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Comentário Bíblico Atos — Antigo Testamento

Date post: 18-Jan-2023
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C O M E N T Á R I O B Í B L I C O f l I O SANTIGO TESTAMENTO

:V i c t o r H h t t h e w s § M f l S K C h a v h l b s ■ ■■■■.■

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Walton, John H„ 1952-Comentário bíblico Atos: Antigo Testamento / John H. Walton, Victor H. Matthews,

Mark W. Chavalas; [tradutor Noemi Valéria Altoé]. - Belo Horizonte: Editora Atos, 2003.

Título original: The IVP Bible background commentary: Old Testament.Bibliografia.ISBN 85-7607-025-1

1. Bíblia. A.T. - Comentários I. Matthews, Victor H. n. Chavalas, Mark W. HI. Título.

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índices para catálogo sistemático:1. Antigo Testamento: Bíblia: Comentários 221.72. Comentários: Antigo Testamento: Bíblia 221.7

Comentário Bíblico Atos — Antigo Testamento Copyright © 2003 Editora Atos

Tradução de The IVP Bible Background Commentary: , Copyright © 2000 p o r John H. Walton, Victor .The IVP B ible Background Commente ,Walton e Victor H. M atthews

Noemi Valéria Altoé da $ij

Supervisão dt Walkyria F reitar*

Revisão ( '\ { We) Nems Lima

ncev'd e Castro Filho

'ayfe Vilas Boas

’en te Mark W Chavalas

1euteronomy © 1997 p o r John H.

Projeto grá fico Rodrigo Ortega

Julio Carvalho

Editora Atos Ltda.(11) 33123330 Caixa Postal 40230161-970 Belo Horizonte MG www. editoraatos. com. br

Sumário

Prefácio da edição em inglês ..................................................................................................................... 7Referências bibliográficas..................................................................................................................... 11

Pentateuco: Introdução ....................................................................................................................... 21

GÊNESIS .............................................................................................................................................. 27A mitologia do Antigo Oriente Próximo e o Antigo Testamento ................................................ 30Relatos diluvianos do Antigo Oriente Próximo ............................................................................ 36A religião de A braã o ......................................................................................................................... 45Principais rotas de comércio no Antigo Oriente Próximo ........................................................... 70

ÊXODO ................................................................................................................................................ 77A data do Êxodo ............................................................................................................................... 86M a p a .................................................................................................................................................. 87

LEVÍTICO ............................................................................................................................................. 121NÚMEROS ...........................................................................................................................................147

DEUTERONÔMIO..............................................................................................................................175A aliança e os tratados no Antigo Oriente Próxim o ...................................................................... 178

Livros Históricos: Introdução.............................................................................................................215

JOSUÉ ................................................................................................................................................... 219Informações egípcias acerca de Canaã e Israel ...............................................................................223M a p a ................................................................................................................................................... 231

JUÍZES ................................................................................................................................................... 249Contexto político na Idade do Ferro Antiga ...................................................................................269

RUTE ..................................................................................................................................................... 2851 SAM UEL.............................................................................................................................................291

2 SA M U EL.............................................................................................................................................333I R E I S .....................................................................................................................................................367

2 R E IS ..................................................................................................................................................... 397As campanhas de Tiglate-Pilese III no Ocidente, 734-732 ......................................................... 415

1 CRÔNICAS ...................................................................................................................................... 425Significado das genealogias no período Pós-Exílio ........................................................................425

2 CRÔNICAS ...................................................................................................................................... 433As inscrições de Senaqueribe ........................................................................................................467L á q u is .................................................................................................................................................468

ESD RA S.................................................................................................................................................473

NEEMLAS ............................................................................................................................................ 487ESTER ...................................................................................................................................................499

Heródoto ............................................................................................................................................ 500

Livros Poéticos e de Sabedoria: Introdução....................................................................................507JÓ .............................................................................................................................................................511

O princípio da retribuição ............................................................................................................... 513S alm os ..................................................................................................................................................529Conceitos com uns .............................................................................................................................. 529Metáforas comuns de Deus ............................................................................................................. 533

SALMOS ............................................................................................................................................... 539PROVÉRBIOS .......................................................................................................................................579

Repercussão dos provérbios no Antigo Oriente Próximo ............................................................580Como os provérbios eram usados .................................................................................................... 582Provérbios como princípios gerais .................................................................................................. 583

ECLESIASTES....................................................................................................................................... 591CÂNTICO DOS CÂNTICOS ...........................................................................................................597

Metáfora da sexualidade ................................................................................................................... 598

Livros Proféticos: Introdução............................................................................................................. 603

ISAÍAS ....................................................................................................................................................605Crenças na vida após a morte em Israel e no Antigo Oriente Próximo ...................................... 625

JEREMIAS ............................................................................................................................................. 663Selos e bulas .......................................................................................................................................668

LAMENTAÇÕES DE JEREMIAS .................................................................................................... 707Lamentos pela queda de cidades no mundo an tigo .........................................................................708

EZEQUIEL............................................................................................................................................. 711D AN IEL..................................................................................................................................................751

O apocalipse acadiano ........................................................................................................................769OSÉIAS ..................................................................................................................................................775

JO E L ........................................................................................................................................................785O dia do Senhor ................................................................................................................................ 785

AMÓS ....................................................................................................................................................789Mudanças econômicas e classes sociais em Israel no oitavo século .............................................792

OBADIAS ............................................................................................................................................. 801JONAS ....................................................................................................................................................803

MIQUÉIAS ...........................................................................................................................................807N A U M ....................................................................................................................................................815HABACUQUE .................................................................................................................................... 819SOFONIAS ...........................................................................................................................................823

A G EU ......................................................................................................................................................825ZACARIAS ...........................................................................................................................................827

Literatura apocalíptica ..................................................................................................................... 828Resumo das relações entre a construção do templo e as visões de Zacarias ................................832

MALAQUIAS ...................................................................................................................................... 840

Glossário ................................................................................................................................................. 841Quadros e m a p a s.................................................................................................................................... 845índice tem ático.........................................................................................................................................859

Prefácio da edição em inglês

Esta obra tem o objetivo de preencher uma lacuna existente no vasto campo dos comentários bíblicos. Em vez de abordar os variados aspectos da teologia, da estrutura literária, do signi­ficado das palavras, da história da erudição e assim por diante, nosso desafio principal foi oferecer informações sobre os contextos histórico, geográfico e cultural do Antigo e do Novo Testamento.

Alguns talvez questionem até que ponto as informações relacionadas a esses contextos são importantes para a interpretação do texto. O que esperamos proporcionar ao leitor a partir das informações contidas nesse comentário? Tem sido corretamente demonstrado que o conteúdo teológico da Bíblia não depende do conhecimento de localidades geográficas ou do contexto cultural. Também é correto afirmar que é possível reunir todas as evidências históricas e arqueológicas que, por exemplo, atestam a ocorrência do êxodo israelita do Egito, sem, contudo, comprovar que Deus foi quem o orquestrou - e certamente o envolvimento de Deus é o aspecto mais importante para o autor do texto bíblico. Por que então, deveríamos investir tanto tempo e esforço tentando entender o contexto cultural, histórico, geográfico e arqueológico de Israel?

O objetivo desta obra não é apologético, embora algumas das informações aqui apresen­tadas possam ser usadas em discussões nesse campo. No entanto, não foi o interesse apologético que orientou nossa seleção e apresentação dos dados. Em vez disso, procuramos lançar luz sobre a cultura e a cosmovisão israelitas. Por quê? Quando lemos a Bíblia sob a ótica da fé, queremos extrair do texto o máximo de conteúdo teológico possível. Como resultado, as pessoas tendem a enxergar significados teológicos até mesmo nos detalhes. Se não estiver­mos atentos às diferenças existentes entre nossa maneira de pensar e a maneira de pensar do povo hebreu, estaremos inclinados a fazer uma leitura do texto bíblico com base em nossas próprias perspectivas e visão de mundo, na tentativa de entender seu significado teológico. O vasto mundo do antigo Oriente Próximo torna-se significativo na medida em que, muitas vezes, serve como janela para a cultura israelita. Ao oferecer uma compreensão correta do modo de pensar israelita ou do antigo Oriente Próximo, as informações contidas neste livro podem evitar algumas conclusões equivocadas por parte do estudioso. Assim, por exemplo, o significado teológico da coluna de fogo ou do bode expiatório ou o uso do Urim e Tumim pode ser interpretado de uma nova forma, a partir de sua relação com a cultura geral do antigo Oriente Próximo.

Não limitamos a identificação das relações de similaridade apenas a períodos precisamen­te definidos. Reconhecemos plenamente que a ocorrência de alguma característica cultural na cidade de Ugarit, em meados do segundo milênio pode não ter nenhuma relação com a maneira de pensar dos israelitas que viveram em meados do primeiro milénio. Não obstante, nosso interesse, muitas vezes, foi simplesmente mostrar a existência de certas idéias ou con­ceitos nas culturas do antigo Oriente Próximo. Há possibilidades de que tais idéias possam representar aspectos da matriz cultural geral do mundo antigo, por isso procuramos simples­mente citá-las como exemplos do tipo de pensamento existente no mundo antigo. Essas informações, porém, devem ser usadas com cautela, porque não podemos asseverar a exis­tência de uma homogeneidade através das eras ou entre as regiões ou grupos étnicos do antigo Oriente Próximo. Seria o mesmo que falar atualmente de uma "cultura européia", dada nossa consciência das diferenças significativas entre italianos e suíços, por exemplo. Procuramos assim demonstrar certa sensibilidade nessas questões, mas não impusemos limi­tações estritas sobre as informações oferecidas.

O assunto em questão não é se os israelitas adotaram ou não algumas características de seus vizinhos. Não estamos procurando descobrir uma linha literária, nem acreditamos que seja necessário comprovar que os israelitas estivessem familiarizados com uma determina­da obra a fim de adotar temas similares. Evitamos o uso de termos como "influência" ou "impacto" para descrever a maneira como as informações eram partilhadas porque tenta­mos destacar aqueles elementos que podem simplesmente ter sido parte da herança cultu­ral do antigo Oriente Próximo. Essa herança pode estar refletida em diversas obras literári­as, mas os israelitas talvez não tivessem conhecimento delas ou sofrido influência dessa lite­ratura, que é simplesmente uma parte da matriz cultural comum. O processo pelo qual Deus se revelou a nós exigiu que Ele se irmanasse conosco, assumisse a nossa humanidade e se expressasse numa linguagem e através de metáforas familiares. Não devemos nos surpre­ender então, pelo fato de muitos elementos comuns da cultura da época terem sido adotados, algumas vezes adaptados, outras totalmente modificados, mas de qualquer forma, usados para cumprir os propósitos de Deus. Na verdade, o contrário é que seria surpreendente. Para haver comunicação, é preciso compartilhar de um círculo de convenções e entendi­mentos comuns. Quando falamos de "horário de verão", presumimos que quem está nos ouvindo entenda essa convenção estritamente cultural, sem necessidade de explicação. Al­guém de uma época ou cultura diferente, que não tivesse o costume de ajustar o horário num determinado período do ano, ficaria totalmente perdido quanto ao significado da ex­pressão e teria de familiarizar-se com nossa cultura a fim de entendê-la. O mesmo acontece quando tentamos penetrar na literatura israelita. Portanto, se a circuncisão deve ser enten­dida no contexto israelita, é útil entendê-la na forma como era praticada no antigo Oriente Próximo. Se quisermos aquilatar o valor dos sacrifícios em Israel, é bastante útil comparar e contrastar o que representavam esses sacrifícios no mundo antigo. Embora algumas vezes essa busca por conhecimento resulte em problemas difíceis de serem resolvidos, permane­cer na ignorância não significa que esses problemas desapareceriam. Na maioria das vezes, novos conhecimentos trazem resultados positivos.

As vezes, algumas das informações apresentadas são meras curiosidades. Como profes­sores, no entanto, temos aprendido que grande parte de nossa tarefa é despertar em nossos alunos uma curiosidade acerca do texto e então, procurar satisfazê-la, pelo menos até certo nível. Nesse processo, quase sempre é possível dar vida ao mundo bíblico, auxiliando-nos a sermos leitores atentos e informados. Quando alguma informação é fornecida em um verbe­te, isso não significa necessariamente que ela irá ajudar a interpretar a passagem; talvez esteja ali apenas para fornecer dados que possam ser pertinentes à interpretação daquele trecho. Assim, as informações encontradas no comentário sobre Jó 38 relacionadas às imagens mito­lógicas da criação no antigo Oriente Próximo não estão sugerindo que o ponto de vista presente no Livro de Jó deva ser considerado nos mesmos termos. Os dados estão ali simples­mente a título de comparação.

Esta obra é dirigida a um público leigo, e não tem a pretensão de atender às comunidades acadêmica e erudita. Se fôssemos apresentar notas de rodapé para cada uma das informações aqui apresentadas, de maneira que nossos colegas pudessem verificar as fontes e as publica­ções originais, acabaríamos com uma obra em diversos volumes, detalhada demais para ser usada por leigos, a quem desejamos oferecer esse trabalho. Embora muitas vezes tenha sido doloroso omitir referências bibliográficas de alguns periódicos e livros, reconhecemos nossa dívida para com nossos colegas e esperamos que as poucas referências bibliográficas ofereci­das possam conduzir o leitor interessado na consulta às fontes por nós utilizadas. Além disso, procuramos agir com cuidado quanto à autoria de idéias e informações, a fim de que fosse mantido um padrão de integridade e ética. Outra conseqüência de adotarmos como público-

9 PREFÁCIO DA EDIÇÃO EM INGLÊS

alvo o leitor leigo é que nossas referências às fontes primárias foram, de certa forma, vagas. Em vez de citar a obra de referência e a data de publicação, tivemos de nos contentar em dizer: "As leis da Babilônia contêm..." ou "Os regulamentos hititas incluem..." ou ainda "Os relevos egípcios mostram...". Conscientes de que o leitor leigo geralmente não tem oportunidade nem interesse de procurar as fontes, e sabendo que muitas citações seriam obscuras e inaces­síveis a esse tipo de leitor, concentramos nossos esforços em fornecer informações pertinen­tes, em vez de oferecer um roteiro de pesquisa bibliográfica. Reconhecemos que isso poderá gerar uma certa frustração naqueles que gostariam de seguir em busca de mais informações. Só nos resta recomendar a essas pessoas que retomem a bibliografia indicada e que, a partir daí, iniciem sua pesquisa. Para auxiliar os leitores que não estão familiarizados com certos termos que aparecem repetidamente, fornecemos um glossário no final da obra. Os asteriscos (*) no texto indicam ao leitor quais os termos que podem ser encontrados nesse glossário.

E possível que, ocasionalmente, algumas informações causem certa confusão ao leitor leigo. Nosso objetivo foi apenas oferecer as informações, sem entrar em detalhes sobre o modo como podem ser usadas ou o que comprovam ou refutam. Muitas vezes, o leitor talvez faça a seguinte pergunta: "Para que serve essa informação?". Em muitos casos, para nada em especial, mas ter acesso àquele dado específico pode evitar que alguém dê uma interpretação errada ao texto bíblico. Por exemplo, informações concernentes à "redondeza da Terra" citada em Isaías 40.22 (edição Revista e Atualizada) podem não resolver os dilemas dos leito­res em relação a como considerar teologicamente o uso nas Escrituras das idéias do mundo antigo quanto ao formato da Terra, mas darão ao leitor dados suficientes para evitar a concep­ção errônea de que o texto bíblico contém, em suas entrelinhas, conceitos científicos moder­nos. De modo geral, mesmo que um dado específico não possa ser aplicado a nenhum contex­to, permitirá ao leitor um melhor reconhecimento dos vários modos como Israel e o Antigo Testamento refletem a herança cultural do antigo Oriente Próximo.

Referências bibliográficas sobre o contexto cultural do Antigo Testamento

A relação a seguir fornece ao leitor algumas fontes importantes, que consideramos úteis para o desenvolvimento das informações apresentadas nesta obra. Não se trata de uma bibliogra­fia "básica", visto que algumas das referências alistadas são de natureza bastante técnica e avançada. Tampouco pode ser considerada uma bibliografia exaustiva - muitas obras impor­tantes, até mesmo de destaque, foram omitidas. Não obstante, essas podem ser consideradas as principais obras de consulta, caso o leitor queira obter mais informações sobre os tópicos apresentados.

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PENTATEUCO

IntroduçãoExistem várias razões para se considerar o Pentateuco uma obra literária única e dotada de unidade, no entanto, os elementos pertinentes ao contexto de cada Livro diferem grandemente. Em vista disso, oferecemos separadamente uma introdução para cada um dos cinco Livros.

GênesisO Livro de Gênesis geralmente é dividido em duas partes principais (capítulos 1 -1 1 e 12 - 50). O material de contexto de maior utilidade para compreender a primeira parte é a literatura mitológica do antigo Oriente Próximo. Tanto a mitologia mesopotâmica como a egípcia for­necem uma grande quantidade de material que referendam as perspectivas contemporâneas da criação do mundo e dos seres humanos. Essas obras incluem o Enuma Elish e o Épico Atrahasis, bem como uma série de mitos sumérios* da região da Mesopotâmia. No Egito há três textos principais sobre a criação, um em Mênfis, outro em Heliópolis (nos Textos Pirami­dais) e mais um em Hermópolis (nos Textos dos Esquifes). Além desses, existem diversas narrativas sobre o dilúvio na região da Mesopotâmia, encontradas no Épico de Gilgamés e no Épico Atrahasis. O exame dessa literatura nos ajuda a observar as várias semelhanças e dife­renças entre os conceitos do antigo Oriente Próximo e de Israel. As semelhanças nos permiti­rão perceber a base comum existente entre Israel e os povos vizinhos. Por vezes, a semelhan­ça estará nos detalhes da narrativa (por exemplo, soltar pássaros da arca) ou em aspectos do texto que passaram despercebidos (como dar nome às coisas, em combinação à sua criação). Outras semelhanças podem nos levar a questionar se enfatizamos demais o significado teoló­gico em certos elementos do texto (por exemplo, a criação da mulher de uma costela), ou se deixamos de notar a importância teológica de alguns detalhes do texto (por exemplo, o passeio de Deus no jardim, quando "soprava a brisa do dia"). Em geral, tais analogias nos ajudam a entender os relatos bíblicos através de uma perspectiva mais ampla.

As diferenças entre a literatura do antigo Oriente Próximo e a literatura bíblica nos ajuda­rão a avaliar algumas das características tanto da cultura de Israel como da fé bíblica. Também aqui estarão incluídos alguns detalhes específicos (formato da arca, duração do dilúvio), bem como conceitos fundamentais (o contraste entre a visão bíblica da criação através da Palavra de Deus e a visão mesopotâmica que associava a criação do mundo ao nascimento das divin­dades cósmicas). Em muitos casos, as diferenças relacionam-se (direta ou indiretamente) à fé monoteísta de Israel, sem paralelo entre outros povos.

É possível encontrar semelhanças e diferenças num único elemento. A idéia da humanida­de sendo criada: (1) a partir da argila da terra e (2) à imagem da divindade, é predominante no antigo Oriente Próximo, mas Israel concede a esse conceito um caráter ímpar, colocando-se assim numa esfera totalmente diferente.

Porém, nem sempre é possível identificar as diferenças e semelhanças de forma tão clara ou conclusiva como gostaríamos. Muitos eruditos terão opiniões divergentes das implicações de alguns conceitos por vezes devido às suas próprias pressuposições. As questões, muitas vezes, são bastante complexas e as conclusões pessoais de um erudito podem ter um caráter altamente interpretativo. Por essa razão, é mais fácil oferecer informações do que respostas satisfatórias.

Finalmente, a literatura comparativa não apenas apresenta informações paralelas a alguns dos relatos encontrados em Gênesis 1 - 11, mas também oferece uma comparação sobre a

estrutura total dessa parte. No épico mesopotâmico Atrahasis, assim como em Gênesis 1 -11, encontramos um resumo da criação, três ameaças e uma resolução. Observações como essas nos ajudam a entender os aspectos literários ligados a essa porção da Bíblia. Além disso, se esse paralelo for legítimo, pode nos ajudar a enxergar as genealogias sob uma ótica diferente. Ao apresentar as genealogias, o texto bíblico está refletindo a bênção de frutificar e multipli­car-se, presente no Livro de Gênesis, enquanto que no texto paralelo do Atrahasis, os deuses se mostram aborrecidos com o aumento da população humana e tentam refreá-lo.

Encontrar paralelos literários para o trecho de Gênesis 12 - 50 é um desafio maior. Embora os eruditos tenham tentado atribuir diversos termos descritivos às narrativas patriarcais (tais como "sagas" ou "lendas"), qualquer terminologia moderna é inadequada para abranger a natureza da literatura antiga e pode tanto servir de ajuda como prejudicá-la. Não existe nenhum paralelo na literatura do antigo Oriente Próximo para as histórias dos patriarcas. O material mais próximo encontrado no Egito é a Saga de *Sinuhe, embora esse relato seja restrito à vida de um homem, sem acompanhar as gerações seguintes e sem nenhuma relação com a posse da terra ou com o relacionamento com Deus. Até mesmo a história de José, se considerada à parte, é difícil de ser classificada e comparada. Novamente, podem ser feitas comparações com as histórias de Sinuhe, *Wenamon ou *Ahiqar (todas relacionadas à vida e época dos cortesãos reais), mas as semelhanças são bastante superficiais.

As informações contextuais que nos ajudam a entender essas narrativas originam-se de diferentes tipos de materiais. Esses capítulos tratam da vida dos patriarcas e de suas famíli­as, à medida que se dirigem da Mesopotâmia para Canaã e daí para o Egito, durante o processo de formação da aliança. Vários documentos (*Nuzi, *Mari, *Emar, *Alalakh) des­cobertos na Síria e na Mesopotâmia fornecem informações sobre a história, a cultura e os costumes do antigo Oriente Próximo durante o segundo milênio, permitindo uma melhor compreensão dos eventos políticos e do povoamento histórico da região. Também nos aju­dam a entender como as famílias viviam e por que faziam certas coisas que hoje nos pare­cem estranhas. Paralelamente, obtemos informações importantes que nos ajudam a estabe­lecer comparação com o material bíblico. Por exemplo, geralmente procuramos uma orien­tação ética no comportamento dos personagens bíblicos (embora esse procedimento nem sempre seja produtivo).

A fim de entender por que as pessoas agem de determinada maneira e por que tomam certas decisões, é importante conhecer os padrões da cultura em que estão inseridas. Ao analisarmos alguns aspectos da cultura israelita, podemos descobrir, então, que determinadas atitudes dos patriarcas resultam de alguns costumes que não entendemos bem e que poderíamos facilmente interpretar erroneamente. Na maioria das vezes, esses documentos fornecem informações que permitem corrigir esses equívocos.

