte da cerim ônia de consagração. Após o banho, tinham de lavar novamente apenas os pés e as mãos antes de executar suas tarefas (30.17-21).29.5. cinturão. Som ente o sum o sacerdote tinha um cinturão especialm ente confeccionado e tecido para prender suas vestes. Os sacerdotes inferiores usavam cintos comuns (29.9). O objetivo desse cinturão talvez rosse indicar o grau na hierarquia ou garantir m aior mobilidade ao sacerdote, mantendo as roupas amarra
das quando tinha de curvar-se ou oferecer sacrifícios.
29.7. unção. Apenas nessa passagem e em Levítíco8.12. há referência ao fato do sumo sacerdote ser ungido com óleo na cabeça ao ser ordenado. No entanto, em Êxodo 30.30 e 40.15, tanto Arão como seus filhos são ungidos. U ngir a cabeça com óleo poderia ser comparado à unção dos reis em períodos posteriores (1 Sm 10.1; 16.13). Em ambos os casos, o óleo simbolizaria as dádivas de Deus ao seu povo e as responsabilidades agora depositadas sobre seus líderes, por meio dessa cerimônia. N a prática israelita, a unção era sinal de eleição e freqüentemente estava intimamente relacionada à capacitação pelo Espírito. Ver comentário em Levítico 8.1-9.29.8, 9. túnicas, gorros e cinturões. Os filhos de Arão,
que serviam como sacerdotes inferiores sob as ordens de seu pai, tinham vestes sacerdotais m ais simples. Eles usavam roupas diferentes, que os distinguiam dos demais israelitas, mas a consagração deles ao serviço não envolveu tanta solenidade, visto que suas obrigações seriam menos importantes que as do sumo sacerdote.
29.10, 15, 19. im posição de m ãos sobre anim ais. Àmedida que cada animal era trazido ao altar, os sacerdotes tinham de examiná-los para certificar-se de que atendiam às exigências da lei. Após essa verificação, um *ritual simbólico de confirmação era representado, no qual os sacerdotes colocavam as mãos sobre o animal, assumindo a responsabilidade por sua morte e pelo motivo do sacrifício. Alguns sugerem que esse ato correspondia a uma afirmação de posse. Ver comentário em Levítico 1.3, 4 para discussão sobre diversas possibilidades.29.12. sangue nas pontas do altar. As pontas do altar sim bolizavam especificam ente a presença de D eus em qualquer ato sacrificial. Ao colocar o sangue do novilho sacrificado nas pontas do altar, os sacerdotes estavam reconhecendo a presença e o poder de Deus, o doador da vida, e purificando-se de seus pecados (ver comentário em Lv 4.7).29.12. sangue na base do altar. O altar é o ponto central do sacrifício animal. É a plataform a onde os israelitas oferecem a Deus aquilo que lhe é devido. Para que o altar pudesse ser totalmente consagrado a esse serviço, seus fundam entos (base) deviam ser purificados com o sangue da oferta pelo pecado (v. 14).29.13. gordura queimada. Nenhuma parte do novilho podia ser poupada, visto que era uma oferta pelo pecado. Assim, a gordura, os rins e o fígado, que provavelmente eram usados para ^adivinhações (como era costume na M esopotâmia) ou dados aos participantes do sacrifício, agora deveriam ser queimados sobre o altar.
29.14. outras partes fora do acampamento. Im pure
zas e restos tinham de ser levados para fora do acampam ento (ver D t 23.12-14). Pelo fato do novilho ter
sido usado como oferta pelo pecado, a carne, o couro e o excrem ento tinham se contam inado e assim não
poderiam ser consum idos ou usados de para qualquer fim (ver Lv 4.12).
29.14. oferta pelo pecado. Existiam diversos tipos de sacrifícios e ofertas feitos pelos israelitas, geralmente por motivo de gratidão ou expiação pelo pecado. A
oferta pelo pecado tinha o propósito de purificar a pessoa que tivesse se contaminado através do contato
com *im pureza (física ou espiritual) ou devido a algum incidente (polução noturna, em Dt 23.10). Tam
bém era usada na consagração de sacerdotes, visto que era exigido deles um padrão m ais elevado de
*pureza do que aos israelitas com uns. Os anim ais usados nesses *rituais recebiam o pecado e a im p u re
za das pessoas pelas quais estavam sendo sacrificados. Assim, todo seu corpo ficava contaminado e ne
nhuma de suas partes podia ser consumida ou usada para produzir alguma outra coisa. Todas as partes do
animal sacrificado deviam ser eliminadas: os órgãos e
a gordura eram queimados sobre o altar e a carne, o
couro e os ossos eram queimados até se transformarem em cinzas, fora do acam pam ento. Essa últim a recom endação evitava que a casa das pessoas fosse contaminada. Para mais informações, ver comentário em Levítico 4.1-3.29.15-18. cordeiro como holocausto. O primeiro cor
deiro sacrificado no *ritual de consagração devia ser
completamente consumido pelo fogo no altar. O animal era cortado em pedaços a fim de que coubesse no
altar e suas vísceras lavadas, para que não fossem
contaminadas por nenhum resquício de excremento. A carne era um bem precioso para um povo de pasto
res com o os israelitas, m as o cordeiro e o novilho,
ambos símbolos de fertilidade, deviam ser totalmente
destruídos para que a oferta sacrificial a Deus fosse completa. Quando o sacrifício era feito em honra ao
poder de Deus, nenhuma parte do animal podia ser poupada.
29.18. aroma agradável. Os deuses da Mesopotâmia
também eram atraídos pelo aroma dos sacrifícios (como na história do dilúvio de *Gilgamés). No entanto, os
deuses precisavam também comer a carne do sacrifício para se sustentar. Na tradição israelita, um "arom a
agradável" significava um sacrifício adequado que
agradava a Deus (ver G n 8.21). Com o tempo, tom ou-
se um termo técnico para descrever um sacrifício aceitável e aceito por Deus (compare Lv 26.31), e não algo para ser comido.
29.20. sangue na ponta da orelha, no polegar da mãoe do pé. Assim como o sangue era usado para preparar adequadam ente o altar para o serviço, tam bém era usado para designar as funções dos sacerdotes: ouvir a palavra de Deus, oferecer sacrifícios com as mãos e conduzir o povo na adoração com os pés. Há tam bém um elem ento de purificação em cada uma dessas atitudes, através do sangue da expiação (compare Lv 14.14).29.20. sangue nos lados do altar. O sangue de três animais sacrificados era usado para tratar dos pecados dos novos sacerdotes. Ao aspergir o sangue do primeiro cordeiro no altar, eles reconheciam o poder de Deus para sustentar a vida e a significativa relação do serviço e do compromisso deles como servos de Deus (compare 24.5, 6).29.21. aspersão com sangue e óleo sobre os sacerdotes. O sangue e o óleo são os principais elementos do processo sacrificial. Ao aspergi-los sobre os sacerdotes e sobre suas vestes, a cerimônia de ordenação foi encerrada e os sacerdotes foram m arcados fisicamente para o serviço (compare com a marca do povo como fiadores da *aliança, em 24.8) e também purificados.29.22-25. oferta m ovida. N a terceira etapa do *ritual sacrificial, eram apresentadas perante o Senhor, como "oferta m ovida", porções da cesta de pães e do cordeiro da oferta de ordenação. Provavelmente essa desajeitada pilha de ofertas sacrificiais era erguida, e não literalmente m ovida, visto que desse modo seria mais difícil desequilibrar-se e/ou derrubar os elem entos sagrados. A m elhor tradução para a terminologia usada no texto é "oferta elevada"; esse m odo de lidar com as ofertas tam bém aparece em relevos egípcios. O gesto de levantar fisicam ente a oferta significa que todos os elementos sacrificiais derivam de Deus e pertencem a Ele. Nesse caso, os bolos e pães finos seriam levantados e depois queimados sobre o altar. A carne do cordeiro, porém, seria usada como alimento para um banquete de *aliança do qual Arão e seus filhos tom ariam parte, ao contrário do prim eiro cordeiro, que era totalmente queimado. Aqui tam bém é estabelecido o m odelo concernente às porções do sacrifício que pertenciam aos sacerdotes (note que Moisés toma sua parte, pois está servindo como sacerdote oficiante da cerimônia - v. 26).29.26-28. partes do sacrifício como alimento para os sacerdotes. Visto que os sacerdotes dedicavam-se exclusivamente às tarefas religiosas e não podiam possuir terras, eram sustentados pelas porções dos sacrifícios que eram trazidos ao altar. Certas partes, como o peito e a coxa do cordeiro, eram separadas especificamente para os sacerdotes. Um a vez que esse alimento fosse apresentado como sacrifício e oferecido a Deus,
somente os sacerdotes poderiam comê-lo, e o que não
fosse con su m id o , pela m esm a razão d everia ser
destruído.29.29,30. vestes sacerdotais hereditárias. Nesse trecho,
que interrom pe as orientações acerca da carne sacrificial, o cuidado passa a ser com a ordenação das futu
ras gerações de sacerdotes. A s vestes originais do sumo
sacerdote, confeccionadas para Arão, deveriam ser pas
sadas ao seu sucessor na ocasião de sua m orte. Assim, quando Arão morreu, Moisés o despiu de suas vestes
sagradas e obedecendo a um *ritual de sete dias, colo
cou-as em Eleazar, filho de Arão (Nm 20.22-29).29.31. cozida num lugar sagrado. Visto que a carne
das ofertas m ovida e de ordenação tom ara-se sagrada, não podia ser preparada em recintos com uns.
Assim, era levada ao pátio do tabernáculo para ser cozida. Desse m odo, os elem entos sagrados m anti
nham seu poder e autoridade pelo fato de serem usa
dos ou m anuseados som ente em áreas igualm ente
sagradas. '
29.34. queima da sobra. Devido à sua natureza sagrada, a carne sacrificial que fora reservada para a ali
m entação dos sacerdotes não podia ser usada para
nenhum outro propósito nem consumida por pessoas comuns. Assim, a porção que não fosse imediatamente consumida devia ser destruída pelo fogo a fim de
evitar que o elemento sagrado fosse usado de m anei
ra incorreta.29.36, 37. fazer propiciação. A idéia subjacente ao
processo de transformação pelo qual o altar atravessa,
é de purificação. Nenhum objeto feito por mãos humanas pode, por definição, ser puro o suficiente para
ser usado no serviço de Deus. Apenas por m eio de
um *ritual prescrito de sacrifícios diários de animais valiosos (novilhos) por um tempo considerável (duas
vezes por dia, durante sete dias) o altar poderia ser suficientemente purificado a ponto de tom ar-se santo
e sagrado. Através desse processo, o pecado inerente
dos hom ens que construíram o altar e os m ateriais contaminados (no sentido de não serem santos) usa
dos para sua construção, se tom am apropriados para o uso no serviço de Deus. A partir de então, tudo que
entrasse em contato com o altar devia ser puro (tanto os sacerdotes como os sacrifícios). Se o nível de *pure-
za fosse mantido, então os sacrifícios seriam aceitos e o povo seria beneficiado com isso. Ver comentário em
Levítico 1.4.29.37. tudo o que nele tocar será santo. Devido ao nível superior de santidade do altar sacrificial (abaixo
apenas do Lugar Santíssimo), qualquer coisa que tocasse nele se tom aria santa. Sendo assim, era impor
tante que o altar fosse protegido de pessoas e coisas
impuras para que a santidade não fosse perdida ou
corrompida.29.38. ofertas diárias. As ofertas pelo pecado e de ação de graças deviam ser trazidas pelo povo diariamente, não apenas em ocasiões especiais, tais como a cerimônia de ordenação. Assim, os sacerdotes tinham de sacrificar a cada dia dois cordeiros de um ano (conhecida com o tamid ou oferta "p erp étu a"), um de m anhã e o outro ao entardecer. Esse *ritual diário servia para mostrar ao povo a presença contínua de D eus entre eles, bem como sua constante obrigação de obedecer à *ali- ança. O fluxo constante de m ovim ento no altar sacrificial tam bém m antinha sua santidade e reforçava o papel dos sacerdotes como profissionais da religião.29.40. um décimo de efa (ARA). A principal medida para secos em Israel era o hômer, equivalente à carga transportada por um jumento. Não se sabe exatamente a quanto correspondia essa medida, devendo oscilar de 138 a 236 litros; um cálculo aproximado confere ao hômer a capacidade de 189 litros. O efa (palavra emprestada do egípcio) equivalia à décima parte do hôm er (Ez 45.11) ou a 18,9 litros. Um décimo de efa de farinha seria cerca de dois litros, e era a oferta diária de cereais.
29.40. um quarto de him (A R A ). O h im (palavra em prestada do egípcio) era um a medida para líquidos equivalente a 3,15 litros. U m quarto de him (equivalente a 0,79 litro) de azeite de oliva devia ser m isturado com a farinha, como parte da oferta diária. Além disso, um litro de vinho devia ser derramado no altar como oferta, diariamente.
29.40. 41. oferta derramada. A libação ou oferta derramada fazia parte dos sacrifícios diários no tabernáculo. Era dedicada, juntam ente com o cordeiro e a m istura de farinha e azeite, pela manhã, e ao entardecer, simbolizando a proteção e o favor de Deus ao longo do dia. O oferecimento de libações era uma prática comum nas casas, antes das refeições, e esse *ritual tam bém era praticado nos holocaustos diários como parte de uma refeição *ritual, de comunhão entre Deus
e o povo.
30.1-38Incenso, óleo e água30.1-10. o altar do incenso. Assim que o tabernáculo foi guarnecido e purificado, e os sacerdotes ordenados, a Presença de Deus entrou no Lugar Santíssimo para encontrar-se regularm ente com M oisés (29.42, 43). No entanto, era preciso um objeto adicional para representar a Presença e ao m esm o tempo proteger os hum anos, escondendo-a de sua visão. Esse objeto era o altar do incenso, uma pequena mesa (45 centímetros quadrados por 90 de altura) feita de madeira de acácia,
com pontas, como o altar sacrificial, e recoberta de ouro. Ficava na área im ediatamente externa ao véu
que encerrava o Lugar Santíssimo. Assim como a arca,
esse altar interior tinha argolas para ser transportado por meio de varas. Um a mistura especial de incenso
era queim ada nesse altar todas as m anhãs e tardes. N o dia da propiciação, as pontas do altar tinham de
ser untadas com o sangue do sacrifício, num processo de purificação anual.
30.7, 8. queim ar incenso. O uso de incenso tem sido comprovado por descobertas arqueológicas que re
montam aos primeiros períodos da história israelita,
embora poucos altares de incenso tenham sido escavados *in loco nos santuários israelitas (Arad é uma
exceção). O incenso usado provavelm ente consistia num a m istura de resina de incenso e outras gomas
aromáticas. A prática de queimar incenso tinha objetivos religiosos e práticos. O cheiro da carne queiman
do no altar sacrificial seria desagradável e o incenso ajudaria a mascarar aquele odor. A fumaça do incenso
também era usada para defumar os recintos sagrados e proporcionar um ar de mistério, com a fumaça re
presentando a presença de Deus ou ocultando-a dos
olhos humanos. Também é possível que a fumaça do
incenso simbolizasse as orações do povo subindo até Deus.
30.10. propiciação anual. O Dia da Propiciação era
um dia especialmente reservado para remover a contaminação pelos pecados do ano anterior. De acordo
com Levítico 23.27-32, esse evento acontecia dez dias
após o início do ano-novo. Nesse dia o sumo sacerdote entrava nos recintos interiores do tabernáculo e quei
mava incenso no altar dourado. As pontas do altar do
incenso também eram untadas com o sangue do sacri
fício especial do dia, de modo a vincular a santidade desse altar e o fluir do incenso à necessidade de puri
ficação pelos pecados da nação. Um a descrição mais
detalhada desse *ritual anual, incluindo o ritual de
lançar os pecados do povo sobre o bode expiatório, pode ser encontrada em Levítico 16.
30.11-16. preço do recenseam ento. Todos os homens com mais de vinte anos tinham de pagar uma taxa de
meio siclo por cabeça para ajudar na manutenção do
tabernáculo. Vemos aqui um senso de igualdade pelo fato de não se fazer distinção entre ricos e pobres -
todos deviam pagar a m esm a quantia. No entanto, havia também um aspecto sombrio representado pela ameaça de uma praga e pelo descontentamento divino se todos não se submetessem ao censo. Compara
ções com outros recenseamentos (Nm 1 e 2 Sm 24)
indicam que as pessoas temiam passar pelo censo, por
ele ser usado no recrutamento de soldados e também
para arrecadar impostos. Nesse caso, porém, o pagamento da taxa e a contagem dos homens, à medida que passavam, talvez represente a aceitação da res
ponsabilidade de cada um deles em prover recursos para a construção e manutenção do tabernáculo.
30.11-16. superstição em relação ao censo. O recenseam en to era um a m ed id a p rá tica to m ad a p elo s governantes, no antigo Oriente Próximo, desde o pe
ríodo que antecede às tabuletas de Ebla, (cerca de 2500 a.C.). Os benefícios resultantes desse costume não eram necessariamente percebidos pelo povo, vis
to que os censos geravam o aumento dos impostos, bem como o alistamento m ilitar obrigatório ou a im
posição de trabalhos forçados. Por essa perspectiva, não é de estranhar que existisse a noção popular de
que o censo trouxesse azar ou provocasse o desconten
tamento divino. Textos de *M ari (século 18 a.C.) da M esopotâm ia descrevem hom ens fugindo para as m ontanhas para escapar do censo. Em 2 Samuel 24 há
o relato de Deus punindo Davi e o povo de Israel com
um a praga, após o térm ino de um recenseam ento. Mas esse castigo pode ser explicado pelo fato do censo
ter sido motivado pelo orgulho humano.
30.13. siclos (ARA). O pagamento da taxa do templo,
correspondente a meio siclo, efetuado pelos israelitas pelo menos até o sexto século a.C., era baseada no
valor de algum m etal precioso e não m onetário. O siclo pesava em m édia 11,4 gramas, mas esse texto
m enciona o "peso padrão do santuário", que muito
provavelm ente seria um a fração m enor que o siclo
comum. Pesos descobertos em escavações arqueológicas com provam que um siclo pesava de 9,3 a 10,5
gramas. O peso padrão do santuário tam bém pode
referir-se a um siclo de valor e peso m aior que o "valor de m ercado".
30.13. geras (ARA). Um a gera (termo *acadiano trans
portado para o hebraico) era a menor medida de peso dos israelitas. Era o equivalente a aproximadamente
meio grama ou 1/20 de um siclo.30.17-21. bacia de bronze. Na entrada do pátio, entre
o altar sacrificial e o tabernáculo propriamente dito,
deveria ser colocada uma bacia de bronze com água. Essa bacia seria usada pelos sacerdotes para lavar as
mãos e os pés, toda vez que entrassem nesse recinto
santo, como preparação para o serviço sagrado. Desse modo, antes de oferecer os sacrifícios, eles tiravam das
mãos as impurezas do mundo externo e limpavam os pés para não deixar rastro da poeira e fuligem das
ruas. Esse utensílio foi acrescentado à lista do taber
náculo depois da ordenação e consagração dos sacerdotes, visto que devia ser usado diariam ente e não
apenas em ocasiões especiais.
30.22-33. óleo da unção. O óleo da unção seguia uma fórmula especial, misturando especiarias preciosas (mir
ra, canela, cana aromática, cássia) ao azeite de oliva,
produzindo uma substância a ser usada na unção do tabernáculo e de seus utensílios, bem como dos sacer
dotes. O processo envolvia mergulhar as especiarias na água, fervê-las, misturá-las com o azeite e depois
deixar repousar até a fragrância permear toda a mis
tura. Para assegurar a exclusividade, o óleo da unção deveria ser preparado por um perfumista profissional
e seria usado para designar o caráter sagrado dos
recintos e tam bém dos sacerdotes.
30.23, 24. especiarias. Visto que todas as especiarias alistadas na receita do óleo da unção eram produtos
im portados, custavam m uito caro e eram extrem amente valiosas. Elas eram importadas do sul da Arábia
(mirra), da índia ou do Sri Lartka (canela) e de outras
terras distantes (ver Jr 6.20 a respeito da cana aromática) por via marítima ou terrestre, através de rotas já
estabelecidas pelas caravanas. As especiarias eram
misturadas a óleos aromáticos por associações de per- fumistas profissionais e eram usadas para realçar a
pessoa, e tam bém para ungir sacerdotes e lugares
sagrados.30.30-33. receita sagrada. A receita do óleo da unção
era exclusivam ente destinada para uso sagrado. A
fragrância especial dessa substância sagrada era restrita apenas ao tabernáculo e aos seus funcionários, e
não devia ser usada com propósitos seculares.
30.34-38. receita do incenso. O incenso queimado no altar dourado, dentro do tabernáculo, era preparado
de acordo com uma receita especial, que não podia ser
copiada nem usada para outro propósito. A receita incluía quatro itens específicos: goma ou resina, tal
vez de árvores de bálsamo; uma substância extraída das glândulas de moluscos; gálbano, uma resina nati
va da Pérsia que intensifica o arom a de outras essências e incenso do sul da Arábia.
31.1-18 Preparação para a construção do tabernáculo e de seus utensílios31.1-11. artesãos de m adeira e metal. Depois de ter
dado as instruções sobre a construção do tabernáculo e de seus utensílios, M oisés destacou os artesãos que iriam executar essa tarefa. O texto diz que eles recebe
ram de Deus grande destreza e habilidade artística para trabalhar metais, talhar e esculpir pedras e entalhar madeira. A idéia de uma divindade concedendo
habilidade artística a artesãos envolvidos numa tarefa sagrada tam bém é citada no relato do deus Ea, que
orientou os responsáveis pela construção da estátua
de Sipar (século nono). Os dois artesãos escolhidos por Moisés deveriam supervisionar o trabalho das várias
equipes de trabalhadores treinados. Essas equipes se encarregariam de tarefas como: m oldar as peças do
tabernáculo, revestir os objetos sagrados de bronze e ouro, coser os tecidos usados nas coberturas, no véu e
nas vestimentas dos sacerdotes, e gravar as pedras do éfode e do peitoral.
31.12-17. sábado como sinal da aliança. Enquanto o sinal individual de participação na *aliança era a cir
cuncisão, o sinal da participação coletiva de Israel era
a guarda do sábado. Assim como a circuncisão, a guarda do sábado era um a norm a permanente, aplicável a
todas as gerações. Porém, ao contrário da circuncisão,
não se limitava a uma única ação, mas relacionava-se a uma atitude que devia ser mantida para sempre e
praticada periodicamente. Depois que as instruções a
respeito da construção do tabernáculo foram dadas e
escolhidos os trabalhadores que fariam a obra, era necessário ligar esse trabalho sagrado à lei do sábado.
Mesmo nessa obra, o trabalho devia cessar todo sétimo dia, como sinal de respeito e reconhecim ento a
Deus como Criador, e também de submissão à pro
messa da aliança de obedecer às ordens de Deus (ver20.8-11). Em bora a interrupção do trabalho pudesse
ser um encargo para a economia, seria compensada
pela renovação do ânimo e das forças físicas por meio
do descanso. O m andamento para o descanso no sábado era tão im portante que aqueles que o violassem estariam sujeitos à pena de morte.
31 .14 ,15. nenhum trabalho (profano ou sagrado). A
disposição em interromper o trabalho no sábado era
um sinal de obediência à *aliança. Nenhum tipo de trabalho, profano ou sagrado, poderia ser feito nesse
dia de descanso completo. Nenhum exemplo específico de trabalho é apresentado aqui, mas o texto m enciona que os transgressores seriam punidos com a ex
clusão da comunidade ou execução. O fato de existirem dois tipos de punição talvez indique que cada
caso teria de ser exam inado individualm ente para
determinar se o ato executado podia ser considerado "trabalho" (ver exemplos em Nm 15.32-36 e Jr 17.21).31.18. duas tábuas da aliança. Essa afirmação de que
Deus deu a M oisés as duas tábuas da aliança retoma a narrativa do ponto em que foi interrompida, em 24.18. Também é uma indicação de que o parêntese com as instruções sobre a construção do tabernáculo e consa
gração dos sacerdotes está no fim e que o narrador passaria a resumir a seqüência de eventos do monte
Sinai. O termo "tábuas da aliança" tam bém aparece em 32.15 e deu origem à expressão "arca da aliança" (25.16-22).
32.1-35 O bezerro de ouro32.1. faça para nós deuses que nos conduzam. Moisés
era o único contato dos israelitas com Y ahw eh e o mediador do poder e da direção de Yahweh. A demo
ra de M oisés para descer do m onte levou o povo a pensar que ele estivesse morto, e com isso, o contato
com Yahw eh estaria perdido. Portanto, se isso realmente tivesse acontecido, eles precisariam de um novo
mediador para "conduzi-los" a Deus. Um anjo assum iu esse papel em 33.2, da mesma form a que o bezerro desempenharia essa função de representante de
Yahw eh.
32.2-4. bezerro como íd olo. Estátuas de bois ou bezerros, feitas de bronze ou de um a com binação de
metais, foram encontradas em várias escavações arqueológicas (monte Gilboa, H azor e Asquelom), mas
de pequeno tamanho (cerca de 8 centímetros de altura por 18 de com prim ento). A figu ra do bezerro era
bastante conhecida no contexto cananeu do segundo milênio e representava fertilidade e força. Os deuses
não eram retratados na form a de bois ou bezerros,
m as colocados de pé, no lombo do animal. Todavia, a adoração da imagem de animais não era desconheci
da e há poucos indícios no texto bíblico de que os
israelitas entendessem que o bezerro fosse sim plesm ente um pedestal (não com o a arca). O fato de o
bezerro ter sido adorado durante um a festa dedicada
a Yahw eh sugere que esse ato foi um a violação do
segundo mandamento, e não do primeiro.32.4. fabricação do bezerro. Quando o ouro fundido
estava suficientem ente m aleável, A rão com eçou a
m odelá-lo, provavelm ente usando o m olde de uma figura entalhada na madeira.
32.4. eis aí os seus deuses. A exclamação "E is aí os
seus deuses!" deixa implícito que o bezerro, de certa
forma, representava Yahw eh, visto que na história de Israel nenhuma outra divindade havia sido indicada
como responsável pela saída deles do Egito.
32.5,6. altar para a festa a Yahw eh. Visto que esse altar foi construído para a celebração de um a festa sagrada,
pode-se concluir que seria usado para sacrifícios, como o versícu lo 6 afirm a. M as assim com o a adoração a
Yahw eh fora corrompida pela introdução de uma ima
gem para representá-lo, a cerim ônia de adoração dos
israelitas tam bém se corrompera. O clima vulgar e de excessiva licenciosidade a que o povo se entregou era
típico dos festivais pagãos de *fertilidade.32.9-14. ira de D eus. N as religiões do antigo Oriente
Próximo era comum a crença de que os deuses habitualmente ficavam irados com seus adoradores (por ra
zões desconhecidas e incompreensíveis) e os açoita
vam duramente. O apelo de Moisés é uma tentativa de preservar as características de Yahw eh que tom a
vam sua reputação distinta dos outros deuses.32.15,16 . escritas em am bos os lados. O uso de duas
tábuas provavelm ente ind ica que M oisés recebeu duas cópias, e não que parte dos mandamentos estivesse num a tábua e o restante na outra. O fato de
serem de ped ra sugere que eram m aiores que as
tabuletas com uns de argila, em bora algum as tabuletas de pedra com inscrições, tais como o calendário de G ezer, fossem bem pequenas, a ponto de cabe
rem na palm a da mão. O costume egípcio desse período era usar lâminas de pedra lascadas de rochas.
Inscrições em ambos os lados eram bastante comuns.
Quando a escrita preenchia um lado, o escriba virava a lâm ina e continuava a escrever do outro lado.
A té m esm o lascas m enores, que cabiam na palm a
da m ão, chegavam a conter de quinze a v in te linhas de texto.
32.19. 20. danças. De modo geral, as danças no m un
do antigo estavam associadas a festas rituais, especialmente relacionadas à *fertilidade, com um aspecto de
sensualidade, ainda que não necessariamente. As dan
ças tam bém podiam estar relacionadas às celebrações das vitórias militares, o que pode sugerir que se trata
va de um a celebração à divindade que os tirara do
Egito.32.19. quebrou as tábuas. Embora M oisés tenha que
brado as tábuas por se sentir irado, não significa que ele tenha tido um ataque de mau hum or. A rom pi
mento de um a *aliança geralm ente era simbolizado
pela quebra das tabuletas em que as condições do
acordo estavam inscritas.32.20. beber o pó do ídolo m oído. A seqüência de queimar-moer-espalhar-comer também é encontrada
num texto *ugarítico, indicando a destruição total de
uma divindade. O fato de que o ouro não pode ser queimado é irrelevante (provavelmente tratava-se de
um a im agem de madeira revestida de ouro; ver co
m en tário em 32.4), v isto que um a ação b astan te destrutiva é levada adiante. Forçar os israelitas a be
ber a mistura não representa um castigo e sim a des
truição final e irreversível do bezerro.
32.30-35. livro. O conceito de livro divino era comum na M esopotâmia, onde estava relacionado ao destino
de um a pessoa e às recompensas ou castigos subseqüentes. Para mais informações, ver comentário em
Salmo 69.28.32.35. praga. Inúmeros documentos do antigo Orien
te Próxim o m encionam epidem ias de doenças, mas
nesse caso é impossível especificar o tipo de doença, visto que nenhum sintoma é descrito.
33.1-6 Preparando-se para partir33.2. povos da terra onde m anam leite e mel. Acerca dos povos da terra, ver comentário em 3.8, e sobre a descrição de Canaã como um a terra onde "m anam leite e m el", ver comentário em 3.7-10.
33.7-23 O encontro de Moisés com o Senhor33.7-10. Tenda do Encontro. O sistema estabelecido pela lei (caps. 25-30) requeria que se construísse um santuário para que o Senhor habitasse no m eio do povo. Devido às circunstâncias, porém, o Senhor não iria habitar mais no m eio deles e a Tenda do Encontro teve de ser colocada fora do acampamento, onde Moisés receberia a orientação de Deus. Nada é m encionado a respeito do que acontecia no interior da tenda, apenas que o Senhor encontrava-se com Moisés à entrada da tenda, quando a coluna de nuvem descia. Nenhum sacrifício é oferecido ali, tampouco há um altar. É um lugar para atividade profética e não sacerdotal. Assim que o tabernáculo foi construído e posicionado no meio do acampamento, a Tenda do Encontro passou a ser ali também.33.11. falar face a face. Falar face a face é um a expressão idiomática que sugere um relacionamento sincero e aberto. Não é uma contradição ao que se encontra em 33.20-23. A mesma expressão aparece em Números 12.8.
33.18-23. a glória, as costas e a face de D eus. Quando Moisés pediu para ver a glória de Deus, ele não pediu algo que Deus nunca havia feito antes. Em 16.7 é dito que eles veriam a glória do Senhor (ver também Lv 9.23). Moisés pediu a Deus que lhe mostrasse a sua glória para confirmar sua presença acompanhando e conduzindo o povo. Deus concordou com o pedido de M oisés, m as avisou a ele que não poderia ver sua face. O conceito de uma divindade de aparência temível e inacessível não era restrito à teologia israelita, uma vez que na Mesopotâmia os deuses demonstravam seu poder através de seu melamu, ou esplendor divino.
34.1-35 Novas tábuas e mais leis34.6, 7. os atributos de D eus e sua disposição em punir até a terceira e quarta gerações. M oisés pedira a Deus que lhe revelasse os seus propósitos (33.13) e essa lista de treze atributos de Deus (de acordo com a tradição judaica) foi a resposta ao seu pedido. Essas
listas contendo diversos atributos da divindade eram comuns no mundo antigo. Apesar de alguns atributos como m isericórdia e ju stiça terem m aior destaque,
muitas listas se preocupavam mais com os atributos de poder, enquanto que nessa a ênfase é colocada na bondade m isericordiosa de Deus. Essa lista é citada m uitas vezes em outros trechos das Escrituras (Nm 14.18; Ne 9.17; SI 86.15; 103.8; 145.8; J1 2.13; Jn 4.2; Na 1.3) e representa um tipo de afirmação confessional. A litania dos atributos de Deus é usada até hoje na liturgia judaica e provavelmente foi estabelecida como parte da adoração do templo, no período anterior ao exílio. Em bora a compaixão, a perseverança e a fidelidade do amor de Deus sejam destacadas, as conseqüências de não obedecer aos m andam entos de D eus ficam evidentes com o prolongamento do castigo às gerações futuras (ver D t 5.9). A punição até a terceira e quarta gerações expressa o fato de que a violação da *aliança traz culpa sobre toda a fam ília e também é um a referência a todos os m em bros vivos da família. Essa afirmação é uma dura lembrança da culpa coletiva de Israel, após o incidente do bezerro de ouro (32.19-35).34 .12 .13 . destruição dos o b je tos de adoração pagã.N esse trecho, que reafirma a importância de se obedecer aos mandamentos, uma especial atenção é concedida à destruição de toda forma de adoração pagã, especialm ente de objetos de *culto e ídolos. Talvez seja outra reação ao incidente do bezerro de ouro (32.1935). Certamente os habitantes da terra prometida tinham outros deuses e outras maneiras de adorá-los, assim, os israelitas são advertidos a não fazer acordos com esses povos nem adorar seus deuses. A ordem de Deus é para não deixar nenhum resquício da adoração estrangeira. O cum prim ento dessa ordem seria uma demonstração de grande fé, visto que se acreditava que a destruição de objetos sagrados era uma grave ofensa à divindade e resultava em severos castigos. A obediência dos israelitas seria um a expressão palpável da confiança de que Deus podia protegê-los de represálias.34.13. postes sagrados. A deusa *Aserá (também cham ada de Astarote, Astorete ou Astarte) era a consorte divina do deus principal em vários templos mesopo- tâmicos e siro-palestinos: consorte de A murru, o deus *babilõnico da tem pestade; consorte de *E1, o deus *ugarítico e talvez de *Baal, o deus cananeu. Ela geralm ente é representada na Bíblia através de postes sag rad os erig id o s próx im os a um altar. Su a p opularidade entre os israelitas, cuja visão de mundo ainda estava im pregnada pelo politeísm o, pode ser inferida pela inscrição de Kuntillet 'A jrud, na parte noroeste do Sinai, "Yahw eh e sua A será". A ordem para cortar esses postes cultuais simbolizava a necessidade que a nação tinha de purificar-se da influência estrangeira. Seguindo o m esm o tema de obediência
aos mandamentos, vem a afirmação de que o Senhor é "D eu s Zeloso", que não tolera a adoração ou a pre
sença de símbolos de divindades rivais (20.4, 5).
34.16. prostituição sagrada. É possível distinguir diferentes categorias dessa prática. Na prostituição “sagrada", os lucros eram destinados ao templo; na pros
tituição "cu ltual", o objetivo era assegurar a *fertilida- de através do *ritual sexual. Também devemos fazer distinção entre prostituição sagrada ou cultual ocasio
nal (como em Gn 38) e a prostituição sagrada ou cultual profissional (como em 2 Rs 23.7). Não há evidências
conclusivas da prática da prostituição cultual no antigo Israel ou em qualquer outro lugar no antigo Orien
te Médio. Textos cananeus m encionam as prostitutas como sendo funcionárias do tem plo, e a literatura
*acadiana confirm a que elas dedicavam toda a sua vida servindo nessa função. Em bora a palavra hebraica
usada aqui seja equivalente à palavra acadiana para prostituta, isso não prova o envolvim ento de qual
quer prática cultual ou ritual religioso. É bastante provável que as prostitutas se sujeitassem a esse ser
viço nos templos como uma forma de angariar dinhei
ro, m as sem ocupar qualquer posição oficial como
sacerdotisas. Além disso, visto que de modo geral as mulheres não possuíam bens, parece que a prostitui
ção era uma das únicas maneiras delas conseguirem
dinheiro para pagar algum voto. A proibição de trazer ao templo o salário de uma prostituta pode, no
entanto, ser uma reação contra as práticas semelhan
tes às do templo de *Istar, no período neobabilôrúco,
que contratava as mulheres da comunidade para serem prostitutas, depositando seus salários na tesoura
ria do templo. Tudo isso com prova a existência de
prostituição sagrada, tanto ocasional como profissional, em Israel e no antigo Oriente Próximo, em bora a
existência de prostituição cultual, em qualquer nível,
seja mais difícil de provar. Não há confirmações sobre
a prática de prostituição cultual na Mesopotâmia, a menos que se inclua o ritual sagrado anual de casa
mento. Mas é difícil imaginar que as prostitutas que serviam no templo de Istar (que personificava a força
sexual) não desem penhassem um papel sagrado na
fertilidade cultual.
34.17. ídolos de m etal. Era uma prática bastante comum (confirmada por dados arqueológicos) no antigo
Oriente Próximo, fabricar grande quantidade de imagens de vários deuses usando moldes de metal. Essas
im agens eram feitas de argila ou de diferentes me
tais, e depois vendidas às pessoas, que as colocavam nos santuários particulares em suas casas (ver Jz 17.4,
5). A proibição aqui é um exem plo específico para
tom ar ainda m ais claro o mandamento de 20.4 e faz
menção ao episódio da fundição do bezerro de ouro (ver 32.2-4).34.18. festa dos pães sem ferm en to . Essa ordem é uma ratificação do mandamento em 23.15, que ganha m ais força ao ser incluída na versão ritual dos Dez M andamentos (ver 34.28).34.19, 20. ofertas dos prim ogênitos. Na versão ritual dos Dez Mandamentos, essa ordem é um a repetição da prescrição dada durante a narrativa do êxodo, quanto à remissão de todo primogênito, tanto dos homens, como dos animais (13.11-13).34.21. sábado. A ordem de descansar no sábado é uma repetição de 20.9 (ver comentário desse versículo).34.22. festa das sem anas. Esse é o mesmo festival da colheita do trigo descrito como festa da colheita em23.16, um dos três principais festivais do ano agrícola. Ganha m aior peso ao ser incluída na versão ritual dos Dez M andamentos.34.22. fe sta do encerram ento da colheita . Esse é o mesmo festival da colheita da primavera descrito em23.17. Esses im portantes festivais agrícolas também são m encionados em Deuteronôm io 16.9-17. A promessa adicional de proteção contra ataques dos povos vizinhos aos trabalhadores que participassem da colheita é um incentivo a mais para o povo cumprir o mandamento de trazer as ofertas da colheita três vezes por ano.34.23. 24. peregrinações. Essa é a mesma ordem encontrada em 23.17 e Deuteronômio 16.11,14. Todos os homens tinham de comparecer perante o Senhor três
vezes por ano trazendo os frutos de seu trabalho, a fim de garantir a fertilidade da terra para as próximas colheitas e demonstrar submissão à aliança.34.25. sangue misturado com ferm ento. Essa ordem encontrada na versão ritual dos Dez M andamentos, é um a repetição da lei apresentada em 23.18. O fermento faz o pão crescer, m as também está associado à corrupção ou deterioração dos alimentos e assim não deve ser misturado ao sangue, que simboliza a vida.34.25. sobras da Páscoa. Essa ordem refere-se à refeição da Páscoa, e aparece primeiro em 12.8-10, sendo confirmada em 23.18. Sua inclusão aqui acompanha a seqüência de leis relacionadas aos principais festivais agrícolas e reforça a ligação entre essas leis e o êxodo. A proibição de guardar as sobras é um sinal da natu
reza sagrada da festa.34.26. prim eiros frutos. Essa ordem é um a repetição da lei citada em 23.19. Assim como o primogênito era redimido através do sacrifício, a colheita dos cereais e dos frutos era redimida para o consumo por meio da entrega da primeira colheita como sacrifício a Deus.34.26. cabrito no le ite da m ãe. Essa ordem é uma repetição da lei em 23.19. É a base para a proibição de
m isturar leite e carne no preparo de alimentos e no
sacrifício. Também pode refletir uma reação contra
esse tipo de prática na adoração cananéia.34.28. versão ritual dos Dez M andam entos. A pri
meira versão dos Dez M andamentos, escrita por Deus em duas tábuas de pedra foi destruída por M oisés,
por causa de sua ira diante da infidelidade do povo no incidente do bezerro de ouro (32.19). Assim, foi escri
ta uma segunda versão das tábuas, m as as leis não correspondem exatam ente àquelas encontradas em
Êxodo 20 e Deuteronômio 5. Na leis incluídas nessa segunda versão, há uma ênfase m aior aos acontecimentos do êxodo, e também m aior preocupação com
as normas para a adoração (inclusive com a transcri
ção quase literal de trechos do capítulo 23).
34.29. os "chifres" de M oisés. O resplendor de Deus
estava refletido na face brilhante de M oisés, quando ele voltou com as tábuas da lei. Moisés a princípio não
percebeu o que havia acontecido, mas a seguir ele e o
povo reconheceram que aquele fenôm eno era uma prova de que ele estivera em contato direto com Deus.
Posteriorm ente, M oisés usou um véu sobre o rosto
para ocultar do povo o brilho de sua pele. Jerônimo usa a palavra com uta , "ch ifres" , na V ulgata (c. 400
d.C.), ao traduzir o termo hebraico qaran, "resplandecente", porque essa palavra geralm ente se refere a
chifres. Conseqüentemente, criou-se a tradição de que nasceram chifres em M oisés, com o resultado dessa
experiência. O erro de tradução está representado graficamente na estátua esculpida por M iquelângelo,
no século dezesseis, em que Moisés aparece com chi
fres. A relação entre chifres e brilho pode ser verificada na iconografia do antigo Oriente Próximo, em que o
poder das divindades é representado por figuras de raios ou chifres em suas coroas. Os chifres eram asso
ciados à glória divina (melamu acadiano) que emanava dos deuses, especialmente de suas cabeças e coro
as. A ssim , por exem plo, a deusa Inana, é descrita
num hino *sumério como tendo um sem blante que
resplandecia terrivelmente, intimidando todos à sua volta. Um paralelo mais próximo pode ser encontrado no exemplo de Samsuiluna (filho de *Hamurabi), que
recebe mensageiros do deus *Enlil cujas faces eram resplandecentes. Um texto faz referência ao deus Enlil como "aquele cujos chifres brilham como os raios do
sol".
35.1-4 O sábado35.2, 3. nem sequer acendam fogo. Esse mandamento repete a proibição contra qualquer forma de traba
lho no sábado, encontrada em 31.15, acrescentando a
ordem para nem sequer se acender fogo nesse dia.
Essa proibição é uma continuação da lista dos tipos de trabalho que não podiam ser executados no sábado
(ver 34.21). Mais tarde, por decisão dos rabinos, ficou determinado que o fogo deveria ser aceso na véspera
do sábado para que as casas não ficassem em comple
ta escuridão. Porém, não era permitido alim entar o
fogo durante o sábado.
35.4- 39.31Obedecendo as instruçõesEsses capítulos tratam da construção propriamente dita
do tabernáculo, incluindo a coleta de materiais (35.4
29), a apresentação de Bezalel e Aoliabe como chefes
dos artesãos e a formação das equipes de trabalhadores (35.30-36.7; cf. 31.1-10). Êxodo 36.8-38 descreve a
construção do tabernáculo exatamente de acordo com
as dimensões descritas em 26.1-36. A seguir temos a fabricação da arca (37.1-9; ver 25.10-22), do candela
bro (37.17-24; ver 25.31-40), do altar de incenso (37.25
29; ver 30.1-10), do altar de ofertas queimadas (38.1-8; ver 27.1-8) e do pátio (38.9-20; ver 27.9-19), bem como
um resumo dos materiais usados pelos artesãos (38.21
31). A parte final descreve a confecção das vestimentas dos sacerdotes: o éfode ou colete (39.2-7; ver 28.6-14),
o peitoral (39.8-21; ver 28.15-30) e as outras roupas
sacerdotais (39.22-31; ver 28.31-43). Moisés inspeciona
tudo, verificando se estão seguindo corretam ente as instruções de Deus, e abençoando-os (39.32-43).
38.8. m ulheres que serviam à entrada. N o antigo Ori
ente Próxim o, há inúm eros exem plos de m ulheres
que serviam nos templos exercendo diversas funções, das tarefas dom ésticas a obrigações sacerdotais, do celibato à prostituição, de votos breves à dedicação por toda a vida. Portanto, é difícil identificar a natureza do serviço que as mulheres aqui mencionadas esta
vam executando. Em 1 Sam uel 2.22 o fato dos filhos de Eli serem acusados de conduta sexual imprópria
sugere que essas m ulheres estavam envolvidas em algum trabalho sagrado ou eram virgens. D eve ser
observado, porém , que não existem evidências de
celibato por m otivos religiosos em Israel; nem esse texto descreve as mulheres como virgens.38.24. ouro das ofertas movidas. Os m etais usados na construção do tabernáculo são relacionados em ordem
decrescente de valor. Assim como se fazia com a carne sacrificial reservada para o consum o dos sacerdotes
(29.27), esses materiais primeiro deviam ser apresentados a Deus como oferta movida, a fim de consagrá-
los para o uso na obra do Senhor.
38.24. peso do ouro: 29 talentos e 730 siclos. O peso total do ouro usado na obra do tabernáculo é re
presentado em talentos (a m aior unidade de peso israelita, igual a 3 mil siclos). O talento equivalia a
35,10 quilos, enquanto que o siclo pesava aproxima
dam ente 11,7 gramas. Assim , o peso total do ouro recebido e utilizado na obra foi de aproximadamente
um a tonelada.38.25. peso da prata: cem talentos e 1775 siclos. O
peso total da prata doada e usada na decoração do tabernáculo foi superior a três toneladas e meia (com base no talento, que pesava 35,10 quilos e equivalia a
3 mil siclos, que por sua vez correspondia a 11,7 gramas). Essa quantidade tam bém está relacionada ao
total da oferta da propiciação (30.11-16) cobrada de cada homem israelita com m ais de vinte anos.
38.26. um b eca por cabeça (A RA ). O beca é um a medida de peso que correspondia a m etade de um
siclo, ou seja, seis gram as. Era o valor da taxa de propiciação que cada homem israelita teve de pagar a
fim de a ju d a r n a c o n stru çã o e m a n u ten çã o do tabernáculo (ver 30.11-16).
38.26. núm ero dos israelitas. O núm ero de homens
recenseados que pagaram a taxa de propiciação (ver
30.11-16) de meio siclo de prata foi de 603.550. Esse é
o m esm o núm ero obtido no censo encontrado em N ú
meros 1.46, usado para determinar o núm ero de homens acima de vinte anos e, portanto, aptos para se
alistar para a guerra.38.29-31. peso do bronze: setenta talentos e 2400 siclos.Com a relação de três m il siclos (11,7 gramas) por
talento (35,10 quilos), o peso total do bronze apresentado como oferta m ovida e usado na construção do tabernáculo foi de duas toneladas e meia. Esse metal mais resistente foi usado para fazer as bases da entra
da da Tenda do Encontro, o altar de bronze, a sua grelha e todos os seus utensílios, bem como as bases
do pátio e as estacas que sustentavam a tenda.
39.32- 40.38O tabernáculo é armado40.17. data. O tabernáculo foi armado no dia de ano- novo, duas semanas antes do aniversário do êxodo e
exatamente nove meses após a chegada do povo no
monte Sinai. O processo de construção foi conduzido exatam ente de acordo com as instruções dadas por
Deus. É interessante notar que juntam ente com o iní
cio de um novo ano, a inauguração do tabernáculo
representa também o início de um novo m odelo de adoração para o povo de Israel.
L E V Í T I C O
V1.1-17A oferta queimada1.1, 2. Tenda do Encontro. Antes que o tabernáculo fosse construído, a Tenda do Encontro ficava fora do acampamento e servia como lugar de revelação (ver
com entário em Êx 33.7-10). Entretanto, quando o tabernáculo ficou pronto, tam bém passou a ser chamado de Tenda do Encontro.
1.1, 2. revelação de rituais. No antigo Oriente Próximo os sacerdotes afirmavam que os rituais usados por eles tinham origem divina, em bora os docum entos que relatam esses rituais não os apresentem como revelação divina, tal como nesse trecho. Alguns procedimentos rituais eram ordenados através da adivi
nhação ou de oráculos proféticos, o que não significa que sempre fossem instituídos por meio desses m ecanismos. A antiga literatura *sum éria retrata a deusa- mãe dando instruções sobre os rituais de purificação,
e como conduzir súplicas e aplacar a ira dos deuses.1.2, sacrifício anim al. Existem muitas teorias acerca do conceito representado pelo sistema sacrificial. Em algumas culturas, o sacrifício era considerado como
um zelo pela divindade ao lhe oferecer alimento. Em outras, o sacrifício era visto como um a oferta para agradar os deuses e solicitar auxílio. E outras ainda viam os sacrifícios como um m eio para iniciar um relacionamento com a divindade ou mantê-lo. Essas,
porém, são algumas das muitas possibilidades. É difícil traçar a história dos sacrifícios com animais. A antiga literatura *suméria, especificam ente o Épico de Lugalbanda, atesta que os sacrifícios (considerados como "m atanças rituais") surgiram como uma espécie de recurso para perm itir o consum o de carne. Ao
com partilhar a carne com a divindade, as pessoas teriam permissão de m atar o animal para alimentar- se dele. A s prim eiras ev idências arqueológicas de sacrifícios procedem dos altares do período Ubaid, no quarto m ilênio a.C ., na M esopotâm ia. Em grande parte da história *assíria ou *babilônica, a m atança *ritual era feita com o objetivo de retirar as vísceras do animal, que segundo a crença, indicavam presságios.1.3, 4. oferta queim ada (holocausto). Na oferta queimada, um animal macho era colocado no altar e completamente queimado, exceto o seu couro. Noé ofereceu esse tipo de sacrifício e era desse m odo que Isaque seria oferecido. A Bíblia m enciona outros povos fa
zendo tam bém ofertas queimadas (p. ex., Nm 23.14,
15) e textos da Síria (*Ugarite e Alalakh) e Anatólia (os *hititas) comprovam essa prática na região siro-pales- tina. No Egito e na M esopotâmia não foi encontrado nenhum indício desse tipo de sacrifício. A oferta quei
m ada servia para aproximar-se do Senhor para fazer um pedido, que tanto poderia ser a obtenção de uma vitória como um pedido de misericórdia, de perdão,
de purificação ou uma série de outras coisas. O propósito da oferta era suplicar a resposta da divindade. Pelo m enos um a oferta por dia era dedicada em nome
do povo de Israel. Cerim ônias especiais e festivais tam bém se caracterizavam pelas ofertas queimadas.1.3. macho. Animais machos eram mais valiosos, mas
também mais descartáveis. Podia-se m anter um rebanho com apenas alguns machos, em relação ao núm ero de fêmeas necessárias para parir os filhotes. Isso significa que um a grande porcentagem dos machos
que nasciam podiam ser usados como alimento e nos sacrifícios. Por outro lado, os m achos m ais fortes eram cobiçados por causa de seus traços genéticos que seriam transmitidos a uma grande parcela do rebanho.
1.4. im posição de m ãos na cabeça. A im posição de mãos sobre a cabeça do animal era uma parte importante do *ritual sacrificial. Não representava a transferência de pecados, visto que tam bém era feita nos
sacrifícios não relacionados ao pecado. Poderia representar tam bém um a identificação do ofertante com o animal, talvez como seu substituto ou como algo que
lhe pertencia. Na maior parte das vezes, a ocorrência desse ritual confirma que havia uma transferência ou uma indicação de algo (ou ambas), mas nem sempre fica claro o que está sendo transferido ou indicado, podendo variar conforme a situação.1.4. propiciação. A função desse sacrifício, bem como de outros, era que fosse "aceito como propiciação".
M uitos estudiosos concordam que "propiciação" não é a m elhor tradução para esse conceito, seja no plano *ritual ou teológico. Talvez a m elhor explicação seja o fato de que nos textos rituais o objeto de "propiciação" não era o pecado, nem a pessoa, mas um objeto sagrado relacionado à presença de Deus, como a arca ou o
altar. Também é importante observar que em diversos casos a "propiciação" era necessária, mesmo quando nenhum pecado havia sido cometido (por exemplo, a *im pureza ritual das m ulheres, um a vez por
mês). Por essas e outras razões, m uitos estudiosos modernos têm preferido "purificação" ou mais literalmente "purgação", como a tradução mais adequada para o termo. Assim, o altar seria purgado em nome do ofertante, pois havia sido ritualm ente manchado pelos seus pecados ou impurezas. O objetivo era preservar a santificação concedida pela presença de Deus no meio deles. Esse ritual era visto normalmente como um a m edida corretiva, m as podia ser tam bém preventiva. O principal agente desse ritual era o sangue, embora não obrigatoriamente. A descontaminação do
santuário tom ava o ofertante ritualmente limpo e abria o caminho para sua reconciliação com Deus. A purgação de objetos (inclusive cidades, casas, templos e pessoas) de contaminação ritual ou influências maléficas tam bém era feita através de substâncias esfregadas neles, prática conhecida no antigo Oriente Próximo, embora fosse usada basicamente em ritos mágicos.1.5-9. papel dos sacerdotes. Alguns aspectos dos *ritu- ais eram executados pelos sacerdotes, porque somente eles tinham acesso ao altar e ao lugar santo. (Ver comentário em Êxodo 28.1 para informações gerais.) No
antigo Oriente Próximo, os sacerdotes participavam não apenas de rituais sacrificiais, m as tam bém de *adi- vinhações e outros ritos mágicos. Os encantamentos e os conselhos gerais sobre como aplacar os deuses tam
bém eram atribuições dos sacerdotes. Os sacerdotes deviam conhecer a fundo os diversos tipos de rituais de modo a usá-los na obtenção dos resultados desejados e a executá-los da m aneira apropriada.
1.5. im portância do sangue. O sangue funcionava como elemento de purificação ritual em Israel - um conceito que não era com partilhado pelos seus vizinhos no antigo Oriente Próximo. O sangue representava a vida ou força vital do animal; dessa forma, o anim al tinha de ser m orto para que seu sangue
tivesse eficácia. Ver comentário em 17.11 para mais informações.1.5. derram ar sobre o altar. D erram ar sangue em todos os lados do altar era um modo simbólico de usar a morte do animal para a purgação de qualquer contaminação que pudesse interferir com a súplica feita na ocasião do sacrifício. O sangue representava a vida/ m orte do anim al e o altar representava o santuário
(presença de Deus) e era especificamente o lugar onde seria feito um pedido a Deus.1.8, 9. pedaços. Os pedaços incluíam tam bém a cabeça e a gordura que circunda os órgãos internos. As vísceras (intestinos) e as pernas eram as únicas partes lavadas, a fim de que nenhum excremento fosse colocado sobre o altar.1.9. aroma agradável. Era de se esperar que os sacrifícios liberassem o que é identificado como um aroma
agradável de carne sendo assada. Embora certamente essa expressão seja um antropom orfism o (atribuir a Deus características humanas), a carne assada era servida apenas nas refeições comunitárias e em ocasiões especiais, desta forma, o odor estava associado a importantes conceitos de comunidade (como o cheiro de um almoço de domingo, com toda a família reunida). Seria a mesma coisa que agradar a Deus com alguma visão ou um som. No antigo Oriente Próximo o conceito de antropomorfismo era ainda mais forte, visto que os deuses precisavam de alimento e o recebiam através dos sacrifícios, em que o aroma era associado à expectativa de uma refeição.1.10-13. lado norte do altar. O lado norte do altar foi indicado muito provavelmente porque era onde havia m ais espaço para se fazer todo o trabalho.1.14-17. aves com o oferta. As aves, principalm ente pombos domesticados, eram usadas como oferta pelas pessoas muito pobres que não possuíam ou não podiam abrir m ão de u m anim al m aior do rebanho.
Textos de *A lalakah e A natólia m ostram que, nas culturas circunvizinhas, as aves tam bém eram adequadas para os sacrifícios. Descobertas recentes indicam que não era o papo das aves que era removido e sim o crisso, incluindo a cauda, o ânus e os intestinos. O sentido, novam ente, era de lim par o anim al ao prepará-lo para o sacrifício.1.16. lado leste, onde ficam as cinzas. Foi sugerido, a princípio, que o monte das cinzas ficava no lado leste porque era o lado mais distante do santuário, mas o texto não permite deduzir essa explicação.
2.1-16A oferta de cereal2.1-3. oferta de cereal. Os rabinos aceitavam a oferta de cereal em substituição à oferta queimada, quando se tratava de pessoas pobres. Há evidências de que na M esopotâm ia tam bém se considerava os pobres de maneira semelhante. A palavra usada para descrever essa oferta significa "dádiva" ou tributo. A oferta era usada nas ocasiões em que se pretendia demonstrar respeito ou honra. O m esm o term o era usado em *ugarítico e *acadiano (Canaã e Mesopotâmia). Esse
tipo de oferta era uma característica das ocasiões de celebração e não de tristeza ou luto. Geralmente uma pequena parte era queimada sobre o altar como símbolo da oferta ao Senhor, enquanto que o restante era dado ao sacerdote oficiante. As vezes, era oferecida juntam ente com outras ofertas.2.1. a melhor farinha com óleo e incenso. Os ingredientes que compunham essa oferta eram cereal, óleo e incenso. O cereal era representado pelos grãos ou semolina deixados na peneira depois que o trigo era
moído e transformado em farinha. O óleo era azeite de oliva. O m elhor azeite era aquele extraído de azeitonas esm agadas, m as no caso da oferta de cereal, era aceito um azeite de qualidade inferior, extraído por meio de prensagem e moagem. O óleo era usado como gordura no preparo dos alimentos, sendo facilmente inflamável. O incenso era obtido da resina de um tipo de árvore encontrada somente no sul da Arábia e na Som ália, na extrem idade oposta do golfo de Aden. Essa árvore, boszvellia, é típica de regiões onde há uma combinação bastante peculiar de chuvas, temperatura e condições do solo. Sua fragrância aromática era usada na produção de um incenso muito procurado em todo o Oriente Próximo, onde era largamente usado, tanto na M esopotâm ia como no Egito {foram encontrados vestígios desse incenso na tum ba de Tutan- câmom). A alta demanda, somada à escassez do produto, encarecia essa mercadoria, e a transformava num dos principais produtos das caravanas de m ercadores. As ofertas de cereais geralm ente consistiam num a
pequena porção que era totalmente queim ada num pequeno queimador.2.3. a porção dos sacerdotes. Como acontecia com m uitas ofertas, o sacerdote recebia um a porção da oferta de cereal para seu sustento. Era uma das formas de suprir as necessidades dos sacerdotes. Para mais inform ações sobre essa prática, ver com entário em6.14-18.2.4-10. oferta de cereais assados; bolos sem ferm ento, com óleo. A oferta de cereal destinada ao consumo dos sacerdotes podia ser preparada no forno, numa assadeira ou num a panela, usando tam bém óleo e semolina, m as sem incenso. Aqui é especificado que não era permitido o uso de fermento. Geralmente, o uso de fermento não era permitido quando se tratava de ofertas sagradas, talvez devido ao princípio de deterioração (fermentação).2.11-13. m el. O mel representa um recurso natural; no caso, trata-se provavelmente, de xarope da tâmara e não de mel de abelha. Não existem evidências de domesticação de abelhas em Israel, embora os *hititas dominassem a técnica e usassem m el de abelhas em seus sacrifícios (assim como os cananeus). Na Bíblia, o mel é citado nas relações de produtos agrícolas (ver 2 Cr 31.5).
2.13. sal. O sal era usado freqüentemente como símbolo de preservação. Quando se faziam tratados ou alianças, empregava-se o sal para simbolizar que as condições seriam m antidas por um longo tempo. O uso simbólico do sal é comprovado também em outros contextos culturais, como *babilônicos, persas, árabes e gregos. Na Bíblia a *aliança entre D eus e Israel era descrita como uma aliança de sal - uma aliança que
seria preservada por muito tempo. As partes envolvidas num acordo geralmente compartilhavam de uma
refeição em que era servida carne salgada. Assim, o uso do sal no sacrifício era um a forma bastante adequada do povo relembrar o acordo da aliança. Além disso, o sal im pedia a ação do ferm ento (levedo), e como o levedo era considerado um símbolo de rebeldia, o sal talvez representasse algo capaz de inibir a rebeldia. Finalmente, o sal também era um símbolo de infertilidade, sendo usado nas maldições pronunciadas em tratados. Entre o povo hitita, quando se firmava um tratado, era proferida um a maldição: se a pessoa rompesse o acordo, ele, sua família e suas terras, ficariam como o sal, isto é, sem semente ou sem
descendência.2.14-16. oferta de cereal dos prim eiros frutos. Asofertas de cereal eram feitas em substituição às ofertas queimadas, ou acompanhando outros sacrifícios, mas também eram trazidas ofertas de cereal dos primeiros frutos da colheita. Esse cereal não havia passado por nenhum processo de beneficiam ento, m as incluía a torrefação dos feixes ainda verdes. É provável que em vez de trigo, fosse usada cevada nessa oferta.
3 .1 -1 7
A oferta de comunhão3.1-5. oferta de com unhão. A oferta de comunhão geralm ente acom panhava a oferta queim ada, e envolvia tam bém o sacrifício de um animal. Freqüentemente associada à participação em refeições comunais de *aliança (Êx 24.5; Js 8.31), quando da instituição da m onarquia servia para reconhecer o papel do rei em relação a Deus ou ao povo. Um a expressão semelhante referindo-se a um presente entre dignitários, é usada em relação a refeições festivas de *Ugarite e *E1 Amarna (Canaã). Os três tipos de sacrifício nessa categoria são as ofertas voluntárias, a oferta de voto e a oferta de gratidão. O ponto comum entre elas é o fato de propiciarem um a refeição entre a fam ília e os am igos do ofertante. A gordura deveria ser queimada no altar, mas a carne fazia parte da refeição.3.4. gordura que cobre as vísceras. Corresponde à cam ada de gordura que reveste os órgãos internos, principalm ente dos intestinos, fígado e rins. Essa gordura pode ser tirada com facilidade, e não serve como alimento. Não era costum e entre os m esopotâm ios incluir essa gordura em seus sacrifícios, m as outras culturas do antigo O riente Próxim o a incluíam . A descrição no texto é bastante técnica. J. M ilgrom traduziu esse trecho em seu com entário da seguinte maneira: "A gordura que cobre as vísceras e toda a gordura em volta das vísceras; os dois rins e a gordura ao redor deles, que está nos tendões [e não perto
dos "lom bos", como na NVI]; e o lóbulo do fígado, que ele removerá junto com os rins".
3.6-11. cauda gorda. Quando um animal de rebanho era oferecido, a "cauda gorda" era incluída no sacrifí
cio. As ovelhas dessa região tinham caudas longas, m edindo cerca de um m etro e m eio, e chegando a
pesar 33 quilos.3.11. queim ados como alim ento. A linguagem desse
trecho deixa transparecer novam ente que os term os usados em Israel em relação aos sacrifícios sofriam in
fluência dos conceitos de outros povos. M as algumas passagens (como o Salmo 50.12 ,13) deixam claro que os israelitas não consideravam os sacrifícios como um
alimento necessário a Deus. Visto que essa terminologia
é usada apenas para essa oferta específica, talvez represente a inclusão de D eus na refeição comunitária, e não que Ele tivesse necessidade de alimento.
3.12-17. a gordura é do Senhor. A gordura era colocada junto com o sangue com o porção pertencente ao
Senhor. A ssim como o sangue era o símbolo da vida do
animal, a gordura representava a carne do sacrifício.
4 .1- 5.13 A oferta de purificação4.1-3. oferta pelo pecado. A oferta de purificação era
tradicionalmente chamada de "oferta pelo pecado". A
terminologia mudou quando se reconheceu que a ofer
ta não se referia apenas a ofensas morais, mas tam
bém era usada para purificação em casos de significativa im pureza ritual. Tanto nas situações pessoais,
como nos cultos públicos de consagração associados a
certas festas, a oferta servia para purificar ou purgar o santuário (não o oferente) dos efeitos do pecado ou da
condição. N o antigo Oriente Próximo, a purificação
dos templos era um a necessidade constante, uma vez que o povo acreditava que a *im pureza tornava o templo vulnerável aos ataques demoníacos. Em Isra
el, a preservação da *pureza do santuário dizia respeito à santidade de Deus. O Senhor só permaneceria
entre eles se a santidade de seu santuário fosse mantida.
4.4-12. imposição de mãos. A imposição de mãos era
um a parte im portante do *ritual sacrificial. Não era
feita com o objetivo de transferir os pecados, visto que
tam bém era usada em sacrifícios que não lidavam com pecado. Outra possível explicação é que o ofertante
se identificava de algum a m aneira com o anim al, talvez como seu substituto, ou como algo que lhe
pertencia. A maioria das vezes em que ocorreu esse
ritual acontecia um a transferência ou a indicação de
algo (ou ambas), mas nem sempre fica claro o que está
sendo transferido ou indicado, podendo variar, con
forme a situação.
4.6. aspergir sete vezes. A aspersão por sete vezes era um m eio de purificar todas as partes do santuário, sem ter de ir a cada uma delas individualmente. A aspersão era feita diante do véu que separava o santuário externo do Lugar Santíssimo.4.7. pontas do altar. N o antigo O riente Próxim o, os altares geralm ente eram projetados de form a a apresentar pontas em seus quatro cantos. Pesquisas têm sugerido que essas pontas eram símbolos dos deuses, embora não se conheça sua utilidade. Tanto o altar de incenso que ficava dentro do santuário como o altar de sacrifícios, do lado de fora do santuário, tinham pontas.4.7. altar de incenso. Nesse sacrifício, um pouco de sangue era colocado nas pontas do altar de incenso. Os altares de incenso eram bastante comuns nos santuários israelitas e cananeus. O incenso oferecido nesses altares era um a m istura de especiarias, sendo a resina de incenso o principal ingrediente, acrescida de goma aromática, onicha e gálbano. M ais tarde, a tradição judaica incluiu outras especiarias a essa mistura. A fumaça do incenso simbolizava as orações do povo subindo até Deus.4.12. partes restantes queimadas fora do acampamento. Depois que o sangue e a gordura eram oferecidos, o que restava do anim al (inclusive a carne), era queimado fora do acampamento, para que ninguém se aproveitasse dos restos do sacrifício. Nenhuma refeição estava relacionada a esse sacrifício. Na época do segundo templo, o monte de cinzas ficava bem ao norte da m uralha de Jerusalém. Análises de seu conteúdo confirm aram a existência de vestígios de animais.4.13-32. perdão. As ofertas de purificação e de reparação eram feitas com o propósito de obter perdão O verbo perdoar era usado apenas em relação a Deus, nunca a seres hum anos, e não elim inava o castigo (ver Nm 14.19-24). Devemos, portanto, concluir que esse conceito se refere m ais ao relacionamento do que à questão judicial da punição. Quem oferecia esses sacrifícios buscava a reconciliação com Deus, não ficar livre do castigo.5.1-4. obrigação pública de testemunhar. O primeiro caso diz respeito a alguém que não atende a um a convocação pública de prestar depoimento num caso judicial. Esse tipo de convocação era comum no antigo Oriente Próximo. O segundo e o terceiro casos dizem respeito ao contato com a *impureza. O quarto, a um juram ento impensado. Textos *hititas tam bém relacionavam o rompimento de um juram ento à impureza.5.5-10. ações classificadas como "pecados". Esses casos constituem um a categoria distinta porque não se trata de negligência nem tampouco de rebeldia. Uma ofensa foi cometida por descuido ou talvez por fraqueza, e esquecida, seja por um lapso de memória ou por
falta de disposição em pagar o preço. Essa oferta é diferente daquela do capítulo 4, que exigia confissão, mas assemelha-se a ela pelo fato de ambas resultarem na purificação do santuário e na reconciliação com Deus.5.11-13. não derramará óleo, nem colocará incenso.A oferta a ser trazida era determinada de acordo com as posses do oferente. Até mesmo um a oferta de farinha podia ser usada pelos m ais pobres. O óleo e o incenso eram omitidos porque estavam associados à celebração e não se tratava de um a ocasião festiva.
5.14- 6.7 A oferta de reparação5.14-16. a oferta de reparação. A oferta de reparação era chamada tradicionalm ente de oferta pela culpa. Em bora o termo usado seja freqüentemente traduzido como culpa, ele é mais específico ao sistema sacrificial. Essa oferta era destinada a um a categoria específica de ofensa - entendida como um abuso de confiança ou um sacrilégio. O "abuso de confiança" representava algo como o rompimento de uma *aliança, enquanto que "sacrilégio" referia-se, de m odo geral, à profanação de áreas ou objetos sagrados. Esses dois crimes eram bastante conhecidos no antigo Oriente Próximo, e encontram -se exem plos deles entre os *assírios, *babilônios, egípcios, *hititas e *arameus. O texto hitita Instruções para os Funcionários ão Templo é particularmente esclarecedor na identificação de um a série de sacrilégios, como por exemplo: (1) sacerdotes se apoderando de porções dos sacrifícios que não lhes pertenciam ou tomando para o uso de sua família objetos de valor doados ao templo, e (2) leigos deixando de entregar a tempo as ofertas que pertenciam às divindades. O pecado relacionado à oferta de purificação (capítulo anterior) contaminava o lugar sagrado com o que era profano. O pecado relacionado à oferta de reparação era a apropriação de algo santo para ser usado na esfera profana. Nenhuma dessas ofertas fazia parte de outros sistemas sacrificiais do antigo Ori
ente Próximo.5.18. carneiro, um quinto de sobretaxa, siclo do santuário. Enquanto a oferta de purificação exigida pelo pecado de um sacerdote de Israel era um cabrito, o carneiro da oferta de reparação era usado para distinguir esse sacrifício de qualquer outro que tivesse como objetivo a purificação. Além do carneiro, o culpado tinha de pagar um a certa quantidade de prata no valor do que ele havia profanado, e acrescentar um quinto para a restituição. O siclo do santuário, usado para o cálculo do valor, geralmente era considerado uma fração do siclo normal, mas não há informações precisas disponíveis. Descobertas arqueológicas con
firm am a existência de peças de siclo pesando de 9,3 a 10,5 gramas.
6.1-7. comparação de culpas. Nos casos alistados aqui, a inocência ou culpa do suposto ofensor podia ser determinada apenas por meio de um juramento, porque muitas vezes a prova não estava disponível ou não havia sido identificada. Enquanto o trecho anterior dizia respeito ao sacrilégio de objetos sagrados, esse trecho refere-se ao sacrilégio cometido por jurar falsamente. Para os delitos classificados como leves, requeria-se o pagamento de uma multa além da restituição plena do valor roubado ou extorquido. Porém em m uitos dos antigos códigos de leis o reembolso monetário era usado até mesmo em casos de delitos graves.
6.8-13 A oferta queimada6.9. oferta queim ada m antida acesa durante a noite.Esse trecho apresenta as instruções aos sacerdotes concernentes aos sacrifícios descritos nos capítulos anteriores. A oferta queim ada era o último sacrifício a ser oferecido no dia e as regulamentações aqui especificam que a oferta deveria perm anecer queimando a noite toda, sendo que a limpeza do altar deveria ser feita pela manhã. Dessa forma, as petições em favor de Israel continuariam tam bém durante as horas da noite.6.10. roupas de linho. O linho usado nas vestimentas
dos sacerdotes era importado do Egito, onde também era usado de maneira a distinguir os sacerdotes. Havia tam bém a crença de que os anjos vestiam -se de linho (por exemplo, Dn 10.5).
6.14-23 A oferta de cereal6.16. p ro v isão p ara os sa ce rd o te s . A inda que o ofertante comesse uma parte do sacrifício, muitos sacrifícios ofereciam uma ocasião oportuna para os sacerdotes se alimentarem. Isso tam bém acontecia na prática *babilônica, onde o rei, o sacerdote e outros funcionários do templo recebiam porções dos sacrifícios. Textos que remontam ao período *sumério mostram que era considerado um crime grave comer algo que havia sido separado como sagrado.6.16. pátio da Tenda do Encontro. O pátio do templo israelita descoberto em Arad era dividido em duas partes, ficando m ais restrita a área próxima ao santuário. A descrição do templo feita por Ezequiel retrata algumas salas especiais contíguas ao templo, onde os sacerdotes podiam comer a porção que lhes era reservada. É provável que o pátio mencionado aqui fosse uma área com divisões ao ar livre ou então salas contí
guas ao pátio, m as seja como for, tratava-se de uma
área restrita.
6.18. o qu e n e la tocar será santo. A santidade de diversos objetos sagrados podia ser transmitida dire
tam ente pelo contato com esses objetos, m as não a terceiros (Ag 2.12). Um a análise descuidada levou
alguns especialistas a concluir que apenas objetos, não pessoas, eram santificados pelo contato com algo
sagrado, mas nem todos estão convencidos de que tal distinção exista. Semelhantem ente, regulam entações mesopotâmicas proibiam que objetos sagrados fossem
tocados, mas não há informações sobre transferência de santidade. Se um objeto "ad qu irisse" santidade,
deveria ser confiscado pelos sacerdotes e, dali por
diante, restringido ao uso sagrado.6.20. um décim o de efa (ARA). Essa medida equivale a aproximadamente cinco xícaras de farinha para as
duas ofertas, sendo cada uma suficiente para fazer um bolo achatado de 20 a 25 centímetros de diâmetro.
6.24-30 A oferta de purificação6.27. a roupa respingada de sangue será lavada. Como
o sangue desse sacrifício absorvia a *im pureza, se respingasse na roupa, esta se tom aria impura e deve
ria ser lavada.
6.28. tratam ento dado a vasos de cerâm ica e de m etal. Vasos de barro, por serem porosos, absorvem a
*impureza do que é colocado dentre deles. Recipien
tes de bronze ou de cobre podem ser lavados e esfregados com facilidade, sendo assim purificados para
uso posterior.
7.1-10 A oferta de reparação7.2. sangue aspergido em todos os lados. A aspersão
do sangue em todos os lados do altar era um símbolo
da aplicação da m orte do anim al na purificação de qualquer contaminação que pudesse interferir no pe
dido que estava sendo feito. O sangue representa a vida e a morte do animal, e o altar representa o santu
ário (presença de Deus).
7.3. gordura. A gordura é um a camada que cobre os
órgãos internos, principalmente os intestinos, o fígado e os rins. Podia facilmente ser retirada e não era
comestível. Ver 3.1-5 para mais informações.7.6. com ida num lugar sagrado. H avia áreas na es
trutura do tabernáculo designadas para tais ocasiões.
Ver 6.14-23.
7.6. partes dos sacerdotes. O conceito de porções reservadas aos sacerdotes foi apresentado acima em 6.14
23. A qui o couro do anim al tam bém pertencia ao
sacerdote, uma prática atestada na *Babilônia, como tam bém em todo o contexto Mediterrâneo.
7.11-21 As ofertas de comunhão7.12. preparo da oferta de gratidão. De cada um dos diferentes pães dedicados na oferta, um seria dado ao sacerdote. Os "bolos" provavelmente eram roscas trançadas perfuradas no processo de assar, enquanto que os "pães finos" eram do tipo redondo, talvez com 1,3 centímetro de espessura.7.14. contribuição. Esse termo geralmente é traduzido como "oferta alçada" e refere-se à consagração de um a dádiva. Term os cognatos são encontrados em *acadiano (babilónico) e *ugarítico. Ao ser colocada nessa categoria a oferta era transferida do indivíduo para a divindade por meio de procedimentos informais, nem sempre dentro dos limites do santuário.7.15. diferença entre oferta de gratidão e outras ofertas de comunhão. Ao contrário das outras ofertas de comunhão, a oferta de gratidão muitas vezes era feita em outros lugares, fora do santuário. Por essa razão, as regras para esse tipo de oferta eram mais rígidas, determ inando que a carne fosse com ida no dia do sacrifício, talvez para evitar o perigo de contaminação, o que não seria um grande problema se fossem usados os recintos do santuário.7.19-21. elim inar aquele que, estando impuro, comer da carne da oferta. A punição mencionada aqui não se refere a algo que seria aplicado pelo povo, e sim pela ação de D eus. Esse tipo de punição geralm ente era reservado àqueles que profanavam o que era sagrado.
7.22-27 Comer gordura e sangue7.22-27. proib ição de com er gordura ou sangue. Agordura, junto com o sangue, fazia parte da porção que pertencia ao Senhor. Assim como o sangue simbolizava a vida do animal, a gordura era o símbolo da carne do sacrifício. A gordura de animais não oferecidos em sacrifícios podia ser comida, mas não era permitido comer o sangue de nenhum tipo de animal.
7.28-36 A porção dos sacerdotes7.30-34. oferta m ovida. U m a análise textual atenta m ostra que, na verdade, nada era "m ovid o" nessas ofertas, em bora seja possível que a oferta fosse levantada diante de Deus em sinal de dedicação (uma prática atestada nas "ofertas de elevação" dos egípcios). É diferente da "contribuição" (v. 14) pelo fato de ser dedicada sempre na presença do Senhor, ou seja, no santuário. M uitos concordam que essa oferta talvez
represente uma cerimônia especial de dedicação. Foram encontrados indícios de cerimônias movidas em
rituais mesopotâmios e *hititas, apesar de tratar-se de contextos bastante diferentes do ritual israelita.
7.31-34. uso do peito e da coxa. Como não há indicação de qual lado do peito, esquerdo ou direito, seria
ofertado, provavelmente o animal não era cortado no
sentido do comprimento, mas ao meio, na parte abaixo das costelas, o que deixava o peito intacto, isto é,
um grande pedaço da melhor carne para ser compartilhado pelos sacerdotes. A coxa era a parte seleta
individual reservada ao sacerdote oficiante.
8.1-36A consagração de Arão e de seus filhos8.1-9. a unção e o óleo da unção. As especiarias usadas para ungir eram mirra, canela, cana aromática e
cássia (ver receita em Êx 30.23-25). O óleo simboliza
va as dádivas de Deus ao povo e as responsabilidades agora depositadas sobre seus líderes, através dessa
cerimônia. Na cultura israelita, a unção era sinal de eleição e, em geral, estava intim am ente relacionada
ao dom do Espírito, embora isso não esteja implícito no caso dos sacerdotes. Entre os egípcios e *hititas,
que praticavam a unção de reis e sacerdotes, acredita
va-se que esta seria um a forma de proteger a pessoa
do poder das divindades inferiores. N os textos de *A m arna há um a referência a um rei de N uhasse
sendo ungido pelo faraó, e em Emar, há menção de
que a sacerdotisa de Baal foi ungida. Não há comprovação de que os reis na M esopotâmia fossem ungidos,
mas alguns sacerdotes eram. Além disso, em todo o
mundo antigo a unção simbolizava um progresso na posição legal da pessoa. O conceito de proteção, assim
como o de mudança de status, está associado à unção sacerdotal, pois através da unção o sacerdote recebia
proteção para manipular as coisas sagradas e ao mesmo tempo, era elevado à uma dimensão divina.
8.5-30. cerim ônia de consagração. Cerimônias de or
denação e de unção aconteciam normalmente em oca
siões sociais. Na literatura m esopotâmica os exemplos incluem Enku sendo preparado para ingressar na sociedade, relatado no Épico de *Gilgamés, e a hospita
lidade oferecida a *Adapa quando ele é cham ado a comparecer diante do poderoso deus Anu, no M ito de
Adapa. Na cerimônia de consagração israelita, a preparação para fazer parte do círculo de pessoas que
servem à divindade simplesmente acentua os procedim entos norm ais, pelo uso da m elhor roupa e do
óleo mais caro. A cerimônia de ordenação de sacerdotes no Egito também incluía roupas especiais e rituais de unção.
8.1-7. sacerdotes no m undo antigo. Todas as culturas do antigo Oriente Próximo desenvolveram um a classe sacerdotal. Apenas as tribos beduínas não tinham o
costume de separar alguns indivíduos para a execução de tarefas exclusivam ente sacerdotais. O papel dos sacerdotes, em parte como função do sacerdócio com unitário, era de m inistrar nos tem plos, oferecer sacrifícios, dirigir cultos religiosos e coordenar as festividades. Os sacerdotes eram educados dentro do
templo desde a m ais tenra idade, e em alguns casos, a posição dentro da classe sacerdotal era hereditária. Eles faziam parte do seleto grupo de pessoas letradas da sociedade, que dependia deles p ara m anter os registros dos principais eventos e ligá-los à vontade dos deuses. O processo de ligação com a divindade era conhecido como *adivinhação e, juntam ente com o sacrifício * ritual, constituía a principal fonte de poder
e autoridade dos sacerdotes. Havia um a hierarquia dentro da classe sacerdotal, incluindo o chefe dos sacerdotes, que às vezes, rivalizava em poder com o rei, os que ocupavam um nível intermediário e que executavam *rituais e sacrifícios diários, os músicos, e por fim os servos do templo, que atuavam como zeladores e faziam os serviços dom ésticos necessários a qualquer comunidade de tamanho considerável.8.7. colete sacerdotal (éfode). A peça m ais importante do vestuário sacerdotal de Arão era o colete, representado por uma roupa de linho que cobria a parte superior do corpo ou uma peça frontal presa aos ombros e atada na cintura. O peitoral (Êx 28.15), o U rim e o Tum im (Êx 28.30) e o éfode eram usados nas *adivi- nhações (1 Sm 23.9-11). A ssim, a própria vestimenta do sumo sacerdote o auxiliava no discernimento da vontade de Deus. Para mais detalhes sobre outros itens das vestes sacerdotais, ver comentários de Êxodo 28.8.8. Urim e Tum im . Nenhuma descrição desses objetos é encontrada nas Escrituras, em bora tradições do período helenista e posteriores a essa época indiquem tratar-se de objetos que, quando lançados, revelariam a vontade de Deus através da apresentação e disposição das peças (ver N m 27.21; 1 Sm 14.37-41 e 28.6). Não existe nenhum aspecto negativo atrelado ao Urim e ao Tumim, como havia em outras práticas de adivinhação; tam bém não há referência a eles em passagens que descrevem a adoração ou *rituais não israelitas. Sem dúvida, a prática de apresentar perguntas do tipo "sim ou não" (oráculos) aos deuses é conhecida em todo o antigo Oriente Próximo. De particular interesse são os textos *babilônicos tamitu, que preservam as respostas a m uitas perguntas oraculares. Pedras positivas e negativas (acredita-se que fossem pedras claras e escuras) também eram largamente utilizadas na M eso p o tâ m ia , nu m p ro ced im e n to ch am ad o
psefomancia; em um texto *assírio, há menção específica ao alabastro e à hematita. Era feita uma pergunta cuja resposta seria na forma de "sim ou não" e então
se retirava uma pedra. Para que um a resposta fosse
realmente confirmada, uma pedra da mesma cor de
veria ser tirada por três vezes consecutivas. Urim é a palavra hebraica para "lu zes" o que, logicam ente, indica a associação com uma pedra clara ou branca.
Estudos recentes apontam que a hematita, devido ao seu uso para pesos e lacres, era chamada de "pedra da verdad e" em *sum ério. A palavra hebraica Tumim
poderia ter um significado semelhante.8.9. lâm ina de ouro ou coroa sagrada (diadem a).
Trata-se de um símbolo de autoridade usado na fronte
ou sobre um turbante. Talvez o exemplo mais conhecido no mundo antigo seja a figura da serpente (uraeus) colocada na parte da frente da coroa do faraó e que servia, segundo a crença, como um amuleto protetor.
Na descrição das vestes do sumo sacerdote, a coroa
sagrada usada por ele geralm ente é descrita como um a "lâm ina de ouro", como na versão NVI. Visto
que a palavra traduzida como "lâm ina" é a mesma
usada para flor, é possível que a insígnia tivesse o formato de uma flor.
8.10-21. unção dos objetos sagrados. Essa unção era
feita para consagrar o tabernáculo e todos os seus utensílios, designando-os para uso sagrado. O s egípcios
algum as vezes ungiam as im agens dos deuses, mas
isso era feito como parte dos cuidados dispensados ao
templo e não como um a cerim ônia de consagração.
8.14. imposição de mãos. Ver comentário em 4.4-12.8.22-30. carneiro para a oferta de ordenação. A expressão "p ôr nas m ãos" usada para a cerim ônia de
ordenação, é entendida dentro do contexto *acadiano
de ordenação, tanto de reis como de sacerdotes. No caso do rei *assírio Adad-Nirari II, há menção especí
fica de um cetro sendo colocado em suas mãos, simbo
lizando a autoridade de sua posição. Essa expressão,
porém, era usada de form a m ais abrangente, e não exigia uma insígnia. Nesse relato, o sacrifício de um
carneiro, a oferta de purificação (v. 14-17) e a oferta
queimada (v. 18-21) funcionam como elementos que confirmam a autoridade dos sacerdotes no cargo.
8.23. orelha direita, polegar da mão e do pé direito. N ão se sabe ao certo em que parte da orelha o sangue era colocado (as sugestões mais freqüentes apontam o
lóbulo ou a extremidade oposta da orelha). O sangue era usado tanto para lim par das *im purezas, como
para proteger do "contágio com o sagrado". No antigo
O riente Próxim o, *rituais sem elhantes espalhavam ou esfregavam alguma substância nas bordas de obje
tos ou nas portas.
8.29. oferta m ovida. Ver comentário em 7.30-34. Detalhes relacionados aos versículos 25-29 podem ser encontrados no comentário do capítulo 1.8.30. aspersão de óleo e sangue. Arão já havia sido ungido com óleo e lambuzado de sangue, m as a aspersão aqui tem um propósito diferente, o de consagração.8.31-36. propiciação. A idéia de "purificação" exprime m elhor o que está acontecendo do que o termo "propiciação". Ver comentário em 1.4.8.35. perm anecer por sete dias. O sumo sacerdote não podia retirar-se do local por nenhum motivo, do contrário seria exposto à impureza. No cumprimento de suas funções, ele absorvia *impureza, mas permanecia imune a seus efeitos enquanto estivesse nas dependências do santuário. Ao retirar-se dali ficaria vulnerável ao perigo letal criado pela *impureza. Textos *sumérios apresentam esse mesmo tipo de preocupação pelas sacerdotisas entu, que não deveriam arriscar-se a sair do templo enquanto *Dumuzi, ainda pertencente ao m undo dos mortos, perambulasse pelas ruas (Dumuzi é um deus que morre e ressuscita, relacionado ao ciclo de fertilidade das estações). Cerimônias de dedicação com a duração de sete dias eram comuns, como na dedicação do templo de Gudea, em *Lagás.
9.1-22O in íc io d o m in is té rio sa ce rd o ta l9.1. cerimônia do oitavo dia. Informações mais detalhadas desse trecho podem ser encontradas nos comentários anteriores. Terminada a cerimônia dos sete dias de dedicação e ordenação, o oitavo dia marcava o começo do ministério. Essa cerimônia devia ser assinalada pela presença do Senhor (v. 4-6, 23, 24). Uma
cerim ônia de iniciação sem elhante ocorre quando o templo de Salomão é inaugurado (1 Rs 8.62-64), onde o term o hanok ("in iciação") é usado (cf. Hanukkah, em bora esse feriado judeu da atualidade não esteja relacionado a esse evento e sim à reinauguração do altar e do templo pelos m acabeus, após terem sido profanados por Antíoco Epifânio, no segundo séculoa .C ).
9.23- 10.20 O aparecimento da glória do Senhor e a explicação9.23. a glória do Senhor. A dedicação de um templo no antigo O riente P róxim o se caracterizav a pela oficialização da presença da divindade no local (isto era feito geralmente levando-se a im agem da divindade e colocando-a no templo). Aqui, não é *Yahweh que é colocado no tabernáculo, mas a sua glória é que parece emergir do tabernáculo recém-dedicado, m ui
to provavelmente na forma de uma coluna de nuvem e de fogo (ver comentário em Êx 13.21, 22) que representara a presença do Senhor durante o tem po de peregrinação no deserto. O fogo saltou da coluna e consumiu as ofertas.10.1. incensários. Trata-se provavelmente de panelas com cabo com prido que podiam conter carvão em brasa. Serviam com o altares portáteis, visto que o incenso era na verdade queim ado dentro deles. Os incensários também eram usados no Egito para queim ar incenso, quando as pessoas queriam proteger-se de forças demoníacas. Para comparação na Bíblia, ver Números 16.46-50.10.1. fogo profano. Como o acesso ao altar principal (de onde o fogo para as ofertas de incenso devia ser tirado) era difícil, por causa do fogo que queimava, e como os filhos de Arão decidiram que o incenso era necessário para proteger o povo da visão da glória do Senhor (ver 16.13), eles resolveram (sem autorização) trazer brasa de outro lugar (fogo profano).10.3. o silêncio de Arão. O silêncio de Arão contrasta com o choro em alta voz que geralmente acompanhava o luto. M as ao contrário de ser um silêncio de espanto, representa a determinação de seguir o regulamento que dizia que os sacerdotes oficiantes não podiam estar de luto.10.4. parentes cuidando de seus m ortos. U m a dasprincipais incumbências da família era cuidar de seus mortos. No caso, os irmãos dos mortos não estavam disponíveis, pois ainda se encontravam ocupados com a celebração do sacrifício. Desta forma, os primos foram orientados a cumprir as obrigações necessárias.10.6, 7. ritos de luto e óleo de unção. Cabelos desalinhados e roupas rasgadas eram as principais manifestações de luto. Outros sinais incluíam rapar a cabeça ou a barba, jogar cinzas sobre a cabeça e até mesmo cortar-se. O período de luto geralmente durava sete dias. Arão foi advertido a não participar dos rituais de luto, para não interromper os serviços sacerdotais que ele tinha de m anter para a cerim ônia. Interrom per algo que tinha sido iniciado pelo óleo da unção seria menosprezar a santidade do santuário e da presença de Deus. Ver 21.10-12.10.8. vinho e bebida ferm entada. Tâm aras, m el e cereais podiam ser fermentados e usados como bebidas, m as a cerveja de cevada provavelm ente era a bebida alcoólica mais comum. Existem algumas evidências de rituais envolvendo embriaguez na literatura do antigo O riente Próxim o, e a Bíblia tam bém atesta essa prática (Is 28.7).10.10. os limites do sagrado. O versículo 10 estabelece diversas categorias. Tudo que era santo (consagrado à d iv ind ade) era consid erad o lim po ou puro
(ritualmente purificado). O que não era santo (portanto, profano ou comum) podia ser considerado puro ou imundo. Era obrigação dos sacerdotes manter a distinção entre essas categorias, e eles assim o faziam m antendo o que é cham ado de lim ite sagrado. A partir desse conceito, o centro do espaço sagrado era o Lugar Santíssimo, onde ficava a arca. Exteriormente, espalhavam -se as zonas concêntricas de santidade,
cada qual exigindo um determinado nível de *pure- za. Os sacerdotes eram responsáveis por fazer cumprir as regras que m anteriam o nível apropriado de
santidade e *pureza de cada zona.10.11. ensino sacerdotal. O ensino m inistrado pelos
sacerdotes incluía ética e tam bém questões *rítuais, embora aqui a ênfase provavelmente esteja no último. Deuteronômio 24.8 oferece um exemplo desse tipo de ensino sacerdotal. N o m undo antigo, os sacerdotes eram considerados especialistas em relação aos rituais e às atitudes durante o *culto, sendo regularmente consultados sobre procedimentos mais complexos.10.12-15. porção dos sacerdotes. Os detalhes relacionados aos versículos 12-15 foram abordados nos comentários dos capítulos 6 e 7.
10 .16 ,17 . a importância de comer a oferta de purificação. Acreditava-se que a oferta de purificação absorvia as *impurezas pelas quais ela havia sido oferecida como reparação. Esse conceito de absorção ritual era comum no antigo Oriente Próximo. Quando uma grande quantidade de impureza era absorvida (como no Dia da Propiciação), a oferta inteira deveria ser queim ada a fim de elim inar a im pureza. M as em muitas ocasiões, o fato do sacerdote comer as partes determinadas tinha um importante papel no processo de purificação. M ilgrom sugere que o ato de comer simbolizava que a santidade estava engolindo a i m pureza. N esse caso, M ilgrom estaria correto em entender que a explicação dada por Moisés a Arão aqui estaria refletindo uma temerosa advertência. A presença do corpo de seus filhos mortos na área do santuário teria aum entado grandemente a quantidade de im pureza absorvida pela oferta de purificação, tornando-a mortal para o sacerdote.
11.1-46 Alimentos puros e impuros11.2. restrições alimentares. Na M esopotâm ia havia inúmeras ocasiões em que era proibido ingerir certos alimentos por um período curto de tempo. Também n a Babilônia há provas da existência de restrições quanto aos animais que podiam ser aceitos em sacrifício por determinados deuses. Mas nenhum sistema pode ser comparado a esse encontrado aqui. Embora não se conheça nada equivalente a esse sistem a de
restrição alimentar israelita em todo o mundo antigo, os animais permitidos geralmente estão em conformidade com a dieta comum do antigo Oriente Próximo.11.3-7. critérios para a classificação dos anim ais. Os principais critérios levam em conta (1) m odo de locomoção e (2) características físicas. Não se faz menção aos hábitos alimentares desses animais, nem das condições de seu habitat. Antropólogos têm sugerido que os animais eram considerados puros ou impuros dependendo das características que possuíam e que os faziam serem considerados "norm ais" dentro daquela categoria. Outras sugestões quanto ao critério de classificação levam em conta a saúde e higiene. No entanto, essas possibilidades não encontram apoio diante do fato de que muitos exemplos não se encaixam em nenhuma categoria. Uma explicação tradicional popular sugere que alguns animais eram proibidos por estarem de alguma form a relacionados aos *rituais não israelitas. No entanto, há evidências de que os rituais sacrificiais praticados pelos povos vizinhos de Israel, fossem surpreendentemente bastante sem elhantes aos de Israel. Um a hipótese aceitável elaborada recentem ente é a de que a dieta israelita seguia o modelo da "d ieta" de Deus, ou seja, se algum animal não podia ser oferecido em sacrifício a Deus, então, também não seria adequado para o consumo humano.11.7. porco. A literatura *assíria de sabedoria descreve o porco como um animal impuro, que não podia ser usado no tem plo por ser um a abom inação aos deuses. Um texto sobre sonhos tam bém m enciona que comer porco seria um m au agouro. Entretanto, a carn e de p o rco fa z ia p arte da d ieta re g u la r na M esopotâmia. Alguns *rituais *hititas exigiam o sacrifício de um porco. M ilgrom observa, porém, que nesses rituais, o porco não era colocado no altar como alimento para os deuses, m as era usado para absorver as *impurezas, sendo depois queimado ou enterrado com o o fe rta às d iv in d a d es do m u n d o in ferio r . Semelhantemente, n a M esopotâmia o porco era oferecido como sacrifício aos demônios. Há evidências de que no antigo Egito os porcos eram usados como alimento e Heródoto declara que tam bém seriam usados para sacrifícios. Documentos egípcios falam de manadas de porcos sendo mantidas em terrenos de propriedade dos templos e de porcos doados aos templos
como oferta. O porco era considerado um animal especialm ente sagrado pelo deus Seth. G rande parte das evidências referentes a sacrifícios de porcos, porém, vem da Grécia e de Roma, onde também eram oferecidos em sacrifício aos deuses do mundo inferior. Nas áreas urbanas, era comum encontrar porcos, juntamente com cães, perambulando pelas ruas e vascu
lhando o lixo, o que fazia deles animais repulsivos. A atitude que o povo de Israel deveria ter em relação ao porco é apresentada com clareza em Isaías 65.4 e 66.3,17; a primeira referência mostra que havia uma íntima relação desse animal com a adoração aos mortos. É bastante provável que sacrificar um porco representasse oferecer um sacrifício aos demônios ou aos mortos.11.8. transferência da *im pureza. Qualquer objeto que tivesse contato com um cadáver seria considerado impuro, a menos que fosse enterrado no chão. As fontes e nascentes de água eram im unes por essa mesma razão, bem como as sementes que seriam plantadas. A semente molhada mencionada no versículo 38 estaria sendo preparada como alimento, por isso tornou- se impura. Qualquer pessoa que tocasse em um cadáver tam bém seria considerada im pura, e precisava ser purificada. A maior parte da carne usada na alimentação vinha de animais que tinham sido mortos ritualmente e, portanto, não seriam agentes transmissores de impureza.
12.1-8Purificação após o parto12.2. im pureza cerim onial. N em toda impureza podia ser evitada e muitas vezes era causada por algo que de m aneira nenhum a poderia ser considerado pecado. H avia situações que dificilmente poderiam ser evitadas, incluindo as im purezas de ordem sexual, as relacionadas a doenças e aquelas decorrentes do contato com um cadáver ou carcaça de animal. Em bora se tratasse principalm ente de uma questão de etiqueta, e não propriam ente de ética, as áreas sagradas do tabernáculo precisavam ser protegidas de tudo que não fosse adequado. Além disso, havia a crença com um de que os dem ônios habitavam no sangue menstrual. Em Israel, os fluidos corporais, tais como sangue m enstrual ou sêmen, estavam intim am ente relacionados à vida. Quando o potencial de vida que eles representavam não era aproveitado, passavam a representar a morte e, conseqüentemente, a impureza. Era comum nas culturas antigas, inclusive no Egito, na *Babilôrúa e na Pérsia, considerar a impureza após o parto semelhante à impureza men
sal do ciclo menstrual.12.3. circuncisão. Ver comentário em Gênesis 17.9-14.12.4. 5. purificação durante 33 ou 66 dias. O período inicial de sete dias mais os 33 dias adicionais totalizam quarenta dias - o período normal de acordo com as estim ativas. O fluxo de sangue após o parto pode durar de duas a seis semanas, dependendo da mulher, assim, esse cálculo seria um a aproximação adequada. Entre os persas e gregos havia restrições se
melhantes, estipulando que som ente quarenta dias depois que a mulher tivesse dado à luz ela teria permissão para entrar em lugares sagrados. Muitas culturas exigiam um período de purificação maior quando a mulher dava à luz uma menina. Os *hititas consideravam a criança im pura até o terceiro m ês (se fosse menino) ou quarto mês (se fosse menina). Não há nenhum argumento lógico que justifique essa diferença entre o período de purificação relacionado ao sexo da criança.12.7. propiciação. Exemplos como esse deixam claro que a cham ada "oferta pelo pecado" na verdade é uma oferta de purificação (ver comentários no cap. 4). Não existe aqui nenhum pecado que justifique essa "propiciação", em vez disso, trata-se de limpar a i m pureza do altar (ver comentário em 1.4).
13.1-46Doenças de pele13.2. variedades de doenças de pele. Pesquisas lingüísticas concluíram que o termo freqüentemente traduzido como "lepra" na verdade seria mais bem traduzido como "lesão " ou, de form a m enos técnica, "escam ação da pele". Tais feridas podiam estar inchadas, vazando ou descamando. A term inologia para
esse tipo de doenças também é bastante abrangente em *acadiano, sendo consideradas de igual maneira pelos *babilônios como um a condição im pura e um castigo dos deuses. Não há evidências de lepra (han- seníase) no antigo Oriente Próximo em períodos anteriores a Alexandre, o Grande. O texto não menciona nenhuma das características mais marcantes da hanse- níase, e os sintomas descritos não são relacionados à lepra. A condição apresentada no texto também não é descrita como contagiosa. A descrição dos sintomas sugere que, de acordo com diagnósticos modernos, tratava-se de psoríase, eczemas, vitiligo e dermatite
seborréica, bem como um a série de infecções causadas por fungos. A grande aversão cultural a doenças de pele talvez seja porque seu aspecto (e às vezes, odor) assemelha-se ao estado de putrefação da pele de um cadáver estando, assim, associadas à morte. Essa repulsa natural das pessoas aumentava consideravelmente a situação de isolam ento da vítim a quando combinada à quarentena, cujo propósito era m ais no sentido ritual do que médico. Um reflexo dessa atitude pode ser visto em um presságio da Antiga Babilônia que interpretava as áreas brancas da pele como uma indicação de que a pessoa havia sido rejeitada pelo seu deus e, portanto, deveria ser rejeitada tam bém pela comunidade.13.45. com p ortam en to da vítim a. O s cabelos d esgrenhados, as roupas rasgadas e o rosto coberto carac
terizavam a vítim a com o um a pessoa enlutada. De acordo com as crendices da época, era uma forma do enlutado se disfarçar das forças do mal que pairavam no lugar dos mortos. O grito era para impedir que as pessoas se aproxim assem, já que havia a crença popular de que até m esm o sua respiração podia contaminar.13.46. viver separado, fora do acampamento. Embora não fosse necessário m anter no acam pam ento o mesmo nível de *pureza do templo, existiam restrições. Esse tipo de restrição também é m encionado na literatura *babilônica relacionado a vítimas de doenças de
pele, que eram forçadas a viver em isolam ento. É provável que as pessoas com esse tipo de doença vivessem em áreas próximas a cemitérios.13.47-59. roupa contaminada. Esse trecho diz respeito aos diversos tipos de fungos causadores de mofo, que podem contaminar roupas ou madeira. N a literatura mesopotâmica, o aparecimento de fungos é relaciona
do a demônios, embora no texto bíblico essa relação não seja tão explícita.
14.1-57A purificação da lepra14.2. ritual de purificação. Esses *rituais não estão relacionados a sujeira ou bactérias, m as a *impureza cerimonial. As aves usadas eram aves selvagens porque aquela que fosse solta (contaminada) não poderia mais ser usada inadvertidam ente em algum sacrifício. Nos *rituais mesopotâmios e *hititas de purificação, era comum o uso de aves porque existia a crença de que elas levavam a *impureza de volta aos céus, de onde tinham vindo. A m adeira de cedro era usada, aparentemente, pela sua cor vermelha, juntam ente com o pano vermelho e o sangue. Esse ritual não era usado pelos israelitas com um sentido mágico (a cura já acontecera), mas de modo simbólico. Muitos intérpretes acreditam que o vermelho representava a vida.14.8. significado de rapar-se. Às vezes, o cabelo representava a vida ou a identidade da pessoa, m as aqui não há nenhum sentido sim bólico. O s pelos eram rapados para que todos vissem a condição restaurada da pele e também para que nenhum resíduo de i m pureza ficasse encoberto ali.14.10. três jarros ou três décimos de efa. Três décimos de efa representava cerca de seis litros, o equivalente a uma oferta de cereal para cada ovelha oferecida.14.10. um a caneca de óleo. No hebraico, essa medida era cham ada de logue. Era uma quantidade pequena, menos que uma caneca, mas é difícil quantificar com precisão. Esse term o aparece na Bíblia apenas nesse capítulo e as ocorrências em outras línguas são igualm ente vagas.
14.12. oferta pela culpa. Essa oferta, que seria mais
apropriadamente traduzida como "oferta de reparação", já foi descrita no capítulo 5. Era oferecida geralm ente como form a de reparar algum dano sofrido
pelo santuário. Poderia ser parte desse *ritual com
pensar alguma oferta que tivesse sido om itida pelo ofertante durante sua quarentena. Outra hipótese é
que como a ferida na pele podia às vezes representar um castigo de Deus por algum ato de sacrilégio, a
oferta de reparação serviria justam ente para reparar alguma ofensa que havia passado despercebida pela vítim a.
14.12. a oferta m ovida. Ver comentário em 7.30-34. Esse é o único relato em que um anim al inteiro é
incluído na cerimônia (ver caps. 7, 8).14.14. orelha direita, polegar da mão e pé direitos. Ver comentário em 8.23.
14.15. o uso do óleo. No antigo Oriente Próxim o, o óleo era usado como substância protetora. Em bora
essa função provavelmente tivesse desaparecido em
Israel, o óleo continuava a ser um elemento importan
te nos rituais (assim como o visco, que é usado hoje em dia como enfeite nas festas de final de ano, no passado
era visto como proteção contra os demônios). U m ’‘r i tual egípcio de preparação de um ídolo para a cerimô
nia do dia incluía um procedimento sem elhante ao descrito no versículo 18.
14.18. propiciação. O óleo (ou, mais provavelmente,
todo o *ritual de reparação), a oferta de purificação, a oferta queimada e a oferta de cereal, faziam cada um
por sua vez uma propiciação pelo indivíduo. Sobre o sentido de purgação contido na propiciação, ver co
mentários no capítulo 1. Aqui o termo é usado para descrever o complexo processo ritual que concederia
ao indivíduo uma condição limpa para poder ser rein
tegrado plenam ente na participação do sistema ritual.
14.34. m ofo. A referência aqui é a contam inação por fungos, considerada como m au presságio no mundo
antigo. *Rituais mesopotâmios atacam o crescimento de
fungos em várias situações diferentes. Acreditava-se
que a parede em que surgissem manchas de mofo seria uma indicação de qual m embro da família iria morrer. O bolor era visto como um presságio da chegada imi
nente de demônios e de todos os problemas que trazi
am. Este conceito não aparece nesse texto bíblico; os procedimentos rituais apresentados são necessários ape
nas para a casa, não para seus m oradores.
14.48. ritual de purificação. Esse *rito demonstra certa semelhança com os rituais de purificação contra mofo
praticados por outros povos do antigo Oriente Próximo. O ritual *hurriano usava aves (duas eram sacrifi
cadas, e um a solta) e queim ava m adeira de cedro,
exatamente como faziam os israelitas. Os *babilônios usavam um corvo e um falcão, que era solto no deserto. Para outros detalhes sobre esse ritual, ver comen
tário no início desse capítulo.
15.1-33 Fluxos15.1-15. fluxos provocados por doenças. O fluxo descrito aqui é aquele geralmente causado pela gonorréia
(embora somente as formas mais benignas existissem
no mundo antigo). Também pode ser identificado como bilharziose urinária (esquistossomose), um flagelo bas
tante comum no mundo antigo. Essa doença era causada por um parasita - Schistosoma - relacionado a
caramujos que ficavam no sistema de águas descober
to por escavações arqueológicas. N a m aior parte do antigo Oriente Próximo acreditava-se que esses corri
mentos fossem evidência da presença de demônios na pessoa. Em Israel, porém , a pessoa deveria apenas lavar-se e purificar-se no santuário, pois o *exorcismo
não era praticado como na Mesopotâmia.
15.16-18. expelir sêm en. Entre os *hititas, as poluções
noturnas eram consideradas resultado de relações sexuais com os espíritos. No texto bíblico não existe essa
conotação e o ritual de purificação exigia somente a
lavagem, não o sacrifício. Qualquer atividade sexual impedia a pessoa de entrar no templo até o entardecer.
O m esm o ocorria entre os egípcios, apesar de não estar m uito evidente em várias outras culturas do
antigo Oriente Próximo, talvez devido ao predomínio
da prostituição ritual. Nessas culturas, representadas pela prática *hitita, quem tivesse praticado o ato sexual, deveria lavar-se antes de participar de qualquer
ritual, mas não havia necessidade de um período de
espera; tampouco existia a proibição explícita de se manter relações sexuais nas dependências do templo.
15.19-24. m enstruação. O fluxo menstrual era considerado um a fonte de *im pureza em todo o mundo
antigo, e representava, em algumas culturas, o peri
go de influência demoníaca. Mas em Israel, como no caso anterior, era tratado apenas como *im pureza,
exigindo-se apenas rituais de lavagem, e não sacrifíci
os ou rituais de proteção. U m decreto real *assírio do final do segundo m ilênio proibia que um a m ulher
menstruada fosse à presença do rei quando eram ofe
recidos sacrifícios.15.25-33. fluxos irregulares. M enostasia é o nome da
principal causa do fluxo de sangue contínuo que ultrapassa o período mensal regular. Isso resultaria em
um estado quase permanente de imundície e impos
sibilitaria à mulher ter filhos, visto que a relação sexual era proibida enquanto existisse fluxo de sangue.
16.1-34O dia da propiciação (expiação)16.2. acesso lim itado aos lugares santos. No mundo antigo, de m odo geral, os tem plos não eram locais públicos de adoração. O acesso aos recintos sagrados era bastante restrito por serem considerados solo sagrado. Quanto mais sagrada a área, mais restrito era o acesso a ela; o objetivo dessa medida era proteger as pessoas de pôr a vida em risco caso invadissem o solo sagrado, e também evitar que o lugar de habitação da divindade fosse profanado.16.2. aparecendo em um a nuvem. O termo *acadiano melammu era usado para descrever o resplendor divino, ou seja, a representação visível da glória da divindade que, por sua vez, era envolta por fum aça ou nuvem. Na mitologia cananéia, o conceito de melammu poderia ser traduzido pela palavra anan, a m esm a palavra hebraica traduzida nesse versículo como "n u vem "; mas as ocorrências são muito raras e obscuras para se ter certeza.16.2. tam pa. Esse term o tem sido tradicionalm ente traduzido como "propiciatório", embora todas as traduções sejam especulativas. O termo refere-se a uma tam pa ou lâm ina de ouro retangular (moldada em uma só peça, juntam ente com os querubins) que ficava em cim a da arca (ver com entário em Êx 25.17). Talvez seja uma palavra de origem egípcia, pois possui uma sonoridade semelhante ao termo egípcio usado para indicar um lugar de descanso para os pés. Considerando que a arca algum as vezes era vista como o estrado de Deus, então esse sentido estaria de acordo.
16.4. vestes de Arão. Ver comentários em Êxodo 28 sobre a descrição das vestes do sumo sacerdote. Aqui ele não está vestido com toda a pompa, m as numa atitude de humildade, com roupas de linho mais simples. O linho usado na confecção das roupas sacerdotais era importado do Egito, onde também era usado pelos sacerdotes, de m odo a distingui-los das pessoas comuns. Os anjos tam bém usavam roupas de linho (ver, por exemplo, Dn 10.5). M ais tarde, na cerimônia, o sumo sacerdote tirava essa roupa, lavava-se e vestia sua roupa usual (v. 23, 24).
16.6-10. propósito do dia. Apesar de outras culturas do antigo Oriente Próximo terem *rituais para eliminar o mal, todas consideravam sua natureza ritual ou demoníaca, enquanto que em Israel, os pecados do povo também estavam incluídos. A cerimônia começava com as ofertas de purificação para que o sacerdote pudesse entrar no Lugar Santíssimo. Um a vez lá dentro, o ritual de sangue purificava todas as partes do santuário das impurezas acumuladas ao longo do ano. O ritual era feito de dentro do santuário para
fora, até que os pecados fossem colocados sobre a cabeça do "bod e expiatório", que os levava embora. O objetivo das ofertas habituais de purificação era o perdão (ver com entário em 4.13-32). Esse ritual anual tinha o propósito de eliminar os pecados do povo.16.8. Azazel. A palavra hebraica traduzida como "b o de expiatório" é azazel. Essa tradução resultou da divisão da palavra hebraica em duas outras palavras, levando a uma conclusão bastante improvável. Visto que o versículo 8 identifica um bode "para o Senhor" e outro "para A zazel", parece mais coerente considerar Azazel como um nome próprio, provavelmente o de um demônio. Os prim eiros herm eneutas judeus interpretavam dessa forma, como é demonstrado no livro de Enoque (segundo século a.C.). Esse bode não era sacrificado a Azazel (conforme 17.7), mas solto para Azazel (v. 26). Os *babilônios acreditavam em demônios alu, que viviam em regiões desérticas; talvez represente um conceito semelhante. As tabuletas de Ebla descrevem um rito de purificação para um mausoléu em que um bode era solto nas estepes da região desértica.16.8. conceito de bode expiatório no antigo O riente Próximo. Inúmeros *rituais *hititas tinham como característica a transferência do mal para um animal, que depois era enviado para longe. Em alguns casos, o animal era também considerado um presente oferecido para acalmar os deuses ou uma espécie de sacrifício, mas em outros, era simplesmente um m eio de eliminar o mal. Rituais mesopotâmios de transferência do mal geralmente viam o animal como um substituto para uma determinada pessoa, passando a enfrentar os ataques demoníacos no lugar dela. No ritual Asakki M asuti contra febre, o bode que substituía a pessoa enferma era enviado para o deserto. Porém, todos esses ritos apresentam diferenças significativas em relação ao que era praticado entre os israelitas, pois eram realizados por meio de feitiços (por exemplo, com a repetição de palavras mágicas), conceitos totalm ente ausentes no ritual israelita. Além disso, não havia nenhum a intenção no ritual israelita de aplacar a ira da divindade ou de demônios, ao passo que esse era o motivo principal dos rituais do antigo Oriente Próximo.16.8. lançar sortes. O fato de lançar sortes dava ao Senhor a oportunidade de escolher o bode para o sacrifício.16.12. função do incenso. Os altares de incenso eram comuns nos santuários israelitas e cananeus. O incenso oferecido nesses altares era uma mistura de especiarias que continha como ingrediente principal resina de incenso e também goma aromática, onicha e gálbano (ver comentário em Êx 30.34-38). Tradições judaicas
posteriores incluíram uma série de especiarias à mistura. A fumaça do incenso representava as orações do povo subindo até Deus.16.29. décim o dia do sétim o mês. Essa data seria no outono, dez dias após o ano-novo. Em nosso calendário cai por volta do final de setembro.16 .34 . p ro p ic ia çã o um a vez por an o. No *ritu al *babilônio de ano-novo, o sacerdote m atava um carneiro que era usado na purificação do santuário e recitava encantamentos para exorcizar os demônios. O rei se declarava livre de vários crimes relacionados à sua posição, e a seguir o corpo do carneiro era lançado no rio.
17.1-16 Consumo de carne e sangue17.4. culpado de sangue. Os animais domésticos apropriados para os sacrifícios não podiam ser ritualmente abatid os para as ofertas de com unhão, exceto no tabernáculo/templo. Essa proibição visava im pedir que esses sacrifícios fossem oferecidos a outros deuses ou em santuários impróprios. Também servia como
im pedim ento ao conceito de que o sangue de um animal que tivesse sido morto longe do santuário poderia ser usado para apaziguar as d ivindades do m undo inferior. E desse derram am ento de sangue em rituais ilícitos que o indivíduo seria considerado culpado.
17.7. ídolos em form a de bode. O term o provavelmente faz referência aos demônios em forma de sátiros
que, segundo a crença, vagavam pelos descampados e lugares desabitados.
17.9. elim inado do m eio do povo. Essa terminologia geralmente é entendida como resultado da crença de que Deus executaria o castigo adequado. Não há indicação de qualquer ação judicial ou social contra a pessoa, apenas a ação iminente de Deus.17.11. vida no sangue. A idéia de que o sangue era a
essência da vida fica evidente na crença mesopotâmica de que as primeiras pessoas foram criadas com o sangue de uma divindade morta. Apesar desse conceito ser semelhante ao dos israelitas, não havia restrições
alimentares em relação ao sangue e nada que sugerisse um uso ritual do sangue, nem na oferta à divindade nem em rituais de purificação, nas demais culturas do antigo Oriente Próximo.17.11. sangue com o propiciação. Devido à crença de que o sangue era a essência da vida, ele podia servir como agente purificador nos *rituais de cerim ônias sacrificiais. Para m ais inform ações sobre a palavra traduzida como "propiciação", ver comentário em 1.4.17.12. proibição de com er sangue. Comer o sangue poderia facilmente ser interpretado como um m eio de
absorver a vida de outra criatura. Esse tipo de pensam ento era proibido, assim como a idéia de que, ao ingerir sangue, a pessoa destruiria sua força vital. Em vez disso, a vida devia ser oferecida de volta a Deus, de onde se originara.
18.1-30 As relações sexuais ilícitas18.1-29. tabus sexuais. Toda sociedade desenvolve tabus no sentido de estabelecer regras para o matrimônio, adultério e práticas sexuais inaceitáveis. Essas restrições variam de cultura para cultura, mas todas refletem os valores econômicos e morais da sociedade. As leis no capítulo 18 são *apodícticas (ordens), destacando que essas práticas aviltavam o povo. A palavra usada nos versículos 22-29 ("repugnante") identifica o comportamento descrito como contrário ao caráter de Deus. Um termo equivalente em *sumério e *acadiano descreve certas condutas como desprezíveis aos deuses. Em caso de incesto (v. 6-18), a principal preocupação era com as relações de consangüinidade mais próximas (pai, mãe, irmã, irmão, filho, filha) e afins (esposa, marido, tio, tia). A única exceção é no caso da obrigação de levirato (Dt 25.5-10), quando o irmão de um homem falecido era obrigado pela lei a ter relações sexuais com a cunhada. O incesto era igualmente abominável na maioria das sociedades (era proibido pelas leis *hititas). Um tratado hitita proibia o relacionamento com cunhadas ou primas, sob pena de morte. A exceção é o Egito, onde o incesto era uma prática comum na fam ília real (mas pouco comprovada em outros grupos), usado como meio de fortalecer ou consolidar a autoridade real. Esse conceito também existia entre os reis *elamitas. O adultério (v. 20) viola a santidade da família e contamina o processo de herança (ver comentário em Êx 20.14).18.21. filh o s sacrificados a M oloque. Foram encontradas evidências de sacrifícios de crianças em localidades fen ícias, no norte da Á frica (C artago) e na Sardenha. Esse tipo de sacrifício era praticado também na Síria e na M esopotâm ia durante o período *assírio (oitavo e sétim o século a.C.). A prática de dedicar os filhos a um deus em forma de sacrifício é encontrada em diversos relatos b íblicos. Pode ser explicada como um meio de promover a *fertilidade (M q 6.6, 7) ou a fim de obter vitórias m ilitares (Jz11.30-40; 2 Rs 3.27). Porém, esse tipo de sacrifício não era considerado aceitável para *Yahweh, de acordo com a lei bíblica (Dt 18.10). M uitos acreditam que M oloque seria um a divindade do m undo inferior, cuja adoração era com posta de *rituais de origem cananéia dedicados aos ancestrais. U m a inscrição fenícia do século oitavo a.C. menciona sacrifícios feitos
a Moloque pelos habitantes da Cilicia e seus inimigos, antes da batalha.
18.22, 23. hom ossexualidade e bestialidade. Tanto a homossexualidade (v. 22) como a bestialidade (v. 23) eram praticadas no contexto de *rituais ou feitiçarias no antigo Oriente Próxim o. Essa últim a, particularmente, é encontrada na mitologia de *Ugarite, e sua prática era considerada ilegal (especialm ente pelas leis *hititas). A m istura das espécies nos relacionamentos sexuais era considerada contrária aos conceitos de *pureza.18.24-28. perversões sexuais caxianéias. Essas perversões não podem ser vistas simplesmente como resultado da depravação humana. As relações sexuais haviam se incorporado aos ritos de adoração e eram praticadas com o propósito de garantir a *fertilidade da terra, dos rebanhos e das pessoas. Há várias evidências quanto ao aspecto de fertilidade da religião cananéia, m as pouco se sabe a respeito dos detalhes específicos dos rituais sexuais. Sabe-se que havia homens e mulheres nos templos que praticavam a prostituição, mas o papel ritual que desempenhavam ainda é desconhecido. Esses versículos tam bém fazem supor que a violação do código sexual contaminava não só o povo, m as também a terra, exigindo, portanto, um processo de purificação, com a expulsão dos habitantes daquela terra para que os israelitas pudessem ocupá-la. Assim, essa intima relação entre a terra e as pessoas que nela habitavam era um conceito natural a um povo cuja vida baseava-se na agricultura e no pastoreio. Apesar dos israelitas terem a garantia de que a terra pertenceria a eles, foram alertados a não assum ir as m esm as práticas dos cananeus, sob pena de tam bém serem banidos.
19.1-37 Diversas leis19.9,10. recom endações sobre a colheita. Nos *cultos de *fertilidade, um a parte da colheita era deixada nos campos como um a oferta às divindades do solo. N esses versículos, uma parte da colheita deveria ser deixada no campo para suprir as necessidades dos pobres. Embora não tenham sido encontrados exemplos desse tipo de leis no antigo Oriente Próxim o, textos da cidade de *Nuzi sugerem que ali havia um costume sem elhante.19.11-19. contrato social. Esta é outra série de decretos *apodícticos (ordens) sem elhante ao Decálogo (Dez Mandamentos, encontrado em Êxodo 20.1-17), porém apresentando um conceito ainda m ais completo do contrato social entre Deus e os israelitas, bem como dos direitos e deveres dos israelitas perante a sociedade. Não há exemplos de outros contratos sociais como
esse entre o povo e sua divindade. No entanto, no antigo Oriente Próximo havia a crença de que os deuses se preocupavam com a justiça social e no fato das pessoas terem de prestar contas de seus atos aos deuses, fossem eles pessoais ou familiares, ou o próprio Shamás, o deus da justiça. Acreditava-se tam bém que os deuses julgavam a conduta das pessoas e podiam ser invocados como testemunhas do comportamento humano. Desta forma, os contratos sociais que regulavam o comportamento dos habitantes das nações vizinhas de Israel eram firmados entre homens e deuses, sendo que esses últimos eram invocados nos juram entos para dar proteção.
19.19. m istura de anim ais, sem entes e m ateriais. Algumas m isturas eram consideradas exclusivas para uso sagrado. O texto paralelo em Deuteronômio 22.911 deixa claro que em Israel também havia essa prática. Uma mistura de lã e linho era usada no tabernáculo e nas vestes do sumo sacerdote, sendo por esse motivo reservada para uso sagrado. Essa interpretação tam bém pode ser encontrada nos Manuscritos do
M ar Morto (4TMMQ). Semear dois tipos diferentes de sem entes tam bém era proibido pelas leis *hititas e quem transgredisse essa ordem seria am eaçado de morte.
19.20-22. condição da escrava. Tanto os padrões de conduta como as formas de punição variavam quando se tratava de escravos. As leis do antigo Oriente Próximo apresentam diversos tipos de punição para quem estuprasse um a escrava. Tanto as leis neo-sumérias de *Ur-Nammu, como as leis *babilônicas de *Esnuna (cerca de 2000 a.C.) estipulavam o pagam ento de multas para aquele que estuprasse uma escrava. A lei de Esnuna acrescentava que a vítima deveria permanecer com seu proprietário original, a fim de que o estupro não se tom asse um meio predatório de obter um escravo. No exemplo bíblico, o caso não é considerado adultério e, portanto, não culmina em execução (ver D t 22.23, 24), visto que a m ulher é considerada como escrava por não ter sido ainda libertada (ver Êx22.15-17).19.23-25. árvores frutíferas. Os pomares eram tão valiosos que a lei proibia que suas árvores fossem cortadas durante o período de guerra (Dt 20.19). G eralm ente, havia vários tipos de árvores frutíferas (ver Am 9.14), sendo que as mais comuns eram a figueira, a oliveira, a tamareira e o sicômoro. Alguns pomares eram irrigados (Nm 24.6), m as a m aior parte parece ter sido cultivada nas colinas (Jr 31.5). Durante os três primeiros anos era necessário o cultivo cuidadoso e a poda a fim de garantir boas colheitas e o amadurecimento das árvores. Os frutos produzidos durante esse período não podiam ser comidos e eram declarados
impuros (literalmente, "incircuncisos"). No quarto ano toda a colheita deveria ser dedicada como oferta a Deus e só a partir do quinto ano o proprietário poderia comer os frutos.19.26. adivinhação. A ^adivinhação compreendia uma variedade de métodos empregados pelos profetas (Mq3.11), adivinhos, médiuns e feiticeiros para descobrir qual era a vontade dos deuses e para predizer o futuro. As técnicas m ais comuns incluíam o exam e das vísceras de animais sacrificados, a análise de diversos tipos de presságio e a leitura do futuro a partir de fenômenos naturais e não naturais (ver G n 44.5). Aqui, a proibição de não comer carne com sangue está ligada à ordem para não se envolver em nenhum tipo de adivinhação ou feitiçaria. Desta forma, não se trata de um a lei alim entar, m as de um decreto proibindo a prática de derramar sangue de um animal sacrificado no chão ou num a cova sagrada, com o objetivo de atrair os espíritos dos m ortos (ver 1 Sm 28.7-19) ou divindades do m undo inferior a fim de consultá-los sobre o futuro. Tais práticas são encontradas em diversos textos rituais *hititas e na visita de Odisseu ao mundo inferior (Odisséia 11.23-29, 34-43). Essas práticas são condenadas (Dt 18.10,11) porque contrariam a idéia de que *Yahweh é o Deus Todo-poderoso, que não pode ser controlado pelo destino.19.27. significado de aparar os cabelos. Para os homens, o cabelo era considerado um símbolo de sua masculinidade ou virilidade (ver 2 Sm 10.4) enquanto que as mulheres penteavam e enfeitavam cuidadosa
mente os cabelos como um sinal de beleza. A expressão usada para a proibição de "cortar o cabelo dos lados da cabeça" ou aparar "as pontas da barba" é a m esma usada em 19.9, 10, que trata da colheita dos campos. Os dois casos estão relacionados a ofertas, uma para os pobres e a outra para Deus. O fato de essa lei ter sido ordenada logo após a proibição de praticar *adivinhação sugere que a restrição quanto a cortar o cabelo talvez estivesse relacionada ao costume cananeu de ofertar os cabelos a fim de aplacar os esp íritos dos m ortos (ver D t 14.1). No Código de *Hamurabi a punição para testemunhas falsas consistia em cortar m etade do cabelo da pessoa. As leis m edo-assírias perm itiam que o proprietário de um escravo arrancasse seus cabelos como form a de castigo (ver N e 13.25). Esses dois casos sugerem que a perda dos cabelos estaria associada à vergonha. Uma inscrição fenícia do século nono a.C. relata o caso de um indivíduo rapando os cabelos para cumprir um voto feito à deusa *Astarote. Na concepção do mundo antigo, os cabelos (juntamente com o sangue) representavam a essência da vida da pessoa, e por essa razão eram freqüentemente usados em simpatias. Esse fato
pode ser exem plificado na prática de enviar um a mecha de cabelos do profeta junto com as profecias destinadas ao rei de *Mari. O cabelo poderia ser usado num a adivinhação para determinar se a m ensagem do profeta seria ou não verdadeira.19.28. fazer cortes no corpo por causa dos mortos. Algum as práticas *cultuais e de luto incluíam fazer cortes pelo corpo (ver 1 Rs 18.28; Jr 16.6; 41.5). Talvez o objetivo fosse atrair a atenção dos deuses, ou afastar os espíritos dos mortos ou então demonstrar grande sofrimento. A proibição pode ser decorrente de uma associação com a religião cananéia. O ciclo *ugarítico de histórias sobre o deus *Baal (c. 1600-1200 a.C.) descreve que *E1, a divindade superior, num a demonstração de luto devido à morte de *Baal cumpre o ritual de jogar cinzas sobre a cabeça, vestir pano de saco e cortar-se com uma navalha. O texto diz que ele "fez sulcos em seu peito como em um jardim ".19.28. tatuagens. A proibição quanto a fazer marcas na pele pode estar relacionada à tatuagem ou à pintura do corpo como parte de um *ritual religioso. Essas marcas talvez servissem para proteger a pessoa dos espíritos dos mortos ou demonstrar sua adesão a um determinado grupo. Algumas evidências nesse sentido foram encontradas em escavações arqueológicas nas tum bas de Scythian, anteriores ao século sextoa.C.. A lei israelita talvez proibisse essa prática por envolver uma alteração feita pelo próprio homem na criação de Deus, diferente da ^circuncisão, que era ordenada por Deus.
19.29. prostituição. Seguindo a mesma linha das leis anteriores, que proibiam a corrupção tanto do povo
com o do produto da terra, essa lei que im pedia a entrega de um a filha para a prostituição tinha como objetivo evitar a desonra da própria filha bem como de sua fam ília. U m pai que estivesse enfrentando dificuldades financeiras poderia ser tentado a vender sua filha, mas isso representaria um a contaminação m oral tanto do povo como da terra. Como em 18.2448, essa prática podia acarretar uma eventual expulsão da terra. Essa severa punição pode estar baseada na perda da honra tanto da fam ília como da comunidade. Entretanto, tam bém é possível que se refira à prostituição *cultual, o que implicaria na adoração de outros deuses além de *Yahweh.19.31. m édiuns e espiritualistas. A prática do espiritismo e da feitiçaria era condenada (Dt 18.10,11) porque estava associada à religião cananéia e tam bém porque representava um a tentativa de igualar-se a *Yahweh, buscando obter conhecim entos e poderes dos espíritos. O espiritismo e a feitiçaria representavam um tipo de "religião popular" m ais próxima das práticas religiosas de pessoas comuns e serviam como
um a espécie de "relig ião oculta" para m uitos. Por estarem associadas à ^adivinhação, seus *rituais e técnicas opunham-se diretamente à "religião oficial" ou funcionavam como uma religião alternativa à que se recorria em situações de desespero (por exemplo, a consulta de Saul à feiticeira de Endor, em 1 Sm 28). Tanto a feitiçaria como o uso de poções mágicas eram proibidos pelo Código de *Hamurabi e pelas leis medo- assírias, o que indica que a proibição dessas ativida
des e o m edo que provocavam não se restringiam a Israel.19.35, 36. m edidas honestas. A ordem para utilizar medidas honestas em relação ao comprimento, peso ou quantidade de produtos está diretamente relacionada às leis de 19.11-18, que exigem um tratamento justo e a percepção interior de que o próximo tinha de ser tratado da m aneira como você gostaria de ser tratado. A padronização de pesos e medidas era exigida no Código de *Hamurabi em relação ao pagamento de dívidas com cereais ou prata ou na quantidade de cereais para o pagam ento de vinho. O castigo para quem violasse a lei ia desde o confisco de bens até a execução.
20.1-27Procedimentos ofensivos20.2-5. entregar os filh os a M oloque. Um dos principais tem as desse livro é a com paração da idolatria como um a forma de prostituição. Essa prática m anchava o santuário de *Yahweh, o povo de Israel e a terra. O sacrifício de crianças a Moloque (ver comentário em 18.21) era condenado e seus praticantes deviam ser apedrejados (uma forma de execução comunitária em que todos estariam envolvidos no ato da purificação). N enhum a transgressão dessa ordem seria tolerada, ainda que D eus tivesse de executar o castigo, caso a comunidade fechasse os olhos ao pecado. A idéia de "elim inar" o pecador implicava o completo banimento da presença de Deus e da comunidade, e a punição geralm ente era encarada com o um cumprimento da vontade de Deus.20.9. am aldiçoar os pais. Estudos têm demonstrado que não se trata de amaldiçoar os pais, e sim de tratá- los com desprezo. Seria um a categoria m ais geral e certam ente incluiria a proibição de agredir os pais (Êxodo 21.15), e seria o oposto do quinto m andamento que diz, "h o n ra teu pai e tua m ãe" (Êx 20.12). O propósito dessas leis era proteger a unidade da fam ília e assegurar que as próximas gerações garantissem aos pais o respeito, o alimento e a proteção que m ereciam (ver Dt 21.18-21). Os códigos de leis e documentos legais da M esopotâm ia também m encionavam a questão de tratar os pais com desprezo. As leis *su-
mérias permitiam que o filho que renegasse seus pais fosse vendido como escravo. O Código de *Hamurabi exigia que fosse am putada a m ão do hom em que agredisse seu pai. Um testamento de *Ugarite descreve o com portam ento de um filho usando o mesmo verbo desse versículo, e determina que seja deserdado.20.10-16. pena capital para crim es sexuais. A violação das regras de conduta sexual (adultério, incesto, hom ossexualidade, bestialidade) é equiparada à idolatria, exigindo um a sentença de morte. A corrupção de pessoas e da terra não podia ser tolerada. Crim es dessa natureza tam bém eram punidos pelo Código de *Hamurabi (o adultério exigia julgam ento de acordo com as leis 129 e 132; o estupro era considerado crime capital pela lei 130; o incesto era punido com o exílio pela lei 154), pelas leis *medo-assírias (a homos
sexualidade era punida com a castração, pela lei 20) e pelas leis *hititas (a bestialidade praticada com porcos
ou cães era punida com a morte, de acordo com a lei 199). No tratado h itita entre Shuppilulium a e Hu- qqana, esse é exortado a não possuir sexualmente sua irm ã ou sua prim a porque entre os hititas, os que praticassem tais atos eram condenados à morte. Proibições desse tipo, porém, não eram universais. Entre os persas, por exemplo, os homens eram encorajados a se casar com suas irmãs, filhas ou m ãe como um ato de compaixão. Entre os israelitas, no entanto, acreditava-se que esse comportamento destruiria a família, o elemento fundamentai da sociedade israelita, e destruir a família significava destruir a *aliança.20.20, 21. castigo de não ter filh os. Ter filhos significava contar com os cuidados de alguém na velhice, re
ceber um sepultamento digno e garantir a continuidade da família nas gerações seguintes. Ficar sem filhos representava ficar privado de um a fam ília e correr o risco de ser abandonado na velhice e na morte.20.27. m édium ou espiritualista. Ver comentário em19.31.
21.1- 22.32Regulamentação para os sacerdotes21.5. regras sobre rapar a cabeça e aparar a barba. Ossacerdotes tinham o dever especial de se manterem puros e santos porque tinham a responsabilidade de apresentar as ofertas a Deus. Por essa razão, a pele e os cabelos deviam ficar intactos, sem m anchas ou ferimentos, como testemunho de sua santidade. Sendo assim, não podiam mutilar-se, arrancar os cabelos nem rapar a barba, práticas de luto comuns em Canaã. N a verdade, seria vergonhoso se eles se apresentassem numa condição que demonstrasse impureza (ver a acusação de Satanás contra o sumo sacerdote Josué em Zc 3.3).
21.7. regulam entações quanto ao casam ento dos sacerdotes. Havia um a regulamentação especial para os sacerdotes proibindo-os de se casar com uma mulher que tivesse se envolvido notoriamente com prostituição. Também não podiam se casar com uma mulher divorciada, provavelmente porque o principal motivo de divórcio fosse a acusação de infidelidade feita contra a m ulher por seu marido (ver Nm 5.11-31; Dt22.13, 14; 24.1).21.10-14. regulam entações especiais para o sum o sacerdote. D o sumo sacerdote, era exigido um padrão ainda mais elevado de *pureza. Ele devia evitar a contam inação decorrente do contato com os mortos, ainda que isso significasse ausentar-se do funeral de seus pais, e também não podia praticar os ritos usuais de luto (ver rituais de purificação quanto à contam inação de cadáveres, em N m 19). Essa restrição podia representar uma tentativa de dissociar o sacerdócio do *culto aos mortos. A lém disso, a esposa do sacerdote devia ser virgem , portanto não podia ser viúva, divorciada nem prostituta. O sumo sacerdote era ungido para representar a *pureza da nação em seu procedimento para com Deus. Portanto, ele devia evitar todo contato com pessoas ou objetos que pudessem contaminar não só a ele, m as tam bém o Lugar Santíssim o.21.16-23. proibição de sacerdotes com defeitos. A ssim como animais com defeitos físicos ou manchas não podiam ser oferecidos em sacrifício (22.19-22), os sacerdotes que tivessem algum defeito físico não podiam ministrar diante do altar. Em todas as religiões do
antigo Oriente Próximo, era exigida uma *pureza *ri- tual para os recintos sagrados do altar, para o sacrifício e para o sacerdote que estivesse conduzindo a cerimônia. Portanto, os sacerdotes precisavam ter uma saúde perfeita e o completo comando de seus corpos e mentes. Assim, o cego [ainda que de um só olho], o aleijado, o defeituoso ou deformado não podiam ministrar como sacerdote. A lista é específica, citando defeitos causados por acidentes (ossos quebrados, testículos defeituosos), defeitos de nascença (anão, aleijado, corcunda) ou doenças (feridas, doenças de pele). Em bora não pudesse aproximar-se do altar, mesmo assim o sacerdote deficiente tinha direito à sua porção do sacrifício.
21.21, 22. alim ento de seu D eus. Na m aioria das ofertas sacrificiais, um a porção era reservada para o suprimento dos sacerdotes (ver 2.3, 10; 7.6, 31-34; 24.8, 9; Nm 18.12, 1 3 ,1 5 , 26, para um a descrição dos sacrifícios e da porção reservada aos sacerdotes). Ainda que o sacerdote fosse desqualificado para participar do *ritual sacrificial, devido a um defeito físico, ele tinha o direito de com er esse alim ento santo por ser um sacerdote. Em alguns textos egípcios e mesopotâmios
tam bém é possível encontrar o alim ento sacrificial
dedicado à divindade sendo compartilhado pelos sacerdotes, criando assim um elo especial entre o sacerdote oficiante e a divindade. Ver comentários em 1.1,
2 e 3.6-11.22.3-9. proibição quanto à im purezas. Tanto o altar
como seus celebrantes tinham de manter um rigoroso estado de *pureza e santidade. Essa era uma exigên
cia comum entre os israelitas e os outros povos do antigo Oriente Próximo. Os sacerdotes egípcios tinham de se submeter a longos rituais de purificação antes
de se aproximarem do altar. Um texto *hitita contém uma longa lista de instruções quanto a manter a pure
za ritual dos sacerdotes e dos templos, bem como dos
meios de purificá-los em caso de contaminação, bastante sem elhante àquela encontrada no capítulo 22. Qualquer que fosse a origem da contaminação (sacri
fício defeituoso ou impróprio, ou impureza do ofertante ou do sacerdote) tom aria impuros os sacerdotes e como
conseqüência, deveriam se submeter a longos rituais
de purificação antes de poderem novamente desem
penhar suas funções. A lista em 22.4, 5 relaciona as pessoas que deviam ser mantidas longe dos recintos
sagrados e dos sacerdotes, incluindo quem tivesse
tido contato com cadáver ou com algum animal impuro, ou ainda a pessoa que tivesse comido um alimento
impuro. As leis *hititas proibiam as pessoas que tives
sem tido relações sexuais com um cavalo ou m ula de se tornarem sacerdotes; este é um outro tipo de impu
reza que não é compatível com a função de sacerdote.
22.8. anim ais mortos. Todo animal encontrado morto era considerado impuro; desta forma, somente os ani
mais sacrificados ritualm ente, cujo sangue havia sido
devidamente drenado, eram acessíveis aos sacerdotes.
22.10-16. restrições quanto às porções dos sacerdotes. Alguns alimentos podiam ser consum idos som ente
pela divindade e por seus sacerdotes. Um exemplo bastante elucidativo é apresentado no juram ento de
um príncipe *hitita, em "O rações de Kantuzilis", de
clarando que nunca havia comido "o que é santo ao
meu deus". Pela lei israelita, a porção reservada ao sacerd ote tam bém podia ser com p artilhada pelos
m em bros de sua fam ília, em bora hóspedes e traba
lhadores contratados não pudessem tomar parte dela. As restrições baseiam -se no fato de que por ser um
alimento sagrado, não devia ser dado a pessoas de fora do círculo fam iliar (que incluía os escravos). A
filha que se casasse com alguém de fora da comunida
de sacerdotal seria proibida de comer esse alimento. M as, caso ela ficasse viúva e voltasse para a casa de
seu pai, teria novam ente a perm issão de comer da oferta do sacrifício.
22.17-28. sacrifícios inaceitáveis. Assim como o altar e os sacerdotes tinham de ser ritualmente puros e sem
defeitos, os elementos trazidos em sacrifício deveriam ser de igual modo. No entanto, existiam diferentes categorias de ofertas aceitáveis, baseadas no tipo de sacrifício. Por exemplo, o animal apresentado como oferta voluntária ou para pagar um voto devia ser macho e sem defeito. Não seria aceito nenhum animal cego, machucado, mutilado ou que tivesse qualquer problema na pele (úlceras ou feridas). Mas no caso de ofertas voluntárias m enores, um a vaca ou ovelha de
form ada ou atrofiada seria aceita, em bora não um anim al que tivesse seus testículos m achucados. De m odo semelhante, nos *rituais *hititas, os cães, que normalmente eram considerados impuros, podiam ser sacrificados aos deuses do mundo inferior.
22.28. proibição quanto a matar um a vaca ou ovelha e sua cria. A regulamentação para que uma vaca, ou ovelha, e sua cria não fossem oferecidas em sacrifício no mesmo dia funcionava como uma proteção àqueles que possuíam apenas alguns animais. D e outro modo, o cum prim ento das exigências rituais dizim aria seu pequeno rebanho. Não se sabe se essa medida visava combater alguma prática *cultual estrangeira ou se tratava de um a regulam entação com preocupações hum anitárias.
23.1-44Calendário religioso23.1-44. calendário relig ioso de Israel. Diversas versões do calendário das festas em Israel podem ser encontradas em Êxodo 23.12-19; 34.18-26; Levítico 23; D euteronôm io 16.1-17 e N úm eros 28, 29, cada uma apresentando características e ênfase próprias. Em Levítico, um a lista de sacrifícios exigidos ao longo do ano é relacionada às com em orações do Sábado, da Páscoa, da Festa dos Pães sem Fermento, da Festa das Semanas, da Festa das Trombetas, do Dia da Propiciação e da Festa dos tabernáculos. Essas festividades serviam para m arcar os diversos estágios do ano agrícola, celebrando as colheitas e agradecendo a Deus por sua generosidade, bem como lhe ofertando uma porção sacrificial. Várias festas também foram posteriormente relacionadas a eventos históricos. Embora o Sábado não seja tecnicamente um dia de festa, o fato de ser citado aqui destaca sua importância; além disso, esse dia serve também de parâmetro para entender como os antigos calculavam o tempo. Grande parte dos calendários do antigo Oriente Próximo eram baseados no movimento do Sol e da Lua, considerados m anifestações de suas prin cipais divindades. Embora o calendário israelita não ignorasse os ciclos lunar e solar, pouca atenção era dada aos equinócios e
solstícios (às vezes, encarados como conflitos entre os deuses do Sol e da Lua). Visto que as estações agrícolas, na verdade, estão ligadas aos ciclos solares, o sistem a de m ês/ano lunar usado em todo o antigo Oriente Próximo tinha de ser ajustado periodicamente ao ciclo solar. Isso era feito através da adição de um décimo terceiro mês com alguns dias apenas, sempre que os sacerdotes determinavam que era preciso fazer um ajuste.23.3. reunião sagrada no sábado. Reuniões ou proclamações sagradas constituíam uma parte importante das práticas religiosas do mundo antigo. Eram reuniões locais ou nacionais para a adoração pública ou comunitária, em que as pessoas se afastavam de suas ocupações e trabalhos. Além da realização de *rituais com unitários, não se sabe ao certo o que acontecia nessas reuniões. Posteriormente, essas reuniões eram usadas para leituras públicas, mas não há evidências suficientes de que isso acontecia também nos prim eiros tempos (ver Dt 31.10-13). Essa passagem é a única
referência dessa reunião associada ao Sábado.23.5. Páscoa. Essa celebração diz respeito ao sacrifício que comemorava a saída do povo israelita do Egito (detalhado em Êx 12,13). Começava no entardecer do décimo quarto dia do primeiro mês (março - abril). Visto que o animal oferecido em sacrifício devia ser um cordeiro de um ano, alguns especulam que esse evento teria se originado entre os grupos de pastores nômades da região e que, nessa época, foi anexado à festa do Pão sem Ferm ento, de conotação agrícola. Mais tarde, quando Jerusalém passou a ser o centro da adoração, a Páscoa tornou-se uma festa de peregrinação, voltando a ser um a celebração nos lares após a destruição do templo em 70 d.C..23.6-8. Festa dos Pães sem Ferm ento. A Festa dos Pães sem Ferm ento m arcava o início da colheita da cevada (março - abril). O pão sem fermento era feito com o cereal recém-colhido, sem adição de levedura,
celebrado como o primeiro sinal das colheitas vindouras daquele ano. As celebrações e ofertas queimadas duravam sete dias; no primeiro e no último dia havia uma reunião santa e não era permitido nenhum trabalho nesses dias (ver comentário em Êx 12.14-20).23.10-14. ofertas m ovidas pela colheita. Como parte das festividades da colheita, os "prim eiros frutos" eram levados ao sacerdote, que movia o feixe de cereais ou o elevava diante do altar do Senhor. Esse gesto tinha por objetivo atrair a atenção de D eus para o sacrifício e sim bolizava que todas as dádivas e elementos sacrificiais se originavam de Deus e pertenciam a Ele. Essa cerimônia também liberava o restante da colheita para ser usado pelo povo (ver comentário em 7.28-38).
23 .12 ,13 . ofertas: queim ada, de cereal e derramada.
A oferta queim ada de u m cordeiro de um ano, o dobro da quantidade usual de cereais e a libação de
vinho representavam os três principais produtos de Israel (às vezes, o vinho era substituído ou comple
mentado pelo azeite de oliva - ver 2.1; N m 15.4-7). A
com binação desses elem entos tinha o propósito de direcionar a fertilidade concedida por D eus para a
criação de anim ais e a produção agrícola, de modo que o trabalho do povo redundasse em rebanhos e colheitas abundantes. O aroma agradável atrairia a
atenção de Yahw eh para o sacrifício (ver o sacrifício de
Noé em G n 8 .20,21) e o caracterizava adequadamente como um *ritual de gratidão - e não para alimentar os deuses como nas religiões mesopotâmicas e egípcias.
23.15-22. Festa das Sem anas. Essa era a segunda das três principais festas da colheita, começando sete se
manas após a colheita dos primeiros cereais (Êx 34.22; D t 16.9-12) T am bém era conhecida com o Festa da Colheita ou do Pentecoste (Êx 23.16). No ciclo agrícola,
essa festa m arcava o final da colheita de trigo e pela
tradição ligava-se à entrega das leis no monte Sinai.
Também está relacionada à renovação da *aliança e à
peregrinação pelo deserto. A celebração incluía a entrega de uma "oferta m ovida" de dois pães, sacrifícios
animais (sete cordeiros de um ano, um novilho e dois
carneiros) e uma oferta derramada em gratidão pela boa colheita. Um bode também deveria ser sacrificado como oferta pelo pecado do povo.
23.16-20. ofertas. A Festa das Sem anas exigia um a
variedade de ofertas do povo. A oferta de "cereal
n ovo" era distinta da oferta norm al de cereal (ver
2.13). Os dois pães ofertados eram feitos com ferm ento, m as não eram de fato levados até o altar (ver
regulam entações em 7.13). Os anim ais sacrificados
nas ofertas queimadas (sete cordeiros de um ano, um
novilho e dois carneiros) representavam o caráter misto da economia israelita. Não se sabe ao certo o motivo
da inclusão do sacrifício de um bode como oferta pelo
pecado, a não ser pela idéia de que o povo devia ser restabelecido à *pureza *cultual antes de comer o que havia colhido.
23.23-25. Festa das T rom betas. O prim eiro dia do sétimo mês (o mês mais sagrado no calendário israelita) era marcado pelo soar do chifre de um carneiro (shofar),
comemorando assim o acordo da *aliança e as dádivas
de Deus ao seu povo. Nenhum trabalho era permiti
do e as ofertas queim adas eram apresentadas (ver N m 29.2-6 a respeito dos itens sacrificados). A festa
continuava até o décimo dia do mês, quando se come
morava o Dia da Propiciação (ver detalhes em 16.2934). Posteriormente, a Festa das Trom betas transfor
mou-se na festa de Ano-Novo, mas isso ocorreu muito tempo depois do exílio.23.26-32. O dia da expiação. Para informações sobre o dia da expiação, ver comentários no capítulo 16.23.33-43. Festa das cabanas ou Festa dos tabernáculos.A últim a colheita do ano acontecia no outono, antes do início das chuvas, e m arcava o começo de um novo ano agrícola (décimo quinto dia do sétimo mês). Era o m omento de juntar e arm azenar os últim os grãos e frutos maduros. O evento de sete dias tam bém era conhecido como Festa do Encerramento da Colheita e era simbolizado pela construção de cabanas decoradas com os cereais das colheitas. Esta festa ligava-se à tradição israelita como uma comemoração pela pere
grinação no deserto. Tam bém foi nessa ocasião que ocorreu a dedicação do templo de Salomão em Jerusalém (1 Rs 8.65).23.40. frutos, folhagens e galhos. Para representar a abundância e a exuberância da terra, os israelitas preparavam-se para uma celebração decorando suas cabanas com frutas (cidra) e com folhagens e galhos de salgueiros e palmeiras. As festividades provavelmente incluíam danças e procissões em que se carregavam feixes de galhos. Era uma forma do povo reconhecer a provisão abundante de Deus e celebrar comunitaria- mente o cumprimento visível da *aliança.23.42,43 . m orar em tendas. Para comemorar o tempo que passaram no deserto, os israelitas foram instruídos a construir tendas e a m orar nelas durante sete dias - o tempo de duração da Festa das Cabanas. Uma aplicação prática seria que esses abrigos temporários serviriam de m oradia para os trabalhadores que cuidavam da colheita até a distribuição dos cereais, após o festival.
24.1-9 A manutenção do lugar santo24.2-4. lâmpadas com azeite. Somente azeite de oliva da melhor qualidade podia ser usado nas lâmpadas sagradas que ilum inavam os recintos sagrados do tabernáculo. Essas lâmpadas eram colocadas em candelabros de ouro (ver Êx 25.31-39), que ficavam do lado de fora do véu que escondia as tábuas da aliança, na Tenda do Encontro (ver Êx 27.20, 21). Elas deviam queim ar desde o entardecer até a m anhã, e Arão e seus descendentes tinham a incumbência sagrada de m antê-las continuam ente acesas. Como m uitos dos elementos *cultuais relacionados à Tenda do Encontro, as lâmpadas simbolizavam a presença e a proteção de *Yahweh, assim como o m inistério perpétuo dos sacerdotes.
24.4. sign ificado do candelabro (m en o ra h ). A im agem tradicional do menorah, com seis castiçais e uma
lâm pada central, vem de um a descrição encontrada em Êxodo 25.31-40, e talvez seja um símbolo da árvore da vida (do jardim do Éden). No entanto, o que esses versículos relatam apenas é que ele era feito de ouro. O núm ero de castiçais também não é especificado aqui.24.5-9. d isposição dos pães e do incenso. Os doze pães da Presença (Êx 25.23-30) representavam as doze tribos de Israel. Esses pães eram consum idos pelos sacerdotes todos os sábados, e substituídos por novos pães. O incenso queimado fornecia o “aroma sacrificial", substituindo a farinha que era queimada no altar. Por serem sagrados, os pães eram reservados apenas para o consumo dos sacerdotes (ver, porém, 1 Sm 21.4-6).
24.10-23O castigo da blasfêmia24.10-16. natureza da blasfêm ia. O nome de Deus é santo. Assim como o mandamento proíbe usar o nome de D eus em vão (Êx 20.7), proferir um a m aldição usando o nom e de D eus ou am aldiçoar o nom e de D eus (Êx 22.28) é considerado blasfêm ia. Entre os israelitas, a blasfêm ia era considerada um a ofensa
capital passível de execução por apedrejamento. Nos textos *assírios/ o castigo para quem blasfemasse incluía ter sua língua arrancada e ser esfolado vivo.24.14-16. apedrejam ento como form a de execução. O apedrejamento era um a forma de execução comunitária e também o tipo m ais comum de execução m encionado na Bíblia. Era usado para punir crimes contra a comunidade (apostasia em 20.2, feitiçaria em 20.27), e exigia que todas as pessoas que tivessem sido ofendidas participassem da execução; desta forma, ninguém individualm ente poderia ser responsabilizado pela morte do condenado. Textos mesopotâmicos não m encionam o apedrejamento, mas relatam outras formas de execução como afogamento, empalação, decapitação e fogueira.24.17-22. lex ta lion is . O princípio legal da retribuição eqüitativa ou "olho por olho" pode ser encontrado nos códigos de leis da Bíblia (Êx 21.23-25; D t 19.21) e mesopotâmios. Esse princípio apresenta algumas variações no Código de *Hamurabi (*Babilônia do século 18 a.C.), com base na posição social (nobreza, cidadão, escravo) do acusado e da vítima. É possível que fosse estipulado um preço para redim ir uma vida, no caso de crime capital, ou para substituir a necessidade de infligir o mesmo mal causado à vítima (fratura no braço, olho arrancado etc.). Essas leis visavam assegurar a restituição legal e eram usadas para evitar a necessidade de vingança pessoal ou de fazer justiça com as próprias mãos, práticas não aceitas cultural
mente. A lei estabelecia que quando uma pessoa fos
se vítim a de um m al praticado contra ela, a maneira ideal de garantir justiça era causando um mal igual ao culpado. Embora possa parecer uma pena exagerada, na verdade limitava o castigo e garantia que a retaliação infligida à pessoa acusada fosse proporcional ao delito praticado.
25.1-55O ano sabático e o ano do jubileu25.2-7. descanso sabático para a terra. Essa séria de leis que determinam que no sétimo ano de cultivo a terra terá um descanso é paralela àquela encontrada em Êxodo 23 .10 ,11 . No entanto, somente aqui o termo sabático é aplicado ao sétimo ano. O benefício resultante do repouso da terra era o retardamento do n ív e l de salin ização (conteúdo de sódio no solo) provocada pela irrigação. Na Mesopotâmia, grandes áreas eram abandonadas devido à exaustão do solo e ao elevado e desastroso nível de sal. Durante o sétimo ano não era permitido cultivar a terra. Textos *ugarí- ticos m encionam ciclos agrícolas de sete anos, o que talvez seja um a indicação de que o conceito de descanso da terra tam bém estivesse presente. A pesar do
descanso da terra, qualquer pessoa, como trabalhadores contratados, e os animais de criação tinham per
m issão de com er o produto da terra que crescesse naturalmente, sem o cultivo humano. É possível também que essa prescrição, na verdade, fosse cumprida através do descanso de partes do campo em um sistema de rodízio, de modo que após um período, o campo inteiro teria descansado.25.8-55. Ano do Ju b ileu . Todo qüinquagésim o ano (sete anos sabáticos mais um) era marcado pelo perdão geral das dívidas, pela libertação de escravos e pela devolução das terras que haviam sido hipotecadas ou vendidas aos seus legítimos donos. Essa preocupação com a posse perpétua da terra tam bém pode ser encontrada em documentos *ugaríticos imobiliários. Entre os *hititas e na M esopotâm ia, eram feitas periodicam ente declarações devolvendo a terra aos seus proprietários originais e libertando os escravos por dívida (muitas vezes isso ocorria no primeiro ano do reinado de um novo rei). Essa prática pode ser com provada em proclam ações de reis com o U rui- nim gina e Amisaduqa. O cerne das leis israelitas era o direito inalienável de posse da terra. A terra podia ser usada no pagamento de um a dívida, m as no Ano do Ju bileu devia ser devolvida, exigência bastante sem elhante à de libertar quem se tornara escravo devido a dívidas, todo sétim o ano (Êx 23.10, 11; Dt15.1-11). Esse costume tam bém serviu como base para os exilados que retom avam reivindicarem a posse de
suas terras; no entanto, isso não significa que esse costume não fosse praticado numa época anterior a esse período histórico.25.23. D eus como proprietário da terra, comparado à econom ia do tem plo. Toda terra ocupada pelos israelitas pertencia a *Yahweh. Eles podiam usá-la como arrendatários, e como tais, não podiam vendê-la definitivam ente a ninguém . N o ano do Jubileu (todo qüinquagésim o ano), toda terra que fora entregue para o pagamento de dívidas devia ser devolvida a seus proprietários. Se um homem morresse, seu parente mais próximo tinha a responsabilidade de resgatar a terra a fim de que a propriedade permanecesse na fam ília (25.24, 25; Jr 32.6-15). Esse conceito é semelhante ao encontrado no Egito, onde o faraó, considerado "d iv in o ", possuía a terra e a cedia a seus súditos. No entanto, contrasta com a economia do tem plo praticada na Mesopotâmia, onde a terra pertencia aos cidadãos, ao rei e aos templos dos diversos deuses. As leis de *Hamurabi m encionam a concessão de terras que pertenciam ao rei e que retornavam a ele por ocasião da m orte do vassalo. A terra que pertencia aos templos era cedida a arrendatários, que pagavam com um a parte da colheita o direito de cultivar a terra. Esse padrão fragmentado de posse (que muitas vezes dependia de arrendatários que não podiam vender a terra), não permitia o sentido de unidade implícito no conceito bíblico.25.24,25. resgate pelo parente. Como *Yahweh havia cedido a terra aos israelitas como arrendatários, eles
não podiam vendê-la, e se eles hipotecassem uma parte dela para pagar dívidas, era obrigação do parente mais
próxim o "resgatar" a terra, pagando a hipoteca. Essa atitude é um a dem onstração do senso de dever e de solidariedade que caracterizava a sociedade com unitária do antigo Israel. A prática dessa legislação pode
ser encontrada em Jeremias, que resgatou a terra de seu parente durante o cerco de Jerusalém 0 r 32.6-15) e no contexto legal de R ute 4.1-12. D esse m odo, a terra perm anecia na fam ília como sinal de que eram m em bros da comunidade da *aliança. A importância desse direito inalienável da terra pode ser percebida na recusa de Nabote em se desfazer da herança de seus pais, quando o rei Acabe lhe propôs a compra de sua vinha (1 R s 21.2, 3). N a M esopotâm ia (especialm ente nos primórdios da história) a terra freqüentemente era posse de fam ílias, e não de indivíduos.25.29-31. diferença entre casas em cidades muradas e casas em povoados. Havia uma diferença no aspecto legal entre as casas situadas em cidades m uradas e aquelas que se encontravam em povoados sem m uros. Nas cidades, habitadas por levitas, artesãos e funcionários do governo, um a casa podia ser resgatada
de seu com prador apenas dentro de um ano. Após esse período, a venda era definitiva. Semelhantemente, a Lei de *Esnuna permitia que o devedor que havia vendido sua casa fosse o primeiro a fazer um a proposta de compra quando a casa fosse novam ente colocada à venda. Porém, as moradias situadas nos povoados israelitas (literalmente "acam pam entos"), próximas a campos e pastos, enquadravam-se na mesma catego
ria das terras cultiváveis e não podiam ser vendidas definitivam ente, devendo ser devolvidas no ano do Jubileu. Tal legislação baseava-se nas condições sociais distintas desses dois contextos (cidade e campo) e indicava uma percepção de que a propriedade situada nos centros urbanos servia apenas como abrigo e para o comércio, pois não produzia colheitas.25.37. p roib ição da cobran ça de ju ro s . D a m esm a forma que outras proibições acerca da cobrança de juros de empréstimos feitos a israelitas (Êx 22.25; Dt23.19, ver comentários desses versículos), essa legislação tinha como propósito ajudar uma pessoa a livrar- se da falência e evitar que ela se tornasse escrava, devido ao não pagamento de um empréstimo. Essas regras se aplicavam tanto a empréstimos de dinheiro como de cereais, que geralmente eram pagos no final da colheita. Essas leis eram tam bém um m odo de permitir que o devedor mantivesse certa dose de dignidade pessoal e honra ao ser tratado num nível superior ao de um escravo ou estrangeiro (ver D t 23.20). Tanto as leis de *Esnuna, como as do Código de *Ha- m urabi estipulavam taxas definidas de juros a em préstimos (a taxa comum era de 20 a 33,3%, considerada justa). No entanto, a ocorrência de fatos considerados "atos divinos", tais como um a inundação, exigiam que o devedor fosse tratado com compaixão e o
pagamento dos juros cancelado.25.39-55. escravidão em Israe l. N o antigo Israel, a escravidão perpétua era considerada a condição mais desumana possível. As leis que tratavam da escravidão refletem uma compreensão das razões que causavam a pobreza e procuravam lidar com suas vítimas de form a não violenta. Tam bém não levavam em
consideração a principal causa da escravidão na M esopotâmia, ou seja, as guerras. Um sinal da preocupação de Israel pode ser visto na prática de permitir que um a família penhorasse seus membros como garantia de algum empréstimo concedido por uma outra família. Para evitar o confisco da terra ou dos filhos da família endividada, seus m em bros trabalhariam por um tempo determinado até pagar a dívida. A legislação em Israel procurava evitar que as dívidas se acumulassem a ponto de a escravidão ser a única alterna
tiva. Assim, as leis sobre a cobrança de juros funcionavam, na maioria dos casos, de maneira a favorecer os
pobres (Êx 22.24; Dt 23.19, 20; Lv 25.35-37; Ez 18.3). De outro modo, a família poderia perder tudo e diante da insistência de seus credores, vender seus membros como escravos para pagar as dividas (2 Rs 4.1; N e 5.1-5). A escravidão, nesse caso, era declarada temporária, como resultado de dívida, visto que a lei limitava em seis anos o tempo que um a pessoa podia
ficar detida (Êx 21.2-11; Dt 15.12-18). As regulamentações tam bém limitavam a venda ou a escravização de israelitas (Lv 25.35-42). N esse caso, o israelita que estivesse com dificuldades financeiras teria que se submeter a trabalhar como m ão-de-obra contratada ou como servo obrigado por contrato, mas não como escravo, ainda que seu proprietário não fosse israelita (25.47-55). O versículo 48 refere-se ao resgate de escravos, um a prática tam bém confirm ada em vários documentos mesopotâmicos.
26.1-46Obediência e desobediência26.1. pedra esculpida. Esse term o aparece somente aqui (embora provavelmente seja mencionado novamente em N m 33.52) e é bastante vago. A. Hurowitz (baseado em um a inscrição *assíria) sugere que o term o seja um a referência a um pórtico decorado ou entalhado que ficava na área do templo onde o rei se prostrava ao fazer um a petição por um sinal favorável. Sobre um a situação bastante semelhante, ver comentário em Ezequiel 44.3.
26.1. coluna sagrada. Assim com o os ídolos (19.4), as colunas sagradas eram proibidas por serem objetos de *culto estrangeiro. Talvez fossem imensos mo- nólitos representando um a divindade ou uma série de colunas dispostas ao redor de um altar ou santuário. Algumas delas, encontradas em escavações em Gezer e Hazor, eram decoradas com figuras de mãos erguidas ou sím bolos relacionados a um a determ inada divindade.26.1. n atu reza e fo rm a dos íd o lo s . Os íd olos eram feitos num a variedade de formas e tam anhos, no antigo Oriente Próximo. Podiam ser esculpidos em pedra ou m adeira e fundidos e m oldados em ouro, prata e bronze (ver Is 40 .19 ,20). G eralm ente tinham aparência hum ana (exceto os deuses do Egito, cujas características hum anas eram m escladas às de animais), e características de postura, vestim entas e corte de cabelo distintos, ainda que seguindo um padrão. A im agem não era propriam ente a divindade, m as seu lugar de habitação, por meio da qual m anifestava sua presença e vontade. Descobertas arqueológicas encontraram
poucas imagens de tamanho natural, como aparece no texto, mas existem representações delas que permitem um conhecim ento acurado dos detalhes.
26.3-45. bênçãos e m aldições em pactos form ais. Noscódigos e acordos legais do antigo Oriente Próximo era com um o acréscim o de um a parte contendo as bênçãos e m aldições divinas (ver D t 28; Código de *Ham urabi [século 18 a.C.]; Acordo de Esarhaddon [680-669]; tratado do século 13 a.C. entre Ramsés II, do Egito e o rei *hitita H attusilis III). É interessante notar que as maldições superavam em muito as bênçãos e, como nesse caso, eram apresentadas geralmente em ordem crescente de intensidade. O princípio subjacente a essas declarações era a necessidade de garantir o cumprimento da lei ou do pacto, recorrendo à benevolência e aprovação divinas. Era também um modo de fazer com que as partes envolvidas no acordo se sentissem m ais responsáveis do que se dependessem sim plesm ente da consciência de seus povos ou dos vizinhos.26.4, 5. im portância da fertilidade. Se a produção da terra não fosse contínua, o povo não conseguiria sobreviver. Assim , havia um a constante preocupação com a fertilidade, na form a de chuvas regulares e colheitas abundantes dos campos e vinhas. Como resultado, m uitos deuses do antigo O riente Próxim o eram relacionados às chuvas e tempestades, *fertili- dade e estações de plantio. A inclusão da fertilidade nessa série de bênçãos é um a confirmação da promessa da *aliança feita por *Yahweh de dar ao povo terra e descendência (isto é, um a terra que lhes pertencesse e fertilidade para garantir a continuidade das futuras gerações).26.5. calendário agrícola. Conforme observado no calendário Gezer, um exercício escolar do século deza.C. encontrado num fragmento de pedra calcária, o ano israelita era dividido em estações agrícolas. Sendo assim, a "estação chuvosa" acontecia no outono (outubro-novembro), molhando os campos recém plantados, e no início da primavera (março-abril), terminando o processo de amadurecimento que antecede à colheita (Dt 11.14).26.8. cinco perseguirão cem. Como sinal da bênção de paz prom etida, *Yahweh, o "G uerreiro D ivino", lutaria por eles e lhes daria vitória contra seus inim igos, não importando o quanto estivessem em desvantagem. Assim, cinco derrotariam cem. Esse tema do "derrotado que se transforma em vencedor" também é encontrado em D euteronôm io 32.30, Josué 23.10 e Isaías 30.17. Um a garantia semelhante do auxílio de um "G uerreiro D ivino" foi encontrada na inscrição moabita do rei M esha (cerca de 830 a.C.).26.13. traves do jugo. Jugos eram peças geralmente feitas de madeira que eram presas na nuca, ao redor do pescoço dos animais. As traves tinham cavilhas para prendê-las embaixo, dos dois lados da cabeça de
cada animal. As cavilhas eram presas com correias que passavam por baixo do queixo. Durante a escravidão no Egito, o povo foi oprimido e subjugado com trabalhos forçados, como bois presos num jugo (ver Jr28.10-14). Porém, Deus quebrara esse jugo de servidão, libertando-os de seu pesado fardo e permitindo que se firm assem como hom ens e m ulheres livres, restaurando-lhes a liberdade e a dignidade.26.16. causas das doenças. As doenças prom etidas nessa maldição incluem febre e sintomas que prejudicam a visão e causam perda de apetite. Tudo isso pode ser explicado pelo "pavor repentino" - depressão e angústia causadas pela ira de Deus e pelas invasões do inim igo. Em bora na M esopotâm ia tenham sido descobertos textos com diagnósticos médicos, é impossível identificar com precisão as doenças mencionadas aqui.26.19. céu como ferro, terra como bronze. O sentido da m etáfora presente nessa m aldição tam bém pode ser encontrado na execração (maldição) de Deutero- nômio 28 e no Tratado de Esarhaddon (século sétimoa.C.). Significava que a terra se voltaria contra o povo, tornando-se dura como o bronze pelo fato dos portões de ferro dos céus terem se fechado impedindo que a chuva caísse.26.26. dez m ulh eres assando num único forno. Aim agem de tam anha escassez de cereais, representada pelas inúm eras m ulheres assando seus pães no m esm o forn o , tam bém fo i en contrad a na estátu a *aram aica descoberta em Tell Fekherye, onde cem mulheres não conseguiam encher um forno com seus pães.
26.29. canibalism o no antigo O riente Próxim o. Somente uma situação de completo desespero e de fome permanente poderia levar as pessoas do antigo Oriente Próximo a praticar o canibalismo (ver 2 Rs 6.2430). O canibalismo está incluído na lista das m aldições
apresentadas nesse trecho e em Deuteronômio 28.5357 e tam bém nos tratados *assírios do século sétimoa .C , e serve para demonstrar o quanto o castigo de Deus aos desobedientes poderia ser terrível.
27.1-34 Votos27.2-13. características dos votos. Informações a respeito de votos podem ser encontradas em muitas culturas do antigo Oriente Próxim o, inclusive entre os *hititas, nas culturas *ugarítica e m esopotâmica e, com m enos freqüência, entre os egípcios. O s votos eram
acordos voluntários feitos com a divindade. Aqui, o voto incluía a penhora do valor atribuído à pessoa dedicada ao serviço do templo (ver 1 Sm 1.11). Pode talvez estar relacionado ao resgate do prim ogênito
em Êxodo 13.13; 34.20 e Núm eros 18.15, 16, embora não envolva sacrifício humano. A tabela de valores equivalentes que definia o valor da pessoa a ser resgatada levava em conta o sexo, a idade e a aptidão para o trabalho. Essa era uma form a do templo receber fundos suficientes para fazer reparos e adquirir equipamentos (ver 2 Rs 12.5, 6). Como acontecia em todos os votos, o nome de D eus era invocado (note a seriedade desse ato em Êx 20.7) e am bas as partes deveriam agir de acordo com os termos do voto. Os votos geralm ente eram condicionais e seguidos de uma petição feita à divindade. Os itens ofertados para resgatar a pessoa se tornavam santos e eles mesmos não podiam ser resgatados, a m enos que, devido à sua natureza, fossem inaceitáveis como oferta (ou seja, impuros ou inadequados). As enormes quantias envolvidas (até cinqüenta siclos) indicam que os votos desse tipo eram pouco comuns.27.2-8. dedicação de pessoas. A idéia de consagrar uma pessoa para o serviço do templo pode estar baseada no conceito de que cada família deveria sacrificar- se (ou seja, abrir mão de sua força de trabalho) para o serviço de Deus. Nesse sentido, Samuel foi dedicado ao santuário em Siló, por Ana, sua mãe, antes mesmo de seu nascim ento (1 Sm 1.11). N o entanto, num a região onde havia carência de m ão-de-obra, e onde todos os filhos ajudavam no trabalho, isso seria impraticável. Assim, foi criado um sistema em que a obrigação era cumprida através do resgate da pessoa, a partir de uma tabela de valores equivalentes baseados na idade, sexo, capacidade para o trabalho e condições para pagar. Essa tabela pode ser comparada às leis de ofensas físicas do código de *Ur-Nammu, das Leis de *Esnuna e das leis de *Hamurabi, que determ inavam um a m ulta baseada no tipo de ofensa, idade, posição social e sexo da vítima.27.3-8. valores relativos. A série de valores relativos estabelecidos para o resgate de pessoas dedicadas ao
serviço do tem plo, baseava-se em quatro critérios: idade, sexo, aptidão para o trabalho e possibilidades de pagar. Presume-se que o valor da força de trabalho de um homem adulto de vinte a sessenta anos era de cinqüenta siclos de prata. A inda que um a criança pudesse servir por m uito m ais tempo que um adulto, o valor estabelecido para ela correspondia apenas a uma fração dessa quantia (variava de acordo com o sexo). No entanto, para as pessoas com m ais de sessenta anos é compreensível que o valor fosse menor do que para aquelas em pleno vigor para o trabalho. A quantia estipulada aos pobres dependia da determ inação do sacerdote, que avaliava as possibilidades que tinham de pagar. Em bora essas quantias possam refletir o valor dos escravos, esse valor flutua
va demais ao longo do tempo para ser um indicador confiável.27.3-7. q u an tias em d in h eiro . A quantia estipulada para o resgate de pessoas dedicadas ao serviço do templo deveria ser paga em prata. O valor maior, de cinqüenta siclos, era calculado com base no peso padrão de vinte geras (27.25) e correspondia a várias vezes o salário anual de um trabalhador. Isso indica que é pouco provável que as pessoas fizessem esse tipo de voto sabendo que deveriam pagar essa quantia um a vez que o voto tivesse sido feito. Não seria possível pagar tal soma, portanto o resgate de um a pessoa dedicada talvez tenha acontecido em raras ocasiões.27.3. siclo do santuário. O preço a ser pago em prata tinha como padrão o siclo do santuário, em oposição ao siclo comum, que geralmente pesava 11,4 gTamas. O siclo do santuário usado para o cálculo é geralmente considerado como um a fração do siclo comum, mas não há comprovação quanto a isso. Descobertas arqueológicas confirmam a existência de peças de siclo pesando de 9,3 a 10,5 gramas.27.9-13. resgate de anim ais. Se uma pessoa quisesse usar um animal como pagamento de um voto, então o sacerdote faria uma inspeção no animal para determinar seu valor e a possibilidade dele ser aceito, verificando a existência de manchas ou outras imperfeições e se o animal era limpo (ou seja, aceitável como sacrifício). Se o animal fosse cerimonialmente impuro, ainda assim poderia ser oferecido, m as teria de ser resgatado com o pagam ento extra de um quinto de seu valor. Se o doador tivesse a intenção de abrir m ão do animal, dedicando-o em sacrifício, ele não poderia, sob nenhuma circunstância, ser resgatado (ver 22.2125). Esse cuidado quanto à *pureza ritual do animal sacrificial tam bém era comum nos rituais *hititas e mesopotâmios.27.14-25. dedicação da casa ou das terras. Tanto uma casa como um campo de propriedade de um pessoa ou mantidos como garantia de uma dívida, podiam ser consagrados ao Senhor, m as as propriedades tinham de ser inspecionadas e avaliadas pelo sacerdote. Isso permitia que um valor fosse estipulado, caso o proprietário resolvesse resgatá-las, acrescentando um quinto de seu valor. Tam bém poderia ser incluído um ritual de purificação da propriedade, presente também em textos *hititas. A base para essa prática talvez envolvesse um voto de ofertas para uma provisão esp ecial, além dos sacrifícios regulares e dos dízimos, para o santuário de D eus ou para os sacerdotes, e poderia tam bém resultar da ausência de um herdeiro. Assim, o produto da terra ou o uso da casa (como armazém ou para aluguel) pertenceriam a Deus. O Ano do Jubileu também era um fator a ser consi
derado no cálculo do valor e atribuição da propriedade. Somente as terras de propriedade da família que não tivessem sido resgatadas poderiam tom ar-se propriedade permanente dos sacerdotes (27.20, 21).27.21. propriedade dos sacerdotes. Sabemos, através de textos *hititas, egípcios e m esopotâm ios que as comunidades dos templos possuíam terras e se beneficiavam de sua produção. Embora a prática de transferir alguma propriedade para o templo não seja mencionada fora da Bíblia, é bem provável que a comunidade sacerdotal do antigo Oriente Próximo pudesse adquirir terras consagradas para o uso dos deuses. Isso poderia acontecer se o proprietário da terra não conseguisse resgatá-la; nesse caso, a terra se tornava "san ta" e, como os animais sacrificiais, não podia mais ser resgatada no futuro. Assim, na celebração israelita do Ano do Jubileu, em vez de a terra retornar ao seu proprietário original, passava a ser propriedade perm anente dos sacerdotes.27.25. vinte geras para um siclo. O siclo do santuário (que pesava de 11 a 13 gramas) correspondia a vinte geras de prata (0,571 gramas ou 8,71 grãos). Esse era o peso estabelecido como pagamento aceitável para pessoas ou bens dedicados.
27.29. pessoa dedicada para a destruição. Certos atos não podiam ser expiados através de sacrifício ou resgate. Pessoas que tinham sido condenadas por adoração falsa (Ex 22.19), ou por transgredir um acordo (Js7.13-26), ou por assassinato (Nm 35.31-34) ou ainda por violação intencional da *pureza ritual (como nos textos *hititas) não podiam ser resgatadas. Em alguns casos, suas fam ílias e propriedades tam bém eram destruídas, num ato de eliminação completa do mal. Essas pessoas tinham cometido atos que violavam a santidade de D eus e contam inavam a comunidade, portanto, sua sentença tinha de ser executada, sem exceção. Som ente dessa m aneira seria restaurada a santidade do nome de Deus e o povo ficaria limpo de sua *impureza.27.31-33. resgatando o dízim o. Visto que toda a produção da terra (cereais e frutos) pertence a Deus, um dízimo dessa produção deveria ser pago (Dt 14.22-26). Os itens separados para o dízimo não podiam ser considerados como ofertas "voluntárias", pois o dízimo era consid erad o prop riedad e irrestrita de *Y ahw eh. A quantia do dízimo podia ser resgatada pelo pagamento de seu valor, acrescido de um quinto. O bserve que esse pagamento podia ser feito somente com produtos do cam po (com pare N m 18.14-19). Os anim ais não podiam ser resgatados e qualquer tentativa nesse sentido resultava na perda, tanto do animal originalmente escolhido para o dízimo, como de seu substituto.
N Ú M E R O S
V/1.1-46O recenseamento1.1. deserto do Sinai. O "deserto do Sinai" refere-se à região árida ao redor das montanhas onde os israelitas acamparam (ver comentário em Êx 19.1, 2).1.1. cronologia. Com parando esse versículo com Êx40.17, pode-se constatar que o tabernáculo fora montado há um mês e o povo estava acampado no Sinai há quase um ano.1.2. ob je tivo do recenseam ento. De modo geral, os recenseamentos no mundo antigo eram usados como meio de alistar os homens para o serviço m ilitar ou para projetos públicos de construção. Freqüentemente eram acompanhados ou até mesmo m otivados pela arrecadação de uma taxa individual. Esse recenseamento serviu para o alistamento no exército, mas não pode ser facilmente dissociado do censo de Êxodo 30.1116 (ver com entário), quando foi cobrada um a taxa para o templo.1.46. total da população. Quanto a dúvidas a respeito desse número, ver comentário em Êxodo 12.37.
1. 47- 2.34A disposição das tribos no acampamento1.52. disposição das tribos. O acampamento dos sacerdotes e levitas ficava ao redor do tabernáculo, enquanto as outras tribos formavam em volta deles um retângulo com três acampamentos de cada lado. Acampamentos retangulares eram comuns na prática egípcia desse período. A arte *assíria do nono século retrata acampamentos com esse formato, ficando o rei protegido ao centro. A tribo de Judá liderava a parte oriental do acampamento que se destacava por ser o lado da entrada para o tabernáculo. A tribo do filho mais velho, Rúben, liderava o grupo do lado sul, enquanto a tribo de Dã, o filho m ais velho das *concubinas, liderava o grupo do norte. As tribos dos filhos de Raquel ficavam no lado oeste, lideradas por Efraim, filho de José com direito de primogenitura.1.52. bandeiras. No Egito, cada divisão do exército recebia o nome de uma divindade, cujo símbolo era colocado na bandeira daquela divisão. Parece, portanto, razoável presumir que a bandeira de cada tribo continha um símbolo que representava a tribo. Por outro lado, alguns estudiosos têm entendido que a palavra traduzida como "bandeira", na verdade, referia-se a uma unidade m ilitar e não a um estandarte.
2.3-32. núm eros do censo. Como já foi discutido no comentário de Êxodo 12.37, existe um problema em relação aos números citados. O mais provável é que os núm eros aqui apresentados foram m isturados e acabaram se confundindo. Visto que a palavra hebraica traduzida como "m il" ('lp) é parecida com a palavra para "divisão m ilitar", o núm ero 74.600 (v. 4) pode na verdade, significar 74 divisões militares, totalizando 600 homens. O número total do versículo 32, no original estaria se referindo a 598 divisões militares ('lp), cinco mil (lp ) e quinhentos homens, mas em algum momento da transmissão do texto, as duas palavras se confundiram e foram somadas, perfazendo 603 mil. Se essa explicação estiver correta, o número de israelitas que deixaram o Egito teria sido cerca de 20 mil.
3.1- 4.49 Os levitas3.7-10. levitas como encarregados do santuário. Oslevitas ficavam acampados ao redor do santuário e tinham ordem para executar todo aquele que dele se aproximasse, restringindo o acesso ao tabernáculo. Os santuários antigos não eram lugares para reuniões públicas, e sim moradas divinas. Os sacerdotes eram vistos como guardiões nos textos *hititas, e também nos textos de *M arí do alto Eu frates. N a relig ião *babilônica existiam demônios ou espíritos protetores que guardavam a entrada dos templos.3.12, 13. levitas em substitu ição aos prim ogênitos. Em muitas culturas do mundo antigo havia o *culto aos ancestrais, em que se derram avam libações aos antepassados, cujos espíritos passariam então a proteger e a a judar os vivos. N a *Babilônia, o espírito desencarnado (utukki) ou fantasma (etemmu) podia tornar-se muito perigoso se não recebesse a devida atenção e, muitas vezes, se tornava alvo de encantamentos. O cuidado com os mortos começava com o sepul- tamento adequado e continuava com a dedicação posterior de presentes em honra da memória e do nome do falecido. O primogênito era responsável pela m anutenção dessa adoração ancestral e, sendo assim, era quem herdava os deuses da fam ília (muitas vezes, imagens dos ancestrais já mortos). Em bora não fosse permitida aos israelitas a adoração dos ancestrais ou *culto funerário, as acusações dos profetas deixam claro que essa era um a das formas mais comuns para fazer o povo se desviar de Deus. A transferência da
posição de primogênito para os levitas, portanto, indicava que, em vez de uma adoração aos ancestrais, em nível fam iliar, conduzida pelo prim ogênito, Israel deveria ter uma prática religiosa em nível nacional, m antida e regulamentada pelos levitas (ver também os comentários em Êx 13.1-3; Dt 14.1,2; 26.14). Para os detalhes legais, ver comentário em 8.24-26.3.47-51. pagam ento do resgate. O conceito de pagamento de resgate ocorre também em textos *acadianos (babilônios) e *ugaríticos (cananeus), embora não com essa m esm a função. Aqui, a nação comprava de Deus seus primogênitos "negociando" os levitas; os primogênitos excedentes tinham de ser comprados com dinheiro, de acordo com o valor estabelecido em Lv27.6. O siclo pesava em m édia 11,4 gramas, embora tam bém haja referências a um "siclo pesad o", que poderia pesar m ais que isso. O peso padrão do santuário citado nesse relato talvez se refira a um siclo que tivesse m aior valor e peso que o padrão do "m ercado"; geralm ente era considerado m ais leve (ver com entário em Êx 30.13). Cinco siclos representavam aproximadamente a metade do salário de um ano.4.6. couro ou pele de anim ais m arinhos. No original, o termo "couro" provavelmente seja uma referência à pele de animais marinhos (o peixe-boi ou dugongo, um anim al herbívoro, e golfinhos) encontrados no m ar Vermelho, cujas peles eram curtidas e usadas em decoração. Essas criaturas foram caçadas durante milênios no golfo árabe por causa de sua pele. Essa palavra tam bém pode ser com parada a u m term o *acadiano que designa uma pedra semipreciosa amarela ou laranja, referindo-se assim à cor da tintura usada e não a um animal.4.6. pano azul. Essa cor tem sido interpretada mais recentemente como um tom de azul-púrpura ou roxo. A tintura dessa cor era um dos principais produtos de exportação da Fenícia, sendo extraída de determinados moluscos marinhos (.Murex trunculus) que viviam em águas rasas na costa do Mediterrâneo. Um a antiga fábrica de tinturas foi descoberta em Dor, ao longo da costa norte de Israel. Especialistas calculam que seriam necessários 250 mil moluscos para produzir aproximadamente m eio quilo de corante puro. Esse corante era utilizado na fabricação da maioria dos objetos sagrados, tais com o o véu do Lugar Santíssim o e as vestes do sumo sacerdote.4.46-48. núm ero de levitas. Aqui, o número de levitas que tinham entre trinta e cinqüenta anos de idade é de 8.580, enquanto que em 3.30 o número total dos homens acima de um m ês de idade era de 22 mil. Isso poderia ser uma indicação de que havia 13.420 pessoas do sexo masculino com menos de trinta anos e com mais de cinqüenta. Essa distribuição é razoável e revela que os números estão na proporção correta. To
davia, é possível que tam bém aqui tenha havido a m esm a confusão concernente à palavra mil como a descrita no comentário em 2.3-32.
5.1-4 Pessoas enviadas para fora do acampamento5.2. doenças de pele contagiosas. A respeito da natureza dessas doenças, ver comentário em Levítico 13.2.5.2. fluxos. Acerca dos diversos fluxos, ver comentários em Levítico 15.5.2. im pureza cerim onial. Nem toda impureza podia ser evitada, e muitas vezes era causada por algo que de modo algum poderia ser considerado pecado. Havia diversas categorias de impureza que não podiam ser facilmente evitadas, inclusive as im purezas sexuais e aquelas relacionadas a doenças e ao contato com pessoas ou animais mortos. Apesar de ser m ais uma questão formal do que ética, o ambiente sagrado precisava ser protegido de tudo que fosse inadequado. Nas culturas antigas, inclusive no Egito, na *Babilônia e na Pérsia, a impureza da m ulher em decorrência do parto era encarada da m esma m aneira que a impureza mensal causada pela menstruação. Além disso, era bastante comum a crença de que os demônios habitavam no sangue menstrual.5.3. morar fora do acampamento. Embora não fosse necessário que o acampamento tivesse o mesmo nível de *pureza do templo, havia algumas restrições. Na literatura *babilônica também foram encontradas restrições para vítim as de doenças de pele, que eram forçadas a viver em isolamento. Provavelmente essas pessoas viviam nos arredores dos cemitérios.
5.5-10 A restituição por danos e prejuízos5 .6 ,7 . caráter da legislação. Esse trecho diz respeito à situação de um a pessoa que fez uso de um juramento formal para enganar alguém no tribunal e mais tarde sentiu-se culpada por ter agido assim. A lei ordenava que o culpado desse uma restituição acrescida de vinte por cento do valor à pessoa prejudicada ou a um parente próxim o ou ao sacerdote, além de oferecer uma oferta de reparação. Nas leis de *Hamurabi geralmente acrescentava-se um sexto ao valor da restituição, na forma de pagamento de juros.
5.11-31 O caso do marido ciumento5.14. base da ação legal. A única base para essa ação é o ciúme do marido. A palavra usada no versículo 12 para descrever a natureza do delito geralmente está relacionada a um abuso de confiança ou a um ato de sacrilégio (ver comentário em Lv 5.14-16). Portanto, é provável que a m ulher tivesse sido interrogada ante-
riorm ente e prestado juram ento de sua inocência, e agora estaria sendo acusada de perjúrio. Tal suspeita poderia ser levantada no caso em que a m ulher estivesse grávida e o marido desconfiasse que o filho não era dele.5.15. conduta do m arido. N ão fica claro por que o marido deveria levar a oferta específica descrita nesse versículo. A o contrário da oferta comum de alimento, essa era uma oferta de cevada (oferecida pelos pobres) e não de trigo, sem azeite nem incenso, que eram elementos presentes nas ofertas relacionadas a possíveis transgressões. Talvez sua omissão seja explicada pelo fato de que, geralm ente, o azeite e o incenso eram associados à celebração, e essa não era um a ocasião festiva.5.16, 17. conduta do sacerdote. Um texto de *M ari (noroeste da M esopotâmia) relata um teste em que os deuses deveriam beber água m isturada ao pó tirado do portão da cidade como forma de obrigá-los a cumprir o juram ento de proteger a cidade. Aqui, os ingredientes sagrados (água sagrada num jarro de barro e poeira do chão do santuário) eram m isturados e o sacerdote pronunciava um juram ento com maldições relacionadas à obrigação da m ulher de preservar a *pureza do santuário.5.18. soltar o cabelo. Em outros contextos, o ato de soltar o cabelo está relacionado ao luto. Talvez seja uma indicação de que a m ulher deveria adotar tuna postura de luto até que o Senhor desse seu veredicto.5.23,24. provas no antigo O riente Próximo. Esse tipo de "teste" ou "prova" descreve um a condição judicial em que o acusado era colocado nas m ãos de Deus através de algum tipo de circunstância em que ficava exposto a um a situação de perigo. Se a divindade viesse socorrer o acusado para protegê-lo do mal provocado, ele seria julgado inocente. Grande parte das provas no antigo Oriente Próxim o envolviam riscos com água, fogo e veneno. O acusado subm etido a essas ameaças, na verdade, era considerado culpado até que a divindade o declarasse inocente agindo em seu favor. O procedimento nesse texto difere de outras práticas, pois não recorre a magias nem envolve perigo, apenas cria uma situação propícia para que Deus responda. Deste modo, a m ulher aqui é considerada inocente até que as circunstâncias (dirigidas pelo Senhor) provem o contrário. As leis de *Hamurabi contêm casos semelhantes em que a m ulher se submetia a um a prova num rio para determinar sua culpa ou inocência.5.27. resultados potencialm ente negativos. As sugestões quanto às conseqüências negativas do teste a que a m ulh er era subm etid a variam , inclu in d o útero hemorrágico, falsa gravidez, prolapso pélvico e atrofia dos órgãos genitais. Porém , qualquer que fosse o pro
blem a, o texto deixa claro que o resultado seria a esterilidade. Se a m ulher tivesse se submetido a esse processo devido a uma gravidez, talvez a poção pudesse provocar um aborto, caso a gravidez tivesse ocorrido através de relacionamento ilícito.
6.1-21 O voto de nazireu6.3. abstinência de bebidas alcoólicas. Nesse texto, diferentes palavras são usadas para descrever as bebidas fermentadas feitas de uvas. Em bora alguns termos façam referência a bebidas alcoólicas feitas a partir de outros ingredientes (cereais, por exemplo), nesse versículo são mencionadas apenas aquelas que se referem aos produtos da uva. Isso sugere que somente as bebidas feitas de uva eram proibidas aos *nazi- reus. A questão aqui não é a embriaguez, m as sim o vinho ou qualquer outra bebida ferm entada feita de uva.6 .3 ,4 . abstinência dos produtos da videira. A proibição em relação aos produtos da videira tem sido interpretada por alguns estudiosos como um a apologia ao estilo de vida nômade, mas é muito difícil enxergar isso como uma questão bíblica ou sacerdotal. Por outro lado, deve-se notar que a uva era um dos principais produtos da terra de Canaã, possivelmente uma fruta típica daquela região. N esse caso, o vinho e qualquer produto da videira estariam simbolicamente relacionados à fertilidade (note que os espias trouxeram um enorme cacho de uvas [13.24] como prova da fertilidade da terra). O uso de passas no preparo de bolos oferecidos nos *cultos à fertilidade pode ser encontrado em Oséias 3.1.6.5. significado do cabelo. Um a inscrição fenícia do século nono a.C. relata o caso de um indivíduo que rapou o cabelo em dedicação ao cumprimento de um voto feito à deusa *Astarote. É im portante destacar que o texto bíblico não m enciona o que deveria ser feito com o cabelo rapado. Fica evidente que ele não exa dedicado, como no relato m encionado acima, nem depositado no templo, como era costume em algumas culturas. O cabelo era dedicado ao Senhor enquanto estivesse na cabeça (v. 9), não quando fosse cortado. Nos homens, o cabelo tinha um valor simbólico: era sinal de masculinidade ou virilidade (ver 2 Sm 10.4). A s m ulheres arrum avam e adornavam cuidadosamente os cabelos como sinal de beleza. Na proibição de "cortar o cabelo dos lados da cabeça" ou aparar “as pontas da barba" é usada a m esma terminologia de Levítico 19 .9 ,10 que trata da colheita dos campos. Nos dois casos estava implícito o pagamento de duas ofertas, um a para os pobres e outra para Deus. O Código de *Hamurabi punia as testemunhas falsas cortando m etade do cabelo da pessoa. O código medo-assírio
perm itia que o senhor arrancasse os cabelos de um escravo como castigo (ver Ne 13.25). Os dois códigos sugerem que a perda dos cabelos estava associada à vergonha. Na maneira de pensar do m undo antigo, o cabelo (juntamente com o sangue) representava a essência da vida de uma pessoa, e como tal era usado como um ingrediente para simpatias. Isso fica claro, por exem plo, na prática de enviar um a m echa de cabelos supostamente pertencentes ao profeta, juntamente com as profecias destinadas ao rei de *Mari. O cabelo era usado nas adivinhações para determinar se a mensagem do profeta era ou não verdadeira (ver Lv 19.27). Várias pesquisas têm comprovado que no m undo antigo, o corte do cabelo era uma maneira da pessoa se distinguir das outras (como no luto) ou para marcar o reingresso na sociedade (que parece ser o caso dos nazireus).6.6, 7. proibição de contato com cadáver. A contaminação pelo contato com cadáver era uma das causas m ais com uns e inevitáveis da im pureza ritual (ver comentário em 19.11). Alguns estudiosos especulam que a impureza ritual resultante da contaminação por contato com cadáver possa também representar uma posição contra o *culto aos mortos, que freqüentemente era praticado (ver comentário em 3.1, levitas em lugar dos primogênitos).6.8. contexto do nazireu. As três áreas proibidas ao *nazireu simbolizavam a fertilidade (produtos da videira), os ritos mágicos e simpatias (cabelo) e o *culto aos mortos (contaminação com cadáveres); essas eram justam ente as principais práticas religiosas que o culto a *Yahw eh buscava elim inar. É difícil explicar, no entanto, por que esses elementos foram escolhidos, ou qual o conceito subjacente que deu origem ao voto do nazireu.
6.9-12. procedim ento ritual em caso de violação. Aviolação ritual do voto exigia que o altar fosse purificado por meio da oferta mais simples (pombos). Tam bém era necessário que se oferecesse um cordeiro de um ano como oferta de reparação, visto que a violação envolvia um abuso de confiança (ver comentário em Lv 5.14-16).6.13-20. térm ino do voto. O término do voto envolvia uma série de ofertas (ver comentários nos primeiros capítulos de Levítico para m ais detalhes sobre cada oferta), acompanhadas do corte e queima do cabelo. A maioria dos votos no antigo Oriente Próximo eram condicionados a alguma súplica feita no passado ou no presente (ver comentário em Lv 27) e não há razão para presum ir que o voto do nazireu fosse diferente. Portanto, seria normal que o voto culminasse em ofertas de dádivas. O que é incom um , em relação ao contexto de votos do antigo Oriente Próximo é o período ritualizado de abstinência que precede as ofertas.
6.22-27A bênção sacerdotal6.24-26. bênçãos no antigo O riente Próximo. No mundo antigo, era comum a crença de que as bênçãos e maldições possuíam um poder intrínseco que provocaria seu cumprimento. A bênção aqui, hoje conhecida como bênção sacerdotal, provavelmente era dada pelos sacerdotes a qualquer pessoa que estivesse saindo do santuário após ter participado de um *ritual. Dois pequenos rolos de prata (com cerca de 2,5 centímetros de comprimento) foram encontrados numa área conhecida como Keteph Hinnom, em Jerusalém. Os rolinhos, que eram uma espécie de *amuleto, continham essa bênção e estavam dentro de um a caverna sepulcral do século sexto ou sétimo a.C.. Esses pequenos rolos representam o exemplar mais antigo de um texto das Escrituras. O conceito de um a divindade com o rosto resplandecente resultando em m isericórdia está presente em documentos e inscrições meso- potâmios que remontam ao século doze a.C. e tam bém em uma carta de *Ugarite. A idéia de invocar aos deuses também era expressa regularmente, como meio de garantir a proteção e o bem-estar, nas saudações *ugaríticas e *acadianas. Finalmente, a frase "o Senhor te abençoe e te guarde" está incluída nas palavras pintadas (em hebraico) num grande jarro do século nono a.C., encontrado em K untillet A jrud, ao norte do Sinai.
7.1-89Ofertas por ocasião da dedicação do tabernáculo7.1. unção dos objetos sagrados. A unção era um atode dedicação. O texto não esclarece se os objetos foram ungidos com óleo ou sangue, mas o mais provável é que tenha sido com o primeiro.7.13. prato de prata. Os dois objetos de prata mencionados aqui se parecem mais com uma tigela do que com um prato, sendo que o primeiro tinha o dobro do tamanho do segundo, e provavelmente era mais fundo. O m aior pesava um quilo e quinhentos e sessenta gramas e o menor oitocentos e quarenta gramas.7.13. m elhor farinha. Essa farinha era feita dos grãos (ou da semolina) que ficavam na peneira depois que o trigo era m oído e transform ado em farinha. E a m esm a farinha usada para a oferta de cereal (ver comentário em Lv 2.1).7.14. vasilha de ouro. Essas vasilhas pesavam cento e vinte gramas. A palavra traduzida como "vasilha" é a m esma usada para "m ão". Foram encontrados certos objetos em form a de tenaz em *A m arna, cujas extremidades tinham o formato de mãos, mas o fato de que os utensílios citados nesse versículo estariam cheios de incenso, sugere que se tratava m esm o de
vasilhas e não de tenazes. Em bora fossem relativamente pequenas, o incenso que carregavam era valioso, assim, até mesmo essa pequena porção era uma dádiva substancial, além do valor do ouro de que era feita a vasilha.7.84-88. função das ofertas dedicadas. Esses versículos resumem as ofertas dadas pelo representante das doze tribos, em doze dias consecutivos, descritas a partir do versículo 12. É provável que essa descrição detalhada seja para enfatizar a posição de igualdade de cada tribo na adoração a D eus e que cada tribo estava inteiramente dedicada ao sustento do tabernáculo e dos sacerdotes.
8.1-4O candelabro8.2. o candelabro. Nas culturas do Mediterrâneo, durante o último período da Idade do Bronze, o modelo de candelabro com um eixo central e três hastes de cada lado era bastante comum. V er com entário em Êxodo 25.31-40.
8.5-26A consagração dos levitas8.7. rapar o corpo para pu rificação . Os sacerdotes egípcios também tinham de rapar a cabeça e o corpo como parte do processo de purificação. A s navalhas geralmente eram feitas de bronze e tinham o formato de facas, com um cabo arredondado ou lâminas com uma alça fina presa de forma perpendicular.8.10. im posição de m ãos. É o mesmo procedimento usado pelos israelitas quando iam apresentar algum sacrifício (ver comentário abaixo). Simbolizava a designação dos levitas para exercerem o sacerdócio em favor dos israelitas.8.11. levitas como oferta m ovida. A oferta m ovida (ou melhor, oferta levantada) era um rito de dedicação (ver comentário em Lv 8.27).8.12. lev itas im pondo as m ãos sobre a cabeça dos novilhos. V er comentário em Levítico 1.4.8.12. fazer propiciação pelos levitas. A respeito da palavra traduzida aqui como "propiciação", que era a conseqüência purificadora do sacrifício, ver comentário em Levítico 1 .3 ,4 . No entanto, nenhum sacrifício é oferecido aqui, apenas o simbolismo sacrificial é usado. Os levitas não faziam ritos de purificação em favor dos israelitas - essa era um a tarefa dos sacerdotes - , em vez disso, eles protegiam os israelitas contra a ira divina, pois serviam como pagamento de um resgate. Essa função era bastante comum nos *rituais *hititas e 'babilônios usados para aplacar a ira dos deuses.8.24-26. papel dos levitas. No antigo Oriente Próximo, havia um dispositivo legal que permitia ao credor receber os serviços de alguém da fam ília da pes
soa a quem fizera um empréstimo ou cedera algum bem . A pessoa em débito era designada para um trabalho específico por um período de tem po pré- determinado. Esse trabalho era feito como pagamento dos juros do empréstimo. A pessoa passava a fazer parte da família do credor e recebia proteção e sustento dele. Da mesma forma, os levitas faziam trabalhos específicos na casa do credor (Deus) e recebiam sustento e proteção, provenientes das ofertas que os israelitas dedicavam a Deus em troca de seus primogênitos.
9.1-14 A páscoa9.1. o deserto do Sinai. Área desértica ao redor do monte Sinai (ver comentário em 1.1).9.2. Páscoa. Essa foi a prim eira celebração da Páscoa, desde sua instituição um ano antes, no Egito. Sobre o significado do term o hebraico, ver com entário em Êxodo 12.11. Para informações mais detalhadas sobre a Páscoa, ver comentários de Êxodo 12.1-23.
9.15-23A nuvem sobre o tabernáculo9.15. função e natureza da nuvem . Alguns acreditam que a melhor explicação para as colunas de nuvem e de fogo é que seriam resultantes da atividade vulcânica. Uma erupção na ilha de Tera (960 quilômetros a noroeste), em 1628 a.C. pôs fim à civilização minóica e provavelm ente seus efeitos puderam ser vistos na região do delta. Mas a data é muito anterior (ver item "A D ata do Êxodo, na p. ), além dessa teoria não oferecer explicação para o m ovim ento das colunas, nem para o local descrito no relato bíblico (em direção ao sudeste). O texto não diz que as colunas tinham origem sobrenatural, apenas que eram conduzidas por meios sobrenaturais, e por essa razão, alguns supõem que se originavam de um tipo de braseiro carregado num a vara, usado pelos primeiros exploradores e pelas caravanas. Por outro lado, as colunas sempre são apresentadas em ação (descendo, movendo- se) e não sendo dirigidas (não havia necessidade de ação hum ana para m ovim entá-las), e assim é difícil fundamentar essa teoria. N o mundo antigo, a divindade era sempre retratada circundada por uma aura brilhante ou flam ejante. N a literatura egípcia, essa aura é ilustrada pelo disco solar alado acompanhado de nuvens de tempestade. Os *acadianos usam o termo melammu para descrever essa representação visível da glória da divindade, que por sua vez é envolta por fumaça ou nuvens. H á indicações de que na m itologia cananéia, o conceito de melammu é expresso pela palavra anan, o mesmo termo hebraico traduzido como "n u v em ", mas as ocorrências são muito raras e obscuras para se ter certeza. De qualquer modo, as colunas
seriam na verdade uma só: durante o dia, somente a fum aça era visível, enquanto que à noite, a cham a interna oculta pela nuvem podia ser vista (ver Êx13.21, 22).
10.1-10 As cometas10.2. cornetas de prata. Pelo tipo de material de que eram feitas, é evidente que não se trata das mesmas com etas feitas de chifre de carneiro, mencionadas em outros contextos. Com etas tubulares com um a das extrem idades m ais larga eram usadas nesse período tanto em contextos militares como em rituais. O uso nessas ocasiões é ilustrado em relevos egípcios e também comprovado por instrumentos encontrados, por exemplo, na tumba do rei Tut (uma com eta de prata com mais de meio metro de comprimento).10.2. trabalhos em prata. As técnicas de exploração dos minérios de prata já eram conhecidas desde meados do terceiro m ilênio. U m processo denom inado copelação usava um cadinho para extrair a prata do chum bo e refiná-la através de diversos estágios de purificação. Em *Ur, artesãos que trabalhavam com prata produziam instrumentos musicais, jóias e outros objetos já no terceiro milênio.10.3-7. toque das com etas como sinal. Nas guerras, era comum o uso de diversos sinais. Sinais utilizando fogo eram freqüentemente usados tanto nas linhas de frente como em campo aberto, e às vezes ordens simples eram comunicadas através do levantamento de um mastro ou arremesso de dardos. H á evidências do em prego de sinais de corneta no Egito, no últim o período da Idade do Bronze, tanto em contextos militares como religiosos. Os sinais eram dados através de um código pré-definido que incluía certas combinações de sopros longos e curtos.
10.11-36Os israelitas partem do Sinai10.11. cronologia. Por essa época, os israelitas ainda estavam no Sinai, tendo saído do Egito havia treze meses. Em nosso calendário, seria início de maio.10.12. itinerário. Se o deserto do Sinai situava-se na região sul da península do Sinai, como sugerimos, então os israelitas partiram em direção a noroeste. O deserto de Parã incluía Cades-Baméia e é localizado geralmente no ângulo nordeste da península do Sinai. No final do capítulo 11 são mencionados diversos lugares em que os israelitas pararam ao longo do caminho. Grande parte dos quarenta anos de peregrinação do povo de Israel ocorreu no deserto de Parã.10.29. H obabe, filh o de R euel. Em Êxodo 2, o sogro de Moisés é chamado de Reuel, em Êxodo 3, é denominado Jetro, e aqui recebe o nom e de Hobabe (ver Jz
4.11). Esse problema pode ser resolvido assim que a ambigüidade da terminologia é identificada. O termo para designar parentes do sexo masculino resultantes do casamento (sogro, cunhado etc.) não é específico. Logo, o term o usado em relação aos fam iliares da mulher podia referir-se ao pai, ao irmão ou até mesmo ao avô. Grande parte das explicações para essa confusão de nomes leva isso em conta. Talvez Reuel fosse o avô, o chefe do clã, Jetro o pai de Zípora, e Hobabe, o cunhado de M oisés, filho de Jetro. Outra explicação talvez seja de que Jetro e Hobabe fossem os cunhados de Moisés e Reuel, o sogro (ver Êx 3.1).
11.1- 12.16Um povo rebelde e queixoso11.3. Taberá. H á uma boa razão para associar Taberá a Quibrote-Hataavá (v. 34), visto que não há registro de viagem entre esses dois relatos. Cada nom e reflete um incidente que aconteceu ali. Não é possível identificar com certeza a localização desses lugares.11.4. carne. A carne pela qual o povo ansiava não era de vaca, carneiro ou veado. Os israelitas tinham levado seus rebanhos, mas relutavam em m atar os animais e assim acabar com seu gado. Além disso, esse tipo de carne não fazia parte de sua dieta normal, mas era usado apenas em ocasiões especiais. O tempo em que viveram no Egito, às m argens do rio N ilo, os acostumara a um a dieta regular à base de peixe, e o versículo seguinte deixa claro que era a esse tipo de carne que eles estavam se referindo.11.5. dieta no Egito. São mencionados aqui cinco produtos básicos que faziam parte da dieta dos israelitas enquanto viviam no Egito. Diversos deles são conhecidos a partir de textos egípcios e pinturas em paredes. A referência a melancias pode também representar um tipo de melão.11.7-9. maná. O pão do céu descrito em Êxodo 16.31 era cham ado de m aná. O fato de vir com o orvalho (Êx16.4) sugere que Deus usou um processo natural para sua provisão miraculosa. Geralmente, esse alimento tem sido identificado com a secreção de pequenos afídeos (pulgões) que se alimentam da seiva das tamar- gueiras. Quando essa secreção endurece e cai no chão, pode ser colhida e usada como adoçante. O problema é que isso acontece apenas durante certas ocasiões do ano (maio a julho) e somente onde há tamargueiras. Além disso, a produção total de uma estação normalmente chega a atingir cerca de 230 quilos, enquanto que no relato bíblico as pessoas juntavam diariamente cerca de 250 gramas cada uma. Uma outra explicação sugere o líquido adocicado da planta hammaâa, comum no sul do Sinai, usada para adoçar bolos. Assim como nas pragas enviadas por Deus ao Egito, não é a ocorrência do fenôm eno em si que é inusitada,
m as sim seu tem po de duração e sua m agnitude. A lém disso, essas explicações naturais ficam m uito distantes dos dados apresentados no relato bíblico. A comparação, feita por algumas traduções, com a semente do coentro (raramente encontrado no deserto) talvez seja um a referência a um a categoria mais genérica de plantas desérticas com sem entes brancas do que uma identificação exata. (Ver Êx 16.4-9.)11.25. o E sp írito v e io ...e profetizaram . A profecia por êxtase ou proveniente de alguém "possuído" ou num estado de transe era bem conhecida tanto em Israel com o no antigo O riente Próxim o. Na M eso- potâmia o profeta que ficava em êxtase recebia o nome de muhhu, e em Israel, os profetas desse tipo geralmente eram considerados loucos (ver, por exemplo, 1 Sm 19.19-24; Jr 29.26). Aqui, o acontecimento não resultou em mensagens proféticas do Senhor, mas serviu como um sinal de que o poder de D eus estava sobre as autoridades. Nesse aspecto, poderia ser comparado ao fenômeno das línguas de fogo que desceram sobre os apóstolos em Atos 2.11.31. codornizes. Bandos de pequenas codornizes m igratórias atravessam com freqüência o Sinai em direção ao norte, desde o Sudão até a Europa, geralmente nos meses de março e abril. Elas voam im pulsionadas pelo vento e são arremessadas ao chão (ou à água) se apanhadas por uma corrente contrária. M uitas vezes, devido ao cansaço, elas voam tão baixo que se tornam presas fáceis. H á casos de barcos terem afundado devido ao excesso de codornizes que neles pousaram em busca de um lugar para descansar. No Sinai, já foram avistadas em tão grande número que forravam o chão e pousavam nas cabeças tunas das outras (ver Êx 16.13).11.32. dez barris (hômeres). A principal medida para secos em Israel era o hômer, equivalente à carga transportada por um jumento. Essa medida é variável, de acordo com as diversas fontes, oscilando entre 138 a 236 litros; um cálculo aproximado confere ao hômer a capacidade de 189 litros. Porém, qualquer que seja a medida utilizada fica evidente que os israelitas estavam dominados pela gula. Normalmente, as codom i- zes eram conservadas no sal antes de ser colocadas para secar. Como não há menção dessa atividade no texto, talvez não tenha sido praticada. Isso sugere que a praga mencionada esteja relacionada a uma intoxicação por alimento estragado.11.34. Quibrote-H ataavá. E praticamente impossível identificar esse local.11.35. H azerote. Alguns têm identificado esse local com Ain el-Khadra.12.1. esposa etíope (no hebraico, cuxita) de M oisés.Cuxe pode referir-se a diferentes lugares no Antigo Testamento, embora seja a designação m ais freqüente
para o lugar geralm ente traduzido como "E tiópia". Essa tradução acaba gerando confusão porque a região de Cuxe não corresponde à m oderna Etiópia (Abissínia), m as sim à área ao longo do Nilo, bem ao sul do Egito, no local da antiga N úbia (atual Sudão). A fronteira entre Egito e N úbia nos tempos antigos se situava na prim eira ou segunda catarata do Nilo. E im provável que o território da N úbia tivesse se expandido até a sexta catarata em Khartoum. Outra possibilidade relaciona Cuxe com Cuchã, identificada em Habacuque 3.7 como Midiã. Para alguns, essa identificação tem boas probabilidades, pois é de conhecim ento geral que M oisés casou-se com Z ípora, um m ulher m idianita (ver Êx 2-4). Em bora a crítica de M iriã e Arão seja aparentemente étnica, não há evidências suficientes para esclarecer qual a origem dessa esposa de Moisés. Os nubianos são representados em pinturas egípcias com pigmentação escura da pele, mas nem sem pre apresentam outras características típicas da raça negra.12.5. coluna de nuvem. Para uma análise m ais ampla sobre a coluna de nuvem, ver comentário em Êxodo13.21, 22. Sobre a coluna como forma de Deus encontrar-se com M oisés, ver comentário em Êxodo 33.10. Aqui, M oisés, Arão e Miriã foram à Tenda do Encontro para o ju lgam en to de um caso. N a literatu ra cananéia, a principal divindade, *EL tam bém m orava num a tenda (onde, de acordo com a crença, se reunia a assembléia divina), de onde partiam os decretos e julgam entos. Para outro exem plo de ju lgam ento, em termos de punição, proveniente da tenda, ver comentário de Levítico 9.23.12.6. profetas. Por essa época, já havia uma instituição profética bem estabelecida no antigo Oriente Próximo. Como relata o texto, os meios usuais de revelação eram sonhos e visões. Em mais de cinqüenta textos da cidade de *M ari (diversos séculos antes de Moisés) funcionários locais relatam profecias proferidas ao rei de Mari, Zimri-Lim. Yahw eh podia escolher qualquer pessoa para transmitir sua mensagem, mas a posição e a experiência de M oisés ultrapassavam a de outros profetas. Em geral, os sonhos e visões eram repletos de sim bolism os que necessitavam de interpretação (muitas vezes, eram interpretados através de *adivinhações ou de um especialista no livro dos sonhos; ver com entário em G n 40.5-18), m as a form a como Deus se revelava a M oisés não envolvia esse tipo de enigma.12.10. a doença de M iriã. A existência de hanseníase (o termo moderno para lepra) no antigo Oriente Próxim o em um período anterior ao de A lexandre, o G rande não foi comprovada (ver comentário em Lv13.1-46). As doenças de pele descritas aqui e em outras partes do Antigo parecem se referir mais a psoríase
e eczem as. A analog ia com o "fe to ab ortad o" no versículo 12 confirma esse tipo de diagnóstico caracterizado pela escamação da pele (um sintoma não associado à hanseníase), e não pela necrose (destruição dos tecidos do corpo, inclusive ossos e nervos). A pele do feto abortado passa da coloração avermelhada para um tom acinzentado, para depois escamar.12.16. deserto de Parã. Ver comentário em 10.12.
13.1-33O reconhecimento da terra de Canaã13.21. 22. ob jetivo da m issão de reconhecim ento. Odeserto de Z im é um a área situada ao sul de uma linha imaginária localizada entre a extremidade meridional do m ar M orto e o M editerrâneo, na região também conhecida como Neguebe. É a região que faz fronteira com o sul de Canaã. Reobe tem sido identificado com freqüência como Tell el-Balat Bete-Reobe, quase na metade do caminho entre o Mediterrâneo e Hazor. Lebo-H am ate provavelm ente corresponde à m oderna Lebw eh, um a das nascentes do O rontes. Essa região era a fronteira ao sul da terra de Hamate sendo, portanto, a fronteira norte de Canaã. Esses pontos de referência indicam que os homens foram enviados para reconhecer a terra na parte que fica entre o rio Jordão e o M editerrâneo, subindo e descendo por um trecho de 560 quilômetros.13.22. enaquins. Os descendentes de Enaque são especificam ente m encionados nos versículos 22 e 28. Numa lista de povos apresentada, eles são descritos como *hurrianos (os horeus m encionados na Bíblia; ver comentário em D t 2). Os descendentes de Enaque eram geralmente considerados "gigantes", (v. 33; Dt 2.10 ,11 ; 2 Sm 21.18-22), embora um a designação mais adequada fosse "com o gigantes". Não se faz menção aos enaquins em outras fontes, m as a carta egípcia no Papiro de A nastasi I (século treze a.C.) descreve a existência de guerreiros cruéis em Canaã, medindo entre 2,10 e 2,70 m etros de altura. Tam bém foram encontrados em Tell es Sa'ideyeh, na Transjordânia, dois esqueletos de m ulheres do século doze a.C. com cerca de 2,10 metros de altura.13.22. a construção de H ebrom . H ebrom foi construída sete anos antes de Zoã. Zoã refere-se à cidade egípcia de Dja'net, denominada pelos gregos de Tânis. Tom ou-se a capital da região do delta na Vigésima Prim eira Dinastia (século doze a.C.). O mais antigo construtor de cidades identificado pelas descobertas arqueológicas é Psusennes I, da m etade do século onze. A arqueologia de Hebrom é bastante complexa. O local foi inicialmente ocupado na Idade do Bronze *Antiga II (na m etade do segundo m ilênio); há evidências da presença de um a população tribal durante o período da conquista e posteriormente, de ocupação
permanente na Idade do *Ferro (a partir do ano 1200). É difícil dizer ao certo a qual construção de Hebrom esse versículo se refere.13.24. o vale de Escol. Existem m uitos uádis nessa área, e não há como verificar qual deles está sendo m encionado aqui. N as proxim idad es da m oderna Hebrom fica Ramet el-'Amleh, conhecida por sua produção de uvas e localizada perto de um uádi.13.26. Cades. Cades-Baméia geralmente é identificada com 'A in el-Qudeirat, cerca de 80 quilômetros ao sul de Berseba, onde se encontram as m ais abundantes reservas de água da região. Não existem ali vestígios arqueológicos desse período, mas essa região tem servido como ponto de parada para nômades e beduínos, e a abundância de objetos do "N eguebe" (cerâmica datada desse período) sugere que tam bém exercia esse mesmo papel durante o período em que os israelitas peregrinaram na região.13.27. terra onde manam leite e m el. A terra de Canaã é descrita como uma terra "onde manam leite e m el". É uma referência à exuberância da terra, favorável ao pastoreio, mas não necessariamente adequada à agricultura. O leite é um produto do rebanho, enquanto que o mel representa um recurso natural, provavelmente uma referência à seiva extraída da tâmara, e não ao mel de abelhas. Um a expressão semelhante a essa é encontrada no épico *ugarítico de *Baal e Mot, que descreve a volta da fertilidade à terra, em termos de uádis onde corria o mel. Textos egípcios, como A H istória de *Sinuhe, já descreviam a terra de Canaã como rica em fontes naturais e também na produção agrícola (ver Êx 3.7-10).13.29. habitantes da terra. Os povos que habitavam a terra são mencionados no versículo 29: amalequitas, *hititas, jebuseu s, *am orreus e cananeus. Os am alequitas, que descendiam de Abraão através de Esaú (G n 36.15), eram um povo nôm ade e sem inôm ade que habitou na região do Neguebe e do Sinai durante a segunda metade do segundo m ilênio a.C.. O s *hititas eram originários da Anatólia, a atual Turquia, mas alguns grupos que ocupavam partes da Síria e de Canaã tam bém eram denom inados hititas e podem ou não estar relacionados ao primeiro grupo. Os hititas que viv iam em Canaã tinham nom es sem itas, enquanto que os hititas da A natólia tinham nomes indo- europeus. Os jebuseus habitavam na área próxima a Jerusalém e nada se sabe sobre eles a não ser o que é mencionado no Antigo Testamento. Os *amorreus (conhecidos na Mesopotâmia como os amurru ou martu) são conhecidos a partir de documentos escritos já da metade do terceiro milênio a.C.. A maioria dos estudiosos acredita que eles ocuparam m uitas áreas no Oriente Próximo. O termo pode ser usado para referir-se a um a área geográfica ("ocidentais") ou a um
grupo étnico. Alguns amorreus eram nômades, mas já havia cidades-estado dos amorreus na Síria, desde o final do terceiro milénio. Os cananeus eram os principais habitantes das cidades fortificadas da terra, embora nada indique que fossem nativos dali. Os reis dessa área re ferem -se a si m esm os nas cartas de *A m am a (meados do segundo milênio) como kinanu, um termo também usado nas inscrições egípcias desse período. Também existem registros no Egito sobre a população de Canaã. Uma lista de prisioneiros de uma campanha m ilitar de Amenotep II (século quinze) relaciona diversos povos cananeus: os apiru (povo sem terra ou sem posses), os shasu (povos nômades relacionados a grupos bíblicos como os midianitas e amalequitas) e os hurru (hurrianos).13.33. como gafanhotos. Era costum e usar um animal como metáfora para fazer uma comparação exagerada quanto a tamanho. Como os gafanhotos eram comestíveis, a m etáfora acrescenta a perspectiva assustadora de que eles poderiam ser "devorados" pelos cananeus. No épico *ugarítico de *Keret, um exército é comparado a um a nuvem de gafanhotos para indicar o vasto número de soldados.13.33. g igantes. A palavra traduzida como "g igantes" no original é "nefilins", também mencionada em Gênesis 6.4, mas as duas referências oferecem pouca informação a respeito de sua identidade. Alguns acreditam que os guerreiros m encionados em Ezequiel 32.27 tam bém sejam um a referência aos nefilins. As
interpretações m ais tradicionais -(intertestamentárias) dividem-se entre considerá-los gigantes, heróis ou anjos caídos.
14.1-45A revolta do povo14.6. rasgar as vestes. Além de jogar cinzas na cabeça, rasgar as vestes era um a forma comum de manifestar luto no antigo Oriente Próximo. Um exemplo fora da Bíblia pode ser encontrado no épico *ugarítico de *A qhat (por volta de 1600 a.C.) em que a irm ã do herói rasga as vestes de seu pai, à medida que prediz
uma seca iminente. Esta atitude muitas vezes era um sinal de dor pela m orte de um parente, am igo ou pessoa de destaque (2 Sm 3.31), mas também era sinal de vergonha (como nesse caso) ou de perda da honra ou posição (2 Sm 13.19).14.8. m anam leite e mel. Ver comentário em 13.27.14.13-16. a proteção divina e suas im plicações. Eracomum aos povos do antigo Oriente Próximo a crença em deuses protetores. Cada cidade tinha uma divindade protetora (p. ex., *M arduque, na Babilônia) e muitas profissões recebiam ajuda especial de suas divindades protetoras. Isso, porém , significava que,
quando cidades ou grupos guerreavam entre si, seus respectivos deuses tam bém se juntavam à batalha. Com o conseqüência , o deus (ou deuses) do lado perdedor ficava desacreditado e muitas vezes era abandonado por seus adoradores. Desse m odo, a oração de Moisés a Yahw eh implica o reconhecimento de Deus como protetor dos israelitas e a crença na promessa de terra e descendência que Ele lhes fizera. Se Yahweh destruísse os israelitas no deserto por causa de sua desobediência, as nações ao redor poderiam interpretar como se Deus tivesse fracassado em cum prir suas promessas.
14.25. inform ações geográficas. Essas instruções ordenam aos israelitas, que estavam com m edo de dirigir-se ao norte para tomar Canaã, que sigam em direção ao sul, saindo de Cades, no deserto de Parã e indo
para a região de Elath, no golfo de Ácaba. A referência a Yam Suph nesse versículo não diz respeito ao m ar V erm elh o e sim , com o em N ú m eros 21 .4 e
Deuteronômio 1.40; e 2.1, ao golfo de Ácaba na costa leste da península do Sinai.14.36-38. destino dos espias. Inicialmente, Deus ficou tão irado com a murmuração dos israelitas que condenou todos à morte através de uma praga (v. 12). No entanto, depois que M oisés pediu a Yahw eh que ti
vesse m isericórdia, essa sentença foi alterada, e só iriam morrer sem poder ver a Terra Prometida aqueles que haviam sido infiéis no deserto. Som ente os espias que apresentaram um relatório pessimista, questionando o poder de Deus, morreram imediatamente vítimas da praga. O termo traduzido como "praga" é
bastante vago para ser identificado a um a doença específica, embora alguns consideram a possibilidade de se tratar de peste bubônica. No Antigo Testamento, geralm ente a praga era um castigo de D eus por profanação grave e blasfêmia.14.45. H orm á. "H orm á" tem um duplo significado aqui. No hebraico, significa "destruição" e foi o que aconteceu aos israelitas que haviam desobedecido a
Deus. Também é um termo geográfico para um lugar que fica doze quilômetros a leste de Berseba, identificado com Tell M asos (Khirbet el-Meshash).
15.1-31Ofertas suplementares15.1-31. elem entos gerais do sistem a sacrific ia l. Osistema sacrificial de Israel envolvia tanto as ofertas voluntárias como as obrigatórias, e am bas se aplicavam a toda a comunidade israelita e tam bém aos estrangeiros que viviam entre eles. Os sacrifícios obrigatórios, levados ao templo ou santuário e queimados sobre o altar pelos sacerdotes, incluíam porções das colheitas (cereais, frutas, azeite e vinho) assim como
dos rebanhos. Um a porção de cada oferta era designada para uso e m anutenção da comunidade sacerdotal. Alguns sacrifícios eram expiatórios e com o objetivo de atenuar pecados específicos ou infrações da lei, servindo também como parte do *ritual de purificação para as pessoas que tivessem tido contato com elem entos im puros (cadáveres, pessoas enfermas, fluidos corporais). Os sacrifícios voluntários eram oferecidos como prova de generosidade e como gratidão por um motivo particular de regozijo (casamento, nascim ento de um filho, colheita especialmente abundante). Ao contrário dos sacrifícios oferecidos aos deuses em outras regiões do antigo Oriente Próximo, as ofertas dedicadas a *Yahweh não se destinavam a alimentar a divindade (note, sobre esse assunto, os deuses fam intos no final da h istória do dilúvio no épico babilónico de *Gilgamés). Os sacrifícios deveriam ser apresentados de form a ritualm ente correta ("arom a agradável ao Senhor") a fim de se obter as bênçãos ou o favor de Deus. Para m ais inform ações, ver os com entários no início de Levítico.15.22-26. pecados involuntários. Transgressões não intencionais da lei também exigiam purificação. Por exemplo, no código de *Hamurabi, a pessoa que violasse por desconhecimento as leis acerca dos escravos, devia fazer um juram ento diante do deus para ser inocentado. No contexto israelita, toda a comunidade era considerada culpada pelos pecados cometidos sem intenção ou por omissão (geralmente envolvendo ’"rituais ou questões da lei). A comunidade era composta tanto dos israelitas como dos estrangeiros residentes entre eles. A infração podia tanto ser algo feito sem o
conhecim ento de que fosse um a violação da lei ou alguma confusão sobre o consumo de uma porção da carne ou da gordura sacrificial. Ao contrário de Levítico 4.13-21, porém, o sacrifício expiatório de um novilho não é chamado de oferta "pelo pecado" (de purificação). Em vez disso, é descrito aqui como uma "oferta queim ada", e tam bém era necessário o sacrifício de um bode como oferta de purificação (ver comentário em Lv 4.1-3).15.30. pecado deliberado. Contrastando com o pecado sem intenção, essa ofensa era cometida com pleno conhecimento das ações, representando uma atitude premeditada de desafio a Deus e à comunidade. Na lei *suméria, por exemplo, se um filho acusasse publicamente o pai, deveria ser deserdado e poderia ser
vendido como escravo. Semelhantemente, de acordo com a lei israelita, os atos criminosos deliberados não podiam ficar impunes, visto que representavam uma violação não somente das leis de Deus, m as também da *aliança coletiva, feita pela comunidade, de obedecer a esses estatutos. A expressão "terá que ser elimi
nado" envolve um castigo tanto por m ãos humanas com o divinas - talvez a aplicação da pena capital pelas autoridades e a extinção da descendência por meio da ação de Deus.15.30. insu lta o Senhor. A expressão "insulta o Senhor" tem o mesmo significado de "blasfem ar, zom
bar ou insultar a Deus a ponto de negar sua autoridade" e é citada apenas nesse versículo do Antigo Testamento. Esse tipo de atitude demonstra total desafio à lei e por causa do perigo que pairava sobre a comunidade, o transgressor deveria "ser eliminado do meio do seu povo". Isso pode implicar uma pena capital, mas provavelmente também um castigo vindo de Deus, eliminando a linhagem completa da fa
m ília da pessoa. U m exem plo da gravidade dessa ofensa pode ser encontrado no Cilindro de Ciro (por volta de 540 a.C.) que acusa o rei *babilônio Nabonido de não reconhecer a autoridade de *M arduk como deus da cidade; como conseqüência, o deus o abandonou e permitiu que os persas capturassem a cidade.
15.32-36 O castigo pela transgressão do sábado15.32-36. recolher lenha no sábado. Essa história apresenta um a *etiologia legal sobre a seriedade de se violar o sábado (recolher lenha, provavelmente para cozinhar, era um a transgressão de Êx 35.3) e serve de antecedente para futuras violações do sábado (ver as reform as civis de N eem ias em N e 13.15-22). O réu ficaria preso até que Deus lhes mostrasse o que deveria ser feito; no caso aqui relatado, a sentença divina foi o apedrejamento. As execuções, comunitárias ou não, deveriam ser feitas fora do acampamento, a fim de evitar a contaminação pelo contato com o cadáver.
15.37-41 As borlas das roupas15.37-41. as borlas das roupas. Todos os homens adultos israelitas receberam a ordem de costurar cordões azuis nas borlas de suas roupas como um memorial perpétuo dos mandamentos de Deus. O corante azul era extraído da glândula do molusco M urex trunculus e era m uito caro (ver com entário em 4.6). Bainhas decoradas eram comuns na moda do antigo Oriente Próximo, conforme m uitos relevos, pinturas e textos atestam. M uitas vezes o desenho da bainha indicava a posição ou ofício da pessoa. As borlas eram simbólicas e serviam como incentivo para atitudes corretas, e não como *amuletos para afastar o perigo ou a tentação. O cordão azul talvez servisse para demonstrar que cada israelita ocupava uma posição importante como m em bro de um Reino de sacerdotes (ver comentário em Êx 19.5, 6).
16.1- 17.13 A rebelião de Corá e a vara de Arão16.1-3. estrutura política tribal e de clã. Cada pessoa dentro da comunidade de Israel era identificada como membro de um a família, tribo ou clã particular. Essa m edida servia para organizá-los em grupos de parentesco (como os rubenitas, que se insurgiram contra M oisés) e tam bém como base para a indicação dos anciãos e m em bros do concílio, que representavam cada tribo e clã, auxiliavam na manutenção da ordem e ajudavam M oisés na adm inistração da justiça. As
rivalidades entre grupos tribais eram comuns. Nesse tipo de estrutura política, a lealdade ao grupo menor, ao qual eram unidos por laços de sangue, m uitas vezes superava a lealdade ao grupo maior. M esmo durante o período m onárquico, os reis tam bém enfrentaram esse tipo de lealdade dividida (2 Sm 20.1, 2; 1 Rs 12.16, 17).16.6,7. função dos incensários. Os incensários provavelmente eram uma espécie de panela com cabo comprido onde era colocado carvão em brasa. Serviam como altares portáteis, pois o incenso era, na verdade, queimado dentro deles. No Egito, os incensários eram usados para queimar incenso quando as pessoas queriam proteger-se de forças demoníacas. O incenso queimado purificava a área do altar e simbolizava a presença de Deus no local (ver comentários em Êx 30.7,8, 34-38). Moisés propôs um teste, ordenando que o rebelde Corá e seus seguidores oferecessem incenso a
Deus num incensário. Essa função era exclusiva dos sacerdotes e poderia representar perigo para qualquer pessoa, sacerdote ou leigo, que a executasse de maneira incorreta (Lv 10.1, 2).16.10. distinção entre levitas e sacerdotes. Os levitas eram responsáveis pelo tabernáculo e pelos recintos sagrados ao redor do altar. Deveriam também acompanhar os israelitas que se dirigiam ao tabernáculo levando suas ofertas para sacrifício, para evitar que violassem qualquer estatuto ou invadissem alguma área sagrada restrita aos sacerdotes. Os *rituais e sacrifícios eram realizados pelos sacerdotes sobre o altar. Tanto os levitas como os sacerdotes pertenciam à comunidade sacerdotal e recebiam uma porção das ofertas sacrificiais, no entanto, os sacerdotes tinham maior responsabilidade e controle sobre os atos *rituais. Na Mesopotâmia, também era comum entre os sacerdotes uma diferenciação nas funções e na autoridade.16.13,14. terra onde m anam leite e m el. A expressão "terra onde manam leite e m el" tom ou-se sinônimo da terra prometida. Fazia parte da promessa da *ali- ança e foi usada aqui para contrastar com os tempos difíceis no deserto. Era uma referência também à exuberância dos pastos que garantiriam boa produção de
leite nos rebanhos de ovelhas, cabras e gado. Ver também comentário em Êxodo 3.7-10.16.14. cegar os olhos. Essa expressão significa "enganar" ou "ilud ir". Os seguidores de Corá recusaram-se a participar de qualquer teste proposto por Moisés, cham ando-o de charlatão, que "ceg ara" as pessoas para obedecê-lo e segui-lo.16.28-30. m aldição. Para provar que sua autoridade vinha de Deus, Moisés pediu um a demonstração de poder semelhante às pragas no Egito. Os líderes rebeldes Data e Abirão, numa atitude de desafio, haviam se postado de pé diante de M oisés, juntam ente com suas famílias. Moisés precisava amaldiçoá-los de forma a não deixar dúvidas em relação ao fato de ele ser o líder escolhido por Deus. Moisés então pediu a Deus que abrisse a terra e arrastasse para o Seol aqueles hom ens e suas fam ílias. O m undo inferior, na tradição do antigo Oriente Próximo (nos épicos uga- rítico e mesopotâmico) muitas vezes é retratado como uma garganta aberta. Assim, ninguém poderia afirmar que os rebeldes foram engolidos e m ortos por um evento natural, como um terremoto. O destino deles estava selado e Moisés provou, por fim, ser um verdadeiro profeta.16.31-35. terrem oto e fogo com o castigo. Terremoto e fogo já causaram muitas mortes. Nesse caso, porém, os homens que se opuseram a Moisés e Arão foram consumidos, juntam ente com suas famílias, pela terra e por um fogo divino (o kabod de Deus, ou "glória"). Toda a comunidade de Israel testemunhou o evento, que confirmou a posição de M oisés como líder escolhido de Deus. O texto Lamento pela Destruição de Ur, da literatura mesopotâmica apresenta uma manifestação sem elhante da ira divina através de tempestade de fogo e terremoto. Um outro exemplo é o texto assírio de A ssurbanipal, em que a intervenção divina fez com que caísse fogo do céu e consumisse o inimigo. 16.47. incenso como propiciação. Aqui, a ira de Deus pela rebeldia do povo contra M oisés "exp lod e" na forma de uma praga. Moisés fez Arão queimar incenso, como um tipo de remédio *apotropaico (semelhante ao sangue aspergido nos batentes das portas durante a Páscoa, em Êx 12.7). Quando um sacerdote queimava incenso, o objetivo era obter propiciação pelos pecados do povo e proteger as pessoas da ira de Deus. Entretanto, o meio mais comum de expiação era através do sacrifício de sangue (ver Lv 17.11). Entre os egípcios, o incenso era usado para afastar poderes sobrenaturais hostis; assim, os incensários eram carregados nas procissões cultuais. Há descrições de uso de incensários em *rituais realizados quando uma cidade estava sitiada por inimigos.16.47-50. natureza da praga. A praga, que dizimou 14.700 pessoas, assumiu a forma do "A n jo D estrui
dor" que eliminou os primogênitos no Egito. Seu poder era tão devastador que M oisés ordenou a Arão que passasse com um incensário queimando entre os mortos e moribundos, para evitar m aior destruição. Esse é um fato extraordinário, visto que os sacerdotes normalmente não podiam ter contato com cadáveres. Aparentemente, essa era a única maneira de conter a praga. É im possível determ inar com exatidão qual seria essa praga pelas informações do texto (ver com entário em 25.8).17.2-7. vara como sím bolo de liderança tribal. A vara era usada pelos pastores para conduzir seus rebanhos. Nas mãos de um ancião ou líder tribal, a vara (provavelmente com entalhes distintivos, indicando a quem pertencia) era um símbolo de autoridade (ver Gn 38.18). Ao escrever nas varas o nome de cada um dos doze líderes tribais e colocá-las diante da Tenda do Encontro, ficaria evidente qual delas floresceria sob o comando de Deus, confirmando assim o sacerdote cujo nome estivesse gravado nela. Esse método público de discernimento também é encontrado em Josué 7.14, 15 e 1 Samuel 10.20, 21.17.4-11. adivinhação com objetos de madeira. O m étodo usado para determinar quem seria o líder sacerdotal escolhido por Deus envolveu um tipo de *adivi- nhação (uso de objetos para descobrir a vontade de Deus). Esse método não deve ser confundido com as práticas de adivinhação condenadas em Oséias 4.12, envolvendo um ídolo de madeira ou um poste-ídolo (*Aserá). Aqui, cada líder tribal, inclusive Arão, recebeu a ordem para colocar sua vara na Tenda do Encontro. O texto contém um trocadilho com a palavra hebraica para vara, que tam bém significa "tr ib o ", sim bolizando a intenção de Deus em diferenciar os líderes das tribos, destacando um dentre eles. Esse evento nunca mais é repetido, portanto, não faz parte de um *ritual cultual. Quando a vara de Arão brotou, sua autoridade foi comprovada e não se permitiu nenhuma discussão sobre o assunto. Relatos de práticas de adivinhação na proxim idade de árvores podem ser encontrados em Juizes 9.37, na menção ao carvalho dos adivinhadores e em Juizes 4.4, 5 referindo-se à palmeira de Débora. Textos *ugarí ticos também mencionam o uso de árvores em certos rituais.17.8. significado das am êndoas. A vara de Arão brotou, produziu flores e amêndoas maduras. Todo esse processo criativo representava o poder de Deus sobre a criação, a abundância e fertilidade da terra prometida (ver G n 43.11) e a "d iligência" (significado da palavra hebraica saqed, "am êndoa") que se esperava do sacerdócio de Arão. Em Jeremias 1 .11 ,12 , o ramo de um a am endoeira sim boliza o cuidado de D eus sobre Israel. A amêndoa era considerada a primeira planta a florir na região (p. ex., na Sabedoria Egípcia
de *Ahiqar), o que poderia representar a primazia do cargo de Arão.
18.1- 32Direitos e deveres dos sacerdotes e levitas18.1-7. conceito de am biente sagrado e cuidados em relação a ele. O centro do espaço sagrado era o Lugar Santíssim o, onde ficava a arca. Partindo desse ponto, ficavam as zonas concêntricas de santidade, cada uma exigindo determinado nível de *pureza. U m a das principais tarefas dos sacerdotes era fazer com que se cumprissem as regras que m anteriam o nível apropriado de santidade e *pureza de cada zona. Visto que toda a tribo de Levi fora separada para servir no sacerdócio, era preciso estabelecer deveres e responsabilidades e criar uma hierarquia dentro do grupo encabeçado por Arão e seus filhos. Todos os levitas eram encarregados de cuidar da família de Arão; era dever deles fazer as tarefas seculares necessárias à manutenção da Tenda do Encontro, tomar conta dos recintos sagrados e auxiliar os adoradores que levavam suas ofertas para o sacrifício. No entanto, ninguém, exceto Arão, seus filhos e os descendentes deles, tinha realm ente perm issão para apresentar sacrifícios ou m inistrar diante da arca do testemunho. Qualquer violação dessas restrições acarretaria na morte tanto do levita como de Arão. Se alguma pessoa que não pertencesse à tribo de Levi entrasse nos recintos proibidos do santuário seria condenada à morte. Através dessas restrições à comunidade e das pesadas responsabilidades impostas à família de Arão, o mistério e o poder relacionados ao serviço de Deus e tudo que dizia respeito a isso, eram engrandecidos e protegidos.18.8-10. porções sacrificiais. As porções sacrificiais mais sagradas eram reservadas ao consumo de Arão e seus filhos, como recompensa por suas pesadas responsabilidades. Essas porções consistiam de alguns itens que eram levados aos recintos mais sagrados da Tenda do Encontro (ver Lv 6.1-7.10). Esse alimento não podia ser compartilhado por suas famílias, como acontecia com outras porções, mas devia ser comido pelos sacerdotes que estavam ritualmente puros e, portanto, santos o bastante para consum ir dádivas sagradas. Essas porções incluíam as ofertas de cereais e as ofertas pelo pecado e pela culpa, algumas das quais deviam ser queimadas no altar, e o restante destinado ao alimento sagrado dos sacerdotes. O s textos sagrados hititas também demonstram uma preocupação acerca do "alim ento oferecido aos deuses" consum ido por príncipes e funcionários seculares. A propriedade sagrada também era considerada com seriedade na lei mesopotâmica, com imposição de penas severas (multas pesadas ou pena capital) para quem roubasse algo que pertencia ao templo.
18.11. ofertas m ovidas. D ando continuidade à lista de porções sacrificiais separadas para os sacerdotes e suas famílias estão as ofertas movidas. Os elementos dessa oferta eram levados ao santuário e oferecidos num *ritual especial de elevação, diante do altar (ver comentário em Lv 8.22-30). N em todas as ofertas movidas estão incluídas aqui, visto que algumas eram totalmente consumidas pelo fogo (Êx 29.22-25) e outras reservadas exclusivam ente aos sacerdotes (Lv14.12-14).18.12-19. prerrogativas dos sacerdotes. A lista dos elem entos separados perpetuam ente para uso dos sacerdotes e de suas famílias (com exceção das noras e dos trabalhadores) termina com os primeiros frutos da colheita (cereais, óleo e vinho) e a carne dos animais primogênitos. Algumas regulamentações foram impostas. Animais impuros podiam ser resgatados por um preço estipulado por seus proprietários, e bebês podiam ser resgatados por seus pais (ver Êx 1 3 .12 ,13 ; 34.19, 20). Todo sangue, gordura e certos órgãos internos deviam ser queimados sobre o altar como uma oferta de comunhão (ver Lv 3.9; 7.3). Visto que as partes desses animais continham a essência sim bólica da vida, era adequado que fossem dadas inteiramente a Deus e não separadas para o consumo dos sacerdotes.18.16. siclo do santuário. O peso do siclo usado no resgate de crianças e de anim ais im puros era equivalente a vinte geras de prata (11,5 gram as). Esse valor passou a ser pago na forma de moeda somente a partir do século quarto a.C.. Sobre considerações a respeito do peso do siclo, ver comentário em Êxodo30.13.18.19. aliança de sal. O sal era usado freqüentemente como símbolo de preservação. Quando se faziam tratados ou alianças, o sal era empregado como sinal de que as condições seriam mantidas por um longo tempo. Seu uso simbólico é comprovado também em contextos *babilônicos, persas, árabes e gregos. D a m esm a forma, na Bíblia a *aüança entre Deus e Israel é descrita como uma aliança de sal - um a aliança que seria preservada por muito tempo. As partes envolvidas num acordo geralmente compartilhavam de uma refeição em que constava carne salgada. Assim, o uso de sal no sacrifício era um m em orial adequado do relacionamento da aliança. Além disso, o sal impedia a ação do fermento (lêvedo), e como o lêvedo era um símbolo de rebeldia, o sal poderia facilmente representar aquilo que inibe a rebeldia. (Ver Lv 2.13.)18.21-32. dízimo como pagam ento aos sacerdotes no antigo O riente Próxim o. Ao que tudo indica, a prática de destinar um décimo da produção (cereais, frutos e animais) como salário para os sacerdotes era exclusiva dos israelitas. Embora os templos mesopotâmicos cobrassem aluguéis dos agricultores que arrendavam
suas terras, essa taxa não podia ser estendida a toda a população. Como resultado, a renda necessária para a manutenção do templo e do sacerdócio vinha de suas próprias terras e de presentes oferecidos por indivíduos e pela realeza. Os reis do Egito e da Mesopotâmia tam bém possu íam terras de onde obtinham seus proventos, porém, sem o mesmo significado do dízimo. N a cultura cananéia o dízimo era bastante semelhante ao de Israel, mas era destinado ao rei e aos funcionários reais e não ao sacerdócio, embora os sacerdotes, às vezes, fossem incluídos entre os funcionários administrativos. Uma vez que os levitas não haviam recebido nenhum a porção de terra na distribuição feita após a conquista, eles tinham de ser sustentados pelo povo, através do dízimo. D eve ser m encionado, no entanto, que os levitas também pagavam o dízimo de tudo que recebiam a Arão e sua fam ília, o que demonstrava um a clara distinção entre os levitas e os sacerdotes.
19.1-22A cerimônia da novilha vermelha19.2-10. significado da novilha verm elha. O animal designado para esse sacrifício, cujo sangue seria misturado às cinzas para servir como purificação das pessoas que tivessem tido contato com os mortos, era uma novilha. A cor verm elha poderia sim bolizar o sangue, mas não se pode afirm ar com certeza. A idade exata do animal não fica clara no hebraico, mas o fato de que não poderia ter puxado um arado, nem feito qualquer tipo de trabalho, sugere que tivesse acabado de alcançar a m aturidade. A s vacas am arradas pelos filisteus à carroça em que a arca foi depositada, em 1 Sm 6.7 talvez sejam um exem plo disso. Elas eram adequadas para o sacrifício e assim, poderiam ser usadas nesse teste que revelaria o propósito divino quanto aos filisteus. O caso de um homicídio cujo autor era desconhecido, em Deuteronômio 21.1-9 também exigia o sacrifício de um a novilha e o uso de seu sangue num *ritual de purificação. O sangue e a inocência do anim al eram os elem entos-chave para a purificação.19.2-10. ritual da novilha verm elha. A fim de fazer a m istura necessária para purificar a pessoa contaminada pelo contato com cadáver, a lei exigia que uma novilha verm elha, sobre a qual nunca tivesse sido colocada um a canga, fosse levada para fora do acampamento e sacrificada por Eleazar, filho de Arão. Cabia a Eleazar oferecer esse sacrifício, pois, de outro modo, Arão, o sumo sacerdote, se contaminaria com o cadáver do animal. Eleazar aspergia parte do sangue sete vezes em direção à Tenda do Encontro e, enquanto a novilha era queim ada, atirava ao fogo m adeira de cedro, h issopo e lã verm elha. A s cinzas eram
m antidas fora do acampamento para serem usadas posteriormente em *rituais de purificação. Quem tomasse parte nessa cerimônia era considerado impuro até o entardecer, mesmo depois de ter se banhado e lavado suas vestes. Comparações com rituais *hititas permitem concluir que esse ato ritual, juntam ente com os elem entos preparados para a purificação das pessoas, causava um estado temporário de *impureza ao sacerdote.19.11. contam inação ritual pelo contato com cadáver.O *culto aos mortos era uma prática bastante difundida no antigo Oriente Próximo. Embora não existisse um conceito bem definido sobre a vida após a morte nem na M esopotâm ia, nem no antigo Israel, ainda assim acreditava-se que os espíritos dos mortos podiam afetar os vivos. Por exemplo, em textos hititas o medo parece decorrer do receio de comparecer "im p u ro" diante dos espíritos dos m ortos, exatam ente como aconteceria diante de um deus. D esse modo, eram feitas oferendas nas tumbas dos antepassados, mas parece que a contaminação pelo contato com ca
dáveres não era um a preocupação dos *hititas. Por outro lado, o *ritual mesopotâmico namburbi evidencia um temor significativo de contaminação com cadáveres. Talvez a preocupação fosse em relação à m istura das duas esferas da existência: dos vivos e dos mortos. A pessoa se contaminava quando entrava em contato com um cadáver, humano ou animal. A purificação era necessária para que aquela pessoa não infectasse outras ou a com unidade inteira com sua *im pureza. Os rituais bíblicos de purificação talvez
sejam os mais detalhados dentre os rituais desenvolvidos no antigo Oriente Próximo, embora os rituais hititas tam bém incluíssem banhos, sacrifícios e um período de exclusão.19.17-19. ritu al de pu rificação . Para purificar uma pessoa contam inada pelo contato com cadáver, um homem cerimonialmente limpo deveria pegar as cinzas da novilha verm elha, m isturá-las com água de um a fonte ou ribeiro corrente e aspergi-la sobre a pessoa impura com um galho de hissopo. O uso do hissopo se deve ao fato de seus galhos fibrosos absorverem líquidos. A aspersão deveria acontecer no terceiro e no sétimo dia (esses dois números primos eram
freqüentemente usados em *rituais e narrativas), sendo que nesse último, a pessoa impura se purificava tomando um banho e lavando suas roupas. Naquela tarde seria considerada ritualmente pura novamente. Assim , não haveria m istura de puros e im puros na comunidade, e esta se manteria no ideal de pureza digno para servir a Deus.
19.20, 21. água da purificação. A mistura das cinzas da novilha sacrificada com a água de um a fonte ou
ribeiro corrente era chamada de "água da purificação". Deveria ser aspergida sobre a pessoa impura como parte do *ritual de purificação. Os textos rituais hititas também se referem à água como meio para remover *impurezas reais ou apenas aparentes. Porém, a mistura descrita em Núm eros tam bém tom ava impura até o entardecer a pessoa que fazia a aspersão. Esse estado de impureza baseava-se na associação que havia entre o propósito da m istura e a contaminação transferida aos ingredientes sacrificiais.
20.1-13 As águas de Meribá20.1. n ota cron ológ ica . A esta altura, os quarenta anos de peregrinação no deserto estavam chegando ao fim e os remanescentes do êxodo que ainda estavam vivos tinham de sair de cena, visto que não tinham perm issão para entrar na terra prom etida. Assim, no primeiro mês do quadragésimo ano, Miriã, irm ã de M oisés, m orreu, m arcando a transição da liderança que culminaria na morte de Arão, no quinto mês (Nm 33.38).20.1. deserto de Z im . O deserto de Zim fica ao norte do deserto de Parã: Em bora sua exata localização seja desconhecida, é mencionado como a fronteira ao sul da terra prom etida (Nm 3 4 .3 ,4 ; Js 15 .1 ,3 ). Cades, o oásis onde os israelitas passaram um período considerável de tem po, fica no deserto de Zim (ver caps. 13 e 14).20.6. a glória do Senhor lhes apareceu. Em tempos de crise, M oisés e Arão buscavam a Deus para receber orientação e ajuda. Aqui, eles foram até a entrada da Tenda do Encontro e prostraram-se com o rosto no chão. Em resposta à sua súplica, feita em hum ilde submissão, a glória de Deus (kabod) apareceu e lhes ofereceu uma solução (ver situações semelhantes em Nm 145-12; 16.19-22). A manifestação física da aura ou do poder de uma divindade era comum nos épicos mesopotâmicos, em que era descrita como a melammu
do deus, e podia ser usada como recurso para derrotar o inimigo (como na luta de *M arduk com *Tiamat, no
texto *Enuma Elish).20.1-13. água da rocha. Sabe-se que as rochas sedi
mentarias abrigam bolsões de água um pouco abaixo da superfície. Q uando ocorre algum vazam ento, é possível localizar esses bolsões e, rompendo a camada de pedra da superfície, chegar até o reservatório de água. Porém, a quantidade de água m encionada no texto é muito maior do que a que poderia ser obtida dessa forma.20.13. águas de M eribá. As águas de M eribá mencionadas em Êxodo 17 ficavam nas proximidades do Sinai, mais especificamente em Refidim. Nesse relato, elas se localizam em Cades, cerca de 240 quilôm etros a
nordeste de Refidim. No entanto, essas também são águas de "rebelião" (meribah), exatam ente com o as outras.
20.14-21 Edom nega passagem a Israel20.14-21. Edom na Idade do Bronze Posterior. Edom era o território que se estendia do m ar Morto até o golfo de Ácaba. Recentemente, pesquisas arqueológicas descobriram um a pequena quantidade de cerâmica do período do Bronze *Posterior, em num erosas ocupações nessa região, m as não foram encontrados vestígios ou ruínas de construções, nem registros escritos. O s egípcios referiam -se à população nômade dessa região como os "sh o su ", em bora esse term o talvez se refira à classe social, e não à origem étnica do grupo.
20.22-29 A morte de Arão20.22-26. m onte Hor. Lugar da morte de Arão (embora Dt 10.6 m encione M oserá como local de sua morte). Tradicionalm ente localizado nas proxim idades de Petra, em Jebal Nabi Harum, apesar desse lugar não estar "n a fronteira de Edom ". Outra possibilidade é que esteja em Jebal M adrá, a oeste de Cades e perto da fronteira de Edom, m as ali não há fontes de água suficientes.20.29. trinta dias de luto. O período norm al de luto erade sete dias (Gn 50.10; 1 Sm 31.13). No entanto, como demonstração da importância tanto de Moisés (Dt 34.8) como de A rão, eles foram pranteados durante trinta dias. A ocasião tam bém foi marcada pela transferência de liderança: Eleazar passou a usar as vestes de seu pai e o sucedeu como sumo sacerdote (Nm 20.26) enquanto que Josué sucedeu a M oisés (Dt 34.9).
21.1-3 A destruição de Arade21.1-3. Arade. O lugar identificado como A rade era uma cidade murada da Idade do Bronze *Antiga (primeira m etade do terceiro milênio), bem antes da época de Abraão, que teve um importante papel na indústria de cobre que se desenvolvia na península do Sinai. A segunda cam ada de ocupação identificada pelos arqueólogos está relacionada à Idade do Ferro * Antiga (período dos juizes). Nessa camada foram encontradas diversas cidadelas e até mesmo um templo, que remontam ao período de Salomão. Visto que não há sinais de ocupação durante o período do êxodo e da conquista, alguns arqueólogos têm sugerido que a Arade do período cananeu é a localidade identificada hoje como Tell M alhata, cerca de treze quilômetros a sudoeste do lugar hoje conhecido como Arade. Inscri
ções egípcias do século dez identificam duas cidades com o nome de Arade.21.1. Atarim . Essa palavra é desconhecida, e pode se referir tanto a um lugar com o a um a profissão (a Septuaginta e a versão King Jam es traduzem como "esp ias"). É bem provável que esteja relacionada a uma região bem ao sul do m ar Morto, possivelmente a localidade de Tamar. Foi nesse lugar que os israelitas foram atacados pelo exército do rei de Arade.21.3. H orm á. Essa palavra hebraica significa "d e struição". Aqui é o nome dado a um lugar para comem orar a vitória israelita. O povo de Israel havia feito um voto de destruir totalmente as cidades cananéias daquela área e dedicar os despojos ao santuário, se Deus lhes desse a vitória. Esse termo é semelhante ao *herem, "guerra santa", declarada contra Jericó (Js 6.171 9 ,24). Como nome geográfico refere-se a um a localidade doze quilômetros a leste de Berseba, identificada por alguns como Tell M asos (Quibrote el-Meshash).
21.4-9 A serpente de bronze21.4. itinerário. Os israelitas m archaram em direção ao sul, desde o m onte Hor, na fronteira de Edom, para Elá, na extremidade norte do golfo de Ácaba. Pesquisas arqueológicas sugerem que os edomitas não haviam se propagado por essa região até a época de Salomão (século dez a.C.).21 .6 ,7 . serpentes. Não é possível identificar essas serpentes de form a clara, m as possivelm ente seria um tipo de víbora do deserto. O fato de serem caracterizadas como "abrasadoras" ou "alad as" pode estar relacionado à rapidez com que davam o bote (Dt 8.15). Para inform ações gerais, ver com entário em Gênesis 3.1.21.8, 9. serpente de bronze num poste. N a verdade, o term o hebraico indica que era um a serpente de "cobre". O bronze, uma liga de cobre e estanho, era fundido na região de Timná, onde ocorreu esse fato e assim, a tradução aqui leva em conta o contexto físico. Um templo egípcio dedicado ao deus Hathor foi desenterrado em escavações nessa área e durante o período dos juizes esse templo passou a ser usado pelos m idianitas da região, que o transform aram em um santuário fechado por cortinas. Numa câmara interna desse templo, foi encontrada a im agem de um a serpente de cobre com 13 centímetros de comprimento. N o antigo Oriente Próximo havia a crença de que a im agem de um objeto ou de um ser tinha o poder de proteger as pessoas do que ela representava. Por essa razão, no Egito era comum que as pessoas (vivas ou mortas) usassem *amuletos com o formato de serpentes como forma de se protegerem das serpentes verdadeiras. Finalmente, é interessante notar que uma vasilha de bronze encontrada em *Nínive com nomes
hebraicos gravados contém a figura de uma serpente alada presa a um tipo de poste.
21 .10-20A viagem para Moabe21.10-20. itin erário . A lista com pleta dos locais de parada durante o percurso até Moabe encontra-se em Números 33.41-48. Várias cidades são desconhecidas, tornando difícil a identificação por m eio de evidências arqueológicas. No entanto, inúmeras localidades mencionadas nessa passagem também aparecem em m apas egípcios e itinerários desse período. O vale de Zerede é hoje o uádi el-Hesa e o rio A m om atravessa o uádi el-Mojib; os dois rios correm na direção leste- oeste; o primeiro desembocando na extremidade sul do mar Morto e o último no meio do lado oriental.21.14. Livro das Guerras do Senhor. Ao compilar a história e as tradições da conquista, os escritores bíblicos recorreram a diversas fontes, tanto escritas como orais. Dentre as fontes escritas se encontram o Livro de Jasar (ver Js 10.13; 2 Sm 1.18) e o Livro das Guerras do Senhor. Baseado nos três fragmentos desses docum entos citados na Bíblia pode-se afirm ar que eram compostos principalmente de canções de vitória e de histórias dos atos poderosos de D eus e dos líderes, durante o período de form ação da nação de Israel. Infelizm ente, nenhum desses livros foi preservado, mas sua menção no texto bíblico indica que a narrativa era baseada, pelo menos em parte, nas memórias culturais.
21.21-35 Seom e Ogue21.21. am orreus. Os *amurru, ou amorreus da Meso- potâm ia form avam um im portante grupo étnico do período posterior a 2000 a.C. e são m encionados nos textos de *Mari e nos documentos administrativos de *Hamurabi, durante o século dezoito a.C., na M esopo- tâmia. Registros egípcios os descrevem como um dos muitos reinos existentes durante o século catorze a.C., na área sul do rio Orontes e na Transjordânia. Seu controle efetivo sobre a região da Transjordânia pode estar associado ao conflito entre o Egito e o império hitita. A batalha inacabada de Cades (cerca de 1290a.C.) entre essas duas potências abriu um a oportunidade política temporária para o controle dos amorreus, mas a chegada dos povos *marítimos, em 1200 a.C., causou mais tarde um a divisão na região. Na Bíblia, a palavra amorreus é um termo étnico usado para designar os reinos de Seom e Ogue (Nm 21.21, 33), e tam bém os habitantes de Canaã (Gn 15.16; Dt 1.7).21.23. Jaza. O local da batalha entre Israel e o exército de Seom, rei dos *amorreus, é descrito como Jaza. Sua localização provável, de acordo com o historiador
Eusébio (quarto século d.C.), é entre os territórios de M adaba e Dibom, em Quibrote Medeiniyeh, no lado leste de Moabe, perto do uádi al-Themed. A batalha tam bém é mencionada em Deuteronômio 2.33 e Juizes11 .20 .
21.24-30. terra tom ada. A área cen tral da T ran sjordânia, descrita aqui como os reinos de Seom e Ogue, estende-se desde o vale do rio A m om , no sul, até o rio Jaboque, no norte. É bem provável que, por essa época esses "reinos" não fossem estados organizados; ao conquistá-los, os israelitas garantiram passagem, sem que as tribos efetivamente tomassem controle e ocupassem essa região.21.25-28. H esbom . O lugar atualmente cham ado de Tell-Hesbam localiza-se a oitenta quilômetros a leste de Jerusalém. Entretanto, os arqueólogos não conseguiram detectar nenhuma evidência de que essa localidade tenha sido ocupada antes de 1200 a.C.. Alguns estudiosos suspeitam que a cidade de H esbom , da Idade do Bronze *Posterior, talvez ficasse em outro local, e Tell Jalul pode ser um a possibilidade. Pesquisas e escavações recentes nessa região têm revelado grande quantidade de cerâmicas da Idade do Bronze *Posterior, m as ainda -é difícil identificar o tipo de ocupação desse período.21.29. Cam os. O deus m oabita *Camos, mencionado nesse "cântico de afronta" de Israel em comemoração à vitória contra os reis Seom e Ogue, da Transjordânia, tam bém é citado em um a inscrição m oabita do rei M esha (ver tam bém Jz 11.24; 1 Rs 11.7) do século nono a.C.. Por ser a divindade nacional de Moabe, Camos opunha-se a *Yahweh, assim como Moabe se opunha a Israel. O *culto dedicado a Cam os tinha semelhanças com a adoração de Yahweh, e seus atributos (aquele que dá a terra ao seu povo e conquista a vitória nas batalhas) também eram parecidos. Talvez Isso seja um indício de que os povos do antigo Oriente Próximo tinham expectativas bastante similares em relação a seus deuses. O nome do deus Camos apareceu pela primeira vez num a lista de deuses de Ebla, no norte da Síria (c. 2600-2250 a.C.) e pode ter sido adorado também na Mesopotâmia e em *Ugarite como um a divindade relacionada à argila e tijolos de barro.21.30. área de destruição. Hesbom, ao norte e Dibom, ao sul, eram as principais cidades da área setentrional de Moabe (norte do rio Am om ). Sobre Hesbom, ver comentário anterior neste capítulo. Dibom é a atual Dibam, apenas dois ou três quilômetros ao norte de A m om (uádi al-Mujib). No século nono a.C. era uma das cidades reais de Mesha, com grande destaque nas inscrições de M esha encontradas ali. A falta de evidências da Idade do Bronze *Posterior nessa localidade levanta a questão se a antiga cidade ficava em
Dibam ou em algum outro lugar ali perto. O fato da cidade de D ibom tam bém constar do itinerário de Ramsés II m ostra que existiu uma cidade nesse período com esse nome. Nofá não pôde ser identificada até hoje e m esm o a pronúncia do nom e é incerta. M edeba era a cidade principal na região central do norte de Moabe e tem sido identificada com a atual cidade homônima. As escavações no local são limitadas, pois a moderna Medeba localiza-se sobre o sítio arqueológico.21.32. Jazar. Esse nome geográfico é relacionado tanto a uma cidade como a uma região, incluindo aldeias ou "filhas". Embora sua localização seja controversa, o mais provável é que seja Quibrote Jazzir, vinte quilômetros ao sul do rio Jaboque. Esse local funcionou como posto m ilitar avançado na fronteira com Amom e representou o avanço oriental do exército de Israel.21.33. Basã. Após derrotar Seom , os israelitas viajaram em direção ao norte, até a região de Basã (conhecida hoje como planalto de Golan), limitada ao norte, pelo m onte H erm om , a leste, por Jebel D ruze e a oeste, pelo m ar da G aliléia, onde derrotaram o rei Ogue, em Edrei (moderna Der a, cerca de cinqüenta quilômetros a leste do m ar da Galiléia). É uma ampla e fértil região de planalto conhecida por suas pastagens (SI 22.12; A m 4.1-3). Ver comentário em Deute- ronômio 3 para mais detalhes.
21.33. Edrei. Os israelitas derrotaram Ogue, o rei dos *amorreus, em Edrei, na fronteira sudeste de Basã. O local é identificado como a moderna D er'a, na Síria, cerca de cem quilômetros ao sul de Damasco e cinqüenta quilômetros a leste do m ar da Galiléia, perto do rio Iarmuque. Embora não tenham sido feitas escavações arqueológicas no local, essa cidade também é mencionada em textos egípcios antigos e de *Ugarite.21.33. O gu e. O gue, rei dos *am orreus, de Basã, é mencionado como o último dos refains ou gigantes, cuja "cam a era feita de ferro e m edia quase quatro m etros de comprim ento e dois de largura" (ver comentário em Dt 3.11). Não há nenhuma informação histórica adicional sobre esse indivíduo. Essa vitória foi celebrada muitas vezes na tradição israelita e está registrada tam bém em Deuteronômio 1.4; 3.1-13; 4.47; 29.7; 31.4; Josué 2.10; 9.10; 1 Reis 4.19.
22.1- 24.25 Balaão e Balaque22.1. cam pinas de M oabe. Trata-se da região de estepe ou da extensa planície imediatamente ao norte do mar M orto e a leste do rio Jordão, exatamente do lado oposto à "planície de Jericó" (Js 4.13). Essa região serviu como ponto de partida do povo de Israel para a entrada na terra de Canaã.
22.2. Balaque de M oabe. Balaque, rei de Moabe, não é m encionado em outras fontes históricas. De fato, pouco se sabe da história de Moabe, além das informações presentes na Inscrição de Mesha, referente ao nono século. E importante lembrar que, nesse período, o título de rei era usado para designar governantes de vastos im périos e também, como parece nesse caso, governantes menores ou líderes tribais.22.4-7. m idianitas. Os midianitas eram um povo que habitava a região sul da Transjordânia. São apresentados como descendentes de Abraão e Quetura (Gn25.1-4) e aparecem como mercadores em um a caravana, na narrativa de José (Gn 37.25-36). Após fugir do Egito, Moisés juntou-se ao clã m idianita de Jetro (ver com entário em Êx 2.15), m as os m idianitas não se ju ntaram aos israelitas na conquista de Canaã. No episódio de Balaão, os anciãos midianitas aliaram-se aos m oabitas e participaram da negociação com o profeta para amaldiçoar Israel.22.4-20. Balaão em D eir Alá. Em 1967, uma expedição arqueológica holandesa, liderada por H. J. Franken descobriu alguns fragmentos de gesso com inscrições, numa localidade da planície do Jordão conhecida como D eir 'Alá. Aparentem ente, as inscrições estão escritas em *aram aico e rem ontam ao ano 850 a.C.. N elas há m enção a Balaão, filho de Beor, a mesma pessoa descrita com o "v id en te" em N úm eros 22-24 . Em bora o texto esteja bastante fragmentado, com muitas lacunas e palavras imprecisas, pode-se afirmar que Balaão era um v id ente que recebeu um a m ensagem divina durante a noite, m as essa m ensagem não era exatam ente o que seus vizinhos esperavam ouvir. Não é possível afirmar com certeza que esse texto refere-se aos eventos descritos na Bíblia, porém, esse relato deu origem a um a tradição não bíblica, corrente no século nono, da existência de um profeta cham ado Balaão. T alvez a fama de Balaão fosse tal que ele permaneceu como uma im portante figura profética durante séculos e assim , pôde ser identificado com as primeiras narrativas israelitas da conquista.22.5. Petor. O mais provável é que esteja se referindo a Pitru, localizada no rio Sajur, um afluente do alto E u frates, d istante cerca de v in te q u ilôm etros de Carquem is, no norte da Síria. Em N úm eros 23.7 é citado que Balaão foi levado de Arã, sendo assim, essa identificação parece correta. N o entanto, a distância envolvida (cerca de 640 quilôm etros) fez com que alguns considerassem Moabe, que é bem mais próxima, como a localização para Petor.22.6. Balaão como profeta. No texto de Josué 13.22, Balaão é apresentado como um "adivinho", enquanto que em Números 22.6 ele é considerado um homem capaz de proferir bênçãos e m aldições eficazes. Ele procedia da região da alta M esopotâm ia, perto de
Carquem is, e era reconhecid o internacionalm ente como um verdadeiro profeta. Ao longo da narrativa de N úm eros 2 2 -2 4 , Balaão con tin u am en te alerta Balaque de que ele poderia falar somente as palavras que D eus lhe concedesse (Nm 22.18, 38; 23.12, 26;24.13). Embora Balaão utilize rituais sacrificiais para obter a resposta de Deus, ele não pode ser considerado simplesmente um adivinho. A *adivinhação, embora fosse usada algumas vezes pelos profetas meso- potâmios, estava mais relacionada aos sacerdotes cultuais que examinavam animais sacrificados ou situações naturais (como, por exemplo, o vôo dos pássaros). Nos casos citados, parece que Balaão recebia um a orientação direta de Deus e depois comunicava a palavra de Deus a Balaque, na forma de *oráculos. Esse era o m étodo com um ente usado na transmissão de profecias, encontrado nos Livros de Isaías, Jerem ias e outros profetas israelitas. Há registros de oráculos falados em mais de cinqüenta textos de *Mari (poucos séculos antes de Balaão, localizada a quatrocentos quilôm etros de Carquem is, rio abaixo). Nesses textos,
diversas m ensagens procedentes de várias divindades são dirigidas a Zimri-Lim, rei de Mari, seja através de leigos, seja por funcionários do templo. Portanto, não há dúvida que a atividade profética no antigo Oriente Próxim o durante esse período era bastante comum.
22.6. poder de um a m aldição. A maldição lançava a ira da divindade sobre pessoas, grupos, cidades ou lugares, e podia ser proferida por qualquer pessoa que tivesse a intenção de causar m orte, destruição, doença ou derrota. As maldições envolviam também o emprego de rituais, como aparece num texto hitita, exigindo que fosse servida água e proferida uma maldição contra qualquer pessoa que oferecesse ao rei água "polu ída". As maldições geralmente selavam os
acordos ou *alianças, invocando o poder dos deuses como garantia, e deixando claro o perigo que correria a parte que não cumprisse as condições do acordo. No entanto, um a maldição tam bém podia ter efeito nega
tivo sobre a pessoa que a proferisse. Nesse sentido, a pena de m orte era im posta a quem am aldiçoasse a seus pais (Êx 21.17) ou a D eus (Lv 24.11-24). Pela tradição israelita expressa na narrativa de Balaão, somente Yahw eh era capaz de cumprir um a maldição, e nenhum profeta agindo por si só poderia efetivam ente amaldiçoar alguém. Ainda assim, Balaque descreve Balaão como alguém tão afinado com os deuses, que suas bênçãos e maldições sempre se cumpriam. De fato, acreditava-se que o profeta, por ser o representante ou mediador de algum deus, era capaz de interceder junto a ele pedindo o bem ou o mal. Balaão,
porém , não leva em conta as palavras de Balaque,
afirmando que poderia falar apenas o que Deus lhe concedesse falar.22.7. pagam ento pelas *adivinhações. É natural que se pagasse um a taxa ou fosse oferecida um a recompensa em troca de informações vitais (ver 2 Sm 4.10). Os adivinhos, assim como os religiosos, eram pagos por seus serviços (1 Sm 9.8). Balaão, no entanto, só iria receber o pagamento depois que tivesse amaldiçoado os israelitas (Nm 24.11), o que talvez seja um a indicação que fosse apenas um presente e não um adiantamento pelo acerto de um serviço.22.18. Balaão e Yahw eh. Supondo que Balaão fosse um profeta m esopotâm io, que falava em nom e de m uitos deuses, parece estranho que ele se refira a *Yahweh como "o Senhor, o m eu D eus". É perfeitam ente possível que Balaão tivesse conhecimento do Deus israelita, ao menos por ouvir falar (ver a declaração de Raabe em Js 2.9-11). Ou poderia ser que ele se referisse com intim idade aos deuses com quem tratava, a fim de demonstrar sua autoridade profética. O interesse de Balaque por Balaão parece basear-se em sua habilidade de proferir bênçãos ou m aldições - não importando qual deus ele invocasse. H á poucas razões para se acreditai^que Balaão servia exclusivam ente a Yahweh.22.21-35. D eus opõe-se a Balaão, após enviá-lo. Àsvezes, parece que Deus m uda de idéia de maneira estranha. O Senhor chamou Jacó (Gn 31, 32) e Moisés para irem a um determinado lugar, mas depois questionou cada um deles durante o caminho. Em cada situação, de fato Deus queria que eles fizessem a viagem, mas antes tinha um assunto a tratar e resolver com eles.22.22-35. A n jo do Senhor. No mundo antigo, a comunicação direta entre chefes de estado era algo pouco comum. Negociações diplom áticas e políticas geralmente exigiam o uso de um intermediário. O mensageiro que servia de intermediário era totalmente investido de autoridade pela parte que representava. Ele falava em nome de quem o enviara e com a mesma autoridade; recebia o mesmo tratamento que seria dado ao seu superior, se estivesse ali pessoalmente. Apesar de tratar-se de um procedimento protocolar, não havia confusões quanto à identidade da pessoa. Essa forma de tratamento simplesmente servia como um reconhecim ento adequado da pessoa representava pelo interm ediário. D essa form a, os presentes ofertados pertenciam à parte representada, não ao representante. Esperava-se que as palavras dirigidas ao representante fossem relatadas com exatidão, sendo proferidas como se a pessoa representada estivesse presente. Quando palavras oficiais eram proferidas pelo representante, todos entendiam que ele não falava de si m esm o, m as simplesmente estava transmi
tindo as palavras, opiniões, posições e decisões de seu soberano. Do mesmo modo, o Anjo do Senhor atuou como mensageiro, o enviado real investido da autoridade daquele que enviou a m ensagem . A palavra em hebraico que descreve o Anjo do Senhor nesse texto é satan, porém não se refere ao "acusador" ou "in im ig o " encontrado em Jó 1 -2 e Z acarias 3.1. O termo é usado apenas para explicar o papel de adversário desempenhado pelo anjo.22.28-30. anim ais falantes. A Bíblia faz referência apenas a um outro animal falante, no diálogo entre Eva e a serpente, em Gênesis 3.1-5. Ali, a serpente é descrita como o m ais astuto dos anim ais e talvez fosse o único animal capaz de falar. Na narrativa de Balaão, a jum enta foi capaz de falar somente depois de receber tal habilidade de D eus. Essas narrativas onde aparecem animais que falam são geralmente conhecidas como fábulas, e são bastante populares tanto na literatura antiga como na moderna. Geralmente tratam de um tema relacionado à sabedoria e têm por objetivo apresentar verdades e valores m orais básicos ou questioná-los. Na literatura do antigo Oriente Próximo são encontrados vários exemplos, dentre eles o gado falante, no texto egípcio intitulado A Fábula dos Dois Irmãos e o diálogo entre o leopardo e a gazela no texto *assírio Ensinos de *Ahiqar. Nessa história, o fato da jum enta falar tem como propósito mostrar a Balaão que D eus pode falar através de qualquer criatura, portanto o crédito não é da criatura, mas de Deus.22.36-41. geografia. Da cidade de Ar-M oabe (ou "c idade m oabita", como na NVI), perto da fronteira norte de M oabe, Balaque e Balaão seguem para o norte até Quiriate-Huzote e Bamote-Baal. A cidade de Ar, em Moabe (ver 21.15) não pode ser identificada com segurança, m as geralm ente está relacionada à m oderna Balu'a, ao longo do afluente sul que acompanhava a Estrada Real, até o rio A m om . A localização tanto de Q uiriate-H uzote com o de Bam ote-Baal é desconhecida. Talvez se situasse de quarenta a cinqüenta quilômetros ao norte de Ar, ao longo da Estrada Real, embora alguns defendem sua localização no extremo norte, bem perto de onde os israelitas estavam acampados.23.1. sete altares. O número sete é mencionado inúmeras vezes na Bíblia e pode estar associado aos sete dias da criação ou ao fato de ser um núm ero primo íver 1 Rs 18.43; 2 Rs 5.10). Em nenhum outro lugar na Bíblia é mencionada a construção de sete altares para sacrifícios. Esse fato pode estar relacionado a um *ritu- al dos povos pagãos, em que cada altar era dedicado a um deus diferente. Quando um tratado internacional era firmado, os deuses eram invocados como testemunhas daquele acordo (como no tratado entre o rei *assírio Esarhadon e Baal, rei de Tiro, em que "sete
deuses" são invocados), e se erigia um altar para cada deus invocado, onde eram oferecidos sacrifícios (ver Gn 31.44-54). M as em outras situações na Mesopotâmia também se evidencia a prática de usar sete altares a fim de oferecer sete sacrifícios simultaneamente diante dos deuses superiores.23.1. sacrifício de n ovilhos e carneiros. Novilhos e carneiros eram os animais de criação mais valiosos no antigo Oriente Próximo, de modo que oferecê-los em sacrifício representava o grande empenho dos adoradores em agradar o deus (ou deuses) e obter seu auxílio. O sacrifício de sete animais tam bém é encontrado na oferta que Jó faz pelo pecado de seus três amigos (Jó 42.8).23.3. retirar-se para receber a revelação. Em algumas traduções, Balaão retira-se para um lugar "elevado", mas esse termo pode ser contestado, visto que o significado da palavra hebraica é questionável. Fica claro no texto que Balaão separou-se dos moabitas para fazer suas *adivinhações a sós. Talvez fosse um a exigência do *ritual ou então uma indicação de que Deus queria se comunicar diretamente apenas com Balaão. De qualquer maneira, lugares elevados como montes e colinas, freqüentemente estão relacionados aos deuses e às suas revelações (montes Sinai, Zafom, Olimpo).23.4. D eus o encontrou. No mundo antigo, as mensagens das divindades eram geralm ente transmitidas através de sonhos, pela comunicação com pessoas mortas ou por funcionários do templo em transe profético. A linguagem aqui sugere que nenhum a dessas opções foi usada, em bora a natureza do encontro de Balaão com Deus não seja descrita.23.14. Zofim/Pisga. Zofirn significa "sentinela" ou "v igia". Quando usado juntam ente com Pisga, o termo genérico Zofim serve para descrever os promontórios do planalto de Moabe, voltado para o oeste, em direção a Canaã (ver N m 21.20). N esse relato, sim plesmente significa que Balaão foi a um ponto de observação conhecido para observar dali o sinal que Deus iria lhe mostrar. É possível que ele pretendesse observaro vôo dos pássaros, a fim de receber um presságio. Esse procedimento não só era um a prática comum de *adivinhação na Mesopotâmia, m as parece estar relacionada a Balaão na inscrição de Deir A lá (ver comentário em 22.4).24.1, 2. diferença entre o m étodo de Balaão e o papel do Espírito de Deus. Por ser um profeta da M esopotâmia, o método usado por Balaão para invocar a divindade ou buscar um presságio, envolvia algum tipo de *adivinhação. Tendo percebido que o propósito de Yahw eh era abençoar os israelitas, Balaão dispensou esse método e aguardou um a revelação direta de Deus. Ao voltar o rosto em direção ao deserto, ele avistou os israelitas e foi tomado pelo Espírito de Deus, proferin
do uma bênção divina, provavelm ente num transe. Sua disposição em m ostrar-se vulnerável aos olhos do rei moabita demonstra a veracidade de sua m ensagem e fornece um exemplo de profecia por êxtase (ver1 Sm 10. 5, 6, 10, 11).24.5-7. m etáforas. O *oráculo de Balaão contém uma promessa de abundância e prosperidade para Israel. Ao olhar para o lugar onde estavam acampados, ele compara suas tendas a um a floresta contendo ervas aromáticas como o aloé e árvores como o cedro. O aloé não era uma planta nativa de Canaã, m as a metáfora pode referir-se aos imigrantes israelitas "sem eados" por Deus na terra prometida. Os cedros não crescem à beira de rios, mas podem representar qualquer outra árvore conífera. A imagem de águas e vegetação abundantes refere-se à exuberância da terra de Canaã e à prom essa da *aliança de que os israelitas teriam m uitos filhos e se multiplicariam. Ao mencionar um rei, o autor fala do triunfo da futura nação sobre seus inim igos, os amalequitas, cujo rei, Agague, seria derrotado por Saul (1 Sm 15.7, 8).24.7. Agague. Agague era o poderoso rei dos am alequitas na época de Saul (1 Sm 15.7, 8). Em bora tenham sido derrotados por Saul, os amalequitas continuaram a ser um entrave para Israel (1 Sm 27.8; 30.1; 2 Sm 1.1). O nome de Agague aparece também no Livro de Ester, representando o nom e étnico do vilão Ham ã, descendente de Agague. Alguns estudiosos sugeriram que Agague deve ser entendido como um título (assim como faraó), m as não há evidências disponíveis para confirmar essa hipótese.24.17. estrela e cetro. Embora "estrela" seja um a metáfora bastante com um no antigo O riente Próxim o para representar um rei, na Bíblia ela é raram ente usada (Is 14.12; Ez 32.7). Porém, quando associada ao cetro, que é um símbolo do poder real (SI 45.6), fica evidente o significado da metáfora. Assim, o *oráculo de Balaão prediz o surgimento da m onarquia em Israel e a extensão de seu poder (como o levantar do cetro) sobre as terras da Transjordânia. Assim como na inscrição egípcia de Tutmóses III (c. 1504-1450 a.C.), aqui
o cetro tam bém é usado como um bastão para esm agar a cabeça das nações inimigas.
24.20. am alequitas. Os amalequitas eram uma confederação de tribos que viviam principalm ente na região de estepes a sudeste de Canaã (Êx 17; Jz 6-7). Talvez existissem grupos de amalequitas também na região montanhosa a oeste de Samaria. Eles sempre são apresentados como rivais de Israel, na luta pelo território. A expressão "o primeiro entre as nações"
pode se referir à maneira como eles designavam a si mesm os ou ao fato de terem sido os primeiros a desafiar os israelitas (Êx 17.8-15).
24.21, 22. queneus. Embora os queneus fossem considerados am igáveis antes desse *oráculo (sogro de M oisés, Êx 2.16-22), aqui eles são destruídos ju ntam ente com os amalequitas. Os queneus eram tribos nômades que viviam ao redor de Cades, no norte da pen ín su la do S inai e na região da G aliléia; talvez fossem artesãos de metais (havia minas de cobre nas proxim idades do Sinai), e tam bém pastores. Balaão zomba de seus assentamentos nas montanhas, dizendo que não poderiam evitar a futura invasão e conquista de Assur.24.22-24. Assur. É improvável que essa seja uma referência ao im pério neo-assírio, que dom inou todo o antigo Oriente Próximo durante os séculos oitavo e nono a.C.. Se assim fosse, o enfoque do *oráculo (e de acordo com alguns, sua própria composição) estaria m uito atrasado. No entanto, os assuritas, um a tribo descendente de Abraão e Quetura (Gn 25.3), não parecem ser importantes a ponto de derrotar os queneus. Os *assírios do século catorze tinham um preparo militar suficiente para contribuir com a queda do reino *hurriano de Mitanni, mas não há provas de atividade m ilitar posterior no oeste. Assim, o m ais provável é que esse Assur aqui mencionado esteja relacionado aos descendentes de Ismael citados em Gênesis 25.18.24.24. Q uitim . Esse é o antigo nome da ilha de Chipre (Gn 10.4) e se origina do nome da cidade de Quitiom. Em textos posteriores (Qumran), Quitim é usado como um termo genérico para as nações marítimas (Dn 11.30) ou para os romanos. Alguns têm sugerido que aqui talvez seja uma referência aos "povos m arítim os" - um a m istura de tribos (incluindo os filisteus) que invadiu o Oriente Próximo por volta de 1200 a.C..24.24. H éber. Héber é identificado como um ancestral dos hebreus, em G ênesis 10.21 e 11.14. Entretanto, esse H éber não se encaixa no contexto do *oráculo, visto que seria um a m aldição sobre Israel. Pode ser uma referência a um ataque de Quitim contra "H éber", ou a um clã dos queneus ou à tribo israelita de Aser. Até o momento, nenhuma explicação satisfatória foi apresentada a respeito desse nome.
25.1-18O in c id e n te e m B a a l-P e o r25.1. S itim . O nome completo desse lugar era Abel- Sitim (Nm 33.49) e foi o ponto de partida dos espias de Josué e o local da entrada dos israelitas na terra de Canaã (Js 2.1; 3.1; Mq 6.5). O historiador Josefo localizou-o a onze quilômetros do rio Jordão, mas sua real lo ca lização é incerta . P ossiv elm en te seja T ell el- Hammam, no uádi Kefrein.25.3. Baal-Peor. Era comum que o deus *Baal fosse identificado com várias montanhas (Zafom) ou cidades na região de Canaã (ver N m 32.38; 33.7; 2 Rs 1.2).
Nesse episódio, os israelitas foram influenciados pelas mulheres moabitas e levados a adorar o deus da cidade de Peor (ver Dt 3.29 a respeito de Bete-Peor). Aparentemente, esse foi o primeiro contato dos israelitas com Baal, o deus cananeu da *fertilidade e da chuva, visto que esse nom e não aparece em Gênesis. O resultado é desastroso e abre um precedente para a reação de Deus à idolatria.25.4. exposição de cadáveres. Pelo tipo de execução usada aqui (enforcamento), fica claro que se pretendia colocar o corpo dos líderes infiéis à exposição pública. Pode ser um a tentativa de aplacar a ira de Deus ou um aviso aos demais de que a idolatria não será tolerada. A tradição legal proibia que se deixassem corpos expostos ou empalados de um dia para outro (Dt21.22, 23). A empalação e a exposição pública de corpos era um castigo comum entre os *assírios (mencionado nos anais de Senaqueribe e Assurbanipal).25.6. levou para casa. O israelita, cujo nom e não é mencionado, podia simplesmente estar levando uma m ulher m idianita para casa como sua esposa. Mas m uitos acreditam que a razão para o que aconteceu a seguir foi a prática de relação sexual ritual. Ao levar a mulher midianita para sua casa, esse homem estava encorajando todos os seus parentes do sexo masculino a participar desse *ritual proibido - num momento em que se esperava que as pessoas estivessem se arrependendo da idolatria praticada anteriorm ente. O "in terio r da ten d a" (v. 8) em que eles estavam parece se referir ao recinto sagrado e, portanto, sugere sexo ritual. Apesar de ser um ritual possivelmente voltado para a *fertilidade, os israelitas não se dedicavam à agricultura, assim , é difícil im aginar qual a ligação que poderia existir nesse contexto. Já no Salmo106.28, Baal-Peor está associada aos sacrifícios aos m ortos (NVI: "íd o los m ortos"). A praga citada no versículo 3 pode ser atribuída aos espíritos dos antepassados que seriam aplacados através do ato sexual ritual. Nesse caso, a "casa" para onde a m ulher foi levada pode ser a dos espíritos antepassados.25.8. a praga. Visto que nenhum sintoma é descrito, é difícil estabelecer com clareza que tipo de praga afligiu os israelitas. Alguns textos mesopotâmios trazem informações de diagnósticos médicos, num a tentativa de estabelecer um a relação causal entre certos sintomas ou doenças e os supostos pecados que as causaram. Os israelitas não classificavam as doenças, mas interpretavam as epidemias ou o alastramento de certas doenças como um castigo de Deus. Dentre as doenças endêmicas e epidêm icas do m undo antigo se incluem o tifo, a m alária, a cólera, a tuberculose, o antraz, a peste bubônica e a difteria. O m odo como Yahweh faz uso da praga é semelhante àquele associado às pragas causadas por divindades no antigo
Oriente Próximo. Na mitologia mesopotâmia, Nergal (ou Erra) era considerado o deus das pragas e rei do m undo inferior. A divindade cananéia equivalente era Resefe, e entre os hititas, Irshappa. M ursilis, um rei hitita desse período, queixou-se em um a oração sobre um a praga que durou vinte anos, e a descreveu como um castigo pelos pecados de seu pai.25.13. aliança do sacerdócio. Tal como a *aliança feita com Davi (2 Sm 7.8-16; SI 89.29), essa é uma aliança "perpétua". Novamente, essa expressão e o conceito de um acordo perpétuo não eram exclusivos dos israelitas: eram comuns nos textos de acordos na Mesopotâm ia (ver os Tratados *A ssírios de Vassalos de Esarhaddon). Aqui, a atitude piedosa de Finéias serve como base para a escolha desse ram o particular da fam ília de A rão como o grupo que tinha o direito exclusivo de servir no templo (ver a genealogia em 1 Cr 6.3-14, que traça a linhagem de Finéias, m as exclui a de seus irmãos).
26.1-65O segundo recenseamento 26.55. distribuição por sorteio. Ao fazer uso de um sorteio para determinar a distribuição da terra, a decisão foi deixada a critério de Deus. Esse processo também foi empregado em *Mari, na Mesopotâmia, para distribuir as terras do rei aos vassalos e m ilitares reformados.
27.1-11 A herança das filhas de Zelofeade27.1-11. direitos de herança das filh as. Quando um hom em m orria sem deixar herdeiros, a terra geralmente era redimida por um parente do sexo masculino, (sobre a obrigação do levirato, ver comentário em Dt 25.5-10; sobre o Ano do Jubileu, ver comentário em Lv 25.8-55; sobre direitos do parente, ver Lv 25.2528). Nesse relato, para resolver a questão isolada sobre os direitos das filhas à herança do pai foi necessário recorrer a um *oráculo e à decisão divina, visto que a legislação existente não considerava essa hipótese. Os direitos do levirato (Dt 25.5-10) aparentemente não se aplicariam a esse caso, visto que não se m encionam herdeiros do sexo m asculino (filhos ou parentes do pai). Em vista disso, a decisão foi tomada e as leis aprovadas, garantindo às filhas o direito de herança e estabelecendo uma lei sobre o procedimento em casos como esse, em que não havia nenhum herdeiro do sexo masculino. Alguns precedentes desse gênero parecem ter existido em documentos legais da Mesopotâmia (texto sumério do estatuto B de Gudea [c. 2150 a.C.]; *Alalal<h [século dezoito a.C.]; *Nuzi e *Em ar). A lei em N úm eros 27, porém , teve de ser modificada mais tarde, devido ao problema de a terra
deixar de pertencer à família no caso da filha se casar com alguém de fora da tribo. Assim, o texto de Números 36.6-9 acrescenta a condição de que as filhas que herdassem terras de seu pai deveriam se casar com alguém do seu próprio clã.
27.12-23Josué, sucessor de Moisés27.12. serra de A barim . Essa cadeia de m ontanhas estende-se desde o leste da foz do rio Jordão até o extremo norte do m ar Morto (ver D t 32.49), formando a borda noroeste do planalto moabita. O m onte de onde Moisés avistou a terra prometida é o monte Nebo, com 835 metros de altitude.27.14. geografia. O relato do pecado de M oisés e Arão em M eribá, recontado nesse parêntese, é baseado na versão de Núm eros 20.1-13. Aqui, o evento é situado perto do oásis de Cades-Baméia, provavelmente 'Ein Q udeirat, no uád i e l'A in , o m aior oásis na região norte do Sinai. O deserto de Zim é uma região árida no N eguebe, ao sul de C anaã, que se estende em direção ao Sinai.27.18. o Espírito. Como sucessor de M oisés, a qualificação de Josué para essa posição baseava-se na autoridade que recebera de Deus. Ele já havia demonstrado essa capacitação nas campanhas m ilitares (Êx 17.9-13), e pela sua coragem ao posicionar-se diante do povo e dos anciãos (Nm 14.6-10; 26.65). M ais tarde, ele também receberia o espírito de sabedoria (Dt 34.9), mas aqui são suas qualidades de liderança, conferidas por D eus, que contribuem para sua ascensão ao comando. Não havia nenhuma outra autoridade política sobre as tribos, exceto aquela designada pelo Senhor. O reconhecimento da capacitação pelo Espírito de Deus passou a ser o critério para a concessão de autoridade política sobre as tribos.27.18. im posição de m ãos. A imposição de mãos fazia parte do processo de investir uma pessoa de autoridade, significando a transferência de poder de um líder para outro (ver N m 8.10; Lv 16.21). Um exemplo são as pinturas encontradas nas tum bas de *E1 Am am a, escavadas na rocha (c. 1400-1350 a.C.) retratando a posse de funcionários do faraó. Esses funcionários são representados usando vestes especiais e o faraó é ilustrado estendendo os braços sobre eles, como sinal de sua autoridade.27.21. o sacerdote e o Urim. U m sinal confirmando a liderança de Josué como sucessor de Moisés foi o uso do oráculo na função de sumo sacerdote. Ao fazer uso do U rim e do Tumim, o sumo sacerdote podia consultar Deus e obter um a resposta do tipo "sim " ou "n ão" para determinadas perguntas (ver o uso dessa prática por Davi e Abiatar em 1 Sm 23.9-12; 30.7, 8). Embora a aparência do U rim e do Tum im seja incerta, seu uso
é sem elhante ao sistem a de perguntas e respostas oraculares encontradas em textos *babilônios de agouros. As pedras eram mantidas num bolso externo do "peitoral" do sacerdote e próximas ao coração (Êx 28.16; Lv 8.8). Para m ais inform ações, ver com entário em Êxodo 28.30.
28.1-15 Ofertas28.1-30. festas e dias santos. No antigo Oriente Próximo, as principais festas religiosas e dias santos eram relacionados, em sua m aioria, a eventos agrícolas. Ofertas diárias eram oferecidas aos deuses; em algumas cidades e aldeias era comemorado o "d ia do padroeiro" em honra das divindades locais, e em certas ocasiões o deus nacional era levado em procissão de uma cidade a outra, "v isitando" os santuários e promovendo a *fertilidade e o bem -estar geral da nação. Dentre os festivais mesopotâmios o m ais importante era o Akitu ou a celebração do ano-novo. Nessa ocasião, o m onarca representava o deus principal, enquanto os sumos sacerdotes atuavam como seu consorte, representando a deusa principal. Como parte da celebração eram realizados uma série de intrincados *rituais e sacrifícios sagrados, com o objetivo de agradar os deuses e assim , assegurar um ano vindouro próspero e fértil. Durante o ano, que era baseado no calendário lunar, celebravam-se as festas da "lua nova", bem como os eventos do calendário agrícola (a estação das chuvas ou das águas, a época do plantio e da colheita). A lguns rituais não tinham relação com a mudança de estações, como o luto pelo "deus moribundo" Tamm uz (ou *Dumuzi), que só podia ser libertado do m undo inferior através das lágrim as de seus devotos (ver Ez 8.14).28.1-8. ofertas diárias. O cerne do sistema sacrificial no antigo Israel era as ofertas diárias feitas em favor do povo, pelos sacerdotes. Eram ofertas comunitárias feitas em nome do povo, e não ofertas pessoais. Apesar de o conteúdo do sacrifício apresentar diferenças de tempos em tempos (compare os sacrifícios animais feitos de manhã e à tarde, descritos aqui, com o sacrifício anim al pela m anhã e um a oferta de cereais, à tarde, descritos em 2 Rs 16.15), seu objetivo era prestar continuamente ações de graça a Deus e confirmar diariamente que o povo estava em conformidade com a *aliança (ver comentário sobre as ofertas queimadas em Lv 1.1). Fica bastante clara a crença de que qualquer interrupção nesse padrão resultaria em conseqüências terríveis para o povo (ver D n 8.11-14).28.9, 10. o ferta do sábado. A ordem de guardar o sábado, o sétimo dia da semana, não realizando nenhum tipo de trabalho e oferecendo uma oferta queim ada adicional representava a comemoração sema-
nal da libertação da escravidão no Egito (Êx 20.11). De acordo com este estatuto, todos os israelitas, assim como seus anim ais, servos e hóspedes, tinham de respeitar o sábado (Êx 31.12-17). A oferta do sábado não era feita por cada família ou clã, mas em nome de todo o povo, como um todo. Há pouca evidência de que no antigo Israel o sábado fosse usado como uma ocasião para adoração comunitária. O sábado não está relacionado a nenhum outro evento do calendário ao longo do ano e só pode ser comparado à celebração do ano sabático e do Jubileu (Lv 25). Como o êxodo era um evento exclusivo da história de Israel, nenhum dia santo sem elhante era observado pelos dem ais povos do antigo Oriente Próximo.28.11-15. oferta m ensal. O calendário lunar era usado em todo o antigo O riente Próxim o e a adoração ao deus Sin era bastante comum, especialmente no norte da M esopotâm ia. Cada m ês se iniciava no primeiro dia da lua nova, representando a continuidade do domínio do deus da lua. A inclusão de um a oferta no primeiro dia de cada mês aparece somente em Números 28, em bora sua celebração seja m encionada em outros contextos ("festa da lua nova" em 1 Sm 20.5; "lua nova" em 2 Rs 4.23). O sacrifício oferecido na lua nova, assim com o a oferta do sábado, deveria ser acrescentada à oferta diária. Pode ser com parada a outros festivais im portantes, em que se oferecia um grande núm ero de anim ais valiosos (dois novilhos, um carneiro e sete cordeiros), além do bode sacrificial como oferta pelo pecado. .
28.16- 29.40O calendário das festas28.16-25. A festa do pão sem ferm ento. A festa do pão sem ferm ento m arcava o início da colheita da cevada (março-abril). O pão sem ferm ento era feito com os cereais recém-colhidos, aos quais não se acrescentava ferm ento, e devia ser com ido com alegria, como o primeiro sinal das colheitas vindouras daquele ano. Para m ais inform ações, ver com entários em Èxodo 12.14-20.28.26-31. festa das sem anas. O segundo dos três principais festivais de colheita acontecia sete semanas após a colheita dos primeiros grãos (Êx 34.22; Dt 16.9-12) e era conhecido também como festa da colheita ou do Pentecoste (Êx 23.16). Assim como a celebração do sábado, a festa das semanas não tinha ligação com o calendário lunar (nesse caso, devido à inexatidão de um calendário baseado unicamente nas fases da lua). X o calendário agrícola, essa festa marcava o final da colheita do trigo e tradicionalmente estava relacionada à entrega da lei no monte Sinai. Tam bém estava associada à renovação da *aliança e à peregrinação. A celebração incluía a dedicação de uma "oferta movi
da" (ver comentário em Lv 8.27) de dois pães, sacrifícios de animais (sete cordeiros de um ano, um novilho e dois carneiros) e um a oferta derramada como gratidão pela boa colheita (ver Lv 23.15-22). Como nas outras festas principais, um bode tinha de ser sacrificado como oferta pelo pecado do povo (Nm 28.30).29.1-6. festa das trom betas. O primeiro dia do sétimo mês (o mês mais sagrado no calendário israelita) era marcado pelo soar do chifre de um carneiro (shofar), comemorando assim o acordo da *aliança e as dádivas de Deus ao seu povo. A importância dessa festa devese, em parte, pelo fato de ser comemorada na sétima lua nova do sétimo mês do ano (compare com o ciclo sabático). N enhum trabalho era perm itido e eram apresentadas ofertas queimadas, além das ofertas diárias. A festa continuava até o décim o dia do mês quando era comemorado o Dia da Propiciação (ver Lv16.29-34 para detalhes). M ais tarde, a Festa das Trom betas transformou-se na festa de Ano-Novo, m as isso só ocorreu num período bem posterior ao exílio (ver Lv 23.23-25).29.7-11. D ia da Expiação. O Dia da Expiação era um dia especialmente separado todos os anos, para lidar com os pecados do povo. A seriedade dessa ocasião era dem onstrada pelo fato de que todos os *rituais tinham de ser realizados no interior do santuário, pelo sumo sacerdote. De acordo com Levítico 23.27-32 o Dia da Expiação correspondia ao décimo dia depois da abertura do ano novo civil (durante o sétimo mês). N aquele dia, o povo perm anecia em casa orando e jejuando enquanto o sumo sacerdote entrava nos recintos interiores do tabernáculo e queim ava incenso no altar dourado de incenso. O sangue desse sacrifício especial também tinha de ser esfregado nas pontas do altar do incenso para representar a ligação entre o m ais santo dos altares e o incenso que dele flu ía à necessidade de livrar-se dos pecados da nação. Uma descrição m ais elaborada desse ritual anual, inclusive do bode expiatório que levava os pecados do povo, encontra-se em Levítico 16. Ver os com entários ali para informações adicionais.29.12-39. Festa dos tabernáculos. A última colheita do ano acontecia no outono, antes do início da estação das chuvas, e marcava o início de um novo ano agrícola (décimo quinto dia do sétimo mês). Era o momento de juntar e armazenar os últimos grãos e frutos maduros, reservando algum tempo depois disso para a peregrinação a Jerusalém. O evento de sete dias tam bém era conhecido como festa do encerramento da colheita (Êx23.16) e era simbolizado pela construção de cabanas decoradas com cereais para os trabalhadores das colheitas. Esta festa estava ligada à tradição israelita como uma comemoração da peregrinação pelo deserto e foi também a ocasião da dedicação do templo de
Salomão em Jerusalém (1 Rs 8.65). Essa festa era tão popular que o profeta Zacarias descreveu-a como a festa escatológica celebrada pelas nações, após o triunfo supremo de Yahw eh (Zc 14.16).29.13-38. núm ero de anim ais. O número de animais sacrificados durante os oito dias da Festa dos tabernáculos era maior do que o de qualquer outra festividade anual. Um total de 71 novilhos, 15 carneiros, 105 cordeiros e 8 bodes eram sacrificados, além das ofertas de cereais e líquidas (compare o núm ero muito menor prescrito em Ez 45.13-25 para dias santos). O número de novilhos oferecidos diminuía no decorrer das festividades, talvez para demonstrar a passagem do tempo ou possivelmente como um meio de poupar um dos mais valiosos rebanhos da nação. O número elevado de animais envolvidos, no entanto, diz respeito tanto à alegria associada à colheita (um sinal do cumprimento da *aliança) como à necessidade de alimentar um grande número de pessoas que haviam peregrinado até Jerusalém.
30.1-16 A regulamentação dos votos30.2-15. im p ortân cia e p ap el dos votos. Fazer um voto aum entava a devoção da pessoa em desem penhar uma tarefa específica (sacrifício - ver Lv 27; transporte da arca a Jerusalém por Davi - SI 132.2-5) ou servia como forma de barganhar com a divindade a fim de obter algo (o voto que Jefté fez para conseguir a vitória - Jz 11.30, 31). Assim, um voto diferia de um juram ento por ser condicional e não apenas promissor. O voto também era usado para iniciar um período especial de consagração, como acontecia com o voto de nazireu (Nm 6), ou durante a guerra, como uma form a de sacrifício de abstinência, em que todos os despojos eram dedicados a Deus (Nm 21.1-3; Js 6.18, 19). Por ser um ato religioso que estabelecia um pacto entre a divindade e o adorador, não podia ser quebrado, sob pena de desagradar a Deus (ver Êx 20.7 e a ordem de não usar o nome de Deus "em vão"). Para inform ações adicionais, ver comentário em Levítico27.2-13.30.3-15. m ulheres e votos. De acordo com a ordem aqui expressa, as m ulheres não podiam fazer votos sem o consentim ento do pai ou do marido. Se isso ocorresse, o pai ou m arido, como chefe da fam ília, tinha o direito de anular qualquer voto. No entanto, se ele aprovasse o voto e mais tarde impedisse a m ulher de cum pri-lo, o castigo pelo não cum prim ento recairia sobre ele (v. 14,15). No primeiro caso (v. 3-5), um a mulher solteira estava sob a tutela do pai e assim não podia ter propriedades, nem obstruir a habilidade do pai em arranjar-lhe um casamento ou utilizar a si m esma em benefício da família. Mulheres casadas,
do m esm o m odo, estavam ligadas à fam ília de seu marido e, sem o consentimento dele, não podiam tom ar decisões que afetassem o funcionam ento ou o equilíbrio econômico da família (v. 6-8,10-13). O único caso em que um a m ulher casada toma a iniciativa de fazer um voto, dedicando seu filho para servir no templo em Silo é o de Ana, mãe de Sam uel (ISm 1).30.3-15. a subm issão das m ulheres. Apesar de muitas vezes as mulheres exercerem grande influência sobre seus maridos (especialmente as mulheres da realeza), aparentemente só as viúvas e anciãs podiam agir de form a independente na sociedade israelita. As m ulheres solteiras que viviam com os pais, estavam sob controle legal deles, assim como as casadas estavam sob controle legal de seus maridos. Nenhum a delas podia ter bens, m ontar um negócio, dar entrada a um processo legal nem arranjar seu próprio casamento. Todas essas atividades eram exclusivas dos homens. Parece que em alguns momentos as mulheres casadas tiveram mais liberdade para desenvolver atividades na com unidade (como em Pv 31), m as sem pre fica implícito que tudo era feito com o consentimento do marido. A responsabilidade prim ordial das m ulheres, tanto no contexto bíblico, como no contexto mais abrangente do antigo Oriente Próximo, era cuidar da casa, garantir herdeiros para o marido e, quando possível, ajudar no sustento da casa (na lavoura, nos rebanhos, na confecção de utensílios). Nas leis de *Ha- m urabi, a m ulher que negligenciasse seus deveres domésticos por dedicar-se aos negócios podia ser rejeitada pelo marido através do divórcio. Pode ser que as mulheres mais velhas, que já não estavam em idade fértil, passassem para uma categoria social diferente, funcionando como anciãs (ver D ébora [Jz 4-5] e as sábias de Tecoa e Abel [2 Sm 14.2-20; 20.15-22]).
31.1-54A vingança contra os midianitas31.1-12. m idianitas. Os m idianitas concentravam -se na região leste do golfo de Á caba, no noroeste da Arábia, mas em algumas ocasiões espalharam-se para o oeste, na p en ínsu la do S in ai e p ara o norte , na Transjordânia. Embora nos primórdios de sua história pareçam ter sido basicamente um povo seminômade ou beduíno, estudos arqueológicos têm revelado a existência de aldeias, cidades m uradas e sistema de irrigação nessa região, que remontam à Idade do Bronze Moderna (o período do êxodo e dos primeiros juizes). Até hoje nenhuma menção aos midianitas foi encontrada em textos antigos.31.6. ob jetos do santuário. No antigo Oriente Próximo geralm ente os exércitos incluíam a presença de sacerdotes (como pode ser visto nos textos de *Mari), profetas (2 Rs 3) e objetos sagrados (Anais Assírios de
Shalmaneser III [858-824 a.C.]). Isso permitia que os deuses fossem consultados mesmo durante as batalhas ou invocados para conduzir os soldados à vitória. Finéias, filho de Arão e um dos principais sacerdotes, ajudava a m anter a confiança do exército com sua presença. Aqui, é difícil afirmar com exatidão quais objetos sagrados foram levados, mas é provável que se tratasse da arca da aliança, do peitoral do sacerdote e do U rim e Tum im (ver a arca da aliança sendo levada para o campo de batalha em outras passagens - Js 6.4-7; 1 Sm 4.3-8).31.6. cornetas para o toqu e de guerra. Quando um grande núm ero de soldados ocupava uma área bastante ampla, as notas agudas das com etas tinham um duplo objetivo simbolizando a voz de D eus para assustar os inimigos (ver Jz 7.17-22) e dando sinal aos batalhões sobre os deslocamentos das tropas (ver 2 Cr 13.2). Embora em outras situações o shofar ou com eta de chifre fosse usado como um instrumento sinalizador (Jz 3.27; 6.34; Ne 4.18-20), aqui, a palavra em hebraico indica uma com eta de metal, provavelmente feita de bronze ou prata e capaz de produzir som em quatro ou cinco tonalidades. Cornetas tubulares com uma das extremidades alargada eram usadas nesse período tanto em contextos militares como em rituais. Esse uso é ilustrado em relevos egípcios e tam bém comprovado por exemplares de instrum entos encontrados, por exemplo, na tumba do rei Tut (uma cometa de prata com mais de meio metro de comprimento). Sinais de com eta eram usados comprovadamente no Egito, na Idade do Bronze *M oderna, em contextos militares e religiosos. Um código pré-estabelecido incluía diversas combinações de sopros longos e curtos.31.17, 18. decisão quanto a quem seria m orto. De acordo com os critérios usados deveriam ser executados: (1) todos os meninos, para evitar que represen- 3ssem um a ameaça m ilitar no futuro e (2) todas as m ulheres que não fossem virgen s, visto que já tinham sido contaminadas pelo contato sexual com um povo proscrito. As virgens representavam um "cam po não arado" e podiam ser inseridas nas tribos israelitas através do casamento (ver Jz 21.11,12). Também e possível que fossem escravizadas ou usadas como ^concubinas. Essas jovens provavelm ente eram inocentes quanto à sedução de israelitas por mulheres midianitas em Baal-peor (Nm 25).31.19-24. purificação. Os soldados tinham de passar por rituais de purificação por causa do contato com cadáveres. O *ritual de sete dias para a purificação, 3n to dos soldados como dos despojos tomados na guerra, tinha de ser realizado fora do acampamento (compare com D t 23.10-15) a fim de evitar que o restante do povo fosse contaminado (ver N m 19.11-13; 16-22). A purificação exigia que os soldados se banhassem
(Nm 19 .18 ,19) e lavassem suas próprias roupas (ver Lv 11.25, 28 e o Rolo de Guerra de Qumran para ordens semelhantes). Os espólios eram purificados por meio do fogo e da água. Passar metais pelo fogo tam bém era um a prática encontrada em rituais *hititas de nascimento.31.25-50. a divisão dos despojos. Até pouco tempo atrás, era comum a prática de pagar os soldados com os despojos da batalha. No antigo Oriente Próximo, isso era um direito sagrado. Nos textos de *Mari, há relatos de oficiais fazendo um juram ento de não usurpar o espólio que por direito cabia a seus homens. Normalmente, os deuses também recebiam um a parte, que era coletada no campo de batalha pelos sacerdotes que acompanhavam o exército. Nesse caso, os critérios estabelecidos para a divisão garantiam aos soldados uma parte dez vezes m aior que a dos civis, enquanto que um qüingentésimo da parte do exército era separada para Eleazar (e para a manutenção do santuário) e um qüinquagésimo da parte dos civis era reservada para o sustento dos levitas. Essas porções podem ser comparadas ao dízimo que Abraão entregou a M elquisedeque, em Gênesis 14.20 e à divisão igualitária feita por Davi entre soldados e civis, em 1 Sam uel 30.24, 25.31.50. ouro para resgate. No m undo antigo, fazer a contagem de pessoas era algo particularmente impopular (ver comentário em Êx 30.11-16) e poderia desagradar aos deuses por sugerir falta de confiança neles ou preocupação com o poder pessoal (ver a praga que resultou do censo de D avi, em 2 Sm 24.1-17). De acordo com a lei expressa em Êxodo 30.12, sem pre que se fizesse um recenseam ento deveria ser pago um resgate pela vida de cada homem contado. A ssim, após contar o exército de Israel e verificar que não ocorrera nenhum a baixa, os oficiais pagaram o resgate com os objetos de ouro que tinham arrancado dos cadáveres. Esse resgate (ou "propiciação", na NVI) era feito para evitar que fossem atingidos por uma praga (ver N m 8.19). As jóias foram derretidas e transformadas em utensílios sagrados que seriam usados no santuário e serviriam como um mem orial eterno da vitória e da disposição do povo em submeter-se à lei de Deus. A quantidade de ouro oferecido foi de cerca de duzentos quilos.
32.1-42A s tr ib o s q u e h e rd a ra m a tr a n s jo r d â u ia32.1. Jazar e G ileade. A região da Transjordânia, próxim a ao rio Jaboque, tinha bons pastos e foi nesse lugar atraente que as tribos de Rúbem e Gade puderam se estabelecer. Jazar provavelmente é Quibrote- Jazzir, cerca de vinte quilômetros ao sul do rio Jaboque, na fronteira com A m om (ver N m 21.32). A região de
Gileade (mencionada em textos *ugaríticos) estende- se do rio A m on, ao sul, até Basã e o lado transjordânico da Galiléia, ao norte.32.3. lista de cidades. Esta relação de cidades também aparece em Núm eros 32.34-38. Atarote é identificada com Quibrote 'A tarus, treze quilôm etros a noroeste de Dibom e treze quilômetros a leste do m ar Morto. Tam bém é m encionada na inscrição das esteias de M esha (c. 830 a.C.) com o o local constru ído pelos israelitas e habitado pela tribo de Gade. Dibom (ou Dibam ), a capital m oabita, fica pouco m ais de seis quilômetros ao norte do rio A m on e quase vinte quilômetros a leste do m ar Morto. Ninra, perto da atual Tell Nimrin, fica na parte setentrional da Transjordânia, juntam ente com Jazar. Hesbom (ou Hesbam), na extremidade noroeste da planície de Madaba (cinco quilômetros a nordeste do monte Nebo), é conhecida como a capital de Siom , rei dos am orreus, apesar de não haver provas arqueológicas que confirm em a ocupação desse lugar antes de 1200 a.C. (ver comentário em N m 21.25-28). Eleale (ou el-'Al) localiza-se a nordeste de H esbom (ver Is 15.4; 16.9; Jr 48.34). Sebã é um a localidade desconhecida. Nebo também ainda não foi identificada, m as é m encionada na esteia de Mesha. B eom (ou M a 'in , B aal M eom em N m 32.38) fica dezesseis quilômetros a sudoeste de Hesbom. Em uma das esteias que narram suas vitórias, M esha (rei de Moabe do século nono) afirm a tê-la edificado.32.1-37. topografia da Transjordânia. A Transjordânia é caracterizada por um a topografia bastante variada, incluindo as regiões de Basã, Gileade, Amom, Moabe e Edom. É formada, ao norte, pela cordilheira do monte H erm om (o pico m ais elevado fica a 2.813 m etros acim a do n ível do m ar) e por um a parte do vale formado por uma falha tectônica situada entre a planície de H ulá (70 m etros acima do nível do mar) e o mar da Galiléia (211 m etros abaixo do nível do mar). A região é lim itada ao sul pelo golfo de Aqaba. Esse vale estende-se em direção ao sul ao longo do rio Jordão, até o m ar Morto (777 metros abaixo do nível do m ar em seu ponto m ais profundo). A leste do Jordão, os m ontes de G ileade alcançam mil m etros acim a do nível do m ar e no sul, as m ontanhas de Edom chegam a 1.737 m etros na região próxim a a Petra. A m aior parte do percurso no sentido norte-sul acompanhava a "Estrada Real", começando em Damasco, cortando as principais áreas de uádis e m argeando o deserto pelo leste. Os percursos no sentido leste-oeste acompanhavam os uádis de Yabis, Jaboque, Nim rin e Abu Gharaba. O clima geralmente seco da região exige a utilização de irrigação na agricultura,
em bora os pastos sejam suficientes para os grupos nômades de pastores.
32.34-42. geografia dos locais ocupados pelas tribos na Transjordânia. De acordo com a localização das cidades mencionadas nesta lista (ver N m 32.3 para a localização da m aioria delas), a tribo de Gade edificou cidades nos setores sul, norte e noroeste da Transjordânia (principalm ente G ileade e Basã). A tribo de Rúben se estabeleceu na cidade de H esbom e nas aldeias circunvizinhas. O relato de Josué 13.15-31 apresenta a distribuição final das cidades, em que são cedidas à tribo de Rúben algumas das cidades construídas pela tribo de Gade. A possível localização dessas cidades não é discutida em Números 32.3, incluindo A roer, cinco quilôm etros ao sul de D ibom , no rio Am om ; Jogbeá (ou Jubeihat), oito quilômetros a noroeste de Rabá; Bete-Harã (Tell er-Rame ou Tell Iktanu), ao sul de T ell N im rim ; Q u iriataim (Q u ibrote el- Q ureiyat), cerca de dez quilôm etros a noroeste de Dibom. Nas últimas décadas, o interesse arqueológico por essa área aum entou consideravelm ente, mas m uitos desses lugares ainda não foram escavados.
33.1-56O itinerário pelo deserto33.1-49. as etapas da viagem . Relatos com itinerários de viagens eram comuns nos anais do antigo Oriente Próxim o, inclusive nos relatos deixados pelos reis *assírios do século nono a.C. descrevendo suas campanhas militares, alistando pontos de parada e cidades conquistadas. Mais próximo a essa época são os itinerários egípcios preservados nos registros de suas várias excursões pela região da Sírio-Palestina. Esta lista apresenta uma crônica bastante completa da jornada de Ram sés pelo Egito até o local em que os israelitas cruzaram o Jordão, antes da conquista da terra prom etida. Entretanto, a om issão de lugares importantes (como M assá, Meribá) é um a indicação de que essa lista não está com pleta. A s etapas da jornada foram as seguintes: (1) do Egito até o deserto do Sinai (v. 5-15; m uitos desses lugares são discutidos especificamente nos comentários de Êx 13 - 17); (2) do deserto até Eziom-Geber (v. 16-35); (3) de Eziom-Geber até Cades, no deserto de Zim (v. 36); e (4) de Cades até M oabe (v. 37-49). M uitos desses nomes são desconhecidos, sendo citados apenas no relato bíblico e ignorados pelos registros antigos ou estudos arqueológicos e geográficos m odernos. Dentre eles, talvez seja possível identificar, pelo menos como tentativa Ramsés (Tell el Dab'a, ver comentário em Êx 1.8-14); Eziom-Geber, uma cidade portuária na ponta do golfo de Ácaba (1 Rs 9.26) em Tell el-Kheleifeh ou na ilha de Jezirat Far'on (a única localidade na região em que há provas da existência de um a área portuária substancial); Punom (Quibrote Feinan), 48 quilômetros ao sul do m ar Morto; montes de Abarim, perto do monte
Nebo, bem a leste do m ar Morto (ver comentário em N m 27.12) e A bel-Sitim (Sitim, ver comentários em N m 25.1), que é Tell el-H am m am , no uádi Kefrein (atravessa o Jordão no sentido leste-oeste, a partir de Jericó) ou a leste dali, em Tell Kefrein.
34.1-29As fronteiras de Canaã34.1-12. delim itação das fronteiras. As fronteiras da terra prometida são traçadas aqui como um a conseqüência lógica à ordem de expulsar os habitantes que viv iam naqu ela área (N m 33.50-56). Em bora essas não sejam as fronteiras reais da nação de Israel em nenhum momento de sua história, elas se aproximam bastante do território de Canaã reivindicado pelo Egito, entre os séculos quinze e treze a.C. (ver 2 Sm 3.10 sobre as dimensões imaginadas: "d e D ã a Berseba") e também à descrição do território controlado por Davi e Salomão. As fronteiras são definidas a partir de uma série de limites conhecidos então (ver Js 15-19 a respeito da divisão das tribos). O s limites m ais óbvios são os do leste e do oeste: o rio Jordão e o m ar M editerrâneo, respectivamente. A fronteira norte alcança as montanhas do Líbano, até o monte Hor (pico desconhecido, provavelm ente na cadeia m ontanhosa do Líbano) e Lebo (Lebo-Hamate, provavelmente a atual Lebweh em uma das nascentes do Orontes). Essa era a fronteira sul da terra de Ham ate e, portanto, a fronteira norte de Canaã, incluindo a área de Damasco e Basã (aproximadamente semelhante às montanhas da moderna Golan). É provável que Zedade seja a moderna Sedade, cerca de 56 quilômetros a nordeste de Lebweh, enquanto Zifrom e H azar-Enã geralm ente são identificados com o os dois oásis a sudeste de Zedade. Para chegar à fronteira sul, o território atravessa a Galiléia até o vale do Iarm uque (os lugares mencionados no versículo 11 são desconhecidos), indo para o oeste até o vale do Jordão, de onde estende-se para o sul até Cades-Baméia (ver comentário em Nm 13) no deserto de Zim (ver comentário em N m 20.1), antes de fazer uma curva em direção a oeste, para o M ed iterrân eo, em ET A rish . É com u m id entificar Hazar-Adar e Azm om com duas outras nascentes nas proximidades de Cades, a saber, 'A in Qedeis e 'A in Muw eilih. A localização de A crabim (Passagem de Escorpiões) é desconhecida, em bora seja identificada com uma passagem estreita ao longo do uádi Marra apontando para o nordeste, em direção à extremidade sul do m ar Morto.
35.1-34Cidades de refúgio35.1-5. Cidades dos levitas. Visto que a responsabilidade dos levitas era principalm ente servir como sa
cerdotes e funcionários religiosos, eles não receberam um a porção da terra prometida para lavrar (ver Nm18.23, 24). No entanto, receberam 48 cidades e a área ao redor delas para servir de pastagem aos seus rebanhos (ver Lv 25.32-34 acerca dos direitos de propriedade nessas cidades). O precedente de designar cidades ao controle sacerdotal pode ser encontrado na prática do governo egípcio em Canaã (e também entre os hititas), onde algumas cidades eram separadas como propriedades reais e entregues nas m ãos dos sacerdotes, que as administravam. Esses centros administrativos egípcios, de m odo geral, eram fortificados e era onde se recolhiam as taxas ou impostos daquela região. Do m esm o m odo, na prática m esopotâm ia e assíria, cidades designadas tinham terras reais para pastagens ligadas a elas. Embora as cidades levíticas não tenham se destacado por seu papel administrativo secular, elas devem ter sido centros de educação religiosa e recolhim ento de renda para o santuário. Um a vez que as pastagens são mencionadas de forma específica, pode ser que os animais para o uso ritual também fossem obtidos do mesmo modo.35.6-34. as cidades de refúgio e o sistem a ju d icial. Dentre as cidades dos levitas, seis delas deviam servir como lugares de refúgio para pessoas que tivessem cometido um homicídio não intencional (ver tam bém Dt 4.41-43). Essa solução, que garantia proteção ao acusado e evitava que fosse morto numa "vingança de sangue", talvez fosse uma extensão ou alternativa ao uso de altares como refúgio, conforme m encionado em Êxodo 21.12-14. A comunidade sacerdotal talvez estivesse preocupada também com a contaminação do altar e do santuário, no caso de um criminoso agarrar as pontas do altar apelando para a lei. Assim, ao estender a zona de proteção para os lim ites da cidade de refúgio, essa *contaminação não aconteceria e a pessoa acusada ficaria m ais bem acomodada até que o julgam ento terminasse. Cidades tidas como reais ou sagradas gozavam de um a posição privilegiada, o que pode ser constatado em todo o antigo Oriente Próximo, m as a proteção oferecida por elas era mais em relação a certas obrigações impostas pelo governo, embora um texto fale de uma proibição quanto a derramar o sangue de qualquer pessoa que estivesse sob proteção. O conceito de "asilo" também é encontrado em fontes clássicas e sugere uma tentativa por parte do governo em endurecer o controle do sistema judiciário, afastando da fam ília o direito à vingança e
assegurando a justiça por meio do processo legal.35.9-34. a responsabilidade da fam ília em vingar-se. Em bora a lei bíblica claramente determine a responsabilidade de vingar a morte de um parente através da "vingança de sangue", essa prática podia obstruir
o cumprimento da justiça. Assim, as seis cidades de refúgio foram estabelecidas tanto para garantir um "abrandam ento" dos ânimos como um processo justo para o acusado. Para condenar um acusado, eram necessárias duas testemunhas (Nm 35.30); só depois disso que a responsabilidade de executar o réu passava a ser do "vingador do sangue" (Nm 35.19-21; Dt 19.12). Não havia possibilidade de pagar algum tipo de resgate pelo assassino condenado (Nm 35.31, 32), ao contrário do que era estipulado pelas leis de outros povos do antigo Oriente Próximo. Tanto as leis hititas como as leis medo-assírias asseguravam o pagamento de um resgate para poupar a vida do assassino. A lei assíria dispunha de um a solução intermediária, em que o parente m ais próximo da vítima tinha a opção de executar o assassino ou aceitar o pagamento de um resgate.35.25, 28. morte do sum o sacerdote. Não era o período de exílio num a cidade de refúgio que absolvia uma pessoa acusada de homicídio não intencional (ver Js 20.2-6). O sangue da vítima somente podia ser expiado pelo derramamento do sangue de outra pessoa, visto que tirar a vida de um ser humano incorria em culpa de sangue. No entanto, mesmo quando o acusado não era considerado culpado, ele devia permanecer exilado até a morte do sumo sacerdote. Desse modo, era a morte do sumo sacerdote que eliminava a culpa de sangue que estava atrelada ao homicídio. Até mesmo na morte o sumo sacerdote prestava seus serviços *cultuais ao povo, rem ovendo a culpa de sangue e livrando o povo de seus pecados (ver Êx 28.36-38; Lv16.16).
35.33. o derramamento de sangue profana a terra. Aterra prometida, por ser um a promessa da *aliança, era sagrada e podia ser contam inada por derram amento de sangue e idolatria (ver Ez 36.17, 18). Visto que o sangue é a fonte da vida e um a dádiva de Deus, a *contaminação causada por derramamento de san
gue podia ser eliminada somente com derramamento de sangue. Assim , até mesmo o sangue de animais
tinha de ser derram ado sobre o altar como resgate pela pessoa que os sacrificara (ver Lv 17.11). É por
essa razão que o assassino condenado devia ser executado e tam bém por esse m otivo que a m orte do
sumo sacerdote eliminava a impureza do homicídio não intencional. A desobediência a esse mandamento
profanava a terra, e se a terra e seu povo se contaminassem, Deus não poderia mais habitar no meio de
les. Se D eus abandonasse a terra, ela não m ais pro
porcionaria a abundância prometida na *aliança (ver Gn 4.10-12). '
36.1-13 A lei da herança das mulheres36.1-13. a tribo m antém em seu poder as terras her
dadas pelas filhas. Na lei estabelecida em Números27.1-11, as filhas de Zelofeade receberam o direito de
herdar a terra, visto que não havia herdeiros do sexo
m asculino (o livro apócrifo de Tobias [6.13] mostra uma aplicação da lei). Dessa forma, havia sido criada
inadvertidam ente, um a brecha na lei perm itindo a transferência de propriedade a outra tribo, através do
casamento. Assim, um a cláusula adicional foi acres
centada, restringindo as mulheres que tivessem herdado terras de seus pais a se casarem somente dentro
do clã da tribo, a fim de que a propriedade original da
tribo permanecesse intacta. Aqui, fica evidente que a
preservação das propriedades da família era um dos mais elevados valores da sociedade israelita. Isso se
justifica pelo fato de a terra ser um a dádiva da *alian-
ça, e desta forma, o lote de cada fam ília era sua porção
da aliança. Embora a posse de terra fosse importante para os demais povos do Oriente Próximo, nenhum
outro povo tinha um a ligação religiosa tão forte rela
cionada à terra.
D E U T E R O N Ô M I O
1 .1-8 Introdução1.1, 2. geografia. Arabá é a área da grande fenda do Jordão, às vezes limitada à região entre o m ar Morto e o golfo de Ácaba. A lista de localidades parece mais um itinerário do que um a descrição da localização atual dos israelitas (por isso, o comentário a respeito da viagem pelo caminho dos m ontes de Seir). A identificação dessas localidades é bastante incerta. Os m ontes Seir são um a denominação alternativa para Edom e o caminho dos montes Seir parte da península do Sinai em direção a Edom. Para detalhes acerca de Cades-Baméia, ver o comentário em Números 13.26; sobre a localização do Sinai/Horebe, ver comentário em Êxodo 19.1, 2. A jornada de onze dias (224 quilômetros) mencionada aqui é compatível com a localização do monte Sinai ao sul.1.3. cronologia. O décim o prim eiro m ês é Tebet, e corresponde aos meses de dezembro e janeiro do nosso calendário. Em Israel, é o meio da estação das chuvas, m as na região sul onde os israelitas se encontravam, o índice de chuvas é m uito baixo (média de 5 centímetros por ano) e mesmo no inverno a temperatura média durante o dia é de 20 graus centígrados. É difícil determ inar um núm ero para esse quadragésimo ano, visto que o texto não nos oferece nenhuma base para uma cronologia precisa. No mundo antigo, a cronologia era observada apenas em termos relativos ("o quinto ano do rei fu lano"), o que tam bém acontece no texto bíblico (quadragésimo ano desde o êxodo). Não havia um a cronologia precisa (por exemplo, o ano de 1385). Sobre essa questão, ver o artigo "A Data do Êxodo", na p.1.4. história. O relato dessas batalhas encontra-se em Números 21.21-35. Das três localidades mencionadas nesse trecho, apenas em Hesbom foram feitas escavações arqueológicas, e ainda assim , causaram m uita controvérsia (ver comentário em N m 21.25-28). Asterote é identificada como a capital de Basã. Essa cidade é mencionada tam bém em textos egípcios e *assírios e nas cartas de *Am am a; alguns acreditam que ela tam bém apareça em um texto de *Ugarite como o lugar onde o deus *E1 reinava. É conhecida hoje como Tell 'A shtarah e situa-se às m argens do rio Iarm uque, quarenta quilômetros a leste do m ar da Galiléia. Quanto aos reis Seom e Ogue, não há nada a respeito deles fora da Bíblia.
1.6. H orebe. Horebe é um a outra designação para o m onte Sinai, localizado provavelm ente na parte sul da península do Sinai. Para mais detalhes, ver o comentário em Êxodo 19.1, 2.
1.7. geografia. A descrição apresentada nesse versículo é basicamente de áreas topográficas. A região m ontanhosa ou serra dos *am orreus pode ser um a referência a toda a região sul, em oposição à terra dos
cananeus, que seria a parte norte. Arabá refere-se ao vale da grande fenda do Jordão, a partir do norte do
golfo de Acaba, enquanto que a região montanhosa estende-se de norte a sul ao longo da margem ocidental do rio Jordão, interrom pida pelo vale de Jezreel.
Sefelá refere-se a um a pequena faixa de relevo variável, na região sul, que fica entre a planície costeira e
as m ontanhas. O N eguebe é a região desértica no triângulo formado pelo mar M orto, mar Mediterrâneo e golfo de Ácaba. O Líbano é a cadeia de montanhas
que fica ao norte e a ponta noroeste do Eufrates define a fronteira a nordeste.
1.9-18O sistema judiciário1.16. estruturas ju d iciais no antigo O riente Próximo.Os registros egípcios e *hititas desse período também
com p rovam a ex istên cia de u m sistem a ju d ic ia l estruturado em níveis. O texto hitita Instruções a Oficiais e Comandantes apresenta líderes m ilitares na posição de juizes, assim como o versículo 13 dessa passagem. Isso é um indício da íntim a relação que havia entre a atividade militar e a atividade jurídica im plícita no Livro de Juizes. Na m aior parte dos sistemas juríd icos dos povos do antigo O riente Próxim o, os casos difíceis eram julgados pelo rei, enquanto que no
contexto israelita, Moisés dava a palavra final. Assim, no antigo O riente Próxim o, os líderes, fossem eles tribais, m ilitares, de cidades, províncias ou da nação, tinham a obrigação de julgar os casos sob sua jurisdição. Não havia tribunal formado por júri, em bora às vezes um grupo de anciãos participasse do julgamento de alguns casos. Quando um único juiz cuidava do
caso, o risco de favorecer os ricos e poderosos era de fato bastante grande. Tanto nos documentos do antigo Oriente Próximo como na Bíblia, a imparcialidade e o discernimento são valorizados. Como não havia advogados, a m aioria das pessoas representava a si mes-
m a nos tribunais. Testemunhas podiam ser chamadas e os juram entos exerciam um papel muito importante, visto que nenhum de nossos recursos científicos de coleta de provas existia na época.
1.19-25A expedição de reconhecimento da terra e o relatório dos espias1.19. amorreus. Os *amorreus também eram conhecidos como amurru (em *acadiano) e martu (em *sumério). Tanto o termo amorreus ("ocidentais") como o termo cananeus podem ser usados para descrever a população geral da terra de Canaã. Enquanto grupo étnico, os amorreus são conhecidos a partir de fontes escritas que remontam à m etade do terceiro m ilênio a.C.. A maioria dos estudiosos acredita que eram oriundos da Síria, de onde partiram para ocupar muitas áreas no Oriente Próximo.1.24. vale de Escol. Há m uitos uádis nessa região, e é impossível afirmar a qual deles o texto se refere. Nos arredores da atual Hebrom situa-se Ram et el-'Amleh, conhecida por sua produção de uvas e próxima a um uádi.
1.26-46A rebelião do povo1.28. enaquins. Os descendentes de Enaque são especificam en te m en cion ad os em N úm eros 13 .22 , 28. Numa relação de povos apresentada, eles são chamados de *hurrianos (os horeus descritos na Bíblia; ver com entário em D t 2). Os descendentes de Enaque eram geralmente considerados "gigantes", (Nm 13.33; D t 2 .10 ,11 ; 2 Sm 21.18-22), embora a expressão "com o gigantes" talvez fosse m ais adequada. Os enaquins não são mencionados em outras fontes antigas, embora a carta egípcia no Papiro de Anastasi I (século trezea.C.) faça referência a guerreiros selvagens de Canaã que mediam de 2,10 a 2,70 metros de altura. Também foram encontrados em Tell es Sa'ideyeh, na Trans- jordânia, dois esqueletos de m ulheres do século doze, com cerca de 2,10 metros de altura.
1.44. desde Se ir até Hormá. Seir geralmente é considerada a região m ontanhosa central de Edom (com altitudes superiores a 1.500 metros) localizada entre o uádi al-Ghuw ayr, ao norte, e Ras en-N aqb, ao sul. Hormá situava-se doze quilômetros a leste de Berseba, correspondendo possivelm ente à atual Tell M asos (Quibrote el-Meshash). A distânica de Seir a Hormá é de cerca de oitenta quilômetros, seguindo em direção a noroeste.
1.46. C ad es-B arn éia . C ad es-B arnéia geralm ente é identificada com 'A in el-Q udeirat, cerca de oitenta quilômetros ao sul de Berseba. N esse local se encon
tram as maiores reservas de água da região, e talvez por isso seja há m uito tempo um ponto de parada para nômades e beduínos. Não foram encontrados vestígios arqueológicos desse período no local, m as a abundância de artefatos do "N eguebe" (cerâmica datada desse período) encontrados ali talvez seja um a indicação de que na época em que os israelitas peregrinaram na região, esse local já era um ponto de parada para viajantes.
2.1-25A peregrinação no deserto2.1. geografia. Seguindo em direção ao m ar Vermelho, os israelitas foram para o sul, ao longo da região de Arabá, m as provavelm ente não tão ao sul como Elá, que fica na ponta do golfo de Acaba. Ao contrário, parece que eles m udaram o rum o em um dos uádis que ficam na região de Seir, para tomar a direção norte que os levaria até as planícies de Moabe.2.8. rota da Arabá. A rota da Arabá percorre de norte a sul desde o golfo de Ácaba até o mar Morto, atravessando o vale da fenda.2.8. Elate e Eziom -G eber. Elate ficava nas proximidades da atual cidade de Á caba, na extrem idade do golfo de Ácaba. Eziom-Geber era uma cidade portuária, localizada às m argens do m ar Verm elho (1 Rs 9.26) e pode ser Tell el-Kheleifeh (que alguns identificam com Elate) ou a ilha de Jezirat Far'on (a única localidade na região em que há provas da existência de uma área portuária considerável).
2.9. Ar. Alguns estudiosos entendem que "A r"é uma variante de Aroer. Talvez seja o nome de um a região, mas também pode se tratar de Quibrote Balu, ao longo de um dos afluentes do rio A rnom , na Estrada Real, a principal rota no sentido norte-sul que atravessava a parte oriental do Jordão.2.10. em ins. Esses povos tam bém são m encionados em Gênesis 14.6, m as nada m ais se sabe a respeito deles.2.10. enaquins. Ver comentário em 1.26-46.2.11. refains. Os refains são m encionados como um dos grupos étnicos que habitavam a terra de Canaã, em Gênesis 15.20, m as nada m ais é dito a respeito deles em outras passagens bíblicas, nem fora da Bíblia. Os textos *ugaríticos referem-se aos refains, considerados por alguns eruditos como fantasm as dos heróis e reis m ortos. Não há m otivo, porém , para interpretar dessa forma esse grupo bíblico, embora os refains m encionados em textos poéticos, como o de Isaías 14.9 (tam bém no Livro de Jó e nos Salm os) possam ser espíritos.2.12. horeus. Os horeus são conhecidos na literatura do antigo Oriente Próximo pelo nome de *hurrianos.
P ertencentes ao grupo étnico indo-europeu eles se concentravam ao longo do rio Eufrates, durante o terceiro e o segundo milênio. Os horeus estabeleceram um im pério político conhecido com o *M itanni, na m etad e do segundo m ilênio. No período em que aconteceram os fatos narrados aqui, esse império estava se desintegrando. A ssim , grupos de hurrianos acabaram se transformando em povos deslocados, peregrinando pela região da Síria e Palestina. Os hurrianos representavam o principal grupo étnico em *Nuzi e ficaram conhecidos a partir de textos das cidades de *Alalakh, *Mari, *Ugarite e da cidade egípcia de *A m arna. O s egípcios freqüentem ente referiam-se à Canaã como a terra dos khurri.2.13. vale de Zerede. O vale de Zerede fica na fronteira entre Edom e Moabe. Provavelm ente trata-se do uádi conhecido hoje com o al-H esa, situado a leste, partindo da ponta m eridional do m ar Morto, por cerca de 48 quilômetros.2.19. am onitas. Os amonitas habitavam ao norte dos moabitas, na região ao redor do rio Jaboque. São citados nos registros *assírios como Bit-Am m on e como a terra dos Benammanu. Estavam estabelecendo-se nesse território exatamente no período da peregrinação dos israelitas.
2.20. zanzumins. Os zanzumins eram conhecidos como zuzins, conform e o texto de Gênesis 14.5, mas além de sua relação com os refains, nada m ais se sabe a respeito deles.2.22. descendentes de Esaú e horeus. N ão há registros dessa batalha histórica entre os descendentes de Esaú e os *hurrianos. A té o presente não foi descoberta nenhuma evidência arqueológica confirmando a presença dos hurrianos em Edom.2.23. aveus e caftoritas. Caftor é identificada como Creta e é m uitas vezes associada à terra natal dos filisteus (Gn 10.14; Am 9.7). Gaza era uma das cinco cidades dos filisteus na planície costeira. Nada se sabe sobre os aveus, além das obscuras referências feitas a
eles na Bíblia.2.24. Arnom. O ribeiro de A m om é hoje identificado como o uádi al-M aw jib, que corre por cerca de 48 quilômetros em direção a noroeste e oeste, através da Transjordânia, antes de desembocar no m ar Morto. O rio Arnom foi por muito tempo a fronteira norte de Moabe, em bora em alguns momentos da história, os moabitas tenham estendido seu controle m ais ao norte até Hesbom.2.25. terror divino. Acreditava-se que um a investida militar poderosa e vitoriosa na batalha muitas vezes era precedida pelo pavor provocado por um a divindade guerreira. Textos egípcios atribuem esse terror ao deus Amom-Rá, nas inscrições de Tutmósis III, e
textos *hititas, *assírios e *babilônicos tam bém mencionam guerreiros divinos que despertavam pavor
no coração do inimigo.
2.26-37 A batalha contra Seom, rei de Hesbom2.26. Seom , o *am orreu . Essa batalha é registrada pela primeira vez em Números 21. Seom é conhecido apenas pelos registros bíblicos e a arqueologia tem poucas inform ações a respeito dessa cidade e desse reino.2.26. H esbom . A localidade moderna de Tell-Hesbam fica oitenta quilôm etros a leste de Jerusalém. Entretanto, os arqueólogos não conseguiram detectar nenhum a evidência de que essa localidade tenha sido ocupada em períodos anteriores a 1200 a.C.. Alguns estudiosos suspeitam que a cidade de Hesbom , da Idade do Bronze *M oderna, talvez ficasse em outra localidade, e Tell Jalu l tem sido apresentada como um a possibilidade. Pesquisas e escavações recentes nessa região têm descoberto inúm eras cerâmicas da Idade do Bronze *Moderna, m as ainda há dificuldade para identificar o tipo de ocupação desse período.2.26. deserto de Quedemote. Essa é uma referência à região desértica além da fronteira leste de Moabe. A cid ad e de Q u edem ote tem sido id entificad a com Saliya, na extrem idade sul.
2.32. Jaza. O local da batalha entre Israel e o exército de Seom, rei dos *amorreus, é descrito como Jaza. Sua
localização provável, de acordo com o historiador Eusébio (quarto século d.C.), seria entre os territórios
de M adaba e Dibom , em Quibrote M edeiniyeh, no lado leste de M oabe, perto do uádi al-Them ed. A batalha também é m encionada em Deuteronômio 2.33 e em Juizes 11.20.2.24-30. terra conquistada. A área central da Transjordânia, descrita aqui como os reinos de Seom e Ogue, estendia-se desde o vale do rio A m om , ao sul, até o rio Jaboque, ao norte. O território incluiria Moabe, mas não Amom. É bem provável que, nesse período, esses "reinos" não fossem Estados organizados e sua conquista garantiu passagem livre aos israelitas, sem que as tribos tivessem efetivamente controlado e povoado essa região.2.34. destruição completa. Ver comentário sobre "destruição com pleta" em 7.2.2.36, 37. geografia. Aroer era um a fortaleza na fronteira identificada como a m oderna 'A ra'ir, ao norte do desfiladeiro do rio Am om , onde seu curso é desviado para o sul. Vestígios da Idade do Bronze *M odem a foram encontrados no local. Os israelitas foram vitoriosos em todos os territórios da Transjordânia, desde o rio A m om (fronteira norte de Moabe) até o Jaboque
(território dos amonitas), oitenta quilômetros de norte
a sul e entre 30 a 40 quilômetros de leste a oeste.
3.1-11 A batalha contra Ogue, rei de Basã3.1. Basã. Após derrotar Seom, os israelitas viajaram
em direção ao norte, até a região de Basã (conhecida hoje como as Colinas de Golã), limitada ao norte pelo m onte H erm om , a leste por Jebe l D ruze (m onte Hauran), a oeste pelo m ar da Galiléia e ao sul pelo rio Iarmuque. Em Edrei, derrotaram o rei Ogue (Edrei é a m oderna D er'a, cerca de cinqüenta quilôm etros a leste do mar da Galiléia). A região de Basã propriam ente d ita, lim itada à área do (alto?) Iarm uqu e,
corresponde a um amplo e fértil planalto conhecido por suas pastagens (SI 22.12; Am 4.1-3).
3.1. Ogue. Não existe nenhuma inform ação fora da Bíblia, de fontes históricas ou arqueológicas, que lance alguma luz sobre a figura de Ogue.3.4. Argobe. De acordo com o que está descrito nesse versículo, fica evidente que a região de Argobe era
bastante populosa. Algumas vezes, ela é equiparada a Basã, e um a possibilidade é que se trate da área
bem ao sul do Iarmuque, circundada por esse rio. Os reis *assírios do século nono também encontraram e conquistaram m uitas cidades nessa região nos arredores do monte Hauran.
3.5. cidades fortificadas na Transjordânia. Apesar de
pouquíssimas escavações terem sido conduzidas nessa região, lugares como Tel Soreg podem ser característicos de comunidades agrícolas que viviam naque
la área, agrupadas em aldeias, sem muros. Sete cidades na região a leste do mar da Galiléia são mencionadas nos textos de *Amarna, datados do século
catorze, numa área conhecida como Garu (= Geshur?).
Pesquisas arqueológicas nas Colinas de Golã localizaram vinte e sete cidades ocupadas no final da Idade do Bronze *Intermediária e oito na Idade do Bronze *Moderna.
3.5. portas e trancas. As portas eram com freqüência feitas de diversos compartimentos (havia portas inter
nas e externas) e em alguns casos, para passar pelas portas era preciso fazer um tipo de curva. O portão
externo de Tell en-Nasebeh, datado da Idade do *Fer- ro, era ladeado por colunas de pedras com orifícios,
onde as trancas eram colocadas. Os habitantes trancavam as portas da cidade introduzindo as trancas nos buracos do muro.3.9. Hermom/Siriom/Senir. O m onte H erm om fica
na cordilheira do Anti-Líbano. O pico m ais alto, Jabal ash-Shaykh, chega a 2800 m etros de altitude e seu topo geralmente está coberto de neve. O termo Siriom (um a form a variante) aparece em textos egípcios,
*hititas e *ugaríticos. Registros *assírios do século nono referem -se a esse monte como Saniru.
3.10. Salcá e Edrei. Edrei é identificada como a atual D er'a , na Síria, cerca de 96 quilôm etros ao sul de
Damasco e 48 quüômetros a leste do m ar da Galiléia, perto do rio Iarm uque. A té agora não foram feitas escavações arqueológicas nesse local. A cidade tam
bém é m encionada em textos antigos do Egito e de *Ugarite. Salcá, a moderna Salhad, fica 40 quilômetros a leste de Edrei.
3.11. cam a de ferro do re i O gue. Em bora m uitos co
mentários e até m esmo algumas traduções substituam "cam a de ferro" por um sarcófago de basalto, a expres
são é bastante clara e refere-se a uma "cam a de ferro". Do mesmo modo que muitos objetos descritos como "de ouro, de prata ou de marfim" não eram feitos desses materiais, e sim decorados, revestidos ou adornados com
A ALIANÇA E OS TRATADOS NO ANTIGO ORIENTE PRÓXIMOMuitos tratados do segundo e do primeiro milênio, firmados entre nações soberanas e suas dependentes, foram recuperados através das escavações arqueológicas. Grande parte dos tratados do segundo milênio são relacionados aos hititas e a outras nações, enquanto que os exemplos do primeiro milênio ocorreram na época dos reis assírios Esarhaddon e Assurbanipal, do sétimo século a.C.. A estrutura desses tratados mostra semelhanças surpreendentes com uma série de documentos bíblicos da aliança, em especial com o Livro de Deuteronômio. Esses tratados iniciavam com um preâmbulo onde o suserano era identificado como a pessoa que firmava o tratado. Além de apresentar seus títulos e atributos, essa introdução enfatizava sua grandeza e seu direito para proclamar o tratado. Em Deuteronômio, essa parte encontra-se nos cinco primeiros versículos do capítulo um. Em seguida, os tratados ofereciam um prólogo histórico que fazia uma retrospectiva do relacionamento entre as partes envolvidas no acordo. Era concedida primazia para a bondade e o poder do suserano. Em Deuteronômio, essa seção compreende o trecho de 1.6-3.29 (e alguns a estenderiam até o final do capítulo 11). O ponto principal do tratado era a parte que estabelecia as condições e descrevia detalhadamente os deveres de cada lado. O Livro de Deuteronômio segue esse mesmo padrão ao apresentar a lei nos capítulos 4-26. Na conclusão dos tratados havia três seções de leis incluindo instruções concernentes ao documento, às testemunhas do acordo e bênçãos e maldições que resultariam, respectivamente, do cumprimento e da violação do tratado. Esses aspectos são abordados nos capítulos 28 e 31 de Deuteronômio.
O fato de essa estrutura conhecida estar presente na aliança bíblica toma evidente que o Senhor fez uso de uma forma literária bastante familiar para comunicar sua aliança com Israel. Os israelitas teriam percebido que Deus estava se colocando como suserano e que eles deveriam responder como vassalos. Era um tipo de relacionamento que garantia ao vassalo cuidado e proteção, desde que fosse fiel ao suserano.
eles, não devem os supor que a cam a fosse de ferro
maciço. Esse relato é do período situado na Idade do
*Brortze, quando o ferro era considerado precioso, assim, não seria estranho que essa cama recebesse algum
destaque por ser um a peça notável. A cama tinha qua
tro metros de comprimento e um metro e oitenta cen
tím etros de largura, o m esm o tam anho da cam a de Marduque que ficava no templo Esagila, na Babilônia.
As cam as não serviam apenas para dorm ir, m uitas
vezes eram usadas como encostos durante festas e ce
lebrações. Alguns relevos trazem ilustrações de reis re
clinados em esplêndidos sofás.3.11. refains. Ver comentário em 2.11.
3.12-20 A divisão da transjordânia3.12-17. geografia. Gileade é a parte montanhosa da Transjordânia que fica entre o Jaboque, ao sul e vai
quase até o Iarmuque, ao norte. A m etade sul, bem como o território tomado de Seom, ao sul do ribeiro de
A m om (fronteira norte de M oabe), foi entregue às
tribos de R úben e G ade. A parte de G ilead e que
estende-se ao longo da curva do rio Iarmuque (região
de Argobe?) e tam bém parte do território ao norte desse rio (tom ados de O gue) foram d estinados a
Manassés. Gesur e M aacah ficaram de fora, embora
aparentem ente tam bém fizessem parte do reino de Ogue. Gesur é uma pequena área bem a leste do mar
da Galiléia e M aacah fica ao norte de Gesur, esten
dendo-se até o monte Hermom. É citada nos Textos
Egípcios de *Execração.
3.17. Pisga. Pisga é o nome dado a um dos picos das m ontanhas de A barim (Nm 27.12). Fica ao lado do
monte Nebo, que é ligeiramente m ais alto. São iden
tificados como os dois picos de Jebel Shayhan, oito quilômetros a noroeste de Medeba, distantes cerca de dois quilômetros um do outro e a dezesseis quilôme
tros do rio Jordão.
3.21-29 Moisés avista a terra3.27. v ista de P isga. A pesar do m onte Pisga estar cerca de 120 metros abaixo do monte Nebo, sua posi
ção m ais em direção ao norte e oeste permite que se tenha uma visão melhor do vale do Jordão e da terra
do outro lado. N esse ponto, o M editerrâneo está a
uma distância de 96 quilôm etros a oeste, m as não pode ser avistado porque as colinas do lado ocidental
do Jordão obstruem a visão. Num dia claro, pode-se enxergar o monte Hermom, cerca de 160 quilômetros
ao norte, as m ontanhas a noroeste que m argeiam o vale de Jezreel (Tabor e Gilboa) e as m ontanhas do
planalto central (Ebal e Gerizim) até Engedi, no extremo sudoeste.3.29. vale diante de Bete-Peor. O uádi Ayun Musa, no pé do monte Nebo geralmente tem sido identificado como o vale de Bete-Peor; a localidade de Quibrote Ayun M usa é provavelmente a cidade.
4.1-40 Exortação à obediência4.3. Baal-Peor. *Baal-Peor era o deus adorado em Bete- Peor. O texto faz referência ao incidente acontecido anteriormente e descrito em Números 25, quando os israelitas são influenciados pelas mulheres m oabitas a envolver-se com idolatria. Provavelm ente esse foi o primeiro contato dos israelitas com o culto à *fertilida- de praticado em Canaã. Rituais de fertilidade eram com uns em sociedades agrárias, cuja sobrevivência dependia das chuvas e da produtividade do solo. Nessas seitas quase sempre havia um deus "qu e morria e re n a sc ia " a cad a m ud ança de estação. A relação estabelecida entre a fertilidade humana e a fertilidade da terra provocou o surgimento de elementos sexuais nos *rituais religiosos.4.6-8. resultado das leis. A obediência às leis é apresentada como uma evidência da sabedoria e da reti
dão que distinguiriam Israel do restante das nações. Um a série de compilações de leis do antigo Oriente Próximo contêm um prefácio e um epílogo explicando o quanto o rei é sábio e justo. Foi desse modo que a sabedoria de Salomão tom ou-se evidente: através de sua capacidade de elaborar decretos e preceitos justos. Os reis do antigo Oriente Próximo geralmente confiavam em seus códigos de leis para convencer os deuses de que eram governantes sábios e ju stos. A qui, o Senhor está revelando sua própria sabedoria e justiça ao seu povo e também ao mundo.4.7. proxim idade de D eu s. N a M esopotâm ia, o rei apresentava as leis ao deus da justiça (Shamás) para demonstrar o quanto ele era justo. A autoridade do rei para elaborar as leis era concedida a ele pelos deuses,
os guardiões da lei cósmica. As leis eram vistas como algo inerente ao Universo e, portanto, deveriam refletir o caráter impessoal das leis universais. Na concepção israelita, porém, a lei emanava do caráter de Deus, que era considerado a fonte de toda lei. Sendo assim, não era M oisés quem elaborava as leis e sim *Yahweh. Portanto, ao prom ulgar suas leis, o Senhor estava revelando-se de forma a distinguir-se dos outros deuses do m undo antigo. Esse é o sentido da expressão "u m Deus tão próxim o" destacada no texto.4.10. Horebe. Horebe é outro nom e dado ao monte Sinai, provavelmente localizado no sul da península do Sinai. Ver comentário em Êxodo 19.1, 2.
4.13. duas tábuas de pedra. Ver comentários em Êxodo 24.12; 32.15, 16.4.15-18. proib ição de im agens. O segundo m andamento diz respeito à form a como *Yahweh deve ser adorado, pois proíbe que sejam feitas imagens dele (não de outros deuses, cuja possibilidade já foi descartada no mandamento anterior). O mandamento não diz respeito a representações artísticas, embora as imagens esculpidas do m undo antigo fossem , de fato, obras de arte. Essas im agens eram entalhadas em m adeira, recobertas de lâm inas de prata ou ouro e então, adornadas de ricas vestimentas. Aqui, a proibição está m ais relacionada à m aneira com o eram usadas as im agens, e a um a questão de poder. No antigo Oriente Próxim o, era nas imagens que as divindades se manifestavam de form a especial, a ponto de a estátua de *culto tornar-se o próprio deus (quando os adoradores eram assim agraciados), embora essa não fosse a única m aneira da divindade se apresentar. Como resultado dessa ligação entre a divindade e sua im agem , feitiços, encantam entos e outros atos mágicos podiam ser executados diante do ídolo a fim de ameaçá-lo, intimidá-lo ou obrigá-lo a fazer algo. Por outro lado, alguns rituais relacionados à imagem tinham como objetivo ajudar ou cuidar da divindade. Assim sendo, as imagens representam uma visão de m undo e um conceito de divindade incom patível à forma como Yahw eh se revelara.4.19. adoração aos astros no antigo O riente Próximo. Os astros (deus-sol, deus-lua e Vênus, principalmente; na *Babilônia, Sham ás, Sin e Istar, respectivamente) eram os deuses principais das antigas religiões. Por controlarem o tempo, o calendário, as estações e o clima, eram considerados os m ais poderosos dentre os deuses. Seus sinais no firm am ento eram interpretados como presságios. *Yahw eh, porém , adverte os israelitas a não se envolverem com o culto à *fertilida- de (v. 3), nem com magia e encantamentos (idolatria, v. 16-18) ou presságios que relacionassem as divindades aos fenômenos cósmicos (v. 19), todos esses elementos fundamentais ao politeísmo pagão do mundo antigo.4.20. fornalha de fund ir ferro. No mundo antigo não existiam fornos de alta temperatura como os usados atualmente para produzir ferro fundido. O ponto de fundição do ferro é de 1.537 graus centígrados, uma temperatura im possível de atingir com a tecnologia antiga. No entanto, se aquecido a um a temperatura inferior a 1.100 graus centígrados, o ferro adquire uma forma esponjosa ou semi-sólida e pode ser forjado. A fornalha geralm ente era alimentada com carvão, a fim de produzir o carbono necessário para o processo químico. A resistência do aço depende da
quantidade de carbono capaz de absorver. Quanto mais baixa a temperatura, mais vezes o processo precisa ser repetido a fim de livrar-se das escórias e alcançar um produto adequado para o uso. Embora a fornalha certam ente seja uma m etáfora negativa, significando a opressão do Egito, o significado do fogo, em vez de destrutivo, é construtivo. A alta temperatura da fornalha transforma o m inério maleável no produto final, ou seja, um ferro duro e resistente. A experiência do êxodo, embora difícil, transformou Israel no povo da *aliança de Deus.4.26. o céu e a terra como testem unhas. Nos acordos firmados no antigo Oriente Próximo, os deuses eram geralmente invocados como testemunhas, pois eram considerados capazes de julgar qualquer falha no cum prim ento das exigências. N este contexto, o céu e a terra não são divinizados, m as servem com o um a representação do Universo criado, simbolizando que a duração do acordo deve ultrapassar o limite da vida humana. É possível ver de form a mais clara as implicações dessa expressão no Salmo 89.28, 29; 34-37 (ver também Jr 33.20, 21).4.28. concepção acerca dos ídolos. Este tema é também desenvolvido em outras passagens, como Isaías 44, Jerem ias 10 e Salm o 115.4-8. Para inform ações sobre crenças relacionadas aos ídolos na prática religiosa do antigo Oriente Próximo, consulte o comentário em 4.15-18. Tem despertado o interesse dos estudiosos o fato de que este texto não refuta a mitologia ou a existência dos deuses pagãos, mas sim ataca a compreensão que o m undo antigo tinha dos ídolos. De fato, é bastante difícil provar a uma pessoa que seus deuses não existem, m as é possível mostrar que eles não agem de acordo com a crença depositada neles. Para os escritores bíblicos, a característica da crença pagã em considerar o "ídolo como fetiche" era não só vulnerável, como também ridícula. Se os deuses não se m anifestavam através de suas próprias imagens, então muitos outros aspectos da cosmovisão geral também estavam ameaçados.4.32-34. a experiência única de Israel com a divindade. Os dois aspectos destacados pelo texto como únicos correspondem às duas principais características da *ali-
ança: eleição (v. 34, 37) e revelação (v. 33, 35). São essas duas ações que distinguem *Yahweh dos outros deuses do antigo Oriente Próximo. Os deuses do m undo antigo às vezes escolhiam um indivíduo ou uma família para favorecer e abençoar; geralmente o escolhido era o rei que afirmava ter determinada divindade como sua protetora. M as não existindo uma revelação, essa "eleição" não passava de inferência ou estratégia para confirmar sua autoridade como governante. Os deuses do antigo Oriente Próximo não revelavam
seus planos (e nem sem pre se acreditava que tivessem algum plano), nem o que lhes agradava ou desagradava. Tudo tinha de ser deduzido ou inferido por seus adoradores. Contudo, *Yahw eh quis revelar-se através da lei ("Sede santos, porque eu sou santo") e por m eio de suas ações (a aliança feita com os antepassados, as pragas, o êxodo, a conquista da terra prometida etc.).
4 .41-43As cidades de refúgio4.42. cidades de refúgio. Para saber mais a respeito das cidades de refúgio, consulte os comentários em Números 35. Bezer fica nas redondezas de Medeba e é citada na inscrição de M esha (século nono a.C.), mas sua identificação arqueológica ainda é incerta. As principais possibilidades são U m m al-Amad (cerca de 11 quilômetros a nordeste de Medeba) e Tell Jalul (cinco ou seis quilôm etros a leste de M edeba). Ram ote- G ilead e gera lm ente é id e n tificad a com o T e ll er- Rumeith, perto da moderna Ramtha, ao sul de Edrei, ao longo da Estrada Real. Escavações feitas no local, porém, não encontraram nenhum vestígio de períodos anteriores ao rei Salomão. Golã, a atual Sahm al- Joulan, fica na fronteira oriental das Colinas de Golã, no lado leste do rio el-Allan.
4.44-49Descrição do território4 .48. fro n te ira s . F in alm ente, tod o o território da Transjordânia está delimitado, desde o rio A m om , ao sul (a fronteira norte de M oabe), até o m onte Hermom, ao norte, incluindo o vale do Jordão e o m ar Morto (mar de Arabá).
5 .1-33Os dez mandamentos5.2. H orebe. Horebe é um outro nome dado ao monte Sinai, localizado provavelmente na parte sul da península do Sinai. Para um a discussão mais detalhada, ver comentário em Êxodo 19.1, 2.
5.6-21. os D ez M andam entos. Ver com entários em Êxodo 20.5.22. duas tábuas de pedra. O uso de duas tábuas provavelmente indica que M oisés recebeu duas cópias, e não que parte dos mandamentos estivesse numa tábua e o restante na outra. O fato de serem de pedra sugere que eram m aiores que as tabuletas de argila comuns, em bora algumas tábuas de pedra com inscrições, tais com o o calendário de Gezer, podiam ser bem pequenas, a ponto de caber na palm a da mão. Era costume entre os egípcios desse período usar lâminas de pedra lascadas de rochas, com inscrições dos
dois lados: quando a escrita atingia a base, o escriba v irava a lâm ina e continuava a escrever do outro lado. Algumas lascas bem pequenas, que cabiam na palm a da mão, chegavam a conter de quinze a vinte linhas de texto.
6.1-25A importância da lei6.3. leite e m el. A terra de Canaã é descrita como a terra "on d e m anam leite e m el", num a referência à exuberância da terra, favorável ao pastoreio, m as não n ecessariam ente adequada à agricultura. O leite é produzido pelos rebanhos, enquanto que o mel representa um recurso natural, provavelmente tratando-se da seiva extraída da tâmara, e não do mel de abelhas. Um a expressão semelhante a essa pode ser
encontrada no épico *ugarítico de *Baal e M ot, que descreve a volta da fertilidade à terra m encionando os uádis de onde corria mel. Textos egípcios antigos, como A História de *Sinuhe, já descreviam a terra de Canaã como rica em recursos naturais e também na
produção agrícola.6.4. tipos de m onoteísm o. É possível identificar dife
rentes níveis de monoteísmo que podem ter caracterizado a crença dos israelitas em vários períodos de sua
história. O monoteísmo absoluto, que pode ser chamado de monoteísmo filosófico, afirma que existe e sempre existiu somente um deus. O *henoteísmo reconhece a existência de outros deuses, mas geralmente insiste na supremacia de um deus. De modo semelhante, na monolatria, uma pessoa ou grupo decide adorar apenas um deus, quer existam ou não outros deuses. Por fim,o monoteísmo prático,qu.e pode reconhecer diversos deuses, mas concentra grande parte de sua adoração e atividade religiosa num a divindade específica. O conteúdo de D euteronôm io não adm ite o monoteísmo prático, mas tolera o mínimo possível o henoteísmo e a monolatria.6.4. Y ahw eh. Quando um a divindade afirm ava ser única ou exclusiva, como aparece também em outros textos do antigo Oriente Próximo (na reivindicação do deus *Enlil [sumério] e de *Baal [cananeu]) estava se referindo, de modo geral, à supremacia de seu domínio. Outra possibilidade é que essa afirmação apresentasse um a visão unificada da divindade, visto que no antigo Oriente Próximo o deus principal poderia ter vários santuários diferentes, cada um deles destacando um atributo diferente. N a M esopotâmia, a deusa *Istar de Arbela era bem diferente da deusa Istar de *Uruk. Inscrições na Palestina m ostram que isso poderia na verdade ter acontecido também em Israel, já que se faz menção a Yahw eh de Sam aria e a Yahw eh de Temã.
6.4. m onoteísm o no antigo O riente Próxim o. Dois m ovim entos foram interpretados como m onoteístas no antigo O riente Próxim o, durante o período que corresponde ao Antigo Testam ento. O prim eiro foi promovido pelo faraó egípcio Akhenaton, no período geral do Pentateuco; o segundo, pelo rei *babilônio N abonido, nos anos que antecederam a queda da Babilônia para o rei persa Ciro. Nenhum desses movim entos durou mais que vinte anos. Akhenaton tentou estabelecer a adoração exclusiva ao deus-sol, Aton, um deus que não era representado em im agens e, portanto, de pouca utilidade para os templos e *ritu- ais. O faraó empenhou-se em erradicar a adoração a Amon-Rá, a principal divindade do Egito, e o disco solar foi declarado como único deus (embora pareça não ter havido tentativa de erradicar outros deuses). Ainda que Akhenaton tivesse a intenção de instaurar o monoteísmo filosófico (alguns chegaram a identificá- lo como trinitariano), parece que poucos de seus súditos adotaram essa crença. Nabonido em preendeu a promoção oficial de Sim, o deus-lua, restabelecendo seu templo em Harran. O rei então passou dez anos em Teima, no noroeste da Arábia, aparentemente (de acordo com algumas interpretações) dedicando-se a instaurar o culto a *Sim. H á poucas evidências, no entanto, de que as outras divindades tenham sido eliminadas. Embora Nabonido favorecesse o deus Sim, continuou a fazer visitas obrigatórias e doações a outros templos. É provável que sua estada em Teima foi decorrência de uma desavença com o domínio sacerdotal na Babilônia, ou ainda, motivada por questões comerciais ou políticas, não havendo razão para considerar essa ação como um a reforma m onoteísta. Ainda que a crença em Israel referente a este período seja rotulada de m onoteísta ou henoteísta, não pode ser comparada a nenhum outro sistema religioso do m undo antigo.6.6. m etáforas da anatom ia. A ssim como a língua portuguesa, o hebraico faz uso de partes do corpo para referir-se metaforicamente a diferentes aspectos da pessoa. "M ão" pode referir-se a poder ou autoridade; "braço", a força; "cabeça", a liderança e assim por diante. Muitas dessas m etáforas podem ter sido incorporadas à nossa língua, seja pela lógica inerente a elas, seja pela influência da Bíblia nas línguas do m undo ocidental. Nem todas as m etáforas relacionadas à anatom ia, no entanto, possuem o m esm o significado tanto no português como no hebraico. Por exemplo, no hebraico, os rins eram considerados o centro da consciência e a garganta era relacionada à vida e à essência da pessoa. Em português, o "coração" é usado metaforicamente como
o centro de nossas em oções, em oposição à lógica e à razão. O hebraico usa esse term o com o o centro das
em oções e tam bém da razão e do intelecto. Esse uso tam bém ocorre em línguas semitas como no *ugarítico, no *aram aico e no *acadiano.6.8. s in a l nos braços e na testa. Turbantes e faixas enroladas nos braços eram acessórios comuns na região Sírio-Palestina, em bora não haja evidências gráficas para comprovar o seu uso entre os israelitas. Os *amuletos geralmente eram usados no antigo Oriente Próxim o como proteção contra os espíritos do mal, sendo que os metais preciosos e gemas eram considerados particularm ente eficazes. As vezes, o uso de amuletos era acompanhado por palavras mágicas ou feitiços. Os costumes israelitas condenavam os amuletos, m as quando usados, eram transform ados em lembretes da lei ou ainda como forma de conter orações ou bênçãos, tais como os pequenos rolos de prata encontrados numa tumba do período pré-exílico nos arredores de Jerusalém , em 1979. Esses minúsculos rolos continham a bênção encontrada em Núm eros6.24-26 e representam a cópia mais antiga já encontrada de um texto das Escrituras. Existem evidências tam bém de que sinais usados na testa e nos braços
indicavam lealdade a um a determinada divindade.6.9. inscrições nos batentes das portas e nos portões. As portas eram a entrada da casa e por isso necessitavam de proteção especial. Existem evidências de que no Egito as colunas das portas tinham inscrições sagradas. Esse tipo de prática servia para preservar a continuidade da vida e um relacionam ento m utuamente vantajoso com a divindade; ou evitar as conseqüências negativas trazidas por situações perigosas. O sangue aspergido nos batentes das portas por ocasião da saída do Egito é um exemplo dessa proteção contra o mal, enquanto que as inscrições da lei têm um caráter positivo, não de evitar o m al, m as de promover o bem-estar. A idéia de que textos escritos garantiam proteção pode ser encontrada também no texto mesopotâmico do Épico de Erra, em que a invasão do deus da peste podia ser evitada enquanto uma cópia dessa obra fosse m antida na casa.
6.10. 11. cidades de Canaã na Idade do Bronze M oderna. Esse período (1550-1200 a.C.) foi caracterizado
pelo declínio da população e das cidades fortificadas em Canaã; até m esm o os povoados e aldeias rurais apresentaram um significativo declínio. Nas cartas de *A m arna (correspondência do século catorze entre Canaã e Egito), H azor e M egido constam com o as duas cidades-estado mais importantes e poderosas no norte, Siquém, na região central e Jerusalém e Gezer no sul. Pesquisas arqueológicas têm descoberto evidências de que os habitantes m ais ricos viviam em casas confortáveis, geralmente com um pátio no centro. M uitas cidades eram rodeadas por terras boas
para o plantio, cultivadas pela maioria da população. O estilo de vida agrícola de Canaã incluía o trabalho de cavar poços e escavar cisternas nas pedras, preparar o solo e m ontar sistemas de irrigação. Geralmente eram necessários muitos anos para que os pomares e vinhas crescessem e se tornassem produtivos, mas quando os israelitas chegaram , tudo isso já estava pronto.6.13. ju rar p elo nom e de Y ahw eh. Fazer um ju ramento em nome de determinada divindade era uma forma de demonstrar que ela era considerada poderosa. Embora os israelitas tivessem herdado as cidades, casas e propriedades rurais dos cananeus, não deviam receber como herança os deuses que estavam associados à proteção desses lugares ou à fertilidade da terra. Um a das maneiras de demonstrar que haviam rejeitado esses deuses era a recusa em atribuir poder a eles através de juramentos.6.16. M assá. Massá é o nome dado ao lugar em Refi- dim, perto do Sinai, onde brotou água da rocha (ver Êx 17.7).
7.1-26Promessas e orientações quanto às nações7.1. povos de Canaã. Os *hititas eram originários da A natólia, a atual Turquia, m as alguns grupos que ocupavam partes da Síria e de Canaã também eram denominados hititas e podem ou não estar relacionados ao prim eiro grupo. O s h ititas que viv iam em Canaã tinham nomes semitas, enquanto os hititas da Anatólia tinham nomes indo-europeus. Os girgaseus são pouco conhecidos, embora sejam citados também
em textos *ugaríticos. Os *amorreus (conhecidos na M esopotâmia como amurru ou martu) são conhecidos a partir de documentos escritos já da metade do terceiro m ilênio a.C.. A maioria dos estudiosos acredita que eles ocuparam muitas áreas no Oriente Próximo, devido às suas raízes na Síria. O termo "am orreu" pode ser usado tanto para referir-se a uma área geográfica ("o c id e n ta is") com o a um grupo étn ico . A lgu ns amorreus eram nômades, m as já havia cidades-estado dos amorreus, na Síria, desde o final do terceiro m ilênio. Uma das primeiras menções a Canaã encontra-se nas tabuletas de Ebla (século vinte e quatro a.C.) e os cananeus eram os principais habitantes das cidades fortificadas da terra, embora não pareça que fossem nativos dali. Os reis dessa área referem-se a si mesmos nas cartas de *A m am a (meados do segundo milênio) como kinanu, um termo também usado nas inscrições egípcias desse período. Ainda existem controvérsias quanto ao termo ferezeu indicar uma classificação étnica ou sociológica (aqueles que habitavam em povoados sem m uros). Os heveus às vezes são
relacionados aos horeus, nesse caso, talvez sejam os *hurrianos. Os jebuseus ocuparam a região mais tarde associada à tribo de Benjam im , especialm ente a cidade de Jerusalém , e freqüentem ente são ligados aos ferezeus, que habitavam na m esm a região. Não há referências aos ferezeus, heveus ou jebuseus fora da Bíblia.7.2. destruição total (herem ). A ordem dada no versículo 2 e depois desenvolvida nos versículos 5 e 6 era para que os povos da terra fossem totalmente destruídos. Certos sacrifícios dedicados a Deus podiam ser compartilhados pelo sacerdote oficiante e pelo oferente, no entanto, outros eram exclusivos do Senhor. Do mesmo m odo, alguns despojos eram separados exclusivamente para o Senhor. Assim como a oferta queimada era consumida totalmente no altar, também os inimigos deveriam ser aniquilados. As batalhas eram comandadas por Yahw eh e representavam seu juízo sobre os cananeus; os israelitas estavam num a missão divina sob o com ando de Yahw eh, logo, não só o mérito da vitória era de Deus, como também o espólio pertencia a Ele. Em bora o tema da divindade guerreira apareça em todo o antigo Oriente Próximo, o conceito de herem é m ais restrito - a única ocorrência do termo está numa inscrição m oabita de Mesha, embora a idéia de destruição total tam bém esteja presente em
textos *hititas. Alguns lugares, como Gezer, apresentam um a camada bastante peculiar de cinzas, relacionada à Idade do Bronze Moderna ou Posterior. Quando as cidades eram sitiadas, as condições sanitárias se tom avam extremamente precárias e surgiam doenças devastadoras. Assim, a prática de queim ar tudo após a derrota da cidade também envolvia uma preocupação com a saúde.7.3. proibição do casam ento m isto. Em documentos *hititas desse período, certas cidades eram designadas cidades-templo e recebiam privilégios e tratamento especial. A fim de preservar esses privilégios, os habitantes eram proibidos de se casar com pessoas de fora da comunidade. De maneira similar, toda a terra de Israel fora designada como "a terra de Deus" e os israelitas eram um reino de sacerdotes. A proibição visava preservar os privilégios da *aliança, bem como a *pureza de seus valores religiosos.7.5. colunas sagradas. Colunas sagradas ou masseboth eram aparentem ente elem entos com uns na religião Cananéia, também servindo como memoriais em vários contextos israelitas relacionados à *aliança (ver Êx24.3-8; Js 24.25-27). Por estarem associadas a *Aserá, *Baal e outras divindades cananéias, são reprovadas por representarem um a ameaça à adoração a *Yahweh. Arqueólogos descobriram colunas sagradas em Gezer, Siquém, Hazor e Arad. Nestas três últimas, as colunas
situavam-se no interior de recintos sagrados onde faziam parte das práticas *cultuais. As colunas encontradas em H azor apresentam gravações de figuras com braços levantados e um disco solar.7.5. postes-ídolos. *A será era o nom e da deusa da *fertilidade e tam bém a denominação dada a um objeto de *culto (como é o caso desses postes). A deusa Aserá era bastante popular durante os desvios pagãos de Israel e algumas vezes era considerada uma m ediadora das bênçãos de Yahweh. U m a indicação dessa crença foi encontrada nas inscrições de Kuntillet Ajrud e Khirbet el-Qom. N a m itologia cananéia, ela era a consorte do deus principal *E1; na literatura m eso- potâmica ela é citada desde o século dezoito, onde é a consorte de A m urru, o deus *am orreu. O sím bolo *cultual podia ou não trazer um a representação da divindade. O poste talvez representasse um a árvore artificial, visto que Aserá muitas vezes é associada a bosques sagrados. O objeto de culto algumas vezes era fabricado e em outras ocasiões, era plantado. Temos poucas informações acerca da função desses postes na prática *ritual.7.6-11. a *aliança. A terminologia usada neste trecho (amor, bondade, fidelidade e obediência) era comum nos tratados internacionais da época. Exem plos de acordos *hititas, *acadianos, *ugaríticos e *aramaicos m ostram a atitude positiva do suserano para com seus vassalos, expressa através do amor, da bondade e da compaixão, retribuídas pelo vassalo com sua obediência e lealdade.
7.15. doenças do Egito. Alguns acreditam que essa é um a referência às pragas, enquanto outros a associam a doenças típicas do Egito. Nesse caso é difícil precisar a que tipo de doenças o texto se refere, em bora exam es de m úm ias tenham sugerido a predom inância de varíola, m alária e pólio. Enfisem a e tuberculose tam bém eram freqüentes. A m edicina eg ípcia era bastante conhecida por seu tratamento de doenças dos olhos e dos aparelhos digestivo, urinário e excretor. Isso nos leva a crer que as doenças dos egípcios se concentravam nessas partes do corpo. A situação pio
rava devido às condições sanitárias precárias identificadas pelos arqueólogos, até m esm o nas áreas e propriedades onde viviam os m ais ricos. Além disso, a estação seca no Egito é conhecida por favorecer a proliferação de doenças, e os riscos só diminuíam quando começava a época das cheias do Nilo.7.20. pânico. Embora nesta versão apareça a palavra "pânico" em outras o termo "vespão" é usado. Abelhas, moscas (Is 7.18, 19) e gafanhotos (J1 1, 2) eram usados freqüentemente como metáforas para exércitos. Entretanto, alguns estudiosos acreditam que se trata de um jogo de palavras com o termo Egito (ver
com entário em Êx 23.28) ou de um a referência ao Egito através do inseto que simbolizava o Baixo Egito. Outros ainda traduzem essa palavra como um a "praga" ou "terror".
8.1-19 Recordando o que Deus fez8.3. m aná. O alim ento que nutriu os israelitas no deserto não é facümente identificado. Sobre as alternativas possíveis, ver comentário em Êxodo 16.4-9.8.4. roupas que não se gastaram . No Épico de Gil- gamés, *Utnapishtim ordena que Gilgam és, em sua viagem de retorno, seja vestido com roupas que não se desgastem. Jó 13.28 descreve o desgaste das roupas com a expressão "roupa que a traça vai roendo". Este texto sugere que houve um a proteção sobrenatural para evitar que a roupa estragasse.8.7. fon tes de água. O texto m enciona riachos, tanques e fontes. O primeiro é resultado do escoamento das águas das chuvas dos lugares elevados, e os outros dois representam os lençóis de água subterrâneos. N um a terra onde a chuva é sazonal, e em algumas áreas, limitada, a irrigação é necessária para a manutenção da agricultura. As fontes de água tam bém são importantes para os rebanhos e agrupamentos humanos. Apesar de existir poucos riachos a oeste do Jordão, há muitas fontes de água subterrânea que foram usadas para m anter cidades e povoados.
8.8. principais produtos agrícolas. Sete produtos agrícolas são mencionados aqui como os principais produtos da região. O texto egípcio História de *Sinuhe descreve a terra de Canaã e alista seis desses sete produtos m encionados aqui (as rom ãzeiras são omitidas). Vinho e azeite de oliva eram os dois principais produtos de exportação da região, enquanto os outros representavam um a parcela significativa da dieta da população. O mel mencionado aqui é um produto das tamareiras, e não mel de abelhas.8.9. ferro e cobre. O texto tam bém identifica os recursos naturais da terra quanto à extração de minérios. Existem inúmeros depósitos de ferro de baixa qualidade na Palestina, mas alguns são de excelente qualidade. A m aior jazida de m inério de ferro conhecida atualmente na Palestina fica em M ughar-at el-Wardeh, nas colinas de Ajlun, perto do rio Jaboque. As minas de cobre concentram-se na Transjordânia. Enquanto o ferro pode ser extraído na superfície, o cobre requer um trabalho de mineração subterrâneo.
9.1-6 A conquista como castigo9.1. cidades muradas. A defesa das cidades era uma das principais preocupações nas épocas difíceis e in
seguras. No último período da Idade do Bronze *Mé- dia (sécu los dezoito a d ezesseis) m u itas cidades
fortificadas foram edificadas em Canaã, m as no final
dessa era, muitas delas foram destruídas e assim permaneceram durante a Idade do Bronze *M odem a (1550
1200). Acredita-se que isso ocorreu devido ao controle
egípcio da região que ofereceu segurança àquelas cidades. Existiam, porém, certas cidades fortificadas que
serviam como centros adm inistrativos para o Egito.
As técnicas de fortificação desenvolveram-se na Idade do Bronze M édia e incluíam escarpas íngrem es de
terra (algumas chegavam a atingir 15 metros de altura) na base dos muros, que eram rodeados por um
profundo fosso. Esses recursos serviam tanto para evi
tar a aproximação de mecanismos usados no cerco a cidades, como para dificultar a escavação de túneis.
Os muros de pedra tinham de 7,5 a 9 metros de largura e talvez nove metros de altura.
9.2. enaquins. Ver comentário em 1.28.
9.7- 10.11 Relembrando os acontecimentos no Sinai9.8. H orebe. Horebe é um outro nom e dado ao monte
Sinai, localizado provavelm ente na parte sul da pe
nínsula do Sinai. Ver comentário em Êxodo 19.1, 2.9.9. tábuas de pedra. Ver comentário em 5.22.
9.16. bezerro de ouro. Estátuas de bois ou bezerros, feitas de bronze ou liga metálica, foram encontradas
em muitas escavações arqueológicas (monte Gilboa,
Hazor e Asquelom), m as m edindo apenas de 7 a 18cm
de comprimento. A imagem do bezerro era bastante conhecida no contexto cananeu do segundo milênio e
representava fertilidade e força. Os deuses não eram representados na forma de bois ou bezerros, e sim de
pé no lombo do animal. Todavia, a adoração da imagem do anim al não era desconhecida e há poucos
indícios no texto bíblico de que o bezerro fosse considerado pelos israelitas como um simples pedestal (não
como a arca da aliança). O fato de o bezerro ter sido
adorado durante um a festa dedicada a Yahw eh suge
re que esse ato foi uma violação do segundo mandamento, e não do primeiro.
9.22. Taberá, M assá, Quibrote-H ataavá. Todos esses nomes são de locais onde os israelitas foram castiga
dos por Deus. Taberá e Quibrote-Hataavá são citados em Números 11 e estão relacionados à praga enviada
como castigo por terem comido as codom izes, e M assá está associado ao incidente registrado em Êxodo 16,
onde o povo desafiou o Senhor a providenciar água.
9.23. Cades-Barnéia. Cades-Bam éia era um local de acampamento que serviu como parada durante a pe
regrinação no deserto. Ver comentário em 1.46.
9.28. deuses hostis. Em bora a afirmação do versículo 28 pareça descabida, não era estranha ao contexto relig ioso do antigo O riente P róxim o. No sistem a politeísta, os deuses não podiam ser onipotentes, e por essa razão, às vezes falhavam em cum prir algo que tinham proposto fazer. A lém disso, não eram considerados amigáveis, sinceros ou previsíveis. Essa hostilidade é evidenciada no deus mesopotâmio *Ea, quando diz ao seu "protegido" *Adapa que a comida
que receberia seria o "p ão da m o rte ", quando na realidade deveria garantir a ele a vid a eterna. No Épico de *Gilgamés, Ea engana o povo, levando-os a a c re d ita r q u e só se r ia m a b en ço ad o s q u an d o *Utnapishtim fosse em bora em seu barco. Assim que o despedem , algo inesperado lhes sobrevêm e um dilúvio destrói a todos. Por volta de 1200 a.C ., os líbios queixaram-se de que os deuses lhes deram uma vitória iniciai contra o Egito, apenas para perm itir que no final, fossem destruídos. Textos fúnebres do Egito (Textos da Pirâmide e Textos do Sepulcro) atacavam as divindades hostis.10 .6 , 7. poços dos ja a ca n ita s , M o será , G u d god á,
Jotbatá. Essas localidades tam bém são mencionadas no itinerário de Núm eros 33.30-34. A maioria delas não foi identificada, mas Jotbatá tem sido associada a Tabé, um oásis ao longo da costa ocidental do golfo de Á caba.
10.12- 11.32 A aliança com Yahweh10.17. títu los divinos. Relacionar nomes e atributos divinos era um a forma comum de louvar uma divindade no antigo Oriente Próximo. Talvez a lista mais notável seja a do épico *babilônico sobre a criação, *Enum a E lish, que apresen ta cinqüenta títu los de *M arduque, o deus principal da Babilônia.10.17. deuses que aceitam subornos. Nas crenças religiosas do antigo Oriente Próximo, os deuses podiam ser m anipulados porque se acreditava que tinham necessidades. Os sacrifícios e a manutenção dos templos faziam parte do programa de cuidado e alimentação dos deuses. Ao providenciar alimento, vestimentas e abrigo aos deuses, os homens poderiam conquistar o favor das divindades. Esse texto deixa claro que *Yahweh não deve ser visto da m esma forma que os deuses dos povos vizinhos de Israel. Também reflete a figura de Yahw eh como um justo ju iz que se recusa a distorcer a verdade em benefício próprio.11.1. am or à divindade. Nas cartas de *A m am a (correspondência entre os reis vassalos de Canaã e o suse- rano egípcio), o termo "am or" é usado para caracterizar um relacionamento am igável e leal entre as nações, expressando a intenção do vassalo de ser leal ao
suserano e de honrar os termos do acordo firmado entre as duas partes. O texto bíblico apresenta um exemplo claro desse uso em 1 Reis 5.15. Na literatura m esopotâmica, são raras as ocasiões em que uma divindade exortava uma pessoa a amá-la; em geral, os deuses do antigo Oriente Próximo não exigiam amor de seus adoradores nem estabeleciam *alianças com eles.11.2. o seu braço forte. A im agem de um braço forte é uma metáfora comum em inscrições egípcias para descrever o poder e a autoridade do faraó. Foi o braço forte de *Yahw eh que estendeu seu poder contra o Egito para libertar seu povo. Ver comentário em 26.8.11.4. m ar V erm elh o . Têm sido sugeridas diversas possibilidades quanto à identificação dessa m assa de águas. A s m ais com uns são o lago Balá ou o lago Timsá. Ver comentário em Êxodo 13.18.11.9. terra de le ite e mel. Ver comentário em 6.3.11.10. m étodos de irrigação no Egito. A comparação nesse versículo entre a água das chuvas e irrigação não significa que se esteja favorecendo as chuvas em detrimento da irrigação, visto que todos reconhecem o valor e a eficácia deste método. Além do mais, não está implícito aqui que as chuvas, muitas vezes raras na Palestina, sejam um recurso superior às cheias anuais regulares e abundantes do rio N ilo. N ão existe nenhum sistema de irrigação conhecido como "irrigação a p é", m as em alguns m anuscritos de 2 Reis 18.27, essa expressão é usada como um eufemismo para urinar. Se o significado aqui for esse, o contraste não seria entre tecnologia de irrigação ou abundância de fontes de água, e sim quanto à pureza da água utilizada nas culturas de produtos alimentícios.11.11-15. estações em Israel. Em Israel há uma estação chuvosa (inverno) e uma seca (verão). A estação chuvosa tem início com as chuvas de outono ("prim eiras chuvas", de outubro a novembro) e termina com as chuvas de prim avera ("últim as chuvas", no início de abril). Estas últim as são im portantes por contribuir para o aumento do nível de umidade do solo e para prepará-lo antes do cultivo. A colheita dos cereais acontece na prim avera (cevada em m aio, trigo em junho) e nos meses de verão (julho e agosto) eles são debulhados e peneirados. A s uvas são colhidas no outono, enquanto a colheita de azeitonas estende-se até o inverno.11.18. sin ais nas m ãos, n a testa e nos batentes das portas. Ver comentário em 6.8, 9.11.24. do Líbano ao Eufrates. A respeito das fronteiras da terra de Canaã, ver comentário em 1.7.11.29. G erizim e Ebal. Gerizim e Ebal são os montes que m argeiam a cidade de Siquém, na região m ontanhosa central. Gerizim (868 metros de altitude) fica ao
sul e Ebal (937 metros) ao norte. Esse local foi escolhido para a celebração desta cerimônia por estar locali
zado exatam ente no centro de Canaã, conform e se acreditava (Jz 9.37), e por perm itir que se avistasse um a grande porção da terra, a partir dali. O vale que
atravessa as duas montanhas, o uádi N ablus, era uma
das únicas passagens da região. Esse vale fica na extremidade sudeste e é bastante estreito (as partes mais baixas das colinas são separadas por pouco mais de
400 metros), acomodando bem a cerimônia de antífona
realizada ali.11.29. bênçãos e m aldições. Nos tratados internacionais da época constavam bênçãos e maldições lançadas
sobre as partes envolvidas no acordo e responsáveis
por cumprir as condições ali propostas. Acreditava-se que as divindades, testemunhas dos acordos, encarre
gavam-se de cum prir essas bênçãos e maldições. As
expressões de bênçãos eram mais raras e curtas; já as de m aldições aumentaram de tamanho entre o segun
do e o primeiro milênio.
11.30. G ilgal. Não se trata da mesma Gilgal que ser
viu de base aos israelitas no Livro de Josué. Esta fica bem m ais ao norte, n as proxim idades de Siquém .
U m a possível localização seria em El-Unuk, pouco
mais de 6 quilômetros a leste de Siquém, ao longo do
uádi F ar 'ah.
1 2 .1 -3 2
O ú n ic o lo c a l d e a d o ra çã o
12.2, 3. santuários ao ar livre. Aparentemente, a existência de santuários ao ar livre era comum entre os
cananeus. Esses locais de adoração *cultual nativa eram vistos como abomináveis pelo escritor do texto bíblico, por prom overem um tipo de religião "popular"
que continha elementos da adoração Cananéia, afas
tando o povo da adoração somente a *Yahweh. Desta
forma, os altares, colunas e postes sagrados dedicados a *Aserá, assim como os bosques sagrados e qualquer
local relacionado a divindades cananéias (*Baal, *E1,
etc.), inclusive a adoração a D eus fora de Jerusalém
("o local que o Senhor, o seu Deus, escolher" - Dt12.5), eram proibidos. Existe um a diferença entre es
ses locais de adoração ao ar livre e o "lu g ar alto"
(bamah) mencionado muitas vezes como o centro reli
gioso nas cidades e povoados (1 Rs 11.7; Jr 7.31; Ez 16.16; 2 Cr 21.11; inscrição de Mesha). O "lugar alto"era
ao que tudo indica um recinto fechado construído para abrigar alguns objetos e utensílios sagrados e um al
tar, com recintos suficientemente espaçosos para aco
m odar os sacerdotes. U m a com paração entre esses
dois tipos de locais religiosos pode ser encontrada em
2 Rs 17.9-11.
12.3. colunas sagradas. Ver comentário em 7.5.12.3. postes sagrados. Os postes sagrados eram uma característica comum do culto cananeu e do *sincre- tismo religioso de Israel, tanto nos altares e lugares altos, como nos santuários na cidade (Jz 3.7; 1 Rs 14.15; 15.13; 2 Rs 13.6). Não se pode afirmar com certeza se seriam simplesmente de postes de m adeira simbolizando árvores, talvez contendo um a im agem entalhada da deusa da *fertilidade, ou se faziam parte de um bosque sagrado. A referência em 2 Reis 17.10 a postes sagrados erguidos debaixo de "to d a árvore frondosa" parece indicar que, de fato, tratava-se de postes de m adeira erguidos com objetivos *cultuais e não plantados como árvores. Por ser a consorte de *E1, Aserá evidentemente era um a deusa popular (ver 2 Rs 18.19) e o culto dedicado a ela é mencionado em textos *ugaríticos (1600-1200 a.C.). O destaque que ela recebe na narrativa bíblica é um indício claro de que a adoração a Aserá rivalizava fortemente com o culto à Yahw eh (ver a proibição em Êx 34.13; D t 16.21). Isso explica o grande número de situações em que postes sagrados foram erguidos e venerados, seu uso fortemente condenado e os inúmeros relatos desses postes sendo cortados e queimados (Jz 6.25-30; 2 Rs 23.4-7). Para mais informações, ver comentário em 7.5.12.4. 30 ,31 . como eles adoram. Os aspectos proibidos da religião cananéia incluíam o uso de ídolos a fim de manipular a divindade, rituais de *fertilidade (inclusive rituais sexuais com as prostitutas dos templos; ver comentário em 23.17, 18), sacrifício de crianças, *adivinhação e rituais para aplacar a ira dos deuses.12.3-5. elim inem os nom es deles, ponham o Nome do Senhor. A força e o poder associados aos nomes e à escolha de nomes são claramente demonstrados na narrativa bíblica (ver G n 17.5; 41.45; Êx 3.13-15; Dt5.11). U m exem plo disso pode ser visto na prática egípcia de apagar dos m onumentos os nomes de oficiais e até mesmo de faraós que caíram em desonra. Os n om es tam b ém eram u sad o s n as exp ressõ e s de
*execração em todo o Oriente Próximo para amaldiçoar os inimigos e invocar desgraças provenientes dos d eu ses (N m 2 2 .6 ; Jr 1 9 .3 -1 5 ). T ex to s co n ten d o *execração eram conhecidos no Egito durante o segundo m ilênio e seu uso consistia em escrever nomes de governantes ou de cidades sobre objetos que seriam depois esm agados. Quando os israelitas foram chamados para eliminar os nomes dos deuses cana- neus, a ordem era para que esses nomes fossem apagados das páginas de sua história. Numa época em que as pessoas estavam presas ao poder existente no nome de pessoas e deuses, a destruição completa desses nomes só aconteceria se eles fossem totalmente esquecidos. Feito isso, restaria apenas um nom e, e
então não haveria m ais m otivo ou desejo de adorar qualquer outro deus (ver Is 42.8).12.5-7. sacrifícios na presença da divindade. Em todo o antigo Oriente Próximo, acreditava-se que os deuses exerciam domínio sobre as regiões a que estavam ligados (p. ex., *Marduque na Babilônia; Belzebu, em Ecron). Esperava-se que os devotos desses deuses se dirigissem a esses santuários principais, onde ofereceriam sacrifícios, fariam votos, formalizariam contratos ou acordos e garantiriam um testemunho legal através da presença sagrada do deus (como no Código de *Hamurabi e nas leis *Médio-assírias). Ao agir assim, o devoto estaria invocando a divindade como testemunha, e conseqüentemente dando mais peso ao ato
realizado. Além disso, o santuário ganhava credibilidade por ficar conhecido como o lugar onde a divindade se manifestava.12.11. votos. Ver comentário em Levítico 27.2-13.12.16. derramar o sangue antes de com er a carne. Naliteratura sagrada de *Ugarite e da M esopotâm ia, o
sangue era identificado como a essência da vida de qualquer animal. Na tradição israelita, o sangue também era considerado a essência da vida e, por essa razão, pertencia ao doador da vida, o Deus Criador, *Yahweh. Sendo assim, os israelitas eram proibidos de com er carne com sangue. Esse líquido sagrado tinha de ser escorrido da carne e "derram ado no chão como se fosse água", a fim de que voltasse à terra. Em circunstâncias sacrificiais, o sangue devia ser derramado sobre o altar (ver Lv 17.11,12).
12.20. com er carne. A prom essa de que os israelitas poderiam comer carne quando tivessem vontade está ligada à prom essa contida na *aliança, de que possuiriam um a terra fértil. Porém , o povo de Israel, de modo geral, nunca possuiu tantos rebanhos a ponto de dar-se ao luxo de abater os animais indiscriminadamente. O sacrifício animal, portanto, era considerado não só um ato sagrado, mas também uma ocasião
solene, pois a carne do sacrifício, muitas vezes, era a única carne consumida após semanas de abstinência.
13.1-18A adoração a outros deuses13.1-18. focos de rebelião. N esta passagem, profetas, parentes próxim os e grupos locais subversivos são vistos como terreno propício para fomentar rebeliões. Nas instruções do rei assírio Esarhadon a seus vassalos, ele exige que prestem relatório de qualquer expressão im própria ou de desagrado feita contra ele por inimigos ou aliados, sejam parentes, profetas ou intérpretes de sonhos.13.1-3. profeta exortando a adoração a outros deuses. Com o propósito de delinear um a religião mo-
noteísta, de adoração exclusiva a *Yahweh, o Livro de Deuteronômio procura desacreditar e desautorizar os
ensinos e palavras de todos os outros deuses e seus profetas. O s profetas, adivinhos e sacerdotes desses
outros deuses estavam presentes entre os cananeus e
povos vizinhos (mencionados nos texto de *Mari, no relato de Balaão, em Números 22-24 e nas inscrições de Deir 'Alia). Entretanto, o que parece mais abomi
nável aqui é o fato de israelitas falarem em nome de
outros deuses. Esse tipo de proselitismo interno era particularmente ameaçador, visto que gozava de mai
or credibilidade, podendo assim ser mais efetivo (ver Nm 25.5-11). No caso das palavras ou predições des
ses profetas se cum prirem (um sinal de sua aprovação
como profetas, D t 18.22), os israelitas tinham de ficar atentos para ver se eles atribuíam os sinais a Yahweh.
Caso contrário, seria uma prova da falta de lealdade deles, e deveriam então ser rejeitados como profetas e
condenados à morte por serem uma influência maléfica ao povo.
13.1-5. predições por m eio de sonhos no antigo O ri
ente Próximo. Acreditava-se que os sonhos eram um
dos principais instrumentos usados pelos deuses para
transmitir mensagens (ver Jacó em G n 28.12; José em
Gn 37.5-11; Nabucodonozor, capítulos 2 e 4 de Daniel). Os sonhos são citados em antigos textos *babilônicos
de presságios, juntam ente com o exame do fígado de
ovelhas, irregularidades no clim a e nascim ento de
animais, e outros sinais considerados de origem divina. Dentre os m ais famosos, encontra-se o sonho de
G u dea, de Lagás (c. 2150 a.C .), que recebeu um a
ordem para construir um templo de uma figura que
remete às figuras apocalípticas presentes nos sonhos de Daniel e na narrativa do chamado de Ezequiel (Dn
7; Ez 1.25-28). A correspondência real de *M ari (c.
1750 a.C.) contém cerca de vinte profecias relaciona
das a sonhos, sempre recebidas por pessoas que não
pertenciam à categoria profissional dos videntes. Esses augúrios eram levados a sério e analisados. A
categoria profissional formada pelos sacerdotes tanto
na M esopotâmia como no Egito era instruída na inter
pretação de sonhos e de outros presságios (ver o aparecim ento de sábios, m édiuns e astrólogos em Gn
41.8 e Dn 2.4-11).
13.10. apedrejam ento como pena máxima. Além da quantidade de pedras disponíveis em Israel, o apedre
jam ento era a form a preferida de execução por ser praticada comunitariamente. Nenhum indivíduo era
responsabilizado pela m orte do crim inoso, mas no
caso de ofensas públicas (apostasia, blasfêmia, feitiça
ria, violação do sábado, roubo no *herem), todos os
cidadãos eram chamados a participar da eliminação
do mal dentro da comunidade (ver Dt 17.5; Lv 20.27; 24.14; Js 7.25). Ofensas que envolviam a família, tais como adultério e desobediência aos pais, também eram
punidas com o apedrejamento e, novam ente, toda a comunidade participava da execução (Dt 21.21; 22.21).
O apedrejamento não é mencionado em nenhum ou
tro lugar fora da Bíblia como forma de execução. Os
códigos de leis do antigo Oriente Próximo relacionam como form a de punição o afogamento, a empalação, a
decapitação e a fogueira, sendo que em cada caso, um
órgão oficial e não toda a comunidade se encarregava
de executar a sentença.13.16. d esp o jo com o oferta queim ada. H avia dois
tipos de despojos que pertenciam unicamente a Deus:
os tomados em um *herem (guerra santa, Js 6 .18 ,19) e aq u eles tirad o s de um povoado con d en ad o por
apostasia. M anter qualquer um desses objetos saque
ados corrompia a pessoa que agira assim e trazia a ira de Deus sobre o povo (Js 7).
13.16. ru ín as. A palavra hebraica traduzida como "ru ín as" é tel (*tell) e refere-se a um m onte form a
do por cam adas das ruínas acum uladas de antigos
povoamentos.
14.1-21 Animais puros e impuros14.1, 2. rituais pelos mortos. A adoração dos ances
trais e os *rituais associados ao luto e à celebração dos
m ortos eram com uns no antigo Israel. Presumia-se que, em bora tivessem um a existência espectral, os
mortos podiam, em certos momentos, exercer alguma
influência no mundo dos vivos (ver 1 Sm 28.13, 14). Assim, havia o costume de derramar libações durante as refeições e vestir roupas especiais nas ocasiões de
luto. Ao contrário do culto público, porém, os rituais
para os mortos eram privados e assim, mais difíceis de controlar. Essa prática foi especificamente combati
da durante a monarquia, no esforço de nacionalizar a
ad o ração a *Y ah w eh e cam in h ar em d ireção ao monoteísmo restrito, nos reinados de Ezequias e Josias
(2 Rs 23.24). Algumas práticas específicas (como fazer cortes na pele) proibidas em Deuteronômio também
são mencionadas no ciclo de histórias de *Baal e no
épico *ugarítico de *A qhat (c. 1600-1200 a.C.). Por estarem associados à magia e às culturas politeístas,
esses rituais se tom aram alvos dos principais ataques
dos escritores israelitas. Ver comentários em Números3.12,13 e D euteronôm io 26.14.
14.2. tesouro pessoal. A expressão "tesouro pessoal"
utiliza um a palavra com um em outras línguas do
antigo Oriente Próximo para descrever bens acumu
lados, seja através da divisão de despojos ou por he
rança de propriedades. A prova de que pessoas tam bém podiam ser assim designadas encontra-se no selo
real de *Alalakh, onde o rei se identifica como o "te
souro pessoal" do deus Hadad. Do mesmo modo, em um texto *ugarítico, o rei vassalo de Ugarite recebe o
favor de seu senhor *hitita, que o descreve como seu "tesouro pessoal". Além disso, os israelitas são identi
ficados como "reino de sacerdotes", o que investe Isra
el de um papel sacerdotal entre as outras nações, como
mediador entre os povos e Deus. H á ainda um conceito bastante usado no antigo O riente Próxim o pelo
qual uma cidade ou povo podia ser libertado da sua
condição de subm issão a um rei e colocado num a
posição de sujeição direta a um a divindade. Assim,
Israel, libertado do Egito, é colocado agora num a posição sagrada.14.3-21. restrições alim entares. Na M esopotâmia ha
via determ inadas ocasiões em que certos alimentos
eram proibidos por um período curto de tempo. Tam
bém há evidências na Babilônia de que havia certas
restrições quanto a animais aceitos como sacrifício por
alguns deuses específicos. M as nenhum sistem a se
sobrepõe a esse encontrado aqui. Em bora não haja nenhum paralelo conhecido no m undo antigo seme
lhante ao sistema israelita de restrições alimentares,
os animais permitidos geralmente estão em conformidade com a dieta habitual do antigo Oriente Próximo.
14.6-10. critérios para a classificação dos anim ais. Os principais critérios são (1) modo de locomoção e (2)
características físicas. Não se m enciona nada acerca
dos hábitos alimentares desses animais, nem das con
dições de seu habitat. Antropólogos têm sugerido que
os animais eram considerados puros ou impuros dependendo das características consideradas "norm ais"
dentro daquela categoria. Outras sugestões quanto ao critério de classificação levavam em conta a saúde e
higiene. No entanto, essas possibilidades se tom am
inviáveis diante do fato de que m uitos exemplos não se encaixam em nenhum a explicação. U m a explica
ção tradicional popular sugeria que os animais proibi
dos tinham alguma relação com *rituais não israelitas. No entanto, é fato que as práticas sacrificiais dos povos
vizinhos de Israel parecem ser muito semelhantes às de Israel. Uma sugestão bastante promissora feita re
centemente é a de que a dieta israelita seguia o padrão da "d ie ta " de D eus, ou seja, se algum animal
não podia ser oferecida em sacrifício a Deus, então, também não era adequado para o consumo humano.
14.8. porco. A literatura *assíria de sabedoria descre
ve o porco como um animal impuro, inadequado para uso no templo e abominável aos deuses. Existe tam bém um texto do livro dos sonhos em que com er
porco representa um m au agouro. Entretanto, a carne de porco fazia parte da dieta regular na Mesopotâmia.
A lguns *rituais *hititas exigiam o sacrifício de um
porco. Milgrom observa, porém, que nesses rituais, o porco não era colocado no altar como alimento para os deuses, m as era usado para absorver as *impurezas e
depois queimado ou enterrado como uma oferta às divindades do m undo inferior. Do mesmo modo, na
M esopotâm ia, o porco era oferecido em sacrifício a demônios. H á evidências de que no Egito os porcos
eram usados como alim ento, m as H eródoto afirma
que também eram usados em sacrifícios. Fontes egípcias citam m anadas de porcos sendo mantidas na pro
priedade dos templos e freqüentemente sendo doa
dos aos templos. O porco era especialmente sagrado para o deus Seth. Grande parte das evidências relaci
onadas a sacrifícios de porcos, porém, vem da Grécia
e de Roma, onde também eram dedicados aos deuses do m undo inferior. Em assentamentos urbanos, m ui
tas vezes os porcos, juntam ente com os cães, peram
bulavam pelas ruas vasculhando lixo, o que fazia
deles animais repulsivos. Em Israel, a atitude em re
lação ao porco fica bastante clara em Isaías 65.4; 66.3,
17; a prim eira referência mostra uma íntima relação com o culto aos mortos. É bem provável que o fato de
sacrificar um porco representasse sacrificar aos demônios ou aos mortos.
14.21. anim ais encontrados mortos. Em um a região como a de Israel, carente de alimentos ricos em prote
ínas, era quase um crim e desperdiçar carne. Entretanto, visto que o sangue de um animal encontrado
morto poderia não ter escoado, os israelitas não podi
am comer sua carne (ver Dt 12.16; Lv 11.40; 17.50). A carne poderia ser distribuída como caridade aos es
trangeiros que moravam entre eles(uma das categorias protegidas pela lei, D t 1.16; 16.11; 26.11) ou vendi
da a estrangeiros que não residiam em Israel.14.21. cabrito cozido no leite da m ãe. Ver comentário em Êxodo 23.19.
14.22-29 Dízimos14.22-29. dízim os e im postos. No antigo Oriente Próximo, havia pouca distinção entre dízimos e impostos. Ambos eram cobrados dos povoados como pagamen
to ao governo e geralm ente eram arm azenados nos edifícios dos templos, de onde os cereais, o azeite e o
vinho eram redistribuídos para o sustento dos funcionários religiosos e reais. No processo de coleta e re-
distribuição do dízimo, a distinção entre sagrado e profano se confundia. Os reis eram considerados como
eleitos divinos e os armazéns eram centros religiosos.
Os serviços prestados em troca dos dízimos e impostos eram de caráter religioso e administrativo. O processo
é descrito de forma bastante clara em 1 Samuel 8.10
17, um texto que descreve como o rei "tom ará um décimo (...) e o dará a seus oficiais e a seus criados".
Esse é exatam ente o m esm o procedim ento descrito
em textos relacionados à economia e na correspondência real de *Ugarite. Nesses escritos, também são alis
tados profissionais de diversas áreas (artesãos, burocratas, funcionários do tem plo), juntam ente com a
porção que lhes era destinada. As edificações públicas no antigo Oriente Próximo também exigiam o paga
m ento de cotas em relação à produção anual originária de suas terras e povoados. A coleta do dízimo é
um reflexo desse tipo de planejamento administrati
vo. Ver comentário em Números 18.21-32 para mais informações.
14.23. com er o dízim o. É im provável que a pessoa que entregasse o dízim o era a m esm a que deveria comê-lo. Isso frustraria o objetivo do dízimo, que era prover o sustento à comunidade sacerdotal e servir como uma reserva para os menos favorecidos. A ordem aqui provavelmente está mais relacionada a trazer o dízimo (ou o seu valor equivalente em prata) ao santuário de Deus em Jerusalém , num a demonstração de devoção (ver Dt 14.24-26). Parte do dízimo era servido num a refeição de *aliança, semelhante àquela encontrada em Êxodo 24.9-11.14.27-29. provisão para os levitas. Conforme a descrição m ais detalhada de 18.1-8, os levitas deviam receber uma porção das ofertas sacrificadas por não terem recebido terras na distribuição após a conquista de Canaã. Como pessoas especialmente dedicadas à religião, era-lhes designada uma parte da produção da terra de m odo bastante sem elhante à porção de cereais e vinho que era destinada aos burocratas e artesãos conform e os docum entos econôm icos de *Ugarite (ver comentário em 14.22-29). Por esta razão, era esperado que os levitas fossem pagos pelos serviços que prestavam.
14.29. sustento para os m enos favorecidos. Um aspecto fundamental da tradição legal israelita envolvia garantir o sustento dos grupos de pessoas classificadas como indefesas ou pobres: as viúvas, os órfãos e os estrangeiros (ver Êx 22.22; D t 10.18, 19; 24.17-21). Assim, o dízimo referente ao terceiro ano (não um dízimo adicional) devia ser separado e usado no sustento dos menos favorecidos da sociedade. A preocupação com os carentes pode ser vista nos códigos de leis da M esopotâmia já na m etade do terceiro m ilênio, mas esse cuidado geralm ente estava relacionado à proteção de direitos e garantia de justiça em caso de julgam ento, e não a um sustento financeiro.
15.1-18 Cancelamento das dívidas e libertação dos escravos15.1-11. sistem as financeiros no antigo O riente Próximo. Visto que a riqueza das nações no antigo Oriente Próxim o era baseada no comércio e nos recursos naturais (m inérios e agricultura), foi necessário desenvolver um intricado sistema financeiro para fornecer recursos a esses empreendimentos. Por exemplo, reis e investidores do Egito e da Mesopotâmia forneciam capital de risco (na form a de ouro, prata, pedras preciosas, especiarias etc.) aos m arinheiros que navegavam nas rotas do Mediterrâneo até Chipre e Creta, e nas rotas comerciais ao longo do m ar Vermelho até a Arábia, África e índia. Eram feitos empréstimos aos m ercadores que conduziam caravanas pelo Oriente Próximo (esperava-se obter no mínimo cem por cento de lucro com o investimento) e aos agricultores, a fim de que adquirissem sementes e equipamentos para a época de plantio. Todos esses empréstimos geralmente eram feitos à base de juros (embora houvesse também um tipo de em préstim o sem juros, desde que fosse pago dentro de um período estabelecido). O código de *Hamurabi contém inúmeros exemplos de controle do índice de juros e até mesmo cancelamento do negócio, se o credor cobrasse m ais que 20 por cento. Agricultores que passavam por um a colheita difícil muitas vezes contraíam mais dívidas a fim de garantir alimento para a fam ília e suprimentos para o plantio do ano seguinte. Um ciclo de colheitas ruins muitas vezes fazia com que o agricultor perdesse sua terra ou vendesse sua própria família e, por fim, a ele mesmo, para saldar as dívidas.15.2,3. resgate de dívidas. Para garantir o cancelamento de toda dívida ao final do sétimo ano, esta lei ampliou a legislação original sobre o ano sabático (Êx 23.10,11), que estava relacionado ao descanso da terra. À m edida que a econom ia se expandia, foi necessária um a abrangência m aior da lei, a fim de inclu ir dívidas e também a devolução de propriedades que haviam sido penhoradas como garantia de dívidas (ver a lei referente ao Ano do Jubileu, em Lv 25). A possibilidade de se tratar de um perdão total da dívida, em vez de uma suspensão tem porária, é confirm ada pelo decreto de misharum , do rei da *Antiga Babilônia, Am m isaduqa (1646-1626 a.C.). Esse documento proíbe os credores de exigirem o pagamento da dívida, após a promulgação do decreto, sob pena de execução. Entretanto, assim com o na lei ordenada no Livro de D euteronôm io, os m ercadores, que quase sem pre eram estrangeiros residentes ou recém -chegados (estrangeiros, conform e15.3), deviam pagar seus credores, visto que o empréstimo era encarado como uma transação comercial e não como um a dívida.
15.1-6. ano sabático. O descanso da terra no sétimo ano, como um reconhecimento da obra do Criador e exemplo de boa administração, aparece pela primeira vez em Êxodo 23.10, 11. U m a ampliação dessa lei é encontrada m ais tarde, em Levítico 25.2-7, comentando m ais detalhadamente os efeitos do descanso para a terra e para o povo. A legislação de Deuteronôm io está mais voltada para o perdão das dívidas, para a libertação dos escravos (15.12-18) e para o processo educacional de leitura pública da lei (31.10-13) durante o ano sabático. Em bora não haja um equivalente direto do sábado ou do ano sabático fora da Bíblia, o épico *ugarítico de *Baal contém um ciclo agrícola de sete anos que pode estar relacionado a essa prática. D e acordo com as leis de *H am urabi, m ulheres e crianças vendidas como escravas deviam ser libertadas após três anos.15.12. hebreu. É bem possível que o termo hebreu, ou *habiru nos textos *acadianos, fosse um termo genérico para descrever pessoas sem posses e sem terra que se empregavam como mercenários, trabalhadores ou servos. Não se trata necessariamente de um a designação pejorativa, porém há uma certa conotação negativa já que as pessoas no mundo antigo tinham tendên
cia a se identificar com um grupo ou lugar. Mas o fato de que Abrão, o primeiro "hebreu", foi um imigrante sem terra, semelhante a um "cigano", pode dar uma idéia geral do significado da palavra. Os camponeses israelitas consideravam -se proprietários de terra livres. H ebreu , p ortan to , estaria se referin d o a um israelita que perdera seus bens (compare com Jr 34.9) ou que vivia em terras estrangeiras (Jz 19.16). Um hebreu precisava trabalhar durante seis anos a fim de obter de volta sua terra hipotecada e sua posição como proprietário de terra. Assim, o hebreu citado em Êxodo21.2, D euteronôm io 15.12 e Jerem ias 34.9 era um israelita que, ao contrário do estrangeiro, não podia ser vendido para escravidão perpétua. Era esse direito de tornar-se um cidadão livre novamente que distinguia o israelita do estrangeiro.15 .16 ,17 . cerim ônia de furar a orelha. Ver comentário em Êxodo 21.5, 6. A única diferença na descrição desta cerimônia é que o texto de Deuteronômio acrescenta a frase: "F aça o m esm o com a sua escrava" no final do versículo 17, visto que esta versão da lei de libertação de escravos trata tanto de escravos como de escravas.
15.19-23 As primeiras crias15.19-23. os anim ais prim ogênitos. A prática de dedicar a primeira cria dos animais à divindade não pode ser confirmada com segurança em outras culturas do
antigo O riente Próxim o, em bora alguns estudiosos afirmem ter encontrado indícios nos textos *ugaríticos. Se esse costume de fato existiu ali, os textos oferecem
poucas informações para compreender as razões que levaram a essa prática.15.23. com er o sangue. Ver comentários em Levítico 17.11 e Deuteronôm io 12.16, 20 quando à proibição
de comer o sangue do animal junto com a carne.
1 6 .1 -1 7
As três principais festas16.1-17. calend ário re lig ioso de Israel. Outras versões do calendário podem ser encontradas em Êxodo23.12-19; 34.18-26; Levítico 23 e Núm eros 28, 29 (ver comentários nessas referências).16.1. abibe. O mês de abibe (março-abril) é considerado o primeiro mês do calendário israelita e está relacionado ao êxodo (ver Êx 13.4; 23.15). A origem desse term o é freqüentem ente associada aos nom es dos meses cananeus. Posteriormente, o primeiro mês passou a ser conhecido como nisã, quando os nomes foram adotados a partir do calendário *babilônico. Em
Êxodo 23.15, abibe está relacionado à festa dos pães sem fermento, enquanto que em Deuteronômio marca a comemoração da Páscoa.16.1-8. Páscoa. Compare o comentário a respeito da Páscoa em Êxodo 12. A legislação de Deuteronômio abre espaço para as mudanças ocorridas na sociedade israelita desde o êxodo e centraliza a celebração da Páscoa no "local que ele escolher para habitação do seu N om e" (v. 6), ou seja, Jerusalém.16.8. assem bléia solene. Assembléias solenes ou proclamações representavam uma parte importante das práticas religiosas no mundo antigo. Eram reuniões locais ou nacionais para adoração comunitária; as pessoas eram convocadas a interromper suas atividades e não fazer nenhum trabalho nesse dia.16.9. colheita do cereal. A festa das semanas (ver Êx23.16) estava ligada à colheita do trigo, em março e abril. O calendário de Gezer destacava esse mês como o mês de "colher e festejar". Visto que os cereais amadureciam em épocas diferentes dependendo da região do país, era necessário um período de sete semanas para que toda a colheita terminasse.16.9-12. Festa das sem anas. A segunda das três principais festas relacionadas à colheita acontecia sete semanas após a colheita dos primeiros cereais (Êx 34.22) e também era conhecido como festa da colheita ou do Pentecoste (Êx 23.16). No calendário agrícola, essa festa m arcava o térm ino da colheita do trigo, e pela tradição está ligada à entrega das leis no monte Sinai, estando também relacionada à renovação da *aliança e à peregrinação. A celebração consistia em entregar
um a "oferta movida" de dois pães, sacrifícios de anim ais (sete cordeiros de um ano, um novilho e dois carneiros) e uma oferta derramada em gratidão pela
boa colheita. Um bode também tinha de ser sacrificado como oferta pelo pecado do povo.16.13-17. Festa das cabanas. A últim a colheita do ano acontecia no outono, antes do início da estação das chuvas, e m arcava o começo de um novo ano agrícola (décimo quinto dia do sétimo mês). Era o m omento de juntar e armazenar os últimos grãos e frutos maduros. O evento de sete dias tam bém era conhecido como festa do encerram ento da colheita (Êx 23.16) e era simbolizado pela construção de cabanas decoradas com os cereais das colheitas. O uso do termo cabanas para essa festa aparece pela primeira vez em Deuteronômio, e provavelmente está relacionado ao fato dos trabalhadores que participavam da colheita montarem abrigos no campo, a fim de poderem trabalhar o dia todo sem ter de retornar para suas casas (ver Lv 23.42). Essa festa estava ligada à tradição israelita como uma com em oração da peregrinação no deserto; foi tam bém a ocasião da dedicação do templo de Salomão em Jerusalém (1 Rs 8.65).
16.16. fe stas de peregrinação . V er com entário em Êxodo 23.17 referente à obrigação imposta aos israelitas de apresentar-se diante do Senhor como peregrinos três vezes ao ano. No mundo antigo, geralmente cada cidade tinha sua divindade protetora e seu respectivo templo local. Assim, as festas e as demais atividades de adoração não exigiam peregrinações por grandes
distâncias, a não ser em festas como a do grande Akitu (Ano Novo) e de *M arduk, na Babilônia, que atraíam
peregrinos de todos os lugares. Um dos aspectos mais importantes das festas do antigo Oriente Próximo eram as procissões, em que a im agem da divindade era carregada por vários locais simbólicos. A s festas israelitas não apresentam semelhanças com outras festas religiosas, porém o aspecto de peregrinação das festas israelitas pode ser comparado ao tratado *hitita que exigia que o rei vassalo viajasse periodicamente para visitar o suserano, a fim de reafirmar sua lealdade (e pagar os tributos anuais).
1 6 .1 8 - 1 7 .1 3O estabelecimento da justiça16.18-20. institu ições ju d iciais no antigo O riente Próximo. Pelo que se pode observar no prefácio do Código de *Hamurabi (c. 1750 a.C.) e nas afirmações feitas pelo "cam ponês eloqüente", na literatura de sabedoria egípcia (c. 2100 a.C.), esperava-se que as autoridades protegessem os direitos dos pobres e dos menos favorecidos da sociedade. Reis, oficiais e magistrados locais deveriam "ju lgar o seu próximo com justiça"
(ver Lv 19.15). De fato, o tema de "m undo às avessas" encontrado no Livro de Juizes e na literatura profética (Is 1.23) descreve uma sociedade em que "as leis são aprovadas, m as ignoradas" (por exem plo no texto egípcio Visões de Neferti [c. 1900 a.C.]). No antigo Oriente Próximo, um a administração eficiente estava apoiada na confiabilidade das leis e na execução das m esmas. Com este objetivo, todo estado organizado criou um corpo de ju izes e oficiais locais para tratar dos casos civis e criminais. A tarefa desses juizes era ouvir as testem unhas, investigar as acusações, analisar as provas e então, efetuar o julgam ento (detalhado nas leis *m edo-assírias e no Código de H am urabi). No entanto, em alguns casos era requerida a atenção especial do rei (ver 2 Sm 15.2-4) e esporadicam ente apelava-se para o magistrado supremo (como nos textos de *Mari).16.19. suborno no m undo antigo. Em todas as épocas e lugares (ver Pv 6.35; M q 7.3) é possível encontrar ju izes e funcionários do governo sendo tentados a aceitar subornos. O suborno acabou se tornando uma prática quase institucionalizada em ambientes buro
cráticos, à medida que grupos rivais procuravam prejudicar uns aos outros (ver Mq 3.11; Ed 4 .4 ,5 ), embora fossem empregados argumentos e punições na tentativa de m inorar esse problema. Assim , o código de *Ham urabi estabelecia severas punições a qualquer ju iz que alterasse uma de suas decisões (presumivelmente por causa de suborno), incluindo desde pesadas multas até o afastamento permanente do cargo.
Em Êxodo 23.8, aceitar subornos e perverter a justiça são práticas proibidas e consideradas ofensivas a Deus, aos fracos e inocentes e à toda a comunidade (ver Is 5.23; A m 5.12).16.21. postes sagrados. V er com entários em Êxodo34.13 e D euteronôm io 7.5; 12.3.16.21. coluna sagrada. Ver comentários em Êxodo 23.24 e D euteronôm io 12.3.17.3. adoração dos astros. A adoração de corpos celestes (sol, lua, planetas, estrelas) era bastante comum em todo o antigo Oriente Próximo. Os principais deuses da *Assíria e da *Babilônia eram o deus-sol (Shamash) e o deus-lua (Thoth, no Egito; Sin , na M esopotâm ia e Yarah, na religião cananéia), cuja adoração era amplam ente difundida. Durante grande parte de sua história, os israelitas foram grandemente influenciados pela cultura e religião assíria (ver D t 4.19; 2 Rs 21.1-7; 23.4, 5). Essas práticas proibidas continuaram a ser motivo de reprovação durante o período neobabilônico, quan
do os israelitas queimaram incenso a "todos os corpos celestes", em altares postos no telhado de suas casas (Jr19.13). A adoração aos elementos da natureza era condenada por diminuir a posição de *Yahweh como único
criador de todas as coisas. No entanto, o caráter popular desse tipo de adoração fez com que essa prática continuasse a existir entre os israelitas, com o aparece na literatura profética e no Livro de Jó (ver Jó 31.26-28; 38.7). Para inform ações adicionais, consulte o comentário em D euteronôm io 4.17.5. apedrejam ento como pena m áxima. Ver comentário em 13.10.17.6, 7. testem unhas no antigo sistem a ju ríd ico . Atarefa de servir como testemunha aplicava-se a diversos contextos legais e era uma obrigação solene que
não devia ser tratada com displicência (Êx 20.16; Nm 35.30; Dt 19.16-19). A testemunha servia para presenciar acordos e transações, na assinatura de documentos comerciais ou civis, e para prestar depoimento em um ju lg a m en to (le is de *U r-N am m u , cód igo de *Hamurabi e as leis *M edo-Assírias). Em transações com erciais (Jr 32.44; H am urabi), a testem unha desempenhava um papel essencial confirmando a venda de propriedades, e tam bém com provando casam entos e m udança de posição social (leis *M édio- Assírias). Ocasionalmente, a testemunha servia como representante do povo em questões a serem levadas diante da divindade (Êx 24.9-11; Hamurabi).17.8-13. vered icto através de presságios no antigo O riente Próximo. Quando não havia provas ou quando estas eram insuficientes, podia-se chegar a um veredicto através da leitura de presságios. Nesse caso, o queixoso deveria consultar os profissionais religiosos (sacerdotes levitas em 17.9), cujos serviços incluíam buscar o veredicto divino. Dentre os métodos de
*adivinhação usados no antigo O riente Próxim o figuravam a análise do fígado de uma ovelha (hepatos- copia), a interpretação de sonhos (textos *babilônicos específicos contêm listas de sonhos e seu significado - acidentes, mortes, derrotas ou vitórias m ilitares; ver Dn 2.9), a observação de acontecimentos estranhos na natureza e o uso de m apas astrais (especialmente durante o período do império *assírio, do século dez ao sétimo a.C.). No texto bíblico, o Urim e o Tum im (Êx 28.30; Nm 27.21) eram usados para descobrir a vontade de Deus e diversos profetas mencionam situações de escassez, secas e outras calamidades naturais como sinais indicativos do castigo de Deus sobre um povo infiel (Am 4.10-12; Ag 1.5-11).
17.14-20 O rei17.14-20. re i escolhido pela divindade. A Relação de Reis *sum érios, que contém o nom e de todos os reis desde antes do dilúvio até o final da terceira dinastia de *Ur (c. 2000 a.C.), com eça com a frase: "Q uando o soberano desceu dos céus". A pressuposição corrente
em toda a h istória da M esopotâm ia, d izia que todo governante havia recebido uma autorização dos deuses para reinar. Por isso, no prólogo de suas leis, *Ha- m urabi (1792-1750 a.C.) declara que os deuses estabeleceram um "reinad o duradouro" na *Babilônia e explica com o os deuses A num e *Enlil o escolheram para governar em nome do povo. Como resultado dessa "eleição divina" o rei era obrigado a governar de maneira sábia e ju sta , n u n ca abusando de seu poder e sendo submisso às ordens e exigências dos deuses. A situação era um pouco diferente no Egito, onde o faraó
era considerado um deus.17.16. proliferação de cavalos. Visto que os cavalos eram usados primordialmente para puxar carruagens ou transportar cavaleiros para as batalhas, a aquisição de um grande núm ero desses animais im plicava uma atitude ostensiva para com os outros países ou a tentativa do m onarca em impressionar o povo e as nações vizinhas através de seu poder e riqueza. A menção ao
Egito é um indício de que Israel dependia dessa nação, recorrendo a ela para fazer alianças e adquirir cavalos. (Is 36.6-9). Essa aliança com o Egito mostrou-
se desastrosa para Israel e Judá no período final da m onarquia e foi totalmente condenada pelos profetas (Is 31.1-3; M q 5.10).17.17. casam ento como form a de aliança. O casamento era usado como um a ferram enta diplom ática em todo o antigo O riente Próximo. Por exemplo, Zinri- Lim, o rei de *M ari (século dezoito a.C.), usou suas filhas para solidificar alianças e firmar acordos com os
re in o s v iz in h o s . D e m od o se m e lh a n te , o fa raó Tutmoses IV (1425-1412 a.C.) arranjou um casamento com a filha do rei *mitânio a fim de demonstrar relações amigáveis e encerrar um a série de guerras contra esse reino do m édio Eufrates. As setecentas m ulheres e trezentas *concubinas de Salomão (1 Rs 11.3) eram um sinal de sua riqueza e poder (assim como os cavalos, em Dt 17.16), especialmente o casamento com a filha do faraó (1 Rs 3.1). Em bora as vantagens políticas decorrentes de tais casamentos fossem bastante grandes, o perigo residia na introdução da adoração a outros deuses, como no caso das esposas de Salomão (1 Rs 11.4-8).17.17. tesouros reais. O tema relacionado à excessiva aquisição de símbolos reais de poder (cavalos, mulheres, ouro e prata) continua a ser tratado nessa exortação contra cobrar pesados impostos do povo simplesmente para aumentar o tesouro real. Todas as catego
rias de riqueza são descritas como causas do orgulho excessivo, da apostasia e da rejeição ou diminuição da figura de *Yahweh (compare 8.11-14). A vaidade dos reis que ajuntam riquezas com nenhum outro objetivo senão orgulhar-se delas, é descrita em Eclesiastes
2.8-11 e Jerem ias 48.7. Os tesouros eram compostos de peças de m etais preciosos de propriedade do templo e do governo, incluindo tanto as recebidas através de contribuições como as adquiridas de despojos. Era possível encontrar moedas ou barras de ouro e prata em um tesouro, m as a m aior parte dele era em forma de jóias, vasos de uso *ritual, objetos religiosos ou diversos utensílios de famílias abastadas ou reais. Às vezes, a m aior parte do tesouro real era usada para o pagam ento de tributos, sendo que em alguns casos, tudo era levado (ver 1 Rs 14.26; 2 Rs 18.15). Diversas escavações arqueológicas e descrições de tem plos e palácios revelam a existência de câmaras sendo usadas como cofres, e de oficiais reais servindo como guardiães dos tesouros.17.18-20. rei subm isso à lei. No Egito e na Mesopo- tâmia, a lei emanava do rei. Era sua responsabilidade conceber e m anter a ordem que sustentava o Universo (em egípcio, ma'at; em m esopotâmico, me). O rei não podia ser julgado, exceto pelos deuses. Ele não estava acima da lei, mas não existia nenhum mecanism o para fazê-lo submeter-se a um tribunal humano. Em Israel, juridicam ente não era diferente, em bora os profetas, como porta-vozes de Deus, podiam chamaro rei para prestar contas.
18.1-13 Sacerdotes e levitas18.1-5. p rovisão dos lev itas. M esm o que o oferente comesse uma porção do sacrifício, a quantidade deles garantia a provisão dos sacerdotes. O mesmo ocorria na prática *babilônica, onde porções dos sacrifícios eram concedidas ao rei, ao sacerdote e a outros funcionários do templo. Já nos textos *sum érios é considerado um crim e grave com er a parte que havia sido separada com o santa. V er tam bém o com entário em Núm eros18.12-19 acerca dos dízimos pagos aos sacerdotes.18.6-8. função dos levitas nas cidades. Durante o período inicial da ocupação de Canaã, os levitas m inistravam nos santuários e altares locais. Eles deveriam ministrar, como religiosos profissionais, realizando sacrifícios e instruindo o povo na lei. Enquanto alguns levitas permaneceram no mesmo lugar durante gerações (1 Sm 1.3), há também evidências de que outros tom aram -se sacerdotes itinerantes que viajavam pelo país e eram contratados para m inistrar por um tempo num determinado santuário ou lugar de adoração (Jz17.7-13). Por não possuírem herança (Js 14.3, 4), os levitas ficavam excluídos numa sociedade baseada na posse da terra. Apesar de terem a função de instruir o povo na verdadeira adoração, o Livro de Juizes deixa claro que às vezes, os levitas eram a causa de m uitos problemas. Os levitas tinham a obrigação de preser
var a tradição e a lei e podiam freqüentemente servir como juizes.
18.9-22 Sendo instruídos pela divindade18.10. adivinhação. Ver comentário em Levítico 19.26. A *adivinhação envolvia um a variedade de métodos empregados pelos profetas (Mq 3.11), adivinhos, médiuns e feiticeiros para declarar qual era a vontade dos deuses e predizer o futuro. O exame de vísceras de anim ais sacrificados, a análise de presságios de diversos tipos e a leitura do futuro a partir de fenômenos naturais ou extraordinários (ver G n 44.5) eram alguns desses métodos. Certas práticas de adivinhação eram aceitas em Israel (como o uso do U rim e do Tumim); o que está sendo condenado nesse texto é a prática profissional da adivinhação.18.10.m agia. Como a magia era considerada no mundo antigo um m eio de contatar o sobrenatural, acreditava-se que ela podia ter um lado bom e outro mau. Na Mesopotâmia e entre os *hititas, a magia voltada para o mal era praticada por feiticeiras e punida com a morte. Sua prática envolvia o uso de poções, estatuetas e m aldições que tinham como objetivo causar a morte, provocar doenças ou trazer azar à vítima. Esse tipo de m agia diferenciava-se daquela que tinha como propósito ajudar as pessoas e era praticada por exorcistas profissionais e "v elh as", cujo papel incluía os ritos envolvidos na construção e dedicação de templos e também ajuda médica. Som ente no Egito não havia distinção entre m agia negra e m agia branca. Nesse local, uma das funções dos praticantes de magia era am eaçar e intim idar os demônios e outros poderes divinos obrigando-os a realizar determinados atos ou a afastar maldições. A lei israelita rejeitava todos esses tipos de magia devido ao seu caráter politeísta e por subestimarem o papel de *Yahweh como Senhor da criação (ver Êx 22.18).18.10. presságios. Um a das classes sacerdotais mencio
nadas em textos m esopotâmicos é a dos adivinhos- baru. Sua tarefa era examinar o fígado (geralmente de cordeiros) e interpretar o presságio ali indicado para a pessoa que pedira um a previsão do futuro. Os baru podiam ser consultados por um rei que planejava ir para a guerra (compare com 1 Rs 22.6), por um m ercador prestes a partir em caravana ou por qualquer pessoa enferm a. M uitas vezes, oficiais do governo incluíam em suas cartas relatórios de presságios (textos de *Mari). Entretanto, como estes presságios nem sem pre eram claros, era com um que se buscasse a opinião de adivinhos antes de se tomar um a decisão final. U m a coletânea de textos de presságios (com descrições de acontecimentos passados e predições)
ficava guardada nos templos e palácios para consulta dos adivinhos. Para a preparação de aprendizes, eram usados moldes de fígado, feitos de argila.18.10. feitiçaria. Assim como a magia negra, a feitiçaria era classificada como uso ilegítimo de magia. Os feiticeiros muitas vezes prestavam serviços nos templos ou nos palácios reais como herbolários e adivinhadores itinerantes que, em troca de uma recompensa,
providenciariam os meios para destruir ou prejudicar um inimigo (ver Lv 19.26; 20.6; 2 Rs 21.6). A distinção mesopotâmica entre magia negra e branca não aparece na lei israelita, que condena a feiticeira (Êx 22.18) e diz que não se deve dar crédito às palavras de feiticeiros (Jr 27.9; Ml 3.5).18.11. fe itiçarias, m édiuns e espiritism o. Os praticantes do espiritism o e da feitiçaria eram condenados porque essas práticas estavam associadas à religião cananéia e porque sua "a rte " era uma tentativa de enganar *Yahw eh, buscando obter conhecim ento e poder dos espíritos. Todas essas atividades representavam uma forma de "religião popular", mais próxi
ma das práticas religiosas de pessoas comuns e que servia como um a espécie de "religião das som bras" para muitos. Às vezes, devido à sua associação com a *adivinhação, seus *rituais e métodos opunham-se diretam ente à "religião oficial" ou funcionavam como uma religião alternativa à que se recorria em tempos de desespero (ver o uso que Saul fez da feiticeira banida de Endor, em 1 Sm 28). Feitiçarias e poções m ágicas tam bém eram proib idas pelo C ódigo de *H am urabi e pelas leis m edo-assírias, o que indica que a proibição e o temor dessas práticas não eram exclusivos a Israel.
18.11. consu lta aos m ortos. Em bora na antiga Meso- potâmia não existisse um conceito claro de vida após a morte, nem de castigo ou recompensa futura, o culto aos ancestrais era uma realidade e ofertas eram dedicadas aos espíritos dos mortos. U m grupo de m agos inventou um meio de consultar os espíritos dos mortos a fim de conhecer o futuro (ver sobre a feiticeira de Endor em1 Sm 28.7-14). Essa prática passou a ser cham ada de necromancia e envolvia a consulta a um espírito específico ou "fam iliar”, ou a qualquer outro espírito que fosse atraído pelos fe itiços do m édium . N os rituais *hititas de adivinhação era comum o uso de covas rituais, cheias de pão e sangue; o herói grego Odisseu tam bém usou um a cova cheia de sangue para atrair o espectro de seus companheiros mortos. Acreditava-se que se fossem derramadas libações aos antepassados, seus espíritos passariam a proteger e a ajudar os vivos. Na *Babilônia, o espírito desencarnado (utukki) ou fantasma (etemmu) podia tom ar-se muito perigoso se não recebesse a devida atenção e, m uitas vezes, tornava-
se objeto de feitiçarias. O cuidado com os mortos incluía um sepultam ento adequado e a dedicação posterior de presentes em honra da m em ória e do nom e do falecido. O filho primogênito era responsável pela manutenção desse culto aos ancestrais e, por essa razão, era quem herdava os deuses da fam ília (geralmente imagens dos ancestrais já mortos).18.10-13. razões para a proibição da adivinhação. De acordo com a visão de m undo presente no Antigo Testamento, *Yahweh é o único Deus e a autoridade suprema no Universo. Num nítido contraste, as religiões politeístas do antigo Oriente Próximo não consideravam seus deuses (nem mesmo todos eles juntos) com o o poder suprem o do U niverso. Ao contrário, acreditavam em um a força primitiva impessoal, que deu origem a todo conhecimento e poder. A *adivi- nhação era uma tentativa de penetrar nessa fonte para obter conhecimento; já os encantamentos visavam fazer uso do poder ali contido. Portanto, tanto a adivinhação como os encantamentos adotavam uma visão de mundo contrária à revelação bíblica de Yahweh.18.14-22. função dos profetas. Esses indivíduos eram mais que simples religiosos profissionais. Embora alguns fossem membros da comunidade sacerdotal, os profetas de modo geral eram excluídos dessa instituição. Seu papel era desafiar o sistema e a ordem social, relembrando aos líderes e ao povo de suas responsabilidades para com a *aliança feita com *Yahw eh e advertindo-os do castigo que adviria da violação desse acordo. O profeta era alguém investido de poderes especiais, de um a m ensagem e de um a m issão, havendo ainda um a certa compulsão associada ao chamado profético que podia ser negado por algum tempo (veja a fuga de Jonas), m as por fim tinha de ser atendido. D eve-se destacar tam bém que os profetas às vezes relutavam em proferir palavras duras ou condenações contra seu próprio povo. Quando isso acontecia, o profeta passava por uma experiência de compulsão irresistível que o levava a falar (Jr 20.9). Visto que sua mensagem provinha de Deus, os profetas não podiam ser acusados de traição, sedição ou maldições. Assim, a mensagem era mais importante que o profeta. Certamente houve profetas como Balaão e Elias que conquistaram uma certa fama e reconhecimento, m as isso era devido à sua m ensagem ou à habilidade de falar em nome de Deus. Para que um profeta tivesse credibilidade diante do povo, era necessário que sua mensagem se cumprisse. Apesar de, às vezes, os profetas serem mencionados como m em bros da com unidade *cultual (Tsaías e Ezequiel) ou como profetas da corte (Natã), eles conseguiam distanciar-se dessas instituições, sempre que necessário, para criticá-las e mostrar que haviam rom pido a *aüança
com Deus. No período inicial da m onarquia, os profetas dirigiam-se primordialmente ao rei e à sua corte,
de m odo bastante semelhante aos de seus colegas de outras regiões do antigo Oriente Próximo (foram de
nominados de profetas "pré-clássicos"). No início do século oitavo, porém, sua atenção voltou-se para o
povo e para as questões sociais e espirituais que envolviam a nação (classificados como profetas "c lás
sicos" e "escritores"). Seu papel não era fazer predições, e sim advertir e alertar o povo sobre os projetos e planos de Deus.
18.20-22. fa lso s p ro fetas . A ssim com o o texto de
Deuteronômio 13.1-3 menciona pessoas insistindo para que o povo adorasse outros deuses, os falsos profetas
geralm ente são aqueles que falavam em nom e de outros deuses. Deuteronômio desconsidera a existên
cia desses outros deuses e, por conseguinte, a veracidade de seus profetas. Quando um profeta falava em
nome de *Yahweh sem autorização, a profecia passa
va por um teste: se ela se cumprisse, era verdadeira. Existem diversos exemplos de falsas profecias no texto
bíblico, um a deles é quando Jerem ias repreende o
falso profeta Hananias (Jr 28.12-17) e outros profetas
que haviam predito o término do exílio (29.20-23). Em alguns casos, a confusão gerada por profecias contra
ditórias era tal que o verdadeiro profeta era conhecido
somente após o curso dos acontecimentos (ver 1 Rs 22). O s israelitas não eram os únicos a ter cautela em
relação à falsa profecia. Em outras culturas, porém,
fazia-se uso de *adivinhações na tentativa de confir
m ar a m ensagem do profeta, mas essa prática não era permitida em Israel.
18.14-22. as p rofecias no antigo O riente Próxim o.Textos da M esopotâmia, Síria e Anatólia contêm um
grande núm ero de profecias, demonstrando a existência de profetas ao longo da história do antigo Ori
ente Próximo. Embora alguns desses textos sejam classificados como literatura de sabedoria ou relatórios de
presságios, muitos envolvem indivíduos que afirmavam ter recebido uma m ensagem de um deus. Den
tre esses textos, os mais famosos são cerca de cinqüenta documentos de *M ari (século dezoito a.C.) que con
têm relatórios de profetas e profetisas: avisos de cons
piração contra o rei, admoestações de um determinado deus para que um templo fosse construído ou que
fosse providenciada uma oferta *funerária e garantias
de vitória militar. Esses profetas apresentavam as men
sagens supostam ente divinas, recebidas em sonhos ou através de presságios; outros ainda transm itiam
suas profecias em um estado de transe. Esse tipo de
profecia aparece no século onze a.C. na lenda egípcia de *W enamom, em 1 Sam uel 10.5-11 e 2 Reis 3.15.
19.1-21Penas capitais19.1. Cidades cananéias da Idade do Bronze M oderna. Grande parte do que se sabe a respeito das cidades cananéias da Idade do Bronze *M oderna provém de escavações e pesquisas arqueológicas e de inscrições dos faraós egípcios que governaram aquela região. A s evidências indicam que as principais cidades desse período (Jerusalém , Siquém , M egido) eram m uradas, m as os agrupam entos hum anos ficavam bastante afastados. A região montanhosa central era habitada de m aneira esparsa no período anterior a 1200 a.C.. A população era mista, formada por *hititas, e por povos provenientes da Síria, da Mesopotâmia e das áreas desérticas da Arábia. Os egípcios aparentemente encontraram certa dificuldade em dominar a área e foram obrigados a enviar expedições militares em inúmeras ocasiões para pôr fim às revoltas e insurreições (conforme relatos nas cartas de *Amarna [século catorze a.C.] e nas inscrições de vitória de AmenofisII [c. 145-1425 a.C.] e de Merenptah [c. 1208 a.C.]).19.2, 3. cidades de refúgio no antigo O riente Próximo. Consulte o comentário de Números 35.6-34 acer
ca das cidades de refúgio em Israel. O conceito de asilo e refúgio é bastante antigo. Textos *babilônicos e *hititas falam de lugares sagrados que deveriam dar proteção a todos. Os habitantes das grandes cidades- templo de N ippur, Sippar e Babilônia desfrutavam de um a posição especial por causa da proteção de suas divindades padroeiras. O princípio era que apenas o deus podia retirar a proteção das pessoas que fugissem para lá e assim , ninguém podia derram ar san
gue sem antes receber um presságio ou sinal direto dos deuses (Heródoto apresenta um exemplo do período clássico). A tradição egípcia quanto ao refúgio parece aplicar-se somente ao recinto do templo e não à cidade toda. Seria equivalente aos exemplos bíblicos em que o fugitivo refugiava-se no altar (1 Rs 1.5053; 2.28-34).19.6. vingad or da vítim a e o sistem a ju d ic ia l. Vercomentário em Números 35.9-34 acerca da responsabilidade da fam ília em vingar seus mortos. É possível que o título "vingador da vítim a" (em algumas traduções, "v ingad or de sangue") tenha se originado da obrigação da fam ília em vingar-se, derramando sangue, quando um dos membros de seu clã fosse morto. Essa prática, em bora comum nas sociedades tribais, era extrem am ente prejudicial à m anutenção da ordem num Estado organizado. Como resultado, a "vingança de sangue" (term o que aparece som ente no contexto das cidades de refúgio) pode ter sido determinada pelo governo a fim de servir à necessidade
tanto da família como do Estado, quando então o acusa
do era detido e executado, caso fosse confirm ado o assassinato.
19.11-13. pena capital. Na Bíblia, a pena capital era a
sentença aplicada nos casos de: crimes de apostasia (Lv20.2), blasfêm ia (Lv 24.14), feitiçaria (Lv 20.27), trans
gressão do sábado (Nm 15.35, 36), roubar o *herem (Js
7.25), desobediência aos pais (Dt 21.21), adultério (Dt22.21), incesto (Lv 20.14) e homicídio deliberado (Nm
35.9). Embora o apedrejamento fosse a forma m ais co
mum de execução, algumas ofensas exigiam que o con
denado fosse queimado ou atravessado por um a espa
da. O objetivo era sem pre elim inar da sociedade os
elem entos de contam inação, purgando assim o m al que am eaçava afastar as pessoas da *aliança.
19.14. mudar marcos de divisa. Visto que a terra fora
dada por Deus ao povo e distribuída de acordo com os critérios por Ele estabelecidos, mudar os m arcos de
divisa e apropriar-se indevidamente de terras era considerado um crim e de roubo contra D eus. As leis
concernentes a direitos de propriedade são muito an
tigas, o que é confirmado pelas inscrições de marcos de divisa do período cassita kudurru (século dezesseis
a.C.), em repreensões da literatura egípcia do século
onze (Ensinos de Amenemope, onde há um a exortação
para que não se altere o marco do agrimensor) e na maldição de Oséias 5.10. Em cada exemplo, os deuses
são invocados para proteger os direitos do proprietá
rio contra as invasões e apropriações indevidas de suas terras.
19.15-20. o papel das testem unhas no antigo O riente
Próximo. As testemunhas eram um elemento importante do sistema judicial no mundo antigo. Uma pro
va disso é que a lei israelita exigia duas testemunhas
para que uma pessoa fosse executada por um crime
(Nm 35.30; D t 17.6; 1 Rs 21.13). Tanto o Código de *Ham urabi com o as leis *m edo-assírias dependiam
grandemente da presença de testemunhas para atestar transações comerciais e para prestar depoimento
em julgam entos.
19.21. lex ta lio n is . O princípio legal da retribuição,
ou "olho por olho", é encontrado em códigos de leis bíblicos e m esopotâmicos. Nos exemplos da Bíblia (Êx
21.24; Lv 24.20), essa lei expressava o desejo de eliminar o elemento impuro ou corrupto da sociedade. A ordem era não demonstrar misericórdia para com o
acusado. A lei m esopotâmica contém a versão ideali
zada da lex talionis e tam bém um aperfeiçoam ento que estabelece limites de compensação. Por exemplo,
o código de *Esnuna estabelece uma m ulta de uma peça de prata pelo dano causado ao olho da vítima. Nas leis de responsabilidade pessoal encontradas no
Código de *Hamurabi, a pena por um ferimento po
dia ser a aplicação do m esm o ferim ento através da mutilação ou o pagamento de uma multa, dependen
do da posição social tanto do acusado como da vítima.
Mesmo nos casos em que a lei mesopotâmica exigia a retribuição exata do m al infligido, é possível que um
valor monetário fosse pago como indenização (a não
ser que constasse explicitamente da lei), evitando que um olho ou um dente fosse de fato arrancado.
20.1-20As leis sobre a guerra20.2. sacerdote dirigindo-se ao exército. Visto que a guerra era encarada com o um a atividade religiosa,
esperava-se que os sacerdotes e outros funcionários religiosos acompanhassem o exército. Os textos e rele
vos *assírios ilustram o papel dos sacerdotes acompa
nhando as tropas. Eles carregavam ou escoltavam as
imagens e sím bolos dos deuses (ver Js 6.4, 5; 1 Sm4.4), realizavam *rituais religiosos e sacrifícios e, cer
tam ente, dirigiam -se ao exército, falando em nome
dos deuses. Esta última tarefa envolvia a interpretação de presságios garantindo a presença e a ajuda dos
deuses, e exortar as tropas a lutar pelo rei escolhido
pela divindade (como nos anais de Tukulti-Ninurta I
[1244-1208 a.C.]. e Assumasirpal II [883-859 a.C.]).20.5-9. dispensa do serviço m ilitar. Apesar de todo
homem saudável ter a obrigação de servir o exército
na prática, certas dispensas eram permitidas a grupos específicos, tais como, sacerdotes (nos textos de *Mari),
recém-casados (Dt 24.5) e todos que tivessem alguma obrigação relig iosa a cum prir (ver Lv 19.23-25). O
serviço militar obrigatório fazia parte das obrigações
dos vassalos ao rei e seu cum prim ento se dava de diversas formas, inclusive através de recenseamentos
e coerção (em Mari). A determinação bíblica de que os "m edrosos" poderiam ser dispensados do exército talvez tivesse como base a m anutenção da disciplina nos
pelotões, além de ser uma garantia de que todos os
que lutassem confiariam na ajuda de Yahw eh durante a batalha (ver Jz 7.1-3). Os códigos de leis às vezes
são contraditórios na questão de contratar substitutos
para o serviço militar. O código *hitita permitia essa prática, considerada ilegal pelo Código de *Hamurabi. Talvez fosse possível abrir algumas exceções no caso
de membros da nobreza, resguardando-os de quaisquer problem as legais. O épico cananeu intitulado
*Kerret relata uma situação em que o rei convocou o
exército para uma causa de grande importância, da qual as dispensas que normalmente aconteceriam (de
recém-casados, por exemplo) não foram aceitas.20.10-15. práticas com uns de guerra. No mundo anti
go, os soldados não recebiam soldo, m as recebiam
uma parte dos espólios tomados na conquista de povoados e cidades. Pelo fato de as guerras serem consideradas missões divinas, ordenadas pelos deuses e facilitadas pela intervenção divina, todo despojo obtido em batalha teoricamente era visto como proprieda
de sagrada dos deuses. Como resultado, para que não houvesse violação de tabus sagrados, a divisão tinha de seguir certos critérios restritos. Por exemplo, nos textos de *M ari, oficiais fizeram juram ento de não "com er o asakkum" (ou seja, infringir os direitos) de seus iguais ou de patentes inferiores. Os infratores eram punidos com pesadas m ultas. Seguindo esse mesmo padrão, os exércitos mesopotâmicos e israelitas geralm ente tom avam as m ulheres e crianças como espólio, juntam ente com os animais e bens m óveis, ao passo que os homens eram mortos (ver Gn 34.25-29; Anais * Assírios de Senaqueribe). Desse modo, os esforços do lado vitorioso eram recompensados, e o efeito psicológico da visão das cidades devastadas servia ao propósito de aumentar a fama da nação conquistadora e de seu(s) deus(es).
20.16-18. procedim entos da guerra santa. Em circunstâncias excepcionais, um exército podia abrir mão dos prisioneiros ou do espólio e dedicá-los inteiramente ao deus que lhes dera a vitória. Essa prática era conhecida como *herem em hebraico, sendo usada muito raramente como método de guerra. Som ente em alguns contextos Deus ordenou a destruição total: Jericó, em Josué 6.17-24, Hazor, em Josué 11.10, 11, Zefate, em Juizes 1.17 e os am alequitas, em 1 Sam uel 15.3. Em algumas situações, uma variação da destruição total foi permitida, como em Deuteronômio 2.34, 35 e3.6, 7 (as pessoas deveriam ser m ortas, m as os animais seriam poupados e tomados como espólio). Fora da Bíblia, essa estratégia de guerra é comprovada já no século nono a.C., na guerra contra a tribo de Gade travad a pelo rei m oabita M esha. U m conceito sem elhante pode ser visto nos anais de diversos reis *assírios, que faziam uso da destruição total como um recurso psicológico para am edrontar e subjugar as nações rebeldes.20.20. cercos. Para capturar um a cidade murada, era preciso empregar vários m étodos de cerco, como rampas (2 Sm 20.15; 2 Rs 19.32), torres (Is 23.13; Ez 21.22) ou construção de paredes ao redor dos muros para ev itar fugas (Ez 26.8; M q 5.1). A ríetes (Ez 26.9) e
suportes para túneis cavados por baixo dos m uros também exigiam o uso de toras ou vigas de madeira. Isso explica a permissão contida em Deuteronômio de cortar árvores durante o cerco. Os relevos *assírios de Assurnasirpal II (883-859 a.C.) em Ninrode retratam vários instrumentos e engenhocas utilizados para cercos em simultâneos m étodos de guerra.
21.1-9 Casos de homicídio não desvendado21.1-9. procedim entos acerca de sangue inocente. Vercomentários em Números 19 que abordam a questão
do significado do *ritual de purificação e do uso da novilha vermelha. Esses comentários tam bém tratam
da importância da expiação através do derramamento de "sangue inocente". Na lei *hitita, se um corpo fosse
encontrado a céu aberto, o herdeiro da pessoa morta recebia o direito de posse de algum a propriedade
situada na cidade m ais próxima ao lugar onde o corpo fora encontrado, até um a distância de três léguas.
Essa legislação preocupava-se mais com os direitos do
herdeiro do que com a questão do derramamento de sangue inocente.
21.10-14 Direitos das prisioneiras21.10-14. tratam ento dado a prisioneiras. Os prisioneiros de guerra eram comuns e por isso, as leis regu
lam entavam o tratamento a eles destinado. Algumas prisioneiras acabavam servindo como escravas (2 Rs
5 .2 ,3 ), mas muitas podiam ser tomadas como esposas
pelos soldados. A lei de Deuteronômio aborda o pro
cesso de integração dessas m ulheres na sociedade israelita. O processo incluía rapar a cabeça, mudar as
vestes e passar por um período de luto simbolizando
a morte da vida antiga e o início de uma nova vida
(compare com a transformação à qual José foi submetido, em Gn 41.41-45). Os textos de *M ari tam bém
garantiam às prisioneiras receber roupas novas e um
trabalho. Um a vez casada com um israelita, os direitos daquela que fora prisioneira eram os mesmos das
mulheres israelitas e a lei deixava claro que, no caso
de divórcio, sua posição não seria alterada. Preocupações sem elhantes aparecem nas leis *medo-assírias,
determinando que, um a vez casadas, as ex-prisionei
ras deveriam usar o m esm o tipo de roupas usadas
pelas m ulheres assírias daquela posição social.
21.15-21 Tratamento dos filhos21.15-17. direitos do prim ogênito. Os direitos de he
rança se baseavam na lei da primogenitura. Segundo
essa lei, a propriedade do pai deveria ser dividida em partes iguais para todos os filhos, m as o primogênito
devia receber um a porção dobrada. Essa era a prática
usual no antigo Oriente Próximo, como pode ser comprovada em textos medo-assírios e nos documentos de
*Larsa, *M ari e *Nuzi, sem mencionar outras fontes.
O objetivo dessas leis era assegurar a transm issão
justa e ordenada da propriedade de um a geração a
outra. A lei de *Hamurabi dava ao pai o direito de
favorecer qualquer um de seus filhos. Nos textos de
Nuzi o pai tinha a possibilidade de mudar os direitos
do primogênito. No antigo Oriente Próximo, a legislação que m ais se aproxim a a esta descrita aqui é a cláusula na lei de H am urabi que afirm ava que os
filhos de uma escrava, se reconhecidos enquanto o pai
fosse vivo, teriam parte na herança igual à dos filhos
da m ulher livre.21.18-21. punição dos filh os rebeldes. Quando a uni
dade de uma família era abalada ou um filho se recusava a tratar os pais com obediência e respeito que
lhes era devido, essa rebeldia representava um a ameaça à comunidade como um todo. A linguagem usada
nesse trecho deixa claro que se tratava de um repúdio
à *aliança. O fato de o filho ser descrito como "devasso e bêbado" é um indício de que não havia esperança
de reabilitação. O processo incluía o testemunho dos
pais sobre a ofensa praticada e o condenado era então
executado pela coletividade, conform e a prescrição bíblica (ver comentário em Dt 13.10). Esse delito era
considerado tão grave quanto a adoração a outros deuses e, por essa razão representava um a ameaça à ali
ança. A lei mesopotâmica também defendia o direito dos pais, mas a punição máxima se limitava a deserdar
ou a mutilar. Ver comentário em Êxodo 21.17. A legis
lação de Deuteronômio limitava a autoridade dos pais,
fazendo com que levassem a questão diante das autoridades, em vez de agirem de modo independente.
21.22, 23Tratamento dos criminosos executados21.22, 23. exposição do corpo dos crim inosos. Visto
que as leis deuteronômicas raramente tratam de questões de *pureza ritual ou de contaminação (ver Lv 13
17 e com entários em Lv 20.10-16; 22.3-9), pode ser que o sentido de "contam inar" a terra seja pela visão
do cadáver em decomposição ou do odor decorrente
de sua exposição. O cadáver era considerado algo im puro (Lv 22.8; N m 5.2) e, portanto, representava
um perigo para os vivos. Poucas narrativas descre
vem a prática de exposição de cadáveres (Js 8.29;10.26, 27; 2 Sm 4.12; 21.8-13). É pouco provável que a
forma de execução usada aqui seja o enforcamento. Relevos *assírios do palácio de Senaqueribe, em Nínive
(704-681 a.C.) ilustram soldados levantando estacas com corpos empalados de homens da cidade de Láquis.
É possível que o horror dessa form a de exposição humilhante tenha originado a lei israelita que exigia
que o corpo fosse removido e enterrado ao entardecer, em vez de deixá-lo exposto para ser devorado por aves ou outros animais (Gn 40.19; 2 Sm 21.10).
22.1-12 Diversas leis22.1-3. bens perdidos. Como em Êxodo 23.4, o israelita deveria proceder de duas maneiras quanto a objetos
perdidos (animais, roupas etc.): devolvê-los ou mantê- los em seu poder até que alguém os reclamasse. Juntando as duas leis, essa máxima aplica-se tanto a compatriotas israelitas como a inimigos. As leis de *Esnuna e *Hamurabi tam bém tratam dessa questão, mas ampliam o alcance da legislação incluindo as responsabilidades do que encontra o objeto perdido e os direitos legais do proprietário quando o bem é colocado à venda novam ente.22.5. inversão dos atributos sexuais no antigo O rien
te Próxim o. No mundo antigo as roupas serviam para indicar a posição social da pessoa e também para dis
tinguir os sexos. N o contexto clássico, os atores de teatro usavam roupas femininas para representar personagens do sexo fem inino, já que era proibida a participação de m ulheres; vestir-se com roupas de mulher era também um aspecto da prática homossexual. A m aioria das vezes em que esse costum e é m encionado em textos do antigo O riente Próxim o, apresenta um caráter *cultual ou legal. Por exemplo, quando o herói *Aqhat, de *Ugarite, foi assassinado, sua irmã Paghat passou a usar roupas de hom em por baixo de suas vestes fem ininas, a fim de assum ir o papel de vingador do sangue, caso nenhum parente do sexo masculino tomasse a iniciativa de fazê-lo. Um texto *assírio contém um diálogo entre um casal que se propõe a trocar as roupas, cada um assumindo o papel do outro. Talvez fosse um rito de fertilidade ou então parte de um a encenação religiosa em honra a uma deusa. Essa relação com outras religiões pode ter sido a causa desse tipo de atitude ser considerada como "abom inação" em Deuteronômio, mas a questão também pode estar relacionada a dificultar a distinção entre os sexos. Textos *hititas m encionam objetos e roupas relacionados a cada um dos sexos em uma série de ritos mágicos usados para influenciar a sexualidade ou diminuir ou alterar a identidade sexual do adversário. Os objetos que caracterizavam o sexo fem inino eram o espelho e o fuso, ao passo que diversos tipos de armas identificavam a masculinidade.22.6, 7. procedimento em relação aos ninhos de pássaros. A lém da aparente preocupação hum anitária com o bem -estar das criaturas envolvidas aqui, a preservação da natureza é garantida através da orientação de deixar o pássaro adulto livre para reproduzir- se novamente. Essa prescrição pode ser comparada à proibição do abate de árvores frutíferas, em Deuteronômio 20.19, 20. Em ambos os casos as fontes de alimento são preservadas para o sustento futuro e ao
mesmo tempo uma alternativa é sugerida para atender às necessidades imediatas.22.8. parapeito no terraço da casa. Visto que os terraços e telhados das casas eram espaços utilizados normalmente (ver 2 Sm 11.2; 2 Rs 4.10), o parapeito seria um a m edida de segurança adequada. Essa lei diz respeito à responsabilidade do proprietário da casa pela segurança de seus hóspedes e à culpa que recairia sobre ele, caso alguém se m achucasse devido a descuido na construção da casa. O Código de *Hamu- rabi (leis 229-33) alerta os construtores quanto a um trabalho de baixa qualidade ou sem segurança, capaz de provocar acidentes ou mesmo a morte de pessoas. As punições para essa negligência iam desde multas até a pena de morte.22.9-11. m isturas. Algumas misturas eram restritas ao uso sagrado. Por exemplo, a m istura de lã e linho era usada no tabernáculo e nas vestes do sumo sacerdote, sendo reservada apenas para esse fim. Essa explicação encontra-se nos Rolos do M ar Morto (4QMMT). Plantar dois tipos de semente tam bém era proibido pelas leis *hititas, e seus infratores eram ameaçados de morte. Em bora não esteja bastante claro por que essas misturas eram proibidas, é bem possível que a razão esteja relacionada a tabus culturais ou religiosos. O fato de que o produto de duas sementes estaria "contam inado" ou seria confiscado pelos sacerdotes, sugere que a m istura tinha im plicações religiosas e talvez fosse um a reação à prática ou aos rituais de fertilidade cananeus. Em Levítico 19.19 a proibição é contra cruzar animais de espécies diferentes, enquanto que aqui a preocupação é relativa a arar a terra usando dois animais diferentes. Experimentos com hibri- dação ou cruzamento de espécies remontam ao terceiro m ilênio a.C..22.12. borlas. Todos os homens israelitas tinham de costurar cordões azuis nos quatro cantos da bainha de suas vestes como um mem orial perpétuo dos m andam entos de D eus (Nm 15.37-41). Bainhas decorativas eram comuns na moda do antigo Oriente Próximo conforme evidências encontradas em relevos, pinturas e textos. O tipo de bainha, muitas vezes, era um símbolo da posição ou do cargo da pessoa. As borlas eram simbólicas e tinham o objetivo de levar a pessoa
a fazer o que era certo e não servir como *amuletos para afastar o perigo ou tentações.
22.13-30 Leis concernentes ao casamento22.13-21. prova da virgindade. A virgindade m antida até o casam ento era valorizada como m eio de assegurar que os filhos e herdeiros eram realmente do marido e não de outro homem. A integridade da
família da mulher dependia da capacidade de provar sua virgindade. A evidência física exigida nesse caso eram os lençóis da primeira penetração (manchados de sangue devido ao rompimento do hímen) ou possivelmente os panos usados durante o último período menstrual da mulher que comprovavam que ela não estava grávida antes do casamento.22.19. cem peças de prata. A multa imposta por falsa acusação atingia cerca de um quilo e cem gramas de prata. As leis de *Ham urabi incluem casos de falsa acusação sobre conduta sexual inadequada, mas não tratam do contexto de casamento e não há cobrança de
m ultas. Com base no preço de cinqüenta peças de prata pago pela noiva (22.29), essa punição chegava ao dobro do dote da noiva, o que representava um grande obstáculo a esse tipo de acusação. O valor era equivalente ao salário de dez anos de trabalho.22.22. adultério. Manter relações sexuais com a mulher de outro homem era crime punível com a pena de morte, tanto nas leis bíblicas como nos códigos do antigo O riente Próxim o. O texto egípcio Lenda dos Dois Irmãos descreve o adultério como um "grande crim e" que nenhum homem ou m ulher honestos deveriam sequer considerar. O adultério era encarado como um ataque à fam ília do homem, visto que usurpava seu direito de procriar e colocava em risco a transmissão ordeira de suas posses aos seus herdeiros (ver comentário em Êx 20.14). O ato em si maculava ambos os participantes (Lv 18.20; Nm 13.5). Por constituir não somente um ataque à santidade da família, m as também um a fonte de contaminação geral à sociedade, o adultério era considerado um m otivo para Deus expulsar o povo da terra (Lv 18.24, 25).22.23, 24. estupro na cidade. O estupro de um a virgem na cidade incorria em pena de morte tanto para o homem como para a jovem , porque a m ulher teria tido a oportunidade de gritar e, nesse caso, esperava- se que recebesse ajuda. A execução da m ulher baseava-se na pressuposição de que o estupro fora cometido com o consentimento implícito de sua parte. Os códigos mesopotâmicos também incluem o local do estupro como parte da lei concernente a esse crime. As leis *sumérias, porém, dão mais ênfase ao fato de os pais saberem que a filha estava fora de casa e do estuprador saber se ela era escrava ou livre (as leis de *Ur-Nammu e *Esnuna im punham m ultas pelo estupro de uma escrava virgem ). A lei de *H am urabi assem elha-se bastante à lei deuteronômica: o estuprador deveria ser executado se atacasse um a mulher na rua e testem unhas atestassem que ela havia se defendido. As leis *medo-assírias perm itiam que os pais da vítima pegassem a esposa do estuprador e fizessem com que fosse estuprada; havia também a possibilidade de o
estuprador ter de casar-se com a vítima, se a família assim desejasse, em troca de um dote.22.23, 25. jov em prom etida em casamento. O contrato de casamento era um pacto sagrado comparável à *aliança feita com Yahw eh (ver Ez 16.8). O acordo de casamento: (1) estabelecia o preço da noiva bem como o valor do dote; (2) garantia que a noiva se manteria virgem até o casamento e (3) exigia completa fidelidade de am bas as partes. O casam ento era um fator social e econômico de grande importância no antigo Oriente Próximo, dando origem a uma enorme quantidade de leis. As leis de *Esnuna e de *H am urabi explicam a importância de firm ar um contrato oficial de casamento e as leis de Ham urabi tam bém orientam quanto ao pagamento do preço da noiva e quando um a das partes deseja rom per o contrato (ver 2 Sm 3.14). Assim que o acordo era firm ado, esperava-se que as outras pessoas respeitassem a condição da noiva, que já era considerada como casada (ver G n 20.3). Assim, as leis sobre o adultério podiam ser aplicadas plenamente, mesmo antes da cerimônia e da consumação do casamento.22.25-27. estupro no campo. Nesse caso, a lei israelita
acrescenta outro critério para especificar a inocência da m ulher estuprada no cam po, onde seria pouco provável que seus gritos atraíssem qualquer tipo de ajuda. A pressuposição de sua inocência baseia-se na resistência implícita ao estupro sob essa circunstância. É provável que a lei se aplicasse tanto a m ulheres casadas com o a noivas prom etidas em casam ento, embora somente estas sejam mencionadas. Uma declaração semelhante pode ser encontrada na lei *hitita, que condena o homem que se aproveita de uma m ulher "n as m ontanhas" e condena a m ulher que for estuprada "n a casa (dela)" (ver sobre a m ulher adúltera em Pv 5.3-14).22.29. c inqü enta peças de prata. O preço da noiva provavelmente variava dependendo da posição social e das posses da família. Cinqüenta peças de prata talvez fosse o valor-padrão (equivalente ao valor da virgindade da noiva, de acordo com as leis *medo- assírias), mas provavelmente outros itens eram considerados tam bém (com pare com Ex 22.16, 17). Para que houvesse parâmetros nessas negociações, os textos religiosos de *Ugarite descrevem o deus-lua oferecendo m il peças de prata como valor pago pela deusa- lua N ikkal. Para entender os valores envolvidos é
importante considerar que o salário anual no mundo antigo correspondia a cerca de dez peças de prata.22.29. divórcio no antigo O riente Próxim o. A declaração m ais direta sobre divórcio encontrada nos códigos legais do antigo Oriente Próximo é a lei m edo- assíria 37, que sim plesm ente estabelecia que o ho
mem tinha o direito de se divorciar de sua m ulher e decidir se daria ou não um a pensão a ela. Outras
cláusulas, porém, m encionam alguns motivos para o
divórcio: negligência da esposa em cuidar das tarefas dom ésticas (Ham urabi); esposa que abandonar seu
marido(leis *medo-assírias); incapacidade de gerar fi
lhos (Hamurabi). De m odo geral, há indícios de que
tanto no Egito como na M esopotâmia, os homens podiam divorciar-se de suas esposas praticam ente por
qualquer motivo. Existem tam bém diversas fontes que prescrevem um a pensão fixa: um a mina de prata
para a esposa principal e m eia m ina de prata para
um a ex-viúva (Ur-Nam m u); um a m ina de prata se
não tivesse sido pago o preço da noiva (Hamurabi).
Deve-se destacar que as m ulheres tam bém tinham alguns direitos quanto ao divórcio: manter o preço da
n oiva (leis m edo-assírias); receber de volta o dote
(Hamurabi); receber uma parte da herança como dote (Hamurabi). Havia tam bém o caso em que a mulher
podia abandonar o marido, se o casamento não fosse
satisfatório, levando consigo seu dote (Ham urabi).
Entretanto, esse caso dependia de uma análise de seu caráter, que poderia levá-la à execução se fosse encontrada nela alguma culpa (Hamurabi).
22.30. incesto. O incesto era igualmente detestável na
m aioria das sociedades do antigo O riente Próxim o
(veja proibições nas leis *hititas). A exceção mais notável é o Egito, onde o incesto era um a prática comum
na família real (mas pouco confirmada em outros con
textos), usado como meio de fortalecer ou consolidar a
autoridade real. Esse costume tam bém é encontrado entre os reis *elamitas. As leis de *Hamurabi exigiam
a execução do filho que tivesse relações sexuais com a mãe após a morte do pai.
23.1-14Casos de profanação da assembléia e do acampamento23.1-8. excluídos da assem bléia. A expressão "A s
sembléia do Senhor" bem como a forma mais comum, "assem bléia de Israe l", era um term o técnico para
designar todos os homens com direito de tom ar decisões, participar de atividades *cultuais e servir o exér
cito de Israel (Mq 2.5). Por ser um povo escolhido, do qual exigia-se pureza *ritual como requisito da *alian-
ça (Ex 19.6), os impuros e estrangeiros eram excluídos das atividades da assembléia. Os casos mencionados
incluem pessoas com os órgãos sexuais mutilados (provavelmente eunucos) e assim, incapazes de procriar,
filhos de uniões ilícitas (inclusive de incesto e casa
m ento m isto) e certos grupos nacionais que jam ais poderiam ser inseridos na assembléia.
23.4. terra de Balaão . A localização exata da terra onde Balaão vivia é desconhecida. Números 22.5 ,23 .7 e D euteronôm io 23.4 parecem indicar que seria na região do alto Eufrates, talvez na localidade de Pitru, ao sul de Carquem is, m encionada na inscrição do monólito do rei Salm aneser III (858-824 a.C.). A viagem de Balaão, descrita em N úm eros 22.21-35, porém, sugere uma distância menor, talvez partindo de Am on.23.9-14. pureza do acampamento. Visto que o exército estava engajado num a guerra santa, todos deveriam manter-se num estado de pureza ritual em conformidade com a santidade de Deus. Assim, questões de higiene pessoal eram valorizadas reforçando a necessidade de manter a limpeza do corpo (ver Lv 15.16, 17) e do acam pam ento. Evidentem ente havia uma razão sanitária na orientação de cavar latrinas fora do acampamento, m as o objetivo principal dessas atividades triviais era evitar a impureza *ritual que levaria Deus a afastar-se de Israel, abandonando-os (ver Dt 8.11-20).
23.15-25 Diversas leis23.15, 16. escravidão. Em bora existisse em Israel a escravidão decorrente de dívidas, após um período máximo de seis anos o escravo nessa situação deveria ser liberto. A escravidão perpétua tam bém existia, mas era limitada aos prisioneiros estrangeiros e aos israelitas que tinham tomado a decisão de aceitar aquela condição (Êx 21.2-11; D t 15.12-18). É mais provável que o trecho em questão refira-se a esta segunda categoria de escravos, visto que escravos de dívidas eram libertos depois do período estipulado pela lei. A lei israe lita que trata do escravo fu gitivo é bastante incom um dentro do contexto legal do antigo Oriente Próxim o. Talvez estivesse relacionada à escravidão anterior dos israelitas no Egito, ocasionando o ódio nacional contra essa instituição (ver Êx 22.21). O Código de *Hamurabi considerava crime capital esconder um escravo fugitivo e estabelecia um a recompensa de duas peças de prata para quem encontrasse e devol
vesse um escravo. De m odo sem elhante, o tratado internacional entre o faraó Ram sés II e o rei *hitita Hattusilis III (cerca de 1280 a.C.) continha um a cláusu
la de extradição exigindo a devolução de escravos fugitivos.23 .17 ,18 . ^prostituição cultual. Existiam diversas categorias de prostituição. A prostituição podia ser "sa grada", em que os lucros eram encaminhados ao templo, ou "cultual", cujo objetivo era assegurar a *fertili- dade através do ritual sexual. Tanto a prostituição cultual como a sagrada podiam ser diferenciadas tam
bém como ocasional (ver Gn 38) ou profissional (ver 2 Rs 23.7). Não há evidências que permitam confirmar a existência de prostituição cultual no antigo Israel ou em outras partes do antigo Oriente Próximo. Em textos cananeus, as prostitutas eram consideradas funcionárias dos templos e a literatura *acadiana comprova que algumas dedicavam-se ao serviço do templo por toda a vida. Embora a palavra hebraica usada neste texto esteja relacionada à palavra acadiana para prostituta, não é suficiente para provar a ligação com qualquer prática cultual ou ritual religioso. Possivelmente, as prostitutas eram contratadas como meio de levantar recursos para os templos, sem que ocupassem um a posição oficial como sacerdotisas. A lém disso, como as mulheres não tinham posses nem fonte de renda, geralmente a única m aneira de ganhar algum dinheiro para pagar um voto era através da prostituição. A ordem para não trazer os ganhos de um a prostituta ao tem plo pode, no entanto, ser um a reação contra as práticas realizadas no templo de *Istar (período neobabilônico), onde os devotos contratavam mulheres de sua comunidade como prostitutas, encaminhando o salário delas ao templo. Tudo isso demonstra a existência da prostituição sagrada, tanto ocasional como profissional, em Israel e no antigo Oriente Próxim o. A prostituição cultual, no entanto, é mais difícil de comprovar. Esse tipo de prostituição é difícil de ser confirmado na M esopotâmia, com exceção do ritual anual de casamento sagrado. Apesar da falta de evidências, é difícil imaginar que as prostitutas que serviam no templo de Istar (que personificava a energia sexual) não tivessem um papel sagrado no culto à fertilidade. A palavra "prostituto" usada em Deuteronômio 23.18 é um termo comumente empregado em hebraico para "cachorro". Na inscrição de Kition, do século quarto a.C., esse termo é usado para descrever um grupo que recebia mantimentos do templo. Talvez seja um a m enção a um oficial ou sacerdote do templo. Estudos recentes têm mostrado que, ao menos no período persa (século sexto ao quinto), os cães tin h am um papel im p ortan te na p rática *cu ltual fenícia. Kalbu (cão) tem um sentido positivo de "aque
le que é fiel", como pode ser observado pelo uso em nomes próprios (como o Calebe bíblico) (ver Êx 34.16).23.19, 20. cobrança de juros. Ver comentário em Êx22.25. No texto de Deuteronôm io aparece explicitamente a permissão para a cobrança de juros aos estrangeiros, embora o texto de Êxodo nada mencione sobre isso.23.21-23. votos. U m dos mandamentos do Decálogo afirma que ninguém deve "tom ar em vão o nome do Senhor" (Êx 20.7). Quando alguém proferia um juram ento em nom e de D eus, estava assu m in do um
compromisso com o próprio Deus. Assim/ se a pessoa
falhasse em cum prir as condições do voto, o juram en
to estaria quebrado e ela estaria sujeita à ira divina
(ver Jz 11.35,36). A orientação contida em Deuteronô- mio acerca dos votos é bastante parecida com o texto
de Eclesiastes 5.4-7 e tem por objetivo alertar contra palavras insensatas, encontrando muitos paralelos na
literatura de sabedoria do antigo Oriente Próximo. O
texto assírio do século sétimo a.C., Instruções de *Ahiqar observa que a "palavra hum ana é como um pássaro;
uma vez solto, não há como capturá-lo novam ente".
As Adm oestações de Am enenope tam bém afirm am de modo bastante semelhante que "parar e pensar antes
de falar... é um a qualidade que agrada os deuses"
(cerca de 1100 a.C.). Para mais informações sobre votos, ver comentário em Levítico 27 e Números 30.
23.24, 25. apanhar com as mãos. Assim como as viú
vas tinham perm issão p ara rebuscar nos cam pos e pomares e assim obterem o suficiente para seu susten
to, como providência de Deus era permitido ao viajante saciar sua fome com um punhado de frutas ou
cereais ao passar por um a plantação (ver D t 24.19-21).
Colher no cam po vizinho, porém , era considerado
roubo. Os direitos de hospitalidade dos viajantes tam bém são abordados no texto egípcio, A Lenda do Cam
ponês Eloqüente (cerca de 2100 a.C.).
24.1-22Proteção da dignidade24.1-4. divórcio. A base para o divórcio nesse texto
bíblico é a insatisfação do marido em relação à esposa
(como nas leis *medo-assírias). As razões para o divór
cio deviam ser claras (como nas leis *medo-assírias e de *Hamurabi). A "certidão de divórcio" era emitida
com base nesses critérios (Jr 3.8), que à maneira de outros procedimentos legais, deveria ser examinada
por um conselho de anciãos e confirmada por teste
munhas (como nas leis de Hamurabi). Para informações mais detalhadas, ver comentário em Deuteronô- mio 22.29.