Uma das conclusões interessantes a que se pode chegar a partir desse tipo de análise é a compreensão de que a visão de mundo dos patriarcas e de suas famílias se diferenciava muito pouco da visão comum das culturas do antigo Oriente Próximo da época. Novamente, uma compreensão da cultura geral pode nos ajudar a identificar quais os elementos do texto bíblico que realmente contêm significado teológico. Por exemplo, a compreensão da prática da '"cir­cuncisão dentro do contexto do antigo Oriente Próximo pode fornecer diretrizes úteis para a avaliação que fazemos dessa prática na Bíblia. Observações sobre o uso de tochas e incensórios em *rituais praticados no antigo Oriente Próximo podem ser a chave para descobrir o sentido de Gênesis 15. Até mesmo a compreensão que Abraão tinha de Deus pode ser melhor esclarecida pelas informações contidas em documentos do antigo Oriente Próximo.

Ao nos deparamos com tal quantidade de informação, o que nos chama a atenção é a freqüência com que Deus usa algo familiar para fazer pontes até o seu povo. A medida que

nos familiarizamos com os hábitos, costumes e crenças do povo de Israel, somos capazes de entender melhor o texto bíblico. Por outro lado, é importante entender que os propósitos do Livro de Gênesis ultrapassam em muito o de qualquer literatura disponível do antigo Oriente Próximo. O fato de existirem semelhanças não sugere, de maneira nenhuma, que a Bíblia seja simplesmente uma compilação de segunda mão ou de segunda categoria, de textos do antigo Oriente Próximo. Ao contrário, as informações relacionadas ao contexto bíblico nos ajudam a enxergar o Livro de Gênesis como uma obra teológica ímpar, ligada a pessoas e eventos inseridos num contexto cultural e histórico específico.

ÊxodoO Livro de Êxodo contém uma rica variedade de gêneros literários, incluindo textos narrati­vos, mandamentos e leis, além de instruções de arquitetura, todos harmoniosamente combi­nados para narrar a seqüência de eventos que levou um povo, que se sentia abandonado por Deus, a compreender que era o povo escolhido de Deus. Como resultado, existem várias fontes primárias que podem nos servir de ajuda.

Como seria esperado, o Livro de Êxodo apresenta mais conexões com as fontes egípcias do que qualquer outro Livro. Infelizmente, a incerteza quanto à data dos eventos e a ausência de dados sobre alguns períodos relacionados à história egípcia deixam muitas questões sem resposta. Conseqüentemente, dependemos não só dos textos de literatura histórica do Egito, mas de todas as fontes que contêm informações geográficas ou culturais. Conseguir localizar as cidades e lugares mencionados no texto bíblico é uma tarefa difícil, de forma que algumas dúvidas permanecem; no entanto, algumas das lacunas têm sido preenchidas gradualmente, conforme o avanço das investigações arqueológicas nos locais importantes.

As passagens que relatam as leis no Livro de Êxodo podem ser comparadas à ampla variedade de códigos de leis da Mesopotâmia, incluindo os textos das leis *sumérias, tais como a reforma de Uruinimgina (ou Urucagina), as leis de *Ur-Namu e as leis de *Lipite-Istar. São textos fragmentados que datam do final do terceiro milênio e início do segundo milênio a.C.. Os textos mais extensos são as leis de *Esnuna e *Hamurabi (do período *babilônico antigo, 18° século a.C.), as leis *hititas do século 17 e as leis medo-assírias, do século 12. Essas coletâne­as legais, conforme indicam os parágrafos que as introduzem, tinham como objetivo testificar aos deuses o quanto o rei tinha sido bem-sucedido em estabelecer e manter a justiça em seu reino. Desta forma, as leis eram elaboradas de maneira a refletir as decisões mais sábias e justas que o rei poderia imaginar. Assim como um candidato em campanha eleitoral, em nossos dias, procura reivindicar como sendo de sua autoria todo e qualquer projeto de lei que possa encontrar, também o rei queria apresentar-se da melhor forma possível.

Essas leis nos ajudam a enxergar que a legislação que determinava o modelo da sociedade israelita não era tão diferente, na superfície, daquela que teria caracterizado as sociedades assíria e babilónica. A diferença estava no fato de que para Israel, a lei era vista como parte da revelação de Deus e de seu caráter. Os babilônios tinham proibições tão severas em relação ao homicídio quanto os israelitas, mas a diferença era que enquanto os babilônios refreavam o impulso para cometer esse crime para não quebrar a ordem social e os princípios da civiliza­ção, os israelitas refreavam seus impulsos assassinos por saberem quem era Deus. As leis podem parecer iguais, mas a base do sistema legal era notavelmente diferente. Para os israelitas, *Yahweh, o seu Deus, era a origem de toda a lei e o fundamento de todas as normas sociais. Na Mesopotâmia, o rei era investido de autoridade tanto para conceber como para estabele­cer a lei. Os deuses não tinham um padrão moral, nem exigiam um comportamento moral, embora esperassem que os humanos preservassem os valores da civilização e, portanto, agissem de maneira ordenada e civilizada.

Assim, o caso em questão é que a lei dada no monte Sinai não necessariamente representa uma nova lei. Essa legislação, na verdade, talvez fosse bem parecida com as leis sob as quais o povo de Israel havia vivido no Egito, e era similar às leis encontradas em outras sociedades do antigo Oriente Próximo. A novidade está na revelação de Deus consumada através da institucionalização da lei como parte da *aliança entre Deus e Israel. A comparação da lei bíblica com os códigos de leis do antigo Oriente Próximo pode nos ajudar a entender tanto o conceito de lei e ordem, como seu embasamento teológico e filosófico.

Quando chegarmos na parte do Livro de Êxodo relacionada à construção do tabernáculo, talvez nos seja proveitoso entender o uso e a forma de construção dos santuários (móveis ou fixos) no antigo Oriente Próximo. A descrição detalhada dos materiais usados na construção do tabernáculo pode ser melhor entendida à medida que conhecermos o valor que a cultura atribuía a esses materiais. Por exemplo, considere o valor que nossa sociedade atribui a um casaco de pele de marta, a uma escrivaninha de madeira de lei, a uma poltrona de couro ou a um colar de brilhantes. Além dos materiais, também valorizamos o local, como no caso de um apartamento de cobertura, um escritório num bom ponto comercial ou uma casa nas monta­nhas. Assim, à medida que nos familiarizarmos com os materiais e lugares valorizados pelos antigos israelitas, poderemos avaliar o que motivou certos detalhes. Novamente, constatare­mos que em grande parte dos casos, o motivo é mais cultural do que teológico. Uma vez que entendemos os elementos culturais, poderemos evitar atribuir um significado teológico ina­dequado a alguns aspectos do texto.

LevíticoO Livro de Levítico contém instruções concernentes à manutenção do Lugar Santo, um local separado para a presença de Deus, incluindo detalhes do sistema sacrificial, instruções para os sacerdotes e leis concernentes à *purificação. No mundo antigo acreditava-se que a *impureza criava uma situação propícia à possessão demoníaca, assim a *purificação precisava ser mantida, sendo obtida geralmente através de um processo que envolvia certos *rituais e encantamen­tos. Para os israelitas, a *purificação era um valor positivo que incluía tanto regras para um comportamento ético, como normas de etiqueta.

O material do antigo Oriente Próximo que melhor pode nos servir para a compreensão do Livro de Levítico é aquele que oferece informações sobre sacrifícios, rituais e instruções para sacerdotes e sobre o tratamento dado à *impureza. Essas informações geralmente não estão reunidas em um único documento, portanto, foi preciso extrai-las de diferentes fontes. Exis­tem, no entanto, alguns textos rituais importantes que servem como fontes significativas de informação. Embora a literatura *hitita esteja repleta de textos relacionados aos rituais, o texto Instruções para os Oficiais do Templo, de meados do segundo milênio, é um dos mais úteis, fornecendo detalhes dos recursos que deveriam ser usados para proteger o santuário contra invasões e impedir que fosse profanado. As fontes mesopotâmicas também são numerosas.

Os textos maqlu contêm oito tabuletas de encantamentos e uma de rituais ligados aos encantamentos. Esses encantamentos, na maior parte, eram uma forma de opor-se aos pode­res da feitiçaria. Outras importantes séries incluem os textos shurpu, relacionados à purifica­ção, os textos bit rimki, relacionados à ablução real e os rituais namburbu, que visavam à destruição.

A maioria desses textos estava inserida num contexto de magia e adivinhações, em que a feitiçaria, as forças demoníacas e os encantamentos representavam ameaças poderosas à so­ciedade. As crenças israelitas não compartilhavam dessa cosmovisão e seus conceitos de *pu- rificação e *impureza apresentavam diferenças marcantes. Não obstante, o estudo desse

material pode trazer à tona muitas facetas da cosmovisão do mundo antigo compartilhadas por Israel. Embora a literatura bíblica tenha eliminado o elemento mágico dos rituais, as práticas institucionalizadas e a terminologia usada para descrevê-los ainda contêm em certos aspectos, alguns resquícios da cultura mais ampla.

Certamente as crenças e os costumes israelitas estavam mais próximos dos conceitos de ritual, magia e *purificação do antigo Oriente Próximo, do que da nossa própria concepção sobre rituais e magias. Por termos uma compreensão limitada em relação à visão de mundo israelita, freqüentemente somos inclinados a fazer uma leitura bastante inadequada dos con­ceitos teológicos ou dos simbolismos de algumas de suas práticas e regras. Essa atitude, muitas vezes, acaba gerando uma visão equivocada da natureza e dos ensinamentos contidos no Livro. Ao tomarmos conhecimento da visão de mundo do antigo Oriente Próximo, pode­mos evitar esse tipo de erro e ter uma compreensão do texto mais próxima da maneira como os israelitas o entendiam.

NúmerosO Livro de Números contém instruções para a jornada do povo pelo deserto e sobre como erguer um acampamento, bem como registros dos eventos que aconteceram durante aproxi­madamente os quarenta anos que o povo de Israel passou no deserto, além de incluir uma série de trechos sobre rituais e leis. Várias fontes que auxiliam o entendimento dos Livros de Êxodo e Levítico também fornecem informações sobre o contexto do Livro de Números. Além disso, itinerários encontrados em documentos egípcios podem ajudar a localizar diver­sos lugares alistados durante a peregrinação de Israel. Esses itinerários encontram-se em uma série de documentos distintos, incluindo os Textos da *Abominação ou Execração (onde os nomes de certas cidades eram escritos em vasos que eram espalhados em rituais de maldição; 12a Dinastia, Idade d& Bronze *Média) e as listas topográficas esculpidas em relevo nas pare­des dos templos, como em Karnak e Medinet Habu (Idade do Bronze Moderna). Esses regis­tros apresentam mapas em forma de listas, permitindo encontrar o nome de cada cidade de acordo com o itinerário da viagem. É interessante que alguns lugares bíblicos, cuja existência é colocada em dúvida por alguns arqueólogos pela ausência de vestígios desse período no local, são citados nos itinerários egípcios dessa mesma época.

Números, como outros Livros do Pentateuco, contém informações sobre o calendário ritual de Israel. Essas informações sobre festas e rituais são abundantes no antigo Oriente Próximo, porque os calendários geralmente eram determinados pelos sacerdotes. No entan­to, é difícil deslindar alguns detalhes importantes de suas práticas e, principalmente, descobrir o que está por trás da formação das tradições institucionalizadas nesses calendários. Embora haja evidências da existência de trocas culturais ou mesmo dependência em muitas áreas, é arriscado tentar estabelecer alguma relação entre festivais de diferentes culturas.

DeuteronômioO Livro de Deuteronômio acompanha o formato dos acordos entre as nações, conforme descrito na nota de rodapé intitulada "A Aliança e os Tratados no Antigo Oriente Próximo". Nesses pactos da Antigüidade, o trecho mais longo geralmente tratava das condições do acordo e detalhava as obrigações do vassalo, incluindo o que se esperava dele, de modo geral, - lealdade, por exemplo -, assim como alguns itens mais específicos, tais como paga­mento de impostos e prover alojamento para as tropas que ocupavam o território. Não era permitido ao vassalo dar acolhida a fugitivos nem fazer alianças com outras nações. Além

disso, ele também era obrigado a colaborar para a defesa da nação suserana e honrar seus representantes.

Em Deuteronômio, as cláusulas são apresentadas na forma de leis, que detalham tanto as obrigações como as proibições. Alguns estudiosos acreditam que as leis apresentadas nos capítulos 6 a 26 (ou 12 a 26) estão organizadas de acordo com os Dez Mandamentos. Assim como os antigos códigos de leis tinham um prólogo e um epílogo, a fim de lhes conferir uma estrutura literária (ver a introdução a Êxodo), aqui é a aliança que concede à lei mosaica uma estrutura literária. A estrutura literária das leis de *Hamurabi nos ajuda a entender que esse código de leis não foi planejado apenas para estabelecer regras, mas para demonstrar o quanto o reinado de Hamurabi era justo. Do mesmo modo, a estrutura literária de Deuteronômio nos permite ter uma idéia do porquê dessas leis terem sido compiladas. A lei é apresentada no Livro de Deuteronômio não como um conjunto de regras, mas como uma *aliança.

Quando os povos do antigo Oriente Próximo concordavam com um tratado, eram obri­gados a submeter-se aos termos e condições desse tratado. Seria o mesmo nível de obrigação relacionado às leis de uma nação, mas a diferença está na maneira como fun9

ciona, pois não está inserida no sistema legal. Por exemplo, no mundo moderno cada país tem suas próprias leis, aprovadas pelos órgãos legislativos, e que devem ser obedecidas pelos cidadãos daquele país.

Mas existem também leis internacionais que, em parte, foram estabelecidas por órgãos mundiais, muitas vezes como resultado de acordos ou tratados. Essas leis internacionais devem ser obedecidas pelas partes envolvidas no acordo. O tipo de compromisso exigido em Deuteronômio está mais ligado ao tratado do que à lei (ou seja, mais ligada à aliança do que às leis). Isso significa que as obrigações do povo de Israel estavam relacionadas à ma­nutenção do relacionamento disposto na aliança. Se eles fossem realmente o povo de Deus (da aliança), deveriam se conduzir de acordo com as normas apresentadas (cláusulas).

Assim, não devemos entender essas leis como sendo apenas um conjunto de regras para a nação (embora elas tenham sido). Os israelitas não deveriam cumprir a lei apenas por obediência à lei, mas sim por ela ser um reflexo da natureza e do caráter de Deus. A lei revelava o que Deus esperava dos israelitas como seu povo e como eles deveriam obedecê-lo para desfrutarem de um relacionamento com Ele.

Uma característica adicional do Livro de Deuteronômio é o fato dele se apresentar na forma de exortações de Moisés ao povo. Conseqüentemente, Moisés é visto como o media­dor da aliança, pois como mensageiro ou representante de Deus, é ele quem determina os termos do tratado. Nos tratados *hititas, consideravam-se apenas as determinações firmadas pelo acordo, sem dar importância à pessoa que enunciara os termos do tratado. Outros textos, porém, nos ajudam a entender melhor o papel do mediador. De modo geral, o mediador apresentava sua mensagem verbalmente, mas possuía também uma cópia escrita para fins de documentação e registro. As palavras de Moisés advertindo o povo a ser leal aos termos da aliança seguem a mesma linha daquilo que se esperava de um representante real. O vassalo deveria considerar um privilégio poder participar do acordo, portanto, deveria ser prudente e refrear qualquer ação que pudesse colocar em risco esse privilégio.

G Ê N E S I S

v1 .1 - 2.3Criação1.1. no princípio. Um texto egípcio de Tebas, ao refe­rir-se à criação, fala do deus Am on que, no princípio, ou "n a primeira ocasião", expandiu-se. Os egiptólo- gos interpretam essa expressão não como uma idéia abstrata, mas como uma referência a um evento que aconteceu pela primeira vez. Do mesmo modo, a pa­lavra hebraica traduzida como "princípio" geralmen­te refere-se não a um determinado ponto no tempo, m as a um período inicial. Isso sugere que o período inicial são os sete dias do capítulo um.1.2. sem form a e vazia. Na concepção egípcia sobre as origens, o conceito de "inexistente" pode ser bastante próximo a essa expressão encontrada em Gênesis. É a idéia de algo que ainda não foi diferenciado, ao qual não foi atribuída função, e cujos limites e definições ainda não foram estabelecidos. O conceito egípcio, porém , tam bém traz a idéia de potencialidade e a qualidade de um ser absoluto.1.2. o Espírito de D eus. Alguns hermeneutas traduzi­ram essa expressão como um vento sobrenatural ou impetuoso (a palavra hebraica traduzida como "E spí­rito" às vezes é traduzida como "v en to" em outras passagens), que tem um paralelo no Enum a Elish babilónico. Nesse texto, o deus do céu, Anu, cria os quatro ventos que agitam as profundezas e sua deu­sa, Tiam at. N esse caso, é um vento rom pante que provoca agitação. O mesmo fenômeno pode ser visto na visão de Daniel sobre os quatro animais, em que "o s quatro ventos do céu agitavam o Grande M ar" (7.2), causando perturbação aos animais. Se esse em­prego do termo estiver correto, então o vento seria parte da descrição negativa do versículo 2, em parale­lo com as trevas.1.1-5. a tarde e a m anhã. O relato da criação não tem a pretensão de apresentar um a explicação científica moderna sobre a origem de todos os fenômenos natu­rais, e sim abordar os aspectos mais práticos da criação que cercam nossas experiências de vida e sobrevivên­cia. Ao longo deste capítulo, o autor narra como Deus instituiu períodos alternados de luz e trevas - a base do tem po. A narrativa m enciona prim eiram ente a tarde, porque o primeiro período de luz está se fin­dando. O autor não se aventura num a análise das propriedades físicas da luz, nem está preocupado com sua fonte ou energia geradora. A luz é o que regula o tempo.

1.3-5. luz. Os povos do mundo antigo não acredita­vam que a luz se originasse do Sol. Na época, desco­nhecia-se o fato de que a lua simplesmente reflete a luz do Sol. Além do mais, não há nenhum indício no texto de que a "lu z do dia" fosse causada pela luz do Sol. O Sol, a Lua e as estrelas eram vistos como porta­dores de luz, mas a luz do dia estava presente mesmo quando o sol estava atrás das nuvens ou num eclipse. Ela chegava antes do nascer do sol e perm anecia após o pôr-do-sol.1.6-8. firm am ento. De m aneira semelhante, a exten­são (às vezes chamada de "firm am ento") instituída no segundo dia é o regulador do clima. As culturas do antigo O riente Próxim o entendiam o cosm os como um a estrutura composta por três camadasios céus, a terra e o m undo inferior. O clim a se originou nos céus, e a extensão era considerada o mecanismo que controlava a umidade e a luz do sol. Embora no mun­

do antigo a extensão geralmente fosse concebida de maneira mais concreta do que a entendemos hoje, não é a sua composição física que realmente importa, mas sim sua função. No épico babilónico da criação, Enuma Elish, a deusa que representava esse oceano cósmico, Tiamat, é dividida em duas por M arduk para formar as águas acima do firmamento e as águas que ficavam debaixo.1.9-19. função do cosm os. Assim como é D eus quem estabelece o tempo e determina o clima, Ele também é responsável por estabelecer todos os outros aspectos da existência humana. A disponibilidade de água e a capacidade da terra produzir vegetação; as leis da agricultura e os ciclos das estações; o desem penho específico de cada uma das criaturas de Deus - tudo isso foi ordenado por Deus. E tudo era bom, não tirâ­nico ou ameaçador. Isso reflete o entendimento antigo de que os deuses eram responsáveis por estabelecer um sistema de operações. O funcionamento do cos­mos era muito mais importante às pessoas do mundo antigo do que sua form a física ou composição quími­ca. Elas descreviam o que viam, e o mais importante, aquilo que experim entavam do m undo criado por Deus. O fato de que tudo foi considerado "b o m ", reflete a sabedoria e justiça de Deus. Ao mesmo tem­po, o texto mostra algumas sutis discordâncias com a concepção do antigo Oriente Próximo. O m ais notável é o fato da narrativa evitar o uso das palavras sol e lua, que eram os nomes das divindades correspondentes

entre os povos vizinhos de Israel; e em vez disso, refere-se a eles como luminares m aior e menor.1.14. sin ais para m arcar estações, dias e anos. No prólogo de um tratado astrológico dos sumérios, os deuses principais, An, Enlil e Enki, posicionam a lua e as estrelas a fim de determinar dias, meses e pressá­gios. No famoso Hino Babilónico a Shamash, o deus sol, também se faz m enção a seu papel de controlar as estações e o calendário de m odo geral. É intrigante que ele seja tam bém o patrono da adivinhação. A palavra hebraica usada para "sin al" tem um cognato na palavra acadiana usada para presságios. A pala­vra hebraica, no entanto, tem um sentido m ais neu­tro, e novam ente o autor esvazia os elem entos do cosmos de seus traços m ais personificados.1.20. répteis de alm a vivente (ARC). No Hino Babiló­nico a Shamash, o deus sol recebe louvor e honra até m esm o dos piores grupos. Incluídos na lista estão os temíveis monstros do mar. Logo, o hino sugere que há uma submissão total de todas as criaturas para com Sham ash, exatam ente com o o relato da criação do Gênesis mostra que todas as criaturas feitas por Yahweh estão subm issas a Ele. O m ito de Labbu registra a criação da serpente do mar, cujo comprimento era de sessenta léguas.1.20-25. categorias de anim ais. As categorias de ani­mais incluem diversas espécies: seres que vivem nas águas, aves, criaturas que vivem na terra, subdividi­das em animais domésticos e selvagens e ainda "cria­turas que se arrastam no solo" (talvez os répteis e/ou anfíbios) e, por ultimo, os seres humanos. Os insetos e o mundo das criaturas microscópicas não são mencio­nados, mas as categorias são abrangentes o suficiente para inclui-los.1 .26 -31 . fu n çã o d as p esso a s . Em bora o en foque organizacional ou funcional do relato da criação tenha semelhanças com a perspectiva do antigo Oriente Pró­ximo, a razão subjacente é bastante diferente. No an­tigo O riente Próxim o, os deuses criaram o m undo para seu próprio deleite e p ara nele viverem . As pessoas foram criadas apenas como uma decisão de última hora, quando os deuses precisaram de traba­lho escravo para suprir as comodidades da vida (por exemplo, abrir sulcos de irrigação). N a Bíblia, o cos­m os foi criado e organizado para funcionar a serviço das pessoas, idealizadas por Deus como peça central da sua criação.1.26-31. criação da hum anidade nos m itos do antigo O riente Próxim o. Nos relatos sobre a criação da anti­ga M esopotâmia, uma população inteira já civilizada é criada por m eio de uma m istura de argila e sangue de um deus rebelde. Essa criação acontece como resul­tado do conflito entre os deuses, obrigando o deus organizador do cosmos a controlar as forças do caos,

trazendo assim a ordem ao mundo criado. O relato do Gênesis retrata a criação não como parte de um confli­to entre forças oponentes, m as como um processo de­terminado por Deus, controlado e sereno.1.26, 27. im agem de D eus. Quando Deus criou o ho­mem, colocou-o como responsável por toda a criação. Ele foi feito à sua imagem e semelhança. No mundo antigo, acreditava-se que um a im agem continha a essência do que representava. A im agem de um a divindade, m esma terminologia aqui empregada, era usada na adoração porque continha a essência daque­la divindade. Isso não significava que a imagem pu­desse fazer o m esm o que a divindade, nem que se parecesse com ela. Ao contrário, a obra da divindade era desempenhada através do ídolo. De m odo seme­lhante, a obra de governar o mundo deveria ser de­sempenhada pelo homem, criado à imagem de Deus. Mas isso não é tudo. Gênesis 5.1-3 compara a imagem de Deus em Adão à im agem de Adão em Sete. Isso ultrapassa a noção de plantas e animais se reprodu­zindo de acordo com sua espécie, embora certamente os filhos compartilhem das características físicas e da natureza básica (geneticamente) de seus pais. A rela­ção entre a imagem dos ídolos e a imagem dos filhos é o conceito de que a imagem capacita a criatura não apenas para servir no lugar de Deus (representando-o com sua essência), mas também para ser e agir como Ele. As ferram entas que Ele providenciou para que pudéssemos dar conta dessa tarefa incluem a consci­ência ou razão, a autopercepção e o discernim ento espiritual. As tradições m esopotâm icas falam de fi­lhos à imagem de seus pais (*Enuma Elish), mas não falam de seres humanos criados à imagem de Deus; m as o texto egípcio, as Instruções de M erikare, identifi­ca a hum anidade como formada por imagens de Deus, de cujo corpo se originaram. Na M esopotâmia, pode- se apreender um significado para imagem no costu­me que os reis tinham de erigir imagens de si m es­mos em lugares onde queriam estabelecer sua autori­dade. A parte disso, apenas outros deuses são feitos à imagem dos deuses (ver comentário em 5.3).2.1-3. descanso no sétim o dia. No relato egípcio da criação, em Mênfis, o deus criador Ptah descansa, após terminar sua obra. A criação dos hum anos pelos deu­ses da Mesopotâmia também é acompanhada de des­canso. N a Mesopotâmia, porém, os deuses descansam porque as pessoas foram criadas para fazer o trabalho outrora feito por eles. Não obstante, o desejo de des­cansar é um dos elementos m otivadores dessas narra­tivas da criação. A destruição ou o controle de forças cósmicas caóticas, que constitui com freqüência a par­te central das narrativas da criação do m undo antigo, culmina no descanso, na paz ou repouso dos deuses. Do mesmo modo, o Dilúvio é resultado da impossibi­

lidade de os deuses encontrarem descanso em meio ao barulho e tumulto causados pela humanidade. Em todos os relatos, fica evidente que as ideologias anti­gas consideravam o descanso como um dos principais objetivos dos deuses. Na teologia israelita, Deus não precisa descansar por causa de certos incômodos cósmi­cos ou provocados pelo homem, mas Ele busca des­canso em um lugar de repouso (ver especialmente SI 132.7, 8, 13, 14).2.1. o sábado como divisor do tempo. O costume de dividir o tempo em períodos de sete dias ainda não foi comprovado nas demais culturas do antigo Oriente Próximo, em bora na M esopotâmia alguns dias parti­culares do mês eram considerados de mau agouro, e freqüentem ente ocorriam com um intervalo de sete dias (ou seja, o sétimo, o décimo quarto dia do mês, etc.). A celebração do sábado em Israel não estava determinada a certos dias do mês, nem estava ligada aos ciclos da lua ou a qualquer outro ciclo da natureza; simplesmente era celebrado a cada sete dias.

2 .4 -2 5O homem e a mulher no jardim2.5. categorias de plantas. Encontramos apenas des­crições gerais de plantas. Árvores, arbustos e plantas são mencionadas, mas nenhum gênero específico. Sa­bemos, porém, que as principais árvores encontradas no Oriente Próximo eram a acácia, o cedro, o cipreste, a figueira, o carvalho, a oliveira, a tamareira, a romã- zeira, a tamargueira e o salgueiro. Os arbustos inclu­íam o oleandro e o junípero. Os principais grãos culti­vados eram o trigo, a cevada e a lentilha. A descrição das plantas nesse versículo difere daquela do terceiro dia em que são mencionadas plantas cultivadas e ár­vores frutíferas. Não se trata, porém, de um período anterior ao terceiro dia, mas sim ao fato de que ainda não havia a prática da agricultura.2.5. descrição das condições. Um texto de Nippur apre­senta o cenário da criação dizendo que as águas não ti­nham ainda jorrado pela abertura da terra e que nada crescera e nenhum a porção de terra fora lavrada.2.6. s istem a de irrigação. A expressão usada para descrever o sistema de irrigação no versículo 6 ("bro­tava água da terra") é de difícil tradução, aparecendo apenas em Jó 36.27. Um a palavra semelhante aparece no vocabulário *babilônico originado do *sum ério, num a menção ao sistem a subterrâneo de águas, os lençóis de água que deram origem aos rios. O mito sumério de *Enki e Ninhursag também menciona um sistema de irrigação semelhante.2.7. o hom em do pó da terra. A criação do primeiro homem do pó da terra é semelhante ao que encontra­m os na mitologia do antigo Oriente Próximo. O Épico A trahasis retrata a criação da hum anidade feita de

argila m isturada ao sangue de uma divindade. A s­sim como o pó na Bíblia representa o que o corpo se torna na m orte (Gn 3.19), a argila, no pensam ento *babilônico, era o que o corpo voltava a ser. O sangue da divindade representava a essência divina na hu­

manidade, um conceito semelhante ao sopro de vida que D eus colocou em Adão. No pensamento egípcio, as lágrimas dos deuses são misturadas à argila para form ar o hom em , em bora as Instruções de M erikare tam bém m encionem deus soprando a vida no nariz do homem.2.8-14. localização do Éden. Com base na proximida­de dos rios Tigre e Eufrates, e na lenda *suméria da terra mística e utópica de *Dilm un, m uitos eruditos identificam o Éden como um lugar situado na extre­m idade norte do golfo P érsico , ou próxim o dali. *D ilm un foi identificado com a ilha de Bahrain. A posição "n o lado oriental", simplesmente indica a área geral da M esopotâm ia e é um a referência bastante típica das narrativas primitivas. Essa indicação som a­da à direção do curso dos rios (a localização dos rios Pisom e Giom é incerta), levou alguns estudiosos a considerar a região da A rm ênia, perto da nascente dos rios Tigre e Eufrates, como o Éden. No entanto, as características de um jardim bem irrigado, onde as

pessoas não executam nenhum trabalho, ou m uito pouco, e onde a vida brota sem necessidade de cultivo

se encaixam às áreas pantanosas na base do golfo, e podem até m esm o ser um a área hoje coberta pelas águas.

2.8. um "jard im no Éden". A palavra Éden refere-se a um lugar bem irrigado, sugerindo um bosque exube­rante. A palavra traduzida como "jardim " não se refe­re necessariamente a canteiros de plantas, m as a po­m ares ou bosques arborizados.

2.9. árvore da vida. A árvore da vida é retratada em outras partes da Bíblia como provedora da continuida­de da vida (Pv 3.16-18), sendo que às vezes ela é vista como possuidora de qualidades rejuvenescedoras. Di­versas plantas com tais qualidades são conhecidas no antigo Oriente Próximo. No Épico de Gilgam és é cita­da um a planta cham ada "o homem velho torna-se jo ­vem ", que cresce no fundo do rio cósmico. As árvores geralmente ocupam um espaço proeminente na arte do antigo Oriente Próximo e em selos cilíndricos. Elas têm

sido interpretadas freqüentemente como representando a árvore da vida, m as tal interpretação n ecessita de m ais apoio na literatura para ser confirm ada.2.11. Pisom . Análises de amostras do solo da Arábia Saudita e fotos de satélite ajudaram a identificar o antigo leito de um rio que corria em direção ao nor­deste pela Arábia Saudita, desde as montanhas Hijaz, perto de M edina, até o golfo Pérsico, no Kuait, próxi­

mo da foz dos rios Tigre e Eufrates, que poderia muito bem ser o rio Pisom.

2.11. Havilá. Talvez pelo fato de se mencionar a pre­sença de ouro em Havilá, essa localidade seja m en­cionada em diversas outras passagens (Gn 10.7; 25.18;

1 Sm 15.7; IC r 1.9). Sua localização tem sido freqüen­temente apontada como na parte ocidental da Arábia Saudita, perto de M edina, ao longo do m ar Vermelho, uma região que produz ouro, bdélio e ônix. Gênesis 10.7 descreve Havilá como "irm ão" de Ofir, uma re­gião também conhecida por suas ricas jazidas de ouro.2.21 ,22 . costela. O fato de Eva ter sido criada de uma costela de Adão pode ser m elhor esclarecido pelo co­

nhecim ento da língua *suméria. A palavra suméria para costela é ti. E interessante saber que ti significa "v id a", exatamente o mesmo significado de Eva (3.20). Outros sugeriram que pode haver uma relação com a palavra egípcia imw, que significa argila (de onde o homem foi criado) ou costela.2.24. o hom em deixará pai e m ãe. Essa afirm ação constitui um a narrativa à parte, acrescentando um

comentário sobre o aspecto social da vida das pessoas nas épocas posteriores. A história da criação de Eva é

usada como base para o princípio legal da separação das famílias. Quando se efetivava um casam ento, a esposa deixava seus pais e juntava-se à fam ília de seu marido. Dessa maneira, novos compromissos de leal­dade eram estabelecidos. Além do mais, a consuma­

ção do casamento está associada aqui à idéia do casal tom ando-se uma só carne, assim como Adão e Eva

originaram-se de um mesmo corpo. A afirmação de que o homem deixará sua família não se refere neces­

sariamente a um costume social específico, mas ao fato de que, nesse capítulo, é o hom em que busca uma

companheira. Também pode ser referência ao fato de que as cerimônias de casamento, incluindo a noite de núpcias, em geral aconteciam na casa dos pais da

noiva.

3.1-24 A queda e suas conseqüências3.1. o significado das serpentes no m undo antigo.Desde há m uito foi comprovado que a serpente é uma personagem significativa na arte e na literatura do antigo O riente Próximo. Talvez por seu veneno ser uma ameaça à vida e seus olhos desprovidos de pál­pebra oferecerem uma imagem enigmática, a serpen­te tem sido associada tanto à morte quanto à astúcia. O relato do Gênesis evoca esses dois aspectos no astuto diálogo entre Eva e a serpente e na introdução da morte, após a expulsão do Éden. Semelhantem ente, *Gilgamés perde a chance de ser jovem para sempre quando um a serpente o engana e come uma planta m ágica que ele retirara do fundo do mar. A imagem sinistra da serpente está graficam ente representada nas curvas entrelaçadas de uma cobra cingindo a tri­buna de um a seita em Bete-Shean. Seja como repre­sentante do caos primitivo (*Tiamat ou *Leviatã), seja como um símbolo da sexualidade, a serpente abriga m istérios para os seres hum anos. U m personagem particularmente interessante é o deus *sumério Nin- gishzida, retratado na forma de serpente e cujo nome significa "Senhor da Arvore Produtiva/Im utável". Ele era considerado um governante do mundo dos m or­tos e "o possuidor do trono da terra", sendo uma das deidades que ofereceram o pão da vida a *Adapa (ver próximo comentário). Mesmo quando não estava rela­cionada a nenhum deus, a serpente representava as­túcia (saber oculto), *fertilidade, saúde, caos e im orta­lidade, e era, com freqüência, adorada.3.2-5. a tentação de ser com o Deus. A aspiração à posição de divindade assim como o relato de oportu­nidades perdidas de se igualar aos deuses aparece de forma proeminente em alguns mitos antigos. Na len­da de *Adapa, uma oferta do "alim ento da vida" foi inadvertidam ente recusada. Adapa, o prim eiro dos sete sábios antediluvianos, estava envolvido em le­var as artes da civilização à prim eira cidade, Eridu.

A MITOLOGIA DO ANTIGO ORIENTE PRÓXIMO E O ANTIGO TESTAMENTONo mundo antigo, a mitologia ocupava o lugar hoje ocupado pela ciência no mundo moderno - ou seja, fornecia a explicação sobre a criação e o funcionamento do mundo. A abordagem mitológica procura identificar a função como conseqüência de um propósito. Os deuses tinham propósitos e suas atividades eram a causa daquilo que os humanos consideravam como efeitos. Em contraste, a abordagem científica moderna identifica as funções como conseqüência das estruturas e busca entender as relações de causa e efeito, baseando-se em leis naturais que estão ligadas à estrutura, ou às partes que compõem um fenômeno. Visto que nossa cosmovisão científica tem um grande interesse pelas estruturas, geralmente nos dirigimos ao relato bíblico procurando encontrar informações sobre as estruturas. Nessa área, porém, a cosmovisão bíblica é mais pare­cida com a de seus contemporâneos do antigo Oriente Próximo, isto é, nela a função é concebida como uma conseqüência do propósito. E disso que trata o primeiro capítulo do Livro de Gênesis - e por isso há pouco interesse nas estruturas. Essa é apenas uma das muitas áreas em que a compreensão da cultura, da literatura e da cosmovisão do antigo Oriente Próximo pode nos ajudar a entender a Bíblia, já que apontam para a verdade nela contida.

Muitos paralelos podem ser identificados entre a mitologia do antigo Oriente Próximo e passagens e conceitos do Antigo Testamento. Isso não quer dizer que o Antigo Testamento deva ser considerado simplesmente como mais um exemplo de mitologia antiga ou derivado daquela literatura. A mitologia serve como uma janela para a cultura, refletindo a cosmovisão

Como pescador, foi carregado certo dia, pelo vento sul, num a infeliz aventura que ocasionou seu encon­tro com o deus superior, Anu. Dando ouvidos aos conselhos do deus *Ea, Adapa recusou a comida ofere­cida pelo deus Anu, descobrindo depois que aquele alimento lhe daria imortalidade. A vida eterna tam ­bém escapa a *Gilgamés. No famoso épico que conta sua história, a morte de seu amigo Enkidu o faz sair em busca da imortalidade, que ele descobre ser ina­tingível. Nesses dois relatos, ser como os deuses signi­fica atingir a im ortalidade, enquanto que, no relato bíblico, ser como Deus é entendido como obter a m es­ma sabedoria de Deus.3.7. significado das folhas de figueira. As folhas de figueira são as maiores encontradas em Canaã e pode­riam fornecer um a cobertura lim itada ao envergo­nhado casal. O significado do uso da folha de figueira pode residir em sua sim bologia de fertilidade. Ao comer do fruto proibido, o casal deu inicio a seu papel como pais e como cultivadores de árvores frutíferas e grãos.3.8. soprava a brisa do dia. A terminologia *acadiana demonstrou que a palavra traduzida como "d ia" tam­bém tem o significado de "tem pestade". Esse signifi­cado também pode ser encontrado na palavra hebraica citada em Sofonias 2.2. É um a expressão freqüente­m ente relacionada a uma tempestade trazida como castigo por alguma divindade. Se essa é a tradução correta da palavra nesta passagem , eles ouviram o trovão (a palavra traduzida para "v oz" é muitas ve­zes relacionada a trovão) do Senhor que se movia no jardim com o vento da tempestade. Nesse caso é bas­tante compreensível o fato de terem se escondido.3.14. com er pó. A descrição de pó ou poeira como alimento é típica das descrições do mundo dos m ortos na literatura antiga. No Épico de Gilgam és, em seu leito de morte, Enkidu sonha com o mundo inferior e o descreve como um lugar de trevas, onde o "pó é seu alimento, a argila, o seu pão", um a descrição também

conhecida no Descendentes de Istar. São características que geralmente reportam ao mundo dos mortos, por estarem relacionadas à sepultura. O pó enche a boca do defunto, m as tam bém encherá a boca da serpente, à medida que se arrasta pelo chão.3.14, 15. m aldições às serpentes. Os Textos Egípcios Piramidais (da segunda metade do terceiro milênio) contêm um a série de feitiços contra serpentes, mas também incluem feitiços contra outras criaturas consi­deradas perigosas ou pestes que am eaçam os mortos. Alguns desses feitiços ordenam que a serpente ande sobre o seu ventre (mantendo a cabeça no chão), em contraste com o modo como levanta a cabeça quando está em posição de ataque, prestes a dar o bote. En­quanto anda sobre seu ventre, a serpente não oferece perigo, m as quando se levanta, está se protegendo ou prestes a atacar. Ferir a serpente com o calcanhar nesses textos refere-se a um m eio de superá-la ou derrotá-la.3 .14 ,15 . todas as cobras venenosas. Em bora deva ser observado que nem todas as cobras são peçonhentas, a ameaça que algumas delas representam, no impul­so de proteger-se, levaria alguém a atribuir tal carac­terística a todas elas. Dentre trinta e seis espécies de cobras conhecidas naquela região, a víbora (Vipera palaestinae) é a única venenosa na região norte e cen­tral de Israel. Ocasionalmente, as cobras estão associ­adas à fertilidade e à vida (a serpente de bronze le­vantada no deserto). Entretanto, freqüentemente elas estão associadas à luta pela vida e à inevitabilidade da morte. As cobras venenosas seriam as mais agres­sivas, assim , o ataque de um a cobra sem pre seria visto como um golpe potencialmente fatal.3.16. dores de parto. Talvez para mostrar a dualidade da vida, a alegria da maternidade só pode ser obtida através da dor do parto. Sem a m edicina moderna, essas dores são descritas como o pior sofrimento possí­vel ao ser humano (ver Is 13.8; 21.3) e aos deuses (note o grito da deusa *babilônica Istar, no épico do Dilúvio

e os valores forjados por ela. Muitos relatos encontrados no Antigo Testamento desempenharam na cultura israelita a mesma função exercida pela mitologia em outras culturas, ou seja, forneceram um mecanismo literário de preservação e transmissão de sua cosmovisão e valores.

Israel fazia parte de um amplo complexo cultural que existiu no antigo Oriente Próximo. Muitos aspectos desse complexo cultural eram compartilhados com as nações vizinhas, embora cada cultura tivesse suas características distintas. Quando procuramos entender a cultura e a literatura de Israel, esperamos justamente encontrar auxílio nesse cenário cultural mais amplo da mitologia, dos escritos de sabedoria, dos documentos oficiais e das inscrições reais.

A comunidade cristã não precisa temer pelo uso desses métodos que nos informam a respeito da herança cultural do Oriente Próximo. Nem a mensagem teológica do texto bíblico, nem seu status enquanto Palavra de Deus são ameaçados por esses estudos comparativos. De fato, visto que a revelação envolve uma comunicação efetiva, é de se esperar que, sempre que possível Deus usasse elementos conhecidos e familiares para comunicar-se com seu povo. A identificação de semelhanças, bem como de diferenças, pode fornecer dados importantes para uma compreensão apropriada do texto. Esta obra tem como objetivo oferecer informações, sem intenção de se engajar em discussões detalhadas sobre como cada semelhança ou diferen­ça específica pode ser explicada. Para esse tipo de discussão, recomendamos a obra de John Walton, Ancient Israeltte Literalure in Its Cultural Context [A Literatura Israelita Antiga em Seu Contexto Cultural] (Grand Rapidz: Zondervan, 1987).

de *Gilgamés, quando ela vê o horror desencadeado pelo Dilúvio). Os *babilônios associavam demônios com o Lam ashtu às dores de parto e às condições lim ítrofes de vida tanto para a m ãe quanto para o bebê, durante o nascimento.3.16. relacionam ento entre m arido e m ulher. N a so­ciedade israelita antiga, os casamentos resultavam de arranjos familiares e não de um amor romântico. En­tretanto, nessa sociedade carente de trabalhadores, tantos os homens como as mulheres tinham de traba­lhar juntos, como uma equipe. Embora a gravidez e o cuidado dos filhos periodicamente limitasse o traba­lho da mulher nos campos ou no mercado, a sobrevi­vência do casal dependia grandem ente do trabalho compartilhado e do núm ero de filhos que geravam. A dominação da mulher pelo marido, embora evidente em alguns casamentos, não era o padrão ideal para os relacionam entos na época. Am bos tinham seus pa­péis, ainda que os direitos legais relacionados a con­tratos, posse de propriedade e direitos de herança fossem prioritariam ente controlados pelos homens. Também é fato que a preocupação com a castidade da mulher fez com que fossem criadas sérias restrições

nos agrupam entos de m ulheres e perm itiu aos ho­m ens o controle do processo legal.3.17. fad iga (ARA). No pensam ento m esopotâmico, as pessoas foram criadas para serem escravas, deven­do fazer o trabalho que os deuses estavam cansados de fazer, em grande parte relacionado à agricultura. No texto *Enuma Elish, o único propósito para a cria­ção dos homens era aliviar os deuses de sua fadiga, ao contrário do relato bíblico, no qual o homem foi criado para governar, recebendo o fardo do trabalho pesado como conseqüência da Queda.3.18. esp inhos e ervas daninhas. No Épico de Gil- gamés, o lugar paradisíaco é descrito como um lugar onde as plantas e as árvores produzem gemas e pe­dras preciosas, em vez de espinhos e ervas daninhas.3.20. s ign ificad o de dar nom e às coisas. A nterior­mente, Adão dera nome aos animais, o que demons­trava sua autoridade sobre eles. Aqui, ao dar um nom e à mulher, Adão é colocado em posição de lide­rança, conforme m encionado no versículo 16. No mun­do antigo, quando um rei colocava no trono um rei vassalo, geralm ente lhe dava um novo nome, como demonstração de seu domínio sobre ele. Do mesmo m odo, quando D eus estabeleceu sua aliança com Abraão e Jacó, Ele m udou seus nomes. Um últim o exem p lo aparece no relato babilón ico da criação, *Enuma Elish, que se inicia com a situação anterior ao céu e a terra receberem nomes. No prosseguimento desse relato, os nomes vão sendo dados, exatamente como Deus nomeou as coisas criadas em Gênesis 1.

3.21. túnicas de peles (ARC). Um a túnica longa ainda hoje é a vestim enta básica para m uitas pessoas no Oriente M édio. Essa vestim enta substituiu a inade­quada cobertura de folhas de figueira feita por Adão e Eva. D eus lhes forneceu essas túnicas com o um presente dado pelo senhor a um servo. Presentear com roupas é uma das práticas mais comuns m encio­nadas na Bíblia (ver José em G n 41.42) e em outros textos antigos. As túnicas também iriam protegê-los dos rigores do inverno e do trabalho que os aguarda­va. N a Lenda de Adapa (ver comentário sobre 3.2-5), depois que *Adapa perde a oportunidade de comer o pão e beber a água da vida, ele recebe roupas do deus Anu, antes de ser despedido de sua presença.3.24. querubins. Os querubins são criaturas sobrena­turais mencionadas mais de noventa vezes no Antigo Testamento, atuando geralmente como guardiães da presença de Deus. Como guardiães da árvore da vida, representados no enfeite na tampa da arca da aliança ou acompanhando a carruagem e o trono nas visões de Ezequiel, os querubins estão sempre intimamente associados à divindade, seja à sua pessoa ou à sua propriedade. As descrições bíblicas (Ez 1 ,10 ) concor­dam com as descobertas arqueológicas que sugerem que eles eram criaturas com postas (como grifos ou esfinges). Geralm ente, representações dessas criatu­ras são encontradas ladeando o trono do rei. Aqui em G ênesis, os querubins guardam o cam inho para a árvore da vida, agora propriedade restrita de Deus. Um interessante selo neo-assírio ilustra o que parece ser um a árvore frutífera ladeada por duas criaturas como essas, de pé e de costas, segurando um disco solar com asas.