24.4. contaminação. A forma pouco comum do verbo hebraico usado no versículo 4 deixa claro que a m u
lher nesse caso era a vítima, não a culpada. Ela fora forçada a declarar-se impura diante das atitudes cru
éis do prim eiro m arido, mas o segundo casam ento demonstrara que esse outro marido fora capaz de ade
quar-se a qualquer *impureza que perturbasse a mulher. Assim, como a proibição é dirigida ao primeiro
marido e não à mulher, fica claro que o objetivo era evitar que ele se casasse novam ente com aquela m u
lher (se isso acontecesse, ele teria algum ganho financeiro); se a m ulher estivesse realm ente impura, a proi
bição seria contra ela e impediria seu casamento com qualquer outro homem.24.5. norm as para o recém-casado. Esta lei humanitária pode ser com parada à lei do recrutam ento em Deuteronômio 20.7, que dispensava os noivos do ser
viço m ilitar, enquanto que aqui, especificam ente os hom ens recém -casados é que são dispensados. Em ambos os casos, o objetivo era que o homem tivesse o tempo necessário para gerar um herdeiro e constituir família. A lei apresentada no capítulo 24, porém, tam bém se refere ao direito do indivíduo de aproveitar das alegrias da vida antes de ir para a guerra.24.6. pedra de m oinho como m eio de subsistência. O moinho era constituído de duas pedras, geralmente de basalto. Os cereais eram colocados na pedra de
baixo (pesando cerca de 45 quilos), que era achatada ou ligeiram ente curva, e depois esm agados com a pedra de cima, mais leve (aproximadamente dois quilos), até serem transformados em farinha. Os pobres, que não tinham condições de comprar farinha, tinham de m oer diariam ente a quantidade de cereais que necessitavam. Se fossem forçados a penhorar suas pedras de moinho por um dia de trabalho, poderiam acabar ficando sem o meio de garantir seu alimento.24.7. com ércio de escravos no antigo O riente Próximo. Embora existisse comércio de escravos em todo o antigo Oriente Próximo (ver Gn 37.28-36), a lei proibia que se seqüestrasse cidadãos livres para serem vendidos como escravos (compare com Êx 21.16). Tanto as leis deuteronômicas como as de *Hamurabi condenavam o seqüestrador à morte. Era uma forma de restringir os mercadores de escravos que muitas vezes aumentavam sua mercadoria capturando crianças perdidas ou adultos desafortunados. A grande maioria das pessoas que acabavam sendo escravizadas haviam sido vendidas por suas próprias famílias ou então eram prisioneiras de guerra.24 .8 ,9 . leprosos. Ver comentários sobre o diagnóstico de doenças de pele feito pelos sacerdotes em Levítico13.1-46. A instrução de Deuteronômio apenas reforça as prerrogativas e a autoridade dos sacerdotes em determinar se uma pessoa encaixava-se na descrição da doença (provavelmente psoríase ou outra doença de pele, visto que a hanseníase era desconhecida no Oriente Próximo até o período helenístico) e instruir sobre o *ritual de purificação quando curada.24.10-15. regras quanto ao penhor. No antigo Oriente Próximo, era bastante comum nos negócios a prática de "penh orar" um a parte da propriedade como garantia do pagam ento de um a dívida ou de outro compromisso financeiro. O Código de *Hamurabi e as leis *hititas estipulavam terras ou plantações como penhor. As leis m edo-assírias e de H am urabi trata
vam dos direitos legais de pessoas que haviam sido dadas como penhor por causa de um a dívida. O que distingue a lei deuteronômica, se comparada à versão mais antiga da *aliança (Êx 22.26, 27), é sua ênfase na proteção dos direitos humanitários e da honra do devedor. Por essa razão, o credor não tinha o direito de entrar na casa do devedor para pegar algum objeto como penhor. Ao contrário, a dignidade do devedor era preservada através da manutenção do respeito à sua moradia, dando-lhe a oportunidade de escolher o que seria dado como penhor. Dessa forma, os pobres eram tratados do mesmo modo que todos os outros israelitas.
24.16. culpa individual. O conceito legal da responsabilidade individual é citado em 2 Reis 14.6 como base para poupar os filhos do homem que havia sido condenado. O que não fica claro é a relação desse princípio com o conceito de responsabilidade *coletiva, evidenciado em Deuteronômio 13.12-17 e 21.1-9. Nesses dois últim os textos, toda a nação tinha o dever de manter a pureza ritual eliminando os elementos que poderiam contaminá-la. No caso de a responsabilida
de individual e a coletiva serem conceitos legais que coexistiam, então as situações em que famílias inteiras eram m ortas por causa do pecado do pai (Js 7.24-26; 2 Sm 21.1-9; 2 Rs 9.26) seriam encaradas como casos de castigo divino e não procedentes da ação do sistema civil legal.
24 .17 ,18 . ju stiça para os m ais fracos. M ais uma vez, os direitos das "categorias protegidas" da sociedade (viúvas, órfãos e estrangeiros) são mencionados (ver Êx 22.21-24; D t 26.12). A proteção e a provisão dessas pessoas está baseada na compaixão de Deus durante o acontecimento do êxodo, e também na promessa da *aliança de uma terra fértil. O tema da proteção legal aos menos favorecidos era bastante comum no antigo Oriente Próximo (Êx 23.6), especialmente na literatura de sabedoria. Por exemplo, o texto egípcio Ensinos âe Amenemope inclui admoestações contra “roubar do pobre, enganar o aleijado e invadir a propriedade de um a v iú va". D entre os m uitos títu los usados pelo "cam ponês eloqüente" (literatura egípcia) para referir-se ao governante local encontram-se "p ai dos órfãos" e "m arido das viúvas", relembrando-o de sua responsabilidade de defender os direitos dos m ais fracos na sociedade.
24.19-22. provisão para os necessitados. Visto que a abundância da colheita era um reflexo da promessa de Deus contida na *aliança, era justo que os proprietários de campos e pomares compartilhassem parte de suas colheitas (ver comentários em Êx 22.22-24 e Dt23.24, 25). Essa provisão visava atender a diversos propósitos, como assegurar que toda a comunidade
participasse dos esforços humanitários de sustentar os pobres (ver Lv 23.22), além da prática de deixar uma parte do campo sem colher, o que talvez estivesse
ligado ao pousio regular dos campos (Êx 23.10, 11), garantindo o descanso da terra e a preservação de sua fertilidade. No antigo O riente Próxim o, é provável
que parte da colheita deixada nos campos estivesse originalmente associada a ofertas dedicadas aos deu
ses locais de *fertilidade. A o ofertar esses produtos aos pobres em vez de oferecê-los às divindades locais, o
escritor bíblico ao mesmo tempo elim ina o vírus da
adoração falsa e institui um sistema prático de assistência social.
25.1-19 Direitos individuais25.1-3. punições prescritas pelos tribunais. Nas socie
dades m ais complexas, quando surgia um a disputa legal esta deveria ser encaminhada ao sistema judici
ário. Esse sistema deveria contar com juizes e um local
para o depoimento das testemunhas. Nos povoados m ais sim ples, o sistem a judiciário era representado
pela reunião dos "anciãos" à porta da cidade ou à eira
(ver D t 21.18-21; R t 4.1-12). N as cidades, os ju izes eram oficiais nom eados pelo governo, que podiam
atender os recursos encaminhados pelos tribunais dos
povoados (Dt 17 .9 ,10) ou julgar casos dentro de sua própria jurisdição (2 Sm 15.3; Jr 26.10-19). A responsa-
büidade dos magistrados incluía ouvir o depoimento
das testemunhas, fazer um julgam ento com base na lei e garantir que a pena fosse aplicada exatamente
como a lei determinava (nas leis medo-assírias os juizes
tinham de assistir à aplicação da pena).25 .2 ,3 . lim ite do núm ero de açoites. As leis no antigo
Oriente Próximo (leis *medo-assírias e de *Hamurabi)
estipulavam que tanto homens como mulheres deveriam ser açoitados quando cometessem algum crime.
O núm ero de açoites variava de vinte a sessenta. Em
Deuteronômio, porém, o limite máximo era de qua
renta açoites. Esse limite talvez estivesse baseado no
valor simbólico do núm ero quarenta ou no grau de mutilação e hum ilhação pessoal suportável por um
israelita, sem que ele fosse permanentemente excluí
do das atividades sociais e religiosas.25.4. uso do boi para debulhar cereais. Os bois eram
usados para arar a terra e para puxar debulhadores a
fim de triturar os cereais após a colheita. Os cereais eram espalhados na eira onde um pesado tronco era passado sobre os grãos. Os cascos do animal também
ajudavam no processo de debulhar os grãos. A ordem
para que o boi não fosse amordaçado enquanto debulhava o cereal segue o padrão hum anitário das leis
anteriores, permitindo ao animal comer um a parte do
cereal como recompensa pelo seu trabalho. Visto que poucos proprietários de terra possuíam seu próprio
gado, os bois eram fornecidos pelo governo (presente
nos textos de *Mari) ou alugados dos fazendeiros mais
ricos ou até de outros povoados (como nas leis de *Lipite-Istar e de *Hamurabi, que incluíam estatutos
quanto ao aluguel de bois e sua conservação).25.5-10. casam ento por levirato. Para informações adi
cionais sobre essa prática, ver comentário em Gênesis
38.6-26. As ordens estabelecidas pelas leis *hitita (193) e medo-assíria (33) são bastante sem elhantes embora
nenhuma delas ofereça um a explicação quanto à pro
vidência de um herdeiro ou à transmissão de propri
edades, questões abordadas em Deuteronôm io. A ssim , apesar de ter com o objetivo garantir à viúva
segurança e sustento através do casamento com o cu
nhado, além da continuidade da família, a lei visava primordialmente fazer cumprir os direitos do marido
falecido. A responsabilidade do cunhado (descrito
como o parente mais próximo) para com o irmão falecido podia ser um peso em term os financeiros (ver
Rute 4). Desse modo, a segunda parte da lei permitia
a esse parente próximo se desobrigar do seu compromisso publicamente permitindo que a viúva, de acor
do com o que está registrado em Rute, se casasse com quem desejasse. Embora o cunhado tivesse de se sub
m eter a hum ilhação pública, os fatores financeiros
envolvidos talvez justificassem sua recusa em casar-se
com a viúva.25.7, 8. anciãos à porta da cidade. N as cidades do
antigo Oriente Próximo a porta da cidade era o lugar
onde se realizavam os tribunais e as transações co
merciais, devido ao tráfego constante de pessoas pelo local. Os m ercadores m ontavam suas barracas ou sim
plesm ente se sentavam debaixo de um toldo e ali ficavam à espera dos fregueses, que vinham até eles
(ver Ló em G n 19.1). Quando surgia alguma questão legal, era possível encontrar vários anciãos assenta
dos junto à porta da cidade (Pv 31.23) ou quando isso
não ocorria, os que estavam passando por ali eram convocados a se reunir (Rt 4.1, 2).
25.9. tirar a san dália. A s sandálias eram o tipo de calçado m ais usado no antigo Oriente Próximo. Além
de fazer parte da vestimenta, elas também eram um elemento de valor simbólico, especialm ente na rela
ção entre a viúva e seu tutor legal. Isso se deve ao fato de que a posse da terra era baseada numa área trian
gular que a pessoa conseguia caminhar por uma hora, um dia, um a semana ou um mês (1 Rs 21.16 ,17). Os
lotes eram medidos e marcados em triângulos, usando pedras como m arcos de divisa (Dt 19.14). Visto que
a pessoa fazia a marcação calçando sandálias, estas passavam a ser um tipo de escritura móvel daquela
terra. Ao remover as sandálias de seu tutor (Rt 4.7), a
viúva removia dele a autoridade para administrar a terra de sua família.
25.11, 12. lei. O código *medo-assírio apresenta um conceito bastante sem elhante a essa lei, em que o
grau de punição física aplicada à m ulher dependia do
dano causado aos órgãos genitais. Aparentemente, o
castigo da lei deuteronômica se baseia não no grau do dano infligido aos órgãos sexuais do homem, mas sim
no ato indecoroso praticado pela mulher. A mão da
mulher deveria ser cortada por ser o membro causador do ato (ver comentário sobre as leis de talião em
Deuteronômio 19.21). Embora a mulher estivesse ten
tando ajudar o marido, ao agarrar os órgãos genitais
de outro homem ela estaria cometendo um gesto se
xual que causaria desonra a ela e a seu marido.25.13-16. padrões de pesos e m edidas. O comércio em
um a sociedade onde não existia moeda dependia de
padrões de pesos e medidas. M odelos de pesos de pedra e metal, m arcados com símbolos especificando
valores de peso, foram encontrados em tumbas egíp
cias e em diversos lugares em Israel e na Mesopotâmia
(pesos com a figura estilizada de um leão foram encontrados nos sedimentos do oitavo século a.C., em
N inrode, na *A ssíria). O m ercador que usava um
peso mais pesado para comprar e outro para vender
estava defraudando seus fornecedores e clientes (ver Pv 11.1; 20.23; A m 8.5). Em bora isso fosse condenado
como um a prática abominável, era bastante comum
no mundo antigo. Um bom exemplo aparece no texto
egípcio A Lenda do Cam ponês Eloqüente, que acusa funcionários do governo e distribuidores de cereais de lesar o povo.
25.17-19. am alequitas. Ver comentário em Números
24.20. Os am alequitas vagaram por vastas faixas de terra no N eguebe, na Transjordânia e na península
do Sinai. Não há evidências desse povo fora da Bíblia e nenhum vestígio arqueológico pode ser comprova-
damente ligado a eles. No entanto, pesquisas arqueológicas conduzidas nessa região descobriram amplas
evidências de grupos nômades e seminômades semelhantes aos amalequitas durante esse período. Apesar
de diversas tentativas para elim inar os am alequitas (Êx 17.8-13; 1 Sm 15.2, 3), eles reaparecem como inimigos de Israel em um número alarmante de ocasiões
(Jz 6.3; 1 Sm 30.1; 2 Sm 8.12; 1 Cr 4.43). Sua recusa em ajudar os israelitas a atravessar o Sinai serviu de base
para a inimizade original,como também aqui, mas as
disputas subseqüentes provavelm ente foram decorrentes de conflitos territoriais e invasão de povoados.
26 .1-18O s p r im e ir o s fr u to s
26.1-5. oferta dos prim eiros frutos no antigo O riente Próxim o. O princípio religioso envolvido na oferta dos "prim eiros frutos" (animais, vegetais ou hum anos) aos deuses tinha com o base a promoção da fertilidade. D esde os primórdios, existia a crença de que os deuses haviam gerado a vid a em suas variadas form as e, portanto, esperavam receber em troca a prim eira colheita ou o prim eiro fruto do ventre. A religião israelita fez algumas m udanças, permitindo que o filho primogênito e a prim eira cria fossem resgatados (Êx 13.11-13; N m 18.14, 15). A entrega dos prim eiros frutos tam bém podia assum ir um caráter político. O s anais *assírios de Senaqueribe (705-681 a.C.) contêm um a ordem dada por ele aos povos conquistados para que oferecessem os prim eiros frutos das ovelhas, vinhas e tamareiras aos deuses da Assíria. 26.5. aram eu errante. A declaração contida neste trecho enfatiza o caráter nôm ade dos ancestrais de Israel. A terra natal de Abraão e de sua fam ília geralmente é identificada como Padã-Arã ou A ra Naharaim (ver com entário em G n 11.28). A m enção aos aram eus relacionada a A braão e Jacó provavelm ente é um a referência às tribos espalhadas na alta M esopotân que ainda não haviam se juntado à nação de
citada em textos posteriores. Com base em outros^ exemplares de literatura *cuneiforme/ o nome de A rã
pode ter sido usado originalmente para (pesígftafc uma região (cf. Sippar-Ainnantum<^o ^éríc^^^babijonico antigo), e m ais tarde aplicado a^pesshaXque lá vivi-
aram eus, veram . P ara m ais info: comentário em Gêne; 26.8. "m ão podei ras egípcias,
ém e]
forte" como m etáfo- íbu tos de Deus aparecem
11.2 e 26.8 e na literatura !z 20.33). A origem desses term os
cõntrada em h inos eg ípcios reais e na ncfência oficial. Por exem plo, nas cartas de
arna do século catorze a.C., Abdi-H eba, governador de Jerusalém , refere-se ao "braço forte do rei" como base para sua nomeação ao governo. D e m odo semelhante, o "H in o a O síris", da 18a Dinastia, descreve a predom inância de Osíris sobre os outros deuses com a frase "quand o seu braço estava forte"; o "H ino a *Toth" de H arem hab's fala do deus-lua guiando o barco divino pelo céu com "braço estendido". 26.9. leite e m el. Ver comentário em 6.3.26.11. alegrar-se com os levitas e estrangeiros. Novamente as "classes protegidas" são mencionadas, e a ordem é de compartilhar um a porção da oferta sacrificial
com elas. Os grupos dos levitas e estrangeiros não tinham permissão para possuir terras e, assim, eram
prejudicados economicamente (ver 1.16; 12.18; 14.29; 16.11). A com pensação p ara a ajuda que recebiam vinha, no caso dos levitas, pelo serviço que prestavam como sacerdotes e, no caso dos estrangeiros, por seu trabalho itinerante.26.12-15. dízim o no antigo O riente Próxim o. Ver com entários sobre dízimo em 14.22-29 e em Números 18.31, 32.26.12. terceiro ano, o ano do dízim o. Ver comentário em 14.29.26.12, 13. provisão para os necessitados. Os quatrogrupos de pessoas carentes eram os levitas, os estrangeiros, as viúvas e os órfãos. Por não possu írei^W ras nem terem a proteção de um a família, a n açãg tm hk a obrigação de prover a eles alimento e protec^a-4eg^Th (ver 1.16). A m aneira como recebiam ^eSê^ppb^era através do dízim o do terceiro aBo. [Presmtfe-se, porém , que outras provisões eram f^ a s V c a d a ano para sua sobrevivência (verJ&íW\2KLSÍ) J26.14. comer estado(d/Ttito^-ou im puro. Esta ladainha relacipnada'~á^ e à obediência, cujo
formato e ^ e i^ litó j^ \ o 4 u fa m e n to de pureza de Jó
(Jó 31), mja^rna q u eV oferente não havia contaminado a rêfeiçackêa^mda estando impuro. Como exemplo,
éi^as\qíle^ivessem tido contato com defunto eram ipradas impuras (Lv 5.2). O *ritual *hitita esta-
?lecia regras para a preparação do alimento do rei e para as ofertas de refeições aos deuses, advertindo cuidadosamente sobre a necessidade de limpeza física, bem com o a exclusão de certos anim ais (cães e
porcos) e pessoas ritualm ente im puros. O estatuto deuteronômico tam bém pode estar ligado a refeições rituais associadas ao *culto aos ancestrais ou a rituais cananeus e m esopotâm icos de *fertilidade (ver m ulheres de luto por *Dumuzi/Tammuz, em Ez 8.14).26.14. ofertas aos m ortos. V er com entários em N úm eros 3 e D euteronôm io 14.1, 2 sobre *rituais associados ao culto dos ancestrais. N este texto há um a garantia de que a refeição sacrificial não havia sido contam inada por pessoas ou ações impuras, tal como dedicar um a parte dela como oferta aos mortos. Esse tipo de oferta era feito com o objetivo de garantir o sustento do espírito de um a pessoa morta, a fim de que se fortalecesse p ara seguir em sua jornad a até o Seol (como vem os em Tobias 4.17) ou então para descobrir algo a respeito do futuro (D t 18.11). A lém disso, o Salm o 106.28 m enciona que h á um a relação entre com er "sacrifícios oferecidos aos m ortos" e a adoração ao deus cananeu Baal. Porém , seja qual for o objetivo dessa oferta aos mortos, o fato é que esta oferta fazia com que outros poderes recebessem a confiança que devia ser colocada em *Yahw eh e , por essa razão as duas atitudes citadas foram condenadas pelo escritor
bíblico por provocarem contam inação e levarem à destruição.
27.1-8 O altar no monte Ebal27.2. altares de pedra p intados com cal. A s técnicas antigas de escrita incluíam: tinta para escrever em papiro (Egito); o estilo de escrita sobre placas de argila (Mesopotârrúa), instrum entos para gravações nas pedras e bastões de cera para uso em tábuas. Fazer inscrições em pedras era um a técnica que gastava muito tempo, assim, um a alternativa para textos m ais longos era cobrir a superfície da pedra com um a cam ada de gesso e então escrever sobre ela enquanto ainda estava fresca. Inscrições desse tipo foram encontradas na região da Palestina, em Deir A llah (ver comentários em N m 22.4-20) e em Kuntillet A jrud (ver comentário sobre os postes de A será em 7.5).27.4. m onte Ebal. Ebal e Gerizim são montes situados ao redor da cidade de Siquém, na região montanhosa central. O monte Gerizim, com 870 metros de altitude, localiza-se ao sul e o monte Ebal, com 940 metros, fica ao norte. O altar m encionado no texto na verdade só será erguido em Josué 8. Alguns arqueólogos acreditam que vestígios desse altar foram encontrados, representados por uma estrutura em um dos picos do monte Ebal, com paredes medindo cerca de um metro e meio de espessura e quase três m etros de altura, feita de pedras. A m assa parece feita de barro e cinzas, e algo semelhante a um a rampa vai até o topo. A estrutura está cercada por um pátio e ossos de animais espalham-se pelo local. A cerâm ica encontrada no sítio remonta ao ano de 1200 a.C..27.5. altar de pedras, sem ferram enta de ferro. Essas orientações são semelhantes àquelas encontradas em Exodo 20.25. A s ferramentas de ferro eram utilizadas para entalhar a pedra, m oldando-a de modo a tom ar a estrutura m ais robusta. A ltares de pedra lavrada foram encontrados em Judá (o m elhor exemplo está em Berseba). O altar aqui descrito não era para ser colocado em um santuário e talvez o uso de pedras brutas ajudasse a m anter essa distinção. Existe um altar de pedra no pátio do santuário da fortaleza de Arad que remonta ao período monárquico.27.6. 7. propósito do altar. Aparentemente esse altar não seria uma instalação permanente (outra razão para usar pedras brutas), tendo sido erigido para a celebração das cerimónias naquela ocasião. A s ofertas eram especificamente sacrifícios de comunhão (ver comentário em Lv 3) e não h á m enção de ofertas de purificação ou reparação.
27.8. le i escrita nas pedras. As leis de *H am urabi foram inscritas em um m onólito de diorito com 2,5
m etros de altura e expostas publicam ente para que todos pudessem vê-las e consultá-las. Inscrições reais geralm ente eram posicionadas em lugares de destaque, do mesmo modo que atualmente fazemos inscrições em locais públicos como sepulturas, pedras fundam entais de edifícios e m onum entos em diversos lugares de valor histórico, com o objetivo principal de trazer à m emória das pessoas acontecimentos e feitos importantes. Os documentos de tratados e alianças no Oriente Próximo, ao contrário, eram colocados em lugares sagrados onde as pessoas comuns não tinham acesso. O propósito era registrar o acordo por escrito diante dos deuses em nome de quem o compromisso fora jurado.
27.9-26 As maldições proferidas no monte Ebal27.12. m ontes G erizim e Ebal. Ver com entário em11.29.27.15-26. proferir m aldições. A s maldições aqui não
são ameaças relacionadas ao que aconteceria a quem infringisse o acordo da *aliança, e sim maldições genéricas acerca de comportamentos específicos de transgressão da aliança. Este trecho representa um juramento solene feito pelo povo em relação a transgressões secretas. Esta cerimônia de juram ento geralmente acompanhava os tratados internacionais.27.15. ídolos. Ver comentário em 4.15-18.27.16. desonrar os pais. H onrar os pais significava respeitar suas instruções acerca da *aliança e pressupunha a transmissão de um a herança religiosa. O lar era considerado uma ligação importante e necessária para a transmissão das instruções da aliança às gerações seguintes. Os pais deviam ser honrados por serem representantes da autoridade de Deus na preservação da aliança. Se os pais não fossem respeitados ou se sua autoridade fosse rejeitada, a aliança estaria em perigo. Nesse sentido, note que esse mandamento é acompanhado de um a promessa: uma vida longa na terra prometida pela aliança. No antigo Oriente Próximo não era a herança religiosa, e sim a estrutura da sociedade que era ameaçada quando não havia respeito pela autoridade dos pais e negligência pelas obrigações filiais. A s transgressões a esta lei incluíam bater nos pais, amaldiçoá-los, negligenciar o cuidado de pais idosos e não providenciar um sepultamento adequado (ver Êx 20.12).27.17. im portância dos marcos de divisa. Ver comentário em 19.14.27.19. ju stiça para os m ais fracos. Um dos principais aspectos da tradição legal israelita diz respeito ao cuidado para com as pessoas classificadas como fracas ou desprovidas de recursos: as viúvas, os órfãos e os
estrangeiros (ver Êx 22.22; Dt 10.18, 19; 24.17-21). A preocupação com os necessitados é também evidente nos códigos de leis mesopotâmicos desde a m etade do terceiro m ilênio, tratando geralm ente de providenciar a proteção dos direitos e garantia de justiça nos tribunais.27.20-23. incesto e bestialid ade. O incesto era tam bém visto como uma atitude abominável em muitas outras sociedades antigas (ver, por exemplo, as proibições sobre incesto nas leis *hititas). A exceção pode ser vista no Egito, onde o incesto era um a prática com um na fam ília real (mas pouco confirm ada em outros contextos), usado como meio de fortalecer ou consolidar a autoridade real. Esse conceito tam bém pode ser encontrado entre os reis *elamitas. A bestialidade era praticada em situações de *rituais ou magia no antigo Oriente Próximo, estando presente na mitologia de *Ugarite (onde é provável que fosse ritualmente imitada pelos sacerdotes), porém proibida em textos legais (especialmente nas leis hititas).27.25. aceitar pagam ento para m atar um inocente. Não fica claro nesse versículo se a maldição diz respeito ao pagam ento feito a um assassino (sendo assim um a variação do versículo anterior) ou refere-se ao suborno pago a um juiz ou a um a testemunha a fim de condenar um hom em inocente por um crime capital, fazendo com que fosse executado (cf. 1 Rs 21.8-14). Em todas as épocas e lugares (ver Pv 6.35; M q 7.3) é possível encontrar juizes e funcionários do governo
sendo tentados a aceitar suborno. Essa prática acabou se tom ando um costume quase institucionalizado nos am bientes burocráticos, em que a competição entre facções rivais busca prejudicar umas às outros (ver Mq 3.11; Ed 4.4, 5). Entretanto, ao menos no plano ideal, foram feitas tentativas de m inorar esse problem a, im pondo-se punições e discussões sobre o assunto. A ssim , o código de *H am urabi estabelecia severas punições a qualquer ju iz que alterasse suas decisões (presumivelmente devido a um suborno), inclusive impondo pesadas multas ou até m esmo o afastamento permanente do cargo. Em Êxodo 23.8 aceitar subornos e corromper a justiça são práticas proibidas e consideradas ofensa contra Deus, contra os fracos e inocentes e contra toda a comunidade (ver Is 5.23; A m 5.12).
28.1-14 As bênçãos da aliança28.2-11. m aldições e bênçãos nos tratados do antigo O riente Próxim o. Bênçãos e m aldições eram elementos comuns nos antigos tratados do terceiro, segundo e p rim eiro m ilên io a .C ., em b ora v a riem qu an to à especificidade e proporção nos diferentes períodos. Visto que os documentos de tratado eram confirmados
por juram entos feitos em nom e das divindades, as bênçãos e maldições geralmente seriam causadas pelos deuses e não pelas partes envolvidas no tratado. N este trecho, isso não faz m uita diferença, uma vez que o próprio Deus é um a das partes envolvidas na *aliança e não um mero supervisor do cumprimento da mesm a. M uitas das m aldições encontradas aqui também estão presentes em tratados *assírios do século sétimo a.C.. Existem sem elhanças tam bém com o Épico de Atrahasis, no qual, antes de enviar o dilúvio, os deuses castigam a terra com diversos flagelos: doenças, seca, fom e, venda de m em bros da família como escravos e canibalismo.
28.15-68 As maldições da aliança28.22. patologia no antigo O riente Próxim o. As aflições causadas por diversas doenças são uma das maldições encontradas nos tratados *assírios. N o antigo Oriente Próximo, as doenças eram sempre encaradas à luz de explicações sobrenaturais de causa e efeito. De m odo geral, acreditava-se que eram provocadas por demônios hostis ou deuses irados devido à quebra de algum tabu. "D oenças devastadoras" provavelmente incluíam a tuberculose (rara no antigo Israel), bem como outras doenças caracterizadas por sintomas externos; o versículo 22 também inclui categorias de doenças cujos sintomas eram febre e inflamações; o versícu lo 27 descreve diversos tipos de doença de pele enquanto que os sintomas descritos no versículo 28 são típicos da sífilis (do tipo não-venérea, comum no antigo Oriente Próximo). Assim, as categorias de doenças são na verdade, uma lista de sintomas que podem ser relacionados a diversas patologias.28.23. céu de bronze, chão de ferro. Uma maldição presente em um tratado *assírio do século sétimo a.C.. (Esarhadon) é bastante semelhante a esta, não apenas por usar as analogias do bronze e do ferro, m as também por desenvolver a idéia de que no chão de ferro não há fertilidade, tampouco pode cair chuva ou orvalho de um céu de bronze.28.25-29. derrotados, infectados, loucos, oprim idos.Os tratados de Esarhadon incluem uma lista bastante semelhante a essa e praticamente seguindo a mesma ordem. Portanto, essas expressões eram comuns em um texto de maldições nos documentos desse tipo. 28.27. úlceras. As úlceras eram vistas como sintoma e não como doença em si. Os sintomas não são descritos em detalhes suficientes para que possibilitem um diagnóstico específico (as doenças prováveis incluem varíola, eczem a crônico, úlceras na pele, sífilis e escorbuto), mas a maldição é o sintoma e não a doença. Trata-se do mesmo sintoma da sexta praga no Egito
(Êx 9.8-11) e do sofrimento que afligiu Jó (Jó 2.7, 8), sendo também uma das doenças de pele descritas em Levítico 13 (v. 18-23).28.40. as azeitonas cairão. O azeite de oliva é extraído do fruto m aduro, ou seja, da azeitona preta. As oliveiras norm almente perdem um a grande porcentagem de frutos devido à queda precoce de flores e das azeitonas ainda verdes. A pequena quantidade restante pode ainda ser consumida pela seca ou por pragas, provocando uma perda ainda m aior dos frutos. Essa maldição não é encontrada em textos *assírios porque em vez de azeite de oliva era usado óleo de semente de gergelim na Mesopotâmia.28.42. gafanhotos. O tratado aramaico Sefire contém uma maldição de sete anos de gafanhotos. Os gafanhotos eram bastante comuns no antigo Oriente Próximo, provocando grande devastação e destruição nas plantações. Os gafanhotos se reproduzem na região do Sudão. A migração desses insetos acontece em fevereiro ou m arço e acom panha as correntes de ar predominantes que os levam ao Egito ou à Palestina.
U m gafanhoto consom e por dia o equivalente a seu próprio peso. H á notícias de enxames de gafanhotos que cobriram um a extensão de 600 quilômetros qua
drados; apenas um quilômetro quadrado pode conter cerca de cinqüenta m ilhões de insetos.28.48. jugo de ferro. Jugos eram peças feitas geralm ente de m adeira que eram colocadas na nuca do animal, ao redor do pescoço. As barras tinham cavilhas localizadas embaixo e dos dois lados da cabeça do
animal, presas com correias que passavam por baixo do queixo. O jugo de ferro provavelmente teria cavilhas desse mesmo material, já que essa parte se quebrava com facüidade.28.51. cereal, vinho e azeite como principais produtos. Além de serem os principais produtos da região, os cereais, o vinho e o azeite representavam a produção das três principais colheitas (cereais durante a primavera e o verão, uvas no outono e azeitonas no inverno). O azeite mencionado aqui era extraído das oliveiras, sendo um dos principais produtos de exportação da região, visto que as oliveiras não eram cultivadas no Egito nem na Mesopotâmia.28.53. canibalism o. O canibalismo era um elemento comum nas maldições dos tratados *assírios do século sétimo a.C, sendo visto como o último recurso a que se recorria em tempos de fom e extrema. Tamanho desespero podia acontecer nos períodos de fom e prolongada (como ilustrado no Épico de Atrahasis) ou em conseqüência de cercos demorados, quando o suprimento de alimentos se esgotava, conforme a descrição contida neste trecho e prevista em textos de tratados. O costume de sitiar as cidades nas guerras era uma
estratégia m uito comum no m undo antigo, assim, não seria difícil imaginar a possibüidade de canibalismo. Um exemplo dessa medida drástica pode ser visto no relato bíblico de 2 Reis 6.28, 29.28.56. encostar no chão a sola do pé. O que o autor deste texto está querendo expressar é que até a m ulher mais gentil e delicada que havia entre eles, aquela que jam ais andaria descalça para não ferir os pés, ficaria tão desesperada que seria capaz de com er a carne de seus próprios filhos.
28.58. livro. Nossa tendência é imaginar um livro tal como conhecemos atualmente, com páginas de papel e um a bela capa, m as livros desse tipo não existiam no m undo antigo. O termo usado neste versículo refere-se a qualquer documento escrito, podendo ser uma simples inscrição num a pedra ou num bloco de argila ou em um rolo de papiro.28.68. voltar para o Egito em navios. Os reis *assírios do século sétimo obrigavam seus vassalos a fornecer tropas para as campanhas militares. Assim, um modo
dos israelitas voltarem ao Egito em navios poderia ser pela participação forçada deles em campanhas assírias partindo da costa fenícia. De acordo com os detalhes da maldição, isso representaria um a opressão contínua por parte das nações inimigas. Outra possibilidade seria cair nas m ãos dos comerciantes de escravos do Egito que atuavam na região sírio-palestina, de onde os escravos eram transportados quase sempre de navio.
29.1-29 A renovação da aliança29.5. roupas e sandálias que não se gastaram . Vercomentário em 8.4.29.6. não com eram pão, nem beberam vinho. A provisão do Senhor, em vez de pão e vinho, era maná e água. A m enção a um a bebida ferm entada aqui é bastante incomum, visto que somente os sacerdotes (Lv 10.9) e aqueles que tivessem feito voto de nazireu (Nm 6.3) não podiam consum ir esse tipo de bebida.29.7. Seom e O gue. Essas batalhas são registradas inicialmente em Números 21. Seom é conhecido apenas a partir dos registros bíblicos e a arqueologia tem poucas informações referentes a seu reino ou sua capital. Tam bém não existem informações fora da Bíblia, ou fontes históricas e arqueológicas que tragam algum esclarecimento a respeito de Ogue. Para informações acerca de Hesbom e Basã, ver os comentários em Números 21.25-28, 33 e Deuteronômio 3.1.29.19-21. o pecado oculto. O conceito de que qualquer pessoa que cometesse um a transgressão, ainda que em segredo, estaria sujeita às maldições pode ser tam bém observado nos tratados aram aico (Sefire) e
*hitita, nos quais a maldição incluía a destruição do nome (família) do transgressor.29.23. terra de sal e enxofre. Sal e enxofre (ver Gn 19) são m inerais que em pobrecem o solo. São os dois m i
nerais mais evidentes na região do m ar M orto, onde a terra é conhecida por sua aridez e infertilidade, associada à destruição de Sodom a e Gomorra.2 9 .24 ,25 . o m otivo do castigo. Essa m esm a pergunta, acom panhada de um a resposta sem elhante, pode ser observada em um texto *assírio do século sétimo em que o rei assírio Assurbanipal descreve as razões que teve para sufocar um a revolta de árabes que haviam transgredido os term os de um acordo. Os árabes tinham quebrado os juram entos que haviam feito diante dos deuses assírios.29.29. coisas encobertas. No m undo antigo, acreditava-se que algum as áreas do conhecim ento pertenciam somente aos deuses. Num hino ao deus Gula, a prática da m edicina era considerada como um segredo dos deuses.
30.1-20 Atitudes diante das bênçãos e maldições30.2-5. cláusula do perdão. Ao contrário dos demais tratados do antigo Oriente Próximo, a *aliança descrita em Deuteronômio apresenta um a cláusula de perdão oferecendo uma segunda chance ao transgressor do acordo. O arrependimento e a renovação do compromisso com a aliança resultavam em restauração.
Tal demonstração de misericórdia não seria algo impossível nos tratados antigos, no entanto, não existem evidências explícitas em nenhum documento escrito.30.6. coração fiel. Em algumas versões, a expressão aqui é "circuncisão no coração"; evidentemente trata- se de uma figura de linguagem, e não de uma cirurgia nesse órgão. A ^circuncisão fora adotada como um sinal da *aliança e da submissão a seus termos. Sendo assim, podia ser aplicada ao coração, como um reflexo do *ritual exterior que perm eava o interior de cada israelita.30.19. os céus e a terra como testemunhas. Ver comentário em 4.26.
31.1-8 Josué, o sucessor de Moisés31.2. expectativa de vida no antigo Oriente Próximo.No Egito a duração ideal da vida chegava aos 110 anos; num texto de sabedoria de *Emar, na Síria, a idade de 120 anos era considerada como o tempo de vida ideal. A nálises de m úm ias têm dem onstrado que a expectativa média de vida no Egito nesse período era de 40 a 50 anos, embora alguns textos apresentam pessoas que chegaram a viver até os 70 ou 80
anos. Textos m esopotâmicos de períodos diferentes
m encionam indivíduos que viveram setenta ou oitenta anos e há um registro de que a mãe do rei *babilônico
Nabonido teria vivido 104 anos.31.4. Seom e Ogue. Para mais detalhes acerca desses dois reis e das batalhas contra eles, ver comentários
em Números 21.
31.9-13 Instruções sobre a leitura da lei31.9. escrevendo as leis. Desde as leis de *Ur-Nammu (na verdade, com piladas por seu filho Shulgi) por
volta do ano 2000 a.C., passando pelas leis de *Lipite- Istar, *Esnuna, *Ham urabi e as leis *hititas da primei
ra m etade do segundo m ilênio, até as leis *m edo- assírias do final do segundo milênio, os governantes tinham como prática compilar e registrar as leis por
escrito como evidência de que estavam cum prindo
seu dever de mantenedores da justiça.31.10. a leitura da lei a cada sete anos. Vários tratados
*hititas continham cláusulas exigindo a leitura públi
ca do documento; um deles estipulava que a leitura fosse feita três vezes ao ano, enquanto que outros são
m enos específicos, dizendo apenas que deviam ser
lidas "sem pre e constantem ente".
31.10. ano do cancelam ento das dívidas. As dívidas
eram perdoadas no ano sabático. Ver comentário em15.1-6.
31.10. festa das cabanas. A festa das cabanas era realizada durante a colheita do outono, quando se come
m orava a peregrinação pelo deserto. Ver comentário em 16.13-17.
31.14-29 A predição da rebeldia de Israel31.15. coluna à entrada da Tenda do Encontro. Antes
da construção do tabernáculo no Livro de Exodo, a
Tenda do Encontro ficava fora do acampamento e servia como lugar de revelação (ver comentário em Ex
33.7-10). Porém, agora que o tabernáculo está pronto
ele tam bém é descrito com o a Tenda do Encontro. N ovam ente o Senhor aparece num a coluna de nu
vem. No mundo antigo, a divindade era sempre representada circundada por um a aura brilhante ou
flamejante. Na literatura egípcia, essa aura é ilustrada
pelo disco solar alado acom panhado de nuvens de tempestade. Os *acadianos usavam o termo mélammu
para descrever essa representação visível da glória da divindade, que por sua vez é envolta por fumaça ou
nuvens. Tem sido sugerido que o conceito de mélammu seria expresso na mitologia cananita pela palavra anan,
o mesmo termo hebraico traduzido como "n uvem ",
m as as ocorrências são poucas e vagas para se ter certeza. Ver comentário em Êxodo 13.21, 22.31.22. a canção da aliança. Canções de todos os tipos eram conhecidas em todo o antigo Oriente Próximo desde a prim eira m etade do terceiro m ilênio. Uma relação *assíria de canções, um século antes do rei Davi, contém títulos de 360 canções de muitas categorias diferentes. Canções relacionadas à *aliança também estão presentes no Livro de Salmos (p. ex., SI 89).31.26. conteúdo da arca. Os únicos objetos colocados dentro da arca eram as tábuas da lei (10.2, 5). No Egito, era comum depositar aos pés da divindade os documentos confirmados por juramento(como tratados internacionais) para selar o acordo. O Livro dos M ortos chega a mencionar um preceito escrito numa placa de m etal pela m ão de um a divindade e colocada depois sob seus pés. Havia um a série de objetos depositados diante da arca, inclusive uma vasilha com maná (Êx 16.33, 34) e a vara de Arão (Nm 17.10). De acordo com o versículo 26, o Livro da Lei foi colocado junto a esses objetos.
32.1-43 A canção de Moisés31.30. a canção da aliança. Ver comentário em 31.22.32.4. m etáfora da rocha. U sada em 2 Sam uel 22.3 como um epíteto divino, a palavra rocha podia tam bém significar "m ontanha" ou "fortaleza". Esse ter
mo aparece em alguns nom es israelitas como uma metáfora de Deus (Zuriel, citado em Nm 3.35 significa "D eu s é a m inha R ocha") e tam bém com o um nome divino (Pedazur, em Nm 2.20, significando "A Rocha é o m eu Redentor"). Era usado também como referência a outras divindades nos nomes próprios *aramaicos e *amorreus; o indício de que o termo era aplicado a outros deuses pode ser encontrado nos versículos 31 e 37. Como metáfora, tem o sentido de segurança e libertação.
32.8. o A ltíssim o (Elyon). No Antigo Testam ento o termo Elyon geralm ente é usado com o um epíteto para *Yahweh (ver comentários em Gn 14.17-24). Até agora, não foram descobertas evidências convincentes de que Elyon se referisse a um a divindade do antigo O riente Próxim o, apesar de ser bastante comum como epíteto para vários deuses, especificamente *E1 e *Baal, os principais deuses do panteão cananeu.32.8. d ivindade garantindo herança às nações. Na teologia israelita, *Yahweh deu a cada nação sua respectiva herança (5.2, 9, 19; Am 9.7), embora também haja espaço para o conceito de que cada povo havia recebido seu território como herança de seu respectivo deus (Jz 11.24). Muitas vezes alguns reis do antigo Oriente Próximo buscaram expandir seus territórios
afirmando que a divindade tinha assegurado ou concedido terras a eles. Em Israel, a distribuição territorial era exclu siv am en te basead a em sua ligação com Yahw eh através da *aliança.32.10. como a m enina dos seus olhos. A "m enina dos olhos" não é uma expressão do idioma hebraico e sim da língua portuguesa. A referência à pupila no caso é por ela ser um a parte sensível e protegida do corpo.32.11. com portam ento das águias. Em bora a águia não possa ser excluída, o mais provável é que o pássaro aqui descrito seja o abutre branco, que possui uma envergadura de 2,40 a 3 metros. Em bora os Livros da Bíblia freqüentemente descrevam a m aneira como a águia carrega seus filhotes em suas asas enquanto eles ainda têm medo de voar, ou os apanha em suas asas, quando estão se debatendo em queda, os naturalistas têm tido dificuldade em confirmar esse comportamento. Na verdade, os filhotes tanto das águias como dos abutres voam pela prim eira vez somente aos três ou quatro meses de idade, quando já estão quase totalmente crescidos. Além do mais, observações de naturalistas têm confirmado que o primeiro vôo geralmente é feito quando os pais estão longe do ninho. Se a metáfora aqui diz respeito a um abutre, a
menção talvez seja de natureza política. No Egito, a deusa Necbete era representada por um abutre, que representava o alto Egito e servia como um a divindade protetora do faraó e da terra. O povo de Israel foi protegido no Egito até *Yahweh trazê-lo para junto dele. Necbete era descrita como um a deusa particularm ente maternal e acreditava-se que ela prestasse ajuda durante os nascimentos reais e divinos. Durante a 18a Dinastia, no final da permanência dos israelitas no Egito, foi construído um templo dedicado a essa
deusa em El-Kab, m ostrando que ela era bastante popular nesse período. É possível que a imagem descrita neste versículo não tenha sido extraída da observação do comportamento dessas aves propriamente, e sim, de elementos presentes na imagem de Necbete, cujas características foram transferidas a Yahw eh (ver
v. 12, "nenhum deus estrangeiro o ajudou"). A prim eira m etade do versículo introduz a m etáfora da águia que cuida de seus filhotes e os protege; a segunda metade fala do cuidado e da proteção do Senhor ao seu povo, usando uma imagem familiar proveniente das metáforas egípcias de cuidado e proteção. A lém disso, na M esopotâm ia, a Lenda de Etana inclui uma águia que carrega *Etana deixando-o cair repetidas vezes para depois apanhá-lo em suas asas (ver Êx 19.4).
32.13. m etáfora dos lugares altos da terra. Em geral, as cidades eram construídas sobre colinas pela defesa natural proporcionada pelo local. Do mesmo modo, os
exércitos escolhiam o alto das m ontanhas como ponto estratégico. A comparação com os lugares altos, portanto, está relacionada à vitória e segurança dessa posição.
32.13. m el e óleo. Na m aior parte das vezes em que o mel é mencionado no Antigo Testamento, refere-se à seiva da tamareira, porém, aqui, a descrição parece sugerir que seja mel de abelhas, extraído de colméias encontradas nas rochas. As oliveiras, de onde era extraído o óleo, são resistentes e capazes de crescer e produzir fruto mesmo em solo rochoso, pois não necessitam de grande quantidade de água.32.14. carneiros de Basã. A região de Basã (ver comentário em D t 3.1) era fam osa pelos seus rebanhos selecionados. As excelentes áreas de pastagens forneciam um a dieta natural que gerava animais da mais alta qualidade.32.15. Jesurum . A palavra Jesurum origina-se do mesmo termo usado para "Israel" e é um a forma poética de referir-se a Israel.
32.17. sacrifícios a demônios. A palavra aqui traduzida como "dem ônios" é usada somente em uma outra passagem do Antigo Testamento, no Salmo 106.37. O termo é um a referência a um tipo bastante conhecido de espírito ou demônio (shedu) da M esopotâmia, onde era considerado o protetor da saúde e do bem -estar das pessoas. Essa palavra não é o nome de um a divindade, apenas indica a categoria de um ser (como cherub). Os
shedu podiam tanto proteger como destruir a saúde de um a pessoa, então, era aconselhável oferecer sacrifícios para m antê-los satisfeitos. Esses seres são descritos como criaturas aladas (semelhantes aos querubins; ver comentários em Gn 3.24 e Êx 25.18-20), apesar de não existir nenhum tipo de representação deles (imagens ou ídolos, como dos deuses) de form a a serem adorados (ver com entário em D t 4.28 para entender a relação entre os deuses e suas imagens).32.22. alicerces dos m ontes. Pela cosmovisão antiga, o mundo inferior, ou reino dos mortos, ficava debaixo da terra, onde se encontravam os alicerces dos montes, especialm ente daqueles que, acreditava-se, sustentavam a abóbada celeste. Apesar de ser um a ex
pressão usada pelos israelitas no sentido conceituai dessa visão de m undo, é difícil distinguir se seria reflexo de um a crença ou o mero uso poético de uma figura de linguagem.32.23-25. castigo d ivino no antigo O riente Próxim o.Fom e, doenças, an im ais selvagen s, guerras - esses eram os instrumentos usados pelos deuses quando queriam castigar seus súditos humanos. Ao longo da história e da literatura, os "atos de D eus" aparentemente
aleatórios acabaram sendo considerados sinais do descontentam ento divino. Os épicos de A trahasis e de
*Gilgamés contêm relatos dos deuses tentando reduzir a população humana por vários meios antes do dilúvio. Diferentemente do Antigo Testamento, onde as transgressões são identificadas como causa para várias catástrofes, no antigo Oriente Próximo estas indicavam apenas que alguma divindade deveria estar irada com algum a coisa, e as pessoas tinham de descobrir que ofensa haviam com etido contra ela. Pod em ser encontrados exemplos na oração *hitita de M ursilis (em que ele suplica para que um a praga seja abrandada),
em diversos textos *sum érios e *acadianos de lamentações pela queda de um a grande cidade e nas Admoestações Egípcias de Sabedoria (Ipuwer). Todos esses documentos apresentam diversas calamidades nacionais como sendo castigo dos deuses. Talvez o exemplo mais impressionante seja o do Épico de Erra, em que a própria civilização é ameaçada pela anarquia e pela destruição descarregadas pela violência de Erra (a divindade *babilônia Nergal). O texto de Deuteronômio 32, porém, também deve ser entendido no contexto dessa form a de tratado, onde os castigos não são aleatórios, arbitrários ou inexplicáveis, mas proporcionais às transgressões dos termos do acordo.32.33. serpentes venenosas. A segunda parte do versículo 24 faz alusão a animais selvagens e víboras com m ordidas venenosas; essas últim as não se referem apenas a cobras, cujas espécies venenosas na região são poucas, mas também a escorpiões.
32.38. alim ento e b eb id a aos deuses. Era bastante comum no antigo Oriente Próximo a idéia de que os sacrifícios serviam para prover os deuses de alimen
tos e bebida, pois eles dependiam destas ofertas para se sustentarem (ver comentários em Lv 1.2). Esse conceito não era aceito pela visão de m undo dos israelitas (ver SI 50.7-15), em bora alguns talvez tivessem assimilado esse conceito. Este texto zom ba da idéia de que os deuses tinham necessidades que precisavam ser supridas, perguntando se deuses assim poderiam servir de alguma ajuda a quem recorresse a eles.32.39. o único D eus. A maioria das religiões daquela época tinha um panteão, ou seja, um a assem bléia divina encarregada de governar o reino dos deuses, o m undo sobrenatural e, por fim , o m undo humano. Geralmente, um dos deuses era escolhido para ser o chefe do panteão e, como os outros, teria pelo menos um a deusa como sua consorte. O prim eiro m andamento proíbe Israel de pensar desta forma em relação a Deus. *Yahweh não era o chefe de um panteão de deuses, nem tampouco tinha um a consorte - não há outros deuses diante dele. Este versículo vai além, insistindo que não há nenhum outro deus que possa com petir em poder ou autoridade com Yahweh. De acordo com essa cosmovisão, a bênção e a prosperida
de não resultam do controle bondoso da divindade sobre as forças dem oníacas e sobre o caos, nem o castigo é um poder m aligno para esmagar o homem. Tudo que acontece faz parte do plano de Yahw eh - um conceito inadmissível no politeísmo pagão do restante do mundo.
32.44-52Conclusão e instruções a Moisés32.49. as m ontanhas de A barim e o m onte N ebo. Asmontanhas de Abarim situam-se a leste da foz do rio
Jordão e ao redor da extremidade norte do m ar Morto, formando a borda noroeste do planalto moabita. O monte de onde Moisés avistou a terra prometida é o m onte N ebo, com 835 m etros de altitude. P isga e Nebo são identificados como os dois picos de Jebel Shayhan, localizados oito quilômetros a noroeste de
M edeba, distantes cerca de dois quilômetros e meio um do outro e a dezesseis quilômetros do rio Jordão.32.50. m onte Hor. Lugar onde Arão morreu (embora Dt 10.6 identifique o local de sua morte como sendo Moserá). O monte tem sido tradicionalmente localizado nas proximidades de Petra, em Jebal Nabi Harum, mas esse local não está "n a fronteira de Edom ". Outra possibilidade é que esteja localizado em Jebal M adrá, a oeste de Cades e perto da fronteira de Edom, mas ali não existem fontes de água suficientes.32.51. M eribá, em Cades, no deserto de Zim. Cades- Barnéia localiza-se no deserto de Zim (ver comentário em N m 13.26). Foi nesse lugar que aconteceu o incidente narrado em Números 20, quando M oisés bateu na rocha para que vertesse água. M eribá significa "rebelião" e é um nome aplicado tanto ao local quanto ao incidente ocorrido quando a água foi tirada da rocha.
33.1-29A bênção de Moisés33.1. bênção patriarcal. No contexto bíblico, a bênção patriarcal geralm ente dizia respeito ao destino dos filhos com relação à fertilidade da terra, da família e ao relacionamento entre seus membros. Bênçãos ou maldições proferidas pelo patriarca da fam ília sempre eram levadas a sério e consideradas verdadeiras, ainda que não fossem vistas como m ensagens proféticas vindas de Deus. Tais palavras de um patriarca geralmente eram proferidas em seu leito de morte. Este capítulo relem bra bastante o episódio narrado em Gênesis 49, em que Jacó abençoa seus filhos - os antepassados das tribos que agora são abençoadas por Moisés.33.2. Se ir . Seir geralm ente é consid erad a a região montanhosa central de Edom (com altitude acima de
1500 m etros), situada entre o uádi al-Ghuw ayr, ao norte, e Ras en-Naqb, ao sul.
33.2. m onte Parã. M onte Parã é considerado em geral como uma variação poética para o monte Sinai/Horebe.33.5. Jesurum . Ver comentário em 32.15.33.8. U rim e Tum im . Objetos usados pelos sacerdotes para transmitir m ensagens *oraculares. Ver comentário em Êxodo 28.30.33.17. m etáfora do touro e do boi. O touro e o boi sãosímbolos de fertilidade e força, e por essa razão, boi era um título usado para *E1, o deus-chefe do panteão cananeu. Força e fertilidade são elementos presentes nesta bênção às tribos de José, M anassés e Efraim. Um texto *ugarítico descreve os deuses *Baal e M ot como touros selvagens, com chifres fortes, e o rei *babilônico *Hamurabi ao descrever seu poderio bélico compara- se a um boi chifrando o inimigo.33.22. Basã. A região de Basã situa-se na área superior do rio Iarmuque, a leste do m ar da Galiléia. Sua fronteira ao norte é o monte Hermom. O território de Dã localizava-se originalm ente ao sul da costa da região dos filisteus, mas essa tribo deslocou-se para o norte, para a região da cidade de Dã, ao norte do mar da Galiléia, nas proximidades de Basã.33.24. ban har os pés no azeite. Num a terra seca e poeirenta, lavar os pés era um a necessidade constante e um gesto de hospitalidade para com os viajantes. Porém, somente as pessoas ricas e requintadas faziam uso regular do óleo (de oliva) para a higiene dos pés. Com pare com João 12.3. Trata-se de um a m etáfora representando prosperidade.33.25. trancas das portas. O sistem a de travas em portas e portões geralm ente incluía uma tranca (de madeira ou metal) que era introduzida em orifícios feitos nas colunas que ladeavam a porta. Ao usar o termo "tran cas", provavelmente o texto esteja fazendo uma referência às presilhas que m antinham a tranca presa firmemente às portas. O portão da cidade podia ser arrombado usando-se um aríete e batendo com ele bem no centro, onde as folhas da porta se encontravam, a fim de quebrar a tranca. As presilhas tornavam a tranca m ais difícil de ser quebrada, mas em compensação elas também podiam se quebrar. Sendo assim, presilhas de bronze ou de ferro dificultavam o arrombam ento.
34.1-12A morte de Moisés34.1. N ebo e Pisga. Ver comentário em 32.49.34.1-3. v ista do m onte N ebo. Desse ponto de observação, o m ar Mediterrâneo fica quase cem quilômetros a oeste, mas não pode ser visto porque as colinas do lado oeste do Jordão obstruem a visão. N um dia
claro é possível ver o m onte Hermom, cerca de 160 quilômetros ao norte, os montes a noroeste que cercam o vale de Jezreel (Tabor e Gilboa), as montanhas da região central (Ebal e G erizim ) até Engedi, em direção a sudoeste.34.1-3. as fronteiras da terra. Em bora a terra ainda não tivesse sido distribuída, essa observação da terra é descrita parcialmente em termos de territórios tribais, para distinguir-se da descrição geográfica apresentada em 1.7. A descrição parte do ponto onde Moisés se encontra em direção ao norte, e então segue o trajeto no sentido anti-horário.34.6. Bete-Peor. O uádi Ayun Musa, no pé do monte Nebo geralmente é identificado como o vale de Bete- Peor, e o lugar cham ado Khirbet A yun M usa seria provavelm ente a cidade.34.7. literatura apócrifa acerca da morte de M oisés.Judas 9 fala de um a disputa sobre o corpo de M oisés e
diversos textos da literatura apócrifa e rabínica especulam sobre esse assunto, particularmente A Assunção de M oisés (cujos manuscritos se perderam) e O Testa
mento de M oisés (manuscrito em latim do século sexto
d.C.). O primeiro fala de M oisés ascendendo diretamente aos céus, enquanto que este últim o deixa implícito que ele teve um a m orte natural. Deuteronômio
deixa bastante claro o fato de M oisés ter morrido, e não há nenhum fato extraordinário no relato. O texto
deixa dúvidas apenas sobre quem enterrou Moisés, m as é evidente que o local da sepultura se encontra
num local desconhecido e sem nenhuma pista.
34.8. cam p inas de M oabe. Trata-se da planície ou região de estepe ao norte do m ar Morto e a leste do rio
Jordão, do lado oposto à "planície de Jerico" (Js 4.13). Sua localização serviu como o ponto de partida para a
entrada em Canaã (ver N m 22.1).
Livros históricos
IntroduçãoA existência de grande quantidade de material do antigo Oriente Próximo nos auxilia a compreender melhor os Livros históricos do Antigo Testamento - mais do que qualquer outro gênero literário do Antigo Testamento. Dentre os recursos antigos de que dispomos, alguns itens podem ser classificados como inscrições reais, textos cronográficos e textos de literatura histórica. As inscrições reais relatam os feitos dos reis, particularmente suas façanhas militares e seus projetos de construções. Os textos cronográficos traçam uma seqüência dos eventos históricos, abrangendo desde listas de reis até crônicas das cortes e anais militares. Os textos de literatura histórica são basicamente narrativas épicas ou poéticas que contam os atos heróicos dos reis. Esses textos podiam ser gravados em pedra (nos rochedos, em relevos de pedra ou estátuas), mas geralmente eram usadas placas de argila. Alguns cronistas registravam seus relatos em pequenas placas retangulares, enquanto outros usavam pranchas maiores ou até mesmo polígonos de argila no formato de tijolo ou cilindro.
Quando se deseja fazer um registro dos eventos de modo a torná-los conhecidos pelas gerações futuras, é necessário que em algum momento, esse registro assuma a forma de um texto. Mas o registro na forma de texto exige que o compilador ao escrever siga, consciente ou inconscientemente, uma série de princípios norteadores. Esses princípios orientam o que chamamos de historiografia e variam de cultura para cultura, e até mesmo de historiador para historiador. A historiografia se define pela maneira como o historiador lida com a forma, o conteúdo e a estrutura adequada do registro dos eventos, mas esses são apenas os aspectos superficiais. Quais os fatos realmente importantes do passado? Por que determinado evento foi registrado? Como realmente ocorreram os eventos do passado? Que razões ou forças conduzem a história? Existem padrões na história? Há um plano na história? As respostas a essas perguntas desempenham um papel significativo na maneira como se produz um relato histórico. Não é necessário dizer que diferentes indivíduos e diferentes culturas responderão a tais perguntas de modos diferentes. Portanto, todo registro histórico representa uma perspectiva específica acerca dos eventos passados. A forma assumida por uma historiografia é determinada pelas perguntas que o historiador procura responder. Não se pode falar em perspectivas "corretas" ou "erradas" em relação à história, pois de outro modo, estaríamos admitindo a existência de um único critério como absoluto. Perspectivas, percepções e sensações podem ou não existir; a questão não é simplesmente rotulá-las como certas ou erradas. Diante disso, qualquer historiografia deve ser entendida como uma "perspectiva sobre a história". Toda historiografia deve, num certo sentido, ser encarada como um editorial de jornal.
Quando estudamos a historiografia, devemos descobrir o que motiva o autor a registrar os fatos, do contrário, não saberemos como usar seus textos ao reconstruirmos a história daquele período. É importante não pressupor que a noção de registro histórico de outras épocas seja igual a do mundo ocidental atual. Na cultura ocidental, quando se escreve um texto histórico, freqüentemente ele é considerado como um esforço para se preservar a história (embora, às vezes, não seja esse o caso). Um dos valores da sociedade contemporânea é a crença de que é essencial registrar, analisar e preservar os eventos do passado - apenas como registro. Além disso, há também o desejo de reconstituir "o que realmente aconteceu" e de identificar a relação de causa e efeito.
Em grande parte da historiografia antiga "o que de fato aconteceu" não era tão importante. Grande parte dos documentos que nos fornecem informações históricas foi escrito sob o patrocínio da realeza. Esses documentos tinham por objetivo servir aos interesses do rei, não do historiador. A reputação real era muito mais relevante que a veracidade dos fatos. Na linguagem de hoje, isso seria descrito como propaganda política. A historiografia do antigo Oriente Próximo, representada em inscrições ou crônicas reais, listas de reis e registros de seus atos, com certeza tinha um caráter de promoção e divulgação pessoal. Assim como nas campanhas políticas de nossos dias, a verdade podia ser útil à realeza, mas não era sua prioridade. A propaganda é grandemente impulsionada quando a verdade está a seu favor, mas se contém apenas estatísticas ou outros "fatos" aleatórios, o resultado alcançado é o mesmo. E evidente que esse tipo de texto sempre apresentava o rei pela melhor perspectiva possível da verdade. A pergunta que o historiador devia tentar responder nessa situação era: "Por que o rei deveria ser considerado bom e bem-sucedido?". Na maioria dos casos não é possível determinar se seria o caso de omissão ou de desinformação, mas com certeza as informações negativas não estavam presentes. Quando existem relatos dos dois lados envolvidos em uma batalha específica, não é difícil que ambos reivindiquem para si a vitória. Também era uma prática comum entre os reis alterar inscrições de seu predecessor (mesmo quando se tratava do pai), colocando seu próprio nome no lugar. Um rei da Antigüidade raramente admitia uma derrota; assim, as referências negativas sobre um determinado reinado partiam dos sucessores daquele rei, que pretendiam com isso legitimar seu próprio governo. A historiografia nas culturas antigas era, de certa forma, um empreendimento que visava essencialmente à autopromoção.
Os Livros históricos de Israel apresentam traços semelhantes aos textos cronográficos e contêm alguns exemplos isolados que podem ser comparados às inscrições reais ou aos textos literários históricos. O objetivo dos Livros históricos de Israel, porém, é teológico. Como todo escrito histórico, é uma literatura necessariamente seletiva, e com um propósito. Seu interesse não é preservar os eventos para manter o registro rigoroso dos fatos; ao contrário, seu objetivo é documentar a ação de Yahweh na história e sua soberania no desenrolar dos eventos. Nesses documentos, a nação é mais importante que o rei, e Deus está no centro dos acontecimentos. A identidade de Israel e seu papel como povo da aliança com Deus é a espinha dorsal de todo registro histórico do Antigo Testamento. Pode-se dizer, então, que enquanto o principal objetivo da historiografia antiga era oferecer a compreensão desejada dos feitos do rei, o objetivo da historiografia de Israel era oferecer a compreensão desejada dos feitos de Deus.
Também é importante perceber que, no mundo antigo, a noção do papel representado pela divindade na história é bastante diferente da visão do mundo ocidental. Até o fim da Idade Média, a visão de mundo era totalmente permeada pelo sobrenatural. O papel da divindade era aceito sem restrições e a crença em fatos que desafiavam as explicações naturais era comum. O Iluminismo, porém, trouxe uma mudança significativa no modo de enxergar o mundo. O método histórico crítico decorrente dessa mudança sugere que uma verdade só pode ser aceita se puder ser provada empiricamente. A nova historiografia passa a se preocupar apenas com a causa e o efeito natural dos fatos na história. Essa é a visão amplamente adotada pela cultura ocidental contemporânea.
A visão de mundo da sociedade em que vivemos difere, portanto, radicalmente da visão de mundo dos historiadores antigos. A forma como se escreve história hoje seria encarada com estranheza pelos autores antigos. O simples relato de fatos e eventos não teria significado algum, a menos que a informação tivesse alguma utilidade. Embora os antigos não negassem a relação de causa e efeito na história, eles estavam muito mais interessados no papel desem-
penhado por Deus no desenrolar dos fatos. Um historiador moderno diante da historiografia israelita talvez pense: "Não é capaz de fornecer dados confiáveis"; ao passo que um historiador israelita diante da historiografia moderna, consideraria: "Não fornece informações úteis".
Portanto, ao estudar a historiografia de uma cultura anterior ao Iluminismo, é importante identificar a visão de mundo que a orienta e respeitar a coerência entre ambas. Como já foi dito, a cosmovisão representada na historiografia de Israel prioriza a atividade de Deus na história humana. Essa visão abarca não apenas o reconhecimento da intervenção sobrenatural de Deus ocasionalmente, mas também identifica a ação divina nas ocorrências naturais. Na verdade, de acordo com essa visão, todos os eventos estão entrelaçados de alguma forma dentro do plano de Deus, que é a força motriz da história.
A historiografia de Israel tem muitos pontos em comum com a das demais culturas antigas do Oriente Próximo. Registros históricos da Mesopotâmia, apesar de não reivindicarem o status de revelação divina, demonstram grande preocupação em entender as atividades dos deuses. O caráter politeísta da religião mesopotâmica, no entanto, impede o desenvolvimento de qualquer conceito de um plano divino único envolvendo toda a história. A dinastia reinante podia, no máximo, identificar o plano da divindade em estabelecer e manter aquela dinastia. Alguns documentos voltaram-se para o passado remoto em busca de um padrão que orientasse o presente (um exemplo são as Crônicas de Akitu e de Weidner, que se preocupam em relatar não o que a divindade havia feito, mas o que fora feito para ela). Na Mesopotâmia havia a crença de que as divindades desempenhavam um papel ativo no processo de causa e efeito que promove a história. Os deuses eram capazes de intervir na história e esperava-se que assim o fizessem. A ação e a intervenção dos deuses eram entendidas como casuais e não como parte de um plano arquitetado por eles ou com um propósito maior. Assim como na visão mesopotâmica, Israel considerava que Deus era a causa de todas as coisas e suas intervenções davam forma aos eventos. Assim, o registro da história de Israel não tinha como objetivo apenas relatar eventos, mas registrar os meios usados por Deus para atuar na história. Por essa razão, não há~possibilidade de existir uma historiografia israelita secular.
De acordo com a visão sobrenatural corrente no mundo antigo, os eventos eram uma espécie de revelação divina e resultado da ação dos deuses. Infelizmente, era preciso interpretar os eventos para discernir a razão pela qual haviam agido daquela maneira A interpretação dos fatos, porém, não era revelada pelos deuses das nações politeístas ao redor de Israel. Para entender o que os deuses estavam planejando fazer, os mesopotâmios tinham de descobrir por eles memsmos. Na visão de Israel, porém, não somente os eventos, mas a própria historiografia faziam parte da revelação de Deus. Ou seja, Deus assumiu a tarefa de não apenas agir, mas também de apresentar a interpretação de seus atos, comunicando aos israelitas o motivo e os propósitos a que serviam. Desse modo, Yahweh era não apenas a causa dos eventos, como também a fonte para sua interpretação. Em termos teológicos, podemos afirmar que a revelação geral da história foi complementada pela revelação específica da historiografia.
Resumindo, Israel partilhava com o mundo antigo da idéia de que os eventos eram uma revelação, ou seja, evidenciavam a ação dos deuses no mundo. Essa abordagem contrasta com a visão da historiografia ocidental. No entanto, Israel distinguia-se dos outros povos por acreditar que sua historiografia também era parte da revelação divina, o que difere tanto da historiografia antiga como da moderna.
J O S U É
V1.1-18 O chamado de Josué1.4. território da terra prom etida. O "deserto" limita as fronteiras ao sul e à leste da terra. O Líbano e o Eufrates são as fronteiras setentrionais, nos lados leste
e oeste. Em descrições semelhantes das fronteiras da terra (ver comentário em Dt 1.7), o Eufrates refere-se à
área onde o rio faz uma curva para o norte, na região
de Em ar. O m ar Grande, ou M editerrâneo, m arca a fronteira ocidental. A terra dos hititas provavelmente
é uma referência à Síria, onde m uitos grupos hititas se fixaram após a queda do império hitita, por volta do ano 1200 a.C..
1.8. Livro da Lei. N ossa tendência é imaginar um livro como os que temos atualmente, com páginas de papel e uma bela capa, m as livros desse tipo não existiam no
m undo antigo. O termo usado neste versículo refere-se a qualquer docum ento escrito , podendo ser de um a simples inscrição a um rolo, de papiro ou placa de argila ou pedra. O Livro da Lei era um a cópia das instruções dadas a M oisés em Deuteronômio, colocada diante da arca (ver com entário em D t 31.26).1.16-18. juram ento de lealdade. Nas relações interna
cionais, como relatam vários docum entos do antigo Oriente Próximo, quando um novo rei assumia o tro
no, os vassalos do rei anterior eram chamados a prestar um juram ento de lealdade, declarando sua submissão ao novo rei. Essa prática é comprovada entre os
faraós do Egito e os reis das cidades-estado da Palestina desse período.
2.1-24 Os espias em Jerico2.1. S itim . O nome completo desta localidade era Abel
Sitim (Nm 33.49) e trata-se do local de onde os espias de Josué e os israelitas entrariam em Canaã (Js 2.1; 3.1; Mq 6.5). O historiador Josefo a localiza cerca de onze quilômetros de distância do rio Jordão. Porém sua localização exata é incerta, podendo ser Tell el-Hammam, no uádi Kefrein.2.1. Jericó . Jericó localizava-se num oásis (er-Riha), oito quilômetros a oeste do rio Jordão, ao longo do uádi Kelt e cerca de dez quilômetros ao norte do m ar Morto. Sua localização servia de proteção à estratégica passa
gem entre o vale do Jordão e a região m ontanhosa central, a oeste (incluindo Jerusalém, situada 24 quilô
m etros a sudoeste, e Betei, a m esma distância em dire
ção ao noroeste), bem como o vau principal entre o Jaboque e o m ar M orto. Em bora a m édia anual do índice pluviom étrico fosse baixa, entre dez e doze centímetros, Jericó contava com um amplo suprimento
de água de suas nascentes, hoje cham ada de A in es Sultan. O *tell da antiga cidade é denominado Tell es
Sultan. Situada 250 m etros abaixo do nível do mar,
Jericó é a cidade mais baixa do mundo. Seu formato alongado cobria uma área de cerca de dez acres, com
quase 800 metros de diâmetro. É provável que uma cidade desse tamanho tenha abrigado cerca de duas mil pessoas, apesar de muitas delas terem permaneci
do nas áreas agrícolas e aldeias circunvizinhas. Ver comentário em 6.1 para informações arqueológicas.
2.2. espias no antigo O riente Próximo. Os espias geralmente colhiam informações sobre o movimento e o tamanho das tropas inimigas. Era bastante comum o fato de espias se infiltrarem no exército inimigo como
desertores ou refugiados. No caso de reconhecimento de uma cidade, a preocupação dos espias era verificar
sua defesa, seu suprim ento de alim ento e água, o n úm ero de soldados na região e a prontidão geral para ataques ou cercos. O m ais im portante, porém, era descobrir o máximo possível sobre o suprimento
de água, pois se houvesse possibilidade de ser cortado ou prejudicado, isso aumentaria em m uito as chances de sucesso de um cerco.2.3. re is de cidades-estado. Nesta época, Canaã não era um estado político unificado. Ao contrário, era form ada por pequenos "rein os", ou cidades-estado, geralmente abrangendo uma cidade grande fortificada e as pequenas aldeias e fazendas da região. Cada
cidade-estado tinha seu próprio rei e um exército. As cartas de Amarna, do século catorze, são a correspondência entre muitas dessas cidades cananéias e o faraó egípcio, de quem eram vassalas.2.5. porta da cidade fechada ao anoitecer. N as cidades m uradas, era costum e fechar a porta da cidade ao anoitecer, principalmente quando um inimigo estava rondando. Registros hititas m encionam o cuidado com que essa tarefa era cum prida. Os funcionários mais graduados da cidade supervisionavam pessoalmente
o fechamento dos portões e a colocação das travas. Os portões eram construídos de estruturas maciças, intercalados por câm aras entre as diversas entradas, de
m odo que vigias e até m esm o oficiais passavam a noite ali, bem ao lado dos portões.2.6. arquitetura das casas. A casa israelita típica, tal como ficou conhecida a partir de 1200, é chamada de casa de quatro aposentos, constituída de uma estrutura de nove metros quadrados, feita de pedra bruta ou tijolos. Os aposentos (às vezes em dois pavimentos) tinham um telhado achatado e eram rodeados por um pátio aberto . Sabe-se a ind a m enos sobre as casas cananéias, embora tam bém tivessem um pátio ao redor dos aposentos. As paredes externas eram feitas de pedras grandes em pilhadas (às vezes da largura de um a fileira, outras vezes, de diversas fileiras), com pedras m enores preenchendo os vãos. Geralmente a parede era revestida exteriorm ente com barro e do lado de dentro com gesso. As portas eram de madeira e se movim entavam por meio de um pino de pedra fixado no chão. Em geral, não havia janelas nas casas. Os aposentos eram separados do pátio por uma fileira de pilares de pedra ou de m adeira, talvez com cortinas servindo como divisórias. O telhado era feito de vigas de m adeira colocadas perpendicularm ente às paredes, cobertas com galhos ou palha e recobertos de arg ila. O chão era de terra b atid a algu m as vezes revestida de gesso, embora na cozinha existisse o costume de colocar blocos de pedra como piso.2.6. talos de lin h o . A fibra do linho é um a planta usada na fabricação de tecidos. As plantas jovens eram usadas na produção de tecidos de alta qualidade, adequados para a confecção de roupas, e as plantas mais duras eram destinadas à fabricação de materiais rústicos e resistentes, como cordas. Em bora o linho seja m encionado no calendário de Gezer como um a das plantas cultivadas na região, grande parte era importada do Egito. As plantas colhidas tinham de ser estendidas para secar antes de macerar, um processo que envolvia m ergulhá-las em água parada para separar as fibras aproveitáveis. Em seguida, os talos eram separados para secar por completo, antes de continuar o processo. O forte odor e a um idade das plantas tom avam o esconderijo um a experiência peculiarm ente desagradável, talvez equivalente a um mergulho no lamaçal de um chiqueiro.2.7. passagem do Jordão. Na falta de pontes, os locais que permitiam atravessar o rio serviam como lugares estratégicos. D a extrem idade sul do m ar da Galiléia até o rio Iarmuque, não há locais de fácil travessia no Jordão. A partir do Iarm uque, ao sul do uádi Jalud (ribeiro de Herodes) existiam diversas passagens, especialmente na região de Bete-Sam, saindo do vale de Jezreel e entrando em Gileade. Ao sul dessa área, as m ontanhas se aproxim am do vale até a confluência com o Jaboque, onde m ais abaixo se formam os vaus
de Adã. A partir daí, os terrenos apresentam dificuldades em ambas as margens do Jordão até chegar às
passagens perto de Jericó, quase 30 quilômetros mais ao sul.
2.10. Seom e Ogue. Não há informações fora da Bíblia sobre Seom e Ogue. Trata-se de dois reis amorreus
que derrotaram os israelitas na Transjordânia. Para informações adicionais, ver comentários em Números21.21-35.
2.11. a co n fissão de R aabe. Raabe expressa tem or
pelo D eus de Israel, Yahw eh, e o reconhece como Deus em cima nos céus e embaixo na terra. N o contex
to religioso do antigo Oriente Próximo, Yahw eh seria
inserido na categoria de divindade cósmica e reconhecido como um poderoso protetor da nação. As notícias
que haviam chegado até os cananeus sugerem que Yahw eh tinha poder para controlar o tempo, as águas,
as doenças e o mundo animal. Embora sua confissão demonstre o quanto Raabe e todos os moradores de
Jericó estavam impressionados com a extensão da au
toridade e do poder de Yahweh, não se pode afirmar
que seja uma expressão de monoteísmo. Ela ainda não renunciara a seus deuses, tam pouco se dispusera a abrir mão deles. Raabe não afirmara nenhuma lealda
de a Yahw eh, apenas pedira sua ajuda. Ela não de
monstra nenhum conhecimento das exigências da lei e não há razão para concluir que estivesse consciente
do sistema religioso revolucionário que estava se de
senvolvendo em Israel. Em resum o, sua declaração não indica que ela se afastara de sua visão politeísta,
no entanto ela sabia reconhecer o poder quando via
sua m anifestação. Acreditava-se que o pavor provoca
do por uma divindade guerreira antecedia uma batalha poderosa e vitoriosa. Textos egípcios atribuem esse
terror a Am on-Rá, nas inscrições de Tutm ósis III, e textos hititas, assírios e babilónicos tam bém apresen
tam seus guerreiros divinos como aqueles que semei
am terror no coração dos inimigos.2.15. casas no muro. Era comum construir casas sobre
o muro da cidade neste período. Esse costume favore
cia a cidade, aumentando a largura e a resistência do m uro e beneficiava os m oradores, fornecendo uma
parede firm e para dar apoio à casa. Escavações em
Jericó descobriram casas edificadas sobre a marquise entre dois muros, com o fundo voltado para o interior
da parede externa (ver comentário em 6.1).
3.1- 4.24 A travessia do Jordão3.1. Sitim . Ver comentário em 2.1.
3.4. dois m il côvados. D ois m il côvados correspon
dem a pouco mais que m eia milha (IlOOm).
3.10. os habitantes da terra. A lista aqui é semelhante àquela que aparece diversas vezes no Pentateuco. Da
relação de sete povos que habitavam Canaã, três são bastante conhecidos, enquanto que os outros quatro
são praticamente desconhecidos. A primeira menção a Canaã pode ter ocorrido nas tábuas de Ebla (século
24), m as a prim eira referência com provada aparece
nos textos de M ari (século 18). Os cananeus eram os
principais habitantes das cidades fortificadas da região, em bora não fossem nativos dali. Os reis dessa
localidade referem-se a si mesmos nas cartas de Am am a
(metade do segundo milênio) como kinahu, o equivalente a um termo (kinanu) também usado nas inscri
ções egípcias desse período. Os hititas, de quem temos
mais informações, eram oriundos da Anatólia, a atual Turquia, m as alguns grupos que ocupavam partes da
Síria e de Canaã também eram denominados hititas e podem ou não estar relacionados ao primeiro grupo.
Os hititas que viviam em Canaã tinham nomes semitas,
enquanto que os hititas da Anatólia tinham origem
indo-européia. Os heveus às vezes são relacionados aos horeus, e nesse caso talvez possa se tratar dos
*hurritas. A inda há controvérsias quanto ao termo
ferezeu, quanto a se referir a um grupo étnico ou social (aqueles que viviam em povoados sem m uros). Os
girgaseus são pouco conhecidos, embora sejam citados
em textos *ugaríticos. Os *am orreus (conhecidos na Mesopotãmia como amurru ou martu) são conhecidos a
partir de documentos escritos já da m etade do terceiro
m ilênio a.C.. A maioria dos estudiosos acredita que eles ocuparam muitas áreas no Oriente Próximo, de
vido às suas raízes na Síria. O termo "am orreu" pode
ser usado para referir-se a uma área geográfica ("oci
dentais") ou a um grupo étnico, embora nem sempre
estejam inter-relacionados. Alguns amorreus eram nômades, m as já havia cidades-estado dos amorreus, na Síria, desde o final do terceiro m ilênio. Os jebuseus
ocuparam a região m ais tarde associada à tribo de
Benjam im , especialm ente a cidade de Jerusalém e, com freqüência, são relacionados aos ferezeus, que
habitavam na m esm a região. Não existe referência
aos ferezeus, heveus ou jebuseus fora da Bíblia.
3.16. separação das águas do Jordão. Durante a primavera (ver 4.19), o derretimento da neve nas m ontanhas do Anti-Líbano geralmente faz o rio Jordão trans
bordar. Deslizamentos de lama resultantes do impacto das enchentes nas encostas ou de atividade sísmica
ocasionalmente interferem no curso do rio Jordão exatamente no ponto mencionado aqui neste texto (a mais
recente ocorreu em 1927). De acordo com os registros, essas ocorrências geralmente bloqueavam o curso do Jordão durante vários dias.
3.16. Adã, em Zaretã. Adã é a m oderna D am iya, à leste do Jordão, e ao sul da foz do rio Jaboque, cerca de 30 quilômetros ao norte dos vaus de Jericó. As m argens íngrem es do Jordão são especialm ente suscetíveis a deslizamentos de terra, devido ao grande volum e de água provocado pela confluência de dois rios nesse local. Zaretã é identificada com Tell es-Sa'idiyeh, vinte quilômetros m ais ao norte, ou com Tell U m m Hamad, no lado norte do Jaboque.3.17. terra seca. H á um interessante relato num a inscrição de Sargom II, da Assíria (século dezoito), em que ele afirma ter conduzido seu exército através dos rios Tigre e Eufrates, na época da cheia, como se fosse terra seca.3.17. o papel da arca. No tema do guerreiro divino, o deus luta nas batalhas e derrota os deuses do inimigo. Na Assíria, Nergal era o rei das batalhas e Istar era considerada a deusa da guerra. O deus cananeu Baal e M arduque, da Babilônia, também eram considerados guerreiros divinos. Esses duelos entre os deuses não devem ser encarados como uma "guerra santa", já que no antigo Oriente Próximo não havia outro tipo de guerra. Na maioria das situações, faziam -se ora
ções e consultavam-se oráculos a fim de assegurar a presença da divindade nas frentes de batalha. Im agens ou símbolos da divindade geralmente eram carregados nas batalhas para representar sua presença junto ao exército. A arca, símbolo de Yahweh, representava a presença do Senhor abrindo caminho à frente dos israelitas e conduzindo o exército até Canaã. Esse conceito não é m uito diferente da crença assíria de que os deuses concediam poderes às armas do rei e lutavam adiante dele ou ao seu lado.
4.13. quarenta m il hom ens. A palavra traduzida como "m il" pode às vezes referir-se a uma divisão militar. Talvez seja esse o significado pretendido pelo autor na expressão "quarenta mil hom ens", embora a questão seja complexa. Para mais informação, ver comentário em Êxodo 12.37. Compare esse número à população estimada da cidade de Jericó (de mil e quinhentas a duas mil pessoas).4.13. p lanície de Jericó. Jericó fica a oito quilômetros do Jordão, com uma extensa planície ocupando toda a região entre eles.4.18. retorno da enchente. Se o fluxo do rio foi interrompido por um deslizamento de lama, um volume imenso de água ficou represado e quando o bloqueio foi rom pido pela força das águas, a intensidade da correnteza foi ainda maior.4.19. décim o dia do prim eiro m ês. O últim o dado cronológico foi citado em Deuteronômio 1.3, o prim eiro dia do décimo primeiro mês do ano quadragésimo. Após essa menção, Moisés sobiu ao monte para mor-
rer (Dt 32.48) e o povo o pranteou durante trinta dias (Dt 34.8). Assim, pode-se presumir que essa data seja agora do prim eiro m ês do quadragésim o prim eiro ano, apenas dois m eses após a m orte de M oisés. O primeiro mês é Nisã (vai de março a abril), época em que se celebra a Páscoa. Era visto como um bom período para as atividades militares porque as tropas invasoras podiam alimentar-se das colheitas nos cam pos. Se considerarmos a data mais antiga para o êxodo (ver nota 'data do êxodo' em Êxodo 12), seria por volta do ano 1400 a.C.; se a data posterior do êxodo for a correta, então seria por volta de 1240.4.19. G ilga l. A localização de G ilgal ainda não foi identificada. Algumas tentativas situam-na a nordeste de Jericó, perto de K hirbet M efjir, onde há um razoável suprimento de água, jazidas de pedras (sílex) na superfície (ver 5.2) e vestígios de eras passadas (mas somente a partir de 1200). Outra Gilgal bíblica tem sido identificada com Khirbet ed-Dawwara, localizada no centro do círculo formado pelas cidades de Jericó, Ai, Gibeão e Jerusalém, a uma distância inferior a dez quilômetros de cada uma delas. Esse, porém, não é considerado o local mais provável para Gilgal.
5.1-12 Circuncisão e páscoa5.1. reis am orreus e cananeus. N esse período, a região era formada por pequenas cidades-estado, cada um a tendo seu próprio rei e exército. Os amorreus ocupavam a parte m ontanh osa, enquanto que os
cananeus habitavam as planícies costeiras. As cidades cananéias estavam situadas em posições mais estratégicas, visto que as principais rotas comerciais do Egito seguiam pela costa (para m ais informações sobre as rotas de comércio, ver nota na página ). Os israelitas tiveram m uito m ais sucesso no controle das áreas m ontanhosas do que das p lan ícies. As cartas de A m am a nos dão uma boa dose de informações acerca
das cidades-estado de Canaã, no século catorze. Em muitas dessas cartas, os reis apelam ao Egito para que envie mais tropas a fim de ajudá-los a conter os Apiru/ Habiru, que estavam causando problemas. Habiru é
um termo usado para descrever pessoas sem posses em m ais de 250 textos de todo o segundo m ilênio, abrangendo desde o Egito e Anatólia até o leste do Tigre. Certamente os israelitas (hebreus) foram contados entre os habiru. De acordo com os arquivos de Amarna, os reis mais proeminentes da região da Palestina foram M ilkilu (Gezer), Abdi-Heba (Jerusalém), Lab'ayu (Siquém) e Abdi-Tirshi (Hazor). Os egípcios tinham uma série de cidades administrativas, inclusive Gaza e Jope, na costa, e Bete-Seã, onde o vale de Jezreel (e a rota de comércio) vai até o Jordão.
5.2. facas de pedra. Os primeiros instrumentos e ferramentas conhecidos da Idade da Pedra eram lascas
de pedra obtidas por golpes aplicados na pederneira
nos ângulos certos. Essas lascas, cujos gumes eram
extremamente afiados, eram de fácil fabricação e razoavelmente duráveis. O uso de um a lasca de pedra
no processo de circuncisão tanto em Israel como no Egito perm aneceu m esm o depois de terem sido in
ventadas as ferram entas e arm as de m etal. O uso dessas lâminas de pedra pode refletir a longa tradição
que antecedera a existência de lâminas de metal ou simplesmente a necessidade de se usar muitas lâmi
nas de uma só vez. Alguns estudiosos têm sugerido
que o texto esteja se referindo à obsidiana, valorizada por seu fio cortante e preciso.
5.2. circuncisão. A *circuncisão era amplamente praticada no antigo Oriente Próxim o como um ritual de
puberdade, fertilidade ou casamento. Relevos egípci
os já do terceiro m ilênio retratam a circuncisão feita em adolescentes por sacerdotes que usavam facas de
pedras. Em bora os israelitas não fossem o único povo a circuncidar seus filhos, esse sinal foi usado para
marcá-los como membros da comunidade da *aliança.
Quando usada em relação ao casamento, a terminologia sugere que era realizada nos novos integrantes
(do sexo masculino) da família, indicando que, nesse
novo relacionamento, o noivo passava a ficar sob a proteção daquela família. Em crianças, a circuncisão
era mais um ritual para deixá-la com um sinal, do que
algo feito por razões sanitárias. O fato de o sangue ser derramado tam bém significava que seria um *ritual sacrificial e podia funcionar como uma substituição ao
sacrifício humano praticado por outros povos. A cir
cuncisão pode ser vista como um dos m uitos casos em
que Deus dá a um a prática comum um novo significado (apesar de não necessariamente sem relação entre
si) revelando-se e relacionando-se com seu povo.
5.2. circuncidar novam ente os israelitas. Alguém pode
perguntar como os israelitas poderiam ser circuncidados, se já haviam passado por esse procedim ento.
Talvez fosse um a referência à realização do rito da
circuncisão pela segunda vez ou a um procedimento cirúrgico mais radical. A circuncisão egípcia envolvia
apenas um a incisão superficial e não a remoção total
do prepúcio. Os versículos 5-8, porém, sugerem outra
explicação, dizendo que quem fora circuncidado antes da saída do Egito já havia morrido; esses que são
circuncidados agora fazem parte da nova geração,
que ainda não passara pelo rito da circuncisão.
5.3. G ibeate-A ralote. Gibeate-Aralote significa "colina dos prepúcios". Se este nome refere-se a um lugar,
sua localização é desconhecida.
5.6. leite e m el. A terra de Canaã é descrita como uma terra "onde m anam leite e m el". É uma referência à exuberância da terra, favorável ao pastoreio, m as não
necessariam ente adequada à agricultura. O leite é um produto de rebanhos, enquanto que o mel representa um recurso natural, referindo-se provavelmente à seiva extraída da tâmara, e não ao mel de abe
lhas. Uma expressão semelhante a essa pode ser encontrada no épico *ugarítico de *Baal e M ot, que descreve a volta da fertilidade a terra em termos de uádis onde fluía mel. Os textos egípcios como A História de
*Sinuhe já descrevem a terra de Canaã como rica em recursos naturais e também na produção agrícola.5.10. Páscoa. A Páscoa celebrava a libertação da escra
vidão no Egito e talvez tam bém representasse uma cerimônia de purificação preparando para a conquista de Canaã. Ver comentários em Êxodo 12.1-11.5.12. m aná. Para um a análise com pleta a respeito do
maná, consulte os comentários de Êxodo 16.4-9 .0 fato de que o m aná foi enviado em diferentes regiões pelas quais Israel passou durante a peregrinação sugere que essa provisão de D eus era algo bastante diferente
do que as explicações naturais podem apresentar.
5.13- 6.27A conquista de Jericó5.13, 14. com andante. O com andante sobrenatural que Josué encontrou é outra indicação de que Yahweh se encarregara da batalha e seria o responsável pelo sucesso m ilitar dos israelitas. Assim como Moisés tive
ra um encontro com D eus na sarça ardente, em que Ele lhe comunicara seu plano de tirar o povo de Israel
do Egito (êxodo), também nesse encontro de Josué o plano de D eus para a conquista é apresentado. A
mensagem trazida pelo comandante inclui a estraté
gia para a tomada de Jericó (cujo relato se inicia em6.2). No antigo Oriente Próximo, considerava-se que as guerras geralmente eram dirigidas pelos deuses e seguiam o os planos divinos. Porém, o aparecimento
da divindade na véspera das batalhas não era comum na literatura do antigo Oriente Próximo. Em vez disso, a palavra divina ordenando a batalha era dada através de um oráculo, ao passo que a presença divina era vista na batalha em si. No épico ugarítico de Keret, entretanto, o deus El aparece ao rei Keret num
sonho com instruções específicas sobre a batalha. Outro p ara le lo b astan te sem elh an te é quan do o rei
babilônio Samsuiluna (século 18 a.C.) recebe mensageiros sobrenaturais de Enlil dando instruções sobre um a série de campanhas contra Larsa e Esnuna. Ne
nhuma dessas aparições divinas, porém, ocorreu na véspera da batalha - as tropas ainda tinham de ser
reunidas.6.1. Je ricó . A ocupação de Jericó rem onta ao nono
milênio a.C., o que garante a ela o título de cidade m ais antiga do mundo. Sua localização tem gerado muita controvérsia; além disso, a análise arqueológi
ca tem sido dificultada devido a enormes erosões que tendem a m isturar as camadas analisadas pelos arqueólogos, eliminando por completo grande quanti
dade de evidências. A s escavações conduzidas por Kenyon nos anos cinqüenta concluíram que a cidade 4 foi violentamente destruída (há indícios de terremoto e incêndio) por volta de 1550 (final da Idade do
Bronze Média) e depois disso foi ocupada apenas par
cialmente e ocasionalmente até o século nono. Isso é um problem a tanto para a data m ais recente como
para a data m ais antiga do êxodo e da conquista.
INFORMAÇÃO EGÍPCIA ACERCA DE CANAÃ E ISRAELDesde o surgimento da 18a dinastia, na metade do século 16 a.C., os egípcios estabeleceram uma base de operações em Canaã, alternando períodos de apogeu e declínio por mais de quatro séculos. As expedições militares eram bastante comuns e em alguns períodos, a presença egípcia se fazia sentir através da presença de tropas em pontos críticos ao longo das rotas comerciais. Durante o reinado de Tutmósis III (século 15), a região da Síria-Palestina tomou-se uma província egípcia. Após um período de declínio, na época de Amama (século 14), o início da 19a dinastia (início do século 13) trouxe uma renovada atividade militar tendo Canaã como base de operações contra os hititas, na luta pelo controle da Síria. Além dos textos de Amarna, que fornecem informações inestimáveis sobre a situação política em Canaã e o papel significativo do Egito na região, registros egípcios também apresentam outros dados que contribuem para melhor compreensão esse período. (1) Os itinerários das campanhas egípcias freqüentemente se referem a cidades também mencionadas pela Bíblia. Tutmósis III alista mais de cem cidades de Canaã. As vezes, esses itinerários podem ajudar a localizar uma cidade porque neles são descritas as cidades situadas em ambos os lados da rota em questão. Além disso, embora as escavações realizadas em algumas cidades não demonstrem ocupação naquele período, o itinerário egípcio demonstra que foram efetivamente ocupadas naquela época específica, visto que faziam parte da rota. (2) Relevos egípcios do século 13 ilustram fortalezas cananéias e cidades fortificadas do mesmo tipo que as encontradas por Josué. (3) A famosa esteia da vitória de Memeptá (segunda metade do século 13 a.C.) é a mais antiga referência a Israel fora da Bíblia. Descoberta em 1896, esse monumento em granito preto, com mais de dois metros de altura, apresenta detalhes das campanhas do faraó contra os líbios e os povos do mar, mencionando as vitórias contra Asquelom, Gezer, Yanoam e Israel como parte da invasão de Canaã. Um egiptólogo (F. Yurco) sugeriu que essas campanhas de Memeptá também estão gravadas nas paredes de Kamak. Se ele estiver certo, esse registro representa a mais antiga referência aos israelitas.
Outro dado bastante significativo é a ausência de cerâm ica cipriota da Idade do Bronze Posterior, m as algu ns estud iosos têm argum entad o que existem m uitos exem plares de cerâm ica local, desse mesmo período (1550-1200). Restam ainda muitas perguntas a serem respondidas quanto à arqueologia do local. A cidade 4 era cercada por um m uro revestido de pedra (com quatro metros e meio de altura e encimado por um m uro de tijolos com pelo menos m ais dois metros e m eio de altura) que sustentava um a m arquise de gesso que subia cerca de quatro metros e meio para um segundo m uro, tam bém feito de tijolos. A inda que a cidade 4 não seja a cidade invadida na época de Josué, é provável que seus m uros ainda estivessem sendo usados. H avia casas construídas no topo da m arquise de gesso que dividia os dois muros. A cidade não é mencionada nos textos de A m am a nem nos itinerários egípcios da época. Ver comentário em 2.1 acerca de dados geográficos.6.3, 4. sete d ias m archan d o em s ilê n c io . No épico ugarítico de Keret (que provavelm ente era conhecido pelos habitantes de Jericó), o exército de Keret chega à cidade de Udm e é instruído pelo deus El a permanecer em silêncio por seis dias e a não fazer uso de nenhum a arma; no sétimo dia a cidade enviaria m ensageiros e ofereceria tributos pedindo que eles se retirassem.6.4, o papel dos sacerdotes. Os sacerdotes eram necessários para m anter a santidade da arca. Seu papel era fundam ental porque lem bravam ao povo que a batalha era de Yahw eh e não dos israelitas. A respeito do simbolismo da arca, ver comentário em 3.17.6.4, 5. sin ais de trom beta. A trom beta m encionada aqui era feita de chifre de carneiro (shofar). O shofar era capaz de produzir um a variedade de tons, mas não tocava um a m elodia; assim era usado primordialmente para emitir sinais tanto na adoração como na guerra. A corneta, fe ita de chifre de carneiro , era amolecida na água quente, entortada e achatada para produzir formas diferentes. Era comum o uso de diversos sinais na guerra. Sinais com fogo eram usados tanto nas linhas de frente com o em campo aberto. Ordens básicas às vezes eram com unicadas através do levantamento de um mastro ou do arremesso de dardos. Os sinais de trombeta são atestados no Egito na Idade do Bronze M odem a em contextos m ilitares e religiosos. U m código pré-definido incluía certas combinações de sopros longos e curtos.6.20. m uros da cidade. A s técnicas de fortificação desenvolveram-se na Idade do Bronze M édia e continuaram a ser usadas na Idade do Bronze Posterior. Essas técnicas incluíam íngrem es aclives de terra (alguns chegavam a atingir 15 metros de altura) na base dos muros, rodeados por um profundo fosso que atingia o
leito rochoso. Esses recursos serviam tanto para evitar a aproximação de instrumentos usados no cerco a cidades, como para dificultar a escavação de túneis. Os
muros, feitos de tijolos sobre fundações de pedra, eram da largura de três a sete m etros e m eio, com uma
altura de aproximadamente nove metros. Textos hititas
apresentam um relato em que, de modo bastante sem elh ante, um a div ind ad e en via um castigo provocando a queda dos m uros (no caso, tapum es de
madeira).6.21-24. consagrado ao Senhor (herem ). A ordem dada
no versículo 17 e depois obedecida nos versículos 21
24 era a de que todos os seres vivos que habitavam naquela cidade fossem totalmente destruídos (exceto
a prostituta Raabe e sua fam ília, que foram poupa
das). Certos sacrifícios dedicados a Deus podiam ser compartilhados pelo sacerdote oficiante e pelo oferente,
no entanto, outros eram exclusivos do Senhor. Do mesmo m odo, alguns despojos eram separados exclu
sivam ente para o Senhor. A oferta queim ada, por
exemplo, deveria ser consumida totalmente no altar;
assim também os inimigos deveriam ser aniquilados. As batalhas eram comandadas por Yahw eh e repre
sentavam seu ju ízo sobre os cananeus; os israelitas
estavam em um a m issão divina, num a batalha do Senhor, logo, não só o mérito da vitória era de Deus,
com o tam bém o espólio pertencia a Ele. Em bora o tema da divindade guerreira apareça em todo o anti
go Oriente Próximo, o conceito de herem é m ais limi
tado - a única ocorrência do termo está num a inscrição
moabita de M esha, embora a idéia de destruição total
tam bém esteja presente em textos *hititas. Alguns lugares, como Gezer, apresentam uma camada bas
tante peculiar de cinzas, relacionada à Idade do Bron
ze M oderna ou Posterior. Quando as cidades eram sitiadas, as condições sanitárias eram extremamente
precárias, provocando doenças devastadoras. Assim, a prática de queim ar tudo após derrotar a cidade tam
bém tinha um caráter sanitário. A m elhor analogia
para nos ajudar a entender o herem é pensar em termos de radiação. Uma explosão nuclear destrói mui
tas coisas e o alcance da radiação vai m uito além. O
escrúpulo e o cuidado que teríamos ao lidar com coisas que foram expostas à radiação é sem elhante ao que se esperava dos israelitas em relação àquilo que
Deus ordenara fosse destruído. Se a radiação pudesse ser personificada, poderíam os entender que se algo
fosse entregue a ela, aquilo jam ais poderia ser resga
tado. Foi exatamente a esse tipo de perigo que Acã se
expôs: ao m anter consigo algumas coisas que deveriam ser destruídas, ele colocou-se num a situação com
pletam ente irrem ediável.
6.21. ao fio da espada. A expressão usada na Bíblia para referir-se ao "fio " da espada reflete o fato de que, nessa época, as espadas não eram retas nem tinham dois gumes. A lâmina era reta de um lado, m as o fio ficava no lado externo da parte curva, em form a de foice. Não era um a arma usada para traspassar e sim para golpear a vítima.6.26. maldição a quem reconstruísse a cidade. Inscrições assírias geralmente expressam a intenção de que uma cidade destruída jam ais deveria ser reconstruída, mas não são acompanhadas de um juram ento como nesse caso. N um docum ento hitita referente à conquista de H atusha, no início do segundo m ilênio, Anitta profere um a maldição contra qualquèr rei que reconstruísse a cidade.6.26. relação entre reconstruir e perder os filh os. Ver1 Reis 16.34. Durante um tempo acreditou-se que a consagração de uma casa envolvia o sacrifício de uma criança da família. Esse argumento foi usado muitas vezes para explicar a incidência de esqueletos de crianças enterrados debaixo da soleira das portas das casas. Essa interpretação tem sido amplamente rejeitada e alguns pesquisadores agora vêem uma relação entre a maldição e a doença conhecida como esquistossomose (bilhárzia). Essa doença é causada por um parasita que se hospeda em caramujos do tipo encontrado em abundância em Jericó. O verm e penetra na pele e é levado pela corrente sangüínea, infectando o aparelho urinário, afetando a fertilidade e provocando a mortalidade infantil. ~
7.1-26O pecado de Acã e suas conseqüências7.1. coisas consagradas. Ver comentário em 6.21-24.7.1. responsabilidade coletiva. No antigo Oriente Próximo, a identidade do indivíduo se confundia com sua identificação como parte do grupo. Integração e interdependência eram valores importantes, que mantinham o grupo como uma unidade. Como resultado, o comportam ento do indivíduo não era visto como algo isolado do restante do grupo. Quando um israelita pecava, o grupo partilhava da responsabilidade pelo pecado. Além de refletir essa perspectiva da sociedade, a responsabilidade coletiva tam bém era resultado do relacionamento de aliança que Israel tinha com o Senhor. A lei incluía muitas orientações para o comportamento individual e quando ocorriam violações desse tipo, os benefícios da aliança eram ameaçados para todo o povo de Israel.7.2. A i. A cidade de Ai geralmente é identificada com a localidade de et-Tell, um *tell de vinte e sete acres localizado catorze quilômetros a oeste-noroeste de Jericó, cerca de dezesseis quilômetros ao norte de Jerusalém.
A principal ocupação do lugar ocorreu durante o terceiro m ilênio (Idade do Bronze A ntiga), sendo destruída bem antes dos patriarcas. A localidade não dem onstra nenhum sinal de ocupação após esse período até que um a pequena aldeia (cobrindo cerca de seis acres) foi estabelecida na região em algum momento após 1200 a .C , usando o que restara dos muros da Idade do Bronze Antiga como defesa. Não há, portanto, nenhum a indicação de que essa localidade tenha sido ocupada durante qualquer dos períodos prováveis da conquista. Esse dado arqueológico tem feito alguns duvidarem da autenticidade do registro bíblico, enquanto outros questionam se esta é de fato a cidade de Ai. Ao longo dos últimos séculos, muitas localidades têm sido e continuam sendo apresentadas com o alternativas, porém nenhum a delas foi comprovada.7.2. Bete-Á ven. A cidade de Bete-Áven ainda não foi
identificada com segurança. A m aneira como é introduzida no texto sugere que se tratava de uma cidade m ais im p o rtan te que A i. T ell M ary am tem sido freqüentemente considerada a localização m ais provável. A localidade não foi escavada, m as algumas pesquisas descobriram vestígios que remontam à Idade do Ferro. A credita-se que Oséias use Bete-Áven como um nome alternativo para Betei (4.15; 5.8; 10.5).7.2. Betei. Ver comentário em 8.9.
7.5. Sebarim (pedreiras) Algumas traduções descrevem os israelitas fugindo para as pedreiras; outras u tilizam o term o Sebarim , que é o nom e de um a localidade. Pedreiras eram comuns nessa região, mas sebarim não é a palavra usual para descrevê-las. Um arqueólogo (Z. Zevit) sugeriu que a palavra deveria ser traduzida como "ru ínas", uma menção às ruínas da cidade da Idade do Bronze Antiga, situadas bem abaixo na elevação dessa ocupação m enor da Idade do Bronze Posterior. O texto original não diz se os homens de A i perseguiram os israelitas a partir da fren te do portão (embora muitas traduções o façam, inclusive a NVI: "desde a porta da cidade" - 7.5); a perseguição se deu "desde as portas até as pedreiras". Nesse caso, pode ser o portão Uádi da cidade da Idade do Bronze Antiga.7.6. luto. O s hábitos relacionados ao luto geralmente incluíam rasgar as vestes, prantear, jogar pó e cinzas sobre a cabeça e vestir-se de pano de saco. O pano de saco era feito de pelo de bode ou camelo e era rústico e desconfortável. Em m uitos casos, o pano de saco era um a cobertura apenas para os quadris. O período oficial de luto era de trinta dias, m as podia estender- se pelo tempo que a pessoa desejasse.
1.1, 8. am orreus e cananeus. Os am orreus e os ca- naneus eram os principais habitantes da terra. Para informações acerca do contexto étnico, consulte o co
m entário em 3.10; sobre o contexto político, ver com entário em 5.1.7.13. consagração. A consagração consistia num a série de passos para que a pessoa se tom asse ritualmente pura. Esse processo envolvia principalmente o ato de lavar-se e evitar contato com objetos impuros. De modo geral, a consagração antecedia a participação em algum ritual, inclusive sacrifícios, festas ou atividades relacionadas a Yahweh, tais como guerras ou consultas ao oráculo.7.14-18. escolha através do oráculo. O texto não menciona o m étodo pelo qual os grupos ou indivíduos eram escolhidos, em bora algum as traduções acrescentem a expressão "p or sorteio". Em Israel, porém, os sorteios eram usados quando o objetivo era fazer uma escolha aleatória. Aqui, ao contrário, os israelitas buscavam a orientação divina através de um oráculo, apresentando um a pergunta a D eus a fim de obter uma resposta (ver comentário em Gn 24.12-21). Cada tribo ou clã se apresentava diante do Senhor como que perguntando: "Som os nós os culpados?" Se o processo usado aqui for sem elhante ao U rim e Tum im (ver comentário em Êx 28.30), a resposta só seria considerada como enviada por Deus se desafiasse às leis da probabilidade (ou seja, se o mesmo resultado se repetisse por diversas vezes seguidas). No antigo Oriente Próximo, eventualmente se usavam sorteios para receber oráculos, embora na m aioria dos casos os oráculos fossem buscados através de adivinhações (como por exemplo, o exam e das entranhas de um animal sacrificado, cujos agouros podiam ser favoráveis ou desfavoráveis). Como o processo aqui foi precedido por um a consagração, é provável que nenhum desses m étodos tenha sido usado e sim a comunicação direta com Yahweh.
7.21. os despojos de Acã. Os metais preciosos saqueados das cidades cananéias deveriam ser levados ao santuário, portanto, A cã se apropriara indevidamente daquilo que pertencia ao Senhor. No tesouro de Acã havia quase dois quilos e meio de prata e seiscentos gramas de ouro, o equivalente ao salário de um a vida inteira de um trabalhador. A capa confeccionada na Babilônia desse período tinha franjas e formava um drapeado cobrindo um dos ombros, com a borda apoiada no braço.7.25. ap ed rejam en to com o form a de execução. Oapedrejamento era uma forma de execução comunitária mencionada inúmeras vezes na Bíblia. Era comu- mente usada para punir crimes contra a comunidade (apostasia, em Lv 20.2; feitiçaria, em Lv 20.27) e exigia que as pessoas que tivessem sido ofendidas parti
cipassem da execução. Por tratar-se de um a form a com unitária de execução, nenhum indivíduo podia
ser responsabilizado pela morte do criminoso. Textos mesopotâmicos não mencionam o apedrejamento, mas em pregam o afogamento, a empalação, a decapitação e a fogueira como formas de execução.7.25. execução de toda a fam ília. O castigo pela violação da ordem divina de destruição total era ser totalm ente destruído. Toda a descendência do infrator tinha de ser elim inada para que seu nom e caísse no esquecimento. A lei proibia que os filhos fossem punidos pelos pecados de seus pais (Dt 24.16), mas o objetivo dessa lei era restringir certas práticas bastante específicas. Por exemplo, nas leis de Hamurabi, se um hom em provocasse a morte do filho de outro homem, seu próprio filho teria de ser morto. Outro exemplo era a aplicação da vingança de sangue sobre toda a família do assassino. Assim, a lei tinha o objetivo de aplicar restrições ao sistema legal civil. O caso aqui pertence a um a categoria inteiramente diferente, em
que o próprio Deus está julgando a situação. A destruição de toda a linhagem da família era um castigo que somente Deus poderia infringir.7.26. vale de Acor. A identificação do vale de Acor é incerta . U m a sugestão é el-B uqeia , n o deserto da Judéia, cerca de 16 quilômetros a sudeste de Jerusalém, percorrendo de norte a sul, bem a oeste de Cunrã. Infelizmente, parece ser m uito distante de Jericó e na direção errada para se encaixar nessa hipótese. As outras citações de Acor o localizam n a fronteira entre Judá e Benjamim (ver 15.7). El-Buqeia fica muito ao sul, mas qualquer outra possibilidade que inclua a região de Jericó/A i/G ilgal (como o uádi Nu'eim a) ficaria m uito ao norte.
8.1-29 A destruição de Ai8.1. Ai. Ver comentário em 7.2.8.2. em boscada. As estratégias empregadas por Israel (emboscadas, falsos recuos, armadilhas, infiltração nas tropas inimigas e outras) incluem-se na categoria de guerra indireta e não dos cercos prolongados ou batalhas intensas. Essas eram táticas conhecidas no antigo
Oriente Próximo, de acordo com o que está registrado nos textos de M ari (século dezoito), no papiro egípcio de Anastasi (século treze) e em um texto medo-assírio (século dez).8.3. trinta m il hom ens de guerra. Trinta m il parece ser um núm ero exorbitante para se enviar contra uma cidade que provavelm ente não teria m ais que algum as centenas de soldados. Com certeza, esse número tão elevado também seria impraticável para executar um a em boscada. O versícu lo 25 cita que doze m il pessoas de Ai foram m ortas, porém m encionou-se anteriorm ente que A i era um a cidade pequena, com
poucos habitantes (7.3). Se fosse menor que Jericó, sua população total não chegaria a mil pessoas. Tudo isso sugere que a palavra traduzida como "m il" em passagens semelhantes a esta, na verdade, estaria se referindo a "com panhia", "batalhão" ou "d iv isão", que é o sentido alternativo do termo em hebraico. Em vez de um núm ero determ inado, alguns têm sugerido que cada clã enviava uma divisão com o núm ero de homens proporcional ao tamanho do clã. Posteriormente, na história dessas companhias ficou padronizado que teriam mil homens, mas aqui é bem possível que houvesse um núm ero tão reduzido como dez soldados apenas num a divisão. No primeiro ataque a Ai, em 7.4,5, "cerca de três mil hom ens" foram enviados para atacar a cidade; entretanto a m orte de trinta e seis deles foi considerada um m assacre, um sinal de derrota diante das outras nações. Nas cartas de Am am a os reis das cidades-estado im ploram ao Egito que lhes envie dez ou doze soldados para reforçar seus exércitos. Sobre a questão do número de israelitas, consulte o comentário de Êxodo 12.37. Para um a discussão mais aprofundada sobre esses núm eros, ver comentários em 2 Crônicas 11.1; 13.2-20.8.9. Betei. Betei é mencionada até o versículo 17 apenas como uma localidade vizinha, quando os homens dessa cidade saíram em perseguição a Israel. Não há referência à destruição de Betei, embora seu rei conste da lista de reis derrotados por Josué e pelos israelitas em 12.16. Em Juizes 1, essa cidade foi atacada pela tribo de José. Betei tem sido identificada com Beitin, pouco m ais de dezesseis quilômetros ao norte de Jerusalém, cerca de dois quilômetros e meio a oeste de et- Tell, o local tradicionalm ente identificado como Ai. Nessa região havia uma cidade fortificada durante a Idade do Bronze Média, que foi destruída na metade do século dezesseis. Grande parte dela foi reconstruída na Idade do Bronze Posterior, e há evidências de duas destruições durante esse período (1550-1200). Alguns, porém, contestam o fato de que Beitin seja Betei por causa da dificuldade em encontrar um a localidade próxima que possa ser satisfatoriamente identificada com Ai (ver comentário em 7.2). A principal alternativa é Bireh, dois ou três quilômetros ao sul de Beitin.8.9-13. posição de batalh a. A m archa de dezesseis quilômetros do contingente que armou a emboscada foi feita sob o manto da escuridão. Eles se posicionaram na extremidade da cidade (lado oeste; Jericó e Gilgal ficavam a leste de Ai). O restante do exército marchou para o oeste na m anhã seguinte através do uádi el- Asas, arm ando um acam pam ento num vale ou na encosta de um a colina, ao norte de Ai. Quando os soldados de A i saíram para a batalha, o exército israelita fugiu para o deserto, retom ando à sua base, permitin
do que os soldados que estavam de emboscada atrás da cidade tomassem posição.8.18. lança. As lanças da época de Josué tinham uma cabeça de metal presa a um a haste curta de madeira. M ais tarde, as lanças seriam atiradas com a ajuda de um laço que as fazia girar e permitia que alcançassem maiores distâncias com mais precisão. Muitos têm sugerido que a arma descrita neste texto na verdade não é um a lança e sim um a espada em form a de foice, bastante usada na época (para uma descrição dessa arma, ver comentário em 6.21).8.25. doze m il mortos. Provavelmente esteja se referindo a doze divisões. Ver nota em 8.3.8.28. incendiou a cidade. A localidade de et-Tell não
apresenta vestígios de destruição por fogo no período do Bronze Posterior, tampouco a ocupação da Idade do Ferro parece ter sido destruída por um incêndio. Ver discussão sobre os problemas arqueológicos relacionados a Ai, em 7.2.8.29. en forcou o rei. De acordo com 10.26, os reis foram executados primeiro e depois pendurados, sugerindo que o enforcam ento não era um a form a de execução e sim um tratamento dado ao cadáver (ver 2 Sm 21.12 e compare com 1 Sm 31.10). M uitos acreditam que seja uma referência ao empalamento numa forca, que mais tarde seria o tipo de execução praticada pelos assírios e pelos persas. O costume de deixar o corpo exposto também era ocasionalmente praticado pelos egípcios. A exposição representava um a hum ilhação final e uma profanação (ver Is 14.19,20; Jr 7.33;8.1-3), já que a maioria dos povos antigos acreditava que um sepultamento adequado afetava a qualidade da vida após a morte. Ver comentário em 1 Reis 16.4. N o Épico de Gilgamés, ao retornar do m undo inferior, Enkidu relata a Gilgamés que aquele que morrera e não fora enterrado não tinha descanso e quem não tinha parentes vivos só podia alim entar-se daquilo que era jogado nas ruas. U m a maldição babilónica relaciona o sepultamento à união do espírito do morto com seus entes queridos. Sabemos que até mesmo os israelitas acreditavam que um sepultamento adequado afetava a vida após a morte, visto que eles, assim como seus vizinhos, enterravam seus entes queridos com provisões que lhes proporcionariam sustento na vida após a m orte. G eralm ente, acrescentava-se às provisões algum as vasilhas de cerâm ica (cheias de alim ento), jó ias (para afastar o m al), ferram entas e objetos pessoas.8.29. erguer um m onte de pedras. Sepulturas feitas de m onte de pedras eram comuns na Palestina por volta do ano 2000 a.C., especialmente nas áreas meridionais do N eguebe e do Sinai, que são bastante áridas e rochosas. Os sepultamentos cananeus desse perí
odo eram feitos em tumbas de uso múltiplo, permitindo que famílias inteiras fossem sepultadas juntas, em túm ulos escavados na base de formações rochosas. Geralmente essas tumbas eram guarnecidas de todos os acessórios da vida cotidiana.
8.30-35A renovação da aliança no monte Ebal8.30. função do altar. Aparentemente esse altar não seria uma construção para uso permanente (outra razão para se usar pedras não lavradas ou brutas), mas fora erigido apenas para a celebração das cerimônias daquela ocasião. As ofertas oferecidas eram especificamente ofertas queimadas e sacrifícios de comunhão (ver comentário em Lv 3) e não há m enção a ofertas de purificação ou de reparação.8.30. 31. descobertas arqueológicas em Ebal. Alguns arqueólogos acreditam que foram encontrados vestígios do altar erigido no monte Ebal. Trata-se de uma estrutura de oito a nove metros em um dos picos do monte, com paredes de pedras medindo cerca de um metro e m eio de espessura e quase três m etros de altura. O aterro é de barro e cinzas, e algo semelhante a uma rampa vai até o topo. A estrutura está cercada por um pátio e ossos de animais estão espalhados pelo local. A cerâmica encontrada no sítio remonta ao ano de 1200 a.C..8.31. altar fe ito de pedras, sem ferram enta de ferro.Essas orientações são semelhantes àquelas encontradas em Êxodo 20.25. As ferram entas de ferro eram utilizadas para entalhar a pedra, moldando-a de modo a fazer um a estrutura m ais robusta. Altares de pedra lavrada foram encontrados em Judá (o melhor exemplo está em Berseba). O altar aqui descrito não deveria ser colocado em um santuário e talvez o uso de pedras brutas ajudasse a manter essa distinção.8.32. a le i escrita em m onum entos de pedra. As leis de *H am urabi foram inscritas em um m onólito de diorito com 2,5 metros de altura e expostas publicamente para que todos pudessem vê-las e consultá-las. Inscrições reais geralmente eram colocadas em lugares de destaque, assim como nos dias de hoje são feitas inscrições em locais públicos como sepulturas, pedras fundamentais de edifícios e monumentos em diversos lugares de valor histórico, com o objetivo principal de trazer à m em ória das pessoas os acontecim entos e feitos importantes. Os documentos de tratados no Oriente Próximo, ao contrário, eram colocados em lugares sagrados, aos quais as pessoas comuns não tinham acesso. O propósito era registrar o acordo por escrito diante do deus em nome de quem o compromisso fora jurado. Para informações a respeito de pedras como marcos de divisa e documentos de concessão de terras, ver comentário em 1 Samuel 7.12.
8.34. leitura pública. Nas culturas em que a maioria da população era praticam ente analfabeta, onde as pessoas não possuíam nenhum tipo de material escrito além dos documentos da família, a leitura pública de documentos de interesse religioso, cultural ou política era m uito importante. M uitos tratados *hititas contêm cláusulas exigindo a leitura pública do documento; um deles determina que a leitura deve ser feita três vezes ao ano, enquanto outros são menos específicos, dizendo apenas em termos gerais que a leitura deveria ser feita "sem pre e constantemente".
9.1-27O acordo com os gibeonitas9.1. situação política na Idade do Bronze M oderna(1550-1200 a.C.). A Idade do Bronze M oderna foi um período de disputa política entre as principais potências internacionais. O Egito exerceu um controle político sobre a Palestina por quase todo o período e muitas vezes desejou estender seu controle até a Síria, onde emergiam importantes rotas comerciais marítimas e terrestres. A segunda m aior potência na região era a coalizão hurrita conhecida com o M itani, que ocupou uma ampla faixa da região norte entre o Tigre e o Mediterrâneo. À medida que o reino M itani entrou em declínio e por fim desintegrou-se (por volta
de 1350), foi substituído por uma potência assíria em crescente ascensão ao longo do alto Tigre, estendendo-se posteriormente até o Eufrates. O Império hitita aproveitou-se do declínio dos mitânios para estender seu controle para o sul partindo da Anatólia, competindo com o Egito pelo controle do importante corredor entre os portos da Fenícia e a rota fluvial do Eufrates. Durante todo esse período, a Babilônia esteve sob o domínio dos cassitas. Diante desses conflitos entre as principais potências, pouca esperança restou às m inúsculas cidades-estado da Palestina de alcançar importância política. Não obstante, a região era estra
tegicamente im portante, fornecendo guarnições administrativas e de suprimentos para o Egito e continuava a ser a única opção para as rotas comerciais terrestres que entravam e saíam do Egito.9.1. as cartas de A m arna. O arquivo das cartas de A m am a contém quase quatrocentas cartas enviadas pelos reis das cid ad es-estad o aos faraós egípcios Amenotep III e Aquenaton, durante a prim eira metade do século catorze a.C.. Elas foram encontradas em Tell el-A m arna, local onde se situava a capital de Aquenaton, no alto Nilo, cerca de 320 quilômetros ao sul do Cairo. Essa correspondência apresenta o melhor retrato disponível da situação política deste período. Os insignificantes reis de Canaã não estavam m uito preocupados com os conflitos internacionais
descritos no comentário anterior; estavam muito mais preocupados com a ameaça que os habiru (ver próxi
mo comentário) representavam, e para isso foram em busca da ajuda egípcia. Nesses documentos eles dem onstram sua inquietação sobre a possibilidade de diversos reis cananeus desertarem e se aliarem aos habiru. De fato, um a aliança com os habiru era uma grande tentação diante da negligência com que eles eram tratados pelo Egito naquele período. Esse tipo de preocupação poderia encaixar-se perfeitamente ao contexto da conquista israelita. Os reis das cidades- estado estariam sobremodo perturbados com a possibilidade desse inimigo obter o controle de um a cidade fortificada.9.1. habiru. O termo habiru/apiru é usado para descrever povos sem posses em mais de 250 textos, durante todo o segundo milênio, abrangendo desde o Egito e Anatólia, até o leste do Tigre. Em muitas cartas de Amarna, os reis de Canaã apelam ao Egito a fim de que mais tropas sejam enviadas para conter os habiru, que estavam causando problem as. C ertam ente os israelitas foram contados entre os habiru e é possível que o termo hebreu, em algumas ocasiões, tenha se originado do termo habiru (ver com entários em Gn14.13 e Êx 21.2). Por estarem espalhados por um a ampla região geográfica na prim eira m etade do segundo m ilênio, quando o povo de Israel ainda se encontrava no Egito, é im possível associar o termo habiru exclusivamente aos israelitas.9.3. G ib eo m . A c id ad e de G ibeom geralm ente é identificada com a moderna el-Jib, localizada cerca de dez quilômetros a noroeste de Jerusalém e onze quilômetros a sudoeste de Ai. As escavações arqueológicas descobriram no local um sistema duplo de abastecimento de água, cuja construção precede ao período dos juizes. O mais antigo dos sistemas consistia numa perfuração de dez metros de profundidade através da pedra calcária (descia-se até a base por meio de uma escada em espiral) até um túnel, onde os habitantes da cidade tinham acesso às fontes de água. O outro sistema, de um período posterior, contava com um túnel em degraus que descia até outra fonte. Esse sistema de água encontrado no local é um a forte evidência de que se trata de Gibeom, devido ao famoso "açude de Gibeom " (ver 2 Sm 2.13). A identificação do local é confirmada pela presença de alças de jarros encontradas ali com a inscrição do nome da cidade (embora é preciso observar que foram encontradas tam bém alças de jarros contendo nom es de outras cidades, o que é explicado pelo principal produto da cidade: vinho de exportação). Sobre o período da conquista, pouco ou quase nada foi encontrado, mas as escavações (realizadas no final da década de 50) fica
ram restritas a uma pequena área do sítio. A c id a d e de G ibeom aparece em poucas fontes fora da Bíblia. O faraó Sheshonk I (final do século dez a.C.) acrescentou Gibeom a um a lista de cidades capturadas (ou visitadas) durante um a vitoriosa cam panha m ilitar na Palestina.
9.4. estratégia de ardil. Em bora não existam outros exemplos de ardis exatamente como este, a literatura contém inúmeros exemplos de fraude e desonestidade nas negociações de acordos no mundo antigo.9.7. heveus. Geralm ente os heveus são confundidos
ou considerados como horeus; ambos os grupos são identificados com os *hurritas. Os hurritas pertenciam a um grupo étnico indo-europeu e estabeleceram um império político conhecido como *M itani no período de 1500-1350 a .C. (ver com entário em 9.1 sobre a situação política). Parte da correspondência entre os hurritas de M itani e os egípcios foi preservada nos documentos de Amarna. O s hurritas eram o principal grupo étnico do im pério h itita e tam bém o grupo étnico predominante na cidade de *Nuzi. Documentos egípcios do período referem -se com freqüência a Canaã como a terra de Hurru.9.10. Seom e Ogue. Não existem informações fora da Bíblia de fontes históricas ou arqueológicas que tragam qualquer esclarecim ento a respeito de Seom e Ogue. Trata-se dos reis amorreus que foram derrotados pelos israelitas na região da Transjordânia. Para informações adicionais, consulte os comentários em Núm eros 21.21-35.9.10. A sterote. A sterote é identificada aqui como a capital de Basã. H á várias referências a esse nome nos textos egípcios desse período, nas cartas de Amarna (quanto então era governada por Ayyab) e mais tarde em textos assírios. Alguns estudiosos acreditam que seja m encionada tam bém em um texto de U garite como o lugar onde o deus El reinava. Conhecida hoje como Tell 'Ashtarah, fica quarenta quilômetros a leste do m ar da Galiléia.9.14. consultar o Senhor. A consulta ao Senhor era feita através de oráculos; em Israel, o método geralmente usado para essa consulta era através do Urim e Tumim. Ver comentário em 7.14-18.9.17. cidades dos heveus. Além de Gibeom, duas ou três cidades podem ser identificadas com certa segurança. Quefira é a moderna Khirbet el-Kefireh, nove ou dez quilôm etros a oeste, um pouco ao sul de Gibeom. Quiriate-Jearim, poucos quilômetros ao sul de Q uefira, é Tell el-Azhar. Beerote, que ficaria ao norte de Quefira em direção à área de Betei/Ai, tem sido identificada com el-Bireh ou Nebi Samwil.9.18. o com prom isso dos juram entos. Numa cultura em que os deuses eram temidos por serem considera
dos ativos e poderosos, os juramentos eram vistos como um sério compromisso. Votos até podiam ser abrandados (Lv 27; N m 30), m as a pessoa que fazia um
juram ento esta v a p r es a à q u e le co m p ro m is so e, se o rom pesse, ficaria à m ercê da vingança divina. Se o juram ento não fosse cumprido, a divindade invocada passava a ser considerada inútil e sem poder. O rei hitita do século catorze enfrentou guerras e pragas como resultado do rompimento de tratados que haviam sido selados com juramentos. A atitude de Josué ao considerar sagrado o juram ento com os gibeonitas fica evidente em 2 Sam uel 21, onde é relatado que a quebra desse mesmo juram ento trouxe conseqüências terríveis.9.27. lenhadores e carregadores de água. M anter o fogo sacrificial e não deixar acabar a água da purificação exigia muito trabalho. Essa tarefa de providenciar lenha e água foi então delegada aos gibeonitas. Por se tratar de um trabalho servil, era um a garantia de que eles perm aneceriam na posição inferior de servos, conforme haviam escolhido.
10.1-43 A derrota da coalizão do sul10.1. A doni-Zedeque. Esse nome é bastante parecido com o do re i de Jeru sa lém , em G ên esis 14, M el- quisedeque (melqui = "m eu re i"; adoni = "m eu senhor"). Não há informações sobre esse rei em fontes extrabíblicas.
10.1. Jerusalém nos textos de Amarna. Existem seis cartas nos textos de Am arna (ver comentário em 9.1) do rei de Jerusalém, Abdi-Heba, ao faraó solicitando apoio m ilitar. Ele alerta que o controle egípcio na região está ameaçado, devido à presença dos habiru e por causa da deslealdade dos reis de outras cidades- estado, que estariam se aproveitando da indiferença do Egito. Jerusalém era um a das principais cidades da região e competia com Siquém pelo controle da região montanhosa.10.1. vestígios da Idade do Bronze M oderna em Je rusalém . Nessa época, a cidade de Jerusalém ocupava apenas um a faixa no sentido norte-sul abrangendo
cerca de dez acres, situados ao sul dos muros da atual cidade. A população provavelmente não ultrapassava m il pessoas. O ponto mais alto nas montanhas tem apenas 120 metros de largura e 450 de comprimento. Vestígios da idade do Bronze M oderna são esparsos e confinados à área G, na orla nordeste das montanhas. Os achados arqueológicos no local incluem as fundações de uma estrutura não identificada e um terraço de pedra maciça.10.2. posição estratégica de G ibeom . U m a das principais passagens da região montanhosa para as planí
cies, desde Bete-Horom até o vale de Aijalom, ficava n a área controlada por Gibeom . Com a derrota de Jericó, Ai e Betei, Israel obteve o controle da principal rota la tera l a través d a Palestina (da fe n d a d o Jo rd ão até a costa).10.2. cidades reais. A s cidades governadas por reis seriam os centros administrativos dos grandes distritos. Os egípcios controlavam diversas cidades durante o período Amarna, onde seus governantes viviam, dentre elas, G aza e Bete-Seã. Cidades como Siquém e H azor tam bém poderiam ser consideradas cidades reais por causa das grandes áreas que controlavam. A posição estratégica de Gibeom e suas fortificações lhe ofereciam condições de ser um a dessas cidades.10.3. os aliados: Hoão, Piram , Ja fia e D ebir. Textos do período não fornecem nenhuma informação sobre esses reis, mas seus nomes são variações de nomes bastante docum entados. Com pare, por exem plo, o nome Jafia com o rei de Beirute, Yapa-'Hadda, citado nos textos de Amarna. Era costume incluir no nome um a declaração sobre a divindade; por exemplo, Yapa- 'H adda significa "o deus Hadda apareceu". Os nomes que continham esse tipo de afirm ação geralm ente eram abreviados, suprimindo-se o nome do deus. O nom e do rei de Gezer, Yapahu, tam bém citado nos textos de Am arna está ainda mais de acordo com esse costume.10.3. H ebrom. Tell Hebrom é o local onde foram encontrados vestígios de um a antiga cidade de doze acres, cerca de 32 quilôm etros ao sul de Jerusalém.
Apesar de os arqueólogos não terem encontrado nenhum vestígio de ocupação na Idade do Bronze Moderna e de não ser m encionada nos textos de Amarna, Hebrom está relacionada nos itinerários egípcios de Ram sés II (século treze) com o um a das cidades da região. Para m ais inform ações, ver com entários em Gênesis 13.18 e Núm eros 13.22.10.3. Jarm ute. Jarmute é identificada com Khirbet el- Yarm uk, 24 quilômetros a sudoeste de Jerusalém. A acrópole de quatro acres foi ocupada por um a cidade da Idade do Bronze M oderna, estrategicamente situada entre os vales de Elá e de Sorek, as duas passagens que saíam de Sefelá (colinas baixas entre a região montanhosa e a planície costeira) até as cidades da
costa.10.3. Láquis. Localizada 48 quilômetros a sudoeste de Jerusalém, Láquis (Tell ed-Duweir) era um a das maiores cidades de Sefelá, cobrindo cerca de trinta acres. Junto com Hebrom, protegia a passagem para a região montanhosa. Nos textos de Amarna, Abdi-Heba de Jeru salém afirm a que Láqu is, ju n tam en te com Gezer e Asquelom, forneceram provisões aos habiru (tributo ou aliança?). Outra carta dá a entender que os
habiru haviam m atado o rei de Láquis, Zim redda. Outros reis m encionados nesses textos são Shipti-Bali e Yabni-Ilu. Há também no arquivo de A m am a cinco cartas enviadas pelos reis de Láquis. As escavações no local trouxeram à tona uma cidade da Idade do Bronze M édia com impressionantes fortificações destruídas pelo fogo no final daquele período (meados de 1500). A ocupação do local na Idade do Bronze M oderna (período Am am a) revelou uma cidade relativamente grande, porém, sem fortificações. Não há evidências de destruição durante esse período (o texto bíblico não sugere que a cidade tenha sido destruída). Havia um grande templo nesse local durante todo esse período.10.3. Eglom. Tell Aitun, onze quilômetros a sudeste de Láquis, entre Láquis e H ebrom , é a localização mais provável para Eglom. Essa cidade não é mencionada em nenhum a fonte fora da Bíblia; ainda não foram feitas escavações arqueológicas no local.10.5. am orreus. Ver comentário em 5.1.10.6. G ilgal. Localização desconhecida; ver comentário em 4.19.
10.9. m archa desde G ilgal até G ibeom . Visto que a localização de Gilgal é incerta, é difícil precisar a distância percorrida na m archa dos israelitas. De Jericó a Gibeom são cerca de 24 quilôm etros, o que permite supor que essa m archa não teria ultrapassado 30 e poucos quilôm etros, e tam bém poderia ter sido tão curta quanto 8 quilômetros.10.10. Bete-H orom , Azeca e M aquedá. A passagem de Bete-Horom é guardada pelas cidades gêmeas de Bete-Horom: a "Bete-H orom de cim a", Beit Ur el-Foqa (cerca de três quilômetros a noroeste de Gibeom) e a "Bete-H orom de baixo", Beit Ur et-Tahta (dois quilômetros e meio a noroeste), cerca de 300 metros mais baixo, em relação à primeira. Alguns sugerem tratar- se da cidade m encionada como Bit Ninurta nas cartas de Am am a. A passagem dá acesso ao vale de Aijalom (mencionado nos textos de A m am a como Ayyaluna), a principal rota partindo da região montanhosa até a p lan ície costeira. A ssim que chegaram ao vale de Aijalom, os amorreus viraram em direção ao sul, cru
zando o vale de Sorek, dirigindo-se a sudeste, cerca de vinte quilôm etros, até A zeca (um quilôm etro e meio a oeste de Jarmute), de onde se avista o vale de Elá. De lá avançaram para o sul cerca de 22 quilômetros até M aquedá. Essa rota segue pelos flancos entre a região montanhosa e Sefelá. M aquedá é identificada com K hirbet el-Q om , situada no meio do cam inho entre Láquis e Hebrom e apenas cinco quilômetros a nordeste de Eglon, tendo um a localização bastante central em relação às cidades da coalizão. Escavações limitadas foram feitas no local, sem que se tenha registrado qualquer achado da Idade do Bronze Moder
na. Azeca é Tell Zakariya onde, apesar das evidências de ocupação dos cananeus, as escavações não acrescentaram muitas informações úteis à arqueologia.10.11. pedras de granizo. A ocorrência de pedras de granizo como castigo divino em relatos de conquista não é exclusividade dos israelitas. Em uma carta a seu deus (Assur), Sargon II da Assíria relata que em sua campanha contra Urartu (714 a.C.), o deus Adad fez cair sobre seus inim igos "u m a chuva de pedras do céu", aniquilando-os por completo. Nessa batalha, havia tam bém um a coalizão que fugiu pelos vales e passagens da região m ontanhosa perseguidos por Sargão; o rei inimigo por fim escondeu-se nas fendas da montanha.10.12. G ibeom e A ijalom . A posição do Sol em relação à Lua é importante para a interpretação desta passagem . G ibeom fica a leste e A ijalom , a oeste, sugerindo que o Sol estaria nascendo e a Lua se pondo. Durante a Lua cheia, a Lua se põe no oeste, logo após o nascer do Sol no oriente.10 .12 ,13 . So l e Lua como presságios. No antigo Oriente Próximo os m eses não tinham um núm ero determinado de dias, sendo que a duração variava conforme as fases da lua. Esse calendário lunar era então periodicamente ajustado ao ano solar, a fim de equiparar os meses às estações. O inicio do mês era calculado a partir da prim eira Lua nova. A Lua cheia coincidia com o meio do mês e era identificada pelo fato de que a Lua se punha exatamente alguns minutos depois do nascer do sol. O dia do mês em que ocorria a Lua cheia servia como um indicador de quantos dias o mês teria. Se a Lua cheia aparecesse no décimo quarto dia do mês isso seria considerado um bom presságio, porque então a Lua crescente seria vista no trigésimo dia, desse modo o mês teria a duração "certa" e tudo estaria em harm onia. M as se a "oposição" entre os astros (lua e Sol simultaneamente em horizontes opos
tos) acontecesse no décim o quarto dia, o mês seria considerado longo, feito de dias tam bém longos. A ssim os dias eram considerados m ais longos ou mais curtos, de acordo com a característica do m ês. O
versículo 13 relata que o Sol e a Lua não se comportaram com o se fosse um dia longo. Com o resultado dessa crença, o horizonte era atentamente observado
nos dias próximos à metade do mês, com a esperança de que a oposição do Sol e da Lua acontecesse no dia propício (décimo quarto). A oposição no dia "errado" era entendida como um presságio de várias desgraças, inclusive derrotas militares e destruição de cidades. Desse modo, o movimento do Sol e da Lua proporcionava presságios m ensais de boa ou m á sorte. N o antigo O riente Próxim o, dava-se im portância a esses presságios e eles eram usados com freqüência
para determinar se batalhas deveriam ser feitas em determinado dia ou não. Como já foi mencionada no comentário sobre Gibeom e Aijalom , a posição relatada em Josué sobre o Sol e a L u a sugere que o dia
estava quase amanhecendo e era fase de Lua cheia.10.12, 13. term inologia usada em presságios celestiais. Os presságios celestiais m esopotâmicos eram expressos em term os com o esperar, fic a r e parar para registrar os movimentos e posições dos corpos celestes. Quando a Lua ou o Sol não esperava, a Lua sumia no horizonte antes que o Sol nascesse e não acontecia a oposição (vide comentário anterior). Quando a Lua ou o Sol esperava ou parava, era um indício de que aconteceria a oposição, determinando assim o dia de Lua cheia. A série de presságios conhecida com o Enuma Anu Enlil fala muitas vezes da mudança na velocidade do curso da lua, afetando ou evitando a oposição com o sol. De modo semelhante, o versículo13 descreve que o Sol não se apressou, ao contrário, parou no ponto em que se encontrava no firmamento. É im portante observar que ao afirm ar que "nunca houve um dia como aquele", o versículo 14 não está sugerindo que aquele fenômeno astronômico nunca havia ocorrido, e sim que o fato extraordinário foi que o Senhor aceitou um a sugestão de estratégia militar vinda de um hom em ("o Senhor atendeu a um hom em "). U m a lam entação m esopotâm ica (prim eiro milênio) mostra esse mesmo tipo de terminologia acerca do ju ízo divino, quando descreve os céus retumbando, o Sol parado no horizonte,-a Lua imóvel no meio do céu e a Terra sendo assolada por terremotos e
terríveis tempestades. O conhecimento de Josué sobre a crença e a dependência dos amorreus nos presságios talvez tenha sido o m otivo que o levou a pedir ao Senhor que fizesse algo que diminuísse o m oral dos inimigos, isto é, a oposição do Sol e da Lua num dia inadequado.10.13. livro de Jasar. Presume-se que o livro de Jasar seja um a antologia poética relatando antigos feitos heróicos (outra referência a esse livro pode ser encon
trada em 2 Sm 1.18). A palavra "Jasar" poderia ser tanto o adjetivo honrado como um a form a do verbo hebraico cantar. Não há evidências de que tenha sido preservado.10.16-43. narrativas de conquistas no antigo O riente Próxim o. O s d iários de guerra egípcios (livros de registros diários) registram as cam panhas m ilitares de forma bastante parecida ao relato de Josué. A combinação de narrativas mais longas com relatórios curtos e o uso de frases padronizadas e repetidas, pode ser confirmado nos registros de Tutm és III. Pesquisas sobre os registros das cam panhas hititas e assírias também dem onstram grande sem elhança estilística.
Afirmações de que a divindade havia se encarregado da campanha, intervindo na luta para trazer a vitória, bem como relatos de perseguição, domínio e conquista coroando a derrota completa e cabal dos inimigos são traços comuns nessas narrativas. Isso sugere que o escritor do texto b íblico conhecia bem o estilo e a técnica dos escribas do antigo Oriente Próximo.10.19. im pedindo os inim igos de alcançar as cidades. Maquedá fica a poucos quilômetros de distância das cidades de Láquis, Eg lom e H ebrom . Josué queria evitar que os reis inim igos chegassem às suas cidades, onde poderiam organizar um plano de defesa. Sem liderança, as cidades ficariam mais vulneráveis à conquista.10.24. pôr o pé no pescoço . O re i assírio T ukulti-
Ninurta I (século treze) "punha o pé no pescoço" de cada rei conquistado (sim bolicam ente) e nas terras conquistadas, deixando claro que haviam se tom ado o estrado de seus pés. Como resultado, a ação aqui descrita pode estar relacionada a esse simbolismo de subjugar os inimigos transformando-os em estrado (SI 110.1).
10.26. exposição de cadáveres. Os reis foram executados primeiro e depois pendurados, sugerindo que o enforcamento não seria uma forma de execução e sim uma maneira de lidar com o cadáver (ver 2 Sm 21.12 e com pare com 1 Sm 31.10). M uitos acreditam que possa ser um a referência ao empalamento num a forca, um tipo de execução usado posteriorm ente por assírios e persas. Os egípcios ocasionalmente também tinham o costume de deixar o corpo exposto. A exposição representava uma humilhação final e um sacrilégio (ver Is 14.19, 20; Jr 7.33; 8.1-3), já que a maioria dos povos antigos acreditava que a qualidade da vida após a morte era afetada por um sepultamento adequado (ver comentário em 8.29).10.29. L ibn a. A cidade de Libna, entre M aquedá e Láquis, tem sido geralm ente identificada com Tell Bom at, situada estrategicamente no uádi Zeita, protegendo a m elhor rota de H ebrom até a costa. Não foram feitas escavações no local, m as levantamentos topográficos têm apresentado evidências tanto da Idade do Bronze Moderna como da Idade do Ferro no local. Outros a identificam com Khirbet Tell el-Beida, um a localidade oito quilôm etros m ais para o leste (cerca de catorze quilômetros a nordeste de Láquis).10.33. G ezer. Gezer, conhecida como Tell Jezer nos dias de hoje, é um a colina de 33 acres situada na extremidade oeste do vale de Aijalom, cerca de 40 ou 50 quilômetros ao norte da área de m aior concentração. Apesar do exército de Gezer ter sido derrotado, a cidade não foi conquistada nesta campanha (ver 16.10). É alistada como um a das cidades conquistadas pelo
faraó M erenptá; nos textos de A m arna, onde estão contidas dez cartas de Yapahu, rei de Gezer, ao faraó, figura com o um a das cidades m ais im portantes de Canaã. Am plas escavações têm sido conduzidas no local. U m a cidade solidamente fortificada, da Idade do Bronze Média, foi destruída por fogo, no final desse período (talvez a destruição assumida por TutmésIII, século quinze). A cidade da Idade do Bronze Moderna era rodeada por muros com 3 metros e meio a quatro m etros de largura e quase cinco m etros de altura.10.33. Horão. Horão, rei de Gezer, não é mencionado em nenhum outro texto do período, embora seja um típico nome semita ocidental.10.36. destruição de H ebrom . Para inform ações gerais a respeito de Hebrom, ver comentário em 10.3. Como não foi descoberto em Hebrom nenhum sedimento referente à Idade do Bronze M oderna, a arqueologia não pode contribuir com muitas informações a respeito da destru ição prom ovid a por Josu é e os israelitas. A antiga Hebrom está situada atualmente debaixo de uma cidade moderna, o que não permite que muitas áreas da cidade antiga sejam escavadas.10.38. D eb ir. D ebir é K hirbet Rabud, um a área de quinze acres situada treze quilômetros a sudoeste de Hebrom. Era um a cidade Cananéia, fortificada, durante a Idade do Bronze M oderna, e controlava a rota ao longo do uádi Hebrom que ia de Berseba até Hebrom. As escavações arqueológicas no local limitam- se a duas valas, logo, não há muitas informações concernentes à destruição causada por Josué.10.40. região e extensão da conquista. Todas as cidades descritas nesta passagem ficavam no sul da região m ontanhosa, ao sul da Sefelá. Cidades como Gezer e Jerusalém não são mencionadas como alvos de ataques, no entanto, a descrição dada no versículo engloba a região onde estariam situadas. Visto que os reis que controlavam a região haviam sido derrotados, o território passaria a pertencer aos israelitas. O uso da hipérbole na descrição da destruição total ("sem deixar sobrevivente algum ") é comum em relatos de conquista. O texto em si demonstra que se trata de um a figura de linguagem , visto que m ais adiante, em Josué 15.13-16, há uma menção aos habitantes de Hebrom e Debir. Esse tipo de hipérbole aparece na Inscrição de M erenptá, num a referência a Israel, declarando que não havia restado nenhum descendente de Israel; na Inscrição de M esha Israel é descrito como com pletam ente destruído para sempre. Afirmações retóricas como essas são sinais de vitória m ilitar e podem ser encontradas em relatos hititas, egípcios e assírios de campanhas militares. O uso da hipérbole não quer dizer que a narrativa seja imprecisa, enga
nosa ou falsa, pois qualquer leitor poderia reconhecer esse estilo retórico, bastante utilizado para informar os resultados das batalhas.10.41. desde C ades-Bam éia até G aza. Cades-Baméia representa a fronteira entre a parte do N eguebe da terra prometida e o deserto do Sinai. Gaza (cerca de cem quilômetros ao norte) representa a fronteira entre a Palestina e os territórios egípcios no Sinai, ao longe da costa do M editerrâneo. Juntos, esses pontos de referência servem como fronteira sudoeste da terra.10.41. de G ósen a G ibeom . Gósen não está se referindo ao território homônimo situado no delta do Egito, e sim a uma área na região montanhosa de Judá, comc fica evidente em 11.16 e 15.51, onde é mencionada junto com as localidades do extrem o sul da regiãc montanhosa. Gibeom representa as conquistas mais ao norte, da campanha do sul. Juntas, representam as fronteiras orientais dos territórios conquistados nessa campanha.
11.1-15A vitória sobre os reis do norte11.1. Jabim . Esse pode ser outro nome que foi encurtado pela supressão do nome da divindade (ver com entário em 10.3 sobre os aliados). O s textos de Amarna mencionam um nome semelhante para o rei de Láquis, cujo nome é Yabni-Ilu ("[o deus] II criou"). Nos textos de M ari (século dezoito a.C.) o rei de Hazor é denominado Yabni-Addu ("[o deus] Adad criou"). Talvez Jabim seja o m esm o nom e m encionado em uma lista de itinerários de Ramsés II, em que Ibni é chamado de rei de Quisom. Quisom, provavelmente, é o mesmo que Quedes, onde Débora e Baraque lutaram contra um rei cham ado Jabim , tam bém relacionado a Hazor (Jz 4.1-13).11.1. Hazor. Hazor (modernamente conhecida como Tell el-Qedah) situava-se cerca de dezesseis quilômetros ao norte do mar da Galiléia, ao longo das principais rotas comerciais da região. A cidade de cima, no topo do *tell tinha por volta de 25 acres, enquanto a cidade de baixo estendia-se por m ais de 175 acres, sendo uma das maiores cidades do crescente fértil. O tell tinha cerca de 43 metros de altura. Os muros da Idade do Bronze M édia que circundavam a cidade de cima eram feitos de tijolos e tinham sete m etros de altura. Partes da cidade de baixo eram protegidas por um muro encimado por uma plataform a e rodeado por um fosso (fosso seco). Hazor figura como a cidade mais importante da região nos textos de Amarna. O rei de Hazor, nesses textos, afirm a sua lealdade ao Egito, apesar de seu nome constar como um dos reis que tom aram o partido dos habiru. Ele tam bém é acusado de tomar cidades de Ayyab, rei de Astarote (ver comentário em D t 1).
11.1. M adom . Devido a variações textuais, a maioria dos estudiosos entende que M adom é o mesmo que Merom, mencionado no versículo 5 como o local onde acamparam os reis que fizeram a coalizão. A localiza
ção m ais provável de M erom é Tell Q arnei H ittin, cerca de 8 quilômetros a oeste de Tiberíades e do mar da Galiléia. Escavações no local revelaram uma fortaleza da Idade do Bronze que foi destruída no século treze. Tanto Tutmés m do Egito (século quinze) como Tiglate-Pileser III da Assíria (século dezoito) afirmaram ter tomado Merom. O rei Jobabe não é menciona
do em nenhuma outra fonte.11.1. Sinrom . Sinrom (Samruna, nos textos de Am am a, tam bém m encionada no itinerário de Tutm és III) é Khirbet Sammuniya, na extremidade ocidental do vale de Jezreel, 8 quilômetros a oeste de Nazaré e 27 quilômetros a sudoeste de Qarnei Hittin. Foram encontrados vestígios da Idade do Bronze Moderna no local.11.1. A csafe. Acsafe (Acsapa nos textos de A m am a, também mencionado no itinerário de Tutm és III) tem sido identificada com Tell Keisan, cerca de vinte quilômetros a noroeste de Sinrom, cerca de cinco quilômetros da costa do M editerrâneo, na planície de Aco. O papiro de Anastasi I (século treze) confirma a existência de uma localidade na planície de Aco, embora nos leve a pensar que seja um pouco mais ao sul de Keisan. Foram encontrados vestígios da Idade do Bronze Moderna no lugar.
11.2. regiões. A descrição da região feita no versículo2 é bastante imprecisa, mas sugere ser um atalho que vai de Hazor e do m ar da Galiléia, no leste, em dire
ção a sudoeste, passando pela região da Galiléia até a costa, em Nafote-Dor. Este último provavelmente seria um dos nomes da cidade de Dor (Khirbet el-Burj), que era um im portante porto na Idade do Bronze Moderna. Quinerete talvez seja uma referência à cidade situada na margem noroeste do lago ou ao próprio lago. Arabá é a região do vale do Jordão.11.3. povos. Para informações sobre esses povos, consulte o comentário em 3.10.11.3. heveus em M ispá. A região de Mispá compreende o vale que segue em direção ao sul passando pelo lago Hulá, ladeada a leste pelo monte Hermom. Os heveus que viviam ali provavelmente eram hurri- tas provenientes da região dos mitânios. Ver comentário em 9.7.11.4. carros da Idade do Bronze M oderna. Os carros cananeus da Idade do Bronze Moderna eram veículos leves praticamente sem nenhuma proteção, puxados
por dois cavalos e com rodas de quatro raios. Esses carros contrastam com os do período posterior que possuíam uma couraça de proteção e contavam com rodas de seis raios para suportar o peso extra.
11.5. águas de M erom . Se a localização correta de
M erom for Qarnei Kittin (ver comentário sobre M adom, em 11.1), então as águas de M erom seriam uma
fonte ou um rio perto dali. Existe um uádi que atravessa o vale ao norte do local.
11.6. cortar os tendões dos cavalos. Os cavalos não podiam ser m ortos por m isericórdia, como se faz hoje. Para os israelitas, os cavalos não tinham utilidade e
eles sequer tinham condições de cuidar deles; mas certamente não queriam que os cavalos continuassem a ter utilidade para seus inimigos. Sendo assim, eles
cortaram os tendões dos cavalos n a altura dos jarretes
(o equivalente no corpo hum ano ao tendão calcâneo
ou tendão de Aquiles).
11.8. rota de perseguição. A rota de perseguição pa
rece englobar a área conhecida como Alta Galiléia.
Dali os israelitas dirigiram-se para a costa (oeste) passando pelo vale de Turan e pelo vale de Iftael (ao
norte de N azaré); depois subiram pela costa até o
território de Sidom , cuja fronteira ao sul é a parte
leste-oeste do rio Litani (Misrefote-Maim?), a leste da altura onde o rio Litani faz um a curva no vale de Julá
(vale de M ispá, M arj 'A yyun). D ali eles rum aram
novam ente para o sul, até Hazor, para tom ar posse
das cidades dos reis derrotados.11.11. destruição de Hazor. As cidades alta e baixa de
Hazor foram destruídas pelo fogo no século treze a.C.
e a cidade baixa nunca mais foi edificada. A construção de Salomão no local limitou-se à cidade alta.
11.12. cidades reais. As cidades governadas por reis seriam os centros administrativos dos grandes distri
tos. Os egípcios possuíam várias cidades durante o
período A m am a, onde seus governantes moravam, dentre elas, Gaza e Bete-Seã. Cidades como Siquém e
H azor tam bém poderiam ser consideradas cidades reais por causa das grandes áreas que controlavam. A posição estratégica de Gibeom e suas fortificações per
mitiam que fosse uma dessas cidades.
11.13. c idades constru íd as nas co lin as. A s colinas m encionadas neste texto são os *tells que caracteri
zam as ruínas de m uitas cidades antigas. A cidade construída num terreno elevado estava m ais prote
gida, mas além da elevação natural da colina, à medida que cada cam ada sucessiva de ocupação era destruída ou abandonada, os entulhos eram aplai
nados e compactados para a reconstrução da cidade.
À m edida que as cam adas se em pilhavam , século após século, essa colina artificial, ou tell, ficava cada
vez m ais alta. Algumas localidades apresentam mais de vinte camadas de ocupação e a tarefa dos arqueó
logos é estudá-las, um a a uma, a fim de reconstruir a história daquela cidade.
11.16- 12.24 Resumo da conquista11.16,17. extensão da conquista. O versículo 16 apresenta as áreas geográficas que abrangem desde a Galiléia, no norte, até o Neguebe, no sul, com exceção da costa. No versículo 17 há dois marcos que delimitam o território conquistado: o m onte Halaque, que fica na fronteira edomita, ao sul, e geralmente é identificado como Jebel Halaq, ao longo do uádi Marra, entre Berseba e o deserto de Zim; e Baal-Gade, que fica na fronteira norte, perto de Dã/Laís, ao norte de Hazor, às vezes identificada como Banis, a leste de Dã. O vale do Líbano geralmente é identificado comoo vale de Mispá (ver comentário em 11.8), unindo o vale Litani ao vale Hulé. Para informações adicionais, ver tam bém o comentário em 10.40.11.21. enaquins. Os descendentes de Enaque são geralmente considerados "g igantes" (ver N m 13.21-33; Dt 2 .10 ,11 ; 2 Sm 21.18-22), embora a descrição "com o gigantes" talvez seja m ais apropriada. Os enaquins não são mencionados em outras fontes antigas, embora talvez haja um a referência a eles em textos egípcios de maldições. Além disso, a carta egípcia no Papiro Anastasi I (século treze a. C.) descreve guerreiros selvagens que habitavam Canaã e que m ediam entre2.10 e 2,70 metros de altura. Também foram encontra
dos em Tell es Sa'ideyeh, na Transjordânia, dois esqueletos de m ulheres do século doze, com cerca de2.10 metros de altura.11.21. H ebrom , D eb ir, A nabe. H ebrom e D ebir já foram analisadas nos com entários em 10.3 e 10.38, respectivamente. Anabe tam bém se localizava na região montanhosa de Judá e provavelmente seja Khirbet Unab es-Seghir (Tell Rekhesh), cerca de 24 quilômetros a sudoeste de Hebrom. Há referências a Anabe em textos egípcios do período, e pesquisas arqueológicas identificaram no local alguns vestígios anteriores à Idade do Ferro.11.22. G aza, G ate, A sd ode. G aza, G ate e A sdode eram três das cinco capitais dos governantes filisteus situadas nas planícies costeiras. Asdode ficava a quase cinco quilômetros da costa, a oeste de Jerusalém, sendo m encionada em textos ugaríticos; escavações descobriram no local um a grande ocupação da Idade do Bronze Moderna. Gaza fica a três quilômetros do litoral, cerca de 32 quilômetros a sudoeste de Asdode. A cidade m oderna construída no local im pede que sejam feitas amplas escavações, m as a cidade antiga é bastante citada em fontes extrabíblicas do período. Gate, conhecida atualmente como Tell es-Safi, fica mais no interior, perto do vale de Elá, onde este se une a
Sefelá, oito a dez quilômetros a oeste de Azecá. Poucas escavações foram conduzidas no local.
12.1-24 Lista dos reis derrotados12.1. do ribeiro de A rnom até o m onte Hermom. Aárea da Transjordânia que, segundo o relato, foi conquistada estendia-se desde o ribeiro de Arnom (fronteira entre M oabe e o reino de Seom ) no sul, até o monte Herm om no norte (ver Dt 3.8), com 208 quilôm etros de extensão. Esse tipo de descrição de uma área geográfica seria sem elhante à designação dos limites da Palestina: de Dã a Berseba.12.2, 3. área geográfica. Visto que ainda não se sabe ao certo a localização exata da cidade de Hesbom mencionada na Bíblia (Tell H esban não parece conter materiais relacionados ao período da conquista), pode-se apenas afirmar que ficava perto da extremidade norte do m ar Morto, em território moabita (ver comentário em N m 21.25-28). A região oriental sob domínio de Seom estendia-se desde Aroer, um a cidade fronteiriça localizada n a orla do vale de Arnom que controlava o comércio e a rota que cruzava a área, seguindo até a região de G ileade, ao sul do rio Jaboque. N o lado oriental do vale do Jordão, Seom governava o território ao norte do Jaboque até o mar de Quinerete (mar da Galiléia), e ao sulr até as praias na parte nordeste do m ar Morto, indo diretamente de Jericó até as encostas do monte Pisga.12.4. re fa in s . Os refains aparecem no texto bíblico como os espíritos dos mortos (SI 88.10-12; Is 26.14) ou, como nesse texto, um dos povos nativos da Transjordânia, na região de Basã (G n 14.5; D t 3.13). Eram fam osos por sua elevada estatura (N m 13.33; 2 Sm21.16) e, como os enaquins e emins de Moabe, foram expulsos pelos israelitas durante a conquista da terra de Canaã. O rei Ogue (com sua imensa cama de ferro) é considerado um dos últim os representantes deste povo, outro indício de seu declínio durante a invasão israelita. O uso do termo refains para referir-se aos mortos pode ser explicado por meio de lendas ugaríticas de reis e heróis antigos (ver Is 14.9). Os refains podem estar ligados aos povos da Transjordânia como um resquício do legado ugarítico naquela área e também podem estar relacionados a Rapá, um deus ou ancestral epônim o (ver Dt 3.11, 13 para inform ações adicionais sobre os refains).12.4, 5. área geográfica. O território de Ogue estendia-se desde o monte Herm om e Basã, na parte norte da Transjordânia, até o rio Jarmuque, no sul. Ele reinou em Astarote (Tell Astarah, 40 quilômetros a nordeste do m ar da Galiléia) e em Edrei (mencionada nos anais do faraó Tutmós III; situada às m argens de um afluente do Jarm uque, atual D er'a, na Jordânia). A fronteira oriental do dom ínio de O gue era Salecá, provavelm ente a moderna SaLkhad (ver comentário em D t 3.1-11).
12.7, 8. área geográfica. Esta lista de territórios conquistados a oeste do rio Jordão é a mesma encontrada em Josué 11.16,17. Tal repetição reforça a posse israelita da terra, com base na aliança de Gênesis 15.19-21 e serve de referencial para a distribuição posterior às tribos. A fronteira ao sul é o monte H alaque (atual Jebel Halaq), próximo à região de Edom e a fronteira ao norte é Baal-Gade, perto do sopé do monte Hermom, na fronteira com o Líbano. Alguns traços geográficos são acrescentados, como "a s encostas das m ontanhas" (ver Js 10.40; provavelm ente o declive em direção a Sefelá ou no deserto da Judéia, apontando para o mar Morto) e "o deserto", uma área m ais tarde ocupada pela tribo de Judá (ver Js 15.61).12.9-12. lis ta de reis. A lista dos reis conquistados acompanha a seqüência da conquista israelita descrita em Josué 6-11. É por isso que Jericó e A i (ao lado de Betei, ver Js 7.2) aparecem em Josué 6-8 . Os reis da coligação sul de Canaã relacionados nos versículos 1012 encontram-se também em Josué 10.3,23. Inscrições assírias eventualm ente apresentam listas de terras e reis conquistados por um determinado rei ao longo de sua campanha. Tiglate-Pileser I, por exemplo, menciona 42 terras conquistadas em cinco anos e SalmanéserI relata ter destruído 51 cidades.12.13. D ebir. Ver comentários a respeito de Debir em Josué 10.38.
12.13. Geder. A localização de Geder é desconhecida. Alguns estudiosos acreditam que possa ser um erro do escriba e que o correto seriã y'G erar", uma cidade cananéia a oeste do Neguebe. Um dos oficiais de Salomão, porém, é identificado como natural de Gederá, em 1 Crônicas 27.28, o que sugere a possibilidade desse nome ser um a variação de Geder e, portanto, de fato o nome de uma cidade.12.14. Hormá. É possível que o nome dessa localidade, cujo significado é "destruição", tenha sido usado p ara d esign ar d iv ersos lu g ares. A p aren tem en te , H orm á localizava-se ao sul do N eguebe, em Judá, mas o local exato ainda é duvidoso (dentre as sugestões estão Tell el-M ilh, onze quilômetros a nordeste de Berseba e Tell Masos, onze quilômetros a leste de Berseba). O nome está associado à derrota inicial de Israel em Núm eros 14.45, bem como à vitória contra Arade (Nm 21.1-3).12.14. Arade. Arade llocalizava-se 29 quilôm etros a nordeste de Berseba, na região sul do Neguebe. Há uma série de pequenas localidades associadas a esta ocupação e é possível que a Arade de Josué seja na verdade Tell M alhata, situada cerca de seis quilômetros a leste de Tell 'Arad, ou Tel M asos (Khirbet el- Meshash), cerca de onze quilômetros a leste de Berseba. Evidências em cerâm icas ou a ausência delas
nesses locais, porém, tem gerado opiniões variadas. É possível observar que TelT Arad foi praticamente abandonada no final da Idade do Bronze Antiga, depois de ter sido um a importante cidade fortificada, com significativa influência egípcia. Existem tam bém evidências do surgimento de uma aldeia não fortificada durante a Idade do Ferro (século onze a.C.) que pode corresponder à ocupação dos queneus, m encionada em Juizes 1.16.12.15. Libna. Ver comentário a respeito de Libna emJosué 10.29.12.15. Adulão. Localizada na região sul de Judá, cerca de 25 quilôm etros a sudoeste de Jerusalém , Adulão tem sido identificada com Tell esh Sheikh Madhkur. Embora seja mencionada aqui apenas como parte da lista de reis conquistados, o lugar tam bém é associado a Davi (1 Sm 22.1) e figura entre as cidades forti
ficadas de Salom ão (2 Cr 11.7). No texto profético, M iquéias lamenta sua destruição durante a invasão assíria (Mq 1.15).12.16. M aqued á e B etei. Ver com entários em 10.10 sobre Maquedá e 8.9 sobre Betei.12.17 . T ap u a. Id en tificad a com o T ell Sh eikh A bu Zarad, situada no topo de um a colina, cerca de 14 quilômetros a sudeste de Nablus, Tapua era uma cidade fronteiriça situada entre os territórios das tribos de Efraim e Manassés (ver 16.8; 17.7, 8 ) .0 texto de 15.34 m enciona outra cidade com esse m esm o nom e em Judá, m as não se sabe ao certo sua localização.12.17. H éfer. Embora não se saiba ao certo a localização da cidade-estado de Héfer, provavelmente ficava na parte nordeste da porção territorial designada à tribo de M anassés, talvez bem ao norte, perto do vale de Dotã e do monte Gilboa. Pesquisas arqueológicas recentes fornecem indícios que Tell el-M uhaffar talvez seja um a provável localização para H éfer (ver17.2, 3 a respeito das ligações entre Héfer e a porção de Zelofeade).12.18. A feque. Mencionada nos anais dos faraós egípcios Tutm ós III (c. 1490-1436) e A m enotepe II (c. 14471421), essa cidade estava localizada na planície de Sharom e é identificada com Tell Ras el-'Ain, na nascente do rio Jarmuque, perto da moderna Tel Aviv. É também o local onde foram travadas duas importantes batalhas entre israelitas e filisteus (1 Sm 4.1; 29.1).12.18. Lasarom . De acordo com a interpretação da Septuaginta, é possível que Lasarom seja sim plesm ente um indicador geográfico para A feque, visto que esse nom e é usado em várias passagens para designar outras cidades (ver Js 13.4; 1 Rs 20.26-30). Se for um a designação para uma localidade distinta, o m ais provável é que se situasse perto do território filisteu.
12.19. M adom e Hazor. Ver comentário em 11.1 sobre essas cidades conquistadas.12.20. Sinrom -M erom e A csafe. Ver comentário em11.1 sobre essas cidades conquistadas.12.21. Taanaque. Embora tenha sido fundada por volta do ano 2700 a.C. em Tell T finn ik , cerca de seis quilômetros a noroeste de Megido, num a elevação sobre o vale de Jezreel, Taanaque só aparece em registros fora da Bíblia a partir do século quinze, nos anais do faraó Tutmós III em seu relato da Batalha de Megido (cerca de 1468 a.C.). Trata-se de um a das diversas localidades de Jezreel que geralmente eram incluídas nas listas de cidades conquistadas dessa rica e disputada área. Sua inclusão na lista de Josué, portanto, segue esse padrão. Embora tenha sido originalmente parte da porção territorial designada à tribo de Aser, referências posteriores a descrevem como parte da tribo de Manassés (Js 17.12; Jz 5.19). Baseado nos relatórios das escavações conduzidas no local pode-se observar que Taanaque teve seu apogeu na metade do terceiro milênio e entre os séculos dezessete e catorze a.C.. Foi ocupada apenas parcialmente durante o século doze a.C., após o colapso do controle egípcio da área e a invasão dos povos do mar. Um novo sistema defensivo, porém, foi construído no século dez, indicando um ressurgimento populacional no período da monarquia.12.21. M egido. Essa cidade controlava a entrada ocidental para o estratégico vale de Jezreel, a planície de Sharom e a rota comercial internacional costeira entre o Egito e a M esopotâm ia; por essa razão, atraía a atenção de muitos governantes. Fundada por volta do ano 3300 a.C., próxima de duas nascentes, M egido foi destruída e reconstruída vinte vezes por causa das constantes guerras entre os exércitos egípcio (anais de Tutm ós III, Seti, Ram sés II; cartas de El A m arna), hitita e mesopotâmio, que disputavam o controle da cidade e da conexão econômica entre a Síria e a Palestina. A destruição da cidade na Idade do Bronze M oderna (sedimento VII A), no século doze, provavelmente coincide com a ruptura do dom ínio egípcio seguido da chegada dos povos do m ar na região (com base nas descobertas de cerâmica filistéia). Com exceção desta lista de reis conquistados, M egido não é mencionada em nenhuma outra passagem da narrativa da conquista. A cidade foi designada a Manassés (Js 17.11), mas só foi tomada pelos israelitas (Jz 1.27) durante a monarquia (1 Rs 4.12; 9.15).12.22. Quedes. Esse nome aparece em diversos contextos geográficos, inclusive na Galiléia (Tell Qades) e em Naftáli, perto de M egido (Jz4.11;5.19; Tel AbuKudeis). Como foi mencionada quase no final da lista, é possível que estivesse situada no vale de Jezreel, m as não se pode afirm ar com certeza sua exata localização.
12.22. Jocneão. Identificada com Tel Yoq-neam, essa localidade situava-se bem a noroeste de M egido, na saída do uádi M ilh, no vale de Jezreel, fronteira de Zebulom (Js 19.11; 21.34). Sua fundação ocorreu na Idade do Bronze Antiga e permaneceu ocupada até a era otomana. Sua importância estratégia é documentada por estar incluída na lista de conquista de TutmósIII. A cidade foi destruída por causa de um motim durante o século treze e novamente no final do século onze, talvez como resultado da expansão israelita no norte.12.23. Dor. A cidade costeira de Dor provavelmente foi fundada durante o século treze a.C., como parte da tentativa de Ramsés II de estimular o comércio entre a região Siro-Palestina e o mar Egeu. Os filisteus, subseqüentem ente, estabeleceram-se ali (confirmado na história egípcia da jornada de W enamom) e mais tarde foi tomada por Salomão, passando a funcionar como
um de seus centros adm inistrativos (1 Rs 4.11). A cidade de D or constava do território da tribo de Manassés, mas foi conquistada apenas no período da monarquia (Js 11.2; Jz 1.27).12.23. Goim/Gilgal. Há diversas cidades identificadas com o G ilgal em toda a antiga Canaã. A expressão Goim , "g en tios", não é de muita ajuda, em bora alguns estudiosos, a partir da versão da Septuaginta, liguem o nome a Harosete-Hagoim, em Jz 4.2. O fato de constar na lista dos reis entre Dor e Tirza, pode ser um indício de que estivesse localizada no quadrante oriental da planície de Sharom.
12.24. T irza. G eralm ente identificada com T ell el- Far'ah (onze quilôm etros a nordeste de N ablus, no planalto central), a única vez em que Tirza é citada no relato bíblico no período anterior à m onarquia, é nessa lista dos reis conquistados. Sua associação à tribo de Manassés deve-se à m enção de uma m ulher chamada Tirza na genealogia (Nm 26.33; Js 17.3). A ocupação teve início no período N eolítico, cuja m aior cidade data de aproximadamente 1700; era fortemente protegida com muros espessos e um a cidadela. Alcançou seu apogeu na Idade do Ferro quando se tornou a capital de Israel (1 Rs 15.21), m as a m udança para Sam aria rebaixou-a a um a posição inferior.
13.1-33 Divisão da Transjordânia13.1. listas de fronteiras no antigo O riente Próximo.Existem diversos tratados hititas que apresentam semelhanças com as listas de fronteiras encontradas em Josué 13-19. Nos tratados, as listas indicam as fronteiras da terra confiada ao vassalo pelo suserano. Ainda que tecnicamente a terra pertencesse ao suserano, ele oferecia controle local ao vassalo e delimitava as frontei
ras da terra, definindo essa relação legal. Essa terra era designada como território a ser protegido em lealdade ao suserano. A mais extensa lista de fronteiras encontra-se no tratado entre os hititas e o distrito vassalo de Tarhuntassa (no centro-sul da Anatólia). O objetivo das listas nesses dois tratados é especificar o território que pertencia a Tarjuntassa e o que pertencia aos vizinhos, ou seja, os outros distritos vassalos. Trata-se de um propósito semelhante ao de Josué 13-19, que procura distinguir que território pertence a qual tribo. Era papel do suserano definir as fronteiras dessa maneira, demonstrando assim seu controle sobre os vassalos e suas terras.13.2-5. a terra que resta. A relação dos territórios que restaram sem serem conquistados é dividida em três regiões: (1) a Filistia, inclusive as cinco principais ci- dades-estado filistéias, e a área ao sul que faz fronteira com o Egito, no uádi el-/Arish (ver Js 15.4); (2) a região costeira da Fenícia; e (3) Biblos e a região montanhosa do Líbano, a leste da Síria. Essa última região nunca foi conquistada pelos israelitas, em bora existissem laços comerciais e diplomáticos entre eles (1 Rs 9.19). As cidades-estado fenícias de Tiro e Sidom, da segunda região, foram designadas a Aser, m as nunca foram conquistadas (Jz 1.31). Entretanto, elas certamente se aliaram aos governos de D avi e Salom ão (1 Rs 5.1;9.11-13). No território da Filistia ocorreu o estabelecimento de um segmento dos povos do mar. Escavações em diversas dessas localidades (mais recentem ente em Tel M iqne/Ecrom) dem onstraram que as cam adas de destruição encaixam-se ao período de invasão desses povos e a subseqüente expulsão dos habitantes cananeus (quanto aos aveus, ver Dt 2.23). Dessas cidades, somente Gate não pôde ser identificada com precisão (Tell esh-Sheri'ah e Tell es-Safi foram sugeridas, sendo esta última a m ais provável).13.6. geografia da região. Esse versículo reafirm a a região geográfica da Fenícia, em bora se refira a ela como "terra dos sidônios". E possível considerar esse versículo como parte da descrição das áreas não conquistadas de Josué 13.5, m as tam bém pode ser entendido como um resum o. De qualquer m odo, o texto confirma a fronteira ao norte da região, descrita anteriormente como de fato conquistada por Josué (sobre Misrefote-Maim, ver Js 11.8).13.9-13. geografia da região. Para m ais detalhes sobre a descrição geográfica da Transjordânia, consulte os comentários em Josué 12.2-6 e Deuteronôm io 3.8-17.13.9. p lanalto de M edeba. Esse fértil planalto, dentro de M ishor (parte norte de M oabe), fica 40 quilômetros ao sul de Amã, na Jordânia. Foi designado à tribo de Rúben e tam bém foi cenário de inúm eras batalhas entre israelitas e m oabitas pelo controle da área (Jz3.12-30; 1 Sm 14.47; 2 Sm 8.2; 1 Cr 19.7).
13.10. Hesbom . Ver comentários em Núm eros 21.2630 sobre o reino am orreu de Seom nesta região de M oabe.
13.17-20. localidades. A lista de cidades capturadas no re in o de Seom (H esbom , Jaza , E d rei, D ibom , M edeba) tam bém aparece em Núm eros 21.21-35. A passagem de Números 32.33-41 reivindica as cidades dessa região para as tribos de Rúben, Gade e Manassés. Bamote-Baal também é citada na seqüência narrativa de Balaão (Nm 22.41) e diversas dessas localidades aparecem na lista de cidades levíticas (Js 21). O local de várias dessas cidades não é m encionado em nenhum a outra fonte, inclusive a de Bete-Baal-M eom (identificada com M a'in, cerca de seis quilômetros a sudoeste de M edeba); a de Quedem ote (Khirbet er R em eil ou 'A leiyan , 24 quilôm etros a sud este de M edeba); a de M efaate (Khirbet N efa , cerca de seis
quilôm etros ao sul de A m ã ou U m m er-Rasas, 32 quilômetros a sudeste de Medeba); a de Sibma (Khirbet qum el-Kibs); a de Zerete-Saar (Khirbet ez-Zarat, perto do litoral do m ar Morto) e a de Bete-Peór (Khirbet 'U yun Musa).13.21. líderes midianitas. Essa lista dos chefes ou príncipes m idianitas derrotados tam bém aparece em N úmeros 31.8, onde são apresentados como reis. Evi e Reba só aparecem nessas duas listas, enquanto Zur é descrito como um chefe tribal em Números 25.15 (1 Cr 8.30) e Hur é o nome de um líder israelita em Êxodo17.10. Requém é um nom e bastante comum , usado tanto p aia pessoas (1 Cr 2.43, 44; 7.16), com o para lugares (Js 18.27). Esses nomes tam bém podem ser associad os a lu g ares esp ecífico s, d esde o su l da Transjordânia até o norte da Arábia, traçando assim o controle das rotas comerciais daquela região.13.22. B alaão . Leia os com entários sobre Balaão em Núm eros 22 e o comentário de Núm eros 25.3, onde é discutido o incidente em Baal-Peór, podendo ser a base para o relato da m orte de Balaão aqui em Josué 13.13.24-29. geografia de Gade. O território atribuído à tribo de Gade incluía grande parte de Gileade. Essa região localizava-se ao sul do rio Jaboque, indo até as montanhas perto de Amã. A Aroer mencionada aqui fica perto de Amã (Rabá), portanto não se trata da localidade ao sul, mencionada em Josué 13.16. Jazar provavelmente pode ser identificada com Khirbet es- Sar (a 13 quilômetros de Hesbom), e Betonim fica em Khirbet el-Batne, cerca de cinco quilômetros a sudeste de es-Salt. M aanaim tem sido identificada com freqüência com Tell Heggag, no vale do Jaboque, bem ao sul de Penuel, e Debir talvez seja um pouco mais ao norte dali, mas sua localização exata é desconhecida (ver Am 6.13). Quanto às outras localidades, Bete- Arã é provavelm ente Tell er-Ram eh ou Tell Iktanu,
na confluência do uádi Hesban; Bete-Ninra é Tell el- Blebil ou Tell Nim rin; Sucote é provavelm ente Tell Deir 'alla, no Jaboque e Zafom é Tell es-Sa'idiye, no uádi Kafrinji.13 .30 ,31. geografia de M anassés. A descrição do territó rio d esign ad o à m etad e o rien ta l da trib o de Manassés não é tão detalhada quanto à de Gade. As passagens paralelas encontram-se em Números 32.3942 e Deuteronôm io 3.13, 14. De m odo geral, a área estendia-se desde M aanaim (tam bém um ponto de referência na fronteira ao norte do território de Gade), seguia em direção ao norte passando por grande parte de Basã (ver Js 12.4 e 13.11,12) até o monte Hermom. Não é possível identificar os "povoados de Jair" pois eram acampamentos em barracas (ver Nm 32.41; Dt 3.14; 1 Cr 2.22), m as provavelm ente espalhavam -se por toda a região de Basã. Quanto a M aquir como descendente de M anassés, leia Gênesis 50.23 e N úmeros 26.29. Essa parte da tribo estaria relacionada ao norte de Gileade (leia Nm 32.39, 40; Jz 5.14).
14.1- 19.51 A divisão das terras14.6. quenezeus. Os quenezeus eram um grupo tribal não-israelita ligado geográfica e etnicamente aos que-
neus e aos descendentes de Calebe e Otoniel (ver Gn 15.19; N m 32.12; Jz 1.13). Seu território incluía a região sudoeste de Hebrom estendendo-se até o sul do m ar Morto, nas proximidades de Edom. Esses grupos tribais menores com o tempo foram absorvidos pela tribo de Judá, após o estabelecimento da monarquia.14.15. enaquins. Ver comentário em 11.21.14.15. H ebrom . Ver comentário em 10.3.15.2-4. geografia da fronteira su l de Judá. A fronteira sul da tribo de Judá é a mesma da nação descrita em Núm eros 34.3-5. Estende-se do extrem o sul do m ar Morto, na fronteira com Edom, até o deserto de Zim (ver N m 13.21; 20.1) e por fim, em direção a oeste, até o m ar M editerrâneo. A subida de Acrabim (ou dos Escorpiões) pode ser identificada com Naqb es-Safa (ver Nm 34.4). Cades-Barnéia foi o ponto de partida dos israelitas para a travessia do deserto e o local onde iniciaram a conquista de Canaã (ver Nm 13.26; Dt1.19, 46). Sua localização m ais provável é 'A in el- Qudeirat, no uádi el-'Ain, ao norte do Sinai. As aldeias de Hezrom, Adar e Carca não foram localizadas, embora possam estar associadas a fontes ou nascentes de água perto de Cades-Barnéia. A localização de A zm om tam b ém é in c e rta , em b o ra te n h a sido identificada com A in M uw eilih, um a das nascentes da região. Quanto ao ribeiro do Egito, ou uádi el- 'A rish , ver Josué 13.3. Os diversos indicadores de direção citados na lista das localidades são bastante
genéricos e servem apenas como uma referência aproximada do local.15.5a. fronteira oriental de Judá. A fronteira oriental do território destinado à tribo de Judá é o m ar Morto. Estendia-se desde sua extrem idade sul na fronteira com Edom, ao noroeste até Jericó e uádi Qelt, indo até as montanhas de Betei. A menção da "fo z" do Jordão é uma referência à confluência do rio com o m ar Morto, num ponto localizado 391 metros abaixo do nível do mar. Como muitas nações antigas, Judá utilizou um a barreira natural como limite para sua fronteira. 1 5 .5 b - ll. fronteira norte de Judá. A fronteira norte começava na "foz do Jordão" e estendia-se a noroeste até Jericó e o uádi Qelt. Passava bem ao sul de Jerusalém (cidade dos jebuseus) até Quiriate-Jearim (Deir el-Azhar), passando pelas m ontanhas da Judéia até Bete-Semes (Tell el-Rumeileh), indo até a fronteira da Filistia na "encosta norte de Ecrom " (Tel Miqne). Depois, passava pelo vale de Soreque em direção a oeste, até Jabneel (2 Cr 26.6; posteriormente Jamnia) e o mar Mediterrâneo. A menção a Gilgal é problemática, pois a maioria dos estudiosos concorda que essa localidade ficasse situada no norte do território de Judá (Js 5.9). A subida de Adumim, literalmente "su bida de sangue" é TaTat ed-Damm. En-Semes refere- se a um poço ao sul de Jerusalém e tem sido identificada com "Ain el-Hod, a leste do monte das Oliveiras. En- Rogel situa-se no encontro dos vales Quidrom e Hinom, a leste de Jerusalém. Neftoa é identificada como Lifta, três quilômetros a noroeste de Jerusalém.15.7. D ebir. Ver comentário sobre esse nom e em Josué10.3, onde D ebir é identificado como rei de Eglom,
que fazia parte de uma coligação cananéia derrotada por Josué. Também aparece como nome de uma cidade em Josué 10.38. Aqui neste caso, Debir é o nome de um lugar, m as não deve ser confundido com a cidade citada em Josué 10.38. Talvez seja Togret ed- Debr, a nordeste de Jerusalém.15.15. Q uiriate-Sefer. É o nome cananeu para o lugar m ais tarde conhecido como Debir (ver Jz 1 .11 ,12). O nom e significa "cidade do livro" ou "cidade do tratad o ", podendo assim indicar que era sede de um a escola de escribas ou possivelmente o local de assinatura de algum tratado. As referências bíblicas indicam que a cidade ficava localizada a sudoeste de Hebrom, na parte sul da região montanhosa de Judá. Escavações recentes ind icam tratar-se provavelm ente de Khirbet Rabud.15.13-19. doação de terras. A doação de terra feita por Calebe a Otoniel e à sua filha Acsa é uma característica das doações feudais feitas no antigo Oriente Próximo. Era bastante comum que reis e príncipes oferecessem terras a oficiais m ilitares com o recom pensa
por serviços prestados, e também como meio de cultivar terras improdutivas e desta form a aum entar os impostos (evidente em algumas das leis de Hamurabi). Essa prática também era usada pelos governantes a fim de facilitar a fixação de povos tribais, evitando assim que representassem um a am eaça à paz e às atividades econômicas do reino (prática encontrada nos textos de Mari). O fato da doação da terra estar atrelada a um a proposta de casamento (ver 1 Sm 17.25;18.17) simplesmente dá mais peso à importante tarefa de conquistar os enaquins. Visto que a terra designada era bastante árida, o pedido de Acsa a seu pai para que lhe concedesse fontes de água (ver G n 26.17-33) é bastante razoável, tom ando essa proposta mais justa que a anterior.15.21-32. cidades do su l de Judá. Essas cidades situadas no sul tinham como centro Berseba e estendiam-se desde a fronteira edomita até Saruém (ver Js 19.6), na costa m editerrânea. A lgum as dessas cidades foram identificadas, como Cabzeel (2 Sm 23.20; N e 11.25) que pode ser Tell Gharreh, entre Berseba e A rade; Jagur que pode ser Khirbet el-Gharrah, cerca de catorze quilômetros a leste de Berseba; Quiná é identificada como Horvat 'U za, cinco quilôm etros a sudoeste de Arade; Queriote-Hezrom talvez seja Khirbet el-Qaryatein, cerca de seis quilôm etros ao norte de A rade; Am ã, que pode ser B e 'er N avatim , perto de Berseba; M oladá, que pode ser Khirbet el-Waten, dez quilômetros a leste de Berseba; Baalá, que pode ser Tulul el-Medbah, perto de Tel Masos; Madmana, que tem sido identificada com K hirbet T atrit; Sansan a, que pode ser K h irbet esh- Shamsaniyat, nas planícies do Neguebe e Rimom, que pode ser T el H alif, treze quilôm etros a nordeste de Berseba (ver N e 11.29; Zc 14.10).15.33-47. cidades do oeste de Judá. A lista de cidades e povoados da região oeste de Judá, situados na Sefelá, está organizada em quatro grupos, seguindo uma ordem de direção de norte a sul, tendo Láquis como centro. O último grupo incluia a Filistia e suas principais cidades-estado (Ecrom, Asdode e Gaza) e foi designado a Judá apenas nominalmente, visto que estas cidades foram dominadas apenas a partir da monarquia. D en tre aquelas que têm sido id entificad as, Jarm ute (ver Js 10.3) é Khirbet Yarm uk, cerca de 25 quilômetros a oeste de Jerusalém; Zenã pode s e r ' Araq el-K harba, p róxim o de L áq u is ; L áqu is é T ell ed- Duweir (Js 10.3) e foi maciçamente fortificada durante o período da m onarquia; Eglom perm anece desconhecida (sua identificação tradicional com Tell el-Hesi é infundada); Libna pode ser Tell es-Safi ou Tell Bornat; Eter é Khirbet el-'Ater; Asná é Idnah; N ezibe é Khirbet Beit Nesib, treze quilômetros a noroeste de Hebrom e Queila é Khirbet Qila, na parte leste da Sefelá (Tábuas de A m am a: Qütul).
15.48-60. cidades da região m ontanhosa. A região montanhosa da Judéia, localizada num a faixa estreita no sentido norte-sul entre o deserto da Judéia, a leste, e o planalto de Sefelá, a oeste, continha cinco (seis na Septuaginta) distritos com suas respectivas cidades e povoados que foram designados à tribo de Judá. Dentre os que foram identificados, Sam ir é el-Bireh; Jatir é Khirbet ' Attir (ver 1 Sm 30.27); Anabe é Khirbet ' Anab; Artim pode ser Khirbet Ghuw ein et-Tahta, onze quilômetros a sudoeste de Hebrom; Holom fica em Khirbet 'Illin ; Arabe está localizada em er-Rabiyeh; D um á pode ficar em D eir ed-Domeh (possivelmente Udumu em EA n° 256); Bete-Tapua fica em Taffuh, cinco quilômetros a oeste de Hebrom; Zior fica em Si'ir, oito quilômetros a nordeste de Hebrom; M aom pode ser Tell M a"n , bem ao sul de Hebrom (ver 1 Sm 25.2); Carmelo fica em Khirbet el-Kermel; Jutá fica em Yatta; Gibeá pode ser el-Jeba', a sudoeste de Jerusalém; Bete- Zur é Khirbet et-Tubeiqah, cerca de seis quilômetros ao norte de Hebrom; Gedor pode ser Khirbet Jedur e
Rabá pode ser a Rubutu m encionada nas listas de conquistas egípcias e nos textos de A m am a.
15.61,62. cidades no deserto. A faixa de terra árida ao longo da costa oriental do m ar Morto abrangia o deserto da Judéia (ver SI 63.1). Escarpas elevadas e vales profundos caracterizam a área imediatamente contí
gua à costa. M ais para o interior, a encosta leste da região montanhosa apresenta um declínio de mais de 900 m etros num a área de quase dezesseis quilôm etros. Esse recorte afeta drasticamente o clima, bloquendo a quantidade de chuvas anuais necessárias para o desenvolvim ento da agricultura ou para a sobrevivência dos povoados maiores. A sobrevivência nessa região só era possível perto de fontes e poços, por isso, som ente seis cidades são mencionadas, dentre elas, Bete-Arabá (possivelmente 'A in el-Gharabeh na margem norte do uádi Qelt, cinco quilômetros a sudeste de Jericó) e En-Gedi foram localizadas com certa segurança. Esta últim a foi identificada com o oásis de fontes de águas quentes em Tell ej-Jurn, na costa ocidental do mar Morto. Alguns estudiosos têm identificado Secacá com Khirbet Qumran.16.1-4. fro n te ira s das tr ib o s de Jo sé (M an assés e Efraim ). Atingindo a fronteira ao norte de Judá, no rio Jordão, perto do m ar M orto e de Jericó, e a fronteira de Benjamim, que incluía a cidade de Jericó, esse território estendia-se ao norte desta cidade. Sua fronteira continuava em direção às montanhas até Betei, passando pela região árida conhecida como o deserto de Bete-Áven (ver 18.12). As fronteiras estendiam-se para o ocidente até Gezer (ver 10.33) e por fim até o mar M editerrâneo. Essa últim a parte constaria apenas nom inalmente do território israelita.
16.2. Betei/Luz. A relação entre Luz e Betei implica m ais do que um a troca de nom es (ver G n 28.19; Js 18.13; Jz 1.23). Inicialmente, é possível que se tratasse de duas localidades distintas, m as a importância religiosa da cidade de Betei num período posterior da história eclipsou a cidade de Luz, e acabou unindo-as. Ambas ficariam em Beitim ou próximas dessa localidade (ver comentário em 8.9).16.5-9. fronteiras de Efraim. Com seus limites ao sul já delineados nos versículos 1-4, a fronteira de Efraim estendia-se ao norte até a área ao redor de Siquém e depois se dirigia para o leste e para o sul em direção a T aan ate-S iló (K h irbet T a 'n a h el-F oqa) e Jan oa (Khirbet Yanun). As localidades identificadas nessa região incluem A tarote (possivelm ente T ell Sheikh ed-Diab ou Tell-Mazar) e Naarate (Tell es-Jisr, perto de Jericó, ou Khirbet Mifgir). A extremidade ocidental de seu território incluía Tapua (possivelm ente Sheikh Abu Zarad; ver Js 17.7, 8).
16.10. trabalhos forçados. Era comum sujeitar os povos conquistados a trabalhos forçados ou utilizá-los como servos nos serviços domésticos (ver Js 9.27). O
trabalho forçado também era considerado um dos abusos de poder atribuídos a reis e tiranos, obrigando os
homens a submeter-se a trabalhos forçados, na construção de estradas, pontes e muros das cidades (ver 1 Rs 5.13, 14; 12 .4 ; acusação contra o rei babilôn io N ebonido, no Cilindro de Ciro, século sexto a.C.). N esse período a prática foi em pregada pelo rei de Megido, como os textos de A m am a confirmam.
17.3, 4. as filhas de Zelofeade. Ver com entário em Números 36.1-13 relacionado à questão do direito de herança das filhas.17.7-11. o território de M anassés. A s dim ensões do território dessa tribo são um pouco vagas e descrevem a área imediatamente ao norte de Efraim, nas proxim idades de Siquém, estendendo-se a um local perto de Aser. Havia de certa forma uma superposição de terras, pelo menos em relação à cidade de Tapua (ver Js 12.17) que pertencia a Efraim enquanto que a região ao seu redor foi designada a M anassés (ver Js16.9). A fronteira ocidental era o m ar Mediterrâneo e a oriental aproximava-se da região de Issacar. Novam ente diversas cidades e suas populações situadas em territórios de outras tribos foram designadas a Manassés, exceto Dor na planície de Esdrelom (ver Js12.21). São elas: Bete-Seã (Tell el-Husn), M egido (Tell el-Mutesellim), Ibleã perto de Nablus, Dor, na encosta sul do monte Carmelo, En-Dor (onze quilômetros a sudeste de Nazaré) e Taanaque (Tell T iin n ik , cerca de seis quilômetros a noroeste de Megido).
17.16. carros de ferro. Conforme Juizes 1.19, o uso de carros de guerra feitos de ferro por parte dos inim igos
explica o fracasso dos israelitas na conquista definitiva de algumas áreas de Canaã. A técnica de produção do ferro foi introduzida pelos hititas e pelos povos do m ar no século doze a.C.. N o entanto, foi difundida na cultura sírio-palestina somente a partir do século dez. É provável que as referências feitas a carros de ferro na narrativa da conquista estejam relacionadas ao uso de encaixes de ferro para manter a estrutura firme ou então ao uso de rodas calçadas com ferro. É possível que pinos pontiagudos fossem adicionados aos carros tom ando essa m áquina de guerra mais pesada e devastadora ao golpear as linhas de infantaria. A capacidade para fazer manobras e o tamanho dos cavalos, porém, provavelmente teriam limitado a quantidade de ferro utilizada nos cairos.17.16. Bete-Seã. Essa localidade ficava na extremidade oriental do vale de Jezreel e controlava a entrada do vale do Jordão, por onde passava um a importante rota comercial. Foi designada a M anassés, m as não foi conquistada na época de Josué porque seus habitantes faziam uso de carros de ferro. Permaneceu como território cananeu ind epend en te encravado em terras israelitas até o período da monarquia (1 Sm 31.10-12),
mas foi incorporado aos distritos administrativos de Salomão (1 Rs 4.12). No *tell de Bete-Seã, existe uma cidade romano-bizantina (Citópolis), construída no sedim ento que fica na base do tell. A s investigações arqueológicas têm demonstrado que houve ocupação quase contínua do local desde o período Calcolítico (4500-3300). Su prim ento adequado de água (uádi Jalud), uma terra favorável para o cultivo, e localização estratégica asseguraram à população um a certa prosperidade, geralmente sob domínio egípcio (iniciado com Tutm és III, no século dezesseis) e m ais tarde, sob domínio dos povos do m ar e dos israelitas.18.1. Siló com o centro de adoração. Siló (K hirbet S e ilu n), um v ale fértil em m eio às m ontanhas de Efraim , entre Betei e Siquém , foi habitada durante toda a Idade do Ferro e em diversos momentos de sua história teve significativos traços arquitetônicos, incluindo um complexo de portões e o que talvez tenha sido as dependências de um templo. Um a camada de destruição da metade do século onze pode coincidir com a captura da arca pelos filisteus, descrita em 1 Sam uel 4.1-10. Indícios de atividade relig iosa pré- m onárquica nesse local podem ser encontrados no texto de Juizes 21.19-23, e tradições posteriores (SI
78.60; Jr 7.12-15) sugerem que Siló serviu como um centro de adoração anterior à construção do templo de Jerusalém .
18.4-8. mapeam ento da região. A confecção de mapas rem onta pelo m enos ao terceiro m ilênio a.C. tendo sido encontrados blocos de argila com m apas grava
dos na superfície. Os mais notáveis são os m apas da cidade de N ipur (por volta de 1500 a.C.) e um mapa
babilónico do "m undo" (metade do primeiro milênio
a.C.). Existe também um antigo mapa das m inas do
Egito que data da época de Ram sés II (século treze
a.C.).18.6-10. sorteio. A prática de fazer sorteio para descobrir a vontade de Deus é um a forma de adivinhação.
Ver os comentários sobre "o U rim " e o "T um im " em
Êxodo 28.30 e o uso de sorteios em Núm eros 26.55. Visto que a relação das tribos segue um a ordem lógica
de prioridade, pode-se inferir que os sorteios não eram
usados para decidir qual tribo seria a primeira a esco
lher sua parte. Em vez disso,, as tribos enviavam seus
representantes na ordem prescrita, e o sorteio era feito para ver que porção da terra cada tribo receberia. No
antigo Oriente Próximo, a divisão de uma propriedade entre os herdeiros costumava ser feita da seguinte
maneira: o filho mais velho escolhia sua parte e em
seguida o restante era dividido por sorteio.
18 .11-20. a porção de B e n ja m im . O território de Benjamim ficava entre o de Judá e o de José, sendo a
fronteira norte de Judá e a fronteira sul de Benjamim
basicamente as mesmas. Os limites ao norte acompanhavam os de Efraim, até alcançar Quiriate-Jearim ,
em vez de estender-se até o M editerrâneo. D esse
modo, uma área ficava reservada para o território da tribo de Dã. A descrição vai de leste a oeste (partindo
da foz do rio Jordão no m ar Morto). Estendia-se bem
ao norte de Jericó, passando pela região m ontanhosa e a seguir para o sul, em direção à encosta de Luz
(Betei) até Bete-Horom e Quiriate-Baal (também co
nhecida como Quiriate-Jearim), que era o limite final
na fronteira ocidental. O fato de suas fronteiras atravessarem o vale de H inom significa que Jerusalém ficava no território de Benjamim.
18.14. Bete-H orom . Trata-se na verdade de uma cida
de dupla (a cidade alta e a cidade baixa): a alta Bete- Horom é Beit Ur el-Foqa (cerca de três quilômetros a
noroeste de Gibeom) e a baixa Bete-Horom, Beit Ur
et-Tahta (cerca de dois quilômetros m ais a noroeste e 300 metros abaixo da cidade alta). Alguns acreditam
que essa é a cidade descrita como Bit N inurta nas cartas de Amarna. A passagem de Bete-Horom con
duz ao vale de Aijalom (descrito como Ayyaluna nos textos de Amarna), a principal rota da região monta
nhosa até a planície costeira. Embora não fique claro
se a Bete-H orom m encionada em Josué 16 e 18 é a cidade alta ou a baixa, é possível que a importância de am bas na vigilância da rota com ercial garantia-
lhes igual status, por isso, o escritor bíblico não fez nenhuma distinção entre elas.
18.15. Q uiriate-Jearim . Situada treze quilômetros ao norte de Jerusalém, em D eir el-Azhar, Quiriate-Jearim ou "cidade das m adeiras", ficava no ponto de interseção entre os territórios das tribos de Benjamim e Judá. É chamada de Baalá em Josué 15.9 e de Quiriate-Baal em Josué 15.60 e 18.14. A cidade figura na narrativa da conquista (Js 9 ,10 ) e na história da retirada temporária da arca (1 Sm 6.19-7.2).18.21-28. cidades da tribo de Benjam im . Em bora várias dessas cidades sejam desconhecidas, algumas foram identificadas: Pará é Khirbet el-Farah, a nordeste
de Anatote; Ofra é et-Taiyibeh, cerca de seis quilômetros a nordeste de Betei; G eba pode ser Khirbet et- Tell, onze quilômetros ao norte de Betei; Gibeom ge
ralm ente tem sido identificada com el-Jib, cerca de seis quilômetros a noroeste de Jerusalém (ver Js 9.3-5); Ram á é er-Ram, oito quilômetros ao norte de Jerusalém; Beerote pode ser el-Bireh; M ispá pode ser Tell en-Nasbeh; Quefira é Khirbet Kefirah, a sudoeste de el-Jib; M osa pode ser Khirbet Beit Mizze, a oeste de
Jerusalém e G ibeá e Q uiriate podem ser um lugar conhecido como "a colina de Quiriate-Jearim " (ver 1 Sm 7.1, 2).
19.1-9. a porção de Sim eão. Visto que o território de Sim eão "ficava dentro do território de Ju dá", essa tribo pode ter sido destruída ou assimilada muito cedo, ficando apenas com a lembrança de suas possessões originais. A m aioria das cidades m encionadas aqui ficava no N eguebe e duas (Eter e Asã) ficavam na Sefelá (ver os com entários em Js 15.21-32). D entre aquelas que não haviam ainda sido m encionadas, Bete-M arcabote ou "casa dos carros" e Hazar-Susa, "aldeia dos cavalos", talvez sejam referências ao que se fazia no local e não exatamente o nome das cidades, podendo tratar-se das cidades de M admana e Sansana (Js 15.31).
19.8. Baalate-Beer. Essa localidade talvez seja a mesm a Bealote m encionada em 15 2 4 (ver Baal em 1 Cr 4 .33), e provavelm en te situ ava-se bem a leste de Berseba. A referência a "Ram á, no N eguebe" sugere um "lugar alto" ou local de adoração (ver 1 Sm 30.27).
19.10-16. a porção de Zebulom . O principal ponto de referência para esse território é a cidade de Nazaré, em bora não seja mencionada nessa lista. As fronteiras e grande parte das cidades irradiavam desse ponto, tanto em direção ao leste como para o oeste. A fronteira norte ficava vinte quilômetros a oeste de Tiberíades e dez quilômetros a nordeste de Nazaré, em Rimom (m oderna Rum m aneh). Saride, provavelm ente Tell Shadud (oito quilôm etros a sudeste de Nazaré) era outro ponto de referência na parte ocidental. De lá, a fronteira estendia-se ao longo do ribeiro de Quisom até Jocneão (ver Js 12.22). O limite oriental alcançava
o território de Issacar, cerca de três quilômetros a sudeste de Nazaré. O único meio de Zebulom ter acesso à costa era através do comércio com Aco, possivelmente pela proximidade da cidade de Naalal (Tell en-Nahl), pois esse território não chegava até o Mediterrâneo.19.15. B elém . Esse lugar a noroeste de N aalal, em Zebulom, não deve ser confundido com a localidade também denominada Belém, situada ao sul, em Judá. O juiz Ibsã foi enterrado aqui (Jz 12.9,10). Atualmente, próximo a esse local existe um povoado árabe que ainda mantém o nome de Beit-Lahm.19.17-23. a porção de Issacar. G rande parte desse território situava-se no vale de Jezreel, ao norte de Manassés, a leste de Aser e ao sul de Naftali. A fronteira norte estendia-se desde o monte Tabor até o rio Jordão, bem ao sul do m ar da Galiléia. O caráter estratégico e de passagem dessa área é demonstrado por sua menção nos anais egípcios dos faraós Tutm és III (Anaarate e Quisiom) e Seti I (Remete = Jarmute, talvez o m esmo que monte Yarmuta, dez quilômetros ao norte de Bete-Seã). Outras localidades que foram identificadas são Jezreel, que é Zer'in, a noroeste do monte Gilboa; Quesulote = Quislote-Tabor (ver Js 19.12) é a moderna Iksal, três quilômetros a sudeste de Nazaré; Suném é Solem, cinco quilômetros a nordeste de Jezreel.19.24-31. a porção de Aser. Situado na planície de Aco, o território de Aser ficava a oeste de Zebulom e Naftali e estendia-se até os portos fenícios de Tiro e Sidom, ao norte. Essa área tam bém aparece com destaque nos anais reais egípcios. Tutm és III alista Helcate (possivelmente Tell el-Harbaj ou Tell el-Qassis), Acsafe (ver Js 11 .1 ), M isa l (perto do m onte C arm elo) e Alameleque, e Ram sés II menciona Caná (onze quilômetros a sudeste de Tiro) dentre as cidades cananéias conquistadas. As localidades identificadas incluem
C abul (K abul); Ebrom (K hirbet 'A bdeh, dezesseis quilômetros a nordeste de Aco): Um á pode ser Aco; Reobe (não a m esm a de Js 19.28) pode ser Tell el- Gharbi, onze quilômetros a leste de Aco. A menção a Tiro e Sidom não significa que de fato estivessem sob controle israelita. É m ais provável que a fronteira fosse mais teórica do que real, embora é possível que os povoados relacionados a essas cidades-estado talvez tenham sido controlados por Israel em diversos períodos.
19.29. A czibe. Situada ao norte de Aco, A czibe foi destinada a Aser, mas nunca foi conquistada (Jz 1.31). Escavações no local dem onstram que esse lugar foi um próspero centro comercial desde a Idade do Bronze M éd ia a té o p eríod o rom an o. Fo i saq u ead a e reconstruída várias vezes, atingindo seu apogeu no século oitavo a.C., antes de ser destruída por Sena- queribe, em 701. A czibe não deve ser confundida
com a cidade m encionada em 15.44 na Sefelá, atribuída a Judá.19.32-39. as terras da tribo de N aftali. O monte Tabor é o principal ponto de referência no território dessa tribo. A fronteira sul de Naftali acompanha o uádi Fajjas até o rio Jordão, no leste. Existe certa controvérsia em relação à localização do "carvalho" de Zaanim (ver Jz4.11), m as é provável que fique no sul. D entre as localidades identificadas nessa seqüência estão Helefe (Khirbet 'Arbathath, próxima ao monte Tabor); Adami- N eguebe (Khirbet et-Tell); Jabneel (Tell en-N a'am ) e Lacum (Khirbet el-M ansurah). A localização exata de H ucoque tem causado polêm ica, m as a m aioria dos estudiosos a identifica com Yaquq, a oeste do mar da G aliléia . O utras localid ad es id en tificad as incluem Adamá (possivelmente Hajar ed-Damm, quatro quilômetros a noroeste da confluência do rio Jordão com o m ar da Galiléia); Irom (Yarun, na fronteira do Líbano); quanto a Hazor, ver o comentário em 11.1; Quedes localiza-se ao norte do lago Hulé, atualmente drenado. 19.40-48. as terras da tribo de Dã. Em bora Dã tivesse um território bastante grande a oeste de Benjamim, considerando-se a região costeira, desde o ribeiro de Soreque até o rio Yarkon, perto de Jope, é pouco provável que a tribo tenha ocupado mais que uma parcela da terra. A maior parte dessa área era controlada pelos filisteus e, posteriorm ente, pelos assírios. Durante a época de Salomão, a tribo de Dã compreendia o distrito sudoeste de seu reino, tendo sido anexada a Judá. U m exem plo disso é a cidade de Bete-Sem es (Tell er-Rum eileh), que m ais tarde é alistada como um a cidade levítica em Judá (21.16). Outras localidades de D ã identificadas incluem Saalabim (leste de Gezer, possibelm ente Selbit; ver Jz 1.35); Aijalom é provavelmente Yalo, oito quilômetros a leste de Gezer (mencionada nos textos de Amarna); Tim na (Tell el- Batashi, oito quilômetros a noroeste de Bete-Semes); Gibetom (possivelm ente Tell el-M elat; m encionada na lista de cam panha de Tutm és III); Bene-Beraque
aparece nos anais de Senaqueribe e fica localizada perto da aldeia árabe el-Kheiriyah, próxim o a Jope; R acom pode ser um rio ou possivelm ente Tell er- Reqqeit, perto de Jope.19.47. Lesém . A tribo de Dã provavelm ente m igrou para o norte devido à pressão que sofreu por parte dos filisteus (ver Jz 18). Deslocaram-se para Lesém (Lais), que recebeu o nome de D ã e subseqüentemente tornou-se um importante centro de adoração durante o reinado de Jeroboão. A cidade (a m aior da região, com cerca de 50 acres) localizava-se ao norte da bacia de Hulé, no caminho para Damasco e era favorecida pela existência de uma fonte (uma das nascentes do rio Jordão). Sua importância é comprovada por cons
tar dos textos egípcios de maldição e das cartas de Mari.
19 .50 . T im n a te -S e r a . T am b ém co n h ec id a com o
Timnate-Heres (Jz 2.9), essa cidade foi a porção designada a Josué, depois da divisão e distribuição de todos
os territórios tribais. A variação no nom e pode ser
conseqüência desse processo, visto que serah significa "sobra" e a etimologia popular pode ter transformado
o termo no nome do local. Apesar de ficar localizada
em Efraim, Timnate-Sera era uma localidade política que pertencia exclusivamente a Josué e sua família.
Foi identificada com Khirbet Tibnah, cerca de vinte
quilômetros a sudoeste de Siquém. Escavações no lo
cal têm mostrado a existência de um povoado relativam ente grande que foi reconstruído na Idade do
Ferro I (ver Js 19.50).
20.1-9. cidades de refúgio. Consulte o comentário em Números 35.
21.1-45 As cidades dos levitas21.1, 2. sign ificado de cidades dos lev itas. V er co
mentário em Números 35.1-5.21.3-40. distribuição das cidades em todo o território.
A legislação de Números 35.1-5 estabelecia que uma
parte das cidades e das pastagens deveria ser destina
da ao sustento dos levitas; essa legislação é posta em prática aqui através do sorteio, um meio de descobrir
a vontade divina. A distribuição das cidades entre as tribos, porém, foi desigual e não se baseava no tama
nho da população de cada tribo. Um a possibilidade é
que a distribuição tenha m ais a ver com o tamanho dos clãs dos levitas.
21.3-40. as cidades dos levitas. Enquanto algumas ci
dades levíticas são conhecidas como centros de adoração (Hebrom, Siquém), outras, como Anatote, por es
tarem relacionadas a grupos levitas posteriores (os des
cendentes de Abiatar). M uitas dessas cidades ficavam em zonas de fronteiras ou divisas, portanto, podiam ser
"colônias" ou postos avançados. Por isso, nos versículos
11-15, encontram-se as localidades situadas ao longo da fronteira com a Filistia e nos versículos 28-35 são apre
sentadas as cidades na fronteira norte e litorânea de Israel, controladas por poderosas cidades-estado cana-
néias, como M egido. Os versículos 36-39 descrevem a área leste do Jordão, submetida ao controle israelita após
o reinado de Salom ão. D entre as cidades aqui re lacionadas que não foram mencionadas anteriormente e
que foram identificadas encontram -se Jatir (Khirbet 'A ttir, vinte quilôm etros a sudoeste de H ebrom ); Es-
temoa (es-Samu', treze quilômetros a sudoeste de Hebrom), cuja escavação tem confirmado sedimentos da
Idade do Ferro; A im (Khirbet 'A san, quase dois quilôm etros a noroeste de Berseba); Jutá (Yatta, oito qui
lôm etros a sudoeste de H ebrom ); G eba (Jeba, quase
dez quilôm etros a nordeste de Jeru salém ); A lm om
(Khirbet Alm it, quase dois quilôm etros a nordeste de A natote); Elteque (Tell el-M elat, a noroeste de Gezer)
é m encionada nos anais de Senaqueribe do ano 701;
Aijalom (Yalo, 19 quilômetros a noroeste de Jerusalém); Abdom (possivelmente Khirbet 'Abdeh, cerca de seis
quilôm etros a leste de A czibe); Q uedes (Tell Qedes,
quase dez quilômetros ao norte de Hazor, com níveis
de ocupação bastante evidentes da Idade do Bronze A ntiga e esporádicos da Idade do Ferro); Dim na (pos
sivelmente Rummaneh, quase dez quilômetros a nordeste de Nazaré).
21.16. Bete-Sem es. Essa cidade ficava localizada na fronteira da Filistia, no vale de Soreque, na região
nordeste da Sefelá. É identificada com Tell er-Rumeilah
e escavações têm mostrado ocupações quase contínuas
desde a Idade do Bronze M édia até o período romano. Exerce um papel de destaque na narrativa bíblica em
1 Sam uel 6.9-15, na história da captura da arca. Uma
destruição no século onze precedeu sua ocupação como
posto administrativo israelita durante o reino unido (não fortalecido por Reoboão e talvez desocupado du
rante parte do século nono). A descoberta de escara
velhos egípcios de Am enotepe III e Ram sés II, bem como de uma tábua ugarítica, confirmam as relações
comerciais dessa cidade localizada estrategicamente.
21.18. Anatote. Localizada em Ras el-Kharrubeh, cerca de cinco quilôm etros a nordeste de Jerusalém ,
Anatote era um a cidade levítica do território benja- mita. Foi o local do exílio de Abiatar e de seu clã (1 Rs
2.26) e o lar do profeta Jerem ias (Jr 1.1). Pesquisas no local demonstram que houve ocupação desde a Idade
do Ferro I até o período bizantino.21.21. Siquém . V er comentários em Gênesis 12.6, Josué24.1 e Juizes 9.1.
21.21. G ezer. A cidade de G ezer, que guardava a
estratégica estrada que ia da costa até Jerusalém , é identificada como Tell Jezer, oito quilômetros a sudes
te de Ramleh. A primeira ocupação no local remonta ao período calcolítico (3400-3300 a.C.), m as atravessou
um longo período de abandono entre 2400-2000 a.C.. Na idade do Bronze Média, Gezer foi reconstruída e após 1800 tom ou-se a principal cidade fortificada. Um
"lu g ar alto" foi construído em algum período após
1650, com dez m onólitos ou pedras erigidas na direção norte-sul. A destruição presente nessa camada de
ocupação pode estar associada à campanha de Tutmés
III (c. 1482). Outro período de apogeu aconteceu durante o período de A m am a, quando Gezer tom ou-se
um dos principais centros de controle egípcio em Canaã. Os filisteus controlaram o lugar durante a Idade do
Ferro I, nos séculos doze e onze. A primeira ocupação
israelita aconteceu durante o reinado de Salomão (1 Rs 9.15-17) e escavações têm identificado muros de
casamatas e portões com diversas câmaras, ao estilo típico de Salomão, também encontrados em M egido e Hazor.
21.24. G ate-Rim om . Essa cidade tem sido identificada a duas localidades próxim as, Tell A bu Zeitun e Tell
Jerishe. Am bas situam-se num a área a poucos quilômetros do M editerrâneo, perto da m oderna Tel Aviv
e próxim o ao rio Y arkon. É possível que am bas estejam corretas, visto que muitas vezes uma localidade
era abandonada por um período e a cidade se deslocava para as proxim idades, m antendo o m esm o n o
me. Essa cidade pode ser a Gate m encionada na lista de cidades de Tutm és III como knt e também pode ser
a m esm a m encionada nas tábuas de A m arna com o Giti-rim uni.
21.38. Ram ote em G ileade. Originalmente atribuída
a Gade, Ram ote em Gileade tam bém foi designada
como um a cidade de refúgio (Dt 4.43), sendo citada na
lista de Josué como um a cidade levítica. Sua localização exata é desconhecida visto que o texto não é espe
cífico quanto a isso, e existe um a série de *tells ao longo da fronteira com a Síria que poderiam encaixar-
se a essa descrição. É bem provável que seja Tell
Ramith, quase cinco quilômetros ao sul de Ramtha, n a atual fronteira entre a Síria e a Jordân ia, onde
foram encontrados depósitos da Idade do Ferro.
21.43-45. declarações universais nos relatos de con
quista no antigo O riente Próxim o. Relatórios resumindo a conquista total e o domínio completo de uma
área, de acordo com o plano divino e com o esforço valoroso do governante escolhido pela divindade, eram
bastante com uns nos anais reais do antigo Oriente
Próximo. Por exemplo, o registro do rei assírio Sena- queribe a respeito de sua terceira cam panha (que
incluiu o cerco de Jerusalém no ano 701 a.C.) contém
não apenas um a lista de cidades conquistadas (o tipo
de lista também encontrada na Esteia de Merenptah, na Pedra M oabita e em muitas outras inscrições), mas
também um a declaração conclusiva indicando a grandeza de seus feitos. Sem elhantem ente, a Esteia de
Armant (1468 a.C.), do faraó Tutm és III, contém um
resumo "dos feitos valorosos e das vitórias que este
bom deus realizou em excelentes ocasiões". D eclarações desse tipo eram típicas do estilo literário da época
e faziam parte do código dos anais de conquista no
antigo Oriente Próximo (para mais informações sobre o tema, consulte o comentário em 10.40).
22.1-34Desentendimento com as tribos da Trans- jordânia22.8. natureza dos despojos. Uma conquista bem -sucedida resultava em grande quantidade de variados despojos tomados das cidades e dos povos derrotados. A lista de itens apresentada aqui representa bem a econom ia antiga e o que era considerado objeto de valor na época. A ordem de repartir o saque indicava a união das tribos em seu esforço comum e contribuía para a cooperação posterior entre elas (ver 1 Sm 30.16-25).22.9. Siló . Ver comentário em 18.1 a respeito do papel dessa cidade com o um lugar de ajuntam ento e de adoração para os israelitas.22.10. G elilote . Há uma alternância de nomes entre Gelilote e Gilgal em 18.17 e é possível que o mesmo aconteça aqui (o Codex Vaticanus substitui Gelilote por Gilgal). A preocupação aqui, porém, parece ser com a edificação desautorizada de um altar em Canaã pelas tribos que viviam a leste do Jordão. Quase todas as identificações prováveis para a localização de Gilgal situam-na um pouco a nordeste de Jericó, junto ao rio Jordão.22.9-34. am bigüidade do altar (dupla função). A construção de um altar pelas tribos de G ade e Rúben despertou nas outras tribos que viviam a oeste do rio
Jordão um a inquietação no sentido de que aqueles grupos transjordânicos estivessem buscando estabelecer um local de adoração rival em relação a Siló. O que chama a atenção nessa questão é que o sacerdote Finéias é a principal personagem e não Josué, o que enfatiza a preocupação ritual no caso. As tribos gilea- ditas, porém, rapidamente explicaram-se, dizendo que não haviam construído um altar para sacrifício, mas apenas um monumento como m emorial de sua aliança com Yahw eh e com as outras tribos (ver 4.19-24). A "im ponência" desse altar, portanto, é explicada como um sinal de unidade e não de rivalidade religiosa. Desse modo, Gilgal manteve seu papel como local de reunião para firm ar acordos (9.6-15), e Siló e m ais tarde Jerusalém, como centro de sacrifícios.22.11-20. violação da aliança como causa de guerra. Era padrão incluir nos documentos dos tratados uma cláusula estipulando que a violação de qualquer termo ou acordo da aliança justificaria um a guerra. Por exemplo, no tratado firmado entre o faraó Ram sés II e o rei hitita, Hatusilis III (c. 1280 a.C.), os reis amaldiçoam o violador da aliança e convocam vários deuses como testemunhas do acordo. As acusações feitas contra as tribos de Rúben e Gade sugerem que o vínculo com a aliança exigia não apenas lealdade m ilitar durante e após a conquista, mas tam bém o reconhecimento de Siló como centro de adoração. A ênfase colo
cada nesse local pode indicar que se tratava de um assunto sacerdotal e não tanto político. Aqui, a rivalidade entre as tribos aparentem ente resultou de um desentendimento em relação às intenções para a construção do altar ou talvez estivesse relacionado à passagem livre pelo rio Jordão (ver Jz 12.1-6).22.17. pecado de Peor. A referência ao pecado de Peor diz respeito à idolatria praticada pelos israelitas que adoraram a Baal (ver comentários em N m 25 .3 ,4 ,6, 8). Os líderes das outras tribos temiam que o altar desautorizado construído pelos rubenitas e gaditas resultasse potencialmente em falsa adoração e conseqüentemente, no derramar da ira de Deus (a conseqüência foi uma praga; ver N m 25).22.34. nom es para os altares. D ar nome a lugares e monumentos a fim de comemorar importantes eventos é uma prática bastante comum na Bíblia. Por exemplo, a teofania de Hagar, em Gênesis 16.7-14 resulta no nom e "Beer-Laai-R oi" (poço daquele que vive e me vê) dado a um poço que ficava nas proximidades. De m odo sem elhante, em Ju izes 6.24 G ideão dá o nome de "O Senhor é Paz" a um altar recém-construído.
23.1-16Josué convoca os líderes23.1. cronologia. O texto não deixa explícito se o "ú ltimo sermão" de Josué aos líderes do povo aconteceu imediatamente após os incidentes narrados no capítulo 22 ou se antecedeu ao ritual de renovação da aliança narrado em Josué 24 (observe tam bém a ausência de um a referência geográfica). O m ais im portante, talvez, seja a relação entre o final da conquista (o "descanso" prometido de Deus) e o término da liderança de Josué.23.2. categorias de líderes. Moisés havia indicado um grupo de oficiais para servirem como juizes em Êxodo18.21, 22, a fim de aliviar parte da carga de sua liderança. Durante a conquista, vários líderes das tribos e clãs são mencionados em diversas ocasiões: autoridades (Js 7.6); líderes (8.33); oficiais (1.10; 3.2; 8.33) e juizes (8.33). Esses indivíduos ofereciam conselhos a Josué em assuntos administrativos e m ilitares, cum priam suas ordens para a organização e manutenção da ordem no acam pam ento, m as a presença deles aqui nesse texto também é cerimonial. Em outras passagens, os líderes atuavam como representantes do povo em ocasiões importantes, como em rituais e alianças (ver Êx 24.1; N m 11.16). Além disso, desempenhavam um papel legal mencionado com freqüência (Dt 16.18; 19.16-18; 21.1-4, 20).23.13. m etáforas para opressão. A sedução provocada por outras culturas e seus deuses é metaforicamente comparada a armadilhas, a um chicote e a espinhos
que podiam cegar o viajante. Esse é um alerta muitas vezes repetido contra o sincretismo (Êx 23.33; 34.12;
N m 33.55; Dt 7.16). Em bora essa m etáfora tenha a aparência de um ditado local de sabedoria (ver SI 69.22; Pv 29.6), foi relacionada à aliança e às conseqüências da desobediência.
24.1-27Renovação da aliança24.1. Siquém . Localizada 56 quilômetros ao norte de Jerusalém, na região montanhosa de Efraim, Siquém (Tell Balatah) controlava a rota de comércio entre o monte Ebal e o monte Gerizim. Sua história arqueológica contém 24 sedimentos de ocupação, abrangendo desde o período calcolítico até o helenista. Durante a Idade do Bronze M édia, os hicsos aparentemente administraram ou controlaram Siquém, construindo enor
m es fortificações e um templo. A retom ada do domínio egípcio na região, durante o século dezesseis, destruiu por completo a cidade da Idade do Bronze M édia III. Foi reconstruída, porém, na Idade do Bronze M oderna, quando é m encionada nos textos de A m am a como a base do rei nativo Lab'ayu, que professava lealdade ao Egito, mas criou um mini-império no norte de Canaã (c. 1400 a.C.). Não existem níveis de destruição anteriores à Idade do Ferro, um indício de que a cidade talvez tenha sido dom inada pelos
israelitas sem m aiores conflitos (não consta da lista de cidades conquistadas - 12.7-23). A escolha desse local para a cerimônia de renovação da aliança pode estar relacionada à associação de Siquém com os ancestrais israelitas (o altar de Abrão em G n 12.6; a aquisição da terra por Jacó, em Gn 33.18-20 e o estupro de Diná, em Gn 34). Também é possível que a cerimônia tenha acontecido em um santuário cananeu (ou nas proximidades dele) situado na acrópole da cidade, já que os israelitas proclam avam a suprem acia de seu D eus sobre as divindades cananéias (para informações adicionais, consulte o comentário em Jz 9.1).24.1. categorias de líderes. Ver comentário em 23.2.24.2-27. tipos de acordo ou aliança. Essa cerimônia de renovação da aliança segue o mesmo padrão usado para tratados no m undo antigo e no Livro de Deutero- nômio. A respeito desse tema, leia a nota de rodapé sobre tratados e alianças no antigo Oriente Próximo, no início de Deuteronômio.24.2. raízes pagãs de Israel. O local de origem dos ancestrais israelitas era a Mesopotâmia, uma terra de tradições religiosas politeístas. O texto bíblico mostra que Abrão e sua fam ília adoravam a outros deuses, incluindo os deuses considerados patronos da cidade, bem como divindades ancestrais e deuses individuais cujos atributos eram curar enfermidades e promover
a fertilidade. Eles abandonaram essa prática por causa da promessa contida na aliança firmada com Yahweh (ver nota sobre a religião de Abraão, em G n 12). Essa é uma importante evidência que demonstra que Abrão não era o herdeiro de um a longa e ininterrupta tradição de monoteísmo.24.2. terra além do Eufrates (ou do rio). Essa designação é um termo técnico aplicado à região oeste do rio Eufrates. Por exemplo, Harã, a cidade para onde Terá migrou, em Gênesis 11.31, ficava a oeste do Eufrates. Tecnicamente, também deste lado ficava a cidade de Ur, mas a província, como sugerem os anais da campanha de reis mesopotâmios e, mais tarde, documentos administrativos persas (ver Ed 7.21), estendia-se por faixas ao norte do Eufrates e a oeste, até a Síria e a Fenícia-Palestina.24.5-7. m ar Vermelho. Ver comentários em Êxodo 13,14 para informações adicionais.24.8. terra dos amorreus. Para mais informação, consulte os comentários em Números 21.21-35.24.9-11. Balaão e os moabitas. Para mais informação, consulte os comentários em Números 2 2 - 24.24.11. pânico (ou vespas). N ão se sabe ao certo o significado exato da palavra traduzida como "pânico". A Septuaginta (a m ais antiga tradução grega do Antigo Testamento) usa os term os "vespa" ou "vespão" e m uitos com entaristas entendem que a term inologia funcione como um símbolo da intervenção divina, ajudando a preparar o caminho para a conquista dos israelitas. E com um o uso de insetos com o m etáfora para exércitos, por exemplo, abelhas e m oscas (Is 7 .18 ,19) e gafanhotos (J11 ,2 ). Alguns intérpretes, porém, acreditam que essa palavra seria um trocadilho com "E gito" (ver comentário em Êx 23.28) ou uma referência ao Egito, através de um inseto que era usado como sím bolo do baixo Egito. N esse caso, seria um indício de um a invasão anterior da Palestina pelos egípcios que teria ajudado a causa israelita. Alguns estudiosos traduziram o termo como "p ân ico" ou "terror divino".24.1-27. cerimônias de renovação da aliança. É possível identificar quatro cerimônias de renovação da aliança no texto bíblico e cada uma representa não apenas a confirmação das condições estipuladas na aliança, m as também a inauguração de uma nova fase na história israelita (ver Êx 24.1-8; 2 Rs 23.1-3, 21, 22; Ne8.5-9). Em cada uma delas ocorre um ajuntamento do povo, a recitação dos atos poderosos de Deus ou a leitura da lei, a reafirm ação da lealdade do povo à aliança e a realização de um sacrifício ou de um a festa de celebração. As ações de Josué em Siquém colocam um ponto final no passado (o êxodo e a conquista) e apontam para um futuro onde o povo se fixaria e se estabeleceria na terra prometida.
24.26. pedra e Grande Árvore. Colunas de pedras e bosques ou árvores sagradas faziam parte dos locais de adoração dos israelitas (sobre pedras, ver Gn 28.1822; Êx 24.4; 2 Sm 18.18, sobre árvores, G n 12.6; Dt11.30; Jz 6.11; 9.6; 1 Sm 10.3) e cananeus (ver o Épico ugarítico de Aqhat). Em bora ambos sejam condenados posteriorm ente (Êx 23.24; Lv 26.1; D t 12.2; 2 Rs16.4), seu uso aqui é bastante natural. Tam bém é possível que tenham servido como memoriais de eventos importantes (como as doze pedras que marcavam a travessia do rio Jordão em Js 4.2-9). Esses elementos também distinguem a cerimônia de renovação da aliança do templo de Baal em Siquém.
24.28-33Morte e sepultamento de Josué24.30. monte Gaás. Embora sua localização exata seja desconhecida, é provável que o monte Gaás se localizasse n a região m ontanhosa de Efraim , ao sul de Timnate-Sera (Khirbet Tibneh). N esse caso, ficaria 32 quilômetros a sudoeste de Siquém.
24.32. locais de sepultam ento de ancestrais israelitas em Canaã. Os dois locais originais de sepultamento usados pelos ancestrais foram adquiridos de habitantes locais. O primeiro foi a caverna de M acpela, comprada por Abraão de Efrom, o hitita, nas proximidades de Hebrom. Serviu como local para a sepultura de Abraão, Sara, Isaque, Rebeca e Jacó. Som ente Raquel não foi sepultada ali por causa de sua m orte súbita durante o parto, perto de Belém (Gn 35.19). A coluna que Jacó erigiu sobre o túmulo de Raquel é típica de túmulos de povos nômades daquela região. O relato de Josué faz menção ao sepultamento de José no lote de terra próximo a Siquém vendido por Ham or a Jacó com o um a área de pastagem . Como im igrantes, os ancestrais não teriam tido possibilidade de enterrar seus mortos em jazigos de família. Primeiro eles tiveram de adquirir a terra, para depois obter o título de posse perpétua; do contrário suas tum bas poderiam ser profanadas ou ficariam inacessíveis. O sepultamento de Josué e Eleazar, porém, contrasta com essa prática, visto que foram enterrados em terra reivindicada através de conquista e distribuída entre eles e seus descendentes.
24.33. G ib eá . O local de sepultam ento de Eleazar, filho de Arão, situava-se nas terras atribuídas à tribo de Efraim. Eusébio estabeleceu sua localização a oito quilômetros ao norte de Gofna. Porém, existem diversos locais denominados Gibeá e o texto pode estar se referindo sim plesm ente à "co lin a de F in éias", um lugar que ainda não foi identificado.
J U Í Z E SV1.1-2.5 Tentativas de possuir a terra1.1, 2. oráculos. Antes de engajar-se em campanhas m ilitares, os comandantes dos exércitos do antigo O riente Próximo costumavam buscar o auxílio e a orientação divina através de oráculos e agouros (ver 20.18). Por exemplo, na inscrição real assíria há um a declaração de que as guerras aconteciam "p or ordem do deus Assur". Vários meios de adivinhação eram utilizados a fim de descobrir a natureza e a urgência dessa convocação divina, dentre eles: o exam e das entranhas de um animal sacrificado, sorteios ou observação de fenômenos naturais tais como o vôo dos pássaros ou formações de nuvens. O oráculo ou a resposta divina geralm ente determ inava se deveriam ou não lutar naquele dia e também quais as estratégias que deveriam ser empregadas.1.3. território de Sim eão e Judá. A porção de terra atribuída a Simeão em Josué 19.1-9 ficava na parte sul da Palestina, "d entro do território de Ju d á", o que explica o fato dessas duas tribos vizinhas terem se juntado nesse episódio para lutar contra os cananeus. Com o passar do tempo, porémASimeão foi absorvido pela tribo de Judá, mais proeminente. Assim, a proposta de Judá a Simeão para ajudá-los a conquistar seu território, na verdade, transformou-se em um convite para que essa tribo caísse no esquecimento.1.4. B ezequ e. Este foi o local da batalha contra os cananeus e os ferezeus, em que Judá e Simeão derrotaram seu líder Adoni-Bezeque. Em bora o Livro de Juizes não ofereça nenhum a inform ação geográfica, esse lugar tam bém aparece na narrativa de Saul (1 Sm 11.8-11). O texto indica que se tratava de um a planície aberta adequada para o ajuntamento e a revista de tropas, localizada de 20 a 24 quilôm etros a sudoeste de Jabes-Gileade (El Maklub), a leste do rio Jordão. Pesquisas feitas na região montanhosa entre Siquém e o vale do Jordão mostram que seria a atual Khirbet Salhab (com a evidência de depósitos que remontam à Idade do Ferro).1.6. cortar os polegares das mãos e dos pés. Esse ato de m utilação, assim como a perfuração do olho direito em 1 Sam uel 11.2, tinha como objetivo hum ilhar os prisioneiros e assegurar que jam ais poderiam servir como soldados novamente. Sem equilíbrio para ficar de pé e incapazes de segurar uma espada, lança ou arco, tudo que esses hom ens podiam fazer era im
plorar por suas vidas. Relevos assírios da época de Salm aneser III (século nono) ilustram prisioneiros sendo mutilados e desmembrados.1.7. apanhar m igalhas debaixo da mesa. Esses mutilados e infelizes prisioneiros não tinham outro recurso senão esm olar debaixo da m esa de seu captor. Eram expostos como sinal do poder de seu conquistador e com iam as migalhas que caíam da mesa, como os cães (relatos ugaríticos sem elhantes incluem o deus E l tratando os deuses inimigos desse mesmo modo). A ironia dessa passagem é que Adoni-Bezeque foi reduzido à mesma condição dos setenta reis que ele havia anteriorm ente mutilado.1.7, 8. Je ru sa lém . A pesar de, segundo essa passagem, Jerusalém ter sido saqueada e incendiada, todas as outras referências a essa cidade e a seus habitantes jebuseus durante o período de povoamento indicam que nem Judá (Js 15.63) nem Benjamim (Jz 1.21) foram capazes de tom á-la. Em Juizes 19.10-12 ela ainda é considerada um a cidade estrangeira. A questão perm anece sem resposta, devido à falta de evidências arqueológicas para esse período (posterior à invasão de El A m am a e à destruição provocada pelos povos do mar). Alguns estudiosos têm sugerido que uma área não fortificada da cidade foi atacada e queimada, mas não há como comprovar essa afirmação. A cidade finalmente foi conquistada por Davi e transformada na capital israelita (2 Sm 5.6-10).1.9. geografia. A descrição contida nesse versículo sugere um movimento em direção ao sul, incluindo as montanhas de Judá, em direção a Hebrom e a serra situada na parte norte do deserto do Neguebe, a ocidente, em direção a Sefelá e à região costeira da Filístia. O itinerário evidencia a tentativa de capturar o máximo possível da área designada a Judá (Js 15.1-12, 2163) e a Calebe (Js 15.13-19).1.10. H ebrom. Situada em Jebel er-Rumeidah, 37 quilôm etros a nordeste de Berseba e 30 quilôm etros a sudeste de Jerusalém , Hebrom ficava na junção das estradas que vinham da Sefelá, da parte ocidental do Neguebe e de Jerusalém. O texto menciona um nome anterior, Quiriate-Arba (ver G n 23.2; Ne 11.25), possivelmente um centro do clã dos enaquins (Js 14.15;15.13). Para informações adicionais sobre essa localidade, leia o comentário em Josué 10.3-5.1.11. D eb ir. Localizada a sudoeste de H ebrom , no extremo sul da região montanhosa de Judá, é prová
vel que no início da Idade do Ferro Debir tenha sido um posto avançado durante a invasão dos povos do mar (se os enaquins de Js 11.21 não forem cananeus). Sua provável localização é Quiriate-Rabude. Consulte os comentários em Josué 10.3, 38, 39 e 11.21.1.12. filh a como recom pensa. Em bora não se trate de um acontecimento freqüente, a idéia de alcançar maior status através do casamento, talvez fosse bastante atraente para alguns hom ens ambiciosos. Davi, por exemplo, pôde ingressar na fam ília real de Saul por causa da oferta que o rei fez de sua filha e de sua eventual vitória contra Golias (1 Sm 17.25). A proeza envolvida nessa passagem de Juizes era ao mesmo tempo difícil e perigosa. Assim, o excepcional oferecimento de um casamento lucrativo foi feito para seduzir um herói a dar o primeiro passo. Otoniel já era visto por Calebe com bons olhos, mas o prestígio a ser obtido seria ainda maior.1.14. pedido de um campo. Após ter obtido sua esposa com a conquista de Quiriate-Sefer, Otoniel agora é convencido por Acsa a pedir um pedaço de terra para poder sustentar sua família. Isso poderia ser considerado como um dote, já que não há menção anterior sobre isso na narrativa. Porém, as filhas geralmente não herdavam terras nem as obtinham como parte de seu dote (ver, entretanto, N m 36.1-13). Assim , um pedido desse tipo teria de ser feito por um parente do sexo masculino. Além disso, Otoniel era um valioso vassalo que anteriormente havia prestado excelentes serviços militares e candidato a receber uma doação de terra (casos semelhantes são encontrados nos textos de M ari). U m m arco de fronteira babilónico desse período ilustra um pai transferindo direitos de terra a uma filha.1.14. desceu do ju m ento. Essa atitude de Acsa tem sido interpretada de várias m aneiras. Alguns estudiosos acreditam que ela tenha feito algum barulho (como bater palmas) a fim de atrair a atenção de seu pai ou como sinal de menosprezo pela doação de terra feita a seu marido. Outra sugestão é que ao descer de sua m ontaria, ela tenha se colocado na posição de suplicante, de uma filha pedindo mais uma vez um favor a seu pai. Certamente uma terra sem água seria inútil; o pedido de Acsa visava assegurar a sobrevivência de sua família.1.15. fontes superiores e inferiores. Talvez essas fontes superiores estejam se referindo à água extraída de escavações rasas no leito de vaus e as inferiores seriam as águas obtidas pela perfuração profunda de poços em lugares onde o lençol freático ficava bastante distante da superfície. Também é possível que essas fontes estejam relacionadas a pontos geográficos na região do N eguebe, m as até hoje nenhum local foi identificado.
1.16. queneus. Os queneus eram um dos diversos clãs ou tribos que habitavam nos desertos da península do Sinai e na área sul e leste do Neguebe, até o golfo de Ácaba (Gn 15.19; 1 Sm 27.10; 30.29; 1 Cr 2.55). Tam bém é possível, de acordo com a localização do acampam ento de H éber, em Juizes 4.11, que o território dos queneus se estendesse até o norte do vale de Jezreel. O relacionamento dessa tribo com M oisés e Jetro (Hobabe) é m encionado já em Êxodo 3.1. Os queneus são caracterizados como sendo pastores (Jz5.24-27), líd eres de caravanas e artesãos de m etal itinerantes. Essa últim a habilidade fica im plícita na etimologia de seu nome, que significa "forjar". Ver comentário em Números 24.21, 22.1.16. Cidade das Palm eiras. De acordo com a descrição apresentada nessa passagem, associada a outros textos (Jz 3.13), provavelmente essa cidade seria Jericó, a antiga cidade em um oásis, treze quilôm etros a noroeste do m ar Morto (Tell es-Sultan). A existência da cidade e a fertilidade de suas terras (exibindo muitas palm eiras e tam bém áreas cultiváveis) baseavam-se no fluxo contínuo de águas das fontes de yA in es- Sultan e yA in Duq. A mais antiga ocupação do local teve início no período mesolítico (c. 9000-8700 a.C.) e com o passar do tempo, a população e a importância da cidade cresceram a tal ponto que um sistema completo de muros feitos de tijolos de barro foi construído, durante a Idade do Bronze Antiga III (c. 2700 a.C.). O povoamento da região apresenta certos intervalos devido a invasões e conquistas (como no final da Idade do Bronze Antiga III, c. 2500 a.C. e novam ente durante o início da Idade do Bronze M oderna, c. 1350 a.C.). Na época dos juizes, o local foi ocupado apenas em parte e talvez tenha servido como um posto avançado ou um ponto de parada de caravanas. A cidade só foi reconstruída no século nono a.C. (ver 1 Rs 16.34).1.16. A rade. Localizada em Tell 'A rad , no vale de Berseba, 32 quilômetros ao sul de Hebrom, esse local foi ocupado pela primeira vez no período calcolítico e a cidade baixa (situada num a depressão natural que funcionava como uma espécie de manancial e tabém cisterna) expandiu-se durante a Idade do Bronze Antiga devido aos intensos contatos econômicos com o Egito. Durante a Idade do Ferro, existiu ali uma ocupação não fortificada, que somada aos vestígios de uma área de adoração ou pátio, além de casas, pode indicar uma ocupação pelos queneus, mencionada em Juizes e 1 Samuel 27.10. A parte alta do *tell de Arade contém sete camadas da Idade do Ferro, com ruínas de um a fo rta lez a e do com p lexo de um tem p lo construído no século dez a.C..1.17. Z efate (Horm á). Essa foi um a das aldeias do Neguebe capturada pelas tribos de Judá e Simeão no relato da conquista em Juizes. Os israelitas lhe deram
o nome de Hormá, que quer dizer "destruição" (ver também N m 21.3, que situa a aldeia nas proximidades de Arade). O local tem sido identificado com Tel M asos e T el Ira , am bas na reg ião en tre A rad e e Berseba.1.18. Gaza. Situada n a parte sudoeste da planície costeira de Canaã e num a importante estrada internacional ("C am inho dos Filisteus" ou Via M aris), Gaza (Tell Harube) funcionou como a capital do Egito na província de Canaã de 1550 a 1150 a.C.. A cidade é mencionada nos anais do faraó Tutm és III e nos textos de El Am arna. Após a invasão dos povos do m ar, tomou-se a mais importante das cinco cidades filistéias e figura em diversos conflitos entre os filisteus e os israelitas (6.3, 4; 16.1-4). O texto que relata sua conquista por Judá é incerto. A Septuaginta afirma que os israelitas não chegaram a tom ar G aza, A scalom e Ecrom, e esse fato parece ser confirmado em 1.19, que afirma que os homens de Judá não conseguiram conquistar as cidades da planície.1.18. A scalom . U m a das principais cidades da Pen- tápolis filistéia, Ascalom ficava situada cerca de 16 quilôm etros ao norte de G aza e serviu com o porto marítimo durante muito tempo. Sua localização estratégica chamou a atenção dos egípcios que almejavam controlar Canaã e as estradas do norte, a partir da Idade do Bronze M édia (c. 2000-1800 a.C.), quando a cidade é m encionada nos textos de Execração. Durante o p eríod o El A m arn a (sécu lo ca to rze a .C .), o governante de Ascalom foi vassalo de Aquenaton e escreveu diversas cartas a esse faraó. M erenptá tam bém mencionou esta cidade entre suas conquistas na inscrição da esteia que narra suas vitórias (c. 1208a.C.) e ilustrou sua conquista nas paredes do grande tem plo de Karnak. Em bora tenha sido atribuída a Judá, Ascalom e as outras cidades filistéias da planície não foram conquistadas pelos israelitas.1.18. Ecrom. Esta cidade figura n a relação das cidades designadas tanto à tribo de Judá (Js 15.11) como à tribo de Da (Js 19.43). Ecrom ficava na divisa entre a Sefelá e a região m ontanhosa central. É identificada com Tel M iqne, 32 quilôm etros a sudoeste de Jerusalém , na fronteira que separava a Filístia de Judá. Em bora existam in d íc io s de p o v o am en to qu e re m o n tam ao Calcolítico, as escavações têm mostrado que a principal ocupação da cidade aconteceu na Idade do Bronze M oderna, quando fez contato com Egito e Chipre, confirmado por vestígios de cerâmicas e escaravelhos (19a Dinastia). A mudança brusca na cultura material foi resultado da invasão dos povos do mar, no século doze a.C., que prom oveu a expansão da cidade e o surgimento de um novo grupo populacional. Durante o primeiro milênio, sob dom ínio assírio e babilónico, Ecrom se transformou num a importante cidade
industrial, produzindo enormes quantidades de azeite de oliva em suas refinarias. Sua menção na lista de Juizes indica que se tratava de um a importante cidade filistéia que não havia sido capturada pela tribo de Judá (Jz 3.1-4).1.19. carros de ferro. O uso de carros de ferro é atribuído aos inimigos de Israel em Canaã, especialmente aos habitantes das cidades das planícies, durante todo o período da conquista (ver comentários em Js 17.16 e Jz 4.3). O uso desse tipo de carro demonstra que a tecnologia dominada pelo inimigo era mais elaborada que a dos israelitas, assim com o sua riqueza era também m aior (ver 1 Sm 13.19-21), o que representava um a grande ameaça ao avanço e sucesso da conquista. A quantidade de ferro usada na fabricação desses carros de guerra na verdade pode ter sido bastante pequena, mas o ferro empregado na decoração, no reforço ou nos aros das rodas já teria sido suficiente para provocar terror no inimigo. Nessa passagem, a menção a carros de ferro sugere um a avaliação realista da situ ação m ilitar, que m anteve os israelitas confinados à região m ontanhosa, onde os carros não seriam tão eficazes. Certamente, as forças tribais israelitas tinham a convicção de que com a ajuda de Deus, o Divino Guerreiro, seriam capazes de superar esse obstáculo (Js 17.18; Jz 4.7). Porém , o registro arqueológico e o reconhecimento aqui de que algumas áreas nunca foram conquistadas indicam uma racionalização da derrota baseada na realidade da situação. Somente quando Israel conseguiu dominar a tecnologia do ferro e atingir o m esm o nível m ilitar dos filisteus foi que essa terrível arma perdeu o poder de assustá-los.1.20. filh os de Enaque. Faziam parte dos habitantes de Canaã na época da conquista. Seu território concentrava-se em Hebrom (Js 21.11) e eram homens de elevada estatura (Dt 2.10; 9.2), m uito temidos pelos israelitas (Nm 13.28, 33). O fato de terem sido expulsos de Hebrom por Calebe deve ter representado pelo menos um sucesso dos israelitas em expulsar um povo nativo da região de Judá. Posteriormente, um sobrevivente enaquim pode ter se refugiado nas cidades filistéias de Gaza, Gate e Asdode. Leia o comentário de Josué 11.21.1.21. jebuseu s. Inicialmente mencionados como descendentes de Canaã (Gn 10.16) os jebuseus provavelmente eram povos não-semitas, relacionados aos hititas ou aos hurritas, que se m udaram p ara essa região durante o início do segundo milênio. Eles habitavam na região m ontanhosa ao longo da fronteira sul de Benjam im (Js 15.8) e na cidade de Jebus (Js 15.63; 2 Sm 5.6). Jerusalém, e não Jebus, é mencionada nos textos de Amarna, e Jebus também não aparece nos textos de Execração. A declaração de que os benjamitas não
conseguiram conquistar a cidade é reforçada pela recusa dos levitas em parar num a "cidade estrangeira" habitada por não-israelitas, episódio narrado em Juizes 19.10-12. Após a conquista de Jerusalém por Davi, os jebuseus aparentemente foram assimilados ou com o passar do tempo perderam sua identidade étnica por se tornarem um povo escravizado (2 Sm 5.6-9).1.22, 23. B etei. A localização estratégica de Betei (a atual Beitin), situada na junção das estradas que cortam a região montanhosa central ao norte de Jerusalém , fazia dela um alvo natural para os israelitas e para outros conquistadores de épocas posteriores (a menção a José [isto é, a Efraim] pode indicar alianças tribais posteriores à atribuição de Betei à tribo de Benjamim; ver Js 18.22). Seu papel como local de adoração é m antido por bastante tempo na narrativa bíblica (ver comentário em G n 28.19) e escavações revelaram ter existido ali um local de adoração na época da Idade do Bronze M édia. Com o passar do tempo, Betei tom ou-se um dos dois principais centros de adoração na época da divisão de Israel nos reinos do norte e do sul (1 Rs 12.29-33). A conquista desse local, que não é narrada em Josué, pode ter sido feita através de um portão secundário (uma passagem menor usada quando os portões da cidade eram fechados durante a noite) com o aquele encontrado nas escavações de Ram at Rahel (bem ao sul de Jerusalém). As escavações identificaram um sedimento que indica a completa destruição de Betei no final do século treze a.C..1.26. Luz, na terra dos h ititas. Os hititas têm sido localizados geralm ente na Síria ou no Líbano, duas regiões que fizeram parte do império hitita antes da invasão dos povos do m ar em 1200 a.C.. Também é possível que a nova cidade de Luz simplesmente tenha sido fundada mais ao norte na região da Palestina e a oeste de Betei (ver N m 13.29; Js 16.2).1.27. Bete-Seã. Identificada como Tell el-Husn, Bete- Seã situava-se na extremidade leste do vale de Jezreel, no norte de Canaã. Como Megido, que ficava na extrem idade oeste, B ete-Seã fu n cion ava com o um a guardiã da importante Via Maris. O povoamento teve início no período Calcolítico sendo praticamente contínuo até o presente. Uma segunda cidade fica na base do *tell, construída durante o período helenístico como um a das cidades da D ecápolis, alcançando grande crescimento durante os períodos romano e bizantino (Citópolis). Escavações parecem mostrar que, ao contrário de muitas localidades da Idade do Bronze M oderna, Bete-Seã não foi destruída pelos povos do mar e Ramsés III continuou a m anter o controle desse importante centro comercial durante a primeira metade do século doze a.C.. O texto bíblico observa que Saul não conquistou essa cidade (1 Sm 31.10-12) e somente
nos dias de Salomão ela foi acrescentada ao território israelita (1 Rs 4.12).1.27. T aanaqu e. Leia o com entário em Josué 12.21 para mais informações sobre essa cidade do norte de
Canaã.1.27. Dor. Consulte o comentário de Josué 12.23 para detalhes sobre essa cidade costeira do norte de Canaã.1.27. Ibleã. Essa fortaleza (Khirbet Beram eh) localizava-se na extremidade leste do vale de Jezreel e serviu como um a das cidades que controlavam essa importante ligação de transporte. É alistada como uma das cidades que a tribo de Manassés não conseguiu conquistar (Js 17.11 ,12), mas teve um papel significativo como posto avançado israelita durante o reino dividido (2 Rs 9.27). Sua importância estratégica é confirmada por constar da lista de cidades conquistadas por Tutm és III (c. 1504-1450 a.C.).1.27. M egido. V er com entário em Josué 12.21 para mais detalhes sobre essa importante cidade localizada na entrada ocidental do vale de Jezreel.1.29. Gezer. Ver comentário em Josué 12.21 para mais informações sobre essa importante cidade que ligava a planície costeira e a Filístia com a região montanhosa central e Jerusalém.1.30. Q uitrom . A tribuída a Zebulom , a localização m ais provável dessa cidade é na parte noroeste do vale de Jezreel. Alguns sugerem que estaria localizada na Planície de Aco (Tell Qurdaneh e Tell el-Far), pois esse local seria favorável às táticas m ilitares cananéias, mas informações atuais indicam que essa possibilidade seria menos provável.1.30. Naalol. Em bora não se saiba ao certo a localização exata, alguns têm afirmado que essa cidade estaria no território da tribo de Zebulom e seria Tell en- Nahl, oito quilômetros a leste do m ar Mediterrâneo, perto de Haifa. As semelhanças etimológicas no nome e a descoberta de vestígios de artefatos abrangendo desde a Idade do Bronze Antiga até os períodos árabes favorecem essa identificação, mas sua localização no território de Aser é dificultada por questões geográficas insolúveis.1.31. 32. território de Aser. Ver comentário em Josué19.24-31 para m ais detalhes sobre a porção de terra atribuída à tribo de Aser.1.33. Bete-Sem es. Ver comentário em Josué 21.16 para inform ações sobre essa cidade localizada na região nordeste da Sefelá, na fronteira com a Filístia.1.33. Bete-A nate. A localização exata dessa cidade ainda é desconhecida, m as a mais provável até agora é Safed el-Battikh, na região da alta Galiléia. A cidade aparentemente foi mencionada nos registros egípcios da época de Tutm és III, Seti I e Ramsés II e talvez se
situasse na rota entre Hazor e Tiro.
1.34-36. am orreus. Ver comentário em Números 21.21 para informações sobre esse grupo étnico que habitava a região de Canaã antes da formação de Israel. A influência cultural e lingüística que exerceram na
Mesopotâmia e na região Sírio-Palestina talvez tenha sido m aior do que de qualquer outro povo. Foram responsáveis pela criação da alta civilização da Babilônia da época de Hamurabi e m antiveram sua identidade cultural, ao menos em algumas regiões, até o início da Idade do Ferro.1.35. m onte Heres. A "m ontanha do sol" geralmente tem sido identificada com Bete-Semes (ver Js 21.16) ou Ir Semes (Js 19.41). Não se trata, porém, de algo confirmado e o lugar em si pode ser um a das m uitas aldeias localizadas bem a sudeste de Yalo (oito quilômetros a leste de Gezer). Por fazer parte da porção atribuída a Dã, provavelmente estaria situada no sudeste do vale de Aijalom.1.35. A ija lom . Esse lugar atribuído a Dã (Js 19.42) pode ser identificado com Yalo, situado oito quilômetros a leste de Gezer, na extrem idade ocidental do vale de Aijalom. Sua importância estratégica, devido ao fato de estar localizado na estrada principal para a região montanhosa, é confirmada por sua m enção nos textos de El A m am a e por figurar nas campanhas de Saul (1 Sm 14.31).
1.35. Saalbim . Essa cidade no território de D ã (Js 19.42) tem sido identificada com Selbit, quase cinco quilômetros a noroeste de Aijalom. Mais tarde foi incorporada ao segundo distrito administrativo de Salomão (1 Rs 4.9) e é provável que tenha servido, assim como Aijalom, como fortaleza, guardando a passagem de entrada ao vale de Aijalom.
1.36. subida de A crabim (ou dos Escorpiões). Trata- se de um a passagem a sudoeste do m ar M orto, a Neqb es-Safa, que talvez tenha sido usada primeiramente pelos egípcios, quando se dirigiam à região de mineração de cobre, perto de Arabá e de Eilat (ver N m 34.4; Js 15.3).1.36. Selá. Embora não se saiba ao certo sua localização,o fato de estar relacionada à subida de Acrabim sugere um local a sudoeste do m ar Morto. Devido ao significado de seu nome, "pedra", alguns comentaristas afirmam tratar-se de Petra, a cidade nabaetana construída na rocha, ou da m oderna Selá, três quilôm etros a noroeste de Buseira. As escavações arqueológicas, no entanto, não têm revelado sedimentos anteriores ao século nono a.C. para nenhum desses lugares.2.1-5. Boquim . Esse lugar recebeu o nome de Boquim por causa do pranto dos israelitas, após terem sido repreendidos pelo anjo de Deus por terem falhado ao desobedecer à aliança e não terem destruído totalm ente os cananeus. Sua localização é desconhecida,
em bora o texto sugira que se localizasse a oeste do rio Jordão, próximo a Gilgal.
2.6-3.6 O período dos juizes2.9. T im nate-H eres. V er comentário em Josué 19.50 (Timnate-Sera) acerca desse lugar, que é associado à porção de terra designada a Josué, dentro dos limites do território de Efraim. É identificada com Khirbet Tibnah, 24 quilôm etros a sudoeste de Siquém , que apresenta am plas evidências da existência de um a aldeia durante a Idade do Ferro I e II.2.9. m onte G aás. A ssociado a Tim nate-H eres e ao território de Josué, esse m onte não foi identificado. Sua provável localização seria numa área situada entre 24 e 32 quilôm etros a sudoeste de Siquém , no território de Efraim . O terreno acidentado daquela região dificulta a identificação exata (ver 2 Sm 23.30).2.11-13. baalins. O uso da forma plural aqui não indica a ex istên cia de um grand e núm ero de deuses cananeus. Ao contrário, refere-se a várias manifestações locais do m esm o deus Baal, o deus da tempestade e da fertilidade. Os deuses geralmente eram vinculados a locais específicos de uma determ inada região (lugares altos, montes, santuários, cidades). O mesmo parece acontecer com Yahw eh (Betei, Jerusalém e Siló estavam todas associadas ao nome ou à presença de D eus). Baal, que significa "se n h o r", aparece como nome de divindade já no século dezoito a.C. em nomes am orreus de Mari. Alguns estudiosos apresentam exemplos que remontam ao final do terceiro milênio. Por volta do século catorze, esse nome foi usado pelos egípcios para referir-se ao deus da tempestade, e também é confirmado em textos de Alalakh, Am am a e Ugarite como o nome próprio para Adad, o deus da tem pestade. Baal era um a divindade relacionada à fertilidade, tendo um ciclo de vida característico, pois era um deus que morria (no inverno) e ressuscitava (na primavera). Na m itologia de Ugarite, ele figura no combate com Yamm (o deus do mar) e M ot (o deus da morte). Suas consortes eram Anat e Astarte.2.13. A starote. Em bora aqui esteja no singular, na m aioria das vezes em que esse nom e aparece nas passagens bíblicas é usado o plural, que à semelhança de "baalins", não representa a existência de muitos deuses, mas sim diversas m anifestações locais da mesm a divindade. A starote era a consorte de Baal no panteão cananeu e era a deusa da fertilidade e da guerra. A forma singular aparece tam bém em 1 Rs11.5 e 2 Rs 23.13 referindo-se à principal deusa da cidade fenícia de Sidom. Na verdade, diversas divindades são mencionadas como consortes de Baal (Anate, A starote, Aserá) em textos ugaríticos e fenícios. A popularidade de Astarote entre os cananeus pode in
dicar um a fusão dessas outras deusas na figura de um a só, ou sim plesm ente um a preferência local. O culto a Astarote também aparece no Egito durante o Novo Reinado (talvez devido ao contato mais intenso com Canaã) e na Mesopotâmia.2.11-19. ciclos de relacionam ento. A idéia de um relacionamento cíclico com a divindade era um tema com um no antigo O riente Próxim o. A seqüência de certos tipos de comportamento em que o povo abandonava a divindade, provocando sua ira e conseqüentemente a destruição da terra, seguida pela retomada do favor divino, restaurando o relacionamento, é oferecida em geral para explicar o apogeu eo declínio das nações. Isso pode ser observado, por exemplo, no relato da destru ição da Babilôn ia prom ovid a por Senaqueribe, no século sétimo, registrado por seu filho, o rei assírio Esarhaddon. As diferenças em relação ao texto bíblico incluem: (1) as ofensas no texto de Esarhaddon são ofensas rituais e (2) ninguém é prom o v id o a l ib e rta d o r, em b o ra fiq u e c la ro que Esarhaddon considerava-se como tal.2.16-19. ju izes . Em português o term o ju iz é usado para referir-se a um oficial que m antém a justiça dentro do sistema judiciário estabelecido no país. O termo hebraico usado no contexto deste livro refere-se a um indivíduo que m antinha a justiça nas tribos de Israel. Essa justiça era representada por providenciar proteção contra os opressores estrangeiros. A manutenção da justiça internacional geralmente era um a atribuição do rei. A diferença entre os reis e os juizes era que estes não passavam por nenhuma formalidade para assumir o cargo, nem podiam transmiti-lo a seus herdeiros. N ão havia um sistem a adm inistrativo para dar apoio ao juiz; ele não possuía exército nem tinha o direito de cobrar impostos para bancar as despesas de seu ofício. Assim, em bora a função do juiz pudesse ser de fato m uito parecida com a do rei, ele não desfrutava das mesmas prerrogativas reais. Como o rei também julgava os casos civis, os juizes talvez tivessem parte dessa responsabilidade (ver 4.5), mas esta seria uma função secundária. Os juizes não eram os chefes do governo, em geral, mas tinham autoridade para convocar os exércitos das tribos. Antes da monarquia, ninguém estava apto a exercer tal autoridade sobre outra tribo. Deus era a autoridade principal, portanto, quando um juiz se m ostrava capaz de reunir os exércitos de diversas tribos, era porque o Senhor estava agindo através dele (ver 6.34, 35). Som ente com o estabelecimento da monarquia é que foi atribuída a um único homem um a autoridade permanente sobre todas as tribos.3.3. cinco governantes dos filisteus. Após a invasão dos povos do m ar (c. 1200 a.C.), um grupo conhecido como filisteus ocupou a planície costeira e a Sefelá, na
região de Canaã. Com o passar do tempo, cinco importantes cidades-estado emergiram: Gaza, Ascalom. Asdode, Gate e Ecrom (Js 13.2,3). Depósitos com marcas de destruição encontrados em escavações arqueológicas em Asdode e A scalom indicam a expulsão das guarnições egípcias por volta de 1150 a.C. e a reocupação da área pelos filisteus. Embora essas cidades- estado e suas aldeias fossem independentes politicamente, elas funcionavam em coligação nos negócios com Israel e outros estados (ver 1 Sm 6.16; 29.1-5). Em seu apogeu, a coligação filistéia expandiu-se para o norte até Tell Qasile (às m argens do rio Yarkon) e para o leste passando pelo vale de Jezreel até Bete- Seã. Somente o surgimento de um a forte monarquia sob Davi e Salomão foi capaz de deter a hegemonia filistéia em relação ao restante da Palestina.3.3. cananeus. Ver com entário em Gênesis 15.19-21 para inform ações sobre esses habitantes de Canaã, antes da conquista. No contexto de Juizes, "cananeus" é um term o genérico usado para designar um dos quatro povos vizinhos dos israelitas invasores (os outros três eram os filisteus, os heveus e os fenícios [sidônios]). Esta lista é bastante reduzida em relação àquela encontrada em Gênesis 10.15-18 e 15.19-21 e provavelmente reflete os principais grupos políticos com os quais os israelitas tiveram de lidar.3.3. sidônios. Os sidônios aparecem em Gênesis 10.15 como descendentes de Canaã. No período dos juizes, p orém , eles rep resentam o povo do L íbano e da Fenícia, na fronteira norte do território das tribos de Israel. A cidade-estado de Sidom era um importante porto na costa M editerrânea, 40 quilômetros ao norte de outro importante porto fenício, Tiro. Há menção deles no épico ugarítico de Keret (c. 1400 a.C.) e também nos textos de A m am a e nas listas de campanha do faraó Tutm és III. Suas relações posteriores com Israel são diplomáticas (Jr 27.3) e comerciais (Is 23.2).3.3. heveus. V er com entário em G ênesis 34.2 para informações detalhadas acerca desse povo de Canaã e sua possível relação com os invasores hurritas e hititas.3.3. m ontes do L íbano. Essas m ontanhas estendem- se por mais de 160 quilômetros de norte a sul e atingem m ais de 3 m il m etros de altitude. A s encostas ocidentais dessas montanhas recebem até 150 cm de chuva e neve por ano, tom ando o solo bastante fértil e propício para atividades agrícolas. As enormes florestas de cedro que também existiam na Antigüidade eram o resultado direto desse tipo de clim a mediterrâneo. Em bora o índice anual de chuvas não seja tão elevado no lado oriental das montanhas, há uma série de rios e fontes que tom am m uito férteis essas encostas m enos acidentadas na região do vale Beqa'.3.5. povos de Canaã. A lista das nações em Canaã com quem os israelitas tiveram de combater pode ser
encontrada em diversas outras passagens, com algumas variações (ver Gn 15.19-21; D t 7.1 alista sete nações, inclusive a dos girgaseus, que não aparece em Juizes). Para informações sobre cada grupo, consulte os comentários em Juizes 3.3 (cananeus); Gênesis 23.320 (hititas); Juizes 1.34-36 e Números 21.21 (amorreus); Gênesis 15.20 (ferezeus); Gênesis 34.2 (heveus) e Juizes1.21 (jebuseus).
3.7-11Otoniel3.7. baalins e Aserá. Essas divindades cananéias da fertilidade geralm ente aparecem juntas. Elas representam a abundância de chuvas e o crescimento das plamtações nos campos. Veja os comentários em Juizes2.11-13 para inform ações sobre o perigo que representavam para a fidelidade dos israelitas à aliança.3.8. M esop otâm ia (Arã N aaraim ). A região identificada como Mesopotâmia ou Arã Naaraim ficava na parte norte do rio Eufrates, no leste da Síria e no triângulo formado na região de Habur, onde Naor e H arã viv iam (ver G n 24.10). Foi nessa área que o império hurrita de Mitani se estabeleceu, entre 1500 el350. Os hititas haviam começado a investir contra os mitani já em 1365, e na metade do século catorze ocorreu a desintegração do reino hurrita, gerando refugiados e expulsando as tribos da região. O nome Cuchã-Risataim, embora tenha sido reconhecidamente "hebraizado", apresenta semelhanças com nomes hurritas comuns do período (Çusari-Risti). É possível, então, que essa prim eira am eaça tenha partido de um a tribo deslocada tentando encontrar um a terra onde pudesse se fixar e não de um conquistador estrangeiro tentando ampliar seu império.
3.12-30 Eúde3.12, 13. m oabitas, am onitas, am alequitas. M oabe e Am om eram reinos da Transjordânia cujos povos tinham vínculos genealógicos com os israelitas (ver o comentário em Gn 19.30-38). Sua menção aqui como nações rivais provavelmente reflete o crescimento de tensões nas fronteiras, como resultado da expansão das tribos israelitas. Os amalequitas sempre são retratados como inim igos declarados de Israel (ver Nm 24.20; Dt 25.17-19). Em bora relacionados à península do Sinai e a Midiã em algumas narrativas, eles parecem também ter se espalhado pelo sudeste de Canaã e pela região montanhosa da Samaria, o que os tom ava um aliado útil para qualquer inim igo invasor, como a potência moabita de Eglom.3.13. Cidade das Palm eiras. A referência aqui, como em Juizes 1.16, é ao oásis onde se localizava a cidade de Jericó, ao norte do m ar M orto. O local era um
refúgio natural para qualquer força m ilitar que estivesse tentando controlar o deserto da Judéia e as estradas que iam para a região montanhosa central.3.15. canhoto. A m enção aqui e em Juizes 20.16 a ben- jam itas canhotos sugere que essa tribo teria o costume de usar a técnica ambidestra no manejo de armas. O fato de ser canhoto já representava um a vantagem fora do comum, que podia ser usada como fator estratégico; foi essa característica que perm itiu a Eúde chegar à presença de Eglom com um a arm a escondida.3.15. tributos. Quando uma nação ou outra organização política conquistava um determinado povo ou estendia sobre ele sua hegemonia, a nação subjugada tinha de pagar tributos (ver 2 Sm 8.2; 1 Rs 4.21; 2 Rs17.3, 4) ao conquistador. O pagamento era feito com metais preciosos (em barras, jóias ou objetos), produtos agrícolas (grande parte da colheita) ou através de trabalho. Certamente essas exigências eram bastante impopulares e acabavam gerando revoltas ou conflitos armados. Existe farta documentação fora da Bíblia comprovando essa prática. Por exemplo, os anais dos reis assírios freqüentemente incluíam listas de objetos recebidos como tributos: o "O belisco N egro", inscrição de Salm aneser III, (859-824 a.C.) contém o tributo pago por Jeú à Assíria na forma de prata, ouro, chum bo e m adeira; Tiglate-Pileser III (744-727 a.C.) recebeu couro de elefante, marfim, vestes de linho e outros itens luxuosos de seus vassalos de D am asco, Samaria, Tiro e outras cidades.3.16. a espada de Eúde. A adaga confeccionada por Eúde provavelmente era feita de bronze. Devido ao seu tam anho (apenas 45 cm de comprimento) seria difícil de ser detectada pelos guardas de Eglom, o rei de Moabe. O fato de ser pequena tam bém permitia que tivesse dois gumes, ao contrário das espadas mais comuns daquela época, que tinham o formato de foice e eram usadas para cortar e não perfurar o inimigo. Visto que a lâmina foi feita de modo a ser introduzida na vítim a, a espada não poderia ter nenhum a peça transversal, apenas um cabo ou uma superfície revestida onde o combatente pudesse segurar. Por isso, ela pôde ser totalmente cravada no corpo de Eglom, matando-o rapidam ente sem derram ar m uito sangue, visto que o ferim ento ficava tam pado pela própria arma. A ssim como muitos outros elementos nesta narrativa, essa arm a não era um objeto comum, mas uma arma utilizada por um homem canhoto e confeccionada para um fim específico: matar.3.16. am arrada na coxa direita. Visto que Eúde era canhoto, seria natural para ele amarrar sua adaga na coxa direita. Armas com lâminas tinham de ser levadas presas transversalmente ao corpo, para que numa ação, o acesso a elas fosse imediato. No entanto, como a maioria das pessoas é destra, os guardas de Eglom
não tiveram o cuidado de revistar o que para eles seria considerado um lugar estranho para se colocar um a arma.3.19. ídolos que estão perto de G ilgal. Essas imagens (colunas ou ídolos esculpidos em pedra) talvez fossem marcos de divisa entre o território israelita (Efraim/ Benjam im ) e o dom inado por Eglom , em Jericó. É possível que existisse um santuário cananeu em Gilgal e o tributo pago por Eúde fosse levado até lá a fim de que os deuses testem unhassem essa demonstração de submissão. A ação subseqüente (mencionada novamente em Jz 3.26), porém, sugere que esse local foi apenas o lugar em que Eúde retornou para o palácio de Eglom.3.19. m ensagem secreta. A reação de Eglom diante da mensagem secreta a ser proferida por Eúde (afastando seus auxiliares do local) sugere que se tratava de um a informação importante e valiosa. Provavelmente ele não estivesse esperando receber o relatório de um espia, mas sim o oráculo de um deus; do contrário, ele teria preferido que seus auxiliares estivessem presentes para ouvir as notícias. Eúde tratou Eglom com deferência ao usar o título "ó rei" e depois confirmou sua intenção ao declarar que tinha um a mensagem de Deus para ele (v. 20). Assim como o povo de Eúde havia se submetido a ele, Eglom agora esperava uma palavra divina favorável para conquistas futuras (em um a profecia dos textos de M ari o rei recebeo aviso secreto de uma revolta). Desse modo, a ambição de Eglom provocou sua própria ruína.3.20. o rei se levantou do trono. Essa afirmação foi incluída na tradução com base na narrativa da Septuaginta, fornecendo um detalhe extra na ação. Certamente, ao colocar-se de pé, Eglom transformou-se num alvo mais fácil para o golpe fatal de Eúde, que tras- passou-o com a espada (ver 3.21).3.23. arquitetura. Os detalhes arquitetônicos da sala de audiência de Eglom são descritos com palavras que não aparecem em nenhum outro contexto, mas podem ser traduzidas como "u m a sala superior sobre vigas". Isso indica que havia um pavimento elevado, com acesso através de uma escada, no interior de uma sala de audiência maior. Aparentemente, havia portas que separavam esse côm odo privativo da área maior e por ser uma sala particular do rei, provavelmente contava com instalações sanitárias, o que por vezes era motivo de orgulho. Assim, quando Eglom levou Eúde para cim a até esse côm odo e fechou e trancou as portas da sala atrás de si, Eúde pôde livrar- se dele sem ser observado. Depois, conseguiu escapar, removendo o assento do toalete e descendo pelo piso até a latrina que ficava embaixo (na NVI, "saiu para o pórtico"). Sua saída pelo pórtico não despertou a atenção dos guardas presentes no local, que demo
raram a investigar a ausência do rei, devido ao odor de fezes que emanava de seu cômodo privativo.3.24. fazendo suas necessidades. Quando Eúde perfurou Eglom, o esfíncter anal provavelmente se rompeu, produzindo um odor semelhante ao de fezes. Os guardas de Eglom hesitaram em interrom per o rei
enquanto ele estava fazendo suas necessidades (ver eufemismo semelhante em 1 Sm 24.3) e assim deram a Eúde tem po para que escapasse e reunisse suas tropas.3.26. Seirá. Essa localidade ainda não foi identificada com segurança. Sua proximidade com os "ídolos que estão perto de G ilgal" (ver Jz 3.19) indica que seria a área ao norte de Jericó, no vale do Jordão. Um lugar assim ficaria perto o suficiente para que os israelitas se reunissem e atacassem a guarnição moabita em Jericó.3.28. passagem . Tomar posse do lugar de passagem ou do vau do rio Jordão significava obter controle efetivo da passagem dos exércitos de Canaã para a Transjordânia e vice-versa (ver comentário em Js 2.7). A estratégia de Eúde foi evitar a dispersão das tropas de Eglom e impedir que reforços chegassem de Moabe. Uma estratégia semelhante também é encontrada em Juizes 12.5, 6 quando Jefté manteve controle das passagens contra os efraimitas e na descrição de RamsésII da Batalha de Cades contra os hititas (c. 1285 a.C.).
3 .3 1Sangar3.31. Sangar. N ão há razão para considerar que Sangar fosse um israelita ou um juiz. Os filisteus estavam se deslocando do norte para o Egito, no final do século treze e, sem dúvida, os egípcios usaram bandos de m ercenários para detê-los. Sangar pode m uito bem ter sido o líder de um bando como esse (talvez Apiru, ver com entário em Js 5.1). Sua intervenção m ilitar beneficiou tanto a Israel quanto ao Egito. Não obstante, ele foi usado pelo Senhor como um instrumento de salvação para os israelitas.3.31. filh o de Anate. Essa designação ou título para Sangar pode indicar sua devoção ou relação com a deusa cananéia Anate, que era a deusa protetora dos guerreiros. É provável que o nom e "San g ar" fosse hurrita (embora alguns estudiosos sugerem tratar-se de um nom e semita ocidental e, portanto, cananeu). Assim, ele pode ter sido um mercenário, como Jefté ou como os "trinta valentes" de Davi (2 Sm 23.8-39). O título foi comparado aos haneanos, dos textos de Mari, que eram m ercen ários do santu ário de H an at (= Anate). Além disso, há um guerreiro egípcio do século treze identificado como filho de Anate e também a ponta de um a flecha da Palestina, datada da Idade do Bronze Moderna, com a inscrição "B en A nate". Esses
dados sugerem que esse título designava uma posição militar.3.31. filisteus. À medida que os povos do m ar começaram a estabelecer-se na Sírio-Palestina, após terem obtido sucesso na invasão de todas as áreas costeiras do Oriente Próximo (exceto no Egito, onde Ramsés III com muito custo os expulsou), eles tiveram de disputar a região com os habitantes locais (ver Jz 3.3). Os filisteus, que faziam parte desses povos do mar, devem ter enfrentado um a série de oponentes, inclusive os israelitas. Nesse versículo, um a unidade de seiscentos filisteus foi atacada e derrotada por Sangar, o que dá a entender que ele sozinho acabou com os filisteus usando uma aguilhada de bois. Essa leitura, porém, não elimina a possibilidade de que ele tenha sido um líder local m ercenário, cananeu ou hurrita (famoso o bastante para aparecer tam bém na narrativa de D ébora, em Jz 5.6), cujas proezas, ao m enos indiretam ente, ajudaram os israelitas a destruir um inimigo comum.3.31. aguilhada de bois. O termo malmaã aparece apenas nesse relato. Pode referir-se a um aguilhão, ou vara, usado pelos boiadeiros para conduzir o gado, tendo geralm ente um a ponta de m etal, e servindo dessa forma também como uma lança curta, caso nenhuma outra arma estivesse disponível. Assim como m uitas das arm as im provisadas usadas em Juizes, esse instrumento reflete o pequeno avanço tecnológico dessa cultura.
4.1-24 Débora e Baraque4.2. Hazor. Mencionada como um a importante cidade tanto nos textos de M ari (século dezoito) como nas cartas de El A m am a (século catorze), Hazor (Tell el- Q edah), ficava num ponto estratégico no norte da Galiléia (16 quilômetros ao norte do m ar da Galiléia), na estrada entre Damasco e Megido. Josué a descreve como "a capital de todos esses reinos" (Js 11.10) e tanto em Josué como em Juizes, o rei Jabim é derrotado (Js11.13; Jz 4.24; ver tam bém 1 Sm 12.9). Investigações arqueológicas demonstram um grande rúvel de destruição no século treze, que pode ser o resultado de ataques dos povos do mar, dos israelitas ou de algum outro grupo. Posteriormente, a cidade foi fortificada novam ente por Salom ão (1 Rs 9.15) perm anecendo como um importante centro de comércio e um ponto estratégico para a fronteira norte de Israel até a conquista assíria (2 Rs 15.29). Ver comentário em Josué11.1 para informações adicionais.4.2. H arosete-H agoim . Não se sabe ao certo se esse nome, traduzido na Septuaginta como "floresta das nações", está relacionado a um a cidade ou a um a floresta da Galiléia. Foram feitas várias tentativas no
sentido de identificá-lo a algumas localidades (Tel el- Harbaj e Tell Amr), mas as evidências arqueológicas são inconclusivas. D a m esma forma, não se pode afirm ar que se trata da M uhrashti m encionada nas cartas de El Am am a. De acordo com a descrição no texto, parece tratar-se de uma área de concentração ou reunião de tropas no vale de Jezreel, talvez dentro de uma área sob controle dos filisteus (o nome Sísera não é semita). Pode simplesmente referir-se a uma região da G aliléia sob o controle de Sísera, que aparentemente era um governante m ilitar aliado de Jabim, rei de Hazor.4.3. novecentos carros de ferro. O núm ero de carros envolvidos nessa batalha é tão grande que alguns eruditos o consideram um exagero. Números exagerados às vezes eram usados no antigo Oriente Próximo para engrandecer a força do oponente e acrescentar m aior glória ao comandante ou à divindade depois de alcançar a vitória. Outros exemplos em que há suspeita do uso de hipérbole pelo cronista ocorrem nos anais assírios de Salmaneser III (858-824 a.C.), que relaciona 3240 carros entre seus inimigos, e na afirmação de Tutm és III de ter capturado 892 carros na batalha de Megido. Outros números elevados de carros de guerra em relatos bíblicos podem ser encontrados em1 Sam uel 13.5 (30 mil/ 3 mil na Septuaginta); 1 Reis10.26 (1400 carros) e 1 Crônicas 19.7 (32 mil carros). Para m ais informações sobre o uso de acessórios de ferro, leia Juizes 1.19.4.5. decidir as questões. Débora é a única figura apresentada no Livro de Juizes exercendo a função de ju íza tal como nos dias de hoje. Ela ouvia e decidia questões, oferecendo respostas com grande autoridade, debaixo de um a tamareira que servia como marco daquela região. A descrição de Débora "decidindo as questões do povo" é semelhante àquela encontrada no épico ugarítico de Aqhat (c. 1500 a.C.), que apresenta o rei D anil assentado sobre a eira, diante dos portões da cidade, julgando as questões das viúvas e dos órfãos (Aqhat III.i.20-25).4.5. entre Ram á e Betei. Ramá, na tribo de Benjamim, é identificada com er-Ram, cerca de cinco quilômetros ao norte de Jerusalém, e Betei (Beitin) fica outros seis quilômetros m ais ao norte, ao longo da estrada que vai para o território de Efraim. Essa rota era usada por m uitos viajantes sendo, portanto, um bom lugar para um juiz ou profeta sentar-se e resolver as questões.4.6. Quedes. Ver comentário em Josué 12.22 a respeito dessa localidade identificada como Tell Qades, a noroeste do lago Hulá, na região da alta Galiléia.4.6. reunir tropas no m onte Tabor. Seu formato peculiar, um promontório de topo plano, situado na extrem idade nordeste do vale de Jezreel (a quatro quilôm etros de Nazaré) e sua localização na junção dos
territórios de Zebulom, Issacar e Naftali (Js 19.22) faziam do monte Tabor um ponto óbvio para a reunião de tropas dessas tribos. De seu cume é possível avistar o monte Gilboa ao sul e o monte Carmelo, a oeste. Por ser um local de solo neutro, era possível oferecer ali sacrifícios e outras atividades cultuais antes ou depois da batalha (ver Jz 8.18 e 1 Sm 10.3). Se o inimigo detectasse o movimento das tropas, as tribos estariam posicionadas num lugar alto, onde poderiam lutar e se m anter a salvo dos carros de Sísera. A batalha em si, porém, aconteceu ao sul, no vau de Quisom.4.7. atraindo Sísera a Q uisom . O rio Quisom fica ao sul do monte Tabor, perto de Taanaque (ver Js 12.21). Embora seja um a planície que norm almente favoreceria o uso dos carros pelas forças de Sísera (ver Jz1.19), o rio aparentemente havia transbordado, devido às pesadas chuvas da época (Jz 5.20, 21). Isso teria formado muita lama no campo de batalha a ponto de os carros ficarem encalhados, transform ando-se em alvos fáceis para os israelitas. A capacidade de atrair o inimigo para um local onde se sentiria confiante para depois surpreendê-lo pelas condições do terreno deu aos israelitas a vantagem de que precisavam.4.10. dez m il hom ens. E difícil determinar se esse núm ero deve ser entend ido com o dez m il hom ens ou como dez divisões. Os termos hebraicos são ambíguos. Geralmente cada clã enviava um a divisão de homens arm ados, m as com bem m enos de m il homens. Para
m ais detalhes, ver com entário em Josué 8.3.4.11. queneus. Para informações sobre esse povo, que se espalhava da Galiléia até o Neguebe e o Sinai, ao sul, ver com entários em N úm eros 24.21, 22 e Juizes 1.16.4.11. carvalho de Zaanim . O acampamento de Héber ficava na fronteira sul de N aftali (Js 19.33) e está associado a um ponto de referência, um a árvore sagrada, sem elhante à tam areira de D ébora (Jz 4.5). O mais
provável é que ficasse próximo ao monte Tabor, dentro do território de Quedes. Isso o posicionaria ao norte do cenário da batalha e numa distância possível de ser alcançada por um homem em fuga, como Sísera.4.12. 13. a estratég ia de S ísera . A pós ter recebido relatórios (possivelmente de algum aliado queneu - ver Jz 4.17) sobre o posicionamento das tropas aliadas de Baraque no monte Tabor, Sísera reuniu seu exército, tom ou posição para o com bate e enviou seus carros de guerra para o leste, pelo vale de Jezreel, até a planície de Esdrelom . O objetivo era passar por M egido (que ainda não fora reocupada nesse período) e Taanaque, até alcançar o rio Quisom. Foi nesse ponto que a estratégia de Sísera foi frustrada, devido à combinação do volume de águas no leito do vau e às pesadas chuvas que transform aram a planície num verdadeiro atoleiro.
4.14-16. a estratégia de Israel. Aparentemente, a estratégia ordenada por Débora e executada por Baraque era para reunir as tropas no monte Tabor, em pontos altos da divisa do território das tribos israelitas, de onde se podia avistar claramente toda a região. Dessa form a, caso fossem descobertos antes da hora, eles estariam protegidos. Assim que conseguissem atrairo exército de Sísera para o vale de Jezreel e dali para a planície perto do rio Quisom, os israelitas poderiam fazer um rápido ataque às tropas do inim igo, que estariam atoladas na lama proveniente do transbor- damento do vau. A estratégia retratada em Juizes 45 dependia da intervenção divina (enviando fortes chuvas) enquanto que a definição do momento exato do ataque dependia de D ébora, a representante de Yahw eh.4.18-21. a hospitalidade de Jael. No Livro de Juizes, é comum uma inversão de alguns costumes ou atitudes cotidianas (ver a atitude correta num a situação de hospitalidade em G n 18.2-8). É um a m ulher, e não seu m arido, que oferece hospitalidade a Sísera. Na qualidade de hóspede, Sísera não deveria pedir nada, no entanto, ele pede algo para beber e também pede a Jael para ficar de.sentinela à porta da tenda, para protegê-lo. Além disso, assassinar um hóspede nunca fez parte do protocolo da hospitalidade. Porém, Jael pode ter sido justificada por ter matado Sísera, visto que ele representava um a ameaça em potencial tanto a ela como à honra de sua família.4.21. estaca da tenda e um m artelo. Os instrumentos usados por Jael para matar Sísera, enquanto ele dormia, lhe eram bastante fam iliares, já que ela certamente deveria usar estacas e martelo para m ontar a tenda cada vez que eles arm avam acampamento. É possível que ela tivesse recorrido a esses instrumentos com facilidade e o fato de ter cravado a estaca na cabeça de Sísera até penetrar o chão não fosse nada fora do comum para Jael.
5.1-31O cântico de Débora5.1-3. cânticos de vitória. Um a das maneiras de celebrar as vitórias m ilitares e com em orá-las nos anos seguintes era compondo e entoando canções. Além de servir como um tributo aos heróis (ver Jz 11.34 e 1 Sm18.6, 7), esses cânticos passavam a fazer parte da tradição oral (ver o "Cântico de M oisés" em Êx 15.1-8). Os cânticos de vitória eram comuns no antigo Oriente Próximo; um exemplo é o cântico do Épico de Tukulti- Ninurta (Assíria, século treze a.C.), que descreve sua campanha contra o rei cassita Kashtiliash. Esse cântico relata como Tukulti-N inurta pede o auxílio divino, com base em seu relacionamento anterior com a divindade, e como recebe essa ajuda, e tam bém inclui
um trecho zombando do rei inimigo que havia fugido da batalha. Assim como o cântico de Débora é semelhante ao relato do capítulo 4, a literatura do antigo O riente Próxim o oferece diversos exem plos (além desse já mencionado do Épico de Tukulti-Ninurta) de relatos de batalha preservados tanto em prosa como em verso (outros exemplos procedem de Tiglate-PileserI e Ramsés II, ambos do século treze e Tutm és IQ, do século catorze).5.6, 7. cam inhos tortuosos. No conturbado período associado a Sangar e a Jael, em que atos individuais de heroísmo eram os únicos momentos de glória, as estradas eram m uito perigosas e sujeitas ao ataque de bandidos, obrigando mercadores e agricultores a percorrer trilhas tortuosas, para se protegerem de assaltos. Esses caminhos tortuosos estão relacionados ao tema do Livro de Juizes e às visões de Balaão inscritas em gesso em Tell D eir 'A lia , no leste do v ale do Jordão, em que o contrário ou o inverso dos fatos é apresentado como natural.5.8. nenhum escudo ou lança. O baixo nível de desenvolvimento tecnológico dos israelitas e a escassez de instrumentos de guerra também são mencionados em 1 Sam uel 13.19-22. E provável que os israelitas tenham sido obrigados a entregar todas as armas aos governantes filisteus e cananeus ou talvez não tivessem o conhecim ento necessário para fabricá-las. De qualquer maneira, o cântico de Débora dá a entender que os israelitas foram dominados e subjugados por terem adorado a outros deuses, despertando assim, a ira de Yahweh.5.10. cavalgar em jum entos. Apenas os comerciantes abastados podiam se dar ao luxo de possuir esses valiosos animais. Nesse texto, todas as camadas sociais (os que cavalgam e tam bém os que caminham por não te rem co n d içõ e s de te r um ju m e n to ) são convocadas a juntar-se no cântico de louvor a Yahweh por Ele ter libertado o seu povo.5.11 . voz dos qu e d is tr ib u e m águ a. O cân tico a Yahw eh devia ser cantado ainda m ais alto que os gritos daqueles que disputavam um lugar junto aos bebedouros para dar de beber aos animais durante as paradas das caravanas. Esses homens proclamavam em alta voz as novidades ou contavam histórias, m uitas vezes com a ajuda de címbalos ou outros instrumentos. Enquanto divertiam os viajantes e transportavam água, esses homens obtinham algum sustento e transmitiam os acontecimentos.5.14. ra ízes de A m aleque. N a lista das tribos que atenderam ao chamado de Débora há um grupo de Efraim, associado à região montanhosa de Amaleque, em Piraton (ver Jz 12.5). Embora essa passagem possa ser uma indicação do fato de os amalequitas estarem espalhados por um a grande área, faz m ais sentido
entender que se trata de uma região dentro do território de Efraim.5.14. M aquir. Essa passagem, assim como a de 1 Crônicas 7.14, indica que M aquir era um grupo tribal que habitava a região situada entre as tribos de Efraim e Zebulom, perto do rio Quisom.5.19. Taanaque. Localizada oito quilômetros a sudeste de M egido e aproximadamente a mesma distância a oeste do monte Gilboa, Taanaque era um a das cidades fortificadas que guardavam o vale de Jezreel (ver comentário em 6.33). Há um a referência a Taanaque nos relatórios de Tutm és III sobre a Batalha de M egido (século quinze a.C.) e possivelmente, um a breve menção nas tábuas de Amarna. H á indícios de focos de ocupação durante o século doze, m as há uma camada de destruição que remonta ao ano 1125.5.20. lutaram as estrelas. Nas tradições mediterrâneas e do Oriente Próximo diversos deuses (o deus egípcio Resefe, o mesopotâmio Nergal e o deus grego Apoio) aparecem associados a corpos celestes (planetas, estrelas ou cometas). Acreditava-se que em algumas ocasiões, esses astros deixavam seu curso para juntar-se às batalhas humanas, confundir os inimigos e trazer pragas aos animais. Já no final do terceiro m ilênio, os textos de Sargom referem-se ao Sol ofuscando os inim igos e às estrelas avançando contra eles. A esteia G ebal Barkal de Tutm és III também m enciona a ajuda das estrelas brilhando no céu para confundir e dizim ar os inim igos hurritas (sobre o uso de estrelas e cetros, ver N m 24.17). É importante observar, porém, que as estrelas mencionadas nessa passagem de Juizes não são personificadas como divindades, e sim, vistas com o m en sageiras ou in stru m entos nas m ãos de Yahweh. Ver comentários adicionais em Js 10 .12 ,13.5.21. rio Q uisom . O rio Quisom pode ser tanto o vau al-Muqatta, que serve como um escoadouro do vale de Jezreel correndo a oeste para o M editerrâneo, ou o vau el-Bira, que corre para o leste, do monte Tabor em direção ao rio Jordão. No cântico de Débora, o rio funciona como parte integrante da estratégia de batalha. Com a ajuda das estrelas nos céus, um a fonte de chuva de acordo com o épico ugarítico e mesopotâmico, a batalha de Quisom foi decidida por uma incomum tempestade de verão que provocou fortes correntezas no rio Quisom. Como o rio transbordou e toda a área foi inundada, os carros de guerra de Sísera tornaram- se ineficazes. A história é bastante parecida com a de Êxodo 14.19-25, em que os carros do faraó são inutilizados e destruídos pelas águas do mar Vermelho.5.26. esm agar a cabeça. N a literatura cananéia de Ugarite, a deusa Atarte (que aparece na Bíblia com o nome de Astarote) é conhecida como uma deusa guerreira que esmaga a cabeça de seus oponentes.
5.28. m ãe olhando p ela ja n ela . A im agem de uma mulher, seja ela m ãe ou esposa, de pé, esperando que seu m arido ou filho retorne da batalha é realm ente comovente. Se por um lado ela deve tentar manter a dignidade e procurar encontrar explicações lógicas para a demora do retorno (v. 29, 30), por outro ela pode apenas fixar o olhar através da janela e observar a estrada. Algumas vezes, a janela se tom a uma espécie de clausura que a m antém prisioneira dentro de um universo particular, e outras vezes funciona como a moldura de um quadro representando-a como defensora de uma causa perdida (ver M ical em 2 Sm 6.16 e Jezabel em 2 Rs 9.30-32).5.30. despojo. No mundo antigo, a guerra era justificada por uma ordem divina ou pela honra nacional. No entanto, a verdadeira motivação que impulsionava reis e soldados para a batalha eram os despojos. Os espólios de guerra representavam riquezas, poder e submissão do inimigo (ver Dt 31.11,12; 20.14; Js 11.14;1 Sm 14.30-32).
6.1-8.35Gideão6.1. m id ian itas. O s m idianitas eram um povo que habitava o sul da Transjordânia. São descritos como descendentes de Abraão e Quetura (Gn 25.1-6), e na narrativa de José eles aparecem como comerciantes e líderes de caravanas (37.25-36). M oisés juntou-se ao clã m idianita de Jetro depois de ter fugido do Egito (ver comentário em Ex 2.15), mas os midianitas não se juntaram aos israelitas na conquista de Canaã. Na narrativa de Balaão, os anciãos m idianitas unem -se aos moabitas e participam da contratação do profeta para amaldiçoar Israel (Nm 22.4). O território midianita originalmente concentrava-se na região leste do golfo de A caba, no noroeste da A rábia, m as em alguns períodos, os midianitas estenderam seu território pela península do Sinai, a oeste, bem como pela Transjordânia, ao norte. Em bora a princípio aparentem ser um povo seminômade ou beduíno, estudos arqueológicos têm revelado aldeias, cidades m uradas e amplos sistemas de irrigação nessa região já na Idade do Bronze Moderna (a época do êxodo e dos primeiros juizes). Até o momento, não foram encontradas referências aos midianitas em textos antigos, em bora às vezes sejam identificados com os shasu, mencionados com freqüência na literatura egípcia.6.2. esconderijos nas cavernas. Por possuírem poucas cidades fortificadas, a única form a de proteção para os
israelitas era esconder-se nas m ontanhas, onde podiam preservar seus suprimentos e suas famílias. Nessa região, é provável que tenham usado desde as cavernas da cadeia de m ontanhas do m onte Carmelo
até as colinas que flanqueavam o vale de Jezreel no sudoeste.6.3. invasão na época da colheita. Era muito importante escolher a época certa para a invasão. Se a colheita já tivesse acontecido, os aldeões teriam estocado e escondido os cereais e poderiam conter mais faril- mente o ataque. Se o cereal ainda estivesse nos campos, o invasor teria am plas provisões e os aldeões ficariam sem nada. Esse fato indica que os meses de abril ou maio eram a época m ais propícia às invasões, pois as aldeias seriam facilmente arrasadas se fossem privadas de seu suprimento anual de cereais. Por essa razão, tudo que os invasores não usavam ou roubavam , eles destruíam com pletam ente. A s plantações tam bém eram prejudicadas pela m archa das tropas nos campos, pisoteando as plantações e colocando em risco as colheitas futuras.6.3. am alequitas. Ver comentário em Números 24.20. Os amalequitas vagavam através de vastas faixas de terra no N eguebe, na Transjordânia e na península do Sinai. A existência deles não é confirmada fora da Bíblia e nenhum vestígio arqueológico pode ser relacionado a eles com segurança. Pesquisas arqueológicas na região, porém, têm descoberto amplas evidências da existência de grupos nômades e seminômades semelhantes aos amalequitas durante esse período.6.5. camelos. É importante não tirar conclusões precipitadas sobre fatos que o texto não está afirmando. Embora o texto afirme claramente que os midianitas possuíam m uitos camelos, não se pode afirmar que esses animais eram usados como cavalos de guerra em unidades de infantaria. De fato, as evidências que confirmam a domesticação do camelo indicam que o uso desse animal para montaria só aconteceu vários séculos depois. No entanto, o tipo de sela usado nessa época permite concluir que os camelos eram de fato usados como meio de transporte e como animais de carga.6.8. profeta. Esse é o primeiro profeta anônimo mencionado no texto bíblico. Para uma discussão sobre os diversos aspectos da profecia e a função dos profetas, consulte os comentários em Deuteronômio 18.14-22. Aqui o profeta é apresentado como defensor da aliança e sua m ensagem concentra-se exclusivamente na adoração a Yahweh. As mensagens transmitidas pelos profetas do antigo Oriente Próximo muitas vezes incluíam advertências quanto ao objeto de adoração e à form a de culto.6.11. o A njo do Senhor. No mundo antigo, comunicações diretas entre chefes de Estado eram raras. As negociações diplomáticas e políticas geralmente eram feitas através de um mediador, que era investido de plena autoridade pela pessoa que representava. Ele falava em nom e de quem o havia enviado e com a
m esma autoridade; recebia o mesmo tratamento que seria dado ao seu superior, se estivesse ali pessoalmente. Apesar de tratar-se de um procedimento protocolar, não havia confusões quanto à identidade da pessoa. Todo esse tratam ento sim plesm ente servia como um reconhecimento adequado da pessoa que o mediador representava. Entendia-se que os presentes ofertados pertenciam à parte representada, não ao representante. Esperava-se que as palavras dirigidas ao representante fossem relatadas com detalhada precisão e entendidas como se proferidas diretamente à pessoa ali representada. Quando o representante proferia oficialmente algumas palavras, todos entendiam que ele não falava de si mesmo, m as simplesmente estava transmitindo as palavras, opiniões, posições e decisões de seu soberano. Do mesmo modo, o anjo do Senhor atuou como m ensageiro ou enviado real investido da autoridade daquele que enviou a mensagem.6.11. Ofra. Não se sabe ao certo a localização de Ofra. A mais provável é a moderna Affuleh, entre Megido e a colina de M oré, no vale de Jezreel. A s árvores
geralmente eram associadas a oráculos e a teofanias, e às vezes serviam como marcos de lugares de adoração (ver G n 12.6; 21.33; 35.4; Jz 4.5; 9.37; Is 1.29; Os 4.13).6.11. m alhando o trigo num tanque de prensar uvas. Eiras eram amplas áreas de chão batido ou de pedra, geralm ente a céu aberto para perm itir que a brisa pudesse soprar para longe a palha ou a casca dos grãos. Geralmente eram usadas por toda a comunidade. Essa atividade era feita basicamente nos meses de junho e julho; os grãos eram espalhados com a ajuda de um bastão ou esmagados pelo gado que era levado para andar em cima dos feixes. Um tanque de prensar uvas era um buraco quadrado ou redondo cavado
num a rocha, com capacidade para algumas pessoas caminharem dentro dele. Malhar o trigo num tanque de prensar uvas seria m uito m ais discreto e menos notado do que num a eira.6.12. poderoso guerreiro. O epíteto usado pelo anjo geralmente tem sido traduzido pela expressão "pod eroso guerreiro" e é aceitável quando inserido num contexto militar. Há, no entanto, uma série de pessoas que são assim descritas em contextos da comunidade (ver Rt 2.1; 1 Sm 9.1; nessas duas passagens a tradução da N V I é "hom em influente"). N esses casos, a expressão descreve a pessoa como um indivíduo responsável e de destaque na comunidade.6.15. clã m enos im portante, m enor da fam ília. Os comentários de Gideão sobre a insignificância de seu clã e sua posição de inferioridade dentro de sua própria família estão relacionados com a questão da autoridade. Ele não tinha autoridade para convocar soldados em seu próprio clã ou família, quanto mais nas outras tri
bos. As prerrogativas de liderança eram decorrentes da posição social, que ele afirm ava não possuir.6.16. como se fossem um só homem. A tradução da NVI aplica essa expressão se referindo à fraqueza dos midianitas diante de Gideão. Uma outra possibilidade seria que, apesar da falta de autoridade oficial de Gideão, os israelitas fariam um pacto e lutariam unidos sob sua liderança.6.19. a oferta de Gideão. Ao descrever o que deseja oferecer, Gideão usa a palavra genérica "oferta", que não necessariam ente tem o sentido de "sacrifíc io ", em bora adquira esse aspecto quando relacionada a uma refeição. Trata-se da mesma palavra usada para descrever as ofertas de Caim e Abel (ver comentário em G n 4.1-7) e descreve uma das categorias de ofertas sacrificiais (ofertas de cereais, ver Lv 2). O fato de o cabrito ter sido preparado em casa e depois levado ao lugar do oferecimento em vez de ser sacrificado no local sugere tratar-se de um a refeição e não de um holocausto. Os ingredientes dessa refeição incluíam carne de cabrito e pão sem fermento (já que a refeição foi preparada rapidamente, não houve tempo para o pão crescer). Um efa corresponde a cerca de um a arroba, o suficiente para fazer dez bolos achatados de 20 a 25 cm de diâmetro, uma porção bastante generosa para os tempos difíceis que os israelitas estavam atravessando.6.20. pôr sobre a rocha. É o anjo que orienta Gideão a colocar a comida sobre a rocha, onde é consum ida pelo fogo, deixando assim de ser uma simples refeição para se trasform ar num sacrifício. À s vezes, as rochas eram usadas como altar (1 Sm 14.32-34), mas geralm ente para perm itir que o sangue do anim al sacrificado escorresse até o chão, o que não é o caso aqui.6.25. segundo n ovilho, de sete anos de idade. O texto pode estar falando de dois novilhos (não na N VI, mas em outras versões). O segundo foi oferecido em sacrifício e alguns estudiosos interpretam que o primeiro deve ter sido usado para ajudar Gideão a destruir o altar de Baal. Para manter um rebanho, não há necessidade de muitos novilhos, sendo assim, m uitos machos eram mortos ainda jovens e apenas os melhores exem plares eram preservados para procriação. Um novilho de sete anos de idade, portanto, devia ser um excelente m acho reprodutor. O sacrifício desse animal seria de um a im portância extrem am ente significativa. Alguns bois eram mantidos para trabalhos pesados, m as nesse caso geralmente eram castrados para que se tornassem m ais maleáveis e dóceis. Se de fato o texto faz menção a dois animais, é provável que o primeiro fosse castrado e usado para tração.6.25. altar de Baal. Embora o texto afirme que o altar pertencia ao pai de Gideão, a reação dos moradores
da cidade sugere que se tratava de um santuário comunitário. Vários templos cananeus e alguns locais de adoração ao ar livre desse período foram encontrados em Israel (Hazor, Láquis), tais como o "Lugar do Touro", poucos quilômetros a leste de Dotã. É provável que os objetos encontrados nessas localidades, porém , sejam m asseboth (colunas de pedra, ver comentário em Gn 28.18,19) e incensários e não altares. Um dos primeiros altares israelitas é o altar de pedra bruta do século dez, em A rade, com cerca de dois metros e meio quadrados e quase um metro e meio de altura.6.25. poste sagrado de Aserá. Aserá pode ser o nome de um a deusa da fertilidade ou o nome de um objeto de culto (como é o caso nesta passagem). Essa deusa era bastante popular entre o povo de Israel, durante seus desvios politeístas e às vezes era considerada a mediadora das bênçãos de Yahweh. Um indício dessa crença encontra-se nas inscrições de Kuntillet Ajrud e K hirbet el-Q om . N a m ito logia cananéia ela era a consorte de El, o deus principal, aparecendo também na literatura mesopotâmica já no século dezoito como a consorte de Amurru, o deus dos amorreus. O poste sagrado era o símbolo de sua adoração, podendo ou não portar um a representação da divindade. Talvez representasse um a árvore artificial, visto que Aserá muitas vezes é associada a bosques sagrados e retratada como uma árvore estilizada. O objeto de culto podia ser confeccionado ou fabricado, ou em outras ocasiões podia ser plantado. Temos poucas informações sobre a função desses postes na prática ritual.6.31. a defesa de Joás. O pai de Gideão, Joás, confrontado pelos aldeões que buscavam vingança em nome do deus afrontado, sugere que não se trata de uma questão para a com unidade punir, m as sim para o próprio Baal se vingar. Quando se praticava um sacrilégio, era função da divindade executar justiça (ver Lv 10.1-3; 1 Sm 6.19; 2 Sm 6.7). Joás afirma que qualquer que tomasse a vingança em suas próprias mãos seria julgado por seu clã como culpado de sangue e estaria sujeito à punição. No antigo Oriente Próximo, é comum ver um deus agindo em defesa de seu templo ou im agem . Assim , por exem plo, a Crônica de W eidner relata como M arduque castigou todos aqueles que realizavam os rituais de form a inaceitável. De m odo sem elhante, M arduque busca trazer sua imagem de volta à Babilônia, que fora levada pelos ela- mitas. Todas essas desforras, porém, eram executadas por seres humanos que afirmavam ser instrumentos da vingança dos deuses, um a pretensão que Joás desejava evitar.6.33. vale de Jezreel. O vale de Jezreel tem esse nome por causa da cidade de Jezreel localizada na extremidade leste do vale. Essa planície fértil divide a cadeia
montanhosa do Carmelo, desde a baixa Galiléia, estendendo-se a sudeste no rio Quisom, da planície de Aco acima do Carmelo, até passar por entre a colina de Moré e o monte Gilboa e chegar ao vale do Jordão, por Bete-Seã. Atinge de oito a dezesseis quilômetros de largura e 24 quilômetros de extensão (de Jocneão a Jezreel). Importantes rotas comerciais passavam pele vale através do caminho de Nahal Iron, em Megido, de modo que às vezes o vale recebe a designação de "planície de M egido" e, mais tarde, "A rm agedom ". Era um a área naturalmente adequada para batalhas e m uitas aconteceram ali durante os tempos bíblicos, inclusive a batalha de D ébora e Baraque contra os cananeus (Jz 4), a batalha do monte Gilboa entre Saul e os filisteus (1 Sm 31) e a batalha entre Josias e o faraó Neco (2 Rs 23.29).Foi o cenário também para a famosa batalha de Megido, no século quinze, quando TutmésIII tentou subjugar a terra de Canaã.6.34, 35. o E spírito do Senh or sobre os ju izes. No Livro de Juizes, geralmente o Espírito do Senhor aparece relacionado à convocação de um exército. Numa sociedade tribal onde não havia governo centralizado, era difícil conseguir que as outras tribos apoiassem aquela que estivesse enfrentando problemas. Em situações como essa, a autoridade de um líder dependia de sua habilidade de convencer os outros a segui- lo, ainda que ele não tivesse nenhum a posição ou comando acima deles. Em Israel, essa era a marca do poder de Yahw eh, visto que esse líder sozinho tivera autoridade para convocar os exércitos de todas as tribos. Yahw eh era a única autoridade central, portanto, quando alguém exercia autoridade convocando os exércitos, algo que era função de Yahweh, ficava evidente que a autoridade do Senhor estava sobre essa pessoa (ver Jz 11.29; 1 Sm 11.6-8). Esse era um dos traços distintivos dos juizes de Israel.6.36-40. oráculo da lã. Em um oráculo, é apresentada à divindade uma pergunta do tipo "sim ou não" que é respondida através de um sistema binário. Em Israel, o sacerdote portava o Urim e o Tum im que eram usados em situações de oráculo (ver comentário em Êx 28.30). Aparentem ente eles não estavam disponíveis no caso, assim Gideão teve de ser mais criativo e fazer uso de um fenômeno natural para o oráculo (ver Gn 24.14 e 1 Sm 6.7-9 para outras ocorrências). A pergunta de Gideão era se o Senhor iria ou não usá-lo para libertar a Israel. Seu sistema oracular baseava-se no que norm alm ente aconteceria a um chum aço de lã que fosse deixado durante a noite num a eira, ao relento. Visto que a lã é m acia e absorvente e o chão da eira era de pedra ou chão batido, o natural era que a lã estivesse úm ida e o chão seco. Se isso acontecesse, a resposta à pergunta oracular seria "sim ". Gideão já havia sido informado pelo anjo acerca das intenções
do Senhor e estava apenas dando um a oportunidade ao Senhor de informá-lo sobre alguma mudança nos planos. Quando na primeira noite tudo acontece conforme a expectativa natural, Gideão questiona se esse "silên cio" pode significar que o Senhor não estava dando atenção ao seu oráculo. Ele então, inverte o oráculo, de m odo que a ocorrência fora do comum represente o "s im ", ou seja, a lã ficando seca e o chão da eira, úmido. O raciocínio por trás disso é que, se a resposta realmente tivesse vindo da divindade, seria capaz de alterar um fenômeno natural e ultrapassar as leis naturais a fim de transmitir a resposta, confirmando-a. No antigo Oriente Próximo, era comum usar o fígado ou os rins de animais sacrificados para obter respostas oraculares (ver comentário sobre presságios e o costume de examinar as vísceras em D t 18.10).7.1. fon te de Harode. A fonte de Harode fica no sopé da encosta norte do monte Gilboa, cerca de dois quilômetros e meio a leste da cidade de Jezreel. Esta é a passagem estreita à leste do fim do vale de Jezreel.7.1. m onte M oré. O m onte M oré fica ao norte do monte Gilboa e ao sul do monte Tabor, bloqueando a parte nordeste do vale de Jezreel. O cam inho para Bete-Seã e para os vaus do Jordão naquela área fazia uma curva para o sul do monte M oré até a passagem onde Gideão e seus hom ens estavam reunidos. Os midianitas estavam acampados no vale, bem a oeste de Moré, seis a oito quilômetros da fonte de Harode e bem próximos de Ofra, cidade natal de Gideão (ver comentário em 6.11).7.3. m onte G ilead e. Essa é uma referência bastante confusa; muitos estudiosos acreditam tratar-se de um problem a na transcrição do texto. O monte Gileade geralmente diz respeito a uma área a leste do Jordão que dificilmente se encaixaria nesse contexto.7.5, 6. estilo s de b eb er água. A quele que bebesse água de joelhos, sofregamente, com a cabeça perto da água, seria um alvo fácil, estaria desatento a qualquer movimento do inimigo enquanto bebia e estaria suscetível a parasitas. A alternativa era agachar-se (ficando m enos vu lnerável com o alvo do inim igo) e manter-se alerta, levando a água até a boca enquanto observava tudo ao redor.7.13. sonho. No m undo antigo, acreditava-se que os sonhos tivessem significados. Não apenas os soldados midianitas o encararam como um presságio, mas também G ideão, que escutou o sonho às escondidas. Embora a interpretação de sonhos muitas vezes fosse reservada aos especialistas, devido à com plexidade do simbolismo neles contido, alguns sonhos eram relativamente óbvios. Não era preciso um especialista para interpretar que o pão de cevada representava o agricultor e a tend a representava o nôm ade. Para m ais informação sobre sonhos consulte os comentários em
G ên esis 40 .5 -18 ; 41 .8-16 e D eu teron ôm io 13.1-5 . A idéia de uma palavra ouvida por acaso (não intencionalmente) ser entendida como um providencial presságio de encorajamento tam bém é encontrada na Odisséia, onde uma jovem escrava expressa o desejo de que aquela fosse a últim a refeição de seu pretendente.7.16-21. a estratégia de Gideão. As três companhias de Gideão ficariam posicionadas nas três extremidades do acampamento, norte, oeste e sul (o m onte Moré ficava a leste). As tochas que cada um deles carregaria eram feitas de materiais como junco, que permitiriam uma combustão lenta até serem expostas ao ar e m ovimentadas. Os jarros cobririam o brilho da tocha até o m omento adequado, e quando as três divisões estivessem corretamente posicionadas, as trombetas soariam. Geralm ente apenas alguns soldados eram encarregados do toque da trombeta, já que precisavam das m ãos para segurar as arm as e os escudos. Nas batalhas noturnas, do mesmo modo, um certo núm ero de soldados era designado para segurar as tochas usadas para iluminar a zona de batalha e bloquear a retirada. Esperava-se, então, que os soldados responsáveis pelas trombetas e pelas tochas representassem apenas um a pequena porcentagem do exército, enquanto o restante se envolveria na luta. Portanto, quando os m idianitas ouviram o som de trezentas trombetas e viram uma multidão de tochas ao redor do acampamento, naturalmente imaginaram que havia um enorme exército pronto para atacá-los, visto que Gideão havia instruído seus homens a manterem suas posições em volta do acampamento.7.22. lutando uns contra os outros. A idéia de uma divindade que alcança a vitória lançando o inimigo em confusão era bastante comum no mundo antigo. U m exemplo na literatura egípcia é o mito de Hórus, em que este, em Edfu, confunde os inimigos de modo a fazê-los lutar uns contra os outros, até todos serem mortos.7.22. Bete-Sita. G eralmente essa cidade tem sido localizada na aldeia de Shatta, cerca de dez quilômetros a leste de Jezreel, em direção a Bete-Seã. Portanto, os m idianitas fugiram pela extrem idade sul do monte M oré, tentando alcançar os vaus do Jordão, ao longo do vale de Bete-Seã.7.22. Zererá. Zererá também é conhecida como Zaretã (Js 3.16) ou Zeredá. M uitos eruditos a identificam com Tell es-Sadiyeh, treze quilôm etros ao sul de Abel- Meolá, na m argem direita do Jordão, ao longo do lado sul do vau Kufrinje.7.22. A bel-M eolá, Tabate. Abel-M eolá situava-se na margem esquerda do Jordão, em algum ponto ao sul de Bete-Seã. A candidata m ais provável é Tell Abu Sus, cerca de dezessete quilôm etros ao sul de Bete- Seã, na extremidade sul do vale de Bete-Seã, onde o
rio Yabis encontra o Jordão, vindo do leste. Pesquisas feitas no local descobriram fragm entos de cerâm ica desse período. A localização de Tabate é incerta. Tem sido identificada muitas vezes a Ras abu Tabat, embora esse local pareça estar muito ao sul, mais perto de Tell es-Sadiey que de Tell A bu Sus.7.24. Bete-B ara. A identificação dessa localidade é desconhecida, mas certamente situava-se ao longo do vale do Jordão, sendo aparentem ente um lugar de passagem (vau) perto de Abel-Meolá.8.1. a qu eixa de Efraim . Em bora cada tribo tenha recebido um a porção de terra, as disputas territoriais en tre e las eram freq ü en te s . A a tiv id ad e m ilita r conduzida por Gideão permitiria que o território antes controlado pelos midianitas ficasse agora disponível para ser conquistado. Os efraimitas não queriam ser deixados de fora, caso algum território adicional fosse dividido entre os israelitas. H avia tam bém a questão dos despojos, do qual todos esperavam receber uma parte.
8.5. Sucote. Sucote localizava-se em Tell Deir Allah, cerca de dois quüômetros ao norte do rio Jaboque e cinco quilômetros a leste do rio Jordão. Vestígios desse período (Idade do Ferro I) foram encontrados no local. A área superior do *tell equivale a um estádio e meio de futebol, ou seja, cerca de um acre e um quarto. Trata-se de um pequeno povoado envolvido com a indústria de fundição do bronze.8.6, 7. a ind a não estão em seu poder. Era prática comum nesse período decepar as mãos de cada inimigo morto para evitar algum possível desastre. M onumentos egípcios desse período representam pilhas de mãos sendo recolhidas após as batalhas. Visto que os reis midianitas ainda não estavam mortos, os homens de Sucote não estavam dispostos a ficar do lado da resistência, ou seja, de Gideão.8.8. P eniel. Peniel localizava-se a oito quilômetros de Sucote, ao longo do rio Jaboque, na moderna Tell ed- D hahab esh Sherqiyeh. Pesquisas têm apresentado evidências de ocupação durante esse período, m as o local ainda não foi escavado.8.9. fortaleza. Visto que o provável local de Peniel ainda não foi escavado, nenhum vestígio dessa fortaleza foi encontrado. Porém, nas localidades da Idade do Ferro, era comum a existência desse tipo de fortaleza como parte da defesa da cidade. Por exemplo, escavações demonstraram que a cidade de Sucote tinha uma torre sem elhante, no final do período dos juizes, com quase oito metros de diâmetro. Fortalezas assim podiam estar ligadas à estrutura dos portões, torres de vigia ao longo dos muros ou, m ais freqüentemente nessa época, como cidadelas internas na área do santuário local.
8.10. Carcor. Essa palavra não deveria ser traduzida como nome de um lugar. No texto, ela é acompanhada de artigo definido (pouco comum para nomes de lugares), significando "n ível do chão". É bem provável que esteja se referindo à bacia de Beqa'a. Trata-se de um a ampla e rasa depressão com oito quilômetros de comprimento e cerca de três quilômetros de largura, orientada num eixo sudoeste-nordeste, quase onze quilôm etros a noroeste da moderna Amã (a cidade bíblica de Rabá).8.11. rota dos nôm ades. Uma rota local subia do vale do Jaboque em direção ao sul, partindo de Peniel e seguia para o sudeste até cruzar a extremidade sudoeste da bacia de Beqa'a, mas a "rota dos nômades" era um pouco afastada desse caminho. Esse versículo diz que Gideão e seus homens seguiram a rota a leste de Noba e Jogbeá. A localização de Noba é desconhecida, mas Jogbeá geralmente é identificada com Jubeihat, cerca de dez quüômetros a noroeste de Amã, situada num cum e elevado, m ais ou m enos na m etade do lado sul da am pla bacia de Beqa'a. Se Gideão dirigiu- se a leste de Jogbeá, ele deve ter margeado a extrem idade leste de Beqa'a. Isso sugere que a "rota dos nôm ades" acompanhava o leste do Jaboque por diversos quüômetros, antes de seguir para o sul e desviar-se para o sul da bacia de Beqa'a, de onde partiu o ataque. Essa rota ficava a 32 quüômetros de Peniel e cerca de 112 quilômetros do encontro inicial em Moré.8.13. subida de Heres. Assim como Carcor, já mencionado anteriormente, o termo "H eres" é acompanhado de um artigo definido, portanto, não deve se tratar de um nome próprio. Heres significa "so l", mas isso não ajuda a identificar o local. Se a reconstituição do comentário em 8.11 estiver correta, a subida de Heres estaria localizada na saída da bacia, a sudoeste. Talvez esteja se referindo à própria subida da bacia ou à subida ao longo da estrada que ia desse local até a vertente, alguns quilôm etros a noroeste de Beqa'a, em direção a Sucote.8.14. dom ínio da escrita por pessoas com uns. Idiomas como o sumério, o egípcio, o acadiano e o hitita, que utilizavam hieróglifos e escrita cuneiforme, eram süábicos e continham centenas de sinais diferentes. Isso tom ava a leitura e a escrita algo que somente os escribas profissionais podiam dominar, devido ao tempo necessário para adquirir essas habüidades. A escrita alfabética foi inventada na metade do segundo m ilênio e popularizou a alfabetização entre pessoas com uns, pelo fato de em pregar m enos de trinta sinais. Os escravos das minas na região do Sinai (minas de turquesa de Serabit el-Khadem) deixaram inscri
ções alfabéticas (proto-sinaíticas) já no século dezessetea.C.. Portanto, é bem provável que Gideão tenha de
fato encontrado alguém que soubesse escrever os nomes dos líderes.8.14. autoridades. As autoridades ou anciãos representavam o conselho governante da cidade. Nas cidades pequenas, esse grupo podia ser composto de dois anciãos de cada família. Talvez seja o caso nesse contexto, visto que 77 líderes são identificados e, considerando-se o tamanho do lugar (ver o comentário acima em 8.5), a população seria de 200 a 250 pessoas, e o núm ero de casas na cidade de 30 a 35. Em ugarítico o núm ero 77 é usado figuradamente, do mesmo modo que o núm ero 66, representando um núm ero elevado. Para m ais detalhes sobre o uso potencialm ente representativo do núm ero 77, consulte o comentário
em 8.30.8.16. castigar com espinhos. O verbo usado aqui e no versículo 7 sempre é traduzido como "bater" no Antigo Testamento, e em diversas passagens é em pregado de m aneira figurada para indicar a destruição de inim igos (ver M q 4.13). Gideão am eaça destruir os líderes "castigando-os com espinhos e espinheiros do deserto". Pode ser uma menção a um método de execução, ou a um tratamento humilhante e desonroso dado aos cadáveres. Observe que os homens de Peniel são mortos também (8.17).
8.18. hom ens m ortos em T abor. N enhum a batalha ou luta é m encionada em Tabor. Quando os midia- nítas caíram na emboscada e ficaram acuados no m onte M oré, a principal rota de fuga os levou ao sul do monte (ver comentário em 7.22). Se houve um a batalha em Tabor, significa que alguns podem ter tentado
escapar dando a volta pelo lado norte do monte, a fim de alcançar o Jordão, através do vau de Tabor. Pode- se inferir a partir do versículo 19 que Gideão teria designado alguns de sua família para controlar a passagem e bloquear a retirada dos inimigos.8.20, 21. execução por um menor. A morte por uma espada podia ser lenta e dolorosa se o executor não soubesse onde golpear ou lhe faltasse força ou firm eza. Embora fosse uma honra oferecida por Gideão a seu filho, é fácil entender por que os reis preferiram um a m ão habilidosa e experiente para fazer o serviço.8.21. enfeites do pescoço do camelo. Acredita-se que esses enfeites tinham o formato de um a Lua crescente. A lguns enfeites com o esses foram encontrados em escavações em lugares como Tell al-Ajjul. Os brincos também costumavam ter esse formato, como muitos exemplares encontrados em Tell el Fara e Tell Jemm eh confirmam.8.26. m il e setecentos siclos (vinte quilos e m eio). Gênesis 24.22 menciona uma argola de nariz pesando meio siclo. Se os brincos fossem do mesmo tamanho, m il e se tecen to s sic lo s rep resen tariam três m il e
quatrocentos brincos. Seria o equivalente a vinte quilos e meio de ouro.8.27. m anto de ouro. O manto fazia parte das vestimentas sacerdotais (ver comentário em Ex 28.6-14) e tanto no Egito como na M esopotâmia era usado para vestir os ídolos e os sacerdotes mais graduados. Êxodo 39.3 explica como o ouro era trabalhado em cada fio usado para tecer essa veste. É provável que esse m anto também fosse feito de fios de ouro, e não de ouro maciço. O fato de Gideão ter sido bem -sucedido na
consulta aos oráculos (6.30-36) e sabendo que em outros contextos o manto é associado aos oráculos (o manto sacerdotal continha o Urim e o Tumim, [ver comentário em Ex 28.30] e foi usado para consultas oracula- res em 1 Sm 30.7, 8), pode indicar que esse m anto funcionava como um elemento oracular. As pessoas que desejavam receber orientação da divindade viriam (pagariam uma taxa) e receberiam um a resposta (através da mediação dos especialistas: Gideão e sua família).
8.30. setenta filh os, m uitas m ulheres. As esposas dos antigos governantes geralmente eram fruto de alianças políticas. Cidades, cidades-estado, tribos ou nações que desejassem aliar-se com um governante ou ficar sob sua proteção selavam o tratado oferecendo a filha de uma das principais fam ílias para casar-se com o suserano. Isso representava um ato de lealdade por parte do vassalo que então teria um interesse pessoal em preservar a dinastia. O grande núm ero de filhos indicava a força da linhagem familiar, já que muitos filhos garantiriam a continuidade da família. Isso era m uito im portante para o governante porque geralm ente a família ocupava posições-chave na administração. Um a fam ília grande, teoricamente, teria condições de assegurar o futuro da dinastia. Alguns eruditos têm considerado o núm ero setenta simplesmente como uma convenção para indicar um núm ero elevado, porém indefinido. Além dos diversos exemplos bíblicos, o mito ugarítico concernente à casa de Baal fala da deusa Atirat (Aserá) que tinha setenta filhos e no m ito hitita de Elkunirsa, A sertu Baal afirm a ter matado os 77 (88) filhos de Asertu (Aserá).8.32. túm ulo da fam ília. Os costumes relacionados ao sepultamento nesse período tinham como característica a existência de tumbas familiares onde eram feitos vários sepultamentos. O corpo era deitado de costas e rodeado por objetos pessoais.8.33. Baal-Berite. Baal-Berite significa "senhor da aliança" e designava a divindade adorada em Siquém (cerca de cinqüenta quilômetros ao sul de Ofra; uma
das concubinas de Gideão era de Siquém). Não existe confirmação fora da Bíblia para esse epíteto, m as ver o comentário em 9.46 sobre El-Berite.
9 .1 -5 7Abimeleque9 .1 . S iq u é m . A lo ca lid a d e de S iq u ém tem sido identificada como Tell Balatah, a leste da m oderna Nablus e 56 quilômetros ao norte de Jerusalém. Talvez devido à sua proximidade com duas montanhas da região, os montes Gerizim e Ebal, foi considerada por muito tempo um local sagrado. A posição estratégica de Siquém , na entrada leste para a passagem entre esses montes, tam bém fez dela um importante centro com ercial. Já na Idade do Bronze M édia I, Siquém é m encionada nos textos egípcios do faraó Sesostris III (1880-1840 a.C.). No período de Am am a (século catorze), Siquém era um a das principais e mais prósperas cidades de Canaã. O governante de Jerusalém queixou-se ao faraó de que o governante de Siquém , Labayu, entregara a área ao controle dos habiru (para mais informações, ver comentários em Js5.1 e 9.1). A cidade estendia-se por cerca de seis acres e era cercada por muros circulares com um portão a leste e um templo na acrópole. A Idade do Ferro do período dos juizes encontrou poucas mudanças na cidade. Não foi conquistada por Josué e como confirmação para esse fato, não há indícios de destruição nos sedimentos da antiga cidade referentes a essa época. É provável que o templo na acrópole seja o templo de El-Berite mencionado no versículo 46. A evidência da destruição relatada no versículo 49 pode ser vista na forma de escombros e cinzas que marcam o final do sedimento XI, datado do ano 1125.9.2. prim ogenitura em Israel. No antigo Oriente Próxim o, a prim ogenitura nem sem pre era regra geral. Em m uitos textos, fica evidente que os filhos dividiam a herança em partes iguais. Em relação à sucessão ao governo, em várias culturas os irm ãos tinham prioridade sobre os filhos, enquanto que em outras, cabia ao rei designar quem o sucederia, sendo que em alguns casos havia necessidade do consentim ento dos súditos. Na cultura israelita o primogênito geralmente tinha certas vantagens, mas nem a herança nem a sucessão política cabiam inevitavelmente ao primogênito.9.4. setenta peças de prata. O tesouro do templo foi retirado e entregue a Abim eleque como pagamento pela morte dos setenta filhos de Gideão. Isso demonstra como eles foram desvalorizados (compare o preço de cinqüenta peças de prata pago pelo resgate de um homem em Lv 27.3 e o valor norm al de vinte peças que devia ser pago pela compra de um escravo).9.4. tem plo de Baal-Berite. A respeito de Baal-Berite, ver o comentário em 8.33. Foi confirmada a existência de apenas um templo nesse período, encontrado por arqueólogos dentro da cidade de Siquém (embora outros prédios tenham sido considerados como possíveis templos). Se esse templo era de Baal-Berite ou de
El-Berite (ver o v. 46), ou se seriam duas designações para o mesmo templo, é um a questão que tem gerado certa controvérsia, e pelas informações disponíveis da época, perm anece insolúvel.9.4. uso de m ercenários. U m a cidade do tam anho de Siquém teria um a população de talvez m il pessoas, portanto, seu exército teria de duzentos a trezentos soldados. No entanto, a maioria deles não se sentia disposta a cum prir a tarefa de executar os setenta filhos de Gideão, por isso, foram contratados mercenários. Geralmente, mercenários eram m otivados pela possibilidade de lucrar com os despojos. Numa situação como essa, porém , não haveria despojos. N a organização m ilitar de M ari, no século dezoito a.C., há indícios de que os templos bancavam o sustento financeiro de atividades m ilitares ordenadas pela divindade.9.5. execução ritual. O comentário de que os filhos de Gideão foram executados "sobre uma rocha" sugere que tenha sido um a execução ritual. G eralm ente os sacrifícios eram feitos num altar e às vezes uma grande pedra era usada com o um altar provisório (ver comentário em 6.20). Mais adiante isso pode ter alguma relação com a enorm e coluna de pedra que ocupava um lugar de destaque no pátio do templo na acrópole, em Siquém, nesse período. A execução de concorrentes ao trono é bastante comum em todo o antigo O riente Próxim o e, certam ente, em toda a história. Porém não se conhece nenhum caso de execução ritual de candidatos ao trono na forma de sacrifício hum ano, no antigo Oriente Próximo.9.6. coluna de S iquém . A palavra traduzida como "co lun a" é um a adaptação de um a palavra hebraica de difícil tradução. Alguns estudiosos têm sugerido, com base nas pesquisas arqueológicas, que o term o não deveria ser corrigido, e sim traduzido como um termo técnico da arquitetura referindo-se a um a paliçada.9.6. B ete-M ilo . É m ais provável que Bete-M ilo seja uma referência a uma parte fortificada do templo situado na acrópole da cidade (ver comentário em 9.46). U m milo geralm ente era um a área onde havia sido feito um aterro a fim de gerar um a plataforma artificial elevada.9.7. m onte G erizim . Não há dúvida de que alguém posicionado no topo do m onte Gerizim podia se fazer ouvir desde Siquém. Gerizim ficava ao sul da cidade e a acústica natural perm itiria um confronto como esse. Existe um a saliência de rocha n a parte m ais baixa do topo do monte, não muito distante de Siquém, que tem sido identificada com freqüência como a provável localização. No mesmo local foram encontradas ruínas de um templo de séculos atrás.9.8. parábola das árvores. Existe uma antiga fábula babilónica do início do segundo milênio intitulada "A Tam arga e a Palm eira". A s duas árvores discutem
qual delas é a m ais importante, tendo como parâmetro o que cada um a tem a oferecer para o palácio do rei. Também é interessante o trecho do Poema de Amor de Nabu e Tashmetu, em que a som bra de diversas árvores (cedro, cipreste etc.) serve como uma m etáfora de proteção ao rei. No mito sumério Lugal-e, Ninurta enfrenta um inim igo nom eado pelas plantas como seu rei.9.9-13. oliveira, figueira e videira. Essas três árvores são as espécies m ais produtivas para a economia da Palestina. O azeite de oliva, os figos e o vinho estão entre os principais produtos da região e os primeiros itens de exportação. Portanto, eles representam tanto a prosperidade da nação como o sucesso nas relações com países estrangeiras - ambos resultado da administração competente do rei.9.14. espinheiro. Muitos estudiosos acreditam tratar- se do buxo espinhoso, que, com suas m inúsculas folhas, não oferece nenhuma sombra, a menos que alguém se assente entre os arbustos - um a experiência não m uito agradável. No clim a seco da Palestina é comum ver arbustos pegando fogo. Esses pequenos incêndios por sua vez, podem gerar calor suficiente para alastrar o fogo em direção às árvores maiores. A Sabedoria A ram aica de A hiqar contém um diálogo entre a sarça e a romãzeira.9.21. Beer. Em hebraico, "b e 'e r" significa "p o ço " e m uitos nomes de cidades são compostos por essa palavra (por exemplo, Berseba). Portanto é difícil identificar essa cidade com segurança. A sugestão mais comum é a cidade de el-Bireh, ao norte de Siquém, no vale de Jezreel, perto de Ofra, a cidade natal de Gideão.9.25. ladrões nas colinas. Um a das vantagens de uma cidade posicionada estrategicam ente num a rota comercial era o tráfego de mercadores que passava pela cidade, vendendo mercadorias, comprando produtos nativos para comercializá-los em outras localidades e gerando negócios e im postos para a cidade. Arm ar emboscadas nas colinas faria de Siquém um local pouco atraente para os m ercadores viajantes e privaria Abimeleque da renda dos impostos cobrados por ele. Essa estratégia foi então elaborada com o objetivo de destruir Abim eleque através do enfraquecimento do comércio na cidade.9.26. G aal e seus parentes. O bando formado por Gaal e seus parentes apresenta todos os traços dos pequenos clãs sem posses, bastante comuns nesse período. Após terem sido expulsos de suas cidades ou de sua própria terra natal, eles viviam pelas estradas como errantes ou m ercenários, sem pre em busca de uma nova área onde pudessem se estabelecer. Nas cartas de Amarna esse grupo é chamado de "habiru".9.28. disputas entre grupos diferentes. Hamor, pai de Siquém, é citado como referência para a população
nativa que vivia em Siquém desde os dias dos patriarcas (ver G n 34). Parece, então, que Gaal está provocando uma dissensão entre os israelitas e os heveus (hurritas?). Abimeleque conseguira seu intento ao ser indicado como governante (ver 8.31 e 9.2) por causa de sua linhagem m ista. Do m esm o m odo que sua identidade com ambos os grupos perm itiu que fosse aceito tanto pelos israelitas como pelos heveus, agora esse fato serve como motivo para ser rejeitado por ambos.9.35-37. som bras dos m ontes. Z ebul e G aal estão de pé, diante do portão leste da cidade, olhando para o leste. A partir desse ponto privilegiado pode-se avistar a planície de A skar, im ediatam ente à frente, e as colinas no sudeste (monte el-Urmeh) e nordeste (monte el-Kabir). O Sol nascente faria com que tanto a encosta ocidental da colina ao norte como a encosta norte da colina ao sul (ambas recobertas de florestas) ficassem na sombra. Vestígios de um a fortaleza desse período foram encontrados no topo do monte el-Urmeh, e é bem provável tratar-se do local onde se situava o quartelgeneral de A bim eleque (Arum á, v. 41).9 .42 .43 . atacou o povo que saiu aos campos. A frase usada nesse versículo para descrever a atividade do povo pode referir-se à saída aos campos para o trabalho agrícola (como em 9.27), m as também pode referir-se à expressão "invadir o cam po" usada nas campanhas militares (ver 2 Sm 11.23; 18.6). Em bora Gaal tivesse sido expulso da cidade, aparentemente havia um contingente que não queria m ais nada com Abim eleque e estava envolvido num a operação militar.9.43, 44. em boscad as. É provável que o grupo de emboscada que descia até o portão da cidade vinha da encosta do monte Gerizim, que ficava ao sul da cidade, a fim de posicionar-se atrás dos que estavam saindo da cidade, que por sua vez seriam atacados de frente pelas outras duas divisões.9.45. espalhar sal. Embora essa prática não seja confirm ada em outras passagens bíblicas, antigos documentos hititas fazem menção a espalhar agrião sobre uma cidade devastada e em textos assírios do século treze, Salmaneser I espalha sal sobre uma cidade destruída. O Tratado Aramaico de Sefire refere-se a essas duas substâncias em uma de suas maldições. Nenhum desses textos, porém, oferece qualquer explicação sobre o que se pretendia com essa ação. Alguns estudiosos acreditam que o motivo era tom ar o solo infértil. Mas nem todos os tipos de sal são capazes de provocar essa reação, além disso, no contexto em questão, o sal não foi espalhado nos campos e sim na cidade. Essa explicação tampouco justificaria o uso do agrião. No Antigo Testam ento, assim como em todo o antigo Oriente Próxim o, o sal era usado para consagração (ver comentário em Lv 2.11-13). Isso pode indicar que a prá
tica de espalhar sal era um ritual para purificação ou consagração da cidade à divindade. Além disso, o sal impede a ação do ferm ento e visto que o fermento era um símbolo de rebeldia, o sal poderia representar o fator para reprimir as rebeliões. Por fim , o sal simbolizava a infertilidade. Num tratado hitita, o responsável proferia uma maldição segundo a qual, se o tratado fosse rompido, ele, sua família e suas terras ficariam como o sal, sem semente ou descendência.9.46. tem plo de El-Berite. O título il brt é confirmado em um dos hinos hurritas relacionados nas tábuas de Ugarite. El era o principal deus do panteão cananeu e "berite" significa aliança. Foi sugerida a existência de um sincretismo religioso entre a população m ista de israelitas e cananeus em Siquém , com binando elementos de Yahweh, a aliança do Deus de Israel, com El, a divindade cananéia. Foram encontrados vestígios de um templo desse período na acrópole de Siquém (ver comentários em 9.1 e 9.4). Esse templo media 33 metros de largura por 28 metros de comprimento e suas paredes tinham 5 m etros e meio de espessura, transformando-o num a verdadeira fortaleza. N o pátio, erguia-se uma coluna de pedra (massebah). Outros estudiosos sugeriram que o lugar sagrado no monte Ebal, situado nas proximidades (ver comentário em Js8.30, 31), deveria ser identificado com o santuário de El-Berite (visto que a retirada aqui parece ter acontecido após a cidade ter sido destruída, v. 45), mas não há evidências de nenhuma fortaleza ali.9.48. m onte Zalmom. O monte Zalmom não é m encionado em nenhuma outra passagem do Antigo Testamento. Alguns eruditos acreditam tratar-se do monte Ebal ou Gerizim, m as é difícil entender por que um nome diferente teria sido usado aqui. Outra possibilidade é que esteja se referindo a um cume que ficava além do vale, ao sul de Gerizim.9.50. T ebes. Tebes tem sido identificada com a m oderna Tubas, cerca de catorze quilômetros a nordeste de Siquém, com base nos primeiros registros cristãos (Eusébio). Nenhum trabalho arqueológico foi feito no local.9.51. torre dentro da cidade. U m a característica com um das cidades desse período era a existência de um a segunda área fortificada dentro da cidade - um tipo de cidadela. Geralmente essas cidadelas tinham o formato de uma torre e situavam-se no ponto mais alto da cidade; talvez também incluíssem um a área para o templo, armazéns e a casa do tesouro.9.53. ped ra de m oinho. G eralm ente o trabalho no moinho era feito com duas pedras de basalto. A pedra que ficava embaixo era m uito pesada (algumas pesavam cerca de 45 quilos), achatada ou levemente curva; os cereais eram depositados sobre ela e então m oídos e transformados em farinha com a segunda pe
dra, mais leve, que pesava cerca de dois quilos e se adaptava bem à mão do trabalhador.
10.1-5Juizes menores: Tolá e Jair10.1. ju izes "m en ores". O texto não se refere a esses juizes como "m enores", visto tratar-se de uma classificação moderna usada para referir-se aos juizes sobre os quais não há nenhum registro de envolvim ento em ações m ilitares. Sendo assim, a natureza de sua função com o juizes deve ser identificada de outra maneira. Era papel do rei estabelecer a justiça e, nesse caso, também era função desses "ju izes". Essa tarefa não era executada exclusivamente através de um sistem a judiciário, em bora fizesse parte, m as também por meio de muitos aspectos do governo. Logo, esses juizes podem ser classificados como governantes locais. Ver comentário em 2.16.10.1. Sam ir. Samir tem sido identificada por alguns estudiosos como Samaria, a última capital do reino do norte. Se não for Samaria, sua localização é desconhecida.10.4. trinta filh os, trinta jum entos, trinta cidades. Além de referir-se a filhos biológicos, essa terminologia pode referir-se a vassalos (ver 2 Rs 16.7) ou àqueles que estão a serviço de um superior (ver 1 Sm 25.8; 2 Rs 8.9). N esse caso, Jair é identificado como tendo um território de trinta cidades sob seu com ando, cada um a com seu próprio governante (que geralm ente montava um jumentos) que era também seu vassalo. Existe um a lenda hitita que fala da rainha de Canes dando à luz trinta filhos em um único ano.10.4. "povoados de Ja ir" . Esses povoados referem-se aqui às ocupações na região leste do m ar da Galiléia, em Gileade, entre os rios Iarmuque e Jaboque.10.5. Camom. Em bora m uitos lugares diferentes sejam apontados como a provável localização de Camom, não há evidências suficientes que permitam a confirmação de qualquer deles.
10.6-12.7Jefté10.6. lista de deuses. Baalins e imagens de Astarote (Astarte) referem-se às divindades cananéias, enquanto que os outros deuses são denominados de acordo com a nação que representam e não pelo nome próprio. Não se deve, porém, pensar que essas divindades nacionais tivessem conotação política. N a verdade esses deuses estavam relacionados à fertilidade e a outros aspectos ou fenômenos da natureza (tempestades, por exemplo). Isso mostra o sincretismo que havia em Israel e a propensão dos israelitas em se deixar influenciar pelo pensamento politeísta. O politeísmo do mundo antigo era um sistema aberto, ou seja, para
os antigos seria tolice ignorar ou desconsiderar qualquer deus que pudesse eventualmente trazer bênção ou causar o mal.10.8. G ilead e. G ileade é a região da Transjordânia delimitada pelo rio Jaboque ao sul (embora em algumas épocas tenha se estendido até o A m om , m ais ao sul) e pelo rio Iarmuque, ao norte.10.9. am onitas. Os am onitas v iv iam ao norte dos moabitas, na região do rio Jaboque. Eram conhecidos nos registros assírios como Bit-Ammon, e sua região é denominada "terra de Benam m anu". Esse povo estava se estabelecendo nesse território quase no mesmo periodo da peregrinação dos israelitas.10.17. M ispá. Diversas localidades recebem o nome de Mispá. A mais conhecida situa-se no território da tribo de Benjamim e é identificada como a moderna Tell en-Nasbeh, cerca de dez quilômetros ao norte de Jerusalém, mas seria m uito distante para reunir tropas para um a batalha em Gileade. É m ais provável que a M ispá de Gileade seja o lugar onde Jacó e Labão fizeram um acordo (Gn 31), mas esse local tam bém é desconhecido. A Gileade onde os amonitas acamparam pode ser a cidade de Gileade, a moderna Khirbet Jel'ad, cerca de dez quilômetros ao sul do Jaboque.10.18. chefes m ilitares. Em tempos de ameaça militar, os territórios governados pelos anciãos ou líderes tribais aceitavam subm eter-se a um chefe m ilitar que lhes garantisse proteção e talvez os livrasse dos inimigos. Uma situação semelhante pode ser vista nas histórias relacionadas aos deuses. No Hino Babilónico da Criação, dedicado ao deus M arduque, ao concordar em assumir a responsabilidade para enfrentar a ameaça m ilitar representada pelos deuses m ais jovens, M arduque torna-se o chefe do panteão. Acredita-se que esse tipo de acordo tenha proporcionado a alavanca sociológica para o desenvolvimento da m onarquia no antigo Oriente Próximo.11.1. guerreiro valente. O texto refere-se a Jefté como "guerreiro valente". A terminologia usada aqui não é apenas m ilitar, m as pode tam bém se referir a um a pessoa de excelente reputação ou de destaque na com unidade - uma pessoa de confiança. Nesse contexto, porém, é provável que a fam a de Jefté tenha se originado de suas conquistas militares. É a m esm a expressão usada para descrever Gideão em 6.12.
11.2. filh os ilegítim os expulsos da fam ília. Deve-se observar que a expulsão de Jefté não foi m otivada por nenhum ato que tivesse trazido vergonha ou humilhação à família. Com a existência das prostitutas que serviam no templo e a prática da poligamia, era bastante comum que num a mesma família houvesse filhos de diferentes mães. Aqui o texto deixa claro que o que m otivou a expulsão foi a questão da herança. Como prim ogênito Jefté teria direito a um a porção dobrada da herança, m as ainda que os bens fossem divididos em partes iguais (ver o com entário sobre primogenitura em 9.2), a eliminação de um filho aum entaria a parte destinada aos demais.11.3. terra de T obe. Tobe foi identificada com o et- Tayibeh, na região entre Edrei (Der a) e Bosrá (Busra ash-Sham) no oeste de Gileade, 32 quilômetros a oeste do monte Hauron. Embora nenhuma escavação tenha sido conduzida no local, é possível que esteja incluída na lista de cidades de Tutm és III.11.8-10. posição oferecida a Jefté . A oferta inicial feita pelos líderes de Gileade faria de Jefté o governante m ilitar de Gileade, embora aparentemente ainda continuasse sob a autoridade dos líderes. No versículo 9, Jefté negocia para ter autoridade tam bém sobre os líderes, o que representa um passo a m ais em direção ao conceito de m onarquia (compare como Abimeleque tornou-se rei na região de Siquém, no cap. 9 e com o reino de Davi apenas sobre Judá, em 2 Sm 2.1-4).11 .12 ,13 . negociações quanto a disputas territoriais. Para entender essa negociação é necessário reconhecer que tanto os amonitas como Jefté compartilhavam do conceito de posse territorial garantida pela divindade. Eram os deuses que garantiam a posse da terra e o direito sobre ela, desse modo, apelava-se aos deuses para que julgassem o caso e se necessário (em caso de guerra), defendessem a distribuição territorial. A questão dos direitos da terra não estava relacionada ao fato de quem havia sido o primeiro a chegar, mas sim à confirm ação de que a divindade havia dado aquela terra e à capacidade do povo em preservar sua posse.11.15-23. reivindicações de Je fté . Os israelitas haviam tomado a terra dos amorreus, não a dos amonitas. Em bora os amonitas pudessem dizer que os amorreus haviam tomado a terra deles, Jefté tentou mostrar em
CONTEXTO POLÍTICO NA IDADE DO FERRO ANTIGANa Idade do Bronze Moderna (1550-1200 a.C.) havia um conflito permanente entre as principais potências políticas que buscavam o controle da Palestina (ver comentário em Is 9.1). Com a chegada dos povos do mar, por volta de 1200 (ver comentário em Jz 13.1), todas essas potências foram expulsas (como os hititas) ou neutralizadas (Egito). Durante a Idade do Ferro (exatamente na época do Livro de Juizes), o impasse entre essas potências deu lugar a um esvaziamento do poder político. A inexistência de grandes potências cobiçando o controle da região permitiu que estados menores testassem sua força, se desenvolvessem e formassem "im périos" regionais. Os filisteus aproveitaram-se dessa situação no início desse período. Logo depois, Davi e Salomão conseguiram estabelecer um sólido império na região da Sírio-Palestina, sem precisar preocupar-se com as potências políticas da Mesopotâmia, Anatólia ou Egito.
seu discurso que Yahw eh tom ou a terra dos amorreus e deu-a a Israel. Quaisquer reivindicações anteriores dos amonitas pela posse da terra foram anuladas devido ao tempo que Israel ficara de posse da terra, sem que ninguém a reclam asse. Para detalhes sobre as questões geográficas apresentadas por Jefté, consulte os respectivos comentários em Números 21.11.24. Camos. Camos é mais conhecido como o deus nacional dos moabitas, e na pedra moabita do século nono (inscrição de Mesha) ele é descrito como o deus que traz vitória na batalha, assim como Yahw eh em relação a Israel. A divindade nacional amonita geralmente é denominada M ilcom ou na NVT, M oloque (1 Rs 11.5, 33). Embora Camos tenha sido adotado como divindade nacional dos moabitas, a ocorrência da form a variante, Cam is, num a lista de deuses de Ebla, onde havia um tem plo dedicado a ele, sugere que tenha sido incluído no rol dos deuses semitas da Síria, no terceiro milênio, muito antes dos moabitas. Uma lista de divindades assírias associa Camos (Camus) a Nergal, o deus do mundo inferior. Não se sabe ainda a qual fenômeno natural Camos estava relacionado, nem evidências de representações desse deus nas descobertas arqueológicas.11.26. nota cron ológ ica . Jefté declara que a posse israelita daquela terra já tinha m ais de trezentos anos de história. Embora se trate, sem dúvida, de um núm ero arredondado, indica que a data provável da conquista seria o século quinze e não o treze (ver nota quanto à data do êxodo em Ex 12). Jefté provavelmente viveu por volta do ano de 1100 a.C. e não poderia ser muito depois, de outro modo não restaria espaço para Samuel, Saul e Davi. Em bora a integridade da Bíblia não seja colocada em risco ainda que Jefté estivesse mal informado ou exagerando, é difícil acreditar na força de seu argumento se Israel estivesse na terra apenas a m etade daquele tempo, ou seja, por 150 anos.11.29. o E spírito do Senh or. O Espírito do Senhor novam ente aparece associado à convocação de um exército (ver comentário em 6.34, 35). Apesar de Jefté ter recebido autoridade para comandar em Gileade, seu papel como líder ainda não fora formalmente reconhecido em outras áreas de M anassés, inclusive em Basã (norte de Gileade), assim como no território a oeste de Jordão.11.29. m ovim ento das tropas. Visto que a localização de Mispá é incerta, não há dados específicos aqui que permitam reconstituir o posicionamento das tropas de Jefté.11.30. votos. Um voto é um a promessa condicional, geralmente relacionada a algo a ser oferecido à divindade (para informações adicionais, ver comentários de G n 28.20-22; Lv 27.2-13 e N m 30.2-15). Votos seme
lhantes a esse de Jefté podem ser encontrados na literatura clássica, como o voto feito pelo rei de Creta (quase contemporâneo de Jefté) Idomenus, ao ser ameaçado por um a tem pestade quando retornava para casa, após a invasão e o saque de Tróia. A situação o levou a fazer um voto bastante parecido com o de Jefté e que acabou resultando no sacrifício de seu filho. Antes das batalhas, geralmente eram oferecidos sacrifícios a fim de buscar o auxílio divino (ver 1 Sm 13.812). Quando não era possível fazer isso antes das batalhas, pode-se ter um a idéia da força do tipo de voto feito por Jefté. Um a alternativa para o voto de Jefté seria dedicar os despojos ao Senhor (compare com Nm 21.2), mas talvez essa prática fosse inadequada para cidades fora do território israelita.11.31. o que Je fté esperava que fosse ao seu encontro. Embora seja verdade que as casas israelitas acomodassem também animais, nenhum deles saía para recepcionar qualquer pessoa. Naquela época, não havia o costume de m anter em casa animais domésticos como cães, tampouco seriam considerados adequados para um sacrifício. Além do mais, um simples sacrifício anim al não estaria à altura da am plitude e do significado da vitória que Jefté acabara de conquistar. Portanto, pode-se concluir que Jefté já previa um sacrifício humano (a respeito de sacrifícios humanos no antigo Oriente Próximo, consulte os comentários de Gn 22.1, 2; D t 18.10).11.31. holocausto. O term o usado aqui aparece em m ais 250 ocorrências, e em todas elas, refere-se a um sacrifício literalmente queimado sobre o altar. Nunca é em pregado de m odo figurado ou simbólico. Para um a discussão sobre o holocausto ou oferta queimada, ver o comentário em Levítico 1.3, 4. Esta mesma palavra é usada em Gênesis 22.2 e em 1 Rs 3.27, onde o que se tem em vista são sacrifícios humanos.11.33. regiões conquistadas. De acordo com o texto, a área que Jefté conquistou incluía vinte cidades, sendo que três delas são mencionadas especificamente. Pesquisas arqueológicas encontraram m uitos povoados fortificados nessa região que datam desse período e apresentam traços de fortalezas arredondadas. E provável que muitas dessas vinte cidades fossem assim. Existe uma Aroer bastante conhecida bem ao norte do desfiladeiro de Am om , onde o rio faz um desvio para o sul, na fronteira sul do território am onita, mas é provável que seja um a outra cidade com o mesmo nom e, vizinha de Rabá (como em Js 13.25). A bel- Queramim provavelmente é a cidade chamada krmm na lista de cidades de Tutm és III, mas sua localização é desconhecida. Minite, de acordo com fontes gregas posteriores, estaria situada entre Hesbom e Rabá, podendo ser U m m el-Basatin. Embora não seja possível localizar exatamente essas cidades, fica claro que Jefté
não apenas expulsou Am om do território israelita em Gileade, mas também invadiu o território de Am om e conquistou m uitas de suas cidades fortificadas, a maioria delas entre Rabá e Hesbom.11.34. celebração de vitória. Era comum que as moças saíssem para saudar com músicas e danças os soldados vitoriosos que retom avam da batalha. Essa prática é confirmada na celebração oferecida a Saul e Davi (1 Sm 18.6, 7) e em parte pelo cântico de Miriã, em Êxodo 15.20, 21. O "tam borim " que a filha de Jefté tocou tem sido identificado em relevos arqueológicos como um tambor ou um pequeno pandeiro (um pedaço de couro esticado sobre um aro), sem o som dos pequenos guizos dos pandeiros modernos.11.34. única filh a. Na crença religiosa popular do antigo Oriente Próximo, dava-se grande importância à veneração dos ancestrais pelas gerações seguintes como m eio de garantir o bem-estar na vida após a morte. Tais conceitos às vezes eram mantidos também pelos israelitas, apesar de não receberem apoio divino. No contexto da aliança, o fim de uma linhagem familiar representava a perda da terra que havia sido recebida como herança. Em ambas as visões de mundo, a m orte de um único filho era terrível tanto pelo significado filosófico, como pelo im pacto em ocional que acarretava ao indivíduo.11.35. rasgar as vestes em sin a l de lu to . A lém de jogar cinzas na cabeça, rasgar as vestes era uma forma comum de demonstrar luto no antigo Oriente Próximo. Um exemplo fora da Bíblia encontra-se no épico ugarítico de A qhat (cerca de 1600 a.C .), em que a irmã do herói rasga as vestes de seu pai ao predizer um a seca iminente. Essa atitude geralm ente era um sinal de pesar pela morte de um parente, amigo ou pessoa proeminente (2 Sm 3.31). Porém, também podia significar uma desgraça iminente, como no exemplo da literatura ugarítica, e tam bém em Núm eros14.6 e aqui.11.35. 36. cum prir os votos. Sendo o voto um ato religioso em que a divindade é invocada a fazer um pacto com o adorador, não pode ser rom pido sob pena de desagradar a Deus (ver Êx 20.7 e a ordem de não "usar o nome de Deus em vão"). Embora o voto não pudesse ser rompido, a lei permitia que fosse atenuado, especialm ente quando envolvia pessoas (ver o comentário em Lv 27.2-8). Aparentemente, Jefté desconhecia essa possibilidade.11.37. chorar por dois m eses nas colinas. Na mitologia cananéia de Ugarite (Baal e Mot) a deusa virgem A nat vagueia pelas colinas pranteando a perda da fertilidade, visto que Baal está morto. O motivo do lamento pelas colinas por causa da perda da fertilidade, portanto, pode estar relacionado ao pedido feito pela filha de Jefté. Na antiga tradição mesopotâmica
foi o deus Dumuzi (Tamuz), o "vivificador da criança no ventre" que m orreu e foi lamentado. O período de dois m eses provavelm ente está relacionado a uma das "estações" de Israel. O calendário de Gezer (século dez) dividia o ano em oito períodos: quatro períodos de dois meses e quatro de um mês de duração. O segundo período de dois m eses (semeadura) coincidia com o inverno, época em que as preocupações com a fertilidade e a produtividade eram prioritárias.11.39. cum prim ento do voto: m ulheres servindo no tabernáculo? Alguns eruditos têm sugerido que em vez de ser sacrificada, a filha de Jefté foi consagrada para servir no tabernáculo em regime de celibato. Há exemplos de dedicação vitalícia ao serviço no templo (Samuel; ver 1 Sm 1.28) e de mulheres servindo no santuário (Êx 38.8; 1 Sm 2.22), mas não há exemplos de mulheres servindo no santuário com voto de celibato ou em consagração perpétua. No antigo Oriente Próximo geralmente as m ulheres que serviam no templo praticavam uma prostituição cultual, não o celibato (ver comentário em Dt 23.17,18). Esse tipo de consagração tem sido considerado o equivalente ao sacrifício de um filho. Talvez um dado significativo esteja relacionado a um a categoria de m ulheres chamadas de naáitu no período da Antiga Babilônia (1800-1600). Essas mulheres eram ligadas ao templo como "noivas da divindade" e por essa razão, eram proibidas de se casar, embora não precisassem perm anecer virgens. As leis de Hamurabi relatam casos de homens que se casaram com um a naáitu, mas ela ficava impedida de ter filhos.
11.40. celebração. O verbo traduzido aqui por "celebrar" é impreciso (é citado apenas mais uma vez, em Jz 5.11, onde é traduzido pela NVI como "recitar"), porém , esse é o único relato desse costum e anual. Como resultado, os comentaristas podem apenas especular sobre a natureza dessa celebração. Como não há qualquer indicação de como seria essa celebração, é difícil sugerir eventos semelhantes no mundo antigo. No período da Antiga Babilônia as naditus (ver o comentário acima) realizavam anualmente uma ceri
m ônia em m em ória daquelas que tinham m orrido sem ter dado à luz nenhum filho. O contexto dessa passagem sugere a observância de quatro dias, o que de certa forma representa um período de luto e pranto por causa da fertilidade perdida (ver os comentários em 11.37).12.1. Zafom . A área em que se localizava Zafom é bastante clara, mas ainda assim não há consenso sobre sua localização exata. Josué 13.27 a situa próximo de Sucote, no território de Gade. De m odo geral, tem sido identificada com Tell el-Qos, alguns quilômetros ao norte de Sucote (Tell Deir 'Allah).
12.1. a queixa dos efraim itas. Os efraimitas tinham a tendência de causar contendas (ver o ocorrido com Gideão, em 8.1 e o respectivo comentário), m as enquanto que Gideão foi capaz de acalmá-los, aqui suas queixas atingem o nível de uma guerra civil. Nenhuma parte do território tomado dos amonitas fora designado a Efraim , m as seu território atravessava o Jordão a partir das terras dos amonitas. É importante le m b ra r tam b ém qu e as tr ib o s de Isra e l fo ram estabelecidas individualmente, m antendo-se unidas pela fé comum e pela herança prometida na aliança com Yahweh. A única liderança form al reconhecida por todas era a de Y ahw eh, o D eus da nação e a liderança tribal dos anciãos e chefes dos clãs. Jefté distanciava-se de tudo isso porque recebera um a posição formal de comando (ver comentário em 11.8-10). Talvez isso tenha sido encarado como uma ameaça para as outras tribos.12.4. gileaditas como desertores. Os efraimitas tentaram anular os direitos territoriais dos gileaditas negando sua posição como tribo. Historicamente, Gileade era um dos clãs da tribo de Manassés. Ao identificá- los como um a linhagem m ista (Efraim e M anassés), os efraimitas estavam classificando-os como invasores que não tinham direito à posse da terra como tinham os dem ais clãs e tribos. Representa um a tentativa por parte dos efraimitas de apoderar-se da terra conquistada pelos gileaditas.12.5. passagens do Jordão. As passagens m encionadas aqui são aquelas perto da cidade de Adã, ao sul da confluência com o rio Jaboque (ver comentário em Js 2.7).12.6 variações na pronúncia do hebraico antigo. Naslínguas semitas do antigo Oriente Próximo, a pronúncia de certas consoantes é variável. Numa dessas variações, a consoante hebraica shin (ch) com bina duas consoantes do ugarítico (parecido com o cananeu), sh e th. Assim, a palavra hebraica para "três" é shalosh, em ugarítico é thalath e em aramaico é talat. É interessante observar que na língua dos amonitas também existia a variante consonantal th. Foi esse tipo de variação na pronúncia que provocou uma diferença entre a fala dos efraimitas e a dos gileaditas. Não seria o caso de um dialeto diferente, m as apenas de um a variação regional ou sotaque diferente. G eralm ente, os sons consonantais são os mais difíceis de serem reproduzidos. G. Rendsburg identificou o cenário que mais se encaixa dentro dos detalhes lingüísticos e contextuais. Os efraim itas geralm ente pronunciariam a palavra "sibolete", enquanto os gileaditas pronunciariam "chi- bolete". Quando os gileaditas confrontavam os efraim itas suspeitos, insistiam para que pronunciassem "chibolete", visto que só conseguiam pronunciar "s ibolete". A palavra "sibolete" pode significar "espiga
de m ilho" ou "torrente de um rio", mas esse último faz m ais sentido em relação ao contexto.
12.8-15Juizes menores: Ibsã, EIom e Abdom12.8. ju izes "m en ores". Não há nenhum a menção a esses três indivíduos, dentro ou fora da Bíblia, além dessa passagem. Para inform ações sobre as atribuições do juiz, ver comentários em 10.1 e 2.16.12.8. Belém . Essa Belém geralmente não é considerada aquela de Judá, poucos quilômetros ao sul de Jerusalém , e sim um a cidade no território de Zebulom, nas colinas da Galiléia, ao norte do vale de Jezreel. O único indício para essa localização é o fato de Elom e Abdom tam bém estarem nessa m esma área.12.9. casam entos políticos. As esposas de um governante, asssim como seus filhos, geralmente representavam alianças políticas. Cidades, cidades-estado, tribos ou nações que desejavam aliar-se a um governante ou ficar sob sua proteção selavam o tratado oferecendo a filha de um a das principais fam ílias para casar-se com o suserano ou com seu filho. Isso representava um ato de lealdade por parte do vassalo, que então teria interesse pessoaLem preservar a dinastia. O grande núm ero de filhos indicava a força da linhagem da fam ília, já que m uitos filhos proporcionavam uma garantia de continuidade. Isso era muito importante para o governante porque geralmente a família ocupava posições-chave na administração. Um a fam ília grande, teoricamente, teria condições de assegurar o futuro da dinastia. O versículo 9 indica um a vasta rede de relações políticas.12.11. A ijalom em Zebulom . A cidade m ais conhecida com esse m esm o nom e e o vale de Aijalom ficavam no território de Dã; portanto, não é a mesma Aijalom mencionada aqui, cuja localização ainda é desconhecida.12.13. Piratom . Piratom tem sido identificada com a aldeia de Farata, dez ou doze quilômetros a sul-su- deste de Samaria.12.14. quarenta filh o s e trin ta netos m ontados em setenta jum entos. É difícil dizer se esses filhos e netos representam alianças políticas (ver comentário em 10.3) ou o tamanho do clã que ele governava (ver comentário em 12.8). A referência a jum entos favorece a prim eira alternativa enquanto que a menção aos netos favorece a última.
13.1-25O nascimento de Sansão13.1. filisteu s. Os filisteus são conhecidos através das narrativas de Juizes e de 1 e 2 Samuel e chegaram à Palestina juntam ente com os chamados povos do mar, que migraram da região do Egeu por volta de 1200a.C.. De m odo geral, os povos do m ar têm sido consi
derados responsáveis pela queda do império hitita e pela destruição de muitas cidades ao longo da costa da Síria e da Palestina, tais como Ugarite, Tiro, Sidom, M egido e A squelom , em bora as evidências de seu envolvimento nessas áreas sejam circunstanciais. Suas batalhas com o faraó egípcio Ramsés III são ilustradas nos famosos murais de M edinet Habu. Esse grande movimento populacional também se reflete no épico de Homero sobre o cerco de Tróia. Saindo de Creta, da G récia e da A natólia, é provável que esses povos tenham usado Chipre como base de onde desferiam seus ataques. Após terem sido im pedidos de entrar no Egito, a tribo que passou a ser conhecida como filisteus estabeleceu-se na costa sul da Palestina, fundando cinco capitais: Asquelom, Asdode, Ecrom (Tell Miqne), Gate (Tell es-Safi) e Gaza.13.2. Zorá. Zorá é identificada como a moderna Sar'a, cerca de 25 quilômetros a oeste de Jerusalém, no vale de Soreque, que era a principal passagem das planícies costeiras através da Sefelá até as montanhas ao redor de Jerusalém.13.2. esterilidade. O fato de uma mulher ser incapaz de gerar filhos muitas vezes a deixava vulnerável aos caprichos do marido, visto que m uitos contratos de casamento permitiam que o marido se divorciasse por esse motivo. A esterilidade geralmente levava o m arido a tom ar outras m ulheres que, por sua vez, ao gerarem filhos, assum iam um a posição privilegiada na fam ília. Esse texto, porém , não está tratando de relações familiares ou de tensões emocionais. A esterilidade da esposa de M anoá é um fator que ajuda a demonstrar o aspecto sobrenatural da vida e do ministério de Sansão.13.4, 5. voto de nazireu. Assim como a maioria dos votos no antigo Oriente Próxim o, o voto de nazireu representava tipicamente um acordo condicional firmado com a divindade. Se a resposta da divindade fosse favorável à petição, o voto era pago com a dedicação de ofertas à divindade. O que tom ava distinto o voto do nazireu era o período de abstinência que antecedia a entrega das ofertas. A situação de Sansão é ainda mais notável, visto que seu período de abstinência não durava alguns dias ou semanas, como era costume, m as sim a vida toda. Para mais informações sobre o voto nazireu, consulte os comentários em N úm eros 6.1-21.13.5. im portância ritual dos cabelos. Uma inscrição fenícia do século nono relata a dedicação de uma pessoa rapando os cabelos em cumprimento a um voto feito à deusa Astarte. É im portante destacar que no texto bíblico não se discute o que deveria ser feito com o cabelo que era rapado. Não era dedicado, como na inscrição acima, nem depositado no templo, como em certas culturas. No caso de Sansão, o cabelo dedicado
não podia ser cortado. No pensamento do mundo antigo, o cabelo (junto com o sangue) representava a essência da vida da pessoa, e como tal, sempre era um ingrediente usado em simpatias. Isso fica claro, por exemplo, na prática de enviar uma mecha de cabelos supostamente do profeta, juntam ente com as profecias destinadas ao rei de *Mari, para que fosse usado em adivinhações para determinar se a m ensagem do profeta seria considerada válida.13 .15 ,16 . refeição de hospitalidade. Os costumes relacionados à hospitalidade exigiam que todos os estranhos que chegassem a uma m oradia fossem bem tratados e tivessem oportunidade de descansar, se lavar e comer uma refeição. Isso era feito com o objetivo de assegurar a amizade do estranho. Também era praticado no caso de alguém que estivesse trazendo profecias como as descritas aqui. O que é particularmente generoso neste episódio é a carne fresca, um prato que raramente fazia parte do cardápio do dia-a-dia.13.17. im portância do nom e. No mundo antigo, acreditava-se que o nom e estava intimamente relacionado à essência da pessoa e que podia ser usado para propósitos de m agia e feitiço. Revelar o nom e a alguém era visto como um ato de favor, de confiança e, em term os hum anos, de vu lnerabilid ad e. Os D ez M andam entos proibiam Israel de usar o nom e de Yahw eh em magias ou festiços a fim de manipulá-lo. Mas aqui, a intenção de M anoá ao perguntar ao anjo o seu nome, não visava causar mal, nem invocar o nome dele. O texto indica que M anoá não percebeu que se tratava de um visitante sobrenatural. Se fosse um profeta, sua reputação seria enaltecida e ele seria suprido por alguém favorecido pela exatidão e bondade de suas palavras. Tais recompensas, porém, só poderiam ser oferecidas se a identidade da pessoa fosse conhecida.13.19. oferta de cereal. A palavra usada para descrever a oferta de cereal significa "dádiva" ou "tributo". Essa oferta era usada em situações em que se pretendia demonstrar respeito ou honra. O m esm o termo era usado também em *ugarítico e *acadiano (Canaã e Mesopotâmia). A oferta de cereal geralmente era oferecida em ocasiões de celebração e não em situações de tristeza ou luto. Em ocasiões formais, uma pequena parte era queim ada sobre o altar como símbolo da oferta ao Senhor, enquanto que o restante era dado ao sacerdote oficiante. Os ingredientes dessa oferta eram cereais, azeite e incenso. Os cereais eram os grãos ou a semolina que ficavam na peneira depois que o trigo era m oído e transform ado em farinha. O óleo era azeite de oliva, usado como gordura no preparo dos alimentos e facilmente inflamável. O incenso era feito da resina de um tipo de árvore encontrada somente no sul da Arábia e na Som ália. A oferta de cereais
usava uma pequena quantia de incenso que era totalmente queimado num pequeno queimador (para mais informações, ver comentários em Lv 2).13.19. sacrifício sobre um a rocha. O ato de colocar o alimento sobre a rocha fazia com que esse alimento deixasse de ser simplesmente um a refeição e passasse a ser um sacrifício para ser consumido. As rochas às vezes eram usadas como altares (1 Sm 14.32-34), geralmente para permitir que o sangue do animal sacrificado escorresse até o chão.13.22. tabu a respeito de ver a D eus. O conceito de divindade com uma aparência impressionante da qual os seres humanos não podiam aproximar-se não era restrito à teologia israelita, visto que na Mesopotâmia os deuses demonstravam seu poder através de seu melam mu, ou fulgor divino. Em bora a visão da divindade causasse bastante m edo e pavor, não era considerada como fatal. Também fica claro no texto bíblico que o m ensageiro não apresentava um melammu, já que M anoá não pôde reconhecer sua identidade sobrenatural. Tabus semelhantes a esse não são confirmados na literatura do antigo Oriente Próximo.13.24. o n om e de San são . O nom e Sansão é um a variação do substantivo hebraico que significa "so l". A poucos quilômetros ao sul de sua casa ficava a cidade de Bete-Semes, considerada a casa ou templo do sol. Sabe-se que o culto ao Sol existiu em Israel como parte de um a das aberrações religiosas do povo (2 Rs 23.11); alguns estudiosos têm sugerido que Yahweh, às vezes, era representado na form a de um Sol em relevos (o incensário de Taanaque) e na literatura (ver SI 80.2, 3; D t 33.2).13.25. M aané-D ã. M aané-Dã significa "cam po de D ã", portanto, é provável que não seja o nom e de um povoado estabelecido. Zorá e Estaol (K hirbet D eir Shubeib) estão separadas por apenas dois quilôm etros uma da outra, mas existe um a fonte perto do vau de Kesalon entre as duas cidades que talvez seja a área mencionada aqui.
14.1-16.31 As proezas de Sansão14.1. T im n a . T im na situ a-se ao longo do vale de Soreque, cerca de nove quilômetros a oeste da casa de Sansão em Zorá. É a m oderna Tell el-Batashi, localizada mais ou menos na metade do caminho entre Zorá e a cidade filistéia de Ecrom. Escavações no local demonstram que houve ocupação durante esse período, mas esclarecem pouco a narrativa bíblica.14.2. casam ento arranjado pelos pais. Em todo o antigo Oriente Próximo o casamento era visto mais como uma parceria entre clãs (muitas vezes com motivações econômicas), relacionada à posição social das famílias envolvidas, do que como a união rom ântica de um
casal apaixonado. Como resultado, os acertos dessas parcerias ficavam nas mãos do chefe da família. Os pais decidiam quando o casamento deveria acontecer e quem seria o futuro cônjuge. Geralmente esses arranjos eram feitos quando os futuros cônjuges ainda eram crianças. A endogam ia, ou seja, o casamento entre pessoas da m esma tribo ou aldeia, era a prática comum, especialmente em Israel onde a posse da terra estava atrelada à filiação tribal. Mesmo quando um indivíduo tinha a liberdade de escolher com quem se casar, os pais deveriam conduzir as negociações sobre os acertos financeiros quanto ao preço da noiva (ver com entário em G n 29.18-20) e ao dote (geralmente um a propriedade), sendo ambos considerados como bens ligados à esposa. O preço da noiva é muito mais discutido do que o dote no antigo Oriente Próximo e na Bíblia.
14.3. incircunciso. A circuncisão era praticada por muitos povos no antigo Oriente Próximo (ver comentário em G n 17.9-14), mas não pelos filisteus. O comentário aqui não diz respeito aos atributos físicos ou aos costumes de um grupo social; trata-se de um a distinção étnica que para os israelitas era um sinal da aliança.14.5, 6. leão. Reis e heróis do mundo antigo costumavam se gabar de suas habilidades de lutar com leões ou caçá-los. Uma cena comum nas pinturas egípcias representa o faraó montado em seu carro enfrentando leões com um arco ou um a lança nas mãos. Reis assírios, do mesmo modo, afirmavam ter caçado centenas de leões. U m relevo de T el H alaf (cerca de 900 a.C.) ilustra um guerreiro usando uma espada para lutar com um leão. M atar um leão sem nenhuma arma nas mãos é um feito atribuído a vários heróis da Antiguidade como, por exemplo, o rei sumério Gilgamés e na lenda grega de Heráculo. Os leões eram comuns nas florestas da Palestina e nesse período toda a região que circundava o vale do Soreque, entre Zorá e Timna, era coberta de florestas.14.6. o Espírito do Senhor. Nas ocasiões anteriores em que ocorreu o aparecimento do Espírito do Senhor no Livro de Juizes, este passava a agir quando a autoridade para convocar o exército era uma questão decisiva (ver com entários em 6.34, 35 e 11.29). Nesses casos, o Espírito concedia ao ju iz uma autoridade que poderia ser dada apenas por Deus. No caso de Sansão, o que está em questão não é a autoridade e sim a força física. O Espírito do Senhor veio sobre Sansão em várias ocasiões (ver 14.19 e 15.14), m as nem sempre ele realizou algo incomum. O fator em comum é que o Espírito estava envolvido em cada situação em que Sansão atacava ou era atacado.14.10. festa para os noivos. Essa era a segunda etapa das celebrações do casam ento, que acontecia algum
tempo após o anúncio formal do compromisso. A festa, que tradicionalmente durava sete dias, culminava com a consumação do casamento, que pode ter acontecido depois da primeira noite da festa. Um a cerim ônia debaixo de um a tenda é m encionada em textos bíblicos (SI 19.4, 5; J1 2.16). A lenda ugarítica do rei Keret relata a festa de seu casamento com Huray, mas poucos detalhes são dados.14.11. trinta rapazes. Os acompanhantes do noivo pertenciam ao clã ou à aldeia da noiva e se apresentavam para prestar apoio à união. Suas obrigações não estão m uito claras, mas talvez estivessem relacionadas com garantir a segurança da noiva, verificando se ela estava sendo bem tratada em sua nova família, e também assumindo a responsabilidade de sustentá-la, caso fosse abandonada pelo marido. No início do versículo 11, algumas versões trazem um a variação na tradução: em vez da expressão "quando ele chegou", aparece "porque eles o tem iam ". Se essa variante estiver correta, pode dar a entender que houve certa intimidação para forçá-los a vir, confirmando assim a queixa do versículo 15 de que eles teriam sido convidados a ir à festa para serem roubados.14.12. enigm a. Os enigmas se caracterizavam por dois níveis de significado, inerentes às palavras usadas. Um nível estava relacionado ao uso comum ou literal das palavras, enquanto que a solução para o enigma geralmente exigia a elucidação de um significado mais profundo ou oculto. Há indícios de que o nível básico do significado do enigm a proposto por Sansão era algo bastante grosseiro (relacionado aos resultados de comer descontroladamente num banquete) ou erótico (relacionado à consumação im inente do casamento), embora essas duas interpretações pareçam metafóricas demais para constituir-se num nível comum de significado. Numa lenda grega desse período, Mopsus manteve Calchus, líder dos aqueianos, entretido numa competição de enigmas enquanto saía de Tróia, após o saque. A conexão intrigante entre esses relatos é que posteriormente, atribuiu-se a M opsus a fundação da cidade de Ascalom.14.13. tr in ta m udas de roupa. A s trinta m udas de roupa de que fala o texto eram roupas finas usadas em ocasiões especiais. Hoje seriam equivalentes a trinta ternos. Da m esma forma que se usa um a camisa debaixo de um tem o, as vestes de linho m encionadas aqui seriam usadas por baixo das roupas ricamente adornadas.14.14. m el n a carcaça. O relato de abelhas construindo suas colmeias na carcaça de um grande animal aparece tam bém na literatura da região do Egeu (região de onde se originavam os filisteus). D esta form a, esse seria um enigm a que os filisteus teriam condições de decifrar.
14.18. respond er a um enigm a com outro enigm a.Os companheiros de Sansão responderam ao seu enigma ao mesmo tempo em que propuseram outro enigma, dando um a pista sobre como haviam descoberto a resposta. Mel e leão eram as respostas ao enigma de Sansão, m as o que é m ais doce do que o mel e mais
forte que um leão? A sedução de uma mulher, certamente! Sansão demonstrou sua habilidade em decifrar enigm as, respondendo im ediatamente ao deles através de um trocadilho. A expressão "arar com a novilha de alguém " pode ser análoga à expressão "cam inhar alguns quilômetros com os sapatos alheios", mas também tem um significado mais insidioso no sentido de se envolverem em intrigas com sua esposa.
14.19. Ascalom . Ascalom situava-se cerca de 65 quilômetros ao sul de Tel Aviv, na costa do Mediterrâneo. A antiga cidade estendia-se por 150 acres, era fortemente protegida por muralhas, e uma das cinco principais cidades dos filisteus. Durante o período A m aina (século catorze) o governante cananeu era Yidya, responsável por diversas cartas do arquivo de Amarna. Os filisteus estabeleceram -se no local por volta de 1175 a.C.. Durante o período das proezas de Sansão (Idade do Ferro I), Ascalom era fortificada pelo menos na encosta norte e protegida por uma ladeira (área em aclive fora da cidade que dificultava o acesso aos muros) e um a torre constru ída com tijo los de barro. Ascalom distava de Tim na cerca de 40 quilômetros. O texto não explica por que Sansão dirigiu-se para lá em vez de ir a Ecrom, a Gate ou até m esm o a Asdode, todas muito mais perto.
14.20. resultado do casam ento: esposa dada a outro homem. Entregar a noiva a um dos amigos não significa que poderia haver um rom ance secreto entre eles, mas seria o procedimento normal numa situação como essa. O papel dos com panheiros no casam ento era garantir o sustento da esposa, caso ela fosse abandonada, e foi exatam ente isso que a fam ília presumiu que tivesse acontecido. Em um a oração babilónica a Istar, há um pedido para que um jovem irado volte para sua esposa e para a casa de seus parentes e o ritual relacionado tem como propósito a concepção.15.1. época da colheita do trigo. A colheita do trigo acontecia no final de maio nessa região.15.1. levou-lhe um cabrito. Embora o casamento geralm ente se consumasse na primeira noite da festa, a noiva muitas vezes não ia m orar com o noivo depois dos sete dias de festa. Durante vários m eses, o marido levava um presente e visitava a noiva na casa de seu pai (onde passava a noite) até que tudo estivesse pronto para que ele se mudasse definitivamente. Na Babilônia geralmente isso acontecia durante quatro meses, tal
vez com o um período de teste, com o objetivo de verificar se a noiva conseguiria engravidar.15.4. trezen tas raposas. A credita-se que a palavra traduzida como "raposa" seja um termo genérico referindo-se também a chacais. Do ponto de vista prático, é mais provável que Sansão tenha usado chacais, pois as raposas caçam sozinhas, ao passo que os chacais caçam em bandos. Assim, capturar um núm ero tão elevado de raposas exigiria não apenas m uito tempo, mas também seria preciso cobrir uma ampla extensão do território. Aprisionar os chacais seria um a tarefa m ais viável visto que bandos inteiros poderiam ser capturados de uma só vez. Tanto raposas como chacais eram espécies nativas na Palestina durante esse período.15.5. os feixes e o cereal que iam colher. As espigas, que já haviam sido cortadas e estavam separadas em pilhas, eram os feixes à espera da debulha e moagem. O cereal que ainda iam colher era aquele que ainda não fora cortado. Faltavam alguns meses para a colheita das uvas e das olivas, m as o fogo causou danos irreparáveis a essas plantações também.15.8. rocha de Etã. Existiu uma cidade perto de Belém chamada Etã (2 Cr 11.6), mas ficava muito a leste para estar relacionada a esse contexto, além do m ais Sansão não estava numa cidade. A identificação m ais comum é com 'A raq Ism a^n, nas proxim idades da casa de Sansão, em Zorá, nas encostas do vale de Soreque.15.9. Lei. Não se sabe ao certo se Lei (queixada) seria o nome de um lugar ou a descrição para o incidente que aconteceu entre Sansão e os filisteus. Em acadiano essa m esm a palavra (queixada) é usada para descrever a fronteira de um território e alguns estudiosos acreditam que seja o caso aqui em Juizes, embora não seja confirmado em nenhuma outra passagem do Antigo Testam ento. Se for um a referência ao nom e de um lugar, o mais indicado seria Khirbet es-Siyyagh, na região montanhosa de Judá em direção a Jerusalém, nas proximidades de Bete-Semes, e cerca de três quilômetros de Zorá e da rocha de Etã.15.13. cordas novas. N as tumbas egípcias foram encontradas cordas em bom estado, feitas de papiro verde ou de fibra de tamareira. Em Israel, o caule de um arbusto encontrado no deserto, era um dos materiais m ais adequados e disponíveis para a fabricação de cordas. Cordas novas seriam m enos quebradiças e, portanto, m ais elásticas.15.15. queixad a de ju m ento . U m a queixada de ju mento teria cerca de 23 centímetros de comprimento e pesaria pouco menos de meio quilo. Por ser levemente curva e talvez ainda conter alguns dentes no lugar, seria uma arma de bastante eficácia.15.19. fon te de água. A s rochas sedimentares geralmente apresentam bolsões onde a água pode ficar
armazenada, logo abaixo da superfície. Para ter acesso à água, basta quebrar a superfície da pedra. O texto não explica como Deus abriu a rocha.15.19. En-Hacoré. Nenhum a fonte foi localizada até agora nessa região com as características apresentadas aqui.16.1. Gaza. Gaza era um a das cinco principais cidades dos filisteus. Ficava localizada cerca de 20 quilômetros a sudeste de Ascalom, e a cinco quilômetros do Mediterrâneo. No período de Am am a essa cidade era o centro de administração egípcia m ais importante da região. O local de 135 acres ficava na entrada sul da planície costeira, no ponto m ais alto da região, ao longo da principal rota comercial que subia do Egito. Relevos egípcios representam essa cidade bastante fortificada no século treze, embora as escavações feitas no local tenham encontrado pouca coisa sobre o período do Antigo Testamento.16.3. estrutura dos portões da cidade. O texto menciona que o portão se compunha de três partes: o portão em si, os batentes e a tranca. Duas folhas do portão geralmente eram colocadas em encaixes de pedra fincados no solo. Os batentes eram feitos de madeira e ficavam nas laterais do portão, ligados ao muro. Durante a Idade do Ferro I muitas cidades não tinham m uros para protegê-las, então as casas eram construídas bem próxim as um as das outras, cercando a cidade e servindo como proteção. A tranca era colocada atravessando o portão e as extremidades se encaixavam em aberturas nos batentes. Essas trancas podiam ficar travadas por meio de diversas cavilhas de m adeira que eram introduzidas em buracos de um bloco de m adeira ajustado ao portão. Portanto, não era possível sair da cidade quando o portão estivesse trancado. Visto que as fortificações da antiga G aza não foram encontradas pelos arqueólogos, é difícil determinar com exatidão todos os detalhes desse portão. A abertura dos portões nessa época era de quase quatro metros, embora alguns fossem menores, com apenas dois metros de largura.16.3. colina que fica defronte de H ebrom . Hebrom fica cerca de 64 quilôm etros a leste de G aza, numa árdua subida. O texto não afirm a que Sansão carregou o portão até as proximidades de Hebrom. A expressão usada aqui geralmente significa "a caminho de" (ver, por exemplo, Js 13.3). Ele seguiu na direção de Hebrom e deixou o portão num a colina que havia no caminho.16.4. vale de Sorequ e. O vale de Soreque é a área onde se concentraram as atividades de Sansão. A região principal do vale fica cerca de vinte quilômetros a oeste de Jerusalém e faz parte do vau que se estende por quase cinqüenta quilômetros a noroeste das montanhas ao redor de Jerusalém até o M editerrâneo. É a
principal passagem entre a planície costeira e as colinas de Judá, perto de Jerusalém.16.5. líderes dos filisteus. Os cinco líderes dos filisteus aparentemente tinham o mesmo grau de autoridade. Provavelm ente o term o usado para descrevê-los é filisteu e a maioria dos eruditos acredita que se origi
nou da língua falada pelos povos do m ar (grego ou outra língua indo-européia). Enquanto não se descobrirem mais dados, não há possibilidade de se fazer uma análise política mais esclarecedora.16.5. trezentos quilos de prata. Trata-se de uma quantia exorbitante (mil e cem siclos de prata), equivalente ao preço de um rei (ver 2 Sm 18.12). Compare com o padrão de salário anual de um trabalhador (dez siclos) e com a quantia paga por um lote de terra (entre quatrocentos e seicentos siclos). Esses cinco m il e quinhentos siclos oferecidos pelos líderes seriam equivalentes a 550 vezes o salário anual de um trabalhador. Se considerarmos, atualmente, um salário médio anual de aproximadamente doze mil reais, a oferta estaria na faixa dos seis milhões.16.5. o que os filisteu s pensavam sobre a força de Sansão. Os filisteus achavam que havia um segredo para a grande força de Sansão. O que eles precisavam fazer era descobrir qual seria esse segredo para então usá-lo contra ele a fim de enfraquecê-lo. Isso demonstra que eles consideravam que suas habilidades se originavam de elementos m ágicos ou sobrenaturais. Sansão demonstrou ter percebido isso ao oferecer soluções mágicas para que pudessem prendê-lo. Assim como nas superstições modernas existe a crença de que para m atar um lobisomem é necessário usar munição de prata, também nas tradições antigas havia a crença de que certos materiais tinham propriedades m ágicas capazes de neutralizar um fenômeno natural. Isso se enquadra no tipo de mágica denominada "rito de contato e transferência" encontrada nos textos hititas. Nesses ritos, lã ou cordas de diversas cores e d iferentes m ateriais eram usadas para neutralizar qualidades mágicas.16.7. tiras de couro úm idas. Tiras de couro úmidas às vezes eram feitas de tripa de boi. A literatura suméria refere-se a tiras extraídas da perna de um a ovelha (provavelmente dos tendões) ou das vísceras de um carneiro, enquanto a literatura ugarítica refere-se a tendões da perna de um boi. Nesses casos, geralmente eram deixados para secar antes de serem usados. O utros preferem achar que se tratava de ram os de videira. O fato de serem usadas sete tiras sugere a existência de um elemento mágico no procedimento.16.11. cordas novas. Ver comentário em 15.13.16 .13 ,14 . lançadeira. Havia dois tipos de lançadeiras usadas nesse período: a horizontal e a vertical. Pela
descrição dada, a lançadeira de Dalila parece ser do primeiro tipo. N a lançadeira horizontal, quatro estacas eram fincadas no chão formando um padrão retangular; os fios que formariam a trama do tecido eram amarrados nas extremidades das varetas, em intervalos regulares, e as varetas então eram usadas para passar os fios entre as estacas. Quando as extremidades de cada vareta estivessem presas atrás das estacas, os fios estariam esticados horizontalmente em relação ao chão, prontos para serem tecidos. U m pino de tear então era preso ao fio, a fim de fazer a trama do tecido, usando uma barra para separar os fios alterna
dos da trama e permitir a passagem do pino com o fio. Sansão foi bastante criativo ao sugerir que seu cabelo substituísse os fios do tecido. Esse seria um procedimento mágico lógico, visto que se acreditava que o cabelo continha a essência da vida da pessoa, logo, tecer os fios de cabelo de alguém teria o sentido de tom á-lo prisioneiro. Quando Sansão acordou, arrancou a lançadeira, soltando os pinos de tear que estavam prendendo os fios às estacas.16.13. sete tranças. Era costume os homens usarem os cabelos amarrados ou enrolados em cachos. O cabelo de Sansão era dividido em sete partes (uma atrás e três de cada lado), de acordo com o estilo da época.16.17. nazireu. Ver comentários em Núm eros 6 para
inform ações adicionais sobre o voto de nazireu e a importância do cabelo. Em bora Sansão tivesse violado o voto em inúmeras ocasiões, tudo que ele precisava fazer era renovar o voto. M as nesse caso era diferente porque rapar o cabelo significava rom per o voto.16.17-19. rapar o cabelo para perder a invencibilidade. Existem alguns exemplos desse mesmo conceito na literatura antiga da região do Egeu relatados por Apolodoro (século segundo a.C.). Um dos relatos é o de Nisus, rei de M egara, cujos longos cabelos o tom avam invencível. Sua filha, Scylla, se enam orara de seu inim igo, M inos, rei de Creta (século dezessetea.C.), então ela cortou parte do cabelo de seu pai para que M inos pudesse derrotá-lo. Um destino semelhante acometeu Pterelaos, rei de Teleboea (também relatado por Apolodoro), cujos cabelos, que o tom avam im ortal, foram rapados por uma de suas filhas, que estava apaixonada por um inim igo. É possível que essas histórias fossem do conhecimento dos filisteus provenientes da região do Egeu; nesse caso a sugestão de Dalila teria sido bastante lógica para eles.16.21. cegando os p rision eiros. A m aior parte das evidências vem da M esopotâm ia, onde era comum que prisioneiros de guerra tivessem seus olhos furados ou a língua arrancada.16.21. algem as de bronze. Algemas e grilhões eram objetos usados no antigo O riente Próxim o e, nessa
época, o bronze era o m aterial m ais acessível para confeccioná-los. Mesmo m ais tarde na Idade do Ferro, o bronze continuou a ser usado para esse propósito (ver Jr 39.7). É provável que Sansão tivesse as mãos e os pés presos com algemas.16.21. girar um m oinho. Transformar grãos em farinha geralm ente era um trabalho feito nos moinhos pelos m em bros das camadas sociais inferiores. Um a das "instalações" básicas de qualquer casa desse período era o moinho de m ão com duas pedras para moer (ver comentário em Jz 9.53). Os moinhos maiores geralm ente serviam com o um a espécie de prisão de trabalhos forçados na Mesopotâmia, m as cada prisioneiro também tinha um moinho de mão. Os moinhos maiores, puxados por jumentos ou por escravos, foram inventados som ente após o período do Antigo Testamento. U m palácio em Ebla tinha um cômodo com dezesseis m oinhos de mão, presumivelmente um lugar onde prisioneiros m oíam cereais. Nas casas de moinho havia prisioneiros de guerra, crim inosos e endividados.16.23. D agom . Há evidências de que Dagom era um importante deus do panteão semita já no terceiro milênio a. C., em Mari. Os assírios adoravam a Dagom na primeira metade do segundo milênio e na literatura ugarítica ele aparece como pai de Baal Haddu. Seu templo na cidade de Ugarite era maior que o templo de Baal. De modo geral, não há indicações de que os filisteus tenham trazido seu deus quando migraram da região do Egeu, e sim que adotaram o culto a D agom quando chegaram em seu novo território . D agom é identificado freqüentem ente como o deus do cereal ou da tempestade, mas não há evidências para nenhum a dessas identificações, perm anecendo de certa maneira como simples especulação.16.25. trazer para divertir. O "divertim ento" promovido por Sansão provavelmente não estava relacionado à sua capacidade ou à sua força, mas à sua cegueira. Colocar obstáculos no caminho e depois empurrá- lo ou fazê-lo tropeçar seriam apenas algumas das possibilidades cruéis de atormentá-lo, junto ao fato dele estar num lugar desconhecido.16.29. arqu itetu ra do tem p lo. Os tem plos em Tell Qasile (o nome antigo é desconhecido, m as foi ocupada pelos filisteus; localizada dentro da moderna Tel Aviv) e em Bete-Seã são os únicos templos filisteus desse período que foram descobertos pelos arqueólogos, em bora o templo de Láquis tam bém ofereça uma boa noção sobre os templos. Geralm ente esses tem plos tinham um saguão central, com pilares que sustentavam o teto (talvez parcialm ente descoberto). Geralmente nessa época, os pilares dos templos eram feitos de madeira e ficavam sobre pedestais de pedra, sendo m antidos no lugar pelo peso do telhado. A
m aior parte dos templos da Idade do Ferro I em Tell Qasile mediam quase oito metros por catorze. O templo em Bete-Seã tinha um a área central com duas colunas e media quase catorze metros quadrados. O templo da acrópole da Idade do Bronze Moderna em Láquis (cananeus e um pouco antes) tinha um desenho parecido, com duas colunas na área central, porém era maior, medindo cerca de dezoito metros por trinta.16.29, 30. derrubou o templo. O verbo usado no versículo 30 sugere um movimento inclinado, podendo indicar que Sansão tirou as colunas de cima das bases de pedra, removendo assim o suporte para o teto e provocando a queda do telhado e a destruição do templo.16.31. Zorá e Estaol. Zorá é identificada com a moderna Sar'a, cerca de 25 quilômetros a oeste de Jerusalém, no vale de Soreque, que era a principal passagem das planícies costeiras através da Sefelá, até as colinas ao redor de Jerusalém. Zorá e Estaol (Khirbet Deir Shubeib) distam apenas cerca de dois quilômetros um a da outra, mas há entre essas duas cidades um a fonte, perto do uádi Quesalom, que talvez seja a área m encionada aqui.
17.1-18.31Mica e a tribo de Dã17.2. treze quilos de prata (1100 siclos). Apesar de ser uma quantia bastante elevada, a quantidade de prata envolvida aqui não era algo além da possibilidade (compare com os 400 siclos pagos por Abraão pelo cam po de M acpela e com os despojos obtidos por Gideão em Jz 8.26). É bem provável que a prata representasse o dote da m ulher, recebido por ocasião do seu casamento com o objetivo de garantir o seu sustento caso ela ficasse viúva ou fosse abandonada. Foi a mesm a quantia paga pelos reis filisteus a Dalila em 16.5.17.2. m aldição. O texto é ambíguo o suficiente para deixar dúvidas quanto a ser um "juram ento" ou uma "m aldição" que estaria relacionada aos 1100 siclos de prata. É possível que a mãe de Mica tivesse prometido dar aquela quantia a Yahw eh ou talvez ela tivesse rogado um a m aldição contra quem a roubou. Nos dois casos D eus teria sido invocado como testemunha (ver Nm 5.21 e Ne 10.29). Tam bém é provável que a m ãe estivesse desesperada tentando encontrar suas reservas e tivesse recorrido a Deus para ajudá-la em sua busca. A atitude de Mica confirmando que a prata estava com ele parece m ais a de alguém assustado com o tabu de um objeto amaldiçoado (ou consagrado; ver Js 7.20, 21) do que a reação de um filho responsável e zeloso.17.2. a m aldição se transform a em bênção. Assim como Balaão (Nm 23.11), a mãe de M ica transformou
sua m aldição em bênção. Talvez ela tivesse ficado desapontada ao descobrir que seu próprio filho havia se apossado da prata, m as rapidam ente ela m uda um a forma de invocação divina em outra. Desse modo, o mal que poderia ser causado é evitado (2 Sm 21.3).17.3. consagrado ao Senhor para fazer um a im agem . A fabricação de im agens sagradas foi proibida em Êxodo 20.4. Porém, o contexto de Juizes, onde "cada um fazia o que lhe parecia certo" e tam bém o costume dos cananeus tom am praticamente certo o uso de imagens entre os israelitas (veja a questão do m anto de Gideão em Jz 8.27). Os ídolos eram entalhados em madeira ou pedra e também fundidos em metais preciosos (como os bezerros de ouro em Êx 32.1-4 e 1 Rs 12.28). Foram encontrados em várias cidades cananéias m oldes usados para a fabricação de ídolos. E bem provável que o material empregado na confecção das imagens fosse consagrado desde o início do processo, e certos rituais (como "abrindo a boca" em textos egípcios e m esopotâmicos) e cerimônias fossem realizados para trazer o objeto à vida. Por fim , o objeto era consagrado para servir o deus representado (ver Êx 40.9-11 e Lv 8.10,11 a respeito da consagração do tabernáculo).17.5. santuário. Escavações arqueológicas em localidades de toda a região da Sírio-Palestina revelaram a existência de santuários domésticos. Esses santuários particulares devem ter servido às necessidades de uma família ou mesmo de diversas famílias dentro de um povoado (os fragm entos de gesso de Tell Deir 'A lia podem estar associados a um santuário desse tipo, assim como as inscrições de Kuntillet 'A jrud). Nos centros populacionais m aiores, tam bém existia um m aior núm ero se tem plos e santuários formais, que funcionavam como locais de adoração e sacrifícios para todos os devotos e como um a base de operações para a comunidade sacerdotal a serviço da divindade. O texto bíblico, porém, deixa claro que o santuário de Mica não era um local adequado para a adoração a Yahweh, e a inclusão de um ídolo demonstra nitidam ente o perigo de se prestar adoração sem orientação (ver a lei em Dt 12.2-7).17.5. m anto. O manto era uma das vestes sacerdotais usadas apenas por Arão e outros sumos sacerdotes (ver com entário em Êx 28.6-14). Provavelm ente era semelhante a um avental, feito de um tecido especial e tecido com uma m istura de fios de lã, linho e também de ouro. O peitoral que continha as doze pedras representando as tribos de Israel ficava preso ao manto (Êx 28.25). A associação do peitoral com o U rim e o Tumim, usados como oráculo para descobrir a vontade de Deus, tom ava o m anto parte desse procedimento. Assim , é provável que o m anto, por ser intim am ente associado ao elemento divino, tam bém acabasse se tom ando objeto de culto (ver o manto de ouro de
Gideão em Jz 8.27). O m anto de M ica tinha a função de dar legitimidade ao seu santuário particular; o fato de estar associado aos seus ídolos sugere que também era objeto de adoração (ver Jz 18.14-31).17.5. ídolos. Imagens esculpidas de qualquer tipo são estritamente proibidas em Êxodo 20.4-6; 34.17. Entretanto, era com um em Israel a existência de ídolos feitos de metal, madeira e pedra (ver Is 40.19, 20; Os8.4-6). Portanto, não causa nenhum espanto o fato de Mica ter fabricado seus próprios ídolos. Porém, a aprovação oficial concedida pelo levita à atitude de Mica revela a desordem e o tumulto desse período sem lei de Juizes.17.6. não havia rei. Visto que os ju izes tinham uma autoridade limitada, eles não eram capazes de prom over reform as espirituais ou sociais significativas entre o povo, nem estavam em posição de julgar disputas entre as tribos. N o relato de Juizes, tanto os sacerdotes como os líderes tribais e os juizes são considerados igualm ente responsáveis pela situação de desordem. O estabelecimento de um poder civil centralizado poderia resolver alguns desses problemas, m as som ente um a visão apropriada da m onarquia poderia trazer algum progresso. Como 1 Samuel 8-12 alerta, a monarquia tam bém tem suas desvantagens e sempre é um erro perigoso tentar resolver um problema espiritual através de um a solução política.17.7-10. sacerdotes da fam ília. Inicialmente, M ica escolheu um de seus filhos como administrador sacerdotal de seu santuário. Q uando, porém , surgiu um a oportunidade de colocar um levita no lugar, ele rapidamente o fez, com o objetivo de legitimar o santuário (observe como isso lhe proporcionou prestígio, em Jz18.14,15). O uso do termo "p ai" aqui tem a ver com a habilidade de conceder respostas oraculares autênticas a perguntas do tipo "sim ou não" apresentadas a D eus através dele (veja o uso desse termo em 2 Rs 6.21; 8.9; 13.14). Tam bém pode ser sem elhante ao título "m ãe em Israel" atribuído a Débora, em Juizes5.7. Entretanto, a prática de usar sacerdotes locais ou membros da família acabou sendo proibida, à m edida que a m onarquia tentava centralizar a adoração em Jerusalém (ver 2 Rs 18.4; 23.5-9).17.7-9. levita itinerante. Os levitas não recebiam um território específico porque deviam servir a todas as tribos como sacerdotes (Js 18.7). Portanto, não é fora do comum nesse período encontrar um jovem levita viajando ou em busca de emprego como sacerdote. Há algumas dificuldades aqui por sua associação a Judá, mas o contexto histórico é incerto.17.10. salário do sacerdote. A lei não determina se o sacerdote deveria receber um salário. Êxodo 28.1 e29.26-28 descrevem a porção do sacrifício que deveria ser reservada para os sacerdotes e Josué 21.3-40 traz
um a relação das cidades e das áreas de pastagens destinadas ao sustento dos levitas. Porém, o oferecimento de um a quantia específica de metais preciosos como pagamento funciona m ais como um suborno ou estímulo para convencer o levita a aceitar a proposta de emprego.18 .1 ,2 . m igração da tribo de D ã. O território designado à tribo de D ã ficava entre os territórios de Efraim e Benjamim, ao longo da planície costeira (Js 19.40-48). Além de estarem geograficamente mais próximos dos filisteus, eram os que m ais sofriam influência desse povo (veja as proezas de Sansão em Juizes 13-16). Com o tempo, talvez tenham chegado à conclusão de que nunca seriam capazes de competir com um povo tão m ais forte e m ais bem equipado que eles.18.5, 6. oráculo. U m a das form as m ais com uns de adivinhação empregadas no antigo Oriente Próximo envolvia a consulta aos deuses por meio de perguntas cujas respostas eram do tipo "sim ou não". A resposta a esse tipo de oráculo era obtida através de um sorteio ou então, como é o caso aqui, fazendo-se a pergunta a um profeta ou sacerdote num santuário. Em bora esse
critério aparentemente elimine a possibilidade de uma resposta ambígua, a resposta do levita sugere que era possível oferecer uma afirmação vaga como resposta. N a Mesopotâmia, o sacerdote baru às vezes utilizava um a "taça de adivinhações" (veja a taça de José em G n 44.5) ou consultava um a coletânea de textos de presságios para obter respostas.18.7. Laís. Localizada ao pé do m onte Herm om, no extrem o norte de Israel (tam bém conhecida como Lesém, em Js 19.47), esta cidade ficava a 160 quilômetros do território atribuído a Dã. Laís foi conquistada por essa tribo, recebendo a seguir o nome de Dã. O local, que continha uma das nascentes do rio Jordão, tem um a lo n g a h is tó ria , a te stad a p or te x to s de execração egípcios e pelas cartas de Mari. Não seria surpreendente encontrar nessa cidade do norte uma influência fenícia (sidônios). Para m ais inform ação, ver o comentário sobre Dã em 18.29.18.12. Q u iriate-Jearim . A listada com o um a das ci
dades do território de Judá (Js 15.60), essa localidade tem sido identificada com Tell el-Azhar, cerca de catorze quilômetros a oeste-noroeste de Jerusaém, mas essa localização não tem sido confirmada pelas descobertas arqueológicas nem pelas referências bíblicas. Nesse versículo, aparece associada com Maané-Dã, o que a localizaria nessa área geral (ver o comentário em 13.25) e apenas a dez quilôm etros de G ibeon, com a qual também tem sido associada (ver o comentário em Js 9.17).18.14-27. saqueando o santuário. A prática de atacar e pilhar santuários e tem plos fazia parte das m ano
b ras de guerra no m undo antigo. V isto que esses lugares geralm ente arm azenavam cereais e outros produtos, e também continham objetos de valor feitos de metais preciosos, tom avam -se alvos naturais. Tomar imagens e objetos sagrados como "reféns" também era uma prática bastante comum (ver 1 Sm 5.1, 2), sendo documentada nas cartas de Mari (século dezoito a.C.) bem como no Cilindro de Ciro, do período persa (cerca de 540 a.C.).18.28. Sidom , Bete-Reobe. Na época em que a tribo de Dã conquistou Lais, essa cidade era um povoado controlado pelos sidônios (na costa do Líbano). A localização exata de Bete-Reobe é desconhecida, embora provavelmente estivesse situada "próxim o à entrada de H am ate" (Nm 13.21), no vale de H ulé, no lugar onde se junta ao vale de Bekah, no sul do Líbano.18.29. D ã. Tel D ã (Tell el Qadi) localiza-se ao pé do monte Herm om e é abastecida de água por um a série de fontes que dão origem a uma das nascentes do rio Jordão. Sua identificação foi comprovada pela descoberta de uma inscrição que invoca o "deus de D ã". O nome original da cidade, porém, era Laís (ver Js 19.47; Jz 18.7) e é m encionada com esse nome nos textos de execração do Egito e nas-cartas de Mari. Durante a Idade do Bronze M édia a cidade espalhou-se por mais de trinta acres. U m pórtico feito de tijolos de barro desse período atesta o notável padrão cultural da cidade. A conquista da cidade no início da Idade do Ferro não é confirmada por nenhuma evidência arqueológica, m as há provas concretas (cerâmica, fossos para estocagem) de que a cidade foi ocupada por um novo povo na Idade do Ferro. Nenhum templo ou santuário desse período pôde ser encontrado, m as talvez Jeroboão estivesse seguindo a antiga tradição de construir um templo quando a nação foi dividida no século dez (1 Rs 12.29, 30).18.30. sacerdócio tr ib a l. Os levitas deviam prestar serviço como sacerdotes a todas as tribos, portanto, não é um equívoco falar de Jônatas, filho de Gérson, como sacerdote da tribo de Dã. Jônatas chegou a essa posição servindo como sacerdote de um a fam ília em Efraim , m inistrando diante de ídolos, e m ais tarde, consentindo com o confisco dessas imagens sagradas da casa de Mica. N esse aspecto, ele perpetuou uma form a de falsa adoração em toda um a linhagem de sacerdotes condenados por Oséias por falharem em transmitir ao povo o conhecimento verdadeiro de Deus (Os 4.6).18.31. san tu ário de D eu s em S iló . O santuário de Siló funcionou como centro de adoração durante o período dos juizes (Jz 21.19) e na época de Samuel (1 Sm 1 .3 ), m as ap aren tem en te foi d estru íd o pelos filisteus após a batalha de Ebenézer (1 Sm 4.1-11). A re ferên cia a este san tu ário no Salm o 78.60 e em
Jerem ias 7.12; 26.6-9 indica que este santuário provavelmente foi reconstruído e usado até que Salomão construiu o tem plo de Jerusalém . O local tem sido identificado como Khirbet Seilun, na m etade do caminho entre Betei e Siquém. Com sete acres e meio de extensão, situava-se num local estratégico, onde desfrutava de terras férteis, amplo abastecimento de água e acesso à principal rota no sentido norte-sul até o centro de Israel. Ruínas consideráveis da Idade do Ferro I foram encontradas no local, juntam ente com evidências de destruição provocada por um incêndio. Em bora vestígios de prédios públicos desse período tenham sido encontrados, nenhum traço desse santuário pôde ser identificado. Sua localização provável, no ponto mais alto do *tell foi prejudicada pela erosão e por colonizações posteriores.
19.1-21.25 A guerra civil contra Benjamim19.1. levitas. Para detalhes relacionados ao papel desempenhado pelos levitas, suas funções e seus direitos, ver os comentários em Números 16.10; Deutero- nômio 14.27-29; 18.1-5; 18.6-8.19.1. concubinas. A concubina era um a espécie de esposa secundária que provavelmente se casara sem um dote. Seus filhos poderiam receber apenas uma parte dos bens do pai, caso ele os reconhecesse publicamente como seus herdeiros (confira como Abraão tratou os filhos que teve com Q uetura e com suas concubinas em G n 25.1-4). É possível que esse tipo de arranjo se tom asse necessário nos casos em que a primeira esposa fosse estéril (veja o uso de H agar em Gn16.1-4 e as servas de Lia e de Raquel em G n 35.21, 22). Porém , na maioria das vezes em que era feito um contrato de casamento com o pai de uma m ulher que seria considerada concubina, presumia-se que ela estava ciente de que estaria num a posição inferior em relação à esposa principal. Portanto, é possível que o levita tenha contratado essa m ulher apenas como uma parceira sexual, visto que a posição social de um levita exigia que sua esposa tivesse certos atributos (ver Lv 21.7). Talvez isso explique por que ele não estava com pressa em levá-la de volta para casa (Jz 19.2).19.1. m ontes de Efraim/ Belém . As distâncias geográficas envolvidas não são grandes (talvez cerca de 50 quilômetros), m as representam duas áreas tribais e, posteriormente, os reinos de Israel e Judá. De qualquer m aneira, teria sido necessário pelo m enos um dia inteiro de viagem para chegar ao destino, portanto, fica claro por que tiveram de parar para passar a noite depois de terem partido no final da tarde, chegando apenas a Jebus/Jerusalém (Jz 19.8-11). O texto na verdade refere-se aos montes de Efraim que po
dem ser identificados com o Jebel Asur, a elevação m ais proeminente da região.19.10. Jebus/Jerusalém . Sobre o nom e duplo dessa cidade, ver com entários em 1.7, 8 e 1.21. A cidade ficava apenas cerca de seis quilôm etros ao norte de Belém .19.12-14. G ibeá. Os eruditos concordam que se trata da localidade atual de Gibeá em Jaba', cerca de seis quilômetros a nordeste de Jerusalém. Jaba' fica numa colina em um vale escarpado, repleto de cavernas (veja a rocha de Rimom , em Jz 20.47). Em bora seja descrita como um a aldeia do território de Benjamim, posteriorm ente Gibeá serviu de fortaleza para Saul, quando ele se tom ou o primeiro rei de Israel (ver 1 Sm 10.26; Is 10.29). É provável que os viajantes passassem a oeste de Jerusalém e tom assem a estrada nordeste, por Anatote até Geba.19.15-17. hospitalidade n a praça da cidade. O que fica evidente nessa passagem é que ninguém ofereceu abrigo ao levita e a seus acompanhantes quando entraram na aldeia, diferentem ente da atitude de Ló narrada em Gênesis 19.1, e assim eles foram forçados a buscar abrigo na praça da cidade (réhob), um local bem rústico. Passar a noite num lugar como esse seria a últim a alternativa e refletia a falta de hospitalidade dos moradores da cidade. Em Gênesis 19, a intenção do anjo ao dirigir-se à rehob sugere que ele estava testando a comunidade enquanto que em Juizes 19 o fato do levita ser forçado a ficar na réhob demonstra um a falha básica dos cidadãos de Gibeá, ao se recusarem a oferecer hospitalidade.19.18. santuário do Senhor. É possível que o levita estivesse falando de sua própria casa no território efraimita, onde ele talvez fosse encarregado das tarefas e funções relacionadas ao culto, ou estivesse se referindo ao santuário de Siló, onde se encontrava a arca da aliança, onde um grupo de levitas era encarregado dos serviços sacrificiais (1 Sm 1.3).19.21. lavar os pés. Normalmente o anfitrião oferecia ao hóspede um tratamento modesto (oferecendo água, com ida, abrigo e a possibilidade de lavar os pés). Nada im pedia que o anfitrião oferecesse mais ao hóspede, mas esse tratamento básico desobrigava o anfitrião que se encontrava num a situação difícil de ter de oferecer mais do que estava ao seu alcance. De qualquer maneira, o anfitrião procurava fazer todo o possível para garantir conforto ao hóspede, e isso incluía refrescar e lavar os pés cansados e empoeirados dos viajantes (ver G n 18.4; 19.2; 24.32).19.24. filh a e concubina à disposição. A situação descrita aqui talvez tenha o propósito de retratar um m undo perverso em que ninguém está a salvo da violência e do mal. O convite do efraimita para eles fazerem "com elas o que quiserem " serve de indi
cação à últim a frase dessa seqüência de eventos (Jz 21.25b): "e les a violentaram e abusaram dela a noite toda". Deve-se mencionar que as mulheres eram extensões legais de seus maridos no antigo Israel, portanto, estariam sob as mesmas proteções legais garantidas a eles - enquanto fossem reconhecidas como tal pelo marido. Nessa circunstância, o efraimita aparentemente deixou seu papel de anfitrião hospitaleiro para se tornar um a pessoa inóspita, ao oferecer descaradamente a concubina do levita aos homens que estavam lá fora para com isso salvar sua honra e talvez sua própria vida. Teoricamente, a concubina não poderia ser separada do levita e de acordo com os costum es de hospitalidade, deveria receber certa proteção.19.25. o levita entrega a concubina à m ultidão. Essa troca é menos dramática do que a de Gênesis 19.9. Os cidadãos de Gibeá simplesmente ignoraram a oferta do efraim ita, mas não o acusaram de "querer ser o ju iz". H á um sentido de urgência nesse texto, evidenciado pela ausência de um motivo na atitude do bando e que talvez explique a ação do levita de lançar sua concubina porta afora, diretamente nas mãos daqueles homens. Tanto em Gênesis 19 como aqui, a vida do anfitrião foi salva pelo(s) hóspede(s), m as certam ente a solução oferecida pelos hóspedes de Ló foi preferível à do levita. O que fica claro em ambas as narrativas é que o hóspede foi forçado a salvar sua própria vida e a de seu anfitrião. A ironia da substituição garante o clímax da narrativa, embora provoque um a sensação de asco, devido à violência praticada contra a concubina do levita. Essa concubina foi um a vítim a prim eiram ente de seu pai, pois ao afirm ar sua independência (quando fugiu do marido em Jz 19.2) foi impedida por ele, depois de seu m arido e tam bém dos cidadãos de G ibeá, que falharam em desem penhar adequadamente o papel de anfitriões. O levita escolheu sacrificá-la para poder salvar a si mesmo.19.29. cortar o corpo em doze p artes e enviar. Olevita cometeu ainda um último ultraje com o corpo de sua concubina, cortando-o em doze pedaços e usando-os como convites macabros para um a assembléia geral das tribos. Existem semelhanças evidentes entre essa atitude e a convocação para a guerra feita por Saul em 1 Sam uel 11.7, em que ele retalhou seus bois em doze pedaços.20.1. de D ã a Berseba. Esse é o âm bito geográfico tradicional apresentado no texto para referir-se aos limites políticos ao norte e ao sul de Israel. Representa uma distância de aproximadamente 250 quilômetros.20.1-3. assem bléia em M ispa. Essa localidade situada no território da tribo de Benjam im era um ponto com um de reuniões em Israel, no período que antecedeu a m onarquia (Js 18.26; 1 Sm 7.16). O nom e
significa "observar" e o local pode ter sido um posto m ilitar avançado ou um a fortaleza na fronteira, portanto, um a área favorável para uma reunião das tropas como esta narrada em Juizes. Pode ser identificada com Tell en-Nasbeh, cerca de dez quilômetros ao norte de Jerusalém.20.2. quatrocentos m il soldados armados de espada.Como acontece em outras passagens que mencionam o tamanho de um exército, é difícil afirmar se a palavra hebraica deve ser traduzida como "m il" ou "d ivisões" (para m ais informações, ver o comentário em Js 8.3). Mas seja qual for a m elhor tradução, certamente representa uma grande reação à convocação. As estimativas populacionais das cidades desse período variam de 200 m il a 250 m il, com base no núm ero de ocupações, no tamanho dos povoados e na média de habitantes por acre. As espadas m encionadas provav elm en te eram de b ron ze, v isto que Israe l desenvolveu a tecnologia do ferro somente a partir da m onarquia.20.3-8. a assem bléia e o veredicto. É possível acompa
nhar alguns aspectos do procedimento judicial israelita neste episódio. Os líderes das tribos reuniram-se para ouvir o depoimento é depois de terem ouvido o testem unho do levita, eles apresentaram seu veredicto (compare com o caso do filho rebelde em Dt 21.18-21). M as uma importante diferença ocorrida nesse processo é que apenas o testemunho do levita foi ouvido, e para se dar um veredicto geralmente era necessário ouvir duas testemunhas (ver N m 35.30; Dt 19.15). A decisão tomada pelas tribos nesse caso incluía fazer um juram ento de não voltar para casa enquanto o castigo não fosse aplicado. N ão há precedentes de um a união como essa entre todo o povo no período dos juizes, pois as tribos geralmente brigavam entre si (Jz 12.1-6) ou se recusavam a participar de investidas m ilitares conjuntas (ver Jz 5.15-17). A noção de que o caso fosse considerado uma grave ofensa à honra ou um a grande afronta, que exigia um a ação m ilitar, pode ser com parado ao voto de D avi após ter sido rejeitado por Nabal em 1 Sam uel 25.21, 22.20.9, 18. o rien tação por sorteio . Fazer um sorteio antes de sair para a batalha é um procedimento comum no Livro de Juizes. No início do livro, quando os israelitas perguntaram a Deus quem seria o primeiro a atacar os cananeus, Deus respondeu com o nome de Judá (1.1, 2). Novamente, neste episódio final, Judá é escolhido para " ir lutar prim eiro" na batalha contra Gibeá e os benjam itas (20.18). O uso de sorteios era
comum na tradição israelita em situações de distribuição de terra (ver Js 14.2; 19.1-51) e em procedimentos judiciais (ver Js 7.14-21; 1 Sm 14.41/ 42). Era um tipo de adivinhação em que a decisão, baseada no sorteio
(dados, ossos pequenos, fragm entos de marfim etc.) era obtida pela resposta de Deus a uma pergunta (ver os comentários em Jz 1.1, 2 e 18.5, 6).
20.15. vinte e seis m il hom ens armados de espadas. Para informações sobre o número elevado de soldados, leia o comentário em 20.2.20.16. setecentos canhotos, atiradores de fu nd a. Onúmero pode representar um grupo de elite formado por guerreiros ambidestros (ver o comentário em Jz3.15) com grande habilidade para m anejar suas fundas, portanto capazes de desequilibrar um exército superior e mais numeroso (ver 1 Cr 12.2 para outro grupo de heróis benjamitas ou tropas de elite especialistas em atirar com a funda).20.26. je ju m . Há poucas evidências da prática do je ju m no antigo Oriente Próximo fora da Bíblia. O jejum geralm ente era praticado em ocasiões de luto. No Antigo Testamento o uso religioso do jejum freqüentemente está relacionado a um pedido dirigido a Deus, baseado no princípio de que a importância do pedido leva o indivíduo a preocupar-se de tal forma com sua condição espiritual que as necessidades físicas são relegadas a segundo plano. Nesse aspecto, o ato de je juar é visto como um processo de purificação e humilhação diante de D eus (SI 69.10). A pós terem sido derrotadas um a segunda vez pelos benjam itas, as outras tribos se reuniram para buscar a orientação de Deus e prepararam-se para essa consulta através do je ju m e da oferta de sacrifícios, a fim de rem over qualquer pecado ou obstáculo que pudesse ser a causa de sua derrota. Esforços semelhantes relacionados a ações militares podem ser encontrados em 1 Sam uel7.6 e 2 Crônicas 20.1-4.20.26-28. arca em Betei. Essa é a única referência à arca no Livro de Juizes, por essa razão, na m aior parte do livro, não se sabe onde a arca está depositada nem como está sendo usada. E provável que sua localização tenha mudado diversas vezes durante o período. No início de 1 Sam uel ela está em Siló.20.28. período de tem po. Visto que os episódios no Livro de Juizes nem sem pre estão apresentados em ordem cronológica, talvez esses eventos tenham acontecido próxim o ao início do período da ocupação de Canaã. Isso perm itiria que um filho de Arão ainda estivesse vivo e capaz de servir como sacerdote diante da arca em Betei. Se o relato se refere a um período posterior, então provavelmente se trata de Finéias II, o predecessor de Eli em Siló.20.29-36. estratégia de em boscada. O uso de emboscadas como essa descrita neste episódio, parece ter sido um a estratég ia bastan te usad a pelo exército israelita. Josué fez uso de um a em boscada em seu segundo ataque à cidade de Ai (Js 8.2-21) e Abimele-
que utilizou táticas sem elhantes quando capturou a cidade de Siquém (Jz 9.30-45). Essa estratégia é classificada como guerra indireta, caracterizada por emboscadas, supostas retiradas, cham ariz e infiltração em vez de cercos longos ou batalhas campais. Seria difícil para um exército invadir cidades m uradas sem dispor de mecanismos de cerco ou de um exército grande o suficiente para cercar completamente a cidade e evitar contra-ataques ou a fuga dos cidadãos. Portanto, esse tipo de estratégia servia como meio de iludir os m oradores da cidade a fim de que abrissem os portões ou enviassem contingentes de tropas para fora dos muros, que seriam então surpreendidos pelas emboscadas (ver a estratégia frustrada de Jeroboão em 2 Cr13.13-18). Esse tipo de tática de guerra é conhecido no antigo Oriente Próximo pelos textos de M ari (século dezoito a.C.), pelo papiro egípcio de Anastasi (século treze a.C.) e por um texto medo-assírio (século dez
a.C.).20.33. Baal-Tam ar. Trata-se de uma localidade entre G ibeá e Betei, que ainda não foi identificad a com segurança. D entre as possibilidades estão K hirbet A tarah, Ras et-Tavil e Sahre al G ibiyeh, todas elas situadas nessa área. Essa cidade serviu de local para um a batalha cujo objetivo era desviar a atenção do inimigo, permitindo que outro exército de israelitas atacasse e destruísse Gibeá.20.35. 25.100 m ortos. O exército benjam ita originalm ente era formado de 26 divisões, além dos 700 guerreiros treinados (v. 15). O núm ero que aparece no versículo 35 refere-se à contagem final das baixas, que está detalhada nos versículos seguintes. Das divisões, 25 foram elim inadas, sendo 18 n o cam po de batalha (v. 44), 5 durante a fuga (v. 45) e as 2 outras num a operação "lim peza final" (v. 45). Dos 700 guerreiros treinados, cem foram mortos enquanto 600 escaparam e se esconderam (v. 47).20.45. rocha de Rim om . O penhasco escarpado situado ao redor da cidade de Gibeá/Geba era cheio de pequenas cavernas, onde os soldados podiam ficar escondidos preparando uma emboscada ou onde seiscentos sobreviventes poderiam se esconder (ver com entário em Jz 19.12-14). Essa é a origem do nome "rocha da Rom ãzeira", identificada com a caverna de el-Jaia, no uádi es-Swenít, aproximadamente dois quilômetros a leste de Gibeá/Geba.20.48. destruindo cidades (inclusive os anim ais). Embora não seja esse o termo usado aqui, a ação praticada contra as cidades benjamitas foi exatamente uma herem ou guerra santa, em que todas as pessoas, animais e bens são destruídos como um sacrifício a Deus (ver Js 6.17-21 em Jericó e 1 Sm 15.2, 3 e a herem contra os amalequitas). Isso explicaria por que ape
nas seiscentos benjam itas sobreviveram a essa devastação (escondidos na rocha de Rimom). Essa forma extrema de guerra ocorria apenas esporadicamente, visto que não rendia ao exército vitorioso nem despojos nem escravos.21.1. ju ram en to . M ais um a vez um juram ento tolo aparece na narrativa (ver o juram ento feito anteriormente por Jefté, em Jz 11.30, 31). Em seu zelo para punir os benjam itas, os israelitas prom overam uma devastação completa e selaram o destino futuro dessa tribo, jurando não perm itir que suas mulheres se casassem com algum sobrevivente (ver a im portância de manter um voto em N m 30.2-15). Talvez essa tenha sido um a m edida de segurança, para o caso de haver futuros conflitos com os benjamitas. Porém, a destruição foi tão completa que os seiscentos sobreviventes foram deixados sem esposas ou quaisquer outras mulheres com quem pudessem se casar. Visto que os israelitas não podiam quebrar seu juram ento, sob pena de trazer a ira de D eus sobre eles, foi preciso buscar uma alternativa para o problema dos benjam itas.21.4. construiu um altar. Se Betei era apenas um local de reunião para esse episódio e não o local permanente da arca, é de se esperar que um novo altar a Yahw eh teria de ser construído para o uso dos israelitas (veja a legislação sobre a construção de altares em Êx 20.2426). Também é possível que um novo altar tenha sido construído num local aberto ou num lugar alto para poder acomodar o grande núm ero de israelitas reunidos ali (ver o novo altar de Gideão em Jz 6.26).21.4. ofertas. Com o fim de se purificarem e se tornarem dignos da atenção de D eus, um novo altar foi construído, onde holocaustos e ofertas pacíficas foram dedicados (ver Êx 20.24). Isso foi necessário porque os israelitas haviam se colocado num a situação difícil após terem feito um voto tolo, tornando-se assim resp onsáveis pelo quase exterm ínio da tribo de Benjam im . Agora, eles lamentavam essa atitude e queriam buscar a orientação de Yahw eh sobre como impedir a extinção da tribo de Benjamim. A atitude tomada por eles de construir um altar e oferecer nele sacrifícios foi apropriada (como o foi em Jz 20.26) e provocou uma resposta de Deus.21.8-12. Jabes-G ileade. Provavelmente estava localizada em Tell M aklub, às m argens do rio Yabis, na parte norte da região montanhosa de Gileade, a leste do rio Jordão. Era um local estratégico que controlava uma passagem bastante movimentada, imediatamente abaixo da cidade. Por essa razão, controlava também grande parte do tráfego com ercial naquela região (ver 1 Sm 11).
21.5, 10. m orte à tribo qu e não com p arecesse. Astribos israelitas haviam feito um juram ento de solidariedade. Desta forma, presumia-se que se alguma das tribos não estivesse naquela assembléia, estaria do lado do inim igo e, portanto, m erecia ter o m esm o destino. A ssim , Jab es-G ilead e foi p u nida em cumprimento ao juram ento, e convenientemente, serviu como fonte de noivas para os seiscentos benjamitas remanescentes. Um juram ento como esse pode ser comparado à afirmação de Saul em 1 Samuel 11.7 quando ele convocou uma assembléia das tribos israe
litas para salvar Jabes-G ileade dos am onitas. Saul am eaçou destruir o gado de qualquer hom em que não comparecesse a essa campanha. A ameaça provavelm ente implicava em violência contra a pessoa também. Um texto de M ari apresenta um exemplo claro desse tipo de ameaça, em que a cabeça de um crim inoso é carregada num a estaca com o dem onstração do que poderia acontecer com quem se esquivasse de uma convocação.21.16. líderes da com unidade. N a falta de um rei oude outra autoridade central, as tribos tinham de recorrer à assembléia dos líderes tribais. Eles aplicavam a justiça dentro do contexto das aldeias (Dt 19.12; 21.2-6;22.15) e serviam com o representantes do povo em reuniões importantes (Js 8.10; 1 Sm 4.3).21.19. geografia. O festival de Siló (Khirbet Seilun) acontecia na rota de peregrinação entre Bei, no sul, e Siquém (Tell Balatah, cerca de cinqüenta quilômetros ao norte de Jerusalém), ao norte. Lebona ficava situada ao norte de Siló (provavelmente seja El-Lubban ou Lubban Sherqujeh). Todos esses limites geográficos fornecidos pelos líderes sugerem que nenhum deles havia comparecido ao festival cananeu.21.21-23. m oças de S iló . O plano de roubar noivas também está presente na tradição grega e rom ana e provavelmente reflete um a prática comum no mundo antigo. O festival em questão aparentemente era um ritual cananeu de fertilidade associado à colheita.21.25. não h avia re i. Esse capítulo term ina com a m esm a afirmação que aparece anteriorm ente, explicando as condições anárquicas no período dos juizes observando que não havia rei em Israel (ver o comentário em Jz 17.6). Essa afirmação serve para chamar a atenção para o livro todo. As histórias recheadas de violência e morte forneciam um argumento óbvio em favor da monarquia. A aliança fora ignorada, o povo se rebelara e as leis eram infringidas, caracterizando um período em que cada um fazia o que era certo aos seus próprios olhos. D este modo, a única esperança de paz e ordem era através do restabelecim ento da aliança e da im posição de um a liderança forte.
R U T E
v y
1 .1-22 De Moabe a Belém1.1. nota cronológica. A história de Rute é situada pelo narrador na época dos juizes, m as não há nenhu
m a indicação m ais precisa, visto que esse período durou diversos séculos. Se não houver lacunas na genealogia apresentada no final do Livro (ver comen
tário em G n 5.1-32), é mais provável que os eventos aqui narrados tenham acontecido na segunda metade do século doze, na época de Jefté e de Sansão.1.1. Belém. Belém fica localizada oito quilômetros ao
sul de Jerusalém. Foram encontradas no local cerâm icas da Idade do Bronze e do Ferro, m as as escavações arqueológicas têm sido limitadas devido à contínua ocupação. A cidade era particularmente suscetível ao clima devido à escassez de fontes de água, e a popu
lação dependia das cisternas para o abastecimento. Os principais produtos da região eram cereais (trigo e cevada), azeitonas e uvas.1.1. indo para M oabe por causa da fom e. Há umasérie de vaus cortando a região de Moabe, que combinados a bons índices de chuva e um solo poroso tom avam a região m uito propícia para a agricultura. A fam ília de Elim eleque teria viajado em direção ao
norte, para a região de Jerusalém, e então tomado a estrada de Jerusalém para Jericó, cruzando o Jordão nas passagens próximas a Jericó. De lá, a estrada seguia para o leste até Hesbom, fazendo conexão com a
Estrada Real, no sentido norte-sul, que atravessava a região de Moabe. Dependendo do local onde se fixaram, devem ter percorrido entre 110 e 160 quilômetros num período de aproximadamente uma semana.1.1. Moabe. A região de Moabe, a leste do m ar Morto, estendia-se desde as planícies ao norte do rio A m om ,
até o rio Zered, ao sul. A região media cerca de cem quilôm etros de norte a sul e cinquenta quilômetros desde o m ar Morto até o deserto, a leste. As "terras de M oabe" ao norte do rio A m om eram uma região que pertencera a Seom (ver Nm 21) e havia sido distribuída à tribo de Rúben. Pouco se sabe a respeito de Moabe durante esse período, em bora pesquisas ar
queológicas tenham identificado dezenas de ocupações que remontam a essa época.
1.2. efrateus. "E frateu " pode referir-se tanto a um distrito geográfico como ao ancestral de um clã. Como essa designação pode se referir a indivíduos de dife
rentes tribos e clãs há certa confusão quanto à identificação do grupo, m as as possibilidades geográficas são igualmente imprecisas.1.3-5. a difícil situação da viúva. As viúvas no antigo
Oriente Próximo perdiam a posição social garantida pelo marido, e geralmente perdiam tam bém a posição política e econômica. Em termos atuais, a situação das viúvas seria comparável a dos sem-teto que peram
bulam pelas ruas de nosso país. Como não tinham a proteção de um homem, eram economicam ente dependentes da sociedade em geral.
1.1-6. intervenção divina. Com o era natural nessa época, considerava-se que a intervenção do Senhor é que trouxe fim àquela fome. No antigo Oriente Próxi
mo, a divindade desempenhava um papel muito importante na relação de causa e efeito, tanto nos fatos históricos como nos fenôm enos naturais. Em nossa
visão de mundo, estaríam os inclinados a identificar primeiro as causas humanas e naturais, para só depois mencionar que "certam ente Deus estava por trás
de tudo". No antigo Oriente Próximo, era exatamente o contrário, Deus era identificado como a causa por trás da fome ou da guerra, e as causas naturais ou humanas eram consideradas secundárias, ou nem isso.
No antigo Oriente Próximo, as causas naturais tinham o mesmo valor que atualmente se confere às causas sobrenaturais.1.8. retornar para a casa das m ães. G eralm ente, o lugar de proteção era a casa do pai e não da mãe. Rute 2.11 dá a entender que o pai de Rute ainda era vivo. Em outras ocorrências no Antigo Testamento (Gn 24.28; Ct 3.4; 8.2), a casa da mãe aparece relacionada com a
preparação para o casamento, o que corresponde tam bém aos costumes praticados tanto na Mesopotâmia como no Egito, onde a mãe era a protetora da filha e quem lhe dava conselhos e a orientava nas questões de am or, casam ento e sexo. Portanto, ao encorajar suas noras a retom ar para a casa de suas mães, Noemi
não está sugerindo a elas que busquem proteção legal, m as sim um lugar que lhes perm itisse form ar uma nova família.
1.13. por que elas iriam esperar pelos filhos de Noemi?Em Israel, a lei estabelecia a instituição do casamento
sob levirato (ver comentários em G n 38.6-26; Dt 25.510), ou seja, se um homem m orresse sem deixar filhos, seu irmão era responsável por engravidar a viú-
va a fim de que a linhagem do falecido não acabasse. Alguns comentaristas têm observado, porém, que neste
caso específico, os filhos em potencial que poderiam garantir um herdeiro a Rute e Orfa seriam de outro
pai, e não do pai de seus falecidos maridos, logo não se qualificariam para o casamento sob levirato. Por
tanto, é difícil compreender de que m aneira essa solução apresentada por Noem i preservaria a linhagem
de M alom e Quiliom. Todavia, esses filhos poderiam ao menos garantir a proteção legal e o sustento das m ulheres em sua velhice.
1.16.17. a natureza do com prom isso de Rute. Em vez
de dem onstrar um a intenção evangelística, N oem i faz todo o possível para encaminhar Rute de volta ao
seu povo e ao seu deus. Geralmente, as mulheres que se casavam com estrangeiros continuavam a adorar
seus deuses nativos (ver G n 31.19; 1 Rs 11.8; 16.31). A partir da informação fornecida pelo texto, pode-se concluir que o reconhecimento de Yahw eh por parte de
Rute é acompanhado por sua adoção a um novo povo
em um a terra estrangeira. Assim como Rute afirmou
que aonde quer que Noem i fosse ela iria junto, ela
tam bém declarou que o povo e o deus de N oem i seriam tam bém seu povo e seu deus. Parece que o
compromisso assumido foi com Noemi, baseado no
relacionamento que mantinham, e não com Yahweh, por estar convencida da superioridade teológica do
monoteísmo e reconhecê-lo como único Deus no céu e na terra.
1.17. só a m orte irá n os sep arar. Ao contrário de
muitas traduções, Rute afirmou que nem na m orte ela
abandonaria N oem i. Com isso, ela quis dizer que
pretendia cuidar do sepultam ento de N oem i e dos
rituais relacionados à sua morte e que seria enterrada no mesmo lugar que Noemi. Essa seria um a preocu
pação comum para um a viúva sem filhos, por isso o
compromisso de Rute teve um significado muito pro
fundo para Noemi. A decisão de Rute de ser enterrada na terra de N oem i demonstra que ela estava abrin
do mão de sua lealdade aos relacionamentos do passado para arriscar tudo com Noemi. Ser enterrada no
mesmo túmulo da família de Noem i seria uma garan
tia adicional de que Rute continuaria as receber as provisões necessárias m esm o depois da m orte de Noem i. Popularm ente acreditava-se que o cuidado
com os m ortos poderia influir no tipo de vida que eles teriam depois da morte.
1.19. todo o povoado. Belém nunca foi um a cidade
grande, apesar do importante papel que teve na história de Israel. Na maior parte do tempo, a população
da cidade era de algumas centenas de pessoas, e é provável que nessa época fosse bem menor.
1.20. significado de nomes. No antigo Oriente Próximo, a escolha de um nom e muitas vezes era feita em função do seu significado, com a esperança de que o nom e caracterizaria ou marcaria o destino da pessoa. Infelizmente, o nome de Noemi, que significa "agradável" causa apenas ironia, à medida que parece zombar de sua m á sorte. Ela sugere que não mais a cham em de Noemi, pois seria uma declaração falsa depois de toda a am argura (Mara) que tinha suportado.1.21. divindade como causa do sofrim ento. No mundo antigo os deuses eram considerados responsáveis por todas as situações cotidianas e, portanto, por tudo que acontecia na vida de um a pessoa. O ciclo da natureza (que havia trazido a fome), assim como a doença e a morte estavam nas mãos da divindade. É natural, então, que Noem i identifique Yahw eh como a origem de sua desgraça. É importante observar que isso não se traduz explicitamente em culpa. Ela não proclama sua inocência ou busca vingança, tampouco acusa ou coloca em questão a justiça de Deus. Pode-se presumir, porém, que ela não tinha consciência de nenhum pecado do qual pudesse ser acusada pela divindade e que também estava perturbada por não entender as razões das ações de Yahw eh contra ela. Por outro lado, a opinião geral no mundo antigo era de que os m ortais raramente eram capazes de discernir o que levava os deuses a fazer o que faziam. Esse questionamento é um tema comum da literatura de sabedoria mesopotâmica.1.22. início da colheita da cevada. A colheita da cevada nessa região com eçava geralm ente na segunda quinzena de abril, quando a estação chuvosa chegava ao fim, sendo a prim eira dentre as principais colheitas da estação.
2.1-23Rute encontra Boaz2.1. a reputação de B oaz. Em algum as traduções, Boaz é chamado de "hom em valente", mas na tradução da NVI ele é cham ado m ais acertadam ente de "h om em rico e in flu en te", A proem inência de um indivíduo podia ser obtida através de proezas militares (ver Jefté, Jz 11.1), mas muitas pessoas descritas dessa form a no Antigo Testam ento não realizaram nenhuma façanha militar. Provavelmente essa expressão tinha um a aplicação m ais ampla (ver o comentário em Iz 6.12).
2.2. pobres recolhendo cereais. A lei de Israel garantia o direito aos pobres e desprovidos de seguir os trabalhadores que faziam a colheita nos cam pos e recolher as espigas que caíam ou eram deixadas para trás (ver comentários em Lv 19.9, 10 e Dt 24.19-22). Essa era um a boa form a de resolver um problem a
social, pois exigia que os m enos favorecidos trabalhassem duro para conseguir seu sustento, preservando a dignidade da qual muitas vezes eram privados por dependerem inteiramente da generosidade e so
lidariedade de outros.2.8. a lavoura de Boaz. Visto que a terra era distribuída entre diversas tribos, clãs e fam ílias, parece que cada campo tinha trechos delimitados que pertenciam a vários clãs ou membros de uma família. Eram usados marcos de pedra para identificar as divisas, mas era muito fácil uma pessoa passar de um a propriedade para outra sem perceber. De fato, era bastante fácil para os pobres transitar por toda a propriedade, aumentando assim as chances de obter bons resultados. Boaz, porém, demonstrou que gostaria que Rute recebesse mais do que o suprimento necessário recolhendo apenas em sua lavoura.2.12. refúgio sob as asas. A metáfora de refugiar-se sob as asas da divindade pode ser encontrada tam bém nos Salmos (36.8; 57.2; 61.5; 91.4), sem pre relacionada ao cuidado e à proteção garantida pela aliança. O uso de metáforas também era comum em outras culturas do antigo Oriente Próxim o, particularmente na egípcia, onde a simples figura de um a asa já representava proteção. M uitas vezes, as divindades eram retratadas como tendo asas para proteger os reis. De modo semelhante, um marfim de Arslan Tash, datado do século oitavo apresenta personagens com formas hum anas aladas protegendo uma figura ao centro. -2.14. m olhar o pão no vinagre. O pão que Rute molhou no vinagre provavelmente era um bolo de cereais, geralm ente cozido no azeite. A substância em que ela mergulhou o pão era um subproduto do processo da fermentação do vinho, resultando num a bebida amarga, mas que usada como molho ou condimento seria bastante agradável ao paladar.2.15,16. privilégios adicionais na colheita. O versículo 16 utiliza alguns termos desconhecidos em relação às orientações de Boaz aos seus servos, mas fica claro que ele pretendia tornar m ais produtivo o trabalho de Rute. Alguns estudiosos concluíram que os trabalhadores foram instruídos a tirar algumas espigas dos feixes que haviam colhido, deixando-as cair para que Rute pudesse recolhê-las.2.17. d ebu lhar o cereal. A superfície dura da eira geralmente atendia às necessidades de toda a comunidade. Para bater nas espigas e separar o cereal da palha era usado um bastão ou um a pedra.2.17. efa. O efa era um a medida de capacidade para secos; as estimativas variam entre 20 e 40 litros. De acordo com os cálculos, Rute conseguiu ajuntar quase uma arroba de cevada ou um efa, o que representava
a porção de cereais obtida por uma pessoa do sexo masculino durante em um mês de trabalho.2.20. parente resgatador. O papel do parente resga- tador era ajudar a recuperar as perdas da tribo, fossem elas humanas (nesse caso ele vingava o sangue da vítima, perseguindo o assassino até matá-lo), judiciais (oferecendo assistência nos julgamentos) ou eco
nômicas (recuperando a propriedade de um membro da família). Visto que Yahw eh garantira a terra aos israelitas pelo sistema de arrendamento, eles não podiam vendê-la, e se h ipotecassem um a parte para pagar dívidas, era importante que a posse desse pedaço de terra voltasse ao proprietário original o mais rápido possível. Desse modo, a terra permanecia na posse daquela fam ília como um sinal de que faziam parte da comunidade da aliança. A im portância desse direito inalienável da terra pode ser vista na recusa de Nabote em desfazer-se da "herança de seus pais" quando o rei Acabe lhe fez um a oferta para comprar sua vinha (1 Rs 21.2, 3). Na M esopotam ia (especialmente nos primórdios de sua história) a terra geralm ente era um a propriedade fam iliar, e não individual, de forma que qualquer pessoa ficaria limitada a vendê-la ou negociá-la individualmente.2.23. co lheitas da cevada e do trigo. A colheita da cevada terminava em maio e se misturava à colheita do trigo que continuava até junho.
3.1-18 A proposta de Rute3.2. lim pando cevada na eira. A lim peza do cereal era feita geralmente no final da tarde, quando soprav a um a brisa que amenizava o forte calor do dia. Para executar essa tarefa, era usada um a forquilha presa a um cabo longo para debulhar o cereal e lançá-lo para cim a, perm itindo que a brisa levasse a palha para longe (mais tarde essa palha era recolhida para ser usada como forragem), enquanto o cereal caía na eira. A eira geralmente era um a área ao ar livre para poder aproveitar ao máximo a ação da brisa.3.3. R ute se prepara. O perfum e m encionado aqui consistia de óleos aromáticos geralmente usados nas celebrações ou em outras ocasiões festivas. As essências geralmente eram extraídas de plantas importadas.3.3. por que Boaz não deveria saber que ela estava lá? Alguns com entaristas sugerem que Rute talvez estivesse adornada como uma noiva, e se Boaz a visse vestida assim poderia interpretar mal suas intenções. A maioria, porém, acredita que o fato de ter perm anecido escondida estaria relacionado à questão de esperar o momento certo.3.7. deitar-se perto do m onte de grãos. Como a eira era usada por m uitos m em bros da com unidade, é
provável que outras pessoas estivessem debulhando cereais ao lado de Boaz. Cada pessoa ficava num a área determinada onde, depois de comer e beber podia dorm ir junto ao seu m onte de grãos, vigiando assim sua mercadoria até que fosse transportada na manhã seguinte.3.7-9. descobrir os pés e estender a capa. Em alguns relatos do Antigo Testamento, o termo "p és" é usado como um eufem ism o para os órgãos sexuais. A expressão "estender a capa" também é usada com uma conotação sexual em um a situação de contrato matrim onial, em Ezequiel 16.8. O texto de Rute, porém, não sugere um ato sexual ostensivo, m as é provocativo devido à sua ambigüidade.3.9. o que Rute está pedindo? Rute usa uma expressão que, em outras situações, é empregada para referir-se a um noivado seguido de casamento. Também fica claro a partir da reação de Boaz no versículo seguinte que ela lhe propôs casamento. N oem i não aconselhara Rute a ir tão longe, m as certamente era isso que ela tinha em mente.3.12. e se houvesse um parente m ais próxim o? Osbenefícios decorrentes do papel desem penhado por um parente resgatador exigiam que algumas prioridades fossem estabelecidas. Por essa razão, era concedida ao parente mais próximo a preferência para desem penhar esse papel.3.14. por que ninguém deveria saber que um a m ulher esteve lá? Além do desejo natural de preservar tanto a reputação de Rute quanto a sua (a palavra usada no v. 13 para "deitar-se ali até de m anhã" não tem conotação sexual), Boaz estava ansioso para não colocar em risco o procedimento legal do dia seguinte por qualquer indício de imoralidade.3.17. seis m edidas. Essa quantidade não está especificada, portanto, é imprecisa. É im provável que esteja se referindo a seis efas, visto que ela não conseguiria carregar um a carga tão pesada. Talvez Boaz tenha usado como medida uma pá ou as duas mãos cheias para dar a cevada a Rute.
4.1-16Um marido e um filho4.1. sentou-se à porta da cidade. A área onde ficavam os portões nas cidades israelitas era um espaço aberto onde se concentravam várias atividades. Mercadores, visitantes, m ensageiros e juizes, todos freqüentavam essa área e conduziam ali seus negócios. Era um lugar óbvio para encontrar alguém que você estivesse procurando. Visto que as pessoas que se dirigiam às suas plantações passavam necessariamente por aquela área, Boaz esperava encontrar ali a pessoa que procurava. Inúmeras escavações revelaram a existência de áreas
próximas aos portões onde havia bancos permitindo que as pessoas se encontrassem para diversos propósitos. Visto que em Belém foram feitas poucas escavações, ainda não foram encontrados portões desse período.4.2. dez líderes como testem unhas. Os líderes, geralm ente, eram os chefes dos clãs ou das famílias, que serviam como governantes da cidade e cuidavam das questões jurídicas e legais. Aqui, não se trata de um julgam ento, m as esses líderes iriam supervisionar a negociação para assegurar que tudo seria feito de acordo com a lei e os costumes, e também serviriam como testemunhas .4.4. por que e le teria interesse em resgatar a terra? Aoresgatar a terra de Noemi, o parente teria a oportunidade de m uito em breve am pliar sua propriedade. V isto que N oem i não tinha herdeiros, quando ela morresse, a terra retornaria para sua fam ília e seria transferida a seus herdeiros. O dinheiro empregado na compra da terra seria um investimento que proporcionaria um bom retom o no futuro. Se a questão aqui fosse apenas um caso de resgate de terra, poderia ser uma proposta de negócio bastante atraente.4.5, 6. por que a inclusão de Rute altera a proposta? Quando Boaz mencionou que o parente teria também a responsabilidade de se casar com Rute, a situação mudou consideravelmente, em termos econômicos. É com preensível que o outro parente não estivesse a par que Rute estivesse incluída no negócio. Para que ele fosse considerado responsável pelo casamento por levirato em relação a Rute, seria necessário fazer uma interpretação forçada da lei (para uma revisão das leis do levirato, ver o comentário em D t 25.5-10), no entanto, fica claro que essa questão está relacionada ao versículo 5, isto é, à manutenção do nome do falecido. Se o parente precisasse casar com Rute, se ela tivesse um filho, ele seria o herdeiro da propriedade da família de Elimeleque. Nesse caso, o dinheiro usado para resgatar a terra não seria um investimento, m as apenas uma diminuição dos bens da sua família. Em vez de permitir que ele aumentasse sua propriedade, seu dinheiro seria gasto em um a causa caridosa. Além disso, ele também teria outros gastos tendo de sustentar Noemi, Rute e os possíveis filhos desse casamento. E ainda haveria a possibilidade de que os filhos de Rute reivindicassem uma parte da herança que pertencia aos filhos que ele já tinha. E bastante provável que ele fosse casado, desta forma, o impacto econômico que o resgate de Rute traria à sua família deve ter pesado em sua decisão.4.7, 8. tirar a sandália. O tipo de calçado m ais usado no antigo O riente Próxim o eram as sandálias, mas elas também eram um elemento simbólico do vestuá-
rio, especialmente na relação entre a viúva e seu tutor legal. Isso se deve ao fato de que a posse da terra era baseada na área triangular que a pessoa pudesse caminhar durante um a hora, um dia, um a semana ou um m ês (1 Rs 21.16, 17). O s lotes eram m edidos e marcados em form a de triângulos, e as pedras serviam como m arcos de divisa (Dt 19.14). V isto que a pessoa caminhava para marcar sua propriedade usando sandálias, elas passavam a ser um a espécie de escritura móvel daquela terra. Ao remover as sandálias de seu tutor (Rt 4 .7), a viúva rem ovia dele o
direito de adm inistrar a terra de sua fam ília. Nos textos de Nuzi, a transferência de terras também envolvia a substituição da pegada do antigo proprietário na terra pela do novo proprietário.4.9, 10. n atureza da transação. Ao adquirir toda a propriedade e os bens de Noemi, Boaz assumia total re sp o n sa b ilid a d e p or N oem i, sen d o o b rig ad o a sustentá-la enquanto fosse viva e a cuidar dela em sua morte. Ao adquirir Rute, ele se comprometia a dar a ela a oportunidade de gerar filhos, sendo que o primeiro deles se tom aria herdeiro de Elimeleque e de seus filhos.4.11, 12. bênção. A s bênçãos relacionadas ao casamento raramente tratavam do relacionamento entre marido e m ulher; ao contrário, elas se concentravam nos filhos. A bênção da criação bem como a bênção da aliança considerava a procriação como um a bênção de Deus. Essa era uma crença comum em todo o mundo antigo, como pode ser visto- na bênção sobre o rei Keret, encontrada nos textos ugaríticos, afirmando que sua nova esposa lhe daria sete ou oito filhos. A bênção dirigida a Boaz encontra eco na história nacional de Israel (Raquel e Lia, ver G n 30) bem como na história tribal de Judá (Tamar, ver G n 38).4.15. responsabilidade dos filh os. O texto sugere que o filho levantaria o ânim o de N oem i e a consolaria após a perda do marido e dos filhos. A dor decorrente
dessas perdas não se lim itava aos relacionam entos pessoais, mas refletia também em termos de dificuldades financeiras e talvez até m esm o nas questões relacionadas à vida após a morte, que estavam popularmente associadas a rituais realizados pelos descendentes (ver comentário em N m 3.1). Esse pesar poderia ser então diminuído, visto que era responsabilidade dos filhos cuidar dos pais em sua velhice (garantindo-lhes comida e abrigo, proteção legal e um sepulta- mento adequado).4.17. o filh o de N oem i. Alguns estudiosos sugerem que houve um a adoção oficial da criança por parte de Noemi. Embora a adoção com propósitos legais fosse uma prática bastante comum no mundo antigo, a situação legal aqui não exigia uma adoção. Outra sugestão é que o filho teria de fato sido entregue a Noemi em custódia para que ela o criasse, visto que ele era um filho substituto para ela. Em bora isso seja possível, é m ais provável que Noemi simplesmente tenha sido reconhecida como a m ãe legal da criança, desempenhando um papel im portante em sua educação e garantindo que ele continuasse a cuidar dela nos próximos anos.
4 .1 7 -2 1
Genealogia4.18. im portância da linhagem fam iliar. Aqui descobrimos que esse incidente quase resultou na extinção de um a fam ília de Israel relacionada à fam ília de Davi. O grande rei Davi esteve sujeito a sequer ter nascido. A genealogia é um a demonstração de que Deus proveu uma solução para essa crise familiar. A família de Noem i não apenas sobreviveu, como tam bém prosperou a ponto de tornar-se uma das principais fam ílias em Israel. A sobrevivência durante o período traumático dos juizes (a partir de 1.1) dependia da fidelidade e da lealdade; condições que resultaram em indivíduos como Davi (4.21).
1 S A M U E L
v y1 .1-28 O nascimento de Samuel1.1. Ram ataim , nos m ontes de Efraim . H avia uma cidade chamada Ramá (moderna er-Ram) no território de Benjamim, oito quilômetros ao norte de Jerusalém e cerca de seis quilômetros ao sul de Betei. Visto que Ramá é citada em 1.19 como o lugar onde ficava a casa de Sam uel, alguns acreditam que seja essa localidade. O texto, porém, não deixa dúvidas de que Ramataim situava-se na região m ontanhosa de Efraim. Essa lo ca lid a d e tem sido asso ciad a à c id ad e de Arimatéia do Novo Testamento, cerca de 24 quilômetros a oeste de Siló.1.2. poligam ia em Israel. Em Israel, como na maior parte do mundo antigo, a m onogamia era a prática comum . A poligam ia não era vista como ilegal ou imoral, mas em geral não era considerada economicamente viável. A poligam ia era praticada principalmente nas situações em que a prim eira esposa não podia ter filhos, m as diversos outros fatores estimulavam essa prática, como: (1) disparidade entre o núm ero de homens e m ulheres; (2) necessidade de gerar grande quantidade de filhos para trabalhar nos campos ou para cuidar dos rebanhos; (3) desejo de aumentar o prestígio e as riquezas da fam ília através de m últiplos contratos de casam ento e (4) alta taxa de mortalidade de mulheres durante os partos. A poligamia era m ais com um entre os grupos nôm ades de pastores e nas comunidades rurais onde era importante que a mulher estivesse ligada a um a fam ília e fosse produtiva. Na Bíblia, a maior parte dos casos de poligamia praticados por pessoas comuns ocorre antes do período da monarquia.1.2. vergon h a por não ter filh o s . V isto que gerar filhos era um sinal da m aior bênção de Deus (SI 127.3), a incapacidade de ter filhos freqüentemente era entend ida com o um sinal de castigo de D eus. Além disso, se a m ulher não fosse capaz de gerar filhos, ficava num a situação bastante delicada dentro da família, já que a m ulher estéril podia ser descartada, repudiada ou diminuída perante sua família. Orações e textos legais da Mesopotâmia demonstram que essas mesmas questões existiam em todo o antigo Oriente Próximo.1.3. S iló . Independente do lugar onde ficava a casa de Elcana (fosse Ramá, em Benjamim ou Ramataim, em Efraim) o percurso até Siló era de cerca de 24 quilôme
tros, o que para uma família, representava uma viagem de dois dias. A localidade de Siló foi identificada como Khirbet Seilun, na m etade do cam inho entre Betei e Siquém. Esse lugar com sete acres e meio de
extensão situava-se em um local estratégico, desfrutando de terras férteis, amplo abastecimento de água e acesso à principal rota norte-sul até o centro de Israel. Ruínas consideráveis da Idade do Ferro I foram
encontradas no local, juntam ente com evidências de destruição por um incêndio. Embora tenham sido en
contrados vestígios de prédios públicos desse período, nenhum sinal do santuário foi identificado. A localização provável do santuário seria no nível mais alto do *tell, m as esse local foi prejudicado pela erosão e pelas ocupações posteriores.
1.3. sacrifício anual. A lei estabelecia três peregrinações anuais: na festa dos pães sem fermento, na festa
das semanas e na Festa dos tabernáculos. Muitos eruditos acreditam que a visita de Elcana deu-se por ocasião dessa última festa. Visto que o texto não espe
cifica o motivo dessa peregrinação, alguns estudiosos sugerem que poderia tratar-se apenas de um ritual
familiar tradicional, evidenciando a devoção de Elcana.1.3. linh agem sacerd otal de Eli. Eli pertencia à linhagem de Arão por descender de seu quarto filho, Itamar. No início do período dos juizes, o sumo sa
cerdote era Finéias, filho de Eleazar, o filho mais velho de Arão. O s dois filhos do meio de Arão, Nadabe e Abiú, tinham morrido por causa de profanação ritual (Lv 10). Não se sabe como os cuidados com a tenda do encontro e com a arca foram transferidos dos descendentes de Eleazar para os de Itamar.1.4. dava porções do sacrifício . Diversos sacrifícios ofereciam a oportunidade de compartilhar da refeição ofertada, principalm ente o da oferta de comunhão
(ver o comentário em Lv 3.1-5). Quando o sacrifício incluía uma refeição, o sacerdote oficiante e a família dos celebrantes recebiam porções da carne, um item raro no cardápio do mundo antigo, talvez equivalente ao peru servido nas ceias de Natal.1.5. porção dupla para Ana. A expressão hebraica usa
da para descrever a porção de Ana é obscura. A maioria das traduções (NVI, ARA, BLH, e versão KJ) usa a expressão "porção dupla", enquanto outras sugerem que seria "apenas uma porção" (BV) ou "u m a porção esp ecial". M uitos com entaristas defendem o uso da
expressão "apenas um a porção" porque ela estabelece o contraste revelado no contexto da história.1.7. santuário em Siló . O santuário é descrito nesse versículo como sendo a "casa do Senhor", que é uma expressão ambígua quanto à natureza da construção. No versículo 9 o term o usado é "santu ário", o que implica a existência de um prédio e em 2.22 há uma referência à "T en da do Encontro", que era o tabernáculo. Essa variação no uso dos termos sugere que a tenda era cercada por uma estrutura mais durável e resistente ou que havia sido arm ada dentro de um recinto sagrado, possivelm ente um antigo tem plo cananeu.1.8. m arido m elhor do que dez filh os. A tentativa de Elcana em consolar Ana é pouco convincente. Embora tivessem um bom padrão de relacionam ento conjugal, e ele fosse capaz de satisfazer, em termos humanos, as necessidades emocionais de Ana, havia muito m ais coisas envolvidas aqui. Primeiro, havia o estigm a social da esterilidade; depois, havia a questão da continuidade da fam ília no futuro. Os filhos eram responsáveis pelo sustento dos pais em sua velhice, por providenciar a eles um sepultam ento digno e pela manutenção de sua memória. Em alguns casos,
acreditava-se que a qualidade da vida após a morte dependia das providências tom adas pelas gerações posteriores. A posição de A na na sociedade e sua perspectiva para o futuro eram desalentadoras, o que tornava a pergunta de Elcana descabida.1.9. cadeira do sacerdote à entrada. Talvez Eli já estivesse com idade avançada para continuar ministrando no santuário, m as ele ainda podia exercer suas funções de relacionamento com as pessoas, saudando os adoradores à entrada e oferecendo-lhes conselhos e orientações. O m óvel descrito aqui poderia ser traduzido como "cadeira", m as na maioria das ocorrências refere-se a um trono ou a um assento de honra. Nas áreas públicas geralmente havia bancos disponíveis, enquanto que nas residências era m ais comum o uso de sofás ou banquetas. Escavações arqueológicas em M ari revelaram algum as banquetas usadas em residências.1.11. votos. O voto era uma espécie de pacto condicional, feito voluntariamente, bastante comum entre as culturas do antigo Oriente Próximo, inclusive na hitita, na ugarítica, na m esopotâmica e, com menos freqüência, na egípcia. No mundo antigo, o voto geralmente estava relacionado a um pedido dirigido à divindade, condicionando o recebimento do cuidado ou da proteção divina a um presente oferecido à divindade. Esse oferecimento na maioria das vezes assumia a forma de um sacrifício, mas outros tipos de presentes ofertados ao santuário ou aos sacerdotes tam
bém eram usados. O cumprimento do voto geralmente era feito no santuário, como um ato público. Na literatura ugarítica, é relatado que o rei Keret fez urr. voto pedindo uma esposa que pudesse gerar filhos oferecendo em troca uma quantidade de ouro e prata equivalente ao peso da noiva.1.11. cortar os cabelos. Abster-se de cortar os cabelos era o elemento m ais importante do voto de nazireu (ver os com entários em N m 6). O voto de nazireu geralmente era restrito a um período limitado de tempo, mas aqui, como no caso de Sansão, seria por tod= a vida. O significado do cabelo para esse voto é desconhecido, embora no pensamento do mundo antigo, c cabelo (juntamente com o sangue) era um dos principais representantes da essência da vida da pessoa, e como tal era freqüentemente usado em simpatias. Isso fica claro, por exem plo, na prática de enviar uma mecha de cabelos supostamente do profeta, juntamente com as profecias destinadas ao rei de *Mari para ser usada em adivinhações e determinar se a mensagem do profeta poderia ser considerada válida.
1.13. oração silenciosa. M uitas vezes as orações eram acompanhadas de sacrifícios, em que o sacerdote oficiante recebia o pagamento de uma taxa para oferecer o sacrifício e recitar uma oração apropriada. Como Ana não tinha condições financeiras para encomendar uma oração oficial, ela mesma orou silenciosamente, e alegrou-se ao receber uma bênção favorável do sacerdote que para ela tinha o valor de um oráculo. Na Meso- potâmia, existiam alguns sacerdotes videntes que usavam adivinhações para ler presságios em favor de m ulheres que desejavam ter um filho. Existem inúm eros exem plos de orações espontâneas no Antigo Testamento, porém esse é o único caso específico de oração silenciosa. No antigo Oriente Próximo as orações geralmente seguiam uma determinada fórmula e muitas vezes eram baseadas em encantamentos ou feitiços. Por essa razão, há poucas referências a respeito de orações espontâneas ou silenciosas.1.19. natureza da adoração. A adoração mencionada aqui provavelmente indica uma participação no sacrifício matinal diário (ver comentário em Lv 6.8-13).1.22-24. idade de desm am ar. A criança geralm ente era desmamada entre o segundo e o terceiro ano de idade e a ocasião era acompanhada por uma celebração, visto tratar-se de um rito de passagem. No texto egípcio intitulado Instrução de A ny, é relatado que uma criança foi amamentada por cerca de três anos.1.24, 25. natureza do sacrifício. O sacrifício oferecido por Elcana e Ana incluía um novilho, farinha e vinho. De acordo com Núm eros 15.8-12 a farinha e o vinho deviam acompanhar a oferta de um novilho. É mais provável que o texto original esteja se referindo a três
novilhos e não a um novilho de três anos. Essa hipótese é apoiada pelo fato de que eles também ofereceram três vezes a quan tia exigid a de farinha e de vinho. Se a oferta foi realmente de três novilhos, fica evidente a generosidade de Elcana e Ana.1.28. dedicação por toda a vida. Como já foi visto no comentário de 1.11, essa duração não era normal para o voto de nazireu, m as, como havia sido estipulada no voto, precisava ser cumprida. Ao dedicar seu filho ao Senhor, Ana não estava simplesmente cumprindo um voto, e sim continuando um a antiga tradição que di
zia que o primeiro filho homem deveria ser oferecido à divindade. No antigo Oriente Próximo esse conceito às vezes levava ao sacrifício de crianças para garantir a fertilidade. Como alternativa, nos cultos ancestrais, o primogênito era o herdeiro das funções sacerdotais na família. Em Israel, essa tradição levou à consagração do primogênito, que era levado ao templo para servir na adoração ou nos serviços sagrados. Em situações assim, o filho podia ser resgatado, e a lei israelita estipulava que os primogênitos dedicados ao Senhor deveriam ser substituídos pelos levitas (Nm 3.11-13). Por causa do voto que havia feito, Ana não deu início ao processo de resgate de seu filho. Na M esopotâmia, os escravos algumas vezes eram doados para o serviço no tem plo, ali perm anecendo pelo resto de suas vidas, e a literatura acadiana atesta a existência de uma categoria especial de m ulheres que se dedicavam a servir no templo como prostitutas, por toda a vida. Há evidências de crianças oferecidas ao templo em textos sumérios do início do segundo milênio.
2 .1-10 A oração de Ana2.1. m inha força. Em hebraico, o termo usado é "m eu chifre". A imagem do chifre aparece às vezes relacionada à posteridade (ver especialmente 1 Cr 25.5 e SI 132.17), mas tam bém é usada para representar uma força visível, como uma arma capaz de espetar o inimigo. Era comum o uso de chifres nas coroas cerimoniais de deuses e reis da Mesopotâmia.2.6. sepultura. A palavra traduzida como "sepultura'' é o termo hebraico seol. No antigo Oriente Próximo, era comum a crença de que a vida continuava além da sepultura, em uma espécie de m undo inferior, e ser enviado para lá era considerado um ato da justiça de Deus, embora o seol não fosse visto como um lugar de recom pensa ou castigo. Como a sepultura era a entrada para esse mundo inferior, o seol muitas vezes era empregado como sinônimo para essa palavra.2.8. m undo de cabeça para baixo. As ações de Deus muitas vezes pareciam provocar uma reviravolta no mundo, tanto no aspecto da criação (montanhas redu
zidas a pó, vales transformados em montanhas, Sol se
escurecendo); quanto no aspecto social (o pobre recebendo honra, o poderoso sendo derrubado); ou político (queda de impérios). Esse tema relacionado à visão de um mundo às avessas era usado para expressar o controle soberano de D eus, sendo em pregado para transmitir juízo ou recompensa, passando a estar relacionado tam bém ao reino futuro de Deus, onde as injustiças seriam corrigidas e uma nova ordem seria estabelecida.2.8. alicerces da terra. Os alicerces da terra às vezes eram vistos como colunas (SI 75.3) e outras vezes como água (SI 24.2). Os intérpretes dessa passagem têm considerado igualmente as duas possibilidades, visto que esse versículo contém apenas a palavra traduzida aqui como "alicerces". Tanto a água como as colunas faziam parte da antiga visão dos fundam entos do mundo.2.10. trovejará do céu. No antigo Oriente Próximo, a presença da divindade geralmente era acompanhada de trovões e relâmpagos, em um cenário de batalha. Na Exaltação Sum éria de Inanna, nos m itos hititas sobre o deus da tempestade e nas mitologias acadiana e ugarítica, os deuses eram vistos como trovões condenando os inim igos. Baal é representado segurando nas mãos muitos raios de trovão. Essa mesma terminologia aparece no discurso dos reis hititas ou assírios que se apresentavam como instrumentos dos deuses, trovejando contra aqueles que violassem os tratados ou obstruíssem a expansão do império.2.10. rei nessa época. A referência a um rei aqui é surpreendente visto que Israel ainda não instituíra a monarquia. Não obstante, as m onarquias eram bastante conhecidas nessa época, e segmentos de Israel já haviam considerado a idéia (Jz 9). A lém do mais, o reino a que Ana se refere era uma expectativa futura refletida em passagens como a de Gênesis 17.6; Números 24.17 e Deuteronômio 17.14-20.
2.11-36A decadência da família de Eli2.13. garfo de três dentes. Exemplares de garfos de três dentes foram encontrados por arqueólogos em Gezer. Esses instrumentos de bronze eram fáceis de manejar, com dentes longos e retos (como um forcado de cabo curto) e datam da Idade do Bronze Moderna. O termo usado aqui descreve um utensílio semelhante citado em antigos textos assírios.2.13-16. deveres de sacerdotes. O texto contrasta o procedimento norm al em Siló com o procedimento demonstrado pelos filhos de Eli. Am bos diferem do procedimento prescrito no Pentateuco (ver Lv 7.3034). O Pentateuco detalha quais partes do sacrifício
deveriam ser dadas ao sacerdote. A prática norm al em Siló era destinar ao sacerdote qualquer pedaço que fosse tirado primeiro do caldeirão com o garfo. Os filhos de Eli insistiam em pegar a parte que queriam e na hora que bem entendessem , com etendo assim três transgressões rituais: (1) escolha das m elhores partes do sacrifício para consumo pessoal; (2) preferência pela carne que estava sendo assada em vez da cozida; e (3) recusa em deixar que a gordura fosse queim ada sobre o altar (Lv 3.16; 7.25).2.18. túnica de linho. A túnica de linha era uma veste usada apenas pelos sacerdotes (ver 2.28), então essa é uma indicação de que Samuel se envolvera nas funções sacerdotais como aprendiz. A túnica provavelm ente era parecida com um avental. O linho era o material básico, embora as vestes dos sacerdotes que ocupavam posições elevadas fossem tecidas com fios de ouro junto com o linho.2.19. veste fe ita pela m ãe de Sam uel. A roupa descrita nesse versículo tam bém era uma veste sacerdotal (ver Êx 28.31-34), m as podia ser usada por outras pessoas de destaque ou em posição de autoridade (reis, profetas, Jó e seus amigos, Deus). É identificada como um a veste que distinguia os sacerdotes em 1 Crônicas 15.27. Era adornada com um a franja distintiva na barra que indicava a posição social da pessoa.2.22. m ulheres à entrada da Tenda do Encontro. No antigo Oriente Próximo havia muitos casos de m ulheres servindo no templo em diversas tarefas. Elas exerciam desde tarefas domésticas até funções sacerdotais, do celibato à prostituição, por períodos curtos (em cumprimento a um voto) ou por toda a vida. Portanto, é difícil identificar a natureza do serviço que essas mulheres mencionadas aqui realizavam. A acusação de m á conduta sexual dos filhos de Eli sugere que as m ulheres estavam cumprindo alguma devoção ou deviam se m anter virgens. D eve-se observar, porém, que não há evidência de celibato com motivação religiosa em Israel, e o texto não as descreve como virgens. Para um a discussão mais ampla, ver o comentário em Juizes 11.39.2.27. profeta. O papel do profeta era bem conhecido no antigo O riente Próxim o, como atestam m ais de cinqüenta textos encontrados na cidade de M ari com registros de diversas mensagens dadas por vários profetas. Geralmente, o profeta transmitia um a m ensagem da divindade. Para mais detalhes, ver comentários em Deuteronômio 18.
3.1-21Samuel torna-se um profeta3.3. santuário. O termo usado aqui sugere um a construção ou prédio. Para m ais inform ação, consulte o comentário em 1.7.
3.3. lâm pada de D eus. A menorah do tabernáculo deveria perm anecer acesa durante toda a noite (Êx 27.21: Lv 24.1-4) e jam ais poderia se apagar, sendo assim, o comentário de que "ainda não havia se apagado" não faz sentido. Por outro lado, já foi mencionado anteriormente que as práticas em Siló nâo seguiam necessariamente as estipulações da Lei. A expressão "lâm pada de D eus" tam bém era usada para referir-se à esperança (2 Sm 21.17; 1 Rs 11.36; 2 Rs 8.19) e seria adequada a esse contexto.
3.3. incubação de sonhos no antigo O riente Próximo. No m undo antigo acreditava-se que se um a pes
soa dormisse no templo ou em seus recintos sagrados, ficaria a par dos planos divinos. Alguns realizavam rituais sacrificiais e passavam a noite no templo a fim de receber tais revelações. Esse processo era descrito como "incubação". Na literatura antiga, reis como Naram-Sin e Gudea buscaram informações através da incubação. No período dos juizes, essa prática é observada nos épicos ugaríticos de Aqhat (em que Daniel pede um filho) e de Keret (em que Keret pede um filho). Em bora Sam uel estivesse sim plesm ente cum prindo seus deveres regulares, essa experiência seria entendida levando em consideração a relação entre o tem plo e a revelação. Não há nenhum exemplo na literatura do antigo Oriente Próximo da ocorrência desse tipo de sonho de incubação de forma não intencional.3.4-10. o sonho (?) de Sam uel. Visto que Samuel levantou-se para ir até Eli e respondeu quando o Senhor apareceu (v. 10), os intérpretes m odernos geralm ente não caracterizam essa experiência como um sonho. No entanto, esses elementos não são contraditórios ao antigo conceito de sonho. N a literatura do antigo O riente Próxim o (exem plos m esopotâmicos, egípcios, hititas e até mesmo gregos) havia uma cate
goria de sonhos que incluía m ensagens audíveis. Há vários exemplos bastante conhecidos, como os sonhos do rei egípcio Tutm és IV (século quinze), do rei hitita Hatusilis (século treze) e do rei babilónico Nebonido (sexto século). Em todos esses casos, os sonhos tinham
o propósito de confirmar o remado ou as tarefas empreendidas pelos reis. Em sonhos com m ensagens
audíveis o deus aparece (ver o v. 10) e às vezes assusta a pessoa, despertando-a. O conteúdo do sonho é uma mensagem falada pela divindade e não eventos ou imagens simbólicas. H á vários exemplos de pessoas respond endo verbalm ente à d ivind ade (p. ex., Nebonido). De acordo com os padrões do antigo Oriente Próxim o, a experiência de Sam uel poderia ser classificada como um sonho.3.11-14. repetição da m ensagem . A mensagem dada a Sam uel é basicam ente a m esm a que o hom em de
Deus havia proferido no capítulo 2. A repetição da mensagem indica sua importância e confirma sua veracidade. Também serve para confirm ar o chamado de Samuel como profeta.
4 .1 - 7 .1A captura e o retorno da arca4.1. contexto p o lítico na Idad e do Ferro antiga. AIdade do Bronze Moderna (1550-1200) foi um período de disputas políticas entre as principais potências internacionais pelo controle da Palestina (consulte o com entário em Js 9.1). Com a chegada dos povos do m ar, por volta de 1200 (ver o comentário a seguir), todas essas potências foram expulsas (como os hititas) ou neutralizadas (Egito). Durante a Idade do Ferro, o impasse entre essas potências deu lugar a um vazio político. O fato das grandes potências não estarem disputando o controle da região perm itiu aos estados menores testarem sua força, desenvolverem-se e form arem "im périos" regionais. Os filisteus souberam tirar proveito dessa situação no início desse período. Logo depois, Davi e Salomão conseguiram estabelecer um sólido império na região Sírio-Palestina, sem precisarem se preocupar com as potências políticas da M esopotâmia, Anatólia ou Egito.4.1. os filisteus. Os filisteus, povo bastante conhecido nas narrativas de Juizes e de 1 e 2 Samuel, chegaram à Palestina junto com os chamados povos do mar, que m igraram da região do Egeu por volta de 1200 a.C.. De m odo geral, os povos do m ar são considerados responsáveis pela queda do império hitita e pela destruição de muitas cidades ao longo da costa da Síria e da Palestina, tais como Ugarite, Tiro, Sidom, Megido e Ascalom, embora as evidências de seu envolvimento nessas áreas sejam circunstanciais. Suas batalhas com o faraó egípcio Ramsés III são ilustradas nas famosas pinturas de parede em M edinet Habu. Essas transformações sociais e políticas também foram representadas no épico de Homero sobre o cerco de Tróia. Vindo de Creta, da G récia e da A natólia, é provável que esses povos tenham usado Chipre como base para seus ataques. Após terem sido impedidos de entrar no Egito, esse povo que passou a ser conhecido como "filisteu s" estabeleceu-se na costa sul da Palestina, onde fundaram cinco capitais: Ascalom, Asdode, Ecrom (Tell Miqne), Gate (Tell es-Safi) e Gaza.4.1. Ebenézer e A feque. Essas duas localidades ficam num a im portante área de passagem entre a região m ontanhosa e a planície, cerca de 32 quilôm etros a oeste de Siló e ao norte do território filisteu (32 quilômetros ao norte de Ecrom; dentre as principais cidades fílistéias, Ecrom era a que ficava mais ao norte). Afeque é identificada como a m oderna Ras el-Ain,
tam bém cham ada de Tell A feque, próxim o ao rio Yarkon. É citada em textos egípcios já no século dezenove, tanto nos textos de Execração como também nos itinerários de Tutm és III (século quinze). Escavações arqueológicas têm descoberto evidências de ocupação filistéia no local anteriores a esse período. A identificação de Ebenézer, porém, é mais imprecisa. Muitos estudiosos atualm ente acreditam tratar-se do local denominado Izbet Sartah, situado na extremidade da região m ontanhosa além da passagem de A feque e cerca de três quilômetros a leste. O pequeno povoado (meio acre) foi estabelecido tardiam ente no período dos juizes e logo abandonado, no século onze. Uma das inscrições protocananéias mais antigas e mais longas foi encontrada neste local, formada por 83 letras, m as com palavras incom preensíveis, sendo identificada como um abecedário (lista alfabética). Alguns intérpretes acreditam que o fragm ento deveria ser classificado como israelita primitivo.4.3, 4. arca e qu eru bin s. A arca era um a caixa de madeira, aberta em cima, com aproximadamente um
m etro de com prim ento e setenta centím etros de altura e largura. Era revestida por dentro e por fora de camadas finas de ouro e tinha quatro argolas (também revestidas de ouro) presas lateralm ente, onde eram introduzidas duas varas de m adeira revestidas de ouro, usadas para carregar a arca e evitar que alguém , além do sum o sacerdote, a tocasse. Uma tam pa de ouro puro, decorada com dois querubins com as asas estendidas, fechava a arca. Sua função prim ordial era guardar as tábuas da lei e servir como um "estrad o" para o trono de Deus, garantindo assim um a conexão terrena entre Deus e os israelitas. Nas celebrações egípcias, as imagens dos deuses geralm ente eram carregadas em procissão, em altares móveis. Pinturas retratam procissões em que caixas semelhantes à arca eram carregadas por meio de varas e decoradas com figuras de criaturas guardiãs em cima ou do lado.As descrições bíblicas, bem como as descobertas arqueológicas, (inclusive algumas peças de marfim fino de N inrode, na M esopotâm ia, de A rslan Tash, na Síria e da Sam aria, em Israel) sugerem que os querubins eram criaturas compostas (com características de diversas criaturas, como a esfinge egípcia), geralm en te com cab eça h u m an a e corp o de an im ais quadrúpedes alados. O querubim aparece com certa regularidade na arte antiga, geralmente ladeando tronos de reis e divindades. A combinação de querubins como guardiães do trono, arcas como estrados e as afirmações no Antigo Testamento concernentes ao trono de Yahw eh sendo sustentado por querubins fornecem a base para o conceito da arca como um a repre
sentação do próprio trono invisível de Yahw eh. A im agem de tronos vazios era propagada em todo o m undo antigo, ficando à disposição de divindades ou personalidades reais, quando presentes.4.3-7. presença da arca na batalha. No tema do guerreiro divino, a divindade luta nas batalhas, derrotando os deuses do inimigo. Na Assíria, Nergal é o rei da batalha e Istar é considerada a deusa da guerra. O deus cananeu Baal e M arduque da Babilônia também são guerreiros divinos. Essas batalhas entre os deuses não devem ser vistas com o um a "guerra san ta", já que no antigo Oriente Próximo não havia outro tipo de guerra. Na maioria das situações, faziam -se orações e consultavam-se presságios a fim de assegurar a presença da divindade nas frentes de batalha. Im agens ou símbolos da divindade eram carregados para representar sua presença junto ao exército; reis assírios dos séculos oitavo e nono referem -se regularmente ao símbolo divino que vai à frente deles. A arca, símbolo de Yahweh, representava a presença do Senhor abrindo caminho à frente dos israelitas e conduzindo o exército até Canaã. Esse conceito não é muito diferente da crença assíria de que os deuses preparavam as armas do rei e lutavam adiante dele ou ao seu lado. Praticamente todos os exércitos no antigo Oriente Próximo eram acompanhados por sacerdotes e adivinhos (como confirmam os textos de Mari), profetas (2 Rs 3) e objetos sagrados (Anais Assírios de Salm aneser III [858824 a.C.]). Desse modo, o(s) deus(es) podiam ser consultados mesmo durante as batalhas ou invocados para conduzir os soldados à vitória.4.9, 10. d om ínio filis te u sobre Israe l. É difícil ter certeza quanto à extensão do território israelita que ficou sob controle filisteu nessa época. A maioria dos estudiosos calcula que compreenderia a região do vale de Jezreel, ao sul, passando pela região montanhosa central, m argeando as colinas de Jerusalém e estendendo-se até grande parte do Neguebe.