4.1-16 Caim e Abel4.1-7. os sacrifícios de Caim e A bel. Os sacrifícios de Caim e Abel não são descritos como um pagamento pelo pecado ou um a busca de purificação. A palavra usada os designa de form a bastante genérica como "ofertas" - uma palavra que está intimamente relaci­onada à oferta de cereais, m ais tarde instituída em Levítico 2. Essas ofertas aparecem como uma demons­tração de gratidão a Deus por sua bondade. Portanto é apropriado que Caim trouxesse uma oferta do produ­to da terra, uma vez que não era obrigatório o derra­m am ento de sangue nesse tipo de oferta. Deve ser mencionado que Gênesis não apresenta nenhum re­gistro de D eus exigindo esse tipo de oferta, embora Ele a aprovasse como um meio de dizer "obrigado". A gratidão, porém, não é manifestada quando a ofer­ta é feita por inveja, como foi o caso de Caim.4.11 , 12. estilo de v id a nôm ad e. O estilo de vida nômade e peregrino imposto a Caim representa um

dos principais aspectos econômicos da sociedade anti­ga. A ssim que os anim ais foram dom esticados, por volta de 8000 a.C., o pastoreio nôm ade tornou-se o principal empreendimento econômico para as tribos e vilas. Os rebanhos, de m odo geral, faziam parte da economia m ista das aldeias, que incluía a agricultura e o comércio. Entretanto, alguns grupos concentra­vam m ais seus esforços em conduzir rebanhos de ove­lhas e cabras a novas pastagens, conforme as estações mudavam. Esses pastores seminômades seguiam ro­tas de m igração específicas, que garantiam água e pastos adequados a seus animais. Às vezes, os pasto­res faziam contratos com os vilarejos ao longo da rota, a fim de pastorear os rebanhos nos campos onde a colheita já havia sido feita. Esses pastores geralmente entravam em atrito com as com unidades locais já estabelecidas por causa do direito sobre o uso das águas ou por causa de invasões. Os governos tenta­vam controlar os grupos nômades dentro de sua área, mas essas tentativas, após longos períodos, saíam frus­tradas. Como resultado dessa situação, surgiram vá­rias histórias que descrevem os conflitos entre pasto­res e agricultores, à medida que competiam pelo uso da terra.4.14, 15. vingança de sangue. Nas áreas onde o go­verno central não havia estabelecido total controle, era comum haver rixas de sangue entre as famílias. Essas rixas eram baseadas no princípio sim ples do "olho por olho", que exigia a morte de um assassino ou de um m em bro de sua fam ília, em restituição à vítima. Existia tam bém a premissa de que os laços de sangue incluíam a obrigação de defender a honra da fam ília. N enhum a ofensa podia ser ignorada, pois havia risco da fam ília ser considerada fraca demais para se defender e outros grupos se aproveitariam disso. O com entário de Caim dá a entender que a fam ília era m aior, e que algu ém da linh agem de Abel iria atrás de vingança.4.15. o sinal de Caim. A palavra hebraica usada aqui não indica que esse sinal fosse uma tatuagem ou mu­tilação, geralmente infligidas a escravos ou crimino­sos (mencionadas nas Leis de *Esnuna e no Código de *Hamurabi). Compara-se m elhor à marca da proteção divina colocada na testa dos inocentes em Jerusalém, citada em Ezequiel 9.4-6. Pode ser um sinal externo, que levaria outros a tratá-lo com respeito ou cuidado, mas pode tam bém representar um sinal de D eus a Caim, de que ele não seria ferido e as pessoas não iriam atacá-lo.

4 .17-26 A linhagem de Caim4.17. a construção da cidade. Visto que no mundo an­tigo a fundação de uma cidade está intimamente liga­

da à formação de um povo ou de um a nação, histórias sobre o fundador e as circunstâncias da fundação fazem parte da herança básica de seus habitantes. Essas his­tórias geralmente incluem um a descrição dos recursos naturais que atraíram o construtor (reservatórios de água, pastos e terra para agricultura, defesas naturais), os atributos especiais do construtor (força descomunal e/ ou sabedoria) e a orientação do deus protetor. As cidades eram construídas ao longo ou nas proximida­des dos rios e nascentes. Elas serviam com o pontos estratégicos para o com ércio e atividades culturais e religiosas, abrangendo com o tempo uma área maior, tom ando-se centros políticos ou cidades-Estado. A es­trutura necessária para sua construção e depois para a manutenção de suas paredes feitas de tijolos de barro, co n trib u iu p ara o su rg im en to das assem bléias de anciãos e m onarquias para governá-las.4.19. poligam ia. A prática que perm ite ao hom em casar-se com mais de uma mulher é conhecida como poligamia. Esse costume era baseado em diversos fa­tores: (1) um desequilíbrio no núm ero de homens e m ulheres, (2) a necessidade de gerar m uitos filhos paxa ajudarem no pastoreio e nos campos, (3) o desejo de aum entar o prestígio e as riquezas por m eio de numerosos contratos de casamento e (4) a alta taxa de m ortalidade entre as parturientes. A poligam ia era m ais comum entre os grupos nômades de pastores e nas comunidades rurais, onde era importante que as mulheres estivessem ligadas a alguma família e fos­sem produtivas. Os monarcas tam bém praticavam a poligam ia, prioritariam ente com o um m eio de es­tabelecer alianças com fam ílias poderosas ou com ou­tras nações. Nessas situações, as esposas muitas vezes tornavam-se reféns, no caso das relações políticas se deteriorarem .4.20. domesticação de animais. Criar gado é o primei­ro estágio da domesticação de animais, que envolve o controle hum ano da reprodução, do suprim ento de alim entos e das terras. O velhas e cabras foram os primeiros rebanhos a serem domesticados, com evi­dências que rem ontam ao nono m ilênio a.C.. Ani­mais de porte m aior vieram um pouco mais tarde e os registros de domesticação de suínos remontam ao sé­timo milênio.4.21. instrumentos m usicais. Os instrumentos m usi­cais surgiram nos primórdios, constando entre as pri­meiras invenções do homem. No Egito, as primeiras flautas de sopro datam do quarto m ilênio a.C.. Uma série de harpas e liras, bem como um par de flautas de prata foram encontradas no cemitério real em *Ur, datando do início do terceiro milênio. Flautas de osso ou cerâmica remontam pelo menos ao quarto milênio. Os instrumentos musicais eram um a fonte de entrete­nimento, além de garantirem o ritmo para as danças

e *rituais, tais como procissões e dramatizações cultuais. Além dos instrumentos de percussão (pandeiros e cho­calhos), os instrumentos mais comuns usados no anti­go Oriente Próximo eram as harpas e as liras. Foram encontrados modelos desses instrumentos em escava­ções de sepulturas e também pintados em paredes de templos e palácios. São descritos na literatura como um a m aneira de acalmar o espírito, invocar os deuses e dar a cadência para a m archa de um exército. Os músicos tinham suas próprias corporações e eram al­

tamente respeitados.4.22. m etalurgia antiga. C om o parte do relato do surgim ento de trabalh os e técn icas artesan ais na genealogia de Caim , é natural que se m encione a origem da m etalurgia. Textos *assírios m encionam Tabal e M usku como as primeiras regiões de fabrica­ção de m etal, nas m ontanhas Taurus (leste da Tur­quia). Ferramentas de cobre, armas e utensílios come­çaram a ser fundidos e forjados no quarto m ilênioa.C.. Subseqüentem ente, as ligas de cobre, e princi­palmente as de bronze, foram introduzidas no tercei­ro milênio, à medida que foram descobertas jazidas de estanho fora do O riente Próxim o e as rotas de comércio foram expandidas para transportá-las para o Egito e Mesopotâmia. O ferro, por ser um m etal que exige tem peraturas m uito m ais elevadas e uso de foles (retratados nas pinturas do túm ulo egípcio de Beni Hasan) para fundição e manufatura, foi o último

a ser introduzido, já no final do segundo milênio a.C.. Ferreiros *hititas parecem ter sido os prim eiros a explorá-lo e a partir daí a técnica espalhou-se para o leste e para o sul. Os meteoritos, compostos de ferro, foram forjados a frio durante séculos, antes da fundi­ção do ferro propriamente dita. Isso não representaria um a fabricação tão grande com o a de fundição de depósitos terrestres, mas explicaria algumas das pri­meiras m enções ao ferro, anteriores à *Idade do Ferro.

5.1-32A linhagem de Sete5.1. o livro das (to le d o th ). Este capítulo começa intro­duzindo "o livro das gerações de A dão", assim como em 2.4 se faz menção ao relato da origem dos céus e da terra. A expressão aparece onze vezes no Livro de Gênesis. Traduções m ais m odernas usam a palavra "relato" em vez de "gerações". Em outros lugares na Bíblia, a palavra, freqüentem ente, está associada a genealogias. A lguns acreditam que em Gênesis ela seja indicação das fontes escritas usadas pelo autor ao compilar o Livro. Outra suposição é que simplesmen­te esteja apresentando pessoas e eventos que "resulta­ram " do indivíduo mencionado em destaque. De qual­quer maneira, os relatos das gerações servem como

um m arco divisório conveniente entre as diversas partes do livro.5.1-32. a im portância das genealogias. As genealogias representam continuidade e relacionamento. N o anti­go O riente Próxim o, freqüentem ente eram usadas como demonstração de poder e prestígio. Genealogias lineares começam no ponto A (a criação de Adão e Eva, por exemplo) e terminam no ponto B (Noé e o D ilúvio). O objetivo das genealogias é estabelecer pontes entre os principais eventos. A s genealogias podem tam bém vir na form a vertical, traçando os descendentes de um a única fam ília (Esaú, em Gn36.1-5,9-43). No caso das genealogias lineares, a quan­tidade real de tempo representada pelas sucessivas gerações não parece ser tão importante quanto o sen­tido de realização ou cumprimento de um propósito (por exem plo, o desafio de ser fecundo e encher a terra), As genealogias verticais enfocam o estabeleci­mento de legitimidade para os membros de uma fa­mília ou tribo (como no caso das genealogias levíticas em Esdras 2). As fontes mesopotâmicas não apresen­tam m uitas genealogias, mas a maior parte das que se conhece, é de natureza linear. A maioria trata apenas de famílias reais ou de escribas, alcançando somente três gerações, sendo que nenhum a delas ultrapassa doze gerações. As genealogias egípcias basicamente descrevem as fam ílias dos sacerdotes e tam bém são lineares. Elas estendem-se no m áximo até dezessete gerações, mas quase não aparecem antes do primeiro milênio a.C.. Em geral, as genealogias são apresenta­das num formato adequado para servir a um propósi­to literário. Assim , por exem plo, as genealogias de Adão a Noé, e de Noé a Abraão, contêm cada uma dez m embros, com o último gerando três filhos. Quan­do comparadas entre si, as genealogias bíblicas mos­tram que, muitas vezes, diversas gerações são omiti­das em algumas apresentações específicas. Esse tipo de redução tam bém acontece nos registros de genea­logias *assírias. Assim sendo, não precisam os achar que as genealogias devam representar necessariamen­te todas as gerações, como procuramos fazer em nos­sas árvores genealógicas modernas.5.3. Adão gerou um filho à sua semelhança, confor­me a sua im agem . Esse mesmo tipo de comparação é feito no *Enuma Elish entre as gerações dos deuses. A nshar gerou A nu à sua sem elhança, e Anu gerou Nudimm ud (Enki), à sua semelhança também.5.3-32. vida longa. Embora não haja uma explicação satisfatória para a longevidade antes do Dilúvio, exis­tem registros *sumérios de reis que supostamente te­riam reinado antes do Dilúvio por até 43.200 anos. Os sum érios usavam o sistem a num érico sexagesim al (uma com binação de base seis e dez), e quando os núm eros dessas listas são convertidos em decimais,

aproximam-se muito da média de idade das genealo­gias pré-diluvianas do Gênesis. Os hebreus, como a maior parte dos povos semitas, usavam um sistema de base decimal desde os primórdios da escrita.5.21-24. Enoque... não foi encontrado, pois Deus o havia arrebatado. Na linhagem de Sete, ocupando o décimo sétimo lugar, Enoque foi o indivíduo que mais se destacou. Como resultado de ter andado com Deus (uma expressão que denota piedade), foi "arrebata­do" - uma alternativa para a morte, o destino decla­rado de todos os outros na genealogia. O autor não m enciona onde ele foi arrebatado, o que talvez seja um indício de que não soubesse. Poderíamos presu­mir, apropriadamente, que ele tenha sido levado para um lugar melhor, uma vez que seu destino foi consi­derado uma recompensa por sua intimidade com Deus, mas o texto não explicita se ele foi levado ao céu ou para estar com Deus. N as listas m esopotâm icas de sagas pré-diluvianas, o sétimo da lista, Utuabzu, teria ascendido ao céu. Nos Textos Egípcios Piram idais, Shu, o deus do ar, é orientado a levar o rei para o céu a fim de que não m orra na terra. Esses relatos repre­sentam a transição da mortalidade para a imortalida­de. Os escritos judaicos após o período do Antigo Tes­tamento oferecem extensas especulações sobre Enoque, retratando-o como uma antiga fonte de revelação e visões apocalípticas (1, 2 e 3 Enoque).5.29. nos aliviará. O nome Noé significa "descanso", trazendo novamente a importância desse tema no an­tigo Oriente Próximo (ver comentário em 2.1-3). Os deuses mesopotâmios enviaram o Dilúvio porque o tumulto dos humanos lhes perturbava o sono, im pe­dindo-os de descansar. N esse sentido, o Dilúvio trou­xe descanso para os deuses. No caso de Noé, esse termo está m ais associado ao fato de proporcionar des­canso para as pessoas frente à ira dos deuses.

6.1-4Os filhos de Deus e as filhas dos homens6.2. filhos de Deus. O termo "filhos de D eus" é usado em outras passagens no Antigo Testamento em rela­ção a anjos, mas a idéia de filiação a Deus também é retratada para os israelitas, como grupo, e individual­mente, para os reis. No antigo Oriente Próximo, acre­ditava-se que os reis tinham uma relação filial com os deuses, por terem sido gerados pela divindade.6.2. escolheram para si aquelas que lhes agradaram. A prática de casar-se com m ulheres "que lhes agrada­ram " tem sido interpretada por alguns com o um a referência à poligamia. Em bora a poligamia fosse pra­ticada, é difícil imaginar por que esse fato mereceria menção, visto que a poligamia era uma prática aceitá­vel até mesmo em Israel nos tempos do Antigo Testa­mento. E mais provável que seja um a referência ao

"direito da primeira noite", citado como uma das prá­ticas opressivas dos reis no Épico de Gilgamés. O rei podia exercer seu direito, como representante dos deu­ses, de passar a noite de núpcias com qualquer mu­lher que tivesse acabado de se casar. Presumivelmente, esse ato era interpretado como um rito de *fertilidade. Se essa era a prática aqui m encionada, seria um a explicação da natureza da ofensa.6.3. 120 anos. O limite de 120 anos provavelm ente está relacionado à redução da longevidade humana, uma vez que contexto em que a afirmação está inserida é sobre mortalidade. Em bora esse versículo seja evi­dentem ente de difícil tradução, atualm ente há um consenso no sentido de traduzi-lo como "m eu espírito não perm anecerá no hom em para sem pre", confir­m ando assim a m ortalidade. Assim com o a ofensa pode ser entendida à luz de informações contidas no Épico de Gilgamés, também essa afirmação pode es­tar relacionada à busca infindável pela imortalidade, que na verdade é o cerne desse épico. A pesar de Gilgamés ter vivido após o Dilúvio, esses elementos da narrativa são reproduzidos na experiência huma­na universal. U m texto de sabedoria da cidade de Emar cita 120 como o número m áximo de anos conce­dido aos humanos pelos deuses.6.4. gigantes (n efilin s ). Nefilim não é a designação de um grupo étnico, m as a descrição de um tipo particu­lar de indivíduo. Em Números 13.33 eles são identifi­cados como descendentes de Enaque, como alguns dos habitantes da terra de Canaã. São descritos como gigantes em algumas versões, mas não há razão para considerá-los assim . É m ais provável que o term o descreva guerreiros valentes, talvez o equivalente antigo a cavaleiro andante.

6.5-8.22 O dilúvio6.13. violência com o causa do dilúvio. De acordo com o relato do Épico de Atrahasis, os deuses deci­diram enviar o Dilúvio por causa dos m uitos "ruídos" produzidos pela hum anidade. N ão seria necessa­riam ente diferente da razão b íblica, um a vez que "ruídos" podem ser o resultado da violência. O san­gue de Abel clama desde a terra (4.10) e o clamor de Sodoma e Gom orra tem se m ultiplicado (Gn 18.20). Os ruídos poderiam ser produzidos tanto pelas inú­m eras petições dirigidas aos deuses para que fizes­sem algo para conter a violência e o derramamento de sangue, como pelo choro e pelos gritos das vítimas em seu sofrimento.6.14. m adeira de gofer. Gofer é uma palavra hebraica traduzida como "m adeira de cipreste" na NVI. É um material desconhecido, embora indubitavelmente seja relacionado a algum tipo de árvore conífera conside­

rada de grande resistência e durabilidade. O cipreste era usado geralmente na construção de navios no an­tigo Oriente Próximo. Do mesmo modo, os cedros do Líbano eram empregados pelos egípcios na constru­ção de seus barcos de transporte no Nilo, por volta do século 11 a.C.. *Relatório de Wenamon.6.14. em barcações no m undo antigo. Antes do sur­gimento de navios com condições para navegar em alto m ar e com capacidade para transportar m arinhei­ros e cargas através do Mediterrâneo, a maioria dos barcos era feita de pele de animais ou de junco e sua constituição permitia que navegassem pelos charcos e pântanos ou nas m argens dos rios. Esses barcos eram usados para pesca e caça, e não tinham m ais que três metros de comprimento. Os verdadeiros navios, com 50 m etros de comprim ento, são ilustrados pela pri­meira vez na arte do Antigo Reino Egípcio (cerca de 2500 a.C.) e descritos em textos *ugaríticos (1600-1200а.C.) e fenícios (1000-500 a.C.). Destroços de navios naufragados de meados do segundo milênio (*Idade do Bronze Moderna) também foram encontrados no Mediterrâneo. Eles geralm ente navegavam próximo à costa, em viagens à Creta e Chipre, bem como aos portos ao longo da costa do Egito, do golfo Pérsico e da Ásia Menor.б.14-16. dimensões da arca. Com base na medida de um côvado, que equivale a 18 polegadas ou 45 centí­metros, a arca construída por Noé deveria ter aproxi­madamente 135 metros de comprimento, 22 de largu­ra e 13 de altura. Se tivesse um fundo reto, sua capa­cidade total seria cerca de três vezes a do tabernáculo (100 por 50 côvados, conforme Êx 27.9-13), com o des­locam ento de 43 m il toneladas. Em com paração, a arca construída por *Uta-napishitim, na versão babiló­nica do Épico de Gilgam és tinha a forma de um cubo

ou de um zigurate (120 por 120 por 120 côvados), com deslocam ento três ou quatro vezes m aior que o da arca mencionada no Gênesis. A arca de Noé não foi projetada para ser navegada - não se faz menção de lem e nem de velas. Assim , o destino de todos que estavam a bordo foi deixado nas m ãos de Deus. Em ­bora *Uta-napishitim empregasse um navegador, tal­vez o formato de sua arca fosse mágico, visto que ele não podia contar com a proteção dos deuses.6 .15 ,16 . comprimento. A unidade de medida padrão usada para o comprimento era o côvado, que media dezoito polegadas (45 cm). Essa medida tinha como base o comprimento do antebraço, desde a ponta do dedo médio até o cotovelo. Outras unidades incluiam o palmo e o dedo. É comum o uso de medidas como "quatro dedos equivalem a um palm o" e "24 dedos equivalem a um côvado" no antigo Oriente Próximo. Surgiram algumas variações dessas m edidas, como por exem p lo , sete palm os, que equ iv aliam a um côvado no Egito e 30 dedos, que correspondiam a um côvado na *Babilônia, até o período *Caldeu (talvez tendo como base o sistema m atem ático sexagesimal que usavam).6.17. evidências arqueológicas do dilúvio. Até hoje não foram encontradas evidências arqueológicas con­vincentes sobre o Dilúvio bíblico. O s depósitos de sedimentos exam inados em cidades sum érias como *Ur, Quis, Shuruppak, *Lagash e *U ruk (todas elas com níveis de ocupação que remontam pelo menos a 2800 a.C.) pertencem a períodos diferentes e não re­fletem o fato de ter havido um único Dilúvio inun­dando-as ao mesmo tempo. Semelhantemente, a cida­de de Jericó, continuamente ocupada desde 7000 a.C., não apresenta nenhum depósito que indique a ocor­rência de um Dilúvio. Estudos meteorológicos indica-

RELATOS DILUVIANOS DO ANTIGO ORIENTE PRÓXIMOOs relatos diluvianos mais importantes do antigo Oriente Próximo são aqueles encontrados no Épico Atrahasis e no Épico de Gilgamés. Nesses relatos, Enlil, o deus superior, estava irado com. a humanidade (no Épico Atrahasis ele estaria incomo­dado por causa dos "ruídos" provocados pelos homens; ver comentário a seguir) e, após tentativas fracassadas para reme­diar a situação, reduzindo a população através de secas e enfermidades, convenceu a assembléia dos deuses a aprovar um Dilúvio que culminaria no extermínio de toda a humanidade. O deus Ea, porém, conseguiu prevenir um rei, que era seu fiel adorador, instruindo-o a construir um barco que serviria não apenas para poupar sua vida e a de seus familiares, como também a de representantes habilitados nas diversas artes da civilização. Os demais moradores da cidade foram informa­dos de que os deuses estavam irados com o rei e que ele deveria deixá-los. O barco coberto de piche é descrito em sete relatos diferentes, ora com o formato de um cubo ou, o mais provável, na forma de um zigurate (ver comentário em 11.4). A tempes­tade durou sete dias e sete noites, quando o barco ancorou no monte Nisir, e aves foram enviadas para determinar o momento de sair da arca. Assim que deixaram a arca, ofereceram sacrifícios aos deuses, que ficaram bastante agradecidos, pois estavam privados de comida (sacrifícios) desde o início do Dilúvio.

O Épico Atrahasis data do início do segundo milênio a.C.. Já o Épico de Gilgamés tomou sua forma atual na segunda metade do segundo milênio, apesar de adotar alguns relatos que já circulavam no final do terceiro milênio. A partir desse breve resumo, é possível detectar uma série de semelhanças e diferenças entre os relatos. Não há motivo para duvidar que as histórias do antigo Oriente Próximo e a narrativa do Gênesis refiram-se ao mesmo Dilúvio. Certamente isso deve ser considerado apenas em relação às semelhanças. As diferenças nos relatos resultam do fato de cada cultura encarar o Dilúvio a partir de sua própria teologia e cosmovisão, o que não deixa de ser, para muitos povos, uma preparação para a aceitação da verdade bíblica.

ram que o período de 4500 a 3500 a.C. foi significati­vamente m ais úmido nessa região, mas esse dado é insuficiente para qualquer conclusão. A busca pelos restos da arca de Noé ficou limitada ã região do pico do monte turco Agri Dagh (5 mil metros), próximo ao lago Vã. No entanto, nenhuma m ontanha específica da cadeia de montanhas do Ararate é mencionada no relato bíblico, e os fragmentos de m adeira ali encon­trados, quando analisados através do carbono-14, de­

monstraram ser de período anterior ao século V d.C..7.2-4. sete casais de cada espécie. Embora N oé tenha levado para a arca dois animais de cada espécie, ele é instruído no versículo 2 a tom ar sete pares de todo anim al lim po e de toda ave. H avia necessidade de um núm ero m aior de anim ais lim pos, pois seriam usados para o sacrifício após o D ilúvio, e tam bém empregados para uso humano no repovoamento mais rápido da terra. Em alguns *rituais sacrificiais, eram

oferecidos sete de cada espécie dos animais designa­dos (cf. 2 Cr 29.21), m as é claro que N oé não iria sacrificar todos eles.7.2. lim pos e im puros, antes de M oisés. A distinção entre animais limpos e impuros não foi um a inovação estabelecida no monte Sinai; essa distinção remonta aos dias de Noé. Não há evidências, tanto no Egito como na M esopotâmia, de algum sistema equivalente a essa classificação israelita dos animais. Em bora exis­tissem restrições alimentares naquelas culturas, elas eram mais limitadas, isto é, certos animais eram res­tritos apenas para certas classes de pessoas ou em

certos dias do mês. Mesmo aqui é possível presumir que essa classificação tivesse implicações na alimenta­ção. Até esse período, não havia permissão de comer carne (ver 1.29). Quando a carne foi admitida como fonte alimentar para o homem, após o Dilúvio (9.2,3), não havia restrições a respeito de animais limpos e impuros. Como resultado, parece que nesse período a classificação era concernente a sacrifícios, e não a hábi­tos alimentares.7.11. as fontes das grandes profundezas jorraram . Otexto usa uma expressão poética, "janelas dos céus", para descrever a abertura por onde a chuva caiu. Não se trata de linguagem científica, apenas reflete a pers­pectiva do observador, assim como falaríamos do sol "se pondo". A única ocorrência de um termo como esse na literatura do antigo Oriente Próximo é encon­trada no mito cananeu de *Baal, que ao relatar a cons­trução de sua casa, descreve a "jan e la " como uma abertura nas nuvens. Mas mesmo nesse caso, a pala­vra não está associada à chuva. Um a term inologia semelhante aparece em alguns textos mesopotâmicos, onde são m encionados portões nos lados leste e oeste do céu, usados para o nascer e para o sol se pôr.

Nuvens e ventos, porém, também passavam por es­ses portões.7.11-8.5. duração do dilúvio. A duração total do Di­lúvio é variável, dependendo dos dados que são con­siderados. Levando-se em conta as inform ações en­contradas nos versículos 7.11 e 8.14, Noé e sua família

passaram doze meses e onze dias dentro da arca. O tempo exato de dias depende do número de dias que se calculava num mês e de algum ajuste feito entre os cálculos lunar e solar. Alguns consideram esses onze dias como um dado interessante, visto que o ano lu­nar de 354 dias tem onze dias a m enos que o ano solar.8.4. Ararate. As montanhas de Ararate estão localiza­das na região do lago Vã, no lado leste da atual Tur­quia, na região da Arm ênia (conhecida como Urartu nas inscrições *assírias). Essa cadeia m ontanhosa (o pico m ais elevado alcança mais de 5 mil metros de altura) também é mencionada em 2 Reis 19.37, Isaías 37.38 e Jerem ias 51.27. O Épico de Gilgamés, porém, descreve o lugar específico em que a arca do herói do Dilúvio repousou: o topo do m onte N isir, no noroeste da Pérsia.8.6-12. uso de aves no antigo O riente Próxim o. Uma

das cenas mais marcantes no relato do Dilúvio é a de Noé soltando algumas aves para obter inform ações

sobre as condições fora da arca. As narrativas do Épico de Gilgam és e do Épico Atrahasis tam bém m encio­nam um uso semelhante de aves. Em vez de enviar um corvo e depois uma pom ba em três missões, en­contramos uma pomba, uma andorinha e um corvo, enviados cada um por sua vez. A pomba e a andori­nha retornam sem encontrar lugar para pousar, en­quanto o corvo é descrito, como em Gn 8.7, voando e dando voltas, sem, no entanto, voltar (Gilg. 11.146­54). N avegadores do m undo antigo faziam uso de aves para encontrar terra, mas Noé não estava nave­gando, pois já se encontrava em terra firme, logo seu objetivo ao soltar as aves não se referia a uma busca de direção. Sabe-se também que o padrão de vôo das aves muitas vezes servia como presságio, mas nem no G ênesis, nem no relato de G ilgam és aparecem observações sobre o vôo das aves enviadas.8.7. h áb itos dos corvos. Ao contrário dos pom bos, que voltam após terem sido soltos, o corvo é usado pelos marinheiros com o fim de observarem sua linha de vôo. Com base na direção tom ada pela ave, o marinheiro pode determinar a localização da terra. A estratégia mais sensata então, é soltar prim eiro um corvo e depois usar outros pássaros para determinar a profundidade da água e as condições de pouso do lugar. Os corvos se alimentam de carne em decompo­sição e, portanto, teriam comida suficiente disponível.

8.9. hábitos das pombas. Os pombos têm um a auto­nomia de vôo limitada, e por essa razão, são usados pelos navegadores como meio para determinar a loca­lização de terra para pouso. Enquanto eles voltam, é sinal de que não há terra nas proximidades. O pombo vive em lugares pouco elevados e sua alimentação é à base de plantas.8.11. significado da folha de oliveira. A folha de oliveira trazida pela pomba sugere a duração de tem­po necessária para que as folhas dessa árvore brotas­sem, após ter ficado submersa - uma indicação sobre a profundidade das águas do Dilúvio. Também é um sím bolo da nova vid a e da fertilidade que viriam após o Dilúvio. A oliveira é um a árvore que dificil­mente morre, mesmo depois de ter sido cortada. Esse broto recém-arrancado m ostra a N oé que o período de recuperação já havia começado.8.20-22. uso de altares. Os altares são um elemento comum de muitas religiões, tanto antigas como m o­dernas. Na Bíblia, os altares eram geralmente cons­truídos de pedra (bruta ou trabalhada), m as em certas circunstâncias até mesmo uma grande rocha era sufi­ciente (Jz 13.19, 20; 1 Sm 14.33, 34). Muitos acreditam que o altar era o lugar onde se colocavam os alimentos para a divindade, visto que os sacrifícios eram popu­larm ente entendidos como a oferta de uma refeição aos deuses, em bora essa imagem não seja facilmente identificada no Antigo Testamento.

8.20. propósito do sacrifício de Noé. O objetivo do sacrifício oferecido por Noé não está explícito no Gênesis. O texto descreve o sacrifício como um "holocausto" ou ofertas queimadas, que tinham um a função bastante ampla no sistema sacrificial. Talvez seja mais impor­

tante atentar para o que o texto não diz a respeito do sacrifício. Não é um a oferta pelo pecado, nem uma

oferta de gratidão especificamente designada. As ofer­tas queimadas geralmente aparecem associadas às pe­tições ou súplicas dirigidas a Deus. Em contraste, no sacrifício oferecido após o Dilúvio, no Épico de *Gilga- més e na versão suméria anterior, aparecem libações e ofertas de grãos bem como sacrifícios de animais, com o objetivo de oferecer um banquete aos deuses. O propósito geral do sacrifício no mundo antigo era apla­car a ira dos deuses por meio de ofertas de alimentos e bebidas, e essa, provavelm ente, é a m otivação do herói do Dilúvio nos relatos mesopotâmicos.8.21 . arom a agradável. A qui, bem com o no Pen- tateuco, o sacrifício é descrito como produzindo um arom a agradável, term inologia preservada de con­textos antigos em que o sacrifício era encarado como alimento para a divindade. Essa descrição fica muito distante do quadro pintado no Épico de Gilgamés, em que os deuses famintos (privados de comida durante

o Dilúvio) ajuntam-se ao redor do altar como "m os­cas", contentes pela possibilidade de suspender o lon­go jejum.

9.1-17 A aliança com Noé9.2-4. a carne com o alim ento no m undo antigo. Acarne não era um prato comum na culinária do mun­do antigo. Os animais eram mantidos para produzi­rem leite , peles e lã, não esp ecificam ente por sua carne, Assim, havia carne disponível apenas quando um anim al m orria ou era m orto em um sacrifício. Em bora nesta lista a carne passe a ser considerada como um alimento aceitável, ela não deve ser comida com sangue. Nos tempos antigos, o sangue era consi­derado a força da vida (Dt 12.23). A restrição não proibia o consumo de sangue em sua totalidade, ape­nas determinava que o sangue devia ser derramado. Derramar o sangue antes de comer a carne era uma maneira de devolver a vida do animal a Deus, que é quem concede a vida. É também uma demonstração do reconhecim ento de que a vida fora tirada com a perm issão de D eus e um m odo de com partilhar da generosidade de D eus com o seus convidados. Sua função é diferente da oraçãò de gratidão feita nos tempos modernos, antes de tomar uma refeição. Ne­nhuma proibição desse tipo é conhecida no mundo antigo.9.5, 6. pen a de m orte. A vid a hum ana, por ser à imagem de Deus, permanece sob a proteção de Deus. A responsabilidade de preservar a vida hum ana é colocada nas m ãos da humanidade, sendo assim insti­tuída a vingança de sangue no m undo antigo e a pena de morte nas sociedades modernas. Na socieda­de israelita, a vingança de sangue estava nas m ãos da família da vítima.9.8-17. aliança. Uma "aliança" é um acordo formal en­tre duas partes. A principal característica de um a ali­ança são as condições, que podem incluir exigências para am bas as partes ou para apenas um a delas. N es­ta aliança, Deus estipula condições a si mesmo, em vez de impô-las a Noé e sua família. Ao contrário da alian­ça posterior feita com Abraão, e de todas as outras ali­anças que se desenvolveram a partir de Abraão, esta aliança não im plica um a eleição ou um a nova fase da

revelação. Essa aliança tam bém inclui todas as criatu­ras vivas, não apenas os seres hum anos.9.13. o significado do arco-íris. O significado do arco- íris como um símbolo da *aliança não significa que essa tenha sido a prim eira vez que um arco-íris apare­ceu no céu. A função de um símbolo está conectada ao significado atrelado a ele. Do mesmo m odo, a C ircun­cisão é apresentada como um símbolo da aliança com

Abraão, embora fosse uma prática antiga, e não uma novidade para Abraão e sua fam ília. No Épico de Gilgamés, a deusa *Istar identificou o lápis-lazúli (pe­dra semipreciosa de cor azul-escura, com vestígios de pirita de coloração dourada) de seu colar como a base de um juram ento pelo qual ela nunca se esqueceria dos dias do Dilúvio. Um relevo *assírio do século 11 mostra duas mãos saindo das nuvens, uma oferecen­do bênção, a outra segurando um arco. Visto que a palavra para arco-íris é a m esma usada para armas, essa é uma im agem interessante.

9.18-28Declaração de Noé a respeito de seus filhos9.21. bebeu do vinho. A prova mais antiga da fabri­cação de vinho remonta ao período neolítico, no Irã (região de Zagros), onde os arqueólogos descobriram um jarro datando da segunda metade do sexto m ilê­nio, com resíduos de vinho no fundo.9.24-27. declaração patriarcal. Quando Noé ficou sa­bendo que Cam tinha sido indiscreto, proferiu uma maldição sobre Canaã e um a bênção sobre Sem e Jafé. N o contexto bíblico, a bênção patriarcal geralmente dizia respeito ao destino dos filhos concernente à fer­tilidade da terra, da família e ao relacionamento entre seus membros. Outros exemplos podem ser encontra­dos em Gênesis 24.60; 27.27-29, 39, 40; 48 .15 ,16 ; 49.1­28. A partir dessa prática podemos chegar a diversas conclusões em relação a essa passagem. Em primeiro lugar, a atitude indiscreta de Cam não deve ser vista como o "m otiv o" da m aldição, m as apenas como a situação que a desencadeou. Compare, por exemplo, quando Isaque pediu a Esaú que lhe preparasse uma refeição a fim de que o abençoasse; a refeição não foi o motivo da bênção, apenas criou um ambiente favo­ráv el a ela. Em segundo lugar, n ão devem os ficar incomodados com o fato de que Canaã aparentemente foi escolhido sem motivo. Podemos muito bem presu­m ir que a declaração de Noé tenha sido muito mais abrangente, incluindo algumas afirm ações desfavo­ráveis também a respeito de Cam. O escritor bíblico não tem a preocupação de preservar o todo - ele sim­plesmente seleciona as partes que são pertinentes ao que quer mostrar e que são relevantes para seus leito­res, visto que os cananeus eram os camitas, com quem Israel tinha m uita fam iliaridade. Em últim o lugar, não devemos entender essas profecias como vindas de Deus. Não aparece nenhuma expressão "e disse o Senhor...". São palavras do patriarca, não de D eus (cf. o uso da primeira pessoa em 27.37). Ainda assim, elas foram entendidas seriamente e consideradas capazes de ter influência no desenrolar da história e no desti­no da pessoa.

10.1-32A origem dos povos10.1. critérios de divisão. A genealogia da fam ília de N oé fornece informações sobre a história futura e so­bre a distribuição geográfica dos povos no antigo Ori­ente Próximo. Encontramos aqui pistas sobre o povo­am ento das áreas costeiras, do norte da Á frica, da Síria, Palestina e M esopotâm ia. Todas as principais regiões estão representadas, bem como a maioria das nações e povos que de alguma form a iriam se relaci­onar com os israelitas, dentre eles o Egito, Canaã, os filisteus, os jebuseus, *Elão e Assur. Isso nos dá uma idéia da divisão política do "m u n d o" na época em que essa lista foi escrita, e fornece uma indicação defi­nitiva de que as raízes dos israelitas estão na M esopo­tâmia. Não há, porém, nenhuma tentativa de estabe­lecer ligações entre esses povos tendo como critérios diferenças raciais. Os povos antigos estavam m ais pre­ocupados com as diferenças baseadas na nacionalida­de, língua e etnia.10.2-29. nom es: pessoais, patroním icos, políticos. Osnomes dos descendentes de Noé alistados na "origem dos povos" têm como objetivo retratar a totalidade da humanidade e dar pelo menos uma noção parcial de sua distribuição geopolítica e origem. Ao todo, seten­ta pessoas são alistadas, o mesmo núm ero encontrado no texto que calcula o número de pessoas da família de Jacó que foi para o Egito (Gn 46.27) e também dos representantes da nação (setenta anciãos, Êx 24.9; Ez 8.11). Outros exemplos do núm ero setenta represen­tando a totalidade podem ser encontrados no número de deuses no panteão *ugarítico e no núm ero de filhos de Gideão (Jz 8.30) e Acabe (2 Rs 10.1). Alguns estu­diosos têm considerado que as ligações de parentesco estabelecidas na lista dos povos refletem uma afilia­ção política (relação de senhor/vassalo), em vez de laços sangüíneos. Línguas aparentadas às vezes são usadas na Bíblia para retratar associações políticas (1 Rs 9.13). Alguns dos nomes que aparecem nessa lista sugerem ser nom es de tribos ou nações, e não de indivíduos. Na genealogia de *Hamurabi, vários no­mes são tribais ou geográficos, o que permite concluir que não era algo incom um em documentos antigos. Por ser uma genealogia vertical, a lista simplesmente procura estabelecer relações de diversos tipos.10.2-5. os jafetitas. Em bora nem todos os descenden­tes de Jafé estejam presos a regiões contíguas, eles poderiam ser definidos, na perspectiva israelita, como um povo que veio do m ar ("povos m arítim os", no v. 5). Um m apa-múndi *babilôrúco do oitavo século ilus­tra a cosmovisão geográfica de que havia m uitos po­vos na periferia da civilização, no além-mar. Muitos aqui mencionados podem ser identificados com gru­pos da Ásia M enor (Magogue, Tubal, Meseque, Tirás,

Togarma) ou das ilhas lona (Rodanim), bem como de Chipre (Elisá e Quitim). H á também diversos outros povos que parecem ter se originado, de acordo com registros *assírios e *babilônicos/ na área a leste do mar Negro e no platô iraniano - os cimérios (Gômer), os citas (Asquenaz), os medos (Madai) e os paflagônios (Rifate). Társis é o que apresenta mais dificuldade por ser geralmente identificado com a Espanha, o que o afasta da esfera geográfica dos outros. No entanto, a denominação de povos gregos ou indo-europeus dada a essas "n açõ es" estabeleceria um a ligação com a Sardenha e possivelmente com Cartago.10.6-20. os camitas. O tema comum na genealogia dos camitas é sua forte importância geográfica, política e econômica para o povo de Israel. Essas nações apare­cem como os principais rivais e literalmente cercam Israel (Egito, Arábia, M esopotâm ia e Sírio-Palestina). Ainda m ais im portante é o posicionam ento político dos grupos que pertenciam à esfera egípcia (Cuxe, Fute, M izraim e seus descendentes) e da esfera cana- néia (diversos povos, como os jebuseus e os heveus). É interessante notar que muitos deles são classificados e tn icam en te com o sem itas (can an eu s, fe n íc io s e *amorreus). A lista também é intercalada por narrati­vas breves (Ninrode e Canaã) que rompem a estrutu­ra estereotipada das genealogias e faz ligações com áreas (*Babilônia, *Nínive, Sidom, Sodoma e Gomorra) que mais tarde se tom arão significativas na história de Israel.10.8-12. N inrode. Ao longo dos anos, muitos herme- neutas procuraram identificar Ninrode com a figura histórica conhecida como Tukulti-N inurta I (um rei *assírio do período dos juizes bíblicos), ou com divin­dades mesopotâmicas como Ninurta, deus da guerra e da caça, que num a lenda persegue um a série de criaturas fantásticas, derrotando-as ou matando-as. Em Gênesis, porém, Ninrode é claramente um herói hu­mano, e não divino ou semidivino. U m a tradição pos­terior dos judeus, mais tarde assumida também pelos pais da igreja, afirmava que ele seria o construtor da torre de Babel e que teria originado a idolatria, mas essas idéias não encontram base no texto bíblico. A extensão de seu reinado, desde o sul até o norte da M esopotâmia (v. 10 ,1 1 ) corresponde ao crescimento do primeiro império conhecido na história, a dinastia de Acade, governada por Sargon e N aram -Sin (por volta de 2300 a. C.), dois heróicos reis da antigüidade. O reinado de Ninrode incluía Ereque (*Uruk), a cida­de onde *Gilgam és reinou e um dos m ais antigos e maiores centros da cultura *suméria.10.21-31. os sem itas. Em bora Sem seja o filho m ais velho de N oé, sua genealogia é a últim a da lista, como geralmente acontece no Livro de Gênesis com o filho que o texto procura acompanhar mais de perto.

Há um a m istura de povos semitas e não semitas nesta lista (considerando nossos critérios étnicos). Por exem­plo, *Elão (leste do Tigre) e Lude (Lídia, no sudeste da Á sia Menor) são considerados não sem itas, m as há fortes laços históricos entre essas duas áreas em perío­dos posteriores. Sabá, Ofir e Havilá fazem parte da região arábica e Arã originou-se a leste do Tigre e ao norte de Elão, mas passou a ser associado com os aram eu s, que d om inaram a S íria e o n oroeste da Mesopotâmia no final do segundo milênio a. C..10.25. a divisão da terra. Em bora essa expressão seja tradicionalmente interpretada como uma referência à divisão das nações depois do incidente da Torre de Babel (Gn 11.1-9), existem outras possibilidades. Po­deria, por exemplo, tratar-se de uma divisão de co­munidades humanas em grupos distintos de agricul­tores sedentários e pastores nôm ades; ou possivel­mente seja o registro de uma migração de povos, que teria transformado drasticamente a cultura do antigo Oriente Próximo - talvez representado pela separa­ção de um grupo que teria viajado para o sudeste, citado em Gênesis 11.2.