4.10. m assacre de trinta m il israelitas. Esta com certeza foi um a perda significativa, mas é difícil interpretar com segurança a quantidade exata que esses núm eros representavam . Para inform ações adicionais, ver o comentário em Juizes 20.2.4.12. S iló . A localidade de Siló foi identificada como
Khirbet Seilun, na m etade do caminho entre Betei e Siquém. A localidade com sete acres e meio de extensão estava situada em um a posição estratégica onde desfrutava de terras férteis, contava com um amplo abastecimento de água e acesso à principal rota norte- sul até o centro de Israel. Em bora esse capítulo não m encione a destruição de Siló pelos filisteus, Jeremias
7.12-15 sugere que a cidade foi destruída nesse período. Ruínas consideráveis da Idade do Ferro I foram
encontradas no local, juntam ente com evidências de destruição por um incêndio.4.12. terra na cabeça. Colocar terra, poeira ou cinzas na cabeça era um a caraterística típica de manifestar luto, podendo ser observada em todo o Antigo Testamento e tam bém no período do Novo Testamento. Esse costume era também praticado na Mesopotâmia e em Canaã. D iversos rituais de luto serviam para que os vivos pudessem se identificar com os m ortos, o que explica a terra na cabeça como um a representação simbólica do sepultamento.4.21. nom es com significado. A escolha do nome no mundo antigo era um ato muito importante. Acreditava-se que o nome poderia afetar o destino da pessoa; desse modo, quem atribuía o nome a um a pessoa poderia exercer certo grau de controle sobre seu futuro. Geralm ente, o nom e dado a alguém expressava expectativas ou bênçãos esperadas. Outras vezes eles preservavam algum detalhe relacionado à ocasião do nascimento, especialmente no caso de algo significativo ter ocorrido. Esse nome, Icabode, é derivado do mesmo substantivo/adjetivo ligado à arca, também usado para descrever Eli (v. 18). Embora dar à luz um filho geralmente fosse considerado um acontecimento importante, a importância em nível nacional desaparecera - Eli, seus filhos e, especialm ente, a arca. O futuro parecia sombrio.5.1. Asdode. Asdode ficava a aproximadamente cinco quilôm etros da costa, bem a oeste de Jerusalém . O *tell da antiga cidade fica a quase seis quilômetros da atual cidade. Nessa colina artificial existe uma acrópole de vinte acres e um a cidade mais baixa com mais de cem acres. A cidade é mencionada em textos ugaríticos como sendo um importante centro de comércio e escavações arqueológicas têm demonstrado um grande povoado cananeu da Idade do Bronze Moderna sobre a acrópole. A cidade cananéia foi destruída pelos povos do mar e o local foi então ocupado pelos filisteus,
tom ando-se um a de suas principais cidades. O povoado da Idade do Ferro da época de Sam uel está representado na camada X, que apresenta a cultura filistéia. Nessa época a cidade era bastante fortificada e estava com eçando a se expandir da acrópole até a cidade baixa. A té agora, as escavações não revelaram n enhum templo nessa camada.5.2. tem plos filisteus. Os templos filisteus desse período eram considerados um lugar santo onde a imagem da divindade ficava exposta com destaque sobre um a plataforma elevada. Para informações adicionais sobre a arquitetura dos tem plos filisteus, leia o comentário em Juizes 16.29.5.2. D agom . Existem evidências de que D agom era um importante deus do panteão semita já no terceiro
milênio a.C., em Mari. Os assírios adoravam a Dagom na primeira metade do segundo milênio e na literatura ugarítica ele é rep resentad o com o pai de Baal Haddu. Seu templo na cidade de Ugarite era maior que o tem plo de Baal. Essas evidências perm item geralmente concluir que os filisteus não teriam trazido seu deus com eles, quando migraram da região do Egeu, mas teriam adotado a D agom quando chegaram em seu novo território. D agom é identificado com freqüência como deus do cereal ou da tempestade, m as am bas perm anecem de certa form a com o meras especulações.5.2. a arca m antida no tem plo com o um troféu de guerra. A arca teria sido colocada no templo filisteu para demonstrar que Yahw eh, o Deus de Israel, fora derrotado por Dagom e era agora seu prisioneiro. Sua inferioridade havia sido demonstrada no campo de batalha e sua subordinação era representada em sua hum ilde servidão diante de seu senhor D agom . É possível que os filisteus acreditassem que a captura da arca resultasse em contínuas oportunidades de humilhação. Essa atitude é bastante parecida com a maneira como os reis conquistadores tratavam os reis derrotados (ver comentário em Jz 1.6, 7). Existem diversos exemplos no mundo antigo de estátuas de deuses sendo carregadas como troféus de guerra. A imagem de M arduque foi tom ada da Babilônia pelos heneus (século dezessete), pelos elamitas (sécuio treze) e pelos assírios (sétimo século) e todas as vezes, após algum tempo foi recuperada e levada de volta ao templo. Outro exemplo é a imagem de Sham ash que foi levada de Sippar pelos suteanos (século onze). Nos séculos oitavo e sétimo essa era uma prática comum dos assírios e Isaías profetizou que o destino dos deuses da Babilônia seria o cativeiro (Is 46.1, 2). O rei assírio Esarhaddon fala de tom ar os deuses de seus inimigos como despojo.5 .3 ,4 . significado da queda da estátua; m ãos e cabeça quebrados. As duas quedas sofridas pela estátua de D agom eram um indício claro de que Yahw eh não havia sido derrotado nem se submetido, não era inferior nem estava prestes a ser humilhado. Em bora a presença da arca no templo de Dagom tivesse o objetivo de hum ilhar, as m ãos e a cabeça quebradas da estátua de Dagom indicavam destruição. A cabeça de um inimigo conquistado geralmente era exibida como prova de sua m orte (ver 17.51-54) e as m ãos eram cortadas como forma de contar as baixas (ver o comentário em Jz 8.6); além disso, a m utilação dos corpos demonstrava a impotência do inimigo. Em um texto ugarítico, Anat, a deusa da batalha, leva para longe do cam po de batalha as cabeças e as mãos de seus oponentes mortos. Por fim , considerando-se o modo
como as estátuas eram confeccionadas seria natural que essas partes se quebrassem. Numa oração hitita desse período, é feita uma prom essa de oferecer ao rei um a estátua em tam anho natural, com a cabeça, as mãos e os pés de ouro e o restante do corpo, de prata. V isto que as im agens dos deuses geralm ente eram vestidas, as partes que ficavam à m ostra recebiam maiores cuidados. D e modo geral as estátuas não eram fundidas em um a só peça, m as feitas em partes e depois ligadas com encaixes.5.5. soleira sagrada. A soleira geralmente era feita de um a única pedra que cobria a entrada, ficando um pouco acima do nível do piso. Nas extremidades externas da soleira eram colocados encaixes para as portas ou portões, permitindo que fossem abertos. A altura da soleira evitava que as portas se abrissem para fora. Os pórticos de entrada geralmente eram considerados um lugar ao mesmo tempo sagrado e vulnerável. De acordo com superstições da época, pisar na soleira perm itia a entrada de demônios que assom bravam o pórtico. Talvez essa fosse a explicação preferida dos filisteus para ju stificar os problem as que Dagom estava tendo. Superstições semelhantes continuaram a existir tanto no Oriente Próximo como no Extremo Oriente, desde a Síria e o Iraque até a China, em bora as inform ações concernentes a essa crença antiga sejam escassas.5.6. praga sobre os filisteus. A relação com roedores nessa passagem (5.6, de acordo com uma frase citada apenas na Septuaginta; 6.4) indica que as feridas eram infecciosas, tratando-se possivelmente da peste bubônica. O term o hebraico traduzido como "tum ores" tam bém pode significar furúnculos (pústulas) sintomáticos da peste. Há, porém, certa controvérsia quanto à existência comprovada da peste bubônica no antigo O riente Próxim o num a época tão rem ota. Em vista disso, alguns estudiosos sugeriram que essa peste podia ser um tipo de disenteria bacilar, que pode ser transm itida por comida contam inada por ratos. Entretanto, se essa interpretação for verdadeira, sua relação com as feridas não fica clara.5.8. governantes dos filisteus. Aparentemente, os cinco governantes dos filisteus tinham o m esm o grau de autoridade. A palavra usada para descrevê-los é provavelm ente um termo filisteu e a maioria dos eruditos acredita que a raiz da palavra se origina da língua dos povos do m ar (grego ou outra língua indo-euro- péia). Enquanto não forem descobertas m ais informações, é impossível apresentar uma análise política
mais clara.5.8. Gate. Gate tem sido identificada com Tell es-Safi, oito quilôm etros ao sul de Tell M iqne/Ecrom . Das cinco principais cidades dos filisteus, era a que ficava
mais próxim a de Judá. Poucas escavações foram feitas no local, em bora haja confirm ação de vestígios da Idade do Ferro. A cidade ficava localizada no vale de Elá, uma das principais passagens da planície costeira para a região m ontanhosa ao redor de Jerusalém.5.10. Ecrom. Ecrom tem sido identificada como Tell Miqne, no vale de Soreque, cerca de 32 quilômetros a sudoeste de Jerusalém e a 24 quilômetros do Mediterrâneo. Apresenta um a cidade baixa de quarenta acres, um *tell superior de dez acres e uma acrópole de dois acres e meio. Escavações arqueológicas do início da década de 80 forneceram um a boa quantidade de informações sobre essa cidade que, durante o período do reino dividido ficou conhecida por sua produção de azeite (com mais de cem fábricas de processamento). U m a inscrição encontrada no local em 1996 (datada do sétim o século a.C.) revelou a prim eira am ostra do dialeto filisteu dos sem itas ocidentais com escrita fenícia. N esse período a cidade era fortificada com muros de mais de três metros de espessura, feitos de tijolos de barro. U m enorme prédio público (mais de
750 metros quadrados) desse período foi descoberto pelas escavações e os arqueólogos acreditam tratar-se das edificações de um templo-palácio. Se essa informação se confirmar, provavelmente esse prédio teria sido o local onde a arca ficou guardada e onde os governantes filisteus teriam se reunido.6.2. sacerdotes e adivinhos. Diante das suspeitas de que o poder sobrenatural relacionado a Yahw eh e à arca era maior do que os filisteus ou seus deuses podiam suportar, foram consultados especialistas para que aconselhassem sobre o que deveria ser feito. Os sacerdotes eram especialistas quanto a objetos sagrados ou nas questões de pureza, enquanto os adivinhos possuíam habilidades para encantamentos, presságios e atividades mágicas.
6.2. im portância do procedim ento adequado. A peste provocada pela presença da arca entre os filisteus deixou evidente que eles estavam lidando com um deus irado. Para aplacar a ira da divindade eram exigidas certas oferendas e rituais. Segundo a crença popular, a divindade só seria apaziguada se ofertas aceitáveis fossem oferecidas, se as palavras certas fossem proferidas e se os rituais apropriados fossem realizados. Procedimentos incorretos, além de se mostrarem inteiram ente inúteis, poderiam despertar ainda m ais a ira da divindade. É im portante lem brar que tudo isso precisa ser entendido dentro do conceito de magia da época, que exigia procedimentos precisos.6.3. oferta pela culpa. Para inform ações sobre essa oferta, ver o com entário em Lv 5.14-16 ("oferta de reparação"). U m a das ofensas tratadas por essa oferta era a do sacrilégio cometido pela profanação de áreas
ou objetos sagrados. O delito a que se destinava a oferta de reparação dizia respeito a transferir o que pertencia ao domínio do sagrado para um ambiente profano, e com isso os filisteus estavam admitindo que haviam profanado a arca.6 .4 ,5 . sím bolos eficazes da peste. Fazer símbolos dos ratos e dos tumores era um tipo de simpatia mágica em que a figura de algo representava o real. Ao enviar esses símbolos de volta junto com a arca eles esperavam livrar-se do castigo divino. Imagens de ratos e de outros animais usados em rituais de magia foram encontradas em inúmeras escavações em todo o antigo Oriente Próximo.6.4, 5. ratos e peste. No comentário em 5.6 observam os que pode ter existido algum a relação entre a peste e os roedores. A palavra hebraica usada é com freqüência traduzida como "ratos", m as tem também um sentido mais genérico, podendo referir-se a outros roedores. A peste bubônica é dissem inada através das pulgas que infestam os ratos.6.7-9. m ecanism o oracular. O sucesso dessa estratégia determinaria se eles tinham tratado do problema da forma correta e se sua dádiva fora aceita pela divindade que tentavam apaziguar. Além de fazer uma oferta de apaziguamento e tentar livrar-se da peste por meio de um a simpatia, os filisteus também pediram um oráculo a Yahw eh. Todos esses procedim entos foram feitos porque ao devolver a arca eles estavam reconhecendo que o Deus de Israel era m ais poderoso que o deles. Esse reconhecim ento era humilhante, e certamente eles só agiriam dessa forma se estivessem absolutamente convencidos de que Yahw eh era o responsável por todos os seus problemas. O objetivo do oráculo era exatamente esse: determinar se Yahw eh era ou não o responsável pelas desgraças. Em um oráculo um a pergunta do tipo "sim ou não" era feita à divindade e a resposta era dada através de um mecanismo binário. Em Israel o sacerdote carregava o Urim e o Tumim para utilizar nas questões oraculares (vero comentário em Êx 28.30). No antigo Oriente Próximo, era comum usar o fígado ou os rins de animais sacrificados para obter respostas oraculares (ver comentário sobre presságios e exame de vísceras em Dt
18.10). Aqui os filisteus fazem uso de um mecanismo natural para o oráculo (ver Gn 24.14 e Jz 6.36-40 para outras ocorrências) e sua pergunta era se Yahweh, o Deus de Israel, era ou não o responsável pela peste. O
mecanismo oracular era baseado no comportamento natural das vacas. Se a resposta fosse "n ão ", as vacas agiriam normalmente e iriam para o curral amamentar seus bezerros ou ficariam vagando pelo pasto. Se a resposta fosse "sim ", o Senhor alteraria o comportamento norm al dos animais e as vacas ignorariam seus
úberes inchados e o balido de seus bezerros famintos e seguiriam pelo cam inho (íngrem e) em direção à
cidade de Bete-Sem es, em Israel. A idéia por trás desse processo é que se a resposta fosse realmente da
divindade, ela poderia alterar o comportamento nor
mal e ignorar as leis naturais a fim de comunicar sua resposta, assim como fizera ao enviar a peste.
6.9. Bete-Sem es. Bete-Semes ficava localizada na re
gião entre a fronteira de Israel e a Filístia, ocupando cerca de sete acres nas montanhas que davam para o
vale de Soreque, que ficava ao norte da cidade. O
percurso de Ecrom a Bete-Semes acompanhava o vale de Soreque e era de cerca de 14 quilômetros. O sítio
arqueológico da cidade é Tell er-Rumeilah, a oeste da
m oderna A in Shems, onde foi encontrado um nível de ocupação da Idade do Ferro que remonta à metade
do século onze (a época de Samuel). As escavações
nesse local revelaram uma residência com um pátio espaçoso, pavimentado com laje e rodeado por diver
sos cômodos.
6.13. colheita do trigo. A colheita do trigo acontecia nos meses de maio e junho nessa região.
6.15. rocha como altar. Outras passagens confirmam
0 uso de rochas servindo como altar (Jz 6 .20 ,21; 13.19;1 Sm 14.33, 34), permitindo que o sacrifício fosse ofe
recido num local m ais alto e o sangue pudesse es
correr até o chão. Em geral, os altares israelitas provisórios eram feitos com diversas pedras grandes
em pilhadas.
6.19. m atando setenta deles. Existe bastante controvérsia quanto ao número de mortos em Bete-Semes.
A NVI m antém o núm ero "seten ta", seguindo uma
série de m anuscritos hebraicos. Vários m anuscritos m ais convincentes (Texto M assorético, Septuaginta)
apresentam a cifra de 50.070, o que é estranho porque o Antigo Testamento geralmente arredonda para dez
mil. É improvável, porém, que o núm ero de mortos fosse tão elevado porque Bete-Semes era uma cidade
pequena que teria uma população de menos de mil
pessoas. Até mesmo o núm ero setenta pode ser considerado como uma indicação convencional de um gran
de núm ero de pessoas (ver o comentário em Jz 8.30).
6.19. castigo por terem olhado para dentro da arca. Apesar de ter sido estudado m inuciosam ente, esse
texto não dá nenhum indício sobre o tipo de m orte dos culpados. Em N úm eros 14.20 até os sacerdotes são
proibidos de olhar para a arca. Teria sido difícil para as pessoas de Bete-Semes evitar de olhar, mas a curio
sidade deles os levou a violar a santidade da arca e a ir além de um a sim ples olhadela casual. O acesso restrito ao espaço sagrado e a objetos santos era com um no m undo antigo (ver o comentário em Lv 16.2),
assim tratar a arca como um objeto comum de curiosidade seria considerado um ato de profanação.6.21. Q uiriate-Jearim . Alistada como um a das cidades de Judá (Js 15.60), o local é comumente identificado como Tell el-Azhar, cerca de catorze quilôm etros a oeste-noroeste de Jerusalém , em bora não possa ser confirm ado pelas descobertas arqueológicas ou por referências bíblicas. Sua associação com M aané-Dã em Juizes 18.12 perm ite situá-la nessa área geral (ver o comentário em Jz 13.25) e apenas a dez quilômetros de Gibeon, com a qual tam bém tem sido associada (ver o comentário em Js 9.17). Ficava cerca de onze quilômetros no sentido nordeste de Bete-Semes.
7 .2 -1 7A derrota dos filisteus7.3. deuses estrangeiros e im agens de Astarote. Aqui as imagens de Astarote são distinguidas dos deuses estrangeiros. Astarote era o nome da deusa conhecida em Canaã como Astar ou Astarte, a consorte de Baal (ver o comentário em Jz 2.13). O uso do plural sugere que todas as divindades e suas respectivas consortes deveriam ser eliminadas do meio do povo de Israel.7.5. M ispá. Embora diversas localidades distintas tenham esse mesmo nome (significa "posto avançado" ou "guarnição"), a M ispá situada no território da tribo de Benjamim é a m ais conhecida. Freqüentemente é associada à localidade de oito acres chamada Tell en- Nasbeh, cerca de dez quilômetros ao norte de Jerusalém. N essa época, Mispá era um campo oval rodeado por uma muralha de aproximadamente um metro de espessura, que protegia a principal estrada norte-sul que atravessava as colinas de Judá e as colinas de Efraim.7.6. tiraram água e a derramaram. Em bora libações de vinho sejam com uns nos textos sacrificiais, não existem outros exem plos de rituais de libação com água no Antigo Testam ento. Documentos rabínicos mencionam libações com água como um dos rituais praticados durante a Festa dos tabernáculos. Acredita-se que no contexto dessa festividade as libações eram acompanhadas de orações por chuva. Na Meso- potâm ia libações com água eram um a das ofertas dedicadas aos mortos, sendo também usadas para afastar espíritos m alignos quando se cavava um poço. Nenhuma dessas possibilidades se encaixa nesse contexto, em que a libação está relacionada a arrependimento e purificação.7.6. je ju m na prática religiosa. Há poucas evidências da prática do jejum no antigo Oriente Próximo fora da Bíblia. Geralmente era praticado em ocasiões de luto. No Antigo Testamento, o jejum era feito dentro de um contexto religioso e geralmente relacionado a um pe
dido dirigido a Deus. O princípio relacionado a essa prática diz respeito à importância do pedido, levando o indivíduo a preocupar-se tanto com sua condição espiritual que as necessidades físicas seriam relegadas a segundo plano. Nesse aspecto o ato de jejuar serve como um processo de purificação e humilhação diante de Deus (SI 69.10). Como sinal de arrependimento, os israelitas jejuaram a fim de remover qualquer pecado ou obstáculo que pudesse ter sido responsável por sua sujeição aos filisteus. Relatos semelhantes relacionados a ações m ilitares podem ser encontrados em Juizes20.26 e 2 Crônicas 20.1-4.7.6. a liderança de Sam uel. A liderança de Samuel é
descrita com o mesmo termo usado como título para os juizes (ver o comentário em Jz 2.16-19). Isso confirma suas credenciais como profeta, sacerdote e juiz. Nessa passagem, Samuel exerce essas três funções ao conduzir os israelitas ao arrependimento para que possam ser libertos da opressão dos filisteus.7.7. a reação dos filisteus. Por que os filisteus atacaram quando viram os israelitas reunidos para cum prir um ritual religioso? No antigo Oriente Próximo era comum realizar certos rituais antes de iniciar uma ação militar. Um a das maneiras dos espiões ou informantes confirmarem a iminência de uma ação militar
era quando ocorriam reuniões suspeitas para realização de rituais que não tinham nenhuma relação com as festas conhecidas. Os reis assírios recebiam relatórios regulares informando se algum rei vassalo havia se envolvido em rituais que poderiam estar relacionados à preparação para a guerra.
7.9. cordeiro em holocausto. O sistema sacrificial exigia que as ofertas de cordeiro fossem feitas diariamente (ver comentário em Êx 29.38), sendo que também se usavam cordeiros nas ofertas de purificação (ver Lv12.6 e 14.10). Essas ofertas exigiam o sacrifício de cordeiros de um ano, que ainda não haviam sido desmamados. Os acadianos referiam-se a esse animal como
um cordeiro tenro, portanto sua carne era extrem am ente m acia. Em um texto assírio da época do rei A ssur-N irari V (oitavo século) um cordeiro tenro é usado em um a cerimônia de juram ento relacionada à assinatura de um tratado.
7.10. trovejou com fortíss im o estrondo. No antigo Oriente Próximo, a presença da divindade geralmente era acompanhada por relâmpagos e trovões, principalm ente durante as batalhas. D esde a Exaltação Suméria de Inanna, passando pelos mitos hititas do deus da tem pestade, até as m itologias acadiana e ugarítica, os deuses eram vistos como trovões conde
nando os inim igos. Baal é representado segurando nas m ãos muitos raios de trovão. A terminologia do trovão aparece na retórica real dos reis hititas ou assírios
que se apresentavam como instrumentos dos deuses, trovejando contra aqueles que violavam os tratados ou obstruíam o caminho para a expansão do império. Para informações adicionais concernentes à visão da divindade guerreira, consulte os comentários de Êxodo 15.3; Josué 3.17; 6.21-24; 10.11.7.11. Bete-Car. Esse local é mencionado apenas aqui e permanece sem identificação.7.12. pedra m em orial. No antigo Oriente Próximo era comum o uso de pedras, geralmente com inscrições, para delimitar as fronteiras. As pedras kudurru babilónicas eram m arcos que algumas vezes continham inscrições detalhadas assegurando a garantia real dos direitos sobre aquela terra. Essas pedras eram uma indicação pública e legal dos direitos de posse e acreditava-se que desfrutavam da proteção divina. Como a pedra mencionada aqui, as kudurru às vezes recebiam nomes (por exemplo, "A que estabelece fronteiras perm anentes"). Os egípcios costumavam erigir esteias
memoriais para indicar as fronteiras de seu território, especialmente das regiões que haviam sido conquistadas. Há vários exemplos relacionados ao uso de pedras como marcos em todo o segundo milênio. Tanto os m arcos babilónicos como os egípcios geralmente continham longas inscrições descrevendo relatos de vitórias ou estabelecendo condições ou ainda estipulando maldições referentes à posse contínua da terra.7.12. Sem . M uitas traduções trazem "Jeshanah" em vez de Sem e a m aioria dos com entaristas acredita que é mais provável tratar-se dessa localidade. Além disso, nada se sabe sobre Sem, enquanto que Jeshanah geralm ente é relacionada a Burj el-lsan eh . Parece menos provável, porém, que os filisteus fugissem diretamente para o norte (embora tivessem guarnições naquela direção). É possível que Sem ("dente") esteja apenas se referindo a um a formação natural.7.12. Ebenézer. O local cham ado Ebenézer m encionado em 4.1 (Izbet Sartah) ficava cerca de 32 quilômetros a noroeste de Mispá. É provável que a Ebenézer deste capítulo seja outro lugar. Samuel deu esse nome ao lugar e usou o significado ("pedra de ajuda") para dem onstrar que essa Ebenézer representava a vitó
ria, e não a derrota hum ilhante, que passara a ser associada com a outra Ebenézer.7.14. desde Ecrom até G ate. A distância entre Ecrom (vale de Soreque) e Gate (vale de Elá) é de oito quilômetros no sentido norte-sul. A planície costeira dos filisteus fica a oeste desta linha e a Sefelá, que vai até
a região montanhosa de Judá, fica a leste. Este versículo provavelmente indica que essas cidades da Sefelá, ou- trora tomadas pelos filisteus, haviam sido recuperadas.7.14. am orreu s. Os am orreus, ju n tam en te com os cananeus, eram os principais habitantes da terra an
tes da chegada dos israelitas e dos filisteus. Para informações sobre sua origem, ver o comentário em Núm eros 13.29.7.16. o território de Sam uel. A região ao redor de Betei, Gilgal e Mispá parece estar toda no território de Benjamim. Existem diversas cidades com o nom e de Gilgal, inclusive uma na fronteira norte de Judá. Caso seja essa Gilgal, a região percorrida por Samuel teria começado de sua casa em Ramataim, cerca de 24 quilômetros a sudeste de Betei, de onde ele seguiria três quilômetros mais ao sul para chegar a Mispá, da qual Gilgal ficava a cerca de dezesseis quilômetros. A viagem de volta para casa daria em torno de 40 a 50 quilômetros. Existem outras cidades chamadas Gilgal
próximas a Betei e a M ispá que podem ser consideradas aqui. Nos documentos de M ari há um adivinho chamado Ascudum que regularmente percorria quatro cidades oferecendo seus préstimos aos moradores.7.17. altar em Ram á. O texto não especifica se era um altar de sacrifício ou um altar memorial (ver o comentário em Js 22.9-34). No caso de ser um altar de sacrifício, talvez esteja substituindo aquele que ficava em Siló e que fora destruído pelos filisteus.
8 .1-22 Israel pede um rei8.2. a função dos filh os de Sam uel. Samuel desempenhava sua função como "ju iz" na região das cidades mencionadas em 7.16. Essa função não era a mesma desenvolvida no início do capítulo anterior (7.6), mas dizia respeito a resolver as contendas entre o povo (ver os comentários em Êx 18.13-27 e Dt 16.18-20). Os
filhos de Sam uel desem penhavam essa mesma função, ou seja, não eram ju izes do tipo "libertad or", como os encontrados no Livro de Juizes. O território em que atuavam era bastante remoto (ver o comentário a seguir), e não tão centralizado como o de Samuel.8.2. Berseba. Berseba situava-se na extrem idade sul da terra, na parte norte do Neguebe, em Tell es-Seba' (quase cinco quilômetros a leste da cidade moderna). Descobertas arqueológicas sugerem que o local estava passando por uma transição, deixando de ser um povoado temporário para tom ar-se um local de ocupação permanente, pois há evidências de que as primeiras casas estavam sendo construídas. A população local seria inferior a duzentas pessoas, portanto a posição dos filhos de Sam uel era bastante insignificante.8.6. reis no antigo O riente Próximo. Os reis da Antiguidade desfrutavam de poder e autoridade quase
ilimitados e regularmente reivindicavam a confirmação divina para seu governo. Acreditava-se que o rei era escolhido pelos deuses e que sua autoridade vinha diretamente do céu, com raízes na criação e na
organização do mundo. O rei exercia o papel de vice- regente para a divindade, governando em sem nome, e era seu dever m anter a ordem e a justiça social. Ele era incumbido pela divindade de governar sobre o povo e sobre a terra. Com freqüência, era atribuído aos reis, enquanto viviam, um papel divino e quando morriam acreditava-se que se transformavam em deuses. A lei e a justiça em anavam do rei. Os reis também tinham responsabilidades sacerdotais e cuidavam da manutenção e do sustento dos templos, sendo representados como pastores. No antigo Oriente Próximo, os reis eram tam bém líderes m ilitares, garantindo proteção e liberdade para seu povo, bem como realizando conquistas de outras terras. As conquistas perm itiam o aumento dos recursos naturais e o acesso a novas rotas de comércio, além de acrescentar despojos para os cofres reais e fornecer mão-de-obra escrava para o reino, reduzindo o fardo sobre a população do
país.8.6. o que os líd eres qu eriam . A s autoridades de Israel haviam decidido que queriam um líder para governá-los, que centralizasse o poder sobre todas as tribos e estivesse no comando de um exército efetivo. De fato, os israelitas haviam percebido que a organização política de Israel, como uma federação de tribos, os deixava em desvantagem militar. Por essa razão, eles acreditavam que se tivessem um rei, com um exército treinado sob seu comando, estariam em pé de igualdades com seus vizinhos, pois o rei estaria pronto a defender com sucesso seu território. Os líderes israelitas, porém, erraram ao considerar essa questão como um problema político e, conseqüentemente, ao
optar por uma solução política. O que Samuel procurou esclarecer é que o problema deles não era político, mas espiritual. A solução política que eles propunham não serviria de nada a m enos que fosse acompanhada de um a solução espiritual.8.7. rei divino versus rei hum ano. Na estrutura tribal de Israel não havia espaço para uma autoridade hum ana centralizada. Moisés possuía autoridade profética e Josué recebeu autoridade militar, mas ninguém sucedera a Josué em tal posição. Moisés foi considerado um mediador, alguém que transmitia ao povo as instruções de Deus. Do m esm o m odo, como claram ente é dem onstrado no Livro de Josué, Josué foi submisso ao comando de Deus (Js 5.13-15), atribuindo suas vitórias m ilitares ao Senhor. Cada tribo tinha uma liderança própria, mas a autoridade central pertencia ao Senhor e cabia a Ele designá-la a quem quer que fosse. Os juizes eram líderes suscitados pelo Senhor e dotados por Ele de um a autoridade central reconhecida (ver o comentário em Jz 2.16-19). O fato de os israelitas considerarem que Deus era quem le
vantava os líderes m ilitares e que as vitórias deveriam ser atribuídas ao Senhor demonstrava que Deus
era o único rei à frente dos exércitos nas batalhas. Se o
Senhor se agradasse de Israel, as vitórias nas batalhas estariam asseguradas. Ao pedirem um rei, os líderes deixaram implícito que Deus não estava conseguindo
garantir a vitória e que, de alguma forma, o rei poderia ser mais bem-sucedido nessa tarefa.
8.11. prerrogativas do rei. P ara que a m onarquia funcionasse, era necessário um suporte administrati
vo. Os funcionários deveriam ser alojados e alimentados, prédios teriam de ser construídos para abrigar a
administração e as terras passariam a pertencer à coroa. H averia necessidade de form ar um exército e,
certam ente seus soldados precisariam ser alimentados e abrigados. O rei precisaria, assim, ter acesso a
trabalhadores e bens de toda sorte. Im postos e trabalhos forçados seriam os principais meios de sustentar
a monarquia e como tais, seriam prerrogativas reais. Isso geraria dramáticas m udanças políticas e econômi
cas. Esse retrato da monarquia pode ser visto em todo
o antigo Oriente Próxim o nesse período, particular
m en te n os te x to s u g a rít ico s , com o n o m od elo m onárquico cananeu.
8.11. carros de guerra e cavalaria. Anteriorm ente, Israel não contava com cavalaria ou carros de guerra. A
form ação de um exército regular exigia que a auto
ridade fosse centralizada no rei. O treinamento necessário para esse tipo de equipam ento poderia ser obtido apenas por um exército efetivo. A construção e ma
nutenção dos carros, bem como o cuidado com os cava
los exigiam um a supervisão adm inistrativa rigorosa.
8.11. correr à frente dos seus carros de guerra. Aqueles que corriam à frente dos carros de guerra procla
mavam a presença do rei e lhe davam proteção, exer
cendo um a função semelhante a de arautos (ver 2 Sm
15.1; 1 Rs 1.5; 18.46). Em documentos hititas, os deuses aparecem correndo à frente do carro do rei, condu
zindo-o à vitória.
8.12. comandantes de infantaria. Quando o exército era convocado de forma espontânea em ocasiões inesperadas (como acontecia anteriorm ente em Israel), os co
m andantes treinados não precisavam se apresentar.
M as um exército regular, porém, exigia de seus oficiais um compromisso permanente. As divisões m ilita
res d escritas aqu i tam bém eram com u ns en tre os
assírios e babilónicos, onde, por exemplo, um dos oficiais menos graduados comandava cinqüenta homens.
8.12. arar as terras do rei. U m a vez estabelecida a
administração, parte das terras passaria a ser conside
rada propriedade real (2 Cr 26.10). A terra podia ser
confiscada pela coroa nos casos de atividade criminosa
ou falta de herdeiros. Essa terra passava a ser cultivada para garantir alimento para os funcionários reais e
prover estoque para situações de emergência. O cultivo das terras reais dependia do trabalho forçado obti
do principalmente como pagamento de uma forma de tributo, dos escravos das nações estrangeiras ou de
pessoas que foram escravizadas por causa de dívidas.8.12. fabricar armas de guerra. As armas usadas pe
los reis nas batalhas incluíam arco e flecha, espada, punhal, escudo e lança. N esse período, os israelitas ainda não haviam desenvolvido a técnica para fundir
o ferro ou então haviam sido proibidos de fabricar
armas de ferro, de modo que suas armas eram feitas
de bronze. Até a Idade Média, era comum encontrar viajando junto com o exército, a figura do ferreiro real,
que tinha a função de cuidar das arm as do rei. Os
textos de N uzi m encionam carpinteiros e trabalhadores de bronze dentre os funcionários do palácio.8.13. perfumistas, cozinheiras, padeiras. Cozinheiras
e padeiras trabalhavam na cozinha real. A família do
rei e os funcionários do palácio (freqüentemente fami
liares do rei) deveriam ser servidos em suas refeições normais no mesmo estilo do rei. Algumas vezes, ha
via prisioneiros que tam bém precisavam ser alimen
tados, além dos servos domésticos, que precisariam no mínimo de algumas parcas refeições. As perfumis
tas eram responsáveis por um a série de tarefas na corte, como perfum ar as vestes reais e queim ar espe
ciarias para manter um aroma agradável no palácio.
Além disso, algumas especiarias eram reconhecidas
por suas propriedades medicinais, e nesse caso a per- fumista desempenhava também um papel de farma
cêutica. Textos assírios e pinturas em tumbas egípcias
retratam os elaborados procedimentos necessários para
preparar essas especiarias e ungüentos.8 .1 4 ,1 5 . confisco de terras. As melhores proprieda
des eram alvos freqüentes do confisco real, e muitas vezes essas terras eram transferidas como recompen
sa a administradores e protegidos do rei, para que se
m antivessem fiéis (ver o comentário em 22.7). Essa prática é bastante comum em docum entos hititas e
ugaríticos e tam bém no período babilónico cassita,
em que doações de terra a cortesãos eram normais.
8.16. requisição de jumentos e servos. Era comum o rei requisitar um servo que despertasse sua atenção
ou interessar-se por algum animal de boa qualidade. O súdito não tinha outra escolha senão presentear o
rei com o que lhe agradara.
8.17. dízimo dos cereais e dos rebanhos. Na literatu
ra ugarítica o dízimo era considerado um pagamento fixo que cada cidade ou aldeia deveria fazer ao rei.
Em passagens bíblicas anteriores, o dízimo era visto
como um direito devido aos sacerdotes e ao santuário. Aqui o dízimo representa o pagamento de um tributo
real.
9.1-27O encontro entre Saul e Samuel9.1. a posição de Q uis. Algumas traduções identificam Quis como um "guerreiro valente", mas na NVI ele é descrito, mais apropriadamente, como um "h om em rico e influente". Talvez ele tenha se destacado por suas proezas m ilitares (ver Jefté em Jz 11.1), mas muitas das pessoas que foram caracterizadas desse modo não eram fam osas por suas façanhas militares. É provável que essa expressão tenha uma aplicação mais ampla (ver comentário em Jz 6.12).9.1. B en jam im . A tribo de Benjam im descendia do filho m ais novo de Jacó. Sua história mais recente foi m anchada por uma guerra civil que quase resultou em seu extermínio, durante o período dos juizes (Jz 20, 21). O território da tribo de Benjam im era pequeno, mas estrategicamente posicionado entre as poderosas tribos de Judá e Efraim. Jerusalém , que ainda não se encontrava sob o domínio israelita e teria um futuro grandioso, ficava no território benjamita.9.2. aparência e estatura de Saul. No antigo Oriente Próximo, dava-se muito valor à estatura e à aparência do rei. O s primeiros reis eram conhecidos como "senhores da guerra" - guerreiros valentes e poderosos. M esm o depois da m onarquia ter se transformado em um a instituição permanente, o rei que carregava a fam a de grande herói era motivo de orgulho para seu povo. Alguns exemplos incluem Sargon de A cade, d escrito com o pod eroso nas bata lh as; Tukulti-N inurta da Assíria, que não tinha rivais no campo de batalha; Nabucodonosor, hom em valente e forte na batalha e Gilgam és, heróico guerreiro de grande estatura e virilidade.9.2. Saul fora da B íb lia . Não foi encontrada nenhuma m enção a Saul nas inscrições do antigo Oriente Próximo. Saul teve pouco contato com outros povos, exceto os filisteus, e não foi descoberto nada significativo sobre a história desse povo.9 .4 ,5 . Â m bito da busca de Saul. Saul vivia em Gibeá, cerca de dez quilôm etros ao norte de Jerusalém . A região m ontanhosa de Efraim ficava a cerca de 24 quilômetros da cidade onde morava. Em bora Salisa e Saalim sejam localidades desconhecidas, têm sido identificadas pela maioria dos intérpretes como BaalSalisa e Saalbim , respectivamente, situadas nas extremidades noroeste e sudoeste das montanhas de Efraim. Só o contorno dessa região representaria um percurso de quase cem quilômetros, uma extensão grande demais para ser percorrida em apenas três dias (v. 20).
O distrito de Zufe (1 Sm 1.1) é geralmente considerado como a região da cidade natal de Samuel, entre as montanhas de Efraim.9.6. a reputação de Sam uel. É curioso notar que Saul, apesar de m orar a poucos quilômetros da cidade de Sam uel e dentro da região que ele percorria em seu circuito, parece desconhecer essa figura reconhecida nacionalmente. Isso não sugere que a fam a de Samuel fosse pouco divulgada, mas provavelmente indica a ingenuidade espiritual e política de Saul.9.6-9. papel do "hom em de D eus". Embora a reputação de Sam uel fosse reconhecida por toda a nação, para as pessoas que moravam próximas a ele, e que conviviam com ele por longo tempo, Samuel era apenas um a espécie de hom em santo da aldeia. Esses homens santos eram sustentados pelos presentes oferecidos pelas pessoas a quem serviam e que o consultavam por qualquer questão pessoal, por m ínima que fosse. Dentre as áreas de sua especialidade incluíam- se questões de saúde e doenças, rituais e orações, assuntos políticos e legais e uma ampla variedade de problemas pessoais e comunitários.9.8. prata com o presente. Três gramas de prata ou um quarto de siclo de prata seria o equivalente a uma sem ana de salário de um trabalhador comum. Essa quantia seria apropriada, considerando o valor das jum entas extraviadas.9.9. designação para profetas. Três termos são usados nessa passagem: homem de Deus, vidente e profeta. O primeiro é um termo geral que poderia ser aplicado também aos outros dois. Já vidente e profeta representariam basicam ente a m esm a ativ idade, m as o papel que cada um desempenhava na sociedade era diferente (semelhante à diferença existente entre as funções de juiz e rei). Porém, o que está em destaque aqui é a m udança de term inologia e não da função desempenhada na sociedade.9.11. saindo para buscar água. Geralmente as cidades se localizavam em regiões elevadas próximas a alguma nascente de água (fonte ou poço). Mais tarde, foram construídos túneis para permitir o acesso seguro a essas nascentes, mas nessa época ainda era preciso sair da cidade para buscar o suprim ento diário de água. De modo geral, isso era feito ao entardecer, e não durante o calor do dia.9.12. m onte. O m onte ou lugar alto (em hebraico bamah) era um lugar de adoração onde havia um altar. G eralm ente não era um santuário ao ar livre e sim um tipo de construção mobiliada e com ambientes grandes o suficiente para acomodar os sacerdotes (não podemos supor que todos os santuários ficassem em m ontes). A Inscrição de M esha dem onstra que esses sa n tu á rio s tam b ém faz iam p arte do cu lto
moabita. Possíveis exemplos foram encontrados em lugares como Megido e Nahariya.9.12r 13. sacrifício no monte. Embora o nome da cidade não seja mencionado, a maioria dos estudiosos acredita tratar-se da cidade onde Sam uel nasceu, Ram á (Ramataim, ver 1.1). Depois da queda de Siló, Samuel construiu um altar em Ram á (7.17), que provavelm ente funcionava como um santuário central, já que a arca estava no exílio. Os sacrifícios normalmente eram ocasiões para refeições e parece ser esse o caso aqui. Talvez fosse um sacrifício de Lua nova, que era uma ocasião festiva (ver comentário em 20.5), mas poderia também ser uma cerimônia de entronização, especialm ente convocada por causa da chegada de Saul, prevista por Samuel.9.13. abençoar o sacrifício . N enhum a outra passagem no Antigo Testamento fala sobre abençoar o sacrifício. Geralmente uma bênção é uma oferta de palavras boas que se espera que a divindade traga sobre as pessoas. Visto que os sacrifícios muitas vezes estavam associados a petições, a bênção de Samuel talvez estivesse refletindo a esperança de que aquele pedido fosse atendido.9.21. objeção de Saul. No antigo Oriente Próximo os reis tentavam atribuir alguma importância aos seus ancestrais, especialmente quando isso não era tão evidente, a fim de impedir que algum rival ambicioso se aproveitasse desse defeito para provocar um a revolta. O simples fato dos antepassados carecerem de importância era m otivo para a pessoa ser rotulada como impostora. A objeção apresentada por Saul, mencionando sua genealogia insignificante, pode ser encontrada em diversas ocasiões na Bíblia, e de fato algum as vezes é usada como uma característica distintiva (Am 7.14). Para inform ações referentes à tribo de Benjam im , ver o com entário em 9.1. N ada m ais se conhece sobre a posição social do clã de Saul.9.22. sala onde comeram. As vezes a lei determinava que as porções de carne destinadas aos sacerdotes e aos adoradores fossem consumidas no local (ver, por exemplo, Lv 7.6). Visto que as refeições eram partes importantes do sacrifício e do culto, os santuários eram providos de cômodos apropriados para essa atividade. A palavra usada neste versículo para descrever esse recinto é usada em outros contextos para referir- se a diversos cômodos ligados ao santuário dentro das instalações do templo. Descobertas arqueológicas têm revelado com freqüência a existência de cômodos contíguos ao salão principal do santuário, mas é muito difícil especificar qual uso era reservado a cada um deles.
9.23. 24. carne separada para Saul. A coxa era considerada um a das partes m ais nobres da carne e ge
ralm ente era reservada para o sacerdote oficiante (Lv 7.32-34). A qui Sam uel m andou separá-la para seu convidado de honra.
9.25, 26. terraço . Em bora a presença de escadas e pilares para sustentação (dentre outras evidências) de
monstre que muitas casas tinham um segundo andar
(ou até mesmo um terceiro), os arqueólogos dificilm ente conseguem recuperar algum vestígio de ou
tros pavimentos nas casas a partir dos materiais rema
nescentes dos níveis de ocupação. Esse lugar no alto da casa (eirado ou terraço) era bastante usado para
atividades familiares e também para dormir por ser bem ventilado.
1 0 .1 - 2 7
Saul é ungido rei10.1. unção com óleo. U ngir o rei era um a prática
comum em algumas partes do antigo Oriente Próximo. As principais evidências encontram-se em fontes
h ititas que descrevem cerim ônias de entronização.
N ão existem evidências de unção de reis na M eso-
potâmia. No Egito, o faraó não era ungido, ao contrário, ele ungia seus oficiais e vassalos, estabelecendo
assim um a relação de subordinação entre eles e como demonstração de que lhes daria proteção. Esse mode
lo seria apropriado à idéia de Saul sendo ungido como
vassalo de Deus. Mas em 2 Samuel 2.4 é o povo que unge Davi. Essa unção sugere algum tipo de acordo
contratual entre Davi e o povo que iria governar. Em
Nuzi, quando as pessoas faziam algum acordo comer
cial, ungiam um as às outras com óleo; no Egito, a prática da unção era comum nas cerimônias de casa
mento. Para inform ações sobre coroações, ver o com entário em 11.15.
10.2. o túm ulo de R aquel em Zelza. É extremamente
complicado situar essa localidade. Estudos detalha
dos, procurando conciliar as diversas variáveis e dificuldades, oferecem duas possibilidades principais. A
prim eira seria que o túm ulo estaria localizado nas
proxim idades de Quiriate-Jearim (ver o comentário
em 6.21), que se situava cerca de 24 quilômetros ao sul-sudoeste da cidade onde Samuel vivia. A segun
da opção acompanha o suposto trajeto da jornada de
Saul nessa passagem , que parece ter sido de Ramá para Geba, a leste. N esse caso, o túmulo de Raquel
ficaria naquela estrada.
10.3. carvalho de Tabor. Juizes 4.5 rerere-se à "tam areira de D ébora", onde ela julgava as questões, e Abraão
faz uma parada junto ao "carvalho de M oré" (ver o co
m entário em Gn 12.6). A s árvores eram usadas como m arcos de divisas, pontos de encontro ou até mesmo
como locais sagrados. Em lugares onde o Sol é caus-
ticante e a sombra é algo desejável, as árvores podem assumir um a im portância bastante significativa.10.3. santuário em Betei. Ao longo de grande parte da história de Israel, Betei foi considerado um importante local de culto. A arca ficou guardada nesse local durante algum tem po no período dos ju izes, além disso, havia ali um altar para sacrifícios (ver os com entários em Jz 1.22, 23; 20.26-28; 21.4).
10.3. elem entos para sacrifício . Cabritos, pães e vinho eram os elem en tos básicos de um a refeição sacrificial. Ao lhe oferecerem pão consagrado, Saul está novamente sendo tratado como um sacerdote (ver o comentário em 9.23) e reconhecido como uma pessoa digna de honra.10.5. G ibeá de D eus. A designação "d e D eus" sugere que havia nessa colina (Gibeá = colina) algum tipo de santuário, m as havia ali tam bém um destacam ento filisteu. Visto que em algumas traduções de 1 Sm 13.3 há referência aos destacamentos dos filisteus em Geba (na NVI consta Gibeá), m uitos consideram tratar-se do m esm o local, oo seja, o povoado m oderno de Jaba, cerca de dez quilômetros ao norte de Jerusalém. N enhuma escavação arqueológica foi conduzida no local, m as buscas superficiais encontraram vestígios da Idade do Ferro. Essa localidade dom inava a passagem entre o profundo desfiladeiro do vau Swenit, de Micmás, que segue do norte para a região de Jerusalém. Para uma discussão sobre Gibeá, ver o comentário em 10.26.10.5. m onte. H á um a diferença entre os lugares de adoração ao ar livre e o "m onte" (bamah) mencionado em diversas passagens como centro religioso das cidades e povoados (1 Rs 11.7; Jr 7.31; Ez 16.16; 2 Cr 21.11; esteia moabita de Mesha). O termo "m on te" algumas vezes podia indicar um local sagrado ao ar livre, mas geralmente referia-se a um a construção contendo mobiliário sagrado, um altar e recintos grandes o suficiente para acomodar os sacerdotes.10.5. instrum entos m usicais. Todos os instrumentos musicais citados aqui são típicos da época e confirmados em textos, relevos e pinturas do antigo Oriente Próxim o, desde o terceiro m ilênio. A inda há certa discordância entre os eruditos sobre qual a palavra hebraica que deveria ser traduzida como "harp a" e qual como "lira " . O term o que a NVI traduz como "lira" diz respeito a um instrumento de dez cordas, enquanto que a palavra traduzida como "h arp a" provavelmente esteja se referindo a um instrumento com um menor núm ero de cordas. Ambos possuíam uma estrutura de m adeira que permitia segurá-los com as mãos. O tamborim tem sido identificado em relevos arqueológicos como um tambor ou pequeno pandeiro (couro esticado sobre um aro), sem os pequenos guizos
dos pandeiros m odernos. O instrum ento traduzido como flauta provavelmente se refere a dois tubos de bronze ou caniços.10.6. relação entre m úsica e profecia. Nessa época, as pessoas podiam receber treinamento para exercer a função de profeta (ou vidente) e nesse período inicial da história de Israel existia uma associação de profetas, geralmente designada como "o s filhos dos profetas". Esses profetas faziam uso de variados métodos com o objetivo de se prepararem para receber os oráculos proféticos. A música exercia um importante papel na indução a um estado de transe (êxtase) através do qual, segundo a crença da época, a pessoa se tornava receptiva a uma m ensagem divina. Nos textos de M ari são relatados episódios em que um grupo de funcionários do tem plo entrava em transe e geralmente recebia m ensagens proféticas.10.6. papel do Espírito do Senhor. No Livro de Juizes, o Espírito do Senhor geralmente se m anifestava em
situações relacionadas à convocação de um exército. N uma sociedade tribal, onde não há um governo cen
tralizado, era difícil conseguir que as outras tribos apoiassem aquela que estivesse enfrentando dificuldades. Nesses casos, a autoridade do líder era reconhecida de acordo com sua habilidade de convencer outros a segui-lo, ainda que não tivesse nenhum cargo de comando sobre eles. Em Israel, essa habilidade era reconhecida como sinal do poder de Yahweh, visto que esse líder sozinho tivera autoridade para convocar os exércitos de todas as tribos. Yahw eh era a única autoridade central, portanto, quando alguém demonstrava autoridade para convocar exércitos, que era função de Yahweh, ficava claro que o Senhor estava agindo sobre essa pessoa (ver Jz 11.29; 1 Sm 11.68). Esse era um dos traços distintivos dos ju izes de Israel. A autoridade central de Saul deveria ser permanente e m ais abrangente que a dos juizes, apesar de também ser atribuída a ele através da capacitação concedida pelo Espírito do Senhor. Em 11.6 a capacitação do Espírito irá resultar na convocação de um exército por parte de Saul, assim como os juizes faziam. Neste contexto, porém, está associada à atividade profética, especificamente em relação à receptividade à orientação divina.10.8. G ilgal. Como já foi observado no comentário em7.16, havia diversas localidades com o nome de Gilgal. É impossível afirmar com certeza a qual delas o texto se refere.10.8. propósito dos sacrifícios. H olocaustos e ofertas de comunhão eram os dois tipos m ais comuns de sacrifícios. O primeiro muitas vezes acompanhava uma petição, enquanto o últim o era uma oportunidade para celebrações festivas e refeições comunitárias diante do
Senhor. Provavelmente os sacrifícios mencionados aqui tivessem a intenção de marcar o início da monarquia ou talvez a preparação de alguma atividade militar
contra os filisteus. Levando-se em conta o sacrifício
oferecido na cidade de Samuel, o sacrifício daqueles que iriam a Betei e esse em Gilgal, fica evidente que
nesse período, os sacrifícios não eram restritos a uma única localidade.
10.10. Sau l com o profeta. No antigo Oriente Próximo, geralm ente se acreditava que os reis possuíam
dons proféticos. Isso acontecia principalmente no Egito, onde o faraó era considerado representante dos
deuses e falava em nom e deles. Por esse tem po, a liderança civil em Israel também era uma mistura de
poder político com atividade profética (Moisés, Débora, Samuel). Samuel acumulou as funções de sacerdo
te, profeta e líder político, em bora esta últim a fosse conseqüência das duas primeiras. Com Saul, a questão seria até que ponto a pessoa escolhida para ocupar
o trono poderia acumular as funções de profeta e sa
cerdote. A m onarquia no antigo Oriente Próximo às
vezes im plicava em exercer todas essas funções. Desta forma, seria bastante lógico perguntar: "Saul pode
ser considerado um dos profetas de Israel?".10.17. M ispá. Em bora diversas localidades distintas
tenham esse mesmo nom e (significa "posto avança
do" ou "guarnição"), essa Mispá no território da tribo
de Benjam im é a mais conhecida. Com freqüência é
associada à localidade de oito acres chamada Tell en-
Nasbeh, cerca de dez quilômetros ao norte de Jerusalém. Nessa época, M ispá era um terreno oval cercado
por uma muralha de aproximadamente um metro de
espessura, que protegia a principal estrada norte-sul, entre as colinas de Judá e Efraim.
10.20, 21. processo para escolha do rei. Documentos da Mesopotâmia sugerem o uso da adivinhação para
confirmar a escolha do rei que havia sido indicado, mas não para nomeá-lo ao trono. A adivinhação não
era considerada um a prática aceitável em Israel. O
processo empregado aqui se assemelha mais ao oráculo e é bastante parecido com aquele usado em Josué 7 (ver o comentário em Js 7.14-18).
10.25. leis do reino. Aparentemente, esse documento seria um tipo de constituição ou carta magna, deta
lhando as leis relacionadas à subordinação do povo
para com o rei e do rei para com o Senhor. No Egito, a cerimônia de coroação envolvia uma declaração do
deus Thoth concedendo a aprovação oficial dos deuses
para a ascensão do rei ao trono. Não há nenhum a
indicação neste capítulo de que Saul foi coroado; ele simplesmente foi aclamado como o escolhido paia ser rei (ver o comentário em 11.15).
10.26. G ibeá. A cidade natal de Saul, Gibeá, tem sido tradicionalmente identificada como Tell el-Ful, cerca de cinco quilômetros ao norte de Jerusalém, embora m uitos estudiosos não estejam convencidos, apesar da descoberta de um a pequena fortaleza no local designada "fortaleza de Saul". Até agora, todas as evidências arqueológicas, textuais e topográficas são favoráveis à teoria de que Gibeá e Geba são a mesma localidade, identificada como Jaba, na margem sul do vau Sw enit, cerca de dez quilôm etros ao norte de Jerusalém .
11 .1-11Saul derrota os amonitas11.1. Jabes-G ileade. Jabes-Gileade era um a cidade da Transjordânia, provavelmente situada ao longo do ribeiro el-Yabis, um afluente do rio Jordão que cortava o norte da região montanhosa de Gileade. Diversas localidades da região foram indicadas como sendo as ruínas de Jabes-G ilead e, m as nenhum a delas foi confirmada. A candidata mais provável é Tell Maqlub, na extremidade norte de uma curva do rio Yabis. Existem evidências detalhadas de resquícios materiais da Idade do Ferro I (c. 1200-1000 a .C.) nessa área. H á referências de que essa cidade m antinha um acordo com Israel desde o período dos juizes (cap. 21; cf. 2 Sm 2.47). Jabes-G ileade só foi incorporada ao território de Israel após a m orte de Saul. Cf. 1 Sam uel 11 .9 ,10 .11.1, 2. Naás. Am om e Israel lutaram continuam ente pelo controle da região a leste do rio Jordão (ver Jz11.33). Fragmentos encontrados nos Rolos do Mar Morto perm itiram um a recuperação do texto de 1 Samuel 10.27b, apresentando evidências de que Naás também havia ameaçado as tribos israelitas de Gade e Rúben, fato confirm ado pelo historiador judeu Josefo (37-100 d.C.). Não há inform ações sobre Naás em outras fontes além da Bíblia, visto que nenhum documento histórico am onita desse período foi preservado.11.1, 2. am onitas. A lém da Bíblia, os am onitas são mencionados apenas em fontes escritas dos últimos an ais a ssírio s (c. 733-665 a .C .) e em fragm en tos epigráficos locais (que rem ontam a c. 590 a.C.). A Bíblia os descreve como um povo da Transjordânia aparentado com os israelitas através do sobrinho de Abraão, Ló. Depois do êxodo, os amonitas se tornaram inimigos constantes de Israel até serem conquistados por Davi, o sucessor de Saul (2 Sm 10-12).11.2. arrancar o olho direito. A prática de furar ou arrancar os olhos do inim igo era com um entre os filisteus (ver o exemplo de Sansão em Jz 16.21) e também na Babilônia, com N abucodonosor (ver Zede- quias, rei de Judá; 2 Rs 25.7). Os assírios costumavam fazer uso dessa prática contra reis vassalos que não
cum priam as condições de um tratado. O historiador judeu Josefo (37-100 d.C.) afirm a que o olho direito era arrancado para im pedir o soldado de lutar, visto que o escudo era mantido sobre o olho esquerdo. Porém , no contexto de 1 Sam uel 11, o ato de furar os olhos parece ter como objetivo causar humilhação e vergonha. A m utilação de indivíduos subjugados é vista também no caso de reis que tinham os polegares das m ãos e dos pés cortados (ver o comentário em Jz 1.6).11.4. G ibeá. Consulte o comentário em 10.26.11.6. papel do Espírito de D eus. O Espírito de Deusapoderou^se de Saul do m esm o m odo com o havia acontecido anteriormente com os juizes Otoniel, Gideão, Jefté e, especialmente, Sansão (Jz 14.6, 19; 15.14). Quando o Espírito Santo é relacionado a algum a atividade no Livro de Juizes, geralm ente é para convocar um exército. N um a sociedade tribal, sem um governo centralizado, era difícil conseguir que as outras tribos apoiassem aquela que estivesse enfrentando problemas. Em situações como essa, o reconhecim ento da autoridade de um líder dependia de sua habilidade para convencer os outros a segui-lo, ainda que ele não tivesse nenhum cargo de com ando sobre eles. Em Israe l, e ssa h ab ilid ad e era a m arca do p o d er de Yahw eh sobre esse líder, visto que ele sozinho tivep autoridade para convocar os exércitos de todas as i bos. Yahw eh era a única autoridade central, portanto,^ quando alguém exercia autoridade convocando exér\ eitos, que era função de Yahw eh, ficava/eyfâeníse que a autoridade do Senhor esta\ráNagind« aquela
pessoa (ver Jz 11.29; 1 Sm l lX ^ ) f S à ^ s e r ã um dos traços distintivos dos^ m z^ a^ Sam uel 10,o Espírito levou Saul^N^iACorTO profeta, enquanto aqui em 1 Sam u êf ll^ a u X ^ c e r c e u sua autoridade conv ocan d og á^ ^ iriraâ^ ieIsrael. Quando o Espírito de D eus apotí^ira\-si^de Saul, imediatamente ele ma- nif^tphvU^aNimjgnação justa semelhante à de Sansão
"(quando m atou trinta hom ens, v er Jz sua fú ria fo i confirm ada pela atitude das
jsptoas.11.7. pedaços de bo is com o aviso. U m relato semelhante é n arrad o em Ju izes 19.29, 30 , em que um levita cortou sua concubina em doze pedaços e os enviou com o um convite para os israelitas participarem da guerra contra a tribo de Benjam im . A idéia subjacente era que todo aquele que não comparecesse à batalha seria punido dessa form a. U m a carta da cidade de M ari m enciona um certo Bahdílim que pede perm issão ao rei de M ari para cortar a cabeça de um prisioneiro e enviá-la com o um aviso às tropas que evitavam apresentar-se para a batalha.11.8. Bezeque. Bezeque tem sido localizada em Khirbit Ibzik, a oeste do rio Jordão, 19 quilômetros a nordeste
de Siquém e cerca de 22 quilômetros a oeste de Jabes- Gileade, na vertente sudoeste da cordilheira Ras es-
Salmeh, que se eleva acim a das colinas de Manassés.
Logo, era um lugar conveniente de onde se podia atravessar o rio Jordão e chegar em Jabes-Gileade.
11.8. tam anho do exército. N as versões m ais antigas do Antigo Testam ento, o núm ero de soldados m enci
onado neste versículo varia bastante, m as os textos m ais recentes apresentam números elevados tanto para
os soldados de Israel como para os de Judá. Entretanto, m uitos arqueólogos consideram que nem a popu
lação total de Canaã naquela época chegava a tanto. O term o hebraico para "m il" freqüentemente erásubado
para designar um destacam ento de soldados^ e\nap
deve ser interpretado como um núm ero re^ l^ e l\ c Q m entários em Js 8.3; Jz 20.2). í11.9. d istância en tre B ezeq u e íé ^ a b e ^ è u e a d e . Se
Bezeque e Jabes-Gileade foíáiha cOTretarfíente identi
ficadas pelos arqueólogos ni^a^rfrtís/então a distância
entre as duas s á ^ d í^ ^ ^ im a d a m e n te vinte quilô
metros. I^sse ie r coberto facilmenteem um a raarh ^ m ciM cS atránoitecer e concluída nas p rim eii4^ h ^ ^ ^ Í«r manhã.
a {Tm 5Confirmado como rei
r.14, 15. confirm ação do re in o em G ilgal. G ilgal,
um centro de adoração que fazia parte do circuito de
Samuel, ainda não foi localizado, m as tudo indica que
seria perto de Jericó (ver o comentário em 1 Sm 7.16). P or ser o local sagrado m ais próxim o ao cenário da
batalha, foi escolhido para a coroação. Em bora Saul
tenha sido designado re i através de dois processos diferentes, som ente agora, após ter provado sua com
petência em questões m ilitares (lembre-se que o povo queria um rei que fosse capaz de conduzir seus exércitos nas batalhas), ele é de fato coroado. O texto diz
que Saul foi "proclam ado rei na presença do Senhor". N a M esopotâm ia havia cerim ônias anuais que cele
bravam a entronização, relacionadas às celebrações
do A no N ovo. N o antigo Oriente Próxim o, geralmente o rei era investido com as insígnias reais e ungido.
Era comum tam bém que durante a cerimônia a legitim idade do rei fosse confirmada pela divindade principal. N o caso de Saul, tanto a unção como a confirma
ção da legitim idade já haviam sido feitas.11.15. sacrifícios de com unhão. Um a parte dos sacri
fícios de comunhão era oferecida a Deus e o restante
era consumido pelos ofertantes. Era com um fazer uso
dessas ofertas para ratificar tratados ou acordos de aliança. Para m ais informação, ver os comentários em
10.8; Êxodo 24.5 e Levítico 3.1-5.
12.1-25 A palavra de Samuel12.15. Sam uel se isenta de culpa. A política não m udou muito em três m ilênios de história. Atualmente, é comum um governante atribuir a culpa dos problemas da nação ao governo anterior. No mundo antigo, também era comum lançar uma acusação sobre qualquer pessoa que representasse um a possível ameaça ao governante. Portanto, é compreensível que Samuel tenha tomado algumas medidas para garantir a afirmação de sua inocência nas questões administrativas. Era responsabilidade do governante manter a justiça e Samuel quis certificar-se de que ele não seria acusado de nenhum a injustiça. O processo legal descrito aqui incluía três partes: (1) apresentação das testem unhas (Yahweh, seu ungido [i.e., o rei] e o povo, v. 3), (2) apelo de Samuel a essas testemunhas e (3) resposta das testemunhas. Esse padrão tam bém é confirmado em Rute (4.4, 11) e Josué (24.22).
12.6-12. resum indo a história. Êxodo 12.40 diz que os israelitas perm aneceram no Egito durante 430 anos. O texto de 1 Reis 6.1 afirma que foram 480 anos desde o êxodo até a dedicação do templo. A coroação de Saul talvez tenha acontecido oitenta anos antes da dedicação do templo, o que significa que Sam uel resum iu cerca de 800 a 850 anos de história em cinco versículos. Seria o mesmo que um orador contemporâneo abordar os rumos do Cristianismo desde as Cruzadas até os dias atuais em aproximadamente cem palavras.12.12. D eus como rei. Desde o Livro de Êxodo, o texto bíblico desenvolve a idéia de Yahw eh lutando pelos israelitas, e sendo louvado e reconhecido como seu guerreiro e rei. O Livro de Josué demonstra repetidamente que as vitórias dos israelitas eram devidas ao Senhor. Yahw eh fora reconhecido como rei e herói dos israelitas, e como tal os conduzira vitoriosamente nas batalhas. A s referências a Yahw eh como rei de Israel são abundantes nas Escrituras (p. ex., Êx 15.18; N m 23.21; Jz 8.7; 1 Sm 8.7; 10.19), entretanto, a idéia relacionada à divindade como rei não era exclusiva de Israel. Tanto M arduque (babilônio) com o Baal (cananeu) representam o reino conquistando o mar, que é personificado como um inimigo divino (Tiamat e Yam respectivamente). Questões como instaurar a ordem e evitar conflitos, proclamação do rei e firmar uma moradia, são temas interligados na literatura do antigo Oriente Próximo, relacionados às batalhas cósm icas. Os assírios, por exem plo, afirm avam que o deus Assur era o m onarca, sendo representado na terra pelo rei. Em Israel era diferente, pois até aquele momento Yahw eh não tinha um representante terreno, como as outras nações. Para os israelitas, Deus era visto como aquele que levantava os líderes m ilitares e
o responsável pelas vitórias, portanto, Deus era o rei que conduzia os exércitos nas batalhas (ver o comentário em 8.7). Agora o reino de Saul seria um reflexo terreno do governo de Yahw eh no céu.12.17,18 . chuva durante a colheita do trigo. Durante a colheita do trigo, nos meses de maio e junho, quase não chovia na Palestina, portanto isso foi interpretado como um a ocorrência sobrenatural. A lém do mais, poderia prejudicar a safra (ver Pv 26.1). Portanto, Deus estava se colocando como testemunha divina contra os israelitas.12.19. o novo papel de Sam uel. Até aqui, Samuel era o líder político, devido à sua função de profeta, assim como M oisés e Débora antes dele. Com o início da monarquia, o profeta passaria a ser um conselheiro. Em vez de conduzir o povo, transmitindo-lhe as mensagens divinas, o profeta ofereceria orientação ao rei, que teria liberdade para aceitá-la ou rejeitá-la. Essa passagem também enfatiza o papel do profeta como intercessor (para mais informação, ver os comentários em Dt 18.14-22).12.25. identificação entre rei e povo. No antigo Oriente Próxim o o rei m uitas vezes era visto com o a personificação da nação. Como resultado, o rei podia ser considerado responsável pelo comportamento do povo e este podia ser punido ou abençoado conforme a conduta do rei.
13.1-22 Saul oferece um sacrifício13.1. nota cronológica. A idade de Saul ao assumir o trono não é precisa, visto que este versículo sofreu alterações na maioria dos manuscritos antigos. A versão grega do Antigo Testamento (Septuaginta) acrescentou o núm ero trinta aqui, mas trata-se provavelmente de um cálculo feito a partir da idade de Davi quando ascendeu ao trono (2 Sm 5.4). Saul tinha um filho adulto, Jônatas, e pelo menos um neto quando morreu (2 Sm 4.4). Embora a NVI afirme que a duração do reinado de Saul foi de 42 anos, a maioria das versões menciona dois anos, apesar de grande parte dos estudiosos acreditar que um dos dígitos desse núm ero se perdeu no texto (ou seja, seriam "X e dois anos"). No entanto, o historiador judeu Josefo (37-100 d.C.) e Lucas (At 13.21) demonstram conhecer a tradição de que Saul teria reinado por quarenta anos. Por
causa da grafia peculiar do núm ero nos prim eiros m anuscritos, acredita-se que o núm ero original da duração de seu reino foi perdido.13.2. tam anho e natureza de um exército efetivo. Ao selecionar três mil homens Saul provavelmente estaria escolhendo alguns para sua proteção ou guarda im perial. Esse núm ero não representaria o total de
voluntários para a guerra, que teria sido mais elevado. Nos exércitos regulares no antigo Oriente Próximo havia soldados treinados profissionalmente e tam bém mercenários. Esses soldados serviam em guarnições e postos em fronteiras, além de garantirem a guarda do palácio. O núm ero "três m il" pode simplesm ente representar três com panhias (um a com Jônatas e duas com Saul). Gibeá não era um a cidade grande e é pouco provável que fosse capaz de abrigar mais de algumas centenas de homens em circunstân
cias normais, e em breve os israelitas teriam de enfrentar as forças m ilitares dos filisteus (ver o comentário no versículo 5).13.2. M icm ás. Situada seiscentos metros acima do nível do m ar, M icm ás (a m oderna M ukhm as) ficava sete quilômetros a sudoeste de Betei. Algumas descobertas no local de vestígios da Idade do Ferro levaram alguns especialistas a preferir a identificação com Khirbet el-Hara el-Fawqa, menos de um quilômetro ao norte, onde foram encontradas mais evidências de ocupação nesse período. O terreno m ontanhoso da área seria um obstáculo para o uso de carros de guerra durante as batalhas.
13.3. destacam ento filisteu em G ibeá. Gibeá tem sido identificada como o povoado moderno de Jaba, cerca de dez quilômetros ao norte de Jerusalém. Nenhuma escavação foi conduzida no local, mas buscas superficiais descobriram ali vestígios da Idade do Ferro. Gibeá dominava a passagem estratégica que atravessa o profundo desfiladeiro do vau deSw enit, em M icmás, que segue para o norte, até a região de Jerusalém.13.4. distância entre G ilgal e M icm ás. Existem diversos lugares com o nome de Gilgal e todos com localização desconhecida (ver o com entário em 7.16). A Gilgal em 10.8 parece ficar próxima a Gibeá. Se Saul estivesse acampado na Gilgal da época de Josué, estaria mais para o leste, perto do rio Jordão, a cerca de 32 quilôm etros de M icm ás, portanto, bastante distante do cenário das operações militares.13.5. exército filisteu . Os filisteus detinham uma superioridade m ilitar esm agadora, com trinta m il (na NVI aparece "três m il") carros de guerra e seis mil condutores de carros. Se o núm ero da NVI estiver correto, seriam dois soldados por carro, o que era comum no Egito, Anatólia e Assíria. Como comparação, Salm aneser III, da Assíria (século nono a.C.) afirm ou ter atravessado o rio Eufrates com um exército de 120 mil homens. Os governantes das províncias assírias eram obrigados a recrutar tropas para o exército assírio, geralmente totalizando 1500 batalhões de cavalaria e 20 mil tropas. Visto que havia mais de vinte províncias, a quantidade total das tropas assírias era bastante grande.
13.6. escond erijos. Poços e cisternas eram cavados para acum ular água das chuvas e, quando vazios, serviam como bons esconderijos. Geralmente estavam localizados na área das cidades. Havia florestas nos dois lados do vau Sw enit em épocas remotas, deste m odo, o mato era abundante. O vau Sw enit e o vau K elt tam bém tinham m uitas cavernas nas encostas dos rochedos. Com freqüência, as cavernas na Palestina ofereciam proteção para as pessoas em perigo e às vezes, eram tam bém usadas como túm ulos fam iliares. Elas eram bem conhecidas pelos habitantes da região e protegidas pela dificuldade de acesso. Existem registros extrabíblicos de refugiados que habitaram em cavernas perto de Láquis, uma cidade judaica fortificada. Foi encontrada a seguinte inscrição nas paredes: "Poupa-m e, ó Deus misericordioso, poupa- me, ó Yahw eh" e também: "Salva-m e, ó Yahw eh".13.7. G ade e G ileade. Gade e Gileade eram termos em pregados com o designação geral para as terras israelitas que ficavam a leste do rio Jordão. Gileade era habitada pelas tribos de Rúben e Gade. Os israelitas fugiram para essa região porque estavam sendo pressionados a deixar a base de operações dos filisteus.
13.8. o dilem a de Saul. O ferecer sacrifícios na im inência de um a batalha a fim de obter a proteção da divindade era prática comum no antigo Oriente Próximo. Esse oferecim ento garantiria a disposição da divindade em participar do conflito. Podemos encontrar vários exemplos dessa prática na literatura grega (Ilíada), e diversos relatos hititas e assírios (Esarhadon da Assíria, sétimo século a.C.) confirm am amplamente o uso de sacrifícios e presságios para determinar a vontade dos deuses antes de sair para a batalha, como parte fundamental das estratégias militares. No caso de Saul, a necessidade de cum prir o ritual poderia prejudicar sua estratégia militar. Sua decisão de oferecer o sacrifício foi um a tentativa de obter os benefícios do ritual sem se arriscar a perder o momento estratégico para atacar.13.8-13. a culpa de Saul. Era comum que o rei desempenhasse algumas funções sacerdotais (ver o comentário em 2 Sm 8.18). Porém, considerando-se o papel de destaque desempenhado por Samuel, não é difícil supor que a legislação no reinado de Saul (10.25) estabelecesse um a clara distinção entre seus respectivos papéis em Israel. Observe que Saul não é acusado, no versículo 13, de transgredir o protocolo sacerdotal ou com eter sacrilégio, e sim de desobedecer a um a ordem de Deus.13 .9 ,10 . função dos sacrifícios. Holocaustos e ofertas de comunhão eram os dois tipos mais comuns de sacrifícios. O primeiro muitas vezes acompanhava uma petição, enquanto o último era uma oportunidade para
celebrações festivas e refeições comunitárias diante do Senhor. A lém disso, as ofertas pacíficas às vezes representavam o reconhecimento de que o reino era da divindade - um elemento importante antes da batalha. Para informações gerais sobre os sacrifícios, consulte os comentários em Levítico 1.3, 4; 3.1-5.13.14. um hom em segundo o coração de D eus. Essa afirmação significa que Deus iria agora fazer sua própria escolha (de acordo com sua vontade e propósito e não de acordo com a von tad e e o p rop ósito dos israelitas). A expressão não está relacionada à devoção de Davi, mas demonstra como Deus exerceu sua vontade ao rejeitar Saul (um hom em que satisfazia o desejo de Israel, 9.20) e substitui-lo por alguém avaliado segundo critérios diferentes. A língua acadiana usa a m esm a term inologia para falar do deus Enlil estabelecendo um rei que ele próprio havia escolhido. Até Nabucodonosor colocou em Jerusalém um rei que ele mesmo escolhera.13.15. de G ilgal a G ibeá. A distância que o exército teria que percorrer, desde Gilgal de Josué até Gibeá, era de 24 quilômetros, o equivalente à jornada de um dia (sobre as dificuldades para identificação dessas localidades, ver o comentário em 13.4).13.16. G ibeá e M icm ás. Essas duas localidades ficavam uma defronte da outra, separadas pelo profundo desfiladeiro do vau Sw enit, ao longo da passagem estratégica que cruzava o vau desde o norte até a região de Jerusalém. Micmás ficava quase dois quilômetros a nordeste de Gibeá.
13.17,18. rota das divisões invasoras. As divisões dos filisteus tom aram três direções distintas. A rota de Ofra seguia para o norte, em direção à cidade de Ofra, que ficava oito quilôm etros ao norte de M icm ás. A rota de Bete-H orom ia até a cidade com o m esm o nome, a cerca de vinte quilômetros de M icmás, passando por Gibeão, sendo uma das principais rotas de suprimento desde as planícies dos filisteus até as colinas de Jerusalém. E por últim o, a rota da fronteira, que cobria o vale das Hienas (Zeboim) a sudeste de
Micmás, provavelmente no encontro entre o vau Swenit e o vau K elt, quase na m etade do cam inho entre Micmás e Jericó. Esra era a principal passagem para o vale do Jordão.13.19, 20. m onopólio do ferro. Na Antiguidade, as dificuldades técnicas para o processo de fundição do
ferro eram muitas, incluindo a m anutenção de uma temperatura adequadamente elevada e a combinação da quantidade certa de carbono e ferro (chamada de "carbon ização", que transform a o ferro forjado em aço), além da necessidade de ferramentas fortes para
remover a escória. As armas feitas de ferro não carbonizado eram inferiores às armas de bronze. Na Pales
tina, há evidências de carbonização somente a partir do século dez. N ão se sabe ao certo onde surgiu a fundição do ferro, m as era bastante difundida em todo o Oriente Próximo (especialmente na Anatólia e no norte do Iraque) já no final do segundo milênioa.C.. Atualmente, supõe-se que a substituição do bronze pelo ferro resultou não só do acesso à técnica de fundição desse metal, mas tam bém da crescente dificuldade em obter o estanho necessário para a fabricação do bronze. O que deve ser observado, porém, é que o texto não indica um a inferioridade tecnológica de Israel, e sim a ausência de ferreiros. As armas de bronze ainda seriam m uito utilizadas pelos israelitas. É provável que esses versículos indiquem que a profissão de ferreiro fora banida, evitando assim a fabricação de armas de metais.13.21. preço para serviços de ferreiro. O preço cobrado pelos fe rre iro s filisteu s pod e ser consid erad o exorbitante se comparado ao salário m ensal de um trabalhador, que era de aproximadamente um siclo (o equivalente a doze gramas). As ferram entas afiadas (arados, enxadas, machados e foices) eram usadas na lavoura e talvez fossem feitas de ferro ou bronz;e, mas os israelitas eram proibidos de operar as forjas necessárias para afiá-las. Não foram descobertos arados de ferro na Palestina desse período. Enxadas de ferro foram encontradas em Tell Jemm eh, no sudoeste da Palestina.13.22. escassez de armas. Esse versículo confirma que os israelitas estavam proibidos de fabricar instrumentos de ferro e bronze. Podem os presum ir que o domínio dos filisteus na região acarretou o confisco das arm as e a lei proibindo qualquer tipo de fundição tom ou disponível aos israelitas apenas armas bastante primitivas.
13.23-14.48 Vitória no desfiladeiro de Micmás13.23. o desfiladeiro de M icm ás. O desfiladeiro de M icm ás era uma passagem estratégica que ia do norte para a região de Jerusalém, através do profundo vale do vau Swenit. Para m ais informações sobre Micmás, ver o comentário no versículo 2. Um destacamento se deslocara do acampamento filisteu para o desfiladeiro que separava M icm ás de Gibeá/Geba e o acam pamento israelita. O local era rodeado pelas montanhas que form avam a encosta ao norte do vau. O único acesso a M icm ás era através do desfiladeiro que a ligava a G ibeá/Geba.14.1, 6 ,1 7 . escudeiro. O escudeiro de Jônatas não era simplesmente alguém que carregava os equipamentos militares. Ele lutava ao lado de Jônatas e provavelmente desempenhava a função de acompanhante ou
aprendiz. O equivalente m ais próxim o na literatura do antigo Oriente Próximo seria o membro da cavalaria encarregado de levar o escudo.14.2. rom ãzeira em M igrom . Alguns estudiosos sugerem que M igrom seria um a eira, outros, porém, acreditam tratar-se do antigo nome do vau es-Swenit. H avia um a rocha em Rim om (termo hebraico para "rom ãzeira") situada um quilômetro e meio a leste de Gibeá/Geba (ver o comentário em Jz 20.45) com uma grande caverna, que talvez tenha servido como quartel-general de Saul. Por outro lado, se "e ira" estiver correto, havia um a antiga eira entre G eba e o vau Swenit, e textos ugaríticos confirm am a existência de um a eira com o sendo o lugar onde um rei (Danil) encontrou-se com seu povo. A área aberta de um a eira, porém, seria pouco provável nesse contexto.14.3. colete sacerdotal. O colete fazia parte das vestes sacerdotais (ver o com entário em Êx 28.6-14) e era considerado, tanto no Egito como na M esopotâm ia, uma vestim enta dos sacerdotes mais graduados e para vestir imagens da divindade. Em outras passagens, o colete tam bém está associado aos oráculos (o Urim e o Tum im eram guardados nele, ver comentário em Êx28.30, e foi usado para consulta oracular em Jz 8.27).14.4. 5. Bozez e Sené. Khirbet el-M iqtara é um pequeno povoado não m uito distante do desfiladeiro, no lado sul do vau Swenit, onde os penhascos são mais escarp ad os. E ssa área ap resen ta grand es p ro tu berâncias perm itindo que um a pessoa escale o penhasco sem ser vista. “14.6. ideologia do guerreiro divino. No conceito de guerreiro divino, a divindade luta contra as divindades do inimigo, derrotando-as nas batalhas travadas. Na Assíria, Nergal é o rei da batalha e Istar é considerada a deusa da guerra. O deus cananeu Baal e o babilônio M arduque tam bém são considerados guerreiros divinos. Dentro dessa visão de mundo, as guerras travadas entre os humanos são encaradas simplesm ente como uma representação das guerras entre os deuses. A divindade m ais forte seria a vitoriosa, a despeito da força ou fraqueza dos combatentes hum anos. Portanto, se Yahw eh lutasse por eles, Jônatas tinha plena convicção de que eles seriam vitoriosos.14.10. explicação do mecanismo oracular. Os m ecanismos oraculares dessa época funcionavam de acordo com um a estrutura binária em que determinadas ocorrências representariam uma resposta afirm ativa ou negativa por parte da divindade. Geralmente, essas ocorrências eram opções entre fatos comuns versus algo extraordinário (ver os comentários em Jz 6.36-40 e 1 Sm 6.7-9). N esse caso, porém, am bas as reações dos filisteus poderiam ser consideradas adequadas ao contexto. A situação parece sugerir, então, que Jônatas
buscava a orientação de Yahw eh através de um con
vite (im prudente) dos filisteus para que ele e seu escudeiro entrassem no acampamento.14.14. área de batalha. O texto hebraico é bastante complexo e as traduções variam muito (na NVT, "p equena área de terra"). A referência a um a "área de terra arada por um jugo de bois num dia" encontrada no texto hebraico sugere que Jônatas fez um sulco dividindo ao meio uma área de cerca de um acre.14.15. terremoto. No antigo Oriente Próximo o aparecimento de trovões e relâmpagos no céu acompanhado de trem o res n a te rra g e ra lm en te in d icav a o envolvim ento divino na batalha (ver o com entário em 2.9). Além disso, acreditava-se que o terror despertado pela presença do guerreiro divino freqüentemente precedia a investida de um exército poderoso e bem -sucedido na batalha. Textos egípcios atribuem esse terror a Amon-Rá nas inscrições de Tutm és III, e textos hititas, assírios e babilónicos fazem menção a
seus guerreiros divinos provocando terror no coração do inimigo. Outro conceito comum dizia que uma das formas da divindade conquistar a vitória era gerando
confusão no exército inimigo. N a literatura egípcia, encontramos um exemplo no mito de Hórus em Edfu, em que Hórus confunde seus inimigos levando-os a lutar entre si até que nenhum sobreviva.14.19, 20. uso oracular do colete. Em bora a NVI faça menção à arca, no texto da Septuaginta Saul pede a Aias que traga o colete sacerdotal. O U rim e o Tumim ficavam dentro de um bolso no colete do sacerdote (ver o versículo 3). U m a pergunta do tipo "sim ou não" era feita e em seguida tirava-se um a das pedras do bolso. A resposta deveria ser confirmada tirando- se três vezes seguidas a mesma pedra. Quando Saul ordena a Aias que retire a sua mão (no texto hebraico; na NVI, "não precisa trazer a arca"), ele demonstra ter tomado a decisão de interromper o processo oracular e de agir sem a orientação divina.14.23. aspectos da intervenção divina. Para que a vitória fosse atribuída ao Senhor, era necessário que ela se evidenciasse através de quatro fatores que tipicamente indicavam a intervenção divina: orientação através de um oráculo (v. 10); vitória sobre um exército m ais numeroso (v. 14); terremoto (v. 15); confusão e pânico entre os filisteus (v. 20). Tudo isso estava relacionado ao esforço de Jônatas, enquanto Saul não desfrutava nem do auxílio nem da orientação divina, em bora os buscasse ansiosamente.14.23. Bete-Aven. A cidade de Bete-Áven ainda não foi identificada com segurança. A m aneira com o é introduzida no texto sugere que era m ais importante do que Ai. Tell M aryam é considerada a principal candidata, e apesar de não ter sido escavada, algumas
buscas descobriram vestígios da Idade do Ferro. Acredita-se que Oséias utilize Bete-Áven como um nome
pejorativo (lit. "casa da im piedade"; cf. Os 4.15; 5.8;
10.5) para Betei (casa de Deus), ao norte de Micmás. Ainda como alternativa, alguns manuscritos do Antigo Testamento m encionam Bete-Horon, que ficava a
leste de Micmás. As duas cidades estariam na rota de perseguição para Aijalom.
14.24. je ju m para a batalha. H á poucas evidências da prática do je jum no antigo Oriente Próximo fora da Bíblia. Geralmente era praticado em ocasiões de luto.
N o Antigo Testamento, o jejum geralmente está rela
cionado a um pedido dirigido a D eus, baseado no princípio de que a im portância do pedido seria tal
que levaria o indivíduo a preocupar-se apenas com sua condição espiritual, relegando as necessidades físicas a um segundo plano. N esse aspecto o ato de
je juar serve como um processo de purificação e humilhação diante de D eus (SI 69.10). O je jum seria um
procedimento normal em rituais de preparação para a
batalha, mas exigir que fosse praticado durante a ba
talha é incom preensível. O je jum im posto por Saul era motivado pelo seu desejo de vingança e não como
consagração ao Senhor.14.31. desde M icm ás até A ijalom . Aijalom (moderna
Yalo) ficava poucos quilômetros a sudoeste de Bete-
H oron e cerca de 32 quilômetros a oeste de Micmás, no limite da região montanhosa.
14.32-35. com er carne com sangue. Na literatura sa
grada de Ugarite e da M esopotâmia, bem como na de
Israel, o sangue é identificado como a essência ou a força vital de qualquer animal. Por isso, na tradição
israelita o sangue pertencia ao doador da vida, o Deus
Criador, Yahw eh, o que explica a proibição aos israelitas de comer carne que ainda contivesse o sangue. O
líquido sagrado tinha de escorrer da carne pois "é o
sangue que faz propiciação pela vida" (ver Lv 17.11,
12). A ordem expressa em Levítico 19.26 proibindo comer carne com sangue está ligada à proibição de se
envolver com algum tipo de adivinhação ou feitiça
ria. Assim, não se tratava de uma restrição alimentar, m as de um decreto relacionado à proibição da prática
de derramar sangue de um animal sacrificado no chão
ou num a cova sagrada, com o objetivo de atrair os espíritos dos mortos (ver 1 Sm 28.7-19) ou divindades
ctônicas (mundo inferior) a fim de consultá-los sobre o
futuro. Tais práticas podem ser encontradas em diversos textos rituais *hititas e na visita de O disseu ao
mundo inferior (Odisséia XI, 23-29,34-43). Essas práticas eram condenadas (Dt 18.10,11) por infringirem a
idéia de *Yahweh como o Deus Todo-Poderoso, im
possível de ser controlado pelo destino.
14.33-35. rocha como altar. O uso de um a rocha como altar pode ser visto em outras ocasiões, como em Bete- Semes, onde um a rocha havia servido de altar para o sacrifício (6.14). A matança de animais para servir de alimento era perm itida contanto que o sangue fosse derramado no chão (Dt 12.15-24).14.37. nenhum a resposta do oráculo. Supõe-se que o Urim e o Tumim fossem usados para perguntas ora- culares (ver o comentário a seguir) e que a confirmação da resposta dependia dela ser repetida um núm ero determinado de vezes.14.40-43. processo binário para identificar o culpado.Saul organizou um sorteio semelhante ao que foi usado para elegê-lo rei (10.19-21) e para condenar Acã (Js7.16-18). De acordo com fragmentos de textos de alguns manuscritos confiáveis, a decisão foi tomada através do Urim e do Tumim (ver Êx 28.30; Lv 8.8; Dt33.8), objetos que ficavam no colete sacerdotal. A Escritura não apresenta nenhuma descrição desses objetos, embora tanto as tradições do período helenístico como de períodos posteriores sugiram tratar-se de indicadores, revelando a vontade de Deus conforme a aparência e disposição assumida depois de lançados como dados (ver N m 27.21; 1 Sm 14.37-41 e 28.6). A
prática de apresentar perguntas do tipo "sim ou não" (oráculos) aos deuses é conhecida em todo o antigo O riente Próxim o, sendo que os textos *babilônicos tamitu apresentam respostas a muitas perguntas ora- culares. Pedras indicando respostas positivas e negativas (provavelm ente pedras claras e escuras) tam bém eram amplamente usadas na M esopotâmia, em um procedimento chamado psefomancia. Em um texto *assírio, o alabastro e a hematita são mencionados de maneira específica. Uma pergunta do tipo "sim ou não" era feita e então se tirava uma pedra. Para confirm ar a resposta, era necessário que uma pedra da mesma cor fosse tirada três vezes consecutivas. Urim é a palavra hebraica para "lu zes" indicando que estaria associada às pedras claras ou brancas. U m a pesquisa recente revelou que a hematita, devido ao seu
uso para pesos e lacres, era cham ada de "pedra da verdade" na língua dos *sumérios. A palavra hebraica tumim poderia ter um significado semelhante. Oráculos h ititas apresentam um a descrição detalhada da pergunta, concluindo com o pedido para que a resposta fosse favorável. Em seguida, a sorte era lançada três vezes para determ inar a resposta. No contexto deste versículo, várias perguntas foram apresentadas e após o uso da estrutura binária, a sorte caiu sobre Jônatas, apontando-o como culpado.14.47, 48. vitórias de Sau l. O narrador concentrou-se inicialmente nas derrotas espirituais de Saul, m as aqui ele deixa claro que ocorreram m uitas vitórias. Em ne
nhum momento o texto bíblico ou fontes seculares sugerem que essas vitórias representaram uma expansão do controle israelita ou de seu território. M oabe, Amom e Edom eram vizinhos a leste e ao sul. Os filisteus e os amalequitas ocupavam a fronteira ao sudoeste e eram os arquiinimigos de Israel nesse período. Zobá era um estado aram eu localizado no vale de Beqa, região do atu al Líbano. E possível que essas batalhas de Saul fossem m ais defensivas do que ofensivas.
15.1-35A derrota de Saul pelos amalequitas15.2-8. am alequitas. Os amalequitas eram um a tribo nôm ade que habitava o deserto, ao sul de Judá, na região do N eguebe e do Sinai. D e acordo com os escritores bíblicos, seriam descendentes de Esaú, assim como os edomitas. Eram tradicionalmente inim i
gos de Israel, desde o episódio narrado em Êxodo17.8-13, onde tentaram impedir os israelitas de seguir para o oeste da Á sia, ao saírem do Egito. Este é o prim eiro registro dos israelitas invadindo território amalequita. Os amalequitas não são mencionados em nenhuma outra fonte além da Bíblia.15.3. consagrem ao Senhor para destruição. A ordem aqui era para destruir todos os seres vivos que habitavam aquela cidade. Certos sacrifícios dedicados a Deus podiam ser compartilhados pelo sacerdote oficiante e
pelo oferente, no entanto, outros deveriam ser dedicados inteiramente ao Senhor. Do mesmo modo, alguns despojos eram separados exclusivamente para o Senhor. A oferta queim ada, por exem plo, deveria ser consumida totalmente no altar, assim como tudo que havia sido consagrado para destruição deveria ser totalm ente aniquilado. As batalhas eram com andadas por Yahw eh e representavam seu ju ízo sobre os inimigos de Israel; os israelitas estavam em um a m issão divina sob o com ando de Yahw eh, portanto o mérito da vitória era de Deus, assim como o espólio também pertencia a Ele. Em bora o tema da divindade guerreira apareça em todo o antigo Oriente Próximo, o conceito de herem é m ais lim itado - a única ocorrência do termo está num a inscrição moabita de M esha, apesar de a idéia de destruição total também estar presente em textos *hititas. A melhor analogia para nos auxiliar a entender o herem é pensar em term os de radiação. Um a explosão nuclear destrói muitas coisas e o alcance da radiação vai muito além. O temor e o cuidado que teríamos ao lidar com objetos expostos à radiação é semelhante ao que se esperava dos israelitas em relação àquilo que D eus ordenara destruir. Pensando na radiação num a forma personificada, por exemplo, poderíamos entender que se algo fosse entregue a ela, aquilo jam ais poderia ser resga
tado. Foi exatamente a esse tipo de perigo que Saul se expôs ao desobedecer a ordem do Senhor. Embora os povos fora de Canaã estivessem isentos do herem, Deus escolheu os am alequitas para serem destruídos por causa de seus atos contra o povo de Israel (15.2).15.4. T ela im . Telaim (Telem , em Js 15.24) era uma cidade de localização incerta no N eguebe, mas não distante de Zife (moderna Khirbit ez-Zeifeh), 48 quilômetros ao sul de Hebrom. A cidade pertencia à tribo de Judá.15.4. tam anho do exército. Saul fizera uso apenas de três mil homens em 1 Sam uel 13, e Davi lutou contra os amalequitas com apenas quatrocentos homens. O termo traduzido como "m il" nessas passagens pode ser entendido pelo significado alternativo, "com panhias" ou "d ivisões". Em vez de um núm ero determ inado, alguns sugerem que provavelm ente cada clã enviava um a divisão com o núm ero de homens proporcional ao seu tamanho. Posteriormente, padronizou-se que essas companhias teriam mil homens, m as aqui é possível que fossem apenas dez num a
divisão. Assim , duzentas divisões m ilitares teriam sido enviadas por Israel e dez por Judá. É impossível determinar o núm ero exato de soldados.15.6. queneus. Os queneus são mencionados nas Escrituras com o um povo que se relacionava pacificamente com Israel. Alguns estudiosos argumentam que o termo queneu refere-se ao trabalho de fundição de m etais e, p o rtan to , q u en eu s seriam fe rre iro s itinerantes. De m odo geral, situavam-se na fronteira sudesde de Judá, perto de Edom . M uitos queneus estão relacionados a M oisés (Jz 1.16; 4.11). Alguns
afirmam que eles desfrutavam de uma posição privilegiada por serem especialistas em rituais.15.7. desde H avilá até Sxir. A localização de Havilá é incerta, mas é provável que ficasse no lado ocidental da península arábica, perto da atual M edina (ver o comentário em Gn 25.18). Em bora não seja impossível que Saul tenha perseguido os am alequitas até o Egito, o texto dá m argem a outras interpretações. Saul talvez tenha perseguido os amalequitas ao longo dessa estrada, ou então o texto pode estar se referindo a um grupo específico de amalequitas, aqueles que trabalhavam na rota comercial de Havilá a Sur.15.12. m onum ento do rei. Os reis do antigo Oriente Próxim o m uitas vezes com em oravam um a vitória erigindo uma coluna contendo inscrições com detalhes das campanhas m ilitares bem -sucedidas e proclamando a soberania do rei naquela área. Uma das mais famosas esteias é a do rei egípcio Merenptá (c. 1224-1214) que celebrava sua vitória contra os líbios. Esses monumentos tendiam a glorificar (e engrandecer) o rei, mas, além disso, tinham tam bém o objetivo
de demonstrar como a divindade concedera vitória ao seu escolhido. O monumento de Saul ficava na cidade judaica de Carmelo. Absalão construiu um monumento semelhante no vale do Rei (2 Sm 18.18).15.22. a obediência é m elhor do que o sacrifício. No antigo Oriente Próxim o, as instruções oraculares da divindade geralmente estavam relacionadas a certos procedimentos rituais que o rei devia realizar. Se as instruções incluíssem atividades m ilitares, presumia- se que a divindade ordenasse que o tem plo fosse beneficiado com os despojos. Por essa razão, era difícil separar os conceitos de obediência e sacrifício, já que a obediência, na maioria dos oráculos, inevitavelmente resultaria em sacrifícios dedicados à divindade. A ssim, é fácil entender por que Saul considerava a obediência em termos de sacrifício e não como um a possibilidade alternativa.15.23. comparação de pecados no contexto do antigo O riente Próximo. A palavra hebraica traduzida pela NVI como "rebeldia" diz respeito a um a pessoa que exerce pressão para im por sua vontade. É o termo usado para descrever a murmuração dos israelitas no deserto. Aqui essa palavra é usada para designar a atitude de Saul ao tentar justificar e desculpar suas ações. A feitiçaria envolvia a adivinhação, presum indo ser possível adquirir conhecimento sobre as atividades e propósitos dos deuses através do uso de diversos indicadores (como exame das vísceras de animais sacrificados). Os adivinhos diziam saber identificar o que agradaria a divindade sem que ela oferecesse qualquer indicação sobre isso. D a m esm a m aneira, Saul estava afirmando que sabia o que agradaria a Deus (apesar dos mandamentos específicos de Yahweh). Ele argumentava que tinha acesso ao mesmo tipo de informação oferecido pela adivinhação, ou que tinha um a percepção interior sobre o que agradaria a Deus. O termo hebraico que a NVI traduz por "arrogância" é usado quando alguém procura forçar um determinado curso de ação. Sam uel apropriadam ente compara isso à idolatria (numa referência específica aos terafins; ver comentário em G n 31.19) em que os ídolos eram usados para m anipular e coagir os deuses a agir de determinada maneira (ver o comentário em Dt 4.15-18). Alimentos e presentes eram oferecidos aos deuses como form a de constrangê-los a atender os pedidos ou conferir bênçãos. Sam uel estav a sugerindo que era exatamente essa a intenção de Saul ao separar todo aquele gado para sacrificar ao Senhor. Saul estava tentando manipular Yahw eh oferecendo-lhe presentes, à semelhança dos adoradores de ídolos.
15.27. barra do m anto de Sam uel. Assim com o as vestes do sum o sacerdote tinham barras ricam ente
adornadas (Êx 28.33,34), o manto de Sam uel também tinha um a franja distintiva que o caracterizava como profeta. Talvez a barra fosse tingida com alguma tinta especial ou tivesse um bordado simbolizando seu poder e autoridade. A importância desse elemento para a identificação da função de um a pessoa é demonstrada nos textos de Mari, onde um a barra impressa em um a placa de argila é usada para identificar um profeta. Q uando o m arido queria se divorciar de sua esposa, ele demonstrava isso cortando simbolicamente a barra do vestido dela. "Segurar na barra do manto" era um a expressão usada tanto na língua hebraica como em ugarítico, aramaico e acadiano (línguas aparentadas com o hebraico bíblico). Em acadiano, a expressão usada era "agarrar a barra". Segurar na barra do m anto de alguém sim bolizava um a atitude de súplica e submissão, tanto em Israel como na Meso- potâmia. Ao agarrar-se à barra do manto de Samuel, Saul implorava por misericórdia uma últim a vez. Um fato semelhante também é narrado no Ciclo Ugarítico de Baal, em que Anat agarra a barra da veste de Mot para im plorar por seu irm ão Baal. Textos da antiga Babilônia indicam que esse tipo de atitude era usado como um a forma de forçar a pessoa a um confronto legal. Quando a barra de Samuel se rasgou, o profeta interpretou aquilo como um ato simbólico, representando que o reino de Saul seria arrancado de suas mãos.15.33. despedaçou Agague. Essa expressão é usada somente aqui em todo o Antigo Testam ento e algum as vezes é traduzida como "cortar em pedaços" ou "destroçar". O desmembramento era um procedimento geralmente usado na execução de inimigos de alta posição e é representado num relevo do rei assírio Salmaneser III.
16 .1-12 A unção de Davi16.1-13. narrativas sem elhantes à ascensão de D avi ao trono. O relato da ascensão de Davi ao trono de Israel apresenta certas semelhanças com os documentos referentes aos anais da Anatólia hitita dos séculos catorze e treze a .C . A Proclamação de Telepinu é um decreto ou edito com um longo prólogo justificando a atitude do rei. Telepinu, um usurpador, tentou justificar sua subida ao trono lem brando eventos que, na verdade, haviam ocorrido m uito antes da época do rei que ele derrubara. Embora, assim como Davi, ele não reivindicasse para si nenhum a legitim idade genealógica, afirmou, porém, que pertencia a um a linhagem de antepassados legítimos e bem-sucedidos que haviam sido traídos pelo rei que ele removera. Um segundo exemplo pode ser encontrado na Apologia
de Hattusilis, um documento cujo propósito era justificar a revolta que levou H attusilis ao trono. Como Telepinu, ele reivindicava ter assumido o trono porque seu antecessor era indigno. A substituição do indigno Saul por D avi apresenta certa sem elhança com esses dois reis hititas. O texto bíblico, entretanto, preocupa-se em demonstrar que Davi não usurpou o trono e, que, de fato, nada fez para arruinar o remado de Saul. Davi não participou de nenhuma conspiração para derrubar Saul, ele foi um simples instrumento dos planos divinos.16.1. unção com óleo de oliva. A prática de ungir o rei era comum em algumas partes do antigo Oriente Próximo. Entre os egípcios e hititas, acreditava-se que a unção protegia a pessoa dos poderes das divindades do m undo inferior. As principais evidências encontram-se em fontes hititas que descrevem cerimônias de entronização. Não foram encontradas evidências da unção de reis na M esopotâmia. No Egito, o faraó não era ungido, ao contrário, ele ungia seus oficiais e vassalos, estabelecendo assim uma relação de subordinação e demonstrando que estariam sob sua proteção. Nos textos de A m am a existe um a referência a um rei de Nuhasse (na moderna Síria) sendo ungido pelo faraó. Esse modelo é adequado à idéia de Davi sendo ungido como um vassalo de Deus. Em 2 Sam uel 2.4 Davi é ungido pelo povo. Essa unção sugere algum tipo de acordo contratual entre Davi e o povo sob seu governo. Em Nuzi, as pessoas que acertavam algum negócio ungiam umas às outras com óleo; no Egito, era costume usar a unção com óleo nas cerimônias de casamento. Para inform ações sobre coroações, ver o comentário em 11.15. As especiarias usadas no preparo dos óleos de unção eram a mirra, a canela, a cana aromática e a cássia (ver a receita em Êx 30.23-25). O óleo simbolizava os dons de Deus ao povo e as responsabilidades agora depositadas sobre os líderes através dessa cerimônia. Entre os israelitas, a unção era um sinal de que Deus havia escolhido aquela pessoa e com freqüência estava relacionada à capacitação do
Espírito. Além disso, em todo o m undo antigo a unção simbolizava a ascensão da pessoa a um a posição legal mais elevada. Tanto os conceitos de proteção como de mudança de status possivelmente estariam relacionados à unção do rei, visto que seria oferecida a ele a proteção do trono e uma identificação com a dimensão divina.16.4. Belém. O povoado de Belém ficava cerca de dez quilômetros ao sul de Jerusalém, na fronteira entre a fértil região de Beit-Jalah e a região árida de Boaz, próxim o ao deserto da Judéia. Belém talvez tenha sido mencionada em um a carta do século catorze escrita por Abdi-Hepa, rei de Jerusalém, referindo-se a
um a cidade chamada Bet-Ninurta, que alguns estudiosos acreditam tratar-se de Bit-Lahama. Foram encontrados poucos vestígios da Idade do Ferro (c. 1200586 a.C.) em Belém , principalm ente na cidade mais baixa.16.5. sacrifícios em santuários locais. Antes da construção do templo em Jerusalém, os israelitas podiam oferecer sacrifícios em santuários locais, que eram bastante numerosos. Em bora não seja o termo usado, é provável que o local m encionado aqui fosse um dos santuários (em hebraico, bamoth) situados nos lugares altos, onde eram realizadas cerimônias cultuais. Essas construções muitas vezes incluíam m óveis e objetos sagrados, tais como um a plataforma ou um altar. Posteriormente, esses "lugares altos" ou "m ontes" foram condenados pelos profetas.16.7. o Senhor vê o coração. Era consenso geral que os deuses não tinham apenas um a visão exterior ou limitada daquilo que observavam, mas que eram capazes de enxergar internamente, com um a visão mais profunda. Em um a interessante elegia sum éria, o deus-lua é retratado como aquele que vê as entranhas e o coração do ungido que está de pé diante dele, em atitude de súplica. Um texto neobabilônico afirmava que Sham ash (o deus da justiça) via o coração do homem.16.10, 11. oitavo filho. O épico sum ério cham ado Lugalbanda em Khurrumkhurra (metade do terceiro milênio) usa o tema do oitavo filho, o caçula, como herói. Lugalbanda é o oitavo filho que se junta a seus sete irm ãos m ais velhos em um a em preitada para conquistar a cidade de Aratta. Após inúmeras aventuras, ele finalmente emerge como herói.
16.13-23 Davi no palácio16.13,14. ação do Espírito do Senhor. No período dos juizes, o Espírito do Senhor dotava um indivíduo com a autoridade central exclusiva do Senhor (ver o com entário em Jz 6.34, 35). O Espírito do Senhor veio sobre Saul em circunstâncias bastante parecidas (ver o comentário em 11.6) relacionando-o também à atividade profética (ver 10.6). O rei representava um a autoridade central m ais efetiva e por essa razão, dependia da autorização do Senhor. O rei era um agente da divindade e um funcionário celestial, assim como os juizes e profetas. Quando Davi recebeu autorização para exercer o papel de representante de Deus, Saul perdeu sua autorização para exercer essa função, poiso Espírito não capacitava duas pessoas para exercer a mesma tarefa ao mesmo tempo. Assim como o Espírito podia conceder atributos positivos, como coragem, carisma, percepção, sabedoria e confiança, resultados
negativos também podiam ser produzidos por influência espiritual, como medo, paranóia, insegurança, desconfiança e falta de visão. O term o usado para descrever essa influência espiritual no versículo 14 não sugere algo necessariamente mau, mas uma am pla gama de m anifestações negativas (ver, por exemplo, Jz 9.23; Is 4.4; 37.7; 61.3). Assim como Deus pode punir alguém com uma doença física, Ele pode disciplinar através da angústia psicológica. Na M eso- potâm ia o rei era considerado alguém escolhido e capacitado pela mélammu dos deuses (a manifestação da glória da divindade). Essa glória divina designava-o como representante divino e confirmava que fora aprovado pelos deuses. Em inscrições assírias, a glória da divindade é retratada como uma aura sobre o rei. A melammu podia ser revogada se o rei demonstrasse ser indigno ou incompetente. Assim, no epílogo das Leis de Hamurabi, o rei profere uma maldição contra todo aquele que não atentasse para as palavras da lei. N o caso de algum futuro rei não cumprir a lei, Hamurabi diz: "Q ue Anu revogue sua melammu, quebre seu cetro e amaldiçoe seu destino".16.16-18. m úsicos da corte. A presença de m úsicos (homens e mulheres) nas cortes reais em todo o antigo Oriente Próximo pode ser comprovada por inúmeras evidências. Textos como os de Uruk e de Mari comprovam a presença deles no vale do Tigre e do Eufrates, na Anatólia hitita e no Egito. Além disso, representa
ções de m úsicos eram comuns nas pinturas de tumbas egípcias. Os músicos geralmente eram mantidos para proporcionar entretenimento ao governante ou para cerimônias cultuais e faziam parte da relação de funcionários permanentes do palácio, como demonstram as listas de distribuição de alimentos do palácio.16.16. harpa. O instrumento musical mencionado aqui é m ais precisam ente um a lira, um instrum ento de
cordas com dois braços que saíam por cima da caixa acústica. As cordas eram presas a uma trave na parte superior do instrumento. Vários tipos de liras foram encontrados na cidade cananéia de Megido.16.20. presentes enviados com Davi. Pode-se presumir que o pai de Davi, Jessé, sentiu-se honrado pelo fato de seu filho ter sido requisitado para o serviço real, por isso, enviou presentes ao rei. Pão e vinho são m encionados esporadicam ente com o presentes no Antigo Testamento. Não se sabe qual o objetivo específico desses presentes, no entanto, como não havia n enhum tipo de tributo, a fam ília de D avi talvez tenha feito uma doação à cozinha real, visto que Davi
agora faria parte do palácio do rei. Existem num erosos exemplos de funcionários levando alimentos de presente para o m onarca assírio durante o período neo-assírio.
17.1-58 Davi e Golias17.1. filisteus. O povo filisteu tornou-se bastante conhecido através das narrativas de Juizes e de 1 e 2 Samuel. A chegada dos filisteus à Palestina ocorreu juntam ente com a migração dos chamados povos do m ar, que deixaram a região do Egeu por volta de 1200 a.C.. De modo geral, os povos do mar são considerados responsáveis pela queda do império hitita e pela destruição de muitas cidades ao longo da costa da Síria e da Palestina, tais como Ugarite, Tiro, Sidom, M egido e Ascalom, embora as evidências da presença deles nessas áreas sejam circunstanciais. Suas batalhas com o faraó egípcio Ramsés III foram representadas nas famosas pinturas de parede em M edinet Habu. Essa convulsão social e política internacional também se reflete no épico de Homero sobre o cerco de Tróia. Vindo de Creta, da Grécia e da Anatólia, é provável que esses povos tenham usado Chipre como uma base para seus ataques. Após terem sido im pedidos de entrar no Egito, a tribo que passou a ser conhecida como filisteus estabeleceu-se na costa sul da Palestina, onde fundaram cinco capitais: Ascalom, Asdode, Ecrom (Tell Miqne), Gate (Tell es-Safi) e Gaza. Eles haviam devastado o território israelita na batalha em que a arca foi tomada (1 Sm 4) e agirão assim novamente na batalha em que Saul e seus filhos serão mortos (1 Sm 31). Durante seu reinado, Saul enfrentou constantes conflitos com os filisteus por tentar expulsá-los da terra e prevenir novas incursões no futuro.17.1. localização do acampamento filisteu . Socó (moderna K h irbet Abbad) era um a cidade no vale de Sefelá, cerca de 22 quilômetros a oeste de Belém, perto do território filisteu. Pesquisas arqueológicas nesse local encontraram vestígios de cerâmica datada desse período. Azeca (moderna Tell ez-Zakariyeh) era uma fortaleza localizada cerca de cinco quilômetros a noroeste de Socó, que controlava a principal estrada através do vale de Elá. Escavações arqueológicas feitas no início do século 20 revelaram uma fortaleza retangular com quatro torres datada desse período. Essa re
gião era de grande importância estratégica tanto para os filisteus como para os israelitas por ser a principal passagem entre a p lanície filistéia e os m ontes da Judéia. A principal estrada que cortava a região da Sefelá ia para o norte, de Láquis até Azeca, m as a cerca de dois quilômetros ao sul de Azeca a estrada seguia para o leste, acompanhando o vau es-Sant que desemboca no vale de Elá. Efes-Damim ainda não foi localizada com segurança, mas provavelm ente estaria nessa área.17.2. acam pam ento israelita. O vale de Elá ("Terebinth") era uma extensa planície de norte a sul, com
uma clareira onde o vau es-Sant começava a se elevar
em direção à região montanhosa de Judá, cerca de três
quilômetros a leste de Socó.
17.4. G ate. Gate tem sido identificada com Tell es- Safi, oito quilôm etros ao sul de Tell M iqne/Ecrom.
Das cinco principais cidades dos filisteus, era a que
ficava mais próxima a Judá. Poucas escavações arqueológicas foram feitas no local, em bora tenham sido
encontrados vestígios da Idade do Ferro. A cidade se
localizava oito quilômetros a oeste de Azeca, próxima ao vau es-Sant, que desemboca no vale de Elá.
17.4. tam anho de G olias. De acordo com o texto bíblico, a altura de Golias era de dois metros e noventa
centím etros. Suspeita-se que ele fosse da mesma li
nhagem dos enaquins - os gigantes que habitavam Canaã e foram derrotados pelos exércitos de Israel
durante a conquista. Os descendentes de Enaque eram
geralm ente considerados "g igantes", em bora a descrição "com o gigantes" talvez fosse mais apropriada.
Guerreiros desse tam anho não são meras invenções
da imaginação israelita nem resultam de lendas criativas e elaboradas. A carta egípcia no Papiro Anastasi
I (século treze a.C.) menciona guerreiros selvagens de
Canaã medindo de 2,10 a 2,70 metros de altura. Tam bém foram en contrados em T ell es Sa 'id eyeh , na
Transjordânia, dois esqueletos de mulheres do século
doze, com cerca de 2,10 metros de altura.17.5-7. a armadura de G olias. O capacete de Golias
era tipicamente filisteu, adornado com penas, repre
sentado na arte palestina e egípcia. Sua arm adura ("couraça de escam as") provavelm ente era feita de
bronze, pesando mais de 56 quilos e cobria o corpo
todo, de acordo com o padrão egípcio, bastante difundido na época. Uma das melhores descrições encon
tra-se nos textos de N uzi, onde é citado que um a armadura possuía de 700 a m ais de mil escamas de
diversos tamanhos. As escamas eram costuradas numa
espécie de colete de couro ou tecido com costuras unindo a frente e as costas (deixando um espaço para a
cabeça) chegando provavelm ente até os joelhos. É
provável que suas caneleiras fossem feitas de bronze moldado em volta da panturrilha e revestidas inter
nam ente de couro, um m odelo popular na G récia micênica. O dardo provavelm ente era um a espada
pesada, curva e achatada, em que a lâmina cortante ficava do lado externo (ver comentário em Js 8.18). A
lança era parecida com o dardo, com uma ponta de ferro que pesava sete quilos e duzentos gramas. Tal
vez fosse equipada com uma alça para ser carregada a tiracolo, seguindo o padrão usado na Grécia e no
Egito da mesma época. Embora a maioria das armas fosse de bronze, a ponta da lança era de ferro. O
escudo de Golias era, provavelmente, do tipo vertical, logo, maior que o escudo redondo.17.8-10. h eró i de guerra. Em algum as ocasiões, as batalhas eram substituídas por combates individuais, em que os lutadores representavam seu respectivo exército, de m odo que a vontade divina ficasse evidente. Podemos encontrar exemplos de combates individuais no Egito, representados nos murais de Beni Hasan (início do segundo milênio) e na Lenda Egípcia de Sinuhe. H á também ilustrações num vaso cananeu da primeira metade do segundo milênio. Num período posterior, casos semelhantes podem ser encontrados na Ilíada (Heitor versus Ajax, Paris versus Menelau) e na Apologia Hitita de Hattusilis III. Em um relevo do século dez, encontrado em T ell H alaf, há um a ilustração de dois lutadores agarrados um ao outro e armados com espadas pequenas.17.11. papel do rei. Certamente esse texto quer deixar evidente a incompetência de Saul. O povo havia pedido um rei para conduzir seus exércitos nas batalhas, no entanto, em certas ocasiões, era normal que o rei enviasse um herói para a batalha, em vez de ir ele mesmo. Isso era feito com o propósito de oferecer a outros uma oportunidade de demonstrar suas habilidades. De certa forma, seria semelhante às preliminares que antecedem a "luta principal" num a competição de boxe. No épico sumério de Gilgam és e Aka, pode-se observar essa prática, em que o verdadeiro cam peão fica na retaguarda, enquanto um lutador capaz se encarrega do inimigo. Isso também fica evidente na Ilíada, onde Pátroclo veste a arm adura de Aquiles a fim de desafiar Heitor. Porém, levando-se em conta o tempo decorrido, Saul deveria estar disposto a enfrentar o desafio.17.12. efrateu. Os efrateus provavelmente eram uma subdivisão tribal dos descendentes de Calebe, que habitavam na região de Belém. Belém era uma aldeia situada no clã de Efrata; posteriormente, Efrata passou a ser um sinônimo da aldeia em si.17.12. Belém . Ver o comentário em 16.4.
17.17, 18. suprim ento de alim entos. D avi foi até o acampamento levando um a arroba de grãos tostados (trigo ou cevada), dez pães e dez queijos, o tipo de comida que as pessoas comuns apreciavam. Os grãos geralmente eram usados para fazer pães e parte deles provavelm ente seria transform ada em cerveja. Em textos egípcios, dez pães, uma arroba de cevada e um jarro de cerveja representavam o salário norm al de um dia de trabalho. Os anais assírios descrevem soldados que viajavam levando grãos e palha para seus cavalos. Governantes locais na Assíria eram obrigados a abrir armazéns de grãos para prover os exércitos que estivessem passando pela região. Visto que o
exército israelita estava nas proxim idades das montanhas da Judéia, é provável que a população local tivesse de providenciar suprimentos.
17.18. o que D avi deveria trazer. D avi recebeu a ordem de ir ver como seus irm ãos estavam e "trazer alguma garantia". Provavelm ente seria um a espécie de sinal que Davi levaria de volta para confirmar que os suprimentos haviam sido entregues. Seria uma prova de que Jessé cum prira suas obrigações de alimentar o exército e um a form a dos irm ãos de D avi receberem um a p orção do a lim ento . E m acad ian o (lín gu a da M esopotâm ia aparentada com o hebraico), a garantia geralm ente era oferecida através de uma placa de argila enviada por um m ensageiro.17.19. distância entre Belém e Elá. Belém ficava a cerca de 24 quilômetros do vale de Elá, um a distância que Davi percorreria em quase um dia de cam inhada.17.25. recom pensa para quem m atasse G olias. Os reis da Antigüidade freqüentemente tinham interesse em conquistar a lealdade daqueles que haviam realizado proezas m ilitares. Os acordos nupciais no antigo Oriente Próximo muitas vezes representavam alianças políticas ou sociais entre famílias, beneficiando assim am bas as partes. Aqui, a fam ília do herói receberia um importante reconhecimento ao ser ligada à coroa, ao passo que o rei teria como seu aliado o famoso herói que havia matado Golias. O texto original não menciona que seriam isentos do pagamento de im postos, mas diz apenas que a casa do pai do herói teria liberdade em Israel. A lguns estudiosos compararam a palavra hebraica com sua cognata aca- diana, que às vezes designava um a categoria social específica. Essa expressão provavelmente seria usada para descrever uma família que se tom ara cliente da coroa, e que retirava seu sustento da distribuição de lotes de terra e suprimentos, o que está implícito em 1 Samuel 22.7. Essa relação de clientelismo aparece inúmeras vezes nos textos de Mari, no Código de Hamu-
rabi e nas Leis de Esnuna, em que indivíduos recebem doações de terras da coroa, provavelmente em
troca de serviços prestados ao rei. Porém o m ais provável é que esteja relacionad a a um outro term o
ugarítico referindo-se a uma recompensa por atos de bravura. Nesse caso a pessoa ficava isenta de prestar serviços obrigatórios no palácio.17.36. leões e ursos nos arredores de Belém . Escavações arqueológicas recentes descobriram que tanto leões como ursos eram animais encontrados facilmente na Palestina, durante a Idade do Ferro (início do primeiro milênio a.C.). Os ursos habitavam as florestas, na região montanhosa central, onde cavernas e bosques garantiam seu habitat; esse local, coberto por densas florestas, era tam bém ideal para os leões.
Em bora não tenha sido com provada a presença de leões nessa região durante a Idade M oderna, os ursos sobreviveram no local até o século passado. Na Antigüidade, foram encontradas evidências da presença de leões na Grécia, na Turquia (Anatólia), no Oriente Próxim o, no Irã e na índia, bem como de um a variedade síria do urso marrom comum.17.37. expectativa da intervenção divina. O conceito de que Deus lutava junto com os exércitos nas batalhas era uma temática comum no antigo Oriente Próximo. Tanto no Egito como na Mesopotâmia, as vitórias eram atribuídas às divindades. De fato, a batalha era iniciada pela própria divindade, que então passava a lutar ao lado do m onarca (ver o comentário em4.3-7). No Egito, cada regim ento recebia o nome de um deus, sob cuja proteção os soldados lutavam. Em Canaã, o guerreiro divino era identificado como aquele que devastava a natureza. Porém , essas sociedades reconheciam que os deuses também podiam participar das batalhas através de indivíduos que haviam sido comissionados a agir durante as batalhas de acordo com as ordens da divindade. Esse aspecto se evidencia claramente na literatura grega da época, como na Ilíada, em que os diversos deuses auxiliam e protegem seus preferidos.17.38,39 . a armadura de Saul. Foi comprovado o uso de arm aduras (escudos, capacetes, couraças e caneleiras) no Egito e na Mesopotâmia já no início do terceiro milênio a.C.. Em bora sejam raras as descobertas arqueológicas, ilustrações antigas retratam soldados usando pesadas armaduras (por exemplo, nos relevos da cidade suméria de Lagash e nos murais de Hiera- conópolis, no Egito pré-dinástico). O palácio do rei assírio Senaqueribe (sétimo século a.C.) exibe inúm eros relevos de parede retratando o vestuário e as táticas m ilitares assírias. A armadura do rei, do mesmo modo que suas vestes, era bastante distintiva, permitindo sua identificação. Se Davi tivesse usado a armadura do rei para ir lutar, m uitos teriam achado que se tratava do próprio rei. Talvez essa confusão quanto à identificação do guerreiro que iria lutar com os filisteus interessasse a Saul, pois ele havia sido escolhido pelos israelitas para liderá-los nas batalhas. Na Ilíada, uma troca semelhante ocorre quando Pátroclo vai lutar vestido com a arm adura de Aquiles, esperando com isso intim idar os troianos. A recusa de D avi em usar a armadura e as armas de Saul demonstra seu reconhe
cimento de que sem treinamento para saber usá-las, em vez de ajudá-lo, elas iriam prejudicá-lo.17.40. atiradeira. A pesar de ser descrita como uma arm a usada pelos pastores, a atiradeira tam bém era útil nas batalhas e Golias conhecia bem seu potencial letal. Os atiradores assírios figuram nas paredes do
palácio de Senaqueribe, em N ínive. No texto de sabe
doria babilónica intitulado Ludul Bei Nemeqi o sofre
dor relata sua libertação através de um a série de me
táforas, e em uma delas afirma que M arduque tomou a atiradeira do inimigo e atirou longe a pedra. Seixos
assírios para atiradeiras, do tamanho de um punho (de cinco a oito cm de diâmetro) foram encontrados
em Láquis, um a cidade fortificada da Judéia, tendo sido provavelm ente usados no bem -sucedido cerco
assírio de Láquis, em 701 a.C. (possivelm ente tam
bém pelos babilônios no cerco de Láquis, em 587
a.C.). Os benjamitas eram conhecidos por sua destre
za e precisão como atiradores (Jz 20.16) e estima-se que um atirador habilidoso era capaz de arremessar
as pedras a uma velocidade superior a 160 quilômetros por hora. O alcance efetivo provavelm ente não
excederia os cem metros. As pedras eram colocadas
em um a pequena bolsa de couro presa nas pontas com tiras cruzadas. A atiradeira era girada sobre a
cabeça até a pessoa soltar uma das pontas.
17.43-47. insultos antes das batalhas. Os insultos e imprecações de Golias contra Davi e seu Deus refle
tem uma retórica comum nesse tipo de confronto, en
contrada em todo o O riente Próxim o e no leste do
M editerrâneo. Essas bravatas ofensivas tinham o objetivo de desm oralizar e intim idar o oponente. As
im precações não eram interpretadas como simples
palavras, pois se presum ia que tivessem o respaldo da divindade. Quando os assírios ameaçaram invadir
Jerusalém , em 701 a.C., os representantes de Senaqueribe pararam diante dos portões da cidade para
enaltecer a grandeza dos deuses da A ssíria e ridicula
rizar o Deus de Judá, afirm ando ser Ele incapaz de
defender sua cidade (2 Rs 18.17-36). No Épico de Gil- gam és, o guardião da floresta de cedros, Huwawa, diz a Gilgam és que ele deveria ter dado sua carne
para servir de alimento às aves de rapina e aos ani
mais carniceiros.
17.43. nom es dos deuses de G olias. Embora os nomes dos deuses de Golias não sejam citados, um a das principais divindades dos filisteus mencionada na Bíblia é
Dagom, o protetor de muitos povos semitas ociden
tais, desde a região do médio Eufrates até a costa do
Mediterrâneo. Tem plos a Dagom foram encontrados nas cidades filistéias de Gaza e Asdode. Os filisteus também adoravam Baal-Zebu, cujo templo foi encon
trado em Ecrom , e a deusa Astarote, que tinha um tem plo em Bete-Seã (1 Sm 31.8-13). A arqueologia
também revelou que os filisteus tinham conexões com o Egeu no aspecto cultual e na arquitetura. Represen
tações esquemáticas de divindades femininas semelhantes às encontradas no Egeu, assim como vasos de
ap arê n cia eg éia fo ra m tam b ém en co n tra d a s em Asdode, Ecrom e Tell Qasile.17.45-47. D avi gloria-se em Yahw eh. A declaração feita por D avi seria reconhecida no am plo sistem a teológico do mundo antigo. Há dois conceitos em questão aqui. O primeiro é que o guerreiro m ais forte e m ais bem equipado seria o m ais eficaz para lutar pelos deuses. Essa seria a base para a suposta superioridade de Golias. D avi simplesmente segue o raciocínio lógico para esse desfecho inevitável e chega ao segundo conceito. Se os deuses, de fato, estavam
lutando entre si, usando as pessoas como seus representantes, então força física ou arm as seriam irrelevantes para o resultado final. Portanto, Y ahw eh é descrito como Senhor dos Exércitos, parafraseado na expressão militar como "o Deus dos exércitos de Israel" e Davi gloria-se no poder de Yahweh, não no seu. Essa declaração por si só talvez fosse suficiente para m inar a confiança de Golias. Sem elhantem ente, na Ilíada, Heitor reconhece a superioridade de Aquiles, mas sugere que os deuses talvez estivessem do lado dele, permitindo que ele matasse Aquiles. Em outro exemplo, quando Heitor e Ajax se enfrentam numa luta e term inam em patados, H eitor sugere que eles façam uma trégua até o dia seguinte, quando os deuses decidiriam quem seria o vencedor.17.49. o arrem esso de D avi. O texto não inform a a distância que havia entre Davi e Golias quando Davi usou a atiradeira. A pedra arrem essad a por um a
atiradeira pode desferir um golpe fatal, mas somente quando atinge algumas áreas vitais da cabeça (que, no caso, estava protegida). O arremesso de Davi teve como alvo uma dessas partes vulneráveis que, se atingida, deixaria o oponente inconsciente. Isso lhe perm itiria aproxim ar-se de G olias e tom ar sua espada, m atando com ela sua vítima inconsciente (apesar de a NVI dar a entender que Golias foi morto com o golpe da pedra).17.51. cortar a cabeça do inim igo. M atar o inimigo com sua própria arma não era um feito sem precedentes. De m odo sem elhante, Benaia tom ou a lança de um egípcio de suas mãos e matou-o (2 Sm 23.30). Na literatura egípcia, Sinuhe matou um soldado de Retenu com sua própria arma. É possível que a cabeça de Golias fosse uma espécie de troféu para ser exposto pu blicam en te. H á um re la to de que o re i assírio Assurbanipal teria jantado com a rainha no jardim do palácio, estando a cabeça do rei de Elão exposta numa
árvore ali perto.17.52. G ate, Ecrom e Saaraim . Ecrom , assim como Gate, era um a das cinco principais cidades filistéias, situada cerca de oito quilôm etros ao norte de Gate. Saaraim era uma cidade (e também o nome de uma
estrada) perto de Socó e Azeca (ver Js 15.36) e talvez seja a localidade moderna de Khirbit esh-Sharia que fica um quilômetro e meio a nordeste de Azeca. Logo, Saaraim ficava cerca de dez quilôm etros a leste de Gate e onze quilômetros a sudeste de Ecrom. A estrada de Saaraim seguia em direção oeste por onde se chegava a Gate ou a Ecrom.17.58. inform ações extrabíblicas sobre D avi. Não háreferência a Davi, por si só, em nenhum a inscrição antiga israelita, nem em fontes fora de Israel ou pela evidência de qualquer m aterial contem porâneo encontrado em Jerusalém. Porém, um fragmento de uma inscrição em aramaico, do século nono a.C., encontrada em Tel Dan contém a expressão "C asa de D avi", indicando a casa real do reino de Judá, sucessor do reino unido de Israel. Desta forma, existem evidências extrabíblicas vindas de um Estado inimigo, de que Judá acreditava que sua dinastia descendia de um certo Davi, que ao que tudo indica, seria o famoso Davi da Bíblia.
18.1-30Davi na família e na corte de Saul18.4. o presente de Jônatas a D avi. A palavra usada para descrever o manto que Jônatas deu a Davi geralm ente se refere a um a veste real. Textos ugaríticos m encionam uma veste especial usada pelo príncipe. Se em Israel também existisse esse costume, Jônatas estaria renunciando ao seu direito ao trono quando entregou seu m anto a Davi. Jônatas tam bém deu a Davi sua túnica, sua espada, seu arco e seu cinturão. A espada israelita era levada em um a bainha que
ficava am arrada num cinto. O arco provavelm ente era feito de chifre e tendões de animal ligados com tiras de madeira. Os presentes de Jônatas a Davi podem muito bem representar sua disposição em abrir mão do trono, transferindo sua reconhecida posição de herdeiro ao trono de Israel para Davi. Dessa forma, ele estava expressando sua lealdade e, possivelmente, sua submissão a Davi.18.5. cargo ocupado por D avi. O grupo de homens armados que Davi comandava era um exército constituído por soldados profissionais. É provável que não fosse um posto de campanha, mas um a função adm inistrativa (uma espécie de "m inistro do exército"). Essa função é contrastante com o posto dado a Davi em 1 Samuel 18.13, que sugere um comando militar ativo.18.6. 7. comparação entre Sau l e Davi. A afirmação de que Saul "m atou m ilhares" e Davi "d ezenas de m ilhares" reflete um a fórm ula padrão de expressar núm eros elevados em versos poéticos. Esse mesmo padrão pode ser encontrado no Salmo 91.7 ("m il po
derão cair ao seu lado, dez m il à sua direita") demonstrando a proteção de Deus e até mesmo na poesia de
Ugarite, em que o deus artesão Kothar-w a-H asis é descrito trabalhando a prata aos milhares e o ouro às dezenas de milhares. A intenção dessas palavras é
expressar um núm ero elevado, e não estabelecer uma comparação. Em alguns casos, a honra era concedida
ao último a ser mencionado, mas Saul pode ter ficado irado simplesmente porque Davi foi mencionado em
pé de igualdade com ele, o que o colocava no mesmo nível do rei.
18.10. harpa. Ver os comentários em 10.5 e 16.16.
18.10. lança. O texto parece indicar que a lança de Saul era um símbolo de seu reinado, como uma espé
cie de cetro (ver tam bém 22.6; 26.7). Saul estava sentado com a lança nas mãos à frente de suas tropas em
22.6, de um modo bastante semelhante às ilustrações artísticas do faraó com seu cetro . O s reis assírios
freqüentemente eram ilustrados segurando uma arma
nas mãos, que algumas vezes podia ser uma lança. A
lança não era arremessada como se arremessam dardos, mas era usada pela infantaria para dar um golpe
no inimigo. Na Ilíada, porém, há descrições de pode
rosos guerreiros atirando com grande habilidade pesadas lanças e atingindo seus oponentes.
18.13. o cargo de D avi. O texto menciona que Davi
recebeu o comando de uma tropa de "m il soldados", m as é provável que o term o esteja se referin do à
divisão m ilitar enviada por um clã, em que o número
dos homens era variável, dependendo do tamanho do clã. Posteriormente, essas companhias foram pa
dronizadas como tendo mil homens, mas é possível
que algumas tivessem um núm ero reduzido de ho
mens (como dez) em cada divisão. Aparentemente, o exército de Israel era formado por esses "clãs" (Nm 31.5; Js 22.21, 30; Jz 5.8), e só mais tarde foi dividido
em batalhões de "cem " (1 Sm 22.7) ou m esm o cin
qüenta (ver o comentário em 1 Sm 8.12). Davi agora
está sendo colocado no comando efetivo das campanhas m ilitares.
18.17. casar-se com a filh a do rei. Casar-se com a filha
mais velha do rei daria a Davi o título de "genro do
re i", elevando imensamente seu status. Em algumas
sociedades isso seria considerado um tram polim para o trono, mas não há evidências dessa prática em Isra
el. Davi reconheceu que sua fam ília não pertencia à m esm a posição social de Saul. Porém , Saul estava
ansioso em conquistar a lealdade e o apoio de um guerreiro notável como Davi (ver o com entário em
17.25). Por isso, a posição inferior de Davi não foi
considerada um obstáculo para ele ingressar na famí
lia de Saul através do casamento com sua filha.
18.25. preço da noiva. O preço da noiva era um a soma de dinheiro paga pelo noivo aos pais da moça (ver os comentários em G n 29.21-24; Êx 22.16,17 ; D t 22.23, 25; 22.29), servindo m uitas vezes com o um a reserva p ara p rover o sustento da m ulher, caso o m arido a abandonasse ou morresse. Essa providência não seria necessária para alguém da fam ília real, m as o valor do preço da noiva deveria refletir sua posição social. D avi não teria condições financeiras de ingressar na fam ília real através do casam ento , porém , o preço parece ter sido estabelecido pelo pai (ver G n 34.12) e Saul atrelou o preço da noiva às façanhas m ilitares do futuro m arido e não a seus recursos financeiros. No antigo O riente Próxim o, m uitas vezes o cálcu lo das baixas num a batalha era feito através da am putação de algu m a parte do corpo, em geral as m ãos (ver o comentário em Jz 8.6) ou a cabeça (2 Rs 10.6-8 e o costum e do rei assírio Sargon II de am ontoar as cabeças dos in im ig o s m ortos). O p ed id o de Sau l p ara que Davi trouxesse cem prepúcios provaria que as vítimas eram de fato filisteus, visto que m uitos outros povos vizinhos de Israel praticavam a circuncisão.
19.1-24Saul procura matar Davi19.13. íd olo do clã . O term o usado em hebraico é terafim e refere-se ao ídolo (ou ídolos) do clã que aparentemente teria um papel nas adivinhações (Ez 21.21; Zc 10.2) e estava associado à sorte e prosperidade da família. Esses ídolos eranvexplicitamente condenados pelos autores bíblicos (Êx 15.23; 2 Rs 23.24). O narrador de Gênesis 31 refere-se aos deuses de Labão como terafins. O fato de Raquel ter conseguido escondê-los debaixo de sua sela (Gn 31.19) dá idéia de seu tamanho reduzido, embora nesta passagem o ídolo de Mical e D avi pareça ter o tamanho e a form a de um homem. M uitas estatuetas desse tipo foram encontradas na Mesopotâmia e na região Sírio-Palestina. Elas faziam parte da religião local ou popular e não estavam associadas aos templos ou *cultos nacionais das divindades mais importantes. Estudos recentes sugeriram que seriam estatuetas dos ancestrais, m as outros acreditam que estejam relacionadas, de m odo geral, à divindade protetora da família.19.18. Ramá. Em sua busca por segurança, D avi mudou-se para Ramá, a cidade natal de Samuel, apenas três quilômetros a leste de Gibeá/ Geba.19.18-24. Naiote. O termo Naiote é associado a Ramá e é citado apenas aqui. Provavelmente não se trata de nome próprio, e sim de um a palavra para designar, em termos gerais, um acampamento. Nos textos de M ari a palavra acadiana relacionada a esse term o hebraico é usada para descrever os acampamentos de
comunidades nômades de pastores nos arredores das cidades. É possível que os grupos proféticos israelitas tenham ocupado residências de pastores ou simplesmente tenham montado um acampamento semelhante fora de Ramá.19.20. transe profético. N essa época, a profissão de profeta (ou vidente) podia ser aprendida em Israel, existindo ainda as associações de profetas, geralmente identificados como "filhos dos profetas". Esses profetas faziam uso de diversos procedimentos a fim de se
prepararem para receber os oráculos proféticos. A música tinha um papel importante na indução a um estado de transe (êxtase), e era vista como preparação para que a pessoa se tom asse m ais receptiva à m ensagem divina. Os textos de M ari relatam o caso de um grupo de funcionários do templo que entrava em transe e freqüentem ente recebia m ensagens proféticas. Na M esopotâm ia, o êxtase profético ou proveniente de alguém "possuído" ou em estado de transe era realizada pelo muhhu. Em Israel, esse fenôm eno muitas vezes fazia com que os profetas fossem considerados loucos (ver, por exemplo, 19.19-24; Jr 29.26). Aqui, o transe não resultou na transmissão de m ensagens proféticas vindas do Senhor, mas apenas serviu para demonstrar o poder de D eus sobre os m ensageiros. Nesse aspecto, poderia ser comparado às línguas de fogo enviadas sobre os discípulos no cenáculo, em Atos 2.19.22. cisterna em Seco. A palavra Seco indica uma região descam pada e não deve ser entendida como nome próprio, visto que está acompanhada de artigo definido (o que não é comum para nomes próprios). Provavelm ente esteja se referindo a m ais de m eia dúzia de poços ou fontes ao longo da estrada de três quilôm etros entre Gibeá e Ramá.19.24. a "n u d ez" de Saul. A té Saul foi "contagiado" pelo Espírito de Deus e entrou em transe (uma experiência de êxtase), despindo-se de suas roupas. Esse, porém, é apenas um dos casos em que Saul é dominado pelo Espírito (cf. 10.10; 11.6; 16.14). O termo "d espido" pode indicar a remoção das vestes de cima, não um a total nudez, e provavelmente foi o que aconteceu aqui. Saul não apenas envergonhou a si mesmo diante de Sam uel, como tam bém se despiu de suas insígnias reais, confirmando sua rejeição como rei.
20.1-42Jônatas ajuda Davi20.5. festa da Lua nova. De acordo com o calendário lunar, o prim eiro dia do m ês no antigo Israel era
marcado pelo início da fase da "lua nova" (a cada 29 ou 30 dias). Era um dia de celebração e com o no sábado, todo trabalho cessava (ver Am 8.5) e sacrifícios eram oferecidos (Nm 28.11-15). No período da
m onarquia o rei tornou-se um a figura proeminente nessas celebrações (ver Ez 45.17), o que pode explicar a importância política do banquete de Saul. Essa data continuou a ser festejada no período pós-exílico (Ed 3.5; N e 10.33). As festas de Lua nova também eram comemoradas na M esopotâmia desde o final do terceiro milénio até o período neobabilônico, na metade do prim eiro m ilênio a.C..20-6. sacrifício anual da fam ília. A tradição familiar de oferecer um sacrifício anual pode ser vista na fam ília de Ana e Elcana (ver o comentário em 1.3). Esse sacrifício era diferente das festas agrícolas e das peregrinações (2 Cr 8.13). N a época de Davi isso implicava n a reunião da fam ília no local do clã, no caso em Belém. Por ser considerada uma obrigação de lealdade familiar, o sacrifício anual poderia facilmente servir como uma justificativa válida para a ausência de Davi no jantar de celebração m ensal da Lua nova.20.26. im pureza cerim onial. Saul considerou que a ausência de Davi poderia ter sido motivada por impureza ritual. Ninguém podia participar de celebrações religiosas, como a festa da Lua nova, se estivesse em estado de im pureza. Essa condição poderia ser provocada por vários fatores: contato com mortos ou com doentes ou contato com objetos impuros (em relação às leis de impureza e aos métodos para purificação ritual, ver Lv 11-15). Os principais meios de purificação incluíam lavar-se, m anter um tempo de resguardo, oferecer sacrifícios e ser examinado por um sacerdote.
21.1-9 A fuga de Davi para Nobe21.1. N obe. Em bora a localização exata de Nobe seja desconhecida, supõe-se que ficaria ao norte da cidade de Jerusalém. As possíveis localizações incluem Ras el-Mesharif, na encosta do monte Scopus e Q u'm eh (ver Is 10.32). Na época de Davi, Nobe era o local de
um santuário, servido pelos descendentes de Arão. É provável que o santuário tenha sido rem ovido de Siló, após a m orte de Eli e de seus filhos (ver 1 Sm 4.10-22).
21.4-6. pão consagrado. A cada sábado, doze pães frescos eram colocados na m esa da Presença para simbolizar as doze tribos de Israel (ver Êx 25.23-30). Os pães que haviam sido substituídos eram consumidos pelos sacerdotes (ver Lv 24.5-9). Aqui, devido à n ecessidade de alimentos e diante da garantia de Davi de que seus hom ens estavam ritu alm en te puros, Aim eleque permitiu a alteração dessa prática.21.5. pureza dos hom ens. Visto que o "pão consagrado" era reservado para consumo dos sacerdotes, Davi teve de jurar que seus hom ens estavam ritualm ente
puros antes que os sacerdotes lhes dessem os pães. Relações sexuais ou contato com mulheres menstruadas eram algumas das maneiras de um homem tornar-se "im puro" (Lv 15.32, 33).21.7. chefe dos pastores. Doegue, o edomita, provavelmente era um mercenário a serviço de Saul. Muitas traduções perm item um a pequena correção, traduzindo o termo por "m ensageiro". Isso se encaixaria bem com sua função de m ensageiro real ou espião, cu ja tarefa era levar instruções por todo o reino e apresentar relatórios sobre algum acontecimento fora do comum , como essa visita de Davi a Nobe. Uma
função semelhante dos mensageiros reais encontra-se nos textos de Mari. Não obstante, chefe dos pastores era um a designação adm inistrativa com um usada, por exemplo, no título do escriba que copiou o mito ugarítico de Baal e Mot.21.7. razão da presença de D oegue. O texto fala que D oegue estava em Nobe "cum prindo seus deveres diante do Senhor". É possível que ele estivesse esperando a resposta de alguma questão enviada pelo rei ou um oráculo pessoal. No caso dele ser um mensageiro, a prim eira alternativa seria a m ais provável, mas se for um pastor, poderia estar levando animais para serem usados no sacrifício ou prestando contas de suas atividades aos oficiais de Nobe.21.9. atrás do colete sacerdotal. O colete sacerdotal, de acordo com Êxodo 28.6-14, era um a veste usada pelo sumo sacerdote. No antigo Oriente Próximo, o colete era um a das vestes usadas para cobrir a ima
gem da divindade. V isto que nenhum a im agem é m encionada aqui, é provável que estivesse pendurado em algum tipo de cabide (uma explicação plausível também para o colete de Gideão, em Jz 8.24-27). Com a arca ainda estava fora, o colete talvez tenha se tom ado a relíquia mais sagrada do santuário. Os ob
jetos importantes que haviam sido apreendidos, como a espada de Golias, também seriam mantidos no santuário (assim como a arca fora colocada no templo de Dagom; ver o comentário em 5.2).
21.10-15 Davi e Aquis21.10. A qu is. N ão há nenhum a m enção a esse rei Aquis em fontes extrabíblicas, m as o nom e Aquis é confirmado como um rei filisteu de um período posterior. Registros assírios do sétimo século alistam Ikausu, filho de Padi, como rei de Ecrom. Ikausu é o mesmo que Aquis, filho de Padi, mencionado num a inscrição desse período encontrada em Ecrom (Tell Miqne).
21.10. por que D avi iria para G ate? Embora estivesse localizada a mais de trinta quilômetros de Nobe, den
tre as principais cidades filistéias, G ate era a que fica
va mais próxim a a Judá. É bastante provável que a
intenção de D avi fosse oferecer seus serviços aos filisteus como mercenário. Era de se esperar que eles
recebessem bem um guerreiro com a reputação de
Davi e tratassem de aproveitar a oportunidade de ter um famoso m ilitar lutando ao lado deles, e não contra
eles. Além do mais, a lealdade de Davi poderia even
tualm ente lhes dar a chance de realizar um ataque contra Saul e derrubá-lo do trono de Israel, colocando
D avi no lugar com o testa-de-ferro. Tudo isso teria
corraborado para que os filisteus recebessem Davi de
braços abertos, mas havia outros fatores que ele não havia previsto.
21.11. canção. A fam a de Davi como poderoso guer
reiro e inimigo dos filisteus é lem brada pelos conselheiros de Aquis, mencionando a canção citada pela
prim eira vez em 1 Sam uel 18.7 para alertar seu senhor a não confiar em Davi. A canção de exaltação a
Davi assumira um caráter de hino nacional e o fato de
ser lembrada pelos conselheiros neutralizou qualquer possibilidade de Davi ser bem recebido pelos filisteus.
21.13-15. loucura fingida. Davi era esperto o suficiente para perceber que sua posição de guerreiro inimi
go fazia com que os filisteus o vissem de forma nega
tiva e os im pedisse de enxergar seu potencial como
mercenário, aliado e governante testa-de-ferro. Apesar de a fam a de Davi ser notória, é bem provável
que apenas alguns filisteus fossem capazes de identificá-lo. Ao fingir-se de louco, ele colocou em dúvida
sua identidade, pois agora ele é apenas um louco
afirmando ser outra pessoa. N o antigo Oriente Próxi
mo, a loucura muitas vezes era vista como sinal de possessão divina. Um a evidência disso é que a pala
vra hebraica usada aqui para descrever as atitudes de
Davi, shaga', aparece tam bém em 2 Reis 9.11, Oséias 9.7 e Jeremias 29.26 para descrever o estado de êxtase
ou transe (ou "loucura") dos profetas. As pessoas nes
sa condição não eram bem-aceitas, embora isso fosse visto como sinal da presença dos deuses sobre elas ou
como seus mensageiros. Sempre que possível, as pessoas nessas condições eram excluídas do convívio so
cial, mas não poderiam ser mortas. Davi certamente estava contando com isso ao agir assim.
22.1-5Davi reúne um bando22.1. caverna de Adulão. Esse lugar na Sefelá (possivelmente Tell esh-Sheikh M adhkur, oito quilômetros
a sudeste de Gate) serviu como ponto de encontro e refúgio para Davi e seus homens durante o período
em que esteve foragido (ver em 2 Sm 23.13 a relação desse lugar com as façanhas de D avi e seus trinta
"hom ens valentes"). Parece ser uma espécie de "terra
de ninguém " entre os territórios filisteu e israelita.22.1, 2. o bando de D avi. Assim como outros dissi
dentes políticos e sociais antes dele (ver sobre o bando de aventureiros de Jefté em Jz 11.3), Davi reuniu um
grupo de quatrocentos homens durante o período em
que foi perseguido por Saul. Esse grupo incluía alguns familiares (visto que de outro modo, provavel
mente teriam sido presos ou mortos por Saul, devido
à sua relação com Davi), m as é bem provável que a maior parte do bando fosse formada por marginaliza
dos (conhecidos na literatura do antigo Oriente Próxi
mo com o hàbiru), m ercenários e hom ens que viam
uma oportunidade de derrubar Saul do poder. O rancor e o descontentamento dessas pessoas fez com que
elegessem Davi como seu herói.
22.3. M isp á em M oabe. A localização exata dessa Mispá ("torre de vigia") é desconhecida. Talvez fosse
a cidade real moabita ou pelo menos uma fortaleza.
Dentre as localidades sugeridas estão Kerak e Rujm el-M eshrefeh, na Jordânia.
22.3. 4. por que D avi refugiou-se em M oabe? Talvez
por causa de sua linhagem moabita (através de Rute),
D avi sentiu que poderia reivindicar seus laços de parentesco e assim deixar seus pais num lugar segu
ro, sob a proteção do rei de Moabe (ver Rt 4.17-22).
Também é possível que Davi estivesse contando com
a inim izade entre Moabe e Saul (ver 1 Sm 14.47). Um exemplo de fugitivos revolucionários buscando refú
gio na região de seus ancestrais pode ser visto em
Idrimi, rei de Alalakh (durante o período dos juizes),
que se refugiou com a família de sua mãe em Emar. N o exílio, Idrim i tornou-se líd er de um bando de
hàbiru que, posteriormente o ajudou a reconquistar o trono.
22.4. a fortaleza. E bastante provável que esteja se
referindo à base de operações de D avi, próxim a à
caverna de Adulão (ver 1 Sm 22.1). Alguns estudiosos têm sugerido que seja uma referência a Massada.
22.5. Gade. Esta é a primeira vez que esse profeta ou vidente israelita é mencionado. O conselho que deu a
D avi para que voltasse a Judá e assim enfrentasse Saul deu a ele o respaldo divino necessário para ini
ciar sua trajetória em direção ao trono. Ver seu envolvim ento com o censo de Davi em 2 Samuel 24.11-25.22.5. flo resta de H erete. A localização exata dessa
região florestal é desconhecida, em bora é provável
que ficasse em Judá. Sugestões incluem a localidade de Khirbet Khoreisa (aproximadamente dez quilôme
tros a sudeste de Hebrom) e Kharas, perto de Queila (Khirbet Qila, cerca de dez quilômetros a noroeste de Hebrom).
22.6-23 Execução dos sacerdotes22.6. tam argueira em G ib eá . N ovam ente o governante é descrito conduzindo um julgam ento debaixo de um a árvore (ver Saul anteriormente em 14.2 e o rei ugarítico Danil no épico de Aqhat). Uma tamargueira é um a árvore de galhos finos e folhas ásperas que se adapta bem a ambientes hostis como o deserto. Seria um local excelente para atender ao povo, na região montanhosa perto de Gibeá. Aqui, essa árvore talvez servisse tam bém para m arcar um lugar sagrado de culto (ver a tamareira de Débora, onde ela se assentava para ju lgar as questões do povo, em Jz 4.5).22.7. prerrogativas dos o ficia is . Um a das maneiras do governante, rei ou líder m ilitar m anter a lealdade e o apoio de seus comandantes militares era através de doações de terra (feudos) e de concessões para fazer colheitas e arar a terra (ver 8.12-15). As leis de Hamurabi, assim como os textos de M ari, descrevem os direitos dos senhores feudais e suas obrigações para com o governo. Aqui, Saul está relembrando aos seus oficiais que os direitos que eles tinham sobre aquelas terras dependiam do favor do rei para com eles, e que se quisessem m antê-las, deveriam perm anecer leais a ele. Os oficiais também não deveriam acreditar que Davi fosse capaz de cumprir qualquer prom essa de doação de terra ou de postos m ilitares a seus seguidores.22.10. consultou o Senhor. Um a das funções do sumo sacerdote no antigo Oriente Próximo era consultar a divindade nas questões que requeriam uma resposta através do oráculo. Textos religiosos assírios e babilónicos m encionam o exame das vísceras de animais, a consulta a textos de presságios e o emprego de objetos associados à divindade como m eios de adivinhar o futuro. E provável que algo parecido tenha acontecido em Nobe, através do Urim e do Tumim (ver Êx 28.30) ou do colete sacerdotal (ver o uso que Abiatar faz do colete em 1 Sm 23.5, 9). O texto bíblico não faz qualquer menção a oráculo em 21.1-9, mas Aimeleque admite ter "consultado a D eus" em favor de Davi em22.15.22.14. a função de D avi. Visto que raramente os reis retribuíam as visitas de estado às capitais de outros reinos, era comum o envio de m ensageiros como emissários reais, muitas vezes como representantes ou substitutos do rei. Esse papel exigia que exercessem as funções de diplomatas, negociadores e, eventualmente, de emissários dos deuses. Como representantes da autoridade e do poder de seu governo, os m ensageiros reais geralmente eram bem tratados pelas autoridades locais, recebendo proteção tanto pessoal como para seus bens. Para defender-se da acusação de ter
prestado auxílio a um traidor da coroa, Aim eleque apresentou algumas qualidades nobres de Davi, inclusive sua posição como membro da família real ("genro do rei") e capitão da guarda pessoal do rei. Somente os homens m ais confiáveis e leais podiam alcançar essas posições (ver 18.27; 2 Sm 23.22,23). Assim, como sinal de cortesia, foi providenciado alimento tanto para Davi como para seus homens. Textos de M ari e de outras cidades da M esopotâmia m encionam alimento, vestes e alguns outros itens sendo oferecidos a emissários reais a fim de satisfazer suas necessidades durante as viagens e tam bém como forma de agradar seu senhor.22.16-19. a m atança dos sacerdotes. A ordem de Saul para que m atassem Aim eleque e toda a comunidade sacerdotal em Nobe era um sacrilégio de tal afronta que seus próprios oficiais se recusaram a obedecê-la. Somente Doegue, o mercenário edomita, se dispôs a executar a ordem, que redundou tam bém no massacre de toda a população de Nobe. A ordem de Saul era mais um sinal de sua instabilidade e, como ele mesmo irá descobrir m ais tarde (28.6), impedirá qualquer contato dele com Yahweh. M uitas vezes, os reis eram acusados por seus inim igos políticos de cometerem ofensas contra a divindade. O rei assírio Tukulti- Ninurta acusou Kashtiliash de "crim es contra Shamash" e o rei persa Ciro afirm ou ter sido escolhido por M arduque para punir Nebonido por ele ter falhado em honrar o deus e seus sacerdotes. Aquenaton, o trapaceiro faraó egípcio do século catorze, privou os poderosos sacerdotes do deus Amom-Rá de seus direitos e raspou o nome desse deus de todas as inscrições. Certamente essa atitude de Saul sexia entendida como um significativo ato de profanação.22.20-23. A biatar. A penas um sacerdote conseguiu escapar do m assacre de Nobe. A biatar, o filho de Aim eleque, fugiu para o acampamento de Davi, levando com ele o colete sagrado (23.6). A ssim que Abiatar contou o que Saul havia feito, Davi assumiu a responsabilidade e incluiu o sacerdote em seu grupo. Esse evento é o ponto crucial do episódio, visto que colocou no acampamento de Davi um representante divino, enquanto Saul ficou sem nenhum ponto de contato com Deus. Mais tarde, Abiatar consultaria o colete para D avi (1 Sm 23.9-12) e serviria como símbolo visível da presença de D eus nesse bando de foragidos. Esse episódio mostra também o cumprimento da profecia concernente à fam ília de Eli (1 Sm 2, 3) da qual fazia parte esse clã sacerdotal.
23.1-29 Perseguição e fuga de Davi23.1. Q ueila. Localizada na parte leste da Sefelá, pertoda fronteira do território filisteu, Queila (Khirbet Qila,
oito quilôm etros ao norte de Hebrom) era alvo freqüente de invasores. Também é mencionada nas tabuletas de El A m am a como a cidade disputada pelos governantes de Jerusalém e Hebrom.23.1-5. filisteus. Um dos povos que habitavam a região de Canaã e inimigos de Israel. Ver o comentário em 4.1.23.9-12. uso oracular do colete. Para detalhes sobre o uso do colete para fins de adivinhação, ver o comentário em Ju izes 8.24-27. A habilidade de A biatar ao fazer consultas oraculares para Davi contrasta claramente com a falta de orientação divina de Saul.23.7. cidade murada. Queila é identificada como uma cidade m urada cujos portões podiam ser trancados. Por ser um a importante ligação entre as estradas que atravessavam a Sefelá no sentido norte-sul e a leste até Judá, a cidade era fortificada para proteger-se de ataques. Observe que foram as eiras desprotegidas, localizadas fora dos muros da cidade, que os filisteus atacaram em 23.1. Saul presumiu que Davi estivesse encurralado, cercado pelos muros da cidade, e assim seria mais fácil capturá-lo ali do que em campo aberto. Ainda não foram feitas escavações no local, portanto a contribuição da arqueologia para a compreensão do texto bíblico é pequena.23.14. forta lezas do deserto de Z ife . Tell Z ife fica vinte quilômetros a sudeste de Queila e oito quilômetros a sudeste de Hebrom. Embora estivesse no território da tribo de Judá, era um a região de estepe, esparsamente habitada, õ que a tom ava um esconderijo ideal para os fugitivos. As fortalezas eram pequenos postos avançados que serviam como base militar e ponto de encontro para pastores e aldeões que viviam na região.23.15-18. Horesa. O termo literalmente significa "bosque" ou "ponto na m ata" e simplesmente acrescenta um dado para ajudar a localizar a região onde Davi e seus homens estavam escondidos, no deserto da Judéia. Serviu como ponto de referência para o encontro de Davi e Jônatas. Geralmente é identificado com Khirbet Khoreisa, cerca de três quilômetros ao sul de Tell Zife.23.19. Haquilá/Jesimom. A faixa de terra árida paralela ao m ar Morto, na região leste do deserto da Judéia, era conhecida como Jesim om . Apesar da aridez de seu clima, o terreno acidentado e escarpado da região oferecia muitos esconderijos, como a colina de Haquilá, usada por fugitivos com o D avi (ver um a descrição sem elhante em 26.1, 3).23.24. deserto de M aom , na Arabá. Davi deslocou-se em direção ao sul pelo deserto da Judéia, ao longo do m ar M orto. A rabá é sim plesm ente um term o para designar todo o vale do Jordão e aqui, provavelmente, é usado como sinônimo para o deserto da Judéia.
M aom p rov avelm en te pode ser id entificad o com Khirbet M a'in, treze quilômetros ao sul de Hebrom e cerca de sete quilômetros ao sul de Tell Zife.23.29. En-G edi. O oásis de En-Gedi situa-se no caminho para o m ar Morto e aproximadamente 56 quilômetros a sudeste de Jerusalém. Alimentado por uma nascente abundante, esse oásis é um cenário deslumbrante no meio de um deserto árido. Serviu durante m uito tempo como local de adoração, posto m ilitar avançado e centro comercial. Davi escolheu essa área provavelmente pelo grande número de cavernas nas proximidades e pelo suprimento de água abundante. Foram encontradas nessa área evidências de várias fortalezas do período do reino dividido (séculos sétimo e oitavo), uma delas no oásis, e um a outra no topo de um penhasco, perm itindo avistar a aproximação dos viajantes a quilômetros de distância.
24.1-22 Davi poupa a vida de Saul24.2. roch ed os dos Bod es Selv agen s. O nom e En- Gedi significa "nascente do bode jov em ", portanto esses rochedos provavelmente receberam esse nome por causa da nascente. Essas colinas tam bém eram habitadas por cabritos selvagens, oferecendo mais uma possibilidade para o nom e do lugar. Trata-se, porém, de um a região precária para levar três mil homens num a missão de busca.24.3. Saul entra na caverna para fazer suas necessidades. Enquanto os currais de ovelhas do lado de fora da caverna permitem supor a presença de possíveis informantes sobre o paradeiro de Davi, o fato de Saul ter entrado sozinho na caverna sugere que ele sim plesmente planejava fazer ali suas necessidades.24.4. 5. significado da ponta do m anto. Assim como as vestes do sumo sacerdote tinham barras ricamente adornadas (Ex 28.33, 34), o m anto de Saul tam bém tinha um a franja distintiva que o destacava como rei. Talvez a barra fosse tingida com alguma tinta especial ou tivesse um bordado exclusivo que simbolizava seu poder e autoridade. U m a barra im pressa num a tabuleta de argila serviu para identificar um profeta nos textos de Mari. N a literatura acadiana, quando um marido se divorciava de sua esposa cortava simbolicam ente a barra do vestido dela. Em contextos diplomáticos, cortar a barra do manto simbolizava o rompimento de uma aliança.24.6. o u n gid o do S en h o r. A recu sa de D avi em m atar Saul quando teve oportunidade (ver também26.8-11) baseia-se na posição do rei como "ungido do Senhor". Ele havia recebido essa posição de Deus e somente Deus poderia tirá-la. Praticar um assassinato político seria um precedente m uito ru im para um
candidato ao trono (ver a dimensão desse ato em 1 Rs 15.25-16.27). O direito divino ao trono servia como uma extraordinária política de proteção para o rei, assim como a aura mística de ser o "ungido do Senhor". Portanto, o fato de Davi se recusar a agir demonstra sua lealdade ao desígnio original de Deus de nom ear Saul com o rei e tam bém oferece um argumento contra atentados futuros à sua própria vida, depois que assumisse o trono. No antigo Oriente Próximo, o rei era visto como alguém debaixo da proteção da divindade. Esse conceito pode ser notado na bênção hitita em que o rei afirm a que o deus da tem pestade destruiria qualquer ameaça ao rei.24.14. cão morto. N a literatura acadiana era comum o uso de expressões depreciativas como form a de demonstrar humildade, e uma delas era comparar-se a um cão morto ou a um cão perdido. Metáforas semelhantes são usadas nas cartas de A m am a e Láquis.24.21. juram ento de não elim inar os descendentes de Saul. No antigo Oriente Próximo, o rei que assumia o trono não por direito hereditário mas por outro meio qualquer, costumava executar sumariamente todos os
descendentes do rei anterior a fim de eliminar alguma possível am eaça de sedição. Popularm ente, porém, considerava-se que esse expediente político de elim inar a linhagem fam iliar estaria prejudicando a vida depois da m orte daqueles membros da família que já estavam mortos (para informações adicionais, ver os comentários em N m 3 .1 2 ,1 3 e Js 8.29).24.22. fortaleza. Ver o comentário em 22.4.
2 5 .1 -4 4
Davi e Abigail25.1. deserto de M aom . Ver o comentário em 23.24.25.2. Carmelo. Essa cidade fica no deserto da Judéia, cerca de treze quilômetros a sudeste de Hebrom e um quilômetro e meio ao norte de Maom. Foi tomada dos amalequitas por Saul (15.12), portanto, não é de estranhar que o povo se inclinasse a ser leal a Saul (como fica im plícito na resposta que Nabal dá a D avi nos versículos 10 e 11).
25.3. N abal. Esse nom e significa "o tolo". É pouco provável que um a m ãe escolhesse um nom e como esse para seu filho, o que sugere que N abal foi assim denominado pelos escritores bíblicos, indicando seu papel nessa história. Sua insensatez contrasta totalmente com a sabedoria demonstrada por sua esposa A bigail.25.7. proteção das ovelhas. D avi dá a entender em
sua mensagem a Nabal que seu grupo havia voluntariam ente protegido as ovelhas do ataque de animais selvagens ou saqueadores (ver v. 15, 16). Agora, na tosquia, um a ocasião festiva em que as ovelhas eram
contadas e os pastores recebiam recompensas, Davi pede algo para seus homens. Contratos entre pastores e proprietários de ovelhas no início do segundo milênio eram comuns na Mesopotâmia, na cidade de Larsa. Os pastores geralmente recebiam um a gratificação ou comissão pelas ovelhas e cabritos que fossem levados a salvo de volta ao aprisco no período de tosquia. Os hom ens de D avi estavam reivindicando um a parte desse pagamento, que geralmente incluía lã, produtos de laticínio ou grãos. Porém, em vez de atendê- los, Nabal desprezou o pedido que fizeram, insultando Davi.
25.18. a lim entos no presente de A bigail. A recom pensa de N abal aos seus servos incluía pão, água e carne (25.11), mas Abigail acrescentou ao seu presente duzentos pães, duas vasilhas cheias de vinho e cinco ovelhas preparadas, como reconhecim ento ao serviço prestado por Davi e seus homens, protegendo os rebanhos de Nabal. Além desses itens, como sinal de hospitalidade durante um a época festiva, ela também ofereceu cinco medidas (cinco seás) de grãos torrados, cem bolos de uvas passas (de acordo com a versão da Septuaginta) e duzentos bolos de figos prensados. Esses últimos eram produtos que podiam ser arm azenados, portanto, seriam bastante adequados para a companhia de Davi.25.23-31. discurso persuasivo no antigo O riente Próxim o. Palavras persuasivas, como as que aparecem no discurso de Abigail, eram comuns nos textos de sabedoria. E la sugere a D avi que desconsidere as palavras dos tolos (ver Pv 26.2), adotando um estilo bastante parecido com o de Ptah-Hotep (2450 a.C.) e de Amenemope (sétimo século a.C.) nas "instruções" egípcias e do sábio assírio Ahiqar, do sétimo séculoa.C.. Com o A bigail, eles enaltecem as virtudes da lealdade e as obrigações dos governantes para com seus súditos. Esse últim o aspecto é um elemento essencial de um dos m ais famosos discursos persuasivos do antigo Oriente Próximo, os Protestos do Camponês Eloqüente, do período do Médio Império egípcio. 25.39-44. alianças através de casam entos. Textos diplomáticos do antigo Oriente Próximo contêm contratos de casam entos que funcionavam como alianças políticas entre os países. Zimri-Lim, rei de M ari durante o século dezoito a.C., foi bem-sucedido ao colocar suas filhas nos haréns de reinos vizinhos, e ele mesmo casou-se com diversas esposas estrangeiras a fim de aum entar o poder e a estabilid ade do seu reino. Davi, antes de se tom ar rei de Israel, fortaleceu sua posição política e econôm ica através de vários casamentos: com Mical, a filha de Saul, que lhe perm itiu o acesso à família real; com Abigail, que garantiu a ele firm ar vínculos na região de H ebrom , e com
Ainoã de Jezreel, que lhe possibilitou ligações com as famílias das redondezas de M egido e Bete-Seã. Esses relacionamentos perm itiram que Davi contasse com elementos favoráveis e amigáveis dentro do conselho
de líderes de toda a região.
26.1-25D a v i p o u p a n o v a m e n te a v id a d e S a u l26.1. localidades. Ver os comentários em 23.14 e 23.19.26.8-11. o ungido do Senhor. Ver o comentário em
24.6.26.11. lança e jarro com água. A lança geralmente era usada pelos soldados da linha de frente do pelotão de infantaria, um a posição onde dificilmente se esperaria encontrar um rei. O fato de Saul ter sem pre uma lança à m ão (ver 18.10; 19.9; 2 Sm 1.6) sugere que poderia ser um símbolo de sua posição, logo, é possível que fosse um a lança cerim onial. É interessante observar também que foi com essa mesma arma que ele tentou matar Davi em ocasiões anteriores. O jarro ou vaso de cerâm ica poderia ser um a pequena vasilha arredondada típica desse período, com alças de cada lado da boca, presas por um a tira. Privar um hom em de sua arm a e de sua água naquela região poderia representar uma ameaça à sua vida. Portanto, Davi estava demonstrando o quanto a vida de Saul estava em suas mãos.26.19. forçad o a adorar outros deuses. Os fugitivos exilados em outro país não tinham o direito de adorar seus próprios deuses nos lugares sagrados da família, sendo obrigados a servir os deuses de outros povos e a adotar a forma de culto das pessoas com quem conviviam. Esses m esmos sentimentos são expressos na história do exilado Sinuhe, no M édio Im pério do Egito.26.20. perdiz nos m ontes. A caça de perdizes envolvia explorar os cerrados e perseguir as aves até que ficassem exaustas. Essa é uma descrição adequada da maneira como Saul estava perseguindo a Davi. Existe também um jogo de palavras baseado no significado literal da palavra hebraica para perdiz, que é "aquele que se refugia nas m ontanhas" (ver Jr 17.11). Davi emprega essa metáfora para demonstrar sua reprovação ao rei Saul.
27.1-12Davi entre os filisteus27.2-12. m ercenário filisteu . O uso de tropas mercenárias era bastante com um no m undo antigo (ver Jr46.20. 21). Em m uitos casos, esses homens eram fugitivos políticos como Davi, e sua lealdade para com quem os contratasse se baseava no ódio que tinham do governante que os exilara (muitos dos tiranos gregos do quinto século a.C. uniram-se ao exército persa
após terem sido expulsos de suas posições e assim lutaram contra os gregos na batalha de M arathon). Deste modo, a confiança que Aquis, rei de Gate, depositava em Davi, devia-se à inimizade entre Davi e Saul, mas era reforçada pela quantidade de despojos que Davi lhe trazia de seus ataques inesperados. Davi aproveitou essa oportunidade para: (1) fugir de Saul,(2) obter riquezas através de invasões e saques, que poderia usar para agradar os líderes de Judá (30.26),(3) aprender as táticas m ilitares e a tecnologia do ferro com os filisteus e (4) elim inar alguns dos inimigos de Israel em suas investidas. O fato de não deixar nenhum sobrevivente perm itiu a Davi elim inar todas as testemunhas e assim m anter a confiança de Aquis, até o momento de retom ar a Judá para reinar.27.2, 3. Gate. Embora sua localização exata ainda não tenha sido definida, a tendência atual dos estudiosos é identificá-la com Tell es-Safi, oito quilômetros ao sul de Tell Miqne/Ecrom, no norte da Sefelá. Sua existência pré-filistéia é confirmada nas cartas de El Am am a e está tradicionalm ente ligada a A naquim cananita (ver Js 11.22). Gate era um a das cinco principais cida- des-estado dos filisteus e também a cidade natal de Golias, um guerreiro gigante que liderou uma campanha contra Israel (ver Jz 3.3).27.2. A qu is. Esse rei A quis não é m encionado em nenhuma fonte extrabíblica, mas seu nome posteriormente é confirmado como um nome real filisteu. Registros assírios do sétimo século alistam Ikausu, filho de Padi, como o rei de Ecrom. Ikausu é o mesmo que Aquis, filho de Padi, mencionado num a inscrição do mesmo período encontrada em Ecrom (Tell Miqne).27.6. Ziclague. A localização exata de Ziclague ainda é alvo de controvérsias. V árias localid ades foram sugeridas, m as as duas mais prováveis são Tell esh- Sari'a (na parte noroeste do Neguebe, 24 quilômetros a sudeste de Gaza) e Tell es-Seba' (com freqüência identificada como a antiga Berseba e a cerca de seis quilômetros da cidade moderna; ver comentário em G n 22.19). A polêmica se relaciona aos possíveis intervalos na ocupação durante a Idade do Ferro (início da monarquia) em Tell esh-Sari'a e na possibilidade de que a localização original de Berseba fosse m ais a oeste de Tell es-Seba'. Embora a história de ocupação de Tell es-Seba' geralmente se encaixe com as informações que temos sobre Ziclague, essa identificação colocaria Ziclague mais de 48 quilômetros ao sul de Gate. Ambas as localidades situam a fortaleza de Davi no Neguebe, de onde ele facilmente poderia articular invasões no Sinai, ao sul, ou em Edom e M idiã, a leste. Elas tam bém ficariam afastadas o suficiente do território filisteus permitindo que Davi agisse sem ser observado.
27.7. nota cronológica. Esse é o último período antes da subida de Davi ao trono, que geralmente é datada por volta de 1010 a.C..
27.8. gesuritas. Esse povo vivia na região a sudeste da Filístia, no norte do Sinai (ver Js 13.2) e não deve ser confundido com os habitantes de Gesur, que ficavam na parte sul de Golã, na região de Basã (Js 13.11). Esse local seria inacessível para as invasões e ataques de Davi. É provável que esses gesuritas do sul fossem aliados dos filisteus e assim fossem alvos adequados para as expedições de Davi no Neguebe.27.8. gersitas. Os gersitas aparecem apenas nesta passagem e não são m encionados em nenhum a outra fonte fora da Bíblia. Algum as versões identificam o povo m encionado aqui como os gezireus. A cidade de G ezer ficava entre dezesseis e vinte quilôm etros a nordeste de Gate. Seria um a área improvável para as invasões de Davi, se Ziclague de fato estivesse situada de 40 a 48 quilômetros ao sul de Gate.27.8. am aleq u itas. V er os com entários em D eute- ronômio 25.17-19.27.8. Sur. O deserto de Sur fica no norte do Sinai entre
Canaã e a fronteira norte do Egito (ver o comentário em Ex 15.22). Tribos de pastores nômades, tais como os gesuritas e os amalequitas, tradicionalm ente habitaram nessa região e usaram o ambiente árido como m eio de defesa.27.10. Jeram eel. A resposta ambígua de Davi à pergunta de Aquis sobre suas invasões sugere que ele estava saqueando aldeias em Judá. Os jeram eelitas eram um clã de Ju d á que ficava na área ao sul de Berseba (ver 30.29).
27.10. q u en eu s. V er os com entários em N úm eros24.21, 22.
28.1-25Saul e a médium de En-Dor28.2. D avi como chefe da guarda pessoal. Assim como servira a Saul (22.14), Davi agora é nomeado chefe da guarda pessoal do rei Aquis. Isso o coloca num a situação difícil, visto que nessa posição era quase certo que ele teria de participar da batalha contra Saul.28.3. m édiuns e esp iritualistas. Para m ais informações sobre os procedimentos de adivinhação, ver os comentários em Deuteronômio 18. Os praticantes de espiritismo e feitiçaria são condenados por causa de sua associação com a religião cananéia e porque sua "arte" era uma forma de enganar e tirar vantagem de Yahw eh, tentando obter conhecim ento e poder dos espíritos. Eles representavam um a espécie de "religião popular". Nesse caso, os indivíduos banidos participavam de um a form a de adivinhação através de buracos rituais de onde se acreditava que os espíritos
de ancestrais podiam ser despertados para revelar o futuro aos vivos.28.3. m édiuns expulsos do país. A decisão de Saul de expulsar os médiuns e espiritualistas de seu reino era louvável, por causa da associação que eles tinham com as práticas de adoração cananéia, que incluía a consulta aos espíritos dos ancestrais como forma de conhecer o futuro. A superstição e a atração exercida pelo ocultismo faziam com que pessoas assim fossem tem idas e, m uitas vezes consideradas indesejáveis. Quase um milênio antes, o rei Gudea de Lagás também havia expulsado os m édiuns de seu reinado,
portanto, essa atitude não está relacionada exclusivamente ao monoteísmo. N este contexto, a expulsão ordenada por Saul é apresentada paralelamente à morte de Sam uel a fim de demonstrar que ele não tinha nenhum recurso à sua disposição, legítimo ou ilegítimo, para descobrir a vontade de Deus.28.4. localização dos acampamentos filisteu e israelita. O lim ite leste do v ale de Jezreel tem cerca de 16 quilômetros de extensão de norte a sul. O limite norte é bloqueado pelo monte Tabor e o sul tem o monte G ilboa com o obstáculo. A faixa de 16 quilôm etros entre as duas montanhas é dividida em dois desfiladeiros pela colina de Moré. A cidade de Suném, onde os filisteus acam param , ficava no lado sudoeste da colina de Moré, através do vale de Harode (o desfiladeiro ao sul do vale de Jezreel em direção à cidade de Bete-Seã), onde estava o acampamento de Saul, perto do m onte Gilboa. Os dois acampamentos distavam cerca de oito quilômetros um do outro. En-Dor ficava na m etade do desfiladeiro ao norte (entre a colina de M oré e o monte Tabor), cerca de 10 ou 12 quilômetros ao norte do acampamento israelita (uma caminhada de cerca de duas horas). Saul avançara fazendo a volta pelo lado leste da colina de Moré, evitando assim o acampamento filisteu. Observe que En-Dor (Khirbet Safsafeh) estava teoricam ente situada no território
tribal de Manassés, fora do território controlado por Saul (Js 17.11). O fato de as batalhas terem ocorrido tão longe, ao norte da Filístia, sugere que eles estavam tentando tirar a região da Galiléia do controle de Saul. A posição de Saul se beneficiou do terreno m ontanhoso, que favoreceu o uso de armamento leve pelos seus soldados.28.6. m eios usados por Saul para obter inform ações.Saul estava realm ente preocupado com a perspectiva de uma batalha iminente com as forças somadas das cinco cidades-estado filistéias. Inicialmente, ele em pregou os métodos usuais de adivinhação para consultar a Deus e saber se o Guerreiro Divino lhe concederia a vitória. Esses métodos incluíam rituais de in
cubação em que o requerente dormia nas dependências
de um santuário ou perto de um objeto sagrado a fim
de receber um sonho proveniente da divindade (ver
o comentário em 3.3), o uso do Urim e do Tum im para lançar sortes (ver o comentário em Êx 28.30) e as vi
sões dos profetas (1 Sm 10.10, 11). Saul não obteve
resposta a nenhuma dessas consultas, ficando eviden
te que ele fora abandonado por Deus.28.7. Sau l procura um a m édium . Não dispondo de
outro recurso para saber a vontade de Deus e com a proxim idade da batalha, Saul infringiu sua própria
lei, pela qual os m édiuns haviam sido expulsos de
seu reino, e fez uma visita secreta à m édium de En- Dor. Essa m ulher era conhecida por sua capacidade
de consultar fantasmas e espíritos de ancestrais. Em
bora essa prática seja considerada em Deuteronômio 18.10 ,11 como uma das "abom inações" relacionadas
à religião cananéia, esse procedimento através de um
buraco não é mencionado em nenhum outro episódio no Antigo Testam ento. Com o na feitiçaria hitita, a
pratican te era um a "v e lh a " . A cred itava-se que os
buracos fossem portais mágicos pelos quais os espíritos podiam passar, transitando entre o m undo dos
vivos e dos mortos. Quem consultava os espíritos ti
nha um conhecim ento especial sobre a localização desses buracos e estava a par dos procedimentos ne
cessários para invocar os mortos. Não há indício nesses rituais de que o praticante fosse possuído pelo
espírito ou que o espírito falasse através dele, portanto essa m ulher que Saul consultou não era um a mé
dium no sentido que entendemos hoje.
28.8-11. procedim entos para invocar os espíritos. As
literaturas grega (a Odisséia de Homero), mesopotâmica
e, especialmente, hitita oferecem detalhes sobre a invocação dos mortos: (1) era feita à noite, (2) depois de
identificado o local, cavava-se um buraco com uma ferram enta especial, (3) colocava-se no buraco uma
oferta de alimento (pão, óleo, mel) ou o sangue de um animal sacrificado para atrair os espíritos, (4) recitava-
se um ritual de invocação, m encionando o nome do
espírito e (5) cobria-se o buraco para evitar que os
espíritos escapassem depois de concluído o ritual. Tanto o mediador como o cliente desempenhavam funções de acordo com os procedim entos. Os espíritos que
subiam vinham na form a humana e geralmente eram capazes de comunicar-se diretamente com o cliente.
Nos encantamentos de necrom ancia na M esopotâmia,
somente o m ediador podia ver o espírito, o que era obtido através de unções rituais espalhadas no rosto.28.14. m anto do profeta. Visto que as roupas no mun
do antigo geralm ente forneciam um a indicação do status da pessoa (ver as diversas m udanças nas roupas de José em Génesis 37, 39-41), é possível que os pro
fetas fossem reconhecidos por usarem vestes específicas. O espírito de Sam uel é reconhecido por causa de
seu manto (ver o manto de Elias, em 1 Rs 19.19 e 2 Rs
2.8, 13, 14).28.8-20. crenças sobre a vida após a morte. Acredita
va-se que os espíritos dos mortos desciam até o m undo inferior conhecido como Seol, um a região nebulosa
de vida após a m orte, em bora não seja identificado
como um lugar de recompensa ou de castigo.
28.8-11. consulta aos mortos no antigo O riente Próxim o. D evido à im portância do culto aos ancestrais,
praticado por grande parte do antigo Oriente Próxim o (talvez um reflexo da importância do herdeiro do
sexo masculino, responsável pelo santuário do pai,
como consta em documentos ugaríticos), considerava- se que os mortos tinham o poder de afetar os vivos.
Acreditava-se que o oferecimento de libações em fa
vor dos ancestrais mortos iria garantir que seus espí
ritos assegurassem proteção e ajuda aos membros da fam ília que ainda estavam vivos. N a *Babilônia, o
espírito desencarnado (utukki) e o fantasma (etemmu)
podiam tom ar-se m uito perigosos se não fossem bem
cuidados e, m uitas vezes, se transform avam em objetos de encantamentos. O cuidado com os mortos começava com o sepultamento adequado e prosseguia posteriormente com a dedicação de presentes em honra
da memória e do nome do falecido. O filho primogénito era o responsável pela m anutenção dessa adoração
ancestral e, por essa razão, era quem herdava os deu
ses da família (muitas vezes imagens dos ancestrais já mortos). Todo esse tipo de procedimento era baseado
na crença de que os espíritos dos m ortos podiam se
comunicar com os vivos e fornecer informações úteis sobre o futuro, como fica evidente na consulta de Saul
à m édium de En-Dor. Esses espíritos eram consultados através de sacerdotes, médiuns e necromantes. A consulta aos mortos podia ser uma prática perigosa,
visto que alguns espíritos eram considerados demônios e poderiam causar m uitos danos. Em bora seja di
fícil reconstruir totalmente as crenças israelitas dessa
época relacionadas aos ancestrais e à vida depois da m orte, é bem provável que no período pré-exílico existisse uma form a de culto aos mortos ou adoração
aos ancestrais. Essa hipótese é apoiada em evidências encontradas em vestígios arqueológicos como: (1) uten
sílios, vasilhas e objetos usados para com er e beber em tumbas israelitas da Idade do Ferro, (2) referênci
as a oferecimento de alimentos e bebidas como ofertas para os mortos (ver Dt 26.14; SI 106.28) e (3) a impor
tância das tumbas familiares (ver o túmulo ancestral de A braão e de seus descendentes em H ebrom ) e
rituais de luto realizados no local (ver Is 57.7, 8; Jr
16.5-7). O culto aos ancestrais era condenado pelos profetas e pela lei.28.24. refeição preparada para Saul. Podemos observar alguns costumes de hospitalidade na refeição oferecida a Saul pela m ulher de En-Dor. Assim como Abraão, ela providenciou um a refeição cara, sacrificando um bezerro e preparando pão (ver Gn 18.6, 7). Provavelm ente essa m ulher não possuía outros animais além desse, portanto ela estava prestando grande honra a Saul com esse oferecimento. A relutância de Saul em aceitar sua oferta pode estar relacionada à profissão dela ou à sua associação com outros deuses. Também pode ser um sinal de seu estado depressivo, devido às fatídicas palavras de Samuel. O fato de Saul ter aceitado posteriormente a oferta da m ulher está de acordo com seu comportamento indeciso e contraditório, observado freqüentemente em suas atitudes. Além disso, tam bém pode ter o sentido de resignação em comer a "últim a refeição".
29.1-11 Os filisteus rejeitam a ajuda de Davi29.1. Afeque/fonte de Jezreel. Existem várias localidades diferentes com esse nome, Afeque, em Canaã. Essa mencionada aqui é descrita como aquela "junto à fonte de Jezreel". É bastante provável que essa Afeque se localizasse no sul da planície de Sharon, especificam ente em Ras el-'A in , na nascente do rio Yarkon. Essa localização sugere que os filisteus inicialmente reuniram suas tropas em Afeque (como haviam feito antes da batalha de Ebenézer em 4.1) e depois avançaram 55 ou 65 quilômetros até Jezreel para o confronto com Saul. Referências em Josefo ligam essa Afeque a Antipátride (ver A t 23.31), 41 quilômetros ao sul da Cesaréia marítima.29.3. hebreus. Os israelitas são chamados repetidamente de hebreus pelos filisteus (ver o comentário em Gn 14.13). Talvez fosse um termo genérico, como é o caso do term o habiru e apiru nos textos acadianos e egípcios, ou um apelido pejorativo aplicado a pessoas que não possuíam um líder ou com situação política indefinida. O papel de Davi como mercenário encaixa-se bem ao termo habiru nos textos de El Am am a.29.5. D avi, suas dezenas de m ilhares. Essa é a terceira vez que essa canção é citada no texto bíblico (ver 1 Sm 18.7; 21.12). Inicialmente essa canção era apenas um sinal da superioridade de Davi e motivo da inveja e do ódio de Saul para com ele. Nos episódios relacionados aos filisteus, o cântico é usado como um aviso de que não se podia confiar que D avi iria servir o rei A quis com lealdade. D essa form a, fornece a Davi uma desculpa plausível para não participar da batalha final contra o "ungido do Senhor".
30.1-31 Tragédia em Ziclague e vingança contra os amalequitas30.1. distância entre A feque e Ziclague. A distância entre a planície de Sharon e o sul da Sefelá, onde Ziclague estava localizada, é de aproxim adam ente oitenta quilômetros. Seria normal que um grupo armado e seus auxiliares levassem três dias para percorrer esse trajeto.30.1. am alequitas. U m dado curioso a respeito dos amalequitas é que eles pareciam estar sempre prontos a causar problemas, não importando o núm ero de vezes que fossem derrotados pelos israelitas (ver Êx17.8-16; 1 Sm 15.1-9). No caso, os amalequitas respondem ao ataque de Davi às suas aldeias (1 Sm 27.8) aproveitando-se da presença dele em Afeque. O ataque é imediatamente seguido de uma derrota devastadora dos amalequitas pela mão de Davi, resgatando sua família e seus bens. Desse modo, a narrativa bíblica demonstra que Davi não estava nas proximidades quando Saul foi morto. Ele estava desempenhando o papel de herói, derrotando os inimigos de Israel e salvando o povo do perigo, enquanto Saul estava sendo derrotado pelos filisteus em Gilboa.30.7, 8. uso oracular do colete. A pergunta de Davi é típica de situações oraculares, em que se solicita uma resposta do tipo "sim ou não". Para outros exemplos do uso do colete sacerdotal com esse propósito, ver os comentários em Juizes 8.24-27 e 1 Samuel 23.9-12.30.9. ribeiro de Besor. Trata-se do leito profundo de um vau (com 90 a 120 m etros de largura) cujos barrancos íngrem es tornavam a travessia bastante difícil, exigindo agilidade e energia. Localiza-se na região oeste do Neguebe e servia, juntam ente com o ribeiro Gerar, como fronteira sul de Canaã.30.11-13. escravo egípcio. Em sua fuga, os invasores amalequitas haviam abandonado um escravo egípcio doente. O cuidado demonstrado por Davi para com esse hom em , dando-lhe alim ento, água e bolos de uvas passas se assemelha à oferta de Abigail a Davi em 1 Samuel 25.18. A atitude de Davi evidencia mais uma vez seu apreço pelos valores tradicionais e tam bém lhe perm ite ter acesso a inform ações m ilitares valiosas para sua pequena força de quatrocentos hom ens poder derrotar o contingente m uito maior dos am alequitas.30.14. queretitas. Esse povo tinha algum tipo de vínculo com os filisteus e com os peletitas e seu nome sugere que eram originários de Creta. Seu território no N eg u ebe p ro v av e lm en te era co n tíg u o ao de Ziclague e Judá.30.14. N eg u ebe de C aleb e. O território atribuído a Calebe ficava na região ao redor de H ebrom e Debir
(ver Js 14.6-15; 15.13-19), no sul de Canaã. Posteriormen
te, passou a ser de fato território de Judá (Js 15.1-12).
30.17. fugiram m ontados em cam elos. Para os amale- quitas que viviam nas estepes do Neguebe e no norte
do Sinai, o cam elo era um excelente anim al de carga
e um rápido m eio de transp orte para os invasores. Nesse caso, também permitiu um a fuga rápida para os
remanescentes do bando dos amalequitas. Para infor
mações adicionais, ver o com entário em Juizes 6.5.30.18-25. divisão dos despojos. Ver o comentário em
D euteronôm io 20.10-15 sobre a regulam entação da
divisão dos despojos após a batalha. D avi foi fiel à norma sagrada que garantia às tropas auxiliares, que
haviam permanecido de guarda na fortaleza ou dan
do proteção à bagagem , o direito de receber partes iguais do espólio. Os duzentos homens que estavam cansad os dem ais para continu ar p ersegu ind o os
am alequitas depois de terem saído de Afeque, ficaram servindo de retagu arda, no caso de D avi ser
forçado a fugir, portanto, tinham o direito de receber
partes iguais dos despojos.30.26. autoridades de Judá. A generosidade de Davi
ao enviar um a parte do saque tom ado dos am alequitas tinha na verdade implicações políticas. Ser ca
paz de distribuir presentes e riquezas era visto como
um sinal de poder no antigo Oriente Próximo. Essas autoridades locais tom aram -se clientes de Davi e era
de se esperar que apoiassem sua tentativa de chegar
ao trono (ver 2 Sm 2.4). _
30.27-31. cid ad es. A lém de H ebrom , D avi enviou parte de seus despojos para outras cidades, dentre
elas Betei (K hirbet el-Q aryatein), bem ao norte de Arade (Js 19.4); Bete-Zur (Khirbet et-Tubeiqah), cer
ca de seis quilômetros ao norte de Hebrom e ligada
a Calebe (Js 15.58); Ram ote em Neguebe (possivelm ente Bir Rakhm ek; cham ada de Baalate-Beer em
Js 19.8), trinta quilômetros a sudeste de Berseba; Jatir (Khirbet 'A ttir), um a cidade levítica, vinte quilôme
tros a sudoeste de Hebrom (Js 21.14); Aroer (moder
na 'A /arah), vinte quilômetros a sudeste de Berseba (Js 15 .22); Sifm ote, um a localid ade desconhecida; Estemoa (es-Semu), dezesseis quilômetros a sudoes
te de H ebrom (Js 15.50); Carm elo (Tell el-K irm il), onze quilôm etros ao sul de H ebrom (1 Sm 15.12); Hormá, possivelmente Khirbet el-Meshash, onze qui
lômetros a leste de Berseba (Js 15.30); Corasã (Khirbet 'A san), um a cidade levítica de Judá a noroeste de Berseba (Js 19.7); Atace (Khirbet e l-A ter) na Sefelá,
cerca de 24 quilôm etros a noroeste de H ebrom . A
m aior parte dessas cidades ficava na região m ontanhosa de Judá, em bora algum as ficassem m ais ao
sul, no Neguebe.
31.1-13A morte de Saul31.1. m onte G ilboa. Ver o comentário em 1 Samuel28.4 a respeito da posição das forças israelita e filistéia no vale de Jezreel (ver tam bém 1 Cr 10.1-12). O fato de muitos homens de Saul e três de seus filhos terem sido mortos nas encostas do monte Gilboa demonstra que seu exército foi rapidamente forçado a fugir diante das táticas superiores dos filisteus. Talvez estivessem tentando restaurar a ordem retomando o controle da batalha, mas sem a liderança dos filhos de Saul eles foram rapidamente colocados em situação infe
rior e Saul ficou prestes a ser capturado.31.3-5. os planos de Saul, caso fosse capturado vivo. Nessa época, quando um rei era feito prisioneiro, era norm al que fossem m utilados e subm etidos a uma série de humilhações. Furar os olhos e cortar os polegares dos prisioneiros eram alguns dos cruéis procedimentos usados. Como um sinal de sua ignomínia, o rei era obrigado a passar o restante de sua vida infeliz esmolando ou disputando as migalhas que caíam debaixo da mesa do rei conquistador (ver comentários em Jz 1.6, 7), ou então era exposto em lugares públicos, à disposição dos passantes, que abusavam dele como bem entendessem. A prática da tortura foi empregada por babilônios, assírios e persas e a literatura está repleta de atos repulsivos realizados contra os inimigos capturados. Nos registros de reis assírios há relatos casos de reis solicitando a seus escudeiros que os matassem, antes que fossem capturados pelo inimigo. O rei elamita e seu escudeiro atravessaram um ao outro com a espada, simultaneamente.31.9. cortaram a cabeça. A cabeça do rei era considerada um prêmio de grande valor, usada pelo exército vitorioso para gabar-se de suas conquistas. Existem relatos de que o rei assírio Assurbanipal jantou com sua rainha no jardim do palácio, tendo ao fundo a cabeça do rei de Elão pendurada num a árvore. O ato de cortar a cabeça era descrito como "fazer com que fique mais morto do que já estava".31.10. arm as expostas no tem plo. A lém de tirar as roupas do morto para entregar como despojo, as arm as de Saul (símbolo de sua posição real e conhecidas pelos inimigos - ver 1 Sm 17.38) foram levadas como um troféu, da m esma forma que a espada de Golias (1 Sm 17.54) e a arca da aliança (1 Sm 5.2) foram levadas e colocadas num templo. Desse modo os deuses dos filisteus seriam honrados e a derrota de Saul e de seu Deus seria notória. Ver o comentário em Juizes 2.13 sobre Astarote.31.10. exposição do cadáver. Desmembrar o corpo de Saul e deixá-lo exposto era a pior desgraça e suprema vergonha para a vítima e sua família/nação. Acredi
tava-se que se a pessoa não fosse devidamente sepultada, sua vida após a m orte estaria am eaçada (paxa informações adicionais, ver o comentário e m l Rs 16.4). A prática de empalar os corpos dos inimigos derrotados também era comum entre os soldados do antigo Oriente Próximo. Entre os assírios, essa prática tinha um efeito psicológico e era considerada um a tática de terror (como confirmam as ilustrações nas paredes de seus palácios reais).31.10-12. Bete-Seã. N esse período Bete-Seã (Tell el- Husn) estava sob o controle dos filisteus ou se aliara a eles. Por estar situada num local estratégico no vale de Jezreel, no alto de uma m ontanha, seria o lugar ideal para expor o corpo de Saul. A montanha de dez acres fica na extrem idade leste do vale de Jezreel e servia de proteção para a im portante rota de entrada para o vale do Jordão. Perm aneceu como território cananeu independente encravado em terras israelitas até o período da monarquia, mas foi incorporado aos distritos administrativos de Salomão (1 Rs 4.12). Trata-se de um local ocupado por duas cidades, com uma cidade rom ano-bizantina (Citópolis) construída no se
dim ento que fica na base do tell. A s investigações arqueológicas têm demonstrado que houve ocupação q u ase co n tín u a da lo ca lid a d e d esd e o p erío d o Calcolítico (4500-3300 a.C.). Como essa região possuía um bom suprim ento de água (ribeiro Jalud), terras adequadas paxa o cultivo e uma localização estratégi
ca a população local adquiriu uma certa prosperidade, principalm ente sob o governo egípcio (iniciado
com Tutm és III, no século dezesseis) e m ais tarde, sobo dom ínio dos povos do m ar e dos israelitas. Escavações arqueológicas encontraram vestígios de templos duplos que remontam a esse período, identificados por alguns estudiosos como o templo de Astarote m encionado aqui e o tem plo de D agom (ver 1 Cr 10 .10).31.11, 12. Jabes-G ilead e. Ver o com entário em 11.1 sobre a origem da relação de Saul com essa cidade da Transjordânia. O resgate do corpo de Saul em Bete- Seã pelos habitantes de Jabes-Gileade reflete a con-
sideraçao deles para com Saul, m otivada pelo seu empenho em salvar essa cidade do cerco dos amonitas (1 Sm 11).31.12. percurso de Jabes-G ileade a Bete-Seã. Embora a localização exata de Jabes-Gileade seja desconhecida, é provável que ficasse perto do vau el-Yabis, no norte das montanhas de Gileade. Tell Maqlub, a cerca de vinte quilômetros de Bete-Seã, é o local mais provável.31.12. cremação. A cremação não é considerada um ritual fúnebre em nenhuma passagem da Bíblia (ver Lv 20.14; Js 7.25 a respeito do costume de queimar os corpos como pena capital). É possível que o estado avançado de decomposição exigisse uma medida extrem a para purificar o corpo, já que apenas o embal- samamento não seria suficiente. A crem ação dos corpos dos heróis relatada na Ilíada sugere um ritual semelhante a esse de honra a Saul. Os únicos povos do antigo Oriente Próximo que praticavam a cremação exam os hurritas de M itani e os hititas (ambos na metade do segundo milênio).31.13. tam argueira em Jabes. Como um a nota de ironia final na narrativa, os ossos de Saul foram enterrados debaixo de uma" tamargueira. Em 1 Samuel 22.6 há o relato de Saul reunindo suas tropas e exercendo poder como rei debaixo ou perto de um a tamargueira. A qui, seu túm ulo foi dem arcado por essa sim ples planta do deserto em vez de ser marcado pela construção de um palácio, um a cidade ou um reino. A tam argueira cresce em solo arenoso; é um a planta resistente, com folhas pequenas que excretam sal, podendo atingir m ais de seis m etros de altuia. Sua casca é usada como corante e sua m adeira, em construções e na fabricação de carvão vegetal. O s beduínos costumam plantar essa árvore vigorosa por causa da som bra que ela proporciona e de seus galhos, que servem de alimento para os animais. Na Mesopotâmia, a tarmargueira era considerada uma árvore sagrada, com qualidades purificadoras, usada em feitiçarias e na fabricação de imagens; às vezes ela era relacionada ao equilíbrio cósmico.
2 S A M U E L
vy1 .1-16 A notícia da morte de Saul1.1. cron olog ia . A proxim adam ente 1010 a .C.. Essa
data pode ser calculada levando-se em conta certos acontecimentos ocorridos posteriormente no período
monárquico.1.1. Z iclague. Ziclague não foi identificada com segurança. Para possíveis localizações, ver o comentário
em 1 Samuel 27.6.1.2. terra na cabeça. A prática de colocar terra, pó ou
cinzas na cabeça era um a form a típica de demonstrar luto tanto no Antigo como no Novo Testamento, observada tam bém na Mesopotâmia e em Canaã. Muitos rituais de pesar e luto eram um a forma dos vivos se identificarem com os mortos, e é fácil perceber que
a terra na cabeça representava simbolicamente o se- pultamento.
1.2. prostrar-se em sinal de respeito. A form a comum de demonstrar submissão no antigo Oriente Próximo era curvar-se até o chão. As representações artísticas nas tum bas egípcias estão repletas de exem plos de servos e oficiais reais prostrando-se diante do faraó. Nas tábuas de El A m am a (século catorze a.C.), o for
mato de cada letra contém uma saudação, seguida de um a regra para prestar honra ao faraó curvando-se
sete vezes para frente e para trás.1.2. transm issão de notícias. A maneira oficial de divulgar notícias era através do uso de m ensageiros. Porém, os mensageiros estavam sendo enviados apenas para lugares importantes. Como os funcionários reais foram praticam ente eliminados e os que resta
ram fugiram ou se esconderam, é provável que tivessem sobrado poucos m ensageiros oficiais para trazer um relatório sobre a batalha em Gilboa, especialmen
te num a cidade tão distante como Ziclague, cerca de 120 a 130 quilôm etros ao sul do cenário da batalha. Soldados que retom avam da batalha e comerciantes
que percorriam as cidades da região também podiam servir como m ensageiros. N este caso, porém, é evidente que o amalequita dirigiu-se a Davi esperando
obter algum favor.1.6. apoiado em sua lança. A lança era um importante símbolo de Saul, desde que foi usada como arma contra Davi (1 Sm 18.10,11), servindo para identificá- lo com o rei (1 Sm 26.11) e por fim com o apoio ao enfrentar a morte.
1.8. am alequita. Ver o comentário em Deuteronômio25.17-19. Visto que os amalequitas haviam invadido recentemente a cidade de Davi, Ziclague (ver o comentário em 1 Sm 30.1), esse homem já estava correndo perigo e sua mensagem não teria m uita credibilidade.1.9. o pedido de Saul. Saul preferia m orrer a ter que enfrentar a situação alternativa (ver o comentário em1 Sm 31.3-5). O pedido de Saul reflete o desejo de dar fim à sua vida com o mínimo possível de sofrimento.1.10. coroa e b racelete . A m elhor tradução para o adorno de cabeça mencionado aqui seria "diadem a", referindo-se a um objeto que pendia na testa ou na frente do turbante, visto geralmente como símbolo de autoridade. Já no início do período sumério o diadema era um a das insígnias reais concedidas ao rei pelo deus Anu. Talvez o m elhor exem plo desse tipo de ornamento no mundo antigo seja a serpente (uraeus) representada na frente da coroa do faraó para garantir proteção, segundo a crença na época. N as descrições das vestes dos sum os sacerdotes de Israel o diadema geralmente era associado a uma "lâm ina de ouro" ou coroa sagrada colocada na frente do turbante (ver o comentário em Lv 8.9). Não há nenhuma menção ao bracelete em outras passagens do Antigo Testamento. Braceletes eram adornos comuns no primeiro m ilênio. Os exemplares mais antigos encontrados por arqueólogos em Israel datam do século onze. N um a relação de jóias que o rei assírio Senaqueribe deu a seu filho (e sucessor) Esarhadon, constam braceletes e um diadema.1.11. rasgar as vestes em sinal de luto. Além de jogar cinzas na cabeça, rasgar as vestes era um a demonstração comum de pesar no antigo Oriente Próximo. Um exemplo fora da Bíblia encontra-se no épico ugarítico de Aqhat (c. 1600 a.C.), em que a irmã do herói rasga as vestes de seu pai ao predizer um a seca iminente. Essa atitude geralmente indicava pesar pela morte de um parente, amigo ou pessoa proeminente.1.12. rituais de luto. Os rituais de luto se baseavam: (1) na identificação com os mortos, (2) em oferecer algo para os mortos e (3) proteger os vivos do espírito dos mortos. No entanto, nem sempre é possível descobrir como esses conceitos deram origem a qualquer ritual específico. Prantear, gemer e lamentar fazia parte dos ritos fúnebres da maioria das pessoas no antigo Oriente Próximo. Jejuar, rasgar as vestes e deixar de usar roupas comuns eram meios de expressar pesar.
1.15. a ordem de Davi. A execução do amalequita está
ligada a alguns elementos complexos. Como já foi men
cio n a d o a n te r io rm e n te , o fa to d esse h o m em ser
am alequita o colocava num a situação de alto risco e perigo. Em segundo lugar, em duas ocasiões Davi se recusara a tirar a vida de Saul por respeitá-lo como un
gido do Senhor e ele esp erava esse m esm o tipo de atitude das outras pessoas. Por fim, se Davi aceitasse
o ato do am alequita como um serviço prestado a ele, estaria sujeito à acusação de que encarregara alguém de executar Saul. Era im portante que D avi não tives
se nenhuma ligação com a morte de Saul, ainda que esta
pudesse ser justificada como um ato de misericórdia.
1.17-27O lamento de Davi por Saul e Jônatas1.17. elegia. Vários exemplos de lam entos fúnebres foram encontrados na literatura do antigo Oriente Próxim o. T alv ez o m ais conhecido seja o lam ento de
Gilgamesh por seu amigo Enkidu, na oitava tábua do
Épico de Gilgamesh. O lamento de Davi convoca ou
tros a se juntarem ao pranto e enaltece as qualidades e feitos heróicos dos falecidos.
1.18. Livro de Jasar. Supõe-se que o Livro de Jasar continha antigos relatos poéticos dos feitos heróicos (é
m encionado apenas m ais um a vez em Js 10.13). O
Livro não foi preservado. O título Jasar pode ser tanto um adjetivo ("honrado") como uma forma do verbo
hebraico "cantar".
1.20. Gate, Ascalom. Gate e Ascalom eram duas das
cinco principais cidades da Filístia. Para m ais infor
mações, consulte os comentários em 1 Sam uel 5.8 e
Juizes 14.19, respectivamente.1.20. incircuncisos. A circuncisão era praticada por
m uitos povos no antigo Oriente Próxim o (ver o comentário em G n 17.9-14), m as não pelos filisteus. O
comentário aqui tem pouco a ver com atributos físicos ou costumes sociais, mas seria um a designação étnica
simbolizando a aliança dos israelitas com Yahweh.
1.21. m aldição contra G ilboa. A maldição aqui tinha
com o alvo a fertilidade da região. É sem elhante às m aldições encontradas no Épico de A trahasis, que
tinham como objetivo provocar a fome. Ao tom ar-se
um lugar de m orte (campos secos e im produtivos), Gilboa serviria como um m em orial para as m ortes
ocorridas ali.
1.21. escudo polido com óleo. Os escudos israelitas deste período eram feitos de madeira revestida com
couro, podendo ser redondos ou retangulares, com a
parte de cima arredondada. O óleo era usado para limpar o sangue após as batalhas e proteger o couro
para que permanecesse flexível.
1.24. roupas finas. As roupas usadas pelas mulheres de Israel refletem a melhoria no padrão de vida ocorrida durante o reinado de Saul. O policiamento das rotas de comércio perm itiu o aumento da atividade dos m ercadores, tom ando as importações mais acessíveis e garantindo a exportação dos produtos locais.
2.1-7Davi é ungido rei2.1. consulta oracular. Do capítulo 23 de 1 Samuel até o fim do Livro, Davi faz perguntas oraculares ao Senhor por meio do colete sacerdotal e auxiliado por Abiatar, o sacerdote. É provável que a mesma coisa esteja acontecendo aqui. Numa consulta oracular, uma pergunta do tipo "s im ou não" era apresentada à divindade e a resposta era obtida por um mecanismo binário. Os meios estabelecidos para esse processo no Livro de Êxodo eram o U rim e o Tum im (que ficavam guardados em um bolso na frente do colete).2.1. Hebrom . Hebrom ficava localizada bem no centro da região m ontanhosa de Judá e era um a das cidades m ais importantes da região, estando a aproxim adamente 32 quilômetros ao sul de Jerusalém. Essa localidade de 12 acres,’ ocupada por volta de 1200a.C., era bastante atraente por ficar num a área onde havia m ais de vinte fontes. Na época de Davi as fortificações da cidade foram aperfeiçoadas e ampliadas. H ebrom foi a capital do reino de Davi durante sete anos, período em que desfrutou de maior prestígio.2.4. re i tribal. Como experiência prévia para o reina
do, Davi foi declarado rei inicialmente em nível tribal (ver Jz 9). Visto que os filisteus haviam tomado quase toda a região central da terra como resultado da batalha de Gilboa (1 Sm 31), apenas algum as tribos tinham a liberdade de participar da nomeação de um novo rei. E preciso lembrar também que os israelitas tinham uma longa tradição de autonomia tribal e a forma de governo em cidades-estado era uma característica dos cananeus, povos que ocuparam anteriormente aquela região. Por fim, com a m orte de Saul e de três de seus filhos, a sucessão ao trono estava comprometida, mesmo no caso dos líderes tribais estarem satisfeitos com a linhagem de Saul e os filisteus concordarem com isso. Todos esses fatos tom aram o processo de escolha do rei por um a tribo algo bastante lógico.2.5-7. em busca de apoio. A cidade de Jabes-Gileade na Transjordânia ainda estava livre do controle filisteu e seus moradores representavam um apoio estratégico a Saul, devido à libertação que ele lhes proporcionara quando do cerco dos amonitas (1 Sm 11). Se os líderes desse distrito favorável a Saul fossem convencidos a reconhecer a autoridade de Davi, a atitude
deles seria acompanhada por muitas outras cidades da Transjordânia e talvez até por aquelas de regiões situadas ao norte. Davi reconheceu o tratamento que esses líderes deram a Saul providenciando um sepul- tamento decente, m as sugeriu que eles não deviam mais lealdade à fam ília de Saul. Davi mostrou-se disposto a garantir a proteção de Jabes-Gileade, assim como Saul fizera anteriormente.
2.8-3.5A guerra entre Judá e Israel2.8. M aanaim . A lém de servir como centro administrativo para o governo do filho de Saul, foi nesse local que D avi estabeleceu seu quartel general quando teve de fugir de Absalão (17.27). M aanaim também é mencionada como uma das cidades destruídas pela invasão do faraó Sisaque durante o reinado do filho de Salomão. Embora fique claro que M aanaim se situava na região da Transjordânia, sua localização precisa é desconhecida. Atualmente tem sido identificada com Tell edh-Dhahab el-Gharbi, na margem norte do Jaboque. Não foram feitas escavações arqueológicas no local, mas levantamentos topográficos na superfície confirmam que foi ocupada durante esse período.2.9. região controlada pelo filh o de Saul. Abner havia sido com andante do exército de Saul e era seu primo. Em vez de usurpar o trono para si, garantiu- o para Is-Bosete, um dos filhos de Saul que havia sobrevivido. A parentem ente ele havia conseguido manter o apoio de várias"tribos do norte. Em bora Is- Bosete fosse o rei, o texto dá a im pressão de que Abner é que estava de fato no controle. Não era fora do comum que um militar decidido favorecesse um herdeiro pusilânime ao trono. Na história egípcia antiga, no final da 18a D inastia, A y, um com andante militar (e talvez sogro) de Aquenaton foi o principal patrocinador e conselheiro do jovem Tutancâm om , genro de Aquenaton.2.12. G ib eo m . A cidade de G ibeom geralm ente é identificada com a m oderna el-Jib, localizada cerca de dez quilômetros a noroeste de Jerusalém e onze quilôm etros a sudoeste de Ai. Escavações arqueológicas descobriram no local um sistema duplo de abastecimento de água, cuja construção remonta ao período dos juizes. O sistema mais antigo consistia num a perfuração de dez m etros de profundidade através da pedra calcária (descia-se até a base por meio de uma escada em espiral) até um túnel, onde os habitantes da cidade teriam acesso às fontes de água, no caso da cidade estar cercada. O outro sistema, de um período posterior, contava com um túnel em degraus que descia até outra fonte (mais segura). Esse sistema de água encontrado ali é um a forte evidência de que esse seja
o local de G ibeom , devido ao fam oso "açu d e de G ibeom " m encionado no texto bíblico. A identificação do local é confirmada pela presença de alças de jarros encontradas com a inscrição do nom e da cidade (embora alças de jarros contendo nom es de outras cidades tam bém tenham sido encontradas, o que é explicado pelo principal produto da cidade: vinho de exportação).2 .12 .13 . m otivo da batalha. Gibeom era uma importante cidade da região que havia sido devastada pelos filisteus e provavelm ente ainda estava sob controle filisteu. Portanto, é difícil imaginar que os exércitos de Davi e de Is-Bosete tivessem liberdade para promover um a ação militar nesse território. É mais provável que Abner estivesse a caminho, a fim de fazer os acertos prelim inares com Davi, transferindo seu apoio a ele. Possivelmente como precaução, Davi le
vou uma escolta m ilitar, visto que Abner não seria tolo a ponto de vir ao encontro de Davi sem estar acompanhado de soldados. Joabe interceptou Abner em Gibeom e eles decidiram divertir-se com um a luta de gladiadores entre alguns de seus guerreiros ou m ercenários. Em bora fosse esperado que ocorresse derramamento de sangue nesses "jogos", os ânimos se exaltaram, dando início ao conflito.
2.13. açude de G ibeom . O açude de Gibeom era um famoso sistema de abastecimento de águas - um modelo de engenharia moderna. Os construtores abriram um túnel de dez m etros através da rocha calcária, cavando um buraco de quase doze metros de largura. Degraus foram escavados na lateral formando uma escada esp iralada até a base do açude onde outro lance de escadas de pedra descia por m ais catorze metros através de um túnel até o lençol de água (79 degraus ao todo). Esse sistema havia sido construído para garantir aos habitantes locais um abastecimento seguro de água sem necessidade de sair da cidade, durante períodos de cerco. Calcula-se que cerca de três mil toneladas de pedra foram removidas para a realização dessa obra grandiosa de engenharia. Só mais tarde foi construído um túnel de acesso à fonte pelo lado de fora da cidade.2.14-16. lutas individuais. As lutas individuais eram usadas algumas vezes, sendo que cada um dos combatentes era considerado um representante de seu respectivo exército, de m odo que a vontade divina se revelaria através do resultado da luta (como no combate entre Davi e Golias). É im provável que seja esse o caso aqui, visto que havia doze pares (não apenas um) e também porque o motivo da luta era proporcionar diversão para os chefes de ambos os exércitos. Deve-se notar, porém, que às vezes as batalhas eram descritas como um a celebração (como no Épico de
Sargon e, m ais próximo ao período do contexto em questão, no de Tukulti-Ninurta). A tradução da NVI
de que cada um "pegou o adversário pela cabeça e
fincou-lhe o punhal no lado", não permite compreender que se tratava de uma mera exibição. Foram en
contrados exemplos de combates individuais no Egito e nas pinturas m urais em Beni H asan (inicio do segundo milênio) e também na história de Sinuhe. Lu
tas assim foram igualmente ilustradas num vaso ca- naneu da prim eira metade do segundo milênio. Num
período posterior, encontramos exemplos desse tipo de combate nas literaturas greco-micênica e hitita. Foi
encontrado um relevo do século dez em Tell H alaf representando dois combatentes agarrados um à ca
beça do outro e golpeando-se com pequenos punhais.2.16. punhal. A palavra hebraica usada para descrever a arma usada pelos combatentes normalmente é
traduzida por "espada", referindo-se tanto a espadas pequenas de dois gumes (geralmente com menos de
40 centímetros de comprimento) ou espadas m ais lon
gas de apenas um gume. A arm a usada aqui seria
provavelmente essa última, visto que os combatentes
lutavam próximos e desferiam golpes entre si.2.21. ficar com as armas. Nas lutas pessoais, o morto
era despojado de tudo que lhe pertencia. A graduação ou posição do guerreiro podia ser observada pelas
suas vestes, pelo tipo de armadura ou pela qualidade
de suas arm as e por essa razão eram considerados como troféus para o vencedor. Asael não está disposto
a ficar com as armas de qualquer soldado: ele quer as
do comandante.
2.23. lança. A lém de guarnecidas de um a ponta de
ferro, as lanças geralmente tinham uma extremidade de m etal que servia com o aguilhão ou como apoio
para firmá-la no chão, como se fosse um bastão. Inúmeras extremidades de m etal foram encontradas em
escavações e retratadas em pinturas murais. Embora
a N VI refira-se à "p on ta da lança", é possível que
Abner tenha cravado essa extrem idade de metal no estômago de Asael.
2.24. geografia. Não é possível identificar com segu
rança os lugares m encionados no versículo 24. É provável que "o cam inho para o deserto de G ibeom "
seguisse na direção nordeste para o vale do Jordão.
A m á e G ia são localidades desconhecidas. H á uma colina que desponta no vale fértil ao redor de Gibeom,
no caminho para Geba, que poderia ser identificada como Amá.
2.29. o itinerário de A bner. Arabá refere-se ao desfiladeiro do vale do Jordão. Abner teria descido por
ele pela passagem de Micmás (ver o comentário em 1 Sm 10.5) em direção ao vau de Adã (ver o comentário
em Js 2.7). Bitrom (citada no rodapé na NVI) talvez não seja o nom e de um lugar e se for, perm anece desconhecido.2.32. sepultaram no túm ulo de seu pai. N a Idade do Ferro, era costume sepultar os m ortos em jazigos coletivos dentro de cavernas, que serviam de túmulo. O corpo era colocado deitado de costas, cercado por objetos pessoais do falecido.
3.6-39 Deserção e execução de Abner3.7. deitar-se com a concubina. As concubinas eram mulheres sem dote que deveriam, entre outras coisas, gerar filhos à fam ilia. N a fam ília real, elas às vezes representavam alianças políticas de menor importância. Visto que a concubina era uma parceira sexual, deitar-se com a concubina do pai era considerado não apenas um ato incestuoso, m as também um a tentativa de usurpar a autoridade do patriarca da família. Da m esm a forma, o herdeiro do trono às vezes procurava apropriar-se da autoridade de seu predecessor tomando para si suas concubinas. Israel era uma sociedade tribal em transição para a monarquia, portanto o rei precisava buscar apoio estabelecendo vínculos com os clãs e famílias mais fortes e influentes. Uma forma de obter esse vínculo era através de concubinas e esposas, que garantiriam o apoio em suas respectivas regiões. Outro m eio de obter apoio político era através de vínculos com mercadores abastados, líderes m ilitares e até mesmo famílias de sacerdotes.3.8. cão. Ver o com entário em 1 Sam uel 24.14 para informações a respeito de comparação com cães como form a de se menosprezar.
3.9. fórm ula de m aldição. Essa form a de expressar um a m aldição pode ser encontrada diversas vezes nos Livros de Sam uel e Reis, geralm ente proferida por reis. Rute é um a exceção, ao usar essa m esm a fórmula em Rute 1.17. Essa form a de maldição também é conhecida nos textos de Alalakh e Mari. Abner não especificou qual seria o castigo que receberia de Deus, m as como esse tipo de juram ento às vezes era ligado a rituais em que se m utilavam animais, presum e-se que quem está proferindo a m aldição esteja cham ando para si o mesmo tipo de mutilação.3.10. transferir o reino com a ajuda de Abner. Como já foi m encionado no comentário em 2.9, é provável que Abner estivesse exercendo de fato o poder e que Is-Bosete servisse apenas como um a figura de fachada. Se os militares declarassem lealdade a Abner, sua deserção deixaria Is-Bosete praticamente desprotegido. É bem provável que A bner fosse bem -sucedido ao tentar obter a lealdade da maioria das tribos do norte que tinham permanecido fiéis à fam ília de Saul.
3 .13 .14 . a posição de M ical. Como vim os no comen
tário em 3.7, os haréns reais eram m eios politicamente
aceitos de estabelecer um a base de apoio, tanto em nível nacional como internacional. M ical, a filha de Saul, daria a Davi uma certa legitimidade, à medida
que ele tentava assumir o reinado de Saul. Na Antiguidade (como fica evidente nas leis de Ham urabi,
Esnuna e medo-assírias) a lei garantia ao hom em que
fosse tirado de sua casa à força o direito de reivindicar
sua esposa, quando retom asse. Seu direito como m arido era mantido mesmo que ela tivesse se casado de
novo (muitas vezes ela precisava fazer isso para garantir seu sustento e sobrevivência) e tivesse filhos
com o novo marido.
3.14. cem prepúcios. Esse foi o preço pago por Davi a Saul em troca de M ical (ver o com entário em 1 Sm
18.25). O feito de Davi, ao m atar cem filisteus, teria
garantido a ele a posição de importante aliado militar, merecendo ingressar na família real por meio do casa
mento com a filha do rei.
3.17-19. a diplom acia de Abner. Abner tomou-se agora um agente do reino de Davi e juntam ente com seus
planos de deserção, pretende conseguir o apoio das
tribos do norte. As decisões tribais eram feitas pelas autoridades que se reuniam quando convocadas. O
fato de Abner ter ido falar pessoalmente com os ben-
jam itas é estratégico por ele ser um líder destacado na tribo de Benjamim e, mais importante ainda, porque
Saul pertencia à tribo de Benjamim, o que tom ava os benjamitas os mais leais defensores dos descendentes de Saul.
3.20, 21. acordo entre A bner e D avi. Era comum que
importantes transações fossem seladas com um banquete com partilhado pelas partes envolvidas como
um a form a de celebrar a conclusão do acordo. Os vinte homens que acompanhavam Abner talvez fos
sem importantes representantes de facções poderosas de Israel ou então um pequeno séquito m ilitar de altos oficiais.
3.22. invasão e saque. De modo geral, os exércitos -
quer fossem formados por mercenários, soldados recrutados ou profissionais - , consideravam que os despojos faziam parte do pagamento dos soldados. Al
guns ataques eram efetuados com intenção de atingir objetivos m ilitares (expansão, controle de rotas comer
ciais etc.), mas outros simplesmente pretendiam incom odar o inim igo e, ao m esm o tempo, providenciar
um soldo extra para os soldados. Visto que Davi dispunha de poucos recursos para financiar sua adminis
tração e sustentar seu exército, os saques provavelmente eram a única form a de compensação para os soldados.
3.26. cisterna de Sirá. Trata-se de um oásis localizado provavelmente cerca de três quilômetros ao norte de H ebrom .3.29. m aldição sobre a casa de Jo ab e . A m aldição proferida por Davi é bastante abrangente. A prim eira parte refere-se às formas m ais hum ilhantes e graves de enfermidades físicas (para detalhes a respeito dessas doenças, ver os comentários em Lv 13). A segunda parte é m ais obscura. O termo que a NVI traduz como "m uletas" é a palavra usada para "fu so" ou "ro ca" nos vocabulários ugarítico e acadiano. A expressão usada aqui era a descrição comum de uma m ulher envolvida em tarefas domésticas. Se um soldado hitita quebrasse seu juram ento, seria castigado com a perda da virilidade, e o juram ento descreve esse castigo como o infrator segurando o fuso e o espelho. Essa segunda parte da m aldição parece, assim,
representar um a ameaça à casa de Joabe com a diminuição da virilidade. A terceira maldição fala de morte violenta e a quarta, de passar necessidades ou fome.3.31. ritos de luto. Ver comentário em 1.12.
4.1-12O assassinato de Is-Bosete4.3. Beerote e G itaim . Beerote geralm ente tem sido localizada ao norte de Quefiré, em direção à região de Betel/A i, talvez em el-B ireh ou N ebi Sam w il. Era um a das cidades dos heveus de Gibeom que enganaram Josu é (ver Js 9). Este versícu lo nos diz que a população dos heveus fugiu para Gitaim (localização específica desconhecida), deixando aparentem ente apenas os benjamitas em Beerote.
4.4. o acidente de M efibosete. Em bora o texto bíblico não esclareça os detalhes, supõe-se que a batalha no monte Gilboa, onde Saul foi morto, resultou no controle dos filisteus de toda a região central. Se isso estiver correto, é provável que os filisteus tenham saqueado a capital de Saul, em Gibeá. Tais circuns
tâncias explicariam a fuga apressada da casa de Saul e a subseqüente queda de M efibosete. U m ferim ento no pescoço ou na coluna poderia ter deixado M efibosete paraplégico, m as talvez a queda não tenha sido tão grave assim. Pem as ou tornozelos quebrados poderiam deixá-lo paralítico da m esm a forma. O uso de talas para fixar ossos era um a prática conhecida no m undo antigo, m as fraturas m últiplas geralm ente eram consideradas sem solução.4.5. hora do descanso do m eio-dia. N o clim a semi- árido do Oriente Próximo é normal que as horas mais quentes do dia (após o almoço) sejam reservadas para o descanso ou cochilo.4.6. trigo na casa do rei. Em bora não seja difícil comprovar a existência de armazéns nas proximidades do
palácio, há uma variação textual bastante convincente nesse ponto da narrativa referindo-se a um a sentinela (mulher) que teria adormecido de cansaço por ter trabalhado na colheita do trigo.4.12. m utilação e exposição. Desmembrar o corpo dos assassinos e deixá-lo exposto era uma grande desgraça e vergonha tanto para a vítim a como para seus fam iliares. Acreditava-se que se a pessoa não fosse adequadamente sepultada, sua vida após a morte seria am eaçada (para informações adicionais, ver os com entários em N m 3 .12 ,13 e Js 8.29). A exibição pública do corpo dos inimigos é encontrada na prática do empalamento num a estaca, usada pelos assírios para produzir um efeito psicológico aterrorizante (como confirm am as figuras nas paredes de seus palácios reais). Cortar as m ãos e os pés provavelmente era visto como uma extensão do sofrimento e da dor na vida após a morte, mas não há confirmações suficientes dessa prática ou de seu sentido subjacente, para explicar com segurança a razão desse ato.
5.1-25As vitórias de Davi5.1. sangue do teu sangue. A expressão exata em hebraico é "osso e carne", mas tem o mesmo sentido da expressão "sangue do teu sangue" na língua portuguesa. A comprovação do parentesco é apresentada como base para a aliança política. Com pare com o contexto semelhante em Juizes 9.2.
5.3. papel das autoridades. As autoridades aqui são os representantes das tribos e clãs de Israel. N a ausência de um rei ou de qualquer outro líder proeminente, as tribos dependiam da assem bléia coletiva das autoridades tribais. Essas autoridades eram responsáveis pela manutenção da justiça no âmbito das aldeias e serviam como representantes do povo em assembléias maiores. Antes de reconhecer a liderança de Davi, o povo espe
rava que as autoridades a aceitassem.5.3. acordo com as autoridades. Como em 2.4, quando foi firmado um acordo com os líderes de Judá, aqui todas as tribos assinam uma declaração form al reconhecendo o reinado de Davi. Essa declaração talvez incluísse um documento de ratificação como aquele redigido para Saul em 1 Samuel 10.25.5.3. ungido. Davi fora ungido pelos líderes de Judá em2.4. A unção designava um a m udança de status e era um ato sim bólico da confirm ação de seu reinado por parte das tribos. Para inform ações adicionais sobre a prática da unção, ver o comentário em 1 Sam uel 16.1.5.4. 5. cronologia. Supõe-se que o reinado de Davi tenha abrangido os prim eiros trinta anos do século dez a.C. (por volta de 1010-970). O número quarenta muitas vezes é um número aproximado, m as a pausa
da narrativa no versícu lo 5 para oferecer detalhes sugere que esse número pode ser visto como um cálculo preciso.5.6. Jeru salém . Cidade estrategicam ente localizada ao longo da estrada no sentido leste-oeste que atravessava os vaus do Jordão, perto de Jericó, até a estrada costeira. Também ficava ao lado da estrada principal no sentido norte-sul, que atravessava a região montanhosa entre Berseba e Bete-Seã. Jerusalém tam bém era um local importante devido à sua posição na fronteira entre Judá e Benjam im . Os vales profundos a leste e oeste das montanhas e o razoável suprimento de água disponível nas fontes de Geom tom avam o lugar defensável e desejável. A prim eira referência a Jerusalém encontra-se nos textos egípcios de execração do início do segundo milênio a.C., em que seus reis são chamados de Yaqirammu e Shayzanu. A referência seguinte está nas seis cartas dos textos de Amarna escritas por Abdi-H eba, rei de Jerusalém , ao faraó, solicitando apoio militar. Jerusalém era um a das cidades m ais im portantes da região, com petindo com Siquém, durante o período de Amarna, pelo controle da região montanhosa. Jerusalém foi derrotada pelos exércitos israelitas na época da conquista, m as seus habitantes não foram expulsos; nesta época ainda não havia sido ocupada pelos israelitas (Jz 1.21). A cidade de Jerusalém deste período ocupava apenas uma faixa de norte a sul cobrindo cerca de dez acres ao sul dos m uros da cidade m oderna. A população não teria ultrapassado mil pessoas. A cidade cananéia foi construída sobre uma plataforma artificial sustentada por um a série de terraços. O s arqueólogos descobriram uma estrutura de pedra em degraus com m ais de 15 metros de altura na extremidade nordeste dessa elevação. Provavelmente trata-se da plataforma onde ficava a cidadela dos jebuseus m encionada no versículo 7 e que foi ampliada por Davi e usada como fundação na construção de seu palácio, no versículo 11. A cidade era cercada por um muro de três metros de largura construído havia mais de oitocentos anos. Além disso, poucos vestígios encontrados no local pelos arqueólogos podem ser atribuídos ao período de Davi.5.6. je b u seu s. São m encionados pela prim eira vez como descendentes de Canaã (Gn 10.16). Trata-se provavelmente de um povo não-semita, relacionado aos hititas ou aos hurritas, que se instalou nessa região durante o início do segundo m ilênio, habitando a reg ião m on tan h osa ao long o da fro n te ira su l de Benjam im (Js 15.8) e a cidade de Jerusalém (Js 15.63; 2 Sm 5.6). Após D avi ter conquistado Jerusalém , os jebuseus aparentemente foram assimilados ou perderam gradualm ente sua identidade étnica por viverem como escravos (2 Sm 5.6-9).
5.6. cegos e aleijados. Alguns sugerem que essa expressão seria um a tática mágica envolvendo feitiçaria, pela qual os cegos e aleijados seriam colocados nas muralhas como sinal de que todos aqueles que entrassem na cidade se tom ariam como eles. A maioria dos estudiosos, porém, prefere entender que seria simplesm ente um a expressão exagerada de zombaria: "A té mesmo os cegos e aleijados podem im pedir o avanço de seus exércitos!".5.7. Sião. Não é possível traçar a origem etimológica de Sião, m as aqui (sua prim eira ocorrência) parece referir-se à acrópole da cidade dos jebuseus. Mais tarde passou a representar a cidade de Davi e toda a cidade de Jem salém em grande parte dos Livros poéticos e proféticos do Antigo Testamento.5.8. passagem de água. Durante mais de um século, muitos eruditos identificaram o local por onde Davi entrou na cidade com a passagem de W arren, um túnel cavado na rocha que perm itia aos moradores o acesso às águas da fonte de Geom. Porém, as pesquisas arqueológicas mais recentes no sistema de túnel, dirigidas por Reich e Shukron, mostraram que a passagem W arren nunca foi usada como túnel de água e não estava conectada ao sistema subterrâneo na época de Davi. Os comentários a seguir analisam os diversos elem entos envolvidos nessa interpretação.A fon te de Geom fica no vale de Kidron, no lado sudeste da cidade. Essa fonte jorra água três ou quatro vezes ao dia, durante aproxim adam ente quarenta m inutos. O volume total dessa água (14 mil metros cúbicos por dia) é suficiente para encher um a cisterna com 23 m etros quadrados e dois m etros e m eio de profundidade.A importância estratégica dos sistemas de água. Se a cidade fosse cercada, seus habitantes precisariam ter acesso a um a fonte segura de água, m as os m uros da cidade ficavam no alto da colina, enquanto que a fonte ficava no vale. Por essa razão, foi preciso empregar m uita criatividade para que fosse criado um sistem a de túneis e de passagens através das rochas que garantisse o fornecim ento de água à cidade. Outros túneis são conhecidos em H azor, M egido, Gezer e Gibeom (ver o comentário em 2.13). Os sistemas de água m ais antigos cavados na rocha de que se tem notícia no antigo Oriente Próximo remontam ao século treze, em Micenas.O sistema de água de Jerusalém. Era possível entrar na passagem e gradualmente descer através de degraus e ram pas até os mananciais sem precisar sair da cidade. U m a curva acentuada à direita levava a um túnel horizontal que term inava num a escada íngrem e que seguia dentro de um a caverna natural. A distância entre a entrada da passagem até essa caverna era de cerca de 40 metros. Depois de um a curva
acentuada, chegava-se a uma torre fortificada, onde a água da fon te de G eom era arm azenada em um a grande cisterna.A entrada de Davi na cidade. A única maneira de entrar no sistema de água pelo lado de fora da cidade seria através de um canal que saía do túnel levando a água da fonte até a cisterna, na torre. Esse canal percorria toda a extensão da cidade. Não era um túnel, mas era coberto por enormes pedras, tornando difícil perceber claram ente como Joabe conseguiu entrar na cidade por ali.5.9. capital como posse pessoal do rei. O título "C idade de D avi" pode refletir um antigo costume pelo qual a capital do reino não seria apenas o local de residência real, m as propriedade pessoal do rei que estivesse no poder e de seus sucessores. Desde Tukulti-Ninurta, no século treze, até Sargon II, no oitavo século, era comum que os reis assírios dessem seus nomes às capitais. Sargon adquiriu um a localidade chamada Dur- Sharrukin e edificou ali sua capital (K horsabad), de m odo bastante sem elhante a Onri, que com prou um lugar para ser sua nova capital, Sam aria (1 Rs 16.24). Essas cidades de propriedade real geralmente abrigavam os funcionários do governo (a maioria parentes do rei) que desfrutavam de certos privilégios, incluindo isenção de impostos, dispensa de trabalhos forçados e da obrigatoried ad e do serviço m ilitar e en carceram ento , bem com o se ben eficiav am dos m ais belos projetos de construção. T ais priv ilégios (kidinnutu) eram usufruídos, por exem plo, pelas cidades babilónicas de Nippur, Sippar e Borsippa, devido à sua posição como centros religiosos e não como capitais políticas. Certas capitais políticas como N ínive e Babilônia tam bém se beneficiavam desses privilégios.5.9. defesas na parte interna da cidade (M ilo). Atualmente, a maioria dos estudiosos acredita que essa importante estrutura defensiva pode ser identificada com o que os arqueólogos cham am de "estrutura de pedra em degraus" (ver com entário em 5.6). Essa estrutura era construída com pedra e terra, perm itindo que a área de construção se estendesse por cerca de seiscentos metros quadrados.5.11. Tiro. Tiro era um dos principais portos fenícios do mundo antigo. A cidade ficava localizada em uma pequena ilha (cerca de 150 acres) no M editerrâneo, a cerca de 160 quilômetros da costa, ao norte de Jerusalém. Tanto a cidade como sua importante fortaleza são citadas em antigos registros de Ebla e tam bém nos textos de execração egípcios, nas cartas de Amarna, no Épico de Keret (Ugarit), na Lenda de W enam om (Egito) e ainda em docum entos gregos e romanos. Além de sua importância para o comércio marítimo da época, a indústria têxtil e de corantes (ver comen-
tário em N m 4.6) bem como a exportação do cedro formavam a base de sua economia.
5.11. Hirão. O período do reinado de Hirão I, rei de Tiro (em fenício, Airão; em assírio, Hirummu) geralm ente é situado de 969 a 936 a.C., baseado no cálculo cronológico do historiador judeu Josefo (primeiro século d.C.), que afirm ava ter inúm eros registros da história de Tiro, oferecendo muitas informações sobreo reinado de Hirão. De acordo com essa cronologia, Davi e Hirão não teriam sido contem porâneos, porém, os m étodos de cálculo disponíveis a Josefo não são inteiramente confiáveis. Fontes do Oriente Próximo contemporâneas à época delimitada por Josefo não oferecem nenhum a inform ação sobre Hirão, apesar de destacarem seu hom ônim o, Hirão II. Esse nom e tam bém é bem conhecido nessa m esm a época pelo sarcófago de Airão, rei de Biblos, cidade próxima de Tiro.
5.11. toras de cedro. O cedro é uma árvore que cresce lentam ente, podendo atingir m ais de 35 m etros de altura e viver até três mil anos. A beleza de sua madeira, o arom a adocicado e a durabilidade tom aram o cedro a madeira preferida dos reis do mundo antigo, usada na construção de tem plos e palácios. A alta concentração de resina no tronco inibe a formação e o desenvolvimento de fungos. As florestas do Líbano, na encosta oeste das montanhas do Líbano (a cerca de 1500 metros de altitude) eram um dos poucos lugares onde essa árvore crescia. A Mesopotâmia e o Egito já im portavam m adeira de cedro no início do quarto milênio a.C.. Por volta do ano 1000, pouco havia restado das lendárias florestas do Líbano, tom ando essa madeira rara e ainda m ais valiosa.5.11. o palácio de D avi. Em bora não tenha sido descoberto nenhum vestígio do palácio de Davi, a ajuda de Hirão, rei de Tiro sugere que o projeto arquitetônico teria sofrido influência do estilo fenício. Escavações arqueológicas na Síria revelaram algum as construções fenícias da mesma época, identificadas pela descrição acadiana bit-hilani, num a referência ao característico pórtico com colunas que figurava com destaque nesses edifícios. Um palácio seguindo o estilo bit-hilani foi descoberto pelas escavações em Israel, na cidade de M egido, sendo identificado com o o palácio de Salomão. Esse palácio, provavelm ente, é o exemplo m ais próximo de como teria sido o palácio de Davi em Jerusalém . O palácio de M egido tinha cerca de 21 m etros quadrados. Em seu interior, havia no primeiro pavim ento um a série de am plos aposentos, um salão de audiência, um pátio e cerca de uma dúzia de cômodos menores para uso dos m oradores ou funcionários. Em geral, havia pelo menos dois pavimentos, além de um a torre de vigia.
5.13. casam entos reais com o estratégia política . Ocasamento era uma espécie de ferram enta diplomática no antigo Oriente Próximo. Cidades, cidades-esta- do, tribos ou nações que desejavam aliar-se a um governante ou submeter-se à sua proteção selavam o tratado através do casamento de um a jovem , filha de uma das principais famílias, com o suserano ou com seu filho. Isso representava um ato de lealdade por parte do vassalo que, a partir de então, estaria pessoalm ente interessado em preservar a dinastia do rei. Por exemplo, Zimri-Lim, rei de M ari durante o século dezoito a.C., foi bem-sucedido em colocar suas filhas no harém de reinos vizinhos, casando ele mesmo com diversas esposas estrangeiras a fim de aum entar o poder e a estabilidade de seu reino. Igualm ente, o faraó Tutm és IV (1425-1412 a.C.) casou-se com a filha do rei de Mitani a fim de demonstrar sua disposição em ter boas relações com esse povo e pôr fim a uma série de guerras com aquele reinado do médio Eufrates. No caso de Davi, antes de se tornar rei de Israel, ele fortaleceu sua posição política e econômica através de diversos casamentos (ver o comentário em 1 Sm 25.3944). Os casamentos mencionados neste versículo provavelm ente asseguraram o apoio de algumas das famílias m ais importantes de Jerusalém.5.17. fortaleza. A fortaleza mencionada aqui não é a m esm a de 1 Sam uel 22.4 e 24.22; trata-se provavelmente da cidade dos jebuseus em Jerusalém. O pavimento dessa cidade e algumas ruínas dos muros foram encontrados por arqueólogos no limite norte da cidade dos jebuseus, na área ao sul dos m uros atuais da Cidade Velha.5.18. vale de Refaim . Assim como o vale de Soreque, este vale segue para o leste a partir da Sefelá, perto de Bete-Semes, e passa por diversos desfiladeiros até chegar nas montanhas ao redor de Jerusalém. O vale de Soreque faz um a curva em determinado ponto para o nordeste, em direção a Gibeom, enquanto o vale de Refaim dirige-se para o leste-sudeste, em direção à área entre Belém e Jerusalém, juntando-se à estrada norte-sul que vai de Jerusalém a Belém e seguindo para o nordeste até Jerusalém . Esse vale seria um local estratégico para os filisteus bloquearem a chegada dos reforços de Judá até Davi.5.19. pergun ta oracular. D esde o capítulo 23 de 1 Sam uel até o fim do Livro, Davi faz perguntas oracu- lares ao Senhor através do colete sacerdotal com o auxílio de Abiatar, o sacerdote. É provável que aqui estivesse acontecendo a m esma coisa. N um a consulta oracular, um a pergunta do tipo "s im ou não" era apresentada à divindade e um m ecanism o binário era usado para determinar a resposta. Os meios normativos estabelecidos para esse processo no Êxodo eram
0 U rim e o Tum im (mantidos em um bolso na frente do colete).
5.20. Baal-Perazim. Supõe-se que o termo "b aal" nesse nome (como título de uma divindade) identifique esse local como sagrado. Esse nom e talvez tenha se originado de Perez, filho de Judá e ancestral da linhagem de Davi. Alguns identificam o local como sendo a cadeia de montanhas entre Giló e Beit Jala, cerca de três quilômetros a noroeste de Belém.5.21. ídolos abandonados. Sacerdotes, adivinhos (como pode ser visto nos textos de Mari), profetas (2 Reis 3) e objetos sagrados (anais assírios de Salmaneser III [858824 a.C.]) geralmente acompanhavam os exércitos no antigo O riente Próxim o. D esse m odo, o(s) deus(es) podiam ser consultados durante as batalhas ou invocados a fim de conduzir os soldados à vitória. Na temática do guerreiro divino, a divindade participava das batalhas e derrotava os deuses do inimigo. Nas situações difíceis, faziam -se orações e consultavam-se presságios para assegurar a presença da divindade. O s ídolos só eram abandonados sob circunstâncias extremamente críticas. Há diversos casos de estátuas de divindades sendo carregadas como troféus de guerra nesse período. Para exemplos, ver o comentário em1 Samuel 5.2.
5.24. passos por cim a das amoreiras. O termo traduzido pela NVI como "am oreiras" aparece em outras versões como "árvores de bálsam o". Se for esse o caso, trata-se de um tipo de arbusto conhecido como tere- binto, comum nas regiões montanhosas. Em bora essa tradução deixe algumas dúvidas, nenhuma outra foi considerada convincente. H á um consenso, porém, de que se trata de algum tipo de árvore. Alguns sugeriram que Davi estivesse buscando orientação divina através de um oráculo baseado no m ovim ento dos galhos das árvores, mas é difícil confirm ar esse procedimento como uma prática oracular regular.5.24. Deus à frente do exército. Na temática do guerreiro divino, a divindade vai à frente para derrotar o inimigo, um tema comum em todo o antigo Oriente Próximo. Nos relatos hititas, Hatusilis III declara que Istar foi à sua frente para lutar. No Egito, Amom-Rá teria ido à frente dos exércitos de Tutm és III. A presença da divindade aterrorizava e confundia o inimigo, sendo às vezes acompanhada de trovões (ver o comentário em 1 Sm 7.10) ou terremotos (ver o comentário em 1 Sm 14.15).5.25. desde G ibeom até G ezer. O vale de R efaim (onde os filisteus estavam acam pados, conform e o versículo 22) ficava a sudoeste de Jerusalém. A passagem entre G ibeom e Gezer acompanhava o vale de Aijalom, que ficava a noroeste de Jerusalém. O versículo 23 sugere que D avi posicionou seu exército a
oeste dos filisteus para bloquear a retirada deles e empurrá-los em direção a Jerusalém (a cerca de três quilômetros), por onde passariam para o lado oeste. Exatam ente ao norte da cidade eles teriam virado para o noroeste, a fim de recuperar Gibeom (cerca de dez quilômetros). E provável que outras guarnições de filisteus estivessem na região, ou que eles simplesmente estivessem se dirigindo para passagem seguinte na planície. Visto que o texto faz menção a Gezer, os filisteus devem ter rumado para o noroeste por fora de Gibeom até a passagem de Bete-Horom (cerca de cinco quilôm etros; ver o com entário em Js 10.10) e descido até o vale de Aijalom (oito quilômetros). Dali até Gezer, seriam cerca de onze quilôm etros, o que significa que Davi expulsou completamente os filisteus da região montanhosa.
6.1-23A a rca é le v a d a p a ra Je ru sa lé m6.1. trinta m il m elhores guerreiros. O exército regular de Davi agora era composto de trinta divisões (ver
o comentário em Js 8.3). A importância da arca assim como o significado m ilitar subjacente a essa busca, é demonstrada pelo tamanho da escolta. Eram comuns no m undo antigo desfiles de tropas como form a de exibir o poderio militar, um procedimento ainda popular nos dias de hoje. De modo semelhante, o exército assírio teria acompanhado a estátua de Marduque quando foi resgatada de Assur e levada de volta para a Babilônia, no sétimo século.
6.2. Baalá. Em 1 Crônicas 13.6, Baalá é apenas um outro nome para Quiriate-Jearim. A arca havia ficado guardada em Quiriate-Jearim desde que retornara da Filís- tia. Essa localidade é geralmente identificada com Tell el-Azhar, catorze quilômetros a noroeste de Jerusalém.6.2. trono entre os querubins. A arca era uma caixa de madeira, aberta em cima, com aproximadamente um metro de comprimento e setenta centímetros de altura e de largura. Era revestida por dentro e por fora com lâm inas de ouro fino e tinha duas argolas (também revestidas de ouro) de cada lado, onde se introduziam duas varas de m adeira revestidas de ouro para carregar a arca e evitar que alguém , além do sum o sacerdote, a tocasse. U m a tampa de ouro puro, decorada com dois querubins com as asas estendidas, fechava a arca. Sua função primordial era guardar as tábuas da lei e servir como um "estrado" para o trono de Deus, garantindo assim uma ligação terrena entre Deus e os israelitas. Nos festivais egípcios, as imagens dos deuses geralm ente eram carregadas em procissão, em altares portáteis. Há várias pinturas retratando procissões em que caixas semelhantes à arca eram carregadas por varas e decoradas com figuras de criatu
ras guardiãs em cima ou do lado. As descrições bíblicas, bem como as descobertas arqueológicas (inclusive algumas peças de m arfim fino de N inrode, na M esopotâmia, de Arslan Tash, na Síria e da Samaria, em Israel) sugerem que os querubins eram criaturas compostas (isto é, com características de diversas criaturas, como a esfinge egípcia), geralmente com cabeça hum ana, corpo de anim ais quadrúpedes (p. ex., leão) e com asas. O querubim é representado na arte antiga com certa regularidade ladeando tronos de reis e divindades. A combinação de querubins como guardiães do trono, arcas como estrados e afirmações no Antigo Testamento concernentes ao trono de Yahweh sendo sustentado por querubins dão fundamento ao conceito da arca como uma representação do próprio trono invisível de Yahw eh. N o m undo antigo, era comum manter tronos vazios, deixados à disposição das divindades ou personalidades reais, quando estivessem presentes.6.3. carroção novo. O uso de um carroção novo era um a garantia de que não estaria ligado a nenhuma im pureza ritual decorrente de usos anteriores (por exemplo, se tivesse sido usado para transportar esterco ou animais mortos). Entretanto, as instruções para o transporte da arca sempre recomendavam que fosse carregada pelos sacerdotes e não transportada numa carroça. O carroção foi um precedente introduzido pelos filisteus (1 Sm 6.7).
6.5. m úsica de adoração. Todos esses instrum entos musicais são típicos desse período e confirmados em textos, relevos e pinturas do antigo Oriente Próximo desde o terceiro milênio. Ainda há controvérsias quanto a qual palavra hebraica deveria ser traduzida como "h arpa" e qual como "lira". O termo que a NVI traduz como "lira" refere-se a um instrum ento de dez cordas, enquanto que a palavra traduzida por "h arpa" diz respeito a um instrumento com um número menor de cordas. Am bos podiam ser segurados nas m ãos através de uma estrutura de madeira. O tamborim foi identificado em relevos arqueológicos como
um tambor ou um pequeno pandeiro (couro esticado sobre um aro), mas sem o som dos pequenos guizos dos pandeiros modernos. O quarto instrumento (traduzido pela NVI como "chocalho") é o mais difícil de ser identificado porque essa é a única vez em que é mencionado no texto bíblico. Os últimos instrumentos citados no texto, os címbalos, eram feitos de bronze e classificados como instrumentos de percussão, sendo que a única dúvida seria quanto ao tamanho.6.6. eira de Nacom. A localização dessa eira é desconhecida. O texto a situa nas proximidades da casa de Obede-Edom, que ficava a pouca distância de Jerusalém, m as é impossível ser m ais preciso.
6.7. a atitude irreverente de Uzá. A arca era considerada como um objeto que exigia respeito e cuidado e por isso mesmo era natural que fosse vista como algo perigoso (comparável à eletricidade). A palavra traduzida pela expressão "a to de irreverência" ocorre apenas aqui no Antigo Testamento, mas essa mesma raiz, em língu as ap arentad as sign ifica "d esd é m " (acadiano) ou "negligência" (aramaico).6.10. casa de O bed e-E dom . O nom e Obede-Edom significa "servo de Edom " (talvez Edom fosse o nome de alguma divindade; compare com Obadias = Obede- Yah[weh]). Obede-Edom também é identificado como alguém da cidade de Gate. Um a companhia de soldados (mercenários?) de Gate formava a guarda pessoal de D avi (ver 15.18) e é possível que Obede-Edom fizesse parte desse grupo. Presume-se que a casa estivesse nas proxim idades de Jerusalém , mas não há evidências sobre o local exato.6.13. sacrifício a cada seis passos. Quando o rei assírio Assurbanipal levou a estátua de M arduque de volta para a Babilônia (sétimo século), durante o percurso eram feitas ofertas de bois cevados a cada três quilômetros (de Assur até a Babilônia são cerca de 400 quilôm etros). D avi teria feito o m esm o núm ero de sacrifícios que Assurbanipal, mas num trecho de apenas um quilômetro. O texto não especifica o que foi usado como altar ou quanto tempo durou a procissão. A palavra traduzida como "b o i" é um termo usado para gado, podendo ser macho ou fêmea do rebanho. A especificação quanto a um novilho gordo não é
mencionada nas instruções rituais do Pentateuco. Presum e-se que fosse um anim al que tivesse recebido um a alim entação especial para que a carne ficasse macia. O texto não oferece detalhes do tipo de sacrifício que foi realizado.6.14. colete sacerdotal de linho. Em bora o colete fosse uma veste sacerdotal, Davi não está sendo retratado necessariamente como o oficiante, exercendo a função de sacerdote. Um a alternativa possível é que ele estivesse assumindo o papel de suplicante diante do Senhor e assim "oferecendo" sacrifícios, não como um sacerdote, m as como qualquer adorador faria (ver o comentário a seguir sobre o versículo 17).6.14. a dança no m undo antigo. As danças no mundo antigo geralmente estavam relacionadas a rituais, embora algumas fontes da M esopotâmia e do Egito ofereçam ilustrações de dançarinos num contexto de diversão. A dança relacionada aos festivais poderia ser comparada às danças folclóricas de nossos dias, caracterizadas pelos m ovimentos coordenados de um grupo de dançarinos. Em outras épocas, as danças se assem elhavam a um balé, representando um a cena ou um drama, em que os dançarinos, muitas vezes escas
samente vestidos, davam giros, agachavam, saltavam e pulavam, fazendo acrobacias semelhantes às exibições modernas de ginastas. Em contextos rituais, algumas vezes os sacerdotes e funcionários do templo também participavam das danças, não apenas os dançarinos profissionais. Há relatos de um ritual hitita em que a rainha participa de um a dança. Não há n enhum relato, porém, de reis dançando.6.14-21. atitude de D avi. O verbo traduzido por "d ançando" nos versículos 14 e 16 é usado apenas nessa passagem. Na língua ugarítica, esse mesmo termo é usado para demonstrar algo que se fazia com os dedos, como estalar ou movimentar os dedos. O verbo usado no versículo 16 é citado de form a ligeiramente diferente em Gênesis 49.24, descrevendo a agilidade no manejo de armas. Na passagem paralela (1 Crônicas 15.29), o verbo traduzido por "dançando" é usado apenas duas vezes para referir-se a atitudes hum anas, em Jó 21.11, expressando regozijo, e em Eclesiastes3.4 em oposição a pranto. Esse verbo geralmente exprim e um a expressão corporal com m ovim entos de balanços, trem ores ou vibrações. É possível, então, que Davi não estivesse de fato dançando, mas agitando os braços e estalando ou movimentando os dedos.6.15. trom betas. A trom beta m encionada aqui é o chifre de carneiro (shofar). O shofar pode produzir uma variedade de sons, mas não é capaz de executar uma melodia, por isso, era usado principalmente para transmitir sinais, tanto nos cultos como nas batalhas. O chifre de carneiro deveria_primeiramente ser amolecido em água quente, depois dobrado e achatado para adquirir seu formato característico.6.17. ten d a preparada para a arca. O texto não se refere a essa tenda como sendo a tenda do encontro ou tabernáculo, as duas formas que geralm ente identificavam o santuário ordenado no Sinai. Textos religiosos cananeus também mencionam o uso de pavilhões como m orada dos deuses. Descobertas arqueológicas em Timná revelaram vestígios de um a tenda midianita que servia de santuário, anterior ao século doze a.C., também com cortinas penduradas em vigas ou varas. Estruturas portáteis semelhantes já existiam no Egito na m etade do terceiro milênio, tanto para uso sagrado como secular.6.17. holocaustos e sacrifícios de comunhão. Os holo- caustos deveriam ser consumidos sobre o altar e geralm ente estavam associados a petições (ver o com entário em Lv 1.3, 4). Os sacrifícios de comunhão forneciam base para um a refeição comunitária e geralm ente eram usados para ratificar tratados ou acordos. Para mais detalhes, ver comentários em 1 Samuel 10.8; Êxodo 24.5 e Levítico 3.1-5. Os sacrifícios de comunhão eram usados em ocasiões de coroação (1 Sm
11) e dedicação de templos (1 Rs 8). É possível que a colocação da arca na tenda tenha ocorrido durante um a celebração de entronização; ver o próxim o com entário.
6.17. celebração de entronização. As comemorações assírias de entronização na época de Tukulti-NinurtaI (século doze) descrevem o rei despindo-se de suas
vestes reais e orando hum ildem ente diante da divindade. Depois, o rei era novam ente coroado e abençoado, e uma procissão o conduzia até o trono, onde a cerimônia era encerrada com a entrega de presentes por seus altos funcionários, que demonstravam assim sua lealdade e submissão ao rei. As semelhanças entre essa cerim ônia e as celebrações de Davi são evidentes. Aqui, é a entronização de Yahw eh que está sendo celebrada. Davi deixa de lado suas vestes reais e conduz a procissão como um simples suplicante até a sala do trono (a tenda), onde os sacrifícios de petição e submissão são oferecidos. A partir do versículo 21, podemos deduzir que nessa ocasião foram confirmados a eleição e o reinado de Davi. Registros assírios tam bém apresentam diversos relatos sobre a fundação de uma nova cidade real (Asumasirpal, Sargon, S e n a q u e rib e , E sa rh a d o n ). N eles , a d iv in d ad e é conduzida à cidade, acompanhada de sacrifícios e de um banquete (incluindo música), com comida e bebida sendo distribuídas liberalmente ao povo.6.18. abençoou o povo. No mundo antigo, acreditava-se que as bênçãos (bem como as maldições) tinham poder para se fazer cum prir por si mesmas. G eralmente eram proferidas pelos sacerdotes a alguém que estivesse saindo do santuário após ter participado de algum ritual. No antigo Oriente Próxim o, as saudações ugaríticas e acadianas geralmente incluíam uma invocação aos deuses para garantir cuidado e proteção. Por fim, a expressão "o Senhor te abençoe e te guarde" também é encontrada em hebraico, pintada num grande jarro do nono século a.C. encontrado em Kuntillet Ajrud, no norte do Sinai.6.19. presentes para o povo. O pão era um tipo de rosca trançada com um furo no meio. "B olo de tâmaras" é um a tradução tradicionalmente aceita, já que essa palavra aparece apenas nessa passagem e o significado é incerto. O presente traduzido como "bolo de uvas passas" poderia ser um bolo feito com qualquer tipo de fruta seca. Oséias 3.1 especifica que uvas passas eram usadas para fazer bolos sagrados, mas o contexto aqui não dá esse tipo de informação. Poderia ser um tablete ou um a bola de frutas secas prensadas.6.20. a queixa de M ical. No versículo 16, o texto diz que quando M ical viu Davi dançando (ver o comentário em 6.14-21), ela o desprezou, porém só agora fica claro o que a ofendeu. A queixa de M ical não se
relaciona a algum comportamento indigno de Davi, mas a seus trajes. H avia duas razões pelas quais Davi teria se despojado de suas vestes reais e usado uma
simples túnica de linho: como participante da procissão (ver 6.14 acima), poderia ter adotado o traje dos dançarinos, que costumava ser bastante sumário, ou no caso de um a festa de entronização (ver 6.17 acima), poderia, como rei, ter adotado o papel de suplicante. Visto que M ical o compara a um "hom em vulgar", é provável que a prim eira alternativa represente sua interpretação pessoal da cena.
7.1-29A promessa de Deus a Davi7 .1 ,11 . descanso. O texto afirma que Deus concedeu a Davi descanso de seus inimigos e em todo o Antigo Testam ento o Senhor declara que dará descanso ao seu povo. Essa afirmação é especialmente significativa neste contexto, visto que Davi desejava construir um templo, e no antigo Oriente Próximo, esperava-se que o templo proporcionasse descanso à divindade. Os nomes dados a alguns templos até mesmo sugerem que essa seria a principal função deles. O descanso divino freqüentemente resultava em descanso para o povo em sua terra. A Bíblia, porém, faz pouca m enção ao descanso divino, e nunca é visto como condição para o descanso humano, exceto no caso do sábado.7.2, 3. profeta como conselheiro. Antes da época de Sam uel, os profetas exerciam liderança política em decorrência de sua função. Com o início da m onarquia, o papel do profeta passou a ser o de um conselheiro, e em vez de conduzir o povo transmitindo as mensagens divinas, ofereciam orientação ao rei, que tinha a liberdade de aceitá-la ou rejeitá-la. Para mais informação, consulte os comentários em Deuteronômio18.14-22.7.2. palácio de cedro versu s tenda. No antigo Oriente Próximo, quando um rei vitorioso desejava demonstrar sua gratidão à divindade protetora, ele geralm ente construía um tem plo para ela. Há inúm eros exemplos que remontam à metade do terceiro m ilênio entre os sum érios, atravessando o período dos assírios, dos babilônios e até mesmo dos persas. Esperava-se que o templo (considerado como morada da divindade) oferecesse proteção ao rei e ao seu povo. Um a habitação permanente e luxuosa (de cedro) teria como objetivo assegurar a presença e o favor do Senhor. Na literatura ugarítica acreditava-se que o deus pai, El, habitasse num santuário em forma de tenda (como muitas divindades cananéias). Baal, ao contrário, construiu para si m esm o um belo palácio.7.5. perm issão divina para construir. No m undo antigo era preciso buscar a permissão divina para se cons
truir um templo. Se o rei construísse um templo de
acordo com sua própria vontade, sem buscar orientação dos deuses quanto à localização, posição, tamanho e materiais adequados, estaria fadado ao fracasso. No
período neobabilônico, Nebonido fala de um rei que deu início à construção de um templo sem o consenti
mento dos deuses, resultando no desmoronamento do templo. No texto sumério M aldição de Acade, Naram-
Sin procura um presságio que lhe permita construir um templo, e apesar de não receber a confirmação, ele prossegue com seus planos. Esse fato fez com que
fosse acusado pela queda da dinastia de Acade.
7.8-11. divindade com o protetora do rei. Na retórica
do antigo Oriente Próxim o, era comum que um rei
declarasse estar sob a proteção da divindade nacional. Documentos hititas e m esopotâm icos fornecem elementos que confirmam esse fato com bastante clareza.
Atribui-se à divindade a escolha do rei, sua ascensão
ao trono bem como a doação de terras e o estabelecimento de seu reinado. A divindade era responsável
por proteger o rei, conceder-lhe vitória contra o inimi
go e estabelecer sua dinastia, determ inando dessa forma o destino do reL
7.13. filh o construirá o tem plo. Foi descoberta uma
inscrição em que Ada-Guppi, a fam osa rainha-m ãe do império neobabilônico (sexto século) relata um so
nho recebido do deus Sin em que o deus teria dito a
ela que seu filho construiria um templo para ele na
cidade de Harran. A situação de Davi era diferente, pelo fato de ser uma obra de restauração de um santu
ário que havia se transformado em ruínas.7.14. relacionam ento de pai/filho entre D eus e o rei.
Essa é um a característica particularmente forte da m o
narquia egípcia, visto que até m esm o a origem do faraó era considerada divina, sendo concebido como
filho de Rá, o deus-sol. Na literatura ugarítica, Keret,
rei de Khubur, é identificado como o filho de El, o
deus principal dos cananeus. Entre os arameus, até mesmo os títulos reais incluíam essa designação (Ben-
H adade significa "filh o de H adade"). N a M esopo-
tâmia, tanto G ilgam és, na m etade do terceiro m ilênio, como Gudea, Hamurabi, Tukulti-Ninurta e Asur- banipal, afirm avam ter origem divina.
7 .14 ,15 . segurança, apesar da disciplina. Em um tratado hitita do segundo m ilénio o rei hitita Hatusilis III
garante a seu vassalo, Ulmi-Teshup de Tarhuntassa,
que seu filho e seu neto herdariam a terra depois dele. O texto continua dizendo que se os descenden
tes de Ulmi-Teshup cometessem erros, seriam puni
dos (até m esm o com a m orte), m as que a terra não seria tirada da fam ília de Ulmi-Teshup enquanto hou
vesse um herdeiro do sexo masculino.
7.15. aliança de am or. Exem plos hititas, acadianos, ugaríticos e aramaicos m ostram que a atitude favorável do suserano para com o vassalo se expressava como amor, bondade e misericórdia e em troca o vassalo devia prestar-lhe obediência e lealdade. Nas cartas de A m am a (dos reis vassalos de Canaã para o soberano egípcio) o termo "am or" era usado para caracterizar ou descrever relações internacionais am igáveis e leais, e expressava as intenções do vassalo em ser leal e honrar os termos do acordo firmado entre as partes. O texto bíblico dá um exemplo claro desse uso em 1 Reis5.15. São raros os exemplos na literatura mesopotâmica em que um indivíduo é exortado a amar a divindade; em geral, os deuses do antigo Oriente Próxim o não procuravam ser amados por seus adoradores nem faziam alianças com eles.
7.18-29. observações a respeito da oração de Davi.Em uma oração de A sum asirpal I (rei assírio da geração anterior a Davi) a Istar, ele agradece a essa deusa pela proteção recebida. Dentre os atos de bondade que ele reconhece, estão tirá-lo da obscuridade, indicá-lo como pastor para o povo, tom á-lo conhecido e permitir que ele fizesse justiça a seu povo. Essas também foram algumas das obras divinas que Natã identificou na vida de Davi (versículos 8-11).7.22. m onoteísm o. A afirm ação aqui de que não há outro deus além de Yahw eh ultrapassa qualquer outra declaração já feita. Embora no mundo antigo tenham ocorrido diversas tentativas de engrandecer um deus em detrimento de outros, nada se compara ao ideal de monoteísmo encontrado no antigo Israel (ver os comentários em Êx 20.3 e Dt 6.4).
8.1-18O reinado de Davi8.1. M etegue-Am á. É pouco provável que seja o nome de um lugar, mas se de fato fo r o nome de um lugar, sua localização é desconhecida.8 .2 ,3 . execução seletiva. Os meios usados para selecionar aqueles que seriam executados não são comparáveis a nenhum outro, nem na Bíblia nem nos regis
tros disponíveis do antigo Oriente Próximo.8.2. im postos. Quando uma nação ou alguma instituição política conquistava um povo ou estendia sobre ele sua hegemonia, como resultado, a nação subjugada era obrigada a pagar tributos. O pagamento era feito com m etais preciosos (em barras, jó ias ou objetos), produtos agrícolas (grande parte da colheita) ou através de trabalhos forçados. Evidentemente essas exigências eram bastante im populares e provocavam muitas revoltas ou lutas armadas. Existe farta documentação extrabíblica que comprova essa prática, como os anais dos reis assírios, incluindo listas de objetos
recebidos como tributos. Alguns exemplos: o "Obelisco N egro", inscrição de Salmaneser III (859-824 a.C.) contém o tributo pago por Jeú à A ssíria na form a de prata, ouro, chumbo e m adeira; T iglate-Pileser III (744727 a.C.) recebeu couro de elefante, marfim, vestes de linho e outros itens luxuosos de seus vassalos de Damasco, Samaria, Tiro e outros lugares.8.3. Hadadezer. Hadadezer é apresentado como filho de Reobe, o que pode indicar sua relação com a importante cidade de Bete-Reobe (ver 10.6). Ashurabi II, o rei assírio contemporâneo de Davi, registra consideráveis dificuldades causadas por um rei arameu que tentava expandir seu domínio até o território assírio. O relato não menciona o nom e desse rei, mas Hadadezer é o candidato m ais provável. O nome em si é familiar, visto que também é o nome de um rei arameu que se opôs aos assírios no nono século (Adad-Idri é a forma assíria do nome).
8.3. Zobá. Importante reino arameu situado próximo às montanhas do Anti-Líbano e na parte norte do vale de Beqa (parte sul do Orontes), estendendo-se a leste até a planície de Homs. É mencionado nos registros neo-assírios dos séculos oitavo e sétimo.8.3. rio Eufrates. A região mencionada aqui é provavelm ente a da curva do rio Eufrates em Emar. De acordo com 1 Crônicas 18, essa batalha aconteceu em Hamate, às margens do rio Orontes. O termo traduzido pela N VI com o "con tro le" é a palavra hebraico usada para "m ão", que em outros contextos refere-se a um monólito ou a um monumento com uma inscrição real (1 Sm 15.12; 2 Sm 18.18), erigido aqui por Davi. O versículo 13 menciona que Davi ficou ainda m ais "fam oso", em hebraico, fez um "nom e", que é um a expressão usada também para designar um monum ento, em hebraico. O faraó egípcio Tutm és III (século quinze) orgulhava-se das colunas que havia erigido às m argens do Eufrates.8.4. carros de guerra. Os carros da Síria durante esse período eram semelhantes aos modelos assírios ilustrados em relevos do nono século. Eles eram puxados por dois cavalos, com m ais um ou dois animais atrelados nas laterais. Duas rodas com raios de madeira presas a um eixo traseiro sustentavam um a pequena plataforma ocupada pelo condutor e um acompanhante equipado com arco e lança. A s laterais do carro chegavam apenas até a metade da coxa dos passageiros.8.4. a le ijou os cavalos. Cavalos não podiam ser sacrificados com um tiro como se faz atualmente; os israelitas não tinham como usá-los, nem dispunham de meios para cuidar deles e certamente não queriam que seus inimigos continuassem a usá-los. Para aleijar os cavalos era preciso cortar o tendão na altura dos jarretes (o equivalente no corpo humano ao tendão calcâneo ou
tendão de Aquiles), deixando-os assim incapazes de andar.
8.5. arameus de Damasco. O deslocamento dos arameus para o Oriente aconteceu no século onze. Conforme algu ns outros exem plos da literatu ra cuneiform e, A ram talvez tenha sido originalm ente o nom e de uma região (cf. Sipar-Amnantum, do período da A ntiga Babilônia), e mais tarde passou a designar o povo que ali vivia. Evidências atuais sugerem que os aram eus habitaram o alto Eufrates durante o segundo m ilênio, inicialm ente com o aldeões e criadores de gado, depois como uma coligação política. O texto não menciona um rei de Damasco, sugerindo que D amasco ainda não emergira como a principal potência da região.
8.5. D am asco. D am asco está localizada em um oásis abastecido pelas águas do rio Barada, aos pés da cadeia de montanhas do Anti-Líbano a oeste e com o deserto sírio a leste. A prim eira referência à cidade encontra- se nas listas de Tutmés III, no século quinze, sendo também citada, em bora não com destaque, nos textos de Am am a. Damasco passou a ter m aior importância devido aos conflitos com a A ssíria nos séculos nono e oitavo. A contínua ocupação do local tem dificultado as
escavações arqueológicas, deixando-nos com poucas inform ações relacionadas ao período bíblico.8.7. "escu d os" de ouro. O termo hebraico traduzido aqui como "escu do" permaneceu obscuro por um longo tempo, mas atualmente é reconhecido como um termo técnico derivado do aramaico para referir-se ao estojo ou caixa do arco. Relevos persas de períodos posteriores apresentam figuras de caixas de arco.8.8. T ebá e Berotai. Nos textos de Am am a há referência a uma cidade chamada Tubikhu, ao sul de Homs, e talvez seja a Tebá mencionada aqui. Também consta dos itinerários egípcios. Berotai é Bereitan, no vale Beqa, ao sul de Baalbeque. O texto de 1 Crônicas 18.8 acrescenta Cum (Kunu) à lista, que era o antigo nome de Baalbeque (quase oitenta quilômetros ao norte de Damasco).
8.9. Toú, rei de Ham ate. Toú, rei de Hamate, controlava a região norte de Zobá e aparentem ente ficou satisfeito ao ver que a influência do reino de Zobá havia sido detida pelos israelitas. Hamate (atual Hama, cerca de 200 quilôm etros ao norte de Damasco) é o nome de uma cidade localizada acima do rio Orontes, mas nos registros neo-assírios é identificada também como um a nação. Não existem referências a Toú fora da Bíblia, mas esse nom e era comum na língua dos hurritas, o que sugere que nessa época Ham ate não era um estado arameu.8 .10 ,11 . consagrar m etais preciosos ao Senhor. O atode consagrar metais preciosos ao Senhor significa que
esses metais seriam doados ao tesouro do santuário, em vez de encam inhados ao tesouro real, e se tornariam
parte dos bens administrados pelos sacerdotes. Artigos selecionados como armas cerim oniais ou importantes objetos cultuais eram mantidos no santuário, enquan
to que os artigos m enores eram derretidos.8.12. área controlada por Davi. O território do reino de D avi in clu ía a T ran sjord ân ia , esten d en d o-se até o
Am on. O território de Edom englobava a região sudoeste do m ar M orto. A s conquistas de D avi visavam
controlar as duas principais rotas comerciais da região.
8.13. vale do Sal. A passagem el-M ilh é um a possibilidade, na metade do caminho entre Berseba e o mar
M orto, em bora essa suposição se baseie apenas no nome.
8.14. estabeleceu guarnições. Posicionar guarnições em territórios anexados ou em países vassalos permitia ao
país dom inador am pliar sua rede de suprim entos e m onitorar atividades, mantendo o controle da região.
Esses locais serviriam para armazenar os suprimentos
de alimentos e de armas e os m ilitares estariam a postos para lidar com qualquer desvio das condições estipu lad as no tratad o ou abafar quaisquer revoltas.
A lém disso, p erm itiria tam bém o recolh im ento de impostos e o controle da atividade mercantil.
8.16-18. os o ficia is de D avi. Joabe encabeça a lista,
demonstrando que o com andante do exército era a segunda autoridade no governo, o que era norm al
entre os povos do Levante. O arquivista real era o
responsável pelos registros e documentos de Estado e
podia ser considerado tam bém um arauto ou uma espécie de porta-voz do governo. Controlava também
quem seria admitido para falar com o rei e cuidava do
protocolo real. O secretário era responsável pela correspondência diplom ática e de certa form a poderia
ser com parado a um secretário de Estado. Alguns estudiosos sugerem que os cargos aqui mencionados
acompanham o modelo egípcio de administração, mas
esse m esm o argum ento pode ser usado a favor do modelo cananeu.
8.17. dois sum os sacerdotes. A biatar descendia da
linhagem de Eli (ver comentário em 1 Sm 1.3), que m antivera o cargo de sumo sacerdote desde o início
desse período. Zadoque é identificado mais adiante
como representante da linhagem de Arão, através de seu primogênito, Eleazar (1 Cr 6.8). Não há informa
ções quanto à transferência de poder durante o perío
do dos juizes. Não é im possível que a linhagem de
Zadoque tenha mantido as prerrogativas sacerdotais em Judá, mas tudo não passa de especulação. A dis
puta pelo cargo de sumo sacerdote entre sacerdotes rivais era com um no antigo O riente Próxim o, mas
geralm ente representavam sacerdócios que serviam a deuses diferentes.8.18. queretitas e peletitas. Am bos representam grupos de m ercenários que serviam a Davi como vassalos e não como membros do exército efetivo. Os queretitas são identificados com o im igrantes de Creta e estão intimamente ligados aos filisteus, que, supostamente, teriam vindo de alguma região do Egeu. Os peletitas são citados apenas em passagens em que aparecem relacionados aos queretitas.8.18. filh os como "conselheiros". O texto hebraico (e a NVI) usa a palavra "sacerdotes", m as não é isso que o texto está retratando. Embora a tribo de Levi tivesse sido designada exclusivamente para cum prir as obrigações e funções relacionadas ao santuário (ver os com entários em Lv 10.10 e N m 18.1-7), não havia nenhuma proibição explícita impedindo aqueles que não pertenciam a essa tribo de realizar tarefas sacerdotais (ver os comentários em Êx 28.1). Só que com o passar do tempo, as tarefas sacerdotais não relacionadas ao santuário foram gradualmente eliminadas (ver2 Rs 23.8). A existência de atividades sacerdotais desempenhadas dentro do contexto familiar é evidenciada em contextos pós-Sinai (Jz 6.24-26; 13.19; 1 Sm 20.29). Na cultura do antigo Oriente Próximo, o filho m ais velho freqüentem ente desem penhava as obrigações sacerdotais relacionadas à veneração dos ancestrais (ver o comentário em N m 3.1). Saul foi repreendido por ter se envolvido em um serviço sacerdotal, mas é provável que a causa da repreensão tenha
sido a transgressão do preceito (1 Sm 10.25) que determinava seu papel em relação ao de Sam uel (ver comentário em 1 Sm 13.8-13). As prerrogativas sacerdotais de Davi talvez estivessem ligadas às funções tradicionais de Jerusalém. A existência de uma tradição sacerdotal real é reconhecida em passagens como Salmo 110.4 e talvez na participação de Davi na cerimônia de instalação da arca (acima, 6.14).
9.1-13O cuidado de Davi para com Mefibosete9.3. aleijado dos pés. V er o comentário sobre M efibosete e sua deficiência em 2 Samuel 4.4.9.4. L o-D ebar. Á rea ao norte do rio Iarm uque, na Transjordânia, aliada a Saul e mais tarde transformada num Estado vassalo sob o dom ínio de D avi. A localidade de Tell D ober, que apresenta evidências de ocupação nas idades do Ferro I e II, talvez seja a cidade que controlava essa região. Está situada na extrem id ad e su d oeste de G olã e ao n orte do rio Iarm uque.
9.7. contraste entre a atitude de D avi e de outros reis.M efibosete tinha boas razões para estar com m edo de
Davi. Documentos mesopotâmicos relatam inúmeros casos de reis que ao assumir o poder eliminaram todos os rivais que poderiam reivindicar o trono (compare com o assassinato da família de Jeroboão por Asa em 1 Rs 15.29). Esse tipo de eliminação ocorreu tam bém anos m ais tarde como um a form a de vingança por oposição política ou tentativa de rebelião contra governantes anteriores, como Assurbanipal, que mutilou, executou e deu aos cães os corpos dos rivais de seu avô, em um de seus primeiros atos oficiais como rei da Assíria. Davi, porém, trata Mefibosete, o único hom em sobrevivente da família real, como genuíno herdeiro das propriedades de Saul. Sua generosidade também se manifesta na ordem para que Mefibosete passe a comer na mesa do rei. Desse m odo, Mefibosete é tratado com honra, em bora alguns com entaristas tenham sugerido que esta também seria um a forma de m antê-lo sob observação, caso ele manifestasse alguma propensão à subversão.
9.7. com er à m esa do rei. Prisioneiros políticos raramente eram mantidos em prisões. Era m ais vantajoso para o rei mantê-los confinados no palácio ou na cidade real, oferecendo-lhes os m anjares de sua m esa, m as sem pre debaixo de suas vistas. Registros contendo relação de suprimentos, dos períodos babilónico e assírio, apresentam evidências de que alim entos, roupas e azeite eram oferecidos aos "h ósped es" do rei. A s cortes persas m antinham na presença do rei presos políticos e "a lia d o s" , a fim de garantir um fluxo contínuo no envio de impostos e soldados para o exército. Assim, tanto M efibosete como Joaquim , m uitos anos mais tarde (2 Rs 25.27-30), desfrutaram dos benefícios da corte do rei, m as não eram verdadeiramente livres.
10.1-19Guerra contra os amonitas10.2. atitude de D avi em relação a Hanum. Durante o período em que Davi viveu como um proscrito, ele não apenas prestou serviço aos filisteus como m ercenário, como tam bém buscou ajuda de Naás, rei dos am onitas e inim igo de Saul. Isso teria resultado em um acordo de não-agressão e apoio mútuo, beneficiando tanto a Davi como a Naás. A maioria dos tratados do antigo O riente P róxim o eram acordos de suseranos em que o Estado m ais forte impunha tributos e outras obrigações aos Estados vassalos (ver os tratados de Esarhaddon). Alguns, como o tratado que pôs fim à guerra entre egípcios e h ititas no século treze a.C., reconheciam um a "fraternidade" ou igualdade entre os dois soberanos (Ramsés II e HatusilisIII). Visto que os tratados eram considerados "e ternos", era norm al que Davi enviasse uma delegação a
H anum a fim de renovar os itens desse acordo. A recepção hostil dada aos m ensageiros sugere que os am onitas tem iam que D avi quisesse transform ar o acordo de igualdade num tratado de suserano.10.4. atitude de Hanum para com os m ensageiros de D avi. Os mensageiros de Davi tiveram suas barbas rapadas pela metade (simbolizando a perda da virilidade tanto dos m ensageiros como, por extensão, de Davi) e suas roupas foram cortadas "até as nádegas", deixando-os nus, como escravos ou prisioneiros (ver Is20.4). Esses homens eram embaixadores do rei e, como tais, deviam ser tratados com respeito e gozar de imunidade diplomática. O que parece ter sido uma "brincadeira de m au gosto" de fato foi uma afronta direta ao poder e à autoridade de D avi, provocando uma guerra entre as duas nações. Davi não podia permitir que um a atitude abusiva com o essa ou a castração simbólica de seus representantes ficasse impune. Um a coletânea de anais reais assírios (Sargon II, Senaqueribe e Asurbanipal) contém justificativas para um a declaração de guerra com base na violação de um tratado juram entado ou na afronta física da autoridade assíria. Em bora os casos relatados nos anais não sejam tão evidentes como esse episódio, representam também a "gota d'água" em termos políticos.10.5. até que a barba cresça. A barba era um símbolo de virilidade (nas cartas de A m am a o rei assírio Sham- shi Adad zomba de seu filho Yasmah-Addu, dizendo: "Você não é um homem - por acaso você tem barba?"). A m ensagem transm itida pelo ato de H anum é que Israel perderia sua força e enfrentaria o luto, tendo suas vestes rasgadas e cabelo e barba rapados (ver Is 15.2). Como representantes do rei, esses mensageiros foram hum ilhados e constrangidos pelo tratam ento que receberam; por extensão, Davi também foi envergonhado, por essa razão, procurou m antê-los fora do alcance dos olhares públicos até que a "afronta" não fosse mais v isível.
10.6. coalizão. Freqüentemente, os Estados ou reinos menores se uniam contra um inimigo comum. Aqui, os amonitas, sentindo a necessidade de fortalecer sua posição contra Davi, buscaram a ajuda dos arameus. Vinte divisões de tropas foram enviadas de Bete-Reobe, na fronteira entre a Síria e Israel (nas proximidades do vale Hulé, perto de Tel Dã - ver Jz 18.28) e de Zobá, no norte do vale de Beqa. Bete-Reobe também é mencionada nos registros egípcios da época de Tutm és III. Ver o comentário em 2 Samuel 8.3 a respeito de outros conflitos entre Israel e o rei arameu Hadadezer. Maaca se situava a sudeste de Bete-Reobe, ao sul do monte H erm om e a leste do Jordão. O último grupo de soldados (doze divisões) partiu de Tobe (et-Tayibeh, 19 quilômetros a sudeste do m ar da Galiléia, em Gileade).
A relação dos aliados, portanto, designa as regiões de norte a sul, abrangendo o território desde o rio Orontes até o território de Amom.10.7-12. posição de batalha. A presença de duas forças distintas (os amonitas defendendo os portões de sua cidade [provavelmente Rabá] e os arameus posicionados na região adjacente) obrigou Joabe a dividir seu exército e elaborar novas estratégias com seu co- com andante, A bisai, no caso de algu m grupo dos israelitas ser derrotado (compare com o relato em 1 Cr19.9-13). Essa estratégia indica que ele foi surpreendido pela posição do inimigo e não tinha forças suficientes para enfrentar uma dupla frente de batalha. Embora sua situação fosse aparentemente insustentável, com tropas inimigas cercando-o dos dois lados, a estratégia de Joabe parece ter funcionado, pelo menos conseguindo que os inimigos recuassem. Isso talvez explique por que ele não foi capaz de prosseguir com suas investidas e retirou-se para Jerusalém.10.16. H elã. Em bora sua localização exata seja desconhecida, a cidade ou distrito de Helã ficava provavelm ente no norte da Transjordânia, talvez entre D amasco e Hamate (de acordo com uma interpretação de Ez 47.16). Esse lugar poderia servir com o área de concentração de tropas do arameu Hadadezer do outro lado do Eufrates e uma área próxima o suficiente para ameaçar o controle de Davi na região. Esse mesmo local é mencionado quase um m ilênio antes num texto de execração egípcio, mas isso não ajuda a determ inar sua localização.10.17. linh as de com bate. As formações m ilitares eram posicionadas de forma a tirar o máximo proveito do terreno e dos armamentos utilizados pelo exército. O texto indica que Soboque, o comandante arameu, contava com carros de guerra e grupos de infantaria. Os batalhões de infantaria eram organizados em formações de "cin qü en ta" e liderados por com andantes, incluindo lanceiros com escudos na fileira de frente e arqueiros e atiradores de funda posicionados imediatamente atrás deles. Quando os exércitos se confrontavam , os soldados usavam machadinhas com lâminas chatas e punhais. Os carros geralmente eram colocados nos flancos para facilitar as manobras.10.19. sujeitaram -se a Israel. N o antigo Oriente Próximo, muitas vezes as guerras provocavam mudanças nas relações políticas de vassalagem. Com a derrota do exército arameu, m uitos dos povoados e cidades que anteriorm ente haviam jurado lealdade a Hadadezer agora ofereciam seu apoio e tributo a Davi. Práticas semelhantes podem ser encontradas nas listas de campanhas da maioria dos monarcas assírios. N ão devem os presum ir, porém , que D avi poderia com isso assum ir o com ando total dessa região no
norte da Transjordârria. Esse tipo de apoio, obtido
pela força através de batalhas, podia desaparecer ao
m enor sinal de fragilidade.
1 1 .1 - 2 7Davi e Bate-Seba11.1. época em que os reis saíam para a guerra. No
antigo Oriente Próximo, as campanhas militares, embora fossem raramente declaradas oficialmente, acon
teciam de forma previsível com o final das chuvas de
inverno. Isso permitia que os homens estivessem dis
poníveis, durante o período da prim avera, antes da colheita, para trabalhar nos campos. Vários anais re
ais assírios e babilónicos incluíam o aviso de que as
campanhas militares começariam no primeiro (Nisanu)
ou no segundo mês (Aiaru) do ano (período de março a maio).
11.1. o rei perm aneceu em Jerusalém. Devido às suas
funções como chefes de Estado ou então por motivos pessoais, algum as vezes os reis deixavam de acom
panhar seus exércitos nas campanhas m ilitares, como no caso do rei assírio Senaqueribe, que delegou a um
oficial conhecido como Rabsaqué a tarefa de cercar Je
rusalém (ver 2 Reis 18.17-35). O fato de Davi ter decidido perm anecer em Jerusalém pode ter sido m otiva
do pela sua confiança na habilidade m ilitar de Joabe,
ou por alguma questão diplomática urgente ou ainda por estar preocupado com algum assunto familiar.
11.1. Rabá. Rabá era a capital dos antigos amonitas.
Sua localização corresponde ao lugar onde está situada hoje a m oderna A m ã, na Jordânia, na m argem
norte do Zerqa, nas nascentes do rio Jaboque, cerca de
64 quilômetros a leste de Jerusalém. Devido à ocupação contínua da área, as escavações arqueológicas fo
ram pre ju d icad as. A an tiga acróp ole , porém , foi pesquisada, mas forneceu poucos dados sobre a cida
de na época de Davi (talvez D avi tenha construído
um muro).11.2. terraço do palácio. Por causa da brisa refrescan
te que soprava em Jerusalém no final da tarde, muitas
pessoas costumavam sair nesse horário para encontros sociais ou então desfrutar do ar fresco na privaci
dade de seus terraços. A arquitetura do palácio provavelmente era semelhante à de moradias mais comuns,
com uma ampla sala de estar ou quarto de dormir no piso superior, rodeado por um terraço (1 Sm 9.25).
11.2. tomando banho. O banho de Bate-Seba provavelm ente era um ato de purificação após seu ciclo m enstrual (ver 2 Sm 11.4). Essa prática era baseada
nas leis de purificação descritas em Levítico 15.19-24. É difícil avaliar se sua intenção em banhar-se no te
lhado era simplesmente usar a brisa para se secar ou
se estaria tirando proveito da situação para atrair sobre si a atenção do rei.11.3. fam ília de Bate-Seba. O pai de Bate-Seba, Eliã, fazia parte da categoria especial dos "hom ens valentes" de D avi (2 Sm 23.34) portanto, era o chefe de uma fam ília influente. Eliã era filho de A itofel, um dos m ais respeitados conselheiros de D avi (2 Sm 15.12;16.23). Essa informação, somada ao fato de que Urias, o hitita, também fazia parte dos "hom ens valentes" (2 Sm 23.39), sugere que Davi sabia exatamente de quem era a casa que estava observando e conhecia bem
Bate-Seba (tuna tradução alternativa sugere que Davi perguntou: "A quela não é Bate-Seba?").11.4. purificação da im pureza. A referência ao banho de Bate-Seba diz respeito a um ritual de purificação depois de completados os sete dias de impureza após o ciclo menstrual (ver Lv 15.19-24). Essa informação ind ica que ela deveria estar em seu período m ais fértil quando teve um relacionamento sexual com Davi (10-14 dias após o início da m enstruação) além de evidenciar a im possibilidade de U rias ser o pai da criança.
11.6, 7. hitita no exército. Os hititas constituíam um dos principais povos que habitavam a região de Canaã (Dt 7.1) e podiam facilm ente ser contratados como mercenários, ou convocados para grupos de trabalho ou ainda se misturado aos israelitas através de casamentos, durante o período dos juizes e da monarquia. Eles poderiam ser descendentes de imigrantes vindos do império da Anatólia ou então do estados neo-hititas da Síria.
11.9-11. o com portam ento de Urias. A presença da arca da aliança (v. 11) junto às tropas sugere que os israelitas estavam engajados num tipo de "guerra santa ", portanto, os m ilitares teriam que se su jeitar a algum as restrições especiais (ver a circuncisão em massa dos homens antes de iniciar a conquista, em Js5.4-8 e as exigências de certos rituais de purificação para os soldados em campanha, em D t 23.9-11 e 1 Sm21.5). Se U rias tivesse aproveitado a oportunidade para ter relações sexuais com Bate-Seba, seria possível afirm ar que ele era o responsável por sua gravidez. No entanto, a insistência de U rias em m anter sua pureza ritual, dormindo nas barracas dos guardas do palácio, forçou Davi a tomar medidas mais drásticas.11.14, 15. o destino numa carta. Visto que Urias foi enviado a Davi com o pretexto de levar um relatório em primeira mão da situação militar, era de se esperar que Davi o enviasse de volta a Joabe com despachos e ordens oficiais. Um a situação envolvendo uma vítim a entregando seu próprio atestado de morte é um elemento narrativo presente no folclore de muitas culturas (ver a Ilíada, em que a história fala de Belerófon
que, falsamente acusado, leva seu próprio atestado de m orte ao rei de Lícia), m as na B íblia não há m ais
nenhuma ocorrência desse tipo.11.15,16 . Urias na frente de batalha. Por ser um dos
"hom ens valentes" de Davi, Urias talvez fosse coloca
do regularmente à frente de um contingente de solda
dos e ocupasse uma posição estratégica no plano de batalha (ver a descrição desses "hom ens valentes" em
2 Sm 23.8-39). Aqui, porém, ele foi colocado propositadamente diante de um a tropa de elite dos amonitas,
num a situação de evidente inferioridade. A imagem de Urias como um soldado irrepreensível sugere que
ele aceitou sua m issão sem questionar, m as é bem provável que tenha ficado surpreso com as táticas
em pregadas.11.16-24. táticas de batalha. As táticas de ambos os
lados envolviam simulação de ataques e emboscadas. Com a cidade sob cerco, não havia necessidade de
lançar ataques ofensivos. Talvez as tropas de Urias
tenham sido enviadas com a m issão de tentar descobrir um a brecha nas muralhas. As baixas israelitas
ocorreram quando a divisão de Urias deparou-se com uma tropa enviada para expulsar os invasores e tam
bém porque se aproxim aram demais dos muros, fi
cando ao alcance dos dardos inimigos. O fato de Joabe
poder prever que D avi faria menção ao famoso incidente da morte de Abimeleque (Jz 9.50-53) demons
tra que essa ação poderia ser vista como um risco
calculado ou um erro tático, como se os israelitas tives
sem simplesmente se enganado e caminhado em di
reção à linha de fogo mortal. Por outro lado, também oferece um a explicação plausível para a morte de Urias
e provavelm ente poupou a vid a de m uitos outros soldados israelitas.
11.26, 27. período de luto. O período padrão de luto
era de sete dias (Gn 50.10). A penas as pessoas de
destaque m ereciam um período m ais longo (trinta
dias para M oisés e Arão em D t 34.8 e Nm 20.29). No caso de um a viúva, ela teria de cumprir esse período
habitual juntam ente com outras formas de rituais de im pureza, antes de considerar um novo casam ento
(ver Lv 12.2; 15.19).
12.1-13Natã repreende Davi12.2-4. propósito da parábola. A parábola de Natã sobre a cordeirinha providencia o fundamento jurídi
co para o indiciam ento de D avi pelo seu adultério
com Bate-Seba. Como principal defensor dos direitos de seu povo (ver 2 Sm 15.4; 1 Rs 3.4-28), o rei tinha de
dar o veredicto e demonstrar sua sabedoria. Embora Davi tenha julgado corretamente as ações do "hom em
rico", ele não foi sábio o suficiente para perceber que o réu era ele mesmo.12.2-12. natureza da acusação. O caso apresentado por N atã para ser ju lgado por D avi aparentem ente não tem nenhum a relação com os crim es de Davi, visto que não se trata de adultério nem de assassinato. M as o que fica evidente no caso é que adultério e assassinato são apenas conseqüências de um crime m ais grave: abuso de poder. D avi é form alm ente indiciado pelo tribunal divino (Deus falando através do profeta) não apenas por ter tomado a mulher de outro homem, como também por acreditar que poderia ter tudo que desejasse, m ostrando-se insatisfeito com o que Deus lhe dera. Fica claro, portanto, que o rei não está acima da lei e que será julgado por Deus, ainda que não pelas autoridades civis.12.5, 6. m erece a morte/ deverá pagar quatro vezes. Em sua ira, D avi gostaria de sentenciar à m orte o infrator por sua falta de m isericórdia, m as a lei era clara quanto a isso. O pagam ento de quatro vezes mais como compensação está de acordo com o que a lei estipula em Êxodo 22.1 para o roubo de um a ovelha (o Código de Hamurabi exigia um a multa correspondente a dez vezes o valor de um anim al roubado).12.8. a casa e as m ulheres de seu senhor. Visto que os casamentos reais representavam o poder do monarca e as alianças políticas e econômicas feitas em nom e do Estado, era necessário que, na sucessão, o harém do rei anterior se tom asse responsabilidade do novo m onarca, garantindo assim as obrigações e condições dos tratados. Depois da morte de Is-Bosete (2 Sm 4.5-7) e da ascensão de D avi ao trono, esperava-se que ele estendesse sua proteção à fam ília de Saul, inclusive sobre seu harém . Portanto, é possível que a breve referência ao casam ento de D avi com Ainoã em 1 Sam uel 25.43 seja um a alusão ao casamento dele com a esposa de Saul, Ainoã (1 Sm 14.50).12.11. m aldição. O castigo é equivalente ao crim e, sugerindo que o poder de Davi seria usurpado e suas esposas lhe seriam tomadas (ver Absalão tomando as esposas de D avi em 2 Sm 16.21, 22). Pode indicar também a possibilidade dele perder o trono. As atitudes violentas de D avi e sua m á conduta sexual irão se reproduzir dentro de sua própria família, através das atitudes violentas e do m au comportamento sexual de seus filhos.
12.15-25A morte do filho de Davi e Bate-Seba12.16. a súplica de D avi. No Antigo Testam ento, o je jum geralmente está relacionado a um pedido dirigido a Deus, partindo do princípio de que a im portância do pedido leva o indivíduo a preocupar-se tan
to com sua condição espiritual que as necessidades físicas são deixadas de lado. Nesse aspecto o ato de jejuar serve como um processo de purificação e humilhação diante de Deus (SI 69.10). Orações babilónicas incluem expressões semelhantes de súplica e de dependência do poder dos deuses para remover o mal e restaurar a saúde.12.20-23. conduta de D avi. Os servos de D avi não tinham conhecimento do juízo de Deus contra a criança e por essa razão interpretaram m al as ações de Davi. O je jum fazia parte das manifestações de pesar (como os servos de Davi haviam presumido), m as o empenho de Davi aqui era no sentido de fazer Deus mudar de idéia e o jejum era parte do procedimento de apresentar sua petição. Ao constatar que seu pedido fora negado, ele encerrou o jejum.12.23. eu irei até ela, mas ela não voltará para mim. Com essa afirm ação, D avi sim plesm ente está reconhecendo que seus esforços no sentido de salvar seu filho fracassaram . Ele não faz nenhum pedido para que seu filho volte a viver, m as reconhece que som ente com a m orte eles estarão juntos novam ente. Essa afirmação, portanto, é uma expressão pungente do destino suprem o de toda a hum anidade, sem elhante à resposta pesarosa de Jacó, em Gênesis 37.35. O luto de G ilgam esh por seu com panheiro Enkidu inclui a afirmação de que "ele agora teve o destino da hum anidade" e o herói é relembrado por Siduri, no mesm o épico, com as palavras: "quando os deuses criaram o homem, lhe destinaram a m orte". Para mais informações sobre a vida após a morte, ver o comen
tá r io em Jó 3.13-19.
12.26-31 A queda de Rabá12.26. fortaleza real. Esse versículo refere-se à fortaleza, ao passo que o seguinte refere-se aos reservatórios de água. E praticamente certo que a antiga Rabá era abastecida pelo suprimento de água de uma rica nascente situada perto da cidade. Não se sabe se havia duas fortalezas distintas, uma para guardar a acrópole e outra para guardar o reservatório de água, ou se ambos eram guardados por uma única fortaleza. Uma das form as de conquistar um a cidade m urada era cortando o abastecimento de água. Talvez a fortaleza tenha sido conquistada porque o exército israelita conseguiu controlar o reservatório de água. Essa tática foi usada por Antíoco III, no período helenista, para conquistar essa m esma cidade.12.27. reservatório de água. Devido aos baixos índices de chuvas e pelo fato de só ocorrerem nos meses de inverno, as cidades dependiam de poços, fontes e cisternas para m anterem seus suprim entos de água
durante grande parte do ano. Os reis da M esopotâmia costumavam se gabar, nos registros reais, de terem construído canais, aquedutos e outros recursos para m anter o abastecim ento de água (ver tam bém 2 Rs 20.20). Portanto, a conquista do reservatório de água da cidade, de m odo geral, significava a queda im inente da cidade. Não se sabe quais os meios empregados para proteger o reservatório de Rabá.12.28. rei concluindo a conquista. Os registros dos reis e faraós da Antigüidade raramente mencionam o nome de seus generais, mas sempre fazem referência aos deuses que garantiram as vitórias à coroa. Nem sempre os reis acompanhavam o exército nas campanhas militares. Registros assírios falam do rei permanecendo em casa, enquanto um general de alta patente ou príncipe recebiam a incumbência de acompanhar o exército. Isso geralmente ocorria quando havia questões domésticas urgentes para serem resolvidas, exigindo a presença do rei. A ausência de Davi no campo de batalha, portanto, poderia fazer com que
seus súditos (ou alguns difamadores) deduzissem que ele estivesse incapacitado, ameaçado ou impedido de alguma forma de cumprir seus deveres de rei. M esmo nas situações em que o rei ia à frente na campanha, ele não costumava ficar no comando das batalhas, mas na retaguarda, no quartel-general do acampamento planejando as estratégias. Era costume tam bém que, quando possível, o rei liderasse a marcha final para a cidade conquistada. O próprio Davi presenciara a demonstração de lealdade do povo dividida entre ele e o rei Saul, com o resultad o de suas próprias vitórias. Foram essas vitórias que, aos poucos, contribuíram para que Davi chegasse ao trono. A preocupação de Joabe quanto à receber a fam a de ter conquistado Rabá poderia, assim, despertar a atenção de Davi e levá-lo rapidamente ao campo de batalha.12.30. a coroa do rei. A palavra traduzida como coroa geralmente é empregada para se referir a uma espécie de touca usada em cerimônias. Barretes em forma de cone ou turbantes eram bastante comuns entre os reis e divindades do m undo antigo. Os que eram usados pelos reis geralm ente eram feitos de tecido trabalhado, bordado com ouro e pedras preciosas. Às vezes um diadema de ouro era colocado em volta do turbante. O peso da coroa mencionada aqui permite supor que era feita de ouro maciço e não era usada sobre a cabeça do rei, mas talvez sobre a estátua do deus M ilcom (uma interpretação alternativa do texto). Várias estátuas de deuses cananeus apresentavam uma espécie de touca em formato de cone na cabeça, portanto não seria improvável que o deus amonita estivesse adornado dessa forma. É morfologicamente possível que o que foi colocado na cabeça de Davi tenha
sido algum adereço da coroa tomado como despojo, e
não a coroa de trinta e cinco quilos, que seria difícil de ser sustentada, mesmo numa cerimônia curta.
12.31. trabalho para prisioneiros. U m dos meios de se obter m ão-de-obra para trabalhos pesados tanto na Mesopotâmia como na Sírio-Palestina, era através dos
prisioneiros de guerra. Em bora os anais reais e as inscrições (tais como a esteia de M esha, de Moabe)
descrevam núm eros elevados de cativos, m uitos talvez sejam exagerados. Contudo, os documentos ad
m inistrativos que alistam os alim entos e as roupas destinadas aos prisioneiros e relacionam o núm ero de
mortes entre os escravos apresentam dados mais confiáveis. E provável que esses prisioneiros fossem obri
gados a trabalhar logo após a guerra, a fim de recuperar os danos causados pelas batalhas, mas com o tempo acabaram se estabelecendo no local, tom ando-se
cidadãos, lavrando a terra ou servindo no exército.
13.1-22Tamar é violentada por Amnom13.8, 9. preparou os b o lo s. O uso de um a assadeira
especial (m encionada na literatura judaica posterior)
em que a m assa era cozida para fazer um tipo de pudim sugere que não se tratava exatamente de pão como
algumas versões traduzem. A falsa doença de Amnom,
som ada com a sugestão de que ele necessitava de alguém em quem pudesse confiar para lhe preparar uma
comida nutritiva, dá a entender que era um alimento
de fácil digestão, além de incluir as devidas precauções contra suspeita de envenenam ento.
13.12, 13. a súplica de Tam ar. Quatro elem entos se
destacam na súplica de Tamar. O primeiro é que esse
tipo de com portam ento não era costum e entre os israelitas. Obviam ente, a atitude de tomar noivas à
força não era um a prática desconhecida (ver o estupro
de Diná por Siquém, em G n 34.2 e o rapto das dança
rinas de Siló em Jz 21.19-23), mas aparentemente era algo inaceitável e considerado um costu m e "n ão -
israelita". Ao descrever o estupro, Tam ar usa uma
expressão para causar "im p acto ", em pregada para fazer um a pessoa recobrar o ju ízo. O segundo e o
terceiro elem entos de sua súplica dizem respeito à
honra, tanto dela como de Amnom. Ela percebe que sem testemunhas não haveria como acusá-lo, portan
to, sua única esperança era fazê-lo recuperar o ju ízo e
seu caráter de príncipe de Israel. Ela lhe diz que ele cairia em desgraça (em algumas traduções, seria "com o
um dos loucos de Israel") uma expressão aplicada a
homens sem princípios e sem honra pessoal, aos quais estaria reservado um destino terrível. Na últim a ten
tativa de Tamar (v. 13) ela sugere que estaria disposta
a fazer parte da família de Am nom casando-se com ele.13.18.19. a túnica de Tamar. Tamar usava uma túnica bordada e cara (essa expressão só ocorre m ais um a única vez, para descrever a túnica de José em G n 37.3) que a distinguia como um a das filhas virgens de Davi. Significava que ela era pura e que não fora prometida a ninguém , portanto, ainda estava sob a proteção e o cuidado da fam ília real. Ao rasgar sua túnica, Tamar demonstrava seu pesar e o fato de que sua honra estava comprometida, perdendo o direito de vestir a túnica especial e comprometendo seriamente suas perspectivas para o futuro.13.19. cinza na cabeça. Assim como rasgar as vestes e vestir pano de saco, colocar cinza na cabeça era uma m anifestação de pesar (Et 4.3; Jr 6.26). O gesto de colocar as mãos sobre a cabeça talvez esteja representado nas figuras de mulheres de luto encontradas no sarcófago fenício de A irão, rei de Biblos, no século
treze. A Lenda dos Dois Irm ãos da literatura egípcia também descreve esse gesto como um sinal de luto.
13.20. o destino de Tam ar. O fato de não ser m ais v irgem fazia com que seu valor perante a fam ília diminuísse e que talvez não fosse m ais possível conseguir um casamento para ela. Isso fica implícito pelo fato dela ter passado a m orar sob a proteção da casa de Absalão e não m ais de Davi. Tamar passaria a viver um a vida de insatisfação e frustrações. Os textos de El A m ar na com param um a m ulher sem m arido a um campo não arado.
13.23-39Assassinato de Amnom e fuga de Absalão13 .23 . B aa l-H azo r. E ssa loca lid ad e gera lm en te é identificada com Jebel el-'A sur, oito quilôm etros a nordeste de Betei, em uma área acidentada nas montanhas centrais.13.23. tosquiadores de ovelhas. A indústria da lã era extrem am ente im portante no antigo O riente Próximo, o que pode ser observado pelo fato de grande parte das tábuas adm inistrativas da cidade suméria de Nipur se referirem à indústria lanífera e ao comércio da lã. A tosquia das ovelhas era feita no início do verão, geralmente perto dos locais onde havia fábricas de tinturas e tecelagem (como em Tim ná, onde foi descoberta um a grande quantidade de teares). Visto que esse trabalho exigia uma grande quantidade de pessoas, assim como a colheita de cereais, a carga de trabalho era aliviada pela associação do período de tosquia a uma época de festas (ver 1 Sm 25.7, 8). 13.34. geografia. A rota de fuga dos filhos de Davi de Baal-Hazor não pode ser delineada com certeza. Sem dúvida foi um cam inho tortu oso, m as o texto do
versículo é m uito vago quanto aos detalhes. A NVI faz um a citação a H oronaim , conform e o texto da Septuaginta, talvez representando Bete-Horon superior e inferior, onde havia um a passagem m aior do noroeste. Essas localidades são identificadas com Beit 'U r el-Foqa' e Beit 'U r et-Tahta, am bas cerca de 16 quilômetros a noroeste de Jerusalém. Nenhuma dessas cidades pode ser avistada de Jerusalém , m as é possível que algumas sentinelas estivessem posicionadas no lado oeste da cidade aguardando essa importante chegada. O texto apenas inform a que eles vieram pela estrada usada pelos viajantes.13.37, 38. a fuga de A bsalão. Após o assassinato de Amnom, Absalão fugiu para o reino de seu avô em Gesur, ao sul das montanhas de Golã, em Basã. Esse reino independente e suas cidades a leste do m ar da G alilé ia são con h ecid os a través dos textos de El A m am a e dos textos de execração egípcios. O casamento de Davi com a filha de Talm ai representa mais um a de suas diversas alianças diplom áticas obtidas por uniões desse tipo (2 Sm 3.3).
14.1-20 A mulher astuta de Tecoa14.2. a m ulher astuta. O contexto histórico e a situação política exigiam uma pessoa eloqüente e persuasiva (ver também a m ulher sábia da cidade de Abel, em 2 Sm 20.16-19). Entretanto, para que um a m ulher tivesse autoridade no falar, como era o caso dessas duas m ulheres, ela precisava ocupar uma posição especial. Textos do antigo Oriente Próximo m encionam m ulheres instruídas e exercendo cargos de autoridade (sacerdotisa, escriba e profetisa), mas não há nenhuma referência isolada a um a m ulher astuta ou sábia.14.2. Tecoa. Localizada 16 quilômetros ao sul de Jerusalém, Khirbet Tequ'a fica na região montanhosa de Judá, na fronteira com o deserto. O fato de ser uma localidade pequena e remota permitiu à m ulher apresentar um caso que talvez não fosse conhecido pelas pessoas de Jerusalém.14.2. estratégia da m ulher astuta. A estratégia empregada pela m ulher segue o conhecido padrão envolvendo um disfarce e um a h istória inventada. Um mito egípcio (texto do século doze) relata que os deuses Hórus e Seth estavam tentando conseguir o trono deixado vago por O síris. A m ãe de H órus, ísis, se disfarça de viúva de um pastor e inventa um a história para Seth no qual estrangeiros estão tentando confiscar a propriedade de seu filho e desapropriá-lo. Seth fica indignado com a situação da m ulher e ao conceder seu veredicto condena a si mesmo.14.4-11. rei como últim o recurso. Um a das principais responsabilidades do rei no antigo Oriente Próximo
era garantir o cumprimento da lei e a manutenção da justiça ao povo (prólogo do Código de Hamurabi; 2 Sm 8.15; 1 Rs 10.9). Para lidar com o acúmulo de casos que surgiam, os reis delegavam autoridade a anciãos e juizes que julgavam a m aior parte dos litígios (2 Sm15.4). Existem também vários textos (cartas de Mari e o Código de Ur-Nammu) que tratam das questões das viúvas e órfãos, onde o rei é considerado como o último recurso no tribunal.14.7. clã responsável por pena capital. De acordo com Êxodo 21.12, assassinato é um crime capital (também confirmado no código de Ur-Nammu). Normalmente, cabia ao clã o direito de ju lgar e executar a sentença (como nas leis medo-assírias). Porém , é possível que o "vingador da vítim a" (2 Sm 14.11) não fosse membro do clã e sim alguém contratado para executar a sentença. Esse caso é mais complicado pela ausência de testemunhas (Nm 35.30). Porém , mais grave ainda é a elim inação do herdeiro, que deixaria a viúva sem um provedor e a terra da fam ília seria revertida ao clã e ao parente m ais próximo do sexo masculino.14.7. vantagem do clã em extinguir a linhagem . Se o últim o descendente de um hom em fosse executado ou morresse, sua propriedade passaria para o clã até que fosse resgatada pelo parente m ais próxim o (ver Jr32.6-16). Essa aquisição proporcionava algumas vantagens econômicas, pois aumentava as posses do membro proem inente do clã (com pare com a oferta de Acabe para comprar a vinha de Nabote em 1 Rs 21 e2 Rs 25, 26) e garantia o cultivo da terra.14.11. vingador da vítim a. O papel legal do vingador da v ítim a é d e scr ito em N ú m ero s 3 5 .1 6 -2 8 e Deuteronômio 19.6-12. Há discordâncias se essa pessoa seria contratada pelo clã para executar a sentença ou se seria um m embro do clã. Situações que envolviam derramamento de sangue, mesmo as que ocorriam dentro do próprio clã, causavam tanta divisão, que as cidades de refúgio foram estabelecidas para perm itir "acalm ar os ânim os" e reexam inar as circunstâncias do caso (ver os comentários em Nm 35).14.13-17. analogia com o caso de A bsalão. A mulher sábia habilm ente faz uma ligação de seu caso hipotético com a situação de Absalão. Na analogia, a m ulher representa a nação (ou o povo) e Davi teria se tom ado o vingador da vítima, retratado como uma ameaça ao futuro do reino e à herança da aliança por causa de suas atitudes contra Absalão. Há tam bém um a referência implícita a conspiradores que estariam prontos a se aproveitar do exílio ou da m orte de Absalão, para se apresentarem como eventuais herdeiros da autoridade e do poder de Davi. Através de uma sábia alegação, a m ulher apela a Davi para que seja um "rei ju sto" e resolva o caso com justiça.
14.20. re i com o o m ais sábio . Os egípcios tam bém acreditavam que seus reis eram dotados de todo o conhecimento e eram capazes de discernir até mesmo os pensam entos das pessoas. Essa sabedoria permitiria ao rei governar com justiça e exercer julgam entos justos.14.19, 20. Joabe como protetor de Absalão. Ao longo da carreira de Davi, Joabe serviu como comandante do exército e principal conselheiro político do rei. Às vezes, quando ficava evidente que D avi seria incapaz de tomar uma decisão (como no caso de Absalão) ou quando colocava em risco a autoridade da m onarquia (ver 2 Sm 19.1-8), ele agia por conta própria. Tal autonomia beneficiava a Davi e ao mesmo tempo o tom ava consciente do poder de Joabe. Nesse contexto, Joabe talvez tenha percebido o crescente apoio do povo a Absalão e sentiu que seria m elhor m antê-lo onde pudesse ser vigiado, ou seja, na corte, do que no exílio, am eaçando a autoridade de Davi. Como hom em do exército, Joabe tam bém tinha interesse em assegurar que a sucessão ao trono ocorresse de forma legítim a e tranqüila, portanto, ignorar essa situação não seria uma atitude sábia.
14.21-33Absalão volta para Jerusalém14.24. a restauração parcial de A bsalão. Era comum que pessoas fossem exiladas por motivos políticos. Du
rante o M édio Im pério no Egito, o cortesão egípcio Sinuhe passou m ais de vinte anos exilado e Ahiqar, o conselheiro do rei assírio Senaqueribe, viveu um tempo exilado no Egito. Porém , quando alguém exilado retom ava, esperava receber um tratamento honroso e ser restaurado à posição que tinha anteriormente. Mas ainda que D avi tenha concordado com o pedido de Joabe para que Absalão retom asse à corte, ele não estava preparado para restaurá-lo à sua posição (como príncipe herdeiro?). Isso indica que, em bora a senten
ça de m orte tivesse sido revogada, Davi não tinha intenção de oferecer um perdão completo a Absalão, mas desejava apenas m antê-lo por perto para vigiá-lo.14.26. o cabelo de A bsalão. A beleza viril de Absalão é realçada por seus longos cabelos. A quantidade e o peso (dois quilos e quatrocentos gramas) de seus ca
belos eram notáveis. Há um a inscrição fenícia do nono século que registra a dedicação de cabelos rapados em cum prim ento a um voto feito à deusa A starte. De acordo com o pensamento do m undo antigo, os cabe
los (juntamente com o sangue) representavam a essência da vida da pessoa, e por essa razão, sem pre eram usados em simpatias. Essa prática é evidenciada pelo envio de um a m echa de cabelos supostamente do profeta, juntam ente com as profecias destinadas ao
rei de *M ari. O cabelo era usado em adivinhações para determinar se a m ensagem do profeta seria aceita como válida. O cabelo de Absalão, porém, não está relacionado a nenhuma dessas funções no texto bíblico. Ao contrário, a m enção ao cabelo simplesmente serve como prenúncio de sua morte bastante incomum (2 Sm 18.9-15); esse conceito pode ser corroborado por um presságio que dizia que se um hom em tivesse cabelos bonitos, teria uma morte prematura.14.26. peso segundo o padrão do rei. A padronização de medidas em Judá era provavelmente baseada em siclos de peso inicialmente estabelecidos em Ugarit, na Babilônia ou no Egito (cada siclo equivalia a 12 gramas). Esse padrão apresenta algumas variações, em que um siclo chegaria a pesar quase 20 gramas.14.33. restauração com pleta de Absalão. A aceitação com pleta de Absalão por seu pai pode ser vista na longa audiência que tiveram e no beijo de Davi (ver Gn 33.4 e Êx 18.7 a respeito do beijo como uma saudação afetuosa e sinal de parentesco). U m a demonstração pública como essa evidenciou a plena reconciliação, m as ainda não garantiu a Absalão sua posição como herdeiro do trono.
15.1-19.43A conspiração de Absalão15.1. carruagem e cavalos. O fato de possuir uma carruagem , cavalos e um a escolta de cinqüenta homens talvez fosse uma demonstração oficial da posição de rei ou do herdeiro do trono. As carruagens eram puxadas por dois cavalos, tendo m ais um ou dois atrelados nas laterais. Duas rodas com raios de madeira presos a um eixo traseiro sustentavam uma pequena plataforma ocupada pelo condutor e por um acompanhante equipado com arco e lança. As laterais do carro chegavam apenas até a metade da coxa dos passageiros que perm aneciam de pé. O termo usado aqui sugere tratar-se de um a carruagem ornamentada, semelhante às usadas no Egito e na Mesopotâmia. Por serem o meio de transporte luxuoso daqueles dias, as carruagens eram geralmente adornadas com enfeites de ouro, lápis-lazuli e pedras preciosas.15.1. escolta de c inqüenta hom ens. Esse tipo de escolta ia à frente das carruagens anunciando a presença do rei ou do príncipe e garantindo sua proteção. Textos hititas apresentam relatos de deuses indo à frente da carruagem real, conduzindo o rei à vitória. Os homens que corriam à frente da carruagem do rei, escoltando-a, eram como arautos. C inqüenta era o núm ero de soldados que compunham um a unidade militar. U ma escolta desse tamanho garantia a Absalão a proteção de uma guarda pessoal e o posto de capitão. O nde quer que fosse, seus cinqüenta hom ens
cham avam a atenção e conferiam a ele as credenciais para se declarar o herdeiro legítimo.15.2-6. A bsalão procura ganhar a sim patia do povo. Quando um príncipe deseja usurpar o trono de seu pai, geralm ente tenta m inar a autoridade do rei fazendo declarações públicas sobre corrupção ou má adm inistração do governo. O rei ugarita Keret, por exemplo, foi acusado por seu filho de não ouvir as causas das viúvas, dos pobres e dos oprimidos. Absalão emprega essa mesma estratégia, aproveitando-se de um a lacuna na liderança de Davi (omissão na indicação de juizes) e do crescente descontentamento entre as tribos do norte. Além de lhes oferecer um modelo de adm inistração eficiente da justiça, Absalão tam bém procede como um "hom em do povo", não perm itindo que os queixosos se curvem diante dele e beijando-os como alguém igual a eles ou um amigo.15.7-10. Hebrom . Esta é uma astuta manobra política da parte de Absalão para ser coroado em Hebrom (30 quilôm etros a sudeste de Jerusalém). Além de ser o local onde estavam enterrados os ancestrais de Davi (Macpela), Hebrom tam bém havia sido a capital do reino de Davi em Judá. Dessa forma, Absalão estabelece um vínculo entre ele, a aliança e as origens da autoridade de Davi, além de ficar a um a distância segura de Jerusalém, evitando interferências e preparando o cenário para sua m archa até a capital.15.8, 9. cum prir um voto. É possível encontrar informações relacionadas a votos na maioria das culturas do an tig o O rie n te P ró x im o, in c lu s iv e n a h itita , ugarítica, m esopotâmica ou, com menos freqüência, na egípcia. Os votos eram acordos voluntários feitos com a divindade. Geralmente envolviam um a condição e acompanhavam um pedido dirigido à divindade. Visto tratar-se de um ato religioso em que a divindade era invocada para fazer um pacto com o adorador, o voto não podia ser rompido, sob pena de desagradar a Deus. Isso talvez explique por que Davi aceitou o pedido de Absalão, embora já tivessem passado seis anos desde que o voto fora feito.15.10. som das trom betas. O som de trombetas ou de chifres de carneiro (shofar) era usado para emitir sinais durante as batalhas, celebrações e preparações de im portantes eventos, como a coroação de um rei. O shofar é capaz de produzir um a variedade de sons, m as não um a m elodia, por isso, era usado prim ordialm ente para sinalizações. O chifre de carneiro era amolecido em água quente, depois dobrado e achatado para adquirir seu form ato característico. H á registros de sons de trombeta no Egito durante a Idade do Bronze M oderna (desse mesmo período) tanto em contextos m ilitares quanto religiosos. Um código pré-estabele- cido incluía combinações de sopros longos e curtos.
15.10. rei em H ebrom . D avi havia reinado em H ebrom durante sete anos, antes de mudar sua capital para Jerusalém. Acompanhando a tradição dessa dinastia, Absalão se declarou rei em H ebrom, dando m aior legitim idade à sua conspiração e fornecendo evidências de que havia conseguido apoio de Judá e também das tribos do norte. Hebrom ficava localizada bem no centro da região montanhosa de Judá e era uma das m ais importantes cidades da região, estando cerca de 32 quilôm etros ao sul de Jerusalém . Para m ais informações, ver o comentário em 2.1.15.12. oferecer sacrifícios. Como em 1 Samuel 10.8 é provável que aqui os sacrifícios de Absalão também fossem holocaustos e ofertas de comunhão, dois dos sacrifícios m ais comuns. O primeiro geralmente acom
panhava uma petição, enquanto que o segundo servia como uma oportunidade para celebrações e refei
ções comunitárias diante do Senhor. Esses sacrifícios foram oferecidos como forma de marcar o início de seu reinado e talvez como preparação para as atividades m ilitares co n tra D avi. A través desses sacrifícios Absalão pediu a bênção de Deus e ao mesmo tempo ofereceu um banquete para aqueles que estavam firmando um a aliança com ele.15.12. A itofel. Essa é a primeira vez que o nome de Aitofel é mencionado, um dos principais conselheiros de Davi. Com o sugerim os no com entário de 11.3, provavelmente ele seria avô de Bate-Seba. Em nações onde reinos eram herdados ou conquistados no campo de batalha, os conselheiros eram fundam entais para garantir instrução, sábias estratégias diplomáticas e conselhos. Os conselheiros geralmente eram agraciados com títulos como de vizir, primeiro-ministro ou m ordom o real, e a eles eram confiadas m uitas das responsabilidades para governar o reino. Nessa época, os reis israelitas ainda não haviam criado esses cargos, e Aitofel nunca é alistado entre os funcionários do governo, m as sua posição como conselheiro real sugere que ele talvez tenha desfrutado de parte dessa função.
15.12. G ilo. Embora às vezes identificada com Khirbet Jala, oito quilômetros a noroeste de Hebrom, provavelmente a cidade natal de Aitofel possa ser encontrada m ais ao sul e a oeste, perto de Debir. Foi atribuída ao território da tribo de Judá (Js 15.51).15.16. concubinas tom ando conta do palácio. Visto que os casam entos reais representavam o poder de um m onarca e as alianças políticas e econômicas feitas em nome de um Estado, era necessário que na sucessão, o harém do antigo rei passasse a ser responsabi
lidade do novo monarca, mantendo desse modo, as condições e obrigações dos tratados. É provável que as concubinas deixadas por Davi no palácio fossem
aquelas que ele havia tomado das famílias influentes de Jerusalém (ver 5.13) ou de algum as fam ílias de Hebrom que estavam agora apoiando Absalão.15.18. queretitas, peletitas, giteus. Todos esses eram grupos de m ercenários que serviam a D avi com o vassalos e não como membros do exército efetivo. Os queretitas são identificados como vindos de Creta e estão intimamente ligados aos filisteus, que supostam ente seriam provenientes de alguma área no mar Egeu. Os peletitas são conhecidos apenas em passagens como essa, em associação com os queretitas. Os giteus talvez fossem uma brigada de tropas formada durante o período em que Davi serviu a Aquis, rei de Gate (1 Sm 27.1-12) ou simplesmente um grupo formado para sua guarda pessoal após ter se tom ado rei. Todas essas tropas parecem ser de origem filistéia ou cretense. O texto não esclarece se essas unidades especiais de tropas mercenárias (ver 2 Sm 8.18) representavam todas as unidades do exército reunido por Davi em sua fuga de Jerusalém ou se seriam simplesmente grupamentos adicionais.
15.19-22. lealdade dos m ercenários. Era uma prática comum no antigo Oriente Próximo empregar tropas de mercenários a fim de aumentar os exércitos nativos (como no caso em que os egípcios recorreram aos nubianos no início do Novo Império). Porém, como Davi sugere, a lealdade das tropas mercenárias geralmente se baseava no pagamento periódico que recebiam e, quando possível, na possibilidade de escolher lutar do lado que estava vencendo. A notável declaração de Ita, o giteu, expressando lealdade pessoal a Davi indica um relacionamento de m uitos anos e uma fidelidade que transcende o lucro monetário.15.23. geografia . D avi saiu de Jerusalém viajando pelo leste através do vale de Quidrom em direção ao monte das Oliveiras, que ficava do outro lado do vale. Em seguida, ele continuou rumando para o nordeste até Baurim pela estrada que ia de Jerusalém a Jericó até o vale do Jordão, região mencionada no texto como
deserto. Finalmente ele teria cruzado o Jordão pelos vaus de Jericó e prosseguido para o norte até Maanaim.15.24, 25. o papel da arca. Seria lógico levar a arca porque ela representava a presença de Yahweh, portanto, era um poderoso talismã (para o significado da arca durante as batalhas, ver o comentário em 1 Sm4.3-7). Porém, Davi teve discernimento suficiente para perceber que se ele não estava sendo favorecido por Deus, a arca não lhe traria nenhum benefício, podendo até m esm o transform ar-se num a ameaça. H avia também uma possível vantagem em deixar a arca em Jerusalém, pois Davi astutamente usou sua devolução como um disfarce para a ação dos espiões Zadoque, Abiatar e dos sacerdotes (2 Sm 15.35, 36; 17.15, 16).
15.25, 26. testando o favor do Senhor. Os israelitas
acreditavam que as coisas boas ou m ás que aconteciam na vida de um a pessoa evidenciavam a benevo
lência ou a desaprovação de D eus. A expulsão de Davi de Jerusalém , portanto, é descrita quase que
como uma dura provação. O discurso do rei indica sua resignação em deixar o curso dos eventos nas m ãos de Deus. Ao recordar as palavras de condenação de Natã,
registradas em 12.10-12, Davi não se sente plenamente convicto de que esses trágicos acontecimentos pode
riam ser um castigo por seus crimes. Davi confiava na habilidade de Zadoque como profeta para obter uma
palavra de Yahw eh sobre o destino final do rei (com
pare o uso que Saul fez da médium de En-Dor em 1 Sm 28.3-8). U m texto profético de M ari contém um
alerta sobre um a revolta e a necessidade de cercar o rei de oficiais confiáveis; talvez fosse esse tipo de men
sagem que D avi esperava receber.
15.28. desfiladeiros do deserto. A expressão "desfiladeiros do deserto" é uma referência aos vaus perto de
Jericó, a uma distância de um dia de viagem de Jeru
salém. Em vez de dar o passo simbólico de abandonar totalmente seu reino, Davi planeja acampar na m ar
gem oeste do rio Jordão, cerca de seis quilômetros da foz do rio que desemboca no m ar Morto. Ali ele des
cansaria e aguardaria notícias do desenrolar dos fatos
em Jerusalém (ver 2 Sm 17.16).
15.30. m onte das O liveiras. Sem pre que aparecem
nomes de antigas localizações geográficas, é possível que a referência seja a algum marco ou traço do terre
no que não mais existe. N esse versículo, o nome pode referir-se ao m onte das O liveiras (ver Zc 14.4) ou
então a uma trilha específica na subida por uma das
três escarpas do m onte das O liveiras, indo para o nordeste. Ficaria a cerca de um quilômetro dos muros
da cidade.
15.32. lugar onde o povo costum ava adorar. Esse lugar de adoração não foi citado anteriormente, mas é
possível que represente um antigo altar ao ar livre ou
um santuário abandonado. Alguns estudiosos sugerem que poderia ser identificado com N obe (1 Sm
21 .1 ,19), m as não se pode afirmar com certeza, além
disso, Nobe ficaria mais ao norte.
16.1, 2. suprim ento de alim entos. Qualquer exército no campo de batalha necessitava de provisões e de
meios para se abastecer. Na Assíria, os governantes
locais eram obrigados a abrir seus celeiros para suprir os exércitos que estivessem passando pela região. Ge
ralmente, os habitantes da região costumavam forne
cer alimentos aos soldados. Aqui, a comida também representava um tributo ao soberano e o reconheci
m ento do direito de D avi governar. O presente de
Ziba é menos generoso que o de Abigail em 1 Samuel 25, mas a quantidade não é inadequada.
16.3, 4. a ausência de M efibosete. Embora a preocu
pação imediata de Davi fosse a conspiração dentro de sua própria casa, esse capítulo nos faz recordar que
uma dinastia havia sido deposta (a de Saul) e alguém
poderia estar à espreita, disposto a tirar proveito da fraqueza de Davi. Z iba considerou M efibosete um
ingrato, num a tentativa evidentemente bem -sucedi
da de agradar a Davi. A acusação de Ziba foi suficientemente convincente a ponto de Davi confiscar as ter
ras de M efibosete. O código sum ério exigia que o
filho adotivo fosse privado da terra se repudiasse suas obrigações legais para com a família que o havia ado
tado. O confisco das terras pertencentes ao seu predecessor sempre foi um a possibilidade para Davi e ago
ra ele exercita esse direito, mas em vez de tomar as
terras para a coroa, ele as oferece como presente a um servo leal.
16.5. Baurim . Localizada ao norte do monte das Oli
veiras, Baurim era uma aldeia benjam ita (provavelmente Ras et-Tmim ou Khirbet Ibqe'dan). Saul per
tencia à tribo de Benjamim, portanto, era de se espe
rar que entre seus parentes houvesse um grupo leal a
ele. Esse povoado ficava praticamente na entrada de Jerusalém, que tam bém ficava em território benjamita.
16.11. fo i o Senhor que m andou fazer isso. Davi não
afirm ou estar a par da discussão entre o Senhor e Simei, nem sugeriu que Sim ei teria recebido algum
oráculo profético. A form a pela qual o Senhor "en v iou " Sim ei para am aldiçoar D avi era através dos
acontecimentos recentes. O fato de Davi estar sendo expulso do trono por seu próprio filho permitiria facil
mente inferir que ele estava sendo alvo de um castigo de Deus, faltando apenas deduzir qual ofensa havia
provocado tal castigo. Davi simplesmente reconhece que Simei tem razão em pensar que Deus o amaldiço
ara, portanto, não pode ser considerado culpado por querer atacar a im agem do rei. Só depois de uma
vingança futura é que Davi passaria a considerar os
atos de Sim ei como traição e não m ais como um a voz
reconhecendo as circunstâncias pelas quais Deus estava executando a retribuição de seus atos.
16.21. A bsalão e as concubinas de D avi. Inúm eros exemplos demonstram que o harém real era considerado propriedade exclusiva do rei. Qualquer tentati
va no sentido de obter um a m ulher do harém era vista como sinal de rebelião ou usurpação de poder
(ver a reação de Is-Bosete para com Abner em 2 Sm3.6-11 e o pedido de Adonias em relação a Abisague em 1 Rs 2.20, 21). A perda do harém para outro mo
narca, como descrita nos anais assírios de Senaqueribe,
era um sinal de submissão ou deposição. Para mais detalhes, ver o comentário em 3.7.17.1. doze m il hom ens. Esse núm ero possivelmente se refere ao recrutamento de tropas de cada uma das doze tribos e não a uma cifra exata. Alguns eruditos sugerem que a palavra traduzida como "m il" designa apenas um a unidade m ilitar. P ara inform ações adicionais, ver o comentário em Josué 8.3.17.1-3. a estra tég ia de A ito fe l. A o elim inar D avi, Aitofel acreditava que qualquer oposição ao governo de Absalão cessaria. Um rápido ataque ao "exército" desorganizado e exausto de Davi poderia ter êxito em m atar o rei e obrigaria as forças já desmoralizadas a marchar para o lugar que eles escolhessem. Essa não seria uma batalha de trincheiras, m as um ataque preciso com um propósito definido.17.5-13. a estratégia de Husai. Desempenhando bem seu papel como agente duplo designado por Davi (2 Sm 15.32-36), H usai argumentou contra o conselho de Aitofel, que sugeria um ataque imediato contra Davi. Ele sugeriu então uma estratégia militar segura para consolidar o controle de Absalão sobre a capital e a nação, antes de partir em ação contra o rei deposto. Ele também apresenta a perspectiva de uma possível derrota no início do reinado de Absalão, que poderia colocar em questão sua aptidão e restaurar as chances de Davi retom ar ao poder. Habilm ente m anipula o orgulho de Absalão ao descrever a cena do novo rei cavalgando a frente de uma legião de soldados prontos a esmagar qualquer oposição. A procrastinação e o
tempo adicional para planejar a ação foram aceitos como conselhos sábios, apesar das evidentes vantagens da estratégia de Aitofel (ver o destino de Amasa quando falhou em reagir à revolta de Seba em 2 Sm20.4-13).17.13. arrastar a cidade com cordas. Um a das estratégias empregadas para invadir cidades sob cerco era colocando escadas apoiadas nos muros. Talvez fossem usassem ganchos presos a cordas com esse mesmo objetivo. As cordas eram usadas para escalar os muros ou para deslocar as pedras tornando os muros mais vulneráveis ao ataque dos aríetes. Ilustrações de cercos em palácios assírios incluem a demolição de paredes usando picaretas, m as é possível que ganchos e cordas também fossem usados pelos invasores.17.17. En-Rogel. Fonte localizada um quilômetro ao sul da fonte de Geom, perto da junção dos vales de H inom e Q uidrom . En-Rogel provavelm ente com partilhava da mesma nascente de Geom (relacionado a Bir Ayyub, o "poço de Jó ") e supria as necessidades do povo que viv ia do lado de fora dos m uros de Jerusalém. Visto que era freqüentada por muitas pessoas, era o lugar ideal para ouvir as notícias e n in
guém iria suspeitar se Jônatas e Aimaás permanecessem ali, esperando por notícias da cidade.17.18. Baurim . Localizada ao norte do monte das Oliveiras, Baurim era um a aldeia benjam ita (provavelm ente Ras et-Tm im ou Khirbet Ibqe'dan). H á uma certa ironia no fato dos espias de Davi terem recebido ajuda para se esconder em um poço de um habitante de Baurim, visto que também era o lugar onde m orava Sim ei ben Gera, que havia am aldiçoado o rei (2 Sm 16.5).17.23. as ações de A itofel. O suicídio não é condenado pela Bíblia hebraica. Os seis exemplos (Abimeleque, Sansão, Saul, seu escudeiro, Aitofel e Zinri) que fazem parte da narrativa bíblica chegam a sugerir uma certa dose de honra e coragem associada ao ato, de form a bastante parecida com a descrição de Sêneca (70" Epístola). O filósofo romano diz: "O homem sábio vive o tem po que deve, e não o tempo que pode". Sendo assim, a partida de Aitofel é uma saída racional. Ele colocou seus negócios em ordem, provavelmente redigiu um testamento assegurando a transferência de suas propriedades aos seus herdeiros e em seguida se enforcou. Ele também enganou o executor, visto que seu apoio a Absalão seria interpretado como traição contra o ungido do Senhor.17.24. geografia. O texto afirma que Absalão atravessou o Jordão depois de Davi ter passado e chegado a Maanaim, a 56 quilômetros dos vaus de Jericó. Maa- naim é identificada com Telul ed-D habab el-Garbi, na encosta norte do Jaboque. Sua importância como centro adm inistrativo é confirm ada pelo fato de ter sido a capital de Is-Bosete (2 Sm 2.9) e por ser m encionada nos registros do faraó Sisaque. Não foram feitas escavações no local, mas levantamentos topográficos na superfície confirmam sua ocupação nesse período.17.28, 29. provisões. Mais uma vez Davi recebe provisões para ele e seus homens (ver os suprimentos de Abigail em 1 Sm 25.18 e as provisões oferecidas por Ziba em 2 Sm 16.2). Em todos esses casos, os alimentos poderiam ser considerados como pagam ento de um tributo ou cumprimento do dever de um vassalo. Os amonitas haviam sido dominados por Saul (1 Sm 11) e m ais tarde por D avi (2 Sm 10), logo, o rei é tratado por seus aliados com hospitalidade e respeito, apesar de sua partida forçada de Jerusalém.
18.1, 2. organização das tropas. Essa divisão do exército em três companhias formadas por batalhões de cem e de mil soldados é típica da estrutura m ilitar israelita (ver N m 31.48; Jz 9.43; 1 Sm 11.11). Fontes m esopotâmicas, como os textos de Mari, mencionam uma variedade de grupos militares comandados por oficias de diferentes graduações e patentes. Além desses contingentes regulares de tropas, são menciona
das também algumas tropas especiais levemente armadas usadas em emboscadas e m issões de reconhe
cimento, e outras designadas para dar proteção aos comandantes ou ao rei.
18.6. floresta de Efraim . A área m ais provável para essa batalha é na Transjordânia, perto de M aanaim
(ver 2 Sm 17.27). Esse local seria adequado à cena de Absalão trazendo as lutas até Davi, em vez de Davi invadindo Israel após atravessar o Jordão. A densida
de dessa "floresta" é controversa, visto que o desflorestamento e a erosão modificaram drasticam ente a
região ao sul do Jaboque. O termo usado aqui pode
descrever tanto um terreno escarpado com pequenos bosques isolados como uma floresta de fato. É difícil
ver essa floresta como atribuição de Efraim, visto que
o território designado a essa tribo ficava a oeste do Jordão. M as essa tribo pode ter reivindicado algumas áreas daquele território ou ocupado algumas faixas de
terra daquele lado do Jordão (ver Jz 12).
18.8. a floresta m atou m ais que a espada. Quando o Antigo Testamento faz menção a terra devorando pes
soas (como no caso da floresta aqui), isso indica um
am biente hostil e ameaçador à sobrevivência. Visto
que esse era um campo de batalha escolhido por Davi e não por Absalão, é bem possível que as tropas do rei conseguissem tirar vantagem do terreno irregular e
das áreas de floresta. Emboscadas, simulação de ataques atraindo as tropas para precipícios ou vaus e
outras táticas de guerrilha talvez tenham sido empre
gadas, provocando desorientação nas tropas e deixando-as perdidas ou isoladas, tom ando-as assim alvos fáceis.
18.9. a situação de A bsalão. O texto diz que Absalão
ficou preso pela cabeça e não pelo cabelo, como tradi
cionalm ente se presume. A situação é carregada de simbolismo, como na mula real (montaria própria de
reis) que abandona o futuro rei, deixando-o pendura
do num a árvore, refletindo a condição de alguém amaldiçoado por Deus (Dt 21.23).
18.11. dez peças de prata e um cinturão de guerreiro.
Essa recompensa era equivalente ao salário de um ano de trabalho, acrescida de uma peça distintiva de ves
tuário, representando assim um valor significativo e in
dicando o quanto a m orte de Absalão era estratégica para Joabe. Os trajes m ilitares de Gilgam és incluíam
um cinto para colocar o punhal e um tipo de cinta ou
faixa, mas o termo usado aqui (na forma feminina) não aparece em nenhum outro contexto para designar uma
peça do equipamento m ilitar (apesar da versão da NVI
acrescentar "d e guerreiro"), geralmente usada na forma masculina. Esse mesmo termo é usado para referir-
se à cinta de um a m ulher em Isaías 3.24; talvez fosse
um cinto enfeitado ou para ser usado em ocasiões especiais (ver o com entário em 1 Rs 2.5).18.14. dardos. O "d ardo" usado por Joabe é descrito em outros contextos como um bastão sem ponta usado para golpear alguém. O verbo citado aqui geralmente significa bater (exceto em Jz 3.21). A palavra "coração" nem sempre diz respeito ao órgão em si, m as sim ao peito ou ao centro do tórax. Se Joabe tivesse intenção de perfurar Absalão, uma espada ou lança teria sido a escolha mais provável. Parece que Joabe, em vez disso, pretendia derrubar Absalão da árvore dando-lhe um a forte pancada no peito e se usasse um único bastão ele se quebraria com a violência do golpe (ver Is 14.29), por isso ele usa três. Um a vez que a vítim a (provavelm ente inconsciente) foi derrubada no chão, os dez assistentes de Joabe term inaram o serviço.18.14. escudeiros. Comandantes e oficiais do exército costumavam ser escoltados por seus escudeiros (ver exemplos na Ilíada) que, durante as batalhas form avam um tipo de guarda pessoal (ver 1 Sm 31.4-6), providenciando outras armas caso a do comandante se quebrasse ou se perdesse e, aparentem ente, até mesmo atuando como "am igos" ou conselheiros (ver Davi com o escudeiro de Saul em 1 Sm 16.21 e de Jônatas em 1 Sm 14.12-17).18.16. tocou a trom beta. Como parte dos preparativos para a batalha, os exércitos no antigo Oriente Próximo transmitiam às suas tropas uma série de sinais estipulados para indicar avanço ou retirada. O som das trombetas (shofar) e as informações dos mensageiros eram os únicos meios de controlar o movimento das tropas. Havia alguns sons específicos para reunir as tropas para a batalha ou sinalizar algum perigo iminente, como os sinais de fogo dos textos de Mari.18.17. prática de sepultam ento. Textos assírios indicam que os rebeldes geralmente eram punidos com o em palam ento e seus corpos ficavam expostos, sem um enterro digno. Os líderes israelitas tam bém faziam uso dessas formas de "exibição" (ver a execução dos cinco reis inimigos em Js 10.27), mas os corpos não ficavam expostos indefinidamente (Dt 21.23). Por isso, até mesmo indivíduos amaldiçoados eram enterrados debaixo de um monte de pedras (ver o comentário em Js 8.29). Esse tipo de sepultamento não deve ser confundido com os honrosos montes funerários dos reis mesopotâmicos.18.18. coluna com o m onum ento. O épico ugarítico de A qhat (c. 1600 a.C.) menciona que um dos deveres do filho para com seu pai era erigir um a esteia ou coluna em honra aos deuses ancestrais. V isto que Absalão não tinha filhos [vivos?], ele m esm o erigiu um monumento em sua honra. Trata-se de uma ob
servação bastante irônica, considerando-se que ele não
foi enterrado no túmulo da família. Seu monumento
tom ou-se um triste marco de uma vida fracassada. O túm ulo encontrado na aldeia de Silw an (depois do
vale de Quidrom), hoje chamado de tumba de Absalão,
pertence a um a época posterior (período herodiano).18.18. vale do Rei. A localização exata desse vale é
desconhecida. Geralmente é identificado com o vale de Quidrom, a leste de Jerusalém, ou com a confluên
cia dos vales de Hinom, Tiropoeon e Quidrom. Tam
bém é descrito como vale de Savé, em Gênesis 14.17.
18.19-23. m ensageiros levando as n otícias. Era com um o uso de mensageiros pelos exércitos e por ofici
ais do governo no antigo Oriente Próximo. Os textos de M ari relatam que o movimento das tropas no cam
po de batalha era parcialmente coordenado por men
sageiros, que tam bém traziam despachos diplomáticos e notícias da aproximação de delegações e caravanas. De acordo com esses textos e tam bém pela narra
tiva bíblica, parece que esses m ensageiros tinham
diferentes graduações. Alguns, como os suharum de M ari, eram jovens em pregados por sua resistência
física e velocidade. Entretanto, existiam também m en
sageiros nos níveis inferiores dos órgãos diplomáticos
(talvez comparáveis à posição sacerdotal de Aimaás) a
quem eram confiadas as missões mais importantes.18.24. entre a porta interna e a externa da cidade. A
partir da Idade do Bronze Média, o sistema de defesa das cidades incluía a construção de sólidas m uralhas e
portões com diversos com partim entos. Os padrões eram variáveis (casamatas e construção de muros es
pessos), m as geralmente o acesso à cidade era limita
do por degraus ou por uma passagem estreita, impedindo a passagem de alguns tipos de veículos e restringindo o tráfego pelos portões da cidade. A lém
disso, geralm ente havia uma curva à direita dentro da porta externa, antes do acesso à porta interna. Na
área entre as duas portas havia guaritas de sentinelas, sendo esse local usado como ponto de encontro para
transações legais e comerciais. Escavações arqueológicas na cidade de Dã revelaram que havia um a plata
form a elevada entre as duas portas. É possível que essa plataform a fosse o local em que se assentava o
governante da cidade quando havia um julgamento público.18.24. terraço sobre a porta. O s portões podiam ser
retangulares ou circulares, mas sem pre eram vigiados do alto das torres de diversos andares, que podi
am ser consideradas postos de sentinela. Evidências
encontradas em M egido, Timna, Hazor e Láquis comprovam a existência de torres fortificadas que serviam
de defesa e também como plataforma para sentinelas.
18.33. quarto por cim a da porta. Visto que tanto as portas da cidade como suas torres tinham diversos pavim entos, havia espaço para um am plo cômodo
dentro das muralhas, usado para reuniões e também
com o alojam ento dos sentinelas. Após a notícia da m orte de Absalão, D avi retirou-se para um desses
quartos de onde podia avistar a disposição de seu exército e ainda assim ter um pouco de privacidade.
O fato de não ter entrado na cidade sugere sua percepção da delicada situação política, e ao mesmo tempo demonstra que ele não estava pronto para reassumir suas agenda normal.
19.8. o rei sentou-se à porta da cidade. Escavações
recentes em Tel Dã revelaram o que parece ser um a plataform a de pedra no interior da porta, que possi
velmente seria uma plataforma para sustentar o trono. Talvez fosse usada em cerimônias, eventos diplo
máticos ou procedimentos legais (ver 1 Rs 22.10). O épico ugarítico de Aqhat descreve o rei Danil assenta
do junto à porta da cidade julgando as questões de
viúvas e órfãos. Portanto, um rei assentado no trono é um rei desempenhando suas funções ordinárias - uma
imagem que Davi queria agora passar para o povo.
19.11-15. processo para o retom o de D avi ao palácio. Como Absalão não foi ungido rei, e também porque
os líderes tribais tanto de Judá como de Israel estavam
divididos quanto a ter Davi de volta ao trono, certas garantias e acertos tiveram de ser feitos. Por exemplo,
o general de Absalão, Amasa, assume o comando do
exército de Davi (embora não das tropas de elite e dos
mercenários, que perm aneceram sob o comando de Joabe). Davi tam bém teve de convencer sua própria tribo, relembrando os laços de sangue que os uniam e
os juram entos de lealdade que haviam feito. O exílio
de Davi e o eventual retorno para assum ir o trono
poderiam ser comparados às experiências de Idrimi, o rei de Alalakh, do século quinze a.C., que foi forçado
a deixar o trono por sete anos, até poder reconquistar a lealdade de seus vassalos.
19.15. G ilgal. N o início da monarquia, Gilgal aparentemente era um centro de adoração. Talvez por estar relacionada à coroação de Saul e por sua proximidade
com o rio Jordão (possivelmente identificada com loca
lidades próximas a Khirbet M efjir, pouco m ais de um
quilômetro a nordeste de Jericó), seria um local apro
priado para os líderes tribais aceitarem novam ente D avi como rei. Ver os comentários em 1 Sam uel 7.16;
11.14, 15.19.24. lavar os pés e aparar a barba. A tradução da
NVI sugere uma negligência com a aparência pesso
al, freqüentemente associada ao luto. Esse relato tam
bém indica que M efibosete não tinha nenhuma inten
ção de assumir o trono, pois de outro modo ele teria tomado cuidado para se apresentar com a aparência digna de um rei. Ezequiel 24.17 tam bém identifica
pés descalços e barba por fazer como sinais de luto. As atitudes atribuídas a M efibosete permitem essa inter
pretação, porque o texto sim plesm ente diz que ele não havia lavado os pés nem aparado a barba.
19.22 ,29. perdão concedido em ocasiões especiais. O rei atuava como "chefe da casa" em relação aos nobres e à corte real. Com o tal, ele podia agir com o um
paterfamilias, concedendo perdão ou sentenciando à m orte aqueles que eram acusados de crimes políticos
ou deslealdade (ver 1 Rs 2.19-46). Simei e M efibosete
haviam com etido crim es contra D avi que justificari
am a pena de morte. No entanto, no dia de sua ascensão ao trono, Davi decidiu perdoá-los, como sinal de
sua m agnanim idade e disposição em perdoar seus inimigos políticos (ver a afirmação semelhante de Saul
em 1 Sm 11.12 ,13). Era comum na Mesopotâmia que o rei declarasse anduraru - a libertação de prisioneiros
e de escravos por dívidas - quando da sua ascensão ao
trono. Indultos semelhantes podiam alcançar também os culpados de crimes políticos como se observa no documento da reform a do rei sumério Uruinimgina
(século 24 a .C ), em que até ladrões e assassinos foram libertados. No Egito, a coroação de um novo faraó era
acompanhada muitas vezes da concessão de anistia.
19.42. com er das provisões do rei. Aqueles que comi
am à m esa do rei ou de sua provisão eram seus dependentes, portanto, deveriam demonstrar lealdade
por receberem esse tratamento (evidenciado nas listas
de provisões fornecidas a nobres e membros do governo em textos administrativos de Mari e da Babi
lônia). O crime de M efibosete era baseado nesse fato, visto que ele aceitara as provisões da m esa de Davi (2
Sm 9.6, 7). Os líderes de Judá negaram esse tipo de vínculo, insistindo que suas boas-vindas a Davi eram
baseadas na sua capacidade de governar, e não em
subornos ou favores garantidos a eles pelo rei.
19.41-43. argum entos da discussão intertribal. A pre
sença de favoritismo e discriminação fatalmente iria se refletir na política na forma de privilégios. A ques
tão era se a m onarquia estava estruturada ao redor da pessoa e da família de Davi (posição que os homens
de Judá defendiam, referindo-se a seus laços de pa
rentesco) ou era uma instituição merecedora de leal
dade, não importando quem estivesse no poder (posição de Israel). Esse argum ento é um prenúncio da
rebelião de Seba e da eventual divisão das tribos do norte, sob a liderança de Jeroboão. A disputa também
remete às discussões comuns entre as tribos, ocorridas
no período dos juizes. Essas duas situações indicam
que a idéia de um governo centralizado sob a forma
de m onarquia ainda não se firmara entre os israelitas. É comum supor que havia uma unidade natural em
Israel, que se refletia na m onarquia unificada, enquanto que a monarquia dividida é considerada uma
aberração. N a verdade, porém , até o período pós-
exílio o que havia era um a lealdade tribal e não uma
lealdade nacional que atendia às decisões políticas do
governo.
20.1-25A rebelião de Seba20.1. a declaração de Seba. Os exércitos de todas as
tribos, sentindo-se excluídos no processo de retom o
do rei, não iniciam uma ação m ilitar contra Judá ou Davi, m as sim plesm ente abandonam D avi para se
guir Seba (ele os envia de volta às suas casas, em vez
de reuni-los para a batalha). A declaração de Seba efetivamente anuncia a retirada do apoio ao reinado
de Davi, mas não indica que estaria apoiando outro rei. Visto que Seba era benjamita, é possível que ain
da m antivesse algum vínculo com a casa de Saul e
que um descendente de Saul seria cham ado, m as o
texto não revela esse elemento.20.3. m and ou co n fin ar as dez con cu b in as. Como
A bsalão havia m antido relações sexuais com essas
mulheres, elas não poderiam mais servir como parceiras sexuais do rei. Se a presença delas no harém
representasse alianças políticas que haviam sido apoiadas por Absalão, o fato de serem consideradas persona
non grata seria duplamente justificado. Davi cumpriu
suas obrigações para com elas, garantindo-lhes o sus
tento, m as elas nunca mais teriam filhos com o rei. O código de Hamurabi exigia que as viúvas recebessem
"com ida, óleo e rou p as", e o texto de Êxodo 21.10 garante direitos semelhantes às concubinas.
20.4, 5. conv ocar o exército . O curto período que Am asa tinha para ajuntar as tropas dos clãs de Judá
talvez fosse um teste para m edir sua lealdade e tam bém a lealdade das tropas. A m asa havia prestado
serviço a Absalão e as autoridades de Judá haviam renovado seus juram entos de lealdade a Davi havia
pouco. O uso de m ensageiros para reunir as tropas
era comum (ver a convocação de sete dias em 1 Sm11.3-5), mas os textos de M ari indicam o uso de listas
de inscrição que deviam ser levadas às aldeias e acampamentos para alistar os soldados. Esse procedimen
to, porém, requeria um tempo m aior do que o prazo de três dias concedido por Davi para reunir um gran
de contingente.20.6. m eus soldados. Joabe é identificado aqui como
senhor de A bisai. V isto que Joabe estava despres
tigiado e talvez fora deposto de seu cargo, A bisai
recebeu o comando do exército efetivo. O exército foi
dividido em três grupos. O primeiro era de mercenários que serviam como guarda pessoal do rei, repre
sentado pelos queretitas e peletitas, que provavel
mente som avam algum as centenas de soldados. O segundo grupo formava o exército regular, que pro
vavelm ente incluía israelitas e m ercenários. Eram
soldados profissionais, treinados, que tinham servido
sob o comando de Joabe e agora estavam sendo liderados por Abisai. A essa altura, provavelmente ape
nas os soldados de Judá perm aneciam leais, o que reduzia o contingente de soldados para apenas algu
mas centenas, em bora o exército efetivo geralmente
chegasse a alguns milhares. O terceiro grupo era for
mado por todos aqueles que podiam se alistar em
tempos de crise. Era esse o grupo que Am asa estava tentando organizar.
20.8. grande rocha de G ibeom . M uitas vezes o texto
bíblico se refere a algum marco conhecido na época, mas que atualmente não nos é fam iliar (ver a tamarei
ra de Débora em Jz 4.5). Assim, o escritor aqui pode
estar se referindo a um altar ou a um lugar elevado
como Nebi Sam wil (pouco mais de um quilômetro ao sul de el-Jib; ver 1 Sm 14.33; 1 Rs 3.4) ou simplesmen
te a um a formação rochosa inusitada que ficava perto
de Gibeom (el-Jib, cerca de seis quilômetros a noroeste de Jerusalém).
20.8. equipam ento de Joabe. E difícil reconstruir a
estratégia de Joabe para m atar Amasa. Joabe vestia seu traje m ilitar e usava o cinturão normal dos guer
reiros com um punhal na bainha. A explicação mais
comum é que Joabe teria conseguido tirar o punhal para fora da bainha, deixando-o cair no chão de forma
aparentemente acidental. A seguir, apanhou-o do chão com a mão esquerda, mantendo-o oculto até aproxi
mar-se de Amasa.20.9. pegar p ela barba. Há poucas referências do beijo
como uma saudação entre pessoas sem vínculos de parentesco, exceto em situações de submissão (como
beijar os pés, atitude encontrada em m uitos textos antigos, inclusive no épico de Gilgamés). Em alguns
contextos, o beijo era uma form a de expressar reconciliação (ver José e seus irm ãos em G n 45.15), o que talvez seja o caso de joabe e Amasa. O beijo também
podia ser um a form a de expressar consideração ou compaixão por alguém que estivesse enfrentando um
problema, como em 2 Sm 15.5. Quando os homens se
beijavam era comum um segurar a barba do outro. Esse ato fazia com que ficassem vulneráveis e era
geralmente relacionado às ações agressivas nas batalhas. Aqui, representava uma demonstração de confian
ça, porém Am asa confiou na pessoa errada e Joabe aproveitou a oportunidade para eliminar seu rival.
20.14. A bel-B ete-M aaca. Identificada em geral com Tell Abel el-Qamh, cerca de cinco quilômetros a noroeste de Dã, no extrem o norte de Israel, A bel-Bete- M aaca tam bém aparece na relação das cidades conquistadas de Tutm és III. Sua im portância estratégica é confirmada por constar no registro das conquistas de Tiglate-Pileser III em 1 Reis 15.29 e nos anais assírios.20.15. rampa. Um método bastante comum no cerco de cidades era a construção de um a rampa que podia ser usada como plataforma para permitir o acesso às torres e também para facilitar a aproximação dos aríetes (2 Rs 19.32; Jr 6.6; Ez 4.1-8). As ram pas eram necessárias porque normalmente existiam inclinações íngremes e m uros altos ao redor das cidades, dificultando a realização de ataques frontais. Pesquisas arqueológicas encontraram evidências da construção dessas rampas (por exemplo, em Masada); ilustrações de rampas foram encontradas em baixos-relevos assírios e mencionadas nos anais de Senaqueribe e outros reis assírios. O vestígio arqueológico m ais antigo desse tipo de rampa utilizada nos cercos foi o do cerco assírio de Láquis, em 701. Em bora não tenham sido encontradas evidências de rampas nesse período, o aríete já era usado há quase m il anos, o que indica que as rampas também fossem usadas.20.16. m ulher sábia. Ver o comentário em 2 Samuel14.2.20.19. cidade que é m ãe em Israel. N a língua dos
fenícios, em Ugarit e na antiga Babilônia as palavras equivalentes a "em", "m ãe", são termos relacionados a clãs. Portanto, é provável que o argumento da m ulher sábia esteja associado ao extermínio de um dos clãs de Israel, e não à destruição de um a antiga cidade. A lém disso, os habitantes de Abel tinham um a longa tradição de bom senso. Joabe, portanto, foi exor
tado a ser "sábio" como eles e a poupar a vida de seus companheiros de aliança.
20.23-25. cargos adm inistrativos. A lista de funcionários dentro do círculo íntimo de Davi é um indício da crescente complexidade do seu governo (compare com as listas de funcionários do governo de Salomão em 1 Rs 4.1-19). Essa e a lista de 2 Samuel 8.15-18 são semelhantes a outras encontradas nos documentos administrativos neobabilônicos. Em bora esses cargos não estejam relacionados à história da rebelião de Seba, o autor do texto bíblico achou conveniente inserir a lista aqui, demonstrando assim que a ordem política havia sido restaurada. A criação de um novo cargo relacio
nado aos trabalhos forçados indica o surgimento de novos objetivos políticos para reforçar as fortalezas e m elhorar as estradas e a comunicação dentro do reino.
21.1-14 Os gibeonitas são vingados21.1. sofrim entos causados pelos erros do governo an terior. N o antigo O riente Próxim o, o rei m uitas vezes era visto como a personificação do Estado e o representante do povo. Durante o reinado do rei hitita M ursilis, houve uma peste que durou vinte anos, e foi considerada conseqüência dos erros cometidos pelo rei anterior. Para resolver o problem a foram feitas várias tentativas no sentido de aplacar a ira dos deuses e com p en sá-lo s. D e m odo sem elh an te , o re i babilônio N ebonido entendeu, através de oráculos, que algumas de suas dificuldades resultavam da negligência para com o deus-lua Sin; ele então procurou corrigir essa situação. Entre os docum entos antigos que condenam a conduta de reis anteriores talvez o mais notável seja a crônica de Weidner. Nesse documento treze reis são criticados por falharem em prestar a devida honra ao santuário de Esagil na Babilônia. Os conselheiros se apoiaram nesses fatos para alertar a atual administração a ser mais fiel.21.1. fom e que leva o re i a consu ltar os oráculos. Fomes e pestes geralmente eram vistas como um sinal da reprovação ou da ira divina. O rei hitita Mursilis com pôs um a coletânea de Súplicas de Aflição para evitar a ira dos deuses. Buscar a "face do Senhor" (NVI: "consultar o Senhor") é uma expressão também encontrada em fontes babilónicas e hititas. Buscar a face de um superior normalmente significava ter uma audiência com ele para buscar sua orientação ou conselho. Neste caso não se sabe ao certo se Davi buscou a presença do Senhor através de um oráculo ou se ele foi a um lugar sagrado para falar diretam ente com
Deus.21.2-4. gibeonitas. A cidade de G ibeom (moderna el- Jib) fica cerca de dez quilômetros a noroeste de Jerusalém , no território da tribo de Benjam im . Para mais
informações, ver o comentário em Josué 9.3. Os gibeonitas estavam protegidos por um tratado firmado como resultado do incidente registrado em Josué 9. É compreensível que eles se tornassem alvo do zelo nacionalista, m as não há informações nos registros bíblicos sobre o rem ado de Saul detalhando suas ações contra eles.21.5-9. executados sete descendentes de Saul. A execução de criminosos e infratores de tratados, deixando seus corpos em exposição, era comum no antigo Oriente Próximo. Foram encontrados alguns corpos expostos dessa forma em Terqa (Tell Ashara) na Síria, anteriores a essa época, quando os arameus seminô- m ades viajaram para o local a fim de pagar tributo aos assírios. Além disso, m uitos m arcos de fronteira na Babilônia do período cassita (final do segundo milê-
nio a.C.) contêm maldições que incluem a exposição do cadáver, no caso de alguém transgredir as condições do acordo em questão.21.6, 9. no m onte, perante o Senhor. O monte a que se refere o texto provavelm ente é o lugar sagrado gibeonita m encionado em 1 Reis 3. É norm alm ente identificado com Nebi Samwil, que fica pouco mais de um quilômetro ao sul de Gibeom. O fato de a execução ter acontecido "diante do Senhor" pode indicar um tipo de ritual. A s m aldições do tratado cassita acima mencionado também eram executadas na presença de um a divindade.21.9. dias da colheita. O início da colheita da cevada acontece no mês de abril, que corresponde ao mês de Ziv, no calendário hebraico. O nome do mês foi tomado emprestado dos cananeus e corresponde ao mês Iyyar do calendário babilónico, o segundo mês do ano agrícola. Uma antiga descrição da época da colheita na Palestina pode ser encontrada no calendário de Gezer (século dez a.C.). O calendário menciona o mês de colheita da cevada e a seguir o mês da colheita do trigo. Os grãos eram puxados com a mão ou cortados
com uma foice.21.12-14. tratam ento concedido aos ossos. Pode-se presum ir que som ente as cinzas de Saul e Jônatas foram enterradas aqui, visto que seus corpos haviam sido queimados (1 Sm 31.11-13), um costume raro no antigo Israel. Os israelitas consideravam que o corpo ("carne") e o espírito de um a pessoa eram inseparáveis. Logo, o indivíduo era espírito e carne. Por causa disso o cadáver era tratado com m uito cuidado, visto que era considerado como parte da existência da pessoa. Se o cadáver fosse de alguma forma destruído (p. ex., por ficar exposto), a existência posterior daquela pessoa estaria seriamente ameaçada (para mais informações, ver o comentário em 1 Rs 16.4). Essa idéia está implícita na literatura e em vestígios de materiais da cidade mesopotâmica de Ur, no início do segundo milênio a.C.. O corpo de parentes mortos era enterrado debaixo dos santuários encontrados nas residências particulares. Eles ainda eram considerados, de certa forma, como parte da família e era necessário reservar para eles os utensílios usados nas refeições e outros objetos da vida cotidiana. Por isso, era importante tratar os ossos com m uito cuidado. De modo semelhante, Davi preocupou-se em tratar cuidadosamente os restos de Saul e Jônatas.
21.15-22Guerra contra os filisteus21.16. armas. A lança ou a ponta da lança filistéia (a haste da lança normalmente não era feita de bronze) pesava três quilos e seiscentos gram as, m etade do
peso da lança de Golias (1 Sm 17.7). O texto diz que o filisteu estava armado com uma "espada nova", um termo ambíguo que pode indicar alguma característica especial.21.17. a lâm pada de Israe l. No tem plo havia um a lâm pada que deveria ficar acesa perm anentem ente (Êx 27.20). A lâmpada simbolizava a presença de Deus no meio dos israelitas e a vida e a esperança que eles usufruíam como conseqüência. A expressão "lâm pada de D eus" tam bém é usada para referir-se à esperança (1 Rs 11.36; 2 Rs 8.19); esse significado também poderia ser aplicado a esse contexto, pois a dinastia de Davi representava a provisão de Deus para a m onarquia. Term os sem elhantes em ugarítico e acadiano estão ligados à perpetuação do governo ou da presença divina. O rei assírio T iglate-Pileser III é descrito
como a luz da humanidade. Uma expressão babilónica antiga utiliza a imagem de um braseiro se apagando ao se referir a uma família sem descendentes.21.19. haste da lança parecida com um a lançadeira de tecelão. A lança em questão devia ser equipada com uma correia e um a argola para ser carregada a tiracolo, sem elhante aos bastões de m adeira com argolas usados para levantar o tecido no tear. Esse tipo de
lança era usado no Egito e na região do Egeu no início da Idade do Ferro (c. 1200-900 a.C.). Existem ilustrações de m ulheres, tanto no Egito com o na Grécia, tecendo com instrumentos desse tipo.21.20-22. seis dedos em cada mão e seis dedos em
cada pé. Deformidades eram objeto de intensa curiosidade e especulação no mundo antigo. Há uma série completa de textos de presságios mesopotâmicos descrevendo diversas anomalias de nascença, inclusive um núm ero anormal de dedos nas mãos e nos pés.
22.1-51Cântico de louvor de Davi22.1-51. cantando um cântico de vitória. Uma forma de celebrar vitórias e comemorá-las nos anos vindouros era através de canções compostas para celebrar os feitos. Cânticos variados são conhecidos em todo o antigo Oriente Próximo desde a primeira metade do terceiro milênio. Uma relação de canções assírias de cerca de um século antes de D avi inclui títulos de aproximadamente 360 canções de dezenas de categorias diferentes. Entoar um cântico após ter recebido auxílio divino que resultara em vitória é um tem a comum na Bíblia. Embora de estilo diferente dos salmos hebraicos, os reis da M esopotâm ia e do Egito tam bém com punham hinos dedicados aos deuses, agradecendo-lhes pela v itória contra os inim igos. Tukulti-Ninurta I da Assíria (c. 1244-1208 a.C.) compôs um longo épico a A sur, agradecendo-lhe pela
vitória contra a Babilônia e ao m esm o tempo justificand o sua conqu ista alegan d o que o governan te babilónico não merecia a vitória.22.2, 3. comparação com a rocha. A rocha no Antigo Testamento é um símbolo da segurança e proteção de um refúgio inatingível. Deus era a rocha (ou m ontanha) que dava segurança e proteção ao seu povo. Algumas das mais importantes divindades da Anatólia e da Palestina, do final do segundo milênio a.C. (tais como El, o criador divino), eram descritas como montanhas divinizadas.22.5. ondas da morte. Aqui, como no Livro de Jonas (2.6, 7), o escritor compara sua situação como se uma enorme onda de água o cercasse, trazendo-lhe a morte, que é um sinônimo de Seol, a m orada dos mortos. As torrentes representam as águas caóticas e destruidoras que ameaçam não apenas a vida, mas também toda a criação.
22.6. cordas da sepultura. Armadilhas feitas com laços e cordas eram usadas por caçadores no antigo Oriente Próximo. Nessa comparação, a morte ou Seol é o caçador. Para muitas culturas no antigo Oriente Próximo o Seol, a m orada da sepultura (isto é, o mun
do inferior), era um lugar real onde os indivíduos levavam uma existência amorfa, comendo pó e terra, esperando que seus descendentes cuidassem de suas necessidades. Ali havia portões guardados por porteiros a fim de m anter os mortos lá dentro; por isso era chamada a "terra sem volta". Essa descrição pode ser encontrada no épico acadiano do segundo m ilênio, intitulado A Descida de Istar. Aparentemente, a visão hebraica da sepultura não era muito diferente, em bora não haja um a descrição elaborada sobre isso no Antigo Testamento.22.14-16. Y ahw eh com o guerreiro. N a tem ática do guerreiro divino, a divindade luta contra as divindades do inimigo, derrotando-as nas batalhas travadas. Na Assíria, Nergal era considerado o rei da batalha e Istar a deusa da guerra. O deus cananeu Baal e o babilônio M arduque tam bém eram guerreiros divinos. Trovões e relâm pagos eram considerados elem entos que geralm ente acom panhavam a presença da divindade no antigo Oriente Próximo, quase sempre durante as batalhas. D a Exaltação Sum éria de Inanna, aos mitos hititas sobre o deus da tempestade
e nas mitologias acadiana e ugarítica, os deuses eram vistos como trovões condenando os inimigos. Baal é ilustrado tendo nas m ãos m uitos raios de trovão. Expressões como essas aparecem no discurso dos reis hititas ou assírios que se apresentavam como instrum entos dos deuses, trovejando contra aqueles que violavam os tratados ou obstruíam a expansão do império.
22.34. v e lo z com o a gazela. H avia grande quantidade de gazelas iranianas na Palestina durante o período da m onarquia israelita (embora tenham sido extintas no século passado). Esses animais nunca foram domesticados e representavam apenas uma pequena porcentagem do suprimento de carne da população local durante as Idades do Bronze e do Ferro. Algumas gazelas eram mantidas em cativeiro, como descreve uma lista de suprimentos do século quinze, da cidade costeira de Alalakh (ver comentário em SI 18.33).
23.1-7As últimas palavras de Davi23.1. oráculo de D avi. A expressão inicial traduzida como "palavras de Davi" (em algumas versões, "oráculo") geralmente era usada para introduzir mensagens do Senhor, como os versículos dois e três sugerem, m as também era usada às vezes para introduzir provérbios de sabedoria (ditados de Agur, oráculo - Pv 30.1) ou m ensagens proféticas (oráculo de Balaão, N m 24.3, 15). Essa é a única vez em todo A ntigo Testamento em que se insinua a possibilidade de Davi ser considerado um profeta.23.1. cantor dos cânticos. Não fica claro se essa expressão se refere a Davi ou ao "D eu s de Jacó". Am bas poderiam ser justificadas pelo emprego dessa terminologia em textos ugaríticos. No caso de Davi, a expressão descreveria seus talentos musicais enquanto que poderia ser uma referência a Deus como motivo de canções ou talvez como o amado defensor de Israel.23.5-7. m etáforas do reino. A metáfora que dá inicio ao versículo quatro remete ao sol. O governo de um rei justo é como o calor do sol, benéfico para as plantações, mas terrível para os injustos. O Sol representando a justiça do rei (Yahweh nesse caso é o rei) é uma
im agem recorrente entre os hititas e especialm ente em relação aos reis do Egito. U m hino egípcio do Médio Império ao deus Amom-Rá descreve o rei como o senhor dos raios, que através de sua luz dá vida a quem ele ama, m as é um fogo consumidor para seus inimigos. Na M esopotâm ia, Shamás, o deus-sol, é o deus da justiça. Os espinhos simbolizam os rebeldes, que simplesmente são arrancados e lançados no fogo (o resultado do calor do sol).
23.8-39Os principais guerreiros de Davi23.8. os guerreiros de D avi. Acredita-se em geral que esses trinta homens formavam uma espécie de guarda pessoal - campeões que haviam se ligado a Davi (ver comentário em 1 Sm 17.25) e o serviam como sua "força especial". Esses grupos de operações de elite
não funcionavam necessariamente dentro de uma es
trutura m ilitar organizada.23.9. Pas-D am im . Pas-Damim ou Efes-Damim (1 Sm 17.1), é localizada nas Escrituras entre Socó e Azeca, perto do vale de Elá. Portanto, ficava a oeste de Belém, em direção à costa filistéia. Damun, cerca de seis quilômetros a nordeste de Socó, é a possível localização moderna de Pas-Damim, mas é difícil enxergar como esse local poderia estar situado entre Socó e Azeca.23.13. geografia. Adulão ficava cerca de 25 quilômetros a sudoeste de Jerusalém . É identificada com a m oderna Tell esh-Sheikh M adhkur. Não se sabe ao certo se a "caverna" de Adulão refere-se à cidade ou a algum local próximo. A localização do vale de Refaim é incerta, mas é possível que seja a moderna el-Baq'a, um a área a sudoeste de Jerusalém (ver o comentário em 5.18). Portanto, a caverna de Adulão ficava em algum ponto entre o norte e o leste do vale de Refaim.23.14. fortaleza. A fortaleza mencionada aqui provavelm ente ficava perto de A dulão (ver 1 Sm 22.4). Alguns estudiosos sugerem que seja um a referência a M asada. O contexto para a narrativa contida nesse trecho parece ser o período em que D avi estava fugindo e ainda não era rei. Durante o reinado de Davi, a
"fortaleza" era Sião (2 Sm 5.17).23.15-17. porta de B e lém . N em a cisterna, nem a porta foram localizadas nos escassos vestígios da Belém da Idade do Ferro. Os vestígios da antiga cidade foram localizados na encosta da moderna Belém, perto da Igreja da Natividade. A parte superior do morro não parece ter sido ocupada durante a Idade do Ferro. Portanto, a porta e a cisterna de Davi ficavam provavelmente na parte baixa da cidade.23.20. leão num buraco em dia de neve. Provavelmente ainda existiam leões, em bora em pequena quantidade, vagando pelo interior do país durante a Idade do Ferro. Caçar leões era um esporte apreciado por reis e heróis. Reis egípcios e assírios escolheram cenas de caçadas a leões para retratar sua virilidade. Um a das técnicas usadas para caçar leões era através de fossos. O leão era atraído para o buraco onde uma rede o mantinha preso. O caçador então ia até o fosso com uma lança e term inava a m atança. A razão provável para m encionar a neve é que tornaria a cam inhada m ais difícil. A ocorrência de neve não era um fato extraordinário nas m ontanhas do sul da Palestina.23.23. guarda pessoal do rei. A posição ocupada por Benaia, capitão da guarda pessoal do rei, era a mesma que Davi ocupara no governo de Saul (ver 1 Sm 22.14). Provavelm ente essa guarda era a força m ercenária descrita como "o s queretitas e os peletitas" (ver comentário em 15.18). Os capitães da guarda pessoal do rei são m encionados com freqüência nos registros
assírios e em fontes gregas (p. ex., H eródoto) que descrevem o exército persa de Dario I e Xerxes I (521465 a.C.).
2 4 .1 -1 7
O recenseamento de Davi24.2. recenseam ento . Fazer um recenseam ento era uma medida prática utilizada pelos governantes do antigo Oriente Próximo, talvez desde o período das tábuas de Ebla, cerca de 2500 a.C. (embora as evidências sejam escassas), e claram ente com provada por volta da metade do segundo milénio. Porém, os benefícios dessa prática não eram necessariamente apreciados pelo povo, visto que resultava no aumento das cobranças de impostos e no serviço m ilitar ou trabalhos forçados. Visto por esse prisma, não é de admirar que o conceito popular pregasse que o censo acarretasse má sorte ou provocasse a ira dos deuses. Textos de M ari (século dezoito a.C.) da M esopotâmia descrevem hom ens fugindo para as m ontanhas a fim de escapar do censo.24.5-8. itinerário. Os fiscais do censo iniciaram o itinerário seguindo para o leste, na região da Transjordânia, até a extremidade sudeste da terra de Aroer, ao longo do Arnom e depois seguiram para o norte até a extrem idade nordeste em Dã. Cades dos hititas (Tatim- Hodsi) é desconhecida, m as a lógica do itinerário sugere que seria algum lugar na região do monte Her- mom, muitas vezes considerado um a fronteira a nordeste. De lá, eles rum aram para o noroeste até a costa fenícia em Sidom e então começaram a ir para o sul através das principais partes do país. É interessante notar que os heveus e os cananeus são mencionados após a m enção de Tiro (fora dos lim ites e Israel) e então a lista pula para Berseba, na extremidade sul da terra. Ao fazer essa descrição, os distritos, cidades e territórios do lado oeste do Jordão são om itidos do itinerário.24.9. relatório do recenseam ento. O total de um m ilhão e trezentos mil homens habilitados para a guerra parece elevado demais para os estudiosos de densidades populacionais. Estimativas da população israelita no período de Davi variam entre trezentos mil a novecentos mil. Em bora os métodos usados para esses cálculos possam ser contestados, deve-se lembrar tam bém que a palavra traduzida com o "m il" no texto bíblico pode tam bém representar um a quantidade muito menor.24.10. rem orso por ter fe ito o recenseam ento. A irade D eus (contra pecados ocultos, v. 1) fez com que D avi decidisse fazer um recenseam ento. Ao sentir remorso por haver tomado essa decisão, o texto sugere que a motivação de Davi ao fazer o recenseamento
era aplacar a ira de Deus. No antigo Oriente Próximo, um a das form as de aplacar a ira da divindade era oferecendo generosas dádivas ao santuário, como compensação. Visto que durante o recenseam ento cada pessoa deveria pagar um imposto destinado ao templo (ver comentário sobre o recenseamento para arrecadação do im posto do templo em Êx 30.11-16), é possível que esse recenseamento fosse uma tentativa de aplacar a ira de Deus, através do dinheiro depositado nos cofres do templo. Mas não era dessa form a que Yahw eh desejava ser tratado e essa atitude, em vez de apaziguá-lo, aumentou sua ira. O castigo foi conseqüência tanto de sua ira inicial como da tentativa de Davi em apaziguá-la.24.11. vidente. Vidente e profeta praticavam basicamente a m esma atividade, mas o papel de cada um na sociedade era diferente (de certo modo semelhante à diferença entre o ofício de ju iz e de rei). Parece que os videntes eram capazes de transmitir seus conhecimentos e suas funções a alunos ou a seus filhos, ao passo que o profeta era diretam ente cham ado por D eus.
24.12-15. id entificação entre rei e povo. No antigo Oriente Próximo era comum que o rei fosse considerado a personificação do Estado e o representante do povo. Na literatura hitita, por exemplo, uma ofensa cometida pelo rei poderia trazer castigo sobre todo o povo. As orações reais muitas vezes eram dirigidas às divindades a fim de buscar perdão por ofensas cometidas tanto pelo rei atual como pelos reis anteriores e que eram consideradas como causa de dificuldades presentes.24.16. an jo afligindo o povo. Essa expressão é a mesm a usada para referir-se ao anjo destruidor no relato da Páscoa em Êxodo 12. No épico mesopotâmico chamado Erra e Ishum, o deus da peste (Erra ou Nergal) envolve-se numa campanha de destruição e finalmente é acalmado por um subordinado, Ishum, evitando o
extermínio total da terra. Um a diferença óbvia (dentre muitas) é que aqui em 2 Samuel o anjo destruidor
está debaixo do controle absoluto do Senhor, enquanto que no épico de Erra, Marduque, o principal deus da Babilônia, está distante e ambivalente.
24.18-25 Altar e Eira24.18. Araúna, o jebu seu . Quando Davi conquistou Jerusalém ele não expulsou os jebuseus da cidade.
Pelo fato de Araúna ter m antido um a significativa faixa de terra ao norte da cidade, alguns sugerem que
ele seria o governador jebuseu. A palavra hurrita (os
jebuseus geralm ente são considerados descendentes dos hurritas) para senhor feudal é ewrine, o que pode
ria indicar que Araúna (variante: Aw ama) fosse um título e não um nome.
24.18. eira. Visto que a eira era uma área aberta am
pla e plana, era o lugar ideal para o povo da cidade se
reunir. Por estar também intimamente relacionada à colheita, a eira era o local usado nas cerim ônias e festivais religiosos. A combinação desses fatos permi
te supor que a eira de Araúna já estivesse ligada a algumas tradições sagradas em períodos anteriores.
24.22. debulhador e ju go dos bois. O debulhador era
uma plataform a de madeira presa com peças de ferro introduzidas em orifícios. Poderia ser amarrado atrás
dos animais e carregado com pedras. Quando arrasta
do por cima do trigo, auxiliava no processo de debulha. Nesse texto, tanto o debulhador como o jugo for
neceram lenha para o sacrifício.24.24. cinqüenta peças de prata. Essa não é uma quantia
m uito elevada comparada às quatrocentas peças de prata que A braão pagou pela caverna de M acpela (Gn 23). Além desse valor, 1 Crônicas 21.25 relata que
Davi pagou a quantia de sete quilos e duzentos gra
mas (600 siclos) de ouro por toda a propriedade.
1 R E I S
v y1.1-53Adonias declara-se rei, mas Salomão assume o trono1.3, 4. a posição de A bisagu e. O fato de D avi ter afirm ado que não teve relações com A bisague demonstra que ela nunca foi oficialmente levada para o harém real. Embora ela não tenha sido nem esposa, nem concubina, seu papel como a com panheira do rei, em seus últimos dias, gerou ambigüidade suficiente a ponto de, m ais tarde, colocá-la no meio de um conflito de poder (ver o comentário em 2.13-21).1.3. sunam ita. Localizada no território de Issacar (Js 19.18), Suném (moderna Solem) ficava onze quilômetros a sudeste de Nazaré. É m encionada na lista de conquista de Tutm és III, no século quinze a. C., e nas cartas de El A m am a do século catorze a.C..1.5, 6. prim ogenitura em Israel. N o antigo Oriente Próxim o, a prim ogenitura nem sem pre era a regra. Em muitos textos fica claro que os filhos tinham partes iguais na herança. Quanto à sucessão para reinar, em algumas culturas os irmãos do m onarca tinham prioridade em relação aos filhos. Em outras, cabia ao rei designar seu sucessor e, em alguns casos, os súditos tinham que consentir. Na cultura israelita, o primogênito geralm ente tinha certas vantagens, m as nem sempre a herança ou a sucessão ao trono inevitavelm ente cabiam a ele. Ver o comentário em D eutero- nômio 21.15-17 a respeito do contexto do antigo Oriente Próxim o na questão dos direitos à herança do prim ogênito.1.5. cinqüenta hom ens para correr à sua frente. Erabastante comum que pessoas de elevada posição política demonstrassem sua autoridade conduzindo uma carruagem, acompanhada de uma escolta de homens que corriam à frente (ver o comentário em 2 Sm 15.1). Em form ações de batalha, isso correspondia a uma unidade de luta, como se observa nos anais de SargonII e de outros reis assírios.1.7, 8. apoio do exército e dos sacerdotes. No épico ugarítico de Keret, o príncipe Yassib, filho de Keret, argumenta que o rei inválido não era mais capaz de desem penhar suas funções e que, portanto, deveria transferir o trono a seu sucessor. Igualmente, os filhos de Davi se apresentam para tirar o trono de seu pai que já estava debilitado e com idade avançada. Para tanto, eles solicitaram o apoio de grupos que detinham poderes dentro do estado - especificamente os
líderes militares e a comunidade sacerdotal. A oposição de qualquer um desses grupos poderia ser a causa de um curto reinado (ver respectivamente 1 Rs 16.1518 e 2 Rs 11). Visto que a linhagem dinástica permaneceria no poder, não havia necessidade de recrutar novamente o apoio de tribos e clãs. Ao pressionarem o rei no sentido de estabelecer um regime de regência simultânea (uma prática comum nas monarquias egípcia e m esopotâm ica), em vez de tentar depor Davi com o uso de força, Natã e Bate-Seba conquistam o trono para Salomão.1.9, 19. sacrifícios. É provável que esses sacrifícios fossem os dois mais comuns: holocaustos e ofertas de com unhão. A quele geralm ente acom panhava uma petição, enquanto este servia como uma oportunidade para celebrações e refeições comunais diante do Senhor. Esses sacrifícios teriam sido oferecidos por Adonias para marcar o início de seu reinado (coroação). Através deles, Adonias pediu a bênção de Deus e ao mesmo tempo ofereceu um banquete para aqueles que ali estavam firm ando um a aliança com ele, seguindo o estilo de Absalão. Esse tipo de refeição comunal fazia parte de acordos de tratados e alianças, como exemplificam os textos de Mari e as cartas de Am arna.1.9. En-Rogel. Essa fonte se localiza cerca de 600 metros ao sul da fonte de Geom, no vale de Cedrom (ver o comentário em 1.33) e a menos de um quilômetro do palácio de Davi. A escolha desse lugar, para a cerimônia, provavelmente deve-se ao fato de que ela ficava na junção do território de Benjamim com Judá (sugerindo que ambos teriam acesso a esse reservatório de água). Portanto, pode-se inferir que a base de apoio de Adonias compreendia as mesmas alianças tribais que haviam levado D avi ao poder. Seu apoio, por parte de Joabe e Abiatar, também representaria esse elemento tradicional. A pedra de Zoelete às vezes é traduzida como a rocha da Serpente e provavelmente refere-se a um a pedra de formato distintivo associada a alguma tradição ritual.1.21. tratam ento aos candidatos ao trono. Há inúmeros precedentes, nos textos mesopotâmicos, quanto à eliminação de candidatos rivais ao trono quando um rei assumia o poder. Essa limpeza também acontecia, anos mais tarde, como um a form a de vingança a oposição política ou a rebeliões atentadas contra governantes anteriores. Um a form a de entender m elhor os
m edos de Bate-Seba, em relação a ela e a seu filho Salomão, é olhar para o assassinato do rei assírio Sena- queribe, em 681 a.C., por seus próprios filhos. Embora o rei tivesse designado seu filho, Esar-Adon, como seu sucessor, a guerra civil estourou com facções m ilitares tomando partidos. Esar-Adon finalmente garantiu o trono e mandou executar os culpados pelo assassinato de seu pai. Esse tipo de intriga que cercava a sucessão ao trono não era incomum no antigo Oriente Próximo. Já havia acontecido um a luta sangrenta entre os filhos de D avi no passado (ver 2 Sm 13-15) e a eliminação de outros candidatos ao trono poderia ocorrer após a m orte de Davi. Esar-Adon resolveu o problem a para seu sucessor, conseguindo que seus parceiros de tratado assinassem um acordo para apoiar a nomeação de seus dois filhos com o rei da A ssíria e da Babilônia, respectivam ente.1.33. a m ula do rei. Durante o início da monarquia, o animal adequado para o rei m ontar era a m ula (ver 2 Sm 18.9). Essa prática encontra precedentes num a carta de M ari que contém um a sugestão, ao rei Zinri- Lim, de que seria m ais apropriado à sua dignidade se ele tivesse um a carruagem puxada por mulas em vez de cavalos. Também é possível que o uso de cavalos só tenha se tom ado comum, aos israelitas em períodos posteriores. Durante esse período, as mulas custavam duas ou três vezes mais que os eqüinos. Eram importadas e, naturalmente, não se reproduziam.1.33. G eom . Essa fonte agora é conhecida como 'E n Sitti M aryam, no vale de Cedrom, abaixo da encosta leste da Jerusalém de Davi (ver comentário em 2 Sm5.8). Em contraste com a base de apoio tradicional de grupos tribais, a base de Salomão parece estar concentrada na cidade real, Jerusalém. A fonte de Geom, por ser o reservatório de água de Jerusalém, portanto, é um cenário adequado para essa cerimônia.1.34. ungido pelo sacerdote e pelo profeta. Até essa altura dos acontecimentos, de acordo com o padrão, um profeta ungia o rei antes de ser entronizado (ver o comentário em 1 Sm 16.1). Isso lhe garantia a aprovação divina para que reinasse. N o antigo Oriente Próximo, sacerdotes freqüentemente desempenhavam papéis políticos, m as não se sabe de nenhum profeta que tenha exercido a função de nom ear reis. Agora, com o primeiro exemplo de sucessão hereditária, era apropriado que ambos, o sacerdote e o profeta, participassem desta cerimônia. D este m odo, D eus (através do profeta) e a com unidade relig iosa que servia o povo e a Yahw eh (especialmente no santuário de Jerusalém) reconheceriam o direito de governar do rei.1.28. queretitas e peletitas. Ver o com entário em 2 Samuel 15.18 para m ais informações sobre essas tropas m ercenárias (provavelmente cretenses ou descendentes de outros povos do mar). Serviam como uma
guarda pretoriana, cujas obrigações e lealdade eram restritas ao rei. O uso de soldados m ercenários altamente treinados também se encontra em fontes egípcias, mesopotâmicas e romanas.1.41. alvoroço n a cidade. Em bora En-Rogel ficasse somente a 230 m etros dos muros, ao sul da cidade, era bem m ais baixa (perto da extrem idade sudeste do sopé da m oderna aldeia de Silwan). Desse ponto, não é possível avistar movimentação em Jerusalém, nem em Geom . O barulho de gritos e alvoroço, porém, atravessaria facilmente o vale.1.49. a dispersão dos convidados de Adonias. O grupo de apoio a Adonias aparentemente estava disposto a tentar im por a questão da sucessão; porém , não tinha coragem de enfrentar um a guerra civil. Tam pouco desejava ser aliado de alguém que, sem dúvida, agora seria classificado com o um rebelde. Está claro que Salom ão conquistara o apoio tanto do rei quanto da estrutura política de Jerusalém , e que a causa de Adonias era um a causa perdida.1.50. agarrar-se às p on tas do altar. A donias apela para o santuário ao agarrar-se às pontas do altar (ver Ex 21 .13 ,14). Foram encontradas provas arqueológicas de altares com pontas em lugares como Berseba (ver o comentário em 2.28). O asilo político, porém, era garantido a hom icídio culposo, e o "crim e" de Adonias era considerar-se no direito de governar como rei. Parece provável que o altar, devido à sua ligação com o lugar sagrado e associação com a divindade (ver o comentário em Êx 27.1-8), podia ser usado para fazer juram entos de inocência diante de uma possível punição (como se observa no código de Hamurabi).
2.1-11As instruções de Davi a Salomão2.1-11. instruções do rei m oribundo. U m a série de obras da literatura de sabedoria egípcia, especialmente a Instrução de M erikare (por volta de 2100 a.C.), serve de instrução a um rei recém coroado por parte de seu predecessor. Como aqui, os ensinos passados a M erikare, por seu pai, oferecem conselhos sobre como lidar com certas situações a fim de garantir um governo justo e sem ameaças. A responsabilidade do novo rei era tratar com sabedoria daqueles que apresentavam tendências revolucionárias. A té mesmo as categorias de rebeldes m encionadas dem onstram algum as semelhanças aos conselhos de precaução que Davi dá a Salomão.2.5. crim es de Joabe. Abner (ver o comentário em 2 Sm 3.29) e Amasa (ver o comentário em 2 Sm 20.9), rivais políticos e m ilitares de Joabe, foram eliminados por ele, desafiando as intenções de Davi. Em ambos os casos, esse rei foi envergonhado politicam ente e obrigado a acusar em público as ações de Joabe. Por
causa do tratamento dado, por este, a seus oponentes, a estabilidade do reinado exigia que ele fosse punido como um criminoso.2.5. m anchou de sangue o seu cinto e as suas sandálias. Os term os usados para cinto e sandálias, neste versículo, nunca são usados de forma clara para referir-se ao uniforme m ilitar (ver o comentário em 2 Sm 18.11). A idéia aqui pode ser a de que as vestes manchadas de sangue indicavam que as mortes não haviam acontecido em contextos de batalha.2.7. com er à m esa do re i. A queles que com iam à mesa do rei ou de sua despensa eram seus dependentes e pessoas que ele escolhia proteger. Portanto, esperava-se que demonstrassem sua lealdade com base nesse tratamento (evidenciado nas listas de provisões fornecidas a nobres e membros do governo em textos administrativos de M ari e da Babilônia). Geralmente os alvos desse tipo de proteção do rei eram os membros da adm inistração e heróis de guerra com reconhecimento militar. M uitos desses já faziam parte da família real ou acabariam ingressando nela por meio de casamento (ver o comentário em 1 Sm 17.25).2.8. M aanaim . Além de servir como um centro adm inistrativo para o governo do filho de Saul (2 Sm 2), foi ali que Davi estabeleceu seu quartel general quando teve que fugir de Absalão (ver o comentário em 2 Sm17 .2 4 ). A c id a d e tam b ém é m en cio n a d a com o destruída pela invasão do faraó Sisaque durante a época do filho de Salomão. Em bora fique claro que M aanaim estava situada na região da Transjordânia, sua localização precisa é desconhecida. A identificação m ais comum feita hoje é com Tell edh-Dhahab el- G harbi, na m argem norte do Jaboque. N ão foram feitas escavações no local, mas achados na superfície confirmam que foi ocupada durante esse período.2.8. o crime de Sim ei. Ver o comentário em 2 Samuel16.11.2.10. túm ulo real. Por direito de conquista, a cidadela de Jeru salém era p rop riedad e p rivada de D avi e, portanto, um local adequado para seu túm ulo e de seus sucessores. Tum bas ugaríticas no interior de recintos dos palácios indicam que essa era um a prática da fam ília real. Tum bas da Idade do Ferro Antiga (1200-1000 a.C.) e da Idade do Ferro II (1000-600 a.C.), descobertas em investigações arqueológicas ao longo da planície costeira na área de Judá, parecem ter sido p rim ord ia lm ente fe itas em cavernas ou câm aras mortuárias retangulares, com algumas antecâmaras e bancos elevados para o armazenamento dos corpos. A qualidade e a quantidade dos utensílios colocados nas sepulturas pode som ente ser especulada, visto que não há sinal de tum bas reais do período da m onarquia. Porém, pode-se presumir, com base nas sepulturas reais de M icenas, Egito e Ugarit, que elas conti
nham tesouros que representavam o status do morto. O lugar identificado atualmente aos turistas, como o túmulo de Davi no monte Sião, é uma tradição posterior. Os únicos túmulos monumentais do período do Primeiro Templo encontram-se na aldeia moderna de Silwan, no outro extremo do vale de Cedrom, a partir da Jerusalém de Davi. Esses sepulcros não remontam a uma data tão antiga como a de Davi (que foi enterrado na Cidade de Davi) e não se tratam de tumbas reais.2.11. cronologia. Característica dos anais do antigo Oriente Próximo, a narrativa que descreve cada um dos reis, de Israel e de Judá, term ina com um resumo, apresentando o total de anos que o rei governou e, às vezes, um a m enção a m onarcas da m esm a época. Em bora o núm ero quarenta apareça com freqüência como um número aproximado, aqui ele é subdividido em períodos bastante precisos, sugerindo que de fato o reinado de Davi tenha tido essa duração, estendendo-se do ano 1010 a 970.
2.13-46A ascensão de Salomão ao trono2.19. trono da rainha mãe. Havia três tipos de rainhas no m undo antigo. A mais comum à nossa visão era a esposa principal do rei (p. ex. a rainha Ester). Embora às vezes essas consortes reais não passassem de "ornam entação", em outros contextos (como entre os hititas do segundo m ilênio), elas atuavam com o representantes reais com amplos poderes (compare com o papel de Jezabel na corte de Acabe). Um outro tipo era a esposa (ou mãe) do rei que ascendia ao trono após sua m orte e reinava em seu lugar (p. ex., Atalia de Judá, H atshepsut do Egito). E por fim, o papel ilustrado por Bate-Seba. A extensão com que a rainha mãe exerceria um papel significativo ou influente nas questões judiciais, econômicas ou sociais, dependia de sua personalidade. O fato de que o nome da mãe é mencionado em relação a quase todos os reis de Judá (embora não quanto aos reis de Israel), sugere que seu papel era bastante importante na m onarquia davídica.2.13-21. o pedido de Adonias. A rede de apoio de um rei partia de clãs e fam ílias poderosas. C onseguir concubinas e esposas, portanto, seria o mecanismo de desenvolver essa estrutura em cada área local. Esse auxílio tam bém podia ser obtido através de vínculos com mercadores ricos, líderes m ilitares ou até mesmo fam ílias sacerdotais. Os casam entos reais eram um reflexo de poder e representavam as alianças políticas e econômicas feitas em nome do estado. Portanto, era necessário, na sucessão, que o harém do antigo monarca ficasse sob a responsabilidade do novo rei. Dessa maneira, as condições e obrigações de tratados firm ados previam ente seriam mantidas. Conseqüente-
mente, um sucessor em potencial ao trono às vezes procurava desapropriar seu predecessor de autoridade, tom ando seu harém. Como resultado, qualquer tentativa de conseguir mulheres dali era vista como sinal de rebelião ou usurpação de poder. A perda desse harém para outro m onarca, como descrita nos anais assírios de Senaqueribe, era um sinal de submissão ou deposição. A posição de Abisague continuaria sendo ambígua se ela nunca tivesse oficialmente ingressado no harém; nesse caso, o pedido de Adonias não se constituiria em um a tentativa de conquistar o trono. E possível, porém, que ao obter a últim a companheira de Davi, Adonias desejasse colocar-se numa posição de tentar tomar o reinado. Certamente Salomão preferiu interpretar aquele pedido como uma disposição para a rebelião.2.26. A biatar é banido em Anatote. Anatote era uma aldeia da Idade do Ferro I localizada em Ras-Kha- rrubeh, cerca de cinco quilômetros a nordeste de Jerusalém. No período persa, o local deslocou-se ligeiram ente para o norte, em direção à aldeia de Anata. Aparentemente, Abiatar e sua família continuaram a possuir terras nessa área (observe os v íncu los de Jerem ias com Anatote e o campo de Hanam el em Jr 1.1 e 32.7-9). Como parte da eliminação daqueles que apoiavam Adonias, Abiatar foi banido para a "vida no cam po" e forçado a renunciar à sua função como sumo sacerdote. A relutância de Salomão em executá- lo, ou sua família sacerdotal, é compreensível diante do serviço fiel que prestou a Davi como sacerdote e adivinho (ver 1 Sm 23.9-12).2.28. pontas do altar. V er o com entário em 1 Reis1.50. Altares com pontas também foram encontrados em escavações cananéias e em Chipre. As pontas eram usadas para amarrar um animal a ser sacrificado ou para sustentar uma vasilha de incenso. A tentativa de Joabe em buscar asilo, agarrando as pontas do altar, foi rejeitada por causa de sua traição contra Salomão e por ter assassinado Abner e Amasa sem a permissão do rei. A acusação e a maldição por ter "derramado sangue inocente", nos versos 31-33, são um juramento de inocência para a fam ília de Davi e de condenação para a de Joabe. Documentos egípcios da época de Ramsés IV, século doze a. C., alertam oficiais a serem cautelosos para não punir uma pessoa sem a devida autorização. O texto afirma que "tudo o que fizessem se voltaria contra eles".2.34. sepultado em sua casa no campo. É provável que Joabe tenha sido enterrado na tumba de sua fam ília, perto de Belém (seu irm ão Asael foi enterrado lá, em 2 Sm 2.32). A descrição é de um campo aberto encaixando-se à área geográfica da região montanhosa de Judá.
2.36, 37. prisão dom iciliar para Sim ei. Com base na maldição que Sim ei lançara sobre Davi (2 Sm 16.11), anteriormente e nas instruções finais desse rei (1 Rs2.8, 9), Salom ão o m antém em prisão dom iciliar - um a condição em que o prisioneiro é responsável por respeitar os próprios limites determinados. Aparentem ente havia um a certa preocupação de que Sim ei pudesse conquistar apoio contra Salomão entre os hom ens da tribo de Benjam im , caso tivesse permissão de viajar para o norte de Jerusalém . Esse episódio pode ser comparado às restrições feitas ao movimento de escravos nos códigos de Ur-Nam mu e de Hamurabi e sugere que Sim ei perdera seus direitos de plena cidadania. Nas Instruções de Merikare (ver o comentário em 2.1-11), os vassalos que tinham um histórico de rebeliões, m as não haviam se envolvido de fato, deviam ser exilados.2.37. V ale de Cedrom. A menção ao vale de Cedrom como o limite norte para Simei é um claro indício de que ele não deveria ter contato com outros membros da tribo benjam ita - um grupo que fizera parte da rebelião de Seba contra Davi, em 2 Sam uel 20. O uádi de Cedrom fica a leste do Ofel, que separa Jerusalém do monte das Oliveiras.2.39. geografia. Em bora uma identificação conclusiva da cidade filistéia de Gate ainda não foi estabelecida, o consenso geral é que fique em Tell es-Safi, dezesseis quilômetros a sudeste de Tel M iqne-Ecrom. A associação de Davi com Aquis, rei de Gate, e seu bando de m ercenários giteus (2 Sm 15.18-23) sugere que essa cidade ficava na esfera política de Israel - ao menos por um acordo de tratado. A jornada de Simei até lá, para recuperar seus dois escravos, o teria levado a oeste de Jerusalém até a Sefelá, e aí ele facilm ente teria ultrapassado os limites de sua prisão domiciliar.
3.1-3Resumo de Salomão3.1. identidade do faraó. O narrador bíblico escolheu não m encionar o nome do faraó, m as é provável que se trate de Siam un, o penúltimo governante da relativam ente debilitada 21a Dinastia. Visto que esse faraó estava enfrentando dificuldades com os sacerdotes de Tebas, ele foi incapaz de conquistar a Filístia ou Israel. Por isso, escolheu aliar-se a Salomão dando-lhe sua filha em casamento, talvez como uma forma de enfraquecer os filisteus ao longo da costa sul da Palestina (c. 960 a.C.).3.1. alianças de casam ento. A política de usar casamentos reais como um a estratégia diplomática, estabelecendo vínculos entre líderes locais e m onarcas estrangeiros, através de tratados e alianças familiares, tinha uma longa história no antigo Oriente Próximo (ver o comentário em 11.1). O fato de Salomão ter se
casado com a filha do faraó demonstra que ele ocupava um a posição m ais forte que a do monarca egípcio naquela época. Seu dote incluiu a entrega de Gezer a Salomão, garantindo ao rei de Israel um local estratégico posicionado no norte da Sefelá e guardando uma das principais estradas entre a costa e a região m ontanhosa ao redor de Jerusalém.3.2, 3. oferecia sacrifícios nos lugares sagrados. A im agem retratada aqui na narrativa bíblica é a de que antes da construção do tem plo em Jerusalém , sacrifícios e rituais religiosos geralmente aconteciam em santuários locais ou bamoth. Eles eram construídos com esse propósito e na maioria dos casos parece que era possível entrar nessas instalações e desenvolver ali atividades religiosas (ver o comentário em 1 Sm 9.12,13). M uitas dessas construções talvez ficassem no perímetro urbano, embora isso não exclua a possibilidade de existirem fora dos m uros da cidade, em colinas nos arredores (2 Rs 17.9-11). Nada se sabe sobre a aparência dos lugares sagrados ou dos objetos relacionados a eles, m as o grande núm ero de referências sugere que alguns talvez fossem bem elaborados. Com o passar do tempo, a m onarquia e o sacerdócio de Jerusalém tentaram suprimir o uso desses lugares sagrados por causa de seu desejo de destacar o templo de Salomão como "o lugar escolhido por Yahw eh".
3.4-15O sonho de SalomãoPara inform ações sobre esse trecho, consulte os comentários em 2 Crônicas 1.
3.16-28Exemplo da sabedoria de Salomão3.16. prostituição. Apesar de ser proibida pela lei (Lv 19.29; D t 23.18), a prostituição era aparentemente tolerada pelos israelitas. De fato, existem diversas narrativas em que um a prostituta aparece como heroína (Raabe em Js 2 e Tam ar em G n 38). C ertam ente a posição que ocupavam na sociedade era extremamente baixa, m as talvez esse elem ento seja om itido na narrativa de Raabe, em que diversos eventos inesperados acontecem. A disposição de Salomão em ouvir o caso das duas prostitutas aqui se encaixa bem à sua imagem de um rei justo (compensando os fracassos judiciais de Davi - 2 Sm 15.2-4). Também demonstrao cumprimento dos direitos legais garantidos a elas pelos códigos mesopotâmicos (o código de Lipit-Istar e das leis médio-assírias).3.16-28. sabed oria rea l em ju lg ar. A sabedoria de Salomão fica evidente em sua habilidade de discernir a verdadeira justiça, um a qualidade que o destaca como um "rei ju sto". Esse atributo era reivindicado por quase todo rei do antigo Oriente Próximo quando
ascendia ao trono e estabelecia seu reino, garantindoo bem-estar do estado e até mesmo de seus cidadãos m ais fracos (ver o prólogo do Código de Hamurabi em que ele é encarregado pelos deuses a "fazer a justiça prevalecer na terra"). Outros exemplos da expectativa da sabedoria real encontram-se nos protes
tos egípcios do Camponês Eloqüente (séculos vinte ao dezoito a.C.) e no apelo do sacerdote egípcio Wenamom (século onze a.C.), que pediu ao príncipe de Biblos uma resolução ao seu caso.
4.1-28A administração de Salomão4.7. sistem a distrital. Num a tentativa de centralizar sua autoridade como rei e iniciar o processo de enfraquecimento dos vínculos locais e tribais, Salomão reorganizou seu reinado. Os distritos tribais que haviam sido criados após a conquista e durante o período de ocupação poderiam constituir-se num a ameaça à dinastia davídica. As tribos do norte, sob a liderança de Seba, já haviam tentado separar-se do reino unifi
cado (2 Sm 20.1, 2). Se novas fronteiras políticas fossem redesenhadas de form a a m isturar populações tribais com as novas cidades cananéias anexadas à nação, o rei poderia evitar futuros problemas políticos. Essa reestruturação também ajudou a financiar os projetos de obras nacionais (ver 1 Rs 9.15-19), a defesa nacional e o início de em preendim entos comerciais internacionais (1 Rs 9.26-28). Visto que cada distrito era responsável por fornecer provisões para o sustento do rei e de seu palácio durante um mês do ano, um sistema regular de impostos (diferente do dízimo religioso) poderia ser implantado, enfraquecendo ainda mais a autonomia local e favorecendo uma forma centralizada de governo.
4.7. provisões para o rei e para o palácio real. A casa real era composta pelos fam iliares diretos do rei, bem como por seus principais oficiais do governo e funcionários (ver a lista em 1 Rs 4.1-6). Dessa maneira, cada um dos doze governadores distritais (ver a lista em 1 Rs 4.8-19) ajudava a custear as despesas do governo de Salomão. Suas responsabilidades incluíam administrar os recursos naturais e humanos de seus distritos a fim de garantir um uso m ais rentável e eficiente desses meios, visando o interesse nacional. Essa provisão também servia como um a form a de cobrança de impostos, levando o distrito local a prestar serviço ao governo nacional. D ocum entos adm inistrativos de Ugarit, M ari e da Babilônia apresentam alguns indícios das expectativas reais em relação aos governadores locais. U m a cota de produtos in natura e m anufaturados e de outros m ateriais são alistados, às vezes, lado a lado com as ofertas do ano anterior.
4.8-19. geografia. Ugarit e Alalakh também produziram textos administrativos com uma forma literária sem elhante a esse encontrado aqui. Os lim ites geográficos para as diversas províncias do reinado de Salomão não foram delineados de forma específica o bastante que permitam estabelecer as fronteiras exatas entre cada uma delas. Cada governador aparentemente tinha uma ou m ais áreas sob sua responsabilidade: por exemplo, Ben-Abinadabe administrava Dor e Baaná, Taanaque e M egido. A lguns dos distritos parecem abarcar a m esm a área compreendida pelas tribos anteriorm ente: a área de D ã nas m ontanhas centrais, Naftali no leste da Galiléia e Aser nas encostas ocidentais da Galiléia. É distintiva, porém, a inclusão de territórios cananeu e filisteu: Dor, uma cidade portuária dos povos do m ar, m encionada na lenda egípcia de W enam on (século onze a .C ), e a terra de Héfer (Tell Ibsar), na planície de Sharon (Js 12.17). O fato de Judá ser referido no final da lista (v. 20) sugere que as responsabilidades fiscais e a administração desse distrito diferiam dos outros devido à sua associação com a casa de Davi.4.21. fronteiras do reino de Salom ão. A descrição do reino de Salomão estendendo-se desde o rio Eufrates, no leste (refere-se à área onde o rio faz um a curva para o norte na região de Emar), até o uádi al-Arish, na fronteira do Egito, pretende demonstrar a magnitude de seu reino e relacioná-lo às fronteiras da terra prometida da aliança mencionada em Deuteronômio1 e Josu é 1. O s anais m esopotâm icos da época de Sargon de Acade (terceiro milênio) até os governantes assírios posteriores incluíam informações com a extensão de seus reinados. Em geral, esses dados refletem as cam panhas m ilitares que levavam o rei a áreas além de suas fronteiras ou descrevem a extensão da hegem onia econômica em que o governante era capaz de conseguir tributos ou taxas de reinos vizinhos ou de mercadores estrangeiros. A realidade é que há diversos níveis do que se constituía nesse "controle" ou "fronteiras". O texto aqui não oferece detalhes sobre o nível de fiscalização que Salom ão tinha sobre cada área, não obstante os diversos relacionamentos distintos que podem ser identificados. Além do território tradicional de D ã a Berseba, Salomão tinha províncias (terras conquistadas tais como Moabe, Edom e Amom), vassalos (que pagavam tributos, mas tinham governantes nativos tais como Hamate, Zobá e Filístia) e aliados (parceiros de tratados como o Egito e Tiro).4.22. provisões diárias. Essas anotações com a quantidade diária de grãos e animais fornecida para alimentar Salomão e sua corte encaixa-se bem com a figura de um monarca equiparado ao faraó egípcio. O uso de alguns termos egípcios para medida (coro = hôm er = as estimativas variavam entre 200 e 400 litros) sugere
que a estrutura desse texto possa ter acompanhado modelos de registros oficiais do Egito ou dos reinados cananeu ou filisteu. Observe que todos os itens alistados podiam ser armazenados ou mantidos no pasto ou nos currais até que se necessitasse deles. Alimentos perecíveis tam bém faziam parte da dieta, m as esses (além do óleo) raramente aparecem como itens medidos ou pesados em listas adm inistrativas, com o as relações de ração encontradas nos textos de Mari que m antêm registro da quantidade exata dada a escravos, oficiais e viajantes dignitários.4.25. sua videira e sua figueira. Essa é uma expressão que aparece nos anais históricos e em m uitos dos profetas com o sinal de paz e prosperid ade para Israel. Quando Deus ficava irado com seu povo, então o oposto aco n tecia , ou se ja , as v id eiras e as fig u e iras eram destruídas, assim como a paz. A expressão idiomática refere-se à segurança e à prosperidade equilibrada que perm ite às pessoas desfrutarem dos pequenos praze- res que a vida oferece. A videira e a figueira garantem sombra e fruto, e desfrutar delas era um a perspectiva em longo prazo, visto que cada um a delas levava diversos anos para tornar-se produtiva.4.26. cavalos e carro_s de guerra. Geralmente um carro de guerra era formado por três cavalos, sendo que dois eram usados de uma vez, enquanto o terceiro era m antido com o reserva. O s três ficavam juntos nas cocheiras do estábulo, de m odo que para doze mil cavalos era preciso quatro m il cocheiras (embora alguns deles fossem usados como montaria). Não obstante,1 Reis 10.26 relata que Salomão tinha m il e quatrocentos carros. Esse é um contingente bastante grande, mas não tão grande quanto os dois m il que Acabe forneceu para a aliança com o ocidente no confronto com os assírios na batalha de Qarqar, em 853 (ver o comentário em 22.1). No século treze, os hititas e seus aliados haviam reunido dois mil e quinhentos carros para um embate com Ram sés II, na batalha de Cades.4.30. sabedoria dos hom ens do oriente. Havia uma tradição, há m uito existente, acerca da sabedoria no antigo O riente Próxim o. Ditados proverbiais, como aqueles dos sábios egípcios Ptah-Hotep (2450 a.C.) e Am enem ope (c. 1100) e do cortesão assírio Ahiqar 9c. 700), apresentam paralelos próximos a trechos do Livro de Provérbios. A lém disso, obras de sabedoria com o Jó e Eclesiastes são bastante sem elhantes, na forma e no conteúdo, ao Argumento Egípcio a respeito do Suicídio (c. 2100) e ao Diálogo Babilônio acerca da Miséria Humana (c. 1000). Até m esm o textos mais clássicos da poesia épica, como o ciclo de Gilgamés e a lenda da descida de Istar ao mundo inferior, contêm elementos da literatura de sabedoria que explora questões como a m ortalidade hum ana e a busca pela realização pessoal. Com um acervo tão rico de literatura e
tradição, a afirmação com que Salomão ultrapassou todos esses sábios da Antigüidade é extraordinária.4.31. Etã, H em ã, C alcol e D arda. Essas renom adas figuras de sábios também estão ligadas à genealogia de Judá e Tamar, através de seu filho Zerá (Gn 38.30). M aol (em hebraico, dançarinos) pode, na verdade, referir-se ao seu papel como músicos, uma profissão que é associada ao culto e à sabedoria. Etã e Hemã aparecem no título de Salmos (SI 88 e 89) e, portanto, foram incorporados aos aspectos formais do culto no templo, embora não sejam listados entre os levitas.4.32. três m il provérbios. O mashal ou provérbio encaixa-se num gênero de escrita no antigo Oriente Próximo que é caracterizado por frases curtas, concisas que expressam bom senso ou valores do consenso popular. Três mil é um núm ero aproximado e é descrito como o núm ero que ele compôs. Como hoje, o conhecimento muitas vezes é resultado de pesquisa e coleta de informações e dados, e não m eramente de um processo reflexivo e criativo.4.32. m il e cinco cânticos. Era comum no mundo antigo fazer uso de um núm ero redondo mais um ou mais um dígito (ver Pv 6.16; Am 1.3) para expressar "m ais de". Porém, se o núm ero cinco, nessa cifra, está aí com esse objetivo, seria anormal. Essa forma de expressão oriental também se observa na lenda árabe das "M il e uma noites". Por volta de 2000 a.C., Shulgi, rei de Ur, também era conhecido por sua fama literária. Em hinos dedicados a si mesmo, ele se vangloria de sua erudição e habilidades literárias, assumindo o título de primeiro músico real.4.33. plantas. A sabedoria botânica no mundo antigo não dizia respeito às questões de que os biólogos se ocupam atualmente. Um a área de interesse era o saber sobre as ervas, que envolvia suas funções m edicinais bem como seu uso na indústria (tinturas) e na produção de alimentos. Em outras culturas, esse conhecimento também incluía as propriedades mágicas de diversas ervas. O utra área do conhecim ento da botânica era de natureza agrícola - a sabedoria de um agricultor quanto às sementes e a todo o processo de plantar, nutrir, adubar e colher. Visto que a descrição deste versículo, acerca da sabedoria de Salomão, concentra-se em árvores, e ocorre no contexto de provérbios e cânticos, é mais provável que esse seu conhecimento se expressasse no uso delas em parábolas ou fábulas com ensinamentos sábios. Tais parábolas são conhecidas no Antigo Testam ento (Jz 9.8-15) e tam bém n o an tigo O rien te P róxim o (p. ex., a fábu la sum éria da Tam argueira e da Palm eira) e exigiam um certo saber a respeito da natureza dessas árvores e arbustos.4.33. anim ais. Embora a NVI use verbos como "d escreveu" e "d iscorreu ", o hebraico sim plesm ente diz
que Salomão "falou a respeito de" plantas e animais. Como no item anterior, isso sugere que ele usou sua percepção para contar histórias - parábolas e fábulas a fim de transmitir ensinamentos sábios. Aesop não foi0 primeiro a usar esse recurso, e a m ais de um milênio antes de Salomão, os sumérios já produziam fábulas e debates a respeito de animais. A fábula acadiana de m aior destaque que chegou até nós é "A Cobra e a Á guia". A lém desse exemplo, ditados de sabedoria no antigo Egito (p. ex., as Intruções de Amenemope) e na M esopotâm ia (como nas Palavras Aramaicas de Ahiqar do primeiro milênio) estavam repletos de analogias e parábolas envolvendo plantas e animais.
5 .1 - 6 .3 8 A construção do temploPara mais informações sobre o capítulo 5, consulte os comentários em 2 Crônicas 2.1-18.5.1. relacionam ento entre Israel e T iro. Os fenícios de Tiro, localizada 32 quilômetros ao sul de Sidom, numa ilha a menos de um quilômetro da costa fenícia, prosperavam como resultado do controle que exerciam no comércio naval que cruzava o M editerrâneo. Sua independência é confirm ada no relatório egípcio de W enam on (c. 1080 a.C.) e sua influência encontra-se em sedimentos arqueológicos de Chipre e mais tarde em Cartago, no norte da África. No entanto, sua preocupação com o comércio e a escassez de terras cultiváveis os obrigou a estabelecer relações com nações vizinhas que estivessem interessadas nos produtos transportados pelos navios fenícios e que podiam comprá-los pagando com cereais ou outros recursos naturais. A consolidação de Salom ão na região da Palestina fez dele um excelente parceiro para Hirão e uma fonte constante de renda para os construtores e fornecedores fenícios.5.1. Hirão. A s datas de Hirão I, de Tiro (em fenício Airão e em assírio Hirummu) geralmente são citadas como 969-936 a.C., com base no cálculo cronológico do historiador judeu, }osefo (primeiro século d.C.). Ele afirma ter amplos registros da história de Tiro e oferece muitas informações sobre o reinado desse rei. De acordo com essa datação, Davi e Hirão não teriam sido contemporâneos; além disso, os métodos de cálculos disponíveis a Josefo abrem m argem para suspeitas quanto à sua confiabilidade. Fontes do Oriente Próximo da m esma época, delimitada pelo historiador, não oferecem nenhum a inform ação sobre H irão, apesar de mencionarem com destaque seu homônimo, Hirão II. O nom e também é bastante conhecido no sarcófago de Airão, rei de Biblos, um a cidade nas proxim idades, tam bém por volta desse m esm o período.5.3. debaixo dos seus pés. O rei assírio Tukulti-Ninurta1 (século treze) "coloca seu pé no pescoço" de cada rei
conquistado e tam bém (simbolicamente) na respectiva terra dom inada, deixando claro que haviam se tornado seu escabelo. Isso é ilustrado de form a clara na pintura de um a tumba do século quinze a.C. mostrando Tutm és IV sentado no colo de sua m ãe (?) com os pés apoiados num a caixa cheia de inimigos depositados num a pilha. Para informações adicionais, ver o comentário em Salmo 108.13.5.17. pedreiras. A pedra calcária da região montanhosa era extraída das pedreiras para a construção do templo em Jerusalém. Isso envolvia a simples retirada delas dos penhascos; porém, o processo de cortar e p repará-las em b locos, era um trabalho feito por artesãos e construtores da Fenícia (ver 1 Rs 7.10).6.1. cronologia. Essa nota cronológica relacionada à construção do templo de Jerusalém por Salomão está no cerne da discussão sobre a data do êxodo e do período da conquista (ver nota de rodapé a respeito da data do êxodo). A maioria dos historiadores situaria a dedicação do templo de Salomão em 966 a.C.. Acrescentando 480 anos a essa data, teríamos o ano de 1446 a.C. como a provável partida do Egito. As dificuldades arqueológicas e a força do domínio egípcio na região siro-palestina, durante o século quinze a.C., colocaram essa data em questão. Com o resultado, muitos estudiosos agora entendem o número 480 como um a cifra estilizada, sim bólica para quarenta anos (um núm ero aproximado comum) representando cada um dos doze juizes ou indicando doze gerações (40 x 12 = 480). Com base nas datas de Hirão I e da fundação da colônia fenícia em Cartago, é m ais provável que a construção do templo tenha acontecido entre 967-957 a.C.. A nota cronológica faz uso de uma construção de frases tipicamente fenícia.6.1. zive. Esse era o segundo mês do calendário cananeu e israelita. Corresponde aos períodos de abril e maio do nosso calendário. O fato de que a passagem identifica zive como o segundo mês do ano pode indicar que esse não era o nome israelita usado norm almente, m as representava um a designação oficial com a qual um público maior, composto por não israelitas, estava familiarizado.6.4. janelas com grades estreitas. Pelo fato dos termos arquitetônicos, encontrados em hebraico, serem técnicos, seu significado exato é incerto. Alguns estudiosos têm sugerido que as janelas eram construídas com um a abertura estreita do lado de fora e um a m ais larga no interior (ver Ez 40.16). Tam bém é possível que seja um a menção a janelas com treliças. A escassez delas, nos templos mesopotâmicos, porém, argumenta contra a entrada de luz natural no templo de Salomão (ver 1 Rs 8.12). O templo de 'A in Dara tinha janelas falsas escavadas na pedra com um desenho em treliças.
6.5. salas laterais. Essa parte da estrutura do templo é enuviada de incertezas por causa da term inologia hebraica geralmente traduzida como "salas laterais" ou "asas". Talvez fossem parte da construção mais antiga do prédio, servindo primeiramente como áreas de armazenamento, e m ais tarde foram expandidas para cima, à medida que o templo cresceu. Não fica claro se foram planejadas para serem estruturas permanentes ou suportes, tampouco os materiais com que foram construídas. A arquitetura de templos da mesma época em 'A in Dara apresenta corredores altos ladeando o átrio. É possível que este versículo esteja descrevendo corredores desse tipo.6.6. saliências de apoio. Essas câm aras laterais que acompanhavam as paredes externas do templo eram recuadas ou rebaixadas à m edida que subiam . V. H urow itz oferece duas interpretações desse traço arquitetônico: (1) um a form a de fechar o templo dentro de um a "cerca ou grade de cedro" (com tábuas de cedro colocadas horizontalmente nas reentrâncias) ou(2) um tipo de "tem plo pagão às avessas" criando o efeito visual que a parede externa do templo ficava m ais larga, da base para cima.6.7. ferram entas usadas. Antigos tabus quanto ao uso de ferram entas de ferro, na construção de altares ou prédios sagrados (ver D t 27.5; Js 8.31), são de certa form a m inim izados pelo uso aparente delas na pedreira, m as não nas proxim idades do tem plo. Um antigo relato sumério de um templo, construído por G udea a seu deus, insistia que não deveria haver barulho nessa área durante o projeto de construção. Os construtores utilizavam martelos ou picaretas grandes (pesando de 13 a 16 quilos) para o trabalho nas pedreiras e talhadeiras e picaretas pequenas (pesando de 5 a 7 quilos) para lavrar as pedras. Ferram entas encontradas em escavações têm pontas de ferro de diversos formatos e cabos de madeira. Martelos com cabeça de ferro e serrotes com longos cabos duplos também são retratados em relevos assírios.6.14-35. Ver os comentários em 2 Crônicas 3.6.36. três camadas de pedra lavrada. Talvez à maneira de pára-choques arquitetônicos contra estragos provocados por terremotos, as paredes do átrio interno eram construídas com vigas de cedro (em alguns exemplos elas tinham dez centímetros de espessura) intercaladas a cada três camadas de pedra. Isso ajudaria a compensar pequenas irregularidades na superfície e no tamanho dessas pedras. Esse estilo também é atestado em Ugarit, em toda a A natólia, no palácio de Knossos, em Creta e em outras localidades de Micenas. Ver a menção em Esdras 6.4 em relação ao segundo templo do período pós-exílio.6.38. m ês de bul. Os nomes dos meses do calendário cananeu são usados aqui, bem como o antigo nome
para mês (yerah, que significa "lu a"). Bul tam bém é encontrado designando um mês em inscrições fenícias. Significa "um idade" e está ligado à estação chuvosa do outono no clima mediterrâneo. Como oitavo mês do ano, corresponde a outubro/novembro.
7.1-12 A construção do palácio7.1-12. dim ensões e arquitetura do palácio. Assim como outros complexos de palácio no antigo Oriente Próxim o (tais como os de M ari, Nínive, Babilônia e Susa), a habitação real de Salomão cobria quase mil metros quadrados e era em si m aior que o templo. O prédio funcionava como a sede administrativa e tam bém como o salão da justiça e depósito de armas. Das estruturas mencionadas aqui, o "Palácio da Floresta do Líbano" é descrito com mais detalhes (45 metros de comprimento, 22 metros e meio de largura e 13 metros e m eio de altura), contendo suas quatro fileiras de colunas de cedro assemelhando-se m uito a uma "floresta". O estilo global da construção é bastante parecido com o de Bit-Hilani da Síria e da Mesopotâmia (ver o com entário em 2 Sm 5.11), com câm aras nos três lados ao redor de um salão central (22 metros e meio de comprimento e 13 metros e meio de largura). Os cômodos laterais eram distribuídos em três pavimentos, enquanto o salão tinha um a abertura até a altura do teto. Existiam portas em am bos os lados e nas extremidades e janelas nos pisos superiores permitindo que a luz se projetasse até embaixo, no salão de audiências. Os outros dois palácios (v. 8) não são descritos em detalhes, mas visto que serviam como m oradias, o aspecto m onum ental dessas construções não era tão importante ao prestígio da m onarquia como o dos prédios públicos.7.9. entalhe nas pedras. As pedras usadas no palácio eram cortadas em tamanho e formato específicos de modo a se encaixar no padrão, do "alicerce até o beiral", com vigas de cedro garantindo uma estabilidade adicional. Era necessário prim eiro extrair a pedra calcária (que ficava mais dura após o contato com o ar) dos penhascos da Judéia. Isso garantia um bloco já preparado (pedras de alvenaria), cujo encaixe era o m ais justo possível e de qualidade superior a um que fosse produzido com martelo e cinzel.7.10. tam anho das pedras. As enorm es pedras do alicerce tinham quatro metros e meio ou três metros e sessenta centímetros de altura e pesavam muitas toneladas. Blocos de pedra ainda maiores, encontrados no alicerce da plataforma do templo de Herodes, em Jerusalém (um bloco media m ais de doze metros de comprim ento e pesava cerca de cem toneladas), demonstram que esse tamanho não era raro para construções colossais.
7.15-22. colunas de bronze. Essas duas colunas ocas de bronze mediam oito metros e dez centímetros de altura e quase cinco metros e quarenta centímetros de circunferência. A descrição de colunas sem elhantes num templo da cidade assíria de Kar-Tukulti-Ninurta tam bém contém detalhes sobre a altura, a circunferência e o desenho dos capitéis com que eram ornamentadas no alto. De interesse particular é o fato adicional de serem entalhadas com inscrições. Essa característica era típica de pórticos e é provável que elas fossem consideradas pilares. U m a possibilidade é que Jaquim e Boaz fossem a prim eira palavra das respectivas inscrições e, portanto, teriam passado a ser consideradas como o nome das colunas. Romãs e lírios (flor de lótus) são usados freqüentemente em decorações arquitetônicas.7.23-51. Ver os comentários em 2 Crônicas 4.
8.1-66 Dedicação do templo8.2. mês de etanim . Esse mês do outono (corresponde a setembro/outubro) fazia parte da estação chuvosa e estava ligado à Festa dos tabernáculos (ver os comentários em Êx 23.16b e D t 16.13-17). A dedicação do tem plo durante o sétim o mês (1 Rs 6.38 relata que o tem plo ficou pronto no oitavo mês) pode refletir uma celebração que teria durado um ano após o término da obra ou um atraso de quase um ano para que as comemorações coincidissem com o festival da colheita.8.14-66. Ver o comentário em 2 Crônicas 6.
9.1-9 Resposta de YahwehPara informações a respeito desse trecho, verificar comentários em 2 Crônicas 7.
9.10-28 Feitos de Salomão9.11. vinte cidades da G aliléia. Visto que a Galiléia é definida de diversas maneiras (ver Js 20.7; Is 9.1), é possível que o território dado a Hirão incluísse trechos do sopé de colinas, na parte ocidental, até Megido. É ainda m ais provável que envolvesse a área neutra entre a Fenícia e Israel. O bserve que essas terras e cidades retom am a Salomão na narrativa do cronista (2 Crônicas 8.2). Precedentes na troca de territórios e cidades encontram -se em anais, tratados e registros reais do Egito e da M esopotâmia. Por exemplo, nos anais assírios de Senaqueribe, o rei descreve a tomada de cidades no território de Ezequias e a transferência delas para os reis filisteus de Asdode, Ecrom e G aza.9.14. 120 ta len tos de ouro. No sistem a de pesos e medidas do antigo Oriente Próxim o, o talento era a
maior unidade de peso (equivalente a 35 quilos). Cento e vinte talentos, portanto, seriam quatro mil e duzentos quilos de ouro. Para dados a respeito de ouro, ver os comentários em 1 Crônicas 22.14.9.15-19. projetos de construção. Como parte da consolidação de seu controle sobre todo o Israel e também como um a proteção contra incursões armadas do faraó egípcio Sisaque, Salomão deu início a um programa de obras públicas fazendo uso de mão-de-obra escrava ou do sistem a de trabalhos forçados. A lista de obras apresentada aqui, que se estende geograficamente de norte a sul, tem o estilo semelhante àquela encontrada na inscrição de Mesha, em Moabe, e nos anais reais assírios. Esse programa transformou Jerusalém , expandindo suas fronteiras e defesas. Tam bém fortaleceu a postura defensiva da nação em centros m ilitares e com erciais com o H azor, M egido e Gezer, bem como em Baalate e Tam ar ('A in Husb), cidades que ficavam na fronteira sul. A estrutura do
estilo de construção (casamatas e muros que cercavam as cidades com portões formados por seis câmaras) em m uitas dessas localidades auxilia os arqueólogos a estabelecer características arquitetônicas desse período, apesar da escassez de evidências documentais fora da Bíblia. A injeção de capital necessário para essas m elhorias na infra-estrutura provavelm ente foi um impulso à economia local e m anteve as populações canan éias, potencialm en te hostis, em pregad as de maneira m ais construtiva.9.15. M ilo (aterro). A cidade de Jerusalém, no período de Davi, ocupava apenas uma faixa norte-sul, co
brindo cerca de dez acres ao sul dos muros da cidade moderna. O topo desse monte de ruínas tem apenas
120 metros de largura e 450 de comprimento. A cidade cananéia foi construída sobre um a plataforma artificial sustentada por um a série de terraços ou aterros. Os arqueólogos descobriram uma estrutura de pedra
em degraus com mais de 15 metros de altura na extremidade nordeste dessa elevação. Provavelmente, trata-se da plataforma onde ficava a cidadela dos jebuseus, mencionada em 2 Sam uel 5.7, ampliada por Davi e usada como a fundação na construção de seu palácio.
À m edida que a cidade expandiu-se para o norte, Salomão também utilizou esse aterro para edificar seu palácio e o complexo do templo. A m aioria dos estudi
osos atualmente entende que o "M ilo" deva ser identificado com os m uros de arrimo (inclusive a "estrutura de pedra em degraus") que serviam como alicerce para esses prédios monumentais. Além desses dados, são poucos os vestígios encontrados pelos arqueólogos, na cidade, que possam ser atribuídos ao período de Davi e Salomão.9.20-28. Ver os comentários em 2 Crônicas 8.
10.1-13A visita da rainha de SabáPara inform ações sobre este trecho, consulte os com entários em 2 Crônicas 9.1-12.
10.14-29A riqueza e o esplendor de SalomãoPara informações sobre este trecho, ver os comentários em 2 Crônicas 9.13-28.
11.1-13Salomão desvia-se por causa de suas mulheres11.1-3. alianças de casam ento. O casam ento era uma espécie de ferram enta diplom ática no antigo Oriente Próximo. Por exemplo, Zinri-Lim, rei de Mari, durante o século dezoito a .C , fez uso de suas filhas para consolidar alianças e estabelecer tratados com reinos vizinhos. Igualm ente, o faraó Tutm és IV (1425-1412 a.C.) casou-se com a filha do rei de M itani a fim de demonstrar sua disposição em ter boas relações com esse povo e pôr fim a um a série de guerras com aquele reinado
do m éd io E u fra te s . A s esp osas d os an tig o s governantes, portanto, geralmente representavam alianças políticas. C idades, C idad es-estad o, tribos ou nações que desejassem aliar-se a um governante ou submeter-se à sua proteção selavam o tratado através do casamento de uma jovem , filha de um a das principais famílias, com o suserano ou com seu filho. Isso se configurava num ato de lealdade por parte do vassalo que, a partir de então, teria um interesse pessoal em preservar a dinastia do rei. No caso de Davi, antes de tomar-se rei de Israel, diversos casamentos fortaleceram sua posição política e econômica. Assim, a união com M ical, a filha de Saul, perm itiu-lhe o acesso à fam ília real, com A bigail garantiu-lhe vínculos com a área ao redor de H ebrom e com Ainoã, de Jezreel, possibilitou ligações com as fam ílias das redondezas de M egido e Bete-Seã. Essa rede de relacionam entos assegurou a Davi vozes am igáveis e favoráveis no conselho de líderes de todo o país. O núm ero enorm e de esposas e concubinas m encionado no versículo 3 tem como objetivo refletir a riqueza e o poder de Salomão em relação à nobreza de Israel e aos reinos vizinhos. O autor não condena Salom ão por poligam ia - era um elem ento necessário às suas atividades políticas. A condenação é fe ita pelo fato de Salom ão ter perm itido que suas esposas o afastassem do Senhor.11.2. proibição contra casam entos m istos. Um a das principais preocupações dos escritores bíblicos era o sin cretism o. P ara qu e Israe l p erm an ecesse fie l a Yahw eh, era preciso m anter-se livre da influência estrangeira. De acordo com essa visão, o casamento m isto e a educação dos filhos feita pelas mães que não
fossem israelitas poderiam apenas enfraquecer os vínculos da aliança (ver o comentário em Dt 7.3).11.3. princesas. Existia um a certa distinção entre as
esposas que ocupavam uma posição m ais importante e as concubinas. Textos ugaríticos apresentam um exemplo semelhante a esse tipo de divisão no harém. Na corte de Arhalba, as esposas cujos filhos fossem da linhagem da sucessão ao trono (como Kubaba) eram consideradas m em bros da realeza e diferenciadas daquelas que tinham um status inferior.11.3. trezentas concubinas. O harém tinha funções políticas e também sexuais. As esposas faziam parte do sistema de aliança entre as nações e eram o meio de se obter um herdeiro ao trono. Ter m uitas delas era um sinal de poder e um subterfúgio contra a infertilidade fem inina. Porém , nem todas as esposas do harém ocupavam a m esm a posição social; aquelas que vinham de famílias menos importantes eram designadas concubinas e seus filhos não tinham direito à sucessão real.11.5. Astarote. Ver o comentário em Juizes 2.13 acerca
dessa deusa cananéia da fertilidade e cônjuge de Baal, o deus da tempestade. Em textos ugaríticos (épico de Keret e o ciclo de Baal e Anate), ela é conhecida como
A star ou A starte e em docum entos re lig iosos da Mesopotâmia ela é chamada de Istar. Astarote/Astarte era adorada como a deusa principal de Tiro e Sidom, na Fenícia. Seu culto difundiu-se por todo o M editerrâneo, sendo identificada pelos gregos como a deusa Afrodite.1 1 5 , 7. M oloque. Ver o comentário em Levítico 18.21
a respeito da relação entre M oloque, uma divindade cananéia e fenícia, e o sacrifício de crianças. Embora na N VI seja feita menção apenas a M oloque, em algumas traduções, no verso 5, o deus amonita M ilcom (= Baal, deus cananeu) é mencionado. O nome Milcom foi confirmado em inscrições amonitas e na formação de nomes próprios, e faz mais sentido do que Moloque, neste contexto, pois se trata de um a lista de deuses nacionais. É difícil dizer se M oloque, no verso 7, é resultado de um erro de grafia ou um a forma variante de Milcom.11.7. Cam os. Descrito em termos bastante semelhantes a Yahw eh, na inscrição m oabita do rei M esha (c. 830 a.C .), Cam os era um a divindade nacional que puniu seu povo permitindo que fosse dominado por Israel durante o reinado de Onri (ver 2 Rs 3); além disso, foi convocado para um a guerra santa de libertação (parecida com o uso do herem em Js 6.17-21) e lutou, à semelhança de Yahweh, como um guerreiro divino para os m oabitas (Js 10.42). Fora de Moabe, Camos talvez tenha sido adorado em Ebla como Camise, com. base num texto assírio que o iguala a Nergal,
o deus do m undo inferior, parece que ele fez parte do panteão de deuses da Mesopotâmia.
11.14-43Os adversários políticos de Salomão11.14. Hadade, o edomita. Edom havia sido conquistada por D avi durante suas guerras para subjugar seus vizinhos (ver 2 Sm 8 .13,14). As guarnições desse rei provavelm ente tinham com o objetivo m anter o controle das rotas comerciais e o acesso ao porto no golfo de Acaba. Agora, talvez com o apoio dos egípcios (ver o comentário no v. 22), um novo líder edomita ameaçava o controle israelita. Há poucas informações para sugerir que Edom fosse um a nação institucionalizada nessa época. É m ais provável que Hadade representasse um a das tribos mais influentes da região. Sua oposição possivelmente deu-se na forma de ataques a caravanas e não através de um a guerra civil visando a independência. Não há referências a ele em fontes extrabíblicas da época.11 .15 ,16 . a ação de Joabe contra Edom. Extermínios completos como esse aparecem também em registros assírios e na evidência de valas coletivas em Láquis que datam da cam panha de Senaqueribe, em 701a.C., contra Judá. Muitos dos mil e quinhentos mortos encontrados naquelas valas eram civis, indicando que perderam a v id a durante o cerco e a form a como grande parte das tropas foi exterminada.11.17. 18. a fu ga de Hadade. Assim como Jeroboão, no verso 40, H adade buscou asilo no Egito. Sua fuga o levou para o sul e para o leste de Edom até Midiã, na parte norte da península arábica e daí até Parã, no noroeste do Sinai (possivelm ente o oásis Feran; ver N m 13.3). O terreno acidentado e a rota circular teria protegido os refugiados de perseguições.11.18. identidade do faraó. Ao contrário do versículo 40, onde Sisaque é mencionado como faraó do Egito, neste contexto o monarca é mantido anôrúmo. É mais provável que o soberano descrito aqui seja membro da 21a Dinastia, mas não há indícios de sua identidade. Visto que Hadade ficou no Egito desde sua infância até atingir a idade adulta, ele teria se relacionado com diversos faraós, inclusive com O sorkon (984-978) e Siam un (978-959). Todos eles, nesse período, acolhiam refugiad os políticos vin d os da P alestin a e da Transjordânia na tentativa de equilibrar e contrabalançar o poder crescente de Salomão e de Hirão, na região.11.18. o exílio de Hadade. É um fato interessante da vida política, no antigo Oriente Próxim o, que dissidentes políticos e refugiados reais fossem freqüentemente recebidos por reis (do Egito, da Babilônia, da Pérsia e até mesmo por líderes da Palestina, de acordo com a Lenda de Sinuhe). Essas pessoas faziam parte
de um esquem a m aior entre m onarcas rivais e, de fato, o que estava em jogo era o controle econômico e político da região. Os refugiados eram abrigados, ligados ao protetor através de casamento com filhas e depois liberados com algum apoio m ilitar ou financeiro a fim de causar o m áximo de problemas nas fronteiras do rei inimigo. Desse modo, uma potência podia exaurir os recursos de sua rival e eventualmente partir para uma conquista.11.19. Tafnes. Essa palavra é baseada no termo egípcio t.hmt.nsw e provavelm ente não é um nom e próprio e sim um título. Seria comparável ao termo hebraico gebira ("rainha m ãe"), que no texto hebraico acompanha a palavra Tafnes, como forma de explicação. Sua posição, portanto, é indicada como "esposa do rei" e m ãe do herdeiro ao trono.11.22. tentativa do faraó em m anter Hadade. Se esse faraó for Siamun, como parece, é o mesmo que fez um tratado com Israel (3.1), selado com o casamento de sua filha com Salomão. Isso representava um a m udança na política em relação ao período de Davi, quando o faraó am eaçara a expansão israelita acolhendo inim igos como Hadade. A resolução de Hadade em voltar e organizar um a oposição contra Salomão coloca Siam un num a posição difícil.11.23. Rezom . Esse termo, que em sua etim ologia é parecido com rozen ("governante"), pode ser um título real. Em bora alguns estudiosos tenham sugerido que esse nome próprio de fato seja Heziom (ver 15.18), há poucos dados que fundam entem essa posição e é m ais provável que Rezom seja o pai ou até m esm o o avô de Heziom. Aparentemente, esse antigo vassalo do governante arameu Hadadezer fugiu da matança de D avi (2 Sm 8.3-8) e passou algum tem po como chefe de um bando de salteadores. Depois, no início do remado de Salomão, ele conseguiu estabelecer-se como governante de Damasco e criar um reino (Aram) que seria rival de Israel ao longo dos séculos dez e nono.11.24. H adadezer, re i de Zobá. V er os comentários em 2 Sam uel 8.3-8 e 10.6 sobre a rivalid ade entre D avi e os estados arameus no norte da Transjordânia e no oeste da Galiléia. Zobá ficava no norte de Dam asco (ver com entário em 2 Sm 8.3) e era um dos reinados arameus que controlavam partes da Síria e o norte da M esopotâm ia, até a expansão do controle israelita no governo de Davi e Salomão.11.24. 25. Aram de D amasco. Esse é o nome da pequena nação centralizada ao redor da cidade síria de D am asco (ver 2 Sm 8.5, 6). O crescim ento de seu poder nesse período, após a divisão de Israel em dois reinos, transformou-a na nação m ais influente da região siro-palestina. Fontes assírias do reinad o de Salm aneser IH m encionam esse reino como um im
portante rival e o cabeça de uma coalizão de nações (Batalha de Qarqar em 853, ver comentário em 22.1).I.26 . Zeredá. O lugar onde Jeroboão nasceu pode ser identificado com 'A in Seridah, cerca de 24 quilômetros a sudeste de Siquém , no território da tribo de Efraim.II .2 7 . M ilo (aterro). Ver o comentário em 9.15 a respeito do objetivo do Milo.11.28. a função de Jeroboão. Como m em bro do governo de Salomão, Jeroboão era um líder local encarregado do trabalho forçado, formado por um grupo de homens recrutados para serviços temporários (carregadores e construtores), no distrito da "tribo de José" (Efraim e Manassés). Visto que a expressão "trabalho forçado" não é usada no texto original, pode-se supor que o trabalho de Jeroboão fosse com israelitas e não com escravos. Sua posição pode ser comparada ao rabi Am urrim (chefe dos am orreus) nos textos de Mari, cujas tarefas incluíam comandos militares e também organizar o trabalho local, supervisionando projetos de construção de açudes e reforma de templos.11.29. Aias. Em bora Siló (ver comentário em 1 Sm 1.3) tivesse sido destruída na época de Eli e m uito de seu prestígio cultual se perdera, ela manteve sua herança religiosa devido à sua antiga tradição. Talvez não represente nada o fato de Aias ser natural do território do n o rte , m as e le está d e sem p en h an d o o p ap e l de aclamador do rei, bastante fam iliar nesse período inicial do ofício profético. Tanto Saul como Davi foram ungidos pelo profeta Samuel, que tam bém fora educado em Siló. Esse precedente continuou por todo o século seguinte, à m edida que as principais dinastias do reino do norte (Jeroboão, Baasa, O nri, Jeú) surgiram e caíram de acordo com as predições. Às vezes, o rei designado se contentava em esperar pelo tempo oportuno (como Jeroboão fez), enquanto para outros indivíduos (como Jeú), a proclamação profética deu início a um golpe. No antigo Oriente Próximo, sacerdotes desem penhavam m uitas vezes im portantes papéis políticos, m as não se sabe de nenhum que tenha tido funções iguais à desses profetas israelitas aclamadores de rei; não obstante, acreditava-se que eles não apenas proclam assem a m ensagem vinda da divindade, mas tam bém desencadeassem a ação divina no processo. Nas instruções do rei assírio Esaradon a seus vassalos, ele exige que façam relatórios de qualquer afirm ação imprópria ou negativa proferida por qualquer pessoa, mas especificam ente por profetas, intérpretes de sonhos e praticantes de adivinhação estática. Logo, não é de se espantar que essa ação de Aias tenha colocado im ediatam ente Jeroboão em perigo (v. 40).11.30. divisão da capa do profeta. A capa rasgada por Aias era um a veste normal (ver Dt 22.26) e não uma indumentária característica de seu ofício de profeta.
Essa atitude é espantosa, considerando o custo das vestim entas e a probabilidade de que a maioria das pessoas tinha apenas um a muda adicional de roupa. Gestos simbólicos como esse passaram a ser um dos métodos comuns utilizados pelos profetas para transm itir um a m ensagem . A lguns deles são atividades com uns, norm ais, em bora geralm ente seu desfecho seja bastante excêntrico e raro (ver comentários em Ez 4.1). O gesto que geralmente acompanhava uma profecia reforçava a idéia de que a m ensagem estava se cum prindo e se tornando realidade. Existem certas semelhanças em relação à m aneira como o restante do mundo antigo encarava a dimensão mágica. N a magia, com freqüência, rituais deveriam acompanhar os encantamentos, com o objetivo de concretizar o resultado desejado. Para mais informações concernentes à relação entre os profetas e os procedimentos de magia, ver os comentários em 2 Reis 4.34; 5.11.11.33. Astarote, M oloque, Camos. Ver os comentários em 1 Reis 11.5 e 7 acerca desses deuses cananeus.11.36. um descendente no trono em Jerusalém . Em hebraico, a expressão utilizada é "u m a lâm pada". Por ser um símbolo de perm anência e memória, a menção a ela significa que o reinado de um descendente de Davi, em Jerusalém, garantiria um vínculo com a promessa de Deus para a sua dinastia (2 Sm 7.8-16). Usos sim ilares da palavra em ugarítico e acadiano estão ligados à perpetuação de um reinado ou da presença divina. O rei assírio Tiglate-Pileser III é descrito como a luz da humanidade. Um a expressão em babilónico antigo faz uso da im agem de um braseiro apagando-se para expressar o conceito de um a família sem descendentes.11.40. S isaq u e. Sisaque (Sheshonq I) foi o líder de uma proeminente família líbia que se estabelecera na região do delta egípcio (Bubastis), como resultado de conquistas, diversos séculos antes (século doze). Ele ingressou para a fam ília dos faraós da 21a D inastia através de um casam ento e quando essa linhagem extinguiu-se, assumiu a posição de ascender ao trono como o fundador da 22a Dinastia (c. 945). Ele se estabeleceu no trono através da introdução de familiares em postos-chave e também de outros casamentos envolvendo alianças políticas. U m a vez entronizado, empenhou-se com determinação a fim de restaurar o poder egípcio inaugurando um monumental program a de construções em diversas áreas: na região do D elta (inclusive nas áreas de Tânis e Mêrtfis) e em Heracleópolis. O relato bíblico bem como sua estátua em Biblos indicam um forte interesse em expandir a hegem onia egípcia até a região siro-palestina. Sua inscrição em Cam ac descreve sua invasão na Palestina em 925 (inclusive um a lista de 154 cidades destruídas) e também é comemorada num a esteia erigida
em Megido. Jerusalém foi poupada porque Jeroboão pagou um enorme resgate pela cidade (1 Rs 14.26).11.40. Egito como protetor. Assim como Hadade buscou refúgio político no Egito (ver o comentário em 11.18), Jeroboão volta-se para Sisaque em busca de
apoio e proteção. Ajudar o rival de Salomão se encaixaria bem aos planos que o faraó tinha de invadir a Palestina. Também é possível que o preço pago por Jeroboão, em troca desse auxílio, fora o de dar passagem a Sisaque quando este se dirigiu em campanha militar ao longo da costa até Tanaque e M egido e no interior até Bete-Seã.
11.41. registros h istóricos de Salom ão. Era bastante comum encerrar o relato a respeito de um rei fazendo referência a obras adicionais de onde a narrativa havia sido extraída - geralmente "os registros históricos dos reis de Israel" (ver 1 Rs 14.19; 16.14). A fonte mencionada aqui, no entanto, parece ser um compêndio à parte, que abordava especificamente os eventos da vida de Salomão e relatos adicionais de sua sabedoria. Do ponto de vista histórico é lam entável não termos mais acesso a esse material. No mundo antigo, os anais reais muitas vezes eram feitos não como uma sim ples reprodução im parcial de eventos, m as sim como um m eio utilizado pelo monarca para fortalecer sua reputação perante os deuses e para o benefício de reis que viriam depois. Se tinham um caráter teológico ou de propaganda, ou ambos, o fato é que geralmente eram compostos tendo em mente o legado que deixariam à posteridade.
12.1-24A revolta contra RoboãoPara informações sobre esse trecho, ver os comentários em 2 Crônicas 1 0 ,11 .
12.25-33Jeroboão estabelece seu reinado12.25. fortificação de Siquém . A escolha de Siquém (Tell Balatah), por Jeroboão, como sua primeira capital, era baseada em sua localização estratégica (48 quilômetros ao norte de Jerusalém num vale estreito entre os montes Ebal e Gerizim), no abastecimento de água disponível e nos ricos recursos agrícolas da região. Sua posição também permitia o controle de todo o trânsito militar e comercial em toda a região efraimita. Evidências arqueológicas quanto à fortificação promovida por Jeroboão, no local, são escassas, embora haja indícios da parede de uma casamata e de torres construídas no Estrato IX acompanhando a linha das antigas fortificações da Idade do Bronze Moderna. Sedimentos de destruição que terminam nos Estratos IX e X podem ser indícios das incursões do faraó egípcio
Sisaque. Para saber m ais sobre os primórdios da história de Siquém, ver o comentário em Juizes 9.1.12.25. Peniel. Peniel/Penuel tem sido identificada com Tell edh-Dhahab, oito quilômetros a leste do rio Jordão. É possível que Jeroboão tenha se deslocado para lá durante a invasão de Sisaque, na Palestina, m as a m enção de Peniel na lista de cidades conquistadas por esse faraó sugere que não foi um refúgio distante o bastante. Talvez Jeroboão tenha usado a fortaleza ali para conseguir o controle daquela parte da Transjor- dânia (G ileade), que anteriorm ente estivera sob o domínio de Davi.12.26, 27. Jeru salém e a relação com a d inastia de Davi. Visto que Jerusalém havia sido conquistada por D avi e o santuário fora ali estabelecido por ele e Salomão, existiam fortes laços ideológicos entre a casa de Deus e a casa de Davi, ligadas inseparavelmente a Jerusalém (para informações relacionadas a Jerusalém como propriedade particular da dinastia davídica ver o comentário em 2 Sm 5.9). O santuário de Yahweh, que estabeleceu a dinastia davídica, encontrava-se no templo em Jerusalém. Portanto, Jeroboão era obrigado a procurar um m eio de romper os laços políticos com a adoração de Yahw eh nessa cidade, sem romper os laços tradicionais da aliança com Ele, que havia tirado os israelitas do Egito e lhes dado aquela terra.12.28. bezerros de ouro. A arca da aliança e os bezerros de ouro não eram considerados ídolos, mas sim, tronos ou pedestais que sustentavam a glória de Deus. Os bezerros eram um reflexo do sincretismo, dos empréstim os cu ltu rais e re lig iosos proven ientes dos cananeus, tão predominante entre os israelitas. Touros ou bezerros eram associados ao deus Baal e ao culto à fertilidade em textos ugaríticos. El muitas vezes é descrito como o "Touro E l" e há uma lenda que a união entre Baal e Anat gerou um novilho. É bastante provável que Jeroboão encarou essa oportunidade como uma excelente manobra política, agradando os israelitas que se sentiam m ais à vontade com uma m istura do im aginário do deus Yahw eh e do deus Baal. Estátuas de bezerros ou touros feitas de bronze ou outros m etais foram encontradas em diversas escavações arqueológicas (monte Gilboa, Hazor, o Local do Touro e Ascalom; também foi encontrado um exemplar de cerâmica em Siló), mas tinham apenas de 8 a 18 centímetros de comprimento.12.28. bezerros como tronos. Visto que o intento de Jeroboão era providenciar centros alternativos de adoração além de Jerusalém, seria necessário guarnecer esses novos santuários com um símbolo religioso tão poderoso quanto a arca. O sím bolo do bezerro era bem conhecido no contexto cananeu do segundo m ilênio e representava fertilidade e força. Porém, a fim de que eles não fossem considerados ídolos, foi apresen
tado o argum ento de que seriam apenas o trono de Yahweh. Esse argumento tem como base o retrato de deuses cananeus e ugaríticos, em esculturas e relevos, de pé sobre o corpo de um touro. A lém disso, os deuses mesopotâmicos da lua, Sin e Nanar, estão representados, em selos cilíndricos e em textos religiosos, com um touro ou são retratados como um "touro feroz". Logo, existe a possibilidade de que os bezerros de ouro colocados por Jeroboão nos santuários de Dã e de Betei tivessem o objetivo de servir como tronos ou pedestais divinos para o invisível Yahweh. Alguns estudiosos têm observado que em figuras do terceiro milênio (principalmente em selos cilíndricos) a divindade era retratada de pé no dorso de um a criatura alada composta (como os querubins). Foi na Síria do segundo m ilênio que o touro tornou-se o mais comum "anim al pedestal".12.28. a relação entre os bezerros e Yahw eh. De modo geral, há um consenso entre os eruditos de que os bezerros de ouro de Jeroboão estavam relacionados a uma adoração (sincretista) a Yahweh. Esse argumento é baseado na falta de outro nome divino associado a eles e a referência feita aos "deuses que tiraram vocês do Egito". Essa expressão parece negar a possibilidade da associação desses bezerros com Apis, o deus- touro egípcio (apesar dos laços de Jeroboão com o Egito; ver 1 Rs 11.40). Paralelos ugaríticos sugerem laços entre esses animais e Baal ou El. As tentativas de re lacion á-los a Sin , o deus lua de H arã e U r, e a vestígios da religião ancestral das tribos de José são motivadas por uma grande quantidade de evidências textuais e arqueológicas, m as ainda há espaço para especulação. Qualquer que seja a intenção original ou o pano de fundo, os bezerros acabaram sendo associados com a falsa adoração praticada pela comunidade israelita, na violação do primeiro ou do segundo m andamento. Esta últim a visão parece mais provável visto que até mesmo um século mais tarde, quando Jeú elimina de Israel a adoração a Baal, ele não faz nada a respeito dos bezerros (ver 2 Rs 10.28, 29).12.29. D ã e Betei. Os dois locais escolhidos por Jeroboão como centros religiosos nacionais tinham como base sua associação anterior à atividade cultual. Betei era o local da teofania de Jacó (Gn 28.10-22) e de um altar (Gn 35.1), enquanto Dã tom ou-se o santuário para a tribo de D ã, em Ju izes 18.27-31. G eograficam ente, essas cidades estavam situadas em ambos os extremos da nação, facilitando, portanto, as peregrinações religiosas e os sacrifícios.12.30. Betei. Ver os comentários em Josué 8.9 e Juizes1.22, 23. Apenas 18 quilômetros ao norte de Jerusalém, na linha divisória entre os dois reinados, Betei (Beitin?) era um a escolha natural para o santuário de Jeroboão. Esse santuário atrairia peregrinos que do
contrário teriam de viajar até o sul para adorar no templo de Salomão. Por fim, a im portância de Betei sobrepujaria Dã e se tom aria o "santuário do rei".12.30. D ã. Ver o comentário em Juizes 18.29. Jeroboão edificou sobre as tradições de D ã (Laís) um lugar de culto, que rem ontam ao período em que era um a colônia fenícia e também, mais tarde, quando a tribo de Dã m igrou para a essa área (Jz 18.27-31). Situada no extremo norte e na fronteira com a Fenícia e a Síria, essa cidade provavelmente era um local propício para negociações de tratados e um posto de fronteira. Sua posição de certo m odo era isolada no sopé do monte Hermom e a distância do centro de controle de Israel, em Samaria, porém, pode ter contribuído para a perda de seu status após o período de Jeroboão. Escavações ali trouxeram à tona o santuário construído por Jeroboão onde foi colocado o bezerro. O complexo do santuário tinha 60 por 44 metros e contava com um grande altar num pátio ao ar livre. Um a enorme ponta (ou chifre) do altar principal foi encontrada e também um altar menor com pontas.12.31. altares. Visto que a estratégia de Jeroboão tinha uma motivação política implícita, parece natural que ele tenha assegurado o uso de altares em locais tradicionais de culto. Trata-se do reconhecimento do desejo por m ais autonom ia local (ver o pedido feito pelos líderes tribais em 1 Rs 12.4) e um a artim anha para engodar o povo, permitindo o florescimento de form as "populares" de expressão religiosa sem a restrição excessiva a lugares como monte Carmelo, Gilgal, Mispa e monte Tabor. Apesar de alguns desses altares estarem ao ar livre, a m enção a "casas" sugere uma instalação cultual m ais elaborada associada a centros urbanos (2 Rs 17.9-11; 2 Cr 1.3). A ausência de controle central sobre a prática religiosa naturalmente acabou por facilitar a promoção do sincretismo.12.31. designou sacerdotes. Existem precedentes no antigo O riente Próxim o quanto à rem oção de uma comunidade de sacerdotes a favor de outra. Por exemplo, o faraó egípcio Aquenaton tentou desmantelar o sacerdócio de A m om , engrandecendo a adoração a Aten. Igualmente, o rei neobabilônico Nabonido substituiu M arduque, a principal divindade de culto do im pério, por Sin, o deus lua. Em am bos os casos a vingança perpetuada pelos sacerdotes depostos custou, à dinastia no poder, a sua posição. O tratamento de Jeroboão aos levitas, em seu novo reinado, é um indício de que ele não confiava na lealdade deles. Ele acreditava que, ao designar sacerdotes que não fossem levitas, poderia garantir que sua política (santuários em Betei e em D ã, bezerros de ouro, uso de altares, novo calendário religioso) fosse executada sem questionamento. Sacerdotes e levitas em Israel exerciam influência política significativa, por isso Jeroboão
considerou ser obrigatório indicar legalistas cuja posição dependesse dele.12.32,33. instituição de um a nova festa. O oitavo mês (marchesvan) abarca outubro-novembro, um mês mais tarde do que os festivais em Jerusalém, quando o Ano N ovo e a Festa dos tabernáculos eram celebrados. Essa festa era um festival da colheita (ver comentário em D t 16.13-17), então, alguns estudiosos sugerem que a alteração do calendário, proposta por Jeroboão, foi reflexo de um a safra posterior em Efraim, em relação a Judá. A festividade durante o sétimo mês talvez tivesse assum ido alguns elem entos políticos. 1 Reis8.2, 65 deixa claro que a dedicação do tem plo em Jerusalém coincidiu com esse período. Na Babilônia, o Ano Novo era uma ocasião para celebrar a entronização do deus nacional e do rei. Visto que a dedicação do tem plo envolvia a entronização de Y ahw eh naquele lugar, existe, ao m enos em certo nível, um a continuidade em relação à tradição babilónica. Se esse festival incluía a comemoração do reinado, a prática de Jerusalém teria, naturalmente, se concentrado na posição eleita da dinastia davídica.
13.1-34 -O santuário e o profeta13.1. hom em de D eus. Para uma discussão a respeito dos diversos aspectos da profecia e dos profetas, ver os com entários em D euteronôm io 18.14-22. Com o em Juizes 6.8, esse profeta anônim o é um defensor da aliança. Sua m ensagem, denunciando Jeroboão e seu altar em Betei, insinua claram ente tratar-se de um santuário ilegítimo. Os profetas do antigo Oriente Próximo tinham muitas vezes m ensagens que incluíam exortações quanto a quem deveria receber adoração e como, e quais eram os santuários legítimos.13 .2 . sa c r ifíc io h u m an o . V er os com en tários em Gênesis 2 2 .1 ,2 e 22.13-19 sobre a condenação de sacrifício hum ano entre os israelitas (contraste Jz 11.30-40). Embora o sacrifício humano, especialmente de crianças, fosse praticado por alguns povos do antigo Oriente Próximo (evidências arqueológicas de Cartago, Nuzi e Tepe Gawra; ver Lv 18.21; 2 Rs 3.27), a maldição do hom em de D eus nesta narrativa está relacionada à profanação do altar de Betei. O termo "sacrifício" é esclarecido pela frase seguinte que explica que são os ossos dos hom ens mortos, e não vítim as executadas, que serão queimadas sobre o altar. Qualquer instalação sagrada devia m anter sua pureza ritual. Queimar ossos, tirados de túmulos, sobre o altar o contaminaria de tal maneira que seria difícil usá-lo novamente.13.3. o sinal. Um profeta seria reconhecido como "verdadeiro" se suas profecias se cumprissem ou, de alguma forma m ais espetacular, quando Yahw eh enviava um "sin a l" confirm ando que ele fora enviado por
Deus. N este caso, era necessário um sinal inegável da ira divina contra o altar de Betei. Não bastava simplesmente proclamar sua ruína iminente. Assim, não somente a destruição do altar foi declarada, como as cinzas do sacrifício foram profanadas. Essas cinzas continham os resíduos de gordura reservados para Deus (ver Lv 1.16; 6.10, que fala sobre a form a adequada de dispor-se delas). Desse modo, tanto o veículo do sacrifício (o altar) quanto o sacrifício em si são invalidados pela ordem divina. Muitos altares encontrados pelos arqueólogos eram feitos de pedra calcária, uma pedra m acia extraída com facilidade da pedreira e abundante na região. Impurezas ou tempo inadequado para vulcanizá-la podiam ser algumas das causas que provocavam rachaduras nas pedras, quando expostas ao calor.13.4. braço paralisado. A maioria dos intérpretes identifica essa condição física como resultado de algum tipo de hem orragia ou coágulo, m as esse quadro não explica por que o braço perm aneceu estendido. A paralisia de membros atualmente tem sido descrita como um estado denom inado "ap op lexia" (um choque no sistem a nervoso que provoca rigidez muscular).13.7-9. com partilhar refeição e presentes. Era comum oferecer refeições e presentes na assinatura de tratados e formação de alianças (ver G n 24.52-54; 31.43-46; Ex 24.9, 10). Essas refeições também faziam parte do protocolo de hospitalidade em que, por um período, as inimizades entre as partes envolvidas eram deixadas de lado (ver Jz 19.1-9). A recusa do homem de Deus em fazer uma trégua com Jeroboão é m ais um sinal do desagrado de Yahw eh para com o rei e suas práticas. Algumas semelhanças podem ser identificadas na cena entre Samuel e Saul, em 1 Samuel 15.2431, na qual a adoração ao Senhor também teria envolvido um a refeição festiva acertando as diferenças que havia entre eles e renovando sua aliança. Neste caso, porém, esse tipo de aproxim ação havia sido term inantemente proibido pelas as instruções de Deus.13.11-18. com portam ento do profeta idoso. Embora o homem de Deus ter tido bom êxito em recusar a tentativa de Jeroboão em conseguir sua lealdade, ele não foi tão bem sucedido em evitar as ofertas da comunidade profética de Betei. A refeição compartilhada teria um significado im plícito de aliança entre o homem de Deus, de Judá, e o(s) profeta(s) de Betei.13.21, 22. oráculo de ju lg am en to . Era com um aos profetas receber mensagens incômodas que eles prefeririam não transmitir. Esse oráculo, especificamente, demonstrava que o profeta idoso de Betei usara de engano, mas isso não im pediu que fosse usado por D eus para proferir o ju lgam ento que viria sobre o homem que desconsiderou as instruções dadas pelo Senhor inicialmente.
13.26-32. sepultam ento do profeta. A morte incomum tida por um homem de Deus (v. 24, 25) e as testemunhas que viram um leão, sim plesm ente ao lado do corpo, sem atacar o jum ento, confirmam ser o julgam ento do Senhor. Esse "sin al", m ais do que aquele que destruiu o altar de Betei, convence o "profeta idoso" de que ele fora o responsável pela m orte de seu colega. De fato, sua afirm ação no versículo 32, atestando a veracidade da maldição feita por esse hom em de Deus, contra o altar e contra os santuários em Samaria, funciona como um reforço por parte de um profeta "d o norte" de sua inevitável concretização. A fim de honrar o homem que ele havia traído, o profeta providencia um túmulo para enterrá-lo (em essência o adota como m em bro de sua fam ília), também compartilhando dele na hora da sua morte - entrelaçando para sempre sua maldição dupla. Embora uma interpretação da rara morte desse homem seja a de que sua m aldição, contra o altar, não tinha fundam ento, a história preservada aqui confirm a sim ultaneamente essa maldição e explica a morte.
14.3. presente para o profeta. Ver 1 Sam uel 9.6-8; 2 R eis 5.5 e o com entário em 2 R eis 8.9 para outros exemplos desse tipo: enviar um presente a um profeta. Pode ser que estes, assim com o os levitas, não tivessem terras e, para sua subsistência, dependessem de ofertas daqueles que os consultassem. Esse presente seria relativamente insignificante, visto que a esposa do rei estava disfarçada. Qualquer que fosse o seu valor, demonstrava um senso de respeito pelo Deus que o profeta representava (ver o "presente" de Gideão para o anjo em Jz 6.18-21). O grande número de pequenas im agens encontradas por arqueólogos em contextos cananeus e israelitas sugere que era comum dedicar oferendas de comida e símbolos de fertilidade quando um oráculo ou um deus era consultado.14.2, 4. S iló . Para inform ações a respeito de A ias e Siló, ver o comentário em 11.29. Não se sabe ao certo se em Siló (Khirbet Seilun, entre Betei e Siquém) havia um santuário ao ar livre ou um complexo de templo m ais elaborado no início da m onarquia e dos reinos divididos. De qualquer m aneira, a presença de um a comunidade sacerdotal afiliada à família de Eli teve sua origem na época dos ju izes (1 Sm 1.7-9) e continuou até a monarquia (ver Jr 7.12-15 a respeito da menção de sua decadência e destruição). Um centro como esse teria também atraído profetas como Aias, associando-se à presença de Deus.14.9. acusação do rei. Existe um a longa tradição na M esopotâmia que identifica o estereótipo de um rei
que fazia escolhas desastrosas trazendo sobre si a ira dos deuses e a ruína de seu remado. O exemplo clássico da Mesopotâmia é Naram-Sin, da dinastia de Acad, no final do terceiro milênio. Em um a obra conhecida como "A Maldição de A gade", Naram-Sin é acusado de profanar o famoso templo Ekur de Enlil, na cidade santa de Nippur, e culpado por provocar, com isso, a queda do reinado (que só acontece diversas décadas mais tarde).14.10, 11. m aldição sobre a casa de Jeroboão. Para uma dinastia no poder, a pior maldição possível era aquela que predizia a extinção da família e a transferência do reinado para outro grupo, isso explica o porquê dos m onarcas assírios terem sem pre muito cuidado em alistar os reis violentamente depostos por serem um a am eaça visível, ou por apresentarem a remota possibilidade de prom overem um a rebelião, ou, ainda, "por não terem se curvado, rápido o bastante, aos pés do re i" (Sidqia de Jope nos anais de Senaqueribe). A linguagem vívida que descreve a completa aniquilação de Jeroboão, de seus filhos e até de seus servos ou daqueles que viviam sob sua proteção, fornece imagens de todos eles sendo consumidos pelo fogo e se esvaindo em fum aça, não deixando nenhum rastro, senão de esterco queimando. A humilhação posterior de seus corpos, sendo deixados a céu aberto, sem um enterro decente, e devorados como carniça por cães, desonrava a casa de Jeroboão, desli
gando-a de seus ancestrais (ver Dt 28.26). A respeito de m aldições sem elhantes contra um a casa real em Tsrael, ver o comentário em 1 Reis 16.4.14.15. postes sagrados. Ver os comentários sobre Aserá e os postes sagrados que sim bolizavam a presença dessa deusa nos lugares sagrados cananeus em Deute- ronômio 7.5 e Juizes 2.13.
14.17. Tirza. Ver o comentário em Josué 12.24 acerca do contexto pré-monárquico dessa cidade. Parece provável que Jeroboão governasse dali de Tirza, como o fizeram seus sucessores imediatos - Baasa, Elá, Zinri e Onri. Tirza foi identificada como Tell el-Farah, onze quilôm etros a nordeste de Siquém , na estrada para Bete-Seã. É favorecida por estar posicionada em um terreno elevado, ter abastecimento abundante de água (duas fontes que alimentavam o uádi Farah) e por sua localização estratégica na rota comercial. Tam bém tem acesso direto aos vaus do rio Jordão em Adam. Os vestígios da Idade do Bronze M édia indicam que o portão e as fortificações foram reconstruídos e há evidência de um plano central na construção de novas casas em toda a cidade. Sua importância política também pode ser inferida a partir de sua menção na lista de conquistas de Sisaque, durante sua invasão na Palestina.
14.19. registros históricos. O método padrão de registrar os principais eventos e realizações, ano a ano, dos reis do antigo O riente Próxim o, era a produção de registros ou anais reais. Algumas crônicas conhecidas do mundo antigo (como as dos reis assírios), embora sejam úteis na reconstrução da cronologia e da localização de pontos geográficos, com freqüência são um exem plo gritante de propaganda oficial dos governantes. Outros documentos (como aqueles do período neobabilônico) sim plesm ente oferecem informações sem floreios. A referência aos registros históricos dos reis de Israel demonstra novam ente que os escritores bíblicos extraíram seus relatos de fontes m aiores e mais detalhadas.
1 4 .2 1 -29Reoboão de JudáPara mais informações sobre este trecho, consulte os comentários em 2 Crônicas 12.14.23. altares. A parentem ente, o uso de santuários exteriores era comum entre os cananeus. Esses locais de adoração *cultual eram considerados abomináveis ao(s) escritor(es) deuteronômico(s), por promoverem um tipo de religião "popular" que continha elementos da adoração cananéia que se afastavam da adoração somente a *Yahweh. Logo, altares, colunas e postes sagrados dedicados a *Aserá, bosques sagrados e qualquer lugar associado a deuses cananeus (*Baal, *E1 etc.), bem como a adoração a Deus, fora de Jerusalém ("o local que o Senhor, o seu Deus, escolher" - Dt12.5), eram proibidos. Existe uma diferença entre esses locais de culto ao ar livre e o bamàh (termo traduzido como "m onte, altar ou alto" em 1 Rs 11.7; Jr 7.31; Ez 16.16; 2 Cr 21.11; inscrição de Mesha), muitas vezes m encionado como o centro religioso em povoados e cidades; ele era, ao que tudo indica, uma construção erigida para abrigar um altar, alguns objetos e utensílios sagrados, e possuía recintos suficientemente grandes para acomodar os sacerdotes. Um a clara diferenciação acerca desses dois tipos de locais religiosos pode ser vista em 2 Rs 17.9-11.14.23. colunas sagradas. Colunas sagradas ou massebot eram aparentem ente um elem ento com um na re ligião cananéia e tam bém aparecem como memoriais em uma série de contextos israelitas relacionados à *aliança (ver Êx 24.3-8; Js 24.25-27). Por estarem associadas a *Aserá, *Baal e outras divindades cananéias são condenadas como rivais e consideradas uma am eaça à adoração a *Yahweh. Arqueólogos descobriram algum as delas em G ezer, Siquém , H azor e A rad. Nestas duas últimas, as colunas encontram-se no interior de recintos sagrados onde faziam parte das práticas *cultuais. Aquelas encontradas em H azor contêm ilustrações entalhadas de braços levantados e de um
disco solar. A partir de pias, às vezes encontradas perto da base de tais colunas, infere-se que libações (ofertas líquidas) eram derramadas sobre elas.14.23. postes sagrados. U m a característica comum do culto cananeu e da adoração israelita sincretista, tanto em "a lta res" com o em santuários da cidade, era a construção de postes sagrados (Jz 3.7; 1 Rs 14.15; 15.13;2 Rs 13.6). Não se pode afirmar com certeza se eram sim plesm ente feitos de m adeira sim bolizando árvores, talvez contendo um a imagem entalhada da deusa da *fertilidade, ou se faziam parte de um bosque sagrado. A referência, em 2 Reis 17.10, a postes sagrados erguidos debaixo de "toda árvore frondosa" parece indicar que, de fato, tratava-se de postes de madeira ali erguidos com objetivos *cultuais e não de árvores. Por ser a cônjuge de *E1, A será evidentem ente era um a deusa p opu lar (ver 2 Rs 18.19) e o culto dedicado a ela é m encionado em textos *ugaríticos (1600-1200 a.C.). O destaque que ela recebe na narrativa bíblica é um indício claro de que sua adoração era uma forte concorrência à de Yahw eh (ver a proibição em Êx 34.13; D t 16.21). Isso explica o grande número de exemplos em que postes-ídolos eram erguidos e venerados, a veemente condenação a essa prática e os relatos desses postes sendo cortados e queimados (Jz6.25-30; 2 Rs 23.4-7). Para m ais inform ações, ver o comentário em Deuteronômio 7.5.14.24. prostitutos cultuais. Para informações adicionais acerca da prostituição cultual, consulte o comentário em Deuteronômio 23.17,18. O termo usado aqui ocorre tanto na forma feminina quanto na m asculina e
refere-se, talvez com o um eufem ism o, àqueles que haviam sido separados para funções específicas. Esse mesmo termo é usado na literatura acadiana aplicando-se aos funcionários que foram consagrados para o serviço nos templos ou santuários. Os prostitutos (ou prostitutas) faziam parte desse grupo, assim como as amas-secas e as parteiras. Não fica claro qual a função desempenhada pelo prostituto.
15.1-8Abias, rei de JudáPara informações sobre este trecho, ver os comentários em 2 Crônicas 13.1-22.
15.9-24Asa, rei de JudáPara informações sobre este trecho, ver os comentários em 2 Crônicas 14-16.15.18. T abriom , Heziom . Esses dois nomes aparecem apenas neste contexto. Não existem fontes aramaicas deste período e os registros assírios não envolvem reis
arameus nesta época. Os nomes representam formas
aramaicas lógicas e legítimas, mas não existe nenhuma outra informação histórica disponível.
15.25-32Nadabe, rei de Israel15.25. cronologia. A tentativa, por parte do escritor bíblico, em relacionar os remados dos reis de Israel e de Judá nem sem pre é fácil de sincronizar. É provável que o primeiro ano do reinado de Asa tenha sido 914a.C ., m as é quase certo que o reinado de N adabe tenha se iniciado no ano 911 a.C.. Além disso, o reinado deste últim o, em bora tenha abarcado partes de dois anos, na verdade durou apenas alguns meses, antes dele ser assassinado no outono de 910 a.C..15.27. G ibetom . Cerca de três quilômetros a oeste de Gezer, no território filisteu, Tell el-M elat provavelm ente era um posto m ilitar na fronteira com Israel (observe que é alistado no território de D ã, em Js21.23). Sua localização estratégica é confirm ada por sua menção na lista de campanha do faraó Tutm és III (1468 a.C.) e na do rei assírio Sargon II, quando teve que sufocar a revolta de Asdode (713 a.C; Is 20.1).15.29. elim inação da fam ília do predecessor. Ver o com entário em 1 R eis-1.21 para um a abordagem a respeito da faxina política promovida em períodos de mudanças administrativas (sucessão de um rei de outra linhagem). Ao eliminar todos os futuros candidatos ao trono, Baasa aum entou as chances de que sua família o sucederia. O cumprimento da maldição (1 Rs 14.7-16) contra a casa de Jeroboão é parecida com a "M aldição de A gade", de U r UI, sobre o rei acadiano Naram-Sin, que ao profanar um santuário em Nippur trouxe sobre si e sobre seu reinado a ira dos deuses.
15.33-16.7 Baasa de Israel15.33. Tirza. Ver o comentário em 1 Reis 14.17. Tirza oficialm ente tom a-se a capital do reino do norte de Israel durante o reinado de Baasa. Continua sendo a capital até que Onri a transfere para Sam aria (1 Rs16.24).15.33. cronologia. O reino de Baasa apresenta um dos problem as cronológicos m ais difíceis da Bíblia. Se, como o versículo afirma, ele subiu ao trono no terceiro ano de Asa e reinou por vinte e quatro anos, então, ele teria morrido no vigésimo sexto ano de Asa (ver16.8). O problema surge quando 2 Crônicas 16.1 apresenta esses dois reis em guerra, no ano trinta e seis de Asa. As soluções apresentadas têm sido inúm eras, m as nenhum a convincente o bastante. As datas de Thiele, para Baasa, são 909-886. Ele é contemporâneo de A sa, rei de Judá, e de Ben-Hadade I, rei de Damasco. Esse é o início de um período que durou um sécu-
lo, quando os arameus de Damasco começaram a assumir um papel de liderança na região.16.4. cães, aves do céu e corpos expostos. O destino designado à fam ília de Baasa (observe, não a Baasa) era o pior que poderia acometer alguém no mundo antigo. Não ter o corpo enterrado, permanecendo exposto, representava um a últim a hum ilhação e uma profanação, visto que a m aioria dos povos antigos acreditava que um enterro adequado, decente, no m om ento apropriado, afetava a qualidade da vida após a m orte. No Ép ico de G ilgam és, Enkidu, ao retornar do m undo inferior, relata a Gilgam és que quem não fosse enterrado, após a m orte, não tinha descanso e quem não deixasse parentes vivos para cuidar dos rituais, comia apenas o que era jogado nas ruas. U m a m aldição babilónica relaciona o enterro com o encontro do espírito do morto com seus entes queridos. Sabemos que até mesmo os israelitas acreditavam que um sepultam ento adequado afetava a vida no além, porque eles, assim como seus vizinhos, enterravam seus parentes com provisões que lhes serviriam na vida após a morte: com freqüência vasilhas de cerâmica (cheias de comida) e jóias (para afastar o mal), além de utensílios e objetos de uso pessoal que às vezes eram acrescentados. A lei israelita exigia que até o corpo de um criminoso empalado fosse removido e enterrado ao pôr-do-sol, em vez de ser deixado para ser devorado por aves e outros animais. Registros assírios do prim eiro m ilênio dem onstram esse tipo de conceito, quando Assurbanipal pune seus oponentes mandando que seus corpos sejam jogados nas ruas e arrastados. Um corpo devorado por carniceiros não podia ser sepultado e era o castigo mais desonroso que havia. Do mesmo período, um a maldição assíria declara: "Q u e os cães despedacem seu corpo exposto". Em algumas situações, os corpos eram esquartejados e seus pedaços serviam de com ida para os cães. A intenção dessa atrocidade era elim inar qualquer possibilidade de um enterro adequado e, portanto, condenar o espírito da pessoa a vagar sem descanso em vez de usufruir um a vida tranqüila no além. A exposição de cadáveres também era ocasionalmente praticada pelos egípcios.16.6. Tirza. Tirza era a residência real de Jeroboão e depois se tom ou a capital do reino do norte, provavelmente na época de Baasa. Foi identificada como Tell el-Farah, onze quilômetros a nordeste de Siquém, na estrada para Bete-Seã. É favorecida por estar posicionada num terreno elevado, ter abastecimento abundante de água (duas fontes que alimentavam o uádi Farah) e por sua localização estratégica na rota comercial. Também tem acesso direto aos vaus do rio Jordão em Adam. O s vestígios da Idade do Bronze M édia indicam que o portão e as fortificações foram recons
truídos e há evidência de um plano central na construção de novas casas em toda a cidade. Sua importância política também pode ser inferida a partir de sua m enção na lista de conquistas de Sisaque, durante sua invasão na Palestina.
16.8-14 Elá, rei de Israel16.8. cronologia. O reinado de Elá foi breve e aparentemente não foi marcado por nenhum evento importante. Assim como seus predecessores, ele não é mencionado em nenhum registro extrabíblico. Thiele o situa em 886-885.16.11. elim inar a fam ília do predecessor. Deixar vivos os parentes de um rei que fora deposto do trono e assassinado era um convite à guerra civil. Esses parentes, leais aos laços de sangue, vingariam a morte do rei anterior e com certeza encontrariam outros que apoiariam sua tentativa de reconquistar o trono. A eliminação completa das famílias dos governantes depostos era uma prática comum e em grande escala em Israel e no antigo Oriente Próximo.16.13. íd olos inúteis. O texto aqui em hebraico fala apenas de "coisas inúteis", mas essa era uma designação comum de ídolos do nono ao sexto século. Expressa a perspectiva bíblica de que eles nada são e nada podem e que a crença neles é essencialmente inválida e inútil.16.14. registros h istóricos. Registros ou anais reais eram m antidos em todo o antigo O riente Próxim o, com a m aioria dos exem plos provenientes dos reis hititas, da metade do segundo milênio, e da Assíria e Babilônia, dos séculos nono ao sexto. Os anais eram representados por inscrições reais que apresentavam relatos detalhados de campanhas m ilitares. Existem também crônicas das cortes que dão informações sobre eventos importantes acontecidos a cada ano. Nenhum registro dos reinos de Israel ou de Judá foi descoberto até hoje pelos arqueólogos.
16.15-20 Zinri, rei de Israel16.15. cronologia. Os sete dias que Zinri governou são datados por Thiele em 885.16.15. G ibetom . Gibetom era uma das cidades alistadas entre aquelas tom adas por Tutm és III, em sua campanha, quando invadiu a Palestina na prim eira metade do século quinze a.C.. Mais de setecentos anos m ais tarde, foi uma das importantes conquistas do rei assírio Sargon II em sua batalha contra Asdode (713712). Se a cidade for identificada com Tell M alat, fica localizada estrategicamente próxima à junção da planície filistéia com os sopés das m ontanhas de Judá, quase 32 quilômetros a oeste de Jerusalém e cerca de
seis quilômetros a oeste de Gezer. Amplas escavações não foram conduzidas, mas existem achados no local que datam deste período e fica claro que se tratava de um a cidade fortificada.16.16. o exército proclam a um rei. Em bora proclamar um rei não fosse uma tarefa típica do exército, o apoio dos militares era um importante vínculo para assegurar o trono disputado. Golpes militares provavelmente eram mais freqüentes no Oriente Próximo do que as fontes indicam: a maioria dos reis desejava apresentar-se como sucessores legítimos ao trono e omitiam certos detalhes de seus anais. Usar o poderio m ilitar para obter o poder e garantir o governo não é um precedente que m uitos teriam buscado estabelecer. Não obstante, exemplos proeminentes de investidas apoiadas por milícias, para tomar o governo das mãos de conterrâneos, podem ser vistas entre os reis assírios Tiglate-Pileser III (745) e Sargon II (722) e o rei persa Dario, o Grande (522), apesar de cada um distorcer os fatos da história a seu modo, dando a entender que sua sucessão foi resultado do direito legítimo ao trono.16.18. cidadela do palácio real. Tell el-Farah, a antiga Tirza, demonstra evidências de destruição e abandono neste período. H á um a cidadela fortificada encontrada na extremidade noroeste do local, possivelmente a que Zinri lançou fogo. A prática de um rei incendiando o próprio palácio à sua volta também pode ser vista em 648, quando a Babilônia sucumbe ao cerco de Assurbanipal e Sham ash-shum a-ukin atira-se nas chamas de seu palácio.
16 .21-28Onri, rei de Israel16.21, 22. d isputa p ela sucessão ao trono. Quando a sucessão ao trono não era um caso do filho assum ir o lugar do pai, podia-se esperar o surgim ento de diversos cand idatos, cada um com o apoio de diferentes facções. N ada se sabe a respeito da natureza das reiv ind icações de T ibni ou de quem o teria apoiado. Igu alm en te , os detalhes da guerra civil não são apresentados.16.23. cronologia. As datas de Thiele para Onri são 885-874. Trata-se de um a conjuntura crítica na história da região porque os assírios estavam prontos a iniciar suas tentativas de expansão no ocidente. AsumasirpalII ascendeu ao trono em 883 e estendeu seu controle em todo o curso do Eufrates, o que o colocou na porta de entrada das nações ocidentais. O estado arameu de Bit-Adini, pela via ocidental do Eufrates, passou sob o seu controle e, em 877, ele marchou para o M editerrâneo e dali para o sul entre os rios Orontes e Litani e o Mediterrâneo, cobrando tributos de cidades como Tiro, no extremo sul. Adicionalmente, os arameus de Dam asco, sob o governo de Ben-Hadade, se tom aram
uma potência para contê-lo; e todo esse contexto forçaria Israel a encontrar seu espaço nesse alinhamento internacional.16.24. Sam aria. Foi Onri quem construiu Samaria e a estabeleceu como capital do reino do norte, Israel. Cerca de 20 quilôm etros a oeste de Tirza, a antiga capital, a cidade estava localizada num im portante cruzamento de estradas com fácil acesso ao vale de Jezreel, ao norte, a Siquém , a sudeste e à costa, a oeste. Ficava perto das duas principais rotas norte-sul que cruzam o oeste do Jordão. As escavações no local descobriram o que se acredita ser o palácio de Onri, na acrópole, e tam bém partes do muro que separava a acrópole da cidade baixa. O muro tinha cerca de um metro e meio de espessura e foi construído com a mais excelente a lvenaria existente na época (pedras de silhar postas em valas usando a técnica de am arração). Acabe melhorou as fortificações acrescentando- lhes um muro de casamata com m ais de nove metros de largura.16.24. setenta q uilos de prata. O preço que A sa pagou pela propriedade de Sêm er foi de dois talentos de prata, o equivalente a seis mil siclos. Essa quantia é consideravelm ente m aior do que o valor pago por Davi pelo terreno do templo em Jerusalém, visto que essa propriedade adquirida por A sa é substancialm ente maior. Cada talento equivale a 35 quilos de prata. Em term os de poder de com pra atualmente, estaria entre quinze e vinte milhões de dólares. Ainda que toda a cidade alta e baixa (que compreendia 160 acres nos tempos romanos) estivesse incluída, continuaria a ser uma propriedade extremamente cara.
16.27. O nri no antigo O riente Próximo. Embora não haja fontes da m esma época que registrem dados sobre Onri, existem algumas, da m etade do século nono, que se referem a ele de diversas maneiras diferentes.
A inscrição moabita do rei M esha narra o passado de opressão sofrida por Moabe, nas mãos de Onri, e ao mesmo tempo o relato histórico de M esha afirmando seu m ais recente domínio sobre os sucessores de Onri. As inscrições assírias de Salm aneser III identificam Israel como a terra de Onri. Visto que este tinha relações favoráveis com Tiro e Sidom, é provável que ele tam bém tenha adotado um a posição pró-assíria. Sua aliança com os fenícios foi selada pelo casamento do príncipe Acabe com Jezabel, a princesa sidônia. Essa estratégia o colocou lado a lado com os arameus, que estavam contra os assírios e eram a ameaça mais forte contra Israel. Não obstante, parece que Onri negociou um tipo de relacionamento e manteve a paz, de certo modo apreensiva, com os arameus que estavam sentindo a pressão dos assírios e necessitavam de amigos na região.
16.29-34Sucessão de Acabe, rei de Israel16.29. cronologia. A s datas de Thiele, para Acabe, são 874-853. É certo que ele ainda estava no poder em 853 porque é m encionado nos registros de SalmaneserIII como um dos principais membros da coalizão ocidental que combateu os assírios na batalha de Qarqar naquele ano.16.31. Jezabel. A única referência possível a Jezabel, em registros da época, é um selo deste mesmo período com o nome “yzbl". É um grande selo com motivos egípcios acompanhados de um a inscrição fenícia do nome. Como filha do rei, foi sugerido que ela teria desfrutado do status de sum a sacerdotisa da divindade nacional, Baal Melqart.16.31. Etbaal, rei de Sidom . Etbaal foi o rei dos sidônios de 887 a 856. Ele governou toda a região da Fenícia e, na verdade, usou Tiro como sua capital. Josefo, escrevendo m uitos séculos m ais tarde, o descreve como um sacerdote da deusa A starote que usurpou o trono. N em sempre o material de Josefo é confiável acerca dessas questões, mas parece que ele usou fontes gregas que podem ser traduções de registros fenícios. Etbaal recebe bastante crédito quanto ao desenvolvimento de Tiro, como um a ilha portuária, e é provável que tenha construído o porto ao sul com um quebra- mar adjacente. Nenhuma menção dele foi encontrada em outros registros da m esma época.16.31. Baal. M elqart era o principal deus de Tiro desde o nono século a.C.. Ele é comparado a Nergal, o deus mesopotâmico/senhor do mundo inferior, e mais tarde com Heracles, o deus grego. Às vezes, é descrito como Baal de Tiro, por isso, sua identificação como o Baal que goza da lealdade de Jezabel e de Acabe. Deve-se entender que se trata de um deus diferente do Hadade cananeu, que geralm ente tam bém é denom inado de Baal, no texto b íblico. N a inscrição aramaica de Bir-Hadade, do nono século, M elqart é um deus guerreiro, mas nenhum mito relacionado a suas atividades foi preservado desde o período vete- rotestam entário. Em textos posteriores, este último tam bém é visto como o deus da morte e da ressurreição (relacionado ao ciclo da natureza), que parece ser trazido de volta à vida pelo fogo. Visto que a Bíblia nunca faz uso do título Melqart, algumas alternativas são possíveis. A m ais com um é que Baal seja Baal Sham em (senhor dos céus), conhecido no prim eiro milênio como um dos principais deuses da Fenícia. A m aior parte das inform ações sobre ele, porém, vem após 800 e, portanto, pouco se pode afirm ar a seu respeito quanto ao período desta narrativa.16.32. tem plo de B aal em Sam aria. Escavações em Sam aria ainda não localizaram vestígios do templo que Acabe construiu para Baal. Foi sugerido que esse
templo contribuiu para o conceito promovido por Acabe e Jezabel de que a cidade era a m orada sagrada desse deus (acerca dos privilégios de tal posição ver o com entário em 2 Sm 5.9). Isso significa que a cidade funcionava como um a unidade política independente, assim como acontecia com freqüência a Sião, no sul. Para as implicações disso, ver os comentários em2 Rs 10.21.16.33. poste sagrado. *Aserá era o nome da deusa da *fertilidade e também a denominação dada a um objeto de *culto (como é o caso desses postes). Essa deusa era bastante popular nos desvios pagãos de Israel e às vezes era até mesmo considerada a cônjuge de Yahweh. Um indício dessa crença encontra-se nas inscrições de K u n tille t A jru d e K h irb et el-Q om . N a m ito logia Cananéia, ela era a consorte do deus principal, *E1. Ela aparece na literatura m esopotâmica, desde o século dezoito, sendo a esposa de Amurru, o deus *amorreu. O sím bolo *cultual podia ou não trazer em si uma im agem da divindade. O poste podia representar uma árvore artificial, visto que Aserá muitas vezes é associada a bosques sagrados. Às vezes, o objeto de culto era feito ou construído, ao passo que em outras ocasiões, era plantado. Temos poucas informações acerca da função desses postes na prática *ritual.16.34. a reconstrução de Jericó. Josué proferira uma maldição contra qualquer um que reconstruísse a cidade de Jericó. Muitos intérpretes acreditam que fazia parte dos costum es da época sacrificar um filho na ocasião da dedicação de uma construção. Esse argumento foi usado para explicar os restos de esqueletos de crianças encontrados debaixo de soleiras de portas (sacrifícios nos alicerces). De modo semelhante, o construtor de uma cidade ofereceria um filho em sacrifício que seria enterrado numa parte importante dali. Essa interpretação tem sido amplamente desconsiderada e alguns pesquisadores agora vêem um a relação entre a maldição e a doença da esquistossomose (bilharzíase). Essa doença é causada por um verm e cujo hospedeiro é um tipo de caracol encontrado em abundância em Jericó. Em contato com a pele hum ana, penetra no tegum ento e é carregado pela corrente sangüínea. Contamina o trato urinário, afeta a fertilidade e causa m ortalidade infantil.
17.1-18.15 Elias e a seca17.1. T isb e, em G ileade. Tisbe não é mencionada em nenhum outro trecho do A ntigo Testam ento e sua localização é desconhecida. A identificação tradicional, Istib, cerca de treze quilômetros ao norte do rio Jaboque, oferece poucas evidências para endossá-la.17.1. chuva retida e Baal. A política e as ações de Acabe e Jezabel tinham como objetivo promover Baal
com o a divindade nacional de Israel em lugar de Yahw eh. A disputa da qual Elias sai vencedor diz respeito a qual divindade é rei - qual é a mais poderosa. N o m aterial cananita disponível na literatura antiga (particularmente as informações fornecidas pelos tabletes ugaríticos), Baal é o deus da tempestade e dos relâm pagos e é responsável pela fertilidade da terra. Ao reter a chuva, Yahw eh está demonstrando o poder de seu senhorio na área específica da natureza em que Baal supostamente dominaria. Dar esse aviso de antemão para A cabe é o meio pelo qual o senhorio e o poder de Yahw eh estão sendo retratados. Se Baal é o provedor da chuva e Yahw eh anuncia que irá contê-la, a disputa está em andamento.17.3. riacho de Q uerite. Esse incidente demonstra o controle de Yahw eh através de sua capacidade de sustentar a quem Ele quiser. O uádi Querite não foi identificado com segurança. A NVI traduz a descrição como " a leste do Jordão", m as a expressão hebraica freqüentemente significa "a caminho de", sugerindo tratar-se do uádi que escoa para o Jordão, vindo do oeste. O uádi Quelt encaixa-se nessa descrição, sendo conhecido por seu terreno desolado. O uádi Sw enit corre além de M icm ás e, na metade do caminho para Jericó, encontra-se com o uádi Quelt, que é a principal passagem para a região do Jordão. Ficaria 48 quilômetros a sudeste de Samaria, cuja alternativa seria o uádi Faria, que encontra o Jordão nos vaus de Adam.17.4. alim entado por corvos. Os corvos abrigam -se em áreas rochosas e desertas como os uádis. Seu hábito de estocar reservas de alimento em fendas de rocha redundou para o benefício de Elias. Ele podia observar onde os corvos colocavam os alimentos e os retirava para seu consumo. Embora grande parte da dieta de corvos consista de carniça, eles tam bém comem frutas como tâmaras.17.9. Sarepta. Sarepta (moderna Sarafand) é uma cidade perto da costa do M editerrâneo, entre Tiro e Sidom. É alistada como uma cidade portuária nos textos egípcios do século treze a.C.. Foi um florescente centro industrial e de manufatura durante o primeiro milênio a.C. até os tempos romanos. Sua importância aqui é por m ostrar que Yahw eh provocou seca no próprio território de origem de Baal.17.10. colhendo gravetos à porta da cidade. A m ulher está colhendo gravetos para fazer um a pequena fogueira. O verbo sugere a coleta de restolhos que foram jogados fora. O tráfico pelos portões da cidade e o choque de cargas faria dali um local provável para encontrar pequenos pedaços que haviam sido derrubados por outros.17.10. viúva. Numa sociedade sujeita a guerras e conflitos, era comum encontrar viúvas. Visto que elas não tinham direito a herança, a lei lhes garantia condições
de vida especiais, perm itindo que respigassem em campos ceifeiros e oferecendo proteção para que não fossem oprimidas. Elas necessitavam do respaldo da lei porque eram incapazes de se proteger e geralmente dependiam de caridade para sobreviver. Com base nas afirm ações dos prólogos dos Códigos de *Ur- Nammu e de *Ham urabi, fica claro que os reis consideravam parte de seu papel enquanto "sábios governantes" proteger os direitos dos pobres, das viúvas e dos órfãos. Sem elhantem ente, no texto egípcio "A Lenda do Camponês Eloqüente", o querelante começa identificando seu ju iz como "o pai dos órfãos, o esposo das viúvas". Se um deus iria demonstrar seu papel como um rei, uma form a clara de fazê-lo era mostrar seu cuidado para com os m ais fracos, suprindo as necessidades de uma viúva que se encontrava em situação desesperadora.17 .10 ,11. o pedido de Elias. O pedido de Elias poderia ser considerado bastante modesto dentro da prática comum de hospitalidade (que com freqüência era oferecida à porta da cidade). Entretanto, num período de seca e fome como este, serviu apenas para expor a crise pessoal e coletiva que assolava a todos.17.12. o Senhor, teu D eus. Aqui a m ulher refere-se claramente ao Deus israelita, Yahweh. Deveria haver algo na aparência de Elias que o identificava como israelita e a mulher segue o protocolo padrão, fazendo um juram ento em nome da divindade daquele com quem ela estava falando. Embora ela use uma fórmula comum de juram ento, também afirma, involuntariamente, a vitalidade de Yahweh. Sua expressão não evidencia nenhuma crença pessoal nele.17.12. farin ha e azeite. Um dos alimentos assados que faziam parte de uma refeição básica era um pequeno bolo achatado feito de farinha de trigo e cozido no azeite.17.14. provisão de farinha e azeite: fertilidade. Cereais e azeite eram os dois principais produtos de exportação da cidade de Sarepta. O fato de haver escassez deles é um indício do quanto aquela seca estava sendo rigorosa. Eles também são dois dos itens m ais básicos para a sobrevivência. Como produtos essenciais, são alguns dos principais símbolos de fertilidade. A disputa entre Yahw eh e Baal continua à medida que Yahw eh demonstra ser capaz de prover sustento para o "povo de Baal", no "território de Baal", com a mesm a facilidade com que é capaz de sustentar seu próprio povo e reter o sustento de quem ele desejar.17.18. m orte do filh o relacionada ao profeta. O s profetas eram m uitas vezes considerados perigosos e conviver com um deles representava um risco considerável. Os deuses podiam ser cruéis algozes com a mesm a freqüência com que podiam ser benfeitores generosos. A lém disso, se o profeta fosse ofendido ou ficas
se irado por algum a coisa, m esm o que pequena, e num momento de descontrole, proferisse algum tipo de maldição, inevitavelmente ela se cumpriria. A mulher presume que a morte de seu filho é castigo por causa de alguma suposta ofensa (ainda que desconhecida) que teria chamado a atenção da divindade por causa da presença do profeta ali. Até então ela havia se beneficiado da presença de Elias, mas agora avalia que o custo era alto demais.17.21. deitou-se sobre o m enino três vezes. Alguns estudiosos interpretaram a ação de Elias como um tipo de ressuscitamento boca a boca, visto que nos tempos antigos a morte era determinada quando se constatava que a pessoa havia parado de respirar. M as o peso de um homem em cima de uma criança seria contraproducente a esse procedim ento. A descrição m ais completa do processo, em 2 Rs 4.34, 35, sugere uma explicação distinta. N a literatura de encantam ento mesopotâmica, tocar cada parte do corpo é um meio pelo qual os demônios exercem poder sobre suas vítimas pretendidas - é a expressão para possessão demoníaca. Nessa crença, a vitalidade ou a essência da vida podia ser transferida de um corpo para o outro pelo contato de cada parte. Imitando o procedimento que, segundo a crença, era usado por demônios, o profeta é capaz de expulsar os demônios e restaurar a vida do menino através do poder de Yahw eh (observe a oração). Isso muitas vezes é considerado como um dos casos mais evidentes de simpatia na Bíblia.17.22. o retorno da vida versus Baal. Parte do perfil dos deuses de fertilid ad e era o ciclo de m orrer e reviver, relacionado à vegetação e às estações. A divindade "m orria" durante os meses de inverno e descia ao mundo inferior. Na primavera, voltava de lá e revivia para trazer a fertilidade novam ente à terra: não só às plantações, mas também aos animais e pessoas. Como um deus que regularm ente voltava da morte, acreditava-se que esses deuses da fertilidade tivessem o poder de ocasionalmente restaurar a vida de alguém que tivesse morrido. Portanto, ao recuperar a vida do m enino, Y ahw eh novam ente está dem onstrando seu poder na esfera de dom ínio considerada jurisdição de Baal (ver o comentário em 2 Rs4.16-35).
18.1-46A disputa no monte Carmelo18.3. O badias, o responsável pelo palácio. Obadias ocupava um dos mais elevados postos administrativos (ver o com entário em 4.6). Em bora essa função mais tarde tenha se tom ado equivalente à do primeiro-ministro, neste estágio é provável que designasse o gerente ou adm inistrador das terras e bens reais.
A firm a-se que seja o título de um oficial cham ado Gedalias, num selo do sexto século em Láquis.18.4. exterm inando os profetas do Senhor. Os sistemas relig iosos padrões do antigo O riente Próxim o eram abertam ente tolerantes ao culto de qualquer divindade. Ignorar um deus potencialm ente poderoso ou perseguir seus adoradores faria com que as pessoas ficassem vulneráveis à ira e ao castigo divinos. A intolerância ou perseguição relig iosa surge apenas mais tarde, na história. Práticas desse tipo, no m undo antigo, geralm ente são de n atureza política. Q uando o faraó eg ípcio A quenaton se opôs aos sacerd otes de Amom-Rá, foi por causa da influência política e econôm ica que eles exerciam. Ele tinha como objetivo desm antelar seu poder. O alvo de Jezabel era entronizar Baal como o rei e deus nacional de Israel no lugar de Yahweh. Sua lealdade a Baal foi demonstrada através desse ato de exterm ínio. Os profetas de Yahw eh teriam, é claro, contestado essas m udanças com base em argumentos religiosos, políticos, pessoais e tradicionais. Eles seriam capazes de mobilizar uma oposição, formal e em larga escala, dentre a população comum. Portanto, considerando-se a influência política desses profetas, eles teriam que ser elim inados.18.19. m onte Carmelo. É provável que o monte Carmelo, ao sul do m oderno porto de Haifa, tivesse servido por muito tempo como uma fronteira natural entre Israel e a Fenícia e era, como muitas montanhas, considerado um local sagrado. Desde as listas do faraó Tutmés III (século quinze), Carmelo provavelmente é identificado como uma montanha sagrada nas proximidades de Aco. Também é o local onde o rei assírio Salmaneser III coletou tributo de Tiro e de Jeú, rei de Israel, em 841. O nome Carmelo na verdade refere-se a uma cadeia montanhosa que se estende por cerca de 50 quilômetros desde seu afloramento até o mar M editerrâneo, a sudeste, em direção a Megido, e fica na extremidade noroeste do vale de Jezreel. Não se sabe ao certo qual dos montes dessa cadeia foi o local da competição entre Elias e os profetas de Baal. O lugar de adoração em montanhas sagradas geralmente ficava na base e não no cume, que era considerado terreno santo, inacessível às pessoas comuns. No desenrolar do episódio, Elias sobe até o cume para oferecer sua oração pedindo chuva (v. 42).18.19. com em à m esa de Jezabel. É interessante notar que é a mesa de Jezabel, e não a de Acabe, que serve aos profetas de Baal e de Aserá. Esse dado sugere que ela tinha seus próprios recursos e aposentos de refeições e que era também a protetora e benfeitora desses profetas.18.23,24. a competição. Existem três conceitos significativos no fato da disputa estar centrada na habilidade da divindade em m andar fogo para o sacrifício. (1)
O fog o é um indício da presença de Deus. Em textos bíblicos, tanto na sarça ardente, na coluna de fogo quanto na visão do trono tida por Ezequiel (1.4), o fogo é visto como um elemento presente nas teofanias (aparição de D eus). D esse m odo, na disputa, cada divindade teria que se revelar. (2) O fogo está relacionado aos relâmpagos do deus da tempestade. Como deus da tempestade, Baal é retratado, em figuras, com raios em suas mãos e em textos, como lampejando relâmpagos ou fogo. Em um desses escritos, o fogo é até mesmo usado por Baal como um instrumento para construir sua casa. Portanto, ele era considerado por seus adoradores como o senhor do fogo. Mais um a vez, o propósito da narrativa é mostrar a superioridade de Yahw eh em cada área do suposto domínio desse deus, por isso, a habilidade de m andar fogo é estratégica.(3) O fog o representa a aceitação do sacrifício. Esse tipo de oferta queimada geralmente era dedicado quando uma petição era dirigida à divindade. Neste caso, o pedido que todos tinham em m ente era o fim da seca. Se ambos os grupos estavam orando pelo fim da estiagem, quando a chuva chegasse, cada um atribuiria esse resultado ao seu próprio deus. D iante disso, a competição é preparada de form a a demonstrar qual divindade responderia a seus seguidores. Se fogo fosse enviado, a oração teria sido atendida e a chuva subseqüente poderia ser atribuída som ente à divindade correta. Portanto, é importante reconhecer a íntim a relação entre o envio do fogo e da chuva.18.26-29. os profetas apelam a Baal. A NVI fala dos profetas "dançando em volta do altar" e "ferindo-se com espadas e lanças" (v. 28). N a primeira parte da descrição, o verbo é controverso. É o mesmo traduzido como "páscoa" em Êxodo 12 (ver o comentário em Ex 12.11) e pode ser entendido de forma m ais clara como um permanente estado de alerta e vigília visando proteção. Certamente há abundância de evidências de danças rituais no mundo antigo, porém, nenhum a delas encontra-se na literatura relacionada aos cananeus. A autolaceração deste versículo faz parte de um ritual de luto. Na literatura ugarítica, os deuses são retratados fazendo o mesmo quando ficam sabendo da morte de Baal. Há ainda um texto da sabedoria acadiana de U garit que com para o sangram ento de ritos de luto àqueles praticados por profetas estáticos.18.27. a zom baria de Elias. O texto bíblico apresenta quatro atividades que Elias sugere a respeito de Baal: meditar, estar ocupado, viajar e dormir. Elas podem ser comparadas àquelas dos textos ugaríticos, em que esse deus está envolvido. Quando a deusa Anat vai procurar Baal, ela descobre que ele está caçando. A literatura ugarítica, que retrata sua morte, contém o refrão repetido de que ele precisa ser despertado. A fonte clássica usada por Josefo, M enander de Éfeso,
relata que o rei de Tiro, H irão, contem porâneo de D avi, institu iu o ritual para despertar H eracles (= Melqart, ver o comentário em 16.31). A m itologia do mundo antigo entendia que os deuses se envolviam num a série de atividades parecidas com aquelas praticadas pelos seres humanos. Embora as palavras de Elias devam ser entendidas como zombaria, não são um retrato irrealista das crenças cananéias. Os profetas de Baal não teriam encarado suas sugestões como ridículas ou indignas de uma divindade.18.30. Elias reparou o altar. Os termos usados sugerem a existência de um altar anterior, para o culto de Yahw eh, que estava estragado devido a um ato de destruição. Pode-se provavelm ente inferir que esse altar fora derrubado como resultado do culto a Baal, promovido por Jezabel. Com freqüência, durante uma reforma religiosa, altares rivais ou inaceitáveis eram destruídos. M uitas vezes acreditava-se que a localização precisa de um santuário fora determinada pela divindade e era significativa. Portanto, mesmo que Elias, na verdade, tenha "construído" um altar (v. 32) com doze pedras, que provavelmente comporiam ele inteiro, essa ação pode ser descrita como um "conserto ", no sentido de que havia uma continuidade no uso do local onde ficava o altar anterior.18.32. tam anho e objetivo da valeta. O tamanho da valeta é descrito como algo que poderia conter duas medidas de sementes, não sendo, assim, muito grande. Talvez o texto esteja fazendo referência a um recipiente padrão, que continha (no texto hebraico: "abrigava") essa quantidade de sementes (do m esmo modo que hoje iríam os nos referir a um a garrafa de dois litros), e está sugerindo a profundidade da valeta cavada ao redor do altar. O propósito dessa cavidade era recolher o que transbordasse, que de outro modo simplesmente seria absorvido pela terra seca.18.33, 34. encharcar o sacrifício . Alguns estudiosos consideraram que derram ar água sobre o altar teria sido visto como um grande desperdício por aqueles que estavam agonizando o terceiro ano de uma seca. Deve-se lembrar, no entanto, que não há indicação de que se tratava de água potável fresca. H avia abundância de água, embora não potável, no mar M editerrâneo que ficava ali perto.18.38. fogo do Senhor. De modo geral, os deuses da tempestade do antigo Oriente Próximo eram guarnecidos de raios e relâm pagos que serviam como instrum entos para enviar fogo. Os reis assírios desse período falam dos deuses como um a chama ardente, enviando fogo adiante deles. Esaradon (na Assíria do sétimo século) usa a figura de um fogo inextinguível para descrever sua marcha e ataque. Todas essas imagens eram a maneira como se acreditava que a divindade fosse para a batalha. O fogo provocado por raios
era um a de suas principais armas. Em bora os eventos, no m onte Carm elo, não dem onstrem Yahw eh usando esse elemento para destruir seus inimigos, é usado como um meio para derrotar Baal, seu oponente. Outra ocorrência de fogo do Senhor consumindo um sacrifício aparece na ordenação de Arão e seus filhos (Lv 9.24).18.40. riacho de Q uisom . O riacho de Quisom corre do noroeste para o norte do vale de Jezreel até o M editerrâneo, a leste de Haifa. Alimenta-se das montanhas da cadeia do Carmelo e das colinas da Galiléia que cercam Nazaré.18.44. nuvem. O texto não oferece nenhum indício da época do ano em que esse episódio acontece. Os verões geralmente são privados de chuva na Palestina, embora haja ocasionalmente nuvens no céu. O inverno é o período das águas. Quando a estação chuvosa tem início no outono, pancadas de chuva muitas vezes são trazidas rapidamente do oeste (do mar), como se observa aqui. Comparar o tamanho da nuvem com a mão de um homem indica como ela estava longe - ao segurar a mão esticada na direção da nuvem, ela ficaria fora do alcance de sua visão.18.45. Jezreel. Jezreel ficava entre 24 a 32 quilômetros da área do Carmelo. Essa localidade de quinze acres estava situada na entrada sudeste do vale de Jezreel, entre a colina de M oré e o monte Gilboa. Foi aqui que Acabe construiu um a capital onde passava o inverno. Escavações trouxeram à tona um grande recinto real murado que data desse período, ocupando um a am pla porção da colina (ver o comentário em 21.1).18.46. prendendo a capa com o cinto. A expressão original "cingir o lom bo" em geral envolve prender firm em ente um a veste larga ou dobrar um a roupa longa no preparo para alguma atividade física desgastante. Essa passagem, em particular, é difícil porque o verbo usado é peculiar a este versículo e seu significado é incerto. Assim , por exem plo, se Elias "cing iu seus lom bos" para a m atança dos profetas, ele poderia m uito bem estar fazendo o oposto aqui. Apesar da tradução da NVI fazer menção a uma capa, nenhuma indumentária é mencionada no texto original.18.46. Elias correu à frente de A cabe. Esse versículo não fala de correr mais rápido, mas de correr à fren te do carro de A cabe, até chegar a Jezreel. A queles que corriam à frente da carruagem de um rei ou príncipe formavam sua escolta ou séquito (ver o comentário a respeito dessa m esm a expressão em 2 Sm 15.1). Elias, sob o poder de Yahweh, desempenhou o papel de um arauto profético, aparentemente proclamando sua lealdade a E le e a m udança de atitude de Acabe. O poder de Yahw eh traz bênção, sucesso e vitória. Em textos hititas, são os deuses que correm à frente da carru agem do rei - aqui Elias faz o m esm o como
representante de D eus. Bir-Rakib, o rei aram eu do oitavo século, descreve a si mesmo, como um vassalo leal ao rei assírio Tiglate-Pileser III, com a expressão "correndo à sua roda".
19.1-18 A fuga de Elias19.3. Berseba. Berseba ficava no extremo sul da terra. Estava localizada no norte do Neguebe, em Tell es- Seba' (cerca de cinco quilômetros a leste da moderna cidade). Seu nom e deriva de sua associação com os poços cavados para fornecer água às pessoas e rebanhos dessa área (ver G n 26.23-33). Foram encontradas evidências arqueológicas de ocupação desde a monarquia até o período persa.19.4. cam inhada de um dia até o deserto. Elias aparentem ente está indo para o sudeste, em direção à península do Sinai. Um dia de jornada o teria levado a um terço do caminho para Cades-Barnéia.19.4. pé de giesta. A giesta (retama raetam) é comum nesta região e cresce de um metro e meio a três metros de altura. É o único arbusto que oferece sombra nessa região seca e desértica.19.5-7. provisão do anjo. Não há nada de surpreendente na descrição do alimento providenciado pelo anjo. É o m esm o que E lias pedira à viúva que lhe preparasse (ver 17.13). Talvez m ais significativo seja o fato de que os israelitas, em sua peregrinação pelo deserto, tenham feito esse tipo de pão ou bolo com o m aná (Nm 11.8).19.8. viagem a H orebe. Horebe é outro nome para o monte Sinai. Se o Sinai de fato encontra-se na região sul da península, como o texto parece afirm ar (ver comentário em Ex 19.1, 2), Elias teria que viajar 320 quilômetros, um a distância que ele levaria quarenta dias para percorrer. Um a caravana geralm ente conseguia percorrer cerca de trinta quilôm etros por dia, mas Elias não estava acostumado com esse tipo de viagem e estava sozinho. Nessas condições, e considerando o clima da região, oito quilômetros por dia não era incomum.19.11-13. fogo, vento e terrem oto com teofania. Umateofania é a aparição da presença divina. No antigo Oriente Próximo, a manifestação de Deus geralmente estava relacionada às batalhas, e acreditava-se que o deus guerreiro lutasse em defesa de seu povo usando raios de tempestade (relâmpagos, fogo), ventos e trem ores de terra para assu star o inim igo. No texto sumério Exaltação de Inana, nos mitos hititas sobre o deus da tempestade e nas mitologias acadiana e uga- rítica, os deuses eram vistos como trovões no julgamento contra seus inimigos. Baal é ilustrado segurando raios nas mãos. A terminologia do trovão aparece na retórica real de reis assírios ou hititas que descre
vem a si mesmos como instrumentos dos deuses, trovejando contra aqueles que tivessem violado tratados ou se colocado como um entrave à expansão do império. O Yahw eh de Israel também era visto como um Deus guerreiro; m as aqui, Elias vê que há m uito mais que isso (ver o comentário seguinte).19.12-17. o plano de Yahw eh. No antigo Oriente Próximo, acreditava-se que os deuses fossem responsáveis pelos eventos da história. Os reis afirmavam que haviam sido colocados no trono por sua divindade protetora de quem tinham apoio e recebiam orientação, conduzindo-os à vitória e ao sucesso. É interessante observar, porém , que esse envolvim ento dos deuses sem pre parecer ter um tom de propaganda política. Nessa época, as divindades não tinham um plano que revelassem aos humanos. Embora existisse a crença de que fossem responsáveis pelo curso dos acontecimentos, não há nenhum indício de que tivessem um projeto para o desenrolar dos fatos. Aqui fica claro para Elias que Yahw eh não é simplesmente um guerreiro irascível protegendo ou destruindo reis arbitrariamente a seu bel-prazer, como o faziam os deuses do antigo Oriente Próximo. Ele tinha um propósito para a história. Sua guerra não era simplesmente uma carnificina fruto de sua ira - havia um intento m aior que estava sendo cuidadosamente executado. Quando todo o fogo, a tempestade e o terremoto tivessem passado, o plano poderia ser articulado. A "brisa suave" do verso 12 não é uma descrição de como o Senhor fala, m as reflete o silêncio ressonante que se segue ao clamor de destruição. É no silêncio que a voz orientadora de Yahw eh pode ser ouvida.19.15,16. ungir três substitutos. Elias errou ao pensar que ele era indispensável, a última e única esperança de Deus. Ao anunciar três sucessores, o Senhor está deixando claro que Ele nunca fica sem recursos. O rei arameu, Hazael, seria um instrumento de Deus para punir Israel (para m ais informações, ver o comentário em 2 Rs 10.32), Jeú se tom aria rei dessa nação e no processo traria o castigo do Senhor sobre a casa de Acabe (para m ais informações, ver o comentário em 2 Rs 10) e Eliseu continuaria a obra profética de Elias.19.15. deserto de D am asco. O deserto de Damasco refere-se ao grande deserto sírio que se estende desde Damasco até a bacia do rio Eufrates. Era ao redor dali que havia o "crescente fértil".19.16. A bel M eolá. A bel-M eolá fica localizada na m argem oeste do Jordão em algum ponto ao sul de Bete- Seã. A candidata mais provável é Tell Abu Sus, cerca de dezoito quilômetros ao sul de Bete-Seã, onde o rio Yabis desemboca no Jordão, vindo do leste.19.18. bocas que não beijaram a Baal. Na esteia negra de Salm aneser III, o rei israelita Jeú é retratado beijando o chão diante do rei assírio. Em Enuma Elish,
o tribunal dos deuses beija os pés de M arduque após ele ter sufocado a rebelião e se estabelecido como líder do panteão. Esse era um ato comum de subm issão oferecido a reis e deuses. Igualmente, o beijo do ídolo envolvia beijar seus pés como um ato de hom enagem , subm issão e lealdade. N as cartas de M ari, o governador de Terqa, Kibri-Dagan, aconselha Zinri- Lim, rei de Mari, a dirigir-se a Terqa para beijar os pés da estátua do deus Dagan.
19.19-21Eliseu é escolhido como aprendiz19.19. arando com doze parelhas de bois. Proprietários de grandes áreas podiam realizar a tarefa de arar a terra, mais rapidamente, usando múltiplos arados, cada um puxado por um par de bois conduzidos por um trabalhador. N este contexto, Eliseu está no comando de doze dessas parelhas.19.19. a capa do profeta. A capa m encionada neste versículo é um a veste usada por cima da túnica, diferente da roupa discutida em 1 Samuel 15.27. A capa característica do profeta provavelm ente era feita de pele de animal, revestida de pêlos (ver Zc 13.4), embora nem todas fossem do m esm o m aterial. M uito pouco está registrado a respeito da indumentária desses profetas no antigo Oriente Próxim o, por isso, fica difícil fazer comparações. Pode ser de interesse que inscrições assírias desse período retratem alguns indivíduos usando capas com cabeça de leão em atividades rituais (dança) e ao lado de divindades. Supõe-se que sejam exorcistas.19.21. a resposta de Eliseu . O beijo era usado com m ais freqüência na saudação de chegada do que na despedida (uma palavra acrescentada pelos tradutores da NVI, m as inexistente no texto hebraico). O beijo entre um pai (ou avô) e um filho ou filha é encontrado em diversos contextos como um prelúdio para receber um a bênção (Gn 27.26; 31.28, 55; 48.10) e pode estar implícito aqui. O sacrifício dos bois forneceu a comida para a celebração que tam bém acom panhava esse tipo de favor divino. Parece, então, que Eliseu pediu permissão para receber a bênção de seus pais.
20.1-43Acabe e Ben-Hadade20.1. Ben-H adade, re i da S íria . A história dos ara- meus, desse período, ainda necessita de m uitos dados esclarecedores, sendo pelo menos parte do problema causado pela menção de diversos governantes com o nome de Ben-Hadade ("filho de [o deus] H adade"). A questão fica ainda m ais complicada pelo fato de que as in s cr içõ e s de S a lm a n e se r III d e n o m in am o governante dessa época como Hadadezer (ver o comentário em 2 Sm 8.3). O prim eiro Ben-Hadade foi
m encionado anteriormente no capítulo 15 e governou durante a primeira parte do nono século, embora não seja possível estabelecer a data precisa. Em 2 Reis 8, o rei assassinado por H azael (por volta de 824) é chamado de Ben-Hadade, e Hazael,,mais tarde, é sucedido por um rei tam bém com esse nom e. O nom e Bir- H adade ocorre num a inscrição dedicada ao deus M elqart, m as novam ente não fica claro a qual Ben- Hadade se refere. Foi sugerido que a seqüência pode ser Ben-Hadade I (1 Rs 15), Ben-Hadade II (1 Rs 20), H adadezer (Inscrição de Salmaneser, considerada por alguns estudiosos como um a variante de Ben-Hadade), Ben-Hadade III (inscrição de M elqart), H azael, Ben- Hadade IV. Até hoje não foi encontrado nenhum outro m aterial do antigo O riente Próxim o que possa ajudar a elucidar todo esse emaranhado.20.1. trinta e dois reis. M uitos pequenos reinados freqüentem ente se uniam nessa época. Quando Salmaneser III invadiu o oeste em 853, na batalha de Qarqar, ele foi recebido por uma coalizão de doze importantes reis. A sua inscrição alista o núm ero de cavalaria, infantaria e carros de guerra fornecidos pelos vários m em bros dessa coalizão. A inda havia m uitas Cida- des-estado e grupos tribais nesse período, cada qual com seu "re i"; por isso, não é difícil imaginar trinta e dois deles reunidos.20.5, 6. condições do tributo. Acabe inicialmente estava preparado para atender às exigências do tributo e da rendição pacífica im posta por Ben-H adade. A relação de vassalo, que resultaria desse acordo, envolveria m em bros de sua fam ília sendo levados como reféns para assegurar que as condições seriam satisfeitas. A prática assíria, deste período, era levar os príncipes como reféns para "m otivar" o bom comportamento por parte do rei vassalo, e aqui os arameus estão fazendo o mesmo. Quando Ben-Hadade percebe que Acabe está bastante disposto a colaborar, insiste em que o direito do confisco seja estendido a qualquer coisa de valor que fosse encontrada no palácio.20.13,14. papel do profeta. Nesse período da profecia pré-clássica, os profetas de Israel desempenhavam um papel bastante parecido ao de seus colegas do restante do antigo Oriente Próximo (ver os comentários em Dt18.14-22). Um a das áreas em que atuavam com mais freqüência, como aqui, era como conselheiros de atividades militares. Visto que se acreditava que o envolvim ento de D eus era essencial para o sucesso das forças armadas, toda seqüência de eventos tinha início com a ordem divina para ir à batalha. Essa ordem pode ser vista em inscrições reais dos assírios. Tam bém era im portante consultar a divindade sobre as estratégias e momentos oportunos para a m ovimentação das tropas. Durante o período de Saul e Davi, esse tipo de informação geralmente era obtido através da
m anipulação de objetos oraculares pelo sacerdote (ver os comentários em 1 Sm 14.10; 22.10; e 23.9-12). Diferentemente agora, no entanto, as perguntas eram feitas a um profeta que, como representante de Deus, transmitia os oráculos proféticos como respostas vindas de Deus.20.23, 28. deus das m ontanhas, deus dos vales. Nocenário politeísta do antigo O riente Próxim o, geralmente considerava-se que os deuses atuassem em ju risdições específicas, assim como líderes políticos. Esse domínio territorial podia ser dividido ao longo das linhas divisórias de cada nação (com suas respectivas divindades) ou por áreas topográficas ou fronteiras naturais (rios, m ontanhas, lagos, planícies), como se vê neste contexto. O fato de Israel ser um país m ontanhoso e das capitais, Samaria e Jerusalém, ficarem em áreas elevadas fom entaria a especulação de que as montanhas eram a jurisdição de Yahweh.20.24,25. estratégia planejada. As táticas usadas para essa segunda campanha são significativamente diferentes. N a primeira investida, a coalizão dos arameus atacou Samaria diretamente com o objetivo de fazer um cerco. Na segunda fase da batalha, a ênfase não era m atar o povo de fome ou penetrar na cidade por brechas nos muros, e sim fazer um a guerra de trincheiras em terreno aberto onde os arameus pretendiam ganhar vantagem por causa de seus carros de guerra e cavalaria. Não se sabe se foi devido à m udança nas táticas de batalha ou por causa da derrota da prim eira campanha que os arameus designaram um novo grupo de comandantes e colocaram novos recrutas nas tropas.20.26. A feque. A identificação do local onde essa batalha foi travada é complicada por existirem diversas cidades diferentes com o nome de Afeque, no antigo Israel (talvez cinco delas). A que tem sido comumente indicada como o local da batalha fica situada a leste do mar da Galiléia, na rota de D amasco para Israel. O problema é que fica difícil imaginar os arameus escolhendo um lugar tão longe da Samaria ou os israelitas deslocando-se tão longe para o confronto. Algum lugar nas proxim idades da planície de Jezreel é mais lógico, e o uso de Afeque, como um ponto de reunião das tropas dos filisteus na batalha de Gilboa, torna essa alternativa igualmente m ais provável (compare com os comentários em 1 Sm 28.4 e 29.1).20.30. fuga para A feque. Visto que a localização de Afeque ainda não foi identificada, é im possível com entar sobre o registro arqueológico de fortificações. A queda do muro não é especificamente atribuída a um cerco, à abertura de brechas nem à intervenção divina. U m a das principais táticas para provocar essa queda era fazer túneis debaixo dele. De fato foi sugerido que o objetivo de fossos secos (cavados até o leito
das rochas) e de ram pas de terra, ao redor desses muros, era evitar a construção de passagens subterrâneas que viessem a ameaçar sua estabilidade. Se seu alicerce fosse enfraquecido, a estrutura de cima inevitavelm ente cairia.20.31. panos de saco e cordas. Vestir pano de saco era um sinal comum de luto. O sarcófago de Airão apresenta figuras de m ulheres com algo sem elhante a panos de saco enrolados ao redor dos quadris, por cima de suas saias. As cordas provavelm ente eram um símbolo de servidão; logo, ao fazer uso delas em volta do pescoço, os arameus estariam se considerando cativos dos israelitas. Relevos assírios e egípcios ilustram escravos da Síria com um a corrente em volta do pescoço.20.33. o fez subir no seu carro. Um vassalo deveria correr ao lado da roda da carruagem (como na inscrição do aram eu Bir-Rakib), enquanto alguém de igual status seria levado dentro do carro. Ao referir-se a Ben-Hadade como seu irmão e ao levá-lo em sua carruagem, Acabe está expressando sua disposição em renegociar o acordo prévio. É provável que Acabe fosse considerado anteriormente um vassalo de Ben- Hadade; nesse caso, haveria um tratado de suserania entre eles, cujas condições exigiriam que Acabe pagasse tributo e se submetesse à autoridade da Síria. Nessa nova relação de "irm ão", um tratado de igualdade seria firmado entre eles, pelo qual não haveria cobrança de tributos. Eles estariam nas mesmas condições, garantiriam apoio m ilitar mútuo, abertura de rotas de comércio e iguais oportunidades de negócios entre eles. Em vez de se beneficiar neste acordo, fazendo de Ben-Hadade seu vassalo, Acabe demonstra bondade, estabelecendo uma igual posição aos dois.20.34. condições do tratado. A devolução de território conquistado teria restaurado as fronteiras tradicionais entre as duas nações. A outra concessão de Ben-Hadade diz respeito a oportunidades de comércio. Um a das ações tomadas quando um a cidade passasse para o controle de um novo rei era construir um mercado para seus negociantes num a praça feita em sua honra. Um a colônia de mercadores passava então a residir na cidade para ali dirigir seus negócios. Essa prática é ilustrada pelo pátio fora do portão da cidade de Dã. Lá os arqueólogos escavaram uma série de prédios que foram identificados como um a área de lojas construída em honra ao conquistador aram eu, onde sua esteia (agora denom inada a "Inscrição da Casa de D avi") figurava com destaque.20.35-40. ações do profeta. O encontro inicial com o homem que se recusou a ferir o profeta deixou claro que até mesmo um ato de misericórdia, que desobedecesse a uma ordem de Deus, im plicava na perda da vida. A ferida que o profeta pede que lhe façam apa
rentemente é na cabeça, o que tom aria m ais realista a atadura usada por ele. Embora essa atadura fosse apenas seu disfarce, o ferim ento pode tê-lo ajudado a conseguir acesso ao rei. É interessante que, em bora o rei fosse conhecido por sua misericórdia (v. 31) e a tivesse dem onstrado para Bem -H adade, a sentença que ele dá a esse homem não tem nada de misericordiosa. Um talento (trinta e cinco quilos) de prata era um a quantia exorbitante e sugere que o prisioneiro era um a pessoa muito importante. A respeito de "d iscípulos dos profetas" (ou filhos), ver o comentário em1 Sam uel 19.20.
21.1-29A vinha de Nabote21.1. o palácio de Jezreel. Para comentários gerais a respeito de Jezreel, ver 18.45. O palácio em Jezreel foi escavado no início da década de 90 (1990). O recinto retangular cobria cerca de onze acres e era cercado por um a m uralha de casamata com torres nos cantos. Tinha um portão com seis câmaras, um fosso e rampas de terra ao redor. O fosso era escavado até a rocha e chegava a ter nove m etros de largura e em alguns pontos tinha quase seis metros de profundidade. Os fossos usados na Palestina não continham água e provavelm ente tinham o objetivo de evitar que túneis fossem cavados debaixo dos muros da cidade. Jezreel ficava a cerca de 37 quilômetros de Samaria.21.3. vinha como parte da herança. A oferta de Acabe é m ais do que justa e até m esm o generosa. A recusa de Nabote não se baseia m eramente em sentimentos do tipo " é propriedade e herança da fam ília", mas sim em questões teológicas. A posse da terra fora um presente da aliança. Distribuídos às tribos, clãs e fam ílias, os lotes de terra representavam o seu patrimônio e a parte que tinham nas promessas e benefícios dessa aliança (para m ais informações ver o comentário em Lv 25.23). Documentos de M ari e de Ugarit confirmam a prática de posse permanente de terra e regras rígidas sobre a transferência de propriedade, em bora não seja apresentada uma explicação religiosa para tal prática. Tam bém é possível que, como residência real, Jezreel desfrutasse de um a posição privilegiada, na qual todos os m oradores gozassem de certos benefícios (ver o comentário em 2 Sm 5.9). Dentre eles estava a proteção contra a expropriação real da terra, até m esm o no caso de troca por uma outra propriedade.21.7. direitos do rei. Acredita-se que essa passagem represente uma verdadeira distinção entre os direitos estendidos ao rei em Israel e os que vigoravam na Fenícia. A s diferenças envolviam questões concernentes (1) à posse final da terra e (2) ao poder absoluto do rei. N a prim eira categoria, os israelitas acredita
vam que toda a terra pertencia a Yahweh, ao passo que os fenícios consideravam -na como feudos reais, ou seja, toda a terra pertencia ao rei, mas era cedida por ele. Na segunda categoria, o reinado israelita foi idealizado para que fosse menos despótico do que a maioria das monarquias - o rei não estava acima da lei. Por não ser israelita, Jezabel não estava acostumada a tais delicadezas.21.9. decretar um dia de je ju m . Os jejuns podiam ser decretados pelo rei e geralmente eram proclamados no contexto de algum tipo de situação crítica (ver 1 Sm7.6). Por exemplo, num período de seca como aquele que atravessavam, um dia de je jum serviria ao propósito de orar, pedindo chuva, e talvez identificar as ofensas que poderiam potencialm ente ter trazido a seca. Assim como Davi determinou que os membros da família de Saul fossem mortos para retificar a ofensa de 2 Samuel 21, aqui a morte de Nabote seria uma tentativa de trazer um fim a qualquer situação que fosse o motivo do jejum.21.9. colocar sentado. O lugar de destaque dado a Nabote, para que se assentasse, refletiria seu status na comunidade e o apanharia na alegação de que suas ações afetavam toda a comunidade. As duas falsas testemunhas foram colocadas à frente dele para que pudessem afirmar ter ouvido suas palavras.21.11-13. o crime de N abote. Am aldiçoar o rei, considerado culpado pela situação, geralmente implica na renúncia imediata de lealdade a ele (como em Jz 9.27, 28 e 2 Sm 16.7, 8). Amaldiçoar a Deus tam bém está relacionado à deslealdade e envolve a difamação ou o descrédito, às vezes através da atribuição de culpa. Isaías 8.21 apresenta a combinação da maldição tanto a D eus quanto ao rei no contexto de atribuir culpa pelas dificuldades ou crises. Como a comunidade estava sendo conduzida nesse je jum em busca do motivo que teria provocado esse m om ento difícil, essas duas testemunhas implantadas afirmaram ter ouvido Nabote culpar Deus e o rei. Isso era considerado traição, portanto, ele foi sentenciado à m orte pelos oficiais que haviam sido orientados a lidar com o caso daquela maneira. U m texto de A lalakh indica que se um homem é condenado à m orte por traição, suas propriedades passam a pertencer ao palácio.21.19. cães lam bendo o sangue. Os cães eram carniceiros que perambulavam pelas ruas e vielas alimentando-se de lixo. Quando o corpo de uma pessoa (quanto mais de um rei) era exposto, significava que não haveria honra na morte, nem mesmo um sepultamento decente. Acreditava-se popularmente que um enterro inadequado ameaçasse a vida após a morte (para mais informações ver o comentário em 1 Rs 16.4). Os israelitas acreditavam que o corpo ("carne") e o espírito de uma pessoa fossem inseparáveis. Logo, o in
divíduo era espírito e carne. Por causa disso, o cadáver era tratado com muito cuidado, visto que ainda era considerado parte da existência. Registros assírios do primeiro milênio demonstram esse tipo de conceito quando Assurbanipal pune seus oponentes, m andando que seus corpos sejam jogados nas ruas e arrastados. Do mesmo período, um a maldição assíria declara: "Q ue os cães despedacem seu corpo exposto".21.27. a resposta de A cabe. V estir pano de saco e jejuar eram considerados alguns dos elementos básicos de arrependimento, bem como de luto, no antigo Israel. Há poucas evidências da prática do jejum no antigo O riente Próxim o fora da Bíblia. N o Antigo Testamento, o uso religioso do je jum geralmente está relacionado a um pedido dirigido a Deus. O princípio é que a im portância do pedido leva o indivíduo a preocupar-se tanto com sua condição espiritual que as
necessidades físicas são relegadas a segundo plano. Nesse aspecto, o ato de jejuar serve como um processo de purificação e humilhação diante de Deus (SI 69.10). O pano de saco era feito de pêlo de bode ou de camelo e era rústico e desconfortável. Em m uitos casos, o pano de saco era um a cobertura para o lom bo. O sarcófago de Airão apresenta figuras de mulheres com algo semelhante a panos de saco enrolados ao redor dos quadris, por cima de suas saias.
22.1-40Batalha em Ramote-Gileade22.1. cronologia: Batalha de Qarqar. Desde a aliança entre Acabe e Ben-Hadade, narrada no final do capítulo 20, três anos haviam se passado. G eralm ente presume-se que a razão de sua aliança ter perm anecido forte era a ameaça do rei assírio Salmaneser III, que estava avançando para o ocidente. Ele finalmente passou a representar um a ameaça à Síria em 853, quando uma coalizão de doze nações do ocidente o enfrentou na Batalha de Qarqar. Salmaneser alista Acabe, rei de Israel, e H adadezer, rei de D amasco, como os dois parceiros m ais im portantes da aliança que foi encabeçada por Iarhuleni, rei de Hamate. Qarqar fica no rio O rontes, cerca de 240 quilôm etros ao norte de D am asco, m as apenas 40 quilôm etros ao norte de Hamate. Embora Salmaneser afirme ter tido a vitória, estudos da história subseqüente sugerem que a coalizão ocidental teve êxito em seu principal objetivo. Apenas dez ou doze anos mais tarde, quando a confederação se desfez, Salm aneser finalm ente dem onstrou algum indício de controle da região. E mais provável ter sido o sucesso geral contra ele que deu a Acabe a segurança para investir num a ação m ilitar contra os aram eu s e tentar reconqu istar Ram ote- G ileade.
22.12-38. M icaías e Acabe. Ver os comentários em 2 Crônicas 18.22.38. açude em Sam aria. Nas escavações de Samaria, um grande açude (quase cinco por dez m etros) foi descoberto do lado de dentro da esquina noroeste do muro, perto do palácio; no entanto, é impossível dizer se é esse o açude m encionado aqui. Não se sabe ao certo se as prostitutas estavam se banhando lá, ou se o sangue do carro do rei estava sendo lavado, ou se ambos.22.39. palácio de m arfim . O uso de marfim na decoração em m osaicos, incrustações de móveis e painéis de parede era m uito popular nessa época. Uma das principais fontes de marfim eram os dentes de elefantes, que eram im portados de A ram (onde os elefantes sírios não haviam ainda se extinguido). Peles e presas desse animal, e, às vezes, até mesmo elefantes vivos, eram incluídos como pagamento de tributos. Escavações no palácio de A sum asirpal, em Kalah, trouxeram à tona alguns entalhes de m arfim muito requintados decorando as paredes. Mais de quinhentos fragmentos dessa substância tam bém foram encontrados nas escavações de Samaria, datando dos séculos nono e oitavo a.C.. M uitos apresentam m otivos artísticos egípcios e fenícios.
22.41-50 Josafá, rei de Judá22.41. cronologia. As datas de Thiele para Josafá são 872-848, com outros sistemas de contagem situando-o num a margem de dois anos em relação a essa data. Nenhuma referência a Josafá foi encontrada em m ateriais extrabíblicos do antigo Oriente Próximo.22.46. prostitutos cultuais. Para informações adicionais a respeito da prostituição cultual, consulte o comentário em Deuteronômio 23.17 ,18 . O termo usado aqui ocorre tanto na forma feminina quanto na m asculina e refere-se, talvez como um eufemismo, àqueles que haviam sido separados para funções específicas. Essa mesma palavra é usada na literatura acadiana para reportar-se aos funcionários que haviam sido consagrados para o serviço nos templos ou santuários.
Os prostitutos (ou prostitutas) faziam parte desse quadro de empregados, assim como as amas-secas e as parteiras. Não fica claro qual a função desempenhada pelo prostituto.22.48. frota de navios. O comércio por meio de embarcações marítimas já estava acontecendo na prim eira metade do terceiro milênio a.C.. Por volta da m etade do segundo m ilênio, uma frota de navios de Ugarit totalizava 150 embarcações. Escavações em um navio mercante afundado (na costa de Uluburun, Turquia), desse mesmo período, dá uma idéia da variedade de
produtos que eram transportados. Navios mercantes do primeiro milênio tinham apenas um mastro com um cesto no topo e podiam ter fileiras sim ples ou duplas de rem os. O com prim ento típico era de 15 metros, embora se saiba da existência de alguns ainda maiores.
22.48. O fir. O ouro de Ofir é mencionado num a inscrição do oitavo século em Tell Qasile. A localização precisa é desconhecida. O fato de o navio ter naufragado em Eziom-Geber sugere tratar-se de um território árabe, embora algumas terras na índia e no leste da África tenham sido consideradas.22.48. E ziom -G eber. Eziom -G eber era um a cidade portuária localizada na ponta do golfo de Á caba e pode ser Tell el-Kheleifeh (que alguns estudiosos identificam com o Elath) ou um lugar na ilha de Jezirat Far'on (ilha Coral), o único território na região com evidências de um antigo porto. N esta últim a, um significativo trabalho arqueológico, conduzido debaixo
d'água, trouxe à tona enormes muros, quebra-mares (embora não da Idade do Ferro) e uma pequena quantidade de cerâm ica da Idade do Ferro. A tecnologia usada no porto artificial é semelhante àquela encontrada na cidade fenícia de Tiro.
22.51-53 Acazias, rei de Israel22.51. cronologia. A cronologia de Thiele para Acaziaso situa em 853-852. Ele não é m encionado em n enhum registro extrabíblico.
2 R E I S
sy1 .1-18Acazias, rei de Israel1.2. sacada do seu quarto. As escavações em Samaria com provaram que o palácio real tinha um segundo pavim ento. O estilo arquitetônico da época incluía algumas áreas abertas; talvez a sacada descrita aqui
fosse um balcão de madeira que oferecia ao mesmo tempo sombra e ventilação ao ambiente.1.2. Sam aria. Samaria era a capital de Israel, o reino
do norte. Para m ais informações, ver o comentário em
1 Rs 16.24.1.2. B aal-Z ebu be. Esse nom e tem sido tradicionalmente considerado como um a corruptela intencional
de Baal-Zebul (chefe Baal), identificado na literatura ugarítica como o senhor do m undo inferior. Isso explica a forma grega usada em Mateus 10.25 e 12.24. Em
outras passagens do Novo Testamento aparece a form a "B elzebu" e o título é atribuído a Satanás. "Z e-
bube" significa "m oscas"; no caso de ser um título elogioso, talvez indique a habilidade de afastar mos
cas transmissoras de doenças e infecções. H avia uma divindade em U garit chamada El-Dhubub, cujo nome
pode ter um significado semelhante. Encantamentos de Ugarit invocam Baal-Zebul a fim de exorcizar de
mônios de enfermidades. Acazias, porém, não estava solicitando um encantamento que lhe trouxesse cura,
m as apenas um oráculo para informá-lo se iria ou não se recuperar. Essa informação lhe será oferecida por
Elias no versículo 6.1.2. Ecrom . A cidade filistéia de Ecrom (Tel Miqne) dista cerca de cem quilômetros de Samaria. Para mais informações sobre essa localidade, ver os comentários
em Juizes 1.18 e 1 Sam uel 5.10.1.8. as roupas de Elias. Ver o comentário em 1 Reis 19.19 sobre a capa de Elias. O texto original aqui, porém, não m enciona especificamente a capa de Elias,
apenas faz referência a pêlos, que poderiam tanto ser de sua roupa (conforme a tradução da NVI) como de seu corpo peludo. Esta últim a alternativa é a m ais provável, porque o term o que a N VI traduz como "c into", quando citado em outros contextos tem o sentido de "tan g a", que não poderia ser notada se ele estivesse usando um a outra roupa por cima, como a capa, por exemplo. Se considerarmos a outra opção, talvez ele estivesse vestindo uma capa de pêlos que permitia enxergar a tanga de couro usada por baixo.
1.10. fogo do céu. Os deuses da tempestade no antigo Oriente Próximo costumavam carregavar raios e relâm pagos, que eram seus instrum entos para enviar
fogo. Os reis assírios desse período falam dos deuses como uma chama ardente enviando fogo adiante de
les. Esar-Hadom (na Assíria do sétimo século) usa a figura de um fogo inextinguível para descrever sua m archa e ataque. Todas essas im agens refletem a m aneira como se acreditava que a divindade partici
pava das batalhas. O fogo provocado por raios era
um a de suas principais armas.1.17. cronologia. O irmão de Acazias, Jorão, sucedeu- o no trono, reinando, de acordo com Thiele, de 852 a
841. Durante esse período, Judá e Israel tiveram reis com nomes idênticos ocupando o trono.
2 .1-18Elias é levado aos céus2.1. G ilgal. Existem diversas localidades com o nome de Gilgal e é difícil especificar a qual delas o texto se
refere aqui. A m ais conhecida ficava na região de Jericó (ver o com entário em Js 4.19), m as eles não teriam ido primeiro até Betei para depois voltar para Jericó. A lém disso, o texto original m enciona descer
até Betei, o que não faz sentido se for essa a Gilgal em questão. A outra possibilidade é a cidade nas proxi
midades de Geba e M icm ás (ver o comentário em 1 Sm 13.4), poucos quilôm etros ao sul de Betei, cujo percurso estaria de acordo com a expressão "descer".2.2. B e te i. Betei era o local onde estava um dos santuários dedicados aos bezerros de ouro de Jeroboão e um im portante centro religioso. Sua história abrange os patriarcas (Gn 28), a conquista e a ocupação (Js 8; Jz l ) e Sam uel (1 Sm 7). Durante um curto espaço de tempo foi também o local que abrigou a arca (Jz 20.26-28).
2.3. discípulos dos profetas. Era possível ser treinado para exercer a função de profeta, e nesse período inicial da história de Israel havia um a associação de pro
fetas geralm ente cham ada de "filh os ou discípulos dos p rofetas". Esses p rofetas em pregavam vários métodos a fim de se prepararem para receber os orá
culos proféticos. A m úsica tinha um papel importante na indução de um estado de transe (êxtase), conside
rado uma preparação para que a pessoa se tornasse mais receptiva a uma m ensagem divina. Nos textos de M ari havia um grupo de funcionários do templo
que en trava em transe e freqü en tem en te receb ia mensagens proféticas. Textos acadianos também usam a designação mar bari (filho de um barü) para referir- se a um membro do grupo de adivinhos que algumas vezes transmitia oráculos proféticos.2.4. Jericó . O percurso de Betei a Jerico tinha cerca de 20 quilômetros (a m aior parte em declive), correspondendo a m eio dia de caminhada. A cidade foi reconstruída durante o reinado de Acabe (ver o comentário em 1 Rs 16.34).2.6. Jordão. O rio Jordão fica cerca de oito quilômetros depois de Jericó. Esse seria m ais ou m enos o local onde Josué atravessou o Jordão.2.9. porção dupla. Ao pedir porção dupla, Eliseu não estava pedindo o dobro do que Elias possuía, m as o dobro do que qualquer sucessor norm alm ente receberia . Seria sem elh an te ao direito de h eran ça do prim ogênito, que era o principal responsável pela continuidade da família. O pedido de Eliseu era no sentido de ser considerado o principal sucessor de Elias (na tradução da NVI, "Faze de mim o principal herdeiro de teu espírito profético").2.11. local da ascensão de Elias. O ministério de Elias reflete alguns eventos da vida de M oisés. Após terem atravessado para o lado leste do Jordão, Elias e Eliseu foram para o monte Nebo (onde M oisés morreu), a cerca de dezesseis quilômetros do Jordão. O texto não m enciona o nom e do m onte, nem sugere que eles estavam num a montanha, mas os situa basicamente nessa m esm a região.2.11. carro e cavalos de fogo; redem oinho. A pala
vra traduzida como "redem oinho" geralm ente está relacionada à ação de Deus (a tempestade de Jonas 1) e às vezes à sua presença (Jó 38.1). A imagem do carro de fogo é mais difícil de decifrar, visto que o texto não atribui nenhum papel a ser desempenhado pela carruagem ou pelos cavalos. No antigo Oriente Próximo, era comum imaginar que as principais divindades às vezes vinham acompanhadas de cocheiros. Um a divindade conhecida como Rakib-El era o condutor da carruagem do deus cananeu El. Este, por sua vez, é relacionado a Hadade, o deus da tempestade, mas os dados são muito escassos para estabelecer qualquer relação interessante a esse respeito (carro de fogo relacionado à tem pestade, por exemplo). Na literatura acadiana, Bunene, o conselheiro do deus-sol Shamás, é designado como condutor da carruagem. O fato de tratar-se do deus-sol pode servir como um a possível explicação para o carro de fogo. O cocheiro seria o responsável pelo transporte da divindade, especialm ente n as batalhas. N a crença re lig iosa israelita , Yahw eh muitas vezes é representado de modo semelhante ao pensam ento do antigo O riente Próxim o.
Isso pode ser observado no episódio de Elias com os profetas de Baal, em que Yahw eh é apresentado como um Deus que controla a fertilidade e responde m andando fogo do céu. Além disso, a linguagem figurada muitas vezes o associa com o Sol (SI 84.11). Aqui, a im agem que se tem de D eus apresenta elem entos com uns com H adade, o deus da tempestade, que é acompanhado de um condutor de carruagem. Essas semelhanças sugerem a possibilidade do uso de conceitos familiares do imaginário popular para esclarecer o envolvim ento da divindade neste evento sem precedentes.2.12. m eu pai. O termo "p a i" é usado para designar o líd er de um grupo, tanto em h ebraico quanto em acadiano. Da m esm a forma, "filh o" designa um m em bro daquele grupo.2.12. carros de guerra e os cavaleiros de Israel. Nãose sabe ao certo se Eliseu fez essa declaração diante da visão que presenciou ou se atribuiu esse título a Elias. Se a últim a alternativa for a correta (como 13.14 sugere), o título pode estar indicando a identificação de Elias como o cocheiro, alguém intimamente relacionado à divindade (cf. Bunene no comentário em 2.11), aquele que a transporta até as batalhas.2.12. rasgar as vestes. Além de jogar cinzas n a cabeça, rasgar as vestes era um a forma comum de manifestar pesar no antigo Oriente Próximo. U m exemplo fora da Bíblia encontra-se no épico ugarítico de Aqhat (c. 1600 a.C.), em que a irmã do herói rasga as vestes de seu pai ao predizer um a seca iminente. Essa atitude geralmente indicava pesar pela morte de um parente, amigo ou pessoa proeminente (2 Sm 3.31).2.13. a capa do profeta. Elias atirou seu manto para Eliseu indicando assim que o havia escolhido para a tarefa mencionada em 19.19. A capa a que se refere o texto era usada por cima da túnica, portanto diferente da roupa em 1 Samuel 15.27. A capa característica do profeta provavelm ente era feita de pele de anim al, adquirindo um a aparência peluda (ver Zc 13.4), embora nem todas as capas fossem assim. Pouco se sabe a respeito das vestes usadas pelos profetas no antigo Oriente Próximo, por isso, fica difícil fazer comparações. É interessante observar que inscrições assírias desse período mencionam alguns indivíduos usando capas com cabeça de leão. Alguns deles estão envolvidos em atividades rituais (dança) ao lado de divindades. Alguns sugerem que seriam exorcistas. O manto de E lias aqui representa o esp írito e o poder que Eliseu estava herdando.
2.19-22 As águas de Jericó2.19. água ruim . Os detalhes relacionados à água da fonte A in es-Sultan, perto de Jericó, podem ser en
contrados nos comentários referentes a Josué 6.26 e 1 R eis 16.34. U m a a ltern ativ a à teo ria do p arasita sugerida nesses comentários, e que talvez possa ser relacionada à queda de Jericó, é que a fonte de água
teria entrado em contato com a radioatividade das camadas de rocha, provocando a contaminação da água
e causando esterilidade.2.20. sal num a tigela nova. O uso de um recipiente novo sugere a ausência de impurezas, indicando tratar-se de um ritual. "Frasco" seria uma tradução mais adequada, em vez de "tig ela", termo usado na NVI, em bora essa palavra seja usada apenas aqui e seu significado seja incerto. O sal era usado para combater maldições, visto que geralm ente estavam relacionadas à rebeliões e o sal era considerado, simbolicamente, um elemento capaz de neutralizar a rebelião (ver o comentário em Jz 9.45).
2.23-25Rapazes e ursas2.23. idade dos zom badores. Duas descrições diferentes são usadas para este grupo. A primeira (v. 23) combina um substantivo e um adjetivo que em outros contextos refere-se a crianças ou pré-adolescentes. A segunda (v. 24) geralmente refere-se à geração mais jovem , de bebês (como em Rt 4.16) a homens de meia idade (1 Rs 12.8; Roboão e seus companheiros tinham mais de quarenta anos e foram chamados de jovens). Provavelmente trata-se de um grupo de adolescentes. A m aldição foi proferida por Eliseu, m as o castigo veio de Deus.2.23. careca. Se Elias era realm ente um homem peludo (ver o comentário em 1.8), a careca de Eliseu faria grande contraste e talvez sugerisse a alguns que ele nunca teria os m esm os poderes de seu mestre. Essa zom baria, portanto, representava um descrédito de seu ofício e chamado proféticos e foi veementemente refutada pelo cum prim ento imediato da sua m aldição. Assim, enquanto nos versículos 19-22 Eliseu cancela uma maldição, em 23, 24 ele executa outra.2.24. ursas. O s ursos sírios ainda não haviam sido extintos nessa época e havia m uitos desses animais nas regiões de florestas nas m ontanhas da área central de Israel, onde cavernas e bosques garantiam seu habitat. Essa região florestal ficava m ais próxim a de Betei do que de Jericó. O ataque de feras selvagens com freqüência era visto como um castigo de Deus (ver o comentário em 17.25).2.25. a jornada de Eliseu. A distância entre Jericó e Betei é de cerca de 20 quilômetros, enquanto que de Betei até o m onte Carmelo são quase 120 quilômetros. Do monte Carmelo de volta para Samaria são aproximadamente 64 quilômetros.
3.1-27A rebelião de Moabe3.1. cronologia. O sucessor de Jorão foi mencionado em 1.17, m as essa sucessão está relacionada ao se
gundo ano de Jeorão, filho de Josafá. Aqui, está rela
cionada ao décimo oitavo ano de Josafá. Isso levou Thiele a identificar um período de co-regência entre o
reinado de Josafá e seu filho. O ano, de acordo com
Thiele, é 852.3.2. coluna sagrada de Baal. M uitas vezes as colunas
eram usadas em santuários e tem plos no lugar do
ídolo. Algum as continham entalhes com relevos da
divindade, enquanto outras eram lisas. Foram encontradas colunas desse tipo em muitas escavações em
Israel, inclusive em Dã, Gezer e Arad.
3.4. M essa, rei de M oabe. M essa é conhecido pela inscrição (a Pedra Moabita) que detalha o antigo do
mínio de Israel sobre Moabe e celebra sua libertação, conquistada por M essa. A inscrição de um m etro e
vinte centímetros de altura foi encontrada em Dibom, ao norte do rio Arnom , em 1868. Ela com em ora a
construção de um santuário, m enciona Onri e refere-
se a seu filho (Acabe, ou talvez a seu neto, Jorão) sem
denominá-lo. Faz referência ao deus nacional moabita,
Quemós, que usara Israel para punir seu povo, mas agora o libertara concedendo-lhe a vitória. O versículo
seguinte faz referência à vitoriosa revolta de Messa
contra o controle israelita (durante o reinado de Aca-
zias?). Desta forma, os eventos registrados na pedra moabita são anteriores aos acontecimentos narrados
neste capítulo.
3.4. tributo. Em bora cem mil cordeiros represente um
valor exorbitante de tributo, esse valor é ofuscado em comparação às oitocentas mil ovelhas que o rei assírio
Senaqueribe declarou ter tomado da Babilônia.3.6-8. estratégia de batalha. Os aliados não podiam avançar facilmente pelo norte para o confronto com
Moabe porque M essa havia fortificado a planície de M edeba, ao norte do Arnom . Como resultado, eles
m archaram para o sul passando por Jerusalém , H ebrom e Arade, margearam a extremidade sul do mar
Morto (pelo deserto de Edom) e chegaram a Moabe
por um a direção inesperada. A m archa de Samaria até A rade é de cerca de 140 quilôm etros. D ali até Quir-Haresete pode chegar a 80 quilômetros, depen
dendo da rota seguida.
3.8. deserto de Edom. É difícil identificar o deserto de Edom, m as o comentário no versículo 9 indicando que
fizeram um a m archa de sete dias, sugere tratar-se da área leste de Edom. Talvez eles tenham m argeado
pelo sul do vau de Zered fazendo essa volta a fim de
atacar Moabe pelo leste.
3.9. fa lta de água. D esde que saíram de Jerusalém , eles estavam viajando por uma região árida e deserta, com poucas fontes de água. A desidratação em climas assim pode ser muita rápida e fatal.3.11. presença do profeta. Era comum no antigo Oriente Próximo que o exército tivesse como parte de sua comitiva alguns religiosos (sacerdotes ou profetas) com o objetivo de fazer consultas oraculares, interpretar presságios, oferecer os sacrifícios adequados e representar a presença de Deus junto ao exército.3.11. era auxiliar de Elias (costum ava derram ar água nas m ãos de Elias). Aqui Eliseu é identificado como o auxiliar de Elias. Em bora ele executasse tarefas domésticas, a simples associação de seu nome ao famoso profeta representava alguma esperança de auxílio divino.3.13. profetas de seu pai e de sua mãe. Os pais de Jorão, Acabe e Jezabel, tinham favorecido os profetas de Baal e Aserá. É interessante que Jorão não repudiou esses profetas ou os deuses a quem serviam , apenas respondeu que Yahw eh havia incitado a campanha, portanto Ele deveria ser consultado. Isso pode sugerir que os oráculos de Yahw eh haviam sido consultados pelo rei do norte e a resposta concernente a essa ação m ilitar havia sido favorável, em bora tam bém possa indicar que a aliança dos três reis tenha acontecido apenas porque Josafá consultou a Yahw eh em relação a seu envolvimento (ver 2 Cr 18.4-7). Essa orientação divina, não im porta com o tenha vindo, agora é interpretada por Jorão com o a intenção de Yahw eh em destrui-los.
3.15. harpista. A palavra "m enestrel" seria m ais adequada aqui, visto que não há menção a instrumento. O m ais provável é que fosse um a lira do mesmo tipo da que Davi tocava para Saul. N o início desse período, os profetas costumavam lançar mão de diversos procedimentos a fim de se prepararem para receber
oráculos proféticos. A música tinha um papel importante na indução de um estado de transe (êxtase), que era visto como preparação para deixar a pessoa receptiva a um a m ensagem divina. Nos textos de M ari havia um grupo de funcionários do templo que entrava em transe e freqüentem ente recebia m ensagens proféticas. A lira era um instrumento com dois braços que saíam da caixa acústica. As cordas eram presas a uma trave na parte superior do instrumento. Modelos de liras foram encontrados em M egido do período cananeu.3.17. p rovisão de água. É provável que o exército estivesse nas proximidades do vau de Zered. Como todos os vaus de passagem , o Zered passa por um período de cheia em algumas épocas do ano devido à precipitação e escoam ento de água das m ontanhas que o rodeiam. Dessa forma, seu leito pode encher-se
de água repentinamente, sem que nenhuma gota de chuva tenha caído nas regiões m ais baixas. Cavar cisternas no vale seria uma forma de armazenar, para uso do exército e seus anim ais, parte da água que estaria escoando e que, de outro m odo, simplesmente passaria por eles e não seria aproveitada. O conhecimento profético de chuva em elevadas altitudes trazendo água para a área m ais baixa tam bém é demonstrado por Débora (ver o comentário em Jz 4.14-16).3.22. água verm elha como o sangue. Não seria difícil confundir água com sangue, com a luz do Sol no am anhecer incidindo no leito de arenito de um dia quente, de m orm aço - especialm ente considerando que os m oabitas não tinham nenhum a razão para pensar que haveria água recolhida nas cisternas ao longo do curso da passagem . M as se de fato fosse sangue, onde estariam os corpos? Se os moabitas foram ao acam pam ento dos inim igos a fim de obter despojos, é provável que o que viram foi algo semelhante a um acampamento deserto. Portanto, eles consideraram a aparência das águas como um presságio de que rivalidades internas provocaram a deserção do acampamento, à medida que os exércitos lutaram entre si. De fato uma série de presságios mesopotâmicos de crenças populares contém indícios de que, se um rio trouxesse sangue em suas águas, era um sinal da existência de conflitos internos, levando irm ão a lutar contra irm ão. A im agem de sangue correndo como água é usada em descrições assírias de batalhas.3.24.25. destruição de M oabe. A destruição ecológica tinha como objetivo desestruturar a economia por um
longo período. Seria possível retirar as pedras das fontes e dos campos, mas para restabelecer a produção agrícola era preciso um longo e lento processo. As nascentes, eventualmente, encontravam outros lugares para brotar, m as os campos ficavam tão danificados que a fertilidade e a produtividade caíam drasticamente. Cortar árvores tinha um efeito ainda mais
devastador no equilíbrio ecológico da região. Não só as reservas de som bra e m adeira eram destruídas, como tam bém a erosão do solo aumentava, contribuindo para o desenvolvimento de áreas desérticas. Algumas árvores frutíferas (como a tam areira) levam vinte anos para crescer e produzir frutos. A devastação da agricultura e a destruição das florestas eram táticas comuns dos exércitos invasores que procuravam punir o povo conquistado e apressar sua rendição. Os registros e relevos assírios apresentam em detalhes medidas punitivas que incluem a derrubada de árvores, a devastação de cam pinas e prados e a destruição dos canais usados na irrigação.3.25. Q uir-H aresete. Esse era o nom e da capital da região sul de Moabe, conhecida tam bém como Quir-
M oabe e identificada com a moderna Kerak, 27 quilôm etros ao sul do rio A m om , ao longo da Estrada do Rei. N enhum a escavação im portante foi conduzida no local, mas descobertas superficiais apresentam alguns vestígios da Idade do Ferro.3.27. sacrifício de crianças. Evidências de sacrifício de crianças foram encontradas em localidades fenícias no norte da Á frica (Cartago) até a região da Sardenha. Também há indícios dessa prática na Síria e na Meso- potâmia durante o período assírio (séculos oitavo e sétim o a.C.). Sacrificar crianças a um a divindade é um a prática encontrada em diversas narrativas bíblicas. Esses sacrifícios podem ser explicados como meio de prom over a fertilidade (Mq 6.6, 7) ou obter uma vitória m ilitar (Jz 11.30-40), como é o caso aqui. Em nenhum contexto, porém, Yahw eh considera esse tipo de sacrifício aceitável (Dt 18.10). U m a inscrição fenícia do oitavo século fala de sacrifícios sendo oferecidos a M oloque antes de um a batalha, pelos habitantes da Cilicia e seus inimigos.
4.1-7O milagre do azeite4.1. discípulos dos profetas. Ver o comentário em 2.3.4.1. escravidão por dívida. D evido às dificuldades causadas pelo meio ambiente hostil em grande parte do antigo Oriente Próximo, os agricultores e proprietários de pequenos lotes de terra muitas vezes se viam endividados. Os problemas podiam se agravar ainda m ais quando ocorriam secas prolongadas que resultavam em péssimas colheitas. Em casos assim, eles eram forçados a vender suas terras e propriedades e, m uitas vezes até m esm o suas fam ílias e seus próprios corpos. A lei israelita levava em conta essa situação ao estabelecer um período razoável de prestação de serviços, bem com o um lim ite no tem po de servidão para aqueles que se encontravam em tal situação por causa de dívidas. Ninguém podia trabalhar como escravo por mais de seis anos e, ao final desse período, a dívida era considerada quitada e a pessoa liberta. Para alguns, essa era um a boa solução, m as para aqueles que não tinham uma terra para onde voltar, era m elhor perm anecer a serviço de seu credor ou ir às cidades em busca de trabalho ou alistar-se no exército.4.2. azeite. Trata-se de azeite de oliva, usado como gordura para preparar alimentos. Era costume m isturar azeite aos cereais antes de assá-los, m as poderia tam bém ser espalhado sobre a farinha.
4.8-37Eliseu e a sunamita4.8. Suném . A cidade de Suném localizava-se na extremidade leste do vale de Jezreel, na encosta sudoeste do
m onte M oré. A cidade está relacionada nos itinerários egípcios e apresenta vestígios da Idade do Ferro.4.10. quarto lá em cima. O modelo de casa israelita típico da Idade do Ferro ficou conhecido como "casa de quatro côm odos". No piso térreo havia um cômodo que ocupava todo o comprimento da casa. A parte da frente era dividida em três quartos paralelos, perpendiculares ao quarto do fundo. No centro desses cômodos geralmente havia um a área aberta ou pátio. Supõe-se que a m aioria das casas tinha um segundo piso, em bora essa parte da construção não tenha sido preservada para estudo dos arqueólogos. A terminologia arquitetônica específica usada neste versículo perm anece obscura.4.16-35. dar um filh o, tom ar o filh o, reviver o filh o. No
épico ugarítico de A qhat, os deuses deram um filho (Aqhat) ao justo rei Danilo, porém esse filho desagradou aos deuses e por essa razão eles lhe tiraram a vida, m as depois aparentem ente a restauraram , sendo ele revivido pelos deuses. Em bora nenhum detalhe da narrativa de A qhat apresente qualquer sem elhança com o re la to d e ste trech o b íb lic o , o tem a b á sico concernente ao poder atribuído à divindade de dar, tirar e restaurar a vida é bastante fam iliar.4.18-20. causa da morte. A morte do filho da sunamita geralm ente é atribuída a insolação, em bora outras sugestões m encionem hem orragia cerebral, m alária cerebral e meningite. Os poucos detalhes apresentados no texto dificultam um diagnóstico preciso.4.23. não é Lua nova nem sábado. Por causa do calendário lunar, para os antigos israelitas o primeiro dia do mês coincidia com o início da "L u a nova", quando era celebrada um a festa (a cada 29-30 dias). No sábado, nenhum trabalho podia ser realizado (ver Am8.5) e certos sacrifícios precisavam ser oferecidos (Nm28.11-15). Durante o período da monarquia, os reis se tom aram figuras de destaque nessas celebrações (ver Ez 45.17). As festas de Lua nova também eram celebradas na M esopotâm ia desde o final do terceiro milênio até o período neobabilônico, em meados do primeiro milênio a.C.. Essas ocasiões eram bastante propícias para a consulta de oráculos, o que pode explicar a relação que o marido da sunamita estabeleceu entre a visita ao profeta Eliseu e essas festas.4.25. m onte Carm elo. Como o texto não especifica o local exato em que Eliseu se encontrava, é difícil calcular, m as a distância entre Su ném e a região do monte Carmelo é de cerca de 32 quilômetros.4.27. abraçar-se aos pés. A braçar-se aos pés de alguém era um gesto de humilhação e súplica. Embora esse tipo de atitude não ocorra em nenhum outro contexto do Antigo Testamento, a literatura acadiana relata um grande núm ero de casos em que fugitivos
ou suplicantes abraçam os pés do rei num a atitude de submissão ou rendição e fazem seus pedidos.4.29. pôr a capa por dentro do cinto. Para evitar que um a veste m ais longa in terferisse em algum a ativ idade física que exigisse m ais m ovim entos, era costume virar a ponta inferior da capa e prendê-la no cinto.4.29. encostar o cajado no rosto do m enino. Não há nenhuma referência a profetas usando cajados (a vara de Moisés é descrita com uma palavra hebraica diferente). O utras passagens onde esse term o é usado falam apenas de um bastão não identificado que serve de apoio - talvez um a muleta ou bengala. A julgar pelo versículo 31, poderíamos supor que Eliseu e Geazi consideraram possível que o cajado pudesse reviver o menino. Em textos de feitiçaria acadianos, o cajado às vezes era usado como instrumento para exorcizar os demônios asaku (responsáveis por causar doenças e febre). Visto que a enfermidade se localizava na cabeça do menino, o cajado então foi colocado sobre seu rosto.4.34. o procedim ento de Eliseu. Nos livros de encantamentos da M esopotâmia, o toque de alguma parte
do corpo é que permitia aos demônios exercer poder sobre suas futuras vítimas - essa era a forma de transmitir uma possessão demoníaca. De acordo com essa crença, a vitalidade ou essência da vida poderia ser transferida de um corpo para outro pelo contato entre as partes do corpo. Imitando esse procedimento que
de acordo com as crenças da época era usado por dem ônios, o profeta, através do poder de Y ahw eh
(observe a oração) expulsou os demônios e restaurou a vida do menino. Esse relato muitas vezes é interpretado como um dos casos m ais evidentes de m agia favorável na Bíblia.4.35. espirrou sete vezes. A palavra traduzida como "espirrou" ocorre apenas aqui e seu significado é incerto. A partir do contexto, é possível interpretar também como "agitou-se" ou "m urm urou".
4.36-41A morte na panela4.36. G ilgal. Localização incerta; ver o comentário em2 .1 .
4.38. caldeirão. Trata-se de um grande caldeirão de cerâmica ou metal usado para preparar alimentos.4.39. ingredientes do ensopado. O ingrediente vene
noso geralmente é considerado um fruto amarelo conhecido com o colocíntida, popularm ente cham ado "m açã de Sodom a". Seu veneno pode ser fatal.4.41. acrescentou farinha. Acreditava-se que a farinha tivesse propriedades m ágicas e fosse capaz de afastar poderes malignos. M uitas vezes era usada em encantamentos e rituais de magia do antigo Oriente
Próximo, m as não exatamente desta maneira. Às vezes preparava-se um a m assa de farinha para confeccionar estatuetas usadas em algum ritual m ágico, ou então espalhava-se farinha ao redor do altar ou de algum objeto usado no ritual. Como de outras vezes, Eliseu fez uso de procedimentos de certa form a comuns ao mundo da magia, mas nunca exatamente da m aneira como eram praticados ou com os elementos ritualísticos envolvidos.
4.42-44O milagre dos pães4.42 . B a a l-S a lis a . B aa l-S a lisa é trad ic ion alm en te identificada como Bete-sarisa, na planície de Sharon, cerca de 24 quilômetros a oeste-noroeste de Jope. Outros estudiosos, porém, favorecem Ein Samiya, uma localidade perto de G ilgal na parte leste da região m ontanhosa de Efraim, cerca de dez quilôm etros a noroeste de Betei.4.42. p resen te para E liseu . O presente oferecido a Eliseu consistia dos primeiros frutos da colheita, geralm ente dedicados como oferta ao santuário para o sustento dos sacerdotes. Por ser um homem de Deus, Eliseu era qualificado para recebê-lo.
5.1-27Eliseu e Naamã5.1. Síria. A terra de Aram, situada ao norte de Israel, era conhecida pelos gregos como Síria. Evidências atuais sugerem que os aram eus habitaram no alto Eufrates durante o segundo m ilênio, primeiro como aldeões e criadores de gado, depois como uma coalizão política nacional. Durante esse período, eles foram ora aliados, ora inimigos terríveis de Israel.5.1. lepra. Estudos linguísticos concluíram que o termo freqüentem ente traduzido como "lep ra" refere- se, de forma mais acurada, a uma "lesão" ou "esca- mação da pele". Tais feridas podiam estar inchadas, vazando ou descam ando. A term inologia para esse tipo de doença é bastante abrangente em *acadiano, sendo considerada tam bém pelos *babilônios como um a condição impura ou um castigo dos deuses. Não há evidências de lepra (hanseníase) no antigo Oriente Próxim o antes de Alexandre, o G rande. N enhum a das características marcantes da hanseníase é m encionada nos textos antigos e os sintomas descritos não se relacionam à lepra. A condição apresentada no texto não é descrita como contagiosa. As descrições sugerem que poderia tratar-se, de acordo com diagnósticos modernos, de psoríase, eczema, vitiligo ou dermatite seborréica, bem como um a série de infecções causadas por fungos. A grande aversão cultural a doenças de pele talvez seja devido ao seu aspecto (e às vezes,
odor) semelhante ao estado de putrefação de um cadáver, portanto, associada à morte. Essa repulsa natural, associada ao isolamento do doente, aumentava ainda m ais o sofrim ento da vítim a, quando com binada à quarentena, cujo objetivo era mais ritual que terapêutico.5.5. o presente de Naam ã. O presente que N aam ã levou para o profeta era exorbitante - equivalente ao resgate de um rei. Dez talentos de prata equivalem a trinta m il siclos, aproxim adam ente trezentos e cinqüenta quilos de prata. Seis m il siclos de ouro equivalem a setenta e dois quilos de ouro (um siclo de ouro era equivalente a quinze siclos de prata). Esse valor corresponderia, atualmente, a cerca de 750 milhões de dólares. Para se ter idéia da proporção desses va
lores, é preciso considerar que dez siclos de prata correspondiam a um ano de trabalho, e um siclo de ouro era o suficiente para se adquirir uma tonelada de cereais.5.6. pedido de cura enviado ao rei. Existem inúmeros exemplos de reis recorrendo a outros reis em busca de auxílio p ara a cu ra de doenças. Os exorcistas da Babilônia eram valorizados pelos hititas e os médicos egípcios eram famosos por sua habilidade em tratar as doenças, especialmente doenças dos olhos.5.7. rasgou as vestes. O ato de rasgar as vestes, especialm ente vestes reais, era um sinal de pesar. Aqui nesse caso, representa a proximidade de uma crise ou tragédia nacional. O texto bíblico não faz nenhuma menção a qual rei de Israel se refere o episódio, embora Eliseu tenha interagido bastante com Jorão.5.10. vá até o rio Jordão. Visto que Eliseu encontrava- se provavelm ente na Sam aria (ver o com entário no versículo 24), o percurso até o rio Jordão seria de aproxim adam ente 64 quilômetros. Como não há nenhum a rota direta de Sam aria até o Jordão, provavelmente N aam ã teve de voltar pelo caminho por onde viera, ou seja, pelo norte até Dotã, passando pelos vales de Dotã e Jezreel, depois atravessando o estreito de Gilboa até Bete-Seã para chegar ao Jordão.5.10. lavar-se no Jordão. Nos rituais mesopotâmicos namburbi, para se purificar era preciso mergulhar sete vezes no sentido contrário ao curso do rio e outras sete vezes no sentido da correnteza do rio. Esse ritual também incluía deixar presentes no rio para o deus Ea. Acreditava-se que a correnteza levaria as impurezas para o mundo inferior. Aqui novamente, os procedim entos escolhidos por Eliseu soam fam iliar para as pessoas que viviam num mundo de rituais mágicos. Em term os terapêuticos, existiam várias fontes term ais em Israel (p. ex., perto do m ar de Tiberíades) cu jas águas poderiam restaurar a saúde da pele e curar diversos males. No entanto, o texto refere-se
especificamente ao rio Jordão, que não pode ser confundido com uma fonte mineral.5.11. procedim ento esperado. Naam ã obviamente esperava ser recebido pelo profeta de outra forma. O ato de mover a mão (o termo preferível é "elevar" a mão, e não "m over") era comum nas invocações e encantamentos. O ato de orar com as mãos estendidas consta na inscrição aramaica de Zakkur, com ilustrações em inúm eros relevos (mão direita, palm a virada para baixo, cotovelo dobrado). Existem vários encantamentos acadianos chamados shuilla (elevação da mão) que incluem invocação e louvor da divindade, orações para apaziguar a divindade, dar proteção e remover o mal. De acordo com o pensamento do mundo antigo, não seria adequado realizar um ritual sem a presença do especialista para conduzir os procedimentos, recitar os encantamentos e fazer os gestos adequados. A ausência de Eliseu levou Naamã a pensar que qualquer curso de água poderia servir para sua purificação. Ele esperava que a presença de Eliseu, que havia ordenado o ritual, fizesse diferença, enquanto que Eliseu tom a todo cuidado para manter-se afastado e não desempenhar nenhuma função.5.12. A bana e Farfar. É m ais provável que a grafia cor
reta seja Am ana, devido à existência do m onte Ama- na nas montanhas do Anti-Líbano e do rio Amana (hoje
conhecido como Barada) que corre pelas planícies de Damasco. Pouco se sabe sobre o Farfar, embora possa ser o rio el-A w aj que desce das encostas do m onte Herm om até os pântanos a sudeste de Damasco.5.17. levar duas m ulas carregadas de terra. Naamã deixa claro que o motivo de levar terra estava relacionado a sacrifícios, indicando que ele pretendia construir um altar com essa terra (o term o usado para "terra" neste contexto é o mesmo que aparece no texto sobre a construção do altar em Êx 20.24; ver o comentário respectivo para mais informações).5.18. tem plo de Rim om . Acredita-se que Rim om (= Ramam, "estrondoso, trovejante") seja um título para H adade, o deus da tem pestade, chefe do panteão arameu. Embora essa associação seja baseada em dados seguros, não há nenhuma ocorrência desse título fora da Bíblia (mas veja Hadade-Rimom em Zc 12.11). As limitadas escavações feitas em Damasco não revelaram esse templo aqui mencionado, mas um ortóstato (coluna de pedra entalhada) de basalto desse período, encontrado junto à estrutura inferior da mesquita de Um ayyad, sugere que a m esquita foi construída no mesmo local onde estaria esse templo.5.22. discípulos dos profetas. Ver o comentário em 2.3.
5.22,23. pedido de G eazi. Considerando o que Naamã tinha trazido para oferecer, o pedido de Geazi é ex-
irem am ente modesto, porém, ainda assim é uma soma considerável. Um talento de prata correspondia a trezentos anos de salário (equivaleria hoje, a alguém que ganha 30/35 m il dólares por ano receber um presente de dez milhões de dólares) e Naamã ainda dobrou a quantia. G eazi estava tentando com isso garantir seu futuro.5.24. colina. A palavra traduzida como "colina" é um termo usado para designar a área da acrópole associada à cidade do rei, o que sugere que nesse tem po Eliseu estava morando em Samaria.5.26. G eazi é repreendido. G eazi não se im portava com a origem daquele dinheiro, se provinha da riqueza pessoal de Naamã ou dos tesouros do rei ara- m eu. G eazi sim plesm ente racionalizou que estava tomando de volta o que havia sido saqueado de Israel. Mas Geazi não tinha em m ente distribuir aquele dinheiro aos pobres ou devolvê-lo aos cofres nacionais. A referência de Eliseu a olivais, vinhas, ovelhas e servos reflete o que Geazi poderia comprar para si m esm o com aquele dinheiro. Sua riqueza recém-ad- quirida lhe teria proporcionado uma vida de luxo e conforto. Ao ter esse tipo de atitude, Geazi reduziu o chamado profético a um a vocação m ercenária, explorando o poder divino em causa própria.5.27. transferência da doença. No m undo antigo, acreditava-se que bruxos e feiticeiros fossem capazes de causar doenças através de feitiços e m aldições. Rituais p ara re m o v er d iv ersas en ferm id ad es (os ritu a is namburbu por exemplo) geralmente envolviam a transferência do mal para um objeto que em seguida era jogado fora. Talvez o ritual de lavar-se sete vezes no Jordão, praticado por Naamã, indicasse que a doença seria transferida para a água e levada embora. Naamã, porém, também esteve em contato com os presentes que havia trazido e neste contexto eles são considerados m eios de transferência do m al de N aam ã para Geazi. Isso se assemelha ao que chamaríamos de contágio (embora nenhuma infecção causada por doenças de pele poderia ser contraída naturalmente de forma tão rápida).5.27. o castigo de G eazi. V er o com entário sobre a lepra em 5.1. Não se trata de um a sentença de morte, visto que a doença não colocava em risco a vida, nem a saúde da pessoa. Podia ser classificada como uma doença "social", já que a principal conseqüência era a exclusão da sociedade, passando a ser considerado um proscrito. A comparação com neve está mais relacionada às manchas na pele do que à cor.
6.1-7 Um machado é recuperado6.1. discípulos dos profetas. Ver o comentário em 2.3.6.2. troncos (vigas) para construção de casas. O pro
blem a dos discípulos de Eliseu era que o lugar onde se reuniam para receber instrução do profeta era muito pequeno, então decidiram trabalhar para construir um prédio m ais adequado. O vale do Jordão, com suas densas florestas era o lugar natural para encontrar a madeira necessária (acácia, tamargueira e salgueiro seriam as m ais comuns).6.5. o ferro do m achado. Esse período corresponde ao auge da Idade do Ferro, m as apesar desse m etal estar cada vez m ais acessível devido ao aperfeiçoam ento tecnológico e aos processos de fundição, objetos e ferramentas de ferro continuavam a custar caro e eram consideradas valiosas.6.6. fazendo o ferro flutuar. Alguns tipos de magia envolviam rituais de contato e transferência. Acreditava-se que através do contato com objetos que possuíam poderes mágicos, as propriedades e características desse objeto poderiam ser transferidas a outro. O texto bíblico não menciona de qual árvore Eliseu cortou um galho, mas na M esopotâmia, era comum o uso da tam argueira para esse tipo de ritual. Em bora alguns relutem em aceitar que o profeta de Deus costum ava em pregar algu m as p ráticas ap arentem en te mágicas, permanece o fato de que as pessoas da época veriam como magia a ação de Eliseu; ver os comentários em 4.34; 4.41 e 5.11.
6.8-23 O exército arameu é ferido de cegueira6.9-11. profetas fornecend o inform ações m ilitares.Há vários exem plos de profetas do antigo O riente Próxim o dando conselhos m ilitares a reis, porém a informação dada por Eliseu é m ais específica do que os exemplos de outros relatos.6.13. D otã. Localizada em Tell Dotã, esse imponente lugar cobre cerca de 25 acres. Ficava a dezesseis quilôm etros de Sam aria pela rota principal, usada por mercadores e criadores de gado, em direção ao norte até o vale de Jezreel. A área ao redor da cidade (o vale de Dotã) oferecia abundantes pastagens, por isso transform ou-se num a im portante cidade já na Idade do Bronze Antiga (3200-2400 a.C.), servindo como ponto de referência para os viajantes. A pesar de não ser mencionada em nenhum a outra fonte, com exceção da Bíblia, a arqueologia do local confirma a existência de um grande povoado na Idade do Ferro II.6.17. cavalos e carros de fogo. O texto original não diz que os cavalos e os carros de fogo enchiam as colinas (plural) e sim a colina (singular), ficando à volta de Eliseu. Isso sugere que a "co lin a" é o tell onde a cidade de D otã está localizada (cerca de 60 m etros acim a do terreno ao redor). Estes cavalos e carros formavam uma escolta protetora para o profeta.
Yahw eh muitas vezes é chamado de "Senhor dos Exércitos" - o comandante dos exércitos celestiais, e aqui encontramos um contingente de sua cavalaria participando de uma batalha. Para m ais informação a respeito de cavalos e carros de fogo, ver o comentário em 2.11-13. Para informações sobre Yahw eh como guerreiro divino, ver o comentário em 1 Samuel 4.3-7.6.18. cegueira. A palavra usada para cegueira aqui aparece somente na ocasião em que a casa de Ló, na cidade de Sodoma, foi cercada (Gn 19). É um termo relacionado à palavra acadiana para designar cegueira diurna, também usado no hebraico (ou no aramaico) para referir-se à dificuldade de enxergar à noite (cegueira noturna; G n 19). Em textos acadianos, os dois casos requeriam m edicação mágica. A principal causa da cegueira tanto diurna como noturna é a deficiência de vitamina A, mas a falta de vitamina B pode tam bém contribuir para a confusão visual evidente em am bas as passagens. Portanto, é interessante notar que o fígado (rico em vitamina A) tinha um lugar de destaque nos procedimentos mágicos da Mesopotâmia para corrigir situações desse tipo. U m trecho interes
sante do épico de N ukulti-Ninurta relata como os deuses perm aneceram do seu lado na batalha, e como Shamás (o deus-sol e deus da justiça) teria provocado cegueira nos inimigos.6.19. v iagem de D otã até Sam aria. É provável que essa viagem tenha sido demorada, apesar da distância de apenas dezesseis quilômetros, visto que os soldados estavam debilitados e confusos, por não conseguirem enxergar direito.6.21. "p a i" como título. O título "p ai" era usado para designar o líd er de um grupo, tanto em hebraico quanto em acadiano; da m esma forma, "filh o" servia para indicar o m em bro desse grupo. A o usar esse título, o rei demonstrou reconhecer a posição de Eliseu e também seu respeito pelo homem de Deus.6.22,23. tratam ento dispensado aos prisioneiros. "P risioneiros do arco" é um a expressão acadiana para descrever pessoas capturadas como parte dos despojos. Estas pessoas ficavam à disposição do conquistador, que poderia usá-las para trabalho escravo, vendê- las ou libertá-las. A intenção de Eliseu era aproveitar essa oportunidade para promover relações amigáveis com os arameus. O banquete servido aos prisioneiros era um a refeição cerim onial que geralm ente fazia parte da assinatura de um tratado de paz ou de um acordo amigável.
6.24-7.20 O cerco de samaria6.24. Ben-Hadade. Esse período da história dos arameus necessita de m ais dados para ser com preendido, e
parte do problem a é causada pelo fato de diversos governantes receberem o nome de Ben-Hadade ("filho de [o deus] H adade"). A questão se complica ainda mais devido às inscrições de Salmaneser III designarem o governante dessa época com o H adadezer (ver o com entário em 2 Sm 8.3). O prim eiro Ben- Hadade é mencionado em 1 Reis 15 e governou durante a prim eira parte do nono século, em bora não seja possível estabelecer o período exato. Em 2 Reis 8, o rei assassinado por Hazael (por volta de 824) é também chamado de Ben-Hadade, e Hazael mais tarde é sucedido no trono por seu filho, tam bém chamado Ben-Hadade (2 Rs 13.24). O nome Bir-Hadade aparece num a inscrição dedicada ao deus M elqart, mas novam ente não fica claro a qual Ben-Hadade se refere. Foi sugerido que a seqüência talvez seja Ben- Hadade I (1 Rs 15), Ben-Hadade II (1 Rs 20), Hadadezer (Inscrição de Salmaneser, considerada por alguns estudiosos com o um a variante de Ben-Hadade), Ben- Hadade m (inscrição de Melqart), Hazael, Ben-HadadeIV (2 Rs 13). Até hoje não foram encontrados docum entos do antigo Oriente Próximo que possam ajudar a elucidar essa questão. Se essa passagem estiver cronologicam ente correta, o m ais provável é que seja Ben-H adade III, m as se a narrativa seguir um a seqüência temática, então talvez esse rei seja o sucessor de Hazael.6.25. cerco causando fom e. O propósito do cerco era levar a população ao limite da fome e da sede, fazendo com que se rendesse sem oferecer resistência. A fome no caso não era provocada por causas naturais, mas conseqüência do cerco, que fazia a cidade esgotar suas reservas de alimentos.6.25. preço de alim entos in d ese jáveis . "C abeça de jum ento" seria um a das últim as coisas que alguém desejaria comer, no entanto, aqui era vendida por um preço exorbitante. Vale a pena lembrar que o salário- padrão era de cerca de um siclo por mês. O segundo item "alim entício", designado literalmente de "esterco de pom ba", pode realm ente referir-se a fezes de pombos, usadas com o alimento em tempos difíceis, ou então seriam vagens de uma variedade espinhosa de acácia, como na linguagem acadiana. Mas sendo usado como alimento ou como combustível, o fato é que apenas uns poucos gramas desse artigo equivalia ao salário de vários meses. Na Lenda de Naram-Sin (governou a M esopotâmia já no final do terceiro m ilênio), cerca de seis litros de cevada (alimento insuficiente para um a semana) custavam cinqüenta siclos de prata (cinco anos de salário), nos períodos de cerco.6.29. canibalism o. O canibalismo era parte integrante de maldições em tratados assírios do sétimo século. Era o últim o recurso em tem pos de fom e extrem a.
Esse nível de desespero poderia ocorrer em períodos de grave fome (como o épico de Atrahasis ilustra) ou em conseqüência de cercos (p. ex., durante o cerco de A ssurbanipal na Babilônia, por volta de 650 a.C.), quando as reservas de alimentos se esgotavam, conforme menciona este texto, e como está previsto em textos de tratados. A estratégia de cerco era comum no mundo antigo, por isso um a situação desse tipo não era tão rara quanto poderíamos supor.6.32. autoridades. A s autoridades representavam as famílias influentes de um a cidade ou tribo. Estavam assentados com Eliseu provavelmente à espera de um oráculo que mostrasse a eles como agir ou anunciasse uma libertação iminente. Entretanto, esse desconhecido rei perdeu a paciência com o que lhe pareceu uma espera m uito longa para obter uma informação oracular (v. 33) e decidiu que o cerco era castigo de Yahweh. Em Israel, não era m uito clara a distinção entre a papel do profeta como proclamador ou incitador. Essa confusão ocorria por causa da crença disseminada no m undo antigo, também presente em Israel, de que as palavras proferidas por indivíduos habilidosos tinham o poder de coagir os deuses a agir de determinada m aneira. O rei israelita chegou à conclusão que Eliseu era o responsável por ter induzido Yahw eh a agir contra Samaria.7.1. m udança nos preços. U m a m edida de farinha (em hebraico, um seá) variava entre 7 e 14 litros e era o suficiente para alimentar um adulto durante uma semana, o que significa que o preço ainda estava alto (mas ver o comentário em 6.25 para constatar como a situação havia melhorado). Há várias informações sobre preços na literatura babilónica. Enquanto em circunstâncias normais um siclo daria para comprar cerca de cem litros de cevada, aqui seriam apenas 15. D urante o cerco de A ssurbanipal à Babilônia, dez litros de cevada chegaram a um siclo. A quantidade básica para a subsistência de um a fam ília de quatro pessoas seria de aproxim adam ente quatro litros de cevada por dia.7.2. o fic ia l. É geralm ente aceito que o term o usado aqui se referia a princípio a um terceiro homem den
tre os ocupantes da carruagem, responsável por segurar o escudo que protegia o cocheiro e o arqueiro. Com o passar do tempo, o termo passou a ser usado fora do contexto de carros de guerra e provavelmente estaria relacionado ao escudeiro ou ao auxiliar do rei, um a função administrativa.7.2. comportas do céu. O texto usa a expressão poética "com portas do céu" para descrever as aberturas por onde a chuva descia. Não se trata de linguagem científica; apenas reflete a perspectiva do observador, bastante semelhante à nossa expressão para o pôr-do-sol.
A outra ocorrência desse termo na literatura do antigo Oriente Próximo encontra-se no mito cananeu de Baal construindo sua casa, onde essa m esm a expressão é
usada para descrever uma fenda nas nuvens. O oficial está se referindo à provisão de Deus de m odo geral,
visto que o assunto está relacionado à comida e não à
água.7.3. lepra. Para informações sobre problemas de pele traduzidos como "lep ra", ver o com entário em 5.1.
Esses indivíduos banidos da sociedade teriam ainda menos recursos à sua disposição do que as pessoas da
cidade.
7.6. exércitos h ititas e eg ípcios. Os hititas haviam partido da Anatólia, sua terra natal, séculos atrás e
tinham se fixado no norte da Síria, concentrando-se nas cidades-Estado de Carquêmis e Karatepe. É pro
vável que até mesmo Hamate fosse considerada uma
cidade hitita nesse período. Já existia uma tradição de guerras entre hititas e arameus. A menção ao Egito é
mais difícil de ser explicada, visto que há poucas evi
dências de que o Egito estivesse envolvido ou interes
sado no Levante nessa época. Além disso, a referência a reis (plural) do Egito seria estranha. Alguns estudi
osos sugeriram que em vez de Egito (hebraico: msrym) o texto refere-se a M usri (msry), embora não haja ne
nhum consenso quanto à sua localização. O grupo mencionado aqui deve ser entendido como os m es
m os M usri que aparecem nas inscrições de Salmaneser
III desse período. M usri consta entre os aliados da
"Terra de H atti" que lutaram contra Salm aneser III em Qarqar, em 853 e aparece im ediatam ente após
Jeú, rei de Israel, na lista de tributos da Esteia Negra
de Salmaneser III, de 841. Se esse Musri refere-se ao Egito, como muitos supõem, demonstra que o Egito
estava ativo na região. Se for um a localidade no norte
da Síria, sua identidade permanece incógnita. Alguns favorecem essa opção porque também é chamado de
vizinho de Arpad (norte de Alepo, no norte da Síria),
no tratado aram eu de Sefire do oitavo século, embora outros consideram que Musri seja o nome de um rei e
não de um lugar.
7.10. sentinelas da porta da cidade. As portas de uma
cidade eram sempre trancadas à noite e, certamente
permaneciam fechadas durante o cerco.7.15. retirad a dos aram eus. Os líderes de Sam aria
suspeitaram de um ardil bastante conhecido no m undo antigo - a armação de um a emboscada, dando a
aparência de que haviam desistido e ido em bora.
Talvez a aplicação m ais conhecida desse artifício foi a usada pelos gregos contra Tróia, no episódio registra
do na Ilíada. Os arameus em fuga foram seguidos até
o Jordão, a 64 quilômetros de distância.
8 .1-6 A sunamita recebe de volta sua propriedade8.2. terra dos filisteus. Embora a quantidade de chuva anual na região de Samaria fosse um pouco maior do que na planície costeira ao sul (terra dos filisteus), a planície aluvial da costa é m enos dependente de chuvas e seria a escolha lógica para tentar resistir a um período de fome.8.3-6. confisco de terra. As terras abandonadas geralmente eram confiscadas como propriedade da coroa até que alguém as reivindicasse. O fato de um a m ulher estar reivindicando a posse sugere que ela seria v iúva; nesse caso, ela poderia solicitar a posse da terra em nom e do filho, o herdeiro legítim o da propriedade.8.6. rend a das co lh eitas. G eralm ente a pessoa não esperava receber a renda de tudo que a terra havia produzido durante o período de sua ausência. Essa renda seria um a espécie de reem bolso para os que cultivaram a terra durante esse tempo.
8.7-15Hazael torna-se o rei da Síria8.7. D amasco. A distância entre Samaria e Damasco
era de cerca de 200 quilômetros, o que corresponde a pouco mais de uma semana de viagem a pé. Damasco era a capital da Síria e sede do palácio real. Para mais inform ações sobre essa localidade ver o comentário em 2 Sam uel 8.5.8.7. Ben-H adade. A respeito da confusão quanto à identificação dos diversos reis com esse nome, ver o com entário em 6.24. Visto que esse período corresponde à ascensão de Hazael ao trono, o ano é 842 a.C.. Salmaneser informa que Hazael assassinou Hadadezer.8.8. H azael. Hazael é m encionado nos registros de seu contemporâneo, Salmaneser III da Assíria, onde é descrito como um usurpador. Ele reinou de 842 a 800a.C. aproxim adam ente. Tam bém é m encionado em diversos fragmentos de inscrições aramaicas e assírias. Quando a coalizão ocidental que resistiu a SalmaneserIII em Qarqar desintegrou-se na década de 840, Hazael m anteve sua posição contra a Assíria, resistindo por vários anos com batalhas e trincheiras, e também com um a tentativa frustrada de cerco a Damasco (apesar de pagar pesados tributos). A partir de 836, Salmaneser passou a se interessar por outras regiões (especialm ente U rartu) e posteriorm en te foi sucedido por governantes fracos, deixando Hazael livre para concentrar sua atenção sobre Israel durante grande parte de seu reinado. Para inform ações sobre suas ações militares contra Israel, ver o comentário em 10.32.8.8. con su ltar a Y ahw eh . Em bora os aram eus não adorassem a Yahweh, eles não negavam sua existência nem seu poder. O politeísmo no m undo antigo era
um sistema aberto que respeitava o poder divino sem se importar com sua origem. Os profetas, da mesma
forma, eram muito respeitados e a chance de consul
tar um deles num a ocasião de enfermidade não podia ser desperdiçada. Em bora existisse a possibilidade
dos profetas de Baal se sentirem ofendidos (ver co
m entário em 1.2), as pessoas geralm ente assumiam esse risco para obter respostas oraculares vindas da divindade.
8.9. presente. Como no caso de Naam ã, o presente
oferecido é exorbitante. No m undo antigo era comum
oferecer presentes à divindade com o objetivo de manipulá-la e obrigá-la a agir de determinado modo,
e aqui não é diferente. Ao agir assim , o rei tentou
obter um oráculo favorável, visto que se acreditava
que os profetas exerciam influência sobre os deuses
que representavam. Naamã não estava tentando com
prar uma sentença falsa, mas obter um a palavra poderosa do profeta, capaz de influenciar a ação divina.
8.12. tratam ento dado às cidades conquistadas. As
táticas alistadas aqui representam o procedim ento- padrão para elim inar qualquer possibilidade de re
belião no futuro. Incendiar as fortalezas era uma for
m a de destruir qualquer esperança de que aquela cidade pudesse ser usada mais tarde como lugar de
reunião de tropas ou de defesa durante uma provável
revolta. A execução indiscriminada de homens, crian
ças e até m esm o de bebês no ventre de m ulheres grávidas elim inaria a possibilidade de formação de
qualquer exército no futuro. R elatos de conquista assíria do nono século m encionam atear fogo em me
ninos e meninas. O ato de rasgar o ventre de uma mulher grávida é m encionado raras vezes, sendo uma
delas pelo rei assírio Tiglate-Pileser I (por volta de 1100) em um hino de louvor às suas conquistas e
também num lamento neobabilônico.8.13. cão. Os cães eram geralmente considerados pra
gas, anim ais im undos, o que indica que essa com p aração era com u m em term os de h u m ilh ação e
autodepreciação. Expressões sem elhantes foram encontradas nas cartas de Láquis e na correspondência de Am ar na.
8.16-24Jeorão, rei de JudáPara informações a respeito deste trecho, ver os co
mentários em 2 Crônicas 21.
8.25-29Acazias, rei de JudáPara informações a respeito deste trecho, ver os co
mentários em 2 Crônicas 22.
9 .1 -2 9Jeú é consagrado rei de Israel9.1. unção de re is . U n gir um re i era um a práticacomum em algumas partes do antigo Oriente Próximo. Tanto os hititas como os egípcios acreditavam que a unção protegia a pessoa dos poderes das divindades do m undo inferior. Não há evidências de reis sendo ungidos na M esopotâmia. N o Egito, era o faraó que ungia seus oficiais e vassalos, estabelecendo desta forma uma relação de subordinação entre eles e demonstrando que lhes daria proteção. Os textos de A m am af. i referência a um rei 1 a N uhasse (na moderna Síria) sendo ungido pelo faraó. Esse m odelo encaixa- se à idéia da unção de Jeú como uma indicação de que teria o apoio dos profetas e, presum ivelm ente, de Y ahw eh. E m 2 Sam uel 2.4, quando o povo ungiu D avi, ficou im plícito um tipo de acordo contratual entre eles. Em Nuzi, os indivíduos que entravam em acordo em alguma negociação ungiam -se com óleo; no Egito, o ato de ungir com óleo era um costum e praticado nas cerim ônias de casam ento. N a prática israelita, a unção era sinal de eleição e, com freqüência, estava intimam ente relacionada à capacitação pelo Espírito. Além disso, em todo o m undo antigo, a unção simbolizava a ascensão na posição legal da pessoa. Tanto o conceito de proteção como de m udança ç. status estão relacionados à unção do rei, visto que lh e „ garantiria a proteção no trono e o identificaria com < dimensão da divindade. í9.1. R am ote-G ilead e. R am ote^ ileaxte ainds/njío foi
identificada com segurança, m as m i^ o ^ esm d io so s apontam para Tell R^imte^Qi^kuha^de seu tamanho,
t aa^ aad e do Ferro en~ 5p>eâpavado. Se essa identi-
r ia localizada na Estrada rad a sul de D amasco faz uma
zando o Jordão, perto de Bete-Seã,
localização e devido < contrada no locaLam tl
ficação estivej^OTreta ReaLno cur
sem penhavam importantes papéis políticos, m as nenhum deles desem penhava a função de indicar o rei como os profetas israelitas. N ão obstante, em todo o m undo antigo acreditava-se que os profetas não apenas proclam avam a m ensagem vinda da divindade, m as tam bém desencadeavam a ação divina no processo. N as instruções do rei assírio Esar-Hadom a seus vassalos, ele exige que seus vassalos relatem as declarações impróprias ou negativas proferidas por qualquer pessoa, m as principalm ente de profetas, intérpretes de sonhos e praticantes de adivinhação por "xtase. Não é 1 admirar, então, que se o profeta se colocasse contra o rei, deveria ser m antido sob rôntro- le para não causar estragos. Isso explica por qu p o\ ei estaria inclinado a aprisionar um profeta d e ^ e iip a rç ^que suas palavras poderiam incitar i ................ou provocar a destruição de seu reina d 9.14. batalh a em R a m o te-G j^ a ^ ^ A s3 êq ííê n c ia de eventos m encionada aqu^\pàsra^]|fe tom plexa já que no ano de 841 a Síria e envolvi res com neser, Házaeie)H erm om Q fi
5.no vale de Jezreel e en contrar-se com a principal cham ada de G rande Tronco (ver a
rifotk de rodapé sobre rotas comerciais em Gênesis 38).9.6-10. profetas incitando golpes. Em Judá, o reino do sul, a sucessão ao trono estava firmemente estabelecida pela aliança com a linhagem de D avi. O rein o do norte, Israel, passou a existir por meio de um a declaração profética (1 Rs 11.29-39), m as sem garantia de sucessão dinástica. Cada um a das principais dinastias (Jeroboão, Baasa, Onri, Jeú) teve sua ascensão e queda de acordo com palavras proféticas. À s vezes, o rei indicado para governar se resignava em aguardar pelo m omento adequado de ascender ao trono (Jeroboão), porém em outros casos, como aqui, a declaração profética acabava provocando um golpe. No antigo Oriente Próxim o, os sacerdotes m uitas vezes de-
.a Assíria, invadiu os confrontos milita-
d& cu piios registros de Salm a- ou-o no auge da batalha do monte
irrotadõ. H azael, então, refugiou-se nrDarfoàsee^que foi subm etida a um cerco que fra- £9Sou. £ o m o resultado de seu fracasso em dominar (amaseo, Salm aneser despejou sua fúria na região de aurã, a leste de Ramote-Gileade, de onde marchou
para o monte Carmelo, recebendo tributo do rei Jeú. A m archa de H aurã até o m onte Carmelo provavelmente foi feita passando pelo vale de Jezreel. Se todos esses eventos se ajustarem , é possível supor que a Síria teria se colocado contra Ramote-Gileade no início da primavera, deparando-se com a coalizão das tropas de Ju dá e Israel. Salm aneser teria partido para suas campanhas em maio, e como a distância entre a Assíria e Damasco é de 880 quilômetros, ele só chegaria ao seu destino em m eados de junho. Assim que H azael ficou sabendo que Salm aneser estava indo para a região, ele apressou-se para o norte a fim de encontrar-se com o exército assírio no m onte Hermom. Jeú, ainda em Ram ote-Gileade, igualm ente recebeu as notícias do avanço do exército assírio e enfrentou a questão de que posição Israel assumiria. Reunindo o apoio daqueles que defendiam a posição a favor da Assíria fortalecida pela unção profética, ele deu continuidade ao golpe. Enquanto Salm aneser fracassava em seu cerco a D amasco e partia para o m assacre da área de H aurã, Jeú estava elim inando a fam ília de Acabe e os seguidores de Baal. Depois de estabelecido o controle, Jeú voluntariam ente permitiu a Salm aneser passar por Jezreel e pagou tributo ao rei assírio em Carmelo.
9.14-16. v iagem de R am ote-G ilead e até Jezreel. Adistância entre Ramote-Gileade e Jezreel é de cerca de 72 quilôm etros. Jezreel é um a área de quinze acres situada na entrada sudeste do vale de Jezreel, entre a colina de M oré e o m onte G ilboa. Era a capital do reino de Acabe durante o inverno. Escavações arqueológicas revelaram um grande recinto real desse período, ocupando um a área relativam ente extensa do tell (ver o comentário em 9.30).9.17-20. envio de m ensageiros para abordar a tropa que se aproxim a. A rápida aproximação de um pequeno contingente de carros de guerra dava margem a várias possibilidades, e nenhum a delas era boa. Poderiam estar fugindo de algum inimigo ou dirigindo-se para lá com más intenções. O cavaleiro enviado podia servir como m ensageiro para levar um a respos
ta para o rei ou como negociador. O que é estranho, porém, é que numa situação arriscada como essa, os reis (aparentemente desacompanhados de um a guarda pessoal) tenham ido ao encontro de Jeú (v. 21) expondo-se a um perigo evidente.9.21. Nabote. Para informações sobre os eventos relacionados a Nabote, ver os comentários em 1 Reis 21.9.22. idolatria e feitiçarias. Uma acusação desse tipo foi usada como justificativa para depor uma rainha- m ãe na m etade do segundo m ilênio, quando o rei hitita M urshili II opôs-se à última esposa babilónica de seu pai, afirmando que ela praticava bruxaria. É im portante lembrar que tanto Acazias quanto Jorão tinham um estreito laço de parentesco com Jezabel, visto que o prim eiro era seu neto e o segundo, seu filho.9.27. Bete-H agã, G ur, Ib leã , M egido. Acazias seguiu pela estrada ao sul de Jezreel. Essa direção o levaria de volta para casa (Judá), m as também era a rota para a capital do norte, Samaria, onde ele esperava encontrar proteção. A estrada sul margeava o leste do vale de Jezreel, no pé das m ontanhas de G ilboa. Bete- Hagã era o local onde a estrada subia do vale até a planície de Dotã e depois em direção às colinas de Samaria. Ibleã ficava no topo da subida, na extremidade norte da planície, quase dezesseis quilômetros de Jezreel. Um a carruagem em fuga, em sua velocidade m áxim a, poderia percorrer essa distância em menos de m eia hora. M as ele ainda estava a 24 quilômetros de Samaria. Quando Acazias decidiu mudar de rumo e ir para Megido, teve de fazer uma curva para noroeste. A distância para M egido era menor, apenas 19 quilômetros, e lá o rei ferido poderia recorrer à proteção do santuário. Além disso, esse percurso era m ais ameno, em termos de regularidade no solo, visto que costeava a extremidade sudoeste do vale de Jezreel. Bete-H agã é a m oderna Jenin, m encionada
nos textos egípcios de execração e denominada Gina nos textos de A m am a. No local encontra-se um tell de sete acres com vestígios de cerâmica da Idade do Ferro. Ibleã é citada nos anais de Tutmés III e é identificada com Khirbet Belameh. N enhum a dessas localidades foi escavada até hoje.
9.30-10.17A morte da família de Acabe9.30. atitude de Jezabel. No mundo antigo, usava-se cosmético em pó (galena [sulfeto de chumbo] ou estíbio [trisulfeto de antimônio]) m isturado com óleo ou água para delinear e acentuar o formato arredondado dos olhos. Para arrumar o cabelo eram usados perfumes, tinturas ou penteados com tranças. O objetivo de Jezabel era parecer atraente em todos os sentidos: física, social e politicamente. O tema de uma m ulher olhando pela janela era bastante comum, sendo representado artisticamente em entalhes de marfim encontrados em N inrode, Sam aria e Arslan Tash (em que a m ulher está adornada com um a peruca egípcia). Na literatura, a m ulher é descrita contemplando o horizonte à espera de notícias do m arido ou do filho que teriam partido para a guerra (ver o comentário
em Jz 5.28), porém nas imagens entalhadas em m arfim a m ulher é vista como prostituta, talvez relacionada à adoração a Astarte. Talvez seja uma advertência sutil relacionada a Astarte e ao culto pagão promovido por Jezabel (observe a acusação de Jeú faz contra ela no v. 22).
9.30. o palácio de Jezreel. O palácio de Jezreel foi escavado no começo de 1990. U m a área retangular cobria cerca de oruze acres, cercada por um muro de casamata com torres nos cantos. O portão do palácio tinha seis câmaras, e ao redor havia um fosso e ram pas de barro. O fosso era escavado até a rocha chegando a ter nove metros de largura e, em alguns pontos, quase seis metros de profundidade. Os fossos na Palestina não continham água e provavelm ente eram usados para evitar que se cavassem túneis debaixo dos m uros da cidade. Jezreel ficava a aproxim adamente 37 quilômetros de Samaria.9.31. Jeú é chamado de "Z in ri". A dinastia de Onri, a qual p ertenciam A cabe e Jezabel, havia tom ado o poder do usurpador Zinri (ver 1 Rs 16). Ao aludir a esse incidente, talvez Jezabel estivesse alertando Jeú que seu golpe não garantia que ele assumiria o trono, m as sim que provavelmente seria deposto. Sua pergunta (Como vai, assassino de seu senhor?) insinua que a destruição da casa de Acabe não trará paz e sossego nem a ele nem ao país. A alternativa seria aliar-se a ela e assim tirar vantagem da continuidade. Se o objetivo de Jezabel ao m aquiar-se era apresentar-
se sedutora, talvez ela estivesse sugerindo que ele tomasse o harém do antigo rei e assim estabelecesse sua legitim idade (a respeito dessa prática, ver o comentário em 2 Sm 3.7). A perda do harém para um p re ten d en te ao tro n o é d e scr ita n o s a n a is de Senaqueribe como um sinal de deposição.9.32. o ficiais (eunucos). É provável que os oficiais que estavam junto de Jezabel fossem eunucos, responsáveis por cuidar e supervisionar o harém real. Por serem castrados, eles não representavam am eaça às mulheres do harém e não podiam ter filhos com elas, evitando assim que filhos ilegítimos fossem considerados herdeiros do trono. É im portante notar que a palavra hebraica usada aqui não é restrita a eunucos- alguns estudiosos acreditam tratar-se de um termo m ais abrangente relacionado a oficiais adm inistrativos. Neste contexto, porém, é lógico supor que a rainha estivesse acompanhada pelos guardiães do harém.9.36. devorada por cães. Entre os assírios (especialmente com Assurbanipal) havia o costume de abandonar os cadáveres nas ruas para serem devorados pelos cães (e tam bém por porcos, chacais e aves). Em alguns casos, os corpos eram esquartejados e seus pedaços oferecidos como alimento para os cães. O objetivo dessa atrocidade era elim inar qualquer possibilidade de um enterro adequado condenando assim o espírito da pessoa a ficar vagando em vez de usufruir de uma vida tranqüila no além. H á tam bém um texto acadiano, da coleção de encantamentos de Maqlu, que roga uma maldição a uma bruxa (ver v. 22) para que os cães a despedacem. Para mais informações, ver o comentário em 1 Reis 16.4.10.1. Jezreel. Ver o comentário em 9.14-16.10.6. elim inação dos descendentes. Se os parentes do rei deposto e assassinado permanecessem vivos, haveria grande possibilidade de um a guerra civil. Os parentes leais aos laços de sangue vingariam a morte do rei e com certeza encontrariam outros que apoiariam suas reivindicações ao trono. A eliminação completa da família dos governantes depostos era uma prática comum em Israel e no antigo Oriente Próximo.10 .7 ,8 . cabeças am ontoadas. Os assírios costumavam empilhar as cabeças dos inimigos mortos nas batalhas ou dos criminosos acusados de rebelião. As cabeças eram amontoadas fora dos portões da cidade, como um aviso aos seus habitantes de que qualquer rebelião seria tratada com severidade.
10.11. execução com pleta. O termo traduzido como "am igos pessoais" é uma expressão usada em documentos acadianos e ugaríticos para descrever aqueles que desfrutavam da proteção da corte. Era um grupo que dependia dos favores reais e que gozava de privilégios na corte; provavelmente não eram israelitas.
Além da família de Acabe, funcionários do governo e sacerdotes tam bém foram executados.10.12. Bete-Equede dos Pastores. Localizava-se provavelmente ao longo da rota de 48 quilômetros entre Jezreel e Samaria, mas ainda não foi identificada com segurança. No caso de indicar um lugar onde os pas
tores se reuniam ou ajuntavam seus rebanhos, a localização lógica seria nas proximidades da planície de
Dotã.10.12-14. tratam ento dado aos parentes de Acazias.Visto que Jorão, rei de Israel era tio de Acazias, rei de Judá, todos esses parentes de Acazias tinham ao menos um vínculo indireto com a linhagem de Acabe. Isso foi suficiente para sentenciá-los à morte. No local em que os pastores se reuniam geralmente havia um poço ou cisterna. Foi num a cisterna como essa que os irm ãos de José o lançaram , em algum lugar nessa mesma região de Dotã.10.15. aliança com Jonadabe. Jonadabe era o líder dos recabitas, um clã pouco conhecido de Israel e que, aparentem ente, adotava um estilo de vida ascético. Ficaram famosos por seu compromisso com uma vida seminômade (talvez por causa de sua vocação como artesãos itinerantes) e pelo conservadorismo religioso (ver a referência a eles em Jr 35, dois séculos m ais tarde).
10.18-27Eliminação do culto a Baal10.19. grande sacrifício a Baal. Quando um novo rei assumia o trono, fazia parte do seu discurso firm ar o compromisso de que seria m ais devotado aos deuses locais ou nacionais do que seu antecessor. Geralmente isso incluía reparar, restabelecer, am pliar ou adornar o santuário. Essa estratégia visava conquistar o apoio dos sacerdotes e da população devota e tam bém a aprovação divina ao novo reinado. Era politicamente correto que o rei assumisse seu lugar como patrono real e principal defensor da divindade local. E possível que Jeú estivesse convocando para um a celebração de entronização na qual ele assumiria o trono com o vassalo de Baal, que ao m esm o tem po seria reconhecido como rei dos deuses. N ão estar presente a um evento como esse poderia facilmente ser considerado como traição.10.21. tem plo de Baal em Sam aria. Escavações arqueológicas em Sam aria ainda não revelaram nenhum vestígio do templo de Baal construído por Acabe. Alguns sugerem que esse templo contribuiu para o conceito promovido por Acabe e Jezabel de que a cidade era a m orada sagrada de Baal. Isso significa que a cidade era um a espécie de unidade política independente, assim como Sião, no sul. Portanto, mesmo de
pois de Jeú ter se tom ado rei de Israel e a linhagem de
Acabe ter sido totalm ente elim inada, o controle de Samaria, especialmente do complexo do templo, pre
cisava ser tratado separadamente.10.22. encarregados das vestes cultuais. Esses mantos
seriam vestes cultuais para a adoração a Baal (ver Sf
I.8). É provável que o uso de vestes sagradas e a ocasião específica im pedissem o porte de qualquer arma
- um a vantagem considerável para os homens de Jeú.
10.26. coluna sagrada. Nos santuários cananeus, muitas vezes havia colunas sagradas no lugar de ima
gens. Essas colunas de modo geral eram simples, mas
ocasionalmente a figura da divindade era entalhada
em relevo na face da pedra.10.27. usado com o la trin a. Era com um no m undo
antigo reconstruir um templo no local onde anteriormente havia existido outro templo, pois se acreditava
que o local fora escolhido pelo deus, portanto era solo
sagrado. Ao transformar o local do templo de Baal em um a latrina (ou talvez num a área de despejo de lixo),
Jeú estava garantindo que naquele lugar nunca mais seria construído um templo. Essa m edida lim itava
bastante qualquer possibilidade do ressurgimento do
culto oficial a Baal em Samaria.
10.28-36 Jeú, rei de Israel10.32. as ações de Hazael contra Israel. Nenhum detalhe militar é oferecido aqui, mas o texto descreve a
perda de toda a região da Transjordânia para Hazael.
Depois de 838, os assírios ficaram ausentes do oeste por diversas décadas e isso permitiu que os arameus
construíssem seu próprio im pério. Essa situação se
manteve durante o reinado do sucessor de Jeú, Jeoacaz (ver os comentários em 2 Rs 12, 13).
10.34. Jeú nos registros assírios. O tributo pago por
Jeú a Salmaneser III logo após sua ascensão ao trono de Israel sugere que ele recebeu apoio não apenas do
religioso partido conservador, m as tam bém da facção pró-assíria do governo (ver o com entário em 9.14).
Para esse grupo, cansado das guerras ininterruptas, a
ruptura das coalizões ocidentais levaria inevitavelmente à derrota pelos assírios. Jeú é retratado prostra
do, de m odo pouco lisonjeiro , na Esteia N egra de Salm aneser que relata o tributo pago por ele ao rei
assírio, em 841. Esse tributo consistia em objetos de
prata e ouro e alguns dardos.
I I .1-21 AtaliaPara informações sobre esse trecho, ver os comentários em 2 Crônicas 22, 23.
12.1-21Joás, rei de JudáPara informações sobre esse trecho, ver os comentári
os em 2 Crônicas 24.
13.1-9 Jeoacaz, rei de Israel13.1. cronologia. De acordo com Thiele, Jeoacaz tor
nou-se rei de Israel em 814 a.C., no vigésimo terceiro
ano de Joás, rei de Judá, e reinou até 798 a.C.. Durante esse período, os assírios concentraram seus interes
ses em outras regiões. Como resultado, os arameus, governados por Hazael, tentaram ampliar seu contro
le na área.
13.3. o dom ínio de H azael sobre Israel. Hazael rei
nou em Aram -Dam asco por volta de 842-800. Além dos registros bíblicos, sua existência é atestada num
fragmento de m arfim de Arslan Tash, na Síria, e num
cilindro lacrado de A ssur, um a cidade assíria. Os
assírios afirmavam ter saqueado Hazael. O rei arameu lutou contra Salmaneser III, o rei assírio, em 841 e foi
derrotado, embora os assírios não tenham obtido êxito
em conquistar Damasco, a principal cidade de Hazael. A ameaça assíria diminuiu após 836, e Hazael pôde então concentrar sua atenção sobre Israel e a Filístia.
13.5. libertador para Israel. O "libertador" (palavra
que se origina do mesmo radical hebraico para Messias) não é citado pelo nome. A expressão remete aos
libertadores do período dos juizes. Talvez fosse um
governante vizinho, como Zakur, rei de Hamate, ou
Adad-Nirari III, rei da Assíria, ambos poderosos nessa época. Até mesmo Joás, rei de Judá tem sido suge
rido como um a possibilidade.
13.6. poste sagrado. U m a característica comum entre o culto cananeu e o culto *sincretista de Israel, eram os
postes-ídolos, presentes tanto nos altares e lugares altos, como nos santuários urbanos. Não é possível afirm ar com certeza se seriam sim plesm ente postes
de m adeira sim bolizando árvores, talvez contendo
uma imagem entalhada da deusa da *fertilidade, ou se faziam parte de um bosque sagrado. A referência
em 17.10 a postes sagrados erguidos debaixo de "toda árvore frondosa" parece indicar que, de fato, tratava-
se de postes de madeira erguidos com objetivos C ultuais e não árvores. Por ser a consorte de *E1, Aserá evidentemente era um a deusa popular, cujo culto é
mencionado em textos *ugaríticos (1600-1200 a.C.). O
culto a adoração a Aserá continuou a ocupar um lugar proem inente na Fenícia do prim eiro m ilênio a.C.,
quando presumivelmente foi introduzido em Israel, durante a dinastia de Onri e de Acabe. O destaque
que recebe na narrativa bíblica é um indício claro de
que o culto a Aserá fazia forte concorrência ao culto a
Yahweh. Para m ais informações, ver os comentários em Êxodo 34.13 e Juizes 6.25.
13.10-25 Jeoás, rei de Israel13.10. cronologia. De acordo com os cálculos de Thiele, Jeoás, filho de Jeoacaz, começou a reinar em 798 a. C. (o trigésimo sétimo ano de Joás, rei de Judá) e gover
nou por dezesseis anos (até 782). Durante esse período, os assírios se tom aram m ais poderosos e sua influ
ência no ocidente manteve os arameus ocupados (ver o comentário em 13.22-25). Jeoás é mencionado nomi
nalmente nas inscrições do rei assírio Adad-Nirari III (810-783).
13.14. carros e cavaleiros de Israel. Essa expressão, tam bém encontrada em 2 Reis 2.12, aparentem ente
era um ditado bastante popular durante o período das guerras contra os aram eus. E liseu tinha um papel
ativo nas questões militares de Israel, atuando como
mediador da participação de Yahw eh nas guerras de Israel. De acordo com a m itologia dessa época, certas
divindades atuavam como cocheiros, conduzindo o
guerreiro divino para a batalha (ver comentário em 2.11). Essa expressão pode significar o reconhecimen
to do papel de Eliseu em relação à divindade - quan
do ele ia para a guerra, Yahw eh ia com ele.
13.15-19. sim bolism o da flecha. Embora os atos realizados por Eliseu tenham a aparência de fenôm e
nos m ágicos não-israelitas, sem referência explícita ao Deus de Israel, eles são uma manifestação da von
tade divina. Esse ritual específico, aparentemente uma imitação das práticas de adivinhação através de fle
chas, não é confirm ado em fontes m esopotâm icas,
apesar de vários rituais de magia incluírem arcos e flechas.
13.22-25. em bates com a S íria . O texto bíblico aqui
coincide com as fontes assírias. Durante o reinado do
rei assírio Shamshi-Adade IV (824-811 a.C.) os assírios
se concentraram em campanhas militares na Babilônia,
desconsiderando o ocidente. Por isso, os Estados aram eus conseguiram expandir seu espaço. Por volta do
reinado de Adade-Nirari E I (811-783), os assírios deslocaram m ais um a vez seu foco de atenção para o
ocid en te . Inú m eras in scrições com em orativas de
Adade-Nirari descrevem a derrota de Damasco e de
Arpad (outros poderosos Estados arameus) e o recolhimento de tributos. U m a esteia de Tell al-Rimah regis
tra Jeoás pagando tributos aos assírios. Assim , D amasco foi enfraquecida pela Assíria a ponto de permitir a libertação de Israel, que por sua vez, tom ou-se
dependente da Assíria.
14.1-22 Amazias, rei de JudáPara informações sobre esse trecho, ver os comentários em 2 Crônicas 25.
14.23-29 Jeroboão, rei de Israel14.23. cronologia. Jeroboão II tom ou-se rei de Israel em 782, segundo a cronologia de Thiele. Talvez tenha ocupado anteriorm ente (793) o cargo de co-regente junto com seu pai Jeoás durante onze anos, que foram contados como parte de seu reinado também. Durante esse período, Israel perm aneceu livre de ameaças tanto da Síria quanto da Assíria, o que lhe garantiu certa prosperidade e expansão e relativa segurança.14.25. restabelecim ento das fronteiras. Israel voltou a expandir seu território restabelecendo os limites da época do reinado de Salomão. Lebo-Hamate (modern a Lebw eh [Ematu, nos textos de Ebla; Lab'u , nas fontes assírias]), local de uma das nascentes do Orontes, ficava no norte de Baqa', no Líbano, 72 quilômetros ao norte de Damasco. Essa área representava a fronteira sul da terra de Ham ate e, conseqüentemente a fronteira norte de Canaã, designando a extremidade norte do im pério. Esse nom e aparece nas listas de cidades do rei egípcio Tutm és III (século quinze a.C.) e nos anais de Tiglate-Pileser III, rei da Assíria (oitavo século a.C.). O mar da Arabá (ou vale de Arabá, Am6.14), hoje chamado de m ar Morto, era a fronteira sul do reino.14.25. Gate-H éfer. Gate-Héfer é mencionada apenas aqui como sendo a terra de Jonas. Foi identificada como el-Meshed, um a localidade poucos quilômetros a nordeste de Nazaré.14.27. profecia pré-clássica. No início da monarquia a função principal dos profetas era dirigir-se ao rei e à corte, papel bastante sem elhante ao desem penhado pelos profetas de outras regiões do antigo O riente Próximo. Os profetas desse período foram classificados como "pré-clássicos". A partir do oitavo século, porém, cada vez mais os profetas voltavam sua atenção para o povo e exerciam influência nas áreas social
e espiritual. Essa atividade foi prontamente identificada com a instituição profética; esses profetas e seus escritos proféticos são chamados de profetas clássicos. A furvção desses profetas não era tanto predizer o futuro, mas alertar quanto aos planos e ações de Deus. Nesse contexto, Jonas desempenha o papel de profeta pré- clássico, em bora o Livro de Jonas siga um m odelo mais ao estilo clássico em desenvolvimento na época. Para mais informações sobre profecias no antigo Oriente Próxim o, ver o com entário em Deuteronôm io18.14-22.
14.27. apagar. O termo " apagar" origina-se da im agem de lavar um rolo de papiro para poder usá-lo novam ente, um costum e tipicam ente egípcio. Além do mais, na Mesopotâmia o ato de apagar o nome de um ancestral de um registro enfurecia os deuses. Em vez de apagar (i.e., destruir) o nome de Israel, Yahweh prom ete libertá-los.14.28. D am asco, H am ate, Iaudi. Damasco e Hamate eram im portantes cidades dos aram eus (para mais inform ações, ver os comentários em 2 Sm 8). Iaudi, porém , é m ais difícil de ser identificada. Provavelmente trata-se da Iaudi de fontes assírias normalmente identificada com Judá. A A ssíria não estava em condições de opor-se à expansão israelita no período de 773 a 745 a.C., durante o reinado de Jeroboão.
15.1-7 Azarias (Uzias), rei de JudáPara informações a respeito desse trecho, ver os comentários em 2 Crônicas 26.
15.8-12 Zacarias, rei de Israel15.8. cronologia. O breve reinado de Zacarias ocorreu no ano de 753 a.C.. Foi contemporâneo de Azarias (Uzias), rei de Judá (c. 792-740 a.C.).
15.13-16 Salum, rei de Israel15.13. cronologia. Salum sucedeu Zacarias em 752 a.C. e reinou apenas por um mês. Azarias ainda ocupava o trono de Judá.15.16. Tirza. Tirza era o local da residência real de Jeroboão I. Provavelm ente tom ou-se a capital do reino do norte na época de Baasa e permaneceu como capital até O nri transferi-la para Sam aria. Tirza foi identificada com o T ell el-Farah, onze quilôm etros a nordeste de Siquém na estrada para Bete-Seã. Era favorecida por estar localizada em um terreno elevado, possuir um abastecimento abundante de água (duas fontes que alim en tav am o v ale de Farah) e ocupar um a posição estratégica na rota comercial, além de ter acesso direto aos vaus do rio Jordão em Adão. Vestígios da Idade do Bronze M édia indicam que o portão e as fortificações foram reconstruídos e há evidência de um plano central na construção de novas casas em toda a cidade. Sua im portância política tam bém pode ser inferida a partir de sua menção na lista de conquistas de Sisaque, durante a invasão da Palestina.15.16. T ifsa . Tifsa (ou Tapuá) posteriormente pode ter sido chamada de Tapsacus, na Síria, um a cidade na curva ao norte do rio Eufrates. O nome Tapsacus só é confirmado a partir do quarto século a.C. pelo escritor
grego Xenofonte. A cidade de Tifsa também é mencionada como uma das cidades de Salomão (1 Rs 4.24). A distância de Tifsa a Israel mostra que M enaém exerceu grande influência durante o período do declínio assírio.15.16. tratam ento dado a m ulheres grávidas. O atode rasgar ao meio as mulheres grávidas é mencionado muito raramente. Essa prática foi atribuída ao rei assírio Tiglate-Pileser I (por volta de 1100) em um hino de louvor às suas conquistas. Também é citada de passagem num lamento neobabilônico.
15.17-22 Menaém, rei de Israel15.17. cronologia . D e acordo com Thiele, M enaém reinou no período de 752 a 742 a.C.. Como os três reis israelitas anteriores, ele foi contemporâneo de Azarias, rei de Judá. Seu reinado sobrepõe-se ao início do império neo-assírio, sob Tiglate-Pileser III.15.17-22. M enaém em inscrições assírias. M enaém é mencionado, juntam ente com outros reis do Levante, nos anais assírios, como pagador de pesados tributos a Tiglate-Pileser III (também conhecido como Pul ou Pulu). Ele tam bém é citado na esteia assíria encontrada recentem ente no Irã. A lista de tributos incluía prata, ouro, estanho, ferro, peles de elefante, marfim, vestes de púrpura azuis e vermelhas, vestes de linho e camelos. Supõe-se que M enaém não teria enviado todos esses itens, mas apenas um a parte deles.
15.23-26 Pecaías, rei de Israel15.23. cron ologia . Pecaías, filho de M enaém , assum iu o trono de Israel em 742 a.C. e reinou por dois anos. Azarias ainda era o m onarca de Judá.15.25. cidadela do palácio real. Esse termo também é encontrado em Isaías 13.22, com o significado de "p alácios de delícias". Lá o contexto parece referir-se a um a estrutura específica dentro do complexo do palácio. Os reis assírios construíam enorm es complexos palacianos muitas vezes chamados de "fortalezas do re i", que serviam como uma área de defesa no interior da cidade, caso os m uros fossem derrubados ou surgissem revoltas internas.
15.27-31 Peca, rei de Israel15.27. cronologia. O texto afirma que no último ano de Azarias, rei de Judá, Peca tom ou-se rei de Israel, permanecendo no trono por vinte anos. Thiele situa seu reinado de 752 a 732 a.C., tornando-o assim, contemporâneo de M enaém e, por um curto período, de Pecaías. Se esses dados estiverem corretos, então ha
via m ais de um a pessoa usando o título de monarca em Israel nesse período, o que seria coerente com o tum ulto descrito pelo(s) escritor(es) de 2 Reis. O(s) escritor(es) de 2 Reis podem ter datado o reinado de Peca a partir do estabelecimento de um reino separado, a leste do Jordão. Ainda não foi possível decifrar esse emaranhado de dados.15.25-31. Peca e as cam panhas assírias. Peca é mencionado nos anais assírios de Tiglate-Pileser III como Paca. O rei assírio declarou que quando os israelitas d epuseram Peca, T ig la te-P ileser o su bstitu iu por Oséias, o últim o rei de Israel (732 a.C.). Depois disso, os assírios exigiram pesados tributos de Israel. Peca também é citado num fragmento de jarro de Hazor, que sim plesm en te reg istra , "v in h o p ertencente a Peca".
16.1-20 Acaz, rei de JudáPara informações relacionadas aos versículos 1-9, ver os comentários em 2 Crônicas 28.16.10. Acaz e T ig late-P ileser em D am asco. Esse encontro aconteceu depois da queda de Dam asco em 732. Esperava-se que Acaz, como leal vassalo, estivesse ali presente para reafirmar sua submissão e participar da celebração pela vitória do rei assírio.16.10. o altar de D amasco. A construção de uma cópia desse altar deve-se m ais ao fato de Acaz ter ficado impressionado e não a uma imposição assíria. Considerando o modo de agir dos assírios nesse período, parece que eles não forçavam seus vassalos a adotar o culto a Assur, seu deus principal. Portanto, essa atitude de Acaz deve ser interpretada como um interesse artístico e não como sincretismo religioso. Não foram encontrados indícios arqueológicos ou textuais que ofereçam um a descrição detalhada das características desse altar.16.14. altar de bronze. Ver o comentário em 2 Crônicas 4.1. Trata-se do altar principal do pátio, usado para o sacrifício de animais.16.14. m udança na posição dos altares. O altar de bronze foi colocado na parte leste do templo, ou seja, à frente da entrada. O novo altar de Acaz foi inicialm ente colocado entre a entrada para o pátio e o altar de bronze, m as depois se tornou o altar principal, uma vez que o altar de bronze foi transferido do eixo leste-oeste para um lugar ao norte do novo altar. Portanto, o novo altar substituiu efetivamente o altar de bronze.16.15. divisão das funções. Os rituais realizados sobre o novo altar eram tipicamente israelitas. N ão ocorreu nenhuma inovação nos cultos de adoração, nem ritos estrangeiros foram incorporados à prática israelita. O novo altar assum iu todas as funções do sistem a
sacrificial, restando apenas um a função para o altar de bronze, que não é descrita na literatura ritual israelita. O verbo usado (NVI "bu scar orientação") significa examinar ou inspecionar e pode sugerir sacrifícios em que as vísceras dos anim ais eram exam inadas para obter presságios. Não fica claro por que Acaz reservou essa função ao altar tradicional.16.17. tributos. A atividade descrita aqui é parte do processo da coleta de tributos. As pias usadas para transportar água do lavatório principal ficavam em estrados com rodas. Objetos sem elhantes foram encontrados em Chipre datando da época de Salomão. Os touros de bronze que sustentavam o tanque (ver 2 Cr 4.2-5) teriam de ser retirados para somar-se à cota de bronze exigida pelo pagam ento de tributos. No nono século, o rei assírio Assumasirpal recebeu touros de bronze como parte do pagamento de tributos.16.18. a ju stes por causa do rei da A ssíria. É difícil afirm ar com certeza se essas providências descritas foram tomadas com o propósito de ajuntar um tributo adicional para os assírios ou se refletem m udanças que destacariam e confirmariam a submissão de Acaz à suserania assíria. Os termos arquitetônicos usados são desconhecidos.
17.1-6 Oséias, rei de Israel17.1. cron olog ia . O séias tornou-se rei em 732 a.C. como resultado da destruição de grande parte do reino do norte promovida pelos assírios. O sincronismo entre os reinos do norte e do sul durante esse período é bastante com plexo e não há soluções fáceis. G eralm ente supõe-se que existiam diversas co-regên- cias, o que causaria essa aparente confusão. O rei assírio Tiglate-Pileser III afirma em seus anais ter colocado Oséias no trono de Judá.17.4. relações entre O séias e a A ssíria. Por causa do restabelecim en to do pod erio eg ípcio no L evante, Oséias achou melhor negociar com o Egito a fim de libertar-se do domínio assírio. O rei egípcio Sô não foi identificado, m as é bem provável tratar-se de Osor- kon IV, que governou na região leste do delta do Egito (Tânis, Bubastis) de 730 a 715 a.C.. Entretanto, o apelo de Oséias ao Egito não teve êxito. Não se sabe ao certo quando Oséias foi aprisionado pelos assírios (ou deportado). O s registros do breve reinado de Salmaneser V (governou de 727-722) são relativamente escassos. Sargon II (governou de 721-705) m encionou os samaritanos (i. e., os israelitas), m as não um rei, sugerindo que o rei já teria sido deportado.17.5, 6. a queda de Sam aria. Fontes assírias descrevem a "devastação" ocorrida em Samaria (c. 724-721), que possivelmente atingiu não só a cidade, mas toda a região. Algumas evidências arqueológicas dessa des
truição foram encontradas na cidade israelita de Si- quém. Isso estaria de acordo com a estratégia normalmente empregada pelos assírios de assolar o território de um a determ inada nação e em seguida cercar a cidade principal, impedindo o acesso a suas reservas. Tanto Senaqueribe quanto Nabucodonosor II empregaram essa política contra Jerusalém. O fato de o cerco de Sam aria ter durado três anos, apesar de os assírios serem especialistas nesse tipo de estratégia, demonstra que a cidade era bastante fortificada. A cidade sucum biu em 722-721. Em bora na B íblia o crédito pela conquista de Sam aria seja atribuído a SalmaneserIII, seu sucessor Sargon II reivindicou-o para si nos anais assírios. Sargon também afirmou ter reconstruído a cidade.17.6. política de deportação. N essa época, a política assíria de deportação estava em vigor há aproximadamente quatro séculos. Sargon afirmou ter deportado 27.290 pessoas de Samaria. O registro não esclarece se seriam todos homens e se vieram de toda a terra de Samaria ou apenas da cidade principal. O rei assírio afirm ou ter tom ado hom ens em núm ero suficiente para form ar um regim ento de cinqüenta carros de guerra. Os assírios também tinham uma política de repovoar os territórios conquistados com outros povos derrotados (embora Tiglate-Pileser parece ter deixado essa prática de lado ao não transferir pessoas para a G aliléia em 733). Sargon afirm ou ter repovoado a cidade de Samaria com outros deportados. A deportação tinha como objetivo.tirar dos povos conquistados qualquer possibilidade de se unirem para tentar se defender. Sem terra e sem nação, a identidade étnica ficaria comprometida (através da imposição cultural e da miscigenação), deixando-os sem uma identidade para defender e pela qual lutar.
17.7-41O pecado de Israel e suas conseqüências17.9. altares idólatras. A imagem retratada na narrativa bíblica é que, antes da construção do templo em
Jerusalém, os sacrifícios e rituais religiosos geralmente eram oferecidos nos santuários locais ou bamoth. Estes santuários foram construídos com esse propósito e na maioria dos casos era permitido entrar e prestar culto à divindade (ver o comentário em 1 Sm 9.12,13). Muitos desses santuários estavam localizados em áreas urbanas, m as isso não exclui a existência de santuários fora dos muros da cidade ou próximo às colinas. Nada se sabe a respeito da aparência dessas construções ou dos móveis e objetos utilizados, mas o grande núm ero de referências a esses locais de sacrifício sugere que alguns santuários eram construções esm eradas. Com o passar do tempo, a m onarquia e os líderes religiosos de Jerusalém tentaram suprimir o uso desse tipo de san tu ário a fim de en fatizar o tem plo de Salom ão com o o "lo ca l que o Senhor, o seu D eus, escolheu" e tam bém para elim inar o crescente sin- cretismo religioso em Israel. Inform ações adicionais sobre esses altares podem ser encontradas nos comentários de Deuteronômio 12.2, 3.17.10. colunas sagradas. Colunas sagradas ou mas- seboth eram ap aren tem en te com u n s n a re lig ião Cananéia. Em Israel, colunas desse tipo eram erguidas para celebrar algum acontecim ento e tam bém servir como m em orial em contextos relacionados à *aliança (ver Êx 24.3-8; Js 24.25-27). Esses m onum entos estavam associados a *Aserá, *Baal e outras d ivindades cananéias e por esse motivo foram conden ad os e con sid erad os um a am eaça à ad oração a *Yahw eh. Arqueólogos descobriram colunas sagradas em Gezer, Dã, Hazor e Arade. Nas duas últimas, as colunas estavam no interior de recintos sagrados onde faziam parte das práticas *cultuais. As colunas encontradas em Hazor contêm relevos de figuras com braços levantados e um disco solar. As pedras de Dã encontram-se na entrada do santuário, onde também foram encontrados vestígios claros de ofertas votivas.17.10. postes sagrados. Um a característica comum do culto cananeu e do culto *sincretista de Israel eram os postes-ídolos, presentes tanto nos altares e lugares
AS CAMPANHAS DE TIGLATE-PILESER III NO OCIDENTE, 734-732Desde o início de seu reinado (por volta de 743) Tiglate-Pileser interferiu grandemente na Síria com a finalidade de controlar as rotas comerciais dessa região economicamente estratégica. Por volta de 738 ele havia arrecadado tributos da maior parte das cidades da região (incluindo Damasco, cidades portuárias e Samaria). Nos anos seguintes ele voltou sua atenção para Urartu (na região do lago Van, ao norte) e em 735 já dominava aquela região. Em 734, deu início ao que ficou conhecido como a segunda campanha do ocidente, com o objetivo inicial de demonstrar seu controle sobre a região (especialmente das rotas comerciais) e coletar tributos. O itinerário da campanha o levou da estrada do Grande Tronco até Gaza. Não há registro de oposição por parte de nenhum rei da época. Em 733, os exércitos assírios retornaram à região, tendo como alvo principal a cidade de Damasco. Apesar de os arameus terem sofrido terríveis perdas, Damasco resistiu a um cerco de 45 dias conduzido pelos assírios. Nessa campanha, Tiglate-Pileser alcançou a região de Israel, anexando amplas áreas de seu território e transformando-as em províncias assírias. As cidades fortificadas, como Hazor e Megido, foram destruídas, e mais de 13 mil israelitas foram deportados; como não foram enviados outros habitantes para repovoar a área, a população da baixa Galiléia permaneceu reduzida por diversas gerações. A última fase da campanha em 732 resultou na queda de Damasco e sua posterior anexação. Em Israel, Peca foi executado e substituído por Oséias, um rei favorável aos assírios.
altos, como nos santuários na cidade. Não se pode afirm ar com certeza se seriam sim plesm ente postes de m adeira sim bolizando árvores, talvez contendo uma imagem entalhada da deusa da *fertilidade, ou se faziam parte de um bosque sagrado. A referência aqui de que esses postes sagrados eram erguidos debaixo de "toda árvore frondosa" parece indicar que, de fato, tratava-se de postes de m adeira erguidos com objetivos *cultuais, e não árvores. Por ser a consorte de *E1, Aserá evidentemente era uma deusa popular, cujo culto é mencionado em textos *ugaríticos (16001200 a.C .). O destaque que a narrativa bíblica lhe concede é um indício claro de que a adoração a Aserá rivalizava fortem ente com a de Yahweh. Ilustrações em selos encontrados em escavações na Palestina, datados da Idade do Ferro, m ostram Aserá como uma árvore estilizada. Para m ais inform ações, ver o comentário em Êxodo 34.13 e Juizes 6.25.17.11. queim ar incenso como ritual pagão. N o mundo antigo, o incenso era usado de diversas formas e em várias situações. Os fenícios usavam incenso para preparar o corpo do rei depois da morte. Em uma inscrição de Biblos, um rei descreve a si mesmo deitado sobre incenso. Também era usado nos rituais de culto aos mortos na Ugarit cananéia. Na Mesopotâmia, o incenso era usado nas ofertas dedicadas e propiciatórias. As pessoas da época acreditavam que o incenso ajudaria a levar as orações até a divindade, que se agradaria do perfum e exalado pelo incenso. Todas essas práticas eram condenadas pelos escritores das Escrituras.17 .16 ,17 . práticas inaceitáveis. As imagens fundidas de bezerros ou touros eram elementos característicos do culto cananeu. Foram encontradas imagens de bezerros em diversas localidades dessa região (para mais informações, ver os comentários em 1 Rs 12.28). Incli
nar-se perante os exércitos celestiais estava relacionado ao culto dedicado aos deuses celestiais (deus-sol, deus-lu a e V ênus p articu larm en te; n a B abilôn ia , Sham ás, Sin e Istar respectivam ente), costum e presente na m aioria das relig iões antigas. Segundo a crença, esses deuses controlavam o calendário, o tempo, as estações e o clima, portanto, eram considerados muito poderosos. Eles comunicavam presságios através de sinais e consideravam todos os demais desprezíveis. O Zodíaco não era conhecido ainda nessa época. Para informações concernentes a Baal, ver os com entários em Juizes 2.11-13. H á poucas referências fora das Escrituras quanto a "queim ar filhos e filhas em sacrifício", m as foram encontradas evidências dessa prática entre os assírios e os arameus (ver o comentário em D t 18.10). A divinhações e encantam entos tam bém eram bastante conhecidos na Mesopotâmia.
A adivinhação era usada para descobrir as atividades e motivações dos deuses, empregando para isso diversos indicadores (p. ex., as vísceras de animais sacrificados). A s pesquisas arqueológicas dos últim os 150 anos revelaram m ilhares de presságios e feitiçarias.17.24. repovoam ento de Sam aria. Em bora o rei da Assíria não seja mencionado aqui, fontes assírias afirm am que Sargon II reorganizou a área em 720 a.C.. Esses textos não citam quais os povos que foram deportados para repovoar a Samaria, porém, algumas tribos árabes foram transportadas para essa região cinco anos após sua reorganização. A Babilônia estava sob o domínio assírio nessa época. Cuta é identificada com Tell Ibraim, 32 quilômetros a nordeste da Babilônia. Ava é identificada como a cidade de Aw a (Ama, em acadiano, Amatu, no leste da Babilônia). Ham ate era a principal cidade dos arameus, às m argens do rio Orontes, na Síria. Sefarvaim tem sido identificada com Sipirani, ao sul de Nipur, apesar de Sabarain, na Síria ser também um a possibilidade. De qualquer m aneira, a política assíria era deportar os povos das áreas conquistadas e repovoá-las com povos diferentes.17.25. leões enviados por deus. A nim ais selvagens eram considerados iim castigo enviado pelas divindades para punir o povo. Desde o épico de Gilgamés, na M esopotâm ia, o deus Ea repreendeu Enlil por não enviar leões para assolar as pessoas, em vez de usar algo tão drástico como uma enchente. Animais selvagens, doenças, seca e fome eram alguns dos recursos usados pelos deuses para reduzir a população. Uma ameaça comum relacionada a maus agouros no período assírio era que leões e lobos podiam devastar toda a terra. Do mesmo m odo, a devastação provocada por animais selvagens era um a das maldições invocada em violações de tratados (ver também D t 32.24).17.25-29. sincretism o na Sam aria. As inscrições assírias da época de Sargon II afirm am que os novos habitantes da região eram obrigados ao pagam ento de impostos como se fossem assírios. Além disso, receberam instrução quanto à m aneira adequada de reverenciar a Deus e ao rei. A maioria dos povos da A ntigüidade acred itava que os deuses tinham ju risdição sobre áreas geográficas específicas. Assim, Yahw eh tinha controle sobre a Samaria, portanto deveria ser adorado por seus habitantes. Entretanto, os novos m oradores haviam levado seus deuses, e de acordo com o pensam ento politeísta antigo, sem pre havia espaço para m ais um deus. Se um deus dem onstrasse poder, seria perigoso não reconhecê-lo ou deixar de reverenciá-lo (ver comentário em Js 2.11). O objetivo de Sargon ao incentivar o sincretismo religioso na região era enfraquecer o impacto das tendências nacionalistas.
17.30,31 . lista de deuses. Não há nenhuma menção a
Sucote-Benote nos registros mesopotâmicos. Benote talvez seja Banitu (form a fem inina para "o criador"),
termo usado muitas vezes para designar Istar. Nergal
era o deus mesopotâmio das pragas e do mundo inferior; seu local principal de culto era Cuta (32 quilôme
tros a nordeste da Babilônia). Asim a aparece numa
inscrição de Teima, na Arábia, e também em alguns nomes próprios aramaicos, mas nada se sabe sobre a
divindade. Os aveus são identificados com a cidade
de Awa (Ama, em acadiano, Amatu, no leste da Babi
lônia). Nibaz e Tartaque foram identificados com as divindades elamitas Ibnaaza e Dirtaque (Dacdadra).
Acredita-se que Adrameleque represente Adir-Mele- que. Adir é um título que significa "o poderoso" e é
aplicado tanto a Baal quanto a Yahweh. M eleque sig
nifica "re i" e seria uma referência ao rei divino. Por
último, acredita-se que Anameleque represente a junção da deusa cananéia Anat (ou seu consorte masculi
no, An) com M eleque (um título com freqüência atribuído à divindade sem ita ocidental Atar). Pouco se
sabe a respeito desses dois últim os deuses, m as al
guns estudiosos os associam ao deus Moloque (ver os comentários em Lv 18.21; Dt 18.10).
18 .1 - 20.21Ezequias, rei de Judá18.1. cronologia. Ver os comentários em 2 Crônicas 29.
18.4. serpente de bronze, Neustã. Neustã não é mencionada em nenhuma outra fonte além das Escrituras.
O term o ap arentem ente é um a fu são dos term os hebraicos para bronze (nehoshet) e serpente (náhash).
Figuras de serpentes confeccionadas em cobre ou bronze foram encontradas em inúm eras localidades do
antigo Oriente Próximo, provavelmente representando im agens cultuais. Im agens de divindades segu
rando um a serpente eram bastante comuns. Este tipo de culto era praticado principalmente na região sírio-
palestina no final do segundo milênio e início do pri
meiro m ilênio a.C.. Supõe-se que N eustã era um a divindade com poder de cura (especialmente de mor
didas de cobras), considerada uma intermediária en
tre Yahw eh e o povo de Israel (ver o comentário em N m 21.8, 9). Em um a fam osa tigela de bronze encontrada em N ínive aparecem inscrições de nomes
hebraicos e também a figura de um a cobra com asas enrolada em um a espécie de bastão.
18.8. derrota dos filisteu s. Os portos filisteus estavam sob domínio assírio desde Tiglate-Pileser III (745-727
a.C.). Ezequias provavelm ente invadiu essa região em 705, depois da m orte de Sargon II, rei da Assíria,
durante um a batalha. Contando com a vulnerabili
dade da Assíria, Ezequias comandou grupos de opo
sição e iniciou um a rebelião explícita contra aquela poderosa nação visando enfraquecer o controle assírio
sobre as rotas comerciais para o Egito. O sucessor de
Sargon, Senaqueribe, porém, conseguiu estabelecer governos favoráveis à Assíria na Filístia.
18.11. lugares de deportação no norte. As áreas de deportação dos samaritanos não são exatamente co
nhecidas. Haia era uma cidade e província a nordeste
de Nínive, onde Sargon construiu sua capital através do trabalho forçado dos prisioneiros, dentre os quais
se incluíam os israelitas, provavelmente. Habor (Habur)
era um grande afluente do rio Eufrates no leste da Síria. A área tinha uma grande população de arameus.
Gozã (Tell Halaf) era uma cidade próxima à nascente
do rio H abur e era a principal cidade da província
assíria de Bit Bahian. Nomes próprios israelitas foram
encontrados em documentos assírios de Gozã. Essas áreas sofreram uma diminuição da população devido
às freqüentes incursões assírias nos séculos anteriores.
N essa região, os deportados provavelm ente cuidavam das terras do rei. As "cidades dos m edos" prova
velmente eram regiões da Média, no noroeste do Irã,
controladas pela Assíria. As campanhas de Sargon na
Média são bem documentadas. As inscrições de Sargon relatam a repovoamento de cidades fortificadas como
Harhar e Quiessu com a chegada de deportados. Pro
vavelm ente os israelitas deportados iriam servir em alguma força m ilitar na linha de frente.
18.14-16. o tr ib u to de E zequ ias. A s inscrições de
Senaqueribe declaram que Ezequias pagou trinta ta
lentos de ouro (cerca de um a tonelada) e oitocentos talentos de prata (cerca de 25 toneladas). Os textos
assírios são mais detalhados, afirmando que Ezequias foi obrigado a enviar suas filhas, suas concubinas,
seus m úsicos, marfim, peles de elefantes e diversos outros objetos.18.17. os oficia is de Senaqueribe. Tartan, Rabsaris e
Rabsaque são citados em algumas traduções, porém a
NVI refere-se a eles como "general, oficial principal e comandante de cam po". A NVI está correta no sentido
de que esses termos são títulos (que aparecem com freqüência em textos assírios) e não nomes. O primei
ro, Tartan (acadiano, turtan), ou "oficial de cam po" era o principal oficial militar. Ele representava o rei e às vezes o príncipe herdeiro da coroa. O segundo,
R ab saris (acad iano, rab sha resh i), ou "ch e fe dos eunucos", provavelmente era o representante de uma
divisão militar específica, como a guarda pessoal do
rei. O terceiro , Rabsaque (acadiano, rab shaqe), ou "copeiro-m or" aparentemente seria o governador da província.
18.17-37A ameaça de Senaqueribe a JerusalémP aia informações, ver os comentários em 2 Crônicas 32.19.2. Sebna, o secretário. Sebna foi um burocrata do alto escalão durante o reinado de Ezequias. Certa ocasião, ele foi um "assessor real", desempenhando uma função incerta. O cargo de assessor real provavelmente era a m ais alta função civil na administração, com evidências de documentos tanto do próprio texto como também em selos oficiais e bulas (ver a nota de rodapé em Jr 32). Sebna mais tarde foi removido desse cargo e tornou-se um escriba ou secretário (provavelmente por causa de algum escândalo). Foi encontrada uma tumba perto de Jerusalém com um fragmento de nome próprio (com Yahw eh no sufixo) e o título de assessor real. Alguns acreditam tratar-se da tumba de Sebna, mencionada em Isaías 22.15, 16.19.8. Senaqueribe contra Libna. Libna ficava na Sefelá ju d a ica , treze qu ilôm etros a n o rd e ste da c id ad e fortificada de Láquis, podendo ser identificada como Khirbet Tell el-Beida ou Tell Bom at (oito quilômetros em direção ao oeste). Localizada estrategicamente perto da passagem de Zeita, servia de guarda para o melhor caminho para Hebrom, vindo da costa. Os anais assírios d escrev em o cerco de G ate e A zeca por Senaqueribe e relevos de parede em Nínive retratam o cerco de Láquis. Libna situava-se nos arredores dessas cidades, revelando que o m onarca assírio lentam ente se m ovia em direção ao seu verdadeiro propósito, Jerusalém.19.9. Tiraca. Tiraca (nubiano: Taarca) foi um rei etíope
(em hebraico, cuxita) que governou o Egito durante a Vigésima Quinta Dinastia (reinou de 690 a 664 a.C.). Acerca da identificação geográfica de Cuxe, ver o comentário em Núm eros 12.1. Em bora não exista nenhuma evidência fora da Bíblia, o título bíblico "rei de Cuxe" pode ter sido atribuído a ele enquanto ainda era um príncipe. D urante seu governo realizou muitas obras, restaurando os templos e os muros das cidades de Mênfis (sua residência real), Tebas e Napata, deixando inúmeras inscrições em todo o Egito. Tiraca desenvolveu uma forte campanha militar no Levante antes de 674 a.C.. N esse ano, Esar-H adom , rei da Assíria, atacou o Egito, mas foi detido pelas forças de Tiraca. Três anos mais tarde, porém, Esar-Hadom conquistou Mênfis, obrigando o m onarca egípcio a fugir para o sul. Outra força assíria dirigiu-se para o Egito em 666 a.C., obrigando-o a fugir para a Núbia. Mas apesar de tudo, Tiraca foi considerado rei do Egito até sua morte em 664.19.12, 13. lista . G ozã ficava na Síria, para onde os deportados de Israel haviam sido enviados (ver o com entário em 18.1). H arã ficava a oeste de Gozã, ao
longo do rio Balikh, na atual Turquia. Rezefe (Ra- sapa) provavelm ente foi a cidade que se tornou a capital da província assíria na Síria, a leste de Em ar e a oeste de Mari, ao longo do alto Eufrates. A tribo aram aica de Bit-A dini (Eden), no noroeste da Síria fora conquistada por Salm aneser III (reinou de 858824 a.C.) e passou a ocupar Telassar, que provavelm ente era Til-A shshuri ("m orro dos assírios"), um lugar entre os m ontes Zagros, perto do rio Diyala, no Iraque. H am ate e A rpade eram im portantes cidades dos arameus na Síria, conquistadas por Tiglate- P ileser III (reinou de 745-727 a.C.). Sefarvaim tem sido identificada como Sipirani, ao sul de Nipur, mas Sabara in , na S íria , tam bém é um a p ossib ilid ad e. Hena e Iva são desconhecidas.19.15. entronizado entre os querubins. Os querubins eram criaturas aladas associadas à arca da aliança e à presença de Yahweh. Eles tam bém acom panhavam Yahw eh em suas incursões pelos céus (ver SI 18.10). Nos textos mitológicos assírios são representados como Karibu, ou intercessores angelicais. Na arte assíria, são retratados como criaturas compostas bípedes ou quadrúpedes, tendo uma ou mais faces (de homem, boi, águia ou leão). Para informações adicionais, consulte o comentário em Êxodo 25.18-20.19.23. derrubar os cedros do Líbano. Isaías está parafraseando o estilo arrogante do rei assírio Senaqueribe. Os anais assírios reais dos séculos nono e oitavo a. C. costumavam empregar temas como atravessar despenhadeiros de difícil acesso, derrubar grandes árvores e suprir o exército com água. Senaqueribe declarou ter derrubado os cedros do Líbano e usado a madeira para construir seus palácios reais e prédios públicos em Nínive.19.28. anzol em seu nariz. Essa im agem tem semelhança com a literatura e iconografia assíria. Esar- H adom é ilustrado numa esteia de Zinjirli, na Síria, conduzindo Baal de Tiro e Tiraca, rei do Egito, por
um a corda am arrada a um a argola presa em seus lábios. Assurbanipal afirmou ter furado as bochechas de Uate' (rei de Ismael) com um instrumento pontiagudo e introduzido um a argola em seu maxilar. Ao fazer uso dessas expressões, Isaías, estava zombando das práticas assírias.19.29. agricultura renovada. Esse versículo deixa implícito que as áreas agrícolas haviam sido devastadas pelo exército assírio. A intenção dos assírios em destruir as plantações dos inimigos pode ser comprovada pelos registros nos anais. Tiglate-Pileser III destruiu os arredores de Damasco, derrubando seus pomares. Os anais desse rei assírio descrevem destruição semelhante durante suas campanhas na Babilônia. Apesar de toda essa destruição, Isaías disse a Ezequias que
aquilo que a terra produzisse naturalmente seria suficiente para abastecê-los por dois anos, quando então o trabalho normal nos campos seria retomado.19.32. nem flech as, n em ram pas. Senaqueribe descreveu detalhadamente em seus anais as técnicas empregadas para os cercos de 46 cidades de Judá. Além disso, o rei assírio afirmou ter "aprisionado" Ezequias em Jerusalém e cercado a cidade com "ram p as de terra". Em nenhum trecho de seus anais, porém, Senaqueribe afirm ou ter iniciado um cerco a Jerusalém , como havia feito em outras cidades. O rei assírio continuou a relatar o tributo enviado a ele por Ezequias, mas não mencionou a conquista da cidade em si. Para m ais inform ações, consulte a nota de rodapé em 2
Crônicas 32.19.35. divindade destruindo o inim igo. Em uma dasinscrições de Assurbanipal, consta que Erra (a divindade que representava as pragas) destruiu Uaite (rei árabe de Shumuilu) e seu exército por não terem respeitado as condições de um acordo firmado entre eles.19.37. N isroque. Não se tem informação sobre nenhuma divindade com esse nom e na Mesopotâmia. Talvez seja uma alteração intencional do nom e de alguma divindade, como Marduque, N uscu ou Ninurta. O evento mencionado nesse versículo ocorreu no vigésimo dia do décim o m ês do ano 681, vinte anos depois do cerco de Jerusalém.19.37. Ararate. Ararate (ou Urartu) era um poderoso reino na atual A rm ênia, na região dos lagos Van, Urmia e Sevan. Esar-Hadom menciona o fato de seus irmãos terem lutado contra sua ascensão ao trono, mas não esclarece o local onde se refugiaram. Porém, Esar- H adom exigiu que o rei Surpia, no sul de Ararate, extraditasse os fugitivos assírios, e alguns deles poderiam ser seus irmãos. O reino de Ararate representou uma constante ameaça para a fronteira norte da Assíria por cerca de três séculos (c. 900-600 a.C.). Escavações no local revelaram uma próspera civilização com literatura e iconografia sofisticadas.20.3. a oração de Ezequias. Foi descoberta uma oração do rei assírio Assurnasirpal I (metade do século onze a.C.) na qual ele pede à deusa Istar para curá-lo de um a enferm idade, com base em sua fidelidade. Na oração, o rei se declara humilde, reverente e amado pela divindade, além de mencionar que cumpriu fielm ente vários rituais. M enciona tam bém suas lágrimas e sua ansiedade, implorando pela cura m isericordiosa. O texto da oração de Ezequias encontra-se em Isaías 38.9-20; ver também os comentários.20.7. em plastro de figos. É possível que um a pasta de figos amassados fosse usada como condimento e com propósitos medicinais em Ugarit. Tanto fontes rabínicas quanto fontes clássicas posteriores (p. ex., Plínio, o
Ancião) compartilhavam da crença no valor medicinal dos figos secos. Emplastros às vezes eram usados no diagnóstico e não como medicamento. Um dia ou dois após o emplastro ter sido aplicado, verificava-se a reação da pele ao em plastro. U m texto m édico de Em ar prescreve o uso de figos e uvas passas para um processo sem elhante a esse. Esse tipo de emplastro ajudava a determ inar qual tratam ento deveria ser prescrito ao paciente e se ele iria ou não se recuperar.20.11. som bra na escadaria de Acaz. A "som bra na escadaria de Acaz" talvez fosse uma espécie de relógio de sol. O Rolo de Qumran relacionado ao texto de Isaías 38.8 traduz essa expressão como "n o relógio de Sol no telhado do quarto de Acaz". Uma idéia semelhante pode ser encontrada no m odelo de uma casa egípcia, descoberta por escavações, com dois lances de escadas que perm itiam ver as horas. Por outro lado, talvez fossem alguns simples degraus para conduzir à parte mais elevada da casa, onde havia sombras em determinada hora do dia. O texto não menciona se a estrutura era usada para mostrar as horas. Poderia tratar-se também de uma estrutura usada para prestar culto às divindades astrais. Se de fato representava um m ecanism o para m ostrar as horas, esta seria a única menção a um instrumento desse tipo em todo o Antigo Testamento. Os relógios de Sol eram conhecidos na época do Antigo Testamento, tanto na Babilônia como no Egito, com evidências arqueológicas que remontam ao século quinze a.C..20.12. M erod aqu e-B alad ã . M erodaque-Baladã (ou Berodaque-Baladã) é M arduque-apla-idina II citado em fontes assírias e babilónicas. Ele foi um chefe caldeu da tribo Bit-Yakin que se aliou a Tiglate-Pileser III, rei da Assíria, contra outro governante babilónico (c. 731 a.C.). D ez anos m ais tarde M erodaque-Baladã assum iu o trono da Babilônia e Sargon II só conseguiu afastá-lo em 710 a.C.. M ais uma vez ele voltou a ser chefe de uma tribo dos caldeus, tom ando-se vassalo do rei assírio. Após a m orte de Sargon, na batalha de 705 a.C., M erodaque-Baladã ajudou a instigar uma revolta contra o domínio assírio. É nesse período que está situada a narrativa de 2 Reis. Baseado nas ações de Ezequias contra o governo assírio, ele aparentem ente agiu em concord ância com a estratégia de Merodaque-Baladã. O chefe babilônio depôs o assírio nomeado para o trono da Babilônia e governou próximo de Borsipa (703 a.C.) até ser deposto por Senaqueribe, o novo rei da Assíria, no mesmo ano. M erodaque- Baladã fugiu para Elão, onde m orreu logo depois.
21.1-26 Manassés, rei de JudáPara informações a respeito desse trecho, ver os com entários em 2 Crônicas 33.
21.13. fio de prumo. O fio de m edir e o fio de prumo eram ferram entas comuns usadas na construção de prédios feitos de tijolos de barro, em todo o Oriente Próxim o. Para m edir um terreno usava-se o fio de medir (geralm ente uma corda, um barbante ou um fio). O mestre de obras usava um fio de prumo, com uma pedra ou um pedaço de lata servindo de peso, para verificar se a estrutura construída estava reta.21.18. jard im de Uzá. O jardim de Uzá não foi localizado com segurança. Alguns estudiosos afirmam que ficava no cemitério localizado na aldeia de Siloam, a leste da Cidade de Davi. Porém, Uzá pode ser uma forma reduzida de Uzias, o rei leproso de Judá, indicando que talvez se trate do jardim privativo de Uzias, usado tam bém pelos reis que vieram depois dele.
22.1-23.30 Josias, rei de JudáPara informações a respeito desse trecho, ver os comentários em 2 Crônicas 34.
23.1. função das autoridades. As autoridades (chefes das famílias patriarcais) exerceram um papel fundam ental no período inicial da organização tribal de Israel e evidentemente ainda desem penhavam uma importante função durante a monarquia. Esses líderes eram investidos de autoridade pelas comunidades locais e é possível que durante a m onarquia suas funções na liderança política fossem limitadas. As autoridades das cidades tam bém tinham um a função limitada na manutenção da estabilidade e no cumprimento das leis nas comunidades da Babilônia. Porém, esses líderes não tinham influência nas questões políticas, visto que o monarca controlava o poder do Estado, a economia e as forças armadas.23.2. leitura pública de docum entos. Mesmo após a
invenção do alfabeto, a maior parte da população do antigo Oriente Próximo era analfabeta, assim, a leitura pública de documentos tinha uma importante função. Fontes assírias descrevem arautos à entrada dos
portões da cidade lendo pronunciamentos reais para grupos de espectadores.23.3. coluna. O rei ficou junto a uma coluna ou pilar (plataforma, de acordo com o escritor judeu Josefo). Talvez fosse uma estrutura no templo reservada para a realeza. Não existe nenhum texto semelhante relacionado a esse costume em todo o Oriente Próximo.23.4. exércitos c e lestes . A adoração aos exércitos celestiais refere-se ao culto aos deuses celestiais (deus- sol, deus-lua e Vênus particularmente; na Babilônia, Sham ás, Sin e Istar respectivam ente), presentes na maioria das religiões antigas. Segundo a crença, esses deuses controlavam o calendário e o tempo, as estações e o clim a, portanto, eram considerados m uito
poderosos. Eles comunicavam presságios através de sinais e consideravam todos os demais desprezíveis. Por volta do final do segundo m ilênio um a grande coletânea de presságios celestes, as setenta tabuletas da obra conhecida como Enuma Anu Enlil, havia sido compilada, sendo usada para consulta por quase mil anos. Estampas de selos de Israel desse período mostram que as divindades astrais eram m uito populares. Havia muitas constelações reconhecidas pelos astrólogos mesopotâmios (muitas delas são as mesmas que identificamos hoje, transmitidas através dos gregos), mas o Zodíaco ainda não era conhecido nessa época. Para mais informações, ver o comentário em 2 Crônicas 33.523.4. vale de Cedrom para Betei. O vale de Cedrom ficava a leste da Cidade de Davi. Betei ficava cerca de 16 quilômetros ao longo da principal rota de transporte, bem ao norte de Jerusalém. Betei havia sido o local do santuário do bezerro de ouro até um século atrás, quando o reino do norte foi derrotado pela Assíria. Josias tam bém profanou o altar de Betei (ver os v. 15, 16), tom ando-o um lugar adequado para jogar as cinzas desses objetos religiosos profanos.23.5. sacerdotes pagãos. O termo "sacerdotes de ídolos pagãos" (hebraico, komer) tem m uitos paralelos no antigo O riente Próxim o, especialm ente na Assíria. Documentos do Antigo Período Assírio (c. 2000-1800a.C.), na Capadócia, e um único documento de Mari,
do reino do rei assírio, Sam shi-A dade I (reinou de 1814-1781 a.C.) mencionam sacerdotes Kumru. Uma rainha árabe recebeu o título de sacerdotisa "kum irtu", num a inscrição do rei assírio Assurbanipal (668-631a.C.). Kumra' tam bém era a palavra para sacerdote em aram aico no prim eiro m ilênio a.C.. É plausível que os sacerdotes m encionados nesse versículo servissem também nos santuários das divindades semitas do ocidente, tais como Baal e Aserá, contudo alguns estudiosos os consideram sacerdotes renegados de Yahw eh.23.6. espalhar cinzas sobre os túm ulos. A seqüência de ações (queimar, triturar, espalhar) tam bém aparece em um texto ugarítico indicando a destruição total da divindade - toda ação destrutiva estava sendo cum prida. Espalhar as cinzas sobre os túmulos era o ato final e extremo de profanação da divindade.23.7. prostitutos cultuais. O termo hebraico qedeshim refere-se a "hom ens consagrados". Sabe-se muito pouco a respeito dessa prática, mas era totalmente condenada; é possível que estivesse relacionada à prostituição cultual (ver D t 23.18, 19). Existem alguns termos cognatos em acadiano e ugarítico que tam bém não esclarecem a função desempenhada por esses homens. O radical da palavra indica estar ritualm ente puro.
Um a qaãishtu em acadiano era um a m ulher que ocupava posição especial, desempenhando funções específicas no tem plo (parteira, am a-seca ou devota do deus do templo), m as nenhuma dessas funções parece ter um a conotação sexual óbvia. Um a situação semelhante pode ser encontrada em Ugarit. A condenação dos prostitutos aqui em 2 Reis 23.7 pode estar relacionada ao fato de que eram devotos de divindades es
trangeiras.23.7. teciam para Aserá. Aparentemente as mulheres estavam tecendo tipos de m antos ou vestes para adornar a estátua de Aserá (ou seu poste-ídolo). Era bastante comum na Mesopotâmia a prática de confeccionar vestes ricamente bordadas a fim de colocá-las nas estátuas dos deuses.23.8. profanou os altares. A profanação de lugares sagrados ocorria quando práticas cultuais proibidas eram realizadas nesses locais. As leis para preservar a pureza dos santuários de Yahw eh estão registradas no Livro de Levítico, mas aqui a profanação decorreu de práticas inaceitáveis realizadas na presença de Yahweh. Os santuários de diferentes deuses podiam ser profanados por diversos motivos, no entanto, al
gumas ações eram consideradas por todos como profanação. Transform ar um lugar sagrado em cemitério (ver v. 14) ou latrina (ver 10.27) resultaria em profanação permanente.23.8. desde G eba até Berseba. Geba (moderna Jaba) era uma pequena aldeia no território de Benjam im , cerca de dez quilômetros ao norte de Jerusalém. N enhum a escavação foi conduzida ali, m as pesquisas superficiais revelaram vestígios da idade do Ferro no local. Localizava-se acim a da estratégica passagem que atravessava o profundo d esfilad eiro do vale Swenit, em M icmás, partindo do norte até a região de Jerusalém. Provavelm ente exercia a função de cida- de-santuário na fronteira. É comparada a Berseba, a cidade do extremo sul de Judá. Os arqueólogos encontraram ali um altar demolido que talvez tenha sido destruído durante o período de Josias. De qualquer maneira, o texto aqui deixa claro que Josias fez uma limpeza em toda a terra de Judá (de norte a sul) eliminando todo tipo de culto pagão.23.8. altares idólatras ju nto às portas. Em D ã foram encontradas colunas em um santuário situado exatamente no interior das portas da cidade, havendo também no local vestígios da dedicação de ofertas votivas. A credita-se que essas colunas representavam algum as das divindades das cidades que haviam sido conquistadas por Israel. As ofertas votivas eram dedicadas em cumprimento de votos feitos àquelas divindades (talvez buscando ajuda para destruir a cidade contra a qual os israelitas estavam lutando). Para mais
informações sobre colunas, ver o comentário em 17.10.23.8. porta de Josu é. A porta de Josué não é m encionada em nenhum outro trecho das Escrituras e sua localização precisa é desconhecida. Pode ser um nome alternativo para uma das portas de Jerusalém. Provavelm ente era a porta reservada para o governador, que era o oficial m ais graduado na administração da cidade. Foi encontrado um selo do sétimo século a.C., de Judá, com uma inscrição onde se lê "governador da cidade". O selo contém uma ilustração artística que remete ao simbolismo assírio.23.9. com iam pães sem ferm en to . O term o usado aqui para pão sem fermento é uma expressão genérica que designava as ofertas de cereais ou os bolos sem fermento consumidos durante a celebração da Páscoa. Visto que o fermento estava associado à contaminação e, portanto, à impureza, muitas cerimônias sagradas incluíam o uso de pão sem fermento.23.10. Tofete, Ben-H inom , M oloque. Tofete era um templo onde se sacrificavam crianças ao deus M oloque. Supõe-se que essa palavra designava o forno no qual a criança era colocada. O termo hebraico equivale, tanto em ugarítico como em aramaico, ao significado de "fornalha" ou "fogueira". Eruditos acreditam que Tofete estava na beira do vale de Ben-H inom ,
antes de sua junção com o vale de Cedrom. O vale de Ben-Hinom foi identificado com o vale er-Rahabi, a sudoeste da Cidade de Davi. Muitos estudiosos admitem que M oloque era uma divindade do mundo inferior presente em rituais de origem cananéia voltados ao culto dos ancestrais. Um a inscrição fenícia do oitavo século a.C. fala de sacrifícios oferecidos a Moloque pelos habitantes da Cilicia e por seus inimigos, antes da batalha. O nome M oloque parece estar relacionado ao termo hebraico mlk ("governar"). Os sacrifícios dedicados a M oloque eram oferecidos no templo de Baal,o que permite supor que M oloque fosse um epíteto do próprio Baal ou de outras divindades (Jr 32.35).23.11. cavalos e carruagens consagrados ao sol. Cavalos brancos desempenhavam um importante papel nos rituais assírios e geralmente estavam associados a Assur e Sin, as principais divindades do panteão assírio. Certos rituais incluíam a dedicação de cavalos brancos que eram colocados aos pés da divindade. Diversas divindades assírias cavalgavam durante as festas em carruagens puxadas por cavalos. Na mitologia assíriao deus-sol era transportado pelo céu num a carruagem conduzida por seu cocheiro Rakib-il. No sincretismo religioso mencionado aqui, Y ahw eh provavelm ente estava sendo adorado como o deus-sol, e as carruagens e cavalos representavam seu veículo. Evidências arqueológicas da idade do Ferro revelaram estatuetas de cavalos com discos solares no pedestal cultual
de Taanaque, representando um cavalo com um disco solar no dorso. Essas figuras teriam alguma sem elhança com os bezerros de ouro e a arca da aliança que serviam respectivamente como pedestal ou escabelo da divindade. N enhum a dessas im agens representa a divindade propriamente, mas seu trono.23.12. quarto sup erior de Acaz. O quarto superior funcionava como um a sala de audiência, logo, estava situado na área principal do palácio.23.13. m onte da D estru ição. A expressão hebraica para "m onte da Destruição" provavelmente é um jogo de palavras relacionado ao "m onte da Unção ou das O liveiras". Foi identificado com segurança com o o m onte situado na atual aldeia árabe de Silwan.23.13. ídolos de Salom ão. Para agradar suas esposas estrangeiras, Salomão construiu altares e santuários para elas adorarem seus deuses (ver o comentário em1 Rs 11.5-7).23.14. cobriu com ossos hum anos. Supõe-se que os ossos hum anos foram espalhados sobre os entulhos para que ninguém tentasse retirar dali qualquer objeto, visto que era considerado um tabu entrar em contato com cadáveres ou restos mortais (ver o comentário em N m 19.11).
23.16. exumação. Josias está cumprindo a profecia de1 Reis 13.2. Os piores criminosos, tanto na Mesopo- tâmia quanto em Israel, não eram enterrados de m odo digno, m as seus ossos eram queim ados ou jogados fora. Essa era a pior coisa que poderia acontecer a uma pessoa, visto que a existência espiritual estava totalmente entrelaçada com a existência física (para mais informações, ver os comentários em N m 3 .1 2 ,1 3 e Js 8.29). Assim, se os ossos de uma pessoa fossem destruídos, a própria existência daquela pessoa também seria extinta.23.21-30. celebração da Páscoa. Para inform ações a esse respeito, ver os comentários em 2 Crônicas 35.
23.31-35Jeoacaz, rei de Judá23.31. cronologia. Jeoacaz iniciou e terminou seu breve reinado de três meses em 609 a .C , não m uito tempo depois da queda final do império assírio em Harran, e às vésperas do grande confronto entre o Egito e a Babilônia pela suprem acia no O riente Próximo.23.33. relações com o Egito. O Levante tom ou-se uma área instável após o colapso da Assíria, em 612-610a.C., quando Egito e Babilônia passaram a lutar pela supremacia na área. O Egito aparentemente não obteve sucesso ao tentar suspender o cerco do últim o local ainda sob domínio assírio em Harã, em 610-609 a.C.. Quatro anos m ais tarde, Josias, rei de Judá tentou conter a invasão do Egito na Síria, mas foi ferido na
batalha de Megido, vindo a morrer logo em seguida. Por causa do vácuo político na região, Judá tom ou-se um protetorado egípcio (609-608 a.C.). Os egípcios, em bora com certo atraso, avançaram para o norte e lutaram contra os caldeus em Carquemis, sofrendo um a terrível derrota (605 a.C .). O s caldeus deram continuidade à guerra invadindo o Egito em 601-600, mas sofreram pesadas baixas. De qualquer maneira, Judá ficou apenas tem porariam ente sob o domínio político do Egito.23.33. R ibla, na terra de Hamate. Ribla (moderna Tel Zerr'a) era um im portante centro adm inistrativo e militar perto de Cades, às margens do rio Orontes, na Síria, cerca de 32 quilômetros ao sul do principal centro político aram eu em Hamate. Os assírios haviam construído um a fortaleza no local no oitavo século utilizada posteriormente por Nabucodonosor II, rei da Babilônia, como quartel-general durante sua campanha no ocidente.23.33. tributo im posto a Judá. Esse valor é bem menor do que a multa imposta a Ezequias (três talentos de prata e trinta talentos de ouro; 2 Rs 18.14). A porcentagem de prata (três toneladas e m eia de prata) em relação ao ouro (35 quilos de ouro) também é diferente (100 para 1 em vez de 10 para 1).23.34. m udança de nom e. A m udança de nom e foi mínima, visto que o elemento teofórico (o radical indicando Deus contido no nome) foi alterado de "E l" (genérico para deus) para "Jeo" (Yahweh). A mudança provavelmente estava relacionada ao juram ento de
lealdade a um novo soberano, algo que os reis assírios tam bém faziam. Na geração anterior, Psam eticus I, rei do Egito (pai de Neco), teve seu nome mudado para N abushezibani pelo rei assírio A ssurbanipal, quando passou a ocupar o cargo de governante distrital. O bserve tam bém a m udança no nom e de D aniel e seus amigos (Dn 1.6, 7),
23.36-24.7Jeoaquim, rei de Judá23.36. cronologia. O reinado de Jeoaquim durou onze anos, de 609 a 598 a.C.. Durante esse período, Nabucodonosor, re i da Babilônia enfrentou um a terrível batalha na fronteira egípcia, em 601-600, com resultados duvidosos. Ambos os exércitos sofreram graves perdas e o rei caldeu não conseguiu invadir o Egito. Esse fato pode ter encorajado Jeoaquim a rebelar-se contra a Babilônia.
24.1. N abucodonosor e Jeoaquim . Nabucodonosor II assumiu o trono da Babilônia em 605 a.C., após sua vitória contra o Egito na Batalha de Carquemis, nesse mesmo ano. A partir desse período, Jeoaquim tornou- se vassalo da Babilônia durante grande parte de seu
remado. A Crônica Babilónica afirma que depois disso os caldeus conseguiram firmar seu domínio no Levante a partir do Egito. N abucodonosor reagiu atacando Judá com a guarnição de tropas vindas do oeste. Jeoaquim foi capturado e acorrentado (ver 2 Cr36.6), mas aparentemente escapou de ser exilado, visto que morreu em Judá.24.2. tropas invasoras. "C ald eu s" era a designação dada ao povo de língua sem ita de Nabucodonosor II, rei da Babilônia. São mencionados nos registros assírios como habitantes da Babilônia no início do primeiro m ilênio a.C.. Em bora os arameus ligados ao estado aram eu no norte de Israel sejam m ais conhecidos, também havia os arameus do leste, um povo de língua sem ita que habitava um a grande parte do vale dos rios Tigre e Eufrates e que freqüentemente aparece ao lado dos caldeus. As evidências perm item supor que os caldeus viviam em cidades, enquanto que os arameus eram seminômades. De acordo com fontes babilónicas, os m oabitas e os am onitas estavam debaixo do domínio da Babilônia, portanto foram obrigados a recrutar e enviar tropas para lutar contra os
rebeldes vizinhos.24.7. B ab ilôn ia versu s Egito. Nabucodonosor II tentou repetir sua vitória contra os egípcios em Carque- mis, invadindo o Egito em 601-600. O confronto aconteceu no vau do Egito (provavelmente o vau el-Arish na região leste do delta do Nilo) e após uma terrível batalha as tropas de Nabucodonosor foram incapazes de conquistar o Egito. Porém7 os babilônios conseguiram reunir suas tropas e dar início a um a nova cam panha no levante pouco tempo depois, de m odo que os egípcios não conseguiram organizar suas tropas para se defenderem contra eles.
24.8-17Joaquim, rei de Judá24.8. cronologia. Joaquim subiu ao trono no últim o mês do ano de 598 e reinou apenas durante os prim eiros dois meses de 597. Visto que Joaquim parece ter ascendido ao trono enquanto o exército de N abucodonosor estava a caminho de Jerusalém, foi seu pai, Jeoaquim , quem deu início ao conflito que levou os babilônios para o oeste.24 .10 ,11 . o cerco de Jerusalém . Em resposta à rebelião de Judá, os caldeus atacaram Jerusalém em 597. A Crônica Babilónica afirma que o cerco durou apenas três meses, provavelmente o tempo que Joaquim permaneceu no trono. Em bora a vitória seja atribuída a Nabucodonosor, ele m esmo não presidiu essa campanha, m as deixou-a a cargo de seus generais. A relativa facilidade com que a cidade foi conquistada pode ser explicada pelo fato de que a guerra aconteceu
durante o inverno e os alimentos eram escassos. A população da cidade seria m aior do que o norm al, visto que os habitantes das áreas m ais rem otas de Judá buscaram refúgio em Jerusalém.24.12. a prisão de Jo aq u im . A rápida rendição de Judá talvez tenha sido decorrência do tratamento de certa forma indulgente concedido pelos babilônios ao povo de Judá. A deportação do monarca rebelde era a forma de procedimento comum tanto entre os assírios como babilônios, sendo tratado como governante que havia rom pido um ju ram ento de lealdade com os babilônios (ou assírios), portanto deveria ser severamente punido. Os conquistadores normalmente colocavam no trono um m onarca favorável à sua causa, muitas vezes da m esm a casa real, a fim de preservar o sentido de continuidade para a população local.24.14. d ep ortação . Em bora n ão haja reg istro s na Babilônia concernentes a práticas de deportação, é provável que os babilônios tenham assimilado essas práticas administrativas dos assírios. Era comum deportar pessoas influentes do povo conquistado (ricos e m ilitares) e tam bém trabalhadores habilidosos que p o d eriam ser em p reg ad os a um baixo cu sto na Babilônia. Os habitantes mais pobres eram considerados sem utilidade, além de não serem vistos como um a ameaça caso permanecessem na terra de Judá.24.17. m ud ança de n om e. A ssim com o Jeoaquim , M atanias foi forçado pelos babilônios a m udar seu nome. A Crônica Babilónica sim plesm ente diz que Nabucodonosor II indicou um rei de sua escolha para Judá e que esse novo rei era "segundo o seu coração", o que significa que ele havia sido "dom esticado" pelos babilônios. Como anteriormente, os babilônios acred itavam que o fato de dar ao rei um outro nom e hebraico os beneficiaria, evitando assim que o povo se rebelasse.
24.18-25.26Zedequias, rei de Judá e a queda de Jerusalém24.18. cronologia. Zedequias, o últim o rei de Judá, reinou de 597 a 586. Nesse período, Neco II (610-595), P sa m e tic u s (595 -5 8 9 ) e A p rie s (58 9 -5 7 0 ) fo ram governantes do Egito, e Nabucodonosor II (604-562)
governou o império caldeu.25.1. cerco de Jerusalém . Os babilônios evidentemente adotaram o sistema de rampas para atacar Jerusalém em 587-586. As fontes assírias descrevem Esar-Hadom usando esse m esm o tipo de recurso durante a conquista de Shurbia, um reino urartiano ao sul do lago Van, em 672. Esar-Hadom declarou que suas tropas "escalaram os m uros para guerrear". As rampas de ataque usadas no cerco provavelm ente eram m ais altas que os muros da cidade, permitindo que os sol
dados subissem até o topo e ficassem acima do batalhão de defesa da cidade posicionado nos muros. Assim como aconteceu com os assírios durante o cerco de Senaqueribe em 701, os babilônios sistematicamente destruíram as cidades fortificadas de Judá, inclusive Láquis (ver Jr 34.7). Outro m otivo para elim inar as ameaças m ilitares ao redor de Jerusalém era desencorajar qualquer interferência egípcia.25.4. fuga dos soldados. É possível supor a partir do contexto desse difícil versículo que o rei e sua guarda pessoal tentaram escapar pelo leste. Os "sold ados" talvez possa ser uma referência aos soldados babilônios que abriram uma brecha no muro da cidade, permitindo que Ezequias fugisse.25.5. p lanícies de Jericó. O rei saiu em direção a Arabá (ver v. 4), pela estrada entre Jerusalém e Jericó, que ficava nas estepes do vale do Jordão. As planícies de Jericó formavam a faixa de terra plana e seca a leste de Jericó e por ser um a região aberta, facilitou a perseguição dos fugitivos pelas tropas babilónicas.25.7. tratam ento dado a Z edequias. Cegar os olhos era uma forma comum de tratar os escravos rebeldes (até mesmo os reis vassalos) no antigo Oriente Próximo. Os tratados assírios de vassalagem m encionam cegar os olhos como um a maldição para quem violasse um juram ento de lealdade. Outras fontes assírias mencionam a prática de furar só um olho dos prisioneiros de guerra, perm itindo que fossem utilizados como força de trabalho, mas incapacitando-os para a guerra. Zedequias foi colocado num a "casa de punição", expressão assíria equivalente à prisão.25.8-10. queda de Jerusalém . Nebuzaradã, o comandante da guarda imperial babilónica, era o "cozinhei- ro-m or" m encionado num a lista de oficiais do alto escalão de N abucodonosor II. O título "cozinheiro- m or", assim como o de "copeiro-m or", era uma desig
nação arcaica para aqueles que ocupavam postos elevados nas cortes assíria e babilónica. Com freqüência
eram enviados em missões m ilitares e diplomáticas (p. ex., Rabsaque era o "copeiro-m or" de Senaqueribe,2 Rs 18.17). Nebuzaradã foi quem comandou a destruição da cidade de Jerusalém, ordenou a execução dos oficiais de Judá (v. 8-12; 18-21) e foi responsável pela deportação de outro grupo alguns anos mais tarde (c. 582 a .C ; Jr 52.24-30). Agindo de acordo com a prática assíria e babilónica, Nebuzaradã destruiu os principais edifícios públicos e os m uros de proteção da cidade, tom ando-a vulnerável a futuros ataques.25.13-17. saque de Jerusalém . O escritor de 2 Reis está provavelmente repetindo a relação de objetos extraída de registros oficiais do tem plo de Ju d á que não foram preservados. A lista pode ser comparada com 2
Reis 17.15-50, onde está registrada a lista original desses objetos. O grande núm ero de objetos de bronze pode indicar uma contagem de despojo. Os objetos citados em 2 Reis 17 que são omitidos aqui haviam sido enviados à A ssíria em anos anteriores (p. ex. doze touros de bronze foram enviados por Acaz a Tiglate-Pileser III; 2 Rs 16.17). Não há nenhum registro babilónico dos objetos tomados de Jerusalém.25.22. governador. É possível que Gedalias já tivesse prestado serviço ao rei Zedequias, como indica um selo do final do sétimo século a.C., da cidade de Láquis, onde se lê "pertencente a Gedalias, mordomo do rei". Outra possibilidade, porém, é que o documento esteja se referindo a outro Gedalias desse mesmo período (ver Jr 38.1). O nome Gedalias também foi encontrado num óstraco de Arade. É bem provável que ele tenha sido um im portante m em bro do grupo favorável a Babilôn ia em Jerusalém . D a m esm a form a que os assírios, os babilônios também desejavam firmar um centro administrativo com um a forte presença babilónica em Judá. Ao contrário da prática assíria, entretanto, os babilônios não repovoaram Judá com povos de outras partes do império.25.23-25. M ispá. Essã cidade foi a capital dos que foram deixados em Judá. M ispá era um a localidade de oito acres, situada a cerca de treze quilômetros ao norte de
Jerusalém. Para informações concernentes à sua história an tiga, ver os com entários em 1 Sam u el 7.5 e 2 Crônicas 16.6. Escavações recentes identificaram um sedimento de ocupação que remonta a esse período. Um dos artefatos encontrados no local foi um selo pertencente a "Jazanias, o servo do re i" - provavelm ente a m esm a pessoa m encionada no versículo 23.
25.27-30 Joaquim é libertado da prisão25.27-30. Joaqu im na B abilônia. O trigésimo sétimo ano do exílio de Joaquim corresponde ao ano de 560a.C.. Evil-Merodaque (em babilônio, Amel-Marduque, "o hom em de M arduque") filho e sucessor de Nabucodonosor II governou a Babilônia de 562 a 560 e foi assassinado por seu sucessor Neriglissar. H á poucos registros de seu breve reinado. Evil-M erodaque concedeu a Joaquim o "lugar mais honrado" entre os reis que estavam com ele na Babilônia, indicando que havia outros prisioneiros reais na Babilônia. O Unger Prism apresenta uma lista de reis que foram mantidos
prisioneiros na Babilônia durante o reinado de Evil- M erodaque, incluindo os reis de Tiro, Gaza, Sidom, Arvade e Arpade. Joaquim é m encionado na lista dos que recebiam rações na Babilônia, confirmando a informação bíblica de que ele comia à m esa do rei.
1 C R Ô N I C A S
v1.1-37Genealogias: de Adão a Abraão
1.1-54Genealogias de Adão: descendentes de Jacó e Esaú1.1-4. filh os de Adão. Para m ais detalhes sobre esta parte da genealogia ver Gênesis 5.1.5-27. filh os de Noé. Para m ais detalhes sobre esta parte da genealogia ver os capítulos 10 e 11 de Gênesis.1.13. povos de Canaã. Para mais informação a respeito desses povos, consulte o comentário em Êxodo 3.8. 1.29-54. descendentes não-israelitas de Abraão. Comentários sobre estas genealogias podem ser encontrados da seguinte forma: H agar (Ismael) em Gênesis25.12-28; Quetura, Gênesis 25.1-6; Esaú, Gênesis 36.
2.1-7.40Genealogias das doze tribos 2.42-55. a proem inên cia de C alebe. Calebe e Josué foram os únicos representantes da geração do êxodo que entraram na terra de Canaã. Calebe recebeu uma possessão especial de terra_dentro do território da tribo de Judá, nas proximidades de Hebrom (Js 14.6-15). Visto que as genealogias eram usadas para reivindi
car a posse da terra, era importante para Calebe que sua posição fosse reconhecida.3.1-16. linhagem real de D avi. A outra linhagem proeminente na tribo de Judá, naturalmente, era a linhagem real. Muitos nomes citados aqui apresentam va
riações em relação à form a como são mencionados nos Livros de Reis: Abias/Abisã; Jorão/Jeorão; Azarias/ Uzias; Salum/Jeoacaz; Jeoaquim/Jeconias. De forma geral, isso pode ser explicado de três m aneiras: (1) variações na grafia do nom e divino presente no nome; (2) palavras diferentes com o m esm o significado ou (3) nome real substituindo o nome pessoal.3.17-24. descendentes de D avi após o exílio . A maioria desses nomes não é mencionada em nenhum ou
tro lugar além desta lista. As exceções são Zorobabel, a respeito de quem temos muitas informações (ver o comentário em Ed 3.2) e H atus (v. 22), do qual se sabe apenas ter sido um dos que retom aram com Esdras (Ed 8.2).4.21. aqueles que trabalhavam com linh o em B ete-
A sbéia. A referência a M aressa no início do versículo levanta a suspeita de que Bete-Asbéia tam bém estivesse localizada na Sefelá, entre as colinas de Jerusalém e as planícies costeiras, mas é impossível ser mais específico. As corporações de artesãos geralmente estavam vinculadas a cidades específicas, escolhidas para ser um local especializado em determinado produto. O conhecimento das técnicas era passado de geração em geração. Um texto de Alalakh relaciona m ais de sessenta indústrias artesanais como essa, que remontam ao século quinze a.C.. A indústria têxtil normalm ente se concentrava nas casas, com produção em pequena escala, mas também existiam alguns centros de produção industrial em larga escala. A técnica de produção do linho incluía o processamento da fibra,
SIGNIFICADO DAS GENEALOGIAS NO PERÍODO PÓS-EXÍLIOEmbora grande parte do Livro de Crônicas esteja relacionada ao período pré-exílio, seu material é dirigido àqueles que retomaram do exílio babilónico nos séculos 6 e 5 a. C. e se estabeleceram na terra. Para aqueles que retornavam, as genealogias representavam uma espécie de prova de sua própria identidade. A aliança com o Senhor os caracterizava como povo escolhido de Deus, habitando na terra por Ele prometida. A linhagem familiar assegurava a participação de cada um nessa aliança, e representava sua herança e seu legado. No mundo antigo, as genealogias muitas vezes eram usadas mais pela sua função social do que histórica. Em vez de apresentar um relato seqüencial da ordem das gerações, elas tinham como propósito usar a continuidade com o passado como uma explicação para a estrutura e condições atuais da sociedade. Juntamente com isso, Israel acrescentava às genealogias uma ênfase teológica e um significado inerente aos seus relatos genealógicos. A continuidade com o passado era o elemento que dava sentido à situação teológica presente. No mundo antigo as pessoas buscavam sua identidade não no individualismo, mas junto à solidariedade do grupo. Isso incluía não apenas os que recuperaram seu grupo familiar atual, mas estendia-se através das gerações. As genealogias eram o modo pelo qual eles se encaixavam nessa solidariedade transm itida de geração em geração. Nem todas as gerações estão representadas nas genealogias. Podemos compará-las, por exemplo, à galeria seleta dos heróis da fé encontrada em Hebreus 11. Atualmente, muitos norte-americanos se orgulham por descenderem daqueles que vieram no Mayflower ou então dos que assinaram a Declaração de Independência. A diferença é que em Israel a associação com os antepassados garantia certos direitos e privilégios em vez de ser apenas um símbolo de status.
sendo necessário instalações adequadas para fiar, tingir e tecer o fio.4.22. hom ens de Cozeba. É provável que Cozeba seja um a variação ortográfica para A quezibe, na Sefelá. Foi identificada com a atual Tel el-Beida, a cerca de oito quilômetros de Maressa.4.23. oleiros do rei em N etaim e Gederá. Presume-se que o palácio ou templo atraía os melhores artesãos dos produtos que a corte e a comunidade sacerdotal necessitavam. Esses artesãos eram acolhidos e recebiam a proteção do rei, que lhes garantia suprimentos, oficinas de trabalho, equipamentos, m atéria-prima e talvez até alguns escravos para ajudar nas tarefas que não exigiam conhecimentos técnicos. Além disso, recebiam rações de alimentos, roupas e outros itens básicos. As cidades m encionadas aqui provavelm ente estavam localizadas na Sefelá, mas não há consenso quanto à identificação exata.
4.41. m eunitas. As opiniões concernentes à identificação desse grupo são divergentes. Alguns consideram tratar-se dos mineanos do sul da Arábia, que estenderam seu comércio de incenso até a Palestina, por volta do quarto século. Outros identificam esse grupo com os M u'unaya mencionados nas inscrições de Tiglate- Pileser III. Um a terceira possibilidade os vincula à cidade de M aom, sul de Hebrom, na região m ontanhosa de Judá.
4 .42 ,43 . novo território sim eonita. O novo território ocupado pelos simeonitas ficava ao sul do território designado a eles no N eguebe, m as provavelm ente ainda situado a oeste da Arabá e a leste de Cades-Baméia. A transferência para essa nova região acarretou numa jornada m igratória de 60 a 80 quilômetros.5.1. R úben é destituído. Para informações acerca desse episódio, ver Gênesis 35.21, 22.5.8, 9. área de ocupação. O s rubenitas ocuparam a Transjordânia ao longo da região norte do m ar Morto, desde o rio Arnom (vau de M ujib), no sul, até o planalto de M edeba e o monte Nebo, ao norte. Essa área de cerca de 32 quilôm etros quadrados perm aneceu por um longo tempo nas mãos dos moabitas.5.10. hagarenos. As inscrições de T iglate-Pileser III m encionam um a tribo de aram eus cham ada Haga- ranu, que alguns associam aos hagarenos. N essa época, porém, pouco se sabia a respeito deles.5.16. território da tribo de G ade. G ileade e Basã são duas áreas que se estendem por m ais de 160 quilômetros (de norte a sul) na Transjordânia. Gileade é a região alta da Transjordânia, situada entre o rio Jaboque, no sul, até quase alcançar o rio Iarmuque, no norte. Basã (hoje conhecida como as colinas de Golã) situa-se na área limitada pelo m onte Hermom, ao norte, por Jebel D ruze (m onte H aurã), a leste, pelo m ar da Galiléia a
oeste e pela região do Iarm uque, ao sul. A região de Basã propriam ente, m ais restrita à região do (alto?) Iarmuque, é um amplo e fértil planalto conhecido por suas pastagens. Salcá (v. 11) fica cerca de cem quilômetros a leste do m ar da Galiléia, ao sul do monte Haurã. As terras de pastagens de Sarom referem -se a um a localidade na Transjordânia que permanece sem identificação. A Inscrição M oabita também faz menção a essa área, sem, contudo, localizá-la.5.19. guerra contra os hagarenos e seus aliados. Os aliados dos hagarenos pertenciam a tribos árabes. Jetur (Ituréia, do período rom ano, a nordeste da Galiléia, ver Lc 3.1) e Nafis são conhecidos como descendentes de Ismael (Gn 25.15). A região de Nafis é mencionada em um a carta do sétimo século enviada ao rei assírio Assurbanipal. N odabe (talvez Adbeel em Gn 25.13) pode também constar nos registros assírios (Tiglate- Pileser III) como um a tribo da Transjordânia. Além dessas poucas referências, nada se conhece a respeito desses povos ou dessa guerra.
5.21. despojos. A quantidade de animais e de prisioneiros é incrivelmente grande. A título de comparação, os vinte anos de campanhas m ilitares extrem am ente bem -su ced id as de Salm aneser III geraram 110.610 prisioneiros, quase 10 m il cavalos e mulas, mais de 35 mil bois, quase 20 mil jum entos e quase 185 m il ovelhas. A cam p anha de Senaqu eribe na Babilônia rendeu 20 mil prisioneiros, 11 mil jum entos, 5 mil camelos e 800 mil ovelhas.5.26. deslocam ento assírio das tribos da T ransjor- dânia. Tiglate-Pileser III (originalmente chamado Pul) invadiu a Alta e a Baixa Galiléia em 733 a.C. e relatou ter deportado 13.520 pessoas (ver o comentário em 2 Rs 15.29). N essa campanha o reino do norte, Israel, ficou reduzido apenas à região da Samaria, sobrevivendo de forma independente por m ais doze anos. A
recolocação centralizou-se na região do médio Eufrates, em Gozã (Guzanu = Tel Halaf, cerca de 160 quilômetros a leste de Carquemis) situada nas margens do rio Habor. Haia é identificada como Halahhu, das inscrições assírias, cerca de treze quilômetros a nordeste de Nínive.6.31-46. m úsicos levitas. O s três principais músicos de Davi, Hemã, Asafe e Etã, tinham um a longa e ilustre árvore genealógica ligando-os a seu ancestral Levi. No mundo antigo havia corporações dos músicos que serviam nos santuários e templos. No Egito, a partir do terceiro m ilênio os músicos que participavam do culto eram supervisionados pelos sacerdotes. Entre os hititas e babilônios tam bém constavam m úsicos na relação dos funcionários dos templos. M uitas atividades religiosas, desde rituais individuais a cerimônias coletivas e festivais, eram acompanhadas de música
(vocal e instrumental). Para mais informações, ver o
comentário em Amós 5.23.
6 .48 ,49 . deveres dos levitas e dos sacerdotes descendentes de Arão. Os sacerdotes descendentes de Arão estavam envolvidos de forma m ais direta com a reali
zação de sacrifícios e com as questões relacionadas ao
Lugar Santo. Os levitas, por sua vez, estavam direta
mente envolvidos com outros serviços, como o controle do acesso à área sagrada e o suprimento e manuten
ção do santuário (ver detalhes em 9.22-33).
6.55, 56. diferença entre povoados e terras de pastagens. A terra ao redor de H ebrom era parte da heran
ça dada aos levitas. Esse versículo deixa claro, porém,
que os povoados da região de Hebrom, inclusive os campos cultiváveis em tom o da cidade, faziam parte
do território de Calebe.
6.64. cidades dos levitas. Para informações sobre as
cidades dos levitas, ver os comentários em Números35.1-5 e Josué 21.3-40.
7.28, 29. território de Efraim e M anassés. O território de Efraim estendia-se desde Betei, no sul, até Siquém,
ao norte e não incluía a planície costeira (Gezer ficava
no limite ocidental) nem o vale do Jordão. O território de Manassés estava posicionado ao norte de Efraim e
incluía os montes de Samaria (até Gilboa) e as monta
nhas do Carmelo que margeava a extremidade sul do
vale de Jezreel (logo, incluía Taanaque e M egido). Esse território incluía também o vale do Jordão (Bete-
Seã) e a planície costeira (Dor) até o monte Carmelo.
9.1. genealogias dos registros históricos dos reis. Certamente existiam inúmeras razões para m anter as lis
tas genealógicas nos arquivos oficiais dos palácios. A primeira é que a posse da terra, baseada em doação
real ou divina, estava relacionada às famílias, portan
to, as disputas por causa de propriedades muitas vezes tinham de ser resolvidas através da consulta aos
registros genealógicos. A segunda razão é que o recrutamento para prestar serviços ao governo através
de trabalhos forçados ou serviço militar, bem como o
pagam ento de im postos, eram baseados nos dados dos recenseamentos. Esses registros geralmente eram
organizados por categorias genealógicas.
9.3. significado das listas de repovoam ento. Essa lista m enciona os que se instalaram em Jerusalém . É diferente das anteriores porque todas tratavam de
propriedades ancestrais sendo reocupadas. A razão pela qual Jerusalém recebeu tão poucos moradores é
que a maioria das famílias havia sido dizimada quando Jerusalém foi destruída pelos babilônios. Para que pessoas de outras tribos fossem m orar em Jerusalém,
elas precisavam abandonar (ou até mesmo abrir mão) as terras de seus ancestrais situadas em outros terri
tórios. A disposição para fazer esse sacrifício com o intuito de repovoar Jerusalém é digna de nota.9.22-27. guardas das portas. Uma das tarefas m ais importantes atribuídas aos sacerdotes era controlar o acesso ao interior do templo, a área interna considerada o "âm bito sagrado" (a respeito desse conceito, ver os comentários em Lv 16.2 e Nm 18.1-7). A contaminação do santuário devido a alguma impureza requeria uma oferta de purificação ("oferta pelo pecado", ver o comentário em Lv 4.1-3), pois a contaminação poderia acarretar um castigo tanto individual como coletivo. Por essa razão, os guardas das portas tinham o dever de evitar a entrada de intrusos. Além disso, havia tam bém inúm eros objetos valiosos dentro do templo, o ouro e a prata eram abundantes e representavam uma tentação para um indivíduo sem escrúpulos que chegasse a invadir e roubar o templo. Portanto, esses objetos também tinham de ser protegidos. O uso inadequado de objetos considerados sagrados exigia uma oferta de reparação ("oferta pela culpa", ver o comentário em Lv 5.14-16). Os guardas das portas tinham a responsabilidade de proteger o templo contra esse tipo de transgressão.9.28-33. outros deveres dos lev itas. Possuir muitas habilidades era extrem am ente útil para o sacerdote exercer suas funções. A contabilidade dos utensílios sagrados (note que grande parte deles era de ouro) exigia que se fizesse um inventário para controle e registro desses objetos, assim como cuidados na manutenção e arm azenagem dos m esm os. Era preciso também registrar o que havia sido consumido e repor o estoque. Além disso, havia receitas sagradas especiais para algumas das m isturas usadas (ver o comentário em Êx 30.23-25).
10.1-14A morte de SaulPara comentários a respeito dos detalhes desse trecho, consulte 1 Samuel 31.
11.1-9O reinado de Davi e a conquista de JerusalémPara comentários a respeito dos detalhes desse trecho, consulte 2 Sam uel 5.
11.10-47Os principais guerreiros de Davi e seus feitosPara comentários a respeito dos detalhes desse trecho, consulte 2 Sam uel 23.8-39.
12.1-40O primeiro exército de Davi12.2. guerreiros am bidestros. Os canhotos não eramaceitos no m undo antigo porque essa característica
geralmente estava associada ao mal ou a demônios. Por essa razão, aqueles que eram canhotos acabavam
se tornando ambidestros. Porém, durante as batalhas,
a habilidade para usar as duas mãos podia representar um diferencial vantajoso. Por exemplo, um a es
tratégia comum nas lutas consistia em forçar o inimigo a se movimentar para o lado esquerdo enquanto lutava. Para um soldado destro, essa posição poderia
manter seu escudo (em sua mão esquerda) longe do inimigo e com isso deixá-lo vulnerável ao ataque. Um
soldado ambidestro poderia facilmente passar o escudo para a mão direita sem comprometer a habilidade
de lutar à medida que se movimentava. U m arqueiro ambidestro protegido atrás de uma rocha ou de uma
árvore poderia atingir seu alvo com mais facilidade, visto que poderia atirar de ambos os lados, sem expor-se ao inimigo.
12.15. atravessar o Jordão durante a cheia. O prim ei
ro mês judaico começa em março, quando as temperaturas da primavera derretem a neve nas montanhas
fazendo o Jordão transbordar. H á um a inscrição inte
ressante de Sargon II, rei da Assíria (oitavo século), em que ele afirma ter conduzido seu exército através
dos rios Tigre e Eufrates em época de cheia como se
fosse solo seco. Se por um lado a travessia tornava-se bastante perigosa e arriscada, por outro (e exatamente
por essa razão), oferecia a possibilidade de um ataque
surpresa, já que ninguém poderia supor que alguém
atravessasse o rio numa época como aquela.
12.23-40. aliança tribal como base do reinado. Israel ainda era uma sociedade tribal, apesar da decisão de
ter um rei como líder, portanto, qualquer um que
aspirasse ao trono precisava buscar o respaldo da liderança tribal e dos contingentes m ilitares do clã.
13.1-14Tentativa frustrada de levar a arca para JerusalémPara comentários a respeito dos detalhes desse trecho,
consulte 2 Samuel 6.1-11.
14.1-17Davi derrota os filisteusPara comentários a respeito dos detalhes desse trecho, consulte 2 Samuel 5.17-25.
15.1-16.43A arca é levada para Jerusalém15.1. projetos de construção de D avi para Jerusalém .
O único projeto mencionado no texto bíblico é o do
palácio real. Infelizmente, as pesquisas arqueológicas ainda não conseguiram identificar qualquer outra cons
trução da época de Davi em Jerusalém. A respeito do palácio real, ver o comentário em 2 Samuel 5.11.15.20, 21. estilos m usicais. O term o hebraico "ala- m oth", que a NVI traduz aqui como "soprano" e no título do Salmo 46 como "vozes agudas", e o termo "shem inith", traduzido como "oitava" pela NVI (presente também nos títulos dos salmos 6 e 12) ainda têm um sentido incerto em relação ao seu significado técnico. Em outros contextos, o primeiro termo significa "d am as" portanto, às vezes, é interpretado como soprano. O último termo corresponde a "oitava" e supõe-se que indique uma certa posição na oitava. Textos acadianos demonstram que eles conheciam a escala de sete notas e outras variações tonais. Em algumas anotações musicais acadianas também encontramos os intervalos usados para completar os acordes (p. ex., terças). Para comentários a respeito de outros detalhes desse trecho, consulte 2 Samuel 6.12-23.16.26. d eu ses são íd o los . V er os com entários em Levítico 26.1 e Deuteronômio 4.15-18.16.39. tabern ácu lo em G ib eo m . N ão há nenhum a outra menção específica ao tabernáculo em Gibeom.
Essa localidade ficava cerca de dez quilômetros a noroeste de Jerusalém ; 1 Reis 3.4 refere-se a G ibeom como o principal lugar sagrado no qual havia um altar.
16.42. instrum entos usados nos cultos no antigo O riente Próximo. Ver os comentários em 6.31-46.
17.1-27A promessa de Deus a DaviPara comentários a respeito dos detalhes desse trecho, consulte 2 Samuel 7.
18.1-17Davi estabelece seu reinadoPara comentários a respeito dos detalhes desse trecho, consulte 2 Samuel 8.
19.1-19A guerra contra os amonitasPara comentários a respeito dos detalhes desse trecho, consulte 2 Sam uel 10.
20.1-3A conquista de RabáPara comentários a respeito dos detalhes desse trecho, consulte 2 Sam uel 11.1; 12.29-31.
20.4-8Guerras contra os filisteusPara comentários a respeito dos detalhes desse trecho, consulte 2 Samuel 21.15-22.
21.1-30 O recenseamento de DaviPara comentários a respeito dos detalhes desse trecho, consulte 2 Samuel 24.
22.1-19 Preparativos para a construção do templo22.2. cortadores de pedra. A pedra lavrada usada nesse período era conhecida como pedra de cantaria. As laterais de cada bloco eram desbastadas com um cinzel de ferro enquanto a parte frontal da rocha era deixada bruta. A área ao redor de Jerusalém era rica em pedra calcária, m as as pedras m ais resistentes eram trazidas de distâncias maiores. Na Galiléia e em Golã havia grande quantidade de basalto; o granito era encontrado no sul da A rabá, perto de E lia te , sob um depósito de arenito. A técnica para extrair blocos maiores consistia em introduzir cunhas de m adeira nas
fend as da roch a e d epois en ch arcá-las de água. A medida que a m adeira inchava, a rocha se partia perm itindo assim extrair os blocos. Para transportar os blocos mais pesados usava-se espalhar bolas de chum bo debaixo do bloco. Depois de algum tempo, o peso dos blocos acabava achatando as bolas de chumbo.22.3. pregos e dobradiças de ferro. Nesse período, o ferro era bastante usado, embora ainda fosse considerado um material decorativo. As dobradiças provavelmente eram placas decorativas ou braçadeiras presas à porta com pregos.22.3. trabalho em bronze. O bronze era refinado em um crisol e depois colocado em moldes para dar forma ao metal.22.4. toras de cedro. O cedro era usado principalmente para compor intricados painéis nos cômodos internos. Também poderia ser usado para cobrir os vãos form ados entre as pedras. M uitos dos entalhes de madeira usados no templo eram feitos com toras de oliveiras e não de cedro.22.14. três m il e quinhentas toneladas de ouro (cem m il talentos de ouro). Trata-se de uma enorme quantidade de ouro, equivalente a 45 bilhões de dólares ao preço atual do grama, m as representa ainda mais em term os de poder de com pra. Essa é com certeza a m aior quantidade de ouro mencionada no Antigo Testamento. Outras passagens de Crônicas fazem menção a 3 mil talentos (112 toneladas) de ouro (1 Cr 29.4). Excetuando-se as passagens de Crônicas, o m aior número m encionado equivale a 25 toneladas de ouro (666 ta len to s), corresp on d en te à qu an tid ad e que Salomão dizia receber anualmente. N o Egito, a maior doação de ouro e prata feita por um faraó aos deuses foi de 200 toneladas, oferecida por Sisaque (que saqueou grande quantidade de ouro de Jerusalém). Em
inscrições assírias, reis como Tiglate-Pileser III, SargonII e Salm aneser III raramente m encionam a quantida
de específica de ouro recebida na form a de tributo ou
tomado como despojo e quando o fazem, geralmente seria algo em tom o de dez a cinqüenta talentos. Sé
culos m ais tarde, foi atribuída a Persépolis a posse da
m aior reserva de ouro do m undo antigo. N a época das conquistas de Alexandre, a quantidade de ouro e
prata existente no tesouro dessa cidade foi avaliada
em 120 mil talentos (4500 toneladas) de prata.22.14. quanto ouro? Em 1993, as estatísticas demons
travam que a reserva m ineral m undial som ava um total de 55.435 toneladas. A reserva de ouro do Banco
Central dos Estados Unidos era de cerca de 900 tone
ladas. Um a barra de ouro de trinta centímetros pesa
cerca de 500 quilos (equivalente a m ais de sete m ilhões de dólares no mercado atual). As contribuições
recebidas por Salomão teriam preenchido duas gara
gens de tamanho médio, do chão até o teto, com bar
ras como essa (6250 delas). Se os construtores tivessem usado blocos do tamanho dessas barras, teriam levan
tado três paredes externas de dois aposentos principais do templo com 30 centímetros de espessura (com
as dimensões de 27 metros por 9 x 9 ) .22.14. trinta e cinco m il toneladas de prata (um m i
lhão de talentos de prata). Assim como a quantidade
de ouro anterior, essa quantidade de prata também é enorm e (35 mil toneladas) e excede qualquer outra
menção, seja em outras passagens bíblicas ou em fon
tes extrabíblicas.
23.1-26.32 Os levitas e suas obrigações23.28-31. deveres dos levitas. Ver os comentários em
9.22-33.24.6. escriba. No mundo antigo, os escribas desem pe
nhavam as funções de cronistas, historiadores, jornalistas, secretários, professores e bibliotecários da época. Grande parte da formação de um escriba incluía o
domínio da leitura e da escrita, além de outras habilidades especializadas. Em bora muitos escribas não pas
sassem de meros copistas ou funcionários medíocres, alguns adquiriam a fam a de sábios e outros ainda
alcançavam a posição de prim eiro-m inistro, como é possível notar em documentos de Ugarit.
25.1. relação entre m úsica e profecia. Geralmente os
profetas em pregavam diversos procedimentos a fim de se preparar para receber os oráculos proféticos. A música tinha um importante papel na indução a um
estado de transe (êxtase) que, segundo a crença da
época, tom ava a pessoa receptiva à mensagem divina. O s textos de M ari m encionam um grupo de fun
cionários do templo que entrava em transe e freqüentemente recebia m ensagens proféticas.26.15. depósito. Esse termo aparece apenas aqui e em Neemias 12.25. Em acadiano, o termo refere-se a algumas edificações externas aos portões do templo, significado que se encaixa m elhor ao contexto mais específico de Neemias.26.16. porta Salequete. Essa é a única menção a essa porta; sua posição e função são desconhecidas. A partir do contexto, é possível supor que ficava do lado ocidental (fundos) do templo, m as não era exatamente a porta ocidental. Visto que havia um pátio no lado ocidental (ver o com entário em 26.18), talvez essa porta permitisse o acesso à extremidade oeste dessa área enquanto que a porta ocidental dava passagem do pátio para a área do templo.26.16-18. fu nção dos guardas das portas. U m a das tarefas mais importantes dos sacerdotes era controlar o acesso ao interior do templo, a área interna considerada o "âm bito sagrado" (a respeito desse conceito, ver os comentários em Lv 16.2 e Nm 18.1-7). Quando o santuário era contaminado com impurezas, era preciso fazer um a oferta de purificação ("oferta pelo pecado", ver o comentário em Lv 4.1-3). A contaminação do santuário podia acarretar um castigo individual ou coletivo. Os guardas das portas tinham o dever de evitar a entrada de intrusos. Além disso, havia tam bém inúmeros objetos valiosos dentro do templo, e a abundância de ouro e prata seria uma tentação para os indivíduos sem escrúpulos que chegassem a invadir e roubar o templo. Portanto, esses objetos também tinham de ser protegidos. O uso inadequado daquilo que era considerado sagrado exigia uma oferta de reparação ("oferta pela culpa", ver o comentário em Lv 5.14-16). Os guardas das portas tinham a responsabilidade de proteger o tem plo contra esse tipo de transgressão.26.18. pátio (parbar). Supõe-se que esse obscuro termo arquitetônico (de acordo com os Manuscritos do M ar Morto) refira-se a um a área aberta (semelhante a
um pátio) a oeste do santuário (isto é, nos fundos) caracterizada por colunas espalhadas.26.20. te so u ro s do tem p lo . V er o com entário em26.16-18.
27.1-24 Os tesoureiros e outros oficiais27.1. im portância da lista. Parte da responsabilidade dos israelitas para com seu rei e nação envolvia o serviço m ilitar e a prestação regular de serviços em equipes de trabalhos forçados. Esse últim o caso era considerado um tipo de cobrança de imposto. Essa lista, porém, refere-se às divisões do exército que não
eram organizadas estritam ente por tribo. Na transição para um exército efetivo, o sistema militar convocava cada divisão para servir efetivamente durante um m ês, formando assim um exército rotativo regular, além das tropas profissionais que se dedicavam integralmente ao exército e das tropas de mercenários.27.24. ira divina sobre Israel. Para informações sobre esse incidente, ver os comentários em 2 Samuel 24.
27.25-34 Os superintendentes do rei27.25-31. propriedades do rei. Esses funcionários supervisionavam os tesouros do palácio. A coroa tinha propriedades em toda a região porque quando alguém morria sem deixar herdeiros, a terra automaticamente revertia para o rei. No caso também de alguém contrair dívidas com o rei por qualquer motivo, passaria a trabalhar para o rei. Além das terras e de toda a produção, o rei também possuía rebanhos que pastavam em suas terras.
28.1-21 Salomão é encarregado de construir o templo28.1. adm inistração réal no antigo O riente Próximo.As categorias alistadas nesse versículo incluem representantes de cada tribo (um resquício do sistema de doze tribos que antecedeu a m onarquia), todos os oficiais militares (tanto da guarda pessoal do rei quan
to do exército nacional), encarregados reais, funcionários do palácio (escribas, eunucos, conselheiros, oficiais) e integrantes das forças especiais de D avi (um grupo de elite sem uma rígida estrutura militar). Não há referência aos sacerdotes ou levitas, mas talvez a presença deles estivesse im plícita (v. 21). Estruturas
burocráticas são evidentes no antigo Oriente Próximo desde o quarto milênio a.C.. Magistrados, meirinhos,
juizes, arautos e supervisores, todos faziam parte do governo de cidades e povoados. M as essa lista refere- se à administração do rei e do Estado, ou seja, administração real, e não administração social. Esta lista pode ser comparada e contrastada com a estrutura assíria de alguns séculos mais tarde, caracterizada por três oficiais principais imediatamente abaixo do rei, comparável em parte a três funções da estrutura de governo norte-americana: secretário de Estado, chefe de gabinete do presidente e presidente dos chefes de gabine
tes do estado. O segundo escalão na hierarquia do governo incluía a maioria dos funcionários do palácio.28.2. arca com o estrad o. A arca era um a caixa de madeira, aberta em cima, com aproximadamente um metro de comprimento e setenta centímetros de altura e largura. Era revestida por dentro e por fora de lâmin as fin as de ouro e tin h a duas arg o las (tam bém
revestidas de ouro) de cada lado, onde eram introduzidas duas varas de madeira revestidas de ouro, usadas para carregar a arca e evitar que alguém, além do sumo sacerdote, a tocasse. Uma tampa de ouro puro, decorada com dois querubins com as asas estendidas, fechava a arca. Sua função prim ordial era guardar as tábuas da lei e servir como um "escabelo" ou estrado para o trono de Deus, garantindo assim uma ligação terrena entre Deus e os israelitas. No Egito era costume depositar aos pés da divindade os documentos importantes confirmados em juram entos (p. ex., tratados internacionais). O Livro dos Mortos chega a mencionar um a fórm ula escrita pela m ão da divindade em um bloco de metal sendo depositada aos pés da divindade. Portanto, a combinação estrado/receptáculo segue um costume egípcio já conhecido. Nos festivais egípcios, as imagens dos deuses com freqüência eram carregadas em procissão, dentro de altares portáteis. Foram encontradas ilustrações de procissões em que caixas sem elhantes à arca eram carregadas por varas e decoradas com criaturas guardiãs em cima ou dos lados. Uma arca com argolas (para ser transportada com varas), parecida com a arca da aliança, foi encontrada na tumba de Tutancâmon.28.11. arquitetura do tem plo. Os templos são classificados pelos arqueólogos de acordo com a disposição das câm aras que possibilitam o acesso aos compartimentos internos e também pela localização da câmara principal, onde a presença da divindade é representada. O sistema de construção em "eixo reto" permitia caminhar num a linha reta, do altar até o santuário interior. O "e ixo cu rv o" exigia um a curva de noventa graus entre o altar e o lugar onde a imagem da divindade ficava. A porta que dava acesso direto ao santuário retangular podia ficar na parede pequena ("côm odo com prido") ou na parede longa ("côm odo am plo"). O templo de Salomão seguia o estilo de arquitetura de "eixo reto", m as não havia nem a parede longa nem a pequena, porque o lugar santíssimo era quadrado, e não retangular. No templo de Salomão havia também um a antecâmara entre o altar e o Lugar Santo, bem como um pórtico, um pátio e vários cômodos laterais. A arquitetura dos templos do antigo Oriente Próximo apresentava m uitos elem entos em comum. Um templo do século nono em Tell Tayanat, na Síria, apresenta a estrutura exata de um pórtico com duas colunas, uma antecâmara comprida e uma pequena cela construída a partir de eixos retos, medindo 11 metros por 25 metros (a cela do templo de Salomão media 9 por 27).28.15-17. u tensílios do templo. Os arqueólogos encontraram vários utensílios usados nos templos em todo o antigo Oriente Próximo, inclusive um a série de brasei
ros, pás e vasilhas. Para mais informações sobre utensílios específicos, ver os comentários em 2 Crônicas 4.28.18. carro dos querubins. Esse versículo é o único que apresenta uma relação explícita entre querubins e carruagens. Os capítulos 1 e 10 de Ezequiel relatam de criaturas identificadas como querubins acom panhando o trono m óvel de Yahw eh, m as elas nunca são descritas como carruagens. A s descrições bíblicas, bem como as descobertas arqueológicas (inclusive algum as peças de m arfim de Ninrode, na Mesopotâmia, de A rslan Tash, na Síria e da Sam aria, em Israel) sugerem que os querubins eram criaturas compostas (com características de diversas criaturas, como a esfinge egípcia), geralmente com cabeça hum ana, corpo de anim ais quadrúpedes (leão, por exem plo) e asas. O querubim aparece na arte antiga com certa regularidade ao lado de tronos de reis e divindades, assim com o na figura de um trono encontrada no sarcófago de Airão.
29.1-9Dádivas para a construção do templo29.2. ônix. As vezes traduzido como "com alina" ou até mesmo "lápis-lazúli", a identificação exata dessa pedra é desconhecida.29.2. tu rqu esas. A lguns sugerem tratar-se de "an ti- m ônio", e outros acreditam que seria a argamassa usada como base para assentar os mosaicos (ver o comentário a seguir).29.2. pedras de várias cores. A referência a pedras de
várias cores sugere o uso de m osaicos. No m undo antigo, os mosaicos eram m uito populares. As pedras não eram coloridas artificialmente, ao contrário, pedras de diferentes tonalidades eram trazidas de seu lugar de origem a fim de proporcionar um a bela combinação de cores ao m osaico. Os pisos mais antigos de mosaico eram feitos de seixos coloridos dispostos na forma de padrões geométricos. A técnica de cortar as pedras em cubos (marchetaria) e usá-las para formar figuras só aparecerá mais tarde. Não foi encontrado nenhum exem plar de m osaico no O riente Próximo anterior ao oitavo século a. C. (Gordion, na Ásia M enor), embora a técnica para revestimento de parede já fosse conhecida desde o terceiro m ilênio (como no padrão real de Ur).29 .2 . m árm o re . A lg u m as tra d u çõ es m en cion am "alabastro". O m ármore precisava ser importado da Grécia e não aparece no mundo antigo até ser introduzido na Fenícia durante o período persa. Só existem evidências arqueológicas do uso de mármore em capitéis (a decoração no topo das colunas) a partir do primeiro ou segundo século d.C., embora o texto de Ester 1.6 faça menção a colunas feitas desse mesmo
m aterial descrito aqui, usado também como revestimento para «o piso. O alabastro oriental era um carbonato de cálcio parecido com o mármore, diferente do alabastro europeu, que é feito de gesso. Este tipo de material era usado na fabricação de utensílios finos em toda a região durante o período bíblico e também na arquitetura de colunas. Na construção do "palácio sem rival" de Senaqueribe foi utilizada principalmente a pedra calcária branca, embora o rei não tivesse dificuldade para conseguir o alabastro.29.4. quantidade de m etais preciosos. A quantidade m encionada aqui é superior a cem toneladas de ouro e 250 toneladas de prata. No Egito, a m aior doação de ouro e prata oferecida por um faraó aos deuses foi de 200 toneladas, feita por Sisaque (que saqueou grandes quantidades de ouro de Jerusalém). Em inscrições assírias, re is com o T ig late-P ileser III, Sargon II e Salm aneser III raram ente m encionam a quantidade específica de ouro recebida na form a de tributo ou tomado como despojo e quando o fazem, geralmente fica entre dez e cinqüenta talentos. Esta quantidade pode ser comparada m ais apropriadam ente com os nove mil talentos de ouro e 40 mil talentos de prata que A lexandre, o G rande, teria tom ado da capital persa, Susã.
29.4. O fir. Ouro de O fir é m encionado num a inscrição do oitavo século, em Tell Qasile. O local exato é desconhecido. O fato de ter vindo de Eziom-Geber indica que seria um a localidade árabe, em bora a índia e o leste da Africa não devam ser descartados.29.7. doações dos líderes. Cinco m il talentos de ouro
equivalem a quase 200 toneladas e a quantidade de prata doada é o dobro disso. Parte do ouro doado foi calculada em dáricos, a m oeda do Império Persa. Para m aior clareza, o autor de Crônicas converteu esse valor na unidade monetária da época. O dárico é uma moeda de ouro cujo nom e deriva de seu criador, o rei
persa Dario, o Grande, que reinou por volta do final do século 6 a.C.. Foi a prim eira m oeda cunhada no
O riente Próximo (embora o m undo grego cunhasse m oedas há m ais de um século). O dárico trazia a imagem de uma âncora e pesava cerca de 10 gramas. D ez m il dáricos, portanto, equivaleriam à cerca de cem quilos (dois talentos e meio). Talvez o cronista não tenha incluído esse valor junto com os outros talentos de ouro porque parte da doação fora feita em barras com a medida exata para transações comerciais. M uito antes de surgir a moeda, eram usadas peças de peso padronizado na form a de barras (sem um modelo definido), ou argolas de diversos tamanhos já no segundo milênio.
29.10-30 Salomão é ungido rei29.21. sacrifícios. Os holocaustos e as ofertas de comunhão eram dois dos sacrifícios m ais comuns. O primeiro geralmente acompanhava uma petição, enquanto que o segundo oferecia a oportunidade para celebrações e refeições com unitárias diante do Senhor. Essas ofertas geralmente eram oferecidas em contextos nacionais para ratificar tratados ou acordos de alianças. A qui, os sacrifícios foram oferecidos com o propósito de pedir a bênção de Deus e ao mesmo tempo, oferecer um banquete, firm ando assim um a aliança entre Salomão e os que estavam presentes.29.29. fon tes usadas no Livro de Crônicas. O cronista menciona diversas fontes usadas por ele na compilação de sua obra. A maioria delas não foi preservada, embora os Livros canônicos de Samuel e Reis façam parte do acervo consultado pelo cronista. As fontes mencionadas aqui são registros dos três profetas fam osos do período de D avi, em bora seja im possível saber se seriam memórias, antologias de profecias ou algum outro tipo de documento. Não há nenhum livro procedente do mundo antigo que possa ser atribuído a um profeta da corte, exceto os que se encontram na Bíblia, portanto faltam elementos para identificar a natureza dessas obras.
2 C R Ô N I C A S
1.1-17 Deus abençoa Salomão1.3. alto de G ibeom . Localizada cerca de seis quilômetros a noroeste de Jerusalém, Gibeom (el-Jib) fica na região montanhosa do território benjam ita próxim a a diversas fontes e com um elaborado sistema de túneis de água, tom ando o local um importante povoado. O lugar alto ou sagrado onde Salomão fez sua enorm e oferta de mil sacrifícios (1 Rs 3.4) talvez fique num a elevação chamada Nebi Samwil, cerca de dois quilômetros ao sul de Gibeom. A importância da cidade tam bém se evidencia pelo fato de estar incluída na lista de cidades feita por Sisaque durante sua cam panha na Palestina. O uso de um lugar alto não é condenado pelo escritor bíblico antes da construção do templo de Jerusalém e da implementação do "pecado de Jeroboão" (ver os comentários em 1 Sm 10.8; 1 Rs12.28-31).1.3. Tenda do Encontro. Ver s comentários em Êxodo 27.21 e 33.7-10 a respeito da construção e do uso dessa instalação sagrada durante a época da peregrinação no deserto. O fato de ter sido separada da arca aparece somente nessa narrativa.1.4. Q uiriate-Jearim . Essa aldeia foi o local onde a arca da aliança ficou guardada por algum tempo após ter sido devolvida pelos filisteus (1 Sm 7.1, 2). A cidade foi identificada com Tell el-Achar, cerca de 14 quilômetros a oeste-noroeste de Jerusalém, apesar de não ter respaldo arqueológico nem referências fora da Bíblia. Sua associação com M aané-Dã em Juizes 18.12 a situa naquela área geral (ver o comentário em Jz 13.25). De acordo com essa localização, Quiriate-Jearim ficaria apenas a cerca de dez quilômetros de Gibeom.1.5. altar de bronze. Ver Êxodo 38.30 e 39.39 a respeito da construção desse altar que ficava à entrada da Tenda do Encontro (ver tam bém 2 Rs 16.14). A presença da Tenda do Encontro e do altar de bronze em Gibeom, enquanto a arca era deslocada para Jerusalém, sugere a existência de dois centros relig iosos importantes e distintos, antes da construção do templo em Jerusalém.1.5. consulta da assem bléia. As consultas da assem bléia geralm ente eram na form a de um a pergunta oracular feita à divindade, aqui, no entanto, nenhuma pergunta é colocada. Um a interpretação alternativa bastante convincente é a de que a busca ("consulta") seria pelo altar e não por um oráculo do Senhor.
Essa interpretação faria sentido antes do início da construção do templo descrita nos próximos capítulos. Com a construção prevista de um novo santuário, era importante reunir todas as relíquias que haviam tido relação com o santuário tradicional. Havia um sentido sagrado nesse altar que havia sido usado por Arão séculos atrás. Se um oráculo estivesse sendo consultado nesse contexto, é provável que estivesse relacionado ao desejo de edificar um templo, pois um a obra desse tipo só tinha início após a específica aprovação divina (ver o comentário em 2.1).1.6. m il holocaustos. A magnitude desse sacrifício só pode ser comparada aos sacrifícios coletivos narrados em Êxodo 24.5-8 e 1 R eis 8.5. Esse exagero geralmente m arcava importantes eventos da aliança ou o
início de um novo relacionam ento com Yahw eh. A im ensa quantidade de ofertas empilhadas sobre mesas representadas em pinturas de túm ulos egípcios pode ser comparada, ao menos em termos de quantidade, à devoção e ao poder exemplificados pelas ofertas de Salomão em Gibeom.1.7-12. incubação de sonhos. Em bora a passagem de Crônicas não m encione um sonho, 1 Reis 3 oferece os detalhes desse episódio. Era comum no m undo antigo que indivíduos ou grupos, após um a peregrinação a santuários, dormissem diante do altar na esperança de obter um a m ensagem da divindade local, através de um sonho (ver os comentários em Gn 28.13-15 e 1 Sm 3.3). O contexto, portanto, era extremamente importante para incubar um sonho contendo uma teofania (como no sonho do rei e herói ugarítico Keret). Nesse tipo de visão, a pessoa é despertada pela presença da divindade e cham ada para estar atenta às palavras que serão proferidas. Dentre os m uitos exemplos na literatura do antigo Oriente Próximo, em um deles o rei assírio Assurbanipal descreve um sonho em que Istar aparece a ele, e em outro o rei neobabilônio Nabonido registra diversos sonhos em que M arduque ou Sin aparece de pé diante dele em toda a sua glória.1.7. o oferecim ento de D eus. Em m ensagens como essa, transmitidas através de sonhos (ver o comentário em 1 Sm 3.4-10), geralm ente ocorria um diálogo entre a divindade e o rei. O sonho servia para confirm ar o reinado ou alguma tarefa proposta ao rei.1.8. Salom ão reconhece a proteção de D eus. Expressões semelhantes podem ser encontradas em todo o antigo Oriente Próximo, proferidas por reis em reco
nhecimento à divindade que os colocara no trono. O rei hitita, Muwattalli II, por exemplo, declarou-se indigno em comparação à posição e aos feitos de seu pai, mas a seguir reconheceu que a divindade foi quem o fez prosperar, ascender ao trono e firmar seu reinado.1.12. Salom ão recebe sabedoria. Os reis do antigo Oriente Próximo eram em geral vistos como sábios, e não raro reconheciam ter recebido essa sabedoria da divindade. O rei assírio Sargon foi proclamado o mais sábio governante do mundo, graças aos deuses Ea e Belet-ili. O deus Asur garantiu a Senaqueribe num sonho que sua sabedoria ultrapassaria a sabedoria dos mais entendidos. Assurbanipal vangloriava-se não apenas de sua grande erudição e sabedoria, mas tam bém de seu conhecimento técnico e habilidade para argumentar, reconhecendo ter recebido de Sham ás e Adade toda essa riqueza de sabedoria.1.14. carros e cavalos de Salom ão. A acumulação de tantos carros e cavalos indica a intenção de Salomão em imitar as grandiosas ostentações militares de seus vizinhos e rivais. Em conflitos e batalhas travadas em campo aberto e nas extensas planícies, os carros de guerra, acom panhados de batalhões de infantaria e cavalaria eram ao m esm o tem po um a arm a letal e um a plataforma móvel para os arqueiros. O número assombroso de carros registrado nos anais assírios da Batalha de Qarqar (853 a.C., ver comentário em 22.1) indica o quanto eram considerados importantes pelos comandantes no planejamento das estratégias militares. O contingente de carros de Salom ão não chega aos dois mil carros que Acabe enviou para a aliança ocidental na batalha de Qarqar. No século treze, os hititas e seus aliados reuniram 2.500 carros para combater Ramsés II, na batalha de Cades.1.14. os estábulos de Salom ão. A grande quantidade de estábulos descobertos por arqueólogos em Israel (Megido, Tell el-Hesi, Láquis, Berseba, Hazor) indicao uso extensivo de unidades formadas por carros de guerra nos exércitos de Israel e de Judá. O estilo arquitetônico comum encontrado na maioria dessas instalações (um cômodo longo, dividido em três baias por pilares, com uma só entrada) revela um a atenção especial à construção dessas estruturas e a existência de um a planta comum. H avia nesses locais pilares baixos de pedra, com furos, nos quais se amarravam os animais, e grandes manjedouras de pedra (semelhantes àquelas ilustradas em monumentos assírios). As instalações geralmente eram grandes para poder abrigar e exercitar os garanhões treinados. Os estábulos de M egido (os que foram descobertos remontam à época de Acabe) podiam abrigar até 480 cavalos. Se acrescentarmos os demais estábulos encontrados por arqueólogos, o número de baias chega a quase 800.
1.15. o ouro de Salom ão. Acerca de dados referentes ao ouro de Davi e de Salomão, ver os comentários em1 Crônicas 22.14.1.16. 17. com ércio com o Egito. Salom ão parece ter sido um a espécie de "interm ediário" entre o Egito e a Anatólia no comércio de cavalos e carros. Os fenícios haviam estabelecido as principais rotas comerciais e forneciam os navios para o transporte de mercadorias em todo o M editerrâneo. Através da parceira comercial com os fenícios e pela posição estratégica de Salomão entre a África e a Ásia (ver suas fazendas de cavalo em 2 Cr 8.3, 4), era natural que Israel sugasse os mercados financeiros durante um período de relativa paz. D esde o período A m am a, cavalos de excelente qualidade eram importados do Egito por diversas nações, inclusive pelos hititas. Tanto fontes assírias quanto hititas apontam a diferença entre os cavalos disponíveis no Egito (cavalos nubianos, de grande porte) e seus próprios cavalos (de porte menor).1.16. C ilicia (hebraico: Cuve). Localizada nas planícies do sudeste da Turquia e descrita pelas fontes clássicas como a Cilicia, Cuve em ergiu da destruição do império hitita em 1200 a.C. para tom ar-se um importante centro comercial. Além de sua m enção como um dos parceiros comerciais de Salomão, Cuve é citada nos anais assírios por ter participado da Batalha de Qarqar (853 a.C.) e também na inscrição Karatepe de Azitawada (final do oitavo século a.C.).1.17. preço dos carros e cavalos. O preço de cada carro variava entre sessenta e cem siclos, de acordo com registros encontrados. O fato de Salom ão estar p agand o um v alor bem m aior sugere que não se tratava de carros comuns, e sim carros ornamentados, usados em exibições e desfiles militares. O uso desse tipo de carro é amplamente comprovado tanto no Egito como na M esopotâmia. Considerados como o transporte luxuoso da época, esses carros eram geralmente adornados com enfeites de ouro, lápis-lazúli e pedras preciosas. As cartas de A m am a referem-se a um carro pertencente a um rei m itani enfeitado com m ais de trezentos siclos de ouro. O preço dos cavalos também é elevado, mas não abusivo, considerando-se que eram animais de qualidade. De acordo com fontes hititas do
segundo milênio um cavalo podia ser comprado por vinte siclos, mas na Síria e na Babilônia, do início do segundo milênio até a metade do primeiro milênio, o preço chegou a atingir de duzentos a trezentos siclos por animal.1.17. exportação para hititas e arameus. Para receber cavalos e carros por qualquer rota terrestre, os hititas (ver o comentário em 2 Rs 7.6) e os arameus tinham de fazer um acordo com Salom ão e seus parceiros fenícios. Durante os séculos onze e dez a.C., as tribos
dos arameus haviam se aproveitado da fraqueza da Assíria e da Babilônia e estabelecido pequenos reinos, como o de Damasco (ver o comentário em 1 Rs11.23-25). Percebendo que os assírios ainda tinham condições de emergir novamente como potência (como de fato aconteceu no nono século), seria um a boa política tanto para a Cilicia quanto para a Síria, continuar a treinar e equipar seus exércitos, mesmo diante de
preços tão inflacionados.
2.1-4.22A construção do templo2.1. constru ção de tem p los no m undo antigo. Noinício do segundo m ilênio, Gudea, governante de Lagas, recebeu instruções através de sonhos de incubação de que ele teria de construir um templo para a deusa Ningirsu. O texto relata que o rei ajuntou m aterial (madeira, pedra, ouro e prata) e reuniu um a equipe de trabalho. Ao término da obra, foi oferecido um banquete de consagração do templo durante sete dias. Com o resultado de seu trabalho, Gudea recebeu a prom essa de um a vid a longa e um reinado bem - sucedido. Detalhes semelhantes surgiram mais de um milênio mais tarde, quando Esar-Hadom foi orientado a recon stru ir o fam oso tem plo de E sagila , na
Babilônia. Outro relato interessante de construção de um tem plo pode ser encontrado no épico ugarítico que mostra o deus Baal construindo uma casa para si mesmo. Podem os encontrar ali novam ente os aspectos relacionados a reunir o m aterial necessário, convocar uma equipe de trabalho e celebrar após o término da obra.2.2. trabalho obrigatório. A convocação de trabalhadores para a construção de obras públicas como templos era feita através de um recenseamento. Considerando-se o enorme núm ero de projetos em andamento durante o reinado de Salom ão, parece provável que tanto os israelitas como os estrangeiros que moravam entre eles tenham se subm etido a esse tipo de trabalho. Há indícios disso no fato de Salom ão ter colocado Jeroboão como encarregado dos que faziam trabalhos forçados da tribo de José (1 Rs 11.28) e no apedrejam ento de Adonirão, um outro capataz, por parte das tribos do norte (1 Rs 12.18, 19). O uso de trabalho forçado já era bastante comum na Síria na segunda metade do segundo milênio. Um a das acusações contra o rei neobabilônio Nabonido, encontrada no Cilindro de Ciro, refere-se aos excessos relacionados ao "trabalho forçado".2.2. carregadores. Como em qualquer equipe de trabalho, é provável que existisse uma divisão de tarefas entre os trabalhadores qualificados e aqueles menos capacitados. Provavelm ente aqueles que exerciam a
função de "carregadores" eram os menos qualificados, responsáveis pelo trabalho pesado, como carre
gar pedras, vigas de madeira, material de construção e ferramentas. Documentos mesopotâmicos registram
que o trabalho mais pesado era, em geral, designado aos prisioneiros de guerra ou escravos. No contexto
em questão, é provável que os estrangeiros ficassem encarregados dessa tarefa, m as isso dependia tam
bém das habilidades individuais e da experiência de cada trabalhador.
2.2. cortadores de pedras. A passagem paralela em 1
Reis 5.15-18 indica a necessidade de trabalhadores encarregados de extrair as pedras das rochas e tam
bém de trabalhadores altam ente treinados como os
fenícios de Gebal (de Biblos) que esculpiam e davam
forma aos blocos de pedra que seriam usados na construção do templo. A técnica utilizada para extrair os
blocos de pedra na pedreira incluía cavar fossos (com
mais de meio metro de largura em toda a volta) a fim de isolar a rocha. A seguir, eram introduzidas cunhas
de madeira na base da pedra e embebidas com água,
de forma que a dilatação da m adeira provocada pela
água soltasse a base da pedra. Em bora esse trabalho
fosse relativam ente simples, havia a necessidade de um supervisor treinado para determinar onde seria
introduzida a cunha e tam bém para localizar os me
lhores blocos de pedra. Após a extração, os pedreiros m ais qualificados assumiam o trabalho dando forma e
tamanho adequado à pedra a ser usada na construção.
O trabalho era feito com tamanha precisão que nem era preciso usar argam assa, visto que as pedras se
encaixavam com perfeição. O texto egípcio "Sátira
sobre as Profissões" m enciona que os cortadores de
pedras eram acometidos de cãibras nas costas e nas coxas, e que prejudicavam seus braços esculpindo
"pedras valiosas" para as construções. O trabalho dos cortadores de pedra é ilustrado em alguns murais que
decoravam o palácio de Senaqueribe, em Nínive.2.2. quantidade de trabalhadores. O total de trabalhadores era de 153.600 (v. 17 ,18), divididos em três
grupos: carregadores, cortadores de pedra e capatazes. Núm eros elevados com o esse podem refletir o
total aproximado de todos os trabalhadores recrutados para a construção do templo durante anos até o tér
m ino da obra, e não o núm ero de pessoas trabalhando simultaneamente num determinado período. Os reis
assírios e babilônios geralmente conseguiam mão-de- obra para seus projetos em campanhas militares. De
fato, às vezes uma campanha era motivada pela ne
cessidade de força de trabalho. Em um relatório, Assur- nasirpal afirma ter reunido quase cinqüenta mil ho
mens para trabalhar na cidade de Kalhu.
2.3-16. correspondência real. Existem m uitos exemplos de correspondência real no antigo Oriente Próximo contendo pedidos de suprim entos para a construção (como os cedros do Líbano), artigos de luxo e permutas diplomáticas. A carta levada por W enamon,o sacerdote egípcio do século onze, continha um pedido de toras de cedro e fazia m enção ao relacionamento duradouro, de muitas gerações entre o faraó e os reis da costa fenícia. Os reis de M ari escreviam regularmente a seus vassalos e aliados, mandando notícias e descrevendo a chegada de produtos manufaturados, anim ais e m atéria-prim a que haviam solicitado ou adquirido. N esse contexto, a troca de cartas entre Salomão e Hirão, em bora não estruturada no estilo formal típico de correspondência extrabíblica, tem um caráter comercial, como era comum.2.4. queim ar incen so . Ver o com entário em Êxodo30.7, 8 a respeito do uso de incenso na tenda do encontro e a evidência de seu uso em outras partes do antigo Oriente Próximo. Queimar incenso diante da divindade era um a parte normal do culto em todo o antigo O riente Próxim o, portanto essa necessidade seria algo fam iliar a Hirão.2.4. pão consagrado. V er o com entário em Levítico24.5-9 sobre o preparo e a apresentação sem anal do pão consagrado. Esse sacrifício simbolizava a presença de Deus e tam bém a prom essa de fertilidade encontrada na aliança. Era uma prática comum no anti
go Oriente Próximo oferecer comida aos deuses, embora a prática israelita nesse aspecto fosse bastante
diferente daquela de seus vizinhos (ver o comentário em Lv 1.1, 2).
2.4. sábados, Luas novas e festas fixas. Ver os comentários em Números 28 e 29 que tratam do calendário religioso de Israel. Apesar da guarda do sábado ser uma prática exclusiva de Israel, as Luas novas e festas anuais eram obrigações conhecidas por Hirão e pelos fenícios.2.5. b ase p ara a a firm ação da su p erio rid a d e de
Yahw eh. Declarações sem elhantes da superioridade de deuses padroeiros podem ser encontradas nos anais assírios e na história da criação de Enum a Elish, a respeito de A ssur e do deus babilônio M arduque, respectivamente. Essa seria a retórica esperada para qualquer nação em seus documentos internos. Quando um a nação afirm ava a superioridade de seu(s) deus(es) em relação ao(s) deus(es) de outro povo, geralm ente o argum ento era baseado na suprem acia militar ou em atos de poder. Tais declarações tinham m aior credibilidade quando eram proferidas pela boca de alguém que anteriormente fora adorador de outro(s) deus(es), agora considerado(s) inferior(es). É esse o caso da declaração de Raabe (com base na supremacia
militar e nos atos poderosos de Yahweh, Js 2.11) e da exclamação de Naamã (com base num ato de cura; 2 Rs 5.15).2.7. im portação de artesãos. Quando os assírios ou babilônios partiam em cam panhas visando recrutar força de trabalho, um dos principais objetivos era conseguir artesãos hábeis (ver a lista daqueles que foram exilados em 2 Rs 24.14,16). Porém, a intensa demanda m uitas vezes exigia um a quantidade m aior de artesãos do que os que estavam disponíveis localmente. A lém disso, alguns povos haviam desenvolvido certas técnicas relacionadas aos recursos naturais disponíveis na área em que viviam. As corporações de artesãos com freqüência eram formadas por famílias que haviam desenvolvido suas próprias técnicas que eram transmitidas de geração em geração. Essas habilidades eram cobiçadas e as rotas comerciais acabavam divulgando-as e aum entando a dem anda por tais artesãos.2.7. tecido roxo, verm elho e azul. Essas cores eram as mais exóticas e cobiçadas no mundo antigo, portanto m uito caras. H aviam sido usadas na decoração do tabernáculo e nos enfeites das vestes sacerdotais. O tecido de cor "azu l" recentem ente foi interpretado como sendo azul-púrpura ou roxo. O corante dessa cor era um dos principais produtos de exportação da Fenícia, sendo extraído de determ inados m oluscos m arinhos (M urex trunculus), que viviam em águas rasas na costa do M ed iterrân eo. U m a fábrica de corantes foi descoberta em D or, ao longo da costa norte de Israel. Especialistas calculam que seriam necessários 250 mil moluscos para produzir aproximadamente meio quilo de corante puro. Esse corante era usado na confecção da maioria dos objetos sagrados, tais como o véu do Lugar Santíssimo e as vestes do sumo sacerdote.2.8. tipos de m adeira. O cedro e o pinho eram usados basicam ente para as vigas e outras estruturas de sustentação. O uso dessas m adeiras acompanha o padrão estabelecido por outros reis do antigo Oriente Próximo, como fez Nabucodonosor, rei da Babilônia, na construção de seus prédios monumentais. Junípero, conforme1 R eis 1 0 .1 1 ,1 2 é um a m adeira de sândalo averm elhada importada de Ofir (nativa da índia e do Ceilão), considerada madeira de lei e extremamente cara, muito usada na fabricação de m óveis pelo fato de poder ser polida. O junípero citado aqui talvez seja o junípero grego, um abeto alto da espécie conífera usado para extração de madeira. Geralmente eram usadas madeiras mais duras que davam um bom acabamento e tinham textura bonita e odor agradável. M uitas dessas m adeiras também eram resistentes a mofo, cupins ou outros insetos. Para preparar as tábuas eram usadas ferramen-
tas como m achados com cabeçote de ferro e serras de
cobre com dois cabos. Inform ações sobre esse tipo de
ferramentas foram descobertas em túmulos egípcios e
em pinturas de tum bas.2.10. pagam ento dos lenhadores. Em bora os salários
dos lenhadores fenícios fossem por empreitada, é pos
sível que cada trabalhador recebesse um salário ou ração diária pelo trabalho. Apesar de a maioria desses
homens pertencer a um a corporação de lenhadores, é
provável que tam bém houvesse alguns trabalhadores lupshu (m encionados em textos de A m arna, N uzi e
assírios), sem elhante a diaristas, cuja sobrevivência dependia do que conseguiam ganhar a cada dia. Os
quarenta m il tonéis de trigo e cevada e os quatro mil
barris de vinho e azeite seriam suficientes para alimentar de seis a oito m il trabalhadores durante três anos.
2.14. entalhe. O entalhe podia ser feito em osso, m ar
fim, conchas, pedra, pedras preciosas, m adeira e m etais de diversos tipos. A arte de entalhar incluía burilar
e fazer inscrições em selos e insígnias feitos de pedras
preciosas e semipreciosas. Selos cilíndricos e selos com estam pa eram usados em todo o antigo O riente Pró
ximo com o form a de identificação pessoal e tam bém
para selar documentos e contratos oficiais com o nome dos participantes. No templo, eram usados entalhes em
grande parte dos m óveis e dos painéis.
2.16. m adeira transportada em jangadas. O comércio de toras de cedro do Líbano é largamente comprova
do pelas fontes egípcias (Antigo Reinado, durante o
oitavo século) e assírias. D urante um determinado período, Tiglate-Pileser III ordenou a interrupção do
comércio entre os fenícios e seus parceiros egípcios e
filisteus, temendo que formassem uma frota ou enri
quecessem a ponto de se tornarem perigosos. O transporte de m adeira ao longo da costa sul da Palestina
era feito em navios ou jangadas formadas por toras presas umas às outras; no caso das jangadas, era pre
ciso mantê-las bem próximo à costa para evitar que as tem pestad es em alto-m ar as quebrassem . Relevos
assírios m ostram navios fenícios carregados de toras e
também rebocando madeiras. Relevos no palácio de Sargon ilustram jangadas de toras de cedro flutuando
rio abaixo transportando madeira para ser usada nos projetos de construção, desde 2000 a.C., durante a
construção do templo de Gudea. Jope era o porto mais próxim o a Jerusalém na Antigüidade e local de de
sembarque natural para as toras. De Tiro a Jope eram quase 160 quilômetros; o percurso terrestre de Jope a Jerusalém era de cerca de 56 quilômetros.
2 .17 ,18 . estrangeiros para trabalhos forçados. Ver o comentário em 2.2 e 2.7 a respeito do uso do trabalho
obrigatório.
3.1. m onte M oriá. Essa identificação tem o objetivo de associar o local do templo ao sacrifício de Isaque (ver o comentário em Gn 22.2), ainda que apenas no nome.3.1. eira de Araúna. Ver os comentários em 2 Samuel24.18-25 a respeito da compra dessa propriedade efetuada por Davi. A eira, assim como a porta da cidade, era o local onde se fazia a distribuição de cereais, resolviam -se as disputas (ver 1 Rs 22.10) e onde a presença de Deus poderia se manifestar (ver Jz 6.3640). A eira tam bém podia ficar fora dos m uros da cidade num terreno elevado a fim de tirar maior proveito do vento e da brisa para soprar a palha dos cereais. A escolha de um terreno para a construção de
um templo no mundo antigo era uma questão muito importante, consumindo um a quantidade considerável de tempo e energia. Acreditava-se que a divindade iria mostrar o local apropriado, m as não é isso que está sendo descrito neste versículo, ao contrário, um lugar já tradicionalm ente sagrado seria o mais adequado. Não houve consulta a nenhum oráculo, nem m ensagem divina designando o local.
3.2. cronologia. A construção teve início durante o reinado de Salom ão, em m eados do ano de 960. O segundo dia do segundo mês coincide com o começo da primavera, quando a estação chuvosa já chegou ao fim e os primeiros festivais já aconteceram. O prim eiro dia do mês provavelmente seria o dia da festa da Lua nova, por isso, a obra tem início no segundo dia.3.3. 4. dim ensões. O texto de Crônicas que descreve as dimensões físicas do templo é incompleto e as me
didas apresentadas aqui são diferentes daquelas encontradas em 1 Rs 6 2 (vinte e sete metros de comprimento por nove m etros de largura e treze m etros e meio de altura). Crônicas omite a altura da estrutura principal, m as m enciona que o pórtico tinha nove metros de altura (versículo 4). Essa m edida pode estar baseada sim plesm ente na fundação. Existe tam bém alguma variação na terminologia, mas isso pode ser explicado pelas m udanças sofridas pela língua ao longo do tempo. O côvado "p elo padrão antigo" é um pouco m enor que o padrão usado em Deuteronômio3.11. Ao contrário dos tem p los constru ídos pelos mesopotâmios cujo propósito era glorificar o rei que havia construído o templo, o texto bíblico fornece inform ações bastante precisas, p erm itind o ao leitor visualizar a construção.
3.4. pórtico. O pórtico era a área m ais externa das três partes que compunham o templo de Jerusalém. Esse traço arquitetônico estaria de acordo com o padrão encontrado no templo em Tainat e em outras regiões da Síria e da Fenícia. Parece ser um "an exo" e não um a parte integrante do complexo do templo; ao contrário das duas câmaras internas, não tem porta de
entrada. Sua construção é sem elhante a do grande pátio do palácio (ver 1 Rs 7.12). Enquanto a câmara interna principal e o Lugar Santíssimo constituem efetivamente a "casa do Senhor", o pórtico assemelha-se m ais à arquitetura tradicional do O riente Próxim o, como um a espécie de pátio anexado aos principais cômodos.3.5. desenhos de tam areiras e correntes. O uso dedesenhos de tamareiras nas construções de monumentos do antigo Oriente Próximo tam bém aparece em p inturas de parede no palácio de M ari, durante o reinado de Zinri-Lim (século dezoito). A tam areira era o sím bolo da fecundidade, além de produzir a tâmara, um dos principais produtos da economia e da alimentação de toda aquela área. O desenho de correntes é ampliado na versão de Crônicas, enquanto em 1 Reis 7.17 aparece apenas adornando os capitéis das colunas de bronze. Nos templos egípcios, colunas com desenhos de tamareira e flor de lótus representam a concepção do templo como um microcosmo divino na terra.3.6. ouro de Parvaim. Apesar de Parvaim provavelmente designar um lugar, sua localização é desconhecida. Alguns têm sugerido o Iêm en e o nordeste da Arábia, mas não há nenhum lugar precisam ente associado ao termo. Sua relação com o ouro pode estar
baseada num padrão de pureza, associada à etimologia ligada ao termo parim, "novilhos" ou para, um a árvore frutífera. Em ambos os casos a cor do sangue ou da fruta poderia ter feito com que fosse particularmente classificado como ouro de alta qualidade.3.7. querubim esculpido. A descrição dos entalhes na parede é semelhante a 1 Reis 6.29. Esses seres alados, que simbolizavam a presença de Deus, também eram bordados nas cortinas e no véu que cobria o Lugar Santíssimo no tabernáculo (Êx 26.1). Uma inscrição de Agum-kakrime, da segunda metade do segundo milênio, refere-se à sua contribuição e à construção de um santuário para os deuses M arduque e Sarpanitum. As portas desse santuário eram decoradas com figuras de serpente com chifres, bisão, cão, homem-escorpião e diversos demônios, inclusive demônios protetores, Iahmu. O templo de 'A in Dara, na Síria, desse mesmo período, também tinha muitos entalhes de figuras de esfinges e leões.3.8. v in te e um a ton elad as de ouro (600 talentos).Seria certam ente um exagero revestir um pequeno cômodo, o Lugar Santíssimo, com vinte e uma toneladas de ouro. Provavelm ente toda essa quantidade teria sido aplicada na form a de filetes de ouro na decoração de todas as paredes internas do templo. Para comparações em relação à quantidade de ouro, ver os comentários em 1 Crônicas 22.14.
3.9. pregos de ouro, seiscen tos gram as (50 siclos).Diferente do que foi traduzido na N VI, o que esse difícil texto provavelmente diz é que esses cinqüenta siclos de ouro foram usados para chapear os pregos de ferro usados para prender as incrustações de ouro nas paredes. Pregos pesando seiscentos gram as seriam pesados demais, enquanto que seiscentos gramas de ouro em pregos não seriam suficientes para fazer todo0 serviço.3.10-13. querubim esculpido. As imagens de querubins feitas de m adeira de oliveira serviam como guardiões ou sentinelas do Lugar Santíssimo (compare com1 Rs 6.23-28), bastante semelhante aos querubins que guardavam o jardim do Éden (Gn 3.24). A arquitetura dos tem plos do antigo O riente Próxim o evocava imagens do jardim (como m orada ou local de encontro da divindade) em diversos aspectos. Criaturas compostas aladas posicionadas em colunas, à semelhança de árvores (geralmente tamareiras), eram comuns especialm ente na sírio-palestina e na região do alto Eufrates. Tal como aqueles querubins cujas asas cobriam a arca da aliança dentro do Lugar Santíssim o, esses querubins esculpidos e revestidos de ouro também representavam a presença de Deus e um a espécie de trono. A iconografia do antigo Oriente Próximo freqüentemente ilustra os tronos de reis e divindades ladeados por criaturas aladas com postas. Entre os cananeus, seria o equivalente a Baal, o deus da tempestade, que era freqüentemente representado de pé no dorso de um touro (compara com SI 18.10 a respeito de Yahw eh "m on tad o" num querubim ). Para m ais informações, ver o comentário em Êxodo 25.18-20.3.14. véu. De acordo com o relato de 1 Reis 6 .31 ,32, as duas partes do templo de Salomão eram divididas por uma porta de madeira incrustada de ouro e decorada com entalhes de querubins, tam areiras e flores. O cronista descreve também que a cortina servia como uma segunda barreira. N a época do Novo Testam ento o templo tam bém tinha portas e um a cortina. Separar os recintos sagrados do mundo secular e de sua impureza era um a exigência do projeto arquitetônico
dos templos antigos.3.15-17. colunas. Para m ais inform ações, ver os comentários em 1 Reis 7.15-22. A colocação dessas colunas pode ser com parada à arquitetura sagrada dos santuários de Siquém, H azor e Tiro.3.16. correntes com rom ãs. As romãs sim bolizavam a fertilidade tanto no antigo Oriente Próxim o quanto nas prom essas da aliança (Dt 8.8). Relevos antigos trazem figuras de reis e sacerdotes exibindo um cetro com um a romã na ponta durante ofertas de sacrifícios. Uma romã de marfim recentemente descoberta (provavelmente a ponta de um cetro como esse m encionado)
contém a inscrição hebraica "pertence ao templo do Senhor", sugerindo que era usado pelos sacerdotes.4.1. altar de bronze. O uso de objetos esculpidos em bronze surgiu durante a monarquia. O altar mencionado aqui era um a plataform a sacrificial quadrada,
medindo nove metros de cada lado, com níveis mais baixos formando degraus até o topo do altar. Assim como os outros, esse altar tinha a função simbólica de um a "m esa de D eus", onde se colocavam sacrifícios em reconhecim ento à dádiva da fertilidade enviada por Yahw eh (ver 1 Rs 8.64 e 2 Rs 16.14). É bastante provável que este altar não tenha sido esculpido numa única peça de bronze fundido, já que seu tamanho era enorm e. Ao contrário, é possível que fosse feito de madeira e revestido de bronze (compare com o altar menor descrito em 2 Cr 6.13).4.6. pias. Os arqueólogos encontraram um suporte de bronze que poderia servir de base para essas pias, do século doze a.C.. O suporte tinha rodas e era decorado com criaturas aladas compostas (ver 1 Rs 7.29).4.2-5. o tanque (o "m ar"). Esse tanque enorme (ver 1 Rs 7.23-26) pode ser com parado com dois enorm es caldeirões apoiados sobre as patas dianteiras de touros à entrada do templo de M usasir, retratados em relevos assírios da época de Sargon II (oitavo séculoa.C.). Esses tanques eram usados basicamente para as ab lu ções dos sacerd otes , assim com o a b acia do tabernáculo (Êx 30.18-21) e as dez pias (v. 6). Além disso, alguns estudiosos atribuíram a esse tanque um valor simbólico. Visto que o tanque se assentava sobre doze touros, representando as doze tribos, com um tamanho monumental (treze metros de circunferência), ele evocava imagens de Yahw eh como Deus Criador e Senhor sobre as águas caóticas da terra. D esse modo, Yahw eh supera as divindades cananéias Yam m e Baal e o deus babilônio M arduque que representavam o m ar e a tempestade (ver Sl 29.10; 104.19; Is 51 .9 ,10).4.7. candelabros. Os dez candelabros de ouro (ver 1 Rs 7.49) apresentam um a diferença significativa em relação ao único candelabro do tabernáculo (Êx 25.3138). Provavelm ente tinham um form ato cilíndrico, eram esculpidos em madeira e revestidos de lâminas de ouro. D istribuídos dos dois lados no interior do tem plo, sua luz e reflexo dourado proporcionavam m aior esplendor ao templo de Salomão e à presença inerente de D eus no local (ver Jr 52.19; 2 Cr 13.11; 29.7 para detalhes adicionais sobre esses objetos). Juntam ente com as m esas e os altares de incenso ou incensários, esses acessórios davam ao lugar o sentido de "casa do Senhor".4.8. m esas. Para informações a respeito das m esas e do uso do pão, ver o comentário em Levítico 24.5-9.
4.8. bacias para aspersão. As bacias de ouro também são mencionadas em 1 Rs 7.50, mas o cronista acrescenta a quantidade delas (cem). A função exata dessas bacias não é clara, mas talvez fossem usadas para pegar água das pias (v. 6) ou para recolher o sangue dos sacrifícios (ver Êx 24.6, 8; 27.3).4 .9 ,10 . pátios. Essa divisão dos pátios ao estilo fenício tam bém é encontrada no tem plo de 'A in D ara, no noroeste da Síria. N esse aspecto, observa-se que a entrada nos recintos sagrados era restrita aos sacerdotes e havia um a separação clara entre essa parte do templo e as demais áreas seculares anexas.4.11. jarros, pás, bacias para aspersão. Encerrando a lista de objetos rituais fabricados por Hirão estão aqueles relacionados aos sacrifícios e às ofertas de incenso. As pás de incenso foram descobertas em escavações de Tel D ã (ver Lv 16.12, 13); os jarros eram usados para recolher as cinzas do altar de incenso e as bacias
continham o sangue dos sacrifícios (Êx 38.3; Nm 4.14). Todos esses objetos sagrados tinham a função de proporcionar um tratamento adequado aos restos das ofertas sacrificiais. As cinzas e o sangue dos sacrifícios tinham de ser recolhidos da m aneira correta para assegurar a pureza do altar e do templo.
4.16. garfos de carne. Os arqueólogos descobriram um a enorme quantidade de garfos grandes que talvez sejam os objetos descritos pelo cronista (ver a inclusão deles nas listas de Êx 27.3 e Nm 4.14). A parte do sacrifício destinada ao sacerdote, prescrita em Levítico 7.28-36, era a coxa direita e o peito. Porém, no santuário de Siló, antes da m onarquia, a história registra um episódio em que os sacerdotes tiravam car
ne sacrificial de um caldeirão comum (ver o comentário em 1 Sm 2.13).4.17. geografia . Zeredá situava-se "n a plan ície do Jordão", do lado leste do rio e a meio caminho entre o m ar Morto e o m ar da Galiléia, de acordo com Josué 3.16 e 1 Reis 4.12. A localização exata ainda não foi d eterm in ad a, em bora T ell es-S a 'id iy e h e T ell el- M eqberah estejam entre as localid ades sugeridas. Sucote fica em Tell Deir Allah, cerca de um quilômetro e meio ao norte do rio Jaboque e cerca de cinco quilômetros a leste do rio Jordão. Foram encontrados vestígios desse período no local. A área no topo do tell é comparada a um campo de futebol, cerca de um acre e um quarto. Trata-se de um pequeno povoado voltado para a indústria de fundição do bronze.4.21. flores. U m a descrição mais precisa do estilo floral dos candelabros (flor de am endoeira) pode ser encontrada em Êxodo 25.31-40 e 37.17-24. U m exemplo semelhante de modelo floral foi encontrado num candelabro de M egido e em miniaturas de colunas de A rslan Tash. A flor de lótus tam bém era bastante
usada na decoração cananéia e egípcia. Talvez o objetivo desses desenhos florais fosse o sentido de constante fertilidade, remetendo às promessas da aliança.4.21. lâm padas e tenazes. A lista dos objetos sagrados de ouro fornecida pelo cronista inclui as lâm padas presas às diversas hastes dos candelabros e as tenazes usadas para carregar as brasas usadas para acender as lâmpadas e os altares de incenso (ver 1 Rs 7.49; Is 6.6). Essas tenazes também poderiam ser usadas para remover os pavios apagados, que seriam acesos novamente e recolocados nas lâmpadas. A qualidade do ouro "p u ro" ou "m aciço" usado para folhear até m esmo objetos como tenazes é uma confirmação de sua importância no ritual cultual.4.22. cortad ores de pavio. Os cortadores de pavio eram necessários para evitar que os pavios ficassem boiando no azeite das taças dos candelabros (Êx 27.20), fumegando ou não m ais se acendendo (ver Is 42.3). Um a das tarefas comuns dos sacerdotes era zelar pelas lâm padas (Êx 30.7) e para isso eles podiam em pregar um cortador para garantir que o ritual não fosse interrompido ou que a luz não se apagasse (Is 42.3;43.17). Visto tratar-se de um termo hebraico incomum, algu ns eru d itos trad u ziram essa exp ressão com o " in stru m en tista s m u sica is" , com base em textos mesopotâmios e relevos assírios que descrevem o uso de música acompanhando rituais realizados no templo e a "refeição divina".4.22. tigelas e incensários. A palavra usada aqui e em1 Reis 7.50 para incensários refere-se a um tipo de frigideira - nesse caso, um a de cabo longo (ver Lv 10.2; Nm 16.6). O incenso era colocado nessa vasilha junto com um pedaço de carvão quente e carregado pelo aposento para aromatizar o lugar ou o altar. Os textos de Qumran m encionam um a frigideira como essa usada para levar fogo ao templo. Ilustrações do Novo Império egípcio ilustram o uso de incensários com cabos nos rituais para afastar o mal ou sendo carregados em procissões. As tigelas eram usadas para derramar óleo nas lâmpadas ou para levar o incenso aos altares ou incensários (1 Rs 7.50).
5.1-7.22Salomão dedica o templo ao Senhor5.3. festa do sétim o mês. O cronista menciona apenas o núm ero do mês, não o seu nom e, Etanim . V er o comentário a respeito deste mês de outono em 1 Reis8.2. A lguns calendários sim plesm ente usavam n ú meros, em vez de nomes, para designar cada mês. A festa mencionada aqui é a festa da colheita ou festa
das cabanas, celebrada em tendas (hebraico: Sucote).5.12. vestes de linho. Embora as vestes de linho geralm ente fossem reservadas para uso exclusivo dos
sacerdotes (Lv 6.10; 16.4), nessa ocasião especial, os levitas e os m úsicos também usaram linho. O linho usado pelos sacerdotes era importado do Egito, onde também era usado de form a distintiva nas vestes sacerdotais. A lguns afirmam que os anjos também usam vestes de linho.5.12. instrum entos m usicais. Címbalos, harpas, liras e trombetas são instrumentos musicais típicos da época e confirm ados em textos, relevos e pinturas do antigo Oriente Próximo desde o terceiro milênio a .C . A inda existe certa discordância entre os eruditos a respeito das palavras hebraicas traduzidas como "h arpa" e "lira". O termo que a NVI traduz como "lira" refere-se a um instrumento de dez cordas, enquanto a palavra traduzida por "harpa" talvez tivesse um menor núm ero de cordas. Ambos tinham uma estrutura de m adeira que perm itia segurá-los nas m ãos. O címbalo era feito de bronze e fazia parte dos instrumentos de percussão, portanto a única dúvida seria quanto ao seu tamanho. Trombetas tubulares com uma das extrem idades alargada eram usadas nesse período em contextos militares e também rituais. Esses instru
mentos aparecem em relevos egípcios e são confirmados por exemplares de instrumentos descobertos, por exemplo, na tumba do rei Tut (uma trombeta de prata com quase meio metro de comprimento).6.12,13. postura de oração. De acordo com o versículo 12 e com o texto de 1 Reis 8.22, Salom ão inicialm ente se colocou de pé com os braços levantados e a palma das mãos viradas para cima, enquanto se dirigia à assem bléia e fazia uma oração dedicatória para o templo. Fica im plícito a p artir de 1 R eis 8.54 que, em algum m omento, Salomão ajoelhou-se, mas esse detalhe não aparece em 2 Crônicas 6.13. De acordo com registros mesopotâmios, as orações de encantamento, tal como a oração de Istar, exigiam que o suplicante se prostrasse e levantasse as mãos. Registros hititas indicam posturas e gestos semelhantes. Orações ditas por reis não eram incom uns, em bora seja difícil discernir se eram lidas
(compostas com antecedência) ou espontâneas.6.22. juram entos no processo ju dicial. V er os comentários em Deuteronôm io 1.9-18 sobre situações que exigiam juram entos. Os ju ram entos eram bastante comuns nos códigos de leis do antigo Oriente Próximo, sendo usados nos casos de roubo e de danos à propriedade. Também eram usados para firmar tratados, convocando os deuses para serem testemunhas do acordo.7.5-7. quantidade e tipo dos sacrifícios. Holocaustos, ofertas de cereais e ofertas de comunhão são m encionados aqui. Ver o comentário em Levítico 3.1-5 a respeito das ofertas de comunhão e das porções de gordura que eram queimadas antes que a carne sacrificial
fosse consumida, e o comentário em Levítico 2.1-3 e6.14-23 sobre os regulam entos referentes à oferta de cereais. O texto não diz quantos desses sacrifícios eram na form a de holocaustos (totalmente consumidos no altar) e quantos eram ofertas de comunhão (a carne do animal sacrificado era usada em refeições comunitárias). É bem provável que o rei estivesse fornecendo grande parte da carne oferecida no banquete religioso com unitário a todos os presentes. Em bora esses núm eros sejam bastante elevados, não destoam em relação a outras cifras encontradas na literatura do antigo O riente Próxim o. Q uando em 879 a.C. o rei A ssurnasirpal deu um a festa de dedicação por seu palácio, na capital assíria de Calah, ele providenciou cinco m il ovelhas, m il cordeiros e bois, quinhentos cervos, quinhentas gazelas, trinta e quatro m il aves e dez m il peixes.
7.8. desde Lebo-H am ate até o ribeiro do Egito. Ver ocomentário em 1 Reis 4.21 sobre as fronteiras do reino de Salomão. É m ais provável que a "entrad a" para H am ate (Ematu nos textos de Ebla), Lebo-H am ate, seja a atual Lebweh, localizada num a das nascentes do rio Orontes. Estava localizada na fronteira sul da terra de Hamate, portanto, na fronteira norte de Canaã, e designava a extremidade norte do império, cerca de 70 quilôm etros ao norte de D amasco. O ribeiro do Egito seria o vau al-Arish.
7.12-22. a resposta de D eus. Esse pronunciam ento divino apresenta um a série de peculiaridades. Primeiro, ao contrário da prática típica do antigo Oriente Próxim o pela qual a divindade era quem deveria escolher o lugar onde o templo seria construído (ver comentário em 3.1), Deus manifesta sua escolha por ocasião da dedicação. Segundo, ainda que o templo fosse considerado como o local da presença de Deus, o versículo 14 deixa claro que Deus ouviria as orações "d os céus". No entanto, em terceiro lugar, seu nome, seus olhos e seu coração estariam no templo. O "nom e" representava um a extensão da própria pessoa. Os "o lhos" representavam na época o meio de se obter informações, portanto, "sabedoria ou conhecim ento". Em português, o termo "coração" é usado metaforicamente para indicar o centro das emoções, em oposição à lógica e à razão. No hebraico, esse termo compreende tanto o centro das emoções quanto da razão/intelecto, o que também acontece em outras línguas semitas como o ugarítico, o aramaico e o acadiano. Para mais informações a respeito da idealização do templo, ver o comentário a seguir. As orações que Deus iria ouvir no templo não viriam de reuniões de oração sem anais, mas de petições (nacionais, reais, sacerdotais ou individuais) associadas aos holocaustos. Por fim , a ameaça de destruição do templo relacionada ao fato
das pessoas se afastarem de Deus e o negligenciarem pode ser com parada aos deuses que abandonavam
seus tem plos e suas cidades por causa de ofensas, geralmente relacionadas à negligência aos rituais. Aqui Israel é alertado para não negligenciar a lei, que incluía o cumprimento dos rituais, m as era muito mais abrangente.7.16. conceito de tem plo no antigo O riente Próximo.O templo era visto como refúgio ou abrigo do poder de Deus na terra. Era dali que Ele veria o que estava acontecendo e a partir dali que iria agir (emoções e decisões). No antigo Oriente Próxim o, o templo era considerado um microcosmo da terra, representando a montanha cósmica (Mesopotâmia) ou o outeiro primitivo (Egito) de onde tudo emergia. Era um tipo de
palácio semelhante ao palácio habitado pela divindade nos lugares celestiais ou no monte celestial. Acreditava-se que a divindade se incorporasse na estátua que a representava no templo; m as o ídolo não era a própria divindade (para mais informações a respeito de ídolos, ver os comentários em Dt 4).
8.1-18 Os feitos de Salomão8.2. cidades que Hirão lhe tinha dado. Ver o comentário em 1 R eis 9.11, que descreve com o Salom ão cedeu a Hirão, rei de Tiro, vinte cidades da região da G aliléia. Se essas são as m esm as cidades referidas aqui, é possível que Hirão as estivesse devolvendo por diversas razões. Se essa m enção refere-se a um outro incidente, o texto não oferece nenhuma informação quanto à localização das cidades ou os acertos para a transferência.8.3. H amate-Zobá. Em passagens anteriores esse nome refere-se a duas áreas separadas (ver os comentários em 2 Sm 8), m as na época de Salom ão parece que haviam sido unidas sob um único governante. Zobá e Hamate ficavam na extremidade norte da fronteira do reino de Salomão. Qualquer tropa enviada para esse local seria provavelm ente na form a de um a campanha de pacificação ou uma exibição de força, como as declarações dos reis m esopotâmicos de suas expedições "ao m ar". Ham ate era conhecida por suas pastagens e m ais tarde foi usada pelos reis assírios como uma estação intermediária de criação de cavalos. Talvez Salomão também tenha usado esta cidade, visto que ele importava cavalos de Cuve (ver o comentário em 1.16).8.4-6. projetos de construção. V er o comentário em 1 Reis 9.15-19 a respeito dos projetos de construção de Salomão. Tadm or é o oásis de Palmira (cerca de 200 quilômetros a nordeste de Damasco), situado na rota das caravanas que liga a Palestina ao norte da Arábia.
As cidades gêmeas de Bete-Horom Superior, Beit Ur e l-F oqa (cerca de três q u ilôm etros a n oroeste de Gibeom), e Bete-Horom Inferior, Beit U r et-Tahta (cerca de dois quilôm etros e meio m ais para noroeste, com trezentos m etros de altitude), protegiam a passagem de Bete-Horom. A passagem vai até o vale de A ijalom (m encionado nos textos de A m arna como Ayyaluna), a principal rota da região montanhosa até as planícies costeiras. Alguns sugerem que Bete-Horom é a cidade citada com o Bit N inurta nas cartas de Amarna. Baalate geralmente é identificada com Qui- riate-Jearim ou uma localidade na proximidade leste de Jerusalém (Js 15.9; 18.14). Alistada como uma cidade dentro do território de Ju d á (Js 15.60), o local é geralm ente identificado com Tell el-Azhar, cerca de catorze quilôm etros a oeste-noroeste de Jerusalém , em bora não seja confirmado por descobertas arqueológicas ou referências extrabíblicas. O propósito de todo esse empenho em reconstruir essas cidades era fortificar pontos de defesa, estabelecer postos de trocas de m ercadorias ao longo das principais rotas comerciais e deixar claro que a jurisdição de Salom ão era reconhecida ao longo de suas fronteiras.8.7-10. trabalho forçad o. V er os com entários em 2 Crônicas 2 .2 ,7 sobre o uso de estrangeiros em projetos de trabalho forçado.
8.13. sábados, Luas novas e as três festas anuais. Em2 Crônicas 2.4 há uma relação semelhante das principais obrigações religiosas - semanais e anuais. A respeito das três festas anuais, ver os comentários em D euteronôm io 16.1-17.8.17. Eziom -G eber e Elate. Eziom-Geber era uma cidade portuária localizada à frente do golfo de Ácaba e talvez seja Tell el-Kheleifeh (que alguns estudiosos
identificam como Elate) ou um local na ilha de Jezirat Far'on (ilha Coral), a única localidade na região onde
há evidências de um antigo porto. Nesse local foram feitas pesquisas arqueológicas submarinas que reve
laram enormes muros e quebra-m ares (embora não da Idade do Ferro) e um a pequena quantidade de cerâm ica da Idade do Ferro, usada nas embarcações egípcias. A tecnologia usada na enseada artificial é sem elhante àquela encontrada na cidade fenícia de Tiro. Elate era um povoado n a costa norte do golfo de Acaba que servia como um porto com ercial para a navegação árabe e no m ar Vermelho.8.18. O fir. Essa nação fornecia grandes quantidades de m adeira exótica e pedras preciosas (1 Rs 10.11), além de possuir im portantes jazidas de ouro e um forte comércio desse m etal precioso (1 Rs 9.28). Com exceção da Bíblia, a única menção a Ofir é em uma inscrição de Tell Qasile (oitavo século a.C.), m as que não fornece nenhum dado para estabelecer sua locali-
zaçao. Sugestões para a localização de Ofir incluem a Arábia, a índia e a região Somali, na África.
9.1-12A rainha de Sabá9.1. Sabá. A localização de Sabá geralmente tem sido sugerida como um reino na extremidade sudoeste da península árabe (possivelmente o Iêmen). Nesse caso, ficaria b astan te próxim o das rotas com erciais da Mesopotâmia e também da conexão, através da navegação no m ar Vermelho, com a África e a índia. Sabá já tinha contato com a região siro-palestina desde a metade do segundo milênio. O novo centro comercial de Salom ão no porto em Eziom -Geber, no golfo de Ácaba, talvez tenha ameaçado as caravanas de camelo de Sabá, devido à concorrência, portanto era esperado que o governante dessa região desejasse estabelecer relações amigáveis com essa potência comercial emergente. Não há nenhuma referência ao nome da rainha, em bora os contatos assírios com a Arábia na primeira metade do primeiro milênio geralmente fossem tratados com rainhas poderosas. Ela poderia ser a governante ou a consorte do governante, enviada por seu marido nessa importante m issão diplomática. O percurso foi de aproximadamente dois m il e duzentos quilômetros e teria levado muitas semanas.9.1-4. teste de sabedoria. Competições de sabedoria eram bastante comuns na literatura do antigo Oriente Próximo. A literatura babilónica representa esse tipo de prova através de fábulas cujas personagens (animais e plantas) rivalizam em sabedoria. Debates para determ inar qual das partes envolvidas era a m ais sábia estão presentes na literatura desde os tempos sum érios. A ssurbanipal vangloriava-se não apenas de sua grande erudição e sabedoria, mas também de seu conhecimento técnico e habilidade para argumentar, reconhecendo ter recebido de Sham ás e Adade toda sua profunda sabedoria. A reconstrução de cidades e templos, o desenvolvimento de terras anteriormente não cultivadas, a construção de sistem as de irrigação e a direção de rituais eram considerados evidências de sabedoria. A maior parte era interpretada como um ato de piedade.9.4. o que era servido em sua mesa. A grande quantidade e a variedade de alim entos n a m esa do rei eram vistas como uma demonstração de extrema riqueza. Era considerada um a grande honra comer à mesa do rei e o núm ero de pessoas que podiam ser acomodadas à sua mesa demonstravam o poder daquele governante. A m esa real também era o equivalente humano ao banquete divino, tantas vezes retratado nos textos épicos m esopotâmicos (como na Lenda de Adapa). Os banquetes reais no antigo Oriente Pró
ximo eram caracterizados pela abundância e sofisticação dos pratos, como pode ser comprovado em antigas receitas preservadas em tabuletas desse período.9.4. o lugar de seus oficiais. A dimensão do governo e do poder de Salomão como monarca pode ser avaliada pelo núm ero de pessoas que regularm ente se assentavam à sua m esa. O fato de Salom ão prover continuamente o sustento de tal núm ero de pessoas também era um a expressão da riqueza de seu reinado (observe as acomodações oferecidas por Jezabel aos 450 profetas de Baal e aos 400 profetas de Aserá em 1 Rs 18.19).9.4. criados e copeiros. O grande núm ero de agregados de Salomão e a suntuosidade de sua criadagem forneciam um a prova clara de sua riqueza e poder, comparável às cortes do Egito, M esopotâm ia e Pérsia, que tam bém ju lgavam o poder de um governante pelo núm ero de servos que possuía.9.9. quatro m il e duzentos quilos de ouro (120 talentos). D entre os presentes oferecidos pela rainha de Sabá a Salomão, havia quatro mil e duzentos quilos de ouro. Um a quantidade como essa talvez poderia estar relacionada ao pagamento de tributos ou de uma parcela no estabelecimento de uma parceria comercial. De acordo com 1 Reis 9.14 Hirão, rei de Tiro enviou essa mesma quantidade de ouro para Salomão. Para inform ações a respeito de quantidades exorbitantes de ouro, ver o comentário em 1 Crônicas 22.14.9.9. especiarias. Sabá provavelmente estaria localizado em um a das rotas principais do comércio de incenso e m irra, produtos cujo valor era com parável ao ouro. Foram encontradas evidências dessa rota nos relevos em D eir el-Bahari que ilustram a viagem da rainha-faraó Hatsepsut até Punt, no sul do Egito. Essas mesmas rotas eram usadas também para o comércio de óleos aromáticos, perfumes, bálsamos e substâncias medicinais. Certamente essas especiarias seriam um presente adequado para o tesouro real, valorizando-o ainda mais. Para mais informações a respeito de incenso, ver o com entário em Levítico 2.1. Para mais informações quanto ao uso de especiarias, ver o comentário em Êxodo 30.23, 24.9.9. pedras preciosas. Escavações em Megido, Gezer e Eziom -G eber revelaram estoques de pedras preciosas, incluindo cornalina, ágata e alabastro. Sinetes e jóias com pedras preciosas incrustadas foram descobertos em localidades fenícias, Ugarit e Biblos; escaravelhos egípcios feitos de esteatita (pedra-sabão) ou faiança também foram encontrados em muitas localidades. No antigo Oriente Próximo acreditava-se que as pedras (inclusive as pedras preciosas) tivessem valor apotropaico (garantiam proteção contra forças espirituais). Um m anual assírio do sétimo século a.C. apre
senta uma relação de diversas pedras com suas respectivas funções - que variavam entre aplacar a ira dos deuses até afastar enxaquecas. Um texto ritual alista doze pedras preciosas e sem ipreciosas presas num filactério para ser usado ao redor do pescoço, como um colar. Além disso, as pedras raras (não preciosas) eram m uito valorizad as na com posição de mosaicos (ver o comentário em 1 Cr 29.2).9 .10.11. junípero. Ver o comentário em 2 Crônicas 2.8 a respeito dessa espécie de junípero e sua relação com a madeira de sândalo, em 1 Reis 10 .11,12 .9.11. harpas e liras. Os instrumentos musicais podem ser fabricados com diversos tipos de m adeira, e a escolha da madeira influi na qualidade do som dos instrumentos (ver sândalo e junípero no comentário em 2 Cr 2.8). Foram encontradas figuras de liras num a placa de m arfim em M egido (século doze a.C.) e em moedas. As harpas aparecem em vários contextos, inclusive em um relevo egípcio da época de Ram sés II
(século treze a.C.) que retrata um harpista cego. Para mais informações a respeito de harpas e liras, ver o comentário em 5.12.
9.13-31O esplendor do reino de Salomão9.13. 23.300 quilos de ouro (666 talentos). Trata-se de uma quantidade incrível de ouro, talvez comparável às listas de tributos dos anais assírios (Senaqueribe afirmou ter exigido trinta talentos [quase uma tonelada] de ouro de Ezequias). A quantidade de ouro mencionada representa um a vasta rede comercial que gerava rendas superiores a de muitas outras nações (observe as quantidades registradas em 1 Rs 9.14, 28 e10.10). Para informações a respeito de quantidades de ouro, consulte o comentário em 1 Crônicas 22.14.9 .15 ,16 . escudos de ouro. Os quinhentos escudos de "ou ro batid o" (um term o peculiar a esse contexto) foram feitos tanto com propósito cerimonial como para demonstrar a riqueza de Salomão. Os escudos maiores pesavam três quilos e seiscentos gramas enquanto os menores continham um quilo e oitocentos gramas de ouro. Esses escudos são m encionados em 1 Reis 14.25-28, no relato do saque de Jerusalém por Sisaque, juntam ente com sua substituição por escudos de bronze (um sinal claro de m udança na situação econômica, indicando o fim da "idade de ouro" de Israel). Peças cerimoniais (como as espadas e machados de ouro de Ur) foram encontradas em escavações. Escudos cerimoniais de bronze foram encontrados por arqueólogos no O riente Próxim o, m as nenhum de ouro foi ainda descoberto. Sargon II alistou seis escudos de ouro na lista de despojos que conquistou em Urartu, cada um pesando mais de vinte e dois quilos.
9.17-19. trono. O magnífico trono do palácio de Salomão pode ser comparado, ao menos em term os de material usado e fabricação, aos móveis fenícios, como o trono de marfim do oitavo século descoberto na tum ba 79 de Salamis, Chipre. No sarcófago de Airão, o rei fenício, ele é representado sentado num trono ladeado por leões alados. Os relevos de Senaqueribe que ilustram o saque de Láquis (701 a.C.) incluem figuras de tronos decorados. Tal como o trono do épico ugarítico de Baal, o trono de Salomão ficava num patamar elevado, demonstrando sua posição de poder. O estrado de ouro tam bém era usado em U garit, indicando que somente o rei poderia sentar-se confortavelmente, confiante de sua autoridade e dom ínio sobre a terra (a respeito da arca da aliança como o estrado de Yahweh, ver o comentário em 1 Cr 28.2).9.20. Palácio da Floresta do Líbano. Ver o comentário em 1 Reis 7.1-12 para a descrição desse palácio. A probabilidade de que esse palácio fosse uma residência real e tam bém um arsenal de guerra é indicada pelos escudos de ouro mantidos ali (v. 15 ,1 6 ) e pelo estoque de armas (Isaías 22.8).9.21. navios m ercantes. A referência a enormes navios de carga conhecidos como navios de Társis parece indicar um tipo de navio em pregado na navegação do mar Vermelho e da costa árabe (ver Is 2.16). Aqui o cronista refere-se a navios que iam para Társis (um local rico em metais preciosos [Jr 10.9] e pedras preciosas [Ez 28.13], situado provavelm ente no oeste do Mediterrâneo - talvez em Cartago ou no sudoeste da Espanha). Essa frota estendia cada vez mais as conexões com erciais de Salom ão e sugere um a parceira ainda maior com os fenícios. Para mais informações a respeito de navios, ver o comentário em 1 Reis 22.48.9.21. m arfim , m acacos e pavões. A lém da enorm e quantidade de ouro gerada pelos empreendimentos comerciais de Salomão, artigos de luxo tam bém eram transportados de lugares exóticos para Israel. Os termos hebraicos para "m arfim , m acacos e pavões" aparecem somente nessa passagem e provavelmente são derivados de outras línguas ou adaptações hebraicas de palavras nativas. Nesse sentido, não se tem certeza se a tradução do terceiro term o seria "p av õ es" ou "galos". Reis assírios dos séculos onze e dez também se vangloriavam de suas coleções de animais exóticos, mencionando especificamente macacos.9.25. cidades com guarnições. Geralmente um carro de guerra tinha três cavalos, sendo que dois deles puxavam o carro enquanto o terceiro era m antido como reserva. Os animais ficavam juntos nas cocheiras do estábulo, de modo que para doze mil cavalos era preciso quatro mil cocheiras (embora alguns desses cavalos fossem usados como montaria). O texto de 1
Reis 10.26 relata que Salomão tinha mil e quatrocentos carros. Esse é um contingente bastante grande, mas inferior aos dois mil carros fornecidos por Acabe para a aliança com o ocidente no confronto com os assírios na batalha de Qarqar em 853 (ver o comentário em 22.1). No século treze os hititas e seus aliados haviam reunido dois mil e quinhentos carros para um em bate com Ram sés II, na batalha de Cades. Fica claro que Salomão havia deslocado um grande núm ero de tropas para suas fronteiras a fim de garantir a proteção necessária e manter no local uma força capaz de um rápido contra-ataque.9.29. fon tes. O texto paralelo a esse breve relatório sobre o reinado de Salom ão encontra-se em 1 Reis11.41-43 (ver o comentário ali para informações acerca dos registros reais). Porém, a lista adicional das fontes de informação do cronista inclui os registros de dois contemporâneos de Salomão, os profetas Natã e Aias. As visões do vidente Ido, incluídas aqui, talvez se refiram ao texto de 2 Crônicas 12.15. A citação dessas fontes adicionais é um indício de que o cronista extraiu seu relato de uma série de fontes orais e escritas, encorajando o leitor no sentido de dar continuidade à pesquisa.
1 0 .1 - 12.16O reinado de Roboão10.1, 2. cronologia. O ano desses eventos pode ser estabelecido com relativa segurança com o sendo o ano de 931 a. C. (ver o comentário em 12.2).10.1. Siquém . A escolha de Siquém para esse encontro da cúpula política sugere dois fatos: (1) Roboão estava numa situação política frágil em comparação a D avi, visto que em 2 Sam uel 5.1 os líderes tribais tinham ido à capital de Davi, Hebrom, para aclamá-lo como rei, e (2) a realização desse encontro no centro do território ligado à liderança pré-monárquica de Josué (Js 24) e em um local que rivalizava com Jerusalém (ver o comentário em 1 Rs 12.25) colocava Roboão em desvantagem. De fato, Roboão estava assumindo um risco ao deslocar-se até Siquém, longe de seu próprio centro de poder. A escolha desse local para a assembléia acabou revelando sua falta de visão e de percepção para negociações administrativas.10.4. ju go pesado de Salom ão. Assim como Ciro, o rei persa, acusou Nabonido, seu rival babilônio, de infligir "trabalhos forçados" a seu povo, as autoridades de Israel pediram que essa prática fosse diminuída no governo de Roboão. Há um caso precedente em documentos mesopotâmicos em que um novo rei promulgou um decreto mesharum alforriando uma categoria de escravos ou reduzindo a carga tributária de uma cidade ou distrito. Certamente existiam inúme
ras razões para que as tribos estivessem descontentes sendo necessário que o novo rei assumisse esse compromisso para que o reino permanecesse unido. 10.6-8. autoridades. Parece ter havido uma divisão na administração real entre "novos" e "antigos" oficiais (isto é, os que foram nom eados como conselheiros pelo novo rei e os que já serviam nessa função há muito tempo). As "autoridades" representavam aqueles que já ocupavam esse cargo durante o reinado de Salomão, podendo alguns ter parentesco com a família real (meio-irmãos e primos como Jonadabe em 2 Sm 13.3) ou apenas funcionários civis. O s "jovens" provavelm ente seriam os próprios primos ou meio- irmãos de Roboão, que pertenciam a sua faixa etária. O épico sum ério de Gilgam és e A ka tam bém apresenta uma situação em que Gilgamés procura se aconselhar prim eiro com as autoridades (anciãos, que o aconselham a não se rebelar) e depois com os jovens da cidade (que reúnem as tropas aconselhando-o a se rebelar). Em ambos os casos, a escolha recai sobre o conselho dos jovens.10.11. chicotes/escorpiões. O uso de chicotes para conduzir escravos e anim ais, ou como instrum ento de tortura vem de longo tempo. Alguns eruditos identificam os escorpiões mencionados aqui como um tipo de chicote com fragmentos de metal ou de vidro presos às pontas (que os romanos chamavam de "escorpiões"). Até o momento não foram encontradas evidências desse tipo de chicote nem em escavações, nem em relevos ou na literatura anterior aos tempos romanos. Numa relação de palavras acadianas, porém, um escorpião de cobre é m encionado juntam ente com os grilhões de cobre para algem ar escravos. Especialistas em acadiano tentaram identificar esse instrumento como um chicote tendo na ponta dentes de metal.10.16. a frágil unidade de Israel e Judá. O protesto das tribos do norte já havia se manifestado anteriorm ente durante a revolta de Seba (ver o comentário em 2 Sm 20.1). M uitos imaginam que a unidade formada pelas doze tribos de Israel era algo natural e intrínseco, mas não era bem esse o caso. Na verdade, cada uma das doze tribos era uma unidade independente, com muitos elementos contribuindo para afastá- las. A unidade conquistada durante o período de Davi e Salom ão resultara de m uita habilidade e esforço, além de ter ocorrido num período de prosperidade. Os elementos que m antinham a unidade desses grupos políticos, porém , haviam sido estabelecidos há pouco tempo, e como supremacias (tais como as organizadas por Saul entre as tribos israelitas), também dependiam muito da personalidade e do carisma do governante. Supremacias e impérios tendiam a fragm entar-se à m enor provocação. Agora, as diferentes
expectativas entre as tribos do norte e do sul abriram um abismo entre elas, a partir do momento em que ficou claro para as tribos do norte que Judá e a casa de Davi não tinham a intenção de assumir um compromisso com o pedido que haviam feito de mais autonom ia local e impostos mais baixos.10.18. apedrejam ento até a morte. Ver o comentário em Deuteronôm io 13.10 sobre apedrejam ento como meio de aplicação de um a pena capital. A morte de Adonirão foi o estopim que deu início à rebelião ou tumulto. Chega a ser irônico e ao mesmo tempo patético que o homem responsável pelos trabalhos forçados (inclusive pelo carregam ento de pedras) tenha morrido apedrejado.11.1.180.000 hom ens de com bate. Esse é um número extremamente elevado considerando-se apenas as tribos de Judá e Benjamim. Seria praticamente o mesmo núm ero de soldados que serviram nas tropas do exército americano durante a guerra civil. Estimativas atuais da população naquele período indicam que não havia mais de trezentos mil habitantes no reino do sul. Registros neo-assírios dos séculos nono e oitavo mostraram que o tamanho do exército assírio aumentou de cerca de 45 mil (Salmaneser III) para mais de duzentos mil (Senaqueribe) soldados. A coalizão das doze nações ocidentais combateu Salm aneser na Batalha de Q arqar com sessenta m il homens. O m aior exército hitita de que se tem registro tinha quase cinqüenta mil homens (na batalha de Cades, século treze). Todos esses dados sugerem que o termo traduzido como "m il" nessas passagens poderia ser traduzido a partir de seu significado alternativo como "com panhias" ou "d ivisões". Em vez de um número específico, foi sugerido que cada clã forneceria uma divisão com um núm ero de hom ens proporcional ao seu tam anho. Posteriormente essas companhias passaram a ter mil soldados, mas aqui é provável que o núm ero de soldados em cada divisão fosse bem menor.11.2-4. oráculo profético relacionado à batalha. No período da profecia pré-clássica, os profetas de Israel desem penhavam um papel sem elhante ao dos demais profetas de outras partes do antigo Oriente Próximo (ver os comentários em Dt 18.14-22), atuando principalmente como conselheiros de atividades militares. De acordo com a crença da época, o envolvimento de Deus era essencial para o sucesso das campanhas m ilitares, assim, toda seqüência de eventos tinha início com a ordem divina para ir à batalha. Ordens divinas desse tipo podem ser encontradas em inscrições reais dos assírios. Também era importante consultar a divindade sobre as estratégias e o momento oportuno para a movimentação das tropas. Às vezes, porém, os deuses comunicavam oráculos inespe
rados ou não solicitados, como num texto de M ari que descreve um sonho em que o rei Zinri-Lim é alertado a não sair em campanha.11.5-12. cidades fortificadas de Judá. Todas as cidades alistadas, exceto Adoraim (atual Dura, cerca de cinco quilômetros a oeste de Hebrom), aparecem em outras fontes (por exem plo, na invasão de Sisaque, ver 12.2) e estavam localizadas em Judá, formando uma linha interna de defesa nas colinas de Jerusalém. H avia quatro grupos, estendendo-se de norte a sul, em pontos estratégicos, guardando os principais pontos de aproximação e estradas: (1) Belém, Etã, Tecoa e Bete-Zur, na fronteira leste; (2) Socó, Adulão, Gate e Maressa, a oeste; (3) uma linha de defesa incluía Láquis, Zife e Adoraim; (4) Zorá e Aijalom eram fortificações a noroeste, enquanto Hebrom (antiga capital de Davi em 2 Sm 2.1) funcionava como uma área de concentração de tropas ou centro regional tanto para o sul quanto para o oeste. As pesquisas arqueológicas não fornecem elem entos para ajudar na identificação das re
construções feitas por Roboão, embora algumas dessas localidades (particularmente Láquis) apresentem evidências de fortificações.11.11, 12. suprim entos para as cidades fortificadas.A s guarnições situadas nas cidades fortificadas de Roboão tinham de arm azenar grandes quantidades
de mantimentos e armas, a fim de funcionarem efetivamente como guardiãs da fronteira. Assim como as listas administrativas de Mari, que detalhavam a quantidade de alim ento, azeite e bebida necessária para sustentar as tropas durante longos períodos (de dez a quinze dias ou até um mês), o cronista apresenta um breve resumo (omitindo as quantidades e os períodos de entrega regular) das rações.11.15. ídolos em form a de bodes e de bezerros. Para informações a respeito de bezerros, ver o comentário em 1 Reis 12.28. É bastante provável que os ídolos em forma de bodes fossem uma referência a sátiros que, segundo a crença do m undo antigo, eram demônios que assom bravam os cam pos abertos e os lugares ermos. São m encionados apenas algum as vezes no Antigo Testamento e não há nada semelhante no antigo Oriente Próximo.11.22, 23. príncipes como adm inistradores. U m dosprincipais m étodos usados para treinar príncipes e outros m em bros da fam ília real era nomeá-los para ocupar cargos adm inistrativos. A posição de Abias poderia ser considerada como a de co-regente de seu pai Roboão (ver 21.2-4). Os registros egípcios e os anais mesopotâmicos regularmente descrevem a nomeação de príncipes como governantes ou adm inis
tradores distritais (como exemplo, note a indicação do rei assírio Shamsi-Adade para que seus filhos Yasmah-
A ddu e Ishm e-D agan governassem algum as partes do reino).12.2-4. a inv asão de S isaq u e . O próprio relato de Sisaque, registrado nas paredes do templo dedicado a Am om em Carnac (Tebas), contém uma lista de mais de 150 cidades que ele afirmou ter conquistado, juntam ente com vagas referências a tributos acumulados na Síria. Não há menção a Jerusalém nessa lista, e as localidades incluídas ficavam no sul e no norte de Israel. Partindo de Gaza, diversas divisões avançaram pelo Neguebe, enquanto a força principal ia pela Sefelá em direção a Jerusalém . D ali fez um a curva para o norte, passando pela região montanhosa central, seguiu para oeste pelo vale de Jezreel até M egido
e depois seguiu a Estrada do Tronco para o sul, ao longo da costa. O itinerário de Sisaque tam bém incluiu um a incursão na Transjordânia, cruzando a região leste de Adão e depois voltando para o oeste em
direção a Bete-Seã. Pesquisas arqueológicas identificaram sedimentos de destruição em muitas das cidades mencionadas e que correspondem a esse período.12.2. cronologia. Fontes egípcias situam o reinado de Sisaque e a fundação da 22a Dinastia entre 945 e 924a.C.. Roboão ascendeu ao trono em 931, desta forma o quinto ano seria 927, um período razoável depois da morte de Salomão e da divisão dos reinos.12.3. líb io s , suqu itas e etíopes. Dentre as tropas que vieram do Egito, havia grupos recrutados nas fronteiras sul e oeste do Egito (Líbia e Núbia). V isto que Sisaque era líbio, era esperado que ele incluísse em suas tropas soldados recrutados de sua própria tribo. Sabe- se tam bém que ele cond uziu cam panhas na N úbia (atual Etiópia) e provavelm ente obrigou-a a cooperar com suas investidas militares. O s suquitas não aparecem em nenhum a outra passagem bíb lica , m as são mencionados em fontes egípcias dos séculos treze e doze (onde são chamados de tjukten) como um povo relacionado aos líbios. O s m il e duzentos carros de guerra mencionados aqui podem ser comparados ao exército de Salom ão (ver o com entário em 1 Rs 4.26).12.9. S isaqu e saqueia Jerusalém . M uitos objetos de
ouro e prata que haviam sido feitos para o templo, inclusive os famosos escudos de ouro (ver o comentário em 9 .15 ,16) foram levados como pagamento para evitar a destruição de Jerusalém . É provável que o conteúdo desse saque tenha sido incluído nas duzen- tas toneladas de ouro e prata que Sisaque relatou ter contribuído para os templos de seus deuses.12.13. a mãe de Roboão. Visto que Salomão casou-se com mulheres de muitos países, inclusive de Am om (ver 1 Rs 11.1), seria norm al que Naam á, a m ãe de Roboão, fosse amonita. Este casamento provavelmente representava uma aliança política entre os dois pa
íses. O fato de várias vezes se fazer menção ao nome da mãe dos reis de Judá pode indicar que o papel da rainha-mãe era bastante significativo (ver o comentário em 1 Rs 2.19).12.15. fontes. As genealogias de Ido, o vidente, podem ser comparadas a outras obras associadas a esse profeta (2 Cr 9.29 e 13.22), embora ele não seja citado em nenhum a narrativa desse período. Os "relatos" do profeta Semaías provavelmente se referem a anotações separadas, que não constam da Bíblia, consultadas pelo cronista para redigir seu resumo dos eventos. Semaías é o profeta que alertou Roboão a não se engajar na guerra civil e exortou-o ao arrependimento quando da invasão de Sisaque (ver 2 Cr 11.2; 12.5).12.15. guerras entre R oboão e Jeroboão. Não ocorreram grandes batalhas entre os dois reinos, m as os constantes conflitos nas fronteiras, que duraram até o reinado de Josafá (1 Rs 22.44), foram turbulentos e sangrentos o bastante para causar o esgotamento contínuo de suas forças. Essas guerras podem ser comparadas, num a escala menor, ao conflito entre Davi e Is- Bosete em 2 Sam uel 2.12-32.
13.1-22O reinado de Abias13.1, 2. cronologia. Essa é a prim eira ocorrência de um relato sincronizado dos reis de Israel e Judá (ver 1 Rs 15.1). Porém, ao contrário do(s) escritor(es) dos Livros dos Reis, o cronista usa o sistema de datas apenas nesse único contexto. Tendo como base a ascensão de Jeroboão ao trono em 930 a.C., o governo de Abias teria começado em 913.13.2-20. batalha entre A bias e Jeroboão. O local da batalha, o monte Zemaraim, ainda não foi identificado com segurança, m as geralmente é situado nas proxim idades de Betei. A identificação m ais com um é com Ras et-Tahuneh. O discurso de Abias sugere que sua intenção era reunificar o norte e o sul, através de conquista militar, se necessário. Essa foi uma batalha de campo aberto e não de cerco a cidades. Como é comum no Livro de Crônicas, o tamanho dos exércitos (um milhão e duzentos mil soldados) é muito maior que o esperado, em bora não seja o número mais elevado encontrado em relatos do mundo antigo. Heró- doto geralmente é acusado pelo exagero grosseiro ao relatar que o exército de Xerxes contra os gregos compreendia cinco m ilhões de pessoas. A lém disso, o núm ero de baixas (meio m ilhão para o reino do norte) faria dessa batalha uma das guerras mais sangrentas da história. Em registros antigos, o rei assírio Arik- den-ili afirm ou ter matado 254 mil homens. Seu rival mais próximo é Senaqueribe que afirmou ter causado 150 m il baixas na Batalha de Halule. As baixas entre
os aliados na prim eira batalha de Som m e (França, 1916) foi de 623 mil homens. Essa batalha durou seis meses e consta do Livro dos Recordes Guinness como a mais sangrenta que já houve. Na Batalha de Gettysburg o total de baixas chegou a 50 mil, apenas um décimo do que é registrado aqui. Um a das batalhas mais sangrentas da Antiguidade foi entre romanos e hunos em Châlons-sur-M am e (França, 451), onde foram contados 200 mil mortos. Para mais informações, ver o comentário em 11.113.5. aliança de sal (irrevogável). No clima quente do antigo Oriente Próximo, o sal era um elemento necessário para a saúde das pessoas e dos animais, principalmente para a preservação dos alimentos (textos de Mari descrevem seu valor comercial). Quando tratados ou alianças eram firmadas, o sal era empregado para simbolizar que as condições estipuladas seriam mantidas por longo tempo. Esse uso simbólico do sal é comprovado em contextos babilónicos, persas, árabes e gregos. N a Bíblia, a aliança entre o Senhor e Israel é identificada como um a aliança de sal - preservada e mantida por m uito tempo. Aqueles que participavam desse tipo de acordo geralmente compartilhavam de uma refeição comunitária em que se servia carne com sal. Assim, o uso do sal nos sacrifícios era um lembrete apropriado da aliança entre Deus e Israel. Além disso, o sal impede a ação do fermento e visto que o fermento era um símbolo de rebelião, o sal poderia representar o elemento inibidor da rebeldia.13.8. bezerros de ouro n a batalha. Era costume no m undo antigo levar im agens da divindade para a guerra. Na temática do guerreiro divino, a divindade luta contra as divindades do inimigo, derrotando-as nas batalhas travadas. Estátuas ou representações das divindades geralmente acompanhavam as tropas simbolizando sua presença no meio delas. Os reis assírios dos séculos oitavo e nono referem-se regularmente à imagem divina que ia à frente deles nas batalhas. A arca, símbolo de Yahweh, representava a presença do Senhor abrindo caminho à frente dos israelitas e conduzindo os exércitos até Canaã. Esse conceito não é m uito diferente da crença assíria de que os deuses concediam poderes às armas do rei e lutavam ao seu lado. Quase todo exército no antigo Oriente Próximo incluía sacerdotes e adivinhos (como confirm am os textos de Mari), profetas (2 Rs 3) e objetos sagrados (Anais Assírios de Salm aneser III [858-824 a.C.J). Desse modo, o deus (ou deuses) poderia ser consultado no campo de batalha ou invocado para conduzir os soldados à vitória.
13.11. rituais sacerdotais. Para informações adicionais sobre essas atividades rituais, ver os comentários em Levítico 6.8-13 e Êxodo 25.23-30.
13.19. cidades tom adas por Judá. Betei, o principal local de adoração de Jeroboão, no sul, era um a conquista significativa. Textos bíblicos posteriores esclarecem que essa cidade voltou para o controle de Israel na época de Jeroboão II e A m ós (Am 7.10). Jesana, perto de Betei e 27 quilômetros ao norte de Jerusalém, foi identificada com Burj el-Isaneh, e Efrom (Ofra em Js 18.23) geralm ente é identificada com et-Taiyibeh, cerca de seis quilômetros a nordeste de Betei. A vitória de Roboão garantiu a ele o controle de duas principais rotas que atravessavam o território de Judá até Israel. Essas rotas seguiam pelo norte, dos dois lados de Betei e convergiam ao su l de Siló. O território abrangia cerca de 32 quilômetros quadrados.13.22. fon te . Os "relatos do profeta Id o" provavelmente são os mesmos mencionados anteriormente em2 Crônicas 9.29 e 12.15. E curioso notar que a única m enção ao nome desse profeta é em relação ao m aterial de consulta usado pelo cronista, não aparecendo em nenhum a narrativa bíblica.
14.1-16.14O reinado de Asa14.3. altares dos deuses estrangeiros. Os favores e cortesias que Salomão proporcionava a suas esposas estrangeiras incluíam a construção de altares e santuários para que cultuassem seus próprios deuses (ver o com entário em 1 Rs 11.5-7). É provável que esses tenham sido alguns dos altares destruídos por Asa.14.3. m ontes. Para mais informação a respeito de montes ou lugares altos, ver os comentários em 1 Reis 3.2,3 e Deuteronômio 12.2, 3.14.3. colunas sagradas. O uso de colunas sagradas ou m asseboth era bastante comum na religião Cananéia. Essas colunas eram também usadas como memoriais em uma série de contextos israelitas relacionados à *aliança (ver Êx 24.3-8; Js 24.25-27). Por estarem associadas a *Aserá, *Baal e outras divindades cananéias foram condenadas e consideradas uma ameaça à adoração a *Yahweh. Arqueólogos descobriram colunas sagradas em Gezer, Dã, Hazor e Arade. Nestas duas últimas, as colunas encontravam-se no interior de recintos sagrados onde faziam parte das práticas *cultuais. As colunas encontradas em H azor contêm entalhes de figuras com braços levantados e um disco solar. Em Dã, foram descobertas colunas no pórtico de entrada, que rem etem claram ente à apresentação de ofertas votivas.
14.3. postes sagrados. Um a característica comum da adoração cananéia e do culto *sincretista de Israel, tanto nos altares como nos lugares altos e nos santuários da cidade, eram os postes sagrados ou postes- ídolos. Não se pode afirm ar com certeza se seriam
simplesmente postes de madeira simbolizando árvores, talvez contendo uma imagem entalhada da deusa da *fertilidade, ou se faziam parte de um bosque sagrado. A referência em 2 Reis 17.10 a postes sagrados erguidos debaixo de "toda árvore frondosa" parece indicar que, de fato, tratava-se de postes de madeira ali erguidos com objetivos *cultuais e não árvores. Por ser a consorte de *E1, Aserá evidentem ente era um a deusa popular e seu culto é m encionado em textos *ugaríticos (1600-1200 a.C.). A forma como ela é citada na narrativa bíblica é um indício claro de que a adoração a Aserá fazia forte concorrência à de Yahweh. Para mais informações, ver os comentários em Êxodo 34.13 e Juizes 6.25.14.7. fortificações. Em bora o cronista não aliste nenhum a das cidades fortificadas por Asa, é evidente que ele tinha uma sólida reputação como construtor. Anais mesopotâmicos e crônicas de reinados regularmente se referiam às obras de construção do rei como evidência de seu sucesso. O cronista aqui tam bém desejou incluir essa característica ("construtor") como m arca de um "bom re i", conseqüência de um período de paz e prosperidade.14.8. equipam entos do exército. A divisão de tarefas dentro do exército é ilustrada pela infantaria de Asa atuando como tropa de choque (equipada com grandes escudos e lanças) e por seus arqueiros benjamitas (compare com o equipamento distribuído por Uzias para as suas tropas em 2 Cr 26.14). O s relevos do palácio do rei assírio Senaqueribe incluem ilustrações de soldados armados com lanças e escudos circulares, usados para defesa e tam bém como armas em lutas corpo a corpo. Os relevos de Salmaneser III retratam seus arqueiros usando armaduras de m alha com escudos protetores adaptados, que os protegiam dos dardos e deixavam suas m ãos livres. Talvez as tropas benjamitas não tivessem esses equipamentos, ou então levassem seus pequenos escudos presos ao braço de forma a garantir alguma proteção enquanto atiravam as flechas.14.9. Zerá, o cuxita (etíope). Visto que os cuxitas m uitas vezes são relacionados aos faraós egípcios núbios
(ver o comentário em 2 Cr 12.3), alguns eruditos identificaram Zerá com Osorkon I, o faraó egípcio contemporâneo a esse período (por volta de 897). Osorkon, filho de Sisaque, porém, era líbio e não núbio. Portanto, se Zerá marchou contra A sa com um exército egípcio, ele devia ser um general núbio trabalhando em
cooperação com a 22a Dinastia (que exercera algum controle sobre a N úbia na época de Sisaque). Outros
estudiosos acham mais provável que Zerá fosse o chefe de uma tribo beduína (ver o com entário em Nm 12.1 para essa variação do termo "cuxe"). Para uma
discussão a respeito do tamanho dos exércitos, ver o comentário em 13.3-20. Não existe em hebraico a pa
lavra "m ilhão" - o texto refere-se a "m ilhares de mi
lhares" (ou m il divisões) expressando um exército numeroso.14.9. carros de guerra. Considerando o núm ero de tropas conduzidas por Zerá, é surpreendente a pe
quena quantidade de carros de guerra. Ainda assim,
cada exército tinha seu ponto forte e trezentos carros
representam um a quantidade considerável. É possível saber, a partir de registros egípcios e mesopotâ-
micos e de relevos de palácios, que cada carro levava dois ou três homens que atiravam dardos e flechas e
transportava os com andantes ou m ensageiros pelo
campo ou até a frente de batalha. Os exércitos em
geral eram organizados em equipes de carros, com
contingentes de infantaria ligados ao comandante de cada carro. Para comparar a dimensão das tropas de
carros de guerra, ver o comentário em 1.14.14.10. geografia. A batalha entre Asa e Zerá aconte
ceu perto de M aressa, um a cidade fortificada por
Roboão e identificada com Tell Sandakhanna na fronteira sudoeste de Judá. Localizava-se a cerca de seis
quilômetros a nordeste de Láquis e quase cinqüenta
quilômetros a sudoeste de Jerusalém. Zefatá (talvez a Zefate de Jz 1.17) aparece somente nesse texto. Visto
que é descrito com o um vale ao norte de M aressa,
provavelm ente deva ser identificado com o vale de Guvrin, bem ao norte de M aressa e Beit Guvrin.
14.12-14. Gerar. Ver o comentário em Gênesis 20.1 a
respeito desse local na região oeste do Neguebe, cuja
localização exata ainda permanece indeterminada (Tel Haror, quarenta quilômetros a sudoeste de Berseba, é
a escolha m ais provável). Gerar pode indicar o nome
de uma região em vez de um a cidade, o que explicaria a destruição das "cidades" mencionada aqui.
15.8. ídolos repugnantes. Os ídolos não são mencionados de form a específica. O termo refere-se a qual
quer coisa que cause extrema aversão ou repugnância
do ponto de vista religioso ou ritual, particularmente alimentos proibidos e objetos usados em cultos estran
geiros desaprovados.15.10. cronologia. Talvez Asa estivesse tentando vin
cular a assembléia e o sacrifício a uma festa ou evento religioso importante, sendo assim, o terceiro mês se
ria adequado pois foi nesse m ês que ocorreu a teofania do monte Sinai (Êx 19.1) e também era comemorada a
festa das semanas (Lv 23.15,16). Visto que a renovação da aliança também fazia parte desse evento, Asa talvez estivesse com em orando essa festa no m onte
Sinai (Êx 24). A m enção ao décim o quinto ano do reinado de Asa situa esse evento no ano de 892.
15.16. poste sagrado. V er o com entário em 14.3 a respeito dos postes dedicados a Aserá. A influência e a posição política da rainha-mãe (ver o comentário em1 Rs 2.19) poderiam arruinar as reform as de Asa, assim isso explica por que ele rejeitou completamente a atitude de M aaca e destruiu por completo o poste sagrado.15.16. vale de Cedrom. Localizado a leste dos muros da cidade de Jerusalém e contendo uma das principais fontes de água da cidade, a fonte de Giom, esse lugar seria um a excelente área para o rei Asa destruir os ídolos. Salomão havia construído altares para Astoré, Camos e M oloque no vale de Cedrom (1 Rs 11.7), mas as reformas posteriores de reis como Asa, Ezequias (2 Cr 29.16) e Josias (2 Rs 23.13) transform aram o vale num modelo de limpeza da corrupção que contaminava toda a nação.15.19-16.1. cronologia. Existem algumas dificuldades para conciliar a data da batalha entre Asa e Baasa apresentada aqui e a que consta no texto paralelo de 1 Reis. Para m ais inform ações, ver o com entário em 1 Reis15.33.16.1. Ram á. Situada oito quilômetros ao norte de Jerusalém, a incorporação de Ramá (er-Ram) ao território de Israel teria causado grande preocupação a Judá.
Assim como Roboão havia estendido seu domínio pelas principais estradas que cortavam Israel e Judá por m ais oito quilôm etros (ver o com entário em 13.19), assim também Baasa impôs seu domínio sobre as mesmas rotas, oito quilômetros ao sul da fronteira tradicional entre as nações. O lugar ainda não foi escavado pelos arqueólogos.16.2, 3. tratado com Ben-H adade. N a form a como esse tratado é descrito aqui e no texto paralelo de 1 Reis 15 .18 ,19 , parece que a Síria havia mantido uma política de neutralidade, talvez aguardando a melhor proposta proveniente das partes envolvidas na guerra. Ben-Hadade I governou durante a primeira metade do nono século, embora não seja possível estabelecer uma data específica. Para informações a respeito das dificuldades enfrentadas pelos arameus durante o nono século, ver o comentário em 1 Reis 20.1.16.4. conqu istas do rei da S íria . O ataque de Ben- Hadade às cidades do norte de Israel, instigado por A sa, custou a Baasa um a im portante passagem comercial. Dentre as cidades conquistadas nessa campanha (ver 1 Rs 15.20) estariam Dã (local de adoração do reino do norte), Ijom ('Ayyun), na extremidade norte da bacia do lago H ulá (cerca de 16 quilôm etros ao norte de Dã), Abel-M aim (Abel Bete-M aaca em 1 Reis) e todas as cidades situadas na estrada entre a Síria e as cidades costeiras fenícias, Tiro, Sidom e Aco. O fato de Ijom ser mencionada primeiro sugere um ataque vin
do do oeste e alcançando o sul. Não se sabe quanto tempo a Síria conseguiu m anter essas cidades, mas fica claro que algumas décadas m ais tarde elas voltariam para as m ãos de Jeú, de acordo com 2 Reis 10.29. A inscrição de Dã que menciona outra campanha da Síria contra o norte de Israel sugere que os governantes de Israel enfrentavam constantem ente esse tipo de ameaça.16.6. G eba e M ispá. Essas duas cidades, agora fortificadas por Asa com material tomado das guarnições em Ramá, guardavam a fronteira norte de Judá. Geba (moderna Jaba', cerca de seis quilômetros a nordeste de Jerusalém) aparece em outras passagens como a fronteira norte de Judá (2 Rs 23.8) guardando a passagem de Micmás. Mispá (Tell en-Nasbeh, treze quilôm etros ao norte de Jerusalém ) era a fortaleza que controlava a bacia hidrográfica na fronteira entre Israel e Judá. Ao fortificar essas cidades, A sa impediu outras ações m ilitares contra Ramá. Mispá ficava quase cinco quilômetros ao norte de Ramá, guardando a estrada de Betei e Ramá. As escavações no local descobriram um m uro com onze torres que rem ontam a esse período. O muro tinha entre três metros e meio e quatro m etros e meio de largura e entre dez e doze m etros de altura. Geba ficava a cerca de três quilômetros a leste de Ramá, bloqueando o acesso para aquela direção.
16.7. v id en te . Em bora H anani, o v id ente, apareça som ente nessa passagem, ele é mencionado como o pai do profeta Jeú, em 1 Reis 16.1; 2 Crônicas 19.2; 20.34. O título Vidente', ro'éh, aparentemente era uma form a alternativa para profeta (n abï; ver o comentário em 1 Sm 9.9).16.9. os olhos do Senhor. Essa im agem transm ite o sentido da universalidade da visão de Y ahw eh (equivalente à sua onipresença) e de seu envolvim ento
(refletindo seu controle soberano). Um m arco babilónico do final do segundo milênio fala do deus-lua, Sin, como "o olho do céu e da terra".16.12. doença nos pés. Tentativas no sentido de diagnosticar a doença nos pés de Asa sugerem gota (rara nos tempos bíblicos) ou gangrena provocada pela obstrução do fluxo sangüíneo. O fato de Asa ter decidido consultar apenas m édicos, que naquela época estavam associados a rituais m ágicos ou, no máximo, a remédios à base de ervas, demonstra seu fracasso em buscar a ajuda de Deus, o que contribuiu para sua morte.16.14. fog u eira em sua honra. Túm ulos reais eram cavados em rochedos. O s ritos funerários em homenagem a Asa foram bastante elaborados, incluindo especiarias queim adas em sua honra, e um lam ento coletivo durante a introdução de seu corpo na tumba
da fam ília. O fogo não significa que o corpo seria crem ado nem era um m eio de m ascarar os odores associados a um cadáver, mas uma demonstração da riqueza do rei. Esse costume era bastante conhecido entre os reis assírios, onde era usado como um ritual apotropaico.
1 7 .1 - 2 1 .3O reinado de Josafá17.2. cidades fortificadas de Efraim . De acordo com 2 Crônicas 15.8, Asa havia estendido seu domínio em direção ao norte até a região m ontanhosa de Efraim, assim a fortificação dessas cidades não identificadas representaria a continuidade natural dessa política. Também não se faz nenhuma menção específica quanto ao núm ero de tropas ali posicionadas. Sabem os a partir das cartas de Láquis de um período posterior que a correspondência regular era m antida através desses postos avançados e que sinais de fogo eram usados como um antigo sistema de alerta.17.3. consulta aos baalins. Essa "consulta" refere-se a dirigir oráculos à divindade. Isso geralmente era feito num santuário dedicado à divindade, com os sacerdotes servindo como‘mediadores do oráculo. No mundo
antigo, respostas oraculares geralm ente eram transmitidas por adivinhos, que interpretavam as respostas favoráveis ou desfavoráveis através do exame das entranhas de animais sacrificados. Mesmo durante os períodos em que os israelitas reconheciam Yahw eh como sua divindade nacional, alguns ainda relacionavam Baal à fertilidade e continuavam a consultar esse deus em questões ligadas à agricultura. Às vezes, os israelitas preferiam buscar a ajuda de Baal tam bém para as questões do dia-a-dia (como doenças), em vez de procurar o auxílio do Senhor (ver 2 Rs 1.2).17.6. retirou os altares e postes sagrados. "Ver o com entário em 14.3.17.11. árabes. Os árabes mencionados no Antigo Testamento habitavam as regiões próximas ao deserto da Síria, estendendo-se tam bém até o Neguebe e a península árabe. Foi por volta dessa época que surgiram as prim eiras referências a árabes em inscrições reais assírias (por exemplo, como um dos aliados da batalha de Qarqar).17.12. projetos de construção. A maioria desses prédios eram instalações m ilitares que serviam de base para as guarnições, e também como centros de abastecimento (cidades-armazéns) ou postos avançados nas fronteiras para guardar as entradas que davam acesso à região. Foram encontradas evidências arqueológicas de várias fortalezas no vale do Jordão e nas adjacências do m ar Morto que talvez possam estar relacionadas ao reinado de Josafá. A s cidades-arm azéns
tinham o objetivo de armazenar grandes quantidades de alimentos e outros produtos para situações de cerco ou escassez de alimentos.17.14-19. o exército de Josafá. O exército recrutado por Josafá tinha m ais de um milhão (ver 2 Cr 14.7) de homens, exatamente o dobro em relação ao de seu pai Asa. Para uma discussão a respeito do tamanho dos exércitos, ver o com entário em 13.2-20. A s divisões em clãs seguem o padrão encontrado em outras form ações de tropas (1 Cr 27.1). D eixando de lado os números, esse tipo de alistamento sugere um a forma específica de recrutamento e um cuidado com a reputação, refletindo um a regulamentação adequada em relação à organização e à hierarquia militar.18.1. laços de casam ento. Na Antiguidade, as esposas dos governantes ou de seus filhos geralm ente eram frutos de alianças políticas, sendo que o casamento era visto como um a espécie de ferram enta diplomática. Cidades, cidades-Estado, tribos ou nações que desejassem aliar-se com um governante ou submeter-se à sua proteção selavam o tratado através do casamento entre a filha de uma das principais famílias e o suserano ou seu filho. Por exem plo, Z inri-Lim , rei de M ari durante o século dezoito a.C., usou suas filhas para consolidar alianças e estabelecer tratados com reinos vizinhos. Igualm ente, o faraó Tutm és IV (1425-1412a.C.) casou-se com a filha do rei de M itani a fim de demonstrar sua disposição em m anter boas relações com esse povo e pôr fim a um a série de guerras com aquele reino do m édio Eufrates. O grande núm ero de casamentos de Salomão (setecentas esposas e trezentas concubinas) refletia o poder e a riqueza de seu reino, principalmente seu casamento com a filha do faraó. A aliança de casam ento entre Josafá e Acabe uniu Atalia, filha de Acabe, com Jeorão, filho de Josafá.18.2. fo i v isitar Acabe em Sam aria. No texto hebraico, a expressão usada é "d esceu a Sam aria". Jerusalém ficava num plano relativamente mais alto em relação a Samaria, mas ainda que estivesse na m esma altitude, para chegar a Samaria seria preciso "d escer" pelas colinas de Jerusalém, qualquer que fosse a direção a seguir. A distância entre essas duas capitais era de cerca de 64 quilômetros.18.2. abateu m uitas ovelhas e bois. Os acordos geralmente eram firm ados durante um grande banquete comunitário. Os animais a que o versículo se refere teriam sido sacrificados como oferta para trazer a aprovação divina sobre o acordo.18.2. Ram ote-G ileade. Ramote-Gileade ainda não foi identificada com segurança, mas m uitos estudiosos admitem que seja Tell Ramite por causa de seu tamanho, localização e devido à cerâm ica da Idade do Ferro encontrada no local (ainda não foi escavado). Se
essa identificação estiver correta, então Ramote-Gileade ficava na Transjordânia, cerca de 72 quilôm etros a
leste de Jezreel. Estava localizada estrategicam ente
na Estrada do Rei, no ponto onde a estrada do sul de
Damasco faz um a curva para o oeste cruzando o Jordão, perto de Bete-Seã, e entra no vale de Jezreel para
encontrar-se com o Grande Tronco, a rota principal (ver a nota de rodapé sobre Rotas C om erciais em
Gênesis 38). De acordo com 1 Reis 20.34, o rei arameu
havia prometido devolver as cidades tomadas de Isra
el. É possível que isso ainda não tivesse acontecido e R am o te-G ilead e p erm an ecesse sob co n tro le dos
arameus. Essa foi a batalha que provocou a morte de Acabe, portanto trata-se do ano de 853, após a batalha
de Qarqar contra os assírios (ver o comentário em 1 Rs
22.1) quando Israel e a Síria foram aliados.18.4. papel do profeta. Nesse período da profecia pré- clássica, os profetas de Israel desem penhavam um
papel bastante parecido ao dos dem ais profetas do
antigo O riente Próxim o (ver os com entários em Dt18.14-22). Um a das áreas em que atuavam com mais
freqüência, como aqui, era como conselheiros de ati
vidades m ilitares. De acordo com a crença da época, o envolvim ento de Deus era essencial para o sucesso das campanhas militares, assim, as atividades só co
m eçavam com a ordem divina para ir à batalha. Essa
ordem divina pode ser atestada em inscrições reais
dos assírios. Também era importante consultar a divindade sobre as estratégias e m omentos oportunos
para a movimentação das tropas. Durante o período
de Saul e Davi, esse tipo de inform ação geralmente
era obtido através da m anipulação de objetos oracula-
res pelo sacerdote (ver os comentários em 1 Sm 14.10; 22.10; e 23.9-12). Agora, em vez de fazer perguntas ao sacerdote para receber respostas oraculares, as perguntas eram feitas ao profeta que, como representan
te de D eus, transm itia os oráculos proféticos como
sendo mensagens enviadas por Deus.18.7. profetiza coisas ruins. No m undo antigo, acredi
tava-se que os profetas não apenas proclam avam a m ensagem vinda da divindade, m as também desen
cadeavam a ação divina no processo. Logo, não é de admirar que se o profeta ficasse contra o rei deveria,
de certa forma, ser controlado, sob pena de gerar todo tipo de destruição. Nas instruções do rei assírio Esar- Hadom a seus vassalos, ele exigia que fossem feitos
relatórios indicando qualquer declaração imprópria ou negativa proferida por alguma pessoa, m as princi
palmente pelos profetas, intérpretes de sonhos e pra
ticantes de adivinhação em transe. Assim, é possível compreender por que o rei estaria propenso a aprisi
onar um profeta como esse, cujas palavras poderiam
incitar um a insurreição ou provocar a ruína de seu reino.
18.9. tronos na eira. Devido à importância que a agricultura (e conseqüentem ente a fertilidade) ocupava na econom ia da região, a eira com freqüência era vista como um local de im portância ritual. As eiras eram terrenos am plos, planos, em áreas abertas e certamente eram usadas para outras atividades além de debulhar os cereais. Portanto, não é de estranhar que elas se transformassem em "salões reais" no caso das dependências do palácio se mostrarem inadequadas ou quando interessava ao rei ser visto pelos seus súditos. No épico ugarítico de Aqhat, o rei Danilo é descrito julgando os casos publicam ente na eira do lado de fora dos portões de sua cidade.18.16. como ovelhas sem pastor. U m a inscrição de Sargon II, rei da Assíria, relata que o comandante das tropas inimigas fugiu como um pastor cujo rebanho havia sido roubado, m as mais tarde foi capturado e levado preso em grilhões.18.18. visão do Senhor assentado em seu trono. Aim agem de um trono rodeado por um a assem bléia celestial era com um em textos ugaríticos (especialmente no épico de Keret), embora a assembléia dos cananeus fosse form ada pelos deuses do panteão. Outros exemplos aparecem tam bém na inscrição de Yehimilk em um a edificação do século dez em Biblos e na esteia Karatepe de Azitawadda. O texto acadiano Enuma Elish relata que foi a assembléia que indicou M arduque como chefe dos deuses. Essa assem bléia era constituída por cinqüenta deuses, sendo que cinco faziam parte do concílio interno. Na religião israelita, os deuses foram substituídos por anjos ou espíritos - os filhos de Deus ou exércitos celestiais. Esperava-se que essa assembléia estivesse planejando as estratégias para guerrear em favor de Israel, m as ao invés
disso, a discussão foi dirigida contra Acabe.18.19. a assem bléia procura voluntários. No épico ugarítico de Keret, o líder da assembléia, El, pede a
voluntários da assembléia que expulsem a doença de Keret. No final, porém, El acaba assumindo ele mesmo a tarefa criando um ser para efetuar a cura.18.19-22. espírito m entiroso. A operação planejada aqui implicava "infiltrar-se" entre o inimigo. Quando D avi qu is m inar o su cesso de seu filh o rebeld e, Absalão, ele "plantou" um de seus conselheiros, Husai, no círculo íntimo de Absalão com a tarefa de sugerir um a estratégia que coincidisse com as inclinações naturais de Absalão, m as que na verdade produzisse
um resultado favorável a Davi e a seu plano (2 Sm 15.32-37; 16.15-17.14). A qui o processo é o mesmo. Deus planejou uma ação contra Acabe de m odo que ele seria levado à ruína através de estratégias sugeri
das por conselheiros confiáveis (os profetas) que coincidiriam com suas inclinações naturais.18.24. se escondendo de quarto em quarto. O termo
usado aqui indica um local de extrema privacidade, no qual alguém se recolheria para ficar sozinho ou
encontrar refúgio.18.26. a prisão de M icaías. N o mundo antigo as pri
sões não eram usadas com a intenção de recuperar criminosos. O m ais provável era que um criminoso
cumprisse sua pena de prisão perpétua prestando serviços em grupos de trabalhos forçados. As prisões não
relacionadas a trabalhos forçados geralm ente eram localizadas em palácios ou templos, embora algumas
fossem apenas um a espécie de fosso. Alguns prisio
neiros eram mantidos na prisão enquanto esperavam o julgam ento, mas a maioria deles estava ali por causa
de dívidas ou por razões políticas. Esse últim o grupo
era considerado perigoso para a estabilidade política do país, mas não para a sociedade. As medidas punitivas para aqueles que pertenciam a esse grupo fre
qüentem ente envolviam hum ilhação pública e não prisão propriamente. Micaías foi enviado para a pri
são para esperar o resultado de sua profecia e o final da batalha, que lhe daria sua sentença.
18.29. Acabe disfarçado. Na Assíria, quando um m au agouro (geralmente um eclipse) alertava o rei a res
peito de más notícias, costumava-se usar um substitu
to para o rei. Essa prática é comprovada desde 800a.C., m as tom ou-se mais conhecida a partir do sétimo
século. N esse ritual uma outra pessoa colocava as ves
tes reais e a seguir executava diversos ritos e encanta
mentos para identificar-se com o rei. Essa pessoa então assumiria para si o impacto da desgraça que deve
ria recair sobre o rei (geralmente a morte). Acreditava-se que dessa maneira os maus presságios poderi
am ser redirecionados e o rei conseguiria driblar seu
destino. Embora não constem aqui muitos elementos
que possam sugerir um ritual de substituição do rei, é possível ao menos identificar uma mentalidade seme
lhante na atitude de Acabe, esperando evitar o desti
no declarado pelo profeta não se vestindo como rei. D eve-se notar, porém, que evitar o mal aqui é mais
importante do que transferi-lo, como acontecia no ri
tual do substituto do rei (para m ais inform ações a
respeito desse ritual, ver o comentário em 2 Rs 5.27). M ais im portante ainda, nenhum substituto foi indi
cado, a menos que Josafá, recorrendo a seus privilégios reais, tenha desem penhado esse papel, tom an
do-se assim um pára-raios para o desgraça, da m esma
form a que o substituto faria. Apesar do disfarce de Acabe ter conseguido enganar os soldados inimigos, a intenção m aior era poder iludir as forças sobrena
turais que cumpririam o destino determinado contra
ele.18.30. a estratégia da S iria . Enquanto a infantaria estava envolvida no combate corpo a corpo, os carros de guerra tinham como alvo específico o rei de Israel. Geralmente os carros de guerra tinham objetivos bastante específicos durante as batalhas, em vez de se misturarem aos demais combatentes. Talvez fossem usados no ataque inicial, mas depois seriam usados para conter o avanço do inim igo ou para perseguir certos alvos, como é o caso aqui. A estratégia de concentrar-se no rei tinha como alvo infligir um castigo apenas sobre ele a fim de prevenir incidentes futuros.18.33. encaixes da arm adura. A arm adura descrita aqui era formada de duas partes: um a sólida proteção para o peito e uma espécie de saiote de escamas de metal. A flecha provavelmente atingiu o rei no encai
xe entre as duas peças ou então entre as junções das placas de metal da armadura. Um a das melhores descrições desse tipo de armadura aparece nos textos de Nuzi, em que um casaco de m alha é revestido com cerca de setecentas a mil escamas de bronze de diver
sos tamanhos. A frente e as costas do casaco foram costuradas nos ombros (deixando um espaço para passar a cabeça) e provavelmente chegavam até os joelhos. Por volta do nono século já estariam sendo usadas escamas de ferro.19.5. nom eação de ju izes. Em documentos de M ari do período babilónico antigo na Síria (c. 2000-1600 a.C.), os juizes eram nomeados pelo rei para executar tarefas especiais, tais como supervisionar a administração de um território, desempenhar a função de governante territorial, conduzir cam panhas m ilitares e intervir em questões legais internas. Pode-se supor que as nomeações judiciais de Josafá concentravam-se em tarefas m ais específicas, primordialmente na área legal. C om o está e v id e n te n o p re fá c io do C ó d ig o de Hamurabi (c. 1750 a.C.) e nas afirmações encontradas no "C am ponês Eloqüente" da sabedoria egípcia (c. 2100 a.C.), o padrão para o com portam ento dessas autoridades era proteger os direitos dos fracos e oprimidos. Esperava-se que reis, oficiais e m agistrados locais agissem com "verdadeira justiça" (ver Lv 19.15). A temática presente no Livro dos Juizes e nos Livros proféticos (Is 1.23) aponta para um "m undo de cabeça para baixo", em que as "leis existem, mas são ignoradas" (por exem plo, nas visões egípcias de N eferti [c.1900]). U m governo para ser eficiente, no antigo O riente Próxim o, precisava depender da confiabilidade da lei e de sua aplicação. D esta forma, todo Estado organizado criava um a burocracia de juizes e oficiais locais para tratar dos casos civis e criminais. Era função desses juizes ouvir os depoimentos de tes
tem unhas, investigar as acusações feitas, avaliar as provas e por fim, executar o julgam ento (detalhes nas leis medo-assírias e no Código de Hamurabi). Alguns
casos, porém, exigiam a atenção do rei (ver 2 Sm 15.24) e ocasionalmente se dirigiam apelos ao magistrado supremo (como nos textos de Mari).19.6, 7. sistem a ju dicial. O termo "juizes" era usado tanto para Deus quanto para as pessoas. A autoridade dos juizes provinha de D eus, e seu papel principal era m anter a harmonia entre os israelitas (ou, no caso, os habitantes da tribo de Judá). Durante a monarquia os juizes estavam claram ente subordinados ao m onarca que os nomeava. Portanto, eles não governavam como no período dos ju izes, mas executavam suas funções debaixo da proteção do rei. No antigo
O riente Próxim o, os líderes, fossem eles tribais ou militares, das cidades, províncias ou da nação, tinham a obrigação de julgar os casos sob sua jurisdição. Quando apenas um juiz estava envolvido, corria-se o risco de favorecer os ricos e poderosos. Tanto em documentos do antigo O riente Próxim o quanto na Bíblia dá-se grande valor à im parcialidade e ao discernim ento. Não havia advogados, por isso a maioria das pessoas representava a si mesma nos tribunais. As testemunhas deveriam ser ouvidas e os juram entos desempenhavam um importante papel, visto que os recursos científicos atuais de coleta de provas ainda não existiam.19.8-11. papel dos levitas e sacerdotes. Após a divisão da monarquia, m uitos levitas e sacerdotes do norte foram expulsos de Jerusalém e de outros santuários do sul. Josafá exigiu que os levitas e sacerdotes, juntamente com os líderes das fam ílias patriarcais, assumissem as funções de juizes em Jerusalém (julgando contendas). Os levitas eram basicamente funcionários que cumpriam as decisões da corte (ver o comentário em Dt 18.6-8). O papel dos sacerdotes e juizes muitas vezes coincidia, porque era comum o uso de oráculos para decidir os casos. Na falta ou insuficiência de evidências físicas, o veredicto era determinado através da interpretação de presságios. Isso significava que os queixosos tinham de consultar os religiosos (sacerdotes levitas em Dt 17.9) em busca de um veredicto divino. Muitos dos que se dirigiam à cidade de Jerusalém com pendências jurídicas estavam em busca desse tipo de assistência, o que explica a razão desse sistema judiciário levítico ter se estabelecido ali.19.11. estrutura adm inistrativa. O tribunal de Jerusalém era composto pelos levitas, sacerdotes, chefes das famílias e juizes. Existiam sistemas semelhantes nas administrações egípcias da 22a Dinastia (séculos onze a oitavo a.C.).20.1. m o ab itas e am onitas. Salm aneser III, re i da Assíria, m enciona em seus anais um rei amonita, Ba'as,
filho de Ruhubi, que enviou soldados para a confede
ração síria que lutou contra a A ssíria em 853 e 841a .C . O rei moabita provavelmente era Messa, citado
em 2 Reis 3 e num a longa inscrição m oabita que
descreve sua rebelião contra Israel (ver o comentário em 2 Rs 3.4). Essa invasão em particular não é m enci
onada em nenhuma outra fonte fora da Bíblia. Talvez tenha ocorrido num período em que a coalizão oci
dental contra a Assíria havia se desfeito e os Estados estavam combatendo uns aos outros isoladamente.20.1. m eunitas. Existem várias opiniões a respeito da
identificação desse povo. Um a delas sugere que deveriam ser identificados com os mineanos do sul da
Arábia, cujo controle da rota do incenso se estendera até a região da Palestina por volta do quarto século.
O u tros estu d iosos id en tificam esse povo com os M u'u naya m encionados nas inscrições de T iglate-
Pileser III. U m a terceira possibilidade os vincula à cidade de Maom, ao sul de Hebrom, na região m onta
nhosa de Judá. Eles são citados juntam ente com outros
grupos que habitavam a fronteira sul de Judá.20.2. Edom. O centro de Edom ficava a leste da Arabá
(o profundo desfiladeiro que se estende do sul do mar
Morto até o golfo de Ácaba), desde o Zered (vau el Hasa) até o golfo de Ácaba. Durante grande parte do
período de D avi e até Josafá, Edom havia sido um
território anexado de Judá. Aqui, parece que os edo-
mitas haviam reconquistado um a certa independência, sendo que seu território serviu como base estraté
gica para esse ataque a Jerusalém.
20.2. H azazom -T am ar/En-G edi. A localização de Hazazom-Tamar é desconhecida, mas alguns estudio
sos a situaram no extremo sul do m ar Morto, possivel
mente em el-Hasasa, entre En-Gedi e Belém. O oásis
de En-Gedi fica no meio do caminho para o m ar Morto e aproximadamente 56 quilômetros a sudeste de Je
rusalém . A lim entado por um a fonte contínua, este
oásis é um a paisagem transbordante de vida e cor em
meio ao cenário desértico. Este local serviu como lu
gar de adoração, posto m ilitar avançado e centro comercial durante muito tempo. Diversas fortalezas do
período da m onarquia foram descobertas nessa área, sendo que uma delas localizava-se junto à fonte, en
quanto outra ficava no topo de um penhasco, permi
tindo avistar a aproximação de viajantes a quilômetros de distância.
20.10. m ontes de Seir. Os montes de Seir ficavam em
Edom. Seir normalmente é considerada a região montanhosa central de Edom (picos com m ais de 1500
metros de altitude) entre o vale Ghuwayr, ao norte, e
Ras en N aqb, ao sul. Aqui, o termo provavelmente se refere a toda a região de Edom.
20.16. subida de Ziz. A subida de Ziz tem sido associada com freqüência ao ribeiro de Hasasa, que deságua no mar M orto a cerca de 14 quilômetros a sudoeste de Tecoa. O contexto da passagem sugere que essa subida seria uma importante ligação entre Jerusalém e En-Gedi.20.16. deserto de Jeruel. O deserto de Jeruel ficava a sudeste de Tecoa, descendo em direção à planície para En-Gedi.20.19. coatitas e coreítas. Os coatitas e os coreítas eram duas das principais famílias envolvidas na liderança
do templo de Jerusalém durante a monarquia. Eram tam bém as duas famílias levíticas (ou clãs) mais importantes. Na genealogia de 1 Crônicas 6.22-24 (ver tam bém Êx 6.18; 1 Cr 6.31), os coreítas aparecem como descendentes dos coatitas.20.20. deserto de Tecoa. O deserto de Tecoa estendia- se a leste de Tecoa (Khirbet Tequ'a), uma cidade nas montanhas de Judá, num a área a aproximadamente vinte quilômetros ao sul de Jerusalém20.26. vale de Beraca. Não se sabe ao certo a localização do vale de Beraca ("bênção, louvor"). Alguns eruditos acreditam que poderia tratar-se do vale Berekut, entre Tecoa e En-Gedi.20.28. harpas, liras e cornetas. A lira era bastante usada no antigo Oriente Próximo. Pinturas de tumbas egípcias exibem habitantes da Transjordânia tocando lira. O texto de D aniel 3 relata o uso da harpa na orquestra de Nabucodonosor (ver D n 3). Em Israel, a harpa era um instrumento de madeira com oito cordas (ver 1 Cr 15.21). Havia diferentes tipos de com etas no antigo Israel; essa em particular era usada em contextos m ilitares e religiosos para reunir o povo. Pinturas do antigo Oriente Próximo traziam às vezes algumas ilustrações de com etas, incluindo a figura de bronze de um tocador de com eta de Caria, no sudoeste da Turquia (cerca de 800 a.C.).20.31. cronologia. De acordo com Thiele, Josafá reinou de 872 a 848 a.C. (a maioria dos cálculos difere apenas um ano ou dois dessas datas). A lguns sugerem que durante os três primeiros anos de seu reinado ele
teria governado como co-regente de seu pai Asa. Seus contem porâneos em Israel foram A cabe, A cazias e Jorão, enquanto que Assum asirpal II e Salm aneser III governaram a Assíria nesse mesmo período. Não há referências a Josafá em fontes extrabíblicas.
20.33. altares idólatras. Para m ais informação a respeito desses altares, ver os comentários em 1 Reis 3.2,3 e Deuteronômio 12.2, 3.20.34. registros históricos (anais). Os anais ou registros históricos dos reis de Israel m encionados em 1 e 2 Reis e em 1 e 2 Crônicas não foram preservados. Porém , é possível supor que sua estrutura e contexto fossem
sem elhantes aos anais reais de outras regiões do antigo Oriente Próximo. Os assírios deixaram registros m i
litares detalhados de seus reis (a partir de 1100 a.C.), descrevendo campanhas militares, estratégias, relações
com reis vassalos e devoção aos deuses nacionais. Os
anais hititas, egípcios e babilónicos da m etade do segundo m ilênio a.C. são bastante parecidos. Pode-se
presum ir que outros reinos da região siro-palestina
tam bém tenham feito seus registros históricos.
21.1. cronologia. Segundo os cálculos de Thiele, Jeorão governou de 853 a 841 a.C.. Alguns sugerem que ele
teria governado como co-regente de seu pai Josafá durante os cinco primeiros anos de seu reinado. Os
reis de Israel nesse período foram A cazias e Jorão.
Esse foi um período crítico devido às inúmeras cam
panhas militares conduzidas no ocidente pelo rei assírio Salm aneser III (ver o comentário em 1 Rs 22.1).
21.3. presentes. Josafá seguiu o precedente de Roboão colocando seus filhos em cidades fortificadas onde es
tariam bem abastecidos (por meio de presentes, ver 2
Cr 11.23). Essa era uma prática assíria bastante conhecida. Esar-Hadom (reinou de 681 a 668 a.C.) colocou
seu filho mais velho, Sham ash-shum -ukin, no trono
da Babilônia, enquanto seu filho caçula, Assurbanipal,
recebeu o trono da Assíria. Não obstante, o filho mais velho considerou seu "presente" insatisfatório e deu
início a uma guerra civil pouco tempo depois.
21.4-20O reinado de Jeorão21.4. m atou todos os seus irm ãos. A prática de elimi
nar todo e qualquer possível candidato ao trono era bastante conhecida no contexto do Antigo Testamento
(ver Jz 9.5 e 2 Rs 11.1) e no antigo O riente Próxim o.
Visto que os monarcas tinham muitas esposas (e m uitas concubinas), portanto, muitos filhos, com freqüên
cia havia um número elevado de candidatos ao trono.
Haja vista Ramsés II, rei do Egito (reinou cerca de 12921225 a.C .), que teve m ais de cinqüenta filhos. Como
nem sem pre os rein ad os em pregavam a prática da primogenitura, que favorecia o filho mais velho, a su
cessão ao trono ficava quase sem pre em aberto.
21.6. relações com A cabe. Acordos firmados através de casamentos não eram sim plesm ente um a prática com um da época, m as eram tam bém considerados
indispensáveis para o estabelecimento de boas rela
ções estrangeiras com vizinhos potencialmente hostis. É possível reconstruir aqui o cenário apresentado em2 Crônicas. Josafá, um fiel aliado de Acabe, solidificou
essa aliança através do casamento de seu filho Jeorão com a filha de Acabe e Jezabel, Atalia. Certam ente
isso fez com que o culto a Baal, oriundo da Fenícia,
terra natal de Jezabel, fosse levado a Judá. Ver o com entário em 18.1.21.7. descendente (hebraico: lâmpada) de D avi. EmIsrael, muitas vezes a palavra "lâm pada" era usada m etaforicam ente como sím bolo de vida e prosperidade, razão pela qual algumas pessoas costumavam
colocar lâmpadas nos túmulos. A expressão "su a lâmpada" é freqüentem ente usada nas Escrituras como símbolo da vida. Como uma chama flamejante é um símbolo de continuidade e recordação, então o reino do descendente de D avi em Jerusalém estabeleceria um vínculo com a promessa de Deus para a dinastia de Davi (2 Sm 7.8-16). Usos similares dessa expressão em ugarítico e acadiano estão relacionados à continuidade do reino ou da presença divina. O rei assírio Tiglate-Pileser III é descrito como a luz da hum anidade. Um a antiga expressão babilónica utiliza a im agem de um braseiro se apagando para representar um a família sem descendentes.21.8-10. a revolta de Edom. Em bora essa revolta não seja citada em nenhuma outra passagem das Escrituras nem em fontes extrabíblicas, foram encontrados sedimentos de destruição em Ram et Matred Neguebe da época da invasão de Sisaque (final do século deza.C.) ou da revolta mencionada nesse trecho.21.10. L ibna. Libna era um a das principais cidades fortificadas de Judá na linha de defesa da capital, Jerusalém. Portanto, se essa cidade se rebelasse, todo o reino de Judá ficaria vulnerável. A cidade de Libna geralm ente é identificada com Khirbet Tell el-Beida (cerca de 14 quilômetros a nordeste de Láquis) ou com Tell Bornat (cerca de oito quilômetros mais para oeste), estrategicamente localizada no vau de Zeita, na entrada da principal rota costeira para Hebrom.21 .15 ,18 . a doença de Jeorão. Alguns eruditos sugerem que essa "doença nos intestinos" de Jeorão poderia ser uma disenteria am ebiana crônica. Outros sugerem que sua morte foi provocada por um prolapso retal generalizado.21.16, 17. invasão de filis te u s e árabes. A invasão aqui mencionada provavelmente refere-se a um a série de ataques vindos do oeste (filisteus) e do sul (árabes) desferidos por dois inimigos tradicionais de Judá. A partir do contexto da passagem, é possível supor que a invasão tenha ocorrido por causa da situação vulnerável de Judá, decorrente da rebelião edomita.21.19. fogueira em sua hom enagem . Os ritos funerários negados a Jeorão eram bastante elaborados, incluindo a queim a de especiarias em homenagem ao morto, um lamento pela sua morte e a colocação do corpo na tum ba da fam ília. O fogo não significava que o corpo seria cremado nem era uma tentativa de mascarar os odores associados ao cadáver, m as uma
demonstração da riqueza do rei. A prática era bastante comum entre os reis assírios, onde era usada como um ritual apotropaico.21.20. túm ulos dos reis. Os reis de Judá eram enterrados na Cidade de Davi, em um a pequena serra entre os vales de C edrom , H inom e T iropoeom . D esde Roboão até Acaz, todos os reis foram enterrados ali (com poucas e notáveis exceções). Os reis posteriores foram queimados no "jardim de U zias" (Manassés e Amom) ou enterrados em sua própria tumba (Josias). Não há menção ao túmulo de Ezequias nem dos sucessores de Josias. O local exato onde os reis eram enterrados n a Cidade de D avi não foi identificado com segurança. M uitos reis egípcios do Novo Império (c. 1550-1050 a.C.) foram enterrados no vale dos Reis, em tum bas separadas. Aparentemente não havia nenhum local específico de sepultamento para os reis da Assíria.
2 2 .1 -9
O reinado de Acazias22.1. tropas que vieram com os árabes. É provável que as tropas invasoras mencionadas neste versículo (que teriam acompanhado os árabes) estivessem relacionadas ao episódio de 2 Crônicas 21. Talvez fossem tropas dos filisteus ou de outros povos que buscavam aproveitar-se ao máximo da vulnerabilidade da monarquia de Judá. Certam ente esses invasores teriam concluído que o reino de Judá havia se enfraquecido depois que os descendentes de D avi não m ais ocuparam o trono.
22.2. cron ologia. A cazias reinou em 841 a.C. e foi contemporâneo de Salmaneser III, rei da Assíria (governou de 858 a 824 a.C .). N esse período, grande parte da coalizão que havia im pedido o avanço de Salmaneser na batalha de Qarqar havia se desfeito e o sentim ento de oposição à Assíria se tornava cada vez menos popular.
22.5. guerra contra H azael. Os laços familiares entre Judá e Israel explicam o ataque unificado contra Hazael, rei da Síria, em Damasco. As nações da coalizão ocidental haviam se separado e agora lutavam entre si.22.6. Jezreel. Jezreel tem sido identificada com Zein/ Tel Yizra'al, no extremo leste do vale de Jezreel, no território de Issacar. Essa cidade ficava 24 quilômetros a sudeste de M egido e era a capital do reino israelita durante o inverno, na época do reinado de Acabe. Com a destruição do reino do norte pelos assírios (722/ 21 a.C.), Jezreel perdeu sua im portância e não mais conseguiu recuperá-la. Para m ais informações, ver 1 Reis 21.1.22.9. Sam aria. Samaria foi a capital do reino do norte, Israel, durante dois séculos. Onri construiu a cidade
no início do nono século a.C., e os assírios a destruíram em 722/21. A cidade foi construída sobre uma colina, ficando assim 90 metros acima dos vales que a rodeavam . Sua localização era privilegiada, pois se situava nas proximidades dos cruzamentos das principais rotas comerciais em direção a Siquém, no vale do Jordão, M egido, Jezreel e Jerusalém . O local foi exaustivam ente escavado pelos arqueólogos. Para mais informações, ver o comentário em 1 Reis 16.24.
2 2 .1 0 - 2 3 .2 1 Atalia, a usurpadora22.10. as execuções de Atalia. Como rainha-mãe (ver o comentário em 1 Rs 2.19) durante o reinado de seu filho Acazias, Atalia desfrutou da privilegiada posição de "soberana", que evidentemente era um título oficial. Isso permitiu que ela exercesse grande influência nas questões cerimoniais e políticas. Seguindo o costume de outras dinastias, a usurpadora Atalia tentou destruir os membros da família real de Judá, da m esma forma como os usurpadores do reino do norte haviam matado os m em bros da dinastia anterior. A elim inação de fam ílias inteiras de governantes era um a prática largam ente em pregada tanto em Israel quanto no antigo Oriente Próximo. Existem inúmeros precedentes, em textos mesopotâmicos, da eliminação daqueles que reivindicavam o trono assim que o novo rei assumia o poder.22.11,12 . escondido no tem plo. Não se sabe ao certo onde o últim o rem anescente da linhagem de Davi ficou escondido. Alguns estudiosos da Idade M édia consideraram a hipótese de um local recluso, destinado aos sacerdotes que se aposentavam de suas funções, cuja entrada era proibida a A talia. Porém , a Escritura não se refere a nenhum quarto dentro do templo. De qualquer maneira, o menino ficou escondido nos alojam entos do sumo sacerdote dentro do recinto do templo. Além de serem locais com acesso limitado a poucas pessoas, os templos no m undo antigo eram vistos como um lugar sagrado e protegido.23.1-3. poder político dos sacerdotes. Em grande parte do antigo Oriente Próximo os sacerdotes detinham considerável poder político. Eles possuíam muitas propriedades que eram doadas como presentes para o templo e m antinham o povo sob controle. Em Israel, a autoridade dos profetas é m ais evidente que a dos sacerdotes, m as é provável que estes tam bém tivessem alguma influência política. Jeoseba, a esposa do sum o sacerdote Joiada, era filha de Jorão, o monarca anterior, portanto, Joiada estava ligado à linhagem real através de seu casamento.23.5. porta do A licerce. A porta do Alicerce é chamada também de porta de Sur em 2 Reis 11.6. Sua localização não foi determinada com segurança.
23.9. arm as no tem plo. N ão se sabe ao certo onde essas arm as ficavam guardadas, visto que as Escrituras não m encionam nenhum depósito de arm as no tem plo. É provável que essas arm as fossem peças usadas pelo rei em alguma cerimônia e mantidas em exibição no tem plo. Talvez estivessem ali algumas armas importantes conquistadas nas batalhas ou tom adas como tributo. Os termos hebraicos usados para designar os tipos de arm as são incomuns. A expressão traduzida pela NVI como "escudo pequeno" foi por m uito tempo considerada obscura, m as atualmente foi identificada como um termo técnico derivado do aramaico para designar o estojo ou caixa onde eram guardadas as lanças. Esses estojos cerimoniais aparecem em relevos persas posteriores.23.10. disposição do tem plo. Os guardas aparentem ente cercaram todos os lados do palácio protegendo o caminho que ia desse local até o templo. A partir da descrição dessa passagem em 1 Reis, parece que o templo de Salomão fazia parte do amplo complexo do palácio. Sabe-se m uito pouco a respeito da planta do templo e do palácio dessa época.23.11. cópia da aliança. Parece que esse documento era o projeto de algum tipo de lei ou constituição, apresentando em detalhes a subordinação do povo ao rei e a submissão do rei ao Senhor. No Egito, a cerimônia de coroação envolvia um a proclamação do deus Tot concedendo a aprovação oficial dos deuses para a ascensão do rei. O tem a da aliança entre o rei, os súditos e a divindade tam bém pode ser encontrado nos anais hititas do final do segundo m ilênio a.C. e nos juram entos de lealdade dos vassalos assírios da m etade do prim eiro m ilênio a.C.. Registros assírios relatam uma cerimônia em que o rei Esar-Hadom faz um a aliança com o povo da Assíria para que sejam leais ao seu sucessor, Assurbanipal. O que é diferente nas Escrituras é a menção de um documento que foi entregue ao rei, m as que não é mencionado em fontes extrabíblicas.23.11. unção. Os atos aqui descritos fazem parte do ritu al de p roclam ação dos reis de Israe l e de Judá. Primeiro, o chifre de carneiro era soprado simbolizando o reconhecim ento e a submissão do povo ao novo rei. A expressão "V iva o re i!" é confirm ada em diversos contextos nos Livros h istóricos das E scrituras e nos salmos de entronização (47; 93; 96; 97; 99), sendo usada após a ascensão do rei ao trono. A unção do rei também era um gesto simbólico do favorecim ento divino do rei perante Yahw eh. Para m ais inform ações sobre a unção dos reis, ver o com entário em 1 Sam uel 16.1.23.13. coluna do rei. Essa coluna podia ser um dos dois pilares do pórtico à entrada do templo, designados Jaquim e Boaz (ver o comentário em 1 Rs 7.15-22).
Ezequiel descreve o local onde o príncipe deveria ficar, na soleira da entrada, ju nto ao "b a ten te" do templo (Ez 46.2). É provável que o rei estivesse de pé em algum tipo de plataforma reservada apenas para ele.23.15. porta dos Cavalos, no terreno do palácio. Aporta dos Cavalos era um a das portas do templo e não a porta dos Cavalos localizada nos m uros da cidade. Talvez fosse uma passagem por onde os cavaleiros que vinham do leste entravam na cidade vindos do leste (Jr 31.40).23.17. destruição do tem plo de Baal. No original, a expressão usada é "casa de Baal". Esta é a única referência ao templo de Baal em Jerusalém (paralela a 2 Rs 11.18). Sua localização, portanto, é resultado m eram ente de especulações. Talvez fosse um santuário particular nas redondezas do palácio. Existe, no entanto, uma grande estrutura escavada em Ramat Rahel, três quilôm etros ao sul de Jerusalém, que apresenta semelhanças com o palácio de Samaria. Sua localização pode ser comparada ao local do templo de Baal em Sam aria, que ficava fora da acrópole da cidade. A reação do povo destruindo o templo de Baal é semelhante ao expurgo praticado por Jeú alguns anos antes. Todas as evidências do governo anterior foram elim inadas. No Novo Im pério do Egito, Tutm és III tentou d estru ir tod os os vestíg ios do reinad o de Hatsepsute, enquanto Horemheb (e outros) fez a m esma coisa com os reis de Aton.23.19. guardas nas portas. Os guardas das portas evidentemente eram guardas reais responsáveis pela entrada no recinto do templo por onde o rei normalmente passava (ver também 1 Rs 14.28; 2 Rs 11.19). Não é possível saber exatam ente qual o cam inho entre o templo e o palácio. Talvez ficasse ao sul, entre a colina do templo e a Cidade de Davi.23.20. geografia de Jerusalém . A colina do templo ficava no ponto m ais alto do extremo norte da Cidade de Davi. O palácio ficava ao sul (provavelmente adjacente) do complexo do templo. Imediatamente a sudeste estava o vale de Cedrom, situado entre a colina do tem plo e o m onte das Oliveiras. A sudoeste da Cidade de Davi ficava o vale de Ben-Hinom.
24.1-27O reinado de Joás24.1. cronologia. Joás governou de 835 a 796 a.C. e foi contem porâneo de Jeú , Jeoacaz e Jeoás, de Israel. Salm aneser III, Sham shi-A dad V e A dad-N irari III governaram a Assíria durante esse período.24.4. conceito de reform a do tem plo no antigo Oriente Próximo. O templo era o centro da cultura, da economia e da sociedade tanto em Israel como na Síria
e na M esopotâm ia. Por ser a m orada da divindade protetora da cidade acreditava-se que o deus estivesse presente ali. O governante da cidade tinha a obrigação de cuidar e de suprir as necessidades da divindade, sendo necessário lavar, vestir e alim entar diariam ente a estátua da divindade. Esse cuidado pela
manutenção da casa da divindade era tão importante para o rei quanto suas vitórias m ilitares. Inúm eras inscrições em prédios da Assíria e da Babilônia confirm am a devoção do rei ao se em penhar em restaurar determinado templo. Esse m esm o tipo de devoção era atribuído ao rei que se dedicasse a reconstruir ou reform ar a casa de Yahweh. A reforma envolvia tanto aspectos físicos quanto rituais. Um templo abandonado ou negligenciado necessitaria de reparos estruturais (ver o comentário no v. 13) e provavelmente da reposição de móveis e utensílios roubados. É possível que objetos de ouro ou revestim entos de ouro nas paredes tam bém precisassem ser substituídos. D epois de concluídas as reformas, era necessário restaurar a santidade do templo através de rituais apropriados. Portanto, seria preciso providenciar recursos e
contratar funcionários para que o templo pudesse voltar a funcionar.
24.5. recolhim ento de im postos. O recolhimento de impostos para a restauração do templo era um a ocorrência comum no antigo Oriente Próximo. M uitas vezes, porém, as reformas eram feitas através de trabalhos forçados ou com material de construção cedido pelos súditos. O procedimento empregado no início aparece apenas em 2 Reis 12.5-7 e envolvia a coleta de fundos dos tesoureiros (NVI), m as não obteve sucesso. O termo "tesoureiro" aparece somente neste contexto e foi identificado em textos ugaríticos e acadianos como
relacionado ao tesouro do templo, podendo referir-se tanto aos oficiais que distribuíam os bens do templo quanto aos bens em si.24.5. im postos em Israel. Surpreendentemente, existem poucas palavras nas Escrituras para designar "im posto". O termo m ais comum é um a palavra genérica
que significa "avaliar para tributar", usada em relação ao tributo que os reis israelitas eram obrigados a pagar para os suseranos e tam bém para o recolhimento de recursos para o templo, como aqui. O processo de cobrança de impostos é descrito em 1 Samuel 8.1517. O rei pod eria tam bém isen tar um a fam ília de pagar impostos (ver 1 Sm 17.25). Salomão tinha um
grupo de governadores que periodicamente forneciam provisões para o palácio (1 Rs 4.7-19) como forma de tributo. Parece que a rebelião contra Roboão foi m otivada por impostos abusivos. Óstracos da Samaria registram a entrega de vinho para o palácio real com a seguinte frase, "p ara o re i". Esses óstracos foram
encontrados em locais que provavelm ente serviam como depósitos para onde os impostos eram recolhidos. Outra forma de se cobrar impostos era através do trabalho forçado (ver Êx 1.10; Js 16.10; 2 Sm 20.24). Embora a cobrança de impostos na Mesopotâmia seja m ais bem documentada, parece ter características sem elhantes às práticas encontradas em Israel.24.6. tenda da arca da aliança. A tenda da arca da aliança era chamada geralmente de Tenda do Encontro ou tabernáculo (ver o comentário em Êx 33.7-10). Era o centro de adoração dos israelitas anterior à construção do templo de Salomão e também o lugar onde ficavam a arca da aliança e diversos objetos cultuais. O tabernáculo continuou a ser um importante vínculo
para a história de Israel, m esm o durante a m onarquia, sugerindo que a tenda provavelm ente era arm ada no interior do recinto do templo (ver 1 Rs 8.4 =2 Cr 5.5).
24.11. supervisão dos recursos dividida entre o rei e os sacerdotes. A responsabilidade de supervisionar os recursos destinados à restauração do templo era dividida entre o rei e os sacerdotes. Essa prática é confirm ada nos registros do rei assírio Esar-Hadom (sétimo século). Aqui também há acusações de ambas as partes em relação à responsabilidade pelo atraso no projeto.
24.12. equipe de trabalho. A manutenção regular do templo ficava a cargo dos "operários responsáveis pelo tem plo", m as para reformas importantes era preciso contratar trabalhadores com habilidades específicas. A lista desses operários tam bém aparece em registros assírios contemporâneos.24.13. natureza do trabalho. Parece que os homens encarregados do trabalho reconstruíram o templo de acordo com o modelo original. Esses hábeis operários eram carpinteiros, construtores, pedreiros e cortadores de pedra. O termo para "construtor" aplicava-se tanto aos operários qualificados como àqueles que trabalhavam com tijolos de barro. Os carpinteiros eram responsáveis por todos os itens de madeira da construção, incluindo teto, portas, janelas, escadas e diversos objetos cultuais do templo. O pedreiro/cortador de pedra extraía pedras de cavernas ou das encostas das colinas. Em seguida, as pedras eram cortadas e encaixadas no lugar. Deve-se mencionar que Salomão contratou artesãos fenícios para construir o templo, mas o texto não afirma explicitamente que trabalhadores estrangeiros foram empregados para a reconstrução do templo durante o reinado de Joás.24.14. u tensílios para o tem plo. As vasilhas cultuais m encionadas aqui foram feitas pelos artesãos de Salom ão (1 Rs 7.50) e eram distintas daquelas feitas pelos fenícios (1 Rs 7.13-47). Essas vasilhas seriam saqueadas
por Nabucodonosor II durante a captura de Jerusalém, m ais de dois séculos depois de Joás. U m a descrição m elhor desses objetos seria: "vasilhas para o serviço e para os holocaustos, tigelas e vasilhas de ouro e de prata".24.15. Jo iad a com 130 anos. Joiada viveu m ais que Moisés (120 anos) e Arão (123 anos), demonstrando o quanto foi favorecido por Deus. O fato de o cronista ter chamado a atenção para a idade de Joiada evidencia sua grande im portância, equivalente a qualquer um dos m onarcas judaicos. Textos egípcios consideravam 110 anos como o tempo de vida ideal, enquanto para a visão mesopotâmica o alvo era atingir os 120 anos. Textos afirmam que no sexto século, Adad-Guppi, a m ãe do rei babilónico Nabonido, teria vivido até os 104 anos.24.18. postes sagrados. Os postes sagrados aparentemente eram objetos feitos por homens e colocados em geral perto de árvores (ver Jr 17.2), embora em algumas ocasiões (ver D t 16.21) as próprias árvores fossem usadas como postes sagrados. O objeto de culto a Aserá simbolizava a própria deusa. Os postes muitas vezes eram associados à imagem da divindade, que por sua vez era um elemento distinto. Para mais informações, ver o comentário em 2 Reis 13.6.24.23. guerra na prim avera. No antigo Oriente Próximo a primavera era a estação propícia para dar início às investidas m ilitares. Hm prim eiro lugar, o clim a durante o inverno não era propício para longas viagens m ilitares. Em segundo, como as colheitas aconteciam na primavera, os exércitos invasores conseguiam abastecer-se com provisões de alimentos. Os anais assírios descrevem insisten tem ente as cam panhas m ilitares que aconteciam durante o inverno ou no final do verão, destacando que o calor era insuportável para os soldados.24.23, 24. guerra com a Síria. Nas últimas décadas do nono século o reino aram eu de Damasco livrou-se das pressões assírias e conseguiu firm ar sua influência no sul e no oeste, até Judá (ver o com entário em 2 Rs 10.32). H ou ve um ataque a G ate (provavelm ente Gitaim, no norte da Sefelá, não na Gate filistéia), que representou um a ameaça direta a Jerusalém (ver 2 Rs12.18). O rei arameu nesse período era H azael (ver o comentário em 2 Rs 8.8), que governou de 843 a.C. até quase o final do nono século.
25.1-28O reinado de Amazias25.1. cronologia. De acordo com Thiele, A m azias reinou de 796 a 767 a.C ., tendo sido contem porâneo de Jeoás e Jeroboão II, de Israel. A dad-N irari III, Salm a- neser IV e Assur-Dã governaram a Assíria nessa época.
25.5. tam anho do exército. O term o hebraico para m il, 'eleph, tam bém é usado para "u n id ad e", m ais adequado a esse contexto. Assim, o recenseamento de A m azias conseguiu trezentas unidades de hom ens disponíveis para o exército, m as o texto não apresenta nenhum núm ero preciso de soldados. Para mais inform ação sobre núm eros, ver os com entários em 2 Crônicas 11.1; 13.2-20.25.6. m ercenários. O uso de soldados mercenários nas guerras do antigo Oriente Próxim o era bastante difundido. Os assírios começaram a depender grandem ente de m ercenários no reinado de Tiglate-Pileser III (reinou de 745 a 727 a.C.). Em bora os mercenários fossem experientes e bem treinados, sua lealdade com freqüência era abalada quando não recebiam o pagamento em dia, ou no caso de enfrentarem um inimigo com quem tinham algum grau de parentesco. Mercenários jónicos deixaram o acampamento persa e lutaram ao lado dos gregos na batalha de Platéia durante as guerras greco-pérsicas (480 a.C.).25.6. cem talentos de prata. O talento era a m aior medida de peso usada no Oriente Próximo. Era equivalente a três mil siclos em Alalakh e Ugarit, na Síria e no Antigo Testamento (Ex 38.25, 26). Cem talentos de prata equivaliam a três toneladas e meia de prata. Obviamente esse era o valor total pago na contratação de mercenários e dava um talento de prata para cada divisão. Assim , não era um pagam ento exorbitante, m as apenas a "prim eira parcela" - o verdadeiro pagamento viria na form a de despojos.25 .11 ,12 . vale do Sal. O vale do Sal tem sido identificado com o vale el-milh, a leste de Berseba, cerca de cinco quilômetros ao sul do m ar Morto. Existem inúmeros penhascos nessa região bastante altos, de modo que se uma pessoa fosse jogada lá de cima, certamente m orreria na queda.25.11. Seir. Seir era o nom e bíblico usado para designar um a região do território de Edom e freqü en temente usado como sinônim o de Edom. Assim , os "hom ens de Seir" seriam os edomitas. Seir é alistada como um topónimo geográfico nas cartas de Am am a do Egito (século catorze a.C.).25.12. estilos de execução. Atirar os inimigos do alto de um penhasco é um estilo de execução que só é conhecido nessa passagem bíblica. E provável que fosse a form a m ais conveniente de se livrar dos inimigos devido às circunstâncias geográficas. No ano 67 d.C., durante a revolta dos judeus contra Roma, milhares de judeus de Gam la se atiraram de um penhasco para não serem capturados pelos romanos.25.13. desde Sam aria até Bete-H orom . Bete-Horom ficava num local elevado entre o vale de Aijalom e a região montanhosa, cerca de vinte quilômetros a no-
roeste de Jerusalém . D o local onde os exércitos se encontravam, a principal estrada de volta ia do norte
de Arade para Hebrom, fazendo uma curva um pou
co para o oeste e depois seguindo para o norte através da Sefelá. O percurso entre Arade e Bete-Horom por
essa estrada era de 80 quilômetros. A té a cidade de Samaria seriam mais 80 quilômetros, mais ao norte de
Bete-Horom. Samaria era a capital do reino, portanto não deve ser a cidade m encionada aqui. Logo, ou havia uma outra cidade chamada "Sam aria" em Judá,
mas que não aparece em nenhum a outra passagem das Escrituras, ou no texto original constava algo como
"H ebrom ". V isto que a m aior parte do pagam ento dos mercenários era obtida através dos despojos, essa
foi a maneira deles receberem seu salário.25.14. deuses de Seir. O m ais provável é que esses
deuses fossem imagens das divindades dos edomitas. O deus nacional dos edomitas era Qos. Era comum na
época que se prestasse culto aos deuses das nações
derrotadas. Em D ã foram encontradas colunas de pedra, do lado de dentro dos portões da cidade, com
claras evidências de ofertas votivas. Há indicações de
que as colunas representavam algumas das divindades das cidades conquistadas por Israel. A s ofertas
votivas seriam dedicadas em cumprimento dos votos
feitos a estas divindades (talvez buscando auxílio para tomar a cidade contra a qual lutavam).
25.21. Bete-Sem es. Bete-Semes era um a cidade a cer
ca de 24 quilômetros a oeste de Jerusalém, na região
da Sefelá, entre Jerusalém e a costa da Filístia. Era
uma importante cidade fortificada que protegia o desfiladeiro de Soreque dos invasores que desejavam
saquear Jerusalém . O local de Bete-Sem es (Tell er-
Rumeliah) apresenta vestígios de uma ampla ocupação cananéia da cidade, anterior à conquista israelita.
25.23. topografia de Jerusalém . M uitos eruditos su
põem que a porta de Efraim estivesse localizada no
ângulo noroeste da cidade de Jerusalém , enquanto a porta da Esquina ficava no ângulo nordeste. A parte
norte de Jerusalém era a única direção que permitia o
fácil acesso à cidade. Outras partes do muro dificultavam o acesso à cidade por causa do vale de Ben-
Hinom, a sudoeste, e do vale de Cedrom, a sudeste.
25.24. saque de Jeoás. Registros assírios relatam que muitas vezes a fam ília do rei derrotado era enviada
como refém para a Assíria a fim de garantir o bom
com portam ento do rei. A ssurnasirpal II (reinou de 883 a 859) é descrito como "tom ando reféns e estabele
cendo a vitória". Aqui a identidade dos prisioneiros não é mencionada, m as pode-se presumir que perten
ciam à fam ília real ou então eram importantes m em
bros da nobreza.
25.27. Láquis. Láquis (Tell ed-Duweir) era uma das principais cidades fortificadas da Sefelá judaica. Não é de estranhar que Amazias fosse até essa cidade, visto que ficava na linha de defesa ao redor de Jerusalém. Tanto os assírios quanto os babilónicos conquistaram Láquis em seus ataques contra Judá nos séculos oitavo e sétimo a.C.. Localizada cerca de 48 quilôm etros a sudoeste de Jerusalém, o local cobre por volta de trinta acres.
26.1-23O reinado de Uzias26.2. E late. Elate (ou Elote) era a cidade portuária construída por Salom ão à frente do golfo de Ácaba (ver o comentário em 2 Cr 8.17), estreitamente associada ao porto de Eziom-Geber, nas proximidades. A cidade expandiu o comércio de Judá com a Arábia, a África e a índia. Uzias aparentemente tentou restaurar a rota com ercial do m ar V erm elho criada por Salomão.
26.3. cronologia. O longo reinado de Uzias, segundo os cálculos de Thiele, teria durado de 792 a 740 a.C.. Alguns estudiosos postulam que durante um longo tempo ele teria sido co-regente com seu pai Amazias, no início de seu reinado, e no período final com seu filho, Jotã. Foi contemporâneo de Jeroboão II (durante quarenta anos), Z acarias, Salum , M enaem , Peca e Pecaías de Israel. Adad-Nirari III, Salmaneser IV, Assur- D ã, Assur-Nirari V e Tiglate-Pileser III governaram a Assíria nessa mesma época. A Assíria estava enfraquecida durante a maior parte desse período, permitindo a expansão e a prosperidade de Israel e de Judá. O nom e de Uzias foi encontrado num selo de Tell Beit M irsim . Os registros de Tiglate-Pileser m encionam um rei chamado Azriau de Yaudi, mas a maioria dos estudiosos não crê que ele fosse Uzias.26.6-8. sucessos m ilitares. Embora não haja outras fontes literárias que descrevam as vitórias de Uzias contra os filisteus, os árabes e os meunitas, existem evidências arqueológicas da destruição da cidade filistéia de Asdode, que poderia ter acontecido na época de Uzias. Tam bém há evidências de que Uzias construiu fortalezas nesses territórios recém-conquistados. Gate (Tell es-Safi; ver o comentário em 1 Sm 5.8), Asdode e Jabne form am um triângulo, com cerca de 15 a 25 quilômetros de cada lado, ocupando a parte norte da planície filistéia a oeste de Jerusalém. Tell M or, perto da cidade filistéia de Asdode, oferece um exemplo de uma dessas fortalezas. Visto que Uzias não foi capaz de expandir-se para o norte, por causa do poderio de
Israel sob Jeroboão II, ele voltou sua atenção para o oeste e para o sul, subjugando povos que anteriormente haviam tirado vantagem das condições vulne
ráveis de Judá. Para m ais informação a respeito dos meunitas, ver o comentário em 20.1. A localidade de
Gurbaal perm anece sem identificação.
26.9. torres de Jerusalém . Embora as torres construídas por Jerusalém não tenham sido identificadas, é prová
vel que fossem semelhantes às torres construídas pe
los assírios em suas principais cidades: Nínive, Calá, Assur e Dur-Sharrukin. Dur-Sharrukin era uma for
taleza construída por Sargão II (reinou de 721a 705
a .C ), com torres posicionadas estrategicamente nos
quatro cantos da cidade. Ver 2 Crônicas 25.23 para uma descrição das portas onde as torres de Uzias fo
ram construídas. Pesquisas recentes revelaram uma enorm e torre nas proxim idades da fonte de Giom,
que talvez fizesse parte dessas fortificações.
26.10. torres no deserto. Há claras evidências arque
ológicas das construções de Uzias em Judá. A torre no
nível estratigráfico IIIB em Gibeá provavelmente foi construída nesse período. A grande quantidade de
obras em Tell Abu Selim eh também data desse período. Há evidências de prédios antigos e cisternas em
Qumran e A in Feshka que remontam ao reinado de
Uzias. Fortificações, cisternas e propriedades agrícolas tam bém foram localizadas na área do Neguebe, perto de Berseba.
26.11-13. o exército de Uzias. O poder de Uzias pode
ser atestado pelo fato dele possuir um exército efetivo,
sem precisar depender do alistamento temporário de
soldados no caso de surgir um conflito. Fontes assírias indicam que o exército de U zias era im portante o
bastante para ter participado da coalizão contra Tiglate-
Pileser III durante a invasão do Levante, em meados do oitavo século a.C..
26.14. armas. A riqueza de Uzias lhe perm itia equi
par seus soldados com o arm am ento tradicional do
Oriente Próximo na Idade do Ferro. As armas mencionadas aqui eram as mesmas utilizadas pelo exército
assírio. O armamento bélico assírio é descrito em detalhes nos anais assírios e ilustrado com freqüência
em relevos do palácio real. É bem provável que Uzias tenha começado a equipar seu exército devido à ame
aça da Assíria e do vizinho Israel.26.15. m áq u in as. A s "m áq u in as" constru ídas por
Uzias provavelmente seriam uma proteção formada por escudos instalada sobre os muros da cidade per
mitindo que os soldados atirassem pedras e flechas contra o inim igo. Os vestígios da fortaleza judaica
em Láquis confirm am o m odelo desses equipam entos construídos por Uzias. Além disso, são represen
tados nos relevos m urais assírios do palácio de Sena- queribe, em N inrode. Tem pos atrás, alguns intérpretes sugeriram que essas máquinas seriam catapul
tas, embora não haja evidência do uso de catapultas nesse período.26.16-19. o pecado de Uzias. O pecado de Uzias foi
um a violação direta das prerrogativas sacerdotais
concernentes à adoração no tem plo (Nm 16.40). O altar de incenso ficava localizado na câmara exterior
do templo, cujo acesso era permitido somente aos sacerdotes oficiantes. Uzias foi acusado de cometer sacri
légio ("in fie l", NVI v. 18), um pecado que requeria
ofertas de reparação (ver o comentário em Lv 5.14-16).
26.19. lepra. O rei de Mari, Yahdun-Lim, amaldiçoou com lepra todo aquele que profanasse o templo que
ele estava construindo, num a clara relação com o incidente aqui narrado. Lingüistas dedicados ao estudo
das línguas do antigo O riente Próxim o concluíram
que o termo freqüentemente traduzido como "lepra"
seria m elhor traduzido como "lesão " ou, de form a
menos técnica, "escam ação da pele" através de feridas que podiam estar inchadas, vazando ou desca
mando. A terminologia para esse tipo de doença tam bém é bastante abrangente em *acadiano, o mesmo
ocorrendo entre os *babilônios, sendo vista como uma condição impura ou um castigo dos deuses. A ocor
rência de lepra (hanseníase) não foi comprovada no
antigo Oriente Próximo em períodos anteriores a Ale
xandre, o Grande. Nenhuma das características m arcantes da hanseníase é alistada nos textos antigos e os
sintomas descritos não se relacionam à lepra. A condi
ção apresentada no texto não é descrita como contagiosa. Os relatos sugerem tratar-se, de acordo com diag
nósticos modernos, de doenças como psoríase, eczemas,
vitiligo, favo ou dermatite seborréica, bem como uma
série de infecções causadas por fungos. Por essa razão, não se sabe exatamente que tipo de doença de pele
Uzias adquiriu. A comparação a "neve" está mais relacionada à aparência de escama (flocos) do que à cor. A grande aversão cultural a doenças de pele talvez seja
devido ao seu aspecto (e às vezes, odor) semelhante
ao estado de putrefação de um cadáver e, portanto, associado à morte. Essa repulsa natural pesava consi
deravelmente para o isolamento da vítima, especialmente quando combinado à quarentena, cujo propósito era m ais ritual que terapêutico. Não se sabe ao
certo se U zias ficou em quarentena por causa da doença ou devido às ofensas cultuais que praticara. Naamã
tinha um a doença parecida e continuou a desempenhar suas funções como general do exército. É possí
vel presumir que Jotão, filho de Uzias, tenha assumido as responsabilidades oficiais como co-regente após
o pecado de seu pai.
26.23. túm ulo de Uzias. O Museu de Israel preserva um epitáfio que foi encontrado no local da tumba de
Uzias, rei de Judá, indicando que ele foi enterrado num túmulo de segunda categoria.
27.1-9 O reinado de Jotão27.1. cronologia. Jotão governou de 750 a 732 a.C. e possivelmente foi co-regente com seu pai Uzias durante dez anos e com seu filho Acaz por três anos. Evidências extrabíblicas do reinado de Jotão incluem um sinete encontrado em Tell el-Kheleifeh com seu nome e a figura de um carneiro com chifre. Ele tam bém é m encionado num a bula encontrada no selo real de Acaz.27.3. porta superior do tem plo. Pouco se sabe a respeito da arquitetura do templo após Salomão. A porta superior do templo ficava localizada na entrada norte. Jeremias ficou confinado na porta superior de Benjam im, que provavelm ente era um nom e alternativo para a porta superior.27.3. colina de O fel. A colina de Ofel é identificada como a região entre a colina do templo e a elevação ao sul conhecida como a Cidade de Davi. Aparentemente existiam ali fortificações que cercavam o complexo do tem plo e do palácio e alguns acreditam que havia também um a cidadela, denominada "a Ofel".27.4. fortes. Jotão deu continuidade aos extensivos projetos de construção de seu pai em Judá, edificando cidades fortificadas nas montanhas de Judá, provavelmente como uma linha de defesa contra invasões. Ele não apenas construiu fortes nas matas, como também desenvolveu um programa de reflorestamento. Escavações arqueológicas não descobriram ainda nenhuma fortificação que poderia ser identificada como uma das construções de Jotão. Foi durante seu remado que ocorreu a consolidação do im pério neo-assírio com Tiglate-Pileser III, fato que certamente renovou a preocupação com projetos de defesa diante dessa ameaça crescente.27.5. am onitas. O s am onitas v iv iam ao norte dos moabitas na região ao redor do rio Jaboque. São citados em registros assírios como Bit-Am m on e como a terra de Benammanu. No final do reinado de Jotão, o rei de Am om era Sharib. Nenhum registro amonita ou assírio fornece inform ação a respeito da história dos amonitas anterior a 733. Eles pagavam tributo a U zias, mas aparentem ente tentaram libertar-se do controle de Judá e foram subjugados pelo força.27.5. quantidade de tributo. O valor do tributo pago pelos am onitas é bastante elevado e com parável às condições que os assírios im puseram a Judá durante o reinado de Ezequias (2 Rs 18.14-17). Cem talentos de prata eram mais de três toneladas, enquanto dez mil coros de trigo e cevada equivaliam a dez mil barris de cada cereal (ver o comentário em 2.10).
28.1-27 O reinado de Acaz28.1. cronologia. Segundo Thiele, Acaz reinou de 735 a 715 a.C.; foi contemporâneo de Oséias, o último rei de Israel, e tam bém dos reis assírios Tiglate-PileserIII, Salm aneser V e Sargão II. A cronologia desse período é bastante complicada e os núm eros variam consideravelmente de um sistema para outro. A maioria dos sistemas depende de uma complexa combinação de co-regências. Em relação a Acaz é possível considerar que ele teria sido colocado no poder por um a facção pró-Assíria da administração de Judá, a partir de 741, na esperança de que a cooperação com a Assíria lhes garantisse um período de paz. O nome de Acaz aparece (na forma mais longa de seu nome, Jeoacaz; em assírio, Iauhazi) nas inscrições de uma edificação de Tiglate-Pileser como um dos reis que pagou tributo. Foi encontrada tam bém uma bula (impressão de selo) de seu selo real.
28.2. ídolos de m etal. Acaz fundiu ídolos dos baalins, não das divindades locais. O plural (baalins) pode ser equivalente a Eloim , o nom e genérico para o Deus dos hebreus. Fundir ídolos para adorar era especificam ente condenado pela lei de M oisés (ver Êx 34.17). Exem plares de divindades cananéias (inclusive de Baal) fundidos em m etal foram encontrados em inúmeras localidades da Palestina.28.3. vale de Ben-H inom . O vale de Ben-H inom ficav a no lado sul de Jerusalém e se ju ntava ao vale de Cedrom n a extrem idade sudeste da cidade. O acesso da cidade para o vale de Ben-H inom era através da porta das ovelhas e pela porta do vale. O vale de Ben- Hinom ficou conhecido como local de culto a Baal por causa dos atos de Acaz e M anassés. Josias profanou a região a fim de evitar futuros atos idólatras (2 Rs 23.10).28.3. queim ar os filh o s em sacrifício . Os escritores bíblicos fazem distinção entre o costume que muitas nações tinham de queim ar os filhos em dedicação a seus deuses (Dt 12.31 e 2 Rs 17.31) e a prática dos israelitas idólatras de "passar seus filhos pelo fogo". Se "passar pelo fogo" era diferente de oferecer sacrifícios de crianças, não se sabe ao certo. Em D eutero- nômio 18.9 o ato de "passar pelo fogo" aparece juntamente com outras práticas cananéias de adivinhação. Existem indícios em fontes assírias desse período da prática de sacrifícios de crianças. Alguns documentos comerciais assírios incluíam uma cláusula de "qu eim ar os filhos para Sin" como punição.
28.4. alto das colinas, árvore frondosa. O culto em altares idólatras não é atribuído aos reis, mas sim ao povo de Ju d á (ver 1 Rs 22.43). U m a form a verbal diferente é usada em hebraico para indicar sacrifícios ilegais de adoração em oposição a sacrifícios aprova
dos pela lei, oferecidos no templo de Jerusalém. Para m ais inform ações a respeito de lugares altos, ver o comentário em 2 Reis 17.9.28.5. derrotados pelos arameus. Trata-se aqui do episódio que ficou conhecido como guerra siro-efraimita. Um a versão popular afirma que as nações na região da Síria e da Palestina (inclusive Israel e Síria) haviam formado um a coalizão para lutar contra a potência emergente da Assíria, sob Tiglate-Pileser III. Rezim, rei da Síria-Damasco, encabeçou essa coalizão em 733a.C.. Um ano antes, Síria e Israel tentaram forçar Acaz, rei de Judá, a unir-se a essa coalizão contra a Assíria e esses dois Estados procuraram depor Acaz (ver Is 7.6). Em vista do apelo de Acaz, a A ssíria m archou em direção ao oeste em 733-732 a.C. e devastou a área, pondo fim ao governo dam asceno e estabelecendo um governo fantasma em Israel (Oséias). Outros estudiosos acreditam que o ataque da coalizão siro-efrai- mita resultou apenas de suas próprias am bições de expansão e não teve nenhuma relação com a investida contra a Assíria. Os anais assírios de Tiglate-Pileser III estão bastante deteriorados, m as é possível perceber neles um a visão geral da conquista assíria.28.14,15. form a de tratar prisioneiros. Os anais assírios e relevos de parede retratam as péssimas condições daqueles que eram deportados de seu território para terras longínquas. Os homens normalmente ficavam nus e eram puxados por ganchos presos no nariz ou nos lábios. Alguns haviam perdido membros, outros arrastavam seus pertences. Parece que os israelitas tratavam seus prisioneiros da mesma forma, mas essa atitude foi condenada pelo profeta Oded. A dimensão do cuidado e da compaixão descritos nesses versículos, portanto, é notável.28.16. Acaz pede ajuda aos assírios. Como resposta à invasão de Judá pelos Estados da região siro-palesti- na, Acaz apelou à Assíria. Em bora os anais assírios não registrem explicitam ente esse pedido de ajuda, A caz é alistado como um dos reis que pagou tributo a Tiglate-Pileser III.28 .17 ,18 . dificuldades m ilitares. Acaz não só estava temeroso diante das invasões siro-israelitas, como aparentem ente seu apelo à A ssíria estava relacionado com sua guerra contra Edom e a Filístia. Escavações recentes ao longo da antiga fronteira entre Edom e Judá confirmaram a expansão de Edom no Neguebe de Judá, em cidades como en Hatzeva e Qitmit. Óstracos de cerâmica de Arade contendo correspondência m ilitar desse período tam bém demonstram que as invasões edomitas eram consideradas iminentes. Os filisteus expandiram sua presença na região da Sefelá, reconquistando o controle da área m antida sob controle judaico durante o reinado de Uzias (ver o comentário
em 26.6-8). A descrição inclui as três principais entradas de acesso às colinas de Judá (os vales de Aijalom, Soreque e Elá). Não existem evidências arqueológicas sobre a conquista filistéia em qualquer dessas localidades mencionadas. A campanha de Tiglate-Pileser de 734 incluiu os filisteus dentre seus alvos. Isso levou os assírios a erigir um a esteia em G aza em 734 e à conquista de Ascalom em 733. Um a carta assíria de N inrode indica as condições instáveis existentes na Palestina nesse período. Os territórios perdidos por A caz não foram devolvidos a ele, m as organizados em províncias assírias.28.23. deuses de D amasco. A maioria dos povos no antigo Oriente Próximo acreditava que os deuses tinham jurisdições geográficas lim itadas. A terra de determinado deus ficava sob a responsabilidade do monarca instituído pela divindade local. Norm alm ente, os deuses não controlavam os eventos que aconteciam em outras regiões (pois pertenciam à jurisdição de outros deuses). Visto que a m aioria das guerras era considerada guerra santa, o exército vitorioso dava o crédito ao seu respectivo deus. D esde a m etade do terceiro milênio a.C. os habitantes da cidade suméria de Lagash afirmavam que seus deuses haviam concedido a eles a vitória contra a cidade vizinha, Umma. Nesse texto, Acaz faz um reconhecimento sincero de que, já que os aram eus foram vitoriosos contra ele, seus deuses eram m ais poderosos, portanto deviam ser adorados. Os deuses de Damasco eram do panteão arameu e incluíam Hadade (o deus da tempestade), que provavelmente era o nome correto de Baal m encionado em fontes cananéias. Acaz tam bém edificou um enorme altar aos "deuses de D am asco" (ver 2 Rs16.9-16). Não fica claro no texto se o altar era fenício, aram eu ou assírio, mas deveria substituir o altar de bronze confeccionado por Salomão. O templo que Acaz visitou provavelmente era o de Hadade-Rimom (cf. 2 Rs 5.18). Porém, os ritos descritos aqui são tipicamente israelitas.28.24. utensílios do tem plo. Os utensílios do templo provavelmente incluíam vasilhas, móveis e ferramentas. De acordo com 2 Reis 16 .17 ,18 Acaz foi obrigado a enviar itens bastante precisos, inclusive a "cobertura usada no sábado", para o rei da Assíria. Os assírios normalmente não interferiam nas práticas cultuais locais. Parece que Acaz enviou os utensílios do templo a fim de cumprir um pagamento de tributo na forma de metais.28.24. altares em todas as esqu inas. Textos babilónicos m encionam pequenos santuários ao ar livre ou nichos colocados nas esquinas ou nos pátios. U m texto relata que havia 180 altares desse tipo na cidade da Babilónia, dedicados à deusa Istar. Esses santuários
apresentavam uma estrutura construída com um altar no topo e pareciam ser freqüentados principalmente por m ulheres. N esse sentido, a palavra "esqu ina" talvez se refira basicamente a um nicho cultual.28.25. altares idólatras em todas as cidades. Nessa época, toda a região de Judá havia se transformado num centro de práticas cultuais estrangeiras. Os assírios (e aram eus) não exigiam que os povos subjugados transferissem sua lealdade a deuses diferentes, mas talvez algum grupo tenha imaginado que seu relaci
onamento com os conquistadores melhoraria se eles seguissem essas divindades estrangeiras. Para informações a respeito de altares idólatras, ver o comentário em 2 Reis 17.9.
29.1-32.33O reinado de Ezequias29.1. cronologia. As datas do reinado de Ezequias são bastante controversas. Thiele, reconhecendo a contradição existente em alguns sincronismos bíblicos, designou o período do reinado de Ezequias entre 715 e 687 a.C., contem porâneo a Sargão II e Senaqueribe, reis da Assíria. Os monarcas egípcios desse período foram Shabako, Shebitku e Taharqa. Muitos estudiosos acreditam que é mais provável que Ezequias tenha subido ao trono em 727 e que seu encontro com Senaqueribe, no décimo quarto ano (2 Rs 18.13), deuse quando Senaqueribe ainda era o príncipe que com andava os exércitos de seu pai, Sargão II. Registros assírios confirm am que houve uma campanha no ocidente contra Asdode em 713. Isso representa o início de uma longa série de conflitos entre esses protagonistas, culminando com o cerco a Jerusalém em 701, após a ascensão de Senaqueribe ao trono. Evidências arqueológicas do reinado de Ezequias incluem um selo encontrado em Tell Beit Mirsim, com seu nom e e da época de seu reinado. Os jarros com selos reais encontrados na região siro-palestina a partir do final do oitavo século provavelmente tam bém pertencem ao período do remado de Ezequias. Juntam ente com a expansão e construção de obras em Jerusalém (ver o comentário em 32.5), há uma grande coluna em Láquis que provavelmente foi construída nesse período.29.3. ideologia da restauração dos tem plos no antigo O riente Próxim o. O templo era o centro da cultura, da economia e da sociedade na Síria, na Mesopotâmia e em Israel. Era a casa da divindade protetora da cidade, por
essa razão acred itava-se que a d iv ind ade estivesse presente ali. Era responsabilidade do governante da cidade cuidar e suprir as necessidades da divindade, o que incluía lavar, vestir e alimentar a divindade diariamente. O cuidado que o rei deveria ter para a m an utenção da casa da d iv ind ade era tão im portante
quanto seu sucesso m ilitar. Incontáveis inscrições em prédios da Assíria e da Babilônia confirm am essa de
voção do rei quando determinado tem plo era restaurado. Esse mesmo tipo de devoção era atribuído a quem reconstruísse ou reformasse a casa de Yahweh. A refor
m a envolvia tanto aspectos físicos quanto rituais. Um
templo abandonado ou negligenciado necessitaria de reparos estruturais (ver o comentário no v. 13) e talvez da reposição de móveis e utensílios furtados. É possível
que objetos de ouro ou incrustações de ouro nas paredes tam bém precisassem ser repostas. Depois disso, a
santidade do templo teria de ser restabelecida através
de rituais apropriados. Finalmente, seria preciso providenciar recursos e funcionários para que o templo pudesse voltar a funcionar.
29.4-15. os levitas. As famílias levíticas não desempenhavam um papel importante no culto em Jerusalém desde a época de Josafá, mais de um século antes. De
acordo com os procedimentos comuns usados na refor
m a no templo, Ezequias utilizou as famílias tradicionais de sacerdotes para purificar o templo e restaurar
sua pureza ritual e a seguir recolocou-os em suas fun
ções originais (ver o comentário em 19.5).
29.15. consagração. A consagração era o processo de purificação ritual que visava preparar a pessoa a se
relacionar com o sagrado. Os procedim entos varia
vam de uma cultura para outra, mas a m aioria concordava com a necessidade de cum prir um ritual para
remover a impureza e preservar a santidade da casa
da divindade. Provavelm ente os sacerdotes foram consagrados com base nas regras detalhadas encon
tradas em Êxodo 29.
29.16. vale de Cedrom. O vale de Cedrom, a sudeste do templo, é ligado ao vale de Ben-Hinom, que era
usado há m uito tempo como depósito de lixo e entu
lho pelos m oradores de Jerusalém . Ezequias, assim como Josias, procurou limpar toda a área do templo de
Jerusalém levando os objetos cultuais idólatras para
esse vale. As pessoas sem recursos tam bém costuma
vam enterrar seus mortos no vale de Cedrom.29.17. calendário. O primeiro mês era Nisã, que abran
gia os meses de março e abril e marcava o início do calendário das festas religiosas. O procedimento de
purificação do templo englobava as áreas externas e
internas, visto que cada área tinha suas próprias exigências rituais. Quando um nível de purificação era atingido, permitia-se a entrada naquela área. O próxim o nível de purificação perm itia o acesso à área
seguinte e assim por diante. Aqui foram necessários oito dias para consagrar as áreas contíguas ao templo
e mais oito para a consagração da estrutura do templo em si.
29.18,19. consagração dos utensílios. A restauração do templo envolveu três etapas: purificação, reconsagra- ção e por últim o a celebração de uma cerimônia inaugural de dedicação. Os utensílios removidos por Acaz tiveram de ser reconsagrados porque foram tirados dos recintos sagrados, portanto considerados impuros.29.21-24. ritual sacrificial. Nenhum ritual sacrificial foi usado durante a dedicação do tabernáculo. Quando o templo de Salom ão foi dedicado, os animais sacrificados eram num erosos demais para serem contados. Não há nenhuma passagem dando instruções quanto ao núm ero de sacrifícios descrito aqui. Para informações sobre a oferta pelo pecado, ver os comentários em Levítico 4.1-3 e 4-12.29.25. instru m entos m usicais. Sobre harpas e liras, ver a nota em 2 Crônicas 20.28. Havia dois tipos de cím balos no antigo O riente Próxim o: um produzia som através da batida de dois pratos de m etal um contra o outro, e no outro o som era produzido através de um tipo de taça que deveria ser batida num a outra taça m antida fixa. Não se sabe ao certo qual tipo de címbalo foi utilizado aqui, mas provavelmente era de bronze.29.27-30. canto. Referências às palavras de D avi e Asafe indicam que os levitas provavelmente usavam um hinário ou saltério, talvez algo parecido com o Livro dos Salmos. A maioria dos monarcas do antigo Oriente Próximo empregavam cantores (masculinos e femininos) para servir no palácio ou no templo. Os arquivos de Mari descrevem em detalhes a contratação de cantoras e as provisões de alim ento necessárias para sustentá-las. Foram registradas mais de vinte e quatro categorias de cantores em Israel (2 Cr 25) e três chefes de famílias de cantores são mencionados pelo nome (Asafe, H em ã e Etã; 1 Cr 6.18-32). Geralmente, os cantores eram homens livres, mas escravos tam bém podiam estar ligados ao templo (Ed 2.43-58; Ne 7.46-60). As m ulheres desem penhavam um a função específica no tabernáculo (Êx 38.8), m as não há referências claras de cantoras relacionadas ao templo.29.29, 30. postura de adoração. Alguns textos indicam que os israelitas oravam de pé (1 Sm 1.26; 1 Rs 8.22; Jr 18.20), outros descrevem uma postura de joelhos (como 2 Cr 6.13), com as mãos levantadas (SI 28.2; Is 1.15; Lm 2.19) ou totalmente prostrados (SI 5.8; 99.5, 9). Talvez a postura variasse dependendo do tipo de oração. Os israelitas não eram os únicos a adotar uma postura de oração. Há muitos exemplos na Mesopotâmia de indivíduos adotando as posturas mencionadas acima, como as orações de encantamento dirigidas a Istar, nas quais o suplicante deveria se prostrar e praticar um ritual de levantar as mãos. Fontes hititas sugerem posturas e gestos semelhantes.
29.29, 30. adoração ao ar livre. Os israelitas de Jerusalém norm alm ente oravam nos pátios do templo, de frente para o santuário (SI 5.8; 28.2; 138.2). Os judeus que viviam fora de Jerusalém deveriam voltar-se na direção da cidade de Jerusalém e do templo (1 Rs 8.4448). Na maioria das culturas do antigo Oriente Próximo, o povo não tinha acesso ao interior do templo, devendo perm anecer nos pátios. No mundo antigo, os templos não eram construídos para abrigar os fiéis, mas para servir como m orada da divindade. A adoração (orações e sacrifícios) era feita no templo, mas não havia cultos regulares com a participação dos fiéis.29.31. ofertas de gratidão. A oferta de gratidão era um tipo de oferta de comunhão (ver o comentário em Lv 3.1-5). Porções dessa oferta eram consumidas no altar, e o ofertante comia o que sobrava.29.32, 33. anim ais para holocaustos. As orientações a respeito dos holocaustos encontram-se em Levítico 1.117. O versículo 32 enumera os animais oferecidos em holocaustos, que foram totalmente consumidos pelo fogo, enquanto o versículo 33 enum era os que foram usados nas ofertas de gratidão, em que um a parte simbólica era queimada e o restante usado para uma refeição comunitária. Essa combinação de ofertas era comum em cerimônias públicas.29.35, 36. sacrifício e festa. As festas bíblicas se diferenciavam das festas celebradas por outros povos (que coincidiam com o Ano Novo ou mudança de estação) pelo seu propósito, conteúdo e origem. Os israelitas participavam das festas do calendário religioso como uma forma de demonstrar reconhecimento e gratidão a Yahweh. As festas dos povos vizinhos geralmente incluíam lamentos, procissões, dramatizações sagradas (e outros tipos de entretenimento) e a oportunidade de dirigir oráculos à divindade.30.1. o convite de Ezequias. O reino do norte, Israel, havia sido conquistado pelos assírios (ver o comentário em 2 Rs 17.5, 6), que agora se lançavam sobre os demais reinos do ocidente. O pai de Ezequias, Acaz, havia instituído um a política de cooperação com a Assíria, atestada por sua inclusão nas listas de pagamentos de tributos a essa potência. Ezequias tentou reivindicar parte do território de Israel que havia sido conquistado por Uzias mas que Acaz havia perdido (ver 2 Rs 18.4-8). As ambições políticas de Ezequias só poderiam ser alcançadas com o estabelecimento de uma base religiosa no norte. Ezequias provavelmente só deu início a esse empreendimento após a morte de Sargão II, rei da A ssíria (705 a.C.) durante uma batalha. Com a Assíria enfrentando sérias dificuldades, Ezequias pôde então começar a expandir suas ambições territoriais. Posteriormente, essa ação resultou na invasão da região sírio-palestina por Senaqueribe (701 a.C.).
30.1-3. celebração da Páscoa. A queda de Sam aria provavelmente provocou um a reestruturação interna em Israel, favorável aos planos políticos de Ezequias e à sua tentativa de reunificar a nação através da centralização do culto em Jerusalém. Alguns refugiados do norte haviam fugido para Judá após a conquista assíria, especialm ente agora que Israel havia assum ido aspectos do sincretismo religioso (mistura de elementos relig iosos estrangeiros na adoração). A celebração nacional da Páscoa ajustou-se bem aos planos de reunificação nacional de Ezequias, visto que Israel e Judá puderam relembrar um evento do passado partilhado por ambos, o êxodo.30.2, 3. data da Páscoa. A Páscoa norm alm ente era celebrada no décimo quarto dia do primeiro mês do calendário hebraico. Porém, caso alguém não pudesse estar presente por motivo de viagem ou estivesse im puro nessa ocasião, a lei perm itia (Nm 9.6-13) a celebração da Páscoa no segundo mês. Ezequias adiou a celebração para perm itir que os israelitas tam bém pudessem participar desse evento.30.13. festas de peregrinação. H avia três festas no calendário hebraico que exigiam a peregrinação a Jerusalém (para mais detalhes, ver os comentários em Ex 23.15-17). Durante essas festas, multidões de peregrinos se aglom eravam nas ruas de Jerusalém . As peregrinações não eram muito comuns na prática religiosa do antigo Oriente Próximo porque o culto às divindades protetoras era praticado, na m aior parte, nos santuários locais. No entanto, as pessoas que viviam em lugares afastados tinham de peregrinar até os santuários. Este tipo de peregrinação pode ser atestado na descoberta de hospedarias para caravanas, como a de Kuntillet Ajrud, em que há desenhos nas paredes, feitos por viajantes que, possivelm ente seriam peregrinos (ou talvez mercadores). N a Babilônia algumas pessoas costumavam viajar até a capital para participar das festas do Ano Novo, m as essa não era um a exigência da prática relig iosa babilónica. No Egito, acreditava-se que os deuses viajavam em peregrinação pelos diversos santuários do país, em vez das pessoas viajarem até determinado santuário.30.15-17. rituais da Páscoa. A Páscoa de Ezequias distinguiu-se da prática comum em dois aspectos: primeiro, a data da celebração foi diferente (ver a nota em 2 Cr 30.2, 3), e segundo, os israelitas foram liberados de cumprir certas regras rituais. Pelo fato de muitos na assembléia não terem se purificado, os levitas dirigiram o sacrifício dos cordeiros pascais, tarefa que cabia norm alm ente aos chefes das fam ílias, m as da qual foram liberados por não estarem devidamente santificados nessa ocasião (Nm 9.6). Todavia, mesmo àqueles que estavam impuros, era permitido, em certas ocasiões, comer o cordeiro pascal.
30.21. festa dos pães sem ferm ento. A festa dos pães sem fermento foi estabelecida para relembrar a libertação do povo hebreu do Egito (ver o comentário em Êx 12.14-20). Era um a das três festas anuais, sendo normalmente comemorada no décimo quarto dia do prim eiro mês. D urante sete dias só se podia comer pão sem ferm ento e nenhum trabalho podia ser realizado. Os sacrifícios eram oferecidos no primeiro e no último dia do mês (Nm 28.16-25; D t 16.1-8).30.23, 24. Ezequias fornece anim ais. Aparentemente o rei forneceu a m aior parte da carne consumida nas refeições com unitárias pelos que estavam presentes na celebração. O número de animais é bastante grande, mas não desproporcional, em com paração com algum as cifras encontradas na literatura do antigo Oriente Próximo. Quando o rei A ssumasirpal II ofereceu uma festa de dedicação por seu palácio na capital assíria de Calá, ele forneceu 5 mil ovelhas, mil cordeiros e bois, 500 cervos, 500 gazelas, 34 m il aves e 10 m il peixes (879 a.C.).31.1. postes sagrados. Ver o comentário em 2 Rs 17.9.31.1. altares idólatras. Ver o comentário em 2 Rs 17.9.31.2. funções dos levitas. Ezequias reafirmou as funções da ordem levítica estabelecida por Salomão. Assim, os sacerdotes ficaram encarregados das ofertas e os levitas da adoração (ver tam bém o comentário em2 Cr 29.15).
31.3. contribuição do rei. Enquanto o texto de 30.23, 24 destaca as contribuições do rei para a festa, esse versículo trata das contribuições regulares que sustentavam o funcionamento do templo. Ezequias seguiu o exem plo de Salom ão, providenciando holo- caustos periodicamente para o serviço do templo (2 Cr 2.4). As orientações específicas para as ofertas estão descritas em N úm eros 28 - 29. N o antigo O riente Próximo, o rei (representante da nação) era visto como o principal adorador do deus nacional. Portanto, esperava-se que o palácio desempenhasse um papel proeminente no suprimento dos sacrifícios regulares.31.4. a porção dos lev itas. A porção dos levitas e sacerdotes foi apresentada em N úm eros 18 (ver os comentários relacionados), sendo que as ofertas eram destinadas aos sacerdotes (v. 12) e os dízimos aos levitas (v. 21). Ezequias estava empenhando-se ao m áximo para conseguir que os oficiais religiosos se dedicassem às obrigações prescritas nos cinco Livros de Moisés.31.7. o calendário . O terceiro m ês hebraico correspondia a m eados de m aio até m eados de junho em nosso calendário. Embora esse mês fosse chamado de sivan no período pós-exílio, não era conhecido por esse nome na época de Ezequias. O sétimo mês, etanim (■tishri, no período pós-exílio), correspondia ao período
que vai da metade de setembro até metade de outubro. Visto que o recolhimento das ofertas durou desde
o terceiro até o sétimo mês, significa que incluiu o período de colheita da m aior parte da produção (maio - lentilhas, cevada; junho - trigo; setembro - tâmaras, uvas; outubro - azeitonas).
31.11. despensas no tem plo. A maioria dos templos no antigo Oriente Próximo possuía alguns cômodos usados como depósito de alimentos, cozinha, alojamentos para os sacerdotes e outras funções não reli
giosas. O templo de Nankarrak, em Terqa, na Síria (c. 1600 a.C.) tinha uma ampla cozinha, além de despensa e alojamentos sacerdotais (que serviam como vestiário, não como moradia). Assim, as novas despensas de Ezequias provavelmente foram acrescentadas àque
las já existentes.31.14. guarda da porta leste. Um a das tarefas mais importantes dos sacerdotes era controlar o acesso ao interior do templo, a área interna considerada o "âm
bito sagrado" (a respeito desse conceito, ver os comentários em Lv 16.2 e N m 18.1-7). Quando o santuário era contam inado com im purezas, era preciso fazer uma oferta de purificação ("oferta pelo pecado", ver o
comentário em Lv 4.1-3). A contaminação do santuário podia acarretar um castigo tanto individual quanto coletivo, logo os guardas das portas precisavam impedir a entrada de intrusos. Além disso, havia tam
bém inúm eros objetos valiosos dentro do templo: o ouro e a prata eram abundantes servindo como tentação a pessoas sem escrúpulos que chegassem a invadir e roubar o templo. Portanto, esses objetos também
tinham de ser protegidos. O uso inadequado de objetos considerados sagrados exigia um a oferta de reparação ("oferta pela cu lpa", ver o comentário em Lv
5.14-16). Os guardas das portas tinham a responsabilidade de proteger o templo contra esse tipo de transgressão. O texto atribui tam bém uma tarefa adicional: distribuir as contribuições dedicadas ao Senhor e ao templo. A porta leste era a mais importante, visto que
a fachada do templo ficava desse lado.32.1. as cam panhas de Senaqueribe. Senaqueribe conduziu campanhas m ilitares principalmente em duas regiões durante seu reinado (705-681 a.C.). Ele realizou pelo m enos uma grande campanha na Sírio-Pa- lestina, concentrando-se ao redor de Jerusalém e na
rebelião de Ezequias (701). Desenvolveu também uma vigorosa campanha contra a Babilônia, outra área problemática durante seu reinado. Enfrentou constante
oposição por parte de rebeldes caldeus liderados por Merodach-Baladan (ver o comentário em Is 39.1), culminando no saque brutal da Babilônia em 689 a.C..32.3. abastecim ento de água. O abastecimento de água
incluía fontes, poços e canais. As fontes e poços fora da cidade foram fechados para evitar que os assírios fizessem uso desses recursos. A am eaça assíria levou
Ezequias a garantir a provisão de água para Jerusalém através da construção de um sistem a de túnel
conhecido como túnel de Ezequias. Esse túnel era cavado no leito da rocha por aproximadamente 500 m etros desde a fonte de G iom , no leste da cidade, próximo ao vale de Cedrom, até o tanque de Siloé, no
lado oeste do extremo sul da cidade. No final do sécu-
AS INSCRIÇÕES DE SENAQUERIBEAs informações sobre o remado de Senaqueribe foram obtidas de diversas fontes. Os "anais" não são exatamente registros por não serem contemporâneos às campanhas que descrevem, mas são mencionados porque ainda que tenham sido escritos posteriormente, seguem uma rigorosa ordem cronológica. Várias inscrições eram colocadas nas divisões dos alicerces de prédios; algumas foram encontradas em seus locais originais. Os anais geralmente passavam por uma série de edições. Um texto curioso, que não se ajusta à categoria de anal, é um fragmento literário conhecido como "Carta para Deus".
O relato da campanha contra Jerusalém provavelmente foi redigido vários meses depois do término da campanha (c. 700 a.C.). Além de depositar os textos nos alicerces das construções, os assírios expunham suas inscrições nos baixos-relevos que decoravam as paredes dos palácios. Existem inúmeras cópias dessa campanha inscritas em grandes cilindros. Foram encontradas também, no aposento 36 do palácio de Senaqueribe, pedras esculpidas da cidade de Nínive com relevos referentes ao cerco assírio de Láquis (uma importante cidade fortificada de Judá). Os anais descrevem a destruição de uma grande área de Judá, mas não mencionam a tomada de Jerusalém, visto que operações radicais contra a capital judaica nunca foram de fato efetivadas, embora Senaqueribe afirme ter cercado Jerusalém com torres. Quarenta e seis cidades de Judá foram saqueadas, e muitas delas cedidas para a Filístia, sua grande rival. Não há indicações sobre Senaqueribe sendo magnânimo com Ezequias como teria sido com o rei de Tiro. Vários governadores foram substituídos nessa área (como Sidra de Ascalom). O testemunho dos escultores assírios é importante; Láquis aparece em suas obras, mas não Jerusalém. Os anais afirmam que mais de duzentos mil homens de Judá foram levados cativos (mas não necessariamente como escravos), e diversas cidades filistéias que se rebelaram também são alistadas como cidades conquistadas. Senaqueribe colocou a responsabilidade pelo destino de Judá nas mãos de Ezequias (os assírios geralmente culpavam o monarca inimigo pelas invasões). Há indicações de que os assírios teriam exigido de Ezequias suas filhas, suas armas, suas mulheres, seu ouro e vários outros artefatos. As listas de tributos são as inscrições mais longas e mais detalhadas de Senaqueribe, sugerindo que o autor buscou desviar a atenção do fato de que a capital, Jerusalém, não havia sido tomada. Ezequias, porém, foi subjugado. Essa batalha foi vencida, mas Ezequias continuou sendo vassalo do rei assírio e enviou tributo a Senaqueribe quando este retornou a Nínive.
lo dezenove foi encontrada uma inscrição descrevendo o encontro dos trabalhadores que escavaram o túnel a partir das duas extremidades. Para m ais informação sobre sistemas de água, ver o comentário em 2 Sam uel 5.8.32.5. am pliação dos m uros de Jerusalém . Estudos arqueológicos recentes apresentaram evidências do crescimento da cidade de Jerusalém e de sua população na época de Ezequias. Ele provavelm ente am pliou as fortificações e estabeleceu centros administrativos e postos de comando. Escavações no quarteirão judeu da cidade velha de Jerusalém revelaram fragmentos do muro de Ezequias, que se estendia do lado de fora dos muros da cidade, talvez por 640 metros a oeste da serra que a cidade havia ocupado antes desse período.32.9. estratégia de cerco. Os relevos assírios de Nínive que ilustram o cerco de Láquis apresentam aríetes, sete mecanismos de cerco e judeus deportados, bem como Senaqueribe sentado confortavelm ente num a poltrona, assistindo ao desfile dos despojos tomados em Láquis. Os painéis revelam o avanço da tecnologia m ilitar dos assírios. Seu exército era bastante organizado, com arqueiros, atiradores de lança, atiradores de funda, rampas e equipamentos para cercos. Esses m ecanism os para cerco eram m ontados sobre quatro rodas (os m odelos m ais antigos tinham seis rodas), com um longo eixo com a ponta de ferro projetando-se para frente. Tinham de três a seis metros de comprimento e de um a quase dois metros de altura, abertos na parte de trás e fechados na frente. As inovações de Senaqueribe nesse m ecanism o de guerra incluíam uma cobertura de couro que servia de proteção. Há inúm eros relevos de parede que ilustram os cercos assírios em todo o antigo Oriente Próximo. Entretanto, os assírios preferiam a técnica da negociação, conforme é descrito em 2 Reis 18-19.32.11. papel da divindade durante a batalha. N o antigo Oriente Próximo, muitas vezes as ações militares
eram conduzidas pelos deuses estrangeiros. Assim ,
Y ahw eh foi apresentad o com o sendo fav orável a A ssíria, de form a que Judá seria derrotado (ver Is 7.19; 10.5, 6; 2 Cr 35.20-22). Esse fato é semelhante aos textos que m ostram deuses inimigos convocando os assírios para a guerra. Em um texto assírio, Marduque convocou Sargão II para acom panhá-lo e invadir a Babilônia. N um texto babilónico, M arduque convocou Ciro, rei da Pérsia, para ir com ele e tomar a cidade. De modo sem elhante, Yahw eh é visto como aquele que reuniu os exércitos que deram início à queda da Babilônia (Is 13.4). Para mais informação sobre o papel da divindade nas batalhas, ver os comentários em Êxodo 15.3; 1 Sam uel 4.3; 8.7; 17.37.32.12. retirou os altares desse deus. Retirar os altares fazia parte da reforma de Ezequias cujo objetivo era centralizar a adoração em Jerusalém . Do ponto de vista do escritor bíblico, essa era um a atitude positiva. Da perspectiva assíria, porém, essa ação poderia ser usada contra Ezequias de diversas maneiras. Em primeiro lugar, os assírios não consideravam positiva a retirada dos santuários em que se adorava um a divindade. N a visão deles, quanto m aior o núm ero de santuários, melhor seria a adoração. Em segundo, é possível que os assírios tenham interpretado a atitude de Ezequias à luz de uma prática comum no mundo antigo, ou seja, quando a invasão era im inente, as im agens dos deuses eram recolhidas dos santuários m ais distantes e reunidas na capital. Essa foi uma das atitudes tomadas por M erodach-Baladan nos dias de Sargão. A retórica do invasor baseava-se no argumento de que esses deuses estavam aborrecidos por terem sido privados de seus santuários, portanto, ele se apresentaria como o escolhido por essas divindades para restaurá-las aos seus devidos lugares.32.18. hebraico versus aramaico. Os escribas de Judá disseram a Rabsaque (ver o comentário em 2 Rs 18.17) que parasse de falar em hebraico, visto que não queriam que o povo que estava sobre o muro ouvisse essa m ensagem. Pediram a ele que falasse em aramaico, que era a língua dos judeus após o exílio, mas não a
LÁQUISLáquis (Tell ed-Duweir) era uma importante cidade fortificada ou cidadela real. Fortificada por Roboão (cerca de 920) sua localização era estratégica porque protegia a frágil fronteira norte. A cidade ficava sobre uma colina retangular na base da Sefelá, entre as colinas de Judá e a planície costeira, firmada sobre promontórios naturais e rodeada por profundos vales. Láquis possuía um complexo sistema de portões externos e internos, além de um muro interno com cerca de três metros e meio de espessura. Pesquisas arqueológicas em ruínas que remontam ao período assírio revelaram a existência de peças de bronze nas câmaras dos portões. Foram encontrados dezoito óstracos (fragmentos de cerâmica com inscrições) do período caldeu com inscrições referentes à invasão de Nabucodonosor. A cidade de Láquis enfrentou dois cercos em pouco mais de um século; muitos sedimentos estão misturados, tomando difícil a identificação. Visto que a cidade era rodeada por montanhas, o único local que permitiria o cerco assírio seria na extremidade sudoeste, embora não exista até o momento nenhuma evidência arqueológica que defina a localização do acampamento assírio. Há sinais de destruição em toda a região da cidade, incluindo muitos fragmentos de carvão. Há uma rampa de cerco construída com pedras empilhadas, considerada a mais antiga em todo o antigo Oriente Próximo e a única com confirmação arqueológica em Israel. Há desenhos de rampas de aspecto semelhante em relevos assírios. A cidade foi arrasada a poucos centímetros de sua fundação. Todos os prédios
essa altura dos acontecimentos. Rabsaque surpreendeu a todos com seu domínio da língua judaica (hebraico bíblico). A resposta rude desse oficial de Se- naqueribe demonstrou que seu papel era persuadir e causar tumulto. Talvez esse homem fosse um israelita a serviço de Senaqueribe (como governador provincial), tal como Neemias e Aicar (um "sábio de Esar- Hadom" identificado como israelita no Livro de Tobias). O aramaico era a língua mais próxima ao hebraico e nesse período havia se tom ado a língua diplomática do antigo Oriente Próximo.32.27-29. a prosperidade de Ezequias. A prosperidade de Ezequias é descrita em termos de crescimento dos seus bens. O ouro, as pedras preciosas e as especiarias indicam seu sucesso no comércio e talvez no recolhimento de tributos. Os produtos agrícolas e os rebanhos sugerem colheitas abundantes e sabedoria adm inistrativa para recolher e arm azenar alimentos de forma eficaz. Esse sucesso é surpreendente diante da condição de vassalo ocupada por Ezequias e serve como prova da bênção de Deus.
33.1-20O reinado de Manassés33.1. cronologia. O longo reinado de Manassés é situado por Thiele entre 696 e 640 a.C., incluindo talvez uma co-regência com seu pai. Os reis assírios contemporâneos a ele foram Senaqueribe, Esar-H adom e Assurbanipal. Os reis egípcios de mais destaque nesse período foram Taharqa e Psammeticus I. A Assíria continuou a exercer forte influência no ocidente durante grande parte desse período.33 .4 .5 . altares no tem plo. A localização dos dois pátios do templo tem confundido os eruditos. A planta do templo em 1 Reis 6 descreve com detalhes apenas o pátio interno, por essa razão, não é possível saber a localização exata desses altares na área m ais ampla do pátio externo.33.5. práticas pagãs de Manassés. Os exércitos celestes (Sol, Lua, estrelas e constelações) eram adorados
nos altares dos pátios do templo e no terraço do palácio (ver 2 Rs 23.12). Textos do antigo Oriente Próximo da região siro-palestina descrevem a prática de adoração dos astros a partir do segundo m ilênio a.C. assim como em toda a M esopotâmia; selos de Israel revelam que as divindades astrais eram bastante populares lá também. As estrelas eram vistas como intermediárias entre os deuses e os homens e capazes de controlar os eventos na terra. Os reis assírios muitas vezes eram retratados usando símbolos dos planetas, intimamen
te associados a certas divindades (para mais informações, ver o comentário em 2 Rs 23.4). A política assíria desse período não interferia ou restringia a prática religiosa local, por isso, não há razão para supor que Manassés fosse obrigado a instituir essas práticas de adoração.
33.6. queim ar os filhos em sacrifício. São raras as evidências dessa prática fora das Escrituras. Os textos
legais assírios descrevem uma cláusula que estabelece como punição " queim ar seu filho a Sin (uma divindade lunar) e sua filha a Belet-seri". Ver tam bém o comentário em 2 Crônicas 28.3.33.11. relações de M anassés com a Assíria. Manassés herdou de seu pai Ezequias um pequeno estado vassalo sujeito à Assíria. Os anais de Esar-Hadom, rei da Assíria (reinou de 681 a 668) mencionam Manassés juntamente com um grupo de reis da Sírio-Palestina que foram requisitados a enviar material para um projeto de construção em Nínive. O sucessor de Esar-Hadom, Assurbanipal, também colocou Manassés num a lista de governadores que lhe enviaram presentes. Em ambos os textos, M anassés é descrito como um leal vassalo.
33.11. a prisão de M anassés. Q uando Esar-H adom morreu, o governo da Assíria foi dividido entre seus dois filhos. A ssurbanipal recebeu a A ssíria e logo dom inou seu irm ão, Sham ash-shum -ukin, que recebera o controle da Babilônia. De fato, Shamash-shum- ukin foi pouco m ais que um governador e por volta de 652, aparentem ente cansado de seu papel de su
foram consumidos pelo fogo, indicando um incêndio intenso atestado pelos restos de tijolos avermelhados. Os pavimentos estavam cobertos de cacos de vasos e de utensílios quebrados. A cidade foi totalmente pilhada, restando apenas alguns objetos de pouco valor ou muito pesados. Foram encontradas centenas de pontas de flechas bem como vinte pedaços de armadura de escamas e a ponteira de bronze de um capacete. Foram encontrados também mil e quinhentos ossos humanos e crânios decapitados (considerados pelos pesquisadores como sendo de civis, e não de soldados) que foram rolados montanha abaixo até uma grande cova. Por cima dos ossos humanos foram encontrados muitos ossos de animais (inclusive de porcos) e muitas vasilhas de cerâmica. Mais de quatrocentos jarros também foram encontrados no local com a inscrição Imlk ("para o rei"); o único contexto que se ajusta a esses jarros é o de Láquis. Os assírios consideraram esse cerco extremamente importante, o que pode ser comprovado pela descoberta de relevos em Nínive ocupando todas as paredes de um quarto, em comemoração à façanha. O quarto de Láquis (36) ficava num ponto estratégico do palácio com o objetivo de exibir a conquista de Judá e de Láquis. Os painéis mostram o exército assírio avançando para a cidade em três colunas, tendo ao fundo uma paisagem semelhante à de Láquis. Esses relevos e painéis oferecem aos estudiosos a oportunidade única de comparar o relevo neo-assírio representando uma antiga cidade com o local propriamente.
bordinado, liderou uma sangrenta guerra civil (apoiada pelos elamitas) que durou cinco anos. Essa guerra só term inou quando Sham ash-shum -ukin foi morto no incêndio que varreu a cidade de Babilônia depois de dois anos de cerco. Há documentos atestando que Sham ash-shum -ukin tentou recrutar apoio entre as nações vassalas e alguns especulam que M anassés teria se aliado ao governante babilónico durante a revolta. É interessante notar que Manassés foi preso pelos assírios na Babilônia (junto com outros rebeldes, talvez para testemunhar o resultado de uma revolta fracassada), e não em Nínive. Os reis vassalos que se rebelavam com freqüência eram deportados pelos assírios por períodos indeterminados. H á evidências de que aqueles que se "arrependiam " (isto é, eram "acalm ados" pelos assírios) muitas vezes retom avam ao trono de sua nação.33.12. a oração de M anassés. O texto de Crônicas não registra o conteúdo da oração de M anassés, mas a literatura apócrifa posterior preservou um a bela oração atribuída a ele.
33.14. expansão de Jerusalém . A expansão das fortificações conduzida por Manassés talvez não tenha tido o mesmo objetivo das ampliações feitas por seu pai Ezequias (ver o comentário em 32.5). A ascensão política do Egito, sob o governo de Psamm eticus I, talvez tenha levado os assírios a reforçar as defesas de Judá, que rap id am ente estava se tornando um estado- tampão.Foram encontrados vestígios de fortificações que podem ter sido construídas no reinado de Manassés em Tell el-Hesi e Arade.
33.21-25 O reinado de Amom33.21. cronologia. O breve reinado de A m om foi de 642 a 640 a.C., contemporâneo ao governo de Assur- banipal na Assíria.
34.1-36.1 O reinado de Josias34.1. cronologia. Josias foi rei de Judá entre 640 e 609a.C.. Após o reinado de Assurbanipal seguiu-se um período de anarquia na Assíria, culminando no colapso da nação em 610. Psammeticus I e N eco II governavam o Egito nessa época e Nabopolassar era o rei da Babilônia (626-605). Esse período corresponde ao início da decadência da Assíria e ao avanço da Babilônia sobre o território assírio, enquanto o Egito tentava aproveitar-se da confusão para conquistar a Palestina. 34.3-5. expurgo relig ioso. O expurgo religioso mais famoso da Antigüidade ocorreu quando os egípcios re jeitaram as reform as re lig iosas prom ovid as por Aquenáton, no século catorze. Durante o breve rei
nado de Tutancâmon houve um a tentativa de retom ar à adoração dos deuses tradicionais através dos sacerdotes e erradicar a heresia de Aquenáton. Isso incluiu a restauração dos santuários e dos templos antigos, garantindo a eles os recursos e os funcionários necessários para seu funcionam ento, assim com o a devolução de tudo que havia sido confiscado. Tanto o santuário como a capital estabelecidos por Aquenáten em Am am a foram abandonados. Horemhab destruiu os templos de A m am a, demoliu os prédios, reciclou o material utilizando-o em outros projetos de construção e queim ou tudo que havia sobrado. Foram encontrados selos israelitas que fornecem evidências do expurgo promovido por Josias. Todos os selos existentes em Judá que retratavam sím bolos fam iliares de deuses da fertilidade, do deus-sol e de divindades astrais de períodos anteriores foram substituídos por selos contendo apenas a inscrição identificando a pessoa e desenhos de romãs.34.6. expurgo no norte . Em bora tenham sido destruídos anteriormente colunas sagradas e altares idólatras (como com Ezequias), o expurgo realizado por Josias foi sem precedentes devido a sua amplitude. O texto de 2 Reis 23.15 acrescenta que ele queimou os altares no norte, algo que ainda não havia ocorrido antes. Essa limpeza só foi possível por causa do enfraquecimento do domínio assírio na região.34.8. ideologia da restauração do tem plo no antigo O riente Próxim o. O templo era o centro da cultura, da economia e da sociedade tanto na Síria, como na M esopotâm ia e em Israel. Era a casa da divindade protetora da cidade, e por essa razão, acreditava-se que o deus estivesse presente ali. Cabia ao governante da cidade cuidar do templo e suprir as necessidades da divindade, o que incluía vestir, lavar e alimentar diariamente a estátua da divindade. O cuidado pela m anutenção da casa da divindade era tão im portante para o rei quanto seu sucesso m ilitar. Incontáveis inscrições em prédios da A ssíria e da Babilônia confirmam essa devoção do rei quando determinado templo era restaurado. Esse mesmo tipo de devoção era atribuído a quem reconstruía ou reformava a casa de Yahweh. A reforma envolvia tanto aspectos físicos quanto rituais. U m templo abandonado ou negligenciado necessitava de reparos estruturais (ver o comentário no v. 13) e talvez da reposição de móveis e utensílios furtados. E possível que tam bém fosse necessário repor os objetos de ouro ou os revestimentos de ouro das paredes. Isto feito, era preciso restabelecer a santidade do templo através de rituais apropriados. Finalmente, seria preciso providenciar recursos e contratar funcionários para que o templo pudesse voltar a funcionar.
34.9. fundos para reform a do tem plo. As inform ações apresentadas aqui sugerem que foi cobrado algum tipo de im posto como form a de arrecadar os recursos necessários para a reforma. O recolhimento de im postos para a restauração do templo era uma ocorrência comum no antigo Oriente Próximo. Muitas vezes, porém, o monarca fazia as reformas no templo empregando trabalhos forçados ou recolhendo material de construção cedido pelos súditos.34.10, 11. trabalhadores e materiais. A manutenção regular do templo era responsabilidade dos "operários responsáveis pelo tem plo", mas a execução de reformas importantes requeria a contratação de trabalhadores qualificados. Registros assírios contemporâneos também relacionam operários com habilidades específicas. Esses operários qualificados eram carpinteiros, construtores, pedreiros e cortadores de pedra. O termo "construtor" era usado tanto para trabalhadores treinados quanto para aqueles que trabalhavam com tijolos de barro. Os carpinteiros eram responsáveis por todos os trabalhos de m adeira envolvidos na construção, incluindo teto, portas, janelas, escadas e diversos objetos cultuais do templo. O pedreiro/ cortador de pedra era encarregado da extração de pedras das rochas ou das encostas das colinas. Em seguida, essas pedras eram cortadas e encaixadas no lugar.34.12,13. papel dos levitas. Todas as funções m encionadas aqui eram típicas dos funcionários de templos no antigo Oriente Próxfmo. Para mais inform ação a respeito do papel dos levitas, ver o com entário em 19.8-11.34.14. o Livro da Lei é encontrado. A descoberta de documentos antigos durante reform as de templos é confirmada no Egito e na M esopotâmia. N o Egito foram encontrados rolos m anuscritos na alvenaria de préd ios, enquanto que n a M esopotâm ia freq ü en temente eram encontrados documentos e esteias no alicerce das construções. Em períodos anteriores, era comum o uso de inscrições nas fundações das construções (em tijolos, por exemplo) com o objetivo de dedicar aquela obra à divindade. Gradualmente essas inscrições se tornaram mais elaboradas, e nesse período era comum enterrar um a caixa nas obras de fundação de um templo ou palácio. Essas caixas continham inscrições reais descrevendo os feitos m ilitares e as obras de construção do rei, de forma que se algum rei futuram ente quisesse restaurar aquela obra teria as informações necessárias. Essas descobertas costumavam ser devidamente registradas. Nabonido, o últim o rei da Babilônia (556-539) ficou conhecido por sua busca por documentos antigos enterrados em prédios. Shabaka, um faraó egípcio por volta do ano 700, afirm ou ter
encontrado um antigo papiro bastante deteriorado contendo um texto teológico concernente à criação do mundo pelo deus Ptá. Ele ordenou então que o texto (hoje chamado de Teologia Menfita) fosse inscrito numa pedra. O Livro da Lei (ou instrução) talvez fosse um documento depositado num a caixa no alicerce do templo ou então ocultado em um a de suas paredes. E possível também que estivesse esquecido nos arquivos do templo. Não se sabe ao certo quais Livros do A ntigo Testam ento esse docum ento continha, mas certamente incluía Deuteronômio.34.22. profetisas. Existiam profetisas na M esopotâmia, embora elas não fossem muito comuns. Os textos de M ari da Síria, do início do segundo milênio, apresentam evidências tanto de profetas quanto de profetisas. Há notícias também da existência de profetisas durante o reinado de Esar-Hadom, na Assíria. Parece que a função desempenhada pelas profetisas era sem elhante a dos profetas.34.22. responsável pelo guarda-roupa. Um dos funcionários do templo de Baal na Samaria desempenhava um a função semelhante (ver 2 Rs 10.22). Há também um texto babilónico desse período que faz menção a
esse cargo. Essas roupas provavelmente eram vestes cultuais usadas para o culto da divindade (ver Sf 1.8). Nos templos pagãos, a estátua da divindade precisava ser vestida, mas não era esse o caso do templo de Jerusalém. A única função desse guarda-roupa aqui seria guardar as vestes sacerdotais, que exigiam cuidados especiais para não serem profanadas nem se tornarem impuras.
34.22. bairro novo. Esse bairro ou distrito novo (em algumas versões aparece "segundo distrito") também é mencionado em Sofonias 1.10 relacionado às "colinas" da cidade e ao quarteirão Maktesh. Alguns estudiosos identificaram essa área como subúrbio da Cidade de Davi, que surgiu a oeste das colinas de Jerusalém. Escavações nessa área revelaram um grande povoado urbano anterior a esse período. Para mais informações, ver o comentário em 32.5.34.29-33. a reform a de Josias. Ver os comentários em2 Reis 23.1-20.35.7. a contribuição do rei. A contribuição de Josias para a P áscoa é com parável à de Ezequias. V er o comentário em 2 Crônicas 30.23, 24.35.10-14. preparativos para a Páscoa. Para mais informação acerca dos preparativos para a celebração da Páscoa, ver os comentários em Êxodo 12.1-11. Em relação à celebração da Páscoa na época de Ezequias, ver o comentário em 30.15-17.35.18. celebração incomparável. Essa foi a prim eira celebração centralizada da Páscoa, desde aquela mencionada em Josué 5 .10 ,11 . A Páscoa era basicamente
um ritual familiar, até Josias im plantar sua política de m udanças (no entanto, ver a observância desse ritual nos dias de Ezequias em 30.15-17). O festival babilónico A kitu é um exemplo do restabelecim ento de antigas festas religiosas que haviam deixado de ser celebradas. Por vinte anos (689-669) a cerim ônia de entronização (a festa babilónica m ais importante) deixou de ser com em orada, e só foi restabelecida por Esar-H adom , quando a Babilônia reconquistou sua proeminência.35.20. Neco saiu para lutar em C arquem is. A Crônica Babilónica afirm a que em 609 Neco, faraó do Egito, estava prestando ajuda à A ssíria, que por sua vez estava tentando retomar a capital provisória de Harran, na Síria, capturada pelos m edos e pelos babilônios no ano anterior. A s tropas de Neco iriam reforçar a guarnição da base m ilitar em Carquemis. Os egípcios haviam transferido sua lealdade para a Assíria quando perceberam a m udança de poder da Assíria para a Babilônia. P od e-se supor, portanto, que N eco via m aiores oportunidades para suas próprias ambições de expansão territorial na Palestina e na Síria, se a Assíria conseguisse conter o avanço dos babilônios e dos medos. É fácil entender a posição de Josias contra a Assíria, visto que Judá havia estado sob domínio assírio por m ais de um século. Porém, mesmo com a ajuda do Egito, os assírios não tiveram sucesso em expulsar os m edos e os caldeus de Harran.35.22. batalha de M egido. A Grande Estrada do Tronco (ver a nota de rodapé sobre as principais rotas com erciais em Gn 38) atravessava o crescente fértil desde o Egito até a Babilônia e continuava pela costa da Palestina até atingir a cadeia montanhosa do Carmelo. A partir daí dirigia-se para o interior passando pela
cidade de M egido (ver o comentário em Js 12.21) e pelo vale de Jezreel (ver o com entário em Jz 6.33). Esse era o local ideal para interceptar algum exército que estivesse m archando pela região, e muitas batalhas aconteceram nessa famosa arena geográfica. Nada se sabe a respeito dessa batalha além do que está narrado nas Escrituras. Embora Josias tenha fracassado em im pedir o avanço egípcio para o norte, talvez tenha conseguido atrasá-los o suficiente de modo que, ao chegarem ao seu destino, pouco puderam ajudar os assírios na guerra entre os m edos e os babilônios.35.25. cântico de lam ento. Esse lamento composto por Jerem ias não foi preservado. Era comum na época a composição de cânticos de lamento em honra a monarcas que haviam morrido (especialmente no caso de m orte precoce) ou a cidades que haviam sido tomadas e destruídas. Além do Livro das Lamentações da Bíblia, existem as lam entações sumérias do início do segundo milênio relacionadas à destruição de cidades tais com o Ur, Eridu, N ipur e U ruk, e tam bém de templos destruídos. O estilo literário das lamentações sum érias é adm iravelm ente sem elhante ao m odelo
bíblico. A cidade em questão havia sido destruída com a permissão de seu próprio deus, resultando numa crise espiritual e física. Lam entações bíblicas e sum érias continham um a expectativa da m udança no destino da cidade em questão no futuro.
36.1-23Os reinados de Jeoacaz, Jeoaquim, Zedequias e a queda de JerusalémV er os comentários em 2 Reis 23.31-25.30.36.22, 23. Para inform ações sobre Ciro e sua proclamação, ver os comentários em Esdras 1.
E S D R A S
V1.1-11 O decreto de Ciro1.1. Cronologia. Com base na proclam ação de Ciro registrada no Cilindro de Ciro, convocando o povo cativo na Babilônia para a reconstrução do templo em
Jerusalém , o "prim eiro ano do reinado de Ciro" provavelm ente se referia a 539 a.C., ano em que Ciro conquistou a Babilônia e promulgou esse decreto. Ciro
tom ou-se rei da Pérsia (Ansã) em 559 a.C. e durante vinte anos preocupou-se em consolidar o reino, estendendo-o até a Lídia, na Á sia M enor (conquistando Sardes em 546 a.C.), para depois se voltar contra a Babilônia e seu rei, Nabonido.
1.1. Ciro. Um a análise cuidadosa das Guerras Persas do historiador grego Heródoto (ver a nota de rodapé
no Livro de Ester) e da Crônica Babilónica revela que Ciro era o chefe de um a tribo persa (Aquemênida) que vencera um a luta de poder contra A stíages, o
últim o rei dos medos, em 550 a.C.. A combinação de forças dessas duas regiões a leste do Tigre (atual Irã), perm itiu a Ciro organizar campanhas contra a Lídia (537 a.C.) e, após a conquista de Sardes no oeste da
Á sia M enor, anexar as-colônias gregas daquela região. Ele consolidou as fronteiras ao norte e a leste entre 546 e 540 e então voltou sua atenção para o ocidente a fim de conquistar a Babilônia, acrescentan
do o reino neobabilônico ao seu império em 539 a .C . A cidade da Babilônia abriu seus portões para Ciro em outubro desse mesmo ano e, em troca, ele impediu que o santuário de Marduque fosse destruído ou profanado. Sua estratégia adm inistrativa perm itia o culto dos deuses locais e o reconhecimento das culturas nativas. Um exemplo excelente dessa política foi
preservado no que hoje é chamado de "O Cilindro de Ciro" (ver o próximo comentário). Ciro foi morto lutando contra as tribos massagetas (povo parente dos citas) na fronteira leste de seu reino em 530 a.C. e foi sucedido por seu filho Cambises.
1.2-4. O C ilindro de Ciro e as políticas persas. É evidente que a política adm inistrativa persa diferia da
política da Assíria ou da Neobabilônia em relação ao tratamento concedido aos reis vassalos e à suas culturas. O Cilindro de Ciro preserva um decreto que reflete a tolerância de Ciro ao garantir um certo grau de autonom ia aos povos de seu im pério. Em bora não haja um a referência específica a Judá, o decreto orde
nava que fossem feitos reparos nos santuários e templos danificados e que aqueles que haviam sido destruí
dos fossem reconstruídos e que as imagens levadas para a Babilônia fossem devolvidas. Escavações no templo de Uruk revelaram tijolos usados na restauração do santuário contendo uma inscrição com o nome do rei Ciro. O s cativos receberam permissão de voltar
para sua terra natal e foram encorajados a servir ao império persa sob a liderança dos governadores do
rei que, em muitos casos, eram nativos desses países. Todas essas medidas sugerem que em vez de cruelmente condenar e destruir as culturas nativas, os persas
empregavam um a abordagem m ais tolerante e bondosa. O reconhecimento das identidades regionais e a preservação de certa autonom ia local, na form a de
liberdade religiosa, visavam evitar a ruptura do im
pério e im pedir o surgim ento de revoltas, que os assírios e babilônios enfrentaram continuam ente. É possível que essa política resultasse, em parte, da natureza do zoroastrismo, a religião oficial dos persas.
E preciso deixar claro, no entanto, que os persas não se mostravam tão tolerantes com os governantes locais que exorbitavam de suas funções ou criticavam o governo persa (note a relutância de Zorobabel, ape
sar da exortação dos profetas Ageu e Zacarias).1.2. o "D eu s dos céu s" n o zoroastrism o. N o Cilindro
de Ciro está registrado que o rei Ciro reconheceu que sua vitória contra a Babilônia deveu-se ao auxílio que
recebeu do deus babilónico M arduque. O texto de Isaías 45.1-5 adota esse mesmo tema, m as dá a Yahw eh
o crédito , apesar de Ciro não "co n h ecê-lo " ainda. A m bas as afirm ações encaixam -se bem à natureza
sincrética do zoroastrismo, em que o deus principal, Ahura M azda, está em constante conflito com o deus Ahrim an e as forças do mal. O s deuses considerados como auxiliares do rei persa (M arduque e Yahweh) eram reconhecidos com o participantes do exército celestial de A hura M azda, ou seja, de suas hostes celestes. O Livro de Esdras reforça o m esm o argumento de Isaías, mas sem mencionar Ahura Mazda, ao contrário, proclamando Yahw eh como o Deus dos céus. A expressão "D eus dos céus" também aparece nos papiros elefantinos, documentos judeus referen
tes ao Egito que remontam ao final do quinto século. O fato de Yahw eh ser chamado de Deus dos céus não reflete as crenças pessoais de Ciro. Esse mesmo tipo
de tratamento era concedido aos demais deuses quando eram promulgados decretos referentes a reformas de santuários.1.3. D eu s que em Jerusalém tem a sua m orada. Areferência ao Deus que habita em Jerusalém reflete o estilo usado no Cilindro de Ciro, orientando os povos cativos e seus deuses a retornarem para sua pátria. Há uma dupla visão sobre D eus nesse versículo, a de um Deus universal, motivando as ações do mais poderoso líder do mundo, e a de um Deus que, como sempre, está assentado em Jerusalém.1.4-6. bens e ofertas. Visto que nem todos os exilados israelitas decidiram voltar, essa proclamação pode referir-se tanto àqueles que iriam ficar como a seus vizinhos não judeus. Se esta última alternativa for correta, então há aqui uma forte relação com o "espólio" dos egípcios durante o êxodo, quando os israelitas tom aram o ouro e a prata dos egípcios por ocasião de sua partida do Egito (Êx 11.2; 12.35, 36). As ofertas "v o luntárias" podem ser comparadas àquelas recolhidas para equipar a Tenda do Encontro no deserto (Êx 25.29). Desse m odo, eram supridas as necessidades dos que voltavam à terra natal (gado e outras provisões) e providenciados recursos para reconstruir o templo em Jerusalém .1.7-10. u tensílios do tem plo. Como se sabe a partir de citações nos textos de M ari e no Cilindro de Ciro, quando um povo era conquistado, diversos objetos sagrados, incluindo ídolos e utensílios usados na adoração, eram levados como despojo. U m a das formas de demonstrar a superioridade do deus vitorioso sobre o deus do povo vencido era profanando seus objetos sagrados ou colocando-os em posição de submissão (ver D n 5.1-4 e 1 Sm 5.1, 2). Como parte da restauração do templo e da adoração adequada a Yahweh, foi feito um inventário de todos os utensílios sagrados, de m odo a assegurar que nenhum ficasse para trás, mas todos voltassem a Jerusalém (ver os comentários em 2 Cr 4.8-11 para um a descrição de alguns desses
utensílios).1.11. Sesbazar. A pesar das tentativas de identificar Sesbazar com Senazar (1 Cr 3.18) a fim de vinculá-lo à linhagem davídica como "príncipe de Judá" (Ed 1.8) ou com Zorobabel, a fim de conciliar eventos narrados em Esdras com aqueles citados nos Livros dos profetas Ageu e Zacarias, parece que esse indivíduo pouco conhecido tinha um a identidade distinta. O título "príncipe de Judá" pode indicar ancestrais reais, m as nesse caso ele seria considerado um membro da casa de D avi. Talvez o títu lo se referisse à sua função, e nesse caso ele seria um oficial persa que serviu como acompanhante dos exilados na volta à sua terra natal, supervisionando a transição para um
governo local (retornando para Zorobabel). Ele foi o primeiro governador nomeado pelos persas para adm inistrar Judá (Yehud) e ficou encarregado dos utensílios sagrados, bem como da tarefa de lançar o alicerce do tem plo em Jerusalém . A rqueólogos descobriram alças de jarros e selos contendo o nome de outros três governadores de Judá dos quais nada se sabe e que sequer são mencionados por Esdras e Neemias.1.11. da Babilôn ia para Jerusalém . O mais provável é que os exilados ao retom arem a Judá tenham seguido pelo norte, na rota acim a do Eufrates até M ari ou Carquemis e depois para o sul e oeste até Damasco. Daí desceram pela rota das caravanas até a estrada costeira ou talvez voltaram pelo vale do Jordão até Jericó e seguiram então para o noroeste até Jerusalém. A distância entre a Babilônia e Jerusalém era de aproximadamente 1400 quilômetros, logo a viagem teria levado de oito a dez semanas.
2.1-70 O retomo dos exilados2.1. p rov ín cia . A província de Ju dá (Yehud) fazia parte da satrapia da Babilônia até o reinado de Xerxes, quando passou a fazer parte da satrapia "A lém do Rio" (a oeste do Eufrates). O texto, portanto, está se referindo aos exilados oriundos da província de Judá que agora voltavam a Jerusalém. Pesquisas arqueológicas revelaram, com base na distribuição de moedas, que a província de Judá provavelm ente se estendia ao sul até Bete-Zur (cerca de dez quilômetros ao norte
de Hebrom), a oeste até Gezer, ao norte até Mispá e a leste até o Jordão.2.2. o que se sabe sobre os líderes. Zorobabel ficou conhecido como o governador da época da conquista de Dario, m as Sesbazar o antecedeu. Bigvai (um nome persa) foi governador de Judá após a administração de Neemias. Jesua (Josué nos Livros de A geu e Zacarias) serviu como sumo sacerdote na época de Zorobabel (Zc 3.1-10). É curioso que conste na lista os nomes de Neemias e de Seraías (uma form a alternativa de Esdras), m as talvez fossem nomes comuns. M ardoqueu não deve ser confundido com o tio de Ester com esse mesmo nome e M ispar e Bilsã não são mencionados em nenhum a outra passagem. Reum é m encionado em Esdras 4.7-24 como um dos oficiais ("com andante") que escreveu um a carta queixando-se ao rei Arta- xerxes sobre as atividades em Jerusalém.2.3-67. lista dos exilados. Os principais grupos que retom aram eram constituídos por membros de clãs ou grupos aparentados (17 nom es nos v. 2-19); outros foram alistados por região geográfica, sendo a m aioria do norte de Jerusalém (22 nomes nos v. 20-35), e outros ainda com o m em bros de quatro fam ílias de
sacerdotes (totalizando 4289, v. 36-39) além de um pequeno grupo de levitas (apenas 74 alistados no v. 40). O restante da lista incluía pessoas relacionadas ao templo ou ao exercício do sacerdócio: músicos, porteiros e 35 servidores do templo (v. 43-54), que podiam ser de origem não israelita (talvez comparável às corporações ugaríticas e neobabilônicas de servidores específicos do templo). Um grupo era formado por descendentes dos "servos de Salom ão" (v. 55-58), que também não tinham origem israelita (ver os grupos de trabalho forçado em 1 Rs 9.20, 21) e provavelmente foram ligados à com unidade do tem plo devido ao aumento do trabalho. O último grupo (v. 59-63) não teria preservado a genealogia da fam ília para poder reivindicar uma posição entre os sacerdotes, mas por outro lado, tam bém não teria assim ilado a cultura babilónica.2.69. quantidade de presentes. As ofertas atingiram o valor de 61.000 dracm as (em hebraico). O dracm a equivalia a aproximadamente meio siclo. O siclo babilónico pesava cerca de 8,4 gramas e era representado pela m oeda persa conhecida como dárico, visto que começou a ser cunhada na época de D ario (poucas décadas após o período de Ciro). Assim, foram arrecadados cerca de quinhentos quilos de ouro e três toneladas de prata para a reconstrução do templo.
3.1-13 A reconstrução do altar e do templo3.1. sétim o m ês. O sétim o mês no calendário anual é conhecido como tishri e fica no outono (setembro/outubro). A conexão entre esse mês e a Festa das cabanas (ou dos tabernáculos) também pode ser observada na cerim ônia de renovação da aliança narrada em N ee- m ias 7 .73-8.2.3.2. Jesu a . Jesua foi o sum o sacerdote no início do período pós-exílio. Seu avô, Seraías, foi executado por Nabucodonosor quando Jerusalém caiu nas mãos dos babilônios (2 Rs 25.18-21; observe que Esdras tam bém pertence à linhagem de Seraías; ver 7.1). O herdeiro ao trono de Judá, Z orobabel (ver o próxim o comentário), assumiu a função de governador, mas como Judá ainda estava sob domínio persa, sua autoridade era restrita (a fim de não competir com o rei persa). Conseqüentemente, o governo da comunidade dividia-se entre o governador e o sumo sacerdote, que exercia um papel m ais proem inente. Pouco se sabe a respeito de Jesua, exceto que foi um dos líderes que ajudou na reconstrução do templo. Não há referências a ele fora da Bíblia.3.2. Zorobabel. Zorobabel era o herdeiro do trono de D avi (neto de Joaquim , ver os comentários em 2 Rs 24) e serviu como governador de Judá durante o do
mínio do rei persa Dario I. Havia um a relativa expectativa em torno dele, que lhe conferiu um aspecto
m essiânico. Sem dúvida, alguns esperavam que ele
estabelecesse o reino prometido e os libertasse da escravidão (do jugo dos persas). Embora suas funções
fossem primordialmente seculares, ele é descrito em
Esdras, juntam ente com o sacerdote Jesua, com o o grande impulsionador da reconstrução do templo em
Jerusalém. Governando sob os auspícios do rei persa,
Zorobabel era responsável pela m anutenção da lei e da ordem e pelo recolhimento de impostos. Embora
tenha sido o ú ltim o herdeiro de D avi a exercer a função de governador, os arqueólogos encontraram
um selo em que Selom ite (alistada com o filh a de Zorobabel em 1 Cr 3.19) é citada com o esposa ou
oficial de Elnatã, o governador que supostamente teria sucedido Zorobabel.
3.2. holocaustos. A restauração do templo e do culto a
Yahw eh tiveram início com a construção do altar e a
retom ada dos holocaustos (ver o precedente em Dt 27.6,7). É interessante notar que os papiros elefantinos
citam que aquela comunidade desejava reconstruir o
templo destruído, m as se comprometia a não oferecer
holocaustos em seu próprio altar apenas para preservar a preem inência de Jerusalém . Para informações
gerais a respeito dos holocaustos, ver os comentários em Levítico 1.
3.3. base. Para assegurar o mesmo tipo de adoração prestada no templo de Jerusalém no período pré-exí-
lio, era essencial que o altar fosse construído sobre a
mesma base ou alicerce do anterior (ver uma reconstrução semelhante em 2 Cr 24.12 ,13). Desse modo, o
espaço sagrado foi restaurado como o único lugar apropriado para os sacrifícios rituais do culto a Yahweh.
No mundo antigo, a escolha do local para se construir um santuário nunca era arbitrária. As tábuas de Gudea,
do início de 2000 a C., registram um sonho complexo no qual ele recebe instruções a respeito de detalhes precisos quanto ao local, dimensões e posição de um
templo. D esta form a, quando o local adequado era
identificado, a reconstrução sem pre procurava recuperar a planta e a posição originais. Em um a de
suas inscrições, Nabonido, o últim o rei da Babilônia, relata ter reconstruído o templo de Sipar sobre o alicerce lançado por Sargão, quase um século antes, sem
desviar-se um centím etro sequer. A lguns sítios arqueológicos na Mesopotâmia preservam mais de doze
níveis de construção e reconstrução de templos em um mesmo local.
3.3. sacrifícios da m anhã e da tarde. M anter um a
observância contínua dos sacrifícios diários da manhã e da tarde era sinal de completa submissão às regras
do templo. De acordo com Êxodo 29.38-42 e Números28.3-8 (ver os respectivos comentários para informa
ções adicionais), deveriam ser oferecidos dois cordei
ros de um ano como holocausto diário, um cordeiro
pela manhã e um ao final da tarde, juntam ente com um a oferta de farinha, azeite e vinho. Essa prática teve de ser restaurada em duas outras ocasiões (por
joás em 2 Cr 24.14 e Ezequias em 2 Cr 29.7, 27-29),
após um período de abandono ou supressão devido a pressões da Assíria.3.4. Festa das cabanas. Ver os comentários em Êxodo
23.16b; Levítico 23.33-43 e Deuteronômio 16.13-17 para
informações sobre essa importante festa religiosa, cuja celebração também estava associada à dedicação do templo por Salomão (2 Cr 5.3) e à cerimônia de reno
vação da aliança, por Esdras (Ne 8.13-18). Nos três casos, a festa sinalizava um novo começo para o povo,
visto que uma celebração que incluía um banquete representava a comemoração de um acordo ou aliança
(ver o comentário em Gn 31.54).
3.5. Lua nova e outras festas sagradas. Ver o comen
tário em Núm eros 28.1-30 acerca do contexto dessas festas religiosas no calendário israelita (observe tam
bém 1 Sm 20.5). Fica evidente aqui a determinação de novamente regularizar a prática religiosa através da
restauração de todos os rituais sacrificiais anteriormente
celebrados.3.7. comida, bebid a e azeite. O salário-padrão para os
trabalhadores incluía a ração diária de comida, bebi
da e azeite (ver a lista em 2 Cr 2.10). Isso é comprova
do por evidências encontradas em listas de rações da Babilônia, M ari e outras cidades mesopotâmicas (mui
tas listas chegavam a incluir especificamente a quan
tidade de alimento destinada aos trabalhadores livres e aos escravos).
3.7. toras de Cedro lev ad as p elo m ar. D a m esm a form a que W enam om, um sacerdote egípcio do sé
culo onze, negociara a compra de toras de cedro com
o governante da Síria, que seriam transportadas pelo
mar, aqui é feito um acordo semelhante para transportar até o porto de Jope as toras utilizadas na recons
trução do templo (ver o comentário em 2 Cr 2.16 para exemplos adicionais dessa prática).
3.8. cronologia. Assim como no templo de Salomão, a
construção desse segundo templo teve início na primavera, no segundo mês, ziv (1 Rs 6.1, 37). A s obras
começaram no segundo ano da chegada de Zorobabel
ao templo de Deus em Jerusalém, porém, o texto não especifica a data precisa da vinda de Zorobabel. Não
há nenhuma identificação explícita com o período de Sesbazar ou Ciro (embora 4.1-5 possa sugerir um a
relação), em bora esteja sem pre associado a Dario.