11.1-9A T o r r e d e B a b e l11.1. a tradição de um a língua comum. O registro de um a época em que toda a hum anidade falava uma ún ica lín gu a está p reserv ad o no ép ico *su m ério intitulado Enmekar e o Senhor de Aratta. Esse relato fala de um a época em que não havia animais selvagens e os povos viviam em harmonia: "O Universo inteiro falou em uníssono a *Enlil, em um a só língua". Em seguida, relata que a fala foi m udada, provocando "d iscórdia". Não há nenhum outro elemento paralelo à Torre de Babel, mas a confusão das línguas causada por um a divindade pode ser encarada como um tema antigo.11.2. Sin ear. Sinear é um a das designações bíblicas para a região mais baixa da planície dos rios Tigre e Eufrates. Tem sido tradicionalm ente identificada ao equivalente lingüístico de "Sum éria", nome designa­do para a mesma região que testemunhou o início da civilização. As principais cidades dessa região, nos tempos antigos eram *Ur, Eridu, *Uruk e Nipur.11.3. fabricação de tijo los. A passagem fala do uso de tijolos queimados no lugar de pedras. Na Palestina, as pedras de fácil acesso eram usadas para as fundações de importantes edifícios enquanto que os tijolos secos ao sol eram empregados na estrutura acima do alicer­ce. Não havia necessidade de tijolos queim ados em fom os e não foi comprovado seu uso na região. Nas planícies ao sul da M esopotâm ia, porém, as pedras teriam de ser extraídas e transportadas de um a certa distância. A tecnologia de assar tijolos foi desenvolvi­

da já no final do quarto m ilênio, e o produto resultan­te, fixado com betum e, mostrou ser à prova d'água e tão resistente quanto a pedra. Visto que era um pro­cesso dispendioso, era usado apenas na construção de importantes prédios públicos.11.4. urbanização. Os sumérios foram os pioneiros na urbanização do sul da M esopotâmia, já nos primeiros séculos do terceiro m ilênio a.C.. As "cidades" desse período não eram planejadas para que as pessoas vi­vessem nelas. Elas abrigavam o setor público, em sua maioria prédios religiosos e instalações de armazena­gens, e eram cercadas por um a m uralha. Visto que essas primeiras cidades eram governadas por um con­selho de anciãos ligados ao templo, não havia prédios separados para a administração, embora possivelmen­te existissem residências para esses oficiais do gover­no. A determinação em construir uma cidade sugere um esforço no sentido de urbanização, que pode facil­m ente ser interpretado como uma medida para evitar a dispersão das pessoas. A urbanização tom ou possí­vel o modo de vida cooperativo, permitindo que mais pessoas vivessem juntas em uma determinada região, bem como o uso da irrigação em larga escala e uma produção excedente de grãos. A necessidade de dis­persar os povos não-urbanizados fica evidente na his­tória de Abraão e Ló em Gênesis 13.11.4. torre. A característica principal dessas primeiras cidades do sul da M esopotâm ia era o complexo do templo. M uitas vezes, esse com plexo era a própria cidade. O complexo do templo nesse período compre­endia o templo em si, onde a divindade protetora era a d orad a e, com m aior d estaq u e , o z ig u ra te . Os zigurates eram estruturas projetadas na forma de es­cadarias e plataformas que pretensamente iriam des­de os céus (o portão dos deuses) até a terra, de modo que os deuses pudessem descer até o templo e até a cidade trazendo sua bênção. Era um a providência bastante conveniente oferecida aos deuses e a seus mensageiros. Essas escadarias estão presentes na mi­tologia dos *sum érios e tam bém são retratadas no sonho de Jacó (Gn 28.12). Os zigurates eram construídos com tijolos secos ao sol ligados com barro e pedriscos e recobertos com um a camada de tijolos queimados em fom os. Não havia divisórias, câmaras ou corredores de nenhuma espécie no interior da construção. A es­trutura em si era feita de m odo a sustentar a escada­ria. N o topo havia um pequeno quarto para a divin­dade, equipado com um a cama e um a m esa regular­mente abastecida com comida. Deste modo, a divin­dade poderia renovar suas forças durante a descida. Nenhum dos festivais ou *rituais fornecem indícios de que as pessoas tam bém faziam uso do zigurate por algum m otivo; ele era reservado aos deuses. Os sacer­dotes certamente tinham de subir ao topo para levar

novos suprimentos, m as aquele era solo sagrado. O zigurate serviu como representação arquitetônica das religiões pagãs desse período, em que a divindade foi transformada à imagem do homem.11.4. um a torre que alcance os céus. De acordo com o costume acadiano, esta expressão é reservada quase que exclusivam ente para a descrição dos zigurates. Adicionalmente, existem alguns presságios intrigan­tes na série intitulada Summa Alu ("Se uma cidade...") que indicam uma desgraça iminente pairando sobre as cidades ou torres elevadas. Se uma cidade elevar- se a ponto de alcançar os céus, será abandonada ou haverá um a mudança no trono. A cidade que alcan­çar a altura do pico de uma m ontanha se tom ará em ruínas, e se subir ao céu como um a nuvem , haverá um a calamidade.11.4. um nome fam oso. As pessoas estavam interes­sadas em ter um nom e fam oso. Esse é um desejo reconhecido como legítimo por Deus em outros con­textos, como quando Ele diz que o nome de Abraão e Davi será lem brado para sempre. Ter descendentes era um modo de ter o nome conhecido. Embora não haja necessariamente nada de mal ou pecaminoso em querer ter um nome famoso, devemos reconhecer tam ­bém que esse desejo pode tornar-se obsessivo ou le­var a pessoa a elaborar planos maldosos.11.4. e não serem os espalhados. Do m esm o m odo que desejavam um nome famoso, as pessoas também queriam evitar serem dispersas. Embora Deus as ti­vesse abençoado com o privilégio de m ultiplicar-se de m odo a encher a terra, isso não significava que deviam se espalhar. O povoamento da terra estava se cumprindo pela multiplicação, e não pela dispersão dos povos. Com o tempo, as condições econômicas forçaram a ruptura de alguns grupos de pessoas, sen­do esse o motivo de terem se esforçado pela urbaniza­ção. Deus os espalhou não porque não desejasse que permanecessem juntos, m as porque seus esforços uni­ficados estavam provocando desordens (assim como nós separamos crianças que estão se comportando mal).11.5. desceu para ver. O zigurate teria sido construído apenas para permitir que Deus descesse por ele para ser adorado e para abençoar o povo. De fato D eus "d esceu " para ver, m as em vez de agradar-se por terem providenciado algo conveniente, ficou aborre­cido ao ver o paganismo que perpassava os conceitos representados pelo zigurate.11.8. vestígios de povoamento da fase *Uruk. Muitos elementos desse relato apontam para o final do quarto milênio como cenário da narrativa. Este é o período em que a vazante das águas perm itiu o estabeleci­mento na bacia sul dos rios Tigre e Eufrates. Muitos povoamentos demonstram que seus ocupantes trou­xeram consigo a cultura da região norte da Mesopo-

tâmia. É também nesse período conhecido como a fase Posterior *Uruk (quase no final do quarto m ilênio) que a cultura e a tecnologia desses povoamentos do sul da Mesopotâmia repentinamente começam a des­pontar em povoamentos ao longo de todo o antigo Oriente Próximo. Assim, tanto a migração menciona­da no versículo 2, como a dispersão do versículo 9 encontram pontos de contato nos padrões de povoa­m ento identificados pelos arqueólogos no final do quarto milênio. A urbanização, a estrutura dos zigura- tes e experimentos com a fabricação de tijolos queima­dos ao forno também se encaixam nesse período.11.9. Babilônia antiga. Recompor a história antiga da *Babilônia é um a tarefa difícil. As escavações arqueo­lógicas no local não podem alcançar os períodos ante­riores ao início do segundo milênio porque o nível do lençol d'água do Eufrates mudou ao longo do tempo, destruindo os níveis m ais baixos. Na literatura da Mesopotâmia há pouca referência significativa a res­peito da Babilônia antes de se tornar a capital do* Antigo Império Babilônio, no século 18 a.C..

11.10-32A descendência de Sem, a família de Abraão11.28. Ur dos Caldeus. A família de Abraão é originá­ria de *Ur dos Caldeus. Por muitas gerações, a única *Ur conhecida dos estudiosos modernos era a famosa cidade *sum éria na região sul do Eufrates. Não se sabe ao certo por que essa cidade ao sul seria chamada de *Ur dos Caldeus, visto que nesse período os caldeus estavam estabelecidos principalmente na parte norte da M esopotâmia. Uma explicação possível foi ofereci­da quando a descoberta de provas textuais da M eso­potâmia começou a dar indícios da existência de uma cidade m enor com o nom e de *Ur, na região norte, não muito longe de Harã (para onde Terá se mudou com sua família). Essa cidade poderia logicamente ser cham ada de *Ur dos Caldeus para diferenciá-la de sua homônim a, bem conhecida de todos, na região sul. Isso tam bém explicaria a razão da terra natal da família de Abraão sempre ser descrita como Padã-Arã ou A rã N aharaim (24.10; 28.2, descrições da região

norte da Mesopotâmia entre os rios Tigre e Eufrates).11.30. esterilidade no antigo Oriente Próxim o. No m undo antigo, não ser capaz de gerar um herdeiro era considerada uma calamidade de grandes propor­ções para a fam ília porque representava um a ruptura no padrão de herança das gerações e também por não deixar ninguém para cuidar do casal em sua velhice. Assim, foram criados recursos legais que permitiam a um homem, cuja esposa não tivesse lhe dado filhos, fecundar uma escrava (Código de *Hamurabi; textos de *Nuzi) ou uma prostituta (Código de Lipite-Istar).

As crianças nascidas desse relacionam ento podiam então ser reconhecidas como herdeiras legítimas pelo pai (Código de Hamurabi). Abrão e Sarai em prega­ram a mesma estratégia quando recorreram a Hagar como mãe substituta para gerar um herdeiro ao casal já idoso (ver comentários em G n 16.1-4).11.31. Harã. A cidade de Harã ficava localizada a 880

quilôm etros a noroeste de *U r (sul), à m argem es­querda do rio Balique (um afluente do grande Eu­frates). Atualmente, está localizada na Turquia, cerca de 16 quilômetros da fronteira com a Síria. É m encio­nada com grande destaque nos textos de *Mari (século 18 a.C.) como um centro habitado pelos *amorreus no norte da Mesopotâmia e como um importante cruza­mento de rotas comerciais. Abrigou um tem plo de Sin, o deus da lua. As escavações arqueológicas na região têm sido dificultadas pelo fato de o local ser continuamente ocupado.

12.1-9Viagem de Abraão para Canaã12.1. a casa do pai. No mundo antigo, um homem era identificado pela sua posição como membro da casa de seu pai. Quando o chefe da casa morria, o herdeiro assumia aquele título juntam ente com as responsabi­lidades a ele atreladas. Essa expressão tam bém está relacionada à posse de terra e propriedades dos ante­passados. Ao deixar a casa de seu pai, Abrão estava abrindo mão de sua herança e de seu direito sobre a propriedade da família.12.1. as prom essas da *aliança. Terra, família e heran­ça eram alguns dos elementos mais significativos da sociedade antiga. Para os agricultores e pastores, a terra constituía seu meio de sobrevivência, enquanto que para os moradores das cidades, representava sua identidade política. Para os descendentes, a terra re­presentava o futuro. Os filhos eram responsáveis pelo sustento dos pais, em sua velhice, e ao mesmo tempo possibilitavam que a linhagem passasse para a próxi­m a geração. Eram os filhos que garantiam um sepul- tamento adequado para os pais e honravam o nome de seus antepassados. Em algumas culturas do antigo Oriente Próximo, isso era considerado essencial para a manutenção de uma vida tranqüila no além. Quan­do Abrão se dispôs a deixar seu lugar na casa de seu pai, ele abriu m ão de sua segurança e colocou sua

sobrevivência, sua identidade, seu futuro e sua segu­rança nas mãos do Senhor.12.6. carvalho de M oré. Provavelm ente essa árvore servia com o um m arco em Siquém e talvez tenha funcionado como um lugar onde algum professor (o significado literal de Moreh) ensinasse ou um juiz aten­desse a questões legais (tal como a palmeira de Débo­

ra em Jz 4.5 e a árvore do julgam ento de Danilo, no Épico *Ugarítico de *Aqhat). Além de serem valoriza­das por sua sombra, árvores como essa serviam como prova de *fertilidade e por essa razão eram freqüen­temente adotadas como lugares de adoração (mas nem sempre como objetos de adoração).12.6. S iq u é m . A localização de Siquém tem sido identificada com Tell Balatah, no leste da atual Nablus, 56 quilômetros ao norte de Jerusalém. Talvez por es­tar próxima a dois montes da região, Gerizim e Ebal, tenha uma longa história como local sagrado. A posi­ção estratégica de Siquém, na entrada leste de uma passagem entre as duas montanhas, também fez dela um importante centro de trocas. Já no período da Ida­de do Bronze M édia I*, Siquém é m encionada nos textos egípcios do faraó Sesostris III (1880-1840 a.C.).

Escavações recentes têm descoberto um povoamento aparentemente sem muros, da Idade do Bronze *Mé- dia IIA (cerca de 1900 a.C.), com o desenvolvimento de fortificações na Idade do Bronze M édia IIB (por volta de 1750).

12.6-9. sign ificado dos altares. O s altares funciona­vam como plataformas sacrificiais. A construção deles tam bém estava ligada à introdução da adoração de um deus específico, num a nova terra. Ao construir altares em cada um dos lugares onde acampou, Abrão definiu as áreas a serem ocupadas na "Terra Prom eti­da" e posteriormente estabeleceu esses lugares como centros religiosos.

12 .10-20 Abraão no Egito12.10. fo m e n aq u ela terra. A região da Síria e da Palestina possui um ecossistema frágil que depende da precipitação das chuvas nos meses de inverno e primavera. Se as chuvas não ocorrerem na época cer­ta, se o nível delas for além ou aquém do esperado ou se não chover, as plantações e colheitas serão afetadas negativamente. Era bastante comum ocorrerem secas

e conseqüentemente fome nessa região. O papiro egíp­cio Anastasi VI registra o desaparecimento de um clã inteiro no Egito, durante um período de seca. Arque­ólogos e geólogos modernos descobriram evidências de secas cíclicas que ocorriam a cada trezentos anos, no final do terceiro m ilênio e no início do segundo milênio - um dos períodos da época de Abraão.12.11, 12. Esposa com o irm ã. A questão da esposa como irmã aparece três vezes em Gênesis. Funciona com o (1) um a estratégia de proteção usada pelos migrantes contra as autoridades locais, (2) um a dispu­ta entre Deus e o faraó em Gênesis 12 e (3) um recurso literário idealizado para aumentar a tensão na narra­tiva, sempre que a promessa do herdeiro à *aliança é

ameaçada. A lógica para o uso desse recurso é possi­velmente que, se um rei ou alguém no poder quises­se tomar uma m ulher para seu harém, ele iria nego­ciar com o irmão, m as tenderia a eliminar o marido.

Em cada um dos casos citados, o casal foi novamente unido, enriquecido e o governante local envergonha­do. No aspecto pessoal, esse incidente evidencia uma falha no caráter de Abrão, o que o torna mais humano do que em outras histórias.12.11. a b eleza da já idosa Sara. Sara é descrita como uma m ulher bonita, em bora nessa época ela já tivesse entre sessenta e cinco a setenta anos. A expressão aqui usada para descrever Sara às vezes é usada para des­crever a beleza de um a m ulher (2 Sm 14.27), mas não apenas os atrativos e encantos fem ininos. Tam bém é usada algumas vezes para descrever a beleza m ascu­lina (1 Sm 17.42), e é im portante m encionar que essa

m esm a expressão é em pregada para descrever um a espécie de vacas de excelente qualidade (G n41.2). Não devemos, portanto, presumir que Sara tivesse milagro­samente mantido a beleza estonteante de sua juventu­de. Sua dignidade, sua postura, sua discrição, sua m a­neira de vestir-se, tudo poderia contribuir para a im ­pressão de que ela era um a m ulher deslum brante.12.10-20. a pintura na tum ba de Beni H asan. A pintu­ra na tum ba de Khnumhotep III, da 12a Dinastia (sé­culo 19 a.C .), em Beni H asan (perto de M inya, no Médio Egito), ilustra um a das inúmeras caravanas de "asiá ticos" que levavam m atéria-prim a e produtos exóticos (incenso, lápis-lazúli). Esses comerciantes ves­tiam túnicas coloridas, eram acompanhados de suas famílias e viajavam com suas armas e mulas carrega­das de couro de boi, barras de bronze e outras merca­dorias. A aparência e a tranqüilidade com que eram capazes de viajar até o Egito perm ite supor m uito bem que esta pintura estaria retratando a casa de Abrão. O Egito servia como mercado e também como fonte de alimento e emprego temporário para muitos grupos de outras partes do Oriente Próximo que para ali eram levados pela guerra ou pela fome.12.17. origem das doenças. No m undo antigo, toda doença era considerada como um reflexo do descon­tentamento de um deus ou dos deuses. A maneira de lidar com as doenças infecciosas era através de sacrifí­cios seguidos de rituais de purificação, embora tam ­bém fossem tratadas com ervas m edicinais, m as a causa era sempre encarada como divina, não física. Assim, as doenças eram consideradas como resultado direto de pecado ou da violação de algum costume, e os antigos procuravam identificar qual deus seria o responsável pela punição e como ele poderia ser apa­ziguado. Rem édios m edicinais eram som ados a re­m édios m ágicos e encantamentos.

13.1-18 Abraão e Ló13.1-4. o itinerário de Abrão. Visto que são descritos como pastores nômades, Abrão e Ló teriam que peri­odicamente fazer algumas paradas para encontrar pas­tagem e água para seus rebanhos. O N eguebe foi ocupado mais intensamente no início do segundo mi­lênio e pode ter sido uma das áreas de acampamento durante essa jornada (ver Êx 17.1). O retorno às proxi­midades de Betei marca a retomada da narrativa da *aliança e prepara o cenário da separação de Ló. A distância entre a fronteira do Egito até a região de Betei e Ai seria de cerca de 320 quilômetros.13.5-7. estilo de vida e necessidades do pastoreio. Os principais requisitos para um pastoreio bem-sucedido são boas pastagens e fontes de águas. Os meses quen­tes e secos, de abril a setembro, exigiam que os pasto­res conduzissem os rebanhos a lugares m ais altos onde ainda havia possibilidade de encontrar pastos, ria­chos e fontes. Nos m eses mais frios e úmidos, de outu­bro a março, os anim ais eram trazidos de volta às planícies. Esse movimento sazonal exigia que os pas­tores se afastassem de suas aldeias por longos perío­dos ou então adotassem um estilo de vida seminômade, sem raízes, fazendo-se acompanhar por toda a famí­lia. O conhecimento dos recursos naturais ao longo de suas rotas de viagens era primordial para os pastores. Disputas relacionadas a terras para pastagens e direi­tos sobre o uso das águas eram os motivos m ais fre­qüentes de desentendimentos entre pastores.13.7. cananeus e ferezeus. Ver comentário em Êxodo3.7-10.13.10. o vale do Jordão. Seria possível avistar bem todo o vale do Jordão e da área norte do m ar Morto a partir das montanhas que circundavam Betei. Embo­ra a área ao redor do m ar Morto não seja um a região particularmente convidativa hoje, esse versículo dei­xa claro que, antes do ju lgam ento de D eus, a área tinha um a qualidade bem distinta. É importante men­cionar que existem extensas áreas ao longo do planal­to do Jordão que fornecem amplas pastagens e talvez isso também esteja representado nessa narrativa.13.12. as fronteiras de Canaã. A fronteira leste de Canaã sempre é identificada como sendo o rio Jordão (ver especialmente Nm 24.1-12 e os comentários sobre esse texto). Assim , fica claro que ao m udar-se para perto das cidades da planície, Ló saiu da terra de Canaã, deixando-a inteiramente para Abrão.13.18. Hebrom. A cidade de Hebrom está localizada na região m ontanhosa da Judéia (cerca de m il metros acima do nível do mar), aproximadamente 30 quilô­metros a sudeste de Jerusalém e 36 quilômetros a leste de Berseba. E um local onde convergem estradas an­tigas vindas do leste de Laquis e encontrando-se com

a estrada ao norte de Jerusalém , o que denota sua importância e ocupação contínua. Suas fontes de água e poços fornecem grande quantidade de água para a produção de azeitonas e uvas e teriam oferecido a base para uma economia m ista de agricultura e pas­toreio, com o a descrita em Gênesis 23. H ebrom foi fundada "sete anos antes de Zoã" (Avaris, no Egito), datando do século 17 a.C. (ver comentário sobre Nm 13.22). A construção de um altar aqui, bem como em Betei, faz deste um importante lugar religioso e seu uso subseqüente com o lugar de sepultura para os antepassados estabeleceu sua importância política (re­fletida na narrativa davídica - 2 Sm 1.1-7; 15.7-12).

14.1-16Abraão resgata Ló14.1-4. os reis do leste. Os reis do leste permanecem desconhecidos até os dias de hoje, apesar das inúm e­ras tentativas de conectá-los a figuras conhecidas his­toricamente e da possibilidade de identificar com cer­ta segurança as áreas geográficas representadas por eles. Sinear aparece em outros contextos na Bíblia referindo-se às planícies do sul da M esopotâmia, co­nhecidas em épocas anteriores como *Suméria e mais tarde relacionadas à *Babilôráa. Elasar corresponde a um antigo m odo de referir-se à * A ssíria (a.la .sar). *Elão é o nom e comum ente usado para a região que na época compreendia todo o leste da Mesopotâmia, desde o m ar Cáspio até o golfo Pérsico (atual Irã). Goim é uma expressão mais vaga, mas geralmente é associada aos *hititas (que ocupavam a parte oriental da atual Turquia) basicamente porque o nome do rei, Tidal, é facilmente associado a Tudhaliyas, um nome real hitita bastante comum . Com o referência a um grupo de pessoas, é m ais provável que Goim se refira a uma coalizão de povos "bárbaros" (de acordo com a designação *acadiana, Umman M anda). Em *M ari, é uma designação usada para referir-se aos heneus. Em ­bora em muitos períodos da primeira metade do se­gundo m ilênio os elam itas estivessem intimam ente associados ao poder na M esopotâm ia, é m ais difícil incluir os hititas nesse cenário. Sabem os que os mer­cadores *assírios tinham uma colônia de comércio na região hitita, mas não há indícios de empreendimen­tos m ilitares unificados. A história dos hititas em seu período inicial é bastante incompleta, e temos poucas informações quanto à origem ou sobre o período exato em que ocuparam a Anatólia. Os nomes dos reis do leste são suficientemente autênticos, mas nenhum deles foi identificado ou relacionado aos reis dessas respec­tivas regiões nesse período. Assim, por exemplo, existe um Arioque que foi príncipe em Mari, no século 18. Certamente não temos informações sobre o controle elam ita de partes da Palestina, com o o versículo 4

sugere, m as deve-se adm itir que há m uitas lacunas em nosso conhecimento da história desse período. Não há menção desses cinco reis de Canaã fora da Bíblia, mesmo porque a existência dessas cidades ainda não foi comprovada em outros registros antigos, apesar das afirmações ocasionais de possíveis referências a Sodoma.14.5-7. o itinerário e as conquistas dos reis do leste. Oitinerário da conquista é apresentado na form a co­m um aos textos cronológicos. A rota ia de norte a sul, seguindo o caminho conhecido como Estrada Real, a principal via norte-sul na Transjordânia, bem à leste do vale do Jordão. Asterote, cidade vizinha da capital, m ais tarde denom inada Carnaim , era a capital da região bem à lesle do m ar da Galiléia, habitada pelos refains. Não se sabe realmente nada a respeito desses povos, nem dos zuzins ou emins, embora todos eles sejam identificados como gigantes da terra, na época da conquista sob o com ando de Josué (cf. D t 2). A próxim a parada foi H ã, no norte de Gileade. Savé, tam bém conhecida como Quiriataim , fazia parte do território rubenita quando a terra foi dividida entre as tribos, fazendo divisa com a região dos moabitas. Os horeus eram o povo que vivia na região m ais tarde conhecida como Edom, a próxima região ao sul. Após terem alcançado a área do golfo de Á caba (a cidade de El-Parã = Elate?), os invasores se dirigiram para o noroeste para enfrentar os amalequitas, na região de Cades-Barnéia (na época cham ada de En-M ispate) e os *amorreus, na região m ontanhosa ao sul. Essa rota os conduziu até as cidades da planície, nas regiões sul e leste do m ar Morto. As cidades de Sodoma e Gomorra ainda não foram localizadas com segurança, embora alguns considerem a possibilidade de suas ruínas es­tarem submersas em alguma parte do mar Morto (ver comentários em G n 19). Após a batalha no vale de Sidim , os quatro reis atravessaram o lado oeste do Jordão e chegaram a D ã, no extremo norte da terra de

Canaã, antes de serem derrotados por Abraão e seus homens.14.10. poços de betum e. Os poços de betum e são bastante comuns nessa região; o betum e é tão abun­dante que grande quantidade dessa substância bor­bulha até a superfície e chega a flutuar no m ar Morto. A palavra traduzida como "poços" é a m esma usada para fontes de água no Antigo Testamento, portanto, de m odo geral, refere-se a um buraco que foi escava­do. No vale de Sidim existiam muitos poços escavados para extração de betume, garantindo refúgio para os reis (eles "desceram para dentro deles", e não "ca í­ram nos poços").14.13. "o h e b re u " . A brão é m encionado com o "o hebreu". Nos primórdios, essa designação era tipica­m ente usada apenas como uma referência a estran­geiros. Essa expressão é usada também para identifi­car José no Egito (p. ex., 39.14-17), os escravos israelitas em relação a seus senhores egípcios (Êx 2.11), Jonas em relação aos marinheiros (Jn 1.9), os israelitas em relação aos filisteus (1 Sm 4.6) e em outros contextos semelhantes. Alguns acreditam que o termo "hebreu", nesses casos, não seja uma referência étnica, mas uma designação, presente em m uitos textos antigos, da classe social de certas pessoas, conh ecid as com o "h abiru", isto é, povos sem posses.14.14-16. 318 hom ens treinados. A qui descobrimos que a fam ília de Abrão é significativam ente grande (318 recrutas ou agregados). A palavra usada para descrever esses homens não aparece em nenhum ou­tro contexto no Antigo Testamento, m as ocorre numa carta *acadiana do século 15 a.C.. Independente da época em que Abrão esteja situado, seja no início da Idade do Bronze *Média, quando a área era predomi­nantem ente ocupada por pastores e aldeões, ou na Idade do Bronze *M édia posterior, quando havia as­sentam entos m ais fortificados, seu exército poderia equiparar-se ao de qualquer outra força armada da

A RELIGIÃO DE ABRAAOÉ importante mencionar que a família da qual Abraão procedia não era monoteísta (ver Js 24.2, 14), mas compartilhavam das crenças politeístas do mundo antigo daquela época. Nesse sistema religioso, os deuses estavam ligados às forças da natureza e se revelavam através dos fenômenos naturais. Esses deuses não demonstravam sua natureza, nem davam indí­cios do que poderia fazê-los favorável aos homens ou provocar sua ira contra eles. A adoração consistia em serem adulados e bajulados, terem suas vontades e caprichos obedecidos e sua ira aplacada. Manipulação era o termo exato para seu modo de agir. Eram deuses feitos à imagem do homem. Uma das principais razões para Deus ter feito uma aliança com Abraão foi para revelar-se como Ele realmente era, corrigindo assim a falsa visão da divindade que as pessoas tinham desenvolvido. Mas essa revelação foi planejada para acontecer em estágios, não de uma única vez.