Muitos estudiosos acreditam que Esdras 2 se refira a um a outra leva de exilados, que retom aram talvez quinze anos depois da primeira, descrita no capítulo
1. Em conseqüência, fica difícil identificar a que ano se refere "o segundo ano depois de Z orobabel ter
chegado".3.10. im portância dos alicerces. Ver o comentário em
3.3 sobre o significado do alicerce para o lugar sagrado. Além disso, era costume na M esopotâm ia fazer
um sacrifício na fundação e enterrar tábuas ou cilindros contendo a descrição do lançamento do alicerce
pelo rei, como na inscrição de Yahdunlim , o rei de
M ari no século dezenove a.C., que descreve não apenas a construção do templo de Shamás, mas também
a campanha nas montanhas de cedro e no mar M editerrâneo. Os persas geralmente costumavam relançar os alicerces de novos tem plos em lugares tradicio
nalm ente usados para a construção de santuários, o
que é comprovado pela função desempenhada pelo próprio Cambises nas celebrações do lançamento de
um novo alicerce no templo de Neith, no Egito, por volta de 525.
3.10. trom betas e c ím b alo s. Instrum entos m usicais como trom betas, cím balos, liras e harpas eram geral
mente usados para marcar o início de uma procissão que acompanhava certos rituais religiosos (ver 1 Cr 16.5,6;
2 Cr 25.11-13). O som dos címbalos provavelmente era usado para representar o estrondo de trovões ou para
m arcar a hora da procissão. As trombetas serviam para
sin alizar as m ovim entações no cam po de batalha e
anunciar ocasiões de grande importância.3.12. comparação entre o prim eiro e o segundo tem
plo. O esplendor dos templos antigos era baseado em
diversos fatores. Embora o tamanho do templo tivesse alguma importância, o material utilizado na constru
ção e a habilidade dos artesãos eram muito mais im
portantes. Salomão teve acesso a muito mais recursos que a comunidade do pós-exílio (mesmo com o patro
cínio do governo persa) para conseguir material de excelente qualidade. A quantidade de ouro, a quali
dade e o tamanho das pedras e a habilidade dos cortadores de pedra e dos artesãos de m etal deram tal
aspecto ao templo que eliminava qualquer chance do segundo templo poder ser comparado com o primei
ro. A frustração da geração mais antiga não necessari
amente reflete uma obsessão com a aparência do tem
plo, apesar de toda a riqueza e grandeza do edifício,
juntam ente com seus utensílios, representarem uma form a legítim a de honrar a D eus, que habitava no
santuário. O povo se entristeceu diante de sua própria
incapacidade de providenciar acomodações adequa
das ao esplendor compatível com a glória de Deus.
4.1-24A oposição à obra4.1. inim igos dos exilados. Os territórios de Israel e de Judá não estavam desabitados na época em que os exilados retom aram . Os descendentes daqueles que não foram levados para a Babilônia juntaram -se aos que foram levados para esses territórios pelos assírios (2 Rs 17.1-6) formando um grupo com características distintas. O fato do autor do Livro de Esdras classificá- los como "inim igos" indica que provavelmente já teriam ocorrido alguns conflitos (Ed 3.3) e que o oferecimento feito por eles de ajudar a reconstruir o templo não era sincero. De qualquer modo, é provável que a form a com o eles com preendiam o culto a Yahw eh fosse diferente da visão dos exilados (ver 2 Rs 17.33). Isso ajudaria a explicar a resposta ríspida de Zorobabel ao oferecimento de ajuda.4.2. Esar-Hadom nos trouxe para cá. Após a queda da Samaria em 722 a.C., o rei assírio Sargão II ordenou a transferência da nata da população israelita para Haia e para a M édia (ver o comentário em 2 Rs 17.6) colocando no lugar povos de todo o império assírio para reocupar Israel (ver o comentário em 2 Rs 17.24). As deportações posteriores ocorreram sob o governo de Esar-H adom (681-669 a.C., ver o com entário em Is 7.8). Os descendentes desses povos, provavelm ente expulsos de Sidom após a campanha de 676 a.C., são descritos como "inim igos de Judá e Benjam im ", mas no início do período persa eles ainda não eram conhecidos como samaritanos.4.5. de Ciro até o reinado de Dario. O rei persa Ciro reinou até 530, quando foi morto na batalha contra os
massagetas na fronteira nordeste de seu império, sendo sucedido pelo seu filho Cambises, cujo m aior feito foi a conquista do Egito. Entretanto, foi assassinado pouco tempo depois, ocasionando um conflito que culminou na ascensão de Dario, que havia se casado com a filha de Ciro e obtido apoio da maioria da nobreza persa. Dario começou a reinar em 522 e foi durante sua administração (515 a.C.) que o templo de Jerusalém ficou pronto.4.6-23. seqü ência cronológica. A época em que o autor registrou esses acontecim entos seria em torno de 440 a.C., correspondente ao período de Esdras e Nee- mias. Os capítulos iniciais fazem uma retrospectiva dos eventos ocorridos cerca de um século atrás, entre 538 e 518. Ao mencionar a oposição e o atraso provocados pelos opositores no versículo 5, o autor abre um parêntese para narrar a longa história de oposição desde esse incidente inicial até sua própria época, antes de retom ar a história do ponto onde havia parado, ou seja, por volta de 520 a.C.. O que fica claro em toda essa narrativa é a contínua oposição aos desejos dos exilados que
haviam voltado para Jerusalém . Os com entários do autor durante essa digressão fazem com que sua narrativa passe do rei D ario para Xerxes e a seguir para Artaxerxes (o rei n a época em que o texto foi escrito). Xerxes (Assuero) começou seu reinado em 486/485 a.C. e im ediatamente tentou reprim ir as revoltas na Babilônia (essas revoltas tam bém poderiam ter provocado insurreições nas províncias ocidentais, até m esm o em Judá). De qualquer maneira, uma sensação de tum ulto generalizado seria motivo suficiente para atrasar as obras nos projetos de construção de Jerusalém , até o reinado de Artaxerxes (465-424 a.C.), e lançar suspeita sobre os líderes, pelo envio contínuo de cartas acusando os israelitas de deslealdade.4.6. Xerxes. Xerxes (Assuero), o filho de Dario, subiu ao trono persa em 486-485 a.C.. Os primeiros anos de seu re in ad o foram gastos su focand o revo ltas na Babilônia e no Egito. O resultado foi o estabelecimen
to da Babilônia com o um a satrapia separada, sob controle direto do governo persa. Subseqüentemente, X erxes deu continuidade à am bição de seu pai de conquistar os gregos. Seu enorme exército atravessou o Helesponto até o norte da Grécia e conseguiu incendiar Atenas. Porém, a destruição de sua frota na batalha naval de Salamina deixou seu exército sem suprimentos e a morte de seu general M ardônio, em 470, na batalha de Platéia elim inou qualquer chance de vitória. Xerxes ficou conhecido por uma série de pro
jetos m onum entais de construção, m as seu reinado terminou drasticamente, com seu assassinato em 465a.C.. Para m ais inform ações, ver o com entário em Ester 1.1.
4.7. Artaxerxes. Existiram três reis persas com esse nom e; aquele mencionado em N eemias é provavelmente Artaxerxes I (465-424 a.C.), o sucessor de Xerxes I. Um a das poucas referências a esse rei fora da Bíblia pode ser encontrada numa lista de impostos e medidas econômicas ocorridas em seu governo relatadas pelo historiador grego Heródoto. As cidades-Estado gregas, logo após terem derrotado os persas em Salamina e Platéia (480-479 a.C.), aproveitaram ao máximo toda e qualquer oportunidade para m inar a autoridade persa no Oriente Próximo. Portanto, Artaxerxes enfrentou duas revoltas durante seu reinado (ver a nota em Neemias 1.1). Porém, mesmo assim ele conseguiu se manter no trono por quarenta anos.4.7. uso do aramaico. O aramaico pertence ao mesmo grupo lingüístico do hebraico, e já era um a língua importante durante o período assírio (ver o comentário em 2 Cr 32.18), sendo em pregada com o língua diplomática internacional tanto por babilônios como persas. Em bora os docum entos internos fossem redigidos na língua persa (freqüentemente traduzidos
do aram aico), a correspondência de oficiais como Tabeel era em aramaico. Desse modo, os burocratas de todo o im pério tinham um a língua comum para tratar dos negócios do rei (compare ao uso do grego pelos romanos e o atual uso do francês em questões diplomáticas).4.8, 9. títu los usados pelos rem etentes. O título de Reum, traduzido como "com andante", refere-se a um oficial civil com poder de prom ulgar editos ou ordens reais. A função de Sinsai com o "secretário" (sapar) exigia que ele copiasse os documentos oficiais, traduzisse para o aramaico ou alguma outra língua e registrasse os impostos em atas. Esses funcionários podiam ser encontrados em qualquer parte do império, inclusive em Elefantina (uma ilha no Alto Egito), visto que seus serviços eram sempre requisitados por oficiais do alto escalão. Os outros títulos (juizes e oficiais) não são definidos com clareza e provavelmente se referem a membros da comitiva de Reum.4.10. nações que A ssurbanipal deportou e assentou na Sam aria. O texto bíblico não faz nenhum a outra referência a essa deportação feita pelo rei assírio. Porém, os reis assírios lideraram m uitas campanhas com o objetivo de suprim ir as revoltas ou fazer acordos com coalizões de oponentes (tais como a revolta de A sdode em 711 a.C., m encionada em Is 20.1-4). É bem possível que a expedição de Assurbanipal contra a rebelião babilónica em 648 a.C. tenha se estendido até as províncias ocidentais e resultado na deportação de israelitas envolvidos nessa revolta.
4.12-16. tipo de acusação. A referência aos que retornaram pode ser dirigida àqueles que foram para Jerusalém durante o reinado de Ciro e Dario ou ainda àqueles que saíram m ais recentem ente, durante o reinado de Artaxerxes I. A preocupação dos oficiais quanto à reconstrução da cidade parece ser baseada, a partir de experiências passadas, na tradição de que
Jerusalém era um a cidade rebelde e problem ática, cujo povo poderia incitar possíveis revoltas em toda a região. Por outro lado, a verdadeira am eaça talvez fosse um sátrapa rebelde, M egabizo (c. 448 a.C.), que estaria procurando ter Jerusalém como possível aliada. A acusação de que não iriam mais pagar os impostos equivale à traição (uma acusação sem elhante foi feita contra Ezequias nos anais assírios de Senaque- ribe). A descrição exagerada da situação talvez fizesse parte de uma estratégia diplomática para conseguir a atenção do rei e forçar o povo de Jerusalém a ter de pedir perm issão aos oficiais reais antes de iniciar a reconstrução.4.15. arquivos reais. Os arquivos reais se compunham de anais e crônicas. Os anais ou registros reais foram preservados em todo o antigo Oriente Próxim o, sendo
a m aior parte deles proveniente dos reis hititas da metade do segundo milênio e da Assíria e da Babilônia dos séculos nono ao sexto. Os anais continham inscrições reais com relatos detalhados de campanhas militares. Havia também as crônicas da corte que registravam informações dos eventos importantes ocorridos anualmente. Ainda não foram descobertos pelos arqueólogos os anais da Pérsia Aquem ênida, embora provavelm ente a burocracia persa tam bém teria se empenhado em acumular tanto quanto fosse possível os registros oficiais dos assírios e dos babilônios, visto que esses dados lhe dariam um a perspectiva histórica dos povos que agora governava. Assim , é possível que o pedido para que os arquivos reais fossem consultados deva-se ao fato de conterem antigas negociações feitas com Israel e Judá (particularmente nos anais de Sargão II, Senaqueribe e Nabucodonosor) e tam bém eventos recentes registrados pelos escribas persas.4.16. a oeste do E u frates. A região a oeste do rio Eufrates, com exceção da Babilônia, que era uma satra- pia independente, compreendia um a grande província persa controlada por um governador (sátrapa), por subordinados conhecidos como pahat (ver Tatenai em Ed 5.3) e por investigadores reais, os patifrasa. Dentro da satrapia havia unidades administrativas menores, tais como Yehud (Judá), que tinham um governante real escolhido por eles mesmos.4.18. carta fo i traduzida e lida. Em bora o aramaico fosse tuna espécie de língua oficial para as negociações diplomáticas (correspondência, tratados), a língua oficial da corte era o persa. Portanto, quando uma carta era lida para o rei Artaxerxes, o escriba a traduzia do aramaico para o persa para beneficiar o rei e m anter um senso de decoro oficial no círculo mais íntimo da corte.4.24. segundo ano de D ario. Após o interlúdio que trata da oposição à construção dos m uros da cidade, a narrativa agora retoma a questão da reconstrução do templo de Jerusalém, no reinado de Dario. O segundo ano de D ario seria 520 ou o início de 519 a.C.. Nessa época as disputas pela sucessão ao trono após a morte de Cambises haviam se acalmado, e ele pôde então se dedicar a questões como a reconstrução do templo de Jerusalém.
5.1-17 A carta de Tatenai a Dario5.1. Ageu. Dentre os exilados que haviam retom ado estavam os profetas Ageu e Zacarias. Am bos expressaram fervorosamente suas expectativas m essiânicas em relação a Zorobabel como líder do povo e apoiaram a reconstrução do tem plo de Jerusalém . A geu demonstrou particular preocupação com o fato de que
os exilados haviam investido tempo e energia reconstruindo suas vidas e suas casas, enquanto o templo ficou esquecido (Ag 1.2-11). O nom e Ageu é citado várias vezes nos Papiros Elefantinos (mais de um século mais tarde), m as esse fato apenas confirma que era um nome bastante comum naquele período.5.1. Zacarias. O nome Zacarias significa "Yahw eh se lem bra", e tam bém era um nome comum durante e após o exílio. Esse profeta do sexto século é identificado como m em bro de uma importante família sacerdotal descendente de Ido (ver Zc 1.1). Sua m ensagem, tal com o a de Ageu, enfatizava a reconstrução do tem plo de Jerusalém , porém ele tam bém apoiou o crescimento do papel político do sumo sacerdote em comparação ao do governador nomeado pelos persas na província de Judá.5.3. T a ten a i, gov ern ad or do territó rio a oeste do Eufrates. Tatenai era um pahat ou pehu, subordinado ao sátrapa Ustanu. Fontes babilónicas indicam que mais tarde (502 a.C.) ele assumiu as funções de sátrapa. Como oficial local e representante do rei, ele assumiu a responsabilidade de investigar o processo de construção do templo e pedir a confirmação de Dario quanto à legitim idade dessa atividade. Ao receber a confirmação, demonstrou ser um burocrata competente, pois executou eficientemente as ordens do rei (Ed 6.13).5.3. Setar-Bozenai. Se esse é um nome próprio, refere-se a um dos com panheiros de Tatenai (possivelm ente um escriba) que participou da investigação das obras de construção do tem plo de Jerusalém . Tam bém é possível que o nom e seja um título atribuído a Tatenai cujo significado é "chanceler-m or de justiça".5.8. grandes pedras e vigas de madeira nas paredes. H á uma certa divergência quanto ao significado da palavra aramaica traduzida como "grandes pedras".
Alguns comentaristas relacionam essa expressão à raiz da palavra "ro lo" e assim especulam que talvez essas enorm es pedras fossem cortadas de form a a serem roladas até o lugar antes de receberem o formato apropriado para serem encaixadas. Outros estudiosos apontam para um a expressão acadiana, aban galala, que significa pedra de cantaria. As vigas talvez tivessem a função de proteger as paredes contra terremotos ou então im itassem o estilo de construção do templo de Salomão (ver o comentário em 1 Rs 6.36).5.12. D eus dos céus. Ver o comentário em Esdras 1.2.5.12. a destruição de Jerusalém por N abucodonosor. É interessante comparar os argumentos apresentados pelos líderes de Jerusalém em defesa da reconstrução do templo com aqueles encontrados na carta elefantina que solicitava perm issão para reconstruir o templo destruído naquela colônia m ilitar egípcia, por volta de 400 a.C.. Em ambos os casos o "D eu s dos céus" é
invocado, assim como se recorre a argumentos históricos do passado. A argumentação em Esdras justifica a destruição im petrada pelos babilônios como resultado da infidelidade do povo de Judá e da necessidade de um período de purificação (ver Jr 25.8-14). O rei persa foi chamado a participar como instrumento dessa restauração religiosa, assim como seu predecessor Ciro havia sido (ver Is 45.1-3).5.14. Sesbazar. Ver o comentário em 1.11.
6 .1-12 O decreto de Dario6.1. arquivos nos tesouros da B ab ilôn ia . Ver o comentário em 4.15 sobre a preservação de arquivos no império persa. Durante o reinado de Dario, a Babilônia ainda era capital da satrapia do oeste do Eufrates, assim , talvez existisse ali um depósito onde seriam mantidos todos os registros referentes às províncias. Muitos desses registros eram inscrições em tabuletas de argila ou cilindros, em bora alguns fossem papiros ou rolos de couro.6.2. cidadela de Ecbatana. Ecbatana foi a capital dos medos até 550 a.C.. Localizava-se nas montanhas de Zagros, no noroeste do Irã, aos pés do monte Orontes. Após sua conquista por Ciro, tom ou-se a residência de verão dos reis persas, que deslocavam sua corte entre Susa e Ecbatana para usufruir de clim as mais am enos. A pesquisa em busca do registro de Ciro contendo o acordo feito com os exilados israelitas foi feita também nesse arquivo real, visto que nada fora encontrado no centro regional de arquivos da Babilônia. No império persa, esse tipo de documento geralm ente era inscrito em rolos de couro.6.3. dim ensões do tem plo. Os números apresentados aqui geralmente são considerados resultado de uma confusão do escriba, visto que o templo de Salomão tinha apenas vin te e sete m etros de com prim ento, nove metros de largura e treze metros e meio de altura (1 Rs 6.2). Uma vez que esse templo seria construído sobre o alicerce do antigo, deveria ter o m esm o tam anho. Outra possibilidade é que os números registrados no texto do decreto representassem um tamanho ideal ou o m áximo permitido. É curioso notar que Ciro e Dario tenham demonstrado tanto interesse em patrocinar a construção do templo de Jerusalém, visto que não há confirmação (nem n a literatura nem na arqueologia) da importância dos templos para o zoroastrismo, a relig ião da Pérsia A quem ênida. H eródoto igualmente observa a ausência de templos na prática religiosa persa.6.7. reconstrução no antigo local. Um a das tarefas registrada com m ais freqüência nos anais reais da Mesopotâmia era a restauração de templos (por exem-
pio, a restauração feita por Ur-Nammu, em U r III e pelo rei cassita Kurigalzu). Um a vez identificado o local sagrado e usado para fins religiosos, era essencial que fosse mantido sempre dessa forma. Por essa razão, reis como Ciro considerariam as fundações do antigo templo como o único local apropriado para a reconstrução do novo (ver os comentários em 3.3 e3.10). Essa prática também explica por que as nações ou religiões que conquistavam outros povos procuravam construir seus santuários nos locais onde se situavam antigos templos ou igrejas.6.8. pagam ento pela tesouraria do rei. A inclusão das dim ensões do tem plo restaurado (v. 3) refere-se às despesas que seriam pagas pelo governo persa. Talvez fosse cobrada uma taxa especial ou uma espécie de pagam ento do sátrapa da província a oeste do Eufrates, a fim de ajudar a custear o projeto de restauração, mas esses fundos seriam enviados primeiro ao tesouro real e só então distribuídos, de acordo com a necessidade dos empreiteiros de Jerusalém. O projeto também recebeu um selo oficial visto que tinha acesso aos cofres reais. O Cilindro de Ciro (ver o comentário em 1.2-4) não especifica o valor destinado pelo tesouro real aos projetos de reconstrução m encionados ali, em bora escav açõ es fe ita s em d iv erso s lo ca is da Babilônia tenham encontrado tijolos gravados com o nome de Ciro, usados na reconstrução do templo. Isso sugere que o tesouro real financiou o projeto.
6 .9 .10 . provisões para os sacrifícios. A generosidade de D ario refletida aqui é tam bém evidenciada em
inscrições por todo o império. De fato, os egípcios, que se beneficiaram de sua benevolência, o chamavam de "o amigo de todos os deuses". Os animais mencionados aqui são específicos para holocaustos (ver o com entário em Lv 1.3, 4). Talvez as porções de trigo, sal, vinho e azeite, por serem porções diárias, fossem divididas entre os sacerdotes e os trabalhadores da obra, mas também poderiam ser usadas como ofertas. As ofertas de cereais (feitas com azeite e semolina) geralmente acompanhavam outras ofertas, sendo uma parte delas destinada aos sacerdotes oficiantes (a respeito do uso do trigo, azeite e sal nessas ofertas, ver os com entários em Lv 2). Sobre o uso do vin ho em libações, ver o com entário em Levítico 23.12, 13. O historiador Josefo relata a doação aos judeus de recursos para a construção do templo e de elementos para os sacrifícios feita por Antíoco, o G rande, diversos séculos mais tarde.6.10. orar pelo bem -estar do rei. Esse pedido é semelhante a recom endações encontradas no Cilindro de Ciro solicitando aos deuses e presumivelmente a seus adoradores que "recom endassem " Ciro e seu filho ao deus M arduque para que tivessem um a "v id a lon
ga". Em bora esse pedido possa representar apenas o desejo de receber a bênção da divindade, pode tam bém ter como alvo evitar que fossem dirigidas petições aos deuses para derrubar ou am aldiçoar o rei. Heródoto relata que todos os sacrifícios deveriam incluir orações em favor do rei. Os Papiros Elefantinos tam bém mencionam orações em favor de um oficial persa, no caso dele ajudá-los a reconstruir um templo. A preocupação do rei com a prática religiosa de seus súditos é com provada pelo D ecreto de Xantos, um docum ento da Lícia (atual Turquia), datado de 358а.C. formalizando o apoio persa ao culto local, abordando algumas questões semelhantes às encontradas nesse decreto de Dario.б.11. castigo por desobedecer ao decreto. Os tratados e decretos reais geralm ente incluíam um a maldição ou cláusula ameaçando punir a quem desobedecesse as condições prescritas pelo documento. É possível comparar o juram ento de Josué amaldiçoando aqueles que tentassem reconstruir Jericó, em Josué 6.26 e a maldição contra qualquer príncipe que substituísse o portão construído pelo rei Azitawada de Karatepe com essa cláusula final. Um a afirmação semelhante aparece também no epílogo do Código de H am urabi, responsabilizando os futuros governantes a garantir justiça ou enfrentar um a maldição dos deuses. A punição do em palam ento é ilustrada em relevos assírios de Láquis e m encionada em diversos arquivos reais. A prática era em palar o corpo da vítim a num a estaca pontiaguda, em local público. O em palam ento era praticado na Pérsia, como na execução de Inaros (líder de uma revolta líbia) ordenada por Amestris, durante o reinado de seu filho, Artaxerxes. A vítima era privada de um enterro adequado, tendo seu corpo devorado por aves e insetos. Uma inscrição de Dario inclui a seguinte maldição: "A o que apagar essas palavras, que seja morto e tenha sua casa destruída por Ahura M azda", enquanto uma outra dizia "Tudo que fizeres, que Ahura Mazda faça recair sobre ti".6.12. m aldição em nom e do deus local. V isto que m uitos povos do mundo antigo acreditavam que os deuses estavam circunscritos a certos lugares e povos, seria adequado que a divindade local supervisionasse os eventos ocorridos em sua "jurisdição".
6.13-22Término da obra, dedicação do templo e celebração da páscoa6.15. data do térm ino da obra. Um evento importante como o término das obras de reconstrução do segundo templo exigia um cuidadoso registro. A data apresentada situa o acontecimento no mês de adar, o décimo segundo mês do calendário babilónico, que
corresponderia aos meses de fevereiro/março. O sexto ano de Dario seria 515 a.C., e o terceiro dia do mês de adar situaria a conclusão da obra em 12 de março de 515. Deve-se observar que 1 Esdras 7.5 e Josefo situam o evento no dia vinte e três de adar, data que muitos estudiosos têm preferido pelo fato do dia três ter sido um sábado.6.17. sacrifícios com parados com 1 R eis. Ver o comentário em 2 Crônicas 7.5-7 sobre a dedicação do templo de Salomão. O número dos animais sacrificados na cerimônia de dedicação do segundo templo é muito menor que na época de Salomão (1 Rs 8.63): 22 mil touros versus cem touros; 120 m il ovelhas versus 200 carneiros e 400 cordeiros. A oferta pelo pecado de doze bodes segue o ritual sacerdotal (Lv 4.22-26; ver o comentário em Lv 4.13-32) e encaixa-se à tentativa de Esdras de restabelecer a idéia de um a coalizão das doze tribos, tom ada possível através da experiência do exílio, preparando-as para retom ar o relacionamento de aliança com Yahw eh em Judá e Jerusalém.6.19. Páscoa. O texto bíblico não menciona nenhuma celebração da Páscoa desde a época de Josias (cem anos antes; ver o comentário em 2 Cr 35.18). Agora, como parte do processo de renovação e restauração da com unidade judaica em Judá, esse ritual (ver o comentário em Êx 12.1-28), comparável à libertação da servidão experim entada pelos exilados, deveria ser reinstituído. O décimo quarto dia de nisã (o primeiro mês) é baseado no calendário religioso (Êx 12.2-6; Lv 23.5). Observe que as celebrações anteriores da Páscoa acom panhavam a purificação ou renovação do templo (ver comentários em 2 Cr 30).6.21. todos os que haviam se separado das práticas impuras dos gentios. Esse grupo designado como "gentios" pode ser interpretado de diversas maneiras. É possível que fosse formado por remanescentes do reino do norte ou habitantes de Judá que não haviam sido levados para o exílio (ver 2 Cr 30.17-21). Durante o período do exílio, o contato com não israelitas seria considerado um a contaminação, portanto, esse remanescente teria conscientemente se separado deles. Tam bém é possível que a cerimônia da Páscoa, como em Êxodo 12.48, fosse estendida a prosélitos (gerim) que haviam se convertido à adoração exclusiva a Yahweh.6.22. festa dos pães sem ferm ento. Ver os comentários em Êxodo 12.14-20 e Levítico 23.6-8. Visto que a celebração dessa festa também está ligada à celebração da Páscoa efetuada por Ezequias (2 Cr 30.13) e por Josias (2 Cr 35 .16 ,17), seria apropriada a esse contexto. A alegria expressa nessa celebração de sete dias resultou da ação de Deus em "m udar o coração do rei da Assíria" (um símbolo para os governantes persas da Mesopotâmia), tornando a restauração possível.
7.1-28A chegada de Esdras com a comissão de Artaxerxes7.1, 7, 8. cronologia. Se esses eventos aconteceram durante o reinado de Artaxerxes I, então o sétimo ano desse rei teria sido 458 a.C., aproxim adam ente sessenta anos após os eventos descritos no capítulo anterior. A data da partida desse grupo de exilados corresponde ao primeiro dia de nisã (8 de abril) e sua chegada em Jerusalém ao primeiro de ab, o quinto mês (4 de agosto). Nessa época do ano, entre a primavera e meados do verão, o clima quente e seco tom ou necessário seguir um a rota pelo norte para evitar o deserto, assim como um cuidadoso planejamento para garantir reservas de água aos viajantes.7.1-5. genealogia de Esdras. Esdras precisava ser reconhecido como alguém com as credenciais apropriadas para que sua missão fosse aprovada e suas ações reconhecidas como lei. Ao contrário de Jesua (ver o com entário em 3.2) o texto não sugere que Esdras tenha sido um sumo sacerdote, mas sua inclusão na genealogia de Arão (que apresenta apenas dezesseis gerações entre Arão e Esdras; para uma lista completa, ver 1 Cr 6.5-53) revela a importância de seus ancestrais. O texto indica que ele provavelmente seria descendente de Seraías, sumo sacerdote na época da destruição do templo em 586 a.C.. Visto que Jesua não é mencionado nessa genealogia, talvez ele pertencesse a uma linhagem distinta de Seraías ou então seria um outro Seraías (um nome comum naquele período).7.6-12. as habilid ad es de Esdras. Esdras é descrito como alguém com uma série de atributos, a maioria deles relacionada à sua habilidade com o escriba e mestre da lei do Senhor. Como escriba, é bem provável que Esdras tenha sido um funcionário do governo persa. Era bastante comum nos governos do antigo Oriente Próximo em pregar pessoas capacitadas não apenas como secretários e escriturários, mas também como diplom atas e advogados. Essas pessoas eram usadas para traduzir documentos na língua dos povos conquistados ou aliados, ou enviadas em missões de investigação para auxiliar o rei e seus conselheiros a tom ar alguma decisão (para mais informações, ver o comentário em N e 8.1). Como exemplo podemos citar o escriba assírio do sétimo século, Ahiqar, e a descrição da profissão de escriba no texto egípcio "Sátira dos O fícios", do M édio Império Egípcio, em que essa profissão é louvada como digna e honrosa, com benefícios que superam outras funções.7.8. jornada de quatro m eses. Como geralmente ocorre no texto bíblico, os eventos ocorridos durante longas jornadas não são narrados (ver G n 12.1-9). Visto que partiram em abril e chegaram no início de agos
to, foi um a cam inhada difícil devido ao calor e ao clima seco. É provável que tenham seguido a rota das caravanas, ao norte (aproximadamente 1400 quilômetros), até o Eufrates, talvez fazendo um a curva para o oeste em M ari, até Tadm or, e dali para o sudoeste passando por Damasco até chegar na Palestina. Considerando o tam anho do grupo, incluindo fam ílias inteiras, é provável que conseguissem percorrer uma média de 16 quilômetros por dia.7.14. sete conselheiros do rei. De acordo com o relato de Ester 1.14 e informações registradas pelos historiadores Xenofonte e Heródoto, os reis persas contavam com um grupo de sete príncipes ou conselheiros que form avam um conselho privado. Seria norm al que uma comissão de investigação fosse enviada, como essa designada a Esdras, em nom e do rei e de seus conselheiros.7.14. a natureza da comissão. Os reis persas demonstravam grande interesse em que os povos sob seu dom ínio m antivessem o favor de seus respectivos deuses. Restaurar templos era uma das maneiras de alcançar esse objetivo, assim como obedecer às ordens divinas. Se o Deus de Israel se agradava com a obediência do povo às suas instruções, então elas deveriam ser cum pridas. Era necessário colocar pessoas para instruir e ensinar as leis ao povo, bem como monitorar e garantir o cum prim ento das m esm as. Portanto, a m issão de Esdras era determ inar se os ju deu s que habitavam a província persa de Yehud (Judá) estavam obedecendo à lei prescrita na Torá. M uitas pessoas dessa província tinham enviado queixas e acusações ao rei persa, sugerindo que fosse feita um a investigação sobre o assunto. Como escriba, Esdras era capacitado para conduzir essa m issão e fazer os julgamentos corretos acerca do cumprimento da lei do Senhor. Dessa maneira, o rei persa empregou um membro do próprio povo dominado (exatamente como aconteceu com Neemias) para assegurar a aprovação divina sobre seu império e evitar a ira de Deus (ver v. 23).7.15-17. ofertas dos persas a Yahw eh. Os reis persas
costumavam oferecer sacrifícios públicos a divindades locais como demonstração de respeito e também procurando obter vantagem política, acalmando os ânimos do povo recém-conquistado (como as atitudes de Ciro para com M arduque, encontradas no Cilindro de Ciro). A lista de animais oferecidos em sacrifício, além das ofertas de cereais e bebida (ver N m 15.2-10) sugere que foram consultados especialistas judaicos durante a elaboração do decreto persa. Tal prática é evidenciada durante o reinado de Cambises (530-522).
Um sacerdote egípcio de Saís, Uzahor, desempenhou um im portante papel atraindo o interesse do rei na restauração do santuário de N eith e supervisionando
o processo de reconstrução. Essa reforma incluiu lançar os alicerces, restabelecer os rituais e as festas religiosas e obter fundos do governo para financiar o funcionamento do templo.7.22. quantidades fornecidas. A lista de produtos fornecidos por Artaxerxes a seus oficiais das províncias é limitada a uma certa quantidade, m as ainda assim os núm eros são espantosamente elevados: três toneladas e m eia de prata, cem tonéis de trigo, dez barris de vinho, dez barris de azeite de oliva e sal à vontade. Essas quantidades não foram calculadas com base naquilo que era necessário para o funcionam ento do templo, e sim, como o versículo seguinte sugere, como o necessário para aplacar a ira do Deus de Israel.7.23. m entalidade teológica. N a m entalidade do m undo antigo, se a ira de D eus não fosse aplacada, facções rebeldes em Israel poderiam afirmar que suas ações contra a Pérsia eram instigadas por Yahweh. Na época de Esdras, havia diversos pontos de revolta em todo o império persa. Inaro, um líbio, havia tomado o controle do Egito em 460 e encontrara apoio imediato
da frota ateniense no M editerrâneo. Essa revolta foi esm agada por M egabizo, entre 456 e 454, de modo que a viagem de Esdras (458) aconteceu no auge desse conflito. Ao demonstrar grande respeito por Yahweh, pelo templo e pelos seus sacerdotes, Artaxerxes deu continuidade à política persa (Cilindro de Ciro), reconhecendo o poder do Deus dos céus e acrescentando um caráter de urgência ao decreto com a expressão: "que se faça com presteza".7.24. fu ncion ários do tem plo isentos de im postos. Talvez tenha havido um propósito duplo nessa isenção de impostos. Esdras iria enfrentar um contexto em que era um desconhecido, além de sua presença estar associada a um poder estrangeiro. A isenção de impostos e taxas o ajudaria a obter algum apoio da comunidade do templo de Jerusalém. Um precedente para essa prática dos persas pode ser encontrado na inscrição de Gadatas, durante o reinado de Dario, que concedeu isenção de impostos aos sacerdotes do deus grego Apoio.7.25. nom eação de oficiais. Parece bastante apropriado que Esdras tivesse autoridade para nomear m agistrados e juizes em sua área de jurisdição. Desse m odo ele não teria de enfrentar oposição judicial e poderia assegurar uma estrutura política comum (ver a reform a judicial de Josafá em 2 Cr 19.4-11). A estrutura administrativa persa era constituída por dois grupos de oficiais - um para questões locais e ordinárias e outro encarregado de executar decretos e estatutos reais. É possível que Esdras tivesse autoridade para nom ear esses oficiais em toda a satrapia do oeste do Eufrates, mas, considerando-se a referência às "leis de
seu D eus", o m ais provável é que seu m aior interesse fossem os m agistrados locais, que estariam lidando com a lei judaica em toda a província.7.26. autoridade para punir. Visto que Esdras estava agindo sob a égide e com poder concedido pelo governo persa, a lista de punições é semelhante ao código penal persa. A pena capital e o confisco de bens tam bém aparecem na lei israelita, m as não há menção a encarceramento, além de prisão domiciliar (Lv24.12), exceto para prisioneiros de guerra e aqueles m antidos em custódia por razões políticas (Jr 37.1116). A melhor tradução para a palavra "exílio" nesse contexto seria "açoite" ou "castigo corporal", baseada em seu uso comum na lei persa. O direito de punir indica a seriedade da missão de Esdras, quer ele tenha ou não sido forçado a exercer esse poder.
8.1-36Esdras lidera o retorno a Jerusalém8.2-14. comparação entre os grupos que retom aram . A lista completa do núm ero de hom ens que faziam parte do grupo que voltou com Esdras foi de 1.513. Acrescentando-se a esse núm ero a quantidade comum de mulheres e filhos, daria um total de 5 m il pessoas, de forma que esse grupo representaria um sétimo da quantidade de pessoas do prim eiro grupo, alistado em Esdras 2.64, 65 (42.360).
8.15. canal de A ava. Provavelm ente seria um dos m uitos canais que flu íam do rio Eufrates perto da Babilônia (pelo menos num raio de 140 quilômetros), ou então algum povoado situado ao longo de um desses canais, m as as variações nas fontes (LXX; 1 Esdras 8.61 apresenta Theras como o local) tom am a questão confusa. Como resultado, o local exato ainda é desconhecido.8.17. C asifia . Se Casifia refere-se a um local, então seria nas proxim idades de Aava, m as nenhum dos dois lugares foi identificado, além do fato de estarem situados no norte da Babilônia. Também é possível, com base na interpretação da Septuaginta, que o termo seja um substantivo (uma variante do hebraico kesep, "prata") indicando que Ido era um tesoureiro ou líder de uma corporação de artesãos da prata.8.20. servidores do tem plo. Além dos 38 levitas que foram persuadidos a se unir ao grupo de Esdras, duzentos servidores do templo também foram arrolados. A importância desses indivíduos como assistentes dos levitas não deve ser ignorada. Com um núm ero tão pequeno de levitas disponíveis, esses servidores seriam essenciais para a realização adequada dos rituais, visto que havia muitas tarefas de limpeza e m anutenção do templo a serem feitas. Esdras legitima a citação deles nessa lista mencionando seus ancestrais.
8.21. je ju m . Há poucas evidências da prática do jejum no antigo Oriente Próximo fora da Bíblia. Geralmente era usado em situações de luto. No A ntigo Testam ento, o je jum estava geralm ente relacionado a um pedido dirigido a Deus, baseado no princípio de que a importância do pedido fazia o indivíduo relegar suas necessidades físicas a segundo plano. Nesse aspecto o ato de jejuar funcionava como um processo de purificação e hum ilhação diante de D eus (SI 69.10). Conform e o texto indica, os judeus estavam preocupados com sua segurança, de m odo que o pedido deles era no sentido de buscar a proteção de D eus para que a viagem pudesse ser realizada com a aprovação divina.8.21-23. risco de serem assaltados. Visto que o grupo
de Esdras estaria viajando sem a proteção de um a escolta m ilitar (compare com a comitiva de Neemias em N e 2.9), os perigos da estrada eram um problema sério. Disputas políticas estavam perturbando o equilíbrio na região ocidental do Império da Pérsia, além disso, um grupo transportando grandes quantidades de ouro e prata poderia facilm ente ser assaltado e destroçado por um bando de criminosos.8 .26 ,27 . quantidade. Ao pesar e registrar os presentes doados pelo rei persa, Esdras estava cum prindo uma parte de sua missão. Os 650 talentos de prata equivaliam a 22.750 quilos de prata, enquanto os cem talentos de ouro totalizavam três toneladas e m eia de ouro. Cada tigela de ouro pesando m il dáricos equivalia a oito quilos e meio. Em bora esses valores sejam extrem am ente elevados, incluem os presentes reais e tam bém as doações das fam ílias dos israelitas exilados.8.31. duração da viagem . A partida se deu no mês de abril, impedindo que a viagem fosse feita diretamente pelo deserto (aproximadamente 800 quilômetros). Portanto, os viajantes seguiram por um a rota m ais longa, ao norte, até o Eufrates e dali rum aram para o oeste até Damasco, dirigindo-se então para a Palestina (aproximadamente 1.400 quilômetros). Ver os com entários em 1.11 e 7.8.8.35. sacrifícios. Ver o comentário em Esdras 6.17 a respeito dos sacrifícios de dedicação do segundo templo. O rei persa havia ordenado que os sacrifícios fossem oferecidos quando os exilados voltassem para Jerusalém (Ed 7.17) e Esdras agora está executando essas ordens. A menção à "oferta pelo pecado" como em Esdras 6.17, é um a indicação a mais da necessidade de purificar cada grupo que voltava do exílio.
8.36. sátrapas e governadores. O im pério persa era dividido em vinte e uma satrapias (vinte e duas depois que a Babilônia tom ou-se uma província separada). Cada um a delas era administrada por um governador ou sátrapa. Entretanto, considerando a enorme dimensão de algumas dessas províncias, era necessá-
rio um grupo de oficiais secundários, conhecidos como peha, para ajudar a fazer o recolhimento dos impostos e assegurar a execução dos decretos reais (ver o comentário em 5.14).
9.1-15A questão dos casamentos mistos9.1, 2. natureza da acusação. Esdras rapidamente foi informado de uma séria violação da Lei: o casamento dos israelitas com mulheres dos povos vizinhos, prática que colocava em risco a identidade cultural e religiosa de Israel. A endogamia, ou casamento dentro de um grupo seleto (que incluía os convertidos ao judaísmo), se tornara um dogma para a comunidade dos exilados (ver o comentário em 9.10-12). Eles perceberam que o casamento com pessoas de outros povos criaria divisões culturais e enfraqueceria sua identidade religiosa como povo separado e "escolhido". O que tom ava essa acusação ainda m ais vergonhosa erao fato de que os sacerdotes e os levitas, que deveriam conhecer a Lei (compare com Os 4.6), também estavam participando dessa prática "desleal".9.1. re lação de povos estrangeiros. Os povos não israelitas mencionados nesse versículo representam o padrão populacional desde a época da conquista (quando os israelitas foram encarregados de expulsá-los), incluindo alguns que haviam maltratado os israelitas durante o êxodo (Dt 23.3-6). Dessa forma, referem-se ao período correspondente à lei citada por Esdras e não ao período pós-exílio. Vários desses povos não mais existiam na época de Esdras. O objetivo da lista, então, não é focalizar esses povos especificamente, e sim identificar certas categorias. No contexto pós-exílio, alguns povos podiam ser identificados como aqueles que precisavam ser expulsos e outros como inimigos dos judeus. Q ualquer povo que se ajustasse a um a
dessas categorias, portanto, não seria adequado para casamento.9.3. a reação de Esdras. A reação inicial de Esdras diante das acusações da mistura do povo israelita com povos pagãos é demonstrada através de rituais tradicionais de luto: rasgar as roupas e arrancar os cabelos.
Essas práticas eram comuns em todo o antigo Oriente Próximo e representadas em pinturas de túmulos egípcios e na literatura (Lenda Ugarítica de Aqhat). Para inform ações adicionais sobre rituais de luto, ver o comentário em Ester 4.1.9.10-12. o pecado da exogamia. Em bora a proibição contra a exogamia, ou seja, o casamento com membros de outras tribos, seja baseada em Deuteronômio7.1-5, essa citação na verdade é um resumo de várias passagens de Levítico e Deuteronômio. Era costume entre as sociedades do antigo Oriente Próximo que o
casamento fosse realizado dentro do clã (endogamia) ou então acertado entre grupos amigos como um tipo de aliança. Atitudes culturais desencorajando a exogamia podem ser vistas desde o tempo dos sumérios.0 mito "O Casamento de M artu" descreve os beduínos como bárbaros que comiam carne crua e não enterra
vam seus m ortos - um grupo com quem nenhum povo civilizado deveria se misturar através do casam ento. Os israelitas receberam a ordem de se casar apenas com pessoas do seu próprio clã "espiritual" (isto é, de adoradores do Senhor). Aqui nesse contexto, porém, algumas questões haviam se tom ado mais importante do que m anter a homogeneidade espiritual. A posse da terra era um a questão teológica importante relacionada à eleição e à aliança firmada com Yahw eh. O casam ento m isto am eaçava a posse da terra e, com ela, os benefícios da aliança. Os textos e lefantinos (textos ju d eu s sep arados de Esdras e N eem ias por pouco m enos de cinqüenta anos) demonstram como a terra foi redistribuída e emancipada e muitas famílias judaicas perderam suas propriedades devido aos casamentos com mulheres estrangeiras. O casamento com pessoas dos povos vizinhos contaminava culturalmente os israelitas, enfraquecia sua identidade religiosa como povo separado por Deus e violava as condições da aliança que lhes garantia "com erem das coisas boas que há na terra" (Dt 6.11).
10.1-44A solução para o problema dos casamentos mistos10.3. divórcio no período persa. Não havia nenhuma exigência específica na lei judaica para que um hom em se divorciasse de sua esposa estrangeira. De acordo com a legislação deuteronômica (Dt 7.1-5), esse tipo de união não deveria sequer ocorrer. As informações a respeito do divórcio no período persa podem ser encontradas nos docum entos judaicos de Elefantina. Os contratos de casamento muitas vezes incluíam cláusulas que estipulavam a disposição do dote, o preço da noiva, propriedades e filhos n a eventualidade de um divórcio. Aparentemente o divórcio era algo comum e bastante simples, e a maior preocupação era suas im plicações econômicas. Em Elefantina, não era necessário apresentar um motivo para justificar o divórcio.10.8. confisco dos bens e expulsão da comunidade.Um período de três dias foi suficiente para todos os cidadãos comparecerem a Jerusalém e responderem pela prática do casamento misto. Os bens confiscados e destinados ao templo (visto também no Livro apócrifo1 Esdras 9.4) e a expulsão da com unidade israelita eram punições que se complementavam, visto que a
participação na comunidade garantia o direito de posse ao cidadão (observe a pena de m orte em 2 Cr15.13). O crime era considerado violação da aliança e sinal de deslealdade para com a comunidade. Desde os tempos do Código de Hamurabi, os crimes sexuais podiam resultar na sentença de exílio. Em ambos os casos, os crimes envolviam atividade sexual inadequada e violação de normais sociais.10.9. cronologia. Esse evento ocorreu no vigésim o dia de quisleu (o nono m ês), na terceira semana de dezembro, do ano 458 a.C., apenas quatro meses após a chegada de Esdras. As fortes chuvas e o frio em Jerusalém nessa época do ano certamente teriam tornado a assembléia bastante desconfortável. O abatimento associado às emoções decorrentes da dissolução de seus casamentos combinava com o clima ruim.10.13. estação das chuvas. A estação fria e chuvosa em Judá e Jerusalém vai de outubro a fevereiro. O termo aqui é geralmente usado para descrever chuvas torrenciais. Não raro, a temperatura chega aos 5 graus nessa época do ano. É possível que a realização de um a assem bléia em praça aberta durante a estação das chuvas no final de dezembro (dia 19) abatesse os ânimos dos homens o suficiente para torná-los dispostos a se comprometerem e a aceitarem a solução de
Esdras para a questão do casamento misto. Entretanto, o desconforto provocado pelo frio e pela chuva tam bém pode ter exacerbado os ânim os, principalm ente se os homens permaneceram longo tempo de
pé naquelas condições climáticas. Transferir a questão para ser decidida por um a com issão de líderes, ao menos os livraria daquela situação desconfortável.10.16,17. cronologia. Foram necessários dez dias para reunir a comissão, que iniciou seus trabalhos no primeiro dia do décimo mês (tebet) e continuou até o primeiro dia do primeiro mês (nisã). Assim, a tarefa exigiu que eles investigassem os casos de casamentos com m ulheres estrangeiras desde o final de dezembro até o final de m arço (27 de março de 457 a.C.; cerca de setenta e cinco dias).10.16, 17. m otivo da investigação. A questão a ser investigada era se as esposas de 110 israelitas eram de fato não israelitas. Certamente ocorreram muitas dúvidas em relação a questões de genealogia e a quais povos as novas disposições legais estariam se referindo. A lista dos que foram investigados incluía sacerdotes, levitas, cantores, porteiros e pessoas sem nenhuma relação com a comunidade do templo. Visto que muitos desses homens eram pessoas influentes, a comissão precisaria agir com muita diplomacia para desempenhar sua tarefa. Cada caso foi cuidadosamente analisado, incluindo a questão dos filhos resultantes desses casamentos, visto que afetava os padrões de herança dentro da comunidade. A seguir, cada um
deles comprometeu-se (ver 1 Cr 29.24) a abandonar a esposa e a deserdar os filhos resultantes desse casamento. Além disso, foi determinada um a oferta adequada pela culpa (ver Lv 5.14-26).
N E E M I A S
1 .1-11 A oração de Neemias1.1. N eem ias. Neemias ocupava a importante função de copeiro do rei da Pérsia durante o reinado de Artaxerxes I (465-424 a.C.). Nessa época eclodiu uma revolta no Egito (460 a.C.) que só foi sufocada após
cinco anos de conflitos. Megabizo, um sátrapa do norte da M esopotâmia, também se rebelou em 448 a.C.. Portanto, esse foi um período turbulento na vida do império. Por causa disso, é possível presumir que os
persas estivessem dispostos a se aliar aos grupos minoritários dentro do império, tais como os judeus. Assim, é plausível que judeus como Neemias ocupassem cargos importantes dentro do império.1.1. quisleu. Quisleu era o nome do mês hebraico do
período pós-exílio correspondente a novem bro/dezembro. Os judeus aparentemente passaram a seguir o calendário mensal babilónico após serem deportados para a Babilônia, no final do sexto século a.C., e
continuaram a empregar esse sistema até o período persa.
1.1. cron olog ia . N ão se sabe ao certo qual seria o referencial para esse "vigésim o ano". Pode referir-se
ao vigésim o ano de N eem ias em Susã, m as o mais provável é que se refira ao vigésimo ano do reinado
de A rtaxerxes I (465-424 a.C .), cujo nom e sim plesmente foi omitido (ver 2.1). Se for esse o caso, então seria o ano de 445 a.C..
1.1. cidade de Susã. A cidadela de Susã era a residência de inverno dos reis persas. Ficava separada do restante da cidade de Susã, numa área bastante ocupada no passado, sendo habitada desde o quarto milênio a.C.. Mais tarde, Susã pertenceu aos elamitas até ser conquistada pelos medos e persas, no sétimo século a.C.. A cidadela de dez acres localizava-se numa
área elevada na parte norte da região, a Apadana. O palácio foi construído por Dario e usado por vários de seus sucessores. Escavações no palácio identificaram diversas características arquitetônicas, incluindo um salão de audiências, onde os reis persas presidiam julgamentos. O palácio era uma construção quadrada com m ais de cem m etros de cada lado, no qual se destacavam setenta e duas colunas de pedra com cerca de 20 a 25 metros de altura. A Grande Susã, localizada 360 quilómetros a leste da Babilônia, foi construída sobre três colinas que davam vista para o rio Shaur. A
elevação em forma de losango tinha cerca de quatro
m etros de circunferência e estendia-se por aproximadamente 250 acres. Um a área adicional de vinte acres compreendia o quarteirão do mercado, além do vale, a leste.I .2 , 3. condição de Jerusalém . Jerusalém permanecia
em ruínas desde sua destruição por NabucodonosorII, 140 anos atrás. Um a cidade cujos muros e portas
haviam sido derrubados ficava completamente vulnerável à invasão e agressão externa. O Livro de Esdras descreve uma tentativa anterior de restaurar os m u
ros, durante o reinado de Artaxerxes I (cerca de 458a.C.) que acabou fracassando. Assim, aparentemente,
esses homens estão descrevendo essa empreitada mais recente que não deu certo. Alguns estudiosos suge
rem que houve um a ação persa contra Jerusalém durante o reinado de Xerxes, mas as evidências são escassas, em bora haja confirm ação de conflitos entre persas e gregos na região sul do Levante.
1.4. a reação de N eem ias. A reação de Neemias expressa a atitude típica de um judeu ao enfrentar uma
tragédia (ver Ed 9.3-5). Freqüentemente, junto com o pranto, a pessoa demonstrava seu pesar rapando o cabelo e a barba. Era comum acrescentar à oração a prática do jejum , para que o indivíduo se concentrasse
exclusivam ente nas questões que o afligiam , ainda que isso prejudicasse seu físico.1.4. "D eu s dos céu s" no zoroastrism o. A expressão
"D eus dos céus" era bastante comum no império persa e passou a fazer parte da linguagem relig iosa dos
judeus. O termo também é encontrado na correspondência judaica dos textos de Elefantina, no Egito, que datam do quinto século a.C.. É provável que o termo tenha se originado de Zoroastro, um santo iraniano que teria vivido no final do segundo m ilênio a.C., embora a data exata seja motivo de controvérsias. O zoroastrism o passou a ser a religião oficial dos reis persas na época de Dario I (521-486 a.C.). Seus seguidores adoravam o "D eus dos céus", conhecido pelo nome de Ahura M azda, um ser eterno com propósitos morais. Eles também reconheciam a existência de uma divindade do mal oposta a Ahura M azda e com poder
equivalente. Neemias, porém, não hesita em atribuir esse título familiar a Yahweh.1.11. copeiro. Nas cortes do antigo Oriente Próximo o
copeiro ocupava um a posição m uito importante com
acesso direto ao rei, portanto exercendo grande influência. H á inúm eros textos e relevos descrevendo copeiros nas cortes assíria e persa. O copeiro geralmente estava próximo ao harém do rei, por essa razão esse cargo era muitas vezes exercido por um eunuco, embora não se possa dizer que fosse o caso de Neemias. Fontes posteriores identificam o copeiro como a pessoa que provava o vinho servido ao rei. Além disso, ele era responsável pelo anel com o sinete real e o oficial-mor das finanças.
2 .1-10 Neemias é enviado a Jerusalém2.1. nisâ. O mês hebraico de nisã corresponde a m eados dos meses de março e abril. Nisã trazia consigo as prim eiras chuvas e também as colheitas da cevada e do linho. Esse nom e foi tom ado em prestad o dos babilônios durante o cativeiro dos israelitas, sendo chamado anteriormente de mês de abibe.2.1. A rtaxerxes. Existiram três reis persas com esse nom e. O rei m encionado em N eem ias é provavelmente Artaxerxes 1 (465-424 a.C.), o sucessor de Xerxes 1. N ão há in fo rm açõ es sobre esse re i em fon tes extrabíblicas. O historiador grego Heródoto descreve uma lista de impostos e algumas m edidas econômicas que ocorreram durante o reinado desse rei. As cida- des-Estado gregas, logo depois de terem derrotado os persas em Salam ina e Platéia (480-479 a.C.), fizeram uso de toda e qualquer oportunidade para m inar a autoridade persa no Oriente Próximo. Portanto, Artaxerxes enfrentou duas revoltas durante seu remado (ver a nota em N eem ias 1.1). A pesar de enfrentar oposição, ele conseguiu se m anter no trono por quarenta anos.2.1. atitude dos m em bros da corte perante o rei. Emrelevos persas, os cortesãos são retratados muitas vezes com as m ãos protegendo a boca, a fim de não ofenderem o rei respirando sobre ele. Não se sabe se essa m edida era decorrente da preocupação com a saúde do rei (improvável), da predominância de mau hálito ou simplesmente extrema deferência. Seja como for, as expressões faciais eram de certa forma mascaradas. Esperava-se que os membros da corte expressassem alegria por servirem na presença do rei, e deixassem essa atitude visível em cada rosto.2.5. reconstruir a cidade onde os pais estavam enterrados. Os laços de fam ília tinham um a importância enorm e na m aioria das culturas do antigo Oriente Próximo. Os membros de um a família tinham de dedicar rigorosa atenção na preservação dos restos mortais dos parentes falecidos. Nas culturas antigas, isso im plicava a realização de rituais que garantiam e proviam o sustento dos mortos. Aparentemente, su
punha-se que eles tinham uma existência consciente após a morte. José implorou à sua família que levasse
seus ossos de volta para Canaã quando saíssem do Egito e Neemias estava preocupado com a preserva
ção do túmulo de seus pais.2.6. rainha sentada ao seu lado. Há inúmeros exemplos na iconografia do antigo Oriente Próximo da ra
inha sentada ao lado do rei, geralmente em seu próprio trono. Muitos estudiosos argumentam que as ra
inhas exerciam forte influência na corte persa desse período, com base nos escritos do historiador grego
Heródoto. A esposa de A rtaxerxes era Damaspia, mas é possível que o trono fosse ocupado pela rainha-mãe,
Amestris, conhecida por sua personalidade forte (ver
o comentário em Et 5.3) e desempenhando um papel ativo até 449; talvez ainda estivesse viva nessa época.
2.6. duração da viagem (distância e tempo). É provável que Neemias tenha seguido um a rota mais longa
de Susã a Jerusalém, indo pela estrada real persa até
o norte da M esopotâm ia e dali para o oeste, até a região siro-palestina. A distância percorrida seria de
aproximadamente 1.400 quilômetros, que levaria cer
ca de quatro meses para ser coberta. Foi essa a duração da viagem de Esdras quando foi da Pérsia para
Jerusalém (ver o comentário em Ed 7.1).
2.7. governadores do Trans-Eufrates. O termo usado aqui para "governadores" pode referir-se ao gover
nador distrital de um a pequena província ou a um sátrapa, o governador regional do império persa. O
im pério era dividido em várias satrapias governadas
com grande eficiência e desfrutando de certo grau de
autonomia. Os governadores do Trans-Eufrates controlavam a área norte da M esopotâmia, na região da
Arm ênia e da Geórgia.2.7. cartas para passar em segurança. V isto que o
objetivo de Neemias era político, poderia temer uma certa hostilidade por parte dos oficiais persas locais.
Talvez ele tam bém estivesse preocupado por causa
dos distúrbios em diversas partes do império (ver o
comentário em 1.1). Documentos aramaicos do quinto século preservaram um a dessas cartas. A principal
função delas era instruir os oficiais regionais a suprir
os viajantes com provisões dos armazéns reais.2.8. guarda da floresta do rei. O guarda da floresta do
rei tinha um nom e hebraico (Asafe). A floresta provavelm ente ficava no Líbano (que os persas haviam
invadido e tomado na metade do sexto século a.C.),
embora algumas áreas da planície costeira da Palestina poderiam servir para esse propósito. Historiadores
gregos como Xenofonte e Diodoro mencionam a existência de bosques locais sob os cuidados de oficiais do
governo persa.
2.8. uso de m adeira na reconstrução. A madeira requisitada seria usada especificamente: (1) nas portas da cidadela, que seria a precursora da fortaleza Antonia, construída no lado norte do segundo templo por Herodes, o Grande; (2) na reconstrução dos muros da cidade (embora os m uros fossem feitos de pedra e tijolos de barro, as madeiras seriam usadas para dar firm eza e tam bém nas portas e passagens) e (3) na construção da residência de Neemias (como governador). Embora o material normalmente usado na construção das casas fosse tijolos e pedras, o cedro era usado nos painéis das paredes internas.2.10. Sam balate. Sam balate, o horonita, era o governador da Sam aria, atestado pelas inscrições nos papiros aramaicos de Elefantina, no Egito, que tam bém m encionam dois de seus filhos. Os papiros encontrados no vau de D aliyeh apresentam um a seqüência de governadores samaritanos, três deles com o nome de Sambalate. Visto que o nome de seus filhos in clu ía o e lem en to te o fó rico " Y a h " , re fe re n te a Yahweh, é provável que Sambalate fosse um adorador de Y ahw eh (no en tan to , ver 13.28). O term o horonita não é explicado, em bora possa significar simplesmente alguém oriundo de uma das cidades cujo nome continha o elemento "H oron". Sambalate opôs- se a Neemias porque Jerusalém e Judá haviam estado anteriorm ente sob sua jurisdição, apesar de não ser possível afirmar se Judá faz ia parte de sua província ou se ele havia sido nomeado para supervisionar a administração do distrito judaico.2.10. Tobias. Tobias era amonita, portanto, de origem estrangeira. Talvez tenha sido o ancestral da importante família dos Tobias da Jordânia, em um período posterior. Apesar de o texto não afirmar explicitamente, é provável que fosse o governador de A m om , assim com o seu neto (tam bém Tobias), do terceiro século, o foi.
2.11-20A inspeção noturna dos muros de Jerusalém2.13-15. topografia da Jerusalém do quinto século. Aidentificação dos lugares mencionados nesses versículos tem enfrentado muitas dificuldades. Os muros e portas inspecionados por Neemias nos lados norte e oeste não m ais existem ou estão enterrados debaixo da plataforma do templo de Herodes. A fonte e o tanque do rei no lado leste talvez possam ser identificados com o Tanque de Siloé. É provável que o vale mencionado aqui seja o vale de Cedrom. Escavações arqueológicas revelaram um a grande quantidade de pedras esparram adas, sem elhante a essa que bloqueou a passagem de Neemias. Evidentemente Neemias teve que deixar de lado a encosta leste da cidade e começar a
construir o novo muro da cidade a partir desse local. Portanto, a cidade era certamente menor que na época anterior ao exílio. Estima-se que a circunferência da cidade era de cerca de dois quilômetros e meio, englobando talvez oitenta ou noventa acres.2.16. grupos m encionados. Os oficiais provavelmente eram representantes do im pério persa que tinham ido com N eemias ou que já tinham jurisdição local. O termo judeus refere-se ao cidadão comum. Os sacerdotes tinham um papel importante na vida da comunidade de Jerusalém, após o exílio, com o aumento de seu papel político. Os nobres referem -se aos chefes das principais fam ílias da área, talvez o equivalente a autoridades, como eram chamados anteriormente.2.19. Gesém. Gesém, o árabe, é mencionado também em fontes extrabíblicas. H á um Gesém em inscrições aramaicas e líbias, conhecido como rei de Kedar. Esse nome também pode ser visto numa inscrição posterior de Bete-Searim, e num vaso de prata dedicado por seu filho Qainu à deusa H an-'Ilat, encontrado em Tell el-M ashkuta, na região do delta egípcio. Os árabes haviam recentemente se fixado no Neguebe e na região da Transjordânia (ver 2.10).
3.1-32A distribuição do trabalho3.1-32. divisão do trabalho. No período assírio, a construção dos muros foi distribuída entre diversos grupos de trabalhadores. Quando Sargão construiu sua capital em Corsabade, cada parte do muro foi designada a um grupo de trabalhadores das diversas províncias do império.
3.1. porta das Ovelhas. A porta das Ovelhas (algum as vezes chamada de porta de Benjamim), situada ao norte do monte do templo, saía da área do Tanque de Betesda (conhecido nessa época como o Tanque das Ovelhas) para o vale de Cedrom. Ficava no lado norte do muro leste e conduzia à estrada de Jericó.3.1. torre dos Cem e torre de Hananeel. Essas duas torres ficavam no lado noroeste da cidade, perto do m onte do templo, praticam ente no m esm o local da fortaleza Antonia, na Jerusalém da época de Herodes.3.3. porta do Peixe. A porta do Peixe (também conhecida como porta de Efraim) era a saída do lado noroeste da cidade. Podia dar acesso a uma das rotas para a planície costeira.3.3. estrutura das portas. O texto m enciona quatro partes: portas, batentes, ferrolhos e trancas. As duas folhas da porta deveriam ser colocadas nos encaixes de pedra fincados no solo. Os batentes ficavam nas laterais da porta; eram feitos de m adeira e estavam ligados ao muro. A tranca era colocada transversalmente sobre o portão e suas extremidades se encaixa
vam nas aberturas dos batentes. Essas trancas podiam ser travadas por m eio de pequenas cavilhas de m adeira introduzidas em buracos em um bloco de m adeira ajustado à porta. Desta forma, não era possível sair da cidade quando o portão estivesse trancado.3.6. porta Jesana. Às vezes chamada de Porta Velha, provavelmente estaria localizada ao sul da porta do Peixe. Alguns estudiosos a identificam como a porta M isné que dava acesso ao distrito oeste da cidade.3.8. ourives e perfum ista. Nas cidades antigas, certos distritos ou bairros eram ocupados por membros de corporações específicas. As corporações de artesãos geralm ente eram com postas por fam ílias que haviam desenvolvido suas próprias técnicas e segredos de um determinado ofício, que eram transmitidas de geração em geração.3.8. muro Largo. Escavações na colina ocidental em Jerusalém desenterraram um muro desse período com uma espessura bastante incom um (mais de seis metros de espessura), que se estendia na direção oeste pelo lado ocidental do m onte do Templo. O muro Largo em si não passou por reform as, visto que a colina ocidental não foi ocupada durante esse período.
3.9. g o v ern ad o r da m etad e do d istrito . U m títu lo assírio bem conhecido, rab p ilkani, ou "ch efe do distrito", perm ite um a m elhor compreensão da term inologia usada nesse contexto. Infelizmente, os detalhes da administração distrital da região são pouco conhecidos.3.11. torre dos Fom os. A maioria dos intérpretes associa essa torre ao distrito dos padeiros, situado nessa parte da cidade, de m odo a ficar perto do palácio e do complexo do templo (ver Jr 37.21).
3.13. porta do V ale. A porta do Vale ficava no muro oeste, ao longo da vertente da Cidade de Davi, dando acesso ao vale de Tiropeom. Acredita-se que essa tenha sido a p orta id en tificad a nas escav ações de Crowfoot, em 1926-27. Sua largura era de aproximadamente três metros e meio.3.13. Zanoa. Essa cidade situava-se na região da Sefelá, cerca de 24 quilômetros no sentido oeste-sudoeste de Jerusalém .
3.14. porta do Esterco. A porta do Esterco ficava na extremidade sul da Cidade de Davi, quase quinhentos metros ao sul da porta do Vale. Essa porta se abria para o vale do Hinom e para a estrada que levava à fonte de En-Rogel, e não deve ser confundida com a porta do Esterco atual (próximo da extremidade sudoeste do monte do Templo, contemporânea ao período Otomano).3.14. distrito de Bete-H aquerém . Bete-Haquerém é a atual Ramate-Raquel, apenas fora de Jem salém .3.15. porta da Fonte. Localizada no lado sudeste da cidade, essa porta ficava a pouca distância da porta do
Esterco e provavelm ente dava acesso ao Tanque de Siloé, onde a fonte de Giom formava canais. Tanto a porta do Esterco como da Fonte foram escavadas na década de 1920.3.15. distrito de M ispá. M ispá é identificado como Tell en-Nasbeh, cerca de treze quilômetros ao norte de Jerusalém.3.15. muro do tanque de S iloé, ju n to ao jard im do rei. Aparentemente, esse tanque refere-se a um canal que conduzia as águas da fonte de Giom para irrigar as terras a leste de Jerusalém. Localizava-se na extrem idade sul da cidade e fornecia água para o jardim do rei, na junção dos vales de Cedrom e Hinom.
3.15. degraus da Cidade de D avi. Esses degraus ficavam na extrem idade sul da cidade para facilitar a subida íngreme do vale de Cedrom. Vestígios de uma antiga escada foram encontrados nessa área.3.16. m eio distrito de Bete-Zur. Bete-Zur era a extrem idade sul da província. Localizava-se cerca de seis quilômetros ao norte de Hebrom.3.16. túm ulos de D avi. O lugar freqüentemente indicado aos turistas como o local do túm ulo de Davi no atual m onte Sião é um a tradição recente. As únicas tumbas monumentais do período do primeiro templo estão na atual aldeia de Silwan, do outro lado do vale de Cedrom, da Jerusalém de Davi. Essas tumbas são da Idade do Ferro II, mas não são túmulos de reis. Os reis de Judá, desde Roboão até Acaz, eram enterrados na Cidade de Davi (com algumas notáveis exceções). Os reis mais recentes foram enterrados no "jardim de U zias" (Manassés e Amom) ou em sua própria tumba (Josias). Os locais das tumbas de Ezequias e dos sucessores de Josias não são m encionados. O local dos túmulos reais na Cidade de Davi não foi identificado com segurança.
3.16. açude artific ia l. Esse açude algum as vezes é confundido com o tanque mencionado no versículo anterior, mas trata-se de outro local, apesar de ficar na m esm a região.3.16. casa dos soldados. É bem provável que esteja se referindo às barracas usadas pelas tropas de elite, representadas antigamente pelos homens valentes de Davi (ver o comentário em 2 Sm 23.8).3.17. metade do distrito de Q ueila. Queila localizava- se aproxim adamente entre Zanoa (v. 13) e Bete-Zur (v. 16), 32 quilômetros a sudoeste de Jerusalém.3.25. esquina. A área do palácio ficava ao sul do m onte do templo. A torre situada na esquina do complexo do palácio era contornada pelo muro da cidade e provavelm ente seja essa a esquina mencionada aqui.3.26. O fe l. A colina de O fel é identificada com o a região situada entre o monte do Templo e a serra ao sul conhecida como Cidade de Davi. Aparentemente
existiam ali fortificações que cercavam o complexo do templo e do palácio. Alguns estudiosos acreditam que havia nesse local um a cidadela designada sim plesmente " a Ofel".3.26. porta das Águas. Essa porta ficava do outro lado da elevação da porta do Vale e abria-se para o leste, em direção à fonte de Giom e ao vale de Cedrom.3.27. muro de O fel. O muro de Ofel estendia-se desde Ofel em direção ao sudoeste, pelo vale de Cedrom, até a porta das Águas. Antes dessa época, essa parte do muro ficava posicionada um pouco abaixo da encosta, m as Neemias recolocou-a no alto da encosta. Escavações na Cidade de Davi encontraram algumas partes desse muro.3.28. porta dos Cavalos. Essa porta levava do complexo do templo, a leste, ao vale de Cedrom.3.29. porta O riental. Alguns estudiosos associam essa porta com aquela comumente chamada hoje de porta Dourada, no lado leste do complexo do templo. Sob a atual porta D ourada pode ser observado o arco de um a antiga porta.3.31. porta da Inspeção. Sabe-se m uito pouco a respeito dessa porta, que às vezes é chamada de porta da
Guarda. A maior parte dos estudiosos considera que seria uma porta no muro do templo e não no muro da
cidade.3.31. posto de vigia da esquina. Esse local geralmente é relacionado à esquina nordeste da cidade e é bem provável que fosse um tipo de torre de vigia.3.32. porta das Ovelhas. Vèr o comentário em 3.1.3.32. ourives e com erciantes. U m dos im portantes centros com erciais da cidade localizava-se próximo das portas do norte, assim , seria natural que esses grupos ficassem responsáveis pela reconstrução dessa
parte dos muros.
4.1-23Oposição à reconstrução4.1. Sam balate. Ver o comentário em 2.10.4.2. poderosos de Sam aria. Grande parte das traduções (não a NVI) usa a expressão "exército da Samaria". Apesar de não ser um a colônia militar, o governador de Sam aria possuía um exército para auxiliar o rei persa. Porém, não se sabe ao certo se esse exército era formado por tropas persas ou por uma milícia local.4.2. sacrifícios. D e m odo geral, os projetos de construção m ais im portantes eram dedicados com rituais sacrificiais. Alguns sacrifícios eram oferecidos ainda no alicerce da obra, sendo esse um costume bastante conhecido no antigo Oriente Próximo.4.2. ressuscitar pedras de construção. Essa expressão pode se referir à idéia difundida no antigo Oriente Próximo de que pedras enegrecidas pelo fogo eram
amaldiçoadas e não podiam ser reutilizadas como m aterial de construção. O s israelitas não tinham tempo para extrair pedras novas das pedreiras e as pedras queimadas que haviam sido usadas na construção do muro antigo estariam deterioradas demais para serem reutilizadas.4.3. T obias. Ver o comentário em Neemias 2.10.4.18. hom em pronto para tocar a trom beta. Nos tempos bíblicos, o toque das trombetas era usado para emitir sinais em contextos religiosos, civis e militares. Em geral, essa trombeta era feita de chifre de carneiro (shofar), tam bém usada no passado para sinalizar o acesso ao monte Sinai (Êx 19.13). Para mais informação sobre esse tipo de sinalização, ver os comentários em Números 31.6 e Josué 6.4, 5.
5.1-19A solução das injustiças sociais5.3-5. natureza da queixa. Por estarem envolvidas na reconstrução de Jerusalém, essas pessoas não tiveram condições de produzir alimentos o suficiente para sobreviver. Por essa razão, tiveram de comprar cereais e como não tinham os recursos necessários para pagá- los, foram obrigadas a penhorar suas propriedades (campos, vinhas e casas). Além disso, os reis persas evidentemente cobravam impostos sobre as propriedades, uma cobrança instituída pelos caldeus. Dario I (521-486 a.C.) recolhia um a taxa sobre a produção dos campos. Tanto em Israel como em outros lugares do antigo Oriente Próximo, era costume os pais venderem seus filhos como escravos de modo a suprir alguma necessidade m aterial, com a esperança de mais tarde resgatá-los (ver o comentário em Êx 21.2-6).5.7. ju ros. O term o no original refere-se a "u su ra", que em essência significa a cobrança de juros por um empréstimo. Era proibido ao israelita cobrar juros de um com patriota (ver com entários em Êx 22.25; Lv 25.38; Dt 15.1-11). Era permitido, porém, cobrar juros de estrangeiros. A cobrança de juros era perm itida pelo código babilónico de Hamurabi (século dezoitoa.C.) apenas em situações de empréstimos comerciais, para as quais não havia equivalência em Israel. Para o israelita, o empréstimo era considerado um ato de caridade, feito com o objetivo de ajudar um compatriota necessitado, e não para ajudar um comerciante a desenvolver seu comércio.5.11. solução. Toda terra que havia sido tomada por motivo de dívida seria devolvida sem qualquer exigência. Era um a prática com um no antigo O riente Próximo tomar a propriedade (e até mesmo os filhos) de alguém que não fosse capaz de honrar suas dívidas. Aqui, aparentemente até os juros cobrados foram devolvidos aos devedores.
5.14. duração do governo de Neem ias. Neemias ocupou o cargo de governador de 445 a 433 a.C.. Este foi seu primeiro mandato como governador. Alguns estudiosos acreditam que ele exerceu um segundo mandato algum tempo depois (ver o comentário em13.6, 7). Não há registros extrabíblicos referentes a Neemias ou à sua gestão como governador.5.14. com ida destinada ao governador. Assim como os sátrapas, os governadores persas tinham o direito de recolher impostos de seus súditos para seu próprio tesouro, e não apenas para o tesouro do rei. Os recursos coletados dessa form a serviriam para financiar projetos locais e m anter a administração. Os alimentos e bebidas arrecadados eram destinados ao governador e à sua família. Textos elamitas desse período encontrados em Persépolis (Textos do Tesouro) refletem essa prática ao registrar as despesas do tesouro real.5.15. 480 gram as de p rata (40 siclos). Em bora os governantes anteriores mencionados aqui talvez fossem ju deu s, é possível que a referência seja a não judeus, indicados pelos sátrapas da região. O único governante, além de Neemias, mencionado no texto bíblico é Zorobabel, setenta anos antes de Neemias. Não fica claro no texto se a quantia mencionada seria a taxa anual paga por cada cidadão ou a quantidade diária necessária para sustentar a administração. De qualquer maneira, trata-se de um valor elevado. Vários jarros encontrados em escavações talvez fossem usados pelos governantes persas para coleta de impostos. Algum as impressões de selos desse período também preservam o nom e dos governantes.5.18. provisão diária. As provisões necessárias para alimentar os 150 oficiais judeus provavelmente eram parte do salário deles. A ssim como outros governantes, N eem ias tinha o dever de oferecer, regularm ente,
banquetes aos oficiais locais e às autoridades estrangeiras. Devido ao elevado custo dessas festas, o fato de Neemias não cobrar impostos do povo para repor seu tesouro pessoal é ainda m ais impressionante.
6.1-19 Conspiração contra Neemias e o término da reconstrução6.2. planície de Ono. A planície de Ono localizava-se cerca de 43 quilômetros a noroeste de Jerusalém. Durante o período persa, algumas vezes essa região era a fronteira da província de Judá, outras vezes era um território neutro entre as províncias de A sdode e Samaria. De qualquer modo, era um local perigoso para encontrar-se com inimigos.6.7. proclam ação profética de reinado. Em bora pouco se saiba a respeito do ofício profético no período pós-exílio, anteriormente os profetas desempenharam
um im portante papel na "proclam ação de re is". O
reino do norte, Israel, passou a existir através de um anúncio profético (1 Rs 11.29-39) e as principais dinastias (Jeroboão, Baasa, Onri, Jeú) surgiram e caíram de
acordo com as proclamações proféticas. No antigo Oriente Próximo, os sacerdotes com freqüência desempe
nhavam um papel político significativo, mas não se sabe de nenhum profeta no antigo Oriente Próximo
que tenha exercido a função de nom ear reis. Não obstante, em todo o mundo antigo acreditava-se que
os profetas não apenas proclam avam a m ensagem
vinda da divindade, como também desencadeavam a ação divina no processo. Isso perm ite entender por
que os rumores de proclamações proféticas poderiam incitar insurreições ou causar tumultos e destruição.6.15. o término da reconstrução. Em bora o historia
dor Josefo (37-100 d.C.) afirme que os m uros foram
construídos em dois anos e quatro meses, o texto bíblico diz que foram necessários apenas 52 dias para ter
m inar a obra. Existem alguns casos sem elhantes na
Antiguidade. Tucídides afirma que os muros da cida
de de Atenas foram construídos em apenas um mês
(quinto século a.C.). Levando-se em conta que: (1) Jerusalém era menor (os arqueólogos consideram que
o perím etro dos m uros nessa época atingia apenas dois quilômetros e meio); (2) apenas a parte leste dos
muros foi construída desde o alicerce (enquanto os outros trechos foram apenas reforçados); (3) a obra não
era de padrão elevado (de acordo com as descobertas
arqueológicas), é razoável supor que a tarefa tenha sido concluída num curto espaço de tempo.
7.1-73Registros das famílias7.2. com andante da fortaleza. Os persas em pregavam inúmeros comandantes militares em suas forta
lezas espalhadas por todo o império. Embora na mai
or parte dos casos o contingente dessas guarnições fosse formado por tropas persas e não por milícias
locais, os soldados ficavam sob o comando do governador ou de alguém designado por ele.
7.65. restrições alimentares. Essa restrição é mencio
nada também em Esdras 2.63. Os sacerdotes que não tinham registro de família, cuja genealogia era desco
nhecida, não podiam comer das "ofertas santíssimas"
(ver Lv 2.3; 7.21-36), um alimento que os sacerdotes
comiam como parte das ofertas reservada a eles, após os ritos cultuais. O Urim e o Tum im eram instrumen
tos oraculares (ver o com entário em Êx 28.30) que seriam usados para consultar a Deus quanto às cre
denciais daqueles que afirmavam ter um a genealogia
sacerdotal.
7.70. oito quilos de ouro (mil dracmas de ouro). Dra
cmas de ouro, dáricos persas, siclos m edos e dracmas gregas (as mais comuns) eram equivalentes. Os dáricos
só foram cunhados a partir da época de Dario e pesavam cerca de 8,4 gramas, ou seja, mil deles equiva
liam a aproximadamente oito quilos de ouro. O siclo
era igual ao dárico, em bora a dracm a grega fosse
equivalente a meio dárico.7 .72 .160 quilos de ouro, 1200 quilos de prata (vinte
m il dracmas de ouro, duas m il m inas de prata). Para um a comparação entre esses valores e as quantidades
usadas na construção do templo de Salomão, ver os
comentários em 1 Crônicas 22.14. Inúmeras moedas de prata foram encontradas em escavações, provavel
mente cunhadas em Jerusalém ou nas proximidades,
durante o período persa. As moedas eram gravadas com a inscrição yhd ou Yehud (Judá) e decoradas com
o desenho da cabeça da deusa Palas A tena de um
lado, e do outro a figura de um a coruja (símbolo de Atenas). O trabalho de confecção dessas m oedas é
evidentemente inferior ao da dracma grega. As m oedas continham apenas um a fração de prata, portanto
valiam menos que suas equivalentes encontradas ao
longo da costa de Tiro e Sidom.
8.1-18 A leitura pública da lei8.1. cronologia. Supõe-se que os israelitas tenham se
instalado no ano da chegada de N eemias, 445 a.C.. Esdras já estaria em Judá há treze anos. O sétimo mês
é tisri (setembro/ outubro), que marca o início do ano
novo civil e das celebrações do Yom Kipur e da Festa
das cabanas (tabernáculos).8.1. porta das Águas. A porta das Águas (ver 3.26) ficava perto da fonte de Giom, portanto dava acesso às fontes de águas. Alguns argumentam que essa porta pertencia a um muro do período pré-exilío que não foi
reconstruído por Neemias. Não se sabe se essa porta foi incluída no novo m uro ou se ficava a leste dele. De
qualquer m aneira, Esdras não leu a Torá dentro do templo ou num local próximo a ele.
8.1. escriba. N a Pérsia e na Mesopotâmia o escriba era uma espécie de comissário encarregado da manuten
ção da lei e da ordem, mas no mundo antigo de modo geral, essa função era m ais abrangente. Os escribas
deveriam conhecer e dominar as diversas línguas conhecidas da época, saber escrever textos (cópias, ditados ou composições), conhecer a literatura tradicional
(canônica e não canônica), a literatura internacional
(particularm ente a literatura de sabedoria) e saber interpretar essa literatura (talvez até mesmo literatu
ra legal ou ritual). Assim, em Israel, os escribas eram
especialistas na lei de Moisés. Um a de suas principais obrigações era estudar as Escrituras. Os escribas se tornaram extremamente importantes para a vida ju daica no período pós-exílio. É provável que se organizassem em clãs ou corporações (ver 1 Cr 2.55). Mais tarde, foram eles que organizaram o culto nas sinagogas. M uitos escribas tam bém eram sacerdotes e/ou líderes da comunidade, como Esdras. Eram os guardiões da cultura e da tradição. O interesse persa nessa questão é demonstrado através da nomeação por Dario de um sum o sacerdote egípcio para reorganizar a escola dos escribas e os rituais do templo de Saís. É provável que os escribas tenham desempenhado um papel preponderante no processo de formação do cânon do Antigo Testamento.8.1. Livro da Lei de M oisés. O Livro da Lei de Moisés continha, se não totalmente, ao m enos um a grande parte dos primeiros cinco Livros do Antigo Testam ento (de Gênesis a Deuteronômio).8.3. leitura pública de documentos oficiais. Devido à dificuldade de acesso a documentos escritos no antigo O riente Próxim o, a leitura pública de docum entos oficiais por um escriba ou arauto era um procedimento bastante comum. As cartas de Kalhu, na Assíria, retratam um oficial assírio lendo um pronunciamento
diante do povo da Babilônia.8.4. plataform a elevada. A plataform a m encionada aqui pode ser comparada à plataforma usada por Salomão na dedicação do primeiro templo (2 Cr 6.13). A raiz do termo usado aqui significa torre, enfatizando a altura da estrutura, permitindo que Esdras pudesse ser visto e ouvido por todos.8.5. Livros ou rolos? Embora a palavra hebraica usada aqui tenha sido traduzida como "L iv ro", o mais provável é que Esdras estivesse lendo em um rolo. Páginas dobradas e encadernadas no formato de um livro m oderno só passaram a existir a partir do segundo século d.C. e só substituíram por completo os rolos alguns séculos mais tarde.8.5. o povo se levantou. Ficar de pé era uma forma de manifestar respeito no Antigo Testamento (ver Jz 3.20; Jó 29.8; Ez 2.1).8.6. adoraram. A reação do povo diante da leitura das Escrituras foi de adoração ao Senhor. O ato de levantar as mãos demonstrava a dependência do povo para com Deus (ver Ed 9.5; SI 28.2; 134.2). Prostrar-se demonstrava humilhação diante de Deus e de sua Palavra. Prostrar-se diante de uma autoridade superior era uma atitude comum em todo o Oriente Próximo. Nas cartas acadianas de Amarna, no Egito, os príncipes simbolicamente se prostravam diante do faraó.8.7. 8. interpretação de docum entos religiosos. As treze pessoas mencionadas no versículo 7 eram levi-
tas encarregados de interpretar a Lei (2 Cr 17.7-9). Eles tam bém traduziam o texto, provavelm ente do hebraico pré-exílio para o aramaico, a língua normal
m ente falada na Palestina no quinto século a.C.. O term o "in stru ir" significa que os levitas "esm iu ça
vam " o texto, ou seja, traduziam e interpretavam parágrafo por parágrafo. Textos acadianos citam várias conclusões de comentários sobre documentos, assim
como confirmam um comentário tradicional transmi
tido oralmente. Esses comentários estão relacionados à literatura canônica, tais como os presságios do Enuma
Anu Erilil, e também às tradições legais.8.10. comida. O texto não especifica o tipo de alimento
preparado pelos israelitas nesse banquete, quando voltaram para suas casas. Certamente foi uma festa de
ação de graças, visto que foi exigido deles que repartissem os alimentos com os vizinhos. "C om er do me
lhor", ou "d a gordura", era uma prática comum (ver Lv 3; 2 Sm 6.19; 1 Cr 12.40, 41; 29.22; 2 Cr 7.8-10;30.21-26).
8.14-17. celebração da Festa das cabanas (Festa dos tabernáculos). Para informações a respeito dessa festa,
ver os comentários em Êxodo 23.16; Levítico 23.33-36, 39-43 e D euteronôm io 16.13-15. A Festa das cabanas
norm alm ente era celebrada no dia quinze do sétim o m ês. A peculiaridade dessa celebração parece estar
relacionada a uma combinação de tradições. Levítico
23.40 instrui os celebrantes a juntar galhos de árvores
e o v ersícu lo 42 os orien ta a h ab itar em tend as ou
barracas. Mas o texto de Levítico não especifica a maneira de constru ir as tendas, nem exige que se faça
peregrinação até Jerusalém . Deuteronôm io 16.15 de
signa essa festa como um a das três festas de peregri
nação, m as não diz nada a respeito de ajuntar ramos ou habitar em tendas. As orientações de Esdras combinav am essas trad ições de m odo que o povo saiu
para juntar os ramos e com eles construir as tendas em
que iriam m orar em Jerusalém durante o período da festa.
8.16. porta das Águas e porta de Efraim . Sobre a porta das Á guas, ver a nota no versícu lo 1. A porta de
Efraim ficava no muro do período pré-exílio (ver o comentário em 2 Cr 25.23) e estava localizada a cerca de
180 m etros da porta da Esquina. É provável que essa
porta se abrisse na direção de Efraim, a noroeste, entretanto ela não é m encionada na lista de N eem ias 3.
9.1-38A confissão do pecado9.1. cronologia. O je jum teve início poucos dias após
a celebração da Festa das cabanas, no sétimo mês de 445 a.C.. Caso tenha começado no dia quinze, confor
m e determ inava a Lei, teria se estendido até o dia
vinte e dois. N esse caso, é estranho que não se faça
menção ao Dia da Expiação, que deveria ser observa
do no décim o dia do sétim o m ês. O versícu lo 13,
porém, sugere que as festividades começaram no se
gundo dia, portanto, teriam durado até o dia nove.
Talvez o D ia da Expiação tam bém estivesse sendo
comemorado com um certo atraso, sendo representa
do nesse je jum , apesar de nenhum dos ritu ais de
Levítico 16 ser mencionado.
9.1. ocasião para je ju m . Há poucas evidências da práti
ca do je jum no antigo Oriente Próximo fora da Bíblia.
Geralmente era praticado em ocasiões de luto. No An
tigo Testamento, o jejum geralmente estava relacionado
a um pedido a D eus, baseado no princípio de que a
im portância do pedido era tal que fazia com que o
indivíduo deixasse de lado suas necessidades físicas.
Nesse aspecto o ato de jejuar funcionava como um pro
cesso de purificação e hum ilhação diante de Deus (SI
69.10). Conforme o texto indica, os judeus estavam pre
ocupados por causa de seus pecados e dos pecados dos
seus antepassados que haviam violado a aliança, evi
denciados pela leitura da lei. O pedido deles era que
fossem libertados do dom ínio estrangeiro.
9.1. pano de saco. O pano de saco era um sinal típico
de luto e arrependimento na Bíblia. Era um tipo de
tecido rústico, norm almente feito de pêlo de bode, em
geral usado diretamente sobre a pele como um a faixa
ou saiote ao redor da cintura. O significado simbólico
do pano de saco pode ser encontrado também entre os
assírios, moabitas, fenícios e arameus.
9.6. "só tu és o Senhor". Trata-se de um típico reco
nhecim ento bíblico do caráter único e absoluto de
Deus (ver o comentário em Dt 6.4) expresso de modo
particular na criação e na aliança com o povo israelita.
9.6. divindades criadoras no período persa. Na época
de Neemias a religião predominante entre os persas
(ou pelo menos do Estado persa) era o zoroastrismo.
Seus seguidores acreditavam que A hura M azda, a
divindade do bem , havia criado o m undo perfeita
mente bom. Porém, havia uma divindade igualmen
te poderosa, Angra M ainyu, que representava o mal
e a ignorância e que perverteu a criação de Ahura
Mazda. Entretanto, por causa de sua presciência, Ahura
Mazda fez com que sua criação combatesse esse deus
do m al, abrindo o cam inho para a restauração do
mundo ao seu estado original de pureza.
9.6. exércitos dos céus. A frase inicial do versículo
("T u d o que há nos céu s") é equivalente à que se
encontra no final do versículo ("os exércitos dos céus").
O term o pode referir-se tanto às estrelas quanto às
hostes angelicais, ambas objetos de veneração (e m ui
tas vezes indistintos, visto que as estrelas eram consi
deradas m anifestações dos deuses) dos povos vizi
nhos. No zoroastrismo, Ahura M azda era considerado
o criador de todos os outros deuses (yaza tas), m as de
certa forma, dependia deles e lhes oferecia sacrifícios.
9.7-37. resum o da história de Israel na oração. Ora
ções ou hinos apresentando um resumo da história de
Israel são comuns na Bíblia (ver SI 78; 105; 135; 136).
Essa é um a característica peculiar dos israelitas. Os
povos vizinhos faziam m enção ao Ano Novo em suas
orações, m as não discorriam sobre fatos históricos do
passado ou da criação.
9.20. Espírito para instrui-los. Por causa da expressão
"teu bom Espírito", empregada pelos zoroastristas ao
se dirigirem ao deus Ahura Mazda, alguns estudiosos
defendem a possibilidade do judaísmo ter sofrido uma
certa influência da religião persa. Porém, a diferencia
ção entre o Espírito do Senhor e um espírito maligno
era usada muito antes de qualquer contato entre esses
dois povos (ver 1 Sm 16.14; 1 Rs 22.23, 24). Além dis
so, no período persa, os israelitas não hesitavam em
usar expressões conhecidas do zoroastrismo para refe
rir-se a Y ahw eh (ver o com entário em 1.4). O uso de
títu los divinos fam iliares pode ser observado já na
época de Abraão (ver os comentários em Gn 14.17-24).
9.36. escravos do rei persa? Os judeus, assim como
todos os outros povos do império persa, eram súditos
do rei persa, portanto obrigados a lhe pagar tributo.
Em quase todas as m onarquias do antigo Oriente Pró
ximo, os habitantes geralm ente eram considerados
escravos (ou súditos) do rei. O monarca, por sua vez,
era escravo da divindade da nação (Assur, na Assíria,
e Marduque, na Babilônia).
9.38. assinado. Na verdade, o termo traduzido pela
NV1 como "assinado" refere-se a firmar com um selo.
Os selos eram amplamente usados em todo o antigo
Oriente Próximo, desde o Egito até o Irã, a partir do
quarto milênio a.C.. M ilhares de selos foram encon
trados em escavações arqueológicas. Os selos eram
usados como sinal de autenticidade e prestígio, para
atestar um documento ou evitar que as pessoas inva
dissem um recinto ou abrissem qualquer tipo de reci
piente. O formato mais comum de selo na Mesopotâmia
era cilíndrico, mas os israelitas davam preferência aos
selos com estampa. As figuras dos selos eram geral
m ente desenhadas por hábeis artesãos, que emprega
vam uma grande variedade de materiais. Foram en
contradas centenas de selos hebraicos em escavações
arqueológicas, bem como mais de mil alças de jarros com selos gravados.
10.1-39O acordo do povo10.30. endogam ia. O contexto legal dessa cláusula encontra-se em Esdras 9.1, 2. A Lei do Pentateuco já proibia os israelitas de se casarem com mulheres estrangeiras (ver o comentário em D t 7.3). Os israelitas haviam se misturado com os povos vizinhos e se contaminado com suas práticas religiosas pagãs. Era comum entre as sociedades do antigo Oriente Próximo o casamento dentro do próprio clã (endogamia) ou através de alianças com um clã am igável. A ssim , os israelitas eram encorajados a casar-se dentro de seu clã "espiritual" (isto é, de adoradores do Senhor). Nessa época, porém, as implicações dessa ordem iam além da necessidade de m anter a homogeneidade espiritual. A posse da terra era uma questão teológica importante relacionada à eleição e à aliança firm ada com Yahw eh. O casam ento m isto am eaçava a posse da terra e prejudicava os benefícios da aliança. Os textos e lefan tin os (textos ju d eu s sep arados de Esd ras e Neemias por pouco menos de cinqüenta anos) mostram como a terra foi redistribuída e muitas famílias judaicas acabaram perdendo suas propriedades por causa de casamentos com mulheres estrangeiras.10.31. regras sobre o sábado. As regras para o sábado proibiam que os israelitas exercessem suas atividades profissionais no sétimo dia. De início, é provável que as restrições fossem limitadas ao trabalho na agricultura e no pastoreio de rebanhos. À medida que Israel desenvolveu uma economia mercantil, no período da monarquia, a proibição passou a ser aplicada também ao envolvimento com o comércio, ou seja, à compra e venda de mercadorias. No período pós-exílio, a questão era se a lei permitia comprar mercadorias daqueles que não eram proibidos de vendê-la no sábado (mercadores estrangeiros). Alguns argumentavam que fazer compras não seria desempenhar uma atividade profissional. Não obstante, os líderes da comunidade aplicavam as proibições do sábado tanto para a venda quanto para a compra de mercadorias.10.31. regras relacionadas ao sétim o ano. É provável que o "sétim o ano" m encionado aqui seja o ano sabático citado em Êxodo 23.10,11 e Deuteronômio 15.13 (ver os respectivos comentários). Talvez Neemias estivesse fundindo os dois ou até mesmo regulamentando a prática para que ambos fossem praticados ao mesmo tempo. Essa medida certam ente facilitaria o cumprimento da lei.10.32. 33. im p ostos para o tem p lo . O riginalm ente não havia a cobrança anual de impostos destinados à m anutenção do templo. Êxodo 30.13 determina que deveria ser paga ao templo a quantia de meio siclo na época do recenseamento, mas essa era uma outra ques
tão. Embora os reis persas Dario I e Artaxerxes tivessem prometido auxiliar na construção do templo (ver Ed 6 .9 ,10 ; 7.21-24), eles não providenciaram os recur
sos para seu funcionamento (embora Ed 7 .21 ,22 m en
cione algum tipo de auxílio em andamento). Durante os reinados de Dario e Xerxes a economia passou a ter um padrão m onetário. O desenvolvim ento de uma economia monetária exigia o respaldo de fundos para
as operações do templo. As quatro gramas menciona
das (um terço de siclo) aqui provavelmente resultavam de um ajuste para adaptar a economia aosistema
m onetário usado no im pério persa. N essa época, a moeda-padrão do império persa, o dárico, pesava 8,4 gramas e era equivalente ao siclo babilónico. O zuz
aramaico correspondia a metade desse valor e equi
valia à dracma grega. O siclo israelita-padrão, porém, durante m uito tempo pesou 11,4 gramas (assim como o siclo assírio), mas havia também o siclo real (siclo
"pesado", na terminologia ugarítica), descoberto pe
las pesquisas arqueológicos, pesando entre 12,5 a 12,8 gramas. Portanto, um zuz (4,2 gramas) equivalia a um terço do siclo real tradicional.
10.34. provisão de lenha. No período da monarquia, o templo tinha funcionários suficientes para prover a lenha necessária. O texto de Josué 9.27 esclarece que
essa era um a das tarefas designadas aos gibeonitas.
Agora, porém, o templo não contava com um número
tão significativo de funcionários, assim foi preciso en
contrar um outro m eio para abastecer o tem plo de lenha.
10.35. oferecim ento dos prim eiros frutos. O princípio religioso envolvido na oferta dos "prim eiros fru
tos" (animal, vegetal ou humano) aos deuses basea
va-se no increm ento da fertilidade. D esde os pri
mórdios, acreditava-se que os deuses haviam criado a vida em suas variadas formas, portanto, esperavam
receber como ofertas devidas as primícias da colheita
e o primeiro fruto do ventre. A religião israelita ate
nuou essa crença perm itindo que alguns anim ais e todos os primogênitos humanos fossem resgatados (Êx
13.11-13; Nm 18.14,15). A oferta dos primeiros frutos tam bém poderia envolver um aspecto político. Os
anais assírios de Senaqueribe (705-681 a.C.) contêm ordens para que os povos conquistados pagassem ofertas dos primeiros frutos das ovelhas, vinho e tâmaras
aos deuses da Assíria. Em Israel, os primeiros frutos
das colheitas tradicionalm ente eram destinados ao sustento dos sacerdotes. Números 18.12,13 especifica
cereais, vinho e azeite. Aqui, as árvores frutíferas são acrescentadas à lista.
10.36. oferta do prim ogênito. V isto que crianças e animais impuros eram resgatados, essa prática garan
tia algum "fluxo de dinheiro" para as operações do templo. Para m ais informação a respeito das leis re
lacionadas ao primogênito, ver o comentário em Êxodo13.1-3.10.37. ofertas aos sacerdotes e levitas. Em bora nem
sempre o ofertante pudesse comer uma parte do sacri
fício, diversos sacrifícios proporcionavam a oportunidade dos sacerdotes se alimentarem. Isso também acontecia na prática babilónica, segundo a qual o rei, o
sacerdote e outros funcionários do templo recebiam porções dos sacrifícios. Em textos sumérios era consi
derado um crime grave com er o que fora separado como sagrado. As tradições religiosas da maioria dos
povos do antigo Oriente Próximo exigiam o sustento
dos templos de form a bastante parecida. A comida era "con su m id a" pelos deuses, m as naturalm ente,
quem se alim entava dela eram os funcionários do
templo. Para informações adicionais sobre o dízimo, ver o comentário em Números 18.31, 32.
11.1-36O repovoamento de Jerusalém11.1, 2. Por que as pes_soas não queriam m orar em
Jerusalém? O simples fato da realização de um sorteio indica que alguns foram forçados a m orar em Jerusa
lém. No antigo Oriente Próximo e na região do M edi
terrâneo, os sorteios eram vistos como um meio de permitir que Deus (ou os deuses) determinasse o des
tino de uma certa situação. Assim, as pessoas consideravam o resultado do sorteio uma ordem divina (para
m ais informações a respeito de sorteios, ver os comen
tários em Js 7.14-18 e Jn 1.7-10). Visto que Jerusalém havia sido devastada e era um ponto de grande dis
puta entre os judeus e os povos vizinhos, não era um
lugar atraente nem seguro para m orar no quinto século a.C.. Além disso, é compreensível que as pessoas
não estivessem ansiosas a abandonar suas terras e
colocar em risco suas propriedades.11.22, 23. m úsicos sujeitos às prescrições do rei. É
provável que o texto esteja se referindo ao rei persa Artaxerxes I, que tinha interesse em m anter as práti
cas cultuais locais (ver Ed 4.8-10; 7.21-24). A partir do terceiro m ilênio a.C., a maior parte dos reis do antigo
Oriente Próximo m antinha cantores profissionais em
suas cortes. Por exemplo, Zinri-Lim, rei de M ari (c.
1780-1760 a.C.) mantinha um grupo de cantores ligados à corte. A respeito de cantores em Israel, ver o
comentário em 2 Crônicas 29.27-30.
11.24. representante do rei. Evidências encontradas em fontes relacionadas ao império persa confirmam a existência de altos funcionários que atuavam como
representantes do rei em diversas satrapias. Ocasio-
nalm ente, esses representantes apareciam na corte
persa para levar algum pedido do sátrapa ao rei, prestar relatório sobre as atividades na região e acon
selhá-lo a respeito de questões locais.11.25-36. territórios repovoados. Todos os nomes de
cidades dessa lista tam bém aparecem em Josué 15,
exceto Dibom, Jesua e Meconá. A lista revela que os judeus ocuparam um a área relativamente grande. A
lista de Judá concentra-se no Neguebe e na Sefelá,
enquanto a lista de Benjamim cobre as montanhas da região central e a planície costeira. Esses territórios
podem indicar os parâmetros da província persa.
12.1-26 A lista dos sacerdotes e dos levitas12.8. encarregados dos cânticos de ações de graças.
H á um relato detalhado da organização do coral e da orquestra dos levitas feita por Davi em 1 Crônicas
15.16-24, porém, são raras as descrições relacionadas à
música na corte. É possível que houvesse um número igual de homens e mulheres no coral (ver Ed 2.65).
Alguns estudiosos argumentam que o coro, na verda
de, recitava os cânticos. A lém desse texto, nada se sabe sobre as responsabilidades da pessoa encarrega
da dos cânticos de ações de graças. O s músicos constavam da relação de funcionários do templo, o que é
atestado em inscrições neo-assírias, incluindo cantores
e cantoras. Um texto de Ninrode faz referência a um cantor principal.
12.24. conform e prescrito por D avi. As únicas instruções para a adoração relacionadas a Davi encontram-
se nos Livros de 1 e 2 Crônicas (ver 1 Cr 15-16; 23-29).
12.25. porteiros que vigiavam os depósitos ju nto às
portas. Para detalhes sobre a função dos porteiros, ver o comentário em 1 Crônicas 9.22-27.
12.27-47 A dedicação dos muros12.27. cím balos, harpas e liras. Para inform ações a
respeito de instrumentos m usicais, ver os comentários em 2 C rônicas 5.12 e 29.25. A term inologia usada
para instrum entos m usicais em Israel é sem elhante aos termos usados em Ugarit.
12.28, 29. povoados v iz in h o s. A s aldeias de onde provinham os cantores ficavam nos arredores de Jeru
salém: Netofate, a sudeste de Jerusalém, Geba e Azma- vete, duas cidades benjamitas cerca de dez quilômetros ao norte de Jerusalém. Bete-Gilgal provavelmen
te era o nome completo de Gilgal, perto de Jericó.
12.30. purificaram as portas e os m uros. Não se sabe ao certo o que seria essa purificação de portas e muros, visto que é um a idéia sem precedentes na Bíblia. O
termo usado aqui normalmente aplica-se a objetos usa
dos em rituais ou a lugares onde se realizavam rituais. Contudo, as casas onde havia m ofo precisavam ser
purificadas (ver os comentários em Lv 14.34-53). Se a prim eira alternativa for a correta, isso poderia refletir
a concepção de Jerusalém como cidade santa. Mas no caso de referir-se a m ofo, a purificação teria como ob
jetivo limpar a cidade das impurezas ocasionadas pela
destruição dos muros (especificamente provocada pela
contaminação de cadáveres ou práticas idólatras realizadas às portas ou sobre os muros, ou ainda pela corru
pção m oral generalizada; ver Jr 13.27). O ritual de purificação não é descrito aqui. Talvez os muros tenham
sido aspergidos, um conceito que era praticado juntam ente com a lim peza das casas.
12.31-37. posição do prim eiro coro. As procissões co
meçaram provavelmente nas proximidades da porta
do Vale, no lado oeste da cidade. O prim eiro coro avançou por cima do muro em direção ao sul (sentido
anti-horário) até a porta do Esterco, na extremidade
sul da cidade. Depois seguiu para o norte margeando o m uro até a porta das Á guas, através da estreita
passagem da porta do Vale. Desta forma, eles percor
reram a m etade sul da cidade, a velha Cidade de D avi.
12.38, 39. posição do segundo coro. O segundo gru
po seguiu Neemias no sentido horário, do oeste para
o norte e leste. Também partiram da porta do Vale e fizeram o circuito da extremidade noroeste da cidade.
A s portas e torres são m encionadas em N eemias 3, enquanto a porta de Efraim é mencionada em Neemias
8.16. A porta da Guarda é mencionada apenas nessa
passagem da Escritura e geralmente é considerada o ponto de encontro dos dois grupos, próximo ao com
plexo do templo (o primeiro grupo estaria vindo da porta das Águas e o segundo, da porta das Ovelhas).
Cada grupo cam inhou cerca de um quilôm etro em cima dos muros. Nos muros modernos, essa distância seria da porta de Jaffa até a porta de Herodes, levando
cerca de trinta m inutos para ser percorrida.
13.1-31 As últimas reformas13.1-3. exclusão dos estrangeiros. A lei a que se re
fere o texto encontra-se em Deuteronômio 23.3-6 e diz respeito à exclusão dos amonitas e moabitas da comu
nidade israelita. Aqui, portanto, essa lei foi interpretada de form a mais abrangente, excluindo da comu
nidade qualquer estrangeiro que não adorasse o Deus de Israel. A menção aos amonitas era especialmente
relevante, visto que a ascendência de Tobias, o amo- nita, era bem conhecida (ver Ne 2.10).
13.4, 5. acomodações para T obias. Para informações acerca de Tobias, ver o comentário em 2.10 (ver tam bém 6.17-19). Há relatos de que o rei persa Cambises
teria expulsado de modo semelhante os estrangeiros do complexo do templo em Neith, no Egito.
13.6,7. detalhes dos dois m andatos de N eem ias como
governador. Visto que esse trecho trata de outras questões, sabe-se pouco a respeito dos detalhes dos mandatos de N eemias como governador de Judá. Neemias
ausentou-se de Jerusalém por um período indeterminado. O fato de ter que pedir permissão para voltar
indica que Artaxerxes I provavelmente não tinha intenção de nom eá-lo para um segundo m andato no
cargo. O texto não esclarece se ele voltou para Jerusalém ocupando o m esm o cargo. É possível que ele
tenha retom ado devido às circunstâncias acima mencionadas relacionadas a Tobias.
13.16. hom ens de Tiro. Os homens de Tiro eram os famosos mercadores fenícios (ver Ez 27.12-36; 28.16)
que com ercializavam em todo o m undo m editerrâneo. Os mercadores da Antigüidade chegaram à conclusão de que não bastava ter caravanas viajando pe
las cidades e povoados da região. Era preciso também estabelecer colônias mercantis nos grandes centros de comércio a fim de escoar suas mercadorias. Eviden
tem ente havia em Jerusalém um grupo de pessoas provenientes de Tiro com perm issão para trabalhar
fora dos parâmetros da lei judaica. Ver o comentário em 10.31.
13.24. a língua de Asdode e a língua de Judá. Embo
ra Asdode fosse uma cidade filistéia no período anterior ao exílio, não se sabe qual língua era falada lá
nessa época. É provável que fosse um dialeto origina
do do aramaico, a língua diplomática e comercial do império persa, ou algum dialeto cananeu. A "língua
de Judá" refere-se ao hebraico bíblico (ver o comentário em 2 Cr 32.18).13.28. Sam balate. Ver o comentário em 2.10.
E S T E R
V1.1-22 A rainha Vasti é deposta1.1. Xerxes. Xerxes é o nome grego do rei conhecido no texto hebraico como Assuero, que governou a Pérsia de 486 a 465 a .C . Seu Pai era Dario, o Grande, e sua m ãe, Atossa, filha de Ciro. Ele herdou um extenso império de seu pai, m as foi incapaz de expandir as fronteiras durante seu reinado, apesar de ter feito diversas tentativas. Sua política em relação aos grupos religiosos afastou-se drasticamente da tolerância que havia caracterizado Ciro e Dario. Xerxes era adepto do zoroastrism o, assim como seu pai, m as considerava a religião de m odo geral um foco de rebelião, tom ando-se conhecido por ter destruído muitos templos, num a tentativa de reprim ir o nacionalismo. A escassez de novas conquistas tam bém criou tensões econômicas anteriormente inexistentes. As guerras com a G récia, em vez de abastecerem os tesouros com despojos e tributos e expandirem as oportunidades de comércio, sugaram a economia. Há mais de vinte inscrições associadas a Xerxes, a mais importante delas é conhecida como a Inscrição Daiva. Para mais informações, ver o comentário em Esdras 4.6.1.1. 127 p rov ín cias. O Im pério Persa era dividido geograficamente, para fins administrativos, em satra- pias, cujo núm ero variava entre vinte e trinta e uma, logo, não são a essas divisões que o texto se refere. É provável que essas províncias estivessem se referindo a distritos administrativos m enores ou a povos que faziam parte do império.1.1. desde a ín d ia até a Etiópia. O território do Império Persa estendia-se desde o vale do rio Indus, no noroeste da índia, através de todo o Oriente Próximo até o norte da África, incluindo Egito, Líbia e Etiópia (em hebraico, Cuxe). A noroeste incluía a Trácia, a Cítia e toda a Ásia Menor, estendendo-se a leste até a Armênia, Urartu e Báctria.1.2. cidadela de Susã. A cidadela de dez acres localizava-se numa área elevada na parte norte do local, o Apadana. O palácio foi construído por Dario e usado por diversos de seus sucessores. Escavações no palácio identificaram muitas de suas características arquitetônicas, inclusive um salão de audiências, onde os reis persas presidiam julgam entos. Era um prédio quadrado com m ais de cem m etros de cada lado, com setenta e duas colunas de pedra de 20 a 25 metros de altura. A Grande Susã, localizada 360 quilômetros a leste da Babilônia, foi construída sobre três colinas
defronte ao rio Shaur e durante m uito tempo foi a capital do antigo Elão. A colina em forma de losango tem cerca de quatro metros de circunferência e estende-se por aproximadamente 250 acres. U m a área adicional de vinte acres com preende o quarteirão do mercado, do outro lado do vale, a leste. Susã era a capital dos reis persas apenas nos meses de inverno. Visto que as temperaturas atingiam até 60 graus no verão, a corte se deslocava para o norte, até Ecbatana.1.3. cronologia. Xerxes ascendeu ao trono após a morte de seu pai, em novem bro de 486. O terceiro ano de seu reinado, portanto, corresponde ao período de março de 483 até março de 482 a.C.. Os principais eventos ocorridos nesse período foram duas revoltas na Babilônia, uma em 484, mais fraca, e outra mais significativa, em agosto de 482.1.3. o ficiais na lista de convidados. Na Antigüidade, os reis costumavam patrocinar grandes festas e banquetes. O re i assírio A ssu rn asirpal declarou ter recep cionado quase setenta mil pessoas durante dez dias de festividades. A lista de convidados aqui é detalhada, incluindo pessoas de toda a Assíria, além de autoridades estrangeiras, pessoas da capital (Kalah) e nobres da corte. Os banquetes persas eram famosos por acolher até 1.500 convidados. D entre os convidados do banquete oferecido por Xerxes encontravam-se membros da aristocracia da M édia e da Pérsia, nobres que ocupavam altos cargos na adm inistração, m ilitares de altas patentes e talvez os governadores das províncias.1.4. seis m eses de ostentação. O versículo 5 menciona outro banquete, oferecido para os moradores da cidadela. N esse local habitavam apenas o rei, sua fam ília e os funcionários da administração, mas a terminologia usada aqui sugere que os oficiais de categorias inferiores que serviam na cidadela tam bém foram incluídos. Os seis meses de ostentação da riqueza do rei aconteceram entre os dois banquetes. A prática de ostentar o tesouro real tam bém pode ser vista em Israel (Is 39.2).1.5. jard im interno do palácio do rei. O jardim interno está relacionado ao bitan ("p alácio"), que é um termo técnico derivado do acadiano bitanu, indicando uma construção separada do complexo do palácio. O bitanu existente no palácio de Esar-Hadom media 45 por 15 m etros, sendo um a espécie de pavilhão ou terraço privativo do rei. Esse local muitas vezes era rodeado por um jardim particular onde havia árvores que proporcionavam frutos e uma agradável sombra, além de riachos, lagos e caminhos - semelhante a um
parque. Era comum encontrar ali árvores e plantas exóticas. Escavações revelaram jardins como esse em Pasárgada, a capital do império de Ciro, o Grande.1.6, 7. decoração do jardim. A área principal do local em que foi oferecido o banquete era um amplo pátio com colunas, fora do pavilhão, com piso de mosaicos. No mundo clássico, os mosaicos eram bastante populares. O colorido das pedras era natural, visto que pedras de diferentes tonalidades eram importadas de vários lugares a fim de garantir o colorido do mosaico. Os primeiros pisos de mosaico eram feitos de seixos coloridos dispostos no formato de padrões geométricos. Posteriormente foi introduzida a técnica de cortar as pedras em cubos (marchetaria) para serem usadas na formação de figuras. Não foi encontrado nenhum exemplo de mosaico no Oriente Próximo anterior ao oitavo século a.C. (Gordion, na Ásia Menor), embora a arte de incrustação já fosse conhecida desde o terceiro milênio (como no padrão real de Ur). Algumas das palavras empregadas para descrever a decoração do jardim são obscuras, mas o exagero era evidentemente espetacular. Os tecidos citados aqui eram os m elhores disponíveis na época e tingidos com as cores mais exuberantes e caras (ver o comentário em Nm 4.6). A grande variedade de vasos usados para servir vinho (e não "taças", como na NVI) era um a característica da etiqueta persa.1.6, m árm ore. A lgum as traduções m encionam alabastro. O mármore era importado da Grécia e não era usado no mundo antigo até sua introdução na Fenícia durante o período persa. Só foram encontradas evidências arqueológicas de capitéis de mármore (parte superior da coluna, geralm ente decorada) no Oriente Próximo a partir do prim eiro ou segundo século d.C.. O alabastro oriental era um carbonato de cálcio semelhante ao m árm ore, d iferente do alabastro eu ropeu (de gesso), usado no período bíblico em toda a região para a fabricação de vasos finos e também na arquitetura de colunas. No "palácio inigualável" de Senaqueribe foi u tilizad a p rin cip alm en te a p ed ra ca lcária branca, em bora esse rei tivesse algum acesso ao alabastro.1.7, 8. protocolo quanto à bebida. Geralmente, nas recepções de gala, o protocolo estabelecia que todos deveriam beber quando o rei bebesse. No entanto,
aqui os convidados não foram obrigados a seguir essa orientação. Eles não precisavam acom panhar o rei, bebendo toda vez que ele bebesse; não havia nenhuma restrição, permitindo que todos bebessem à vontade. Foram encontrados exemplares de taças de ouro ricamente adornadas que datam desse período; uma delas, bastante famosa, tem a forma de um leão alado cujo dorso se abre formando o cálice.1.9. Vasti. Não há nenhuma referência a Vasti na obra de Heródoto, nem nos registros persas contemporâneos. Seu nom e é tipicamente persa, mas não há nenhuma informação adicional a respeito dele. No relato de Heródoto, a esposa de Xerxes é chamada de Amestris. Ela é a mãe de Artaxerxes, o sucessor de Xerxes, que nasceu por volta de 483. Ctesias, historiador e médico, registra diversos exemplos do poder cruel dessa rainha-mãe durante o reinado de Artaxerxes e também sua morte em 424. Alguns lingüistas acreditam que Vasti e Amestris seriam as traduções hebraica e grega, respectivamente, do mesmo nome persa.1.9. banquete à parte para as m ulheres. Sabe-se que as rainhas persas possuíam muitos bens e provisões. Porém, não há nenhum registro de mulheres comendo separadamente dos homens ou de banquetes exclusivos para cada um desses grupos.1.9. o harém de Xerxes. Xerxes adotava um a política de monogamia, m as isso não im pedia que tivesse um harém. Embora ele tivesse apenas uma esposa de cada vez, seu harém tinha m ais de 360 concubinas. Seus inúm eros casos amorosos foram igualm ente bem documentados e eram motivo de m uita intriga na corte.1.10. alegre por causa do vinho. Heródoto relata que os persas costumavam tomar importantes decisões enquanto estavam bêbad os, confirm and o-as depois, quando ficavam sóbrios.1.10. sete oficiais. E provável que esses oficiais fossem eunucos. Os eunucos eram altamente valorizados na administração, ocupando um a variedade de cargos. A grande dem anda por eunucos fazia com que os jovens fossem incluídos no pagamento de tributos à Pérsia a fim de serem castrados e treinados para o serviço no governo. Eles não tinham fam ílias para que não tivessem a atenção distraída de suas tarefas. Geralmente eram encarregados do cuidado e da su
HERÓDOTOHeródoto foi um historiador grego que viveu no quinto século a.C., famoso por suas Histórias (escritas por volta de 445 a.C), que documentam a história das Guerras Greco-Pérsicas, também chamadas Guerras Médicas, incluindo as batalhas de Maratona, Term ópilas e Salam ina. Como contemporâneo dos eventos relatados, ele apresenta inform ações valiosas concernentes à história e à cultura da Grécia e da Pérsia, durante esse período. Embora acusado por aceitar com facilidade a veracidade de boatos ou rumores, sua obra é de grande importância tanto pelo registro dos eventos quanto pelas descrições que apresenta (como da cidade da Babilônia). Acima de tudo, Heródoto é considerado um grande contador de histórias. Embora algumas vezes seus relatos sejam contraditórios, ele é considerado um importante cronista de eventos, lugares e práticas. Existem inúmeras passagens no Livro de Ester que podem ser comparadas às informações contidas na obra de Heródoto. Algumas dessas comparações ajudam, muitas vezes, a esclarecer alguns dados encontrados no Livro.
pervisão do harém real, pois por serem castrados, não apresentavam risco às mulheres do harém e nem poderiam gerar filhos com elas que pudessem ser confundidos com herdeiros do rei. Assim, a probabilidade de se envolverem em conspirações seria menor, porque não teriam herdeiros para colocar no trono. Os eunucos já exerciam funções administrativas no governo da A ssíria, U rartu e M édia antes do período persa. Quatro dos nomes mencionados nessa lista foram confirmados em documentos elamitas, portanto, podem ser considerados nomes autênticos do período. Heródoto refere-se ao chefe dos eunucos de Xerxes como Hermótimo. Ao descrever as pessoas que freqüentavam a corte de Xerxes, H eródoto refere-se a eles como aduladores e parasitas, que diziam ao rei somente o que achavam que ele queria ouvir.1.11. exibir a beleza da rainha. A lguns supõem que Vasti tenha sido constrangida a fazer algo indiscreto ou m oralmente comprometedor (como a antiga interpretação rabínica presum ia), mas provavelm ente não se trata disso. Em algumas sociedades orientais, o harém ficava cuidadosam ente isolado e a lei proibia que as pessoas olhassem para o rosto das m ulheres que ali viviam . N essa época, as m ulheres persas se deslocavam de um lugar para outro em carruagens fechadas, para não se exporem ao olhar das pessoas. Se for esse o caso, como Josefo relata, Xerxes estaria pedindo a Vasti que se rebaixasse e assumisse um a conduta indigna à sua posição real. Expor-se ao olhar de toda a população da cidadela seria um a humilhação muito m aior do que não se curvar diante de um oficial respeitado, mas seria uma quebra de protocolo semelhante.1.13,14. consultar especialistas em questões de direito e justiça. H eródoto relata que os reis persas tinham uma equipe de juizes com cargos vitalícios que assessoravam o rei na interpretação das leis. Xenofonte tam bém confirm a a existência desse grupo de sete conselheiros.1.19. lei irrevogável da Pérsia e da M édia. Não há nenhum a referência a esse tipo de lei fora dos Livros de Daniel e Ester. Entretanto, uma tradição anterior à época de H am urabi (século dezoito a.C.) reconhecia que um juiz não poderia voltar atrás num a decisão depois de havê-la tomado. N esse sentido, poderia tratar-se de um a regra e não de uma lei. As fontes gregas são conflitantes, visto que Heródoto indica que os reis persas desfrutavam de significativa liberdade para tom ar suas decisões, enquanto Diodoro Siculus m enciona uma situação em que Dario III foi im pedido de voltar atrás. Certamente nenhum oficial de posição inferior poderia revogar os decretos do rei persa, e o próprio rei consideraria humilhante voltar atrás e reconsiderar algo que já havia decretado. O código de honra real considerava inaceitável que o rei anulasse uma ordem.
1.19. o castigo de V asti. A punição decretada para Vasti não se refere à execução nem ao divórcio. Ela apenas foi rebaixada de posição no harém, de forma a não mais desfrutar do privilégio de estar na presença do rei Xerxes, na corte. Isso resultou efetivamente na perda de poder e prestígio e removeu-a de uma posição em que poderia esperar obter favores do rei.1.20. alcance do decreto real. O Im pério Persa era famoso por sua rede de comunicação - semelhante ao sistema de mensageiros a cavalo do oeste americano, m ais de dois m ilênios m ais tarde. De acordo com Heródoto, esse sistema se caracterizava pela m anutenção de postos onde era feita a troca do mensageiro e do cavalo a cada dia de viagem. Heródoto acrescenta ainda que nem a neve, nem a chuva, nem calor ou escuridão poderiam im pedir esses m ensageiros de cumprir sua tarefa.
2 .1-18 A coroação da rainha Ester2.1. intervalo de tem po. Presume-se de modo geral que a reunião mencionada no capítulo 1 envolveu o planejamento da campanha contra os gregos. Heródoto refere-se a um a reunião sem elhante a essa em que Xerxes fez um discurso inflamado incitando um a ação m ilitar contra a Grécia. A cam panha teve início na primavera do ano de 481, o quinto ano do reinado de Xerxes. Sua atenção concentrou-se no ocidente durante mais de dois anos, na época em que gregos e persas lutavam nas batalhas de Termópilas (28 de agosto de 480), Salamina (22 set/480), Platéia e M ícale (agosto 479). No outono de 480, Xerxes deixou a Grécia, mas passou o inverno em Sardes, na costa ocidental da Ásia Menor, voltando para Susã no outono de 479, por volta do sétimo mês do sétimo ano de seu reinado. Talvez durante esse inverno que passou em Sardes, Xerxes tenha sentido falta de V asti e colocado em prática um plano para substitui-la.2.3. busca por beldades. H á registros dessa prática apenas na época do rei Chosroes II (dinastia sassânida, cerca de 600 d.C.), quando cada sátrapa foi incumbido de encontrar m oças bonitas e enviá-las ao rei.2.3. vid a no harém . A vida no harém real proporcionava algumas vantagens e desvantagens. Se por um lado essas m ulheres desfrutavam de todo conforto m aterial e eram aduladas e m im adas de diversas maneiras, por outro lado não havia a m enor possibilidade de desenvolverem um relacionam ento íntimo com um marido. As ocasiões em que desfrutavam de encontros íntimos com o rei eram raras e não havia possibilidade de desenvolver um companheirism o. Sem dúvida, elas desfrutavam da camaradagem das m ulheres do harém ou algumas vezes dos eunucos encarregados do harém. Mas o relacionamento con
jugal, o privilégio de formar um a fam ília e criar os filhos eram prazeres negados a essas mulheres.2.5. tribo de Benjam im , bisneto de Quis. A lista de nomes citada aqui é uma verdadeira "árvore genealó g ica" - o rei Sau l tam bém p ertencia à tribo de Benjam im e era descendente de Quis, e Sim ei é conhecido como sendo parente de Saul, na época de Davi (2 Sm 16.5). É difícil saber se Quis e Sim ei mencionados aqui seriam os mesmos personagens dos Livros de Sam uel ou se, ironicam ente, teriam nomes iguais. Considerando-se o largo em prego da ironia em todo o Livro de Ester, a segunda alternativa não seria despropositada. Para outras analogias intrigantes, ver o comentário em 3.1.2.6. perspectiva cronológica. Os acontecimentos narrados no capítulo 2 se passam em 479/478 a.C.. O exílio de Joaquim sob Nabucodonosor aconteceu em 597 a.C., cerca de 120 anos antes. Por essa razão, é lógico supor que ele seria um dos ancestrais alistados que foram levados cativos em 597, e não M ardoqueu.2.9. com ida especial. Esse comentário simplesmente indica que Ester foi submetida a uma dieta específica fornecida pela cozinha do palácio.2.12. tratam ento de beleza. A suposição m ais comum é que nesse tratam ento a m ulher deveria ser diariamente exposta ao vapor de incensos para que sua roupa e pele absorvessem o aroma. Pesquisas arqueológicas descobriram vários vaporizadores de cosm éticos que provavelmente eram usados dessa forma. Apesar dos detalhes apresentados na narrativa, essa prática só foi confirmada nos tempos modernos. Era comum também o uso de ungiientos para hidratar a pele, que ressecava com facilidade no clima árido do O riente Próximo. A m irra era im portada do sul da Arábia (atual Somália e Iêmen), onde era produzida juntam ente com a resina extraída de arbustos de comífora.2.14. concubinas. Concubinas eram moças que se casavam sem um dote. Elas não tinham sido levadas ao harém devido a alianças políticas com outros países nem por algum acordo firm ado entre a coroa e as famílias abastadas. As concubinas eram sustentadas como membros da família real, mas era bastante improvável que uma delas desfrutasse da atenção do rei no futuro (ver o comentário em 2.3).2.16. contexto cronológico. Xerxes havia voltado de sua estada em Sardes (por causa da campanha contra os gregos) no sétimo mês do sétimo ano de seu reinado (ver o comentário em 2.1). Ester foi levada para o palácio do rei no décimo mês daquele mesmo ano, ou seja, entre janeiro/fevereiro de 478. Heródoto faz poucas referências a Xerxes após o término da campanha contra os gregos, portanto, não há registro detalhado dos eventos desse período.
2.17. Ester nos registros persas. Não há registros persas ou relatos de historiadores gregos que façam menção a Ester ou a qualquer evento relacionado a ela.
2.19-23Mardoqueu descobre uma conspiração2.19. porta do palácio real. Escavações em Susã revelaram um enorme portão cerca de cem metros a leste do palácio principal. A passagem até o portão tinha cerca de quinze metros de comprimento. Quatro torres adornavam a parte externa da estrutura e quatro colunas (com cerca de 12 metros de altura) decoravam a área de m ais de 3500 metros quadrados por onde um corredor levava à entrada do complexo do palácio. Foi encontrada uma inscrição no local, colocada por Xerxes, identificando seu pai, Dario, como o construtor do portão.2.23. foram en forcad os (pendurados em postes, ou em p alad o s). "P o s te s " é um term o de certa form a interpretativo, visto que o texto hebraico indica vagam ente um objeto de m adeira. Pelas inform ações que temos da prática persa na época, é improvável que essa palavra se refira ao m odo de execução propriamente. O m ais provável é_que os dois oficiais tenham sido empalados e os corpos colocados em local público. Essa prática era bastante usada na Pérsia, como na execução de Inaros (líder de um a revolta líbia) por A m estris, durante o reinado de seu filho A rtaxerxes. A vítim a desse tipo de execução era privada de um enterro decente, e seus restos ficavam expostos para serem devorados por aves e insetos. A morte por enforcam ento é um a form a de execução não com provada no m undo antigo. Se o texto está se referindo a uma forma de execução, possivelmente seria pela crucificação (conforme a in terp retação da Sep tu ag in ta ), id e n tificad a por Heródoto como uma prática persa. Mas é preciso observar que para Heródoto, mesmo a crucificação poderia ser feita depois que a vítim a estivesse morta.2.23. registros históricos reais. Os arquivos reais eram compostos de anais e crônicas. Os anais ou registros reais eram mantidos em todo o antigo Oriente Próximo, sendo a maioria proveniente dos reis hititas da metade do segundo milênio e da Assíria e da Babilônia dos séculos nono ao sexto. Os anais continham inscrições reais com relatos detalhados de campanhas m ilitares e as crônicas da corte registravam os eventos importantes ocorridos a cada ano. O s anais da Pérsia Aquemênida ainda não foram descobertos pelas escavações arqueológicas.
3.1-15O plano de Hamã3.1. Hamã, descendente de Agague. Assim como a identificação de M ardoqueu foi relacionada ao período do rei Saul (ver o comentário em 2.5), Hamã agora
é apresentado de modo a ser associado a um antigo personagem da época de Saul, Agague, rei dos amale- quitas (ver 1 Sm 15.7-9, 32, 33).3.1. posição de Hamã. Apesar de o Livro de Ester não conferir nenhum título a Hamã, os estudiosos geralmente lhe concedem o título de vizir. Relevos persas apresentam ilustrações de um oficial de alta posição na presença do rei, designado hazarapatish (geralmente traduzido como "quiliarco") segurando as arm as do rei. Esse oficial com andava a guarda real e determ inava quem teria acesso ao rei. Havia também alguns importantes oficiais na corte persa conhecidos como "olhos e ouvidos do rei". Xenofonte relata que os oficiais encarregados dessa função observavam os súditos das províncias e depois apresentavam um relatório ao rei.3.2. hom enagem protocolar. H eródoto relata que os persas de igual posição costumavam se saudar com um beijo na boca. Alguém de posição um pouco inferior deveria saudar um superior com um beijo no rosto. Se a distância social fosse muito grande, o protocolo exigia que a pessoa em posição inferior se prostrasse. É im provável que o fato de M ardoqueu não se curvar diante de H am ã tenha algo a ver com restrições religiosas, visto que o texto não apresenta nenhum indício de que M ardoqueu tivesse problemas em se prostrar diante do rei. Os israelitas eram conhecidos por mostrar deferência através desse tipo de atitude reverente. Por envolver respeito e submissão, a reverência poderia ser considerada um ato de adoração, mas não é o caso aqui, v isto que não há n enhu m ind ício de endeusamento no contexto. Possivelmente Mardoqueu não estava disposto a reconhecer a diferença de status entre ele e Ham ã, relacionada ao ato de prostrar-se.3.7. c ro n o lo g ia . O décim o segundo ano de X erxes corresponde ao ano de 474 a.C., ou seja, Ester já ocupava o trono de rainha há aproximadamente quatro anos. O mês de nisã começava em março e o m ês de adar era o décim o segundo mês, com início em fevereiro.3.7. lançaram o pu r. Pur(u) é a palavra babilónica para sortes. Os arqueólogos descobriram um exemplar desses cubos de argila. O dado de Iahali, vizir de Salmaneser III (nono século), m ede cerca de 2,5 centímetros de cada lado. Embora tenha o formato de um dado (anterior ao terceiro milênio), esse cubo contém um a inscrição (orações para dar sorte) em vez de pontos. O objetivo de lançar os dados era determinar se aquele seria um dia favorável para o tipo de ação que H am ã planejava realizar. A lguns supõem que uma forma de determinar o mês seria lançar o pur sobre um tabuleiro com o nome de cada mês e ver onde ele pararia. Geralmente, para ser considerada válida, a mesma resposta precisaria ser repetida em três lançamentos consecutivos.3.8. 9. intolerância dos persas. Os persas geralmente são retratados pelos historiadores como um povo re
lativamente tolerante. Essa teoria é fundamentada basicamente na política de Ciro que permitiu aos grupos de exilados voltarem para sua terra natal e reconstruírem seus templos. M as é preciso observar que essa atitude não foi motivada pela tolerância. N a verdade, havia fatores econôm icos, políticos e religiosos por trás desse procedim ento. Sessenta anos haviam se passado desde o decreto de Ciro e se tom ara óbvio que toda aquela tolerância não havia elim inado as revoltas. No mundo antigo, de modo geral, a perseguição religiosa era m otivada por questões políticas ou econômicas (talvez hoje não seja diferente). À medida que Ham ã apresenta o problema, fica evidente que não é um grupo religioso ou um a prática de culto que deve ser erradicada, e sim um grupo étnico que preserva um alto grau de nacionalismo, capaz de suscitar uma rebelião.3.9. quantidade de prata providenciada por Hamã. Aquantidade de prata que H amã se comprometeu a dar era de aproxim adam ente trezentas e cinqüenta toneladas, ou mil talentos de prata, de acordo com o padrão estabelecido por Dario. No m ercado atual esse valor corresponderia a cerca de 5,5 milhões de dólares. Para se obter uma compreensão mais adequada dessa quantia, é preferível comparar esse valor a quantidades da época. Heródoto relata o valor dos tributos anuais pagos pelas vinte províncias a Dario, sendo que a quantia mais elevada era paga pela província Assíria-Babi- lônia: mil talentos (trinta e três toneladas). O total de impostos arrecadados pelas vinte províncias equivalia a treze m il talentos de prata (pelo padrão de Dario). Portanto, o valor que H am ã considerava necessário para viabilizar a ação m ilitar que ele havia planejado era bastante elevado (a última frase do v. 9 deixa claro que o dinheiro serviria para financiar seus planos). Outra comparação ainda mais interessante seria com a contribuição oferecida por Pítio, o lídio, a Xerxes para financiar o esforço de guerra na Grécia. Heródoto apresenta Pítio como o segundo homem m ais rico do m undo (depois de Xerxes), com uma fortuna avaliada em 16.400 talentos de prata, que ele colocou inteiramente à d isp o s ição de X erxes. C om o co m p aração fin a l, Tucídides relata que Atenas, em seu período de apogeu, tinha um a reserva total de nove m il talentos de prata (mais de dez mil pelo padrão persa).3.10. anel-selo. Evidências atuais sugerem que os prim eiros reis persas usavam selos cilíndricos para as operações comerciais do império e anéis-selo ou sinetes para assuntos pessoais, em bora o uso de anéis-selo estivesse aumentando nesse período. O anel-selo trazia o selo oficial do rei através do qual ele autorizava os negócios do império. Apenas alguns desses anéis foram encontrados por arqueólogos. Os selos geralm ente eram feitos de calcedônia e retratavam ima-
gens do rei realizando feitos heróicos (como matando feras) sob a proteção do disco solar alado (representando a divindade Ahura Mazda). M uitas tabuletas da cidade fortificada de Persépolis contêm impressões de estampas de selos.3.11. fique com a prata. A expressão traduzida como "fiq u e com a p rata" na verdade diz "a prata é sua" (como diversos comentários observam), sugerindo que Xerxes aprovou os gastos com os planos de Hamã (note que 4.7 supõe que o dinheiro havia sido transferido). Não fica claro se H am ã estaria financiando seu plano com recursos extraídos de sua fortuna pessoal ou se teria um a verba à sua disposição. Cada distrito dispunha de seu próprio tesouro e de um corpo de funcionários. No caso, de H amã fosse um oficial de um a das províncias, ele poderia transferir fundos do tesouro provincial para o tesouro real, e encam inhá-lo para financiar a cam panha militar patrocinada pela coroa. Documentos do tesouro de Persépolis trazem ilustrações sobre a função do tesoureiro ao contratar trabalhadores e desembolsar fundos para o pagam ento.3.12. cronologia. A Páscoa, a grande festa da libertação dos israelitas, era celebrada no dia catorze do mês de nisã. O decreto foi escrito no dia treze de nisã, portanto, as cartas começaram a ser distribuídas no dia catorze. Deste m odo, no momento exato em que os judeus celebravam a libertação do povo das mãos de um grande inimigo do passado, os egípcios, eles tomaram conhecimento da existência de um novo plano para destrui-los, elaborado por um novo inimigo.3.13. natureza do decreto. Fica evidente, a partir do versículo nove, que havia intenção de se colocar em prática um a ação m ilitar form al (a expressão "para que se execute esse trabalho" perm ite concluir isso; essa m esm a expressão é usada em 9.3 referindo-se àqueles que ajudaram os judeus). Visto que cada uma das províncias fornecia tropas para o exército persa, havia um grande núm ero de guarnições posicionadas em cada província. Não devemos concluir que o decreto se destinava ao cidadão comum , concedendo permissão para qualquer pessoa que quisesse matar os judeus. O mais provável é que as tropas das províncias tenham sido colocadas em alerta para desencadearem um a ação m ilitar conjunta no dia previsto. Essa ação não seria lim itada necessariam ente a um "ú nico" dia. A melhor tradução para essa expressão hebraica seria "n o mesmo dia", indicando tratar-se de um a ação coordenada, ou seja, todas as províncias agiriam ao mesmo tempo.
4.1-17O pedido de Mardoqueu a Ester4.1. rasgar as roupas, vestir-se de pano de saco, jogarcinzas. A prática de jogar pó, terra ou cinzas sobre a
cabeça era um sinal típico de luto observado no período que vai do Antigo ao Novo Testamento, também presente na Mesopotâmia e em Canaã. Diversos ritos de luto tinham como objetivo a identificação dos vivos com os mortos. É fácil perceber que colocar cinzas ou pó sobre a cabeça e rasgar as roupas eram um a espécie de representação simbólica de sepultamento e decomposição. O pano de saco era feito de pêlo de bode ou cam elo, resultando num a vestim enta rú stica e desconfortável. Em muitos casos, o pano de saco era um tipo de roupa usada diretam ente sobre a pele, que cobria apenas as costas. As manifestações de luto comuns entre os persas, de acordo com Heródoto, incluíam rasgar as vestes, chorar e lamentar-se.4.2. restrições para transpor a porta real. Heródoto afirm a que a porta do rei era o lugar onde ficavam os suplicantes, muitas vezes chorando, quando sofriam alguma injustiça criada pelo sistema e gostariam queo rei retificasse. É razoável que existissem restrições quanto ao acesso desses suplicantes ao complexo do palácio, embora não se tenha notícia de uma lei assim em fontes antigas.4.4. criadas e oficiais (eunucos). Essas eram as duas categorias de assistentes-pessoais da rainha. Para mais informações sobre os eunucos, ver o comentário em 1.10.4.11. acesso limitado ao rei. Para que a corte funcionasse de forma adequada, era necessário restringir o acesso ao rei. Heródoto oferece algumas indicações de que os governantes persas seguiam essa regra, mas não apresenta nenhum detalhe concernente à pena de m orte e ao cetro de ouro. M uitos com entaristas estranham o fato de Ester não ter tentado obter uma audiência com o rei pela form a apropriada ou mesmo esperado mais tempo para ver se seria chamada (ainda faltavam alguns meses para chegar à data estipulada para o extermínio dos judeus). Porém, se Hamã realmente era o hazarapatish (ver o comentário em 3.1), ela teria de fazer os acertos da audiência com ele, o que colocaria em risco todo o plano.4.11. cetro de ouro. Relevos persas retratando cenas de audiência m ostram os reis segurando longos cetros.4.11. falta de acesso ao rei. Em bora alguns possam achar que como rainha e esposa principal Ester tivesse muitas oportunidades de trocar algumas palavras com o rei, não era bem esse o caso. A rainha não compartilhava regularm ente da m esm a cama que o rei, nem tom ava refeições com ele, pois tinha seus próprios aposentos. Em bora pudesse ser convidada para juntar-se ao rei no salão de audiência, ela não tinha livre acesso à presença do rei.4.16. jejum . No Antigo Testam ento, o je jum de modo geral ligava-se a um pedido dirigido a Deus, baseado no princípio de que a importância do pedido levava o indivíduo a preocupar-se tanto com sua condição espiri
tual que as necessidades físicas eram deixadas de lado. N esse aspecto o ato de je ju ar fu ncion ava com o um processo de purificação e hum ilhação diante de Deus (SI 69.10).
5.1-14 O pedido de Ester e o plano de Hamã5.1. topografia do palácio. Visto que o rei estava assentado no trono, trata-se sem dúvida do salão de audiências. Apesar das amplas escavações em Susã e em palácios de outras localid ades persas, a term inologia usada aqui não permite identificar quais seriam essas áreas do palácio. Ver o comentário em 1.2 a respeito das descobertas feitas no complexo do palácio em Susã.5.3. Xerxes dispõe-se a atender ao pedido. Heródoto m enciona duas ocasiões em que Xerxes m ostrou-se favorável a atender qualquer tipo de pedido e acabou se arrependendo. N a prim eira ocasião, seu oferecimento visava obter os favores de sua suposta amante, Artaynte. Desafortunadam ente, ela pediu a bela túnica do rei, feita à mão por sua esposa, Amestris, que assim tomou conhecimento do caso amoroso de Xerxes e planejou vingar-se. Artaynte ganhou a túnica quando, no dia do aniversário do rei, recebeu a garantia de que o pedido feito por sua mãe (que provavelmente estava por detrás de toda a trama) seria atendido. Amestris mandou mutilar Artaynte de forma brutal, fazend o com que seu m arido, que era irm ão de Xerxes, incitasse um a revolta. A literatura neo-assíria apresenta um oferecimento semelhante ao de Xerxes, em que um rei assírio mostrou-se disposto a dar metade do reino a qualquer pessoa que curasse a enfermidade de seu filho.5.4. banquetes no m undo persa. Os banquetes eram bastante populares entre a realeza persa, e também dispendiosos. Heródoto descreve um banquete típico de aniversário em que um animal inteiro foi servido (boi, cavalo, avestruz, camelo ou jumento). Os persas apreciavam de modo especial as sobremesas e a abundância de vinho. Criados e músicos cuidavam de todos os detalhes dos banquetes, que se caracterizavam pela discrição e decência e não pela falta de respeito ou incentivo à glutonaria.5.14. forca. Ver o comentário em 2.23.
6.1-14 Hamã é obrigado a honrar Mardoqueu6.1. circunstâncias no Livro de Ester. No Livro de Ester, as circunstâncias são um importante tema literário. Enquanto homens como Ham ã tentavam manipular as circunstâncias em seu próprio benefício através de esquemas e presságios, os judeus viam as circunstâncias sendo dirigidas pelas m ãos de um Deus que age por trás dos bastidores. Assim, é interessante notar as palavras que Heródoto colocou na boca de
Artabanus, um conselheiro de Xerxes, às portas do que se tornaria um a desastrosa campanha contra os gregos: "O s homens estão à m ercê das circunstâncias, que nunca se curvam à sua vontade". H am ã estava perto de aprender essa mesma lição.6.1. Livro das crônicas. Ver o comentário em 2.23.6.8. m anto do rei. O manto do rei persa é descrito por Xenofonte como púrpura com bordados dourados. Na obra de Plutarco intitulada Temístocles, Demarato, o rei exilado de Esparta (contem porâneo de Xerxes), pede como presente o direito de cavalgar pelas ruas de Sardes usando a coroa do rei persa. Plutarco tam bém relata que Artaxerxes um a vez honrou um pedido como esse, m as não perm itiu que seu m anto fosse usado. O manto de Xerxes ficou famoso ao ser descrito num a das histórias de Heródoto como um presente fatal e causador de inveja dado à amante do rei (ver o comentário em 5.3).6.8. cavalo com o brasão do rei na cabeça. Relevos persas em Persépolis retratam um cavalo com um adorno na cabeça preso entre as orelhas.
7.1-10 A queda de Hamã7.7. jard im do palácio. Esse banquete provavelmente foi oferecido no mesmo local do banquete do capítulo1 (ver o comentário em 1.5).7.8. assento onde Ester estava reclinada. Os persas costumavam reclinar-se em divãs enquanto tomavam as refeições. H am ã, desesperado, violou um rígido protocolo que estabelecia regras para qualquer pessoa que se aproxim asse da rainha. Se alguém fosse encontrado no mesmo divã em que um membro do harém estivesse reclinado, as conseqüências seriam terríveis. Na Assíria do século onze, o protocolo estabelecia que as pessoas deveriam m anter a distância m ínima de sete passos de um membro do harém.7.8. cobriram o rosto. Os gregos e romanos geralmente cobriam a cabeça dos criminosos condenados à morte, mas se esse fosse o caso aqui a palavra usada seria "cabeça" e não "rosto". N a elegia assíria, cobrir o rosto era um a forma de tratamento concedida aos mortos. Visto que o enforcamento era considerado um procedimento dispensado ao cadáver e não uma forma de execução (ver o comentário em 2.23), o fato de Ham ã ter o rosto coberto pode ser um indício de que teria morrido. O rei não em itiu um a sentença de morte.
8.1-17 O decreto do rei em favor dos judeus8.1. Ester recebe os bens de Hamã. Heródoto relata vários exemplos de confisco de propriedades de pessoas condenadas e executadas por ordem da coroa. O fato de Xerxes sentir-se propenso a dar a Ester tais bens é demonstrado por outro exemplo de Heródoto.
Após Artaynte ter pedido o manto que Am estris havia confeccionado para Xerxes (ver o comentário em 5.3), o rei ofereceu a ela cidades inteiras, grandes quantidades de ouro e até mesmo seu exército pessoal, na tentativa de conseguir o manto de volta.8.1. M ardoqueu nos registros persas. Há um oficial p ersa , M ard u ka, m en cion ad o num a ta b u leta de Borsipa, que às vezes é identificado pelos comentaristas como Mardoqueu. M arduka foi um contador que viveu nos últimos dias do reinado de Dario e no início do reinado de Xerxes. Esse nome aparece freqüentemente nas tábuas elamitas de Persépolis, entre 505 e 499 a.C. relacionado a diversos indivíduos. Não há como provar se algum deles seria M ardoqueu antes de ser promovido, assim como nenhuma fonte refere- se a ele na alta posição em que o Livro o coloca.8.2. anel-selo. Ver o comentário em 3.10.8.9. cronologia. O dia 23 de sivã estava inserido no mês de junho de 474 a.C., setenta dias após a promulgação do edito.8 .9 ,10 . Com entários a respeito das províncias e da extensão do império podem ser encontrados em 1.1. Para um com entário sobre o anel-selo, ver 3.10. A respeito do serviço de m ensageiros, ver o comentário em 1.20.8.11. estratégia do decreto. Visto que o edito anterior não poderia ser revogado, a estratégia foi anular o primeiro pela ação do segundo. O primeiro decreto havia retirado dos ju deu s a proteção do im pério e garantido o financiamento da ação militar contra eles. O segundo perm itiu que os judeus form assem suas próprias milícias, elim inando assim a proteção real (embora não os recursos) daqueles que haviam sido contratados para lutar contra os judeus. Com a retirada da proteção real, a ação contra os inim igos dos judeus não mais seria considerada rebelião contra a coroa. Essa m edida colocava o grupo de H am ã na mesma situação dos judeus, tom ando-o um alvo que podia ser atacado sem temer represálias do governo.8.15. vestes de M ardoqueu. As cores e o material das vestes de M ardoqueu o identificavam com a nobreza e com um a elevada posição política. A s cores reais só podiam ser usadas por aqueles intimamente relacionados ao rei. A "coroa" de ouro não significa que ele iria governar, e sim um favorecimento diante do rei. H eródoto relata que Xerxes recom pensou o comandante de um navio cujo conselho evitara que o navio afundasse, dando-lhe um a coroa de ouro. Por ser de ouro, não poderia ser apenas um turbante. Mas como esse tipo de adorno geralmente ficava preso no alto da cabeça, o m ais provável é que fosse um a tiara ou diadema usado na testa.8.17. tornaram -se judeus. Essa é a única vez que essa expressão aparece na Bíblia e há várias interpretações para essa ocorrência. As pessoas de outros povos po
deriam "tom arem -se judeus" pela conversão, por se declararem judeus ("se fizeram judeus" por causa dos benefícios em potencial) ou por se aliarem aos judeus. A última alternativa explicaria a subseqüente vitória obtida pelos ju deu s à m edida que m ais pessoas se engajavam em seus grupos de milícia.
9.1-17A vitória dos judeus9.1. cronologia. A data corresponde ao final de fevereiro ou inicio de março do ano de 473 a.C..9.1-10. inim igos dos judeus. Os inimigos dos judeus eram aqueles que ainda estavam engajados no plano de Hamã. Eram grupos de mercenários ou tropas organizadas por Ham ã e financiadas por ele para essa ação militar. Os versículos 7-10 sugerem que os filhos de H am ã deram prosseguim ento ao plano do pai. Heródoto relata que durante o reinado de Dario um oficial de alta posição e próximo ao rei foi julgado por estar envolvido num a revolta. Além disso, Heródoto conta a fascinante história de dois magos que tentaram assum ir o trono após a m orte de Cam bises e foram assassinados por Dario e outros sete conspiradores. Esse dia acabou se transformando num a revolta pública contra todos os magos, em que m uitos deles foram mortos pela população enraivecida. Heródoto até mesmo relata que essa data passou a ser comemorada como um importante feriado no calendário persa.
9.18-32A comemoração do purim9.18-32. Purim . Em bora essa passagem relate as origens da festa do Purim, as evidências da prática dessa celebração só surgiram bem mais tarde. O livro apócrifo de 2 M acabeus (15.36) é o primeiro a se referir a essa comemoração fora do Livro de Ester. Nessa citação, o dia treze de adar é identificado como a véspera do dia de Mardoqueu. No primeiro século d.C. o historiador Josefo chamou esse feriado de phouraious, e pouco depois disso, o M isná empregou o termo Purim. 9.24-26. pur. Ver o comentário em 3.7.
10.1-3 Mardoqueu10.2. livro das crônicas dos reis da M édia e da Pérsia.Ver o comentário em 2.23.10.3. posição de M ardoqueu. Apesar de ser identificado como o segundo depois do rei, não há nenhuma indicação de que M ardoqueu tenha ocupado algum cargo oficial. O comentário de 3.1 apresenta uma discussão, relacionada à posição de Ham ã, sobre alguns postos importantes que poderiam ser ocupados pelo segundo depois do rei.
Livros poéticos e de sabedoria
IntroduçãoO leitor moderno, habituado ao Livro de Salmos, percebe certa semelhança ao ler alguns materiais egípcios ou babilónicos. Os atributos pelos quais a divindade é louvada, as questões que induzem à oração, as preocupações pessoais e coletivas e até mesmo o estilo de linguagem dão um tom de familiaridade. Em quaisquer das sociedades do antigo Oriente Próximo, os deuses eram considerados responsáveis pela manutenção da justiça e se ocupavam dela no âmbito da vida humana. Isso era freqüentemente tema de louvor e a base das petições. Além disso, todos os povos compartilhavam da condição humana e buscavam alívio para o sofrimento comum provocado pelas doenças, opressão, desamparo e dificuldades da vida.
Hinos e oraçõesApesar das semelhanças superficiais, pode-se perceber diferenças profundas entre a visão de mundo de Israel e a de seus vizinhos, a partir desse material literário. Quando são feitos pedidos por libertação e salvação, ou misericórdia e graça, ficam evidentes certos pressupostos acerca de como o mundo divino funciona e como interage com a humanidade. Tanto os israelitas como seus vizinhos acreditavam que sofriam pela falta de atenção da divindade. No mundo antigo, de modo geral, acreditava-se que a divindade estava desatenta porque tinha sido ofendida. Visto que o comportamento ético não desempenhava um papel muito significativo na maneira como os povos da antiguidade encaravam suas responsabilidades para com a divindade, geralmente, supunha-se que ela se ofendia por não ter recebido a devida atenção por parte do indivíduo afligido. O adorador tinha pouca esperança de discernir qual ritual havia sido omitido ou causara a ofensa. A única opção era tentar aplacar a ira da divindade, em vez de especificamente reparar o erro. Portanto, o indivíduo estava disposto a reconhecer sua culpa (de um erro desconhecido) e dirigir suas orações, encantamentos e rituais no sentido de amolecer o coração da divindade e tentar reconquistar o seu cuidado e a proteção.
Os israelitas não estavam muito convencidos de que a desatenção de Yahweh era causada por ira. Eles prontamente reconheciam que, às vezes, mistificavam o porquê de Yahweh não vir em auxílio deles. Como indivíduos, nem sempre estavam dispostos a reconhecer a culpa, mas concentravam suas orações em pedidos de vingança. Eles necessitavam da retaliação porque o sofrimento naturalmente levaria os outros a concluir que Deus estava punindo-os por algum pecado. A resposta de Deus à oração demonstraria que Ele não estava irado com eles, e que não haviam cometido nenhuma ofensa grave. Quando pecavam, entendia-se como sendo um erro ético e não uma missão ritual. Eles esperavam que a graça de Deus resultasse de quem Ele era; não esperavam ser capazes de induzi-lo a agir com misericórdia, através de dádivas e agrados ou da invocação através de ritos mágicos.
Apesar dessas diferenças fundamentais, existe muito material, na literatura do antigo Oriente Próximo, que pode trazer compreensão aos salmos bíblicos. Muitas metáforas bíblicas originam-se do contexto cultural da época. Por exemplo, a imagem de Deus como um pastor, uma rocha ou um escudo encontra paralelos na literatura da Mesopotâmia. Expressões como "o desejo do teu coração", ser "tirado de um poço" ou usar o vento como mensageiro têm precedentes que ajudam a explicar o que os israelitas queriam dizer ao usá-las.
Existem muitas composições de todas as partes do mundo antigo que podem ser classificadas na categoria geral de textos dirigidos à divindade. A literatura suméria, acadiana e
egípcia têm inúmeros exemplos. Já o material ugaritico ou hitita é muito escasso. Além de hinos de louvor à divindade, existe uma ampla literatura de encantamento na Mesopotâmia. Nela estão incluídos ershemmas, salmos com o objetivo de aplacar a ira de uma divindade; ershahungas, lamentos referentes a sofrimentos ou calamidades; shuillas, orações de petição; shigusi e dingirshadibbas, orações de penitência; e shurpu, orações de purificação; apenas para citar algumas das categorias mais importantes. Os hinos egípcios datam basicamente do segundo milênio e são repletos de louvor descritivo. São grandiosos, otimistas e confiantes, com pouco traço de lamento ou petição (com notáveis exceções nos textos de Deir el-Medina e do Papiro Anastasi II da 19a Dinastia).
Literatura de sabedoriaUma definição moderna de sabedoria incluiria palavras como bom senso, prudeltóa, discernimento, julgamento, saber, percepção e compreensão. Qualquer leitura da l^rktò»^ de sabedoria bíblica indica que esses mesmos componentes estavam associadog^rsAiedojia israelita. Mas, estaríamos enganados se achássemos que a sabedoria no mupdoí árjírgQ estava restrita a algumas áreas como conhecimento, inteligência, instrução ou ^tWidâdeí^Ao contrário, ela refletia um conceito muito mais amplo da compreensão de^M i^ágs seres humanos no cosmo. Provavelmente, deva ser entendida como a habu|dad^de)trazer ordem ao caos ou perceber ordem em meio ao caos. A sabedoria da dhródadf^(ètóelü^/gii outra) se refletia em trazer ordem através da organização, manutenção,^«stra^ewnCfóhamento do cosmo. É por isso que a criação é um tema tão proeminente nelsl^l^mmra de sabedoria. Ela inclui a compreensão do mundo natural e humano; da sociedade civilização; do cidadão comum e do rei; do mundo dos deuses e das (^ s e je s humanos são confrontados com odesafio de adquirir sabedoria à m edidaqueSíom ovem a ordem no caos de seu próprio mundo e percebem a ordem que Deusxolocou^no cosmo ao criá-lo. Isso inclui ética e etiqueta; filosofia e psicologia; e a compreerísão pe como funcionam o mundo (ciência) e o coração humano (estabelecendo
O pensamento egípçmesta^m^jS ligado à ordem que resulta do estabelecimento da verdade e da justiça. (QtaOTTMMí^tengloba esse aspecto de retidão natural, social e política. A literatura mesoptítamtóa^demonstra uma grande preocupação com a compreensão da ordem que pode sersáblídajkjSávés da leitura de presságios, da recitação de encantamentos e realiza- çãode rimais^sB^éabedoria é a habilidade expressa pelo termo nemequ. Muitos provérbios enoontowss-jWMesopotâmia estão relacionados a agouros e podem ser classificados como sàbMorrâjpresságio. Os presságios partiam da observação (com freqüência de fenômenos
\iattt<ajs) e chegavam a determinadas conclusões (com freqüência sobre o destino ou aconte- cixpentos futuros). A sabedoria igualmente faz observações (com freqüência a respeito de coi \ rtamentos/ e ch g a conclusõe ( m l ^ência sobre resultados inevitáve ) A. literatura de sabedoria do Antigo Testamento insiste em que somente o temor do Senhor (o princípio da sabedoria) pode trazer ordem ao caos da vida. Além disso, os rituais do templo também eram um meio de manter a ordem.
O material do antigo Oriente Próximo inclui provérbios, admoestações e instruções, debates filosóficos na forma de diálogos, monólogos e fábulas. Eles tratam de muitos dos temas da literatura de sabedoria israelita, inclusive, notavelmente, de diversos exemplos em que um sofredor está em busca das razões para seu sofrimento.
O problema subjacente a essa discussão que une todas essas obras dos "sofredores justos" é a teodicéia - a justiça da divindade. A tensão gerada entre a justiça divina e o sofrimento humano tem como base a crença no princípio da retribuição. Em poucas palavras, esse prin-
cípio afirma que o justo prosperará e o ímpio sofrerá; no entanto, se uma pessoa aparentemente justa está sofrendo e o princípio da retribuição é aceito, então a justiça de Deus é posta em dúvida. Essa tensão não era sentida tão intensamente fora de Israel porque não havia uma crença forte nas qualidades éticas da divindade. Além do mais, em um cenário politeísta, o comportamento de um indivíduo podia agradar a uma divindade, mas ofender a outra. O sofrimento humano, sem nenhuma razão aparente ou dúvidas concernentes à existência da justiça divina de forma compreensível, minava a habilidade de assegurar um mundo ordenado. Quando as coisas vão mal, as pessoas se sentem envolvidas pelo caos e não pela ordem. A literatura de sabedoria mesopotâmica tipicamente resolvia o problema afirmando que não existe nenhum sofredor justo. Eles também estavam dispostos a aceitar que os deuses eram inescrutáveis.
A literatura de instrução é mais proeminente no Egito, onde mais de uma dúzia de composições abarcam mais de dois mil anos (início do terceiro milênio até o final do primeiro milênio). Essas composições demonstram que a literatura de sabedoria israelita, assim como a encontrada em Provérbios, era parte de um gênero internacional (assim como o Livro de Reis afirma, 1 Rs 4.30). A literatura de instrução do antigo Oriente Próximo inclui afirmações concisas e incisivas como aquelas encontradas em Provérbios 10-29, e também, longas admoestações como em Provérbios 1-9. O paralelo mais próximo encontra-se na comparação de A Instrução de Amenemope (cerca de 1200 a.C.) em Provérbios 22.17-24.22, em que há um número relativo de temas e expressões bastante similares.
O tratado de Eclesiastes relaciona-se a uma subcategoria conhecida como a "literatura de pessimismo" que é exemplificada pelo Diálogo Acadiano do Pessimismo e pelos Cânticos Egípcios do Harpista e A Disputa entre um Homem e Seu Ba. Todos esses textos exibem um cinismo irônico a respeito da vida. O Diálogo do Pessimismo retrata uma conversação entre um senhor e seu escravo, na qual o senhor afirma sua intenção de engajar-se em diversas empreitadas. A cada sugestão, o escravo afirma os benefícios do curso de ação proposto, e em cada caso, o senhor muda de idéia e decide não concretizar seus planos. O escravo então replica, sobre a decisão, citando todas as desvantagens que determinada ação acarretaria. Os tópicos incluem: ir ao palácio, comer, caçar, formar uma família, liderar uma revolução, amar uma mulher, oferecer sacrifício, montar um negócio de crédito e fazer caridade pública. O texto termina quando o senhor finalmente pergunta ao escravo sobre determinada ação e ele responde: "Ter o meu e o seu pescoço quebrados e sermos lançados no rio é bom". A base desse tipo de literatura é mostrar que não é simples encontrar significado e propósito na vida e em suas atividades. Conseguir a ordem em meio ao caos raramente é alcançado de forma satisfatória.
O Cântico dos Cânticos também é incluído com freqüência na literatura de sabedoria. Essa classificação pode ser sustentada pela percepção de que o Livro usa poesia de amor para ilustrar o ensino da sabedoria (8.6, 7). Outros exemplos do gênero poesia amorosa são conhecidos na literatura suméria mitológica concernente a Dumuzi, no terceiro milênio, mas os paralelos mais próximos são encontrados em um grupo de canções de amor egípcias do período dos juizes (19a e 20a Dinastias Egípcias, 1300-1150 a.C.). Essas canções de amor eram geralmente executadas em festas e compartilham muitas das características encontradas no Cântico dos Cânticos. Falta-lhes, porém, o ensino da sabedoria que o Livro bíblico considera crucial: romance, amor e sexo também podem ser forças do caos que precisam ser abrigadas sob a capa da ordem.
Em tudo o que foi dito acima fica evidente que, à medida que Deus incluiu os gêneros poético e de sabedoria em sua revelação a Israel, Ele não elaborou novos estilos literários,
nem criou novos temas para abordar; ao contrário, Ele usou o que era familiar a qualquer habitante do antigo Oriente Próximo. Ele foi ao encontro de seu povo, onde eles estavam, e comurdcou-se com eles de forma clara e poderosa. Aumentar nosso conhecimento da cultura e da literatura do antigo Oriente Próximo, portanto, pode somente ampliar nossa compreensão da Bíblia.
J óss1.1-2.13As provações de Jó1.1. Uz. Não se sabe ao certo a localização da terra de Uz. Talvez seja um term o genérico para o O riente
Próximo. Lam entações 4.21 fala de uma terra de Uz onde habitava a filha de Edom, dando a entender que
trata-se de uma localidade no sul. Porém, em Jeremias25.20, 21, Uz é associada a Filístia, Edom e Moabe.
1.3. tam anho dos rebanhos. Os rebanhos de Jó eram imensos. Aristóteles afirma que os árabes tinham no máximo três mil camelos, o mesmo núm ero alistado aqui. A s cifras podem ser com paradas as três mil ovelhas e mil bodes de Nabal (1 Sm 25.2). Textos do terceiro milênio registram rebanhos dos templos com
cerca de m il e quatrocentas ovelhas; no entanto, os particu lares geralm ente eram m enores. No antigo Oriente Próximo, rebanhos sedentários não costumavam exceder três mil animais. Os m igratórios (cuja
migração era controlada) podiam variar de duzentos a quinhentos animais. Os nômades eram os maiores, chegando a dezenas de m ilhares. A proporção de
animais de pequeno porte em relação aos de maior, no rebanho de Jô, serve de exemplo. A maioria dos núm eros disponíveis em fontes antigas está relacionada às listas assírias de tributo que oferecem poucos
indícios acerca de rebanhos particulares.1.3. o hom em m ais rico do oriente. A alusão ao oriente ("povo do Oriente" literalmente "filhos do oriente"), em línguas semitas, geralmente refere-se aos habitantes da região leste de Biblos, onde os semitas seminômades viviam. É assim que o termo é usado na história egíp
cia de Sinuhe, do início do segundo m ilênio a.C.. Em G ênesis 29.1, o term o refere-se aos aram eus que v iviam ao longo do norte do rio Eufrates; em Isaías 11.14, refere-se aos edom itas, m oabitas e am onitas; e, em
Juizes 6.3, aos midianitas. Em resumo, o povo do "oriente" parece ser um term o genérico com o "U z".1.5. purificação após os banquetes. A purificação geralm ente garantia o acesso a recintos sagrados ou a participação em atividades rituais. Em Israel, havia níveis de pureza exigidos para permanecer no "acam pamento ou arraial da comunidade" e para entrar em recintos sagrados ou nas dependências do templo. Jó
era ritualm ente exigente, visto que buscava m anter um certo nível de pureza para sua fam ília o tempo todo. Assim, como Balaão, em Números 23, Jó dirigia
os sacrifícios como patriarca da família, sem a presença de um sacerdote. Balaão teve de oferecer um touro,
um carneiro e sete cordeiros (Nm 29.36). É possível que o processo de purificação envolvia lavar-se e mudar de roupa (Gn 35.2 e Êx 19.10).1.5. amaldiçoado a D eus. O termo para "am aldiçoado" literalmente significa "abençoado", um eufemis
mo encontrado em outras passagens das Escrituras (p. ex., Jó 1.11; 2.5, 9; 1 Rs 21.10, 13). Esse term o com freqüência significa "d esprezar, tratar com levian
dade". Assim, em vez de, na verdade, amaldiçoar a Deus, os filhos de Jó poderiam ter negligenciado ou
desconsiderado Ele. O termo também pode referir-se ao tratam ento com desrespeito a ponto de extremo desprezo e repúdio.1.6. an jos (filhos de Deus). No antigo Oriente Próximo, os "filh os dos deuses" eram m em bros de m enor im
portância do panteão. Em textos m esopotâm icos e ugaríticos encontramos relances de reuniões dos deu
ses e sua corte divina. Em Israel, os filhos de D eus são anjos que, tal como os filhos dos deuses, posicionam-se diante Dele na corte divina. Micaías teve uma visão de D eus assentado no trono com todos os seus subor
dinados ao redor (1 Rs 22.19-23). Os filhos de Deus também são cham ados de "d eu ses" no Salm o 82.1, 6.
1.6. Satanás. É im portante notar que o termo aqui, satã (literalm ente "o acu sad or"), é antecedido em
hebraico pelo artigo definido ("o "). Logo, no contexto de Jó, o termo parece mais descrever um a função do que servir como um nome próprio. Em bora o indivíduo que se apresenta como adversário de Jó pode ser o mesmo que, mais tarde, é chamado de Satanás, não se pode chegar a essa conclusão com segurança. A palavra hebraica satan é usada para descrever um adversário e pode referir-se a seres humanos ou sobrenaturais. Até mesmo o anjo do Senhor pode desempenhar essa função (Nm 22.22). O termo só assume claramente o papel de nom e próprio, a partir do período intertestamentário (especificamente no segundo século a.C.). Quem atua como adversário, geralmente desem penha um papel de fiscalizar ou desafiar as ações e decisões de D eus. Não fica claro se
Satanás era um dos filhos de Deus (NVI "anjos").1.6. o papel de acusador. O termo satã refere-se àquele que age com o um prom otor público. O m esm o term o é usado para um inim igo político que tenta
derrubar o rei (p. ex., 2 Sm 19.22). Pode tam bém aludir à pessoa que leva acusações contra alguém n um tribun al (SI 109.6; Zc 3.1, 2). N a P érsia e na Assíria, agentes secretos semelhantes viajavam pelo império buscando identificar a lealdade de determinados grupos e indivíduos para depois fazerem acusações no tribunal.1.15. sabeus. Existem três grupos de sabeus nas Escrituras. Um grupo é de Sabá, o atual Iêmen, um a área
extrem am ente urbanizada e que havia atingido um complexo nível de civilização nessa época (1 Rs 10). Muitas inscrições desse povo foram encontradas nessa área. Havia também os sabeus da Etiópia (Is 43.3). Em
Jó 6.19, eles são igualados a Tema, no norte da Arábia, e provavelmente identificados com a Sabá das inscrições assírias de Tiglate-Pileser III e Sargão II, no final do oitavo século a.C.. É m ais provável que sejam esses os sabeus mencionados aqui, em Jó 1.1.16. fogo de Deus. Os relâmpagos são descritos aqui como "fogo de D eus". Durante a com petição entre Deus e Baal, narrada em 1 Reis 18.38, o relâmpago é chamado de "fogo do Senhor" (ver também 2 Rs 1.12; Jó 20.26; N m 11.1-3; 16.35 e 26.10). O s deuses da tem pestade geralm ente eram ilustrados segurando raios e relâmpagos na mão.
1.17. caldeus. Os caldeus são mencionados nos anais assírios desde a época de A ssum asirpal II (884-859
a.C.). Provavelm ente eram um grupo sem inôm ade que havia se fixado na Babilônia e teve êxito no controle da área, no final do oitavo século a .C . Além do mais, sucederam aos assírios como os construtores do grande império do Oriente Próximo, no final do sétimo século a.C.. O ápice de seu poder veio durante o reinado de Nabucodonosor II (605-562 a.C.), o destruidor de Jerusalém.2.7. feridas terríveis. Em ugarítico, esse term o refere- se a febre e não a feridas. Já em hebraico, geralm ente denota um a variedade de doenças de pele (ver o co
m entário em Lv 13.2). Em textos ugaríticos, a doença afeta o lombo e deixa a vítim a prostrada. Não se sabe ao certo que tipo de doença de pele é ilustrada aqui em Jó 2. As patologias do antigo Oriente Próximo sempre eram explicadas pelo sobrenatural. Geralmente, demônios hostis ou deuses irados por causa da violação de algum tabu eram considerados responsáveis pelas enfermidades. As doenças eram classificadas pelos sintomas e não pelas causas, por isso, o diagnóstico correto m uitas vezes era difícil, senão im possível.2.8. caco de louça. Fragm entos de cerâm ica (grego, óstraco) foram encontrados em grande quantidade nas
escavações arqueológicas em todo o Oriente Próximo. Essa louça quebrada geralm ente era "reciclada" ou utilizada de alguma outra forma. Não fica claro, neste
contexto, se o fragmento era usado para coçar a pele em busca de alívio ou para raspar o corpo num sinal de luto. Na maioria dos casos, nas Escrituras, os cacos eram usados com esse último objetivo. Na Mesopotâmia e na lenda ugarítica de Aqhat, o "m on te de cacos" parece ser o nome da habitação dos mortos. No épico de Baal, quando El pranteia por Baal, ele coloca terra na cabeça e raspa a pele com uma pedra.2.8. sentado entre as cinzas. As cinzas mencionadas aqui provavelmente se encontravam num "m onte de esterco" ou depósito de lixo fora dos limites da cidade, onde os dejetos eram periodicamente queimados. Os pranteadores no Oriente Próximo iam se sentar nesse m onte de cinzas para se atormentar. Prião, o pai de H eitor, na Uíaâa, rolou sobre o m onte de cinzas da cidade.
2.11. terra dos amigos de Jó. Eruditos da igreja primitiva (Eusébio e Jerônim o) e da história clássica (Plínio, o Jovem) associam Tem ã ao território nabateano, per
to da cidade de Petra, na atual Jordânia. Fontes cunei- formes identificam Suá como um a localidade ao longo do médio Eufrates, ao sul do rio Habur. Porém, Suá era filho de A braão com Q uetura e tio de Seba e D edã, im plicando assim num local ao sul para os habitantes de Suá. Não obstante, a localização é incerta. O naamatita possivelmente é identificado com Jebel el N a'am aeh, no noroeste da A rábia, em bora tam bém não se possa afirmar com certeza.2.12. práticas de luto. No antigo Israel, rasgar as vestes e colocar terra sobre a cabeça eram considerados sinais de luto. Também eram praticados na Mesopotâmia e em Canaã. Muitos desses ritos eram um meio dos vivos se identificarem com os mortos. É fácil perceber como as cinzas sobre a cabeça e as roupas rasgadas serviam como representações sim bólicas de se- pultamento e decomposição.
3.1-26O lamento de Jó3.3-6. dias am aldiçoados. A s listas de dias, na M esopotâmia, identificam dias maus no mês (dias 7 ,1 4 ,1 9 ,
21 e 28). Esses dias eram ditos agourentos e as pessoas eram incentivadas a não se envolverem em negócios, construção de casa ou casamento. Era até mesmo proi
bido comer peixe e alho-poró, no sétimo dia do sétimo mês. A lém disso, listas de agouro da M esopotâm ia descrevem dias em que era im próprio que um h om em e um a m ulher tivessem relações sexuais, um a m ulher desse à luz e as pessoas se envolvessem numa série de outras atividades sociais. E ainda, certos eventos podiam transform ar um dia em azarado (p. ex., o
nascimento de um a anomalia ou a morte do rei). No M ito àe Ezra e Ishum, o governador da cidade que está
sendo destruída é retratado, dizendo à sua mãe, do
desejo dele de nunca ter nascido ou de ter sido impedido de nascer, para que não tivesse tal destino.3.8. atiçar o Leviatã. O Leviatã aparece na Bíblia como
um monstro marinho, representando as forças do caos, derrotado por D eus (SI 74.14; ls 27.1). Esse texto solicita os serviços de um m ágico habilidoso que possa atáçar um Leviatã dormente por m eio de um encanta
mento. A descrição do Leviatã tem semelhanças com os m onstros m arinhos ugaríticos e babilónicos que am eaçam a criação (ver o comentário em 41.1).
3.9. estrelas m atutinas. As estrelas matutinas aqui são Vênus e M ercúrio, que deveriam tom ar-se "escuras". Esses planetas eram considerados os precursores de
cada dia.3.13-19. conceito da vid a após a m orte. O conceito israelita de vida após a morte era bastante semelhan
te ao de seus vizinhos em Ugarit e na Mesopotâmia. Nem sem pre, porém , a m orte é descrita com o um lugar de descanso, como aqui em Jó. A morte (hebraico,
sheol) é o lugar exato onde os m ortos com em pó e bebem água suja. De acordo com o épico acadiano A Descida de Istar, há grades e portões mantendo os mortos
presos. O Sheol tam bém é um lugar de escuridão onde não há luz, apenas silêncio. Os mortos não podem louvar a Deus naquela condição. Para m ais in
formações, ver a nota de rodapé em Isaías 14.
4.1-5.27O primeiro discurso de Elifaz4.9. sopro destruidor de D eus. Aqui em Jó, o sopro de D eus representa o vento do deserto que destrói a vegetação (Os 13.15 e Is 40.7). Normalmente, refere- se à atividade dinâmica de Deus (ver G n 2.7).
4.13-15. esp írito dos sonhos. O ato de D eus causar um sono profundo em um a pessoa, a fim de transmitir a ela um sonho, é recorrente em toda as Escrituras. Como exemplo, Deus fez cair um pesado sono sobre
Abraão durante a cerimônia da aliança (Gn 15.12-21).
Isso também acontecia com as divindades da M esopotâmia. Dagan (chamado de Dagom na Bíblia) fala
va freqüentem ente aos adoradores dos tem plos em M ari e Terqa, no nordeste da Síria, através de sonhos. Esses adoradores muitas vezes passavam a noite no tem plo, esperando receber um a m ensagem , em so
nhos. No épico de Gilgamés, um zéfiro passa trazendo sono e um sonho. No pensamento mesopotâmico, Zaqiqu era o deus dos sonhos, e seu nome deriva da palavra para espírito. Esse espírito ou brisa passa pe
las fendas das portas e se dirige às pessoas durante a noite. A Odisséia e a Ilíada confirmam a mesma idéia.4.18. vendo erros nos an jos. A segunda carta de Pedro
tam bém descreve o castigo de anjos rebeldes, m as não existe evidência clara de tal crença no Antigo Testamento. Em mitos ugaríticos, os subordinados aos
deuses (especificam ente escravas divinas) com fre
qüência eram considerados desobedientes e indignos de confiança. Para acrescentar dificuldade à interpretação desse versículo, o termo traduzido como "erro" ocorre apenas aqui no Antigo Testamento e seu signi
ficado é incerto.4.19. casas de barro. O termo "C asa" é usado como uma
figura de linguagem para o corpo, no livro apócrifo Sabedoria de Salom ão 9.15, em 2 Coríntios 5.1 e em 2
Pedro 1.14; mas a idéia do espírito habitando o corpo é desconhecida em outras passagens do Antigo Testamento. Argila e barro significam a fragilidade do cor
po hum ano e representam a m ortalidade hum ana.5.1. seres celestes (santos). O termo "seres santos", que designa servos ou anjos, ocorre em outros contex
tos das Escrituras (Os 11.12; 2 c 14.5; D n 4 .10 ,14 , 20; 7.13 e SI 89.7). São santos por causa de sua proximidade a Deus e não por alguma pureza inerente.
6.1-7.21O primeiro discurso de Jó6.2. aflição e desgraça na balança. As balanças eram usadas por m ercadores para determ inar o peso de
O PRINCÍPIO DA RETRIBUIÇÃOOs versículos sete e oito tratam do que é descrito como o princípio da retribuição, cuja premissa básica é que o justo prospera e o ímpio sofre. Na esfera nacional, esse princípio tinha como base a aliança, com suas bênçãos potenciais e ameaça de maldições. No âmbito individual, foi estabelecido como necessário para que Deus mantivesse a justiça. Visto que os israelitas tinham apenas um vago conceito da vida após a morte e nenhuma revelação concernente a juízo ou recompensa no além, a justiça de Deus só podia ser efetuada nesta vida. A maioria dos israelitas acreditava que se Deus fosse justo, recompensas e castigos nesta vida deveriam ser proporcionais à justiça ou injustiça de cada um. Essa crença também levou grande parte deles a crer que, se alguém estava prosperando, era uma recompensa por sua justiça e, se alguém estava sofrendo, era castigo por sua injustiça. Quanto maior fosse o sofrimento, maior deveria ser o pecado. Escritores babilónicos e assírios de textos mágicos descrevem esse mesmo princípio da retribuição. Mas, visto que esses povos não eram plenamente convictos da justiça dos deuses, essa não era uma questão teológica tão importante na Mesopotâmia. No livro de Jó, esse princípio é colocado de cabeça para baixo, visto que ele, aparentemente o epítome da justiça, está sendo vítima de todo tipo de desastre possível. Todas as personagens do Livro acreditam no princípio da retribuição. Essa é a premissa em que os amigos de Jó se baseiam para acusá-lo, e o raciocínio pelo qual Jó questiona a justiça de Deus. É até mesmo a lógica que Satanás usa para
seus produtos. Aqui neste contexto, Jó demonstra o desejo de que seu infortúnio fosse pesado em relação à m aior coisa conhecida por ele, a areia dos m ares, que normalmente representa uma quantidade imen
surável de peso.6.4. Todo-poderoso (S h a d a i). O termo Shadai ("todo- poderoso") às vezes é um epíteto para Deus (Gn 17.1). Aqui, Shadai age como aquele que m uda a sorte das pessoas, sem elhante a Resefe, o deus da peste e da guerra no panteão cananeu, que espalha doenças atingindo suas vítimas com seu arco e flecha.6.15-17. riachos tem porários (uádis). Os uádis da Palestina são rios que transbordam na estação chuvosa. No verão, porém, precisamente a época em que mais
se precisa de água, eles têm pouca ou nenhuma água.6.19. caravanas de Tem á. Tem á (atual Teima) era um importante oásis e centro de comércio no noroeste da Arábia, 320 quilôm etros ao sul de D amasco. Tem á também é alistado como filho de Ismael (Gn 25.13-15).6.19. m ercadores de Sabá. Sabá era um importante
centro de comércio no sudoeste da Arábia. Ver a nota em Jó 1.15.7.1. pesado labor, assalariado. O termo para "pesado
labor" era usado para o serviço m ilitar e, ocasionalmente, para os trabalhos forçados, como os que Salomão
exigiu dos lenhadores na Fenícia (1 Rs 5.13, 14). O assalariado tam bém era usado no serviço m ilitar (Jr46.21) e nos trabalhos dom ésticos (Êx 25.40). Eram considerados pobres e tinham de ser pagos diaria
m ente (Lv 19.13). N o épico babilónico da criação, a humanidade foi criada especificamente para fazer as
tarefas menores que os deuses não estavam dispostos a fazer (construir as casas dos deuses e providenciar
comida para eles).7.6. lançadeira do tecelão. Alguns termos usados neste versículo precisam de um esclarecimento. A palavra que a NVI traduz como "lançadeira do tecelão",
em outras passagens, sempre é traduzida como "tear". O advérbio "d epressa" tem o significado básico de
" le v e " ou, a ind a, " ir r e a l" . F in alm en te, a palavra traduzida como "esperança" tam bém significa fio (p.
ex., o fio escarlate de Raabe em Js 2.18). Nos teares horizontais da época, quatro estacas eram fincadas no chão form ando um padrão retangular. Os fios que form ariam a tram a do tecido eram am arrados nas duas extremidades em varetas, com intervalos regulares; as varetas, então, eram usadas para passar os
fios entre as estacas. Quando as extremidades de cada vareta estivessem presas atrás das estacas, os fios estariam esticados horizontalmente em relação ao chão, em condições de serem tecidos. A seguir, um pino de tear era preso ao fio para fazer a tram a do tecido. U sando-se um a barra para separar esses fios alterna
dam ente, era possível sua passagem pelo pino. Depois que o fio estivesse no lugar, o pino era usado para apertar as fileiras de linha. Q uando o tecido estava pronto, os fios eram cortados do tear, deixando
apenas as sobras dos fios presas às varetas. A tradução a seguir transm ite bem a im agem : "M eu s dias são mais irreais do que um tear no qual chegam a um fim sem esperança/fio".
7.8. teu "o lh ar". N a m itologia egípcia, o deus do céu, Hórus, machuca um olho em um a batalha com Seth. O Sol é visto como seu olho bom e a lua como seu olho machucado. Logo, dia e noite o olho de Hórus observa
o mundo dos homens.
7 .9 ,10 . conceito de vida após a morte. Aqui a ênfase é na finalidade da morte. Para mais informações so
bre o conceito da vida após a morte, ver o comentário em 3.13-19.
7.12. m onstro das profundezas sob guarda. Nas tradições do antigo Oriente Próximo, o m ar ou os monstros que habitavam nele representavam as forças do
caos que deveriam ser derrotadas e contidas, a fim de que a ordem fosse m antida no mundo. M arduque, o herói divino no mito babilónico da criação, apanhou Tiam at e a colocou dentro de um a gaiola trancada com
um a barra, e guardas foram posicionados. Yamm , o
sentir-se tão seguro de suas acusações. Ele usa o princípio da retribuição para criar a tensão de sua acusação contra Deus. Se Deus age segundo o princípio da retribuição, argumenta satanás, Ele estará de fato evitando o desenvolvimento da verdadeira justiça, uma vez que as pessoas farão o que é certo apenas para obter a recompensa em troca. Por outro lado, se Deus não age de acordo com o princípio da retribuição, então as pessoas, como Jó, concluirão que Deus é injusto. Satanás sairia vitorioso se Jó cedesse à pressão de seus amigos. Eles queriam que ele aplacasse a ira de Deus, simplesmente confessando toda e qualquer culpa, independente de considerar-se inocente ou não. Nesse caso, ele poderia unir-se novamente às fileiras dos justos e ter de volta sua prosperidade. Mas, a integridade de Jó faz com que ele recuse colocar em jogo sua justiça - afinal, ele não age simplesmente com justiça esperando obter algo em troca. Ele está interessado em ser declarado inculpável e não meramente em reconquistar sua prosperidade. Sua integridade é um voto de confiança em Deus, porque acredita que Deus considera a justiça mais importante que o apaziguamento de sua ira. O Livro resolve o problema sugerindo que o princípio da retribuição não se constitui numa garantia ou promessa de prosperidade, mas a idéia é a de que Deus tem prazer em recompensar a justiça e leva a sério a necessidade de punir os ímpios. A justiça de Dele não pode ser avaliada, porque ninguém tem informações suficientes para chamá-lo a prestar contas. Ao contrário, as pessoas podem acreditar que Ele é justo porque estão convictas de que Ele é sábio (o impacto dos métodos de Deus).
monstro do m ar na mitologia ugarítica, foi preso por Baal e colocado sob guarda. Esse tipo de im agem tam bém é usado em trechos poéticos do Antigo Testam ento (SI 74.13; 89.9, 10; 104.7-9).7.14. assustas com sonhos. Os pesadelos eram tradicionalm ente vistos, no antigo O riente Próxim o e no mundo clássico, como oriundos de um agente divino demoníaco ou malévolo. Existem também referências a terrores demoníacos da noite nos escritos de autores clássicos como Ovídio e Plutarco. A qui em Jó 7.14, porém, o agente é Deus. A história babilónica (Ludlul
bei Nemeqi) relata acerca de um homem que sofre por estar sendo afligido por agouros assustadores e sonhos aterrorizantes.7.15,16. preferência p ela m orte na literatura de sabedoria do antigo O riente Próxim o. A incom parável obra mesopotâmica, o Diálogo do Pessimismo, é um debate satírico entre um senhor e seu escravo. No final da discussão, o senhor pergunta o que é bom ao
escravo e ele responde que os dois deveriam ter os pescoços quebrados e depois lançados no rio. Porém, o contexto irônico dessas afirmações não nos permite afirmar que os mesopotâmicos sofredores preferiam a morte à vida.7.20. vig ia dos hom ens. Na concepção do antigo Oriente Próxim o, o vigia divino geralm ente desem penha um papel positivo no sentido de garantir a proteção aos homens. Talvez, o paralelo m ais próxim o se encontre na referência ocasional aos sete sábios antigos como vigias. Isso também, geralmente, ocorre em relação à proteção de Yahw eh que vigia Israel (Dt 32.10; SI 12.7; 25.20; 31.23; 40.11; 61.7). N esse caso, porém, Jó vê Deus como um fiscal e não com o um protetor dos seres humanos.
8 .1-22 O primeiro discurso de Bildade8.6, 7. princípio da retribuição. Ver a nota de rodapéno capítulo 3.8.8-10. im portância do ensino tradicional na sabedoria do antigo O riente Próxim o. Juntam ente com outras passagens das Escrituras (Jó 15.18; Dt 4.32; e o apócrifo Eclesiástico 8.9), um a grande parte da literatura de sabedoria da Mesopotâmia (p. ex., a Teodicéia Babilónica "Louvarei o Senhor da Sabedoria" e diversos provérbios sumérios) defende que a sabedoria dos antigos é importante. Na tradição mesopotâmica, os possuidores dessa sabedoria eram os sete sábios idosos, conhecidos como os ctpkallu, que a trouxeram, juntam ente com a arte da civilização, à hum anidade. Essa tradição é representada nas obras de Berossus, por sua afirmação de que a soma total do conhecimento revelado foi transmitida pelos sábios pré-diluvianos.
8 .11 ,12 . analogia do papiro. O papiro não era usado apenas no Egito, m as tam bém na Palestina. Textos ugaríticos descrevem o papiro como original dos pântanos do lago Samak. Era usado para um a variedade de coisas, inclusive cestos, tapetes e pergaminhos para escrita. O papiro cresce bastante e às vezes chega a atingir mais de três metros de altura. No entanto, sua exuberância desaparece rapidam ente se a fonte de água secar.
9.1-10.22O segundo discurso de Jó9.2. ninguém é justo diante de D eus. O texto sumério de sabedoria intitulado O Homem e Seu Deus afirma que "n u n ca nasceu um a criança sem p ecad o". No entanto, esse não era o conceito de pecado original,
visto que esse pensamento reflete a idéia suméria de que os deuses haviam incorporado o m al na civilização humana, desde o princípio.
9.5-9. controle cósm ico da divindade no antigo O riente Próxim o. A últim a parte do versículo 4, juntam ente com o 8, deixa claro que o contexto desses comentários é o conflito cósmico do guerreiro divino. O tema desse conflito retrata a principal divindade sobrepujando as forças cósm icas (geralmente forças caóticas como a morte ou o mar) a fim de promover a ordem no cosmos. No antigo Oriente Próximo, essas forças, geralmente eram personificadas como deuses, mas essa passagem preserva uma certa ambigüidade nessa questão. Aqui, Yahw eh subjuga as montanhas (v. 5), aterroriza o m undo inferior (v. 6; a palavra
hebraica traduzida com o "terra" às vezes significa mundo inferior e os verbos aqui transmitem a idéia de tremer de medo não por causa de um terremoto), extingue o Sol (v. 7; provavelm ente através de um eclipse), prende as estrelas em sua seqüência de aparição (v. 7), estende os céus (v. 8; com o cadáver do inimigo derrotado como no Enuma Elish?), derrota o mar (v. 8) e forma as constelações (v. 9).9.6. colunas da terra. A s colunas às vezes são consideradas como representações de fronteiras. O templo de Salomão tinha duas colunas, no pórtico, que podiam servir como um limite para o santo lugar. O tabernáculo usava colunas de onde as divisórias eram penduradas para estabelecer o limite entre o pátio e o santo lugar. Até mesmo quando elas sustentavam algo (como no templo filisteu que Sansão derrubou), dados arqueológicos sugerem que serviam como divisas para pórticos ou pátios. N a Babilônia, m arcos de divisa conhecidos como kudurrus tinham a forma de coluna, m as a conexão pode ser acidental. A literatura do antigo Oriente Próximo não apresenta paralelo com a terra sendo sustentada por colunas. A outra única
referência, no Antigo Testamento, fica em Salmo 75.3, que pode ser interpretada como mantendo divisas de distinção. Em Jó 26.11, os céus têm colunas, m as esse com entário tam bém ocorre em relação à divisas (v. 10). É m ais provável que as fronteiras cósm icas da terra sejam aquelas entre os v ivos e os m ortos. A palavra traduzida como "terra", nesse versículo, às vezes refere-se ao mundo inferior. Na literatura aca- diana, as fronteiras do m undo inferior são representadas por portões.9.7. veda a luz das estrelas. A palavra " lu z" (NVI) não ocorre no hebraico, que diz "e le fixa um selo em volta das estrelas". Isso sugere que Yahw eh é quem determ ina a seqüência da aparição das estrelas e os caminhos por onde elas passam. N a astronomia mesopo- tâmica (Mul-Apin), as trinta e seis principais estrelas eram divididas em três segmentos conhecidos como os cam in hos de A nu, E n lil e Ea. Esses cam inhos estelares predeterminados ocupavam as faixas norte, sul e equatorial do céu. Na série de presságios conhecida como Enuma Anu Enlil, os deuses Anu, Enlil e Ea estabelecem a posição, localização e caminhos das estrelas. No texto Enuma Elish, o deus M arduque estabelece a posição das estrelas. Na visão mesopotâmica, as estrelas eram entalhadas na superfície de jaspe dos céus intermediários e toda essa superfície se movia. Todos esses exemplos explicam o verbo "vedar" usado neste texto de Jó , visto que o que é fixado ou inscrito é "vedado ou selado".
9.8. anda sobre as ondas. É m ais provável que o termo "on das" tenha o sentido de "costas ou dorso" de algo. É com esse sentido que a mesma palavra hebraica é usada em Deuteronôm io 33.29, onde as costas do inimigo são pisadas. Nos mitos de Baal, Yam , "M ar", é um de seus principais oponentes. Visto que Yam também é a palavra hebraica para m ar, neste versículo; andar sobre suas costas seria uma imagem apropriada de domínio. A iconografia egípcia ilustra o faraó usando os inim igos derrotados como seu escabelo. Assim, como andar sobre as costas expressa a derrota de um inimigo, estender os céus, evoca a im agem de M arduque usando o cadáver do inim igo derrotado, Tiamat, para fazer os céus. Ambas essas imagens se refletem no versículo 4: "Q uem tentou resistir-lhe e saiu ileso?".9.9. constelações. Evidências textuais da Babilónia, inclusive o "tablete de V ênus" de A m m isaduqa (c. 1650 a.C.) indicam que estudos astronôm icos eram conduzidos com habilidade e precisão. Em bora a astrologia também fosse predom inante nos últimos períodos do Egito e na Mesopotâmia do período persa, parece que essa atividade de adivinhações, interpretação de presságios (ver Is 47.13) era apenas uma
extensão do trabalho de um a ciência verdadeira, a astronomia. H á registros do movimento dos planetas, da posição das principais estrelas e constelações fixas, bem como, de descrições das fases da lua e de eclipses solar e lunar. Considerando-se o conhecimento difundido acerca das estrelas e dos planetas nas culturas m esopotâmica e egípcia, era necessário que os escritores e profetas bíblicos atribuíssem esses corpos celestes à criação de Yahweh. As constelações mesopotâ- micas incluem figuras de animais como bode (Lira) e serpente (Hidra); objetos como uma flecha (Sírio) e um carro (Ursa Maior) e personagens como Anu (Órion). As constelações m ais populares eram a Plêiade, retratada com freqüência em selos na Palestina e na Síria. Textos neo-assírios preservam esboços de estrelas em constelações. Um a oração aos deuses da noite de 1700a.C. invoca as constelações por nom e, pedindo-lhes que respondessem ao adivinho que buscasse um presságio. A prim eira constelação m encion ada, neste versículo, é incerta. Leão e a Ursa M aior são as duas principais candidatas.9.9. constelações do sul. Na literatura mesopotâmica, a parte sul do céu é descrita como o caminho de Ea. Mas o texto aqui se refere às "câm aras" do sul, que podem ou não se referir a constelações.9.13. Raabe e seu séquito. Raabe é descrito como um dos monstros m arinhos mortos por Deus (Jó 26.12; SI 89.11; Is 51.9). Em ambos os mitos da criação (babilónico e ugarítico), a divindade vencedora (Marduque na Babilônia e Baal em Ugarit) luta e mata um monstro m arinho, e seu séquito de form a sem elhante a Yahweh. Em outros contextos, o termo Raabe é simbolicamente usado para designar o Egito (Is 30.7; SI87.4). O nom e Raabe ainda não foi encontrado em fontes extrabíblicas.9.17. esm agar com tem pestades. Alguns intérpretes
argumentam (com o respaldo de uma versão antiga) que o termo hebraico para "tem pestade", na verdade, é "cabelo", visto que um a tempestade não necessariam ente "esm aga" alguém . Portanto, a tradução ficaria "p or um cabelo, Ele me esm aga", significando que Deus esm aga Jó por um fio de cabelo (ou seja, por
nenhuma razão ou por algo muito pequeno). Contra essa interpretação está o fato de que o verbo não precisa ser tão específico como "esm agar", m as refere-se
a aplicar a alguém um golpe potencialmente mortal (mesmo verbo usado duas vezes em G n 3.15). A referência à tempestade também se encaixaria m elhor no contexto cósmico.9.26. barcos de papiro. Existem representações artísticas no Egito que m ostram o uso de juncos de papiro na construção de barcos. Isso é declarado explicitamente pelo autor clássico, Plínio, em sua H istória Natural.
Isaías 18.1, 2 refere-se a essas em barcações de junco que eram consideradas muito leves e rápidas, porém,
bastante frágeis.
9.30. sabão e soda de lavadeira. Os term os usados aqui são bor, que se refere a aleli (potassa), substância
obtida a partir das cinzas de plantas queim adas, e
lixívia, um a solução alcalina; dois dos produtos de
limpeza mais fortes que os israelitas conheciam. Visto que a limpeza do corpo normalmente era feita espa
lhando e esfregando óleo na pele, o uso desses pode
rosos detergentes era uma medida extrema.9.31. poço de lodo. Embora o termo para poço de lodo
geralmente designe a habitação dos mortos em Israel
(Jó 17.14; 13.22; 28) e no antigo Oriente Próximo, aqui
o termo refere-se a um a fossa.9.33. árbitro no sistem a ju d ic ia l do antigo O riente
Próximo. Textos sumérios freqüentemente descrevem
um deus pessoal que intercedia pela causa de um indivíduo diante do supremo concílio dos deuses. Ele
era, na verdade, um advogado. Além do mais, o sis
tema judicial na Mesopotâmia era bastante sofisticado. Um juiz muitas vezes arbitrava entre duas partes que
disputavam por um a propriedade m óvel ou imóvel
(p. ex., herança, localização e dim ensões de terra e
preço de venda de propriedade). O texto egípcio Instruções de Amenemope aconselha "N ão diga 'Tragam -
m e um protetor porque aquele que m e odeia me
causou mal'. Na verdade, você não conhece os planos de deus" (tradução de M. Lichtheim).
10.15. dom inado pela vergonha. De acordo com a
crença do princípio da retribuição (ver nota de rodapé
no cap. 3), a vergonha seria o resultado natural do sofrimento que proclam aria a todos ao redor que a
vítima estava sendo castigada por Deus. Quanto mais
dram ática a m udança na sorte da pessoa e quanto mais grave o sofrimento, maior se supunha o pecado.
Portanto, com base nas evidências circunstanciais, Jó seria julgado como uma pessoa vil, sendo humilhado
publicam ente.
10.18. desejo de nunca ter nascido. No M ito de Erra e Ishum, o governador da cidade que está sendo des
truída é retratado dizendo à sua m ãe de seu desejo de nunca ter nascido ou de ter sido impedido de nascer
para que não sofresse tal destino.
10.21 ,22 . terra de som bras e densas trevas. Cinco palavras hebraicas são usadas aqui para descrever a es
curidão na terra de "som bras e densas trevas", ou seja, Sheol, a habitação dos m ortos. Esse lugar era consi
derado mais escuro que as trevas da noite na terra. No antigo Oriente Próxim o, o m undo inferior geralm ente era considerado um lugar de escuridão (em acadiano "casa da escuridão"), onde não havia luz.
11 .1-20O primeiro discurso de Zofar11.13. estender as m ãos. Estender as mãos, como um gesto comum de oração, era um a im agem típica da iconografia do antigo Oriente Próximo. O indivíduo levantava as mãos com as palmas viradas para cima, próxim as um a da outra, até a altura do rosto. Era considerado um gesto de humildade.
12.1-14.22O terceiro discurso de Jó12.24. líd eres privados de razão. H ouve m uitos exemplos, no mundo antigo, de reis que se tom aram vítimas de suas próprias buscas pela glória. Não importa se eram buscas individuais, como a de Gilgamés, que perseguiu a imortalidade até os confins da terra; buscas religiosas (econômicas?), como a de Nabonido, no exílio de treze anos que impôs a si mesmo em Teimá; ou buscas m ilitares, como a desastrosa tentativa da Pérsia em expandir seus limites até o oeste do Mediterrâneo. Todas essas buscas eram alimentadas pela megalomania desses líderes e caracterizadas por uma insaciável auto-indulgência.13.4. m édicos no antigo O riente Próxim o. H avia dois tipos de procedimentos m édicos na M esopotâmia: um m ágico que curava o paciente através de encantamentos (geralmente expelindo demônios) e um médico que geralmente fazia uso de ervas e remédios. O médico norm almente era subordinado ao mágico que conduzia o prim eiro através de encantam entos. As funções de ambos não eram exatamente distintas; o mágico muitas vezes usava remédios em suas curas e o médico, encantamentos.13.12. provérbios de cinza. As cinzas eram misturadas com água para formar fuligem, um a substância usada para escrever. Era usada apenas em situações informais e provisórias. Bastante parecida com o nosso giz atualmente, essa substância era facilmente apagada. Certam ente ninguém iria registrar verdades m em oráveis usando cinza. Jó sugere que o legado da sabedoria de seus am igos não passa de rabiscos de giz.13.12. defesas de barro. O significado incerto da palavra traduzida como "defesas" gera diversas possibilidades de interpretação. Se a metáfora faz referência às defesas de uma cidade, então o barro seria usado para fazer tijolos. N a M esopotâmia, os tijolos de barro eram levados ao forno para secar, resultando num m aterial muito resistente. Em outras regiões, inclusive em Israel, eles eram inferiores, visto que eram deixados para secar ao Sol; m uros das cidades feitos com tijolos de barro não resistiam a ataques. Uma segunda possibilidade é a de que "defesas" refere-se aos argumentos verbais, ou seja, à retórica dos amigos. Nesse caso, o
barro pode referir-se a um tablete de argila onde se
podia escrever e depois apagar, dando continuidade ao tema de como seus argumentos eram inócuos.
13.27. lim ites aos m eus passos. O simbolismo exato
dessa expressão foge aos comentaristas. Alguns sugerem que os pés do prisioneiro eram marcados ou quei
m ados de alguma forma, a fim de que seu rastro fosse identificado com sucesso; m as não existe evidência de
tal prática.
14.5. os dias do hom em estão determinados. A idéia de que os dias do homem estão contados está presente
em outras passagens das Escrituras (SI 39.4). Porém, a idéia aqui, provavelmente, não é a de que uma dura
ção específica da vida foi predeterminada, m as sim, a de que qualquer duração seria um período compara
tivamente insignificante. No épico de Gilgamés, este diz a Erikidu que os deuses vivem para sempre, porém os dias dos homens são contados e nada do que
eles alcançam é permanente.
14.10-13. conceito da vida após a m orte / Sheol. Vero comentário em 3.13-19.
14.13, 14. ressurreição no antigo O riente Próxim o.Há diversos conceitos distintos de vida após a morte
evidentes no antigo Oriente Próximo. O mais fundam ental deles é a continuação da existência, num m un
do inferior de sepulturas, onde não há diferenciação
no tratamento dado ao justo e ao ímpio. Os israelitas
chamavam esse lugar de Sheol, e acreditavam que ali não era permitida nenhuma interação com Deus. Em
Canaã e na M esopotam ia existiam div ind ades do
mundo inferior que governavam essa dimensão. No
Egito, a existência nesse mundo era m ais compatível
para aqueles que passavam pelo julgam ento e adentravam em seus confins. Quem não fosse aprovado
era devorado. Nenhum desses conceitos inclui a idéia de ressurreição. De m odo geral, o único despertar
que acontecia na visão de m undo antiga era a invoca
ção dos espíritos dos mortos (que não era permanente nem na presença corporal) ou o levantar dos deuses
da fertilidade, nos ciclos da natureza. Estes morriam
anualmente quando o ciclo agrícola terminava, e "passavam o inverno" no m undo inferior. Depois, eram
ritualm ente despertados na prim avera. N ada disso
apresenta qualquer semelhança com a doutrina teoló
gica da ressurreição. Igualmente não são comparáveis
a revificações ocasionais (quando um indivíduo é trazido de volta à vida) ou a indícios de um retom o nacio
nal à vida (os ossos secos de Ezequiel). Uma doutrina da ressurreição inteiramente desenvolvida e elabora
da, no sentido atual, inclui seis elementos: (1) individual, não nacional; (2) m aterial, não espiritual; (3)
universal, não isolada; (4) fora do mundo inferior; (5)
imortalidade permanente e (6) distinções entre o justo e o ímpio. O zoroastrismo parece conter todos esses
elem entos, m as a natureza das fontes não perm ite
identificar o período a partir do qual os persas passaram a desenvolver esses conceitos (para m ais infor
mações, ver o comentário em Is 26.19).
14.17. encerradas n u m saco. Itens im portantes (tais como documentos em papiros) com freqüência eram co
locados em um saco que era selado geralm ente com argila, tom ando assim seu conteúdo inacessível a pes
soas não autorizadas. M ilhares de selos de argila foram encontrados em toda a M esopotâmia e em outras par
tes do Oriente Próximo. Na M esopotâm ia, porém, se
los de argila e sacos (ou jarros) não eram usados para documentos. Importantes tabletes de argila eram sela
dos num envelope de argila que, na verdade, resumia o conteúdo do documento depositado em seu interior.
15.1-35O segundo discurso de Elifaz15.7. prim eiro hom em igualado a um hom em sábio.N a tradição israelita, o primeiro homem, Adão, não
nasceu, m as foi criado, por isso nunca foi igualado a
uma tradição de sabedoria. Na tradição mesopotâmica, Adapa, às vezes considerado o primeiro homem, foi
formado por Ea, o deus da sabedoria, como um mo
delo para a hum anidade. Adapa recebeu sabedoria, porém, não recebeu a vida eterna. Quando o rei dos
deuses, Anu, lhe ofereceu a vida eterna, A dapa foi
enganado de m odo a recusá-la. Por isso, toda a hum a
nidade está resignada a um destino que agora inclui a m orte e as doenças, sem acesso à vida etem a. Adapa
era considerado o primeiro de um a série de sete sábios que transmitiram à hum anidade a arte da civiliza
ção. É improvável, no entanto, que um a tradição es
pecífica esteja sendo aludida neste versículo.15.27, 28. relação entre gordura e prosperidade. A
gordura era igualada a saúde e riqueza em Israel,
porque os ricos e prósperos tinham os recursos para
um a vida de prazeres e com ida em abundância, a ponto de engordarem. A obesidade, portanto, era si
nal de bênção e favor de Deus.
15.33. vinha despojada de suas uvas verdes. Não se
trata de um a vinha doente, mas sim, de um a vinha
saudável cujas uvas tenras (verdes) são arrancadas antes que possam amadurecer.
15.33. oliveira que perdeu a floração. Em bora a oliveira tenha um a grand e quan tid ad e de brotos, a
maioria deles cai e não chega à maturação completa.
Da mesma forma, os desígnios do ímpio, tal como as uvas verdes e as flores da oliveira, não chegarão à
maturidade completa.
16.1-16 O quarto discurso de Jó16.9. D eus irado. D ivindades beligerantes eram comuns na cosmovisão religiosa do antigo Oriente Próximo. N um sistem a politeísta, os deuses não eram considerados amigáveis, sinceros ou previsíveis. Exemplos incluem o deus mesopotâmico Ea dizendo a seu "favorito" Adapa que a comida que estaria servindo a ele era o "pão da m orte", quando, na verdade, lhe garantiria a vida eterna. No épico de Gilgam és, os conselhos de Ea enganam o povo, levando-os a pensar que as bênçãos não cairiam sobre eles, a menos que U tnapishtim fosse em bora em seu barco. Após terem-no enviado, são surpreendidos por um a inundação que destrói a todos. Por volta de 1200, os líbios se queixam de que os deuses lhes deram apenas uma vitória inicial contra o Egito, pois o intento final desse povo, era destrui-los. No Egito, os textos mortuários (textos da Pirâmide e textos do Esquife) tinham como alvo as divindades hostis. Existem inúm eros exem plos, tanto de deuses quanto de praticantes de magia lançando m au olhado sobre alguém.16.15. veste de lam ento (pano de saco). O pano de saco era usado por aqueles que estavam de luto por causa de alguma catástrofe ou pela morte de um ente querido. Era o sinal de luto m ais convencional do antigo Oriente Próximo. A veste em si era um pedaço grande de pano, provavelmente na forma de um saco de cereais ou um pano menor usado ao redor da cintura. A referência, aqui em Jó, é a única nas Escrituras em que o pano de saco é costurado, embora, provavelmente, seja um a referência metafórica (Jó o costurou permanentemente sobre a sua pele, i. e., ele estará de luto pelo resto de sua vida).17.3. garantia/segurança. Era comum fazer e receber garantias nas Escrituras (ver os comentários em Êx21.2-6; 22.6, 7; Dt 24.10-15) e no antigo Oriente Próximo. Porém, existem provérbios que alertam as pessoas a não serem fiadoras sem garantia ou penhor (Pv 6.1; 11.15; 17.18; 22.26). O penhor era alguma posse (veste, anel ou até m esm o um filho) que a pessoa dava a seu credor como um a garantia de que pagaria sua dívida.17.16. portas do S h eo l. A creditava-se que o Sheol fosse como um a cidade terrena onde havia casas e até muros (primordialmente para m anter seus habitantes presos). No texto A Descida de Istar, o mundo inferior tem um complexo de portões com sete portas e porteiros em cada um a delas, controlando o acesso.
18.1-21O s e g u n d o d iscu rso d e B ild a d e18.13. o prim ogênito da m orte. A opinião prevalecente é de que Jó está descrevendo uma doença fatal.
Textos ugaríticos narram um a divindade cham ada M orte (Mot) que governava o mundo inferior, embora não haja nenhuma m enção a seu primogênito. Uma escolha lógica seria Resefe, o deus da peste, às vezes igualado a N ergal, o governante m esopotâm ico do mundo inferior. Infelizmente, nenhum indício é dado da ascendência de Resefe.18.14. rei dos terrores. Mot era o rei dos terrores na mitologia ugarítica. É provável que os terrores fossem hostes demoníacas comissionadas por Mot para afligir os vivos. N a M esopotâm ia e na Grécia, essas hostes eram consideradas terrores aos vivos.18.15. enxofre ardente. O enxofre ardente é encontrado em regiões com atividade vulcânica (p. ex., na área do m ar Morto). Quando queima, form a o nocivo gás dióxido de enxofre. O termo geralmente é associado à ira de D eus (ver os comentários em ls 30.33 e Ez38.22). A terra contaminada com o enxofre ardente se tom ava estéril (ver o comentário em Dt 29.23).
19.1-29 O quinto discurso de Jó19.20. pele dos m eus dentes. Alguns estudiosos acreditam que há um a ironia nessa expressão, um a vez que os dentes, assim como as unhas, são partes do corpo que não são revestidas por pele. Outros, porém, consideram que pode ser uma referência à gengiva, significando que todos os seus dentes haviam caído.19.24. ferro no chum bo. Presume-se tratar da descrição de um estilo de ferro que entalhava letras que eram preenchidas por chumbo. A inscrição de Dario I, rei da Pérsia, em Behistun, no Irã, parece ter sido
gravada com chumbo. Além do mais, tabletes de chumbo eram usados pelos hititas, bem como pelos gregos e romanos.
20.1-29 O segundo discurso de Zofar20.8. voa como um sonho. O verbo "v oar" pode ser usado para a morte (SI 90.10). Outros textos descrevem os inim igos como fantasmas em sonhos (SI 73.20 e ls 29.7). No modo do pensar mesopotâmico, os son hos eram trazid os p elos deuses pela div ind ade Zaqiqu, cujo nome deriva de uma palavra que significa espírito ou sopro.20.24. arm a de ferro/ bronze de sua flech a. O ferro e o bronze juntos eram considerados símbolos de força 0ó40.18). A palavra para arm a é um termo genérico que se refere a q u alqu er p arte do eq u ip am ento de um soldado (tanto arm as de defesa quanto de ataque; ver a lista representativa em Ez 39.9). Um a arma de ferro, portanto, referia-se a um a arm a letal. Pode ser significativo, entretanto, que o cognato ugarítico refira-se,
de forma m ais específica, a um dardo. "Bronze de sua flecha" é a interpretação da NVI para "arco de bronze". A eficácia de um arco depende de sua flexibilidade, portanto, ninguém esperaria que fosse feito de bronze. Foram encontrados modelos desse tipo, dedicados como peças de exibição; m as, nenhum arco operacional com ornam entos de bronze foi descoberto.
21.1-34 O sexto discurso de Jó21.12. tam borim , harpa e flauta. Todos esses são instrumentos típicos da época e confirmados em textos, relevos e pinturas do antigo Oriente Próximo, desde o terceiro m ilênio a.C.. A "h arp a" era segurada pela mão e se constituía de algumas cordas presas a uma armação de madeira. O tamborim foi identificado em relevos arqueológicos como tambor, era um pequeno pandeiro (couro esticado sobre um aro) sem os peque
nos guizos ou chocalhos típicos dos modernos. O instrumento traduzido como flauta provavelm ente era uma flauta dupla, feita de bronze ou de junco.
22.1-30 O terceiro discurso de Elifaz22.2. utilidade do hom em a D eus. Na Mesopotâmia acreditava-se que a hum anidade havia sido criada com o objetivo definido de servir aos deuses e fazer tarefas menores que eles não se dispunham a fazer. Portanto, os deuses dependiam da humanidade para a limpeza e manutenção de suas casas (i. e., templos) e para o suprimento diário de suas necessidades (alimento e roupas). As estátuas dos deuses eram literalm ente vestidas diariam ente, e oferendas de comida eram dedicadas a eles todos os dias.
22.6. penhores. Um credor podia aceitar, como garantia, algo escolhido pelo devedor, exceto um a ferra
m enta que ele usasse em seu trabalho (ver D t 24.6,1 0 ,11 ). Se fosse uma capa, deveria ser devolvida ao devedor ao anoitecer, para que ele pudesse proteger- se do frio (Êx 22.26, 27; D t 24.12,13).22.14. abóbada dos céus. Um hino babilónico ao deus sol, Sham ás, o exalta como o único na abóbada dos céus que governa os povos. A palavra hebraica que a NVI traduz como "abóbada" é a m esma palavra traduzida como "cúpula" em Isaías 40.22 (ver o comentário lá). O termo acadiano usado neste e em contextos semelhantes sugere que a forma dos céus e da terra era circular, não como um a esfera, m as plana como um disco. Existe certa evidência textual que insinua que os céus eram vistos como um a cúpula, m as outras informações seriam necessárias para se chegar a essa conclusão. Não tendo nenhuma revelação contrária, Israel compartilhava dessa visão antiga.
22.24. ouro de O fir. O ouro de O fir é m encionado num a inscrição do oitavo século em Tell Q asile. A localização precisa de Ofir é desconhecida. Pelo fato de que o ouro dali era enviado por navio em Eziom- Géber pode-se tratar de uma localidade árabe, embora lugares na índia e no leste da Africa tenham sido considerados.
23.1-24.25 O sétimo discurso de Jó23.10. aparecer como o ouro. A analogia feita aqui é a do processo de purificação do ouro. O ouro é refinado e purificado através de um processo cham ado copelação ou refino. Ele é colocado num cadinho com chumbo e é derretido. À medida que o ar é soprado na superfície da m istura derretida, as im purezas se juntam formando a escória e o metal purificado permanece. Assim como o ouro que resulta desse processo, Jó teria sua honra restaurada após seu próprio "processo de purificação" (i. e., seu sofrimento).24.2. m udar os m arcos dos lim ites. Mudar desonestamente um marco de limite (i. e., limites de uma propriedade) era considerado um crime muito grave (Dt 19.14; Pv 23.10). O objetivo desses marcos era proteger a propriedade da família (geralmente a terra). Na M esopotâmia, os m arcos continham inscrições com a descrição dos limites da propriedade e um a terrível m aldição contra o crim inoso que os alterasse. Essas maldições geralmente eram um a descrição de doenças dirigidas contra o corpo do ofensor. Ironicamente, elas nos ensinaram muito a respeito da compreensão que os mesopotâmicos tinham das enfermidades.24.9. criança arrancada da m ãe por causa de dívida. N a M esopotâmia, as crianças às vezes eram entregues
como garantia de um a dívida ou simplesmente tomadas pelos credores quando o devedor não podia pagá- la. Porém , os credores eram considerados desleais, nesse caso. Ver tam bém o comentário em Jó 17.3.24.11. azeitonas dentro de seus m uros. É possível que o termo usado aqui (shur) refira-se aos aterros que permitiam que as oliveiras crescessem na encosta de colinas. Outros intérpretes acreditam que o termo indica o equipamento usado para processar o azeite. As vinte e duas fábricas de azeite, nas cavernas de Ma- resha, fornecem detalhes do processo de fabricação do mesmo. Como parte inicial desse processo, as azeitonas eram esprem idas num a bacia de pedra, através de um a pedra com formato de lente que era rolada sobre elas. No segundo estágio, cestos de junco, cheios de polpa, eram colocados em prensas feitas de rocha côncava onde pesos suspensos em vigas eram usados para extrair o restante de óleo. U m a das palavras acadianas para o cesto de junco é shuru.
24.11. lagares. O ú ltim o e s t á g io do p rocesso de fabricação do vinho é mencionado aqui: as uvas eram pisadas no lagar, de onde o suco escorria para os tonéis. O s lagares foram encontrad os por arqu eólogos na Palestina. Geralmente eram buracos quadrados ou redondos, cortados na rocha ou cavados no chão, e selados com gesso ou revestidos de pedras. As uvas eram
colocadas no buraco e depois eram pisoteadas. O suco, então, escoava por um canal até um a vasilha, colocada um pouco abaixo do lagar (barril de vinho) que servia tam bém com o um recipiente para a ferm entação.24.17. pavores das trevas. O uso da expressão "rei dos terrores" em 18.14 e o contexto do termo em Ezequiel 27.36 e 28.19 sugere que o termo "terrores" pode ser usado como uma referência aos espíritos dos mortos que foram despachados ao mundo inferior.
25.1-6 O terceiro discurso de Bildade25.2. ord em n as a ltu ras. A exp ressão litera l é "E le prom ove a paz em suas alturas", ou seja, nos céus. A maioria argumenta que o escritor está aludindo ao conflito prim itivo (Jó 9.13; 26 .12 ,13) em que D eus derrotou Leviatã e outros m onstros. Baal (U garit) e M ar- duque (Babilônia) colocaram ordem nos céus após a derrota de seus inimigos. A tradução da NVI não é sem
relação, visto que a derrota dos m onstros do caos é o m eio pelo qual a ordem foi estabelecida no cosmos.25.5. nem as estrelas são puras. Não se sabe de nenhuma tradição sobre estrelas deificadas ou personificadas que fossem culpadas por alguma falha ou pecado. A palavra "pu ra" pode também ter a conotação de clara ou lim pa e , provavelm ente, aqui se refere ao fato de que as estrelas nem sempre brilham com clareza e limpidez no céu da noite, m as podem ser obscuras ou opacas.
26.1-27.23 O oitavo discurso de Jó26.6-11. cosm olog ia . H avia um a divisão tríp lice do cosmos: os céus, a terra e a dimensão dos m ortos abaixo da terra (Sheol e Abadom, no v. 6). Essa cosmologia em três p a rtes era b a s ica m e n te se m elh a n te à da M esopotâm ia e, de algum m odo, parecida com a dos textos de Ugarit. A im agem do Universo descrita aqui era a visão cosmológica comum do antigo Oriente Próximo. O céu era um círculo (cúpula? Ver o comentário em 22.14) que formava uma abóbada sobre o disco da terra que, por sua vez, ficava sobre o cum e de um oceano primitivo. Debaixo desse oceano ficava o mundo inferior, virtualm ente um a im agem espelhada do espaço sobre a terra. Portanto, todo o Universo era uma enorm e esfera cortada ao centro pela terra.
26.6. D estruição (Abadom). O p a ra le lo a Sheol (NVI: D estruição) sugere se tratar de um lugar e não de uma pessoa. O radical hebraico do qual o termo deri
va confirma que é um lugar de destruição. Em 28.22, A badom é personificado, ju ntam ente com a m orte (hebraico, m ot); é um nom e bastante usado para se referir ao deus cananeu do mundo inferior. O termo hebraico é adotado como um nome próprio em Apocalipse 9.11, onde é igualado ao grego Apoliom. Na mitologia grega, Apoio é o deus da peste e da destruição. Em acadiano, o mundo inferior é descrito como a casa da escuridão e não como o lugar da destruição.26.7. norte. A palavra hebraica zophon tem o significado de norte somente porque se refere a um a m ontanha que ficava no norte (geralmente identificada com o monte Casius, Jebel aTAqra, na Síria, altitude 1.800 m). Sua função aqui não é sua localização, mas seu stütus de "m ontanha sagrada" (SI 48.1): os altos céus onde os deuses se reúnem em assembléia e, na literatura ugarítica, onde fica a casa de Baal.26.7. suspende a terra sobre o nada. O vasto espaço vazio das águas primitivas é descrito como o "nada" onde a terra fica suspensa. Um a evidência para essa interpretação é a de que a palavra que descreve o lugar onde o norte é estendido (NVI "espaço vazio") é a m esm a que n arra o caos cósm ico das águas em Gênesis 1.2 (NVI "sem form a"). N a literatura babilónica, Shamás é louvado como aquele que suspende dos céus o círculo da terra. Esse conceito fazia parte da percepção antiga do cosmos e não de uma alusão implícita à compreensão científica moderna sobre o planeta. Ver o comentário em Salmo 24.2.26.10. horizonte como lim ite. Na cosmovisão do antigo O riente Próxim o, o Sol, a Lua, as estrelas e as nuvens entravam no céu através de portões, e o horizonte era o limite onde esses portões ficavam. Portanto, quando o Sol nascia ou se punha, ele estava atravessando esse portão no horizonte que passava pelo mundo inferior. Eles acreditavam que durante a noite, o Sol atravessava o m undo inferior até chegar ao outro lado. Aqui, o horizonte é descrito como o limite entre a luz e as trevas.26.11. colunas dos céus. Ver o comentário em 9.6.26.12. agitou vio len tam en te o m ar. Essa descrição indica um a típica cena mítica em que a agitação do oceano cósmico perturba as criaturas (com freqüência monstros marinhos) que representam as forças do caos e da desordem. No texto Enuma Elish, o deus do céu, Anu, cria os quatro ventos que agitam as profundezas e sua deusa, Tiamat. A descrição tam bém rem ete à derrota de Yam, por Baal, na mitologia ugarítica.26.12. Raabe. Raabe é descrito como um dos monstros m arinhos m ortos por Deus. Em am bos os m itos da
criação (babilónico e ugarítico), a divindade vencedora (Marduque na Babilônia e Baal em Ugarit) luta e m ata um m onstro m arinho e seu séquito de form a semelhante a Yahweh. Em outros contextos, o termo Raabe é simbolicamente usado para designar o Egito (Is 30.7; SI 87.4). O nome Raabe ainda não foi encontrado em fontes extrabíblicas.26.13. serpente arisca. Essa é, provavelm ente, outra alusão à derrota do monstro m arinho e seus aliados. M arduque derrotou Tiam at através de um poderoso vento e usou um a rede para capturá-la. A serpente arisca também aparece em Isaías 27.1 (ver o comentário nessa referência).27.18. cabana fe ita p ela sentinela. A cabana feita pela sentinela era frágil e usada apenas temporariamente. O s agricultores faziam esses abrigos provisórios, no meio de seus campos, a fim de armazenar os cereais durante as colheitas.27.23. bate palm as contra ele. Gestos e linguagem corporal ganham diferentes significados em diferentes culturas. N a sociedade ocidental atual, as palmas podem ser usadas para demonstrar apreciação, cham ar subordinados ou crianças, chamar a atenção de alguém, acompanhar um a música ou expressar frustração (uma palma). As palmas tam bém tinham diversas funções no m undo antigo. Elas podiam ser usadas no louvor (SI 47.1), ou aplauso (2 Rs 11.12), ou como um gesto de raiva ou escárnio (Nm 24.10). Talvez houvesse variações no movimento preciso envolvido: compare os diferentes sentidos na cultura oci
dental de (1) bater palmas com as mãos paralelas ao corpo num nível horizontal (aplauso); (2) bater palm as num m ovim ento ligeiram ente vertical (frustração) e (3) bater palmas perpendiculares ao corpo, alternando uma mão por cima e outra por baixo (como se estivesse limpando a poeira das mãos).
28.1-28Hino de sabedoria28.1-11. m inas no antigo O riente Próximo. A Palestina, assim como a M esopotâmia, geralmente era pobre em recursos minerais. Existem inúmeros depósitos de ferro de baixa qualidade, na Palestina; os de boa qualidade são poucos. Os únicos principais depósitos de ferro n a P a lestin a , atu alm ente, en contram -se em Mugharat el-Wardeh, nas colinas de Ajlun, perto do rio Jaboque. As minas de cobre estão situadas basicamente na Transjordânia. Enquanto o ferro pode ser extraído da superfície, a extração do cobre exige uma escavação profunda. O ouro era extraído em Núbia e no sul da Arábia, enquanto que na Turquia era feita a extração da prata. Evidências de m inas vêm do Egito desde a Primeira Dinastia (c. 3000 a.C.). O mé
todo metalúrgico, descrito aqui em Jó, pode ser visto num a série de relevos egípcios, em paredes funerárias do N ovo Reinado (c. 1550-1050 a.C.). A s m inas subterrâneas, descritas aqui, começaram a ser utilizadas no antigo Oriente Próximo por volta de 2000 a.C.. Poços verticais eram cavados em intervalos até alcançar o veio horizontal de minério. No Egito, havia a preferência por m inas abertas; e, às vezes, poços horizontais eram cavados na encosta das montanhas ou em penhascos. Por volta da metade do segundo m ilên io , as subterrâneas eram m ais freqüentes. A s de cobre e turquesa do Egito, no Sinai, forneceram m uitas informações a respeito de técnicas de mineração e da profissão de minerador.28.5. fogo. Nas minas antigas, a rocha era partida por meio de um processo chamado "atear fogo" e depois era m olhada com água fria m isturada com vinagre (acreditava-se que se intensificava o frio).28.6. safiras (lápis-lazúli). A safira (lápis-lazúli) era uma pedra azul-escura encontrada principalmente no Irã. Tem sido encontrada, com freqüência, em escavações arqueológicas na região do Tigre e Eufrates, especialm ente em túm ulos reais m esopotâm icos. Os depósitos de safira muitas vezes eram m esclados com veios de pirita, talvez o ouro mencionado aqui.28.16-19. pedras preciosas. A s diversas pedras preciosas aqui mencionadas eram todas de grande valor. O term o para ouro deriva de um a palavra egípcia referente ao lugar onde era extraído, provavelmente Núbia. A identidade das pedras preciosas do versículo
16 não é certa; alguns estudiosos têm sugerido o ônix ou a comalina. O vidro ou cristal era produzido no Egito desde o quarto m ilênio a.C., prim ordialm ente para ornamentação (embora o uso de vasilhas de vidro tenha se tom ado comum na Palestina somente a partir do prim eiro século a.C .). A prim eira pedra mencionada no versículo 18 foi considerada a coral, um a pedra vermelha, usada para enfeite. A palavra para cristal (gabish) é a origem do termo gipsita e é usada somente neste contexto das Escrituras. A última pedra do versículo 18 é um tipo de rubi, enquanto o topázio (v. 19) designa a crisólita amarela.
28.20-28. fon te de sabedoria na concepção do antigo O riente Próxim o. Na M esopotâmia, a sabedoria não era considerada um a habilidade intelectual ou uma qualidade moral, m as sim, um a habilidade específica, geralm ente em rituais cultuais ou de magia. A principal divindade associada à sabedoria era Enkidu (ou Ea) que concedeu as artes rituais e cultuais à humanidade. Portanto, a fonte da sabedoria era o próprio Enki, apesar dele ser apenas o principal repositório e não a origem da dela. Igualm ente, Yahw eh, nos versículos 23-27, é retratado como aquele que sabe
onde encontrar a sabedoria e não como seu criador ou sua origem. Se, no entanto, a sabedoria é encarada como a habilidade de discernir a ordem inerente no mundo criado, ela pode ser alcançada apenas através daquele que estabeleceu essa ordem. D a mesma forma, então, a soberania atribuída a M arduque, pelos babilónicos, perm itia que ele fosse cham ado de 'o Senhor da Sabedoria'.
29.1-31.40 A continuação do discurso de Jó29.6. veredas em bebid as em nata. A im agem aqui enfatiza a riqueza de Jó. Seus rebanhos produziam tal abundância de nata (coalho) que Jó podia lavar seus pés com ela.29.6. torrente de azeite da rocha. As oliveiras, principal fonte de azeite, cresciam em solo rochoso porque conseguiam sobreviver com quantidades m ínimas de água. O significado desse versículo é confirmado através da comparação com Deuteronômio 32.13.29.7. assento à porta da cidade. A porta da cidade, no antigo Oriente Próximo, era tuna área ampla e aberta, onde também se situava uma praça ou o mercado da cidade. Era ali que os negócios eram feitos e onde os procedimentos judiciais e outras atividades do governo aconteciam. Logo, era a área mais pública dali. Com o Jó era um chefe de fam ília (i.e., um a autoridade), ele tomava seu "assento" (lugar) à porta da cidade, enfatizando sua importância.29.12. socorro para o pobre e para o órfão. Ver os com entários em Êxodo 22.22-24.29.20. g lória renovada, arco novo. A glória de alguém (literalm ente o fígado) significava seus sentimentos mais íntimos e profundos. O "fígad o" renovado de Jó significava que ele teria um a estabilidade emocional firme e se sentiria contente e feliz. U m arco podia ressecar e tom ar-se quebradiço, ou ser usado demais e perder sua elasticidade e ainda, com freqüência, simbolizava a virilidade e o vigor físico de uma pessoa. Logo, Jó seria um "novo hom em " com a força de um jovem.30.4 . ervas do m ato ra s te iro . E ssas ervas foram identificadas como a artiplex halimus, uma planta comestível com um sabor bastante amargo. O Talmude diz que essa planta era para os pobres e para aqueles que estavam em perigo de morrer de fome.30.4. giesta. A raiz da giesta (retana roetam) não era comestível, mas era usada para fazer carvão (ver SI120.4). Essa planta cresce principalmente nas regiões desérticas do Sinai e do m ar Morto.30.11. im agem do arco frouxo. O arco frouxo parece significar a perda de forças de Jó. O term o para arco aqui, porém , é obscuro e tem sido in terp retad o de
diversas maneiras. Também pode denotar a corda que, um a vez frouxa, poderia levar a tenda a cair. A im agem é clara: o corpo de Jó está frágil e próxim o da morte.30.28. escurecido. O termo "escurecido" parece referir-se à pele de Jó (embora alguns tenham argumentado que pode referir-se às suas vestes). A palavra
traduzida como "escurecido", geralmente é usada para luto, e faria m ais sentido n este contexto. A m esma expressão é usada em Salmo 38.6 onde a NVI traduz "p rantean d o". Em bora possa referir-se ao pano de saco (pêlo de bode preto), é mais provável que seja a fuligem preta das cinzas que a pessoa de luto colocava sobre a cabeça. N o versícu lo 30, a pele escurecida (palavra diferente) está relacionada à doença de Jó.31.1-40. paralelos legais de Jó . A renúncia de Jó ao m al é sem elhante, em m uitos aspectos, à confissão negativa do Livro Egípcio dos Mortos. N essa obra, um indivíduo, após a morte, é apresentado diante do trono de julgam ento de Osíris, onde ele recita uma longa lista de quarenta e dois pecados que não cometeu. A lista inclui mentir, roubar, cometer assassinato, matar o touro sagrado, intrometer-se em assuntos alheios, praticar o homossexualismo, ser irascível, gritar, ser im paciente e praticar a m agia contra um deus, apenas para citar alguns. Ainda mais direto, Kantuzilis, em um a oração hitita ao deus da tem pestade, pedi alívio ao sofrimento, declarando sua inocência numa lista de itens (quebrar juram entos, com er alimentos proibidos, abster-se de oferecer sacrifícios). Esse juramento, claramente coloca Jó na posição de réu. Um a declaração de inocência era um elemento comum em procedim entos legais em que se apelava a um juiz para uma audiência pública. Visto que muitas vezes era impossível reunir provas suficientes nesse tipo de caso, o juram ento assumia grande peso e importância. Até a essa altura, Jó estava aflito com o silêncio de Deus. Ao fazer seu juram ento de inocência, ele espera que a continuidade desse silêncio se volte para seu benefício. Se D eus ignorar seu juram ento, será um reconhecimento tácito de sua inocência.31.12. Abadom (Destruição). Juntamente com Sheol, A badom é o nom e para a habitação dos mortos (ver o comentário em 26.6) e equivale à sepultura. O termo literalm ente significa destruição e tam bém aparece como Apoliom, em Apocalipse 9.11, onde se refere ao anjo do Abismo.31.36. levar a denúncia nos om bros. Vestir ou carregar algo nos ombros demonstrava a importância daquele objeto, e a pessoa que assim fazia , o exibia orgulhosamente (ver Is 9.6; 22.22). Além do mais, um item inscrito ou atado à mão, no pescoço ou na testa passava a ser um constante lem brete para quem o
estivesse usando e uma advertência aos espectadores (Pv 6.21; Êx 8.16; Dt 6.8; 11.18).
32.1-37.24 O discurso de Eliú32.2. Buz. Buz era o sobrinho de Abraão (Gn 22.20, 21) e, presumivelmente, o ancestral desse clã arameu (Rão). Os anais do rei assírio, Esar-Hadom, m encionam o nom e geográfico Bazu, que foi identificado com a ilha de Bahrein, no golfo Pérsico.32.19. vinho arrolhado/ odres novos. Os odres novos podiam arm azenar por m uito tempo vinho em processo de fermentação, visto que o couro de que eram feitos se expandia juntam ente com o vinho. Se os odres fossem arrolhados nesse processo, corriam o risco de explodir, a menos que tivessem algum orifício (Jr 20.9).33 .15 ,16. D eus falando em sonho. Ver o comentário em Jó 4.13-15.33.22. cova/ m en sageiros da m orte. A língua aca- diana também possui uma palavra para referir-se ao m undo inferior que é traduzida como "cova" (hashtu). A terminologia é extraída do buraco que se cava para a sepultura. Não se sabe ao certo a que se referem os
m ensageiros da morte. N a literatura m esopotâmica, havia diversos deuses chamados de "portadores da m orte". M as, o termo "m ensageiros" não aparece aqui no texto, e alguns intérpretes têm sugerido, num a alternativa plausível, a expressão "lugar dos mortos" como um paralelo à cova.
35.10. cânticos da noite. V isto que os problem as e aflições estão associados à noite, os cânticos, durante à noite, trariam uma mudança bem-vinda, fossem eles cantados para expressar as frustrações da pessoa, em angústia, ou sua confiança na presença de Deus. Exis
tem também alguns cognatos semitas do termo traduzido como "cântico" que significam força ou proteção, e que se encaixariam a alguns paralelos no hebraico (por exemplo, em Êx 15.2, onde se lê "O Senhor é a minha força e a m inha canção").36.14. prostitutos. Os prostitutos m encionados aqui, provavelmente são uma referência ao culto cananeu da fertilidade. Para inform ações adicionais concer
nentes à prostituição cultual em geral, ver o comentário em Deuteronômio 23.17, 18. O termo usado aqui ocorre tanto na form a feminina quanto na m asculina e refere-se, talvez num eufemismo, àqueles que haviam sido separados para funções específicas no templo. A mesma palavra é usada na literatura acadiana para referir-se àqueles que haviam sido consagrados como funcionários que serviam em templos e santuários. O(A) prostituto(a) fazia parte dessa equipe de funcionários, assim como a ama-seca e a parteira. Não fica claro quais outras funções esses prostitutos desempe
nhavam. Para mais informações, consulte o comentário em 2 Reis 23.7.
36.27. o c iclo da água. Em bora alguns intérpretes modernos tenham tentado ler este versículo como uma
descrição científica do ciclo de condensação e evaporação da água, é evidente que o contexto trata de uma
abordagem diferente (ver o v. 32 onde D eus enche as m ãos de relâmpagos atirando-os como se fossem lan
ças). O s dois verbos, neste versículo, falam de um processo de atrair e escoar ou destilar (como os metais
preciosos eram separados da escória no processo de refino). Acreditava-se, no antigo Oriente Próximo, que
as gotas da chuva caíam de um riacho ou oceano
celeste, uma grande m assa de água que envolvia a
terra, e também de águas subterrâneas. Portanto, havia águas acima e abaixo da terra. Era dessas águas que D eus atraía as gotas de chuva.
37.2-4. deuses da tempestade. Nos mitos ugaríticos, o
deus da tempestade, Baal-Hadade, aterrorizava seus
inimigos que fugiam com medo por causa do estrondo
de sua voz (ver também SI 29). O equivalente acadiano, Adade, tam bém trovejava com sua voz. Os deuses da
tempestade eram retratados segurando relâmpagos e raios na mão.
37.9. câm aras de tem pestade. A creditava-se que os
ventos ficavam armazenados em câmaras, nos céus.
Essas câmaras eram periodicam ente esvaziadas por Deus. Os cananeus e os babilónicos atribuíam as m a
nifestações das tempestades a Adade, o deus da tem
pestade e dos ventos. Im agens sem elhantes (e m ais freqüentes) descrevem Yahw eh tendo depósitos de
chuva, granizo e neve, que são colocadas em movimento pelo vento, provavelmente instigado por seu
sopro. A palavra traduzida como "depósitos ou câma
ras" pode ser usada para referir-se à casas de tesouro, onde eram guardados objetos preciosos, bem como
armas reais. Granizo, neve, vento, trovão e relâmpa
gos freqüentemente são vistos como armas que Deus usa para derrotar seus inim igos. Igualm ente, esses
depósitos podiam servir como arm azéns de cevada,
tâmaras, cereais ou dízimos em geral. Do mesmo modo, Deus recorre aos "produtos" em seu estoque, confor
me se faz necessário. Os depósitos cósmicos não eram
uma figura comum no antigo Oriente Próximo.
37.13. chuva com o castigo de D eus. As chuvas eram usadas por D eus tanto para abençoar quanto para cas
tigar, dependendo da situação. Elas traziam a água tão necessária aos cam pos, para o crescim ento das plan
tações, mas tam bém podiam trazer m uitos estragos e
prejuízos quando eram acompanhadas de fortes ventos e granizo. No m undo antigo, as pessoas acredita
vam que o clim a era totalmente controlado pela divin
dade e era usado para recompensar ou punir. Elas não viam o m undo sendo regido por leis naturais.37.18. espelho de bronze. O s espelhos, na Antigüidade, eram feitos de bronze e eram muito resistentes e difíceis de quebrar. A imagem era apropriada para descrever o céu nos dias quentes e secos de verão, em que o calor do Sol se refletia na rocha e na areia através do mormaço parado e dourado. Além disso, no m undo antigo, acreditava-se que o céu era uma cúpula sólida ou um disco.
38.1-41.34 Os discursos de Deus38.1. D eus fa la do m eio da tem pestade. D eus muitas vezes se apresentava através de um a tempestade (2 Rs 2.11; Ez 1.4) e vinha na tormenta ju lgar as nações. Os deuses da tem p estad e, no antigo O riente Próxim o (Baal-H adade em U garit, A dade na M esopotâm ia), tam bém se m anifestavam dessa m aneira. Yahw eh é retratado como o senhor da tempestade e o dominador dos ventos, que podiam trazer vida, bem como destruição. Esse tipo de linguagem figurada demonstra a m ajestade de Deus como um traço comum na poesia épica do antigo Oriente Próxim o. Por exemplo, no épico ugarítico de Baal e Anate, o deus Baal é descrito como o "Cavaleiro das N uvens",e sua "voz" é o som e a fúria do trovão e dos relâm pagos. Igualm ente, na história babilónica da criação, Enuma Elish, o deus da tempestade, M arduque, derrota a deusa prim itiva do caos aquático, Tiamat, através do controle dos ventos e do uso de relâmpagos. Ver o comentário em Zacarias 9.14.38.4. D eu s respond e aos d esafios fazend o uso de perguntas retóricas. No Épico de Erra, Erra (Nergal) desafia M arduque, tendo em vista a perda da dignidade divina dele. Com um a longa resposta, M arduque explica sua condição, m as depois defende sua soberania fazendo a Erra uma série de perguntas sem resposta, do tipo "onde" e "qu em ", a fim de demonstrar
sua sabedoria e domínio.38.4-6. alicerces da terra, fundam entos, pedra de esquina. No m undo antigo, o cosm os era visto com o um tem p lo e os tem p los rep resen tavam m icrocosm os. Aqui, os elementos mais importantes para a sua construção são m encionados no m om ento em que Deus estabelece esse cosmos. O s alicerces determ inavam o tamanho e a posição do templo, por isso eram lançados cuidad osam ente. Todo o terreno era explorado; no entanto, era a divindade quem determinava o local e a posição da construção. A palavra traduzida com o "fundam entos" era usada, com freqüência, para descrever as sapatas que sustentavam as colunas usadas no tabernáculo. A pedra de esqu ina, ou ped ra fu n damental, sempre era importante na construção e res
tauração de templos. Um dos relatos m ais detalhados sobre essas edificações, na literatura do antigo Oriente Próxim o, descreve a obra de um tem plo feita por Gudea para N ingirsu, por volta de 2000 a.C.. A cerimônia do lançamento da pedra fundamental demonstra sua centralidade em todo o processo de construção.38.5. linha de m edir. A localização e a posição de um templo eram consideradas um aspecto extremamente importante (ver o comentário em Ex 26.1-36) da construção. Essa questão tam bém fica evidente em textos mitológicos e históricos que relatam construções de templos na Mesopotâmia. Quando M arduque está se preparando para edificar seu templo cósm ico em Enuma Elish, ele m ede o A psu (a área onde os alicerces do templo seriam lançados). Desde a época dos sumérios até o período dos assírios e babilón icos, a posse de
equipam entos de m edição era um sinal da aprovação divina para o projeto de reconstrução. Era através desse equipam ento que o líder recebia a orientação divina.
38.7. estrelas matutinas/ an jos. Geralm ente o lançamento da "pedra fundam ental" era acompanhado de grande celebração. A s estrelas m atutinas (planetas como M arte e Vênus) eram adoradas como seres divi
nos no antigo Oriente Próximo e eram personificadas como parte dos exércitos celestiais em Israel. No contexto de Jó 38, essas "estrelas" são comparadas a seres angelicais criados. U m poem a ugarítico descreve o nascimento de uma série de divindades astrais.38.8. m ar irrom peu do ventre m aterno. D e acordo com a visão mesopotâmica, a região cósmica de onde as águas subterrâneas haviam emergido era chamada de Apsu, e ficava localizada entre a terra e o mundo inferior. Em um encantamento, a mãe de Apsu é descrita como a deusa do rio. O mito babilónico da criação reconta como Tiamat, deusa do m ar e mãe de toda a criação, foi derrotada por M arduque. Igualmente, Baal, no mito ugarítico da criação, derrota Yam, o deus do mar. A temática, aqui em Jó, concernente ao nascimento do deus do mar, não aparece em nenhum outro contexto. Alguns estudiosos concluíram que o fato do m ar ter sido represado por Yahweh, quando irrompeu do ventre materno, sugere que não foi necessário derrotar um m ar rebelde que ameaçava gerar o caos (como M arduque e Baal tiveram de derrotar), m as que sempre esteve sob o controle de Deus.38.10. portas e barreiras do mar. Após derrotar Tiamat, M arduque criou os m ares e colocou guardas para vigiar suas águas. O Épico de Atrahasis babilónico cita um ferrolho do m ar sob a posse do deus Ea (Enki). O utros textos falam de fechaduras ou cadeados do mar. Um a das principais tarefas do chefe do panteão era vigiar o m ar para que o caos fosse controlado e a ordem prevalecesse.
38.14. barro sob o sinete. Selos estampados por anéis
e sinetes eram obtidos através da gravação de uma figura na argila ou na rocha (ver a nota de rodapé em
Jr 32). Um sinete pressionado no barro fresco dava
form a, contorno, desenho e significado a algo que anteriorm ente não tinha características distintas. A
luz do nascer do Sol igualmente evidencia os traços topográficos do relevo.38.17. portas das densas trevas (da som bra da m orte).
No épico mesopotâmico da D escida de Istar, a deusa Istar precisa atravessar sete portas para chegar ao mun
do inferior e dali voltar para a terra dos viventes. Os
israelitas tam bém acreditavam que a m orte (Sheol) era contida por portões.
38.19. m oradia da luz. É provável que a questão se refira ao lugar aonde uma (luz) vai quando a outra (escuridão) está presente. No antigo Oriente Próximo,
o Sol atravessava o mundo inferior durante a noite ou habitava em câmaras isoladas. O Épico de Gilgamés
faz menção a um lugar chamado região da escuridão,
um a área de constantes trevas, em oposição a outra que é chamada de Caminho do Sol.
38.22. reservatórios de neve, depósitos de granizo.
Os israelitas acreditavam que a neve e o granizo, tal
como a chuva, ficavam arm azenados em depósitos para serem usados quando fosse necessário (ver o comentário em 37.9).
38.28, 29. nascim ento da natureza. No antigo Oriente Próxim o e na G récia existia um a forte tradição de
teogonia (nascimento dos deuses como elementos naturais do Universo). O épico babilónico da criação se
inicia com os elementos naturais divinos, todos gera
dos de um vapor d'água (Tiamat). Esses elem entos naturais, por sua vez, geraram outras formas divinas.
Imagens semelhantes são encontradas na Grécia, na
Teogonia de Hesíodo. É difícil determinar se o texto em
questão não leva em conta essa visão ou se simplesmente demonstra a ignorância de Jó quanto à respos
ta. A literatura cananita m enciona Pidrya, filha da
névoa, e Taliya, filha das chuvas, no épico ugarítico de Baal. N a literatura m esopotâm ica, o orvalho às
vezes é visto como proveniente das estrelas e Shamás,
o deus Sol, com o aquele que fornece o orvalho, a névoa e o gelo.
38.31, 32. constelações. As três constelações mencio
nadas aqui (Plêiades, Órion e a Ursa) são as mesmas mencionadas em Jó 9.9 (ver o comentário ali). Não se
sabe ao certo a que se refere a quarta constelação, mas pode ser um termo para planetas. Os babilónicos nor
malmente faziam uso de mapas astrais (cf. is 47.13) e
acreditavam que os movimentos dos corpos celestes influenciavam nos assuntos terrenos. Além do mais,
ao traçar o m ovimento dos astros em m apas era possível prever o clima.39.13-18. comportam ento da avestruz. A arte esculpida de Israel, desde 1000 a.C. e por diversos séculos, retrata um a divindade ladeada por avestruzes. Keel acredita que esses animais representavam os poderes sobrenaturais que sobrevivem no deserto sem o controle da divindade. Não é difícil notar porque os hábitos peculiares da avestruz passaram a ser a essência de certos provérbios. Ela parece ser indiferente a seus filhotes, visto que, quando os predadores atacam, a avestruz tenta atrai-los para longe correndo e deixando sua prole razoavelmente camuflada sobre o chão. Os ovos de um a avestruz de fato são depositados na areia, mas o perigo de serem esmagados ou pisados não é tão grande quanto parece. A casca dos ovos é seis vezes mais grossa que a de um ovo de galinha. Os machos compartilham das responsabilidades de incubação e assumem a m aior parte do cuidado dos filhotes depois que nascem. U ma avestruz adulta pode atingir uma velocidade de 80 quilôm etros por hora num percurso de m ais ou menos um quilômetro. As avestruzes eram caçadas pelos faraós (retratadas como a presa de Tutancâmon) que apreciavam as plumas para leques. Elas se extinguiram no oeste da Á sia somente no século vinte.40.15-24. B eem ote. D esde por volta do século dezessete, o Beem ote tem sido tradicionalmente identificado com o hipopótamo, que era abundante no Egito e em grande pare da África. Os m onarcas do Egito caçavam esse animal, como inúmeros relevos de parede ilustram. O hipopótamo desempenha um papel em m uitos m itos egípcios, em que, com freqüência, simboliza poderes inimigos contra o trono. Havia até m esm o um festival egípcio em que um desses animais era morto, simbolizando os inimigos do faraó. A dificuldade com essa identificação é que a descrição no texto não se encaixa particularmente a um hipopótamo (especialmente o v. 17). A interpretação inter- testamentária antiga favorece a identificação a um ser mítico/sobrenatural (por exemplo, muitos estudiosos igualariam a besta e o dragão do Apocalipse ao Beemote e ao Leviatã respectivamente). Na literatura uga- rítica, o dragão de sete cabeças (ver o comentário abaixo em 41.1) é comparado à criatura identificada como Arshu, também conhecida como o bezerro de El, Atik.40.24. m eios de captura. Na Antigüidade, o hipopótamo era considerado m uito difícil de capturar. Uma estratégia era enganchar o nariz do animal obrigando-o a respirar pela boca. Assim, ele podia ser morto atirando-se um arpão pela abertura da boca.41.1. Leviatã. O Leviatã tem sido muitas vezes identificado com o crocodilo, que era encontrado principal
mente no Egito (onde simbolizava o poder e a grandeza real), m as tam bém , raram ente, na Palestina. Porém , as m últiplas cabeças, em Salm o 74.14, e o sopro de onde sai fumaça e fogo, conforme a descrição dos versos 19-21, com plicam essa afirm ação. Como alternativa, o Leviatã tem sido descrito como um monstro marinho (ver SI 74.14; Is 27.1). Essa hipótese encontra suporte em textos ugaríticos que contêm descri
ções detalhadas de uma besta do caos, representando os mares ou a anarquia das águas, na forma de uma serpente do m ar com muitas cabeças, que é derrotada por Baal. Há uma relação íntima entre a descrição do Leviatã, em Isaías, como uma "serpente tortuosa" e o épico ugarítico de Baal, que fala de como o deus da tempestade "golpeou Litan, a serpente que se contorce". Em ambos os casos, há um sentido do deus da ordem e da fertilidade subjugando um m onstro do caos. Diversas outras passagens do Antigo Testamento mencionam o Leviatã, mas a maioria delas, como o Salmo 74.14, fala em termos da ação criativa de Deus que estabelece o controle sobre o caos das águas (personificado pela serpente do mar). Porém , em Isaías27.1, essa luta entre a ordem e o caos ocorre no fim dos tem pos. Pode ser que Satanás, retratado com o um dragão de sete cabeças em A pocalipse 12.3-9, tam bém remeta à figura ugarítica de Litan como "o tirano de sete cabeças". Biblicam ente, o Leviatã, portanto, poderia facilmente encaixar-se na categoria de criatura sobrenatural (como os querubins), em oposição às criaturas naturais ou puram ente mitológicas. Como tal, ele pode aparecer na m itologia extrabíblica, e
também ser simbolizado por algo como um crocodilo
(como em Ez 29.3 em bora o Leviatã não seja especifi
camente mencionado naquele contexto).
41.18-21. criaturas que soltam fogo. As criaturas que
soltam fogo eram conhecidas no m ito ugarítico de
Baal contra o m ar (Yam). Os terríveis m ensageiros de
Yam aterrorizaram a assembléia divina com sua apa
rência assustadora. No Épico de Gilgamés, o guardião
H uwawa é descrito pela expressão "su a boca é o pró
prio fogo".
42.1-17 A restauração de Jó42.11. presentes. O termo hebraico aqui para "peça
de prata" (qesita) era um a unidade antiga usada prin
cipalm ente no período P atriarcal (Gn 33.19). Cem
qesitas era o valor exigido para comprar uma proprie
dade de tam anho razoável (ver Js 24.32), portanto,
uma qesita era um presente considerável. O anel de
ouro talvez fosse um a argola de nariz ou brinco, ge
ralm ente usado pelos ricos.
42.12. tam anho dos rebanhos. Jó agora tem o dobro dos
rebanhos que tinha no início da história (ver Jó 1.3).
42.15. filh as recebendo herança ju nto com os filh os.
Na antiga Israel, as filhas norm alm ente recebiam a
herança apenas quando não havia nenhum filho (ver
Nm 26.33). Dessa forma, é algo excepcional, no Anti
go Testamento, as filhas receberem herança junto com
os filhos, em bora haja paralelos entre os egeus, no
início do primeiro milênio a.C., e em Ugarit.
Salmos
Conceitos básicosAcrósticos. O "acróstico" é uma forma literária em que as primeiras letras de linhas consecutivas formam um padrão. Em acrósticos alfabéticos, o padrão é o alfabeto (a primeira linha começa com a primeira letra do alfabeto a segunda com a segunda letra e assim por diante). Outras formas de acróstico podem soletrar uma mensagem ou um nome (por exemplo, o escriba que compôs a obra ou a divindade sendo honrada). Existem diversos tipos no Livro de Salmos (9; 10; 25; 34; 37; 111; 112; 119; 145). O Salmo 119 é o mais complexo, visto que cada letra do alfabeto hebraico é representada por oito linhas consecutivas. Todos os acrósticos hebraicos da Bíblia são alfabéticos. Os sete exemplos de acrósticos na literatura mesopotâmica formam nomes/frases (sendo o acadiano uma língua silábica então não havia alfabeto, portanto, não existiam acrósticos alfabéticos) e geralmente remontam à primeira metade do primeiro milênio. Os exemplos egípcios oferecem seqüências numéricas ou mensagens complexas que envolvem desenhos horizontais e verticais. Os acrósticos dependem da escrita e, portanto, não podiam ser compostos oralmente. Tinham o objetivo de ser lidos, não apenas ouvidos, devido à importância do elemento visual. Isso fica claro nos exemplos babilónicos, em que um sinal variável precisa ser lido com um determinado valor em um poema, mas com outro em um acróstico. Alguns dos exemplos babilónicos também contêm um padrão no último signo de cada linha. Outra variação encontra-se nos exemplos em que o acróstico é repetido em cada estrofe.
Vida após a morte. Sheol é a palavra hebraica usada para mundo inferior. Embora a transferência de uma pessoa da vida para o Sheol possa ser considerada um ato de juízo, o Sheol em si não é considerado um lugar de castigo, em oposição a um destino celestial de recompensas. A palavra às vezes é usada como sinônimo de sepultura por ser esta o portal de acesso ao mundo inferior. Além do 'Sheol', os salmos também fazem menção, com freqüência, à "cova". Esse tipo de terminologia ocorre como um termo variante para o mundo inferior desde o período sumério. Faz sentido esse uso, considerando-se que a sepultura (buraco cavado na terra) era a entrada para o mundo inferior. Os israelitas acreditavam que o espírito dos mortos continuava a existir nesse mundo de trevas. Não era uma existência agradável, mas nunca é associada ao tormento do inferno do Antigo Testamento (a imagem descrita em Is 66.24 não é associada ao Sheol). Não fica claro se na visão israelita havia alternativas para o Sheol. As pessoas que eram poupadas desse lugar eram mantidas vivas, não sendo enviadas a nenhum outro local. Havia, pelo menos, uma vaga idéia da existência de outro lugar aonde ir, vista nos exemplos de Enoque e Elias, que não passaram pela morte e presumivelmente não foram ao Sheol. Mas esses textos não deixam claro qual seria a outra alternativa. Na ausência de uma revelação específica, as crenças israelitas se adequavam aos conceitos vigentes entre seus vizinhos cananeus e mesopotâmicos.
Um esboço geral das crenças mesopotâmicas sugeria que os mortos precisavam atravessar um deserto, montanhas e um rio e depois descer, passando pelas sete portas do mundo inferior. Embora descrito, nessa literatura mesopotânica, como um lugar de escuridão onde os habitantes se vestiam de penas de aves e comiam terra, relatos mais amenos também eram comuns. Esses habitantes do mundo da sombra também eram sustentados pelas ofertas dedicadas pelos viventes e desfrutavam de alguma luz quando o Solpassava por lá (quando era noite na terra dos viventes) para nascer no leste novamente na manhã seguinte. Os governantes dali, Nergal e Ereshkigal, eram assistidos por um grupo chamado os Anunnaki. Apesar das descrições sombrias, ninguém queria afastar-se das portas do mundo inferior porque a alternativa era ser um espírito vagante sem acesso a ofertas funerárias.
Algumas expressões de Salmos têm sido interpretadas com freqüência como uma referência à vida após a morte na presença de Deus, embora outras explicações sejam possíveis. Outros salmos falam em termos de acordar e ver a face de Deus (11.17; 17.15).0 contexto deste Livro não trata de uma prévia do céu e sim de uma experiência no templo, como 27.4 e 63.3 deixam claro. Essa expressão ocorre com o mesmo significado em acadiano, onde, por exemplo, Assurbanípal anseia por olhar a face de seu deus Assur (no templo) e prostrar-se diante dele. Um hino a Istar afirma que o homem doente que contemplar o rosto dela será curado. Em termos mais gerais, o sofredor babilónico, em LucLlul Bd Nemeqi, diz invocar seu deus, que não mostra sua face, esperando que o amanhã lhe trouxesse boas coisas. O salmista também espera sua libertação ao acordar pela manhã (139.18). Uma segunda expressão diz respeito à remissão do Sheol (49.15). Ela significa apenas que o salmista foi poupado da morte por algum tempo: não que ele irá para o céu em vez do Sheol (compare as palavras e os contextos em 18.16-19; 30.2, 3). Novamente, expressões semelhantes ocorrem na literatura mesopotâmica, onde Marduque é considerado aquele que restaura a vida à sepultura (ver o comentário em 30.3) ou dá vida aos mortos. Gula, a deusa da cura, afirma ser capaz de trazer os mortos do mundo inferior. Essas são expressões de cura e não de ressurreição. Para uma discussão a respeito da ressurreição, ver o comentário em Daniel 12.2.
A criação em salmos. O louvor a Yahweh como o Criador, em Salmos, concentra-se basicamente no fato de Deus garantir a ordem e a sustentação do cosmos. Seu controle e soberania são demonstrados à medida que Ele exibe seu domínio dos céus, nuvens, Sol, Lua, estrelas, terra, mares, trovões e relâmpagos. Como no resto do mundo antigo, em Israel era mais importante quem estava no controle do que a origem das coisas em si. Não obstante, Yahweh também é visto como a origem de cada parte do cosmos. Isso também se estende aos seus habitantes, desde os seres humanos até as diversas espécies de vida animal, mesmo as mais desconhecidas. A linguagem poética dos Salmos não hesita em adotar a imagem do cosmos que era comum à visão de mundo, contida na mitologia e na ciência do antigo Oriente Próximo. Embora hoje, em nosso mundo cientificamente esclarecido, alguns desejariam encontrar em Salmos uma precisão implícita na linguagem poética, tal abordagem apresenta um dilema metodológico. Os leitores israelitas estavam familiarizados com suas próprias perspectivas culturais, visto que elas não eram compostas a partir de revelação (p. ex., Deus não lhes dissera que uma terra redonda girava ao redor do Sol e era mantida em órbita por causa da gravidade), mas sim, tinham uma íntima relação e se assemelhavam aos conceitos correntes do mundo antigo. Nesse caso, as palavras, imagens e idéias usadas no texto comunicavam aos leitores aquilo que para eles era a realidade, e não expressavam meramente uma linguagem poética. Não obstante, o controle soberano de Deus sobre a natureza é a questão central.
Não importa se o controle divino da tempestade é descrito na imagem de Deus, armado com relâmpagos e cavalgando nas nuvens ou entendido em seu controle dos sistemas de alta e baixa pressão e das massas de ar; pois a questão de sua soberania permanece inalterada. Deus não os informou a respeito da ciência da meteorologia de modo a assegurar uma idéia "precisa" de seu controle do clima. Ele fez uso da compreensão que tinham na época. De igual modo, Ele nâo lhes disse que o órgão que usavam efetivamente para pensar era o cérebro; e não o coração ou os rins, como o inundo antigo acreditava. Em vez disso, confirmou seu interesse na mente deles utilizando a compreensão que tinham da fisiologia humana. A cosmovisão antiga em relação ao cosmos é evidente em muitas passagens do Antigo Testamento. Para uma amostra, ver os comentários em Gênesis 1.6-8; Deuteronômio 32.22; Jó 9.6, 7; 22.14; 26.7, 10; 36.27; 38.1-31; Salmos 8.3; 24.2; 104.1-35; Provérbios 3.19, 20 e Isaías 40.22. Nâo existe nenhum exemplo em que o texto ultrapassa a ciência da época ou pressupõe uma visão mais sofisticada da ciência.
Lamento. Os lamentos podem ser declarações pessoais de desespero, tais como as encontradas em Salmo 22.1-21, hinos fúnebres após a morte de uma pessoa importante (a elegia de Davi a Saul em 2 Sm 1.17-27) ou prantos coletivos em tempos de crise, como o Salmo 137. O mais famoso lamento da Mesopotâmia antiga é o Lamento pela Destruição de Ur, que comemora a captura da cidade em 2004 a.C. pelo rei elamita, Kindattu. Para mais informações sobre essa última categoria, ver a nota de rodapé no Livro de Lamentações. Mais de um terço do Livro de Salmos é lamento, a maioria individual. As queixas mais comuns referem-se a doenças e opressão dos inimigos. Há uma série de termos técnicos que descrevem a literatura de lamentos na Mesopotâmia, e muitos deles estão relacionados a encantamentos (ou seja, a ritos mágicos feitos para tentar livrar a pessoa do problema). As petições que acompanham os lamentos são bastante semelhantes àquelas encontradas nas orações do antigo Oriente Próximo. Elas incluem pedidos por direção, proteção, favor, atenção por parte da divindade, libertação de dificuldades, intervenção, reconciliação, cura e vida longa.
Louvor. Sendo mais de um terço, os salmos de louvor podem ser individuais ou coletivos. Os coletivos geralmente começam com uma convocação ao louvor (p. ex., "louvem ao Senhor") e descrevem todas as coisas boas que o Senhor fez. O louvor individual muitas vezes se inicia com uma declaração do motivo do louvor (p. ex., "eu te louvarei, ó Senhor") e afirma o que Deus fez numa situação específica na vida do salmista. Hinos egípcios e mesopotâmicos geralmente concentram-se no louvor descritivo, com freqüência passando do louvor para a petição. Exemplos do formato de proclamação podem ser vistos na composição de sabedoria mesopotâmica Ludlul Bei Nemeqí. O título é a primeira linha da obra que se traduz "Louvarei ao Deus da Sabedoria". Como nos salmos de louvor individuais, esse adorador mesopotâmico relata um problema que teve e como seu deus o livrou.
Adoração pessoal. Em que proporção o louvor relacionado aos Salmos estava associado às festas anuais no templo e às peregrinações para participar dessas festas? Em que proporção estava associado aos-sacrifícios que eram oferecidos? Uma grande porcentagem dos habitantes de Israel vivia a muitos quilômetros do templo. Apenas quem morava nas proximidades de Jerusalém podia dirigir-se até lá regularmente (embora não fosse preciso se a pessoa não fosse oferecer um sacrifício que envolvia oferta). O israelita cumpridor da lei talvez viajasse para lá três vezes ao ano conforme a lei exigia (ver os comentários em Êx 23.15-17), mas há poucas evidências no texto de que tal observância tenha se tornado comum no período do Antigo Testamento. Certamente, então, haveria outros contextos em que o culto e a adoração eram praticados. É comum considerar a sinagoga como uma invenção do período pós-exílico e os altares em todo o Israel eram condenados no ideal da prática religiosa bíblica. O sábado não era claramente designado como um dia separado para o culto, embora no templo em Jerusalém, ao menos, atividades de adoração eram realizadas nesse dia específico. Sabemos que o culto de Israel era centrado no lugar sagrado (o templo), nos dias sagrados (sábado, festas), nos rituais sagrados (sacrifício) e nas palavras sagradas (orações). Além disso, temos conhecimento que o foco da adoração era preservar a santidade da presença de Deus, a Lei e a aliança e o reconhecimento de quem Ele era e o que havia feito. Não obstante, temos uma idéia muito limitada da rotina de culto na vida individual.
Princípio da retribuição. A premissa básica do princípio da retribuição afirma que o justo prospera e o ímpio sofre. Na esfera nacional, esse princípio tinha como base a aliança, com suas bênçãos potenciais e ameaça de maldições. No âmbito individual, foi estabelecido como necessário para que Deus mantivesse a justiça. Visto que os israelitas tinham apenas um vago conceito da vida após a morte e nenhuma revelação concernente a juízo ou recompensa no
além, a justiça de Deus só podia ser efetuada nesta vida. A maioria deles acreditava que se Deus fosse justo, recompensas e castigos nesta vida deveriam ser proporcionais à justiça ou injustiça de cada um. Essa crença também levou grande parte dos israelitas a crer que, se alguém estava prosperando, era uma recompensa por sua justiça, e se alguém estava sofrendo, era castigo por sua injustiça. Quanto maior fosse o sofrimento, maior deveria ser o pecado. Escritores babilónicos e assírios de textos mágicos descrevem esse mesmo princípio da retribuição. Mas, visto que esses povos não eram plenamente convictos da justiça dos deuses, essa não era uma questão teológica tão importante na Mesopotâmia.
Adoração no templo. O templo não tinha por objetivo o culto coletivo. Era uma estrutura que funcionava como o lugar onde Deus podia habitar em meio a seu povo. Deveria ser mantido em santidade e pureza a fim de que a presença contínua de Deus pudesse ser garantida. Os sacerdotes existiam para manter essa pureza e controlar o acesso aos recintos sagrados. O conceito do templo não foi criado com o propósito de suprir um lugar específico para a dedicação de sacrifícios. Ao contrário, muitos deles existiam como meio de sustentar e manter o templo. A presença de Deus era o elemento mais importante a ser preservado. Os atos de culto mais relevantes eram aqueles que reconheciam a santidade de Deus e tinham como objetivo manter essa santidade de seu lugar. Por essa razão, palavras de adoração muitas vezes incluíam atos de culto. Apesar de algumas vezes haver cultos coletivos no templo, o lugar não foi edificado para esse propósito. O templo tinha o propósito de abrigar Deus de forma adequada; portanto, a adoração ali seria inevitável. A palavra mais usada para adoração no Antigo Testamento também significa "culto". No antigo Oriente Próximo, a maioria das pessoas acreditava que a adoração era o ato de servir e suprir as necessidades dos deuses dando-lhes alimento (sacrifício), roupas (que vestiam os ídolos) e abrigo (templos luxuosos e ricamente adornados). O Deus de Israel não tinha tais necessidades, mas ainda assim era apropriado servi-lo como, de fato, os sacerdotes e levitas faziam.
As festas no mundo antigo centravam-se nos ciclos da natureza (festas de Ano Novo ou da fertilidade), em eventos mitológicos (entronização da divindade sobre o caos subjugado), eventos agrícolas (colheita) ou memoriais históricos (dedicações ou libertações). Elas celebravam o que a divindade havia feito e buscavam perpetuar a ação dela em seu favor. Com freqüência esses elementos estavam mesclados. As festas geralmente eram celebradas num lugar sagrado, portanto, muitas vezes envolviam peregrinações. As principais festas religiosas e dias santos celebrados em todo o antigo Oriente Próximo eram, em sua maioria, relativos a eventos agrícolas. Embora ofertas diárias fossem dedicadas aos deuses, havia os "dias do padroeiro" em cidades e povoados específicos para honrar as divindades veneradas localmente e também ocasiões em que os deuses nacionais eram levados em procissões de cidade em cidade, "visitando" santuários e promovendo a fertilidade e o bem-estar da terra. O único festival de maior destaque dentre as festas mesopotâmicas era o Akitu ou celebração do Ano Novo. O monarca assumia o papel do deus principal, enquanto a suma sacerdotisa atuava como sua consorte e representava a deusa principal. A realização de uma série de intrincados rituais sagrados e sacrifícios tinha como objetivo agradar às divindades, assegurando, assim, um ano vindouro próspero e fértil. Durante o ano, com base num calendário limar, as festas de Lua nova eram celebradas, bem como os eventos do calendário agrícola (a chegada das chuvas ou das cheias, a aragem e a colheita). Alguns rituais tinham origem na mudança das estações, tal como o luto pela "morte do deus Tammuz" (ou Dumuzi), que podia ser libertado do mundo inferior apenas através das lágrimas de seus devotos (ver Ez 8.14). Nessas festas coletivas, os indivíduos não passavam de meros espectadores. Não era raro acontecer um mesmo tipo de festa (ou festas distintas) seis ou oito vezes ao mês.
Principais metáforas para DeusNo antigo Oriente Próximo era comum usar diversos nomes e títulos para a divindade, às vezes usando metáforas, outras vezes, apenas expressões descritivas. No final do texto Enuma Elish, o herói e novo líder do panteão, Marduque, é louvado através da declaração de seus cinqüenta nomes. Alguns dos mais intrigantes, acompanhados da descrição relacionada a eles, incluem Namtilla, aquele que dá a vida; Namru, o deus puro que purifica o caminho; Agaku, quem criou os seres humanos e os libertou; Shazu, o diretor da justiça; e Agilima, aquele que construiu a terra sobre a água. Abaixo algumas das principais metáforas usadas como títulos para Yahweh, nos Salmos.
Chifre (18.2; 75.10; 89.17; 92.10; 112.9; 132.17; 148.14). Essa metáfora é usada para Deus apenas em um contexto nos Salmos (18.2). Na iconografia do antigo Oriente Próximo, raios ou chifres nas coroas das divindades simbolizavam poder. Esses elementos estavam relacionados à glória divina (acadiano, melammu) que imanava dos deuses e principalmente de suas cabeças ou coroas. Assim, por exemplo, um texto faz referência ao deus Enlil "cujos chifres brilham como os raios do Sol". Era comum na Mesopotâmia que os reis e os deuses usassem coroas com chifres salientes ou em relevo. As vezes, os chifres eram sobrepostos em camadas. O leão alado do palácio de Assurnasirpal tem uma coroa cônica em sua cabeça humana, com três pares de chifres enfileirados em relevo. Tanto na Bíblia quanto no antigo Oriente Próximo, o poder assombroso da divindade podia ser investido em humanos, particularmente no rei.
Juiz. O juiz tinha a responsabilidade de tomar decisões em relação a casos legais levados diante dele. Nas culturas do antigo Oriente Próximo, o rei representava o supremo tribunal de apelações, do ponto de vista humano. Em muitos casos, porém, as evidências eram insuficientes para permitir que um ser humano chegasse a uma decisão segura. Como resultado, muitos casos eram resolvidos pela divindade, fazendo, pois, surgir o conceito do deus como juiz que vê todas as provas e dá um veredicto justo com base em todas as informações. Havia três mecanismos significativos pelos quais esse sistema funcionava. O primeiro era o juramento. Ele era feito em casos em que não havia evidências físicas ou não se sabia ao certo de quem era a responsabilidade pelo dano causado (Êx 22.10-13; Hamurábi). Quando se recorria a esse mecanismo, Deus era solicitado como testemunha e a pessoa que fazia o juramento se colocava à mercê da justiça divina. O segundo era o oráculo. Nessa situação, um sacerdote supervisionava o processo em que a divindade era questionada em relação à culpa ou inocência do acusado. No antigo Oriente Próximo, os presságios geralmente eram usados em casos oraculares. Um animal era sacrificado e suas vísceras eram examinadas para determinar o veredicto da divindade (favorável significava que o acusado era inocente desfavorável significava que era culpado). Em Israel, o Urim e o Tumim eram usados com esse objetivo. O terceiro mecanismo que envolvia a divindade no julgamento era a provação. Esta descreve uma situação judicial em que o acusado era colocado nas mãos de Deus, geralmente através de algo que o colocava em perigo. Se a divindade interviesse para proteger o acusado do mal, o veredicto era sua inocência. A maioria dos julgamentos por provação, no antigo Oriente Próximo, envolviam perigos como água, fogo ou veneno. Quando o acusado era exposto a essas ameaças, ele era, na verdade, considerado culpado até que a divindade declarasse o contrário, agindo em seu favor. Em cada uma dessas situações, cria-se que Deus era o juiz que dava os veredictos. Além desses contextos mais formais, acreditava-se também que a divindade era o juiz que mantinha a justiça na sociedade. Isso significava assumir a causa dos desafortunados, dos pobres, dos fracos e oprimidos. Na literatura ugarítica, Baal às vezes recebe o título de "Juiz", mas esse título é associado com mais freqüência a Yamm ("mar"),
que é chamado regularmente de "Rio Juiz" (talvez aludindo ao rio da provação por onde os julgamentos passavam). Na literatura acadiana, o deus-sol, Shamás, é o deus da justiça e, portanto, freqüentemente colocado no papel de juiz divino. No Egito, Amom-Rá, também o deus-sol, era visto como o responsável pela justiça.
Rei. No antigo Oriente Próximo, o papel do rei era atribuído ao principal deus nacional, o chefe do panteão. Durante o período do Antigo Testamento, isso incluía El ou Baal para os cananeus, Marduque para os babilónicos, Quemos para Moabe, Milcom para Amom, Assur para a Assíria, Dagom para a Filístia, Rá para o Egito, Qos para Edom e Hadade para a Aram. O governo desses deuses, na esfera divina, era exercido sobre outros localmente adorados (como chefe da assembléia divina). Na esfera humana, essas divindades eram intimamente identificadas com os reis, na medida em que se envolviam em façanhas militares, projetos de construção (especialmente templos) e na manutenção da justiça na sociedade. Todas as áreas em que o rei humano era considerado responsável, o rei divino era, em última instância, o responsável maior. O sucesso militar significava que o governo da divindade se estendera sobre outras divindades nacionais que ela havia derrotado. Assim, Senaqueribe tentou intimidar Ezequias alistando os deuses que haviam caído diante dele (ver o comentário em 2 Cr 32.11). Nos dias de Acabe, Yahweh competiu com Baal pelo reinado de Israel (ver o comentário em 1 Rs 17.1). Nos dias de Samuel, o povo perdeu a fé no reinado de Yahweh e procurou substitui-lo por um rei humano (ver o comentário em 1 Sm 8.7). Nos Salmos, Yahweh repetidamente é proclamado rei. Quer essa proclamação esteja ou não associada a uma festa formal de entronização em Israel (ver o comentário sobre o Dia do Senhor na nota de rodapé em Joel), a posição Dele, como rei, é um reconhecimento de sua soberania sobre as crises individuais e os eventos que as desencadearam: os desastres nacionais, as nações e seus deuses e todo o cosmos e seu funcionamento.
Redentor. Na sociedade israelita, o papel do redentor (go'el) era desempenhado por um parente que ajudava a recuperar as perdas da tribo, fossem elas humanas (nesse caso ele perseguia o assassino até matá-lo), judiciais (nesse caso ele assistia em processos legais) ou econômicas (nesse caso ele recuperava a propriedade de um membro da família). O redentor era um membro da família que protegia seus interesses quando ocorria alguma intrusão dos direitos ou bens dessa família. Esse é o termo usado com mais freqüência nos Salmos. Um segundo termo (pdh) refere-se, no contexto legal, a libertar alguém de alegações ou acusações sustentadas contra sua pessoa ou de deveres decorrentes. Logo, redimir o primogênito envolvia liberá-lo de seu compromisso, pagando um preço combinado. No Antigo Testamento, nem essas palavras nem quaisquer de seus sinônimos referem-se a redimir ou salvar alguém eternamente de seus pecados. O Salmo 130.8 é o que mais se aproxima desse conceito, mas, mesmo ali, a referência é de apenas libertar alguém do castigo que a nação havia trazido sobre si. Em ugarítico e acadiano esse verbo é usado com a divindade como sujeito.
Rocha (18.2, 31; 19.14; 28.1; 31.2; 42.9; 62.2; 71.3; 78.35; 89.26; 92.15; 94.22; 95.1; 144.1). Duas palavras hebraicas diferentes eram usadas para essa designação divina, não havendo distinção perceptível em seu uso. Esse título não ocorre como tal na literatura das culturas que cercavam Israel, mas sabemos que era usado porque pode ser encontrado como elemento teofórico em nomes próprios amorreus e aramaicos. Uma rocha podia ser a fundação ou o alicerce de uma construção, podia garantir proteção (esconder-se) ou sombra (ficar ao lado) e podia ser inacessível e irremovível. Todas essas qualidades fazem da rocha uma metáfora adequada para descrever Deus.
Pastor. No antigo Oriente Próximo, os reis e os deuses muitas vezes eram retratados como pastores de seu povo. Assim como as ovelhas eram totalmente dependentes do pastor
quanto ao cuidado e proteção, o povo dependia do rei e dos deuses. Shamás, o deus-sol e da justiça mesopotâmico, é louvado como o pastor de tudo que está embaixo. O deus-sol egípcio, Amom, é descrito como um pastor que leva seus rebanhos a pastagens, providenciando, assim, alimento para seu povo sofredor.
Escudo (3.3; 5.12; 7.10; 18.2, 30; 28.7; 59.11; 84.11; 144.2). O tipo de escudo a ser usado nas batalhas era escolhido de acordo com o tipo de combate que se esperava encontrar. Se fosse uma guerra de cerco contra os muros da cidade, o soldado usaria um escudo grande, do tamanho de seu corpo, que lhe garantiria proteção contra a chuva de flechas e pedras atiradas por fundas do alto dos muros. Em contraste, um combate corpo-a-corpo, a campo aberto, favorecia o uso de um pequeno escudo de fácil manuseio que pudesse desviar golpes de espada ou lança. Quase todos os exemplos, em Salmos, referem-se a este tipo (todas as referências acima, exceto 5.12). A metáfora da divindade como um escudo era bastante comum no antigo Oriente Próximo e encontra-se, por exemplo, num oráculo profético dado ao rei assírio Esar-Hadom, que é assegurado pela deusa Istar, uma vez que ela será um escudo para ele. Istar, como deusa da guerra, é descrita como a "senhora do escudo", e seu planeta, Vênus, leva a palavra acadiana para escudo, aritu, como um de seus nomes.
Refúgio/fortaleza (9.9; 18.2; 27.1; 31.39; 43.2; 46.7; 48.3; 52.7; 59.9,16,17; 62.2, 6-8; 71.3; 91.2; 94.22; 144.2). Três termos hebraicos diferentes são usados para expressar essa metáfora, com as ocorrências divididas de forma bastante equilibrada. A abrangência do significado estende-se desde localidades de defesa natural, como uma rocha saliente ou uma caverna, até fortes de guarnições, cidades fortificadas e até mesmo cidadelas fortificadas dentro de cidades. Em um texto assírio, o rei é identificado como uma fortaleza para o povo. Não há indícios do uso dessa metáfora para a divindade na literatura egípcia ou acadiana.
Guerreiro. Na temática do guerreiro divino, um deus luta contra as divindades do inimigo, derrotando-as nas batalhas travadas. Na Assíria, Nergal é o rei da batalha e Istar é considerada a deusa da guerra. O deus cananeu Baal e o babilónico Marduque também são guerreiros divinos. De acordo com essa cosmovisão, as guerras humanas são consideradas simplesmente uma representação daquelas travadas entre os deuses; o deus mais forte sempre vence, a despeito da força ou fraqueza dos combatentes humanos. Acreditava-se que relâmpagos e trovões acompanhassem a presença da divindade no campo de batalha. No texto sumério Exaltação de Inana, nos mitos hititas sobre o deus da tempestade e nas mitologias acadiana e ugarítica, os deuses eram vistos como trovões no julgamento contra seus inimigos. Baal é retratado segurando raios nas mãos. Nos Salmos, Yahweh às vezes é descrito como um guerreiro divino que vem em auxílio do salmista para defendê-lo de seus inimigos. Além disso, Ele também figura em batalhas contra as forças cósmicas do caos. A mitologia antiga freqüentemente mostra os deuses em batalhas, mas essas imagens geralmente estão relacionadas ao domínio e à organização do cosmo. Tanto *Marduque (deus babilónico) como *Baal (deus cananeu) subjugam o mar, personificado em seu inimigo divino (*Tiamat e Yamm respectivamente). A temática do conflito cósmico apresenta a divindade principal derrotando as forças cósmicas (geralmente forças caóticas como a Morte ou o Mar) e trazendo ordem. No antigo Oriente Próximo, essas forças geralmente eram personificadas como deuses, mas nesse aspecto, os Salmos conservam uma certa ambigüidade.
Termos musicaisDa mesma forma como um hinário, o texto dos Salmos também contém instruções sobre orquestração, tonalidade usada para executar um salmo, ritmo apropriado, bem como sinais que indicam a dinâmica e outros termos como pausa, respiração e uso de modulações. Na
notação musical moderna, a maioria desses termos é escrita em italiano ou latim. Um músico ou cantor deve aprender esses termos técnicos para executar a música adequadamente. Porém, é bem possível que depois de dois mil anos o significado de muitos desses termos tenha se perdido. Não é surpreendente, portanto, concluir que não somos capazes de traduzir e entender plenamente alguns dos termos técnicos que aparecem nos títulos e introduções aos Salmos.
Alamote. Título do Salmo 46. Esse termo aparece apenas no Salmo 46, mas também é mencionado em 1 Crônicas 15.20, em que os músicos do templo tocavam suas harpas "de acordo com Alamote". Comparando com a palavra grega élumos, que significa flauta pequena, esse termo pode referir-se a uma voz aguda ou ao ato de tocar o instrumento em seu registro mais alto.
A Morte para o filho. Título do Salmo 9. Trata-se de uma série de palavras que sugerem uma tonalidade agora desconhecida. O termo 'alumot é de difícil tradução. A Septuaginta o traduz como "a força da juventude". A tradução da NVI aparentemente é baseada na relação com o deus ugarítico Mot, "morte" (ver SI 48.14).
Não D estruas. Título dos Salm os 57-59; 75. Trata-se provavelmente das palavras introdutórias de um texto ou título de canção (possivelmente baseado em Is 65.8). Acompanhado de miktam, também pode ser uma forma de taquigrafia usada para proibir a destruição ou remoção de uma inscrição ou texto.
A Corça da Manhã. Título do Salmo 22. Essa expressão é uma sugestão dada ao regente do salmo para executá-lo de acordo com uma melodia popular "A Corça da Manhã". Era comum se criar uma nova letra para uma melodia antiga, já bastante conhecida, popular. Alguns estudiosos sugeriram uma relação com o deus ugarítico shr e, portanto, uma origem antiga para a canção.
Uma Pomba em Carvalhos. Título do Salmo 56. Essa expressão é uma referência ao título de uma canção e a melodia para a execução do salmo. Há uma certa dúvida quanto à tradução de ‘elim como "pombas" ou "deuses".
Flautas. Título do Salmo 5. Tem-se sugerido que o termo traduzido como "flautas" (nehilot) refere-se a "flautas de lamentação" como aquelas ilustradas na arte egípcia, tocadas por pranteadores profissionais. Observe também os instrumentos usados pelos profetas extáticos, em 1 Samuel 10.5, que poderiam ser flautas. A expressão "para flautas" também pode indicar a tonalidade do salmo.
Os Lagares. Título dos Salmos 8; 81; 84. Alguns intérpretes relacionam esse termo a um instrumento musical, possivelmente associado à cidade füistéia de Gate. Também é possível que seja um mote significando um ritmo, uma canção ou uma dança executada após o trabalho daqueles que pisavam as uvas nos lagares (hebraico gat; ver Is 16.10; Jr 25.30).
Higaion (interlúdio). 9.16. Esse termo pode ser uma orientação aos músicos. Tem o significado de "elocução" ou "meditação" (ver Is 16.7 para seu uso como "lamento") e, portanto, pode indicar um tipo de glissando ou som vibrando, talvez acompanhado de instrumentos de cordas.
Jedutum. Título dos Salmos 39; 62; 77. Visto tratar-se do nome próprio de um dos cantores do templo de Davi (1 Cr 25.1-6), é possível que sua aparição na introdução de três salmos seja simplesmente uma referência a ele ou possivelmente a um estilo de execução atribuído a ele. Também pode ser a deixa para uma melodia associada a Jedutum.
O Lírio da Aliança. Título dos Salmos 60; 80. Trata-se da deixa para tuna canção cuja melodia hoje é desconhecida. Ver também Salmos 45 e 69, e 2 Crônicas 4.5 para o uso desse termo para "lírio".
Mahalath. Título do Salmo 53. Baseado em 1 Rs 1 .4 0 , esse termo provavelmente refere- se a um tipo de flauta usado em procissões de celebração. Visto que também pode ser traduzido como "doença" (1 Rs 8.37), é possível que o instrumento fosse usado em rituais de cura.
Mahalath leannoth. Título do Salmo 88. A palavra le'annoth significa "afligir" e, portanto, pode ter sido acrescentada aqui para coincidir com o tema de penitência do Salmo 88. Uma vez que esse termo pode ser uma forma da palavra hebraica 'anath, "canto" (Êx 15.21), seu uso juntamente com mahalath, "flauta", poderia ser uma referência a uma antífona ou música para mais de um instrumento, ou alternando melodias cantadas e instrumentais.
Masquil. Título dos Salmos 32; 42; 44; 45; 47; 52-55; 74; 78; 88; 89; 142. Visto que esse termo aparece em tantos salmos e tem o significado de "compreender" (do hebraico sakal), pode tratar-se de um rótulo ou classificação geral para uma série de cânticos didáticos ou penitentes (ver a relação possível com lamento em Amós 5.16,17). É possível tratar-se também de um cântico ou tema "habilmente elaborado", com palavras de exaltação, conclamando o povo a louvar a Deus (ver 2 Cr 30.22).
Mictã. Título dos Salmos 16; 56-60. Esse termo sempre aparece acompanhado da expressão "de Davi". A Septuaginta traduz a palavra mictã como estelografia, "arte de esculpir inscrições em monumentos", portanto, a palavra pode representar declarações formais, um cântico oficial ou a realização de um ritual. Também pode referir-se a um cântico ou declaração inscrita em pedra e recitada publicamente no templo.
Petição (Hazkir). Título dos Salmos 38; 70. O radical do verbo zakar aparece em Levítico 2.2 e Números 5.16 em referência a uma oferta de cereais acompanhada de incenso. Igualmente, Isaías 66.3 refere-se a uma oferta de incenso. Em outras passagens, é usado para invocar o nome de Deus (Êx 20.21; Am 6.10). Dessa forma, pode referir-se a um ritual público incluindo uma oferta e uma petição pelo auxílio de Deus.
Oração (Tephillah). Título dos Salmos 17; 86; 90; 102; 142. Esse é um termo para um salmo que convoca o povo ou um cantor a orar a Deus em busca de perdão (ver 1 Rs 8.38). O cântico tem a forma de lamento, reconhecendo o direito de Deus de castigar o povo, e convida-os a orar enquanto vestem roupas de luto e fazem jejum (SI 35.13).
Salmo (Mizmor). Título dos Salmos 47-51; 62-68; 76; 77; 80; 82-85; 87; 88; 91; 98; 100; 101; 108-110; 139-141; 143; 145. Esse termo técnico aparece cinqüenta e sete vezes nos sobrescritos de Salmos e é acompanhado da expressão "de Davi" trinta e cinco vezes. Por causa de sua relação com o verbo hebraico "podar uma vinha" (Is 5.6), alguns comentaristas têm sugerido que se refere a um instrumento de cordas, em que estas eram tangidas de modo bastante semelhante a uma vinha cortada pela unha do polegar de um vinhateiro. Porém, comparações com o acadiano zamaru, "cantar", podem indicar que mizmor simplesmente seja um termo genérico para cântico ou para um cântico acompanhado de instrumentos de cordas.
Pausa (Selah). Salmos 3; 4; 7; 9; 21; 21; 24; 32; 39; 44; 46-50; 52; 54; 55; 57; 59-62; 66-68; 7577; 81-85; 87-89; 140; 143. Esse é o termo técnico mais recorrente dos Salmos. Aparece setenta e uma vezes em trinta e nove salmos e três vezes em Habacuque 3, mas nunca em um sobrescrito. Visto que é impossível determinar se a colocação da palavra é original ou foi introduzida por editores ou copistas, seu objetivo preciso permanece incerto. Dentre as sugestões para seu significado está "pausa" ou "interlúdio", indicando um intervalo no texto ou na execução do salmo. Também é possível que seja uma deixa para o coral repetir uma litania ou afirmação, ou para que um instrumento específico, possivelmente um tambor, fosse tocado para marcar o ritmo ou enfatizar uma palavra.
Oitava (Sheminith). Título dos Salmos 6; 12. E possível que esse termo técnico possa ter traduzido como "instrumento de oito cordas" e que a referência aqui seja ao seu uso ou
possivelmente ao emprego da oitava corda. Esse registro alto produziria um som agudo, imitando as vozes de cantoras (ver 1 Cr 15.21).
Confissão (Shiggaiott). Título do Salmo 7. Baseando-se em comparações com o termo acadiano segu, "grito ou lamento", é provável que esse termo (também encontrado em Hc 3.1) seja uma classificação de um salmo de lamento. A palavra em hebraico significa "desviar- se" e, nesse contexto, pode referir-se ao sujeito do cântico ou poema, ou talvez a um ritmo exagerado ou canto entusiástico.
Cântico (Shir). Títulos dos Salmos 46; 48; 65-68; 75; 76; 83; 87; 88; 91; 108. Trata-se simplesmente de um termo genérico para "cântico", aparecendo muitas vezes nos Salmos e em outras passagens da Bíblia (Ex 15.1; Nm 21.17; Dt 31.19). É colocado tanto no sobrescrito quanto no corpo de alguns salmos (69.30; 78.63) e às vezes é acompanhado do termo mizmor. E possível que tivesse um significado mais geral ou técnico no conjunto de música religiosa, por exemplo, no título "Cântico dos Degraus" (SI 120-134).
Cânticos dos Degraus. Título dos Salmos 120-134. De acordo com a tradição medieval e rabínica, esses quinze salmos deviam ser cantados sobre os quinze degraus que subiam do pátio das mulheres até o pátio dos israelitas, no templo pós-exílico de Jerusalém. E mais provável, porém, a explicação de que eram entoados ou cantados por peregrinos religiosos, em sua subida até Jerusalém ou "Sião", durante as três principais festas religiosas anuais (ver o comentário em Ex 23.17).
Instrumentos de Cordas. Título dos Salmos 4; 6; 54; 55; 61; 67; 76. Não fica claro se esse termo, neginot, "correr sobre as cordas", indica um instrumento específico de cordas. No entanto, a referência à lira tocada por Davi, em 1 Samuel 16.16, ao harpista, em 2 Reis 3.15, e na Lenda Egípcia de Wenamon, sugere tratar-se de um instrumento portátil (ver também Is 23.16).
Melodia Lírios. Título dos Salmos 45; 69. Essa expressão faz alusão a uma melodia hoje desconhecida. Pode também ser uma orientação para que o salmo fosse acompanhado por um instrumento com forma de lírio, de seis cordas ou seis sinos. E possível que o termo para "lírio" derive do acadiano sussu, "um choque de", mas não se pode confirmar.
Cântico de casamento. Título do Salmo 45 .0 Salmo 45 contém a celebração do casamento de um rei israelita com uma princesa de Tiro, possivelmente de Acabe com Jezabel (1 Rs 16.31). A expressão aparece somente aqui, mas pode ter sido usada em documentos que celebravam casamentos.
S A L M O S
VSalmos 1-41 Primeiro livro1.5. resistir no ju lgam ento. Quem fica de pé (sentido literal de "resistir"), no julgam ento ou na assembléia, é alguém que recebe a tribuna ou o fórum de onde profere sua fala. Geralmente a ação se aplica a uma testem unha (com o em D t 19.15 e SI 27.12), m as o versículo 30.28 descreve Jó como o queixoso. No Ciclo Ugarítico de Baal, um acusador levanta-se e cospe em Baal diante da assembléia dos deuses (filhos de El).1.5. comunidade dos ju stos. A assembléia ou comunidade é um corpo judicial formal, tal como a assembléia dos filhos de El, no com entário anterior. Essa expressão é sem elhante a um a idéia do Salm o 82.1, onde Deus atua em relação a um concílio judicial à medida que casos são decididos. Na esfera celestial, havia um concílio divino que desem penhava essa função (ver o com entário em Is 40.13, 14), m as os julgam entos humanos também funcionavam por meio de um a assembléia (Js 20.9).2.6. divindade estabelecendo rei. O termo ungir ou estabelecer foi encontrado como um radical ugarítico num texto mitológico. O ofício do rei era uma indicação divina no antigo Israel e em outras áreas do Oriente Próximo. Sargão de Acade (c. 2300 a.C.) afirma ter sido estabelecido por Istar, e a Lista dos Reis Su- mérios, (compilada algum tempo depois de 2000 a.C.) por sua vez, também afirma que as cidades recebiam seus monarcas por nomeação divina. Essa ideologia foi assim ilada pelos israelitas. Os reis da Assíria e da Babilônia celebravam anualm ente festas de entronização nas quais deus e rei eram restabelecidos. Os reis mesopotâmicos se consideravam firmados no trono por m eio de um decreto divino. No Egito, Hórus instituía os reis num a cerimônia de coroação que envolvia ritos de consagração e purificação.2.7. reis como filh os da divindade. No antigo Oriente Próxim o, geralm ente considerava-se que os reis tinham um a relação filial com a divindade e, muitas vezes, acreditava-se que haviam sido gerados por ela. Essa visão era particularm ente forte no reinado egípcio, uma vez que o faraó era visto como oriundo da esfera divina. Ele era, na verdade, concebido como filho de Rá, o deus-sol. N a literatura ugarítica, Keret, rei de Khubur, é identificado como filho de El, o princip al deus dos cananeu s. A lém disso, ev idên cias iconográficas dem onstram dois príncipes m amando
nos seios da deusa Anat. Dentre os reis arameus, a designação era até m esm o incluída em seus nomes reais (Ben-Hadade que quer dizer filho de Hadade). Na Mesopotâmia, desde Gilgamés, na metade do terceiro milênio, até reis como Gudea, Hamurábi, Tukulti- Ninurta e A ssurbanipal, citando apenas alguns, era parte da prerrogativa real reivindicar herança divina. Os reis israelitas, porém, eram filhos da divindade por causa da aliança e não por serem filhos naturais (ver SI 89.26; 2 Sm 7.14).2.9. vara (cetro) de ferro. O cetro representava o reinado e o ferro era um símbolo de força. Governantes egípcios são retratados como terríveis inimigos munidos de vara/cetro. Particularm ente interessante é o fato de que as evidências dos textos de maldição (ver o próxim o comentário) sugerem que os vasos eram esmagados com um bastão.2.9. despedaçarás como a um vaso de barro. Os reis egípcios celebravam seu governo escrevendo o nome de seus inimigos em vasos de barro e simbolicamente despedaçando-os. Esse costume é descrito em textos de m aldição. Os reis assírios igualm ente usavam a metáfora de potes de cerâmica quebrados para afirmar sua supremacia sobre os inimigos.4.6. a luz do rosto de D eus. A m etáfora "lu z do rosto de D eus" é encontrada em cartas reais da cidade egípcia de A m am a e na correspondência ugarítica. Por exemplo, "o rosto do Sol (i. e., faraó) brilhava sobre m im " é uma declaração feita por um dos reis subordinados ao Egito. D ois pequenos rolos de prata (com cerca de dois centím etros e m eio de comprim ento) foram encontrados na área conhecida como Keteph Hinnom, em Jerusalém. Eram amuletos de um túmulo feito num a caverna do século sexto ou sétimo a.C. e continham a bênção sacerdotal de Números 6.25, que inclui o pedido de que o Senhor "resplandeça o seu rosto sobre ti". Atualmente, representam o mais antigo exemplar de qualquer texto das Escrituras. O conceito do rosto brilhante da divindade, que resulta em fa v o r, en co n tra -se em d o cu m en to s e in scriçõ es mesopotâmicas que remontam ao século doze a.C..6.6. cam as israelitas. A m etáfora poética de chorar deitado sobre o leito também é encontrada na literatura ugarítica: "Suas lágrimas se derram am como siclos sobre o chão, como punhados sobre a cam a". No antigo Israel, é provável que as camas fossem semelhantes àquelas representadas na iconografia do Oriente
Próximo. Em essência, eram sofás para reclinar-se e camas altas. Os pobres provavelmente dormiam em colchões estendidos no chão, enquanto um a pessoa comum usava um catre.7.13. flechas flam ejantes. O Antigo Testamento jamais usa a palavra flechas para descrever as flechas flam ejantes usadas pelos exércitos humanos ("brasas" em Pv.26.18). Em acadiano, há pou cas referências ao uso dessas armas sendo lançadas pelos reis sobre os inimigos. Acredita-se que essas flechas eram m ergulhadas num tip o de óleo ou piche e ateava-se fogo a elas. Quando atiradas por Yahw eh, geralm ente eram consideradas relâmpagos (ver 2 Sm 22.15; SI 77.17,18 para os dois termos usados em paralelo). Estes se encaixariam bem ao conceito de flechas flam ejantes, visto que às vezes são sim p lesm en te d escrito s com o fog o . Na tem ática do guerreiro divino, a divindade luta contra as divindades do inimigo, derrotando-as nas batalhas travadas. Na Assíria, Nergal é o rei da batalha e Istar é considerada a deusa da guerra que atira cham as de fogo durante os com bates. O deus cananeu Baal e o babilónico Marduque também são guerreiros divinos. Acreditava-se que relâmpagos e trovões acompanhassem a presença da divindade no campo de batalha. No texto sumério Exaltação de Inana, nos mitos hititas sobre o deus da tem p estad e e nas m ito log ias acad ian a e ugarítica, os deuses eram vistos como trovões no ju lgamento contra seus inimigos. Baal é retratado segurando raios nas mãos. A terminologia do trovão está presente na retórica real à medida que reis hititas e assírios se apresentam como os instrum entos dos deuses que trovejam contra aqueles que violavam tratados ou obstruíam o caminho da expansão do império.8.3. céus, obra dos teus dedos. A literatura acadiana descreve os diversos patamares dos céus feitos de diferentes tipos de pedra. Os céus inferiores eram feitos de jaspe e Marduque, o deus principal da Babilónia, teria desenhado (estam pado) as constelações neles. Esse verbo é usado para descrever o ato de fazer pinturas ou relevos. Em Enuma Elish, Marduque traça os limites do ano nos céus. Isso se refere ao estabelecimento do curso das estrelas. A segunda m etade do versículo indica que esse salmo também tem em mente os corpos celestes. Em outras passagens, Deus escreve com seus dedos (Êx 31.18; D t 9.10), entretanto, esses dedos podem também ser usados em paralelo a mãos em relação a algum trabalho manual (Is 2.8).8.4-6. d ignidad e da hum anidade. A posição da raça humana, na visão israelita, era bastante elevada quando contrastada com aquela ocupada pelas pessoas no pensam ento m esopotâm ico (como pode ser visto no épico babilónico da criação). N essa visão m esopotâ- mica, os deuses não tinham planos de criar as pessoas como parte integrante do mundo que haviam estabele
cido para si mesmos. A humanidade só foi gerada como conseqüência dos deuses terem se cansado de tanto trabalhar para seu sustento e provisão. Os seres humanos, então, foram criados para serem servos das divindades que não estavam dispostas a fazer o trabalho pesado. De acordo com essa visão, a dignidade hum ana era alcançada através da id éia de que os deuses precisavam dos homens. Aqui, ao contrário, o ser humano dom ina sobre todas as outras criaturas.9.12. aquele que pede contas do sangue derramado. Ver o comentário, em Números 35.9-34, sobre a responsabilidade da família em vingar o assassinato de um de seus membros. É possível que o título "vingador de sangue" tenha se originado da obrigação familiar em se engajar na vingança quando algum membro de seu clã fosse morto. Tal processo, em bora típico das sociedades tribais, tumultuava ao extremo a m anutenção da ordem em um Estado organizado. Como resultado, um "vingador de sangue" podia ser nomeado pelo governo para atender às necessidades da família e do estado, aprisionando o acusado e depois executando a sentença, caso o veredicto do julgam ento confirmasse sua culpa. E possível que uma função m ais genérica seja a pretendida aqui neste salm o, visto que não é usado o mesmo termo técnico na passagem de Números. Ver também os comentários em Gênesis 4.14, 15 e 9.5, 6.9 .13 . p ortas da m orte . A cred itav a-se que o m undo inferior fosse como um a cidade terrena, no qual existiam casas e até muros (com o objetivo prim ordial de m anter seus habitantes presos ali). No texto A Descida de Istar, este lugar possui um complexo de portões com sete portas e porteiros em cada um a delas controlando o acesso. N a iconografia egípcia, as portas da morte são retratadas como passagens para a necrópole.9.20. infundindo-lhes terror. Acreditava-se que o ter
ror infundido pela divindade, como guerreiro divino, com freqüência antecipava a investida de um exército poderoso e bem sucedido na batalha. Textos e relevos egípcios e assírios retratam a divindade como um disco alado aterrorizando o inimigo antes da chegada de seus exércitos. Nas inscrições de Tutmés III, esse terror é atribuíd o a A m om -R á; e textos h ititas, assírios e babilónicos fazem m enção a seus guerreiros divinos provocando espanto no coração do inimigo. O conceito da deidade cuja aparência era m aravilhosa e inacessível não se lim itava à teologia israelita, visto que na M esopotâmia, os deuses exibiam seu poder através de sua melammu, ou seja, sua glória e brilho divino. O esplendor ou "g lória" de Deus sobrepujava o inimigo, derrotando-o. D iante de tal m agnificência divina, os deuses e as forças de outras nações são derrotados e forçados a subm eter-se à divindade suprema.
11.6. brasas ardentes e enxofre incandescente. Em textos acadianos, o enxofre incandescente e as brasas eram agentes de defum ação. O s deuses Ea e Enlil despejavam enxofre como um purificador que anulava o efeito da bruxaria. No entanto, esses dois elementos não fazem parte do arsenal do guerreiro divino no castigo de inimigos. Os termos aqui remetem, embora não sejam idênticos, àqueles usados no relato da destruição de Sodom a e G om orra (ver tam bém E z 38.22).11.7. os retos verão a sua face. Ver a face de um juiz ou deus era uma m etáfora na M esopotâm ia que equivalia a estar do "lad o do bem ", porque se referia a ter acesso à presença dos mesmos. Geralmente, refere-se a um suplicante ou lamentador obtendo um a audiência com um juiz. Se um juiz ou um deus voltasse sua face para você, era sinal de que seria contemplado com favor.12.6. fo rn o . O term o h ebraico usado para forno é encontrado apenas um a vez na Bíblia. Por causa da m enção à prata, o contexto sugere tratar-se de um cadinho de argila usado para fundição de metais; ele é retratado em pinturas de paredes egípcias e exemplares de argila foram encontrados por arqueólogos.12.6. sete vezes refinada. Geralmente a prata passava algumas vezes pelo processo de refino a fim de rem over toda a escória. A im agem aqui é a de que se alguém fosse purificado sete vezes (o núm ero da perfeição em hebraico), ficaria completam ente purificado.13.2. até quando? Essa pergunta ocorre quase vinte vezes neste Livro, geralmente relacionada a um salm o de lam ento. E en con trad a tam bém na M esopotâmia, no texto sumério Lamento pela Destruição de Sumer e Ur que contém a pergunta "A té quando o olho do inimigo contemplará minha situação?"16.4. sacrifícios de sangue. A maioria das libações no antigo O riente Próxim o eram de cerveja, vinho ou água, apesar do m el, azeite e leite tam bém serem usados. Ainda não foi encontrada nenhuma evidência de libações de sangue.16.6. divisas. A im agem de Deus determinando lim ites e divisas encontra-se tam bém em Deuteronôm io32.8. em que Deus estabeleceu os limites das nações. Nos contratos m esopotâm icos de venda de terra, as d iv isas, em geral, eram claram en te esp ecificad as. Além disso, os cassitas da Babilônia da Idade do Bronze M oderna tam bém usavam m arcos de divisa (aca- diano, kudurru) para delim itar as propriedades. Esses marcos continham inscrições com maldições detalhadas para qualquer um que violasse os limites ali estabelecidos. N uma herança, a propriedade era dividida entre os herdeiros, e, obviamente, certas partes da terra eram m ais produtivas, portanto, mais desejáveis que outras.16.8. situado à direita. U m guerreiro equipado com todo seu armamento seguraria a arma na mão direita
e o escudo, na esquerda. A pessoa à direita do rei tinha o privilégio de defendê-lo, pois era considerada alguém de confiança para assum ir essa posição de honra. Em contraste, quando o Senhor se coloca à direita de alguém, como aqui, ele está num a posição de oferecer defesa com seu escudo (ver SI 109.31). A metáfora transita facilmente do campo de batalha para o salão da corte. O acadiano geralmente justapõe direita e esquerda em linhas paralelas, mas há ocasiões em que a divindade é descrita caminhando à direita de alguém na batalha.16.10. não me abandonarás no sepulcro. Nesse contexto, a expressão refere-se a não permissão de que alguém m orra nas m ãos de um inimigo maligno. O salmista não será destinado ao Sheol; ele não sofrerá a
decomposição porque sua vida será poupada (ver SI30.2, 3). Um antigo texto sumério relata a lenda de um indivíduo que enfrenta a pena de m orte pelos crimes dos quais é acusado. No entanto, porém, ele é arrebatado das garras da destruição e louva a deusa N ungal por seu livramento.
17.8. m enina dos olhos. Literalmente, o termo significa "a filha m enor de seu olho". É um a expressão
idiom ática encontrada tam bém em D euteronôm io32.10. A pupila ou m enina dos olhos é a parte mais sensível do corpo e, portanto, a parte que necessita de m ais proteção.17.8. som bra das asas. A metáfora de refugiar-se sob as asas da divindade encontra-se também em outros salmos (36.8; 57.2; 61.4; 91.4); e de forma recorrente, tem a ver com questões de cuidado e proteção relacionados à aliança. Essa m etáfora tam bém era usada em outras culturas do antigo Oriente Próximo, especialm ente a egípcia, onde até m esm o asas desvinculadas de um corpo simbolizavam proteção. As divindades aladas são freqüentemente retratadas protegendo o rei. Um m arfim de Arslan Tash, datado do oitavo século, mostra imagens de forma humana com asas protegendo um a figura ao centro.18.4. cordas da morte/ sepultura. As armadilhas com
laços eram m uito usadas por caçadores no antigo Oriente Próximo. Nessa metáfora, a m orte ou o Sheol é o caçador. Para m uitas culturas do antigo Oriente Próxim o, o Sheol, habitação dos m ortos (i. e., o m undo inferior) era um lugar m uito real onde as pessoas levavam um a existência amorfa, se alimentavam de barro e pó e esperavam que seus descendentes suprissem suas necessidades. Havia portas e porteiros que m antinham os mortos presos ali; portanto, o lugar era chamado de "terra sem retom o". Essa descrição pode ser encontrada no épico acadiano do segundo m ilênio a.C.. A Descida de Istar. Aparentemente, a v isão hebraica da m orte não era m uito d iferente,
embora não haja uma descrição elaborada da vida no além, no Antigo Testamento.
18.8. fum aça das narinas, fogo consum idor da boca.Essa im agem não ocorre em nenhum outro material do antigo Oriente Próximo. O exemplo que m ais se aproxim a encontra-se no Enuma Elish, que descreve M arduque soltando fogo pela boca ao m over seus lábios. Em bora Yahw eh não pudesse ser retratado de nenhum a form a (animal ou qualquer outro tipo de representação), era perm itida sua descrição poética por meio de imagens animais, a fim de destacar certos atributos seus (leão/leopardo em Os 13.7; aves em Is 31.5; urso em Lm 3.10; bo i selvagem em N m 24.8 [todas as traduções, exceto a NVI]).
18.9. nuvens escuras sob os seus pés. O termo para "nuvens escuras" foi encontrado no épico ugarítico de Baal e Anat, em que o deus Baal é descrito como o "cavaleiro das nuvens" e sua "v o z " com parada ao som e à fúria do trovão e do relâmpago.18.10. m ontou um querubim e voou. Na iconografia da região siro-palestina, as divindades normalmente são retratadas montadas sobre o dorso de criaturas selvagens (geralmente touros). Um relevo assírio de M altaya ilustra sete deuses, cada um de pé nas costas de um anim al diferente. Bastante intrigante é um relevo assírio que retrata o deus da tempestade cheio de armas, montado num a criatura composta por corpo de leão, asas de águia e cabeça de touro. No Antigo Testamento, Yahw eh é descrito como entronizado acim a dos querubins, no Santo dos Santos do templo (ver o comentário em 1 Sm 4.3, 4) e também, na visão do trono de Ezequiel (caps. 1 ,10), sendo transportado em um a espécie de trono m óvel puxado por criaturas compostas.
18.12-15. armas do guerreiro divino. As flechas atiradas por Yahw eh geralm ente eram consideradas relâmpagos. Na temática do guerreiro divino, a divindade luta contra as divindades do inimigo, derrotando-as nas batalhas travadas. Na Assíria, Nergal é o rei da batalha e Istar é considerada a deusa da guerra. O deus cananeu Baal e o babilónico M arduque também são guerreiros divinos.Acreditava-se que relâmpagos e trovões acompanhassem os deuses no campo de batalha. No texto sumério Exaltação de Inana, nos mitos hititas sobre o deus da tempestade e nas m itologias acadiana e ugarítica, os deuses eram vistos como trovões no julgam ento contra seus inimigos. Baal é retratado segurando raios nas mãos. A terminologia do trovão tam bém está presente na retórica real à medida que reis hititas e assírios se apresentam como instrumentos dos deuses que trovejam contra aqueles que violam tratados ou obstruem o caminho da expansão do império.
18.16. águas profundas. Quando o deus babilónico M arduque promovia algum livramento, era louvado por restaurar o indivíduo e tirá-lo das águas do rio Hubur. Esse era o rio que corria às portas do mundo inferior; portanto, ser tirado de suas águas significava ser salvo da morte no último instante. Essa imagem tam bém está presente na m itologia grega com o famoso rio Stix e encontra algum espaço até mesmo na literatura cristã, como indica o rio da morte que corre da cidade dourada no Progresso do Peregrino.18.28. m anténs acesa a m inha lâm pada. Em Israel, a palavra "lâm pada" era muitas vezes usada metaforicamente para simbolizar a vida e a prosperidade. Por essa razão, muitas vezes eram colocadas em túmulos. A expressão "su a lâm pada" é bastante utilizada nas Escrituras para expressar vida. Por ser um símbolo de permanência e memória, a menção à lâmpada significa que o reinado de um descendente de Davi, em Jerusalém, garantiria um vínculo com a promessa de Deus para esta dinastia (2 Sm 7.8-16). Usos similares da palavra, em ugarítico e acadiano, estão ligados à perpetuação de um reinado ou da presença divina. O rei assírio Tiglate-Pileser III é descrito como a luz da humanidade. Uma expressão idiomática em babilónico antigo faz uso da imagem de um braseiro apagando- se para expressar o conceito de uma família sem descendentes. Além desse conceito, no m undo supersticioso do antigo Oriente Próxim o, havia demónios espreitando em lugares especialmente favorecidos pelas trevas. Um a das maneiras em que os deuses garantiam proteção, de forma figurada, era concedendo luz contínua, o que fica implícito em expressões como "a lâmpada dos deuses", nos textos de Ugarit. O deus cananeu Sapás era considerado a "lâm pada divina". N a M esopotâm ia, Lam ashtu era um demônio particularmente temido. O deus Nushku era representado pelo fogo e sua lâmpada acesa m antinha esses temidos demônios acuados e à distância. Aqui, o salmista pode estar referindo-se à lâmpada acesa em seu benefício. Yahw eh é a lâmpada ao lado do salmista que o protege do perigo.18.33. pés como os da corça. O termo usado aqui se refere a um a das espécies de cervo conhecidas em todo o antigo Oriente Próxim o. M uitas vezes supõe tratar-se de outros caprinos como o íbex nubiano, o cabrito m ontanhês e a gazela. Todos esses caprinos são conhecidos por sua firm eza nas patas em caminhos íngremes e traiçoeiros. D esde a literatura suméria (p. ex., O Sonho de Dumuzi) esse tipo de m etáfora é usado para pés ágeis e firmes.18.34. arco de bronze. Se essa expressão reflete uma arma de fato, então pode indicar um arco de madeira decorado com bronze ou flechas com ponta de bronze. Por outro lado, pode ser sim plesm ente um a forma
poética de denotar a força do arco do guerreiro. Esse objeto era um símbolo de força real na Assíria e no Egito, e tam bém um a das arm as dos deuses. Nesse últim o aspecto, o disco solar é retratado atirando flechas com um arco que, por se tratar da arma do deus- sol, poderia ser de bronze. Um relevo assírio da época de D avi retrata A ssur, o deus-sol, entregando nas mãos do rei, algo descrito como um arco magnífico.19.1-4. natureza que revela D eus. No texto egípcio Papiro Insinger (uma com posição do período inter- testamentário), afirma-se que a obra escondida de um deus é m ostrada na terra dia a dia. As vinte linhas seguintes descrevem muitos dos aspectos do funcionam ento da natureza criada pelo deus e, presum ivelmente, envolvida nessa revelação. Essas obras da criação incluem a luz e a escuridão; o dia, o mês e o ano; o verão e o inverno; as constelações; o processo de nascimento; o sono e a sucessão das gerações.19.5. aposento do noivo. O quarto de um noivo era um aposento especialm ente preparado para o casamento ser consumado. O uso da expressão, no texto paralelo de Joe l 2.16, sugere essa interpretação. A expressão teve esse significado no judaísm o rabínico antigo, mas após a destruição do templo em 70 d.C., passa a referir-se ao pavilhão onde a cerimônia oficial de casamento era realizada.19.6. concepção antiga do trajeto do Sol. Em muitas culturas do antigo Oriente Próximo acreditava-se que o Sol percorria um trajeto diário através dos céus. Textos mesopotâmicos referem-se às portas dos céus por onde o Sol entrava e saía. Nesses textos, os corpos celestes seguiam por caminhos e rotas representadas por faixas cruzando o firmamento. Materiais egípcios tam bém apresentam esses conceitos tanto em textos como na iconografia. O deus-sol é retratado navegando em sua embarcação pelos céus entre os pontos de entrada e saída de cada extremidade do horizonte.19.7. le i e Sol. No m undo antigo, o deus-sol geralmente era o deus da justiça. Por isso, para o salmista, é natural passar a relação de Yahw eh como o Sol para a do cumprimento de sua justiça através da lei. Muitas das imagens usadas para descrever a lei tam bém são relacionadas ao deus-sol no m undo antigo.19.8. luz aos olhos. Luz aos olhos refere-se à vida e, portanto, nesse sentido, é algo garantido a todos (Pv 29.13). A lei, porém, é capaz de estender a vida àqueles que seguem os seus mandamentos. Quando a luz dos olhos se esvai, a morte está próxima (13.3; 38.10).19.10. ouro puro. A im agem do "o u ro p u ro" está presente em outras culturas do antigo Oriente Próximo. Por exemplo, uma série de inscrições em portas de um templo egípcio em Edfu, do período ptolemaico, dizem "A todo que entrar por esta porta, cuidado para não entrar em estado de impureza porque Deus
ama a pureza mais do que milhões de bens, mais do que centenas de milhares de ouro puro". A palavra traduzida como "ou ro puro" é de certa forma obscura (trata-se de um a única palavra, não de um substantivo seguido de um adjetivo). Poderia referir-se a um nível de qualidade do ouro ou a uma variedade específica, por exemplo, o ouro verm elho ou o ouro branco.19.10. m el de tâm ara comparado ao m el de abelhas. O mel representa uma fonte de recurso natural, e na maioria das ocorrências trata-se da seiva da tâmara e não do m el de abelhas. Visto que não havia açúcar, era o adoçante m ais usado na Antigüidade. Não há evidências da dom esticação de abelhas em Israel, embora os hititas tenham sido capazes de tal feito e tenham usado mel de abelha em seus sacrifícios (tal como os cananeus). Na Bíblia, o m el é alistado juntamente com outros produtos agrícolas (ver 2 Cr 31.5). É possível que a referência feita, na terceira linha do versículo, seja àquele extraído das tâmaras, porém, a última linha do versículo está claramente referindo-se ao mel de abelha, visto que o favo é mencionado.19.12. pecado desconhecido. No mundo antigo havia a crença de que os deuses tinham muitas regras, exigências e restrições desconhecidas às pessoas. Em uma "O ração a Todos os D euses" um adorador assírio passa por uma lista elaborada de possíveis ofensas (alguma coisa ou lugar proibido que porventura tenha se comido ou pisado sem saber) pedindo que seus pecados ocultos fossem perdoados, afirmando que os desacatos haviam sido cometidos na ignorância. As orações penitenciais da M esopotâmia, conhecidas como orações shigu, contêm muitas referências a como ser absolvido de pecados desconhecidos. Os egípcios também se preocupavam com essa questão, como atesta uma obra de sabedoria, do período demótico posterior (Papiro Insinger), onde o autor implora o perdão de seus pecados ocultos.20.5. b an d eiras . A s ban d eiras eram usadas pelos israelitas e outros povos, inclusive os assírios, como estandartes de guerra (Ct 6.4) e com o insígnia das tribos (Nm 2.2). No exército egípcio, cada divisão recebia o nome de um deus (p. ex., a divisão de Amom, a divisão de Seth) e os estandartes identificavam o destaque m ilitar através de alguma representação do respectivo deus. Levantar bem alto as bandeiras era evidentemente um sinal de vitória. Elas são descritas em detalhes significativos nos textos de Qumran.21.8. tua mão alcançando os inim igos. Com a intenção de contextualizar, a NVI infelizmente distorceu a imagem deste versículo. Os verbos ("alcançar" e "atin gir") usados descrevem um ataque ao inim igo com um a arm a, e não sua captura. A m aior parte dos soldados era destra, portanto, o inimigo não era apanhado com a m ão direita, visto que era com ela que se
segurava a arma. Portanto, a mão direita era usada para a ofensiva, que "alcançava" seu alvo. U m hino a Sham ás diz que a arm a da divindade atingirá em cheio o ímpio e ninguém poderá salvá-lo. Em relevos e pinturas egípcias (também de Ugarit), o rei freqüentemente dá um golpe com a arma levantada na mão direita, enquanto a mão esquerda segura o inimigo. Esse versículo está apenas descrevendo parte do quadro porque as frases são paralelas, não contrastantes. Ambas descrevem o que a mão direita faz.21.9. fornalha ardente. D eus é ilustrado como um a fornalha ardente que destrói tudo que nela é colocado. O escritor provavelm ente está se referindo aos enormes fom os usados para secar tijolos e fundir metais. Para m ais inform ações sobre fornalhas, ver o comentário em D aniel 3.6.22.12. poderosos de Basã. Basã era um a região bastante fértil a leste do rio Jordão, m uito conhecida por seus rebanhos de ovelha e gado de engorda. Nessas pastagens de excelente qualidade, havia gado bem tratado sendo engordado para o mercado, bem como um a raça de gado selvagem, não dom esticado, que vagava livrem ente pelos campos. Textos legais dem onstram que os bois com chifres eram um perigo, e que podiam até m esm o ser vistos ocasionalm ente perambulando pelas ruas.22.13. leões. Sabe-se que os leões eram capturados e mantidos em jaulas a fim de serem soltos para a caça. Em textos assírios, pessoas que quebravam juram entos eram colocadas em jaulas de anim ais selvagens, em plena praça pública, para serem vistas por toda a cidade, enquanto eram devoradas. M ais relevante para essa passagem, na literatura assíria do sétimo século, são as covas de leões que eram usadas com o uma metáfora para cortesãos malvados e hostis ao rei. Em um a obra babilónica de literatura de sabedoria, M ar- duque m etaforicamente fecha (amordaça) a boca do leão (o opressor) para dar fim a suas táticas devoradoras.22.14. ossos desconjuntados. "D esconjuntado" é uma palavra de certa forma interpretativa; o hebraico fala de ossos "espalhados" (um verbo comparável ocorre apenas em três passagens: Jó 4.11; 41.17; SI 92.9), equivalendo a um bando de predadores devorando uma vítima, e cada membro desse bando carregando sua parte para um lado. A lgum as das culturas do antigo Oriente Próximo praticavam o segundo sepul- tamento: primeiro o corpo era depositado (numa caverna, por exemplo) até que a carne fosse decomposta, e depois os ossos eram enterrados no lugar de descanso definitivo. A té m esm o se um corpo fosse devorado, o enterro adequado seria realizado, desde que fosse possível recolher os ossos. Assim, Assurba- nípal fala de punir seus inimigos levando seus ossos para longe da Babilônia e espalhando-os fora da cida
de. Ele tam bém se vangloria de abrir cavernas de antigos reis inimigos e arrastar seus ossos "p ara infligir perturbação a suas alm as". Para mais informações, ver o comentário em 53.5.22.16. cães. Nesta passagem, os cães são comparados a pessoas que praticam o mal. Em bora no Oriente Próximo os cães tenham sido domesticados bem no início do período Neolítico, eles ainda viviam como carniceiros, com freqüência vagando em bandos pelos subúrbios das cidades (SI 59.6, 14), revirando lixo e carniça (1 Rs 14.11). Por essa razão, o term o cão, na Bíblia, geralmente expressa desprezo e escárnio. Entretanto, isso não necessariamente acontecia em todo o O riente Próxim o. Um enorm e cem itério de cães do período P ersa (num contexto aparentem en te não cultual) com m ais de setecentas covas foi descoberto em Asquelom. Os cães eram reverenciados na Pérsia zoroastrista; não eram, no entanto, enterrados em cemitérios. Eles (e animais de estimação em particular) desempenhavam um importante papel em rituais de eliminação e purificação na Anatólia e na Mesopotâmia. Muitos oficiais cultuais na Anatólia hitita e na Fenícia (condenados em Israel) eram cham ados de "cães". Finalmente, na Mesopotâmia acreditava-se que os esses animais tinham propriedades de cura. D e fato, Ninka- rrak, a deusa da cura na Mesopotâmia, freqüentemente era representada pela estátua de um cão. Ver o comentário em 1 Reis 21.19.22.16. descrição de m ãos e pés. A compreensão dessa descrição de m ãos e pés tem sido problem ática. O verbo hebraico, tradicionalmente interpretado como "perfu rado", ocorre apenas aqui e só pode ter essa tradução se for corrigido. Sua form a original indica que as m ãos e pés do salmista são como as patas "de um leão", que segundo a explicação de alguns comentaristas, estariam atados a um pedaço de madeira como se costumava fazer a um leão capturado. Infelizm ente, apesar de todas as cenas de caça desses anim ais, que têm sido preservadas, nenhum deles é m ostrado sendo transportado dessa maneira. Sendo assim, procura-se um verbo mais adequado; a m elhor opção estaria entre as línguas semitas aparentadas ao hebraico. Provavelm ente assem elha-se a um verbo acadiano e seus cognatos em siríaco, cujo significado é "encolher ou enrrugar". Textos m édicos acadianos falam de um sintoma em que as m ãos e os pés atrofiam ("encolhem "). Mateus 27 não oferece m uita ajuda porque não se refere a este versículo.22.18. lançar sortes pelas vestes. Embora os soldados rom anos tivessem o direito sobre as vestes de um criminoso condenado (como a aposta dos soldados lançando sortes pela túnica de Jesus), não existe evidência dessa prática entre os soldados nas execuções do Antigo Testamento. Não obstante, nesse período sa
bemos que os despojos às vezes eram repartidos através de sorteios, por isso não é difícil entender que as roupas de uma pessoa fossem repartidas da maneira descrita neste versículo, por ocasião de sua morte. Deve-se observar, porém, que o salmo não dá indícios de que esse ato era praticado pelos executantes da sentença. Procedimentos de herança eram feitos através de sorteios para repartir a propriedade entre os herdeiros. Um lamento mesopotâmico narra essa prática: um a pessoa, em seu leito, pranteia o fato de seus bens já estarem sendo divididos antes de sua morte.23.2. necessidades das ovelhas. No Levante, as ovelhas eram apascentadas em pastagens férteis que cresciam em decorrência de chuvas. No verão e no outono, elas se alimentavam de ervas daninhas e de restolhos das colheitas. Como os camelos, também podem passar longos períodos sem água, chegando a beber até nove litros quando surge a oportunidade. Em contraste aos bodes, que são bastante independentes, elas dependem do pastor para encontrar pastagens e água. Os pastores tam bém providenciam o abrigo, cuidados m édicos e auxílio no nascimento dos filhotes. Em resum o, as ovelhas praticamente não sobrevivem sem a ajuda do pastor. Em um antigo texto babilónico, o rei Amiditana afirma que o deus Ea lhe concedeu a sabedoria para apascentar seu povo. Ele continua sua metáfora dizendo que ele lhes supre as necessidades com excelentes pastagens e águas límpidas, fazendo- os descansar em lugares seguros.23.4. o uso da vara e do cajado. A vara era um porrete usado no cinto, enquanto que o cajado era um instrumento de apoio para caminhar, servindo como arma em momentos de necessidade (1 Sm 17.35) e usado para guiar e controlar as ovelhas. Essas eram as ferram entas tradicionais dos pastores, como evidencia uma inscrição de um selo cilíndrico do terceiro milênio.23.5. ungir com óleo. N o mundo antigo, os convidados de um banquete muitas vezes eram recebidos por um generoso anfitrião que ungia suas frontes com óleos finos. Além de dar-lhes uma aparência brilhante, acrescentava ao ambiente e à pessoa um odor agradável. Por exemplo, um texto assírio do reinado de Esar-Hadom descreve como ele "encharcou a fronte" de seus convidados num banquete real com os mais "seletos óleos". O ôleo preservava o aspecto da pessoa no clima quente do Oriente Médio. O texto egípcio "A Canção do H arp ista" e o épico m esopotâm ico de G ilgam és descrevem indivíduos vestidos em linho fino e com m irra espalhada na cabeça.23.6. habitar na casa do Senhor. A casa do Senhor é usada como uma expressão para o templo, mas nunca para o lugar da habitação celestial de D eus (explícito em 27.4). O termo hebraico traduzido como "enquanto eu viver" significa por períodos longos (Lm 5.20).
Se a tradução "habitar" (de acordo com a Septuaginta) estiver correta, então, sugere que o salmista tinha um ofício sacerdotal, visto que apenas os sacerdotes habitavam no recinto do templo. Se, ao contrário, seguirmos o texto hebraico traduzindo "voltarei à casa do Senhor" (NVI), encontraremos aqui a expectativa de desfrutar de muitas oportunidades de adorar no templo ("hoje e sem pre"). O rei babilónico N eriglissar expressa a seu deus o desejo de estar com ele para sempre. Outro texto diz "Q ue eu possa estar diante de ti para sempre em adoração e devoção". Um hino a M arduque pede que o adorador possa estar diante da divindade para sempre em oração, súplica e rogos. No terceiro milênio a.C., os adoradores sumérios tentaram atingir esse objetivo colocando, no templo, estátuas que figuravam eles mesmos em postura de oração. D essa maneira eles estariam continuamente representados naquele lugar.24.2. terra fu nd ad a sobre os m ares. N a concepção babilónica do cosmo, a fundação da terra era o que é cham ado de apsu. Trata-se de um a região de águas primitivas sob a jurisdição da importante divindade Enki/Ea. Do ponto de vista da geografia física, essa área representa os lençóis de água que sobem à superfície na forma de, por exemplo, pântanos e fontes, bem como às associadas aos m ares e rios cósmicos. Em Enuma Elish, um dos nomes de M arduque, Agilima, o identifica como aquele que construiu a terra sobre as águas e estabeleceu as regiões superiores.24.4. recorrer a ídolos (elevar a alma). Essa expressão significa "nutrir um desejo" por algo. A palavra traduzida como "alm a" refere-se, fisiologicamente, à garganta e, portanto, o significado aproxima-se de apetite ou desejo. Em um a série de contextos, a m esm a expressão é usada tendo Deus como objeto (SI 25.1; 86.4; 143.8). O termo para ídolo aqui está relacionado à palavra que significa vazio ou inutilidade. Outros escritores usam a frase "aqueles que não são deuses" para referir-se a ídolos (p. ex., Jr 5.7).24.7. portais e portas antigas. Em um hino a Shamás, o deus-sol babilónico, diversas partes do templo são descritas regozijando-se, inclusive os portais e as entradas. Um texto de Nabonido faz menção às portas do templo se abrindo para Shamás entrar. Isso aconteceria num contexto de procissões regulares da estátua da divindade no tem plo. Se o term o "cab eça" das portas refere-se a um a característica arquitetônica, é provável que se trate da viga ou projeção cruzando o alto das portas, servindo como uma cornija. Esse era um traço comum da arquitetura egípcia e m esopo- tâmica, e a palavra acadiana kululu, usada para descrevê-lo, também se refere a um adereço de cabeça ou turbante. A idéia de que eles se levantariam para permitir que algo muito grande passasse é engenho
sa, m as não persuasiva, no sentido que o desenho usual de portas não teriam cornijas desimpedidas que pudessem ser tão facilmente removidas. A alternativa de que esse movimento das cabeças é metafórico parece m ais provável. N a literatura ugarítica, os deuses abaixam a cabeça quando estão sendo humilhados e a levantam quando têm razões para regozijar-se.27.4. v iv er n a casa do S en h o r. V er o com entário em23.6.29.1. com paração a h in o ugarítico. Este salmo tem mais relações com a literatura ugarítica do que qualquer outro. U m a visão recorrente entre os eruditos argumenta que essa passagem originalmente era um hino fenício/cananeu que foi m odificado e adaptado ao estilo religioso hebraico. Afirma-se que os três lugares mencionados situam-se na Síria (v. 6-8) e que o salmo apresenta termos, conceitos e até mesmo estruturas gramaticais mais freqüentes no ugarítico do que no Antigo Testamento. Entretanto, embora haja paralelos e sem elhanças suficientes que identificam elem entos cananitas neste versículo, ainda não há evidências de que se trata de um original. Todos os elem entos assim identificad os, tam bém ocorrem em muitos cenários claramente israelitas, logo, eles apen as dem onstram as sem elhanças gerais existentes entre a língua e a cultura israelita e cananéia. É possível que o salmista esteja usando este salmo para imputar a Yahw eh muitas das funções de Baal, mas não para depor contra esse deus a ponto de elevar-se a proclamar sua glória. Por outro lado, não haveria problema se o salmista escolhesse, como modelo de sua composição, um original cananita de forma que o louvor fosse transferido de Baal para Yahweh.29.1. seres celestiais (poderosos). N a mitologia cananéia os "poderosos" ou "filhos de deus" eram deuses menores subordinados a El, o rei dos deles. No Antigo Testam ento, a expressão refere-se aos anjos que form avam a assem bléia celestial de Yahw eh (ver SI 89.7; 103.20; 147.1; 1 Rs 22.19; Is 6.2; Jó 1.6; 2.1).29.3. voz de trovão. A literatura do antigo O riente Próximo é cheia de referências a deuses da tempestade cuja voz é ouvida no trovão. Dentre eles, encontram os Baal em textos ugaríticos e de A m am a e Adade, em textos acadianos. Tam bém é com um nas descrições de Yahw eh (ver o comentário em 7.13).29.5, 6. quebra os cedros, salta os m ontes. Na lenda ugarítica referente à construção do palácio de Baal, sua entronização é precedida por sua voz de trovão que faz os lugares altos da terra pularem ou trem erem. Algumas linhas abaixo, ele é descrito segurando um cedro em sua mão direita como se fosse uma arma. Igualmente, num hino a M arduque, sua voz de trovão provoca um terremoto. Sua palavra é um dilúvio que arrasta árvores de lótus. O verbo hebraico tradu
zido como "salta" com freqüência descreve um tipo de movimento travesso ou saltitante, m as é mais provável a aparência ondulatória de um rebanho de ovelhas ou bodes m ovendo-se por um cam inho (ver o comentário em 2 Sm 6.14-21). Esta seria um a imagem apropriada para descrever o deslocam ento da terra num terremoto.29.6. Siriom . Siriom é igualado ao monte Herm om (ver o com entário em D t 3.9) e em linguagem poética é sinônimo de Líbano. Em textos ugaríticos, podem aparecer em equivalência, m as não fica claro. Am bos são usados claramente em paralelos no Épico de Gilgamés, quando são fendidos durante a batalha em preendida contra Huw aw a, por Gilgam és e Enkidu. Eles aparecem também em outro material acadiano, demonstrando que não são usados exclusivam ente na literatura cananéia, m as em todo o antigo O riente Próximo.29.8. d eserto de C ades. O deserto ou a estepe de Cades também é mencionado em um texto ugarítico e provavelmente fica no Líbano, nas proximidades da cidade de Cades, perto do rio Orontes. Pode também ser um a referência a Cades-Baméia, no sul, onde os israelitas passaram grande parte do tempo durante os quarenta anos de peregrinação pelo deserto.29.10. assentar-se soberano sobre o D ilú vio . Uma cena do templo de Shamás, esculpida num tablete do rei neobabilônico Nabu-Apal-Idinna, mostra esse deus (o deus-sol) num trono, debaixo de um a m ontanha cósm ica e uma série de linhas onduladas que, acredita-se, representa o oceano cósmico. A cena é notavelmente parecida com a de Yahw eh assentado no trono sobre o dilúvio (ou m elhor, o m ar celestia l, ver o com entário em 104.3), conform e a descrição deste versículo. Em relação a isso, pode ser interessante a informação de que em acadiano, a palavra para dilúvio tam bém pode referir-se a um m onstro do caos. Com m ais destaque nessa literatura, é vista como uma arm a dos deuses e, às vezes, é até mesmo usado em títulos de reis e deuses. Pode ainda preceder o guerreiro e ser provocado pelo deus que segue para a batalha. Shamshi-Adade V descreve o deus Ninurta como o senhor exaltado que cavalga no dilúvio. Em contraste com a palavra hebraica tehorn, que representa as águas cósm icas na terra, esta palavra, mábbul, representa as águas cósmicas dos céus, de onde vem a chuva. Em Gênesis 6 - 8 é o màbbul que desce sobre a terra na época de Noé.30.3. tirado da sepultura (Sheol), poupado da cova.N a obra babilónica intitu lada Ludlul Bei N em eqi, o deus Marduque é relatado trazendo restauração a um de seus seguidores que estava sofrendo por razões desconhecidas: "O Senhor m e sustentou, o Senhor me colocou de pé, o Senhor me deu vida, resgatou-me [da cova], chamou-me da destruição, [...] tirou-me do rio
H u bu r, [...]. E le seg u rou m inh a m ão " (de W . G. Lambert, A Literatura Sapiencial Babilónica, 59).33.2. harpa, lira. Esses são instrumentos m usicais típicos da época e confirmados em textos, relevos e pinturas do antigo Oriente Próximo desde o terceiro m ilênio. Ainda existe certa discordância entre os eruditos quanto a qual das palavras hebraicas, nessa passagem, deveria ser traduzida como "h arpa" e qual como "lira". O termo que a NVI traduz como "lira" refere- se a um instrum ento com dez cordas, enquanto a palavra tradu zid a por "h a rp a " acred ita-se ter um núm ero m enor delas. A m bas eram seguradas nas m ãos através de estruturas feitas de m adeira. Um texto musical, descoberto em Ugarit, lança luz sobre a música da Idade do Bronze Moderna. Esse texto tem as notas a serem tocadas por uma lira acompanhando um hino cultual hurrita.35.2. escudos (escudo e broquel). "Escudo e broquel" representam os dois extremos quando se trata de equipam ento de defesa pessoal. Respectivam ente, referem -se a um escudo grande, que protege o todo o corpo e a um pequeno, redondo; o prim eiro m ais provavelm ente era carregado por um ajudante (escudeiro). Do m esm o modo, a lança e o dardo ("m achado de guerra", v. 3) representam o armamento ofensivo de grande alcance. A raiz hebraica (srg) traduzida como "m achado de guerra" não ocorre em nenhuma
outra passagem do Antigo Testamento como uma arma. Heródoto refere-se a um machado cita de lâmina dupla (sagaris) e nos Rolos do M ar Morto essa expressão é usada com o raiz para o cabo de um a lança. Em últim o caso, o texto simplesmente fala de dois usos para o mesmo equipamento. O longo cabo de madeira podia ser usado para aparar e dar golpes, como um bastão, enquanto a extremidade pontiaguda era usada para o golpe final. Existem inúm eras ilustrações desses e outros arm am entos m ilitares, da Idade do Ferro I-II, em relevos de parede nas cidades assírias de Nínive e Kalah (Ninrode).36.7. som bra das asas. Ver o comentário em Salmo17.8. A deusa cananéia Anat é representada com asas estendidas num suporte para os pés feito de marfim, de Ugarit.36.8. rio de delícias. Visto que a palavra traduzida com o "d elícias" tem as m esm as letras da raiz para Éden, é possível que esta expressão seja um a referência às águas que fluíam do paraíso. A associação entre os templos do antigo Oriente Próximo e as águas de fontes é bastante confirmada. De fato, alguns templos da Mesopotâmia, do Egito e do mito ugarítico de Baal são descritos tendo sido fundados sobre fontes (comparadas às águas prim itivas), que às vezes corriam dentro do prédio em si. Isso explicaria o paralelo entre
a casa de D eus na prim eira parte do versículo e as águas deste rio (ver Ez 4.7).36.9. fon te da vida. Em muitas outras passagens, a mais completa expressão "fonte de água viva" é usada (como em Jr 2.13). A água viva (ou da vida) refere- se à fonte de água corrente (em contraste com água armazenada ou coletada da chuva). É provável que se refira à fonte divina da vida neste m undo (ver também Pv 10.11; 13.14). Certam ente no antigo Oriente Próximo, os deuses eram considerados a fonte da vida, m as a metáfora da fonte de água não é confirmada.37.4. desejos do coração. Em textos acadianos, essa expressão é usada para referir-se ao recebimento de um presságio favorável, concernente a atividades que se pretende realizar ou a necessidades, tais como, enfermidades ou opressão da qual se busca libertação. Um texto relata que quando um indivíduo orava aos deuses, seu desejo era satisfeito. Se o conceito israelita apresenta qualquer sem elhança, o desejo mencionado aqui não é qualquer um, mas particularmente o do salmista nesta oração (que é articulado no v. 6; ver SI 20.4, onde o contexto é um pedido para que os planos de alguém que busca alívio em meio à aflição sejam bem sucedidos).
Salmos 42-72 Segundo livro42. título, coraítas. Os sobrescritos dos Salmos 42; 4449; 84; 85; 87; 88 contêm o termo "coraítas". Os coraítas aparecem pela prim eira vez na lista de Números 26.58 entre as principais famílias levíticas. Na descrição das funções, em 1 Crônicas 24-26, eles são alistados como "porteiros" (1 Cr 26.1). Sua relação com o louvor ao Senhor, em 2 Crônicas 20.19, também pode ser a base para sua citação nos Salmos e como parte da salmódia cultual.42.1. corça/alma. U m a série de selos de Judá, datados dos séculos oitavo e sétimo, contem uma corça vagando (em busca de água?). O. Keel sugere que a popularidade desse motivo artístico está ligada à metáfora usada neste salmo.42.2. alma. No hebraico do Antigo Testamento, a palavra traduzida como "alm a" é nephesh. Refere-se ao "e u " ou ao "se r v iv en te" (ver G n 2.7), m as não à "alm a im ortal" dos escritos do Novo Testamento. Portanto, não está implícito que a nephesh sobreviva após a morte. A palavra está relacionada ao termo acadiano napasu, que se refere ao pescoço ou à garganta e, por extensão, ao fôlego de vida. No uso hebraico, não há distinção entre o corpo e o princípio da vida, portanto, em passagens como 1 Reis 19.4, nephesh está sendo usada com o significado de "v id a". A energia do corpo ou a essência da vida pode ser sugada através do "derram ar da alm a" (1 Sm 1.15; SI 42.5), como neste
lam ento. N a visão egípcia, a ba é a essência v ital retratada na forma de um pássaro com cabeça humana. Essa essência é separada do corpo na ocasião da morte e é considerada imortal. Seu lugar é no paraíso e não no mundo inferior para onde o corpo está destinado. A literatura egípcia conserva uma obra intitulada Disputa entre um Homem e Sua Ba, que é uma discussão sobre a viabilidade do suicídio. Em contraste, o ka se assemelha à sombra que resta da pessoa depois de ter morrido. Essa sombra fica contida na estátua funerária e recebe as oferendas aos m ortos; portanto, é comparada ao espírito. Na M esopotâmia, esse espírito é chamado de etemmu; recebe oferendas e precisa ser apaziguado. Muitas vezes é associado a um fantasma. O outro elemento que compõe o ser na Mesopotâmia é cham ado zaqiqu e parece ser o m ais próxim o ao conceito hebraico de alma. Como o etemmu, também sobrevive à m orte, m as não há outros dados registrados sobre ele. Na terminologia israelita, o espírito dos mortos era cham ado de elohim, como m ostra o term o usado para referir-se ao espírito do profeta Samuel (1 Sm 28.13).
42.4. procissão. Embora tais procissões raramente sejam m encionadas, provavelm ente essa é um a referência à celebração festiva descrita em Salm o 68.24 em que uma delas, conduzida pelos sacerdotes e acompanhada de cantores, tocadores de instrum entos de corda e outros músicos, abria caminho até a entrada do templo de Jerusalém. Salmo 118. 27 também cita um cortejo em que os participantes carregam galhos
nas mãos, dançando "até as pontas do altar" (ver o comentário ali).42.6. Herm om. A perspectiva geográfica do salmista parece começar com um termo bastante genérico, "a terra do Jordão", e gradualmente tom a-se m ais específica fazendo referência às "alturas do H erm om ". A
cadeia montanhosa Ante-Líbano geralmente é considerada a fronteira norte do controle israelita (Js 11.17)
e o monte Hermom, o pico mais alto, ficando a mais de 2700 metros acima do nível do mar. Os arqueólogos descobriram vestígios de mais de vinte templos nas encostas do Hermom. Isso se deve provavelmente à sua proem inência e à associação de lugares altos com a adoração de deuses, no mundo antigo.42.6. m onte M izar. A localização exata desse lugar é desconhecida. O nome significa "a pequena colina" e, portanto, pode referir-se a um pico específico na cadeia do Hermom. Entretanto, isso dependeria da perspectiva geográfica e da motivação poética do escritor. É bastante possível que o salmista esteja se referindo ao m onte H erm om como "pequ eno" em term os de sua santidade, comparada ao santo m onte de Yahweh, Sião (SI 43.3).
44. título, coraítas. Ver o comentário sobre o título do Salmo 42.44.2-8. guerreiro divino. V er o comentário sobre os conceitos básicos dos Salmos, na introdução, para mais informações.44.20. esquecer o nome. O nome de um a divindade é associado com freqüência ao poder e à essência daquele deus (ver Êx 3 .13 ,14 ; Is 9.6). Em Jeremias 23.27, os falsos profetas intentam remover o nome de Deus da m emória do povo a fim de seduzi-los a seguir Baal. Para m ais informações, ver o comentário em Deutero- nôm io 12.5. A incapacidade de invocar o nom e de Yahw eh como seu Deus seria uma violação da aliança e um motivo para Ele castigar o povo (1 Sm 12.9).44.20. estender as mãos. A posição descrita aqui denota um a atitude de oração ou súplica. Também é mencionada em Esdras 9.5 e no Salmo 88.9. Para uma discussão completa, ver o com entário em 2 Crônicas 6.13.45. titulo, coraítas. Ver o comentário sobre o título do Salmo 42.45.1. versos em honra ao rei. Salmos direcionados ao rei, e não à divindade, eram comuns no antigo Oriente Próximo, m as este é um dos poucos exemplos presentes neste Livro. Assim como a esteia egípcia erigida em comemoração ao casamento de Ram sés II, o casamento retratado neste salmo é resultado de força m ilitar - representa uma aliança política almejada devido as vitórias m ilitares do rei.45.1. escritor. Os escribas e os sábios eram os cronistas oficiais dos reis no antigo Oriente Próximo. Seu controle sobre as tradições e sua associação com os funcionários reais perm itiam que executassem canções e histórias que permitiam ao povo lembrar do papel do rei como mantenedor e protetor da terra, na forma de agente político de Deus. Por isso, durante o festival de Ano Novo, na Babilônia, o épico da criação Enuma Elish era recontado; representantes de outras cidades dirigiam-se até o palácio para prestar homenagens ao rei e a procissão sagrada passava pelas ruas da cidade dirig indo-se até o grande tem plo de M arduque, o deus padroeiro da Babilônia. Quando N eem ias, o escriba, realizava um a cerim ônia de renovação da aliança, ele lia ao povo a Lei, relembrando-os a respeito de sua história sagrada (Ne 8.1-3).45 .7 . u nção com ó leo de aleg ria . A s Leis M édio- Assírias determinavam que a noiva fosse ungida pelo pai do noivo na cerimônia de casamento; mas, neste salmo, a unção está relacionada ao remado (e não a um casam ento) e representa D eus ungindo o rei e escolhendo-o para ocupar o trono (para m ais informações, ver o comentário em 1 Sm 10.1).45.8. vestes que exalam aromas. Este salmo contém linguagem e descrições detalhadas próprias de uma antífona de casamento ou unção de um rei (SI 133.2).
No antigo Oriente Próximo, ambos elem entos estão presentes num ritual de casam ento sagrado (fertilidade), descrito em U r III, que envolvia um rei magni- ficentemente trajado adentrando pelo templo, representando a divindade. Parece provável que as vestes dos participantes eram ungidas e salpicadas de ervas aromáticas e perfumes. Para discussão a respeito dessas substâncias, ver os comentários em Cântico dos Cânticos 1.3 e Provérbios 7.17.45.8. palácios adornados de m arfim . A respeito do uso do marfim na decoração de móveis e painéis de parede, ver os comentários em 1 Reis 22.39 e Amós 3.15; 6.4. A riqueza de um a nação geralm ente era ostentada no palácio do rei - um sinal de poder e prestígio para o Estado.45.8. instrum entos de corda. Essa tradução é baseada na correção do texto hebraico de minni para o substantivo plural minnim, com base no uso similar da palavra no Salmo 150.4. Não fica claro a que tipo de instrum ento o texto se refere, exceto que se trata de um termo genérico para cordas.45.9. ouro de O fir . V er os com entários em 1 Reis 22.48 e Isaías 13.12 a respeito deste ouro de excelente qualidade.45.12. presentes. As cartas de M ari registram como seu rei procurou contrair matrimônio com a filha do rei de Aleppo. A partir dessa correspondência, fica claro que as negociações que duraram um ano foram consideradas concluídas quando o presente de casam ento chegou ao palácio de M ari e foi considerado aceitável pelo rei.45.12. filh a de T iro (N V I "cidad e de T iro"). Embora seja possível que uma filha do rei de Tiro esteja sendo m encionada aqui, é mais provável que a expressão seja um eufemismo para os habitantes daquela cidade portuária fenícia. Existem expressões semelhantes, tais como, a "filha de Sião" (SI 9.14) e a "filha da Babilônia" (SI 137.8). Visto que os fenícios haviam enriquecido muito em virtude de seu controle do transporte mercantil no mar M editerrâneo, esperava-se que os presentes de Tiro fossem generosos, exóticos e caros. Observe aqui o paralelo com "m oradores mais ricos".45.13. en feites de ouro. As vestes eram uma marca da posição social no mundo antigo. A princesa-noiva, deste salmo, está adornada com ricas vestes. Tal como a jovem noiva de Ezequiel 16.10-13, ela usa roupas ricam ente enfeitadas, provavelm ente tingidas com púrpura fenícia. Som ado à majestade de sua aparência estão os bordados de ouro. Seria impossível fazer um fio de ouro resistente, mas o ouro em pó revestia o fio do tecido e a veste, dando um toque de esplendor e riqueza. Êxodo 39.3 explica o processo pelo qual esse m etal era trabalhado em cada fio, tornando-se apropriado para tecer.
46. títu lo, coraítas. Ver o comentário no título do Salmo 42.46.9. dá fim às guerras. Assim como Yahw eh atuava como o guerreiro divino para ajudar os israelitas nas batalhas (ver o com entário em Js 3.17), o D eus da aliança também é fonte de paz e prosperidade. Esse tema da paz mundial é um dos aspectos esperados da restauração da nação na literatura profética e apocalíptica. Como Isaías 2.4 observa, Deus resolverá todas as contendas entre as nações e "e las farão de suas espadas arados e de suas lanças, foices". Igualmente, Ezequiel afirma que um dos meios pelo qual Yahw eh assegurará que "as nações saibam que eu sou o Senhor" será a criação de uma época em que as armas de guerra serão usadas como combustível (Ez 39.7-9).47. títu lo, coraítas. Ver o comentário no título do Salmo 42.47.5-8. entronização no antigo O riente Próxim o. Oritual de entronização de um rei e sua investidura com os símbolos da coroa eram um as das m ais importantes cerimônias do antigo Oriente Próximo. Isso pode ser visto na atribuição da insígnia real a Marduque, no épico da criação, Enuma Elish. Ele foi nomeado rei e recebeu então o cetro, o trono, as vestes reais e as armas dos outros deuses. Esse ritual era espelhado na coroação praticada na Assíria, em que todos os oficiais da corte entregavam os símbolos de seus ofícios, renunciando a seus cargos, a fim de que o rei pudesse decidir indicá-los ou não novamente para suas funções. Na M esopotâmia, a entronização também estava ligada à majestade e ao poder dos deuses, visto que se acreditava que o "reinad o descendia do alto". Por exemplo, no prólogo ao código de leis de Hamurábi, o rei da Babilônia afirma que os deuses o chamaram pelo nom e e o instituíram com o seu representante para executar suas ordens na terra, inclusive restaurar cidades, purificar ritos sagrados e "estabelecer a verdade e a justiça como declaração da terra". Durante a festividade babilónica do A no Novo (A kitu), a autoridade do rei tinha de ser reinvestida à sua pessoa, por isso um ritual de entronização era novamente realizado. Muitos eruditos supõem que Israel usava salmos como este em suas próprias festas de entronização (para Yahw eh e seu rei), mas nenhuma prova, que confirme essa hipótese, foi encontrada.48. título, coraítas. V er o comentário no título do Salmo 42.48.1. santo m onte. O Livro de Salm os repetidam ente refere-se ao monte Sião como o "m onte santo de Yahw eh" ou simplesmente ao monte santo (SI 2.6; 3.4; 15.1; 43.3; 99.9). Entretanto, é preciso entender que a importância e a santidade deste lugar são atribuídas inteiramente a presença de D eus ali. O utras m ontanhas sagradas são associadas aos deuses: o monte Zafom a Baal,
os m ontes artificiais e os tem plos zigurates da Meso- potâm ia a M arduque e outros deuses.48.2. alturas do Zafom . Trata-se de uma referência ao monte Casius (Jebel el-Aqra, 1770 metros de altitude), 40 a 50 quilôm etros a nordeste de U garit, sendo a montanha associada à habitação de Baal (ver o comentário em Is 14.13). N a literatura ugarítica, o monte Zafom é considerado a montanha dos deuses onde a assembléia divina se reúne. Nos anúncios dos mensageiros de Baal, esse monte é louvado como uma bela colina de vitória. No contexto deste salmo, pode representar uma direção (norte) ou uma referência ao templo de Dã, tecnicamente no m onte Herm om, na fronteira norte de Israel. Porém, tam bém é possível que aqui Yahw eh seja considerado um Deus universal que substituirá todos os outros deuses em seus lugares sagrados, com Sião tom ando-se o que Zafom outrora fora considerado, o trono de Deus.48.7. navios de Társis. V er os comentários em 2 Crônicas 9.21 e Isaías 23.1.48.9. adoração no tem plo. Ao contrário dos reis que fugiam diante da visão do poder de Deus (48.4-7), os peregrinos israelitas são grandemente confortados pela majestade da sua presença em Sião porque é dali que procede a libertação. O uso de hesed (NVI "am or leal"), o termo legal empregado em conexão à aliança, indica um senso de realização por parte desses peregrinos e é a base de sua fervente adoração. A preposição "em " (no templo), neste caso, pode indicar simplesm ente a entrada em Jerusalém (m onte Sião) ou no complexo do templo situado no monte, um a vez que os peregrinos não teriam acesso aos recintos interiores do templo em si.48 .12 ,13 . torres, m uralhas e cidadelas num a cidade fortificada. A arquitetura básica de uma cidade fortificada funcionava como um sistema de defesa e servia também como uma forma monumental de ostentar o poder físico da nação. As torres eram posicionadas em intervalos regulares no sistema de muros e controlavam as portas. As muralhas, chegando a atingir doze metros de altura (como em Tell Dã) ligavam as torres, com freqüência num padrão dentado (trechos voltados para fora e para dentro) que garantia mais ângulos para os arqueiros e outros dardos lançados ou derrubados pelos defensores. N o interior dessas cidades, era construída um a cidadela como ponto de refúgio, caso houvesse uma invasão. Por ser geralmente construída num a elevação, a torre dessa cidadela também servia com o um a ligação no sistem a de sinais por fumaça usado na comunicação entre as cidades (ver os comentários em Is 32.14 e Ne 3.26 sobre a Colina de Ofel, em Jerusalém). Para m ais informações sobre torres e sistemas de muros como defesas da cidade, ver o comentário em Is 2.15. Para informações sobre portas fortificadas, ver o comentário em Isaías 54.12.
49. título, coraítas. Ver o comentário no título do Salmo 42.49.4. provérbio. O termo traduzido aqui como "provérbio" é mashal. Possui uma grande gama de significados: "a leg oria" (Ez 17.2), "p oem a" (N m 21.27), "orácu lo" (Nm 23.7). N este caso, como tam bém em Provérbios 10.1, refere-se a uma "instrução" de Deus para o povo, alertando de forma específica os israelitas; m as considerando-se a universalidade de um tema de sabedoria, é dirigido tam bém a "tod as as pessoas". Pode ainda ser com parado ao "m o te som brio" de Habacuque 2.6 em que os agressores assírios são zom bados por terem perdido as riquezas obtidas por meios ilícitos.49.4. enigm a acompanhado de harpa. O paralelismo calculado do versículo seria auxiliado em sua cadência pelo toque de um a harpa ou cítara. Isso pode ser comparado ao músico empregado por Eliseu quando proferiu um oráculo (2 Rs 3.15). Um a ocorrência sem elh an te tam bém ap arece na L en d a E g íp cia de W enam om, em que um m úsico e um profeta formam uma dupla. Certamente palavras de louvor eram cantadas ou declam adas ao som da lira e da harpa (SI92.1-3). Era natural-que m enestréis e contadores de história recitassem os feitos poderosos de Deus e dos heróis de Israel ao som de música (Jz 5.11).49.14. a morte lhes servirá de pastor. No épico ugarítico de Baal, a im agem da morte, o deus Mot, é um monstro voraz cuja boca aberta consome os vivos: "O pó da sepultura devora sua presa. A morte come tudo o que quer com ambas as m ãos". Jó (24.19) descreve o Sheol, o mundo inferior, usando um a figura parecida: "con some os que pecaram ". Jó 18.2-13 tam bém contém a descrição da morte devorando os membros do corpo dos ímpios. Provérbios 1.12 descreve a sepultura como um a boca que engole suas vítim as; e esse m esm o conceito é refletido no épico de Baal e Anate, em que M ot é descrito "devorando sua presa", comendo-as "com as duas m ãos".49.15. esperança israelita. Assim como os povos da Mesopotâmia, com quem compartilhavam uma série de idéias religiosas e sociais, os israelitas não tinham um a compreensão ampla da ressurreição dos mortos, do ju ízo final ou de um a vida etem a de castigo ou recompensa. Isso se tom a evidente no judaísm o somente no período pós-exílico, conforme exemplificado por Daniel 12.2. Portanto, neste contexto, o salmista está contrastando o destino de seus inim igos, para quem não haverá escape da sepultura, com sua própria esperança de redenção em Yahweh. É improvável que o escritor esteja se referindo, como alguns têm sugerido, ao livramento da morte à m aneira de Enoque (Gn 5.24) ou de Elias (2 Rs 2.11). A inclusão da NVI da expressão "para si" é totalmente interpreta-
tiva, não sendo encontrada no texto hebraico. O conceito de D eus "tom ando" um a pessoa como um a referência a salvar sua vida pode ser visto claram ente no Salmo 18.16,17, onde a NVI traduz a mesma expressão por "m e segurou". Ver os comentários a respeito da vida após a morte nas notas introdutórias sobre os conceitos básicos de Salmos.50. titulo. A safe. Pode ser uma abreviação para "filhos de A safe" e, portanto, um a referência a um dos corais do tem plo ou ao seu repertório m usical. Em Esdras 2.41, os cantores que haviam voltado com Esdras do exílio para a Palestina eram "descendentes de A safe". D e acordo com a lista dos m úsicos do tem plo, em 1 Crônicas 6.39, Asafe foi nomeado, por Davi, para servir no tem plo de Jerusalém como auxiliar de Hemã.50.1-4. deus-sol com o im agem de ju iz . Existe uma figura no topo de uma coluna de diorito, com cerca de dois metros de altura, contendo uma cópia do código de lei de Hamurábi. Nela, Shamás, o deus-sol babilónico, é retratado assentado em seu trono com Hamurábi de pé diante dele. No prólogo que se segue, o rei assume a responsabilidade de "fazer prevalecer a ju stiça na terra" e "levantar-se, com o esse deus, sobre toda a hum anidade". Ele passa a ser o representante judicial da divindade para o im pério babilónico. O papel de Shamás, como ju iz divino, também aparece nas orações acadianas que buscam seu perdão. O texto egípcio Hino a Aten, composto para a corte do faraó Aquenáten, no século catorze a .C , contem imagens da criação bastante similares a essas deste salmo. Isso ocorre principalmente em relação ao senso de ordem e universalidade: "Su a glória brilha sobre toda a terra; seu resplendor enriquece a terra por ti criada". Ver o comentário sobre Deus como ju iz nas notas introdutórias sobre os conceitos básicos de Salmos.50.8-15. id eolog ia do sacrifício . U m a com preensão correta do propósito dos sacrifícios é delineada neste salmo. Ele tem como objetivo apresentar uma ideologia contrastante às práticas sacrificiais dos vizinhos de Israel. Dois aspectos são enfatizados. Primeiramente, Deus não necessita ser alimentado com ofertas como os deuses da Mesopotâmia e do Egito (como no épico de Gilgam és sobre o dilúvio em que os deuses avançam com o an im ais fam intos sobre o sacrifício de Utnapishtim). Segundo, e talvez mais importante, os israelitas tinham a obrigação para com Deus de dedicar "ofertas de ação de graças", com o sinal de seu reconhecimento da aliança. A incapacidade do povo em distinguir entre ritual e o conhecimento de Deus muitas vezes é condenada pelos profetas (1 Sm 15.22; Os 6.6). M iquéias, particularmente, parodia essas ofertas inú teis e observa que tudo que D eus exige de Israel é que "pratiquem a justiça e amem a m isericórdia" (Mq 6.8).
50.21. deus como as pessoas. Deus acusa o povo de esquecer que a divindade não é "com o eles" , que desejam ignorar o m al ou até m esm o aprovar suas ações pecaminosas. Essa forma extrema de antropomorfismo é um crime terrível que merece repúdio e castigo. O silêncio divino não deve ser considerado um sinal de fraqueza ou desinteresse. Jerem ias, em seu "serm ão do tem plo" (Jr 7.9-11) faz acusações sem elhantes, destacando que o povo de Judá parecia acreditar que podia com eter qualquer pecado e depois se dirigir até o templo e afirmar "Estam os a salv o". Ele declara que D eus está vendo tudo e não é cego diante de seus atos. O Antigo Testamento começa sua história narrando como as pessoas desejaram ser iguais a Deus e, por isso, caíram em pecado. Por terem caído em tentação, a história hum ana passou a ser marcada pela tentativa de remodelar Deus à im agem do hom em . Os deuses da M esopotâm ia e do Egito são descritos agindo como os humanos - praticando atos impensáveis de violência (histórias do dilúvio de Gilgam és e Atrahasis) ou enganando pessoas em troca de uma recompensa (Adapa); mas ainda assim mantinham seus poderes sobrenaturais e deveriam ser tratados com respeito oficial. O salmista e os escritores de sabedoria exaltam Yahw eh acima de qualquer outro deus, num ideal de moral e comportamento justo que ultrapassa qualquer coisa já alcançada por qualquer divindade ou ser humano (ver Jó 42.2-6).51.1, 2. m ecanism o para remoção de pecado. No antigo Oriente Próximo não eram os pecados que eram removidos e sim a divindade que era apaziguada. O indivíduo só tomava consciência de seu pecado quando passava por circunstâncias consideradas como castigo. O objetivo, então, era acalmar a ira do deus (fosse essa ira considerada justificada ou não). Quando pediam que seus pecados fossem rem ovidos ("rasgue meus erros como a uma veste"), eles queriam dizer que a divindade se dispusesse a ignorar esses erros, afastar sua ira e restaurar-lhes seu favor. Os rituais que acompanhavam esse tipo de aproximação tinham como objetivo purificar o indivíduo e pacificar a divindade; no entanto, eles em si não removiam o pecado; apenas permitiam que a pessoa tivesse esperança de que seria absolvida de sua falha. Em Israel, não devemos pensar em termos de pecados sendo rem ovidos por toda a eternidade, m as sim de sacrifícios purificando a profanação da presença de Deus causada pelo pecado (ver o comentário em Lv 1.4, "expiação"). Os rituais abriam o caminho para o perdão (ver o comentário em Lv 4.13-32). Este salmo não está tratando desse processo (v. 16). Somente a misericórdia de Deus pode remover um pecado do livro de registro dos atos. Subentende-se que o penitente podia apenas pedir, não exigir, a absolvição de suas trans-
gressões (ver SI 32.10). O que está sendo pedido é uma demonstração da misericórdia e graça de Deus, com base na confiança do suplicante e na promessa da aliança feita a Israel. O favor de Deus pode então "apagar" o pecado de form a bastante sem elhante a um pergaminho que era apagado ou a um tablete de argila que era lavado (ver N m 5.23) ou quebrado. Essa metáfora é mencionada em um texto ritual babilónico, que afirma que um rei pode ordenar que "o tablete de m eus pecados seja quebrado", portanto, cancelando ou atenuando dívidas ou acusações criminais. Igualmente, no Código de Hamurábi, um contrato ilegal para a aquisição da terra de um soldado podia ser cancelado quebrando-se o tablete cuneifor- m e. A literatu ra m esop otâm ica faz re ferên cias a tabletes que contêm registros de atos de m aldade (nos textos Shurpu) e de bondade.51.3. reconhecim ento da ofensa. No antigo Oriente Próximo, os indivíduos afirmavam que haviam sido enganados e, assim, levados a fazer algo que ofendia a divindade. Havia diversos fatores que contribuíam para essa ignorância. Primeiro, os deuses do antigo Oriente Próximo não ofereceram um a revelação permanente de si mesmos que pudesse ser usada como um guia. Segundo, o politeísmo apresentava um problema, uma vez que determinada ação podia agradar a um deus, mas potencialmente ofender a outro. Terceiro, os deuses não demonstravam agir com coerência, logo, era difícil prever a atitude que teriam . E finalm ente, as ofensas freqüentem ente assum iam a form a de rituais negligenciados que os indivíduos sequer tinham conhecimento. Como resultado, na literatura penitencial babilónica (shigus), por exemplo, o ofensor às vezes simplesmente assume a culpa por todo tipo de pecado, esperando, no processo, confessar algo que tenha ofendido a divindade. Outras vezes, ele alista ofensas e afirma estar consciente de suas falhas. No texto hitita, Orações de M ursilis, a confissão da culpa é o passo em direção à reconciliação com seu senhor. Em Israel, a lei era clara o suficiente e as ofensas podiam ser identificadas com precisão.51.4. só contra a divindade. Se D avi está identificando Yahw eh como o único contra quem ele pecou, quem então está ficando de fora? C ertam ente ele tam bém havia pecado contra Bate-Seba e Urias. É im portante notar que no contexto, a questão diz respeito a quem tem o direito de ju lgar e dar a sentença (segunda metade do v. 4). Em Israel, a família da vítim a assassinada tinha o direito à vingança de sangue, e sem pre havia inimigos políticos que teriam prazer em apresentar-se como o braço da justiça de Deus contra um rei genioso. Talvez com essa afirmação Davi esteja limitando seu reconhecimento de culpa, de m odo que apenas Yahw eh tenha o direito a puni-lo.
51.5. concebido e nascido em pecado. O penitente, quando se dirige a D eus, freqüentem ente traça um contraste entre a perfeição divina e a inerente fraqueza humana (ver Jó 4.17; SI 130.3; Jr 17.9). Esse contraste tam bém é apresentado em uma oração egípcia a Amom, da 19a D inastia, que confessa ser "n orm al" aos humanos fazer o que é errado, assim como é "n orm al" ao deus ser m isericordioso. D eve-se enfatizar, neste contexto, que o ato da concepção não é considerado pecaminoso em si. A atividade sexual, bem como a concepção, a gestação e o nascimento, tom avam os participantes ritualm ente impuros (ver Lv 15.16-33), mas dentro do casamento o sexo nunca foi declarado pecaminoso. Afirmações como as de Jó 15.14 e Isaías6.5 simplesmente definem os hum anos como impuros por natureza em relação à absoluta pureza de Deus. Em bora este salmo tenha sido usado por alguns comentaristas para fundam entar a doutrina do "pecado original", a interpretação mais apropriada parece ser considerá-lo parte da confissão geral do penitente. Em encantamentos mesopotâmicos, o sentimento expresso é de que não existe ninguém que não tenha pecado - todos são pecadores. Um a exortação à confissão, admoestando a reconhecer a pecaminosidade da condição humana, aparece nos ensinos egípcios de Amene- mope, "N ão diga: 'N ão pratico o m al'". Parece que os israelitas concordavam com essa teologia, reconhecendo haver uma inclinação natural ao erro em todas as pessoas. Porém, eles não deram o próximo passo da teologia cristã que considera o pecado de Adão imputado a toda a humanidade.51.6. o d ese jo da d iv ind ade quanto à verdade no íntim o. Com base na imagem de nascimento, do versículo anterior e de um a expressão semelhante em Jó38.36, é provável que E. D alglish esteja correto em sua interpretação quanto a obter conhecimento estando no ventre (no "íntim o" da mãe). O penitente reconhece que seu pecado não pode ser desculpado por falta de conhecimento. Ele sabe, desde o ventre, o que é certo, m as falhou ao fazer aquilo que achava ser justo (ver o v. 3). Um a imagem semelhante de aprendizado pré-natal encontra-se no material egípcio Hino a Aten. O escritor repetidamente louva ao deus Aten por suprir tudo que é necessário à sobrevivência hum ana, até m esm o dentro do ventre m aterno. Para contrapor a tendência da natureza hum ana em desobedecer, o pensam ento religioso egípcio está preenchido com a necessidade de internalizar a ma'at, a "v erd ad e". É descrita como o pão que sustenta os humanos (como nos anais reais da rainha Hatshepsut).51 .7 . h is so p o . E sse p eq u en o arb u sto , O riganum syriacum (m anjerona), cresce naturalm ente entre as rochas da Palestina. A fragrância arom ática exalada por suas flores azuis ou avermelhadas e folhas pode
ser a origem de seu suposto valor medicinal. No texto bíblico, porém, é associado a rituais de purificação, como na cerimônia de um leproso, em Levítico 14.4-6. Também era empregado no sacrifício ritual da novilha verm elha (Nm 19.6) e na marcação dos umbrais das portas israelitas durante a Páscoa (Êx 12.22).51.7. branco = pureza. Com o observado em Isaías1.18, na tradição bíblica, o branco é identificado com a pureza ou a alegria. Cores escuras, especialm ente o preto, eram usadas para simbolizar luto ou lamento - ambos associados a estados de impureza (ver SI 35.13; Zc 3.3-5). Em um a oração assíria, o rei invoca seu deus para "branquear" seu coração, ou seja, libertá-lo de seu pecado de blasfêmia. Em acadiano, o verbo "brilhar" se confunde com o verbo "tom ar branco". Em um texto babilónico de magia, o pedinte implora que possa "tom ar-se tão puro como o céu, tão limpo como a terra e tão brilhante como o centro do céu".51.10. coração puro. Após ter reconhecido sua condição de pecado desde seu nascimento, o penitente pede agora a Deus, o único poderoso e capaz de atender a seu pedido, que purifique seu "coração" (a sede do intelecto na tradição hebraica). Uma oração suméria de arrependim ento tam bém pede pela m isericórdia divina dos deuses e pela transformação "d o pecado praticado... em bondade". E semelhante à petição do Lam ento pela D estruição de Ur, que invoca a deusa Nanna para garantir que "todo o coração maligno de seu povo seja puro diante de ti!" O conceito de regeneração ou novo rumo também é encontrado no oráculo de Ezequiel pela nação restaurada, em que Deus prom ete "dar-lhes um novo coração" (Ez 36.26).51.11. rem over o Santo Espírito. Em bora a expressão "espírito de D eus" ocorra muitas vezes no texto, apenas em Isaías 63.10-14, a expressão "santo espírito" é usada como sinônimo da presença de Deus. Ter essa presença removida ou ser excluído da comunhão com Deus é o pior castigo imaginável. Em escala nacional, seria o fim da aliança e a destruição total do povo (Jr 23.39; compare com o terceiro filho de Oséias "N ão m eu povo" em Os 1.9). Para um m onarca em exercício, que era o representante de Deus, ser expulso da presença de Yahw eh seria um sinal de que sua dinastia fora rejeitada e teria um fim (ver os comentários em relação à difícil situação de Saul em 1 Sm 16.14;28.6). O suplicante, no m aterial sum ério "O ração a Todos os D euses", tam bém im plora para que deus "não lance teu servo para baixo", provavelmente longe do favor divino, por causa de suas transgressões.51.16. não te deleita em sacrifícios. Tal como o ataque direto de Jerem ias ao que ele considerava um sistema cultual totalmente corrupto em Jerusalém (Jr 6.20; 7.4;31.31-35), o salmista nega o valor do sacrifício animal sem a dimensão ética que o sustente. O texto egípcio
Instrução de M erikare contém esse mesmo sentimento: "É mais aceitável o caráter de um reto de coração do que o boi de quem pratica o m al". Eles compartilham do argum ento de Sam uel (1 Sm 15.22) e Oséias (Os6.6) de que Deus prefere o coração e as orações de um adorador devoto à sua encenação ritual (ver os comentários em 1 Sm 15.22; Is 1.16,17; Jr 7.9). Isso também se observa na literatura de sabedoria babilónica, onde os piedosos são encorajados a prestar homenagem diariamente "com sacrifícios, orações e uma oferta de incenso adequada". M as, m ais im portante é "sentir solicitude de coração" para com a divindade.52.2-4. língua m entirosa. O língua, nesta expressão, é sinônimo da pessoa. Exemplos semelhantes dessa m etáfora podem ser encontrados no texto assírio Palavras de Ahiqar, em que a "língua do governante" é igualada ao seu poder soberano. A acusação feita, neste salmo, é a de que os falsos escolhem falar enganos e praticar o m al (compara com Pv 12.17), uma queixa tam bém re g istra d a no m a teria l do M éd io E g ito intitulada Discussão Sobre o Suicídio.53.5. ossos espalhados. Um a imagem comum de derrota e desesperança completa é o campo de batalha coberto de ossos dos m ortos. Os anais assírios de Salmaneser III relatam a destruição de seus inimigos, com "p ilh as de crânios" am ontoados e cenários de batalhas recobertos de cadáveres. Ezequiel 37 usa essa im agem com o base de seu oráculo de restauração. Jerem ias 8.1, 2 profetiza a violação dos túm ulos dos falsos sacerdotes e reis infiéis, cujos ossos são espalhados "com o esterco sobre o solo". Ver tam bém o com entário em 22.14.54.1. petição por vingança. Com base na premissa do princípio da retribuição (ver o comentário nas notas introdutórias sobre os conceitos básicos de Salmos), acreditava-se que a pessoa que sofria estava sendo castigada por Deus. V isto que E le era considerado ju sto , o castigo era m erecid o. A s dificuld ades do salm ista, portanto, seriam tom adas como evidência de seu pecado. Ele seria vingado quando Deus interviesse invertendo a situação e punindo seus inimigos. Tal ação do Senhor proclamaria sua inocência e m ostraria que ele não havia perdido o favor de Deus. O cam ponês eloqüente da literatura de sabedoria do Egito também invoca seu deus-rei, o faraó, como sua "últim a esperança" e "único ju iz".
54.6. sacrifício voluntário. Ver o comentário em N úm eros 15.1-31 sobre os elem entos gerais do sistema sacrificial israelita. U m a oferta "voluntária" era um sacrifício não obrigatório, feito em gratidão ou em cum prim ento de um voto (ver o comentário em Lv22.17-30). Podia ser oferecido no altar com a intenção de participar de uma refeição comunal com Deus ou
como um holocausto. Acerca do papel desta oferta em Salmos, ver o comentário em 50.8-15.55.14. m ultidão na casa de D eus. Os israelitas eram instruídos a comparecer às festas anuais de peregrinação e levar seus sacrifícios ao tem plo de Jerusalém (ver os com entários em Êx 23 .17 e D t 16.16). Um am biente de com unhão era gerado à m edida que grandes grupos de pessoas e amigos íntimos se juntavam nesta jornada religiosa unificada (a Septuaginta usa en hom onoia, "e m un id ad e", na tradução deste verso), demonstrando fisicam ente seu compromisso com a aliança. O salmista aqui parece extremamente perturbado com a possibilidade de alguém, que tinha compartilhado com ele essa peregrinação, o trair.55.15. desçam vivos para a sepultura. O castigo que o salmista deseja que recaia sobre seus inimigos é uma morte prematura. Tal como o levita rebelde, Corá, e seus seguidores (Nm 16.31-35), eles serão engolidos pela terra sem outras oportunidades de praticar o engano. O paralelo aqui "d e surpresa" esclarece que descer vivo à sepultura não significa que não morrerão, e sim que o salmista deseja que sejam acometidos de uma morte súbita. A imagem da morte como uma boca aberta engolindo os desavisados encontra-se no épico ugarítico de Baal, em que o deus do m undo inferior, Mot, é descrito como um "poço atraindo os bois selvagen s", que "co m e tudo o que quer com ambas as m ãos".55.21. fala/coração. Um provérbio acadiano apresenta a m esm a distinção, observando que um hom em pode falar palavras agradáveis com seus lábios, mas ter um coração cheio de morte. A série de encantamentos Shurpu fala de alguém cuja fala é sincera, mas cujo coração é enganoso.56.8. livro/registro. Assim como o diário da memória mantido em prol da justiça futura em Daniel 7.10 e M alaquias 3.16 (ver os comentários em ambas passagens), o salmista faz menção a um registro que Deus mantém de seu sofrimento durante o decurso de sua vida. Esse repositório escrito é comparado a recolher as lágrimas do sofredor num odre. Em ambos os casos, a forma im perativa é usada para mostrar como esse registro é im portante, de m odo que apenas os merecedores são m antidos no "livro da vida" de Deus (ver SI 69.28).57.1. som bra das tuas asas. É possível que o salmista esteja aludindo à metáfora de Deus como uma águia protetora que abriga seus filhotes estendendo sobre eles suas asas, encontrada no "C ântico de M oisés", em D euteronôm io 32.10, 11. Essa im agem com um ente era usada para referir-se aos atos redentores da aliança de D eus (ver Êx 19.4). Essa referência tam bém pode ser um reflexo das asas do querubim sobre a arca da aliança (1 Sm 4.4; 1 Rs 6.23-28) ou aos serafins
com seis asas que cercavam Yahw eh na narrativa do chamado de Isaías (Is 6.2). Essa metáfora encontra-se tam bém em outros salmos (36.8; 57.2; 61.4; 91.4), e de forma recorrente tem a ver com questões de cuidado e proteção relacionados à aliança. Tam bém era usada em outras culturas do antigo Oriente Próximo, especialmente a egípcia, onde até mesmo asas desvinculadas de um corpo simbolizavam proteção. As divindades aladas são continuamente retratadas protegendo o rei. U m m arfim de Arslan Tash, datado do oitavo século, apresenta imagens de form a hum ana com asas protegendo uma figura ao centro.57.4. in im ig o s com parados a leõ es. A pesar de na literatura assíria do sétimo século as covas de leões serem usadas como uma metáfora para cortesãos m alvados e hostis ao rei, a combinação com armas aqui abre um a outra possibilidade. Fontes ugaríticas citam um batalhão de arqueiros que marcha sob o estandarte da deusa-leão. O salm ista tam bém poderia estar aludindo a um grupo de mercenários que portavam esse estandarte.57.8. harpa e lira. O louvor acompanhado de harpa e "lira de dez cordas" também é encontrado em Salmo 33.2 (ver o comentário ali). Em Salmo 98.5, 6 a harpa é colocada ao lado de trombetas e chifre de carneiro, a fim de marcar o entusiasmo da celebração do salmista e, possivelmente, propiciar um a profecia (ver Eliseu em 2 Rs 3.15). A alegria antecipada pelo amanhecer é encontrada no material egípcio Hino a Aten, em que "a s duas terras do Egito se regozijam " ao rom per da manhã quando o disco solar surge no horizonte.58.4. cobra que se faz de surda. A m etáfora é uma tentativa de igualar o tolo/ímpio, que não escuta, à cobra (um termo encontrado em egípcio e ugarítico) que se faz de surda para não ouvir a m úsica dos encantadores. Am bos causam dor e sofrimento por causa de seu com portam ento insensato. Em bora as serpentes não tenham m ãos para tapar os ouvidos (um órgão interno), a questão aqui tem a ver com ações perversas, abomináveis. Seguindo esta linha, o texto egípcio Instrução de Arikhsheshonqy observa que não há razão para tentar instruir um tolo, porque ele não ouvirá e o odiará por ter tentado ensinar algo a ele. Igualmente, a Instrução de Amenem ope alerta que as palavras dos tolos são mais perigosas que tempestades de vento.58.5. encantadores. A profissão de encantador de serpente envolvia um conhecim ento profundo do padrão de comportamento da serpente. Um a exortação que poderia muito bem ter se originada desta prática encontra-se na Instrução de Anksheshonqy e afirma que um a serpente bem alimentada não ataca. É provável que o encantador tam bém usasse m agias, além da música, ou alguma escora física para controlá-las em
seu número. Esses animais eram bastante temidos no mundo antigo por serem considerados seres mágicos e tam bém por seu veneno. As literaturas egípcia e m esopotâm ica contêm exem plos de encantam entos contra serpentes e suas m ordidas. A palavra aqui traduzida como "encantadores" não deve evocar im agens de desenho animado de serpentes hipnotizadas subindo em espiral, controladas por tocadores de flauta. Outra alternativa é que se refira a serpentes contra as quais os feitiços são ineficazes. Textos acadianos também falam que esses animais são "desconjuráveis".58.6-11. m aldições comparadas a encantam entos. Este salmo é conhecido como "im precatório" porque roga maldições (imprecações) ao inimigo. No antigo Oriente Próxim o, tais m aldições eram intensificadas ou ativadas por rituais mágicos e feitiços, mas esse tipo de prática seria inaceitável no sistema bíblico. Os salmos imprecatórios podem ser entendidos tendo como pano de fundo o princípio da retribuição (ver as notas introdutórias sobre conceitos básicos dos Salmos). V isto que a justiça de D eus exigia castigo proporcional à gravidade do pecado, o salm ista está invocando as m aldições que seriam apropriadas para que a justiça fosse m antida. São da m esm a m agnitude das que Deus profere contra seus inimigos (ver Is 13.15,16). A linguagem vigorosa dessa passagem contém aspectos de um a fórm ula de m aldição sem ítica oriental que espera na divindade para executar vingança contra as nações inimigas. Um exemplo deste tipo de maldição indireta encontra-se nos tratados de vassalo do rei assírio Esar-Hadom que invoca um a hoste de deuses para prejudicar todo aquele que rompesse o tratado. Também é empregada, com o acréscimo dos atos rituais de execração, na inscrição aramaica de Sefire: "A ssim como este arco e estas flechas são quebrados, que assim tam bém Inurta e Hadade quebrem o arco de M ati'el e de seus nobres". O salm ista indiretamente amaldiçoa através das imprecações, invocando Deus para "r ir deles" em seus esforços insignificantes de am eaçar Israel. E le não faz uso de encantam entos mágicos ou rituais de execração contra seus inimigos, ao contrário, confia em Deus para tom ar essas pessoas im potentes - quebrando seu poder e suas armas de destruição (ver Jr 49.35; 51.56; Ez 39.3).59. título, incidente. Parece mais provável que o evento m encionado no sobrescrito deste salmo refira-se a um período anterior à ascensão de Davi ao trono, quando ele era um fora-da-lei e continuam ente perseguido pelos homens de Saul. Para exemplos desse tipo de vigilância e perseguição, ver 1 Samuel 19.11 e a narrativa desse episódio em 1 Sam uel 24.60. título, incidente. Os editores do Livro de Salmos às vezes tentam ligar eventos históricos da vida de Davi com o tema por ele escrito. Neste salmo, em particular,
a referência é à campanha de Davi contra os arameus e os edomitas (ver os com entários em 2 Sm 8.3-14).60.3. vinho estonteante. O poder da ira de Deus contra o povo é comparado a um a poderosa taça de vinho que estonteia os israelitas, tom ando-os bêbados/impotentes (ver Is 51.17, 22 e o comentário em Is 28.7). Essa taça pode ser com parada à taça de am argura bebida pela m ulher suspeita de adultério, em Números 5.16-22, e à taça da salvação, em Salmo 116.13. Ver o comentário em 75.8.60.4. sinal. Bandeiras e estandartes de guerra eram usados pelos militares como instrumentos de sinalização e pontos de ajuntamento das tropas ou eram pendurados nos m uros das cidades (ver Jr 4.6). Suas cores e insígnias designavam a quem professavam lealdade e, em m uitos casos, incluíam um sím bolo do(s) deus(es) que, esperava-se, participaria da batalha juntamente com as forças hum anas (ver Jr 50.2). O exército assírio de Salm aneser III viajava com seus "estandartes" presos à carruagem real e quando o acampam ento era montado, eles eram erigidos perto da tenda real e tornavam-se o ponto central para sacrifícios e atos de devoção aos deuses.60.6. dividir Siquém . Visto que Deus, na promessa da aliança, sem pre incluía a garantia de posse de terra aos israelitas, era direito de Yahw eh dividir Siquém (Tell Balata, 64 quilômetros ao norte de Jerusalém) como um a recompensa de guerra àqueles que eram fiéis. Talvez devido à sua proxim idade a dois picos, m onte G erizim e m onte Ebal, S iquém tinha um a longa tradição como lugar sagrado e é mencionada em muitas fontes antigas, inclusive nos registros egípcios de Sen-Usert III (século dezenove a.C.) e nos tabletes de El Am arna (século catorze a.C.). Há evidências de ocupação quase contínua, ao longo do segundo e primeiro m ilênios, demonstrando a importância dessa estratégica cidade na rede de estradas que cruzava o norte, desde o Egito, passando por Berseba e Jerusalém , até D am asco. Foi a prim eira parada de Abrão em Canaã. Jacó adquiriu terras perto dessa cidade, segundo a narrativa de Gênesis 33.1820, portanto, ela é atrelada às origens da posse da terra prometida aos israelitas. O solo fértil dessa área favorecia a agricultura e as boas pastagens.60.6. vale de Suçote. A cidade de Suçote é localizada a leste do rio Jordão, perto do ponto onde ele se liga ao rio Jaboqu e, um a área conh ecid a com o G h or A bu O beid eh . T ra ta -se de um a reg ião fé rtil que, com o Siquém, tem uma relação com a narrativa de Jacó (Gn 33.17) e poderia representar a área total da terra prometida estipulada pela aliança. Um a série de arqueólogos identifica essa área com a região de Tell D eir 'A lia , com base em reg istro s eg íp cios (a E ste ia de Sisaque) e vestígios culturais que datam desde o Cal-
colítico até a Idade do Ferro II. O nom e, que significa "cabanas", seria apropriado para as moradias provisórias da população m ista dessa região, form ad a por pastores nômades e mineradores (evidência de fundição foi encontrada nos sedimentos da Idade do Ferro I). F ica lo ca lizad a no v ale a oeste das m on tan h as de Gileade, à medida que as terras descendem até o Jordão.60.7. G ileade, M anassés. A região transjordânica de Gileade, entre o rio Iarmuque, no norte, e o rio Arnom, no sul, foi repartida entre as tribos de Gade (ver o comentário em Js 13.24-29) e Manassés (ver o comentário em Js 13.30, 31), na d istribuição feita após a conquista. A respeito da distribuição geral do território de cada tribo nessa região, ver o comentário em Números 32.34-42.60.7. Efraim é o m eu capacete, Ju d á é o m eu cetro.Nesse retrato metafórico de Yahw eh como guerreiro divino, os dois reinos de Israel, (Efraim) e Judá, representavam um capacete e um cetro respectivamente. U m a im agem sem elhante encontra-se em Zacarias9.13, onde Judá é o arco de Deus e Efraim, sua flecha. O termo traduzido como "capacete" não é usado em nenhuma outra passagem como referência à armadura ou equipam ento para a cabeça. O texto hebraico refere-se a um a "fortaleza para m inha cabeça" ou talvez "m inha principal fortaleza". O cetro freqüentem ente é identificado como um bastão cerim onial esculpido que, às vezes, é retratado na mão dos reis, como símbolo de sua posição. É mencionado também em Gênesis 49.10 e Núm eros 21.18.60.8. M oabe como pia. Pode ser um a referência à proximidade de M oabe com o m ar M orto, mas certamente denota a subm issão dessa nação a Yahw eh (repetido em SI 108.9). O s m oabitas são forçados à servidão, sendo colocados num a posição em que devem lavar os pés de seu senhor (compare com Jn 13.5). O utensílio mencionado no salmo geralm ente era usado para cozinhar, m as também era um pote/ pia de múltiplos usos e de diversos tamanhos. A s pias geralmente eram utilizadas para abluções ou banhos rituais e ocorrem em listas de presentes finos nos tabletes de A m am a. A im agem retratada aqui é obscura.60.8. sandália atirada em Edom. As sandálias eram um calçado comum no antigo Oriente Próximo, mas tam bém eram um item simbólico do vestuário. Talvez, isso seja devido ao fato de que a terra era adquirida com base na área triangular que o comprador era capaz de pisar em uma hora, um dia, uma semana ou um m ês (1 Rs 21.16, 17). A terra era dividida em triângulos e uma marca de nível era construída com pedras servindo como marco para as divisas (Dt 19.14). Visto que o território era medido com os passos de alguém calçado em sandálias, elas passavam a ser a escritura m óvel daquela terra. A tirar um a sandália
era um gesto legal e simbólico usado em situações em que um parente se recusava a aceitar a responsabilidade do levirato em relação a uma viúva. Ela, por sua vez, removia dele a sandália, símbolo de posse e herança, e a atirava nele. Esse gesto significava a perda de seus direitos de herança sobre a terra do parente falecido (ver Dt 25.9 e R t 4 .7 ,8 ). Transferências de terra em textos de Nuzi tam bém envolviam a substituição da pegada na terra do antigo proprietário pela a do novo. Neste versículo, Deus atira um a sandália em Edom como gesto de conquista ou como afirmação da posse das terras daquela nação.60.9. cidade fortificad ^ E d om . Visto que a "cidad e fortificada" é apresentada como paralela a Edom, somos inclinados a pensar em Bozrah (principal cidade fortificada de Edom), cujo nome deriva da m esma raiz dessa expressão. Bozrah era a capital do antigo Edom e tem sido identificada com Buseirah, na região norte do país. Controlava um trecho da estrada do rei e ficava relativamente próxima às minas de cobre descobertas oito quilômetros a sudoeste, em W adi Dana. As escavações demonstram sedimentos do século sétimo ou sexto com as m aiores e mais bem fortificadas ocupações da área. -61.4. refugiar-se nas asas. Ver o comentário em 57.1.61.8. rei cum prindo votos. Os reis, no antigo Oriente Próximo, tinham obrigações para com o deus que era a fonte de seu poder. Por exemplo, em Mari, os reis eram obrigados a oferecer sacrifícios anuais aos deuses em todo o reinado, reconstruir seus tem plos e assegurar que a comunidade sacerdotal recebesse o devido salário. Além disso, votos especiais eram feitos para garantir boas colheitas, vitórias na guerra (ver Jz 11 .30,31 ; 1 Sm 14.24) ou conseguir um herdeiro. U m exemplo desse últim o empenho encontra-se no épico ugarítico de Keret, em que o rei vai até o santuário de Aserá e faz um voto de entregar a ela o "dobro do preço da noiva em prata", referente a uma esposa real, se tiver permissão de casar-se com a princesa Hurriya.62.9. origem im portante. Como no Salm o 4.2, esse termo, benê'ish, funciona como um eufemismo para ricos e poderosos e tam bém como um termo genérico para todos os homens de influência. Tanto a língua egípcia como a babilónica contém expressões semelhantes para essa classe de indivíduos. Por exemplo, textos babilónicos geralm ente fazem distinção entre um "n obre" e um a "pessoa de classe inferior".63.1. alma/corpo na antropologia antiga. De acordo com comentário do Salmo 42.2, a respeito do conceito de "alm a" no antigo Oriente Próximo, as culturas dos mesopotâmicos e israelitas não diferenciavam alma e corpo. Am bos representavam o ser individual, e não um espírito ou entidade separada. No Egito, porém, a
força vital, ka, continha a essência da vida e tam bém a sustância que m antinha os seres vivos. Após a morte, a "a lm a" egípcia ou ba m anifestava essa essência, e com freqüência era ilustrada em pinturas de túmulos como aves ou rostos humanos. A habilidade de diferenciar entre o ser vivo e sua alma encontra-se numa obra de sabedoria do Médio Egito intitulada Disputa entre um Homem e sua Ba. Nesse documento um hom em discute com sua alma. Em seu desespero, ele afirma que os problemas da vida exigem que cometa suicídio. Isso enraivece a ba e ela am eaça deixá-lo, um a ameaça que o homem leva m uito a sério, visto que significaria que ele não ressuscitaria na vida após
a morte.63.7. som bra das asas. Ver o comentário em 57.1.65.4. viver nos átrios do tem plo. Em bora o complexo do templo fosse primordialmente o ambiente da ordem sacerdotal, era desejo de todo membro da comunidade da aliança "habitar" na presença de Deus (ver SI 84.2 e 96.8). A importância do templo como o lugar onde Deus habitava pode ser confirmada no uso que se fazia dos recintos sagrados para orações e procedimentos judiciais feitos por alguém , através de juramento, "diante do deus" (ver o Código de Hamurábi). Neste salmo, o conceito de ser o "escolhido" é enfatizado estando intim am ente relacionado à prom essa e ao poder de Yahweh. Para m ais informações, ver o co
m entário em 23.6.65.7. acalmas os m ares. Essa expressão rem ete ao poder criativo de Yahw eh sobre o caos aquático (como em G n 1.2-10). É bastante provável que o salm ista israelita tam bém esteja aludindo à terminologia dos épicos religiosos da M esopotâm ia (a história da criação Enuma Elish em que M arduque derrota Tiamat, a deusa das águas primitivas) e de Ugarit. Neste último, Baal tem uma batalha monumental com Yamm, o deus do mar. O uso da temática da batalha cósmica em outros salmos (73.14; 89.9, 10) é outro indício do quanto os escritores israelitas recorriam a narrativas religiosas de outras culturas, m as sempre de maneira a demonstrar a supremacia de Yahw eh sobre todos os outros deuses. Ver o comentário em 107.29.65.12. pastagens do deserto. N essa imagem de fertilidade até mesmo no deserto, o salmista descreve pastagens crescendo em terras áridas. Durante a estação das chuvas, o deserto produz alguma vegetação, como as plantas sazonais e flores silvestres, além dos arbustos raquíticos, como a saxífraga branca (Haloxylon persicum). Essa vegetação agarra-se ao solo salgado e arenoso, ao longo dos leitos de uádis e encostas elevadas, onde há m ais umidade.66.10. refinar com o a prata. V er os comentários em Provérbios 17.3 e 25.4.
67.1. faça resplandecer o seu rosto. A aparição brilhan te da div ind ade, de acordo com as tradições israelita e mesopotâmica, em muitos casos representa perigo físico aos humanos (ver os comentários em Ex 16.10 ,11 e 33.18-23). Nesse caso, porém, a imagem é benevolente, com a manifestação do poder de Deus garantindo conforto e segurança. Igualmente, no hino da coroação de Ur-Nammu, de Ur III (c. 2000 a.C.), o monarca recebe seu direito de governar quando Enlil olha para ele "com sua fronte brilhante". Ver o com entário em 80.3.68.4. cavalga sobre as nuvens. N a literatura épica ugarítica, o deus da tempestade, Baal, geralmente é descrito como o "cavaleiro das nuvens". Citações podem ser encontradas nos ciclos de Anat e Baal e na história do herói Aqhat. Essa imagem de poder sobre o vento e o clima aparece nos Salmos sendo m ais um exemplo de como as histórias de outras culturas foram reestruturadas para demonstrar o controle universal de Yahw eh sobre a natureza e sobre as nações (ver SI 104.3; Jr 4.13). Serve tam bém como um argum ento contra a crença de que qualquer outro deus seja capaz de suprir a fertilidade que Deus promete na aliança.68.6. lar aos solitários. O texto egípcio Lenda do Camponês Eloqüente apresenta um modelo desse tipo de res
ponsabilidade para com os fracos. Nesta obra de sabedoria do Reinado M édio, o rei é cham ado de pai dos órfãos e "m ãe daqueles que não têm m ãe". N este salmo, Yahw eh é o legislador misericordioso que assegura aos órfãos, viúvas e estrangeiros (traduzido aqui como "so litário s" ou "d eso lad o s") o direito de receberem cuidados como se fossem m embros de um clã israelita (ver os comentários em Dt 24.17,18 e 24.19-22 a respeito das leis que tratam da ju stiça aos vulneráveis). Ecle- siastes 4 .8 ,9 também aborda a difícil situação daquele que é isolado, solitário ou negligenciado.68.6. libertar os presos. No antigo Oriente Próximo, a libertação de prisioneiros (da prisão de seus credores) era um ato de justiça que normalmente acontecia no primeiro ou segundo ano do reinado de um novo rei (e depois periodicamente a partir de então). Por exemplo, o rei Ammisaduqa do período babilónico antigo (século dezessete a.C.) cancelou dívidas em nome de Shamás. Portanto, o "ju bileu ", nesse caso, dizia respeito prim ordialm ente a pessoas endividadas (por questões financeiras ou legais) e à libertação de escravos por dívidas. Ao contrário do que acontecia em Israel, o edito babilónico era inteiramente um capricho do m onarca e não há evidência de que era sancionado pela divindade. Ver o comentário em 11.1 onde há um exemplo dessa prática por um rei ideal. H istoricam ente, um a proclam ação de liberdade é registrada pelo últim o rei de Judá, Zedequias (Jr 34.8-10).
A respeito dessas e outras características do reinado de um rei justo, ver o comentário em 49 .9 ,10 .68.13. pom ba dourada. Não há um consenso a respeito do significado ligado à pomba "recoberta de prata" e ouro. Alguns estudiosos consideram -na uma referência aos estandartes e flâm ulas de batalha de reis em fuga, coroados por um a pom ba, o sím bolo da deusa cananéia, Astarte. Para outros, trata-se de uma m enção a Israel (ver outras imagens de aves em SI 74.19; Os 7.11). A sugestão de Tate de que as pombas, talvez adornadas com tecidos coloridos, eram usadas para sinalizar um a vitória m ilitar parece plausível.68.14. Zalm om . Por causa do paralelo, no versículo 15, com Basã, é im provável que o m onte Zalmom , neste salmo, seja a mesma montanha mencionada em Juizes 9.48, perto de Siquém. O nome significa "escuro" ou "preto" e poderia referir-se a um pico escondido por nuvens. Também seria necessária um a altitude m aior para que servisse como um a referência de cume recoberto de neve.68.15. m ontes de Basã. A região de Basã, no nordeste da Galiléia, é um platô fértil com cerca de 600 metros de altitude. É cercada por picos de vulcões extintos e colinas envolvidas por florestas suficientes para complem entar a econom ia baseada na criação de gado (ver Is 3.13 e Am 4.1-3). A menção aos montes escarpados provavelmente refere-se às colinas de basalto difíceis de escalar, encontradas nessa área.68.18. su b iste levando cativos. Assim como o Saul vitorioso de 1 Samuel 15.7-15, o Yahw eh triunfante é acompanhado por um a m archa de prisioneiros, despojos e pagamentos de tributos. Um a imagem semelhante pode ser encontrad a nos anais assírios de Senaqueribe que afirm am ter tom ado m ais de dois m il prisioneiros de Judá, juntam ente com seus anim ais e outros espólios. As principais divindades do antigo Oriente Próximo estavam associadas a lugares altos; assim, a descrição de Yahw eh "subindo" seria uma referência ao retom o à sua m ontanha sagrada (ver Jr 31.12), bem com o Baal usa o m onte Zafom com o sua base divina de operações, nas tradições ugarítica e cananéia.68.23. pés encharcados no sangue dos inim igos. Alinguagem poética relacionada a descrições de batalhas às vezes pode ser bastante chocante. É certamente o caso dessa expressão (também usada em SI 58.10). A im agem semelhante de atravessar com dificuldade o rio de sangue dos inimigos também aparece no épico ugarítico de Baal e Anat. A li, a deusa alegremente dizimou exércitos inteiros e "cam inhava com dificuldade, afundada até o joelho no sangue dos guerreiros".68.24. m archa adentrando o santu ário . A festa de Ano Novo (Akitu), na antiga Babilônia, incluía uma
procissão em que a imagem do deus M arduque era carregada ao longo de um "cam inho sagrado" pelas ruas da cidade. O deus era conduzido pelo rei ("tom ado pela m ão") até o templo Esagila, onde a imagem perm anecia por um ano. Esse tipo de procissão ou m archa não era com u m em Jeru salém , v isto que Y ahw eh não podia ser representado por nenhum a imagem. Entretanto, a arca da aliança, que funcionava como um ícone da presença e do poder de Deus, foi trazida até a cidade pelo rei Davi e colocada no tabernáculo (ver 2 Sm 6); pode ser que este salm o esteja celebrando esse acontecimento.
68.25. m úsicos na m archa. A nomeação dos músicos do tem plo encontra-se em 1 Crônicas 15.16-22. Era tarefa deles acompanhar o cântico dos hinos de gratidão com instrum entos de cordas e cím balos (ver SI 42.4). Pinturas de túmulos egípcios contêm imagens de cantores, dançarinos e músicos em marcha, de forma bastante parecida à descrição deste salmo.
68.30. fera entre os ju ncos. As alternativas mais prováveis para essa fera são o hipopótamo e o crocodilo. Ambos são os principais perigos ao longo das praias do rio Nilo, no Egito. As pinturas de túmulos de Beni H asan incluem uma série de cenas em que pescadores trabalham enquanto o crocodilo ronda nos juncos próximos, ou barcos de papiro sendo usados para caçar esse perigoso anfíbio. Politicamente, a referência mais provável é o Egito.68.31. Egito e Etiópia. Visto que as dinastias cuchitas (etíopes) governaram o Egito, não é incomum encontrar paralelo aqui entre ele e a Etiópia. É possível que o pagamento de tributo por essa região sul da Etiópia esteja atrelado ao poder de D eus que pode ordenar até aos confins da terra que lhe prestem homenagem (cf. Is 18.7).68.33. cavalga os antigos céus. Ver o comentário em68.4.69.10. je ju m . Ver o comentário em Juizes 20.26.69.11. vestes de lam ento. Ver o comentário em 1 Reis20.31.69.19. zom baria ao sofredor. Os israelitas acreditavam que recompensas e castigos nesta vida deveriam ser proporcionais à justiça ou injustiça de cada indivíduo. Essa crença também levou grande parte deles a crer que, se alguém estava prosperando, era uma recompensa por sua justiça e se estava sofrendo, era castigo pela injustiça. Quanto m aior fosse o sofrimento, m aior deveria ser o pecado. Por causa do princípio da retribuição (ver o comentário nas notas introdutórias a respeito dos conceitos básicos dos Salmos), o sofrimento tom ou-se uma fonte de vergonha, visto que o suplicante encontra-se sem amigos ou pessoas que o confortem; ele volta-se para Deus, que "conhece" seu
sofrimento e não zom ba de sua súplica, pedindo por ajuda (cf. Lm 1.2, 7, 9). Esse sentimento de desespero encontra eco na "Teodicéia Babilónica" (c. 1000 a.C.) que retrata um m undo de cabeça para baixo em que o sofredor afirma ter de "curvar-se diante da escória da sociedade, que me trata com desprezo".69.21. fe l na comida. Em alguns contextos essa palavra refere-se a veneno (p. ex., veneno de serpente em Dt32.33), ao passo que em outras ocasiões, sim plesm ente a algo amargo. Esta última alternativa se encaixaria ao paralelo com o vinagre. N o primeiro caso, poderia levar à morte, enquanto que no outro, poderia ser entendido como um tipo de sedativo. Provavelm ente o je jum seria interrompido se pessoas levassem alimento ao sofredor a fim de confortá-lo (2 Sm 3.35). Dessa forma, porém, em vez de conforto e sustento, o prantea- dor recebe exatamente o oposto - veneno (compare com a acusação de Amós de que a justiça havia se transform ado em veneno, em A m 6.12).69.21. vinagre. O produto amargo, sem valor, da safra oferecida ao sofredor, é como aquele descrito na "canção da vinha" de Isaías (Is 5.2). Igualm ente repugnante é a m etáfora para um a "nação sem juízo" em Deuteronôm io 32.28-33, em que o povo é com parado a "u vas cheias de veneno" e amargura, cujo vinho é "peçonha de serpentes".69.28. tirados do livro da vida. Em um hino sumério a N ungal, a deusa prova sua justiça à m edida que castiga os ím pios e trata com m isericórdia aqueles que a merecem. Ela afirma ter em suas m ãos os tabletes da vida, onde escreve o nome dos justos. Ver o comentário em Malaquias 3.16.69.31. chifres e cascos. Adoração e louvor sinceros a Yahw eh agradam m ais a Deus do que rituais e sacrifícios (compare com afirmações semelhantes em 1 Sm 15.22 e Os 6.6). A menção a chifres e cascos indica um touro já crescido (compare com M q 6.6), um animal sacrificial caro, ritualm ente puro, de acordo com o código de santidade (ver Lv 11.3-8).71.7. exemplo. O uso da palavra hebraica mopet indica um extraordinário evento que serve como sinal do poder de D eus e, neste caso, sim boliza castigo ou julgam ento (compare as maldições em D t 28.45, 46). Esse termo técnico aparece com freqüência na narrativa das pragas do Egito (Êx 7.3; 11.9) e é usado para marcar um evento vindouro (1 Rs 13.3-5).72.1. h inos de coroação no antigo O riente Próximo. Existem muitas evidências de que nas civilizações da antiga Mesopotâmia o reinado era considerado uma dádiva dos deuses. O prólogo do Código de Hamurábi contém uma afirmação de que o rei fora proclamado o "pastor", pelo deus Enlil, e que sua tarefa era "fazer prevalecer a justiça na terra". Durante o Akitu (festi
val de Ano Novo), ele era reinvestido com os poderes de sua função. O evento incluía uma grande procissão e um a celebração em massa. Os textos de Ur III (por volta de 2000 a.C.) contêm hinos compostos para essas ocasiões, celebrando a coroação do rei Ur-Nammu. Essas composições possuem um a série de afirmações que narram os estágios do ritual de investidura, inclusive a "passagem do cetro sagrado" para a m ão do monarca. Esses versos deveriam ser cantados pelo rei ou para ele, proclam ando seus deveres, atribuídos pela divindade, como legislador e construtor de canais que trouxessem fertilidade à terra. Existe um a litania responsiva entoada pelos sacerdotes que faz menção aos títulos do rei e o declara "rei de U r".72.8. extensão do reinado. A fim de indicar que Deus havia garantido a esse rei um governo universal, faz- se uso aqui de imagens que tam bém são usadas na inscrição de Karatepe, referindo-se ao rei Azitiwada (730-710 a.C.). Assim como o salmista faz menção ao "governo de m ar a m ar", esses anais proclamam que o rei estendeu seu governo "d esde o nascente até o poente". Textos acadianos tam bém retratam um rei vangloriando-se de que toda a raça humana submetera-se a ele, desde o m ar Alto, até o m ar Baixo.72.9. tribos do deserto. Esse texto geralm ente é corrigido do hebraico siyyim, "habitante do deserto" para saray iv , " s e u s in im ig o s" . S e a fo rm a o rig in a l for m antida, então poderia estar relacionada ao uso de Cuche (região desértica da Etiópia) em Salm o 68.31 como um termo geográfico para "o s confins da terra" e, por isso, acompanha a promessa de coroação de 72.8.72.10. Társis, Sab á e Sebá. A fim de m ostrar a extensão do poder do rei, governantes de todo o mundo vêm até ele para lhe oferecer presentes. Logo, Társis, associada às ilhas e nações do M editerrâneo ocidental, representa todos os pontos do ocidente (ver o comentário em Is 23.1). Sabá é identificada com o sul da Arábia (Iêmen) e o reino de Sabá (ver o comentário em Is 60.6). A localização de Sebá ainda é bastante controversa, embora alguns a situem na Etiópia ou ao longo da rota do incenso, no noroeste da Arábia (ver Is 43.3). 72.12-14. fu n ção do re i. É padrão na literatura do antigo Oriente Próximo retratar o rei como um legislador (Pv 29.14) e defensor dos mais fracos (um atributo de D eus em SI 35.10). O texto egípcio Lenda do Camponês Eloqüente afirm a que a obrigação do rei é ser um "p ai ao órfão". N o hino de coroação, de Ur III, o rei Ur-Nammu é descrito como o "provedor de U r". O prólogo do código de leis de Hamurábi afirma como os deuses concederam a Hamurábi, rei da Babilônia, a tarefa de "prom over o bem-estar do povo" e "fazer a justiça prevalecer na terra" de m odo que "o s poderosos não oprimam os m ais fracos".
Salmos 73-89 Terceiro livro73.24. m e receberás com honras. O conceito de Deus "recebendo" um a pessoa como uma referência a salv ar sua vida pode ser visto claram ente em Salm o18.16,17, onde a NVI traduz a m esma expressão como "m e segurou". O termo "honras" nunca é usado, no hebraico, como sinônimo para céu, e aqui se refere a um desfecho "honroso" para a crise do salmista. Suas dificuldades lhe causaram vergonha porque o sofrimento era considerado evidência de pecado e descontentamento de Deus (ver os comentários sobre o princípio da retribuição e da vida após a morte nas notas introdutórias sobre os conceitos básicos de Salmos).74.4. bandeiras. Estandartes ou imagens da divindade eram carregados simbolizando a presença dos deuses. E comum os reis assírios dos séculos nono e oitavo se referirem ao estandarte divino que ia adiante deles nas batalhas. As bandeiras de guerra eram usadas pelos israelitas e outros povos, inclusive os assírios. No exército egípcio, cada divisão recebia o nome de um deus (p. ex., a divisão de A m om , a divisão de Seth) e os estandartes identificavam o destacamento militar através de alguma representação do respectivo deus. Esses símbolos de guerra eram usados pelos militares como instrumentos de sinalização e pontos de ajuntamento das tropas ou eram pendurados nos m uros das cidades (ver Jr 4.6). Suas cores e insígnias design avam a quem p rofessav am lea ld ad e e em m uitos casos incluíam um símbolo do(s) deus(es) que, esperava-se, participaria da batalha juntam ente com as forças hum anas (ver Jr 50.2). O exército assírio de Salmaneser III viajava com seus "estandartes" presos à carruagem real. Quando o acampamento era montado, eles eram erigidos perto da tenda real e tom avam-se o ponto central para sacrifícios e atos de devoção aos deuses.74.6. m adeira esculpida. É difícil determinar se essa expressão se refere aos painéis de parede esculpidos no tem plo ou a entalhes em algum as das peças de bronze ou ouro relacionadas ao templo. O que fica claro é que o intrincado trabalho artístico que embelezava esse templo (como m uitos outros no m undo antigo) estava sendo implacavelmente destruído.74.13. d iv id ir o m ar. N ão há nada que nos leve a pensar que essa referência diz respeito à divisão do m ar Vermelho. Ao contrário, o contexto está relacionado à batalha cósmica com o mar, mencionada m uitas vezes nos Salmos. O verbo usado aparece somente aqui, nessa forma, o que dificulta a precisão de seu sentido. Se o significado pretendido é a divisão do m ar, a expressão pode ser com parada à divisão de Tiamat ("m ar") por Marduque, episódio narrado em Enuma Elish. Outros estudiosos traduziram esse ver
bo com o um a referência à agitaçao do m ar que às vezes antecedia tais batalhas (ver os comentários em D n 7.2, 3).74.14. Leviatã. O Leviatã tem sido m uitas vezes identificado com o crocodilo, que era encontrado principalmente no Egito (onde simbolizava o poder e a grandeza real), m as também, em bora raram ente, na Palestina. Porém, as m últiplas cabeças aqui descritas e o sopro de onde sai fumaça e fogo, conforme Jó 41.19-21, complicam a identificação com tal animal. Como alternativa, o Leviatã tem sido descrito como um monstro m arinho (ver Is 27.1). Essa hipótese encontra suporte em textos ugaríticos que contêm descrições detalhadas de uma besta do caos, representando os m ares ou a anarquia das águas, na form a de um a serpente m arinha com m uitas cabeças, que é derrotada por Baal. H á um a relação ín tim a entre a descrição do Leviatã em Isaías, como um a "serpente tortuosa", e o épico ugarítico de Baal que fala de como o deus da tempestade "golpeou Litan, a serpente que se contorce", que segundo a descrição, tinha sete cabeças. Em ambos os casos, há um sentido do deus da ordem e da fertilidade subjugando um monstro do caos. Na literatura acadiana existe uma-criatura chamada de bashmu, com seis línguas e sete bocas. Em um texto, o bashmu é alistado juntam ente com outras criaturas fantásticas, inclusive um a com duas cabeças e outra, com sete. Esta últim a também é retratada num selo cilíndrico. Esse selo mostra quatro das cabeças pendendo flácidas, enquanto a batalha continua com as três que restaram. Diversas outras passagens do Antigo Testam ento m encionam o Leviatã, m as a maioria delas fala em termos da ação criativa de Deus que estabelece o controle sobre o caos das águas (personificado pela serpente do mar). Em Isaías 27.1, porém, essa luta entre a ordem e o caos ocorre no fim dos tempos. Pode ser que a queda de Satanás, retratado como um dragão de sete cabeças em Apocalipse 12.3-9, também remeta à figura ugarítica de Litan, "o tirano de sete cabeças". Biblicamente, o Leviatã, portanto, poderia facilmente encaixar-se na categoria de criatura sobrenatural (como os querubins), em oposição às criaturas naturais ou puram ente mitológicas. Como tal, ele pode aparecer na m itologia extrabíblica, e tam bém ser sim bolizado por algo como um crocodilo (como em Ez29.3 embora o Leviatã não seja especificamente mencionado naquele contexto).75.3. colunas da terra. As colunas às vezes são consideradas representações de fronteiras. O tem plo de Salomão tinha duas no pórtico que serviam como um lim ite para o santo lugar. O tabernáculo usava colunas de onde as divisórias eram penduradas para separar o pátio do santo lugar. Até m esm o quando elas sustentavam algo (como no templo filisteu que
Sansão derrubou), dados arqueológicos sugerem que serviam como divisas para pórticos ou pátios. Na Babilônia, marcos de divisa conhecidos como kudurrus tinham a form a de coluna. A literatura do antigo Oriente Próximo não apresenta paralelo para a terra sendo sustentada por elas. Em Jó 26.11 os céus as possuem, m as esse comentário também ocorre em relação às divisas (v. 10). É m ais provável que as fronteiras cósmicas da terra seriam aquelas entre os vivos e os mortos. A palavra traduzida como "terra", neste versículo, às vezes refere-se ao m undo inferior. N a literatura acadiana, as fronteiras do m undo inferior são representadas por portões.75.8. cálice do ju lgam ento, vinho espum ante. A imagem do vinho como um a taça de castigo aparece com freqüência no Antigo Testamento (Jr 49.12; 51.17; Hc2.15,16). Ela é especialmente evidente em Isaías 51.17, em que o cálice resulta em bebedeira (estonteamento) e não em morte. Aqueles que são forçados a beber desta taça perdem o controle total de si mesmos e toda a habilidade de se defender (v. 22, 23), ficando como que anestesiados. Durante o período helenista, o vinho geralm ente era m isturado com água para que uma m aior quantidade dele pudesse ser consumida e as conversas pudessem continuar ao longo das refeições. No entanto, em períodos anteriores, era comum que o vinho fosse misturado a um agente tóxico mais forte, que devia ser consumido com mais moderação (ver Jz 9.13; Pv 9.2). Na M esopotâmia, onde o vinho era menos comum até a época do império assírio, essa bebida só era servida em ocasiões especiais. Às vezes, havia apenas um xarope de uva ao qual era acrescentado mel, produzindo assim um licor.75.10. chifres (poder) dos ju stos e dos ím pios. Ver o comentário sobre "ch ifre" na nota introdutória sobre as principais metáforas dos Salmos.78.2. parábolas. O termo traduzido como "parábolas" é mashal e possui um a grande gama de significados: "alegoria" (Ez 17.2), "poem a" (N m 21.27), "oráculo" (Nm 23.7). Neste caso, como também em Provérbios10.1, refere-se a um a "instrução" de Deus para o povo, especificam ente os israelitas; m as considerando-se a universalidade de um tema de sabedoria, é dirigido também a "todas as pessoas". Pode ser ainda comparado ao "m ote som brio", em H abacuque 2.6, em que os agressores assírios são zombados por perderem as riquezas obtidas por meios ilícitos.78.9. derrota de Efraim . O texto não apresenta detalhes suficientes para que se possa identificar a batalha aqui mencionada. Efraim muitas vezes é usado como um título para todo o reino do norte, Israel. Essa batalha poderia ser um a referência a um episódio bastante remoto na história de Israel, ou seja, à derrota dos israelitas pelos filisteus que levaram consigo a arca da
aliança. É um a hipótese que poderia ser sustentada pelo fato de que a lista de problemas se encerra com esse incidente (v. 60-64). Outra possibilidade de interpretação apresentada por alguns estudiosos é a de que o incidente faz alusão à queda do reino do norte aos assírios em 722.78.12. Zoã. Zoã refere-se à cidade egípcia de Dja'net, que os gregos chamavam de Tânis. Tom ou-se a capital da região do delta na 21a Dinastia (século doze). Localiza-se na região do Egito e foi habitada pelos israelitas nos tempos de Moisés.78.14. nuvem e fogo. Essa é um a referência clara às colunas de nuvem e de fogo que acompanhavam os israelitas no déserto. Para m ais inform ações, ver o comentário em Êxodo 13.21, 22.78.15. água da rocha. Para informações acerca desse incidente, ver os comentários de Êxodo 17 e Números 20.78.24. m aná. Para inform ações a respeito do maná, ver o comentário em Êxodo 16.4-9.78.27. bandos de aves. Para informações a respeito dessas aves (codornizes), ver os comentários em Êxodo 16. 78.44-51. pragas. A respeito das pragas, ver os comentários em Êxodo 7-11.78.60. abandonou S iló . Siló (atual Khirbit Seilun), no coração das colinas de Efraim, era o lugar onde Israel convocava suas assem bléias sagradas, antes de Jerusalém assumir essa função. Escavações desenterraram amplos vestígios da arquitetura do local que remonta ao século onze a.C.. O lugar sobreviveu à Idade do Ferro, m as as estruturas sagradas passaram a servir como exemplo de um santuário que se tom ou alvo do juízo de Deus. Acredita-se que tenha sido tomada pelos filisteus após a vitória na Batalha de A feque (1 Sm 4).78.61. arca ao cativeiro. Para mais informações sobre esse incidente, ver 1 Sm 4 -6 e os comentários ali.79.1. contexto histórico. A única vez, no período vete- rotestamentário, que o templo foi profanado e a cidade de Jerusalém destruída foi quando a Babilônia tomou a cidade em 587 a.C..79.2. cadáveres como com ida às aves e anim ais selvagens. No épico de Gilgamés, o guardião da floresta de cedro, Huwawa, diz a Gilgamés que ele deveria dar sua carne para ser comida por aves de rapina e carniceiros. Para mais informações, ver o comentário sobre a exposição de cadáveres em 1 Reis 16.4.79.5. até quando? Essa pergunta ocorre quase vinte vezes nos Salm os e geralm ente está relacionada a lam ento. Encontra-se tam bém na M esopotâm ia, no texto sumério Lamento pela Destruição da Suméria e de Ur que contém a pergunta: "A té quando o olho do inimigo contemplará minha situação?".80.1. trono sobre os querubins. Os querubins estão associados à arca da aliança, sendo retratados sobre ela ou ladeando-a. Essas criaturas compostas apare
cem na arte antiga com certa regularidade ao redor dos tronos de reis e divindades. A com binação de querubins como guardiães do trono, arcas como escabelos e afirmações em contextos como este, que descrevem Yahw eh entronizado sobre querubins, serve de base para o conceito da arca como uma representação do próprio trono invisível de Yahweh. Nos festivais egípcios, as imagens dos deuses com freqüência eram carregadas em procissão, dentro de barcas portáteis. Pinturas retratam cortejos em que caixas semelhantes à arca eram carregadas por meio de varas e decoradas com criaturas guardiãs em cima ou ao lado. As descrições bíblicas, bem como as descobertas arqueológicas, (inclusive algumas peças de m arfim fino de Ninrode na Mesopotâmia, de Arslan Tash na Síria e da Sam aria em Israel) sugerem que os querubins eram criaturas compostas (com características de diversas criaturas como a esfinge egípcia), geralmente com cabeça humana e corpo de animais quadrúpedes (leão) alados.80.3. respland ecer sobre nós o teu rosto. A m etáfora "lu z do rosto de D eus" é encontrada em cartas reais da cidade egípcia de A m am a e na correspondência uga- rítica. Por exemplo, "o rosto do Sol (i. e., faraó) brilhava sobre m im " é um a declaração feita por um dos reis subordinados ao Egito. Dois pequenos rolos de prata (com cerca de dois centímetros e m eio de comprimento) foram encontrados na área conhecida como Keteph Hinnom, em Jerusalém. Eram amuletos de um túmulo, feito numa caverna do século sexto ou sétimo a.C., que continham a bênção sacerdotal de Núm eros 6.25, que inclui o pedido de que o Senhor "resplandeça o seu rosto sobre t i" . Atualmente representam o mais antigo exemplar de um texto das Escrituras. O conceito do rosto brilhante da divindade, que resulta em favor, encontra-se em documentos e inscrições m esopotâmicas que rem ontam ao século doze a.C..80.5. pão de lágrim as. A palavra traduzida aqui como "p ão " tam bém pode ser usada de form a m ais genérica para referir-se a comida. Textos acadianos usam essa mesma metáfora, em afirmações como "p or pão comi lágrim as am argas" ou "o choro é o m eu alim ento".80.11. M ar, rio. Considerando-se a descrição geográfica relacionada a esses termos, é provável que sejam referências ao m ar Mediterrâneo e ao rio Eufrates.80.13. jav alis. Os porcos foram domesticados muito cedo, mas a variedade selvagem continuou a existir no O riente Próxim o e encontra-se representada na arte egípcia e mesopotâmica.81.2. tam borim , lira , harpa. V er o com entário em150.3-5.81.3. trom beta na Lua nova. D evido ao uso de umcalendário lunar, no antigo Israel, o primeiro dia do m ês era m arcado pela fase da "L u a nova", quando
era celebrada uma festa (a cada vinte e nove ou trinta dias). Assim como no sábado, nenhum trabalho podia ser feito nesse dia (ver A m 8.5) e sacrifícios tinham de ser oferecidos (Nm 28.11-15). Durante a monarquia, o rei assumiu um papel de destaque nessas celebrações (ver Ez 45.17). A festa da Lua nova tam bém continuou a ser observada no período pós-exílico (Ed 3.5; N e 10.33). Esse tipo de festa tam bém era bastante proeminente na Mesopotâmia, desde o final do terceiro milênio até o período neobabilônico, na metade do primeiro m ilênio a.C.. À luz do paralelo com a Lua cheia, porém, é provável que esse verso não se refira à celebração da Lua nova e sim à Festa dos tabernáculos (ver o próximo comentário).81.3. festa da Lua cheia. A única festa de peregrinos que potencialmente abrange a Lua nova e a Lua cheia é a Festa dos tabernáculos. A descrição de Números 29 inclui instruções para ambos os dias, inclusive o soar de trombetas.81.7. escon d erijo dos trovões, M eribá. H ouve trovões no Sinai, m as é difícil ver de que m aneira eles foram um ato de livramento, além disso, o episódio em M eribá antecedeu o do Sinai. Portanto, é mais provável que o "esconderijo dos trovões" seja considerado a arm a do guerreiro divino, Yahweh, que libertou Israel do Egito (mesmo termo usado em Is 29.6). M eribá foi onde Yahw eh fez brotar água da rocha (ver os comentários em Êx 17).81.16. m el da rocha. Apesar da maioria das ocorrências de mel, no Antigo Testamento, ser um a referência ao xarope da tamareira, a menção à rocha, neste versículo, sugere tratar-se de mel de abelhas extraído de colméias, formadas em rochas.82.1. assem bléia divina; ju iz n o m eio dos deuses. No antigo Oriente Próximo, as principais decisões eram todas tom adas no concílio divino. Lá os deuses se consultavam e com partilhavam suas inform ações e opiniões. A im agem fam iliar de um trono celestial cercado por uma assembléia divina é bem freqüente em textos ugaríticos (de forma m ais evidente no épico de Keret), em bora o concílio cananeu seja formado pelos deuses do panteão. Existem tam bém exemplos nas inscrições de Yehimilk em um prédio do século dez, na cidade de Biblos e na esteia Karatepe de Azi- taw adda. No texto acadiano Enuma Elish, a assem bléia dos deuses nomeia M arduque como seu líder. Cinqüenta deles formavam essa assembléia, com sete no concilio interno. N a crença israelita, em lugar dos deuses, figuravam os anjos ou espíritos - os filhos de Deus ou o exército celestial.82.5. fundam entos da terra. Na concepção babilónica do cosmo, os fundam entos da terra se firm avam sobre o que é chamado de apsu. Trata-se de uma região de águas prim itivas sob a jurisdição da im portante di
vindade Enki/Ea. Do ponto de vista da geografia física, essa área representa os lençóis de água que sobem à superfície na forma de, por exemplo, pântanos e fontes, bem como às associadas aos mares e rios cósm icos. Em Enuma Elish, um dos nomes de M ar- duque, Agilima, o identifica como aquele que construiu a terra sobre as águas e estabeleceu as regiões superiores. Para informações adicionais ver os comentários em Jó 38.4-6, e sobre a criação, consulte as notas introdutórias sobre os conceitos básicos dos Salmos.82.6. deuses/filhos do A ltíssim o. Ver o comentário em 82.1.83.6-8. m em bros da aliança. Os primeiros sete povos (nações) mencionados estão todos localizados a leste e sul de Judá. O m ais incerto é Gebal, cujo nom e era usado para referir-se a Biblos, no extrem o norte da costa mediterrânea. Um a possibilidade quanto à sua localização, porém, é um a povoação perto de Petra, que se encaixa melhor a esse contexto. Filístia e Tiro eram inimigos tradicionais, a oeste e ao norte respectivamente. A menção à Assíria como um componente extraordinário dessa coalizão sugere uma datação entre a m etade do nono século e o final do oitavo. A presença assíria no oeste durante essa m etade do nono século estava m ais voltada para o norte, assim é mais provável que a referência aqui seja a conflitos do oitavo século. Judá sentiu o ímpeto das invasões assírias nos tempos de Sargão e seu filho, Senaqueribe. Em relação ao cerco de Senaqueribe a Jerusalém, as inscrições assírias relatam que os reis de Tiro, Biblos, Asdode (Filístia), Amom, Moabe e Edom se submeteram, antes da invasão de Senaqueribe, a Jerusalém. Esse dado é suficiente para identificá-los como aliados ou co- conspiradores. Ao invés de tentar estabelecer um a circunstância histórica como pano de fundo a este salmo, a alternativa é que seja simplesmente um a lista de antigos inimigos de Israel.83.9. M id iã , Sísera/Jabim . Essa é um a referência a duas batalhas durante o período dos ju izes quando houve uma intervenção divina em favor de Israel. A respeito da derrota de M idiã, nas m ãos de Gideão, ver os comentários em Juizes 6-8 . Quanto à vitória de Débora e Baraque contra o rei Jabim e seu comandante, Sísera, ver os comentários em Juizes 4.83.10. En-D or. En-D or não é m encionada no relato dessas batalhas de Juizes, m as ficava nas proximidades de ambos cenários desses conflitos. A extremidade leste do vale de Jezreel tem cerca de dezesseis quilômetros de largura, de norte a sul. A extremidade norte é bloqueada pelo m onte Tabor, enquanto que a extremidade sul é bloqueada pelo m onte Gilboa. Essa faixa de dezesseis quilômetros entre os dois m ontes é dividida em dois vales pelo monte de Moré, de tamanho menor. En-Dor ficava localizada na metade
do vale do norte , entre o m onte de M oré, onde a batalha de Midiã aconteceu, e o monte Tabor, onde Débora e Baraque reuniram suas tropas.83.11. reis. Os quatro reis m encionados aqui são aqueles que lideraram as tropas midianitas contra Gideão e os israelitas. Sua derrota e execução estão registradas em Juizes 8.84. título, coraítas. Ver o comentário no título do Salmo 42.84.1, 2. anseio pelo lugar da habitação de D eus. Otemplo, a habitação da divindade, era um lugar onde se desfrutava de favor e bênção. O verbo usado aqui é sem elhante à palavra "sau dad e" da língua portuguesa. Envolve a melancolia e nostalgia por alguém ou algo; anseia-se pelo retorno de um a circunstância ou situação lembrada com carinho. Aqui o peregrino sente saudade de estar no templo.84.4. habitar na casa do Senhor. Em Israel, os sacerdotes eram os únicos que m oravam no recinto do templo. Em todo o antigo Oriente Próximo era considerado um privilégio estar constantemente na presença da divindade. O rei babilónico Neriglissar expressou ao seu deus que ansiava estar com ele para sempre. Outro texto registra o seguinte pedido: "Q u e eu possa estar diante de ti para sem pre em adoração e devoção ". U m hino a M arduque pede que o adorador possa estar diante da divindade para sempre em oração, súplica e rogos. No terceiro milênio a.C., os adoradores sumérios tentaram atingir esse objetivo colocando no templo estátuas que figuravam eles mesmos na postura de oração. D essa maneira, eles estariam continuamente representados no ali.84.6. vale de Baca. Se essa for uma referência a um local geográfico, é obscura. A palavra baca significa "lágrim as", mas o termo continua sendo difícil de se entender. A alternativa sugerida é a descrição de uma árvore, especificam ente o bálsam o (ver o comentário em 2 Sm 5.24). N enhum a dessas explicações, porém, ajuda a localizar o vale ou a identificar seu significado.84.10. porteiro do tem plo. U m a das tarefas mais importantes designadas aos sacerdotes era controlar o acesso ao interior do templo, a área interna considerada o "com passo sagrado" (a respeito desse conceito ver os comentários em Lv 16.2 e N m 18.1-7). Quando o santuário era contaminado com impurezas precisava-se fazer um a oferta de purificação ("oferta pelo pecado" ver o comentário em Lv 4.1-3). Essa contaminação podia trazer castigo sobre indivíduos e também sobre a coletividade. O s porteiros tinham de evitar qualquer invasão desqualificada. A lém disso, havia inúmeros objetos valiosos dentro do templo: o ouro e a prata eram abundantes servindo como um a tentação a um indivíduo sem escrúpulos que chegasse a invadir e roubar. Portanto, esses objetos também deve
riam ser guardados. O uso inadequado daquilo que era considerado sagrado exigia um a oferta de reparação ("oferta pela culpa" ver o comentário em Lv 5.1416). Os porteiros tinham a responsabilidade de proteger o templo contra esse tipo de ofensa. Para o salmista, porém, o porteiro era uma daquelas pessoas privilegiadas que tinham a oportunidade de estar continuamente na proximidade da presença de Deus.84.11. relação com o Sol. A relação entre o Sol e o escudo é de que ambos oferecem proteção. Quanto ao escudo, essa proteção é óbvia, já o Sol não seria considerado nesses termos. Não obstante, os reis assírios usavam a m etáfora de sua proteção espalhando-se sobre a terra como os raios do Sol.85.título. coraítas. Ver o comentário no título do salmo 42.87.4. Raabe. Raabe é descrito como um dos monstros marinhos mortos por Deus (ver Jó 26.12; SI 89.11; Is51.9). Em am bos os m itos da criação (babilónico e ugarítico), a divindade vencedora (Marduque na Babilônia e Baal em Ugarit) luta e m ata um m onstro marinho e seu séquito de form a semelhante a Yahweh. Em outros contextos, assim como aqui, esse termo é simbolicamente usado para designar o Egito (Is 30.7). O nom e Raabe ainda não foi encontrado em fontes extrabíblicas.87.4. lista de nações. Não há necessidade de tentar identificar o contexto histórico a que se refere este versículo porque o texto está simplesmente alistando algumas das nações que serão contadas entre aquelas que reconhecerão a Yahweh. Essa lista inclui as grandes potências: o Egito (Raabe) e a Babilônia, os vizinhos próximos, Filístia (sudoeste) e Tiro (noroeste) e a nação mais distante (Cuxe ou Etiópia, sul do Egito).87.6. registro dos povos. No mundo antigo, as cidades reais geralmente eram a sede do governo (composto em grande parte de parentes do rei) e seus cidadãos desfrutavam de certos privilégios, inclusive isenção de impostos, de trabalhos forçados, das obrigações para com o serviço militar, im unidade à prisão, bem como eram beneficiários dos m ais belos e elaborados projetos de construções. Tais privilégios (kidinnutu) eram desfrutados por cidades babilónicas, como Nippur, Sippar e Borsippa, mais com base em sua posição como centros religiosos do que como capitais políticas. As capitais políticas como Nínive e Babilônia também usufruíam status semelhante. Supõe- se que registros fossem mantidos para identificar aqueles que desfrutavam de tais privilégios. Neste versículo, o salmista faz menção à posição singular daqueles que nasceram em Sião.88. títu lo, coraítas. Ver o comentário no título do salmo 42.88. título, ezraíta Hemã. Juntam ente com Etã (SI 89), H em ã é alistado como um dos famosos sábios da épo
ca de Salom ão (1 Rs 4.31), nom eado com o um dos músicos levitas no tempo de D avi (1 Cr 15.17,19).88.3. pavor da morte. Este salmo, repleto do pavor da morte, apresenta o salmista lamentando-se de sua condição como alguém que está destinado a morrer. Esse retrato do salm ista rem ete a Gilgam és, no épico de G ilgam és, que reage a seu próprio m edo da m orte indo em busca da imortalidade. As ações de Gilgamés são motivadas pela morte de seu amigo íntimo Enkidu, da m esm a form a que o salm ista se desespera com morte de seu melhor amigo (v. 8, 18).89. título, ezraíta Etã. Esse nome ocorre entre os sábios da época de Salomão (1 Rs 4.31) e talvez entre os músicos levitas do tempo de D avi (1 Cr 15.17, 19). Nada se sabe a respeito dele.89.7. assem bléia dos santos. No antigo Oriente Próximo, as principais decisões eram todas tom adas no concílio divino. Lá os deuses se consultavam e compartilhavam suas informações e opiniões. A imagem fam iliar de um trono celestial cercado por um a assembléia divina é bem freqüente em textos ugaríticos (de form a m ais evidente no épico de Keret), em bora o concílio cananeu seja formado pelos deuses do panteão. Existem também exemplo&nas inscrições de Yehimilk em um prédio do século dez, na cidade de Biblos e na esteia Karatepe de A zitaw adda. No texto acadiano Enuma Elish, a assembléia dos deuses nomeia Marduque como seu líder. Cinqüenta deles formavam essa assembléia, com sete no concílio interno. Na crença israelita, em lugar dos deuses, figuravam os anjos ou espíritos - os filhos de Deus ou o exército celestial.89.9. dom ínio sobre o m ar revolto. Na Bíblia e também no antigo Oriente Próximo, o mar, bem como os monstros marinhos que ali habitavam, representavam o caos e a desordem. O conflito físico óbvio entre ele e a terra, bem como a energia aparentemente inesgotável exibida pela sua fúria deu origem a mitos cósmicos no antigo O riente Próxim o. O épico da criação Enuma Elish, da Babilônia, descreve como M arduque destrói Tiamat, enquanto essa deusa do caos aquático está na forma de um dragão. Grande parte do ciclo de histórias sobre Baal, na lenda ugarítica, envolve a luta desse deus contra seu rival Yamm , o deus do mar. Igualmente, no épico ugarítico, Anate e Baal afirmam ter derrotado Litan, o dragão de sete cabeças, tendo, portanto, conquistado o domínio sobre os mares. Logo, o domínio de Yahw eh sobre as águas diz respeito ao seu controle soberano sobre as forças caóticas que, segundo a crença, constantemente am eaçavam o cosmo. Esse dom ínio é expresso pelo ato de acalmar o m ar (ver os comentários em 65.7 e 107.29).89.10. Raabe. Raabe é descrito como um dos monstros m arinhos mortos por Deus (ver Jó 26.12; SI 89.11; Is51.9). Em am bos os m itos da criação (babilónico e
u g arítico ), a div ind ade venced ora (M arduque na Babilônia e Baal em Ugarit) luta e mata um monstro m arinho e seu séquito de form a sem elhante a Yah- weh. Em outros contextos, assim como aqui, esse termo é simbolicamente usado para designar o Egito (Is30.7). O nom e Raabe ainda não foi encontrado em fontes extrabíblicas.89.12. criaste o N orte e o Sul. A determinação dos pontos cardeais no m undo antigo era um a ciência imprecisa. Naquela época, a Estrela do N orte ficava doze graus ao sul do verdadeiro norte e as rotas de estrelas e constelações eram utilizadas como orientação. No dia-a-dia, pontos topográficos fixos eram usados como indicadores de direção. Na M esopotâmia, o vento oriental era conhecido como "vento da montanha" por causa das m ontanhas que ficavam a leste. Na terminologia israelita algumas vezes o norte era descrito como Zafom, o nome de uma montanha na Síria (ver o comentário em Is 48.2).89.12. T abor e H erm om . Essas são as duas m ontanhas m ais importantes de Israel. O monte Hermom (2800 m etro s de a ltitu d e na cad eia m on tan h osa Antilíbano) marcava a fronteira norte da terra e normalmente seu pico ficava coberto de neve. O monte Tabor fica na extremidade nordeste do vale de Jezreel. Em bora sua altitude (590 metros) seja m uito m enor que a do m onte H erm om , ele se destaca de forma isolada em meio a um a planície. Se essas duas m ontanhas devem ser consideradas como um paralelo ao norte e sul do início do versículo, o autor provavelmente estava localizado na região da Galiléia.89.14. retidão e ju stiça com o alicerces do trono. A idéia de retidão e ju stiça com o a responsabilidade fundamental do rei é expressa em todo o antigo Oriente Próximo. Essa idéia é retratada graficamente na arte egípcia, onde o sím bolo de M aat (a divindade associada à justiça e à verdade) é o pedestal onde o trono está assentado.89.18. rei como escudo. V er o comentário sobre "escudo" nas notas introdutórias sobre as principais metáforas para Deus.89.20. ungido com óleo sagrado. U ngir um rei eraum a prática com um em algum as partes do antigo Oriente Próximo. Entre os egípcios e hititas, acreditava-se que a unção protegia a pessoa dos poderes das divindades do mundo inferior. As principais evidências encontram -se em fontes hititas que descrevem cerim ônias de entronização. Não existem provas de reis sendo ungidos na Mesopotâmia nem no Egito, no entanto em vez disso, o faraó ungia seus oficiais e seus vassalos. Ao fazer isso, ele estabelecia a relação de subordinação e demonstrava a proteção que daria a eles. Nos textos de Am arna existe um a referência a um rei de Nuhasse (na moderna Síria) sendo ungido
pelo faraó. Esse modelo se encaixaria à idéia de Davi sendo ungido como um vassalo de Deus. Em 2 Samuel2.4 é o povo que unge Davi. Esse ato sugere algum tipo de acordo contratual entre D avi e o povo de que ele iria governar. Em Nuzi, indivíduos que entrassem em acordo de negócios ungiam uns aos outros com óleo, e no Egito, procedia-se da mesma forma em cerimônias de casamento. Para informações sobre coroações, ver o comentário em 1 Sam uel 11.15. As especiarias usadas no preparo de óleos de unção eram a m irra, a canela, a cana arom ática e a cássia (ver a receita em Ex 30.23-25). Esse óleo simbolizava as dádivas de Deus ao povo e as responsabilidades agora depositadas sobre os líderes através dessa cerimônia. Na prática israelita, a unção era um sinal de eleição e com freqüência estava relacionada à capacitação do Espírito. Além disso, em todo o m undo antigo, simbolizava o galgar de um degrau na posição legal da pessoa. Tanto os conceitos de proteção como o de mudança de status podem estar relacionados à unção do rei, visto que estaria recebendo a proteção do trono e sendo identificado com a dimensão da divindade.89.24. poder (chifre). Ver o comentário sobre "chifre" nas notas introdutórias sobre as principais metáforas para Deus.89.35-37. linhagem real perm anecendo para sem pre com o o S o l e a Lua. Em um a bênção ao rei assírio Assurbanípal, um de seus cortesãos ora para que seu reinado seja firm emente estabelecido, assim como a Lua e o Sol estão firmes no céu. No Levante, a inscrição de Azitawadda afirma que o nome desse rei durará para sempre como o nome do Sol e da Lua. Outra bênção dirigida a outro m onarca assírio diz: "A ssim como os céus e a terra durarão para sem pre, que o nome do rei, meu senhor, dure para sempre na Assíria" (CAD Q :123). Esse pensam ento ecoa num hino ao deus Sin , em que se pede à divindade que faça o reinado de Sargão (rei assírio do oitavo século) durar tanto quanto o céu e a terra e que seu trono se firme sobre os quatro cantos. Finalmente, Assurbanipal pede ao deus Ea que lhe assegure vid a longa, saúd e e felicidade e que torne a fundação de seu trono tão segura e firm e quanto o céu e o m undo inferior.
Salmos 90-106 Quarto livro90.10. expectativa de vida. José morreu aos 110 anos, idade considerada ideal para um egípcio. Exames de m úm ias têm demonstrado que a expectativa média de vida no Egito ficava entre os quarenta e os cinqüenta anos. O texto egípcio Papiro Insinger detalha que dez anos são gastos na infância e m ais dez aprendendo um ofício. O escritor calcula mais dez acumulando bens e outros dez adquirindo sabedoria. Ele conclui,
então, que dois terços da vida de alguém são perdidos (sugerindo uma expectativa de vida de sessenta anos), no entanto, argumenta que o homem piedoso ainda terá sessenta anos restantes dos dias designados por Thoth, completando assim cem anos. Ver os comentários em Deuteronômio 31.2 e Isaías 40.6, 7.91.1. descansa à som bra. A sombra oferece proteção e geralm ente é descrita como a som bra de suas asas. Ver o comentário em 17.8.91.3. laço do caçador. A imagem bastante familiar de caçadores apanhando pássaros em redes e laços pode ser a origem desta metáfora (ver Js 23.13; SI 69.22; Is8.14). Existem inúmeros exemplos dessa atividade em pinturas de túmulos egípcios e também serve de base para a sum éria Esteia dos Abutres (ver o comentário em Ez 12.13). Havia um a série de técnicas diferentes usadas no aprisionamento de pássaros. Embora seja possível que os caçadores usassem fundas, atirassem paus (como na pintura da tumba de Beni Hasan) ou um a flecha para derrubar um a ave individual, na maioria das vezes o texto bíblico e a arte antiga ilustram grandes bandos de pássaros sendo capturados em redes ou gaiolas. Por exemplo, a tum ba de Ka- Gem m i, em Saqqarah (6a D inastia do Egito) retrata um caçador usando um a rede. A parentem ente, alguns deles também usavam de artimanhas em suas armadilhas para atrair os pássaros com comida servindo como isca (confirmado em Eclesiastes 11.30). 91.11. an jos protetores. No antigo Oriente Próximo eram as divindades, e não os anjos, que serviam como guardiões. Os mesopotâmicos acreditavam que os deuses pessoais ou familiares ofereciam proteção e cuidado especial a fim de que as grandes divindades cósmicas ou os deuses nacionais não precisassem ser incom od ad os. T extos acad ian os tam bém fa lam de guardiões do bem -estar e da saúde, e tam bém de espíritos guardiões. Esses espíritos recebiam ordens da divindade para amparar determinada pessoa, assim como neste texto. A proteção que se buscava no antigo Oriente Próximo era contra poderes demoníacos que, segundo a crença, eram a causa de doenças e problem as. A lém disso, havia o perigo de feitiços m ágicos que podiam ser proferidos contra alguém. Os israelitas certamente acreditavam na realidade dos demônios e muitos ainda não haviam conseguido divorciar sua maneira de pensar da perspectiva mágica de seus vizinhos. Ainda assim, o salmista não interpreta os problemas que enfrenta a partir desse prisma. Essa é a única passagem no Antigo Testamento em que se faz referência a anjos da guarda.92. título, para o dia de sábado. Esse é o único salmo específico para o sábado. H á poucos indícios, no A ntigo Testamento, de cerimônias especiais de adoração neste dia. Foi sugerido que este salmo acompanhasse as ofertas diárias do sábado.
92.3. lira de dez cordas. Trata-se de um instrumento musical típico da época e confirmado em textos, relevos e pinturas do antigo O riente Próxim o desde o terceiro milênio a.C.. A lira é diferenciada da harpa pelo núm ero de cordas. Ambas eram seguradas nas m ãos através de estruturas feitas de m adeira. Um texto musical foi descoberto em Ugarit que lança luz sobre a m úsica da Idade do Bronze M oderna. Esse texto tem as notas a serem tocadas por uma lira acompanhando um hino cultual hurrita.92.10. aum entaste a m inha força (chifre). Ver o com entário sobre "ch ifre" nas notas introdutórias sobre metáforas comuns para Deus.92.10. óleo novo. No m undo antigo, os convidados de um ban qu ete m uitas vezes eram recebid os por um anfitrião generoso com óleos finos com os quais tinham suas frontes ungidas. Além de dar-lhes um a aparência brilhante, acrescentava ao ambiente e à sua pessoa um odor agradável. Por exemplo, um texto assírio do reinado de Esar-Hadom descreve como ele "encharcou a fronte" de seus convidados num banquete real com os m ais "seletos ó leos". O óleo preservava o aspecto da p essoa no clim a quen te do O riente M édio. O texto egípcio A Canção do Harpista e o épico mesopotâmico de Gilgamés descrevem indivíduos vestidos em linho fino e com m irra espalhada n a cabeça.93.3, 4. comparação com os m ares. Na Bíblia e também no antigo Oriente Próximo, o mar, bem como os monstros m arinhos que ali habitavam, representavam o caos e a desordem. O conflito físico óbvio entre ele e a terra, bem como a energia aparentemente inesgotável exibida pela sua fúria, deu origem a mitos cósmicos no antigo O riente Próxim o. O épico da criação Enuma Elish, da Babilônia, descreve como Marduque destrói Tiamat, enquanto essa deusa do caos aquático está na forma de um dragão. Grande parte do ciclo de histórias sobre Baal, na lenda ugarítica, envolve a luta desse deus contra seu rival Yam m , o deus do m ar. Igualm ente, no épico ugarítico, A nate e Baal afirmam ter derrotado Litan, o dragão de sete cabeças, tendo, portanto, conquistado o domínio sobre os m ares. Logo, o dom ínio de Yahw eh sobre as águas diz respeito ao seu controle soberano sobre as forças caóticas que, segundo a crença, constantemente ameaçavam o cosmo.95.8. M eribá/M assá. Esses term os são aplicados a Refidim , perto do Sinai, para descrever a natureza irascível e rebelde do povo. Deus respondeu fazendo brotar água da rocha. Para m ais inform ações sobre esses incidentes, ver os comentários em Êxodo 16 ,17 .97.2. cercado de n u v ens. A im agem de um D eus impetuoso, cavalgando pelos céus num a nuvem, era com um (SI 68.4; 104.3; Jr 4.13). Tais descrições de teofania podem ser encontradas nos textos que falam
do deus ugarítico Baal. No épico de Aqhat e no ciclo de histórias de Baal e Anat, Baal é descrito como o "cavaleiro das nuvens". Os atributos desse deus, com andando as tem pestades, soltando relâm pagos e dirigindo-se à guerra como um guerreiro divino, aparecem até mesmo nos textos egípcios de El Amama. As características de Yahw eh como o Criador, doador da fertilidade e guerreiro divino, têm m uito em comum com esses épicos antigos. Um a das formas em que Ele se apresenta aos israelitas como o único poder divino é assum indo os títulos e poderes de outros deuses do antigo Oriente Próximo.98.1. braço santo. A imagem de uma poderosa mão ou braço estendido é comum em inscrições egípcias para descrever o poder do faraó. É usada em toda a narrativa do êxodo como um sinal do poder de Deus acima de faraó. Nas cartas de Am arna do século catorze a.C., Abdi-Heba, o governador de Jerusalém, refere-se ao "braço forte do rei" como base para sua nom eação ao governo. D e m odo sem elhante, o "H in o a O síris", da 18a D inastia, descreve a predom inância dele sobre os outros deuses com a frase "quando seu braço estava forte", e o "H ino a Toth" de H arem habs fala do deus-lua guiando o barco divino pelo firm amento com "braço estendido".98.5, 6. ofereçam música. Ver o comentário em 150.3-5.98.8. personificação da natureza. Não é raro um texto bíblico personificar as forças da natureza, embora essa personificação não seja feita como no resto do antigo Oriente Próximo, onde eram encarnadas e ganhavam personalidade. Na M esopotâmia, em Canaã e no Egito, as forças da natureza eram m anifestações de divindades individuais, cuja jurisdição era sobre a natureza com a qual estavam integradas.98.9. retidão. O termo aqui é comparável àquele usado na Mesopotâmia para a declaração de liberação de dívidas. No antigo Oriente Próximo, a libertação de prisioneiros (da prisão de seus credores) era um ato de justiça que acontecia com freqüência no primeiro ou segundo ano do reinado de um novo rei (e depois periodicamente a partir de então). Por exemplo, o rei Am m isaduqa, do período babilónico antigo (século dezessete a.C.) cancelou dívidas em nom e de Shamás. Uma das maneiras de se fazer justiça era trazer alívio àqueles que estavam sofrendo por causa de dívidas (geralmente não por sua própria culpa).99.1. trono sobre os querubins. Os querubins estão associados à arca da aliança, sendo retratados sobre ela ou ladeando-a. Essas criaturas compostas aparecem na arte antiga com certa regularidade ao redor dos tronos de reis e divindades. A associação de querubins como guardiões do trono, arcas como escabelos e afirm ações em co n tex tos com o este que d escrev em Yahw eh entronizado sobre querubins, serve de base
para o conceito da arca como uma representação do próprio trono invisível Dele. Nos festivais egípcios, as im agens dos deuses freqüentem ente eram carregadas em procissão, dentro de barcas portáteis. Pinturas retratam esses cortejos com caixas, semelhantes à arca, sendo carregadas por meio de varas e decoradas com criaturas guardiãs em cima ou do lado. As descrições bíblicas, bem como as descobertas arqueológicas, (inclusive algumas peças de marfim fino de Ninrode na M esopotâmia, de Arslan Tash na Síria e da Samaria, em Israel) sugerem que os querubins eram criaturas compostas (com características de diversas criaturas, como a esfinge egípcia), geralmente com cabeça humana e corpo de animais quadrúpedes (leão) alados.99.5. adoração diante do estrado de seus pés. Em prim eiro lugar, é preciso reconhecer que a arca da aliança era considerada o escabelo do trono invisível de Deus (ver o comentário em Êx 25.10-22). Segundo, o escabelo ou estrado deve ser entendido como parte integral do trono, representando o acesso mais próximo ao rei. Terceiro, a imagem do escabelo tem importância porque é usada para expressar o domínio do rei sobre seus inimigos (ver o comentário em SI 110.1). E, finalmente, adorar diante do estrado é outra form a de expressar a reverência demonstrada pelo ato de prostrar-se aos pés de Deus ou do rei. Na esteia negra de Salm aneser III, o rei israelita Jeú é retratado beijando o chão diante do rei assírio. No Enuma Elish, o tribunal dos deuses beija os pés de M arduque após ter controlado a rebelião e se estabelecido como chefe do panteão. Esse era um ato comum de submissão oferecido a reis e deuses. Segurar os pés era um gesto de auto-humilhação e súplica. Esse gesto ocorre em uma ampla gama de textos acadianos que descrevem fugitivos ou suplicantes segurando os pés do rei para demonstrar sua submissão ou rendição e fazer suas petições.103.12. O riente e O cidente. No hino egípcio a Amom- Rá, a divindade é louvada por ju lgar os culpados. Como resultado de seu discernimento, os transgressores são destinados ao oriente e os justos, ao ocidente.103.20,21. an jos poderosos, exércitos. No antigo Oriente Próximo, o "exército celestial" referia-se à assembléia dos deuses que eram, muitos deles, representados por corpos celestes (planetas ou estrelas). Às vezes a Bíblia usa a expressão para fazer alusão à adoração condenada dessas divindades (ver o comentário em Dt 4.19). Em outros contextos, o termo é usado para descrever a assembléia dos anjos ao redor do trono de Yahw eh (ver o comentário em 2 Cr 18.18). Um terceiro uso aplica-se a anjos rebeldes (talvez em Is 24.21; geralm ente na literatura intertestam entária). E por último, pode referir-se simplesmente às estrelas, sem nenhuma personalidade atrelada a elas (Is 40.26). No
antigo Oriente Próximo, as principais decisões eram todas tom adas no concílio divino. Lá os deuses se consultavam e com partilhavam suas inform ações e opiniões. A im agem fam iliar de um trono celestial cercado por uma assembléia divina é bem freqüente em textos ugaríticos (de forma m ais evidente no épico de Keret), em bora o concílio cananeu seja formado pelos deuses do panteão. Existem exemplos também nas inscrições de Yehim ilk em um prédio do século dez, na cidade de B iblos e na esteia K aratep e de Azitawadda. N o texto acadiano Enuma Elish, a assembléia dos deuses nomeia M arduque como seu líder. Cinqüenta deuses formaram essa assembléia, com sete no concílio interno. N a crença israelita, em lugar dos deuses, figuravam os anjos ou espíritos - os filhos de Deus ou o exército celestial. Yahw eh é retratado com freqüência como o "Senhor dos Exércitos" - o comandante dos exércitos celestiais.104.1-35. comparação com H in o a A ten . Existe uma fam osa composição do rei egípcio Aquenáten, datada do século catorze a.C., que apresenta uma série de semelhanças com o Salmo 104, especialmente em relação aos term os utilizados e ao conteúdo. O hino louva o deus A ten, deus-sol, por todo seu cuidado sobre a criação. E possível encontrar alguns dos m esmos temas e analogias em outros hinos dedicados a outros deuses-sol. Um a vez que o salm ista decidiu usar temas solares em um hino a Yahweh, era inevitável que os paralelos surgissem. O culto ao Sol era um dos desvios sincretistas que caracterizaram o Israel pré-exílico (ver os comentários em 2 Rs 23.11 e Ez8.16) e a adoção de temas relacionados a ele (tanto literários quanto iconográficos) tem sido confirmada (no Antigo Testamento ver também SI 84.11; Hc 3.4; ND 4.2). Não obstante, não há nada de sincretista nas crenças expressas neste salmo. As semelhanças geradas são apenas a retratação de Yahw eh com imagens relacionadas ao Sol.104.2. veste de luz. N a adoração egípcia a Aten, o disco solar era considerado um a divindade. Como resultado, a imagem do deus envolta em veste de luz seria particularm ente apropriada ao culto de Aten, m as não à adoração de outras divindades do Sol. Apesar disso, essa expressão não é usada no hino a Aten. A literatura acadiana fala de deuses celestiais usando a veste do céu, mas essa expressão refere-se a nuvens. Um a outra passagem em que M arduque é vestido, por outra divindade, com brilho e esplender pode ser mais relevante.104.3. vigas dos seus aposentos. N o m undo antigo acreditava-se que os céus tinham diversos níveis e que eram feitos com pisos, paredes e tetos (ver o com entário em Êx 24.10). Em textos m esopotâm icos (Enuma Elish), as águas dos céus eram feitas com me
tade do corpo de Tiamat, quando M arduque a derrotou e estabeleceu o cosmo. Essas águas eram identificadas como o nível mais elevado dos céus, o céu de Anu (Anu era a principal divindade antiga antes de Enlil ou M arduque). Se essa im agem estiver sendo usada neste salm o, Yahw eh é descrito habitando os m ais altos céus, e as vigas correspondem àquelas do teto do andar superior de seu aposento. Nos textos m esopotâmicos, a moradia do deus principal (Marduque) fica nos céus intermediários, m as a descrição da habitação de Anu, nos altos céus, igualmente pressupõe um aposento.104.3. cosm o como tem plo. A tentativa do salmista em expressar o completo controle de Deus sobre toda a criação inclui um santuário ou palácio nos céus com m uitos andares ou câmaras (cf. SI 78.69; ls 66.1). Na visão bíblica e do antigo O riente Próxim o, o cosmo era um tem plo, e este, um m icrocosm o. O cosm o, portanto, pode ser descrito em termos arquitetônicos como se faria na descrição de um templo.104.3. faz das nuvens a sua carruagem. A imagem de um D eus im petuoso, cavalgando pelos céus num a nuvem, era comum (SI 68.4; 104.3; Jr 4.13). Tais descrições de teofania podem ser encontradas nos textos que falam do deus ugarítico Baal. No épico de Aqhat e no ciclo de histórias de Baal e A nat, esse deus é descrito como o "cavaleiro das nuvens". Os atributos de Baal, com andando as tem pestades, soltando relâmpagos e dirigindo-se à guerra como um guerreiro divino, aparecem até mesmo nos textos egípcios de El A m am a. As características de Yahw eh como o Criador, doador da fertilidade e guerreiro divino, têm m uito em comum com esses épicos antigos. Um a das formas em que Ele se apresenta aos israelitas como o único poder divinal é assumindo os títulos e poderes de outros deuses do antigo Oriente Próximo.104.4. ventos e clarões reluzentes como m ensageiros. Tanto no Enum a E lish quanto na Lenda de A nzu, os ventos levam as notícias da vitória da divindade heróica sobre o m onstro do caos. Na prim eira obra, o vento do norte leva o sangue de T iam at com o sinal de sua m orte; na segunda, as penas do derrotado A nzu são carregadas pelo vento até Enlil. Os clarões reluzentes podem ser um a referência ao poder destrutivo da ira de D eus (assim como o vento pode ser destrutivo).104.6-9. águas do caos. Não se trata de uma referência ao dilúvio, m as à narrativa inicial da criação em que a terra seca emergiu, assim como todas as águas foram designadas a seus respectivos lugares. A derrota das forças do caos, personificadas no m ar primitivo, era um dos elem entos m ais comuns da cosmologia do antigo Oriente Próximo (Baal derrotando Yamm nos textos ugaríticos e M arduque derrotando Tiam at no Enuma Elish).
104.9. lim ite das águas. Após ter derrotado Tiamat, M arduque criou os m ares e colocou guardas para vigiar suas águas. O babilónico Épico de Atrahasis cita um ferrolho do mar sob a posse de Ea (Enki). Outros textos falam de fechaduras ou cadeados do mar. Uma das principais tarefas do chefe do panteão era vigiar o mar para que o caos fosse controlado e a ordem prevalecesse. Um dos primeiros reflexos desse tema encontra-se no M ito de N inurta e A zag, em que N inurta constrói um muro de pedras para conter as águas.104.19. Lua marcando estações. Em contraste com o Sol, que delimita os dias ao nascer e ao se por, as fases da lua marcavam os meses que estavam atrelados às estações. Desde o primeiro milênio, os antigos já conheciam bem a diferença entre o ciclo solar (365 + dias) e o ciclo lunar (354 + dias). Eles tam bém tinham uma consciência crescente do cálculo calendário através da seqüência de surgim ento e desaparecimento de estrelas e constelações no firmamento. A Lua continuava sendo o principal determ inante de m eses e estações, apesar de m eses suplementares serem acrescentados, a cada três anos, para reajustar o ano ao ciclo solar. Se apenas cálculos lunares fossem usados, os meses gradualmente se afastariam das datas das festas que marcavam as épocas de plantação e colheita (que eram determinadas pelo Sol).104.26. Leviatã. Ver o comentário em 74.14.104.28. m ão aberta. Em relevos egípcios, que ilustram a adoração a Aten, o disco solar deificado é retratado com inúmeros braços estendidos, cada um com um a m ão na extremidade, simbolizando a entrega de bênçãos e favor.104.32. atividade vulcânica no O riente Próximo. Aspessoas do antigo Oriente Próximo conheciam a atividade dos vulcões, m as tinham poucas chances de observá-los. A Mesopotâmia e o Egito eram culturas fluviais, com poucas montanhas em seu relevo, portanto, atividade vulcânica era algo extremamente difícil de acontecer. Ararate é um dos vulcões ativos no Crescente Fértil (mas não há registro de erupções na história). A lém disso, há diversos deles na Síria e alguns poucos na extremidade sul da Turquia. O Egeu figura meia dúzia: pelo m enos um deles entrou em erupção no período do Antigo Testamento (Santorini, 1650 a.C.).105.13-15. peregrinação patriarcal. Abraão saiu de Ur dos Caldeus, situada no norte ou sul da M esopotâmia (ver com entário em G n 11.28), e viajou até Canaã. Aconteceram alguns incidentes em Gerar e no Egito. Jacó foi para Padã-Arã, no norte da Mesopotâmia, e dali voltou para Canaã. José e toda sua família transferiram -se para o Egito onde se fixaram. O cuidado de Deus por eles ficou evidente em cada situação de suas vidas.
105.18. correntes e ferros. A s correntes em volta dos tornozelos, prendendo os pés, são bastante claras. Visto que o outro instrumento mencionado, no versículo, se encontrava ao redor do pescoço, é provável que seja uma coleira de ferro. Às vezes esses ferros eram usados para prender um prisioneiro ao outro. Inscrições assírias dos séculos nono e oitavo ilustram cativos sendo transportados ou trabalhando com ju gos de m adeira ao redor do pescoço.105.23. terra de Cam . Esse é um nom e alternativo para Egito, onde alguns dos descendentes de Cam, filho de Noé, se estabeleceram.105.29-36. pragas. A respeito das pragas, ver os comentários em Êxodo 7-11.105.39. nuvem . Esta é um a referência às colunas de nuvem e de fogo que acompanharam os israelitas no deserto. Para mais informações, ver o comentário em Êxodo 13.21, 22.105.40,41 . codom izes, m aná, água. Para informações relacionadas a esses atos miraculosos da provisão divina, ver os comentários em Êxodo 16; 17.106.7. m ar V erm elh o. Para inform ações adicionais, ver os comentários em Êxodo 14; 15.106.15. doença terrível. Ver Números 11.33. Não há informações disponíveis sobre a natureza dessa doença. Ver o comentário em Números 25.8.106.17. Datã e A birão. Ver os comentários na última parte de Números 16.106.19. H orebe. H orebe é um outro nom e dado ao monte Sinai que, provavelm ente, está localizado na parte sul da península do Sinai. Para m ais detalhes, ver o comentário em Êxodo 19.1, 2.106.19,20. bezerro/boi. Ver os comentários em Êxodo 32.106.28. Baal-Peor. Esta é uma referência ao incidente em que os israelitas se envolveram com as mulheres de Moabe. Ver Números 25 e os comentários ali.106.33. palavras duras de M oisés. O pecado de Moisés aconteceu durante o segundo incidente em que brotou água da rocha. V er Núm eros 20 e os com entários ali.106.37. sacrificaram aos dem ônios. Essa palavra para dem ônio é usada apenas m ais um a vez no Antigo Testamento, em Deuteronômio 32.17; mas é um tipo de espírito/demônio bastante conhecido na Mesopotâm ia, onde o term o (shedu) descreve um guardião protetor da saúde e do bem-estar do indivíduo. Não se trata do nom e de um a divindade, m as de um a categoria de seres (como querubim no Antigo Testamento). U m shedu podia destruir a saúde de alguém da mesma forma que podia protegê-la; por isso, era recom endável oferecer sacrifícios que o aplacasse. Esses seres são descritos como criaturas aladas (semelhantes aos querubins, ver comentários em G n 3.24 e Êx 25.18-20), m as não são representados na forma de
ídolos (como os deuses) por meio dos quais recebiam adoração (ver o com entário em D t 4 de com o isso funcionava). Para informações a respeito do sacrifício de crianças, ver os com entários em G ênesis 22.1 e Levítico 18.21.106.38. ídolos de Canaã. Entre os deuses dos cananeus estavam incluídos El, Baal (Hadad), Dagom e Anat.
Salmos 107-150 Quinto livro107.10. exilados em prisões. Embora m uitos dos deportados para a Babilônia não fossem mantidos presos, alguns eram prisioneiros políticos. O s fossos eram usados como prisões em grande parte do antigo Oriente Próxim o. A idéia m oderna de prisão, onde os detentos são reabilitados como bons cidadãos à sociedade, era totalmente estranha ao m undo antigo. Os prisioneiros, fossem eles devedores, criminosos à espera de julgam ento ou presos políticos, eram todos mantidos em confinamento.107.16. portas de bronze, trancas de ferro. O historiador grego Heródoto descreveu a Babilônia com "cem portas, no circuito completo dos m uros, todas de bronze com batentes e vergas de bronze". M uitas dessas enormes portas do período assírio foram desenterradas em Balawat, dando uma idéia de como os muros babilónicos teriam sido. As portas eram trancadas por m eio de barras que cruzavam a entrada, e o ferro, obviamente, seria o material m ais difícil de quebrar (ver o comentário em Dt 33.25).107.18. portas da morte. Acreditava-se que o mundo inferior (Sheol) fosse como uma cidade terrena onde havia casas e até m uros (com o objetivo primordial de m anter seus habitantes presos ali). No texto A Descida de ístar, esse lugar é retratado possuindo um complexo de portões com sete portas e porteiros, em cada um a delas, controlando o acesso.107.23-30. tem pestades no mar. O hino babilónico a Sham ás possui um trecho em que ele é descrito resgatando mercadores (e suas mercadorias) de tempestades no mar. Porém , não fala desse deus acalmando as ondas ou controlando a tempestade, apenas da proteção dada ao viajante, ao salvar sua vida.107.29. serenou as ondas. O m ar era a imagem mais poderosa do caos incontrolável conhecida no mundo antigo. Na temática do combate a desordem, presente nas m itologias e tam bém no Antigo Testam ento, as forças cósmicas do caos eram representadas freqüentemente pelo mar. Às vezes, a criação é descrita sobrepujando essas forças e trazendo ordem e controle ao cosmo. N esse contexto, não é o passado primitivo que está em pauta, m as a habilidade de Yahw eh em (novamente) controlar o m ar e restaurar a ordem em benefício desses mercadores. A idéia de transferir atos cós
m icos para narrativas históricas tam bém ocorre em incidentes como a passagem dos israelitas pelo mar Verm elho, quando as águas foram subordinadas e controladas, obedecendo ao comando de Deus. Não se deve ignorar que esse foi um elemento também significativo no episódio em que Jesus acalma o mar. 107.33-35. m undo de cabeça para baixo. Na temática do mundo de cabeça para baixo, tudo que é considerado seguro e confiável é colocado em perigo. O conceito pode ser aplicado à esfera cósmica (sol se escurecendo), à natureza (montanhas sendo aplainadas), à política (impérios depostos), à sociedade (pobres tornando-se ricos) e aos animais (o leão e o cordeiro juntos). Essa discussão é abordada, com freqüência, na literatura profética relacionada ao Dia do Senhor e ao julgam ento vindouro. O épico babilónico de Irra apresenta algumas semelhanças ao descrever um a inversão na criação da ordem, por Marduque, a partir do caos primitivo.108.2. despertar a alvorada. A alvorada (sahar) muitas vezes é personificada no Antigo Testam ento e está presente em inscrições fenícias e ugaríticas, sendo também mencionada em Emar. Em acadiano, é personificada com o nom e de Sheru. Não há referência a qualquer desses papéis na m itologia nem a rituais cujo objetivo fosse despertar a alvorada.108.7. S iquém , vale de Sucote. Siquém tem sido identificada com Tell Balatah, a leste da atual Nablus e 56 quilômetros ao norte de Jerusalém. Talvez, devido à sua proximidade a dois picos, m onte Gerizim e monte Ebal, Siquém tinha um a longa tradição como lugar sagrado. E mencionada em muitas fontes antigas, inclusive nos registros egípcios de Sen-Usert III (século dezenove a.C.) e nos tabletes de El A m am a (século catorze a.C.). Há evidências de ocupação quase contínua ao longo do segundo e prim eiro m ilênios, demonstrando a importância dessa estratégica cidade na rede de estradas que cruzava o norte, desde o Egito, passando por Berseba e Jerusalém, até Damasco. Foi a prim eira parada de A brão em Canaã. O solo fértil dessa área favorecia a agricultura e as boas pastagens. A cidade de Sucote é localizada a leste do rio Jordão, perto do ponto onde ele se liga ao rio Jaboque (Jz 8.5). Um a série de arqueólogos identificou essa área com a região de Tell Deir 7Alia, com base em registros egípcios (a Esteia de Sisaque) e vestígios culturais que datam desde o Calcolítico até a Idade do Ferro II. O nom e, que significa "cabanas", seria apropriado para as moradias provisórias da população m ista dessa região, formada por pastores nômades e mineradores (evidência de fundição foi encontrada nos sedimentos da Idade do Ferro I). Fica localizada no vale a oeste das m ontanhas de Gileade, à m edida que as terras descendem até o Jordão.
108.8. capacete, cetro. O termo traduzido como "capacete" não é usado em nenhum a outra passagem reportando à armadura ou equipamento para a cabeça. O texto hebraico refere-se a uma "fortaleza para minha cabeça" ou talvez "m inha principal fortaleza". O cetro é constantemente identificado como um bastão cerimonial esculpido que às vezes é retratado na mão do rei, como símbolo de sua posição. É mencionado também em Gênesis 49.10 e Números 21.18.108.9. M oabe como pia. O utensílio a que o salmo se refere geralmente era usado para cozinhar, m as também era um pote/pia de múltiplos usos e de diversos tamanhos. As pias geralmente eram usadas para ablu- ções ou banhos rituais, ocorrendo em listas de presentes finos nos tabletes de A m am a. A imagem retratada aqui é obscura.108.9. sandália atirada em Edom. As sandálias eram um calçado comum no antigo Oriente Próximo, mas tam bém eram um item simbólico do vestuário. Talvez isso fosse devido ao fato de que a terra era adquirida com base na área triangular que o comprador era capaz de pisar em uma hora, um dia, uma semana ou um m ês (1 Rs 21.16, 17). A terra era d ividida em triângulos e um a m arca de nível era construída com ped ras, servindo com o m arco p ara as d ivisas (Dt19.14). Visto que a terra era medida com os passos de alguém calçado em sandálias, estas passavam a ser a escritura m óvel daquele lugar. Uma viúva, ao retirar esse calçado de seu tutor, removia dele o direito de administrar a terra do parente falecido. Transferências de território, em textos de Nuzi, também envolviam a substituição da pisada do antigo proprietário pela do novo.108.10. cidade fortificad a. V isto que a "cidade fortificada" é apresentada em paralelo a Edom, somos inclinados a pensar em sua principal cidade fortificada, Bozrah, cujo nome deriva da m esma raiz da palavra usada aqui para essa expressão. Bozrah era a capital do antigo Edom e tem sido identificada com Buseirah, na região norte do país. C ontrolava um trecho da estrada do rei e ficava relativamente próxim a às minas de cobre descobertas oito quilômetros a sudoeste, em W adi Dana. As escavações demonstram sedimentos do século sétimo ou sexto, com as maiores e mais bem fortificadas ocupações da área.108.11. D eus saindo com os exércitos. N a temática do guerreiro divino, a divindade luta contra as divindades do inimigo, derrotando-as nas batalhas travadas. N a Assíria, Nergal é o rei da batalha e Istar é considerada a deusa da guerra. O deus cananeu, Baal, e o babilónico, M arduque, tam bém são guerreiros divinos. N a m aioria das situações, faziam -se orações e consultavam-se presságios e oráculos para assegurar a presença da divindade. Estandartes ou estátuas do
deus geralmente eram carregados como símbolos de sua presença. Os reis assírios, dos séculos nono e oitavo, muitas vezes faziam menção ao símbolo da divindade que ia à sua frente. A arca, símbolo de Yahweh, representava a presença do Senhor abrindo o caminho à frente dos israelitas e conduzindo o exército até Canaã. Esse conceito não é m uito diferente da crença assíria de que os deuses concediam poderes às armas do rei e lutavam adiante dele ou ao seu lado. Quase todo exército, no antigo Oriente Próxim o, possuía sacerdotes e adivinhos (como confirm am os textos de M ari), profetas (2 Rs 3) e objetos sagrados portáteis (Anais Assírios de Salm aneser III [858-824 a.C.]). Desse m odo, o(s) deus(es) podia ser consultado, no campo de batalha, ou invocado para conduzir os soldados à vitória. O salm ista aqui está invocando a ajuda de Deus na batalha contra seus inimigos.108.13. p isar os adversários. Os reis egípcios do início do terceiro milênio a.C. são retratados pisando sobre os cadáveres de inim igos derrotados. Por exemplo, Narmer, possivelmente o faraó que unificou o Egito, é visto com um cetro esm agando inim igos e pisando neles. Igualm ente, os reis sum érios de Lagash são ilustrados marchando sobre os corpos de seus adversários. A tradição de pisar o inimigo continuou até o primeiro milênio na Assíria e na Babilônia.109.6-15. relação entre im precação e feitiço . Este salmo é conhecido como "im precatório" porque roga maldições (imprecações) ao inimigo. N o antigo Oriente P ró x im o, ta is m ald içõ es eram in ten sifica d a s ou ativadas por rituais mágicos e feitiços; m as esse tipo de prática seria inaceitável no sistema bíblico. Os salm os imprecatórios podem ser entendidos tendo como pano de fundo o princípio da retribuição (ver as notas introdutórias sobre conceitos básicos dos Salmos). V isto que a justiça de Deus exigia castigo proporcional à gravidade do pecado, o salmista está rogando as maldições que seriam apropriadas para que a justiça fosse m antida. São da m esm a m agnitude das m aldições que Deus profere contra seus inimigos (ver Is 13.15, 16). A linguagem vigorosa dessa passagem contém aspectos de um a fórmula de maldição semítica oriental que espera na divindade para executar vingança contra as nações inim igas. Um exem plo deste tipo encontra-se nos tratados de vassalo do rei assírio Esar- Hadom que invoca uma hoste de deuses para prejudicar todo aquele que rom pesse o tratado. Também é empregada, com o acréscimo dos atos rituais de execração, na inscrição aramaica de Sefire: "A ssim como este arco e estas flechas são quebrados, que assim também Inurta e H adade quebrem o arco de M attel e de seus nobres". O salmista indiretamente amaldiçoa através das im precações, invocando Deus a "rir deles" em seus esforços insignificantes de ameaçar Isra
el. Ele não faz uso de encantamentos mágicos ou rituais de execração contra seus inim igos, ao contrário, confia em D eus para tornar essas pessoas impotentes - quebrando seu poder e suas arm as de destruição (ver Jr 49.35; 51.56; Ez 39.3).109.7. orações que condenam . A partir do contexto, é possível concluir que se refere a um a oração de petição em uma situação de julgamento. Tais orações podiam ser acompanhadas de juram entos de inocência (como a de Jó em Jó 31). Se a pessoa não fosse de fato inocente tal juram ento seria a base para o castigo divino.109.24. je ju m . H á poucas evidências de prática do jejum no antigo Oriente Próximo fora da Bíblia. Geralm ente era feito em contextos de luto. N o Antigo Testamento, o uso religioso do jejum está freqüentemente relacionado a um pedido dirigido a Deus. O princípio é que a importância do pedido leva o indivíduo a preocupar-se tanto com sua condição espiritual que as necessidades físicas são relegadas a segundo plano. Nesse aspecto, o ato de jejuar serve como um processo de purificação e humilhação diante de Deus (SI 69.10).
110.1. senta-te à m inha direita. Um guerreiro equipado com todo seu armamento seguraria a arma na mão direita e o escudo, na esquerda. O rei, ao colocar uma pessoa à sua direita para defendê-lo, afirm ava sua
confiança nela; sendo assim, era um a posição de honra. Em contraste, quando o Senhor se coloca à direita
de alguém , com o no Salm o 109.31, Ele está num a posição de oferecer defesa com seu escudo. Uma está
tua do faraó Horemhab (século catorze a.C.) o retrata assentado à direita do deus Hórus.110.1. in im igos como estrado. O rei assírio Tukulti- Ninurta I (século treze) "coloca seu pé no pescoço" de reis derrotados e (simbolicamente) nas nações dominadas, demonstrando assim que se tom aram o estra
do de seus pés. Essa im agem é ilustrada de form a clara na pintura de um túmulo do século quinze a .C , em que Tutm és IV é retratado assentado no colo de sua mãe (?), com os pés sobre uma caixa repleta de inim igos am ontoados num a pilha. Para m ais informações, ver o comentário em 108.13.
110.4. ordem sacerdotal de M elquisedeque. Melqui- sedeque era o sacerdote-rei de Jerusalém no tempo de Abraão (ver os comentários em G n 14). Como resultado, Jerusalém teve um a história de reis exercendo algumas das prerrogativas do ofício sacerdotal. Para evidência dessa prática na família de Davi, ver o com entário em 2 Sam uel 8.18. Não era raro, no mundo antigo, que o rei também ocupasse a mais elevada posição como sacerdote (compare com a posição do presidente da república como comandante das forças armadas).
114.2. Ju dá com o santuário . Essa expressão reflete um a im agem do tem plo com o Estado. O trono de Deus ficava neste lugar, e o do rei, em seu palácio. Ambos governavam a nação a partir de seus respectivos tronos. Esse conceito remonta aos períodos mais antigos da história, quando os templos serviam como centros administrativos do Estado. Dessa forma, pode- se ver que há um paralelo entre as duas orações deste versículo em que o santuário é a figura central do "dom ínio" (remado).114.4. os m ontes saltaram . Na lenda ugarítica que relata a construção do palácio de Baal, sua entronização é precedida por sua voz de trovão que faz os lugares altos da terra pularem ou tremerem. Igualmente, em um hino a M arduque, a voz de trovão dessa divindade faz a terra trem er. O verbo hebraico traduzido como "saltar" é usado freqüentemente para descrever um movimento travesso ou saltitante, porém, é mais provável a aparência ondulatória de um rebanho de ovelhas ou bodes movendo-se por um caminho (ver o comentário em 2 Sm 6.14-21). Essa seria uma imagem apropriada para descrever o deslocam ento da terra num terremoto.115.4-7. ideologia do ídolo. Os ídolos eram feitos em grande variedade de formas e tam anhos, no antigo Oriente Próximo. Eram esculpidos em pedra ou m adeira e fundidos e moldados em ouro, prata e bronze. Com uma aparência basicamente humana (exceto os deuses do Egito cujas características hum anas eram m escladas às de animais), esses deuses tinham porte, vestimentas e corte de cabelo distintivos, até mesmo padronizados. No antigo O riente Próxim o, era nas imagens que as deidades se faziam presente de forma especial, a ponto da estátua de culto tom ar-se o próprio deus (quando os adoradores eram assim agraciados), embora essa não fosse a única manifestação da divindade. Certos rituais e cerimônias eram realizados para dar vida ao ídolo. Como resultado dessa ligação, feitiços, encantamentos e outros atos mágicos podiam ser executados diante da im agem a fim de ameaçar, intimidar ou obrigá-la a fazer algo. Em contraste, outros ritos relacionados à imagem tinham como objetivo ajudar ou cuidar do deus. Assim, as imagens ou ídolos representavam um a visão de mundo, um conceito de divindade, incom patível à form a como Yahw eh se revelara.A imagem não era a deidade, e sim a sua habitação, por meio da qual manifestava sua presença e vontade. Arqueólogos encontraram poucas imagens do tam anho natural, como o texto bíblico descreve, mas existem versões delas que permitem um conhecimento acurado de detalhes. As imagens de divindades na M esopotâmia eram alimentadas, vestidas e até m esmo lavadas diariamente. Oferendas de comida eram
levadas diante do ídolo todos os dias (alimento que sem dúvida era comido pelos funcionários do tem plo). Alguns funcionários eram responsáveis por vestir e despir a estátua, e outros tinham a tarefa de lavá- la e transportá-la durante as celebrações e festas.116.13. cálice da salvação. A relação com o pagamento de votos no templo sugere um a libação sendo derramada como testemunho da bondade e proteção de Deus. Essas libações eram um a form a com um de ações de graças no m undo antigo, como ilustram relevos egípcios, fenícios e m esopotâmicos. Elas representavam a libertação (salvação) promovida pela divindade e também liberavam a pessoa do comprom isso do voto.116.14. cum prim ento de votos. Os votos eram acordos voluntários e condicionais feitos com a divindade; eram comuns na maioria das culturas do antigo Oriente Próxim o, inclusive entre os hititas, ugaríticos, mesopotâmicos e, com menos freqüência, entre os egípcios. No mundo antigo, o contexto m ais habitual para se fazer um a promessa era um pedido dirigido à divindade. A condição geralmente envolvia a proteção ou provisão de Deus, enquanto que cada voto quase sempre era uma dádiva a ser entregue à deidade. A oferenda normalmente era na forma de um sacrifício; no entanto, outros tipos de presentes também podiam ser entregues ao santuário ou aos sacerdotes. O cumprimento de um voto era feito no santuário como um ato público. Na literatura ugarítica, o rei Keret fez um voto em que pediu um a esposa que pudesse lhe dar filhos. Em troca, ele ofereceu ouro e prata equivalente ao peso da noiva.118.22. pedra re jeitad a pelos construtores. O estilo arquitetônico israelita da Idade do Ferro fazia uso crescente de alvenaria de pedra lavrada em detrimento das construções feitas com pedra bruta e blocos irregulares de períodos anteriores. A fim de garantir estabilidade e unir duas paredes adjacentes, um bloco de pedra primorosamente talhado era inserido entre as paredes tom ando-se a pedra de esquina. Era uma pedra m aior do que as outras normalmente usadas e sua inserção exigia esforço especial ou rituais. Sua superfície larga e lisa era um espaço natural para a inscrição de frases religiosas, o nome do arquiteto ou o rei responsável pela obra e a data da construção. É possível que a pedra de esquina tam bém fosse a pedra fundamental ou angular. Para informações sobre esta última, ver a próxima nota e os comentários em Esdras 3.3 e 3.10.118.22. pedra angular. A pedra de esquina, ou melhor, a pedra fundamental era sempre importante na construção e restauração de templos. U m dos relatos mais detalhados na literatura do antigo Oriente Próximo descreve a construção de um templo para Ningirsu, feita por Gudea, por volta de 2000 a .C . A cerimônia
do lançamento da pedra fundamental demonstra sua centralidade em todo o processo de edificação.118.27. cortejo festivo. Para representar a abundância e exuberância da terra, os israelitas foram instruídos a celebrar a Festa dos tabernáculos, carregando ram os na procissão e decorando suas cabanas com frutas (cidra) bem como com folhagens e galhos de salgueiros e palm eiras. A ocasião festiva provavelmente incluía danças e cortejos em que feixes de galhos eram carregados. Desse m odo, o povo reconhecia a abundância propiciada por D eus e celebrava em comunidade o cumprimento visível da aliança. Textos do antigo Oriente Próximo também descrevem os itinerários de procissões sacerdotais; estas diferiam da descrita aqui por carregarem imagens de deuses, juntamente com vários atavios divinos, de uma cidade a outra dentro do reino. Com isso, a divindade podia visitar santuários, fazer viagens de inspeções pelas propriedades que pertenciam à comunidade do templo e participar de festivais anuais fora da capital. Esses cortejos sagrados levavam as imagens e símbolos dos deuses pelas ruas das cidades até seus santuários, onde sacrifícios, danças sagradas e outras atividades cultuais eram realizados.119.1. acróstico. A divisão, a cada oito versículos, destacada em quase todas as traduções representa as letras consecutivas do alfabeto hebraico. Cada verso, no grupo de oito, inicia-se com a m esma letra hebraica, formando o que é conhecido como um acróstico. Para m ais inform ações, ver a nota introdutória sobre os conceitos básicos dos Salmos.119.72. m ilhares de peças de prata e ouro. Essa é a maneira pela qual o salmista expressa um a fortuna. U m salário m édio era equivalente a dez siclos de prata por ano.119.83. v asilh a in ú til (odre na fum aça). Em bora o termo usado aqui, para descrever um odre, em outro contexto refira-se a um a vasilha para carregar vinho (1 Sm 16.20), não se trata do recipiente usado para sua fermentação, mas sim de um utensílio para carregar diversos líquidos (por exemplo leite em Jz 4.19). O cognato acadiano (nadu) é usado para cantil (geralmente feito de pele de ovelha) e é bem possível que os gibeonitas tenham usado essas vasilhas com esse objetivo (Js 9 .4 ,13). A palavra traduzida como "fum aça" também é incom um e poderia referir-se a cinza. Em Gênesis 19.28, ela enche o ar após a destruição de Sodoma e Gomorra e é descrita saindo de uma fornalha. Em Salmo 148.8, esse termo é colocado ao lado da neve em um a série de forças destrutivas da natureza (nesse caso poderia referir-se às cinzas expelidas por um vulcão ver 104.32). Neve e cinza (palavra diferente) também são comparadas no Salmo 147.16. Aqui a m etáfora que se encaixaria ao contexto é a de uma
espera sem resposta aparente. Colocar um odre na fumaça ou nas cinzas refletiria uma situação em que um nível baixo de calor era necessário por um período longo de tempo, com o na produção do iogurte. Em bora a m anteiga fosse um laticínio m ais comum (ver com entário em Is 7.15), o iogurte tam bém era conhecido na Antigüidade.120.4. brasas incandescentes de sândalo. O tronco da árvore do sândalo produzia madeira dura que servia como excelente carvão.120.5. M eseque, Quedar. Meseque, um reinado central da Anatólia, foi conquistado por Sargão II, rei da Assíria, e invadido pelos cimérios do sul da Rússia. A credita-se que foi incorporado pelo controle lídio após o encerramento das guerras cimérias. Eram chamados pelos assírios de mushku e por Heródoto, de moscos. No final do oitavo século, o rei de Mushku era Mita, denominado pelos gregos de M idas, o rei com o toque dourado. Seu túmulo foi identificado em Gordion e escavado. Quedar, o segundo filho de Ismael (Gn 25.13), era o nom e de um a tribo que floresceu do oitavo até o quarto século a .C , a tribo é descrita em textos assírios e babilónicos como Qadar. Os nomes próprios dos quedaritas parecem estar relacionados à ramificação sul das línguas semitas. Esses povos tribais estavam estabelecidos na península arábica e com freqüência dirigiam -se ao Levante, passando pelo Sinai. Trabalhav am com o criad ores de ovelhas e caravaneiros pelo menos até o período helenista. Visto que esses lugares encontram-se em direções opostas a Israel, provavelmente são citados como referentes a lugares remotos e bárbaros.121.1. socorro nos m ontes. A NVI, de m aneira bastante apropriada, capta o sentido por trás da expressão idiomática de que os m ontes (montanhas) são um lugar onde se precisa de ajuda. Como um peregrino, o salmista se sente intimidado pelas montanhas (por causa do rigor da caminhada íngreme e dos perigos que podiam ficar à espreita na form a de ladrões ou animais ferozes) e busca a proteção divina para sua viagem .121.3,4. dormir. N a literatura mesopotâmica, um deus que dorme não responde as orações da pessoa que está clamando por socorro. Afirma-se que Enlil ficava acordado mesmo quando parecia estar dormindo. Em um a oração babilónica, o adorador se pergunta por quanto tempo a divindade permanecerá adormecida.121.6. m al causado p elo S o l e p ela Lua. Qualquer pessoa que já viajou pelo Oriente M édio sabe os riscos da insolação e da desidratação. M uitas das estradas até Jerusalém expõem o viajante a um calor opressivo. Assim como a exposição demasiada ao Sol pode ser perigosa, no mundo antigo acreditava-se que a exposição demasiada à Lua tam bém podia representar um a
ameaça à saúde. Textos de diagnósticos m édicos da Babilônia e Assíria, do primeiro m ilênio, identificam diversos sintomas como resultado da "m ão de Sin" (Sin era o deus-lua): um em que o paciente range os dentes e tem tremores nos pés e nas m ãos e outro que apresenta todos as características de epilepsia. Palavras da língua portuguesa como "lunático" demonstram que essa crença persistiu até épocas relativam ente recentes.122.5. tribunais de justiça. Como a m aior autoridade judicial da terra, o rei periodicamente tinha audiências para ouvir os casos em que apelos haviam sido feitos. Um tribunal era montado especificamente para esse propósito no salão de audiências do palácio ou na porta principal da cidade. Nas escavações de Dã, uma área como essa foi descoberta na entrada da porta da cidade, onde o rei provavelm ente ficava assentado sobre um trono coberto a fim de dar a sentença.124.7. arm adilha do caçador. A imagem bastante fam iliar de caçadores apanhando pássaros em redes e laços pode ser a origem desta m etáfora (ver Js 23.13; SI 69.22; Is 8.14). Existem inúmeros exemplos dessa atividade em pinturas de túm ulos egípcios e tam bém serve de base para a suméria Esteia dos Abutres (ver o comentário em Ez 12.13). Havia uma série de técnicas diferentes usadas no aprisionamento desses animais. Em bora seja possível que os caçadores usassem fundas, atirassem paus (como na pintura da tum ba de Beni Hasan) ou um a flecha para derrubar uma única ave, na m aioria das vezes o texto b íblico e a arte antiga ilustram grandes bandos sendo capturadas em redes ou gaiolas. Por exemplo, a tumba de Ka-Gemmi, em Saqqarah (6a Dinastia do Egito) retrata um caçador usando um a rede. Aparentemente, alguns deles também usavam de artimanhas em suas armadilhas para atrair os pássaros com com ida, servindo como isca (confirmado em Eclesiástico 11.30).126.4. ribeiros no deserto (ou N eguebe). O s uádis da Palestina são semelhantes a rios que transbordam na estação chuvosa. Porém , no verão, precisam ente o período em que a necessidade de água é maior, eles estão secos ou têm apenas um fio de água correndo em seu leito. N a região árida do deserto ao sul de Jerusalém, as cheias periódicas desses uádis traziam alívio e vida.129.6. capim do terraço. Em Israel, a parte superior do telhado das moradias comuns era construída com vigas cruzando as paredes, intercaladas com junco e capim. Todo o telhado era revestido com barro a fim de preencher as lacunas e torná-lo de certa form a im perm eável. Q ualquer sem ente restante, presente no capim ou no barro, podia brotar por algum tempo, m as logo secava por não ter raízes profundas.132.6. Efrata, Jaar. Efrata é identificada em diversas passagens como o território natal de Davi (Rt 4.11; M q
5.2). O s "cam pos de Jaar" geralmente são considerados Quiriate-Jearim, onde a arca permaneceu por vinte anos. Ver o comentário em 1 Sam uel 6.21.132.7. adoração diante do estrado. Em primeiro lugar, é preciso reconhecer que a arca da aliança era considerada o escabelo do trono invisível de Deus (ver o comentário em Ê x 25.10-22). Segundo, o escabelo ou estrado deve ser entendido como parte integral do trono, representando o acesso m ais próximo ao rei. Terceiro, a imagem do escabelo tem importância porque é usada para expressar o dom ínio do rei sobre seus inimigos (ver o comentário em SI 110.1). E, finalmente, adorar diante do estrado é um a outra form a de expressar a reverência demonstrada pelo ato de prostrar-se aos pés de Deus ou do rei. Na esteia negra de Salm aneser III, o rei israelita Jeú é retratado beijando o chão diante do rei assírio. No Enuma Elish, o tribunal dos deuses beija os pés de M arduque após ter controlado a rebelião e se estabelecido como chefe do panteão. Esse era um ato comum de submissão oferecido a reis e deuses. Segurar os pés era um gesto de auto-humilhação e súplica. Esse procedimento aparece em um a ampla gama de textos acadianos que descrevem fugitivos ou suplicantes segurando os pés do rei para demonstrar sua submissão ou rendição e fazer suas petições.132.17. poder (chifre) de D avi. Ver o comentário sobre "ch ifre" na nota introdutória sobre as principais metáforas.132.17. lu z do m eu un gid o. V er o com entário em18.28.133.2. óleo sobre a cabeça. N o mundo antigo, os convidados de um banquete muitas vezes eram recebidos, por um anfitrião generoso, com óleos finos com os quais tinham suas frontes ungidas. Além de dar-lhes uma aparência brilhante, acrescentava ao ambiente e à sua pessoa um odor agradável. Por exem plo, um texto assírio do reinado de Esar-Hadom descreve como ele "ench arcou a fronte" de seus convidados num banquete real com os m ais "seletos óleos". Estes preservavam o aspecto da pessoa no clim a quente do Oriente M édio. O texto egípcio A Canção do Harpista e o épico mesopotâmico de Gilgam és descrevem indivíduos vestidos em linho fino e com m irra espalhada na cabeça. A unção de sacerdotes era feita com óleo de m elhor qualidade e simbolizava as dádivas de Deus ao povo e as responsabilidades agora depositadas sobre os líderes através dessa cerim ônia. N a prática israelita, a unção era um sinal de eleição e com freqüência estava relacionada à capacitação do Espírito. Ver o comentário em Levítico 8.1-9.133.3. orvalho do Hermom. A palavra traduzida como "orvalho" tam bém é usada para descrever chuvisco ou
garoa. O H erm om obviam en te tin ha um idad e em abundância por causa dos riachos que por ali passavam, um símbolo de sua vida e exuberância. Sião aqui é citado como o beneficiário dessa m esm a abundância.134.1. serviço noturno no tem plo. O verbo traduzido pela NVI como "servem " tem a ver com assum ir o posto ou o lugar de alguém (mudança de turno). O termo não necessariam ente se refere a algum tipo de ritual sendo realizado, mas simplesmente aos sacerdotes designados para fazer a guarda noturna. O templo era vigiado vinte e quatro horas por dia a fim de que sua santidade não fosse violada nem seus objetos sagrados fossem roubados. A té mesmo uma tarefa tão "m undana" permitia à pessoa a oportunidade de adorar. Por outro lado, rituais noturnos não podem ser totalmente descartados. Eles eram bastante comuns n o antigo O riente P róxim o, m as n esse caso eram centrados no culto ao deus-lua e outras divindades astrais. Em um a oração assíria ao deus-lua que era recitada na celebração da Lua Nova, o adorador fala de espalhar um a oferta de incenso puro da noite. Curiosamente, o hino assírio é um shuilla, uma composição de "levantar as m ãos".
135.7. nu v ens desde os co n fin s da terra. N a obra suméria intitulada Enki e a Ordem do M undo, Ishkur, o deus do clima, abre as portas do céu. Essa era a maneira que os mesopotâmicos entendiam a origem das nuvens. Na cosm ologia desse povo, os "confins da terra" referem -se ao horizonte, onde o Sol nascia e se punha, acreditando-se que as portas do céu (por onde o Sol entrava e saía) estavam localizadas ali.135.7. d epósitos de vento. Os cananeus e os babilónicos atribuíam as m anifestações de tempestades a Adade, o deus do vento e da tempestade. Entretanto, Jerem ias afirmava que Yahw eh era o único responsável pelos fenômenos atmosféricos e climáticos, segundo a im agem D ele arm azenando depósitos chuva, saraiva e neve, que eram colocadas em m ovimento pelo vento, presumivelmente instigado por seu sopro (ver tam bém D t 28.12; SI 33.7; Jó 38.2). A palavra traduzida como "depósitos" pode ser usada para referir-se a casas de tesouro onde eram guardados objetos preciosos, bem como armas reais. Granizo, neve, vento, trovão e relâmpagos com freqüência são vistos como armas que Deus usa para derrotar seus inimigos. Igualm ente, esses reservatórios podiam servir como armazéns de cevada, tâmaras, cereais ou dízimos em geral. Do m esm o m odo, Deus recorre aos "produtos" em seu estoque, conforme se faz necessário. Os depósitos cósmicos não eram uma figura comum no antigo O riente Próximo.135.11. Seom e Ogue. Essas batalhas estão registradas em Números 21. Seom é mencionado apenas em re
gistros bíblicos e a arqueologia tem poucas informações a oferecer em relação à sua capital ou ao seu reinado. Também não existem dados extrabíblicos em fontes históricas ou na arqueologia que tragam alguma luz sobre Ogue.135.15-17. ideologia do íd olo. Ver o comentário em115.4-7.136.6. terra estendida sobre os m ares. Na concepção babilónica do cosmo, os fundamentos da terra se firmavam sobre o que é chamado de apsu. Trata-se de uma região de águas primitivas sob a jurisdição da importante divindade Eriki/Ea. Do ponto de vista da geografia física, essa área representa os lençóis de água que sobem à superfície na form a de, por exemplo, pântanos e fontes, bem como às associadas aos mares e rios cósm icos. Em Enum a Elish, um dos nom es de M ar- duque, Agilima, o identifica como aquele que construiu a terra sobre as águas e estabeleceu as regiões superiores. Para informações adicionais ver os comentários em Jó 38.4-6, e sobre a criação, consulte as notas introdutórias sobre os conceitos básicos dos Salmos.136.19,20. Seom e Ogue. Ver o comentário em 135.11.137.2. salgueiros. O salgueiro é um a árvore do tipo chorão que se desenvolve m elhor à beira de riachos e rio s (com o p or exem p lo o T ig re ou E u frates na Babilônia). O salgueiro do Eufrates era nativo da região e tinha galhos baixos, que chegavam quase até o chão. Para inform ações a respeito de harpas, ver o comentário em 33.2.137.7. ação dos edom itas. O tema principal do Livro de Obadias é um a acusação aos crimes de Edom con
tra Judá. Essa nação, localizada a sudeste do mar M orto, tem um a história controversa para com os israelitas. Bastante parecido com o relacionamento entre Esaú e Jacó, fundadores dessas respectivas nações, às vezes Edom era visto como um amigo e aliado (Dt 2.2-6; 2 Rs3.9) e outras, como um inimigo terrível (Nm 20.14-21;
A m 1.11-15). D urante o período dos im périos neo- assírio e neobabilônico (734-586), Edom havia sido uma nação vassala. É provável que a queixa de O badias contra essa nação, bem como essa do salmista, estejam relacionadas à sua participação na destruição final de Jeru salém e no exílio de seu povo, prom ovidos por Nabucodonosor, rei da Babilônia em 587/6 a.C.. Infelizmente, porém, os registros históricos não são claros quanto ao papel preciso que Edom desem penhou.139.2-4. onisciência divina no antigo O riente Próxim o. N ão era raro no m undo antigo supor que os deuses ou reis fossem oniscientes ou que não houvesse limites ao seu conhecimento. Assim, Nabonido afirma ser sábio, onisciente e capaz de ver coisas ocultas (ver 2 Sm 14.19). M as na m aioria dos casos, essas afirmações não passavam de autopromoção. Em bora
não haja razão para ver este salmo à luz dessa inform ação, deve-se reconhecer que o contexto é judicial e não se trata de um a abstração teológica. Yahw eh está sendo abordado como o ju iz que tem em mãos todas as informações para ju lgar o caso do salmista de forma sábia e justa. Em um hino a Gula, sua esposa é louvada como quem "exam ina as alturas do céu e investiga as profundezas do mundo inferior" (Foster). Shamás é louvado como aquele que (por ser o deus-sol) vê toda a terra, conhecendo as intenções e vendo as pegadas dos homens. Era m ais com um , porém, atribuir aos deuses sabedoria ilimitada e não onisciência. 139.8-12. onipresença divina no antigo O riente Pró
xim o. E difícil distinguir entre "ter acesso a todos os lugares" e "estar sim ultaneam ente em todos os lugares". A prim eira idéia é o que se subentende das palavras do salm ista e igualm ente era a regra no antigo Oriente Próximo. Visto que o deus-sol geralm ente era o deus da ju stiça , e não havia nenhum lugar onde sua luz não brilhasse, ele v ia tudo. Até mesmo o mundo inferior estava patente aos seus olhos, visto que se acreditava que o Sol atravessava esse lugar durante a noite em seu trajeto do ocidente até o oriente, onde novamente nascia no dia seguinte. Como resultado, novam ente aqui o ju iz divino está de posse de todas as informações de que necessita. Nada pode ser feito em segredo. O conceito da divindade estando presente em todos os lugares sim ultaneam ente, da maneira como a onipresença é elaborada na teologia cristã, não existia no antigo Oriente Próximo.139.8. alturas e profundezas. Esse contraste expressa a jurisdição de Deus. Em um a das cartas de Amarna, Tagi, um governante local, reconhece o dom ínio do faraó, afirmando: "Se subirmos até o céu ou descermos até o m undo inferior, nossas cabeças estão em suas
m ãos" (Moran). Igualmente, um hino a Shamás afirma que ninguém "d esce até as profundezas" sem ele.139.9. asas da alvorada. Esse verso pode estar adotando a term inologia solar (subindo com a alvorada = leste, se pondo na extremidade do m ar = oeste), mas "alvorada" é igualada com mais freqüência a "estrela da m anhã". Era comum os corpos celestes (ou os deuses associados a eles) serem retratados com asas, porém, a expressão "asas da alvorada" não ocorre em acadiano.139.13. divindade criando no ventre. Existe um paralelo egípcio para a idéia da divindade conhecendo o indivíduo antes de seu nascim ento. O deus Am om conhecia Pianki (um monarca egípcio da 25a Dinastia
no oitavo século a.C.), enquanto estava "n a barriga de sua m ãe", onde sabia que seria o governante do Egito. No épico de Gilgam és, o seu papel como rei estava destinado a ele "quando seu cordão umbilical
foi rom pido". Os deuses pessoais são louvados como "criad ores de m inha prole". N abucodonosor louva M ard uque com o aquele que o criou. No Epico de Atrahasis, a deusa M ami é identificada como o ventre, a criadora da humanidade. Na literatura suméria, a deusa Ninhursag (Nintur) é responsável pelo proces
so de nascimento, desde a concepção até a gestação e o parto, e até mesmo atua como parteira. No Egito, Khnum (um deus criador retratado como um oleiro) é descrito dando forma a pessoas. Ele entrelaça o fluxo de sangue com os ossos que são tecidos desde o início. Fica claro, então, que o salmista não está introduzindo nenhum conceito teológico novo, m as está usando um estoque de expressões familiares no mundo antigo.139.16. escritos no teu livro. Em um Hino a Nabu, o sofredor lamenta: "M inha vida está gasta, ó contabilista do U n iv erso " (Foster). U m a carta da antiga Babilônia diz que um destino favorável foi decretado para seu escritor desde que estava no ventre de sua mãe. Em contraste, uma oração hitita de Kantuzilis questiona como o deus poderia ter ordenado sua doença (e morte iminente?) ainda no ventre. Para informações sobre o livro da vida, semelhante a esse, ver os comentários em Jerem ias 17.13 e Malaquias 3.16.140.10. castigo com brasas incandescentes. Calar brasas em alguém é um a expressão encontrada nos tratados de vassalo de Esar-Hadom como um castigo para quem rom pesse o acordo. Outros textos descrevem divindades fazendo chover fogo ou pedras flamejantes sobre seus inimigos. Esta é uma punição que vem de Deus e não de outras pessoas.140.10. lançados ao fogo. O fogo era usado como uma forma de execução desde as leis de H amurabi. Na Pérsia do século quinto (durante o reinado de Dario II filho de Artaxerxes) e no segundo século (2 M acabeus13.4-8), há exemplos de execução em que o condenado era empurrado para dentro de um recipiente com cinzas.141.7. ossos espalhados à entrada da sepultura. Algumas das culturas do antigo Oriente Próximo praticavam o segundo sepultamento: primeiro o corpo era depositado (numa caverna, por exemplo) até que a carne fosse decomposta e depois os ossos eram enter
rados no lugar de descanso definitivo. Até mesmo se um corpo fosse devorado, o enterro adequado seria realizado, desde que fosse possível recolher os ossos. Assim, Assurbanípal fala de punir seus inimigos levando seus ossos para longe da Babilônia e espalhando-os fora da cidade. Ele tam bém se vangloria de abrir cavernas de antigos reis inimigos e arrastar seus ossos "para infligir perturbação a suas alm as".142. título, na caverna. Durante o período em que Davi fugiu de Saul, ele passou bastante tempo escondido em
cavernas (1 Sm 22-26). O deserto da Judéia, onde ele passou seus anos como fugitivo, possui uma grande quantidade delas espalhadas por toda a região.143.10. conduza-m e por terreno plano. A m aior parte das estradas do antigo Oriente Próximo não era pavimentada (exceto algumas no final do período assírio). Dessa forma, as usadas para o transporte em veículos de rodas (chamadas de "estradas de carros" nos textos de Nuzi) deveriam ser demarcadas, aplainadas e passavam por manutenção periódica. Porém , poucos textos descrevem a construção e manutenção. As estradas para o transporte pesado eram raras e acompanhavam as rotas comerciais. Por isso, um rei vassalo queixou- se ao rei de M ari por ter que chegar à capital síria por uma rota alternativa ao longo de um a estrada principal. Os reis assírios raramente se gabavam dessas suas construções, um a vez que elas pareciam ser de responsabilidade das populações locais. Em um texto de tratado, Esar-Hadom ordena que após a sua sucessão, por seu filho, o vassalo deveria submeter-se a ele e "ap lainar seu cam inho em todos os aspectos". Em um hino à deusa Gula, a divindade diz que tom a reto o andar daquele que busca seus caminhos.144.6 ,7 . salvo das águas. Ver os comentários em 18.16 e 30.3.144.9. lira de dez cordas. Trata-se de um instrumento musical típico da época e confirmado em textos, relevos e pinturas do antigo O riente Próxim o desde o terceiro m ilênio a.C.. A lira é diferenciada da harpa pelo núm ero de cordas. Ambas eram seguradas nas m ãos através de estruturas feitas de m adeira. Um texto musical, descoberto em Ugarit, lança luz sobre a música da Idade do Bronze Moderna. Esse texto tem as notas a serem tocadas por uma lira acompanhando um hino cultual hurrita.144.12. colunas esculpidas para ornar um palácio. Nomundo antigo, os palácios tinham pátios abertos, salões de audiência e pavilhões com jardins em que figuravam colunas, tanto para dar sustentação à estrutura como para decoração. Não há confirmação do uso de cariátides (colunas na forma de estátuas humanas) em Israel, que teria poucas estátuas devido à proibição das imagens. Certos tipos de cariátides são confirmados no Egito, onde, por exemplo, templos mortuários tinham colunas contendo figuras na metade. A palavra usada aqui, porém, parece ter algo a ver com cantos (usada apenas em Zc 9.15). Em Israel, as colunas eram esculpidas com belos motivos, ricos em detalhes, que representavam o nível de sua habilidade artística.147.4. nom e das estrelas. As constelações m esopo- tâmicas incluem figuras de animais como bode (Lira) e serpente (Hidra), objetos como um a flecha (Sírio) e
um carro (U rsa M aior) e p ersonagens com o Anu (Órion). As mais populares eram a Plêiade, retratada freqüentemente em selos até na Palestina e na Síria. Textos neo-assírios preservam esboços de estrelas em
constelações. Para inform ações adicionais, ver o com entário em 8.3.148.7. grandes criaturas do oceano (serpentes m arinhas). No texto babilónico intitulado Hino a Shamás, o deus-sol recebe louvor e reverência até m esm o das piores criaturas. Incluídos na lista estão os temíveis monstros marinhos. O hino, portanto, sugere a existência de um a submissão total de todas as criaturas a Shamás, assim como a criação do Gênesis por Yahweh. O M ito de Labbu registra a criação da serpente marinha, cujo comprimento atingia sessenta léguas.148.14. concedeu poder (levantou um chifre). Ver o comentário sobre "chifre" nas notas introdutórias sobre metáforas para Deus.149.3. danças. A maior parte das danças atestadas no mundo antigo acontecia em contextos cultuais, embora fontes mesopotâmicas e egípcias ilustrem com freqüência dançarinos envolvidos em entretenim ento. As danças relacionadas a festas sagradas provavelmente se assemelhariam às folclóricas de nossos dias, com m ovim entos coordenados por um grupo. Em outras ocasiões, elas seriam m ais parecidas com as coreografias de balé, onde uma cena ou um drama era representado. Dançarinos individuais geralm ente executavam giros, agachavam-se, saltavam e pulavam em acrobacias que se aproximavam da exibição de um ginasta na atualidade. Eles às vezes se apresentavam escassamente vestidos ou despidos. Em con
textos cultuais, os oficiais participantes (i.e. sacerdotes e funcionários do templo) dançavam algumas vezes. Em um ritual hitita, a rainha é incluída num a dança. 1493. tamborim e harpa. Ver o comentário em 150.3-5.
149.6. espada de dois gumes. Trata-se de uma espada com corte dos dois lados da lâmina. N a Idade do Bron
ze M odem a (época de Josué), a espada padrão era curvada como um a foice, ficando a parte cortante do lado externo da lâmina. Esse form ato é considerado o responsável pelo surgimento da expressão "ao fio da espada" (por exemplo em Js 6.21). É possível que o termo tenha se mantido, mesmo após sua forma ter evo- luídt) e passado a ser descrita como espada de "d o is gum es". Outros estudiosos sugerem tratar-se de um machado com corte nos dois lados da lâmina, embora
nesse caso, a palavra traduzida como "espada" deveria ser entendida em seu sentido m ais am plo como
"lâm ina", uma alternativa difícil (mas não impossível).149.8. grilhões e algem as. Embora os termos usados
aqui não sejam os mais comuns, é provável que estas eram algemas que prendiam as mãos e aqueles eram
grilhões colocados em volta dos tornozelos (como fica claro em 105.18). O ferro era usado para a fabricação
desses itens desde o oitavo século a .C .
150.3-5. instrum entos m usicais. Os instrumentos m usicais figuram entre as prim eiras invenções do h omem. No Egito, as primeiras flautas datam do quarto
m ilênio a.C.. Várias harpas e liras, bem como um par de flautas de prata, foram encontrados em um cem ité
rio real de Ur, datando da m etade do terceiro milênio. Esses objetos proporcionavam entretenimento e tam bém o ritmo de fundo para danças e rituais, tais como
procissões e dramas cultuais. Além de instrumentos
simples de percussão (tambores e chocalhos), as har
pas e as liras eram os mais habitualmente usados no antigo Oriente Próxim o. Foram encontrados alguns
desses exemplares em tum bas escavadas e em pinturas nas paredes de templos e palácios. São descritos na
literatura como um meio de acalmar o espírito, invocar os deuses ou proporcionar a cadência para um
exército em marcha. Os músicos tinham suas próprias
guildas e eram muito respeitados.
Os instrumentos musicais descritos neste salmo eram típicos da época e são atestados em textos, relevos e
pinturas do antigo Oriente Próximo desde o terceiro
milênio. Ainda existe certa discordância entre eruditos quanto a qual das palavras hebraicas, nessa passa
gem, deveria ser traduzida como "harpa" e qual como
"lira". O termo que a NVT traduz como "lira" refere- se a um instrumento de dez cordas, enquanto o tradu
zido por "h arp a", a outro com um núm ero m enor delas. Am bos eram segurados nas m ãos através de
estruturas feitas de madeira. O tamborim foi identificado em relevos arqueológicos como o tam bor, um
pequeno pandeiro (couro esticado sobre um aro) que não tinha o som dos pequenos guizos dos modernos.
O instrumento traduzido como flauta provavelmente refere-se a uma flauta dupla feita de bronze ou junco.
Os cím balos eram feitos de bronze e pertenciam à
classe dos instrumentos de percussão; a única pergunta que fica sem resposta é quanto ao seu tamanho.
P R O V É R B I O S
V1.1-9.18 Exortação à sabedoria1.1. Sábios no antigo O riente Próxim o. A tradição de sábios que explanavam a sabedoria das culturas anti
gas é bastante longa no antigo O riente Próxim o. O estilo empregado em obras sapienciais como O Ensino de Ptá-Hotep e A Instrução de A menem ope sugerem que existiam escolas de sábios no antigo Egito e na Meso-
potâmia. O "sábio" exercia o papel de "p a i" dos estudantes, transmitindo a essência da bagagem sapiencial da cultura e servindo como um a fonte de onde se extraíam exemplos. O texto Palavras de Ahiqar, da Assíria
(oitavo século) pode indicar que alguns desses sábios tam bém estavam ligados de alguma form a à estrutura administrativa do palácio, talvez como m em bros da classe de escribas. A s "palavras" dos sábios incluíam ensaios sobre procedimento pessoal e etiqueta em di
versas situações sociais. Seus ditos tam bém incluíam afirmações curtas dando conselho sobre assuntos diplom áticos e políticos. D essa m aneira, eles transm itiam
um a form a de m em ória cultural bem como o significado dos valores básicos de sua sociedade.1.1. Salom ão como sábio. De acordo com 1 Reis 3.712, Salom ão pediu e recebeu um "coração sábio e cheio de discernim ento" para governar m elhor seu
povo. A tradição de Salomão como rei sábio é reportada no sobrescrito do Livro de Provérbios. As muitas áreas de sua sabedoria são detalhadas em 1 Reis 4.3033 (ver o comentário nesses versículos).
1.6. categorias sapienciais. Este verso alista três dos muitos tipos de escritos sapienciais. O provérbio ou mashal é um aforismo, uma afirmação curta composta, com freqüência, de frases paralelas. Geralmente tem uma base moral e é sempre de natureza didática. As parábolas são composições mais longas em cuja narrativa da história é contada e que exige que os ouvintes assimilem um significado duplo ou implícito (ver os
primeiros dois comentários em 2 Sm 12.1-10). Embora não haja enigmas no Livro de Provérbios, aparentemente eles eram bastante comuns como form a de jogo ou competição intelectual (ver o comentário sobre o enigm a de Sansão em Jz 14.12-14). O termo para enigm a usado em Provérbios 1.6 aparece apenas aqui e origina-se de um radical que geralmente é traduzido como "zom bador" ou "cínico". Pode ser uma tentativa de rebaixar os enigm as da posição de genuínos
ditos de sabedoria. U m a forma m ais longa de literatu
ra sapiencial encontra-se em Eclesiastes, que inclui tanto uma série de ditados como um trecho de reflexões sobre as ironias da vida. A m aior categoria de todos os escritos sapienciais da Bíblia Hebraica são os
discursos filosóficos do Livro de Jó. Usando o tema do sofrimento, Jó e seus amigos examinam e até mesmo testam sua compreensão do porquê a dor e o sofrimento acometem o justo.1.8. in stru ção ao f i lh o . A cham ad a p ara atend er à
instrução dos pais é um a inferência da lei que exorta os filhos a honrar a seu pai e à sua m ãe (Êx 20.12). A
sabedoria das m ães, que geralm ente eram as prim eiras professoras de uma criança, é igualada à dos pais. Esse provérbio contrasta com afirmações semelhantes
do Ensino de Ptá-H otep e Palavras de A hiqar que m encionam um filho atentando para as palavras de seu "p a i". Em cada um desses casos, o termo "filh o" pode
também ser entendido como aquele que recebe o ensinamento, nem sem pre exigindo laços sangüíneos. Os estudantes m em orizavam os provérbios e as com pa
rações de seus professores, m as eram considerados sábios aqueles que aplicavam o que tinha aprendido
(ver Os 14.9). A omissão da referência às "filhas" reflete a realid ad e de que os filh os da realeza geralm ente recebiam instrução form al, enquanto as filhas não.1.9. enfeite e adorno. As palavras do pai e da mãe, que personificam a sabedoria da sociedade, podem tom ar-se um enfeite para a cabeça e um adorno para o pescoço do filho. Assim como o campeão era adornado com um a grinalda ou coroa de louros, simbolizando a vitória, e um oficial recém-nomeado recebia as vestes e o colar de seu ofício, da m esma forma o filho obediente recebe a garantia de prosperidade e uma vida estável (ver Pv 4.1-6). Segundo Ptá-Hotep: "O sábio segue o conselho de seu m estre [e] conseqüentemente seus projetos não fracassam ". Na literatura egípcia, M aat, a deusa associada à sabedoria, à verdade e à justiça, dá uma grinalda de vitória aos deuses e é representada com um a corrente ao redor do pescoço
de vários oficiais.2.18. cam inhos que levam às som bras (ou aos esp íritos dos mortos). A literatura do antigo Oriente Próximo apresenta diversos exemplos dos tipos de pros- postas abordadas aqui. No épico de Gilgamés, a deusa Istar impressionada pela coragem demonstrada por
Gilgamés quando derrota o terrível Huwawa, lhe oferece a oportunidade de tom ar-se seu esposo. Apesar dos m uitos benefícios citados por ela, Gilgamés detalha a vida no m undo inferior que seria o resultado inevitável de sua sedução. Igualmente, no texto uga- rítico Lenda de Aqhat, a deusa Anat oferece a Aqhat ouro, prata e vida eterna em troca de seu arco maravilhoso. Tal como Gilgamés, Aqhat enxerga a mentira e discursa sobre a inevitabilidade da morte. U m caso com um a adúltera é m encionado em diversas obras sapienciais como um a das m aneiras m ais certas de uma morte precoce (.Ankhsheshonqy diz: "U m homem que faz amor com uma mulher casada será executado na soleira de sua porta"; ver também Pv 6.25, 26). Os perigos envolvidos tam bém rem etem ao destino do consorte da deusa sum éria Istar, Tam m uz, que foi forçado a viver m etade do ano no m undo inferior com o preço do resgate pela libertação de Istar das regiões inferiores. O m undo de trevas onde os espíritos habitavam era um lugar extremamente indesejável. De acordo com o épico de Gilgamés, a "C asa do P ó" não tinha luz, os m ortos eram "vestid os como pássaros", e "o pó [era] sua alimentação e o barro, sua com ida". Ainda assim, parece que os espíritos podiam ser consultados pelos vivos (ver 1 Sm 28.11-15).3.3. prenda-os ao redor do seu pescoço. V er o comentário em Deuteronôm io 6.8 para o uso de amuletos que serviam de lembretes da Lei e como uma forma
de proteção contra o mal. O uso do termo da aliança hesed para "am or" neste versículo tam bém pode ser comparado ao seu uso em Jerem ias 31.3, em que Deus "atrai" para si a nação com "am or leal".3.3. tábua do coração. É razoável pensar que o escritor esteja se referindo a uma prática de usar um pequeno tablete de argila com o um am uleto (com pare com o
cordão e o selo de Judá, em Gn 38.18). Porém, considerando-se o paralelo com Jerem ias 31.33, é mais provável que o escritor esteja fazend o m enção à interna- lização da lei de Deus escrita em "seus corações".
3.6. endireitar as veredas. Em um texto de tratado, Esar-Hadom ordena que quando seu filho o sucedesse o vassalo deveria subm eter-se a ele e "aplainar seu caminho em todos os aspectos". Em um hino à deusa Gula, a divindade diz que torna reto o andar daquele que busca seus caminhos.3.15. m ais preciosa do que ru b is . Em bora rubis e safiras sejam formas do mineral coríndon, que consiste prim ordialm ente de óxido de alum ínio, os rubis são muito m ais raros e, portanto, seu valor é considerado maior. O sábio egípcio Ptá-Hotep também compara a verdadeira sabedoria a pedras preciosas (esm eraldas), acrescentando peso a tais analogias. Os diamantes não eram conhecidos no m undo antigo.3.18. árvore que dá vida. O tema da árvore da vida é comum nos épicos e na arte do antigo Oriente Próximo. No épico de Gilgamés, há uma planta chamada "hom em velho fica jovem " que cresce no fundo do rio cósmico. Árvores estilizadas com freqüência figuram com destaque na arte do antigo Oriente Próximo e em selos da Mesopotâmia e de Canaã. Essas árvores têm sido interpretadas como ilustrações da árvore da vida, m as seria necessário mais base em fontes escritas para confirmar tal interpretação. A árvore é transformada em Provérbios em uma imagem de sabedoria. Como em Provérbios 11.30, a sabedoria, personificada na
m etáfora da "árvore de vid a", é a chave para uma vida m ais realizada, completa e melhor. A idéia de "abraçar" a sabedoria envolve um a conotação sexual em diversas passagens de Provérbios (8.17; 18.22) e pode ser comparada à m ulher de valor em 31.10 em contraste com a "insensata" e a "m ulher imoral" (9.1318 e 5.3-14, respectivamente). O sentido de fertilidade e prazer inerentes a um bom casam ento e a um a árvore florescendo é, pois, apresentado como um alvo desejável.3.19, 20. linguagem da cosm ologia do m undo antigo. Com o no Salm o 104 .2 -9 , P ro v érb io s d eta lh a Yahw eh como o S e n h o r da criação, algo semelhante a
PROVÉRBIOS NO ANTIGO ORIENTE PRÓXIMO
Diversas obras da literatura sapiencial do Egito e da Mesopotâmia contêm paralelos (lingüísticos, estilísticos e de conteúdo)
com o Livro de Provérbios. Do antigo Egito esses paralelos encontram-se (em ordem cronológica) nos textos O Ensino de Ptá-
Hotep (c. 2500 a.C.), a Lenda do Camponês Eloqüente (c. 2000 a.C.), a Instrução de Amenemope (c. 1200 a.C.) e a Instrução de
Anksheshonqy (c. 200 a.C.). Também há alguma repercussão dos provérbios na Teologia Menfita da Criação (c. 2200 a.C.) e na
Disputa sobre o Suicídio (c. 2000 a.C.). Ditados proverbiais semelhantes também podem ser encontrados no texto assírio
Palavras de Ahiqar (c. 700 a.C.) e nos épicos ugaríticos de Baal e Anat e de Aqhat (c. 1400 a.C.). A maioria das semelhanças entre
essas obras da literatura sapiencial pode ser atribuída à universalidade dos ditados e provérbios sapienciais e à prática
bastante comum de emprestar expressões, imagens, figuras de linguagem, provérbios e até mesmo parábolas ou histórias
inteiras. Eis aqui alguns exemplos:
• Provérbios 1.12 descreve a sepultura como uma boca que engole suas vítimas, e essa mesma figura de linguagem
aparece no épico de Baal e Anat, onde o deus da morte, Mot, é descrito "devorando sua presa", comendo-a com "ambas
as m ãos".
um "arquiteto divino" que dá form a ao cosmo como a um prédio bem construído (compare com Jó 38.4-7).
Uma dimensão extra é acrescentada nesses versos através da im agem de Deus personificado como "Sabedo
ria" (ver SI 104.24 e Jr 10.12). Se o desejo"de uma
divindade pode ser igualado à sabedoria, então o H ino a Aten expressa um conceito sem elhante, pelo
que diz: "T u criaste o mundo de acordo com teu dese
jo, estando ainda sozinho!". De acordo com os sábios, o ato criativo, a fim de demonstrar completamente a
presença e o cuidado de D eus, é acom panhado da
m anutenção perm anente das estruturas que sustentam os céus e a terra. A palavra hebraica para "fontes
profundas" é tehom, que se refere ao oceano cósmico
primevo. N o épico babilónico da criação, Enutm Elish, a deusa que representa esse oceano cósmico, Tiamat,
é dividida na metade por M arduque a fim de formar
as águas superiores e as inferiores.4.9. diadema/coroa. A im agem de um a festa de casa
mento ganha significado com a entrega de símbolos
tradicionais de união pela noiva (sabedoria) ao seu protegido (noivo). N esse caso, o símbolo do casamen
to, ou seja, a coroa de esplendor (ver Is 61.10) poderia ser com parado às vestes n upciais perfum adas de
Cântico dos Cânticos 4.11. No sentido metafórico tam
bém poderia ser equiparado a Isaías 28.5, onde Deus
passa a ser um a "coroa gloriosa, um belo diadem a" para os israelitas.
4.23. coração como fonte da vida. No antigo Oriente
Próximo, o coração era tradicionalmente considerado a sede do intelecto (ver Pv 14.33) e a fonte da estabi
lidade para quem quisesse seguir um a vida ju sta e
sábia (ver o pedido de Salom ão em 1 Rs 3.5-9). No pensamento religioso egípcio, o coração (ib) era dis
tinguido da alma (ba) e considerado a própria essência
da pessoa. O ele era pesado na balança da verdade quando um a pessoa m orta era julgada pelos deuses
Anubis e Thot. O Livro dos Mortos apresenta feitiços
para proteger e fortalecer o coração como um preparo para essa provação final.
5.3. adultério no antigo O riente Próxim o. Ter relações sexuais com a mulher de outro homem era um crime passível de morte tanto pelas leis bíblicas quanto pelos códigos do antigo Oriente Próximo. O texto egípcio Lenda dos Dois Irm ãos cham a o adultério de "grande crim e" que não deveria sequer ser cogitado por um hom em ou uma m ulher honestos. Era uma violência à casa de um homem visto que roubava seu direito de procriar e colocava em risco a transmissão ordeira de sua propriedade a seus herdeiros (ver o comentário em Êx 20.14). O ato em si tornava ambos os envolvidos im puros (Lv 18.20). Visto que não se tratava apenas de um a violência à santidade da família, m as tam bém de um a fonte de contam inação, o adultério foi m otivo para D eus expulsar o povo da terra (Lv 18.24, 25). A obra egípcia Instrução de Any (metade do segundo milênio) contém um parágrafo que alerta para tom ar cuidado com a m ulher estranha que está longe de seu marido tentando seduzir.6.1. fiador e penhores. A expressão usada aqui, e os paralelos em 11.15 e 17.18, m ostram uma aversão a algumas práticas comuns de negócios, inclusive cobrar juros de empréstimos e fazer penhores no caso de
contração de dívidas. As Leis de Esnuna e o Código de Hamurabi descrevem em detalhes as regras aplicadas a esses negócios e as conseqüências do confisco. O peso que uma dívida exercia sobre um individual é claramente retratado na afirmação do sábio assírio Ahiqar: "A rrastei areia e carreguei sal, m as nada é mais pesado do que uma dívida". Provérbios, portanto, admoesta a saldar suas próprias dívidas, não sobrecarregar outros cobrando juros de empréstimos e não tornar-se fiador que, por sua vez, pode perder tudo por causa de maus pagadores (ver Pv 22.26, 27).6.6. com portam ento da form iga. A observação das criaturas da natureza proporciona bons e maus exemplos de comportamento. A formiga é declarada como
• Provérbios 6.23-29 e 7.24-27 admoestam o filho a dominar seu desejo por mulheres que o levarão à ruína, de forma bastante semelhante ao alerta de Ptá-Hotep de que deve-se "ficar longe das mulheres da casa" e "manter a mente nos negócios".
• Provérbios 16.8 e 21.9 oferece exemplos de ditados "melhor isso do que aquilo" encontrados também na Instrução deAnkhsheshonqy "melhor habitar em sua própria casa do que na mansão de outra pessoa" e na Instrução de Amenemope,"melhor é um único pão e um coração alegre do que todas as riquezas do mundo e tristeza".
• A progressão encontrada em Provérbios 6.16-19 "Há seis coisas que o S e n h o r odeia, sete coisas que ele detesta" também é usada por Ahiqar: "dois tipos de pessoas são um deleite, um terceiro tipo agrada a Shamás".
• A esposa exemplar descrita em Provérbios 31.27-31 também é exaltada por Ptá-Hotep, assim como o filho que estádisposto a dar ouvidos a seu pai (ver Pv 2.1-5).
• Os "Ditados do Sábio" que aparecem em Provérbios 22.17-24.22 encontram um modelo estrutural na Instrução de Amenemope. Ambos contêm uma introdução geral seguida de trinta ditados com conselhos bastante parecidos sobre uma variedade de temas. Por exemplo, tanto Amenemope quanto Provérbios 22.22 proíbem a exploração do pobre e do necessitado e tanto o sábio egípcio como Provérbios 23.10 aconselham a não mudar de lugar os marcos de uma propriedade para que "sua consciência não o destrua".
o exemplo máximo de trabalho duro e precaução (compare com Pv 30.25), armazenando alimento para enfrentar o futuro. Outro aspecto de sua natureza pode ser visto num a carta do arquivo de El Am arna que afirm a que a formiga, apesar de seu tam anho, está
pronta a se defender quando é provocada.6.21. am arrar ao coração, atar ao redor do pescoço. Essa afirm ação introdutória, com o em 3.1-3 e 7.1-3, compara a importância dos provérbios de sabedoria a um objeto concreto como o amuleto perpétuo que servia de lem brete das leis. Da m esm a form a, o m andamento ("shem a") de Deuteronômio 6.6-9 devia ser am arrado "com o um sinal nos braços" e preso "n a testa". Ver o comentário em Deuteronômio 6.8 a respeito do uso do amuleto, usado ao redor do pescoço, perto do coração, para proteger a pessoa do mal.7.3. amarrar aos dedos. Ver os comentários em 3.3 e6 .21 .
7 .8 ,1 2 . esquina. Textos babilónicos falam de pequenos santuários ou nichos ao ar livre em esquinas ou pátios da cidade. Um texto diz que havia 180 desses santu ários dedicados à deusa Istar, na cidade de Babilônia. T inham um a estrutura elevada com um altar no topo e pareciam ser freqüentados principalmente por mulheres. Nesse sentido, a palavra "esquin a" pode referir-se essencialmente a um nicho cultual.7.13. descaradam ente. Com pare com a postura e a atitude da "prostituta descarada" em Ezequiel 16.30. O termo hebraico traduzido aqui como "descaradam ente" com mais freqüência é traduzido como "forte" ou "fero z " (ver D t 8.23), m as tam bém pode ter a conotação de "im pudente" como em Eclesiastes 8.1. Esta última tradução encaixa-se ao contexto da adúltera que fica à espera de suas vítim as e com toda a
desenvoltura as convida a entrar em seus aposentos
perfumados. Também pode ser comparada à esposa
do Código de Hamurabi que "não é séria" e "afronta seu marido".
7.16. lin h o colorido (N V I: fin o) do Egito. U m dosm ais importantes produtos do Egito era o linho (ver
Ez 27.7). Textos reais e pessoais fazem menção à pro
dução desse tecido e ao seu uso como mercadoria para
troca ou escambo. Um texto da 11a Dinastia (Primeiro
Período Intermediário) descreve como um agricultor
usava tecidos de linho colhido em sua terra para pa
gar o aluguel. O tecido colorido representava um pas
so além no processo de manufatura, por isso era mais
caro. No caso da adúltera era usado como um sinal de riqueza e um atrativo a mais para seduzir alguém a
entrar em seu quarto.
7.17. cama perfum ada. Além das cobertas de linho, a
adúltera usa fragrâncias estrangeiras para transfor
mar seus aposentos em um a armadilha exótica e desejável. Os perfum es (mirra, incenso e aloés - ver Ct
3.6; 4.14) viajavam até a Palestina em caravanas da
índia e do deserto da Arábia subindo pela costa do
m ar Vermelho. Jarros de perfum e foram escavados em m uitos lugares do -Oriente Próximo. A produção
de especiarias e perfum es é ilustrada em pinturas de
túmulos egípcios, mas grande parte dos detalhes desses antigos processos perdeu-se.
7.23. flech a atravessando o fígado. Pinturas de tú
mulos egípcios muitas vezes ilustram o nobre falecido
caçando nos pântanos. Batedores assustam os pássaros
na perseguição e em sua fuga amedrontada uma sa
raivada de flechas inesperadamente vai ao seu encon
tro. O caráter ingênuo da vítim a da adúltera sugere
essa m esma atitude de desatenção ou esquecimento
ao perigo real que enfrenta. O fígado era considerado
COMO OS PROVÉRBIOS ERAM USADOSComo acontece em conversas atuais, os provérbios nos tempos antigos funcionavam como um meio coloquial de apresentar um raciocínio ou ponto de vista. Assim, visto que hoje são considerados sabedoria antiga, isso deve ser levado seriamente em conta (ver 1 Sm 24.13). Portanto, quando o provérbio "Quem guarda, tem" é citado hoje em dia, o falante está defendendo a sabedoria da precaução na vida pessoal. Do mesmo modo, quando Ezequiel cita o provérbio "tal mãe, tal filha" (Ez 16.44), ele está condenando Jerusalém por seguir as pisadas de sua "m ãe" Samaria (compare com Jr 3.6-11 a respeito desse tema, mas com o uso de "irm ãs" como o termo de parentesco). Ezequiel também usou provérbios para apontar mudanças na política ou no destino de Israel. Por exemplo, em Ezequiel 18.2, 3, o profeta cita um provérbio que na superfície simplesmente reconhece o fato de que uma pessoa que vê outra comendo algo a z ed o vai experimentar uma sensação parecida. Em Israel, porém, esse provérbio era usado para indicar o conceito legal de responsabilidade coletiva em que um filho era considerado responsável pelos pecados de seu pai (ver Êx 20.5). Ezequiel, entretanto, afirma que ninguém será punido pelo pecado de outro, mas apenas pelos seus próprios erros, e assim, afirma que esse provérbio "não mais seria citado em Israel".
Naturalmente, um provérbio é útil apenas no contexto em que é proferido. Por isso, o escritor de Provérbios observa que "como pendem inúteis as pernas do coxo, assim é o provérbio na boca do tolo" (Pv 26.7). Esse era um ditado comum em outros textos sapienciais. Por exemplo, a Instrução áe Ankhsheshonqy alerta que "tolos não sabem a diferença entre um insulto e um ensinamento" e a Instrução de Amenemope afirma que não se deve "tom ar conselho com tolos", visto que suas palavras "sopram como uma tempestade" e são vazias. É claro então, que os provérbios não eram meramente expressões memorizadas que qualquer um podia entender. O ensino neles implícito precisava ser exposto e explicado por um sábio professor. É como o currículo de uma disciplina que presume a presença do professor para que seus objetivos sejam atingidos.
um dos órgãos m ais vitais, por isso é m encionado
como o alvo.
8.11. ru bi como a pedra m ais preciosa. Ver o comen
tário em 3.15.8.22-29. sabed oria p ré-existen te ao cosm o. Assim
como o Evangelho de João começa com a afirmação
"N o princípio era aquele que é a Palavra", aqui o(s)
autor(es) de Provérbios afirm a(m ) que a sabedoria
foi a primeira criação de Deus, existente com Ele des
de o início dos tem pos. A sabedoria está presente
durante a criação de tudo m ais que há no Universo.
Assim como o M aat egípcio, descrito como acompa
nhante do deus-sol criador, Rá, a sabedoria parece
ser a mensageira de Yahweh, o mais antigo ser cria
do. É possível que tam bém haja relações entre essa
visão da sabedoria e o mito babilónico da criação ou
a ilustração ugarítica de El, mas não é possível esta
belecê-las com clareza.
8.30. sabedoria como arquiteto. R. M urphy acertada-
mente relacionou esse versículo ao uso do "E u Sou"
em Êxodo 3.14 como um a referência a Deus, o Cria
dor. Se o papel da sabedoria é servir a Deus como
"arquiteto" ou espírito da criatividade, então esse é
um paralelo adequado da im agem encontrada em
Provérbios 3.19. Se, por outro lado, a sabedoria é uma
"criancinha" (algumas traduções preferem essa figu
ra alternativa) brincando aos pés de Deus, ainda há
um sentido de "prazer" em estar na presença de Deus
e compartilhar a emoção-da criação emergente numa
época quando não havia outras preocupações. Maat,
em textos egípcios, também é descrito como "filho dos
deuses", que os delicia brincando. Tam bém existem
inúmeros exemplos de atos criativos, tais como o de
M ard uque, dando form a aos hum anos, no ép ico
babilónico Enuma Elish, e a descrição da competição
entre N intu-M ami e Ea-Enki para criar humanos da
argila no Épico babilónico de Atrahasis. Nos textos egípcios de Mênfis, que relatam a criação, a divinda
de criadora, Ptá, é retratada como o arquiteto envolvido no trabalho criativo. Além disso, a literatura aca-
diana fala dos sete grandes "arquitetos" que são os
antigos sábios que vieram após o dilúvio levando
sabedoria aos primeiros reis.
9.1. sete colunas da casa da sabedoria. Muitas teorias foram elaboradas para explicar o significado das sete
colunas da morada da sabedoria. Dentre elas estão: o
firmamento dos céus, os planetas, os dias da criação,
os Livros da lei e os sete sábios da antiga Mesopotâmia.
E, ainda, o épico ugarítico de Baal e A nat contém uma
referência ao lugar da habitação do grande deus El. O
texto diz que ele habita "nos sete aposentos da sabe
doria, os oito salões do ju lgam ento". A sugestão de
Murphy, de que o Livro de Provérbios e seus capítu
los formam a casa da sabedoria, também é atraente.
No lamento sumério por Eridu, Eanna, o templo de
Enki (o deus da sabedoria) é descrito contendo sete
nichos e sete chamas.
9.3. significado do ponto m ais alto da cidade. A sa
bedoria clama à porta da cidade em 8.3, o lugar onde
se faziam pronunciamentos públicos. Mas o "ponto
mais alto" geralmente é comparado ao templo ou ao
palácio que ocupa a acrópole de um lugar. O significado do convite ao estudo, à sabedoria e à ju stiça
também se encontra em Isaías 2.2, onde o templo do
Senhor em Jerusalém serve como o ponto alto que
atrai adoradores e "todas as nações" para aquele lu
gar (ver tam bém M q 4.1). As boas notícias que de
vem ser proclam adas aos exilados de volta à terra
natal, em Isaías 40.9, tam bém devem ser gritadas de
um "alto m onte".
PROVÉRBIOS COMO VERDADES GENERALIZADASEmbora haja uma universalidade na sabedoria do Livro de Provérbios, muitos desses ditados e provérbios representam o bom senso coletivo do antigo Oriente Próximo e suas culturas naquela época. Entretanto, deve-se também entender que afirmações do tipo "obedeça aos meus mandamentos, e você terá vida" (Pv 7.2) e "o S e n h o r não deixa o justo passar fome" (10.3) não são promessas explícitas ou verdades universais. Os valores expressos no mundo bíblico não necessariamente se traduzem perfeitamente em nosso mundo moderno. Além do mais, existe a realidade concreta da pobreza, da necessidade e da carência que não são evidências de ausência de justiça, mas meramente uma expressão de problemas econômicos e feridas sociais.
Logo, o que se entende como verdade em provérbios modernos também deveria ser entendido como característica dos provérbios antigos (bíblicos ou de outras fontes). Eles não representam a verdade absoluta, mas perspectivas verdadeiras sobre as circunstâncias da vida. "Deus ajuda a quem cedo madruga" não é uma promessa ou uma garantia. Essa característica dos provérbios é demonstrada nos provérbios bíblicos no fato de que soluções opostas podem ser oferecidas ao mesmo problema. Provérbios 26.4 aconselha a não responder a um tolo de acordo com sua tolice, enquanto o versículo seguinte exorta a responder a um tolo de acordo com sua tolice. O fato é que existem situações em que o versículo 4 será apropriado e também situações em que o versículo 5 será mais adequado. O conselho a ser seguido, muitas vezes, depende da situação, e uma pessoa sábia descobrirá que atitude tomar. Nossos provérbios modernos apresentam uma tendência semelhante de idéias "contraditórias", por exemplo, "Quem tudo quer tudo perde", mas "Quem busca, sempre alcança" ou "Diga-me com quem andas e eu te direi quem és", mas "Os opostos se atraem".
10 .1 - 22.16Provérbios de Salomão10.6. princípio da retribuição. A comparação entre o tolo e o sábio é um tema comum na literatura sapiencial do antigo Oriente Próximo. Um a das tarefas da sabedoria é assegurar as pessoas de que o m al e a tolice não serão recompensados. Por isso, nos ensinos egípcios de Ptá-Hotep (c. século 25 a.C.), o sábio expressa a atitude correta sobre o trabalho: "O sábio se levanta cedo para começar a trabalhar, mas o tolo se levanta cedo para preocupar-se com tudo o que tem para fazer". A habilidade de ser bem-sucedido na sociedade sem causar mal ou perturbação é descrita em um ditado pelo sábio egípcio Amenemope (c. século onzea.C.): "A s palavras do tolo são m ais perigosas que os ventos tempestuosos em m ar aberto". Outro mestre egípcio, Ankhsheshonqy (c. oitavo século a.C.), observa que "o sábio busca fazer amigos e o tolo, inim igo s". Em cada um a dessas afirm ações, a tradição sapiencial deixa claro que existe um princípio de retribuição operando no Universo que equilibra o mal causado por palavras e ações impensadas com as pala
vras e ações benéficas do sábio ou justo. Para uma abordagem geral sobre o princípio da retribuição, consulte as notas em Jó 4, os com entários sobre os conceitos básicos de Salmos e ainda a introdução aos
Livros poéticos e literatura sapiencial.10.10. p isca m aliciosam ente. A palavra "m aliciosam ente" é interpretativa, e as outras ocorrências dessa expressão incluem ambos os olhos, de m odo que é improvável que se trate de piscar. Uma alternativa é sugerida pelos presságios acadianos sapienciais que contêm um a série de presságios relacionados aos olhos. U m deles afirma que se uma pessoa fecha os olhos, o que está prestes a dizer é falsidade. Não se sabe ao certo se essa afirmação refere-se ao ato de piscar com certa freqüência ou a m anter os olhos fechados enquanto fala. Esse mesmo conceito é expresso em 16.30.10.11. fon te de vida. Com o afirm a o sábio egípcio Amenemope, a vida abundante encontra-se nas ações e palavras sábias, mas "o tolo que fala publicamente no tem plo é como um a árvore plantada dentro de casa" que seca e morre por falta de luz e é queimada ou jogada fora como lixo. Por outro lado, o "sábio discreto é como uma árvore plantada em um jardim ", que dá fruto doce, proporciona sombra e floresce "no jardim para sem pre".
11.1. balanças desonestas. A prática de usar "balanças desonestas" era um a tentação para comerciantes e banqueiros. Pela autoridade civil do Estado, o código babilónico de leis (código de Ham urabi) procurava inibir essa prática ilegal ameaçando o banqueiro corrupto com o confisco de seu negócio. No contexto da
exortação sapiencial, porém, as pessoas são encorajadas a empenhar-se por ter um comportamento correto. Por isso, o "cam ponês eloqüente" da literatura sapiencial egípcia aconselha o rei e seus oficiais sobre o perigo que existe quando "as pessoas com autoridade para dar medidas inteiras lesam o povo com m edidas incom pletas". Fica implícito que o rei terá a sabedoria de elim inar tais práticas maléficas. Ver os com entários em Amós 8.5, 6 acerca das práticas desonestas nos negócios durante o oitavo século em Israel.11.15. fiador e penhor. Ver o comentário em 6.1.11.30. árvore de vida. V er o comentário em 3.18.13.12. árvore de vida. Ver o comentário em 3.18.13.24. disciplina dos filh os no m undo antigo. Havia uma verdadeira preocupação nos antigos escritos legais (ver o código de leis sumérias e Ex 20.12) e sapienciais de ensinar os filhos a honrar e obedecer a seus pais. Por exemplo, o sábio assírio Ahiqar, na m áxima já bastante conhecida, afirm a que "poupar a vara é estragar o filh o". Ele tam bém observa que pessoas "qu e não honram o nome de seus pais são amaldiçoadas por Shamás, o deus da justiça". A responsabilidade dos pais para com seus filhos tam bém é uma preocupação que fica evidente no texto egípcio Instrução de Ankhsheshonqy : "O s filhos de tolos vagueiam pelas ruas, m as os filhos dos sábios estão ao lado de seus pais" (compare com a legislação relacionada ao filho rebelde em D t 21.18-21).14.19. inclinar-se às portas. Nesse contexto, "portas" refere-se às portas da casa do justo, não às portas da cidade (compare com a submissão demonstrada pelos servos do rei, às portas do palácio, em Ester 3.2). N esse sentido, portanto, o paralelism o do versículo mostra que os m alfeitores serão forçados a demonstrar subserviência ao justo, tom ando-se seus servos. Um caso semelhante em que o devido respeito é cobrado
daqueles que anteriormente não faziam caso de seus "novos senhores" encontra-se na predição de Moisés, em Êxodo 11.8, de que os oficiais egípcios "se curvarão diante de m im ".15.4. árvore de vida. Ver o comentário em Provérbios3.18.15.25. lim ites da propriedade da viúva. A remoção de um marco era considerada uma violação da aliança, visto que a terra era parte da herança do povo (ver D t 19.14). Em textos rituais babilónicos uma doença é explicada como o resultado da violação do tabu de estabelecer um marco de divisa falso. O Livro dos Mortos egípcio inclui a retratação daquele que removeu o marco de divisa de um vizinho. Para tom ar o crime ainda maior, a viúva vivia sem a proteção legal normal do marido e podia facilmente ser enganada. Por isso, o provérbio fala contra infringir seus direi
tos. U m paralelo a essa determinação encontra-se nos
ensinos de Amenemope: "N ão invada os campos da
v iú va".16.10. re i com o oráculo. A s palavras de um rei ti
nham mais peso do que as de um cidadão comum.
Isso aumentava a responsabilidade dos monarcas, uma vez que, como A hiqar observa, as palavras dos gover
nantes "são espadas de dois gum es". Poucos ou nenhum ousava desafiar as palavras de um rei, portan
to, como porta-voz da nação e do(s) deus(es), o gover
nante não devia infringir os direitos do povo ou per
mitir a injustiça. Como o camponês eloqüente diz a seu faraó: "T u és m eu senhor, m inha últim a esperan
ça, m eu único ju iz".
16.11. b a lan ças e p esos . V er o com entário em 11.1. O bserve tam bém a afirm ação contida no Livro dos
M ortos em que a alm a preste a ser julgada pelos deu
ses na vida do além inclui em seu "juram ento de inocência" não ter "usado falsas m edidas para balanças".
16.33. sorte. Ver o comentário em 1 Samuel 14.40-43
acerca do uso de sortes como m eio de tomada de decisão. Lançar sortes era uma forma de adivinhação em
que supunha-se que Deus determinaria o resultado,
providenciando assim a resposta (geralmente sim ou
não) à pergunta apresentada.17.3. re fin o de m etais preciosos. O ouro e a prata
podem ser refinados em um cadinho de grafite. O
ponto de fundição do ouro se dá a uma temperatura de 917,6 graus centígrados e a prata, 773,5 graus cen
tígrados. U m acréscim o de 159 graus é necessário para perm itir que o m etal seja despejado sem esfriar e
não aqueça tanto a ponto de form ar uma estrutura
cristalina destrutiva ou dissipar a escória, antes que o
metal se resfrie. Também é importante evitar a infiltração de oxigênio o máximo possível durante o pro
cesso de fundição, a fim de que a estrutura do metal não se tom e porosa. O processo de refino exige técnica
e um conhecimento profundo das ferram entas e dos
metais envolvidos. Por isso, é um a metáfora apropriada para o coração provado por Deus (compare com a
"pesagem do coração" no julgam ento da alma na tra
dição religiosa egípcia).17.18. fiador e penhor. Ver o comentário em 6.1.18.18. lançar sortes para resolver contendas. Ver os
comentários em 1 Sam uel 14.40-43 a respeito do uso
de sorteios para determinar a verdade em uma situação. De um lado, lançar sortes era uma prática usada
quando uma decisão aleatória precisava ser tomada (como nós costumamos tirar um palito ou jogar uma
moeda - cara ou coroa). Por outro lado, apesar disso, acreditava-se que D eus controlava o resultado (ver
16.33).
19.12. re i com o leão. A literatura acadiana desde o
terceiro milênio a.C. descrevia um rei (Sargão) como
um leão que rugia.20.8. p ap el do re i. O papel tradicional do rei era promover a justiça em seu trono (compare o comentá
rio em 2 Sm 15.2-6, onde surgem problemas quando
o rei D avi fracassa em sua responsabilidade como juiz, com o comentário sobre o papel de Salomão como
rei sábio em 1 Rs 3.16-28). Em bora a afirmação de que
a justiça é "um a dádiva dos deuses" seja feita repetidas vezes nos ensinos de Amenemope, fica implícito
que o rei, representante dos deuses, deve divulgar e executar a vontade deles na Terra. Por isso, Ahiqar, o
sábio assírio, pode afirmar que "a língua do governante
é gentil, m as é capaz de quebrar os ossos de um
dragão".20.16. penhor a m ulher leviana. A lei acerca de tomar
uma veste como penhor de um a dívida encontra-se
em Êxodo 22.26, 27 e Deuteronômio 24.10-13 (ver os
comentários ali). O abuso dessa lei é mencionado em
Am ós 2.8 e na inscrição de Iavné Yam. Ambas dizem respeito a como se deve tratar o próximo. Esse provér
bio lida com aqueles cuja reputação é desconhecida ou
questionável. Serve como uma admoestação ao credor
para que não seja clem ente de form a tola, correndo assim o risco de perder seu investim ento (compare
com Pv 27.13).20.23. pesos e balanças. V er o comentário em 11.1.
20.26. roda de debulhar. Ver o comentário em Isaías
28.28 para uma descrição da pá de debulhar presa a
rodas. Esse tipo de trilhadeira ('ôpan 'agalàh) desprovi
da de pedras e dentes de metal encontrados no morag
(sledge de plataforma) não estragava tanto os cereais e, portanto, o trabalho de separar a palha do cereal
podia ser feito no processo de joeira.21.2. pesar o coração. Na tradição religiosa egípcia o morto tinha de passar por um julgam ento final diante
dos deuses. Thoth, o deus escriba, registrava as respostas do examinado, enquanto o coração da pessoa
era pesado em um a balança de duas bandejas onde do lado oposto era colocada uma pena, simbolizando
a verdade. Se as respostas estivessem corretas e o coração não ultrapassasse o peso da pena, então a
alma poderia entrar no reino de Osíris e viver para sempre. M as se não passasse no teste, seria extinta, visto que um deus demoníaco, Sebek, na form a de
um crocodilo, consumia a alma. Os Textos da Pirâmi
de e o Livro dos M ortos continham feitiços e uma lista de respostas corretas para dar durante esse "exam e
final". O pensamento israelita tomou emprestada essa
imagem, retratando Deus pesando o "coração", a sede do intelecto e, portanto, das tomadas de decisões, a
fim de determinar a capacidade da pessoa em fazer o bem ou o mal (ver Ec 3.17; Jr 20.12).21.9. canto sob o telhado. Os ditados "m elhor isto do que aquilo" apresentam um a idéia contrastante ou
oposta preferível em relação a algo ruim ou desagradável. O canto sob o telhado ou um apertado quartinho de sótão (ver 1 Rs 17.19) seria um "poleiro" desconfortável, mas seus perigos ou inacessibilidade poderiam proteger o sofredor de um contato ainda mais desagradável com uma esposa briguenta (ver Pv 21.19;25.24). Os ensinos de A m enem ope tam bém fazem uso desse tipo de ditado: "M elhor é um único pão e um coração alegre do que todas as riquezas do m undo e tristeza".
22.16-24.34 Ditados dos sábios22.20. tr in ta d itados. Um a parte do Livro de Provérbios (22.17-24.22) parece imitar, ao menos em parte, a estrutura literária do texto egípcio Instrução de Amenemope. Ambos contêm uma introdução geral seguida por trinta ditados ou unidades, com conselhos bastante parecidos sobre o comportam ento correto. Existe certa controvérsia entre os eruditos a respeito da identificação dessas trinta unidades no texto bíblico, visto que há intervalos nas seções que podem indicar segmentos não relacionados (ver as divergências em 23 .15 ,19 e 26). Também argumentando contra essa relação está o fato de que a NVI teve de fazer ligeiras correções ao texto para chegar a trinta unidades. A lém dessa dificuldade está o fato de que as trinta partes em Provérbios seriam formadas por algumas poucas linhas de texto (de quatro a seis), enquanto o tamanho dos trinta capítulos em Amenemope varia de doze a dezesseis linhas. Os paralelos mais próximos entre Amenemope e Provérbios terminam em 23.11 e as unidades remanescentes têm ligações íntimas com outras obras da literatura sapiencial, inclusive os ensinos de Ahiqar. Isso pode indicar que o escritor bíblico ou a escola sapiencial tinha um a certa fa m ilia r id a d e com A m en em op e e o u tro s te x to s sapienciais, mas tam bém evidencia uma certa medida de independência literária.22.26. penhor e fiador. Ver o comentário em 6.1.22.28. m arcos. Os lotes de terra no antigo O riente Próximo eram m arcados com pedras de divisas em cada canto. Era comum na M esopotâm ia que essas pedras ou kudurrus contivessem um a inscrição amaldiçoando todo aquele que ousasse remover ou desviar o marco. Os símbolos da divindade também eram esculpidos nas pedras como um sinal da proteção divina ao proprietário da terra. Diversas obras da sabedoria antiga e da legislação contêm orientações contra
a adulteração de marcos de divisas, inclusive o Livro dos Mortos, os ensinos de Amenemope e Deuteronômio
19.14 (ver o comentário em Pv 15.25).
23.10. terras dos órfãos. H á uma admoestação geral na lei israelita a não aproveitar-se do pobre e oprimido, tais como órfãos e viúvas (Êx 22.22; Dt 27.19). No
en tanto, tal abuso às vezes ocorria. P or exem plo, M iquéias 2.2 acusa os m alfeitores de tom ar terras e
defraudar a herança de seus compatriotas israelitas. Preocupação com dependentes de prisioneiros de guer
ra ou com as viúvas também pode ser vista nas leis
m édio assírias, segundo as quais era possível recorrer ao governo para que suprisse as necessidades dessas pessoas.
23.13, 14. d iscip lina da criança. A disciplina, inclu
sive o castigo corporal, era considerada uma atitude sábia e essencial para o bem -estar das crianças. Os
provérbios aramaicos de Ahiqar incluem frases quase
idênticas a essas encontradas aqui: "N ão retenhas a vara a seu filho ou não serás capaz de salvá-lo. Se eu
o disciplinar, m eu filho, você não m orrerá, m as se
perm itir que você siga seu coração [você não viverá]".23.21. glutonaria. A glutonaria era condenada com
freqüência na literatura sapiencial egípcia. Bem se
melhante a este versículo é a instrução encontrada no Papiro Insinger: "N ão sejas um glutão para que não te
tom es o companheiro da pobreza".
23.30. bebida misturada. O nível de álcool do vinho, norm alm ente m isturado com água, era aum entado
pela adição de mel ou pimenta para gerar um tipo de
"vinho temperado". Assim como em Provérbios 20.1, o tolo é aquele que é dominado pelo vinho. A embri
aguez vai no sentido contrário à tradição sapiencial.
Por exemplo, no costume grego dos "sim pósios" ou
festas regadas a muita bebida, a quantidade de vinho consum ida era controlada, de m odo a perm itir que
conversas racionais fossem mantidas, bem como uma
atmosfera em que os celebrantes pudessem se livrar de seus cuidados e exibir seus talentos na m úsica e na
poesia. Ver o comentário em Eclesiastes 9.7.23.31. vinho quando está verm elho. Não fica claro se
há um fascínio na cor vermelha que funciona como mais um a sedução da bebida forte que leva à em briaguez
(como sugerido pela interpretação da Septuaginta) ou se existe um p roblem a de tradução neste trecho. A
natureza cintilante do vinho pode indicar um a safra
particularm ente forte, m as suave ao paladar (ver Ct7.9) ou pode estar relacionada ao termo para vinho no épico ugarítico de Baal. O texto egípcio Instrução deA ny
igualmente inclui alertas contra a bebedeira por resultar
em palavras impensadas, prejuízo ao corpo, rejeição de am igos e perda dos sentidos.
24.13. m el e favo. O escritor sapiencial aqui acompa
nha uma tradição encontrada em Salmo 19.10 e Eze- quiel 3.3 em que as palavras/leis de Deus são iguala
das à sabedoria e, portanto, são desejáveis. Na maioria dos textos do Antigo Testamento o mel representa
um produto natural, provavelmente xarope da tâma
ra e não mel de abelhas. Não há evidências da domesticação de abelhas em Israel, em bora os h ititas te
nham sido capazes de tal feito e tenham usado mel de
abelha em seus sacrifícios (tal como os cananeus). Na Bíblia, o m el é alistado juntam ente com outros produ
tos agrícolas (ver 2 Cr 31.5). Aqui a referência ao favo deixa claro que se trata de mel de abelha. Observe
também que o mel direto do favo seria m ais fresco e
saboroso. Textos acadianos também usam o mel com sentido figurado para falar do louvor sendo mais doce
que o m el ou o vinho.
2 5 .1 - 2 9 .2 7
Outros provérbios de Salomão compilados pelos servos de Ezequias25.1. servos de Ezequias. Não se sabe ao certo quem
teriam sido esses conselheiros ou oficiais escribas. Di
versos conselheiros de Ezequias, rei de Judá, são m encionados em 2 Reis 18.18, mas não há como igualá-los
aos compiladores dos "provérbios de Salom ão". Uma
crise nacional, porém, é época propícia para reflexões e talvez Ezequias tenha tentado obter o favor de Deus
m andando que tradicionais ditados sapienciais fos
sem registrados e divulgados (compare com os ensinos de Ahiqar, um guia ao comportamento adequa
do, que foram apresentados ao rei da A ssíria como
um recurso para que ele fosse aceito novamente pelo favor real). Certamente o texto sugere que Ezequias
tinha sábios m antidos pela corte que se reuniam e
compilavam ditados sapienciais.25.4. refino da prata. Para que a prata possa tomar a
form a de jóias ou adereços de decoração ela deve ser purificada do óxido de ferro que naturalmente tam
bém ocorre no veio, do contrário ela será corroída ou se tornará quebradiça demais quando esfriar. É preci
so também tomar cuidado para que nenhum elemen
to estranho seja misturado com a prata durante o processo de fundição. Esse processo exige uma temperatura de 773,5 graus centígrados para a liga de prata
(contendo 7,5 partes de liga de cobre) e um cadinho
de grafite. O refino adequado do metal, portanto, é apresentado como paralelo a um rei que procura limpar sua corte do mal, removendo os conselheiros des
leais e tolos. O camponês eloqüente da sabedoria egípcia também admoesta o faraó a ser justo, um "governante sem cobiça" e um "destruidor de m entiras".
25.11. frutas de ouro em escultura de prata. Como em15.23, um a afirmação bem feita ou sábia é considerada de grande valor. O escritor aqui usa a metáfora da jóia finamente trabalhada, cujo artesão teve a habilidade de incrustar uma peça de fruta dourada em uma escultura de prata ricamente decorada. A delicadeza desse objeto decorativo atrai o olhar, assim como um ditado inteligente toca a m ente. A lguns estudiosos sugeriram que a fruta mencionada aqui é um damasco e não um a maçã (como aparece em algumas traduções), em bora a fruta não altere o sentido da figura de
linguagem .25.13. neve na época da colheita. De acordo com o calendário de trabalho delineado no Calendário de Gezer (inscrição hebraica do final do século dez), as atividades de colheita ocorriam na prim avera e na metade para o final dos meses de verão. Logo, o sonho de uma brisa fresca ou até mesmo da neve estaria na mente dos trabalhadores que labutavam sob o sol escaldante. U m a interpretação alternativa entende a menção à "nev e" como a água da neve derretida e, portanto, fria e refrescante. Outros consideram o termo uma referência a gelo e neve sendo cuidadosa
m ente em balados e trazidos m ontanha abaixo. De qualquer forma, a referência serve como um a m etáfora apta para o alívio trazido pelo m ensageiro cujas notícias renovam e tranqüilizam a mente (os ensinos de Ptá-Hotep também expressam o valor das palavras de um mensageiro).25.20. vinagre na soda (N VI: ferida). Esse versículo apresenta problemas textuais num erosos e complexos demais para ser discutido aqui e há um desacordo nas traduções antigas (LXX, Siríaca) quanto aos seus detalhes. O vinagre é um produto ácido, enquanto a soda é básica. A combinação de ambos resultaria imediatam ente em um a reação quím ica bastante evidente. T irar a roupa num dia de frio igualmente provocaria um a reação extrema (tremer de frio). Historicamente, cantar para alguém deprimido também provocou uma reação exagerada quando Saul tentou matar Davi.25.22. am ontoar brasas vivas sobre a cabeça. A instrução de Amenemope também aconselha o sábio a envergonhar os tolos ou seus inimigos retirando-os de águas profundas ou alimentando-os com pão até ficarem tão saciados que sintam-se envergonhados. Igualm en te, os preceitos e adm oestações na literatu ra sapiencial babilónica afirmam que o sábio não deveria "pagar com o mal ao homem que contende com você" e na, verdade, deveria "sorrir para seu adversário". Essa é certamente a direção que esse provérbio segue, mas a metáfora de amontoar brasas vivas na cabeça permanece difícil de entender. Sugestões oferecendo explicações culturais incluem as seguintes:
(1) há um ritual egípcio (m encionado em um texto demótico tardio do terceiro século a.C.) em que um homem aparentemente deu evidência pública de seu arrependim ento carregando um a panela de carvão incandescente em sua cabeça quando foi pedir perdão a quem ele tinha ofendido; (2) nas leis médio assírias, há um exemplo de castigo em que betum e quente era derramado na cabeça do ofensor. Ambas interpretações apresentam problemas. A prim eira encontra-se em um texto tardio e a ação descrita tem sido interpretada de várias maneiras. A segunda fala de piche e não de carvão e é um castigo bastante parecido com a prática de derramar alcatrão quente sobre alguém e cobrir de penas, presente na história m ais recente. Paulo cita esse provérbio em Romanos 12.20.25.23. vento norte. Em Israel, o vento norte não traz chuva e sim bom tempo. Portanto, acredita-se que esse provérbio tenha sua origem no Egito onde o vento norte traz chuva do Mediterrâneo (13 a 25 centímetros por ano no delta).
25.24. canto sob o telhado. Ver o comentário em 21.9.26.1. ciclos do clim a n a Palestina. A neve nunca ocorre durante o verão na Palestina, e a chuva é extrem am ente rara na época das colheitas da primavera e do verão. O clim a m editerrâneo da Siro-Palestina traz chuva e temperaturas m ais amenas (abaixo de zero nas maiores altitudes, em Jerusalém) durante o inverno (outubro a fevereiro) e no restante do ano o clim a é seco apenas com chuvas ocasionais. Logo, essa afirmação é com o m uitas da literatura sapiencial antiga (Amenemope e Ankhsheshonqy) em que o tolo é descrito como "incorrigível" e para quem o ensino é im próprio. Como observa Ahiqar, não há razão em enviar o beduíno para o mar, visto que ali não é seu habitat.26.16. sete. R. Clifford sugeriu que essa é um a referência aos famosos sete sábios que, segundo a tradição mesopotâmica, trouxeram a civilização e a sabedoria ao mundo. Os sete apkallu vieram antes do dilúvio e seus pares, os sete ummanu, vieram após o dilúvio. Essa explicação é possível, mas nesse caso, seria esperada a presença do artigo definido (os sete).26.23. cerâm ica e esm alte. Em bora o esmalte possa ser aplicado à cerâm ica como decoração, pode também esconder defeitos e, portanto, enganar a pessoa que adquire o vaso. Igualmente, um revestimento feito de escória de prata ou de m etal adulterado, oxidado, pode inicialmente ter boa aparência, m as em pouco tempo perde o brilho (embaça) ou com eça a lascar. Logo, os lábios ferventes ou como "fogo devorador"
(ver 16.27) de um salafrário pode tentar esconder seu ódio e malícia com palavras mentirosas.26.24. lábios/coração. Um provérbio acadiano faz a mesma distinção, observando que um homem pode
falar palavras agradáveis com seus lábios, mas ter um coração cheio de ódio. A série de encantamentos Shurpu fala daquele cu ja fala é direta, m as cujo coração é enganoso.27.9. perfum e e incenso. Diversos odores fortes faziam parte da vida cotidiana israelita. Para disfarçar alguns desses cheiros mais desagradáveis, para realçar a atração sexual (Et 2.12; Ct 1.13; ver as canções de am or egípcias do século treze a.C.) e para servir como oferta a Deus (ver o comentário em Êx 30.34-38), os perfum es eram preparados e incenso era queimado. Dentre os m ais comuns estavam o incenso, a mirra, o
açafrão e misturas de canela, cássia e azeite. Fragrâncias tão agradáveis são um paralelo apropriado para o conselho sábio de um amigo.27.13. fiad or e penhor. Ver o comentário em 6.1.27.21. refino de m etais preciosos. Ver o comentário em 17.3.
28.8. ju ros exorbitantes. A lei proibia cobrar juros de dinheiro ou bens emprestados a compatriotas israelitas (ver o comentário em Êx 22.25). Era legal cobrar juros em transações com estrangeiros (Dt 23.20), e existem am plas evidências de juros que chegavam a 20 por cento no Código de Hamurabi (ver o comentário em Êx 22.25). A usura como m eio de fazer fortuna era considerada inadequada para os israelitas, visto que os empréstimos tinham como objetivo ajudar alguém e não aproveitar-se das dificuldades financeiras do outro (ver o comentário em Ne 5.7).
30.1-31.9 Ditados de Agur e do rei Lemuel30.25. form igas. Ver o comentário em 6.6.30.26. coelhos. O hírax sírio ou texugo é um mamífero ungulado que vive no relevo rochoso de penhascos e regiões inacessíveis. Como resultado, por viver de forma isolada (ver SI 104.18), ele está protegido. Além disso, a simplicidade necessária para viver em lugares aparentemente inabitáveis aponta para a adaptação e a desenvoltura dessa criatura.30.27. gafanhotos. Ver os comentários em Amós 4.9 e Joel 1.4-7 acerca do poder destrutivo dos gafanhotos. O fato de que se deslocam em nuvens sem um líder evidente faz deles uma força ainda mais agourenta de contemplar.30.28. lagartixa. A habilidade da lagartixa em mover- se rapidamente pelo solo (Lv 11.29) entrando nos lugares mais bem guardados, inclusive o palácio real, pode despertar a inveja de alguns humanos que desejam tais residências importantes. A lém disso, embora esses pequenos animais não tenham defesas naturais e possam ser capturados com a mão, eles fazem o melhor uso das habilidades que possuem para sobreviver.
31.4-7. em briaguez no m undo antigo. A fabricação de diversos tipos de cerveja e a fermentação do vinho de tâmaras e uvas existia na Mesopotâmia e no Egito desde os tem pos anteriores à escrita (c. 4000 a.C.). Cenas de banquetes são comuns na arte assíria e ilustram grupos de hom ens e m ulheres com endo em
m esas forradas de comida e bebendo em taças através de canudos. O épico babilónico da criação, Enuma Elish, descreve como os deuses festejavam em banquetes, bebendo "o doce licor através de tubos" (uma necessidade, visto que a bebida apresentava um a consistência tão esp essa). U m h ino sum ério à deusa Ninkasi celebra o processo de fermentação e dá graças pela bebida que abranda a sede e jorra em abundância nos rios Tigre e Eufrates. Os males da embriaguez são narrados em Salm o 69.12, Provérbios 20.1 e na descrição de Daniel 5.1-4 e Ester 1.3-8. Também eram bastante reconhecidos em todo o antigo Oriente Próximo. A literatura sapiencial egípcia alerta contra o al
coolism o e sua conseqüente perda do controle que resulta na rejeição social. Há evidências nos textos de M ari em que o alcoolismo era visto como um a condição favorável para receber oráculos divinos.
31.10-31 A mulher exemplar31.10. rubis. Ver o comentário em 3.15.31.13. seleção da lã e do linho. A m ulher ideal descrita neste provérbio tem a habilidade de escolher sabiamente os m elhores fios d e lã e linho para seus tecidos (observe a proibição quanto a tecer lã e linho juntos, em D t 22.11). O linho era cultivado por causa de suas sementes e fibras e podia ser usado na confecção de roupas, cintos e pavios de lâmpadas. A lã e o linho também são colocados lado a lado em Oséias 2.9, junto com os cereais e o vinho, como dádivas de Deus, o m arido de Israel, em conseqüência da prom essa da aliança (alistados também no Código de Hamurábi e nas leis médio-assírias como parte da responsabilidade do marido para com sua mulher).3 1 .16 -24 . m u lh e re s n o s n e g ó c io s . O C ód ig o de Hamurabi contém diversas leis regulando as atividades das mulheres babilônias que administravam es
talagens ou tavernas. Porém , essas atividades não podem ser interpretadas como a habilidade de comprar um campo ou vender vestes finam ente tingidas e tecidas por um a costureira profissional. A imagem idealizada da "esposa perfeita" neste provérbio ultrapassa qualquer coisa que o texto bíblico, em outras passagens, sugeria como atividade perm itida a m ulheres. De m odo geral, elas não tinham direito legal para adquirir terras, em bora certam ente trabalhassem pesado com suas famílias no cultivo dos produtos agrícolas. A única indústria mencionada em textos do antigo Oriente Próximo aberta à participação das mulheres era a tecelagem, e talvez fosse o modelo para todas as outras atividades.31.19. fuso e roca. Os termos traduzidos como fuso e roca aparecem apenas aqui. Porém, o contexto sugere que a tradução é apropriada e que trata-se apenas de termos técnicos relacionados à tarefa de fiar e tecer. Está im plícito um significado de atividade intensa realizada por essa mulher determinada e disposta a "cingir os lom bos" (i. e. arregaçar as mangas) e produzir grandes quantidades de tecido, tanto para sua fam ília quanto para a revenda a mercadores.31.21. agasalhos (roupas verm elhas). Ver os comentários em Êxodo 25.4 e 25.5 para um a descrição dos diversos tipos de tinturas usados para tingir tecidos, especialmente o linho. O corante verm elho ou púrpura era caro e reservado para os mais ricos.31.22. linho fino e púrpura. Um tecido de linho fino era um bem valioso e desejável, usado como coberta para a cam a ou cortado em pedaços m enores para fazer roupas (ver Jz 14.12 e Is 3.23). O corante púrpura, feito do fluido glandular de m oluscos marinhos, era m uito caro e, neste contexto, é um sím bolo do quanto a m ulher exemplar faz sua casa prosperar.31.23. autoridad es à porta da cidade. O lugar tradicional onde as autoridades da cidade se reuniam para fazer negócios (ver Ló, à porta de Sodoma, em G n 19.1) e ouvir as causas legais era a porta da cidade (ver Rt 4.14). Antigos registros babilónicos destacam o papel legal das autoridades no julgam ento de disputas de terras, na audiência de juram entos e como testemunhas de diversas transações (ver Jr 32.12).
E C L E S I A S T E S
1.1. "f ilh o " de D avi. O termo "filh o" pode significar um a relação política ou de parentesco (qualquer des
cendente do sexo masculino podia ser cham ado de " filho"). N este contexto, o mestre é associado a um dos
descendentes reais de Davi, sendo Salomão o candidato mais óbvio que vem à mente.1.2. inutilidad e. Remontando à literatura sum éria e passando pelas tradições do antigo Oriente Próximo,
a inutilidade da vida e particularmente, da condição hum ana, tem sido reconhecida: desde os primórdios,
quanta vaidade (vento)!
1.9. nada novo debaixo do Sol. Já em inscrições reais assírias parece que constantem ente os reis estavam em busca de feitos e realizações a fim de que pudessem vangloriar-se de terem feito algo nunca alcançado antes. Dessa forma, o rei podia incluir-se entre os
"criad ores" ou "fu n d ad ores" - aqueles que deram origem a algo novo. Tais feitos incluíam explorações ou conquistas; construções de estradas, palácios, tem
plos ou cidades; ou a introdução de um a nova técnica ou celebração.1.13. papel do sábio . Os sábios form avam um a guil- da diferente da dos escribas, em bora sua função e atividade exatas sejam obscuras. Certamente eram mes
tres, m as não se sabe se passavam por uma educação formal ou se transmitiam seus conhecimentos em escolas ou inform almente. Os sábios eram conhecidos em
outras culturas do antigo Oriente Próximo e às vezes atuavam como conselheiros da realeza. Para m ais inform ações, ver o com entário em Provérbios 1.1.2.5. jard ins e pomares. Era freqüente os palácios serem cercados de jardins particulares com árvores frutíferas e outras que proporcionavam sombra, riachos, lagos e caminhos - algo semelhante a um parque. O bosque com freqüência continha diversas árvores e
plantas exóticas. Jardins como esses foram escavados em Pasárgada, a capital de Ciro, o Grande.2.6. sistem as de irrigação. Messa, rei de Moabe (nono século a.C.) tam bém afirm a em sua lista de realizações ter construído reservatórios de água na casa real.
O historiador judeu Josefo afirma em sua obra Guerra Judaica que o Açude do Rei, em Jerusalém, foi construído por Salomão.2.7. escravidão em Israel. Certos indivíduos em Israel
haviam sido privados de parte de sua liberdade e podiam então ser com prados e vendidos. O termo
m ais com um para escravo na Torá era ‘ebed. Esse termo, porém, era vago (semelhante ao seu correlato acadiano, wardu), visto que era usado para qualquer pessoa em uma posição subordinada a alguém supe
rior; era, portanto, um termo que denotava subm issão genérica. Tem sido traduzido com freqüência como "servo". Até mesmo patriarcas e monarcas eram servos de D eus e todos os habitantes de Israel e Judá
eram servos ou súditos do rei, inclusive os membros da fam ília real. Por algum tempo, D avi foi escravo (vassalo) do rei filisteu Aquis, e Acaz, rei de Judá foi servo do rei assírio Tiglate-Pileser III. Uma das princi
pais fontes da escravidão eram os prisioneiros de guerra, que eram vendidos como escravos. Entretanto, na Lei M osaica, um israelita não podia ser forçado a fazer
o trabalho de um escravo. A única m aneira de um israelita ser reduzido à servidão era por causa de sua própria pobreza ou por ter sido entregue como pe
nhor ou garantia pela pobreza de um parente. Essa escravidão terminava assim que a dívida fosse paga. Há escassos registros acerca do núm ero de servos e
escravos dom ésticos no antigo Israel. Por exemplo, um censo feito após o exílio (quinto século a.C.) registrou mais de sete mil escravos, em relação a m ais de quarenta m il cidadãos livres. U m a fam ília bem de
vida provavelmente possuía um ou m ais servos domésticos. Em bora um escravo fosse considerado propriedade, era tam bém considerado hum ano e, portanto, tinha certos direitos. O escravo era considerado parte da família, como evidenciado pela exigência da circuncisão. Em bora não houvesse predominância do trabalho escravo na agricultura, nas atividades artesanais ou nos ramos da economia, parece que durante a m onarquia o Estado fez uso de escravos (c. 1000-586
a.C.). D avi colocou a população para trabalhar na fabricação de tijolos, enquanto Salomão usou "escravos" para trabalhar nas m inas de Arabá, nas fábricas de Eziom-Géber e na construção do palácio real e do
templo. A m aior parte desses escravos era de cananeus e não israelitas.2.8. cantores. Os m úsicos eram mantidos para o entretenim ento do governante ou para participação em cerimônias rituais. Visto que tanto cantores como cantoras são incluídos aqui, é m ais provável que se trate da últim a alternativa. A M esopotâm ia e o Egito ti
nham longa tradição na m úsica popular e religiosa,
provavelmente conhecidas dos israelitas. A ntigas pinturas de túmulos egípcios exibem passos de dançarinos e também um a grande variedade de instrumentos musicais. M úsicos da corte, tanto homens quanto m ulheres, são confirmados em todo o antigo Oriente Próximo. Existe evidência deles em textos (inclusive, por exem plo, de U ruk e M ari) do vale do T igre e Eufrates, da Anatólia hitita e do Egito. Esses músicos faziam parte da equipe de funcionários permanente do palácio, como demonstram as listas de rações.2.8. harém . O termo aqui geralm ente é considerado uma designação para concubinas, m as a palavra ocorre apenas aqui e seu significado é obscuro. Certamente, tom ar para si concubinas fazia parte do padrão comum de comportamento dos reis. Outros estudiosos sugeriram que a palavra deveria ser traduzida como "baús de tesouro".3.5. espalhar e ajuntar pedras. As pedras de um campo eram retiradas para que o agricultor pudesse usá- lo com objetivos agrícolas (ver Is 5.2). Costumava-se atirar pedras no campo de um inim igo para que as plantações fossem prejudicadas (2 Rs 3.19, 25; Is 5.2).3.16. corrupção do ju d iciário . O escritor lam enta o fato de que em lugar da justiça havia impiedade. Em outras palavras, o curso normal do mundo fora invertido, um tema comum na literatura m esopotâm ica,
especialmente na obra literária cham ada de o Jó Babilônio. Para m ais informações, ver os comentários em Isaías 5.23.
4.12. cordão de três dobras. Essa expressão evidentemente era bastante conhecida no antigo Oriente Próximo. Na história sum éria de Gilgamés e a Terra dos Viventes, G ilgam és encoraja Enkidu nos m om entos ansiosos que antecedem sua batalha com o temível Huwawa. Ele sugere que os dois poderiam defender um ao outro e assim, seriam vitoriosos.5.1. opções no tem plo. A literatura do antigo Oriente Próximo apresenta alertas semelhantes. O texto egíp
cio Instrução para M eríkare aprova o caráter de alguém de coração reto em detrimento do sacrifício de uma pessoa m á. Um a inscrição de Ugarit comenta sobra as ações de um tolo que se apressa a oferecer orações para aplacar seu deus, mesmo sem estar se sentindo arrependido. As opções mencionadas no texto bíblico
contrastam a direção da comunicação. O sacrifício do tolo geralm ente acompanha uma petição dirigida à divindade em busca de favor ou da resposta do pedido. O que ouve no templo geralmente seria o receptáculo de um oráculo em que a divindade expressaria seu favor ou desagrado. O texto egípcio Ensinos de Ptá-Hotep gasta quase cinqüenta linhas exaltando as virtudes de quem ouve, em relação à tolice daquele que fala precipitadamente.
5.2. fazer prom essas. É m ais provável que esse versículo se refira a prom essas, visto que prom essas feitas sem pensar eram consid erad as um problem a. Um a promessa ou um juramento era considerado algo muito sério no antigo Israel. Os juram entos sem pre eram feitos em nom e de um deus. Isso colocava um a grande responsabilidade na pessoa que havia jurado, no sentido de cumprir as condições estipuladas, um a vez que estaria vulnerável à retribuição divina e hum ana se não as cumprisse. Os juram entos eram usados em procedimentos legais e em tratados e alianças políticas. Reis vassalos e reis dom inadores igualm ente tinham de cum prir suas prom essas de apoiar-se m utuam ente.5.3. sonhos. No mundo antigo, acreditava-se que os sonhos trouxessem m ensagens divinas e, portanto, eram levados m uito a sério. Considerava-se que alguns sonhos, dados a reis e profetas, fossem um meio de revelação divina. A maioria deles, porém, até mesmo os sonhos de pessoas comuns, eram considerados presságios que comunicavam m ensagens sobre as atividades dos deuses. Os sonhos que continham revelações, geralm ente envolviam a divindade e ela era identificada; já os sonhos de presságio, geralm ente não faziam nenhum a referência à divindade. Como eram cheios de simbolismos, com freqüência, os sonhos precisavam ser interpretados, embora às vezes, os sím bolos fossem relativam ente auto-explicativos. As informações recebidas em sonhos podiam ser alteradas, m as um sonho podia ser motivo de preocupação, e até mesmo de alarme. A m elhor tradução para este versículo, então, seria: "A ssim como um sonho pode trazer m uitas preocupações, a fala de um tolo é acompanhada de muitas palavras".5.4. votos. Os votos eram acordos voluntários, condicionais, feitos com a divindade, bastante com uns na maioria das culturas do antigo Oriente Próximo, inclu
sive na hitita, na ugarítica, na m esopotâm ica e, com m enos freqüência , na eg ípcia. No m undo antigo, o contexto m ais com um para um voto era quando um pedido era dirigido à divindade. Eram compromissos cultuais feitos com D eus em que o adorador prometia tom ar determinada atitude ou fazer algo, se Deus respondesse favoravelmente seu pedido. Foram encontrados artefatos em diversos sítios arqueológicos do Levante que eram usados como ofertas votivas. Além do mais, esteias votivas da Fenícia e a literatura (textos de orações e ações de graças) da Mesopotâmia, do Egito e da Anatólia evidenciam a prática dos votos. Para mais inform ações, ver o com entário em 1 Sam uel 1.11.5.6. m ensageiro de D eus (do tem plo). Os eruditos não sabem ao certo quem exercia essa função de mensageiro do templo, visto que não há nenhuma outra referência bíblica a esse ofício. A partir deste versículo,
pode-se presumir que havia um oficial do templo cujo papel era certificar-se de que os adoradores haviam cumprido seus votos. Funcionários com papéis semelhantes são citados em inscrições fenícias.5.8. governo corrupto. No antigo Oriente Próximo o rei tinha a obrigação de proteger os direitos legais do povo. O governo era, portanto, responsável pela ju stiça e pela retidão. Com m uita freqüência, porém, a
realidade era muito mais dura. Depois que todos os funcionários (oficiais locais, do templo e do palácio) recebiam sua parte da produção dos campos (na form a de impostos), tudo que era possível ao restante do povo era uma parca subsistência.5.17. passa a vida (come) nas trevas. Se uma pessoa trabalha nos campos desde o nascer do Sol até o anoitecer, então, tanto o café da manhã quanto o jantar são comidos no escuro. Por isso, quem deseja as riquezas não terá realização, e sim frustração.6.3. im portância do enterro digno. Na M esopotâm ia o espírito de quem não tivesse um enterro digno estava cond en ad o a v ag ar p ela te rra sem ru m o, in com odando os v iv en tes. E ssa id éia está im p líc ita no h orror observado em textos bíblicos relacionados a p essoas que m orreram de form a v io len ta sem um enterro decente. A m aioria dos povos antigos acreditava que um enterro adequado, decente, no m omento apropriado, afetava a qualidade da vida após a morte. Ver o com entário em 1 Reis 16.4. N o Épico de Gil- gamés, Ehkidu, ao retom ar do m undo inferior, relata a G ilgam és que qu en v não fosse en terrad o , após a morte não tinha descanso e quem não deixasse paren
tes vivos para cuidar dos rituais, comia apenas o que era jogado nas ruas. Um a m aldição babilónica relaciona o enterro com o encontro do espírito do morto com seu s en tes q u erid o s. S ab em o s que a té m esm o os israelitas acreditavam que um sepultam ento adequado afetava a vida no além, porque eles, assim como seus vizinhos, enterravam seus entes queridos com provisões que lhes serviriam na vida após a m orte: com freqüência vasilhas de cerâm ica (cheias de comida) e jóias (para afastar o m al), além de utensílios e objetos de uso pessoal que às vezes eram acrescentados.6.6. todos vão para o m esm o lugar. Na visão israelita (presente também em muitas das culturas vizinhas), a escolha não era céu ou inferno, mas vida ou morte. Este versículo fala sobre o destino humano e, portan
to, o lugar aonde todos iam era o Sheol, a habitação dos mortos. Para m ais informações a respeito das crenças na vida após a morte, ver os comentários em Jó3.13-19 e a nota de rodapé em Isaías 14.7.1. perfum e fin íssim o. No mundo antigo, os convidados de um banquete muitas vezes eram recebidos por um anfitrião generoso com finos óleos com os
quais tinham suas frontes ungidas. Além de dar-lhes um a aparência brilhante, acrescentava ao ambiente e à sua pessoa um odor agradável. Por exemplo, um texto assírio do reinado de Esar-Hadom descreve como ele "encharcou a fronte" de seus convidados num banquete real com os m ais "seletos óleos".7.6. estalo de espinhos debaixo da panela. A lenha fino de arbustos espinhosos, ao pegar fogo rapidam ente, p rod uz bastan te baru lh o que cham a a atenção. Na verdade, porém , é um a lenha bastante inadequada, visto que sua cham a é pobre e seu calor dura pouco.7.7. suborno em Israel. Dar presentes era uma prática comum no antigo Israel. Sacrifícios e outras ofertas eram considerados presentes dedicados a Deus. A troca de presentes entre as pessoas também era importante, embora em alguns casos fosse considerada imprópria (por causa da motivação de quem presenteava), por ser considerada suborno. É nesse contexto que os israelitas foram ordenados a não aceitar presentes (i. e., subornos) visto que eles "cegavam o sábio" (ver o comentário em Êx 23.8). Como fica evidente no prefácio do Código de Hamurabi (c. 1750 a.C.) e nas afirmações feitas pelo camponês eloqüente, na literatura sapiencial egípcia (c. 2100 a.C .), o padrão de
comportamento para as autoridades era proteger os direitos dos pobres e oprim idos na sociedade. Um govem o bem administrado no antigo Oriente Próximo dependia do respaldo e do cumprimento da lei. Com esse fim, todo Estado organizado havia estabelecido uma estrutura formada por juizes e oficiais locais que tratavam de causas civis e crim inais. Era tarefa deles ouvir depoimentos de testemunhas, investigar acusações, avaliar e exam inar as provas e executar juízo (detalhes nas Leis M édio-assírias e no Código de Hamurabi). Em todas as épocas e lugares é possível encontrar juizes e funcionários do govem o sendo tentados a aceitar subornos. No antigo Oriente Próximo, os subornos se tom aram um a prática quase institucionalizada, considerada aceitável em ambientes adm inistrativos, à medida que partidos rivais procuravam prejudicar uns aos outros. Entretanto, pelo m enos idealm ente, na tentativa de m inorar esse problem a, impunham-se punições e conduziam-se debates. A ssim, o código de Hamurabi 5 estabelecia severas punições a qualquer ju iz que alterasse suas decisões (presumivelmente devido a um suborno), inclusive pesadas multas e afastamento permanente do cargo.7.12. dinheiro como proteção. A palavra que a NVI traduz como "proteção" geralmente é traduzida como "som bra". É um a m etáfora para a proteção e o conforto provenientes do alívio proporcionado pela sombra num dia quente. Talvez esse tenha sido um provérbio bem conhecido, m as não foi encontrado em ne
nhum outro material. Provavelmente, a "som bra" do dinheiro, assim como a sabedoria, é a proteção que o dinheiro proporciona aos indivíduos.7.13. endireitar o que está torto. No antigo Oriente Próximo, os devotos ficavam constantemente perplexos em relação ao que os deuses estavam fazendo e por que estavam agindo de determ inada m aneira. Em um hino sumério a Enlil, o poeta diz "Seus feitos trem endam ente inteligentes são assombrosos, o significado deles é um fio emaranhado que não pode ser desfeito" (ANET, 575).8.2. conduta do cortesão. E de se esperar que conselhos sobre como o cortesão deve comportar-se estejam presentes na literatura sapiencial, visto que seu principal objetivo era preparar futuros funcionários para o palácio. O texto egípcio Ensinos de Ptá-Hotep dirige muitos de seus parágrafos às pessoas em diversas posições de liderança. A Instrução de Ankhsheshonqy aconselha de form a bastante parecida, como este trecho de Eclesiastes: "N ão faça um julgam ento em que você está errado" (116.17); "N ão se apresse a falar quando estiver diante de seu senhor" (17.10). O conselho ao cortesão descrito aqui também é semelhante ao contido no texto Palavras de Ahiqar, um conselheiro da corte assíria durante o sétimo século a .C .8.11 ,12 . castigo aos crim es em Israel. Israel compar
tilhava de um a tradição legal com o restante do antigo Oriente Próximo em relação às punições para crimes.
Os castigos mais comuns na Bíblia eram o apedrejamento, a morte na fogueira e a mutilação. As fontes do antigo Oriente Próximo (p. ex., o Código de Hamu- rabi e as Leis Médio-Assírias) ocasionalmente m encionam os métodos de aplicação de pena que incluíam o afogamento, a mutilação e o empalamento. O encarceram ento não era usado como castigo por crimes, em bora existissem prisões para quem não saldasse
suas dívidas e para prisioneiros políticos. Além disso, as prisões eram usadas para deter os crim inosos à espera de julgamento.9 .5 ,10 . recom pensa. O termo "recom pensa" aqui provavelmente se refere aos benefícios da vida, dos quais o morto não pode mais tomar parte. Os mortos não podem desfrutar de nenhuma das coisas consideradas uma bênção aqui nesta vida. Além disso, o conteúdo desses versícu los tam bém é um indício da crença israelita de que não havia recom pensa celestial por um a vida de fé ou de boas obras. Eles acreditavam que a justiça de Deus era executada aqui m esmo nesta vida e não depois da morte.9.7-10. com er, beber e alegrar-se. O filósofo grego Epicuro não foi o primeiro a recom endar essa atitude diante da vida. Até mesmo Gilgamés foi aconselhado a encher sua barriga, usar vestes limpas e perfuma
das e ter seu corpo banhado. Ele foi exortado a deliciar- se com seus filhos e esposa. N a literatura egípcia o Cântico do Harpista, da primeira metade do segundo milênio, aconselha que se tenha um a vida de regozijo e busca do prazer. Isso inclui ungir a cabeça e vestir finas roupas.9.7. vinh o. H avia um a série de tipos diferentes de vinho no antigo Israel. A form a mais comum do vinho era o da uva Vitus v inifera L. G eralm ente era verm elho (Gn 49.11, 12; Pv 23.31); o vinho branco é m encionado apenas em fontes rabínicas). O Antigo Testam ento faz m enção à existência de um "vinho doce", provavelmente produzido pela exposição das uvas ao Sol pelo menos por três dias antes de serem espremidas. O vinagre (i. e. vinho azedo) era usado como tempero e por seu valor medicinal. A mistura m ais comum era o vinho diluído com água, embora tem peros tam bém fossem acrescentados à bebida. Como no resto do Oriente Próximo, o vinho não era a bebida m ais comum, mas era usado em ocasiões especiais, inclusive em banquetes, coroações e casamentos. Certas restrições bíblicas ao consum o do vinho eram primordialmente cultuais (p. ex., Lv 10.9) e dedicatórias (i. e. o voto do nazireu). O vinho também era usado no culto israelita (p. ex., nas libações). O vinho aparentemente era um importante produto comercial, visto que Salomão forneceu vinho a Hirão, rei de Tiro, em troca de material e homens habilitados para a construção do templo (2 Cr 2 .10,15).9.8. rou pas de fe sta (vestido de branco). Eruditos interpretam a cor branca com o sím bolo de pureza, festividade ou posição social elevada. No Egito (História de Sinuhe) e na Mesopotâmia (Épico de Gilgamés) vestes limpas ou brilhantes transmitiam um a sensação de bem-estar. Além do mais, o clima quente do Oriente Médio favorece o uso de roupas brancas para refletir o calor.9.8. ungir a cabeça. O óleo preservava o aspecto da pessoa no clim a quente do O riente M édio. O texto egípcio "A Canção do H arpista" e o épico mesopotâ- mico de Gilgam és descrevem indivíduos vestidos em linho fino e com m irra espalhada na cabeça.9.11. conceito de destino. O destino, um a força impessoal, controlava o futuro das coisas. Eriki, o deus da sabedoria, usava um chapéu de feiticeiro, demonstrando que ele procurava controlar e predizer o destino, de forma bastante parecida a um feiticeiro hum ano. O destino estava escrito em tabletes, e quem os controlava tinha em mãos o destino do Universo. Se caíssem em m ãos erradas, haveria caos no mundo. Em um mito, vima divindade-pássaro (Anzu) roubou
os tabletes do destino, causando um verdadeiro alvoroço na comunidade divina, até ser m orto. O conceito
israelita de destino ou acaso era diferente do conceito m esopotâmico. Em vez de enxergar algo com o um acontecimento aleatório (destino), eles o consideravam um evento inesperado (serendipism o). "T em p o " e "acaso" são apresentados aqui não como duas contingências distintas, mas como um único fator. Uma "co incidência" pode ocorrer em qualquer situação e alterar o que seria considerado um acontecimento garantido ou previsível.9.12. caça/ pesca. Embora Ismael e Esaú fossem conhecidos como caçadores, a caça não era uma prática típica em Israel, exceto em períodos de fom e ou com o objetivo de livrar-se de animais selvagens que colocavam em risco os rebanhos. N a Assíria e no Egito, porém, existem inúmeros relevos de parede ilustrando cenas de caçadas reais. A caça tam bém está im plícita na corte de Salomão (1 Rs 4.23). Essa atividade era
bastante conhecida em Israel a ponto de ser base para algumas metáforas. A pesca, assim como a caça, não é m encionada como uma atividade recreativa no antigo Israel. O Livro de Jó descreve a pesca com lança ou arpão (41.7) ou com anzol (41.1, 2; Is 19.8). A ssim como a caça, a pesca muitas vezes era a base de m etáforas, prim ordialm ente para a figura do julgam ento de Deus sobre indivíduos ou nações.
10.1. m oscas no perfum e. Essa expressão é de certa forma parecida com a atual "um a única maçã podre no cesto estraga todas as boas". Algo tão insignificante quanto uma m osca estraga até m esm o o m elhor perfume tom ando-o tão asqueroso que todo o frasco tem de ser jogado fora.
10.2. para o bem ... para o m al (para a direita... para a esquerda). Embora não haja dúvida de que a direita era considerada o lugar de honra e a posição de maior proteção, não há indícios de que houvesse qualquer coisa negativa ou inerentemente fraca ou ruim relacionada ao lado esquerdo, no antigo Oriente Próximo ou em Israel. A esquerda era secundária quanto à honra e uma direção inesperada para desferir ataque. O tolo escolhe o cam inho da vulnerabilidade e da posição inferior.10.8, 9. perigos de algumas atividades. (1) Cavar um poço era uma atividade cujo objetivo era apanhar um animal de grande porte. Com esse objetivo em m ente, o poço era disfarçado, podendo levar acidentalmente alguém a tropeçar e cair nele. (2) Quando um muro de pedras era desmanchado, ou quando uma brecha era aberta em um m uro para colocar um a porta, era possível involuntariamente perturbar uma cobra que havia feito sua toca entre as pedras frias. (3) A atividade de arrancar pedras citada aqui provavelm ente não se trata daquela feita por profissionais, uma vez que as outras atividades m encionadas são
atividades norm ais da vida rural. O verbo é usado
para arrancar, m as tam bém é usado em contextos mais gerais que dizem respeito a desarraigar ou tirar
algo do lugar. A interpretação alternativa então é que essa expressão poderia referir-se a um agricultor que
limpava seu campo, tirando as pedras dele. Alguns ferimentos podiam resultar dessa atividade por causa
da queda de pedras, hérnias ou arranhões nos braços.
(4) Finalm ente, os perigos inerentes a rachar lenha são facilmente identificáveis. O machado podia esca
par da mão ou do cabo, e em vez de atingir a madei
ra, provocar ferimentos graves.10.11. encantadores de cobras. As cobras eram animais
bastante tem idos no m undo antigo por serem consi
derados seres mágicos e também por causa de seu ve
neno. A profissão de encantador de serpente era uma
habilidade conhecida em todo o antigo O riente Próxim o. Os encantadores de serpente parecem ser representados em amuletos egípcios de escaravelhos (ver o com entário em Êx 7 .11 ,12). As literaturas egípcia e
m esopotâm ica contêm exem plos de encantam entos
contra serpentes e suas mordidas. A palavra traduzida como "encantadores" aqui não deve evocar imagens de
desenho animado de serpentes hipnotizadas subindo
em espiral, controladas por tocadores de flauta. Em vez d isso, a referência é a cobras contra as quais os en
cantamentos são ineficazes. Textos acadianos também
falam de serpentes que são "d esconjuráveis".
10.20. aves com o m exeriqueiras. Histórias de "passarinhos" que contaram segredos podem ser encontra
das na obra de Aristófane intitulada Os Pássaros, uma
comédia grega clássica, e na lenda hitita de Elkuhirsa.
Os provérbios de Ahiqar afirmam que uma palavra é como uma ave e é falto de senso quem a liberta.11.1. pão sobre as águas. Esse provérbio foi encontrado na fonte egípcia A Instrução de Ankhsheshonqy ("faça
algo bom e lance-o no rio; quando secar, você o encon
trará") e em provérbios arábicos. Se Eclesiastes acompanha o sentido de Ankhsheshonqy, o texto sugere
que uma boa ação espontânea não é garantia de reciprocidade, mas o "qu e vai, sempre volta".
11.2. repartir o que se tem. Repartir o que se tem geralmente pressupõe uma situação em que alimentos ou
bens estão sendo distribuídos (não apenas investidos). Poderia encaixar-se ao contexto de distribuição de uma herança ou de generosidade.
12.1-8. efeitos da velhice. U ma corrente interpretativa vê um a alusão fisiológica em cada um dos versículos:
verso 2: visão diminuída, limitada
verso 3: m ãos trêm ulas, postura encurvada, perda dos dentes, catarataverso 4: perda da audição, acordar cedo
verso 5: temores aumentados, cabelos brancos/grisalhos, movimentos lentos, desejo sexual diminuído verso 6: debilidade da coluna vertebral, faculdades mentais deterioradas, incontinência urinária, parada cardíaca verso 7: morteAlgumas dessas relações remontam aos Targuns (traduções judaicas interpretativas para o aramaico que datam do primeiro século d .C ), mas as relações são difíceis de fundamentar, visto que muitas delas não são confirm adas em outras passagens. A ssim , por exemplo, enxergar "a taça de ouro" como uma referência ao cérebro seria improvável, visto que no mundo antigo eles não tinham conhecimento sobre o funcionamento e a função do cérebro. Poderia o cordão de prata (v. 6) ser a aorta e a taça de ouro, o coração? O fato que não se pode afirm ar com certeza demonstra a natureza especulativa dessa linha de interpretação. O texto egípcio Ensino de Ptá-Hotep do Reinado Médio (primeira metade do segundo m ilênio a.C.) começa com doze linhas descrevendo os efeitos da velhice (tais como olhos que não enxergam bem, ouvidos que ficam surdos, dores nos ossos, perda da m em ória e das faculdades mentais), mas fala em termos diretos e não através de metáforas.12.3. guardas da casa. Os "guardas da casa" podiam ser servos ou escravos domésticos comuns em todo o antigo O riente Próxim o, que com freqüência eram pessoas investidas de autoridade (como José, na casa de Potifar).
12.3. m oedores. Os moedores eram servos ou prisioneiros que executavam a tarefa diária de m oer cereais para fornecer pão para todo o Estado. A m oagem dos cereais em farinha geralmente era feita em moinhos e era um trabalho destinado aos m em bros das classes mais baixas da sociedade. Uma das "instalações" mais básicas de qualquer casa antiga era o moinho de mão com duas pedras para m oer (ver com entário em Jz 9.53). M oinhos maiores geralmente funcionavam como prisões de trabalhos forçados na M esopotâm ia, mas cada prisioneiro também usava um moinho de mão. Nas casas de m oinho havia prisioneiros de guerra, criminosos e endividados.
12.3. aqueles que olham pelas janelas. Uma mulher olhando pela janela era uma temática fam iliar representada de forma muito bela em entalhes de marfim encontrados em Ninrode, Samaria e Arslan Tash (em que a m ulher está adornada com um a peruca egípcia). Na literatura, a m ulher é descrita contemplando o horizonte à espera de notícias do marido ou do filho que teriam partido para a guerra (ver o comentário em Jz 5.28). Essa é provavelmente a base da metáfora usada aqui.12.4. sons de atividades. As portas sendo fechadas são portas duplas e portanto devem referir-se à porta da cidade onde todo o alvoroço das atividades acontecia. Nem o barulho da cidade, nem o barulho dos trabalhadores (dos m oinhos) é m ais ouvido. Esses sons morriam ao final do dia.12.5. am endoeira. As flores da amendoeira aparentemente representam os cabelos brancos da velhice. A
amendoeira era a prim eira árvore a florescer no final de janeiro/ inicio de fevereiro, chegando a atingir de4,5 a 9 metros de altura. A flor da amendoeira é branca com manchas rosas; as amêndoas aparecem cerca de dez semanas após a floração. Outras metáforas antigas p ara a velhice incluem a gipsita branca num a m ontanha preta.12.6. cordão de prata/ taça de ouro. A palavra para taça aqui tam bém é encontrada em Zacarias 4.2, 3, onde se trata de uma taça que contém os pavios das velas. Alguns supõem que o cordão de ouro está preso à taça de ouro, que ao se partir, derrubaria a taça deixando-a em pedaços. Isso simboliza o processo de envelhecimento e a morte. Josefo descreve uma lâmpada de ouro presa a um a corrente de ouro no templo judeu, em Leontópolis, no Egito.12.6. cântaro na fonte/ roda no poço. Ambos objetos estão associados a um poço ou fonte. Acredita-se que a roda represente a roldana que puxa o jarro para fora do poço, em bora esses instrumentos não fossem am plamente usados. A alternativa é que a palavra traduzida como "rod a" (galgai) possa referir-se a um a panela, com base em um termo semelhante em acadiano (gulgullu, que, talvez não coincidentemente também significa "crânio").
C Â N T I C O D O S C Â N T I C O S
V1.2. beijo . Um beijo nos lábios era usado como expressão apaixonada em todo o Oriente Próximo, embora os egípcios, nos primórdios, com freqüência tocassem o nariz.1.3. perfum es. U m a série de perfum es feitos à base de óleos ou resinas era usada para perfumar o corpo ou para serem queimados como incenso. Dentre essas fragrâncias estavam a mirra, o incenso e o bdélio (ver Is 60.6; Jr 6.20). O açafrão, o cálam o e o aloé eram importados da índia, a canela do Sri Larika e o nardo do Nepal. Quanto a outros usos bíblicos dos perfumes, ver a receita de incenso no comentário de Êxodo 30.34-38 e os perfumes mencionados nos comentários de Provérbios 7.17 e 27.9.1.5. Quedar. Quedar era um dos mais poderosos grupos tribais de beduínos do norte da Arábia no período entre o oitavo e o quarto séculos a.C.. São mencionados nos anais assírios e neo-babilônicos e estão ligados à genealogia de Ism ael em Gênesis 25.13 (ver os com entários em G n 25.12-16; Is 21,16 e 42.11). Suas tendas eram feitas de pele de animais ou de tecidos estendidos em estacas form ando um a cobertura de três lados. A cor negra das tendas seria por causa do uso de pele de bode preto (ver o comentário em Êx26.7-13).1.7. m ulher coberta com véu. Em bora não se saiba ao certo a que se refere essa expressão, ela pode ser decorrente das diferenças de costumes exigidos em contextos sociais distintos. De acordo com as Leis Mé- dio-Assírias, as esposas, viúvas e moças solteiras filhas de cidadãos eram obrigadas a usar véu quando estivessem em público (observe como Rebeca se cobre com o véu antes de encontrar Isaque, em G n 24.65). N o interior da casa ou em um cenário onde apenas m em bros da fam ília ou servos estavam presentes (ou no aprisco onde o marido guardava seus rebanhos) o véu seria desnecessário. O bserve tam bém o uso do véu por Tamar, em Gênesis 38.14, 15. Talvez seja um indício de que no contexto cananeu o véu era usado como sinal de prostituição cultual ou possivelmente por prostitutas que trabalhavam junto com os pastores.1.9. égua das carru agens do faraó . Um a tática de batalha atestada na literatura egípcia era soltar uma égua nas proximidades das carruagens a fim de que os garanhões que puxavam os carros ficassem distraídos e confusos. '
1.11. brincos de ouro com incrustações de prata. Como em Provérbios 25.11 o escritor bíblico usa a imagem de um a jó ia finam ente trabalhada para demonstrar devoção e afeição. Nesse caso, os brincos provavelm ente tinham pingentes de prata ou incrustações no ouro (ver o comentário em Is 3.18-23).1.13. pequ en in a bo lsa de m irra. A m irra cresce na região árida bem ao norte das montanhas costeiras do Iêm en e de Omã, na área chuvosa da monção sudoeste. A resina da m irra verm elha, extraída através de talhos nos caules espinhosos e da exposição do córtex interno, aparece como drupas suculentas. Esses frutos eram , então, esm agados para uso na fabricação de perfum es ou com o-um ingrediente m edicinal. Sua fragrância natural, parecida com a terebintina, era bastante duradoura podendo ser colocada em um saquinho a fim de estimular o prazer sexual ou servir como um aroma desinfetante para os odores com freqüência presentes nas casas da Antigüidade. Pequenas bolsas usadas em volta do pescoço contendo vários elementos eram usadas como amuletos no Egito.1.14. ram alhete de flores de hena. Hena é um arbusto, Lawsonia inermis L., com flores brancas perfumadas. Cresce em muitas áreas do Oriente Médio e foi descoberto na tumba do faraó Tutancâmon. As folhas e ramos produzem um corante vermelho, amarelo ou laranja que pode ser usado para tingir os cabelos e
outras partes do corpo. A fragrância é semelhante à de rosas.1.14. En-G edi. Trata-se de um oásis localizado 56 quilômetros a sudeste de Jerusalém e aninhado por um desfiladeiro na costa ocidental do m ar Morto. O nome significa "fonte do cabrito" e a escavação de um templo do quarto milênio dentro de seus limites atesta a existência das águas refrescantes desse oásis, desde a Antigüidade. N essa m etáfora a localização peculiar do oásis entre os vales dos montes que o circundam faz dele um paralelo apropriado para a pequena bolsa de mirra e o ramalhete de flores de hena colocados entre os seios da "am ada".1.15. o lhos são pom bas. A s pom bas figuram com certo destaque em selos e outras representações icono- gráficas como um símbolo do amor e da sedução. Às vezes, são consideradas mensageiras do amor. Nesse caso, a m etáfora refere-se ao poder sedutor dos olhos.2.1. flo r (rosa) de Sarom . Em bora não se saiba ao certo a que flor se refere essa citação, o uso da palavra
hebraica shushan para "lír io " neste versículo indica
uma planta com seis pétalas. Uma escolha provável,
portanto, seria o narciso-romano-dobrado que cresce
nas colinas e vales úmidos da planície de Sarom. Flo
resce durante o inverno e tem pétalas brancas e um
cálice ou corola laranja aumentando a beleza de cada
cacho. Os narcisos foram encontrados como oferendas
em tumbas helenistas do Egito.
2.4. estandarte sobre m im é o amor. A tradução de
degel como "estandarte" é incerta. M urphy e Fox fa
zem referência a um cognato acadiano, diglu, "o lhar"
ou "intenção", e Fox escolhe a tradução: "suas inten
ções para comigo eram o am or". De qualquer manei
ra, colocar um estandarte como símbolo de posse ou
ter a intenção de fazer algo chegam à m esm a con
clusão: fazer amor com a amada (ver Jr 2.33).
2.5. passas /maçãs como afrodisíacos. A mulher pede
passas e m açãs como um remédio restaurador para
sua "doença de am or" (semelhante ao homem doente
de amor nas canções de amor do Egito), que só pode
ser curada com a volta de seu amado. E possível que
as passas estejam associadas aos bolos de passas rela
cionados ao culto à deusa Istar (ver o comentário em Jr
7.18). As maçãs também eram consideradas afrodisía
cas nos encantamentos assírios.
2.7. gazelas e corças. Gazelas e corças com freqüência
são retratadas como acompanhantes da deusa do amor
na arte do antigo Oriente Próximo.
2.9. espiar pelas grades. M arfins ricamente entalhados
encontrados em escavações de Sam aria e Ninrode, nos
sedim entos da Idade do Ferro, incluem o m otivo da
"m ulh er à jan ela". A lguns associam esse tem a com a
deusa fenícia Astarte que era identificada com um culto
de prostituição sagrada (ver a adúltera espiando pelas
grades em P v 7.6). A qui neste contexto, porém , é o
homem im paciente que às vezes espia para ver quan
do sua am ada estará pronta para recebê-lo.
2.13. prim eiros frutos da figueira. A palavra usada
para figo aqui, paggâ, não é encontrada em outras
passagens da Bíblia, mas existem cognatos em aramaico
e árabe que se referem aos prim eiros frutos verdes
que aparecem num a figueira. Geralmente a figueira
produz duas vezes ao ano. Os primeiros frutos ama
durecem em junho e os outros em agosto ou setembro
{ver Jr 24.3; Os 9.10).
2.15. raposas. Na poesia amorosa egípcia as raposas
representam homens sexualmente agressivos, como os
termos "lobo" ou "garanhão" na língua portuguesa.
2.16. lírios. Alguns tradutores consideram os lírios
mencionados aqui como flores-de-lis que eram símbo
los da sensualidade e da fertilidade no Egito e em
Canaã.
3.2. procurar pela cidade. Ver o comentário em Jere
m ias 5.1 que com p ara Jerem ias ao filósofo grego
Diógenes em sua busca por um "hom em honesto" em
toda a cidade. A temática de "procurar pela cidade"
também está presente na visão que Ezequiel teve dos
executores e do escriba descrita em Ezequiel 9. Existe
um a intensidade neste versículo ligada ao desespero
e à ansiedade da mulher por seu amado, a ponto de
levá-la a um a busca potencialmente perigosa. Geral
mente, um a mulher decente não sairia sozinha pelas
ruas (compare com a adúltera em Pv 7.6-20). A litera
tura mitológica também ilustra a mulher em busca de
seu amante. Na mitologia cananéia, Anat sai em bus
ca de Baal; na literatura egípcia Isis vai à procura de
Osíris.
3.4. casa da mãe. Como acontece na história de Rebeca,
em G ên esis 24.28, e em Rute 1.8, quando N oem i
instrui sua nora a voltar para a "casa de sua m ãe", a
METÁFORAS SEXUAISA natureza explícita de trechos do Cântico dos Cânticos pode ser um pouco chocante para alguns leitores. Entretanto, a literatura erótica metafórica não era rara no antigo Oriente Próximo, como pode ser visto especialmente nas Canções de Amor do Egito. A fertilidade era um tema fundamental para os povos dessas culturas, visto que suas vidas giravam em tomo das colheitas e delas dependiam. A maior parte de suas festas religiosas e feriados se centrava no calendário agrícola, e era natural que as imagens de arar, semear, cultivar e colher fossem usadas para descrever as relações humanas. Como resultado, as metáforas sexuais que aparecem no texto expressam as intensas emoções de um par amoroso que encontra dificuldades em estar separado um do outro e que, às vezes com termos extravagantes, descrevem os méritos e beleza do outro. Seria impossível, à luz de sua paixão, falar de outra maneira a não ser através de termos sensuais e íntimos.
Existe uma celebração da vida aqui, tanto na natureza como entre os humanos. Então, quando a "am ada" fala de seu amado descrevendo-o gracioso como uma gazela, saltando pelas colinas (2.17) demonstrando sua energia e atributos atléticos, é fácil entender a referência ao contexto da paixão. Ele a compara com tudo que é belo, "a uma égua das carruagens do faraó" (1.9), com olhos de pomba (1.15; 4.1) e lábios como "um fio vermelho" (4.3). Ela, por sua vez, o descreve como uma pequena bolsa de mirra em volta do pescoço e perto do coração (1.13, 14). Tais comparações disfarçam os espinhos da vida cotidiana e, por um tempo, restauram o significado da essência idílica do Éden.A maioria das traduções procura ocultar parte das imagens eróticas mais explícitas com eufemismos e metáforas apropriadas, considerando-se a natureza poética da literatura e a necessidade de preservar uma certa adequação para os leitores em geral.
expressão "casa da m ãe" é indício tanto de um espaço físico quanto social. A expressão bêt ‘em em cada um desses textos deve ser comparada com bêt 'ab ou "casa do pai". Enquanto a maioria dos textos, talvez devido a questões legais de herança e posse de terra, emprega a expressão "casa do pai" (ver G n 38.11; Lv 22.13), a importância das mulheres num a família em relação à procriação, bem como à adm inistração doméstica (ver Pv 31.10-31), atribuía a ambas as expressões um igual valor social na cultura israelita.3.6. especiarias dos m ercadores. As caravanas de mercadores transportavam quantidades de incenso e mirra das regiões desérticas do sul da Arábia e da Somália. Esses itens caros não apenas formavam um a nuvem de fragrância envolvendo a procissão descrita aqui m as também despertavam o desejo sexual da mulher. As canções de amor egípcias repetidamente referem- se a "beleza ungida com m irra" e outros aromas como inebriantes sexuais.3.9. lite ira de m adeira. Os amantes com param seus aposentos à liteira do rei Salomão, confeccionada com a m ais nobre m adeira do Líbano e decorada com ouro e prata. O term o traduzido como "lite ira" tem tido muitas interpretações, com base em cognatos egípcio, aramaico e grego. As idéias variam de liteira ou carruagem até sala de trono ou "prédio m agnífico". A idéia de Fox de que se trata de um pavilhão coberto com toldo em um jardim (ver Et 1.6) ou de um quios
que de jardim como aqueles encontrados em textos m esopotâmicos e em pinturas de tum bas egípcias é uma sugestão provável.3.11. coroado pela m ãe no casamento. Grinaldas ou coroas de casamento eram usadas pelo casal durante a cerimônia nupcial (Is 61.10; compare com o rei persa colocando uma coroa na cabeça de Ester quando ela se torna rainha, em Et 2.17). Não há evidências em outras passagens de um a mãe coroando seu filho como rei, embora considerando-se o tema do reinado sábio de Salomão, pode ser uma referência à "coroa de esplendor" que a Senhora Sabedoria coloca na cabeça de seu escolhido (Pv 4.9). A mãe desempenhava uma função prim ordial na fam ília em relação a questões amorosas.4.1-7. descrição do corpo da amada. Como Keel aponta, as descrições se concentram em características e não em formas. Assim, os olhos não têm a form a de pombas, m as agem como pombas (ver o comentário em 1.15).4.3. faces como as m etades de um a romã. Em vez de"m etades" de uma rom ã, Keel sugere de forma bastante plausível que se trata de um corte na romã, revelando a fruta vermelha e tenra. Essa descrição se encaixaria m elhor ao paralelo para lábios mencionado
anteriormente no verso. Se for esse o caso, a palavra traduzida como "faces" deveria ser traduzida como "bochechas".4.4. torre de Davi. De acordo com o estilo descrito nas canções de amor egípcias e ilustrado na arte (busto de Nefertiti), um pescoço longo era traço de beleza na mulher. Por isso, a comparação com uma torre alta e
bem construída é bastante adequada (ver 7.4 e a comparação com a "torre de m arfim "). Porém, a estrutura
arquitetônica aqui descrita é desconhecida pelos arqueólogos e não fica claro se estava situada em Jerusalém ou em alguma outra cidade. Mais importante que o form ato, porém , era o fato de que a torre representava o orgulho e a glória da cidade. Essa imagem também é usada para pescoço em outras passagens da Bíblia (por exemplo, SI 75.5).
4.4. escudos pendurados n a torre. A m etáfora do pescoço adornado da m ulher continua através da comparação com os escudos usados na decoração de torres (compare com 1 Rs 10.16, 17) com os colares e jóias usadas por mulheres amadas ou ricas (ver Pv 1.9; Ct 1.10; Ez 16.11). Em seu "Lam ento por Tiro", Ezequiel descreve como os escudos pendiam dos muros da cidade aumentando sua beleza (Ez 27.10, 11).4.8. alto do Amana. Agora o amante chama sua amada para juntar-se a ele descendo de suas alturas inacessíveis e terras distantes. Essa é uma m etáfora de seu desejo pela presença dela e não à sua localização geográfica. O Amana é um dos picos da cadeia Anti- Líbano, perto da nascente do rio Amanus.4.8. Senir/ H erm om . Esses são nom es alternativos para o mesmo pico, o m onte H erm om (ver o comentário em D t 3.9). R egistros assírios citam o Senir na cadeia montanhosa do Líbano, no norte da Transjor- dânia. A canção aqui sim plesm ente usa essa região metaforicamente inacessível como sinônimo do sentimento de isolamento do amante quando está distante de sua amada.4.8. leões e leopardos. Esses animais selvagens muitas vezes são retratados acompanhando deusas, particularmente lstar, a deusa mesopotâmia do amor. Keel afirm a que essa im agem esten d e-se desde a arte neolítica até o período clássico grego e romano.4.12. ja rd in s . Os jardins eram lugares de delícia e descanso e, portanto, servem como metáfora para os amantes. A literatura sum éria usava essa m etáfora para descrever a amante como um jardim bem guardado e provérbios acadianos descrevem uma mulher com o um jardim de delícias. N as canções de amor egípcias a m ulher descreve a si m esm a com o um campo com todo tipo de plantas.4.13,14. especiarias. Como é freqüente nas canções de am or egípcias, a beleza e a sensualidade da m ulher
são comparadas à fragrância de frutas, árvores e especiarias (ver o comentário em Pv 7.17 e 27.9). O exagero do núm ero e da variedade de plantas exóticas alistadas aqui simplesmente reflete o "lisonjeio do amante". N ove tipos de especiarias são alistados, e três deles na, verdade, crescem em Israel (bálsamo, hena e açafrão). O açafrão verm elho produz quantidades tão insignificantes de especiaria que é preciso m ais de quatro m il flores para produzir 30 gramas. O incenso, os aloés e o nardo eram im portados da Arábia, da índia, do Nepal e da China, por isso, eram extremamente caros. O nardo é obtido de um a erva existente nos desertos da Arábia e norte da África, mas tam bém é descrito como "nardo puro" (ver M q 14.3). É feito com as flores de um a planta que cresce na encosta do Him alaia (quase quatro mil metros de altitude) e era considerado afrodisíaco. A m irra, a canela e o cálamo também eram importados. O cálamo é extraído de um a erva aromática encontrada na índia, que hoje é usada para produzir óleos de citronela.5.7. sentinelas. É possível que os sentinelas tenham achado que uma jovem desacompanhada andando à noite fosse um a prostituta. Eles tiraram seu véu ou manto (ver Is 3.18, 23), talvez em concordância com a lei m édio-assíria que perm itia apenas a "m ães de fam ílias, viúvas e outras m ulheres livres" a usar o véu em público. E possível que em sua pressa para sair em busca do amado, a m ulher estivesse apenas vestida com parte de suas roupas, assim como a m ulher doente de amor nas canções de amor do Egito.5.15. colunas de m ármore. Agora é a vez da mulher descrever seu amado com palavras extravagantes. A comparação que faz de suas pernas com um par de colunas de mármore finamente esculpidas e firmadas em bases de ouro puro é semelhante à descrição que Ben Sira usa para as pernas e pés bem torneados de um a m ulher (Eclesiástico 26.18). U m retrato sem elhante de perfeita simetria física pode ser encontrado na descrição do deus babilônio M arduque, no épico da criação Enuma Elish.6.4. Tirza. Embora a capital do reino do norte, Israel, tenha sido transferida de Tirza (Tell el-Far'ah) durante o reinado de Onri, isso não significa que a cidade tenha sido totalmente abandonada. É possível que o escritor aqui queira evitar comparações com Jerusalém e Sam aria, rivais políticas, então, Tirza seria uma substituta. O nome também serve como um trocadilho, com base no radical hebraico rsh, "agradável" ou "beleza". O jogo de palavras perm ite ao amante intensificar sua afirmação de que ela é tão "linda como Tirza".6.8. harém . Um harém real era formado por (1) m ulheres designadas como "rainhas" e cujos filhos au
tomaticamente faziam parte da linhagem de sucessão ao trono; (2) concubinas que tinham um a posição inferior e cujos filhos podiam ser excluídos da herança a
não ser por um a ordem expressa do rei; e (3) virgens que podiam ser m oças que ainda não tinham sido
form alm ente apresentadas ao rei (ver Et 2.8-14) ou que ainda não tinham gerado filhos. N esse caso, o
am ante gaba-se de que sua amada é m ais bela que qualquer núm ero (sessenta e oitenta é igual a uma
infinidade) de mulheres do harém do rei.6.11. nogueiras. Em bora pistaceiras e pinheiros fos
sem comuns na antiga Palestina, não havia "nozes"
nativas, com o as das nogueiras (Juglans regia L ) . O termo 'egoz, que aparece apenas neste versículo da
Bíblia, foi traduzido como "nogueira" e sugere que a
árvore pode ter sido introduzida na Palestina, trazida de seu habitat natural na Pérsia e na índia, antes do
período helenista.
6.13. Su lam ita. Visto que o artigo definido precede esse nom e, trata-se provavelm ente de um epíteto,
com o por exemplo "a perfeita", e não de um nome próprio. O nome pode estar baseado na forma femini
na do nome Salomão, ou possivelmente há uma relação com a deusa m esopotâmia Shulmanitu ou Sala. É
improvável que o nome se refira a uma pessoa natu
ral de Suném, visto que a m ulher é descrita nas canções tendo uma relação muito íntima com Jerusalém.
6.13. dança de M aanaim . N enhum a dança específica
tem sido associada a Maanaim, um a localidade situada na Transjordânia, às m argens do rio Jaboque (ver
2 Sm 2.9). O nome significa "d ois acam pam entos", por
isso, alguns estudiosos têm interpretado a m enção a essa dança, como o estilo em que hom ens e m ulheres
se separam e dançam em filas opostas. A dança, com
freqüência, é associada à celebração da vitória (1 Sm18.6,7) e como expressão de alegria (Êx 15.20; Jz 11.34).
7.2. vin ho m isturado. D urante o período helenista,
com freqüência o vinho era diluído com água a fim de que um a m aior quantidade da bebida pudesse ser
consumida permitindo que uma conversa inteligível e sóbria fosse m antida durante as refeições. Entretan
to, em períodos anteriores, o vinho m isturado ou tem
perado era comum. Era um a bebida de teor alcoólico
m ais forte, por isso tinha de ser consumida com mais
m oderação (ver Jz 9.13; Pv 9.2). N a M esopotâm ia, onde o vinho era menos comum até a época do im pé
rio assírio, seu consumo era reservado a ocasiões especiais. Às vezes apenas um xarope ou suco de uvas era
servido, misturado com o m el para produzir um licor.
7.4. torre de m arfim . Ver o comentário em 4.4 a respeito da comparação entre o pescoço bem feito de uma
mulher e um a estrutura elevada.
7.4. açudes de H esbom . Visto que açudes de água
refletem a luz, servem como um a excelente metáfora
para os olhos brilhantes da amada. Escavações em
Hesbom, 16 quilômetros ao norte de Madaba, na Trans-
jordânia, desenterraram um a grande cisterna ou re
servatório do oitavo século a.C. que poderia ser a base
para essa imagem. Os longos meses quentes e secos
do verão exigiam o armazenamento de água em cis
ternas e esses açudes seriam belos aos olhos dos habi
tantes da cidade, à medida que a luz refletia na super
fície das águas.
7.4. porta de Bate-Rabim . Esse lugar não foi localiza
do, embora se suponha que seja a entrada do reserva
tório da cidade. Pode haver tam bém um trocadilho
com o significado da expressão "filha de m uitos", com
base na sonoridade sem elhante do título bat naâib,
"filha do n obre", conferindo à am ada um título de
honra.
7.4. torre do L íb an o . U m a m ontanha elevada, tal
como o monte Hermom, no sul do Líbano, pode ser o
significado implícito aqui. No entanto, a sugestão de
Fox de que se trata de um jogo de palavras entre o
termo Lbonah, "incenso", e Líbano é bastante plausí
vel. O nariz da m ulher é perfumado e desejável como
uma pilha alta desse caro incenso.
7.13. m andrágoras. O fruto da m andrágora também
é citad o nas can ções de am or eg íp cias com o um
afrodisíaco. Raquel rapid am ente se m obiliza para
encontrar uma m andrágora quando Rúben, o filho de
sua irmã Lia, encontra um a no campo (ver o comentá
rio em G n 30.14, 15). A planta tem folhas largas e
flores violetas com um a forte fragrância e um pequeno fruto amarelo.8.2. vinho aromatizado. V er o comentário sobre vinho misturado em 7.2. Em alguns casos o vinho era feito de sucos de frutas como a romã. Fontes egípcias registram o uso de seiva de palm eira, xarope de tâm ara e figos para produzir vinhos. O doce sabor dessas bebidas é comparado à doçura de um beijo (1.2; 5.16).8.6. m etáfora do selo. Essa metáfora reflete a intimidade do contato íntimo e constante representado pelo anel-selo (ver Jr 22.24) ou selo cilíndrico usado ao redor do pescoço como um amuleto e, portanto, perto do coração (ver o comentário em G n 38.18, 25). Um a das canções de am or de Cairo (Grupo B, conhecido como os "sete desejos") contém um a frase parecida: "A h, se eu fosse seu pequeno anel-selo, o guardador de seu dedo!".8.11. Baal-H am om Essa localidade não foi identificada e aparece somente neste versículo. U m nome semelhante, Belam om , aparece em Judite 8.3, m as pode tratar-se de mera coincidência. O nome pode ter sido escolhido sim plesm ente porque significa "o possuidor de riquezas" e, portanto, um sinônimo da natureza frutífera da vinha e, por extensão, do harém de Salomão que tinha m il mulheres.8.14. m ontes cobertos de especiarias. Esses montes podem ser comparados às "colinas escarpadas" mencionadas em 2 .17 .0 convite em ambos os casos é para que o jovem venha usufruir dos prazeres perfumados oferecidos pela jovem , sim bolizados nos m ontes ou colinas. A im agem é sem elhante àquela do am ante de Istar, Tammuz, que tal como um pastor "salta pelas colinas".
Livros proféticos
IntroduçãoUma vez que, como cristãos, cremos que há um só Deus e entendemos que a profecia contém mensagens desse Deus, muitas vezes somos inclinados a pensar que a profecia bíblica é um fenômeno único. Embora se justifique pensar que toda profecia fora da Bíblia é falsa, permanece o fato de que a profecia bíblica está incluída em uma longa tradição de profecias no antigo Oriente Próximo. Até mesmo a Bíblia esclarece esse fato nas narrativas sobre Balaão e os profetas de Baal mantidos por Acabe e Jezabel.
A adivinhação está relacionada a qualquer processo que busca obter mensagens que ultrapassam o mundo dos humanos. No mundo antigo, a adivinhação assumia muitas formas distintas (ver o comentário em Dt 18), mas a maioria delas era proibida em Israel porque envolviam uma visão inferior da divindade (manipulação). A profecia era uma forma de adivinhação praticada legalmente pelos israelitas. Não se tratava de adivinhação mântica que exigia conhecimento de livros especializados (p. ex., feitiços ou textos de presságios) ou o uso de rituais mágicos mas, sim, era resultado da comunicação direta com a divindade. Textos que falam de profetas e apresentam as mensagens deles estão espalhados em toda literatura do antigo Oriente Próximo. Em alguns desses textos os profetas usam outras formas de adivinhação para receber suas mensagens.
A coletânea mais importante de mensagens proféticas encontra-se em cerca de cinqüenta cartas preservadas em tabletes encontrados nos arquivos reais da cidade de Mari. São datadas do início do segundo milênio a.C. (contemporâneas aos eventos do Gênesis). As cartas relatam aos reis profecias que tinham por objetivo chamar a atenção de oficiais locais. As profecias são provenientes de diversas divindades e orientam o rei em questões militares e outros assuntos da política governamental. Ocasionalmente elas determinam que certos rituais sejam realizados. _
Uma segunda coletânea de quase trinta oráculos provém do período neo-assírio (sétimo século). A divindade principal é Istar de Arbela e as profecias tipicamente prevêem vitória e prosperidade para o rei em seus diversos empreendimentos. Alguns dos oráculos estão registrados em grandes tabletes que serviam como cópias de arquivo, enquanto outros são textos menores contendo oráculos individuais. Os oráculos são relativamente curtos, variando de uma frase a um parágrafo ou dois, no máximo.
Na literatura egípcia não existem textos que afirmam conter oráculos das divindades, mas obras tais como as Exortações de Ipuwer e As Visões de Neferti (ambas datadas do início do segundo milênio) de fato contêm observações relacionadas ao estado caótico da sociedade e avisos do julgamento vindouro. Elas também fazem algumas referências a uma iminente restauração da ordem. Esse material, portanto, inclui os mesmos tipos de mensagens encontradas na literatura profética de Israel. Apesar dessa semelhança, não há instituição profética comprovada no, Egito, como se encontra no restante do antigo Oriente Próximo. A razão mais óbvia para essa diferença é que no Egito a divindade estava encarnada na pessoa do faraó. Não havia, portanto, necessidade de um porta-voz que falasse em nome da divindade, visto que a divindade já estava no meio deles.
Os oráculos proféticos do antigo Oriente Próximo são semelhantes a uma fase inicial da profecia israelita. Os profetas escritores de Israel foram designados "profetas clássicos", e os primeiros deles aparecem no início do oitavo século. Antes desse período, profetas como Natã, Elias, Eliseu e muitos outros são mencionados na literatura histórica, mas não há compilações de seus oráculos. São chamados de "profetas pré-clássicos" e são eles que apresentam
a maior semelhança com os profetas do restante do mundo antigo. Suas mensagens eram dirigidas ao rei e diziam respeito à política pública ou outras questões de importância nacional. Nesse sentido, os profetas eram conselheiros oficiais, e com mais freqüência, não oficiais do rei. Em contraste, os profetas clássicos muitas vezes dirigem-se ao povo ao transmitir suas mensagens de caráter social e espiritual. Apesar de suas mensagens incluírem proclamações de bênção ou reprovação, eram dirigidas à sociedade como um todo e não exclusivamente ao rei. Como resultado, os profetas escritores transmitiam alertas em relação ao cativeiro, à destruição e ao exílio que eram novidade nesse período e para a instituição profética.
Os profetas com freqüência eram considerados loucos - uma conseqüência do fato de que não era raro receberem suas mensagens em estado de transe ou êxtase. Um dos títulos usados na literatura acadiana para profeta é mubhu, que geralmente é traduzido como "extático". Não obstante, os profetas eram levados muito a sério. O próprio ato de proferir as palavras era considerado determinante na concretização de sua mensagem. Isso acontecia independente da posição que o profeta ocupava na sociedade. Alguns profetas faziam parte dos funcionários do templo ou do concílio de conselheiros do rei, mas não era raro haver profetas leigos ou plebeus. Na Babilônia ou na Assíria a palavra do profeta estava sujeita à confirmação feita através de procedimentos de adivinhação. Apresentava-se a pergunta se a mensagem profética deveria ou não ser aceita favoravelmente e o sacerdote adivinho buscava a resposta "escrita" nas entranhas do animal sacrificado.
Fica claro que todas as culturas do mundo antigo acreditavam que os deuses se comunicavam através de indivíduos escolhidos. Em grande parte do antigo Oriente Próximo parece que os profetas serviam como apoio à ideologia imperial. Já em Israel, eles representavam com mais freqüência um movimento de contracultura. Por causa disso, os profetas tendiam a aglomerar-se em períodos de grandes turbulências. Durante o período pré-clássico os profetas Moisés, Débora, Samuel, Elias e Eliseu cumpriram seu papel em tempos difíceis. Durante o período clássico, a atividade profética girou em torno de três momentos cruciais:
1. A crise assíria que provocou a queda do reino do norte e o cerco a Jerusalém (760700: Amós, Oséias, Miquéias e Isaías)
2. A crise babilónica que resultou na queda da Assíria e na queda de Judá e Jerusalém (650-580: Habacuque, Sofonias, Naum, Jeremias e Ezequiel)
3. O período pós-exílico com o governo persa e a crise de identidade (530-480: Ageu, Zacarias, Joel, Obadias, Malaquias; Daniel poderia ser incluído entre esses, embora tenha cumprido seu papel como profeta no exílio).
Os oráculos dos profetas escritores podem ser divididos em quatro categorias gerais. Os oráculos de acusação notificavam o povo quanto ao que haviam feito de errado. Os oráculos de juízo descreviam a ação que Deus pretendia tomar em resposta às ofensas do povo. Os oráculos de instrução (relativamente poucos até o período pós-exílico) diziam ao povo o que precisavam fazer e como deveriam agir e pensar. Os oráculos futuros informavam o povo sobre os planos de Deus após a vinda do juízo. Todos, exceto o último grupo, também estão representados nas profecias do antigo Oriente Próximo, embora não tenham sido nunca coletadas, "publicadas" e canonizadas como o foram em Israel.
I S A Í A S
V1.1-31 Acusação de Rebeldia1.1. cronologia. Em 6.1 o chamado de Isaías é situado no ano em que morreu o rei Uzias, por volta de 739a.C.. Aqui, há um indício de que seu ministério profético continuou até os dias de Ezequias, pelo menos até depois do cerco de Jerusalém por Senaqueribe, em 701. Essa metade de século foi bastante tumultuada e testemunhou o surgimento e domínio do império neo- assírio que mais tarde foi responsável pela invasão do reino do norte, pela queda de Samaria e pela destruição m aciça de Judá. A cham ada de Isaías coincidiu com o início dessa renovada ameaça assíria (para detalhes a respeito dessa ameaça no século anterior, ver os comentários em 1 Rs 22.1 e 2 Rs 9.14), à medida que Tiglate-Pileser III conduzia sua primeira campanha no ocidente, em 740-738. Essa cam panha tinha como alvo Arpade, no norte da Síria, mas resultou no pagamento de tributos por algumas nações do sul tais como Damasco, Tiro, Sidom e Samaria.1.2. dirigindo-se aos céus e à terra. Em outros textos da literatura do antigo Oriente Próxim o, os deuses eram invocados como testemunhas de eventos importantes. Aqui, o Senhor está fazendo um a acusação formal contra Israel e o cosmos não-deificado é convocado como testemunha. Em um tratado hitita, após uma longa lista de testemunhas divinas, as montanhas, os rios, o mar, o Eufrates, o céu e a terra, os ventos e as nuvens tam bém são alistados. N a aliança que Deus fez com Israel (ver o comentário em D t 4.26) os céus e a terra haviam sido convocados com o testem unhas, por isso é apropriado que sejam chamados para ouvir a acusação que detalha a violação dessa m esm a aliança.1.4. pecado nacional. O M ito de Erra e Ishum (Babilônia do oitavo século) fala da destruição justificada de cidades porque o povo abandonara a justiça e a retidão, cometera atrocidades e planejara intentos malignos. Não obstante, a destruição de cidades famosas no mundo antigo geralm ente era vista com o resultado do abandono divino. O abandono era decorrente de violações praticadas pelo rei ou simplesmente se baseava na idéia de que o destino havia assim determinado.1.7. terra devastada, cam pos tom ados. A devastação da terra era uma conseqüência natural das invasões. Os exércitos invasores m uitas vezes não recebiam provisões de alimentos para suas tropas, por isso, tinham de extrair o necessário para sua sobrevivência da terra
que estavam invadindo. O que não usavam com esse objetivo era destruído. Não só as plantações eram queimadas, como tam bém a terra era pisoteada, arruinando o ciclo agrícola por diversas estações posteriores. As vezes, as pessoas que estavam sendo atacadas ateavam fogo a suas próprias plantações a fim de que o inimigo não pudesse usar o alim ento que elas haviam trabalhado tanto para cultivar. Os elem entos contidos nessa ameaça de destruição divina são típicos. Um trecho bastante conhecido do M ito de Erra e Ishum descreve as intenções destrutivas de Erra em devastar cidades e transformá-las em desertos; destruir montes, juntamente com o gado e sua produção; devastar a população; colocar um tolo no trono; provocar um a praga de anim ais selvagens; e reduzir o palácio real a pó.1.8. cidade (filha) de Sião. Sião é o nome do monte sobre o qual Jerusalém está situada e representa o lugar cósmico de onde o Senhor domina e reina. Portanto, também está associada à aliança davídica e ao reinado estabelecido por Deus. A filha de Sião seria a cidade em si.1.8. comparação. Pequenas cabanas eram construídas nos campos para que os guardas pudessem vigiar os frutos que já haviam sido colhidos. No final da colheita, essas cabanas eram destruídas ou deixadas nos campos despidos de sua produção. Assim, Jerusalém é retratada vazia ou deserta, sem nada para proteger.1.9. comparação. No relato de Sodoma e Gomorra, de Gênesis 19, essas cidades não são destruídas por exércitos invasores, m as não é a isso que a comparação se refere. A ênfase do texto está na totalidade e amplitude da destruição como resultado do castigo de Deus. Uma vez que essa relação é sugerida, o versículo 10 dá o próximo passo deixando implícito que o grau de impiedade tam bém serve como parâmetro de comparação. Um Deus justo castigaria de form a semelhante crimes tão parecidos.1.11. holocaustos (sacrifícios queim ados). Os holo- caustos geralm ente acom panhavam as petições. No m undo antigo a maioria das pessoas achava que os sacrifícios eram um meio de alimentar os deuses. Se alguém tinha um pedido especial para fazer a um deus, considerava-se apropriado providenciar uma refeição. Em Israel, em bora os holocaustos estivessem associados a petições, a concepção de "refeição para os deuses" teoricamente era descartada. Como Isaías e outros profetas demonstram, porém, esse conceito não
havia sido totalmente elim inado e havia lapsos freqüentes de sincretismo por parte do povo. O problem a com o conceito de "alim entar os deuses" era que pressupunha que D eus tinha necessidad es que os adoradores podiam satisfazer e conseguir em troca seu favor.1.12. pôr os pés nos átrios. N o mundo antigo os templos eram considerados espaços sagrados cujo acesso restrito era protegido e m onitorado de perto. A admissão para o público em geral era permitida apenas quando um sacrifício precisava ser oferecido e ainda assim, apenas no átrio externo. A entrada ao recinto sagrado por qualquer outro motivo senão o cultual e santo era considerada invasão sacrílega.1.13. incen so . No m undo antigo o incenso era um importante item que acompanhava os sacrifícios. Seu aroma adocicado na mascarava os odores desagradáveis que resultavam da realização dos rituais. O incenso era caro (ver o comentário em Lv 2.1), mas acreditava- se que agradava os deuses.1.13. luas novas e sábados. D evido ao uso de um calendário lunar, no antigo Israel o primeiro dia do mês era marcado pela fase da "lua nova", quando era celebrada um a festa (a cada vinte e nove ou trinta dias). Assim como no sábado, nenhum trabalho podia ser feito nesse dia (ver A m 8.5) e sacrifícios tinham de ser oferecidos (Nm 28.11-15). Durante a m onarquia o rei assumiu um papel de destaque nessas celebrações (ver Ez 45.17). A festa da lua nova continuou a ser observada no período pós-exílico também (Ed 3.5; Ne10.33). Esse tipo de festa também era bastante proem inente na M esopotâm ia, desde o final do terceiro m ilênio até o período neo-babilônico, na m etade do prim eiro m ilênio a.C..1.13. 14. reuniões, assem bléias, festas fixas. Havia três festas principais que envolviam peregrinações a Jerusalém e diversas outras que se caracterizavam mais como reuniões locais. As festas religiosas proporcionavam a oportunidade de celebrações, refeições comunais e ajuntamentos sociais. O que fora projetado como um meio de render louvor e honra a Deus, no entanto, não estava lhe dando nenhum prazer.1.15. esten d er as m ãos em oração. Em 2 Crônicas6.12, quando Salom ão dirige-se à assem bléia e faz uma oração de dedicação para o templo, ele é descrito como estando de pé com os braços levantados e a palm a das m ãos virada para cima. As orações de encantamento de fontes mesopotâmicas, como as dirigidas a Istar, exigem que o suplicante se prostre e cum pra o ritual levantando as m ãos. Fontes h ititas sugerem posições e gestos semelhantes. A literatura acadiana apresen ta um a form a de encantam ento cham ad a shuilla ("levantar a m ão"). Para mais informações, ver o comentário em 2 Rs 5.11.
1.15. d ivindades ignorando as orações. O tema do suplicante cuja petição não é atendida é bastante comum na literatura antiga. Por exemplo, na "O ração a Todos os D euses" encontrada na biblioteca de Assur- banipal, em N ínive, o suplicante pede perdão por toda e qualquer ofensa imaginável, a todas as divindades. Em seguida, ele lam enta que, apesar de sua contrição, nenhuma divindade está disposta a tomá-lo pela mão ou a colocar-se ao seu lado - ninguém lhe dá ouvidos. Assumindo o ponto de vista da divindade, o Lamento pela Destruição de Ur relata que Anu e Enlil haviam decidido não atender as petições de livramento, m as estavam determ inados a executar seus planos de destruição.1 .16 ,17 . dim ensão ética da religião. Fazer justiça era uma exigência básica de qualquer deus para qualquer povo. N a verdade, a instrução dada aqui não poderia ser mais padronizada. Essas são consideradas as responsabilidades de qualquer sociedade civilizada. Estabelecer a justiça e defender os fracos e oprimidos eram as m arcas de um rei bem -sucedido. A única diferença entre Israel e o restante do mundo antigo nesse aspecto era em relação às responsabilidades ligadas às obrigações espirituais. No antigo O riente Próxim o, os deuses tinham a responsabilidad e da manutenção da justiça. Parte dessa responsabilidade era baseada em razões pragmáticas: um povo oprimido se inclinaria a perturbar os deuses com seus pedidos ininterruptos (incômodos?) por livramento. Acreditava-se que a justiça era produzida na estrutura do cosmos e suas leis estavam sob a guarda dos deuses. A diferença na cosmovisão israelita era a crença de que a justiça se originava no caráter de Deus e era um atributo seu. Os m esopotâm ios tinham a obrigação espiritual de agradar os deuses. Isso era feito primordialm ente através de rituais, m as também evitando agitar o barco da civilização. Os israelitas tinham a obrigação espiritual de serem como Deus. Tal objetivo era alcançado através de um comportamento ético e da santidade pessoal. Para os mesopotâmios a purificação era algo concreto, que se atingia através de rituais; para os israelitas esse estado só era atingido em term os espirituais, através de arrependim ento e regeneração.1.18. comparação. Os corantes mencionados aqui são os mais duráveis e vibrantes, capazes de produzir as cores mais vivas e permanentes. Em nenhuma outra passagem do Antigo Testamento nem na literatura do antigo Oriente Próximo o verm elho é símbolo de pecado, em bora o branco seja símbolo de pureza.1.22. prata e escória. No m undo antigo a prata era extraída e refinada através de um processo chamado copelação. No processo inicial de fundição, ela era extraída de m inérios de chum bo (galena) contendo
menos de 1% de prata em cada amostra. O chumbo era derretido em vasilhas rasas feitas de substâncias porosas como cinzas de ossos ou argila. Um fole era usado para soprar através do chumbo fundido, produzindo óxido de chumbo (litargírio). Parte do óxido de chum bo era absorvida pela vasilha porosa, enquanto outra formava uma camada na superfície. Teoricam ente a prata era o que sobrava. Infelizmente, esse processo apresentava muitos problemas potenciais. Se a temperatura estivesse elevada demais ou se a amostra contivesse outros metais (cobre ou estanho eram comuns), a copelação não teria êxito. N esse caso, quando o litargírio formava uma camada na superfície, em vez de prata, restava um a prata m isturada com outros m etais e, portanto, inutilizável. Talvez esse seja o produto descrito como "escória" pela tradução. O utra possibilidade é que o texto se refira ao processo de refinação que envolvia aquecer uma amostra de prata com grandes quantidades de chumbo a fim de extrair as impurezas. Um dos resultados possíveis desse processo era que a quantidade de chumbo seria insuficiente para extrair as im purezas, inu tilizando a prata. Em vez de ser purificada, então, a prata ficava em piores condições que antes do processo. Talvez o texto tenha em mente esse processo e a prata se transform e nesse lixo inútil. O processo de refinação pode ser repetido e em, algum momento, dar resultado positivo (ver v. 25).1.22. licor (vinho escolhido). M uitos estudiosos consideram que a bebida mencionada aqui seja cerveja e não vinho por causa do term o relacionado em aca- diano. O tipo m ais com um de cerveja era feito de malte de cevada, mas outros tipos eram feitos de trigo ou até mesmo tâmaras. Havia muitas variedades de vinho e alguns eram mais apreciados que outros. A biblioteca de Assurbanipal continha um texto que cita os dez m elhores vinhos (o vinho puro de Izalla era considerado o melhor).1.23. órfãos e viúvas nos tribunais. Um aspecto fundamental da tradição legal israelita envolvia garantir o sustento dos grupos classificados como fracos ou oprimidos: viúvas, órfãos e estrangeiros (ver Êx 22.22; D t 10 .18 ,19 ; 24.17, 21). A preocupação com os carentes é evidente nas coleções de leis da Mesopotâmia já na metade do terceiro milênio, mas esse cuidado geralm ente estava relacionado à proteção de direitos e garantia de justiça em julgamentos e não a um sustento financeiro. Com base nas afirmações dos prólogos dos Códigos de Ur-Nam mu e de Hamurabi, fica claro que os reis consideravam parte de seu papel, enquanto "sábios governantes", proteger os direitos dos pobres, das viúvas e dos órfãos. Igualm ente, no texto egípcio A Lenda do Camponês Eloqüente, o querelante começa identificando seu juiz como "o pai dos órfãos,
o esposo das viúvas". Esses dados refletem a preocupação e o cuidado existentes em todo o antigo Oriente Próximo de que as classes m ais vulneráveis fossem assistidas.1.25. escória. A respeito do uso dessa imagem e seu significado, ver o comentário em 1.22.1.26. juizes/conselheiros. Visto que este trecho tem a ver com a justiça na sociedade e no sistema judiciário, é m ais provável que o texto esteja referindo-se aos juizes como funcionários judiciais e não aos libertadores do período dos juizes. Essa interpretação também teria base por causa do uso do termo paralelo "conselheiros", que nunca é usado para descrever os libertadores do Livro de Juizes. Os conselheiros eram responsáveis por ajudar o rei a elaborar e executar as políticas governamentais, enquanto a função dos juizes era ajudar o rei a elaborar as leis e colocá-las em prática. A política nacional e o sistema judicial estão sendo alvos de acusações neste versículo.1.29. carvalhos e jard in s sagrados. O s jardins no antigo O riente Próxim o, m uitas vezes, eram bosques com árvores frutíferas, arbustos e árvores que garantiam sombra. Eles funcionavam como santuários externos ou serviam como arredores agradáveis para construções sagradas. As árvores sagradas tinham um papel im portante na religião popular da época. Essas crenças populares consideravam as árvores e as pedras como uma habitação divina em potencial. Na religião cananita acreditava-se que eram símbolos de fertilidade (ver D t 12.2; Jr 3.9; Os 4.13), embora haja poucos vestígios arqueológicos ou literários que esclareçam o papel dessas árvores sagradas. As escavações em Kition da Idade do Bronze M oderna desenterraram um tem plo com um bosque sagrado e sessenta covas de árvores.
2.1-5 Jerusalém nos dias vindouros2.2. m onte do tem plo. Em term os topográficos, Jerusalém fica num nível acima de seus arredores, de modo que é preciso subir para chegar até a cidade. Além disso, o templo fica localizado no nível mais alto da cidade, logo, de qualquer outra parte de Jerusalém é preciso subir para chegar ao templo. Este oráculo recorre a um dado topográfico para proclamar a futura ascensão política da cidade. A Crônica de W eidner declara que a cidade de Babilônia crescerá e será exaltada em todas as terras. E ainda, inscrições de prédios assírios com freqüência fazem m enção a elevar o templo restaurando-o e aumentando sua altura. Na literatura babilónica, a profecia de M arduque (diversos séculos antes de Isaías) prediz a ascensão futura da Babilónica cujo templo terá o dobro da altura. Esse texto também cita o retom o dos espalhados (aludindo
às estátuas dos deuses que haviam sido removidas de seus templos); continua descrevendo um período de paz, ju stiça e prosperidade, inclusive de fortalezas sendo desmanchadas. Portanto, essa imagem da restauração e elevação da cidade é bastante fam iliar na retórica do antigo Oriente Próximo.2.2. tod as as n ações correrão para ele. Textos que rem ontam ao ano 2000 a.C. já falam da atração universal exercida por um novo templo. Ao construir um templo em hom enagem a N ingirsu, Gudea fala dos povos que serão atraídos de terras distantes e estrangeiras para honrar a divindade. Era nos templos que os oráculos eram transmitidos pela divindade resolvendo disputas legais e oferecendo respostas quanto ao que fazer em determinadas situações. Não era raro que estrangeiros, e até mesmo reis, viajassem grandes distâncias para consultar um a divindade. O rei persa Cambises, por exemplo, recebeu um oráculo no famoso santuário egípcio de Leto, em Buto.2.4. farão de suas espadas arados. Em vez de ser uma referência ao "arado" que revolve a terra, esse termo pode referir-se à ponta de metal do arado que perfura a terra abrindo sulcos. Essa ponta tem cerca de 17 centímetros de comprimento. No entanto, essa m esma palavra hebraica é usada em 2 Reis 6.5 onde se refere a um tipo de machado. Visto que no original a espada é "q u eb rad a" e transform ada em arado, é possível que o resultado seja pontas de m etal que poderiam ser usadas para diversos fins.2.4. lanças em foices. As foices aqui descritas são pequenas facas usadas para remover folhas e novos brotos em vinhas. As amostras arqueológicas encontradas são sim plesm ente pedaços pequenos e finos de metal com um gancho na extrem idade, com o lado cortante na parte interna, semelhante a uma foice. A forma lembra as agudas pontas de lanças populares na Idade do Bronze.
2 .6-22 O dia do Senhor2.6. superstições, adivinhações. A cosmovisão antiga era fortemente permeada de todo tipo de superstição. Durante séculos, presságios que identificavam m uitas ocorrências ou circunstâncias como favoráveis ou desfavoráveis haviam sido observados e registrados. A disposição dos deuses para com um indivíduo só podia ser conhecida a partir das coisas boas ou ruins que lhe aconteciam. Acreditava-se que as forças demoníacas estavam espalhadas e ativas, por isso rituais p ro filá ticos e ap otrop aicos eram rea lizad os para combatê-las. Especialistas em m agia lançavam feitiços e rogavam maldições e acreditava-se que o espírito dos mortos vagava pela terra. A adivinhação era a ciência de interpretar presságios e formular encanta
mentos que teriam eficácia em afastar os poderes que ameaçava as pessoas. Para m ais informações, ver os comentários em Deuteronômio. 18.2.7. terra cheia de cavalos e carros. Os carros assírios eram grandes, capazes de transportar quatro homens, e puxados por quatro cavalos. Os batalhões de cavalaria e carros de guerra representavam o maior avanço da tecnologia militar. Era preciso investir vastos recursos econômicos para importar animais, construir os carros e treinar os cavaleiros e condutores dos carros (para ter idéia dos custos, ver 1 Rs 10.29). A supremacia m ilitar assíria dependia dos cavalos e até mesmo os reis se preocupavam com a forragem para o suprimento e cuidado desses animais. Registros detalhados e cuidadosos eram mantidos sobre o tipo de cavalos existente e era freqüente esses animais serem recolhidos como pagamento de tributos ou capturados em invasões. Relevos mostram o grande cuidado que se tinha com eles. O exército em campanha viajava com montarias principais e secundárias para a cavalaria.2.8. ídolos. Os ídolos eram feitos numa variedade de formas e tamanhos, no antigo Oriente Próximo. Essas imagens eram entalhadas na madeira, recobertas por lâminas forjadas de prata ou ouro e, então, adornadas de ricas vestimentas. Com uma aparência basicamente hum ana (exceto os deuses do Egito, cujas características humanas eram mescladas às de animais), esses deuses tinham porte, vestim entas e corte de cabelo distintivos, até mesmo padronizados. A imagem não era a divindade, e sim sua habitação, por m eio da qual manifestava sua presença e vontade. No antigo Oriente Próximo, era nas imagens que as divindades se faziam presente de form a especial, a ponto de a estátua de culto tom ar-se no próprio deus (quando os adoradores eram assim agraciados), em bora essa não fosse a única manifestação da divindade. Rituais eram realizados para dar vida à estátua da divindade, ou seja, ao ídolo. Como resultado dessa ligação, feitiços, encantamentos e outros atos mágicos podiam ser executados diante da im agem a fim de ameaçar, intimidar ou obrigá-la a fazer algo. Em contraste, outros ritos relacionados à im agem tinham com o objetivo ajudar ou cuidar da divindade. A ssim , as im agens representavam um a visão de mundo, um conceito de divindade incompatível à form a como Yahw eh se revelara. O ídolo não era a divindade em si, mas acreditava-se que era sua morada e que, por meio da im agem, a divindade m anifestava sua presença e vontade. Os arqueólogos encontraram poucas imagens de tamanho natural, como o texto descreve, mas existem versões delas que permitem um conhecimento acurado de detalhes.2.10. esplendor da m ajestade da divindade. No m undo antigo, a divindade era sempre retratada circun
dada por uma aura brilhante ou flamejante. Na literatura egípcia, essa aura é ilustrada pelo disco solar alado acompanhado de nuvens de tempestade. Em acadiano o term o mélammu é usado para descrever essa representação visível da glória da divindade, que por sua vez é envolta por fumaça ou nuvens. A majestade da divindade fica especialm ente evidente na temática do guerreiro divino em que toda a glória e o resplendor são revelados ao lutar para defender seu povo (para m ais inform ações sobre o guerreiro divino, ver os comentários em Êx 15.3; Js 3.17; 6.2124; 10.11; 1 Sm 4.3, 4; 7.10). A literatura acadiana ocasionalm ente evidencia a mesma relação presente neste texto, em que a palavra para tem or ou pavor é associada à mélammu da divindade.2.12. D ia do Senhor. Ver a nota em Joel 2.2.13. cedros do Líbano, carvalhos de Basã. Esses eram dois tipos de árvore valorizados por seu tam anho, beleza, robustez e durabilidade. A madeira extraída dessas árvores era usada em m onum entais projetos de construção (em portas e palácios) que representavam a fonte de orgulho para as nações e nos quais depositavam sua confiança.2.15. torre e m uro. Os m uros desse período eram sólidos (em contraste com os m uros de casamata da idade anterior) e eram feitos de tijolos, pedras ou pedras de silhar. Em bora as torres e muros fossem característicos de cidades fortificadas, havia também m uitas fortalezas de guarnições construídas ao longo de rotas comerciais e nas fronteiras. Em Israel, tanto as fortalezas quanto as torres eram retangulares. Exemplos em Cades Barnéia e H orvat Uza medem entre 6 mil e 7.500 metros quadrados. Visto que os muros das cidades não foram preservados em seu tamanho original, é difícil dizer que altura tinham. Um a largura de quatro metros e meio a seis metros era comum e a julgar-se pelos alicerces enormes e pelo comprimento das escadas utilizadas para escalar os muros, não seria estranho que tivessem de nove a doze metros de altura. Os muros em Láquis tinham quase quinze metros de altura. As inscrições assírias geralmente dão a altura dessas muralhas em termos de fileiras ou camadas de tijolos. O muro da cidade de Senaqueribe, Nínive, teria sido construído com 180 camadas de tijolos (18 a 21 metros de altura?). Na época de Isaías, a capital de Sargão, K horsabad tinha m uros com quase trinta metros de espessura e 150 torres englobando a área da cidade de 750 acres.2.16. navios. O transporte m ercantil feito através de navios já existia na prim eira m etade do terceiro m ilênio a.C.. Por volta da m etade do segundo m ilênio, Ugarit contava com uma frota de 150 navios. Escavações de um navio m ercan te afu nd ado (na costa de U luburun, Turquia) nesse período dão um a idéia da
variedade de mercadorias que eram transportadas. Os navios do prim eiro m ilênio tinham um único mastro com um cesto na ponta e contavam com um a ou duas file iras de rem os. O tam anho m édio era de quinze m etros de com prim ento, mas havia barcos maiores.2.19. efeitos da teofania. N o antigo Oriente Próximo, o tremor da terra é um indício do envolvimento divino na batalha. Além disso, acreditava-se que o terror infundido pelo guerreiro divino antecedia um exército poderoso e vitorioso na batalha. Textos egípcios atribuem esse terror a Am om -Rá nas inscrições de Tutm és III e textos hititas, assírios e babilónicos tam bém fazem m enção a seus guerreiros divinos que infundem terror no coração dos inimigos.2.20, 21. ratos e m orcegos, fu ga para as cavernas. Um hino sumério de Enheduanna à deusa Inanna, do terceiro milênio, ilustra os deuses esvoaçando agitados como morcegos quando dirigem-se a suas cavernas, por causa da presença da terrível deusa. Isso sugere a possibilidade que nestes versículos os ídolos estão sendo carregados para as cavernas e brechas dos penhascos pelos ratos (a fuga dos homens já foi relatada no v. 19). Assim como os homens fugiram da glória do Senhor, também os ídolos fogem, mas como são incapazes de se m over sozinhos, são transportados pelas criaturas m ais vis.
3.1-4.1 Julgamento de Judá e de Jerusalém3.1. a realidade de um cerco. A estratégia de cerco tinha por objetivo isolar a cidade e criar um bloqueio que com o tempo forçaria a rendição. Com o inimigo acampado em volta da cidade, não era possível colher os campos, por isso, as provisões alimentares iam se tom ando cada vez mais escassas. Ninguém podia entrar levando comida, logo, os m oradores tinham de sobreviver com as reservas que haviam sido armazenadas na cidade. Se o reservatório de água era uma fonte ou poço localizado fora da cidade, o cerco seria breve, uma vez que as cisternas rapidamente se secariam . Jerusalém tinha um suprim ento de água ao qual era possível ter acesso por dentro da cidade (ver o comentário em 2 Cr 32.3). A palavra traduzida como "sustento" geralmente é entendida em termos de líderes humanos. Os "suprim entos" para sobreviver a um cerco seriam providos por um líder capaz de manter a moral alta e de administrar com sucesso o racionamento de comida.3.2, 3. categorias de líderes. A lista de líderes aqui é bastante longa, cobrindo os m ilitares, a liderança dos clãs, os religiosos (tanto os legítimos como os ilegítimos) e os conselheiros políticos.3.5. posição dos idosos. Na sociedade israelita o homem m ais idoso era o chefe da família. Ele tom ava as deci
sões da fam ília e a representava perante a comunidade. Como resultado, os m em bros idosos geralm ente desfrutavam de um alto grau de respeito e honra.3.6. m anto de liderança. O m anto era uma peça tão básica do vestuário que até os mais pobres a usavam. Era considerado tão essencial que era proibido ficar com o m anto penhorado de um homem por uma noite (ver o comentário em Êx 22.26, 27). Embora essa passagem sugira que a situação piorara tanto que quase ninguém tinha m antos (e, portanto, a posse de um tom ava a pessoa distinta), também existe algo especial em relação ao manto de um rei. Em textos assírios dessa época o m anto do rei figurava com destaque em certos rituais, especialm ente o ritual de substituição do remado. Quando um m au agouro ou presságio indicava que a vida do soberano estava correndo perigo, um "rei substituto" era designado para assumir o lugar dele. Esse substituto era vestido com o manto real e geralm ente assumia para si as conseqüências por estar naquela posição. Embora não haja indício de que se trate desse ritual aqui, é provável que o manto tivesse um a importante função.3.16. en feites nos calcanhares. Esses enfeites eram anéis sólidos geralmente de bronze. A palavra também é usada para os ferros que prendiam camelos. Algumas sepulturas da Idade do Ferro ainda evidenciam braceletes e enfeites nos tornozelos dos corpos enterrados.3.17. rapar a cabeça e expor as vergonhas. A tradução "expor as vergonhas" é bastante incerta. Talvez seja um a expressão alternativa para rapar a cabeça. Embora muitas traduções indiquem que se trata de rapar toda a cabeça, o termo hebraico parece sugerir especificamente a fronte. Na M esopotâmia, rapar metade da cabeça era um castigo que tinha por objetivo causar hum ilhação pública. A lém disso, usava-se um tipo específico de corte de cabelo para escravos.3.18-23. acessórios da A ntigüidade. O termo usado pela NVI, "testeira" (v. 18), foi identificado como ornamentos solares, enquanto os colares em form a de crescente eram ornamentos lunares. Muitos dos term os usados adm item diversas interpretações. Por exemplo, os "frascos de perfum e" (NVI, "talism ãs", v. 20) são altamente interpretativos e embora frascos de perfum e tenham sido encontrados por arqueólogos, dificilm ente seriam usados com o jó ias ou enfeites. Outros estudiosos sugeriram que se tratava de um tipo de amuleto, para estar em paralelo ao termo seguinte. O s dados sobre jó ias e en feites no m undo antigo provêm de uma série de fontes diferentes. Algum as obras literárias fazem referência ao uso de diversos ornamentos. Outras fontes escritas incluem inventários (como aquele encontrado em Mari) e listas de presentes ou tributos. As peças m encionadas às
vezes se encaixam às representações pictóricas de relevos e pinturas ou a achados arqueológicos. M as m uitos termos não se encaixam à ilustração de objetos.4.1. oferta de sete m ulheres. Supõe-se que essas m ulheres teriam perdido seus m aridos e filhos e, portanto, ficaram socialmente indefesas, ainda que não desprovidas de recursos para se m anter. Essa era uma conseqüência comum da guerra. Era responsabilidade legal e contratual do marido prover comida e alimento para a esposa. Essas mulheres não estavam em busca de sustento financeiro e certam ente estavam dispostas a deixar de lado as convenções usuais de preço da noiva. Sua necessidade de fazer parte de um a fam ília pode sim plesm ente ter origem em exigências sociais ou, na pior das hipóteses, pode refletir o desejo de ter uma família para os filhos que foram gerados como fruto de estupro praticado por soldados inim igos.
4.2-6A glória futura4 .5 ,6 . imagem. A nuvem de fumaça e de fogo remete à coluna que garantia aos israelitas orientação e proteção no deserto. N o m undo antigo, a divindade era sempre retratada circundada por uma aura brilhante ou flamejante. Na literatura egípcia, essa aura é ilustrada pelo disco solar alado acompanhado de nuvens de tempestade. Em acadiano o termo melammu é usado para descrever essa representação visível da glória da divindade, que por sua vez é envolta por fumaça ou nuvens. Tem sido sugerido que na m itologia cana- néia, o conceito de melammu é expresso pela palavra anan, o mesmo termo hebraico traduzido como "n u vem ", m as as ocorrências são m uito raras e obscuras para se ter certeza. De qualquer m aneira, a coluna aqui seria um sinal; a fumaça seria visível durante o dia, enquanto o clarão de fogo, encoberto no interior da nuvem, brilharia à noite.
5.1-7A parábola da vinha5 .1 ,2 . parábolas e alegorias no antigo O riente Próximo. Existe um a perm anente controvérsia quanto à classificação deste texto como parábola ou alegoria, dependendo da amplitude da comparação que se pretende com a história. A s parábolas estavam presentes na literatura do antigo Oriente Próximo desde o período sumério e algumas poucas desde o período neo- assírio. A metáfora de uma cidade como uma planta im produtiva está presente no M ito de Erra e Ishum (cópias remontam ao oitavo século), em que Marduque lam enta-se dizendo ter enchido a Babilônia de sem entes como um a pinha e tê-la plantado como a um pomar, mas nenhum fruto foi produzido nem nunca
foi provada nenhuma de suas frutas. Para mais informações, ver o comentário em Ezequiel 17.1.5.1-6. o preparo e a m anu ten ção da v in h a. As uvas eram um dos principais produtos da economia do antigo Oriente Próxim o, portanto, o cuidado necessário para o cultivo de uma vinha era bastante conhecido. No terreno rochoso e montanhoso de Israel, cuidados especiais tinham de ser tom ados a fim de preservar o solo e a um idade necessária para a produção de bons frutos. A medida que as rochas eram tiradas das encostas, as pedras eram usadas para fazer aterros nivelando o terreno. Essa medida evitava a drenagem da água e a erosão do solo. Outras pedras eram usadas na construção de cabanas e torres usadas para proteger e vigiar a produção na época de colheita. Era preciso carpir as ruas entre as fileiras da plantação para evitar que ervas daninhas crescessem e roubassem o suprimento de água do solo. Diversas técnicas de irrigação eram usadas para garantir a água necessária ao terreno. Se o solo não tivesse um idade adequada ou se as vinhas não fossem podadas, os frutos ficavam pequenos e azedos. E, por último, parte das pedras também era usada para construir lagares e cisternas no local para que as uvas pudessem ser processadas sem o risco de estragarem durante o transporte.
5 .8 -3 0Ais e julgamentos5.8. sistem a opressivo de posse da terra. A expansão de propriedades no m undo antigo geralm ente era feita às custas do prejuízo alheio. Um a seqüência de colheitas ruins podia obrigar alguém a abrir mão de sua propriedade a fim de quitar ou dim inuir um a dívida. Em Israel, essa era um a questão teológica e, ao mesmo tempo, econômica. Visto que Deus havia dado a terra como benefício da aliança, cada família considerava suas terras como sua pequena porção na aliança. Portanto, a perda da propriedade, além de ser uma tragédia financeira (muitas vezes com uma dimensão opressiva) também privava os membros da fam ília de sua parte na aliança. Para m ais inform ações, ver os comentários em Levítico 25. Além disso, o conselho responsável pela tom ada de decisões em qualquer comunidade era formado por proprietários de terras. A pessoa que obtivesse direitos sobre todas as terras da comunidade tinha poder para fazer o que quisesse.5.10. n íveis norm ais de produção. Uma vinha geralm ente produziria pelo m enos quatro m il litros de vinho por acre. As colheitas de cereais em áreas irrigadas em todo o antigo Oriente Próximo normalmente produziam na proporção de dez para cada uma usada no plantio (embora produções mais altas sejam atestadas na literatura). Portanto, um hômer (barril) de se
m ente geralm ente produziria dez hôm eres (barris) de cereais. Aqui, a proporção está invertida de dez para um (um efa é cerca de um décimo de um hômer). Logo, os núm eros representados aqui são frações insignificantes da produção normal esperada.5.12. instrum entos m usicais. Os instrumentos musicais descritos nesta passagem eram típicos da época e são atestados em textos, relevos e pinturas do antigo Oriente Próximo desde o terceiro milênio a.C.. Ainda existe certa discordância entre eruditos quanto a qual das palavras hebraicas nessa passagem deveria ser traduzida como "harpa" e qual como "lira". O termo que a NVI traduz como "lira" refere-se a um instrumento de dez cordas, enquanto a palavra traduzida por "harpa" seria um a referência a um instrumento com um núm ero menor de cordas. Ambos eram segurados nas mãos através de estruturas feitas de madeira. O tamborim foi identificado em relevos arqueológicos como o tambor, um pequeno pandeiro (couro esticado sobre um aro) que não tinha o som dos pequenos guizos dos pandeiros modernos. O instrumento traduzido como flauta provavelmente refere-se a uma flauta dupla feita de bronze ou junco.5.14. Sh eo l (sepultura). A m orte ou a sepultura era consid erad a a porta de acesso ao m undo inferior (Sheol). Por ser a entrada, fazia parte do Sheol, logo, o contexto deve determinar se o autor está se referindo ao túmulo ou ao m undo dos espíritos. O Sheol não era um lugar agradável; ali não havia posses, lem branças, conhecimento nem alegria. Não era considerado um lugar de julgam ento ou castigo, em bora ser enviado para lá em vez de perm anecer vivo fosse considerado um ato da justiça de Deus. Logo, é inexato traduzir Sheol como "inferno", visto que este é por definição um lugar de castigo. A compreensão israelita do mundo inferior era m ais parecida com os conceitos encontrados na Mesopotâmia do que com a visão presente no Egito. Para m ais informações, ver o comentário em 14.9. A idéia do Sheol engolindo ou devorando os ím pios também está presente no livro egípcio dos Mortos. Enquanto o coração da pessoa m orta é pesado na balança, o m onstro caótico com cabeça de crocodilo fica de pé aguardando ansiosamente, pronto para devorar aqueles que são reprovados no teste.5.22. bebid a alcoólica. Havia uma grande variedade de bebidas alcoólicas no mundo antigo. O vinho (de mel, tâm aras ou uvas) e a cerveja eram as mais comuns. O que é classificado hoje como "lico r" (que exige um processo de destilação) ainda não era conhecido. Os dois term os usados neste versículo podem referir-se respectivamente ao vinho de uvas e ao vinho de tâmaras, mas é difícil ter certeza. A mistura mencionada aqui envolve o acréscimo de ervas, especiarias, condimentos ou óleos.
5.23. ju izes subornados no antigo O riente Próximo.Como fica evidente no prefácio do Código de Hamurabi (c. 1750 a.C.) e nas afirmações feitas pelo camponês eloqüente, na literatura sapiencial egípcia (c. 2100 a.C.), o padrão de comportamento para as autoridades era proteger os direitos dos pobres e oprimidos na sociedade. Esperava-se que os reis, os oficiais e os magistrados executassem a verdadeira justiça (ver Lv 19.15). De fato, a temática do "mundo de cabeça para baixo", encontrada no Livro de Juizes e na literatura profética (1.23), descreve uma sociedade em que "as leis existem, mas não são cumpridas" (por exemplo, no texto egípcio Visões de Neferti [c. 1900 a.C.]). Um governo bem administrado no antigo Oriente Próximo dependia do respaldo e do cumprimento da lei. Com esse fim, todo Estado organizado havia estabelecido uma estrutura formada por juizes e oficiais locais que tratavam de causas civis e criminais. Era tarefa deles ouvir depoimentos de testemunhas, investigar acusações, avaliar e examinar as provas e executar juízo (detalhes nas Leis Médio-assírias e no Código de Hamurabi). Havia casos, porém, que exigiam a atenção do rei (ver 2 Sm 15.2-4) e apelos ocasionalmente eram dirigidos a esse supremo tribunal (como se vê nos textos de Mari). Em todas as épocas e lugares (ver Pv 6.35; Mq 7.3) é possível encontrar juizes e nários do governo sendo tentados a aceitar subo:Essa acabou tornando-se uma prática quase institucionalizada em ambientes burocráticos, à irtedída que partidos rivais procuravam prejudicar ujnsaos) outros (ver Mq 3.11; Ed 4.4,5). Entret^mt/^ mente, na tentativa de minojm.efe^proyema, impunham-se punições eQn^ím a^J^\^bates. Assim, o Código de HamurahhSuestabejecwseveras punições a qualquer juiz quç^em ste suas decisões (presumivelmente devi^^a\mi sutòhio), inclusive pesadas multas <é^as{a](ne2ito\)eraianente do cargo. Em Êxodo
nos e perverter a justiça são práticas consideradas uma ofensa contra Deus,
teonfra^ fracos e inocentes e contra toda a comunida- dèjver Am 5.12).5.26. bandeira, assobio. A bandeira ou estandarte era um recurso para convocar um exército de determinado território ou para indicar o local onde um ajuntamento de tropas aconteceria ou ainda para demarcar o acampamento. Com freqüência continha uma insígnia da tribo ou da divisão militar. A palavra traduzida como "assobio" também pode referir-se a um silvo. Para o significado, ver o comentário em 7.18.5.27. significado do cinto e das correias das sandálias. O uniforme militar neo-assírio consistia de uma saia até o joelho presa por um largo cinto de couro. Muitos da infantaria não usavam calçados, mas a cavalaria era equipada com botas de couro macio que
iam até o joelho e eram amarradas com longas correias cruzadas.5.28. arcos, flech as , cascos dos cavalos, carros. Oscavalos não eram calçados com ferraduras pelos assírios, por isso animais com cascos duros eram os mais cobiçados, especialmente por causa do terreno rochoso da Siro-Palestina. O arco era a principal arma de ataque do exército assírio. As flechas eram feitas de diversos materiais, inclusive de osso, chifre e diversos metais. Os carros podiam transportar quatro pessoas e tinham pesadas rodas com seis ou oito raios.5.29. comportamento dos leões. O rugido do leão geralmente é um aviso de confronto territorial^tXros- nado geralmente é apropriado para quando aoresk é apanhada. Ambas as imagens estão refletiaa&aquQ
6.1-13 A visão do trono e o chi6.1. cronologia. Supõe- ano 739, um mt 740-738, oj-ei ra campa!
asleria morrido no
ftória israelita. Em ílèser UI fez sua primei-
o início de uma sériaculminou na queda do reino do
íl^a^estruição da capital, Samaria (junta- tras cidades de Israel e de Judá), e na
:ão de grandes segmentos da população. Os sírios estavam prestes a estabelecer o império que ominaria o antigo Oriente Próximo por mais de um
século. Para mais informações a respeito do reinado de Uzias, ver os comentários em 2 Crônicas 26.6.1. trono. O Santo dos Santos foi visto como a sala do trono do Senhor, logo, é óbvio que o cenário da visão é o templo. A arca é retratada como o estrado de seu trono que geralmente é ladeado por querubins. Trata-se, é claro, do trono invisível da divindade invisível. Para mais informações sobre tronos, ver os comentários em 2 Crônicas 3.10-13; 9.17-19.6.1. a aba da veste enchia o templo. A palavra traduzida como "aba" em outras passagens (e provavelmente aqui) refere-se à bainha. Era a borda distintiva e ricamente decorada em toda a volta da veste sacerdotal (ver comentários em Êx 28.31-35). A bainha era usada como uma marca de identidade para pessoas importantes como reis e sacerdotes. Na iconografia do antigo Oriente Próximo as divindades também eram retratadas usando tais vestimentas. A aba do tecido era bordada e uma franja de 7 a 10 centímetros de largura adornava a saia na altura do tornozelo. O tamanho enorme da divindade era comum no antigo Oriente Próximo. Por exemplo, no templo sírio em 'Ain Dara, pegadas com mais de 90 centímetros de comprimento foram entalhadas nas placas de pedra no piso que indicava a entrada do átrio.
6.2. serafins. Esse é o único trecho das Escrituras em que um a criatura sobrenatural é descrita como um "serafim ". As serpentes que provocaram a morte de muitos israelitas no deserto, porém, tam bém são assim designadas e Isaías refere-se duas vezes a serpentes voadoras (NVI, "velozes": 1429 ; 30.6). Visto que as criaturas sobrenaturais com freqüência são retratadas como figuras compostas (ver o comentário em Gn3.24), existe, portanto, um bom m otivo para pensar que os serafins são, de fato, serpentes aladas. Visto que o radical hebraico sarap geralmente é associado a "queim ar", também há boas razões para associar essas criaturas ao fogo. A literatura do antigo Oriente Próximo fornece alguma base que sustenta essas figuras. Serpentes ferozes são bem conhecidas na arte e na literatura egípcia em que a serpente, ou uraeus, é um símbolo de realeza e autoridade. O uraeus adornava a coroa do faraó e, às vezes, é retratado com asas (geralmente duas ou quatro). Não era raro essas serpentes terem m ãos, pés ou rostos. Serpentes aladas na posição vertical também decoram o trono de Tutan- câmon. M uitos selos decorados com uraei alados foram encontrados em escavações na Palestina que datam desse período, por isso, sabemos que os israelitas estavam fam iliarizados com esse motivo. Exem plos de criaturas com seis asas não são tão amplamente confirmados. Um relevo de Tell Halaf, no entanto, que data aproximadamente desse período, retrata um a figura de forma hum ana com seis asas.6.4. efeito s das vozes dos serafin s. Em textos aca- dianos e também em Amós 9.1 o tremor de batentes ou soleiras das portas indica o início da demolição. Se for esse o caso aqui, a fumaça seria o resultado das forças destrutivas em ação. Os gritos dos serafins, porém, não podem ser facilm ente interpretados como avisos de destruição iminente (uma conseqüência da santidade de Deus sendo ameaçada?). Provavelmente é m elhor enxergar a fumaça e o tremor dos batentes das p ortas com o um elem ento que acom p anha a teofania. O m esm o term o usado aqui para fum aça aparece em 4.5.6.7. purificação dos lábios. Em rituais m esopotâmicos muitas vezes a purificação dos lábios era um símbolo da purificação da pessoa. Era visto como um pré-requisito, especialmente para sacerdotes adivinhos, antes de terem permissão para estar diante do concílio divino e relatar o que haviam visto ali.6.7. rem issão. As traduções têm tido muita dificuldade com este termo (por exemplo, algumas escolhem traduzi-lo como "perdoado"). Para informações sobre o conceito, ver o comentário em Levítico 1.4. O mesmo verbo aparece na literatura acadiana ritual referindo-se a "esfreg ar" a im pureza ritual e é usado especificamente em relação à purificação da boca. Em
um a oração da Antiga Babilônia o adivinhador esfrega sua boca com resina preparando-se para aparecer diante da assembléia dos deuses. Em textos de encantamentos babilónicos o fogo geralmente é visto como um elemento purificador. Um a série de encantamentos é intitulada Shurpu ("queim ar") e está relacionada à remoção de ofensa ou impureza ritual.6.8. nós. A imagem familiar de um trono rodeado por um concüio celestial está presente em textos ugaríticos (com bastante destaque no Épico de Keret), embora o concílio cananeu seja formado pelos deuses do panteão. H á exemplos também de inscrições em prédios que remontam ao décimo século, como a de Yehimilk, em Biblos e a esteia de Azitawadda, em Karatepe. No texto acadiano Enuma Elish a assembléia dos deuses nomeia Marduque como seu cabeça. Cinqüenta deuses form aram essa assembléia, com sete no concílio interno. Na crença israelita, os deuses eram substituídos por anjos ou espíritos - os filhos de Deus ou o exército celestial que ficavam ao redor do trono.6.9-10. papel do profeta. A descrição de olhos e ouvidos que não funcionam com o deveriam ou de um coração que é duro ou insensível encaixa-se à descrição que ocorre em textos m édicos ou em contextos de medo. Em 1 Samuel 25, Nabal sofre um tipo de paralisia, derrame ou ataque do coração e seu coração fica duro como um a pedra. Em um hino sapiencial babilónico, um sofredor descreve sua paralisia provocada pelo medo como olhos que não vêem e ouvidos que não ouvem. É difícil saber se a paralisia provocada pela m ensagem de Isaías resulta de enfermidade espiritual ou do m edo. O papel do profeta era transmitir a mensagem independente da reação que geraria. Se a mensagem não trouxesse resultado, ao menos deixaria evidente a culpa do povo.
7.1-25 Emanuel7.1. cronologia. A cronologia dos reinados de Jotão, Acaz e Ezequias é bastante complexa. Não obstante, a invasão mencionada neste versículo pode ser datada com certa segurança no ano de 735. Por volta de 734, Tiglate-Pileser III iniciara uma reação aos problemas que aconteciam no ocidente e a coalizão não teria se sentido à vontade para uma ação tão agressiva.7.1. situação política. O rei assírio Tiglate-Pileser III estava ocupado com Urartu e a M édia entre os anos de 737 e 735. Durante esse período as nações ocidentais se empenhavam em formar uma coalizão que pudesse resistir às incursões assírias. É provável que Rezim (ver o próximo comentário) tenha desempenhado um importante papel em conduzir Peca ao trono de Sam aria (ver os com entários sobre Peca em 2 Rs 15). Suspeita-se que o ataque contra Jerusalém estivesse
relacionado à posição pró-Assíria (ou pelo menos neutra) de Acaz. O cerco tinha como objetivo substituir Acaz por um representante anti-Assíria no trono, que então se uniria à coalizão.7.1. Rezim . Conhecido pelos assírios como Raqianu, que provavelm ente representava o nom e aram aico Radyan, Rezim governou em Dam asco pelo m enos desde 738 (quando é citado por pagar tributo a Tiglate- Pileser III) até a queda de D amasco, em 732.7.3. localização. O túnel de Ezequias ainda não fora construído nessa época. A água era conduzida da fonte de Geom (no vale de Cedrom, a leste da cidade) para o sul, por um aqueduto que levava a água até um reservatório na extremidade sudoeste da cidade. Esse aqueduto é conhecido como o Canal de Siloam e nos tempos bíblicos tinha o nome de Siloé (ver 8.6). Provavelm ente as águas do reservatório (Poço de Siloam) eram periodicamente escoadas para uma área abaixo onde eram usadas pelas lavadeiras. A estrada para o campo do Lavandeiro provavelmente passava pelo vale de Cedrom. Esse seria um bom lugar para encontrar Acaz, caso ele estivesse inspecionando o suprim ento de água da cidade para ver se poderia assegurar seu uso dentro da cidade na eventualidade de um cerco.7.6. filh o de T abeel. Embora não exista nenhum dado histórico sobre esse indivíduo, o nom e Tabeel é aram aico e, p o rtan to , su g ere a lgu ém da fam ília real (provavelmente da linhagem de Davi) cuja m ãe talvez fosse um a princesa da região da Síria. Tal indivíduo provavelmente seria um sim patizante das causas dos arameus. Outra possibilidade sugerida é que essa seja um a referência a Tubail (= Etbaal), o rei de Tiro, que tam bém havia pago tributo a Tiglate-Pileser em 738.7.8. cronologia. Contando 65 anos a partir de 735, a data desses eventos, seria o ano de 670 a.C.. Essa data parece estranha para alguns intérpretes, visto que Efraim sofrera um a significativa redução territorial em 733 e Samaria fora destruída e seu povo deportado em 721. O reinado de Esar-Hadom estava próximo de seu fim em 670. Ele invadira o Egito com êxito em 671 e conduzira um a série de outras campanhas no ocidente nesse período. Até hoje, porém, não há indícios de deportações para fora ou para dentro de Israel durante seu reinado.7.11. s in al d ivino. H á diversos casos de sinais enviados por D eus no Antigo Testamento. O s exemplos mais p arecid os en contram -se em 1 Sam uel 2 .34 e 2 R eis19.29. Nesses casos, o sinal está relacionado ao início do cum prim ento da profecia. O s sinais dados pela divindade no contexto mais amplo do antigo Oriente Próximo geralmente estavam ligados a presságios. Por trás dos presságios havia a crença de que uma interligação ultrapassava todas as fronteiras. Os presságios eram re
lacionados a eventos históricos, da mesma maneira que os sintomas são relacionados à origem de uma doença. Os eventos históricos, portanto, eram considerados relacionados a acontecim entos ou fenôm enos correspondentes no m undo natural. Por exemplo, os deuses escreviam seus sinais nos céus ou nos rins ou fígado de animais sacrificados. Esses sinais não apenas prognosticavam eventos vindouros m as tam bém eram considerados parte desses eventos.7.11. profundezas e alturas. Textos babilónicos também falam da amplitude de sinais (presságios) no céu e na terra, à m edida que seus adivinhos tentavam fazer uso do todas as fontes possíveis de informações relacionadas aos planos que os deuses intentavam executar.7.14. nom es portentosos. Acreditava-se, em geral, que os nomes estavam relacionados ao caráter e ao destino do indivíduo. No Egito, os faraós recebiam nomes (geralm ente cinco) que personificavam suas conquistas, esperanças e sonhos. À s vezes, os bebês recebiam nom es que refletiam um a determinada situação do contexto de seu nascim ento (Gn 29, 30; 1 Sm 4.21).7.15. coalhada e m el. A m elhor tradução para "coalhada" seria algo sem elhante à m anteiga, visto que Provérbios 30.33 mostra que era batida e não produzida através da coagulação ou fermentação. Em textos assírios e babilónicos, a palavra usada aqui no texto hebraico é identificada como um produto chamado de "m anteiga líqu id a"- uma forma refinada de gordura de manteiga - que é doce e não estraga tão facilmente como outros produtos derivados do leite. É o líquido produzido quando a manteiga do leite de vaca é derretida, fervida e peneirada. Em textos mesopotâmicos esse produto é m ais freqüentemente colocado ao lado do m el em diversos tipos de textos, inclusive textos rituais, m édicos e descrições de produtos alimentares. Era um dos m uitos produtos usados para ofertas de libação aos deuses. O mel com freqüência é uma referência ao xarope de tâmaras ou figos. O mel de abelhas era disponível quando encontrado, m as as abelhas não haviam sido dom esticadas para que o mel fosse produzido. M el e manteiga líquida eram produtos nutritivos que podiam ser transportados com facilidade e atendiam as necessidades de alguém que vivesse em circulação e não lavrando a terra. Eram misturados e usados como condimento na confecção de bolos de tâmaras ou nos bolos de trigo m ais comuns.7.16. destino de dois reis. A terra de Peca era Israel, o reino do norte. Em 733 os assírios reduziram grandemente o território de Israel, deixando apenas a capital, Samaria, e seus arredores. O restante do país foi anexado e mais de treze m il pessoas foram deportadas. O próprio Peca foi morto num a conspiração liderada por Oséias, seu sucessor, e apoiada pelos assírios
(como as inscrições de T iglate-Pileser m ostram ). O pró-Assíria Oséias pagou tributo a Tiglate-Pileser e aceitou sua posição como vassalo. Ele reinou até a derrubada final do reino do norte, em 721 - a provável data para ser considerada em que o menino m encionado neste versículo saberia a diferença entre o certo e o errado (por volta dos treze anos). A terra de Rezim era Aram , com sua capital, Damasco. O estado arameu foi anexado pela Assíria em 732, D amasco foi tomada e Rezim foi executado.7.17. im pério neo-assírio. O im pério neo-assírio foi inau gu rad o pou co tem po depois da ascensão de Tiglate-Pileser III ao trono, em 745. Esse império só foi derrubado em 612, quando Nínive sucumbiu à aliança dos m edos e dos babilônios. Embora um declínio significativo possa ser visto já em 630, ainda representa m ais de um século de dominação em uma grande extensão do O riente Próxim o. Por um a década ou quase isso, esse domínio incluía até mesmo o Egito. Os principais reis assírios, Tiglate-Pileser III, Salma- n eser V , Sarg ão II, Se n aq u e rib e , E sar-H ad o m e Assurbanipal, são citados no texto bíblico e também em m uitos documentos do período, inclusive em anais e crônicas reais de diversos deles. O império expandiu-se nas quatro direções: absorvendo U rartu, no norte, os medos, no leste, a Babilônia e Elão, no sul, e a Siro-Palestina, no oeste. Em seu ápice incluiu grande parte (senão a totalidade) do território dos atuais países do Irã, Iraque, Turquia, Síria, Líbano, Jordânia, Israel e Egito. A fam a da A ssíria com o um regim e m ilitar é sustentada por am pla documentação e resta como seu legado histórico. Sua estratégia de guerra psicológica incluía retórica de terrorismo, destruição brutal e exem plos cuidadosam ente selecionados de tortura cruel. Sua expansão era motivada pelo potencial de ganho econôm ico, que viria através dos saques, recolhimento de tributos e tarifas que resultavam do controle do comércio e das rotas comerciais. Sobre a atividade assíria nesse período, ver os comentários em 1.1; 6.1 e 7.1.7.18. figu ra de m oscas e abelhas. A palavra traduzida como "assobiará" também pode referir-se a um silvo. Parte da tradição de criação de abelhas afirmava que um enxame podia ser atraído para fora de sua colmeia até outro local através do som de um assobio. Os exércitos invasores são comparados a m oscas ou abelhas também na Ilíada de Homero.7.19. im agem . Este versículo simplesmente dá continuidade à figura das abelhas, alistando os lugares em que tendem a construir suas colmeias.7.20. rapar a cabeça e a barba dos cativos. Na nomenclatura assíria, o term o "barbeiro" podia ser usado como um título divino. Aqui, a função é atribuída a Yahweh. Embora muitas traduções indiquem que se
trata de rapar toda a cabeça, o termo hebraico parece sugerir especificam ente a fronte. N a M esopotâm ia, rapar metade da cabeça era um castigo que tinha por objetivo causar humilhação pública. Além disso, usava-se um tipo específico de corte de cabelo para escravos. M uitos comentaristas acreditam que "os pêlos de suas pernas" é um eufemismo para pêlos púbicos.7.23. valor das vinhas. É difícil determinar se o texto faz referência a m il vinhas que seriam compradas ou vendidas por um siclo cada (um preço exorbitante) ou, mais razoável, a uma vinha que tivesse mil parreiras cujo produto anual seria o equivalente a mil siclos. A últim a interpretação encontra respaldo em Cântico dos Cânticos 8.11.7.24, 25. campos transform ados em pastos. O gado e os rebanhos de ovelhas podiam causar danos terríveis a terras cultiváveis. Os animais pisoteavam o solo e o desfolhavam por pastarem ali, provocando com o tempo uma erosão generalizada no solo e o esgotamento das fontes de água.
8 .1-10 A invasão Assíria8.1. placa. Se o instrumento de escrita usado é uma ferramenta de entalhe (ver o próximo comentário), o material devia ser algo que exigia gravação ou incisão, sugerindo que se tratava de uma placa de pedra ou argila. O termo usado para descrever o material de escrita é usado apenas um a outra vez no Antigo Testam ento, em Isaías 3.23, onde a NVI traduz "esp elh os", em m eio a um a lista de vestuários e outros acessórios. Textos acadianos alistam selos cilíndricos (usados em volta do pescoço) dentre outros itens da indumentária feminina. Eram usados como amuletos para afastar forças demoníacas. Tinham uma inscrição com o nome da pessoa e muitas vezes eram adornados com m otivos artísticos. Em Israel os selos eram usados com freqüência, m as não há indícios de qual seria o termo para selo cilíndrico, em bora esses objetos tenham sido encontrados na Siro-Palestina e fossem bastante conhecidos ali. Visto que selos cilíndricos eram gravados com o nome do indivíduo e aqui um documento oficial está sendo gravado com o nome de um a pessoa (inclusive a preposição, ausente na tradução da NVI, que geralmente precede o nome em selos e também cilindros aramaicos), é possível que se trate de um selo cilíndrico, embora a palavra hebraica não possa ser identificada com segurança (não se sabe de nenhum termo técnico sem ita ocidental para selo cilíndrico). No período neo-assírio grandes selos cilíndricos (um, por exemplo, com 19 centímetros de comprimento) eram usados como selos dos deuses. Toda essa inform ação encaixa-se ao uso de 3.23 e com a ênfase de Isaías nos nomes importantes. Textos assírios
oníricos mostram uma interessante relação entre um selo entregue em um sonho e inform ações sobre a futura descendência. U m a linha diz que se alguém receber um selo inscrito em um sonho, terá um "nom e" ou um filho.8.1. caneta comum (N V I "escreva de form a legível").
O term o para esse instrum ento aparece apenas em outra passagem do Antigo Testam ento, Êxodo 32.4, onde é usado na confecção do bezerro de ouro. Portanto, presume-se que seja algum tipo de broca ou cinzel. Êxodo 32.16 usa o radical do verbo relacionado a esse substantivo para descrever a inscrição dos Dez M andam entos nas tábuas. Os artesãos que trabalhavam com selos cilíndricos usavam brocas, inclusive um a
"broca fina". A palavra traduzida com o "com u m ", quando qualifica uma pessoa, refere-se à frágil m ortalidade da hum anidade. Talvez aqui, o uso de uma broca m ais delicada intente deixar implícito um trabalho de arte refinado de alta qualidade.8.1, 2. documento. A presença de testemunhas indica que um documento oficial está sendo redigido. Embora alguns estudiosos tenham sugerido que se trate de um contrato de casamento (por causa do v. 3), considerando-se a im portância que se dá à escolha de um nome, é m ais provável que se refira a um documento de nascimento ou registro de nome.8.3. profetisa. O título "profetisa" nunca é usado simplesmente para indicar a esposa de um profeta, mas sim uma m ulher que exerce a função de profeta. Embora não haja dúvidas de que essa m ulher era a esposa de Isaías, ela deve ser considerada como alguém
que exercia o ofício profético por seu próprio mérito. Em bora fossem raras, havia profetisas tam bém na Mesopotâmia. Os textos de M ari na Síria do início do segundo m ilênio a.C. apresentam evidências de hom ens e mulheres nessa posição. Sabe-se tam bém de m ulheres que falaram com o profetisas no reinado de Esar-Hadom, rei da Assíria. Parece que as mulheres desempenhavam o mesmo papel que os profetas.8.3. nomes portentosos. Ver o comentário em 7.14.8.4. saque de D amasco e Sam aria. Certamente, a riqueza de Damasco foi saqueada e levada em bora na queda da cidade, em 732. É m ais difícil determinar quando o saque de Samaria aconteceu. Segundo Reis17.3 relata que Oséias pagou tributo a Salm aneser, mas isso não poderia ser descrito como a pilhagem de Samaria. É m ais provável que a pilhagem deva ser associada à queda de Samaria em 721.8.6. águas de S iloé. O túnel de Ezequias ainda não fora construído nessa época. A água era conduzida da fonte de Geom (no vale de Cedrom, a leste da cidade) para o sul, por um aqueduto que levava a água até um reservatório na extremidade sudoeste da cidade.
Esse aqueduto é conhecido como o Canal de Siloam e nos tempos bíblicos tinha o nom e de Siloé.8.6. Rezim . Ver o comentário em 7.1.8.7. águas que transbordarão em todos os seus canais. Essa metáfora comum é conhecida desde a Lenda Cutéia de N aram -Sin (início do segundo milênio), em que o inimigo invasor é comparado a um a inundação, um dilúvio que transborda pelas margens dos canais e destrói as cidades.8.8. o tratam ento de T iglate-Pileser a Judá. Nos registros de Tiglate-Pileser não consta nenhuma ação contra Judá nas campanhas de 734-732. Talvez esse registro não tenha sido preservado ou o versículo oito oferece um a visão m ais am pla da eventual invasão assíria de Judá por Sargão e especialm ente Senaqueribe. A visão m ais am pla é preferida, visto que o povo de Judá só se "alegraria com R ezim " (v. 6) após a campanha de 732, quando Damasco foi destruída.8 .9 ,1 0 . am eaça contra as nações. Embora muitos intérpretes tenham atribuído essas palavras a Judá, é mais provável que a ameaça parta dos assírios. Era um a estratégia com um dos assírios afirm ar que as divindades dos vassalos rebeldes os tinham abandonado porque haviam rompido os juram entos que selavam sua lealdade aos assírios. Há exemplos desde Tukulti-Ninurta até Esar-Hadom.
8.11-22 Resposta à mensagem profética8.14. figuras. As figuras do santuário e da rocha aparecem juntas tam bém nos Salmos (por exemplo, em SI18.1, 2). O templo garantia santuário para pessoas em dificuldade, e era construído sobre o alicerce de uma rocha. Em termos espirituais os israelitas tam bém se referiam a Deus como sua rocha, seu alicerce. A armadilha e o laço eram usados para caçar pássaros e pequenos anim ais, em bora seja m ais provável que o último refira-se a um bastão de atirar, talvez como um bum erangue.8.16. docum entos selados no m undo antigo. Rolos podiam ser selados amarrando um cordão em volta deles e selando o nó com argila ou colocando-os em um jarro e selando a tampa. A argila ou o selo em volta da tampa recebia um a impressão com o selo do proprietário. A M esopotâm ia usava selos cilíndricos, o Egito, selos de escaravelhos e a Siro-Palestina, selos estampados. Os tabletes eram selados dentro de um envelope de argila, impresso com o selo do proprietário. Os selos tinham como objetivo garantir a integridade do conteúdo do material escrito. Eles alertavam contra a violação e a adulteração e, se intactos, atestavam a autenticidade do documento. Para mais informações, ver Neemias 9.38.
8.19. consulta aos mortos. Por causa da importância dada ao culto aos ancestrais, que perm eava grande parte do antigo Oriente Próxim o (talvez um reflexo da ênfase no papel do herdeiro do sexo m asculino, responsável pelo santuário do pai, como consta em documentos ugaríticos), considerava-se que os mortos tivessem algum poder de afetar os vivos. Acreditava- se que se libações fossem derramadas em favor dos ancestrais mortos, seus espíritos ofereceriam proteção e ajuda aos membros da família que ainda estivessem vivos. N a Babilônia, o espírito desencarnado (:utukki) ou o fantasma (etemmu) podiam tom ar-se muito perigosos se não recebessem os devidos cuidados e, muitas vezes, se transform avam em objetos de encantamentos. O cuidado com os mortos começava com o sepultam ento adequado e teria continuidade com a dedicação posterior de presentes em honra da memória e do nom e do falecido. O filho prim ogênito era responsável pela manutenção dessa adoração ancestral e, sendo assim, era quem herdava os deuses da família (muitas vezes, imagens dos ancestrais já mortos). Esse cuidado tinha como base a crença, como fica evidente na consulta de Saul à m édium de En-Dor, de que os espíritos dos m ortos podiam se comunicar com os vivos e tinham inform ações sobre o fu turo que poderiam ser úteis. Esses espíritos eram consultados através de sacerdotes, m édiuns e necromantes. A consulta aos mortos podia ser um a prática perigosa, visto que alguns espíritos eram considerados demônios, e portanto, poderiam causar m uitos danos fazendo o mal. Em bora seja difícil reconstruir totalmente as crenças israelitas dessa época sobre ancestrais falecidos e a vida após a morte, parece possível que antes do exílio existisse uma forma de culto aos mortos ou adoração aos ancestrais. Essa hipótese tem o respaldo de algumas evidências em vestígios arqueológicos: (1) utensílios, vasilhas e objetos para comer e beber encontrados em tumbas de Israel da Idade do Ferro, (2) referências a entregas de ofertas de alimentos e bebidas para os mortos (ver D t 26.14; SI 106.28) e (3) a importância dada às tum bas das fam ílias (ver o túm ulo ancestral de Abraão e seus descendentes em Hebrom) e os rituais de luto realizados nessas tumbas (ver Is57.7, 8; Jr 16.5-7). O culto a ancestrais era condenado pelos profetas e pela lei.
9.1-7Esperança futura9.1. tratam ento dado a Z ebu lom e N aftali. A s tribos de Zebulom e N aftali estavam entre as m ais atingidas pelos assírios na campanha de 733 (ver 2 Rs 15.29, confirmado nas inscrições de Tiglate-Pileser). Seus territórios com preendiam a m aior parte do que se tornou a província assíria de M agidu (ver o comentário abaixo).
9.1. três regiões. Quando a Assíria dirigiu-se ao ocidente, em 733, para punir a Israel, o reino do norte, por sua participação em atividades anti-Assíria, um dos resultados foi a redução do território de Israel. Exceto pelas colinas de Efraim , todo o restante foi anexado como território assírio. Esse território foi estabelecido em três distritos administrativos citados nos registros assírios como D u'ru, M agidu e GaTaza, refletidos nas três regiões m encionadas por Isaías. A Galiléia dos gentios é a província M agidu (Megido - do vale de Jezreel, ao norte, até o rio Litani); o caminho do m ar é a província D u'ru (Dor - as planícies costeiras de Jope até Haifa) e a área junto ao Jordão é a província Gal'aza (Gileade - a região da Transjordân- ia, desde o m ar Morto até o m ar da Galiléia). Escavações recentes em Dor dem onstraram um a presença assíria significativa nesse período.9.2. luz de esperança e libertação. Em textos m esopo- tâmicos logicamente é o deus-sol, Shamás, quem fornece a luz. Ele é louvado por afastar as trevas e trazer a luz para a humanidade. Como um rei que reina com justiça, Hamurabi afirma trazer luz para as terras da Suméria e Acad.9.4. derrota de M idiã. A opressão midianita na m etade do período dos juizes acontecera aproximadamente quinhentos anos antes, mas ainda continuava a ser o exemplo m ais evidente da capacidade de Deus em promover libertação em situações adversas e opressivas. Fica claro que a referência é àquela derrota específica de M idiã por causa da citação em 10.26.9.4. figura do ju go. M uitas vezes, as profecias referiam-se ao peso do domínio político como a um jugo. N as cartas de A m arna os governantes das cidades- estado cananéias dizem ao faraó como eles voluntariamente se colocaram sob o jugo do Egito para servi- lo fielmente. A literatura sapiencial acadiana mostra que suportar o jugo de um deus é desejável por causa dos benefícios decorrentes. N o Épico de Atrahasis os deuses consideram o jugo de Enlil insuportável e se rebelam. Inscrições assírias descrevem sua conquista de outras terras como a im posição do jugo do deus Assur sobre os povos e a rebelião era retratada pelo jugo sendo arrancado. É desnecessário dizer que o profeta está usando uma imagem que era fam iliar em todo o antigo Oriente Próximo.9.5. bota de guerreiro. Essa é a única ocorrência da palavra para bota no Antigo Testamento, mas é equivalente a um dos termos acadianos comuns para sandália ou calçado. No exército assírio, m uitos da infantaria não usavam calçados, m as a cavalaria era equipada com botas de couro m acio que iam até o joelho e eram am arradas com longas correias cruzadas. Os oficiais também eram equipados com botas. Esse tipo de calçado era um dos principais itens saqueados dos inimigos mortos.
9.5. veste revolvida em sangue. N a Assíria, era retórica comum falar de cidades e países tingidos de vermelho, banhados pelo sangue dos inimigos e do exército atravessando em marcha esse m ar de sangue. Na literatura ugarítica, a deusa da guerra Anat é descrita na batalha caminhando no sangue dos guardas e mergulhando sua saia no sangue coagulado de guerreiros. Pinturas em Til-Barsip mostram assírios em uniformes verm elhos e fontes clássicas descrevem soldados desse período usando túnicas vermelhas ou de cor púrpura. Embora não haja paralelos para a expressão "revolver vestes no sangue", existe um texto assírio que fala de mergulhar as armas no sangue.9.6. prodígio do nascim ento de um herdeiro ao trono. No antigo Oriente Próximo, o nascimento de um herdeiro ao trono era uma ocasião significativa. Um exemplo pode ser visto no mito egípcio do N ascimento do Faraó. Forjado como um oráculo profético do deus Amom, o nascimento de H atsepsut é anunciado com uma proclamação de tudo que ela realizaria. Seu nom e é decretado e ela desfruta da proteção e da bênção do deus. A inda que esse texto represente a tentativa arquitetada de H atsepsut de legitim ar seu direito ao trono, ilustra o tipo de proclam ação que seria adequada em uma cerimônia de nascimento.9.6. nom es e títu los no antigo O riente Próxim o. Era comum no mundo antigo que o rei que ascendesse ao trono assumisse um nome para si. Não devemos imaginar que o nom e Sargão , que sign ifica "O R ei é Legítim o" simplesmente foi dado a uma pessoa que um dia chegou a ser rei. M as além disso estava a questão de títulos que atribuíam ao rei diversas qualidades e feitos. No Egito era um a prática formal, de idade venerável conceder um título de cinco nomes para o faraó que ascendesse ao trono, como parte da cerim ônia de ascensão. Esses nomes eram um a expressão das crenças egípcias na divindade do faraó. Talvez ainda m ais curioso seja o título de Niqmepa, rei de Ugarit (metade do segundo milênio) que inclui títulos tais como Senhor da Justiça, M estre da Casa Real, Rei que Protege e Rei que Edifica.9.6. nom es-frases no antigo O riente Próximo. A maioria dos nomes do mundo antigo continha afirmações, ou seja, continha em si frases. A maioria das afirmações diz respeito à divindade. Pode-se facilmente recon h ecer o nom e da d iv ind ad e em n om es com o Assurbanipal, Nabudoconosor ou Ramsés. Qualquer pessoa com um pouco de fam iliaridade com a Bíblia percebe que m uitos nomes israelitas terminam com - ias ou -el ou começam com Jeo- ou E1-. Todos esses elementos representam o Deus de Israel. Esse tipo de nome é chamado de teofórico e afirma a natureza da divindade, proclam a seus atributos ou pede a sua bênção. Um a form a de interpretar os títu los deste
versículo é entendê-lo como um reflexo de importantes afirm ações teofóricas: O Guerreiro Divino é um Planejador Sobrenatural, O Soberano do Tem po é o Príncipe da Paz (observe que a palavra "é " não aparece nessas construções, como os nomes demonstram ).9.6. nom es compostos no antigo O riente Próxim o. O nom e M aher-Shalal-H ash-Baz, em 8.1, é um nome composto formado por duas afirmações paralelas. Visto que 9.6 apresenta o nome dessa criança (singular) e não os nomes (plural; na NVI, em vez de "seu nome será", a tradução ficou "e ele será cham ado"), uma opção possível é considerar que também esses nomes sejam , na verdade, apenas um (longo e com plexo) nome teofórico composto. Em bora esses nomes compostos não fossem a norma no antigo Oriente Próximo, Isaías não os está apresentando como comuns. O uso assírio de nomes compostos pode ser observado nos nom es que Tiglate-Pileser III dá aos palácios e portas por ele construídos em Calá. Estas últimas recebem o seguinte nome: "Portas da Justiça que Dão o Julgam ento Correto para o Governante dos Quatro Quadrantes, que Oferece a Renda das M ontanhas e dos Mares, que Admite o Produto da Humanidade Diante do Rei, Seu Senhor".9.7. conceito da vinda do rei em um reinado ideal.Em um a obra intitulada "A Profecia de M arduque" (do ano 1100 a.C., aproximadamente) consta a profecia de um rei que reconstruirá os templos e restabelecerá as prerrogativas da Babilônia. Seu reinado é caracterizado pelas reformas, estabilidade e prosperidade. Sua posição de favorecido pela divindade m anterá a porta do céu permanentemente aberta. A paz e a justiça serão o resultado do governo da divindade através desse rei ideal. Em bora possa ter sido escrita para prom over o rei, que esperava que as profecias fossem aplicadas a ele, a Profecia de M arduque demonstra que a retórica usada em Isaías seria familiar no aspecto em que descreve um reinado futuro ideal.
9.8-21A ira do Senhor contra Israel9.10. tijo los por pedras lavradas, figueiras bravas por cedros. O tijolo secado ao sol era um m aterial de construção comum na Palestina. Seu custo era baixo, estava disponível com facilidade e era razoavelm ente resistente. O sicômoro (figueira brava) era um a das árvores m ais comuns da região. Por ser um a árvore que crescia rápido, sua característica de arbusto e m adeira m acia a tornava inadequada para o uso em postes e vigas; apesar disso, era usada em construções. O contraste entre pedras lavradas e madeira de cedro importada sugere luxo extravagante e estabilidade.9.11. inim igos de Rezim . Os mais notáveis inimigos de Rezim eram os assírios e é deles que parte o castigo.
9.12. aram eus e filisteu s. Os aram eus e os filisteus eram os outros dois principais alvos dos assírios nas cam panhas de 734-732. Seria estranho, em bora não impossível, vê-los sendo devorados juntam ente com Israel pelos inimigos de Rezim. Visto que Rezim é o rei dos arameus, é difícil vê-lo como inimigo de seu próprio povo. A outra possibilidade é que arameus e filisteus derrotados tivessem sido forçados a servir nas fileiras do exército assírio à medida que este se deslocava para atacar Israel. Existem am plas evidências dessa prática durante a época de Tiglate-Pileser.9.14. palm a e junco. O texto não se refere à palmeira sendo cortada pela raiz, m as aos galhos e folhagens que crescem no topo do tronco. A cabeça e a cauda, por serem inseparáveis, vão sempre na mesma direção. A palma e o junco são iguais porque se curvam na direção que o vento sopra. Essas plantas não têm capacidade de agir com autonomia.9.20. canibalism o. N ão se sabe ao certo se esse texto se refere a canibalismo ou não. Não obstante, o canibalismo é um elemento padrão presente nas maldições dos tratados assírios do sétimo século. Era o último recurso em tempos de fom e extrema. Chegava-se a esse n ível de desespero em épocas de grave fom e (como ilustra o Épico de Atrahasis) ou como resultado de cercos (como durante o cerco de Assurbanipal à Babilônia, por volta de 650 a.C.) quando o suprimento de comida se esgotava, conforme previsto nos textos de tratados. A guerra de cercos era com um no mundo antigo, portanto, é _provável que essa prática não tenha sido tão rara como se supõe.
10.1-34Ais sobre Judá e Assíria10.1. le is opressivas no antigo O riente Próxim o. Otexto não está se referindo à criação de um sistema judicial e sim à promulgação de decretos ou leis que dizem respeito a questões específicas. No contexto político da época de Isaías uma das principais questões que tinha de ser prevista pela lei era o levantamento de fundos para o pagamento de tributos. Isso geralmente era conseguido através da cobrança de impostos especiais, embora sempre houvesse isenção para classes de pessoas ou cidades que haviam recebido o status de sagradas. Outras possíveis questões incluem a alforria de escravos por dívidas ou o confisco de propriedades. Geralmente a acusação de leis injustas era feita contra um governante por seu sucessor. O Texto de Reforma de Uruinimgina identifica práticas opressivas do passado às quais ele havia colocado um fim . U r-N am m u afirm a não ter "im posto ord ens", m as eliminado a violência e o clamor pela justiça.10.2. v iú vas e órfãos com o vítim as. Com base nas afirmações dos prólogos dos Códigos de Ur-Nam mu e
de H am urabi, fica claro que os reis consideravam parte de seu papel enquanto "sábios governantes" proteger os direitos dos pobres, das viúvas e dos órfãos. Igualmente, no texto egípcio A Lenda do Camponês Eloqüente, o querelante começa identificando seu ju iz como "o pai dos órfãos, o esposo das viúvas". Estatutos individuais (vistos em diversas leis médio- assírias) protegiam o direito de uma viúva casar-se de novo e lhe garantiam o sustento quando seu marido era levado com o prisioneiro ou dado com o morto. Desse modo, as classes oprimidas eram assistidas em todo o antigo Oriente Próximo.10.9. lista de cidades. As primeiras duas cidades representam a Síria, com a cidade ao sul (Calno) que recebeu o m esm o tratam ento da cidade situada ao norte (Carquem is). A segunda dupla representa a médio Síria, novam ente com a cidade ao sul (Hamate) recebendo o mesmo tratamento dado à cidade do norte (Arpade). A últim a dupla de cidades representa o sul da Síria e a Palestina, com a cidade ao sul (Samaria) sendo alvo do mesmo tratamento que a do norte (Damasco). Essa descrição apresenta uma seqüência geográfica e não cronológica, chegando a uma última seqü ên cia n o rte -su l, com Je ru sa lém ju stap o sta a
Samaria, no versículo 11.10.9. Calno. Também conhecida como Calné, ou nos textos assírios, como Kullani, essa cidade foi subjugada pelos assírios em 738. O local ainda não foi identificado com certeza, mas fica nas redondezas de Arpade, em um território conhecido com o U nqi, nos textos assírios. Foi considerada uma importante vitória de Tiglate-Pileser que incluiu um relevo nos anais de Calá ilustrando os deuses da cidade sendo levados cativos e o rei prostrado em submissão a Tiglate-Pileser cujos pés estão em seu pescoço. Kullani foi identificada como o principal alvo da campanha de 738.10.9. Carquem is. Carquemis provavelmente era uma das aliadas de Urartu, sob Sarduri, na coalizão de 743 contra a Assíria. Carquem is não se opôs de form a ativa contra Tiglate-Pileser na coalizão de 738. A contrário, seu governante, Pisir, é alistado entre aqueles que pagaram tributo naquele ano. A cidade só foi anexada em 717. Ficava localizada na margem oeste do Eufrates, no território da atual Turquia, cerca de 80 quilômetros a nordeste de Arpade.10.9. Hamate. Depois que Arpade e sua coalizão sucum biram em 740, outra coalizão foi formada, incluindo muitas das cidades do sul da Síria. Ham ate estava entre elas e pagou tributo quando a coalizão foi dissolvida por Tiglate-Pileser, em 738. Hamate (atual H am a, quase 160 quilôm etros ao sul do A leppo e cerca de 208 quilômetros ao norte de Damasco) fica localizada às margens do rio Orontes.
10.9. Arpade. Arpade (atual Tel Rifaat), cerca de 32 quilômetros ao norte de Aleppo, no norte da Síria, foi um a das prim eiras cidades a posicionar-se contra Tiglate-Pileser e a sentir o resultado de sua determinação. Em 743 M ati'el, rei de Arpade, form ou uma coalizão com o rei urartiano Sarduri e seus aliados para tentar conter os assírios fora do norte da Síria. Tiglate-Pileser destruiu a coalizão em 743, m as ainda levou três anos para finalm ente subjugar e anexar Arpade, em 740.10.9. Sam aria e D amasco. Essas cidades foram, é claro, subjugadas nas campanhas de 733-732, à medida que Tiglate-Pileser estendia seu controle mais e mais ao sul.10.10. im agens m ais num erosas. N ão há distinção nessa fala entre as práticas religiosas de Israel e de Judá e das outras cidades do ocidente. Não há adjetivo explícito neste versículo, apenas implícito pela sintaxe. Os ídolos das nações são portanto identificados como excedendo em núm ero os ídolos de Jerusalém e Samaria. Se a NVI estiver certa, a comparação pode estar relacionada à quantidade de adom os com que eram manufaturados ou vestidos. Outras versões preferem "m aiores", em vez de "m ais num erosas", sugerindo talvez que fossem capazes de demonstrações mais impressionantes de poder e força. Um a terceira possibilidade refere-se ao grande núm ero de ídolos que havia nas outras cidades. Um dos m omentos mais grandiosos da conquista de uma cidade era quando seus ídolos eram levados cativos pelo dominador.10.11. im agens e ídolos em Israel. A religião israelita era idealm ente iconoclasta (não havia imagens). Na prática, porém, não era bem assim. Isaías, bem como a m aioria de outros profetas pré-exílicos, condenavam o povo por causa de seus ídolos. Quanto ao emprego que A caz fez de íd olos, ver 2 C rônicas 28.2. Esse retrato textual não encontra tanto respaldo no registro arqueológico quanto se esperaria. A ausência de ídolos datando da monarquia, no entanto, pode ser devida à diligência em destrui-los por parte de reformadores como Ezequias e Josias, e à eficácia de saqueadores como os reis assírios e babilônios.10.13, 14. afirm ações de inscrições reais. As afirmações arrogantes colocadas na boca do rei assírio por Isaías não são exagero. As inscrições desses reis contêm afirm ações extrem as atribuídas ao rei. Tiglate- Pileser afirm a ser amado dos deuses, a luz de todo seu povo e o pastor de toda a hum anidade, aquele que domina m uitos reis, despoja as cidades e impõe tributos. Ele afirma considerar seus inimigos meros fantasmas. Um de seus predecessores, A ssum asirpal, dem onstra um a grande propensão para títulos em profusão, com freqüência, mais de um a dezena. Dentre eles estão incluídos "dragão feroz, pastor m aravilho
so, criatura santa, soberano belicoso, destem ido na batalha, pisoteador de inim igos, herói im piedoso e onda im petuosa que não encontra oponente e que através de seu conflito soberano subjugou reis ferozes e impiedosos, desde o oriente até o ocidente" (excertos de Grayson, Inscrições Reais Assírias 2).10.16-19. castigo sobre a A ssíria . Em bora o rei da Assíria se apresentasse como a luz de seu povo, Yah- weh, a Luz de Israel, brilharia mais que ele. Os reis assírios se vangloriavam da destruição que provocavam em campos e pomares e do incêndio de cidades - agora teriam um destino semelhante. Os exércitos que eram o poder e o orgulho desses reis seriam dizimados por doenças (epidemias eram um a ameaça constante nos acampamentos militares), se o exército estiver sendo m encionado aqui (ver o próxim o comentário). Um a devastação do exército assírio aconteceu fora dos muros de Jerusalém, em 701, embora não por destruição em massa (NVI, "enferm idade devastadora"; ver 2 Rs 19.35). A derrubada da Assíria só foi alcançada oitenta e cinco anos m ais tarde quando os medos e os babilônios derrotaram Assur e Nínive.10.16. enferm idade devastadora. H á poucas razões para aceitar a tradução da NVI para "fortes guerreiros" neste versículo (no contexto não há m enção a soldados ou a exército). A palavra refere-se àquilo que é rico ou luxuoso e em D aniel 11.24 refere-se a território. A explicação preferida aqui seria a idéia de que D eus transformaria as regiões m ais exuberantes da Assíria em improdutivas.10.22, 23. decreto d iv ino de destruição. O decreto divino de que uma cidade seria destruída é um tema fam iliar no antigo O riente Próxim o. No Lam ento Sumério, o concílio divino decretou a destruição da cidade de Ur. Ali, porém, lamenta-se que o decreto de Enlil não tenha nenhum motivo ou explicação. Na Profecia de M arduque, a divindade decreta sua própria remoção para Hatti. A Crônica de W eidner relata que M arduque decretou a destruição da cidade de B abilônia pelas m ãos dos gutianos. N essa obra, o motivo foi as ofensas de Naram-Sin. Istar ficou irada e levantou um inim igo contra a cidade de U ruk, no M ito de Erra e Ishum. Embora nem sempre o motivo que causou a destruição dessas cidades possa ser definido como "ju sto", o conceito apresentado aqui é bastante familiar.10.24. papel do Egito. O Egito tinha pouco envolvimento nos assuntos da Siro-Palestina durante o reinado de T iglate-Pileser III, visto que essa foi um a época de divisão e disputas entre o Egito, Núbia, ao sul e Líbia, a oeste. Um único incidente relata que H anum, rei de Gaza, fugiu para o Egito em busca de proteção quando Tiglate-Pileser avançou contra sua cid ad e em 734. Som ente a p artir da ascen são de
Salm aneser V ao trono da Assíria em 727 que, é Oséias, rei de Israel, sentiu-se encorajado para recorrer aos egípcios em busca de ajuda (ver o comentário em 2 Rs17.4). A referência ao Egito aqui diz respeito ao êxodo.10.26. rocha de O rebe. Essa é um a referência à libertação de Israel prom ovida pelo Senhor sob a liderança de Gideão, a despeito da situação desfavorável. O governante midianita Orebe foi m orto na rocha de O rebe (não localizada), incidente registrado em Juizes 7.25.10.27. figura do ju go. Ver o comentário em 9.4.10.28-32. itinerário. As doze cidades mencionadas aqui desenham um a rota do norte diretamente para Jerusalém. Não foi esse o itinerário que Senaqueribe seguiu quando avançou contra Jerusalém, em 701. Naquela campanha ele passou por todas as cidades da Sefelá, a sudoeste de Jerusalém , sendo Láquis a última, e aproximou-se de Jerusalém por esse lado. Aia te geralmente é identificada com Ai, cerca de dezesseis quilôm etros ao norte de Jerusalém. Acredita-se que Migrom seja o uádi Sw enit que form a uma profunda fenda entre M icm ás e Geba (ver o comentário em 1 Sm 14.2). Como o exército acampou em Geba, não se sabe ao certo qual das três estradas que saem de Geba foi usada. Uma estrada vai para o oeste até Ram á (cerca de três quilômetros); uma outra vai no sentido sudoeste, até Gibeá (cerca de cinco quilômetros e meio) e uma terceira vai para o sul, até Anatote (cerca de seis quilômetros). A estrada de Anatote passava por Galim (localização incerta) e dali j>ara o sul de Anatote, passava por Laís até Nobe. Acredita-se que N obe estivesse localizada no que hoje é chamado de m onte Scopus, diante da cidade de Jerusalém, a partir do noroeste. M adm ena e Gebim perm anecem não identificadas. 10.34. L íbano. Ver o comentário em 2.13.
11 .1-6 O futuro rei Davídico e seu reinado11.1. oráculo sobre um governante futuro ideal. Vero comentário em 9.7. Textos do Egito e da Mesopo- tâm ia predizem a vinda de reis ao poder que terão êxito em trazer a paz, a justiça e a prosperidade, apesar de essas predições serem escritas geralmente depois que o rei já estava no trono, como uma form a de legitimar seu governo. Um oráculo desse tipo na época de A ssurbanipal inclui os famintos sendo alimentados, os nus sendo vestidos e os presos sendo libertados. Tiglate-Pileser III é descrito como o rebento ou descendente da cidade de Baltil (Assur) que traz justiça a seu povo.11.2. capacitação com o esp írito d iv ino n o antigo O riente Próximo. No período dos juizes, o Espírito do Senhor capacitava um indivíduo dando-lhe autoridade central que apenas o Senhor possuía (ver o co
m entário em Jz 6.34, 35). O papel do rei, por sua vez, representava um a autoridade central m ais permanente e igualmente dependia da capacitação e legitimação do Senhor. O rei era um agente da divindade e um funcionário celestial, assim como os juizes e os profetas. O Espírito conferia às pessoas atributos positivos de coragem, carisma, percepção, sabedoria e confiança. Na M esopotâm ia, o rei recebia a mélammu (a representação visível da glória da divindade) dos deuses, sendo designado com o representante divino e servindo com o um indício de que seu reinado era legítim o e ap rovado pelos deuses. Em inscrições assírias essa aura é ilustrada pairando sobre o rei. Um correlato adicional pode ser encontrado no term o acadiano bashtu. Refere-se geralmente a um senso de dignidade e com, freqüência, é concedido pelos deuses, m as tam bém é personificado como um espírito protetor. O bashtu confere diversos atributos e, como aqui, dá autoridade a quem o recebe.11 .3 ,4 . o desafio do ju iz . A principal responsabilidade de um rei no m undo antigo era estabelecer a justiça. Portanto, a retórica dos reis presente em suas inscrições e anais declara seu êxito nessa empreitada. A sabedoria de um rei era demonstrada através de sua inteligência e percepção na resolução de casos complexos e sua adequação para ocupar o trono era avaliada por seu grau de compromisso em suprir e assistir as classes oprimidas da sociedade. Acreditava-se que a habilidade de solucionar causas difíceis era uma capacidade dada por D eus (compare com Salomão; ver os com entários em 1 Rs 3.16-28 e 2 Cr 1.12) e, portanto, não dependia exclusivamente de evidências que eram apresentadas no tribunal (ver Pv 16.10).11.5. fa ixa do peito/ cinturão. A m esm a palavra é usada em ambas as frases deste versículo, mas uma dessas peças envolvia as coxas, enquanto a outra era enrolada entre elas. Eram os itens m ais básicos de vestuário e sem eles um indivíduo estaria nu.11.6-8. com portam ento dos an im ais em condições utópicas. D esde a época dos sumérios, o mito chamado Enki e N inhursag descreve um a situação utópica em que o leão não m ata e o lobo não arrebata o cordeiro. Outras obras utópicas descrevem a ausência de predadores (não existem cobras, escorpiões, leões e lobos no relato de Enmerkar e o Senhor de Aratta).11.10. ban d eira . A bandeira ou estandarte era um recurso para convocar um exército de determinado território ou para indicar o local onde um ajuntamento de tropas aconteceria ou ainda para demarcar o acampamento. Com freqüência continha um a insígnia da tribo ou da divisão militar. No exército egípcio cada divisão recebia o nome de um deus (p. ex., a divisão de Amom, a divisão de Seth) e os estandartes identificavam o destacam ento m ilitar através de alguma representação do respectivo deus.
11.11. lugares de exílio. Os lugares mencionados aqui não têm necessariam ente o objetivo de representar localidades conhecidas de exílio dos israelitas. Ao contrário, equivalem aos quatro cantos da terra citados no versículo seguinte. A Assíria é mencionada primeiro como o local onde havia exilados no momento, mas também como representante da área nordeste. O Egito, no sudoeste, é identificado em três segmentos acim a do Nilo, inclusive o reino de N úbia (NVI, Etiópia ou Cuxe). Elão e Sinear (Babilônia) representam a extrem idade sudeste, enquanto H am ate representa as regiões ao norte. Por último, as "ilhas do m ar" é uma forma de representar áreas que avançam mais a ocidente.11.12. quatro cantos. Era com um no m undo antigo referir-se às quatro regiões do m undo habitado. A literatura acadiana fala de reis que governam os quatro cantos, provavelmente fazendo referência às costas ou extremidades mais distantes dos quatro principais pontos cardeais. Nesse aspecto, refere-se não a quatro "pedaços da torta geográfica", mas às quatro extrem idades, incluindo assim tudo que está entre esses pontos.11.14. povos vizinhos. Assim como o versículo anterior enfocou a perspectiva universal, este verso trata dos povos vizinhos situados a leste, a oeste e ao sul.11.15. golfo do m ar do Egito. Essa é a única ocorrência na Bíblia de uma m assa de águas cham ada m ar Egípcio e, portanto, é difícil localizá-lo com segurança. A m aioria dos comentaristas o identifica com o golfo de Suez.11.15. Eufrates dividido em sete riachos. Na Meso- potâm ia, o suprim ento de água era controlado por irrigação feita através de comportas que separavam e desviavam a água através de canais que escoavam a partir do leito dos rios. Como a água era desviada, os diversos canais reduziam o fluxo da água.
12.1-6 Cântico de vitória12.1-6. cânticos de vitória. O conceito de um Deus irado que agora concluiu seu justo castigo sobre a nação se repetirá m ais tarde em Isaías (40.1, 2). O chamado para louvar o nome de D eus encontra-se em muitos Salm os, inclusive 2222-25 e 116.12, 13. Essa teodicéia da ira divina acompanhada da mudança do destino e restauração também está presente na inscrição m oabita de M essa. A li o rei observa como seu deus Quem ós perm itiu que fossem derrotados por um período, m as depois escolheu dar-lhes a vitória contra seus inimigos. Igualmente, os anais assírios de Esar-H adom , Salm aneser I e Tukulti-N inurta I louvam seu triunfante deus Assur, que é "soberano sobre o universo" e lhes deu autoridade para subjugar todas as nações.
1 3 * 1 -2 2Profecia contra a Babilônia13.1. oráculos contra as nações estrangeiras. V er ocomentário em Jerem ias 46.1.13.1. Babilôn ia nos tempos de Isaías. Na época em que Isaías atuava como profeta (segunda metade do oitavo século a.C.), o império neo-assírio, sob os governantes sargonidas, Sargão II e Senaqueribe, era a mais poderosa associação política do mundo já vista. Estendia-se por todo o Oriente Próximo e chegaria até a incluir o Egito, ainda que por um curto período. Durante essa época a Babilônia e seus governantes caldeus foram subjugados pelos assírios, assim como todas as outras nações. Entretanto, tal como os medos, no oeste do Irã, os babilônios periodicam ente testavam a hegem onia assíria através de revoltas ou procurando subverter aliados da Assíria e seus Estados vassalos. Particularm ente perturbador foi Merodaque-Baladan, que espoliou os governantes assírios pelos m enos em duas ocasiões. Finalmente, em 689 a.C. Senaqueribe saqueou a cidade e assum iu o título de rei da Babilônia. Pouco tempo depois de 660, quando o im pério assírio com eçou a ruir, a Babilônia e a M édia uniram -se para aumentar a pressão sobre o últim o dos grandes reis assírios, Assur- banipal. Sua morte, em 627, marcou o fim do poderio assírio no mundo e o surgimento de Nabucodo- nosor e o império neo-babilônico.13.10. constelações. As constelações, de acordo com o épico mesopotâmico da criação, Enuma Elish, formavam a assembléia divina do grande deus Marduque, colocadas no firmamento para supervisionar as forças da natureza e ajudá-lo a adm inistrar a criação. Visto que acreditava-se que o movimento dos corpos celestes eram presságios de eventos que aconteceriam na terra, as observações astronômicas eram feitas constantem ente e registradas (como a coleção de registros em Enum a A nu Enlil). Com o tem po, essa prática também passou a ser aplicada na elaboração de horóscopos na M esopotâmia, no Egito e na Grécia. Dessa maneira, os dias de sorte e de azar podiam ser determinados consultando-se as guildas de mágicos e astrólogos. As constelações mesopotâmicas incluem figuras de anim ais com o o bode (Lira) e a serpente (Hidra); objetos como um a flecha (Sírio) e um carro (Ursa Maior) e personagens como Anu (Órion). As constelações mais populares eram a Plêiade, com freqüência retratada em selos até na Palestina e na Síria. Textos neo-assírios preservam esboços de estrelas em constelações.13.10. estrelas, sol e lua perdendo sua luz. Ao declarar que no "d ia do Senhor" os céus e todos seus corpos celestes perderiam sua luz, Isaías está afirmando que a glória de Yahw eh ofuscaria e encobriria o brilho de
todos os outros supostos deuses (compare com a expressão de SI 104.19-22, em que Yahw eh é descrito controlando o sol e a lua). V isto que a Assíria e o Egito adoravam o deus-sol (Shamás e Am om , respectivamente) como sua principal divindade e o deus-lua, Sin, era de grande importância na Babilônia, o profeta atinge esses deuses e essas arrogantes nações inimigas. Tais presságios de escuridão, como na inscrição de Deir 'Alla, de Balaão, geralmente previam tempos de grande desastre, mas a mensagem de Isaías é de triunfo em que "luzes m enores" são extintas para que Yahw eh brilhe com mais intensidade.13.12. ouro de O fir. A pureza particular do ouro de Ofir é a medida para a limpeza da humanidade por m eio da intervenção de Yahw eh. A localização de O fir ainda é desconhecida, em bora localidades na Arábia e no leste da África (Zimbábue ou Somália) sejam as mais prováveis (1 Rs 9.28). Um a inscrição do oitavo século a.C., em Tell Qasile, faz menção ao ouro de O fir e sustenta a idéia de que o nom e O fir se tom ara sinônimo de pureza.13.13. trem or nos céus e n a terra. Isaías usa um a linguagem semelhante à que é usada na teofania do "deus da tem pestade", comum no ciclo ugarítico do Épico de Baal. O guerreiro divino se manifesta através de fenômenos da natureza, ventos impetuosos e um estrondo pelos céus que quase rom pe a própria estrutura da terra dividindo-a em duas. Um exemplo parecido encontra-se no cântico de louvor de Davi, em 2 Samuel 22.8-16 (ver o comentário lá).13.17. m edos. As tribos e os reis m edas com eçam a surgir em textos assírios no final do nono século a.C., especialmente associados à aquisição de cavalos e ao controle de rotas comerciais nas m ontanhas Zagros. T iglate-Pileser III e Sargão II invadiram a área diversas vezes, cobrando tributos e deportando grupos da população (2 Rs 17.6). Os m edos habitavam na região centro-oeste do Irã com sua capital em Ecbatana. O reinado iraniano de Elão governava a área até o sul. Parece que só a partir do sétimo século eles se unificaram como nação, quando o rei Cyaxares uniu forças com Nabucodonosor e com os caldeus da Babilônia para atacar e destruir Nínive (612 a.C.). Subseqüentemente, os m edos foram conquistados ou absorvidos pelo império Aquemênida, por Ciro II, em 550 a.C. (Et 1.3).13.17. não se interessam pela prata nem pelo ouro.Como atestam os anais assírios de Senaqueribe, era possível a um a cidade resgatar a si m esm a durante um cerco pagando um elevado preço (2 Rs 18.13-16). Porém, a fama dos m edos é que eram guerreiros tão ferozes que não podiam ser subornados ou comprados depois de terem iniciado um a campanha (ver Sf 1.18).13.19. queda da Babilônia. Apesar do fato de a Assí
ria ser a origem da destruição de Israel nos dias de Isaías, esse império é visto como a "vara do furor de D eus" (Is 10.5), embora Deus garanta que seu castigo acabará por vir (14.25). Logo, a eliminação da m onarquia caldéia de Merodaque-Baladan, de tão curta duração, serve de exem plo inicial do plano m aior do "d ia do Senhor" que irromperá em uma nova era. A tribo Bit Yakin dos caldeus, que anteriormente havi
am habitado na área sul da Babilônia, estabeleceu seu dom ínio sobre a B ab ilôn ia em 722 a.C .. Prim eiro Sargão II, depois Senaqueribe avançaram contra eles, mas foi somente em 689, após um a série de revoltas e contra-revoltas, que o conflito foi resolvido, quando Senaqueribe arrasou a cidade e muitas de suas construções monumentais. As ruínas da cidade subjugaram os caldeus por um século e é possível que a lembrança, bem como a visão da destruição, tenham sido comparadas ao destino de Sodom a e Gom orra. Apesar disso, o envolvimento dos medos sugere que o destino final da Babilônia foi o cumprimento final dessa profecia, quando os m edos e os persas invadiram e tom aram a cidade em 539.13.20. destino da Babilônia. A descrição da devastação total da Babilônia que passaria a ser um lugar desabitado para sem pre acom panha um padrão de lamento pela cidade encontrado nos lamentos sumérios por causa de U r (c. 2000 a.C.). Em um exemplo semelhante de um oráculo de "a is" o texto egípcio intitulado Visões de Neferti descreve o final do Antigo Reinado, deixando o povo sem rum o, os canais secos e o Egito vulnerável a invasões de asiáticos e pastores do deserto. O golpe final à Babilônia não veio pelas mãos de um inimigo destruidor, mas através de sua deterioração gradual por causa do desvio do curso do rio Eufrates que tran sfo rm o u a fam osa c id ad e em um lu g ar
desértico e abandonado.
14.3-23Zombaria contra o rei da Babilônia14.4. cântico de zombaria. Essa canção usa a métrica de um hino fúnebre, m as parodia o gênero zomban
do e não elogiando a pessoa morta.14.8. lenhador. As florestas do Líbano eram consideradas um tesouro pelos reis do mundo antigo. A m adeira dos cedros era essencial para templos e palácios. Os reis se gabavam de ter estendido suas conquistas até essas florestas e de ter extraíd o m adeira dali. Nabucodonosor a chama de floresta de M arduque, e o Épico de Gilgamés retrata as florestas de cedro como propriedade divina guardada pelo temível Huwawa, Invadi-las e apropriar-se de seus recursos era o maior feito de todos. Isaías 37.24 e Ezequiel 31 retratam um conceito semelhante.
14.9-11. reis mortos. No mundo antigo acreditava-se que os espíritos dos mortos eram capazes de voltar para assombrar os viventes. A posição que a pessoa ocupava na vida ou o poder que tinha enquanto vivo, muitas vezes era transferido para a existência no m undo inferior, talvez dando a idéia de que, dessa forma, o espírito estaria contente em perm anecer ali. Na descrição que Isaías faz aqui, porém, não é a volta do espírito que está em foco. O rei da Babilônia é retratado despojado de todo seu poder e de sua grandeza. Na mitologia cananéia o deus M ot é o governante do m undo inferior e é retratado com características reais. Mas é Baal que desce ao m undo inferior para ser o líder de todos os heróis caídos e ancestrais honrados. N a literatura ugarítica, esses espíritos são chamados de Rapiuma, a mesma palavra que a NVI traduz como "espíritos dos m ortos", no versículo 9.14.12. estrela da m anhã. A palavra hebraica por trás dessa tradução, helel, não é usada em nenhuma outra passagem do Antigo Testamento. Muitos intérpretes, antigos e m odernos, a consideram um a designação para Vênus, a estrela da manhã. Essa era a interpretação que estava por trás da tradução grega do termo, e tam bém da versão Latina Vulgata, lu á feros (aquele que brilha, i.e., Vênus). Intérpretes m ais m odernos acreditam que Isaías esteja usando uma lenda m itológica bastante conhecida como um a analogia para a queda e as conseqüências da rebelião e arrogância do rei da Babilônia, m as nenhum m aterial literário encaixa-se aos detalhes da rebelião de Helel.14.12. filh o da alvorada. A alvorada (shahar) com freqüência era personificada no A ntigo Testam ento e nas inscrições fenícias e ugaríticas. Era uma divindade conhecida.14.13. rebelião no céu no antigo O riente Próxim o.Alguns estudiosos encontraram semelhanças entre a história de Helel e um a lenda ugarítica sobre o deus Athtar. Na ausência de Baal, Athtar tentou assentar- se em seu trono (governar em seu lugar), m as descobriu que não estava à altura para a tarefa e voltou para seu lugar no mundo inferior. Em bora o nome de A thtar possa ter um significado parecido com o de Helel, ele não é o filho de Shahar (como Helel é descrito), nem é atirado à terra por causa de sua tentativa de assentar-se no trono de Baal. O tema da revolta contra os deuses, entretanto, é fam iliar. Um dos m elhores exemplos da literatura antiga é o M ito de Anzu, em que uma criatura pássaro/leão tenta roubar o Tablete dos D estinos com os quais os deuses governam o mundo. Anzu decide assumir a supremacia do m undo e dos deuses roubando o tablete do deus principal, Enlil. Ele profere uma série de afirmações semelhantes às que o rei faz aqui: "E u mesmo tomarei o Tablete dos Destinos dos deuses. A s responsabilidades dos
deuses tomarei para mim. Estabelecer-me-ei no trono e prom ulgarei os decretos. Assumirei o comando sobre todos os deuses-Igigi". Esse tipo de arrogância era comum e freqüente por parte do antagonista nesse tipo de relato.14.13. estrelas de D eus. A palavra usada para Deus aqui é El. Embora às vezes seja usada na Biblia para referir-se ao Deus de Israel, também é conhecida como o nom e do deus principal do panteão cananeu. No A ntigo Testam ento, a palavra "estre las" ocasionalm ente refere-se a anjos da corte celestial (Jó 38.7), enquanto em textos ugaríticos e m esopotâmicos é usada para descrever divindades astrais.14.13. m onte da assem bléia. Visto que acreditava-se que os deuses da m itologia cananéia vivessem nos altos m ontes (ver o próximo comentário), é compreensível que seu lugar de assem bléia também estivesse localizado em um lugar elevado. De fato, El é retratado conduzindo a assem bléia divina do panteão nas alturas de Zafom . Em bora a expressão "m on te da assem bléia" não tenha sido encontrada, o concílio da assembléia se reunia no m onte de El.14.13. m onte santo. O pensamento do antigo Oriente Próximo, semelhante aó da conhecida mitologia grega, visualizava um monte como o lugar da m orada dos deuses. Segundo essa visão, havia pouca diferença entre o topo das montanhas e os céus. N a literatura ugarítica a casa de Baal figurava como o monte Zafon
(geralmente identificado como o monte Casius, Jebel aTAqra, na Síria, 1770 m etros de altitude). A palavra hebraica záfon significa "n o rte " e é traduzida aqui pela NVI como "m onte santo" (ver SI 48.2).14.14. A ltíssim o (E liom ). N o Antigo Testam ento, o termo Eliom normalmente é um título para Yahweh. Entretanto, visto que também ocorre como um título divino (e talvez até como o nom e de um a divindade) em outros textos do antigo Oriente Próximo (literatura ugarítica, aramaica e fenícia), seu uso em um contexto como esse pode ser ambíguo. É m ais conhecido fora da B íblia como um título para Baal, nos textos ugaríticos.14.15. levado às profundezas do Sheol. Em um m ito sumério que compartilha alguns trechos com o M ito de Anzu (ver o comentário em 14.13), o deus Ninurta derrota a criatura Anzu, m as am biciosam ente deseja obter poder para si m esm o. Quando Enki descobre seu plano, Ninurta é atirado em um abismo e Enki o repreende por ser um pretensioso jactante que incansavelm ente tentou obter o poder que não lhe pertencia.14.19. atirado fora do seu túm ulo. A metáfora mitológica dos versos 12-15 faz um a divisão entre a reação do m undo inferior (v. 9-11) e a reação da terra, nos versos 16 e 17. Visto que o corpo mutilado do líder
inim igo com freqüência era exposto em um lugar público (ver o comentário em 1 Sm 31.10), as pessoas passavam e olhavam. A frase usada aqui, cuja melhor tradução seria "jogado fora, sem um túm ulo", indica que o rei será privado de um enterro digno. Não ter o corpo enterrado, permanecendo exposto, representava uma última humilhação e um a profanação, visto que a maioria dos povos antigos acreditava que um enterro adequado, decente, no momento apropriado, afetava a qualidade da vida após a morte. Ver o com entário em 1 R eis 16.4. N o Ép ico de G ilgam és, Enkid u, ao re to rn ar do m undo in ferio r, re la ta a Gilgamés que quem não fosse enterrado, após a morte não tinha descanso e quem não deixasse parentes vivos para cuidar dos rituais, comia apenas o que era jogado nas ruas. Uma maldição babilónica relaciona o enterro com o encontro do espírito do m orto com seus entes queridos. Sabemos que até mesmo os israelitas acreditavam que um sepultamento adequado afetava a vida no além, porque eles, assim como seus vizinhos, enterravam seus entes queridos com provisões que lhes serviriam na vida após a m orte: com freqüência vasilhas de cerâm ica (cheias de com ida) e jóias (para afastar o mal), além de utensílios e objetos de uso pessoal que às vezes eram acrescentados.14.19. destino dos mortos. Quando os cadáveres não eram expostos em praça pública, havia outras alternativas para humilhação como acabar jogado num a pilha de m ortos ou ser pisoteado ficando irreconhecível. A referência a "pedras da cova" é obscura.14.20. nunca se m encione. A m enção do nom e de um morto era uma forma de lhe conceder honra (exemplos em Gn 48.16; Rt 4.14). Essa expressão poderia também referir-se ao nome sendo invocado ou tom ando-se famoso. De qualquer maneira, fica claro que esse rei não ocupará um lugar de destaque na história.
14.24-27 Oráculo contra a Assíria14.25. A ssíria. O castigo proferido contra a Assíria novam ente parece referir-se à destruição do exército de Senaqueribe fora de Jerusalém, em 701 (ver o com entário em 10.16-19).14.26, 27. p lanos da div ind ade. Em bora houvesse decretos fixos que os deuses dirigiam, a idéia de que um a divindade tinha planos que ultrapassavam o tempo e o espaço não era facilmente aceita no politeísmo do mundo antigo. Segundo a crença da época, os deuses não eram imunes às mudanças no tempo, nem havia uma divindade com jurisdição universal. Manter um plano como esse atribuído a Yahw eh aqui e em outros trechos de Isaías limitaria demais a capacidade de um deus, até mesmo de um poderoso chefe de panteão como Assur ou Marduque. Não obstante, os reis assírios afirmam que o estabelecimento de seu trono, suas conquistas e a expansão de seus impérios faziam parte do plano dos deuses. Muitas vezes, no entanto, esses planos divinos parecem ser elaborados num cronograma em curto prazo. Acreditava-se que os deuses se reunissem no Ano Novo para elaborar seus planos para o próximo ano. Seus decretos eram registrados em tabletes do destino a fim de serem executados ao longo do ano. A adivinhação era o meio geralmente usado quando as pessoas queriam saber mais acerca desses planos.
14.28-32 Oráculo contra os Filisteus14.28. cronologia. A cronologia desse período é bastante complicada e não é fácil determinar o ano da morte de Acaz. Alguns sistemas cronológicos sobrepõem os governos de Acaz e de seu filho Ezequias em uma co-regência (talvez devido à força do contingente
CRENÇAS A RESPEITO DA VIDA APÓS A MORTE EM ISRAEL E NO ANTIGO ORIENTE PRÓXIMO Sheol é a palavra hebraica para mundo inferior. Embora a transferência de uma pessoa da vida para o Sheol possa ser considerada um ato de juízo, o Sheol em si não é considerado um lugar de castigo, em oposição a um destino celestial de recompensas. A palavra, às vezes, é usada como sinônimo de sepultura por ser esta o portal de acesso ao mundo inferior. Os israelitas acreditavam que os espíritos dos mortos continuavam a existir nesse mundo de trevas. Não era uma existência agradável, mas nunca é associada ao tormento do inferno no Antigo Testamento (a imagem descrita em Is 66.24 não é associada ao Sheol). Não fica claro se na visão israelita havia alternativas ao Sheol. As pessoas que eram poupadas do Sheol eram mantidas vivas e não sendo enviadas a algum outro lugar. Havia pelo menos uma vaga idéia de algum outro lugar aonde ir, vista nos exemplos de Enoque e Elias, que não passaram pela morte e presumivelmente não foram ao Sheol. Mas esses textos não deixam claro qual seria a outra alternativa. Na ausência de uma revelação específica, as crenças israelitas se adequavam aos conceitos vigentes entre seus vizinhos cananeus e mesopotâmicos.Segundo as crenças mesopotâmicas os mortos precisavam atravessar um deserto, montanhas e um rio e depois descer, passando pelas sete portas do mundo inferior. Embora descrito na literatura mesopotâmica como um lugar de escuridão onde os habitantes se vestiam de penas de aves e comiam terra, relatos mais amenos também eram comuns. Os habitantes desse mundo de sombra também eram sustentados pelas ofertas dedicadas pelos viventes e desfrutavam de alguma luz quando o sol passava pelo mundo inferior (quando era noite na terra dos viventes) para nascer no leste novamente na manhã seguinte. Os governantes do mundo inferior, Nergal e Ereshkigal, eram assistidos por um grupo chamado os Anunnaki. Apesar das descrições sombrias, ninguém queria afastar-se das portas do mundo inferior porque a alternativa era ser um espírito vagante sem acesso a ofertas funerárias.
anti-A ssíria na adm inistração). Sua m orte pode ter acontecido entre os anos de 726 e 715. A primeira data é sustentada pelo sincronismo de 2 Reis 17.1.14.29. filis te u s no oitavo século. A Filístia estivera sob o controle de Judá durante o reinado de Uzias que durou toda a primeira metade do oitavo século. Ela reconquistou sua independência durante o reinado de Acaz e passou a ser o agressor. Com o surgimento do império neo-assírio, a Filístia ficou sob ataque como o restante das outras nações. Tiglate-Pileser alvejou G aza em sua cam panha de 734 e assim as cidades filistéias se tom aram vassalas pagadoras de tributo. Quando Sargão subiu ao trono, os filisteus tentaram libertar-se da Assíria, mas em 720 a Filístia foi atacada novamente e Gaza renovou seu juram ento de lealdade. Em 712, Sargão teve de dirigir-se outra vez para o oeste a fim de su focar um a revo lta lid erad a por Asdode. Ecrom e Gate tam bém foram alvos de ataques nessa época. A cam panha de Senaqueribe, no ano de 701, provocou mudanças no trono de diversas cidades filistéias, mas apenas Ecrom teve de ser cercada. Praticamente na m aior parte dos séculos oitavo e sétimo os filisteus tiveram o mesmo destino de seus vizinhos de Judá.14.31,32. destino da Filístia. Com o tempo os filisteus foram derrotados e deportados por Nabucodonosor, assim como o povo de Judá. As cinco cidades filistéias m antiveram algum grau de im portância, m as por volta do período persa, os filisteus haviam gradualmente sido assimilados pela população heterogênea do império.
15.1-16.14 Oráculo contra Moabe15.1. M oabe no oitavo século. Assim como m uitas das pequenas nações siro-palestinas do oitavo século a.C., M oabe foi dominada pela hegemonia assíria na região. Diversos textos assírios alistam reis moabitas pagando tributos ou envolvidos em revoltas periódicas conduzidas por coalizões dessas pequenas nações (a revolta de Asdode, em 713, registrada em um prisma do reinado de Sargão II). V isto que Isaías provavelmente proferiu suas profecias no início do reinado de Ezequias, a destruição das cidades m oabitas talvez tenha sido decorrente de incursões de tribos do deserto e não provocada pelos assírios. Parece claro a partir dos anais de Senaqueribe que M oabe tentou aliar-se aos assírios durante a campanha de 701 em que grande parte de Judá foi devastada e Jerusalém foi cercada. Como resultado, os profetas israelitas (Am2.1-5 e Jr 48) geralm ente alistam M oabe como uma nação inimiga.15.1-4. cidades. As cidades aqui alistadas, destruídas ou atingidas pelos ataques, situavam-se na área norte
de M oabe: Q u ir (Q u ir-H aresete, em 16.7) ficava na parte alta do uádi el-Kerak e era a capital do distrito de A r; N ebo e M ed eba estavam lo calizad as a leste da extrem idade norte do m ar M orto, cerca de 32 quilôm etros ao norte de Dibom. H esbom e Eleale tam bém foram atacadas, situadas a nordeste de Nebo. As cidades m ais ao sul, D ibom (32 quilôm etros ao norte de Q uir) e Jaaz aparentem ente não foram diretam ente afetadas pelas invasões, m as temiam incursões futuras.15.2,3. práticas de lam ento. Lamentos comunitários e individuais em todo o antigo Oriente Próximo incluíam o pranto, rapar a cabeça e a barba, usar pano de saco e deitar-se ou rolar no chão. Todas essas atitudes ilustram a dor, o luto e tam bém a identificação temporária (geralmente de sete dias) com o morto. Ver os comentários em M iquéias 1.8 e 1.16 para uma discussão sobre essas práticas e as evidências extrabíblicas em textos ugaríticos e assírios.15.5. itinerário de fuga. A chave para a rota de fuga dos moabitas é Zoar, visto que as outras localidades m encionadas não podem ser identificadas (apenas m encionadas no texto paralelo de Jr 48.3, 5, 34). De acordo com Gênesis 14 .2 ,3 , Zoar era uma das cidades da planície. Especulações sobre sua localização exata, porém, a situam próxima do monte Nebo (Dt 32.1-3), perto da ponta norte do m ar M orto, e tam bém na área da extremidade sul do mesmo mar. Considerando a aparente direção do ataque em Isaías 15.1-4, ao redor de Quir e Nebo, parece que situar Zoar e essas outras cidades ao sul seria m ais apropriado em se tratando de um a fuga por segurança em direção a Edom.15.6. águas de N inrim . Seguindo o mesmo raciocínio em relação à fuga dos m oabitas para o sul, parece que Ninrim (Jr 48.34) identifica-se com o uádi en-Numeirah que corre para oeste, em direção à extremidade sul do mar Morto. Existe também um local nas proximidades, Numeirah, que pode estar associado a essa fonte de água e ter servido como um posto avançado m oabita.15.7. riacho dos Salgueiros. Supondo que os fugitivos tenham tomado uma rota para o sul, esse riacho m argeado por salgueiros seria o uádi el-Hesa (rio Zered), que delim ita a fronteira entre M oabe e Edom. Esse amplo vale (mais de 6 quilômetros de largura) estende-se por 56 quilôm etros e termina na extremidade sudeste do m ar Morto (Nm 21.12).15.8. Eglaim . O oráculo de Isaías dá indícios de que Eglaim seria um a localidade ao sul, m as nenhum a identificação exata foi feita. Dentre as possibilidades estão a ind icação de A galim , ao sul de Rabá, por Eusébio, e a sugestão de A haroni de M azra', um a localidade a leste da península Lisan.15.8. Beer-Elim . Essa localidade não foi identificada com segurança. Alguns eruditos especulam que seja a mesma Beer de Números 21.16, mas o grande núm e
ro de lugares que começam com esse nome, que significa "fonte", dificulta a identificação. Acom panhando a linha de raciocínio usada em relação a outros lugares citados nesta profecia, supõe-se que seja uma localidade ao sul, próxim a ao m ar Morto, possivelmente na região de el-Kerak.15.9. águas de D im om . Por causa de sua proximidade com o uádi Ibn-Hammad, no platô moabita, Dimom foi identificada com Khirbet Dim neh, quatro quilômetros a noroeste de Rabá. Não foi encontrada cerâmica da Idade do Ferro nos achados de superfície, mas escavações ainda não foram conduzidas no local.16.1. cordeiros como tributo. Grande parte do platô moabita é adequada para a criação de rebanhos de ovelhas e bodes (Nm 32.4), devido às pastagens. Uma vez que esses rebanhos representavam uma importante parte de sua economia, seria uma forma apropriada de tributo (2 Rs 3.4). Os anais assírios com freqüência alistam enorm es quantidades de m etais preciosos, escravos e produtos caros e luxuosos como forma de pagamento de tributo (provavelmente despojos de guerras). No entanto, em relação aos impostos que norm almente eram cobrados dos povos dominados, os rebanhos serviriam melhor às necessidades cotidianas dos oficiais (Assurnasirpal II alista mil cabeças de gado e dez mil ovelhas pagas como tributo pelo amedrontado governante de Hattina).16.1. Selá. Essa palavra, que significa "rocha", aparece apenas algum as vezes com o nom e de lugar. O m elhor uso encontra-se em 2 Reis 14.7, referindo-se a uma fortaleza edomita conquistada por Amazias, rei de Judá, e identificada como Petra ou a atual Sela', cerca de três quilôm etros a noroeste de Buseira. O local mencionado no oráculo de Isaías não foi identificado. É im provável que seja a localidade edom ita porque todos os outros lugares citados neste texto ficam a uma pequena distância de Edom.16.2. p assag en s do A rnom . O vale de A rnom em alguns pontos tem cinco quilômetros de largura e é um obstáculo natural importante ao tráfico que escoa no sentido norte-sul. Os lugares de passagem referem-se ao ponto onde a estrada norte-sul cruza o uádi, em Dibom (como citado por Messa, na inscrição da Pedra moabita). Seria um lugar natural para a passagem dos fugitivos moabitas e também um ponto extremamente estratégico (compare com a importância m ilitar dessas vaus de passagem, em Jz 12.5; Jr 51.32).16.7-9. cidades. Cobrindo toda a área de devastação, a profecia descreve a ruína econômica e física da área norte de Moabe. Isso inclui as cidades situadas no planalto, Hesbom e Quir-Haresete (Quir; ver 15.1-4) e Jazar (Khirbet Gazzir, na extremidade norte do mar Morto). Sibm a e Eleale são alistadas como parte do distrito de Hesbom e durante algum tempo fizeram
parte do território de Rúben (Nm 32.3, 37; Js 13.19). A localização de Sibma ainda é desconhecida, enquanto Eleale geralm ente é identificada com Khirbet el-'Al, quase dois quilômetros a nordeste de Tell Hesban.16.14. o destino de M oabe. Embora nenhum evento histórico preciso possa ser sugerido como cumprimento do oráculo do profeta contra Moabe, é concebível que invasões por tribos do deserto ou talvez algum reforço do exército assírio que tenha passado pela região sejam a causa de sua destruição.
17.1-14 Profecia contra Damasco17.1. D amasco. A guerra siro-efraimita (ver comentários em 7.1) que estourou em meados de 730, terminou com a invasão da Síria e de Israel pelo rei assírio Tiglate-Pileser III e com a devastação dessas duas nações rebeldes (734-732). O reinado sírio, governado por Rezim, em Damasco (ver 7.1-9), fora o principal rival político e econômico de Israel. Esse reinado havia ingerido em questões internas de Israel e de Judá e invadido seus territórios por mais de uma década. Parece, no entanto, que Rezim excedeu seus limites liderando um a coalizão anti-Assíria. A A ssíria não recepcionou bem uma "Grande Síria" rival, e a destruição de Damasco em 732, conforme registros nos anais assírios, foi completa, deixando centenas de localidades "com o colinas varridas por um dilúvio". Essa destruição abrangente tam bém incluiu a redução de grande parte da cidade de Damasco a ruínas e a redistribuição de seus territórios na Síria e também na Transjordânia e na Galiléia.17.2. A roer. A cam panha assíria na Transjordânia teria naturalmente incluído a captura de Aroer, uma fortaleza estratégica no A rnom ('A ra 'ir, cerca de 5 quilôm etros a sudeste de D ibom e 4 quilôm etros a leste da Estrada do Rei). Ela vigiava a passagem pelo vale do Arnom e controlava a fronteira entre Moabe e Amom. É possível que a cidade anteriormente ficasse localizada em Tel Esdar (dois quilômetros e meio ao norte) e que o nome tenha sido modificado p ara' Ara'ir, após sua destruição no oitavo século.17.3. destino de D amasco. Os anais de Tiglate-Pileser III descrevem como ele destruiu com pletam ente os dezesseis distritos e a maioria das cidades de Aram, em 732, deportou segmentos da população e passou o controle de muitas cidades e territórios da Síria para outros vassalos m ais leais (a lista inclui 591 cidades destruídas). Damasco foi gravemente arruinada, mas sobreviveu à experiência e tom ou-se a capital de uma província assíria recém constituída. Mais tarde, Damasco uniu-se ainda a outra coalizão anti-Assíria, liderada pelo Estado sírio de H am ate, em 720. Essa rebelião foi esmagada por Sargão II, em 720, e daí por
diante D am asco foi governada por governadores assírios até 609. A cidade reconquistou sua independ ência tem p orariam en te quando o im p ério n eo- babilônico a absorveu, em 604.17.5. figura do ceifeiro. A ceifa é descrita em pinturas de tumbas egípcias como um processo em que o ceifeiro segurava com a m ão esquerda as espigas de cereal e com a direita as cortava com um a foice (SI129.7). Desta m aneira ele conseguia amarrar os feixes que eram então levados para uma eira. O que sobrasse nos cam pos após esse corte era recolhido pelos respigadores (Rt 2.3, 7).17.5. vale de Refaim . Esse vale e suas plantações se estendiam a sudoeste de Jerusalém. Grande parte dos alimentos consumidos pelos habitantes da cidade provinha dessa área e é provável que seus campos fossem respigados por um grande núm ero de pessoas necessitadas. Um a seca ou um cerco à cidade esgotaria o suprimento de comida, criando a imagem encontrada na profecia de Isaías. O projeto Ein Yael tem pesquisado intensam ente os vestígios arqueológicos da atividade agrícola praticada nesse vale. Os resultados da pesquisa têm dem onstrado o amplo uso de aterros, um indício da necessidade de utilizar o máximo de terra possível para alimentar a população crescente de Jerusalém e suas redondezas.17.6. sacudir um a oliveira. Assim como os ceifeiros de cereais, os trabalhadores que sacudiam os galhos das oliveiras para colher o fruto, tinham a ordem de deixar uma parte "para o estrangeiro, para o órfão e para a viúva" (Dt 24.20). Suas varas com pridas derrubavam a m aior parte das azeitonas, m as aquelas que estavam nos galhos mais altos deviam ser deixadas (Is24.13). Essa é um a excelente imagem de um remanescente que sobreviverá para restaurar o relacionamento de aliança com Yahweh.17.8. postes sagrados. Ver os comentários em Deute- ronômio 7.1-26 e Juizes 2.13 acerca desses símbolos cultuais de Aserá, a deusa da fertilidade dos cananeus.17.8. altares de incenso. Escavações arqueológicas têm trazido à tona um a am pla variedade de altares de incenso em todo o antigo Oriente Próximo. Eles vão desde grandes suportes elaborados e decorados com ricos detalhes (ver o suporte de Taanaque) até pedestais simples usados no culto doméstico e tam bém para defumar casas, desinfetar odores desagradáveis e repelir insetos. Embora haja um a longa tradição no uso do incenso na adoração israelita (Êx 3 0 .7 ,8 ; N m 16.4648), também tem uma íntima relação com os deuses de outros povos e com a magia (Is 65.3; Jr 19.13).
18.1-7Profecia contra a Etiópia18.1. terra do zum bido de insetos. É possível que essa seja um a referência à m ultidão de insetos que
infestam o vale do Nilo (Dt 28.42 faz uso semelhante da palavra hebraica). Entretanto, considerando-se o contexto da expressão "a o longo dos rio s", é m ais provável que se refira às em barcações m uito leves, feitas com feixes de papiro, que deslizavam rapidamente pelas águas do Nilo, rio acima e rio abaixo.18.1. rios da Etiópia. Cuxe (hebraico) pode referir-se a diversos lugares diferentes no Antigo Testam ento, embora com m ais freqüência seja traduzida como a designação para a "E tiópia". Essa tradução pode provocar confusão, visto que a área de Cuxe não equivale à atual Etiópia (Abissínia), mas à área situada ao longo do Nilo, ao sul do Egito, a antiga N úbia (no atual Sudão). A fronteira entre o Egito e Núbia nos tempos antigos geralmente era a primeira ou a segunda catarata do Nilo. É improvável que Núbia se estendesse m uito além da sexta catarata em Khartoum. O período de 730 a 715 foi de fluxo nessa área. D urante o Terceiro Período Intermediário, a 25a D inastia estava com eçando a em ergir, encabeçada pelos m onarcas etíopes Pianchia e seu sucessor Shabaka. Eles perman eceram por um tem po no reinado de Cuxe, m as estavam avançando a fim de obter o controle sobre todo o Egito e unir os dois países sob seu governo. Para isso foi preciso lutar contra os reis egípcios nativos que controlavam a área do Delta, conter as ameaças da Líbia, à oeste, e negociar tratados m útuos de defesa com o crescente império assírio, a leste.18.2. m anda em barcos de papiro. Certamente havia uma grande quantidade de atividades diplomáticas em andam ento nesse período. Não se sabe, porém, quem estava enviando esses m ensageiros e a quem eram designad os. C on sid eran d o-se o d esejo dos dinastas etíopes em conseguir total controle sobre o Baixo Egito e o Delta, é possível que estivessem enviando m ensageiros à A ssíria em busca de ajuda ou pelo menos do reconhecimento desse im pério para a legitimidade de seu governo no Egito (ver a visão de boas relações entre o Egito e a Assíria em 19.23-25). O uso de barcos de papiro no Nilo, ao invés de grandes embarcações associadas a nobres e carregamento de tropas, sugere que era preciso m anter a operação em segredo. Essas balsas feitas de papiro navegavam com relativa facilidade pelas corredeiras ao longo do Nilo ou podiam passar desapercebidas por áreas perigosas ou densamente habitadas.18.2. povo alto e de pele macia. Embora pareça evidente que a Etiópia estava enviando propostas diplom áticas para a Assíria, os m ensageiros não fariam a viagem toda em barcos de papiro. Essas balsas leves eram adequadas apenas para o Nilo. V isto que os assírios não eram altos nem tinham pele m acia (existem m uitas representações de hom ens baixos e de barba em relevos assírios), então é possível que os
enviados estivessem tam bém espalhando a noticia entre os etíopes para que se unissem no esforço de unificar o Egito. A descrição feita por Heródoto dos etíopes como o povo mais alto entre os africanos encaixa-se a essa imagem.18.2. fa la estranha. Apesar da tradução dessa expressão, a form a hebraica é um adjetivo duplicado (qazv- qaw) que quer dizer "poderoso". O som onomatopaico poderia caracterizar a cadência rítm ica de um exército em m archa e o tem or resultante do som das vozes misturadas ou distorcidas dessa multidão.18.2. terra dividida por rios. Essa é uma boa descrição da M esopotâmia, a "terra dos dois rios", o Tigre e o Eufrates. Porém, visto que os enviados do faraó etíope Shabaka, pelo menos inicialmente, são enviados pelo Egito, os "rio s" nesse caso podem ser uma referência aos afluentes e canais ligados ao rio Nilo.18.5. figu ra da colheita de uvas. O agricultor sábio sabe as épocas certas do ano para cuidar de suas vinhas e podá-las, garantindo assim o m áximo de frutos. As vinhas florescem primeiro em maio e as uvas começam a amadurecer em agosto. H á duas florações previstas: (1) como se observa no calendário Gezer, no outono, antes de as vinhas ficarem inativas, os ramos im produtivos do ano anterior são cortados e removidos e (2) quando as uvas brotam, folhas e gavinhas em excesso são cortadas para m otivar uma prod ução m aior e o am adu recim ento dos frutos. Yahw eh, portanto, vincula seu tempo ao m omento apropriado para podar as. nações da terra.18.6. castigo pela ação dos anim ais. Os galhos cortados das vinhas muitas vezes eram usados como combustível (Ez 15.2-4), mas nesse exemplo são deixados como comida e ninhos para aves e outros animais. Os ramos podados, assim como as nações despedaçadas, transforma-se em pouco mais que gravetos dispersos, usados aleatoriamente pelos animais ao longo da estação vindoura, mas não representando nenhuma ameaça a Yahw eh ou a Judá.
19.1-25Profecia contra o Egito19.1. Egito n o oitavo século. Durante grande parte do oitavo século o Egito foi um a nação dividida. O governo nominal dos sucessores de Sheshonq em Tânis foi totalmente ignorado pelos dinastas de Tebas e pela m iscelânia de reis e líd eres do D elta. A crescente am eaça ao Egito rep resen tad a p ela exp ansão da Assíria, sob o domínio de Tiglate-Pileser III após 745, pode ter abastecido o surgim ento dos reis cuxitas Pianchia e Shabaka. Seus esforços para unificar o Egito foram protelados por cerca de vinte anos pelos governantes de Sais, que haviam conseguido fundir todos os nomes do norte sob sua liderança. O sucesso
saíta teve a ajuda do crescente comércio com os filisteus e com o resto do Levante. Provavelm ente foi ao rei saíta Tefnakhte que m uitas das nações da fronteira assíria (Filístia, Israel, Transjordânia) recorreram em busca de auxílio para suas tentativas de rebelião. Finalm ente, em 712, o rei sudanês Shabaka derrotou todo o Baixo Egito e mais um a vez unificou o país sob o único governo da 25a Dinastia.19.1. cavalga num a nuvem. A imagem de um Deus im petuoso cavalgando pelos céus num a nuvem era com um (SI 68.4; 104.3; Jr 4.13). Tais descrições de teofania podem ser encontradas nos textos que falam do deus ugarítico Baal. No épico de Aqhat e no ciclo de histórias de Baal e Anat, Baal é descrito como o "cavaleiro das nuvens". Os atributos de Baal, comandando as tem pestades, soltando relâm pagos e dirigindo-se à guerra como um guerreiro divino aparecem até mesmo nos textos egípcios de El Amarna. As características de Yahw eh como o Criador, doador da fertilidade e guerreiro divino têm muito em comum com os deuses desses épicos antigos. Um a das formas em que Yahw eh se apresenta aos israelitas como o único poder divino é assumindo para si os títulos e poderes de outros deuses do antigo Oriente Próximo.19.1. ídolos trem em . Os deuses/ídolos e o povo do Egito são colocados lado a lado aqui em seu assombro diante do dom ínio que Yahw eh tem sobre toda a natureza e sobre toda criatura e nação. A im agem antropomórfica de ídolos "trem endo" é comparada ao pavor dos deuses mesopotâmicos que, através de seu esforço coletivo, criaram o dilúvio (Épico de Gilgamés e o Épico de Atrahasis). Eles foram tomados pela ferocidade das forças que haviam liberado e são descritos a esconder-se como vira-latas açoitados atrás de uma parede. A entrada m agistral de Y ahw eh no Egito pode ser comparada ao desprezo aos ídolos descrito em Salmo 96 .4 ,5 e com a atitude geral de Isaías diante das nações que estão "cheias de ídolos", mas a quem falta o real poder divino (Is 2.8; 10.10, 11; 31.7).19.3. consultar ídolos e necrom antes. Dando continuidade à sua descrição semelhante das práticas egípcias de adivinhação em 8.19, Isaías zom ba dessa nação por sua dependência inútil dos ídolos e médiuns (ver, no entanto, os com entários em 1 Sm 28.7-11). Existe um a grande quantidade de inform ações sobre o uso da magia no antigo Egito por sacerdotes e praticantes profissionais. Eles usavam ervas, cantos, rituais e sangue para curar enferm idades, exorcizar dem ônios, am aldiçoar nações inim igas e seus líderes e influenciar a ação dos deuses. Uma parte desses textos de magia tratava de como apressar a jornada dos espíritos dos mortos que passavam pelo processo de julgam ento e dali iam para um a vida abençoada no além. Supunha-se que esses espíritos tam
bém podiam ser consultados acerca de diversos assuntos. U m a série de "cartas aos m ortos" pedindo informações foi recuperada.19.4. destino do Egito . U m a am eaça im ediata aos
governantes egípcios foi o rei etíope Shabaka. Seu reinado núbio eventualm ente derrotaria as estados do D elta egípcio em 716 a.C. e se encaixaria a esse período descrito na profecia. Também é possível que Isaías esteja se referindo à Assíria. Os reis do Delta haviam se unido à revolta filistéia liderada por Gaza contra a Assíria e Sargão II em 720. Seria fácil supor que, com o passar do tempo, a Assíria desejasse conquistar o Egito e anexá-lo ao seu império. Tanto Tiglate- Pileser IH como Sargão II fizeram acordos com as tribos árabes ao longo das fronteiras do Sinai e da Filístia para conter o Egito. As tensões continuaram a crescer entre essas nações até que em 663 Assurbanipal m archou vitorioso para o sul pelo vale do Nilo e saqueou Tebas.
19.5-7. a dependência do Egito no N ilo. Assim como a Mesopotâmia dependia dos rios Tigre e Eufrates, a agricultura e o comércio egípcios dependiam totalmente do sistema fluvial do Nilo. Para sua felicidade, o Nilo era um rio relativamente previsível e controlável. Suas inundações aconteciam num a base regular (a freqüência delas era cuidadosamente registrada por escribas e mantidas em arquivos oficiais). A ausência das enchentes do Nilo im plicava em colheitas ruins e na ruína de suas indústrias (especialm ente a do linho). As margens do Nilo eram cortadas por canais e sistem as de irrigação para expandir o tamanho dos campos e permitir o aumento do fluxo de em barcações leves. A lém disso, as enchentes controladas do Nilo levavam um rico lodo aos campos egípcios, garantindo p lantações abundantes e m inim izando a necessidade de fertilização ou rotação de culturas. As viagens também eram baseadas no fluxo rio acima e rio abaixo, ao longo do Nilo. H avia um constante e pesado tráfico de barcaças que transportavam cereais e outros itens de matéria-prima, produtos m anufaturados e pedras usadas na construção. M ensageiros reais, funcionários do governo e sacerdotes de muitas comunidades dos templos navegavam pelo N ilo, visitando e supervisionando campos e recolhendo impostos. Na verdade, o próprio tamanho do domínio egíp
cio foi possível porque as tropas podiam locomover-se rapidam ente de um a extrem idade do reino para a outra.
19.9. indústria do linho e do algodão. O clima quente e úmido do Egito tornava necessário o uso de roupas leves. O linho, cultivado desde os tempos neolíticos, foi um a resposta para essa necessidade. Além de fornecer alimento (sementes e óleo), produzia uma
fibra que podia ser transformada em tecido. No Egito, o linho era plantado de form a bem compacta (para aum entar a altura e evitar que se espalhasse em ramos) no final de outubro e era colhido em abril ou maio, quando atingia uma altura de quase um metro. Esse tipo de plantação era bastante vulnerável a tempestades de granizo (Êx 9.23-25). As plantas m ais jovens eram arrancadas pela raiz para confeccionar o linho fino, enquanto as plantas m ais velhas eram usadas para fabricar cordas e cintos. Os talos eram m ergulhados em tanques com água parada (maceramento) e depois eram estendidos para secar antes de as fibras serem separadas (Js 2.6). Os talos secos eram batidos e as fibras separadas para formar fios; os fios mais longos eram usados na fabricação de roupas e os mais curtos (fibra bruta ou estopa), reservados como pavios de lâm padas (1.31). H avia diversas qualidades de linho produzido. O m elhor era reservado para o faraó, a nobreza e os sacerdotes. Qualquer interrupção na produção teria um efeito em cadeia, destruindo o meio de subsistência de inúmeros trabalhadores nos campos e fábricas.19.11. líderes de Zoã. O mais alto escalão dos m em bros da corte do faraó e do clero era de representantes das famílias nobres do Egito. Aqueles que eram associados a Zoã, situada no alto do Delta, 46 quilômetros ao sul da costa mediterrânea, se consideravam os descendentes diretos dos mais antigos clãs da nobreza do país. Sua impotência para lidar com essa crise ressalta a falta de importância que tal linhagem passara a ter. Zoã se tornara a capital do Egito no início da 21a D inastia (1176-931 a.C.), o mesmo período em que a m onarquia israelita se desenvolveu. Lembranças de negócios oficiais da corte entre Jerusalém e Zoã podem ser a base para essa referência, visto que a capital do Egito havia sido transferida para Sais e Napata após 873 a.C..19.11. discíp ulo dos reis da antigüidade. Devido à sua longa e quase ininterrupta tradição, os oficiais egípcios que enfrentavam crises ou presságios inexplicáveis repetiam as antigas orações e encantamentos mágicos (como os encontrados nos textos de execração). Ou então consultavam os registros de governos anteriores e as instruções de oficiais modelos. As memórias culturais, registradas em papiros por gerações, tinham grande autoridade, e os descendentes desses oficiais tinham grande orgulho em ser os herdeiros de tal sabedoria (inclusive o texto do século 25 a.C., Ensinos de Ptá-Hotep e a obra do século 22 a.C., intitulada Instruções de Merikare). Porém, essa atitude também podia im pedir que se tomassem decisões criativas e inovadoras. Isaías ridiculariza esses homens que se orgulham tanto de sua sabedoria, m as não são
capazes de encontrar um m eio de lidar com a crise atual (compare com 43.8, 9).19.13. líderes de M ênfis. Antes de 715 a .C , a região do Delta do Egito foi governada por pelo menos quatro faraós rivais. A área foi dividida na região de Tânis (delta oriental), na região de Leontópolis (delta central) e na região saíta (delta ocidental). Havia também muitos reinos insignificantes reivindicando independência e um a porção no legado do antigo Egito. A m enção feita a M ênfis aqui (em hebraico, Nofe) simplesmente atrela o caos administrativo do Egito à sua antiga capital. Essa é uma relação que ironiza o contraste entre a atual anarquia e a grandeza do passado. Somente após o surgimento da 25a Dinastia Núbia o Egito é unificado novam ente debaixo de um único governante, Shabaka.19.15. palm a ou ju nco . Ver o comentário em 9.14 a respeito dessa m etáfora contrastante. Os líderes do Egito estão tão confusos que não conseguem distinguir entre cabeças e caudas ou entre os poderosos (para quem as palmas são agitadas) e os fracos, que se curvam como juncos diante dos grandes (58.5).19.18. cinco cidades. É im possível identificar essas cidades com base em algum evento histórico. Jeremias 44.1 menciona quatro (Migdol, Tafnes, M ênfis e Patros) onde os israelitas habitaram , m as pode ser que não haja nenhuma relação entre elas e esse versículo. Certamente existe evidência a partir da época de Salomão (colônia elefantina, Leontópolis) de um a presença israelita no Egito (diplomática e comercial). O que parece m ais im portante nessa afirm ação é a idéia do culto a Yahw eh no Egito e talvez até mesmo em uma importante cidade associada a um deus egípcio.19.18. língua de Canaã. Normalmente, quando uma comunidade estrangeira se fixa em uma nação, espera-se que aprenda a falar a língua daquele país, exceto entre seus conterrâneos. Do contrário, é difícil fazer negócios ou envolver-se em atividades diplomáticas. Portanto, seria estranho que as línguas dos israelitas (hebraico ou aramaico) fossem faladas no Egito. É mais provável que essa seja uma referência ao estudo dos escritos sagrados dos seguidores de Yahw eh e das orações dirigidas a Yahweh. Isso sugere, como o fazem os versículos 19-21, um a conversão dos egípcios a Yahw eh.19.18. Cidade do S o l (ou Cidade da D estruição). O significado dessa expressão é incerto. As diversas fontes não concordam se o texto original fala de heres, "destruição", ou heres, "so l". A Septuaginta acrescenta outra interpretação, ‘ir hassedeq, "cidade da ju stiça". Se "cidade do sol" é o significado, poderia referir-se a Heliópolis, a cidade do deus-sol Rá. Se for um a das cidades onde o hebraico era falado, então um a revolução religiosa estaria prestes a acontecer.
20.1-6 Asdode, Egito e Etiópia20.1. a cam panha de Sargão contra Asdode. Essa é um a das raras vezes em que o relato bíblico da revolta de Asdode em 713-711 a.C., os registros assírios e os vestígios arqueológicos todos corroboram um com o outro. A cidade filistéia rebelou-se, instigada pelo rei Azuri, talvez com a expectativa do apoio egípcio. Os Anais Assírios o acusam de recusar-se a pagar tributo e de fomentar a rebelião entre seus vizinhos. O im perador assírio Sargão II respondeu com uma campanha expressa que rapidamente sufocou qualquer esperança de independência. Ele colocou Ahim eti, o irmão mais novo de Azuri, no trono, m as ele foi quase imed iatam ente deposto por um u su rp ad or cham ado Yam ani. Sargão enviou outra expedição em 712 e Yamani fugiu para o Egito. Um assírio foi então nomeado para administrar Asdodè em nome do império assírio. Escavações no sedimento 8 da cidade revelaram um a série de túmulos debaixo dos pisos. Diversos fragmentos de esteias m onum entais assírias tam bém foram encontrados. São cópias de um a coluna erigida em Khorsabad, que alista as conquistas de Sargão, inclusive Asdode.20.2. a encenação de Isaías. A profecia encenada por Isaías foi chocante. Esse homem idoso (que fora chamado para ser profeta trinta anos antes, em 742 a.C.) recebe a ordem de Deus para despir-se e ficar nesta situação vergonhosa, ou seja nu, diante das pessoas. Seu objetivo é demonstrar-lhes de form a clara o destino que elas teriam se escolhessem unir-se à revolta de Asdode. Elas tam bém seriam despidas e levadas como escravas (compare com M q 1.8; Na 3.5). Visto que o estilo e a qualidade das vestes era um indicador de status no mundo antigo, os criminosos também eram exibidos nus, com o sinal da perda de sua posição social (Leis Médio-Assírias).20.3. papel do Egito e da Etiópia na cam panha de Asdode. Os registros assírios (Prisma de Sargão em Ninrode) m encionam o estabelecimento de um porto mediterrâneo mantido conjuntamente pelo Egito e pela Assíria. Tal cooperação pode ter sido forçada ao Egito por causa do controle assírio de Chipre e da pacificação das tribos árabes ao longo da fronteira do Sinai. Os reis do Delta, temendo outras incursões, tentaram livrar-se de parte dessa pressão apoiando primeiro a revolta de Hanno, rei de G aza e depois a de Aziru, rei de A sdode. P or causa desse apoio cland estino , o usurpador Yamani fugiu para o Delta quando o exército de Sargão se aproximava em 712. Porém, o povo ali recusou-se a abrigá-lo ou a dar-lhe qualquer tipo de apoio militar. Yam ani então, tentou obter ajuda da dinastia núbia de Shabaka. Sua tentativa foi em vão; Shabaka estava m ais interessado em conquistar os
remados do Delta e não queria despertar a ira assíria. Sendo assim , Yamani foi enviado aos assírios preso em correntes como um a oferta de paz. Os anais de Sargão registram isso como um sinal do quanto sua "glória que inspira assom bro" tinha se espalhado.20.4. tratam ento dado aos cativos. Os prisioneiros de guerra eram considerados despojos a ser divididos entre os conquistadores. Eles se tom avam escravos e era necessário imediatamente quebrantar seu espírito e humilhá-los e, ao mesmo tempo, usá-los como uma forma de envergonhar seus países ou cidades natais. Os anais assírios incluem nas listas de itens tomados como espólio, os cativos levados para Ashur ou em alguns casos em palados, para servir de exem plo a outros rebeldes. Pinturas de tum bas reais egípcias com freqüência ilustram filas de prisioneiros, presos juntos pelo pescoço, marchando em direção ao cativeiro. Embora essas figuras não estejam completamente nuas, foram despidas de todos seus objetos valiosos e dos símbolos de sua posição social (ver o comentário em 2 Sm 10.3).
21.1-10 Profecia contra a Babilônia21.1. deserto ju n to ao m ar. Um a m elhor tradução para a expressão hebraica aqui seria "terra alagadiça ou pantanal". A descrição se encaixaria à parte sul da M esopotâmia, uma área de pântanos e charcos à medida que se aproxima do golfo Pérsico. O que está em questão é a preocupação com a captura da Babilônia pelos assírios em 703 a.C. e a expulsão do líder babilônio M erodaque-Baladan. O partido anti-Assíria dentro da corte de Ezequias tinha esperança de que a Babilônia seria capaz de desafiar a Assíria, perm itindo assim que as províncias remotas como Judá, tivessem uma oportunidade de reconquistar sua independência. Essa esperança foi eliminada com o ressurgimento da potência assíria, sob Senaqueribe. Logo, o oráculo de advertência reflete essa frustração.21.2. papel de Elão e M édia. Em bora o versículo 9 deixe claro que Babilônia é a cidade a ser atacada, fica menos claro o papel que Elão e a M édia desempenhariam nesses eventos. Esses dois povos iranianos do leste do Tigre haviam sido úteis a M erodaque-Baladan quando ele se estabelecera na Babilônia em 720, e depois que Sargão II o depôs, ele fugiu para Elão, em 710. É possível que o profeta esteja exortando Elão e a M édia a novam ente ajudar M erodaque-Baladan contra seu inimigo comum, a Assíria. Entretanto, as condições caóticas do período, com saques iminentes e traições, podiam prever mudanças nas alianças anteriores. De qualquer maneira, Elão deixou de ser um elemento na política do Oriente Próximo após 680 e isso pode ter sido o resultado do crescimento da potên
cia dos m edos como também das pressões da Assíria.21.5. põem as m esas, estendem a toalha. A cena aparente de um banquete retratada aqui pode sugerir que a Babilônia não estava preparada para o ataque que iria capturar a cidade. Também pode referir-se aos preparativos para a batalha (como Anat no épico ugarítico m onta barracas e põe m esas para que seus guerreiros possam assistir dali à m atança de seus inimigos) ou possivelmente a um levantamento das defesas da Babilônia ou de seus vários distritos antes de um cerco.21.5. escudos. A prática de untar os escudos antes das batalhas pode ter como base o desejo de tornar o couro m ais flexível e menos quebradiço (2 Sm 1.21). Fontes clássicas (A charnianos , de A ristófanes e Eneida , de Virgílio) sugerem que um escudo untado com óleo era m ais elástico e podia desviar um a flecha. O brilho de um escudo untado recentemente também poderia ser útil para cegar um oponente.21.7. carros no oitavo século. O s assírios usavam unidades em carros, divididas em esquadrões de cinqüenta homens, como o cerne das forças de campanha de seu exército. Eles m antinham destacam entos de dois, três ou quatro homens, com um atuando como condutor da carruagem e os outros como flecheiros ou escudeiros. Em períodos anteriores (Assum asirpal), um terceiro cavalo era preso ao lado do carro, para ser usado caso um dos outros animais fosse ferido ou se o condutor precisasse fugir de um veículo danificado. Ilustrações de carros em relevos assírios demonstram que inicialm ente tinham rodas de tam anho m édio com seis raios e uma única viga que se estendia até a frente para engatar dois cavalos. Mais tarde, durante o reinado de Salm aneser III, os carros se tornaram m ais pesad os, com en orm es rod as de oito raios. Senaqueribe também acrescentou um a dupla de cavalos para ajudar a puxar esses carros m ais pesados.21.7. cavalaria no oitavo, século. Grande parte do que sabem os hoje acerca do uso de cavalaria no oitavo século origina-se de ilustrações em relevos assírios. Elas m ostram que em áreas escarpadas e montanhosas ou em florestas, onde os carros eram ineficazes e os exércitos no antigo Oriente Próximo em pregavam a cavalaria. A lguns desses homens eram equipados com arcos, enquanto outros atuavam como lanceiros, portando uma comprida lança. Esses últimos eram usados como tropas de choque, atacando em conjunto com os carros no confronto com um grande inimigo, abrindo brechas em suas fileiras de modo que a infantaria assíria pudesse penetrar (ver 1 R s 20.21). Os arqueiros da cavalaria muitas vezes lutavam em duplas: um usava o arco enquanto o outro segurava um escudo para proteger seu companheiro (ver 2 Rs 9.25). Os cavaleiros também eram usados para levar m en
sagens no campo de batalha e para prestar relatório sobre os acontecimentos nas fortalezas e cidades próximas (ver a fuga de Ben-Hadade com a cobertura da cavalaria em 1 Rs 20.20).21.9. queda da B abilônia. Com a morte de Sargão II em 705, Merodaque-Baladan mais uma vez estabeleceu-se como governante da Babilônia. Isso sinalizou uma série de revoltas em todo o império assírio (dentre elas as das províncias Que, Tabal e Hilakku, na Anatólia). Os anais de Senaqueribe descrevem como ele sistem aticam ente subjugou cada região rebelde. A Babilônia e o Elão foram controlados primeiro por sua proximidade com o coração do império assírio. A luta aconteceu em Quis e depois nos pântanos do sul da M esopotâmia, quando Merodaque-Baladan fugiu da Babilônia. Ainda assim, o líder babilônio foi capaz de m anter controle sobre um a parte do sul e de causar contínuos problemas a Senaqueribe, apesar das tentativas assírias de conciliar o povo caldeu. A Babilônia finalm ente foi cercada em 689 e quando os assírios abriram brechas nos muros, invadiram a cidade m atando a população e destruindo as muralhas, os templos e todas as casas da cidade. Eles até mesmo cavaram canais para levar água do Eufrates até a cidade a fim de inundá-la, varrendo assim os alicerces das construções e o que sobrara das obras de alvenaria.
21.9. im agens despedaçadas. O s anais de Senaqueribe contêm relatos claros da captura da Babilônia em
689. Em seu frenesi de destruição, os soldados assírios não tiveram respeito pelos deuses de seus inimigos, quebrando em pequenos pedaços as imagens sagradas da Babilônia. Em meio a essa destruição, porém, os soldados conseguiram resgatar duas estátuas de seus próprios deuses nacionais, Adad e Shala, que haviam sido capturados 480 anos antes pelo rei babilônio M arduque-Nadin-Ahe.
21 .11, 12Profecia contra Edom21.11. D um á. Esta cidade fica num oásis no norte central da Arábia Saudita, perto da extremidade sul do uádi Sirhan. Sua associação com a confederação qued arita das tribos beduínas daquela região (Gn25.13) pode explicar o nome do lugar atrelado a Edom. Pode ser tam bém que haja um trocadilho expresso aqui na palavra hebraica (duma), que significa "silêncio" e Edom.21.11. Seir. Essa parte do território de Edom incluía uma área de florestas que estendia-se desde o planalto da Transjordânia, ao sul do uádi aVA rabah, talvez incluindo Petra (ver Jz 5.4). O termo aparece em textos egípcios do século 14 alistando nomes de pessoas e cidades como o "país dos nômades de Seir".
21.11. Edom no oitavo século. Durante o oitavo século Edom estava lutando para manter sua independência. O país fora enfraquecido pelo interesse de Judá em expandir-se na região: Amazias (801-787 a.C.) liderou um a invasão na virada do século (ver 2 Rs 14.7) e seu sucessor, Uzias, reconstruiu o porto de Elate, no golfo de Acaba (2 Rs 14.22). Outro sinal da fraqueza de Edom foi o pagamento de tributos ao rei assírio Adad-Nirari III (809-782 a.C.). Quando a guerra siro- efraim ita causou tum ulto em Judá nos anos 730, os edomitas reconquistaram Elate (2 Rs 16.6). Entretanto, foram forçados à vassalagem por Tiglate-PileserIII, após 732 a.C. e se transformaram num a ligação da rota comercial do império assírio de Damasco até Ácaba, a Estrada do Rei. Listas de tributos assírios também demonstram que, pelo resto do século, Edom permaneceu leal ao im pério, dando pouco ou quase nenhum apoio a outros vassalos palestinos que se rebelaram contra a Assíria.
21.13-17Profecia contra a Ajrábia21.13. Arábia. Compreendendo territórios reivindicados por diversos grupos tribais de beduínos, a Arábia era uma área alistada pelos assírios como parte de seu império, mas nunca de fato dominada. As tribos árabes ocupavam a região entre o sul do Neguebe e a parte norte central da península Árabe. Isso sugere a tradução de "terra desértica" em vez de Arábia, em paralelo com "pântanos" em 21.1. Alguns grupos árabes estavam engajados no com ércio em caravanas, transportando incenso e m irra, escravos e tinturas para o Egito e a M esopotâmia. O núm ero de ataques mencionado em diversos textos antigos tam bém confirma sua prática ocasional como predadores de rotas de caravanas. O s árabes aparecem nos registros de Salma- neser III negociando com a aliança formada contra ele na Batalha de Qarqar, em 853 a.C.. Eles continuam a aparecer em registros assírios até o reinado de Assur- banipal, no final do sétimo século. Observa-se tam bém nos anais de Sargão II que alguns árabes foram forçados a estabelecer-se novamente na Palestina, após a queda da Samaria em 722 a.C..21.13. dedanitas. As tribos dedanitas usavam Khu- raybah (atual al-HJla) no noroeste da Arábia como sua base de operações. Escavações trouxeram à tona um grande grupo de pequenas aldeias satélites no vale do uádi al-Qura, que ficava nas proximidades. Eles atuavam como caravaneiros fazendo contatos com a Síria, a Fenícia e a Palestina. Durante o sétimo século é provável que tenham feito parte da esfera de influência de Edom e estavam sujeitos ao controle da Assíria.21.14. Tem á. Com base em sua menção em inscrições aramaicas e assírias, Tem á tem sido identificada com
a cidade de Taym a, um oásis localizado na fronteira oeste do deserto norte da Arábia. Ficava no cruzamento de três importantes rotas comerciais ("rota do incenso") que ligavam o sul da Arábia até a Síria, a Meso- potâm ia e o leste da Arábia. As riquezas de Tem á foram escoadas pelos impérios mesopotâmicos emergentes do primeiro m ilênio a.C.. O rei assírio Tiglate- Pileser III alista a cidade como um a das que pagaram tributo em 734 a .C . Juntam ente com Dedã, Tem á foi um importante centro urbano para essa região durante o sétimo e o sexto século. O monarca caldeu Nabo- nido fez dela seu quartel-general por dez anos (553543), quando tentou conquistar o controle da rota do incenso.21.16. Quedar. Textos assírios e neo-babilônicos referem-se a essas tribos árabes do norte como Qidr ou Qadr. L igadas aos ism aelitas em G ênesis 25.13, os quedaritas atuaram como criadores de ovelhas e caravaneiros pelo m enos até o período helenístico. Sua menção neste versículo juntam ente com Temá pode referir-se à expedição de Nabonido para conquistar a área em 553 a.C... Existe evidência clara de ligações en tre Q u ed ar e T em á em tex to s eco n ô m ico s da Babilônia.
22.1-25Profecia contra Jerusalém22.1. vale da Visão. Com base em 22.5, essa é provavelmente um a referência a Jerusalém e talvez ao vale de Hinom (ver seu uso em Jr 7.31-34 acerca de rituais de adivinhação). Isaías condena o povo que buscara orientação em outros deuses e assim, apesar de sua localização física no monte Sião, não tinham uma visão verdadeira dos eventos.22.1. refugiarem nos terraços. Essa também pode ser uma referência a adivinhações ou adoração falsa. Existem amplas evidências nos livros proféticos dos israelitas da prática de queim ar incenso nos telhados das casas (Jr 19.13; S f 1.5). Pode referir-se tam bém aos "terraços" simbólicos dos pedestais de incenso como o de um exemplar desenterrado em M egido. Ele tem a forma de um a casa, com cornijas em cima e continha vestígios carbonizados no topo. A prim eira alternativa encontra base em evidências do antigo O riente Próximo. Ofertas feitas em terraços de telhados aparecem tanto em narrativas da M esopotâmia (Gilgamés) quanto de Ugarit (Keret).22 .2 ,3 . contexto histórico. Esses eventos aconteceram durante a campanha de Senaqueribe, no ano de 701a.C. (ver os com entários em 2 Rs 18.1-20.21). O rei assírio liderou um imenso exército de mercenários e homens recrutados em todo o seu império. Durante a invasão da Palestina, eles iriam , segundo os anais Senaqueribe, "cercar 46 cidades fortificadas, fortes
murados e incontáveis povoados". O rei Ezequias ficou acuado em Jerusalém "com o um pássaro numa gaiola". Qualquer de seus oficiais que tentou escapar foi capturado e muitos foram executados. A cidadela estratégica situada na fronteira ocidental, em Láquis, foi capturada e incendiada. Evidências arqueológicas de um túmulo coletivo indicam que suas guarnições foram massacradas e os relevos assírios do palácio em Nínive ilustram prisioneiros sendo levados ao exílio. Senaqueribe afirm a ter tom ado 200.150 prisioneiros de guerra - um núm ero tão exagerado que literalmente não teria sobrado ninguém em Judá. Tanto o relato bíblico quanto os registros assírios concordam em que houve um a am pla destruição, mas os invasores com o tempo recuaram depois que Ezequias pagou um a enorme quantia como tributo e resgate pela cidade de Jerusalém (2 Rs 18.13-16).22.6. E lão. V er o com entário em 21.2. Senaqueribe regularmente recrutava levas de soldados de povos subjugados ou aliados. Embora Elão houvesse previamente apoiado a Babilônia e se oposto à Assíria, nessa campanha de 701 parece claro que forneceu um contingente de arqueiros para o exército de Senaqueribe.22.6. Quir. Não há consenso sobre a localização exata de Quir. Por ser associada aos arameus em Amós 9.7, diversas tentativas foram feitas de situá-la no norte da Síria ou no deserto ocidental (oeste do Eufrates). Sua menção aqui ao lado de Elão também sugere proximidade com esse país que ficava a leste do rio Tigre.22.8. palácio da Floresta. Ver o comentário em 1 Reis7.1-12 a respeito desse arm azém que fazia parte do complexo do palácio. O povo tinha esperança de recorrer ao arsenal que ele continua para defender-se dos invasores assírios.22.9. arm azenaram água no açude inferior. Com base no com entário de 2 Reis 20.20 e na descoberta da inscrição do túnel de Siloam, parece claro que Ezequias construiu um canal de mais de quinhentos metros de comprimento de dentro dos muros de Jerusalém até a fonte de Geom, no vale de Cedrom. Desse modo, ele pôde garantir um abastecimento seguro e contínuo de água para Jerusalém durante o cerco assírio. O "açude inferior" era um dos dois reservatórios usados para arm azenar e canalizar água (ver 7.3). Tinha o objetivo de fornecer água para a irrigação de áreas em aterro ao longo da encosta do vale de Cedrom e com o tempo escoava para o poço de Selá, atual Birket el- Hamra.22.9-11. Jerusalém se prepara para o cerco. As defesas de Jerusalém tinham de ser consertadas e reforçadas antes das tentativas assírias de tom ar a cidade. Havia também a necessidade de equilibrar a demanda de m ais m oradias para as pessoas de Judá que haviam fugido para Jerusalém em busca de proteção
e reforçar a im portante defesa da cidade. Como resultado, a área entre o sistema duplo de muros da cidade foi evacuada de casas provisórias para garantir um "terreno de m atança", caso os assírios penetrassem as defesas externas. Essa área também foi parcialmente inundada para d ificultar a travessia e aum entar a reserva de água da cidade.22.15. adm inistrador do palácio. A posição de "ad m inistrador do palácio" pode ter evoluído de um posto relativamente insignificante para o de um mordomo encarregado de todos os assuntos do palácio, na época de Uzias. Existe precedente para esse título em textos ugaríticos e fenícios, e poderia ser comparado à posição do vizir na corte egípcia. Tem sido argumentado que o administrador em questão aqui trata-se de Sebna, mencionado como escriba ou secretário em 2 Reis 18.18. Existe a possibilidade de Sebna ter recebido diversos títulos durante sua carreira, dependendo do cargo que ocupasse no m om ento. Espera-se, porém , que como administrador do palácio ele teria sido o principal conselheiro e mediador do rei. Se foi citado com um título inferior no reino de Ezequias, então pode-se presumir que ele foi deposto.22.16. túm ulo lavrado na rocha. Os vales e encostas ao redor de Jerusalém contêm um grande núm ero de túmulos escavados nas escarpas da pedra calcária nativa. Dentre eles, na encosta de Silwan, encontra-se um túmulo que contém uma inscrição parcial e o título 'asher 'al habbayit, a m esm a expressão usada no versículo 15 para descrever a posição ocupada por Sebna. A ausência do nom e nessa inscrição impede que se faça um a ligação conclusiva entre o túmulo e Sebna. A acusação de Isaías contra esse oficial é baseada na extravagância de construir um túmulo individual em vez de utilizar um a sepultura coletiva ou câmara mortuária dentro dos limites da propriedade de sua família. Esses túmulos mais tradicionais incluíam abrigos para a introdução dos corpos e nichos de lâmpadas, bem como uma reentrância para o depósito de ossos sempre que fosse preciso usar as prateleiras para novos enterros. Apenas os muito abastados podiam bancar um a tum ba individual escavada na rocha, talvez até ao estilo fenício ou egípcio (pirâmides ou fachadas elaboradas).22.20. E liaquim . O nom e desse oficial que significa "Q u e El estabeleça", foi encontrado em impressões de selos em Tell Beit M irsim, Bete-Semes e Ramat-Rahel. Ele era 'asher 'al habbayit, administrador do palácio, no reinado do rei Ezequias (ver 2 Rs 18.18; 19.2; ís 36.3) e, portanto, é natural que seu selo oficial esteja estam pado em m uitos docum entos. A im pressão de selo contendo o nome Eliaquim aparece em uma grande coleção de cabos de jarras que datam do reinado de Ezequias. O sedimento 3 de Láquis, que rem onta à
Idade do Ferro, datado de 701 a.C. é o local m ais im portante onde esses cabos foram encontrados. É provável que o selo de Eliaquim apareça nesses jarros por fazer parte de suas obrigações regulares: o controle dos estoques e a distribuição de azeite e vinho para fortalezas reais como Láquis.22.22. chave do reino de Davi. As fechaduras relativam ente reduzidas usadas para garantir a segurança de nossas portas hoje em dia necessitam de chaves bastante pequenas. Porém, no período bíblico, as fechaduras eram enormes e era preciso uma chave de bronze ou ferro, bastante grande e pesada, que correspondesse ao tamanho da fechadura (ver Jz 3.25; 1 Cr 9.27). Quando Eliaquim recebe essa chave, o tamanho e provavelm ente a elaborada decoração desse objeto serviria como um símbolo visível de sua autoridade para abrir e fechar os quartos e as portas do palácio de Jerusalém. Essa também era uma das funções do vizir egípcio.22.23-25. figuras. As figuras aparentemente domésticas retratadas aqui, um a estaca em terreno firm e ou pregos em paredes de tijolos para sustentar prateleiras ou pendurar utensílios de cozinha, funcionam como parte de um ritual para a posse de Eliaquim. As origens de tais figuras provavelmente remontam à cultura aldeã do antigo Israel e sua fam iliaridade lhes deu a autoridade que se compara ao comissionamento de Jerem ias: "para arrancar, despedaçar, arruinar e destruir; para edificar e plantar" (Jr 1.10). Um a das cerim ônias de posse m ais conhecidas na literatura antiga é a posse de M arduque como a principal divindade babilónica no Enuma Elish. Ali proclama-se que suas ordens não podem ser alteradas e que os limites estabelecidos por ele (para os deuses) são invioláveis.
23.1-18 Profecia contra Tiro23.1. Tiro no oitavo século. O oitavo século a.C. foi um período de expansão comercial e política para os fenícios. U m im pério colonial foi estabelecido, com Cartago como a principal cidade no oeste do M editerrâneo (fundada por Dido por volta de 814 a.C.). O grau de autonomia que as cidades fenícias de Tiro e Sidom tinham nesse período dependia da dimensão da influência assíria sobre elas. Adadnirari III (810783) recebeu tributo dessas cidades, m as nenhum a pressão assíria significativa foi aplicada a não ser a partir do reinado de Tiglate-Pileser III (744-727). O rei assírio habilmente jogou com o medo inspirado pelo im pério com ercial de Tiro em expansão, a fim de conseguir alianças com as cidades-estado de Chipre. Ele também forçou Tiro a pagar uma enorme quantia de impostos anualmente (evidências encontram-se nas listas de tributos assírios) a fim de poupá-la de inva
são militar. A riqueza de Tiro era legendária (ver Ez28.4, 5; Zc 9.3) e para defendê-la, o rei de Tiro, Lulli, obrigou os estados cipriotas a se submeter a ele. Isso provocou um cerco de cinco anos à cidade de Tiro por Salmaneser V (726-722) e por seu sucessor Sargão II (721-705). Lulli fez algumas tentativas de negociar o fim das hostilidades, uma vez que os assírios haviam ocupado toda a terra de Tiro no continente. Porém, quando ele rebelou-se novamente na época da ascensão de Senaqueribe, os assírios forçaram Lulli a fugir para Chipre e instituíram Ittobaal como governante do reinado sidônio.23.1. Tiro no sétimo século. Tiro e Sidom continuaram a vacilar em sua lealdade para com a Assíria ao longo do sétimo século. Em resposta à aliança fenícia com o etíope Tirhakah, da 25a Dinastia, os exércitos assírios repetidamente invadiram a região costeira ao redor de Tiro e Sidom, devastando cidades e povoados e aumentando a pressão nas cidades portuárias para que se subm etessem ao governo assírio. Finalm ente, em 677 a.C. Esar-Hadom destruiu Sidom por completo, desfilando com a cabeça de seu governante, Abdimilkutte, em Nínive. Restrições diplomáticas severas foram im postas a Baal I, rei de Tiro, num esforço de impedi-lo de ajudar os egípcios. Assurbani- pal (667-627) também registra medidas tomadas contra os governantes anti-Assíria da Siro-Palestina. Após esmagar os egípcios e destruir sua capital, Tebas, em 663 a.C.., Assurbanipal colocou no trono um egípcio n ativo, Psam m eticus I, com o governante do baixo Egito. D epois conduziu seu exército de volta até a costa para punir Baal I e os fenícios. Ele arrancou a autonomia de Tiro por completo e transformou toda a Fenícia em uma província assíria, assumindo o controle total da navegação mercantil que fora a base da riqueza e da independência fenícia. Porém , após a morte de Assurbanipal, Tiro reconquistou sua supremacia no comércio mediterrâneo.23.1. navios de Társis. Para que um navio mercante fosse lucrativo e com condições de navegar nas águas do m ar Mediterrâneo e do mar Morto, sua tonelagem exigia hábeis técnicas de construção. Visto que os "n a vios de Társis" são mencionados com freqüência em relação ao transporte m ercantil (ver 1 Rs 22.48; 2 Cr 9.21), é provável que trata-se de um tipo específico de navio. Talvez fossem construídos em Társis, m as é provável que recebessem esse nom e por sua habilidade de navegar em águas tão distantes, chegando até Társis no oeste do Mediterrâneo. Relevos assírios e as folhas de bronze que revestem as portas de Salmaneser III, em Balaw at, ilustram esses navios sendo usados para o transporte m ilitar e tam bém como cargueiros, levando tributos tomados de m uitos vassalos. Um relevo encontrado no palácio de Nínive ilustra a
fuga de Lulli, rei de Sidom, para Chipre. Dentre os navios de sua frota há mercadores roliços com uma fileira de escudos ao longo do casco e duas ordens de remadores de cada lado para ajudar o movimento do navio quando os velas panejassem. Navios como esse com duas fileiras de remadores eram cham ados de birrem es.23.2. m ercadores de Sidom . O silêncio dos ricos mercadores sidônios, geralm ente barulhentos, pode ter como base a extensão da hegemonia assíria sobre aquela área, que começou na m etade do oitavo século e cortou parte de seus lucros. Ou refere-se à crescente pressão colocada naquela área por Senaqueribe (após 701) e terminando em 677 com a destruição da cidade de Sidom por Esar-Hadom. Um a nova cidade assíria foi construída em cima das ruínas de Sidom por levas de tropas provenientes de toda a esfera de influência assíria e recebeu o nom e de Kar-Esar-Hadom.23.3. o trigo de Sior. Os m ercadores fenícios transportavam produtos de todo o Mediterrâneo. O trigo de Sior, possivelm ente em egípcio p shhr, em que Sior seria traduzido como "açude de H órus". Representa as colheitas férteis do Egito, transportadas pelo Nilo, rio acima, e dali para a costa pelo uádi el-Arish (Ribeiro do Egito em 1 Rs 8.65) ou pelo braço pelusíaco do Nilo. O canal tam bém pode ser com parado à uma porção do "Cam inho de H órus" que ligava a Palestina ao Egito.23.3. papel econôm ico de Tiro. A cerca de 500 metros do continente, a cidade da ilha de Tiro e seu porto estavam protegidos de qualquer coisa, exceto de um cerco prolongado. As águas tam bém eram profundas o bastante para permitir que navios com cargas pesadas se aproximassem e descarregassem seus carregamentos. Dedicada à atividade comercial, o abastecimento de comida e outros itens essenciais de Tiro era fornecido pela cidade irmã de Ushu. A s frotas de Tiro estabeleceram colônias, inclusive algum as em Chipre, em Cartago, cidade no norte da África, e ao redor do M editerrâneo para extrair os recursos dessas áreas, especialm ente metais, e para canalizar m ercadorias entre o Mediterrâneo oriental e ocidental. Evidências arqueológicas de trabalhos fenícios em cerâm ica e metais nessa região indicam a extensão e a longevidade das relações comerciais. Seus principais produtos de exportação incluíam o cedro, tecidos e tinturas e vidro. A parceria econômica entre Salomão e Hirão I (969-936) que estendeu os interesses fenícios e israelitas para o sul, até a Somália, podem ter sido apenas um desses empreendimentos. A expansão da hegemonia assíria na costa do Levante forçou Tiro e Sidom a cooperar com a potência mesopotâmica. Esforços de rebelar-se ou não pagar tributos resultaram em invasões e redução da atividade econôm ica. Porém , os
assírios também precisavam do conhecimento m arítimo especializado dos fenícios, por isso é provável que os negócios continuaram ininterruptos apesar de hostilidades ocasionais.23.4. fortaleza do mar. Tiro originalmente foi fundada por volta de 2750 a.C. num recife de arenito a cerca de quinhentos metros da costa sul do Líbano. Sua área ocupada foi ampliada no século dez quando Hirão I preencheu um trecho intermediário para unir a antiga cidade a um recife próximo. Para marinheiros que se aproximavam, a cidade parecia estar flutuando no mar. N enhum exército teve êxito em conquistar a cidade até a época de Alexandre da M acedônia, que construiu um passadiço do continente até a ilha em 332 a.C.. No entanto, Tiro não era totalmente auto- suficiente. Sua vulnerabilidade ficou evidente quando a cidade irmã de Ushu foi capturada pelos assírios. Como resultado, um tratado de vassalagem foi assinado na época de Esar-Hadom demonstrando a capitulação de Tiro a ponto de até m esm o ter um oficial assírio presente sempre que o rei lia a correspondência diplomática.23.5. novidades de Tiro. O período ou evento exato descrito aqui não está claro. Pode referir-se a qualquer série de eventos que teria angustiado os egípcios, representando o término do comércio e a eliminação de um importante aliado político. Os possíveis eventos incluem a incursão assíria na Fenícia, liderada por Senaqueribe, em 701, e a destruição de Sidom em 677 por Esar-Hadom. Alguns comentaristas sugerem também um período bem posterior quando Sidom foi conquistada pelo rei persa Artaxerxes III (343 a.C.) ou até mesmo a captura de Tiro por Alexandre, em 332. Uma data tão posterior, porém, exige um a visão profética de um evento muito tempo depois da época de Isaías ou a remoção dessa passagem completamente do contexto de Isaías, constituindo-se na interpretação de algum copista ou editor futuro.23.6. T á rs is . A am bigü id ad e de fon tes b íb licas e extrabíblicas apenas indica que Társis encontrava-se a oeste de Israel, perm itindo que fosse identificada com Cartago, no norte da África e com outras localidades na costa sudestes da Espanha, inclusive Tartessos. Existe até m esm o certa base para identificá-la com Eziom -Geber, no golfo de Ácaba. Após derrotar os egípcios em 677, Esar-Hadom afirm a em seus anais ter a soberania sobre o Chipre, a Grécia e Társis, em outras palavras, sobre todo o império comercial fenício.23.10. porto de T iro . A cidade original de Tiro foi construída sobre dois grandes recifes aproximadamente a quinhentos metros da costa. Visto que a área da ilha era limitada, as casas eram construídas com vários andares e bem próximas umas das outras (com base em cenas de relevos assírios). Havia um porto de
cada lado da ilha para acomodar o grande núm ero de navios que constantemente chegavam e partiam dali. Havia um porto natural na extremidade norte protegido por um dique e ancoradouro, abrigado por uma cadeia de ilhas m enores. Um porto artificial também foi construído na extremidade sul da ilha. Essa área a sudeste com o tempo foi modificada, depois que A lexandre da M acedônia construiu uma plataforma para conectar a cidade ao continente e sedimentação posterior criou uma península m ais larga. É difícil conduzir escavações no local, visto que atualm ente uma cidade ainda ocupa grande parte da antiga Tiro.23.11. Fenícia. O texto hebraico aqui fala de "Canaã". A escolha para traduzir por "Fenícia" ajuda o leitor a manter seu foco na destruição de Tiro. Porém , essa destruição é (1) baseada na cultura cananéia dos fenícios, condenada por Yahw eh e (2) exemplificada pela mão estendida de Yahw eh sobre o m ar para demonstrar que essa fonte de sobrevivência dos mercadores fenícios não os salvaria. Essa terminologia remete à temática do combate entre Baal e Yamm nos épicos ugaríticos em que o deus-mar é derrotado.23.12. Chipre. Chipre fica apenas a 120 quilômetros da costa síria. Serviu como um lugar de refúgio para os reis fenícios (Lulli, de Tiro, fugiu para Chipre quando pressionado pelos exércitos assírios de Sargão II). Essa profecia desconsidera Chipre como um porto seguro. Se os fenícios perdessem o controle de Tiro e de Sidom, sua frota de navios m ercantes se tom aria órfã. Seus carregam entos iriam estragar ou seriam devolvidos para os assírios.23.13. Babilôn ia castigada pelos assírios. Ver os comentários em 13.1 e 13.19 a respeito do contexto histórico da captura da Babilônia por Senaqueribe, em 689a.C. e acerca do exílio do líder babilônio Merodaque- Baladan. Nessa passagem, a destruição da principal cidade mesopotâmica do sul é citada como um exemplo do destino final de Tiro nas m ãos dos assírios.23.13. torres de vigia. Relevos assírios do palácio em Nínive e os anais de diversos reis ilustram uma série de diferentes tipos de máquinas de cerco. Um a das mais comuns era a torre de vigia, que subia o mais próximo possível das muralhas de um a cidade. Dali de cima os arqueiros podiam alvejar os soldados inimigos e pontes de assalto podiam estender-se delas até as trincheiras. Na base da torre, protegidos da chuva de pedras, óleo quente e flechas, engenheiros e sapadores podiam trabalhar para abalar as estruturas dos m uros ou utilizar aríetes (ver 29.3; Ez 21.22).23.15. T iro , no fim dos seten ta anos. H á diversos contextos nos textos proféticos em que a expressão "setenta anos" representa exílio ou castigo (Jr 25.12; D n 9.2; Zc 1.12). Existe tam bém um significado de completude neste núm ero, sugerindo que Tiro e os
fenícios estão nas m ãos de Deus e não poderão prosperar de novo até que o julgam ento divino se cum pra. N a verdade, durante grande parte do sétim o século, quando uma sucessão de fortes governantes assírios controlou a cidade e suas atividades comerciais, Tiro ficou estagnada. Houve um curto ressurgimento após a destruição de Nínive em 612, mas logo depois a cidade foi cercada durante treze anos pelo governante babilônio Nabucodonosor, limitando seriamente seu contato com o continente. Os persas exerceram controle sobre os portos fenícios também, com Artaxerxes m incendiando Sidom em 345 após essa cidade ter se unido a uma revolta inspirada pelo Egito. A destruição de Tiro por Alexandre, da Macedônia, em 332 seguiu-se a um cerco de sete meses e efetivamente encerrou a independência da cidade.23.15 ,16 . canção da prostituta. A condição miserável de Tiro após o julgamento de Yahw eh é comparada a um a prostituta idosa que agora precisa caminhar pelas ruas cantando para divulgar seus serviços e atrair fregueses que não mais desejam vir até sua porta. A melodia e a letra emparelhada provavelmente faziam parte da cultura rouquenha dos portos mediterrâneos apreciada pelos marinheiros em seus m om entos de folga.
24.1-23 A devastação do Senhor na terra24.1-13. descrição da desolação da cidade. A litania da destruição encontrada no lamento desta cidade compara-se ao estilo contido no texto sumério Lamento pela Destruição de Ur, bem como em outras expressões de lamento por cidades invadidas no antigo Oriente Próximo. As comparações incluem as descrições de desolação extrema, o fato de que nenhuma pessoa de nenhuma classe foi poupada e a incapacidade da natureza em fornecer o que anteriormente alimentara e suprira o povo. O lamento sumério fala de ventos devastadores, de seca, fom e e de corpos expostos em pilhados pelas ruas. O texto egípcio do século vintea.C. intitulado Visões de Neferti tam bém ilustra uma terra desolada e amaldiçoada por causa do desaparecimento do sol e por terem se secado os canais que sustentavam a vida. As profecias de Balaão (encontradas em D eir 'A lla e que datam de 700 a.C.) descrevem deuses irados que "fecham os céu s", transformando todas as criaturas vivas em carniceiros e forçando até mesmo príncipes a vestir trapos e sacerdotes a "cheirar a suor".24.18. comportas dos céus. Ver o comentário de G ênesis 7.11 acerca dessa expressão metafórica que descreve os efeitos catastróficos de um dilúvio, cujas águas descem dos céus e sobem do m undo inferior. A cena é de extrema destruição.
24.22. p rision eiros num a m asm orra. Por causa do caráter apocalíptico dessa passagem é mais provável que o autor esteja descrevendo o aprisionamento de outros poderes (anjos) que tentaram competir com o poder de D eus, e não reis terrenos. C ertam ente o padrão em grande parte do Antigo Testam ento era que os reis fossem executados (ver Jz 8.21; 1 Sm 15.33) ou forçados a negociar os termos da rendição (2 Sm 10.9). Textos m esopotâm icos de M ari, bem com o o Cilindro de Ciro, nos registros persas, descrevem o "aprisionam ento" de im agens sagradas. A idéia de m anter prisioneiros por longos períodos debaixo da terra com o tempo é desenvolvida nas visões apocalípticas de Apocalipse 10.20-20.15 e em Enoque 18.16.
25.1-12 Banquete da vitória25.6. banquete servido pelos deuses. Banquetes servidos pelos deuses eram comuns em contextos de coroação - quando uma divindade cerimonialmente ascendia no trono de sua esfera de domínio. Esse é o caso quando El chama o Refaim (ver o comentário em14.9-11) para um banquete em honra a Baal. Embora esses banquetes fossem p_ara os deuses, o povo podia participar da festa quando a entronização era celebrada anualmente.25.7, 8. destru ição do véu e da m orte. No Antigo Testamento, às vezes a morte é personificada (Os 13.14), m as na mitologia ugarítica, M ot ("m orte") é uma divindade do m undo inferior, inim iga de Baal. Visto que Baal é o deus da fertilidade, a derrota de M ot é um símbolo cíclico da vida que retom a ao mundo a cada primavera. M ot é retratado com freqüência como aquele que devora sua presa. Rituais dirigidos a M ot têm como objetivo dar um fim a suas atividades destrutivas. Aqui é Yahw eh quem engole a m orte (Mot) e o contexto é político (nações) e não agrícola. São os implacáveis e devoradores impérios que am eaçam as nações de morte que estão sendo destruídos, de modo que as máscaras de morte (véu e cortina) são removidas daqueles que estavam tão perto da extinção.
26.1-21 Cântico de Judá26.19. ressurreição n o antigo O riente Próxim o. Osconceitos de vida após a m orte estão definidos de form a bastante clara nos textos egípcios. O Livro dos Mortos apresenta um guia que aborda as perguntas feitas a cada alma que adentrar as regiões inferiores. A mumificação, a construção de túmulos, os ricos objetos enterrados ao lado dos corpos e o culto fam iliar e sacerd otal que dedicava oferendas de alim entos e bebidas aos mortos, todos testificam quanto a elaborados preparativos para a vida no além. Mesmo nesta
rica doutrina da vida após a morte, porém, a ressurreição se reflete na crença de que os ju stos podem ressuscitar. Os conceitos mesopotâmicos são mais pessimistas. Gilgamés, o herói que cruza o "m ar da m orte" e procura o herói do dilúvio, Utnapishtim, é inform ado pela deusa Siduri de que os hum anos estão destinados a morrer desde sua concepção. Ela aconselha a um a vida plena de prazer e realização pessoal, visto que não há alegria depois da morte. Daniel 12.2, assim como outras referências bíblicas, refere-se de forma clara à ressurreição corporal. M as essa passagem (26.19), a exem plo de Ezequiel 37 .4-14, pode estar falando apenas do poder de Deus em ressuscitar uma nação morta, reviver uma comunidade da aliança. O "orvalho" é uma expressão do poder de Deus. Os textos egípcios descrevem o orvalho como as " lá grimas de Hórus e T ot", que contêm o poder da ressurreição. O orvalho é a única um idade disponível para m anter as p lantas vivas durante os longos e secos meses de verão, portanto, é um símbolo apropriado da ressurreição (para um a discussão m ais aprofundada, ver o comentário em Dn 12.2).
27.1-13 O ajuntamento de Israel27.1. serpente veloz, serpente tortuosa. Essa mesma im agem está presente no Ciclo ugarítico de Baal para descrever seus oponentes sobrenaturais: "Q uando m ataste Litan (Leviatã), a serpente que foge, aniquilaste a serpente que se contorce, o potentado com sete cabeças" ("que foge" é a mesma palavra para "veloz" na N YI; "qu e se contorce" é a mesma palavra traduzida como "tortuosa" pela NVI). A respeito das sete cabeças, ver o comentário em Salmo 74.14 em diante.27.1. Leviatã. Os m itos ugaríticos e cananeus contêm descrições detalhadas de uma fera do caos representando os mares ou a anarquia aquática na form a de uma serpente de muitas cabeças que se contorce. Há uma íntima relação e afinidade entre a descrição do Leviatã em Isaías como uma "serpente tortuosa" e o épico ugarítico de Baal, que fala de como o deus da tempestade "golpeou Litan, a serpente que se contorce". Em ambos os casos há o significado do Deus da ordem e da fertilidade aniquilando um m onstro do caos. Diversas outras passagens do Antigo Testam ento m encionam Leviatã, m as a m aioria delas, como Salmo 74.14 e Jó 41.1-34, fala em termos da ação criativa de Deus que estabeleceu o controle sobre o caos (personificado pela serpente do m ar). Em 27.1, porém, essa luta entre a ordem e o caos ocorre no fim dos tempos. Pode ser que a queda de Satanás, retratado como um dragão de sete cabeças em Apocalipse 12.39, tam bém remeta à figura ugarítica de Litan, "o tirano de sete cabeças".
27.1. m onstro do mar. O conflito físico óbvio entre o m ar e a terra, bem com o a energia aparentem ente inesgotável exibida pela fúria do m ar deu origem a mitos cósmicos no antigo Oriente Próximo. O épico da criação Enum a Elish, da B abilônia, descreve com o M arduque destrói T iam at, enquanto essa deusa do caos aquático está na form a de um dragão. Grande parte do ciclo de histórias sobre Baal na lenda ugarítica envolve a luta de Baal contra seu rival Yamm , o deus do mar. Igualmente, no épico ugarítico, Anate e Baal afirm am ter derrotado L itã, o dragão de sete cabeças, tendo portanto conquistado o domínio sobre os mares. Em Salmo 104.26, Yahw eh é descrito brincando com o Leviatã e em Jó 41.1-11 Deus desafia Jó a mostrar seu controle sobre o Leviatã, como ele o faz. Em bora o texto não explicite aqui se o monstro representa uma nação ou cidade, pode ser que se trate de uma referência ao Egito ou a Tiro, visto que ambos tinham ligações com o mar.27.9. pedras como pó de giz. A pedra calcária é esmagada para produzir uma substância semelhante ao pó de giz que pode ser usada como argamassa, um tipo de "pintura de cal" usado em fossas e para selar paredes de pedra. Em se tratando de altares sendo esm agados dessa maneira significa a destruição completa de sua natureza sagrada. Isaías neste passagem descreve as m edidas tom adas por Ezequias em 2 Reis 18.4 e profetiza as reformas de Josias, narradas em 2 Reis 23.12.27.9. postes sagrados. V er o com entário em Deute- ronômio 7.5 a respeito da descrição desses objetos sagrados associados ao culto da deusa cananéia.27.9. altares de incenso. O termo hebraico pode referir-se a pequenos altares de incenso, geralmente com a forma de casas, em que era queimado continuamente incenso ou algum tipo de especiaria sem elhante para honrar os deuses de Canaã. Também foi sugerido que a palavra usada aqui, hammamim, é um termo para "colunas", outro objeto cultual dos cananeus (ver o comentário em Dt 7.5).27.12. figu ra da debulha. H á um engenhoso duplo sentido na palavra traduzida nessa passagem como "ribeiro [shibbolet]". Isaías está falando de Yahweh reunindo todo o povo da área entre o "ribeiro do Egito" (o uádi el-Arish) e o Eufrates. Porém , há um outro sentido para shibbolet, "espigas". Logo, fica clara também a imagem das espigas recolhidas na eira onde os grãos são separados da palha e dos talos.27.12. território desde o E u frates até o rib e iro do Egito. Uma forma tradicional de falar de toda a extensão da área onde os exilados foram espalhados é dizer desde o rio Eufrates, na Mesopotâmia, até o uádi el- Arish, na fronteira com o Egito (ver G n 15.18; 2 Rs24.7). Ver o comentário em 1 Reis 4.21 em que essa
área geográfica é usada para descrever os limites do reinado de Salomão. O ribeiro do Egito é citado nos anais assírios de Tiglate-Pileser III (744-727 a .C ). Esse foi o limite da expansão assíria até que Assurbanipal finalmente conquistou Tebas em 663 a.C..27.13. grande trombeta. Talvez por causa de seu uso para sinalização nas batalhas (como m ostram os relevos do oitavo século, em Carquemis, que ilustram músicos militares), o sopro da trombeta passou a ser um a im agem com um n a literatu ra escato lóg ica e apocalíptica como um sinal para o fim dos tempos (ver Zc 9.14 e Ap 8.6-12). Aqui, desperta os exilados para o m omento em que voltarão do exílio assírio e dos lugares no Egito para onde haviam fugido em busca de refúgio.
28.1-29 Ai de Efraim!28.1. coroa. A grinalda usada por libertinos geralmente é um sinal de alegria e felicidade (ver Pv 4.9; Is 61.10). Nesse contexto, porém, a coroa rapidamente se esvanecerá à medida que a festa se transforma em amargura e a bebedeira é um presságio da destruição da cidade de Samaria pelos assírios em 722 a.C..28.2. características da teofania. Um a teofania é a aparição de um ser divino para um humano. Para indicar o poder da divindade, esse encontro geralm ente inclui elem entos como fum aça e fogo, fortes ventos e tempestades e terremotos (ver os comentários em Js 10.11 e 1 Rs 19.11-13). A manifestação da presença de Deus, é claro, é feita com um propósito, geralmente de convocar um líder ou profeta para um trabalho ou para executar o julgam ento contra um a nação inimiga (Hc 3.13) ou contra os ímpios (SI 94.1-3). As teofanias também são comuns no épico ugarítico (Anat e Keret, ambos recebem visitas divinas) e em textos mesopo- tâm icos elas ocorrem com freqüência em sonhos a sacerdotes ou a reis.28.7. em briaguez no m undo antigo. A fabricação de diversos tipos de cerveja e a fermentação do vinho de tâmaras e uvas existiam na Mesopotâmia e no Egito desde os tem pos anteriores à escrita (c. 4000 a.C.). Cenas de banquetes são comuns na arte assíria e ilustram grupos de hom ens e m ulheres com endo em mesas forradas de comida e bebendo em taças através de canudos. O épico babilónico da criação, Enuma Elish, descreve como os deuses festejavam em banquetes, bebendo "o doce licor através de tubos" (uma necessidade, visto que a bebida apresentava uma consistência tão esp essa). U m h ino sum ério à deusa Ninkasi celebra o processo de fermentação e dá graças pela bebida que abranda a sede e jorra em abundância nos rios Tigres e Eufrates. Os m ales da em briaguez eram bastante reconhecidos em todo o antigo
Oriente Próximo e são narrados em Salmo 69.12, Provérbios 20.1, na descrição de Daniel 5.1-4 e em Ester1.3-8. A literatura sapiencial egípcia alerta contra o alcoolismo e sua conseqüente perda do controle que resulta na rejeição social. Há evidências nos textos de M ari em que o alcoolismo era visto como um a condição favorável para receber oráculos divinos.28.15. pacto com a morte. É tentador ver nesta passagem um acordo ou ato de subm issão ao deus ca- naneu M ot ("m orte") ou ao deus egípcio da morte, Osíris (ver 30.1-2). A m bos representariam alianças políticas com diversas nações siro-palestinas ou com o Egito, contra a Assíria. O profeta alerta os israelitas, porém, que isso é loucura e um sinal de sua impiedade (ver Jó 8.5-21). Como o herói mesopotâmio Gilga- m és aprendera, nenhum hum ano, exceto em raros casos (Enoque, Elias, Utnapishtim) escapa da morte (Jó 30.23).28.16. fu nção arqu itetônica da pedra angular. Nosprojetos arquitetônicos israelitas da Idade do Ferro, era cada vez m ais crescente o uso de alvenaria de pedras lavradas em oposição às construções feitas de pedras brutas em períodos anteriores. A fim de garantir estabilidade e unir duas paredes adjacentes, um bloco de pedra finam ente talhada era inserido como pedra angular, a fim de amarrar as paredes. Era um a pedra de tam anho m aior que as norm almente usadas e sua inserção muitas vezes exigia um esforço especial ou rituais. Sua superfície larga e lisa era o local ideal para inscrições de frases religiosas, do nome do arquiteto ou rei responsável pela obra e da data da construção. É possível que a pedra angular também fosse a pedra fundam ental. Para inform ações sobre esta última, ver os comentários em Esdras 3.3 e 3.10.28.21. m onte Perazim . Conhecido como Baal-Perazim em 2 Sam uel 5.18-20, dom ina as alturas do vale de R efaim (Js 15.8). Em bora sua localização exata seja desconhecida, o texto sugere que esteja situado a noroeste de Belém, perto de Jerusalém.28.21. vale de G ibeom . G ibeom (el-Jib) está localizado cerca de dez quilômetros a noroeste de Jerusalém. É associado ao local onde Josué fez uma aliança com os gibeonitas (Js 9.3-10.15) e para onde expulsou um exército cananeu de Gibeom até o vale de Bete- H oron (Js 10.9-11). Nesse caso, porém, Yahw eh reverterá seu papel com o G uerreiro D ivino e perm itirá que os israelitas sejam derrotados neste lugar de vitórias passadas.28.25. m étodo de semeadura. Dois métodos de semeadura são empregados aqui. O endro, um condimento, e o cominho, um tempero e fonte de óleo, eram semeados com a mão. Isso era feito no terreno recém- arado após as primeiras chuvas. O trigo, a cevada e o trigo duro tinham de ser tratados com mais cuidado
para evitar que as sementes se m isturassem. Parece que os israelitas usavam um a sementeira para fazer buracos nos sulcos abertos no terreno pelos bois que puxavam o arado pelos campos. Um homem ia atrás mantendo a sementeira cheia de sementes que eram derrubadas nas covas já preparadas. A ação do arado então cobria a semente. Representações de sementeiras são encontradas na arte cassita e assíria.28.27. debulha do endro e do com inho. As sementes desses dois condimentos são muito frágeis para usar os instrumentos mais pesados de debulha. Uma vara ou um pedaço de pau seriam ideais para fazer a debulha sem causar danos às sementes.28.28. seqüência de produção da farinha. Não é possível fazer pão se o agricultor executa apenas um a etapa de suas tarefas. É necessário levar o cereal colhido para a eira onde é debulhado debaixo dos pés do boi (Dt 25.4) e mais tarde processado através de uma debulhadeira que passa por cima dos grãos. A trilha- deira m encionada aqui era um instrumento comum feito de m adeira com duas ou mais fileiras de rodas. Depois que o trigo era separado dos talos, tinha de ser escolhido, peneirado e depois as mulheres o m oíam em pedras de moinho para fazer a farinha usada na confecção de pães.
29.1-24 Ai da cidade de Davií29.1. Ariel. Este é um termo descritivo para a cidade de Jerusalém. O nom e em si refere-se à "fornalha de altar" (traduzido dessa form a no final do v. 2; ver tam bém Ez 43.15). Esse oráculo fala de um a cidade que será destruída como os sacrifícios que são trazidos ao altar.29.1. ciclo de festas. Ver os com entários em Êxodo 23 .15 ,16 e Deuteronômio 16.9-17 para descrições da festa do pão sem fermento, festa da colheita e Festa das cabanas, que eram as principais festas agrícolas do calendário israelita. O calendário de Gezer, o exercício escolar de um estudante do século dez a .C , feito num pequeno tablete de pedra calcária, tam bém apresenta um a análise do ano a partir do plantio, das colheitas e das festas.29.2. fornalha de altar. A fornalha era a parte superior do altar onde o sacrifício era queimado (Lv 6.9) e de onde os chifres se projetavam em cada canto (1 Rs2.28). Em Ezequiel 43.15, a fornalha do altar na visão do templo reconstruído de Jerusalém é descrita tendo cinco metros quadrados.29.3. torres e obras de cerco. V er o com entário em 23.13 para um a descrição de torres erigidas por um exército quando atacava uma cidade m urada. Relevos assírios ilustram essas torres móveis bem como engenheiros cavando túneis para abalar a estrutura
dos muros, aríetes sendo usados nos m uros e portas das cidades e rampas de cerco feitas para facilitar o movimento das torres (Jr 32.24). Havia tam bém acampamentos no cerco para abrigar o exército e evitar que os habitantes da cidade fugissem (ver 2 Rs 25.1; Jr52.4). Um dos exemplos mais impressionantes ainda preservado são os vestígios do primeiro século d.C. dos acampamentos romanos e dos muros que cercavam a fortaleza judaica de Massada.29.6. características da teofania. Ver o comentário em28.2.29.10. cabeças cobertas dos videntes. Fechar os olhos e cobrir as cabeças provavelm ente são im agens da morte aqui, visto que estão em paralelo com o sono profundo do início do versículo. Ambas as frases, porém, foram usadas apenas aqui e, portanto, são difíceis de decifrar.29.11. palavras seladas num livro (rolo). Documentos oficiais eram escritos em rolos de papiros ou pergaminhos e, depois, quando armazenados ou enviados por um mensageiro, enrolados com um cordão e selados (ver 1 Rs 21.18; Jr 32.10, 11). O selo, de um anel ou sinete, era im presso em cera ou em um a pelota de argila conhecido como bula (Jó 38.14). Os arqueólogos encontraram muitas dessas bulas de argila com o nome de oficiais israelitas.29.17. Líbano. Usando a m esma figura da natureza invertida encontrada em 32.15, o profeta descreve como as montanhas do Líbano, citadas no épico de Gilgamés e na Lenda Egípcia de W enam om por suas florestas de cedro, se transform arão em um campo fértil. Os campos do Carmelo se transformarão em floresta. O sentido é do cumprimento da aliança e a ampliação da fertilidade que restaurará a sorte a Israel.
30.1-33 Ai da nação obstinada!30.1. acordo. Ver o comentário em 28.15 e a exortação contra fazer "pacto com a m orte", referindo-se a acordos políticos com os egípcios.30.2. o papel do Egito. D urante o reinado de Eze- quias, a 25a Dinastia egípcia de origem núbia e o faraó Shabaka continuamente tentaram fomentar a revolta entre os povos siro-palestinos contra a Assíria. O relato de Senaqueribe de sua campanha em 701 a.C. contra um exército egípcio o levou até Eltekeh, a apenas cerca de 160 quilômetros da fronteira do Egito. Nos dias de Josias foi o faraó Psammeticus I quem aproveitou-se do crescente enfraquecim ento da Assíria, no fim do reinado de Assurbanipal (627 a.C.). Ele tam bém esperava expandir a influência do Egito, mas foi impedido pela potência que surgia na Babilônia.30.4. Z oã e H anes. Isaías enfatiza a fu tilidade das propostas diplomáticas de Ezequias ao Egito. Ele diz
que, apesar de embaixadores terem viajado até a capital egípcia em Zoã (Tânis, no alto do Delta, 46 quilômetros ao sul do Mediterrâneo) e até Hanes (Hera- cleópolis Magna, 72 quilômetros ao sul do Cairo, na m argem oeste do N ilo), sua m issão seria em vão. Hanes foi uma importante capital regional sob o governante Shabaka, da 25a Dinastia, e também durante o reinado de Psammaticus I (663-609), da 26a Dinastia. Teria sido necessário que Ezequias enviasse representantes para encontrar-se com os líderes egípcios dessas duas importantes cidades, a fim de iniciar acordos de aliança ou planejar estratégias contra a Assíria.30.6. anim ais do N eguebe. Os perigos de viajar pelo terreno difícil do árido Neguebe são ampliados pela referência a anim ais selvagens que atacam os desapercebidos e incautos. Vestígios de carnívoros como leões e leopardos aparecem em escavações desde o Calcolítico até a Idade do Ferro. Serpentes venenosas, inclusive víboras e cobras, tam bém existem na área. Os anais do rei assírio Esar-Hadom descrevem uma "serpente voadora" que destruiu sua campanha (ver N m 21.8; Is 14.29).30.6. caravana do N eguebe. A caravana descrita aqui provavelmente trata-se dos embaixadores de Ezequias. A rota que tom aram evitava a estrada costeira normal que fora bloqueada pela Assíria durante o reinado de Senaqueribe. A alternativa foi seguir para o sul até Áca- ba e cruzar o Sinai até o Egito. É possível que na bagagem houvesse todo tipo de m ercadorias caras cujo objetivo era induzir o Egito a envolver-se: incenso, resinas para cosméticos e embalsamamento, barras de cobre ou ferro fundido, índigo, m arfim e lápis-lazúli.30.7. R aabe. Em bora não seja m encionado em n enhu m outro texto fora da Bíblia, o term o Raabe é comparável ao monstro do caos, Leviatã, que também assume a forma de uma serpente que se contorce (Jó26.12, 13; ver o com entário em Is 27.1). Raabe tam bém é usado como sinônimo para Egito. Por exemplo, em Salmo 87.4 as principais nações são alistadas como subjugadas pelo poder de Yahw eh. Raabe, o nome metafórico do Egito, é colocado ao lado da Babilônia em termos de importância. O sinal futuro do caráter duplo de Raabe pode ser visto em 51.9-11, uma passagem que se refere à destruição do monstro por Yahweh (ver SI 89.10) bem como à ação de Deus que "seca o m ar", um a referência clara à tradição do êxodo e à derrota do Egito. Em 30.7, o profeta zom ba de um Egito/Raabe impotente, incapaz de ajudar Israel ou im pedir o avanço da Assíria.30.8. tábua, livro (rolo). Embora a menção a tábua e livro possa simplesmente ser um paralelismo, escrever uma profecia em um tablete de argila (ou possivelmente um óstraco) e em um rolo pode ser um sinal
de d e stru içã o im in en te . P or ex e m p lo , no texto pseudepígrafo do primeiro século, A Vida de Adão e Eva, Eva orienta seu filho Sete a escrever seu "testam ento da queda" em tabletes de pedra e de argila para assegurar que algum desses registros sobreviva a um dilúvio ou a um incêndio. Essa ordem de escrev er tam bém se en con tra em 8.1, Je rem ias 30 .2 e Habacuque 2.2. Assim como a palavra falada, o processo de escrita legaliza a profecia e também a preserva para que gerações futuras possam vê-la.30.10. profetas m anipulados. Era comum Deus acusar os israelitas de terem ignorado os profetas ou lhes m andado profetizar apenas palavras e visões agradáveis (ver Jr 7.25, 26; A m 2.12). Em todo o mundo antigo acreditava-se que os profetas não apenas proclam avam a m ensagem da divindade, m as no processo, liberavam a ação divina. Não é de se espantar que houvesse tentativas de controlar um profeta cujos oráculos fossem negativos. N as instruções do rei assírio Esar-Hadom a seus vassalos, ele exige que façam relatórios de qualquer afirmação imprópria ou negativa proferida por qualquer pessoa, mas especificam ente por profetas, intérpretes de sonhos e praticantes de adivinhação estática. Pode-se entender por que as pessoas estariam inclinadas a desencorajar profetas cujas palavras poderiam provocar desgraça ou destruição.30.13, 14. im agem de desm oronam ento de m uros.Considerando-se o amplo uso de tijolos de barro na arquitetura do antigo O riente Próxim o, é provável que a queda de muros fosse um a ocorrência bastante comum. Pinturas de túmulos egípcios ilustram o processo de m isturar argila, água e palha para fabricar tijolos em m oldes (ver Êx 5 .7 ,8 ). Com o passar do tempo, os tijolos começavam a partir-se, esfarelar e a perder estabilidade. Se os tijolos tivessem sido apenas secados ao sol e não queimados em fornos, o que aum entava sua durabilidade, estavam sujeitos a ruir sob o peso de um a parede alta. Esse desmoronamento se manifestava inicialmente em rachaduras e abaula- mentos e, com o tempo, toda a estrutura viria abaixo, num a verdadeira avalanche de alvenaria (ver 9.10). Para evitar construções mal feitas e aum entar a vida útil dos muros de tijolos, o Código deHam urabi estabelecia severas punições para construtores descuidados.30.22. profanação de íd olos. N ão existia nenhum a substância mais profana do que o sangue menstrual (Lv 15.19-23) e, para o povo, nenhum objeto m ais profano do que um ídolo (Dt 4.15-19). Aqui, então, os ídolos, geralmente dentre os m ais preciosos objetos da cultura, seriam tratados como o mais asqueroso trapo imundo.30.24. forragem e sal espalhados com forcado e pá.Por causa do retom o do povo à obediência da aliança,
até m esm o seus anim ais de carga desfrutariam da abundância providenciada por Deus. A forragem para animais geralmente era constituída de restos dos cereais que sobravam no processo de debulha. O significado comum para forragem é "pequenos pedaços de palha" que podiam ser misturados com cevada. Aqui, porém, o gado é engordado com alimento especialmente preparado para ele usando um a pá de madeira e um forcado. Esses dois im plem entos ajudavam a separar os cereais da palha e eram usados para fazer montes.30.28. peneira da destruição. Os dois tipos de peneira usados pelos agricultores israelitas conseguiam diferentes resultados. A kébara (Am 9.9) tinha buracos m aiores que retinham pedras e outros objetos, à medida que o trabalhad or peneirava o cereal para a frente e para trás. A peneira nesta passagem, a napa, tinha buracos menores e o objetivo de separar a sujeira m enor do cereal através de um m ovim ento para cima e para baixo. Essas imagens servem como uma ótima metáfora da ação do julgam ento de Deus.30.30. características da teofan ia. Ver o comentário em 28.2.30.33. T o fete . Essa é a única ocorrência na Bíblia hebraica em que a palavra Tofete é usada como um substantivo, significando "crem atório" ou "p ira". A ira de D eus literalm ente queim aria o rei assírio de forma bastante semelhante à que os sacrifícios eram oferecidos ao deus Moloque, no lugar cultual do vale de Hinom, perto de Jerusalém (2 Rs 23.10). De fato, o rei assírio Sin-Shar-Ishkun m orreu nas chamas de seu palácio quando a cidade de Nínive foi destruída em 612 a.C..30.33. enxofre ardente. Enxofre moído bem fino pode aum entar a intensidade e o brilho de um a cham a. Talvez por causa dessa propriedade, esse elem ento tornou-se um símbolo da ira divina. N essa imagem da pira funeral da Assíria, a imagem do enxofre engrandece o poder de Deus para punir a nação inimiga. Misturado com sal, o enxofre também pode sugar a fertilidade do solo, novamente um sinal do extremo descontentamento de Deus.
31.1-9 Ai dos que confiam no Egito!31.1. papel do Egito. Ver o comentário em 30.2.31.8. destino da A ssíria. O destino final da Assíria é sua aniquilação enquanto nação por uma coalizão de Estados encabeçada pelos caldeus da Babilônia e pelos medos. A Crônica Babilónica descreve como Nínive cai diante de um exército aliado liderado por Nabo- polassar, rei da Babilônia, e pelo governante medo, Cyaxares, em 612. A batalha final de Carquemis, em 605 d em on strou a h ab ilid ad e do líd er bab ilôn io
Nabucodonosor de desmoralizar totalmente as tropas de choque assírias, anteriormente invencíveis, e seus aliados egípcios. Portanto, a mão de Yahw eh e a perda da forte liderança assíria após a morte de Assurba- nipal, em 627, significou a elim inação da influência daquele povo no antigo Oriente Próximo.
32.1-8 O reino de justiça32.1-5. visões de m elhores dias. Esses versículos apresentam o oposto da situação vivida por Isaías na nar- ativa de seu chamado em 6 .9 ,10 . O que muda a sorte de Israel é o surgimento de um rei justo que garante o cumprimento da lei e mantém a ordem. Afirmações como essas fazem parte da tradição sapiencial do antigo Oriente Próximo que inclui obras do Egito e da M esopotâm ia sobre o "justo re i". Dentre elas encontra-se a Lenda do Camponês Eloqüente, um texto egípcio que descreve um rei justo como o "p ai e a m ãe do órfão". Igualmente, o sábio egípcio do oitavo século, Ankhsheshonqy, afirm a que "abençoada é a cidade cujo governante é justo".
32.9-20A s m u lh e r e s d e Je r u s a lé m32.11. pano de saco em volta da cintura (vestes de lam ento). U m dos rituais associados ao luto e à súplica era vestir pano de saco (Gn 37.34; 1 Rs 20.31, 32). A representação pictórica dessa prática é encontrada no sarcófago do rei fenício Airão (c. 1000 a.C.) que ilustra duas mulheres e outras figuras realizando atos simbólicos associados ao passamento dos falecidos.32.14. cidadela e torre. As Cartas de Láquis, que datam do início do sexto século e da invasão de Judá por Nabucodonosor, descrevem sinais de fogo que eram acesos nas torres de cada um a das im portantes cidades situadas nas fronteiras. O escritor dessa passagem pode estar se referindo a essas torres de defesa/sinais, ou é possível que a palavra para cidadela ('ophel) refere-se a uma parte de Jerusalém onde havia uma torre de vigia (ver o comentário em N e 3.26).
33.1-24Aflição e auxilio33.4. gafanhotos. A imagem de gafanhotos como um exército invasor varrendo a terra e acabando com suas plantações e riquezas é desenvolvida de form a mais completa em Joel 1.4-12 e Amós 7.1, 2. A ironia dessa passagem de Isaías é que a antiga destruidora, Assíria, agora será atingida de forma m ais devastadora do que o foram suas vítimas.33 .9 . L íb a n o , Saro m , B a sã , C arm e lo . O abalo n as funções normais da natureza, aliado ao triste lamento de áreas conhecidas por sua fertilid ad e, m ais um a
vez refletem o descontentam ento de D eus em ação (ver 24.4-7; o comentário em 24.1-13). O itinerário vai de norte a sul: das florestas exuberantes do Líbano e das vinhas do vale de Beqa' (SI 72.16; Os 14.7) para o sul até a fértil planície de Sarom e a planície costeira (Ct 2.1), para o leste da Galiléia até o planalto de Ba- sã e suas excelentes áreas de pastagens (SI 22.12) e dali novam ente para o sul, até a cadeia m ontanhosa do Carmelo, conhecida por seus rebanhos (1 Sm 25.2; Jr 50.19).33.18. o ficia is . Todo governo precisa de burocratas para conduzir seus negócios. Nessa visão do futuro, quando o rei de D eus reinará de novo, o povo se lembrará dos "terrores passados" quando suas vidas e destinos estavam presos às atividades de homens que registravam o pagamento de impostos, calculavam os valores recolhidos e determinavam ("encarregado das torres") quantos soldados seriam necessários para suprir as guarnições assírias (para as quais deviam fornecer tropas). Os textos de M ari contêm uma série de cartas enviadas a oficiais locais remetidas por governadores das províncias e pelo rei, orientando-os na execução dessas tarefas. Caso falhassem no cum primento dessas tarefas (recolher impostos ou recrutar trabalhadores e soldados), esses oficiais seriam tão severamente castigados que a simples ameaça recebida garantia que eles, por sua vez, fossem um "terror" para o povo que oprimiam.33.19. lín g u a estran ha. O s co letores de im postos assírios, alguns dos quais podem ter vindo de diversas partes do império, falavam aramaico, enquanto a m aioria dos israelitas falava apenas hebraico (ver 36.11). É provável que eles tam bém tivessem estranhos sotaques, o que aumentava a sensação de controle estrangeiro e opressão que o povo de Judá experimentava (ver Jr 5.15 a respeito da mesma reação debaixo do domínio babilónico).33.22. papel do legislador. Um dos atributos reivindicados por todos os reis era o de ser "legislador". Por exem plo, desde o final do terceiro m ilênio , o rei sum ério U rukagina, de Lagas, e o rei neo-sumério, Ur-Nammu, se comprometem em suas inscrições reais a "não entregar a viúva e o órfão aos poderosos". Nessa mesma linha, o prólogo do século dezoito a.C. do código de leis de H amurabi contém uma afirmação de que ele havia sido nom eado pelos deuses para "fazer com que a justiça prevalecesse na Terra" de modo que "o s fortes não oprim issem os fracos". A sem elhança das expressões nesses textos, somada à linguagem de 2 Samuel 8.15 em que Davi é descrito como "adm inistrando o direito e a justiça sobre todo o seu povo" sugere um a tradição com um no antigo Oriente Próximo sobre o "rei justo". Porém, quando o monarca falhava em executar essa tarefa básica, Deus
entrava em cena para restaurar a ordem e a justiça (ver Ez 34.7-16).33.23. m etáfora do barco. Uma metáfora semelhante encontra-se em um a elegia assíria a respeito de uma mulher que morreu em trabalho de parto. Ela é descrita como um barco que está à deriva com sua corda cortada e o assento do remador quebrado.
34.1-17 Julgamento contra as nações34.4. figu ra das estrelas desaparecendo. Sempre no controle de toda a criação, Yahw eh dem onstra seu senhorio sobre os céus e os corpos celestes fazendo com que o brilho deles se apague, numa inversão da criação. Importantes temas astrais da religião mesopotâ- mica incluíam a idéia de que os deuses tinham postos fixos nos céus e suas "sem elhança astral" demarcava as zonas do ano no calendário (por exemplo, no épico da criação babilónico, Enuma Elish). Nos presságios celestiais, o desaparecim ento de um a estrela ou de um planeta sempre sugeria que a divindade relacionada fora derrotada na batalha. As divindades astrais eram consideradas os deuses mais poderosos e proeminentes. A dissolução das estrelas e a queda do exército celeste, portanto, estão relacionadas. Tanto a m anifestação natural como a divindade atrelada a ela são subjugadas nesse ato de julgamento. Além disso, os sonhos de presságios da M esopotâm ia afirmam que ver uma estrela caindo é um mau agouro. N a destruição descrita em Erra e Ishum, Erra diz que fará os planetas perder seu esplendor e arrancará as estrelas do céu.34.4. os céus se enrolando como um pergam inho. Oscéus são comparados com mais freqüência a uma tenda (Is 40.22; SI 104.2) estendida sobre a Terra. Essa im agem em Isaías de todo o firmamento sendo enrolado como um pergaminho é única na Bíblia hebraica (ver o paralelo do N ovo Testam ento, em Ap 6.14). Além disso, os três principais deuses babilónicos não são representados por estrelas e sim pelo próprio céu. Anu é o deus-céu e o horizonte é dividido em três caminhos (relacionados aos deuses Anu, Enlil e Ea). Portanto, enrolar os céus é um ato de julgam ento contra as três principais divindades do mundo antigo.34.5. papel de Edom. Visto que a m aior parte dessa passagem (ver v. 1-4) está relacionada ao castigo de D eus sobre as nações, pode ser que a descrição de Edom como uma vítim a sacrificial seja simplesmente um exemplo do que acontecerá a todas elas (compare com 63.1-6). Certamente Edom serve em muitos casos como o protótipo do "in im igo" de Israel (ver Ob 5-9; M l 1.2-4). A ausência de um a ação específica de Edom no final do oitavo/início do sétimo século contra Jerusalém (ver, no entanto, 2 Cr 21.8-10) convenceu m ui
tos eruditos de que essa passagem é uma referência ao papel de Edom como aliado da Babilônia em 587a.C. (ver Ez 35.2-15).34.6. Bozra. Essa é a capital do antigo Edom e deve ser identificada com Buseirah, na região norte do país. Ela guarda uma parte da Estrada do Rei e é relativamente próxim a às m inas de cobre encontradas oito quilômetros a sudoeste do uádi Dana. Escavações dem onstraram que os sedimentos do sétimo e do sexto século contêm vestígios das maiores e mais fortificadas ocupações da área.34.9. piche e enxofre. Em bora muitas vezes mencionado como um material selante para barcos (ver Gn 9.14; Êx 2.3), o piche ou betum e fervente aparece em textos da Antiga Babilônia como uma form a de castigo. Ao lado do cheiro repugnante de enxofre ardente, am bos m ateriais estavam disponíveis na região do mar Morto e poderiam facilmente ser associados à ira de Deus (ver G n 19.24).34.11. coru jas e corvos. O símbolo m áximo de destruição aqui é que aves conhecidas como carniceiras e habitantes de lugares desolados (Jó 38.41; SI 102.6) fizeram ninho nas ruínas das cidades (ver Is 13.22). Um paralelo dessa imagem encontra-se no texto egípcio Visões de Neferti (c. 2000 a.C.) que descreve o Egito tão fraco como um "pássaro estranho que faz seu ninho perto das pessoas" e "rebanhos do deserto beberão das águas do Nilo".34.13-15. chacais, h ienas, falcões. A visão que Isaías tem da desolação de Edom se encerra com a descrição de uma terra entregue a carniceiros e fantasmas (ver Jr 9.11). É fácil im aginar como o grito de chacais e hienas soaria proveniente dos demônios para pessoas que temiam por suas vidas (Mq 1.8). Alguns comentaristas interpretam Lilit, o demônio feminino noturno da M esopotâmia, como uma das criaturas noturnas (v. 14) que habitam esse m undo de pesadelo.
35.1-10A alegria dos redimidos35.2. Carmelo e Sarom. Com a eliminação de Edom, as regiões ao norte daquela terra são libertadas da opressão e sua fertilidade e prosperidade são restauradas. Isso inclui Carmelo e Sarom (ver o comentário em 33.6, onde a im agem é oposta), a área ao longo do norte da planície costeira de Israel. Até m esm o partes desérticas da Arabá (no vale do Jordão; Jr 17.6) se tom arão ricas e exuberantes de vida, tal como essas áreas norm almente férteis.35.7. contraste entre chacais e relva, ju nco e papiro.Os chacais são criaturas de estepes e regiões desérticas, vagando num cenário árido e desabitado (Ml 1.3). Na visão de Isaías de um jardim substituindo o que outro- ra fora deserto, esses antros de predadores selvagens
se transformarão em terras úmidas como as do vale de H ulá (ver 43.20). A área pantanosa permanecerá úmida o ano todo, permitindo o crescimento de relva e de papiro (ver Jó 8.11-13 e Is 19.5, 6).
36.1-37.38O cerco de Senaqueribe a JerusalémV er os comentários em 2 Reis 1 8 ,1 9 e 2 Crônicas 32.
38.1-8A doença de EzequiasVer os comentários em 2 Reis 20.
38.9-20A oração de Ezequias38.9. a carta de Ezequias. Um salmo de gratidão como esse, relacionado a uma situação que ameaçara a vida do rei, geralm ente seria inscrito em um a esteia de pedra. Um exemplo disso encontra-se na inscrição de Sin-Iddinam, que foi rei na cidade de Larsa, no século dezenove a.C.. Em um a carta endereçada ao deus Nin-Isina (conhecido como "aquele que cura") o rei apresenta sua piedade, benevolência e retidão como razões para que o deus lhe estenda sua cura misericordiosa, o que lhe é concedido.38.11. ver o Senhor. Ezequias não encara "ver o Senhor" como uma experiência na vida após a morte. Ver o Senhor envolvia cultuar no templo e desfrutar do favor de Deus nesta vida. Os versículos 18 e 19 continuam a deixar claro que o rei não previa nenhuma experiência positiva no além. Ver o com entário em 14.9 para m ais informações sobre as crenças israelitas sobre a vida após a morte.38.12. m etáforas. O pastor se deslocava com freqüência de um lugar para outro e, portanto, era capaz de desmontar seu acampamento rapidamente. O tecelão trabalhava num tear horizontal cujos fios ficavam esticados em barras entre estacas. Quando o trabalho precisava ser rem ovido, as barras podiam sim plesmente ser tiradas das estacas e enroladas (ver o comentário em Jz 16.13 ,14). Quando o tecelão terminava um pedaço de tecido, os fios que conectavam o material ao tear tinham de ser cortados. O tecido da vida de Ezequias havia se com pletado e agora ele seria cortado da terra dos viventes. A vida ou a história como um pedaço de pano sendo tecido existe na mitologia grega, mas não foi identificada na literatura do antigo Oriente Próximo.38.20. cantar com instrum entos de corda. O envolvim ento do rei na com posição de salm os é bastante conhecido particularm ente por causa de D avi, mas não começou nem terminou com ele. Desde o final do terceiro m ilênio, Shulgi, rei de Ur, era fam oso por seus hinos em que orações eram feitas pela saúde e
pelo bem -estar do rei. M ais tarde, no período romano, Nero foi patrono das artes e se considerava um compositor de primeira categoria. O rei ideal era um rei sábio e a música era uma das áreas da sabedoria.
40.1-31Consolo para o povo de Deus40 .3 ,4 . construção de estradas no antigo O riente Próximo. A maior parte das estradas do antigo Oriente Próximo não era pavimentada (exceto algumas estradas no final do período assírio). Embora não fossem pavimentadas, as estradas usadas para o transporte em veículos de rodas (chamadas de "estradas de carros", nos textos de Nuzi) tinham de ser demarcadas, aplainadas e passavam por m anutenção periódica. Porém, poucos textos descrevem a construção e a manutenção dessas estradas. As estradas para o transporte pesado eram raras e acompanhavam as rotas comerciais. Por isso, um rei vassalo queixou-se ao rei de Mari por ter que chegar à capital síria por um a rota alternativa ao longo de uma estrada principal. Os reis assírios raramente se gabavam de suas construções de estradas, um a vez que parece que elas eram de responsabilidade das populações locais. Em um texto de tratado, Esar-Hadom ordena que, quando seu filho o sucedesse, o vassalo deveria submeter-se a ele e "aplainar seu caminho em todos os aspectos".40.3-9. voz no deserto, portador de notícias. O s mensageiros eram conhecidos no mundo do antigo O riente Próximo. Eles desempenhavam um a função essencial como portadores de notícias políticas e cívicas aos habitantes de um a cidade. Praticam ente todas as cidades tinham um porta-voz que anunciava importantes notícias aos habitantes. Invasores estrangeiros com freqüência enviavam um arauto a uma cidade para discutir os term os de rendição. U m exemplo sem elhante à visita de Rabsaque a Jerusalém é quando os assírios enviaram um arauto à Babilônia para discutir as condições de negociação durante um ataque no sétimo século no sul da Mesopotâmia.40.6, 7. m ortalidade hum ana. A consciência da existência fugaz e da mortalidade hum ana não é exclusiva ao antigo Israel. D e acordo com o épico mesopo- tâmico de Gilgamés, os deuses decretaram a mortalidade aos hum anos, enquanto a imortalidade foi reservada para os próprios deuses. Não obstante, o rei sumério Gilgamés partiu em muitas aventuras a fim de obter a im ortalidade. Prim eiro, ele tentou obter um tipo de imortalidade através da procriação, depois tom ando-se famoso através da destruição de inimigos não humanos e, por último, indo em busca de Utna- pishtim, o herói do dilúvio, que recebera a imortalidade dos deuses. Embora Gilgamés tenha sido bem- sucedido em encontrar o herói do dilúvio e em locali
zar a "planta da vida", altruisticamente ele quis levar a planta consigo para sua cidade (Uruk), para que todos os cidadãos pudessem compartilhar das propriedades daquela planta. Infelizmente a planta foi roubada por um a cobra e Gilgamés voltou para casa de m ãos vazias. Porém , o leitor é relem brado de que G ilgam és constru iu os m uros de U ruk, que ainda existiam e, portanto, havia conquistado uma forma de imortalidade. Assim, o épico era em parte uma explicação para algo que todo mesopotâmio sabia: a vida é curta e na morte o ser humano ficava confinado a uma existência terrível no mundo inferior.40.8. o que perm anece para sem pre no antigo O riente Próxim o. O conceito de "para sem pre" no antigo Oriente Próximo tinha a conotação de tempo contínuo e p erm an en te e não de tem p o sem fim . O s re is
mesopotâmios esperavam que seus nomes se estabelecessem "para sem pre". Os reis doavam propriedades para indivíduos e suas fam ílias "p ara sem pre" (i.e., perpetuamente). De acordo com o épico de Gilgam és, apenas os dias dos deuses eram "para sem pre" (contínuos), enquanto os dias dos hum anos eram "contados". O conceito de um a palavra que permanece para sempre tem paralelo na determinação de destinos. No épico de Gilgamés, Enkidu usa uma maldição para "d eterm inar o destino" de Sham hat para sem pre. Inscrições assírias tam bém referem -se aos deuses cujas ordens não podem ser modificadas e cujas palavras são válidas para sempre. No Enuma Elish, o líder rebelde Kingu e M arduque têm seus destinos determinados para que seu domínio não seja alterado e sua palavra seja eterna.
40.10. recom pen sa do re i no retorno da batalh a. Ostermos para recompensa e pagamento são palavras técnicas para tributo ou despojos levados para casa pelos guerreiros e reis vitoriosos nas batalhas. Os reis assírios faziam menções específicas aos grandes despojos obtidos dos povos conquistados. Por exemplo, Senaqueribe con stru iu um quarto de L áqu is em seu p alácio de Nínive para abrigar todos os despojos recolhidos dessa cidade fortificada de Judá, quando foi destruída em 701 a.C.. A volta para casa após uma batalha bem -sucedida era um a oportunidade para distribuir recom pensas àqueles que eram os favoritos do rei.40.11. rei como pastor. A ideologia do rei como pastor
ao seu povo encontra-se em Lugalzagessi, de Sumer, desde c. 2450 a.C.. O rei contemporâneo Urukagina, de Lagash, afirmava que o deus Ningirsu possuía seu Estado e que o rei fora escolhido como um "pastor" para administrar a cidade em nome dos deuses e do povo. Durante muito tempo essa ideologia continuou no antigo Oriente Próximo até o período da m onarquia israelita.
40.12. ordem no cosm os. Era tarefa da divindade principal colocar ordem no cosmos. No Enuma Elish (épico babilónico da criação), a divindade Marduque, após ter derrotado a deusa Tiam at, "atravessou os céus e vistoriou as regiões; ajustou o abrigo de Apsu, a morada de N udimm ud e mediu as dim ensões de A psu ". Ele continuou a organizar as constelações, imagens astrais divinas e outros corpos celestes.40.13,14 . concílio dos deuses no antigo O riente Próximo. No antigo Oriente Próximo as principais decisões eram tomadas no concílio divino. Lá os deuses se consultavam e compartilhavam informações e opiniões. No épico babilónico da criação, Apsu e Tiamat, os deuses que geraram todas as criaturas viventes, tinham como seu conselheiro de confiança M ummu, que muitas vezes os repreendia. Quando o alto concílio dos deuses se reuniu para determinar como atacar Tiam at, eles se em bebedaram e subseqüentem ente escolheram M arduque como seu rei, aceitando suas duras exigências de controle absoluto. Isaías insiste que Yahw eh não tem conselheiros nem trabalha em conjunto com uma assembléia de deuses (embora acreditava-se que um concílio divino semelhante estivesse em funcionamento; ver o comentário em Ex 20.3 e 2 Cr 18.18).40.15. pó qu e resta na balança. O pó da terra era usado para expressar humilhação, pequenez e insignificância no Antigo Testamento. Nessa passagem, o pó das nações não faz diferença nas balanças. Os babilônios não levavam em conta um pouco de poeira que ficava nas balanças quando carne ou frutas estavam sendo pesadas.40.16. florestas e vida selvagem no L íbano. Os israelitas consideravam que a terra com as maiores florestas e com m aior variedade de espécies animais era o Líbano. Além de fornecer madeira para o templo de Salomão, os cedros do Líbano foram usados para fabricar barcaças sagradas no Egito e os navios de Tiro. E, ainda, os assírios cobravam um tributo sobre a madeira do Líbano para construção de templos.40.19. confecção de ídolos. A s imagens no antigo Oriente Próximo eram fundidas ou entalhadas. ídolos de m adeira eram confeccionados por um escultor que estendia um a linha sobre a madeira para m edir o comprim ento e a largura da imagem. Depois ele fazia um esboço do ídolo com seu estilo, e com o cinzel desbastava o excesso de madeira e dava form a à imagem, colocando cada parte do corpo na proporção certa. Aqui, porém, a referência é claram ente a imagens fundidas. Elas tinham de 10 a 25 centímetros de altura. O molde era feito revestind o pequenas estátuas de cera com argila, derretendo a cera e assando a argila. O bronze então era derramado no m olde através de um tubo na base dos pés que m ais tarde serviria com o um pino
para fixar o íd olo n um a base de m adeira. O m etal fundido era então revestido de lâmina de ouro ou prata usando um pequeno martelo para prendê-lo às pontas que tinham essa finalidade. Havia também encaixes ou ranhuras no m etal fundido para que os fios de ouro ou prata (NVI: "correntes") pudessem ser introduzidos. Depois um a sólida madeira era escolhida como base. Sugestões recentes identificaram a madeira como sissó, parecida com a teca, árvore originária da índia. Literalm ente m ilhares de ídolos foram desenterrados por arqueólogos em todo o Oriente Próxim o.40.22. cúpula da Terra. A imagem do Universo descrita aqui é a visão cosm ológica com um do antigo Oriente Próximo. O céu era uma cúpula que formava uma abóbada sobre o disco da Terra, que por sua vez se assentava sobre o oceano primevo. Debaixo desse oceano ficava o m undo inferior, literalm ente um a im agem em espelho do espaço em cim a da Terra. P ortanto, todo o U niverso era um a enorm e esfera, cortada ao m eio pela terra. Não obstante, aqui é o próprio planeta que é descritao como circular. N a literatura babilónica, Shamás é louvado como aquele que suspende dos céus o círculo das Terras. Igualmente, em uma oração a Sham ás e Adad, Adad faz chover sobre o círculo da Terra. O círculo simplesmente reflete a curvatura do horizonte (portanto, em form a de disco) e não uma esfera (para a qual existe outra palavra no hebraico). No mundo antigo, a Terra era considerada circular.40.26. deuses criadores. Existem muitas tradições a respeito da criação em todo o antigo Oriente Próximo. Poucas delas, porém, falam da criação dos céus ou das estrelas. No prólogo a um tratado astrológico sumério, os três grandes deuses An, Enlil e Enki, são reconhecidos por estabelecer os céus e os deuses astrais e decretar o curso deles. Marduque, no épico babilónico da criação, recebe da assembléia dos deuses o poder de criar e faz um teste destruindo e recriando uma constelação. Após derrotar Tiamat, ele estabelece as posições dos grandes deuses e fixa as constelações.40.26. nom es dos exércitos celestiais. No épico babilónico da criação, M arduque construiu estações para os deuses nos céus e fixou sua semelhança astral (i.e., corpos celestes) como suas imagens. Logo, apesar de não ter de fato dado nom e às estrelas, ele nom eou um a divindade para cada respectiva estrela.40.27. 28. deuses desinteressados ou cansados. No mundo antigo, os deuses eram vistos com fraquezas hum anas e com freqüência não estavam atentos ou simplesmente desconheciam eventos que estavam em andam ento. U m resultado disso era que o panteão dos deuses estava constantemente logrando ou enganando uns aos outros. Por exemplo, quando Enlil causou um dilúvio para destruir a humanidade, Enki o
logrou salvando um rem anescente de hum anos. É provável que Enki, por sua vez, foi enganado quando aconselhou o humano Adapa a rejeitar o "pão da m orte" na presença de Anu, o sumo deus. Em vez do "pão da m orte", Anu ofereceu a A dapa o "p ão da vid a", aparentem ente apanhando Enki de surpresa. Os deuses não eram infatigáveis. Eles tinham necessidades de alimento, bebida e abrigo. Na verdade, os humanos foram criados para fazer o trabalho pesado que os deuses não queriam fazer.
41.1-29O ajudador de Israel41.1. ilhas. As ilhas são uma referência às terras distantes do Mediterrâneo. A palavra descreve qualquer lugar que pode ser alcançado através de viagem por m ar.41.7. artesão/ourives. Ver o comentário em 40.19. Neste versículo, o artesão é quem prepara o m olde e cria a estátua de metal fundido. O ourives fixa as lâminas e incrustações de ouro e de prata depois o que trabalha com o martelo aplaina (alisa) e lustra (dá polim ento) ao revestimento. O último passo é difícil de traduzir porque está cheio de termos técnicos, m as parece referir-se à introdução do prego (pino) no buraco da base de madeira.41.11, 12. sem elhança entre oráculos proféticos do antigo O riente Próxim o. Os oráculos proféticos não eram exclusivos em Israel. Eram um tema comum em certos períodos da Mesopotâmia. O maior acervo de oráculos proféticos encontra-se na cidade de M ari no médio Eufrates (c. 1800 a.C.). Em sua maioria esses oráculos tratam de um plano mundano, apresentando exigências (geralmente de natureza material) ao rei e seus conselheiros. M uitas vezes tam bém estão relacionados ao bem-estar do rei. Mais próximo à época de Isaías, os reis assírios Esar-Hadom e Assurbanipal receberam oráculos relacionados à responsabilidade do rei de apascentar seu povo e agir de form a ju sta. Assim como os versículos aqui em Isaías, eles prom etem vitória contra os inim igos. Em um a profecia a Esar-Hadom, Istar afirma que seus inimigos rolarão diante de seus pés "com o maçãs m aduras".41.15. debulhador. O debulhador era uma grande pá de madeira com dentes de pedra ou ferro. Era usado para separar o cereal da palha antes de ser peneirado.41.16. peneira. O processo de peneira geralmente era feito no topo de montes, onde o vento levava a palha e perm itia que os grãos caíssem no solo. O cereal era jogado para cima com pás de madeira ou peneiras. Existem inúmeras ilustrações desse processo em relevos de paredes funerárias no Egito.41.19. reflorestam en to . O reflorestam ento de áreas era feito em pequena escala no mundo antigo. Os reis
assírios plantaram m uitos "jard ins" em suas principais cidades, inclusive centenas de árvores, mas isso não pode ser considerado um reflorestamento em termos integrais.41.25. paralelo entre norte e nascente. Não há contradição aqui, visto que ambas as afirmações dizem respeito a Ciro, rei da Pérsia, que era do oriente mas pisou nos "governantes" (Babilônia) do norte, conquistando a Armênia e o norte da Mesopotâmia primeiro. O m esm o Ciro é descrito vindo do leste (41.2).
42.1-25O servo do Senhor42.5. criador dos Céus, da Terra e das pessoas. Os deu
ses criadores do antigo Oriente Próximo eram mais limitados na sua abrangência da criação. Com freqüência os elementos cósmicos são gerados pela procriação dos deuses, em bora em algumas versões esse processo pode ter sido supervisionado por um a divindade criadora. Especialmente nas tradições m esopotâmicas, as pessoas são criadas por uma divindade distinta. As tradições egípcias apresentam a tendência de fundir a atividade criadora em um a única divindade.42.9. proclam ando o passado e o futuro. Os deuses do antigo Oriente Próximo não eram capazes necessariam ente de predizer o futuro. O futuro estava nas m ãos do Destino, uma força impessoal que controlava a sorte das coisas. Enki, o deus da sabedoria, usava um chapéu de feiticeiro, mostrando que tentava controlar e predizer o destino, tal como um feiticeiro humano. O futuro estava escrito em tabletes e quem os controlava tinha em mãos o destino do Universo. Se caíssem em m ãos erradas, haveria caos no mundo. Em um mito, uma divindade-pássaro (Anzu) roubou os tabletes do destino, causando um verdadeiro alvoroço na comunidade divina, até ser morto. De qualquer maneira, não era da natureza dos deuses predizer o futuro, ao contrário, era um atributo que eles desejavam possuir e controlar.42.11. Quedar e Selá. Quedar era uma tribo nômade árabe que vivia no norte da Arábia entre Edom e a Babilônia, enquanto Selá era um a capital edom ita, possivelmente localizada na área que mais tarde seria Petra. Ambos representam áreas remotas do deserto e das montanhas, convidadas a adorar a Yahweh.42.13. gu erreiro d iv ino . N a tem ática do guerreiro divino, a divindade luta contra as divindades do ini
migo, derrotando-as nas batalhas travadas. N a Assíria, Nergal é o rei da batalha e Istar é considerada a deusa da guerra. O deus cananeu Baal e o babilônio M ar- duque tam bém são guerreiros divinos. Esses duelos entre os deuses não devem ser encarados como uma "guerra santa", já que no antigo Oriente Próximo não
havia outro tipo de guerras. Na m aioria das situações, faziam -se orações e consultavam-se presságios a fim
de assegurar a presença da divindade nas frentes de
batalha. Imagens ou símbolos (bandeiras e estandartes) da divindade eram carregados para representar
sua presença com o exército. Os reis assírios dos sécu
los oitavo e nono referem-se regularmente ao símbolo divino que vai à frente deles. Os assírios acreditavam
que os deuses concediam poderes às armas do rei e
lutavam adiante dele ou ao seu lado.
42.22. paralelo entre cavernas e prisões. Quando não
havia prisões ou ficavam distantes, cavernas ou fossos eram utilizados com freqüência para m anter prisio
neiros temporariamente. Na verdade, tanto em Israel
com o n a B a b ilô n ia , as p risõ es ex istiam p rim o r
dialmente para a detenção de indivíduos à espera de julgam ento ou para manter presos políticos.
43.1-28 A misericórdia de Deus para com Israel43.3. Egito, Etiópia (Cuxe) e Sebá. Os persas invadiram com êxito o Egito e obtiveram o controle da Etiópia
durante o reinado de Cambises, sucessor de Ciro. A localização de Sebá ainda causa controvérsias.
43.14. b ab ilôn io s com o fu g itiv os nos navios. Essa
passagem está descrevendo a derrota e a captura da
Babilônia (i.e., caldeus) por Ciro. Em bora esse incidente não seja citado em outras fontes, aparentemente
os caldeus tentaram em vão fugir em seus próprios
navios, navegando pelo Eufrates em direção ao golfo
Pérsico.43.15. divindade como rei. M uitas nações do antigo
Oriente Próximo consideravam o deus como o verda
deiro rei da Terra; o governante terreno era um mero "vice-rei" da divindade. Por exemplo, os reis assírios
eram regentes em nome do deus Ashur. M arduque
era rei na Babilônia, assim com o Baal, em m uitos Estados cananeus. Até mesmo na antiga Suméria, Enlil
era o rei dos deuses. De fato, o reinado em si era
descrito em sumério como o "Enlilado" (Enlilutu).43.24. cana arom ática. A cana arom ática ou cálamo
(conhecido como acorus calamus na Botânica) era usada
na fabricação do incenso. É uma cana com forte aroma que crescia nos pântanos da Síria e era importada da
índia para o ocidente.43.24. gordura. As partes gordas do animal também
deviam ser incluídas no sacrifício. N em a gordura nem o sangue podiam ser com idos. O sangue era
escoado e depois aspergido sobre o altar. A gordura era sempre queim ada sobre o altar como parte essen
cial do sacrifício. Para mais informações, ver o comentário em Levítico 3.4.
44.1-5 Israel, o escolhido do Senhor44.2. Jesurum . Jesurum era um nome carinhoso para Israel (ver Dt 32.15; 33.5, 26). O significado do nome é de certa forma obscuro, mas alguns estudiosos acreditam que seja derivado de um radical hebraico que significa "justo, honesto, direito".44.5. escrever na m ão. Escrever na m ão provavelmente se refere à marca do senhor que um escravo levava na mão (ver 49.16). A s m arcas em escravos eram comuns em todo o Oriente Próximo. Por exemplo, em muitos períodos na M esopotâm ia o escravo era obrigado a identificar-se como tal, rapando metade dos cabelos. A m arca na m ão por tatuagem ou ferro quente também significa posse. Geralmente era o nome do proprietário que era gravado na mão direita. Centenas de cabos de jarros foram encontrados em Israel que remontam à Idade do Ferro, com inscrições 1'mlk, "pertence ao rei".
44.6-20 A insensatez da idolatria44.10-14. ferreiro e carpinteiro n a confecção de im agens. Ver os comentários em Isaías 40.19 e 41.7. Em cópias do épico de Erra e Ishum , do oitavo século, M arduque fala da confecção de sua imagem. O processo começa com a madeira de um a árvore sagrada cujo topo toca os céus e cujas raízes alcançam o mundo inferior. O papel do habilidoso carpinteiro e do ferreiro manuseando ferramentas é retratado e os artesãos são louvados por sua habilidades.44 .17 ,18 . como as im agens "ganham vid a". Os antigos não acreditavam que o ídolo era a própria divindade, mas sim um a representação dela. Porém , eles criam que o espírito da divindade vinha habitar na imagem e, portanto, dirigiam suas orações à imagem como se fosse o próprio deus. Os deuses do antigo Egito eram consagrados em um ritu al cham ado a Abertura da Boca. A vida era simbolicamente concedida a eles de m odo bastante semelhante ao ritual da Abertura da Boca que dava vida a uma múmia. Havia um ritual com o esse na M esopotâm ia também, realizado para purificar e introduzir no templo a im agem divina. O m esm o ritual era repetido quando a imagem entrava em contato com algo impuro ou com pessoas impuras.
44.21-28 Jerusalém será habitada44.24. sozinho estendi os céus. O fato de que a Bíblia retrata Yahw eh sem um panteão de deuses à sua volta significa que todas as atividades divinas são feitas exclusivamente por Ele. Essa visão é contrastante com muitas tradições do antigo Oriente Próximo, em
que diversas divindades estavam envolvidas com diferentes aspectos da criação. Outra crença comum nas tradições da criação do antigo Oriente Próximo é que os elementos cósmicos passaram a existir através do nascimento de deuses associados a esses elementos, e não pela ação criativa de uma divindade. Esse conceito de criação através de procriação defende que a cosm ogonia (origem do cosmos) está relacionada à teogonia (origem dos deuses). Tal conceito é rejeitado
neste texto. Yahw eh não tem consorte e, portanto, nem Ele nem o cosmos são resultado de procriação. Tampouco Ele executa sua atividade criadora através da procriação. (Algumas inscrições encontradas na Palestina dão a entender que alguns israelitas acreditavam que Aserá, uma deusa cananéia, era a consorte de Yahweh. Esses textos contradizem frontalmente os escritos do Antigo Testamento).44.25. faz de tolos os adivinhadores. Esse versículo está ligado ao anterior pelo fato de que os presságios consultados pelos adivinhadores assírios e babilônios eram provenientes do Céu e da Terra. N a verdade, prognósticos importantes tinham de ser confirmados por presságios de ambos esses domínios. Como o Céu e a Terra foram criados por Yahw eh, está implícito que Ele controla qualquer sinal dessas duas esferas. Os profetas supostamente estariam dando mensagens oriundas da divindade e os adivinhadores, usando suas artes para determinar o que os deuses estavam planejando fazer, o que era feito através da leitura dos presságios e sinais dos céus e da Terra. Esses profissionais, portanto, teoricamente ofereciam a constante transmissão dos planos divinos quanto ao curso dos eventos políticos. Quando os planos de Yahw eh concretizaram eventos completamente imprevistos, aqueles que eram considerados sábios foram desmascarados como farsantes.
44.28. Ciro. Ciro nasceu por volta de 590 a.C. na atual província iraniana de Fars. Q uase nada se sabe a respeito dele até ascender ao trono da Pérsia em 559a.C., exceto por algum as lendas sobre sua infância, escritas por Heródoto, o historiador grego.44.28. alicerces do tem plo. Todos os templos do antigo Oriente Próximo eram construídos em alicerces. A construção de templos na M esopotâm ia era acompa
nhada de certas cerimônias que não são plenamente com preendidas. Uma série de itens era depositada nos alicerces das construções. Essa é um a informação presente em inscrições de prédios e textos rituais e também nos próprios depósitos de alicerces encontrados por arqueólogos. Os depósitos incluíam objetos com forma de pino ou prego, sacrifícios animais, cones, cilindros e tabletes. Um dos principais objetivos desses depósitos era fazer um memorial da construção
do edifício (para mais informações, ver os comentáriosem Ed 3.3 e 3.10).
45.1-25 A redenção de Israel45.1. os fe itos de Ciro. Ciro, rei da Pérsia, foi um dos m aiores conquistadores da história do mundo. Ele herdou o trono da Pérsia de seu pai, Cambises I, em 559. Em 556 o rei babilônio Nabonidu, motivado por um sonho, abandonou o tratado que seu país tinha mantido com os medos por mais de m eio século e fez um tratado com Ciro. Isso garantiu a Ciro a liberdade de avançar contra os medos (governados por seu avô Astyges), por ele derrotados em 550. O novo Império Medo-Persa foi assim formado, com controle sobre a totalidade do Irã. P or volta de 546, ele derrotou o reinado anatólio de Lídia e Iônia. Nos cinco anos seguintes consolidou o controle das tribos do nordeste do Irã. Todo seu sucesso abriu caminho para seu feito mais honroso, a conquista da Babilônia em 539 a.C.. Todo o Oriente Próximo (exceto o Egito) estava debaixo do controle dos persas quando Ciro foi morto na batalha de 530.45.2. portas de bronze, trancas de ferro. O historiador grego Heródoto descreveu a Babilônia com "cem portas no circuito completo dos m uros, todas de bronze com batentes e vergas de bronze". Enormes portas de bronze do período assírio foram desenterradas em Balaw at, dando um a idéia de como os m uros babilónicos teriam sido. As portas eram trancadas por meio de barras que cruzavam a entrada e o ferro obviam ente seria o material mais difícil de quebrar (ver o comentário em Dt 33.25).45.4. relig ião de Ciro. É quase certo que Ciro não era um adorador de Y ahw eh. Em suas inscrições seu politeísm o fica evidente. Em um caso, ele pede que todos os deuses intercedam por ele a Nabu e Mardu- que, seu senhor e a quem afirma adorar. Outros indícios sugerem que Ciro era um zoroastriano (religião baseada nos ensinos de Zaratustra, um santo iraniano que viveu em algum tem po no início do prim eiro m ilênio a.C.). O zoroastrianismo floresceu durante o império Aquemênida no Irã (para mais informações, ver o comentário em Ed 1.2). Em bora não haja nenhum a evidência concreta do zoroastrianismo até os reinados de Dario I e seu sucessor Xerxes I, os nomes dos filhos de Ciro demonstram a influência zoroastriana, e afirma-se que ele teria erigido um pedestal de fogo (importante no culto zoroastrista) para o ritual diário do rei.45.13. a política de Ciro de retom o e reconstrução.Judá não foi a única terra que se beneficiou da política de Ciro de retom o dos exilados ao seu lugar de origem e reconstrução das principais cidades de uma
área destruída. Por exemplo, ele afirma ter restaurado Marduque à sua posição de direito como deus da Babilônia. Ele afirm a ter enviado m uitos povos de volta à sua terra natal (inclusive deportados babilônios) e restaurado seus templos e outros prédios públicos (para mais informações, ver o comentário em Ed 1.2-4). Muitas estruturas babilónicas foram reconstruídas durante o reinado de Ciro.45.14. Egito, Etiópia (Cuxe), sabeus. Um importante canal foi construído no m ar Verm elho pelos persas durante o reinado de Dario I ligando as culturas ao redor do Nilo (Egito e Etiópia) com a Arábia (sabeus). Esse canal facilitava o fluxo de navios entre os dois continentes. Ver também o comentário em 43.3.
46.1-13 Os deuses da Babilônia46.1. Bei. Bei não era um nome próprio na Babilônia, m as era o equivalente acadiano de "senhor" (hebraico, B áa l). A divindade suméria Enlil, de Nipur, era cham ada "senhor", um título dado também a Marduque, o deus da Babilônia em períodos posteriores. Marduque era o deus principal da Babilônia, seu padroeiro e o chefe do panteão. O épico babilónico da criação, Enuma Elish, na verdade é um m ito que narra Marduque sendo elevado a essa posição, o que acredita-se teria acontecido no final do segundo milênio. Ele era considerado o filho de Enki, o padroeiro de Eridu e um dos m em bros da m ais augusta tríad e antiga. Embora com freqüência vejam os Baal na Bíblia como o principal rival de Yahweh, nenhuma divindade no primeiro milênio teve o impacto político de Marduque. Seu principal santuário era o templo Esagila ("templo com a cabeça exaltada"), na Babilônia, relacionado ao famoso zigurate, Etem enanki ("alicerce do céu e da terra").46.1. N ebo. N ebo (acadiano, N abu) era o deus de Borsippa, um a cidade perto da Babilônia. Ele era o deus da sabedoria, a divindade padroeira dos escribas e o filho de Marduque. Sua importância no período neo-babilônico é demonstrada pelo fato de que a maioria dos reis tinha nom es que faziam referência a N abu (p. ex., Nabucodonosor, Nabonidu). Ele já era proeminente n a época de Isaías, como é demonstrado no fato de Sargão ter feito de seu santuário o mais importante de sua nova capital, a cidadela chamada Dur-Sharruken (Khorsabad). Um a inscrição do oitavo século exorta os adoradores a confiar em Nabu e em nenhum outro deus.46.1. 2. ídolos levados cativos. As festas babilónicas costumavam ser ocasiões em que os ídolos dos deuses eram carregados em grandes procissões. M as essa passagem não se refere a um desfile de vitória. Existem muitos exemplos de imagens de divindades mesopo-
tâmicas levadas cativas durante batalhas. Marduque, o deus da Babilônia, foi levado cativo e removido da Babilônia em diversas ocasiões. O s hititas em 1595a.C., Tukulti-Ninurta I, rei da Assíria (1244-1208 a.C.) e Senaqueribe (705-681 a.C.) saquearam a Babilônia e levaram a estátua de Marduque, que nos três casos, após algum tempo, acabou sendo devolvida.46.6. uso de ouro e prata na confecção de im agens. Ver as notas em 40.19 e 41.7.46.7. tratam ento e uso dos íd olos. As im agens das divindades na Mesopotâmia eram alimentadas, vestidas e até mesmo lavadas diariamente. Todos os dias sacrifícios de comida eram oferecidos à divindade (e sem dúvida, comidos pelos funcionários do templo). A lguns criados tinham de vestir e despir a estátua enquanto a tarefa de outros era lavar e transportar a estátua em tempos de celebração.46.10. divindade com propósito. Os deuses do antigo Oriente Próximo não eram capazes de controlar o destino do mundo sem ajuda. Na Mesopotâmia existiam os "tabletes do destino", textos que continham o destino de todas as coisas que há no Universo (inclusive dos deuses). Quem controlava esses tabletes tinha em mãos o destino do Universo. Ocasionalmente eles iam parar em "m ãos erradas", ocasionando caos. Alguns deuses, inclusive Enki, usavam chapéu de feiticeiro, demonstrando que tinham a habilidade de controlar e prever o futuro, m as apenas através de feitiços e encantamentos. Ao contrário deles, Yahw eh controlava todas as coisas sem ter de recorrer a meios superficiais como tabletes ou feitiços (ver o comentário em14.26, 27).
47.1-15 A queda da Babilônia47.1. virgem cidade de Babilônia. Os escritores bíblicos, assim como seus colegas da escrita cuneiforme, com freqüência descrevem as cidades com características femininas. O termo "virgem cidade" era usado para dirigir-se a um a comunidade que enfrentara o desastre e a ruína. N o antigo Oriente Próxim o ninguém era considerado um a vítim a de guerra m ais desamparada do que a jovem solteira. A derrota muitas vezes implicava na perda de um marido pretendido, bem como da virgindade, nas m ãos dos saqueadores vitoriosos. A Lamentação por causa da Destruição de Ur, um texto literário do início do segundo milênioa.C., descreve a queda da cidade de Ur usando essa m esm a im agem .47.2. m oer o trigo como um a ocupação vil. O processo de m oagem do trigo para fazer farinha era um a das tarefas m ais servis, com freqüência feita por jovens escravas, tanto no Egito como na M esopotâmia (ver os comentários em Êx 11.4 e Jz 16.21).
47.2. véu. Na maior parte das culturas do antigo Oriente Próximo, um a m ulher casada andava em público parcialmente coberta por um véu e essa era a marca de seu estado de m ulher casada. Essa prática é en contrada nas Leis M éd io-A ssírias. Escravas ou concubinas não tinham condições de adquirir um véu e de qualquer m aneira não tinham o direito legal de usá-lo.47.2. atravessar riachos. Praticamente não havia pontes no mundo antigo, logo, rios e riachos tinham de ser atravessado nas vaus. U m escravo tinha de atravessar um curso de água a pé, em contraste com a pessoa rica que era carregada num a carruagem ou cadeira por criados.47.5. cidade (filha) dos babilôn ios. Essa terminologia é usada na literatura acadiana para referir-se aos habitantes do sexo feminino de um a região, cidade ou povo. Aqui a referência é à cidade da Babilônia, personificada, um uso não observado na literatura babilónica que foi preservada.47.8. "Som ente eu, e m ais n in gu ém ". O uso da expressão "som ente eu " ou "e u sou " im ediatam ente teria lem brado o público israelita de algo em sua história (ver Êx 3.14). Não havia afirmação mais arrogante a ser feita por esses reis. U m rei assírio do século nono, Assumasirpal, tinha um a lista de onze títulos "E u sou" para si mesmo.47.9. fe itiçarias e palavras de encantam ento. A Babilônia era famosa no m undo antigo por suas práticas de m agia e adivinhação. Literalm ente m ilhares de textos foram descobertos, abordando inúmeros temas, inclusive encantamentos que ajudavam a aliviar uma dor de dente, um bebê entalado a sair do ventre e uma m ulher estéril a ter filhos. Parece que a pessoa comum contratava um sacerdote de encantamentos até m esmo para as questões m ais m undanas do cotidiano. O sacerdote então vinha e recitava um feitiço para exorcizar o demônio que estava causando o problema ou aplacar alguma divindade irritada. Os babilônios tam bém recorriam a esses sacerdotes para evitar desastres que tinham sido ameaçados ou identificados em presságios. O s encantamentos tinham o objetivo de amarrar magicamente as forças sobrenaturais que representavam uma ameaça.47.11. m eios de evitar catástrofes prognosticadas. Existem m ilh ares de textos de p resság ios em que os babilônios tentavam prever e controlar eventos futuros. A pessoa comum recorria a um sacerdote prog- nosticador antes de tom ar qualquer decisão importante. O sacerdote recitava o presságio apropriado, que dizia ao indivíduo o que esperar no curso de determinada ação. Os presságios estavam relacionados a eventos históricos, da mesma forma que os sintomas são relacionados ao surgimento de doença. Sendo assim,
o indivíduo que temesse uma catástrofe prognosticada tentava evitá-la não participando de uma atividade específica que pudesse ser maléfica. Por exemplo, havia certos dias em que marido e m ulher não deviam praticar relações sexuais, visto que esses dias pressagiavam desgraças (inclusive a m orte). Em outras situações, o indivíduo contratava o sacerdote para proferir feitiços e encantam entos que neutralizariam o evento catastrófico. São bastante conhecidos os rituais nam burbu para ev itar o m al em que além de atos rituais, orações padronizadas eram dirigidas aos deuses. Não era permitido recorrer a tais procedimentos se não houvesse nenhum indício de perigo iminente.47.13. astrólogos e fitad ores de estrelas. Na M esopotamia, um meio de ler a sorte que competia com a adivinhação era a astrologia. No final do Período Assírio (c. 900-612 a.C.) regularmente prestava-se relatórios ao rei acerca da aparição da lua e dos planetas, com comentários sobre o que esses sinais prediziam. Parece que os babilônios inventaram os doze signos do zodíaco por volta de 500 a.C., quase na m esma época que Ciro, rei da Pérsia. Para mais informações, ver os com entários em Isaías 2.6; Deuteronôm io 18; Josué10.12. 13; 2 Reis 23.4.
48.1-22 A libertação de Israel48.10. refino da prata. A prata no mundo antigo era refinada por um processo em que era derretida a fim de extrair dela componentes básicos. Artesãos da prata bem como ourives usavam foles para ventilar suas fornalhas e fundiam seus produtos com a ajuda de esteatita ou moldes de argila. Para m ais informações, ver o comentário em 1.22.48.13. céus e terra. V er os com entários em 40.12 e42.5.48.14. cam panha de C iro contra a B ab ilô n ia . Ciro deu início a um a campanha contra Nabonido, rei da Babilônia, uma ação confirmada em fontes babilónicas posteriores. O rei persa avançou contra a Babilônia em 539 a.C. e lutou um a batalha vitoriosa em Opis, oitenta quilômetros ao norte-nordeste da Babilônia, às m argens do Tigre, no início de outubro. No dia onze de outubro, Sippar (quarenta quilómetros ao norte da Babilônia) sucumbiu. No dia treze de outubro, o exército persa entrou marchando pacificamente na Babilônia, recepcionado pela população local. O próprio Ciro entrou na cidade no dia trinta de outubro e foi proclamado seu libertador.
49.1-26 O servo do Senhor traz libertação e restauração49.1-7. reis com tarefas de libertação por ordens divinas. Embora no antigo Oriente Próximo os reis rece
bessem responsabilidades dos deuses, geralmente eles encaravam sua principal tarefa a de conquistar e não a de libertar. Ciro, rei da Pérsia, foi considerado pelos sacerdotes de M arduque e pela cidade da Babilônia como um salvador do regime opressivo. No prólogo de suas leis, Hamurabi afirma ser aquele que ajunta o povo espalhado da cidade de Isin e dá abrigo ao povo da cidade de Malgium.49.2. boca como espada afiada. A figura da espada também é usada para referir-se à palavra do profeta (ver Jr 23.29) e, no Novo Testamento (p. ex., G1 6.17), à Palavra de Deus. Visto que a espada era um a arma de ataque, a im plicação é que a palavra é de certo m odo agressiva. U m a das palavras hebraicas para boca (péh) também significa gume, como em "gum e da espada". Portanto, pode ser que haja um jogo de palavras neste versículo.49.9, 10. características da restauração. Na literatura assíria, o reinado justo de um rei é caracterizado pela prosperidade, adoração diligente, regozijo, libertação de prisioneiros, cura de enfermidades, unção com óleo e suprim ento de comida e roupas aos necessitados. Elementos semelhantes são projetados na restauração de Yahw eh a seu povo e se tornaram característicos do perfil messiânico.49.11. construção de estradas. Ver o comentário em40.3.49.12. Assuã (Sinim ). Sinim era a cidade da primeira catarata do Nilo, a antiga fronteira entre o Egito e Núbia, no sul. O local mais tarde foi citado em fontes gregas como Elefantina e é a atual cidade de Assuã.49.16. gravar n as palm as das m ãos. O significado dessa figura é que Jerusalém seria gravada (ou tatuada, embora isso fosse proibido; ver Lv 19.28) na carne de Deus e portanto estaria em sua mente permanentemente. Ver o comentário em 44.5.49.16. ornam entos da noiva. A noiva israelita às vezes usava vestes bordadas, jóias, uma grinalda especial e um véu. N essa passagem , a noiva veste um cinto ornamental. H á m uitos textos da Mesopotâmia que descrevem a troca de presentes entre duas famílias por ocasião de um casamento, mas pouco se diz a respeito da indum entária da noiva ou da cerimônia em si.49.26. im agem . As expressões "com erem sua própria carne" e "ficarão bêbados com seu próprio sangue" provavelmente são metáforas cujo significado é que serão reduzidos ao m áximo (ver comentário em 9.20).
50.1-11 O pecado de Israel50.1. filh os vendidos aos credores. Quando alguém fazia um empréstimo ou uma hipoteca no antigo Oriente Próxim o, a garantia do pagam ento era através
do penhor de algum objeto pessoal. Quando não havia bens para serem confiscados, os devedores ou membros de sua fam ília podiam ser vendidos como escravos. Por exemplo, as Leis M édio-Assírias regulavam a fiança de filhos para saldar as dívidas. Naturalmente, os fam iliares faziam grandes sacrifícios para garantir que os membros da família permanecessem dentro da estrutura familiar. Ver comentário em Êxodo2 1 .2 - 6 .
51.1-23 A salvação eterna para Sião51.6. fim dos céus e da terra. Esse não é um versículo apocalíptico que descreve o fim do mundo. O escritor pretende enfatizar a permanência da salvação de Deus, que é mais duradoura que a própria criação em si. No antigo O riente Próxim o, o U niverso (ou m elhor, a matéria) era uma entidade não criada. N o épico babilónico da criação, a m atéria aparentem ente sempre existira e, mais tarde, através dela M arduque formara os céus, a Terra e o mundo inferior. Não se trata da discussão concernente ao fim do mundo material.51.9. M onstro dos M ares (Raabe). Em bora não seja mencionado em nenhum outro texto fora da Bíblia, o termo Raabe é comparável ao monstro do caos, Leviatã, que também assume a forma de uma serpente que se contorce (Jó 26.12, 13; ver o comentário em Is 27.1). Raabe tam bém é usado como sinônim o para Egito. Por exemplo, em Salmo 87.4 as principais nações são alistadas como subjugadas pelo poder de Yahw eh. Raabe, o nome metafórico do Egito, é colocado ao lado da Babilônia em termos de importância. Ver o comentário em 30.7.51.14. prisioneiros libertos das m asm orras. Embora a m aioria dos deportados para a Babilônia não fosse m antida presa, alguns eram prisioneiros políticos. Fossos eram usados como prisões em grande parte do antigo Oriente Próximo. A idéia moderna de prisão onde os detentos são reabilitados à sociedade como bons cidadãos era totalmente estranha ao mundo antigo. Os prisioneiros, fossem eles devedores, criminosos à espera de julgam ento ou presos políticos, eram todos mantidos em confinamento.51.18. im agem dos filh os cuidando dos pais idosos. N a M esopotâm ia e tam bém em Israel o filho m ais velho recebia um a parte m aior da herança do que os outros filhos com o objetivo de cuidar dos pais em sua velhice. A imagem aqui mostra Jerusalém como uma m ãe sem nenhum filho para cuidar dela no fim de seus dias.51.20. in ício de cada rua. Algumas cidades no antigo O riente Próxim o dão evidências de ter sido grandemente planejadas. A regra, porém, especialmente em cidades pequenas, era um a formação bastante ca-
suai e "caótica", sendo que não havia muitas ruas de fato m as muitas passagens ou áreas abertas em que não existiam casas construídas. O "início de cada rua" refere-se a um a esquina ou cruzam ento. A maioria das cidades e vilas era formada por blocos de casas com vielas e becos sem saída abertos aleatoriamente, sem ruas que se cruzavam. As interseções aconteciam quando chegava-se a uma praça aberta.51.23. andar sobre cativos. Os reis egípcios do início do terceiro m ilênio a.C. são retratados pisando nos corpos de inimigos derrotados. Por exemplo, Narmer, possivelm ente aquele que unificou o Egito, é visto com um bastão esmagando inimigos e andando sobre eles. Igualmente, os reis sumários de Lagash são ilustrados m archando sobre os cadáveres de seus inim igos. A tradição de pisar sobre o inimigo continuou até o primeiro milênio na Assíria e na Babilônia.
52.1-12 Sião é libertada52.11. u tensílios do Senhor. Os utensílios do Senhor eram os utensílios do templo que foram transportados para a Babilônia durante a conquista de Jerusalém (acerca dos utensílios, ver os comentários em 2 Cr 4). Foram devolvidos a Jerusalém durante o período persa. N o palácio de Senaqueribe, em Nínive, havia inúm eros objetos e artefatos da fortaleza judaica de Láquis.
52.13-53.12 O sofrimento e a glória do servo do Senhor52.14. re i desfigurado. Durante o festival babilónico de Akitu (no Ano Novo), o rei tinha de "tom ar a mão de Bei" (Marduque) e proclamar sua inocência como um monarca justo. No quinto dia dessa festa que durava onze dias, o rei era levado diante do sumo sacerdote que despia o m onarca de suas insígnias reais (bastão, laço e cetro) e lhe batia na face. O sacerdote então puxava o rei pelas orelhas e o forçava a prostrar- se no chão diante de Marduque, novamente proclamando sua inocência.53.4-10. ritos vicários no antigo O riente Próxim o. Orito do rei substituto era usado na Assíria quando maus presságios (especialmente um eclipse) sugeriam que a vida do rei estava em perigo. Esse rito é confirmado principalmente no reinado de Esar-Hadom, no início do sétimo século, mas havia sido praticado por mais de mil anos. Era baseado no princípio de que o mal podia ser transferido de um a pessoa para outra. Quando o período perigoso estava prestes a acontecer, o rei era trocado por um substituto sobre quem o mal recairia. Em alguns casos, esse substituto era considerado sem importância ou talvez fosse uma pessoa m ental ou fisicam ente lim itada. Ela era exaltada a
um a elevada posição por até cem dias, em bora às vezes, por um período m ais curto. Durante esse tem po o rei verdadeiro era mantido em isolamento relativo (um exílio) e participava de inúm eros rituais de purificação. Enquanto isso, o substituto passava pelos passos de tornar-se rei e assentar-se no trono. Era descrito como um pastor (um título comum para os reis mesopotâmios), mas talvez acreditava-se que ele era simplesmente uma ovelha prestes a ser sacrificada. N o final do período, o substituto era m orto para que o desígnio prognosticado dos deuses fosse cumprido. Os presságios haviam sugerido que era desejo dos deuses que ele morresse. Como um texto coloca, ele m orria para salvar o rei e o príncipe. Ele recebia um rico funeral oficial, uma oferta era dedicada e rituais de exorcismo executados (inclusive abluções e aspersões) para que os presságios fossem anulados e os dias do rei prolongados.53.4. cura de enferm idades. O mito ugarítico da luta entre Baal e M ot contém a história dos Rapiuma (salvadores ou curadores), liderados por Baal, que ressurgiram dos mortos. Acreditava-se que esses venerados ancestrais agissem em favor dos viventes. Eles curavam doenças fatais, ajudavam em questões de fertilidade e protegiam os hum anos contra os m ales da sociedade. Os Rapiuma, porém, não levavam sobre si as enfermidades dos mortais.53.7. ovelha calada diante dos tosquiadores. Textos do antigo Oriente Próximo muitas vezes descrevem a tosa de ovelhas, que se subm etiam em silêncio. A tosquia era feita anualm ente na prim avera, usando tesouras, que foram inventadas por volta do ano 1000a.C.. Um indivíduo podia tosquiar de vinte a trinta ovelhas em um dia.53.10. oferta pela culpa. A oferta de reparação tradicionalm ente era cham ada de oferta pela culpa. Embora o term o usado com freqüência seja traduzido como "cu lp a", é um a palavra que tem uma função m ais técnica no sistema sacrificial. Essa oferta tinha como objetivo reparar um tipo específico de ofensa - uma brecha na fé ou um ato de sacrilégio. A brecha na fé seria um a violação da aliança, enquanto o sacrilégio seria uma referência à profanação de áreas ou objetos sagrados. Ver o comentário em Levítico 5.1416. Nesse contexto, a violação da aliança por parte de Israel seria a causa m ais provável para um a oferta pela culpa ser necessária.
54.1-17 A futura glória de Sião54.2. alargar as tendas. Sião é vista aqui pela imagem patriarcal da tenda. Como uma mãe que fora abençoada com muitos filhos, Sião teria necessidade de uma tenda espaçosa. As tendas eram feitas de tiras de lã de
cabritos de pêlo escuro, tecidas à mão, com 90 centím etros de largura. Quando mais membros da família precisavam ser acomodados, faixas adicionais eram costuradas. As cordas que eram esticadas das estacas do centro até as estacas dos cantos tinham que ser maiores e as estacas tinham de ser mais fortes, com madeira mais grossa para sustentar o peso.54.4. vergonha da ju ventu d e, hum ilhação da v iu vez. A metáfora aqui é esclarecida no versículo 6. No m undo antigo, um a m ulher que não tivesse gerado filhos era considerada castigada pela divindade, incapaz de servir para a função para a qual se casara e, portanto, sujeita a ser rejeitada e abandonada pelo marido. A palavra traduzida como "juventude" aqui refere-se àquela que ainda não deu à luz filhos. Sua vergonha é sua esterilidade. Ela é um a viúva porque seu marido a abandonou (como a maioria dos contratos de casamentos permitia) e, portanto, é objeto de desprezo, com pouca esperança de casar-se de novo. Logo, ela é privada do sustento do marido e do cuidado que os filhos deviam dar aos pais na velhice.54.11. ed ificar com turquesas, alicerces com safiras. Um a tradução alternativa da palavra "tu rq u esa" é antimônio, que era usado como argamassa, especialmente para mosaicos. A palavra traduzida como "safira" geralm ente é considerada o lápis-lazúli, um a bela pedra azul de elevado valor no m undo antigo. O passeio da fam osa porta de Istar, na Babilônia, era contornado de intricados padrões com o fundo de tijolos azuis esmaltados que davam o efeito dessa pedra. Em um a obra conhecida como a Profecia de Uruk, afirma-se que um futuro rei construiria as portas de Uruk com lápis-lazúli.54.12. descrição da porta. A descrição do versículo anterior encaminha a abordagem deste verso. A palavra traduzida como "escudos" na verdade é "só is" e provavelmente refere-se aos escudos redondos, polidos usados com o guarnições ao longo do topo das torres que flanqueavam as portas. Eles são visíveis ao longo de todo o muro no retrato que Senaqueribe faz das fortificações de Láquis (ver também SI 84.11 para a associação entre o sol e o escudo). A escolha pela pedra "ru bi" feita pela NVI é uma conjectura; outras versões preferem jaspe. A palavra é usada apenas aqui e em Ezequiel 27.16, onde é alistada dentre os produtos exportados pela Síria. O cobre avermelhado e polido era popular para as portas e seria plausível para esses escudos com aparência de sol. O trabalho com as pedras na porta apresenta um tipo de pedra cintilante. A palavra traduzida como "m uros" é um termo técnico para paredes baixas que contornavam a passagem interior da porta (ver Ez 40.12). São descritos aqui como feitos de "pedras preciosas" - pedras de excelente qualidade, talvez com mosaicos.
54.17. invencibilidade. Desde o ataque assírio em 701a.C. havia uma tradição em Judá de que Jerusalém era invencível aos ataques de invasores. Essa idéia caiu por terra diante da conquista e destruição da cidade pela Babilônia (605-587 a.C.). A gora Isaías afirm a que no futuro a cidade será absolutam ente invencível.
55.1-13Convite aos sedentos56.8, 9. distinção entre o cam inho dos deuses e dos m ortais. No antigo Oriente Próxim o, havia um a sem elhança considerável entre as esferas divina e hum ana. H avia um a h ierarqu ia das divindades. Por exemplo, o panteão mesopotâmico era composto por um concílio de sete deuses no topo da hierarquia, seguido por inúmeros outros deuses, e m ais abaixo ficavam os deuses pessoais, anjos, demônios, heróis (humanos que haviam adquirido um status de semideuses) e por último vinham os humanos. Até mesmo os m ais elevados deuses se assemelhavam aos hum anos em seu caráter e comportamento, e estavam sujeitos a muitas das mesmas leis e limitações que os humanos. Eles não estavam acima do m undo natural, nem transcendiam a ele da forma como Yahw eh era considerado. Ao contrário, faziam parte da ordem natural. Não obstante, afirm ações como essas feitas aqui tam bém estão presentes na literatura m esopo- tâmica. A literatura sapiencial considera os caminhos dos deuses inescrutáveis. No Enuma Elish a proclamação dos cinqüenta nom es de M arduque serve para traçar seus caminhos.55.11. palavra não voltará vazia. A afirmação da soberania representada em ordens e comandos que não podem ser contrariados e são efetivos sem exceção é feita a respeito dos deuses do antigo Oriente Próximo tam bém . D esde o m ito sum ério Lugal-e, N inurta é louvado como aquele cujas ordens não são alteradas e cujas decisões são verdadeiramente executadas.55.13. reflorestam ento. Ver o comentário em 41.19.
56.1-57.21Salvação para os gentios56.2. a guarda do sábado. A guarda do sábado não tem paralelo em nenhum a das culturas do antigo Oriente Próximo e é distinta por não estar atrelada a nenhum padrão ou ritmo da natureza, tais como os ciclos lunares. Um term o sem elhante era usado em textos babilónicos para referir-se a um dia de lua cheia em que o rei oficiava ritos de reconciliação com a divindade, m as não era um dia de descanso e tinha pouco em comum com o sábado israelita. Na M eso- potâmia, dias específicos do mês eram considerados agourentos e com freqüência aconteciam a cada sete dias (ou seja, o sétimo dia do mês, o décimo quarto
etc.). O sábado israelita não era celebrado em certos dias do mês; simplesmente era observado a cada sete dias. Durante o cativeiro babilónico, o sábado passou a ser o indicador m ais notável dos adoradores de Yahw eh que compunham a comunidade da aliança. Portanto, tom ou-se um dos temas centrais no judaísmo pós-exílico (inclusive na época de Jesus).56.4, 5. eunucos no trabalho do tem plo. Esse termo hebraico às vezes refere-se simplesmente a um oficial da corte, mas m ais tarde passou a referir-se especificamente a eunucos. Os eunucos eram altamente valorizados no serviço do governo em m uitos diferentes papéis durante os períodos neo-assírios e neo-bai- lônicos. A grande demanda de eunucos fazia com que os jovens fossem incluídos no pagamento de tributos à Pérsia a fim de serem castrados e treinados para o serviço no governo. Eles não tinham fam ílias para que não tivessem a atenção distraída de suas tarefas. Com freqüência eram encarregados do cuidado e da supervisão do harém real. Por serem castrados, não apresentavam risco às mulheres do harém e não podiam ter filhos com elas que viessem a ser confundidos como herdeiros reais. A probabilidade de se envolverem em conspirações seria menor, porque não teriam herdeiros para colocar no trono. A A ssíria, Urartu e M édia faziam uso de eunucos em funções do governo. Os eunucos (ou melhor, os castrados) originalm ente haviam sido proibidos na com unidade israelita (Dt 23.1). O contexto aqui deixa claro que esses oficiais não tinham filhos, no entanto, o Senhor cuidava deles.56.9. an im ais selvagens com o castigo. O s anim ais selvagens eram uma permanente fonte de medo para os habitantes das cidades do antigo Oriente Próximo. N aturalm ente, nessa passagem os anim ais são uma metáfora para as "bestas" humanas que saqueiam e pilham os moradores das cidades. Em textos e relevos assírios desse período, os reis são ilustrados caçando leões para simbolicamente livrar a cidade da ameaça de feras selvagens. Em um dos exemplos, foi sugerido que a m atança de dezoito leões representa as dezoito portas de Nínive e as estradas que conduziam até elas.56 .10 ,11. cães na sociedade israelita. No antigo Oriente Próxim o, os cães viviam como carniceiros, alimentando-se de lixo e animais mortos. Com freqüência perambulavam em bandos pela periferia da cidade (às vezes na cidade) e onde quer que encontrassem refugos (SI 59.6,14). M uitas vezes eram um a fonte de insulto m ordaz (2 Sm 3.8). No entanto, os cães também eram freqüentemente associados à cura, usados em ritos de purificação e exorcismos e como ofertas tanto na Mesopotâmia como na Anatólia. O termo cão era usado para certos funcionários cultuais em Israel
(Dt 23.19), na Fenícia e na Anatólia. Alguns estudiosos acreditam que esses "cães" eram prostitutos. Bastante curiosa e estranha foi a descoberta de um cemitério de cães com mais de setecentas covas rasas, em Asquelom, na Filístia, durante o período persa. Não há evidência de qualquer atividade cultual (embora os cães fossem reverenciados pelos zoroastristas persas).57.1. morte dos ju stos como recom pensa e não como castigo. Esse versículo im plica que houve uma completa inversão na sociedade, uma vez que os justos perecem. Um a série de textos sapienciais babilónicos discutem esse tema. Por exemplo, a Teodicéia Babilónica (um texto semelhante ao Livro de Jó) apresenta a queixa de que o justo sofre todo tipo de injustiça, enquanto o ím pio está livre para praticar suas malda- des. O escritor tam bém se queixa de que seu deus pessoal não fez nada para aliviar o problem a. Este versículo oferece a explicação de que os justos não estão sendo punidos com a morte, ao contrário, estão sendo poupados de dias maus.57.2. vida de paz e descanso após a morte. A expressão é obscura, mas o sentido é que a morte do justo o leva a um estado de paz e tranqüilidade. Isso não oferece a esperança de estar no Céu, mas um escape da turbulência. Até mesmo o Sheol é preferível a um contexto de impiedade na Terra.57.3. adivinhas. A feitiçaria e o adultério colocados lado a lado apontam para ritos politeístas de fertilidade. Na Mesopotâmia a feitiçaria geralmente era proibida. Os mesopotâmios e os hititas faziam uma distinção entre m agia negra (que causava o mal) executada por um feiticeiro ou feiticeira e a magia branca (que causava o bem ), executada por um exorcista legítimo. A feitiçaria era passível de m orte pelas Leis Médio-Assírias. Sua prática envolvia o uso de poções, pequenas estátuas e m aldições cujo objetivo era trazer morte, doença ou azar à vítima. Parece que para os egípcios não havia distinção entre m agia negra e branca. Os poucos textos m ágicos ugaríticos, aramaicos e fenícios mostram que esses povos encaravam a magia e a feitiçaria de form a sem elhante a seus vizinhos mesopotâmios.57.5. arder de desejo entre os carvalhos. Os jardins no antigo O riente Próxim o, na m aioria das vezes, eram parques ou bosques com árvores e plantas ou pom ares com árvores frutíferas que serviam como santuários ao ar livre ou garantiam arredores agradáveis e confortáveis para recintos sagrados. As árvores sagradas desem penhavam um papel im portante na religião popular da época. Segundo a crença popular, as árvores e pedras eram habitações divinas em potencial. Na religião cananéia, eram consideradas símbolos de fertilidade (ver D t 12.2; Jr 3.9; Os 4.13), embora os vestíg ios arqu eológicos ou literários dos
cananeus esclareçam m uito pouco o papel que essas árvores sagradas tinham. Não é coincidência que a palavra para carvalhos Çelim) também signifique "d euses". A deusa cananéia da fertilidade era A será e essas árvores (ou postes de madeira) eram o símbolo do culto a ela. Um pedestal cultual de Taanaque ilustra uma árvore sagrada flanqueada por leões, tal como a deusa Aserá geralmente era retratada. A fertilidade da terra era simbolizada pela união fértil dos hum anos, sarcasticamente descrita aqui por Isaías como "a rder de desejo entre os carvalhos".57.5. sacrifício de crianças. O s escritores bíblicos atribuem o sacrifício de crianças aos adoradores fenícios de M oloque (ver os comentários em Lv 18.21 e 2 Cr 28.3). D escobertas arqueológicas em Cartago (uma localidade fenícia no norte da África) oferecem evidências de sacrifício infantil, visto que centenas de urnas contendo os restos carbonizados de crianças foram encontradas. Esteias m emoriais descrevem o papel das crianças como vítim as sacrificiais, denominadas em púnico como ofertas mlk (i.e., a M oloque). Fora das Escrituras, porém, as evidências de sacrifício hum ano na Siro-Palestina são escassas. H á um a possível referência do nono século a.C., em Tell H alaf e nas cláusulas de punição presentes em contratos jurídicos do final do período assírio.57.6. pedras lisas dos vales. O s vales ou uádis eram lugares onde os sacrifícios de infantes aconteciam, sendo o mais conhecido o vale de Hinom, do lado oeste de Jerusalém . Esses uádis eram os lugares de sepulta- mento preferidos em Israel e, portanto, também serviam como os locais ideais para rituais usados no culto aos mortos. Se "pedras lisas" for a tradução correta, o texto pode estar se referindo aos túmulos talhados na rocha encontrados nesses uádis que se confundiam de tal m odo a eles a ponto de a palavra para uádi também ter o significado de túmulo ou sepultura. Uma sugestão alternativa se baseia na identificação desse mesmo radical (traduzida como "pedras lisas"), cujo significado é "m orrer, perecer" em diversas línguas sem itas parentes próxim as do hebraico. Essa então seria um a referência aos mortos que haviam sido enterrados nos uádis e haviam se tom ado objetos de adoração. O culto aos mortos é citado na parte final do versículo.57.6. ofertas de bebidas, ofertas de cereal. Por causa da im portância dada ao culto aos an cestrais, que perm eava grande parte do antigo O riente Próximo (talvez um reflexo da ênfase no papel do herdeiro do sexo m asculino, responsável pelo santuário do pai, como consta em documentos ugaríticos), considerava- se que os mortos tivessem algum poder de afetar os vivos. Acreditava-se que se libações fossem derramadas em favor dos ancestrais m ortos, seus espíritos ofe
receriam proteção e ajuda aos m em bros da fam ília que ainda estivessem vivos. Na *Babilônia, o espírito desencarnado (utukki) ou o fantasma (etemmu) podiam tom ar-se muito perigosos se não recebessem os devidos cuidados e, muitas vezes, se transformavam em objetos de encantamentos. O cuidado com os mortos começava com o sepultamento adequado e teria continuidade com a dedicação posterior de presentes em honra da m em ória e do nom e do falecido. O filho primogênito era responsável pela manutenção dessa adoração ancestral e, sendo assim, era quem herdava os deuses da família (muitas vezes, imagens dos ancestrais já mortos). Esse cuidado tinha como base a crença, como fica evidente na consulta de Saul à médium de En-Dor, de que os espíritos dos mortos podiam se comunicar com os vivos e tinham informações sobre o futuro que poderiam ser úteis. Esses espíritos eram consultados através de sacerdotes, m édiuns e necrom antes. A consulta aos m ortos podia ser uma prática perigosa, visto que alguns espíritos eram considerados dem ônios, e portanto, poderiam causar m uitos danos fazendo o mal. Em bora seja difícil reconstruir totalmente as crenças israelitas dessa época sobre ancestrais falecidos e a vida após a morte, parece possível que antes do exílio existisse uma forma de culto aos mortos ou adoração aos ancestrais. Essa hipótese tem o respaldo de algumas evidências em vestígios arqueológicos: (1) colunas de pedra (massebot), (2) canais cavados nos túm ulos para o depósito de ofertas de alimentos e bebidas aos mortos (ver Dt 26.14; SI106.28) e (3) a importância dada às tum bas das famílias (ver o túmulo ancestral de Abraão e seus descendentes em H ebrom ) e os rituais de luto realizados nessas tum bas (Jr 16.5-7). O culto a ancestrais era condenado pelos profetas e pela lei.57.7. le ito num a colina. O leito num a colina provavelmente é uma referência aos lugares altos cananeus (cf. Jr 2.20) onde a fornicação cultual era praticada. Seu duplo significado como "lugar para deitar-se" tam bém traz a imagem da morte e da sepultura.57.8. sím bolos de fertilidade. Não há nenhuma indicação clara do significado desses símbolos. Poderia se tratar de símbolos dos deuses da família (estatuetas de fertilidade?) ou símbolos fálicos de fertilidade. A últim a alternativa é provável por causa da últim a linha do versículo que tam bém faz referência à genitália m asculina (NVI "n u d ez"). Os israelitas tam bém tinham um m emorial atrás das portas, que consistia em um pote de metal contendo uma porção da Escritura (Dt 6.9; 11.20).57.8. prostituição cultual. Grande parte da chamada prostituição sagrada no antigo Oriente Próximo pode ter sido prostituição ocasional para o pagamento de um voto (ver o comentário em D t 23.17,18). Os textos
que descrevem a prostituição cultual em fontes cana- nitas ou m esopotâm icas são no m ínim o am bíguos. Pode-se concluir que a prostituição era ocasionalmente prom ovida pelos templos. O Antigo Testam ento apresenta amplas evidências de festas que levavam a excessos sexuais, mas isso não significa que a prostituição cultual tenha sido institucionalizada nessas regiões.5 7 .9 . M o lo q u e . O A n tig o T estam en to d e screv e M oloque como uma divindade cananéia a quem crianças eram oferecidas em sacrifício. Existe evidência literária no antigo O riente Próxim o desde o terceiro milênio a.C. de um deus M alik ou M ilki/u que era adorado em Ebla e M ari, na Síria. E le tam bém era adorado na Assíria, na Babilônia e em Ugarit (onde era conhecido como Mlk). A partir desses textos, parece que M oloque era uma divindade do mundo inferior envolvida no culto aos ancestrais mortos. O termo M oloque provavelmente está relacionado ao radical semáta que significa "rei". Ver o comentário em Isaías 57.6 a respeito da idéia de M oloque envolvido no sacrifício de infantes, em Cartago, no norte da África (Lv 18.21).57.9. azeite de oliva e perfum es. Não se sabe ao certo para que o azeite e os perfumes eram usados. Talvez o azeite fosse derramado em libações e os perfumes usados nas ofertas de incenso. Outra sugestão é que fossem usados para ungir as crianças que seriam oferecidas a Moloque.57.9. embaixadores/ desceu ao fundo do poço (Sheol).Esses em baixadores são aqueles que praticavam a necromancia, a consulta aos mortos em nome dos viventes. Os embaixadores provavelmente iam aos santuários onde os poderes do m undo inferior (Sheol) eram venerados a fim de consultar a vontade dessas divindades através de oráculos. M oloque era o deus do mundo inferior.57.13. coleção de íd o los . N a literatura ugarítica, o termo que ocorre aqui é usado para fazer referência a espíritos de pessoas falecidas.57.14. construção de estradas. Ver o comentário em40.3.
58.1-14O verdadeiro jejum58.2. buscar inform ações através de oráculos. A adivinhação oracular era em pregada em toda a M eso- potâmia, Anatólia e Egito desde 2000 a.C. para comunicar-se com as divindades. A adivinhação intuitiva envolvia oráculos, profecias e sonhos. As cartas de M ari descrevem o relacionamento entre D agom e seus adoradores, que falavam através de oráculos, sonhos, possessão extática e declarações verbais. Ele transmitia m ensagens a profetas e profetisas, bem como a
pessoas comuns. Por exemplo, uma m ulher chamada Yanana afirm ava que D agom teria aparecido a ela em um sonho dizendo que somente Zinri-Lim (o rei de Mari) seria capaz de salvar uma garota seqüestrada que estava viajando com ela.58.3-7. je ju m . H á poucas evidências da prática do je jum no antigo Oriente Próximo fora da Bíblia. Geralm ente era feito em contextos de luto. No Antigo Testam ento, o uso religioso do jejum com freqüência está relacionado a um pedido dirigido a Deus. O princípio é que a im portância do pedido levava o indivíduo a preocupar-se tanto com sua condição espiritual que as necessidades físicas eram relegadas a segundo plano. N esse aspecto o ato de je juar serve como um processo de purificação e humilhação diante de Deus (SI 69.10; 102.4). O jejum não era um fim em si mesmo, m as um preparo disciplinado para um evento importante.58.9. dedo acusador. No mundo antigo apontar o dedo fazia parte de um a acusação form al (como nas leis de Hamurabi). A literatura de presságios atrela o gesto ao poder de um a m aldição. Aqui indica difamação m alévola.58.12. reconstrução de velhas ruínas. M uitas cidades antigas foram reconstruídas após terem sido destruídas. Por exemplo, a Babilônia foi invadida e saqueada pelos assírios pelo menos três vezes; por Tukulti-Ninurta I, no século treze a.C., por Senaqueribe, em 689 a.C. e por Assurbanipal, em 648 a.C.. Após cada invasão, as ruínas da Babilônia foram reconstruídas, com freqüência tom ando a cidade ainda mais esplêndida do que antes.58.13. significado do sábado. De acordo com os escritos rabínicos posteriores, o sábado no período pós- exílico tinha a idéia de reservar o dia para cultuar a Deus. O sábado passou a ser um dos principais meios de demonstrar lealdade a Deus e a seus estatutos. Em um hino sapiencial babilónico, o adorador afirma que o dia de adorar a divindade era um prazer e que ele se deleitava e se alegrava em fazer música em honra à divindade.58.13. sábado no antigo O riente Próxim o. A guarda do sábado não tem paralelo em nenhuma das culturas do antigo O riente Próxim o e é distinta por não estar atrelada a nenhum padrão ou ritmo da natureza. Isto é, não era celebrada em certos dias do mês e não estava ligada a ciclos da lua ou a outros ciclos da natureza; simplesmente era observada a cada sete dias. Embora os mesopotâmios não dividissem o tempo em períodos de sete dias, certos dias específicos do mês eram considerados agourentos e com freqüência aconteciam a cada sete dias (ou seja, o sétimo dia do mês, o décimo quarto etc.). A lém disso, um term o sem elh an te era usado em textos babilónicos para referir-se a um dia de
lua cheia em que o rei oficiava ritos de reconciliação com a divindade, m as não era um dia de descanso e tinha pouco em comum com o sábado israelita. A legislação bíblica não exige outra coisa além da interrupção das atividades norm ais de trabalho.58.14. cavalgar nos altos da terra. As cidades eram geralmente construídas em montes por serem defesas naturais e os exércitos escolhiam as colinas como pon
tos estratégicos de controle. A metáfora de cavalgar nos altos, portanto, fala de vitória e segurança. Assim com o Israel cavalga nas alturas, D eus cavalga nas nuvens. A imagem de um Deus impetuoso cavalgando pelos céus num a nuvem era comum (SI 68.4; 104.3; Jr 4.13). Tais descrições de teofania podem ser encontradas nos textos que falam do deus ugarítico Baal. No épico de Aqhat e no ciclo de histórias de Baal e Anat, Baal é descrito como o "cavaleiro das nuvens". O s atributos de Baal, comandando as tempestades, soltando relâmpagos e encaminhando-se para a batalha como um guerreiro divino aparecem até mesmo nos textos egípcios de El Am am a.
59.1-21Yahweh como redentor59.17. tra je do guerreiro . Yahw eh novam ente está assumindo aqui o papel de guerreiro divino e vestindo a indum entária para a batalha. N a tem ática do guerreiro divino, a divindade luta contra as divindades do inimigo, derrotando-as nas batalhas travadas. Na Assíria, Nergal é o rei da batalha e Istar é considerada a deusa da guerra. O deus cananeu Baal e o babilônio M arduque também são guerreiros divinos. Quando M arduque se prepara para a batalha contra Tiam at, no épico Enuma Elish, ele se equipa basicamente com armas de ataque e não com os equipamentos de defesa descritos aqui. Ele é descrito sendo vestido com um m anto assombroso de armadura e coroado com um terrív el brilho. E scu ltu ras de deuses engajados em batalhas às vezes os retratam com couraça e capacete, m as com freqüência eles portam apenas armas.
60.1-22A glória de Sião60.6. cam elos de M idiã e de Efá. Os camelos eram os anim ais de carga dos m ercadores; portanto, quem tinha muitos camelos era considerado rico. Midiã era um a tribo árabe nômade que tinha relações com Israel desde os tempos mosaicos. Efá aparece apenas em outros dois contextos da Escritura (Gn 25.4; 1 Cr 1.33) e está associada a Midiã, possivelmente um clã dessa tribo. Tam bém é m encionada nos anais assírios de Tiglate-Pileser III.
60.6. Sabá. O reinado de Sabá era um grande centro comercial no sudoeste da Arábia que exportava pedras preciosas, ouro e incenso. É conhecido como Saba nas fontes nativas e nos anais assírios. Tinha um a civilização urbana bastante avançado no primeiro m ilênio a.C.. Para mais informações, ver 2 Crônicas 9.1.60.7. Quedar. Quedar era um a tribo árabe nômade.
T am bém é m en cion ada em textos assírios e neo- babilônicos. A tribo é citada em um texto de Tell el- M askhuta, em escritos apócrifos, e até m esm o pelo escritor latino, Plínio, o Ancião.60.7. N ebaiote. Nebaiote era uma tribo nômade citada nos anais do rei assírio Assurbanipal. São m encionados também nas inscrições taimanitas, datadas do sexto século a.C.. Essa tribo foi precursora dos nabae- tanos, uma tribo árabe conhecida no período helenís- tico e romano.60.9. navios de Társis. Os navios de Társis eram grandes embarcações construídas com capacidade para longas viagens. Társis era considerada uma colônia fenícia na Espanha.60.13. g lória do L íbano . A "g ló ria " do Líbano era
suas florestas de cedro (ver 35.2), mas outros tipos de m adeira também eram exportados.
60.16. figura da am am entação. Os reis egípcios eram retratados com freqüência em representações icono- gráficas sendo amamentados pelos deuses. Por exemplo, a monarca Hatsepsut é mostrada mamando nos seios de H athor, a deusa bovina das m ulheres, da dança, da embriaguez, da sexualidade e dos mortos.
Ela geralmente era ilustrada como uma mulher com os chifres de um a vaca. A figura da am am entação representa que Sião será alvo do m ais especial cuidado e atenção pessoal.60.19, 20. escurecim ento do sol e da lua. Tanto o sol como a lua eram importantes divindades no panteão babilónico. O deus-sol era Shamás, deus da justiça e filho do deus-lua. Como deus da justiça, Shamás deu a Hamurabi, o legislador babilônio, a autoridade de fazer leis. Sin, o deus-lua, era o senhor do calendário e deus da vegetação. Sua consorte era Ningal, a mãe de Shamás. Embora seus principais centros fossem Ur e Harran, ele desem penhou um papel fundamental na Babilônia durante o período do últim o rei babilônio, Nabonido. Visto que esses deuses eram tão centrais no sistem a religioso do m undo antigo, não há indícios em outros textos de que se escureceriam ou deixariam de existir.
61.1-11O ano da bondade do Senhor61.1. libertar p risioneiros com o ato de ju stiça . Noantigo Oriente Próxim o, a libertação de prisioneiros
(da prisão dos credores) era um ato de justiça que com freqüência acontecia no primeiro ou no segundo ano do reinado de um novo rei (e depois, periodicamente a partir de então). Por exemplo, o rei da Antiga Babilônia, Amisaduqa (século dezessete a.C.) cancelou dívidas em nome de Shamás. Portanto, o "jubileu" nesse caso dizia respeito primordialmente a endividados (por questões financeiras ou legais) e aos escravos por causa de dívidas. Ao contrário da lei de Israel, esse edito babilónico dependia exclusivamente do capricho do monarca e não há evidências de que era sancionado pela divindade. Para um exem plo desse ato sendo realizado por um rei ideal, ver o comentário em 11.1. Historicamente, um a proclamação de liberdade é registrada pelo últim o rei de Judá, Zedequias (Jr 34.8-10). A respeito dessas e outras características do rei justo, ver o comentário em 49 .9 ,10 .61.4. reconstrução de velhas ruínas. Ver o comentário em 58.12.
61.10. adornos do noivo e da noiva. As evidências para vestes relacionadas a casamento na Ásia Ocidental baseiam -se grandem ente em im agens iconográ- ficas. Parece que no antigo Israel, tanto o noivo como
a noiva eram vestidos cerim onialm ente. A s noivas israelitas e babilônias às vezes usavam vestes bordadas (51 45.13 ,14), um cinto especial (JI 2.32) e um véu (Gn 24.65). Aqui, o noivo adorna a cabeça com uma
grinalda. O tipo de vestes especiais provavelm ente dependia da situação econômica dos noivos.
62.1-12O novo nome de Sião62.10. construção de estradas no antigo O riente Próxim o. Ver o comentário em 40.3.
62.10. bandeira para as nações. No antigo Israel, as bandeiras eram usadas para demarcar as tribos. Parece que eram usadas com mais freqüência em contex
tos militares, para convocar um exército de determinado território ou para indicar o local onde um ajuntamento de tropas aconteceria ou ainda para identificar regim entos ou tropas. Nesse aspecto, é quase certo que Israel estava imitando seus vizinhos. Os assírios usavam estandartes para identificar regimentos específicos de suas tropas.62.11. recom pensa do rei que retorna da batalha. Vero comentário em 40.10.
63.1-10O dia da vingança e da redenção63.1. Edom, Bozra. Ver o comentário em 34.5, 6.63.3-6. guerreiro d ivino. N a tem ática do guerreiro divino, a divindade luta contra as divindades do inimigo, derrotando-as nas batalhas travadas. N a Assíria,
Nergal é o rei da batalha e Istar é considerada a deusa da guerra. O deus cananeu Baal e o babilônio Mardu-
que tam bém são guerreiros divinos (para m ais informações, consulte os comentários em Êx 15.3; Js 3.17;6.21-24; 10.11; 1 Sm 4.3, 4; 7.10). Na Assíria era retó
rica comum falar de cidades e países tingidos de ver
melho, banhados pelo sangue dos inimigos e do exército atravessando em m archa esse m ar de sangue.
Isaías 9.5 faz menção a um a prática dos guerreiros de
revolver as vestes no sangue. No épico Enuma Elish, após ter derrotado Tiamat e seu general Kingu, Mar-
duque pisa sobre os cadáveres de seus inimigos, inclusive a parte de baixo do corpo de Tiamat.
64.1-12Oração pela libertação de Yahweh64.4. d iferen ça en tre Y ahw eh e os outros deuses.
Yahw eh era diferente dos outros deuses do antigo
Oriente Próxim o em diversos aspectos. A diferença fundamental era que Yahw eh era considerado trans
cendente, ou seja, não estava sujeito ou preso às leis
do universo material. Essa característica contrastava
visivelmente com os deuses da M esopotâm ia que habitavam no mundo material. Ele era um Deus único,
sem consorte ou panteão, ao contrário dos deuses das
outras nações que se dividiam em múltiplos poderes.
A questão específica neste versículo é a disposição de Deus em agir em favor de seus fiéis seguidores. A
chave aqui é aquilo que m otiva Yahw eh a agir. Ele
não pode ser subornado ou coagido a fazer algo. Se
gundo as crenças politeístas do mundo antigo, a fide
lidade a um a divindade era expressa através de dádivas e presentes que lhe eram ofertados - presentes
que tinham o objetivo de cuidar da divindade (p. ex.,
alimento). Se esses presentes não motivassem a bon
dade ou a ação dos deuses, então ritos mágicos podiam ser usados para obrigar ou forçar a divindade a
fazer aquilo que se desejava. Ver o comentário em 1
Sam uel 15.23.
65.1-25Novos céus e nova terra65.3. sacrifícios em jardins. Os jardins no antigo Ori
ente Próximo na maioria das vezes eram parques ou bosques com árvores e plantas ou pomares com árvo
res frutíferas que serviam como santuários ao ar livre
ou garantiam arredores agradáveis e confortáveis para recintos sagrados. As árvores sagradas desempenha
vam um papel im portante na relig ião popular da
época. Segundo a crença popular, as árvores e pedras eram habitações divinas em potencial. N a religião
cananéia, eram consideradas símbolos de fertilidade
(ver D t 12.2; Jr 3.9 ; O s 4.13), em bora os vestígios
arqueológicos ou literários dos cananeus esclareçam m uito pouco o papel que essas árvores sagradas ti
nham. Escavações na Q uitiom da Idade do Bronze M oderna desenterraram um tem plo que tinha um
bosque sagrado com sessenta covas de árvores. Esses
jardins provavelmente eram os bosques sagrados do
culto a Aserá, a deusa da fertilidade cananéia.65.3. altares de tijo los. A m aioria dos altares de incen
so era feita de pedra calcária. Isso nos leva à sugestão
bastante plausível de que a expressão que a NVI tra
duz como "altares de tijolos" também pode significar "altares de incenso" (como ocorre na inscrição de um
altar de pedra calcária, do século quinto, em Láquis).
Esses altares eram característicos dos lugares altos onde adoração ilegítima era praticada. Outra possibilidade
é que rituais babilónicos dirigidos a divindades celes
tiais incluíam sacrifícios feitos sobre tijolos.
65.4. à n o ite se oculta nas covas. No antigo O riente
Próxim o, m uitos indivíduos que praticavam a necro- m ancia (contato com os espíritos dos mortos, ver co
mentário em 57.6) passavam a noite entre as sepulturas,
aguardando alguma comunicação dos mortos. Trata-se
de uma prática semelhante aos rituais de incubação (ver os com entários em 1 Sm 3.3 e 2 Cr 1.7-12).
65.4. com e carne de porco. A literatura *assíria de
sabedoria descreve o porco como um animal impuro, que não serve para o templo e uma abominação aos
deuses. Existe também um texto do livro de sonhos
em que comer porco é um mau agouro. Entretanto, a
carne de porco fazia parte da dieta regular na Meso-
potâmia. Alguns rituais hititas exigiam o sacrifício de um porco. Milgrom observa, porém, que nesses ritu
ais, o porco não era colocado no altar como alimento
para os deuses, mas absorvia as impurezas e depois era queimado ou enterrado como uma oferta às divin
dad es do m undo in ferio r . S em elh an tem en te , na
M esopotâm ia, o porco era oferecido em sacrifício a demônios. Existem provas no Egito de porcos sendo
usados como alim ento e H eródoto afirm a que tam
bém eram usados em sacrifícios. Fontes egípcias falam de manadas de porcos sendo mantidas na propri
edade de tem plos e freqüentem ente constavam de doações aos templos. O porco era especialmente sa
grado ao deus Seth. Grande parte das provas referen
tes a sacrifícios de porcos, porém, origina-se na Grécia e em Roma, onde também eram dedicados aos deuses
do mundo inferior. Em assentamentos urbanos, m ui
tas vezes os porcos, juntam ente com os cães, perambulavam pelas ruas vasculhando lixo, o que fazia
deles animais repulsivos. Em Israel, a atitude em relação ao porco fica bastante clara aqui em Isaías que
evidencia uma íntima relação entre os porcos e a adoração aos mortos. É bastante possível que sacrificar
um porco era sinônimo de sacrificar aos demônios ou
aos mortos.65.10. Sarom . Sarom era um a planície costeira na
divisa da região montanhosa da Judéia, a leste, e do
m ar Mediterrâneo, a oeste. O vale era conhecido por sua beleza, desolação e pastagens. Tinha cerca de 50
quilômetros de comprimento e um a média de 17 qui
lômetros de largura.
65.10. vale de Acor. O vale de A cor provavelmente ficava localizado na fronteira norte de Judá e é identi
ficado com a atual El Buqe'ah, uma pequena planície
no norte do deserto da Judéia, nas proximidades de
Jericó. Três ocupações da Idade do Ferro foram descobertas em El Buqe'ah.
65.11. Sort€/ D estino. Os nomes próprios (divinos?) usados aqui, Gad (NVI "Sorte") e M eni (NVI "D es
tino") são obscuros. Gad é confirmado em textos cana
neus e fenícios e é considerado um a divindade da
sorte. M eni pode ter algo a ver com porção e portanto, alguns estudiosos acharam que podia estar relaciona
do a destino. Pode se tratar da deusa árabe M anat
mencionada no Qu'ran. No panteão babilónico, o deus N amtar ("D estino") era o vizir do mundo inferior. A Sorte também era personificada e deificada às vezes.
65.17-25. visões utópicas. Embora praticam ente não
existisse quase nada parecido com as visões utópicas
encontradas na Bíblia, há visões apocalípticas (futuris
tas, proféticas) encontradas na literatura acadiana do segundo e do primeiro milênios a.C.. Os textos aca-
dianos são pseudo-proféticos, ou seja, eram predições
feitas após o evento em questão. Parece que foram
escritas para justificar um evento particular que havia acontecido ou a criação de um a determinada institui
ção. Uma expressão típica é "surgirá um príncipe". O príncipe geralmente é anônimo, mas facilmente iden
tificável. Em uma dessas obras, a Profecia de Marduque, Marduque projeta um rei que surgirá e "desenhará os
planos do céu e da terra" no santuário de Ekursagil.
Ele reunirá os povos espalhados, trará prosperidade à Terra, demonstrará compaixão ao povo e a sociedade funcionará de forma adequada. Em 66.1, porém, fica
claro que os céus e a terra, o cosmos, é o templo de
Deus. A criação de novos céus e nova terra pode ser igualada à construção de novos santuários ou à reno
vação de santuários no antigo Oriente Próximo. Essa era uma atividade bastante comum. A Nova Jerusa
lém é a nova capital, que também representa o lugar
escolhido por Deus como sua habitação. Igualmente,
Marduque ordena que a nova cidade santa dos deuses, Babilônia, seja reconstruída.
66.1-24Julgamento e esperança66.1. casa para a divindade. No Ciclo ugarítico de
Baal, Baal quer construir uma casa para si, a fim de ter um lugar de repouso. Igualm ente Ningirsu faz um
pedido a Gudea para que lhe construa uma casa de descanso. O primeiro é m ais pertinente ao contexto em questão aqui porque Baal constrói para si mesmo
a casa, assim como Yahw eh o faz. Em Enuma Elish, após ter derrotado seu inim igo Tiam at, M arduque
proclama que fará vima casa para si, chamada por ele
de Babilônia, que servirá como lugar de repouso para os deuses. No final do tablete cinco um trecho incompleto relaciona isso à criação da terra por M arduque e à sua autoridade sobre ela.
66.3. quebrar o pescoço de um cachorro. O cachorro não era um animal sacrificial em Israel, em bora fosse usado para esse fim na Anatólia hitita.
66.3. sangue de porco. Porcos e cães figuram com
destaque nos rituais dos hititas na Anatólia da Idade do Bronze Moderna. Quando confrontados com uma
im pureza ritual, os hititas com freqüência m atavam
um porco (geralmente cortando-o ao meio). Os porcos
e os cães eram particularmente proeminentes no culto a divindades ctônicas (que tinham a ver com o mundo
inferior ou com a fertilidade da terra). Para m ais infor
mações, ver os comentários em 56.10, 11 e 65.4. Alguns estudiosos sugeriram que o tratamento dado aos
porcos nesse tipo de ritual pode ter sido um a das
razões por que o porco era considerado impuro.
66.15. fogo, carros, turbilhão. No imaginário do antigo Oriente Próximo, as principais divindades às ve
zes eram acompanhadas de cocheiros. Uma divinda
de conhecida como Rakib-El, era o condutor da carru
agem do deus cananeu El. N a literatura acadiana, Bunene, o conselheiro do deus sol Shamás, é designa
do como o condutor da carruagem. O cocheiro seria o
resp onsável p elo transp orte da d iv ind ade, esp ecialmente nas batalhas. Na crença religiosa israelita,
Yahw eh às vezes é retratado ou manifesto de maneiras sem elhantes ao pensam ento do antigo O riente
Próximo. Por exemplo, no contexto de Elias com os profetas de Baal, Yahw eh é apresentado com o um
Deus que controla a fertilidade e responde mandando fogo do céu, além disso, a linguagem figurada com
freqüência o associa com o sol (SI 84.11). Aqui, o retrato que se tem dele pode apresentar elementos comuns com Hadade, o deus da tempestade, que é acompanhado de um condutor de carruagem . Essas sem elhanças sugerem a possibilidade de que conceitos fam iliares do imaginário popular estavam sendo usados para esclarecer o envolvimento da divindade neste evento sem precedentes.66.17. rituais em jardins. Ver o comentário em 65.3.66.17. com er carne de porco e ratos. Essa é outra descrição de ritos estrangeiros, provavelmente de origem cananéia (ver o com entário em Lv 11.7). Não existe evidência extrabíblica que esclareça esse costume. A palavra traduzida como "ratos" aqui pode referir-se a uma ampla variedade de roedores.66.19. Társis. Társis representava a terra mais distante além do mar, a oeste. Ver o comentário em 23.1.66.19. líb ios. Aqui, Líbia é um a tradução de "P u l", m as em N aum 3.9 trata-se de duas entidades distintas. Grande parte da antiga Líbia ficava ao longo da costa oeste de A lexandria, m as incluía o longo trecho de deserto a oeste do vale do Nilo. Pul é mais difícil. A conclusão mais provável é que Pul seja um nom e alternativo p a ra ã Líbia e que juntos referem-se à área a oeste do antigo Egito, representada pelo atual país da Líbia. Era a terra mais distante em direção a sudoeste.66.19. líd ios. Lud provavelmente era a área da Lídia no centro-oeste da Turquia. Os lídios falavam uma língua anatólia sem elhante ao hitita. Eles formaram um grande império na Turquia durante o sexto séculoa.C., mas foram derrotados e conquistados por Ciro, rei da Pérsia. Essa era a terra mais distante para além do noroeste.66.19. T ubal. Tubal provavelmente era uma área ao sul do m ar Negro. É mencionada nos anais assírios como Tabal e nas Histórias de Heródoto como Tibera- noi. Representava a terra mais distante a nordeste.66.19. G récia. Javan provavelmente representa o nome grego de Jônia, a região grega da costa ocidental da Turquia e as ilhas do Egeu. Os gregos jónicos se estabeleceram nessa área antes do primeiro m ilênio a.C.. Existem evidências de contato entre eles e os assírios, por volta do oitavo século a.C.. A literatura e a filosofia grega clássica (p. ex., Homero) parecem ter iniciado em Jônia.
J E R E M I A S
V1.1-19O chamado de Jeremias1.1. Anatote. A localização precisa de Anatote, uma cidade sacerdotal no território de Benjamim, há muito tem sido debatida. Ficava situada na elevação de Ras el-Kharrubeh, ao sul do povoado de Anata ou no vale adjacente a Anata (o historiador judeu Josefo identificou Anatote com Anata). A idéia m ais recente é a de que Ras el-Kharrubeh era inicialmente Anatote, mas a c id a d e d e slo co u -se p ara A n ata , ap ós o ex ílio babilónico no final do sexto século a .C . O registro arqueológico parece confirmar essa hipótese. A cidade é mencionada primeiro como o lar de alguns dos guarda-costas de Davi, e mais tarde o sacerdote Abiatar foi exilado lá. De acordo com Isaías 10.30, a cidade estava na rota da invasão assíria na Palestina, mas não foi destruída.1.2. cronologia. O ministério de Jeremias teve início no ano treze do reinado de Josias (c. 627 a.C.) e continuou até o ano décimo primeiro ano de Zedequias e a segunda deportação (c. 587 a.C .). A parentem ente Jeremias estava na ativa por alguns anos após o exílio (ver 42-44). O ano inicial foi significativo pelo fato de coincidir com um ano após o início das reformas de Josias e um antes da declaração de independência da Babilônia em relação à Assíria. Tanto o m undo político com o o m undo religioso estavam prestes a ver mudanças drásticas.1.2. Josias. Durante os primeiros anos do ministério de Jeremias, Josias era o rei de Judá (640-609 a.C.). O Livro da Lei (uma parte não identificada das Escrituras) foi encontrado no início de seu reinado, e depois disso Josias decretou muitas reformas culturais e religiosas. Talvez ele tenha aproveitado essa oportunidade por causa de um a catastrófica guerra civil na Assíria (c. 631-626 a.C.). Quando o Im pério Assírio começou a ru ir um a década m ais tarde, Josias ficou contra os aliados egípcios e foi morto em combate ou assassinado em Megido, no ano 609 a.C..1.3. Jeoaqu im . Jeoaquim foi colocado no trono de Judá pelos egípcios, que haviam invadido a área vulnerável da Palestina após o término do Império Assírio (c. 608 a.C.). Seu nome era Eliaquim, mas os egípcios o mudaram para Jeoaquim. Ele foi vassalo do Egito até 605 quando os babilônios, sob N abucodonosor II, derrotaram o Egito em Carquemis e subseqüentemente assumiram o controle do Levante. Quando os babi
lônios recuaram na fronteira do Egito, quatro anos m ais tarde, Jeoaquim rebelou-se contra eles e mais um a vez ficou do lado do Egito. Porém , Jeoaquim sofreu represálias quando os babilônios capturaram Jerusalém em 598-597 e foi m orto ou deportado (o historiador judeu Josefo afirma que Nabucodonosor o matou em Jerusalém).1.3. cron ologia . Jerem ias continuou seu m inistério até o décimo primeiro ano de Zedequias (c. 587 a.C.).1.3. ex ílio . Jerem ias evidentem ente estava na ativa após a segunda deportação em 587 a.C. (ver 42-44). Os babilônios exilaram os cidadãos de destaque. Escavações na Sefelá, no Neguebe e no deserto da Judéia apresentam sinais da destruição babilónica. Fontes babilónicas descrevem o cerco a Jerusalém e a deportação de m uitos prisioneiros para a Babilônia.1.5. exem plos no antigo O riente Próximo da divindade conhecendo e escolhendo antes do nascim ento. H á um paralelo egípcio para a idéia da divindade conhecendo um indivíduo antes de seu nascimento. O deus Am om conhecia Pianki (um monarca egípcio da 25a Dinastia, no oitavo século a.C.) enquanto "estava no ventre de sua m ãe", onde sabia que seria o governante do Egito. O épico de Gilgam és diz que o papel de Gilgamés como rei foi destinado a ele "quando seu cordão umbilical foi cortado".1.5. profeta às nações. O termo traduzido como "n ações", quando usado no plural, geralmente significa nações estrangeiras. Portanto, não havia limites ao alvo do m inistério profético de Jeremias. Suas m ensagens não eram destinadas apenas a Judá, m as tam bém às nações que fossem aliadas em potencial, bem como às inimigas.1.9. m ão na boca como com issionam ento no antigo O riente Próxim o. Ritos reais de purificação da boca no Egito dão a idéia da boca sendo preparada para falar. Nos rituais m esopotâm icos freqüentem ente a purificação dos lábios era um símbolo da purificação da pessoa. Era considerada um pré-requisito, especialmente para sacerdotes adivinhos, antes que pudessem aparecer diante do concílio divino e relatar o que haviam testemunhado. Em contraste, Yahw eh coloca palavras na boca de seu profeta, sem qualquer ritual de purificação.1.11. am endoeira. A am endoeira chegava a atingir de quatro metros e meio a nove metros de altura. Era a prim eira árvore que florescia no final de janeiro/
início de fevereiro. A flor da am endoeira é branca com manchas cor-de-rosa, desenvolvendo-se em amêndoas cerca de dez semanas mais tarde.1 .14 .15 . reinos do norte. Trata-se de uma referência à Babilônia ou à Cítia ou dos ecos de um futuro onde todas as nações se colocarão contra Jerusalém (ver Ez 38, 39; J1 3; Zc 12-14). O norte, com freqüência, era símbolo de potestades das trevas, tais como os filisteus, assírios e aram eus. Os inim igos não tinham outra escolha a não ser chegar a Jerusalém pelo norte, visto que essa era a rota da maioria das estradas. Desde 627, havia pouca evidência de que a Babilônia tinha capacidade de iniciar um a invasão no Levante. Os citas, porém, invadiram o oeste da Ásia nessa época, de acordo com o historiador grego Heródoto.1.15. tronos diante das portas. A porta da cidade era o lugar onde norm alm ente o rei se assentava para publicamente executar seus deveres como governante. Essa área era usada em eventos cerimoniais ou diplomáticos ou para procedimentos legais. O épico ugarítico
de A qhat descreve o rei D anilo assentado ju nto à porta julgando as causas de viúvas e órfãos. U m rei conquistador se assentaria nesse trono público diante da porta a fim de ju lgar a cidade e seus líderes. Escavações recentes em Tel Dan revelaram algo que parece ser uma plataforma de pedra na parte interna da porta da cidade, onde haveria um trono e um a cobertura com um toldo.
1.16. o b je tiv o de qu eim ar incen so . O incenso era uma mistura de especiarias que produziam um odor agradável quando queimadas. As ofertas de incenso eram comuns no Oriente Próximo e em Israel. Eram usadas em conjunto com os sacrifícios (ver o comentário em 44.18). Uma das especiarias m ais caras era o olíbano, uma resina branca importada de Sabá, no sul da Arábia. Escavações trouxeram à tona uma grande variedade de altares de incenso em todo o Israel, inclusive dois em Arade e dez em Micne/Ecrom.1.18. m etáforas da co lu n a de ferro e do m uro de bronze. O ferro e o bronze sim bolizam a força em m uitas passagens bíblicas (ver o com entário em Is 45.2). Foram encontradas portas de bronze construídas pelos assírios em Balawat. Figuravam como deco
rações em muralhas fortes. Tutmés III, faraó do Egito, descreve a si m esm o com o um muro de ferro e de bronze para o Egito, significando que ele era como uma cidade fortificada impenetrável.