O Senhor, Yahweh, não é retratado como um Deus ao qual Abraão já adorava. Quando Ele aparece a Abraão, não lhe oferece uma explicação doutrinária, nem requer rituais ou faz exigências; Ele faz uma proposta. Yahweh não diz a Abraão que Ele é o único Deus, nem pede a ele que pare de adorar aos deuses que sua família vinha adorando. Ele não lhe diz para livrar-se de seus ídolos, nem proclama a vinda de um Messias ou da salvação. Em vez disso, Ele diz que tem algo reservado para Abraão, se ele, por sua vez, estiver disposto a abrir mão de algumas coisas.

Nos sólidos sistemas politeístas do antigo Oriente Próximo, as grandes divindades cósmicas, embora respeitadas e adoradas em contextos nacionais e nas cortes reais, tinham pouco contato com as pessoas comuns. Assim, os indivíduos focalizavam sua adoração pessoal ou familiar nas divindades locais ou familiares.

região. Até mesmo m ais tarde, na Idade *Amarna, os exércitos de qualquer cidade-Estado não seriam m ui­to m aiores que o de Abrão.14.15. táticas de batalha. Abrão alcançou o exército do leste na fronteira norte da terra, em Dã, usando como estratégia uma emboscada durante a noite. Essa tática é comprovada em textos antigos como os documentos do período dos juizes egípcios, bem como em docu­mentos *hititas.

14.17-24 Abraão e Melquisedeque14.17-20. M elquisedeque. Melquisedeque é apresen­tado como rei de Salém e é retratado como o principal rei da região, sendo aquele que recebe um a parte dos despojos. Geralmente considera-se que Salém seja Je­rusalém, em bora as evidências cristãs iniciais e o mapa M adeba a associem com Siquém. (O m apa M adeba é o mais antigo mapa da Palestina. É formado por um m osaico no piso de uma igreja do sexto século d.C.). Geralmente, um a cidade-Estado prevalecia em rela­ção a outras cidades da região, como pode ser visto no Livro de Josué, onde os reis de Jeru salém e Azor fizeram coalizões unindo o norte ao sul. Não se pode facilmente determinar se M elquisedeque era cananeu, *amorreu ou jebuseu. O nom e de Deus que ele usa para abençoar Abrão, El Eliom ("Deus Altíssim o"), é bem conhecido como um a forma de referir-se ao deus cananeu *E1, na literatura cananéia.14.18, 19. encontro de Abraão com M elquisedeque. Esse encontro aconteceu no vale de Savé. A designa­ção desse lugar como o Vale do Rei relaciona-o ao vale bem ao sul de Jerusalém , provavelm ente na junção dos vales Kidron e Hinnom. Num período posterior, Absalão construiu um monumento ali (2 Sm 18.18). A refeição que compartilharam indicaria um acordo de paz entre eles. Os tratados *hititas fazem referência à

provisão de alimento aos aliados, em tempos de guer­ra. M elquisedeque estava ansioso em fazer um acor­do de paz com um a força m ilitar comprovada e Abrão se submete pagando o dízimo, reconhecendo assim a posição de M elquisedeque.14.21-24. acordo entre Abraão e o rei de Sodoma. Orei de Sodom a reconheceu que Abrão tinha direito aos despojos, m as pediu permissão para que o povo voltasse com ele. Abrão recusou tom ar parte dos des­pojos, com a explicação de que está sob juram ento a "E l Eliom " (que ele identifica como *Yahweh) de não lucrar com suas ações militares. É possível que esse acordo tenha ocasionado a elaboração de um docu­mento para formalizar os termos. Tal documento po­deria facilmente ter tomado a form a desse capítulo ou até m esm o ter sido um a fonte de pesquisa para a produção desse capítulo.

15.1-21 Ratificação da aliança15.1. visões. As visões eram um meio usado por Deus para comunicar-se com as pessoas. Todas as visões desse tipo citadas no Antigo Testam ento foram dadas a profetas (tanto a profetas escritores como a Balaão) e freqüentem ente resultaram em *oráculos proféticos que foram então entregues ao povo. As visões podem acontecer durante os sonhos, mas não são o mesmo que sonhos. Elas podem ser visuais ou audíveis. Po­dem envolver cenários naturais ou sobrenaturais e a pessoa que recebe a visão pode tanto ser um especta­dor, como um participante da mesma. As visões tam­bém faziam parte da instituição profética em outras culturas no antigo Oriente Próximo.15.2, 3. H erança ao servo. Caso o chefe da casa não tivesse herdeiro do sexo masculino, ele poderia ado­tar legalmente um servo, fazendo-o seu herdeiro, como demonstrado particularm ente num texto de *Larsa,

Podemos entender melhor essa questão por meio de uma comparação com a política. Embora respeitemos e reconheçamos a autoridade de nossos líderes políticos nacionais, quando enfrentamos um problema em nossa comunidade, procuramos resolvê-lo com a autoridade local, em vez de escrever uma carta ao presidente. Na Mesopotâmia, na primeira parte do segundo milênio, pode-se observar um importante desenvolvimento na esfera religiosa, que se aproxima desse senso comum na abordagem política. As pessoas começaram a relacionar-se com "deuses pessoais" que, freqüentemente eram adotados como deuses da família, através de gerações. Essa era geralmente a função das divindades menores e, às vezes, não era nada mais que a personificação da sorte. Acreditava-se que o deus pessoal tinha um interesse especial pela família ou por um de seus membros e com isso, tomava-se uma fonte de bênção e sorte, como recompensa por sua adoração e obediência. Embora o deus pessoal não fosse o único a ser adorado, a maior parte da adoração, tanto individual como familiar, estava centrada nele.

E possível que as primeiras reações de Abraão a Yahweh possam ter seguido essa linha - talvez Abraão tenha considerado Yahweh como um deus pessoal disposto a tomar-se seu "divino protetor". Embora não tenhamos nenhuma indicação de que Yahweh tenha explicado ou exigido uma crença monoteísta, nem que Abraão a tivesse adotado, é evidente que a adoração a Yahweh prevaleceu sobre a experiência religiosa de Abraão. Ao romper com sua terra, sua família e sua herança, Abraão também rompeu com todos os seus laços religiosos, visto que as divindades eram associadas às divisões geográficas, políticas e étnicas. Em sua nova terra, Abraão não teria deuses territoriais; para seu novo povo, ele não estava levando os deuses de sua família. Ao deixar seu país, ele não mais teria deuses nacionais ou de cidades, e foi Yahweh quem preencheu esse vazio, tornando-se o "Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó".

na * Antiga Babilônia. É bem provável que isso ocor­resse com o últim o recurso, visto que significava a transferência da propriedade a uma pessoa (e à sua linhagem) que era (1) originalm ente um escravo ou servo e (2) não era um parente de sangue. Esse texto assinala a frustração de Abrão por não ter filhos, di­zendo a Deus que designara Eliézer de Damasco como seu herdeiro, embora não fique claro se ele já adotara Eliézer ou se simplesmente estava se referindo a isso como a última opção que lhe restava.15 ,9 ,10 . o ritual de cortar os anim ais. Como no caso de Jeremias 34.18, onde um *ritual de *aliança é m ar­cado por dividir ao m eio um anim al sacrificado e andar entre as partes, aqui Abrão recebe o "sin al" da prom essa da aliança que pedira. Cada animal "com três anos de vida" (novilho, cabra, carneiro, rolinha e pombinho, os mesmos animais incluídos no sistema sacrificial descrito em Levítico) é cortado ao m eio, exceto as aves. Textos *hititas do segundo m ilênio utilizam um procedimento semelhante para a purifi­cação, enquanto alguns tratados *aram aicos do pri­meiro milênio fazem uso de tais rituais a fim de colo­car um a maldição sobre qualquer violação do tratado. Textos de *M ari e *Alalakh retratam o sacrifício de um animal como parte da cerimônia de um tratado. An­dar no meio dos animais sacrificados pode ser enten­dido como uma ação simbólica representando tanto a prom essa de terra garantida na aliança, como uma m aldição sobre quem violasse a prom essa, em bora intérpretes têm questionado as implicações que uma maldição sobre si mesmo teria para Deus. A atitude de Abrão de enxotar as aves de rapina sim boliza a proteção futura que teriam contra seus inimigos, quan­do tomassem posse da terra.15.17. fogareiro esfum açante e tocha acesa. O foga­reiro era feito de barro e poderia ter diversos tama­nhos. Servia como um forno, principalmente para as­sar, inclusive ofertas de grãos (Lv 2.4). A tocha podia certamente ser usada para produzir luz, mas também era usada em contextos m ilitares ou para fa lar do ju lgam ento de D eus (Zc 12.6). Os rituais *mesopo- tâmicos deste período geralmente faziam uso de uma tocha sagrada e de um incensório na iniciação de ritos, particularmente nos ritos noturnos de purificação. A purificação podia ser alcançada movendo a tocha e o incensório ao redor de alguém ou de algo. Enquanto na Mesopotâmia a tocha e o forno representavam di­vindades particulares, aqui eles representam *Yahweh, talvez como o purificador. Esse é um dos muitos exem­plos de como o Senhor fez uso de conceitos e temas fam iliares para revelar-se.15.18. ribeiro do Egito. A designação usual da fron­teira sudoeste de Israel é o "ribeiro [wadi] do Egito",

identificado com W adi el'A rish a nordeste do Sinai (Nm 34.5). É improvável que esta expressão se refira ao rio Nilo. Outra possibilidade é que se refira ao afluente no extremo leste do delta, que desembocava no lago Sirbonis.15.19-21. h abitantes de Canaã. Esta é a m ais longa (incluindo dez grupos) das dezessete listas dos povos pré-israelitas que habitaram em Canaã (ver Dt 7.1; Js 3.10; 1 Rs 9.20). C ada um a delas, que geralm ente com p reen d e seis ou sete nom es, term ina com os jebuseus (talvez ligados à conquista de Jerusalém por Davi), m as a lista citada em Gênesis 15 é a única que exclui os heveus. Sobre os *hititas, ferezeus, *amorreus, cananeus e jebuseus, ver os com entários em Êxodo3.7-10 e Núm eros 13. Os queneus freqüentemente são associados aos midianitas e aparecem como um povo seminômade, das regiões do Sinai e do Neguebe. O nome sugere que eram metalúrgicos, ou latoeiros ou ferreiros. Os quenezeus, cadmoneus e girgaseus são pouco conhecidos, embora esse últim o povo também seja m encionado em textos *ugaríticos. Os refains são identificados como enaquins em Deuteronômio 2.11, que por sua vez aparecem como gigantes em Núme­ros 13.33. A lém dessas associações, nada se sabe a respeito deste grupo étnico.

16 .1-16 O nascimento de Ismael16.1-4. servas. Escravas ou servas eram consideradas

propriedade ou extensões legais de suas senhoras. Como resultado, é bem possível que Sarai usasse Hagar para a execução de diversas tarefas na casa, até mes­mo como uma substituta para seu ventre estéril.16.2. acordos contratuais para casos de esterilidade. *Concubinas não tinham o mesmo status de esposas; eram jovens que não possuíam dote e cujo papel no relacionamento incluía gerar filhos. Como resultado, o concubinato não era visto como poligamia. Em Isra­el, como na maior parte do mundo antigo, a mono­gam ia era a prática com um . A poligam ia não era contra a lei, embora fosse economicamente inviável. Um dos principais motivos para a prática da poliga­mia era a esterilidade da primeira esposa. N a Bíblia, a m aioria dos casos de poligam ia entre hom ens do povo ocorre no período que antecede à monarquia.16.3, 4. m ães substitutas. M ães substitutas aparecem som ente nas narrativas dos patriarcas: H agar e as duas servas de Raquel e Lia (Gn 30). Não há referên­cia a contrato aqui, visto que essas m ulheres eram consideradas extensões legais de suas senhoras e quais­quer filhos que gerassem poderiam ser designados como filhos de sua senhora. No Código *babilônico de *Hamurabi, do século dezoito a.C., aparecem contra­

tos de substitutas para sacerdotisas que não tinham perm issão para conceber e gerar filhos. Com o nos exemplos bíblicos, essas substitutas ocupavam uma posição legal inferior à da esposa.16.5, 6. relacionam ento entre Sara e Hagar. As m u­lheres no m undo antigo eram honradas através do casamento e dos filhos que geravam. Embora Hagar fosse um a serva, o fato de ter concebido um filho e Sarai não, deu a ela motivo para desprezar sua senho­ra. A reação de Sarai ao m altratar H agar pode estar baseada na inveja e na diferença social.16.7-10. an jos como m ensageiros. A palavra hebraica traduzida como "an jo" significa "m ensageiro" e pode ser usada tanto para m ensageiros humanos como so­brenaturais. V isto que esses m ensageiros represen­tam Deus, eles não falam por si mesmos, mas somen­te em nom e de Deus. Portanto, não era incom um o fato de eles falarem na prim eira pessoa, "e u ". Eles tinham autoridade para falar no nome de quem re­presentavam e eram tratados com o se fossem essa m esm a pessoa.

16.13,14. vendo D eus. H agar confirmou a identidade sobrenatural do mensageiro e poderia m uito bem ter acreditado que o m ensageiro era de fato um a divin­dade, m as o fato de ter demonstrado incredulidade sobre a possibilidade de ter visto um a divindade não significa que ela realm ente tenha visto um a (além

disto, o texto é de difícil tradução e talvez nem esteja sugerindo isso). É m ais provável que H agar esteja expressando surpresa por ter encontrado um a divin­dade inclinada a m ostrar favor a ela num lugar tão im provável.16.13. dar nome a D eus. O texto identifica a divinda­de como o Senhor (*Yahweh), mas não dá indicação de que H agar soubesse que se tratava de Yahw eh. Esse é o único exem plo no A ntigo Testam ento de alguém dando um nom e à um a divindade. G eral­mente o ato de dar um nome a alguém ou a algo é uma forma de afirm ar autoridade sobre quem recebe o nome. Aqui, o m ais provável é que, um a vez que não sabe o nom e da divindade que lhe favoreceu, H agar designa um nome como um a identificação de sua natureza a fim de que poder invocá-lo no futuro.16.14. Cades e Berede. A localização do poço de Beer- Laai-Roi, onde Hagar passou por um a experiência de *teofania e soube a respeito do futuro de seu filho,

provavelmente seria no Neguebe, entre Cades-Baméia e Berede. O oásis de Cades-Baméia fica na parte nor­deste do Sinai, na fronteira sul do Deserto de Sim (ver comentário em N m 13). Visto que Berede não aparece em nenhum outro texto, sua localização é incerta, em­bora Jebel um el-Bared, na direção do sudeste, seja uma boa suposição.

17.1-27Circuncisão, o sinal da aliança17.1, 2. E l Shaddai. *E1 Shaddai ("D eus todo-podero- so") no versículo 1 é um nom e relativam ente comum (citado 48 vezes) usado para o Senhor, no Antigo Tes­tam ento, em bora as traduções convencionais sejam pouco mais que conjecturas. Aparece somente uma vez fora do Antigo Testamento, no nome "Shaddai-Am m i" inscrito num a estátua egípcia do período dos juizes, em­bora possa ser um a referência a seres Shaddai (ou se­res todo-poderosos) na inscrição Deir Allah. Um a das hipóteses mais freqüentes sugere que Shaddai está re­lacion ad o ao term o *babilôn ico sadu , que sign ifica "estepe, m ontanha", mas as evidências são escassas.17.3-8. m udança de nom e. Os nomes tinham poder no m undo antigo. Ao dar nom e aos animais, Adão demonstrou que governava sobre eles. De modo se­m elhante, o fato de D eus ter m udado o nom e de Abrão para Abraão e o de Sarai para Sara, represen­tou tanto um a reiteração da prom essa da *aliança, como a designação de ambos como servos escolhidos de Deus.17.4. aliança com D eus. Não existem paralelos, no mundo antigo, de *alianças firmadas entre deuses e m ortais, embora certamente os deuses fizessem exi­gências e prometessem um tratamento favorável. Na maioria dos casos, os reis relatavam seus esforços e cuidados com os santuários da divindade e então dizi­am com o ela retribuiu com bênçãos. M as isso fica m uito distante de um acordo de aliança que tenha partido da divindade e se afirm ado conform e seus propósitos.17.9-14. circuncisão. A *circuncisão era largam ente praticada no antigo Oriente Próximo como um rito de pu berdad e, fe rtilid ad e ou casam ento. Em bora os israelitas não fossem o único povo a circuncidar seus filhos, esse sinal foi usado para marcá-los como m em ­bros da comunidade da *aliança. Quando usada em relação ao casamento, a terminologia sugere que era executada pelos novos integrantes (do sexo masculi­no) da fam ília, indicando que, nesse novo relacio­namento, o noivo passaria a ficar sob a proteção da família. Quando realizada em crianças, a circuncisão era m ais um ritual sim bólico do que algo feito por razões de saúde. O fato de o sangue ser derramado tam bém significava que era um *ritual sacrificial e poderia funcionar em substituição ao sacrifício huma­no praticado por outros povos. Os *hititas tam bém tinham um ritual para o sétimo dia de vida do recém- nascido. A circuncisão pode ser vista como um dos m uitos casos em que D eus transform a uma prática comum para um novo propósito (apesar de não neces­sariamente relacionadas) ao revelar-se e relacionar-se com seu povo.

17.15-22. anúncio divino de filhos. O anúncio divino do nascimento futuro de um filho é um tema comum em toda a literatura do antigo Oriente Próximo. Tal­vez mais notável seja o anúncio feito pela divindade cananéia *E1 ao rei Danil de que ele finalmente teria um filho em idade já avançada, na história *ugarítica de *Aqhat. Exemplos adicionais são encontrados na lenda *hitita, em que o deus sol diz a Appu que ele terá um filho, e na literatura mesopotâmica, em que o deus Sham ash aconselha *Etana, rei de Kish, a conse­guir um filho. Um fato digno de nota neste texto é a afirmação de que Sara será m ãe de reis. Isso seria uma indicação da longevidade e da grande im portância dessa linhagem.

18.1-15 Visitantes de Abraão18.1. à entrada da tenda, na hora mais quente do dia.As tendas confeccionadas com pele de cabra, caracte­rística dos povos nômades, eram projetadas de modo a manter o calor à noite, quando as abas eram abaixa­das, e perm itir a passagem da brisa durante o dia, quando as abas ficavam levantadas. Sentar-se à entra­da da tenda, durante o calor do dia, seria um a manei­ra de ficar à sombra e ao mesmo tempo desfrutar da brisa que passava e tom ar conta dos utensílios que ficavam dentro da tenda.18.2-5. hospitalidade (refeições). A tradição de hospi­talidade requeria que fosse oferecido a todos os es­trangeiros que chegassem a um a habitação a oportu­nidade de descansar, lavar-se e comer um a refeição. O objetivo desse tipo de atitude era transformar ini­m igos em potencial em amigos, pelo menos tempora­riamente. O protocolo exigia que a refeição servida ao hóspede deveria superar o que fora servido inicial­mente. D esta form a, Abraão ofereceu apenas uma refeição, m as o que ele ordenou é que fosse preparado um pão assado na hora, um novilho e uma m istura de leite e iogurte. O que denota generosidade aqui é a carne fresca, um item que geralmente não fazia parte da dieta cotidiana. Essa refeição é semelhante àquela oferecida por D anil ao rep resentante dos deuses, Kathar-wa-Hasis (quando de passagem pela cidade), no épico ugarítico de Aqhat.18.4. água para lavar os pés. Lavar os pés dos hóspe­des era uma parte indispensável da hospitalidade no clim a seco e em poeirado que caracterizava grande parte do antigo O riente Próxim o. As sandálias de couro abertas eram comuns, assim como as botas fe­chadas de couro macio. Nenhum estilo de calçado era capaz de impedir que a poeira da estrada sujasse os pés.18.6-8. farinha e assar pães. As três medidas de fari­nha (cerca de 7 a 14 litros) usadas para fazer pão,

novamente refletem a generosidade de Abraão para com seus hóspedes. Visto que os povos nômades não possuíam fom os, o jeito de assar pães era espalhando a m assa no fundo de um a vasilha aquecida ou de uma assadeira. Com isso, era possível fazer um pão redon­do, ligeiram ente crescido. Coalhada (iogurte) e leite foram servidos junto com a refeição, como pratos com­plem entares e subprodutos norm ais do rebanho. O fato de Sara perm anecer na tenda pode sugerir que havia o costume de as mulheres não comerem junto com os homens.

18.16-33 Argumentação sobre a justiça e a misericór­dia de Deus18.20, 21. juiz em busca de evidências. Existe uma m istura de antropomorfismo (Deus apresentando ca­racterísticas humanas) e teodicéia (explicação da ação divina) nessa história e no episódio da Torre de Babel (Gn 11). Em ambos os casos, a fim de demonstrar sua ju stiça e eqüidade, D eus "d esce" para investigar a situação, antes de tomar uma atitude.18.22-33. Abraão intercede. Pechinchar faz parte das transações comerciais em todo o Oriente Médio. Nesse caso, porém , a determ inação de A braão quanto ao núm ero exato de pessoas justas necessárias para evi­tar a destruição de Sodoma e Gomorra garante uma demonstração repetida das justas ações de Deus. Um Deus justo não destruirá o justo sem aviso ou investi­gação. A té m esm o o injusto, nesse período inicial, pode ser poupado por causa do justo. Por outro lado, porém, não se faz justiça ignorando a impiedade. A discussão sobre o núm ero de pessoas justas pode estar se referindo não ao fato de haver um equilíbrio em relação à im piedade dos restantes, m as sim à pos­sibilidade de, recebendo os justos um prazo maior, exercerem um a influência capaz de trazer mudanças.