2.1-3.5A infidelidade de Israel2.8. profetizavam em nom e de Baal, seguindo deuses inúteis. Apesar das reformas de Ezequias e Josias, o povo de Ju dá com freqüência se voltava para o
sincretismo religioso, realizando rituais e adorando as divindades de Canaã. Os profetas associados a esse sincretismo profetizavam em nome de Baal e consultavam oráculos diante dos ídolos de Baal.2.10. ilhas de Q u itim (litoral de Chipre). Quitim é mencionado no quadro de origem das nações (Gn 10)
como descendente de Javã (grego, Jônia), associado ao m ar Egeu e ao leste do Mediterrâneo. Quitim provavelmente é o termo hebraico para Quitiom, perto da atual Lanarca, no litoral centro-sul de Chipre, m as é m ais provável que designasse a ilha toda. Era uma localidade da Idade do Bronze. N a época de Jeremias, o termo Quitim provavelmente era um a referência à Grécia ou a um lugar distante, de modo geral. Ostracos de Arade que remontam ao sétimo século a.C. citam indivíduos de Quitim que tinham nomes gregos. Provavelmente tratava-se de comerciantes cipriotas.2.10. Quedar. Quedar, o segundo filho de Ismael (Gn25.13), era o nome de uma tribo ismaelita que floresceu do oitavo ao quarto século a.C.. A tribo é mencionada em textos assírios e babilônios como Qadar. Os nomes próprios dos quedaritas parecem estar relacionados ao ram o sul das línguas semitas. Esses povos tribais estavam radicados na península arábica e com freqüência dirigiam-se ao Levante passando pelo Sinai. O s quedaritas viviam no deserto leste, enquanto o povo de Quitim habitava os limites ocidentais do mar.2.11. nações trocando seus deuses no O riente Próximo. Devido à infiltração de elem entos estrangeiros, muitas nações acrescentavam deuses ao seu panteão. Além disso, o nome dos deuses sofria ligeiras alterações com o passar do tempo. M as o conceito de uma nação trocando seus deuses por outros era uma idéia estranha no antigo Oriente Próximo. O verbo possivelmente traz a idéia de "barganhar"; nesse caso, não se refere a uma simples troca, mas a um a negociação por algo de m aior valor.2.13. cisternas rachadas. Geralmente, as cisternas eram construídas com pedra calcária em colinas. As pessoas revestiam o interior delas com uma massa de gesso calcinado e arm azenavam ali a água das chuvas. Mas muitas vezes essas cisternas rachavam e a água acabava vazando, ficando o agricultor sem acesso a esse
bem essencial à vida.2.15. m etáfora do leão . Provavelm ente essa figura represente os assírios que, como leões, devoravam cidades e terras. Q ualquer núm ero de cam panhas militares assírias está sendo aludido aqui. Os assírios tinham estátuas de leões alados com cabeça de hom em nas portas de muitas de suas cidades.2.15. queim aram as suas cidades. Essa é uma referência a campanhas específicas de diversos governantes assírios que dirigiram-se ao Levante, inclusive Tiglate-
Pileser III (745-727 a.C.), Salmaneser V (727-722 a.C.), Sargão II (721-705 a.C.), Senaqueribe (705-681 a.C.) e Esar-Hadom (681-668 a.C.). Visto que os assírios não tinham intenção de ocupar essas cidades, sua prática era queimá-las a fim de dar um alerta sobre o preço que pagava quem não se dispunha a cooperar.2.16. M ên fis. M ênfis era a residência dos primeiros reis egípcios. Muitos judeus (bem como fenícios, de acordo com Heródoto) fugiram para lá durante a invasão babilónica de 587 a.C.. Tem sido identificada com a atual localidade de M itrahineh, cerca de 24 quilômetros ao sul de Cairo, na margem oeste do rio Nilo. A cidade havia estado em declínio desde 1000 a.C.. Entretanto, foi restaurada pela 25a Dinastia e tomou- se a principal residência dos reis egípcios no sétimo século a.C.. Provavelm ente tam bém foi a residência dos reis da 26a Dinastia. Para mais informações, ver o comentário em 46.19.2.16. T afnes. Tafnes era um posto avançado na região leste do Delta do Nilo, na fronteira com o Sinai. Era conhecida como D afne pelos gregos que habitaram no posto avançado como m ercenários até o sétimo século a.C.. O historiador grego Heródoto afirma que
Dafne era um dos três postos avançados estabelecidos pelos egípcios para frear a invasão assíria. Talvez os judeus que fugiram dos babilônios tenham feito uma parada ali, no início do sexto século a.C..2.16. rapar o crânio. Ter a cabeça rapada no antigo Oriente Próximo (embora nem sempre) indicava que se tratava de um escravo ou subordinado. Porém, o termo hebraico traduzido aqui como "rap ar" é problemático e há pouco acordo sobre seu significado.2.18. Sior (Nilo). Sior provavelmente é o nome hebraico para "águas de H órus", a divindade-falcão do Egito. Embora provavelmente fosse um braço na região nordeste do Delta do Nilo, sua localização é incerta. Alguns estudiosos têm associado Sior com o ribeiro do Egito, o primeiro braço de água que se via, seguindo para o sul, da Palestina para o Egito.2.18. E u frates. N as Escrituras, m uitas vezes, o rio Eufrates é designado como "o Rio".2.20. m onte elevado e árvore verdejante como lugar de prostituição. Parte dos ritos de fertilidade dos santuários cananeus locais eram executados no alto dos montes ou debaixo de diversos tipos de árvores (carvalhos, álamos e terebintos). Os rituais sexuais dedicados aos deuses da fertilidade também são mencionados em Oséias 4.13. Aserá é retratada na iconografia israelita como um a árvore estilizada.2.22. soda, sabão. O term o traduzido como "sod a" refere-se a um derivado do carbonato de sódio, provavelmente importado do Egito. O sabão era feito com as cinzas de uma planta nativa.
2.23. baalins. O emprego do plural para Baal refere- se aos m uitos centros cultuais de Baal existentes na prática cananéia. Em outras palavras, havia um Baal para cada cidade (p. ex., Tiro, Sidom e Gade). Um a série de nomes de lugares do Antigo Testamento contém o elemento Baal (p. ex., Baal-Zafom e Baal-Peor). Supõe-se que signifiquem "B aal de Peor" ou "B aal de Z afom ". Baal, que significa "sen h o r", ocorre como um nome divino desde o século dezoito a.C. em no
mes próprios am orreus de Mari. Alguns estudiosos apresentam exem plos de nom es que rem ontam ao final do terceiro milênio. Por volta do século catorze, o título era usado pelos egípcios para referir-se ao deus da tempestade. O nome também é evidente em textos de Alalakh, Am am a e Ugarit como nome próprio do deus da tempestade, Adad. Baal era uma divindade da fertilidade e era um deus que m orria (no inverno) e ressuscitava (na primavera). Na mitologia de Ugarit, ele é retratado em combate com Yam m (o mar) e M ot (a morte). Suas consortes são Anat e Astarte.2.23, 24. m etáfora da cam ela e da jum enta. Camelas jovens não são animais confiáveis e trotam agitadas e ariscas de form a desordenada. A jum enta, quando está no cio, age de forma quase violenta e persegue o
macho, assim como Israel corria atrás dos baalins.2.27. madeira/pai, pedra/mãe. N esse caso, a árvore era uma im agem de Aserá, uma divindade feminina e o símbolo masculino é "o que deu à luz". Portanto,
os israelitas estão completamente confusos em relação a seu culto. É difícil determ inar se o texto está se referindo de modo geral ao culto politeísta ou especificamente a símbolos de fertilidade.2.28. deuses tão num erosos como as cidades. Os diversos panteões da maioria dos povos do antigo Oriente Próximo incluíam centenas e às vezes até milhares de deuses. Jerem ias está afirm ando que os judeus não são diferentes de seus vizinhos politeístas. Também era comum que as cidades tivessem divindades pa
droeiras, de modo que os deuses se multiplicavam à medida que as cidades se desenvolviam.2.32. jó ias. O termo para jóias aqui é traduzido em outros contextos como "jó ia", no singular, m as aqui provavelm ente denota um enfeite ou alguma peça que era exclu siv a da noiva. V er o com entário em Ezequ iel 16 .11 ,12 para um a descrição dos ornamentos.2.36. decepcionada com o Egito e com a A ssíria. Não se sabe ao certo se Jerem ias está se referindo a eventos específicos ou a essas nações de m odo geral. Por volta de 732 a.C. tanto Judá quanto Israel haviam entrado em um relacionamento de vassalagem com a Assíria. Porém, no final, a Assíria não protegeu seus vassalos mas os destruiu, como fez com Israel, em 721 a.C., e com ^u dá, em 701 a.C.. O Egito, por sua vez, fora
incapaz de proteger seus vassalos do poder da Assíria ou de outros reinados do oeste asiático. Sendo assim, nenhum reinado pôde oferecer a segurança ou a proteção que Judá estava buscando.2.37. m ãos na cabeça. O gesto de colocar as "m ãos na cabeça" era um sinal de tristeza e luto no antigo Oriente Próximo. Foi ilustrado por figuras de mulheres de luto no sarcófago fenício de A irão, rei de B iblos no século treze. A Lenda Egípcia dos Dois Irmãos também descreve esse gesto como um a demonstração de luto.3.1. le is do d ivórcio . Existem inúm eros textos da Mesopotâmia e do Egito que descrevem as leis acerca do divórcio. Em bora as leis geralmente favorecessem os homens, em ambas as culturas, era permitido que as m ulheres, em determinadas circunstâncias e condições, obtivessem o divórcio. N este contexto, Jerem ias está fazendo menção a uma lei específica do divórcio do Antigo Testamento, em Deuteronômio 24.1-4, que afirm a que um hom em não pode se casar de novo com sua ex-esposa se ela tiver se casado com outro
homem nesse ínterim. Logo, a resposta à pergunta de Jerem ias é não, o m arido não poderia casar-se de novo com ela.
3.3. chuva na primavera. Os dois tipos de chuva descritos aqui são os aguaceiros que geralm ente caíam em março e as chuvas temporãs da prim avera, que norm alm ente desciam em abril.
3.6-4.4 A infidelidade de Israel3.6. práticas de adoração. Ver o comentário em 2.20.3.8. certidão de divórcio. A s certidões de divórcio eram bem conhecidas no antigo Oriente Próximo. Na verdade, até mesmo uma certidão de divórcio da realeza, escrita num tablete de argila em Ugarit, da Idade do Bronze Moderna, foi encontrada. Muitos textos contendo leis a respeito do divórcio foram encontrados em escrita cuneiforme na Mesopotâmia e em papiros, no Egito.3.9. adultério com ídolos de pedra e m adeira. Cometer adultério com ídolos de pedra e m adeira refere-se ao "ad ultério esp iritual" de seguir após os aserins (árvores sagradas, i. e., idolos de madeira) e aos baalins (ídolos de pedra).4.4. m etáfora da circuncisão do coração. A circuncisão não era um a prática exclusiva de Israel como evidencia a iconografia encontrada no Egito. Mas o significado por trás dela era único, visto que era um sinal de que o povo de Israel pertencia a Yahweh. A circuncisão norm al colocava de form a simbólica o órgão de reprodução debaixo do controle de Yahweh, como um
lembrete da promessa de que Israel seria uma grande nação. O conceito da circuncisão do coração significa
va colocar de forma simbólica o órgão da volição debaixo do controle de Yahw eh, como um reconhecimento da submissão à lei.
4.5-31 A invasão que vem do norte4.5. principais cidades fortificadas de Judá. De acordo com Senaqueribe, rei da A ssíria (705-681 a.C.), Judá tinha 46 cidades fortificadas (i. e. cidades muradas), que ele havia invadido e inúm eras pequenas cidades ou aldeias. Portanto, havia um determinado núm ero de cidades com importantes sistemas de defesa. O sistema de defesa de Láquis, uma das principais fortalezas de Judá, foi am plamente escavado no século passado. Continha duas cam adas de m uralhas e fortes torres.4.6. tipo de sinal. O toque da trombeta anunciava um estado de em ergência (ver A m 3.6). A o ouvi-lo os cidadãos que viviam em povoados ou que estavam nos campos trabalhando fugiam para o interior das cidades muradas. Nesse caso, a trombeta foi tocada em toda a terra, por tratar-se de um a em ergência nacional.4.6. desgraça do norte. Ver o comentário em 1.14 ,15 .4.8. vestes de lam ento. As vestes de lamento ou pano de saco eram vestim entas rústicas (geralmente feitas de lã de carneiro) usadas pelas pessoas de luto em tempos de sofrimento (morte de um ente querido) ou grande desgraça. Também eram usadas pelos pastores palestinos porque eram baratas e duráveis.4.11. vento para peneirar e lim par. O vento quente e escaldante do deserto era provavelmente o siroco, um vento que era forte demais para peneirar os cereais na eira, visto que carregava tanto a palha como os grãos. A m etáfora portanto é clara: o castigo de Deus será como o vento quente, que engolirá tanto os bons quanto os maus. A palavra traduzida como "lim par" aqui é usada nos M anuscritos do M ar M orto para referir-se à limpeza que se fazia no cereal, separando a palha, e provavelm ente tem esse significado aqui também.4.15. proclam ação desde D ã. A cidade de Dã (a atual Tel el-Qadi) era o limite norte de Israel. Escavações têm demonstrado que era um a importante cidade na época de Jeremias. Essa cidade teria percebido a chegada dos invasores primeiro. Portanto, um m ensageiro de Dã correria para o sul, "proclam ando a todo o Israel" as m ás notícias.4.15. m ontes de Efraim . De Dã, o invasor desceria as montanhas de G olã até chegar aos montes de Efraim, a região m ontanhosa no centro do antigo reino do norte, que se estendia desde Siquém até Betei.4.23-26. tem a do m undo de cabeça para baixo. Jerem ias tom ou essa im agem do relato da criação em G ênesis 1.2. E le descreve com im agens poéticas a
inversão da criação, de volta a seu estado caótico, antes de Deus ter feito sua obra. O texto babilónico M ito de Erra e Ishum apresenta certa sem elhança ao descrever a inversão da criação, quando M arduque promove a ordem no caos primevo. Na temática do mundo invertido tudo que é considerado confiável e seguro é ameaçado. O conceito pode ser aplicado à esfera cósmica (o sol se escurecerá), à natureza (montes sendo aplainados), à política (impérios sendo depostos), à sociedade (pobres tom ando-se ricos) ou ao mundo animal (leão e cordeiro juntos). Com freqüência esse tema é usado na literatura profética atrelado ao Dia do Senhor e ao julgam ento vindouro.4.28. o céu se escurecerá (eclipse). Nessa im agem poética a terra é personificada (como são m uitos dos objetos inanim ados no hebraico) e descrita como se estivesse de luto e "se escurecendo". N ão se deve supor que Jerem ias esteja tentando descrever um fenômeno celestial, tal como um eclipse, embora a m esma terminologia pudesse ser usada nesse caso.4.30. se veste de vermelho/ pinta os olhos. Um a roupa verm elha representava o m ais alto requinte no vestuário feminino. O corante vermelho era feito dos ovos de um inseto coletado nas folhas de carvalho. A m aquiagem para os olhos (antimônio) era usada (e ainda é usada no atual Oriente Médio) para fazer os olhos parecerem maiores, destacando assim, a beleza da m ulher. N em a roupa verm elha, nem a pintura nos olhos eram especificamente associadas a prostitutas, m as eram simplesmente usadas por uma mulher que desejasse tom ar-se mais atraente.
5.1-31A falsidade de Israel5.1. comparação com D iógenes. De certa form a como Diógenes, o filósofo grego cínico do quarto século a.C., o povo de Judá recebe a sugestão de percorrer a cidade e procurar por um homem honesto (ou nesse caso, justo). A comparação com Diógenes termina, um a vez que os judeus estão à procura de alguém que aja com ju stiça e seja fiel a Yahw eh. D iógenes por sua vez procura alguém que se conforme à sua idéia secular de justiça, uma idéia não necessariamente atrelada a um a divindade.5.6. até que ponto eram comuns os ataques de predadores? Os leões e outros predadores eram m ais comuns no Oriente M édio do que são hoje. U m ataque de um predador não era considerado um acontecimento raro ou surpreendente. Por isso, os judeus estariam bem familiarizados com essa metáfora.5.8. m etáfora do garanhão. Os garanhões eram conhecidos por sua forte inclinação sexual e obediência cega a seus instintos. De forma bastante parecida, o
povo de Judá dava vazão à sua promiscuidade, fosse ela na forma de adultério espiritual ou na participação em atividades sexuais do culto da fertilidade.
5 .12 ,13 . profetas m entirosos. Certamente um profeta que oferecesse ao povo a esperança de paz, segurança e resolução dos problemas seria popular. Do mesmo m odo não havia escassez de profetas que consideravam o benefício próprio apoiavam os desejos do trono nessas questões e estavam, portanto, desejosos de re
presentar os interesses do rei e a im agem que queria divulgar para o povo. O termo literal para esses profetas é que "não passam de vento", em outras palavras, sacos cheios de ar cujas palavras não têm nenhum valor.5.24. chuvas do outono e da prim avera. As chuvas
do outono e da prim avera eram sim plesm ente cham adas de "prim eiras e últim as" chuvas. Israel tem um a estação chuvosa (nos meses de inverno) e uma estação seca (nos meses de verão). A estação chuvosa
com eça com as chuvas do outono ("prim eiras chuv as", outubro a novembro) e termina com as chuvas da primavera ("últim as chuvas", início de abril). Elas são importantes porque contribuem para o aumento da um idade na terra e para afofar o solo que será arado. Baal era considerado o senhor da natureza e quem controlava as chuvas, de acordo com os cultos cananeus da Palestina. Porém , Jerem ias argum enta que é Yahw eh quem deve ser adorado como aquele que dá a chuva na estação própria.
6.1-30Jerusalém é sitiada pelo exército do norte6.1. T ecoa. Tecoa (K hirbit Tequa) era um a cidade situada na região m ontanhosa de Judá, 16 quilôm etros ao sul de Jerusalém , na fronteira entre a terra cultivável e o deserto. U m refugiado de Jerusalém podia chegar até essa cidade dentro de um dia.6.1. Bete-H aquerém . Bete-H aquerém estava relacionada a Tecoa e Belém, m as sua localização precisa é incerta. U m dos pais da igreja prim itiva, Jerônim o, afirmava que podia ser vista de Belém e talvez por isso tenha sido identificada com 'A in Karim, cerca de seis quilômetros a oeste de Jerusalém, ou com Ramath Rahel, quatro quilôm etros ao sul de Jerusalém , que seria um local ideal para se colocar um sinal.6.6. ram pas de cerco. Os antigos eram notáveis por sua habilidade de conduzir guerras de cerco. A construção de um a rampa de cerco era um a estratégia útil, mas bastante precária, visto que os defensores da cidade faziam o possível para atrapalhar seu progresso. Normalmente as rampas eram feitas em aclive, construídas com alicerce de árvores e grandes pedras e misturadas com barro e outros elementos disponíveis.
Inúmeros relevos de parede da Assíria ilustram ram pas de cercos assírios empregadas em todo o Oriente Próxim o. Tam bém foram encontrados vestígios de ram pas de cerco na cidade judaica de Láquis (para mais inform ações, ver o comentário em 32.24), cuja fortaleza os assírios tiveram êxito em conquistar e destruir.6.20. incenso de Sabá. Um a das especiarias mais caras era o olíbano, um a resina branca im portada de Sabá, um centro do comércio de especiarias no sul da Arábia. O incenso acompanhava as ofertas sacrificiais (ver o comentário em Lv 2.1).6.20. cálam o arom ático. O cálam o arom ático (cana aromática) provavelmente era originário da índia. Figurava entre os ingredientes alistados em Êxodo 30.23 no preparo do óleo de unção. Era um a planta que crescia nos pântanos, usada como tônico ou estimulante. Não deve ser confundida com a cana de açúcar, que espalhou-se no oriente após o período do Antigo Testamento.
6.23. unidades de cavalaria no sétim o século. Os carros de guerra e a cavalaria eram usados primordialmente como tropas de choque no sétimo século a.C.. Porém, com as reformas de Tiglate-Pileser III, rei da A ssíria (745-727 a.C.), cavalos e carros também passaram a desempenhar um papel na artilharia leve, uma vez que flechas eram atiradas de carros puxados por cavalos. M ais tarde, um carro mais pesado com quatro hom ens surgiu com Assurbanipal (668-627 a.C.). A cavalaria (sem estar atrelada a carros) foi desenvolvida em Urartu (bíblica Ararate), que forneceu quase mil unidades especializadas ao exército assírio na época de Sargão II (721-705 a.C.). Fazendas de haras foram form adas em diversos pontos do im pério, especialmente na Síria e nas capitais assírias. Toda essa tradição da cavalaria foi herdada pelos caldeus no final do
sétimo século a.C.. Para mais informações, ver o comentário em Habacuque 1.8.6.26. revolva-se em cinza. Rolar ou revolver-se no pó ou em cinzas era um sinal de luto no antigo Oriente Próximo.6.27. exam inador de m etais. O examinador ou refi- nador de metais aqui m encionado era um metalúrgico cuja tarefa era examinar a qualidade do minério que era refinado, ou seja, extirpado de seus elem entos impuros. Quando, porém, havia uma grande quantidade de im pureza no m etal, a peça era totalmente descartada.6.28. m etáfora do bronze e do ferro. No mundo antigo a prata era extraída e refinada através de um processo chamado copelação. No processo inicial de fundição, a prata era extraída de minérios de chumbo (galena) contendo menos de um porcento de prata em
cada amostra. O chum bo era derretido em vasilhas rasas feitas de substâncias porosas com o cinzas de ossos ou argila. Um fole então era usado para soprar através do chum bo fundido, produzindo óxido de chum bo (litargírio). Parte do óxido de chum bo era absorvida pela vasilha porosa, enquanto outra parte formava uma camada na superfície. Teoricamente a prata era o que sobrava. Infelizmente, esse processo apresentava muitos problemas potenciais. Se a tem peratura estivesse elevada dem ais ou se a am ostra contivesse outros metais (cobre ou estanho eram comuns), a copelação não teria êxito. Nesse caso, quando o litargírio formava uma camada na superfície, em vez de prata, restava uma prata m isturada com outros m etais e, portanto, inutilizável. Talvez esse seja o produto descrito como "escória" ou "prata rejeitada" pela tradução. Outra possibilidade é que o texto se refira ao processo de refinação que envolvia aquecer um a amostra de prata com grandes quantidades de chumbo a fim de extrair as impurezas. Um dos resultados possíveis desse processo era que a quantidade de chumbo seria insuficiente para extrair as impurezas, inutilizando a prata. Em vez de ser purificada, então, a prata ficava em piores condições que antes do processo. Talvez o texto tenha em mente esse processo e a prata se transforme nesse lixo inútil.
7.1-29 A inutilidade da falsa religião7.2. proclam ações ju n to à porta do tem plo. As proclamações geralmente eram feitas em lugares públicos onde um grande trânsito de pessoas era esperado. As portas eram pontos de intensa atividade nas cidades antigas. Pela porta do templo passavam todos aqueles que tinham negócios a resolver no templo, inclusive quem se dirigisse ali para oferecer algum sacrifício. Esse é o público-alvo da proclam ação de Jerem ias.7.2. tipo de adoração. Os dois term os em hebraico usados aqui para adorar significam "servir" e "prostrar-se" (reverenciar). O último é usado aqui e geralm ente representa um ato de hum ilhação, com freqüência associado a um a petição. O templo era primordialm ente um santuário e era considerado parte da propriedade da coroa. O templo era a "casa de D eus", ou seja, sua residência. Não era um lugar de adoração coletiva e os adoradores eram admitidos aos átrios do templo, m as não nos recintos interiores propriamente. Os rituais sacrificiais eram feitos nos pátios e outras áreas externas. Embora haja muitos textos que descrevem tem plos no antigo O riente Próxim o, nenhum descreve em detalhes o tipo de adoração individual que era feita dentro dos m uros do templo. Sabemos
que os adoradores recebiam sonhos da divindade (p. ex., em M ari) quando contem plavam sua im agem , mas a entrada de fato no templo deve ter sido rara.7.4. ideologia do templo. As pessoas neste contexto passaram a acreditar que o templo era tão importante para Deus que protegia as pessoas. No antigo Oriente Próximo, a cidade inteira era considerada sob a proteção de sua divindade padroeira. N esse aspecto, Je rusalém se considerava impenetrável porque abrigava o templo de Yahweh, ou seja, a m orada de Deus. Certamente esse conceito ganhou peso durante o reinado de Ezequias, um século antes. De forma semelhante, os templos na antiga Ásia ocidental eram descritos como a "casa do deus". Os reis mais justos eram aqueles que m antinham a casa de deus em ordem e prom oviam constantes reform as nela. A divindade habitava no templo, assim como o rei e as pessoas habitavam em suas próprias casas. O templo tinha de ser mantido de forma bastante semelhante ao cuidado que se destinava à imagem do deus, que era alimentada, lavad a e vestida diariam ente. Essas eram as necessidades dos deuses. A divindade "precisava" de um a casa, por isso acreditava-se que ela protegeria a casa e a cidade que supriam sua necessidade de abrigo. Pensando de form a bastante parecida à de seus vizinhos, os israelitas estão transformando o templo em um talismã protetor.
7.6. pessoas vulneráveis no antigo O riente Próximo.A Lei Mosaica tinha um a profunda preocupação com o bem-estar do ser humano, especialmente por razões históricas. Visto que os israelitas haviam sido escravos no Egito, eram sensíveis às necessidades de escravos, viúvas, órfãos e outros grupos menos favorecidos. Existem inúmeros textos legais na Mesopotâmia que tratam dos oprimidos, tais como viúvas, órfãos e enjeitados. No entanto, esses textos geralmente tratam dos direitos legais (ou ausência deles) e não da assistência a essas pessoas. Por exemplo, as viúvas do período neo-babilônico estavam sob a proteção legal de seu pai, irmão ou cunhado. Entretanto, aquelas que tivessem auto-suficiência financeira após a morte do m arido, não tinham necessidade da tutela de um protetor e, portanto, não eram consideradas legalm ente viúvas. Para m ais informações, ver o comentário em Êxodo 22.22-24.7.9. responsabilidad e ética e relig iosa. As religiões praticadas pelas nações vizinhas de Israel previam um comportamento ético das pessoas, mas talvez se baseassem em uma lógica ligeiramente diferente. Na Babilônia, por exem plo, Sham ás, o deus-sol, era o deus da justiça. Shamás era responsável por garantir que a justiça fosse mantida no mundo, uma vez que a justiça fazia parte da ordem que era sustentava o cos
mos. De forma bastante semelhante, o proprietário de
uma loja pode exigir honestidade de seus emprega
dos porque ele sabe que isso contribuirá para o sucesso de seus negócios, ainda que ele mesmo talvez não
seja tão honesto. Em Israel não era o bom funcionamento do cosmos que motivava Yahw eh a insistir no
comportamento m oral de seu povo. A lei se originava em seu caráter e a santidade que ele exigia era um
reflexo dele.7.10. tem p lo que leva o m eu n om e. O tem plo é o
lugar onde D eus escolhera colocar seu nome ou em
outras palavras, onde estabelecera seu direito legal, logo, era sua propriedade particular. O tem plo no
antigo Oriente Próximo era considerado a residência
privada da divindade, ou seja, sua propriedade particular. O rei era m eram ente o zelador do prédio e
responsável por sua manutenção.
7.10. tem plo garantindo proteção. Na Mesopotâmia e
em Israel o templo garantia proteção porque a divin
dade habitava ali e por isso o adorador tinha mais acesso
à proteção do deus. Ao contrário do que acontecia na Grécia antiga, porém, não havia nenhuma lei especial
de proteção para um indivíduo, apenas porque estives
se nos lim ites da propriedade de um templo.7.12. S iló . Siló (atual K hirbit Seilun), no coração das m ontanhas efraim itas, era o lugar onde Israel convo
cava suas assem bléias sagradas antes de usar Jerusa
lém. Escavações conduzidas ali desenterraram ampla
arquitetura do século onze a .C . O lugar existiu durante
a Idade do Ferro, m as as estruturas sagradas estavam praticamente em ruínas na época de Jeremias. Acredita-
se que tenha sido invadida pelos filisteus em decorrên
cia de sua vitória na Batalha de A feque (1 Sm 4).7.18. bo los para a R ainh a dos Céus. O term o para
bolos descrito aqui é um empréstimo do acadiano. Os babilônios usavam bolos doces no culto à deusa Istar.
É possível que tam bém aqui o título "R ain ha dos
Céus" seja um a menção a Istar, mas algumas evidências apontam para uma deusa-mãe sem nom e ou para
Aserá. Os bolos eram assados diretamente sobre brasas de fogo e não em fom os. Conforme descrito nessa
passagem, toda a família participava dos rituais cultuais. Oferecer bolos às divindades era bastante co
m um na Babilônia. Quarenta e sete formas de bolo representando uma deusa (algumas com form a fem i
nina, outras com forma de estrela) foram encontradas
na cozinha real do início do segundo milênio a.C., em Mari, no nordeste da Síria.
7.18. derramam ofertas. As ofertas líquidas ou libações
eram comuns em Israel, mas a expressão usada aqui,
"derram am ofertas", normalmente refere-se a ofertas descritas em outros contextos como ofertas dedicadas a
outros deuses nos telhados das casas (ver o comentário em 32.29), sugerindo adoração astral.7.20. ardente ira derramada sobre anim ais, árvores e produto do solo . O paralelo entre "hom ens e anim ais" é com um n a Escritura (por exemplo, Êx 8.13, 14). Porém, a adição de árvores e produto do solo não é vista em nenhum outro contexto. Quando Enlil, o rei dos deuses na Mesopotâmia, provocou o dilúvio, atingiu toda a carne indiscrim inadam ente. O m ito babilónico de Erra e Ishum tam bém descreve a devastação que recaiu sobre homens e animais. Por outro lado, estratégias de guerra com freqüência tinham como alvo o produto dos cam pos e as árvores. As árvores eram cortadas para atender as necessidades do exército sitiante ou simplesmente para arrumar as florestas. Parte do produto dos campos era usado para su p rir o ex é rc ito , o u tra p arte sim p lesm en te era pisoteada pelos soldados em m archa ou intencionalm ente destruída a fim de acabar com a economia.
7.21. com er a carne dos holocau stos. V isto que os holocaustos eram totalmente consumidos sobre o altar, supostam ente não restava nenhum a carne que pudesse ser ingerida pelos adoradores. Porém , visto que D eus não tinha intenção nenhum a de ouvir as petições que acompanhavam os holocaustos, os israelitas poderiam ter comido a carne do sacrifício que não teria feito diferença.
7.29. cortar os cabelos e jog á-los fora. O corte dos cabelos norm almente era um gesto de luto. Porém, o
objeto do verbo aqui freqüentemente era usado para a consagração de sacerdotes e nazireus, que faziam voto de não cortar o cabelo. Yahw eh está ironicamen
te mandando o povo cortar seus cabelos consagrados, visto que seus votos não serviriam de nada.
7.30-8.3Morte no vale de Ben-Hinom7.31. alto de T ofete no vale de Ben-H inom . "T ofete”
era o altar cultual onde crianças eram oferecidas ao deus M oloque. Acredita-se que a palavra signifique o forno onde a vítima era depositada. O termo hebraico tem paralelos em ugarítico e aramaico com o significado de "fornalha" ou "fogueira". Eruditos acreditam que Tofete ficava na junção do vale de Ben-Hinom com o vale de Cedrom. O vale de Ben-H inom tem sido identificado com o uádi er-Rahabi, a sudoeste da
Cidade de Davi. Muitos consideram que Moloque era um a divindade do m undo inferior cujos rituais tinham origens cananéias e focalizavam os ancestrais mortos. U m a inscrição fenícia do oitavo século a.C.
fala de sacrifícios feitos a M oloque antes da batalha entre cilicianos e seus inim igos. O nom e M oloque parece estar relacionado ao termo hebraico mlk ("go
vernar"). Os sacrifícios a M oloque eram oferecidos no altar de Baal, o que pode significar que o termo era um epíteto do próprio Baal, bem como de outras divindades (32.35).7.31. queim ar em sacrifício seus filh o s e filh as. Asevidências para essa prática fora das Escrituras são de fato raras. Textos legais assírios descrevem um a cláusula punitiva que diz "terá de queimar seu filho a Sin (uma divindade lunar) e sua filha a Belet-seri". Ver também o comentário em 2 Crônicas 28.3.8.2. exposição de ossos. Os ossos das sepulturas eram considerados sagrados. A ligação entre a vida e a morte no antigo Oriente Próximo era diferente da nossa. Acreditava-se que os indivíduos tinham um a consciência após a m orte enquanto seus corpos (i.e., ossos) ainda existissem e permanecessem enterrados de form a adequada. Com freqüência a profanação de tú m ulos não tinha o objetivo de m eram ente tirar tesouros dali e sim de perturbar os ossos do morto. Assur- barnpal, rei da A ssíria, atacou a capital elam ita de Susa e levou dali os ossos dos m ortos a fim de "im por
desassossego sobre seus espíritos e privá-los de ofertas de comida e libações". O s cultos aos mortos abundavam em todo o Oriente Próximo. Em Israel, os corpos dos mortos também recebiam tratamento cuidadoso e a violação de túm ulos era vista com horror. Deve-se lembrar que tanto Jacó como José demonstraram o desejo de que seus ossos fossem levados à Terra Prom etida quando os israelitas voltassem para lá.8.2. culto aos astros do céu. As "hostes do céu" (NVI
"astros") eram o exército celestial formado pelos planetas e estrelas habitados pelos espíritos divinos que controlavam o destino da humanidade. Os babilônios eram especialistas em matéria de adivinhação astral, tentando predizer e controlar o destino através do uso
de presságios e exame das estrelas. A astrologia m oderna tem suas raízes na Babilônia do período helerús- tico (após 331 a.C.), séculos depois de Jeremias. Selos israelitas do sétimo século m ostram que os símbolos astrais para as divindades eram muito populares naquele período. Para mais informações, ver os comentários em Deuteronômio 4.19; 17.3; 2 Reis 23.4; 2 Crônicas 33.5.
8.4-9.26Castigo iminente8.7. m etáfora da migração de aves. Embora a identificação exata das aves mencionadas aqui seja incerta, fica claro que elas obedeciam à vontade de Yahweh (m igrando para o lugar certo, na época certa), enquanto seus filhos não lhe obedeciam.8.14. m etáfora da água envenenada. Era crucial para um a cidade sitiada ter acesso a um suprim ento de
água protegido. Se o suprimento tivesse sido envene
nado, a cidade ficaria literalm ente indefesa e seria obrigada a render-se aos invasores. Logo, essa é uma metáfora para a abreviação do cerco.8.16. D ã como direção do ataque. Ver o comentário em 4.15.8.17. serpentes n a Palestina. As serpentes aqui provavelmente são um a metáfora para o exército caldeu. As serpentes descritas nas Escrituras parecem ser venenosas, em bora nenhuma espécie particular possa ser determ inada. Isaías 11.8 faz m enção ao "n inho da víbora" e os comentaristas sugeriram que trata-se de um a referência às cobras, visto que elas geralmente vivem em ninhos ou esconderijos. Outras serpentes venenosas provavelm ente eram a víbora da relva (conhecida por atacar sem provocação) e a víbora do deserto.8.17. encantar serpentes. As serpentes eram grandemente temidas no mundo antigo por serem consideradas seres mágicos e também por causa de seu veneno. Tanto a literatura egípcia quanto a mesopotâmica contêm exem plos de encantam entos usados contra serpentes e suas mordidas. A palavra traduzida como "encan tar" aqui não deve evocar im agens de dese
nho animado de serpentes hipnotizadas subindo em espiral controladas por tocadores de flauta. Ao contrário, a referência é a serpentes contra as quais os encantamentos são ineficazes. Textos acadianos também falam de serpentes que são "desconjuráveis".8.20. relação entre as estações e a libertação. Uma vez que a época da colheita de cereais e frutas e a estação de crescimento e amadurecimento das plantações haviam terminado, não havia nada nos celeiros. Essa é uma descrição de tempos de fome; por causa dos exércitos invasores não havia como colher os campos e a perspectiva era de um inverno sem alimentos.8.22. b álsam o de G ilead e. Em bora o bálsam o esteja associado a G ilead e, não há nenhum a evidência de um a árvore ou planta que produzisse bálsam o nesse lugar, se bem que as divisas de Gileade nunca foram bem definidas. Existem duas possibilidades: ou a referência é a algo distinto do bálsam o (ver o com entário em 46.11) ou Gileade na verdade importava bálsamo, em vez de produzi-lo. A Estrada do Rei, a principal rota com ercial na região, passava por Gileade e o bálsam o era um dos principais produtos de troca. As caravanas de especiarias vindas do leste seguiam essa rota e sem dúvida o bálsam o era vendido ali (ver Gn 37.25). O bálsam o provavelm ente era a resina da árvore do estoraque, obtida através de um a incisão no caule da árvore. Acreditava-se que tivesse propriedades m edicinais. Josefo afirm a que En-G edi, perto do m ar M orto, era um im portante centro do cultivo de
plantas produtoras de perfume (inclusive do bálsamo), um fato confirmado por arqueólogos, que descobriram em Tel G oren e En-Gedi, no litoral oeste do m ar M orto, algo que parece ser um a fábrica de bálsam o.9.15. com ida amarga. O termo aqui para comida amarga é absinto (o nom e de diversas plantas do gênero Artemísia), um arbusto rasteiro cujas folhas são amargas e cujo fruto é usado na m edicina popular, especialm ente para problem as intestinais. É comido por bodes e camelos e atualmente os beduínos secam as folhas para fazer um forte chá arom ático. O termo absinto nas Escrituras é usado de m aneira figurada para am argura e tristeza.
9.17-20. pranteadoras p rofissionais. Essa é a única referência n a Bíblia a carpideiras profissionais, embora fosse um costume divulgado em todo o antigo Oriente Próximo. Pranteadores profissionais (em quase
todos os casos, mulheres) são ilustrados em inúmeros relevos de parede em pinturas de túmulos egípcios.
Também são mencionados com freqüência na Meso- potâmia e n a Síria lamentando não apenas pelos mortos humanos, mas também pelos deuses que morriam e ressuscitavam (p. ex., Dumuzi ou Tammuz). O costum e tam bém predom inava no leste do M editerrâneo, especialmente na Grécia clássica, e continua em algumas partes do Oriente Médio ainda hoje.9.26. incircunciso de coração. V er o comentário em4.4.
10.1-25 Deus e os ídolos10.2. sinais no céu. Os deuses celestiais (deus-sol, deus- lua e Vênus particularm ente; na Babilônia, Shamás, Sin e Istar, respectivamente) eram os mais importantes na maioria das religiões antigas. No controle do calendário e do tempo, das estações e do clima, eram vistos como os m ais poderosos dos deuses. Eles davam sinais nos quais presságios eram lidos e desprezavam a todos. No final do segundo m ilênio, uma coletânea de presságios celestiais, os setenta tabletes da obra conhecida como Enuma Anu Enlil, havia sido compilada e fora consultada por quase mil anos. H avia muitas constelações identificadas pelos astrólogos mesopotâmios (muitas, embora não todas, as mesmas que conhecemos hoje, conhecimento transmitido pelos gregos), m as o Zodíaco ainda não existia.10.3, 4. confecção de ídolos. Ver os comentários em Isaías 40.19; 41.7; 44.10-14.10.5. crença no antigo O riente Próxim o acerca do tratam ento dado aos deuses. Os ídolos eram feitos num a variedade de form as e tam anhos, no antigo Oriente Próximo. Essas imagens eram entalhadas na madeira, recobertas por lâminas forjadas de prata ou
ouro e então, adornadas de ricas vestim entas. Com um a aparência basicamente hum ana (exceto os deuses do Egito, cujas características hum anas eram mescladas às de anim ais), esses deuses tinham porte, vestimentas e corte de cabelo distintivos, até mesmo padronizados. A imagem não era a divindade, e sim sua habitação, por meio da qual manifestava sua presença e vontade. No antigo Oriente Próximo, era nas im agens que as divindades se faziam presente de forma especial, a ponto de a estátua de culto tom ar-se no próprio deus (quando os adoradores eram assim agraciados), embora essa não fosse a única manifestação da divindade. Rituais eram realizados para dar vida à estátua da divindade, ou seja, ao ídolo. Como
resultado dessa ligação, feitiços, encantamentos e outros atos m ágicos podiam ser executados diante da im agem a fim de am eaçar, intim idar ou obrigar a divindade a fazer algo. Em contraste, outros ritos relacionados à imagem tinham como objetivo ajudar ou cuidar da divindade. Assim, as imagens representavam uma visão de mundo, um conceito de divindade incom patível à form a como Yahw eh se revelara. O ídolo não era a divindade em si, m as acreditava-se que era sua morada e que, por m eio da im agem , a
divindade m anifestava sua presença e vontade. Os arqueólogos encontraram poucas im agens de tam a
nho natural, como o texto descreve, mas existem versões delas que permitem um conhecimento acurado
de detalhes. A s im agens das divindades na M eso- potâmia eram alimentadas, vestidas e até mesmo lavadas diariamente. Todos os dias sacrifícios de comida eram oferecidos à divindade (e sem dúvida, comidos pelos funcionários do templo). Alguns criados tinham de vestir e despir a estátua enquanto a tarefa de outros era lavar e transportar a estátua em tempos de celebração.10.5. im potência dos ídolos. A palavra traduzida como "espantalho" ocorre apenas aqui no Antigo Testam ento. Esse objeto era o máximo que Israel tinha perm issão de fazer, em term os de im agens. Portanto, os ídolos "sagrados" são rebaixados à posição de espantalhos, não m ais poderosos que galhos de palm eira retorcidos em volta de um a estaca. Eles certamente não inspiravam medo.10.9. prata de T ársis , ouro de U faz. Em bora U faz fosse conhecida por seu ouro (Dn 10.5), sua localização precisa é desconhecida. Um targum aramaico a localiza em Ofir, um a reserva de ouro no sul da Arábia. U faz tam bém pode ser um adjetivo que significa
"pu ro". H á uma série de referências a Társis no contexto de pedras preciosas. Essas referências parecem relacionar Társis a Eziom-Geber, na área do m ar Verm elho, o que correlaciona U faz a O fir. Em outras
passagens, porém, Társis claramente denota uma localidade ocidental.10.9. vestir os ídolos de azul e verm elho. Os termos antigos para cores são de difícil interpretação. Esses termos indicam tonalidades de azul/ púrpura e eram cores da realeza e das divindades (para m ais detalhes, ver o comentário em Nm 4.6). M uitas imagens no antigo Oriente Próximo eram de ouro ou revestidas de ouro e eram vestidas nessas cores.10.12.13 . D eus criador/ D eus cósm ico. Essa descrição do Deus de Israel o retrata como uma divindade criadora e cósm ica ao m esm o tempo. Ele estabeleceu a ordem no cosm os e mantém essa ordem controlando o funcionamento do m undo criado. Essas duas áreas de atuação não coexistiam com freqüência em uma única divindade do m undo antigo. M arduque, a principal divindade da Babilônia, no entanto, tinha o controle sobre os raios e trovões e tam bém era considerado o deus criador.10.13. vento dos seus depósitos. Os cananeus e os babilônios atribuíam as m anifestações das tem pestades a Adade, o deus da tempestade e dos ventos. Jeremias, no entanto, afirma que apenas Yahw eh está no controle dos fenôm enos atm osféricos. Ele usa a imagem de Yahw eh tendo depósitos de chuva, saraiva e neve, que são colocadas em m ovim ento pelo vento, provavelm ente instigado por seu sopro (ver tam b ém D t 2 8 .12 ; Jó 38 .22 e SI 33 .7 ). A p alav ra traduzida como "depósitos" pode ser usada para refe
rir-se a casas de tesouro onde eram guardados objetos preciosos, bem como as armas da coroa. Granizo, neve,
vento, trovão e relâmpagos com freqüência são vistos como armas que Deus usa para derrotar seus inimigos. Igualm ente esses depósitos podiam servir como arm azéns de cevada, tâmaras, cereais ou dízimos em geral. Do mesmo modo, Deus recorre aos "produtos" em seu estoque, conforme se faz necessário. O s depósitos cósmicos não eram uma figura comum no antigo Oriente Próximo.
11.1-17A aliança é quebrada11.4. fornalha de fund ir ferro. No mundo antigo não havia o alto-fom o, usado em nossos dias para produzir ferro fundido. O ponto de fundição do ferro é 1.537 graus centígrados, um a tem peratura im possível de atingir com a tecnologia antiga. No entanto, quando aquecido a menos de 1.100 graus centígrados, o ferro tom a um a forma esponjosa, semi-sólida que pode ser forjada. A fornalha geralm ente era alimentada com carvão, a fim de produzir o carbono necessário para o processo químico. A resistência do aço depende da quantidade de carbono que é capaz de absorver. Quan
to m ais baixa a temperatura, maior o núm ero de vezes o processo precisa ser repetido a fim de livrar-se das escórias e alcançar um produto adequado para o uso. Embora a fornalha certamente seja uma metáfora negativa, significando a opressão do Egito, o significado do fogo, em vez de destrutivo, é construtivo. A alta tem peratura da fornalha transform a o m inério maleável no produto final, que é o ferro duro e resistente. A experiência do êxodo, embora difícil, transformou Israel no povo da aliança de Deus.11.5. terra onde m anam leite e m el. A expressão "onde manam leite e m el" era um clichê comum nas Escrituras para designar a fertilidade de uma área. Os cana- neus descreviam a terra em textos rituais de forma sem elhante, assim como o texto literário egípcio de Sinuhe (início do segundo m ilênio a.C.). Para mais informações, ver o comentário em Êxodo 3.7-10.11.13. os altares de B aal são tantos quantas são as ruas de Jerusalém . A frase está enfatizando a enorme
quantidade de ídolos e altares a Baal em Jerusalém. Um a cidade típica no antigo Oriente Próximo tinha dezenas de esquinas em bairros residenciais. O texto não dá a entender que em cada esquina havia um altar a Baal. Não obstante, textos babilónicos falam de pequenos santuários ou nichos ao ar livre situados em esquinas ou praças. Um texto diz que na cidade de Babilónia havia 180 deles dedicados à deusa Istar. Esses santuários tinham uma estrutura elevada com um altar no topo e parece que eram freqüentados principalmente por mulheres.11 .15 . carn e co n sag rad a . G rand e p arte da carne consum ida em Israel estava relacionada ao sistema sacrificial e, portanto, era comida em áreas específicas do templo. A carne consagrada refere-se à carne usada nessas circunstâncias. A ironia aqui é que mesmo que se assentassem nos recintos do templo e participassem de um a refeição sagrada, os israelitas expressavam sua impiedade nas conversas à mesa.11.16. estrondo (tempestade) como castigo da divindade. A imagem do deus da tempestade já foi usada diversas vezes no Livro. O estrondo do castigo de D eus é acom panhado por relâm pagos e raios que incendeiam a árvore que simboliza Israel. Para mais informações, ver o comentário em 1 Samuel 7.10.
11.18-23A conspiração contra Jeremias11.21. Anatote. Ver o comentário em 1.1.11.21. profetizar como crim e capital. Em outras passagens da Escritura aqueles que profetizavam falsamente eram legalmente condenados à morte. A profecia era um a vocação em pregada em todo o antigo Oriente Próximo, mas a pena capital para falsa profe
cia é vista principalmente em Israel. Não obstante, os homens de Anatote não estavam sugerindo que as profecias de Jeremias eram falsas; eles simplesmente tentavam silenciá-lo com suas ameaças. Proferir uma profecia era um meio de concretizá-la (do mesmo modo que escrevê-la; ver o comentário em 36.23), por isso aqueles homens acreditavam que ao silenciar Jeremias (por ameaça ou assassinato), eles poderiam evitar que as desgraças anunciadas por ele acontecessem.
12.1-17A queixa de Jeremias e a resposta de Deus12.4. base do cinism o. N o antigo O riente Próxim o uma catástrofe sobrevinha quando a divindade ficava irada e afastava sua proteção. O povo então ficava sujeito a todo tipo de problemas, m uitos dos quais, acreditava-se, eram perpetrados pelos demônios. Em Deuteronômio 32.20, Deus diz que responderá à impiedade de Israel escondendo seu rosto. Ele então "veria o fim que teriam ", isto é, como iriam sobreviver sem sua bênção e proteção. Aqui em Jerem ias, Deus escondeu seu rosto (evidente na seca e na fome), mas os m alfeitores estão convencidos de que D eus não "verá o fim que os espera" (mesma expressão de Deuteronômio) porque estão determinados a sobreviver sem a ajuda dele.12.5. m atagais ju n to ao Jordão. Os "m atagais junto ao Jordão" é uma expressão que se refere à área onde o rio Jordão transborda em um m atagal de junco, arbustos e árvores, m uitas vezes transform ando-se em um covil para leões. Era um lugar perigoso e de difícil navegação.12.9. pairam as aves de rapina. Essa expressão é usada som ente neste contexto e m uitos estudiosos acreditam que não se refere a um a ave e sim a uma hiena que está cercada por aves de rapina. Esse significado encontra sup orte na interpretação da Septuaginta e também pelo seu uso em línguas semitas aparentadas, m as o texto continua sendo de difícil entendimento.
13.1-14O cinto de linho e as vasilhas de couro13.1. identificação da veste. Existem duas descrições distintas do cinto. Um a é a descrição cananéia de uma faixa de tecido torcida que não passava entre as pernas, enquanto a outra é um a descrição egípcia dos sírios, cuja peça do vestuário era composta de faixas estreitas de tecido sobreposto que também não passava pelo meio das pernas. Alguns desses itens do vestuário eram feitos de couro, mas outros eram feitos de linho, como esse do versículo em questão.13.4. Perete. Perete é um termo usado com freqüência para o rio Eufrates, que ficava mais de 560 quilôme
tros ao norte de A natote, o que equivaleria a duas longas viagens de ida e volta! Outros estudiosos suge
riram que trata-se do uádi Fará (simbolicamente cha
mado de Perete?), pouco m ais de seis quilômetros a nordeste de Anatote (mencionado em Js 18.23).
13.12. encher de vinho as vasilhas de couro. A inter
pretação dessa frase tem sido particularmente difícil. É possível que Jerem ias esteja citando um provérbio
da época a respeito do uso que cada coisa tinha; as vasilhas de couro cumpririam seu propósito estando cheias de vinho, da m esm a form a que um chapéu
cumpre seu propósito estando na cabeça de alguém. É
provável que Jeremias esteja fazendo um a afirmação irônica citando um provérbio simples, semelhante a Isaías 28.23-29.
13.15-14.12Ameaça de cativeiro, seca, fome, espada13.18. rainha-m ãe. A rainha-mãe era um título oficial
no antigo Israel. Era uma posição com prerrogativas oficiais do alto escalão, especialmente quando o mo
narca era m enor de idade (e o m arido da rainha, o
antigo rei, tinha morrido). Ela não apenas tinha influência sobre seu filho, o rei, como também desfrutava de grande autoridade. Atalia conseguiu usurpar o
poder do trono (2 R s ll) . Visto que a rainha-mãe tinha
um a posição oficial no reinado, o escritor dos livros
dos Reis quase sempre a menciona associada ao filho.
P rovavelm ente era-lhe perm itido assu m ir algum a
posição de distinção na ascensão de seu filho como rei. Existem paralelos em textos hititas e ugaríticos que
descrevem o papel da rainha-mãe. Não há evidência
direta desse cargo em Israel, o reino do norte. Para
mais informações, ver o comentário em 1 Reis 2.19. A
rainha-mãe mencionada aqui provavelmente é Neusta, m ãe de Jeoaquim , que sentou-se no trono por um
curto período, em 597, até ele ser levado cativo para a
Babilônia.13.18. coroas. A coroa real em Judá provavelm ente
era um diadema de ouro usado sobre um turbante
(ver SI 21.3; Ez 21.26). Os reis do Egito usavam uma
ampla variedade de coroas, enquanto os reis da Assíria usavam um chapéu cônico cortado com bordados ou
aplicações de pedras preciosas e os reis babilónicos usavam um chapéu curvo que ficava pontudo.
13.19. cidades do N eguebe. O termo N eguebe nor
malmente se refere à grande área desértica do sul de Judá. Nesse contexto, porém, provavelmente denota
a parte sul de Judá, pontilhada de cidades e guarni
ções, desde Belém até Berseba, com H ebrom no meio.
Não fica claro até que ponto essas cidades estiveram sob o ataque da Babilônia em 597, m as os óstracos de
Arade sugerem que Edom representou um a ameaça para elas.13.23. etíope, leopardo. No texto egípcio Instrução de
Ankhsheshonqy, um dito semelhante ocorre ("N enhum núbio pode trocar sua pele") num a seqüência de feitos inconcebíveis (p. ex., "N enh u m tolo se beneficia"). No texto aram aico Palavras de A hiqar há uma conversa entre um leopardo e um bode em que o primeiro oferece ao último sua pele para que o bode possa se aquecer. O bode replica que o leopardo só quer tirar sua pele, fazendo uma troca.13.26. vestes cobrindo o rosto. Essa im agem não descreve m ulheres sendo levadas cativas, mas soldados inimigos invadindo as cidades, estuprando e pilhando. Judá aqui é retratada de form a metafórica sofrendo um destino semelhante.14.12. je ju m . O jejum era a abstenção total de alimento por um determinado período. O Dia da Expiação era o único dia de jejum nacional alistado na Escritura, embora jejuns públicos fossem convocados em ocasiões especiais, principalm ente em tempos de luto e penitência. Há poucas evidências da prática do jejum no antigo Oriente Próximo fora da Bíblia. Geralmente era feito em contextos de luto. No Antigo Testamento, o uso religioso do jejum com freqüência está relacionado a um pedido dirigido a Deus. O princípio era que a importância do pedido levava o indivíduo a preocupar-se tanto com sua condição espiritual que as necessidades físicas eram relegadas a segundo plano. Nesse aspecto o ato de jejuar serve como um processo de purificação e hum ilhação diante de Deus (SI 69.10). Em contextos de arrependimento, os israelitas jejuavam para remover qualquer pecado ou obstáculo que pudesse ter provocado sua sujeição.
14.13-15.21Falsas esperanças e única esperança14.22. meteorologia israelita. Assim como a maioria dos povos do antigo O riente Próxim o, os israelitas consideravam as alterações clim áticas provenientes dos quatro ventos que sopravam dos quatro cantos da Terra. Deus não apenas controlava os ventos, como os criara. O vento do norte era associado ao clima frio, à neve e à dispersão de chuvas. O vento do sul às vezes era o portador do siroco. O vento do leste trazia um vento seco do deserto. O vento do oeste vinha do mar Mediterrâneo e era descrito como o "p ai da chuva". Fica claro neste versículo que o israelita comum teria achado absolutamente ridículo imaginar que os céus davam a chuva por si mesmos. O clima não era algo
independente da divindade.15.4. ações de M an assés. Segundo R eis 21.3-7 e 2 Crônicas 33.3-7 descrevem os atos ímpios de Manassés,
que incluem adoração aos astros e a edificação de altares de Baal até mesmo dentro do templo. Ele foi considerado o que m ais fez para m isturar a adoração a Yahw eh com o ritual cultual cananeu. Em bora tenha se arrependido mais tarde (2 Cr 33.12), seus pecados eram tão grandes que as conseqüências dos mesm os não foram eliminadas por Deus.15.7. espalhar com o palha. Depois que o cereal era trilhado, era separado da palha com o garfo de joeira, sendo o restante da palha rem ovida com a peneira. Essa atividade não acontecia às portas da cidade e sim nas eiras, em um a área aberta. Aqui, porém, peneirar ou espalhar como palha é uma metáfora para castigo (visto que nesse processo o bom era separado do mau) e os julgam entos eram feitos nas áreas próximas às portas. Talvez esse versículo seja uma referência às decisões que o conquistador fazia à porta da cidade, determinando quem seria morto, quem seria deportado e quem permaneceria no lugar. E ainda, o termo traduzido como "terra" às vezes é uma referência ao mundo inferior. Nesse caso, a im agem ainda seria do julgam ento de Deus junto à porta do mundo inferior destinando as pessoas à morte.15.8. destruidor. Meio-dia era considerada a hora mais segura do dia, por isso, o horário para ataques de surpresa. O destruidor aqui representa o exército caldeu que está sendo preparado por D eus para atacar seu povo. O termo aqui não é o m esm o usado para o anjo destruidor por ocasião da institu ição da Páscoa (Êx 12.23), m as é usado para descrever as operações militares conduzidas pelo Senhor em 47.4 e 51.55.15.20. m etáfora da muralha de bronze. Foram encontradas portas de bronze construídas pelos assírios em Balaw at. Figuravam como decorações em muralhas fortes. Tutm és III, faraó do Egito, descreve a si mesmo com o um m uro de ferro e de bronze para o Egito, significando que ele era como um a cidade fortificada im penetrável.
16.1-17.18A v id a s o litá ria d e Je re m ia s16.4. não serão sepultados. O sepultamento era um dever que devia ser cumprido no antigo Israel. Não ser sepultado e ter o corpo exposto e vulnerável aos elementos da natureza e aos animais era a pior m aldição imaginável. Além disso, como na visão hebraica não havia um a distinção clara entre corpo e alma, a m orte não era considerada a separação desses dois elementos. Portanto, acreditava-se que quem não fosse enterrado, ainda tinha consciência (em algum nível) de seu destino. No antigo O riente Próxim o, as pessoas que não fossem sepultadas não tinham descanso enquanto um enterro digno não fosse feito.
16.5. apresentar condolências (refeições funerais). Otermo hebraico para apresentar condolências é usado apenas aqui e em Am ós 6.7 ("ban q u ete"), em bora seja bem conhecido em muitas outras tradições semitas.
Informações extrabíblicas quanto a essa prática foram encontradas em textos ugaríticos, aramaicos e elefan- tinos (Egito) e em inscrições em púnico, nabateu e palmireno. Nesses exemplos, as refeições funerais eram oferecidas em um salão de banquete com excesso de bebida e comportamento inadequado. O contexto em Am ós 6.7 sugere o m esm o tipo de atmosfera. Qualquer que fosse o costume israelita, Jeremias foi proibido de participar (como também foi proibido de freqüentar cerimônias de casamento).16.6. ritos de luto. O s ritos mencionados aqui eram proibidos n a tradição israelita (ver os comentários em Lv 19.28 e Dt 14.1). O autoflagelo também é m encionado em 5.7 no contexto de adoração a Baal.16.20. ídolos que não são deuses. Ver os comentários em 10.5.17.1. tábuas gravadas. A ferram enta de ferro (NVI "estilete") mencionada aqui é usada para gravar inscrições na pedra, enquanto a ponta de diamante era usada para gravar pedras preciosas. Seus corações são
retratados aqui como um material extremamente duro sobre o qual é possível escrever.17.1. pontas dos altares. As pontas dos altares eram protuberâncias nos quatro cantos do altar. Embora a função dessas pontas fosse m anter a m adeira e os animais no altar, era nelas também que o sangue do anim al sacrificado era esfregado para purificar o altar de impurezas. A im agem sugere que os pecados de Judá serão permanentemente gravados ali, e o resultado é que os sacrifícios não poderão apagá-los.17.2. postes sagrados e árvores verdejantes. Ver o comentário em 2.20.17.3. m ontanhas do campo. Ver o comentário em 1 Sam uel 9.12.17.6. terra salgada. A presença do sal na terra era uma maldição. Existem diversos textos da Mesopotâmia que descrevem um a salinidade progressiva no solo do sul do Iraque, no terceiro e no segundo milênio. Quando atingia certo grau de salinidade, a terra tornava-se imprópria para o uso da agricultura e, portanto, era abandonada, às vezes, por um período de séculos.17.11. comportam ento da perdiz. A perdiz põe seus ovos em ninhos rasos em áreas abertas. Apesar de os ovos ficarem vulneráveis a predadores e acidentes, a ave põe m uitos ovos e tanto o macho como a fêmea os chocam . A analogia de pôr ovos aqui que não irá chocar refere-se a esperanças e planos que nunca são usufruídos. Não há evidências de perdizes que cho-
cam ovos de outras aves, como a tradução da NVI sugere.17.13. nomes escritos no pó. Essa passagem problemática dá a idéia de um nome escrito no pó e que por isso desaparecerá rapidamente ou de um nome escrito na terra (ou mundo inferior). Essa palavra não é a m esm a geralm ente traduzida com o "p ó " , mas é a m esma palavra usada em 15.7, cujo significado é terra ou m undo inferior. O últim o significado faria mais sentido ao contexto. Ter o nom e escrito no m undo inferior significava ser destinado à morte; ao passo que ter o nome escrito em lápides celestes significava ser destinado a continuar a viver. Ser apagado desse livro da vida e ter o nome registrado nas lápides do m undo inferior significava desgraça. O Salm o 88.4 expressa o mesmo conceito usando uma terminologia diferente.
17.13. divindade com o fonte de água viva. Água "v iv a" refere-se à água corrente em contraste com água estagnada ou contaminada que era armazenada em cisternas ou poços.
17.19-27 A guarda do sábado17.19. porta do Povo. A "porta do Povo" (literalmente "porta dos filhos do povo") é desconhecida. Parece que ficava no muro norte da cidade, por onde os reis entravam e saíam da cidade.17.19. número de portas em Jerusalém . Havia inúmeras portas externas e internas em Jerusalém durante o período da monarquia dividida. Havia pelo menos seis portas externas e diversas portas que protegiam o templo e o palácio. As portas eram áreas onde proclamações públicas geralmente aconteciam. 17.22-24. levar carga. Em Isaías 46.1, 2 o "fard o " é fe ito de im agens carregad as em p rocissões , m as Neemias 13.15 usa a m esma palavra para referir-se a produtos agrícolas que eram levados por mercadores no sábado. Qualquer dos dois pode estar sendo mencionado aqui.
18.1-19.15 Na casa do oleiro18.2. a casa do oleiro. A casa do oleiro, ou sua oficina, tinha de ser próxima às fontes de argila e onde houvesse água disponível. Precisava de espaço para a roda do oleiro, para um forno, um a área para armazenar os vasos e outra para refugo. Depois de ter sido queimado o pote era pintado. A roda movida à mão típica da época era feita de duas pedras. A pedra de cima tinha um a protuberância em forma de cone que se encaixava a um orifício correspondente na pedra de baixo e servia como um pivô.
18.3, 4. m oldando o vaso na roda. H avia dois tipos de roda de oleiro, um a lenta ou m ovida à mão (ou
com um a manivela) e a roda rápida, que era girada com o pé. O oleiro moldava o vaso de argila com a
mão na pedra menor de cima que girava. A pedra de baixo era responsável pela cinética e acelerava o giro.
O oleiro girava o disco de baixo com o pé. Isso gerava um a força centrífuga na argila que era moldada pelas
mãos do oleiro à medida que ele exercia pressão contra a força da argila, dando assim forma a ela.
18.13. virgem , Israel. O termo traduzido como "v ir
gem " aqui refere-se a um a m ulher que ainda está legalmente sob a tutela de seu pai. A infidelidade de
Israel é comparada a um a moça que trai a confiança e
a honra do pai, figura essa freqüentemente descrita
no Antigo Testamento como "prostituir-se". Em textos ugaríticos essa m esm a palavra é usada como título
para a irmã de Baal, a virgem Anat, cujo comporta
m ento é pouco recom endável e considerado por alguns como promíscuo (embora a evidência não seja
tão forte quanto anteriormente se pensava).
18.14. neve do Líbano. A neve do Líbano provavelm ente refere-se às m ais altas m ontanhas do Líbano
(p. ex., Q um at as-Sawda), onde a neve está presente
até o final de agosto. De qualquer m aneira, m uitos
dos picos dessas montanhas ficam cobertos de neve durante a m aior parte do ano.
18.15. estradas não aterradas. Um a estrada pavimen
tada era aterrada. A pavim entação de estradas era
um a benfeitoria cara. N a Babilônia terra e cascalho eram usados para aterrar as estradas. Depois tijolos
eram assentados no asfalto para formar um a base. Por
último, blocos de pedra calcária eram depositados por
cima e os vãos eram preenchidos com asfalto. Esse processo só era acessível para as ruas mais importan
tes da cidade. H á exemplos de ruas pavim entadas na Palestina, desenterradas em escavações que rem on
tam à Idade do Bronze M édia. Ruas pavim entadas
com seixos e cacos de cerâm ica sobre argila eram a
regra. As vezes essas ruas eram revestidas com uma m assa de cal. N ão há evidências de estradas pavi
mentadas durante esse período. Mesmo um a estrada
não pavimentada, porém, podia ser aterrada aumen
tando seu nível para que a água escoasse dos lados. Além dessas estradas, havia outras que simplesmen
te eram abertas devido às constantes viagens. Forma
vam sulcos no solo e tendiam a empoçar água transformando-se em verdadeiros atoleiros.
18.20. cavar um a cova. As covas eram cavadas no
antigo Oriente Próximo por diversas razões. Um gran
de núm ero de covas encontradas em escavações arqueológicas era para armazenagem de cerâmicas, para
enterrar lixo ou, com m enor freqüência, para servir
de prisão a crim inosos. A term inologia aqui é em
prestada das práticas de caça e arm adilhas, em que
covas e laços eram usados.
19.1. vasos de barro. O tipo de cerâmica aqui descrito
é um "v aso", palavra usada duas vezes em Jeremias
19 e em 1 Reis 14.3 (onde refere-se a um pote de mel)
descrevendo um utensílio para arm azenar líquidos.
O termo hebraico, baqbuq, sugere o som feito por uma
garrafa bojuda com um gargalo estreito. Por causa do
gargalo estreito, não podia ser consertada. Esse tipo
de vasilha era usado em toda a Palestina na Idade do
Ferro.
19.2. vale de Ben-H inom . O vale de Ben-H inom fi
cava do lado sul de Jerusalém e se unia ao vale de
Cedrom no canto sudeste da cidade. Tornou-se infa
me devido ao culto a Baal ali promovido por Acaz e
Manassés. Josias profanou a região a fim de evitar que
ali fossem praticados futuros atos idólatras.
19.2. porta dos Cacos. A localização da porta dos Ca
cos, mencionada apenas aqui na Escritura é desconhe
cida. Talvez seja a porta do Esterco (citada em diver
sas passagens de N eem ias), visto que tanto esterco
quanto vasos de cerâmica estavam entre os itens que
compunham o lixo jogado no vale de Ben-Hinom. Se
a porta dos Cacos fosse adjacente ao vale, ficava no
lado sudeste de Jerusalém.
19.5. queim ar os filh os a Baal. Ver o comentário em
7.31. -
19.9. canibalism o no antigo O riente Próxim o. O ca
nibalism o era praticado no antigo O riente Próximo
em tempos de fome extrema ou cerco. As cidades de
Sam aria (2 Rs 6.24-31) e Jerusalém (Lm 4.10 e mais
tarde durante a guerra com Roma, segundo Josefo)
experimentaram o canibalismo. Além disso, "com er a
carne dos seus filhos e das suas filhas" era uma m aldi
ção típica da Mesopotâmia. Existem raras referências
em fontes m esopotâm icas ao canibalism o praticado
pela m esma razão que a Bíblia cita (condições de fome
extrema, cidade sob cerco).
19.10, 11. q u ebrad os com o vasos. Essa im agem é
conhecida desde tempos sumérios. O Lamento -pela Des
truição da Suméria e de Ur afirma que o povo de Ur foi
esmagado como se fosse pote de barro.
19.13. queim aram incenso a todos os corpos celestes.
Os sacrifícios aos deuses astrais pagãos geralm ente
eram oferecidos nos telhados das casas (ver 2 Rs 23.12;
Sf 1.5). Ninsun, a m ãe de Gilgamés, subia ao telhado
para oferecer incenso a Shamás, o deus-sol. O mesmo
ritual é descrito no épico de Keret, de U garit (ver
tam bém o comentário em 8.2).
20.1-18A queixa de Jeremias20.2. tronco junto à porta Superior. O significado do termo traduzido como "tronco" não é certo. Também aparece em Jerem ias 29.26 e 2 Crônicas 16.10 ("m andou prendê-lo"). Provavelmente era um instrumento que m antinha o corpo num a posição imóvel ou talvez sim plesm ente um a m asm orra ou cadeia. De qualquer maneira, fica claro que Jerem ias foi encarcerado.20.11. gu erreiro d iv ino . A idéia de D eus lutando como um parceiro na batalha era um tema comum no
antigo O riente Próxim o. Tanto no Egito quanto na M esopotâmia, as vitórias militares eram atribuídas às divindades. O confronto era iniciado pela própria divindade, que depois lutava ao lado do monarca (ver o comentário em 1 Sm 4.3-7). No Egito os regimentos recebiam o nome do deus sob cujo estandarte lutavam. Em Canaã, o guerreiro divino era identificado como aquele que devastava a natureza. Porém, essas sociedades entendiam que os deuses também participavam das guerras através de agentes humanos que haviam sido com issionados para executar a ordem divina na batalha.20.12. rins como sede da inteligência. A expressão da NVI "o coração e a m ente" traduz a expressão hebraica
"os rins e o coração". No mundo antigo um a série de órgãos humanos representava funções psíquicas, inclu
sive os rins, que eram vistos como o centro das afeições, emoções e motivações veladas. Os rins podiam ficar perturbados (Jó 19.27; SI 73.21), ser "provados" por D eus (Jr 11.20) e alegrar-se (Pv 23.16). O s rins tam bém ensinavam (SI 16.7), um conceito presente em textos ugaríticos. Textos acadianos tendem a relacionar essas noções abstratas ao fígado e não aos rins.20.14-18. am aldiçoar o nascim ento. No M ito de Erra e Ishum o governador da cidade que está sendo destruída é retratado expressando à sua mãe o desejo de ter nascido morto ou de ter sido impedido de sair do ventre, a fim de não ter nascido para tal destino.
21.1-14Deus rejeita o pedido de Zedequias21.2. N abucodonosor ataca Jerusalém . Em 589 Zedequias decidira não pagar mais tributos, confiando no novo faraó egípcio, Hofra, que se opunha à Babilônia, como apoio contra os babilônios. Em 15 de janeiro de 588 (de acordo com o calendário Tishri, 587 pelo calendário Nisã), as tropas de Nabucodonosor chegaram a Jerusalém e bloquearam a cidade, ao mesmo tempo eliminando qualquer acesso de ajuda potencial, inclusive dos egípcios (ver o comentário em 34.21). Outras cidades fortificadas foram destruídas e então teve início um cerco fechado a Jerusalém , à medida que os
babilônios trabalhavam para abrir brechas nos muros do norte. Em meados de agosto de 586 a cidade foi invadida.
21.7. devastação do cerco. As dificuldades causadas pelo cerco eram significativas. Toda a idéia do cerco em si era levar os habitantes aos extremos da fome e da sede, de m odo que se rendessem sem lutar. A fom e nesse caso não era uma condição ambiental, mas resultante do cerco, que impedia que os suprimentos de alimento da cidade fossem reabastecidos. As condições de superpopulação da cidade pesavam em sua infra-estrutura e quando a água rareava, as pessoas com eçavam a beber até m esm o água contaminada. Como resultado, certas doenças com freqüência atingiam proporções epidêmicas durante cercos.21.7. o destino de Z edequ ias. V er a nota em 32.4. Parece que Zedequias m orreu no cativeiro após ter sido entregue a Nabucodonosor.
21.14. flo restas de Jeru salém . Em vez de ser um a referência às florestas que cercavam a cidade, o termo
é uma expressão usada em relação ao palácio real (ver o comentário em 1 Rs 7.1-12) devido à enorme quantidade de madeira de cedro usada em sua construção.
22.1-30Juízo sobre os reis maus22.5, 6. transform ar o palácio em ruína. No M ito de Erra e Ishum a destruição de cidades e do palácio real é tratada de forma semelhante. Erra expressa sua intenção de perm itir que feras selvagens das m ontanhas e dos campos invadam a cidade e devastem as áreas públicas. Ele especificamente afirma que transformará o palácio em ruínas.22.6. G ileade e o topo do Líbano. Gileade ficava na m argem leste do rio Jordão. Os limites ao norte de G ilead e eram vagos, e o leste era m argeado pelo deserto. O topo do Líbano refere-se a suas florestas (ver tam bém Zc 10.10). Tanto Gileade quanto o Líbano eram fam osos pela exuberância e produtividade de suas florestas.
22.10. rei exilado. O rei que vai para o exílio mencionado aqui provavelm ente era Salum, o quarto filho de Josias, que o sucedeu em 609/8 a.C.. Ele assumiu o nom e de Jeoacaz. Após de ter sido rei de Judá por três meses, foi exilado no Egito por Neco II, onde mais tarde morreu. Foi acusado pelo(s) escritor(es) de Reis de ser um governante ímpio.22.13. trabalho forçado para a construção de palácio.Essa pode ser um a referência à reconstrução e ampli
ação do palácio de Salomão por Jeoaquim ou de algum outro palácio. Em Ram at Rahel, um a série de estruturas foi encontrada e possivelmente data da época de Jeoaquim, junto com uma grande coleção de cabos
de jarros com a frase inscrita "pertence ao rei". Visto que o rei precisava pagar um pesado tributo ao Egito,
é possível que ele tenha se envolvido em um projeto
de trabalhos forçados. O trabalho forçado sem compensação rem ete às práticas do tem po de Salom ão (ver comentário em 1 Rs 11.28) e à práticas periodica
mente observadas no Egito e na Babilônia. Era uma forma de cobrar impostos.
22.14. p ain éis de cedro. Os painéis de cedro eram
considerados o material mais luxuoso e caro que podia ser usado. Era usado quase que de forma exclu
siva em palácios e templos. A pintura de paredes não
é amplamente atestada em escavações israelitas, mas
é bastante conhecida no contexto m aior do Oriente
Próximo. Afrescos, tais como a cena de coroação em Mari, atestam a preferência para o verm elho e o la
ranja na decoração interior. Essa característica tam bém é citada na descrição de decorações de paredes
em Ezequiel 23.14.
22.18. Jeoaquim . Ver comentário em 1.3.
22.20. Líbano, Basã, Abarim . Essas são três áreas mon
tanhosas; o Líbano ficava no norte; Basã, na Transjor- dânia, a nordeste, e A barim em M oabe, a sudeste.
Não se sabe ao certo se essas montanhas representam
lugares de luto, casa de aliados ou centros de reservas naturais.
22.24. anel de selar. O termo "sinete" provavelmente refere-se a um selo, que podia ser um selo cilíndrico
usado num cordão em volta do pescoço ou um selo
incrustado em um anel, como é descrito aqui. O pri
meiro era bastante comum na M esopotâmia, enquanto o último era usado em Israel. Milhares de selos cilín
dricos e selos de estampa foram encontrados na M eso
potâm ia e na Siro-Palestina, respectivamente. Eram
um sinal de autoridade, identificação e posse. Ao arrancar o anel de selar (i. e., Jeoaquim), Yahw eh esta
va efetivamente rejeitando seu reinado.
22.25. o fim de Jeoaquim . Jeoaquim permaneceu no
trono apenas por três meses antes de ser forçado a render-se a Nabucodonosor. Foi levado para o exílio
na Babilônia, onde passou o resto de sua vida (ver 2
Rs 25.27-30). Ele é citado na lista de rações da Babilônia,
confirmando a informação bíblica de que foi alimentado à m esa do rei.
23.1-8O renovo justo23.5. renovo com o herd eiro real. O term o "ren ov o"
aparece em passagens m essiânicas tais como Zacarias 3.8 e 6.12, onde é atribuído a Zorobabel. A maioria dos
estudiosos o considera um termo técnico que se refere ao genuíno herdeiro de um a dinastia - em Israel, um
futuro rei da linhagem de Davi que restauraria a m o
narquia. Igualm ente, no início do terceiro século a.C.,
um a inscrição fenícia votiva em honra a M elqart, en
contrada em C hipre, cita um legítim o "ren ov o " da dinastia ptolemaica do Egito. Os Rolos do M ar M orto
(Q um ran) não fazem uso do term o em um sentido m essiânico, m as o significado de reinado ocorre em
textos ugaríticos e assírios. Por exemplo, Tiglate-Pileser
III é descrito como o broto ou rebento da cidade de Baltil
(Assur), que traz justiça a seu povo. A afirmação de que
faria o que é certo e justo na Terra tam bém tem paralelo nas declarações de reform a geralm ente feitas por
reis babilônios. Zedequias fez uma proclamação como
essa em 588 (ver o com entário em 34.8-11).
23.9-40Profetas mentirosos23.13. profetizar por Baal. Os profetas de Baal haviam encontrado apoio em Sam aria desde a metade da
nona dinastia (Acabe e Jezabel). Dois séculos haviam
se passado e em bora a dinastia de Acabe tivesse sido
destruída, o sincretism o nunca fora com pletam ente elim inado. Q uando o reino do norte sucum biu em
721, a política assíria de deportação levou estrangei
ros para misturar-se com a população remanescente de Israel. Segundo Reis 17.24-34 descreve o sincretismo
resultante que alastrou-se na área. Sem dúvida, esses profetas estavam espalhando falsas esperanças de que
Baal, um deus da fertilidade, poderia interrom per a
seca (v.10) e restaurar a produtividade da terra.
23.18. estar no conselho do Senhor. O conselho do
Senhor provavelmente era a assembléia de seres que
se estavam diante dele na corte celestial, semelhante ao concílio dos santos de Salmo 89.7. As divindades
de outras culturas do mundo antigo tinham concílios divinos onde diversos deuses e deusas se reuniam
para discutir seus negócios. Acreditava-se que os pro
fetas tinham acesso às decisões dessas assem bléias
(como em 2 Cr 18.18). Para mais informações, ver os
comentários em Isaías 6.8; 40.13, 14.
23.19. tem pestade do Senhor. Ver o comentário em
11.16.23.23. D eus de perto, D eus de longe. N esta passa
gem, Yahw eh está afirmando sua transcendência (acima e abaixo do mundo criado) e sua imanência (inte
gralmente envolvido no mundo criado). Além do mais,
ele está afirm ando sua onipresença, visto que n inguém pode esconder-se dele, e ele sabe todas as coi
sas, mesmo as m ais obscuras e veladas. No prism a
religioso mais amplo dessa época ocorrera uma transferência da visão das divindades associadas ao sol,
distantes e indiferentes, para divindades associadas
às estrelas e planetas, que eram mais próximas e envolvidas. Outra possibilidade é que "perto e longe" podem combinar aspectos de um a divindade padroeira local com os de um a poderosa divindade cósmica. Poucos deuses no mundo antigo se encaixariam nesse perfil.23.25. sonho com o form a de revelação. Os sonhos eram um dos principais meios de recepção de mensagens oriundas dos deuses no antigo Oriente Próximo (ver Jacó em G n 28.12; José em G n 37.5-11; Nabuco- donosor em D n 2; 4). Eles aparecem em textos de presságios da Antiga Babilônia, juntam ente com relatos do exam e de fígado de ovelhas, anom alias no clima e no nascimento de animais e outros supostos sinais da vontade divina. Um dos m ais famosos é o sonho de Gudea, de Lagash (c. 2150 a.C.), que recebeu a ordem em um sonho de construir um templo de uma figura que rem ete às figuras apocalípticas dos sonhos de Daniel e da narrativa do chamado de Eze- quiel (Dn 7; Ez 1.25-28). A correspondência real de M ari (c. 1750 a.C.) contém cerca de vinte profecias que envolvem sonhos, sempre relacionados a pessoas leigas. Esses presságios eram levados m uito a sério e estudados. A formação do clero tanto na Mesopotâmia como no Egito incluía a interpretação de sonhos e outros presságios (ver o comentário em D n 2.4).
24.1-10Duas cestas de figos24.1. circunstâncias do exílio de Jeoaqu im . Ver oscomentários em 22.5 e 2 Reis 24.12.24.1. N abucodonosor. N abucodonosor II (605-562 a.C.) foi o segundo governante caldeu que reinou no antigo Oriente Próximo por quase um século. Era filho de
Nabopolassar, um caldeu que declarou independência da Assíria em 626 a.C.. Em seu longo reinado de 43 anos, N abucodonosor pacificou o Egito (embora não tenha tido êxito em conquistá-lo) e literalmente reconstruiu a Babilônia. De fato, grande parte da cidade da Babilônia, desenterrada pelos escavadores da atualidade, data do reinado de Nabucodonosor. O reinado caldeu foi basicam ente criação desse rei e ruiu somente uma geração depois de sua morte. Esse grande rei foi lembrado em muitas tradições culturais, inclusive em fontes da Grécia (onde era conhecido como um grande edificador) e Israel (não apenas no material bíblico, mas também em fontes rabínicas
posteriores).24.2. figos que am adurecem no princípio da colheita. Os ramos da figueira do ano anterior davam fruto no final de maio/início de junho, mesmo antes de as folhas brotarem. Os novos ramos davam figos no mínimo três meses mais tarde.
25.1-38Setenta anos de cativeiro25.1. cronologia. O quarto ano de Jeoaquim e o primeiro ano de nabucodonosor II, rei da Babilônia, coincidiram com o ano de 604 a.C.. O rei babilônio acabara de derrotar os egípcios em Carquemis e se preparav a para transformar Judá em seu vassalo.25.9. N abucodonosor como servo de Y ahw eh. Os reis das nações que avançavam contra Israel com freqüência eram descritos como servos de Deus, no sentido de que por m eio d eles a von tad e de Y ahw eh era executada. Visto que Yahweh não pode ser derrotado, qualquer conquistador estaria cum prindo suas ordens e desem penhando o papel de vara de castigo. Isso não sig n ifica qu e o re i b ab ilôn io era um ad o rad o r de Yahweh. Ciro é descrito de forma semelhante, embora não haja evidência de que ele adorasse a Y ahw eh (Is44.28-45.1). Nos tratados do antigo Oriente Próxim o, o vassalo se tom ava servo do suserano e seus exércitos ficavam à disposição do suserano. Eles tinham de obedecer às suas ordens e cum prir sua vontade.25.10. som do m oinh o e lu z das cand eias. Com a
interrupção das atividades diárias m ais familiares não restava nada além de um silêncio lúgubre, escassez de alimento e uma escuridão assustadora e terrível.
25.11. setenta anos. Em bora a expressão "setenta anos" pudesse denotar de modo geral a duração da vida de uma pessoa, como de fato ocorre em um a afirmação de Esar-H adom , rei da Assíria, tam bém pode fazer referência a um período específico de tempo. O período de setenta anos estendeu-se aproximadamente da destruição do templo, em 587 a.C., até sua rededicação, por volta de 515 a.C.. Tam bém representa o tempo desde a subjugação inicial de Israel sob N abucodonosor, em 605, até o retom o do exílio pelo decreto de Ciro, em 535.
25.12. setenta anos de exílio . Quando Esar-Hadom, rei da Assíria, trata da destruição da Babilônia por seu pai Senaqueribe, ele a considera o castigo de Mardu- que sobre sua própria cidade. A ira de M arduque contra o povo da Babilônia o levou a decretar para si mesmo um período de setenta anos em que se exilaria da cidade. Esar-Hadom reconstrói a cidade uma déca
da apenas depois de sua destruição e anuncia que M arduque reduziu o exílio para apenas onze anos. Pouco se sabe a respeito da Palestina durante o exílio e parcial reocupação da terra. A deportação se seguiu à destruição de Jerusalém , em 586 a.C.. A penas os cidadãos mais importantes foram exilados. Sinais de destruição foram encontrados em toda a Judéia, mas nem tudo foi destruído. Os camponeses continuaram sua vida nas áreas rurais e alguns até mesmo adoravam em meio às ruínas do templo (ver 41.4, 5). Judá
tom ou-se uma província da Babilônia, com o quartelgeneral em Mispá, norte de Jerusalém.25.15. vinho da ira. A im agem do vinho como um cálice de castigo é encontrada com freqüência no Antigo Testamento (Sl 11.6; 75.8; Jr 49.12; 51.17; Hc 2.15,16). Fica especialm ente claro em Isaías 51.17 que o cálice resulta em embriaguez (torpor) e não em m orte. Aqueles que são forçados a beber dele perdem o controle e toda a habilidade de se defender (v. 27). Tom am -se como que anestesiados.25.19-26. área geográfica. O contexto geográfico dessas áreas é bastante amplo. Do Egito, no nordeste da África, Jerem ias alista os reis de Uz (provavelmente o N eguebe, as cidades filistéias ao longo da costa, as nações da Transjordânia (Edom, M oabe, Am om ) e retom a às regiões costeiras do norte (Fenícia). As ilhas e terras além m ar referem-se a Chipre e outras ilhas. Jeremias então passa para o sul, pelo norte da Arábia (Dedã, Temá, Buz; Bazu acadiana, na Arábia). Pula a Mesopotânria (terra da Babilônia), vai para o sudoeste do Irã (Elão e Média) e depois resume acrescentando a expressão "todos os reinos da face da terra". Todas as áreas específicas mencionadas estavam sob o terror de Nabucodonosor.25.26. Sesaqu e e o uso de criptogram as. Sesaque é um "atbash" para Babilônia. O atbash era um código em que as letras de um nom e contadas a partir do início do alfabeto hebraico eram substituídas por letras contadas a partir do fim (ver tam bém o comentá
rio em 51.1). Em português, o A seria representado pelo Z, o B pelo X e assim por diante. Na passagem anterior, Elão passa a ser Zinri, em hebraico e a Babilônia (bbl) transforma-se em Sesaque (shshk). O atbash era usado para disfarçar a identidade do adversário. Esse recurso não existe em acadiano, visto que a escrita cuneiforme usa sílabas e não um alfabeto.25.30. gritos daqueles que pisam uvas. Os gritos m encionados aqui eram um a prática daqueles que pisavam uvas e dos que lutavam em um a batalha. O rugido de Yahw eh é como o grito dos primeiros. Pisar uvas era uma atividade que m arcava o final da estação da colheita e era usada como uma oportunidade para a comunidade celebrar antes da chegada do inverno. Era caracterizada por um burburinho de alegria, às vezes exaltada pelo abuso no consum o do vinho que estava sendo produzido.25.34-38. m etáfora do pastor/chefe do rebanho. A metáfora de líderes nacionais como pastores sobre o povo (ovelhas) era bastante comum no antigo Oriente Próximo. Retratava a responsabilidade do governante e sua autoridade. Assim como o proprietário das ovelhas chamava seus pastores para prestar contas das ovelhas, também a divindade responsabilizava os reis
pelo bem -estar de seu povo. Aqui não sao m ais as ovelhas que são mortas, mas os pastores.
26.1-24Jeremias é ameaçado de morte26.1. cronologia. A expressão usada aqui refere-se tecnicam ente ao que é descrito com o o ano da ascensão. Era a parte inicial do ano quando um rei ascendia ao trono que ficava entre o ano novo, quando seu primeiro ano no reinado oficialmente começava. O período do ano da ascensão de Jeoaquim foi por volta de setembro de 609 a.C. a abril de 608 a.C..26.6. Siló . Ver o comentário em 7.12.26.8, 9. p ro fecia com o traição. Em todo o m undo antigo acreditava-se que os profetas não apenas proclamassem a mensagem da divindade, mas também desencadeassem, no processo, a ação divina profetizada. Nas instruções do rei assírio Esar-Hadom a seus vassalos, ele exige que façam relatórios de qualquer afirmação imprópria ou negativa proferida por qualquer pessoa, mas especificamente por profetas, intérpretes de sonhos e praticantes de adivinhação extática. Pode-se entender por que um rei estaria inclinado a aprisionar um profeta como esse, cujas palavras poderiam incitar uma insurreição ou provocar a ruína de seu reinado.26.10. top og rafia de Jeru salém . Jerusalém situa-se num planalto de pedra calcária cerca de oitocentos metros acima do nível do mar, na região montanhosa central da Judéia, na fronteira com o deserto. E form ada por duas serras principais cercadas pelos vales H inom e C ed rom , e p ela p equ en a d ep ressão de Tiropeom. A serra a leste incluía a cidade de Davi e o complexo do templo, que ficava na parte norte e mais alta dessa serra, portanto, era necessário subir do palácio para o templo. A porta Nova também é mencionada em 36.10, mas sua localização exata é desconhecida. Especulações a situam no lado sul do pátio, como uma passagem entre o recinto do templo e o palácio real que ficava ao sul.26.18. cronologia. Ezequias governou um século antes, no final do oitavo século. Aqui, é evidente que as mensagens proféticas haviam sido registradas e eram lem bradas.
27.1-22A profecia favorável a Nabucodonosor27.1. cronologia. H á um grande problema neste versículo porque o texto hebraico identifica o contexto como o ano da ascensão de Jeoaquim, no entanto, nos versos seguintes, identifica o rei como Zedequias. A maioria dos intérpretes acredita que essa expressão pertence à passagem de 26.1 e foi colocada erroneamente aqui.
Os dados cronológicos que deveriam constar aqui são "o quarto ano de Zedequias, 594" (ver 28.1).27.2. confecção de um ju go . Os jugos usados para puxar anim ais geralm ente eram feitos de m adeira. Eram feitos de uma estrutura de madeira que ficava em cima da nuca, ao redor do pescoço; as peças tinham cavilhas posicionadas embaixo, dos dois lados da cabeça do animal. Por baixo do pescoço as cavilhas eram presas com correias. Os jugos eram usados por humanos para certas tarefas, bem como por animais
que puxavam o arado. Inscrições assírias dos séculos nono e oitavo ilustram cativos sendo transportados ou trabalhando debaixo de tais jugos. As barras de cada lado do pescoço ficavam claramente visíveis. Para mais informações sobre a figura do jugo, ver o comentário em Naum 1.13.27.3. ocasião para reunião de em baixadores. Os embaixadores de Edom , M oabe, Am om , Tiro e Sidom haviam conspirado com Zedequias para rebelar-se contra a Babilônia em 594 a.C.. O encontro provavelmente fora um a reação a uma rebelião doméstica na Babilônia contra N abucodonosor, em dezem bro de 595 e janeiro de 594, descrita em um a das crônicas babilónicas.27.6. su jeição de anim ais selvagens. Assim como o
jugo simbolizava a sujeição de animais domésticos, a profecia continua sugerindo que os anim ais selvagens da m esma forma se submeteriam à m ão do Senhor. Existem inúm eras ilustrações em relevos de paredes em que reis assírios estão caçando animais selvagens, tais como leões e outros carnívoros de grande porte. A domesticação de animais selvagens também às vezes era incluída em visões utópicas de um reino controlado e pacífico (ver o comentário em Is11 .6-8).
27.7. visão geral do Im pério N eo-Babilônico. O Império Neo-Babilônico foi fundado pelo pai de N abucodonosor II, Nabopolassar, um caldeu que se libertou do domínio assírio em 626 a.C.. O fundador reinou até 605 a.C. e contribuiu para o fim da Assíria. Ele supervisionou a grande vitória dos babilônios sobre os egípcios, em Carquemis, fazendo com que grande p arte da Á sia ocid en ta l ca ísse n as m ãos dos babilônios. Nabucodonosor herdou essa poderosa nação em 605 a.C., tom ando-se seu mais famoso rei. Ele literalmente reconstruiu a cidade da Babilônia e solidificou o controle babilónico em todo o Oriente Próximo e até mesmo atacou o Egito (embora sem êxito). Seu longo reinado durou até 562 a.C.. Foi sucedido por três descendentes que reinaram por curtos períodos totalizando seis anos. O último rei da dinastia foi Nabonido, que aparentemente fora um alto oficial do reinado de Nabucodonosor. Reinou até 539 a.C. quan
do a Babilônia foi conquistada pelos m edos e os persas, liderados por Ciro, o Grande. Em bora Nabonido não seja mencionado nas Escrituras, seu filho Belsazar figura com destaque no Livro de D aniel como rei. Visto que Nabonido abandonou a Babilônia e viveu na Arábia por cerca de dez anos, Belsazar assumiu o lugar de seu pai durante aquele período.27.8-11. p rofetas aconselhando subm issão. Apesar de os profetas bíblicos aconselharem as nações a se submeterem à Babilônia, tal conselho não se confirma em textos proféticos do antigo Oriente Próximo. Os reis do mundo antigo geralmente tinham opinião elevada a respeito de si m esm os e os profetas tinham fam a de dizer aos reis o que eles queriam ouvir. Se era preciso aconselhar no sentido de submissão, seria subm issão a um deus através de certos rituais, mas não subm issão política. Em contraste, havia adivinhos que aconselhavam a favor ou contra determinada ação política com base em presságios que não eram favoráveis a um a ação naquele momento específico.27.9. categorias de profissionais. Cinco categorias de especialistas são identificadas aqui. Os profetas recebiam mensagens da divindade e as transmitiam. Os adivinhos liam e interpretavam presságios, a maioria a partir do exame das entranhas de animais sacrificados (ver o comentário em D n 18.11). Em todo o Oriente Próximo, os sonhos eram considerados um importante meio de revelação divina. Os intérpretes usa
vam uma variedade de recursos acadêm icos (ver o comentário em Dn 2.4). Os médiuns faziam contato com os mortos e transmitiam os conselhos que eles davam. A última categoria, os feiticeiros, era de especialistas em feitiços e encantam entos. Em cartas do sétimo século aos reis assírios as cinco principais classes de eruditos especialistas que serviam ao rei eram os astrólogos/escribas, os adivinhos, os exorcistas, os médicos e os lamentadores.27.16. u ten sílio s da casa do Senh or. Os utensílios aqui mencionados provavelmente se referem aos objetos m óveis do templo, inclusive vasilhas. Nabuco- donosor levou embora m uitos dos tesouros do templo n a prim eira conquista de Jerusalém em 597 a.C., mas ainda restaram alguns acessórios que foram levados onze anos mais tarde. Para mais informações, ver os comentários em Daniel 1.2 e 5.2. Para um a descrição desses utensílios, ver os comentários em 2 Crônicas 4.27.19. colunas. As colunas de bronze (ver o comentário em 1 Rs 7.15-22) ficavam do lado de fora do átrio situado no pátio do templo. Receberam nomes (Jaquim e Boaz) e evidentem ente o rei ficava de pé diante delas em ocasiões especiais (2 Rs 11.14; 23.3).27.19. tanque. O tanque fundido (ver o comentário em 2 Cr 4.2-5) era um a grande bacia de bronze com 4
metros e meio de diâmetro e mais de dois metros de altura. Ficava no dorso de doze bois de bronze, dispostos em grupos de três, cada grupo olhando para direções diferentes. O tanque continha cerca de 35 m il litros e era usado para banhos rituais.27.19. suportes. Os suportes eram dez tigelas menores usadas para lavar animais sacrificiais. Essas vasilhas eram sustentadas por suportes decorados sobre quatro rodas de bronze. Cada bacia tinha a capacidade para 750 litros. Arqueólogos encontraram um suporte de bronze que serviria de apoio para um a dessas bacias datando do século doze a.C.. O suporte tinha rodas e era decorado com criaturas compostas (ver 1 Rs 7.29).27.20. exílio de Joaquim . Ver a nota em 2 Reis 24.12. Um texto administrativo babilónico descreve tributo de Iakukinu (Jeconias ou Joaquim) a Nabucodonosor.27.22. utensílios sagrados levados para o exílio e devolvidos. Jerusalém não foi o único templo do mundo antigo cujos utensílios foram levados e devolvidos num a data posterior. Por exemplo, a estátua de Mar- duque foi saqueada da Babilônia em diversas ocasiões (p. ex., pelos hititas em 1595 a.C., por Tukulti-Ninurta I, rei da Assíria, c. 1235 ã.C. e por Senaqueribe em 689a.C.). Com o passar do tem po a estátua da divindade foi devolvida a seu lugar original na Babilônia.
28.1-17 O falso profeta Hananias28.1. cronologia. Considerando-se o tem po necessário para que o rei Zedequias organizasse seu governo (ver 27.3; 51.59) após a conquista de Jerusalém em 597 por Nabucodonosor, parece mais provável que a leitura "o quarto ano" esteja correta. Isso situaria o evento em 594-593 a.C.. A proxim idade do encontro dos embaixadores para planejar um a reação à revolta contra a Babilônia em dezem bro de 595 tam bém argumenta a favor dessa data.28.1. G ibeom . Ver o comentário em Josué 9.3. Assim como Anatote, Gibeom (el-Jib) ficava localizada no território de Benjamim (cerca de dez quilômetros a noroeste de Jerusalém), indicando que provavelmente Hananias e Jerem ias se conheciam antes desse incidente.28.10. quebrar o ju go. Alguns comentaristas acham mais provável que as cavilhas que prendem o jugo no lugar, em cada lado do pescoço, é que foram quebradas e não propriamente a trave (a respeito da confecção de um jugo, ver o comentário em 27.2). Essa interpretação faz sentido, considerando-se a escolha dos termos usados ao longo da passagem.
28.13. contraste en tre ju g o de m ad eira e ju g o de ferro. N ovam ente é provável que a im agem visualizada seja a de cavilhas de ferro. Evidentemente, um
jugo de m adeira poderia ser quebrado, servindo como uma demonstração dramática da libertação da opressão; um jugo de ferro, porém, não poderia ser facilmente quebrado.28.14. sujeição de anim ais selvagens. Ver o comentário em 27.6.
29.1-32A carta aos líderes exilados29.1. carta aos exilados. Existem evidências de correspondência entre Jerusalém e os exilados deportados em 597 nesta carta, supostam ente entregue por um m ensageiro babilônio ou um m ercador em viagem para a M esopotâm ia. O envio de correspondência particular e oficial em todo o período do Antigo Testam ento encontra am plos precedentes. As Cartas de Láquis representam o tipo de com unicação interna em pregada no reinado de Judá durante a invasão assíria de 701. Para evidências de que essa carta foi recebida e respeitada, ver D aniel 9.29.2. rainha-m ãe. Aparentemente em Judá a rainha- m ãe gozava de um a elevada posição e não apenas exercia influência sobre seu filho, o rei, como também desfrutava de grande autoridade (ver o comentário em 1 Rs 2.19 e a necessidade de depô-la na época de Asa, em 1 Rs 15.13). Nesse caso, sabemos que a mãe de Jeoaquim se cham ava N eusta (ver 2 Rs 24.8; Jr 13.18) e que ela tam bém foi deposta de sua posição e perdeu seu poder quando foram ambos levados para o exílio.29.2. exílio de artesãos e artífices. Ao escolher os reféns que seriam levados ao exílio em 597, Nabuco- donosor naturalmente tomou m embros da família real e seus conselheiros dentre a nobreza e o clero. Artesãos (ver 10.3) e hábeis artífices podiam ser úteis aos ambiciosos projetos de construção que o rei tinha, mas tam bém representavam a classe m édia relativam ente abastada de Judá. Mais importante, as habilidades de artesãos e artífices eram transmitidas geralmente através das famílias, de geração a geração, e com freqüência envolviam segredos do ofício. Os babilônios teriam interesse em preservar esse conhecimento e tirar proveito dele. Esse m esm o respeito para com essa classe é visto quando Utnapishtim inclui artesãos em sua arca, na história do dilúvio de Gilgamés.29.10. período de setenta anos. Existem diversas m aneiras de calcu lar esse período de setenta anos. A capital da Assíria, Nínive, sucumbiu em 612; em 605 os babilônios conquistaram o controle de toda a Siro- Palestina. Por duas vezes os exércitos babilónicos investiram contra Jerusalém e foram embora com exilados, em 597, quando Jerusalém foi destruída e em 586, quando o templo foi destruído. Qualquer desses
quatro eventos podem ser considerados pontos de
partida. No outro extremo, a Babilônia caiu em 539 e
o primeiro retom o dos deportados aconteceu em 538. O templo foi reconstruído em 515. Em bora não seja
difícil recom por um cenário que envolva a duração literal de setenta anos, tam bém deve-se reconhecer
que setenta com freqüência é um núm ero simbólico
que representa um período de castigo divino. Quan
do a Babilônia foi destruída no sétimo século por Sena- queribe, afirmou-se que Marduque, o deus da Babilô
nia tinha decretado setenta anos como o período em
que perm aneceria em ruínas. Porém , Esar-H adom , filho de Senaqueribe, usou um artifício de interpreta
ção para reduzir esse núm ero para onze anos, quando
deu inicio à reconstrução da cidade.
29.26. tronco com correntes de ferro. A palavra usa
da para "tronco" aparece apenas em outras duas passagens (2 Cr 16.10 e Jr 20.2) e em nenhum a delas o
significado é claro. Alguns estudiosos sugeriram que
se trata de um a cela estreita ou baixa de prisão, mas a
adição de "correntes de ferro" nesta passagem sugere
que se trata de algum tipo de instrumento em que o profeta seria mantido im óvel e exposto num a posição
hum ilhante e desconfortável (ver a queixa de Jeremias
em 20.7, 8). Para que se faça um a identificação precisa
será preciso esperar por descobertas futuras.
30.1-24A restauração de Israel30.2. livros. O Livro de Jerem ias é um dos poucos
livros proféticos da Bíblia que faz menção explícita a
escrever as palavras que Yahw eh transmitiu para o
profeta. Jeremias foi auxiliado nessa tarefa por Baruque, um escriba profissional (ver 36.2-4). Nesta passagem
a palavra traduzida como "livro" é um termo genérico para qualquer documento escrito e naquela época
significava um rolo. Rolos de papiro eram usados no
Egito desde o terceiro m ilênio, e o clim a do Egito perm itiu a preservação e recuperação de inúm eros
documentos. Na M esopotâmia, onde o meio preferido há m uito tempo eram os tabletes de argila, os rolos
são atestados a partir do período neo-assírio (oitavo
século). Os israelitas provavelm ente usaram rolos durante grande parte do período veterotestamentário,
m as poucas evidências foram recuperadas antes dos Rolos do M ar Morto, que remontam ao segundo sécu
lo (desses, mais de 90 porcento são pergaminhos). O exemplar m ais antigo tem poucas linhas de uma carta
datada do sétimo século a.C. encontrada nas cavernas
perto do uádi M uraba'at. U m rolo m édio de papiro
continha cerca de vinte páginas de papiro coladas juntas. O rolo resultante tinha cerca de quatro metros
e meio de comprimento e cerca de trinta centímetros de altura. O pergam inho (de pele de anim ais) era
muito m enos usado durante o período do Antigo Testamento, m as era conhecido.
30.14. situação dos aliados. Jeoaquim, rei de Judá, fora
colocado no trono pelos egípcios em 609 e permaneceu leal a eles até que o dom ínio de N abucodonosor passou a im pedi-lo. Após a queda de A scalom a N abu
codonosor, em 604, Jeoaquim pagou tributo à Babilônia
durante alguns anos. Mas quando Nabucodonosor fracassou em sua tentativa de invasão ao Egito, em 601,
Jeoaqu im n ovam en te aliou -se ao Egito e parou de enviar o tributo anual para a Babilônia. Por isso, em
597, quando Nabucodonosor empreendeu sua invasão punitiva contra Jerusalém, o Egito foi o principal alia
do com quem Judá contava. M ais tarde naquele ano, Nabucodonosor colocou Zedequias no trono. Quase que
im ediatam ente ele com eçou a encontrar-se com uma coalizão das pequenas nações ocidentais para juntas
opor-se a Nabucodonosor (ver o comentário em 27.3). Em 595, um novo faraó, Psameticus II, assumiu o tro
no do Egito. Ele desfrutou de um sucesso militar inici
al contra os núbios do sul e um papiro relata que seu
sucesso foi celebrado com um a viagem de v itória à
Palestina. Portanto, em bora o Egito não fosse o instigador da aliança, havia motivo para esperar seu apoio
contra a Babilônia. Não se sabe ao certo que nações de
fato faziam parte dessa aliança, quando finalmente ga
nhou forma. O resultado foi que o exército do Egito foi
completam ente derrotado e desbaratado em seu con
fronto com os babilônios, em 588 (ver 37.5-7), e parece, com base no Salmo 137.7, que aliados como os edo-
m itas, transferiram seu apoio para a Babilônia quan
do ficou claro que Jerusalém estava prestes a sucumbir.
Apenas Amom e Tiro, das nações ocidentais, tomaram- se objeto da ira de Nabucodonosor.
30.23. tem pestade do Senhor. O estilo poético destes
versículos assem elha-se àquele encontrado no texto sum ério intitulado Lamento pela Destruição de Ur (c.
2000 a.C.). Em ambos os textos a devastação é atribuída a um a tem pestade ou um vend aval. Em um a
estrofe do texto sumério, o vento "sopra pela porta da cidade" como um exército invasor, enquanto em ou
tra, o autor se desespera pelo "d ia que a tempestade m e atingiu". M ais perto da época de Jeremias, uma
lamentação do primeiro milênio intitulada "E le é uma
Tem pestade, na C u ra" retrata a ira dos deuses na forma de tempestade varrendo as nações. Essa é uma
de m ais de trinta com posições identificadas como lamentações balag que fazem uso freqüente da m etá
fora da tempestade. A função original desses lam en
tos era apaziguar a divindade cujo tem plo fora ou
estava sendo destruído. Para mais informações sobre os elem entos da tem pestade que acom panhavam a ação divina, ver o comentário em 1 Reis 19.11-13.
31.1-40 Nova aliança31.4. virgem Israel. Ver o comentário em 18.13.31.8. reunidos dos confins da terra. Essa expressão é sem elhante à de Isaías 11.11, onde Israel é reunido dos quatro cantos da Terra. A literatura acadiana fala de reis governando os quatro cantos, mais provavelmente fazendo referência às terras m ais distantes nos quatro principais pontos cardeais. Nesse aspecto, em vez de referir-se aos quatro "pedaços da torta geográfica", refere-se às quatro extremidades, incluindo assim tudo que está entre esses pontos.31.9. conduzir às correntes de água. Em uma terra onde a chuva é sazonal (basicam ente de outubro a fevereiro), os uádis (riachos ou ribeiros) com freqüência estão secos. Eles eram úteis como caminhos (por exemplo o uádi Kelt, que corre de Jericó a Jerusalém), m as a im agem deles cheios de água traz à m ente outros exem p los de água refrescan te , até m esm o miraculosa, no deserto (Nm 20.1-13) e da promessa de fertilidade da aliança (acerca desse tema, ver o com entário em D t 8.7). Como havia feito no deserto, Deus cuidaria deles quando os trouxesse de volta para sua terra.
31.10. ilhas distantes. Ver 2.10 a respeito do uso desse termo para terras distantes. Ali, a expressão refere-se à Fenícia, Chipre e às ilhas gregas. N este contexto, é um termo genérico para terras distantes ou para os confins da terra.31.12. cereal, vinho novo, azeite puro. Os principais produtos do mundo Mediterrâneo eram os cereais (trigo ou cevada), o vinho e o azeite de oliva (Os 2.5, 8). Eram a expressão concreta da fertilidade na aliança com Yahweh. Nos antigos códigos de lei da Mesopo- tâmia, a obrigação do marido para com sua esposa ou concubina era definida em term os de supri-la com cevada, azeite e roupas (Código de Lipit-Istar, Leis de Esnuna e Código de Hamurabi).31.15. Ram á. Essa localidade provavelmente deva ser identificada com er-Ram, cerca de cinco quilômetros ao norte de Jerusalém. O nome em si significa "altura" e portanto é aplicado para muitas cidades da Palestina, visto que um a cidade situada num lugar alto seria mais fácil de defender. A referência de Jeremias ao lam ento de Ramá pode estar baseada no uso do local como uma área de concentração para o embarque e despacho de exilados para a Babilônia, após a queda de Jerusalém, em 587 (ver 40.1). A ligação com Raquel provavelm ente baseia-se na proximidade de
Ramá a Zelza, o lugar onde está o túmulo de Raquel (ver o comentário em 1 Sm 10.2).31.21. marcos e sinais nas estradas do m undo antigo. Embora não haja m enção a sinais formais nas estradas no período anterior ao romano, a orientação de Jeremias aos exilados que partiam , no sentido de m arcar o caminho com pedras ou marcos, sugere que essa não era um a prática nova. Além disso, as estradas eram distinguidas por m arcos (ittu, no épico de Gilgamés e em Enum a Elish) ou placas indicando seu destino (Estrada do Rei, em N m 20.17).31.21. virgem , Israel. Ver o comentário em 18.13.31.23. m onte sagrado. O m odo de pensar do antigo Oriente Próximo, semelhante ao da mitologia grega, considerava a m ontanha um lugar de habitação da divindade (ver o comentário em Is 14.13). Uma vez que Jerusalém , a m orada de Yahw eh, ficava num a área elevada, é descrita com o o m onte sagrado de Deus.31.33. escrever no coração. Os adivinhos tinham como prática apresentar uma pergunta à divindade e buscar a resposta examinando as entranhas de animais sacrificados. Quando esse ritual era praticado, os sacerdotes encantadores pediam à divindade que escrevesse a revelação nas entranhas do animal sacrificado, a fim de que sua vontade ou instrução pudesse ser conhecida e compreendida. Outra oração freqüente dos adivinhos era que a verdade fosse colocada nas v ísceras d esses an im ais. A m bos os verb o s deste versículo {porei, escreverei) e os substantivos ("ín tim o" = entranhas, especificamente intestinos; corações) são as mesmas palavras usadas em presságios da literatura acadiana. Mas se Jerem ias está usando a linguagem e conceitos de presságios, é apenas para fazer um a ponte conveniente com sua m ensagem. Os decretos e a vontade de Deus serão conhecidos através do cuidadoso exame do coração de seu povo. O acadiano também usa os substantivos coração e mente como paralelos, para referir-se à sede da razão e da emoção.31.36. decretos cósm icos. N a Mesopotâmia os Tabletes do Destino continham os decretos que eram a base de tudo que acontecia na Terra. O povo levava m uito a sério sinais e presságios, visto que acreditava que tais decretos se refletiam nos corpos celestes, no comportam ento dos anim ais e até m esm o nas entranhas de animais. A premissa era que havia um decreto divino atuando todo tempo. Por exemplo, no épico babilónico da criação, Enuma Elish, os deuses, proclamam que a "palavra de Marduque não será alterada". Igualmente os provérbios sapienciais do egípcio Am enem ope a respeito de justiça afirmam que "o julgam ento pertence à assembléia divina, os veredictos estão selados por
decreto divino". No épico ugarítico de Baal, a deusa Anat, em sua tentativa de agradar o deus principal El, lhe diz que seus "decretos são sábios" e que sua "sabedoria dura para sem pre". Ocasionalm ente um texto refere-se ao decreto de algum deus como "m aligno", como na história do dilúvio de Atrahasis. Mas ainda assim, tais ordens são executadas por causa da soberania que os deuses da Antigüidade teriam sobre a criação. Para informações a respeito do reinado dos monarcas em relação à permanência do cosmos, ver o comentário em Salmo 89.35-37.3 1 .37 . lu g a re s in s o n d á v e is do co sm o. E m b ora Yahw eh seja capaz de m edir os céus (ver o comentário em Is 40.12) e conheça profundamente os alicerces da Terra, isso está além da capacidade humana. Os diversos épicos de criação da Mesopotâmia (Atrahasis, Enuma Elish) descrevem o estabelecimento dos céus e da Terra, a organização do Universo e as responsabilidades atribuídas a cada deus para controlar sua esfera de influência. Portanto, o conhecimento dos céus e das regiões inferiores pertence somente aos seres divinos. Em nenhum a instância nenhum ser humano obtém êxito em disputas para conseguir tal conhecimento (os heróis Gilgam és e A dapa chegam perto, mas também são limitados por causa de sua m ortalidade). Os mistérios e as prerrogativas da eleição são exclusivos de Yahweh, assim como o são os mistérios e as prerrogativas do cosmos.31.38. desde a torre de H ananeel até a porta da Esquina. Ver os comentários em Neemias 3.1 e 2 Crônicas25.23. A referência provavelmente é à parte ocidental do m uro norte onde acred ita-se que os exércitos babilônios teriam aberto brechas e por aí entrado na cidade. O lado norte da cidade era o mais vulnerável, visto que os outros lados eram protegidos por profundos vales.31.39. G arebe e Goa. A localização exata dessas duas colinas perto de Jerusalém é desconhecida. Elas fazem parte da Jerusalém restaurada na visão de Jeremias. Garebe geralmente é identificada com a colina sudoeste da cidade, a oeste do vale de Tiropeom e ao norte do vale de Hinom (atualm ente cham ado de m onte Sião). Se essa informação estiver correta, Goa ficaria ao sul ou a leste de Garebe.31.40. topografia de Jerusalém . N essa visão da restauração dos recintos sagrados de Jerusalém, Jeremias refere-se a diversas áreas adjacentes. Prim eiro é o vale do H inom (uádi er-Rababi, a oeste de Jerusalém), lugar de culto a Baal e sacrifício humano. O vale do Cedrom fica a sudeste da cidade. Terraços (aterros) nas encostas das colinas a fim de providenciar espaço para a plantação de vinhas e oliveiras são comuns em toda a Palestina. Naturalmente, as áreas agrícolas não
estariam no interior dos m uros da cidade, mas sua importância fez com que fossem descritas como parte dos recursos de Jerusalém. A porta dos Cavalos ficava no lado leste de Jerusalém, perto da extremidade norte do vale do Cedrom (ver o comentário em Ne 3.28).
32.1-44Jeremias compra um campo32.1. cronologia. Havia dois sistemas diferentes para a contagem do reinado de um m onarca em uso por Israel e seus vizinhos. Um deles calculava os anos de nisã a nisã (nisã é m arço/abril) de acordo com o calendário religioso, enquanto o outro contava os anos de tishri a tishri (setembro/outubro), seguindo o calendário civil. Se o calendário israelita começava na primavera, o décimo ano de Zedequias teria se estendido de março de 588 a março de 587. O décimo oitavo ano do rei babilônio Nabucodonosor estendeu-se de março de 587 a março de 586 (sabe-se que usavam o sistema nisã). Por essa e outras razões, foi argumenta
do que Israel usava o sistema tishri nessa época; nesse caso o décimo ano de Zedequias não coincidiria com o décimo oitavo de Nabucodonosor por seis meses. Existem problemas nesse esquema e a esta altura as dificuldades não são facilmente solucionadas.32.2. cerco de Jerusalém . Os eventos descritos aqui se relacionam à descrição m ais detalhada do cerco a Jerusalém nos capítulos 37 e 38 (sendo que provavelmente o cerco iniciou em 15 de janeiro de 588; a data alternativa é 5 de janeiro de 587). Houve uma breve tré
gua na intensidade do cerco quando as forças babilónicas tiveram de recuar parcialmente para o confronto com o exército egípcio que se aproximava (37.5). Uma das Cartas de Láquis menciona negociações entre um oficial judeu e o Egito. Essa negociação pode ter incitado um ataque surpresa por parte dos egípcios, na esperança de evitar um a invasão babilónica em seu
próprio território. Assim que o contingente dos aliados egípcios foi devidamente recuado, Nabucodonosor pôde concentrar toda sua atenção em Jerusalém.32.4. o fim de Zedequias. Ver os comentários em 39.47. A profecia de Jerem ias quanto ao destino de Zedequias tem um tom irônico, visto que descreve o confronto "olho no olho" com o rei babilônio. Como castigo por sua rebeldia, Zedequias seria forçado a assistir à execução de seus filhos e depois teria seus olhos furados. Essa idéia do perigo de estar frente a frente com o re i tem p arale los em exp ressões sem elh an tes de medo e perigo nas aparições teofânicas de Deus (ver a reação de Jacó em G n 2 8 .16 ,17 e o grito assustado de Isaías em Is 6.5). Os A nais A ssírios de Senaqueribe
contêm um exemplo parecido da "glória" m anifesta do rei. Esta inscrição que relata um cerco anterior a Jeru
salém, afirma que Ezequias "foi esmagado por meu [de Senaqueribe] esplendor aterrorizador".
32.7. resgate da terra. Na tradição israelita a posse da terra é atrelada à m embresia na comunidade da aliança (ver a rejeição de N abal diante da proposta de Acabe, que tentou adquirir sua vinha em 1 Rs 21.3).
Quando o parente de Jeremias é forçado a vender a propriedade, o profeta tem a obrigação de "redim ir" o cam po, a fim de que perm aneça no clã daquela fam ília (ver Lv 25.25-31). Não há indicação clara do porquê Hanameel sentiu-se forçado a vender a terra.
Pode ser que ele sim plesm ente quisesse escapar da invasão babilónica e levar consigo algo para ter um novo começo. Ou pode ser um reflexo de suas enormes dívidas em um a época em que seria difícil fazer as colheitas e vender os produtos no mercado.32.8. pátio da guarda. Jerem ias foi confinado, sob custódia, num a área do palácio do rei conhecida como o pátio da guarda (ver Jr 37.21). Supõe-se que ele teria ficado aquartelado com membros da guarda real. Es
sas eram acomodações muito mais confortáveis do que a "cela subterrânea" de Jeremias 37 .15 ,16 e a cisterna vazia de 38.6.
32.9. dezessete peças de prata pela propriedade. Cada peça (siclo) pesando 11,4 gramas, o preço da propriedade de Hanam eel teria sido cerca de 194 gramas de prata. Seria o equivalente a um ano e meio de salário para o trabalhador médio. Considerando-se o perigo iminente da ocupação babilônia em toda a área, parece que os preços de terras teriam caído. Porém, sem outro exemplo para comparar, e sem informações sobre o tamanho da propriedade, não é possível dizer se foi um preço justo.32.10. escritura. Transações de propriedades são encontradas em alguns dos m ais antigos tabletes de argila mesopotâmicos. Os documentos que registravam as condições de compra e venda eram colocados em um envelope de argila que tam bém tinha os detalhes da transação escritos nele. O Código de H am urabi tam bém contém restrições à venda de propriedades feudais visto que eram concedidas apenas temporariamente aos soldados. Para outros exemplos de escrituras de terras, ver Gênesis 23.16-18 e 33.19.32.10. pesar prata na balança. O procedimento comercial padrão exigia que o preço pago pela propriedade fosse pesado publicam ente diante das testem unhas para assegurar a satisfação de am bas as partes (ver G n 23.16; Is 46.6). Esse procedimento era necessário, visto que dinheiro cunhado, com peso e valor padronizados, só passou a circular a partir do final do sexto século.32.11. cópias selad a e não selada. Os papiros ele- fantinos contêm escrituras sem elhantes a esta que
registrou o negócio entre Jeremias e Baruque. A prática de fazer duas cópias em um único pedaço de papiro ou pergaminho permitia que uma ficasse aberta e disponível para a inspeção pública. A outra metade, contendo a mesma inscrição, servia como um registro de arquivo para evitar alterações nas condições da transação. Era enrolada e selada com os nomes das testemunhas inscritas nela.32.12. acordos legais no pátio . Os negócios geralmente eram feitos em lugares públicos como a porta da cidade, onde as autoridades e os líderes do povo ficavam assentados (Rt 4.1; Pv 32.23). O acréscimo da informação que Jeremias assinou e selou sua escritura de compra do campo de Hanam eel diante das testem unhas e "d e todos os judeus que estavam sentados no pátio da guarda" pode ser uma tentativa de apontar esse lugar como um lugar adequado para transações legais. Também pode estar relacionado à acusação feita contra Jeremias em 37.12-15 de que ele estava tentando desertar a cidade. Ele respondeu que apenas planejara viajar para ver seu cam po recém adquirido, m as o capitão da guarda, que provavelmente fora uma testemunha da transação, recusou-se a dar ouvidos e o prendeu.32.14. escritura selad a em jarro de barro. Considerando-se o futuro incerto de Jerusalém, Jeremias queria fazer o possível para preservar sua escritura por bastante tempo. Colocar o documento em um jarro de barro selado é sem elhante ao que os habitantes de Qumran, do primeiro século d .C , fizeram para guardar os Rolos do M ar Morto, em face da ocupação romana em seu povoado.32.17-20. relação entre criador, ju iz e p lanejador. Apassagem de um tema para outro na oração de Jerem ias dem onstra a visão integrada que se tinha da divindade, comum em Israel e no m undo antigo. O papel da divindade era visto em termos de prom over a ordem no caos. No passado primevo, isso fora realizado em escala cósmica, através da criação e organização do Universo. Não importa como o caos era visualizado: se como m onstros que precisavam ser dominados ou como um vazio sem form a que precisava ser preenchido e colocado em funcionamento; o papel da divindade criadora era prom over ordem ao cosmos. Na esfera do dia-a-dia, esse papel era realizado na sociedade através do estabelecimento da justiça. O caos da anarquia tinha de ser controlado na vida do indivíduo, na fam ília, na comunidade e no país. E, por ú ltim o, em sua capacid ade com o planejador, D eus organizara a direção da história. À m edida que o futuro se desenrola sob sua orientação, significado e propósito são trazidos ao que com freq ü ên cia p arece ser um a seq ü ên cia a leatória e desordenada de eventos.
32.21. o pavor da teo fan ia do guerreiro d ivino. Opavor, neste caso, é infundido nos inimigos de Israel (ver o comentário em Êx 15.13-16). O esplendor ou "g lória" de Deus sobrepujava o inimigo, derrotando- o. Em textos m esopotâmicos, o poder dos deuses é descrito pelo termo melammu, ou seja, "glória e brilho divino". São os deuses que incutem nos reis o conhecimento sobre a guerra, dando-lhes força para derrotar o inimigo como "u m dilúvio devastador" (Sargão II) ou a "fú ria de um a tem pestade" (Senaqueribe). D iante de tam anho poder divino, tanto os deuses quanto as forças de outras nações são completamente derrotados e forçados a submeter-se à divindade suprem a.32.22. le ite e m el. V er o com entário em N úm eros13.27.
32.24. ram pas de cerco. As evidências do uso de rampas de cerco em meados do primeiro milênio incluem a arqueologia, relevos e m aterial escrito. A ram pa construída pelos assírios no cerco de Láquis, em 701, ainda pode ser v ista hoje. Estim a-se que sua construção tenha exigido cerca de 25 toneladas de terra e pedra e o trabalho de m il hom ens durante três a quatro semanas. A ilustração de Senaqueribe desse cerco também mostra rampas sendo usados para aríetes e máquinas de cerco. Referências literárias incluem a descrição de Tiglate-Pileser III de aclives artificiais e obras de cerco que ele usava para conquistar as cidades. Para m ais informações, ver o comentário em 6.6.32.29. queim ar incenso nos terraços. Ver o comentário em Isaías 22.1 para informações acerca de altares de incenso. Ofertas em terraços eram feitas às divindades celestiais e são confirm adas na M esopotâm ia (mãe de Gilgamés, no épico de Gilgamés) e em Ugarit (Keret).
32.34,35. práticas repugnantes e profanas. Essa litania de ofensas relaciona-se à apostasia de Acaz e Manassés, conforme narram os livros de Reis e Crônicas. Para detalhes, ver os comentários em 2 Crônicas 28 e 33. Ver o comentário em Deuteronômio 12 .2 ,3 para informações sobre santuários ao ar livre. Ver o comentário em Deuteronômio 18.10 acerca da prática do sacrifício de crianças associada ao deus Moloque. Ver o comentário em 1 Reis 11.5, 7 acerca de Moloque/ Milcom, uma divindade amonita também mencionada nos textos de Mari, da Antiga Babilônia. Textos fenícios tam bém fazem menção ao sacrifício de crianças a Moloque.
33.1-26Promessa de restauração33.4. prédios derrubados para servir de defesa contra as rampas de cerco. O hebraico nesta passagem é difícil e pode ser devido ao uso de termos técnicos que
se referem à construção de muros de defesa, durante o cerco de Jerusalém. Em tempos de cerco, as residências junto aos muros (comuns ou da coroa) eram tomadas para uso m ilitar. A lgum as eram usadas como quartéis-generais ou alojam entos do exército; algu
mas eram desmanchadas e o material era usado para fortalecer as muralhas; algumas eram usadas como hospitais e necrotérios provisórios; e outras ainda eram derrubadas para abrir espaço a torres adicionais, rampas e contra-rampas. Em Láquis, existe evidência de uma contra-rampa construída no interior dos muros da cidade para fortalecer a m uralha contra a ram pa construída pelos assírios do lado de fora. Escavações arqueológicas na encosta leste de Jerusalém , diante do vale do Cedrom, desenterraram enorm es blocos de alvenaria que podem ser ev idência do ataque babilónico e da demolição de casas particulares que ficavam situadas em terraços junto às m uralhas da cidade. M as se é disso que trata este versículo, é difícil entender a que se refere o versículo 5 quando diz que "ficarão cheias de cadáveres".33.15. Renovo. Ver o comentário em 23.5.
34.1-22Advertência a Zedequias34.1. cronologia. Um a descrição mais detalhada das
datas em que aconteceu o cerco a Jerusalém aparece em 2 Reis 25.1 e Jeremias 52.4, o nono ano do reinado
de Zedequias e o décimo dia do décimo mês (janeiro de 588). Os eventos descritos em Jeremias 34.1-7 pro
vavelm ente aconteceram no início da prim avera de 588, antes da invasão egípcia que por pouco tempo
aliviou o cerco.34.5. pira funerária. Esses ritos funerários eram bastante elaborados e incluíam a queim a de especiarias, bem como lamentos e introdução na tumba da fam ília. O fogo não implica em cremação do cadáver nem na tentativa de disfarçar os odores liberados pelo cor
po, m as sim na exibição luxuosa da riqueza do rei. A prática era bem conhecida entre os reis assírios, onde era usada como um ritual apotropaico.34.7. Láqu is e A zeca. Essas duas fortalezas judaicas guardavam a fronteira da Sefelá e eram as duas últimas cidades que sucumbiriam aos babilônios invasores. C ontrolando a Sefelá e o oeste de Ju dá, Láquis servia como um ponto central da linha de defesa para os reis de Judá. localizada entre Jerusalém e cidades- estado filistéias, Láquis guardava as principais estradas da costa para o interior. Sua localidade, Tell ed- Duweir, mostra evidência de ocupação desde o período Calcolítico, com construção maciça de defesas e uma im pressionante porta da Idade do Bronze M édia II (quando era um a im portante cidade cananéia) e da Idade do Ferro II (quando foi estabelecida com o um baluarte ocidental, após a divisão dos reinos; 2 Cr 11.510). A pesar de sua posição im ponente (um tell a 45 m etros de altu ra), a cidade caiu após o cerco do rei assírio Senaqueribe, em 701 a.C. (Anais de Senaque- ribe; para m ais informações, ver 2 Cr 32.9). Evidências da ferocidade desse cerco encontram -se em relevos assírios no palácio real de Nínive que ilustram os eventos e os vestígios de um a enorm e ram pa de cerco do
lado sudoeste do tell. Uma sepultura coletiva, com aproximadamente m il e quinhentos corpos, tam bém pode ter sido resultado da queda da cidade. A cidade foi reconstruída por volta do final do sétimo século, mas nunca recuperou a importância que teve na época dos assírios. Existem registros escritos do cerco babilónico na época de Jeremias na form a de vinte e um óstracos de cartas, descobertos em um a gu arita, na porta da cid a d e (v er o p ró x im o co m e n tá rio ). A zeca (T ell Zakariya) ficava pouco m ais de dezessete quilômetros
ao norte de Láquis e quase 29 quilômetros a sudoeste de Jerusalém. É uma área de apenas um acre diante do vale de Elá, mas visto que fica a cerca de quatrocentos metros acima do nível do mar, tinha valor estratégico
SELOS E BULASSelos eram pequenas pedras ovais (às vezes semipreciosas) gravadas com nomes ou figuras que identificavam o proprietário. Eram estampados em argila ou cera, como uma assinatura. A pelota de argila ou cera era chamada de bula. Documentos oficiais ou legais eram selados para mostrar sua autenticidade. Milhares de selos e bulas foram encontrados por arqueólogos, a maioria datando dos séculos oitavo ao sexto a.C.. Esses selos de estampa eram populares em Israel, em contraste com os selos cilíndricos usados na Mesopotâmia (ver os comentários em Is 8.1 e 8.16). Os selos, com freqüência, tinham o nome do proprietário gravado, acompanhado do nome do pai ou de sua posição. Selos de muitos períodos tinham algum tipo de decoração. Muitos nomes gravados nesses selos aparecem na Bíblia, mas a maioria deles não se refere à personagem bíblica, e sim a alguma outra pessoa com o mesmo nome. Existem, porém, alguns personagens bíblicos cujos nomes estão inscritos em selos ou bulas. A lista inclui reis como Jeroboão II, Uzias, Jotão, Peca, Acaz, Ezequias e talvez Jeoacaz e Manasses. Outro selo contém o nome Jezabel, que pode ser a rainha que perseguia Elias. Outros oficiais do alto escalão incluem Eliaquim (Is 22.20), Baruque (nesta passagem), Jerameel (Jr 36.26), Gedalias (40.5), Jaazanias (40.8) e talvez Pelatias (Ez 11.1, 13). O selo de Baalis, o rei amonita do sexto século (ver 40.14), também foi encontrado. O maior significado dos selos reside na capacidade que têm em ajudar a identificar crenças populares dos diversos períodos da história, visto que as imagens representadas na arte e nos nomes divinos usados nos nomes próprios são dados autênticos daquilo que tinha o máximo de importância para as pessoas.
como uma fortaleza (mencionada nos registros assírios de Sargão II). As Cartas de Láquis descrevem quando o sinal de fogo em Azeca se apagou - um sinal muito agourento para Láquis e Jerusalém .34.7. Cartas de Láquis. As Cartas de Láquis consistem em vin te e um fragm en tos de cerâm ica in scritos (óstracos - apenas doze deles são de fato cartas), encontrados em Tell ed-Duweir, em escavações britânicas conduzidas por J. L. Starkey, entre 1932 e 1938. As cartas foram escritas em uma forma cursiva de hebraico com um a caneta de junco e tinta preta à base de fuli
gem. Foram encontradas nos vestígios da guarita da cidade e podem ter sido cópias de cartas enviadas a Jerusalém pelo comandante da guarnição, durante a invasão de Judá por Nabucodonosor, em 589-587. As cartas refletem o colapso na disciplina m ilitar durante
esse período de emergência; descrevem a negociação com o Egito para que enviasse reforços a Judá e o
desespero dos defensores da cidade à m edida que percebem que os sinais de fogo na vizinha Azeca se apagam .34.8-11. proclam ação de liberdade. A extraordinária proclamação de libertação de todos os escravos hebreus p or Z ed e q u ias aco n tece ap ós o in íc io do cerco babilónico a Jerusalém (janeiro de 588) e antes da invasão egípcia da Palestina, que tem porariam ente deu fim ao cerco (verão de 588). Não fica claro se a libertação foi apenas um m eio de acrescentar o núm ero de homens na defesa da cidade ou se estava associada de algum a form a à legislação sobre escravidão en con trad a em Êxod o 21 .2 -6 , L evítico 25.39-55 e Deuteronômio 15.2, 3. No antigo Oriente Próximo a libertação de prisioneiros (das prisões de seus credores) como um ato de justiça, com freqüência acontecia no prim eiro ou no segundo ano do reinado de um novo m onarca (e depois disso, periodicamente). Por exem plo, o rei da A ntiga Babilônia, A m m isaduqa (século dezessete a.C.) cancelou dívidas em favor de Shamás. Portanto, o "jubileu", neste caso, era basicamente em favor dos endividados (por questões financeiras ou legais) ou escravos por causa de dívidas. Ao contrário da lei israelita, esse edito babilónico dependia inteiram ente do capricho do m onarca e não há evidências de que fosse sancionado pela divindade.34.14. ano sabático de libertação. Ver os comentários em Êxodo 21.2-6; Levítico 25.39-55 e D euteronôm io15.2, 3. Cada um a dessas passagens aborda a questão da libertação de escravos a cada sete anos ou no ano do Jubileu.34.18. cortar o bezerro em dois. O ritual de dividir ao meio o corpo do animal como parte da cerim ônia de realização de um pacto aparece apenas aqui e em Gênesis 15.9, 10 (ver o comentário nessa passagem).
Paralelos do antigo O riente Próxim o, nas cartas de Mari da Antiga Babilônia e no texto aramaico do Tratado de Sefira (oitavo século) entre A bban e Yarimlim, descrevem um anim al partido ao m eio. O aspecto simbólico desse tipo de sacrifício é dar um a imagem clara do que aconteceria àquele que rompesse o pacto.
Quando os proprietários de terra de Judá tomaram de volta seus escravos, após a invasão do Egito que temporariamente aliviou o cerco a Jerusalém, eles rom peram o juram ento solene feito a Yahw eh e se colocaram à mercê de terrível castigo.34.21. retirada babilónica. O faraó egípcio Psamme-
ticus II havia investido grande parte de seu reinado tentando reconquistar o território da Fenícia e da Palestina que Nabucodonosor tomara de seu antecessor, Neco II. Judá dependia grandemente das promessas
egípcias de auxílio, em troca de rebeldia contra os babilônios (como se observa nas Cartas de Láquis). A esperança de Judá e dos hebreus exilados aparente
m ente se concretizou quando o faraó Apries (que ascendera ao trono em 589) finalmente invadiu o sul da Palestina, no início do verão de 588 (ver Ez 30.20-26). Essa invasão, somada a uma frota egípcia que navegou para Tiro e rapidamente assumiu o controle ali (mencionado pelo historiador grego Heródoto), forçou Nabucodonosor a recuar de Jerusalém. Os egípcios, porém, foram rapidamente derrotados (possivelmente perto de Gaza), e o cerco foi retomado no final do verão de 588.
35.1-19 Os recabitas35.2. recabitas. Esse clã associado aos queneus (1 Cr 2.55), tinha uma característica peculiar, visto que fora fu nd ado com o um a ordem ou guilda nôm ade de artesãos por um membro do nono século, Jeonadabe (ou Jonadabe), filho de Recabe (2 Rs 10.15-23). Mais de dois séculos depois, os homens desse clã disseram a Jerem ias que continuavam a viver de acordo com a ordem de seu antepassado, levando uma vida nômade, sem cultivar os campos, nem plantar vinhas ou beber vinho.35.6-10. o estilo de vid a dos recabitas. Tudo que se sabe a respeito dos recabitas encontra-se apenas nesta passagem. Eles afirmam seguir a ordem de seu fundador, Jonadabe, filho de Recabe, que orientara a comunidade a ter um a vida nômade, habitando em tendas. Eles não deveriam construir casas, ter plantações nem beber vinho. Segundo Frick, esse grupo não pode ser classificado como os fundamentalistas relig iosos que haviam rejeitado a religião corrupta das cidades de Judá. Em vez disso, ele os considera um grupo de artesãos itinerantes, que desenvolvia
trabalhos em metal, consertavam carros e armamen
tos bélicos. Isso se baseia em parte em textos ugaríticos
e aram aicos que associam o nom e de R ecabe aos
artesãos que construíam carros ou aos condutores de carros de guerra (ver o convite de Jeú a Jonadabe, em
2 Rs 10.15). M antendo um a vida independente, às
m argens das cidades, os recabitas tinham liberdade para se locom over aonde houvesse trabalho e não
tinham problemas com jurisdições locais ou impostos. Sua recusa em beber vinho pode ser um a m edida
defensiva estipulada para evitar que segredos de sua guilda fossem revelados por um membro embriaga
do. Sua lealdade às regras de seu fundador contrasta com a ruptura do pacto por parte do povo nos dias de Zedequias.
35.11. exército dos sírios. A amplitude do perigo que os habitantes de Judá corriam está evidenciada pelo
fato de os recabitas terem buscado refúgio em Jerusalém e na inclusão do exército arameu na coalizão das
forças de Nabucodonosor. Esses eventos na verdade
acon tecem du ran te o re inad o de Jeo aqu im , e os recabitas estão falando com Jerem ias durante o pri
m eiro cerco a Je ru sa lé m em 600-597 . A C rôn ica Babilónica alista uma série de campanhas conduzidas
por Nabucodonosor na Síria e na Palestina entre 601 e
598. Como resultado dessas incursões m ilitares, legi
ões de tropas de vassalos teriam sido acrescentadas às fileiras babilónicas. Em bora estejam os m ais acostu
m ados aos aram eus sendo relacionados ao estado
aram eu do norte de Israel, tam bém havia arameus
orientais, um povo de língua sem ita que habitava em
grande parte do vale do Tigre e do Eufrates. Com
freqüência eles aparecem lado a lado com os caldeus.
Parece que os caldeus eram um grupo urbano, enquanto os arameus eram seminômades.
36.1-32Jeoaquim queima o rolo de Jeremias36.1. cronologia. O quarto ano do rei Jeoaquim foi
605-604 (segundo o calendário tishri, ver o comentário
em 32.1). O prim eiro ano com pleto do reinado de
Nabucodonosor tinha começado na primavera de 604
(ver os comentários em Dn 1.1, 2). Embora Jeoaquim fosse a favor do Egito, é provável que tenha pagado
tributo a Nabucodonosor n a Síria, no início de 604. O
ditado das palavras registradas no rolo provavelmente aconteceu no final do quarto ano de Jeoaquim (agos
to/ setem bro de 604), porque só é lido a partir do quinto ano (v. 9). Por volta do final de 604, N abu
codonosor desceu a costa da Palestina e capturou a cidade filistéia de Ascalom. Houve um a destruição
em grande parte da cidade e deportação significativa.
A m archa de Nabucodonosor para o sul foi um a ocasião de muito m edo para Judá.36.2* ro lo . O hebraico neste caso sugere um term o técnico para um rolo especial ou de excelente qualidade, ideal para uso oficial por um escriba do governo. Esse material de escrita era usado apenas para as mais importantes proclamações do rei. Para m ais informações sobre rolos, ver o comentário em 30.2.36.4. escriba copiando ditado. A natureza pública do oráculo ditado por Jerem ias exigia que um a cópia cuidadosa fosse fe ita , portanto, as habilidad es de Baruque como escriba profissional, foram em pregadas. Muitas pinturas de túmulos egípcios bem como o texto Ensinos de Khety atestam a importância de escribas na sociedade antiga. Os escribas, naturalmente, podiam ser usados por qualquer pessoa, m as a evidência arqueológica (impressões de selos contendo seu nome) sugere que Baruque era um escriba da corte real.36.6. dia do je ju m . Baruque é instruído a ler o rolo no dia do je jum quando um a grande m ultidão estaria reunida em Jerusalém. U m "d ia de je jum ", que não estivesse associado ao Dia da Expiação, não fazia parte do calendário religioso norm al, mas ao contrário, era convocado diante de alguma emergência que exigia o envolvim ento total das energias religiosas do povo. Provavelm ente esse je jum foi m otivado pela chegada das forças babilónicas na Palestina (dezembro de 604).
36.9. cronologia. O nono mês do quinto ano era novem bro/dezem bro de 604. Em dezem bro de 604, o exército babilónico marchou pela costa filistéia e conquistou a cidade de Ascalom. A probabilidade de que esse inimigo "vindo do norte" se voltasse para o leste, em direção a Jerusalém , seria um m otivo plausível para a instituição de um dia de jejum em que Baruque d evia ler o ro lo . N a b u co d o n o so r v o lto u p ara a Babilônia em janeiro/fevereiro de 603.36.10. topografia. O templo do período monárquico tinha três andares com salas que cercavam o templo em três lados. Pode-se presum ir que a sala de Ge- marias fosse um a delas. O Antigo Testamento oferece pouca descrição das câmaras do templo. E provável que o pátio superior refira-se ao que deva ser considerado o pátio "in terno" de 1 Reis 6.36, a área ao redor do templo em si. Essa seria a área m ais elevada do recinto do templo. A porta Nova também é mencionada em Jerem ias 26.10, m as sua localização exata é desconhecida. Especula-se que ficasse situada do lado sul do pátio, servindo como uma passagem entre o templo e o palácio real, ao sul.36.12. sala do secretário. O salão de audiências do rei devia ser cercado por pequenas salas onde grupos podiam se reunir para discutir questões oficiais ou
com partilhar inform ações do governo. U m sinal de autoridade para o conselheiro do rei ou escriba da corte seria ter uma dessas salas designadas como "seu escritório". Parece que os conselheiros de Jeoaquim se reuniram na "sala do secretário E lisam a", antes de levar o rolo de Jeremias ao rei porque ali era o lugar onde norm almente se reuniam.36.16. obrigação de relatar palavras proféticas ao rei. Segundo os textos de M ari do século dezoito, era dever de todo conselheiro ou oficial real relatar qualquer mensagem profética ao rei. Diversos desses docum entos registram advertências de profetas; em um caso, sobre uma possível revolta, em outro orientando a oferecer um sacrifício, enquanto outro ainda alerta o rei a não sair em campanha. A natureza enfática do hebraico neste versículo reforça a urgência associada a essa notificação tão alarmante. Esses oficiais estão atemorizados com a mensagem, m as tam bém sabem como é importante avisar o rei do perigo potencial do oráculo de Jeremias.36.18. tinta. A composição da tinta usada por escribas no antigo Oriente Próximo variava, embora todas fossem à base de carbono. No Egito, era comum misturar um a resina com cinza. A análise quím ica da tinta usada para escrever as Cartas de Láquis mostrou que tinta de ferro foi criada através da m istura de carbono com galhos de carvalho e azeite.36.22. braseiro aceso. Visto que esse evento ocorreu em dezem bro, o rei teria necessidade de diversos braseiros acesos em seu apartam ento de inverno, a fim de mantê-lo aquecido. Portanto, não é surpreendente que houvesse um braseiro perto para m anter o calor e talvez para queim ar um incenso defumador. É possível que fosse um a lareira perm anente em seu "apartam ento de inverno", m as a narrativa parece sugerir que se tratava de um braseiro portátil em que os pedacinhos do rolo foram dramaticamente lançados para ser queimados.36.23. escrito em colunas. A palavra usada para "co luna" neste versículo geralm ente é traduzida como "porta". Pode indicar que as folhas do rolo estavam unidas ou talvez que o tamanho de cada página fosse aproxim adam ente o m esm o dos tabletes de escrita. Esses tabletes, geralmente de madeira, cobertos com cera de abelha, foram encontrados em naufrágios antigos bem como em um contexto neo-assírio (dezesseis quadros de m arfim encontrados no fundo de um poço em Ninrode).36.23. faca de escrivão. É possível que Jeoaquim tenha emprestado a faca do escrivão para cortar o rolo ou que simplesmente tenha ordenado ao escriba essa tarefa. Porém, se fosse um rolo de pergaminho, teria sido mais fácil cortar as tiras de couro onde as partes
eram ligadas para formar o rolo. O pergaminho também teria queimado lentamente, liberando um odor repugnante. Se fosse um rolo de papiro, o texto poderia ter sido facilmente rasgado e queimado.36.23. cortar e queim ar como form a de anular. Em um sentido, ao cortar e queimar o rolo de Jeremias, o rei estava executando um ritual de execração. No irú- cio do segundo milênio, os egípcios tinham a prática de escrever os nomes de cidades a serem atacadas em tigelas ou pequenas estátuas de barro. Após recitar feitiços adequados, quebravam em pedaços tais obje
tos. O ato de registrar por escrito um a profecia, como Jerem ias fizera, era um a form a de efetivá-la (assim como o ato de proferi-la). Ao queimar o rolo, Jeoaquim esperava desfazer ou anular o efeito daquela profecia.36.30. corpo exposto. O que está mesclado nessa frase é o ato físico da desonra de um cadáver, ficando exposto, sem ter um enterro digno e a afirmação divina de que a família de Jeoaquim não teria mais direito a governar em Judá. Um a m aldição sem elhante foi lançada sobre Jeroboão pelo profeta Aias, em 1 Reis14.10 ,11 e sobre Acabe, por Elias, em 1 Reis 21.21-24. Em um período posterior, os ju deu s de Elefantina am aldiçoaram seu governador regional, V idranga,
que havia ordenado a destruição do templo. Eles oraram a D eus pedindo que seu corpo fosse devorado por cães, ficando exposto aos elementos da natureza,
em vez de receber o sepultamento adequado. A respeito da im portância de um enterro decente, ver o comentário em 1 Reis 16.4.
37.1-21 Jeremias na prisão37.1. cronologia. Joaquim sucedeu seu pai Jeoaquim, durante o cerco babilónico a Jerusalém, em dezembro de 598. Seu reinado durou apenas até que a cidade foi tomada, três meses m ais tarde. A essa altura, seu tio Matanias (ver 2 Rs 24.17) foi colocado no trono pelo vitorioso Nabucodonosor e seu nom e foi m udado para Zedequias.37.5-8. m ovim ento de tropas egípcias. Durante o cerco de Jerusalém em 588, o faraó egípcio Apries enviou um exército para a Palestina. O avanço dos egípcios obrigou os babilônios a temporariamente suspender o cerco (ver os comentários em Jr 32.2 e 34.21). Essa ação dos egípcios talvez tenha sido m otivada por com prom issos de tratado feitos entre Zedequias e Psam m eticus II, quando esse faraó fez um a rápida visita à Palestina, em 592 (com base no papiro Rylands IX). Não existe nenhum documento de tratado e não está claro se Zedequias pessoalm ente encontrou-se com o faraó ou se (de acordo com as Cartas de Láquis) uma delegação de embaixadores hebreus foi enviada
ao Egito. Referências em H eródoto indicam que as tropas egípcias estavam m ais preocupadas em resta
belecer seu controle nos portos fenícios de Tiro e Sidom
e não há indícios de um a batalha entre egípcios e babilônios na Palestina, antes de sua retirada para o Egito.
37.13. porta de Benjam im . Das m uitas portas de Jerusalém, a porta de Benjamim dava para o nordeste e
teria sido a mais conveniente para Jerem ias usar quando quis visitar Anatote. Sua importância e a quantidade de tráfico que passava por ali são atestados em
Jeremias 17.19 e pelo fato de que o rei Zedequias ali se assentava para governar, conforme Jerem ias 38.7.
37.15. prisão. No antigo Oriente Próximo, as prisões
eram usadas para confinam ento temporário, geralmente durante um julgam ento ou antes da execução
de um a sentença. Por exemplo, a prática mesopotâ- mica incluía prisão em uma cela de um templo (Hino
a Nungal) ou prisão domiciliar (cartas de Mari). O fato
de Jerem ias ser preso na casa de Jônatas, o secretário,
sugere que prisões form ais tam bém eram raras na Jerusalém do período m onárquico. A s prisões rara
mente são mencionadas na literatura bíblica. Apenas
José é descrito (Gn 39.20) sendo m antido com outros prisioneiros em um a casa de detenção. O profeta
Micaías é preso em um local não especificado durante
o julgam ento em que se aguardava o cum prim ento
de suas profecias contra Acabe (1 Rs 22.27). Outros
exemplos de prisões incluem casas de trabalho força
do, como aquela em que Sansão, m esm o com os olhos furados, foi forçado a moer cereais (Jz 16.21).
37.16. cela subterrânea da prisão. Visto que Jeremias
foi acusado de tentar desertar para o lado inim igo,
pode-se presum ir que sua cela ficasse num a parte
indesejável da casa de Jônatas, o secretário. Provavel
mente a arquitetura de um a casa construída junto à porta da cidade ou perto do complexo do templo in
cluiria algumas pequenas alcovas no sótão. Esses espaços restritos provavelmente eram pequenos demais
para que um homem pudesse ficar de pé e eram mal ventilados.
37.21. pátio da guarda. Ver o comentário em Jeremias
32.8 a respeito dessa área de segurança m ínima onde Jeremias foi preso em seguida.
37.21. pão da rua dos padeiros. Diversas referências nos profetas sugerem que a cidade de Jerusalém tinha
bairros onde havia lojas, mercados e fábricas (ver Is 7.3 ~ lavandeiros; Jr 18.2 - oleiros). Estabelecimentos
semelhantes são m encionados no texto egípcio Ensi
nos de Khety, que descrevem uma tecelagem, onde os trabalhadores ficavam confinados em um quarto aba
fado o dia todo. O pátio da guarda ficava localizado
perto do palácio (Jr 32.2) e, portanto, a rua dos padeiros devia ficar ali perto.
38.1-13Jeremias confinado numa cisterna38.6. preso num a cisterna. Uma área de ajuntamento
de tropas teria usado um a cisterna para arm azenar água de chuva durante os meses secos. V isto que esse
estágio do cerco a Jerusalém aconteceu durante os meses normalmente chuvosos de inverno de 588-587, o fato de que uma cisterna cavada em pedra calcária
de abertura estreita estivesse disponível como prisão
e não contivesse água confirma o aumento da população da cidade e a situação desesperadora enfrentada
pelos m oradores. A lama no fundo da cisterna, po
rém , não perm itiria que Jerem ias dormisse ou des
cansasse e seria um am biente extrem am ente insalubre. V isto que o rei estava com m edo de executar
Jeremias, talvez ele tenha contado com um a doença ou
desnutrição que o livrassem do profeta (ver SI 79.11).
38.7. o f ic ia l etío p e no p a lácio . V isto que Ebede- M eleque tinha um nome hebreu (que significa "servo
do re i"), é provável que fosse um escravo etíope ou
um homem livre que entrara para o serviço na corte real. A m aneira à vontade com que ele confrontou os
guardas de Jerem ias e o rei Zedequias, enquanto es
tava sentado junto à porta da cidade, sugere que tinha
fam iliaridade com o rei e que seu conselho foi considerado em elevada estima. A designação "eunuco"
pode indicar sua capacidade como oficial real e/ou sua condição física (ver o comentário em Is 56.4, 5).
38.7. rei sentado ju nto à porta de Benjam im . Existem amplas evidências bíblicas e arqueológicas disponí
veis a respeito de reis assentados junto à porta da
cidade conduzindo julgamentos. Por exemplo, a porta da Idade do Ferro em Tell Dan contém uma platafor
m a elevada com pedestais de pedra para uma cober
tura que servia como um tribunal. A bsalão acusou
Davi de incapacidade política por não estar assentado à porta ouvindo as causas de seu povo (2 Sm 15.2-6).
38.14-28Jeremias é interrogado novamente38.14. terceira entrada do tem p lo do Senh or. Essa
"terceira" entrada do templo é m encionada apenas
neste texto. Entretanto, visto que Zedequias desejava ter um a audiência bastante privada com Jerem ias,
não haveria outro lugar m ais seguro que a entrada particular do rei ao templo.
38.23. m ulheres e filhos levados aos babilônios. Quan
do um a cidade era tom ada e o rei subjugado, sua
família e funcionários também eram tomados. Era um
período de terror, visto que as perspectivas, na melhor das hipóteses, eram de exílio e cativeiro e, na
pior, de estupro, tortura e m orte. Sabe-se m enos a
respeito do tratamento dado aos cativos pelos babilônios do que sobre as práticas assírias.
39.1-18A queda de Jerusalém39.1, 2. cronologia. O cerco a Jerusalém teve início
em janeiro de 588 e terminou quando os muros foram
p en etrad os, em 18 de ju lh o de 586; o tem p lo foi
destruído em m eados de agosto desse m esm o ano. Ver os comentários em 2 Reis 25.1-12.
39.3. se assentaram ju nto à porta do M eio. O lugar
onde os oficiais babilônios tom aram assento após a invasão em Jerusalém é atestado apenas nesta passa
gem. Escavações arqueológicas recentes por Avigad,
no Quarteirão Judaico da Cidade Velha, revelaram
uma parte norte do muro e uma área junto à porta que
mostra sinais de ataque e incêndio. Outros estudiosos acreditam que esse fragm ento dos m uros deva ser
identificado com a porta do Peixe, em Neemias 3.3.
39.4. fu ga de Z edequias. Ao perceber que a cidade sucumbira, Zedequias e sua corte fugiram pela porta
sul (o ataque babilónico tinha como alvo o norte das
muralhas; ver o comentário em 31.38), localizada perto do "jardim do rei". Essa propriedade real provavel
mente era um pomar irrigado pelas águas das fontes
do vale do Cedrom (ver N e 3.15). A referência aos
dois muros pode ser à parte do m uro reconstruído por Ezequias quando ele reforçou as defesas da cidade
contra a ameaça assíria (ver 2 Cr 32.5).
39.5. Jericó, a cam inho da Arabá. A Arabá refere-se ao vale do Jordão, onde Zedequias esperava atraves
sar as passagens do rio Jordão, perto de Jericó, e fugir
para Moabe ou Am om em busca de asilo. A estrada
de Jerusalém até as planícies de Jericó tem cerca de 24 quilômetros, um declive acentuado por entre colinas
rochosas e áridas. Não há lugares para se esconder,
nem rotas alternativas ou fortalezas de defesa no caminho - o rei simplesmente contava com uma vanta
gem que o ajudasse a fugir. Ele quase conseguiu -
estava a poucos quilômetros do rio quando os babilônios o alcançaram.
39.5. R ib la , na terra de Hamate. A localidade de Ribla fica na ampla planície da Síria. Estava sendo usada
por N abucodonosor como o quartel-general de seu exército. A atual cidade de Rible situa-se às margens
do rio Orontes, ao sul do lago Homs (ver o comentário
em 2 Rs 23.33). Neco II usara o mesmo local como sua área de reu nião de trop as, d u ran te a bata lh a de Carquemis. H am ate refere-se à cidade síria de Hamate
e também ao distrito, que inclui toda a área do vale do Orontes.39.7. reis cativos tinham os olhos furados. Ver o comentário em 2 Reis 25.7. O tratado assírio de vassalo entre Assur-Nirari V e Matti-Ilu, rei de Arpad, inclui a m aldição de que aquele que rom pesse o tratado teria seus olhos arrancados. O rei assírio Esar-Hadom gabava-se de deixar seus inimigos sem orelhas, nariz e olhos. Outros exemplos da prática de furar os olhos
dos reis inim igos com o um castigo para a rebelião encontra-se no destino que Sansão teve (Jz 16.21) e na ameaça amonita de cegar o olho direito de todos os homens em Jabes-Gileade (1 Sm 11.2).39.7. correntes de bronze. Há evidência em baixo- relevos assírios, no palácio de Assurbanipal, de prisioneiros sendo acorrentados em grupos ao ser enviados para o cativeiro. D esde Tiglate-Pileser III, grilhões de ferro começaram a ser usados, e certamente seriam com uns no período neo-babilônico. Não há razão para imaginar, porém, que correntes de bronze não continuassem a ser usadas também.
39.9. política bab ilón ica de deportação. Os neo-babilônios continuaram a política de deportar populações rebeldes, em pregada pela prim eira vez pelos reis assírios Assurnasirpal II e Tiglate-Pileser III. Tratava-se de um estratagema político e econômico. T inha como objetivo m anter uma parte do povo como refém , enquanto um a dinastia nativa continuava a governar o Estado vassalo. Por isso, em 597, Zedequias foi colocado no trono de Jerusalém , enquanto Jeoaquim , grande parte da fam ília real, sacerdotes do alto escalão, nobres e artesãos haviam sido levados para a Mesopotâmia. Até mesmo após a revolta de Zedequias e a queda de Jerusalém, Nabucodonosor tentou m anter um governo hebreu nativo, nom eando Gedalias como rei. Entretanto, seu assassinato resultou na nomeação de um governador babilônio. D eve-se observar que apenas um a parte da população era deportada. Os babilônios ainda queriam ter lucro com Judá, por isso a terra foi redistribuída aos pobres, com a expectativa de que a econom ia da região fosse restabelecida.39.10. vinhas e campos aos pobres. N em todo o povo de Judá foi deportado após a queda de Jerusalém em 586. M uitos, inclusive Jerem ias, na verdade tinham um a posição a favor dos babilônios ou no mínimo, contra Jerusalém (compare com a condenação de Mi- quéias, na época de Ezequias - M q 3.8-12). Ao redistribuir a terra que pertencia às pessoas agora exiladas, os babilônios criavam laços com os pobres e também
lançavam os fundamentos para um a restauração da economia e da agricultura, num a terra que fora devastada por anos de guerra.
40.1-6 A libertação de Jeremias40.1. guarda im perial. Em bora Nebuzaradã literalmente signifique "m ordom o-m or", trata-se claramente do título de um cargo tradicional que evoluíra para
a posição de comandante de um contingente direta
m ente sob as ordens imperiais. Ele e a companhia de soldados sob seu comando recebiam tarefas específi
cas (ver Jr 39.10, onde ele está no comando da deportação de prisioneiros, e 2 Rs 25.8-11, em que sua com
panhia destruiu o templo de Jerusalém). Tarefas delicadas, com o a libertação de Jerem ias do cam po de
prisioneiros de guerra, em Ram á, após a queda de Jerusalém, também faziam parte das responsabilidades desse extraordinário oficial.
40.1. Ramá. Ver o comentário em Jeremias 31.15. Essa localidade ao norte de Jerusalém estava sendo usada
como um a área de espera para a deportação de prisioneiros de Judá.
40.5. G edalias. Após a queda de Jerusalém, em 586,
e a prisão de Zedequias, Nabucodonosor colocou Ge
dalias, filho de Aicam, da im portante casa de Safã (linhagem não-davídica), como governador de Judá.
Durante aproximadamente um ou dois meses de tra
balho, ele deu início à restauração da economia do
país a partir de seu novo centro adm inistrativo, em
M ispá (ver 2 Rs 25.22-26). U m a im pressão de selo com o nom e de Gedalias foi encontrada em Láquis,
sugerindo que esse hom em tinha alguma experiência administrativa. Também é possível que ele fosse
o "chefe do palácio" sob Zedequias, um posto que justifica sua nomeação pelos babilônios. Suas tentati
vas de conseguir um a safra m otivou alguns dos re
fugiados a retom ar para Judá (Jr 40.12), mas foi impedido ao ser assassinado por Ismael, filho de Neta-
n ias, m em bro da casa real que não queria que se
estab elecesse o p reced en te de um govern o n ão-
davídico.
40.6. M isp á. A pós a destruição de Jerusalém e da maioria das cidades do sul de Judá, Gedalias foi força
do a transferir sua capital administrativa para a forta
leza de M ispá, na fronteira. A localização m ais aceita para esse lugar é Tell en-Nasbeh, treze quilôm etros
ao norte de Jerusalém, na fronteira com Israel. Escavações arqueológicas desenterram fortificações da Idade
do Ferro em Tell en-Nasbeh e nenhum sedimento de
destruição desse período foi encontrado, sugerindo as condições adequadas da cidade para uso imediato por
um governador recém nom eado. Tam bém existem
im portantes m ud anças arqu itetôn icas no período babilônio que evidenciam a transformação da fortaleza em um centro governamental.
40.7-41.18 O assassinato de Gedalias40 .11 ,12 . refugiados no antigo O riente Próxim o. Operíodo quase ininterrupto de guerras no antigo Ori
ente Próximo, do oitavo até o sexto século, gerou m uitos refugiados. Em bora famílias inteiras fizessem par
te desse grupo, muitas vezes homens sozinhos escapavam, talvez para formar bandos de guerrilheiros
(como aqueles comandados por Jefté e Davi em perío
dos anteriores) ou camuflar-se em uádis e cavernas isoladas, à espera da retirada dos invasores. Os me
nos afortunados são ilustrados nos m uros do palácio da capital assíria, em Nínive. Esses relevos mostram
alguns dos refugiados da cidade destruída de Láquis
(principalmente mulheres e crianças), caminhando ao
lado de carroças contendo seus poucos pertences. Os anais assírios e babilónicos contêm relatos do número
de prisioneiros levados das cidades saqueadas da Siro- Palestina, mas pode-se presum ir que m uitos outros
fugiram dos exércitos, escondendo-se em colinas, cruzando o rio Jordão até Moabe ou unindo-se a gru
pos beduínos.
40.14. Baalis. Esse rei amonita talvez apoiasse a reivindicação da linhagem davídica ao trono de Jerusalém ,
ou ta lv e z fo sse s im p lesm en te u m m o n a rca an ti-
babilônico que desejava desestabilizar o governo no
vato de Gedalias. Ele não é mencionado em nenhuma outra passagem bíb lica , m as um selo recentem ente
descoberto pode oferecer evidência extrabíblica de seu
reinado. Esse selo, que data de aproxim adamente 600a. C., foi encontrado em Tell el-'Umeiri, ao sul de Amã,
n a Jordânia. A inscrição contém os nom es de Baal-
Yasha, "B aal salva" e M tíkom 'or, "M ilcom é luz". Re
centem ente, o selo de Baalis tam bém foi encontrado.
41.1. cronologia. Embora alguns comentaristas tenham sugerido que o governo de Gedalias tenha durado
cinco anos, a maioria considera que seu assassinato
aconteceu em 586, apenas um mês após a destruição do templo. O sétimo mês teria coincidido com a Festa
das cabanas, quando muitos peregrinos estariam nas
estradas, o que ajudou o grupo liderado por Ismael a
passar desapercebido.
41.5. rapar a barba. Ver os comentários em Levítico
19.28; Isaías 7.20 e Ester 4.1 a respeito dessa prática comum de luto e sua proibição. Claramente, a prática
popular, especialm ente durante esse período após a
destruição de Jerusalém, ainda incluía rapar a barba, mas há pouca confirmação disso em textos extrabíblicos.
41.5. trazer sacrifícios a um santuário destruído. Uma
vez que Jerusalém e o tem plo estavam destruídos, parece curioso que houvesse peregrinos a caminho
dali para oferecer sacrifícios. Considerando o lugar
de onde esses peregrinos provinham (Siquém , Siló
e Sam aria), outrora centros cultuais e políticos, sua
viagem pode ter nuanças da tentativa de restaurar Jerusalém. Pode ser que estivessem planejando rea
lizar rituais cultuais para purificar o templo destruído, restaurando-o assim ao seu uso (comparar a restau
ração promovida por Josias, em 2 Cr 34.8 e ver o co
mentário lá). Considerando o núm ero de santuários
destruídos em todo o antigo Oriente Próximo, é pro
vável que houvesse rituais de purificação prescritos com o objetivo de prepará-los para uso novamente.
Evidência disso encontra-se nos anais assírios de Esar- H adom , que descrevem como M arduque perm itiu
que a Babilônia e seus templos fossem destruídos e
restaurados.41.9. re ferên cia h istórica . V isto que M ispá não foi
destruída pelos babilônios, os vestígios arquitetônicos
da cidade daquele período estão mais intactos do que
os de muitas outras localidades. Esses vestígios inclu
em casas de am plos côm odos e possivelm ente um pequeno palácio, talvez usado como centro adminis
trativo de Gedalias. Também havia uma série de cis
ternas sem tampa cavadas na rocha, talvez uma delas sendo citada aqui como a cisterna construída pelo rei
Asa, trezentos anos antes (ver o comentário em 2 Cr
16.6). Naquela época o rei de Judá recebeu ajuda de Ben-H adade, rei da Síria, na guerra contra o rei de
Israel, Baasa. Uma parte do m aterial de construção
saqueado, tomado da fortaleza de Baasa, em Ramá, foi usada para fortificar Mispá.
41.10-12. distância e localização. Se o grupo estivesse
tentando chegar ao território am onita, G ibeom está
na direção errada. De Mispá, os viajantes geralmente
iriam alguns quilômetros ao norte até Betei ou alguns quilôm etros ao sul até Ram á, para seguir por uma
estrada principal que ia sentido leste até Jericó e o Jordão. Pode-se apenas supor que talvez, quando che
garam a Ramá descobriram que estavam sendo per
seguidos pelo norte, ou talvez foram confrontados pela
tropa de Joanã que atalhou pela estrada leste. Tais circunstâncias podem explicar sua decisão de seguir
para o oeste até G ibeom em vez de continuar em
direção ao leste. Gibeom (el-Jib, cerca de dez quilôm etros a noroeste de Jerusalém ) ficava quase cinco
quilômetros a sudoeste de Mispá.
41.17. Gerute-Q uim ã. Essa localidade perto de Belém provavelmente é a propriedade tradicional de Quimã
(2 Sm 19.37). Agregados à corte, como esse homem, geralm ente recebiam um pedaço de terra em troca
de seus serviços (uma prática também encontrada em textos de Mari). G erate é uma palavra desconhecida e pode significar "feudo" ou "propriedade rural".
42.1-22A decisão do Egito42.10. D eus lam enta pelo castigo enviado. No M ito de Erra e Ishum, M arduque abandona seu santuário na Babilônia para permitir que Erra, um deus destrutivo, traga ju lgam ento sobre o povo da cidade. A pós a destruição ter sido executada, M arduque ficou cheio de pesar por causa da cidade que era sua m orada. Yahw eh lamenta pela destruição que Jerusalém acarretou sobre si mesma, mas não se arrepende desejando não ter agido como agira. Existe muita diferença entre o material israelita e babilónico, m as o tema da divindade lamentando pela destruição que ela mesma trouxe ou permitiu é um elemento comum a ambos. Na literatura sum éria antiga, um tem a sem elhante aparece quando as divindades abandonam uma cidade à qual o concílio divino decretara destruição.
43.1-13A fuga para o Egito43.7. ocupações dos h ebreu s no Egito . A fuga de refugiados hebreus para Tafnes, após o assassinato de Gedalias, simplesmente inchou a população israelita já existente no Egito. Isaías 11.11, datando do período assírio, menciona remanescentes de israelitas no Alto e no Baixo Egito. O próprio Jeremias dirige-se a povoados judaicos no Baixo Egito, em M igdol e Mênfis (44.1 e 46.14), e em Patros, no Alto Egito. Papiros encontrados em algumas dessas localidades contêm nomes obviamente judaicos. A comunidade judaica mais conhecida no Egito era a colônia m ilitar na ilha de Elefantina, fundada antes de 525 e m encionada na "Carta a A risteas", de Josefo, como a terra de tropas m ercenárias à serviço do faraó Psammeticus I. Cartas e documentos legais de Elefantina falam de uma cultura transplantada tentando manter costumes e tradições mesmo diante de alguma hostilidade por parte do governo e da população egípcios. Por exemplo, um pequeno templo foi construído em Elefantina, mas foi destruído posteriorm ente. N essas cartas existem comunicações com a comunidade judaica que retomara a Jerusalém na época de Neemias.43.7. Tafnes. Essa fortaleza egípcia ficava situada na região leste do Delta, na fronteira com o Sinai. Tem sido identificada com Tell ed-Defenna, com sua mais antiga ocupação remontando ao sétimo século, quando Psam m eticus I posicionou ali uma guarnição de mercenários gregos. Sua proximidade a uma importante estrada que seguia até a Siro-Palestina fazia da cidade um lugar provável onde os refugiados hebreus procurariam proteção.43.9. palácio do faraó, em Tafnes. As escavações em Tell ed-Defenna concentram-se em um grande prédio
retangular que data do período saíta (séculos sétimo e
sexto a.C.) e provavelm ente serviu como residência
do governador e centro adm inistrativo. É possível que esse seja o prédio descrito como o "palácio do
faraó", visto que todos os burocratas eram um a extensão do poder da coroa. As grandes pedras enterradas
nesse ponto poderiam facilm ente sim bolizar um a
m udança de governantes, à m edida que o profeta enterra as pedras no pavimento de tijolos de barro (a palavra hebraica usada aparece apenas aqui, e a tra
dução se baseia num termo relacionado que aparece em 2 Sm 12.31 e Na 3.14).
43.10. tenda real. Para que o rei Nabucodonosor se assentasse, seria necessário construir um trono provi
sório, coberto por uma tenda. Esta servia como abrigo, para proteger o rei do sol e tam bém funcionava
como um símbolo de seu governo universal (compare
com a glória de Deus manifestada por uma tenda de fumaça e nuvem em Is 4.5).
43 .11 ,12 . a invasão babilón ica no Egito. Era inevitá
vel que, com o tempo, Nabucodonosor invadisse e
tentasse conquistar o Egito. Os m edos haviam unificado o território a leste do Tigre, efetivamente cortando
a Babilônia do comércio direto com o leste e os egípci
os, com seus aliados fenícios, estavam constantemente
causando problemas políticos e econômicos no ocidente e ao longo das rotas de comércio árabes. Um longo
cerco (treze anos, de acordo com o historiador grego
do quarto século, Menander) bloqueou Tiro e devas
tou grande parte da Fenícia (584-571). Um fragmento
dos anais de Nabucodonosor, datado do ano trinta e sete de seu reinado, H eródoto e Ezequiel 29.19-21
referem-se à invasão do Egito, em 568, mas nenhum
detalhe é dado além da vitória sobre as tribos do
deserto. É provável que algumas guarnições babilónicas tenham sido instaladas nas fortalezas do Sinai,
após essa campanha.43.13. tem plo do sol. Jeremias aplica o nom e hebraico
"Bete-Sem es" (NVI, "tem plo do sol") para designar a
cidade egípcia de Heliópolis. O nom e geralmente usado para essa cidade localizada perto de Cairo é O m (Gn
41.45), m as o profeta aparentemente deseja enfatizar o
culto ao deus-sol Am om -Rá, que era praticado ali.
43.13. colunas sagradas. O termo hebraico usado aqui refere-se a pilares ou colunas de pedra erigidas em
comemoração a um evento, como marco na conclusão
de algum acordo ou pacto ou à entrada de um santuário, ou ainda como im agem de um deus (ver Gn28.18-22; Êx 31.49-32; 1 Rs 14.23). No contexto egípcio,
essas colunas m onum entais geralm ente são cham adas de obeliscos, e eram edificadas normalmente para
comemorar importantes vitórias ou na dedicação de
um tem plo. Por exem plo, a entrada do tem plo de Amom-Rá, em Heliópolis, era ladeada por duas fileiras de obeliscos.
44.1-30A desgraça causada pela idolatria44.1. território geográfico. A mensagem de Jeremias aos povoados israelitas do Egito engloba a área geral
ao redor de Tafnes, na região do D elta, inclusive Migdol (localizada 32 quilômetros a nordeste; ver Êx 14.2 e N m 33.7) e Mênfis. Patros é uma designação de lugar que se refere à área sul do Delta, no Alto Egito, entre Mênfis e Assuã. Inscrições assírias usam terminologia semelhante e a terminologia egípcia apóia tal identificação. Escavações num local agora identificado como Migdol têm desenterrado cerâm ica do período saíta e uma fortaleza cujas muralhas estendem-se por m ais de 180 m etros de cada lado.44.15. alto (N VI: Patros) e baixo Egito. A área geográfica onde os refugiados hebreus se estabeleceram é descrita em term os gerais nessa referên cia . O s israelitas estavam basicam ente situados no D elta e não espalhados em toda a extensão do território egípcio. Visto que o Nilo corre para o norte, o Alto Egito é a parte sul. O Baixo Egito, no norte, inclui a região do
Delta e estende-se até Mênfis.44.17. Rainha dos Céus. Ver o comentário em 7.18.44.18. incen so e ofertas de beb id as. O incenso era muito valorizado no mundo antigo como um elemento que acompanhava os sacrifícios. Seu odor adocicado na verdade m ascarava qualquer cheiro desagradável que resultava da realização dos rituais. Era caro (ver o comentário em Lv 2.1), m as acreditava-se que agradava os deuses. Na Mesopotâmia, o incenso era usado em ofertas dedicatórias e propiciatórias. O povo acreditava que o incenso ajudava a transportar as orações até a divindade, que então inalaria o perfum e do incenso (para m ais inform ações, ver o com entário em Êx 30.7, 8). Derramar libações ou ofertas líquidas era comum em toda a história mesopotâ- mica, inclusive ofertas de água, vinho e sangue (compare com a ação de D avi em 2 Sm 23.16). A arte assíria estilizava as ofertas de bebidas em diversas classes, dependendo do tipo de líquido e de onde e sobre o que era derramado.44.19. bo los na form a da im agem dela. É provável que o uso de ofertas de bolos com a form a da imagem da deusa era uma prática emprestada da Mesopotâmia. A palavra hebraica kawwanim é um em préstim o do acadiano kamanu, um tipo de bolo doce associado ao culto de Istar. Esses bolos eram assados sobre cinzas e com freqüência adoçados com m el ou figos. Os textos rituais que descrevem festivais eshsheshu em cidades
mesopotâmicas fazem menção a ofertas de cam e e de bolos.
44.30. destino de Hofra. Assim como em Isaías 7, o profeta Jeremias aqui dá um sinal do que Deus intenta fazer com pessoas desobedientes. Hofra (conhecido
em grego, nos textos de Heródoto, como Apries) era o quarto rei da 26a Dinastia, sucessor de Psammeticus I, em 589. Ele enviou um exército com reforços para a Palestina durante o cerco de Nabucodonosor a Jerusalém , m as rapidam ente teve de recuar (ver Jr 37.5). Sua expedição naval que flanqueou as forças babiló
nicas em terra foi parcialm ente bem -sucedida, conquistando o Chipre. Após a queda de Jerusalém, Hofra providenciou para que refugiados hebreus se fixassem no Egito, na região do Delta. Seu fim foi decorrente de sua confiança demasiada em tropas m ercenárias e de sua incapacidade de controlar a colônia grega em Cirene. Tanto H eródoto como o fragmento de uma esteia do período relatam que ele foi morto em um golpe liderado por seu sucessor, Amasis, por volta de 570.
45.1-5 Mensagem a Baruque45.1. cronologia. O quarto ano do reinado de Jeoa- quim teria sido em 605-604 a.C.. Foi o ano em que Nabucodonosor derrotou os assírios em Carquemis. A essa altura, Jeoaquim ainda era um vassalo dos egípcios, m as seus senhores políticos estavam prestes a mudar. Ver o comentário em 36.1.
46.1-28 Mensagem acerca do Egito46.1. mensagens acerca das nações. Existe um gênero literário distinto dentro da literatura profética conhecido como oráculos contra as nações estrangeiras. Enco n tram -se em Isa ía s 1 4 -2 1 , 23; E zequ iel 2 5 -3 0 ; Jeremias 46-51; Amós 1 e 2; Sofonias 2 e os Livros de
O badias e Naum. Em bora todas elas condenem os inimigos de Israel, zombando deles, de seus deuses e governantes, cada profecia é um a unidade distinta, autônom a em condições de cumprir sua missão sem ser obrigada a obedecer uma estrutura ou esboço pré- estabelecidos. Pelo fato dessas m ensagens aparecerem no capítulo 25 de Jeremias, na versão da Septuaginta, tem sido sugerido com freqüência que se tratava de um a unidade diferente daquela que circulou como um a obra literária independente, antes de ser acrescentada ao Livro de Jerem ias. Na maioria dos casos, os oráculos não eram entregues aos países a quem eram dirigidos, um a vez que o público que se desejava atingir era Israel. Existem breves exemplos desse gênero nos textos de Mari. Em um a dessas pro
fecias, o deus Dagan envia uma m ensagem a Zinri- Lim, rei de Mari, concernente a seu inimigo, a Babilônia: "Ó , Babilônia, o que estás tentando fazer? Eu a apanharei em um a rede".46.2. Neco. Governando de 609 a 595 a.C., Neco II foi um membro da 26a Dinastia do Egito. À medida que a influência assíria entrava em declínio, esse faraó expandiu seus negócios comerciais com a Palestina e
conquistou a antiga cidade filistéia de Gaza (ver Jr47.1-7). A Crônica Babilónica descreve como ele se aproveitou da nação assíria m ortalmente ferida, aliando-se com eles pouco antes da batalha de Carquemis, em 605. Sua expedição para o campo de batalha no norte da Síria para ajudar Assuruballit o levou a passar pela Palestina. Ele derrotou o rei de Judá, Josias, em 609, na batalha de M egido e depois reivindicou todo o território que havia atravessado ao rum ar para o norte (ver os comentários em 2 Rs 23.33; 2 Cr 35.20; D n 1.1, 2). Após a derrota assíria em Carquem is, a Crônica Babilónica detalha como o exército egípcio foi subjugado e completam ente destruído. A Babilônia estendeu sua soberania sobre Judá em 604, confinando os egípcios a seu próprio território pelo resto do reinado de Neco.46.2. batalha de Carquem is. A pós a destruição de
Nínive, em 612, por um exército misto de babilônios e medos, liderado por Nabopolassar, o último dinasta assírio, Assuruballit II, transferiu sua capital para Harã. Essa fortaleza foi então capturada em 610. Assuruballit pôde garantir uma aliança com Neco II, rei do Egito, e continuou a reivindicar território ao longo do Alto do Eufrates pelos próxim os anos. Porém , foi apenas o remanescente do outrora "invencível" exército assírio que foi derrotado na batalha de Carquemis, em 605. A vitória foi conseguida sob a liderança do príncipe, Nabucodonosor. Carquemis pode ser considerado um importante ponto de m udança na história do antigo O riente Próxim o. Sinaliza o colapso final do m aior império da época e preparou o cenário para um império ainda maior (Persa) que sucederia o curto período neo-babilônico. Em bora o Egito tivesse obtido parte do domínio da Palestina e Fenícia, os exércitos babilónicos de N abucodonosor rapidam ente deram continuidade à cam panha de Carquem is, estabelecendo sua possessão em toda a Siro-Palestina por volta de 604.46.3. escudos grandes e pequenos. U m a vez que am aioria dos guerreiros do antigo O riente Próxim o não usava armamento pesado, era preciso suprir com escudos que os protegessem de flechas e dos golpes de espadas ou punhais (ver o equipamento do exército de Asa, em 2 Cr 14.8). O escudo pequeno (;magen) servia como um broquel, e era segurado na mão es-
querda ou preso ao braço esquerdo. Seu fácil manuseio ajudava no combate corpo-a-corpo. O escudo maior (sinna), que podia ser retangular ou em forma de oito, era feito de material m ais pesado - metal, couro ou m adeira - e tinha o objetivo de resistir a lanças ou flechas que eram atiradas. Porém , era desajeitado e talvez fosse difícil de carregar em combate corporal. Alguns guerreiros eram auxiliados por um escudeiro (ver 1 Sm 17.7).
46.4. uso da cavalaria no Egito do sétim o século.Visto que a cavalaria não aparece em ilustrações da arte egípcia e os textos egípcios não fazem nenhuma menção à cavalaria na época da batalha de Carque- mis, provavelmente seja justo afirmar que ela não era um a parte importante do exército egípcio nessa era. Porém, os m edos e os babilônios faziam uso de cavaleiros como m ensageiros, batedores e guerreiros m ontados (arqueiros e também tropas de choque) havia pelo menos dois séculos antes de Carquemis. Por exemplo, um relevo do século dez, na localidade hitita de Tell Halaf, ilustra cavaleiros em trajes de batalha. A m obilidade que a cavalaria perm itia, em contraste aos carros m ais pesados, teria dado um a vantagem aos babilônios na batalha e na comunicação nos campos. As observações de Jerem ias podem então ser tão irônicas quanto as de Rabsaque, que oferecera a Eze- quias dois m il cavalos se ele tivesse hom ens para
m ontá-los (2 Rs 18.23). É possível que o profeta esteja zom bando do exército egípcio pela sua escassez de homens "para m ontar seus cavalos".46.9. Etiópia (Cuxe), L íb ia (Fute) e Lídia. O exército egípcio incluía contingentes de mercenários e tropas aliadas que remetem a eventos políticos da história egípcia. A lista incluída neste versículo e a ordem em que cada lugar aparece, pode ser comparada à lista de filhos de Cam em Gênesis 10.6. Um a dinastia etíope governou o Egito de 711 até 593 a.C.. Sua glória recente, portanto, lhe dá lugar de destaque na lista. A Líbia representa uma dominação estrangeira bastante anterior no Egito, durante a 22a e 23a Dinastias (950720 a.C.). Os m ercenários gregos de Jônia tam bém faziam parte do exército egípcio. Um escudo grego encontra-se dentre os artefatos desenterrados no local da batalha de Carquemis.
46.11. bálsam o de G ileade. Como parte do escárnio de Jerem ias sobre as forças egípcias derrotadas, ele sugere que curem suas feridas com o bálsamo medicinal de G ileade, em bora ele não lhes dê esperança nenhuma de alívio. A palavra hebraica sori, com base na tradução grega da Septuaginta, rhetine, "resina de pinheiro", aparentemente é um ungüento feito dessa resina e m isturada com azeite de oliva. É um produto da alta Galiléia e da região da Transjordânia e citado
pelo antigo botanista grego, Teofrastus (ver Jr 8.22; 51.8). A inda continua sendo um a questão que gera polêm ica qual árvore ou arbusto seria a fonte dessa resina.46.13. invasão de N abucodonosor ao Egito. V er o
comentário em 43.11, 12.46.14. território geográfico. Ver o comentário em 44.1.46.18. comparação com T abor e Carmelo. Talvez brincando com a arte egípcia que sempre retratava o faraó m uito m ais alto do que o restante dos homens, o profeta agora prediz a vinda de um (Nabucodonosor) cuja altura e poder eram comparados aos picos das montanhas (Tabor - 548 metros; monte Carmelo - 518 metros). Tam bém poderia ser uma referência à rota de fuga tomada pelos egípcios. O m onte Tabor fica na extremidade leste do vale de Jezreel e o monte Carmelo forma parte da cadeira de m ontanhas que seguem em direção ao sul, descendo pela costa palestina.46.19. destruição de M ên fis. Durante os séculos sétimo e sexto a.C., M ênfis (hebraico: Nofe, 24 quilômetros ao sul da atual Cairo) era a capital política e cultural do Egito. D urante o período assírio (674 a.C.), Esar-Hadom fora bem-sucedido em conquistar Mênfis (ver o com entário em 2 Rs 19.9), m as isso foi bem antes da época de Jeremias. Nabucodonosor avançara contra o Egito em 601, m as não obtivera êxito na invasão de seu território. As forças babilónicas foram repelidas na fortaleza egípcia de M igdol, na estrada de Gaza e forçadas a bater em retirada. Existem algum as evidências de N abucodonosor em preendendo uma segunda invasão, no ano 37 de seu reinado (568), m as não há informações quanto ao sucesso que obteve, nem quanto ao envolvim ento de M ênfis. Essa cidade foi tomada pelo rei persa, Cambises, em 525, e o faraó, Psaimneticus H, foi levado cativo.46.20. m etáfora da m utuca. Esse inseto aparece apenas nesta passagem , logo, qualquer identificação só pode ser feita com a informação fornecida pelo contexto. Sendo o Egito apresentado como um a novilha nesta metáfora, é fácil ver a aplicação do ataque dos babilônios com o um a m utuca ou qualquer outro inseto
parecido que pica.46.22. m etáfora da serpente que silva. O texto hebraico fala da "voz" da serpente, em vez de fazer m enção ao silvo, especificamente. Não obstante, pode-se imaginar um a serpente silvando seu alerta contra um provável atacante. A serpente era um elemento importante da religião egípcia e um símbolo da autoridade real.46.22. m achados, derrubar árvores. A destruição prom ovida por um conquistador com freqüência incluía a derrubada de árvores e bosques (ver o comentário em 2 Rs 19.28). A lém disso, às vezes, a conquista tinha o objetivo de obter o acesso e o controle das
reservas naturais do país derrotado (ver comentário
em Is 14.8), embora, é claro, o Egito não fosse famoso
por suas florestas.46.25. Amom, de Tebas. O nome grego "T ebas" refe
re-se à cidade chamada pelos egípcios de W aset, 520
quilôm etros ao sul de Mênfis. O grande tem plo de
Cam ac em Tebas era dedicado a Amom-Rá, o principal deus do panteão egípcio, começando com os faraós
da 18a Dinastia (séculos 16 e 15). Associado ao vento ou "sopro da vida", Am om era fundido ao deus-sol,
Rá, um a vez que o culto a esse deus era praticado em
todo o Egito. O destaque desse deus aum entava à
m edida que as fortunas do Império Egípcio se expan
diam. Como resultado, ele era considerado o deus criador e a cidade de Tebas, o lugar da criação. Tebas
fora saqueada pelo exército assírio de Assurbanipal,
em 663 a.C. e grande parte de sua riqueza fora pilhada. Assim como Mênfis, Tebas também foi invadida
por Cambises, em 525.
47.1-7M e n s a g e m a c e rc a d o s F ilis te u s47.1. ataque do faraó a Gaza. Nabucodonosor começou
suas manobras de invasão ao Egito no início de 601.
Porém, o cerco à Palestina, incluindo a submissão de Jeoaquim ao domínio babilónico, resultou em alguns
atrasos que impediram uma ação mais direta contra o
território egípcio até novembro daquele ano. Talvez o
rei esperasse conquistaro Egito tão facilmente quanto
Assurbanipal o fizera em 663. D esde aquela época, porém, os faraós saítas da 26a Dinastia haviam con
centrado seus esforços e riquezas na construção de
diversas linhas de defesa ao longo da estrada de Gaza e também no sul. Essas medidas tinham o objetivo de
evitar que um exército marchasse diretamente ao longo do Sinai, na costa Mediterrânea, ou pelo interior,
através do deserto. Q uando, segundo H eródoto, o exército de Nabucodonosor foi derrotado na fortaleza
de Migdol, no braço leste do Delta do Nilo, as forças de N eco II o perseguiram no norte e capturaram Gaza.
Os egípcios a controlaram por dois anos, até que
N abucodonosor novam ente em preendeu campanha na Palestina.
47.4. situação dos filisteus no final do sétimo século.As cidades-estado filistéias haviam estado sob o domí
nio assírio durante a m aior parte do sétimo século.
Ecrom, por exemplo, servia como um importante centro de produção e distribuição de azeite, sustentando
as riquezas assírias na região. Com o declínio dos assírios, após a m orte de Assurbanipal, em 627, os
faraós egípcios Psammeticus I e N eco II dirigiram-se à Filístia. Escavações em Ascalom revelaram evidênci
as (estatuetas em bronze de divindades egípcias, pesos de bronze, cerâmica) de um comunidade egípcia
nessa cidade filistéia portuária. Sua influência durou
apenas algumas décadas, até a campanha de Nabucodonosor, no outono de 604. A Crônica Babilónica des
creve um a investida em novembro/ dezembro para
capturar Ascalom sinalizando um a política de devastação que com o tempo arrasou completamente Judá e
a Filístia, acompanhada pela deportação de grande
parte da população dessas áreas. Os babilônios estavam preocupados principalmente com o Egito e não
queriam ter de estabelecer um governo para manter
sua presença na Filístia, como os assírios haviam feito.47.4. relações dos filisteus com Tiro e Sidom. Embo
ra possa ter havido alguns laços políticos entre a Filístia
e a Fenícia, grande parte de suas relações se baseava
no comércio e em interesses econômicos mútuos. Os
portos fenícios de Tiro e Sidom enviavam seus navios
pelo m ar M editerrâneo. Os carregamentos de "m ercadorias de luxo", barras de metal e ânforas de azeite
e vinho vinham de portos em Jônia, na Grécia e em
C hipre. Os filisteu s, esp ecialm en te de A scalom e
Asdode, eram um dos mercados desses produtos e
também distribuidores aos clientes do Egito, Arábia e Palestina. Os egípcios também exploravam os portos
fenícios (ver os comentários em Jr 37.5-8), competindo
com Nabucodonosor para o controle dele. A compe
tição acabou deixando a Filístia em ruínas e Tiro e Sidom nas mãos dos babilônios.
47.4. ilha de Caftor. Esse lugar de origem dos filisteus
com freqüência é identificado como a ilha de Creta. O
nom e khtyw aparece em textos egípcios, ugaríticos, gregos e acadianos. Em bora algum as tentativas te
nham sido feitas no sentido de identificar essa ilha
com Chipre, as evidências arqueológicas e geográficas apontam para Creta.
47.7. ataque em Ascalom . A Crônica Babilónica, em
bora seja um relato fragmentado, vangloria-se de que o exército babilónico de Nabucodonosor atacou Ascalom
no mês de quislev (novem bro/dezem bro). Isso era raro, visto que era a estação chuvosa, um a época em
que a m aioria dos exércitos não partia em importantes campanhas (comparar com 2 Sm 11.1). A Crônica ob
serva que não apenas os muros foram penetrados e a cidade foi tomada, como também os soldados incendi
aram e arrasaram o interior da cidade, transforman
do-a em "u m monte de escombros e ruína". Escavadores
modernos têm encontrado amplas evidências dessa destruição em todas as partes da cidade. Dentre os
artefatos encontram-se pilhas de cerâmica quebrada, restos de esqueletos indicando ferim entos traum áti
cos, cereais queimados e casas derrubadas.
48.1-47Mensagem acerca de Moabe48.1. situ ação m oabita no f in a l do sétim o século.Assim como a Filístia, Moabe foi um Estado vassalo dos assírios durante o sétimo século a.C.. Textos assírios alistam quatro reis moabitas que pagaram tributo ao reinado de Assurbanipal. Heródoto observa que os reinados transjordânicos de M oabe e Am om sucumbiram ao domínio dos babilônios pouco depois da queda de Jerusalém . Esse foi um passo além dado por Nabucodonosor a fim de excluir o Egito da Siro-Pales- tina e controlar a im portante rota de caravanas na Transjordânia. Os egípcios tinham tido um a longa história de atividade econômica e política em Moabe, datada do reinado de Tutmés III (c. 1479-1425) e evidenciada na esteia de Shihan, do oitavo século, que ilustra o deus Cam os usando um a túnica ao estilo egípcio.
48.1. N ebo e Q uiriataim . O local da cidade de Nebo, identificado com Khirbet el-Mekhayyat, a quase dois quilômetros do mais alto pico do monte Nebo, é m encionado na esteia m oabita do rei M essa, com o um povoado moabita e portanto, apropriado a essa mensagem. M essa afirma em sua esteia comemorativa ter construído Quiriataim. A localização exata ainda perm anece indefinida, em bora diversas localidades tenham sido sugeridas.48.2. H esbom . Ver o com entário em Deuteronôm io 2.26 acerca desta cidade moabita.48.3. Horonaim . A localização estratégica desses lugares, ao longo da Estrada do Rei que atravessa o planalto moabita deve ter sido um a necessidade para os governantes moabitas. A Esteia de M essa menciona H oronaim como um desses im portantes postos. Provavelmente estava localizada perto da atual cidade de Kathrabba, na parte sudoeste do planalto - de
onde se tem um a clara visão, tanto do vale do mar Morto como da Estrada do Rei.48.5. Luíte. Fontes extrabíblicas, inclusive um a inscrição nabatéia de M adeba e um contrato escrito em hebraico datando da revolta de Bar Kochba (132-135 d.C.), indicam que Luíte ficava localizada na parte sudoeste do planalto moabita. H á um a estrada romana nesse ponto que parte do planalto e desce para a extremidade sul do m ar Morto. Achados de cerâmica na superfície do terreno sugerem ocupação durante a Idade do Ferro e posteriormente em diversas localidades a sudoeste de Kerak e perto da atual cidade de Kathrabba.48.7. Camos. Ver o comentário em Juizes 11.24 a respeito desta divindade dos moabitas. Um a esteia dedicatória que ilustra Camos e data do nono ou oitavo século a.C. foi encontrada em Shihan. Assim como é
descrito na inscrição moabita de M essa, essa esteia de um metro de altura retrata Camos como um guerreiro divino, segurando um a lança e de pé, pronto a defender o povo moabita.48.8. vale e planalto, topografia de M oabe. O planalto moabita estende-se aproximadamente por cem quilômetros de norte a sul, sendo limitado pelo vale do m ar Morto, a oeste, e pelo deserto árabe, a sudoeste. Estende-se por 24 quilômetros no sentido leste/oeste, com um a elevação de cerca de 900 metros. Esse planalto é cortado no sentido leste/oeste, pelo uádi el- Mujib, que resulta do rio Arnom. O limite sul é mar
cado por outro canyon profundo, o uádi el-Hesa (rio Zered). Há um a extensão do planalto conhecida como "planalto de M edeba" ao norte, que é mais acessível, visto que não contém os profundos canyons que caracterizam o sul.48.9. pôr sal sobre M oabe. Ver o comentário em Juizes 9.45 quando Abim eleque jogou sal sobre o chão da cidade destruída de Siquém. Os Anais do rei assírio Tiglate-Pileser I registram como ele capturou a fortaleza inimiga de H unusa e semeou sal sobre suas ruínas enquanto proferia uma maldição sobre todo aquele que ousasse reconstruir a cidade (comparar com Js6.26). A tradução do hebraico sits como "sa l" é baseada em um paralelo ugarítico.48.11. resíduos de vinho. Após as uvas terem sido pisadas, o suco resultante era despejado em grandes jarros de armazenagem (37 litros), que eram selados com argila, ficando apenas um pequeno orifício para ventilação e escape dos gases de fermentação. O processo de fermentação acontecia durante quarenta dias, à medida que se formavam os depósitos ou borra do vinho. A m etáfora de Jerem ias aqui relaciona-se ao fato de que os moabitas nunca haviam sido deportados, por isso sua "ferm entação" não tinha terminado.48.11, 12. m udada de vasilh a em vasilha. A fim de term inar o processo de fabricação do vinho, o suco fermentado era despejado das primeiras vasilhas em outras. Nesse processo os depósitos também eram coados para que a fermentação terminasse e o sabor do vinho pudesse envelhecer em adegas subterrâneas, onde era possível m anter uma temperatura constante de 20 graus centígrados. A degas desse tipo foram descobertas em G ibeom e Tell Qasileh. Finalmente, partes do vinho eram despejadas em vasilhas menores para transporte e consumo imediato.48.13. confiança em Betei. É provável que essa referência seja à divindade semita do noroeste, Betei, confirm ada em nomes próprios e em textos por mais de m il anos, inclusive nos tratados de vassalagem de Esar-Hadom (c. 675 a.C.) e na colônia judaica militar de Elefantina (sexto século a.C.). A comparação entre
Camos e Betei dá m ais peso à hipótese de que este últim o se trate do nome de um a divindade. Porém, tam bém pode servir como um a referência dupla ao santuário de Jeroboão na cidade de Betei (ver 1 Rs13.26-33; Am 7.13).48.15-16. invasão de M oabe. A única fonte atualmente disponível sobre a invasão babilónica de Moabe é Josefo. Ele observa que cinco anos após a destruição de Jerusalém, no ano 23 do reinado de Nabocodonosor (582-581), o rei babilônio fez campanha na Transjor- dânia, sujeitando M oabe e Am om ao seu dom ínio. Visto que praticamente nenhuma das Crônicas Babilónicas foi preservada além de 594, isso não pode ser confirmado.48.18. D ibom . Ver o comentário em Números 21.30.
Essa cidade ao norte do vale do A m om foi a capital moabita durante o nono século, no reinado de Messa.
48.19. Axoer. Ver o comentário em Deuteronômio 2.36, 37 acerca desta cidade localizada a sudeste do Dibom e na beira do estreito do Arnom.48.20. Arnom . Ver o com entário em D euteronôm io 2.24 sobre esse profundo canyon que corta Moabe no sentido leste/oeste.
48.21-24. cidades de M oabe. As cidades do planalto mencionadas, destinadas à destruição, incluem localidades não identificadas (Holom) e algumas cuja localização é incerta. Jaza (provavelmente Khirbet Medei- niyeh, na parte leste do planalto m oabita), Bete-Meom (Ma'in, cerca de seis quilômetros a sudoeste de Me- deba), Queriote (possivelmente Khirbet Aleiyan, nordeste de Dibom), Dibom, Quiriataim (possivelmente
el-Q ereiyat, oito quilôm etros ao norte de D ibom ), B ozra (p ossiv elm ente U m m el-'A m ed , a leste de Hesbom) todas são mencionadas na inscrição de Messa. Bete-Gamul aparece somente neste texto e pode ser identificada com Khirbet el-Jemeil, cerca de treze quilômetros a leste de Dibom.48.25. poder (chifre). Na M esopotâmia, as coroas dos deuses e reis com freqüência tinham chifres, como sinal de seu poder e autoridade, particularmente em se tratando de ferocidade na guerra. Isso explicaria porque a palavra chifre, muitas vezes, é sinônimo de força. Outra explicação é que aqui a palavra significa "a rco " . Essa alternativa se fundam enta no tipo de m aterial usado para confeccionar o arco (descrito no épico ugarítico de Aqhat) e na expressão "quebrar o arco" encontrada em Jerem ias 49.35 e Oséias 1.5. Existe base possível para esse uso na literatura grega e egípcia.48.28. com portam ento da pom ba. A fuga dos m oa- bitas é comparada ao hábito das pombas em construir seus ninhos nas rochas. Ao depositar seus ninhos nas bordas e nas reentrâncias de precipícios inacessíveis
como no estreito do A m om , essas aves confiavam que seus filhotes estariam protegidos. A sombra também ajudaria os filhotes até que a plumagem se formasse.48.31. Q uir-H eres. Identificada com a atual Kerak (27 quilômetros ao sul do A m om e cerca de 17 quilômetros a leste do mar Morto), essa era uma importante localidade moabita. Protegia uma parte da Estrada do Rei e controlava as caravanas que passavam pelo planalto moabita no sentido leste/oeste.48.32. Jazar e Sibm a. Ver o comentário em Números 21.32 a respeito de Jazar. Sibma não foi identificada com certeza, em bora Khirbet Q arn el Qibsh e Bete- Baal-Meon tenham sido sugeridas. Devia ficar na região com andada por H esbom e aparentem ente era conhecida por suas vinhas (ver Is 16.8-13).
48.34. cidades de M oabe. A respeito de Hesbom, ver o comentário em Números 21.25-28. Acerca de Jaaz, ver o comentário em Números 21.23. Para Horonaim, ver Jerem ias 48.3. Eleale ficava localizada dois quilômetros e meio a nordeste de Tell Hesban, em Khirbet el-'Al. Eglate-Selisia não foi identificada (ver Is 15.5).
Zoar (possivelm ente Safi, na m argem sul do uádi Zered) é o ponto m ais ao sul desse oráculo e ficaria perto do mar Morto. As águas do Ninrim geralmente são identificadas como o uádi en-Numeirah, um ribeiro que desemboca no m ar Morto, na extremidade sul.48.37. práticas de luto. Cada uma das ações descritas aqui era práticas de luto comuns no antigo Oriente Próximo. V er os comentários em Levítico 10.6-7, Isaías15.2, 3; 32.11 e Jerem ias 41.5 para informações adicionais sobre esses rituais e estilo de vestimenta.48.40. m etáfora da águia. Essa é a im agem de uma ave de rapina (Babilônia) atacando, talvez uma águia ou abutre. O "p lan ar" não é um deslizar tranqüilo, mas um a arremetida para atacar a presa (nesse caso, Moabe) e arrebatá-la (compare com Ez 17.3, 4).48.41. Q ueriote. Essa cidade m oabita é mencionada na inscrição de M essa e também no oráculo de Amós2.2. Sua localização exata ainda não foi determinada, em bora algumas possibilidades sejam el-Q ereiyat e Khirbet Aleiyan, ambas no planalto moabita.48.45. H esbom , Seom . Acerca de Hesbom, ver o comentário em Núm eros 21.25-28 e sobre Seom, ver o comentário em Números 21.24-30. Visto que Seom era um rei am orreu da região de M oabe e sua capital ficava em Hesbom, a referência aqui pode ser ao território por ele governado durante algum tempo.
49.1-6Mensagem acerca de Amom49.1. situação dos am onitas no fin a l do sétim o século. Em bora o reinado amonita, centrado ao redor da capital em Rabá, estivesse prestes a sucumbir ao con
trole dos babilônios, não há registro de um exílio generalizado de seu povo (v. 3), Evidências de inscrições em Tell el-'U m eiri e H esbom m ostram que a língua amonita continuou a ser usada no período persa. Existe tam bém um a continu id ade n o estilo arquitetônico, com nenhum sedimento significativo de destruição e a existência de instalações adm inistrativas que evidenciam uso contínuo. A lém disso, não há interrupção no estilo de cerâmica da Idade do Ferro II produzida até mesmo durante o período persa.49.1 . M o lo q u e. V er o com entário em 1 Rs 11.5, 7 acerca desse deus amonita, "M ilcom " em hebraico, e não M oloque. Como deriva da palavra para "re i" , esse nome provavelmente se refere a esse deus como o chefe do panteão amonita. Ele é associado com fre
qüência ao sacrifício infantil, m as neste versículo refere-se à tom ada, por parte dos amonitas, do território controlado antes pela tribo israelita de Gade.49.1. território de Gade. Ver o comentário em N úm eros 32.34-42 acerca da extensão do território de Gade
na Transjordânia. Essa tribo concentrava-se principalmente em Gileade e em Basã.49.2. R abá. A capital dos am onitas ficava em Jebel Q al'a. Atualm ente fica no m eio da cidade de Amã, m as tem sido pesquisada e parcialmente escavada. A ocupação dessa localidade e de seus arredores remonta a tempos paleolíticos. Embora ocasionalmente estivesse sujeita ao domínio israelita (ver 2 Sm 12.26-31), durante o sexto século, os amonitas tentaram expandir sua influência para o norte, após a destruição de Jerusalém .49.3. relação entre H esbom , A i e R abá. A relação
entre Am om e M oabe nesse oráculo é clara: ambos reinados e suas capitais são avisados da destruição iminente. Porém, a menção a Ai parece deslocada. A cidade de Ai (geralmente identificada como et-Tell)
ficava localizada perto de Betei em Israel e não tem relação direta com Hesbom, nem com Rabá. É possível, visto que o nome da cidade significa "a ru ína", que outra A i seja o objeto do alerta de Jeremias.
49.7-22Mensagem acerca de Edom49.7. situação dos edom itas no fin a l do sétimo século. Edom se tom ara um Estado vassalo assírio no reinado de Tiglate-Pileser III e continuou sob o domínio assírio até a morte de Assurbanipal, um século mais tarde. É provável que os edomitas tenham se submetido ao governo de Nabucodonosor em 605 a .C . Embora alguns refugiados hebreus talvez tenham encontrado refúgio e abrigo em Edom, aparentemente perm aneceram passivos visto que Jerusalém havia sido destruída (ver SI 137.7 e Ob 11). A campanha
babilónica contra Am om e Moabe em 594 parece não ter afetado Edom. É provável que tenha permanecido
ileso até a época da campanha de Nabonido, em 552.49.7. Tem ã. Esse é um nome geográfico sinônimo de
Edom (Ob 9) ou da parte norte desse reinado ao sul da Transjordânia, com sua capital em Bozra (ver Am
1.12). É provável que a nação de Edom tenha se origi
nado nessa região e com o tempo conseguiu expandir- se em direção ao sul (ver Ez 25.13).
49.7. tradição de sabedoria em Tem ã. Ver o comentário em Obadias 8. Em bora diversos tipos de sabedoria
sejam atribuídos aos povos antigos, é possível que a
sabedoria dos edomitas fosse fruto de sua habilidade
de adaptar-se ao ambiente físico hostil e inóspito onde
viviam (ver o comentário em O b 3) ou de sua facilidade em negociar e lidar com os caravaneiros que regu
larmente cruzavam suas terras.49.8. D edã. Esse oásis do noroeste da Arábia (atual al-
'Ua) foi um importante ponto de parada para as cara
vanas, durante o sexto século a.C.. Embora seja men
cionado ao lado de Temã, em Ezequiel 25.13, não há evidência do controle de Edom no extrem o sul do
território. Entretanto, evidências em cerâmicas e ins
crições indicam que atividades comerciais contínuas, mercadores residentes e possíveis laços políticos po
dem ter existido. Também é possível que Edom e os
árabes fossem citados de forma coletiva pelos profetas (ver Is 21.13).
49.13. Bozra. Localizada a oeste da Estrada do Rei e à margem da rota comercial ocidental que seguia para
o uádi Arabá, Bozra (atual Buseirah) era a capital de
Edom. Escavações confirmam que não houve destrui
ção durante o reinado de N abucodonosor, quando Edom pôde ficar fora dos conflitos que arrasaram Jeru
salém. H á evidências, no entanto, de uma transição cultural após 550, devido à campanha de Nabucodo
nosor e a transferência do domínio para os persas.
49.23-27Mensagem acerca de Damasco49.23. situação dos dam ascenos no fin a l do sétimo
século. Após o colapso do Império Assírio, pode-se
presumir que Aram (Síria, cuja capital era Damasco) obteve novamente independência temporária. Porém,
como todas as outras pequenas nações, teve de sub
meter-se ao domínio babilônio após 605. Não existe evidência extrabíblica quanto ao papel ou posição de
Damasco ou da Síria durante o período subseqüente,
e nenhum a grande escavação foi possível na atual
cidade. O fato de que apenas cidades sírias sejam mencionadas neste oráculo sugere que a nação fora
fragmentada e que contingentes de tropas dessas lo-
calidades haviam despertado a ira do profeta e de Yahw eh contra eles.49.23. Hamate e Arpade. A localidade de Ham ate fica na Síria central, às m argens do rio Orontes, cerca de 208 quilômetros ao norte de Damasco. Tem um a longa história como centro comercial e adm inistrativo, que remonta aos textos de Ebla do terceiro milênio. Arpade (Tell Rifaat), era um centro regional no norte da Síria, e como Hamate tinha um a história de influência, até a conquista assíria. Ambas localidades são mencionadas com freqüência nos anais assírios, mas seu poder e revoltas intermitentes foram sufocados no final do oitavo século. Para m ais informações, ver os comentários de Isaías 10.9.49.27. fortalezas de Ben-H adade. Como acontece com O nri em relação ao reinado de Israel (Inscrição de M essa e Anais Assírios) e com Davi, em relação ao Reino Unido e m ais tarde em relação a Judá (Inscrição de H azael, em Tell Dã), o nom e de Ben-H adade é associado à fam ília governante de Aram. Nenhum rei com esse nome de fato governou durante o sétimo ou o oitavo século, no entanto, fazia parte da tradição continuar a usar o nome do fundador da dinastia ao referir-se a um a nação ou às suas riquezas.
49.28-33Mensagem acerca de Quedar e de Hazor49.28. Quedar. Quedar era um dos grupos tribais do norte da Arábia. O nome aparece em textos assírios e neo-babilônicos sugerindo que tratava-se de um grupo particularmente forte. A referência aqui pode ser à campanha de Nabucodonosor à Arábia em 599-598 e pode de fato referir-se tanto ao limite geográfico da m archa de seu exército, quanto ao povo contra o qual os babilônios tiveram de lutar.
49.28. Hazor. Esse nom e refere-se ao país haserim e não à cidade de H azor na região da alta Galiléia. Os homens das tribos do deserto, talvez associados àqueles m encionados com o habitantes do N eguebe em Josué 15.23-25, estariam entre os alvos de Nabucodon osor em sua cam panha para pacificar e anexar o norte da Arábia.49.33. chacais. É bastante comum, especialmente em Jerem ias (ver 9.11; 10.33), referir-se a áreas desoladas ou inabitadas como habitação de chacais (ver SI 44.19; Is 34.13). Esses carniceiros costumavam perambular por áreas desérticas. O que é particularmente impressionante neste versículo é que a campanha de Nabucodonosor transformaria regiões já desoladas em lugares totalm ente inabitáveis. D escrições sem elhantes ocorrem na literatura do Egito e da M esopotâmia, nas visões de Neferti e no texto sumério Lamento pela Destruição de Ur, respectivamente.
49.34-39Mensagem acerca de Elão49.34. situação dos elam itas no fin a l do sétim o século. Ocupando grande área do planalto iraniano a leste do rio Tigre, os reis elamitas se aliaram aos babilônios durante grande parte do sétimo século, lutando contra os assírios. A Crônica Babilónica detalha muitos exemplos de sua ajuda, começando com o reinado de M erodaque-Baladã. Os anais de Assurbanipal descrevem a captura de Susa, a capital elamita, em 640, a pilhagem sistemática de seus tesouros e a apreensão
de seus deuses. A ira dos assírios é vista no tratamento dado ao corpo do rei elamita. Ele foi preservado em sal e levado a Nínive, onde foi cremado e suas cinzas foram espalhadas ao vento. A pesar da hostilidade assíria, outra dinastia elamita foi estabelecida após a m orte de Assurbanipal e continuou a governar em Susa até a fusão de seu território com o dos m edas e dos persas, sob Ciro, na m etade do sexto século. Essa
ú ltim a situ a çã o fo i p ro m o v id a p ela a lia n ç a de N abopolassar com os m edos, antes da batalha de Carquemis e pelo afrouxamento resultante de antigos laços com Elão.
50.1-51.64Mensagem acerca da Babilônia50.2. queda da B abilônia. A queda da Babilônia predita por Jerem ias na verdade aconteceu apenas em 539, quando Ciro, o rei persa, conquistou a cidade. Heródoto registra que os persas desviaram as águas do Eufrates e assim entraram na cidade através de um de seus m uitos canais. Mesmo então, a cidade não foi destruída ou saqueada, visto que Ciro recebeu ajuda de sacerdotes do deus M arduque descontentes e de outros cidadãos babilônios que estavam insatisfeitos com o governo de N abonido. (O Cilindro de Ciro preserva a versão persa desses eventos; ver os comentários em Is 45.1; 48.14). Visto que Jerem ias não faz m enção direta a Ciro nesse oráculo, pode-se supor que esse material foi escrito e editado antes da queda da Babilônia. Certamente ele profetizara a destruição dos babilônios e o retorno dos exilados em outras ocasiões (ver Jr 27.7; 29.10). Portanto, é apropriado que nessa série de m ensagens contra as nações, a destruição da Babilônia seja descrita como o m aior feito de Yahw eh e o m aior bem para o povo de Judá.50.2. B e i e M arduque. O título Bei era aplicado ao deus supremo do panteão acadiano, que até o início do segundo m ilênio a.C. era Enlil (o padroeiro da cidade de Nippur). Após o surgimento da Babilônia como a principal cidade da M esopotâmia, o título foi transferido para sua divindade padroeira, Marduque. Evidência dessa sucessão da supremacia divina pode
ser vista no lugar de destaque que M arduque ocupa no épico babilónico da criação, Enuma Elish, e no pró
logo ao Código de Ham urabi. Em am bos os casos, afirma-se que M arduque atingiu o posto de deus principal através de seus poderes combativos e pela vontade dos outros deuses. O nome Bel-M arduque continuou a ser usado pelos assírios e neo-babilônios e sua festa de A no Novo continuou a ser celebrada pela renovação da vida e da fertilidade (ver o comentário em Is 46.1). Até mesmo Ciro, o rei persa, considerou sua ascensão ao poder e a captura da cidade de Babilônia como um feito alcançado através da ajuda de Bel-M arduque. Referências a Bei no panteão semita do noroeste encontram-se com o nome Baal, também traduzido como "senhor".50.9. coalizão das nações do norte. Essa é um a referência irônica que remete à narrativa do chamado de Jerem ias (Jr 1 .14 ,15 ), onde a Babilônia era a ameaça vinda do norte, destinada a subjugar Jerusalém. Agora, neste oráculo que prediz a destruição da Babilônia,
é a sua vez de ser destruída por um a coalizão do norte. De fato, isso aconteceu na form a de uma aliança entre os m edos e os persas que tomara forma por mais de vinte anos, através de Ciro.
50.19. designações geográficas. A restauração dos exilados que retom ariam a Israel incluía a retomada de
suas atividades econômicas básicas, no pastoreio e na agricultura, e a restauração da prom essa contida na aliança que garantia fertilidade à terra prom etida. Basã e Carm elo eram fam osas por suas pastagens, enquanto os montes de Efraim tinham ricas vinhas e
campos férteis e Gileade servia tanto como uma área agrícola quanto de pastagem. Essas áreas englobam totalmente as fronteiras de Israel, o reino do norte.50 .21 . M era ta im . O term o em p reg ad o a q u i por Jerem ias é um jogo de palavras para Babilônia. Ba
seia-se em um termo acadiano, marratum, usado para referir-se à área de pântanos no sul da Mesopotâmia, onde o delta do Tigre e do Eufrates se misturam às águas salgadas do golfo Pérsico. Portanto, essa palavra acadiana, que na verdade significa "am arg o ", encaixa-se bem ao oráculo do profeta contra um povo que havia amargurado os israelitas e agora eles mesmos teriam de enfrentar rebelião e amargura.50.21. Pecode. Novamente, Jerem ias está usando um termo acadiano sinônimo de Babilônia. Dentre os grupos tribais arameus que habitavam a Babilônia, havia um denominado Pucudu. O profeta faz referência a esse vínculo e ao mesmo tempo faz um trocadilho com a palavra hebraica para "castigar", paqad. É possível que a escolha feita por Jerem ias do termo Pucudu, que habitavam principalm ente nas terras marítimas do sul da Mesopotâmia e a leste do rio Tigre, é mais
um a zom baria dirigida a uma nação outrora poderosa que se tom ara fragmentada e sujeita às rebeliões de grupos tribais dentro de seu território.50.38. ídolos enlouquecendo de terror. O escárnio a ídolos inúteis encontra-se em outras passagens dos p rofetas (ver Is 40.18-20; Os 8.4). Entretanto, personificá-los a ponto de lhes atribuir emoções e estados como medo e loucura é menos comum (ver Is 19.1). Pode ser que Jerem ias esteja fazendo alusões ao épico de Gilgamés sobre o dilúvio, onde os próprios deuses que eram responsáveis pelas águas do dilúvio ficaram com m edo delas e "se esconderam como cachorros acuados contra um m uro".50.39. h istória da B ab ilôn ia após 539. Após a captura da Babilônia por Ciro, rei da Pérsia, em 539, a dinastia nativa da cidade, encabeçada por Nabonido e seu filho Belsazar, foi erradicada e um administrador persa foi nomeado para governar ali. Textos econômicos do ano da conquista indicam pouca interrupção no comércio e nas atividades normais, visto que os persas fizeram uma transição suave. Cada rei persa posterior incluiu dentre seus títulos o de "re i da Babilônia" e usou a cidade como uma de suas residências oficiais (segundo Xenofonte). Entretanto, houve revoltas periódicas na Babilônia que tiveram de ser sufocadas
(522-521 e novam ente em 482-481). Tem endo insurreições futuras, Xerxes removeu a estátua de ouro de M arduque, com cinco metros e meio de altura, e destruiu o templo de Esagila. O insulto final aconteceu quando a cidade foi fundida à província da Assíria por razões políticas. Quando Alexandre tomou o Oriente M édio do dom ínio persa, a Babilônia abriu-se para o jovem conquistador e a restauração do templo de Esagila começou. A cidade não teve a mesma sorte sob os sucessores de Alexandre. Seleuco tinha uma nova cidade, Selêucia, às margens do Tigre, construída ao norte da Babilônia. Essa nova cidade competiu com a Babilônia e em 275 a.C. foi declarada a cidade real. A população da Babilônia foi transferida à força para a Selêucia e a Babilônia transformou-se em nada mais
que um local sagrado arcaico. Por volta do primeiro século a.C. estava completamente desolada.50.43. N abonido em 540-539. Tem endo a aproximação dos persas, em 543 Nabonido voltou de sua capital árabe, em Temã, para a Babilônia. Ele reuniu as imagens dos deuses de seu império (relatado no Cilindro de Ciro) e pela primeira vez em dez anos conduziu a festa de Ano Novo em honra ao deus Marduque. De acordo com suas próprias crônicas, Nabonido também restaurou o templo de seu deus pessoal, Sin. Porém, o preço de sua longa ausência da cidade e a negligência do sacerdócio e deuses por parte de Nabonido e de seu co-regente Belsazar foi alto. Ele não pôde prever a
queda da cidade da Babilônia. Ciro avançou contra a Babilônia em 539 a.C. e lutou um a batalha em que foi vitorioso em Opis, cerca de oitenta quilômetros a nor- te-nordeste da Babilônia, às m argens do Tigre, no inicio de outubro. No dia onze de outubro, Sipar (56 quilôm etros ao norte da Babilônia) rendeu-se, aparentemente sem lutar. No dia 13 de outubro, a cidade da Babilônia sucum biu e o exército persa m archou pacificamente até a Babilônia. Relatos persas afirmam que foram bem -vindos pela população local e que quando o próprio Ciro entrou na cidade, no dia 30 de outubro, foi aclamado seu libertador. Isso, porém, faz parte da retórica padrão dos conquistadores e pode ocultar outros fatos. Fontes clássicas sugerem que após a cidade ter sido conquistada, o rei foi levado como refém e morreu na Pérsia.51.1. criptogram a de Lebe-Cam ai. A expressão usada aqui é um criptograma. Esse recurso literário substituía as letras da palavra com outras correspondentes, contadas a partir do fim do alfabeto (outro exemplo ocorre em Jr 25.25, 26, onde Babilônia, bbl, transform a-se em Sesaque, shshk). Em português, o A seria
representado pelo Z, o B pelo X e assim por diante. Nesta passagem o nome Caldéia é disfarçado usando as consoantes Ibqmy (Lebe-Camai) em vez de ksdym (Caldéia). Possivelmente isso era feito por causa dos perigos envolvidos em falar o nom e do inimigo, mas é mais provável que fosse uma form a de zombaria.51.8. bálsam o como rem édio. Ver os comentários em
8.22 e 46.11. Existem textos acadianos de prescrição em que há uma descrição de sintomas e uma lista de ervas e instruções sobre como administrá-las. Ao referir-se a esses bálsam os e ungüentos m edicinais, no entanto, Jerem ias pode estar zombando dos remédios e aludindo ao poder curador de Deus.51.11. medos. Durante o oitavo e o sétimo século, as tribos dos medos começaram a se organizar como resultado de seu conflito com o Império Assírio. Com o tempo, conseguiram formar um reinado identificável, no noroeste do Irã. O reinado da Média, liderado por seu rei Cyaxares, aliou-se depois com os neo-babilônios para eliminar a última possessão do Império Assírio na M esopotâm ia. Essa aliança perm itiu aos m edos expandir seu território de forma significativa. A Crônica Babilónica e Heródoto registram a m aior parte do que se sabe sobre o conflito entre os m edos e os persas. Parece que começou com uma revolta por Ciro contra seu senhor, Astyages, rei da Média. Após ter derrotado o rei dos medos, em 550, Ciro conseguiu aproveitar-se das vitórias da M édia, criando um império ainda maior para os persas, quase que imediatamente.51.17. não há fô leg o de v id a nas im agen s. V er o comentário em 10.14. Assim como Isaías zom ba da
queles que confiam nas imagens de madeira, ouro e prata, feitas por mãos hum anas (ver o comentário em
Is 44 .17 ,18), Jerem ias as ridiculariza por serem frau
des sem vida. Isso é exatam ente o oposto ao Deus israelita, cujo fôlego dá vida aos hum anos e restaura a
nação de "ossos secos" (Ez 37.5-10). Rituais mesopo- tâmicos para dar vida a uma imagem cultual incluí
am o ritual da lavagem da boca, um restabelecimento
do nascim ento da divindade e o uso de água santa para abrir a boca e os olhos e permitir que a estátua se movesse, mas nada tinha o objetivo explícito de dar- lhe fôlego de vida.
51.27. Ararate. A região geográfica citada aqui é U rartu, uma grande área no leste da Ásia Menor, perto do
lago Van. Form ou um reinado no início do século
nono e continuou a aparecer em registros assírios e babilónicos até o século sexto. Os urartiam os fizeram
tentativas de expandir-se para o sudoeste e ampliar
seus contatos comerciais até o Mediterrâneo. Durante
grande parte do início de seu reinado, os urartianos
construíram muitas cidades, e seus produtos manufaturados eram transportados até a Grécia. Finalmente
foram subjugados pela coalizão dos medos e dos citas
em uma campanha em 585 que varreu seu território.
Posteriormente, seu território foi anexado ao Império Persa.
51.27. M ini. Os minuanos, que viviam na região ao
sul do lago Urmia, na parte norte do oeste da Ásia, faziam parte da nação convocada por Yahw eh para
castigar a Babilônia.. Esse povo ficou acuado entre as
am bições territoriais e econôm icas de U rartu e da Assíria. Textos assírios fazem menção a eles a partir
do início do oitavo século. Por serem aliados da Assíria
na época da batalha de Carquemis em 605, seu território foi entregue aos medos e acabou sendo absorvido pelo Império Persa.
51.27. A squenaz. O povo de Asquenaz é mencionado
como Ishkuza nos anais assírios de Sargão II e daí por diante, são citados por Heródoto como os citas. Eles
ocupavam a região ao redor dos m ares Negro e Cáspio no noroeste do Irã, a partir do oitavo século. Das três
nações mencionadas neste versículo, é provável que esses pastores que m ontavam cavalos fossem a amea
ça mais real para a Babilônia no sexto século. São men
cionados em textos babilónicos e persas como soldados aguerridos, até mesmo selvagens, que ocasional
m ente aliavam -se às principais potências, m as que com freqüência tam bém as invadiam. A escavação de
suas sepulturas mostra contato amplo com fontes gre
gas e do Oriente Próximo, bem como exibe um estilo
de arte nativa conhecido como "estilo anim al".51.28. m edos. Ver o comentário em 51.11.
51.32. os vaus dos rios foram tom ados. O bjetivos
m ilitares sem pre incluem o controle das passagens em riachos e rios (ver Jz 3.28; 12.5). D essa form a, a
comunicação era interrompida e os exércitos não podi
am m ais tom ar rotas diretas e evitava-se que flanqueassem as forças inimigas. Um dos principais vaus
do Tigre passou para o controle dos persas quando eles tom aram a cidade de Opis, poucas semanas antes da queda da Babilônia. Eles tom aram Sipar, no Eu-
frates, poucos dias m ais tarde. De posse dessas duas cidades, os persas podiam efetivamente cortar os su
primentos que vinham pelo Tigre ou pelo Eufrates. A
notícia de que a cada dia ficavam mais isolados teria causado um impacto extremamente negativo na mo
ral dos babilônios, que não teriam m ais contato com
seus aliados, nem suas cidades e povoados teriam acesso a comida e produtos de matéria-prim a. Esse
relatório pode ser comparado aos relatos progressivam ente negativos registrados n as Cartas de Láquis
durante a campanha de Nabucodonosor em Judá, no ano de 598.
51.32. a vegetação dos pântanos fo i incendiada. Além
do sistema de m uralhas, torres e outras instalações de
defesa, a Babilônia tam bém era protegida por um a
série de fossos e trincheiras com água, cujo objetivo
era retardar ou impedir o avanço inimigo até a cida
de. Dentro desses fossos ou à beira deles havia uma
vegetação de bambus ou taquaras. Se fosse incendiada, aumentaria o senso de perigo aos habitantes da cida
de e a fumaça podia m ascarar os movimentos do ini
migo além de intensificar a dificuldade de respiração
de pessoas que estivessem a favor do vento. O fogo também teria expulsado qualquer sentinela ou tropas
que os babilônios tivessem posicionado ao longo des
ses obstáculos de água.
51.41. Sesaque. Ver o comentário em 25.26 a respeito deste criptograma.51.44. B ei. V er o com entário em 50.2 acerca deste título divino.51.58. m uralhas desm anteladas, portas incendiadas.As principais defesas de um a antiga cidade eram as m uralhas e a área fortificada das portas. A Babilônia tinha um sistema de defesa formado de dois muros que cercavam a cidade. A parede interna tinha seis metros e meio de largura, enquanto a parede externa tinha m ais de três m etros e m eio. Escavações não foram capazes de desenterrar evidências das portas n a parede externa, m as havia nove enorm es portas n a parede interna, cada um a com o nom e de um deus. A porta de Istar foi escavada e restaurada e agora encontra-se no m useu de Berlim. E decorada com leões e dragões e dá um a idéia da grandeza da cidade antiga. Essas m uralhas e portas eram construídas com um a combinação de pedras e tijolos de barro. Entretanto, nas portas havia cômodos que exigiam o uso de madeira como vigas e andaimes para o movimento das tropas. Quando as portas eram incendiadas, as pedras perdiam a sustentação e caíam (ver Jz 9.42-49). Com as muralhas praticamente derrubadas e as portas em ruínas, o poder físico e simbólico da cidade evaporava. N a conquista persa, porém, a cidade foi tomada sem luta, um a vez que os babilônios se subm eteram pacificam ente ao exército persa (ver o comentário em 50.43).
52.1-34A queda de Jerusalém52.1-27. a queda de Jerusalém . Ver os comentários em2 Reis 25.1-26.52.31-34. Joaquim . Ver os comentários em 2 Reis 25.2730.
L A M E N T A Ç Õ E S
V1 .1-22 Desespero e aflição: primeiro lamento em acrósticoacróstico. "A cróstico" é um a forma literária em que as prim eiras letras de linhas consecutivas form am um
padrão. Em acrósticos alfabéticos, o padrão é o alfabeto (a primeira linha começa com a primeira letra do alfabeto, a segunda linha, com a segunda letra e assim por diante). Outras formas de acróstico podem
soletrar uma mensagem ou um nome (por exemplo, o escriba que compôs a obra ou a divindade sendo hon
rada). Existem diversos acrósticos no Livro de Salmos. O Salmo 119 é o mais complexo, visto que cada letra do alfabeto hebraico é representada por oito linhas
consecutivas. Todos os acrósticos hebraicos da Bíblia são alfabéticos. Em Lamentações os primeiro quatro capítulos são todos acrósticos alfabéticos. Nos capítulos um e dois cada versículo começa com a letra apropri
ada e contém três linhas. N o capítulo três, há três linhas que começam com um a letra do alfabeto. No capítulo quatro, cada versículo começa com uma letra
e tem duas linhas. O capítulo cinco tem o núm ero adequado de versículos para um acróstico, m as não
form a um acróstico. Os sete exemplos de acrósticos na literatura mesopotâmica formam nomes/frases (visto
que o acadiano é uma língua silábica, não havia alfabeto, portanto, não havia acrósticos alfabéticos) e geralm ente rem ontam à prim eira m etade do primeiro milênio. Os exemplos egípcios oferecem seqüências num éricas ou m ensagens complexas que envolvem
desenhos horizontais e verticais. Para atingir seu objetivo estilístico, os acrósticos se baseiam em jogos de palavras e trocadilhos. Os acrósticos dependem da
escrita e portanto não podiam ser compostos oralmente. Tinham o objetivo de ser lidos, não apenas ouvidos, devido à im portância do elem ento visual. Isso fica especialmente evidente nos exemplos babilónicos, em que um sinal variável precisa ser lido com um
determinado valor num poema, m as com um valor diferente num acróstico. Alguns dos exemplos babilónicos também contêm um padrão no último caracter de cada linha. Outra variação encontra-se nos exemplos em que o acróstico é repetido em cada estrofe.1.3. cronologia. Em bora a deportação dos hebreus
tenha iniciado uma década antes, o evento enfocado pelo Livro é a destruição do templo e da cidade de
Jerusalém, junto com a deportação geral e o exílio que ocorreu em 586 a.C..
1.4. festas de peregrinação. Havia três festas de peregrinação no calendário israelita: a festa do pão sem
fermento, a festa das semanas e a Festa dos tabernáculos. Em circunstâncias normais, nessas ocasiões as estradas estariam cheias de peregrinos em viagem para Jerusalém. Eram momentos de alegria e celebra
ção. Em tempos de dificuldades, poucos corriam o risco e agora não havia cidade nem templo para onde dirigir-se.
1.10. pagãos no santuário. H avia regras rígidas sobre o acesso a não israelitas aos recintos do templo (ver Dt 23). Apenas sacerdotes tinham acesso ao santuário, e ainda assim era um acesso limitado. O cuidado em
preservar a santidade da m orada de Deus fora frustrado por causa de profanação.
2.1-22A ira de Yahweh: segundo lamento em acróstico2.1. estrados dos pés. O estrado do trono de Deus era
a arca da aliança (ver o com entário em 1 Cr 28.2). Como a relíquia mais sagrada da fé dos israelitas, era considerado aquilo que Yahw eh protegeria com mais zelo e ciúme. Se nem m esmo a arca foi poupada, nada poderia estar a salvo de sua ira.
2.3. poder (chifre). Os chifres simbolizavam força, mas tam bém representavam a capacid ade de liderança, que se encaixa m elhor ao final do versículo dois. Era comum na Mesopotâmia os reis e deuses usarem coroas com chifres. À s vezes file iras de ch ifre eram so
brep ostas em cam adas. O leão alado do palácio de Assurnasirpal tinha uma coroa cônica em sua cabeça hum ana com três pares de chifres trabalhados em relevo. N o texto su m ério L am ento -pela D estru ição da Suméria e de Ur, o trono da divindade continha a seguinte frase: "Su as vacas poderosas com chifres bri
lhantes foram capturadas, seus chifres foram serrados".2.8. trena de destruição. A trena era usada para medir a área de propriedades, definir os limites do território que pertencia a cada proprietário (particular ou do governo), m as nada disso explica a relação entre
m uros e paredes neste versículo. A partir do uso dessa m etáfora em 2 Reis 21.13 e Isaías 34.11, pode-se presum ir que a figura da trena representa um a ação
típica relacionada à conquista m ilitar. Um exército cercando um a cidade não teria condições de fazer essas medições durante as batalhas, logo, deve ser uma referência à fase da demolição. Era raro que os muros de uma cidade fossem totalmente demolidos e, a partir de Neemias, sabemos que restou algo dos muros de Jerusalém . Entretanto, m uitas partes dos m uros tinham sido danificadas devido ao uso de máquinas de cerco, aríetes e operações de trincheiras que visavam enfraquecer os alicerces. Prumos teriam sido usados para ajudar a determinar quais segm entos dos m uros não eram m ais estáveis, e a trena teria sido usada para delinear quanto dessas partes teria de ser derrubada e reconstruída.2.9. portas e trancas. Nos lamentos sumérios, são as portas e trancas do templo que são derrubadas como parte da profanação. Aqui, são as portas e trancas da cidade. Para uma discussão m ais aprofundada sobre a função das trancas na estrutura das portas, ver o comentário em Juizes 16.3.2.15. bater palm as. Gestos e linguagem corporal ganham diferentes significados em diferentes culturas. Na sociedade ocidental atual, as palm as podem ser usadas para demonstrar apreciação, chamar subordinados ou crianças, chamar a atenção de alguém, acompanhar uma m úsica ou expressar frustração (uma palma). A s palmas também tinham diversas funções no mundo antigo. Elas podiam ser usadas no louvor (SI 47.1) ou aplauso (2 Rs 11.12), mas nesses versículos um verbo diferente é usado que denota um gesto de raiva ou escárnio (Nm 24.10; Jó 27.23). Talvez houvesse variações no movimento preciso envolvido: compare os diferentes sentidos na cultura ocidental de (1) bater palm as com as m ãos paralelas ao corpo num nível horizontal (aplauso); (2) bater palmas num movim ento ligeiramente vertical (frustração) e (3) bater palm as perpendiculares ao corpo alternando um a mão por cima e outra por baixo (como se estivesse limpando a poeira das mãos). Não fica claro qual m ovimento precisamente está sendo retratado aqui.
2.19. derram ar o coração com o água. Seus opressores batem palm as (spq happayim , v. 15), m as aqui Israel é encorajado a derramar seu coração como água (shpk kammayim). Derramar água era um ato de culto (libação).2.20. canibalism o. O canibalism o era um elem ento padrão de maldições, presente em tratados assírios do sétim o século. Era o últim o recurso em tem pos de fome extrema. Podia-se chegar a esse nível de desespero em períodos de fom e intensa (como ilustra o Épico de Atrahasis) ou como resultado de cerco (como durante o cerco de Assurbanipal à Babilônia, por volta de 650 a.C.), quando os suprimentos de alimento se esgotavam. A guerra de cercos era comum no mundo antigo, logo, não se deve supor que o canibalism o tenha sido uma prática tão rara.
3.1-66 Esperança na fidelidade de Deus: terceiro lamento em acróstico3.15. ervas amargas e fe l. O fel (absinto) era uma erva de sabor amargo usada com fins m edicinais e tam bém ocasionalm ente usada para fazer um chá bem forte. A palavra traduzida como "ervas am argas" ocorre apenas na passagem da Páscoa. Está relacionada à palavra acadiana para alface, m as visto que o substantivo simplesmente deriva do termo "am argo", existem inúmeras outras possibilidades.3.16. dentes quebrados com pedras. A segunda expressão sugere que os dentes foram quebrados por bater o rosto com força nas pedras e não por ter forçado alguém a mastigar pedras.
4.1-22 Resultados do pecado: quinto lamento em acróstico4.3. avestruzes. A inda há controvérsia se "avestruzes" seria a m elhor tradução para essa palavra hebraica. As avestruzes aparecem em cenas de caça em
LAMENTOS POR CAUSA DE CIDADES CAÍDAS NO MUNDO ANTIGOQuando a queda de Jerusalém, tomou-se um ponto crucial na história, teologia e literatura de Israel, a queda de Ur (conquistada por um exército do oriente), no final da Terceira Dinastia de Ur (por volta do ano 2000), serviu como ilustração no antigo Oriente Próximo de uma cidade abandonada pela divindade, resultando em sua destruição. As Lamentações que registram o luto e a reflexão teológica como um memorial dessas duas grandes quedas são preservadas em suas respectivas literaturas. Duas obras distintas lamentam a queda de Ur (conhecidas como O Lamento pela Destruição àe Ur e O Lamento pela Destruição da Suméria e de Ur). Existem outros lamentos em relação à cidade de Nippur, Uruk, Eridu e Ekimar (embora haja apenas fragmentos desses três últimos) que datam do século doze a.C.. Ao contrário das lamentações bíblicas, cada obra do antigo Oriente Próximo inclui a decisão dos deuses em restaurar a cidade. Literalmente eles tiveram um papel decisivo na tentativa de legitimar uma nova dinastia.
O principal tema dessas obras é o abandono das cidades pelos deuses, que as expunham assim à destruição pelas mãos do inimigo. A aflição da população é descrita com detalhes poéticos - perda da terra e das casas, morte dos entes queridos, exílio e cativeiro. O desespero se reflete em perguntas que buscam o porquê foram tratados desse modo pelos deuses e por quanto tempo permanecerão nessa situação. Quando as explicações são dadas, a queda da cidade não é apresentada como resultado de pecado, mas simplesmente reflete o fato de que mudança no poder político é algo inevitável.
pinturas egípcias e tam bém em selos cilíndricos e habitavam m uitas regiões do antigo O riente Próxi
mo. A alternativa preferida seria o "b u fo". A imagem
da avestruz corresponderia com a falta de atenção para com sua prole que lhe é atribuída em Jó 39.16
(palavra diferente). A observação casual e desatenta
levaria alguém a pensar que a avestruz é sem cora
ção, visto que põe seus ovos na areia e com freqüência
abandona o ninho para sair em busca de alimento.4.5. com idas finas. Devido à raridade dessa palavra,
deve-se concluir provisoriamente que se refere não a
um tipo específico de comida ou prato, m as às delicias
em geral que compunham o cardápio da m esa real.4.5. adornar-se de púrpura. Novamente a alusão é à
realeza, como indica a cor das vestes. O azul/púr
pura era um corante bastante caro (ver o comentário em Nm 4.6 e Et 8.15), e seu uso era restrito às vestes
cerimoniais apenas de líderes religiosos e oficiais do alto escalão.
4.10. canibalism o. Ver o comentário em 2.20.4.17. espera de ajuda de estrangeiros. Em 597 quan
do Nabucodonosor conduziu sua invasão punitiva a
Jerusalém, o Egito era o principal aliado com quem
Judá contava. M ais tarde naquele ano, Nabucodonosor pôs Zedequias no trono. Quase que im ediatamente
ele começou a encontrar-se com um a coalizão das pe
quenas nações ocidentais para juntas opor-se a N abucodonosor (ver o comentário em Jr 27.3). Em 595, um
novo faraó, Psametiçus II, assumiu o trono do Egito.
Ele desfrutou de um sucesso militar inicial contra os
núbios do sul e um papiro relata que seu sucesso foi
celebrado com um a viagem de vitória à Palestina. Portanto, em bora o Egito não fosse o instigador da aliança, havia motivo para esperar seu apoio contra a Babilônia. Não se sabe ao certo que nações de fato faziam parte dessa aliança, quando finalm ente ga
nhou forma. O resultado foi que o exército do Egito foi
completamente derrotado e desbaratado em seu confronto com os babilônios, em 588 (ver Jr 37.5-7), e
parece, com base no Salmo 137.7, que aliados como os
edom itas, transferiram seu apoio para a Babilônia
quando ficou claro que Jerusalém estava prestes a sucumbir.
4.21. papel de Edom . Edom se tornara um Estado vassalo assírio no reinado de Tiglate-Pileser III e con
tinuou sob o domínio assírio até a morte de Assurba-
nipal, um século mais tarde. É provável que os edomitas tenham se submetido ao governo de Nabuco
d onosor em 605 a .C.. Em bora algu ns refu g iad os hebreus talvez tenham encontrado refúgio e abrigo
em Edom, aparentem ente perm aneceram passivos visto que Jerusalém havia sido destruída (ver SI 137.7
e Ob 11). A cam panha babilónica contra A m om e
Moabe em 594 parece não ter afetado Edom. É prová
vel que tenha permanecido ileso até a época da campanha de Nabonido, em 552.4.21. Uz. Uz, a terra natal de Jó, é identificada com
Edom e o noroeste da Arábia na genealogia de Esaú
(Gn 36.28).
5.1-22A alegria perdida: lamento sem acróstico5.6. Egito e A ssíria. Desde o início do sétimo século, Judá havia estado sob o controle assírio. M anassés fora
um leal vassalo durante a maior parte de seus 55 anos de reinado. Na época de Josias, Judá experim entou
um vislumbre de independência à medida que o poder era transferido da Assíria para a Babilônia. Nesse
ínterim, o Egito começou a exercer maior controle na
região. Jeoaquim, filho de Josias, fora colocado no trono pelos egípcios em 609 e permaneceu leal a eles até que o domínio de Nabucodonosor passou a impedi-lo.
Após a queda de Ascalom a Nabucodonosor, em 604,
Jeoaquim pagou tributo à Babilônia durante alguns
anos. M as quando Nabucodonosor fracassou em sua tentativa de invasão ao Egito, em 601, Jeoaquim nova
mente aliou-se ao Egito e parou de enviar o tributo
anual para a Babilônia. Por isso, em 597, quando Na
bucodonosor empreendeu sua invasão punitiva con
tra Jerusalém, o Egito foi o principal aliado com quem
Judá contava. Pode-se dizer que Judá havia estado
totalmente dependente do Egito e da Assíria por um século ou mais.
5.12. líd eres pendu rad os por suas m ãos. O texto
hebraico é ambíguo quanto aos líderes serem pendurados "pelas mãos do inim igo" ou serem pendurados
"por suas próprias m ãos". Não existe precedente para essa últim a alternativa. Pendurar envolvia execução
e geralmente era um a prática usada após a execução. As vítimas geralmente eram enforcadas ou empaladas.
A prática era utilizada com mais freqüência em líde
res de revoltas ou membros da casa real (1 Sm 31.10). A prática de empalar os cadáveres de inimigos derro
tados era bastante usada pelos exércitos no antigo
Oriente Próximo. Por exemplo, os assírios consideravam o empalamento uma estratégia psicológica e táti
ca de terror (como ilustram as paredes de seus palácios reais). Ver tam bém o comentário em Ester 2.23.
5.13. trabalhar nos m oinhos. Transform ar os grãos
em farinha geralmente era um trabalho feito em moinhos e era função dos membros das classes m ais bai
xas da sociedade. Uma das "instalações" mais básicas
de qualquer casa antiga era o m oinho de mão com duas pedras para moer: a pedra de baixo com a su
perfície curva e uma pedra m enor que se encaixava na reentrância. A tarefa diária de m oer o cereal era feita deslizando a pedra de cima sobre os grãos que eram espalhados na pedra maior de baixo. Moinhos maiores geralmente funcionavam como prisões de trabalhos forçados na M esopotâmia, m as cada prisioneiro tam bém usava um moinho de mão. Os moinhos maiores puxados por jum entos ou m ão-de-obra escrava foram inventados somente após o período do Antigo Testamento. O palácio em Ebla tinha um cômodo com dezesseis moinhos de m ão, presumivelmente um lugar onde prisioneiros m oíam cereais. Nas casas de m oinho havia prisioneiros de guerra, crim inosos e endividados.
5.13. fardo de lenha. A lenha era um a necessidade
constante para m anter o fogo das cozinhas aceso. O
palácio, o templo e as classes abastadas faziam uso de
trabalho escravo para m anter o sistem a abastecido.
A té mesmo crianças eram capazes de ajudar a trans
portar e distribuir a lenha.
5.16. coroa. As coroas eram usadas pela realeza como
um símbolo de sua posição e autoridade. Como resul
tado, o significado da palavra estendia-se para referir-
se ao conceito abstrato de dignidade e honra que na
turalmente acompanham uma posição de autoridade.
Nessa passagem, a referência não é a um a coroa usa
da de fato por Israel, mas à sua dignidade e honra.
E Z E Q U I E L
v1.1-28Os seres viventes e a glória do Senhor1.1. 2. cronologia. O quinto ano do reinado de Joaquim teria sido o ano 593 a.C., no final do m ês de ju lho (o quarto mês). Essa data leva em consideração a
ascensão de Joaquim ao trono de Judá durante o cerco a Jerusalém que, de acordo com a Crônica Babilónica, teve início em novembro/dezembro de 598. Bastante se especulou a respeito do significado do "trigésim o
ano", visto que 593 não é o trigésim o ano de nada. U m a sugestão comum é que seja uma sim ples refe
rência à data de nascimento de Ezequiel que o qualifica para falar dessas questões, visto que oficialmente alcançara a idade exigida para a admissão no serviço sacerdotal (Nm 4.30).
1.1. rio Q u ebar. Em vez de ser um rio de fato, o Q uebar era um canal que saía do rio Eufrates, no
norte da Babilônia, e continuava por 96 quilômetros a sudeste, até alcançar o Eufrates, perto de Ereque. A
rede de irrigação e canais de transporte eram conhecidos como "águas da Babilônia" (SI 137.1). Era um
recurso que ampliava as terras cultiváveis do sul da M esopotâmia e fornecia água para pequenos povoados ao longo de seu curso (ver o comentário em 3.15).
1.1. v isões apocalípticas. A literatura apocalíptica é caracterizada por visões repletas de imagens associadas aos múltiplos poderes de Deus como Criador. Um m ensageiro divino geralm ente interpreta a m ensa
gem que é transmitida ao profeta (ver A p 1.1-3). Existem algumas obras da literatura acadiana que m os
tram protótipos de algum as das características da escatologia bíblica, mas nada que se aproxime muito (para relações, ver a nota de rodapé sobre apocalipses
acadianos, em D n 11). A literatura apocalíptica caracteriza-se pelo uso de rico sim bolism o derivado de
temas m itológicos. N a literatura profética, os símbolos raramente são interpretados. Com freqüência, as v i
sões em si não representam simbolicamente um acontecim ento predito, mas servem como pretextos para um a mensagem concernente ao que Deus está prestes a fazer. A m aioria dos eruditos agora considera que as
visões proféticas de Ezequiel influenciaram a literatura apocalíptica posterior (ver Dn 7-12 e Zc 8-14). Por
exemplo, sua visão de Deus entronizado em um carro relu zen te foi incorporad a em D aniel 10 .5 , 6 e no pseudepígrafo 1 Enoque 14.18.
1.2. exílio de Joaquim . Juntamente com grande parte
da corte real e muitos dos membros influentes e abastados da sociedade judaica, Joaquim foi levado ao exí
lio quando Jerusalém sucumbiu ao exército de Nabu- codonosor, em 597 (ver 2 Rs 24.8-17). As listas de
ração da Babilônia incluem quantidades de azeite sendo destinadas ao "rei de Ju dá", bem como a outros
prisioneiros de guerra do alto escalão e dependentes da casa real. Com o passar do tempo, em 561 a.C., durante o reinado do sucessor de N abucodonosor,
Amel-Marduque (na Bíblia, Evil-Merodaque), Joaquim foi libertado de sua prisão (provavelmente domicili
ar) e a corte do rei foi libertada (ver 2 Rs 25.27-30). Ele morreu no exílio, oficializando o fim da m onarquia judaica.
1.3. com unidade no exílio. A comunidade do exílio, da qual Ezequiel fazia parte, era um grupo relativa
mente pequeno em 593 a.C. - talvez dez mil pessoas. Porém , olhando para a lista de deportados de Nabu
codonosor, em 2 Reis 24.14-16, parece que estavam
incluídos os líderes m ilitares, políticos e religiosos, bem como artesãos que podiam ser usados nos inúmeros projetos de construção do rei babilônio. O s sol
dados treinados tam bém foram provavelmente forçados a servir ao exército babilónico. Foi somente após 587 que uma grande parte da população de Judá uniu
se a seus compatriotas na M esopotâmia. Essa política de deportar reféns e grandes segmentos de uma nação rebelde era amplamente usada tanto pelos assírios quanto pelos babilônios. A prática babilónica de esta
belecer os exilados em povoados fechados é demonstrada em textos de Nipux. Em bora o exílio fosse um evento traumático para o povo de Judá, foram encorajados a adequar-se a essa nova situação (ver Jr 29.423). Evidência textual do período persa (quinto século
a.C., textos de M urashu) sugere que eles seguiram esse conselho e m ontaram negócios, deram início a plantações e criaram um a identidade para si mesmos no exílio.
1.4. elem entos da teofania. U m a teofania é a aparição de um ser divino para um hum ano (ver o exemplo
clássico da teofania no Sinai para M oisés, em Êx 3). Essa aparição podia acontecer em pessoa, embora Deus
nunca seja descrito com detalhes e existe sem pre um enorme senso de pavor por parte do humano que é
alvo da teofania (ver G n 28 .16 ,17 ; 32.24-30). O medo
é gerado pelo poder evidenciado na "glória" de Deus (kaboã), um atributo divino tam bém encontrado em
épicos m esopotâmicos (onde é chamado de melammu).O objetivo da teofania, com freqüência, é convocar um ser humano para o serviço da divindade. Logo, em bora Elias já servisse a Yahw eh como profeta, é chamado para tarefas maiores em seu encontro com Deus no m onte Horebe (1 Rs 19). Cada um dos principais profetas relata uma teofania que marca o início de seu ministério. Por exemplo, a visão de Isaías (Is 6) envolve o templo de Jerusalém e remete à experiência de M oisés, e a narrativa da cham ada de Jeremias tem m atizes de coroação (Jr 1). No caso de Ezequiel, a aparição de D eus é descrita de form a m isteriosa e esm agadora. Existem sím bolos do poder de D eus implícitos na imagem da carruagem divina, nas criaturas que o acompanham e no domínio de todas as forças da natureza. Naturalm ente, um a vez escolhidos, os profetas deviam aceitar sua missão, em bora geralm ente tentassem apresentar desculpas.1.5. criaturas aladas, eretas, como guardiãs do trono no antigo O riente Próximo. Existem inúmeros exemplos na arte do antigo Oriente Próximo de criaturas aladas com rostos humanos, especialmente nos palácios e templos assírios em Ninrode e Nínive, m as a m aioria delas são quadrúpedes. D entre elas encontram-se enormes figuras guardiãs desenterradas nos vestígios no palácio do rei assírio Senaqueribe, em Ninrode. Um a dessas figuras é um touro com asas e cabeça hum ana e outra tem corpo de leão e rosto humano. O palácio de Assumasirpal em Kalhu contém figuras desse tipo que eram estrategicam ente posicionadas à entrada dos palácios e templos e em salões do trono. O enorme tamanho (quase dois metros e meio de altura) tinha o objetivo de intimidar quem por ali entrasse. A arte siro-fenícia contém imagens
semelhantes de esfinges aladas (corpo de leão, asas de águia e cabeça hum ana). Figuras com postas de pé (bípedes) são menos confirmadas. H á evidências de figuras humanas com cabeça de águia e quatro asas no templo de Ninurta, em Ninrode. A iconografia do
Im pério Persa Aquem ênida ilustra criaturas eretas com quatro asas, cabeça humana e patas de touro.1.6, 10. seres com quatro rostos. Parece não existir nenhum paralelo exato no Oriente Próximo para es
ses seres com múltiplos rostos. Embora rostos de águia, boi e leão fossem com uns em seres com postos (na verdade, esses são os únicos animais assim retratados na arte mesopotâmica), existem alguns poucos exem
plos de m últiplos rostos em um a única criatura. Há um exemplo em que uma cabeça hum ana cabeça se
sobrepunha a um a cabeça de leão. Som ente o deus romano Janus oferece um fraco modelo, com um rosto
olhando para a frente e outro, para trás. O objetivo desses seres também é multifacetado. Por serem capazes de olhar nas quatro direções, os seres desempenham a mesma função das rodas de um carro (v. 17), que podiam seguir em qualquer das quatro direções. Am bos representam o poder da divindade de estar presente em qualquer lugar e conhecer todos os eventos da terra. Além disso, todos os corpos de animais representados aqui (leão, águia, boi/ touro) têm paralelos na arte do Oriente Próximo, e cada um simboliza poderes ou atributos específicos que significam a onipotência de Deus: o leão simboliza a força (2 Sm 1.23); a águia denota velocidade e graça (Is 40.31); o boi representa fertilidade (SI 106.19, 20).1.15-18. tecnologia da roda. N aturalm ente uma carruagem com rodas que se m oviam nas quatro direções não poderia deslocar-se efetivamente em qualquer direção. Entretanto, o objetivo da imagem está em seu valor simbólico da atenção aos quatro cantos do m undo, ou seja, da onipresença de Deus. Além disso, o carro na verdade está sobre as asas estendidas dos seres com quatro rostos, e voa pelo ar. Existe, porém, um senso de m obilidade implícito na posição das quatro rodas. Essa im agem se baseia em um a comparação com figuras aladas de touro que guardavam a entrada dos palácios assírios. M uitas delas tinham um a quinta perna sugerindo que, embora estivessem fixas no relevo, na verdade eram dinâmicas e estavam em movimento. A arte assíria também fornece exemplos de carros com rodas com aros altos e múltiplos raios que podem ser a origem dessa im agem em Ezequiel. As rodas às vezes tinham aros grossos feitos de faixas concêntricas, e de raios. A descrição "cada roda parecia estar entrosada na outra" pode representar m aior estabilidade para a carruagem, assim como eixos m últiplos e pneus em caminhões m odernos. A descrição de "o lh os" nas rodas tem uma explicação na term inologia babilónica em que o termo "olhos" é usado para pedras preciosas ovais. Pedras semipreciosas estavam incrustadas nos aros para reluzir e ofuscar os observadores.
1.22. abóbada sobre as cabeças. Acima das cabeças dos quatro seres havia um a plataforma brilhante como cristal ou gelo. A arte e a escultura glíptica do antigo Oriente Próximo contêm imagens de criaturas aladas sustentando uma coluna, um trono ou uma plataforma. Por exemplo, no palácio assírio do sétimo século em Nínive, esfinges de m iniatura serviam como bases de colunas. Igualmente, um pedestal cultual fenício com rodas, do século doze, retrata um ser alado com corpo de leão e rosto hum ano. Suas asas e cabeça parecem estar sustentando um a parte do pedestal. De form a m ais significativa, textos m esopotâm icos do
primeiro m ilênio falam de três níveis dos céus, cada um pavimentado com pedras de cores diferentes. Os céus inferiores são descritos com o um a plataform a de jaspe, geralm ente associado a um a aparência vítrea, translúcida ou opaca. Nesses textos, o pavimento dos céus interm ediários é feito de lápis-lazúli (ver o comentário em Êx 24.10) e sustenta o estrado do deus Bei (Mar duque).
1.26. trono. V isto que os deuses no antigo O riente Próxim o com freqüência participavam de procissões,
havia veículos usados para seu transporte. Selos cilíndricos entali i 1 j f i 1 do terceiro milênio, mos
tram um a divindade de pé em um carro/carroça de quatro rodas, puxado por um quadrúpede com cabeça de leão e asas. Relevos assírios m ostram tronos com rodas, tanto para reis quanto para deuses, que tam bém tinham varas para serem puxados.1.26-28. aparência do trono e da figu ra. O aspecto ofuscante dessa visão pode apenas ser comparado a
um arco-íris ou a um rosto flam ejante. Isso estaria dentro do conceito m esopotâmico de mélammu ("vestido com poder") como regularmente aparece na descrição dos d eu ses m esop otâm icos (p or exem p lo , Marduque, n a história da criação do Enuma Elish). Em textos m esopotâmicos desse período geral, havia un plataforma nos céus intermediários feita de lápiz-1
(uma interpretação m ais adequada da palavra tra'Hu-< zida com o safira no v. 26) que sustentava um aposen\ to e uma plataforma do deus Bei. O aposerrfü^nlhava como vidro ou cristal. A descrkão á r^ í^ m e n to s dessa visão encaixa-se à padroniza^o(de\tesj\as comunsda Mesopotâmia. cx
e-
2 .1 - 3 .1 5 O c h a m a d a2.6. S^ça^s^ihH feiiíps^ escorpiões. A s narrativas de cha\nados\aos-p^círetas geralm ente seguem um pa
decido. Quando o profeta escolhido apre-i desculpas e demonstra apreensão, Deus lhe for
; garantias (ver Jr 1.7, 8). N o caso de Ezequiel, o uso de term os inusuais (essas palavras específicas traduzidas com o espinheiros aparecem apenas aqui em Ezequiel) é de certa form a confuso. N o entanto, o que pode estar im plícito é que D eus está construindo um m uro protetor em volta do profeta, feito de espinhos pontiagudos. Tem sido sugerido de form a plausível que "escorp iões" aqui refere-se a um tipo de arbusto e não à criatura peçonhenta.3.1-3. com er um rolo . A im agem associada a Ezequiel comendo o rolo apresentado a ele por D eus faz parte de sua narrativa de cham ado e da aceitação de sua missão. A s palavras do rolo tinham de ser internalizadas. Tam bém lh e transferiam poder e capaci
tação, da m esm a form a que o toque de D eus na boca de Jerem ias o capacitou para falar suas profecias (Jr1.9). N ão existem paralelos diretos no antigo Oriente Próximo. É possível que com er um pedaço de pergaminho ou de papiro contendo um encantamento ou o nom e de um deus fosse parte de práticas rituais do Egito ou da M esopotâmia. O term o asakku, que signi
fica "separado para os deuses" ou tabu, é usado nos textos de M ari e outros textos da A ntiga Babilônia fazendo referência a não "consum ir" o que pertence aos deuses.3 9 * nagem da ' ?sta (’ ra. A comparação com o uso acadiano do m esm o termo sugere que a testa dèxEze- quiel está sendo com parada à pedra m ais du m \É im provável que seja o diam ante, visto quCTs^ctó mantes são atestados n o antigo OrientCÇ? nas u m século depois de Ezequigl. í
3.14. transportado pelo Espú^ .^ m / hebraiéo , a palavra para espírito pode taífltòn^sògmficar vento. Desde o uso su m é r j^ Ju e is ^ í^ a d a ^ a la v r a para vento/ espírito o term o^a\u^ado4^m >ém em relação a sonhos e v i§ o ^ ^ rf d^á\dgg~spnhos era cham ado "o s
ventos'/^pmN̂ac^m^no/ o nom e do deus que trazia sopiiQs v erç j^ o iq u , que deriva da palavra para ven-
/eàp^irOr-Além disso, em um sonho ou visão, acre-p e que o "esp írito" da pessoa saía e podia mo
er-se por diversos lugares. N a literatura posterior, o livro pseudepígrafo de 1 Enoque descreve o patriarca pré-diluviano sendo transportado pelos anjos até o jardim do Éden, onde serviu como um "espectador" dos feitos da humanidade e os registrou em um livro.3.15. T e l-A b ib e . Tecnicam ente, o n om e T el-A bibe (babilónico til abubi) significa "lugar criado pelos restolhos de um dilúvio". Um " te ll" é o term o usado para qualquer lugar onde se encontram as ruínas de uma cidade. Logo, as fam ílias exiladas de Judá talvez tenham sido colocadas em um lugar que fora destruído, pela guerra ou por um a inundação, a fim de reconstrui-lo e fazer com que a área de N ippur perto do canal Q uebar voltasse a ser produtiva. Tam bém há um excelente duplo sentido, visto que o povo de Judá fora arrastado até ali pelas ondas impetuosas do vitorioso exército da Babilônia.
3 .1 6 -2 7Advertência a Israel3.22-26. resultados da m ão de Y ahw eh (m utism o).Alguns estudiosos sugeriram limitações físicas de afasia a esquizofrenia com o a causa dos problemas de Ezequiel. Diversos comentaristas tam bém sugeriram um a decisão consciente de Ezequiel em lim itar seu papel como m ediador entre D eus e o povo ou uma restrição divina sobre sua capacidade de falar (de qualquer
m odo, um a im p osição d ivina). A exp eriên cia de Ezequiel é com parável ao que é descrito em textos acadianos de encantamento, que falam sobre ser "tocado por um deus" e ficar mudo. É provável que o profeta estivesse familiarizado com esse material, que servia como um excelente paralelo da natureza de seu estado profético e não com o diagnóstico de algum problema físico. O senso de paralisia (cf. 4.8) e a incapacidade de falar eram sintomas bem conhecidos da capacitação demasiada de poder sobrenatural no mundo antigo. Encantamentos tentavam impor essas condições e a opressão demoníaca era caracterizada por elas. Em uma obra da literatura babilónica sapiencial (Ludlul Bei Nemeqi), um indivíduo que não conseguia entender por que estava sofrendo descreve seus lábios estando mudos e seus braços e pernas, paralisados e rígidos. Seu sofrimento é todo atribuído à "pesada mão de M arduque".
4.1-5.17 Cerco simbólico de Jerusalém4.1. sinal. Nos textos de Mari datados de m ais de um milênio antes de Ezequiel, os profetas já usavam ações simbólicas e encenações como um recurso para transmitir sua mensagem profética. Em um caso, um profeta devorou um cordeiro cru para anunciar um perigo im inente que podia devorar a terra. Recursos de teatro de rua são empregados por Isaías (Is 20 - andando nu pelas ruas) e por Jeremias (Jr 19 - ritual de execração seguido por uma procissão) a fim de envolver seu público e evidenciar através daqueles atos a seriedade da ameaça que pairava sobre o povo.4.1. tijo lo usado como mapa. Embora seja raro encontrar um tijolo ou tablete de argila que contenha a figura de um mapa, existe um m apa do período cassita
(século quinze a.C.) da cidade de Nippur. Ele mostra canais partindo do rio Eufrates e sugere que esses canais de água dividiam a cidade em bairros. O mapa mostra duas linhas paralelas e indica três portas e os muros da cidade. Templos e armazéns também estão marcados no desenho. Um mapa-múndi foi encontrado perto do local de Sipar, datado do século sétimoа.C.. Um rio cerca o disco circular do mundo e m ontanhas são desenhadas na parte superior da figura. A Babilônia, a Assíria e outras cidades, regiões e nações são identificadas no mapa.4.2. estratégias de cerco. Todas as estratégias descritas aqui eram típicas das m áquinas e técnicas de cerco utilizadas pelos assírios e babilônios. Essa tecnologia é retratada com freqüência nas paredes do palácio de N ínive e da Babilônia. Ver os comentários em Jeremiasб.6 e Isaías 29.2 a respeito de cercos e rampas. Aríetes às vezes eram anexados a torres portáteis que eram
puxadas até os muros e portas das cidades. Uma ladeira ou aclive construído em diagonal contra o muro evitava o uso efetivo do aríete. O s acam pam entos eram m ontados em volta da cidade para evitar que os habitantes fugissem. Um dos exem plos m ais claros desses métodos ainda existentes são os vestígios dos acampamentos romanos construídos ao redor da fortaleza de M assada durante a revolta do ano 70 d.C.4.3. função da panela de ferro. O s israelitas assavam seus pães e preparavam ofertas de cereais em formas colocadas sobre o fogo ou num forno de barro. O s ricos tinham condições de adquirir essas formas de ferro ou cobre, enquanto os pobres usavam discos de cerâmica.4.3. sim bolism o do muro de ferro. Em períodos anteriores o ferro era considerado um m etal precioso.
Embora fosse m ais usado no sexto século a.C., ainda era considerado um material de valor devido à sua força e du rabilidade. V isto que Ezequ iel está encenando um cerco sim bólico, ele deve representar Deus. O muro de ferro deve ser entendido como a barreira entre Deus e o povo de Jerusalém. Ele mostra que os israelitas não deviam esperar pela ajuda de Yahw eh, o G uerreiro D ivino, durante o cerco que estava por vir.
4.9. ingredientes do pão. Os itens alistados aqui com os quais Ezequiel devia fazer seu pão incluem alguns cereais comuns (trigo, cevada e espelta). Esses cereais faziam parte da dieta de todos os povos do antigo Oriente Próximo e existem palavras cognatas em aca- diano e ugarítico para cada um deles. Os ingredientes inusuais dessa receita são o feijão e a lentilha. Embora
esses vegetais fossem usados no preparo de sopas e ocasionalm ente m oídos e m isturados ao trigo para fazer pão integral, seriam bastante incomuns. D. Block sugere que a m istura de Ezequiel é o símbolo de um pão feito durante o cerco com quaisquer restos de ingredientes que pudessem ser raspados do fundo de todas as vasilhas de mantimentos.4.10. quantidade de comida. O fato de que a comida de Ezequiel devia ser pesada e comida em horas determinadas simboliza o rígido racionamento necessário durante o cerco. Vinte siclos seria o equivalente a 240 gramas de comida. Essa quantidade de calorias o manteria vivo, m as também o debilitaria bastante. A fraqueza resultante de um a dieta de fome espelha as condições de Jerusalém.4.11. quantidade de água. Racionamento de água tam bém seria necessário durante o cerco, visto que o povo dependeria do suprimento de cisternas (ver o comentário em Jr 38.6) e do poço abastecido através do túnel de Siloé. A parte de Ezequiel era de m eio litro de água por dia. A s condições extrem am ente quentes durante o verão e o outono de 588 teriam sobrecarre
gado severamente o povo sitiado de Jerusalém. Uma ração tão pequena de água teria aum entado ainda m ais seu desespero.4.12, 15. fezes hum anas com o com bustível. O combustível típico em áreas como a Mesopotâmia e a Palestina era esterco anim al seco ou bolotas feitas de resto de polpa de azeitonas esm agadas. A s árvores eram preciosas dem ais para serem cortadas e sua m adeira usada para cozinhar e para se aquecer. Eze- quiel, porém, fica horrorizado quando Deus lhe ordena que cozinhe usando como combustível fezes hum anas, uma substância impura que tinha de ser enterrad a longe da habitação hum ana (D t 23.12-14). Ele era um sacerdote e esse ato o tom aria impuro; ele sim plesm ente não podia obedecer. Portanto, Deus perm ite que ele cozinhe usando esterco animal.5.1. espada com o navalha. Uma espada seria um instrumento estranho para rapar a barba e o cabelo. Embora "espada" seja a tradução comum para essa palavra do hebraico, ela pode ser usada tam bém para outros instrumentos cortantes, tais como, machados, pun h ais e cin zéis (cf. 26.9 e Js 5 .2). Em u g arítico , um im plem ento descrito por essa palavra é usado para cortar carne assada. A tradução que usasse um termo genérico com o "lâm in a" seria preferível. A escolha dessa palavra pode ter sido m otivada pelo desejo de fazer referência ao uso da espada por parte dos babilônios que envergonhariam e conquistariam Jerusalém.5.2. uso de cabelo em ofertas. Cortar ou rapar o cabelo era uma prática cõm freqüência associada a rituais de luto (ver o comentário em Is 15.2). Entretanto, quando um voto de nazireu havia terminado, a lei determinava que o cabelo dedicado durante o período do voto fosse cortado e depositado como sacrifício no fogo (Nm 6.18). N a m aneira de pensar do mundo antigo, os cabelos (juntamente com o sangue) eram um dos principais representantes da essência da vida da pessoa. Como tal, sem pre eram um ingrediente usado em simpatias. Isso fica claro, por exemplo, na prática de enviar um a m echa de cabelos supostam ente do profeta, juntam ente com as profecias destinadas ao rei de M ari. O cabelo era usado em adivinhações para determ inar se a m ensagem do profeta seria aceita como válida.5.10. canibalism o. Um dos resultados terríveis de um longo cerco a uma cidade murada era a escassez de
alimentos. Às vezes essa situação se agravava tanto que os habitantes da cidade recorriam ao canibalismo (ver o comentário em 2 Rs 6.29). Por exemplo, os anais assírios de Assurbanipal descrevem o cerco à Babilônia em 650-648 a.C. e o desespero das pessoas famintas que apelavam para o canibalism o. Existe tam bém uma série de tratados mesopotâmicos que contêm uma
m aldição a qualquer que violasse as condições do tratado rogando que tal pessoa se alimentasse de sua própria família e seu próprio povo (como no tratado de A ssurnirari V com M atfilu , rei de A rpade). As versões bíblicas desse tipo de maldição encontram-se em Levítico 26.29 e Deuteronômio 28.53-57.5.17. fom e e anim ais selvagens. Esses dois castigos estão relacionados apenas como parte de uma série de punições que a divindade costumava enviar (outros dois, a peste e o derramamento de sangue, aparecem no final do versículo). No épico mesopotâmico de Gil- gamés, o deus a repreende Enlil por não enviar leões para despedaçar o povo, em vez de usar algo tão dramático como um dilúvio. Os deuses usavam animais selvagens juntam ente com doenças, seca e fome para reduzir a população dos humanos. Um a ameaça comum no período assírio relacionada a m aus pressá
gios era que leões e lobos assolariam toda a terra. De maneira semelhante, a devastação através de animais selvagens era um a das maldições invocadas em violações de tratados (ver tam bém D t 32.24).
6 .1 - 7 .2 7
Profecias contra os montes de Israel6.3. m ontes. V er o com entário em 1 Sam uel 9.12 a respeito desses locais de culto com freqüência associados aos cananeus ou às práticas de religiões falsas.6.5. ossos espalhados diante dos altares. Existem três significados im plícitos nessa ação. O prim eiro diz respeito à exposição de cadáveres. Sobre a importância de um enterro adequado, ver os comentários em Josué 8.29 e 1 Reis 16.24. O segundo está relacionado a lugares sagrados. N a maneira de pensar israelita, quando alguém ou algo tinha contato com os mortos ficava impuro. Portanto, lugares sagrados podiam ficar permanentemente contaminados se fossem transformados em depósitos daquilo que era impuro (ver o comentário em 2 Rs 10.27). O terceiro significado diz respeito a atribuir a responsabilidade pelo destino dos israelitas que haviam perecido. A m orte deles recai sobre esses ídolos e altares que nada haviam feito para salvá-los. Para um outro significado, ver o comentário no versículo 13.6.11. linguagem corporal. Gestos e linguagem corporal ganham diferentes significados em diferentes culturas. N a sociedade ocidental atual, as palmas podem ser usadas para demonstrar apreciação, cham ar subordinados ou crianças, chamar a atenção de alguém, acompanhar uma música ou expressar frustração (uma palma). A s palmas também tinham diversas funções no mundo antigo. Elas podiam ser usadas no louvor (SI 47.1) ou aplauso (2 Rs 11.12) ou como um gesto de raiva ou escárnio (Nm 24.10; Jó 27.23). Talvez houves
se variações no movimento preciso envolvido: compare os diferentes sentidos na cultura ocidental de (1) bater palm as com as m ãos paralelas ao corpo num nível horizontal (aplauso); (2) bater palmas num movim ento ligeiramente vertical (frustração) e (3) bater palmas perpendiculares ao corpo alternando uma mão por cima e outra por baixo (como se estivesse limpando a poeira das mãos). Ezequiel é orientado por Deus para realizar tuna série de gestos simbólicos (esfregar as mãos, bater os pés e gritar) que expressariam a ira de Deus. Bater o pé geralmente é um sinal de frustração ou raiva, como no épico ugarítico de Aqhat. Nessa lenda, o herói se recusa a entregar seu arco à deusa Anat, dizendo que armas de caça são para homens. Ela fica tão irada que bate os pés violentamente e sai rapidam ente em busca de vingança dos deuses. A exclamação usada (NVI "A i!") indica que alguém vai receber o que m erece, dando ênfase a essa cena de castigo divino iminente.
6.13. m orto ao redor dos altares (sem proteção). Altares falsos não oferecem proteção. Assim como Deus zomba daqueles que confiam em outros deuses como sua rocha de "refúgio" (Dt 32.37), agora Yahweh lhes
nega a segurança geralmente estendida àqueles que se aproximavam do altar ou se agarravam a uma de suas pontas (compare 1 Rs 1.50, 51).
6.13. árvore frondosa e carvalho viçoso. O ponto a que chegara a idolatria do povo é enfatizado nessa
referência a santuários cultuais debaixo dos galhos de toda árvore frondosa (ver o comentário em Dt 12.2, 3 sobre os "santuários externos" dos cananeus). Oséias 4.13 também usa essa im agem dos montes e sombras frondosas como lugares de culto aos ídolos.6.14. deserto até D ib la. Essa descrição geográfica, tal como a expressão m ais conhecida "d e D ã a Berseba", expressa a capacidade de Deus em punir os israelitas de uma extremidade à outra de seu território. O deserto refere-se à região árida ao redor de Berseba. D ibla aparece na Septuaginta e é um a variante de Ribla, que ficava na terra de Siro-Hamate, ao sul de Cades (2 Rs 23.33). Sua menção aqui pode referir-se ao fato de que a cidade foi usada por Nabucodonosor. Era o quartel-general de seu exército durante o cerco
a Jerusalém em 588-586 a .C .7.2. quatro cantos. A idéia de englobar toda a terra está im plícita nessa referência aos "quatro cantos". Um a expressão semelhante encontra-se em Malaquias1.11 e na inscrição real fenícia de Azitiw adda (730-710 a.C.), em Kareteppe. Esses textos expressam o governo e o poder universal ao referir-se à terra "d o oriente ao ocidente". O s anais assírios de Salm aneser HE afirm am que a "totalidade dos países" havia sido depositada em suas m ãos. A expressão usada aqui e em
outros textos assírios, assim como em Ezequiel, refere- se ao domínio do rei sobre os quatro cantos da terra.7.13. vendedor não recuperará sua terra. A extensão
da desgraça proferida contra a nação era tam anha que nem mesmo o ano do Jubileu seria celebrado (ver o
com entário em Lv 25.8-55). Geralm ente, proprieda
des que haviam sido vendidas para saldar dívidas
podiam ser resgatadas durante o Jubileu, restabelecendo assim a posse das terras que foram distribuídas
após a conquista de Canaã (o Código de Hamurabi contém cláusulas semelhantes concernente à recupe
ração de terras). Agora o "arrendam ento divino" fora revogado e não haveria vantagem econôm ica para
compradores ou vendedores na época de destruição prestes a vir.
7.18. vestes de luto (pano de saco). O pano de saco,
um dos sinais tradicionais de luto e arrependimento,
era feito de pêlo de bode ou camelo e era rústico e desconfortável. Em m uitos casos, o pano de saco era
apenas um a cobertura para o lombo. Esse costum e
não apenas destacava a pessoa, separando-a da vida
norm al, m as também, uma vez que o pano de saco
esfolava a pele, servia como um constante lembrete da dor da perda.
7.18. cabeça rapada. Em bora essa prática seja conde
nada em Deuteronômio 14.1 (talvez por ser parte do
culto aos ancestrais - ver o comentário em Dt 14.2), rapar a cabeça como sinal de luto era bastante comum
(ver Jó 1.20 e Jr 48.37). Também ocorre como parte do
ritual de purificação pelos mortos (Lv 14.8, 9) e da lei do nazixeu (Nm 6.9). Na M esopotâmia, rapar metade
da cabeça era um castigo que tinha com o objetivo
hum ilhar publicam ente.7.23. correntes. Os cativos geralmente são ilustrados
na arte egípcia e mesopotâmica presos em correntes. Esse é o caso de um relevo encontrado no Ramesseum,
em Tebas, ilustrando cativos asiáticos, etíopes e da Africa central, desfilando diante de Ramsés II. Uma
cena semelhante de prisioneiros cananeus e filisteus
está entalhada na parede do tem plo m ortuário de Ramsés III, em Medinet-Habu.
7.24. santuários profanados. Menção à profanação do
templo de Jerusalém (SI 74.7) e à destruição sistemática
dos altares feita por Josias em todo seu domínio e em Betei (2 Rs 24.8-15) indicam que os santuários não es
tavam a salvo da m ão de governantes vingadores ou
conquistadores. Textos antigos da A ntiga Babilônia (M ari) e do C ilindro de C iro do período persa des
crevem a destruição de templos e a captura de imagens
sagradas como "refén s". N a visão de Ezequiel, os al
tares e santuários falsos erigidos pelos israelitas agora
serão arrasados e destruídos por um D eus vingador.
7.26. visão, le i, conselho com o m eio de libertação.As vezes, a visão profética continha uma m ensagem de D eus que trazia encorajam ento ou esperança de livramento. O ensino por parte do sacerdote aqui é possivelm ente orientação ritual com o objetivo de mostrar o caminho no sentido de apaziguar a ira divina. O conselho das autoridades era considerado um canal da sabedoria divina que conduzia a decisões acertadas. Em uma época de sublevações e destruição, a terra é abandonada sem a direção de Deus. Todos os meios tradicionais de conseguir orientação são perdidos ou se tom aram ineficazes (ver esses grupos de conselheiros em Jr 26.7-17). Assim como as Visões de Neferti, um vidente egípcio do século vinte a.C., descrevem como "os oficiais não mais administram a terra" e "aqueles que podiam falar foram expulsos", agora Judá enfrenta um futuro sem o conselho necessário para planejar e tom ar decisões (compare com o dilema de Saul em 1 Sm 28.6).
8.1-11.25 O profeta é transportado a Jerusalém em uma visão8.1. cronologia. Quatorze meses após a visão inicial que o convocou ao serviço de profeta, Ezequiel agora experim enta outra visão que demonstrará de forma dramática a decadência da situação religiosa de Jerusalém. Com base no calendário usado em Ezequiel1.1. a data dessa visão poderia ser 17-18 de setembro de 592 a.C..8.2. figu ra de m etal e fogo. U m a aparição divina que confronta Ezequiel é semelhante em seu resplendor à da narrativa de seu chamado (Ez 1.26, 27). Em ambos os casos ele usa adjetivos e a com binação de fogo ofuscante e m etal brilhante. É a magnificência de Deus ou a glória de um mensageiro divino que está sendo comunicada aqui. Essa imagem acompanha o padrão do perigo envolvido no contato com o divino presente em toda a literatura do antigo Oriente Próximo (ver o comentário em Ez 1.26-28).8.3. transportado em visões. Visto que Ezequiel não deixaria fisicamente o exílio, era necessário que fosse levado numa visão a Jerusalém, onde testemunharia as abominações da cidade. Existem poucas informações na literatura do antigo Oriente Próxim o sobre visões ou experiências de transporte em visões. Em um texto interessante, Uma Visão do M undo Inferior (sétimo século), um príncipe assírio vê Nergal, o rei do m undo inferior, assentado em seu trono, com relâmpados e raios saindo dele. O texto não diz como o príncipe foi levado até ali, m as m enciona que foi arrastado por seus cabelos até Nergal. U m paralelo de transporte espiritual pode ser encontrado no herói mesopotâmico Adapa que aparece diante da assem
bléia divina. Seu deus padroeiro, Ea, faz com que ele "tom e a estrada para o céu" e Adapa tem a oportunidade de fitar a partir daquela posição privilegiada "desde o horizonte até o zénite do céu".8.3-16. topografia do tem plo. A estrutura retangular do templo (de frente para o leste) era cercada por um pátio interno murado. Fora desse muro ficava o pátio externo. O muro era alinhado com cômodos usados para diversos fins. Ezequiel primeiro é colocado em sua visão diante da porta norte, por onde é possível passar do pátio externo para o pátio interno. Desse pátio externo, Ezequiel podia olhar pela porta e ver o altar que ficava no centro do pátio interno. As portas que davam acesso ao recinto do templo foram acrescentadas posteriormente à construção original do templo de Salom ão (2 Rs 15.35). A abertura perto da
entrada das portas (v. 7) talvez desse para um daqueles côm odos que acom panhavam o muro do pátio,
talvez um depósito que fora transformado em santuário onde as setenta autoridades, cada um a em seu próprio nicho adorava imagens de ídolos. A cena seguinte (v. 14) é do lado de fora da porta, no mesmo muro um pouco m ais para o oeste, onde era permitido o acesso a mulheres. Então, no versículo 16 Ezequiel é levado ao pátio interno do tem plo onde verá uma abom inação ainda m aior na área entre o pórtico do templo e o altar.
8.5. ídolo que provocou o ciúm e. A imagem de Aserá que M anassés colocou no templo é descrita de forma semelhante (2 Cr 33 .7 ,15). Embora essa imagem não deva ser considerada a mesm a, é bem possível que
fosse outra im agem de Aserá. Essa possibilidade é sugerida m ais adiante pelo fato de que a palavra usada para "im agem " aqui é um termo inusual que se acred ita seja um em préstim o do fenício ou do cananeu. De acordo com o segundo mandamento do
Decálogo, qualquer im agem que fosse objeto de culto provocaria o ciúme em Yahweh.
8.10. desenhos na parede como o b je to de culto. O texto esp ecifica esses desenhos com o im agens esculpidas em relevo nas paredes. Essa forma de arte era bastante conhecida na Assíria e na Babilônia. O verso 12 sugere adicionalm ente que cada um a das setenta autoridades estava adorando diante de um nicho específico onde havia uma imagem esculpida. O fato de que eram imagens de animais sugere algum a relação com as práticas m ortuárias egípcias. Os animais não eram os objetos de culto comuns na prática cananéia ou mesopotâmica. M as os egípcios usavam rituais apotropaicos para afastar diversas criaturas dos túm ulos de seus ancestrais, e o incenso era usado em todo o antigo Oriente Próximo em contextos apotropaicos. A decoração das paredes de casas na
Mesopotâmia contendo desenhos de formigas e baratas também pode ser de natureza apotropaica.8.14. chorar por Tam uz. Tal como outros deuses da fertilidade, o semideus sumério Tam uz passava parte do ano no m undo inferior (representando a estação seca, improdutiva) e depois voltava à vida durante a época das chuvas, da plantação e da colheita. N o ritual mesopotâmico que fazia parte do culto a essa divindade, implorava-se aos deuses que Tamuz fosse trazido de volta e com ele a fertilidade da terra. O ritual incluía um a série de lamentos (com base naqueles da história épica, iniciados por sua esposa Inanna e por sua mãe e irmã). As mulheres que encenavam esses lamentos gritavam e derramavam lágrimas (um gesto sim bólico da necessidade de chuva). O fato de Ezequiel descrever m ulheres realizando tais rituais diante das portas do templo em Jerusalém pode refletir a adoção desse deus da fertilidade como um substituto de Yahw eh ou o uso da liturgia de lamentação de Tamuz para chorar por Yahweh, como se fosse um
deus da fertilidade que também m orria e ressuscitava. Essa prática acrescenta uma heresia mesopotâmica às heresias ao estilo cananeu e egípcio já apresentadas nas duas cenas anteriores.
8.16. adoração ao Sol. A evidência de culto ao Sol no antigo Israel parece estar ligada primordialmente ao reinado de Manassés. Os cavalos e carros do Sol colocados no tem plo por esse rei foram destruídos por Josias quando tentou purificar o templo da influência religiosa estrangeira (ver o comentário em 2 Rs 23.11).
O nom e de lugares com o Bete-Sem es, Ein-Sem es e monte H eres (Js 15.7; Jz 1.35) tam bém atesta a popularidade da adoração ao Sol. Talvez não seja coincidência que o capítulo data da época do equinócio do outono, quando o Sol estaria em um ângulo em que, ao nascer, brilharia diretam ente no tem plo. Em bora o Egito, Canaã e a Mesopotâmia, todos tivessem deu- ses-sol (Amom-Rá, Shemes e Sham ás respectivamente), é m ais provável que a atitude descrita neste versículo fosse a adoração sincretista de Yahw eh como um deus-sol. Essa seria a última das cenas que retratavam a adoração cananéia (v. 5), egípcia (v. 10 ,11), m esopotâmica (v. 14) e o culto sincretista de Yahw eh (v. 16).8.17. ram o perto do n ariz . Existe um a expressão acadiana (laban appi) que se refere a um gesto de humilhação usado para achegar-se com contrição diante da divindade e fazer um a petição. Quando esse ato é retratado na arte, o adorador tem a m ão posicionada na frente do nariz e da boca e, às vezes, segura um objeto cilíndrico na mão. Na lenda suméria intitulada Gilgamés na Terra dos Viventes, há evidências de que o que o adorador segura é um pequeno galho cortado de uma árvore. Isso sugere que em Ezequiel
as pessoas estão tentando demonstrar sua hum ilhação. D eve-se reconhecer, porém , que essas relações são bastante nebulosas e o significado pode ser algo completam ente diferente.9.2. seis hom ens com armas m ortais. Embora exista um paralelo óbvio entre essa visão de executores obedecendo ordens divinas e o "D estruidor" da narrativa da Páscoa (Êx 12.23), o tema de sete destruidores encontra um exemplo m elhor no texto neo-babilônico do século oitavo, M ito de Erra e Ishum. Nesse antigo poema, o deus Anu cria sete divindades (Sebitti, associadas à Plêiade) e as entrega a Erra para que lhe sirvam como "su as arm as ferozes". Esses seres impiedosos não poupam ninguém, m atando todos que se colocam em seu caminho, funcionando assim como instrumentos do caos e da violência. O poema, tal como a visão de Ezequiel, apresenta uma explicação religiosa para a destruição e a humilhação de uma importante cidade (Babilônia), m as aqui há apenas seis e não sete destruidores, sendo que o sétimo foi substituído por um escriba (ver o próximo comentário).9.2. anotador. O tema de um anotador divino aparece no épico de Gilgamés onde Belet-Seri se ajoelha diante de Ereshkigal (a rainha do m undo inferior na crença acadiana) e lê o nome dos mortais que morrerão. Mas o estojo de anotações carregado pelo hom em aqui evoca a im agem de Nabu, o deus dos escribas e o escriba dos deuses. N abu era um dos deuses babilônios m ais populares do período, como se constata por sua aparição em muitos nomes (p. ex., Nabucodonosor). Ele é aquele que m antém um registro do livro da vida, assim como o personagem do escriba faz aqui em Ezequiel.9.2. estojo de anotações. O escriba antigo geralmente carregava consigo um estojo que servia de apoio quando ele escrevia e também onde guardava suas canetas e frascos de tinta (geralmente um frasco de tinta preta e outro com tinta vermelha). Nessa passagem, o termo usado para o estojo incluía um a palavra emprestada do egípcio (qeset) que identificava o objeto como um tipo específico de apoio, com encaixes para as canetas e dois lugares côncavos para colocar tinta. Esses esto jos aparecem em inúm eras p inturas de túm ulos egípcios. A caneta era um bambu ou junco cortado em um ponto que podia servir como pincel ou como uma ponta, dependendo da forma da letra que seria desenhada. A tinta era feita de um a m istura de carbono e resina. A tinta vermelha continha também óxido de ferro para dar a cor necessária às assinaturas ou às linhas do rolo. Completando esse estojo havia um a faca para apontar as canetas (Jr 36.23).9.2. altar de bronze. O altar de bronze fazia parte dos m óveis do templo original criado por Salomão (ver o
comentário em 2 Cr 4.1). Ficava à frente do templo "entre o altar novo e o tem plo" e fora removido para a ala norte para abrir espaço ao altar idólatra erigido por Acaz (2 Rs 16.14).9.3. g lória do Sen h o r acim a do q u eru bim . Existe uma relação entre a "glória" de Deus e a arca da aliança desde as narrativas de Samuel (ver o comentário em 1 Sm 4 .3 ,4 ). Em Ezequiel, a presença de Deus está ligada à "g lória" - um a manifestação física que também se relaciona com a im agem apresentada da arca de D eus entronizada entre as asas do querubim (a respeito da iconografia da arca, ver o comentário em Êx 25.10-22).9.4. sinal n a testa. A ação do escriba remete a diversos paralelos. A m arca é a letra hebraica taw, a últim a letra do alfabeto hebraico, que era usada como assinatura em alguns períodos da história israelita (Jó 31.35). N a escrita usada durante a época do Antigo Testam ento essa letra tinha o formato de um X ou de um sinal de +. Pode representar a posse de Deus do remanescente do povo que m erecia sobreviver à destruição im inente (um sentim ento tam bém expresso no texto egípcio Visões de Neferti). A tradição judaica continuou a empregar esse sinal como marca dos justos nos Rolos do M ar M orto, em todo o período intertestam ental e nas tradições rabínicas. Certam ente, m arcar aqueles que sobreviveriam à ira de D eus é comparável ao sangue colocado nos batentes das portas durante o evento do Êxodo (Êx 12.11). A mesma m arca usada em Ezequiel antes era associada à marca de sangue nos um brais das portas durante a Páscoa, mas sua semelhança com uma cruz tornou essa relação impopular entre os rabinos na era pós-cristã.10.1. trono de safira (lápis-lazúli). A m enção ao trono de Deus é uma reiteração de 1.26. Pelo menos desde
os tempos romanos, com base nos escritos de Plínio, safira significava lápis-lazúli. Continuou a ser comum até o final do período medieval o emprego do termo safira para referir-se ao tom azul escuro do lápis-lazúli. A palavra safira vem do sânscrito e foi em prestada para o latim. O lápis-lazúli, um m ineral constituído de um silicato de sódio alum inífero, origina-se nas montanhas do Afeganistão. É uma pedra frágil e era usada em jóias, mosaicos e na decoração de móveis. Sua característica brilhante, uma qualidade desejável para fins decorativos, é o resultado de fragmentos de pirita m isturados à pedra. Em textos acadianos essa pedra era comum ente associada ao lugar de habitação do deus supremo.10.1. querubim . Ver o comentário em Êxodo 25.18-20 e 26.1-6 a respeito do querubim como elem ento de decoração no tabernáculo e na tampa da arca da aliança. N o tem plo de Jerusalém havia dois querubins
feitos de madeira de oliveira e revestidos de ouro (ver
1 Rs 6.23-28). O significado da iconografia em cada um desses casos reside na idéia da presença de Deus
sendo sustentada pelas asas do querubim. Pode ser
criado um paralelo representativo entre a íntim a relação de Deus e o querubim com a imagem dos deuses
cananeus e m esopotâm icos m ontando ou de pé no
dorso de animais (i.e., Baal m ontado em um touro)
nessas civilizações, denotando uma essência do que é a verdade bíblica. N o capítulo 1 esses seres não são
identificados como querubins, mas aqui são incluídos
nessa categoria. Isso é lógico, visto que os querubins
eram retratados com mais freqüência como guardiães da presença ou dos pertences divinos.
10.2. rodas. Ver o comentário em 1.15-18.
10.4. resplendor da glória do Senhor. Ver os comen
tários em Ezequiel 1.4 e 1.26-28 para uma discussão sobre a kabod ou "g lória" de Deus e como se compara
ao conceito do melammu, "brilho divino", que aparece na literatura m esopotâm ica. Para um a com paração
com textos religiosos acadianos e egípcios que tratam
do resplendor dos deuses e do perigo para humanos que viam essa luz d ivina, ver os com entários em Êxodo 13.21, 22 e 33.18-23.
10.9. berilo . Como em 1.16 a pedra semipreciosa men
cionada é tarshish. A maioria dos intérpretes a identi
fica com o berilo ou topázio, ambos capazes de refletir
a luz e dar um aspecto de brilho translúcido descrito nesse texto.
10.12. cheios de olhos. Ver o comentário em 1.15-18 a respeito das rodas "cheias de olhos".
10.14. quatro rostos. Ver o comentário em 1.6.
10.15. rio Q uebar. Ver o comentário em 1.1.10.18. im portância do pórtico. Os pórticos de entrada
tinham grande significado simbólico no m undo bíbli
co. Serviam como lugar de tribunais (Dt 22.20,21) e a área oficial onde atos de subm issão e culto podiam
acontecer (1 Sm 5.4; Ez 46.1, 2). Tam bém delim itavam o ponto de entrada e saída de uma casa ou, como
em Ezequiel, o limite entre o espaço sagrado e o mundo secular.
10.19. porta oriental. Essa seria a porta do pátio exter
no do templo. Em bora a disposição do templo fosse no sentido leste-oeste, não fica claro até que ponto os
prédios e pátios do palácio real estavam ligados a esses recintos sagrados. É possível que a porta à qual
Ezequiel se refere nesse caso seja uma daquelas que
fazia a conexão entre templo e palácio. Se for esse o caso, então seu significado é am pliado pelo fato de
Yahw eh se preparar para abandonar ao seu próprio
destino tanto a comunidade religiosa quanto as auto
ridades seculares.
11.1. líderes. Todos esses nomes aparecem em selos do período, mas com exceção de Pelatias, é improvável que os selos tenham relação com os indivíduos
mencionados neste versículo. O selo de Pelatias provavelm ente se refere a esse indivíduo, mas não se pode afirm ar com certeza. Para m ais inform ações a respeito de selos com nomes gravados, ver a nota em Jerem ias 32.11.3, 7 ,1 1 . m etáfora da panela e da carne. Ezequiel refuta a afirmação dos novos governantes de Jerusalém de que teriam criado um lugar seguro na cidade para o povo. Ele apresenta exatam ente o contrário, transformando a panela (Jerusalém) de um jarro hermeticam ente selado em um a panela em que o povo (ver M q 3.3) e seus falsos governantes seriam cozidos no fogo da ira de Yahw eh (compare com Ez 22.18-22).11.18. im agens e íd olos. V er os com entários sobre imagens em 8.5 e 8.10.11.19. coração de pedra. O conceito de um coração de pedra tem diversas associações no mundo antigo, principalmente no Egito. Em primeiro lugar, segundo a crença egípcia, após a morte, o coração do indivíduo era pesado numa balança diante de um tribunal para determinar se tal pessoa obteria ou não a vida etem a. O resultado podia ser desastroso, caso suas culpas e pecados desequilibrassem a balança (ver o comentário em Êx 8.11). Um coração de pedra era um coração pesado. Mais importante é a imagem relacionada ao processo de mumificação. A partir do período do Novo Reinado em diante, o coração (bem como outros órgãos importantes) era removido da m úm ia e depositado em um vaso canópico. Isso era feito porque os egípcios acreditavam que o coração podia trair o indivíduo quando estivesse no julgam ento, ameaçando e colocando em risco sua vida no além. O coração era substituído por um a pedra esculpida na forma de um besouro. No Egito, esse inseto era o símbolo da vida etem a. Ao transplantá-lo no interior da m úm ia, no lugar do coração, os egípcios acreditavam que estariam assegurando a renovação da vida e da vitalidade da pessoa. Em contraste, Yahw eh traria seu povo à vida dando-lhes corações de carne que não os enganariam. A im agem de um coração amolecido se encaixaria ao contexto dos versos 17-20 que sugerem um novo êxodo e um a nova aliança.11.23. m on te à leste da cid ad e. O m onte à leste do templo seria o m onte das Oliveiras. Dali era possível olhar lá embaixo e ver o templo e a cidade. Estando em um ponto de visão privilegiada em Jerusalém, o monte seria o limite mais distante que podia se observar a leste. A implicação dessa imagem é que Deus se assentaria fora da cidade e assistiria à sua ruína (compare com Jn 4.5) ou que seria dali que ele voltaria ao céu (é o local
considerado tradicionalmente como o monte da ascensão de Cristo, embora haja poucos dados no Novo Testam ento para sustentar essa hipótese).
12.1-28O exílio simbolizado12.5. fazer um buraco no m uro. Como ilustram os relevos assírios, uma série de medidas era usada para penetrar as defesas de um a cidade sitiada. Dentre essas m edidas estavam a perfuração dos m uros da cidade ou a escavação de túneis que abalavam seus alicerces. Visto que Ezequiel estava cavando de fora para dentro, desem penhou o papel dos babilônios que estavam trabalhando sob o com ando de Deus para invadir a cidade.12.6. cobrir o rosto. H á contextos que descrevem o rosto sendo coberto por causa de luto ou vergonha, m as nesses casos um verbo diferente é usado. E provável que cobrir o rosto aqui simbolize o destino que o rei teria, encenado por Ezequiel (v. 12 ,13).12.6. sinal para a nação de Israel. A profecia encenada de Ezequiel era o sinal de D eus da destruição im inente de Jerusalém e do exílio do povo. Ao encenar essa seqüência d ê ações, Ezequiel encarnou a
m ensagem . M uitas vezes os sinais iam m ais além , um a vez que a própria vida do profeta passava a ser um sinal (ver Is 8.18; Jr 16.2; Os 1).12 .10 . p rín c ip e de Je ru sa lé m . N a ép oca em que Ezequiel profetizava, Zedequias era o governante de Jerusalém. Ele era o terceiro filho de Josias a ocupar o trono, em bora seu poder de governar estivesse bastante limitado e sob a supervisão de Nabucodonosor (ver 2 Rs 24.15-17). O fato de Ezequiel referir-se a Zedequias como "príncipe" (hebraico nasi') enão como "re i" (hebraico melek) é um indício de que ele não o considerava como genuíno sucessor de Davi.
12.13. rede, laço. A imagem de uma divindade prendendo os inimigos em um a rede era comum na arte do antigo Oriente Próximo. A m ais evidente é a Esteia dos A butres, que ilustra o deus sum ério N ingirsu segurando em sua mão esquerda um a rede trançada com fios de junco. Presos nessa rede estão os soldados de Um m a que haviam atacado Eannatum , o rei de Lagash. A arte egípcia do reinado de Neco II retrata o faraó recolhendo seus inimigos em um a enorme rede (ver H c 1.14, 15).12.13. terra dos caldeus. Os caldeus são mencionados pela prim eira vez em fontes mesopotâmicas do nono século a.C.. Em bora etnicam ente relacionadas a outras tribos araméias do sul da Babilônia, tinham uma estrutura tribal distinta. Assim que o Império Assírio começou a se enfraquecer, líderes caldeus, inclusive N abopolassar e N abucodonosor, conquistaram sua
in d ep e n d ên cia e es ta b e le ce ra m a d in a stia n eo-
babilônica após 625 a.C.. As áreas que controlavam e onde fixaram os exilados de Judá estendiam -se por
todo o sul da M esopotâmia até a região oeste de Harã,
nos limites mais altos do rio Eufrates.
12.13. ele não a verá e a li morrerá. Essa afirmação se cumpriu quando o rei Zedequias teve seus olhos fura
dos após a captura de Jerusalém, pelas tropas de Nabu-
codonosor. Embora tenha sido levado ao exílio e te
nha passado o resto de sua vida como prisioneiro, após ser forçado a testem unhar a execução de seus
filhos, Zedequias foi privado de sua visão (ver 1 Rs
25.7). A prática de furar os olhos de prisioneiros aparece nos Anais Assírios de Assumasirpal II, do nono
século e nos de Sargão II, do oitavo século. Essa era
um a das m uitas táticas de terror em pregadas para assustar e hum ilhar os inimigos.12.18. ansiedade enquanto come e b ebe. Visto que
comer e beber são as atividades mais básicas da vida
cotidiana, o ambiente à mesa com freqüência reflete
as condições vividas no momento. Durante a Páscoa, os israelitas tiveram de comer sua refeição "às pres
sas", como um reflexo de sua prontidão para deixar o Egito. A qui, a ansiedade e o desespero retratam a
ameaça sob a qual estavam vivendo.
12.24. adivinhações baju ladoras. A tarefa do adivi
nho era descobrir a vontade dos deuses através de diversos rituais - a análise das vísceras de ovelhas, a
consulta aos mortos (1 Sm 28.8) ou o estudo de confi
gurações astrológicas. Todas essas práticas eram proi
bidas pela lei israelita (ver o comentário em Dt 18.10
13) por causa de sua associação com deuses falsos e
falsas religiões. Naturalmente, um adivinho desejaria agradar seus clientes (que pagavam por seus servi
ços) e assim estaria inclinado a bajulá-los ou seduzi-los
com sua postura e afirmações (compare com Pv 26.2426). Essas predições não eram cabíveis e semelhantes
às condenadas por Jeremias (ver Jr 27 .9 ,10).
13.1-23A condenação dos falsos profetas13.10. muro frágil caiado. Ezequiel usa um a analogia
semelhante à de Jeremias em 6.14 e 8.11. Em ambos
os profetas a realidade é m ascarada e o povo se ilude acreditando que a ferida não é tão grave ou que o
muro é resistente. Isso reflete a tendência de esconder
problemas estruturais com soluções paliativas. Os códigos de lei mesopotâmicos também tratam de cons
trutores inescrupulosos e proprietários de casas que negligenciam consertos e reparos ou tentam esconder
um a obra m alfeita e sem segurança (ver as Leis de Esnuna e o Código de Hamurabi).
13.11. forças destrutivas de D eus. Os muros frágeis, cimentados com camadas de gesso, não poderiam resistir às forças da natureza enviadas por Deus. Como em Isaías 28.2 e 30.30, a chuva acompanhada de fortes ventos e granizo eram considerados a voz de Deus, trovejando uma resposta e acusação sobre Judá. Uma imagem semelhante encontra-se no texto sumério Lamento pela Destruição de Ur. Nessa declamação de desgraça, o poeta descreve como o deus Enlil reteve os ventos mansos que traziam a chuva necessária às plantações e em seu lugar enviou o siroco (vento do deserto) que evaporava toda a um idade da terra e trazia tempestades e ventos, destruindo prédios e assobiando pelas portas de cidades abandonadas.13.14. desnudar o alicerce. A ira de Deus é tão intensa
que o muro simbólico feito de profecias enganadoras será completamente arrasado e exposto até seu alicer
ce, mostrando do que é feito: de interesses e benefícios próprios, em vez da Palavra de Deus. Os alicerces geralmente eram feitos de diversas camadas de pedra depositadas em valas.
13.18. costurar berloqu es de fe itiços nos pulsos. Aprática descrita aqui não fica tão clara visto que o termo hebraico kesatot aparece somente neste capítulo (v. 18 e 20). É p ossível que esteja relacionado ao
acadiano kasitu , "m agia que prend e". Textos babilónicos de encantamento descrevem como as pessoas que queriam am arrar outras à sua vontade faziam faixas que usavam no pulso e as enfeitiçavam com um juram ento. Talvez essas falsas profetisas estivessem empregando algo semelhante ou talvez Ezequiel esteja simplesmente comparando a influência delas com uma prática conhecida na Babilônia.13.18. véus de vários com prim entos. Novamente, uma palavra acadiana, possivelmente sapahu ("soltar") pode ser a base para o item mencionado aqui. Se são um paralelo para as pulseiras mencionadas anteriormente, então os "v éus" talvez fossem usados em volta do pescoço, como outro adereço mágico para prender as pessoas à vontad e da m ulher. Certam ente, algum tipo de "am arra" era pretendido. Qualquer que seja o objeto m encionado neste versículo, geralmente se aceita que indica a presença de um tipo comum de bruxaria que tinha por objetivo controlar suas vítimas.
14.1-23A condenação dos idólatras14.1-3. autoridades foram consultar. Esses líderes atuavam como autoridades entre os exilados. Foram a Ezequiel como suplicantes em busca de conselho e de um oráculo. O gesto de assentar-se diante dele (a seus pés) indica seu papel com o m estre e porta-voz de Deus. Não é possível afirmar com certeza se sincera
m ente aceitavam sua autoridade ou sim plesm ente estavam curiosos acerca do que ele podia lhes transmitir como um a palavra vinda de Deus.
14.14. N oé, D aniel, Jó . Em bora Noé e Jó sejam facilmente identificados como sábios justos da antigüidade, parece im provável para m uitos intérpretes que Ezequiel incluísse nesse grupo um profeta contemporâneo, Daniel. Esse capítulo, porém, provavelmente date do final dos anos 590. Nessa época Daniel teria estado na Babilônia por quase quinze anos e estaria com quase trinta anos ou pouco m ais de trinta. Seu sucesso fora precoce (ver o com entário em D n 2.1), logo, ele estaria ocupando um alto posto na corte por um a década. N ão obstante, D aniel não se encaixa facilmente ao perfil dos outros dois. Primeiro, tanto Noé quanto Jó não eram israelitas. Noé viveu durante o dilúvio e antes de Abraão. Jó era de Uz, geralmente localizada ao redor de Edom. Um documento babilónico sapiencial que contém argumentos sobre sofrimentos semelhantes aos narrados no Livro de Jó sugere a existência de uma longa tradição para sua perso
nagem . Em busca de um a personagem fam osa na Antigüidade, alguns estudiosos consideraram a possibilidade de que o Daniel m encionado aqui se refira a Danilo, o sábio rei da antiga Ugarit, que foi o pai do
herói Aqhat. Tal como Débora (Jz 4.5), Danilo se assentava debaixo de uma árvore para ouvir as causas de seu povo, fazendo justiça a viúvas e órfãos. Uma vez que não é associado ao culto a Yahweh, porém, seria difícil visualizar Ezequiel colocando Danilo em um a posição tão elevada. Como no caso da m arca colocada sobre os inocentes, em Ezequiel 9, esses três grandes sábios, conhecidos por sua retidão, poderiam apenas salvar a si m esm os durante a catástrofe im i
nente. A implicação de que um determinado número de justos seria necessário para que a cidade fosse salva
da ira de Deus, (ver Gn 18.23-32; Jr 5.1), portanto, é desconsiderada, diante da violação da aliança praticada por Judá.14.15. anim ais selvagens como castigo. Na passagem dos versículos 15-20, D eus apresenta um a série de maneiras de castigar o povo de Judá por seus pecados, limpando assim a terra de sua impureza. Em relação a usar animais selvagens como instrumento da ira de Deus, ver o comentário em 5.17.
15.1-8 Analogia da vinha15.2-7. parábolas e m etáforas de vinhas. Assim como Isaías, na "canção da vinha" (Is 5.1-7), Ezequiel usa essa figura como metáfora para Judá (ver também Ez17.5-10). Em ambos os casos a inutilidade da videira é a justificativa para sua destruição. Uma imagem se
melhante aparece em uma obra egípcia sapiencial, a Instrução de Amenemope. AH também um a planta que serve com o m etáfora para os tolos que falam sem pensar é arrancada, queim ada e destruída porque rapidamente murcha e não tem valor após ser arrancada. A m etáfora de um a cidade como um a planta improdutiva encontra-se no M ito de Erra e Ishum (cópias conhecidas datam do oitavo século), em que Mar- duque lamenta pela Babilônia. Ele afirma tê-la enchido de sementes como uma pinha e tê-la cultivado como a um pom ar, m as nenhum fruto foi produzido, nem nunca provou de nenhuma de suas frutas.
16.1-63 A alegoria da Jerusalém infiel16.3. origem n a terra dos cananeus. As referências bíblicas a Jerusalém a descrevem originalmente como uma cidade dos jebuseus (Js 18.28). Davi a conquistou e transformou-a na capital israelita (2 Sm 5.6-10). A m enção a Jerusalém encontra-se tam bém em documentos de execração dos séculos dezenove e dezoito a.C., no Egito, e em textos de El A m am a (século catorze). Ao fazer essa identificação, Ezequiel tenta colocar de lado o orgulho que õ povo tinha de Jerusalém como sua cidade, à medida que Deus expõe a acusação contra Judá.
16.3. pai amorreu, m ãe hitita. Essa passagem funciona em dois níveis. Primeiro, é correto associar Jerusalém , pelo menos a cidade jebusita, a origens políticas
dos amorreus e hititas do norte da Síria. Essa relação é estabelecida a partir de sua menção nos textos de El Am am a. Porém, em um nível simbólico, ao confrontar Jerusalém com sua ascendência mista (conectando- a a três dos sete principais povos que habitavam Canaã, alistados em Êx 3.8), D eus identifica tanto a cidade quanto seus habitantes como extrem am ente corruptos. Quando a terra foi conquistada, era responsabilidade dos israelitas expurgá-la de suas tradições idó
latras (Dt 7.1-5), mas em vez disso o povo tornou-se exatam ente com o as nações que eles deveriam ter expulsado.16.4. tratam ento dado ao recém -nascido. Todas as ações descritas aqui norm alm ente eram atribuições da parteira. Ela cortava e am arrava o cordão umbilical, tirava vestígios da placenta do corpo do recém- nascido, limpava a pele do bebê com água salgada e finalm ente o enrolava em cobertas. A criança então era apresentada aos pais para receber o nome. Porém, nesse caso, a criança não é aceita como um m em bro da fam ília; ao contrário, é abandonada em um campo, onde seu destino é deixado nas m ãos de D eus. No m undo antigo, o papel da parteira no preparo do quarto onde se faria o parto e no cuidado com o recém-
nascido com freqüência era atribuído à divindade, especialmente em metáforas. Em um trecho do texto babilónico Épico de Atrahasis, a deusa da fertilidade
M ami é a parteira dos deuses que geram a hum anidade. No texto egípcio Hino a Áten, o deus-sol atua como parteira nas terras do Egito todas as manhãs. Os rituais das parteiras envolviam suprir as necessidades físicas da criança e tam bém fazer uma transferência simbólica do ventre para o mundo dos viventes.16.5. abandono de criança. Tanto fontes clássicas quanto antigas do antigo Oriente Próximo fazem menção ao infanticídio. Evidência dessa prática no período rom ano-bizantino foi encontrada em escavações recentes em Ascalom, onde foram encontrados os restos de centenas de infantes que haviam sido lançados em um cano de esgoto. O infanticídio geralm ente era em pregado como m eio de livrar-se de m eninas ou crianças com malformações. Isso era feito como um meio de controle de natalidade ou por necessidades econômicas, visto que muitos povoados mal conseguiam alimentar e cuidar de crianças e adultos saudáveis. O fato de que os pais da criança a "jogaram fora" em um cam po aberto, tem im plicações legais tam bém. Eles estão renunciando a quaisquer direitos legais sobre a criança e deixando para Deus e/ou outra pessoa "ad otar" e assim salvar a vida da criança. Dentre os exem plos dessa prática estão o abandono de M oisés no rio Nilo (embora nesse caso não foi um abandono de fato; sua irmã foi instruída a acompanhar e ver o que aconteceria; Êx 2.1-10) e o nascim ento legendário de Sargão, rei de Acade.16.8. cobrir a nudez com a capa. Esse era um gesto simbólico do marido mostrando que pretendia suprir as necessidades da esposa. Era confirmado m ais tarde por um juram ento (berit). Outro exemplo dessa prática é a atitude generosa de Boaz em cobrir Rute na eira, concordando em ser seu defensor e tutor diante das autoridades da aldeia (Rt 3.9).16.9. ungüentos. Como parte do ritual de casamento, havia um "d ia de banho" e unção que simbolizava a transferência do cuidado da jovem , que passava dos pais para o marido. Documentos da Antiga Babilônia confirm am essa cerim ônia, que tam bém pode ser o cerne da lei médio-assíria em que um homem derramava óleo sobre a cabeça da mulher que estava prestes a entrar para sua família. Esse gesto contrasta drasticamente com a falta de cuidado dispensada à criança em Ezequiel 16.4.16.10. vestido bordado. Dentre os presentes da noiva estava um tecido bordado para suas vestes. Apenas o tecido mais fino era bordado e era considerado uma recompensa nas guerras (Jz 5.30), bem como um item de luxo adequado para o comércio com outros países
(Ez 27.16). Em um nível m ais prático, o Código de Hamurabi e o Código de Lipit-Istar da Mesopotâmia alistam azeite, cereais e roupas com o itens que os maridos tinham de providenciar para suas esposas.16.10. sand álias de couro. Sandálias com uns eram feitas de fibras, presas com tiras de couro (Is 5.27). Um calçado feito inteiramente de couro era luxuoso e significava riqueza e poder. Sandálias finas de couro são rep resen tad as n os p ain éis de Sa lm an eser III, no Obelisco Negro (nono século a.C.) e em pinturas de parede da época do rei assírio Sargão II (721-705 a.C.).16.11, 12. jó ias. O conjunto completo de jóias providenciado pelo m arido consiste de m uitos tipos de jóias usadas regularmente para adornar o corpo e a cabeça da mulher (compare com um a lista mais completa em
Is 3.18-23). Assim como os presentes de noivado oferecidos a Rebeca (Gn 24.22), são mencionados bracele
tes, possivelmente com cabeças de animais em cada extremidade. A gargantilha podia ser um cordão de
contas ou argolas de m etal unidas (corrente) semelhante àquelas retratadas em relevos assírios ou nos marfins de Ninrode, ilustrando mulheres assírias da realeza. O pendente do nariz novamente acompanha
os adornos ao estilo de Rebeca (Gn 24.22) e os brincos provavelm ente eram argolas ovais introduzidas em orelhas furadas. O item mais impressionante é a coroa ou tiara de ouro que completava a aparência harm oniosa da m ulher de um governante e tem paralelos tanto na arte egípcia quanto na assíria.16.13. com ida fina. Assim como Yahw eh providen
ciara o alimento aos israelitas ao longo de sua história, agora, nessa metáfora do casamento, Yahweh, como noivo e marido, supre Jerusalém , a noiva e esposa, com a farinha, o mel e o azeite de m elhor qualidade. Esses produtos são alistados nos códigos de leis meso- potâmicos como os itens que a esposa devia receber diariamente para seu sustento diário. Nesse caso, porém , um a garantia especial é feita a fim de que ela receba os m elhores produtos para fazer pão - algo que seria usado contra ela, se oferecesse tais produtos a outros deuses (Ez 16.19).16.15. prostitu ição no m undo antigo. Na M esopotâmia antiga, é possível fazer uma distinção entre a prostituição comercial e o "serviço sexual sagrado" (como G. Lem er denomina). Em textos cuneiformes o term o harim tu é usado para am bas as práticas (por exemplo, é uma harimtu que "educa" Enkidu no épico de Gilgamés), embora haja uma diferença na posição social e no objetivo de cada uma. O serviço sexual sagrado oferecido no templo estava ligado ao ritual sagrado do casam ento que assegurava a fertilidade da terra. Havia diversos níveis de sacerdotisas, desde sumo sacerdotisas, que representavam a deusa Istar/
Inana, que recebia a "v isita" do deus M arduque todas as noites, até ordens enclausuradas e figuras m ais públicas como as naditu, que podiam ter propriedades, conduzir negócios e até se casar. O fato de que a
prostituição com ercial acontecia perto dos tem plos baseia-se nas mesmas considerações que levavam as prostitutas a freqüentar tavernas e a porta da cidade - eram áreas de tráfico intenso que significavam mais fregueses. Tanto as servas cultuais do templo quanto as prostitutas tinham de dedicar ofertas aos deuses. O que é particularmente incoerente a respeito da noiva Jerusalém é que, em vez de receber por seus serviços, era ela quem pagava a seus amantes, uma referência óbvia à idolatria e à rejeição da aliança com Yahweh. Para informações adicionais, ver o comentário em Deu- teronômio 23.17, 18.16.16. roupas para adornar altares idólatras. M ais uma vez o duplo sentido no texto refere-se tanto aos altares (bam ôt) onde o culto idólatra era realizado, quanto às camas das prostitutas, feitas sobre plataformas elevadas e enfeitadas de form a espalhafatosa. Igualmente, Isaías 57.7 descreve um a cama arrumada num a colina elevada onde sacrifícios eram oferecidos a ídolos. Provérbios 7 .1 6 ,1 7 alerta a respeito da cama da prostituta, coberta com tecidos coloridos e caros (compare com Ez 23.17) - linho fino de diversas cores como aqueles que Deus dera à noiva Jerusalém, em
Ezequiel 16.10.16.17. ídolos em form a de hom em . Textos sagrados mesopotâmicos contêm descrições exatas sobre a confecção da imagem de um deus. Havia rituais adicionais, inclusive a cerim ônia da "abertu ra da boca",
que dava vida à im agem para que se transformasse no recipiente do poder e da presença da divindade. Visto que se trata especificamente de um ídolo (masculino) em Ezequiel, é possível que esteja em mente uma réplica exata de um deus (geralmente com uma
coroa ou um a lança levantada). Porém , tam bém é possível que fosse um touro (compare com o bezerro de ouro em Êx 32.2-4) ou que um símbolo fálico tivesse sido criado. Usar metais preciosos para fazer um ídolo tam bém está presente na história de M ica em Juizes 17.4, 5.16.20. sacrifícios hum anos. Para uma discussão anterior a respeito do sacrifício de crianças a Moloque, ver os comentários em Levítico 18.21 e Deuteronômio 18.10. Neste caso, os filhos, presentes de Yahw eh como parte do pacto feito com os israelitas, estão sendo servidos como "com ida" aos ídolos que se tom aram os amantes
de Jerusalém. Isso segue a linha de raciocínio a respeito do tratamento dispensado à imagem, que começara
com sua confecção, somada à prática de vesti-la, ungi- la e finalmente alimentá-la. Todos esses rituais encon
tram paralelos m esopotâmicos na descrição dos cultos em seus templos, onde duas refeições por dia eram servidas às imagens dos deuses. Oferecer os filhos em sacrifício aos deuses, porém, era uma prática reconhecidamente fenícia e cananéia.16.24. construiu altares. Para demonstrar o desejo de desem penhar seu papel com o prostituta, Jerusalém construiu altares (hebraico geb) em lugares elevados. Talvez fossem representações estilizadas de camas das prostitutas (ver Pv 7 .16 ,17) que serviriam como "ta buletas com letreiros" das prostitutas, divulgando sua presença e seus serviços.16.24, 25. santuário em cada praça pública. O termo empregado aqui, ramâ, não é a palavra comum ente usada para santuário. Aparece em outros contextos como plataforma (1 Sm 22.6) e, tal como o termo géb,
pode sim plesm ente ter sido o sím bolo usado para divulgar a presença de uma prostituta naquele local. O fato de ser construído em uma praça pública simplesmente faz sentido por se tratar de um negócio. A m ulher desejaria o máximo possível de fluxo de pessoas a fim de garantir seu sucesso comercial. Aplicando a figura à metáfora da idolatria de Jerusalém, ela remete aos inúmeros altares e santuários erigidos por Salomão aos deuses de suas esposas estrangeiras (1 Rs
11.4-8). A respeito de santuários em todas as esquinas das ruas, ver o comentário em 2 Crônicas 28.24.16.27. redução do território. Quando as condições de
um tratado não eram cum pridas por um aliado ou vassalo, era prerrogativa do suserano tomar uma atitude punitiva. Por exemplo, quando Ezequias, rei de Judá, recusou-se a pagar os tributos anuais ao rei assírio, Senaqueribe (segundo consta em seus anais) reduziu o território de Ezequias e transferiu-o a outros reis vassalos. Nessa passagem, um duplo sentido está expresso no uso da palavra hoq para "território". Geralm ente o termo refere-se a um a porção regular de alim ento (Pv 30.8), m as aqui, em um contexto da aliança, significa o território considerado pela nação como sua possessão, mas que de fato é um presente de Deus.16.26-29. egípcios, assírios e Babilônia. Uma vez queEzequiel desenvolve o tema do m al proveniente do envolvim ento com nações estrangeiras, ele cita, em ordem cronológica, os países que haviam seduzido e afastado Judá de Yahw eh. Essas alianças posteriorm ente trouxeram ru ína à nação. Fo i em relação à política de m istura do Egito que Basaque (NVI "co mandante de cam po") repreendeu Ezequias em Isaías36.6. U m pouco m ais tarde, a aparente aliança de Zedequias com Psammeticus II atrairia os exércitos de
N abucodonosor que cercaram Jerusalém (ver o com entário em Jr 37.5-8). Os assírios haviam imposto
vassalagem a Judá, mas Acaz voluntariamente se submetera, até m esm o oferecendo assistência política e social à causa assíria (ver 2 Rs 16.3-9). Por último, na época de Ezequiel, o rei de Judá deu continuidade a um a longa relação com os caldeus, que começara no tempo de Ezequias, com os m ensageiros enviados por M erodaque-Baladã (2 Rs 20.12-19). A referência à "terra de comerciantes" pode ser a análise perspicaz de Ezequiel de que m ais um a vez Ju d á era um m ero fantoche no jogo econômico e político das potências do O riente Próximo.16.36. sangue dos filh o s. Essa é um a reiteração da acusação feita no versículo 20 contra Jerusalém, de ter sacrificado seus filhos nos altares a outros deuses. Como se observa no Salmo 106.38,39, essa prática era considerada não só um a abominação, mas tam bém o derramamento de "sangue inocente", um dos piores pecados possíveis (ver 2 Rs 21.16; Jr 26.15).16.45. pai amorreu, m ãe hitita. Ver o comentário em Ezequiel 16.3. A referência feita por Ezequiel é não apenas a esses povos cananeus, m as tam bém ao casamento misto que acontecera durante séculos entre eles e os israelitas.16.46. Sam aria e Sodoma. O alerta aqui é claro. Tanto Samaria, a capital de Israel, o reino do norte, quanto Sodoma haviam sido destruídas, tendo sido consideradas por Deus culpadas de corrupção (ver G n 19.1215 e 2 Rs 17.5-18). A referência a Samaria como a irmã "m ais velha" pode referir-se à sua importância relativa como capital das dez Tribos. Foi construída por Onri (1 Rs 16.24) no nono século e portanto era muito m ais "n o v a" até m esm o que a Jerusalém de Davi. Talvez D eus tenha escolhido Sodoma simplesmente por causa da tradição de sua destruição (Am 4.11). Com o cidade, é provável que tenha sido fundada antes de Jerusalém , m as provavelm ente era m enor em termos de tamanho, considerando-se a facilidade com que foi derrotada em Gênesis 14.8-11.16.57. Edom e filisteus. Considerando-se a aparente aliança entre os edomitas e os caldeus, na época do cerco a Jerusalém (ver SI 137.7), eles estariam em uma posição de regozijar-se com a desgraça e até mesmo saquear Judá, uma vez que os babilônios tinham conquistado a capital (ver o comentário em Jr 49.7). Durante o sétimo século, a Filístia oscilou entre oposição e aliança com os babilônios. Ascalom, por exemplo, foi saqueada e incendiada por Nabucodonosor em 604 a .C . De qualquer maneira, a conquista de Jerusalém em 597 e sua destruição em 587 teria sido o argumento usado por outras nações para repreender e zombar do povo de Jerusalém, considerando a cidade como a nova Sodoma e o exemplo da justa ira de Deus contra uma nação corrupta e desobediente.
17.1-24 Duas águias e uma videira17.1. a legorias e p arábo las no m undo an tigo . Asalegorias e parábolas eram um recurso retórico com um usado na narrativa de histórias antigas para explicar algo ou criar um a im agem que fosse m ais clara ou expressiva para o público. Isso acontecia especialmente na literatura sapiencial e em textos proféticos. Por exemplo, no texto egípcio do século 20 a.C. intitu lado A rgum ento Entre um H om em e Sua Ba, a alma de um hom em desacorçoado conta um a parábola sobre a m orte e seu caráter im previsível. Outro texto egípcio, Instrução de Ankhsheshonqy (oitavo século a.C.), utiliza uma casa vazia e uma m ulher solteira com o alegorias para o desperdício. A s Canções de A m or Egípcias (século treze a.C.) estão repletas de alegorias com parando os diversos atributos de uma m ulher bonita a um pântano viçoso e exuberante, a um botão de lótus e a flores de m andrágora. Nas visões proféticas do sábio egípcio Neferti (século vinte a.C.), ele descreve a invasão do Egito como marcada pelo ninho de um "pássaro estranho" no pântano e a aparência de rebanhos do deserto bebendo nas águas do Nilo. As imagens veiculadas por esses breves contos e jogos de palavras proporcionam diversão e ao mesmo tempo comunicam a idéia que o autor quer passar.
17.3. fábu las de anim ais e árvores. Dentre os tipos mais populares de fábulas encontram-se aquelas em que os animais falam (ver o comentário em N m 22.2831), as árvores dialogam ou ainda realizam alguma ação (ver o comentário em Jz 9.8). Existem diversos exemplos de fábulas na literatura do antigo Oriente Próximo. Um deles é o diálogo entre um arbusto de espinhos e um a romãzeira no texto assírio Palavras de A hiqar (oitavo século a.C.) quanto a seus méritos. No m aterial egípcio do século treze, A Lenda dos Dois Irmãos, a vaca do irmão m ais novo, Anubis, o alerta de que seu irmão invejoso Bata planejara matá-lo.17.4. terra de com erciantes. Ver Ezequiel 16.49 a respeito da referência anterior à "terra de comerciantes" como uma expressão equivalente a Babilônia. O rei Jeoaquim, talvez o "broto m ais alto" dessa alegoria, fora levado ao exílio em 597, ju ntam ente com sua corte real. A lista babilónica de rações m ostra que foram m antidos em prisão dom iciliar na cidade de Nipur.17.4. cidade de m ercadores. Em bora os fenícios sejam com mais freqüência associados ao comércio, seu papel de fato era m ais como "interm ediários", enquanto os banqueiros e m ercadores que forneciam as m ercadorias estavam estabelecidos nas cidades da Mesopotâmia (ver Is 23.8). Foi o im pério comercial dos caldeus que,
através dos em preendim entos m ilitares do rei, conseguiu absorver todo ramo de negócio sob seu controle. Esse tem a está p resen te em m u itos an ais m esopo- tâmicos em que um rei faz uma expedição "para o mar" e obtém controle dos "cedros do Líbano".
17 .6 , 7. p a rá b o la s da v in h a . V er o com en tário em Ezequiel 15.2-7. Os esforços iniciais do jardineiro em cuidar de sua vinha, plantando-a em solo fértil junto a água abundante, são recompensados por crescimento exuberante. Porém , ao surgir a segunda águia, a vinha parece rejeitar a atenção dispensada pelo ja rdineiro e perdeu seu propósito. Lançou suas raízes na direção da segunda ave, com o se estivesse em busca de outra fonte de água, em bora desnecessária. Essa incapacidad e em corresponder à exp ectativa torna essa parábola sem elhante à "C an ção da V inh a", em Isaías 5.1-7.17.12. deportação do rei e seus nobres. A interpretação da parábola da águia e da vinha é a tomada de Joaquim e sua corte como reféns por Nabucodonosor, após a conquista de Jerusalém, em 597 a.C. (2 Rs 24.617). Assim como a vinha bem cultivada, Joaquim é
tratado com dignidade, e as listas de ração dos registros oficiais de N abucodonosor com provam que ele era bem alimentado. Se o modelo de Darúel e de seus três amigos pudesse ser usado aqui, parece provável que Joaquim e seus conselheiros foram assimilados à cultura babilónica para que fossem posteriorm ente recolocados em Jerusalém a fim de servirem o rei como leais administradores (Dn 1.3-5).17.13. m em bro da fam ília real. Após conquistar Jerusalém em 597 a.C., a Crônica Babilónica registra que Nabucodonosor tom ou o rei Joaquim , filho de Jeoa- quim, como refém. Nabucodonosor em seguida colocou o tio de Joaquim , o terceiro filho de Josias, no trono de Judá. Seu nom e era originalmente M atanias, mas o rei babilônio o mudou para Zedequias, como um gesto demonstrando sua posição como títere (2 Rs 24.17).17.15. a rebelião de Zedequias e relações com o Egito. A pesar do exem plo de 597 e da deportação de Joaquim , Z edequias alim entava idéias de rebelião
contra os babilônios. Ele encontrou-se com enviados de Edom, M oabe, Amom, Tiro e Sidom no início de seu reinado (Jr 27.3) e aparentem ente tinha relações com o faraó Psammeticus II (ver o comentário em Jr 34.21). V er o com entário em Jerem ias 37.5-8 a respeito do movimento das tropas dos egípcios. O faraó A pries pelo m enos esboçou um a breve resposta ao pedido de ajuda de Zedequias, m as não evitou a queda de Jerusalém.17.17. rampas e obras de cerco. Embora o trecho preservado da Crônica Babilónica não contenha um a descrição do cerco a Jerusalém (ver 2 Rs 25.1), um a opera
ção semelhante é descrita nos Anais Assírios de Sena- queribe, de 701 a.C.. Pode-se supor que um longo cerco foi planejado, visto que se investiu bastante tempo e trabalho na construção de rampas e torres. Ver os comentários em Jerem ias 6.6 e Ezequiel 4.2 para informações a respeito da tecnologia de cercos.17.18. juram ento e tratado. O destino de Zedequias é atribuído à sua incapacidade de honrar seu juramento e cum prir as exigências do tratado. Os tratados firmados entre nações continham um a lista de maldições que recairiam sobre a parte que violasse o compromisso assumido. Esses tratados eram assinados sob juram ento às respectivas divindades. Dessa forma, se o tratado fosse rompido, era responsabilidade do próprio deus punir o violador.
17.22. p lantar um renovo de cedro. Assim como a prim eira grande águia arrancara o broto m ais alto do cedro, no versículo 4, agora Yahweh (identificado como a águia) tomaria um renovo tenro e o plantaria num monte alto. Seguindo essa linha de raciocínio, a casa davídica teria perm issão de continuar por meio da linhagem de Joaquim. Metáforas semelhantes para o renascimento da Casa de Davi encontram-se em Isaías11.1 e Jerem ias 23.5.17.23. árvore cósm ica onde anim ais encontram abrigo. O conceito da árvore cósm ica ou "a árvore" era comum em m uitos povos e tradições. A árvore cósmica era um a representação da beleza e da fertilidade; tirava sua seiva das águas da terra e providenciava
abrigo e alimento para todas as criaturas que se aninhavam em seus galhos. Em fontes do antigo Oriente Próxim o, sua sim etria e estabilidade servem como oposição à morte e como um a promessa da continuidade da existência. Por isso, na arte assíria existe uma árvore da vida estilizada que pode ter representado o papel do rei no cuidado por seu povo (ver o comentário em Dn 4.10-12).
18.1-32 Aquele que pecar morrerá18.5-9. confissão negativa do Livro dos M ortos. Visto que a alma ou ka dos egípcios mortos seria examinada por O síris, o deus do m undo inferior, foi elaborada um a cartilha que preparava a pessoa para essa "prova final", intitulada o Livro dos Mortos. Sua forma,
com freqüência, pintada ou esculpida nas paredes de túmulos, é originária dos primeiros períodos dinásticos (2500 a.C .), e continuou a ser m elhorada pelo menos até 500 a.C.. U m dos trechos mais conhecidos era um a declaração de inocência na form a de um a confissão negativa. Dentre os exemplos encontramos:
"não pequei contra m eu próxim o" e "não maltratei o gado". Um documento semelhante aparece em Jó 31.
18.6. com er nos santuários que há nos m ontes. Supõe-se que essa seja uma acusação de idolatria praticada em lugares elevados (bamôt). Porém, não há para
lelo na lei bíblica ou na lei do antigo Oriente Próximo que ajude a esclarecer essa prática. Pode ser comparada à dedicação dos filhos de Jerusalém como alimento aos deuses em 16.20 e à acusação de que o povo de Judá desejava "adorar em toda colina" que havia na terra. Um a condenação semelhante do uso de santuários nos montes encontra-se em Oséias 4.13.18.6. ídolos da nação de Israel. Parece que Ezequiel está usando uma expressão lugar com um cunhada durante o final da m onarquia ou talvez durante o exílio para referir-se à extrema impureza associada à adoração de ídolos. A terminologia que Ezequiel usa é intencionalmente vulgar e caracteriza os ídolos da form a m ais grosseira possível - são com parados a fezes ou a excremento.18.8. usura no antigo O riente Próximo. Em coerência com a lei bíblica, Ezequiel considera a prática de cobrar juros de empréstimos um ato de injustiça. Ver o comentário em Êxodo 22.25 para explicações adicionais sobre as práticas de empréstimo de dinheiro no antigo Oriente próximo e o comentário em Deutero- nômio 15.1-11 sobre o sistema financeiro que existia nessas áreas do mundo antigo.18.20. responsabilidade individual no antigo O riente Próxim o. Em bora a estrutura social do antigo Oriente Próximo fosse prim ordialm ente voltada para a coletividade (tribo,“clã, fam ília), existe um a parcela de responsabilidade individual em obras literárias e filosóficas. Dentre os exemplos disso está a afirmação do épico de Gilgamés. O deus mesopotâmico Ea repreende severamente o deus principal Enlil por provocar um grande dilúvio sem um motivo justo: "Sobre o pecador imponha seu pecado, sobre o transgressor, sua transgressão".18.31. coração novo, espírito novo. Ver o comentário em 11.19.
19.1-14Lamento pelos príncipes de Israel19.1. lam entos no antigo O riente Próximo. Os lam entos podiam ser afirmações pessoais de desespero, tais como as encontradas em Salmo 22.1-21, cantos fúnebres pela morte de uma pessoa im portante (elegia de D avi por Saul em 2 Sm 1.17-27) ou clam or com unitário em tem pos de crise, com o o Salm o 137. O lamento m ais famoso da antiga M esopotâm ia é o Lamento pela Destruição de Ur, que relembra a captura da cidade em 2004 a.C., pelo rei elamita Kindattu. Contém onze estrofes, cada um a descrevendo um aspecto da destruição da cidade e o fim da dinastia governante
(com pare com Lm 2.9). Subseqüentem ente, a obra teria sido empregada antes e durante a reconstrução dos m uros e dos prédios públicos da cidade. Para mais informações, consulte a nota de rodapé no Livro de Lamentações.19.1-9. caça ao leão, sim bolism o do leão. Devido às m uitas referências em textos israelitas (Is 5.29; Na2 .11,12), egípcios e assírios da associação de reis com leões, não é surpreendente ver Ezequiel empregando essa imagem. Existem inúmeros exemplos de caça a leões. Era um esporte praticado pela coroa e também uma necessidade quando um desses animais se tom ava um devorador de homens (como na placa assíria de A ssum asirpal II, do século nono, que ilustra um núbio sendo devorado) ou uma ameaça a povoados (como no texto de Mari, onde uma cova foi usada para apanhar o anim al). O sim bolism o desse "lam en to" refere-se a dois dos últim os reis de Judá (provavelm ente Jeoacaz e Jeoaquim ). Provavelm ente se trata de um trocadilho com a bênção de Jacó a seu filho Judá, em Gênesis 49.8-12, em que ele é descrito como um "leão novo".
19.10-14. analogia da vinha. Existe um forte paralelo entre esse sím bolo em Ezequiel e a "C anção da V inha" em Isaías 5.1-7. Em ambos os casos, a ira de Deus contra a vinha é resultado de expectativas frustradas. Nenhum a das plantas desempenhou seu papel devido. A vinha de Isaías produziu "frutas aze
das", enquanto a vinha de Ezequiel cresceu "e subiu m uito, sobressaindo à folhagem esp essa", m as não se faz quase nenhum a m enção a frutos. Toda sua energia fora investida em estender seus galhos mais e mais, um símbolo para a nação de Judá e seus reis (Jeoaquim e Zedequias). O destino é o m esm o para am bas as vinhas. A m bas são arrancadas não restando nenhum a raiz ou galho e se transform am em áreas desérticas e secas pela ação dos ventos. Ezequiel, dessa forma, apresenta a base do lamento pelo fim da independência da nação e a exclusão da aliança de Deus com a Casa de Davi. Ver o comentário em Ezequiel 15.2-7.
20.1-49Acusação, julgamento e restauração20.1. cronologia. Com base no ano em que Joaquim e sua corte foram levados ao exílio babilónico, essa data corresponderia ao dia 15 de agosto de 591 a.C.. É possível que se refira a 593, se a contagem for feita a partir do início do ano em que Joaquim tom ou-se rei em Jerusalém.20.1. con su lta através de um profeta. O s oráculos eram consultados em tempos difíceis. Na prática religiosa babilónica, a ocorrência de um presságio podia
levar alguém a consultar um profeta ou sacerdote em busca de uma interpretação. Um evento histórico também poderia levar a pessoa a buscar um a palavra vinda de Deus. Pode ser que os líderes de Israel esperavam dem onstrar sua confiança em Yahw eh com essa atitude. Entretanto, existe evidência também em Jerem ias de representantes do rei (Jr 21 .1 ,2 ) recorrendo ao profeta e virtualmente ordenando-lhe que proferisse um a palavra de salvação para Jerusalém. Não há indício no texto do que poderia ter motivado essa visita ao profeta. Visto que a fala de Ezequiel remete à situação no deserto e faz referência à história inicial de Israel no Egito, pode ser que um acordo potencial entre o faraó Psammeticus II e o rei Zedequias teria causado preocupação entre as autoridades israelitas. A cre d ita -se qu e P sa m m eticu s fe z p ro p o sta s a Zedequias em 592.20.5. ju rar com m ão erguida. Existem muitas referências na Bíblia quanto a fazer um juram ento com a m ão levantada para o céu (ver D t 32.40; D n 12.7). Ezequiel usa a expressão dez vezes, sendo Deus aquele que faz o juram ento com a m ão erguida. Dentre os exemplos
extrabíblicos desse gesto encontram -se os textos de M ari que fazem menção a "tocar a garganta" e uma
inscrição aram aica do oitavo século de Panam m u I, em que um a pessoa acusada recebe a ordem de jurar e erguer as mãos para a divindade.20.6. leite e m el. Essa descrição remonta às narrativas
do Êxodo e refere-se à exuberância da terra prometida, propícia para um estilo de vida pastoril, m as não
necessariamente para a agricultura. O leite é o produto dos rebanhos, enquanto o mel representa um recurso natural, provavelm ente o xarope da tâm ara e não mel de abelhas. Os textos egípcios antigos, como o da História de Sinuhe, descrevem a terra de Canaã como rica em recursos naturais e tam bém em produtos cultivados.20.12. sábado como sinal. Embora o sinal da participação do indivíduo na aliança fosse a circuncisão, o sinal coletivo da participação de Israel na aliança era a guarda do sábado. Assim como a circuncisão, a guarda do sábado era uma obrigação permanente exigida a cada geração. Ao contrário da circuncisão, não era um ato praticado uma única vez pelo indivíduo, mas uma atitude que devia ser m antida e expressada periodicam ente. Em vez de repetir a lógica dos dez mandamentos - o sábado devia ser celebrado em comemoração à criação de Deus - os sábados (o plural talvez signifique todos os dias de festas sagradas em Israel) são citados aqui para relembrar o povo de que eram escolhidos. Nenhum outro povo recebera esse sinal e, portanto, juntam ente com as leis se tom aram ao mesmo tempo uma dádiva e um símbolo da mem-
bresia na comunidade da aliança, conforme estabelecido em Êxodo 31.13.20.25. le is e decretos que não eram b on s. Os termos hebraicos usados aqui são extremamente importantes para uma compreensão correta desta afirmação controversa de Ezequiel. N ão se trata de uma referência à Lei entregue no Sinai, e a palavra "T o rá" não é usada. A palavra traduzida pela N VI como "decretos" é a m esm a do versículo 24, exceto que está no feminino (como de costum e) e no versícu lo 25 está no m asculino. O termo traduzido como "le is" pela NVI é a palavra para as decisões judiciais de Deus. A conseqüência da infidelidade de Israel, então, era que Deus decretara eventos que não lhes favoreciam, e tomara decisões judiciais que ameaçavam sua sobrevivência. Isso resultou no uso de forças que devastaram Israel, tais como guerra, fom e, pestes e exércitos estrangeiros.20.26. sacrifício do prim ogênito. Acom panhando o tema de Ezequiel sobre o poder indiscutível de Deus de controlar a criação, o decreto de sacrificar o filho
mais velho aqui alude à afirmação de Êxodo 13.2 de que todo primogênito, humano e animal, pertencia a Deus. Isso é demonstrado na décima praga do Egito (Êx 13.14-16), mas é amenizado ou "redim ido" através de um sacrifício (Êx 34.20) e do ato sacrificial da circuncisão (Gn 17.9-14; Êx 22.29). Na religião fenícia e cananéia, porém , o sacrifício do prim ogênito era um a prática comum (ver o comentário sobre "queim ar os filhos em sacrifício" como parte da adoração a M oloque em D t 18.10). M ais próxim o à época de Ezequiel, os reis Acaz e M anassés são acusados de oferecer seus filhos em sacrifício (2 Rs 16.3; 21.6). Uma vez que esses homens eram descendentes de Davi e participantes da "aliança eterna" com Yahw eh (2 Sm 23.5), guardiões da Lei e executores do decreto divino e civil, seus atos detestáveis poderiam facilmente se encaixar à im agem de "leis e decretos que não eram bons", de Ezequiel 20.25.20.28, 29. adoração ilícita . Ezequiel continua a contrastar a fidelidade de Deus em cumprir a promessa
contida na aliança dando aos israelitas "terra e filhos", com o uso indevido que os israelitas fizeram dessas dádivas vindas de Deus. Cada um a das quatro práticas de adoração alistadas aqui, com a exceção possível das ofertas de bebidas (libações), reflete atividades associadas ao culto a Yahweh. No entanto, são descritas como ilícitas porque claramente eram dedicadas a outros deuses, visando "a lim en tá-los", um aspecto bastante comum da religião mesopotâmica e cananéia. Em vez de oferecer sacrifícios que produzissem um "arom a agradável" (ver G n 8.21) e dem onstrassem
uma atitude correta em relação a Deus, essas ofertas estavam ligadas à crença de que os deuses precisa
vam de refeições regulares (presente nos deuses fa
mintos do épico de Gilgam és sobre o dilúvio). Ver os
com entários em Ezequiel 6.13 a respeito de outras condenações de práticas idólatras de adoração e do uso de montes e bosques sagrados.
20.32. servir à m adeira e à pedra. Os profetas regularm ente zom bam das outras nações e tam bém dos
israelitas por servirem a deuses feitos de metal, m a
deira e pedra (ver Jr 51.17, 18; Os 8.4). Arqueólogos
descobriram m oldes de pedra em que m etal derreti
do era derramado para confeccionar ídolos. Presume- se que essas imagens depois eram levadas à presença
dos deuses que representavam , e dedicadas através
de rituais como o encantamento da "abertura da boca",
encontrado em textos religiosos babilónicos.20.46. floresta do sul. O termo para sul ou terra do sul
usado aqui é Neguebe, geralm ente associado com a
região desértica do sul de Judá. N esse caso, Ezequiel
parece simplesmente estar usando o termo como um
ponto de referência (ver Ez 40.2; 46.9 para outros exemplos). Visto que a área do N eguebe não contém
florestas, a sugestão de que a "floresta" mencionada
aqui seja Jerusalém faz sentido.
21.1-32Babilônia, a espada do juízo divino21.3. exércitos inim igos como castigo divino. Desde
o final do terceiro milênio, a invasão de exércitos era
interpretada como ações intencionais de uma divin
dade padroeira que estava irada por causa do comportamento de seu povo (a invasão gutiana que pôs
fim ao império de Agade, na M aldição de Agade). Na
Mesopotâmia, essa teologia tradicional é representada tam bém na retórica de Ciro em relação à queda
dos babilônios que teria sido resultado do descontentamento de M arduque com Nabonido.21.18-20. estradas para R abá e Jerusalém . Os movi
m entos do exército babilónico são abordados nessa
ordem de desenhar um m apa na areia. Ezequiel traça
o m ovim ento das tropas até uma bifurcação, parecida
com a de Damasco, e dali a decisão tem de ser feita quanto a dividir o exército em dois grupos ou escolher
uma única direção e prosseguir. Conform e indicassem os presságios, seguiriam para o sul pela Estrada
do rei (Nm 20.17) até a capital am onita de Rabá (37
quilôm etros a leste do rio Jordão). Se os presságios fossem outros, virariam para o oeste pela região de
Golã, ao norte do m ar da Galiléia. O exército viajaria pelo sul até Bete-Seã, depois para o oeste, passando
pelo vale de Jezreel até M egido e dali para o sul, ao longo da estrada costeira. Ou pode ser que seguiria
por uma rota mais direta ao longo do rio Jordão, até
Jericó, antes de virar para o oeste na região m ontanhosa da Judéia para cercar Jerusalém.21.21. presságios em viagens. D ada a gravidade da situação, a decisão de N abucodonosor de buscar a orientação dos deuses é facilm ente com preendida. D iante da bifurcação da estrada, um ponto im portante para a ação divina (ver Jr 6.16), ele faz uso de
diversos meios de adivinhação, lançando sortes para determinar qual cidade inimiga (Rabá ou Jerusalém) deveria ser atacada primeiro. Cada técnica tem o objetivo de descobrir a vontade da divindade. Um paralelo notável aparece em um texto de M ari em que um a consulta é fe ita para determ inar qual de três rotas deveria ser seguida.21.21. sorte com flech as e exam e de fígado. Nabucodonosor faz uso da belomancia, sacudindo um punhado de flechas e depois escolhendo uma. Ele também consulta as imagens dos deuses da fam ília que trouxera junto com o exército. O texto aqui se refere aos terafins, que hoje são consideradas as imagens dos ancestrais e não imagens de divindades (ver o comentário em G n 31,19). E por último, ele ordena a seus sacerdotes adivinhos que exam inem o fígado de uma ovelha (hepatoscopia). Essa prática era tão comum
que modelos de fígado feitos de argila foram criados como recursos didáticos para a educação de aprendizes de sacerdotes.
21.22. aríetes, rampas e obras de cerco. Ver o comentário em Ezequiel 4.2 acerca do uso dessas máquinas e métodos de cerco.
21.26. turbante e coroa. Com base em descrições contidas em textos mesopotâmicos e representações artísticas nas paredes de palácios assírios, parece que a "coroa" do rei de fato era mais parecida com um turbante. U m tecido era enrolado várias vezes em volta da cabeça, tinha jóias incrustadas e ornam entos de ouro e era ricamente bordado com símbolos da m ajestad e do rei. Ao m andar que Z edequias re tire seu turbante, Ezequiel está ordenando ao rei que renuncie a seu principal símbolo de poder, visto que não mais m erece usá-lo.
21.28. am onitas. Assim como Judá, A m om estivera envolvido em atividades anti-Babilônia, provavelmente incitado pelos egípcios. O presságio mencionado em 21.20 levou Nabucodonosor a atacar primeiro Jerusalém , em vez de atacar Rabá, a capital amonita, atual Jebel Q al'a. Nos dias de hoje fica no m eio da atual cidade de Am ã, mas foi pesquisada e parcialmente escavada. A ocupação do local e suas redondezas remonta aos tempos paleolíticos. Embora ocasionalm ente estivessem sujeitos ao governo israelita (ver2 Sm 12.26-31), após a destruição de Jerusalém os amonitas tentaram expandir seu domínio para o nor
te. Josefo observa que cinco anos após a destruição de Jerusalém , no vigésim o terceiro ano do reinado de Nabucodonosor (582/581 a .C ), o rei babilônio fez campanha na Transjordânia, sujeitando M oabe e A m om a seu domínio. Visto que quase nenhuma das Crônicas Babilónicas foi preservada além de 594, não se pode confirmar esse dado.
22.1-31Os pecados de Jerusalém22.6-12. lista de crim es. A lista de acusações lida por Ezequiel condena o povo de Judá e seus líderes por uma série de crimes que violam os elementos básicos do Código de Santidade de Levítico 18-20. O s pecados vão desde não honrar aos pais até profanar o sábado e demonstrar diversos comportamentos lascivos. Listas como essa também se encontram no sermão de Jerem ias no templo (Jr 7.6-11) e na profecia de Amós contra a nação de Israel (Am 2.6-12). O tema da corrupção m oral e religiosa também está presente no texto egípcio do século vinte a.C., Disputa Entre um Homem e Sua Ba, que acusa "todos são ladrões, não há amor entre vizinhos... todos escolhem fazer o m al". M uitas ofensas semelhantes tam bém ocorrem em listas de rituais babilónicos de absolvição (shurpü).22.18. escória na fornalha. No processo de fundição, a prata era separada do chum bo e de outros m etais (cobre, estanho e ferro) através de um processo dividido em duas etapas. D urante a segunda etapa, após todos os vestígios de enxofre terem sido removidos, a prata era liqüefeita, enquanto a escória de chumbo flutuava na superfície e podia ser coada. A m etáfora de Ezequiel sugere que Judá teria de passar por uma profunda purificação (a experiência do exílio) a fim de que a escória representada por sua imoralidade, ausência de lei e rom pim ento da aliança fosse removida por meio da ardente ira de Deus (ver MI
3.14). Ver o comentário em Jerem ias 6.28.22.20. m etalurgia. O processo de fundição continua com D eus colocando na fornalha diversos metais, inclusive a prata que representa Judá. Para aum entar o nível de oxigênio e a temperatura do fogo, em vez de foles, o sopro divino é usado. O fato de que o ferreiro nem sempre usava foles pode ser visto em um a pintura egípcia que ilustra um metalúrgico soprando o ar no interior de uma fornalha através de um cano. A ssim como os exilados, cada metal, enquanto está na
fornalha, existe num estado interm ediário , sendo transformado, purificado ou fundido com outro metal. A fornalha aqui e em outros contextos portanto é o cadinho da mudança social e religiosa idealizada como veículo de Deus para purificar um a nação teimosa e desobediente. Para m ais informações sobre as forna
lhas desse período, ver o comentário em Daniel 3.6.22.28. visões fa lsas e adivinhações m entirosas. Como na condenação anterior dos falsos profetas (Ez 13.6-9), Ezequiel os acusa de inventar visões e revelações de adivinhação para seus próprios interesses. Jerem ias faz a m esma acusação a profetas que profetizam m entiras no nom e de Yahw eh (Jr 29.8, 9). V er o comentário em Ezequiel 13.10 para outro exemplo de profetas "caiando" a verdade com suas falsas afirmações. Os sacerdotes babilónicos baru eram responsáveis pela leitura de presságios, mas eram hum ilhados ou dispensados se fizessem um a falsa predição. Caso não cumprissem os procedimentos rituais adequados tam bém podiam ser acusados.
23.1-49As duas irmãs adúlteras23.3. prostituição no antigo O riente Próximo. Ver ocomentário em Ezequiel 16.15 para informações sobre a prostituição no m undo antigo. O com entário em Deuteronômio 23.17, 18 oferece uma descrição mais com pleta da prostituição cultual. A s referências de Ezequiel, porém, são à idolatria de Israel e de Judá, por terem tomado "am antes" (i.e., outros deuses) do Egito da Assíria (compare com a m etáfora do casamento de Oséias com sua esposa Gômer, em Os 1-3).23.3-5. referências histórias ao Egito e à A ssíria. As manobras políticas em busca de poder entre o Egito e a Assíria significavam que tanto Israel quanto Judá
tinham de m anter relações com essas potências. Os flertes condenados por Ezequiel eram reflexos de aco
modações políticas impostas a nações menores. Houve inúmeros contatos entre Israel, Judá e os faraós da 25a Dinastia do Egito, inclusive negociações diplomáticas e possíveis alianças (tais como a que temporariamente levou as tropas egípcias ao auxílio da Jerusalém sitiada, em 597). Evidência dos laços de Israel com a Assíria pode ser vista na ilustração de Jeú curvando-se diante de Salm aneser III, no Obelisco N egro, e na inscrição dos anais de Tiglate-Pileser III em que M enaém paga tributo. Judá tam bém teve de submeter-se ao poder assírio, como é possível constatar no grito de ajuda de Acaz durante a G uerra Siro- Efraimita (2 Rs 16.7-9) e no resgate pago por Ezequias ao exército de Senaqueribe (2 Rs 18.13-16). Além disso, a m aior parte dos m ais de cinqüenta anos do reinado de Manassés foi gasta em submissão aos suseranos assírios.23.6. vestidos de verm elho. Evidências arqueológicas têm demonstrado que um molusco marinho (Murex trunculus) era coletado em grandes quantidades na costa da Fenícia como fonte do precioso corante púrpura (ver Ez 27.7). Visto que era necessário um gran
de número de moluscos para extrair corante suficiente de suas glândulas hipobranquiais, a fim de que fosse viável comercialmente, o custo do corante era muito alto (para mais informações, ver o comentário em Nm4.6). Logo, o fato de esses oficiais m ilitares estarem usando roupas dessa cor é um indício de alta patente e ao mesmo tempo de riqueza.23.6. cavaleiros. As unidades de cavalaria eram empregadas pelos exércitos da A ssíria e da Babilônia (mencionadas nos anais assírios de Tukulti-Ninurta II, do nono século). Porém, o termo hebraico usado aqui é m ais sugestivo para condutores de carros, devido ao p ara le lo do term o acad iano (h ebraico p arasim e acadiano Parassannu). Observe a contribuição do rei Acabe com dois mil carros para a força que enfrentou o rei assírio Salm aneser III, na batalha de Qarqar, em 853 a.C..
23.14. hom ens desenhados num a parede. Uma dasmaneiras padronizadas de decorar paredes e portas de palácios mesopotâmicos era com figuras de soldados, reis e animais simbólicos (tais como os dragões da Porta de Istar da Babilônia). Por exemplo, o palácio assírio de N ínive tem preservadas cenas de guerra, caça e de figuras divinas e reais. M uito do que sabemos a respeito da aparência e vestim enta dos soldados e também de técnicas m ilitares e armas origina-se desses relevos. Em bora grande parte da pintura já tenha se esvaído, é evidente que essas figuras em algum momento tinham cores, eram vivas e vibrantes, em alguns casos eram de tamanho maior que o natural, e, sem dúvida, amedrontadoras para os povos dominados. Por associação é possível que tal poder tam bém fosse sedutor para os líderes de Judá, como Ezequiel sugere.23 .14 .15 . caldeus em verm elho. Infelizmente grande parte das pinturas de parede e relevos é assíria ou persa, nos deixando com pouca informação a respeito dos detalhes das vestes babilónicas. A partir dos desenhos que existem, esses homens deviam usar cinturões bordados e ornamentados (ver Is 5.27). Os soldados babilónicos são retratados com chapéus e turbantes com longas borlas na ponta.23.15. o ficia is responsáveis pelos carros. Os carros assírios e babilónicos geralmente transportavam três homens: um condutor, o comandante que empunhava arco e lança e um escudeiro, que tam bém dava as armas ao comandante, conforme se fazia necessário. O term o acadiano para esse indivíduo era salsu, e pode ser um cognato para a palavra hebraica salisim usada aqui (o radical hebraico dá algum indício de que existia algum a relação com "trê s"). Tem sido sugerida a alternativa de que o termo refere-se a um oficial do terceiro escalão ou patente.
23.15. Caldéia. Durante o sexto século a Babilônia foi governada por um a dinastia não nativa de caldeus. Eles haviam aparecido inicialm ente no nono século em áreas ao sul da Babilônia. Embora sua estrutura tribal fosse semelhante à dos arameus vizinhos, form avam um grupo distinto. N a época de Ezequiel, cham ar alguém de caldeu (kasàim ) era reconhecer a elevada posição daquela pessoa.23.23. Pecode, Soa e Coa. Em bora esses nomes étnicos refiram-se a aliados babilónicos que habitavam a região Trans-Tigre, também têm um significado que dá calafrios: "Castigo, Grito de Guerra e Grito Agudo". Pecode era um a tribo araméia (ver Jr 50.21) mencionada nos anais de Tiglate-Pileser III. Soa provavelmente se refere aos suti, que se destacaram como uma tribo difícil de adm inistrar pelos reis am orreus de Mari. Coa atualmente é desconhecida, embora alguns estudiosos a identifiquem com Guti.23.24. arm adura e equipam ento. Os condutores de carros de guerra, conform e retratados em relevos assírios, usavam capacetes pontudos ou turbantes e m alhas de ferro sobre a parte superior do tronco, e eram protegidos por escudos redondos. A infantaria, embora não tão fortem ente equipada devido à necessidade de m aior flexibilidade e velocidade, portava grandes escudos redondos. Sua farda era presa por um cinto cruzado e a cabeça era protegida com um capacete cônico. Cada guerreiro lutava com lanças, espadas, machados ou clavas (ver a lista da infantaria de Uzias, em 2 Cr 26.14).23.25. desfiguração do rosto. Embora não fosse raro que os conquistadores desfigurassem o rosto de alguns de seus cativos, tam bém é possível que a m etáfora do casamento se aplique aqui como castigo à infiel O olibá/Jerusalém . É provável que Ezequiel conhecesse o Código de Leis da M édio-Assíria ou alguma legislação semelhante relacionada aos direitos que o m arido tinha de castigar sua esposa. D e acordo com essas leis assírias, o marido podia cortar fora o nariz da esposa e m utilar a face da adúltera e transformar-se em eunuco.23.37. filh o s oferecidos em sacrifício aos íd olos. Arespeito dessa acusação de sacrifício humano, ver o comentário em 16.20.23.38. contam inar o santuário. O sacrifício de crianças, o derramamento de sangue inocente haviam contaminado as mãos do povo de Jerusalém e ainda assim tinham a audácia de fazer essas ofertas a outros deuses e entrar no santuário de Yahw eh (compare com Jr 7.9-11). A contaminação do santuário era uma acusação muito grave. Colocava em risco o indivíduo e a cidade (visto que ficavam à mercê de uma divindade ofendida), e, além disso, podia afastar a divindade dali. Ao levar sua im pureza ao santuário de
Yahw eh teriam contaminado o lugar sagrado, tornando impossível que a presença santa de Deus ali permanecesse (ver Ez 10).23.38. profanar os sábados. Ver o comentário em 20.12 a respeito do significado do sábado como um sinal da aliança. Assim como a violação do recinto sagrado do templo poderia resultar na perda da presença de Deus, a violação de datas sagradas poderia colocar em risco o equilíbrio mantido pela presença de Deus. O tem plo era o lugar onde Deus repousava; era um lugar de equilíbrio perfeito. O sábado era um dia reservado para que o povo espelhasse esse equilíbrio em suas vidas e refletisse na origem dele. A incapacidade de guardar o sábado significava ameaçar desfazer esse equilíbrio e caminhar em direção ao caos. A profanação desses dias e eventos sagrados violava o cerne do pacto da aliança e, como em qualquer tratado do antigo Oriente Próxim o, ativava a cláusula de maldição ou castigo.23.40. olhos pintados. Em todo o mundo antigo, as mulheres costumavam delinear e acentuar o formato dos olhos com um cosmético em pó (galena [preto] ou malaquita [verde]) misturado com óleo ou água (ver o comentário em 2 Rs 9.30). Fontes babilónicas mencionam a pintura dos olhos que incluía estíbio (trisulfeto de antimônio). Paletas ou estojos decorados eram usados para moer o minério e misturá-lo para aplicação. Esses estojos foram encontrados em muitas localidades da Idade do Ferro II em Israel, inclusive Megido.23.41. belo sofá. A Jerusalém adúltera é retratada de forma bastante semelhante à prostituta de Provérbios7.10-23. Ambas seduzem seus amantes com um sofá convidativo, incenso e palavras persuasivas. Antes do período helenístico, todas as referências a sofá são associadas a quartos de dormir (ver 2 Sm 4.7; SI 6.6) e não a salas de jantar.23.41. incenso e óleo sobre a m esa. A ntecipando a atividade sexual, a Jerusalém adúltera havia perfumado seus aposentos com incenso (ver Ct 1.3; 4.10) e tinha à mão óleos perfumados para o cabelo e o corpo (Et 2.12). Imagens semelhantes encontram-se nas canções de amor do Egito, descobertas por arqueólogos no templo de Carnac, em Luxor.23.42. sabeus. Não se sabe se o texto se refere ao grupo tribal árabe conhecido com o sabeus (ver Jó 1.14, 15; J1 3.8) ou aos líd eres em briagad os de pequenas tribos nômades; a questão principal é enfatizar a indignidade de um a adúltera cujos am antes são baderneiros e estrangeiros.
24.1-27 A panela24.1. cronologia. Com base no ano da ascensão de Zedequias (596 a.C.), a data do início do cerco a Je
rusalém pelo exército de Nabucodonosor seria 5 de janeiro de 587 a.C. (o décimo dia do décimo mês [tebet] do nono ano de Zedequias; essa data tem sido calculada também como 15 de janeiro de 588).24.3. panela. As panelas geralm ente eram vasilhas de cerâmica de boca larga, em bora nesse caso fosse um a panela de bronze (v. 11). Quando confeccionadas para uso no tem plo, as vasilhas eram feitas de prata ou ouro. D isponíveis em diversos tam anhos, podiam ser usadas sobre o fogo se colocadas sobre um a plataforma ou tripé de pedras como na narrativa de 2 Reis 4.38. Acerca do uso de um a panela como parte de um oráculo profético, ver a "panela fervendo" em Jeremias 1.13.24.6. panela e sorteio. Ezequiel provavelm ente está descrevendo o conteúdo da panela (os m elhores pedaços de carne, v. 4) e não a panela em si, como suja ou encardida. O sorteio seria feito para decidir que pedaços seriam reservados para uso especial (talvez como
dádivas ao templo). Mas nessa analogia, embora fossem os melhores pedaços de carne, tinham se estragado e não eram qualificados para o uso sagrado.24.7. derramar sangue. Por ser a essência da vida, o sangue não devia ser consumido pelos israelitas. Ver os comentários em Deuteronômio 12.16 e Levítico 17.11, 12. Aqui, porém, a questão não é o consumo do sangue, e sim a exposição dele. Quando o sangue de um animal era derramado, tinha de ser coberto com terra (Lv 17.13). O sangue exposto "pediria" vingança (Gn37.26).
24.10. tem peros. Em receitas babilónicas do século dezoito a.C. os tem peros para carnes e cozidos incluíam sal, cebola, alho-porro, hortelã e alho. Nesses preparados antigos, os cozinheiros acrescentavam sabores especiais com eiva-doce, coentro, com inho e endro. Considerando a natureza metafórica dessa refeição, a carne bem cozida pode até mesmo se referir a corpos sendo preparados com especiarias para o
sepultamento.24.10. carbonizar os ossos. A carne era tão bem cozida que se soltava dos ossos. Os ossos então eram quebrados para que o tutano se misturasse aos ingredientes e desse mais sabor ao ensopado. Quando isso era despejado, o que sobrava era virtualmente uma m assa inútil de pedaços carbonizados. Para serem jogados fora eram queimados tão completamente que literalm ente se dissolviam e podiam ser espalhados por
cima do monte de lixo (compare com Ez 22.15). Um trabalho completo de purificação ou destruição pode ser extraído dessa metáfora.24.17. atos de luto. Para outros exemplos de práticas de luto, ver os comentários em Levítico 19.28 e Deuteronôm io 14.1, 2. Assim como Jerem ias (Jr 16.5-7),
Ezequiel recebe a ordem de não envolver-se em expressões costumeiras de luto e pranto. N a verdade, ele deve vestir um turbante festivo e usar suas sandálias como se nada anormal tivesse acontecido.
25.1-7Profecia contra Amom25.1. profecias contra nações estrangeiras. Ver o com entário em Jeremias 46.1.25.2. am onitas no in íc io do sexto século. Em bora A m om se sentisse à vontade para zom bar de Jerusalém por causa do cerco e destruição sofridos (ver Ez 21.28) pelos israelitas, Nabucodonosor eventualmente conduziria suas forças contra esse reinado transjor- dânico. De acordo com Heródoto, a campanha contra Am om ocorreu em 582 a.C. e resultou na devastação
completa da área. A descoberta de impressões de selo que datam do período persa levantou a questão agora
se houve deportação significativa de sua população. Esses selos indicam um a continuidade da cultura amonita e de sua existência política até o quarto século a.C.. Ver o comentário em Jeremias 49.2.25.4. povo do oriente. Como em Jerem ias 49.28, esse grupo nômade é associado aos povos da região desértica de Midiã (ver Jz 6.3). Suas caravanas transportavam mercadorias de diversas nações da Transjordânia e da Palestina, e eram um alvo de exércitos invasores (Is11.14). Nesse caso, porém, esse povo tribal habitaria as terras dos amonitas. Isso remete ao texto egípcio Visões de N eferti que tam bém m enciona as "tribos do deserto" assentando-se em áreas anteriorm ente ocupadas.25.4. fru tas e le ite . A bênção-padrão dizia que alguém devia desfrutar do fruto de seu trabalho e de suas vinhas (SI 128.2; Is 3.10). Nesse caso, no entanto, o fruto do trabalho seria tomado por invasores (compare com Ez 23.29). Tanto os produtos agrícolas quanto a produção dos rebanhos seriam confiscados e toda a economia ficaria arrasada.25.5. Rabá. V er os com entários em Jerem ias 49.2 e Ezequiel 21.18-20.
25.8-11Profecia contra Moabe25.8. M oabe no início do sexto século. Moabe estava entre as nações representadas no encontro estratégico de Zedequias, em 597 a.C. (Jr 27.3). Embora aparentemente tenha sobrevivido e servido como um lugar de refúgio para os judeus que fugiram da destruição de Jerusalém , em 587, seu papel como perturbador potencial na região não foi esquecido. Josefo registra um a campanha posterior conduzida pelo rei babilônio em 582-581 para conter tanto Am om quanto Moabe. Não há evidências suficientes que demonstram o quan
to essa campanha foi eficaz de fato, mas, assim como Am om , Moabe provavelm ente sobreviveu para tornar-se parte do Império Persa no final do sexto século.25.9. cidades. Todas essas cidades compunham a linha ocidental de defesa de M oabe. Bete-Jesimote (Tell 'Azeim eh) ficava no vale de Sitim , ao norte do m ar Morto. Baal-Meom, mencionada na Esteia de Messa, geralm ente é identificada com Khirbet M a'in, cerca de seis quilômetros a sudoeste de M adaba e 21 quilôm etros a sudeste de Bete-Jesimote. Quiriataim tam bém é alistada na Esteia de M essa e provavelmente ficava no planalto moabita (Js 13.19). Foi identificada com diversas localidades, inclusive el-Qereiyat e Jalul, mas não há consenso acerca de sua localização.
25.12-14Profecia contra Edom25.12. Edom no in ício do sexto século. Edom aparentemente permaneceu neutro ou a favor da Babilônia
(SI 137.7) durante os conflitos que culminaram na destruição de Jerusalém. Jeremias 40.11 indica que Edom não aceitou refugiados judeus após 587 a.C.. Nabucodonosor aparentem ente não estendeu sua campanha na Transjordânia, em 582, até Edom , m as seu
sucessor Nabonido registrou em sua Crônica um cerco à cidade edomita de Bozra, em 552 a.C.. Escavações arqueológicas em Buseira e Tell el-Kheleifeh indicam sedimentos de destruição durante esse período seguidos por uma rápida reconstrução e retomada da atividade econômica ao longo da cadeia ao sul da Estrada do rei.
25.13. Tem ã e D edã. Para descrições dessas cidades, ver o comentário em Jeremias 49.7 e 49.8.
25.15-17Profecia contra a Filístia25.15. F ilístia n o in ício do sexto século. A omissão de cidades da Filístia na lista de nações representadas no encontro de Zedequias em 597 (Jr 27.3) sugere que essa área estava debaixo do forte controle dos babilônios naquela época. Essa região fora severam ente enfraquecida pelas campanhas do faraó Psammeticus I, no final do sétimo século, à medida que o controle assírio se enfraquecia ali (ver Jr 25.20; S f 2.4). Os filhos do rei de Ascalom são registrados na lista de rações da Babilônia que datam de 592, indicando que eram reféns. Quando os filisteus juntaram -se à revolta judaica de 588, Nabucodonosor os deportou e aparentemente os assentou perto de Nipur. No período persa, uma pequena parcela da população filistéia nativa permaneceu na Filístia.25.16. queretitas. Ezequiel cria um paralelismo poético entre os filisteus e os queretitas, embora ainda não
fique claro se esses dois povos de fato estavam relacionados étnica ou historicamente. Os queretitas são associados com freqüência à ilha de Creta, e parece que se transformaram em mercenários pouco depois de sua migração para a costa sul da Palestina, perto de Gaza (ver 1 Sm 30.14; 2 Sm 8.18).
26.1-28.19 Lamento e profecia contra Tiro26.3. Tiro no in ício do sexto século. Após a derrota do Egito em 605 a .C , Tiro era o principal inimigo da Babilônia no oeste da Ásia. Era a cidade m ais im portante da Fenícia e famosa por seu comércio marítimo. A fastada da costa aproxim adam ente 550 m etros, a cidade de Tiro e seu porto estavam protegidos de tudo, exceto de um cerco prolongado. As águas tam bém eram profundas o bastante para perm itir que navios com cargas pesadas se aproximassem e descarregassem seus carregamentos. Dedicada à atividade comercial, o abastecimento de comida e outros itens essenciais de Tiro eram fornecidos pela cidade irmã de Ushu. A s frotas de Tiro estabeleceram colônias, inclusive algumas em Chipre, em Cartago, cidade no norte da África, e ao redor do Mediterrâneo para ex
trair os recursos dessas áreas, especialmente metais, e para canalizar mercadorias entre o Mediterrâneo ori
ental e ocidental. Evidências arqueológicas de trabalhos fenícios em cerâmica e metais nessa região indi
cam a extensão e a longevidade das relações comerciais. Seus principais produtos de exportação incluíam o
cedro, tecidos e tinturas e vidro. De acordo com Josefo, Tiro e seu rei Etbaal III estiveram envolvidos em inúmeras coalizões e conspirações contra os babilônios.26.7. o cerco de N abu cod on osor a T iro . Segundo Josefo, o cerco babilónico a Tiro durou treze anos (c. 586-573 a.C.). Um texto babilónico afirma que Nabucodonosor esteve presente no cerco. Aparentemente o longo cerco terminou com um tratado estipulando que a casa real de Tiro seria deportada para a Babilônia. Em bora o rei de Tiro tivesse permissão de ficar, ele ficou sob o controle de um comissário babilônio. A resistência de Tiro foi inteiramente esgotada após esse longo cerco.
26.8. obras de cerco e rampa. O escritor tem um conhecimento íntimo das técnicas de cerco que envolviam a construção de aclives e ram pas ao redor dos m uros da cidade a ser sitiada. Existem amplas evidências de ram pas de cerco em relevos de paredes assírios e um a ram pa usada pelos assírios em sua bem-sucedida conquista de Láquis que foi desenterrada nessa fortaleza judaica. Tiro era especialm ente difícil de invadir porque grande parte da cidade ficava num a ilha afastada da costa.
26.8. arm ar b arreira de escud os. U m a barreira de escudos era armada em cima dos aríetes para proteger os atacantes quando essa estrutura se aproximava dos muros da cidade.26.9. aríetes. Aríetes eram ilustrados com freqüência pelos assírios como grandes estruturas de madeira com rodas usadas para derrubar as portas de uma cidade.26.10. cavalaria e carros de guerra usados pelos bab ilônios. Os caldeus eram famosos pelo uso de cavalaria e carros de guerra, uma herança dos assírios (ver o com entário em Jr 6.23). Os assírios com freqüência ilustravam carros puxados por cavalos em m eio a batalhas em seus relevos de parede.26.11. resistentes colunas. A s resistentes colunas provavelm ente são uma expressão simbólica para o fim da resistência. Porém, Heródoto menciona colunas de ouro e esmeralda que adornavam o templo de Heracles (Melqart) em Tiro. Relevos de paredes assírios ilustram duas colunas externas em um templo de Tiro.
27.3. posição de T iro com o cidade m ercantil. Tiro tinha dois importantes portos marítimos: um natural, ao norte, e um artificial, ao sul. N essa época, Tiro funcionava como um revendedor para o mundo mediterrâneo, levando e trazendo produtos de portos distantes por m ais de meio milênio.27.5. p inheiros de Senir. O tipo de árvore mencionado provavelm ente é da variedade dos juníperos, a sabina oriental. De acordo com Deuteronômio 3.9, o monte Senir era o nome amorreu do monte Hermom, na parte sul da cadeia Anti-Líbano, a leste do vale de Baca. Os assírios o chamavam de Saniru.27.5-7. m aterial para construção de navios. O material alistado aqui era de excelente qualidade no leste do M editerrâneo. Pinheiro e abeto eram preferidos pelos egípcios para mastros e vergas. Os remos de madeira alinhados dos dois lados dos birremes fenícios (barcos com duas fileiras de remos) eram feitos da madeira mais resistente. M arfim incrustado era importado de Quitiom, na ilha de Chifre. Diversos tipos de linho do Egito eram produtos muito procurados nessa região. Os corantes usados para os toldos eram os m ais caros.27.7. Elisá. A localização das ilhas de Elisá é incerta. Elisá era um dos filhos de Javã (Gn 10.4). O nome era aplicado a uma colônia de Tiro, fam osa por seus corantes. Elisá provavelmente é a Alashiya dos tabletes de A m am a, geralmente designada como Chipre. Sete tabletes de A m am a m encionam um rei de Alashiya que escreveu cartas aos monarcas egípcios no século treze a.C..27.8. Sidom e Arvade. Sidom e Arvade eram cidades fenícias que ficavam na costa do M editerrâneo, ao norte de Tiro. Arvade ficava 176 quilômetros ao nor
te, enquanto Sidom ficava a cerca de 40. Parece que nessa época eram subordinadas a Tiro. Ambas as cidades são mencionadas com freqüência nas cartas de A m am a e nos anais assírios.27.9. G ebal. Assim como Sidom e Arvade, Gebal (ou
Biblos) era um a cidade fenícia da costa mediterrânea, ao norte de Tiro, a cerca de 96 quilômetros. Aparentemente estava num a posição subordinada à sua vizinha do sul. Biblos foi um parceiro comercial do Egito no terceiro m ilênio a.C. e figurou com destaque nos textos de A m am a e nos anais assírios.27.10. os persas, os líd ios e os hom ens de Fute. Ao alistar a Pérsia, Lídia e Fute, Ezequiel queria dizer os povos que viviam nas partes m ais remotas do mundo conhecido de então. A Pérsia ficava no oeste do Irã e a Lídia no centro da Turquia, enquanto Fute pode ser um a referência aos líbios, a oeste do Egito.27.11. Arvade, H eleque e Gam ade. A cidade de A rvade já apareceu no versículo 8. Heleque (hebraico, "seu exército") não é confirmada em nenhuma outra passagem do Antigo Testam ento como um topónimo. No entanto, tem sido associada a Hilakku (Cilicia, no sudeste da Turquia) nos anais assírios. A localização de Gam ade é incerta, m as pode ser identificada com Q um idi, nos tabletes de A m am a, possivelm ente ao norte de Tiro, na costa mediterrânea.27.12. Társis. Társis era associada à indústria de metais. O s anais do rei assírio Esar-Hadom associam um lugar chamado Társis com Chipre e outras ilhas. Ha
via tam bém um a Tartessus m encionada em fontes clássicas como uma colônia ferúcia no oeste da Espanha.27.13. Javã, T u b al, M esequ e. Jav ã (ou Jônia) era a designação bíblica para a Grécia. Tubal (Taballu) era a designação assíria para um reinado no centro da Anatólia. Assim como Tubal, M eseque (Mushku) era alistado nos anais assírios como um reinado do centro da A natólia. A m bos tinham relações ru ins com a Assíria.27.14. Bete-Togarm a. É provável que Bete-Togarm a fosse a capital de Kammanu, um reinado do centro da Anatólia. Era citado em fontes hititas como Tegara- mara, e em fontes assírios como Til-Garimmu.27.15. Rodes. A menção a Rodes aqui é problemática nos primeiros m anuscritos do Antigo Testamento. Em outros aparece Danuna, uma região ao norte de Tiro m encionada nas cartas de Amar na.
27.16. Arã. Arã refere-se ao interior da Síria, desde a Alta M esopotâmia, no norte, até D amasco, no sul.27.17. M in ite . M inite era um a região am onita da Transjordânia mencionada em Juizes 11.33. Eusébio, o historiador da igreja do século quatro d.C., a identificou com a cidade de Maanite, a cerca de seis quilôm etros de Hesbom.
27.18. H elbom , Zaar. H elbom é identificada com a cidade assíria de Hilbinu, a atual Helbun, dezesseis quilômetros ao norte de Damasco. Zaar (ou Saar) provavelm ente era o deserto de es-Sahra, a noroeste de Damasco.27.19. gregos de U zal. U zal provavelm ente seja Iza- 11a, um a localidade no sopé das m ontanhas da Cilicia, na A natólia. Os gregos (ou jón icos) podem ter tido um a relação com a cidade, m as não há dados que a confirmem.
27.19. cássia e cálamo. A cidade de Damasco comercializava qiddu (provavelmente cássia), um perfume nativo m uito caro originário do leste da Ásia. O cálamo era um a erva aromática usada em perfumes, cosméticos, temperos e remédios. Esse tipo particular de cálamo provavelmente vinha da índia.
27.20. D edã. D edã era um oásis no centro da Arábia onde Tiro recebia suas vestes especiais de montaria. É identificado com a atual localidade de al-Ula, situada
na estrada do olíbano, desde o Iêmen até a Palestina.27.20. m antos de sela. O termo traduzido aqui como "m an tos de sela" provavelm ente deriva de um radical acadiano que se refere a "u m a cobertura para cavalos".
27.21. Quedar. Ver o comentário em Isaías 42.11.27.22. Sabá e Raam á. A respeito de Sabá, ver o com entário em Isaías 60.6. Raam á é citada no Antigo Testamento apenas em conexão a Sabá. Pode ser associada a Rgm t (não se sabe ao certo as vogais do nome antigo), um a cidade no distrito de Najran, no centro da Arábia.
27.23. Harã, Cane, Éden, Sabá, A ssur e Q uilm ade. Todas essas áreas ficavam ao norte e a leste de Tiro. Harã estava situada às margens do rio Balikh, na Alta
Mesopotâmia. Cane provavelmente é a Kannu assíria, cuja localização é desconhecida. Éden é Bit Adini, um estado aram eu a oeste do rio Balikh, na Síria. Assur era o nom e da antiga capital da Assíria, e tam bém o nome do principal deus da Assíria. Quilmade é desconhecido.
27.24. m ercadorias. A s m ercadorias alistadas aqui eram m uito raras e exóticas. M uitas das palavras são hapax legomena, ou seja, palavras que aparecem apenas neste contexto das Escrituras. Cognatos em acadiano ajudaram de certa forma a lançar luz ao significado desses termos. As "lindas roupas" eram algum tipo de vestes especialmente confeccionadas. Depois delas vinham tecidos ou capas azuis e bordadas. Em seguida, são m encionados tapetes m ulticoloridos com cordéis retorcidos.27.25. navios de Társis. Embora o versículo 12 denote um a região específica para Társis (i.e., Espanha), a designação "navios de Társis" parece simplesmente
implicar a procedência fenícia, semelhante ao que se encontra em Isaías 23.1-18. Portanto, podiam ser na
vios com destino a Társis.
28.2. governante de Tiro. O rei de Tiro nesse período era Etbaal III, em bora não haja nada nesta profecia
especificamente sobre ele. O texto afirma que o prín
cipe está exigindo ser equiparado à divindade padroeira de Tiro, M elqart, um fato não confirm ado na
literatura extrabíblica.
28.3. D aniel. Alguns estudiosos acreditam que esse Daniel na verdade seja Danei, uma personagem famo
sa do épico ugarítico de Keret. M as o Danei ugarítico não era conhecido particularm ente por sua grande
sabedoria. O D aniel bíblico provavelm ente era bem conhecido de Ezequiel devido a seus dons excepcionais.
Para mais informações, ver o comentário em 14.14.
28.12. lam ento. Existem inúmeros lamentos ou cantos
fúnebres no A ntigo Testam ento e na literatura do antigo Oriente Próximo. Com freqüência eram dirigi
dos a cidades ou nações, m as havia também lamentos
pela morte de indivíduos. Neste caso, o "lam ento" é
uma composição sarcástica da literatura de zombaria. Ver o comentário em 19.1.
28.12. m odelo da perfeição. Os epítetos reais assírios
incluíam títulos tais com o "hom em perfeito" e "rei
perfeito". O termo também era usado para atributos
divinos. Aqui, o rei é igualado a um modelo de selo
finamente entalhado (ver a nota de rodapé em Jr 32).
Com freqüência esses selos eram feitos de pedras se
mipreciosas e serviam ao m esm o tempo como uma marca de identidade e como um amuleto protetor.
28.13. lista de pedras preciosas. Em Êxodo 28.17-20 e
39.10-13 o peitoral do sum o sacerdote contém doze
pedras preciosas, muitas das quais são mencionadas
também aqui. Uma veste engastada com pedras pre
ciosas seria uma demonstração clara da grandeza do rei de Tiro, mas aqui não há indício de que se trate de um peitoral. Os reis às vezes usavam turbantes engas
tados com pedras preciosas. Peitorais enfeitados com
jóias também existiam no mundo antigo. A identificação de um a série das pedras mencionadas aqui é pro
blem ática. Por isso, as traduções atuais não entram
em acordo a respeito das nove pedras. A com alina é
preferível ao rubi; o topázio possivelmente é a olivina
amarelo-esverdeada chamada peridoto; a terceira não é diamante (NVI), e sim algum outro tipo de pedra
dura; a quarta provavelm ente seja algum a ped ra am arela (D. Block sugere o topázio dourado espa
nhol); para a quinta, ônix é a mais provável; a sexta é
considerada algum tipo de jaspe; a sétima é o lápis-
lazúli; a oitava é bastante incerta e a últim a é considerada pela maioria como a esmeralda.
28.14. querubim . O termo querubim aparece mais de noventa vezes no Antigo Testam ento em relação a criaturas celestes. Parece que são seres alados, e a variedade deles é enorme. H á exemplos de querubins com muitos rostos, com rosto bovino, eqüino e humano. São descritos de form a a corresponder a diversas formas de anim ais compostos ilustrados na arte do antigo O riente Próxim o, especialm ente da A ssíria. Por causa de suas características mistas de animais e seres humanos, eram símbolos aptos da presença divina, tanto em Israel como nas regiões vizinhas. Aqui, sem dúvida, é uma referência ao guardião da árvore da vida, de Gênesis 3.24 (ver o comentário ali). Igualar o príncipe de Tiro a um querubim sugere que aquele recebera a responsabilidade de cuidar da propriedade divina. Os recursos naturais dessa região, especialmente as florestas de cedro, eram muitas vezes considerados propriedade dos deuses em fontes mesopotâmicas (por exemplo, no Épico de Gilgamés). A rtefatos tam bém sustentam a figura apresentada aqui. O s querubins são retratados freqüentem ente em marfins entalhados desse período, e às vezes o rei
é retratado como um querubim. Os entalhes podiam ser engastados com jóias, e as decorações contêm ilustrações de flores e montanhas. Para mais informações sobre querubins, ver os comentários em 10.1 e Êxodo25.18-20.28.14. m onte santo. O conceito de montanhas sagradas era comum no m undo antigo. O pensamento do antigo Oriente Próximo, semelhante ao da conhecida m itologia grega, visualizava um monte como o lugar da m orada dos deuses. Segundo essa visão, havia pouca diferença entre o topo das montanhas e os céus. Na literatura ugarítica a casa de Baal figurava como o monte Zafom. Para os israelitas, as duas montanhas sagradas m ais im portantes eram o m onte Sinai e o m onte do Tem plo, em Jerusalém . Em bora não haja paralelo na maneira de pensar do antigo Oriente Próxim o, sugerindo a existência de um paraíso sobre uma montanha, o jardim do Éden funciona como um paraíso, principalm ente porque era o lugar da presença de Deus, um Santo dos Santos cósmico. O monte santo portanto é bastante apropriado como um paralelo para Éden, visto que ambos dizem respeito à presença de D eus. Em Ezequiel 31.16, as florestas do Líbano e o jardim do Éden novamente são associados.28.14. pedras fulgurantes. Existem inúmeras relações possíveis que serviriam como explicação para essas "pedras fulgurantes". N a esfera da iconografia as pedras eram representadas como ornamentos em algumas peças de marfim (ver o comentário acima a respeito de "querubim "). N a m itologia, deve-se observar que há um palácio de pedras preciosas fundidas,
descrito em textos ugaríticos. N as lendas, Gilgam és encontra em suas jornadas um bosque onde as árvores e os arbustos são cheios de pedras preciosas. Qualquer desses contextos poderia encaixar-se à imagem apresentada aqui pelo texto.28.16, 17. re lação com Satanás. D esde o in ício da história da igreja essa passagem tem sido tradicionalmente interpretada como um relato da queda de Satanás. Em bora esse m esm o tipo de interpretação de Isaías 14 tenha sido fervorosamente negado por exe
getas reconhecidos e respeitados, tais como João Cal- vino (que a ridicularizava com aspereza), ela persistiu até os tempos atuais. A partir do contexto, deve-se observar que Satanás nunca foi retratado como um querubim ou estando com o querubim no jardim , em nenhum a passagem da Escritura. A lém do m ais, a compreensão que Israel tinha de Satanás era muito m ais limitada do que a encontrada no Novo Testamento. M esm o em Jó, Satanás não é um nome próprio, m as uma função (ver o comentário em Jó 1.6). "Satan ás" só passa a ser identificado como o nom e próprio do chefe dos demônios a partir do segundo século a .C , e ele só assum e a posição de origem e causa de todo o mal com o desenvolvimento da dou
trina cristã. Conseqüentemente, os israelitas não poderiam ter entendido essa passagem desta maneira, e nenhuma passagem do Novo Testamento oferece qualquer base que parta da interpretação israelita desse trecho. No contexto, é um a descrição metafórica da elevada posição de mordomo confiada ao príncipe de Tiro (tão im portante quanto o papel do querubim no jardim ). Em vez de tratar essa responsabilidade sagrada com reverência e respeito, ele a explorou v isando a seus próprios interesses - como se o querubim do jard im tivesse m ontado um a banca de frutas à beira da estrada. Portanto, foi deposto de sua função, desobrigado de sua responsabilidade e hum ilhado publicam ente.28.18. santuários profanados. Em Ezequiel, o templo de Israe l é pro fan ad o qu an d o é saqu ead o p elos babilônios (Ez 7.21, 22). Algo também pode ser "p ro fanado" quando não é tratado como santo. Visto que é im provável que Ezequiel considerasse os santuários de Tiro como santos, é m ais provável que nesta passagem o príncipe esteja sendo acusado de pilhar tesouros de santuários ou apropriar-se de forma indevida do dinheiro do templo.
28.20-26Profecia contra Sidom28.21. S id om n o in íc io do sexto sécu lo . A grande cidade com ercial de Sidom fora derrotada pelo rei assírio Senaqueribe, em 701 a.C., que depôs o rei Luli
por ter aderido a um a coalizão anti-A ssíria. Sob o governo de A bdim ilikutti, Sidom novam ente se rebelou contra Esar-Hadom, rei da Assíria, em 677 a.C.. A cidade foi destruída até seus alicerces e seu rei foi decapitado. Os assírios reconstruíram a cidade, deram-lhe o nome de Kar-Asarhaddon, e ela tom ou-se o centro da adm inistração assíria naqu ela área. Em Jerem ias 27.3 enviados de Sidom estavam incluídos entre os conspiradores que se reuniram em Jerusalém em 594. Poucos anos m ais tarde, Sidom foi forçada a subm eter-se a N abucodonosor, rei da Babilônia, e muitos de seu povo foram deportados. Não há relato dos detalhes, m as alguns exilados de Sidom aparecem na cidade de Uruk, na Babilônia desse período. Heródoto relata que em 588 os egípcios lutaram con
tra Sidom num a tentativa de obter controle da costa fenícia, m as é provável que Sidom já fosse um vassalo babilônio nessa época.
29.1-32.32Profecias e lamentos pelo Egito29.1. cronologia. Apesar de parecer ser um ano mais tarde (em relação à data apresentada em 24.1), foi concluído com freqüência pelos comentaristas que a notação em 24.1 não foi feita em concordância com um sistema de ano de ascensão (ver os comentários em 24.1; Jr 26.1 e Dn 2.1). Se estiver correto, essa profecia foi dada apenas dois dias após o início do cerco a Jerusalém. Essa alternativa é m ais provável, visto que a resposta dos egípcios ao cerco aconteceu naquele prim eiro verão.29.2. Egito no in íc io do sexto século. No início do sexto século a.C. o Egito estava sob o domínio da 26a Dinastia saíta. Com a queda da Assíria, o Egito tentou controlar o Levante como havia feito em séculos passados. Porém , Nabucodonosor, rei da Babilônia, conseguiu preencher a lacuna de poder na área, derrotando de form a decisiva o Egito na batalha de Carque- mis, em 605 a.C.. O faraó Psam m eticus II (595-589) passara grande parte de seu reinado tentando reconqu istar o território da Fenícia e da P alestin a que Nabucodonosor tomara de Neco II (610-596) em Car- quem is. Apries (Hofra) ascendeu ao trono em 589. Durante o início do verão do primeiro ano do cerco a Jerusalém , ele enviou um exército para a Palestina. Isso obrigou os babilônios a temporariamente suspender o cerco. O envio dessas tropas, m ais um a frota egípcia que navegou para Tiro e rapidamente assum iu o controle ali (mencionado pelo historiador grego Heródoto), forçou Nabucodonosor a recuar de Jerusalém. Os egípcios, porém, foram rapidamente derrotados (possivelmente perto de Gaza) e o cerco foi retomado no final do verão.
29.3. id en tid ad e do faraó . O m onarca reinante no Egito nessa época era Apries (Hofra), que governou de 589-570 a .C . Entretanto, é m ais provável que Eze- quiel esteja referindo-se à posição do faraó em geral, e não a um m onarca em particular.29.3. m onstro deitado em m eio a seus riachos. Acerca da metáfora do Egito como um monstro do caos, ver o comentário em Isaías 30.7. M ais concretam ente, a palavra usada aqui poderia facilmente ser usada em referência a um crocodilo. Provavelm ente haja elementos de ambos envolvidos aqui.29.4. m etáfora do peixe. O historiador grego H eró- doto descreveu o procedimento de captura de crocodilos no Nilo. O caçador preparava um anzol com isca de carne de porco, deixando-o flutuar no meio do rio. Nas m argens do rio, o caçador começava a bater em um porco vivo. Ao ouvir os gritos do porco, o crocodilo ia atrás do som, encontrando a isca com a carne, que engolia. N esse ínterim, o caçador puxava a linha, que havia fisgado o crocodilo.
29.6. m etáfora do bordão de ju nco . Se usado como um bastão ou uma bengala, em vez de oferecer suporte confiável, o junco se quebraria e provocaria dano físico. Os assírios afirmavam o mesmo a respeito do faraó, em Isaías 36.6. A abundância de junco no Egito fazia dessa imagem uma metáfora apropriada para a dependência no Egito. M ais especificamente, o faraó em punhava diversos cetros que representavam seu poder e sua posição. O cetro was era bifurcado na base e o cabo em cim a era entalhado na form a de um a cabeça de cachorro. O cetro heqa tinha o formato de um cajado de pastor. Embora esses cetros não fossem
geralm ente feitos de ju n co , d escobertas fe itas em túm ulos confirm aram que pelo menos em um caso um bastão de junco foi incluído entre as coisas do faraó.29.10. desde M igdol até Sevene. M igdol ("torre") era o nome de diversas bases m ilitares na fronteira nordeste do Egito. Em bora não possam os ter certeza a qual delas o texto aqui se refere, o termo demarca a fronteira nordeste do Egito. Sevene (atual Assuã) ficava ao norte da primeira catarata do Nilo, a tradicional fronteira sul do Egito (a fronteira de Cuxe/Núbia). Portanto, "desde M igdol até A ssuã" era um a expressão que designava a extensão completa do Egito.29 .11 ,12 . quarenta anos de desolação e exílio. Quarenta anos era o período em que um a geração florescia e desaparecia. Portanto, era um período de castigo n acion al tem p orário . Em um a inscrição m oabita, Messa, rei de M oabe, afirmava que Israel ocupara sua terra por quarenta anos. Existem evidências de N abu- codonosor conduzindo uma invasão ao Egito em seu trigésimo sétimo ano (568), m as não há informações
de que houve deportação da população. M ênfis foi capturada pelo rei persa Cambises em 525, e o faraó Psammeticus II foi levado cativo. O Egito então ficou sob o domínio persa durante a maior parte do Império Aquemênida, com um curto período de revolta e independência por volta de 460.29.14. alto Egito. O alto Egito (ou a terra de Patros) designava todo o Egito ao sul de Mênfis. Um a antiga tradição egípcia afirmava que a nação se originara no sul do alto Egito. Esar-Hadom, rei da Assíria, afirmava ser o rei de M usur (norte do Egito) e de Paturisi (Patros).29.14 ,15 . reino hum ilde. A expressão "o mais humilde dos reinos" parece denotar que o Egito seria relegado à posição de vassalo. Embora o texto não diga a que nação ele teria de sujeitar-se, o registro histórico é bastante claro. Conquistado por Cambises em 525, o Egito tom ou-se um vassalo persa pelos próximos duzentos anos.
29.17. cronologia. A data é 26 de abril de 571, um ou dois anos após o final do cerco de Tiro.29.18. o cerco de N abucodonosor a T iro . Ver o com entário em 26.7.
29.18. cabeça esfregada até não ficar cabelo algum e om bro esfolado. Os soldados de Nabucodonosor teriam cabeças calvas e ombros esfolados devido aos fardos colocados sobre eles a fim de construir rampas de
cerco e atacar a cidade de Tiro. Eram necessárias toneladas de terra para construir aclives até a altura dos muros. A lém disso, houve uma tentativa de construir um passadiço até a parte da cidade que ficava na ilha. A terra era carregada em cestos colocados na cabeça ou nos ombros dos soldados.29.18. nenhum a recom pensa. Os soldados geralmente recebiam despojos na forma de pessoas, animais e bens. Entretanto, Tiro conseguiu ser poupada da destruição ao render-se à Babilônia. Portanto, a cidade não foi saqueada.29.19. N abucodonosor e Eg ito . Era inevitável que Nabucodonosor em algum momento invadisse e tentasse conquistar o Egito. Os medos haviam unificado o território a leste do Tigre, efetivamente isolando a Babilônia do comércio direto com o oriente, e os egípcios, com seus aliados fenícios, estavam constantemente causando problemas políticos e comerciais no ocidente e ao longo das rotas comerciais árabes. U m cerco prolongado (de treze anos, segundo o historiador grego Menander, do quarto século) acuou Tiro e devastou grande parte da Fenícia (584-571). Três fontes fazem menção à invasão do Egito em 568 (um trecho fragmentado dos anais de Nabucodonosor, do trigési-
mo-sétimo ano de seu reinado, o historiador Heródoto e Ezequiel 29.19-21), porém nenhum detalhe é dado
além da descrição de vitórias contra tribos do deserto. É provável que algum as guarnições babilónicas te
nham sido instaladas nas fortalezas do Sinai após essa campanha.29.21. m etáfora do poder (chifre). Os chifres de um anim al eram considerados sím bolos de seu poder e portanto eram um a figura que representava força. M uitas das divindades da M esopotâmia eram ilustradas com chifres. Logo, fazer brotar um chifre (NVI: "farei crescer o poder") significa o retorno da força de Israel. Além disso, deve-se notar que as coroas de reis muitas vezes tam bém tinham chifres e um chifre podia portanto referir-se de form a mais específica a um rei (ver o comentário em D n 7.7).30.4. Egito relacionado à Etiópia (Cuxe). Cuxe, o país vizinho ao sul do Egito, conhecido como Núbia, tivera relações com os egípcios desde o início da história registrada. O Egito tivera fortes relações comerciais com Cuxe durante m uitos séculos e ocasionalmente conquistara a área. Por volta da m etade do oitavo século, porém, os cuxitas conquistaram o Egito e governaram essa terra por quase um século.30.5. g eo g ra fia . A s p rim eiras três áreas alistad as (Etiópia [Cuxe], Fute e Lude) também são mencionadas em Ezequiel 27.10. Cuxe (Núbia) fazia fronteira com o Egito ao sul; Fute (Líbia), a oeste. Lídia ficava ao norte, além do M editerrâneo e era um freqüente
aliado dos egípcios contra diversos inimigos do oriente. A A rábia podia ser um a referência à península árabe, a sudeste, mas não era com um essa palavra hebraica ser usada com esse sentido. Era usada com
mais freqüência para referir-se a uma miscelânea de grupos étnicos. Sabe-se que os egípcios durante esse período usaram m ercenários de todo o oeste da Ásia e do leste do M editerrâneo. Cube (NVI: Líbia) é uma área desconhecida, provavelm ente tam bém dentro da atual lib ia . A "terra da aliança" é um a referência a soldados de um país cujo nome não aparece, provavelm ente Ju dá, que tinha relações m ilitares com o Egito nessa época e provavelm ente forneceu tropas de mercenários, como todas essas outras terras. Jerem ias sabia da existência de um povoado ju deu no Egito (ver o comentário em Jr 44.1).30.6. desde M igdol até Sevene. Ver o comentário em29.10.30.9. m ensageiros a Cuxe, em navios. O termo aqui para "navios" (um empréstimo do egípcio) refere-se a barcos m ilitares e não a barcos de junco ou navios mercantes. N úbia achava que ter o Egito como uma zona receptora de impacto oferecia um a certa proteção contra qualquer das potências do oriente que pudessem emergir. Em bora o faraó Psamm eticus II tenha feito campanha contra Núbia, em 593, não é a um a ameaça
de ataque do Egito que esta passagem se refere. O rei persa Cambises invadiu N úbia em 525 que a partir dessa data passou a ser considerada parte do Império Persa. Os núbios serviram como mercenários no exército persa.30 .10 ,11. N abucodonosor e Egito. Ver o comentário em 29.19.30.12. vender a terra. No mundo antigo o conceito de
vender algo não enfatizava "ob ter dinheiro" como denota na economia atual. Ao contrário, a ênfase estava na transferência da posse. Em acadiano, a palavra para vender é a mesma palavra para dar. Rute 4.3-5 mostra essa m esm a flexibilidade no term o hebraico usado aqui também. Como resultado, não é pertinente perguntar o que Yahw eh estaria recebendo em troca. Não é essa a questão. Ele está transferindo a posse da terra do Egito para a Babilônia.30.13. im agens de M ênfis. Mênfis foi a residência real durante esse período e o centro do culto ao deus Ptah. Era a cidade onde os reis eram entronizados. Ptah era um a das poucas divindades que não tinha cabeça de animal. Era um a divindade criadora e padroeira das guildas dos artesãos.30.14. Patros. Trata-se de uma referência ao alto Egito; ver o comentário em 29.14.30.14. Zoã. Zoã (Tânis) era um a cidade no leste do delta do Nilo, um importante centro administrativo nos séculos oitavo e sétimo a.C..30.14. T ebas. Tebas (ou N o-Am on, em egípcio) era a principal cidade do alto Egito e fora a capital da nação por séculos durante o Novo Reinado. Era cercada por um a série espetacular de m onum entais recintos sagrados.30.15. Pelúsio. Sim era um a importante fortaleza na fronteira nordeste da região do D elta geralm ente identificada como Pelúsio. Ocupava uma posição estratégica na defesa do Egito contra os invasores do oeste da Ásia.30.17. H eliópolis. Á ven (grego, H eliópolis, "cidade do deus-sol") ficava no ponto m ais alto do delta do Nilo, bem ao norte da cidade do Cairo. Normalmente aparece em hebraico como O n (ver Gn 41.45, 50).30.17. B u bastis. P i-Beset (grego, Bubastis) era uma cidade no delta do Nilo. É a atual Tell Basta, localizada 56 quilômetros ao sul do Cairo na ramificação do Nilo próxim a a Tânis. Era a residência de Sheshonq (Sisaque), um poderoso m onarca da 22a Dinastia, no
século dez a.C..30.18. Tafnes. Tafnes era um posto avançado no Delta leste do N ilo, na fronteira com o Sinai. M ais tarde passou a ser conhecida como Dafne pelos gregos, que habitaram no posto avançado como mercenários por vo lta do sétim o século a.C .. O h istoriad or grego
H eródoto afirm a que D afne era um dos três postos avançados estabelecidos pelos egípcios para frear a invasão assíria. É possível que os israelitas que fugiram dos babilônios tenham parado ali no início do sexto século a.C..30.20. cronologia. A data é 29 de abril de 587 a.C., apenas alguns m eses após a data apresentada em 29.1. A interferência egípcia é im inente, m as Ezequiel alerta que não resultará em nada.30.21. o braço do faraó . N as Escrituras, o braço é sím bolo de poder agressivo, e, portanto, quebrar o braço significa tom ar o indivíduo em questão impotente (ver SI 10.15; 37.17). A im agem de um braço estendido ou mão poderosa é comum nas inscrições egípcias para descrever o poder do faraó. É usada nas narrativas do Êxodo para descrever o poder de Deus acima do faraó. N as cartas de Am arna do século catorze a.C., Abdi-Heba, o governador de Jerusalém, refere-se ao "forte braço do rei" como a base de sua nom eação ao governo. Igualmente, o hino a Osíris, da 18a D inastia, compara sua chegada à maioridade com a expressão "quando seu braço tom ou-se forte" e o Hino de Haremhab a Toth descreve o deus-lua guiando a barca divina pelos céus com seus "braços estendidos".30.23. d ispersar os eg ípcios. V er o com entário em29.11, 12.
31.1. cronologia. A data é 21 de junho de 587 a.C., quase dois meses após a data m encionada em 30.20.
V isto que não há inform ação segura concernente à data da interferência egípcia, é difícil relacionar essa profecia ao evento.31.2. identid ade do faraó. Como em 29.3, Ezequiel provavelm ente está se referindo à posição do faraó em geral. Hofra era o m onarca em exercício no ano 587 a.C. (ver a nota em 29.3).31.3-7. extensão, duração e poder da Assíria. O poder da nação assíria aumentou e diminuiu por quase três séculos (c. 900-612 a.C.). Em seu ápice a extensão geográfica de seu im pério era enorm e, estendendo-se do Irã, no leste, até o centro do Egito, centro da Anatólia e Chipre, no oeste. Cobria grande parte do deserto da Arábia, no sul, e estendia-se ao norte até a atuai A rmênia. Na época de Ezequiel, a Assíria saíra de cena recentem ente (cerca de vinte anos atrás), por isso,
servia como um a im agem perfeita de um a superpotência que fora reduzida a nada.
31.3-14. m etáfora da árvore. A árvore usada como m etáfora aqui é o cedro, um sím bolo de m ajestade bastante conhecido no antigo Oriente Próximo. Sua madeira era usada na construção de m uitos palácios e tem p los im p ortan tes. Os reis eg íp cios, assírios e babilônios todos relatam como cortaram os cedros do Líbano a fim de construir seus poderosos edifícios. O
mito de um a árvore cósmica também se encontra em textos mesopotâmicos. Suas raízes são alimentadas pelo grande oceano subterrâneo e o topo de seus galhos alcança as nuvens, de modo que une os céus, a terra e o m undo inferior. O re lato sum ério do Ép ico de Gilgam és contém o tema de um a grande árvore que oferece abrigo aos animais. A deusa suméria Inanna descobriu a árvore cósm ica sagrada às m argens do Eufrates e a transplantou em seu jardim sagrado, em Uruk (bíblica Ereque), para onde atraiu o m ítico Anzu (uma divindade-pássaro), uma serpente e Lilite (um demônio maligno). No M ito de Erra e Ishum, Marduque fala da árvore meshu cujas raízes atravessavam o oceano alcançando o mundo inferior e cujo topo ficava acima dos céus. Em contextos assírios, o tema da árvore sagrada tam bém é bem conhecido. Alguns a cha
m am de árvore da vida, e outros a associam com essa árvore universal. Com freqüência é ladeada por anim ais ou por figuras hum anas ou divinas. Um disco alado geralmente é localizado no centro, no topo da árvore. O rei é representado como a personificação hum ana dessa árvore. A árvore é considerada a representação da ordem divina no m undo, m as falta fundamentação textüàl para essa hipótese. Como é o caso com freqüência em Ezequiel, esse tema mítico é transformado em um a imagem política.31.8, 9. jard im de D eus. O jardim de Deus em Ezequiel é identificado como o Éden. Aqui, porém, não evoca a im agem de um lar utópico de onde os hum anos foram expulsos. Ao contrário do tema do paraíso na Bíblia, o jardim m esopotâmico dos deuses era a bela e protegida propriedade dos deuses que os humanos invadiam por sua conta e risco. Assim era a floresta de cedros à qual Gilgamés e seu companheiro Erikidu tiveram acesso quando derrotaram Huwawa, o guardião divinam ente nom eado para protegê-la. Esses jardins, tais como os jardins reais desse período, eram bosques que continham belas e exóticas árvores. Essa descrição também é apropriada para o Éden bíblico.
31.12. a queda da A ssíria. O Império Assírio atingiu seu ápice no início do sétimo século a.C., quando foi
bem-sucedido em conquistar o Egito. No entanto, uma grande guerra civil em 652-648 a.C. expôs a fragilidade ineren te da enorm e nação. A pós a devastação provocada pela guerra civil, a Assíria rapidamente se enfraqueceu. Por volta do final do reinado de Assur- banipal (em 631 ou 627 a .C ) todos os recursos econôm icos desapareceram de Nínive, a capital assíria. Em 626 a.C. os caldeus da Babilônia declararam sua independência. Dentro de catorze anos todas as principais cidades assírias foram destruídas, a m onarquia fugiu para Harran, na Síria, e o exército tom ou-se caótico.
Os assírios podem ter participado da batalha de Car- quem is contra N abucodonosor, m as nunca m ais se teve notícia deles novamente. Portanto, quarenta anos após a grande guerra civil, a Assíria fora relegada ao esquecim ento.31.16. com paração en tre o Éd en e o L íbano . Essa comparação aproxima o tema bíblico do Éden como propriedade protegida de Yahw eh do tem a m eso- potâmico da floresta de cedros como propriedade protegida dos deuses. Ver o comentário em 31.8, 9.31.18. incircuncisos. Há evidências de que sacerdotes e reis do Egito passavam por algum tipo de circuncisão. Em geral, os israelitas desprezavam os incircuncisos e possivelmente a realeza egípcia os encarava da m esma maneira. Desprezo pelos incircuncisos aparece tanto na prática egípcia quanto na israelita de
cortar fora o pêrús incircunciso dos inimigos.32.1. cronologia. A data é 3 de março de 585 a.C., poucos m eses após ter chegado a Ezequ iel o re lato da
queda de Jerusalém .32.2. m onstro nos mares. O monstro nesse caso não está no rio Nilo, m as "n os m ares". Essa referência provavelm ente diz respeito aos m onstros cósm icos destruídos por D eus (ver Is 51.9, 10; SI 74.13). Na Bíblia, bem como na literatura do antigo Oriente Próximo, o m ar e os monstros que ali vivem representam o caos e a desordem. O conflito físico óbvio entre o m ar e a terra, bem com o a energia aparentem ente inesgotável exibida pela fúria do m ar deu origem a mitos cósmicos no antigo Oriente Próximo. O épico da criação Enum a Elish, da B abilônia, descreve com o M arduque destrói Tiam at, enquanto essa deusa do caos aquático está na form a de um dragão. Grande parte do ciclo de histórias sobre Baal na lenda ugarítica envolve a luta de Baal contra seu rival Yamm, o deus do mar. Igualmente, no épico ugarítico, Anate e Baal afirmam ter derrotado Litã, o dragão de sete cabeças, tendo portanto conquistado o domínio sobre os mares. Em Salmo 104.26, Yahw eh é descrito brincando com o Leviatã e em Jó 41.1-11 Deus desafia Jó a mostrar seu controle sobre o Leviatã, como ele o faz. O reinado representado por essas feras, portanto, é associado às forças do caos que promovem desordem no mundo de Deus e precisam ser contidas (ver os comentários em D n 7).32.2. leão/ m onstro. O paralelo entre leão e monstro (dragão) parece estranho a nós, m as não era raro no mundo de Ezequiel. A famosa porta de Istar, na Babilônia, e o caminho que chegava até ela era feito de tijolos brilhantes que form avam im agens alternadas de leões e dragões. A lém disso, na tradição m itológica da Mesopotâmia era comum uma criatura composta que m isturava características de leão e de dragão. É
esse o caso de Labbu, no m ito de Labbu. D esde o
início do segundo milênio, os reis usavam a figura do
leão e do dragão juntas para descrever a si mesmos.
32.2. agitando e enlam eando as águas. Essa descrição indica um a cena mítica típica em que a agitação do
oceano cósmico perturba as criaturas (com freqüência
os monstros marinhos) que representam as forças do caos e da desordem. No texto Enuma Elish, o deus-céu,
Anu, cria os quatro ventos que agitam as profundezas
do abismo e sua deusa, Tiam at. Aqui, é o m onstro que agita o mar, com a ameaça de que o caos provoca
rá desordem no mundo.
32.3. capturar com a rede. Tanto no épico de Erra
como no Enuma Elish, a criatura que representa as
forças do caos (Anzu e Tiam at, respectivam ente) é capturada em um a rede.
32.4. aves e anim ais o devorarão. No mito de Labbu, Labbu é descrito como um monstro de oitenta quilô
metros de comprimento e quase dois de largura.
32.6. encharcar com sangue. No m ito de Labbu, o
sangue do monstro morto escorre por três anos e três meses.
32.7, 8. e fe ito s cósm icos. Esses efeitos cósm icos refletem a temática do mundo de cabeça para baixo, tão
conhecida no m undo antigo (ver o com entário em Jr
4.23-26). Além disso, atingem o cerne da religião egíp
cia, em que o deus-sol era a divindade mais importante.
32.11. espada do rei da Babilônia. Ver o comentário em 29.19.
32.14. riachos flu in d o como azeite. As águas barrentas se assentaram no fundo do rio e deram lugar a
águas claras que corriam suavem ente como azeite.
Expressão semelhante ("céus chovendo como azeite")
encontra-se em textos ugaríticos de Baal, m as ali, como em outras passagens bíblicas, evoca um a im agem de
prosperidade. N o contraste apresentado aqui, fluir como azeite significa tranqüilidade, e as águas estão
tão serenas porque a terra está deserta e desolada.
32.17. cronologia. A data é 17 de março de 585 a.C., duas semanas após a data mencionada em 32.1.
32.21, 22. A ssíria com seus m ortos no Sheol. As na
ções alistadas em 22-30 todas sofreram séria devastação. Ezequiel provavelmente tem em mente a derrota final e a destruição do Im pério A ssírio, no final do
sexto século a.C.. É provável que o exército assírio
tenha sido finalm ente destruído na batalha de Car- quemis, onde o Egito foi decisivamente derrotado por
Nabucodonosor, rei da Babilônia. Portanto, a imagem
mostra que o final da Assíria é no Sheol, a m orada dos mortos.32.24. Elão. Elão era uma im portante nação no sudo
estes do Irã (atual Cuzistão). Sua principal cidade era
Susa, que tinha uma história bastante antiga e é men
cionada em registros sum érios e proto-elam itas, do
início do terceiro m ilênio a.C. Elão foi devastado pelos
assírios no final do sétimo século a.C.. Foi invadido
por Nabucodonosor em 596 e tom ado pelos m edo-
persas m ais tarde no sexto século a.C..
32.26. M eseque e T ubal. No final do oitavo século,
esses dois reinados anatólios foram assolados por guer
ras internas, conquistados por Sargão II, rei da Assíria,
e invadidos pelos cimérios, do sul da Rússia. Infeliz
mente, pouco de sua história referente ao sétimo sécu
lo e início do sexto século foi preservada. Acredita-se
que tenham sido incorporados sob o domínio lídio,
após a conclusão das guerras cimérias. Na primavera
de 585, os lídios estavam em guerra com os medos
(ver a cronologia no v .l e o comentário em 38.1). São
m encionados novamente no período persa como iden
tidades étnicas distintas. Eram conhecidos pelos assírios
como Mushku (centro da Anatólia) e Tabal (leste da
Anatólia) e por Heródoto como os Moschi e os Tibarenoi
(estados submissos ao Império Persa). No final do oita
vo século, o rei de Mushku era Mita, conhecido pelos
gregos como Midas, o rei que transformava em ouro
tudo que tocava. Seu túm ulo foi id entificad o em
G oidion e escavado.
32.29. Edom. Edom era um reinado de fala semita,
v izinho de Judá, ao sul e leste do m ar M orto. No
oitavo século a.C. Edom sucum biu ao controle dos
assírios, como se observa nos anais de Tiglate-Pileser
III (745-727 a.C.) e continuou sob seu domínio até a
morte de Assurbanipal, um século m ais tarde. Du
rante esse período, os edomitas com freqüência eram
convocados para servir nos exércitos assírios e, por
isso, aparecem m uitas vezes nos anais. D urante o
período babilónico, Edom evidentemente ficou do lado
do grande império, em bora não haja registros extra-
bíblicos que confirmem isso. É provável que tenham
se submetido ao governo de Nabucodonosor em 605
a.C.. Em bora alguns refugiados ju deu s possam ter
encontrado abrigo em Edom, aparentemente esse rei
no perm aneceu indiferente enquanto Jerusalém era
tomada e destruída (ver SI 137.7 e Ob 11). A campa
nha babilónica contra Am om e Moabe em 594 parece
não ter afetado Edom. É provável que tenham perma
necido ilesos até a época da campanha de Nabonido,
em 552 a.C..
32.30. príncipes do norte. Os príncipes do norte pro
vavelm ente são os governantes ou xeiques arameus.
H avia um a série de reinos arameus hostis ao norte
de Israel/Judá, o maior deles centrado em Damasco.
32.30. sidônios. Ver o comentário em 28.21.
33.1-20 Ezequiel, a sentinela33.2-6. papel da sentinela . A sentinela ficava posicionada num lugar da cidade onde fosse possível ter a
visão m ais estratégica dos arredores e observava a
aproximação de qualquer exército inimigo. Ela dava o alerta através de palavras ou toques de trombeta.
Sua tarefa era simplesmente soar o alarme avisando que o inimigo estava se aproximando. Caso os mora
dores da cidade se recusassem a dar atenção a seus
avisos, a sentinela ficava isenta de culpa e responsabilidade. A sentinela aparece em todo o antigo Oriente
Próximo. O sentido espiritual usado aqui não se en
contra no antigo Oriente Próximo, mas é extraído (pro
vavelmente de Ezequiel) de documentos sectários dos Rolos do M ar M orto, onde o líder da comunidade está
à espreita do castigo de Deus.
33.3. s in al de trom beta. A trombeta aqui é o chifre
de carneiro, que tinha uma extensão limitada de notas musicais. O termo (hebraico shopar) provavelmen
te é relacionado ao acadiano shapparu, que, por sua
vez, é um em préstim o do sum ério e significa um
bode selvagem ou íbex. Essa. trom beta era im por
tante não apenas por seu uso na guerra (para proclam ar a v itória, anunciar a retirada do exército e
reunir as tropas para ataque), mas também nos ritos
cultuais de Israel (ver SI 81.4 e Lv 25.9). N a verda
de, é o instrum ento m usical m ais citado no Antigo
Testamento. Para mais inform ações, ver o comentário em Josué 6.4, 5.
33.7. profeta como sentinela. O retrato que Ezequiel
apresenta de si mesmo como um a sentinela profética
é sem elhante à responsabilidade atribuída a Isaías
(21.6-9) e a Jerem ias (6.17). Em bora nenhum rótulo
parecido tenha sido dado a profetas do antigo Oriente Próximo, o conceito é bastante familiar. Os profetas
tinham o papel de alertar o rei a respeito de situações
iminentes (na esfera m ilitar e cultual) que pudessem
colocar em risco sua pessoa ou a estabilidade de seu reino.
33.15. penhor de um em préstim o. Penhores de em
préstim os eram com uns em todo o antigo O riente
Próximo. M ilhares de contratos de empréstimos de
senterrados na M esopotâm ia m ostram que esse era um procedimento bastante comum. Por exemplo, em
Terqa, na Síria da Idade do Bronze M édia, um certo
Puzurum fez um empréstimo no templo local do deus- sol, Sham ás. Ele ficou de posse da m etade de um
contrato cuneiform e, enquanto o templo (funcionando
nesse caso como um banco) guardou a outra metade.
Logo, as duas metades funcionavam como um recibo.
Quando Puzurum pagasse o em préstim o, o templo
lhe devolveria a parte que faltava do contrato. A de
volução de um penhor por um ím pio arrependido
sugere que uma situação de dívida opressiva havia
sido resolvida e a dívida fora perdoada.
33.21-33O destino de Jerusalém33.21. cronologia. A data é 19 de janeiro de 585 a.C.,
cerca de cinco meses após a queda de Jerusalém . A
maioria dos comentaristas concorda que o hom em ci
tado neste versículo não era nem um fugitivo, tampouco um refugiado, m as um dos sobreviventes que fora
levado cativo para a Babilônia com a primeira leva de
exilados.
33.25. com er carne com sangue. A expressão literalmente significa "com er sobre sangue". Levítico 19.26
associa essa prática com as formas banidas de adivi
nhação. Textos rabínicos m edievais identificam essa prática com a dos sabeus, uma seita do norte da Arábia
que tinha uma refeição comunal em que os humanos
com iam carne cujo sangue fora derram ado no chão para atrair seres espirituais. Práticas semelhantes eram
comuns em todo o Oriente Próximo. A terra de Israel
era descrita teologicamente como o acampamento ou
arraial que cercava o templo. As violações alistadas
aqui são do tipo que resultariam na expulsão da pessoa do arraial.
33.27. an im ais selv agen s com o castigo . Os anim ais
selvagens eram uma_permanente fonte de medo para
os habitantes das cidades do antigo O riente Próximo.
Em textos e relevos assírios desse período, os reis são ilustrados caçando leões para sim bolicam ente livrar a cid ad e da am eaça de feras selv agen s. Em um dos exemplos, foi sugerido que a m atança de dezoito leões
representa as dezoito portas de Nínive e as estradas que conduziam até elas. Ver o com entário em 5.17.
33.32. cânticos de am or para divertim ento. Cânticos
de am or (ou eróticos) há m uito eram um a diversão para os moradores da cidade. Os cantores itinerantes
viajavam de cidade em cidade, divertindo o povo.
M uitas dessas canções foram registradas em escrita
cuneiform e. Por exem plo, é bem provável que trechos do Épico de Gilgam és fossem cantados aos m ora
dores de Sumer, assim como a Ilíada e a Odisséia de Homero eram cantadas por poetas viajantes, antes de
serem escritas séculos mais tarde. Os cânticos de amor
estavam relacionados aos textos de Rituais de Casamento (a liturgia do Tammuz) nos tempos sumérios e
eram populares no Egito durante a segunda metade do segundo m ilênio (18a e 19a Dinastias). É uma acusação grave de que o povo havia restringido o papel
do mensageiro de Deus a mera diversão.
34.1-31Oráculo contra os pastores34.3. pré-requisitos de líderes. Os três principais produtos de ovelhas e cabras (leite de cabra, lã das ovelhas, carne) são usados aqui como uma metáfora para líderes que usufruíam dos benefícios de sua posição, sem assum ir sua responsabilidade. Os funcionários da coroa e o clero tinham de ser sustentados pela população através de impostos de diversos tipos, mas esperava-se que em troca, o povo seria beneficiado e não explorado.34.3, 4. tarefas do pastor. A ssim com o a m etáfora anterior diz respeito aos privilégios do pastor, a aten
ção agora é voltada para as responsabilidades negligenciadas. A m etáfora vai além das responsabilidades normais de garantir que as ovelhas estejam protegidas e alimentadas. Ao contrário, concentra-se nos deveres relacionados a cuidados médicos, de tratar das feridas e doentes e procurar as perdidas. Essa imagem seria com parada à obrigação dos reis de fazer
justiça para com os excluídos e menos favorecidos (tais como a viúva e o órfão).34.7-16. m etáfora do pastor/ re i no antigo O riente Próximo. A ideologia do rei como um pastor de seu povo encontra-se em Lugalzagessi, da Suméria, por volta de 2450 a.C.. O rei contem porâneo Urukagina de Lagás afirmava que o deus Ningirsu era o dono da nação e que o rei fora escolhido como um pastor para adm inistrar a cidade em nome dos deuses e do povo. Deuses responsáveis por manter a justiça (Shamás, na M esopotâm ia, Am om , no Egito) tam bém são representados através dessa imagem. Essa ideologia continuou no antigo Oriente Próximo até o período monárquico, sendo usada para referir-se a Assurbanipal, rei da Assíria, (sétimo século) e a Nabucodonosor (sexto século).
35.1-15Profecia contra Edom35.2. m onte Seir. O monte Seir era o nome antigo da região m ontanhosa ao sul do m ar Morto, em ambos os lados do vale do Desfiladeiro que seguia pelo sul até o golfo de Ácaba. O nom e Seir aparece nos textos de A m arna, no Egito (século catorze a.C.). De acordo com as Escrituras, as montanhas de Seir foram ocupadas prim eiro pelos horreus (D t 2.12, 22) que m ais tarde foram expulsos dali pelos edomitas. Seir passou a ser sinônimo de todo o país de Edom.35.5. o papel de Edom na queda de Jerusalém . Este versículo trata da hostilidade de longa data entre Edom e Israel. Outras passagens da Escritura dizem que os edomitas se alegraram quando N abucodonosor II destruiu Jerusalém (p. ex., SI 137; J1 3.19; Ob 1-14). Este é
o único texto que dá a entender que tiveram um papel ativo na conquista.
36.1-38Profecia para os montes de Israel36.5. a conduta de Edom. Ver o comentário em 35.5.36.25. aspergir água pura. Em bora a aspersão com água para purificação fizesse parte dos rituais de ablu- ções usados pelos sacerdotes, a expressão "água pura" não aparece em nenhum outro contexto do Antigo Testamento.36.26. m etáforas. O coração era considerado a sede do intelecto e da volição, ou m otivações. Para m ais informações a respeito do coração de pedra ou pesado, ver os comentários em 11.19; Isaías 6 .9 ,1 0 e Êxodo 8.11.
37.1-28O vale dos ossos secos37.1. transportado em visões. Ver o comentário em8.3.
37.2. vale cheio de ossos. A grande quantidade de ossos descrita aqui implica que esse era o cenário de um a grande catástrofe. A descrição de um grande núm ero de cadáveres que haviam sido privados de um enterro digno remete a muitas cenas de batalhas encontradas nos primeiros períodos da história m eso- potâmica e egípcia. Além disso, os anais assírios descrevem a destruição de seus inimigos, de forma semelhante. Uma maldição típica do antigo Oriente Próxi
mo era que o cadáver da vítim a amaldiçoada ficasse exposto às intempéries e elementos da natureza.37 .12 ,13 . ressurreição no antigo O riente Próxim o. O
conceito de ressurreição era conhecido em algumas partes do antigo Oriente Próximo. Os egípcios criam que parte dos mortos "renascia" como estrelas e tom a
vam seu posto nos céus. Entretanto, o único despertar de mortos que fazia parte da cosmovisão antiga era a chamada dos espíritos dos mortos (que não era permanente, tampouco em presença corporal) ou a ressurreição dos deuses da fertilidade dos ciclos da natureza. Esses morriam anualmente quando o ciclo agrícola chegava ao fim e "invem avam " no mundo inferior. Depois, eram ritualmente despertados na primavera. Nada disso apresenta qualquer semelhança com a doutrina teológica da ressurreição. Revivificações ocasionais ou indício de retom o de um a nação à vida, como nessa passagem, não são elementos que repre
sentam um a doutrina da ressurreição. Ver o comentário em Isaías 26.19. A lguns estudiosos sugeriram que é bastante provável que Ezequiel tenha sido transportado para o oriente desta vez. A prática zoroastrista era deixar os corpos expostos, na esperança de que algum dia fossem unidos e revividos. O empecilho a
essa hipótese é que a divulgação da cultura e dos conceitos persas datam de algumas décadas após Ezequiel, e o zoroastrismo só ganhou destaque no Império Persa a partir do final do sexto século.38 .15 ,16 . escrever na m adeira. E provável, v isto que o m aterial de escrita é a m adeira, que Ezequiel esteja usando dois tabletes de madeira. Era comum usar placas de madeira revestidas de uma m istura de cera de abelhas para a escrita de m ensagens que eram formais, mas não precisavam ser arquivadas e preservadas.
38.1-39.29 Gog^ie e Magogue38.2. G ogue. A identificação de Gogue tem confundido comentaristas durante séculos. A explicação mais provável é que o nom e seja um derivado de Giges, um rei lídio m encionado em fontes assírias e gregas. N aquelas ele é cham ado de G ugu e governa sobre mat Gugu, que em acadiano significa "a terra de Gugu". Seu reinado, porém, foi cinqüenta anos ou m ais antes da época de Ezequiel, por isso, alguns estudiosos têm argumentado que o nom e tom ou-se um título dinástico usado por seus descendentes reais. O rei de Lídia na época de Ezequiel era Alyattes. Não há evidências de que Lídia jam ais tenha am eaçado Judá, m as os lídios estavam envolvidos em uma séria guerra contra Cyaxares e os m edos em 585. Gogue parece semelhante aos nomes Agague e Ogue, dois famosos inimigos de Israel.38.2. M agogue. Provavelm ente M agogue é a forma hebraica do acadiano M at Gugu, "a terra de G ogue", que Josefo identificou como Lídia, no oeste da Anatólia.38.2. M esequ e e T u b al. No final do oitavo século, esses dois remados anatólios foram assolados por guerras internas, conquistados por Sargão II, rei da Assíria,
e invadidos pelos cimérios, do sul da Rússia. Infelizmente, pouco de sua história referente ao sétimo século e início do sexto século foi preservada. Acredita-se que tenham sido incorporados sob o domínio lídio, após o término das guerras cimérias. Na primavera de 585, os lídios estavam em guerra com os medos. São mencionados novam ente no período persa como identidades étnicas distintas. Eram conhecidos pelos assírios como M ushku (centro da Anatólia) e Tabal (leste da Anatólia) e por Heródoto como os M oschi e os Tibarenoi (estados submissos ao Império Persa). No final do oitavo século, o rei de Mushku era Mita, conhecido pelos gregos como Midas, o rei que transformava em ouro tudo que tocava. Seu túmulo foi identificado em Gordion e escavado.38.4. anzóis em seu queixo. Os assírios costumavam colocar ganchos ou anzóis no queixo dos inim igos derrotados, tanto com o objetivo de humilhá-los, quanto
de transportá-los para outras terras. Essa prática é descrita com freqüência em seus anais e ilustrada de form a clara em seus relevos de parede. Esar-Hadom é ilustrado em um a esteia de Zinjirli, na Síria, conduzindo Baal, rei de Tiro, e Tirhakah, rei do Egito, por uma corda presa a uma argola introduzida nos lábios desses reis derrotados. Assurbanipal afirma ter furado as bochechas de U ate' (rei de Isam el) com um instrum ento pontiagudo e colocado um a argola em seu queixo.38.4. escudos grandes e pequenos. Eram escudos que protegiam o corpo todo e escudos de mão, respectivamente. Ver o comentário em 23.24.38.5. P érsia, E tióp ia e Líd ia. V er o com entário em27.10.38.6. Gôm er. Gôm er tem sido comparado aos "gim i- rrai" dos anais assírios e aos cimérios, das fontes gregas. N a Odisséia de H om ero, eles viviam no litoral norte do m ar Morto. Atacaram o reinado de Urartu a partir do norte e causaram problemas para os assírios no oitavo século. Sargão m orreu em batalha contra eles em Tubal. Parece que foram expulsos das montanhas do Cáucaso para a Anatólia, segundo Heródoto. Envolveram -se com o reinado anatólio de Lídia, no sétimo século a.C.. Subjugaram os frígios e saquearam a capital em Gordion, a sede real do famoso rei M idas, em 676. Em 644 derrotaram Sardes, a capital da nação lídia. Foi quando Gyges encontrou-se com a morte. Durante a época de Ezequiel, os cimérios haviam sido expulsos da Lídia por Alyattes. M ais tarde foram dominados pelos medos.38.6. Bete-Togarm a. É provável que Bete-Togarm a era a capital de Kam m anu, um reinado do centro da Anatólia. Citado em fontes hititas como Tagaramara e em fontes assírias como Til-Garimmu.38.11. cidades sem m uros. As cidades sem m uros (mencionadas aqui, em Zc 2.8 e em Et 9.19) normalmente são definidas como aldeias rurais sem muros ou portas, em oposição a cidades fortificadas. Eram indefesas e vulneráveis.38.13. Sabá e Dedã. O reinado de Sabá era um grande centro comercial no sudoeste da Arábia que exportava pedras preciosas, ouro e incenso. Esse reinado é conhecido como Saba em fontes nativas e nos anais assírios. Tinha uma civilização urbana bastante avançada no primeiro milênio a.C.. Para informações adicionais, ver 2 C rônicas 9.1. D edã era um oásis no centro da Arábia, onde Tiro recebia suas vestes especiais de montaria. É identificado com a atual localidade de al-Ula, situada na estrada do olíbano, desde o Iêm en até a Palestina.38.13. m ercadores de Társis. N este contexto, parece que os m ercadores de Társis representam os povos
m ercantis que com ercializavam nas rotas que atravessavam o deserto da Arábia, passando por Sabá e
Dedã, até o m ar Mediterrâneo.
38.14. Gogue. Ver o comentário em 38.2.38.19. terrem oto em Israel. Parece que se trata de um
terremoto cósmico, semelhante àqueles descritos em
Êxodo 19, Juizes 5.4, 5, Isaías 30.27, 28, Habacuque3.3-7 e Salmo 68.8, 9 e 114 (ver o comentário em 1 Sm
14.15). Esse tipo de imagem também se encontra nos
anais de Esar-Hadom, rei da Assíria. O Levante era propenso a terremotos, mas Israel fica na margem da
zona cujo ep icentro é na A natólia. Os terrem otos registrados na história ocorreram em 760 e 31 a.C.. Na
era cristã a região teve uma média de um terremoto
de grandes proporções por século.38.22. saraiva e enxofre ardente. A ocorrência de sa
raiva como castigo divino em relatos de conquista não é exclusiva do texto bíblico. Em uma carta ao seu deus
(A ssur), Sargão, rei da A ssíria, re lata que em sua campanha contra Urartu (714 a.C.) o deus Adade man
dou uma tempestade contra os inimigos, com "pedras
do céu", aniquilando-os por completo. Essa batalha
incluía uma coalizão que fugiu pelos desfiladeiros e
vales, perseguida por Sargão, com o rei inimigo es
condendo-se nas fendas de sua montanha. O enxofre
ardente é uma substância amarela cristalina que pega
fogo em contato com o ar, muitas vezes encontrada
em regiões vulcânicas. Não tem relação com a saraiva, exceto por se tratar também de uma catástrofe que
sobreviria àquela área.
39.1. Gogue. Ver o comentário em 38.1.
39.4. com ida para aves e anim ais do cam po. Ter o
corpo exposto, em vez de enterrado, vulnerável aos elem entos da natureza e aos animais, era a pior mal
dição imaginável. Além do mais, visto que não havia um a distinção clara entre corpo e alma na mentalida
de hebraica, a morte não era considerada a separação
desses dois elem entos. Portanto, acreditava-se que quem não tivesse um enterro digno permanecia cons
ciente (em algum nível) de seu destino. No antigo Oriente Próxim o, acreditava-se que a pessoa só en
contraria descanso quando seu corpo fosse devida
mente enterrado.39.6. M agogue. Ver o comentário em 38.2.39.9. armas como com bustível. Passagens que falam
da destruição de armas geralmente enfocam o seu uso
para fins práticos e benéficos. As partes de madeira podiam ser queimadas no lugar da lenha, como aqui
(às vezes essa prática se estendia até para peças do
vestuário, como em Is 9.5) e as partes de metal podiam ser recicladas e transform adas em ferram entas
para uso agrícola (Is 2.4 e M q 4.3).
39.11. túm ulo. A identificação absoluta do túm ulo ('oberim) tem sido contestada. Eruditos o identificaram como o "v ale dos V iajantes" ou, com base em um paralelo ugarítico, o vale "daqueles que passaram ". Esta definição faz m ais sentido. Gogue tinha almejado ser identificado com os grandes reis do passado, e agora conseguira isso, visto que todos estavam mortos. Textos ugaríticos referem-se a um grupo chamado de "refains", seres do mundo inferior (ver o comentário em is 14.9-11).
40.1-48.35O novo templo e a terra restaurada40.1. décim o dia do prim eiro mês. A época é descrita como "início do ano", semelhante à expressão equivalente em acadiano. Essa visão, portanto, acontece no dia 10 de nisã, no vigésimo quinto ano do exílio ou 28 de abril de 573 a.C .. N o calendário israelita era o início das atividades da Páscoa. O cordeiro devia ser escolhido nesse dia e morto no dia 14.40.3. corda de lin h o e vara de m edir. A corda de linho pode ser parecida com a trena usada em Za
carias 2.5 para medir a cidade. Parece que era usada para medir grandes distâncias. A vara de m edir era
para curtas distâncias. Alguns argum entaram que a esteia de Ur-nammu, na cidade suméria de Ur, exibe
um a representação semelhante.40.5. côvado longo, extensão da vara. O cúbito nor
mal é estimado em cerca de 40 centímetros e o côvado longo, em cerca de meio metro. A vara mencionada por Ezequiel tinha cerca de seis côvados longos ou três metros.
40.6. significado da porta que dá para o oriente. Aporta oriental era a porta por onde a glória de Yahw eh adentraria (Ez 43.1-5). A glória de Deus havia deixado o templo passando por essa m esma porta (10.9).
Visto que os templos tendiam a ter a fachada voltada para o leste, essa seria a porta m ais importante.40.7-16. arquitetura da porta. O tamanho e o desenho da porta demonstram sua grande importância no complexo do templo. Os batentes eram decorados com ramos de palmeira, supostamente semelhantes aos do templo de Salomão (1 Rs 6.29-36). Esse tipo de instalações fortificadas era construído para fins m ilitares e não religiosos. Mais à frente Ezequiel diz que as portas deviam ser vigiadas pelos levitas, que guarda
vam os lugares sagrados do templo. O desenho geral das portas é típico de um a série de portas de cidades palestinas do período pré-exílico em Megido, H azor e Gezer. A s portas descritas nesta passagem se encaixam melhor ao perfil de portas encontradas em muralhas de cidades, visto que ultrapassam bastante o tamanho das portas geralmente encontradas em templos.
40.7-16. medidas comparadas a portas conhecidas pela arqueologia. Essa estrutura é claramente um a guarita ou quartel e m edia cinqüenta por vinte e cinco côvados (25 por 13 metros). Seria equivalente à sala da guarda do templo de Salomão (1 Rs 14.28), embora o tamanho desta não seja mencionado. Dos quase vinte sistemas de portas da Idade do Ferro escavados em Israel, esse seria m aior do que a maioria. As portas de Dã, Megido e Láquis tinham entre 25 e 30 metros de largura (em relação aos 13 metros dessa porta). Mas elas são m aiores que a maioria e a média aproxima-se da largura da porta descrita aqui. A espessura dessa porta, porém, (26 metros) é de tamanho grande. Um a das portas m ais espessas escavadas em Láquis tinha quase 25 metros. As descrições e medidas das salas adjacentes são comparáveis às portas da Idade do Ferro.40.17-19. descrição e dim ensão do pátio externo. Com o acréscimo da informação de Ezequiel 42.6, o pátio externo tinha um conjunto de salas que talvez fossem usadas pelos adoradores como locais de encontro e onde tomavam as refeições durante períodos de eventos religiosos. As salas eram pórticos com colunas. O núm ero de salas e seu tamanho não é dado. A área continha um piso superior de cem côvados. O termo para piso é um a palavra rara. Em Ester 1.6 o termo representa um piso de mosaico incrustado com pedras preciosas.40.20-27. dim ensões das portas norte e sul e descrição com paradas à porta oriental. As portas norte e sul têm as mesmas características da porta oriental: saliências, nichos, batentes, um vestíbulo e decoração de tam areiras. A s m edidas dessas três portas tam bém são idênticas.40.26. decoração de tamareiras. A s decorações de tamareira não eram apenas artisticamente belas, mas rem etiam ao templo de Salomão (1 Rs 6.29-36). Esse tipo de decoração era comum na Palestina da Idade do Ferro, particularm ente em relação a fachadas de templos. 40.28-37. portas para o pátio interno (e ausência de portas no oeste). As portas do pátio interno eram imagens em espelho das portas externas. O pátio interno tinha ao fundo o muro do lado oeste, com uma estrutura entre o muro e a parte de trás do templo. É por isso que não havia portas do lado oeste.40.39. ofertas. Para informações sobre os diversos tipos de ofertas, ver os comentários nos capítulos iniciais de Levítico.40.43. função dos ganchos de duas pontas. Os ganchos de duas pontas nas paredes tradicionalm ente têm sido interpretados como usados para pendurar utensílios. Um a interpretação mais recente argumenta que eram nichos ou saliências para guardar utensílios, parecido com o que é descrito no Rolo do Templo (30.13).
40.47. tam anho do pátio interno. O pátio interno era quadrado, com cem côvados ou cerca de cinqüenta metros de cada lado.41.1. descrição e dim ensão do santuário externo. Osantuário externo apresenta vagas influências babilónicas e paralelos específicos com as antigas portas da cidade de Megido, Hazor e Gezer, estruturas que possivelmente foram construídas por Salomão (1 Rs 9.15). Por exemplo, a porta norte de M egido tinha na passagem três salas idênticas às descritas em Ezequiel. Aqui em 41.1 é descrito o saguão de entrada, isto é, a sala entre o vestíbulo e o Santo dos Santos. Inúmeros templos mesopotâmicos foram construídos a partir desse modelo (ver os comentários em Êx 26 e 1 Rs 7).41.5-11. desenho arqu itetôn ico . Ezequiel descreve aqui as estruturas secundárias do templo. Neste trecho há um a série de expressões técnicas arquitetônicas, cujo significado é incerto. Grande parte da descrição, porém, remete ao que encontramos em 1 Reis6.5-8, em relação ao tem plo de Salom ão. Em bora Ezequiel delineie as estruturas secundárias que cercav am o tem p lo , e le não d escrev e a fu n ção delas, tampouco o faz o autor de 1 Reis. Salas semelhantes, dispostas em um piso ou diversos andares, em centros religiosos egípcios, dão a entender que eram usadas como depósitos de tesouros dos templos. Por exemplo, templos construídos por M erenptah e Ram sés II (século treze a.C.) tinham depósitos três ou quatro vezes maiores que o templo em si. Isso tam bém era comum na M esopotâmia. "
41.13, 14. d im ensões comparadas com o tem plo de Salom ão. Tanto o templo de Salomão quanto o templo de Ezequiel eram com postos de três salas. As dimensões do santuário externo, do santuário interno e do pórtico em ambos os templos são idênticas.41.15. identificação do segundo prédio e de suas galerias. A identificação e função do segundo prédio mencionado aqui é primordialmente determinada pela compreensão do termo obscuro usado para "galerias" ou "saliências". Essas galerias ficavam na parte exter
na da estrutura. Eram em grupos de três ou em três níveis. Podiam ser vistas tanto do pátio externo, quanto do interno. Alguns estudiosos concluíram que funcionavam como galerias ou passagens (ou ambas).41.16. janelas estreitas. A s janelas estreitas provavelmente ficavam no alto das paredes acima do nível das
salas anexas, semelhante ao templo de Salomão (1 Rs 6.29-35). Correspondem ao desenho de filetes triplos do entalhe da "M ulher à Janela" encontrado na cidade assíria de Ninrode, datando do início do primeiro m ilênio a.C..41.17-20. im agem de tam areiras e querubins. As figuras das tam areiras e dos querubins rem etem de
form a clara ao templo de Salomão (1 Rs 29.36). Entretanto, esses querubins têm apenas dois rostos (um de leão e outro hum ano), ao contrário das figuras do tem plo de Salom ão, que tinham quatro rostos. As figuras não eram estruturas autônomas, e sim esculpidas nas paredes, o que provavelm ente explica por que tinham menos rostos. As imagens eram ladeadas por tamareiras, um tema comum em marfins e outras representações artísticas. As mesmas figuras podem
ser vistas em entalhes de marfim de Arslan Tash, na Síria do primeiro milênio a.C. e em um a cena pintada em jarros de armazenamento da Idade do Ferro, em Kuntillet 'Arjud, na Palestina.42.13.14 . quartos reservados para o uso dos sacerdotes no tem plo. Em bora pouco se saiba a respeito dos quartos dos sacerdotes no templo de Salomão, eram bem conhecidos na Babilônia. O bit pirishti era um quarto no templo babilónico em que as vestes sacerdotais e as roupas caras das estátuas das divindades ficavam guardadas.42.14. vestes santas. O quarto babilónico pit pirishti estava associado com o guarda-roupa dos sacerdotes, pelo menos durante a era Selêucida (após 330 a.C.). Essas vestes eram de m uito valor por causa dos objetos de ouro e prata usados para decorá-las. Ourives recebiam permissão oficial para entrar nesses quartos a fim de trabalhar nas vestes dos sacerdotes e das im agens divinas.43.3. rio Q uebar. Ver o comentário em 1.1.
43.7. ídolos sem vid a de seus reis. Esses "ídolos sem vid a" provavelm ente não se referem a cadáveres e sim ao culto pagão dos mortos, semelhante à citação de Levítico 26.30. Ezequiel provavelm ente tinha em m ente um a veneração dos espíritos dos ancestrais reais de Israel, algo bastante parecido com o culto aos mortos da realeza em Ugarit. Não fica claro se os reis eram deificados ou não nesses lugares.43.8. so leira e batentes. A afirm ação contida neste versícu lo corresp on d e à d escrição do tem p lo de Salomão em 1 Reis 6 -7 .0 templo original foi construído como um a parte do palácio de Salomão. Apenas uma parede separava o tem plo do palácio e eles faziam divisa "soleira com soleira, batente com batente".43.13. côvado longo. Ver o comentário em 40.5.43.13-17. arquitetura do altar. Em bora o vocabulário técnico para altar seja sem elhante àquele encontrado em acadiano, o altar de Ezequiel é m ais parecido com o do templo de Salom ão (2 Cr 4.1; 1 Rs 2.28). O com primento de cada lado é sem elhante em ambos os casos, ao passo que as pontas (chifres) eram um tem a com um de altares no Levante. Em bora o altar fosse grande, não era tão grande quanto o de Salomão e é comparável aos altares desenterrados pelos arqueólogos.
43.19. fam ília de Zadoque. Zadoque era o representante da linhagem de Arão que serviu como sum o
sacerdote durante os reinados de Davi e Salomão. Na comunidade pós-exílica, os filhos de Zadoque tinham as responsabilidades do altar reservadas a eles, enquanto aos levitas eram atribuídas tarefas menos importantes do que antes. Os zadoquitas mantiveram o sum o sacerdócio até a época do governante grego Antíoco IV (175-163 a .C ). De fato, alguns estudiosos supuseram que a comunidade do m ar M orto pode ter sido criada em resposta ao fim do sacerdócio zadoquita.43.24. sal. A referência aqui é à "aliança de sal" (ver comentários em Lv 2.13 e N m 18.19). As qualidades de preservação do sal faziam dele um sím bolo da perm anência do relacionamento da aliança. Logo, a adição do sal era um lembrete do pacto com Deus.43.25,26 . dedicação durante sete dias. No antigo Oriente Próximo em geral, e particularmente em Israel, o
preparo e a dedicação de ofertas duravam sete dias.44.1, 2. porta oriental perm anentem ente trancada. A Porta Sagrada da cidade de Babilônia era por onde a procissão de M arduque (o principal deus da cidade) e outras divindades passavam. Assim como a porta oriental descrita por Ezequiel, parece que a Porta Sagrada era aberta para que a divindade passasse e ficava trancada o resto do tempo.
44.3. príncipe. O príncipe, nesse contexto, é um a figura religiosa responsável por comer as refeições sacrificiais diante do Senhor, junto à porta sagrada. Em passagens anteriores de Ezequiel, esse termo foi usado para referir-se a uma figura davídica (p. ex., 34.24; 37.25). Aqui, ele não desem penha papel político ou real, apenas um papel nos recintos sagrados do templo. Ele não tem acesso irrestrito à porta oriental, que é reservada para o uso divino; ele apenas tem uma função a desempenhar ali. Fica claro que ele não está incumbido de um a função sacerdotal, visto que não tem permissão para de fato pisar no pátio interno.
44.3. pórtico da entrada. O príncipe podia entrar na estrutura da porta pelo pórtico (ou vestíbulo) da entra
da, significando que ele já passara pelo pátio por uma outra porta e entrava na porta oriental pelo lado de dentro. Ele ficava de pé junto ao batente da porta, o que
lhe perm itia ver a atividade cultual dos sacerdotes.44.8. encarregaram outros. Estrangeiros haviam sido
recrutados para trabalhar no templo provavelmente como guardas, desde a época de Manassés e Amom. A lém do m ais, registros neo-babilônicos e fenícios parecem afirmar a probabilidade do uso de estrangeiros nesse tipo de trabalho no templo.44.14. deveres do tem p lo . A tarefa de guardar as portas do tem plo envolve não apenas o santuário, mas todo o complexo do templo. Os levitas também
eram responsáveis por zelar pelo templo e por toda a propriedade, e supervisionavam atividades nas dependências do templo. Para m ais informações sobre a im portância dessa tarefa, ver o comentário em 1 Crônicas 9.22-27.44.17. linh o , não lã. Uma possível razão para a proibição do uso da lã talvez fosse prática. É m ais provável que a lã fizesse a pessoa suar. Visto que muitas secreções expelidas pelo corpo provocavam a contaminação, era preciso tomar certas medidas para evitar que elas ocorressem no templo. Parece que o mesmo acontecia no Egito também, onde segundo Heródoto e o escritor rom ano Luciano, o linho era usado como tecido para a confecção das vestes sacerdotais. Heródoto acrescenta que os sacerdotes egípcios tinham que constantemente lavar suas vestes de linho.
44.19. quartos sagrados. Ver o comentário em 42.14.44.20. regras a respeito do cabelo. Era proibido rapar a cabeça e deixar o cabelo comprido provavelmente por causa dos costum es pagãos associados a cultos cananeus dos mortos. O tabu se origina em Levítico 21.5 (ver o comentário ali).44.21. proibição a respeito do vinho. Essa proibição tem paralelo em Levítico 10.9. Em bora fosse conhecida a em briaguez ritual, por exem plo, presente no épico babilónico da criação, Enuma Elish, é provável que essa proibição tinha como objetivo garantir que o sacerdote tivesse controle de suas faculdades mentais (ver o com entário em Is 28.7) no exercício de suas funções.44.22. regras a respeito do casam ento. A s restrições a
respeito do casamento do sacerdote originam-se em Levítico 21.7, 10-14 (ver os com entários ali). Parece que a preocupação era m anter a pureza da linhagem sacerdotal, embora Ezequiel não m encione a razão da proibição.44 .29 , 30. p orção dos sa cerd o tes . A p esar desses versículos tratarem do sustento físico dos sacerdotes, há algo m ais implícito nessas orientações. Os sacerdotes literalmente eram convidados a comer da comida de Yahweh. Para m ais informações, ver os comentários em Números 18.12-19. Eles também tinham autorização para com er o herem ou "d e tudo que fosse dedi
cado e não pudesse ser resgatado". Esses itens evidentem ente eram para qualquer uso, exceto os que eram prescritos para o culto.45.1. conceito do distrito sagrado. O distrito sagrado era terra reservada para o uso de D eus na área do tem plo. Ezequiel retrata a terra com o um a dádiva que era devolvida ao benfeitor divino. Desde o início do quarto milênio a.C., a cidade de U nik, no sul da M esopotâm ia tinha distritos sagrados no centro da cidade. N a Mesopotâmia antiga os distritos sagrados
eram separados por muros de arrimo que davam sus
tentação à estrutura ou eram cercados por um grande
muro de cidadela. O acesso aos recintos sagrados era
restrito e regras rígidas eram mantidas em relação a quem podia entrar e em que ocasiões. Esse conceito é
uma continuidade da idéia do compasso sagrado que foi estabelecido em Israel quando o tabernáculo foi
montado durante a peregrinação no deserto (ver os
comentários em Lv 10.10 e N m 18.1-7).
45.2-6. dim ensões do distrito sagrado. A área maior consagrada tinha cerca de doze quilômetros e meio de
comprimento e dez quilômetros de largura, perfazen
do uma área de 80 quilôm etros quadrados. Pode-se
comparar essa área com os 990 quilômetros quadra
dos do distrito inteiro de Yehud, sob o governo persa. M etade dessa área era reservada para os sacerdotes é
o santuário, que ficava no centro. O utra área, com
doze quilômetros e meio de comprimento e cinco de
largura, era reservada para a cidade, que provavelmente era Jerusalém, embora o nome não seja m enci
onado. Se essas dimensões foram sobrepostas à terra de Israel, englobaria um a grande parte central do
território de Judá. O esquem a territorial mostra a im
portância dos oficiais do Estado, que eram posicionados próxim o ao centro, onde o acesso a D eus era m ais
direto.
45.7. príncipe. Ver o comentário em 44.3.
45.10. balanças honestas. Em uma economia que não
tinha pesos e medidas padronizados, os comerciantes
m uitas vezes eram tentados a adulterar as balanças e medidas, com freqüência usando pesos incorretos e
fundos falsos e outras maneiras de alterar o tamanho
das vasilhas.
45.10-12. m edidas. A s balanças com duas bandejas eram usadas para pesar mercadorias em Israel. O efa
era uma unidade de medida de capacidade para secos usada na pesagem de cereais e as estimativas variam
entre 20 e 40 litros. O bato era um a m edida para
líquidos, de cerca de 20 litros. Era usado para m edir
azeite, vinho e água. Tanto o efa quanto o bato equivaliam a um décimo de um ômer.
45.17. contribuições do príncipe. Aqui o príncipe é
m ostrado em um papel real. G eralm ente no antigo Oriente Próximo, era o rei quem fornecia os sacrifícios
para os rituais e festas religiosas. Isso pode ser obser
vado nos textos bíblicos e tam bém nas nações que circundavam Israel. Nas grandes festas em que todo o
povo participava, a população em geral muitas vezes
desem penhava o papel de m eros espectadores, enquanto os líderes do povo (coroa e templo) eram os
protagonistas. Essas festas costumavam ter muita pom pa e a generosidade do rei ficava evidente.
45.18-20. festa inaugural. O ritual descrito aqui tem todos os traços de uma cerimônia de purificação para dedicar um santuário novo. Eram atividades que geralm ente duravam sete dias e garantiam que o lugar sagrado e os objetos do santuário estariam prontos para uso. M arcava o início do funcionamento do santuário.45.21-25. a nova Páscoa. Na formulação de Ezequiel, a Páscoa assume um aspecto diferente da observância tradicional estabelecida em Êxodo 11-12 . O riginalmente fora estabelecida como uma festa voltada para a fam ília em que o chefe da casa desempenhava um papel sacerdotal e a casa era o local das festividades. A festa do pão sem fermento gradualm ente se misturara à Páscoa, como o texto aqui indica. Nas celebrações da Páscoa executadas por Ezequias (2 Cr 30) e Josias (2 Cr 35), havia um aspecto m ais nacional e centralizado na observância, ainda m ais acentuado aqui em Ezequiel.46.1. significado da Lua nova. Atrelado ao calendário lunar, o antigo Israel marcava o prim eiro dia do mês com a fase da "L ua nova", celebrado como um dia de festa (a cada v in te e nove ou trinta d ias). Com o no sábado, todo trabalho devia ser interrompido nesse dia (ver A m 8.5) e certos sacrifícios deviam ser oferecidos (Nm 28.11-15). No período monárquico, o rei passou a assum ir um papel de destaque nessas celebrações. A festa continuou a ser observada no período pós-exílico (Ed 3.5; N e 10.33). A s festas de Lua nova também eram proeminentes na M esopotâmia desde o final do tercei
ro milênio até o período neo-babilônico, na m etade do primeiro milênio a.C.. O culto à Lua era difundido em
todo o antigo Oriente Próximo e as divindades da Lua figuravam com destaque em textos mitológicos. Embora os israelitas fossem proibidos de adorar qualquer corpo celeste (inclusive a Lua: p. ex., D t 23.5 e Jr 8.2), tinham perm issão de celebrar o prim eiro dia do mês lunar com trombetas e holocaustos.46.2. entrada do príncipe. V er o comentário em 44.3.46.3. adoração no sábado ju nto à porta. Esta é uma
das poucas referências explícitas no Antigo Testam ento à adoração no sábado, que geralmente era descrito apenas em term os de atividades proibidas. M uitas festas de Israel incluíam "convocações santas", mas nunca eram ordenadas no sábado. Aqui é interessante notar que o templo é o lugar central da adoração no
sábado. Os templos serviam como locais de ajuntam ento quando os rituais sagrados eram realizados (em eventos designados como assembléias solenes ou convocações sagradas). Deve-se ter cuidado para não
associar demais nosso culto aos domingos nas igrejas com os atos de culto de Israel no templo ao sábado. As diferenças são ao m esmo tempo profusas e profundas.
46.9. entrada e saída por portas opostas. Essa restrição parece simplesmente regulamentar o fluxo das pessoas em ocasiões de grandes ajuntam entos no templo e assegurar a ordem. A área do templo devia representar
o exemplo m áximo da ordem, inclusive na questão do fluxo de pessoas. Qualquer coisa descontrolada ou que refletisse confusão não devia ter lugar no templo.46.19-24. cozin h as para o preparo das ofertas. Um bom núm ero de templos no antigo Oriente próximo tinha cozinhas anexas. Elas foram encontradas em Ur, Tell Asm ar e Terqa, na M esopotâm ia e em Karnak, no Egito. M uitas cozinhas eram maiores que o próprio tem plo a que serviam . Segundo Crônicas 35.11-13 deixa implícito que havia cozinhas associadas ao templo de Salomão.47.1. água saindo do tem plo. A associação entre os
tem plos do antigo O riente Próxim o e as fontes de água é bastante atestada. De fato, considerava-se que alguns templos na Mesopotâmia, no Egito e no mito ugarítico de Baal haviam sido fundados sobre fontes (comparadas às águas primevas), que às vezes fluíam do próprio prédio. Logo, a montanha cósmica simbó
lica (o templo) estava sobre as águas primevas simbólicas (fonte).
47.8. água do m ar saneada. A dessalinização (ou saneamento) da água do m ar Morto seria uma transformação miraculosa. O m ar Morto fica quase 400 metros abaixo do nível do mar, sendo o ponto m ais baixo da terra. O alto índice de minerais do m ar M orto é resultado do fato de não ter saída. As águas de diversas fontes escoam até ele carregando consigo diversos m inerais a níveis de sete m ilhões de toneladas por dia. Depois a água evapora, deixando os m inerais ali. A salinidade chega aos 26-35 porcento (comparados aos 3 p porcento da média de salinidade dos oceanos).47.15-17. fron teira norte . Em bora a fronteira norte seja descrita com muitos detalhes, nenhum dos nomes
foi identificado com segurança. Portanto, não é possível traçar as linhas da fronteira para o norte de Israel.
Existem, no entanto, algumas afinidades com a lista em Números 34.7-9, uma fronteira que coincidia com os limites do norte da terra de Canaã, que era o nome da área S iro -P alestin a contro lad a p elos eg ípcios. Ezequiel usa termos gerais aqui para descrever um território e não um a linha de fronteira.
4 7 .18 . fr o n te ira le s te . Com o N ú m eros 34 .10 -12 , Ezequiel exclui de sua descrição a fronteira leste das regiões da Transjordânia que haviam sido ocupadas por G ade, Rúben e m etade da tribo de M anassés.
Portanto, a principal divisa era o rio Jordão que corria
para o sul desde o m ar da Galiléia, até o m ar Morto.47.19. fro n te ira su l. A fronteira sul com eçava em Tamar, o ponto m ais distante da fronteira leste, e ia até o m onte H alaque e M eribá-C ad es, ou C ades- Barnéia (atual 'A in el-Qudeirat), um oásis na fronteira sul do deserto de Sim. Dali, a fronteira seguia pelo ribeiro do Egito (não o Nilo), que cortava o deserto do Sinai e formava um a divisa natural entre o Egito e a Palestina.47.20. fro n te ira oeste. A fronteira oeste, com o em Números 34.6 era o m ar Mediterrâneo.48.1-7. território das tribos comparados à divisão original da terra. A divisão dos territórios tribais aqui em Ezequiel segue a ordem pré-monárquica que excluía os levitas e dividia em duas a tribo de José (Efraim e M anassés), a fim de m anter o núm ero dos lotes em doze. Entretanto, essa divisão demonstra pouca preocupação com a realidade histórica. Como em Ezequiel 47, o território a leste do Jordão é ignorado. M ais adiante, as fronteiras leste-oeste contrastam com o relevo físico natural, que é definido em term os de linhas norte-sul. Os lotes de cada tribo são idênticos em tamanho e tam bém respeitam as relações tradicionais genealógicas entre as tribos, discrim inando entre os descendentes das esposas de Jacó e das concubinas. Ju d á e Benjam im , porém , detêm sua parte na área mais próxima ao santuário.48.9-14. tam anho da porção aos sacerdotes e levitas.A porção de terra para os levitas está menor, m ostrando a diminuição de sua importância. Tanto os sacerdotes zadoquitas quanto os levitas receberam lotes idênticos de cerca de doze quilômetros por cinco.48.15-20. tam anho dos lotes para o povo. A cidade recebeu uma área murada de cerca de dois quilôme
tros e meio de largura e doze quilômetros e meio de comprimento. Era m argeada em cada lado por áreas abertas retangulares com cerca de oito quilôm etros quadrados cada.48.21. 22. terras do príncipe. As terras do príncipe ficavam em ambos os lados da praça central, tendo cada área cerca de doze quilômetros e meio de largura. Era um a área considerada exclusiva para o uso do príncipe e separada do povo e dos levitas.48.23-28. restante dos lotes das tribos. Ver o comentário em 48.1-7.48.31. portas com nom e das tribos. Nas cidades do m undo antigo, como a Babilônia, as portas geralmente recebiam o nome de deuses. Não era raro, porém, que portas recebessem o nom e do lugar para onde conduziam. Essa era a prática m ais comum em Israel.
D A N I E Lv1 .1-21 Daniel e seus amigos na corte de Nabuco- donosor1.1. Nabucodonosor. Nabucodonosor II (605-562 a.C.) foi o segundo governante do reinado caldeu centrado na Babilônia que dominou o antigo Oriente Próximo
por quase um século. Ele era filho de Nabopolassar, um caldeu que declarou a independência do jugo assírio em 626 a.C.. Em seu reinado de quarenta e três
anos, Nabucodonosor pacificou o Egito (embora não tenha obtido êxito em conquistá-lo) e literalmente reconstruiu a Babilônia. N a verdade, grande parte da
cidade da Babilônia desenterrada por escavadores de nossos dias data do reinado desse monarca. Assim, o reinado caldeu foi sua principal criação e sucumbiu
somente uma geração após sua morte. Esse grande rei é mencionado em muitas tradições culturais, inclusive em fontes da G récia (onde era conhecido como um
grande edificador) e de Israel (não apenas no material bíblico, mas também em fontes rabínicas posteriores).1 .1 ,2 . cronologia. O terceiro ano de Jeoaquim foi 606
605 a.C. (com base no calendário tishri, ver o comentário em Jr 32.1, e_com base no sistem a do ano da
ascensão ao trono, ver o comentário em 2.1). A essa altura N abucodonosor ainda era o príncipe conduzin
do campanhas militares para seu pai, Nabopolassar, que m orreu em meados de agosto desse mesmo ano. No início do verão de 605, Nabucodonosor, juntam en
te com seus aliados, os medos, conquistaram o último b astião da re sistên cia a ssíria em C arqu em is. Os
babilônios e os m edos então deram continuidade à divisão do Im pério Assírio entre eles. Nabucodonosor
tom ou posse da Síria e estabeleceu sua base em Ribla (ver o com entário em 2 Rs 23.33), onde com eçou a recolher tributo de seus novos súditos. Judá foi destinado como parte do território concedido aos babilônios,
e Nabucodonosor retom ou à área no final de 604. Não há registro de nenhum cerco direto a Jerusalém con
duzido pelos babilônios, a não ser a partir de 597, mas a expressão no final do versículo 1 é genérica o bastante para adm itir uma série de possibilidades.1.1, 2. Jeoaquim . Jeoaquim era filho de Josias que foi
colocado no trono pelo faraó Neco, quando este tentou estender seu controle sobre a Siro-Palestina. Quando Josias foi m orto em batalha, o povo entronizou seu filho, Jeoacaz, que representava um a facção contrária
aos egípcios. Essa situação durou por apenas três meses (enquanto N eco estava ocupado em Harã). Em
seguida, Neco depôs Jeoacaz e o enviou como cativo ao Egito. Jeoaquim, que era a favor dos egípcios, foi então colocado no trono em lugar de Jeoacaz, com a
expectativa de que se fosse um vassalo leal ao Egito. A situação mudou radicalmente quando Nabucodonosor conquistou o controle da região, após a queda
de Carquem is. Jeoaquim desem penhara o papel do vassalo babilónico relutante por diversos anos, mas
após o fracasso de N abucodonosor em invadir o Egito em 601, novam ente rompeu com a Babilônia e buscou o apoio do Egito em sua rebelião. Com o passar do
tempo, essa mostrou-se fatal e levou os babilônios a sitiar Jerusalém em 597 (ver o com entário em 2 Rs24.10, 11).
1.2. u tensílios do tem plo. Esses utensílios eram consi
derados despojos cobiçados não apenas por serem de m etais preciosos, mas por terem sido dedicados ao Deus Yahw eh para uso nos rituais do templo. Demons
trava-se ter o controle da divindade cujos objetos im portantes eram tomados. Para descrição desses utensílios, ver o comentário em 2 Crônicas 4.
1.2. levou para o tem plo. Como sabemos a partir de referências nos textos de M ari e também no Cilindro
de Ciro, objetos sagrados, inclusive ídolos e os diversos tipos de vasilhas usadas na adoração eram levados como reféns quando um povo era conquistado. Uma
forma de demonstrar a superioridade do deus da nação vitoriosa sobre os deuses dos povos conquistados era profanar seus objetos e lugares sagrados, colocando-os em um a posição de submissão.
1.2. seu deus. M arduque era o principal deus da Babilônia, a divindade padroeira e o chefe do panteão. O épico babilónico da criação, Enuma Elish, na
verdade é um m ito que narra sua ascensão a essa elevada posição, que teria acontecido no final do segundo m ilênio. Era considerado o filho de Enkidu, pad roeiro de E ridu e um dos m em bros da m ais augusta tríade antiga. Embora muitas vezes vejamos Baal na B íb lia com o o principal rival de Yahw eh,
nenhum a divindade no primeiro m ilênio teve o im pacto político de M arduque. Seu fam oso tem plo, Esagila, juntam ente com seu zigurate, Etem enanki,
eram os principais prédios que se destacavam na bela cidade da Babilônia.
1.3. a posição de Aspenaz. O título traduzido como "chefe dos oficiais da corte" também é atribuído a um dos três representantes de Senaqueribe enviados para confrontar Ezequias (ver o comentário em 2 Rs 18.17). O termo hebraico traduzido como "oficial da corte" às vezes se refere a eunucos (ver o com entário em Is56.4, 5), em bora seja difícil dizer quando tem esse significado específico.1.4, 5. servir no palácio do rei. O treinamento que os jovens deveriam receber tinha como objetivo prepará- los para o serviço real. Como cortesãos, poderiam servir como escribas, conselheiros, sábios, diplom atas, governadores provinciais ou assistentes de membros da casa real. Nas cartas do sétimo século aos reis assírios as cinco principais classes de eruditos que serviam ao rei são mencionadas como astrólogos/escribas, adivinhos, exorcistas (esse termo é usado para descrever o grupo em que Daniel e seus amigos foram incluídos, no v. 20), médicos e lamentadores. Não era raro que um indivíduo fosse educado em um a série dessas
disciplinas. Preparar estrangeiros para esses cargos e posições tinha como finalidade promover a absorção
dos melhores e mais brilhantes m em bros da geração seguinte. D este m odo, suas habilidades beneficiariam mais aos babilônios que a seus inimigos.1.4. língua dos b ab ilôn ios (caldeus). A língua tradicional da Babilônia era o acadiano, um a língua antiga e complexa de escrita cuneiform e (um estilo ou buril era usado para cunhar os caracteres), em que cada sím bolo representava um a sílaba. G rande parte da literatura canônica dos babilônios foi escrita em acadiano. Portanto, era necessário que eruditos fossem instruídos nessa língua. Além disso, havia inúmeros dialetos de acadiano, em bora talvez, muitos dos docu
m entos antigos tenham sido reescritos nos dialetos correntes. A dinastia reinante, porém, não era babi
lônia nativa, mas de origem caldéia (ver o comentário em Is 13.19). Sua língua e a língua diplom ática da época eram o aramaico, que fazia uso de um a escrita alfabética, sem elhante à utilizada pelo hebraico. O uso difundido do aram aico no m undo dessa época possibilitou que Daniel e seus amigos tivessem uma certa fluência nessa língua. Tam bém é possível que, ao referir-se à língua dos caldeus, o texto não esteja falando dos caldeus étnicos, mas sim da guilda sacerdotal de adivinhos que, de certa maneira, haviam se tom ado conhecidos como caldeus. No Livro de Daniel o termo é usado com os dois sentidos (grupo étnico e guilda profissional).1.4. literatura dos bab ilôn ios (caldeus). É difícil ter certeza se o treinamento que receberiam incluía um a am pla bibliografia, como a educação geral e dos escribas, ou se esse treinamento se concentraria na lite
ratura especializada usada pelos adivinhos. As principais obras que compunham a literatura dos adivinhos eram os textos de presságios. As credenciais alistadas por diversos eruditos indicam que eles dominavam a coletânea de presságios. Essa literatura repre
sentava mais de um m ilênio de observações de diversos fenômenos seguidos da análise do presságio favorável ou desfavorável que representavam. Além disso, havia manuais de instrução e correspondência em que os relatórios desses especialistas eram apresentados ao rei. Alguns desses presságios registrados, tais como sonhos ou observações astronômicas, simplesm ente eram observados e preservados na escrita. Outras vezes, algum mecanismo era usado para produzir o presságio (adivinhação através das entranhas de animais sacrificados) ou um médium humano era envolvido. Os presságios em si começaram a ser coletados desde o período da Antiga Babilônia (início do segundo m ilênio) e geralm ente eram apresentados na form a "se-então". Os exorcistas (ver o comentário em 1.20), em cujo grupo D aniel parece ser incluído, tinham sua literatura específica também. Esses profissionais se especializavam em identificar o perigo de diversos agouros (acontecim entos astronôm icos, sonhos, nascimentos anômalos) e providenciar os rituais de proteção contra os mesmos. A literatura dessa m agia protetora é representada nos textos namburbu.1.5. porção da m esa do rei. H avia muitos indivíduos que recebiam o direito de receber porções da mesa do rei. A inclusão nesse grupo não sugere que desfrutavam de saraus aconchegantes, íntimos com o rei, mas que sim plesm ente dependiam da coroa. D entre os
que recebiam tais porções no período neo-babilônico estão incluídos certos membros do alto escalão administrativo, artesãos (nativos ou estrangeiros), diplomatas, homens de negócios e artistas, bem como refugiados políticos e membros da família real que haviam sido deportados ou estavam sendo m antidos como reféns na Babilônia. Dependendo de sua posição, esses indivíduos recebiam porções de cevada e azeite ou alimentos mais requintados. Roupas e abrigo também estavam incluídos no seu sustento.1.5. com ida real. O termo (patbag) usado aqui (e ao longo do capítulo) é conhecido em persa e acredita-se que seja um empréstimo. Refere-se a porções de comida enviadas pelo rei a amigos da coroa. Não há razão para pensar que se trate de um prato de com ida. Quando mais tarde os gregos se referiram a descrições desse alimento na literatura persa à qual tiveram
acesso, foi descrito como pão assado feito de cevada e trigo, acompanhado de vinho.1.5. três anos de treinam ento. O treinamento normal para um escriba era de três anos. Na literatura dispo
nível do período da Antiga Babilônia, o treinamento incluía áreas da língua e da literatura m encionadas acim a e tam bém m atem ática e m úsica. É provável que o período de treinamento para um adivinho fosse m ais longo, mas não há indicações precisas da duração no material preservado.1.7. novos nomes. Mudar o nome de alguém era uma form a de exercer autoridade sobre a pessoa e seu destino. Governantes estrangeiros demonstravam essa propensão no período bíblico. Visto que a assimilação cultural era um dos objetivos ostensivos de todo o processo a que Daniel foi submetido, um nome babilónico seria m ais apropriado. Igualm ente, visto que os nomes geralm ente continham afirmações sobre a divindade, os nomes babilónicos imporiam sobre os jovens um nível mínimo de reconhecimento dos deuses babilónicos.1.8. contam inação com a com ida real. Tem havido amplos debates e diversas sugestões quanto às razões pelas quais Daniel e seus am igos se recusaram a com er a comida real. A maioria se baseia na premissa
da oposição entre carne e vegetais (ver os comentários em 1.5 e 1.12 acerca dos problemas). É verdade que compartilhar da comida do rei implicava certo nível de submissão ao rei, m as nesse caso não faria diferença o que os jovens iriam comer. Segundo as leis da dieta judaica (kosher) provavelmente a carne era considerada im pura, m as a arm azenagem ou o preparo incorretos dos alimentos tam bém tom ava a comida impura. A lém do mais, as leis da dieta judaica não proibiam o consumo do vinho. A s carnes de melhor qualidade sem dúvida eram fornecidas aos palácios pelos templos, onde haviam sido oferecidas diante de ídolos (e o vinho derramado como libações diante dos deuses), m as qualquer comida podia facilm ente seguir esse mesmo percurso. A decisão certamente não tinha nada a ver com vegetarianismo ou evitar comidas calóricas com objetivos nutricionais (ver 10.3). Existem inúmeros exemplos na literatura intertestamental de judeus vendo a necessidade de abster-se da comida servida por gentios (Tobias, Judite, Jubiles). Não é tanto a com ida em si que tom aria os jovens impuros, mas sim todo o program a de assimilação da cultura babilónica. A essa altura, o governo babilónico demonstrou exercer controle sobre todos os aspectos da vida deles. Eles tinham poucos recursos para resistir às pressões e influências culturais que os controlavam. Por isso, se agarraram às poucas áreas em que ainda podiam exercitar escolha, como uma oportunidade de preservar sua identidade.1.12. vegetais. A palavra usada aqui geralm ente se refere às sementes destinadas à alimentação de anim ais, à forragem ou ao plantio. Nem em acadiano,
nem em hebraico é usada para descrever alimento
humano. M as o texto não sugere que recebiam uma comida preparada e servida ao estilo de restaurante. Como explicado acim a (1-5), com er da m esa do rei significava apenas receber porções de alimento às custas da coroa. As porções dos m ilitares, por exemplo, consistiam de quantidades calculadas de cereais que os soldados então usavam para preparar suas refeições. Os grãos de cereais podiam ser moídos, triturados e cozidos em água para preparar um mingau. Portanto, no caso dos vegetais, trata-se da m esm a quantidade de ração mencionada em 1.5, m as seriam preparados por eles e não pela cozinha real.1.17. visões e sonhos. D esde o terceiro m ilênio a.C., acreditava-se que os sonhos eram importantes meios de revelação da ação dos deuses. Eram considerados comunicações vindas dos deuses, levadas por um espírito mensageiro. Em acadiano, esse mensageiro era chamado Zaqiqu. Às vezes, as inform ações eram buscadas através de sonhos (ver o com entário em 2 Cr 1.7-12).
1.20. m agos e encantadores. O primeiro termo refere- se aos intérpretes egípcios de sonhos. É a mesma palavra usada em G ênesis 41.8 e Êxodo 7.11. Sabe-se
que os babilônios incluíam intérpretes egípcios de sonhos entre os conselheiros da corte. O segundo termo refere-se aos especialistas mesopotâmicos em exorcismo que protegiam contra mensagens ameaçadoras contidas em sonhos ou presságios. A s habilidades destes incluíam identificar o sinal de ameaça, determinar um curso de ação para evitar o mal e executar
rituais apotropaicos e recitar encantamentos para afastar o perigo. As doenças eram incluídas com freqüência na classe de sinais ameaçadores, por isso o exorcista era considerado um "profissional da saúde e medicina" na sociedade babilónica. O uso desses dois termos deixa claro que as habilidades de Daniel ultrapassavam a dos especialistas estrangeiros bem como a dos praticantes nativos.1.21. p rim eiro ano de C iro. Provavelm ente esta é um a referência ao primeiro ano do reinado de Ciro na Babilônia, que teve início em outubro de 539 a.C.. Isso significa que a duração dos serviços de Daniel naquela corte estendeu-se por um período de m ais de 65 anos.
2.1-49 O sonho de Nabucodonosor2.1. cronologia. Na contagem babilónica, a partir do momento em que o rei assumia o trono até o dia de Ano Novo (em nisã, março/abril) era considerado o "ano da ascensão". Seu primeiro ano começava com o início do Ano Novo (um ano completo). Nabucodonosor ascendeu ao trono em 6 de setem bro de 605. Seu
primeiro ano foi da prim avera de 604 até a primavera de 603. A Crônica Babilónica que registra os eventos deste ano está fragmentada em pontos cruciais, mas os trechos preservados são suficientes para mostrar que N abucodonosor enfrentou alguns im portantes desafios m ilitares. Seu quarto ano trouxe a fam osa tentativa, em bora frustrada, de invadir o Egito.2.2. con selh eiros. A literatura acadiana refere-se a essa categoria geral de especialistas como ummanu mudu, mestres do conhecimento esotérico. Os primeiros dois term os são os m esm os usados em 1.20. O terceiro termo é usado no Antigo Testam ento como um termo geral para praticantes da magia designados "feiticeiros". No uso babilónico o termo refere-se esp ecificam en te àqueles que lançavam feitiços. O quarto term o, "astró logos", é a palavra geralm ente traduzida como "caldeu s" e aqui refere-se à guilda sacerdotal de adivinhos. Em épocas m ais recentes eles se especializaram em astrologia.2.3. son hos que pertu rbam . V er o com entário em1.17. Visto que os sonhos eram considerados m ensagens vindas dos deuses, com freqüência causavam preocupação, quando não agitação. A própria natureza do sonho do rei indicava que as notícias não eram boas. Ele sentiu aquela ansiedade que sente um em pregado quando é chamado na sala do patrão em um momento em que a empresa está passando por m udanças que afetam o quadro de funcionários.2.4. aramaico. Era normal que os especialistas se dirigissem ao rei em aramaico, porque essa era a língua da área. A partir desse ponto, até o final do capítulo sete, o Livro de Daniel está escrito em aramaico e não em hebraico. A s duas línguas usavam as m esm as letras, por isso as páginas nas línguas originais não pareceriam diferentes ao leitor falante de português.2.4. interpretação de sonhos. A interpretação de sonhos geralmente era feita por especialistas que haviam sido treinados na literatura onírica disponível. H á m ais informações sobre essa prática na Mesopotâmia do que no Egito. Tanto os egípcios quanto os babilônios compilavam o que cham am os de livros dos sonhos. Eles continham amostras de sonhos juntam ente com a
chave para sua interpretação. Visto que os sonhos com freqüência estavam baseados em simbolismos, o intérprete tinha de ter acesso a esses documentos que preservavam os dados em píricos concernentes a sonhos passados e sua interpretação. Geralmente, porém , apenas o tema central do sonho era objeto de interpretação, e não todos os detalhes envolvidos. A interpretação de sonhos incluía a identificação do significado dos símbolos contidos no sonho, a declaração
de seu significado, as conseqüências e a data dos eventos a que se referiam, e a elaboração de um a resposta
adequada ao sonho. A resposta ou atitude podiam incluir rituais apotropaicos para defender-se de maus presságios ou ações que o rei deveria praticar.
2.5-9. a exigência do rei. Se o rei tivesse esquecido o
sonho, ele não queria adm itir, porque esquecer um sonho era um m au agouro que indicava que a divin
dade estava irada com ele. Além do mais, tal esquecim ento logicam ente resultaria no pedido de que os
deuses enviassem o sonho novamente. Sonhos importantes geralmente eram repetidos duas ou três vezes
(observe que o v. 1 sugere m ais de um sonho pelo uso
do plural). U m a alternativa é que N abucodonosor
teria sentido tratar-se de um sonho tão agourento que poderia facilmente ser usado como um mecanismo de
subversão contra o trono. Mensagens divinas há m ui
to haviam servido aos propósitos de conspiradores e
usurpadores do trono (ver 2 Rs 8.8-15 e o comentário em 2 R s 9.6-10). Ao exigir que os deuses revelassem o
sonho aos intérpretes, o rei procurou certificar-se de
que a interpretação do sonho representaria de fato a
m ensagem dos deuses e não os planos ou interesses humanos.
2.11. a queixa dos sábios. Acreditava-se que os deu
ses se comunicavam através de sonhos e os especialis
tas criam que os deuses podiam revelar-lhes a inter
pretação dos sonhos através do uso de recursos dispo
níveis. No entanto, não havia nenhum recurso que os capacitasse a descobrir o sonho. Não havia preceden
tes de os deuses revelando esse tipo de informação.
2.12. execução de tod os os sáb io s. A execução de
grupos inteiros suspeitos de conspiração ou incompetência é bastante comum no m undo antigo. Heródoto
registra um a série de instâncias durante o período
persa. Um a delas envolve os m agos, um dos quais
havia de fato usurpado o trono, sendo executado por Dario I. U m segundo exemplo é a execução por Xerxes
dos engenheiros que haviam construído um a ponte
que ruíra numa tempestade. U m exemplo bíblico aconteceu no reinado de Saul, que quase eliminou todos os
sacerdotes ao suspeitar que estavam conluiados com Davi (1 Sm 22.13-19).
2.14. com andante da guarda do rei. Esse é o título
oficial de um importante funcionário cujas obrigações eram às vezes repulsivas. Quando Jerusalém sucum
biu diante dos babilônios, o comandante encarregado
de destruir sistem aticam ente a cidade e dispor dos
cativos, executando-os ou deportando-os, tinha esse título. É similar ao título de Potifar, em Gênesis 37.36.
A terminologia sugere algo do tipo "cozinheiro-che-
fe", m as assim como alguns dos títulos governamen
tais de nossos dias, o cargo deve ser entendido a partir da função desempenhada e não pelo título em si.
2.19. "D eu s dos céus". Esse título para a divindade
tom ou-se comum a partir do século sexto em diante.
Em documentos persas, era usado com freqüência para Ahura M azda, a principal divindade do Zoroastrismo (ver o comentário em Ed 1.2 e Ne 1.4). Os israelitas
tam bém o consideravam um título aplicável a seu
D eus, Yahw eh.2.31. estátua em sonho. O faraó M erenptá (século treze a.C.) relata ter visto em um sonho uma enorme
imagem do deus Ptá. O deus lhe deu permissão para
sair em guerra contra os líbios. Em um sonho relatado
durante o reinado de Assurbanipal, um a inscrição na base da estátua do deus Sin prevê o fracasso da rebelião na Babilônia.
2.32. estátua com m istura de m ateriais. A s estátuas feitas da m istura de diversos m ateriais não eram raras
no mundo antigo. Visto que as imagens dos deuses
geralmente eram vestidas, o material m ais caro e va
lioso era usado nas partes que ficavam à mostra. Assim , por exem plo, um a oração hitita da m etade do
segundo milênio contém um a promessa de providen
ciar um a estátua do rei em tam anho natural, com
cabeça, m ãos e pés de ouro e o restante de prata.
Outro exemplo de como diversos metais podiam ser usados é a estatueta de um bezerro, feita de bronze,
encontrada em Ascalom. O corpo foi fundido em bronze, cobre forjado foi usado para algumas das extremi
dades, e toda a imagem foi revestida de prata. Inúm e
ras imagens de deuses do segundo milênio que foram
desenterradas também são feitas de bronze e cobertas de ouro ou prata. Até mesmo pequenas estátuas com
freqüência não eram fundidas em um a única peça, mas feitas em partes e unidas com encaixes ou rebites.
A m aioria dos detalhes do sonho de Nabucodonosor é
realista, não surrealista. A cabeça era a parte m ais importante da imagem e logicamente seria revestida
de ouro. Os braços e o peito às vezes ficavam visíveis,
logo, a lâmina de prata seria apropriada. O tronco não precisava de nenhum revestimento por cima do bron
ze, visto que ficava sem pre coberto por roupas. O
ferro ainda não era produzido nessa época, embora um papiro egípcio faça m enção a estátuas de ferro
(provavelmente ferro forjado). A única forma de mis
turar barro com ferro seria se o barro fosse usado como um a liga, m as a palavra usada no texto para barro
favorece o sentido de barro queimado. Um a sugestão
tem sido a de que os pés de ferro teriam incrustações de terracota. A s estátuas dos períodos neo-babilônico
e persa são praticamente inexistentes e nenhuma im agem importante dos deuses da Mesopotâmia (primei
ro milénio) foi recuperada. O rei assírio Esar-Hadom se vangloriava de uma im agem de si mesmo feita de
prata, ouro e cobre que seria colocada diante dos deuses para apresentar petições em seu favor.
2.34, 35. pedra. A única ocorrência de algo apenas
vagam ente parecido com essa im agem aparece no Épico de Gilgamés. Gilgam és relata um sonho sobre
a vinda de Erikidu em que este é representado como
um meteoro que aterriza aos pés de Gilgamés. Mas, neste caso, não há destruição provocada pela rocha.
2.36-40. quatro reinos. Os reinos não são identificados
no texto, exceto pela cabeça de ouro, que é identificada por N abucodonosor. A lguns estudiosos sugeriram
um a seqüência da Babilônia, M édia, (Medo)-Pérsia,
Grécia, enquanto outros preferem a Babilônia, (Medo)-
Pérsia, Grécia e Roma. A m aior parte das evidências
que sustentariam o primeiro ou o segundo esquema
parte de Daniel 7 e é examinada ali.2.36-40. padrão dos quatro reinos. A idéia de apre
sentar a história em term os de quatro im périos ou eras encontra diversos paralelos na literatura antiga e
clássica. N a literatura acadiana, a Profecia Dinástica
(período selêucida, terceiro século a.C.?) cita quatro
reinos sucessivos (Assíria, Babilônia, Pérsia, Grécia) em um texto fragmentado. Os Oráculos Sibilinos (cujas
fontes datam do segundo século a.C.) contêm um es
quem a de quatro im périos (assírios, medos, persas,
macedônios; um a série de exemplos do período roma
no acrescentam Rom a à lista para chegar a cinco impérios). Sérvio, o autor romano do século quinto d.C.,
afirma que Sibilo retratou as épocas comparando-as a
metais, m as nenhum a comparação desse tipo foi pre
servada nos Oráculos Sibilinos. A caracterização das épocas através da imagem dos m etais tem sido consi
derada correspondente à representação zoroastrista dos quatro períodos da história da humanidade. Tex
tos zoroastristas avestas identificam épocas (não impérios), às vezes como galhos de um a árvore, respecti
vam ente de ouro, prata, aço e m istura de ferro (uma
designação obscura). Os textos em que esse material está registrado são posteriores, mas preservam mate
rial que alguns acreditam datar do segundo ou terceiro século a.C.. Talvez a comparação m ais significativa
das idades com m etais encontra-se no autor grego Hesíodo (Obras e Dias, oitavo século a.C.), que identi
fica cinco eras, quatro das quais são representadas por metais (ouro, prata, bronze e ferro).
2.44. re in o que durará para sem pre. Em um a obra
conhecida como Profecia de Uruk, do século doze a.C., há quatro reis que surgem e fracassam, seguidos por
um rei que levaria de volta a estátua de Istar, da
Babilônia para Uruk. A profecia diz que seu filho o sucederia e que seu reinado se estabeleceria para sem
pre (uma interpretação alternativa situa o cum pri
mento da profecia no sétimo século e identifica o filho como Nabucodonosor).2.46. o tratam ento de N abucodonosor a D aniel. Overbo traduzido pela NVI como "apresentada" geralmente é usado no hebraico para derram ar libações. M as nem a oferta (cereais) nem o incenso que são mencionados aqui podem ser derramados em libações. O texto aqui, no entanto, continua a ser em aramaico, em que o verbo significa "prover". Isso ajuda a entender o tratam ento dispensado por N abucodonosor a Daniel, um a vez que o rei fornece a Daniel o material com que ele poderia fazer uma oferta apropriada a seu Deus.2.47. aquele que revela os m istérios. O papel "d a quele que revela os m istérios" é destacado aqui, uma vez que Daniel superara o que normalmente era feito pelos sábios da Babilônia. Acreditava-se que os deuses se revelavam através de presságios (tais com o sonhos) e que transmitiam a interpretação dos presságios através da sabedoria interpretativa que concediam aos sábios à medida que estes recorriam aos meios e literatura disponíveis. Mas Daniel recebera a revelação adicional com o conteúdo do sonho, o que aum entara sua fama.
2.48. governante de toda a província da B abilônia. Oimpério era dividido em províncias ou satrapias, sendo a Babilônia um a delas. D aniel é designado ao posto mais elevado da província, mas essa descrição vaga fica mais clara na afirmação seguinte que especifica sua função: ficar encarregado de todos os sábios. Trata-se de um a função muito mais relacionada à chefia dentro de sua guilda do que de um posto administrativo no governo civil.
3.1-30 A fornalha ardente3.1. im agem . A imagem não é identificada afirmativamente como a imagem de uma divindade, embora o versículo 28 possa sugerir essa possibilidade. Se
fosse a im agem de um deus, seria estranho o fato do nome dessa divindade não ser mencionado e ainda mais inusual ser erigida num a área aberta e não em um local associado a um templo. Parte do cuidado destinado aos deuses era abrigá-los em tem plos e alimentá-los com sacrifícios, e não seria fácil prestar esse tipo de serviço em uma área aberta. Não se tratando da imagem de um deus, fica ainda mais difícil entender a recusa dos três amigos em participar da cerimônia (para um a compreensão da implicação do segundo mandamento, ver o comentário em Êx 20.4). A outra principal alternativa é enxergá-la como uma imagem do próprio rei. M as não havia proibição contra prostrar-se diante de reis em sinal de respeito.
Além disso, nos períodos assírio e babilónico, as imagens de reis geralmente eram colocadas em templos, diante da divindade a fim de interceder pelo bem - estar do rei. Sendo assim, elas representavam o rei diante da divindade e não diante do povo.Talvez a melhor alternativa seja entender o evento no contexto da prática assíria de erigir esteias ou estátuas (com freqüência em lugares inacessíveis) em honra a seus governantes. Em bora estas tivessem o objetivo de exaltar o rei, os relevos das portas de Balaw at demonstram que ofertas eram dedicadas diante dessas representações. Na cena retratada nas portas, o próprio rei está presente, m as as ofertas são dedicadas à esteia. D esse m odo, o rei recebia as honras que
geralm ente eram destinadas aos deuses, m as ao distanciar-se pessoalm ente, ele evitava igualar-se aos deuses. Tais rituais eram usados como ocasiões para que os territórios das províncias prestassem seu juramento de lealdade. Isso faria sentido neste contexto, à luz da sugestão do sonho de D aniel 2 de que o reinado babilónico teria um período limitado de governo. N a prática assíria, a arma de Assur (talvez um estandarte de batalha) era levantada em cerim ônias em que reis vassalos faziam juram entos de lealdade. Não participar dessas cerimônias im plicava insubordinação, ao passo que a participação significaria o reconhecimento da soberania da divindade (e do rei). Os três amigos não tinham de adorar um a divindade, mas tinham de participar de rituais que honravam o rei de form a sem elhante a como os deuses eram tratados, em bora o rei não fosse encarado como um a divindade. A ausência de Daniel poderia ser explicada facilmente por se tratar de um evento ocorrido em apenas um a província.3.1. dim ensões. Heródoto descreve duas grandes estátuas do templo de M arduque na Babilônia, ambas de ouro maciço. Uma é de Bei assentado em um trono dourado. Afirma-se que a im agem e a mesa de ouro próxim a pesariam vinte e duas toneladas de ouro. A segunda é descrita com o a estátua de um homem. Heródoto diz que tinha quatro metros e m eio, embora
outros relatos a descrevam com cinco metros e meio. O rei persa, Xerxes, a derreteu em 482 a.C. e a barra resultante pesou 360 quilos. Afirma-se que o Colossos, em Rodes, teria pouco m ais de trinta m etros de altura, logo, uma estátua de 27 metros de altura não está fora da realidade, em bora seja possível que os 27 metros incluíssem um pedestal. Algo inusual é que a largura era de apenas dez porcento da altura. A largura de um a imagem hum ana dentro das proporções adequadas seria de 25 porcento da altura. Se a estátua fosse uma imagem humana e tivesse dois metros e setenta de largura, esperaríamos que a estátua tivesse cerca
de dez a doze metros de altura. Para se chegar aos 27 metros descritos no versículo, o pedestal teria que ter m ais de 15 metros. Ainda assim, imagine a instabilidade de algo com essas dimensões.3.1. Dura. Existem diversas cidades chamadas Der, e Dura (área murada) é um elem ento com um em nomes de lugares (p. ex. Dur-Kurashu, Dur-Sharruken, Dur-Kurigalzu, Dur-Katlimmu). Portanto, é im possível localizar essa planície com segurança.3.2. m otivo para convocação. Como mencionado em3.1, é provável que o motivo dessa convocação fosse um juram ento de lealdade. Um século antes, sabe-se que o rei assírio Assurbanipal reuniu seus principais oficiais na Babilônia para que fizessem um juram ento de lealdade. Foi preservada um a carta de um dos
oficiais que estava fora da cidade e que, portanto, teve de fazer acertos para prestar o juram ento na presença do supervisor do palácio. A carta especificamente menciona que ao fazer o juram ento ele estava cercado pelas imagens dos deuses.3.2. lista dos presentes. A lista dos oficiais inclui dois títulos semitas (prefeitos, governadores), sendo os cinco restantes persas. A lista parece estar em ordem de graduação. Os primeiros três termos são bastante conhecidos, sendo o primeiro um termo persa emprestado para o aramaico, desde o sexto século, para referir-se ao governante da província. Os dois seguintes são termos semitas para os dois níveis de subordinados. Os últim os quatro são empréstimos do persa cuja tradução é apenas uma tentativa.3.5. instrum entos m usicais. O nom e de diversos desses instrumentos é grego, mas o contato com a Grécia no sexto século fora suficiente, de m odo que isso não é inusual. Sabe-se que Nabucodonosor fazia uso de mú
sicos estrangeiros, como evidenciam as listas de rações. Essas listas tam bém atestam a presença de alguns gregos na Babilônia. Os primeiros dois instrum entos são de sopro. A ju lgar pela palavra usada para trombeta, trata-se de um instrum ento feito de chifre de animal e não de metal. A flauta é do tipo que se toca soprando em uma das extremidades. Os três instrumentos seguintes são de corda. Dois deles têm nomes emprestados do grego e o do meio ocorre como um a palavra estrangeira em grego. O primeiro aparece nos escritos de Homero (oitavo século a.C.) e é um tipo de lira. Havia uma ampla variedade de liras no mundo antigo, mas nenhuma confirmação da cítara ou do saltério. O segundo da lista é provavelmente uma harpa, e o terceiro é um estilo diferente de lira. O últim o é o m ais difícil. Sugestões têm variado desde gaita de foles, flauta dupla até instrumentos de percussão. E um empréstimo do grego para o aramaico, e acontece tam bém no português como "sinfonia".
3.6. fornalha. As fornalhas eram usadas para assar cerâmicas ou tijolos em projetos de construção e tam bém para fabricar m etais (forja, fusão e fundição). N ão há m uita informação a respeito de fornalhas no antigo Oriente Próximo, mas muitas fornalhas antigas eram fechadas, tinham uma cobertura côncava e aberturas nas laterais para ventilação. Eram feitas de tijolos ou de argila, embora a câmara interna fosse revestida de pedras especialmente selecionadas. E lógico presumir que a fornalha estava naquele lugar servindo a um propósito (talvez a confecção da própria imagem) e não que fora colocada ali para ser usada com o um instrumento de castigo. H á poucos dados na literatura antiga indicando que as fornalhas eram especificamente usadas para punição. Uma exceção possível é do ano 1800 a.C., quando Rim-Sin decretou que quem tivesse empurrado um escravo em um forno teria um de seus escravos jogados em uma fornalha. De modo geral, porém , a fogueira era usada com o form a de execução desde o Código de Hamurabi. Na Pérsia do quinto século (durante o reinado de Dario II, filho de Artaxerxes) e no segundo século (2 Macabeus 13.4-8), existem exemplos de execução em que o condenado é empurrado em um receptáculo de cinzas.
3.19. aquecida sete vezes mais. Soprar o ar com foles era um a p rática geralm ente usada p ara elevar a tem p eratura de fornalhas. "A quecida sete vezes m ais" é apenas um a expressão. D ependendo do tipo de fornalha usado, a tem p eratu ra ficaria en tre 900 e 1100 graus centígrados. Com a tecnologia que tinham , não teriam
sido capazes de ultrapassar os 1500 graus centígrados.3.25. filh o dos deuses. Essa expressão é proferida por Nabucodonosor, por isso não é possível afirmar
que rep resente nenhu m a p ercep ção p rofu n d a ou sofisticada da teologia. A frase "filho dos deuses" era um a expressão sem ita com um para identificar um ser sobrenatural.
4.1-37 Outro sonho de Nabucodonosor4.1, 2. proclam ações de reis. Uma proclamação como essa geralmente era registrada em um a esteia e colocada em um local de destaque. Às vezes, faziam-se cópias para circulação, como aconteceu com a Inscrição de Dario de Behistun. Muitos elementos dessa proclamação são comuns a inscrições reais ou a cartas ara- maicas, embora seja raro um rei mostrar-se tão vulnerável como aqui.4.10-12. árvore universal. O conceito da árvore cósmica no centro do m undo era um tema comum no antigo O riente Próxim o. Tam bém aparece em Ezequiel 31. As raízes da árvore são alimentadas pelo grande oceano subterrâneo e o topo de seus galhos alcança as
nuvens, de modo que une os céus, a terra e o mundo inferior. No M ito de Erra e Ishum, M arduque fala da árvore meshu cujas raízes atravessavam o oceano alcançando o m undo inferior e cujo topo ficava acima dos céus. No épico sumério Lugalbanda e Enmerkar a "árvore-águia" tinha um papel semelhante. Alguns a denom inam de árvore da vida, e outros a associam com essa árvore universal. Com freqüência é ladeada por animais ou por figuras hum anas ou divinas. U m disco alado geralmente é localizado no centro, no topo da árvore. O rei é representado como a personificação hum ana dessa árvore. A árvore é considerada a representação da ordem divina no m undo, m as falta fundamentação textual para essa hipótese.4.13. sen tin elas. As sentinelas são bem conhecidas como um a classe de seres sobrenaturais em uma vasta gam a de literatura intertestam ental, especialm ente nos livros de Enoque, bem como nos Rolos do M ar Morto. Em bora o term o com freqüência seja usado nessa literatura para referir-se a anjos caídos, não se limita a esse grupo. Ainda não foi encontrada confirmação do termo sendo usado dessa form a especializada antes do terceiro século a.C., mas os m esopotâmios reconheciam um a variedade de espíritos protetores e de demônios. Talvez o paralelo m ais próximo se encontre em referências ocasionais aos sete sábios antigos como sentinelas. Além disso, às vezes são retratados como zeladores da árvore sagrada, por isso, encaixam-se bem a este contexto.
4.15. p ren d er o toco . É difícil d eterm inar se um a parte da árvore deveria ser presa com ferro ou se o rei. Se fosse a árvore, o texto indica que as raízes (e não o toco) deveriam ser presas. Em bora às vezes árv ores fossem en feitad as com tiras de m eta l na M esopotâm ia antiga, não há razão para tratar um toco dessa forma, muito menos as raízes.4.15. orvalho do céu. Em textos babilónicos, o orvalho era considerado proveniente das estrelas e às vezes era visto como um mecanismo através do qual as estrelas enviavam doença ou cura.4.16. sete tem pos. Não se deve supor que essa situação de Nabucodonosor tenha durado sete anos. A palavra aram aica usada aqui e traduzida como "tem p os" é interessante. O cognato em acadiano significa "períodos específicos" e pode referir-se a estágios de um a doença ou a um a seqüência de períodos. Quando presságios aconteciam, com freqüência tinham efeito em um tempo estipulado. A lguns "tem p os", tais como as fases da lua, ou dias favoráveis, podiam ocorrer mensalmente. Outros ocorriam anualmente. Outros, ainda, tais como equinócios ou solstícios, ocorriam algumas vezes ao ano. As possibilidades de interpretação aqui são muitas.
4.16. a loucura do rei. Ver o comentário em 4.33.4.29. palácio real da Babilônia. Os projetos de construção de Nabucodonosor na Babilônia eram grandiosos. O Eufrates foi canalizado em diversos canais que passavam pela cidade. Seu palácio, no lado norte da cidade, perto da porta de Istar, foi luxuosamente instalado com m aterial de m elhor qualidade. Os jardins do palácio tinham terraços e ganharam fam a internacional, sendo com o passar do tem po considerados um a das sete maravilhas do mundo antigo (jardins suspensos da Babilônia). Esses jardins eram uma área semelhante a um bosque com árvores exóticas. O utros projetos de edificação incluíam os templos e as ruas.4.33. o estado de N abucodonosor. Ao buscar doenças às quais esses sintomas se aplicam, os intérpretes identificaram a licantropia, uma enfermidade depressiva em que o paciente se acredita transform ado em um animal selvagem. M as as características tam bém coincidem com a descrição típica do homem primitivo, a quem falta o domínio da razão (compare com a NVI: "entend im ento", v. 34, 36) e tem aspecto e hábitos semelhantes aos dos animais (v. 16). Em mitos mais antigos, esse estado é característico do hom em pré- civilizado. M ais tarde, é aplicado a Enkidu, a criatura primitiva do Épico de Gilgamés. Depois é usado para referir-se àqueles que foram expulsos da civilização, após suas cidades terem sido destruídas. Desde textos antigos sobre o aventureiro sumério Lugalbanda, até textos posteriores concernentes ao cortesão assírio Ahiqar, certos indivíduos são descritos desenvolvendo alguns desses hábitos e características após terem sido excluídos do convívio com a sociedade. Como resultado, é possível que pelo menos alguns dos sintomas de Nabucodonosor descrevam não uma doença psíquica, mas o exílio da civilização (sem casa, sem higiene pessoal e alimentando-se de capim). U m texto cuneiforme fragmentado sugere a possibilidade que N abucodonosor tenha tido algum problem a que o levou a desvincular-se de suas responsabilidades por um período, durante o qual seu filho, Amel-Marduque, talvez tenha assumido o controle. Mas o texto é muito
incerto para chegar a qualquer conclusão segura.4.34. Oração de N abonido. U m dos documentos enco n tra d o s em Q u m ran (4Q 242 ou 4Q O rN ab ) é intitulado Oração de Nabonido. Nessa obra, é o último rei da Babilônia, Nabonido, e não seu mais famoso predecessor, N abucodonosor, é quem é afligido. As sem elhanças incluem um a doença que dura sete anos e a restauração por um adivinho judeu (anônimo). U m sonho também está envolvido e a adoração à divindade correta é o resultado. O rolo não faz m enção à comparação com um animal selvagem, embora alguns intérpretes tenham reconstruído um a linha a
fim de incluir tal referência. O rolo conecta a enfermidade de sete anos com a conhecida estadia de Nabonido em Teima.
5.1-31 O banquete de Belsazar5.1. B e lsazar. Belsazar era o filho e co-regente de Nabonido, o último rei da Babilônia. Nabonido passou dez anos em Teima, enquanto seu filho desempenhava todas as obrigações da coroa na Babilônia. Uma série de documentos encontrados o mencionam pelo nome. Cerca de trinta anos haviam se passado desde o incidente narrado no capítulo 4. N abucodonosor morreu em 562, e o banquete deste capítulo acontece em outubro de 539.5.1. o banquete. O banquete acontece em meados de outubro (15 de tashritu) de 539. Pouco tempo antes os persas haviam tomado a cidade de Opis (80 quilômetros ao norte do Tigre) em uma batalha sangrenta e
depois atravessado o Eufrates, onde a cidade de Sippar rendeu-se sem lutar, no dia catorze de tashritu. É provável que a Babilônia tenha recebido notícia desses eventos e que Belsazar sabia que o exército persa estava a cam inho da Babilônia. N abonido estivera com o exército em O pis e havia fugido quando a cidade sucumbiu. Ao ser capturado, estava na Babilônia, m as os textos não deixam claro quando teria chegado ali. Berossus (historiador caldeu do terceiro século a.C., citado por Josefo) afirma que foi encurralado na cidade de Bõrsippa (cerca de 27 quilômetros ao sul da Babilônia). À luz de tudo isso, parece que o banquete representa a última confraternização antes dos sérios eventos prestes a sobrevir. Heródoto refere- se a um a celebração festiva que estava acontecendo quando a cidade foi tomada. Não há razão para pensar, porém, que o banquete refletia o pessimismo de Belsazar sobre o que aconteceria. A Babilônia era uma cidade bem protegida e eles acreditavam que seus deuses eram fortes.
5.2. taças tom adas de Jerusalém . Ver o comentário em1.2. Todos no m undo antigo entendiam o significado de utensílios sagrados. O fato de essas taças não terem sido fundidas sugere que foram preservadas por causa de seu caráter sagrado. Visto que o deus da Babilônia era considerado o conquistador, as coisas que pertenciam ao deus "conquistado" eram levadas como despojos para o templo de M arduque. Talvez o uso dessas taças era um a form a de trazer à lembrança as vitórias anteriores do deus babilônio (ver o comentário em 5.4).5.2. relação com N abucodonosor. Belsazar era conhecido como o filho de Nabonido, o últim o rei da Babilônia, com quem era co-regente. Nabonido não
tinha qualquer relação com Nabucodonosor. Desde
H eródoto (quinto século a.C., ver nota em Ester 1), Nabucodonosor e Nabonido tinham o m esm o nome
(Labynetos) e às vezes eram confundidos. Além disso, porém , no m undo antigo, m onarcas sucessivos
com freqüência eram identificados como filhos de seus
antecessores m esm o quando não havia relações dinásticas ou genealógicas. A ssim , por exem plo, no
obelisco negro de Salm aneser III, Jeú, rei de Israel, é
identificado como "filho de O nri", embora tenha sido
o responsável por eliminar a linhagem de Onri e com quem não tinha nenhum grau de parentesco (um fato
provavelmente conhecido pelos assírios).
5.4. louvavam os deuses. Belsazar e toda sua corte
estavam bem conscientes de que o império estava por um fio e que os dias seguintes seriam de importância
máxima. Eles esperavam que seus deuses lhes dessem a vitória, como nos dias das grandes conquistas
de Nabucodonosor. Com esse objetivo, eles "faziam
brindes" aos deuses e celebravam suas vitórias passadas. Também é possível, em bora o texto não afirme
explicitamente, que libações fossem derramadas aos
deuses com essas taças. Eles não estavam dirigindo
suas súplicas apenas a Marduque, o padroeiro da Babilônia, m as também aos deuses de outras cidades da
região, cu jas im agens h aviam sido reco lh id as na
Babilônia nesse período de dificuldades.
5.5. a mão. Uma m ão sem vida, solta, teria sugerido
um inim igo derrotado. A contagem de baixas era
feita cortando a m ão direita de todos os m ortos (ver de novo as m ãos quebradas da estátua de Dagom, em 1
Sm 5.3, 4). Ao beber nessas taças, os babilônios estavam trazendo à lembrança a derrota de Yahw eh (tal
vez juntam ente com a de outros deuses e nações), m as em hipótese alguma se trata de a m ão sem vida de
um deus morto. E bastante viva e tem uma m ensagem a transmitir. O efeito talvez fosse semelhante ao
da cabeça de um a vítim a decapitada que começasse a falar.
5.5. local da escrita. A afirmação de que a escrita foi
feita no reboco da parede, perto da lâm pada, é um detalhe curioso, um a vez que todo o salão provavel
mente seria rebocado e iluminado com m uitas lâmpadas. A escavação da sala do trono na Babilônia pode oferecer alguma explicação. Era um salão de 50 por 17
m etros ao qual se chegava por três pátios amplos, cuja entrada era na porta de Istar. Parte das paredes eram
cobertas com tijolos azuis esmaltados, enquanto ou
tras partes eram rebocadas. A palavra usada para
"lâm pada" não é comum e talvez seja um empréstimo do persa. N esse caso, representa um a lâmpada distinta, singular, talvez de um tipo especial.
5.7. recom pensas oferecidas. O manto vermelho era feito com corante caríssimo (ver o comentário em N m4.6 e Et 8.15) e era usado apenas pela realeza. A corrente de ouro seria a insígnia de um a posição de destaque. Esses itens são vistos como presentes reais em Heródoto, onde Cambises os envia ao rei etíope. Ser o terceiro no reino pode dar a entender que Daniel seria colocado apenas depois de Belsazar e seu pai, Nabonido.5.8. não conseguiram ler a inscrição. Embora alguns estudiosos tenham sugerido que a inscrição estava escrita em uma língua desconhecida (como a escrita cuneiforme do antigo persa), o texto não dá indícios de que fosse outra língua diferente do aramaico. O aramaico, assim como o hebraico, é escrito com vogais e às vezes sem separação entre as palavras, ficando assim a expressão (mrítqlprs). A confusão a respeito de onde seria a divisão das palavras e quais vogais inserir foi suficiente para m inar a confiança dos adivi
nhos, impedindo-os de fazer a leitura das palavras e encontrar uma interpretação. Em outro caso de uma m ensagem inscrita e talvez críptica, o rei lídio do sétim o século, G yges, viu o nom e "A ssu rban ip al" escrito em um sonho acompanhado de uma voz que o instava a lutar contra os cimérios.5.10. rainha-m ãe. A mãe de Nabonido, Adad-Guppi, era um a pessoa bastante influente e a requintada rainha-mãe. No entanto, seus 104 anos de vida haviam chegado a um fim por volta de 546, portanto ela não
estaria viva nessa época. E m ais provável que a esposa de N abonido, m ãe de Belsazar, identificada por Heródoto como Nitocris, seja a rainha m encionada aqui.
5.25-28. a inscrição. As palavras podem ser tomadas como os verbos "pesar e calcular" ou como substantivos para os diversos pesos usados nas balanças e m edições que eram os caixas registradores do m undo antigo - necessárias em qualquer negócio. Os arqueólogos descobriram m uitos desses pesos, às vezes inscritos com essas legendas em aramaico. A s balanças e os pesos também eram usados para ilustrar o julgam ento divino pelo qual todos passariam (como descreve o Livro dos Mortos egípcio). Daniel parece ter
usado ambos, substantivos e verbos, em sua interpretação. O jogo de palavras era um m eio com um de interpretar presságios nessa época. U m exemplo disso é a interpretação de Nabonido de um eclipse lunar como uma ordem para instituir sua filha como uma sacerdotisa.5.27. balança. A. W olters m ostrou que a figura das balanças também pode ter alguma relação astronómica com a constelação de Libra, representada na astronom ia babilónica por um a balança. A Babilônia su
cumbiu no dia 16 de tashritu (setembro/outubro), 12 ou 13 de outubro de 539, logo o banquete aconteceu na noite do 15 de tashritu/ 11 ou 12 de outubro. Os babilônios tradicionalm ente relacionavam o m ês de tashritu à constelação de Libra e o surgimento anual de Libra era associado nos m anuais com o dia quinze daquele mês. Isso era do conhecimento dos astrólogos da corte babilónica, especialistas em adivinhação celeste, que eram contados entre os sábios. Esse dado teria im portância, visto que os babilônios com freqüência buscavam a relação entre esse tipo de presságio para confirmar uma mensagem.5.30. a queda da B abilôn ia . Existem diversas tradições antigas quanto à queda da Babilônia representadas em fontes persas e gregas. Heródoto (ver a nota em Ester 1) fala de um cerco à Babilônia pelos persas que terminou quando Ciro desviou o Eufrates e enviou um pelotão para dentro dos m uros da cidade pelo canal onde o rio passava. O relato de Ciro no Cilindro de Ciro diz que M arduque permitiu que ele entrasse sem lutar na Babilônia, onde foi recebido como um libertador. A Crônica de Nabonido, um relato contemporâneo favorável aos persas, apresenta uma visão semelhante. —
6 .1-28Daniel na cova dos leões6.1. D ario , o m edo. N ão há personagem histórico conhecido pelo nom e de Dario, antes de Dario, o Grande, que aparece bem m ais tarde na história para encaixar-se aqui. Visto que Ciro tom ou-se o governante quando a Babilônia caiu, alguns estudiosos têm identificado Dario, o medo, e Ciro, como a mesma pessoa (ver 6.28). O utros sugerem que D ario é um nom e alternativo (ou nom e real) para Ugbaru, o comandante que liderou o exército persa até a Babilônia. Ele era governador de Gutium e portanto poderia ser facilmente conectado aos m edos (apesar de ter morrido três semanas após a queda da Babilônia). Alguém de nom e Gubaru foi nomeado governador da Babilônia e também é indicado por alguns como um provável candidato. H á razão para questionar que ninguém além de Ciro pudesse ser cham ada de rei (v. 6) e ele tinha sessenta e dois anos quando a Babilônia caiu. Mas Ciro era persa, e não medo, e era filho de Cambises (não de Assuero, ver 9.1). Será preciso ter acesso a m ais Informações antes de chegar a um a identificação segura.6.1. cento e vinte sátrapas. A principal divisão geográfica administrativa no im pério persa era a satrapia. O núm ero delas variava de 20 a 31, por isso o texto deve estar se referindo a níveis inferiores de governadores (para quem esse termo era usado em fontes históricas gregas).
6.7. o decreto do rei. Os reis persas não eram propensos a auto-deificação. Além do mais, os deuses eram considerados importantes demais para serem ignorados. Até mesmo na religião tradicional iraniana, orar três vezes ao dia era a regra, e o Zoroastrismo aumentou o núm ero para cinco. É provável que Dario tenha sido convencido a prom ulgar um decreto a fim de tratar de algum problema religioso/político, sem nunca ter a intenção de proibir a prática de D aniel (e de grande parte da população do império). Heródoto descreve o ritual persa relatando que nem altar, nem fogo eram usados. Mais importante, ele diz que quando a oferta era feita, o adorador não podia pedir nada pessoal, mas podia apenas invocar as bênçãos sobre o rei ou a comunidade.
6 .7 ,17 . cova dos leões. Sabe-se que leões eram capturados e mantidos em jaulas para depois serem soltos durante caçadas, mas não há exemplos na literatura persa a que se tem acesso do castigo de lançar alguém em uma cova de leões. Em textos assírios anteriores, aqueles que rom piam juram entos eram colocados em jaulas de animais selvagens, em praça pública, para serem devorados à vista de todos. A lém disso, na literatura assíria do sétim o século, a cova de leões aparece como uma metáfora para cortesãos maldosos e ad v ersários do rei. Em um a obra da literatu ra sapiencial babilónica, M arduque metaforicamente fecha (amordaça) a boca do leão (o opressor) para pôr fim a suas táticas devoradoras.6.8. leis dos m edos e dos persas. Não há registro do conceito de que "a lei dos m edos e dos persas não pode ser revogada" fora dos Livros de D aniel e Ester. Não obstante, uma tradição que remonta pelo menos à época de H amurabi (século dezoito a.C.) reconhecia que um juiz não podia modificar a decisão que tomara. Mas nesse aspecto, tratava-se de uma decisão judicial e não de uma lei. Fontes gregas se contradizem, uma vez que H eródoto indica relativa liberdade por parte dos reis persas para mudar de idéia, enquanto Diodoro Siculus cita um a instância em que Dario III não podia voltar atrás. Certam ente nenhum oficial poderia anular os decretos de um rei persa e o próprio rei poderia considerar hum ilhante voltar atrás e reconsiderar algo que já fora decretado. O código real de honra consideraria fora de questão a possibilidade do rei revogar uma ordem.6.10. orar três vezes ao dia, voltado para Jerusalém .Orar voltado para Jerusalém era um a prática estabelecida desde a construção do templo de Salomão (1 Rs 8.35). A freqüência da oração na prática israelita não estava determinada pela lei. Nem o Antigo Testamento, nem os Rolos do M ar Morto apresentam qualquer norma, além do padrão estabelecido pelos sacri
fícios da manhã e da tarde regularmente oferecidos no templo. Como mencionado no comentário de 6.7, a prática persa norm al exigia que os fiéis orassem três ou cinco vezes ao dia.6.17. anel-selo. Evidências encontradas recentemente sugerem que os primeiros reis persas usavam selos cilíndricos nos negócios do império e selos de estampa ou anéis-selo em negócios particulares, embora o uso destes estivesse crescendo naquela época. Um anel- selo tinha o selo oficial do rei através do qual ele autorizava as questões do im pério. Apenas poucos desses anéis foram encontrados pelos arqueólogos. Os selos geralmente eram feitos de calcedônia e tinham figuras do rei realizando feitos heróicos (como matar animais selvagens) sob a proteção do disco solar alado (que representava o deus A hura M azda). M uitos tabletes encontrados na fortificação de Persépolis continham impressões de selos.
6.19-23. considerado inocente. "S e r considerado inocente" é um a expressão que descreve uma situação judicial em que o acusado era colocado nas mãos de
D eus através de algum m ecanism o, geralm ente algum a situação de perigo extrem o. Se a divindade interviesse para proteger o acusado do mal, o veredic
to era inocente. A maioria dos julgam entos através de provas no antigo Oriente Próximo envolvia perigos como água, fogo ou veneno. Quando o acusado era
exposto a essas am eaças, na verdade estava sendo considerado culpado até que a divindade declarasse o contrário.6.24. m ulh eres e filh o s in clu íd os no castigo. Essa punição é m ais severa do que qualquer lei encontrada nas coleções da M esopotâm ia. No Antigo Testa
mento, quando a fam ília é incluída no castigo, geralm ente denota que toda a linhagem da fam ília está sendo eliminada, ou seja, o castigo está estendendo-se para as gerações seguintes como herança (ver o comentário em Js 7.25). Heródoto conta que, durante o reinado de Dario, um oficial do alto escalão e do círculo íntimo do rei foi ju lgado por estar envolvido em uma revolta. Como resultado, quase toda sua família foi executada.6.28. Dario/Ciro. Para aqueles que identificam esses dois como um só rei, a tradução "o remado de Dario, isto é, o reinado de Ciro, o Persa" é aceitável (ver o comentário em 6.1).
7.1-28O sonho de Daniel: os quatro animais7.1. cronologia. Essa visão acontece antes dos eventos narrados nos capítulos cinco e seis. E difícil dizer qual foi o primeiro ano de Belsazar. Não deve ser igualado ao prim eiro ano de seu pai, N abonido (556), e sim
provavelmente ao início de sua co-regência, quando Nabonido se estabelece em Teim a (552). Não se sabe, entretanto, se Belsazar tornou-se im ediatamente co- regente. A Crônica de N abonido faz m enção pela primeira vez à corregência de Belsazar no sétimo ano de N abonido (549), m as as Crônicas referentes aos anos quatro, cinco e seis não foram preservadas. Foi no sexto ano de N abonido, 550, que a sucessão do im pério ganhou contornos definidos, quando Ciro derrota os m edos e o Império Medo-Persa é formado. A penas a títu lo de interesse, um texto onírico de Nabonido, de seu primeiro ano, prevê que Ciro conquistaria os medos.7.2. ventos do céu agitando o grande mar. Essa descrição denota um a cena mítica típica em que a agitação do oceano cósmico perturba as criaturas (com freqüência monstros marinhos) que representam as forças do caos e da desordem. No Enuma Elish, o deus- céu, Anu, cria os quatro ventos que agitam as profundezas do abismo e sua deusa, Tiamat. Tanto naquele, quanto neste texto, é um vento rompente que provoca inquietação.7.3. anim ais com características estranhas. Na série de presságios babilónicos intitulada Shumma Izbu, que D aniel provavelm ente conhecia bem por causa da educação que recebera na Babilônia, diversas anomalias de nascença são registradas, juntam ente com o tipo de evento que prognosticavam . D iversas das descrições dos animais nas visões de D aniel também podem ser encontradas na série Summa Izbu. Alguns dos elem entos comuns nessas descrições incluem a criatura sendo erguida por um a extrem idade e exibindo suas múltiplas cabeças ou chifres. A m aior parte das observações de anomalias era referente a espécies domésticas, sendo um a grande proporção de ovelhas e bodes. Algum as das anom alias são descritas em comparação a diversos anim ais selvagens. Existem exemplos de ovelhas dando à luz carneiros que (de certa forma) se parecem com lobos, raposas, tigres, leões, ursos ou leopardos. Neste capítulo, as anomalias que D aniel está observando não são reais, mas fazem parte de um sonho, portanto, há a combinação de dois m ecanism os im portantes de presságios (sonhos e anomalias de nascença). Os livros dos sonhos com freqüência contêm informações agourentas (presságios) transmitidas em sonhos, cujo significado é o mesmo se fossem vistas na realidade. Por estar familiarizado com ambas literaturas, D aniel estaria inclinado a interpretar o sonho pela linha sugerida nos presságios izbu. As interpretações com freqüência diziam respeito a eventos políticos do tipo "o príncipe tomará a terra de seu inim igo". N ão obstante, o sonho de D aniel vai m uito além dos presságios izbu. As
descrições sugerem que ele vê terríveis anim ais do
caos e não simplesmente ovelhas ou bodes com características anôm alas. A lém disso, m uitos traços dos
animais da visão de D aniel (tais como asas e dentes de ferro) não são encontrados nem esperados nos pressá
gios izbu. Por essa razão, também é importante enten
der a natureza de algum as figuras m itológicas que
dizem respeito ao sonho.7.3. figuras de anim ais. U m a série de fontes mitológicas distintas apresenta semelhanças com as figuras de
anim ais usadas por D aniel. U m a obra acadiana do
século sétimo intitulada Uma Visão do M undo Inferior inclui quinze seres divinos na forma de diversos ani
m ais híbridos. Em seguida, Nergal, o rei do mundo
inferior, é visto assentado em seu trono, e se identifica
como o filho do rei dos deuses. Existem muitas diferenças significativas entre essa visão e a de Daniel,
m as as semelhanças são úteis como pano de fundo.7.3. subiram do mar. Na Bíblia e também no antigo
Oriente Próximo, o mar, bem como as criaturas m ari
n has que ali vivem , representam o caos e a desordem. O conflito físico óbvio entre o m ar e a terra, bem
com o a energia aparentem ente inesgotável exibida
pela fúria do m ar deram origem a mitos cósmicos no
antigo O riente Próxim o. O épico da criação Enuma
Elish, da Babilônia, descreve como M arduque destrói
Tiam at, essa deusa do caos aquático em form a de dragão. Grande parte do ciclo de histórias sobre Baal
na lenda ugarítica envolve a luta de Baal contra seu
rival Yam m , o deus do m ar. Igualm ente, no épico ugarítico, Anate e Baal afirmam ter derrotado Litã, o
dragão de sete cabeças, tendo portanto conquistado o
domínio sobre os mares. Em Salmo 104.26, Yahw eh é
descrito brincando com o Leviatã e em Jó 41.1-11 Deus desafia Jó a m ostrar seu controle sobre o Leviatã, como
ele o faz. Os reinados representados por esses ani
mais, portanto, são associados às forças do caos que
prom ovem desordem ao m undo de Deus e precisam
ser derrotadas.7.4. sím bolo do leão com asas. Figuras aladas são
com uns na arte e na escultura da Mesopotâmia. Os
touros e leões alados, com cabeça humana, ladeavam
tronos e pórticos de entradas na Assíria, Babilônia e
Pérsia. Figuras hum anas aladas (usando coroas com chifres) existiam desde o oitavo século e faziam guar
da no palácio de Ciro, em Pasárgada. Criaturas com
asas também figuram em sonhos. Heródoto relata um sonho que Ciro teve poucos dias antes de sua morte,
em que viu Dario (na época um jovem) com asas que
cobriam a Ásia e a Europa. No M ito de Anzu (ver o comentário seguinte), Anzu é derrotado por ter suas
asas arrancadas. Esse tema também é significativo na
história de Etana, que ajuda um a águia cujas asas
haviam sido arrancadas.
7.7. o quarto anim al. No M ito de Anzu, uma criatura
composta (Anzu) rouba o Tablete dos Destinos, que continha um a espécie de constituição do cosmos. A
deusa M am i, que criara todos os deuses e a m ais
antiga das divindades, é convocada. Pede-se a ela que envie seu filho, Ninurta, para lutar contra Anzu.
O deus Ninurta derrota o m onstro e recupera o tablete.
Ninurta (que também é conhecido por ter derrotado
outras feras tais como o homem-touro do mar, o car
neiro de seis cabeças e a serpente de sete cabeças) recebe então o dom ínio e a glória. C ertam ente há
m uitas diferenças entre esse mito e o relato de Daniel
7, e não se deve pensar que o Mito de A nzu esteja sendo retratado aqui. Quem estivesse fam iliarizado
com o mito, porém, provavelmente veria reflexos dele
nessa visão. A lenda rem onta ao início do segundo
milênio, mas é conhecida principalmente a partir de
textos babilónicos da m etade do prim eiro m ilênio.
Um a inscrição de relevo do nono século em Ninrode apresenta Ninurta lutando com um anim al que tinha
patas de leão e pés de águia. Era coberto de penas e
tinha duas asas, patas de leão com garras afiadas no
lugar das mãos, um a boca escancarada com dentes ferozes e dois chifres. Acredita-se que seja um retrato
de Anzu.
7.7. dez chifres. Era comum na M esopotâm ia que reis
e deuses usassem coroasxom chifres salientes ou em
relevo. Às vezes, os chifres eram sobrepostos em camadas. O leão alado do palácio de A ssum asirpal ti
nha uma coroa cônica em sua cabeça hum ana, com
três pares de chifres enfileirados em relevo. Outra interessante relação é que no Enuma Elish Tiam at é a
fera terrível que o herói dos deuses tem de derrotar.
Para ajudá-la, Tiam at cria onze monstros que também precisam ser derrotados. Aqui também o quarto ani
mal é associado a onze chifres (os dez, m ais o chifre
pequeno, v. 8).7.9. ancião. Na mitologia cananéia o chefe do panteão é El, um a divindade idosa designada pelo título de "pai dos anos". No texto mesopotâmico M ito de Anzu,
o m ais antigo é a deusa M ami, cujo filho derrota o
monstro (Anzu) e recebe domínio.7.9. trono com rodas. Um trono com rodas em cha
mas tam bém é descrito na visão que Ezequiel tem do
trono (Ez \, 10). O s protótipos de tronos com rodas remontam ao final do terceiro m ilênio, como ilustram
os selos cilíndricos. Esses tronos eram simplesmente
carros ou carroças usadas em procissões para transportar a im agem da divindade. Alguns selos até mesmo ilustram criaturas compostas puxando o veículo. O
uso contínuo de tronos com rodas pode ser visto em relevos até os séculos nono e oitavo.
7.10. livros abertos. Toda corte real no m undo antigo
mantinha registros das atividades cotidianas e relatos detalhados dos eventos ocorridos. As ações do ani
mal/ rei teriam sido gravadas e aquele registro seria
aberto para oferecer provas, enquanto estava diante da corte divina para ser julgado.
7 .1 3 ,1 4 . filh o de hom em . A expressão "filho de ho
m em " é simplesmente um a expressão semita comum
para descrever alguém ou algo hum ano ou, ao me
n os, de ap arên cia hum ana. N a teo log ia israe lita , Yahw eh é o D eus altíssim o e tam bém é retratado
cavalgando nas nuvens. Na m itologia cananéia, os
papéis descritos aqui são preenchidos pelo deus El, o
sum o deus ancião (ver o com entário em 7.9) e seu
filho, Baal, o que cavalga sobre as nuvens. Em um dos mitos de Baal, Yamm, que representa o caos do mar, é derrotado e Baal é declarado rei e recebe domí
nio perpétuo. Nos m itos de conflitos cósm icos da
M esopotâm ia (como no Enuma Elish e no M ito de Anzu)
um a divindade (Marduque e Ninurta respectivamente) derrota o caos ameaçador e reconquista autoridade
e dom ínio para os deuses e para si mesm a. D aniel fora educado nessa literatura e suas revelações são
construídas a partir dessas imagens, em bora os temas
comuns venham com um a roupagem totalmente nova.
A literatura intertestamental, como o livro de 1 Enoque,
bem com o o N ovo Testam ento e a literatura cristã inicial identificam o filho do hom em como o Messias.
7.16. um dos que ali estavam. Anjos intérpretes estão
presentes em Ezequiel e Zacarias e são com uns na
literatura apocalíptica do período do Antigo Testamento em diante. Não se sabe da existência de figuras
como essas na literatura mesopotâmica.7.17. os quatro reinos. Para informações a respeito do
padrão dos quatro reinos na literatura antiga, ver o
comentário em 2.36-40. A identificação dos quatro reinos tem gerado bastante controvérsia. O texto não
oferece interpretação a respeito de qualquer das características dos animais do sonho, exceto que os chi
fres representam reis. É difícil saber se as características (p. ex., três costelas na boca) sim bolizam eventos
históricos ou se serviam a outro propósito (ver o com entário em 7.3). Pode ser tam bém que servissem
apenas para dar mais colorido às imagens. Se repre
sentassem realidades históricas, ainda assim as associações seriam apenas fruto de especulação. Por exem
plo, as três costelas na boca do segundo animal repre
sentam Lídia, Babilônia e Egito, as três principais conquistas do Im pério M edo-Persa? O u seriam os
urartianos, m aneanos ou citas conquistados pelos
m edos (Jr 51.27-29)? A s quatro cabeças e as quatro asas do terceiro animal seriam os quatro generais que
dividiram entre si o império de Alexandre? Ou seri
am os quatro reis da Pérsia aludidos em D aniel 11.2? Os dez chifres do quarto anim al seriam um reino
futuro? Ou seriam os dez Estados independentes em
que o império de Alexandre se transformou, por volta do final do terceiro século a .C ? O texto não responde
a essas questões, tampouco informações de contexto oferecem soluções.7.18. santos. O texto se refere aos "santos" que são não só os que receberão o reino (v. 18, 22, 27), m as tam bém as vítim as da opressão (v. 21, 25). Embora m ui
tos intérpretes acreditem que seja uma referência às pessoas justas, o termo é usado com mais freqüência
para descrever seres sobrenaturais (isso também acontece em re lação ao uso do term o equiv alen te em ugarítico e aramaico, bem como na literatura dos Rolos do M ar Morto). Essa alternativa encontra suporte m ais adiante, visto que é o exército dos céus que está sob ataque na visão relacionada do capítulo seguinte (8 .10).7.24. os dez reis. Ao menos nessa questão, o texto deixa claro que os dez chifres representam dez reinos/reis. O s dez reinos que derivam do im pério de Alexandre são o Egito Pto lem aico , a Selêu cia , a M acedônia, o Pérgam o, o Ponto, a Bitínia, a Capadócia, a Arm ênia, a Pártia e a Bactria. Outros ainda acreditam que os dez são sucessores do império romano e, portanto, trata-se de reinos futuros.
7.25. m udar os tem pos e as leis. N a maneira de pensar m esopotâmica, os tempos e as leis são governados por decretos cósmicos reunidos no Tablete dos Destinos. Normalmente ficavam sob a responsabilidade da assembléia dos deuses ou do chefe do panteão. Em
um a série de lendas antigas esses decretos são roubados e usados de forma errada. Em Enuma Elish, Kingu, amigo íntimo de Tiamat, se apropria deles. No M ito de Anzu (ver o comentário em 7.7), um monstro (Anzu)
os rouba e ameaça controlá-los, colocando em perigo todo o cosmos.
7.25. um tem po, tem pos e m eio tem po. A palavra "tem po" usada aqui é a m esma usada em 4.16 (ver o comentário ali). A palavra "tem pos" simplesmente é a form a p lural e não necessariam ente sugere dois tempos. Os babilônios eram matemáticos bastante sofisticados, e desde cedo os deuses eram representados numericamente (Sin = 30, Istar - 15). Além do mais, os deuses, com seus valores num éricos e associações planetárias, figuravam na term inologia astronômica em que os movimentos cíclicos dos céus eram usados
nos cálculos dos calendários. Todos esses fatores dificultam m uito a explicação do significado dessa frase.
8.1-27A visão do carneiro e do bode8.1. cron ologia . A s dificuldades para especificar a que ano se refere a data aqui mencionada são as m es
mas do comentário em 7.1. O terceiro ano de Belsazar provavelm ente foi 550 ou 547. N a visão descrita no
capítulo sete, apenas um império (Babilônia) foi iden
tificado por nome. Agora, dois anos m ais tarde, dois outros impérios são citados por nome.
8.2. geografia. O canal Ulai ficava nas proximidades de Susã, a capital do território de Elão, a cerca de 320
quilôm etros da Babilônia. A cidade m ais tarde tor
nou-se a residência real dos reis da Pérsia Aquemê-
nida, logo era um local propício para a visão. O canal
artificial, no lado norte da cidade, aparece intim a
mente ligado a Susã, em fontes cuneiformes e clássicas. D aniel poderia ter viajado até lá, m as é m ais
provável que ele tenha sido transportado em uma visão como Ezequiel às vezes experimentou.
8.3. carneiro como signo astral da Pérsia. N a literatu
ra m ais recente (nos primeiros séculos d.C.), os signos
do zodíaco são associados a países e o carneiro é asso
ciado à Pérsia. Não há eyidências, porém, de que tal associação tenha sido feita num período tão anterior
como no Livro de Daniel. O conceito do zodíaco tem
origem no período intertestamental.
8.9. ch ifre pequeno. Parece ser uma referência ao rei
selêucida, Antíoco IV Epifânio, cujas atividades no se
gundo século serão detalhadas em notas posteriores.8.9. Terra M agnífica. A partir de 11.16, 41, fica claro
que essa é uma referência à terra de Israel. Antíoco III
m archou para o leste contra a Pártia, a Arm ênia e a
Bactria, de 212 a 205, e em 200 conseguiu o controle da
Palestina na batalha de Panias. Ele e seu filho, Antíoco IV, não foram bem- sucedidos em suas tentativas de
obter controle do Egito (no sul). Antíoco IV também
fez campanhas no oriente (contra a Arm ênia e o Elão)
e tom ou-se conhecido por suas ações contra Judá e Jerusalém (ver os comentários abaixo e em 11.21-39).
8.10. atirou na Terra parte do exército das estrelas. O
exército dos céus no antigo Oriente Próximo refere-se
à assembléia dos deuses, muitos dos quais eram re
presentados por corpos celestes (planetas ou estrelas). A Bíblia às vezes usa a expressão para referir-se ao
culto ilegítim o dessas divindades (ver o comentário
em Dt 4.19). Em outras ocasiões, a expressão é usada
para descrever o concílio dos anjos diante de Yahw eh (ver o comentário em 2 Cr 18.18). Um terceiro tipo de
uso trata o termo como um a referência a anjos rebeldes (talvez em Is 24.21; com um na literatura inter
testamental). Finalmente, a expressão pode referir-se
simplesmente às estrelas, sem nenhuma personalida
de atrelada a elas (Is 40.26). Na destruição descrita em Erra e Ishum, Erra diz que faria os planetas caírem em
seu esplendor e arrancaria as estrelas do céu. Aqui, o exército das estrelas representa um aspecto da batalha
cósmica e cai temporariamente como vítim a do chifre
maligno, sugerindo então que são alguns dos favoritos de Deus.
8.11. sacrifício diário. O sacrifício diário era um ho
locausto que ocorria todas as m anhãs e todas as tardes
(ver os comentários em Êx 29.38 e N m 28.1-8). Repre
sentava o sustento básico do santuário e era fundamental para preservar a presença de Yahw eh no meio
do povo.
8.14. duas m il e trezentas tardes e m anhãs. Se dois mil e trezentos sacrifícios deixassem de ser oferecidos, sen
do que eram dois ao dia, 1150 dias (aproximadamente três an os e d o is m eses) se p assariam . A n tíoco IV
Epifârúo instituiu sacrifícios a seus deuses no templo no
dia 25 de kislev (dezembro), no ano 167 a .C., colocan
do um fim aos rituais judeus pouco tempo antes naque
le m esm o ano (relatado em 1 M acabeus 1.44-51), em
bora não se saiba a data exata da proclamação e execução desse decreto. A rededicação do templo, após a re
volta dos M acabeus, aconteceu três anos após o dia da
profanação do tem plo, no dia 25 de kislev de 164.8.16. G abriel. Essa é a prim eira referência ao nome de
um anjo na Bíblia. O único outro anjo cujo nom e é
mencionado na Bíblia é M iguel (ver 10.13). N a litera
tura intertestamentalr-(2 Enoque), Gabriel está no co
mando do Paraíso. No Rolo da Guerra, de Qumxan, ele é um dos arcanjos que cercam o trono de Deus. Ele
é aquele que leva a m ensagem a M aria, anunciando
o nascimento de Jesus (Lc 1.19). Os anjos não apenas levavam m ensagens da divindade, m as explicavam
o significado das mesmas e respondiam a perguntas relacionadas a elas. Logo, Gabriel é visto aqui como
alguém que pode interpretar a visão. No contexto
politeísta do mundo antigo, os m ensageiros dos deuses geralmente eram deuses também (ocupavam po
sições inferiores). Na Mesopotâmia encontramos Nuska e Kakka nessa função de mensageiros, o mesmo pa
pel desem penhado por H erm es na m itologia grega.
Em um sonho de Nabonido, um jovem aparece para
oferecer a interpretação de um presságio celestial que fora observado.
8.22. reinos. O rei representado pelo chifre grande é indiscutível: Alexandre, o Grande, cujo exército gre
go varreu o Império Persa entre 335 e 331 a.C.. Quan
do Alexandre m orreu repentinamente em 323, com 33 anos, os dois que podiam reivindicar direitos an
cestrais ao reinado (seu m eio-irmão ilegítimo, Filipe Arrideo, e o filho de Alexandre com Roxane, Alexan
dre IV, nascido dois meses após a m orte de seu pai)
foram colocados como figuras m eramente representativas sem autoridade de fato, enquanto a direção do
reino foi confiada a três oficiais experientes, Antípater
(vice-rei da M acedônia), Perdicas (chefe dos exércitos)
e Cratero (responsável pelo tesouro e conselheiro de Arrideo). P or volta de 321, esses três regentes opunh am -se o bastan te p ara qu e um a ba ta lh a fosse
instigada por uma quarta figura, Ptolomeu, que rece
bera uma posição de autoridade no Egito. Cratero foi
m orto em batalha e P erd icas, assassinado em um motim, por diversos de seus generais, um dos quais
era Seleuco. Enquanto isso, Antípater assumiu a lide
rança e colocou um am igo, A ntígono, no lugar de
Perdicas. Em 319 Antípater morreu idoso e apesar de ter nomeado outro sucessor, dentro de dois anos, seu
filho, Cassandro, conquistou o controle da M acedônia
e de grande parte do território da Grécia. No verão de 317, os que se opunham a Cassandro executaram Fili
pe Arideo. Alexandre IV e sua m ãe Roxane foram
colocados em prisão domiciliar e efetivamente depos
tos, em bora só tenham sido executados em 310. Os
três que governavam agora eram Cassandro no oeste,
Ptolomeu no Egito e Antígono no leste. Buscando solidificar seu controle no oriente, Antígono tentou do
m inar Seleuco (governador da Babilônia), que em 315 expôs os planos em busca do poder aos outros líderes,
P to lom eu , C assandro e L isím aco (governad or da Trácia). A s batalhas continuaram até 311 quando An
tígono negociou a paz com Ptolom eu, Cassandro e Lisímaco, deixando Seleuco isolado, mas no controle
da Babilônia. P or volta de 309, Ptolom eu decidira avançar contra Antígono, m as foi longe demais e aca
bou em 306 sob ataqu e de A n tígono e seu filh o,
D emétrio. A invasão de Antígono, no Egito, fracassou e em 305 Ptolomeu, juntamente com Cassandro, Seleuco
e Lisím aco (provavelm ente os governantes que podem ser identificados como os quatro chifres) se decla
raram sucessores de Alexandre. Passaram -se m ais quatro anos até que Antígono fosse m orto na batalha
de Ipsus, em 301. Cassandro morreu apenas três anos mais tarde (298) e Demétrio continuou a causar pro
blemas, mas a divisão do im pério em quatro partes
representa o término dessa luta de sucessão que durou vinte anos.
8.23. re i de duro sem blante. A descrição nos versí
culos 23-25 remete a Antíoco IV Epifânio, que reinou
de 175 a 164 a.C.. Sua sabedoria foi corrompida sendo usada em hipocrisia, intrigas, enganos e traição. Para
um resum o de suas ações, ver os com entários em11.21-39.
8.26. selar a visão. Ver o comentário em 12.4.
9.1-27A oração de Daniel e as setenta semanas9.1. cronologia. Considerando a hipótese de que o reinado de Dario, o medo, tenha coincidido com o de Ciro, seu primeiro ano teria sido 539. Novamente, as datas são importantes, visto que um a mudança significativa de impérios está em andamento (ver o comentário em 7.1).9.2. profecia de Jerem ias. Em 597 o profeta Jeremias escreveu uma carta aos exilados (Jr 29) informando-os de que a duração do exílio seria de setenta anos. Provavelm ente esse é o tema de interesse de Daniel, à medida que ele reflete se chegou a hora certa para o retom o.9.3. je ju m , pano de saco e cinza. No Antigo Testamento, o uso religioso do je jum com freqüência está relacionado a um pedido dirigido a Deus. O princípio é que a importância do pedido levava o indivíduo a preocupar-se tanto com sua condição espiritual que as necessidades físicas eram relegadas a segundo plano. N esse aspecto o ato de jejuar serve como um processo de purificação e hum ilhação diante de Deus (SI 69.10; 102.4). A prática de rasgar as vestes e colocar terra ou cinzas na cabeça era considerada sinal típico de luto em todo o Antigo Testamento, até o período do Novo Testam ento. H avia tam bém o m esm o costu m e na
M esopotâmia e em Canaã. M uitos ritos de luto eram um m eio de os vivos se identificarem com os mortos.
E fácil perceber como as cinzas sobre a cabeça e as roupas rasgadas serviam como representações simbólicas de sepultamento e decomposição. O pano de saco era feito de pêlo de camelo ou de bode e era rústico e desconfortável. Em m uitos casos, era apenas uma cobertura para o lombo.
9 .17 ,18 . desolação da cidade e do santuário. A cidade de Jerusalém fora destruída pelos babilônios em 586 e não passava de ruínas. Cinqüenta anos haviam se passado desde que o templo havia sido desmanchado e arrasado.9.21. G abriel. Ver o comentário em 8.16.9.21. voando rapidam ente. Em Isaías 6, as criaturas chamadas de serafins voam e em Zacarias 5 há uma visão de mulheres com asas que voam, m as esta é a única ocorrência em que um ser identificado como anjo voa. A pesar de outras criaturas sobrenaturais (as listadas acima e também querubins) serem retratadas com asas, os anjos (mensageiros) não são, apesar das representações artísticas dos últimos 1500 anos. Na arte mesopotâmica espíritos protetores e diversos demônios são retratados com asas. Na literatura intertestamental a referência mais antiga a anjos que voam encontra-se em 1 Enoque 61.1 (embora nessa época, os querubins e serafins tam bém fossem incluídos na
categoria). A construção hebraica usada é complexa e muitos comentaristas concluíram (com bastante fundamento) que o texto expressa fadiga (y'p) e não vôo( 'wp).9.21. hora do sacrifício da tarde. A partir da perspectiva israelita, o dia term inava por volta das seis da tarde (não à m eia-noite, como nos dias de hoje). Como resultado, o sacrifício tinha de ser oferecido no meio da tarde, entre três e quatro horas.9.24. setenta sem anas. Um período de sete anos completava o ciclo do ano sabático (ver especialm ente Lv 26.34, 35 e a referência a ele em 2 Cr 36.21). Sete ciclos do ano sabático form avam um ciclo do Ju bileu, quando os escravos eram libertados e a terra
era devolvida ao seu proprietário original (Lv 25). Setenta ciclos sábaticos equivalem a dez ciclos do Ju bileu. O primeiro e últim o ciclos do Jubileu são destacados aqui (sete e setenta semanas, no v. 25). Fica claro, então, que esses núm eros são carregados de significado teológico que lhes dão um a aparência esquemática. N a M esopotâmia os números sete e setenta representavam uma medida completa de tem
po. O uso esquemático do termo "sem anas" pode ser visto na literatura judaica no livro de 1 Enoque (no Apocalipse das Semanas) e o período de setenta sem anas tam bém aparece em Qum ran. O uso esquemático do tempo tem sido designado "cronografia" que é diferente de "cronologia".9.24. cum prir a visão e a profecia. Ver o comentário em 12.4. O selo diz respeito à autenticação. A profecia de Jeremias e a visão de Daniel só serão autenticadas quando se cum prir o período designado de tempo.9.24. ungir o Santíssim o. A cerimônia de consagração que envolve a unção e a purificação do Santo dos Santos em Êxodo 29 (especialmente v. 36, 37) é pano de fundo suficiente para entender essa afirmação. A profanação do santo lugar exigia sua purificação. Inscrições em templos assírios também se referem à unção de um templo que deveria ser reparado e restaurado por um príncipe futuro.9.25. m anda restaurar e reconstruir. A NVI apresenta neste versículo o termo "decreto", mas neste caso não se refere a um decreto real, e sim a um oráculo profético. Esse significado do termo "decreto" é ainda mais provável à luz do fato de que Daniel está partindo dos escritos de Jerem ias, que proclamara o oráculo profético a respeito do retom o e da restauração de Jerusalém e do templo em sua carta aos exilados (ver o comentário em 9.2). Observe especialmente Jeremias29.10. Essa palavra teria sido proferida em algum momento entre 597 e 594.9.25,26. o Ungido. É importante observar que o substantivo aqui é indefinido, logo se trata de um messias
(um ungido) e não o M essias. A literatura profética ainda não havia adotado esse termo como um termo técnico para o rei ideal, futuro, da linhagem davídica (além deste capítulo, o termo é usado apenas nos profetas em Is 45.1, referindo-se a Ciro, e em H c 3.13, de forma genérica). Sacerdotes e reis eram ungidos para assum ir suas funções em Israel. A lguns estudiosos afirm am que as duas referências a ungidos dizem respeito a dois indivíduos distintos: um, após o primeiro ciclo de 49 anos (possivelmente Ciro, visto que já recebera o status de ungido nos profetas, em bora fosse possível tratar-se de líderes como Zorobabel ou Josué, que conduziram os exilados de volta a Israel); o segundo seria morto antes da últim a sem ana. Essa visão é defendida pela interpretação hebraica que sugere que um período deve ser colocado entre os
dois núm eros e não após as sessenta e duas semanas. Foram quarenta e nove anos entre a queda de Jerusalém (586) e o decreto de Ciro (538).9.25. ruas e m uros (trincheiras). "R uas" refere-se aos quarteirões e praças da cidade que são os principais traços do planejamento da cidade. É onde as funções públicas da cidade acontecem , desde as atividades mercantis até o funcionamento do governo. "M uros" (ou trincheiras) pode apenas referir-se ao fosso seco que era um elemento comum da defesa das cidades. A combinação indica que Jerusalém seria novamente um lugar de segurança e prosperidade, oferecendo todas os serviços civis de um centro urbano em pleno e tranqüilo funcionamento.9.26. o Ungido será morto. A identificação mais comum da m orte do ungido é O nias III, o sumo sacerdote assassinado por Antíoco Epifânio em 171 (aludido em 11.22). Muitos estudiosos consideram essa opção irresistível porque a morte desse sumo sacerdote m arcou o início de um período de sete anos de perseguição em Jerusalém que incluiu a profanação do templo em 167.9.27. sacrilégio terrível. O uso freqüente do substantivo traduzido como "desolação" (shmm , ver também 8.13) é bastante intencional. O deus sírio Baal Shamem ("Senhor dos Céus") era a divindade cuja adoração fora instituída no templo, sobre o altar de sacrifícios, pelos cidadãos sírios levados a Jerusalém por Antíoco e seu comandante militar, Apolônio. Antíoco adorava essa divindade como o Zeus Olímpico. Essa profanação perpetrada por Antíoco serviu como um protótipo de todas as profanações futuras. Ainda no sexto século, porém , esse conceito tinha precedente. Em uma obra intitulada O Relato em Verso de Nabonido, os sacerdotes de M arduque alistam as ofensas de Nabonido que supostam ente teriam levado M arduque a destroná-lo, favorecendo o rei persa, Ciro. Dentre as acu
sações estão a de que ele construíra uma abominação, um a obra de contam inação (um a estátu a do deus Nanna colocada no templo de Marduque) e ordenara o fim dos rituais mais importantes.
10 .1-21 A visão do homem vestido de linho (a visão final)10.1. cronologia. O terceiro ano do governo de Ciro na Babilônia foi 537/536. Foi bastante próximo à época em que a prim eira leva de ju deu s retornou do cativeiro e deu início à reconstrução do templo (registrado no primeiro capítulo de Esdras). O versículo 4 indica que a visão aconteceu no dia 24 do primeiro mês (nisa). Seria no início de abril, segundo o nosso calendário. A celebração da Páscoa e da festa do pão
sem fermento (14-21 de nisã) já teria acontecido durante as três semanas de preparo de Daniel.
10.1. C iro. Ciro, rei da Pérsia, foi um dos m aiores conquistadores da história m undial. Ele herdou o trono da Pérsia de seu pai, Cambises I, em 559. Em 556 o rei babilónico, Nabonido, motivado por um sonho, abandonou o tratado que seu país havia mantido com os medos por m ais de meio século e fez um tratado
com Ciro. Isso deu a Ciro a liberdade de avançar contra os m edos (governados por seu avô, Astyges), a quem ele derrotou em 550. O novo Im pério M edo- Persa foi então formado, com controle sobre a totalida
de do Irã. Por volta de 546 ele derrotou o reinado anatólio da Lídia e de Iônia. Nos cinco anos seguintes ele consolidou seu controle sobre as tribos do nordeste do Irã. Tudo isso preparou o caminho para seu maior feito, a conquista da Babilônia em 539 a.C.. Todo o Oriente Próximo (exceto o Egito) estava sob o domínio dos persas quando Ciro foi morto em com bate, em 530. Para mais inform ações, ver os comentários em Esdras 1.10.3. com ida saborosa. N a literatura apocalíptica ju daica extrabíblica o jejum com freqüência é um preparo essencial para receber uma visão. Daniel não está fazendo um jejum absoluto, mas abstendo-se de m assas, carne e vinho - logo está voltando a um a dieta m ais sim ples. D eve-se observar que em bora este versículo não utilize a mesma terminologia do texto em 1.5, fica claro que naquele episódio D aniel não havia assumido o compromisso de manter por toda a vida um a dieta m ais leve.10.3. essência arom ática. N a ausência de banhos e desodorantes, a higiene pessoal incluía o uso de óleos aromáticos. Privar-se desses prazeres era uma característica de quem estava de luto (2 Sm 12.20; 14.2).10.5, 6. descrição. O linho branco era a roupa típica para sacerdotes e tam bém para seres sobrenaturais
(Ez 9-10). O cinto de ouro é deveras impressionante, m as a m aior parte da descrição se concentra nas características físicas do homem (geralmente identificado como Gabriel). Os cinco aspectos descritos ([1[ corpo/ berilo; [2] rosto/relâmpago; [3] olhos/tochas acesas; [4] braços e pernas/bronze polido; [5] voz/multidão)
também podem ser encontrados na descrição das criaturas que carregavam o trono, em Ezequiel 1. A aparência geral do veículo é comparada a um a tocha e a relâmpagos, as rodas são comparadas ao berilo e as pernas das criaturas são como o bronze polido. Os m esm os termos hebraicos são usados. Em Ezequiel 1 o som das asas das criaturas é como o de um exército, enquanto o anjo em Daniel tem uma voz como o som de uma multidão. Daniel deixa claro, no entanto, que seu visitante tinha a aparência de homem e não dos anim ais com p ostos v isto s por E zequ iel. N a obra sapiencial babilónica intitulada Ludlul Bei Nemecji o
sofredor, após um longo período de sofrimento e luto, tem um sonho em que vê um impressionante jovem (tanto no físico, quanto na aparência do rosto) diante dele, que o deixa estarrecido. A m ensagem do indivíduo não é preservada, m as geralmente se supõe que tinha a ver com uma libertação iminente.10.13. príncipe do reino da Pérsia. O contexto exige que esse oponente de M iguel seja um ser sobrenatural e não um ser hum ano m em bro da realeza. A literatura de Qumran também usa o termo "príncipe" para referir-se a anjos de destaque. Não há evidência m ais clara que este capítulo sobre o conceito bíblico de que os conflitos na história humana têm paralelos no m undo sobrenatural. Indícios desse conceito ficam evidentes no conceito do guerreiro divino (ver os comentários em 1 Sm 5.2; 17.27; 17.45-47). Assim como os israelitas tinham uma assembléia divina repleta de anjos em vez de deuses, com o passar do tempo eles também trocaram o conceito das divindades padroeiras pelo conceito de criaturas sobrenaturais que representavam o interesse das nações. Isso reflete o processo em andamento de esvaziar os céus eliminando as divindades rivais e ao m esm o tem po m anter um a visão sobrenatural da realidade.10.13. M iguel. Como indicado no comentário a respeito de Gabriel (em 8.16), não há nomes de anjos na literatura anterior. M iguel tom a-se um a figura muito m ais fam iliar na literatura de Qumran e na literatura intertestamental, principalmente no livro de Enoque. Ele é considerado o guardião do povo de Israel.10.20. Pérsia, G récia. Como no capítulo 8, a referência aqui é à seqüência de im périos, em que o Im pério Grego de Alexandre assume o lugar do Império Persa.10.21. Livro da V erdade. Esse livro tem sido com parado ao Tablete dos Destinos Babilónicos, que, se
gundo a crença, continha toda a história e determinava o curso da m esm a e do cosm os (ver o comentário em 7.25). Isso não apenas se encaixa à natureza do conteúdo revelado no capítulo 11, como tam bém está em sintonia com a introdução desse material em 11.2, onde a informação a ser transmitida é especificamente
classificada como "a verdade".
11.1-45Os reis do sul e os reis do norte11.2. quatro reis persas. Ciro já era rei quando isso aconteceu, logo ele não poderia ser contado entre os quatro. Seus sucessores im ediatos foram Cam bises, Sm erdis (Bardiya/G aum ata), D ario, Xerxes e Arta- xerxes. Sete outros reis se seguiram na linhagem real antes de Alexandre, o Grande, provocar a queda do império. O último foi Dario III. Apesar de discutível, Xerxes foi considerado o m ais rico dos reis e o que mais se envolveu em batalhas contra os gregos. Isso cobre cerca de setenta anos da história persa.11.3. rei guerreiro. O rei guerreiro não é outro senão Alexandre, o Grande. O texto omite 130 anos desde o final do reinado de Xerxes até 336, quando Alexandre tomou o trono da Macedônia. Dentro de cinco anos seu poderio m ilitar derrubou o Império Pérsia e apresentou ao m undo os gregos.11.4. repartido para os quatro ventos. Alexandre morreu em 323 e um a batalha pela sucessão que durou vinte anos com o tempo provocou a divisão do império em quatro partes (ver o comentário em 8.22). Duas delas ficaram na região do Egeu (Cassandro ficou com a Grécia e a M acedônia; Lisímaco ficou com a Trácia), enquanto os outros dois dividiram o Oriente Próximo (Ptolomeu ficou com o Egito e a Palestina e Seleuco, com a Síria, a M esopotâm ia e a Pérsia). A linhagem ptolem aica será representada pelo "re i do su l" enquanto a linhagem selêucida, pelo "rei do norte".
11.5. Ptolom eu I Soter (305-285). O texto passa a focalizar os dois reinos (Egito ptolemaico e Selêucia) que m argeavam a Palestina. Ptolomeu desestabilizou as potências e instigou revoltas durante grande parte da batalha de sucessão que durou vinte anos (desempenhando um importante papel desde 321), m as Seleuco emergiu como a parte mais forte, de posse do reino maior. A ação m ilitar de Ptolomeu em 321 dissolveu o grupo original que assumira o poder após a morte de Alexandre. U m a de suas poucas derrotas aconteceu em 309, quando ele tentou opor-se à Antígono (predecessor de Seleuco). Por volta de 306, ficou claro que ele se superestimara e teve de recuar e reagrupar. Ainda em 306 conseguiu declarar-se rei do Egito.11.5. Seleuco I N icator (312-280). Após a m orte de Alexandre, Perdicas assumiu o comando dos exérci
tos, e Seleuco era um de seus generais e fazia parte do grupo que assassinou P erdicas. Em pouco tem po Seleuco conquistou o controle da Babilônia, m as foi forçado a fugir quando o sucessor de Perdicas, Antígono, avançou contra ele em 316. Ele então passou a servir como general para Ptolomeu, de 316 a 312. Eles lutaram juntos contra Antígono na batalha de Gaza.
Após a derrota de Antígono em Gaza, Seleuco reobteve o controle da Babilônia, que se tom ou o centro de seu poder. O s versículos quatro e cinco cobrem o período da morte de Alexandre até os reinados dos primeiros reis dos dois impérios, cerca de quarenta anos.11.6. aliança frustrada entre ptolem aicos e selêucidas (246). O texto vai quarenta anos à frente. Esses anos testem unharam a prim eira e a segunda guerra síria (274-271; 260-253), basicamente pelo controle das rotas comerciais, portos e recursos naturais da Síria. Após a segunda guerra, havia interesse em manter a paz, e o texto agora concentra-se nesse momento crucial da história. Por volta de 252, Ptolomeu II Filadelfo (285246) enviou sua filha, Berenice, acompanhada de seu séquito, para casar-se com o rei selêucida, Antíoco II Téo (261-246), e estabelecer assim um a aliança entre os dois reinos. A aliança daria a Ptolomeu o controle da Síria e a Antíoco o controle da Ásia Menor. A frágil relação foi m antida por alguns anos e Berenice teve um filh o , m as um a esp osa an terio r de A n tíoco , Laodicéia, cujos filhos haviam sido excluídos da sucessão, supostamente envenenou Antíoco e conseqüentemente teria mandado assassinar Berenice e seu filho (juntamente com muitos que compunham seu séquito). Ptolomeu II também havia morrido naquele ano. Não é preciso dizer que a aliança desintegrou-se e os cinqüenta anos seguintes foram repletos de guerras turbulentas entre os dois reinos.11.7. Ptolom eu III Euergetes (246-221). Ao saber da morte de Antíoco, Berenice apelou a seu irmão (que
ascendera ao trono do Egito) para intervir na Síria, a fim de defender o direito de seu filho ao trono. Ele não foi capaz de garantir o controle da Síria antes do assassinato de seu sobrinho e sua irmã. Em 245 (Terceira G uerra Síria), ele forçou um a invasão na Selêucia e atacou com sucesso as capitais sírias de Antioquia (no Orontes) e Selêucia (Selêucia Pieria, na Síria), tom ando m uitos despojos. As cidades foram rapidamente recuperadas por Seleuco II após Ptolomeu ter voltado para o Egito.
1 1 .9 . S e le u c o I I C a lín ic o (2 4 6 -2 2 6 ). O filh o de Laodicéia, Seleuco II, herdou toda a traição e intrigas de sua m ãe. Em 243 ele tentou obter o controle do sul da Síria e da Palestina. Não só fracassou, como a situação voltou-se contra ele e acabou perdendo território.11.10. Seleuco III (226-223). Durante os últimos quinze anos de seu reinado, Seleuco II esteve envolvido em um conflito com seu irm ão, Antíoco H ierax. Am bos m orreram na m esm a época e Seleuco III assum iu o trono. O versículo dez resum e os eventos dos dez anos seguintes. Seleuco III foi morto em uma campanha contra P érgam o, na Á sia M enor. Foi sucedido por seu irmão, Antíoco III, que começou a reunir tropas para a Quarta G uerra Síria (221-217) contra Ptolomeu IV.11 .10 . A n tío co I I I , o G ran d e (223-187). Os nove versículos seguintes tratam dos feitos de Antíoco III e cobrem cerca de trinta anos. Seu reinado é considerado importante para o texto de Daniel porque foi responsável por tirar a Palestina do controle ptolemaico e incorporá-la ao reino selêucida, encerrando um século de dom ínio ptolemaico sobre Israel. Isso teve início em 218, quando ele invadiu com êxito a Galiléia e a Sam aria.11.11. Ptolom eu IV Filopator (221-203). Durante vários anos da Quarta Guerra Síria, Ptolom eu IV teve pouco sucesso militar contra Antíoco, o Grande, e apenas evitou (ou frustrou) seu progresso para o sul atra-
APOCALIPSES ACADIANOSNa literatura acadiana algumas obras (datando do século doze até o terceiro ou quarto século) foram classificadas como apocalipses (a Profecia de Marduque, a Profecia de Shulgi, a Profecia de Uruk, a Profecia Dinástica e o Texto A). Foi demonstrado que existe uma relação literária entre algumas dessas obras e os textos de presságios (astrológicos), colocando-as assim na área de especialidade de Daniel. Uma característica predominante dessas obras é que ostensivamente predizem uma série de reis, que surgiriam, sem mencionar o nome deles, apresentando um resumo de suas ações. Com freqüência essas ações são negativas e a intenção da obra é condená-los. Invariavelmente, a seqüência termina com um rei que surgiria e acertaria as coisas (a Profecia Dinástica talvez seja uma exceção, mas o final está tão fragmentado que é difícil dizer com certeza). Essas obras têm sido consideradas material de propaganda composto durante o reinado do último rei alistado, que estaria usando esse gênero literário para acusar seus predecessores e legitimar seu próprio reinado. Nesse caso, deveriam ser chamadas de "pseudo-profecias", uma vez que suas "predições" na verdade são proferidas após a ocorrência dos fatos. O capítulo 11 de Daniel inegavelmente compartilha algumas dessas características comuns desse gênero, ao apresentar uma seqüência de reis anônimos e um resumo de alguns eventos em seus reinos. Daniel, porém, não apresenta nenhum rei nem um resumo de eventos no final da seqüência, com o objetivo de promovê-lo. O oposto é verdade, visto que o último, Antíoco Epifânio, é o pior de todos. Como em todo o Livro, então, Daniel usa um tema conhecido, mas lhe dá uma roupagem totalmente nova para o uso distinto que faz. Para mais informações a respeito da literatura apocalíptica em geral, ver a nota em Zacarias 1.
vés de repetidas iniciativas diplomáticas. Muitos dos sucessos de Antíoco foram conseguidos com a ajuda de traidores e não através de poderio m ilitar ou talento. Na verdade, suas táticas vagarosas permitiram que Ptolom eu reunisse, treinasse e enviasse para o campo de batalha uma força armada significativa em 217.
11 .11-13. Q u arta e Q u in ta G u erra S ír ia . Em 217, Ptolomeu IV enfrentou Antíoco III, na batalha de Rafia, no que se tornou o clím ax da Q uarta G uerra Síria. Rafia era uma linha divisória tradicional entre a Palestina e o Egito, cerca de 32 quilômetros a sudoeste de Gaza, na costa do Mediterrâneo. Antíoco afirmava ter um exército de setenta mil homens, mas, mesmo
com a superioridade numérica de seu exército, ele foi derrotado pelos egípcios. Essa vitória devolveu ao controle ptolemaico a Siro-Palestina. Essa situação foi m antida até a m orte de Ptolom eu IV , em 204. As circunstâncias suspeitas da morte de Ptolomeu IV (com pouco mais de trinta anos) levaram seu filho de seis anos, Ptolomeu V Epifânio (204-180) ao trono do Egito. Antíoco aproveitou a oportunidade do conflito sobre quem estava no comando para iniciar a Quinta Guerra Síria (202-200), aliado com Filipe V, da Macedônia.
11.14-16. ocupação da P alestina por A ntíoco III. A batalha de G aza em 201 garantiu a Antíoco o controle temporário da Palestina, mas ele foi novamente forçado a recuar pelas forças egípcias sob o comando de Escopas. No ano seguinte, porém, na batalha de Panias (uma das nascentes do Jordão; a Cesaréia de Filipos do Novo Testamento, atual Banias), Antíoco derrotou os egípcios e assum iu o controle da Palestina pela últim a vez. Enquanto isso, os romanos estavam conquistando a Grécia na Segunda Guerra Macedônica.11.14. hom ens violentos. O livro de 3 Macabeus registra um a visita de Ptolomeu IV a Jerusalém após a batalha de Rafia em que foi tratado m uito mal quan
do desejou entrar no templo. Existe controvérsia quanto à historicidade desse relato. H avia na Judéia, nesse período, facções pró-selêucidas (liderada por Onias II, o sumo sacerdote) e pró-ptolemaicas (da poderosa fam ília Tobíades, que com petia pelo cargo de sumo sacerdote). As fontes não oferecem informações suficientes para determinar qual desses partidos está sendo aludido neste versículo.11.17-19. a derrota de A ntíoco III por Rom a, Scipio (191,190). O controle crescente dos romanos na Grécia foi estabelecido por um acordo de paz em 196. Os gregos que estavam insatisfeitos com a nova situação fizeram contato com Antíoco, insistindo em que fosse ao auxílio deles. Nessa época, Antíoco, prevendo que teria que neutralizar o Egito, fez um a aliança de casam ento, enviando sua filha, Cleópatra, para ser a noi
va de Ptolom eu V. Ele esperava usá-la com o um a eficaz espiã, mas foi desapontado nesse aspecto, visto
que a lealdade da filha passou a ser para com seu
novo marido. Não obstante, ele avançou em direção à Grécia em 192. A mudança constante de aliados com
o tempo voltou-se contra ele, e ele perdeu um a grande parte de seus dez mil homens em Termópilas, em
191. Antíoco então voltou-se para a batalha no m ar
tentando m anter os romanos fora da Ásia M enor, mas novam ente não foi bem-sucedido. Por volta de 190, o
exército selêucida de setenta mil homens chegara para reforçar as posições de Antíoco. As tropas rom anas
lideradas por Scipio eram apenas metade desse con
tin gen te quando os exércitos se en contraram em
M agnésia (cerca de 80 quilômetros ao norte de Éfeso).
A inda assim , devido à fa lta de treinam ento e aos erros táticos por parte do exército selêucida, Antíoco
foi derrotado e grande parte de seus homens foi morta. Os termos de rendição foram humilhantes, devas
tadores e aceitos sem questionamento.
11.20. Seleuco IV Filopator (187-175). Esse filho de
Antíoco III teve um reinado relativamente pacífico e
parece ter m antido relações favoráveis com Jerusalém. A exceção citada no versículo foi quando ele
enviou a Jerusalém um de seus oficiais, Heliodoro,
para arrecadar im postos que foram descritos como
pesados demais ou escondidos pelas facções contrárias aos selêucidas. Antes que o sumo sacerdote, Onias III,
pudesse chegar a Antíoco para apelar da decisão e
oferecer explicações, Seleuco foi assassinado em uma conspiração executada por Heliodoro, sendo Antíoco
IV suspeito de cumplicidade pelos historiadores.
11.21. Antíoco IV Epifânio (175-164). Antíoco IV, ir
m ão de Seleuco, estivera em Rom a como um refém político e estava retornando (alcançara Atenas) quan
do seu irmão foi assassinado. Seus alvos incluíam trans
formar Jerusalém no centro da cultura grega e ajudar
os judeus a fazer a transição para tom ar-se cidadãos gregos, com costumes gregos. As intrigas em que se
envolveu foram muitas, mas certamente a principal
em relação a Jerusalém foi com o ele lidou com os
sum os sacerdotes (ver o comentário abaixo). O texto
bíblico o chama de "desprezível" e de fato ele o era.
Seu título, "Epifânio" significa "deus m anifesto", mas o povo se referia a ele como "Epim ânio", que significa
"louco". Apesar de ser um membro da linhagem real,
o trono deveria ter ficado com o filho de Seleuco, Demétrio (que em vez disso estava tomando o palácio
de Antíoco como refém, em Roma). Outra intriga di
zia respeito ao trono. Ele estabeleceu uma co-regência com seu sobrinho (um menor), que poucos anos mais
tarde foi assassinado.
11.22. príncipe da aliança. Onias III foi detido por Antíoco e nesse ínterim, Jason, seu irmão, conspirou para usurpar sua posição. Ele pagou uma soma considerável a Antíoco e ofereceu cooperação na helenização da Judéia (promoção da cultura grega em detrimento dos costumes judaicos). Três anos m ais tarde, Menelau, com o provável apoio de Tobíades, pagou uma grande soma e, tendo já sido estabelecido um precedente, foi recompensado com o cargo de sumo sacerdote, em lugar de Jason. De acordo com 2 Macabeus, Onias foi assassinado em 171. Muitos estudiosos o identificam como o príncipe da aliança citado neste versículo, m as outros associam esse título a Ptolomeu V I (ver abaixo). O exército avassalador, em certo sentido, representa os oponentes ao reinado de Antíoco. Poderia incluir oponentes políticos internos, adversários judeus ou oposição estrangeira como a que se desenvolveu no Egito.11.25. Prim eira G uerra Egípcia, 169. Os sonhos de
Antíoco de anexar o Egito a seu reinado finalmente se concretizaram em 169. Sua invasão foi im pelida pela crescente anim osidade dos egípcios e talvez tenha sido uma resposta à ação m ilitar do Egito, uma vez que o prim eiro confronto (novembro de 170) foi entre Pelúsio e Gaza. Não obstante, Antíoco teve êxito em capturar a cidade de M ênfis e garantiu a rendição de Ptolomeu VI.
11.26-28. Ptolom eu V I Filom etor (181-146). Ptolomeu VI era jovem quando assumiu o trono e foi auxiliado por dois oficiais, Euleu e Leneu, que incitaram a oposição contra a Síria. Acredita-se que a hum ilhação de Ptolom eu na Prim eira Guerra Egípcia foi resultado dos maus conselhos que esses dois assistentes lhe deram com a intenção de prejudicá-lo.11.27. cerco frustrado de Alexandria. Após o cerco bem-sucedido a Mênfis, os cidadãos de Alexandria o desafiaram coroando o irm ão mais novo de Ptolomeu. Antíoco tomou medidas imediatas para suprimir essa revolta, m as não conseguiu tom ar a cidade. Assim que A ntíoco voltou à Síria, Ptolom eu V I repudiou qualquer lealdade a ele e reinstalou a co-regência com seu irmão.11.28. ação contra a san ta a liança. Fontes rom anas, gregas e judaicas diferem quanto aos detalhes dessa questão. Não há dúvidas de que ao retornar do Egito, Antíoco saqueou o tesouro do templo, provavelmente a fim de garantir fundos para a continuidade de suas atividades militares. Não há concordância entre as fontes em relação a esse incidente, se aconteceu após a P rim eira (se tem bro de 169) ou a Segu n d a G u erra Egípcia.11.29. 30. Segunda Guerra Egípcia, 168. Na primavera de 168 Antíoco novam ente teve de sitiar Mênfis, e
foi tão bem-sucedido que conseguiu assumir o controle do baixo Egito. Ao preparar-se para novam ente sitiar Alexandria, agora enfraquecida, ele se proclam ou rei do Egito. M as desta vez havia um a diferença. O Egito apelara a Rom a em busca de ajuda e os navios rom anos chegaram quando ele se aproxim ava de Alexandria. O cônsul romano Gaio Popílio Lenas encontrou-se com ele nos muros de Alexandria e ordenou a Antíoco que deixasse o Egito. Quando Antíoco replicou que teria de consultar seus conselheiros, o cônsul romano desenhou um círculo no chão ao redor do rei e insistiu que ele desse uma resposta antes de pisar fora do círculo. Humilhado, Antíoco submeteu- se à autoridade romana e dirigiu-se para casa procurando um meio de vingar sua derrota. Provavelmente isso aconteceu em julho de 168.11.30. fú ria contra a santa aliança. As notícias em Jerusalém eram que Antíoco fora morto em combate. Jason, que fora deposto como sumo sacerdote, aproveitou a oportunidade para liderar um a rebelião contra M enelau, que a essa altura era o sumo sacerdote (ver o comentário em 11.22). Quando Antíoco ficou sabendo dos tumultos, é provável que tenha ido pessoalm ente a Jerusalém para sufocar a rebelião. No processo, dez mil judeus foram massacrados, e o templo foi saqueado (aparentemente com a cooperação de M enelau). Outro relato (talvez de um a ação subseqüente) diz que Apolônio, juntam ente com um contingente de soldados, teria sido enviado por Antíoco para subjugar os cidadãos rebeldes de Jerusalém. Segundo os livros dos M acabeus, isso foi alcançado através da estratégia de aparentar que haviam ido a Jerusalém em paz, m as depois atacando de surpresa e m atando a muitos. Talvez essa seja um a ocasião distinta e é difícil dizer qual a relação entre esses eventos e aqueles relatados no com entário em 11.28. É provável que a essa altura a cidadela (a Acra) dos soldados sírios tenha sido erguida na encosta do monte do Templo.11.31. profanação do santuário. De acordo com o livro dos M acabeus, um indivíduo cham ado Geron foi enviado por Antíoco para acabar com a prática religiosa judaica. E possível que o contingente m ilitar sírio, em busca de acomodação para sua própria prática de adoração, tenha sido parcialm ente responsável por algumas das m udanças descritas no templo. Em dezembro de 167 um programa sistemático de instituição das práticas religiosas gregas em detrimento das judaicas teve início. O sistema sacrificial e a observância do sábado e das festas foram interrompidos. Foram instituídos lo
cais de culto em todo o país e a circuncisão foi proibida. O tem plo foi consagrado a Zeus e tom ou -se um centro do politeísmo e de prostituição.
11.31. sacrilégio terrível. Geralmente essa expressão
é entendida como uma referência a um ídolo do Zeus Olímpico que foi colocado no templo. Antíoco identi
ficara esse seu deus favorito com o deus sírio Baal-
Sham em , a principal divindade da parcela síria da população (ver o comentário em 9.27).
11.32-35. com lison jas corrom perá aqueles que tiverem violado a aliança. Muitos judeus haviam apoiado
o processo de helenização e, portanto, se recebessem a prom essa de algum benefício pessoal, prontam ente se aliariam às novas políticas. Dentre esses se destaca
Menelau, o sum o sacerdote, que dependia totalmente de Antíoco para sua lucrativa posição.
11.32-35. Judas M acabeu. Em contraste, m uitos dos
judeus lutaram energicam ente contra a helenização
da Judéia - com m uito sofrimento e a m orte de m uitos mártires. A principal revolta organizada foi liderada
pela fam ília dos asmoneus, iniciada por seu patriarca, Matatias, um sacerdote. N o início de 166, quando o
enviado de Antíoco chegou ao seu povoado para fazer
cum prir os novos regulamentos, Matatias e seus cinco
filhos, João, Simão, Judas, Eleazar e Jônatas, responderam pegando nas arm as e m atando-o. A fam ília,
então, fugiu da cidade e a rebelião teve início. Com
Judas como o comandante m ilitar, começaram assum indo o controle de pequenas cidades, com a inten
ção de isolar todas as estradas para Jerusalém . Isso
criou um bloqueio efetivo que ocasionou a retomada
de Jerusalém e a purificação do templo, em dezembro
de 164, exatam ente três anos após sua profanação,
m as Daniel 11 não faz menção a esse evento. Ainda há controvérsia se nesse trecho os macabeus são cita
dos de forma favorável ou desfavorável.11.36-39. Se esses versículos ainda estiverem se refe
rindo a Antíoco IV, apresentam uma descrição geral
do difícil período que envolveu a profanação do tem
plo. As referências à arrogância de Antíoco, seu generoso apoio a alguns templos e redistribuição da terra
àqueles que o apoiavam são facilmente reconhecidos
como características desse período.
11.37. os d eu ses. Os p red ecessores selêu cid as de
Antíoco haviam elevado o deus Apoio, enquanto os ptolomeus haviam mostrado preferência por Adónis
(possivelmente citado aqui como o preferido das m u
lheres). Antíoco os negligencia (embora de forma alguma os rejeite), favorecendo o Zeus Olímpico. O fato
de ter se autodenominado "deus m anifesto", expres
são cunhada em suas moedas é suficiente para expli
car o comentário deste versículo.11.38. deus das fortalezas. A fortaleza a que se faz men
ção aqui geralm ente é considerada a Acra, guarnição dos soldados sírios, adjacente ao m onte do Templo.
11.40-45. batalha final. Não se sabe de nenhuma seqüência de eventos históricos que corresponda ao que
é descrito nesses versículos. Antíoco IV foi morto na batalha da Pérsia, em dezembro de 164. M uitos intér
pretes de Daniel consideram que esse trecho (talvez começando no v. 36) contenha uma referência a um
futuro m ais distante.
12.1-13 Os tempos do fim12.1. M iguel. Ver o comentário em 10.3.
12.1. o livro. Parece ser um a referência ao livro da
vida. Em Êxodo 32.32-34, Moisés está disposto a ser riscado do livro, uma ação que resultaria em sua m or
te. Yahw eh replica que aquele que peca é riscado do
livro. A metáfora é de um a lápide que contém uma
lista dos viventes. É comparável ao livro que contém o nom e daqueles destinados a morrer, que Enkidu vê
em seu sonho do mundo inferior. Quando os pecados
de alguém exigem julgamento, o nom e dessa pessoa é riscado, resultando assim em sua morte. Isso traça
um a relação entre o livro da vida e o livro do julga
mento (ver o comentário em 7.10). Aqui, o livro ainda
diz respeito à continuação da vida, uma vez que aque
les que estão registrados nele serão libertos da perse
guição. N o entanto, ainda não é considerado como um livro de vida eterna.12.2. ressu rreição n o antigo O rien te Próxim o. H á
diversos conceitos distintos de vida após a morte evi
dentes no antigo Oriente Próximo. O mais fundamen
tal deles é a continuação da existência num mundo inferior de sepulturas onde não há diferenciação no
tratam ento dado ao justo e ao ím pio. Os israelitas
cham avam esse lugar de Sheol (ver os comentários
em Is 14.9), e acreditavam que não perm itia nenhuma interação com Deus. Em Canaã e na Mesopotâmia
havia divindades do m undo inferior que governa
vam essa dimensão. No Egito, a existência no mundo inferior era m ais congenial para aqueles que passa
vam pelo julgam ento e adentravam em seus limites.
Q uem não fosse aprovado era devorado. Nenhum
desses conceitos inclui a idéia de ressurreição. De modo
geral, o único despertar que acontecia na visão de
mundo antigo era a invocação dos espíritos dos m ortos (que não era perm anente, nem num a presença
corporal) ou o levantar dos deuses da fertilidade nos
ciclos da natureza. Estes morriam anualm ente quando o ciclo agrícola terminava e "passavam o inverno"
no m undo inferior. Depois eram ritualmente desper
tados na primavera. Nada disso apresenta qualquer semelhança com a doutrina teológica da ressurreição.
Do mesmo modo, não são comparáveis as revivificações
ocasionais (quando um indivíduo é trazido de volta à
vida) ou os indícios de um retom o nacional à vida (os
ossos secos de Ezequiel). Um a doutrina da ressurreição inteiramente desenvolvida e elaborada no senti
do atual inclui seis elementos: (1) é individual, não nacional; (2) é material, não espiritual; (3) é universal,
não isolada; (4) acontece fora do mundo inferior; (5)
conduz à imortalidade permanente e (6) envolve dis
tinções entre o justo e o ímpio. O zoroastrismo parece conter todos esses elementos, mas a natureza das fon
tes não permite identificar o período a partir do qual os persas passaram a desenvolver esses conceitos (para
m ais informações, ver o comentário em Is 26.19).
12.3. reluzirão como as estrelas. Estrelas e anjos são associados pelo fato de que am bos são designados
como exércitos dos céus (ver o comentário em 8.10).
Segundo a maneira de pensar grega contemporânea
e a literatura apocalíptica intertestamental, os justos se
tom avam estrelas ou anjos. Daniel fala apenas em
termos de comparação, não de transformação.12.4. feche com um selo as palavras. D esde o século
oitavo, textos assírios de natureza esotérica eram pre
servados. As anotações (chamadas cólofons) no final
de tais obras indicavam que continham conhecim en
tos secretos a serem compartilhados apenas aos iniciados. Os rolos podiam ser selados amarrando um cordão em volta deles e selando o n ó com argila ou colocando-os dentro de um jarro e selando a tampa. A argila ou o selo ao redor da tampa recebiam a impressão com o selo do proprietário. A M esopotâmia usava selos cilíndricos, o Egito selos de escaravelho, e a Siro- Palestina, selos de estampa. Os tabletes eram selados dentro de um envelope de argila, que recebia a im pressão do selo do proprietário. O s selos tinham o objetivo de autenticar a integridade do conteúdo. Eles alertavam contra adulteração e se intactos, atestavam a autenticidade do documento. Para m ais inform ações, ver N eemias 9.38.12.7. um tem po, tempos e m eio tempo. Ver o comentário em 7.25.12 .11 ,12. 1290/1335 dias. O calendário lunar era usado em grande parte do mundo antigo, resultando em anos de 354 dias. Há m uito fora reconhecido que o ano solar tinha 365 dias, assim ajustes periódicos eram feitos acrescentando um determinado número de dias aos m eses. A prática grega fazia uso do padrão de m eses de trinta dias, que tam bém eram periodicamente ajustados ao ciclo solar. M il e duzentos e noventa dias são três anos e sete meses de trinta dias.
O S É I A S
1.1-11 A família de Oséias1.1. cronologia. As profecias de Oséias abrangem o oitavo século, do início do reinado de Uzias em Judá até o término do reinado de Ezequías. O único rei de Israel citado nesse sobrescrito é Jeroboão II, cujo reinado basicamente cobre a primeira m etade daquele século. A m aior parte das m ensagens de Oséias trata primordialmente de eventos no período caótico após a morte de Jeroboão, quando houve uma sucessão de reis fracos e ineficazes, pouco antes da conquista assíria de Israel e da destruição de Sam aria em 721 a.C..1.2. ordem div ina de tom ar m ulher. O casam ento por ordem divina é uma metáfora para a aliança de Israel com Yahweh. Ezequiel demonstrou isso no oráculo da "criança enjeitada" (Israel) que com o tempo tom ou-se a esposa infiel de Yahw eh (Ez 16.1-43). Um exemplo extrabíblico de casamento ordenado por um deus encontra-se nos Anais H ititas de Hattusilis, m uitos séculos antes de Oséias. Hattusilis declara que a deusa Istar lhe apareceu em um sonho instruindo-o a tom ar Puduhepa, filha do sacerdote de Istar, como sua esposa. Esse endosso divino teria silenciado qualquer crítica dirigida a essa união e dado à esposa o direito de participar de atividades cultuais, bem como da realeza.1.4. o m assacre de Je ú em Jezreel. Eliseu originalmente havia sancionado a revolução política que trouxera Jeú ao trono (ver 2 Rs 9.6-10). A fala proferida pelo "filh o do profeta" que unge Jeú o convoca a vingar o sangue dos profetas mortos, exterminando toda a casa de Acabe, inclusive sua esposa Jezabel. Jeú obedece, m atando primeiro o rei Jorão em combate (2 Rs 9.24) e tam bém A cazias, rei de Judá (2 Rs 9.27). Após m archar até a cidade de Jezreel, ele convoca a população para escolher de que lado ficará e Jezabel é atirada de uma sacada, encontrando assim sua morte (2 Rs 9.32, 33). Acontece então uma limpeza geral da "casa" de A cabe, que é um eufem ism o para aqueles que o apoiavam politicam ente e seus oficiais do governo. Sob as ordens de Jeú, os oficiais aterrorizados em Jezreel decapitam setenta "filhos da casa de A cabe" (2 Rs 10.6-8). No dia seguinte Jeú publicam ente nega qualquer responsabilidade pela morte daqueles setenta homens e usa o incidente como pretexto para executar todos aqueles oficiais (2 Rs 10.911). Foi esse massacre, que varreu a dinastia e elimi
nou os que apoiavam a Acabe, a base para o nome simbólico do primeiro filho de Oséias. O nome, portanto, passa a ser um lembrete ao governante vigente, descendente de Jeú, de que sua dinastia seria responsabilizada pelos atos assassinos de Jeú. Também pode estar prenunciando um fim sangrento para essa dinastia, diante da invasão síria e da expansão da hegemonia assíria na região.1.5. vale de Jezreel. Esse vale extremamente fértil (o nome significa "D eus sem eia") e estratégico permite a locomoção de leste a oeste pela região montanhosa do norte da Samaria e pela baixa Galiléia, desde Bete- Seã, no leste, até Aco, na costa do Mediterrâneo. Onri e A cabe haviam estabelecido um a segunda capital em Jezreel devido à sua im portância estratégica e econômica. N aturalm ente o vale tam bém tornou-se campo de batalha para exércitos que desejavam controlar a região. Um a série de batalhas fam osas aconteceu ali, a primeira delas está registrada nos anais do faraó Tutm és III (1504-1450). Para m ais informações, ver o comentário em Juizes 6.33.
2.1-23Israel como esposa e mãe2.3. nua e expulsa. Diversos docum entos, inclusive testam entos encontrados na cidade de N uzi, referem- se a esse tipo de tratamento dado a uma esposa que abandonava seu m arido para viver com outro hom em . G eralm ente eram os filhos quem aplicavam esse ato legal. Tinha o objetivo de humilhar e talvez servisse como um instrum ento de divórcio, em bora em casos em que o marido já tivesse morrido, estava relacionado a direitos sobre a herança.
2 .5 ,8 . principais produtos da terra e fertilidade. Tanto o Código de H am urabi quanto o Código de Lei M édio-Assírio contêm listas de itens que o m arido tinha de prover para o sustento diário da esposa. Esses itens incluíam cereais, azeite, lã e roupas. Esses produtos eram a base da economia do antigo Oriente Próximo e eram o símbolo da fertilidade prometida ao povo por D eus (ver Jr 31.12). Logo, na m etáfora do casamento empregada por Oséias, o suprimento desses itens representava o cum prim ento da promessa de Deus na aliança. Entretanto, Israel escolhera tomar para si "am antes" (outros deuses), adorá-los e oferecer-lhes presentes de ouro e prata, em vez de reconhecer as dádivas vindas de Yahw eh (compare com
Ez 16.13-19). Israel creditava o suprim ento de suas necessidades a deuses da fertilidade como Baal.2.8. o culto a Baal. Os povoados agrícolas, cuja produção alimentava seus moradores e os de centros urbanos, como Jerusalém , predom inavam no m undo do antigo Israel. O clim a mediterrâneo trazia chuva apenas durante o inverno e os primeiros m eses da primavera (outubro - abril), e um a seca significava que sua subsistência estaria seriamente ameaçada. Não é de se espantar, portanto, que o deus cananeu da tempestade, Baal, fosse um a figura tão difundida na adoração dos antigos e tam bém nos textos religiosos de Ugarit e da Fenícia. A chuva significava vida, fertilidade, prosperidade econôm ica e poder para quem era por ela abençoado. A tarefa dos profetas israelitas, portanto, passou a ser o esforço de demonstrar que Yahw eh era o provedor da fertilidade, inclusive da chuva, e que Baal era um deus falso (ver Jr 2.8; 23.13). Mais freqüente do que se imagina, porém, os aldeões combinavam o culto a Yahw eh com o culto a Baal a fim de m aximizar suas chances de conseguirem uma boa colheita (ver Jz 2.11; 6,25-32). Igualmente, os reis de Israel, como Acabe, ao fazer casamentos diplomáticos, aceitavam a introdução de Baal e Aserá, ao lado de Yahweh, nos centros oficiais de adoração (ver 1 Rs16.31-33). Somente após o exílio, o culto a Baal seria suplantado pela adoração fiel exclusiva a Yahweh entre os israelitas.2.11. festas relig iosas e Baal. A s práticas religiosas sincretistas dos israelitas são expostas aqui em suas folias (parte da metáfora do comportamento infiel de Gômer) na adoração a Baal durante as festas de Luas novas e das colheitas (ver a lista semelhante de celebrações cultuais em Ez 45.17). A Páscoa, a Festa das cabanas e a festa das sem anas eram as celebrações anuais que marcavam o ano agrícola (ver os comentários em Êx 12.19 e 23 .15 ,16 para uma descrição dessas festas). A s festividades de Lua Nova pareciam estar ligadas aos sábados, um a vez que as celebrações aconteciam no contexto fam iliar (ver 1 Sm 20.5) e havia um a interrupção no trabalho (ver A m 8.5). Os israelitas não faziam distinção entre as dádivas de Yahw eh e as supostas dádivas enviadas pelo deus cananeu da chuva e da fertilidade, Baal. Como resultado, o verdadeiro provedor de toda a abundância e fartura iria retirar sua generosidade a fim de que os israelitas enxergassem seu erro.2.12. videiras e figueiras como pagam ento recebido dos am antes. As canções de am or egípcias do Papiro Harris 500 fazem menção a um jarro de vinho doce de mandrágoras como presente de um amante. Tais presentes eram com uns com o expressão de estim a ou afeição, m as o termo para pagamento aqui é usado
como valor cobrado por uma prostituta e não como oferta a uma amante. Isso traz novamente o enfoque para a metáfora da infidelidade de Israel/Gômer. O
uso das videiras e figueiras também atinge outra fonte de riqueza e festas no antigo Israel. Não era possí
vel haver celebrações sem esses importantes produtos que eram colhidos em agosto e setembro. A ameaça
de D eus em transform ar o lugar em um deserto é semelhante àquela expressa em Isaías 5.6.
2.12. castigo através de anim ais selvagens. A inscri
ção aramaica em Deir'Alla, datada do oitavo século, que contém a profecia de Balaão e o texto egípcio do
século vinte a.C. intitulado Visões de N eferti descre
vem um a terra abandonada em que animais ferozes e estranhos vasculham em busca de alimento. Animais
selvagens eram considerados um dos flagelos típicos en viad o pela d iv in d ad e com o castigo . No ép ico
m esopotâm ico de G ilgam és (2000 a.C .), o deus Ea repreende Enlil por não enviar leões para despedaçar
o povo, em vez de usar algo tão dramático como um
dilúvio. O s deuses usavam animais selvagens juntamente com doenças, seca e fome para reduzir a popu
lação dos humanos. Uma am eaça comum no período assírio relacionada a maus presságios era que leões e
lobos assolariam toda a terra. De maneira semelhan
te, a devastação através de anim ais selvagens era
um a das maldições invocadas em violações de tratados. A imagem aqui é de caos que acomete uma terra
q u an d o a c iv iliz a ç ã o ru i. V e r o c o m e n tá rio em
Deuteronômio 32.23-25 para outro exemplo de Deus amaldiçoando a terra e sua produção.
2.13. incen so aos baalins. Considerando-se o grande núm ero de pequenos altares de incenso descobertos
por arqueólogos, tais como os de Láquis e Tel-Miqne/
Ecrom , parece que o incenso queim ado em oferta a Yahw eh ou a outros deuses era com um tanto nas casas,
quanto nos locais oficiais de culto (ver Is 17.8; Jr 19.13).
O s israelitas haviam recebid o a ordem de queim ar incenso diante do altar de Yahweh (Êx 30.7,8), mas essa
forma correta de culto fora corrompida, quando as ofer
tas passaram a ser dedicadas a Baal. O incenso ge
ralm ente era usado para acom panhar petições.
2.15. vale de Acor. Quando Acã violou o herem durante a conquista de Jericó, ele e toda sua fam ília
foram apedrejados até a morte no lugar que passou a
ser conhecido como o vale de Acor (Js 7 .25,26). O local
fica situado na fronteira norte da tribo de Judá (Js 15.7), atual El Buqê'ah. A menção de Oséias ao "vale
dos problem as" é uma tentativa de demonstrar que,
se até mesmo um lugar tão desgraçado poderia ser transformado, também poderia a relação entre Gômer/
Israel e Oséias/Yahweh.
3.1-5 A reconciliação de Oséias com sua mulher3.1. bolos sagrados de uvas passas. Ver o comentário
em Jeremias 44.19 a respeito dos bolos (feitos de figos ou tâmaras) dedicados aos deuses da Mesopotâmia. Há certa dúvida quanto à tradução do termo hebraico
aqui. Alguns comentaristas sugerem que se trata de
jarros de vinho e não de bolos feitos de uvas esmagadas
ou uvas passas. De qualquer maneira, é o produto da
videira que está sendo usado como oferta.
3.2. detalhes sobre o valor da aquisição. Considerando-se o valor da cevada, acrescido de quinze siclos de
prata, estima-se que o total pago por Oséias teria sido
de aproximadamente trinta siclos. Essa quantia é igual ao valor pago como indenização pela perda de um
escravo em Êxodo 21.32. V isto que não se sabe ao
certo qual era a situação de Gôm er, não é possível
definir o porquê Oséias teria pago esse valor. Com base nas Leis M édio-assírias, porém, é provável que
ele a estivesse redim indo de um a situação legal da
qual ela não conseguiria se livrar (como por exemplo,
pagando uma dívida que ela contraíra).
3.4. sacrifício ou colunas sagradas. Ver o comentário em Êxodo 23.24 e Deuteronômio 7.5 a respeito do uso
de colunas sagradas e postes de Aserá como parte da
adoração cananéia e das práticas idólatras de Israel.
Colunas sagradas faziam parte do culto legítim o a Yahw eh, ao menos até o período da m onarquia di
vidida (ver Is 19.19). Na época de destruição iminen
te, porém, esses símbolos cultuais, bem como os reis,
não receberiam aprovação ou apoio de Yahw eh (ver Dt 16.22).
3.4. colete sacerdotal ou ídolo. Sacrifícios e colunas sagradas representam m eios de adorar a divindade
enquanto o colete sacerdotal ou o ídolo referem -se a meios de consultar a divindade. O colete sacerdotal
fazia parte das vestes usadas pelos sacerdotes (ver o
comentário em Êx 28.6-14) e no Egito e na M esopo
tâmia era restrito para vestir as imagens da divindade e os sacerdotes do alto escalão. Ver o comentário
em Êxodo 28.6-14 para um a descrição do colete e de seu uso como um instrumento para descobrir a vonta
de de Deus. As pessoas que queriam receber alguma m ensagem da divindade iam até o templo (onde pa
gavam um a taxa) e recebiam a resposta (através da
m ediação dos esp ecialistas). Os íd olos de fam ília (terafins) mencionados aqui (ver o comentário em Gn
31.19) estavam entre as ferramentas ou substitutos de consulta aos deuses no antigo Oriente Próximo. No
entanto, da m esm a m aneira que D eus rejeitaria os
sacrifícios e as colunas sagradas, Ele não daria respostas a esses adivinhos.
4.1-19 A acusação contra Israel4 .10 ,14 . prostituição. Na Mesopotâmia antiga, é possível fazer um a distinção entre a prostituição comercial e o "serv iço sexual sagrado" (com o G. Lerner denomina). Em textos cuneiformes o termo harimtu é usado para am bas as práticas (por exemplo, é uma harimtu que "educa" EnJddu no épico de Gilgamés), em bora haja um a diferença na posição social e no objetivo de cada uma. O serviço sexual sagrado oferecido no tem plo estava ligado ao ritual sagrado do casamento que assegurava a fertilidade da terra. Havia diversos níveis de sacerdotisas, desde sum o sacerdotisas, que representavam a deusa Istar/Inana, que recebia a "visita" do deus M arduque todas as noites, até ordens enclausuradas e figuras m ais públicas como as n aãitu , que podiam ter propriedad es, conduzir negócios e até se casar. O fato de que a prostituição comercial acontecia perto dos templos baseia-se nas m esm as considerações que levavam as prostitutas a freqüentar tavernas e a porta da cidade - eram áreas de tráfico intenso que significavam m ais fregueses. Tanto as servas cultuais do templo quanto as prostitutas aceitavam pagamento por seus serviços, m as aquelas tinham de dedicar essas ofertas aos deuses.Além disso, é possível traçar algumas distinções entre a prostituição "sag rad a" e a prostituição "cu ltual". Naquela, como já foi mencionado, os lucros eram encam inhados ao templo. É bastante possível que as prostitutas fossem contratadas como um meio de levantar recursos para os templos, sem que tivessem um a posição oficial como sacerdotisas. Na prostituição "cultual", o objetivo era assegurar a fertilidade através do ritual sexual. É preciso diferenciar tam bém entre a prostituição sagrada/cultual ocasional (como em G n 38) e a profissional (como em 2 Rs 23.7). Não
há provas conclusivas que confirm em a existência de prostituição cultual no antigo Israel ou em outras partes do antigo Oriente Próximo. Em textos cananeus, as prostitutas são alistadas como funcionárias dos tem plos e a literatura acadiana atesta que algumas eram dedicadas ao serviço do templo por toda a vida. Além disso, como as m ulheres não tinham posses nem fonte de rend a, geralm ente a única m aneira de ganhar algum dinheiro para pagar um voto era a prostituição. A ordem para não trazer os ganhos de um a prostituta ao tem plo pode, no entanto, ser um a reação contra as práticas realizadas no templo de Istar (período neo-babilônico) pelos devotos que contratavam mulheres de sua comunidade como prostitutas.4.11. v in h o v e lh o , v inh o novo. Os term os usados aqui para vinho são paralelos, m as representam diferentes graus de ferm entação. No texto ugarítico in
titulado "A Lenda de A qhat" (VI: 7, 8) os m esm os termos são usados em paralelo, mas o texto está m uito fragmentado e não oferece informações adicionais. O sentido da expressão é demonstrar que o abuso do vinho entorpece a razão. A m ente dessas pessoas está enevoada por suas práticas religiosas falsas assim como os bêbados ficam anestesiados por seu vinho (ver o comentário em Is 28.7).4.12. íd o lo de m adeira. Em bora seja possível que Oséias esteja se referindo à prática de rabdomancia (arte de adivinhar a vontade dos deuses através do uso de varas ou condões; ver o com entário em Ez 21.21 a respeito de diversas formas de adivinhação), é provável que essa seja um a referência a bosques sagrados ou a colunas de Aserá (ver Êx 34.13). Os ídolos com freqüência eram esculpidos em madeira (ver Jr 10.3-5; H c 2.18, 19) e essa prática era tão comum na M esopotâmia que textos sumérios referem-se a certos tipos de m adeira como a "carne dos deuses".4.13. adoração no alto dos m ontes. Lugares altos e o topo dos montes havia m uito eram associados à adora
ção divina (ver o comentário em 1 Sm 9.12). Por exemplo, alguns dos eventos mais importantes da história israelita estão associados a montanhas (Moisés no monte Sinai; Elias no monte Carmelo). Igualmente, o monte Zafom era identificado como a casa ou a sede do poder dos deuses cananeus, com o Baal e El, nos épicos ugaríticos. Visto que os israelitas pareciam tão propensos a m isturar o culto a Yahw eh com a adoração de
outros deuses, Oséias condena as atividades sacrificiais nesses santuários externos (assim como são condenados em D t 12.2, 3), encarando-os como terreno fértil que poderiam corromper as gerações futuras.4.13. árvores sagradas. D esde os tempos remotos, as árvores sempre foram associadas à justiça popular e a atividades religiosas (ver o comentário em G n 35.4).
Dentre as referências a árvores sagradas ou im portantes estão a tam areira de D ébora em Ju izes 4.5 e a árvore sob a qual o rei ugarítico Danil ouvia as causas de seu povo. Essas árvores ou bosques sagrados também eram associados à adoração de Aserá (ver o comentário em D t 12.3) e como tais eram um a armadilha para os israelitas. Aserá é ilustrada na iconografia israelita como um a árvore estilizada.4.15. G ilgal. A localização exata desse espaço perto de Jericó ainda não foi determinada (ver Js 4.19). Dentre as sugestões mais prováveis, com base nos sedimentos da Idade do Ferro, desenterrados na área pesquisada, ficam as localidades perto de Khirbet el-Mefir, quase dois quilômetros a nordeste de Jericó. Seu nome,
que significa, "anel de pedras", sugere sua importância como centro cultual. Tanto Amós (4.4; 5.5) quanto Oséias (9.15; 12.11) condenam Gilgal por suas trans
gressões religiosas e sacrifícios inadequados oferecidos ali. A natureza das atividades religiosas ali praticadas não é explicitada, mas pode-se supor que envolvessem a adoração a outros deuses, além de Yahweh.4.15. Bete-Á ven. Em bora não seja possível determinar se O séias era um levita, seu conhecim ento de
temas sapienciais e questões sacerdotais no mínimo sugere que tinha fortes vínculos com a família levita. Isso pode explicar a forma como ridiculariza o santuário real de Betei e o trocadilho que faz com o nome do lugar (ver A m 5.5). Ele refere-se à cidade efraimita de Betei ("casa de D eus") como Bete-Áven ("casa da impiedade"), declarando ser um lugar ilegítimo de culto e um a fonte de m al na sociedade israelita (compare com 5.8).
5.1-15 Julgamento contra Israel5.1. arm adilha e rede. A imagem bastante familiar de caçadores apanhando aves em arm adilhas e redes pode ser a origem dessa m etáfora comum (ver Js 23.13; SI 69.22; Is 8.14). Existem inúmeros exemplos dessa
atividade em pinturas de túm ulos egípcios, e tam bém serve como base para a Esteia suméria dos Abu
tres (ver o comentário em Ez 12.13).5.7. festas de Lua nova. Em bora Oséias possa estar se referindo novam ente às festas de Lua nova que haviam sido corrompidas pelo culto a Baal (ver Os 2.11), o termo usado aqui pode sim plesm ente significar a chegada da nova fase do mês, no ciclo do ano. Portanto, é possível que o profeta esteja denunciando em termos gerais a autodestruição contínua (de um ciclo para outro) dos israelitas.5.8. G ibeá, Ram á, Bete-Á ven. H á um a alusão aqui ao confronto m ilitar entre os reinos do norte e do sul
(Efraim e Judá) em relação à fronteira de ambos. A referência é às três cidades em Benjam im (Gibeá = Jeba'; Ramá = Er-Ram; Bete-Áven = Khirbet el-'Askar) sugerindo que estão sendo invadidas por Efraim (talvez o início de um ataque a Jerusalém) ou que seus homens estão sendo convocados à batalha por Judá (talvez para invadir Efraim ). Cada um a dessas localidades guardava a estrada norte para a capital de Judá. O alerta sendo dado provavelmente está associado a um a fase da Guerra Siro-efraimita dos anos 730 (ver os comentários em 2 Cr 28.5 e Is 7.1).5.10. mudar os m arcos dos lim ites. Ver o comentário em Deuteronômio 19.14 a respeito desse crime.5.13. Efraim se voltou para a A ssíria. Os efeitos des
trutivos da G uerra Siro-efraim ita deixariam Israel (Efraim) e Judá exaustos e ainda mais vulneráveis à hegemonia política dos assírios. Percebendo que sua posição como vassalos estava se deteriorando, dois
reis israelitas - M enaém em 738 (2 Rs 15.19, 20) e Oséias em 732 - foram forçados a pagar grandes som as para im pedir que os assírios devastassem ainda m ais seu país. Os Anais Assírios de Tiglate-Pileser III registram o pagam ento desses tributos, juntam ente com o de muitas outras nações pequenas que estavam sendo sugadas economicamente para suprir as necessidades de recursos que o Império Assírio tinha.
6 .1 - 7 .1 6Israel obstinado6.3. chuvas de inv erno , chuvas de prim avera. Combase no clim a m editerrâneo do O riente M édio, Israel recebe suas chuvas duas vezes ao ano. As chuvas de "in v ern o " caem de dezem bro a fevereiro . Com o se observa no calendário de Gezer (século dez), essa umidade fofa a terra e a prepara para a aragem e sem eadura do trigo, da cevada e da aveia. As chuvas de "p rim avera" vêm nos m eses de m arço e abril e trazem a água que garante a vida para a sem eadura do m ilho e plantações de legumes e hortaliças. É a época dessas chuvas que faz a diferença entre uma boa colheita e a escassez e conseqüente fome. Atrelar Yahw eh às chuvas anula o papel de Baal com o deus da chuva e da fertilidade e ligá-lo ao Sol anula os deuses-sol que com freqüência eram associados à justiça.
6.7. Adão. Visto que o final do versículo sugere um lugar (NVI "na cidade de A dão") e visto que há um paralelo com G ileade, a m aioria dos com entaristas presume que se trata de uma cidade e não do primei
ro homem. Esse lugar geralmente é identificado com Tell ed-Damiyeh, na Transjordânia, ao sul do rio Jabo- que e ao norte do uádi Far 'ah , em um ponto que dom ina as passagens do rio Jordão. É m encionada como uma das cidades conquistadas pelo faraó Sisaque durante sua campanha no século dez na região.6.8, 9. v io lên c ia em G ilea d e e S iq u ém . O evento narrado aqui pode ser a rebelião de Peca contra o rei israelita Pecaías, em 736 (2 Rs 15.25). Aparentemente, a luta começara em Adão com a ajuda de um grupo de gileaditas e se espalhara pelo oeste, ao longo do uádi Far'ah, até Israel, chegando à cidade de Siquém. Aparentem ente, os aliados de Peca foram ajudados por sacerdotes de Betei em seus esforços de elim inar os oficiais do rei.7.4-8. m etáfora do padeiro. À luz do tumulto presente no cenário político de Israel nos anos 730, essas metáforas relacionadas às atividades do padeiro encaixam -se bem . O forno ilustrado aqui era feito de argila e tinha form a cilíndrica. Exemplos desse instrum ento foram escavados em Taanaque e Megido. Era embutido no piso ou ficava sobre o chão. A parte superior era arredondada como uma cúpula onde havia
uma grande abertura coberta por uma porta; através dela o padeiro primeiro adicionava combustível (madeira, gram a seca, esterco ou bolotas de bagaço de azeitonas esmagadas). As chamas escapavam por essa abertura até que restasse apenas uma camada de carvão aquecido. A porta então era fechada e o calor era mantido ali dentro por muitas horas (tempo suficiente para preparar a m assa do pão e deixá-la crescer). Então o padeiro colocava o pão ligeiram ente crescido nas paredes internas do forno ou sobre o carvão. A m etáfora é baseada nessas tarefas seculares e imagens bastante conhecidas na época. As forças rebeldes de Peca "qu eim aram " furiosam ente no forno das questões políticas de Israel e destruíram o reinado de Pecaías em 735. O ressentimento causado por essa ação quei
m ou lentam ente com o um forno que m antém seu calor e esperou para queimar aqueles que estavam no comando. Então, em 732, Oséias assassinou Peca e imediatamente inverteu as alianças políticas de Israel (2 Rs 15.30), voltando-se para a Assíria em busca de ajuda, e três anos m ais tarde buscou novam ente uma aliança com o Egito (ver Os 7.11). Essa política confusa deixou Israel "m eio-assado", como um pão que nunca foi virado e ficou esquecido na grelha de um forno: ficou queimado de um lado e mal cozido do outro.7.11. com portam ento da pom ba. A política oscilante dos reis de Israel é comparada à ingenuidade (ver Pv 14.15 para essa figura aplicada aos tolos) das pombas, que são uma presa fácil para a arm adilha do caçador. Além disso, a falta de cuidado da pomba para com seus filhotes perdidos pode ser comparada à amnésia política de Israel em relação às políticas da Assíria (ver Os 5.13).7.11. Egito/Assíria. Ao longo de quase todo o seu curto reinado, Peca praticou uma política de oposição aos assírios e buscou ajuda dos egípcios. Isso culminou na campanha de Tiglate-Pileser III descrita em 2 Reis 15.29 que resultou na conquista de grande parte da região da Galiléia e na deportação de israelitas para a Assíria (ver o comentário em 2 Rs 15.25-31). Assim que Oséias assumiu o trono, inicialmente teve de pagar tributo aos assírios, m as depois enviou embaixadores ao Egito (ver o comentário em 2 Rs 17.4). Essa duplicidade enfureceu o rei assírio Salm aneser V que sitiou a Samaria por três anos. Seu sucessor, Sargão II, então tomou a cidade em 721 e deportou grande parte da população israelita (ver o comentário em 2 Rs 17.6).7.12. caçar pássaros. Havia uma série de técnicas diferentes para caçar pássaros. Embora os caçadores pudessem sim plesm ente usar um a funda, atirar paus (como na pintura da tumba de Beni Hasan) ou flechas para derrubar um a ave individual, na m aioria das vezes o texto bíblico e a arte antiga ilustram grandes
bandos de pássaros sendo capturadas em redes ou gaiolas. P or exem plo, a tum ba de K a-G em m i, em Saqqarah (6a Dinastia do Egito) retrata um caçador usando um a rede. Aparentemente, alguns caçadores também usavam de artimanhas em suas armadilhas para atrair os pássaros com comida servindo como isca (confirmado em Eclesiástico 11.30). Claramente, os reis de Israel haviam sido atraídos e apanhados na rede das ambições políticas armadas pelas duas superpotências antigas, o Egito e a Assíria.7.16. arco defeituoso. O arco composto, feito de uma combinação de m adeira, chifre e ligamentos (tendões) de anim ais (mostrado na Lenda ugarítica de Aqhat), estava sujeito a alterações climáticas e à umidade. Se não fosse m antido em um estojo, podia perder sua força e era descrito como inseguro ou frouxo (ver SI 78.57). Os ditos de Ahiqar da sabedoria assíria falam do arco do ímpio se voltando contra ele e essa imagem talvez faça parte da acusação que Oséias faz contra os líderes de Israel (ver SI 64.2-7).
8.1-14 O castigo de Israel8.1. sinais de trombeta. Como em Oséias 5.8, o soar da trombeta ou do chifre de carneiro era um sinal de perigo iminente. Esse sinal teria mobilizado as pessoas que conduziriam seus animais para a proteção dos m uros da cidade (ver A m 3.6). Para m ais informações concernentes a sinais de trombeta, ver os comentários em Núm eros 31.6 e Josué 6.4, 5.8.1. águ ia (abu tre). O séias em prega a im agem de
um a ave de rapina arrem etendo em queda rápida para apanhar sua vítima. Parece m ais provável que ele esteja se referindo à Assíria, m ais uma vez usada como um instrum ento da ira de Deus. A águia ou abutre provavelmente era um a im agem fam iliar que com freqüência era usada em épicos e mitos do Oriente Próximo (como na Lenda ugarítica de Aqhat e no mito acadiano de Etana; ver o comentário em D t 32.11).8.5, 6. ídolo em form a de bezerro. Existe ampla evidência da associação do culto a Baal com im agens cultuais bovinas ou figuras de touros (tais com o a ilustração zoomórfica de Tell el-Asch'ari). Ver os com entários em 1 Reis 12.28-30 para detalhes sobre as tentativas do rei Jeroboão de criar seus próprios santuários em Dã e Betei, como rivais ao de Jerusalém, com bezerros de ouro servindo como representações do
trono de Deus. Oséias agora condena os bezerros de ouro colocados nesses santuários como fonte de adora
ção falsa e reflexo do culto sincretista a Baal e a Yahweh praticado em Israel. Na época de Oséias apenas Betei havia permanecido, visto que Tiglate-Pileser III conquistara D ã em 733 e teria destruído o santuário ali.
8.6. bezerro de Sam aria. O uso de Sam aria em vez de Betei como lugar do bezerro é um eufem ism o para todo o Israel (ver Os 10.5). Era uma prática comum
nos Anais Assírios referir-se a uma província inteira
citando o nome de sua capital (ver 2 Rs 23.19).8.14. p alácios . O term o hebraico hêkal, talvez um
cognato do acadiano ekallu (do sumério E.GAL), "grande casa", pode significar templo ou palácio. Ao menos
durante o início do reinado de Jeroboão II, houve um
empenho em construir cidades fortificadas e prédios monumentais em Samaria e outras importantes cida
des (ver 2 Cr 26.9, 10 para construções sem elhantes
em Judá). Esforços como esses podem ser considera
dos símbolos de poder real e, portanto, merecedores
da acusação de Oséias de que haviam "se esquecido"
de Deus (ver D t 32.15-18).
9.1-10.15 O castigo de Israel9.1. prostituição na eira. U m a das m ais importantes
instalações nas áreas rurais de Israel era a eira. O
cereal colhido era colocado ali para ser processado e
distribuído (ver R t 3.2, 7). Também era um local adequado para ajuntamentos públicos (compare com 1 Rs
22.10) e para festas relacionadas à colheita (Dt 16.13). Entretanto, Israel recebe a ordem de não regozijar-se
mais visto que o povo demonstrara sua infidelidade
expressando sua fé na capacidade de Baal de prover seu sustento e garantir a abundância e a fertilidade da
teria (ver O s 2.7, 8). Aparentem ente prostitutas comuns bem como prostitutas cultuais freqüentavam as
áreas onde as festas de colheita e tosquia aconteciam
(ver o comentário em G n 38.15-23). Logo, Israel faz o
papel de prostituta em meio aos cereais, recebendo o salário dos deuses a quem dera crédito pelas colhei
tas, em vez de reconhecer a ação de Yahweh.9.4. pão dos pranteadores. U m a casa em luto, que
tivesse tido contato com um cadáver, era considerada im pura durante sete dias e tinha de ser ritualmente
purificada a fim de retom ar as atividades sociais e
religiosas normais (ver o comentário em N m 19.11). Durante o período em que era considerada impura,
toda sua comida, por extensão, estava igualmente con
tam inada. Em bora essa com ida pudesse ser usada para alim entar os m em bros da fam ília, as refeições eram sem alegria e não podiam ser oferecidas em
sacrifício a Deus (ver Jr 16.7; Ez 24.17). É assim que
Oséias descreve a vida no exílio vindouro.
9.6. M ên fis. Durante grande parte da história do Egito, M ênfis (atual M itrainé) serviu como capital do Bai
xo Egito. Ficava localizada cerca de 20 quilômetros ao
sul da atual Cairo, na margem oeste do rio Nilo.
9.7. profeta considerado tolo. Em alguns momentos
era bastante tênue a linha divisória entre uma pessoa
investida do Espírito de Deus (1 Sm 9.6) e outra considerada louca (ver 1 Sm 21.13-15; 2 Rs 9.11). N esse
caso, porém, os inimigos de Oséias tentam desaboná-
lo afirmando que suas profecias na verdade não passam de desvarios de um louco (compare com acusa
ções semelhantes em Am 7.10 e Jr 29.25-28).
9.9. dias de G ibeá. Para uma descrição dos eventos
terríveis que aconteceram em Gibeá, ver os comentários em Juizes 19.12-14 e 19.25. Claramente essa histó
ria era bem conhecida nos dias de Oséias, visto que
ele sim plesm ente m enciona o nom e da cidade para
trazer à tona o cenário de com portam ento ilegal e
escandaloso.9.10. m etáfora das frutas. Há um sentido de prazer
inesperado em uvas encontradas no deserto ou figos maduros no início do verão. Evidências de "cachos de
uva" no Negueve indicam que é possível praticar a
viticultura ali e que os cachos pequenos são particularm ente doces. Também há exemplos de pequenas
figueiras que dão fruto em m aio/junho. Esses figos
são considerados uma guloseima que devem ser comidos imediatamente após serem apanhados (ver Is
28.4; Na 3.12).
9.10. Baal-Peor. V er os comentários em Números 25.118 a respeito do incidente em Baal-Peor quando os
israelitas foram tentados a envolver-se com idolatria
pelas mulheres de Moabe, perto de Sitim.
9.13. entregar os filh os ao matador. É possível que essa seja uma alusão às turbulências políticas em que
os líderes de Israel haviam envolvido o povo, deixan
do assim suas famílias vulneráveis aos violentos exér
citos assírios (ver o comentário em Os 7.11). O texto
sumério Lamento pela Destruição de Ur descreve eventos semelhantes durante épocas de cerco, quando os
pais abandonavam seus filhos. Outra possibilidade é
que o "m atador dos filhos" seja um demônio. Dentre
os demônios babilónicos estava Pashittu, que era considerado um raptor de bebês. Essa seria outra m anei
ra de referir-se ao abandono de crianças. Para mais
inform ações sobre esse tem a, ver o com entário em Ezequiel 16.5.
9.15. im p ied ad e em G ilg a l. V er o com entário em
Oséias 4.15. Em bora a condenação de Oséias possa estar baseada nos eventos acontecidos durante o perí
odo da conquista ou na época de inauguração da monarquia, com Saul como rei (1 Sm 11.12-15), também
é possível que ele esteja se referindo a um evento
contemporâneo que não é registrado em nenhum outro lugar e permanece desconhecido.10.1. colunas sagradas. Ver o comentário em 3.4.
10.4. ervas venenosas. O termo hebraico rosh neste contexto pode ser o m eimendro rajado (Hyoscyamus reticu latus), que aparece em cam pos arados, especialmente perto de estepes e regiões desérticas. Cresce até pouco mais de meio metro, tem folhas peludas e uma flor amarelada raiada de rosa. Outra candidata é a escabiosa síria (Cephalaria syriaca), que tem sementes venenosas. As plantações rasas na verdade ajudam a proliferar essas plantas, visto que apenas os talos são cortados, enquanto suas profundas raízes permanecem incólumes (ver Jó 31.40).10.5. Sam aria, Bete-Á ven. Ver o comentário em 4.15.10.11. trilhar e arar como m etáforas. Pode ser que os jovens bois fossem primeiro treinados para aceitar o jugo que os colocava para trabalhar na eira. Essa tarefa relativamente simples, durante a qual eram recompensados com a liberdade de alim entar-se também (Dt 25.4), tom ava os animais mais dóceis (ver Jr 50.11).
U m a vez que atingiam o estágio em que era m ais fácil dirigi-los, uma prancha de m adeira era acrescentada ao jugo para que pudessem puxar um a carga (2 Sm 24.44). Essa estratégia, por sua vez, preparava os animais para a tarefa mais disciplinada de puxar um arado num cam po virgem (1 Rs 19.19; Jr 4.3). De maneira sem elhante, Deus escolhe usar o robusto e dócil Israel para cumprir o plano divino.10.14. Salm ã em Bete-A rbel. Esse evento é desconhecido dos historiadores modernos. Oséias rem ete a esse evento como um referencial de destruição total, de modo bastante semelhante à referência que Jeremias faz de Siló, chamando a atenção do povo para o ocorrido ali (Jr 7.12-14; 26.6). D iversas sugestões foram feitas em relação ao nome Salmã, inclusive Salmaneser EI, que pode ter feito cam panha em Israel durante suas incursões à capital síria de Damasco, em 841, ou Salm aneser V, que sitiou Samaria em 722. Outra possibilidade é o antigo rei m oabita Salm anu, alistado como um dos monarcas títeres que pagou tributo ao
rei assírio Tiglate-Pileser Hl, na metade do oitavo século. A menção a invasores moabitas em Israel em 2 Reis 13.20 pode apoiar essa identificação. Em relação a Bete-Arbel, o local dessa horrenda destruição tem sido identificado com Irbid, perto da cidade de Pella (que fazia parte da Decápolis) e do outro lado do rio Jordão, a partir de Bete-Seã.
11.1-11O amor de Deus por Israel11.6. trancas das portas. Geralmente as portas tinham duas folhas que eram fixadas em encaixes de pedra enterrados no solo. Os batentes flanqueavam as portas, um de cada lado; eram feitos de madeira e fixados à parede. U m a porta externa da Idade do Ferro esca
vada em Tell en-Nasebeh tinha aberturas na pedra ao lado da porta, onde as trancas podiam ser posicionadas. As portas eram trancadas através da introdução dessas barras de m adeira nos encaixes que havia nos muros.
11.8. Admá e Zeboim . Essas duas cidades, que ainda não foram identificadas com certeza pelos arqueólogos, tradicionalmente são ligadas a Sodoma e Gomorra, com o locais de destruição com pleta e evidência do castigo de D eus (ver o com entário em G n 19.1). É provável que essas cidades ficassem localizadas no vale do Jordão, a sudeste do m ar M orto. Dentre as localidades m ais importantes descobertas nessa área estão as cidades da Idade do Bronze Antiga, Bab edh D ra'e Numeira.
12.1-14 O pecado de Israel12.1. tratado com a Assíria. Tal como seu predecessor Menaém, o rei Oséias foi inicialmente forçado a pagar tributo ao rei assírio T ig late-P ileser III. Os A nais A ssírios até m esm o vangloriam -se de que quando Oséias assassinou Peca a fim de assumir o trono de Israel, o rei assírio "co locou Oséias como rei sobre
eles". O texto tam bém m enciona que Oséias pagou "d ez talentos de ouro [e] mil (?) talentos de prata"
como tributo, provavelmente para confirmar sua posição como rei, em 732.12.1. m anda azeite para o Egito. Pouco tempo depois
de Oséias ter aceitado o papel como rei vassalo da Assíria em Israel, ele transferiu sua lealdade enviando para o Egito uma grande quantidade de azeite de oliva (uma das principais riquezas de Israel). O azeite era um produto muito valioso, especialmente no Egito, onde as oliveiras não eram cultivadas. Essa oscilação entre as duas superpotências, porém, logo despertaria a ira assíria e provocaria em 722 a invasão de Israel por Salmaneser V.12.4. lutou com o an jo . Ver diversos com entários a respeito da luta de Jacó com um anjo em Gênesis 32 (embora o termo para anjo seja claramente usado aqui, ele não aparece na narrativa de G n 32). Oséias remete à fam a que o patriarca tinha de ambicioso e enganador. Fica claro que o profeta acredita que Jacó ultrapassara os limites em que os humanos devem situar- se, ao lidar com Deus. Esse tema de colocar limites no comportam ento hum ano tam bém pode ser visto na história de Adapa, um antigo herói sumério e sacerdote do deus Ea. Ele é levado diante da assembléia divina por ter ousado quebrar a asa do vento sul, provocando assim um a seca.
12.7. balança desonesta. Essa mesma acusação é feita contra m ercadores sem escrúpulos em Amós 8.5. A
p alavra trad u zid a com o com erciantes é o term o hebraico "C an aã", que ao m enos evoca a idéia da influência cananéia. A acusação parece ser baseada na idéia de que Israel e sua comunidade econômica haviam sido corrom pidos pelas práticas imorais de seus vizinhos. Em um a economia que não tinha pesos e m edidas padronizadas, os com erciantes com freqüência eram tentados a enganar, adulterando as balanças e as m edidas e usando pesos errados, fundos falsos e outros recursos para alterar o tamanho das vasilhas usadas nas medições.12.10. parábolas dos profetas. Um a das m aneiras usadas pelo profeta para transmitir a m ensagem de Deus eram as analogias ou histórias comparativas. A pará
bola, portanto, era um meio de apresentar um duplo sentido, usando cenas ou imagens do cotidiano e fornecendo um a interpretação da vontade ou do castigo de Deus. Para exemplos, ver o comentário em Isaías5.1, 2 e a parábola de Natã a respeito da ovelha, no comentário de 2 Sam uel 12.2-4.12.11. G ilead e, G ilgal. A respeito da associação de Gileade com a revolta de Peca, ver o comentário em6.8, 9. A respeito das atividades cultuais em Gilgal, ver o comentário em 4.15.12.11. altares com o m ontes de ped ra num cam po arado. Os montes de pedra espalhados aleatoriamen
te nos campos arados podiam dar um a im agem de altares que haviam sido derrubados. M as por estar no
m eio de um a acusação, o contexto pode na verdade dar a imagem de altares tão numerosos quanto o núm ero de montes de pedras num campo arado. Além disso, há um jogo de palavras aqui, uma vez que a palavra hebraica traduzida como "m ontes" é gallim, cuja sonoridade é bastante sem elhante a elem entos presentes no nom e de ambas as cidades (Gileade e G ilgal).
12.12. a fuga de Jacó. Oséias retoma o tema usado no início do capítulo 12, partindo da tradição existente sobre Jacó e fazendo um paralelo com a desgraça iminente da nação de Israel e sua redenção possível. Logo, da m esma forma que o Jacó sem escrúpulos fora forçado a fugir da Palestina até H arã para fugir da ira de Esaú (ver os com entários em G n 27-28 ), agora Israel mais uma vez seria forçado a "m orar em tendas" (Os 12.9). A nova vida e família que Jacó/Israel encontra em Arã, porém, o conduz de volta à Palestina e dá origem ao povo israelita.
13.1-16 A ira do Senhor contra Israel13.2. habilidades de confeccionar ídolos. Ver os comentários em Juizes 17.3, Isaías 40.19 e 44 .17 ,18 para informações sobre técnicas empregadas na confecção
de ídolos no antigo Oriente Próximo. A aquisição e o uso das habilidades necessárias para fazer essas imagens é apenas mais um exemplo, segundo Oséias, da
intenção que Israel tinha em corromper sua adoração com falsos deuses ou transformar o culto a Yahw eh
em um culto sincretista.13.2. beijam os ídolos fe itos em form a de bezerro. Naesteia n egra de Salm aneser III, o re i israe lita Jeú é retratad o beijan d o o chão diante do re i assírio . No
Enum a E lish , o tribu n al dos deuses b eija os pés de
M arduque após este ter sufocado a rebelião e se es
tabelecido como chefe do panteão. Esse era um ato co
m um de subm issão dedicado a reis e deuses. Igualmente, beijar o ídolo envolvia beijar seus pés num ato
de honra, submissão e lealdade. Nas cartas de M ari, o
governador de Terqa, Kibri-D agan, aconselha Zinri- Lim, rei de M ari, a ir até Terqa e beijar os pés da está
tua do deus Dagom.
13.3. palha na eira. Novamente Oséias usa uma série
de im agens que facilm ente poderia ser visualizada
na mente de seu público-alvo - cenas da vida cotidiana. Dentre essas imagens está a eira aonde os agricul
tores levavam seus cereais para serem trilhados sob
as patas dos bois ou por um a debulhadeira (ver o comentário em Os 10.11). O refugo que sobrava após
esse processo era soprado pelo vento. Essa ilustração, combinada com a neblina da manhã e com a fumaça,
fala de aspectos temporais da vida - um a comparação
adequada entre a eternidade de Yahw eh a efemeridade dos outros deuses e seus ídolos.
13.7. leopardo. A idéia do leopardo como um caçador silencioso, à espreita de sua presa encaixa-se ao papel
de Deus como destruidor do Israei despreparado e
desatento (ver Jr 5.6). O astuto leopardo aparece na literatura sapiencial também. Por exemplo, há um a
pequena fábula sobre o leopardo no texto assírio Pala
vras de Ahiqar. Ali, o leopardo tenta enganar um bode
oferecendo emprestar-lhe sua pele para abrigá-lo do
frio. O bode escapa e retruca que o que o leopardo de fato estava querendo era sua pele. Os leopardos ainda
vivem em algumas regiões de Israel (En Gedi), mas
na Antigüidade não eram tão comuns como os leões.13.16. castigos horríveis. Oséias prediz que a guerra
iminente destruirá as cidades e povoados dos israelitas,
e sequer m ulheres e crianças seriam poupadas da violência dos exércitos em seus saques e estupros. Parece que essa expressão é uma descrição padroni
zada da devastação provocada pela guerra. Relatos
de conquista assíria do século nono falam de meninos e m eninas sendo queim ados. A prática de rasgar o
ventre de m ulheres grávidas é raram ente m encionada. É atribuída ao rei assírio Tiglate-Pileser I (cerca
de 1100), em um hino que louva suas conquistas. Também é mencionada de passagem em um lamento
neo-babilônico.
14.1-9 As bênçãos do arrependimento14.5, 6. m etáfora das plantas. O relacionamento entre
Yahw eh e Israel é comparado ao orvalho que provê a
única umidade disponível para as plantas e árvores
durante os meses secos do verão (ver Is 26.19). O lírio não é com um na Palestina hoje, em bora possa ser
encontrado em algum as áreas. H á controvérsias se
era mais comum na Antigüidade ou não. Além disso,
a essência doadora de vida proveniente de D eus asse
gura a fertilidade e a virilidade da nação para que
continue a crescer e se expandir, como as raízes da
oliveira. A comparação estende-se também aos enormes cedros do Líbano - considerada a mais útil das
árvores de grande porte no antigo Oriente Próximo. O cedro era valorizado por sua madeira (1 Rs 6.9 ,10),
amplamente usado em construções e considerado um símbolo de riqueza na literatura m esopotâm ica, in
clusive no épico de Gilgamés e nos anais de muitos
reis, desde os sumérios até os assírios.
J O E L
V /1 .1-12A praga dos gafanhotos1.2. palavra d irig id a aos anciãos. O fato de que a palavra aqui é dirigida aos anciãos tem levado m uitos intérpretes a inferir que não havia rei a essa altura. Alguns, portanto, dataram o Livro na metade do nono século, quando Judá era governado pela im piedosa rainha Atalia (ver os comentários em 2 Cr 21-22) e os justos da terra teriam se recusado a reconhecer a legitim idade de seu reinado. O problem a com essa visão é que o Livro de Joel é um representante claro da profecia clássica, que só começou a partir do oitavo século (ver o comentário em 2 Rs 14.27). Se de fato a palavra dirigida aos anciãos sugere que não havia rei, é provável que o Livro deva ser datado no perío
do pós-exílico. Essa hipótese é fundamentada m ais à frente em 3.3, que fala da dispersão no tempo pretérito. Não obstante, a datação do Livro é bastante controversa e complicada.1.4. nuvens de gafanhotos. Os gafanhotos eram bastante comuns no antigo Oriente Próximo e conhecidos pela devastação e ruína que provocavam . Os gafanhotos se reproduzem na região do Sudão. Sua migração tem início em fevereiro ou m arço e acompanha os ventos predom inantes rum o ao Egito ou à Palestina. Um gafanhoto consome o equivalente a seu próprio peso diariam ente. H á registros de nuvens de gafanhotos cobrindo m ais de 640 quilômetros quadrados e em apenas um quilômetro quadrado fervilhavam mais de 50 milhões de insetos. Se os gafanhotos
pusessem seus ovos antes de serem soprados pelo vento até o mar, o problema aconteceria de novo em ciclos. Um a única fêmea que pusesse seus ovos em junho poderia potencialmente produzir 18 milhões de insetos dentro de quatro meses.
1.4. tipos de gafanhotos. Visto que os gafanhotos eram muito comuns na economia agrícola do Oriente Próxi
mo, diversas línguas tinham termos específicos para cada tipo de gafanhoto. O s quatro termos diferentes neste versículo (nove termos em todo o Antigo Testamento) em palidecem ao lado dos dezoito termos con hecid os em acadiano. Os intérpretes se dividem quanto à possibilidade de essas quatro palavras se referirem a quatro estágios diferentes do desenvol
vim ento no ciclo de vida do gafanhoto ([1] estágio de larva: preto, saltitante, sem asas; [2] preto e amarelo
com asas e mandíbulas; [3] amarelo e completamente desenvolvido; [4] adulto maduro sexualmente), ou a espécies distintas (gregaria e solitaria).1.6. m etáfora do gafanhoto. Não é raro na literatura do antigo Oriente Próximo os exércitos serem comparados a gafanhotos. Tais m etáforas são encontradas em textos sumérios como o da maldição de Acade, na lenda ugarítica de Aqhat, em textos egípcios da 19a
D inastia e em textos neo-assírios. A qui a figu ra é oposta: os gafanhotos é que são comparados a exércitos invasores (como fica claro em 2.4, 5). A comparação com o leão é comum na literatura do antigo Oriente Próximo por causa da cor do gafanhoto e a form a de sua face e boca.
O DIA DO SENHORTodo ano na Mesopotâmia (com freqüência duas vezes ao ano) havia um festival de entronização para o rei dos deuses. Durante esse festival akitu, a divindade determinava o destino de seus súditos e restabelecia a ordem, como fizera havia muito tempo quando derrotara as forças do caos. De fato, o relato da criação Enuma Elish, que conta a derrota de Tiamat por Marduque e a elevação deste como chefe do panteão, era lido durante essa festa. Embora os textos nunca se refiram ao festival akitu como "O Dia de Marduque", existem algumas semelhanças. O Dia do Senhor refere-se à ocasião em que Yahweh ascenderia ao seu trono com o objetivo de amarrar as forças caóticas e trazer justiça e ordem ao mundo. O destino de seus súditos seria determinado, à medida que os justos seriam recompensados e os ímpios sofreriam as conseqüências de sua rebeldia e pecado. Não há evidências de que o "Dia do Senhor" fosse representado em rituais regulares em Israel, ao contrário, refletia a expectativa histórica de um evento vindouro. Como acontece com freqüência, então, Israel parece ter dado um caráter histórico a algo que pertencia à esfera do mito e do ritual. O Dia do Senhor também tem elementos de teofania, geralmente relacionados ao guerreiro divino que derrota os poderes destrutivos (ver o comentário em 1 Sm 4.3-7). Tais teofanias são acompanhadas de efeitos cósmicos (ver o comentário em 1 Rs 19.11-13) que com freqüência retratam um mundo às avessas (ver o comentário em Jr 4.23-26). O Dia do Senhor era um dia significativo, e esse é o tipo de ocorrência que caracteriza dias de tamanha importância. Tudo isso ajuda a entender o Dia do Senhor, mostrando que a maneira de pensar israelita e a comunicação profética se cruzavam com uma ampla gama de idéias vigentes na cultura. A originalidade da literatura israelita não reside na criação de novas matrizes, mas sim na combinação e aplicação de idéias já conhecidas de maneiras exclusivas e inusitadas.
1.7. videira e figueira. Os gafanhotos não davam preferência a essas árvores, por isso, elas só eram atacadas quando não havia restado nenhuma outra planta. Isso é um indício da extensão do prejuízo. Além disso, a videira e a figueira são símbolos da segurança e da prosperidade, logo, sua destruição representa o sentimento predom inante entre a população. A imagem idílica de paz e prosperidade no antigo Oriente Próximo era poder sentar-se debaixo de sua própria videira ou figueira. Pinturas de túmulos egípcios, relevos assírios e os escritores bíblicos usam a expressão para referir-se a um povo que controla suas próprias vidas, sem interferência estrangeira e são capazes de cultivar a terra que os deuses/ Deus lhes deram/deu (1 Rs 4.25; Is 36.16). Além dos frutos, a videira e a figueira davam um pouco de sombra e desfrutar delas en
volvia perspectivas a longo prazo, visto que am bas levavam diversos anos para se tom arem produtivas.1.7. arrancar a casca. Os gafanhotos são conhecidos não apenas por devorar a vegetação, m as tam bém por quebrar galhos e arrancar a casca de árvores. Se o dano causado à casca fosse grande demais, a árvore poderia não sobreviver, e, mesmo que sobrevivesse, o processo de cura reduziria em grande escala sua capacidade de produzir frutos.1.8. m etáfora da virgem . A palavra traduzida como "v irgem " aqui se refere a uma m ulher que não havia deixado oficialmente a casa de seu pai. Ela podia ter
um "m arido" por contrato (o rapaz com quem estava comprometida), caso o preço da noiva já tivesse sido pago, mesmo que o casamento ainda não tivesse sido consumado. A metáfora aqui se refere ao luto de uma
mulher que estivera noiva e muito perto de se casar, mas que havia perdido seu marido.
1.9. o fertas foram elim inad as. U m hino assírio da época de Sargão II (final do oitavo século) pede à divindade (Nanaya) que traga um fim a uma praga de gafanhotos. Assim como Joel, a oração menciona
diversas categorias de gafanhotos e lamenta que esses insetos estivessem impedindo que as ofertas fossem oferecidas aos deuses.1.10-12. im pacto da invasão dos exércitos na agricultura. A destruição ecológica podia arruinar a econom ia durante anos. À s vezes, os campos ficavam tão danificados que a fertilidade era grandemente reduzida. A destruição das árvores podia ter efeitos ainda mais devastadores no equilíbrio ecológico. Não apenas a sombra e a m adeira que forneciam deixavam de existir, como a erosão do solo aumentava e o desma- tamento contribuía para acelerar o processo de transformação de certas áreas em deserto. Algumas árvores frutíferas (como a tamareira) levavam vinte anos para se tom arem produtivas. A devastação agrícola e
o desmatamento eram táticas comuns de exércitos invasores que tinham como objetivo castigar os povos conquistados e acelerar sua rendição. Os registros e relevos assírios detalham medidas punitivas que incluem a derrubada de árvores, a devastação de prados e a destruição de sistemas de canais usados na irrigação.
1.13-20 Chamada ao arrependimento1.13. vestes de luto. As vestes de luto ou pano de saco eram feitas de pêlo de camelo ou bode, e eram rústicas e desconfortáveis. Em muitos casos, essas vestes eram apenas uma cobertura para o lombo. O sarcófago de Airão ilustra mulheres de luto vestidas com o que parece ser pano de saco, enrolado em volta dos quadris, por cima das saias.1.14. je ju m santo. H á poucas evidências da prática do je jum no antigo Oriente Próximo fora da Bíblia. Geralm ente era feito em contextos de luto. No Antigo Testamento, o uso religioso do jejum com freqüência está relacionado a um pedido dirigido a Deus. O princípio era que a importância do pedido levava o indivíduo a preocupar-se tanto com sua condição espiritual que as necessidades físicas eram relegadas a segundo plano. Nesse aspecto o ato de jejuar serve como um processo de purificação e humilhação diante de Deus (SI 69.10). No contexto da chamada ao arrependimento, Joel convoca um je jum a fim de remover qualquer pecado ou obstáculo que pudesse ter causado a devas
tação da qual os israelitas haviam sido vítimas.1.14. assem bléia sagrada. Assembléias sagradas eram ocasiões para adoração coletiva. Com freqüência aconteciam durante as festas anuais regulares, mas podiam ser convocadas em tempos de necessidade. Neste contexto, parece ser uma convocação dos anciãos e talvez envolvesse alguma tom ada de decisão, além da realização de rituais.
2.1-27 Exército de gafanhotos e arrependimento2.17. entre o pórtico do tem plo e o altar. A área que ficava entre o pórtico e o altar era um lugar de acesso lim itado. Som ente o sacerd ote teria m otivos para adentrar além do altar em direção ao templo. M as era um a área também usada como cenário de importantes atos públicos. Em Ezequiel 8.16, foi ali que a adoração sincretista ao Sol aconteceu, praticada por vinte e cinco hom ens. Em 2 Crônicas 24.21 foi ali que o profeta Zacarias, filho de Jeoiada, foi apedrejado até a morte (ver M t 23.35).
2 .20. inv asor qu e vem do n orte . O norte era um sím bolo de poderes das trevas. Os inim igos não ti-
nham muita escolha além de aproximar-se de Jerusalém vindo do norte, devido ao acesso que as principais estradas permitiam.2.20. m ar orien tal e m ar ocid ental. O m ar oriental seria o m ar M orto que servia com o um a fronteira natural do lado leste da terra. A fronteira a oeste era o M editerrâneo.2.23. chuvas de outono e de prim avera. Israel tem uma estação chuvosa (meses de inverno) e uma seca (meses de verão). A estação chuvosa começa com as
chuvas de outono ("prim eiras chuvas", outubro/novembro) e termina com as chuvas de primavera ("últimas chuvas", início de abril). Elas são importantes porque contribuem para o nível de umidade do solo e para o afofamento da terra a ser arada e cultivada. Os cereais são colhidos na prim avera (cevada em maio, trigo em junho) e os meses de verão (julho e agosto) são reservados para a debulha e a moagem. As uvas são colhidas no outono, enquanto a colheita das oliveiras estende-se até o inverno.
2.28-32 O dia do Senhor2.28. o derram ar do E spírito resultando em profe
cias, sonhos e visões. Na prática israelita, a unção era um sinal de eleição e com freqüência estava intimamente relacionada a uma capacitação do Espírito. Portanto pode-se falar de ser ungido pelo Espírito, ou do Espírito sendo "derram ado". Na Mesopotâmia, o rei era considerado capacitado pela mélammu (representação visível da glória da divindade) dos deuses. Em hebraico, a palavra para espírito pode tam bém significar vento. No antigo Oriente Próximo a palavra para vento/espírito era usada em relação a sonhos e vi
sões, desde os tempos sumérios. O deus dos sonhos era chamado de "o s ventos". Em acadiano, o nome do deus que enviava sonhos era Zaqiqu, que deriva da palavra para vento/espírito. Portanto, existe uma longa tradição da associação entre espírito e revelação através de sonhos e visões que, com freqüência, resultavam em profecias.2.30. sangue, fogo, nuvens de fum aça. Esses geralmente são os elementos que acompanham os horrores da guerra. O sangue escoa pelas ruas, as casas são incendiadas fazendo subir da cidade uma fumaça que pode ser vista a quilômetros de distância. São sinais de crise e castigo na terra, exatamente como o versículo seguinte fala de sinais e maravilhas no céu.2.31. S o l transform ado em trevas, Lua em sangue. Essa é a descrição de eclipses solar e lunar. Em um eclipse solar, o Sol escurece à m edida que a Lua se posiciona entre ele e a Terra. Esse fenômeno só pode acontecer na fase da Lua nova. Em um eclipse lunar,
a Lua é escurecida pela Terra que se posiciona entre o Sol e a Lua. Em um eclipse lunar, o m omento máximo de interferência resulta em um espectro verm elho de luz, de m odo que a Lua brilha com um a coloração vermelha-alaranjada em vez de escurecer. Esse fenô
meno ocorre apenas na fase da Lua cheia.2.31. eclipses no antigo O riente Próximo. No período neo-assírio, os eclipses representavam os presságios mais poderosos e terríveis, sendo considerados a "su prema revelação". Eram a causa m ais freqüente para
a invocação do ritual do rei substituto (ver o comentário em Is 53.4-10). A natureza da ameaça que significavam era avaliada pelo tempo preciso de sua ocorrência e pela posição e direção do fenômeno no céu, no m omento em que aconteciam. A combinação de sinais no céu e na Terra servia como confirmação do
agouro e m ostravam que as conseqüências seriam ainda mais drásticas.
3.1-21 O julgamento das nações3.2. vale de Josafá. Não há nenhum vale conhecido por esse nome em Israel, na Bíblia ou em outras fontes, ou m esmo na tradição. As alternativas são (1) que o texto faz referência a um vale que tinha algo a ver com o rei de Judá, do nono século, cujo nom e era Josafá (a única m enção de um vale em seu relato fica em 2 Rs 3); ou (2) que o nome do vale representa o que acontecia ali (o nome Josafá significa "Yahw eh ju lga"). Se for este o caso, como muitos comentaristas concluíram, a localização provável seria um dos vales ao redor de Jerusalém.3.3. comércio de escravos. Um dos aspectos mais lucrativos da guerra e invasão de fronteiras era o comércio de escravos. Os cativos eram vendidos a negociantes que os levavam para longe de sua terra natal. O número de pessoas nessa situação não se compara com o enorme contingente de escravos encontrados nas cidades gregas e romanas. O comércio de escravos existia desde os tempos remotos no antigo Oriente Próximo. Os escravos geralmente eram prisioneiros de guerra ou pessoas apanhadas em invasões. Era freqüente os com erciantes aceitarem escravos com o m ercadoria, os quais transportavam para outras áreas e os vendiam. Essas pessoas raram ente obtinham sua liberdade. A am pla maioria de pessoas que acabava fazendo parte do grupo de escravos era vendida por suas próprias fam ílias ou eram prisioneiros de guerra.3.4. T iro , Sidom , F ilístia com o opressores. Essas regiões costeiras do leste do Mediterrâneo serviam como portos por onde o comércio m arítimo passava. A partir dos versículos seguintes pode-se inferir que essas cidades atuavam como revendedores ou intermediários
de cativos (nesse caso de Judá) que seriam vendidos como escravos. Em relação a uma certa porcentagem daqueles tomados em batalhas talvez não valesse a pena toda a dificuldade ou custo envolvidos na deportação. Uma solução rápida era transferi-los a comerciantes de escravos, que cuidariam dos detalhes.3.6. gregos. O term o hebraico usado aqui, "Jav an ", provavelmente era o nom e grego para Jônia, a região grega da costa ocidental da Turquia e das ilhas do m ar Egeu. O s gregos jónicos se fixaram nessa área antes do primeiro m ilênio a.C.. Há evidências de contato entre eles e os assírios por volta do oitavo séculoа .C ..
3.8. sabeus. Existem três grupos de sabeus nas Escrituras. Um deles é de Sabá, atual Iêmen, uma área que era altam ente urbanizada e atingira um com plexo nível de civilização nesse período (1 Rs 10). M uitas inscrições dos sabeus foram encontradas nessa área. Existiam também os sabeus da Etiópia (Is 43.3). Em Jóб.19 os sabeus são identificados com Temá, no norte da Arábia, e provavelm ente com a Sabá das inscrições assírias de Tiglate-Pileser III e Sargão II, no final
do oitavo século. É difícil determinar qual desses grupos está sendo mencionado aqui, em bora a maioria
dos comentaristas defenda a prim eira opção.3.10. conversão de m etais. Em vez de ser um a referência ao "arad o" que revolve a terra, esse termo pode referir-se à ponta de metal do arado que perfura a terra abrindo sulcos. Essa ponta tem cerca de 17 centímetros de comprimento. No entanto, essa m esm a palavra hebraica é usada em 2 R eis 6.5 onde parece referir-se a um tipo de machado. As foices aqui descritas eram pequenas facas usadas para remover folhas e novos brotos em vinhas. As amostras arqueológicas encontradas são sim plesm ente pedaços pequenos e finos de m etal com um gancho na extremidade, com o lado cortante na parte interna, semelhante a um a foice. A forma lembra as agudas pontas de lanças populares na Idade do Bronze. Esses im plementos agrícolas podiam ser derretidos em tempos de guerra e transformados em armas.3.15. Sol, Lua e estrelas escurecerão. Ao declarai que no dia do Senhor os céus e todos os seus corpos celestes seriam escurecidos, Isaías afirm ou que a glória de Yahw eh ofuscaria o brilho de todos os supostos deuses (Is 13.10; ver também o uso de linguagem semelhan
te em Sal 104.19-22, em que Yahw eh controla o Sol e a Lua). Visto que a Assíria e o Egito adoravam o deus- sol (Shamás e Amom, respectivamente) como sua principal divindade e o deus-lua Sin era de grande importância na Babilônia, o profeta visa atingir esses deuses e suas respectivas nações arrogantes e inim igas de Israel. Tais predições de escuridão, como na inscrição de Balaão, em Deir 'Alia, geralmente eram presságios de épocas de grande catástrofe.3.18. colinas que m anam leite. Esse paralelo do vinho com o leite é único. A combinação bastante conhecida de leite e m el era uma forma de falar do potencial que determinada região tinha para sustentar uma economia pastoril (ver o comentário em Êx 3.7-10). A palavra usada aqui para vinho refere-se ao suco espremido e ferm entado recentem ente. Am ós 9.13 também retrata o vinho fluindo das colinas, o que é uma imagem lógica, um a vez que as vinhas com freqüência eram plantadas nas encostas das colinas.3.18. fonte flu indo do tem plo. A associação entre os tem plos do antigo O riente Próxim o e as fontes de água é bastante confirmada. Na verdade, considerava-se que alguns templos na M esopotâmia, no Egito e no m ito ugarítico de Baal tivessem sido edificados sobre fontes (comparadas às águas primevas), que às vezes fluíam do próprio prédio. Logo, a m ontanha cósmica simbólica (templo) ficava em cima das águas primevas simbólicas (fonte).3.18. vale das Acácias. As acácias geralmente crescem em condições secas do deserto. O ribeiro que corre do vale de Cedrom, a leste de Jerusalém, em direção ao mar M orto, ainda é caracterizado por suas acácias que fazem do local a escolha m ais lógica.3.19. Egito e Edom como opressores. Essas duas nações eram renom ados inim igos de Israel, tanto nos tempos antigos como nos eventos próximos ao exílio. Edom se tornara um vassalo assírio no reinado de Tiglate-Pileser III e continuou sob o domínio da Assíria até a morte de Assurbanipal, um século m ais tarde. É provável que os edomitas tenham se subm etido ao governo de Nabucodonosor em 605. Em bora alguns refugiados de Judá possam ter encontrado abrigo em Edom, aparentemente esse povo permaneceu passivo
quando Jerusalém foi destruída (ver SI 137.7 e O b 11). Am bos países são objetos de oráculos de julgamento em Jerem ias e Ezequiel.
A M Ó S
v y1.1-2.5Julgamento dos povos vizinhos de Israel1.1. Tecoa. O povoado de Tecoa tem sido identificado
com Khirbet Tequ'a, cerca de onze quilômetros ao sul
de Jerusalém e oito quilômetros ao sul de Belém. De
vido à sua localização às margens de terra cultivável, seus habitantes trabalhavam duro para m anter sua
subsistência como agricultores e pastores (ver 2 Cr
20.20). Para informações adicionais sobre essa peque
na aldeia na região montanhosa da Judéia, ver o comentário em 2 Sam uel 14.2.
1.1. terremoto. As atividades sísmicas são ocorrências comuns na Siro-Palestina. A região fica sobre a Fenda do Jordão, que se estende desde Damasco até o golfo
de Ácaba, e, portanto, está sujeita a movimentos periódicos da terra. Há evidências de um terremoto de
grandes proporções no sedimento 6 das escavações em Hazor, datando aproximadamente de 760 a.C.. É
possível que se trate do terremoto mencionado aqui, m as é preciso encontrar m ais evidências em outras
localidades, como Betei e Sam aria, que corroborem com essa hipótese._0 fato de que esse terrem oto é
usado para situar no tempo tanto a atividade profética
de Amós quanto o reinado do rei Uzias (ver Zc 14.4, 5) sugere que deve ter sido um fenômeno de grandes
dimensões e, portanto, um evento que ficou gravado na m ente das pessoas. Se Am ós de fato predisse o
terremoto (como fica implícito em Am 9.1), isso teria confirmado e autenticado seu papel como verdadeiro
profeta de Yahweh.
1.1. cronologia. Os reis citados na datação de Amós
situam sua m issão profética. U zias, rei de Ju dá, e Jeroboão II, rei de Israel, governaram durante grande
parte da prim eira m etade do século oitavo a .C.. O
terremoto citado aqui pode ser o mesmo confirmado por escavações em Hazor (sedimento 6) datando de
aproxim adam ente 760. Visto que Am ós afirm a não
ser um profeta profissional, m uitos intérpretes acreditam que os oráculos deste Livro cobrem um curto
espaço de tempo em vez de estender-se por diversas
décadas.1.2. topo do Carm elo. Do m onte Carmelo, na costa
norte de Israel, era possível avistar o M editerrâneo. A brisa m arinha e um ín d ice anual de chuva de 71
centímetros fazia dessa região uma das m ais exuberantes do país. Na Antigüidade suas encostas viçosas
eram cobertas de oliveiras, vinhas e ricas pastagens (ver Jr 46.18). Amós e outros profetas criam uma ima
gem contrastante entre a fertilidade normal dessa área
e a seca causada pela ira de Deus. O profeta também
apresenta uma noção da extensão geográfica do desastre, que se espalha desde Jerusalém, no sul, até o
Carmelo, no norte.
1.3. profecias contra nações estrangeiras. A respeito
desse tema nos profetas, ver o comentário em Jeremias
46.1.
1.3. D am asco no in íc io do oitavo século. O oitavo século começou de form a desastrosa para o remado de
Arã, e sua capital, Damasco. O rei assírio Adad-Nirari
III sitiou Damasco com êxito em 796. Segundo os Anais
Assírios, o rei sírio Bir-Hadad (Mari, em assírio) foi
forçado a submeter-se à vassalagem. Ele tam bém foi
obrigado a fazer pagamento de pesados tributos, in
clusive 2300 talentos de prata e cinco m il talentos de ferro, para salvar a cidade. Existem até alguns indíci
os de que a enfraquecida m onarquia síria e seu terri
tório teriam se sujeitado ao rei israelita Jeroboão II,
durante a m etade do oitavo século (ver 2 Rs 14.28).
1.3. tr ilh ou G ilead e. Os A nais A ssírios de Tiglate-
Pileser III apresentam uma descrição completa de como
uma nação derrotada era deixada como se tivesse sido varrida por uma "debulhadora". O evento menciona
do aqui por Amós pode estar relacionado à invasão de Gileade e da região da Galiléia, na metade do nono
século, pelo rei sírio H azael (ver 2 Rs 9.12 e a inscrição
de Hazael, recentemente descoberta em Tel Dã). Para outros exem plos da figura da debulhadora, ver os
comentários em Deuteronômio 25.4; 2 Sam uel 24.22 e Isaías 28.28.
1.4. casa de H azael. Devido às conquistas e feitos de
H azael no nono século (ver 2 Rs 10.32, 33), a dinastia real de Arã/Síria passou a ser conhecida como "casa
de H azael" . Essa expressão aparece nos anais de
Tiglate-Pileser III (744-727 a.C.), que reinou um século depois de Hazael. Logo, A m ós não está se referindo
a um rei específico, mas a um a dinastia, e por exten
são, ao próprio país de Arã.1.4. fortalezas de Ben-Hadade. Ver o comentário em Jerem ias 49.27.
1.5. vale de Áven. U m a vez que aven significa "im piedade" ou "idolatria" em hebraico, é bastante prová
vel que A ven n ão fo sse um a cidade, m as sim um a
região onde Baal era adorado (compare com Bete-Áven = Betei, em Os 10.8). É possível que a região fértil do vale de Beqa' seja o alvo da palavra do profeta.1.5. Bete-Éden. Os anais assírios do nono século, da época de Assurnasirpal II e Salm aneser III m encionam Bete-Éden (Bit Adini) como um reinado arameu rebelde, localizado 320 quilôm etros a nordeste da Palestina, entre os rios Eufrates e Balikh. Visto que foi su b ju g ad o e receb eu outro nom e n o re in ad o de Salmaneser III, a aparição de Bete-Éden em profecias de Amós no oitavo século levanta a questão se de fato trata-se do mesmo lugar. Entretanto, os anais de Tiglate- Pileser III continuam a usar o nom e Bete-Éden para referir-se a um a área que continha cidades sírias, e Amós pode simplesmente estar usando essa designação geográfica tradicional. O governante, na época de Amós, era Shamshi-Ilu.1.5. Quir. V er os comentários em Isaías 22.6 e Amós9.7 a respeito desta localidade designada como terra natal dos arameus. Também é mencionada em 2 Reis16.9.1.6. G aza no in ício do oitavo século. Considerando que Am ós usa G aza com o sinônim o para todas as cidades-estado filistéias, é provável que ela fosse a mais importante daquela época. Devido a suas alianças com as tribos árabes que controlavam as rotas comerciais do sul até a Arábia, G aza era um dos principais rivais comerciais de Judá durante o reinado do rei Jeorão (ver 2 Cr 21.16 ,17). Após os assírios terem
começado a expandir sua influência na Siro-Palestina, porém , a situação política ficou m ais com plicada. Amazias e Uzias conseguiram derrotar os edomitas e reconquistar o controle do principal porto no golfo de A caba (Elate) nas primeiras décadas do século (ver 2 Rs 14.7,22). Uzias também conquistou vitórias contra cidades filistéias e contra os árabes durante esse período (2 Cr 26.6, 7). É possível que Amós esteja refletindo a inim izade entre G aza e Judá nesse oráculo. De qualquer m aneira, os Anais Assírios de Tiglate-Pileser III (campanha de 734 contra os filisteus) mostram que, à medida que o século passou, a cidade de G aza foi forçada a pagar pesados tributos e a servir como um Estado vassalo aos assírios.1.6. venda de cativos. Um dos aspectos mais lucrativos da guerra e invasão de fronteiras era o comércio de escravos. Os cativos eram vendidos a negociantes, que os levavam para longe de sua terra natal (ver Ez 27.13; J13.6, 7). Observe que os textos administrativos mesopotâmicos que remontam aos tempos anteriores a Sargão (início do terceiro milênio) contêm listas de rações descrevendo pessoas "q u e pertencem a" ou "agregadas a" famílias ou estabelecimentos comerciais (tecelagens). O núm ero de pessoas nessa situação,
cuja melhor descrição talvez seja "servos ou trabalhadores", não era grande. Certamente não se compara com o enorme contingente de escravos encontrados nas cidades gregas e romanas.1.8. Asdode n o in ício do oitavo século. O tamanho da cidade baixa e de suas fortificações, construídas durante o século dez, ao estilo salomônico encontrado em G ezer e H azor, sugere que essa cidade-estado filistéia experimentou a prosperidade durante os séculos nono e oitavo. Escavações no sedimento 9 de
monstram que a enorme porta da cidade de Asdode foi parcialmente destruída por volta de 760. Isso pode ser atribuído à campanha de Uzias, rei de Judá, contra os filisteus (2 Cr 26.6, 7). Antes do controle assírio sobre a Siro-Palestina, as nações menores (Filístia, Judá, Israel e Transjordânia) disputavam o controle das rotas com erciais e periodicam ente prom oviam cam panhas m ilitares com o m eio de conquistar a hegemonia política na região. Após 750, porém, a Assíria e o Egito passam a usar essas nações menores como parte de suas próprias manobras políticas.1.8. Ascalom no in ício do oitavo século. Como A s
dode, Ascalom era uma das principais cidades-estado filistéias (ver os comentários em Jz 1.18 e 14.19). Grande parte do que se sabe a respeito dessa localidade durante o oitavo século encontra-se nos Anais Assírios e em listas de tributo. Entretanto, Ascalom é pouco mencionada antes da campanha de Tiglate-Pileser III, em 734. A natureza exótica de alguns dos tributos pagos por Ascalom ao governante assírio (inclusive rolos de papiro e peles de elefante) sugere que tinha vínculos comerciais com a Arábia e o Egito.1.8. Ecrom no in ício do oitavo século. A localidade de Ecrom encolheu de tamanho durante os primeiros dois séculos do primeiro milênio. Talvez isso se deva ao dom ínio de Israel na Filístia que teve início no reinado de Salomão. Algumas novas construções foram feitas no oitavo século, inclusive um a torre de fortaleza, sugerindo um ressurgimento durante o período em que Ezequias, o rei de Judá, controlou a região (2 Rs 18.8). Escavações não demonstraram nenhuma riqueza ou prosperidade notável nessa época e é provável que a menção de Ecrom neste oráculo seja simplesmente por fazer parte das cidades filistéias (ver Jr 25.20).1.9. T iro no in ício do oitavo século. Durante o primeiro quarto do oitavo século, o rei Pigmalion governou em Tiro. Foi um a época de grande prosperidade para os fenícios, que controlavam a m aior parte da atividade com ercial no M editerrâneo. Eles haviam expandido sua presença nas colônias fundando Car- tago, no norte da África, em 815. Interessantemente, a lista de tributo assírio de Adad-Nirari III desse perío
do inclui o rei de Sidom, mas não o de Tiro. Aparen
temente Tiro, da mesma form a que o próspero Israel (ver A m 3.15; 6.4), conseguira evitar com plicações com os assírios até o momento.1.11. Edom no in ício do oitavo século. Após ser anexado ao reinado de Davi (2 Sm 8.11-13), com o passar do tempo, Edom rebelou-se e conquistou sua independência de Judá, durante o reinado de Jeorão (2 Rs8.20-22). Am azias conseguiu recapturar pelo menos uma parte do território de Edom (2 Rs 14.7) na batalha de Sela (es-Sela, na fronteira norte de Edom), e até o reinado do rei israelita Jeroboão II (789-749) continuou a ter conflitos e tensões na fronteira entre Edom e seus vizinhos.1.12. Tem ã, Bozra. V er os comentários em Jerem ias
49.7 e 49.13 respectivamente a respeito dessas localidades edomitas.1.13. Am om no in ício do oitavo século. Assim como Edom , a nação transjord ânica de A m om p eriod icamente se rebelava contra o domínio israelita (2 Cr20.1) e durante o oitavo século foi forçada a pagar tributo a Judá (no remado de Uzias, ver 2 Cr 26.8). A mudança nos destinos políticos é evidenciada em fontes assírias que se referem a embaixadores amonitas enviados a Calá (Ninrode) no oitavo século para oferecer tributo. Entretanto, o primeiro rei de A m om a ser alistado em textos assírios é Shobi, filho de Hahash (lista de Tiglate-Pileser III, de 733).
1.13. tratam ento dado às m ulheres grávidas. A prática de rasgar o ventre de m ulheres grávidas é m encionada m uito raramente. É atribuída ao rei assírio Tiglate-Pileser I (por volta de 1100) em um hino que louva suas conquistas. Tam bém é citada apenas de passagem em um lam ento neo-babilônico.1.14. Rabá. Ver o comentário em Jerem ias 49.2 a respeito dessa cidade, que era a capital de Amom.2.1. M oabe no in ício do oitavo século. A inscrição m oabita de M essa, da m etade do século nono, é a única evidência documental extrabíblica (compare com 2 Rs 3.4-27) atualmente disponível sobre essa nação da Transjordânia, anterior à cam panha de Tiglate- Pileser na área, em 734. Pode-se apenas especular a respeito das hostilidades que teriam existido entre Moabe e as nações de Judá e Israel, um a vez que não há evidências concretas. O crime de profanar os ossos do rei de Edom pode ser um indício da aliança de Edom com Judá. Porém , sem um contexto histórico em que o evento possa ser situado, perm anece um mistério.2.1. queim ou os ossos. O ultraje m aior desse ato reside não apenas no fato de profanar as sepulturas dos reis de Edom, m as tam bém no passo além de queim ar os ossos para fazer cal (ver Is 33.12). Dessa forma,
toda honra e respeito é rem ovido dos corpos, e os
m oabitas podiam apontar para m uros e casas que tivessem sido pintados com a m istura resultante da
quele cal. A respeito da exumação de restos mortais, ver o comentário em 2 Reis 23.16.
2.2. Q ueriote. Também mencionada na inscrição de
M essa com o a cidade onde o deus m oabita Cam os
tinha um santuário, Queriote tem sido identificada
com el-Qereiyat e Khirbet Aleiyan (ver Jr 48.41).
2.6-16Os pecados de Israel2.8. tipo de ironia. A grande ironia das acusações de
Amós contra os ricos é que eles exibiam seus excessos
diante de altares sagrados em um santuário dedicado
a Deus. É possível que fosse parte de seus direitos legais tom ar um a veste diante do não-pagam ento de um a
dívida ou comprar vinho com dinheiro que fora obti
do através de m ultas aplicadas aos pobres por alguma
ofensa praticada. Entretanto, Yahw eh havia dito (Êx
22 .25 ,26) que os lam entos agudos dos pobres seriam
ouvidos, "pois sou misericordioso". Como no caso do trabalhador, na inscrição de Y avneh Yam , o cred or
devia não apenas obedecer à lei, como também devia
lev ar em co n sid eração qu e p arte da p ro p ried ad e confiscada impediria o devedor de trabalhar pelo seu
susten to (ver o Código de H am urabi, que p roíbe o
confisco do boi de um trabalhador endividado).
2.9. destruí os am orreus. Israel é lem brado acerca dos
feitos do Guerreiro Divino. Antes do início da conquista de Canaã, Yahw eh dera aos israelitas um a vi
tória contra os reis dos amorreus, Seom e O gue (ver os
comentários em N m 21.21; 21.24-30). Posteriormente,
os m esm os amorreus se tom aram sinônimos dos habitantes de Canaã (ver Jz 1.34-36 e 7.14).
2.9. frutos em cim a, raízes em baixo. Am ós usa um recurso literário (em que se utiliza a imagem de pares
opostos ou polarizados) para ilustrar a destruição total
dos am orreus. Essa era um a prática com um na linguagem profética (ver Is 37.31; Os 9.6). Tam bém é
encontrada na fórmula de maldição fenícia (inscrição de Eshmun 'asor, quinto século): "Q u e eles não te
nham tronco embaixo, nem ramos em cim a".
2.11. nazireus. Ver os comentários em Números 6.121 acerca dessa categoria especial de israelitas que
im punham a si m esm os um juram ento de purificação.
3.1-15O julgamento de Israel3.2. escolher fam ília. O verbo usado no texto hebraico é "conhecer". A m esm a expressão a respeito de um
deus conhecendo um a fam ília é u sad a em textos
acadianos para descrever o cuidado que os deuses do
clã garantiam a seus adoradores.
3.4. com p ortam ento do leão. D urante a caçada, o
leão ruge para paralisar de medo sua presa e assim
poder atacar. A pós um a caçada bem -sucedida, um
leão pode arrastar um a porção do animal abatido até
sua toca para comer mais tarde. Enquanto está ali ele pode rugir como sinal de prazer por seu êxito ou como
um alerta para que outros predadores não se aproxi
mem. Ver exemplos semelhantes do comportamento
do leão em Isaías 5.29 e Ezequiel 22.25.
3.5. pássaro caindo na armadilha. Ver o comentário em
O séias 7.12 para m ais detalhes sobre a caça de pássa
ros através de laços e armadilhas. S. Paul tem argumen
tado de forma persuasiva que a palavra traduzida pela
NVI como "arm adilha" deveria na verdade ser "isca", demonstrando assim o que todos sabem, que um pás
saro deve ser atraído até a arm adilha.
3.9. m ontes de Sam aria. Embora a cidade de Samaria
ficasse localizada em um único m onte, era cercada por
um a série de colmas que eram de fato mais altas que a capital (ver o comentário em 1 Rs 16.24). Se o profeta
está falando de um ponto de observação de onde fosse
possível assistir à destruição de Samaria, então essas
colinas seriam o local m ais adequado.
3.11. tempo entre a profecia e seu cumprimento. Amós, falando nos anos 760, pode ter suposto que os assírios
acabariam sendo usados como instrumentos de Deus
para castigar a Israel, m as ele não afirm a isso explici
tamente. De qualquer maneira, Samaria e a nação de
Israel cairiam diante dos exércitos assírios de Sargão
II, em 722, e grande parte da população seria deportada para outras partes do Império Assírio.3.12. responsabilidade do pastor. Os códigos legais da antiga M esopotâm ia (inclusive o Código de Lei Sum éria, o Código de H am urabi e as Leis Hititas) continham cláusulas cujo objetivo era ajudar os pastores que tivessem perdido um animal para um leão ou outro predador. O pastor dava seu testemunho e fazia um juram ento diante dos deuses. Se houvesse algum a evidência física para demonstrar, como "u m pedaço da orelha", então essa prova era apresentada. D essa m aneira o pastor ficaria acima de suspeita de roubo. Os pedaços que ele apresentava não indicavam sobrevivência e sim serviam como prova da destruição do animal desaparecido do rebanho.3.12. cama/sofá. Em m eio à destruição im inente, as casas dos ricos mercadores e nobres de Samaria seriam saqueadas. O s refugiados em fuga conseguiriam carregar consigo apenas parte de sua riqueza. Amós satiriza seu sofrimento ao descrevê-los se agarrando a
pedaços (a cabeceira ou os pés) de suas cam as. A ironia dessa im agem encontra-se em Amós 6.4, onde o profeta condena os ricos por desfrutarem do luxo de camas de m arfim e sofás.3.14. altares de Betei. Ver os comentários em 1 Reis12.29, 30 a respeito do estabelecimento dos santuários
reais de Jeroboão em D ã e Betei, na época do reino dividido. Apesar da associação de Betei com os altares dos patriarcas Abraão e Jacó (Gn 12.8; 35.7), essa cidade funcionava como rival de Jerusalém no tempo de Amós, e, portanto, seus altares deviam ser condenados como parte da apostasia de Israel.
MUDANÇAS ECONÔMICAS E CLASSES SOCIAIS NO ISRAEL DO OITAVO SÉCULOA luz das mudanças políticas ocorridas no início do oitavo século (expansão assíria e captura de Damasco), Israel conseguiu ampliar seus interesses econômicos e recuperar sua hegemonia em grande parte da Transjordânia. Além disso, tanto Israel como Judá foram governados, durante a primeira metade do século, por reis fortes (Jeroboão II e Uzias, respectivamente) cujos reinados foram longos e estáveis. Isso tomou mais fácil o estabelecimento de uma política econômica abrangente que se concentrou na produção maciça de itens de exportação, tais como cereais, azeite de oliva e vinho. Grandes áreas da Sefelá e as terras baixas dos vales já haviam sido tomadas pelo cultivo do trigo (2 Cr 26.10). Agora, no oitavo século, a elite conseguira impor sua política econômica nas pequenas aldeias e áreas agrícolas da região montanhosa. Como resultado, estratégias anteriormente aplicadas à agricultura, que tentavam dividir os riscos potenciais entre o pastoreio e o cultivo das terras, foram substituídas e a terra passou a ser tomada pelo cultivo de produtos especificamente rentáveis. As propriedades menores de agricultores e camponeses sobrecarregados de dívidas foram incorporadas a grandes propriedades. Esse uso bastante eficiente da terra, porém, eliminou as culturas mistas que no passado eram a base da cultura aldeã, o que exauriu rapidamente o solo. Deixar áreas dos campos em pousio e utilizar campos já colhidos como áreas de pastagens eram práticas que haviam sido eliminadas ou eram rigidamente controladas. Sob essa nova política, foi feita uma tentativa de aumentar de tal maneira as exportações, a ponto de haver uma verdadeira escassez para a classe camponesa, enquanto a nobreza e os mercadores tinham condições de deliciar-se com os produtos luxuosos fornecidos por seus parceiros fenícios. Assim, além de enfrentar a alta nos preços de produtos básicos nativos, tais como o trigo e a cevada, os miseráveis agricultores e camponeses viam-se forçados a submeter-se à servidão ou ao trabalho como diarista. Sendo oprimidos por empregadores exploradores e enganados por negociantes gananciosos que lhes vendiam cereais adulterados ou de qualidade inferior para seu consumo, não é de espantar que Amós dirigisse longos discursos aos ricos por sua falta de consideração para com os pobres. Nessa atmosfera de injustiça social, especialização agrícola e especulação econômica, o profeta relembra os israelitas de seu compromisso com a aliança. Tal como o "camponês eloqüente" do século vinte a.C., no Egito, Amós os alerta que juizes corruptos e homens de negócio desonestos não devem esperar nenhum tipo de misericórdia de um Deus irado.
3.14. cortar as pontas dos altares. As pontas do altar representavam o lugar do santuário (Êx 21.13, 14) e
tam bém eram associadas à absolvição e purificação
(Lv 16.18). Cortar essas pontas suprim ia o altar de qualidades especiais, o profanava e o transform ava
em nada mais que uma pedra danificada. Diante da
destruição vindoura, portanto, Israel será privado de qualquer esperança de asilo ou expiação de pecados.3.15. casas de inverno e de verão. Um dos sinais de
suntuosidade exibidos pelas riquezas de Salomão eram
suas duas residências. U m a casa de verão em Samaria
aproveitava o clima mais fresco da região montanhosa central de Israel, e outra, de inverno, possivelmen
te no quente vale de Jezreel, permitia que os residentes escapassem das temperaturas muito baixas. Exis
tem diversos exemplos de reis que podiam usufruir
das diferenças climáticas migrando de um a residên
cia para outra, inclusive Barrakub, de Sam 'al, o rei
arameu do oitavo século, e Ciro, o rei da Pérsia.
3.15. en fe itad as de m arfim . Escavações na antiga Sam aria revelaram quantidade relativam ente gran
de de marfim usado na decoração de móveis e pare
des do palácio de Onride (ver o comentário em 1 Rs 22.39). Tanto o estilo egípcio quanto o fenício/sírio
eram empregados, inclusive representações do deus
Hórus, flores de lótus e o tema da "m ulher à janela".
Marfins da Idade do Ferro diferem daqueles da Idade do Bronze M oderna (mais bem representados pelos
exemplares encontrados em Megido) com a adição de pasta de vidro e incrustações de pedras semiprecio
sas. E possível que algumas dessas peças de marfim
fossem entalhadas e decoradas por artesãos israelitas,
m as é mais provável que fossem caríssimos produtos importados.
4 .1 -1 3
Is r a e l m a n te v e -s e r e b e ld e
4.1. vacas de Basã. M ais uma vez demonstrando suas
origens como criador de gado, Amós usa as vacas de Basã, animais de excelente qualidade, como metáfo
ra. Esses animais valiosos pastavam no capim exuberante dessa região da Transjordânia, às duas margens
do rio Iarmuque (ver Dt 32.14). Amós compara essas
vacas com as auto-indulgentes esposas de nobres e mercadores abastados da Samaria. N em as vacas, nem
aquelas mulheres eram capazes de enxergar além de suas próprias necessidades e desejos (compare com Is
3.16). As m ulheres, como vacas pastando completa
mente absortas, não conseguiam sequer imaginar que
o povo podia estar morrendo de fome enquanto elas pediam outro cálice de vinho ou m ais uma refeição extravagante. E difícil dizer com segurança se a refe
rência é ao gado criado domesticamente ou ao gado
selvagem, não domesticado. Ambos podiam ser en
contrados em Basã e ambas as imagens fariam sentido
na analogia.4.1. m u lh eres da c lasse a lta . A prosperidade que
adviera à classe da nobreza e de mercadores de Israel
durante a primeira metade do século oitavo a.C. era o resultado direto da proliferação da hegemonia assíria.
Em 802, o rei assírio A dad-N irari III conquistou a
cidade de D amasco e efetivam ente removeu a Síria
de sua posição como principal rival político e econôm ico de Israel. P or um breve período, portanto, a
cidade de Samaria e o restante de Israel desfrutaram
de paz e prosperidade que geraram riqueza e permi
tiram o usufruto de produtos luxuosos e novos proje
tos de construção. A m ós deseja atingir as esposas desses prósperos indivíduos, destacando-as como causa
básica da opressão dos pobres. A aliança impunha
obrigações aos israelitas p ara que cu idassem dos
desfavorecidos, m as o que Amós vê são pessoas que
não avaliavam o preço que seus compatriotas paga
vam para que mantivessem sua vida de privilégios.
4.2. ganchos, anzóis. O termo hebraico aqui é bastante incerto. Tem sido sugerido que o versículo descre
ve não o instrumento com que se apanha o peixe, mas
os cestos e vasilhas onde são transportados. Essa metáfora está presente na literatura profética de Mari, onde
os inimigos do rei são retratados contorcendo-se como
peixes em um cesto. A pesca em rios e riachos meso-
potâmicos era feita com cestas trançadas (às vezes fei
tas de arbustos de espinho). De fato, não há evidência do uso de anzóis na Mesopotâmia após 3000. A me
lhor tradução para a metáfora de Amós descrevendo a
captura dos israelitas após o cerco de Sam aria seria "cestos de pesca". Se o profeta tinha em mente de fato
"an zóis", então é possível que estivesse se referindo aos ganchos que costumavam ser usados para perfu
rar e puxar prisioneiros durante os cercos.
4.3. Harmom. Visto que esta é a única ocorrência da palavra, foram feitas diversas sugestões acerca de seu
significado. Alguns eruditos a consideram um nome de lugar e, portanto, o lugar onde os cativos foram
exilados. Dentre as sugestões estão o monte Minni, na
Assíria (ver Jr 51.27) ou Herm al, perto de Cades, no rio O rontes. P ara aqueles que corrigem o texto, a
tradução de "m onte de esterco" (NVI: "m ontanha de
opressão") para o termo haãm on (substituindo uma única letra por outra parecida) é a m ais provável,
visto que se trata de um local adequado para dispor-
se do corpo de prisioneiros.4.4. locais de culto em Betei e G ilgal. Betei tinha uma
longa tradição de atividade cultual, rem ontando à
edificação de um altar por A braão (Gn 12.8) e ao
sonho de Jacó ali (Gn 28.10-22). Am ós passou a atri
buir a Betei um aspecto ominoso, ao designá-la como
um dos principais centros cultuais da época de Jeroboão
(1 Rs 12.29, 30). A atividade cultual em Gilgal apare
ce na narrativa da conquista quando os israelitas atra
vessaram o Jordão e Josué erigiu um m emorial para
comemorar o evento (Js 4.19, 20). É possível que após
a divisão dos reinos, Gilgal fosse considerado local de
adoração do norte, devido à sua associação com Saul (ver 1 Sm 11.15 e 15.21). Oséias também condena esse
lugar por sua corrupção (Os 4.15 e 9.15).
4.4. d ízim os no terceiro dia (a cada três anos). A
melhor tradução do hebraico para essa expressão se
ria "n o terceiro d ia" ou "a cada três dias" (e não a cada
três anos). É possível que Amós esteja satirizando um
aspecto da prática cultual no reino do norte. H á uma
possibilidade que essas ofertas e dízimos voluntários
(compare com G n 14.20) fossem oferecidos assim que
chegavam no santuário ou que estivessem ligados a
algum evento iminente ou voto. Para Amós, porém,
tal freqüência de ofertas não era capaz de substituir a
verdadeira piedade ou obediência à aliança.
4.9. pragas e ferrugem . Os agricultores estavam bem
conscientes do que as forças da natureza podiam fazer
a suas plantações. Aqui, Deus tenta cham ar a atenção
de Israel destruindo as colheitas. Primeiro, o vento
siroco afasta toda a umidade do ar, secando a vegeta
ção. Depois, chove demais e os campos ficam amare
lados e m urcham nos campos. Ver o comentário sobre
maldições em Deuteronômio 28.22.
4.9. gafanhotos. Esses insetos podem causar estrago
nas plantações e tam bém nas folhas de oliveiras e
figueiras. P ara outro exem plo de nuvens de gafa
nhotos e sua relação com a ira de Deus, ver Joel 1.4-7.
Textos acadianos de Mari relatam que os gafanhotos
invadiam um a cidade e explicam que a colheita não
podia ser terminada por causa das nuvens de insetos.
Para informações a respeito da destruição causada por
gafanhotos, ver o comentário em Êxodo 10.1-20.
4.13. relação entre vento e pensam entos. No hebraico,
a palavra traduzida como "v en to" é a mesma muitas
vezes traduzida como "espírito". Não é que a palavra
tivesse dois significados, mas sim que no mundo an
tigo, não era muito fácil fazer a distinção entre vento
e espírito. Na m aneira de pensar m esopotâmica, os
deuses revelavam seus planos e pensamentos através
de sonhos. O mensageiro que trazia esses sonhos era
chamado Zaqiqu. A palavra zaqiqu refere-se a espíri
to ou fantasma. Deriva do verbo zaqu, que se refere ao
vento sendo soprado, ou ao fôlego de um deus.
5.1-27Lamento pelo castigo do povo (a busca pelo Senhor)5.5. Betei, G ilgal. Ver o comentário em 4.4.5.5. santuário em Berseba. A descoberta de um gran
de altar com pontas nas escavações de Tell es-Saba',
datando da Idade do Ferro II fornece evidências que confirm am a atividade cultual nessa localidade do
sul. Berseba é citada em narrativas ancestrais (Gn
21.33) e é o local onde os filhos de Sam uel atuavam como juizes (1 Sm 8.1, 2). A destruição de santuários
fora de Jerusalém pelo rei Ezequias (Arade, Berseba;
2 Rs 18.4) pode ser um reflexo da condenação dessas localidades por parte de Amós.5.8. Plêiades e Ó rion, constelações no m undo antigo.
Evidências textuais da Babilônia, inclusive o "tablete
de V ênus" de Am m isaduqa (c. 1650 a.C.), indicam
que estudos astronômicos eram conduzidos com habilidade e precisão. Embora a astrologia tam bém fosse
predom inante nos últim os períodos do Egito e na
Mesopotâmia do período persa, parece que essa ativi
dade de adivinhações, interpretação de presságios (ver
Is 47.13) era apenas uma-extensão do trabalho de uma ciência verdad eira, a astronom ia. H á registros do
m ovim ento dos planetas, da posição das principais
estrelas e constelações fixas, bem como de descrições das fases da Lua e de eclipses solar e lunar. Considerando-se o conhecimento difundido acerca das estre
las e dos planetas nas culturas mesopotâmica e egíp
cia, era necessário que os escritores e profetas bíblicos
atribuíssem esses corpos celestes à criação de Yahweh
(ver Jó 9.9). As constelações mesopotâmicas incluem: figuras de animais como bode (Lira) e serpente (Hidra);
objetos como um a flecha (Sírio) e um carro (Ursa M ai
or) e personagens como A nu (Órion). A constelação m ais popular era Plêiades, com freqüência retratada
em selos até na Palestina e na Síria. Textos neo-assírios
preservam esboços de estrelas em constelações. Uma
oração aos deuses da noite de 1700 a.C. invoca as
constelações por nome pedindo-lhes que respondam
ao adivinho que buscasse um presságio.5.11. m ansões de pedra. Essa expressão refere-se a
casas feitas de pedra bruta (chamadas de "silh ar"),
um a vez que muitas casas em Israel eram construídas com esse material. Com freqüência o alicerce era de
pedra, enquanto a estrutura das paredes era de tijolos de barro, secados ao sol. A penas os m ais ricos das
classes altas podiam bancar casas de alvenaria tão
bem feitas. A pedra calcária utilizada nessas construções era extraída em pedreiras perto de Samaria. A
maldição usada aqui é chamada de "m aldição da inu
tilidade" porque tom a inútil todo seu esforço e traba
lho e pode ser com parada a um a inscrição em um
marco de divisa babilónico que invoca os deuses a
atentarem para aquele que constrói uma casa em terra roubada, para que sua casa lhe seja tirada.
5.12. subornos e opressão ju dicial. Um dos principais
temas de Amós é a crítica sobre a injustiça social (ver
Êx 23.6-8; Dt 16.19 e o Código de Hamurabi acerca de leis que condenam o suborno). H á uma longa tradição
na literatura sapiencial ou camponesa exigindo justiça
da lei e de reis e oficiais. Por exemplo, em uma coleção de provérbios babilónicos, o "ju iz sem escrúpu
los" é aquele que aceita um presente e "perm ite que
a justiça seja m alograda". Igualm ente, o "cam ponês eloqüente" da literatura egípcia do século 21 acusa os "legisladores que aprovam o roubo" e "os inspetores
de aceitarem a corrupção". A Teodicéia babilónica do
século dez censura pessoas que "enchem de ouro os
depósitos do opressor" enquanto "esvaziam a despensa do mendigo".
5.20. dia do Senhor. Ver a nota em Joel 2.
5.21. festas relig iosas e assem bléias solenes. O ataque de Amós é dirigido às hagim - termo técnico para
as três principais festas de peregrinação (festa do pão
sem fermento, festa da colheita e Festa das cabanas;
ver os comentários em Êx 23.15,16) - vazias e celebra
das mecanicamente. As festas religiosas eram oportunidades freqüentes para celebrações, refeições comu
nais e ajuntamentos sociais. O que fora instituído como
um m eio de louv ar e h onrar a D eus, porém , não estava lhe trazendo nenhum prazer.
5.23. música na adoração. A Mesopotâmia e o Egito tinham longa tradição de música religiosa e popular
que provavelmente eram conhecidas pelos israelitas.
M úsicos profissionais, como o harpista kalu, tão bem atestado em textos antigos de M ari (Babilónia Antiga)
e da Uruk suméria, podem ter sido o modelo para os
m úsicos levitas no tem plo de Jerusalém e tam bém
para os m úsicos dos santuários no norte, em D ã e Betei. Os tipos de instrumentos, cantos litúrgicos, ora
ções e lamentos penitenciais, e hinos de louvor cria
dos por essas antigas civilizações serviam de modelo no estilo e na composição para todo o Oriente Próxi
mo. Pinturas em túmulos egípcios exibem a postura
de dançarinos e tam bém um a am pla variedade de instrumentos musicais. Um exemplo da técnica em
pregada na m úsica sacra encontra-se nos Salmos asso
ciados à recitação da história da criação - Salmos 8, 189, 104 e 139. Eles contêm elem entos literários e
musicais (com base em sobrescritos, marcadores para coral e assonâncias ou rimas toantes no texto) necessá
rios para um a execução adequada da música durante a adoração e a encenação do drama sacro.
5.26. re i Sicute. Devido a uma crença equivocada de
que o deus Sicute foi introduzido somente após a con
quista assíria (ver 2 Rs 17.30), algumas versões tentam corrigir o hebraico traduzindo o termo como "san
tuário" ou "m orada" do rei. Na verdade, a afirmação de Amós provavelmente reflete o grau da influência
cultural exercida por m ercadores aram eus e outros viajantes sobre os israelitas. Sicute ou SAG .KU D é
associado a Ninurta em fontes ugaríticas e especificamente ao planeta Saturno.
5.26. im agens dos deuses astrais. Essa tradução tam
bém é uma tentativa de remover do texto o nome de
um a divindade astral, corrigindo a palavra kiyyun. O deus-estrela m esopotâm ico, Saturno, ocorre como
kajamanu em textos acadianos e tem o significado de
"o im utável", um título adequado para a órbita lenta
do planeta Saturno. A s im agens dessas divindades
astrais eram carregadas em procissões nos dias de festas religiosas. Conforme a nota da NVI, a Septuaginta
diz "levantaram o santuário de M oloque e a estrela do seu deus Renfã, ídolos que fizeram para adorar!".
Visto que ambos os deuses mencionados nesse versículo são associados ao deus Saturno, a expressão "es
trela do seu deus" na verdade é um a referência à adoração de divindades astrais praticada pelo povo.
As procissões sagradas levavam imagens e símbolos
desses deuses pelas ruas da cidade até seus santuári
os, onde sacrifícios, danças sacras e outras atividades
rituais eram realizados. Am ós, no entanto, satiriza
essas práticas. Em vez de simplesmente descrever o que estivera acontecendo, ele agora prediz uma "ú lti
m a procissão", m as desta vez o povo carregará seus
ídolos para o exílio (compare com Is 46.1).
5.27. exílio para além de Damasco. Visto que os assírios
nunca são diretamente citados em Amós, não fica claro o que ele quis dizer quando falou do exílio iminen
te do povo de Israel. U sar um a expressão tão vaga como "além de Damasco" remete à ameaça de Jeremias,
com a expressão "d o norte" (Jr 1.14) e ambos simplesm ente indicam a direção da Mesopotâmia como fonte da destruição vindoura.
6.1-14 A destruição de Israel6.1. m onte de Sam aria. Para que o paralelism o de
Am ós funcione m elhor, o m onte Sam aria tam bém
teria de conter um centro de adoração, como o monte Sião, em Jerusalém. É provável que seja uma referência à acrópole da cidade onde o templo e o palácio
ficavam localizados. Considerando a condenação de
M iquéias à Sam aria e suas im agens (M q 1.6, 7) e a
referência de Isaías a "Sam aria e seus ídolos" (Is 10.11),
parece provável que a capital de Israel tinha um im
portante santuário durante o reinado de Jeroboão II.6.2. Calné e Hamate. Embora não se saiba ao certo a
localização exata de Calné, capital do antigo Estado de
Unqi, provavelm ente estava situada na planície da
A ntioquia, perto de Aleppo. H am ate (atual Ham a, cerca de 160 quilômetros ao sul de Aleppo e 208 qui
lômetros ao norte de Damasco) ficava localizada às margens do rio Orontes (para mais informações, ver
os com entários em Is 10.9). Em bora am bas tenham
sido destruídas pelas mãos dos assírios em 738, Israel tam bém pagava tributos naquela época, logo Amós
não pode estar tão atrasado. Sabemos muito pouco a respeito da história do norte da Síria nas décadas que
precedem o profeta para identificar a que Amós está
se referindo.
6.2. G ate. G ate tem sido identificada com o Tell es- Safi, oito quilôm etros ao sul de Tell M iqne/Ecrom. Das cinco principais cidades dos filisteus, era a que
ficava mais próxima a Judá. Poucas escavações foram
conduzidas no local, em bora tenha sido confirmado
que há ali vestígios da Idade do Ferro. A cidade fica
va localizada perto do vale de Elá, um a das principais
vias de passagem da planície costeira para a região
montanhosa ao redor de Jerusalém. Foi alvo de um
ataque de Uzias, rei de Judá (citado em 2 Cr 26.6) na época de Amós.
6.4. camas de m arfim . A idéia de uma cama feita de
material exótico ou luxuoso remete à cama de ferro do
rei Ogue, em Deuteronômio 3.11 (ver tam bém o tro
no de marfim de Salomão, em 2 Cr 9.17-19). Os Anais Assírios de Senaqueribe m encionam que Ezequias,
rei de Judá, incluiu entre os itens pagos como tributo u m sofá com engastes de marfim. A decoração com
m arfim era muito popular nessa época, tanto em mó
veis como em painéis de parede. Uma das principais
fontes de m arfim eram as presas de elefante, que eram importadas de Arã (onde os elefantes ainda não haviam sido extintos nessa época). As peles e as pre
sas de elefante, bem como elefantes vivos, às vezes eram incluídos como itens em pagamentos de tribu
tos. Escavações no palácio de Assumasirpal, em Kalah,
trouxeram à tona belíssim os entalhes de m arfim deco
rando as paredes. Mais de quinhentos fragmentos de marfim tam bém foram encontrados nas escavações de
Sam aria, datando dos séculos nono e oitavo a .C..
M uitos exibem temas artísticos egípcios e fenícios.
6.4. m elhores cordeiros, novilhos m ais gordos. Para quem tinha condições, as carnes de m elhor qualidade
eram provenientes de ovelhas e bois m antidos em
estábulos (ver M l 4.2) e engordados com cevada, an
tes do abate. Provavelmente, esses alimentos dos an
tigos podiam custar muito caro e eram bem conhecidos (ver a m etáfora de Jerem ias para m ercenários
gordos, em Jr 46.21). Há evidência dessa form a de criar ovelhas (acadiano, kirru) nos textos econômicos
de U r III que datam do século vinte a.C..
6.6. v inho em grandes taças. O term o usado para taça
geralm ente é associado à atividade cultual (ver Ex24.6-8; N m 7.13). Isso sugere que Amós os está acusan
do não apenas de beber em excesso, m as talvez de
estarem profanando objetos sagrados. Observe que os arqueólogos encontraram um a série de taças de ouro
em túmulos de Ninrode que datam do final do perío
do assírio, algumas das quais continham nomes de rainhas assírias gravados na lateral.
6.6. fin os óleos. No mundo antigo, os convidados de
um banquete muitas vezes eram recebidos por um
anfitrião generoso com finos óleos com os quais ti
nham suas frontes ungidas. Além de dar-lhes uma aparência brilhante, acrescentava ao ambiente e à sua
pessoa um odor agradável. Por exem plo, um texto
assírio do reinado de Esar-Hadom descreve como ele
"encharcou a fronte" de seus convidados num ban
quete real com os m ais "seletos óleos". Um a vez que,
neste versículo, é provável que Am ós esteja condenando o povo por usar de form a errada os utensílios
sagrados, talvez ele tam bém os esteja repreendendo
por usarem óleos que deveriam fazer parte do culto
(ver Êx 30.31, 32).6.7. banquetes. A palavra traduzida como "banque
te " aqui é um term o técnico para refeição funeral
(algo como um a refeição memorial; por isso o uso de
utensílios e óleos que geralmente relacionados a ritos
cultuais). O term o aparece apenas aqui e em Jeremias16.5, em bora seja bastante conhecido em outras tradi
ções semitas. Referências extrabíblicas à refeição fu
neral foram encontradas em textos ugaríticos, textos aram aicos de Elefantina (Egito) e em inscrições em
púnico, nabateu e palmireno. Todos os elementos alis
tados nos versículos 6 e 7 estão relacionados a essas
festas: carne, vinho, música, unções e ócio.
6.10. queim ar os corpos. A cremação de corpos não
era um a prática comum (ver os comentários em 1 Sm 31.12 e 2 Cr 16.14), e o verbo utilizado é bastante raro.
Isso levou diversos intérpretes a um a interpretação
alternativa, ou seja, a de que o texto na verdade não
está falando de "queim ar os corpos" e sim "em bal
samá-los com especiarias para sepultamento".6.10. não m en cionar o nom e do Senh or. A ira de
D eus era tam anha que a população da cidade de
Samaria seria reduzida a um décimo e os sobreviventes estavam tão assustados com o que Yahw eh fizera
que tinham m edo até de pronunciar o nome de Deus,
o que cham aria a atenção da divindade irada sobre eles. Nesse sentido, então, a ordem "Calado!'7 é um tipo de feitiço para evitar que os incautos invocassem a Deus (compare com Êx 23.13 e Js 23.7). Documentos assírios do reinado de Enlil-Nirari (1326-1317) oferecem um pouco de luz aqui. Em um texto, o rei clama "Q u e de forma alguma a divindade fale!" quando a m orte de um membro da fam ília real era anunciada na corte. Su a intenção era pedir ao deus que não agisse (falasse) contra nenhuma outra pessoa.
6.13. Lo-Debar. Essa localidade, um a das cidades capturadas por Jeroboão durante sua campanha na Trans- jordânia (2 Rs 14.25), é identificada com m ais freqüência com Tell 'el-H amm eh, ao norte do rio Jaboque, no território amonita. Amós parodia essa vitória alterando a vogal do nom e da cidade para Lo-dabar, que significa "n ad a". Ele zom ba do orgulho que tinham em seus feitos insignificantes, que nada eram comparados às vitórias de Deus.6.13. Carnaim . Essa importante localidade está situada em Basã, em Tell es-Sa'ad, um afluente norte do rio Iarmuque (ver G n 14.5 e 1 Macabeus 5.26). Tiglate- P ileser III fez dela a capital da província assíria de Q am ina, quando conquistou a região em sua campanha de 738-737.
6.14. desde Lebo-H am ate até o vale da Arabá. Ver ocom entário em 2 Reis 14.25 acerca da tentativa de Jeroboão II de recuperar as fronteiras de Israel.
7.1-9 As três visões de Amós7.1. gafanhotos. Ver o comentário em 4.9.7.1. colheita do rei. Embora essa seja a única ocorrência no texto bíblico, essa referência indica que o rei tinha direito, com o um a form a de im posto, a um a parte das plantas colhidas. Talvez isso fosse um a medida instituída para garantir que os cavalos do rei tivessem forragem suficiente. U m exemplo oposto disso encontra-se na doação de terra feita pelo rei assírio Assurbanipal a um de seus oficiais. Esse decreto isentava as novas terras do oficial de ter de pagar taxas por feno, cereais ou parte de seus rebanhos.7.7. prumo. Essa tradução tradicional não é mais aceitável, com base no reconhecimento de que a palavra hebraica 'anak é um cognato da acadiana annaku, que significa "estanho". U m a linha de prum o tinha um
peso de chumbo ou ferro preso à sua extremidade a fim de determinar se a parede estava perpendicular à construção. S. Paul sugere que essa expressão significa "parede de folha de estanho", um símbolo da fraqueza ou fragilidade das defesas de Israel (compare com as em Jr 1.18; Ez 4.3). Até o m omento, o significado exato dessa expressão permanece incerto.
7.10-17 O confronto entre Amós e Amazias7.10. m ensagem profética com o traição. Em todo o m undo antigo, acreditava-se que os profetas não só
proclam avam a m ensagem da divindade, m as, no
processo, liberavam a ação divina. Nas instruções do
rei assírio Esar-Hadom a seus vassalos, ele exige que prestem relatório de qualquer afirm ação im própria
ou negativa feita por qualquer pessoa, especificamen
te os profetas, adivinhos extáticos e intérpretes de
sonhos. Não é de se espantar, portanto, que o profeta
que se dispusesse contra o rei tinha de ser controlado a fim de não causar toda sorte de estrago. É possível
entender por que um rei seria inclinado a prender
um profeta cujas palavras pudessem incitar rebeliões ou provocar danos.7.13. santuário do rei. Betei era um dos dois santuários
reais estabelecidos pelo rei Jeroboão para funcionar como centros de adoração alternativos para o povo do
reino do norte (1 Rs 12.26-30). O posto de Am azias era
um a nomeação política, um a vez que o sacerdócio em Betei era estabelecido pela coroa e não estava atrelado
à linhagem tribal, como os levitas (1 Rs 12.32). É eviden
te que, sendo assim, sua lealdade era para com o rei e
ele ficaria muito ofendido com qualquer crítica dirigida ao rei ou ao santuário em Betei. N esse templo "estatal"
o próprio rei participava das atividades rituais.7.14. pastor. Nenhuma aldeia na região montanhosa
central de Judá podia manter-se apenas com uma ati
vidade econômica. Toda fam ília tinha pequenos cam
pos de trigo e cevada, além de um a pequena vinha, algumas figueiras e oliveiras em sua terra. Desse m o
do, podiam esperar que pelo m enos algum de seus
investimentos agrícolas trouxesse alguma compensação. De m aneira sem elhante, algum as ovelhas, ca
bras e gado davam um a certa segurança econômica.
Era simples m anter esses animais pastando nas encos
tas das colinas, acom panhados por um jovenzinho (ver a ocupação de Davi, em 1 Sm 16.11). U m paralelo
m esopotâmico dessa prática encontra-se na palavra acadiana naqiãu, um termo usado para o criador de
gado, ovelhas e cabras.7.14. colheita de figos silvestres. O figo silvestre (Ficus
sycomorus L.) originou-se no centro-leste da África e espalhou-se para o Egito e o Oriente Próximo durante
a Idade do Ferro. Essas árvores são capazes de produ
zir até seis vezes ao ano. Visto que seu fruto é inferior ao figo comum (Ficus carica L.), é consumido princi
palmente pelos pobres. Pom ares de tamareiras levam
vinte anos para atingir seu potencial produtivo completo. Elas exigem m uita atenção porque precisam ser
polinizadas m anualm ente. Já em relação à figueira
silvestre, seus frutos precisam receber talhos ou furos
para estimular o aumento do gás etileno que acelera o
processo de amadurecimento. A faca usada para ta
lhar o fruto é ilustrada em pinturas de túmulos egípcios em Tebas.
8 .1 -1 4A visão de um cesto de frutas maduras8.5. conflito entre questões econôm icas e religiosas.Como N eemias descobriu diversos séculos mais tarde
na Jerusalém do período persa, o desejo de mercadores em fazer negócios às vezes transform ava a lei
religiosa e as regulamentações acerca do sábado em m otivos de queixa e até m esm o de burla (ver o co
m entário em N e 10.31). H avia festas religiosas nas culturas vizinhas (ver o comentário em Êx 20.8-11),
mas apenas Israel recebera a ordem de obedecer à lei
do sábado e interrom per todo o trabalho nesse dia (ver o comentário em Ex 31.12-17). Essa restrição no
comércio causava atritos e aparentemente contribuía para práticas corruptas e desonestas nos negócios, como
um a form a de "com pensar" as perdas.
8.5. desonestidade no mercado. Certamente, a quei
xa de Amós contra os mercadores israelitas não era
exclusiva. P or exemplo, a acusação contra balanças
adulteradas encontra-se também no texto egípcio Instrução de Amenemope e em um a cláusula da literatura
sapiencial babilónica. Igualmente, o Código de Hamu-
rabi contém um a afirmação a respeito de banqueiros
que "u sam um a balança leve para m edir os cereais ou
a prata que vendem e outra pesada, para m edir os
cereais ou a prata que recebem ".
8.6. vendendo palha com trigo. Em seus esforços para
conseguir o máximo de lucro possível, comerciantes
gananciosos enganavam os pobres vendendo a "casca" do trigo m isturada com os grãos. U m a acusação
semelhante é feita no texto egípcio Lenda do Camponês
Eloqüente contra aqueles que "substituem bons pro
dutos por outros inferiores". A palavra traduzida como
"palha" ocorre apenas aqui, mas está relacionada ao verbo "ca ir" e reflete o que é de péssim a qualidade
ou o que é refugado.
8.8. levantando-se como o N ilo. O rio Nilo passa por
um ciclo de três meses de cheia (de agosto a outubro).
O aumento no volume de suas águas é resultado das chuvas de monção na Etiópia que elevam o nível do Nilo e de seus tributários. Embora o nível da enchente seja irregular, cedo em sua história os egípcios aprenderam a fazer uso eficiente dele através de canais de
irrigação e outros recursos.
8.9. o S o l se pôr ao m eio-dia. Visto que um eclipse
lunar ou solar era considerado um presságio maligno
ou um sinal da ira dos deuses no antigo Oriente Próxim o, há m uitas citações na literatura. D entre elas
encontra-se a predição do profeta Balaão, na inscrição de D eir 'Alla, de que a assembléia divina havia deci
dido "trazer trevas em vez de luz". Os sacerdotes do deus-lua Sin, na Babilônia, vestiam roupas rasgadas e
cantavam cantos fúnebres durante um eclipse. Tam
bém há inúm eras cartas e textos de presságios em registros babilónicos e assírios que fazem menção a
eclipses. Muitos foram escritos a reis, alertando-os de um eclipse im inente ou assegurando o m onarca de
que seria mantido informado a respeito de ocorrências prováveis. Para exemplos bíblicos, ver Joel 3.15 e
Zacarias 14.6.
8.10. práticas de luto. Ver os comentários em Gênesis
37.34, 35, Levítico 19.28 e Deuteronômio 14.1, 2.8.12. de um m ar a outro. Em sua busca errante por
água durante a seca, o povo a buscaria de uma extre
m idade a outra do reinado. De "u m m ar a outro" é um a expressão para distinguir o leste do oeste (desde
o Mediterrâneo, no oeste, até o m ar Morto ou rio Jordão)
usada com certa freqüência pelos escritores bíblicos (ver SI 72.8; Zc 9.10). Uma_expressão semelhante ocorre
na inscrição Karatepe do rei aram eu Azitawada: "d o
nascente ao poente" (ver Is 45.6) para referir-se a leste
e oeste ou a um sentido de universalidade. Visto que
aqui é combinado com a expressão "d o Norte ao Oriente", é possível que defina a fronteira latitudinal do
reino do norte.8.12. do N orte ao O riente. A fronteira sul já foi deli
m itada na frase anterior e a fronteira oeste é óbvia. De
Betei ainda era possível vagar em busca de água até a região da Galiléia, ao norte, dirigindo-se a lugares como Samaria ou Dã, e a até o leste, até Bete-Shan ou
o território transjordânico de Gileade.
8.14. vergonha/Asima. Em bora a incerteza a respeito
dessa palavra tenha levado a ser traduzida por "ver
gonha", parece mais provável que seja uma referência ao deus sírio Asim a (nota da NVI). O título dessa
divindade vem do termo aramaico para "o nom e" e
portanto é um a taquigrafia para qualquer núm ero
dos deuses e deusas sem itas (Baal, A nat, A starte).
Embora a introdução oficial do culto a Asim a só tenha
ocorrido a partir de 722, isso não elimina a possibilidade de que esse deus fosse adorado na Sam aria antes
dessa data. Evidências m ais recentes da adoração a
Asima encontram-se nas cartas de Elefantina.8.14. deus de D ã. V isto que Jeroboão I instituíra a
adoração a Yahw eh em Dã, criando ali um santuário
real (1 Rs 12.28-30), é apropriado que Amós se refira
ao deus de D ã. P rovavelm ente ele tam bém esteja referin d o-se ao bezerro de ouro colocad o ali por
Jeroboão como um símbolo de Yahw eh e como substituto da arca da aliança. Dã continuou a ter significado
cultual por muitos séculos. Evidência disso encontra-
se em uma inscrição bilíngüe (grego e aramaico) do final do terceiro século que continha a frase "ao deus
de D ã".
8.14. deus de Berseba. Amós completa sua condena
ção contra as p ráticas de adoração fa lsa en tre os
israelitas fazendo referência ao "d eu s de Berseba". "D e Dã a Berseba" era um a expressão comum para
toda a extensão da terra (Jz 20.1; 1 Sm 3.20) e Amós a
usa p ara d em on strar a abran gência da apostasia israelita (ver A m 5.5).
9.1-15 A destruição e a restauração de Israel9.1. topo das colunas. A fim de descrever a amplitude da destruição vindoura, Amós novamente em pre
ga um recurso literário que apresenta uma imagem
polarizada, desde o topo até a base do santuário de
Betei, a capital que decorava desde o topo das colunas
até os umbrais (ver Sf 2.14). É possível comparar esse
trem or de terra com a narrativa do chamado de Isaías (Is 6.4), m as ali é apenas um reflexo da presença m a
jestosa de Deus. Exemplos do antigo Oriente Próximo
de destruição semelhante mencionam paredes, portas
e umbrais sendo despedaçados ou demolidos (inclusive no Épico de Gilgamés e na inscrição de Tukulti- Ninurta I).
9.2. contraste profundezas/céus. Amós emprega essa
im agem que contrasta as distâncias cósmicas entre os
céus e as p rofu nd ezas do Sheol (ver SI 139.8). A
vanglória de M ot no texto ugarítico Hino a Baal e Anat também apresenta esse contraste entre os poderes do
mundo inferior ou da m orte e aqueles do céu e da
vida. No m undo antigo, os céus e o m undo inferior
não eram considerados lugares "espirituais" fora do cosmos. Ao contrário, representavam as extrem ida
des do cosmos.
9.3. top o do C arm elo. Com o parte dessa série de
expressões alertando os israelitas de que não poderiam esconder-se da ira de Deus, Amós usa a imagem
do ponto mais elevado no território israelita. O monte Carmelo fica 550 metros acima do nível do m ar e tem
um a presença imponente, com densas florestas e m ui
tas cavernas que alguns poderiam considerar exce
lentes esconderijos (ver o comentário em Am 1.2).9.3. serpente no fu nd o do m ar. D esde o topo das
montanhas até o fundo do oceano, não haveria lugar para se esconder. A té m esm o nessas profundezas,
Deus poderia ordenar à serpente do m ar que obedecesse ao seu com ando (com pare com Jn 1.17). Os
israelitas conheciam bem a tradição de Yahw eh domi
nando as grandes criaturas do m ar (ver o comentário
em SI 74.14 e 104.26). Em bates sem elhantes podem
ser vistos no épico babilónico da criação, Enuma Elidi,
e no hino egípcio ao deus-sol, Rá, que deve expulsar
repetidas vezes o dragão Apófis a fim de terminar seu
circuito pelos céus. Para m ais informações, ver os co
m entários em Gênesis 1.20, Êxodo 7.1 e Isaías 27.1.
9.6. tem plo cósm ico. A tentativa de Amós em expres
sar o controle total de Deus sobre toda a criação come
ça com a descrição de um santuário ou palácio nos
céus repleto de câm aras (com pare com SI 78.69; Is
66.1). Essas "câm aras altas" ligam os aposentos dos
céus e ao m esm o tempo descansam sobre as águas
(ver SI 104.3). U m precedente para essas câmaras ele
vadas encontra-se no Enuma Elish. Contém uma des
crição da construção do templo de Esagila a Marduque,
na Babilônia, em que os deuses "edificaram uma tor
re tão alta quanto A psu (águas sobre os céus)". Na
visão bíblica e do antigo Oriente Próximo, o cosmos
era um templo e o templo era um microcosmos.
9.7. etíopes (cuxitas). Ver o comentário em Números
12.1 para uma descrição desse povo da antiga Núbia,
atual Sudão, ao sul do Egito.
9.7. filisteu s de Caftor. A respeito da relação entre os
filisteu s e C aftor (Creta), ver o com entário em Je re
mias 47.4. Ezequiel 25.16 os conecta a outro grupo dos
Povos M arítim os, os queretitas. Ver o comentário em
D eu tero n ô m io 2 .23 acerca de su a re lação com os
aveus. O profeta usa o tem a da universalidade para
mostrar a preocupação de Deus com todas as nações e
povos. O s filisteus e aram eus, assim com o os israe
litas, haviam sido levados à Palestina, m as a aliança
entre Israel e Yahw eh exigia que estes fossem puni
dos como exemplo.
9.7. arameus de Quir. Amós refere-se a Quir como a
terra natal das tribos dos aram eus, m as 2 Reis 16.9
fala de Quir como o lugar onde os assírios conquista
dores exilaram os arameus, após o rei Rezim ter sido
executado. Isaías 22.6 parece apoiar esta última refe
rência, vista que fala de Quir em relação a Elão, sul e
leste do rio Tigre. Registros assírios do reinado de
Tiglate-Pileser I (1115-1107) falam da migração dessas
tribos na Assíria durante o século doze. O que Amós
pode estar fazendo aqui e em 1.5 é m ostrar que, assim
como os arameus haviam sido enviados de volta ao
seu local de origem, Deus poderia facilmente expul
sar os israelitas da terra de Canaã.
9.9. trigo num a peneira. O trabalho de processamento
dos cereais colhidos incluía a debulha na eira, a sele
ção dos grãos (ver Jr 4.11) e finalmente o uso de uma
peneira para limpar o cereal, tirando pedriscos e outros refugos. A peneira mencionada aqui (kebarah) ti
nha orifícios grandes e funcionava m elhor quando
agitada para os lados em um movimento circular, o
que forçava o refugo a perm anecer nas laterais da peneira, enquanto os grãos caíam no chão de onde
podiam ser recolhidos (ver Eclesiástico 27.4). A NVI mantém a tradução do termo seror como "grão", quando
de fato deveria ser "p e d ra " , p ara refletir o que a peneira de fato fazia.
9.12. rem anescente de Edom. Amós emprega o termo
"rem anescente" em dois outros contextos (1.8, para os filisteus e 5.15 para José). Nesse caso, ele pode estar se
referindo a uma parte do terrritório de Edom e não a todo ele. O rei Uzias capturara o porto edomita em
Elate (2 Rs 14.22), que foi novamente perdido no rei
no de Acaz (2 Rs 16.6), tomado pelos sírios e edomitas. Na restauração eventual do reinado davídico, é pos
sível que A m ós tivesse em m ente essa im portante cidade portuária.
O B A D I A S
w1. Edom. O principal tema do Livro de Obadias é a
acusação de Edom por seus crimes contra Judá. Essa nação, localizada ao sul e leste do m ar Morto, tinha
um a tradição m ista entre os israelitas. Assim como Jacó e Esaú, os tradicionais fundadores dessas duas nações, tinham um a relação am bivalente, tam bém
Edom às vezes é visto como um amigo e aliado (Dt2.2-6; 2 Rs 3.9) e em outras ocasiões como um terrível
inimigo (Nm 20.14-21; Am 1.11-15). Durante o período do Império Neo-Assírio e do Império Neo-Babilônico (734-586), Edom foi um Estado vassalo. É bastante
provável que a queixa de Obadias contra Edom esteja relacionada à participação desta nação na destruição de Jerusalém e no exílio dos israelitas por Nabuco-
donosor, rei da Babilônia, em 587-586 a .C , mas os registros não são claros a respeito do papel específico
que Edom teve nesses eventos.I . m ensageiro enviado às nações. Quando as nações iam à guerra no antigo Oriente Próximo, era necessário convocar parceiros e estados vassalos para que
enviassem tropas e suprimentos em um esforço con
junto. Os mensageir-os eram enviados para chamá-los a honrar o compromisso que haviam firmado no tratado e recrutar o número especificado de soldados (1 Sm
I I .3 ,4 e pacto recíproco de defesa presente no tratado entre o faraó Ramsés II e o rei hitita Hattusilis III). Os textos de M ari até m esm o descrevem a prática de
enviar embaixadores ao templo de um deus para informar a divindade acerca da situação militar e invocar sua ajuda no conflito iminente.
3. top og rafia de Edom . A região de Edom é um a terra montanhosa, dominada por desfiladeiros que se estendem desde o rio Zered, ao sul, até Acaba. A área
é repleta de montanhas que atingem até 1700 metros acima do nível do mar, rochedos íngremes, cavernas e penhascos onde os exércitos podiam se esconder. Um a série de cidades edomitas ficava localizada nesses lugares quase inacessíveis, tais como Bozra e o
pico rochoso conhecido como Umm el-Biyara, em Petra, que alguns identificam como Sela.5. significado das uvas. Edom era conhecido por seus excelentes vinhedos nas encostas das montanhas. A destruição do país é comparada à ação dupla de la
drões e respigadores. O que os ladrões ou ceifeiros deixassem, os respigadores levariam. Som ente o fruto podre ou esmagado seria deixado no chão.
6. relação entre Esaú e Edom. O uso do nome Esaú
em vez de Edom baseia-se na compreensão de que Esaú era o ancestral dessa nação, conforme Gênesis36.31-39 (ver M l 1 .2 ,3 ). Ali, encontramos uma lista de oito reis que governaram em Edom antes do estabele
cimento da monarquia israelita.6. tesouros ocultos. Essa expressão é a única ocorrên
cia no Antigo Testamento e não pode ser adequadamente traduzida devido à sua forma rara e à ausência
de outros usos que ajudem a determinar o contexto. Palavras semelhantes em Isaías 45.3 e Jeremias 49.10
dão a base para a tradução vigente. O uso da expressão no texto serve para dar idéia da dim ensão dos espólios praticados em Edom. Tesouros escondidos de
fato existiam no m undo antigo e isso era especialmente apropriado em relação a Edom, onde, devido
ao relevo, cidades inteiras podiam ser mantidas em segredo.
7. brechas no protocolo internacional. Os tratados entre as nações, tais como aquele entre o Egito e o Império Hitita (Ramsés II e Hattusilis III) ou os Trata
dos de Vassalos do sétimo século a.C. do rei assírio Esar-H adom , funcionavam com o pactos de defesa
mútua e exigiam que os signatários fornecessem armas, informações e reciprocidade legal. Edom é víti
ma aqui de um completo descumprimento desses acordos: refugiados são empurrados para suas próprias fronteiras sem trégua; cláusulas de não-agressão por parceiros da aliança são violadas e costumes de hospitalidad e, em que com partilhar um a refeição era a
base de acordos de paz (visto em SI 41.9 e expressões nos textos de M ari e de El A m arna referindo-se a refeições comunais de pacto), são totalmente ignorados. O rompimento de acordos quando conveniente ou benéfico para um a das partes também é bem con
firm ado no m undo antigo. Os exem plos incluem a incapacidade do Egito de fornecer tropas necessárias
para os reis cananeus durante o período Amarna e o rei babilônio, Nabonido, rompendo seu tratado com os medos a fim de firm ar outro com os persas, que ele
considerava uma ameaça maior.8. fam a que Edom tinha de sabedoria. A tradição da sabedoria edom ita pode ser de certa form a subs
tanciada pela associação dessa nação com Jó (de Uz, que alguns estudiosos consideram estar situada em Edom) e com o amigo de Jó, Elifaz, o temanita. Locali
zado na borda do deserto árabe, ao norte, e benefi
ciando-se do comércio das caravanas e de jazidas de cobre, é possível que Edom tenha se tom ado conheci
do por sua argúcia nos negócios e esperteza diplomática (ver a afirmação paralela em Jr 49.7).
9. Tem ã. Existe certa dificuldade em apontar a localização exata do território tribal de Temã. Alguns eru
ditos a vinculam a Bozra, identificada como a capital,
após o oitavo século a.C., e situam Tem ã na região norte de Edom. O utros estudiosos, porém, usando
referências de Eusébio, historiador do quarto século d.C., localizam Tem ã na parte sul de Edom e a vinculam ao antigo rei Husã (Gn 36.34). A s inscrições de
Kuntillet 'A jrud tam bém citam "Yahw eh de Tem ã" e
sugerem um a localização ao sul para essa região. Nesta passagem, é sinônimo da nação de Edom.
10. violenta m atança contra Jacó. A menção ao relacionamento fraternal entre Edom /Esaú e Jacó/Judá é
comum em Obadias (ver o comentário no v. 6) e por
tanto não deve denotar um acordo de tratado. Esse
dado tom a ainda m ais chocante e vergonhoso a violência praticada contra um vizinho com quem Edom
tinha laços tradicionais de parentesco. A palavra usa
da aqui para a expressão "violenta m atança" tem diversos significados, desde assassinato e estupro até
impiedade e derramamento de sangue. Neste contexto funciona como um "term o chocante" para enfatizar
o grau da violência praticada e para justificar o castigo
a ser aplicado a Edom. Os anais neo-assírios fazem
afirmações semelhantes expressando raiva e espanto quando um aliado se rebela e descumpre os termos
do acordo, tom ando-se necessária a represália militar.11 . lançaram sortes sobre Jeru salém . A prática de
lançar sortes na Babilônia e na Assíria, como parte do
processo de adivinhação, é descrita no comentário acer
ca do Urim e do Tumim, em Êxodo 28.30. A ganância
e a cobiça com que os invasores olharam para Jerusa
lém sugere que esperavam obter grandes riquezas e saques valiosos como resultado da destruição da cida
de (ver Is 17.14). Geralmente os exércitos estabeleci
am critérios para a divisão dos despojos (podem ser
vistos nas punições descritas nos textos de Mari, im
postas a oficiais que não repartiam com os soldados as
riquezas obtidas nos saques). Lançar sortes pode ter sido um método de distribuição de bens e escravos, visto que implicava a intervenção divina.16. beb er no santo m onte. Edom inicialm ente bebeu para celebrar a queda de Jerusalém e de seus aliados. No final, porém, seria Edom , juntam ente com as nações que participaram da destruição de Jerusalém, que seriam forçados a beber perpetuam ente do "cálice da ira" de Yahw eh (ver SI 75.8; Is 51.17; Jr 25 .15 ,16 ).19. m udanças territoriais. O que se visualiza aqui é a retribuição contra os inimigos de Israel e a reivindicação da posse de todos os territórios que tradicionalm ente pertenciam a Israel. Portanto, o Neguebe, sinônim o da área ao redor de Berseba e a parte baixa do m ar Morto, se apropriaria do território de Edom. A Sefelá, um a faixa estreita de terra entre a planície costeira e a região m ontanhosa, se estenderia até as cidades-estado filistéias. Efraim e Sam aria, a região conquistada pelos assírios em 721, seria apossada pelo povo de Judá. E, por último, Gileade, na Transjordânia (estendendo-se desde a baixa Galiléia até o rio Amom) seria novamente dominada por Benjamim (o território tribal entre Betei e Jerusalém).20. Sarepta. Localizada na estrada costeira entre Tiro e Sidom, n a Fenícia, Sarepta é descrita como a fronteira norte restaurada de Israel. Um centro com ercial especializado no processamento de corante púrpura e na manufatura de cerâmicas, essa cidade é mencionada nos registros egípcios do século treze e é incluída na lista de cidades que se renderam ao rei assírio Senaqueribe em 701 (ver 1 Rs 17.9).20. Sefarade. As possíveis localizações dessa cidade vão desde a Espanha até o oeste da M édia. Essas identificações têm como base nomes e algumas evidências textuais do período neo-assírio. Entretanto, o local mais provável para Sefarade é Sardes, na Ásia Menor, a capital lídia durante o período persa. Uma inscrição bilíngüe encontrada ali cita a cidade em aram aico com as m esm as consoantes que o nom e hebraico, como é citado em Obadias. Esse seria um local bastante distante para os exilados de Jerusalém, mas o texto deixa im plícito que até m esm o os que estavam m ais longe voltariam para reivindicar uma parte da terra.
J O N A S
1.1-17 A fuga de Jonas1.1. cronologia. Jonas é mencionado em 2 Reis 14.25 como profeta na época de Jeroboão II, que reinou na
primeira metade do oitavo século a .C (ver os comentários em 2 Rs 14).1.2. N ínive. Nínive é a atual Tell Kuyunjik, localizada às margens do rio Tigre, rio acima a cerca de 960
quilômetros do golfo Pérsico, no norte do Iraque. No oitavo século, N ínive ainda não adentrara em seu
período de glória. No início do sétimo século Sena- queribe transform ou esse antigo centro cultual da
deusa Istar na capital e a em belezou, am pliando-a para quase duzentos acres. Os arqueólogos escavaram
com êxito o fam oso "p a lácio sem riv a l" de Sena- queribe, com seus relevos de parede ilustrando o cer
co de Senaqueribe a Láquis, em Judá. O templo de Istar, m antido por reis desde 2400 a.C., tam bém foi identificado. Na época de Jonas, Nínive era uma das principais áreas metropolitanas na Assíria, com uma
circunferência de quase 5 quilômetros.
1.2. A ssíria e Israel na prim eira m etade do oitavo século. A Assíria representara um a ameaça significativa para Israel no nono século. Israel fizera parte da
coalizão ocidental que se opunha às tentativas de Salm aneser III de expandir seu império até a região m editerrânea (ver o com entário em 1 R s 22.1). Em
841, o rei israelita Jeú submeteu-se ao controle assírio e pagou tributo (ver o comentário em 2 Rs 10.34). Nas décadas seguintes, porém, a Assíria havia enfraque
cido consideravelm ente e, na época de Jeroboão II, m u itas d écad as h av iam se p assad o sem qu e os israelitas sofressem oposição da Assíria.
1.3. Társis. Társis era o ponto geográfico conhecido mais remoto. Em bora sua localização exata seja desconhecida, a maioria dos estudiosos acredita que ficava no sul da Espanha, em bora outros argum entem a favor de Cartago, no norte da Africa. Podem os ter
certeza de que era um porto no oeste do Mediterrâneo, conhecido por seu comércio de exportações.1.3. Jope. Jope ficava localizada bem ao sul da atual Tel Aviv, no Mediterrâneo. Essa cidade portuária é mencionada em textos egípcios e fenícios e também
em textos de Canaã (tabletes de Am am a). Durante a monarquia, com freqüência esteve sob o controle da cidade filistéia de Ascalom.
1.3. n avio . Os navios m ercantis eram de diversos
tamanhos e a velocidade variava de dois a quatro nós. Nos dias de Salomão, os navios que iam a Társis só voltavam dentro de três anos. Um navio deste tama
nho teria um a tripulação de mais ou menos dez pessoas. A carga geralm ente consistia de cereais, vinho e azeite de oliva.1.3. passagem . A partir da linguagem u sad a aqui
m uitos estudiosos concluíram que o valor pago por
Jonas perm itiu que se alugasse o navio inteiro para seu uso. Se isso aconteceu de fato ou não, o valor da
"passagem " teria sido bastante substancial.
1.5. cada um clamava ao seu próprio deus. As divindades padroeiras raramente eram divindades cósmi
cas, por isso, os marinheiros não teriam pensado que seus deuses particulares ou ancestrais teriam enviado
a tempestade. No contexto politeísta do mundo antigo, era possível identificar um a atividade divina com
certa segurança, mas descobrir que deus estava agindo e por que, já era um a outra questão. Os m arinheiros clamaram a seus deuses na esperança de que um
deles fosse capaz de exercer algum a influência em qualquer divindade que fora incomodada a ponto de
enviar aquela tempestade. Eles estavam pedindo aju
da, não pedindo perdão ou demonstrando arrependimento. Quanto mais pessoas tentassem invocar seus respectivos deuses, melhor, por isso o capitão do navio acordou Jonas a fim de que ele também pudesse invocar sua divindade padroeira.1.7-10. lançar sortes. Em bora a prática de lançar sortes
às vezes fosse usada para perm itir que a divindade se comunicasse, em muitas situações, era considerada mais semelhante a jogar um a moeda para cima ou a "tirar um palitinho". Como resultado, as sortes não foram lançadas para determinar quem era o culpado, mas para decidir quem seria o primeiro a dar infor
mações a respeito de si mesmo, que pudessem envolver alguma ofensa contra os deuses. É compreensível que ninguém estivesse ansioso por ser o prim eiro. Para que as sortes fossem lançadas, cada indivíduo
entregava algo que lhe identificasse. O s pequenos iten s eram co locad os em um recip ien te , que era chacoalhado até que um dos objetos saísse.
1.9. d ivindade cósm ica. A resposta de Jonas à pergunta dos hom ens identifica apenas sua associação étnica (hebreu) e o Deus a quem servia. Mais impor
tante é sua descrição do Senhor como uma divindade cósmica, criadora - exatamente o tipo de Deus capaz de enviar uma tempestade como aquela.1.10. e le já lh e s tin h a dito. Ele já contara àqueles hom ens anteriorm ente que estava fugindo de seu Deus, m as aquilo não lhes dizia respeito - era problem a de Jonas e provavelm ente um a atitude não tão rara assim. Seu terror agora aum enta à m edida que percebem que Jonas está fugindo de um a divindade cósmica que colocara a todos em perigo, vulneráveis à ira do Deus de Jonas.1.11-16. o que devemos fazer com você? A pergunta seguinte dos m arinheiros está relacionada ao apaziguamento da divindade enfurecida. N a m aneira de pensar religiosa do m undo antigo, as pessoas raramente pensavam em termos de arrependimento, porque as m otivações dos deuses não eram facilm ente entendidas. V isto que os deuses não eram m orais, tampouco coerentes, sua ira podia ser completamente excêntrica e fruto de capricho e seus atos de castigo, arbitrários ou infantis. Portanto, os adoradores buscavam apaziguar a ida dos deuses. Deuses diferentes eram apaziguados de formas diferentes, por isso Jonas foi consultado.
1.12. joguem -m e ao mar. Os homens estavam relutantes em seguir o conselho de Jonas porque acreditavam que as divindades protegiam a vida de seus adoradores. Provocar a m orte de Jonas, lançando-o ao mar, poderia expô-los à vingança do Deus de Jonas.1.16. oferecendo-lhe sacrifício. Quando o m ar se acalmou, os homens adoraram a Yahweh. É provável que o sacrifício tenha sido uma oferta de cereais, provavelm ente não queim ada (uma vez que o navio era de madeira), m as talvez lançada ao mar. Outra possibilidade (visto que toda sua carga fora atirada ao m ar), é que o texto pode estar se referindo a um sacrifício feito em seu retom o à terra seca (não havia m ais motivo para continuarem a viagem até Társis).1.16. fazend o-lhe votos. Os votos no Antigo Testamento e no m undo antigo geralmente estavam relacionados a sacrifícios. Por exemplo, os marinheiros podem ter feito o voto de, todo ano, no aniversário daquele evento, oferecer a Yahw eh um sacrifício m e
morial de algum tipo. Os votos eram o reconhecimento de que os marinheiros haviam experimentado um ato do poder divino. O texto não sugere de form a alguma que aqueles homens teriam abandonado seus respectivos deuses e aceitado a fé m onoteísta em Yahweh. Reconhecer o poder de um deus não excluía a adoração a outros.
1.17. grande peixe. Jonas foi engolido por um animal descrito no texto como um "grande peixe" - provavelm ente a descrição m ais geral que poderia ser ofereci
da. Não há nada que defina a questão se era tecnica
mente um peixe ou um mamífero, porque o hebraico usa esse term o para qualquer criatura m arinha. A
identificação da espécie, portanto, é um a tarefa im possível. Embora estudos possam ser feitos quanto ao
tamanho dos esôfagos das diversas espécies que regu
larm ente vivem no M editerrâneo, a insistência do texto em m ostrar o envolvim ento direto do Senhor
sugere que não se deve esperar que esse fosse um peixe comum ou normal. Nas crenças do mundo anti
go, grandes criaturas marinhas representavam as for
ças do caos que eram dominadas pela divindade criadora no ato da criação. Aqui, como sempre, Yahw eh é
retratado no controle total das criaturas marinhas -
esse "p e ix e" está sim plesm ente obedecendo a um a ordem sua.
2 .1-10 A oração de Jonas2.1-6. a oração de Jonas. Essa oração talvez fosse um
hino bem conhecido ou um trecho adaptado de algum m aterial conhecido. O peixe não é m encionado e a
ameaça das águas era um a metáfora comum em tex
tos de hinos. O m ar era considerado o reino amea
çador do caos, e a morte era tudo que alguém poderia
esperar dele. Por mais intimidante que o peixe fosse,
Jonas interpretou sua aparição como uma libertação enviada por Deus.
2.7-10. o relacionam ento de Jonas com D eus. A pre
sença de Deus estava no templo, por isso, a oração de
Jonas o alcança ali. Embora Jonas estivesse consciente de sua desobediência, ele ainda se considerava fiel ao
Senhor. Ele não abandonara Yahweh, passando a ado
rar a ídolos.
2.9. o voto de Jonas. A oração não especifica que voto Jonas fez, m as a maioria dos votos no mundo antigo
estavam relacionados a rituais a serem feitos em hon
ra à divindade. Levítico fala de ofertas de votos na
descrição de diversos sacrifícios (ver os comentários
em Lv 3.1-5 e 27.2-13). Não sendo especificado o tipo de voto, é provável que Jonas cumpriria seu voto com
um sacrifício de ação de graças. Não há indícios de
que ele fizera o voto de obedecer à ordem de Deus,
indo voluntariamente a Nínive. Em um hino a Shamás,
o deus-sol é identificado como aquele que salva aque
les que são cercados pelas ondas poderosas e em troca
aceita libações.
3.1-10 Jonas e os Ninivitas3.1-4. fo i para N ínive. A viagem de Jope até Nínive
(onde se supõe que o peixe tenha deixado Jonas) era
de cerca de 880 quilômetros. As caravanas geralmen
te viajavam de 32 a 40 quilômetros por dia, fazendo
esse percurso em mais ou menos um mês.
3.3. cidade m uito grande. O tam anho de N ínive é expressado em term os do tem po que Jonas levaria
para cum prir sua missão. Ele não estava circulando os
muros, mas indo a todos os lugares públicos da cidade para proclam ar sua m ensagem . Seu itinerário teria
incluído muitas das doze áreas próximas às portas da
cidade, bem como diversas áreas do templo. Havia
certas horas do dia em que importantes anúncios po
diam ser feitos.3.3. a m en sagem de Jo n as. A m ensagem de Jonas
é de castigo im inente, com o seria com um para um
p rofeta . N ão devem os confu n d ir o papel de um
p ro feta com o de um m issio n ário . O p ro feta no
m undo antigo tinha a tarefa de transm itir a m en
sagem de D eus para um destinatário específico. O m issionário tem a tarefa de transm itir a m ensagem
de salvação de D eus, que é dirigida a todos. A m en
sagem do profeta raram ente era agradável com o a do m issio n á rio . N a m en sag em de Jo n a s n ão há
indícios de um a cham ada ao arrependim ento ou de um a cham ad a p ara afastar-se dos falsos deuses.
N ão h avia instru ção quan to ao que D eus queria
deles, nem acusação de seus atos de m aldade. O
profeta no m undo antigo não transm itia um a teologia com p reen sível, ou que tiv esse o objetivo de
conv erter os ouvintes a um a visão re lig iosa esp e
c ífica ; e le sim p lesm en te tran sm itia a m ensagem
de D eus.
3.4. profetas no antigo O riente Próxim o. A profecia era bem conhecida no m undo antigo, por isso, esse
tipo de situação não seria estranho aos assírios. Há um a série de referências a profetas assírios e a suas
m en sagen s em d ocu m en tos da ép o ca de A ssu r-
banípal, cerca de um século depois de Jonas. Os pro
fetas atuavam como conselheiros oficiais e não-ofici- ais do rei. N as profecias preservadas da época de
Assurbanípal, as m ensagens são quase sem pre posi
tivas, apoiando as ações, decisões e política do rei. Exem plos anteriores de M ari, no século dezoito a.C.,
com m ais freqüência, continham m ensagens negativas, m as ainda m ostram que os profetas dirigiam
suas m ensagens ao rei.3.5-10. acreditaram na profecia. Os ninivitas acredita
ram que a m ensagem de Jonas era um a m ensagem vinda de um Deus que estava disposto a cum prir a
ameaça que fizera. Teriam chegado a essa conclusão comparando a mensagem de Jonas com a mensagem de presságios. O s presságios eram observações do
mundo natural que, acreditava-se, estavam relacio
nadas ao que os deuses estavam fazendo na história. Um a das oportunidades m ais com uns de observar
presságios era examinando as entranhas de animais
sacrificados diariamente. Acreditava-se que, dependendo da configuração de órgãos como o fígado e os
rins, os presságios eram favoráveis ou desfavoráveis.
Outros presságios eram registrados a partir do comportamento de animais, vôo de pássaros, movimento
de corpos celestes e m uitos outros fenômenos da natu
reza. Se os presságios tivessem sido desfavoráveis
poucos dias ou semanas antes da proclamação de Jonas,
o povo teria prontamente aceitado sua mensagem como
verdadeira. Se as entranhas de animais oferecidos em sacrifício tivessem exibido um agouro de desgraça
iminente, a palavra de Jonas teria sido levada muito a
sério.3.5. recepção da p rofecia de um estrangeiro. Não
teria im portado que Jonas era um forasteiro representando outro país ou outra divindade. As crenças
politeístas do mundo antigo permitiam que centenas de deuses fossem considerados legítimos e qualquer
deles poderia trazer algum im pacto em suas vidas,
fosse ele maléfico ou benéfico. Delegações estrangei
ras às vezes incluíam profetas em seu grupo a fim de saber se as principais divindades envolvidas aprova
vam ou desaprovavam as negociações. Se as próprias
adivinhações dos ninivitas haviam apoiado a mensa
gem de Jonas, eles não teriam razões para suspeitar
de traição ou embuste. O fato de Jonas ser um estran
geiro teria servido como uma evidência da veracidade de sua m ensagem , já que alguém viajaria toda aquela distância a não ser se fosse impelido pela di
vind ad e? L em bre-se de que Jon as não ped iu aos
ninivitas que mudassem de religião, nem tentou des
tronar seu deus nacional.3.5-10. reação. A reação dos ninivitas foi ao mesmo
tempo típica e atípica. Atípica no sentido de que há pouca evidência de jejum como prática religiosa en
tre os assírios ou babilônios. H á exem plos de reis vestidos de pano de saco "com o apropriado a um pecador arrependido" (Esar-Hadom, Assurbanípal).
A abordagem normal seria tentar apaziguar a divindade através de certos rituais (sacrifícios, libações etc.)
ou de encantam entos a fim de evitar a ação da di
vindade. Portanto, é provável que os ninivitas estivessem tentando uma abordagem israelita diante da
ira divina. O que é típico na reação deles é a tentativa de apaziguar a divindade. Eles não tinham idéia
do que despertara a ira de Yahweh, mas um conhe
cimento mínimo da religião israelita teria mostrado que Deus estava interessado na justiça e que o arre
pendim ento envolvia je jum e vestir pano de saco,
atitudes que regularm ente acom panhavam o luto. Seus rituais (pano de saco e jejum) e suas mudanças
na esfera m oral e ética dem onstram que levaram
Jonas a sério, em bora não sejam evidências de con
versão à religião israelita. O politeísm o da A ssíria não concebia a idéia de monoteísmo, pacto ou lei. A
única conversão conhecida nesse sistema era a alteração na posição que os deuses ocupavam no panteão.
Os ninivitas não se livraram de seus ídolos, nem demonstraram qualquer inclinação para substituir seus
deuses pelo Yahw eh de Israel. Reconhecer o poder
de um deus não é o m esm o que aceitá-lo com o o
único deus verdadeiro.3.6. ele se levantou do trono. N a Assíria, quando um presságio ou profecia sugeria que o rei estava em perigo, era comum que um rei substituto fosse nomeado. Esse indivíduo se assentava no trono real e passava a usar as vestes reais. Enquanto isso, o rei participava de atos de purificação. Com freqüência, após um determinado tempo, o rei substituto seria morto. Esperava-se com isso que o perigo fosse afastado para longe do rei. Nesse texto, não há menção de um substituto, m as as ações do rei podem refletir que esse procedimento estava sendo usado.3.8. an im ais cobertos de pan o de saco. V estir até m esm o os anim ais de pano de saco (m aterial rústico feito de pêlo de bode) expressa ainda m ais a falta
de entendim ento dos n inivitas em relação ao Deus de Israel. Em sua m aneira de pensar, os anim ais tam bém pod eriam ter ofend id o a div ind ade, por isso, tinham de ser incluídos no ritual de apaziguam ento.
4.1-11 A ira de Jonas4.1-14. a ira de Jonas. Jonas está irado pelo fato de Deus ter cedido tão rapidamente às táticas pagãs de apaziguamento. Ele está envergonhado e teologicam ente escandalizado por Yahw eh ter oferecido sua com paixão tão prontam ente, visto que isso poderia sugerir que Yahw eh podia ser comprado. Os ninivitas não o veriam de forma diferente de como encaravam seus próprios deuses.4.5-9. p lanta e lagarta. A planta que deu som bra a Jonas é descrita com um termo genérico geralmente associada à fam ília das cabaças ou abóboras. Assim como em relação ao peixe, a terminologia não permite uma identificação mais específica. O inseto que destruiu a planta provavelmente era algum tipo de afídio
(pulgão).4.8. vento oriental m uito quente. O vento oriental aqui não seria um hamsin (siroco) porque o sol não seria um fator relevante. O vento oriental era um problem a na Palestina, devido ao deserto situado a leste, m as para N ínive, um vento oriental poderia resultar em chuva. Aqui se trata de um tipo particular de vento oriental (NVI: "m uito quente"), mas essa palavra é usada apenas aqui, por isso é difícil entender seu significado preciso.4.11. população de N ínive. Eruditos assírios estimaram a população de Nínive (cidade e zona rural) quando era a capital do império em cerca de trezentas mil pessoas, logo as cento e vinte m il pessoas citadas aqui em um período anterior não seriam um número improvável.
M I Q U É I A S
1 .1-16 O julgamento de Samaria e de Jerusalém1.1. M oresete. Localizado aproximadamente dez qui
lôm etros a nordeste de Láquis, na Sefelá, M oresete (Tell el-Judeideh, cerca de 32 quilômetros a sudoeste de Jerusalém) seria um dos subúrbios da cidade filistéia
de Gate (Tell es-Safi). Após o estabelecimento do reinado de Davi, serviu, juntam ente com Láquis, Adulão e M aressa, como uma fortificação (2 Cr 11.8). Todas
essas localidades, juntam ente com "incontáveis" ald eias, foram d estru íd as p elo exérc ito assírio de Senaqueribe, em 701 a.C..
1.1. cronologia. Visto que a introdução do Livro apresenta os nomes dos reis de Judá que reinaram durante
o ministério de Miquéias como profeta, podemos datar esse m aterial da última metade do oitavo século. O
prim eiro oráculo de M iquéias (1.2-7), que fala de Samaria, a capital de Israel (o reino do norte), seria
datado de pouco antes da destruição dessa cidade pelos assírios, em 722 a.C..
1.3. pisa os lugares altos da terra. O sentido de m ajestade inerente a um a teofania é m agnificado aqui pela
descrição de Yahw eh "sain d o" de sua "habitação". O poder implícito de "pisar" é usado com freqüência para referir-se a inim igos derrotados (Dt 33.29; SI 108.13).
Entretanto, neste caso, a im agem é de D eus dem onstrando seu controle sobre a criação, usando os montes da terra como degraus (Am 4.13). Um a imagem semelhante descrevendo os m ovim entos rápidos dos men
sageiros divinos, como montanhas que saltam, aparece no texto ugarítico Épico de Baal e Anate. As cidades geralmente eram construídas sobre colinas ou montes por
servirem como defesas naturais e os exércitos escolhiam m ontes com o pontos estratégicos de controle. A metáfora de pisar nos lugares altos da terra, portanto, tam bém fala de vitória e segurança.1.5. Sam aria. Foi Onri quem construiu Sam aria e a instituiu como capital do reino do norte, Israel, no início do nono século. Cerca de vinte quilômetros a oeste de Tirza, a antiga capital, Samaria se localizava em um im portante entroncam ento de estradas que
perm itia fácil acesso ao vale de Jezreel, no norte, a Siquém, no sudeste e à costa, no oeste. Ficava perto de duas importantes rotas que seguiam de norte a sul, a oeste do Jordão. As escavações no local desenterraram o que se acredita seja o palácio de Onri, na acrópole,
bem como partes do m uro que separava a acrópole da cidade baixa. O muro tinha cerca de um metro e meio
de espessura e foi construído com a melhor alvenaria da época (pedras de ashlar, colocadas em um). Acabe
m elhorou essas fortificações acrescentando um muro com casamata de m ais de nove metros de espessura.1.6. a queda de Sam aria. As fontes assírias descrevem a "devastação" de Samaria (c. 724-721 a.C.) que pode
denotar toda a terra. Algumas evidências arqueológicas da destruição foram encontradas na cidade israelita de Siquém. Esse dado está em sintonia com a estraté
gia típica dos assírios de destruir o território de uma
determinada nação e depois cercar a principal cidade, que estaria isolada. Senaqueribe e Nabucodonosor II
usaram essa política contra Jerusalém. O cerco à Sa
maria que durou três anos demonstra que a cidade era bastante fortificada, uma vez que os assírios eram
incomparáveis em guerras de cerco. A cidade sucum
biu em 722/721. Em bora Salm aneser III tenha recebi
do o crédito pela conquista de Samaria na Bíblia, seu sucessor Sargão II afirma o mesmo nos anais assírios. Sargão também afirma ter reconstruído a cidade.
1.6. atirarei as suas pedras no vale. O ímpeto da ira de Y ahw eh contra Sam aria é com parado ao poder
destrutivo de um terremoto. Visto que as cidades geralmente eram construídas sobre m ontes, a destruição de um a cidade era conseguida rolando os muros de pedra morro abaixo até o vale que a cercava.
1.7. ganho/salário da prostituição. M uitos presentes dedicados ao templo eram dados em troca dos serviços das prostitutas cultuais (ver os comentários em Dt 23 .17 ,18). Esses presentes podiam ser prata ou ouro (que, nesse caso, seriam usados para confeccionar ídolos) ou cereais e animais. Outra possibilidade, porém,
é que M iquéias, assim como Oséias (Os 4.10-15) esteja simplesmente igualando a idolatria à prostituição. Sustentar a adoração falsa nos templos idólatras seria um ato de infidelidade a Yahw eh. O s ídolos que eram
adorados nesse santuário seriam destruídos juntamente com seus adoradores, e o saque do templo daria a seus conquistadores os fundos necessários para continua
rem sua m archa devastadora.1.8. descalço e nu. Diversos rituais de luto eram em
pregados no antigo Oriente Próxim o. Alguns exigiam sacrifícios, como os atestados nos tabletes de Ebla, e faziam parte do culto aos mortos. Em outros, o pran-
to constante e a lamentação marcavam o luto (como mostra o Épico ugarítico de Keret). Quando os pran-
teadores choram (Lm 2.10) ou rasgam suas vestes e
andam descalços (compare com a profecia de Isaías em Is 20.2), estão abrindo mão de sua posição, simbo
lizando derrota (compare com a restrição feita a Ezequiel
para que não pranteasse, em Ez 24.17). Desse modo, estão reconhecendo, tal como Jó , que vieram a este
mundo nus (Jó 1.21).1.8. chacal e coruja. As vozes de anim ais descritas aqui com freqüência são ouvidas em lugares áridos e
desérticos (Is 34.13; Jr 50.39; "profecia de Balaão" de Deir 'Alla). Ambos animais citados no versículo pro
duzem um som estridente que aterroriza a alm a e aludem à morte (observe o uso do chacal como uma
imagem do deus egípcio Anubis, cuja responsabilidade era guardar os mortos e suas tumbas).
1.10-15. itinerário. Todas as localidades alistadas nes
ses versículos ficam no oeste de Judá, na região montan h o sa co n h ec id a com o S e fe lá . O re la tó rio de
Senaqueribe acerca de sua campanha oferece informa
ções detalhadas das batalhas contra os filisteus, mas
pouco a respeito da Sefelá. No relato filisteu, Elteque,
Tim na e Ecrom são citadas. Isso significa que o exérci
to foi posicionado apenas alguns quilômetros ao norte de Gâte, à medida que se preparava para invadir Judá.
S e a seq ü ên cia de c id a d e s m en cio n a d a s n e sses versículos representa uma linha de m archa, fica im plí
cito que os assírios passaram pelo sul de Gâte e segui
ram pela estrada poucos quilômetros a oeste de Láquis
(a mais im portante fortaleza da região), depois circu
laram em direção ao sul para chegar até Láquis pelo
sudeste. Após Láquis, a rota aponta para Jerusalém , a nordeste, estando apenas M aressa fora de ordem. Essa
descrição sugere que toda a região da Sefelá foi com
pletamente devastada. Pesquisas arqueológicas iden
tificaram um a redução no núm ero de localidades ocu
padas na região, de quase trezentas no início do século oitavo para menos de cinqüenta no sétimo século. A
população fo i igu alm ente reduzid a para m enos de quinze por cento do que fora. G ate provavelm ente
estava situada em Tell es-Safi. M uitos dos nomes das
cidades são usados para gerar um jog o de palavras
exclusivo a esse texto: Bete-Ofra (significa "p oeira"), Safir ("ch ifre"; localidade desconhecida, em bora uma
a ltern ativa seja T ell 'E itu n ), B ete-E zel (" lu g a r que
p erm anece"; localização desconhecida); Zaanã ("ela sairá"; possivelm ente a Zenã da área de Láquis, cita
da em Js 15.37) e Marote ("am arga"; localidade desconhecida). Láquis é a mais importante das cidades des
se itinerário e será com entada separadam ente. M o- resete-Gate é o povoado de origem de Miquéias e pro
vavelm ente deva ser identificado com Tell el-Judeideh (ver o comentário em 1.1). Fica no centro de um raio de
dezesseis quilômetros em que todas essas localidades
parecem estar situadas. O trocadilho com o nom e sugere a fuga de seus cidadãos. Aczibe (possivelm ente
T el el-Beida, nordeste de Láquis) é com parada a um "engano", que aqui equivale a um a fortaleza que não
protegeu a linha de defesa do rei. Maressa, a nordeste de Láquis, é um trocadilho com a palavra que signifi
ca "h erd eiro" (NVI: "con qu istad or"), sugerindo um
país sem futuro. A dulão (Tell esh-Sheik M adhkur)
igualmente não tem perspectiva de futuro diante do ataque inim igo.
1.13. Láquis. Destacando-se na Sefelá e no oeste de
Judá, Láquis era o centro da linha de defesa dos reis de Judá. Localizada na metade do caminho entre Jeru
salém e as cidades-estado filistéias, Láquis guardava
as principais rotas do litoral para o interior. Sua loca
lidade, Tell ed-Duweir, apresenta evidências de ocu
pação desde o período Calcolítico, com enormes cons
truções de defesas e impressionantes portas da Idade do Bronze M édia 13 (quando era uma das principais
cidades cananéias) e da Idade do Ferro II (quando foi
estabelecida como a fortificação ocidental, após a divi
são dos reinos; 2 Cr 11.5-10). Apesar de sua im ponente posição (um tell de 45 metros de altura), a cidade
sucumbiu após o cerco do rei assírio Senaqueribe em
701 (Anais de Senaqueribe; para mais inform ações,
ver 2 Cr 32.9). Evidências muito claras da ferocidade desse cerco encontram-se nos relevos assírios do palá
cio real em N inrode que ilustram os eventos e nos
vestígios de um a enorme rampa de cerco, situada no
canto sudoeste do tell. Um sepultamento em massa com aproximadamente mil e quinhentos corpos tam
bém pode ter sido o resultado da queda da cidade.
Existem também registros escritos de um cerco posterior pelo rei babilônio Nabucodonosor, em 586, em 21
cartas contidas em fragmentos de cerâm ica (óstracos),
descobertas em um quarto da guarda na porta da
cidade. Elas descrevem o desespero dos defensores, que ficaram aterrorizados ao perceber que os sinais
de fogo das cidades vizinhas foram se extinguindo.
1.16. rapem a cabeça. Existem diversos rituais associ
ados ao luto, inclusive rasgar as próprias vestes, lan
cetar-se (ver o comentário em Lv 19.28), je juar (ver o
comentário em 2 Sm 12.16) e jogar terra ou cinzas na cabeça (ver o com entário em 2 Sm 13.19). Rapar a
cabeça também era um sinal de luto (Jr 41.5) e fazia
parte dos rituais de purificação (Lv 14.8, 9; Nm 6.9). Por exem plo, sacerdotes assírios rapavam a cabeça
quando tom avam posse de seu cargo. Igualm ente,
um homem que se apresenta como médico no texto O
Pobre Homem de Nippur (Tabletes de Sultantepe) rapa
sua cabeça. Esse ato pode estar associado à sua purifi
cação ou a um a m edida sanitária, visto que, como m édico, estava sem pre em contato com cadáveres,
moribundos e enfermos.
2.1-13 O castigo dos opressores2.2. apoderar-se de propriedades. A aquisição de propriedades através da opressão dos pobres e mais fracos violava tanto a lei contra a cobiça quanto a regra de não desrespeitar a divisão da terra, distribuída às
famílias dos israelitas após a conquista. Apesar dessas leis, as dívidas de agricultores, donos de pequenos lotes, e o poder político exercido por grandes proprietários de terra conduziam a abusos (ver o comentário em Is 5.8), m encionados na literatura egípcia sapiencial (Instrução de Amenemope).2.5. a ssem b lé ia do Senh or. V er o com entário em Deuteronôm io 23.1-8 a respeito deste termo técnico para descrever o grupo de homens que tinha direitos de tom ar decisões na comunidade israelita e servir ao exército.
2.5. divisão da terra por sorteio. Quando um pai de fam ília morria, suas posses eram divididas entre os filhos por sorteio. As Leis de Esnuna, o Código de H amurabi e as Leis M édio-Assírias fazem referência a essa situação. Textos de Tell Siír especificamente men
cionam a divisão~de propriedades através de sorteio. A qui M iquéias está sugerindo que aquele que acum ulou bens de form a opressiva não terá nenhum herdeiro.
2.11. aceitação de profetas otim istas. Na Assíria, esperava-se que os profetas apoiassem o rei e suas políticas. Os profetas israelitas tinham um a tendência m aior a atuar como oposição e com freqüência criticavam os reis que estavam no poder. Como Jerem ias28.8, 9 observa, o povo deveria ficar atento com o "profeta que profetiza prosperidade". O papel dos profetas no antigo Israel era repreender e alertar o povo sempre que violasse suas responsabilidades na aliança. Isso difere dos profetas do antigo Oriente Próximo, tais como os mencionados nos textos de Mari, que geralmente estavam relacionados com violações cultuais (incapacidade de oferecer um sacrifício ou construir um templo prometido) ou com questões de guerra.
3.1-12 Repreensão aos líderes e aos profetas3.2, 3. analogia do canibalism o. A avidez e a ganância dos líderes e ju izes de Judá é com parada a um banquete canibal em que o povo tom a-se vítim a das
facas e apetite voraz desses oficiais corruptos, refleti
dos na economia e política vigentes. A descrição rea
lista do preparo da carne e ossos sendo despedaçados em busca do tutano pode m uito bem ter origem nas
necessidades de sobrevivência que surgiam durante
períodos longos de fom e ou cercos m ilitares (ver o
comentário em 2 Rs 6.29).3.5-7. profetas sem êxito. U m profeta incapaz ou sem
êxito era aquele que não m ais recebia qualquer co
municação de D eus (ver a "fom e da palavra do Se
nhor", descrita em Am 8.11,12). Isso aconteceria como
resultado da ganância de profetas que vendiam suas profecias enganosas ao invés de proferir os oráculos
em obediência à ordem de Deus. Através da comer
cialização das profecias, os profetas garantiam "paz e prosperidade" aos m ercadores e à nobreza que os
sustentavam, dando-lhes "p ão ", mas ameaçavam com "guerra" ou desgraça aqueles que não aceitavam seus
subornos. M iquéias que não era m em bro da guilda
de profetas, mas como Amós, era simplesmente um
hom em escolhido por D eus para falar (Am 7.1-15), substitui seus rituais e práticas de adivinhação fracas
sados pela genuína palavra de Deus. Os profetas des
se período na Assíria, com freqüência, estavam a ser
viço da corte real e esperava-se que apoiassem a legi
tim idade do regim e. Poderíam os usar a expressão que era importante para eles "não cuspir no prato que os alim entava".
3.12. arada com o um campo. Um a área tinha de ser
totalm ente lim pa de entulhos antes de ser arada e cultivada. Essa m etáfora demonstra a dim ensão da
destruição que se abateria sobre a cidade e seus alicer
ces. Os exércitos da Assíria iriam arar a cidade, fazendo-a voltar ao seu estado original de terra cultivada (compare com Is 5.6). Embora isso não tenha aconteci
do durante a vida de M iquéias, Jerem ias usa o oráculo e ele é citado pelas autoridades durante seu ju lga
mento (Jr 26.18), demonstrando que as predições dos profetas foram compiladas e eram estudadas.
4.1-5.15 O plano do Senhor4.3. das espadas farão arados. Em vez de ser umareferência ao "arado" que revolve a terra, esse termo pode referir-se à ponta de metal do arado que perfura
a terra abrindo sulcos. Essa ponta tem cerca de 17
centímetros de comprimento. No entanto, essa mes
ma palavra hebraica é usada em 2 Reis 6.5 onde se
refere a um tipo de machado. Visto que no original a espada é "q u eb rad a" e transform ada em arado, é
possível que o resultado sejam pontas de metal que poderiam ser usadas para diversos fins.
4.4. sua videira e sua figueira. As videiras e figueiras
produziam os elementos básicos da dieta e da econo
m ia da cultura camponesa do antigo Israel e sua per
da deixaria o povo arrasado (J1 1.6, 7). A im agem idílica de paz e prosperidade no antigo Oriente Próxi
mo era poder sentar-se debaixo de sua própria videi
ra ou figueira. Pinturas de túmulos egípcios, relevos assírios e os escritores bíblicos usam a expressão para
referir-se a um povo que controla suas próprias vidas, sem interferência estrangeira e são capazes de culti
var a terra que os deuses/ D eus lhes deram/deu (1
Rs 4.25; Is 36.16). Além dos frutos, a videira e a figueira davam um pouco de sombra e desfrutar delas en
volvia perspectivas em longo prazo, visto que ambas levavam diversos anos para se tom ar produtivas.
4.8. torre/fortaleza. Embora Migdal Eder (NVI: "torre
do rebanho") seja um nome de lugar em outras passagens (Gn 35.21), neste contexto é comparado a Ofel,
uma parte da antiga cidade de Davi na colina leste da
cidade de Jerusalém. Nesse caso, ambas as imagens
são de um a cidade ou torre protegendo o "rebanho" e servindo como um ponto de ajuntamento onde Deus
faria a restauração futura da nação e do povo (compa
re com a im agem oposta em Is 32.14). Se o term o
refere-se de fato à torre de um a cidadela, poderia ser a torre central da Ofel em Jerusalém (filha de Sião).
4.10. B ab ilô n ia . Seria m ais lógico, nos dias de M i-
quéias, se ele tivesse designado Assur ou Nínive como
local do exílio. M as nem sempre um a profecia acom
panha a lógica. N a época de Miquéias, o Império Neo-
Assírio, sob os governantes sargonidas, Sargão II e Senaqueribe, era a m ais poderosa estrutura política
que o mundo já vira. Estendia-se por todo o Oriente
Próximo e acabaria incluindo o Egito, apesar de por
um breve período de tempo. O exército invasor de Senaqueribe foi responsável pela destruição de m ui
tas cidades e aldeias de Judá durante suas duas inva
sões. Os relevos assírios até mesmo ilustram os cativos sendo levados de Láquis. D urante esse período, a
Babilônia e seus governantes caldeus foram dominados pelos assírios, como todas as outras nações. Entre
tanto, assim como os medos no oeste do Irã, periodicam ente os babilônios testavam a hegem onia assíria
com revoltas ou tentativas de subverter os aliados e
estados vassalos da Assíria. Particularmente inoportuno foi Merodaque-Baladã, que expulsou os gover
nantes assírios da Babilônia pelo menos em duas ocasiões. Finalmente, em 689 a.C. Senaqueribe saqueou
a cidade e assumiu o título de rei da Babilônia. Pouco tempo depois de 660, quando o Império Assírio come
çou a entrar em declínio, a Babilônia e a M édia uni
ram-se a fim de exercer pressão ainda m aior sobre o
últim o dos grandes reis assírios, Assurbanipal. Sua m orte em 627 m arcou o fim do poderio assírio e o
surgim ento de N abucodonosor e do Im pério Neo-
Babilônico.4.12. fe ixes para a eira. Uma das principais instala
ções agrícolas da cultural aldeã em todo o antigo Oriente Próxim o eram as eiras. Feixes de cereais eram levados a esse lugar central, onde eram trilhados e
peneirados. Devido à importância da agricultura e da
fertilidade, a eira com freqüência era um lugar de
valor ritual. As eiras, com freqüência, eram grandes áreas abertas, planas e certam ente eram úteis para
outros propósitos além da debulha dos cereais. Não é
surpresa, portanto, que fosse usada tam bém como
um a instalação ao ar livre quando os recintos do palá
cio eram pouco apropriados, devido a limitações no espaço e desejo de visibilidade pública. Conseqüente
m ente, as eiras passaram a ser usadas como local de assem bléias onde questões legais eram resolvidas e
tran sações com erciais eram rea lizad as. No épico
ugarítico de Aqhat, o rei Danil julga as causas diante
do povo, na eira, fora da porta da cidade. Era um lugar onde os bons eram separados dos maus.
4.13. chifres de ferro e cascos de bronze. Em bora não
haja referências diretas a animais puxando debulha-
deiras no texto bíblico (ver, porém, o comentário em 2 Sm 24.22), M iquéias claram ente está descrevendo o
fu n cion am en to-p ad rão de um a eira. P in tu ras de
túmulos egípcios ilustram bois e burros puxando pás
de debulhadeira com lascas de pedra e pedaços de
m etal por cima do cereal, um costume ainda praticado por agricultores do Oriente Médio. Também há algu
m as evidências do uso de ferraduras nas patas desses
animais para que as espigas dos cereais fossem corta
das de form a mais eficiente.
5.1. ferido na face com um a vara. Ser ferido na face geralm ente é considerado um gesto de hum ilhação
(ver 1 Rs 22.24; Jó 16.10). O Código de H am urabi
apresenta um a série de punições para a pessoa que
batesse no rosto do outro - desde açoites e mutilação até pesadas m ultas. Bater no "líd er" de Israel significa
o desprezo das nações e também a incapacidade do
governante de Judá em reagir. N a festa de Ano Novo
(akitu) celebrada na Assíria e na Babilônia, o sacerdote batia no rosto do rei em um ritual em que este afirma
va ser inocente de qualquer injustiça.
5.2. B elém . O nom e duplo de Belém -Efrata reflete
uma distinção tribal entre a comunidade de Belém e também reforça o laço dessa localidade com a família
de D avi (ver o com entário em Rt 1.1; 1 Sm 16.4;
17.12). Atrelar o rei messiânico futuro às origens da
casa de D avi e não a Jerusalém remete à forma como
D avi foi escolhido diretamente por Yahw eh para ser
rei e rompe com o padrão de sucessão hereditária. Isso
sugere a expectativa de um novo Davi.
5.2. governante com origens desde tempos antigos. A maioria dos reis neo-assírios afirm ava que sua rea
leza fora determinada pelos deuses desde o passado. A ssurbanipal afirm ava ter sido criado por A ssur e
Ninlil e proclamado rei desde os tempos passados por
Assur e Sin, criado para ser rei desde o ventre de sua
m ãe.5.5. invasão assíria. Os assírios invadiram Judá em
713 (embora o principal objetivo dessa campanha te
n ha sido a Filístia) e, em 701, sob a liderança de Senaqueribe. É mais provável que este texto refira-se
a essa segunda invasão. Para informações detalhadas,
ver o com entário em 2 C rônicas 32. G eralm ente o
termo "pastores" era usado para referir-se a reis, por
isso sete/ oito pode ser um a alusão à coalizão que seria organizada contra a invasão. As inscrições de Sena
queribe mencionam Sidom, Ascalom e Ecrom (com a
ajuda do Egito e de Núbia) como alvos de batalhas e conquistas. Outras cidades-estados e territórios tam
bém se subm eteram e pagaram tributo (A rvade e
Biblos, no norte e Asdode, Amom, M oabe e Edom, no
sul). Não se sabe quantas dessas cidades teriam de
fato feito parte da coalizão anti-Assíria.5.6. terra de N inrode. A única ocorrência de Ninrode,
o "v alen te caçador diante do Senh or", aparece em
G ênesis 10.8-11 (ver o com entário ali), no período
anterior ao dilúvio. A li, ele é identificado com o o
fundador de muitas cidades mesopotâmicas, inclusi
ve a Babilônia e Nínive, por isso seu nome representa de forma apropriada qualquer império mesopotâmico.
5.12. feitiçaria. Literalmente milhares de textos foram descobertos, abordando inúmeros temas, inclusive en
cantamentos que ajudavam a aliviar uma dor de den
te, um bebê entalado a sair do ventre e uma mulher
estéril a ter filhos. Parece que a pessoa comum contra
tava um sacerdote de encantamentos até mesmo para as questões mais m undanas do cotidiano. O sacerdote
então vinha e recitava um feitiço para exorcizar o
demônio que estava causando o problema ou aplacar algum a divindade irritada. Os babilônios tam bém
recorriam a esses sacerdotes para evitar desastres que tinham sido ameaçados ou identificados em presságios. Os encantamentos tinham o objetivo de amarrar
magicamente as forças sobrenaturais que representavam uma ameaça. A prática da magia e da adivinha
ção era com um na M esopotâm ia e no Egito, onde exorcistas, adivinhos e mágicos eram figuras sempre
presentes na corte, interpretando presságios e realizando rituais. Além desses profissionais, havia feiti
ceiras que praticavam formas maléficas de magia e
bruxaria. O texto bíblico condena am bas as formas, visto que envolviam a invocação de divindades além
de Yahw eh e eram um a tentativa de manipulação da
divindade.5.13. colunas sagradas. As colunas sagradas ou massebot
aparentem ente eram um a característica com um da
religião cananéia e também aparecem como memoriais em diversos contextos israelitas relacionados à aliança
(ver Êx 24.3-8; Js 24.25-27). Sua associação com Aserá,
Baal e outras divindades cananéias é a base por serem condenadas como rivais e ameaças ao culto a Yahweh.
O s arqueólogos descobriram colunas sagradas em
Gezer, Siquém, Dã, Hazor e Arade. Nas três últimas,
tais colunas claram ente estavam no interior de um
recinto sagrado e faziam parte de práticas cultuais
realizadas nesses lugares. As colunas de Hazor contêm representações entalhadas de braços levantados e
de um disco solar.5.14. ídolos (postes de Aserá). Em alguns contextos a
expressão traduzida como poste sagrado ou ídolo apa
rece com o "A se rá ", que pode ser o nom e de uma deusa da fertilidade ou o nom e de um objeto de culto
(como é o caso nesta passagem). Essa deusa era popular nos desvios politeístas de Israel e às vezes era
considerada a consorte de Yahweh. Um indício dessa
crença encontra-se nas inscrições de Kuntillet Ajrud e
K hirbet el-Q om . N a m ito logia canan éia ela era a consorte de El, o deus principal. Ela aparece também
n a literatura m esopotâmica já no século dezoito, onde
é a consorte de A m urru, o deus amorreu. O poste sagrado, que era um símbolo de sua adoração, pode
ria ou não portar um a representação da divindade. Talvez representasse um a árvore artificial, visto que
a Aserá muitas vezes é associada a bosques sagrados e é retratada como um a árvore estilizada. As vezes, o
objeto de culto era confeccionado, enquanto em outras
ocasiões era plantado. Temos poucas informações sobre a função desses postes na prática ritual. O escritor
de Reis aponta para a veneração de postes de Aserá
como um a das razões para a derrota de Israel (ver o comentário em 2 Rs 17.10). As reformas de Ezequias e
Josias foram tentativas de banir essas imagens sagradas da deusa cananéia Aserá.
6.1-16A acusação do Senhor contra Israel6.1, 2. violação da aliança. A m aioria dos profetas
hebreus (ver Is 1.2-4; Jr 2.4-9) fazia uso de fórmulas de
acusação legal presentes em tratados do antigo Oriente Próxim o, tais com o o acordo entre Ram sés II e
Hattusilis III. Como neste caso, toda a criação é con
vocada a testemunhar a violação da aliança firmada com Yahweh, praticada por Israel (ver o comentário
em Is 1.2) e o juízo é declarado uma punição justificada
para o parceiro de Deus.6.5. Balaque/Balaão. O profeta traz à mente de seus
ouvintes o fam oso incidente quando um a nação es
trangeira e um renomado vidente são impedidos de fazer o mal contra Israel. Em vez da m aldição en
com endada, um a bênção é pronunciada a favor de
Israel. Em Números 22.6 Balaão é descrito como um homem cujas bênçãos e m aldições tinham efeito. Ele
era da região da alta M esopotam ia, perto de Car-
quemis e tinha fama internacional como um profeta verdadeiro. Balaque era o rei de Moabe, na época do
êxodo. Seu interesse em Balaão parece ser devido à habilidade deste em invocar bênçãos ou m aldições -
não importando o deus a quem invocasse. Em 1967,
uma expedição arqueológica holandesa, liderada porH. J. Franken, descobriu alguns pedaços de gesso
com inscrições, em uma localidade da Jordânia conhe
cida como D eir 'A llah. A parentem ente escritos em
aramaico, os fragmentos datam de cerca de 850 a .C , e m encionam Balaão, filho de Beor, a m esm a figura
descrita como "vidente" em Núm eros 22-24. Embora
o texto esteja bastante fragmentado, com m uitas lacu
nas e palavras incertas, pode-se afirmar que (1) Balaão
era um vidente, (2) ele recebeu uma mensagem divina durante a noite e (3) sua m ensagem não foi o que
seus vizinhos esperavam ouvir. Se esse texto refere-se aos eventos descritos na Bíblia, não se pode afirmar
categoricamente, m as com certeza ele estabelece uma
tradição não-bíb lica , corrente um século antes de
M iquéias, de um profeta chamado Balaão.
6.5. desde S itim até G ilgal. Ver os comentários em
Josué 2.1 e 4.19. Sitim era onde ficava o acampamento
de Josué, a leste do rio Jordão, e G ilgal foi o lugar onde os israelitas m iraculosam ente atravessaram o
Jordão e armaram um acampamento de onde deram
início à conquista de Canaã. Um itinerário tão resum i
do como esse é típico de anais reais mesopotâmicos que incluem listas de cidades ao longo do percurso
vitorioso do rei.
6.6. bezerros de um ano. A nim ais com um ano de
idade eram m ais valiosos que os recém-nascidos. Portanto, oferecer um bezerro de um ano em holocausto
representava um importante ritual de purificação ou iniciação. O cerne dessa prática, porém, é uma polê
mica contra os rituais religiosos da Mesopotâmia e do
Egito em que o processo transcendia o significado. O profeta tenta estabelecer exatam ente o que Yahw eh
exigia e com o Sam uel (ver o com entário em 1 Sm
15.22) determina que a obediência e o am or são mais
importantes que simplesmente realizar os rituais envolvidos na oferta de sacrifícios.
6.7. h ip érbo le . H á um crescente na dim ensão e no valor das ofertas alistad as por M iquéias. A penas
Salomão pôde oferecer milhares de animais em sacrifício (1 Rs 8.63). O azeite era usado para libações (ver
o comentário em Lv 14.15). O sacrifício humano era
abom inável para os israelitas, que o consideravam
um ritual exigido pela religião fenícia e cananéia (ver o comentário em G n 22.1, 2). Na verdade, apesar de
Yahw eh ter direito sobre o primogênito de todas as famílias, a Lei exigia que os filhos fossem redimidos e
substituídos através do sacrifício de um animal (ver o
com entário em N m 3.12, 13). D eus não queria ser
apaziguado através de dádivas extravagantes. A oferta
m ais excelente que os israelitas poderiam dedicar-lhe era sua obediência.
6.10. tesouro da im piedade. M iquéias condena os mer
cadores corruptos que enganavam seus fregueses vi
sando seu próprio enriquecimento. Embora essas prá
ticas devessem ser condenadas sempre que ocorressem , eram especialm ente m aléficas em tem pos de
guerra, quando os especuladores se aproveitavam da
escassez de produtos para aumentar os preços (2 Rs
6.25). Esse é um tema abordado tam bém por Amós (8.5, 6) e Oséias (12.7, 8). O Código de Ham urabi e as
Leis de Esnuna tam bém contêm diversas leis que
regulam a prática ju sta dos negócios, estabelecendo
preços e padrões de comportamento.6.10. m edida falsificada. A ssim como Amós critica os
com erciantes desonestos que dim inuíam a "m edida
(efa)" e aumentavam o "preço (siclo)" (Am 8.5), M i
quéias tam bém os repreende por enganar seus fre
gueses com medidas falsas de cereais. O efa e o him eram usados como as principais medidas para secos e
líquidos e equivaliam 37 e 6 litros respectivam ente
(Lv 19.36). Um a das ofensas alistadas nos encanta
mentos Shurpu era usar medidas diferentes na compra e na venda de produtos.
6.11. balanças desonestas/pesos falsos. Uma socieda
de justa era aquela em que o governo padronizava e
garantia pesos e medidas honestas. O prólogo do có
digo de leis de U r III, rei de Ur-N am m u (c. 2100),
inclui um a lista das m edidas tom adas por ele para assegurar o cumprimento da justiça e da verdade em
seu reino. Essas medidas incluíam a padronização de
todos os pesos de cobre e de pedra usados no comércio. O texto egípcio Instrução de Amenemope alerta con
tra adulterar balanças ou pesos usados na compra e
venda de produtos. U m hino babilónico a Sham ás,
deus da justiça, descreve como essa divindade puniria o comerciante que usasse práticas enganosas em
relação a balanças e pesos. O fato de que M iquéias queixa-se dos pesos falsos indica um período sem lei em que não havia um governo forte, tampouco uma
preocupação com os deveres da aliança (ver Pv 11.1;
20.23).6.14, 15. castigo. Essas m aldições de infertilidade e perda são semelhantes às encontradas em textos egípcios de execração e em textos encontrados em túmulos. Representam a justiça de Yahw eh contra as violações
de Israel para com a aliança (ver a série de maldições
em D t 28.15-44). Diversos outros profetas fazem uso desse tipo de maldição (ameaça de insucesso em de
terminadas ações: Os 4.10; Sf 1.13).6.16. decretos de Onri. Assim como os "pecados de Jeroboão" muitas vezes são citados como o ápice da maldade de um rei (2 Rs 13 .2 ,11), os nomes de Onri
e Acabe também servem como m odelos de monarcas acusados de idolatria (a respeito dos crimes de Acabe,
ver o comentário em 1 Rs 18.4). A dinastia de Onri chegou ao fim com a morte de Zacarias em 753, uma
geração antes de Miquéias.
7.1-20Da ruína para a restauração7.1. referência à agricultura. Segundo o Almanaque de Gezer, uma inscrição datada de 925 a.C., a colheita
das frutas de verão era a últim a do ano, acontecendo no final de agosto e setembro. Era quando acontecia a segunda colheita de figos (os primeiros frutos am adu
reciam em junho) que seriam desidratados para o consumo durante os meses de inverno (ver Is 16.9; Jr 48.32). Após essa colheita de todos os frutos remanescentes, durante m uitos m eses não se podia esperar
outros frutos além desses.7.2. caça com um a arm adilha. A caça de pássaros e a pesca eram as formas mais comuns de caça, visto que exigiam apenas redes e armadilhas. Pinturas em tum
bas egípcias ilustram a caça de pássaros feita com
redes (ver Pv 1.17). O uso da rede na caça remonta ao
período sumério, evidenciado na palavra para caça
que era representada por um ideograma com formato
de rede. Isaías 51.20 descreve o uso da rede, possivel
m ente um a rede de curral, para caçar antílopes que
talvez fossem conduzidos até a armadilha por batedo
res. De fato, era um período sem lei em que os ho
mens eram ao mesmo tempo caçadores e caçados (ver
SI 10.9).
7.14. geografia. Basã e G ileade são regiões férteis a
leste do rio Jordão. O riginalm ente faziam parte da
divisão da terra (ver o com entário em Js 13.24-29 e
13.30,31 a respeito do território designado a Gade e a
Manassés), mas foram tomadas pela Assíria durante o
oitavo século. A expectativa aqui é de que no dia do
triunfo de Yahweh, todos os territórios tomados por
outras nações seriam devolvidos a Israel (ver Jr 50.19).
7.17. lam ber o pó com o a serpente. Assim como a
serpente foi am aldiçoada no jardim do Éden (ver o
comentário em G n 3.14), as nações inimigas também
seriam humilhadas (ver SI 72.9). Visto que as nações
estrangeiras com freqüência são descritas como ser
pentes (Is 14.29; Jr 8.17), essa figura pode ser mais
uma condenação do uso de serpentes como símbolos
de fertilidade e divindades na arte religiosa egípcia e
mesopotâmica. Nos textos de A m am a, comer pó ou
terra é uma metáfora para ser derrotado.
7.19. pisarás as m aldades. O perdão de Yahw eh dado
a Israel permite que o pecado seja derrotado de forma
bastante semelhante à de um monarca que triunfava
sobre seus inimigos, pisando neles ou colocando o pé
sobre o pescoço do inimigo derrotado (ver os comentá
rios em Js 10.24; SI 60.12). Imagens semelhantes das
atividades do "guerreiro divino" encontram-se no epi
sódio da deusa Anate destruindo seus inimigos, nar
rado no épico ugarítico, e nas façanhas militares do
deus babilônio M arduque e do deus hitita Teshub.
N A U M
V1.1. Nínive. Essa profecia contra a capital assíria, Nínive, provavelmente data do período entre 663 a.C. (quan
do a cidade egípcia de Tebas foi capturada pelos assírios - N a 3.8) e a queda da cidade diante de um exército unificado de babilônios e m edos em 612 a.C.. Nínive,
situada à m argem leste do rio Tigres (antiga Kuyunlik e atual M onsul), ficava a 960 quilôm etros do golfo
Pérsico (rio acim a) e apenas a 400 quilôm etros da Babilônia. Foi um a das mais importantes cidades da
Assíria durante grande parte de sua história - serviu às dinastias acadiana antiga, aos amorreus e aos mitani,
antes do estabelecimento do reino m édio-assírio em meados do quarto século a.C.. No ápice da expansão do poder desse império, no reinado de Senaqueribe
(705-681 a.C.), tornou-se a capital da Assíria. Escavações em seus palácios trouxeram à tona relevos de pedra que retratam a invasão e saque de Judá em 701. A biblioteca do último grande rei assírio, Assurbanipal
(668-627 a.C .), oferece aos eruditos exem plares de m uitas obras cien tíficas e da literatu ra da antiga
Mesopotâmia.
1.1. H istória assíria_do período. O últim o grande rei assírio, Assurbanipal, reinou de 668 a 635, quando se acredita que teria abdicado. Parece que só m orreu em
627. Após seu reinado, a história assíria tom a-se confusa e às vezes é difícil determinar quem estava no comando, embora os dois principais governantes tenham sido Assur-Etil-Ilani e Sin-Sharra-Ishkun. D u
rante o reinado de A ssurbanipal, grande parte da Siro-Palestina aceitou passivamente o domínio assírio (em bora Tiro representasse constantes problem as).
Manassés, rei de Judá, durante a maior parte do tempo, foi um vassalo cooperativo. Entretanto, de 652 a 648, uma rebelião foi liderada pelo irmão de Assurb an ip a l, S h a m á s-S h u m -U k k in (n o m ead o re i da
Babilônia), que parece ter conquistado o apoio de M anassés (ver o com entário em 2 Cr 33.11). A últim a revolta da Babilônia aconteceu em 626, quando o caldeu N abopolassar declarou-se rei e estabeleceu um a linhagem dinástica que se transformou no Império Neo-
Babilônico. Esses babilônios, aliados aos medos, provocaram a queda do Império Assírio, começando com a destruição de Assur, em 614, seguida de Nínive, em 612, Harã, em 610, e, finalmente, Carquemis, em 605.1.1. Elcós. O lugar chamado Elcós aparece apenas no Livro de Naum. N enhum a localidade específica foi
apontada como lugar da aldeia de Naum. Jerônimo a situa na Galiléia (possivelmente el-Kauzeh ou Cafar- naum) e tradições posteriores a situam perto de Nínive ou na Síria. N enhum a dessas sugestões atualmente
encontra evidências suficientes para fazer uma identi
ficação segura.1.2. d ivind ade zelosa. O tema de Yahw eh com o um deus zeloso aparece primeiro nos D ez M andam entos (Êx 20.5), é repetido na oração de Josué, de renovação da aliança após a conqu ista (Js 24 .19), e é refletid o
novam ente na visão de Ezequiel da "im agem do ciú
m e de D eu s" (Ez 8.5), que b loqueia sua entrada ao templo de Jerusalém. A palavra representa uma determ inação em defender zelosa e agressivam ente algo
que lhe pertence por direito, de qualquer que queira apoderar-se disso. Esse atributo de D eus servia para
evitar comparações com outros deuses ou qualquer tipo de subordinação de Yahw eh no culto ou ritual a outras divindades. Não reconhecer a posição única e exclusiva
de Yahw eh seria justificativa para vingança.
1.3. vendaval e tem pestade. Com o em H abacuque1.3. Yahw eh é retratado como senhor da tempestade e
aquele que controla os ventos que podem trazer vida e destruição. Esse tipo de linguagem figurada, demonstrando a majestade de Deus, também se encontra na teofania descrita em Jó 38.1 (ver tam bém o
comentário em 1 Rs 19.11-13) e era uma característica comum na poesia época do antigo Oriente Próximo. Por exemplo, no épico ugarítico de Baal e Anate, o deus Baal é descrito como o "Cavaleiro das N uvens", e sua "v oz" tem o som e a fúria do trovão e dos relâmpagos. Igualmente, na história babilónica da criação,
Enuma Elish, o deus da tempestade, Marduque, derrota a deusa do caos aquático, Tiamat, através do controle dos ventos e do uso dos relâmpagos.
1.4. seca de m ares e rios. A imagem de D eus controlando a força dos rios e m ares era comum no mundo antigo (compare com o episódio em que Jesus acalma
as águas do m ar da Galiléia em Mc 4.39). O exemplo m ais forte do Antigo Testamento é a abertura do mar Vermelho. O ciclo ugarítico das histórias de Baal re
trata o deus da tem pestade em um em bate terrível com o deus Yamm, o m ar - um a imagem cuja origem pode estar na observação dos m ares tempestuosos da costa mediterrânea perto de Ugarit. O "dom ínio" de
Yahw eh sobre as águas tam bém é m encionado em
Isaías 50.2 e Salmo 104.7. Em cada passagem a m ajestade de Deus sobre as forças da natureza é evidenciada de form a clara, bem como sua habilidade de provocar seca em áreas geralmente férteis.1.4. Basã e C arm elo. Dentre as áreas m ais exuberantes e férteis da Siro-Palestina estavam Basã e a cadeia montanhosa do Carmelo. Essas áreas compreendiam a parte norte do planalto da Transjordânia, a leste do m ar da Galiléia, e a região m ontanhosa estendendo-se a noroeste em direção à Baía de Aco, na costa m editerrânea, bem ao sul do Líbano. Tanto o Carmelo quanto a região de Basã eram conhecidos por suas pastagens e gado. Vê-los transform ados em terras secas e arruinadas seria uma inversão de seu papel tradicional como lugares abençoados e caracterizados por sua prosperidade e abundância. Esse tipo de fala profética faz parte do "m undo invertido" encontrado fora da Bíblia nas profecias de B alaão (inscrições de D eir 'A lla) e nas visões de N eferti (Reinado do Antigo Egito).1.5. efeitos da teofania. Os efeitos da voz e da presença poderosa de Yahw eh assemelham-se aos abalos de terra provocados por um terrem oto. Entretanto, as referências aos montes e colinas e o controle sobre as forças da tempestade sugerem que essa teofania segue o modelo dos assustadores ventos, trovões e relâmpagos característicos de um a tempestade no m onte. U m exemplo semelhante dessa figura encontra-se em Salmo 29.3-9 onde a "voz do Senhor" despedaça os cedros do Líbano e faz o "Líbano saltar como um bezerro". Os m itos ugaríticos (ciclo de Baal) e hitita (Cântico de Ullikummis) descrevem o deus da tempestade usando ventos e relâmpagos de forma igualmente assustadora.1.13. ju g o e algem as. A s profecias com freqüência referem -se à dom inação política com o um jugo ou algemas. N as cartas de A m am a, os governantes das cidades-estado cananéias falam ao faraó como estão dispostos a se submeter ao jugo egípcio para servi-lo fielmente. A literatura sapiencial acadiana indica que suportar o jugo de um deus é desejável devido aos benefícios decorrentes. No Épico de Atrahasis, os deuses consideram o jugo de Enlil insuportável e por isso se rebelam. As inscrições assírias descrevem suas conquistas de outras terras como a imposição do jugo do deus Assur sobre o povo e a rebelião é retratada como arrancar fora esse jugo. O profeta, portanto, está usando um a im agem bastante fam iliar em todo o antigo Oriente Próximo.1.14 ,15. história de N ínive após sua queda. Segundo a Crônica Babilôica, Nínive foi destruída pelo exército unificado dos medos e caldeus (babilônios), liderado por Nabopolassar (625-605 a.C.) na primavera de 612 a.C., após três meses de cerco. A profanação ritual e completa do local aconteceu com as cinzas de Nínive
sendo levadas para a Babilônia. A inundação da cidade (relatada em fontes clássicas por Diodoro Siculus e Xenofontes) provavelmente teria sido o resultado do represamento do rio Khosr que transbordou entre as duas cidadelas de N ínive, na m argem leste do rio Tigre (Kuyunjik e Nebi Yunus). A cidade nunca recup erou sua grand eza orig in al, em bora tenh a sido reconstruída e existam vestígios helenistas, partos e romanos no local.1.14. T em p los e deuses assírios. D esde a época de Shamshi-Adad I (c. 1813-1781 a.C.), os principais deuses do panteão assírio eram Assur, o rei dos deuseus, e Istar, a deusa do amor e da guerra. Havia também outros deuses: Ninurta (guerra e caça), Adad (deus da tempestade), Sin (deus-lua) e Shamás (deus-sol), bem como muitas outras divindades inferiores, cada qual com seu centro cultual servido por uma comunidade sacerdotal. Esses templos eram amplamente subsidiados pela monarquia, cujos fundos provinham dos saques de países vizinhos durante os períodos quase ininterruptos de guerra. Grande parte de seus rituais e festas religiosas era emprestada de antigas religiões sum érias e babilónicas. Quase todo anal real assírio que descreve campanhas militares inclui a afirmação "por ordem de Assur" como a justificativa para a guerra. A "Esteia Banquete" no palácio de AssumasirpalII, em Ninrode, que relata suas vitórias m ilitares, deixa claro que os deuses da Assíria habitavam em seu palácio. Igualmente, as faixas de texto que decoravam as paredes do palácio de Sargão II, em Córsaba, incluem o convite para que "A ssur, o pai dos deuses, o grande senhor, e Istar, que habitam na Assíria" passassem a residir ali. Senaqueribe transferiu a capital da A ssíria para Nínive e reconstruiu o enorme templo dedicado à deusa Istar como parte de suas campanhas de construção para restaurar os centros cultuais aos deuses e um "palácio sem igual". Era procedimento norm al no m undo antigo destruir as im agens dos deuses e profanar os templos de cidades derrotadas. As im agens eram derrubadas e desfiguradas e tinham a cabeça e os membros arrancados.1.15. H istória de Judá sob o dom ínio assírio. Desde 734 a.C. até a queda de Nínive, em 612, Judá foi um estado vassalo do Império Assírio. O rei Acaz pagou tributo a Tiglate-Pileser III e ficou fora das conspirações em busca de independência que levaram Israel,o reino do norte, e muitas nações vizinhas à ruína. Ezequias tentou obter certo grau de independência (lim pando o tem plo, destruindo os altos), m as sua política provocou a invasão de Judá por Senaqueribe (ver os comentários em 2 Rs 18), a destruição de m uitas cidades, como Láquis, a deportação de parte da população e um cerco a Jerusalém que empobreceu a nação. O longo reinado de M anassés (ver os comentá-
rios em 2 Cr 33) foi m arcado por uma completa subm issão ao controle assírio. A lém de inúm eras condições estipuladas com o objetivo de prom over e dem onstrar a lealdade política, os tratados de vassalo de Esar-H adom exigiam respeito ao deus A ssur, como rei dos deuses e a adoção do culto a essa divindade pelos povos dominados. A cooperação de Manassés perm itiu que houvesse um período de paz e reconstrução, m as representou um comprometimento político e teológico que o marcou, aos olhos dos escritores bíblicos, como o pior rei de Judá. Foi somente durante o caos político que se instaurou a ós a morte do último grande rei da Assíria, Assurbanipal (ver o comentário em 1.1), que Judá pôde temporariamente garantir sua liberdade, sob o rei Josias.2.3. uniform es verm elhos dos soldados. Ainda semestarem sujos do sangue das batalhas, os uniformes verm elhos dos soldados podem indicar que eram um a unidade profissionalm ente equipada e bem treinada (ver os soldados vestidos de verm elho, em Ez 23.6). Na Grécia, os espartanos eram conhecidos por usarem túnicas verm elhas debaixo de suas armaduras, como um indicador de sua patente e como um a tentativa a m ais de intimidar seus oponentes. N a Assíria era comum usar essa figura na retórica para falar de cidades e regiões m anchadas de sangue dos inim igos,. exército marchando no rio de sangue dos inim í§ Além disso, Isaías 9.5 refere-se à prática de guerreiros, que revolviam suas vestes no sangue. /Sea^/lógico,' portanto, que os exércitos escoU^ss^m^^akui)ifdrmes verm elhos para sugerir que já estaxfam\àbertos com o sangue de seus in im ig o £fT ^ tu r^ s em Til-Barsip m ostram uniformes clássicas descrevem soldados dêâs\ ^X oH p usando túnicas verm elhas ou ]2.3. m etal itcp^cairosl ÕHÍamentos de m etal nos carros vis^n&o fori^leçê^jbs para abrir cam inho pelos bata-
i são atestados no período dos juizes, cos decorados foram encontrados em
yàssírios e em pinturas de túm ulos egípcios. 2 .M in h a de proteção. Essa expressão ocorre apenas aqui na Bíblia e possivelmente é emprestada da língua acadiana usada p elos assírios e nações vizinhas. Em acadiano o term o refere-se a um tam pão ou algo usado para im pedir algu m a coisa de subir. V isto que o versículo seguinte fa la de com portas de canais sendo abertas na tentativa de fazer o palácio desabar, é possível que um tam pão tenha sido usado p ara bloquear a água que teria inundado as ruas da cidade, após o rio te r sido represado no reservatório criado por Sena- queribe, cerca de três quilômetros acima do rio Khosr.2 .6 . com p ortas dos canais em Nínive. Senaqueribe havia criado um a elaborada rede de canais e comportas para controlar as águas do rio Khosr e para fornecer
canais de irrigação à cidade de Nínive e às áreas agrícolas que a cercavam. Em bora a linguagem desse trecho seja difícil, a cena seria do rio sendo represado, depois as paredes sendo escaladas enquanto era m antido na represa algum tipo de tampão, impedindo que a água entrasse na cidade. Q uando as com portas se abrissem , o volu m e de águ as bateria nas p aredes e provocaria seu desabamento. A Crônica Babilónica não menciona o uso de enchentes como um dos métodos de conquista de cidades, em bora as fontes clássicas façam referência a elas. Evidências arqueológicas em Nínive sugerem um grande incêndio, m as não dão indícios de danos provocados por um a inundação.2.6. palácio de N ínive. O "palácio sem igual"\)us,0 "Palácio Sudoeste", como é conhecido hojcL foLepra1̂ traído por Senaqueribe entre 703 e 6 9 T ^ o n s ís le ) de um enorm e complexo de cômodps e M p í^ in ten ig a- dos (estim ado em um a área^ e^ O S por_240 metros, grande o suficiente p a ra ^ h t^ 2 ^ ç k m p o s de futebol). As áreas mais p^^irm s^^Ih^atH TO no eram decoradas com fach ad a^ d ^ W W a^ lcária entalhadas, enormes e s t á m ^ & f c ^ ^ a ^ ^ ^ i g a n t e s com escamas de peixeT^in^m chdos relevos de campanhas militares, enquWitp o^ pátios externos, com funções m ais lííilil^ ia V ^ a m privados de desenhos elaborados ou estátuas. O palácio foi escavado por um período de
S t lo s , tendo iniciado n os anos 1850 por A. H. Cáyard, não tendo ainda sido completamente desenterrado. Seu projeto foi im posto pelo já existente templo e zigurate de Istar, no ponto m ais alto do Kuyunjik e perto dos rios Khosr e Tigre, a sudeste e oeste.2 .1 1 ,1 2 . m etáfora do leão. A iconografia dos deuses assírios ilustra Istar, a deusa padroeira de N ínive, acompanhada de um leão e o deus-sol Sham ás que é com freqüência retratado como um leão alado. O s reis assírios, como Esar-Hadom (680-669), descreviam a si m esm os como leões em sua fúria e ferocidade na batalha. A qui, porém , os leões que tão orgulhosam ente haviam tomado o que desejaram e levado para suas tocas estão se escondendo e não m ais estão no comando. D essa form a, o profeta atira no rosto da Assíria uma de suas metáforas prediletas, zombando dela.3.4. pecados de Nínive. O s eventos por trás dos crim es de N ínive m encionados aqui são desconhecidos. Porém, a prostituição e a feitiçaria são metáforas bastante conhecidas, usadas para descrever uma cidade ou nação que subjuga outras, visto que tanto a feiticeira quanto a prostituta exercem seu poder sobre os m ais fracos, vulneráveis ou incautos. Outras instâncias dessa im agem sedutora da prostituta incluem a Babilônia em Apocalipse 18.3 e Jerusalém, em Ezequiel16.15-22 e 23.2-8. Tam bém pode ser um a referência a Istar, a deusa padroeira de N ínive, cu jos ritu ais e histórias sagradas com freqüência continham ativida
des sexuais explícitas. Pode de fato ser um a referência à rede de intrigas políticas gerada pelos assírios, à m edida que expandiam seu controle sobre grande parte do antigo Oriente Próximo. A zombaria dirigida a E zequ ias, p elo re p rese n ta n te de S en aq u erib e , Rabsaque (Is 36), inclui referência às m anobras do Egito e da Assíria em busca do poder (Is 36.4-6), enquanto as nações menores eram obrigadas a se submeter a tratados de vassalagem responsáveis por seu em pobrecim ento e ruína. C ertam ente a exploração econômica dos recursos naturais da Siro-Palestina pelos assírios também se encaixava à lista de acusações que Naum faz contra Nínive (ver Ap 18.14-17).3.7. n inguém que a console. Um erudito (Becking), observando a semelhança entre um a série de anúncios de castigo em Naum e as maldições de tratados de vassalos, identificou nesta parte do versículo a m aldição assíria de que os mortos não teriam ninguém para cuidar de seu espírito, através de libações.3.8. T ebas. A o zom bar de N ínive, N aum relem bra seus m oradores que outra cidade fortificada, Tebas (conhecida como "N o A m om " pelos gregos e assim denominada também em hebraico), não fora capaz de enfrentar os exércitos assírios de A ssurbanipal em 663. O governante cuxita, Tantamani, assumira o controle de Tebas e Mênfis, em 664, atraindo uma reação dos assírios, que apoiavam o regime de Neco (a quem Tantamani executou), no norte. Sob violento ataque assírio, Tantamani assumiu o governo por um breve espaço de tempo em Tebas, antes de abandoná-la aos invasores e fugir para Napata. Tebas, localizada cerca de 520 quilômetros ao sul de Mênfis (cerca de 24 quilômetros ao sul de Cairo) na m argem leste do rio Nilo, tinha, assim como Nínive, um elaborado sistema de fossos e outras defesas que lhe davam a ilusão de invulnerabilidade. Tam bém como N ínive, era um a cidade sagrada, dedicada ao deus Am om e continha os magníficos templos do complexo de Kam ak.3.9. Etiópia (Cuxe), Egito, Fute e L íb ia como aliados. Quando Tebas foi conquistada pelos assírios, ela e o Egito estavam sendo governados por uma dinastia (25a Dinastia) cuxita (núbia). A capital de N úbia era Napata (entre a terceira e a quarta cach oeira do N ilo, 1280 quilôm etros ao sul de Tebas, no atual Sudão). A antiga Líbia ficava basicamente ao longo da costa oeste de Alexandria, mas incluía a longa faixa de deserto a oeste do vale do Nilo. E m ais difícil situar Fute. A conclusão m ais provável é que Fute seja um nom e alternativo para Líbia e que juntos refiram -se à área oeste do antigo Egito, representada pelo atual país da Líbia.3.10. lançar sortes para decidir o destino dos nobres. À medida que os líderes do Egito eram forçados a se render, eram distribuídos como escravos entre os com andantes assírios, juntam ente com o restante dos
despojos. A divisão dos saques, inclusive através de sorteios, é citada na Ilíada, de Homero, nos textos de M ari e em Joel 3.3.3.14. preparação para o cerco. As fortificações para as cidades no antigo Oriente Próximo eram constituídas de rampas de terra, aclives, portas com torres e muros (às vezes com 7,5 a 9 metros de espessura) construídos sobre um alicerce de pedra e feitos de tijolos de barro. O vento e a chuva, porém, estragavam esses muros, que necessitavam de constantes reparos. M ilhares de tijolos eram necessários e incontáveis horas eram gastas em sua fabricação. M uitos anais e inscrições reais fazem menção à construção ou à reforma de muros das cidades como um feito importante, especialmente quando era possível prever um cerco. Os m uros da cidade de Nínive, construídos por Senaqueribe, atingiam cerca de 12 quilômetros de circunferência. Tam bém era necessário assegurar um suprimento de água adequado durante o cerco. A água de Nínive provinha basicam ente do rio e do sistem a de aquedutos ligados a ele, m as esse abastecimento podia ser comprometido pelo inimigo, do lado de fora dos muros. A ordem de "reservar água" m encionada neste versículo pode ser uma referência à atividade de encher enormes cisternas dentro da cidade.3.15-17. m etáfora do gafanhoto. Nuvens de gafanhotos periodicam ente invadiam o Oriente Próximo ao longo de sua história. Esses insetos se reproduzem no deserto e nas regiões de estepes, e, à medida que seu número aumenta, eles se transformam em gafanhotos com asas, capazes literalmente de bloquear a luz do Sol. Eles consomem tudo à sua frente e infestam enormes áreas, visto que se reproduzem rapidamente (ver o comentário em Êx 10.1-20).3.17. guardas e o fic ia is . N aum está usando títulos assírios bastante conhecidos para referir-se a cortesãos e escribas (provavelmente um título mais geral para oficiais do governo). Registros do período m ostram que alguns funcionários, liderados por Assur-UbalitII, conseguiram fugir para o oeste, até Harã, quando a queda de Nínive era iminente.3.18. identidade do rei da A ssíria. Visto que a data do Livro de Naum é incerta, não é possível determinar a que rei da Assíria se refere no final deste oráculo. A maioria dos eruditos diria que a data m ais anterior seria pouco tempo depois da captura de Tebas, em 663, e que a data m ais antiga seria propriam ente a queda de N ínive, em 612. Pode ser que o Livro de N aum tenha sido escrito como um encorajamento para que o povo de Ju d á se rebelasse, um a vez que o Im pério A ssírio com eçava a ruir, após a m orte de Assurbanipal, em 627. A referência também pode ser a Sin-Shar-Ishkun, que era o rei assírio quando Nínive foi tomada.
H A B A C U Q U E
V1 .1-11 A primeira queixa de Habacuque1 .2 -4 . q u e ix a s so b re a in ju s t iç a so c ia l. Em bora H abacuque esteja falando ao povo de Judá no final do sétimo século a.C., suas afirmações quanto à injustiça
social são bastante sem elhantes àquelas feitas por Amós, no oitavo século, em relação a Israel, o reino do norte. Ambos os profetas condenam os líderes auto
indulgentes e corruptos de sua época (ver a nota em Amós 2.6-8 que trata das condições econômicas e soci
ais do oitavo século e o com entário em Am ós 5.12 sobre o sistema judicial corrupto). Acusações de injustiça so c ia l são um p ad rão com u m n a lite ra tu ra
sapiencial egípcia. Os escritores tentam manter a liderança da nação em um padrão elevado e sentem que
é essencial para a sobrevivência de sua cultura que a corrupção seja desm ascarada e exposta pelos detentores do poder. Por isso, no período do Reinado Médio
(2050-1800), o Debate sobre o Suicídio foi composto a fim de expor as feridas sociais que haviam quase destruído
a sociedade egípcia durante o Primeiro Período Interm ediário (2258-2050), encerrado havia pouco tempo.
O homem que pede a libertação promovida pela morte através do suicídio queixa-se de que "todos são ladrões", que "os corações são gananciosos" e que "os
crimes não afrontam a ninguém ". Também durante esse tempo de instabilidade, a Lenda do Camponês Eloqüente fala da necessidade dos adm inistradores do Egito em fiscalizar as ações dos legisladores que "apro
vavam os roubos" e de inspetores que "tratavam a corrupção com indulgência". Esse texto conclama os juizes a não aceitar subornos, nem a tolerar o peqúrio.
No antigo Oriente Próximo, a justiça era a característica mais básica e necessária da sociedade. Era função do rei m anter a justiça. Num nível ainda mais amplo,
a aliança exigia de Israel que a justiça fosse mantida de form a rígida tanto no âm bito pessoal quanto no
social.1.6. cronologia. Se a profecia de Habacuque deve ser entendida como palavras que causaram espanto e pas
mo (1.5), então deve ter sido proferida antes da devastação causada pela Babilônia em toda a terra. Portanto, parece necessário concluir que o Livro deva ser datado antes da Batalha de Carquemis, em 605. Ao con trário , a p red ição fe ita por H abacu qu e sobre Yahw eh "levantando os babilônios" não teria feito
sentido. Os babilônios se tom aram um a ameaça significativa para Judá apenas a partir de 605. Em 597 já haviam capturado Jerusalém e tomado o rei Jeoaquim como refém (ver os comentários em 2 Rs 24.10-14). A Babilônia tornou-se um a nação independente em 625 e iniciou suas atividades de expansão em 620. É impossível oferecer um a datação m ais precisa para os oráculos de Habacuque.1.6. babilôn ios (caldeus). Os caldeus são mencionados pela prim eira vez em fontes m esopotâmicas do nono século a.C.. Em bora relacionados etnicamente com outras tribos de aram eus do sul da Babilônia, tinham uma estrutura tribal distinta. Quando o Império A ssírio com eçou a enfraquecer, líderes caldeus, inclusive Nabopolassar e Nabucodonosor, acabaram conquistando sua independência e estabeleceram a dinastia neo-babilônica, após 625. N abucodonosor herdou essa poderosa nação em 605, tornando-se seu mais famoso rei. Ele literalmente reconstruiu a cidade de Babilônia, solidificou o controle babilónico em todo o Oriente Próximo e até mesmo atacou o Egito (embora sem sucesso). Seu longo reinado durou até 562. Ele foi sucedido por três descendentes que reinaram por um curto período, totalizando seis anos. O último rei da dinastia de N abonido, que aparentem ente havia sido um oficial do alto escalão durante o reinado de Nabucodonosor, reinou até 539, quando a Babilônia foi capturada pelos medos-persas sob Ciro, o Grande.1.8. cavalaria babilónica. Considerando-se a descrição dada aqui de um a cavalaria veloz, parece mais provável que se tratava de cavaleiros empunhando lanças do que de arqueiros m ontados. Relevos assírios do palácio de Senaqueribe, em Nínive, m ostram como esses soldados montados eram capazes de atravessar colinas e florestas. Sua aparição súbita teria aterrorizado os habitantes locais. No campo aberto, as corporações em carros funcionavam como infantaria m ontada e plataformas para os arqueiros, que.serviam como uma força de ataque frontal, enquanto a infantaria ia atrás deles. Arqueiros e lanceiros m ontados, lutando em duplas para sua própria proteção, permaneciam nos flancos para dar cobertura ao exército evitando que fosse apanhado num a m anobra por trás e tam bém para evitar a fuga de soldados inimigos.1.10. ram pas de terra. Ver os comentários em Isaías 20.2 e Jeremias 32.24; 33.4 sobre o uso de rampas de terra na guerra de cercos.
1 .12 - 2.20A segunda queixa e a resposta do Senhor1.12. Rocha. A metáfora comparando a divindade a
uma rocha destaca primordialmente o sentido de proteção e abrigo. Um a grande rocha podia dar sombra e
às vezes cavernas eram encontradas em áreas rocho
sas. Essa não é um a m etáfora com um nas culturas fluviais do Egito ou da Mesopotâmia, com sua abun
dância de planícies aluviais (ver a nota sobre metáforas no início de Salmos). É possível que o termo seja
m ais que um a m etáfora porque aparece com o um nome próprio, assim como um nom e divino norm al
m en te ap a re ce ria (p o r e x e m p lo , E lia s s ig n ifica
"Y ahw eh é m eu D eus", logo, por comparação Elizur
[Nm 1.5] significaria "Z u r [Rocha] é o m eu D eus"). Essa denom inação tam bém aparece em nom es pró
prios aramaicos e amorreus da Síria, como um nome divino.
1.15, 16. equipam entos de pesca. Ao menos em ins
crições e arte real, a pesca é retratada sendo feita em
cestos e não através do uso de anzóis (ver os comentá
rios em Ez 12.13 e Am 4.2). Naturalmente, nesse caso
a questão é política, visto que o profeta quer ilustrar a
força de um governante que será capaz de apanhar seus inimigos como se apanham peixes ou pássaros
(ver o comentário em Os 5.1) em uma rede.
2.2. arauto correndo com tábuas. A idéia de correr
com um a m ensagem su g ere sua urgên cia ou im
portância. O que não fica claro é se aquele que lê a
mensagem é um arauto cuja tarefa era ir de um lugar
para outro lendo-a em voz alta, ou se refere-se a qualquer que lesse a mensagem. Naquele caso as tábuas
inscritas seriam confiadas a um profissional; neste, a inscrição seria colocada num lugar público e à medida
que as pessoas a lessem, divulgariam as notícias. A
primeira opção é a interpretação preferida, visto que
o texto aqui fala de tábuas. Inscrições expostas publi
camente geralmente eram feitas em colunas de pedra (esteias). M ensageiros profissionais eram figuras co
muns nas cortes reais das antigas M ari e Babilônia.
Eram usados como "corredores" que levavam as or
dens de seu senhor (ver também Jr 36.4 e a m issão de
Baruque como escriba e mensageiro de Jeremias).
2 .1 7 . L íb a n o . De aco rd o com seu s a n a is re a is , Nabucodonosor ordenou a seu exército que construís
se uma estrada para "o transporte de cedros" do Líbano. Ele descreve como "cortaram as montanhas, fenderam rochas, [e] abriram passagens" para construir
essa estrada comercial de transporte de madeira. Tudo isso foi feito com a justificativa de que a terra ficaria
protegida de seus inim igos estrangeiros, porém, essas árvores na verdade foram usadas para construir o
palácio de Nabucodonosor e para ampliar o templo de M arduque, na Babilônia. Pode-se supor que os traba
lhadores tam bém tenham caçado nas áreas m ontanhosas do Líbano a fim de complementar suas própri
as reservas alimentares.2.18. íd o lo que en sin a m en tiras. A inutilidade de
adorar ou consultar ídolos é mais uma vez declarada aqui (ver Is 46.7 e Os 4.12 para outros exem plos).
Isaías aplicou a expressão usada aqui para um falso
profeta (Is 9.15), m as H abacuque está se referindo aos
sacerdotes que manipulavam o povo "fazendo o ídolo falar" ou proferir um oráculo. Os sacerdotes babilônios
baru atuavam como adivinhos, interpretando pressá
gios, sinais e realizando rituais cujo objetivo era bus
car respostas dos deuses.
2.19. dar vida à m adeira. Ver o comentário em Isaías44.17, 18. O ritual de "abrir a boca" era empregado
na Babilônia para transform ar uma im agem de m a
deira, decorada com ouro e pedras preciosas, na personificação física do deus. Os encantamentos dos sa
cerdotes proclam avam à divindade "a partir deste
m omento, estarás diante de teu pai Ea". Procissões
cerimoniais eram feitas,, a boca da im agem era lavada repetidam ente (catorze vezes ao todo), e comidas e
bebidas eram oferecidas. Após uma noite de sacrifícios, o sacerdote abria os olhos da im agem com uma
vara de tamargueira e então o "d eus" era entronizado no templo e vestido com os símbolos de sua posição.
3.1-19A oração de Habacuque3.1. confissão (sh ig io n o th ). Este versículo funciona
como um sobrescrito ao terceiro capítulo, de modo bastante semelhante aos sobrescritos ou introduções
do Livro de Salmos. Shigionoth aparece na forma sin
gular em Salm o 7.1. Provavelm ente se refere a um tipo específico de canção. No caso de haver um a cone
xão lingüística com o termo acadiano shigu, então se
refere a um lam ento. Porém , seu significado exato
ainda é desconhecido. Acerca deste e de outros termos
musicais, ver a nota em Salmos.
3.2-19. o salm o e a m itologia de H abacuque. Como pode ser visto freqüentemente em Isaías e Ezequiel,
os profetas com freqüência fazem uso do imaginário mitológico conhecido como um veículo para a trans
missão de sua m ensagem. Isso pode acontecer de duas
maneiras: (1) a história pode ser narrada usando temas m itológicos e (2) lendas mitológicas podem ser
utilizadas fazendo a substituição dos elementos len
dários por elem entos históricos. O prim eiro caso é
ilustrado quando o êxodo e especialmente a travessia do m ar Vermelho são narrados usando o tema m itoló
gico do combate divino com o mar (ver o comentário
em Êx 15.3). O segundo pode ser visto em Isaías 27 ou
Ezequiel 32, onde mitos familiares são transformados
em oráculos contra nações em contextos históricos reais. Habacuque usa esses dois recursos à medida que
entrelaça elementos da mitologia babilónica e cananéia
em seu hino. O fluxo geral deste capítulo mostra certa semelhança com o texto babilónico Enuma Elish. N es
te material, M arduque é louvado, adquire armas (lis
ta parecida), cavalga na tempestade com seus assis
tentes e atravessa e esmaga o inimigo. Essa seqüência
não é exclusiva ao Enuma Elish, mas mostra a intenção
de Habacuque em adotar esses temas bastante conhe
cidos e transformá-los, dando-lhes um novo uso.
3.3. Tem ã. Ver os comentários em Obadias 9 e Jerem ias 49.7 a respeito dessa localidade que é menciona
da na inscrição de Kuntillet 'A jrud e pode ser uma
cidade ou uma região do território de Edom.
3.3. m onte Parã. A área ou "deserto" de Parã geral
mente é considerada uma região no sul da Palestina,
em bora haja divergências quanto à sua posição, se no
lado oeste em direção à península do Sinai ou no lado leste da A rabá, nas proxim idades de Tem ã (ver os
comentários em Nm 10.12 e D t 33.2).
3.4. m etáfora do Sol. Hinos ao deus babilónico Shamás
usam terminologia semelhante. U m encantamento refere-se a Sham ás brilhando e enchendo a terra com
seu esplendor celestial. Yahw eh ocasionalmente é lou
vado com expressões que tam bém eram usadas na
adoração ao Sol e em alguns períodos, provavelmen
te, tenha sido confundido com o deus-sol (ver o com entário em 2 Rs 23.11). As evidências oficiais de
adoração ao Sol no antigo Israel parecem estar ligadas primordialmente ao reinado de M anassés. Os cavalos
e carros do Sol erigidos por esse rei foram destruídos por Josias quando procurou limpar o templo das influ
ências de religiões estrangeiras (ver o comentário em
2 Rs 23.11). Nomes de lugares como Bete-Semes, Ein-
Semes e monte Heres (Js 15.7; Jz 1.35) também confirmam a popularidade do culto ao deus-sol.
3.4. raios lam pejavam de sua mão. Um retrato típico
dos deuses da tempestade no antigo Oriente Próximo
é atuando como guerreiros divinos, tendo raios e re
lâmpagos nas mãos levantadas.3.5. pragas, doenças terríveis. Os term os são personificados aqui como auxiliares de Yahw eh na batalha.
A palavra hebraica traduzida como "d oenças terrí
veis", resheph, é o nom e do deus cananeu da peste. Ele aparece bastante em inscrições ugaríticas, fenícias
(identificado com o Apoio) e aram aicas. Tam bém é associado ao deus babilónico Nergal, que era relacionado a pragas. Na mitologia do antigo Oriente Próxim o os deuses freqüentem ente dirigiam -se para as batalhas acompanhados de dois ajudantes.3.7. tendas de Cuchã. Não há nenhuma outra ocorrência na Bíblia desse termo étnico, provavelm ente de um grupo tribal nômade. Visto que aparece em paralelismo com Midiã, pode-se presumir que seu território tam bém ficava nas estepes do sul. Talvez fosse de fato um subgrupo dos midianitas.3.7. tendas de M idiã. Sobre M idiã e os midianitas, ver os com entários em Êxodo 2.15 e N úm eros 22.4-7. H abacuque aqui prediz a rota do guerreiro divino que desce de seu m onte santo para atacar os babilônios. Aparentemente isso assustará, mas não causará dano aos habitantes das regiões do sul.3.8. conflito com rios/mar. Na literatura cananéia de Ugarit, há um mito extenso dedicado à guerra entre Baal e Yam m (mar) e seu ajudante N ahar (rio), que representam as forças do caos e da destruição. Habacuque indica que a ira de Y ahw eh não era contra esses inimigos mitológicos, m as sim contra os inimi
gos de seu povo (v. 13).3.9-11. efeitos cósm icos do guerreiro divino. A idéia de um guerreiro divino que lidera seu povo às batalhas é bastante desenvolvida nas narrativas de conquista israelitas (ver os comentários em Js 2.11 e 3.17).
Também aparece na inscrição moabita do rei M essa e nos profetas (ver o comentário em Jr 32.21). Um exemplo particularmente espetacular encontra-se na "C anção de Guerra de Yahw eh", em Isaías 34 (ver os comentários em Is 34.4). Essa temática pode ser comparada tam bém com um trecho do épico ugarítico de Baal em que a aproximação da divindade é marcada pela "destruição dos céus" e cuja voz é descrita na lenda de Aqhat como um "som grave profundo", o ribombar dos trovões que antecedem as chuvas. F. M. Cross cita um texto de EI Amarna em que um príncipe sú d ito , A b im ilk i de T iro , re fe re -se ao faraó A quenáten com o aquele "q u e profere seu grito (de guerra) nos céus, como Haddu, de modo que toda a terra treme com sua voz". Um lamento mesopotâmico do primeiro m ilênio usa terminologia do castigo divino semelhante à de Habacuque, quando fala dos céus bramindo, a terra tremendo, o Sol se pondo no horizonte, a Lua parando no céu e as tempestades varrendo a terra. Para informações mais específicas sobre os movimentos dos corpos celestes relacionados à guer
ra, ver os comentários em Josué 10 .12 ,13.
S O F O N I A S
w1.1-13 Julgamento contra Judá1.1. cronologia e ascendência do profeta. Esse sobrescrito situa o Livro no reinado de Josias (640-609a.C.). U m a vez que Josias ascendeu ao trono, quando ainda era menino, Judá foi governado até 622 (ver 2 Rs 22.1) por um a regência de sacerdotes e oficiais da corte. Pelo fato de haver diversas pessoas com o nome de Sofonias no período anterior e durante o exílio, acrescentar um a breve genealogia ajudava a indicar que pessoa era responsável pelos oráculos (compare com a prática semelhante de acrescentar o nom e do profeta a um a lista de profecias nos textos de M ari e nos anais assírios de Esar-Hadom).1.4. a reform a de Josias. Os abusos cultuais e a idolatria descritos neste versículo antecipam as ações tomadas por Josias após 622 a.C. (ver os comentários em 2 Cr 34). Quando Josias conseguiu realizar sua "faxina" no tem plo e elim inar os deuses estrangeiros, seus ídolos e sacerdotes, ele o fez em nom e de uma restauração das condições da aliança (ver 2 Rs 23.24, 25). Uma reforma semelhante fora executada por Ezequias cerca de oitenta anos antes (2 Rs 18.4). Em ambos os casos, a aparente fraqueza da m onarquia assíria contribuiu para que pequenos reinos como Judá tentassem afirm ar sua independência política e religiosa.1.5. adoram o exército de estre las. A adoração aos exércitos de estrelas re fere-se aos deuses celestia is (deus-sol, deus-lua e Vênus particularmente; na Babilônia, Shamás, Sin e Istar, respectivamente), que eram os principais na m aioria das religiões antigas. No controle do calendário e do tempo, das estações e do clima, eram considerados os m ais poderosos deuses. Forneciam sinais através dos quais presságios eram lidos e desprezavam a todos. Por volta do final do segundo milênio uma importante coletânea de presságios celestiais, os setenta tabletes da obra conhecida como Enuma A nu Enlil, fo i com pilada e consultada por quase m il anos. Selos de Israel desse período m ostram que as divindades astrais eram bastante populares. Havia m uitas constelações reconhecidas pelos astrólogos meso- potâmicos (muitas, em bora não todas, são as m esmas que identificam os hoje, transm itid as pelos gregos), m as o zodíaco ainda não era conhecido. Para m ais inform ações, ver o com entário em 2 Crônicas 33.5.1.5. M oloque. Ver os comentários em Levítico 18.21 e Deuteronômio 18.10. M uitos consideram Moloque uma
divindade do m undo inferior presente em rituais de origem cananéia, com ênfase em ancestrais mortos. U m a inscrição fenícia do oitavo século a.C. fala de sacrifícios feitos a M oloque antes da batalha, pelos cilicianos e seus inimigos.1.8. vestidos com roupas estrangeiras. Visto que Judá estivera sob o dom ínio estrangeiro (assírio, egípcio e babilônio) por m ais de cem anos, não é surpreendente que os oficiais e aqueles que desejassem lisonjear seus senhores adotassem seu estilo de vestuário, bem como outros costum es e traços culturais. A indum entária judaica e a babilónica deste período não são bem docum entadas, logo não é possível estabelecer um a comparação detalhada. As diferenças talvez incluíssem as peças de roupas usadas ou o estilo, material, tecido ou corantes utilizados. Um exemplo posterior da adoção de estilos estran geiros en contra-se no período helenístico, quando Jason, o sumo sacerdote, obrigou a nobreza de Jerusalém a usar um chapéu de aba larga associado ao deus grego H erm es (2 M acabeus 3.12).1.9. pisar a soleira. A típica soleira era feita de uma única pedra que abarcava a entrada, um pouco acima do nível do piso. Havia encaixes nas beiradas da soleira onde os portões ou portas giravam. A altura da soleira evitava que as portas abrissem para fora. As passagens ou entradas com freqüência eram consideradas sagradas e locais vulneráveis. A superstição sustentava que pisar na soleira permitia que os demônios que assombravam a entrada tivessem acesso ao lugar. Crenças semelhantes continuaram a existir no antigo Oriente Próximo e no Extremo Oriente, desde a Síria até o Iraque e a China, m as não há informações antigas em relação a essa superstição.1.10. porta dos Peixes. Jerusalém tinha m uitas portas que davam acesso a seus diversos bairros. A porta dos Peixes era a entrada pelo m uro norte a oeste da torre de H ananel (Ne 12.38, 39). Escavações arqueológicas confirm am que ela abria sobre um desfiladeiro que ia do templo até o planalto benjamita. Seu nome provavelm ente deriva da presença de um m ercado de peixe estabelecido ali pelos m ercadores de Tiro (ver N e 3.3).1.10. novo distrito. Essa parte de Jerusalém foi criada quando Ezequias construiu a primeira muralha de defesa ao redor das colinas a oeste da cidade (2 Cr 32.5). Manassés aparentemente consertou esses muros durante seu reinado (2 Cr 33.14). A s escavações de A vigad trouxeram à tona um muro do sétimo século com qua
se setenta metros de comprimento e sete de espessura. É possível que cercasse toda a colina ocidental, garantindo proteção extra à parte norte da cidade.1.11. distrito com ercial (N VI "cidad e baixa"). À m edida que cada distrito de Jerusalém é convocado a lamentar-se, a cidade baixa ou distrito com ercial, na parte oeste da cidade, passa a prantear. Com base na palavra hebraica maktesh (tigela ou pilão; ver Pv 27.22), provavelm ente esse bairro ficava localizado em um a das reentrâncias ou depressões do vale de Tiropeon e ficava no interior dos m uros da cidade no sétim o século.
1.14-2.15O grande dia do Senhor contra as nações1.14. dia do Senhor. V er a nota em Joel 2.2.4. cidades filisté ias no fin al do sétim o século. Após as cam panhas de Sargão II e Senaqueribe, no final do oitavo século e a captura e destruição de muitas cidades filisté ias, essas localidades foram reconstruídas pelos assírios e diversas delas (particularmente Timna e Ecrom) prosperaram com o centros de produção de azeite de oliva. Evidências arqueológicas identificaram distritos industriais onde o azeite de oliva era processado e tecidos eram fabricados (com base no grande número de pesos de tear encontrados nesses sedimentos). Há indícios de presença egípcia n a Filístia após o colapso do Im pério A ssírio (ver o com entário em Ez 25.15). Essas cidades foram destruídas em 600 a.C. nas campanhas do governante babilônio Nabucodonosor.2.8, 9. M oabe e A m om no fin a l do sétim o século. Com o todos os reinos pequenos da Siro-Palestina, M oabe e A m om foram vassalos dos assírios durante o oitavo e sétimo séculos. H á evidências disso na m enção aos quatro reis moabitas nos Anais Assírios (desde a época de Tiglate-Pileser III até Assurbanipal). Pode- se esperar que obtiveram algum nível de independência cam inhando para o final do sétim o século, quando o caos imperava na Assíria (ver o comentário em Ez 25.8). Entretanto, Josefo registra que foram subjugados pelos babilônios pouco tempo depois da queda de Jerusalém (ver o comentário em Ez 25.2).2.12. cuxitas (etíopes) no fin al do sétim o século. Não fica claro o que m otivou esse oráculo contra a Etiópia. Os cuxitas não m ais governavam o Egito desde a suplantação de sua dinastia em 664 pelo dinasta saíta Psammeticus I. Em bora esse faraó egípcio nativo tenha se aliado com os assírios após 616, nenhum evento ou campanha específica na Palestina é citado em sua inscrição ou na de seus sucessores antes da campanha de Neco II, em 609. Algumas sugestões têm sido feitas de que essa referência a Cuxe deva ser entendida em relação à Mesopotâmia (como é possível em Gn 10.8), visto que antecede o oráculo sobre a Assíria.
2.13. A ssíria no fin a l do sétim o século. Após a m orte de Assurbanipal em 627, as disputas entre seus herdeiros e sucessores em potencial enfraqueceram tanto o Im pério A ssírio que rapidam ente se desintegrou. Esse colapso foi acelerado por dois fatores. Primeiro, as duras políticas administrativas. O ódio gerado contra os assírios era acentuado pelo uso que faziam de táticas de terror na guerra (ver a nota sobre o cerco de Láquis em 2 Cr 32.9). O surgimento de um a coalizão entre babilônios e m edos deu origem a um páreo para o exército da Assíria e em 612 a capital assíria, Nínive foi capturada e destruída (ver o comentário em Is 13.1). O último passo na eliminação completa de todos os vestígios do poderio assírio veio com a batalha de Carquemis em 605. O Império Assírio sucumbiu aos egípcios e neo-babilônios que o dividiram (ver o comentário em Is 31.8).
3.1-20O futuro de Jerusalém3.3. líd eres como leões. A analogia do profeta entre
os líderes de Judá e leões ferozes pode ser comparada ao lamento do Salmo 22.12-21, onde o sofredor é ameaçado por leões que rugem e pede que seja salvo de suas bocas abertas (ver também Jr 2.30). Na literatura
assíria do sétimo século a cova dos leões aparece como um a m etáfora para cortesãos m aldosos que se opunham ao rei.3.9. p u rificar os láb ios. Em rituais m esopotâm icos com freqüência a purificação de lábios era um símbolo da purificação da pessoa. Era considerada um pré- requisito, especialm ente para sacerdotes adivinhos, antes que pudessem com parecer diante do concílio divino e relatar o que haviam testemunhado ali.3.10. rios da Etiópia. Conforme mencionado em 2.12, Cuxe pode ser uma referência a diversos lugares diferentes no Antigo Testamento, embora com m ais freqüência seja a designação que as traduções utilizam para referir-se à Etiópia. Essa opção, porém , pode
causar confusão, um a vez que a área de Cuxe não equivale à atual Etiópia (Abissínia), m as à área ao longo do Nilo, no sul do Egito, a antiga N úbia (no atual Sudão). A fronteira entre o Egito e N úbia nos tempos antigos geralmente ficava na prim eira ou segunda cachoeira do Nilo. É im provável que N úbia
tenha se estendido muito além da sexta cachoeira, em Khartoum. Este versículo, então, seria um a referência à região dos Nilos Azul e Branco, no A lto Egito. Outra possibilidade, visto que não se sabe de israelitas que tenham sido espalhados na região de N úbia, é que este versículo se refira aos rios da M esopotâm ia (ver G n 2.13).
A G E Uv1.1-15 A ordem para a reconstrução do templo1.1. cronologia. O uso de um a data precisa para introduzir uma narrativa profética específica é comum nos escritos pós-exílicos. O monarca mencionado aqui é Dario I, que assum iu o trono da Pérsia em 29 de setembro de 522 a.C.. Isso aconteceu logo após sete meses de dificuldades no império, começando com a revolta de Gaumata em 11 de m arço e sua subseqüente usurpação do trono em 1 de julho do mesmo ano, assim que Cambises morreu. Mesmo depois de Dario ter conquistado o trono, as revoltas continuaram, conforme registrado na famosa Inscrição de Behistun. A data apresentada por Ageu é 29 de agosto de 520.1.1. Z o ro b a b e l. Z orobabel era h erd eiro do trono davídico (neto de Jeoaquim; ver o comentário em 2 Rs 24) e serviu como governador de Judá sob o rei persa Dario I. Havia uma certa expectativa de que ele teria um papel messiânico. Sem dúvida alguns esperavam que ele estabelecesse o reino prometido e os libertasse da escravidão (debaixo dos persas). Embora suas funções fossem primordialmente seculares, ele é descrito em Esdras, juntam ente com o sacerdote Josué, como a força por trás da reconstrução do templo de Jerusalém. Governando sob o controle do rei persa, Zorobabel era responsável por m anter a lei e a ordem e pela cobrança de impostos. Embora fosse o último herdeiro da linhagem de Davi, que serviu como governador, arqueólogos encontraram um selo de Selomite (alistada como filha de Zorobabel em 1 Cr 3.19), onde é designada como esposa ou oficial de Elnatã, o governador que, acredita-se, teria sucedido Zorobabel.1.1. Josu é. Josué foi o sumo sacerdote no início do período pós-exílico. Seu avô, Seraías, fora executado por Nabucodonosor quando Jerusalém foi tomada pelos babilônios (2 Rs 25.18-21; observe que Esdras tam bém descende da linhagem de Seraías, ver 7.1). O herdeiro ao trono de Judá, Zorobabel, era o governador, m as um a vez que Judá ainda estava sob o controle persa, havia restrições quanto à extensão de seu governo (para que não rivalizasse com o rei persa). Conseqüentemente, o governo na comunidade ficava dividido entre o governador e o sumo sacerdote, tendo este um papel de maior destaque. Pouco se sabe a respeito de Josué, exceto que foi um dos líderes que ajudaram a reconstruir o templo. Não há referências extrabíblicas em relação a ele.
1.4. casas de fin o acabam ento. O term o traduzido como "fino acabamento" pode significar "cobertas", "com telhas" ou "com painéis", mas a questão é que representa o acabamento de uma casa. Suas casas não estavam "em construção", m as estavam plenamente terminadas e mobiliadas, enquanto o templo permanecia em ruínas. O termo não im plica luxo ou itens caros, em bora os painéis pudessem ser incluídos nesta categoria. Painéis de madeira não eram comuns em residências particulares, embora o trono de Salomão tivesse "painéis" (1 Rs 7.7).1.7. papel profético na reconstrução do tem plo. Nosétimo século, os profetas assírios ofereceram encorajamento aos reis Esar-Hadom e Assurbanipal para reconstruir os templos de divindades particulares. Essa mensagem dos deuses era considerada essencial para os reis se sentirem à vontade e dar continuidade às preparações para a construção. A divindade que habitaria no templo era a única que podia autorizar o em preendim ento.1.15. cronologia. A data aqui é cerca de 15 de setembro de 520 a.C., três semanas e m eia depois da prim eira profecia.
2.1-9 O esplendor do novo templo2.1. cronologia. Isso teria acontecido em 17 de outubro de 520, cerca de sete sem anas após a prim eira profecia.2.3, 4. o esplendor do tem plo e a presença de D eus. A principal razão de todo o esplendor de um templo era tom á-lo digno da presença da divindade. A honra era garantida através da riqueza e do luxo do prédio e de seus móveis e utensílios. Alguns talvez acreditassem que tudo isso era necessário para induzir a divindade a fazer do templo sua habitação. Aqui Ageu os tranqüiliza assegurando que o Senhor pretendia habitar naquela casa e conseqüentem ente trazer esplendor a ela.
2.10-23 Promessa de bênçãos2.10. cronologia. A data equivalente é 18 de dezembro de 520, mais de três meses e meio desde a primeira profecia.
2.12. transm issão de pureza. A "carne consagrada" tom ava santo tudo que tocasse (p. ex., a borda de uma
veste), m as nada que tocasse a barra dessa roupa poderia, por sua vez, tom ar-se consagrado. A situação retratada aqui talvez fosse bastante com um na época. O altar fora reconstruído poucos anos depois do retorno do exílio (535), mas o templo ainda não fora reconstruído. Isso significa que a carne dos sacrifícios não podia ser comida nos recintos normais do templo, como era a regra. Ao contrário, a comida teria de ser transportada a um lugar específico. Os regulamentos que estipulavam a transferência de santidade não se encontram na Escritura, portanto, deviam fazer parte da tradição oral israelita. A lei em Levítico 6.27 afirma que qualquer que tocasse a cam e de uma oferta pelo pecado seria consagrado, e, quando o sangue espirrasse em um a roupa, aquela roupa teria de ser lavada.2.13. transm issão de im pureza. A profanação ritual, porém, era transmitida pelo contato, de form a semelhante a uma doença contagiosa (ver os comentários em Lv 11.8; 22.3-9). De fato, o contato com um cadáver representava o m aior grau de impureza. Quem estivesse cerimonialmente impuro por causa do contato com um cadáver não podia participar do culto coletivo (p. ex., Nm 9.6; ver também o comentário em
N m 19.11) e com freqüência era levado para fora do acam pam ento (N m 5.2). Logo, a com ida que fosse tocada por alguém nesse estado de impureza ficava contaminada.
2.17. m ofo, ferru gem e granizo com o castigo d iv ino. Os três castigos descritos aqui, mofo, ferrugem e
granizo, eram formas típicas da disciplina divina no
antigo Israel (ver o comentário em Am 4.9). O mofo
deriva de um termo hebraico que significa um vento
muito quente. O termo geralmente se refere ao vento
oriental escaldante que sopra pela terra, vindo do
deserto. O termo "m ofo" refere-se aos efeitos devasta
dores do vento, que murchava e destruía as plantas e
os cereais. A ferrugem é um term o que se refere a
um a doença dos cereais provocada por um fungo.
Acreditava-se que essa doença era causada pela seca e
chuvas excessivas. Um a terceira condição clim ática
adversa é o granizo que, se acom panhado de um
vento forte, causava estragos nas plantações. Assim
como os outros termos, o granizo muitas vezes é visto
como um castigo divino (ver o comentário em Js 10.11).
2.18. cronologia. Dezoito de dezembro de 520 (a mes
ma data mencionada em 2.10) é descrito aqui como a
data da fundação do templo do Senhor. Logo, essa
data era de grande importância para Ageu.
2.23. anel de selar. O termo "anel de selar" provavel
mente se refira a um selo que podia ser cilíndrico e
usado num cordão em volta do pescoço ou um selo de
estampa incrustado em um anel, que é o tipo citado
aqui. Aquele era m uito comum na M esopotâmia, en
quanto este era usado em Israel. M ilhares de selos
cilíndricos e selos de estampa foram encontrados na
M esopotâm ia e na Siro-Palestina, respectivam ente.
Eram um sinal de autoridade, identificação e posse.
Z A C A R I A S
V1.1-6 Chamado ao arrependimento1.1. cronologia. Zacarias data seus oráculos de forma
bastante precisa, assim como seu contemporâneo Ageu. Seu m inistério teve início em novem bro/dezem bro
de 520 a.C., coincidindo com o de Ageu por um mês.1.1. Ido. Quando diversos ancestrais são m encionados em um a genealogia, o últim o geralm ente é o m ais
im portante. Em N eemias 12.4 um certo Ido é m encionado entre os sacerdotes que voltaram do exílio com Zorobabel na primeira leva, em 538. Se for esse
m esm o Ido, indica que Z acarias provinha de uma família de destaque com linhagem sacerdotal.
1.7-17A visão dos cavalos1.7. cronologia. Essa visão ocorre vários meses após o
prim eiro oráculo. Data de 15 de fevereiro de 519 a.C.. Visto que a próxima nota cronológica só aparece após
essa seqüência de visões, deve-se considerar que serve de moldura para as visões, cuja atenção central é a
reconstrução do templo. Provavelmente não se trata de coincidência, então, que a visão aconteça exatam ente um a sem ana antes do dia de A no N ovo, quando os projetos de construção e reforma de templos geralmente
eram iniciados no m undo antigo. A lém disso, alguns eruditos acreditam que Dario marchou para o Egito em 519 para garantir que a lealdade deles fosse m antida
e que as p reparações do exército para essa m archa foram uma fonte de inquietação para o povo de Judá. É possível que os israelitas tenham se sentido bastan
te inseguros quanto a que exigências lhes seriam im postas e como seriam tratados.1.9. an jo dirigindo a visão. Os anjos não apenas transm itiam m ensagens da divindade, mas explicavam o
conteúdo das mesmas e respondiam a perguntas relacionadas a elas. Por isso, Gabriel é visto em Daniel 8.16 como aquele que pode interpretar a visão. No contexto politeísta do mundo antigo os mensageiros dos deuses geralmente eram deuses também (de po
sição inferior no panteão). Na M esopotâmia, encontramos m ensageiros como Nusha e Kakka, enquanto o bastante conhecido Hermes desem penhava esse papel na mitologia grega. Em um sonho de Nabonido, um jovem aparece para oferecer uma interpretação de um presságio celestial que fora observado.
1.10. enviou por toda a terra. Os persas eram bastante conhecidos por seus m ensageiros m ontados, que
viajavam diariamente por todo o império garantindo o m ais eficiente sistema de comunicação do mundo antigo. As murtas evocam a im agem de jardins palacianos. Os reis persas apreciavam os bosques que
cercavam os salões de audiência, onde recebiam visitantes e relatórios.
1.11. paz persa. A ssim como os m ensageiros reais trariam notícias ao seu superior de que tudo estava
em paz, tam bém esses m ensageiros angelicais trazem seu relatório ao anjo do Senhor. O fato de que
Dario agora estava assentado no trono e incipientes revoltas haviam sido sufocadas seriam boas notícias para o im pério, porém más notícias para os judeus.
Sua esperança da restauração e restabelecim ento da monarquia davídica, despertada diante da perspecti
va do colapso do Império Persa, agora recebera um duro golpe. A lém do m ais, se o exército de Dario estava a caminho do Egito, passando por Judá (ver o
comentário em 1.7), o relatório do cavaleiro garantia que não haveria problem as à medida que os persas passassem por ali.
1.16. situação da reform a. Esdras 3 relata que a obra foi feita no templo antes de 520. Certam ente o altar
havia sido erigido de novo e estava em pleno funcionamento, mas a nota cronológica que introduz a construção do alicerce em Esdras 3.10 não é tão clara quanto poderia ser (ver o comentário em Ed 3.8). Não é
impossível que um alicerce tenha sido lançado uma segunda vez.
1.18-21A segunda visão: quatro chifres e quatro artesãos1.18. quatro chifres. Era comum na M esopotâmia que reis e deuses usassem coroas com chifres salientes ou em relevo. Às vezes, os chifres eram sobrepostos em camadas. O leão alado do palácio de Assurnasirpal tinha um a coroa cônica em sua cabeça humana, com
três pares de chifres enfileirados em relevo. É difícil determinar o significado do núm ero quatro. Algumas
sugestões incluem a apresentação de um esquema de quatro im périos (ver o com entário em D n 7.17) ou talvez um a referência aos quatro cantos da terra, de onde esses inimigos viriam (ver o comentário em Ez
7.2). Considerando-se o contexto de reconstrução do
templo, uma sugestão bastante convincente é que o
sim bolism o dos chifres aludia às quatro pontas do altar. U m altar fora erigido no tem plo logo após a
chegada dos exilados (ver o comentário em 1.16), mas
provavelmente teria de ser removido dali para que a
obra de reconstrução tivesse continuidade.1.20, 21. artesãos. Dentre as muitas categorias de fun
cionários de templos babilónicos no final do sexto século encontravam -se os "artesãos" (ummanu). Um a
série de guildas compunham esse grupo (aqueles que
trabalhavam com m adeira, metal, couro, ouro, tecido, pedra e pedras preciosas, além daqueles que executa
vam tarefas de lavanderia). Esse m esm o term o era
usado também como título dos conselheiros reais que, acreditava-se, tinham poderes sobrenaturais. Indiví
duos com esse título também são identificados como sábios que compuseram obras famosas de literatura.
Em resumo, esse termo referia-se aos vários especialistas a serviço do palácio e do templo. O Épico de Erra
deixa claro que os ummanu eram responsáveis pela confecção das imagens divinas. O termo hebraico usa
do aqui pode também referir-se a uma ampla gama
de trabalhadores, inclusive os que confeccionavam
imagens e serviam nos templos, mas nunca é aplica
do de form a clara a sábios ou conselheiros reais. No
panteão cananeu, a importante divindade Kothar-wa- Hasis é a artesã dos deuses. Essa divindade confeccio
nava as armas dos deuses e foi responsável pela cons
trução da casa de Baal. No panteão egípcio, Ptá de
Mênfis era a divindade artesã, considerada portanto
um deus criador e padroeiro dos artesãos. Se estiver
correto que se tratam de artesãos que estão desmanchando o altar (ver o comentário anterior), então são
trabalhadores a serviço do tem plo executando uma tarefa sagrada e cerimonial.
2.1-13A te rc e ira v isã o : c o rd a d e m e d ir2.2. m edir Jerusalém. A localização e a posição de um
templo eram consideradas extrem am ente im portantes (ver o comentário em Êx 26.1-36). Isso também é
confirmado em textos mitológicos e históricos que des
crevem construções de templos na Mesopotâmia. No Enuma Elish, quando M arduque está se preparando
para construir seu templo cósmico, ele m ede o Apsu
(a área onde o alicerce do templo será lançado). Desde os tempos sumérios até os períodos assírios e babi
lónicos, a posse de um equipamento de medição era
sinal da aprovação divina para o projeto de construção. Era através dessa ferram enta que o líder recebia orientação divina. Além disso, esse equipamento era usado para determinar a localização exata do alicerce
anterior do templo.
2.5. glória dentro dela. D esde a literatura sum éria pode-se observar que a presença da divindade em
uma cidade representava a proteção daquela cidade.
Por exemplo, na M aldição de Agade, os deuses abando
nam a cidade tom ando-a portanto vulnerável a seus
inim igos.2.6. terra do n orte . E specialm ente em Jerem ias, o
norte era a direção de onde o inim igo viria (ver o
comentário em Jr 1.14, 15). Com o tempo tom ou-se
claro que a Babilônia era esse inimigo do norte. Embora a Babilônia estivesse localizada a leste de Jerusa
lém , todo o tráfico flu ía em um arco em volta do deserto sírio. Logo, os babilônios chegariam a Judá
pelo norte e os israelitas iriam para a Babilônia tam-
LITERATURA APOCALÍPTICA"Apocalíptico" é o nome tradicionalmente dado a uma categoria (gênero) literária específica. Esse gênero é definido por algumas características. Pode-se traçar algumas origens fora da Bíblia (ver a nota sobre apocalipses acadianos em Dn 11), apesar de seus mais antigos membros genuínos estarem em livros do Antigo Testamento, tais como Daniel e Zacarias. Na Bíblia, a literatura apocalíptica está intimamente interligada com a literatura profética. Há mais de uma dúzia de obras apocalípticas judaicas do período intertestamental; as mais importantes são 1 Esdras e os livros de Enoque. O livro do Apocalipse é a contribuição do Novo Testamento a esse gênero literário. Outros apocalipses cristãos começaram a surgir à margem do Novo Testamento, inclusive obras como O Pastor de Bermas, o Apocalipse de Pedro e a Ascensão de Isaias. O gênero era o favorito dos gnósticos, cuja literatura contém inúmeros exemplos. Os Apocalipses apresentam uma estrutura narrativa e com freqüência retratam um intérprete angelical ou guia, juntamente com o profeta. O anjo pode levar o profeta por um passeio pelas esferas celestiais ou transmitir certas realidades e atividades. Ele pode também desvendar uma época futura de dificuldades e libertação. Essa literatura funciona a partir de uma ampla gama de símbolos através do uso de imagens mitológicas e números carregados de significados. Tem como origem a literatura bíblica e extrabíblica e tende a fazer uso de esquemas. Ao ler textos apocalípticos, é importante ter em mente uma série de diretrizes. Primeiro, nem todo detalhe está necessariamente carregado de significado simbólico. Até mesmo detalhes que contêm significados simbólicos podem não ser tão claros para nós e especular a respeito da interpretação não traz muito resultado. Segundo, é importante lembrar que a visão apocalíptica não é a mensagem em si, mas sim o veículo ou a ocasião para a mensagem. Assim, por exemplo, a mensagem da primeira visão de Zacarias (1.7-17) não é que hão de surgir quatro cavalos de cores diferentes em um bosque de murtas. A mensagem é apresentada de forma bastante evidente nos versículos 14.17; o gênero apocalíptico é apenas o meio utilizado para transm iti-la.
bém pelo norte. Aqui Zacarias está exortando-os a
fugir das terras de seus dominadores.2.6. quatro ventos. Na m aneira de pensar m esopo-
tâm ica, às vezes havia sete ventos, mas o m ais co
mum eram os quatro ventos. Estes estavam relaciona
dos aos pontos cardeais conforme a direção de onde
sopravam, como nos nossos dias.
3.1-10Vestes limpas para o sumo sacerdote3.1. Satanás. A qui e no Livro de Jó a palavra satan
aparece acompanhada de um artigo definido ("o "), deixando claro que o term o não se tratava de um nom e próprio. A palavra hebraica satan é usada para
descrever um adversário e pode referir-se a seres
humanos ou sobrenaturais. Até mesmo o anjo do Se
nhor pode desem penhar essa função (Nm 22.22). O
termo só passa a representar claram ente o papel de
nom e próprio a partir do período intertestam ental
(especificamente no segundo século a.C.). Em bora o adversário de Josué possa ser aquele que mais tarde é
chamado de Satanás, não se pode concluir isso com
certeza. Aqueles que serviam como adversários geralm ente desempenhavam o papel de dar crédito às
ações e decisões de Deus.3.3. Josu é. Josué foi o sum o sacerdote no início do
período pós-exílico. Seu avô, Seraías, fora executado
por Nabucodonosor quando Jerusalém foi tomada pelos
babilônios (2 Rs 25.18-21; observe em 7.1 que Esdras tam bém é identificado como descendente da linha
gem de Seraías). O herdeiro ao trono de Judá, Zo- robabel, era o governador, m as um a vez que Judá
ainda estava sob o controle persa, havia restrições
quanto à extensão de seu governo (para que não rivalizasse com o rei persa). Conseqüentemente, o gover
no na comunidade ficava dividido entre o governa
dor e o sumo sacerdote, tendo este um papel de m aior
destaque. Pouco se sabe a respeito de Josué, exceto que foi um dos líderes que ajudaram a reconstruir o
templo. Não há referências extrabíblicas em relação a
ele.3.4. os que estavam diante dele. A cena que inclui
um acusador e outro de pé no banco dos réus evoca a
im agem de um tribunal divino. Tal conceito tinha um a longa tradição tanto em Israel quanto no antigo
Oriente Próximo. No antigo Oriente Próximo, as prin
cipais decisões eram tomadas no concílio divino. Ali os deuses se consultavam e compartilhavam informa
ções e opiniões. A im agem fam iliar de um trono celestial cercado por um a assembléia aparece com fre
qüência nos textos ugaríticos (com destaque no Épico
de Keret), em bora esse concílio cananeu fosse form a
do pelos deuses do panteão. Há exemplos também na
inscrição de Yehim ik (décimo século) em Biblos e na esteia Karatepe, de Azitaw adda. No texto acadiano
Enuma Elish, é a assembléia dos deuses que nomeia M arduque como seu chefe. Cinqüenta deuses forma
vam essa assembléia, com sete no concílio interno. Na
crença israelita, os deuses eram substituídos pelos anjos
ou espíritos - os filhos de Deus ou o exército celestial.
3.5. investidura. Esse trecho não faz menção às peças
mais importantes da indumentária do sacerdote (éfode, peitoral, veste de linho), apenas ao turbante. Isso su
gere que a posição sacerdotal de Josué não é a questão
em pauta. Em um relevo de A ssurbanipal (sétim o
século), o rei está usando um turbante especial enquanto carrega o tijolo do alicerce em um a cesta em
cima da cabeça. É possível, então, entender que Josué
está sendo preparado para sua função na reconstrução
do templo.3.8. Renovo. A maioria dos estudiosos acredita que a
palavra "R enovo" é um termo técnico que se refere ao herdeiro de um a linhagem dinástica estabelecida -
em Israel, um rei davídico futuro que restauraria a
monarquia. Um uso sem elhante foi encontrado em um a inscrição fenícia votiva, em Chipre, honrando
M elqart e que data do início do terceiro século a.C..
Ali, o texto refere-se a um legítimo "renovo" da di
nastia ptolemaica do Egito. Os Rolos do M ar Morto,
encontrados em Qum ran, não fazem uso do termo
num sentido messiânico, mas o significado de reinado
aparece em textos ugaríticos e assírios. Por exemplo,
Tiglate-Pileser III é descrito como o rebento ou descendente da cidade de Baltil (Assur), que traria justiça a
seu povo.3.9. sete pares de olhos. Costuma-se afirmar que os
sete pares de "olhos" são sete faces ou superfícies da
pedra. O problema é que no mundo antigo as pedras preciosas eram trabalhadas em diversas formas mas
não cortadas em faces. Considerando-se o contexto, é preferível associar essa pedra com um a nova pedra
fundamental para o templo (ver o comentário em 4.7). Na Mesopotâmia, contas ou fieiras de pedras precio
sas dedicadas ao templo eram entalhadas com o formato de olhos e tinham os nomes dos doadores grava
dos. Os reis assírios e babilônios incluíam pedras preciosas nos depósitos colocados no alicerce dos templos.
N abopolassar relata ter espalhado ouro, prata e pe
dras importadas em alicerces. As pedras fundamen
tais às vezes eram revestidas de metais preciosos e portanto podiam ser incrustadas de pedras preciosas.
Se Zacarias está refletindo essa prática, os sete pares
de "o lh o s" na verdade estão sendo incrustados na pedra e não gravados nela.
4.1-14 O candelabro de ouro e as duas oliveiras4.1. an jo dirigindo a visão. Ver o comentário em 1.9.4.2. descrição do candelabro. Esse candelabro de ouro maciço tinha um pedestal com um grande recipiente em cima. Dispostas ao redor desse recipiente havia sete lâmpadas. Essas lâmpadas eram pequenos recipientes rasos que continham o azeite. Esse tipo de lâmpada era comum em todo o período bíblico, embora em cada época tivessem form atos diferentes. Geralmente tinham uma área estreita onde um pavio era introduzido, ficando a parte inferior submersa no óleo. O pavio absorvia o óleo que queimava produzindo a luz. Cada um a das sete lâmpadas tinha sete canos estreitos na borda, como confirmam alguns exemplares de lâmpadas encontradas em escavações. Sendo assim , a lâm pada m aior tinha quarenta e nove luzes. O recipiente m aior provavelmente continha o azeite que, de alguma forma, escoava até as lâm padas menores. Não foram encontrados exemplares que
apresentassem semelhanças com esse complexo candelabro descrito aqui. U m m odelo alternativo que tem m ais respaldo da arqueologia é o kernos, que continha um a argola de cerâmica onde as sete lâmpa
das eram colocadas. Foram encontrados kem oi na Palestina do período persa que eram usados como lâmpadas.4.3. posição do candelabro. O. Keel demonstrou que, na iconografia de selos dos séculos oitavo e sétimo,
com freqüência a divindade era representada de form a estilizada. Im agens astrais geralm ente representavam a divindade, principalm ente a Lua crescente
com suas pontas voltadas para cima. Tanto a forma como o fato de que a luz está envolvida podem facilm ente ser um paralelo ao candelabro dessa visão. Além disso, esse símbolo é ladeado por adoradores, às vezes representados por árvores, com freqüência ciprestes. N ão é im possível que, com o B. H alpem sugeriu, a visão do candelabro forneça um a descrição do que seria inscrito na pedra fundamental. A principal vantagem dessa alternativa é que estabelece uma conexão entre os sete olhos da pedra em 3.9 e os sete olhos representados pelas sete lâm padas em 4.10, dando a entender que o candelabro e a pedra seriam
representações da mesma coisa.4 .6 . Z o ro b a b e l. Z orobabel era h erd eiro do trono davídico (neto de Jeoaquim; ver o comentário em 2 Rs 24) e serviu como governador de Judá sob o rei persa Dario I. Havia um a certa expectativa de que ele teria um papel messiânico. Sem dúvida alguns esperavam que ele estabelecesse o reino prometido e os libertasse
da escravidão (debaixo dos persas). Embora suas funções fossem primordialmente seculares, ele é descrito
em Esdras, juntam ente com o sacerdote Josué, como a
força por trás da reconstrução do templo de Jerusalém. Governando debaixo do controle do rei persa, Zoro
babel era responsável por m anter a lei e a ordem e pela cobrança de im postos. Em bora fosse o últim o
herdeiro da linhagem de Davi, que serviu como go
v ern ad o r, arq u eó lo g o s en co n traram um selo de
Selomite (alistada como filha de Zorobabel em 1 Cr 3.19), onde é designada com o esposa ou oficial de
Elnatã, o governador que, acredita-se, teria sucedido Zorobabel.
4.7. pedra fundam ental. É provável que essa "pedra
fu nd am ental" na verdade seja aquela que sem pre
tinha um significado importante na construção e reforma de templos. Um dos relatos mais detalhados da
construção de templos, na literatura do antigo Oriente
Próxim o, descreve a construção de um templo dedica
do a Ningirsu, feita por Gudea, por volta do ano 2000a.C.. A cerim ônia de lançam ento da pedra funda
m ental m ostra a im portância da m esm a em todo o
processo de construção. Em textos neo-assírios Esar-
Hadom pessoalmente remove a antiga pedra fundam ental do templo para que a reforma possa ser inici
ada. A referência à planície aqui sugere que Zorobabel
está cerimonialmente retirando a pedra fundamental
do templo anterior para indicar que a reforma pode ser iniciada.
4.9. Zorobabel term inará o tem plo. No texto Autobi
og ra fia d e A âad -G u p p i, A d ad -G u p p i, m ãe do re i Nabonido (poucas décadas antes de Zacarias), recebe
um a mensagem em um sonho de que seu filho cons
truiria o templo do deus Sin, em Harran. Ele terminaria a obra e traria um novo esplendor para Harran e
sua divindade padroeira.
4.10. pedra principal. O hebraico fala apenas de vima
pedra de estanho. Em alguns projetos de restauração de templo no m undo antigo havia um bracelete de
estanho que era usado pela pessoa que rem ovia a
pedra principal (ver o comentário em 4.7 acima). O
estanho também era ocasionalmente usado como um
tablete para a inscrição do alicerce.4.10. olhos do Senhor. As lâmpadas representam os
sete "olhos" do Senhor. Se as relações entre 3.9 e 4.3
sugeridas acima estiverem corretas, esses sete "olhos"
tam bém são os m esm os m encionados em 3.9 e são
incrustados na pedra fundamental como parte da imagem do candelabro.
4.12. tubos de ouro. N os selos descritos no comentário
em 4.3 também está retratado aquilo que Keel identifica como "borlas" que partem da Lua crescente. Nes
sa visão, essas borlas assumem a form a de tubos por
onde o azeite escoava das árvores até o candelabro.
4.14. s ig n ificad o do azeite. A palavra usada para azeite (ou óleo, conform e nota na NVI) em 12 e 14 refere-se à matéria-prima ou óleo não processado. Esse óleo não seria usado para unção (a NVI traduz o termo em hebraico "filhos do azeite" como "ungid o"). Por ser um produto bruto, muitas vezes é relacionado à prosperidade, m as é d ifícil saber que relação teria aqui. Considerando-se o contexto de reconstrução do templo, um dado im portante é que a cerim ônia de lançam ento do alicerce m uitas vezes era feita com argamassa misturada com azeite e não água. Se essa relação for válida, novam ente identificaria Josué e Zorobabel como aqueles que executaram o projeto de reconstrução. Senaqueribe afirm a ter aspergido um alicerce com óleo como se fosse água fluvial.
5.1-4A visão do pergaminho que voava5.1. pergam inho que voava. A descrição do pergaminho que voava sugere que, ao menos parcialmente, estava desenrolado. Apesar de no português ser possível usar o verbo voar para descrever outros objetos, além de seres que voam, no hebraico este é o único caso (embora clarões de luz e nuvens também sejam descritos "voando"). Isso é confirmado no versículo 4, onde o pergam inho é enviado para entrar em algumas casas. Não há paralelo de pergaminhos que voam na literatura extrabíblica.5.2. dim ensões comparadas. A s dimensões do pergaminho são as m esmas do pátio do templo de Salomão, mas é difícil identificar qualquer significado para essa relação. Não era raro que um pergaminho antigo tivesse nove metros de comprimento, mas a largura de quatro metros e meio era extraordinária e desproporcional. A preocupação com a proporção entre comprimento e largura levou alguns estudiosos a considerar os nove metros de comprimento como uma referência apenas a algumas colunas que ficavam visíveis quando o pergaminho era desenrolado apenas parcialmente. Seria bastante improvável que um pergam inho fosse totalmente desenrolado. A prática convencional era desenrolar am bas as extrem idades do pergam inho sim ultaneam ente, m antendo a visibilidade de apenas algum as colunas de texto. Se som ente a parte aberta tivesse nove metros de comprimento, seria mais compatível com a imensa largura de quatro metros e m eio. V isto que a largura de um a coluna de texto num pergaminho geralmente tinha a metade da altura do pergaminho, provavelmente duas colunas ficariam visíveis, com as partes ainda enroladas em cada extremidade, completando o restante da largura.5.3. m aldição no pergam inho. A palavra usada aqui para maldição refere-se às terríveis conseqüências que
recairiam sobre aquele que violasse um juram ento ou
a uma intimação pública cujo objetivo era reunir da
dos referentes a um crime que fora cometido (ver Lv 5.1). A sonegação de informação implicaria em cum
plicidade por parte da pessoa, que se tom aria sujeita à mesma punição do perpetrador do crime.
5.3. escrito em am bos os lados. Apesar de geralmente pergam inhos serem escritos apenas de um lado,
não era sem precedentes a escrita feita tam bém do
outro lado (ver Ez 2.10). Sendo dito isso, porém, não
fica claro que o texto esteja se referindo a um pergami
nho escrito dos dois lados. Em quase todos os usos dessa expressão, os dois lados são esquerda e direita e
não frente e verso. Se o pretendido era "frente e ver
so", a mesma expressão usada em Ezequiel 2.10 teria
sido a escolha óbvia. Portanto, é mais provável que
duas colunas estivessem expostas no pergaminho (ver
o comentário em 5.2), um a delas tratando do castigo para roubo e a outra para quem jurasse falsamente.
5.3. ladrão e o que ju ra falsam ente. O texto sugere uma relação entre o ladrão e o que jura falsamente.
Que juram ento poderia ser feito que, ao ser quebra
do, se constituiria em roubo? Um a possibilidade é a
de indivíduos que faziam penhores de fundos para
realizar a construção do templo e voltavam atrás em
seus juram entos. Nesse caso, seriam culpados de rou
bo (algo fora penhorado, portanto, não m ais lhes pertencia) e de rom per um juramento. As sanções (repre
sentadas no pergam inho) agora se aplicavam a eles expulsando-os de suas casas e trazendo sobre eles as
conseqüências de seus atos. O problema da maldição
ser lançada contra suas próprias casas e não contra o tem plo é citada em A geu 1.4; a acusação de roubo
quanto a apropriar-se de algo penhorado é visto como
um problema pós-exílico em Malaquias 3.8-10.5.4. m aldição que entra na casa e ali fica. Se, confor
me sugerido nos comentários acima, os ofensores ha
viam renegado a promessa de contribuições ao templo, é apropriado que essa atitude de impedimento
da construção da casa do Senhor resultasse na destrui
ção de suas próprias casas. Era outra m aneira de dizer que sua infidelidade voltaria para eles, na form a de um castigo equivalente à ofensa praticada.
5.5-11A mulher dentro de um cesto5.6. vasilha. Recipientes especiais cerim oniais eram usados para transportar a pedra principal e também
os depósitos que eram colocados no alicerce. Esse reci
piente é descrito apenas por seu tam anho, um efa,
que geralmente é considerado equivalente a 37 litros. Não há indícios do material de que a vasilha era feita.
N a M esopotâm ia, o recipiente usado para carregar ofertas depositadas no alicerce era chamado de quppu
e podia ser um cesto de vim e ou um baú de madeira. A ju lgar peio que era colocado neles, seu tam anho podia variar bastante.5.7. chum bo. Apesar de a NVI interpretar o term o como uma tampa de chumbo, no versículo 7 o texto originai refere-se a um "talento" de chumbo (um peso específico, geralmente no formato de um disco convexo) e no verso 8, a uma pedra de chumbo. As dádivas depositadas no alicerce de templos com freqüência incluíam peças de m etal (ouro, prata, ferro, bronze, chumbo), às vezes pequenos fragm entos, outras vezes grandes blocos ou ainda tabletes ou tijolos quadrados convexos.5.7. m ulher dentro. O pequeno tamanho da vasilha levou à conclusão de que a m ulher sentada em seu interior refere-se na verdade a um a estatueta. A relação disso com a construção do templo pode ser que estatuetas eram enterradas com freqüência perto das oferendas depositadas no alicerce ou debaixo da pedra que servia de eixo ou pino para o encaixe das portas. Tais estatuetas podiam indicar dedicação a uma divindade específica ou representar um a divindade apotropaica (protetora). É bastante tentador encarar essa visão vinculada a uma caixa de oferendas depositadas em um alicerce tirada das ruínas do templo e que continha uma estatueta e um a peça de chumbo.5.9. m ulheres com asas. No Antigo Testamento os anjos não são do sexo feminino e não são retratados com asas (embora em D n 9.21 Gabriel talvez apareça em um vôo rápido; mas ver o comentário ali). Na literatura ugarítica a irm ã de Baal, A nat, é retratada com asas. N a arte
m esopotâmica criaturas aladas geralmente são espíritos protetores ou demônios. A deusa Istar ocasional
m ente tam bém é retratada com asas. D ois esp íritos
femininos alados são retratados ladeando um a árvore estilizada em um relevo do nono século.
5.11. constru ir um santuário para ele. O pronom e
traduzido com o "e le " no texto original é fem inino,
como são as mulheres e o efa. Visto que a segunda
parte do versículo faz referência à vasilha e não à
mulher, considera-se que o santuário seria construído
para aquela e não para esta. Isso confirm aria que a
vasilha deva ser identificada como um a oferenda de
alicerce que seria depositada em um tem plo ali. A
palavra "casa" (NVI "santuário) com freqüência é usa
da para templo.
6.1-8 Quatro carruagens6.1-5. condutores de carruagens, m ensageiros da di
vindade. Esses são cham ados de quatro espíritos, o
mesmo termo para os quatro ventos em 2.6. O Salmo
104 .4 re fere-se aos v en to s com o m en sageiros de
Yahweh, e é essa a função que estão desempenhando
aqui. Os cavaleiros do capítulo 1 são comparáveis aos
m ensageiros do serviço de comunicações persa, ape
sar de carruagens não serem usadas para esse fim,
uma vez que, em vez de agilizar o trabalho do mensageiro, apenas o retardaria e cansaria seus cavalos
desnecessariamente. No antigo Oriente Próximo, um
ser sobrenatural em uma carruagem geralmente era
o cocheiro de um a divindade e não seu mensageiro
(ver o comentário em 2 Rs 2.11).
RESUMO DAS RELAÇÕES ENTRE A CONSTRUÇÃO DO TEMPLO E AS VISOES DE ZACARIAS A série de visões é iniciada com a afirmação de que Yahweh ainda cuida de seu povo, apesar do firme domínio do Império Persa. A primeira visão indica que seu plano para o futuro seria cumprido através da reconstrução do templo. A segunda visão dá início ao processo de preparação do terreno para a reconstrução. O altar sendo desmanchado representa o terror das nações. A terceira visão continua os preparativos através da medição da cidade (1.16 mostra que a medição da cidade fa z parte dos preparativos para a construção do templo) que tinha como objetivo determinar a posição correta do templo. Esse processo não seria produtivo nesse caso, porém, porque a cidade não teria muros a partir de onde se fariam os cálculos. Seria bastante raro que um templo não fosse protegido por muros, tanto por causa de todos os itens valiosos ali armazenados quanto pela necessidade de preservar a santidade da área. Em um preâmbulo à quarta visão, Josué se prepara para desempenhar seu papel; ele é purificado para os rituais da pedra principal e recebe o turbante cerimonial sobre o qual a pedra é carregada. Essa pedra fundamental é ornamentada com sete pedras semipreciosas que representem as sete lâmpadas na decoração inscrita. A inscrição na pedra é uma cena típica de um candelabro (representando o templo e indiretamente, Yahweh, que habita ali) ladeado por árvores estilizadas. Neste caso são oliveiras que fornecem o azeite para manter as lâmpadas/o templo funcionando. O azeite também é usado para ser derramado no alicerce e misturado com a argamassa no assentamento da pedra principal cerimonial. Nessa visão, Zorobabel é o responsável pela remoção cerimonial da pedra principal anterior para que o terreno pudesse ser aplainado. A quinta visão representa uma tentativa de cobrar os penhores feitos no levantamento de fundos para o projeto de construção. Os malandros são culpados de romper seus juramentos e, de fato, de roubar porque haviam se apropriado daquilo que fora penhorado como verba para a reconstrução do templo. A sexta visão remove uma imagem idólatra que teria sido depositada no alicerce em uma reforma anterior. A estatueta é devolvida à Babilônia, de onde vinha e onde um templo poderia ser construído para conter essa oferenda de alicerce. A seqüência se encerra com o templo desempenhando sua função como uma base de operações de onde Yahweh poderia executar seus planos militares e políticos.
6.9-15A coroa de Josué6.11. a coroa do sumo sacerdote. A coroa citada aqui era um diadema e, apesar de ocasionalmente ser usada pela realeza, com mais freqüência adornava uma pessoa que estava sendo honrada ou celebrada. Podia ser feita de metais preciosos, como aqui, ou de flores ou ainda de folhagens.
7.1-14A questão do jejum7.1. cronologia. A data equivalente é 7 de dezembro de 518 a .C.. É quase dois anos após a últim a data apresentada no capítulo 1 e é a última data do livro. Não há relação evidente com nenhum evento particular no calendário judaico nem com as atividades de Dario que atribuiriam alguma importância a essa data.7.2. povo de Betei. A cidade de Betei ficava cerca de vinte quilômetros ao norte de Jerusalém e na borda norte da província persa conhecida como Yehud (Judá).7.3. je ju m no q u in to m ês. N abucodonosor havia destruído o templo no quinto mês (ver 2 Rs 25.8). É lógico que um dia de je jum fora estabelecido nessa data. A delegação enviada ao sacerdote sem dúvida se perguntaria se os israelitas deveriam continuar a observar o je jum na data da destruição do templo, agora que ele fora reconstruído. Zacarias responde perguntando se o jejum estava centrado em uma petição pela reconstrução do templo ou em uma petição relacionada a arrependimento pelos pecados que haviam provocado a destruição.7.5. je ju m no sétim o m ês. O único evento que teria acontecido no sétimo mês e poderia ser considerado um motivo para jejum é o assassinato de Gedalias 0 r 41). Ele fora nomeado governador de Jerusalém por Nabucodonosor após a queda de Jerusalém.7.5. propósito do je ju m . H á poucas evidências da prática do je jum no antigo Oriente Próxim o fora da Bíblia. Geralmente era feito em contextos de luto. No Antigo Testamento, o uso religioso do jejum com freqüência está relacionado a um pedido dirigido a Deus. O princípio era que a importância do pedido levava o indivíduo a preocupar-se tanto com sua condição espiritual que as necessidades físicas eram relegadas a segundo plano. Nesse aspecto o ato de jejuar servia como um processo de purificação e humilhação diante de Deus (SI 69.10; 102.4). O jejum não era um fim em si m esm o, m as sim o treinam ento disciplinado no preparo para um importante evento.
8.1-23Oráculos de restauração8.19. diversos je ju n s. Os jejuns do quinto e do sétimo mês já foram abordados nos comentários do capítulo
7. Os outros dois tam bém aparecem relacionados a eventos durante o cerco de Jerusalém. O quarto mês rep resentou o fim da d in astia dos reis davíd icos ocupando o trono. Foi no quarto mês que o último rei de Judá, Zedequias, fugiu secretam ente da cidade, após um ano e meio de cerco. O décimo m ês foi m arcado pelo início do cerco a Jerusalém pelos exércitos babilônios.
8.22. nações poderosas buscando o Senhor. Esse já era um tema da profecia pré-exílica. Ver o comentário
em Isaías 2.2.8.23. agarrar firm em ente a barra. Agarrar a barra de uma veste era uma expressão comum encontrada em ugarítico, aramaico e acadiano (línguas relacionadas ao hebraico bíblico). Em acadiano, a expressão era "segurar na barra". Em Israel e na Mesopotâmia, agarrar a barra da veste de alguém era um gesto de súplica e submissão. Em sua última súplica por misericórdia, Saul agarrou-se à túnica de Samuel. Isso também é descrito no ciclo ugarítico de Baal, em que Anat segura a barra da veste de M ot ao im plorar por seu irmão Baal.
9.1-17Julgamento dos inimigos de Israel9.1. Hadraque/Damasco. H adraque não aparece em nenhum a outra referência bíblica, m as é citado em
fontes neo-assírias a partir de meados do oitavo século como o distrito de Hatarikka. Ficava localizado no alto
rio O rontes, entre Alepo e Ham ate. Era o extrem o norte da satrapia persa conhecida como Abam ahara
(terra além do rio) que dom inava a região entre o O rontes e o Eufrates. D am asco dom inava a região nordeste da satrapia entre o Orontes e o deserto da Síria. Durante esse período era uma província, assim como Hadraque.9.2. Ham ate no início do quinto século. Hamate é um term o que pode referir-se ao m esm o tem po a uma região e a uma cidade. Ficava localizada 208 quilômetros ao norte de Damasco, ao longo do rio Orontes. Se era um a província nessa época, com o alguns sugerem , seu território provavelmente ficaria na área entre o Orontes e o M editerrâneo. As fontes arqueológicas e literárias não oferecem m uitos dados sobre Hamate durante os séculos sexto e quinto.9.2. T iro e Sidom no início do quinto século. Essas cidades representavam as províncias da Fenícia entre o rio Litani e o M editerrâneo. A pesar dessas duas cidades portuárias serem importantes para os esforços militares persas no ocidente, há poucas informações sobre elas durante esse período.9 .5 ,6 . cidades filisté ias no início do quinto século. A área da antiga F ilístia agora é identificada com o a
província de Asdode. G aza serviu como base para as operações militares persas contra o Egito, e Ascalom
era um a próspera cidade portuária. Escavações em
Asdode sugerem que era uma cidade florescente du
rante o período persa, mas os documentos históricos
fornecem poucas informações.9.7. sangue, com ida proibida. Esse versículo fala de
uma mudança na dieta dos filisteus de m odo a adequar-se à lei judaica. Os israelitas não podiam comer
carne sem derramar o sangue (ver os comentários em Lv 17.11, 12) e havia regulam entações quanto aos
animais que podiam ou não ser consumidos (ver os
comentários em Lv 11).9.7. Ecrom como os jebuseu s. Os jebuseus eram na
tivos da região de Jerusalém na época da conquista
da terra, sob a liderança de Josué. Continuaram a controlar Jerusalém durante séculos, desde o perío
do dos juizes até a conquista de Jerusalém por Davi.
H á alguns indícios textuais de que teriam sido absorvidos por Israel, em vez de serem expulsos (ver
o comentário em 2 Sm 24.18). Ecrom tem sido iden
tificada como Tell M iqne, no vale de Soreque, cerca
de 32 quilôm etros a sudoeste de Jerusalém e a 24
quilômetros do Mediterrâneo. Tinha um a cidade baixa de 40 acres, um a parte elevada (tell) de dez acres
e uma acrópole de dois acres e meio. Escavações des
de o início dos anos 1980 deram uma boa visão des
sa cidade. Era conhecida por sua produção de azeite
de oliva e tinha m ais de cem fábricas de processa
m ento de óleo. Um a inscrição encontrada no local
em 1996 que datava do século sétimo a.C. forneceu
o primeiro exemplo do dialeto filisteu do sem ita oci
dental usando a escrita fenícia. Após a destruição de Ecrom por N abucodonosor, em 603, houve pouca
ocupação no local.
9.9. rei m ontado num jum ento. Era comum no antigo
O riente Próxim o um rei m ontar um a m ula (ver o
comentário em 1 Rs 1.33), mas aqui a referência é a um jum ento comum. Em bora textos acadianos confir
m em um rei montado num jumento, de forma algu
m a esse animal era considerado um a m ontaria real. A
palavra traduzida como "cria " na NVI refere-se ao
mesmo animal que era m ontado pelos filhos de juizes
em Juizes 10.3. É mais provável que usar um jumento como montaria esteja relacionado à humildade que à
realeza.
9.10. arcos de batalha. Em textos assírios do sétimo século (Esar-Hadom), dizer que uma divindade que
brava o arco do inimigo era um a form a de descrever
a vitória. N essa passagem , a ação parece ter como objetivo prevenir batalhas futuras. Em outros textos
bíblicos o m esm o conceito é expresso pela idéia de
transformar espadas em arados (ver o comentário em
Is 2.4).9.10. de um m ar a outro. Ao invés de referir-se a
mares específicos, como por exemplo o Mediterrâneo e o m ar M orto, o sentido universal da passagem suge
re que a expressão é uma referência aos m ares cósmi
cos que abrangem todas as terras habitadas.9.10. do Eufrates até os confins da terra. No hebraico,
quando o termo "R io " é usado com o artigo definido,
geralm ente é um a referência ao Eufrates. Aqui porém, não aparece o artigo definido, sugerindo que se
trata de um a referência cósm ica m ais abstrata. N a
literatura acadiana o grande rio cósmico é conhecido como apsu e seria um contraste com patível com os
coníins da terra. "O s confins da terra" era um a expressão usada para referir-se aos lugares mais remo
tos do mundo conhecido de então.
9.13. G récia n o in íc io do q u in to sécu lo . O term o hebraico usado aqui, "Jav an ", provavelm ente era o
nom e grego Jônia, a região grega da costa oeste da
Turquia e das ilhas do m ar Egeu. Os gregos jónicos se
fixaram nessa área pouco antes do primeiro milênio
a.C.. N a época de Zacarias, os gregos haviam se envolvido em guerras com os persas (ver o comentário
em Et 2.1).
9.14. guerreiro divino. N a temática do guerreiro di
vino, a divindade luta contra as divindades do inimigo, derrotando-as nas batalhas travadas. N a Assíria,
Nergal é o rei da batalha e Istar é considerada a deusa
da guerra. O deus cananeu Baal e o babilônio Marduque
também são guerreiros divinos. De acordo com essa cosmovisão, as guerras humanas são consideradas simplesm ente um a representação das guerras travadas entre os deuses; o deus m ais forte sem pre vence, a
despeito da força ou fraqueza dos combatentes huma
nos. Acreditava-se que relâmpagos e trovões acompanhassem a presença da divindade no campo de bata
lha. No texto sum ério Exaltação de Inana, nos mitos
hititas sobre o deus da tempestade e nas mitologias
acadiana e ugarítica, os deuses eram vistos como tro
vões no julgam ento contra seus inimigos. Baal é retratado segurando raios nas m ãos. A term inologia do
trovão está presente na retórica real à medida que reis
hititas e assírios se apresentam como os instrumentos dos deuses, trovejando contra aqueles que haviam
violado tratados ou obstruído o caminho da expansão
do império.9.15. bacia usada para aspergir água nos cantos do
altar. As pontas do altar eram aspergidas com o san
gue dos sacrifícios, por isso essas bacias estavam cheias de sangue. A analogia da bacia, portanto, sugere
derramamento de sangue em grandes proporções.
10.1-11.3Judá é libertado dos pastores opressores10.1. Y ahw eh como divindade da fertilidade. Há umalonga tradição no antigo O riente Próxim o do culto
específico oferecido ao deus da tempestade que leva
va chuva e fertilidade aos campos. Baal era esse deus
no sistema religioso cananeu. Os israelitas do período pré-exílico tendiam a atribuir a Baal a fertilidade dos
cam p os, apesar de recon h ecerem com satisfação
Yahw eh como seu D eus nacional (ver o comentário
em Os 2.1).10.2. íd olos e adiv inh os. A palavra traduzida com o
"íd o lo s" é terafim , que não eram representações de
deuses, m as sim dos ancestrais (ver o comentário em
G n 31.19). Era bastante provável que essas im agens
"fa lassem " através de presságios ou de necrom antes
que afirmavam ser capacitados na comunicação com os espíritos dos mortos. Especialistas em adivinhação não
apenas interpretavam sonhos (ver o comentário em Dn
1.17; 2.4), m as tam bém eram peritos em produzir so
nhos de revelação (ver o com entário em 1 Sm 3.3).10.3. líd eres como pastores. A ideologia do rei como
um pastor de seu povo encontra-se em Lugalzagessi, da Suméria, por volta de 2450 a.C.. O rei contemporâ
neo Urukagina de Lagás afirmava que o deus Ningirsu
era o dono da nação e que o rei fora escolhido como um pastor para adm inistrar a cidade em nom e dos
deuses e do povo. D euses responsáveis por m anter a justiça (Shamás, na Mesopotâmia, Am om , no Egito)
também são representados através dessa imagem. Essa
ideologia continuou no antigo Oriente Próximo até o
período m onárquico, sendo usada para referir-se a Assurbanipal, rei da Assíria, (sétimo século) e a Nabu-
codonosor (sexto século).
10.4. pedra fundam ental. Nos projetos arquitetônicos israelitas da Idade do Ferro era cada vez m ais crescen
te o uso de alvenaria de pedras lavradas em oposição
às construções feitas de pedras brutas em períodos
anteriores. A fim de garantir estabilidade e unir duas
paredes adjacentes, um bloco de pedra finamente talhada era inserido como pedra angular, a fim de amar
rar as paredes. Era uma pedra de tamanho m aior que as normalmente usadas e sua inserção muitas vezes
exigia um esforço especial ou rituais. Sua superfície
larga e lisa era o local ideal para inscrições de frases religiosas, do nom e do arquiteto ou rei responsável
pela obra e da data da construção. É possível que a pedra angular também fosse a pedra fundamental.
10.4. estaca da tenda. Pode-se dizer que a estaca da
tenda está para a tenda assim como a pedra fundamental está para uma construção. Outra possibilidade
é que uma antiga inscrição assíria de Irishum sugere
que uma estaca era introduzida na parede do templo
como símbolo do término da obra. Nesse caso a pedra
fundamental m arcaria o início do projeto e a estaca, o final. A m bos os termos passaram a ser usados metafo
ricamente como aquilo que é fundamental (como em
Is 22.23; Ed 9.8). Essas estacas às vezes eram incluídas em oferendas depositadas nos alicerces de templos
mesopotâmicos.
10.10. lugares do exílio. Em bora a Assíria seja o local
mais conhecido como exílio para os israelitas do reino do norte e tam bém para grupos do reino do sul (ver o
com entário em Is 22.2, 3), é evidente que tam bém
havia colônias de israelitas que haviam fugido para o
Egito ou tinham sido levadas para lá, talvez desde o
oitavo século, e com certeza no sétimo século (ver o comentário em Jr 43.7).
10.10. G ilead e e L íb an o . Fazer m enção a G ileade
(planalto a leste do Jordão) e ao Líbano (vale de Beqa, ao longo do rio Litani, entre as cadeias de montanhas
do Líbano e do Anti-Líbano) evocava em Israel ima
gens de am plas áreas abertas, habitadas de form a esparsa.
11.1-3. destruição de florestas e pastagens. As flores
tas e os pastos eram recursos valiosos num a terra que
tinha pouco a oferecer. Vastas faixas de terra poten
cialmente produtivas transformam-se em solo imprestável quando o verde é destruído. Os invasores anti
gos estrategicamente destruíam áreas agrícolas, pas
tos e florestas quando alm ejavam arruinar um a nação
a longo prazo (ver o comentário em 2 Rs 3.25). Atual
mente o Estado de Israel está buscando novamente a
produtividade da terra introduzindo o reflorestamen- to de áreas desmatadas.
11.4-17 Dois pastores11.4. rebanho destinado à matança. O templo mantinha enormes rebanhos de animais que haviam sido
dados como primícias (e também por outras razões) e
que estavam destinados à matança, visto que haviam sido prometidos ao Senhor. Portanto, é possível que houvesse m uitos pastores a serviço do templo para
cuidar desses rebanhos.
11 .6 . en tregar as p essoas ao p róx im o. A palavra hebraica para próximo é bastante semelhante à pala
vra para pastor. O paralelo com a palavra "re i" neste
versículo levou alguns estudiosos a concluir que o termo "pastor" seria a leitura original. Outra possibi
lidade é que se trate apenas de um jogo de palavras.
11.12. trinta m oedas de prata. A partir do versículo 12
é difícil saber se Zacarias ainda está desempenhando
seu papel como pastor e está recolhendo seu salário de
pastor ou se está recolhendo o salário de seu trabalho como profeta (última linha do v. 11). Informações dos
códigos de leis do segundo milênio a.C. indicam que
o salário anual de um pastor era de dez siclos. Por outro lado, um profeta podia esperar receber paga
mento por suas habilidades. O fato de que um escra
vo valia trinta siclos não ajuda m uito aqui, visto que
Zacarias não está sendo comprado como escravo. No uso sumério "valer trinta siclos" era uma expressão
que tinha um significado idiom ático equivalente a "d ois vinténs" ou "alguns trocados", ou seja, algo de valor insignificante. Apesar desse significado encai
xar-se ao contexto aqui, o salto do período sumério
para o período hebraico pós-exílico é bastante grande e não pode servir de base para essa interpretação.11.13. atirar para o oleiro. Três explicações possíveis
foram dadas aqui, e é d ifícil decid ir entre elas. A prim eira é que provavelm ente havia um a loja de
cerâmica nas proximidades do templo que atendia às necessidades do templo. M as por que esse dinheiro
seria atirado ali? A segunda é que a palavra para oleiro significa simplesmente "aquele que confeccio
n a", logo, alguns sugeriram que refere-se a um arte
são de m etal que talvez faria um a estatueta com a
prata atirada. Essa possibilidade pode servir de expli
cação do porquê a prata é jogada ali, m as exige um
significado inusual a ser aplicado para um substantivo bastante comum. A terceira explicação é que foi
observado que a palavra traduzida com o "o le iro "
pode, com pouca mudança, ser entendida como "te
souro". Algumas traduções m ais antigas seguem por
esse caminho e encontram algum respaldo no Novo
Testamento também (Mt 27.5, 6, embora Mateus tam
bém se refira ao oleiro). Cada interpretação apresenta suas dificuldades, e não há inform ações do antigo
Oriente Próximo que possam trazer luz às ações do
profeta.
11.16. arrancar as patas. Rebanhos de ovelhas rara
mente eram usados para o consumo de carne. A lã era
m uito m ais valiosa, logo, a principal responsabilidade do pastor era preservar a vida e a saúde das ovelhas
a fim de garantir a continuidade de sua produtivida
de. Comer a carne seria um a referência à auto-indul-
gência por trás de uma visão limitada e de apetites
indisciplinados e não à sábia administração de recursos, considerando-se os resultados a longo prazo. A r
rancar as patas pode representar um a tentativa de
persuadir o proprietário de que a ovelha fora devorada por um animal feroz e assim o pastor não seria
considerado responsável pela perda. Outra possibili
dade é que o pastor estivesse procurando vender as
patas a fim de obter um pequeno retom o.
12.1-14 A libertação de Jerusalém12.2. taça que em briague. A expressão "taça que em
briague" é usada tam bém em Isaías 51.17, 22, m as aqui o texto literalmente fala de uma tigela (saph) e
não de uma taça. É possível que o autor tenha escolhi
do a palavra "tigela" a fim de fazer um jogo de palavras. A palavra hebraica saph tam bém significa "so
leira". Assim como a bebida de uma vasilha podia
causar embriaguez e fazer um a pessoa tropeçar, uma soleira podia facilmente fazer alguém tropeçar, por
que parte dela ficava acima do nível do chão. A soleira era feita de um a placa de pedra com encaixes nas
extremidades onde os pivôs da porta eram introduzi
dos (embora portas grandes tivessem encaixes sepa
rados enfiados no chão). A porta era fechada contra a soleira saliente. Essa placa da soleira também poderia
ser a pedra pesada citada no versículo seguinte.
12.3. pedra pesada. Se a palavra traduzida como "taça"
no últim o versículo está cumprindo uma tarefa dupla
como um a referência à soleira, então o termo traduzi
do como "pedra pesada" provavelm ente seria uma referência à placa da soleira. Por ser parte integrante
da estrutura da porta, a pedra da soleira provavel
m ente seria retirada quando as portas fossem destruí
das. Esse seria um objetivo prioritário para o exército sitiante. Derrubar portas é algo m encionado em tex
tos neo-babilônicos, apesar da soleira não ser citada
especificamente. Um lamento sumério por Eridu rela
ta que o batente foi arrancado. Textos acadianos descrevem a qualidade elevada das pedras utilizadas e a
função dessas placas que serviam como alicerce tanto
para portas quanto para muros. Quando Senaqueribe
destruiu Babilônia, ele derrubou os alicerces de tem
plos e muros e os atirou no canal. As soleiras de templos com freqüência tinham inscrições com orações
pedindo proteção.
12.11. choro em Hadade-Rim om . Esta é a única ocor
rência desse nom e no A ntigo Testam ento, em bora cada parte que o compõe seja conhecida. Hadade era
o nom e do deus cananeu da tempestade, o chefe do
panteão arameu, geralmente designado com o título
de "B aal". Um templo de Rimom é citado por Naamã
em 2 Reis 5.18. Acredita-se que Rimom (ou Ramam,
"o que troveja") seja um título de Hadade, o deus da tempestade. Em bora essa associação seja feita com cer
ta segurança, não há ocorrência desse título fora da
Bíblia. Apesar de alguns intérpretes terem considerado que o choro aconteceu em um lugar conhecido
como Hadade-Rimom, é m ais provável que a referên
cia seja a um festival de luto ou ritual relacionado à divindade Hadade-Rimom. Quando as chuvas espe
radas não caíam na época certa, o luto pelo deus da
tempestade era um dos passos dados a fim de trazer
as chuvas necessárias para a estação do plantio.
12.11. vale de M egido. O vale de M egido é o vale de Jezreel. Se o texto está fazendo referência a rituais de
luto dirigidos a um deus da tem pestade, o vale de
Jezreel, a terra mais fértil de Israel, seria o local mais provável para o ritual. Se Hadade-Rimom é um lugar
no vale de Jezreel, pode indicar o local de um evento
devastador. Foi na planície de Megido, por exemplo,
que o promissor e piedoso rei Josias perdeu sua vida
tentando im pedir os egípcios de ajudar o Im pério
Assírio em 609 a. C. (ver os comentários em 2 Cr 35.20,
22). Essa perda foi sentida de forma tão contundente que um dia costum eiro de luto foi instituído (2 Cr
35.24, 25).
12.12, 13. significado h istórico das fam ílias citadas
nom inalm ente. Davi e Levi eram reconhecidos como famílias de linhagem real e sacerdotal. Natã e Simei
são m ais difíceis, visto que há inúm eros indivíduos
na Bíblia com esses nomes. Visto que N atã era um dos
filhos de Davi (2 Sm 5.14) e Sim ei era um dos netos de
Levi (Nm 3.21), m uitos estudiosos consideram nesses
versículos uma referência a clãs e sub-clãs. Também de interesse é a possibilidade de que todas essas famí
lias tivessem uma relação com Zorobabel. Ele descen
dia de Davi através de N atã e de Levi e o irmão de
Zorobabel chamava-se Sim ei (1 Cr 3.19).
13.1-9 A eliminação dos profetas13.4. m anto de profeta fe ito de pele. O manto distin
tivo do profeta provavelm ente era feito de pêlo de
anim al e por isso tinha o aspecto peludo, em bora nem todos os m antos fossem feitos desse m aterial.
Pouco se sabe a respeito da indumentária do profeta
no antigo Oriente Próximo, por isso é difícil estabelecer comparações. Pode ser de interesse que as ins
crições assírias desse período retratem alguns indi
víduos usando m antos com cabeça de leão. Esses in
divíduos parecem estar envolvidos em atividades rituais (danças) e acom panhar a divindade. Supõe-se
que eram exorcistas.13.6. feridas no corpo do profeta. A auto-laceração é evidente em 1 Reis 18.28 como parte do ritual realiza
do pelos profetas de Baal. Na literatura ugarítica os deuses são retratados se lacerando quando ouvem a
respeito da m orte de Baal. A lém disso, um texto
sapiencial acadiano de U garit compara o derram a
mento de sangue de ritos de pranto e lamento àquele praticado por profetas extáticos. Marcas de auto-flagelo
seriam indícios de profetas em exercício.
14.1-21 A vinda do reino do Senhor14.3. guerreiro divino. Ver o comentário em 9.14. A imagem da divindade de pé sobre um monte é bastante conhecida no antigo Oriente Próximo (ver o com entário em M q 1.3), especialm ente em selos cilíndricos. N essas figuras, acredita-se que o monte representava o centro da terra.14.4. m onte das O liv eiras. O m onte das O liveiras recebe essa denominação apenas aqui no Antigo Testam ento. E um a cadeia de quatro quilôm etros que atravessa de norte a sul o vale de Cedrom no lado leste, desde Jerusalém.14.4. divisão do m onte das O liveiras. N a literatura acadiana nivelar montes é um ato de destruição, mas
não há referência a m ontanhas sendo divididas ao meio para permitir fugas. A subida até o monte das Oliveiras desde o vale de Cedrom é bastante íngrem e, por isso um vale no sentido leste-oeste certamen
te facilitaria a fuga dos refugiados.14.5. Azei. N ão há um consenso claro sobre a localização de Azei. Em outros versículos é o nome de uma pessoa na genealogia de Saul. Se o nom e do território estiver relacionado à pessoa, ficaria a noroeste de Jerusalém, no território de Benjamim, mas é difícil entender o que o texto pretende dizer ao descrever que o vale se estendeu até lá.14.5. terrem oto nos dias de Uzias. A s atividades sísmicas são ocorrências comuns na Siro-Palestina. A região fica sobre a Fenda do Jordão, que se estende desde Damasco até o golfo de Ácaba, e, portanto, está sujeita a movimentos periódicos da terra. H á evidências de um terremoto de grandes proporções no sedimento 6 das escavações em Hazor, datando aproximadamente de 760 a .C . É possível que se trate do terremoto mencionado aqui, m as é preciso encontrar mais evidências em outras localidades, como Betei e Samaria, que confirmem essa hipótese. O fato de que esse terremoto é usado para situar no tempo tanto a atividade profética de Amós quanto o reinado do rei Uzias sugere que deve ter sido um fenôm eno de grandes dimensões e, portanto, um evento que ficou gravado na mente das pessoas.14.7. e fe ito s cósm icos. A interrupção da ação dos m arcadores do tempo significa o m ais dram ático e im aginável efeito de inversão nas leis naturais do mundo (ver o comentário em Jr 4.23-26). E acompanhada de amplas m udanças topográficas (v. 8 ,10 ), de um extensa alteração na esfera política (v. 12 ,13) bem como de uma redistribuição de riquezas (v. 14) e de um redirecionamento na adoração (v. 16).14.8. Jerusalém banhada por águas correntes. "Á guas correntes" refere-se a uma fonte de água (em contras
te com água m antida em reservatórios ou água de chuva recolhida em recipientes). Em Jerusalém, o abas
tecim ento de água provinha da fonte de Geom , no
lado sudeste da cidade, perto do vale de Cedrom. Em bora haja elevações ao sul de Jerusalém (de Belém
a Hebrom), o relevo vai entrando em declive tanto a oeste (pela Sefelá, descendo até a costa mediterrânea)
quanto a leste (descendo até Jericó, vale do Jordão e m ar Morto). Muitos uádis em Israel contêm água ape
nas durante a estação chuvosa (inverno), m as esse versículo fala de um fluxo contínuo. A Fonte de Geom
jorra diariamente o ano todo (ver o comentário em 2 Sm 5.8).
14.10. desde G eba até Rim om . Geba está localizada
oito quilômetros ao norte de Jerusalém. Ela controlava
o uádi Swenit, perto do que era a fronteira norte da província persa de Yehud. A identificação de Rimom
é um pouco mais difícil. Há uma localidade m encio
nada em outras passagens como En-Rimom, na extremidade sul da Sefelá (cerca de 16 quilômetros ao norte
de Berseba), m as ela não poderia estar situada no
território de Yehud e parece longe demais para ser colocada lado a lado com Geba.
14.10. terra sem elh an te à A rabá. O term o "A rab á" pode ter ao m esm o tempo um significado específico e
geral. Como designação geográfica específica refere-se
à região árida ao redor do m ar Morto e ao sul do golfo
de Ácaba. Como designação topográfica geral refere-
se a uma estepe plana. O contexto deste versículo dá a entender que se trata deste últim o significado.
14.10. topografia de Jerusalém . A porta de Benjamim
(outras vezes chamada de porta das Ovelhas), ao nor
te do monte do Templo, saía da área do Poço de Betesda
(conhecido nesse período como o Poço das Ovelhas) no vale de Cedrom. Ficava no lado norte do muro
leste (perto da atual porta do Leão) e dava acesso à
estrada para Jericó. Se a prim eira porta é o nom e de
um a porta, provavelmente deveria estar associada à
porta Velha (ver o comentário em N e 3.6). A porta da Esquina ficava localizada no canto noroeste da parte
oeste da cidade. Ficava nas proxim idades da atual porta de Jaffa. As portas mencionadas, portanto, en
globam a cidade de leste a oeste ao longo dos muros
do norte. A torre de Hananeel ficava posicionada no
lado noroeste da cidade, perto do monte do Templo.
Era quase o m esm o local da Fortaleza A ntonio, na
Jerusalém de H erodes. F inalm ente, os tanques de
prensar uvas do rei provavelmente ficavam na área do jardim do rei (ver o comentário em N e 3.15), na
extremidade sul da cidade. Esses lagares, somados à
torre de Hananeel, abrangem toda a cidade de norte a sul.
14.12. descrição da praga. Dentre os tratamentos mais
com uns dirig idos a inim igos de destaque no antigo Oriente Próximo estava a prática de esfolar a pele, furar
os olhos e cortar a língua. Aqui, tudo isso é atingido
através da "praga". Não há comprovação desses sintom as relacionados a nenhum a praga específica no an
tigo O riente Próximo.
14.16. festa das cabanas como festa de entronização.Em bora a festa de entronização em si não seja confir
mada na prática israelita, com freqüência se presume
que ela existia e, se de fato existiu, estaria mais logi
camente relacionada à festa das cabanas (ver os comentários em 1 Rs 12.32, 33 e Ed 3.4). Isso seria espe
cialmente significativo nesse contexto em que as na
ções deviam participar da festa a fim de reconhecer o reinado de Yahweh.
14.18. chu va n o Egito . O índice pluviom étrico no Egito é bastante baixo e as chuvas que caem ali não
são suficientes para garantir sua produtividade. Por
isso, a agricultura no Egito depende quase que inteiram ente das enchentes anuais do rio Nilo.
14.20. sinetas penduradas nos cavalos. Quando algo
é designado "Separado para o Senhor" é considerado
sagrado como parte daquilo que era purificado para o
serviço no recinto sagrado do templo, onde a presença de Yahw eh habitava. Em Êxodo 28.36-38 essa frase
estava inscrita no diadema dourado usado pelo sumo
sacerdote. Embora os sacerdotes usassem sinos na borda de suas vestes (Êx 28.33), um a palavra hebraica dife
rente é usada para designá-los. A palavra usada aqui
pode sim plesm ente se referir a discos de m etal que
tilintavam em contato uns com os outros.
14.20. caldeirões e bacias sagradas. As bacias sagra
das eram usadas para as m ais importantes atividades rituais, tais como transportar o sangue dos animais
sacrificados. Os caldeirões, ao contrário, eram as vasi
lhas m ais com uns do templo. A m bos utensílios ti
nham diferentes formas e tamanhos.
MA L A Q U I AS
1.3. M ontanhas de Esaú. "M ontanhas de Esaú" provavelmente era um a designação para a região montanhosa de Seir (Gn 36.8, 9, 21), que ficava no leste do Neguebe. As montanhas de Seir são mencionadas nas Escrituras (p. ex., G n 14.6; D t 2.1). E m ais provável que seja um a designação para a parte sul do território edomita, entre o uádi al-Ghuwayr e Ras en-Naqb.1.4,5. Edom no quinto século. Embora Edom não pareça ter se unido à rebelião contra o dom ínio babilónico, no sexto século a.C ., a região parece ter sido atacada pelo últim o monarca babilônio, Nabonido. Referências em O badias, Jerem ias 49 e Ezequiel 25 citam sua destruição, m as, aqui, M alaquias dá a entender que o território não havia ainda sido abandonado pelos edo- mitas. Sabe-se pouco, porém, sobre o destino de Edom no quinto século a.C.. Parece que houve alguma atividade econômica entre Edom, o Levante e o leste do Mediterrâneo, bem com o há evidência de novos grupos de população na área. Os quedaritas, que ocupavam o deserto da Síria, a sudeste de Damasco, teriam invadido e m igrado para o sul, até M oabe e Edom . Tam bém é possível que os nabateanos, que conquistaram a área de Edom, no final do terceiro século a.C., tenham começado a migrar do deserto árabe para o norte, até essa área.1.8. oferta de anim ais defeituosos. Com o fim das verbas que provinham do governo Persa (ver o com entário em 3.10), diversas medidas foram tomadas para cortar gastos. Aparentemente um a delas se constituiu no relaxam ento das regulam entações quanto aos animais que podiam ser oferecidos em sacrifício.1.12. A m esa do Senhor. Essa é a única ocorrência da expressão "m esa do Senhor" no Antigo Testamento. O termo traduzido com o "m esa" era um term o comum usado de forma literal e figurada para denotar um a mesa (p. ex., Is 65.11). As m esas eram usadas em Ezequiel 40.39-43 próximo às portas do pátio interno do templo para m atar os animais ou para depositar utensílios. N o contexto de Malaquias 1.12, a mesa do Senhor parece ser sinônimo de altar, que fora profanado pelos israelitas. É descrito de form a figurada como mesa, por causa da im agem dos sacrifícios como "com id a" aos deuses. Para m ais inform ações sobre essa figura, ver o comentário em Levítico 1.2.2.5-7. papel do sacerdote no período pós-exíÜco. Mais de quatro m il m em bros das fam ílias sacerdotais e levitas voltaram à Palestina após o exílio, sob a supervisão de Zorobabel e Josué. Ambos os grupos se envolveram em diversas ativ idades, inclusive na re
construção dos m uros de Jerusalém, no ensino da lei e na liderança da nação em cumprir as obrigações religiosas. Entretanto, a prática sacerdotal deve ter se deteriorado nessa época (especialmente na ausência de N eem ias), visto que um estrangeiro (Tobias, o amonita) recebeu permissão para ter acesso ao templo. N a verdade, os levitas abandonaram o templo por um período (Ne 13.10,11). Malaquias 2 se encaixa a esse contexto, visto que o sacerdócio da época havia ignorado suas responsabilidades. O sum o sacerdócio continuou a existir como ofício, tendo continuidade na linhagem de Zadoque. O Livro de Zacarias indica que muitas responsabilidades civis executadas pelo rei ou governador haviam sido transferidas ou simplesmente absorvidas pelos sacerdotes a fim de evitar que o governador acumulasse m uitos poderes, competindo com a autoridade do rei Persa.2.11. casam ento com m u lh eres que adoram deuses estrangeiros. Em bora não se saiba com certeza o significado dessa expressão, "hom ens casaram-se com mulheres que adoram deuses estrangeiros" provavelmente se refira a casamentos mistos entre judeus e não-judeus. As mulheres que se casavam com judeus permaneciam fiéis aos ídolos que adoravam, sendo assim os judeus eram introduzidos na fam ília de deuses estrangeiros, aum entando as chances de praticarem a idolatria. Esses casam entos foram condenados por Esdras e N eemias. Para inform ações adicionais sobre a prática de endogamia (casamento entre pessoas de um a mesma com unidade), ver o com entário em Esdras 9.10-12. 2.14-16. casam ento e divórcio no quin to século. O que se sabe sobre casam ento e divórcio no período persa encontra-se em documentos judeus de Elefan- tina. Contratos de casamento com freqüência incluíam condições quanto à disposição do dote, preço da noiva, propriedade e filhos, na eventualidade de um divórcio. Parece que o divórcio era comum e simples, sendo as implicações econômicas a m aior preocupação. Em Elefantina, não era preciso apresentar nenhum motivo para justificar o divórcio.3.1. papel preparatório do m ensageiro. A idéia de preparar o caminho do Senhor tam bém se encontra em Isaías 40.3. Esse conceito provavelmente tinha origem no costume do antigo Oriente Próximo de enviar mensageiros à frente de um rei em visita a um local para informar os habitantes de sua chegada, a fim de que pavim entassem o cam inho (retirando todos os obstáculos) por onde o monarca passaria.
3.2. sabão do lavandeiro. O sabão do lavandeiro era usado para rem over im purezas e lim par roupas e outros itens que tivessem manchas ou sujeira. O sabão descrito aqui é o álcali extraído de uma planta encontrada na Babilônia, mas não na Siro-Palestina. O termo ocorre também em Jeremias 2.22.3.3. re finad or e purificador de prata. No m undo antigo a prata era extraída e refinada através de um processo chamado copelação. No processo inicial de fund ição , a p rata era extra íd a de m inérios de chum bo (galena) contendo menos de um porcento de prata em cada am ostra. O chum bo era derretido em vasilhas rasas feitas de substâncias porosas como cinzas de ossos ou argila. U m fole então era usado para soprar através do chu m bo fu nd ido, prod uzind o óxido de chum bo (litargírio). P arte do óxido de chum bo era absorvida pela vasilha porosa, enquanto outra parte form ava um a cam ada na superfície. Teoricam ente a prata era o que sobrava. Outra possibilidade é que Ma- laquias esteja se referindo ao processo de refinação que envolvia aquecer uma am ostra de prata com grandes quantidades de chumbo a fim de extrair as impurezas.3.5. fe itice iro s . O term o técnico aqui se refere aos especialistas em encantamentos e feitiços. Esses especialistas tinham familiaridade com a literatura de presságios e de sonhos. Eles praticavam magia e simpatias (com base na idéia de que há um a relação entre um objeto e o que ele sim boliza; por exem plo, o que é feito à imagem de uma pessoa acontecerá à pessoa) e usavam suas artes para m anipular os deuses e os espíritos. A magia era o fio que sustentava a criação e era usada por seus praticantes (humanos ou divinos) tanto para fazer o bem , quanto para causar o mal.3.8-10. dízim os garantindo alim ento. Há pouca diferença entre os dízimos e os impostos no antigo Oriente Próximo. Ambos eram cobrados dos aldeões como pagam ento ao governo e geralm ente arm azenados nos templos, de onde os cereais, o azeite e o vinho eram redistribuídos para sustentar os oficiais reais e religiosos. Na arrecadação e distribuição do dízimo, a distinção entre o sagrado e o profano é obscurecida. O dízimo (literalmente, a "décim a parte") mencionado aqui era tuna contribuição compulsória para a manutenção do culto e da administração no antigo Israel. Também era usado por diversos outros povos do antigo Oriente Próximo, inclusive os fenícios e cananeus. Israel tinha a ordem de entregar o dízimo a Deus e "com er diante do Senhor", provavelmente uma refeição comunal. É improvável que ao entregar o dízimo a pessoa comesse todo o "d ízim o", um a vez que isso frustraria o objetivo de suprir as necessidades da com unidade sacerdotal e de servir como um a reserva para os desfavorecidos. A ordenança provavelmente tinha mais a ver com levar o dízimo (ou o valor equivalente em prata) ao santuário de D eus em Jerusa
lém, demonstrando assim devoção. Ver o comentário em Números 18.21-32 para mais informações.3.10. escassez nas reservas do tem plo. Apropriar-se daquilo que por direito pertencia ao templo para uso particular foi logo identificado como um problema no antigo Oriente Próxim o. Em um a oração sum éria a Enki, um adorador nega ter saqueado as ofertas da divindade. D urante o reinado de Xerxes, as verbas destinadas ao templo pelo Império Persa foram cortadas. Isso significou que um fardo ainda maior foi colocado sobre o povo para que suprisse as necessidades dos sacerdotes, as atividades de culto e a manutenção do templo. Essa responsabilidade financeira adicional gerou dificuldades e resultou em racionamentos a fim de cortar gastos do templo.3.16. livro com o m em orial. A expressão "livro como m em orial" aparece apenas aqui, em bora a idéia de Deus ter um livro em que registra dados encontra-se em outras passagens da Escritura (p. ex. Êx 32.32; SI 139.16; Is 4.3; 65.6; Ez 13.9). Os reis do antigo Oriente Próximo muitas vezes tinham um registro escrito dos eventos mais importantes de seu remado (ver o comentário em Et 2.23). Tanto em Israel quanto no antigo Oriente Próximo acreditava-se que a divindade m antivesse livros também. Em Êxodo 32.32-34 M oisés está disposto a ter seu nome apagado do livro da vida, uma ação que resultaria em sua m orte. Yahw eh responde que somente aquele que peca tem seu nome tirado do livro. A m etáfora é de um livro de registros que contém um a lista dos viventes. Essa im agem é comparável ao livro que Enkidu vê em um sonho do m undo inferior e que continha o nome daqueles destinados à morte. A literatura m esopotâmica contém referências a tab le tes qu e re g istra v a m m ás ações (nos textos Shurpu) e a tabletes que registravam boas ações. Ver o com entário em Salm o 56.8.4.2. So l da ju stiça trazendo cura em suas asas. O Solda justiça aqui traz justiça. Em todo o antigo Oriente Próximo divindades solares estão relacionadas à justiça. Não é raro no Antigo Testamento que a ação de Yahw eh seja retratada através da metáfora solar. "Cura em suas asas" é um uso sim bólico das asas de um pássaro comparadas aos raios do Sol. As asas denotam cuidado e proteção (conseqüentemente, a cura). Um tema das religiões astrais do antigo Oriente Próximo apresenta o Sol ilustrado como um disco alado. Isso era especialmente difundido no período persa.4.4. H orebe. H orebe era outro nom e para o m onte Sinai, o lugar onde D eus se revelou a M oisés e lhe entregou os D ez M andamentos. Não se sabe ao certo sua localização precisa e há pelo menos quatro possibilidades no sul do Sinai, defendidas pelos eruditos: Jebel M usa, Ras es-safsafeh, Jebel Serbal e um a montanha perto de al-Hrob. Para uma discussão sobre a localização, ver o comentário em Êxodo 19.1, 2.
Glossário
Muitos termos que surgem com freqüência em nossas discussões são explicados neste glossário. Para auxiliar o leitor colocamos asteriscos (*) ao longo do texto antes de termos que podem ser encontrados aqui. Nem todos os term os aparecem aqui exatam ente conforme constam no texto dos comentários.
A cadiano: term o que se aplica à cultura e à língua mesopotâmica de 2500 a 500 a.C..Adapa: um sacerdote do deus Ea na cidade suméria de Eridu. A história sobre ele conta como foi enganado e perdeu a chance de adquirir a im ortalidade, quando foi aconselhado a não com er o alim ento divino. Adivinhação: processo de determinar a vontade dos deuses através do exam e de fenômenos da natureza (formações de nuvens, vísceras de animais sacrificados) ou lançando sortes.A h iqar: um conselheiro do rei assírio Senaqueribe (704-681 a.C.) que foi exilado e escreveu uma série de ensinos sobre o "sábio" e o "to lo " que são paralelos a alguns dos dizeres do Livro de Provérbios.A lalakh: um a cidade do norte da Síria na parte sul da planície de Antioquia e que floresceu no início do segundo m ilênio a.C.. A cidade produziu inúm eros registros que descrevem a política e a economia da área e é citada em textos de Mari, Nuzi e do reinado hitita. A liança: um acordo contratual associado na Bíblia ao acordo entre Yahw eh e os israelitas que prometia terra e descendência em troca de adoração exclusiva e obediência.A m arna: ver El-Am am a.Amorreu/amurru: um grupo de povos sem itas que viveu em um a área a oeste da M esopotâmia, inclusive no litoral mediterrâneo, durante o segundo m ilênio a.C..A m uleto: um ornamento entalhado usado em volta do pescoço cujo objetivo era afastar o mal, curar enfermidades ou trazer sorte ao proprietário. A nacronism o: um detalhe ou palavra em uma história que não se encaixa ao período em que o texto foi produzido. Com freqüência os anacronismos podem ser entendidos como explicações ou ajustes feitos ao texto em um a época posterior.A nat: deusa da fertilidade e da guerra e principal consorte do deus Baal nas religiões cananéia e ugarítica. A natólia: equivalente aproxim adam ente à área conhecida no Novo Testamento como Ásia M enor e atual Turquia. Era a terra dos hititas na m etade do segundo milênio.A nunciação: o anúncio de um nascimento. A pócrifos: livros escritos no período helenista entre os Testamentos. Esses catorze livros não fazem parte
do cânon judaico nem do cânon protestante, m as são m antidos pela tradição católica.A postasia: qualquer ação que perm ite ou trata com indulgência a falsa adoração.Apotropaico: ação realizada ou símbolo usado para afastar o mal.A qhat: filho de Danil. H erói do épico ugarítico em que é retratado como um poderoso caçador e é assassinado pela deusa Anat quando se recusa a lhe entregar seu arco. A história apresenta paralelos com as narrativas ancestrais e com o Livro de Juizes.Arã: m etade noroeste da Mesopotâmia e costa do M editerrâneo que serviu de lar aos arameus no final do segundo e início do primeiro milênio a.C..Aserá: deusa da fertilidade cananéia, consorte de Baal, associada com freqüência a bosques sagrados ou representada por postes ou colunas sagradas na Bíblia. A ssíria: área do norte da Mesopotâmia centrada no rio Tigre. Teve diversos períodos de proeminência, o mais importante indo de 1000 a 612 a.C., quando conquistou todo o Oriente Próximo e produziu um código de lei (Código Médio-Assírio) paralelo à lei bíblica. A starte: deusa cananéia e fenícia, consorte do deus Baal, associada à fertilidade e conhecida como deusa da guerra.Atos rituais: um a série de ações prescritas e tomadas para fins religiosos, como por exemplo, o sacrifício. Baal: deus cananeu e ugarítico das tempestades e da fertilidade.B abilônia: principal cidade mesopotâmica localizada na junção dos rios Tigre e Eufrates, que dominou a história daquela área durante diversos períodos. B ab ilôn ia Antiga: período da história mesopotâmica de 2025 a 1595 a.C. cu jo ápice foi n o re in ad o de Ham urabi (1792-1750 a.C.) que elaborou um código de leis e unificou as cidades-estados sob seu domínio. Bula: selo de argila usado para selar um documento de papiro. A impressão do selo evitava que o docum ento fosse adulterado e tam bém fornecia o nome ou o escalão do oficial que o escrevera.C alcolítico : era de 4300 a 3000 a.C. e caracterizada pelo uso da tecnologia do cobre.Caldeu: período da história m esopotâmica de 700 a 540 a.C. associado aos neo-babilônios e ao rei Nabuco- donosor.
Cam os: deus nacional moabita, com freqüência associado à guerra.Cassitas: povo originário da região m ontanhosa do norte da Mesopotâmia que conquistou o reinado da Antiga Babilônia em 1595 a.C. e governou na Babilônia até 1157 a.C..C ircuncisão: ritual religioso de remoção do prepúcio do pênis. Era empregado pelos israelitas para marcá- los como membros da comunidade da aliança. Cognatas: línguas que fazem parte da família semita e compartilham de vocabulário e inúmeras características gramaticais com o hebraico. As principais línguas cognatas são o acadiano, o aramaico e o ugarítico. Dentre diversas outras cognatas menos importantes estão o árabe, o m oabita, o am onita, o am orreu, o etíope e o siríaco. A literatura escrita nessas línguas é denominada literatura cognata.Cólofon: afirmação ou expressão colocada no final de um documento ou um trecho literário que pode servir de resumo ou simplesmente de nota final. Concubina: esposa secundária que geralmente ingressava na fam ília sem um dote e cujos filhos não herdavam os bens do pai, a menos que ele publicamente os declarasse seus herdeiros.Culto à fertilid ad e: prática religiosa predom inante em grande parte do m undo antigo. O s principais deuses formavam pares (masculino e feminino) e os ritos tinham por objetivo garantir chuva abundante, crescim ento das plantas, colheitas prósperas e grandes rebanhos. Esse culto às vezes incluía sacrifícios e prostituição sagrada. Em uma sociedade dominada pela agricultura e criação de rebanhos, a fertilidade era de suma importância.C u neiform e: escrita silábica gravada em form a de cunha, inventada pelos sumérios e usada por todas as civilizações subseqüentes na Mesopotâmia até a chegada dos gregos.D em ótico: versão da língua egípcia que data de 700 a.C., conhecida como hierática, cuja escrita cursiva era mais prática que sua precursora, hieróglifos picto- gráficos.P ilm u n : terra paradisíaca na mitologia mesopotâmica. Utnapishtim, o herói do Épico de Gilgamés, foi levado ali para viver eternamente após o dilúvio. Dumuzi/Tammuz: deus m esopotâmico, consorte da deusa Istar, cuja morte e aprisionamento no mundo inferior representavam as mudanças das estações.Ea: deus mesopotâmico dos rios e riachos que aparece na história do dilúvio narrada no Épico de Gilgamés e na história babilónica da criação, Enuma Elish.El: o deus supremo no panteão ugarítico e também um term o genérico para deus. Era acrescentado ao nome de um lugar (i.e., Betei ou El Eloí-Israel) para distingui-lo como um lugar onde um deus m anifestou seu poder.
E l Amarna: a capital do faraó Aquenaton (século catorze a.C.) em que os arqueólogos descobriram centenas de notas reais descrevendo eventos bastante caóticos em Canaã durante esse período.Elão: país a leste do rio Tigre, no atual Irã.E loh im : um dos nomes do deus israelita, geralmente traduzido como "D eu s" em português, mas ocasionalmente usado para referir-se a outros deuses ou a seres sobrenaturais.Em ar: cidade da Idade do Bronze (Tell M eskene/ Balis) localizada na extremidade norte do rio Eufrates, na Síria. Textos encontrados ali da idade do Bronze Moderna fornecem informações da vida diária desde o século catorze até o século doze a.C..E nki e N inhursag: mito sumério que apresentava uma explicação sobre as propriedades geradoras de vida das águas do rio (Enki) e sobre os tipos de vegetação que crescia à medida que as águas fluíam e nutriam a terra (Ninhursag e seus filhos).En lil: deus m esopotâmico da tem pestade, chefe da assembléia divina e instigador do dilúvio no Épico de G ilgam és.Enum a E lish : história babilónica da criação.Esnuna: cidade m esopotâm ica na região D iyala, a leste da atual Bagdá, que teve um curto reinado entre 2100 e 2000 a.C. e elaborou um código de lei que contém alguns paralelos ao Código de Hamurabi e à lei bíblica.Etana: antigo rei mesopotâmico, protagonista de uma lenda em que se obtém um a planta do céu que garante fertilidade sendo assim capaz de gerar um filho a fim de dar continuidade ao seu governo. Sua subida até o céu é feita no dorso de uma águia e é assim que ele é retratado em selos antigos.Etiologia: história que tenta explicar a origem de um nome, um costume ou um fato da realidade, tal como a morte ou um parto doloroso.Execração: método de amaldiçoar um inimigo confeccionando um boneco ou vasilha de encantamento contendo o nome da pessoa amaldiçoada.Exorcism o: ritual, incluindo feitiços e encantamentos, cujo objetivo é expulsar ou remover demônios de pessoas ou lugares.Funerário: rituais e objetos relacionados ao enterro dos mortos. Ritos funerários também faziam parte de um sistema mais amplo de adoração aos ancestrais. Gilgam és: rei sumério de Uruk, protótipo do herói na literatura mesopotâmica. Seu épico contém um a busca pelo segredo da imortalidade e uma narrativa do dilúvio.G líp tica : tipo de arte entalhada, presente especialmente em selos onde o desenho era gravado do lado inverso para que, ao ser impresso em argila ou cera, apresentasse a figura do lado certo.
Habiru: termo usado em textos mesopotâmicos para referir-se a pessoas sem pátria.Ham urabi: rei babilônio (1792-1750 a.C.) que compilou um código de leis contendo uma série de paralelos com a lei bíblica.H enoteísm o: religião que reconhece a existência de outros deuses, mas com freqüência insiste na suprem acia de seu próprio deus.Heretn: "guerra santa" ou "aniquilação" que requeria a destruição completa de todas as pessoas, animais e propriedades como um sacrifício dedicado a Yahweh. Heródoto: historiador grego que viveu no quinto século a.C.. E conhecido por suas H istórias (445 a.C.), que documenta a história das Guerras Persas contra os gregos, tais como as batalhas de Maratona, Termó- pilas e Salamina.H esíodo: filósofo grego do oitavo século a.C.. Sua principal obra foi Teogonia, o relato grego conhecido m ais antigo sobre a criação e a origem dos deuses. H ieróglifo: escrita silábica, pictográfica desenvolvida pelos antigos egípcios.Hititas: povo indo-europeu que migrou para a Anatólia após 2000 a.C. e criou um im pério que desafiou o Egito no controle da Siro-Palestina durante a metade do segundo milênio. Também produziram um código de leis com paralelos à lei bíblica.H icsos: um a aliança de povos semitas, talvez de cidades que ressurgiam em Canaã na Idade do Bronze M édia, que se estabeleceram no Egito e obtiveram o controle de importantes regiões do país em 1750 a.C.. Com o passar do tempo passaram a governar a maior parte do Baixo Egito, com a capital em A varis, até 1570 a.C..H u m anos: povo não-sem ita que criou um reino em M itani, M esopotâm ia central, durante a m etade do segundo milênio.Iconografia: m ensagens pictóricas inscritas em artefatos antigos. Essas imagens incluem objetos tridimensionais, relevos, pinturas, selos e até figuras em paredes. São uma im portante fonte de inform ações que complementa os dados textuais existentes.Idad e do Bronze: a era (dividida em A ntiga, M édia e Moderna) que se estendeu aproximadamente de 3000 a 1200 a.C. e foi caracterizada pela tecnologia do bronze. Id ad e do B ronze A ntiga: era de 3300 a 2300 a.C., caracterizada pelo surgimento de cidades, da civilização do Egito da Antiga Dinastia e da Suméria, bem como da tecnologia do bronze.Idade do Bronze M édia: era cronológica de 2300 a 1550 a.C. que inclui o período dos ancestrais de Israel,o período da Antiga Babilônia e o controle egípcio da Siro-Palestina.Idade do Bronze M oderna: era cronológica de 1550 a 1200 a.C ., m arcada pela Era A m arna e pelo Novo
Reinado no Egito, pelo im pério hitita na Anatólia e pela invasão dos Povos Marítimos.Id ad e do Ferro: era na h istória do antigo O riente Próximo de 1200 a 300 a.C. e caracterizada pelo uso da tecnologia do ferro.Identidade coletiva: um grupo é tratado como uma unidade. Esse conceito se refletia no princípio legal que recompensava ou punia toda uma família pelos acertos ou erros do chefe da casa.Im pureza: estado em que um indivíduo, grupo ou objeto tom a-se impuro pela prática de um a transgressão da lei ou pelo contato com pessoa ou coisa impura. O resultado é a im pureza ritual, que proíbe a pessoa ou grupo de participar de atividades religiosas e pode (no caso de lepra) exigir a expulsão. Rituais de purificação eram exigidos para rem over esse estigm a e restaurar a pessoa ou grupo à participação na comunidade.In s itu : termo aplicado para o local de origem onde um artefato foi achado e registrado por arqueólogos. Istar: deusa mesopotâmica do amor, consorte de Dumu- zi, que aparece na narrativa do dilúvio de Gilgam és. Josefo: historiador judeu do primeiro século d.C. Suas duas grandes obras, Antigüidades dos Judeus e Guerras Judaicas, oferecem uma visão detalhada da perspectiva judaica a respeito de suas épocas e história.Keret: rei herói de uma lenda ugarítica o qual recebe instruções dos deuses de como adquirir uma esposa e um herdeiro ao trono. Essa crise fam iliar é apenas um a de uma série que inclui enfermidade e rebelião por parte de um de seus filhos.Lagash: cidade-estado sum éria (el-Hiba) da metade do terceiro milênio contendo diversos centros urbanos, que disputou com Ur, Uruk e Kish pelo controle da região.Larsa: cidade suméria do início do segundo milênio, dezesseis quilômetros a leste de Uruk e 32 quilômetros ao norte de Ur.Lei apodíctica: um tipo de afirm ação legal na form a de ordem, sem explicação.Lei casuística: afirm ação legal baseada na estrutura "se-então".Levante: área do leste do Mediterrâneo também designada como Siro-Palestina.Leviatã: serpente m arinha associada aos poderes caóticos do mar. O nome encontra-se em textos mitológicos ugaríticos e também em Jó, Salmos e Isaías. Lipit-Istar: rei da terceira dinastia de Ur, na M esopotâm ia, que elaborou um código de lei paralelo a alguns aspectos da lei bíblica.M arduque: principal deus da Babilônia que derrotou Tiam at na história da criação intitulada Enuma Elish e tom ou-se o chefe da assembléia divina.M ari: cidade mesopotâmica na extremidade norte do rio Eufrates que floresceu de 2500 a 1700 a.C. e produ
ziu milhares de documentos cuneiformes descrevendo eventos políticos, atividade profética e os povos nômades pastoris do norte da Síria.M itani: reinado dos hurrianos na Mesopotâmia central durante a metade do segundo milênio a.C.. M onolatria: situação em que uma pessoa ou grupo determ ina adorar apenas um D eus, a despeito da existência ou não de outros deuses.Nazireu: israelita (homem ou mulher) que fazia um juram ento de abster-se de consumir qualquer produto da uva, de ter contato com os mortos e de cortar os cabelos.Nínive: capital do Império Assírio no alto do rio Tigre. Nuzi: cidade hurriana dos séculos dezesseis e quinze a.C. que forneceu documentos relacionados à família e negócios, registrando costumes de casamento e herança semelhantes aos das narrativas ancestrais. Oráculo: profecia (na forma oral ou escrita) que revela a vontade divina através de adivinhações.O síris: deus egípcio do mundo inferior.Povos M arítim os: grupo miscigenado de povos em toda a área m editerrânea que atuaram como m ercenários nos exércitos egípcio e hitita até 1200 a.C. quando fizeram um ataque coletivo às principais civilizações do O riente Próxim o desestabilizando-as o bastante para permitir o surgimento de novos povos em Canaã. Profanação (impureza): impureza ritual causada por contato com ou consumo de coisas impuras, tal como o sangue, e só poderia ser rem ovida através de atos rituais cujo objetivo era transferir a pessoa de um estado de impureza para o de pureza.Prostituição ritual: prática de atos sexuais como parte de uma cerimônia religiosa para promover a fertilidade ou enriquecer um santuário.Pseudepígrafes: literatura produzida sob a persona de um indivíduo respeitado e bem conhecido. A s obras pseudo-epigráficas do Antigo Testam ento são atribuídas a pessoas como Enoque e Esdras, e datam do período intertestamental ou posterior.Pureza: estar em subm issão à lei e livre para participar de atividades religiosas e sociais. Esse estado podia ser alcançado através de ações corretas, purificação ritual ou sacrifícios.Seita: organização e atividades de um grupo religioso que incluíam sacrifícios e outros rituais.Sim patia: representação ritualística da realidade através de um objeto. O nome, o cabelo ou o sangue de uma pessoa podia ser usado ou podia-se confeccionar imagens da pessoa ou coisa a ser atingida. A idéia era que a essência da pessoa estava ligada ao objeto que a representava ou era transferida para ele. Sincretism o: o empréstimo de idéias, práticas, crenças e costumes de uma cultura sendo combinados com outra.
Sinuhe: oficial do faraó Am enem hat I (1991-1962 a.C.) que foi exilado em Canaã por muitos anos antes de ser perdoado e de receber permissão para voltar ao Egito. Sua história contém alguns paralelos com a dos ancestrais em Gênesis, bem como com a história de Moisés. Sum éria: área no extremo sul da antiga Mesopotâmia. Foi a primeira verdadeira civilização naquela região em 3500 a.C., inventou a escrita cuneiform e e criou muitos dos mitos que serviram de base para a religião por diversos milênios seguintes.Tell: monte artificial criado pelas sucessivas camadas de ocupações em um determinado lugar.Teofania: aparição de Deus a um ser humano, como na "sarça ardente".Teofórico: nom e próprio que contém uma referência ao nom e de uma divindade. Nomes teofóricos como Isaías, Ezequiel, Jerubaal e Nabucodonosor com freqüência contêm afirmações a respeito da divindade. T ia m a t: deusa m esop otâm ica prim ev a dos m ares, consorte de A psu, deus dos rios. E la é a opositora a M ard uque na h is tó ria da criação in titu lad a Enum a Elish.Toth: deus-lua egípcio.Ugarit: cidade portuária do norte da Síria que controlou o transporte mercantil de aproximadamente 1600 a 1200 a.C., quando foi destruída pelos Povos M arítimos. Diversas histórias épicas ugaríticas foram descobertas a que ajudam a entender as histórias bíblicas dos períodos ancestrais e de ocupação. A credita-se que a cultura ugarítica tenha se aproximado da cultura cananéia.Ur III: período da história m esopotâmica de 2120 a 1800 a.C. fundado por Ur-Nammu, centrado na cidade de U r e caracterizado por um breve ressurgimento da cultura suméria.Ur-Nammu: rei de U r III, pai de Shulgi, que criou um código de leis que apresenta alguns paralelos com a lei bíblica.Uruk: cidade suméria do terceiro milênio e início do segundo milênio, governada por Gilgamés. Utnapishtim : herói da narrativa do dilúvio no Épico de Gilgam és.W enam om: sacerdote do deus egípcio A m om (c. 1100 a.C.), enviado como em baixador a fim de conseguir madeira para a barcaça real dos governantes da Síria e da costa fenícia. Sua m issão foi retardada pela fragilidade do Egito naquela época e pelas condições políticas caóticas que se seguiram à invasão dos Povos M arítimos.Xenofonte: historiador grego que escreveu no início do quarto século a.C.. Sua obra histórica m ais famosa, A nabasis, focaliza a batalha entre Ciro, o Jovem , e Artaxerxes n.Yahw eh: um dos nomes do Deus de Israel, às vezes transliterado como "Jeová" e traduzido como "Senhor".
Quadros e Mapas
Principais tabletes de importância para o Antigo Testamento
NOME NÚMERO DE
TABLETES
LÍNGUA DESCOBERTO POR
LOCALDA DESCOBERTA
DATADADESCOBERTA
TEMA DATADE
ORIGEM
IMPORTÂNCIA PARA A BÍBLIA
Ebla 17.000 Ebíaíta Matthiae Tell-Mardikh
1976 Arquivos reais contendo diversos tipos de texto
Séc.24 Fornece dados sobre o contexto histórico da Síria no final do terceiro milênio
Atrahasis 3 Acadiano Diversas pessoas encontraram partes distintas
Diferentes partes em localidades diferentes
1889 a 1967 Relato da criação, crescimento da população e dilúvio
Cópia de 1635
Paralelos aos relatos do Gênesis
Mari 20.000 Acadiano(antigobabilónico)
Parrot Tell-Hariri 1933 Arquivos reais de Ziinri-Lim contendo diversos tipos de textos
Séc. 18 Fornece dados sobre o contexto histórico do período e é a maior coleção de textos proféticos
EnumaElish
7 Acadiano(neo-ssírio)
Layard Nínive (biblioteca de Assurbanipal)
1848-1876 Relato da ascensão de Marduque como chefe do panteão
Cópiadosétimoséculo
Paralelos aos relatos da criação de Gênesis
Gilgamés 12 Acadiano(neo-ssírio)
Rassam Nínive (biblioteca de Assurbanipal)
1853 Feitos de Gilgamés e de Enkidu e a busca pela imortalidade
Cópiadosétimoséculo
Paralelos aos relatos da criação de Gênesis
Boghaz-Kôy
10.000 Hitita Winckler Boghaz-Köy 1906 Arquivos reais do Império Neo-Hitita
Séc. 16 História hitita e ilustrações de tratados internacionais
Nuzi 4.000 Dialeto hurriano do acadiano
UueraeSpeiser Yorghum
Tepe1925 a 1941 Arquivo
contendoregistrosfamiliares
Séc. 15 Fonte sobre costumes contemporâneos da metade do segundo milênio
Ugarit 1.400 Ugarítico Schaeffer Ras Shamra 1929 a 1937 Arquivos reais de Ugarit
Séc. 13 Religião e literatura cananéia
Amarna 380 Acadiano(dialetosemita-ocidental)
Camponêsegípcio Teil
el-Amama1887 Correspondên
cia entre o Egito e seus vassalos em Canaã
1370 a 1340
Reflete as condições da Palestina na metade do segundo milênio
CrônicasBabilónicas
4 Acadiano(neo-babilônico)
Wiseman Babilônia 1956 Registros da corte do Império Neo- Babilônico
626 a 594
Registro da conquista de Jerusalém em 597 e história do período
Emar800 Acadiano Margueron Tell-
Meskene1975 Arquivos do
Templo Real e familiares
Séc. 13 Costumes das famílias; rituais religiosos
Alalakh500 Acadiano Wooley T ell-Atchana 1939 Arquivo do
Templo Real; Estatuto de Idrimi
Séc.18-17
Tratados e contratos fornecendo dados sobre o contexto cultural
Principais inscrições de importância para o Antigo Testamento
NOME LÍNGUA DESCOBERTOPOR LOCALDADESCOBERTA
DATADADESCOBERTA
TEMA DATA DE ORIGEM
(a.C.)
IMPORTÂNCIA PARA A BÍBLIA
PinturanoTúmulo de Beni Hasan
Hieróglifoegípcio
Newberry Beni Hasan 1900 Pintura de Khnumhotepn
1920 Retrata semitas no Egito
Leis de Hamurabi
Acadiano(antigobabilónico)
DeMorgan Susã 1901 Coleção de leisbabilónicas
1725 Exemplifica a lei no antigo Oriente Próximo
Esteia de Merenptá
Hieróglifoegípcio
Petrie Tebas 1896 Feitosmilitares de Merenptá
1207 Primeira menção ao nome de "Israel"
InscriçãodeSheshonq
Hieróglifoegípdo
Templo em Karnak
1825 Feitosmilitares de Sheshonq
920 Confirmação de invasão contra Roboão
Inscrição da "Casa de Davi"
Aramaico Biran Dã 1993 Conquista síria da região
Nonoséculo
Primeira menção de Davi em registros da época
Inscrição de Messa
Moabita Klein Dibom 1868 Feitos militares de Messa, rei de Moabe
850 Relações entre moabitas e israelitas no nono século
EsteiaNegra
Acadiano(neo-assírio)
Layard Nínive 1845 Feitos militares deSalmaneser III
840 Ilustra israelitas pagando tributos
Textos de Balaão
Aramaico Franken Deir Alia (Sucote)
1967 Profecia de Balaão sobre o descontentamento do concílio divino
Oitavoséculo
Relacionados a um famoso vidente citado na Bíblia
Pergaminhos de Prata
Hebraico Barkay Túmulo no Vale de Hinom
1979 Amuleto contendo o texto de Números 6.24-26
Sétimoséculo
Mais antiga cópia de uma porção da Bíblia
Inscrição de Siloé
Hebraico Rapaz camponês Jerusalém 1880 Comemoração do término do túnel de água de Ezequias
701 Exemplo contemporâneo da língua hebraica
Prisma de Sena- queribe
Acadiano(neo-assírio)
Taylor Nínive 1830 Feitos militares deSenaqueribe
686 Descreve o cerco a Jerusalém
Ostracos de Láquis
Hebraico Starkey Teil ed- Duweir
1935 18 cartas do capitão do forte de Láquis
588 Condições durante o último cerco à Babilônia
Cilindro de Ciro
Acadiano Rassam Babilônia 1879 Decreto de Ciro permitindo a construção de templos
535 Ilustra a política que favoreceu Judá
Textos legais do Antigo Oriente PróximoNOME SÉCULO a.C. DESCRIÇÃO
SUMÉRIOS Reforma de Uruinimgina (rei de Lagash)
24Início da Dinastia III
Reforma social
Leis de Ur-Nammu (rei de Ur) 21 (Ur III) Ainda existem cerca de 31 leis (fragmentadas)
Leis de Lipit-Istar (rei de Isin) 19 (Isin-Larsa) Trechos de 38 leis com prólogo e epílogo: apenas leis civis
ACADIANOS Leis de Esnuna 18 (Babilônia Antiga) 60 parágrafos de leis civis e criminais
Leis de Hamurabi (rei da Babilônia) 18 (Babilônia Antiga) 282 leis ainda existem (35-40 foram apagadas) mais prólogo e epílogo
Leis Médio-Assírias (Tiglate-Pileser I?) 12 (Médio-Assíria) Cerca de 100 leis e 11 tabletes com leis civis e criminais
HITITAS Leis Hititas (Mursilis I ou Hattusilis I) 17 (Antigo Hitita) Cerca de 200 leis civis e criminais
Literatura do Antigo Oriente Próximo Que contém paralelos com o Antigo Testamento
OBRA LITERÁRIA LÍNGUA DATA LIVRO DO AT PARALELO
Épico de Atrahasis Acadiano -1635 Gênesis Criação, crescimento da população e dilúvio com arca
Enuma Elish Acadiano -1100 Gênesis Relato da criação
Épico de Gilgamés Sumério Acadiano -2000 Gênesis Relato completo do dilúvio com arca e pássaros
Teologia de Mênfis Egípcio -séc. 13 Gênesis Criação por meio da palavra falada
Leis de Hamurabi Acadiano -1750 Êxodo Leis semelhantes às entregues no Sinai, na forma e no conteúdo
Hino a Áten Egípcio -1375 Salmo 104 Expressões e termos usados nos temas e analogias
Ludlul bei Nemeqi Acadiano -séc. 13 Jó O sofredor questiona a justiça da divindade
Teodicéia Babilónica Acadiano -1000 Jó Diálogo entre o sofredor e amigo quanto à justiça da divindade
Instrução de Amenemope
Egípcio -1200 Provérbios 22.17 - 24.22
Vocabulário, imagens, tema, estrutura
Tratados Hititas (36) Hitita 2“ milênio Deuteronômio; Josué 24
Forma e conteúdo
Lamentação pela Queda das Cidades Sumérias (5)
Sumério Séc. 20 Lamentações Expressões, linguagem, imagens etema
Canções de Amor Egípcias (54)
Egípcio 1200-1150 Cântico dos Cânticos
Conteúdo e categorias literárias empregadas
Textos com Profecias de Mari (~50)
Acadiano Séc. 18 Profecia Pré-clássica Abordagem de temas semelhantes (feitos militares e atividade cultual)
Cronologia comparativa doAntigo Oriente Próximo 1 0 .0 0 0 - 2 . 1 0 0 a.C.
ANATÓLIA/ SÍRIA
MESOPOTAMIA patestina EGITO
H
A
T
T
I
A
N
T
I
G
O
Jarmo
HassunaSamarraHalaf
10000
8000
5000
4300
Ubaid (4300-3500) |
Sul: Norte: 3300Uruk Tepe Gawra
(3500-3100) (3500-2900)
Anterior à escrita
Jemdet Nasr (3100-2900)
Antiga Dinastia I
Antiga Dinastia II
Antiga Dinastia Hl
PeríodoAcadiano
3000
2900
2800
2700
2600
2530
2400
2300
Dinastia de Ur III
Isin-Larsa
Invasões de Elamitas e Amorreus
Mesolítico
Neolítico: anterior à cerâmica
Neolítico: período da cerâmica
Calcolítico
Bronze Antiga I
Bronze Antiga n
Período Gutian: 2200Dinastia de jLagash |
------------------ 2100
2000
1900
Bronze Antiga III
BronzeAntigaIV
Bronze Média I e Patriarcas
Período Pré-dinástico:Fayyum A, Deir Tasa Badarian, Amratian Gerzean
Período Protodinástico: Dinastia I e II (3000-2700)
Antigo Reinado Idade da Pirâmide Dinastias III - V (2700-2350)
Dinastia VI (2350-2160)
Primeiro Período Intermediário (2160 - 2010)
Reinado Médio: Dinastias XI - XII (2106-1786)
1800 Bronze Média IIA
ANATÓUA/ SÍRIA
MESOPOTAMIA PATESTINA EGITO
Antigo Império Hitita (18001600)
ImpérioMitani-Hurriano(1500-1350)
ImpérioNeo-Hitita(1460-1200)
Neo-Hi ti tas do norte da Síria duranteo oitavo século
Resistência síria até a Queda de Damasco (732)
Período da Antiga Babilônia: Idade de Hamurabi
1700
PeríodoCassita
Ascensão dos Assírios ao poder
Império Assírio
ImpérioNeo-Babilônico
Bronze Média B e C
1600!
1500
1400
1300
1200I
1X00
I1000
I900
I800
700
600
Bronze Moderna I Êxodo e Conquista
Bronze Moderna II Juizes a Débora
Ferro I Juizes e Monarquia Unificada
Ferro IIMonarquiaDividida
Segundo Período Intermediário: Hicsos (1786-1550)
Novo Reinado (1550-1069) Dinastia XVIII (1550-1295)
Dinastia XIX Idade do Império (1295-1186)
Dinastia XX (1186-1069)
Dinastia XXI (1069-945)
Último Período: Dinastias XXII-XXVI (945-525)
CONTROLE PERSA (539-332)
índice Temático
1. ... no antigo Oriente Próximo2. Cultura material3. Povos4 . Lugares5. Religião6. Sociedade e instituições7. Questões da vida8. Miscelânea de assuntos9. Lista alfabética de tópicos
1. . . . no antigo Oriente Próximoadoração astral, Dt 4.19
árbitro, Jó 9.33bênçãos, N m 6.24-26
capacitação pelo espírito divino, Is 11.2
castigo divino, Dt 32.23-25
cidades de refúgio, Dt 19.2-3comércio de escravos, Dt 24.7
concílio dos deuses, Is 40.13-14construção de estradas, Is 40.3-4consulta aos mortos, 1 Sm 28.8-11
controle cósmico, Jó 9.5-9
crenças na vida após a morte, Is 14
criação do ser humano, G n 1.26-31
discurso persuasivo, 1 Sm 25.23-31divórcio, Dt 22.29
dízimo, N m 18.21-32
eclipses, J1 2.31
educação formal, Jó 8.8-10
eleição antes do nascimento, Jr 1.5em briaguez, Is 28.7espiões, Js 2.2
estrutura judicial, Dt 1.16
expectativa de vida, D t 31.2; SI 90.10; Is 40.6-7
festas e dias sagrados, Nm 28.1-30fonte de sabedoria, Jó 28.20-17
guardiães alados, Ez 1.5ideologia do templo, 2 Cr 7.16ídolos, Jr 10.5
juizes subornados, Is 5.23
julgam ento através de teste, N m 5.23-24lamentos, nota em Lamentações; Ez 19.1leis opressivas, Is 10.1leis sobre escravos, Ex 21.2-6listas de fronteiras, Js 13.1
maldições e bênçãos em tratados, Dt 28.2-11métodos dos médicos, Jó 13.4mineração, Jó 28.11monoteísmo, Dt 6.4
narrativas da conquista, Js 10.16-43oferta das primícias, D t 26.1-15onipresença divina, SI 139.8-12onisciência divina, SI 139.2-4
parábolas e alegorias, Is 5.1-2patologia, Dt 28.22
predições através de sonhos, D t 13.1-5preferência pela morte, Jó 7.15-16profecia, Dt 18.14-22; Jn 3.4refugiados, Jr 40.11-12rei escolhido pela divindade, D t 17.14-20rei pastor, Ez 34.7-16reinado, 1 Sm 8.6
responsabilidade individual, Ez 18.20 ressurreição, Is 26.19; Dn 12.2 restauração do templo, 2 Cr 24.4 restrições alimentares, Lv 11.2
ritos de substituição, Is 53.4-10 sábado, Is 58.13 sábios, Pv 1.1sistema financeiro, Dt 15.1-11
sonhos de incubação, 1 Sm 3.3
usura, Ez 18.8veredicto através de presságios, Dt 17.8-13
2 . Cultura materialamuletos, D t 6.8
arquitetura das casas, Js 2.6; 6.1arquitetura dos templos, Jz 16.29carros, 2 Sm 8.4escrita, Ex 24.4ferro, 1 Sm 13.19-20fortificações, Is 2.15instrumentos musicais, G n 4.21; 1 Sm 10.5; 2 Sm 6.5;2 Cr 20.28; SI 150; Dn 3.5lançadeira, Jz 16.13-14metalurgia, Is 1.22m oinho, Jz 16.21portas e trancas, D t 3.5; Jz 16.3
rampas de cerco, Jr 6.6; 32.24selos, Ne 9.38; Jr 32shofar, Ex 19.13
sinais de trombeta, Nm 31.6; Js 6.4-5
3. Povosamalequitas, Gn 36.12; Nm 24.20amonitas, Dt 2.19amorreus, N m 21.21; Dt 1.19árabes, Is 21.13
arameus, Gn 28,5; 2 Sm 8.5assírios, Is 7.17
cuxitas, Is 18.1edomitas, Is 21.11egípcios, Is 19.1filisteus, Jz 13.1; Is 14.29
heveus, G n 34.2; Js 9.7hititas, Gn 23.2-20jebuseus, Jz 1.21midianitas, Jz 6.1moabitas, Is 15.1queneus, Jz 1.16refains, Dt 2.11; Js 12.4
4 . LugaresAi, Js 7.2Arade, Nm 21.1-3; Js 12.14; Jz 1.16Arpade, Is 10.9Ascalom, Jz 1.18; 14.19Asdode, 1 Sm 5.1Berseba, G n 22.19Betei, Js 8.9; Jz 1.22-23
Bete-Seã, Js 17.16; Jz 1.27; 1 Sm 31.10-12 Bete-Semes, Js 21.16; 1 Sm 6.9 Calno, Is 10.9 Carquemis, Is 10.9 Dã, Jz 18.29
Damasco, 2 Sm 8.5; Is 17.1Ecrom, Jz 1.18; 1 Sm 5.10Gate, 1 Sm 5.8Gaza, Jz 1.18Gezer, Js 10.33; 21.21Gibeom , Js 9.3
Hamate, Is 10.9Hazor, Js 11.1; Jz 4.2Hebrom, Gn 13.18; Nm 13; Js 10.3Hesbom, Dt 2.26Jericó, Js 2.1Jerusalém , Js 10.1; 2 Sm 5.6Láquis, Js 10.3; 2 Cr 32; M q 1.13Libna, 2 Cr 21.10Maanaim, 2 Sm 2.8
Megido, Js 12.21Micmás, 1 Sm 13.2Nínive, Jn 1Quiriate-Jearim, 1 Sm 6.21 Ramá, 2 Cr 16.1 Ramote-Gileade, 2 Cr 18.2
Samaria, 1 Re 16.24 SUó, 1 Sm 1.3Siquém, G n 12.6; 33.18-19; Js 24.1; Jz 9.1 Susã, Et 1.2Tiro, 2 Sm 5.11; Is 23.1,3
Tirza, 1 Re 16.6 Ziclague, 1 Sm 27.6
5 . Religiãoadivinhação, Lv 19.26; Dt 18.10-13; Gn 30.27adoração astral, Dt 4.19; 17.3; 2 Re 23.4; 2 Cr 33.5adoração, Salmos: Conceitos Básicosarca, Ex 25.10-22assembléia divina, Is 40.13-14
Astarote, Jz 2.13Baal, Jz 2.11-13Camos, Jz 11.24castigo divino, Dt 32.23-25
colunas sagradas (de Aserá), Ex 34.13; Dt 7.5; 12.3; Jz 6.25
colunas sagradas, G n 28.18-19compasso sagrado, Lv 10.10; 16.2; Nm 18.1-7consulta aos mortos, 1 Sm 28.8-11contaminação com cadáver, Nm 19.11culto aos ancestrais, Nm 3.1; Dt 18.11; 1 Sm 28.8-11Dagom, Jz 16.23
destruição divina, Is 10.22-23 divindades iradas, D t 9.28 El Shadai, G n 17.1-2 feitiçaria, Dt 18.10 Festa da Lua Nova, 1 Sm 20.5 gordura, Lv 3.1-5
guerreiro divino, 1 Sm 4.3-7; Salmos: Conceitos Básicosholocausto (oferta queimada), Lv 1.3-4ídolos, Lv 26.1; D t 4.15-18; Is 2.8; 40.19; 44.17-18impureza, Lv 12.1incenso, Ex 30.7-8; Jr 44.18jejum , 1 Sm 7.6
mágicos/ sábios, Gn 41.8-16M arduque (Bei), Is 46.1médiuns/espiritualistas, Lv 19.31; Dt 18.11Milcom, 1 Re 11.5, 7Moloque, Lv 18.21; Dt 18.10monoteísmo, Dt 6.4monte, 1 Sm 9.12Nebo, Is 46.1oração, 1 Sm 1.13
presságios, D t 18.10profeta, D t 18.14-22prostituição cultual, Dt 23.17-18querubim, Ex 25.18-20
remado divino, Ex 15.3; 1 Sm 8.7sacerdotes, Ex 28.1; Nm 3.7-10; 18.1-7
santuários exteriores, D t 12.2sonhos, G n 37.5-11; 40.5-18; Dt 13.1-5; 1 Sm 3.3; D n 2.4teofanias, 1 Re 19.11-13
terafins (ídolos do clã), G n 31.19terremoto, 1 Sm 14.15trovão, 1 Sm 7.10vendaval, Na 1.3
vida após a m orte, Salmos: Conceitos Básicos; Is 14.9 visões, Gn 15.1
6 . Sociedade e instituiçõescasamentos políticos, D t 17.17; Jz 12.8; 1 Sm 25.39-44;1 Re 11.1censo, Ex 30.11-16
classes desfavorecidas, Ex 22.22-24escravidão por dívida, Ex 21.2-6escravidão, Lv 25.39-55; Dt 23.15-16; Ec 2.7escribas, 1 Cr 24.6; N e 8.1eunucos, Is 56.4-5; Et 1.10exogamia, Ed 9.10-12guerra de cerco, 2 Cr 32.9; Jr 32.24guerra, Dt 20.10-15impostos, 2 Cr 24.5julgam ento através de teste, Nm 5.23-24 juros e empréstimos, Ex 22.24; Lv 25.38; Dt 15
mercenários, 2 Cr 25.6 pergam inhos, Jr 30.2 porta da cidade, G n 34.20 primogenitura, 1 Re 1.5-6 prostrar-se em honra, G n 43.26 rainha-mãe, 1 Re 2.19 reinado, 1 Sm 8.6
sistema judiciário, Ex 18.13-27; Dt 1.9-18; 16.18-20; 17
7 . Questões da vidacasamentos arranjados, Jz 14.2 concubinas, G n 16.2; 25.1-4
costumes de casamento, G n 29.21-24; Dt 22.23, 25; Jz 14.10; 15.1
direito de primogênito, Dt 21.15-17 divórcio, Dt 22.29
doença, G n 12.17
esterilidade, G n 11.30 expectativa de vida, Dt 31.1
exposição de cadáver, Js 8.29; 1 Re 16.4; 21.19; 2 Re9.36; Is 14.19
genealogias, G n 5.1-32
papel das m ulheres, N m 30.3-15
patologia, Dt 28.15-68
poligamia, G n 4.19; 1 Sm 1.2
práticas de luto, G n 37.34-35; Lv 10.6-7; 19.28; Dt14.1-2; Et 4.1
práticas de sepultamento, G n 23.4-5
preço da noiva/dote, G n 29.18-20 Sheol, Is 14.9
viúvas, Gn 38.11; Ex 22.22-24
8 . Miscelânea de assuntosabominações dos cananeus, Lv 18.24-28 alma, SI 42.2anjo do Senhor, N m 22.22-35; Jz 6.11 bênção, N m 6.22calendário religioso, Lv 23.1^4; Nm 28.1-30camelos, G n 24.10-11canibalismo, Is 9.20cânticos de vitória, Jz 5.1-3cavalaria, Jr 6.23constelações, Is 13.10; A m 5.8criação, Salmos: Conceitos BásicosDia d o Senhor, J1 2.1dízimo, Nm 18.21-32; D t 14.22-29espírito do Senhor, Jz 6.34-35; 1 Sm 10.6; 11.6; 16.13-14estações, D t 11.11-15imagem do jugo, Na 1.13mármore, 1 Cr 29.2
mundo às avessas, Jr 4.23-26números, Js 8.3; Jz 20.2; 2 Cr 11.1; 13.2-20; Ex 12.37pedras preciosas, 2 Cr 9.9
princípio da retribuição, Salmos: Conceitos Básicosrestauração do templo, 2 Cr 24.4Terra de Deus, Lv 25.23unção/azeite, Lv 8.1-9; 1 Sm 16.1valores em ouro, 1 Cr 22.14vinhas, Is 5.1-6
votos, lv 27.2-13; 1 Sm 1.11
9 . Lista alfabética de tópicosabominações dos cananeus, Lv 18.24-28 adivinhação, Lv 19.26; Dt 18.10-13; G n 30.27 adoração astral, Dt 4.19adoração astral, Dt 4.19; 17.3; 2 Re 23.4; 2 Cr 33.5 adoração, Salmos: Conceitos Básicos Ai, Js 7.2 alma, SI 42.2
amalequitas, Gn 36.12; N m 24.20 amonitas, D t 2.19
amorreus, Nm 21.21; Dt 1.19 amuletos, D t 6.8
anjo do Senhor, Nm 22.22-35; Jz 6.11 árabes, Is 21.13
Arade, Nm 21.1-3; Js 12.14; Jz 1.16 arameus, G n 28.5; 2 Sm 8.5 árbitro, Jó 9.33
arca, Ex 25.10-22 Arpade, Is 10.9
arquitetura das casas, Js 2.6; 6.1arquitetura dos templos, Jz 16.29Ascalom, Jz 1.18; 14.19
Asdode, 1 Sm 5.1assembléia divina, Is 40.13-14assírios, Is 7.17Astarote, Jz 2.13
Baal, Jz 2.11-13bênção, Nm 6.22
bênçãos, N m 6.24-26Berseba, Gn 22.19Betei, Js 8.9; Jz 1.22-23Bete-Seã, Js 17.16; Jz 1.27; 1 Sm 31.10-12Bete-Semes, Js 21.16; 1 Sm 6.9calendário religioso, Lv 23.1-44; Nm 28.1-30Calno, Is 10.9camelos, Gn 24.10-11Camos, Jz 11.24canibalismo, Is 9.20cânticos de vitória, Jz 5.1-3capacitação pelo espírito divino, Is 11.2Carquemis, Is 10.9
carros, 2 Sm 8.4
casamentos arranjados, Jz 14.2casamentos políticos, Dt 17.17; Jz 12.8; 1 Sm 25.39-44;1 Re 11.1
castigo divino, Dt 32.23-25castigo divino, Dt 32.23-25cavalaria, Jr 6.23censo, Ex 30.11-16cidades de refúgio, Dt 19.2-3classes desfavorecidas, Ex 22.22-24colunas sagradas (de Aserá), Ex 34.13; Dt 7.5; 12.3;Jz 6.25
colunas sagradas, Gn 28.18-19comércio de escravos, Dt 24.7
compasso sagrado, Lv 10.10; 16.2; Nm 18.1-7concílio dos deuses, Is 40.13-14concubinas, Gn 16.2; 25.1-4constelações, Is 13.10; A m 5.8construção de estradas, Is 40.3-4consulta aos mortos, 1 Sm 28.8-11consulta aos mortos, 1 Sm 28.8-11contaminação com cadáver, N m 19.11controle cósmico, Jó 9.5-9costumes de casamento,-Gn 29.21-24; D t 22.23, 25; Jz 14.10; 15.1
crenças na vida após a morte, Is 14criação do ser humano, Gn 1.26-31criação, Salmos: Conceitos Básicosculto aos ancestrais, N m 3.1; D t 18.11; 1 Sm 28.8-11cuxitas, Is 18.1Dã, Jz 18.29
Dagom, Jz 16.23Damasco, 2 Sm 8.5; Is 17.1destruição divina, Is 10.22-23D ia do Senhor, J1 2.1direito de primogênito, D t 21.15-17discurso persuasivo, 1 Sm 25.23-31divindades iradas, Dt 9.28divórcio, D t 22.29divórcio, D t 22.29dízimo, Nm 18.21-32
dízimo, Nm 18.21-32; D t 14.22-29doença, Gn 12.17eclipses, J1 2.31Eciom , Jz 1.18; 1 Sm 5.10edomitas, Is 21.11
educação formal, Jó 8.8-10egípcios, Is 19.1El Shadai, Gn 17.1-2
eleição antes do nascimento, Jr 1.5em briaguez, Is 28.7escravidão por dívida, Ex 21.2-6escravidão, Lv 25.39-55; Dt 23.15-16; Ec 2.7
escribas, 1 Cr 24.6; Ne 8.1 escrita, Ex 24.4
espiões, Js 2.2espírito do Senhor, Jz 6.34-35; 1 Sm 10.6; 11.6; 16.13-14estações, D t 11.11-15esterilidade, G n 11.30estrutura judicial, Dt 1.16eunucos, Is 56.4-5; Et 1.10exogamia, Ed 9.10-12
expectativa de vida, D t 31.2; SI 90.10; Is 40.6-7 expectativa de vida, Dt 31.1exposição de cadáver, Js 8.29; 1 Re 16.4; 21.19; 2 Re
9.36; Is 14.19feitiçaria, Dt 18.10ferro, 1 Sm 13.19-20Festa da Lua Nova, 1 Sm 20.5festas e dias sagrados, N m 28.1-30filisteus, Jz 13.1; Is 14.29fonte de sabedoria, Jó 28.20-17fortificações, Is 2.15Gate, 1 Sm 5.8
Gaza, Jz 1.18genealogias, G n 5.1-32Gezer, Js 10.33; 21.21Gibeom , Js 9.3gordura, Lv 3.1-5guardiães alados, Ez 1.5guerra de cerco, 2 Cr 32.9; Jr 32.24guerra, Dt 20.10-15
guerreiro divino, 1 Sm 4.3-7; Salmos: Conceitos BásicosHamate, Is 10.9Hazor, Js 11.1; Jz 4.2Hebrom, Gn 13.18; N m 13; Js 10.3Hesbom, D t 2.26
heveus, G n 34.2; Js 9.7hititas, G n 23.2-20
holocausto (oferta queimada), Lv 1.3-4 ideologia do templo, 2 Cr 7.16 ídolos, Jr 10.5
ídolos, Lv 26.1; Dt 4.15-18; Is 2.8; 40.19; 44.17-18imagem do jugo, Na 1.13impostos, 2 Cr 24.5im pureza, Lv 12.1
incenso, Ex 30.7-8; Jr 44.18instrumentos musicais, G n 4.21; 1 Sm 10.5; 2 Sm 6.5;2 Cr 20.28; SI 150; Dn 3.5jebuseus, Jz 1.21jejum , 1 Sm 7.6Jericó, Js 2.1Jerusalém, Js 10.1; 2 Sm 5.6 juizes subornados, Is 5.23 julgam ento através de teste, Nm 5.23-24 julgam ento através de teste, N m 5.23-24
juros e empréstimos, Ex 22.24; Lv 25.38; Dt 15lamentos, nota em Lamentações; Ez 19.1lançadeira, Jz 16.13-14Láquis, Js 10.3; 2 Cr 32; M q 1.13
leis opressivas, Is 10.1leis sobre escravos, Ex 21.2-6Libna, 2 Cr 21.10listas de fronteiras, Js 13.1M aanaim, 2 Sm 2.8mágicos/sábios, G n 41.8-16
maldições e bênçãos em tratados, Dt 28.2-11M arduque (Bei), Is 46.1mármore, 1 Cr 29.2m édiuns/espiritualistas, Lv 19.31; Dt 18.11Megido, Js 12.21mercenários, 2 Cr 25.6metalurgia, Is 1.22métodos dos médicos, Jó 13.4M icmás, 1 Sm 13.2
midianitas, Jz 6.1M ilcom, 1 R e 11.5, 7
mineração, Jó 28.11moabitas, Is 15.1moinho, Jz 16.21Moloque, Lv 18.21; D t 18.10monoteísmo, Dt 6.4monoteísmo, Dt 6.4monte, 1 Sm 9.12
mundo às avessas, Jr 4.23-26narrativas da conquista, Js 10.16-43Nebo, Is 46.1Nínive, Jn 1
números, Js 8.3; Jz 20.2; 2 Cr 11.1; 13.2-20; Ex 12.37oferta das primícias, Dt 26.1-15onipresença divina, SI 139.8-12onisciência divina, SI 139.2-4oração, 1 Sm 1.13
papel das m ulheres, Nm 30.3-15parábolas e alegorias, Is 5.1-2patologia, Dt 28.15-68patologia, Dt 28.22pedras preciosas, 2 Cr 9.9pergam inhos, Jr 30.2poligamia, G n 4.19; 1 Sm 1.2porta da cidade, G n 34.20portas e trancas, Dt 3.5; Jz 16.3
práticas de luto, G n 37.34-35; Lv 10.6-7; 19.28; Dt14.1-2; Et 4.1
práticas de sepultamento, G n 23.4-5 preço da noiva/dote, G n 29.18-20 predições através de sonhos, Dt 13.1-5 preferência pela morte, Jó 7.15-16 presságios, D t 18.10
primogenitura, 1 Re 1.5-6princípio da retribuição, Salmos: Conceitos Básicosprofecia/ D t 18.14-22; Jn 3.4profeta, Dt 18.14-22prostituição cultual, Dt 23.17-18prostrar-se em honra, Gn 43.26queneus, Jz 1.16querubim, Ex 25.18-20Quiriate-Jearim, 1 Sm 6.21rainha-mãe, 1 Re 2.19Ramá, 2 Cr 16.1Ramote-Gileade, 2 Cr 18.2rampas de cerco, Jr 6.6; 32.24refains, Dt 2.11; Js 12.4refugiados, Jr 40.11-12rei escolhido pela divindade, Dt 17.14-20rei pastor, Ez 34.7-16reinado divino, Ex 15.3; 1 Sm 8.7reinado, 1 Sm 8.6reinado, 1 Sm 8.6responsabilidade individual, Ez 18.20 ressurreição, Is 26.19; Dn 12.2 restauração do templo, 2 Cr 24.4 restauração do templo, 2 Cr 24.4 restrições alimentares, Lv 11.2 ritos de substituição, Is 53.4-10 sábado, Is 58.13 sábios, Pv 1.1sacerdotes, Ex 28.1; N m 3.7-10; 18.1-7 Samaria, 1 Re 16.24
santuários exteriores, Dt 12.2 selos, N e 9.38; Jr 32 Sheol, Is 14.9 shofar, Ex 19.13 Siló, 1 Sm 1.3sinais de trombeta, N m 31.6; Js 6.4-5Siquém, G n 12.6; 33.18-19; Js 24.1; Jz 9.1sistema financeiro, Dt 15.1-11sistema judiciário, Ex 18.13-27; D t 1.9-18; 16.18-20; 17sonhos de incubação, 1 Sm 3.3sonhos, Gn 37.5-11; 40.5-18; D t 13.1-5; 1 Sm 3.3; Dn 2.4Susã, Et 1.2teofanias, 1 Re 19.11-13terafins (ídolos do clã), Gn 31.19Terra de Deus, Lv 25.23terremoto, 1 Sm 14.15Tiro, 2 Sm 5.11; Is 23.1,3Tirza, 1 Re 16.6trovão, 1 Sm 7.10unção/azeite, Lv 8.1-9; 1 Sm 16.1usura, Ez 18.8valores em ouro, 1 Cr 22.14vendaval, Na 1.3veredicto através de presságios, Dt 17.8-13vida após a morte, Salmos: Conceitos Básicos; Is 14.9vinhas, Is 5.1-6visões, G n 15.1viúvas, G n 38.11; Ex 22.22-24votos, Lv 27.2-13; 1 Sm 1.11Ziclague, 1 Sm 27.6