19.1-29 A destruição de Sodoma e Gomorra1 9 .1 ,24. Sodoma e Gomorra. As "cidades da planície" ao longo da costa oriental do m ar M orto ainda não fo­ram efetivam ente localizadas. Sua associação a Zoar (Zoara n o século sexto d.C ., de acordo com o m apa M adaba) e aos poços de betum e "n o vale de Sidim " (G n 14.10) apontam para a extrem idade sul do m ar M orto. Os argum entos para sua identificação com a extremidade norte baseiam-se na distância da viagem desde H ebrom (30 quilôm etros em relação a 64 qui­lômetros para a localização no sul) e a menção da "p la­nície do Jordão", em Gênesis 13.10-12. As cidades lo­calizadas nessa região árida sobreviveram e prospera­ram por causa dos depósitos de sal, betum e e potássio ao redor do m ar Morto, e por atuarem como centros de

troca para as caravanas que viajavam pela estrada de norte a sul. H á cinco lugares de cidades da Idade do Bronze *Antiga na planície sudeste do mar Morto, de­monstrando que populações relativam ente grandes já existiram aqui (período de ocupação: 3300 a 2100 a.C.): B a d -ed h D h ra ' (S od o m a?), S a fi (Z o ar), N u m eira (G om orra?), Feifa e Khanazir. Som ente em Bad-edh Dhra e Numeira foram feitas escavações e a destruição delas foi situada pelos arqueólogos por volta de 2350 a.C., período m uito posterior a A braão (embora cál­culos cronológicos desse período sejam difíceis).19.1-3. sentado à porta da cidade. Nas cidades anti­gas, a área onde ficava o portão da cidade funcionava como uma praça. O constante fluxo de pessoas fazia desse lugar o recinto ideal para homens de negócio arm arem suas barracas e para os ju izes ouvirem as causas do povo. O fato de Ló estar sentado à porta da cidade sugere que estava negociando e que tinha sido aceito na comunidade de Sodoma.19.1. prostrou-se, rosto em terra. Uma das maneiras de demonstrar respeito aos superiores e de evidenciar intenções pacíficas era prostrar-se até o chão. Alguns textos egípcios de *E1 Amarna (século 14 a.C.) exage­ravam esse gesto, recomendando fazê-lo sete vezes.19.2. hospitalidade (hospedagem). Quando um anfi­trião oferecia a um hóspede a oportunidade de passar a noite em sua casa, ele tam bém estava assumindo a responsabilidade pela sua segurança e bem-estar. A oferta geralmente se estendia por três dias ao todo.19.3. pão sem ferm ento. Como no caso do pão asmo comido na Páscoa, antes do Êxodo (Êx 12) do Egito, o pão sem fermento de Ló, foi feito às pressas. Era noite quando seus hóspedes chegaram e ele não teve tem­po de deixar o pão crescer antes de assá-lo.19.4-10. comportamento dos homens de Sodoma. A visita dos anjos a Sodoma tinha como objetivo deter­m inar se havia dez homens justos na cidade. A estru­tura sintática do versículo 4 deixa claro que todos os hom ens da cidade confrontaram Ló acerca de seus hóspedes. Somado ao fato de que a homossexualidade era considerada um a ofensa capital, a recusa desses homens em ouvir a razão e sua insistência unânime pelo uso da violência, ao forçarem a entrada na casa de Ló, confirmou o destino da cidade.19.8. Ló oferece suas filhas. Quando Ló ofereceu aos homens de Sodoma suas filhas virgens em lugar de seus hóspedes, ele estava cum prindo seu papel de um perfeito anfitrião. Ele estava desejoso de sacrificar seus bens m ais preciosos a fim de m anter sua honra em relação à proteção de seus hóspedes. Ló foi poupa­do de tamanho sacrifício, devido à recusa do bando e pela ação dos anjos.19.11. cegueira. A palavra usada para cegueira aqui aparece apenas em um outro contexto, para descrever

o que havia acontecido ao exército arameu em Dotã (2 Rs 6.18). E um term o relacionad o a um a palavra acadiana para cegueira diurna (pertinente ao contexto de 2 R eis 6) servindo tam bém no hebraico (ou no aramaico) para referir-se à dificuldade de enxergar à noite (cegueira noturna). De acordo com os textos acadianos, ambos os estados necessitam de remédios mágicos. A principal causa da cegueira tanto diurna como noturna é a deficiência de vitamina A; a falta de vitamina B pode tam bém contribuir para o senso de confusão evidente nas duas passagens. Portanto, é interessante notar que o fígado (rico em vitamina A) tenha um lugar de destaque em procedimentos mági­cos para corrigir esses estados.19.24. fez chover do céu fogo e enxofre. O cenário é de castigo divino. Aparece aqui e em outros contextos como um agente de purificação e ira divina sobre os ím pios (SI 11.6; Ez 38.22). Os depósitos naturais de betum e e o cheiro de enxofre de algumas áreas ao redor do m ar M orto servem como um lembrete eterno da destruição de Sodoma e Gomorra. Tudo que há são especulações sobre o que de fato aconteceu, m as tal­vez a combustão de piche natural e os depósitos de enxofre, somados aos gases nocivos que geralmente são liberados durante um terremoto façam parte da história (Dt 29.23).19.26. coluna de sal. A história da punição da mulher de Ló é muitas vezes representada por alguns objetos incrustados no sal, com formas grotescamente hum a­nas, que se tornaram marcos na área do mar Morto (são m encionados no livro apócrifo "Sabedoria de Salom ão" 10.4). Esse fenômeno é resultado dos borri­fo s de sa l so p rad o s p elo m ar M orto . E n orm es protuberâncias de sal ainda aparecem nas partes mais rasas do lago. Os sais m inerais da região incluem o sódio, o potássio, o m agnésio, os cloretos de cálcio e o brometo. Um terrem oto na área poderia facilm ente ter inflamado esses elementos químicos, levando-os a "chover" sobre as vítimas da destruição.19.30-38. origens dos m oabitas e amonitas. U m dos objetivos prim ordiais no relato dos ancestrais é de­monstrar a origem de todos os povos que habitavam em Canaã e na Transjordânia. Pesquisas arqueológi­cas na área indicam um a reocupação nessas regiões entre os séculos 14 e 12 a.C ., e a língua tanto dos moabitas como dos amonitas é parecida com o hebraico.

Em bora ambas sejam consideradas nações inimigas durante a maior parte de sua história, é improvável que seu 'nascim ento', resultante da união incestuosa entre Ló e suas filhas (ver Dt 1.9; SI 83.5-8), seja sim­plesmente uma mancha política ou étnica. A iniciati­va tom ada pelas filhas de Ló diante da possibilidade de não terem filhos e da conseqüente extinção da casa

de Ló, talvez representasse para elas a única opção viável em seu esforço desesperado.

20 .1-18 Abraão e Abimeleque20.1. Cades e Sur. Novam ente a história tem irúcio com o itinerário das viagens de Abraão, desta vez indo para o sul, num percurso entre Cades (um oásis cerca de 74 quilômetros ao sul de Berseba, na região nordeste do Sinai) e Sur. Esta última provavelmente seja uma referência ao "m uro" (shur) da fortaleza egíp­cia na região leste do D elta. A história egípcia de *Sinuhe (século 20 a.C.) menciona esse "M uro do Go­vernador" como um a barreira às incursões asiáticas ao Egito.20.1. Gerar. Em bora não esteja na rota entre Cades e Sur, Gerar não devia ficar tão longe para um grupo de pastores nôm ades acostumados a viagens, como era o caso da família de Abraão. Sua localização exata, além da área geral a oeste do Neguebe, é incerta (Gn 10.19), e Gerar deve ser, na verdade, o nome de um território e não de uma cidade. A maioria dos arque­ólogos, ao notar forte influência egípcia nessa região no período de 1550 a 1200 a.C., aponta para Tell Haror (Tell Abu H ureireh), 24 quilôm etros a noroeste de Berseba, como sua provável localização.20.3. Deus falando por sonhos a não israelitas. Exis­tem alguns exemplos de mensagens do Senhor sendo transm itidas através de sonhos a israelitas, m as os sonhos eram considerados uma das formas mais co­muns de revelação divina aos não iniciados. Nos tex­tos de *M ari, recebiam m ensagens por m eio de so­nhos geralm ente aqueles que não faziam parte do grupo de profissionais do templo. Em muitas partes da Bíblia onde aparecem relatos de sonhos, o texto não afirm a explicitam ente que D eus falou à pessoa naquele sonho (faraó, Nabucodonosor).20.7. intercessão do profeta. Abraão é identificado por Deus como um profeta capaz de interceder por Abimeleque. O papel exercido pelo profeta era facil­mente compreendido no antigo Oriente Próximo, con­forme sugerem as evidências de m ais de 50 textos encontrados na cidade de *M ari, registrando m en­sagens transmitidas por vários profetas. Geralmente, o profeta apresentava um a m ensagem vinda da di­vindade, m as aqui Abraão está orando pela cura de Abim eleque e de sua casa (cf. v. 17). Isso reflete uma visão m ais abrangente do profeta como aquele que tem fortes vínculos com a divindade, a ponto de lan­çar m aldições ou cancelá-las. Um papel profético pa­recido pode ser visto nas Escrituras em 1 Reis 13.6. No antigo O riente Próxim o esse papel era tipicam ente desempenhado por um sacerdote feiticeiro.

20.11-13. relacionam ento de Abraão e Sara. Nessa repetição do tem a esposa/irm ã, Abraão revela que Sara é de fato sua meia-irmã. No período dos ances­trais, não havia o tabu do incesto contra esse tipo de casamento, e era um modo de assegurar que as filhas de um segundo casamento recebessem os cuidados e a proteção de uma família. O engano de Abraão para com Abimeleque é reforçado pela disposição de Sara em repetir a meia-verdade.20.16. m il peças de prata. Mil peças de prata é uma soma considerável. Na literatura *ugarítica, represen­ta o valor do dote da noiva pago entre os deuses. Seria o equivalente a aproximadamente 11 quilos de prata, ou ainda correspondente ao salário recebido pelo tra­balho de um a vida inteira. A generosidade do rei deve ser entendida como sua garantia de que Sara não havia sido tocada, m as tam bém como meio de

aplacar a ira da divindade que, literalmente, elimina­ra toda a fertilidade em sua família.20.17. doença na casa de Abim eleque. A praga da esterilidade ou da disfunção sexual recaiu sobre a casa de A bim eleque até ele devolver Sara a Abraão. A oração de Abraão fez com que Deus permitisse que as mulheres e servas da casa de Abimeleque pudessem ter filhos novam ente. E irônico notar que enquanto Sara foi negada a Abraão, foi negada também a Abi­meleque a possibilidade de ter filhos (para informa­ções sobre esterilidade no antigo O riente Próxim o, ver comentário em 11.30).

21 .1-21 O nascimento de Isaque e a expulsão de Ismael21.4. oito dias. De início, o período de espera de oito dias distingue Isaque de Ismael, que foi *circuncidado aos treze anos. Esse período servia tam bém para deter­m inar se a criança sobreviveria e pode estar ligado ao período de im pureza após o nascim ento (Lv 12.1-3).21.14. deserto de Berseba. A região sul do Neguebe, ao redor de Berseba, T ell es-Seba' é um a terra de estepes e bastante inóspita, a ponto de ser descrita como um deserto. Após ser expulsa do acampamento de Abraão, H agar vagou para o sudeste, passando por um a parte relativamente plana do Neguebe, em direção ao norte da Arábia.21.8-21. expulsão da esposa. Existia um contrato nos documentos de *Nuzi contendo uma cláusula proibin­do à esposa principal expulsar os filhos da esposa secundária. A situação em G ênesis é diferente em dois aspectos: primeiro, foi Abraão quem os expul­sou; e segundo, Hagar recebeu sua liberdade, o que, de acordo com o código das leis antigas (Lipite-Istar), significava que seus filhos ficariam privados de qual­quer direito à herança.

21.20. flecheiro . A expulsão de H agar e Ism ael e sua subseqüente vida no deserto de Parã exigiram que ambos desenvolvessem m eios de sobrevivência. Com

sua habilidade com o flecheiro, Ism ael podia conse­guir comida para sua fam ília e talvez até encontrar trabalho como mercenário (ver Is 21.17 para referên­cia aos guerreiros de Quedar, filho de Ismael).21.21. D eserto de Parã. A região árida no nordeste do deserto do Sinai recebeu o nom e de Parã. Situada a oeste de Edom, aparece de forma destacada na pere­grinação do povo de Israel pelo deserto (Nm 13.3, 26: D t 1.1) sendo a região em que Cades se localizava. Sua associação com o Egito provavelmente se baseia no comércio das caravanas e no interesse militar do Egito sobre o Sinai.

21.22-33 Abraão e seus vizinhos21.25-31. direitos sobre poços e água. Na região semi- árida ao redor de Berseba, a água era um bem preci­oso. Surgiam disputas entre pastores e agricultores a respeito de poços e fontes. Para evitar que isso aconte­cesse, tratados como esse entre Abraão e Abimeleque eram estabelecidos, firmando direitos de posse ou uso de poços. Note que o pagamento de sete ovelhas feito por Abraão fornece a base do nome Berseba (poço dos sete) e serve como um gesto de boa vontade para com o povo de Gerar.21.32. terra dos filisteu s. A primeira menção conheci­da feita aos filisteus, fora da Bíblia, está nos registros do faraó Ramsés III (1182-1151 a .C ). Como parte dos povos *marítimos invasores, eles se estabeleceram em cinco cidades-Estado ao longo da costa sul de Canaã e foram empregados pelos egípcios como mercenários e parceiros com erciais. A figura de Abim eleque (um nome semita) como "rei de Gerar" na terra dos filisteus, não se encaixa ao que já se conhece sobre a história deste povo. Logo, essa narrativa pode representar o

contato com um grupo anterior de filisteus que ocupa­ram a área antes da invasão dos povos m arítimos ou pode simplesmente ser o uso *anacrônico da expres­são "terra dos filisteus" para descrever a área e não o povo que Abraão encontrou.21.33. tam argueira. A tamargueira cresce em solo are­noso. É uma árvore resistente, podendo alcançar mais de seis m etros de altura, com folhas pequenas que excretam sal. Sua casca é usada como tintura e sua madeira, na construção e na produção de carvão. Os beduínos geralm ente plantam essa vigorosa árvore por causa de sua sombra e também pelos seus galhos que fornecem pasto para os animais. Ao plantar uma tam argueira, provavelm ente Abraão estaria estabe­lecen d o um sím b o lo do ju ra m en to qu e fiz e ra a

Abimeleque - uma planta que produz vida simboli­za um futuro próspero e fértil.

22.1-24 Deus pede a Abraão que ofereça Isaque em sacrifício22.2. região de M oriá. A única indicação da localiza­ção de M oriá apresentada aqui é o fato de ficar a três dias de viagem de Berseba. Esse dado pode simples­m ente ser um núm ero convencional ao térm ino de um a viagem ; de qualquer m aneira, nenhum a dire­ção é dada. Esse termo aparece m ais uma única vez, em 2 Crônicas 3.1, referindo-se ao lugar do templo de Jerusalém , m as não é fe ita n enhu m a referência a Abraão ou a esse incidente. Visto que as montanhas arborizadas ao redor de Jerusalém não exigiriam o transporte de lenha para o sacrifício, é mais provável que o uso desse nom e seja uma coincidência e não uma referência ao mesmo lugar.22.1, 2. sacrifício de crianças. No antigo Oriente Pró­ximo, o deus da fertilidade (*E1) reivindica o direito de exigir uma parte do que foi produzido. Isso está expresso no sacrifício de animais, cereais e crianças. Textos referentes às colônias fenícias e púnicas, como Cartago, no norte da África, descrevem o *ritual de sacrifícios de crianças como um meio de assegurar a continuação da fertilidade. Os profetas bíblicos e as leis expostas em Deuteronôm io e Levítico proibiam expressamente essa prática, mas o simples fato de ser proibida tam bém é um indício de que ela continuava a ocorrer. De fato, a história do "sacrifício" de Isaque sugere que Abraão estava fam iliarizada com sacrifíci­os hum anos e não ficou surpreso com o pedido de *Yahweh. No entanto, a história também relata como Deus providenciou um animal como substituto para o sacrifício humano, o que claramente mostra a distin­ção entre a prática israelita e a das outras culturas.22.3. dom esticação de jum entos. O asno selvagem foi domesticado por volta de 3500 a.C.. D esde o início, ele era usado principalmente como animal de carga devido à sua capacidade de suportar pesados fardos e de sobreviver por longos períodos com pouca água. Como conseqüência, era um dos principais meios usa­dos nas viagens e no transporte de longa distância.22.13-19. sacrifício como substituição. Nesta parte, o carneiro é oferecido como sacrifício, no lugar de Isaque.O conceito de sacrifício vicário não é tão comum como poderíamos imaginar. No antigo Oriente Próximo, os *rituais m ágicos de feitiçaria, geralmente incluíam o oferecimento de um animal que seria morto para re­mover a ameaça que pairava sobre um ser humano. M as o conceito que geralmente estava implícito no ato do sacrifício como instituição regular era oferecer um presente à divindade ou estabelecer comunhão com

ela. Até mesmo em Israel, há poucos indícios de que a instituição do sacrifício fosse entendida como tendo um elemento vicário ou de substituição. A redenção do primogênito e a Páscoa seriam exceções notáveis à margem da instituição do sacrifício.22.19. Berseba. Esta importante cidade, muitas vezes identificada com o limite sul do território de Israel (Jz 20.1; 1 Sm 3.20), é tradicionalmente localizada no nor­te do N eguebe, em Tell es-Seba' (aproximadamente cinco quilômetros a leste da localização atual da cida­de). Seu nom e deriva de sua associação aos poços cavados para fornecer água às pessoas e aos rebanhos da região (ver Gn 26.23-33). Foram encontradas evi­dências arqueológicas de ocupação durante a m onar­quia ao longo dos períodos persas. A falta de provas referentes ao período patriarcal pode sugerir que a cidade mudou de localidade/ porém m ais importante é a observação de que não há indícios no texto de que houve uma ocupação fortificada em Berseba. H á pro­vas de um a ocupação anterior debaixo da atual cidade (Bir es-Saba') a cerca de três quilômetros do *monte artificial, onde alguns suspeitam que a antiga cidade de Berseba esteja localizada.

23.1-20Morte e sepultamento de Sara23.2. variações dos nom es de localidades. Os nomes dos lugares m udam conforme novos povos passam a viver naquela região ou--quando acontecem alguns eventos que são preservados na m em ória do lugar através da m udança de nome (ver Jebus e Jerusalém,1 Cr 11.4; Luz e Betei, G n 28.19). A associação de Hebrom a Quiriate-Arba ("aldeia de quatro") não está clara, mas pode estar relacionada à junção de quatro aldeias num único povoamento ou na convergência de estradas naquele lugar.23.3-20. h ítitas na Palestina. A origem da presença dos *hititas em Canaã é incerta, embora Gênesis 10.15 os identifique com os descendentes de Canaã, através de seu ancestral epônimo Hete. O uso de nomes semitas e a facilidade com que Abraão lida com eles em G ê­nesis 23 sugerem que esse grupo específico de hititas fazia parte da população nativa ou de um a colônia de m ercadores que assim ilou parcialm en te a cultura cananéia (ver G n 26.34). O im pério h itita da Á sia M enor (Anatólia, atual Turquia) foi destruído durante a invasão dos Povos *M arítim os por volta de 1200 a.C.. Um reino posterior de neo-hititas continuou a existir na Síria até o século sete a.C. e é mencionado em registros *assírios e *babilônicos. Esses registros freqüentemente referem-se à Palestina como a "Terra de H atti", confirmando a associação com esse povo. Os grupos conhecidos como hititas que ocuparam por­ções da Síria e de Canaã podem ou não estar relacio­

nados a esses hititas. Os hititas que habitavam Canaã têm nomes semitas, enquanto que os de Anatólia têm nomes indo-europeus.23.4, 5. costum es de sepultam ento. Os costumes rela­cionados ao sepultamento eram bem variados no an­tigo O riente Próxim o. Os grupos nôm ades pratica­vam m uitas vezes o sepultamento secundário - trans­portavam os restos m ortais para um lugar tradicional, muito tempo após a morte. As sepulturas faziam par­

te da cultura das aldeias. Elas podiam ser cavernas naturais ou escavadas à mão ou ainda subterrâneas e repartidas em diversas câmaras. Quase sem pre essas tumbas eram usadas por m uitas gerações. O corpo era depositado num a prateleira preparada, junto com al­guns itens que iam para o túm ulo (alimentos, vasos de cerâmicas, armas, ferramentas, utensílios); depois

os restos eram removidos e colocados numa outra câ­m ara ou num a caixa ou ainda eram sim plesm ente varridos para o fundo do túmulo a fim de acomodar o

próximo enterro.23.7-20. posse da terra. A terra cultivável era um bemtão precioso que não devia ser vendida a ninguém que não pertencesse ao grupo familiar. A falta de um comprador dentro da fam ília e/ou as condições do negócio às vezes exigiam que a venda fosse efetuada a alguém de fora da família. Isso podia ser contornado legalm ente através da adoção do com prador ou da intermediação dos anciãos da aldeia que intercediam

em favor dele diante do proprietário. A designação de Abraão como "u m príncipe" sugere que ele era um vizinho agradável. A oferta de receber a terra como presente foi recusada por Abraão porque per­m itiria que os herdeiros a reclamassem de volta após a m orte de Efrom.23.14.400 peças de prata. Quatrocentas peças de prata era um preço elevado. Seria o equivalente a aproxi­m adamente três quilos e m eio de prata. Como compa­ração, Onri comprou a colina de Samaria por 70 quilos de prata (1 Rs 16.24) e Davi comprou o terreno para a construção do templo por sete quilos e duzentos gra­mas de ouro (1 Cr 21.25), e a eira em si por 50 peças de prata (2 Sm 24.24). Jerem ias comprou uma proprieda­de por um preço m uito baixo: dezessete peças de prata (Jr 32.9). O pagamento de Abraão pode ser visto como exorbitante em vez de razoável, pois em vez de negociar, ele pagou o elevado valor inicial. E prová­vel que ele estivesse ansioso em pagar o preço total, pois talvez um desconto poderia m ais tarde ser relaci­onado a dificuldades financeiras da fam ília, o que

permitiria que os herdeiros de Efrom reclam assem a terra de volta. U m trabalhador ou artesão que ga­nhasse dez peças por ano não conseguiria atingir esse valor nem após uma vida inteira de trabalho.

23.5-16. procedim entos de barganha. Pechinchar e barganhar são procedimentos típicos nos negócios no O riente M édio. São ao m esm o tem po divertidos e competitivos. Entretanto, quando fica claro que o com­prador em potencial necessita ou deseja m uito uma m ercadoria, o vendedor usará a barganha em sua vantagem .23.16. peso corrente entre os mercadores. A termino­logia de aparência contemporânea de cartas comerci­ais da Antiga Assíria sugere que essa expressão está em conform idade com o peso padrão usado para a prata em transações comerciais por terra.

24.1-67 Uma esposa para Isaque24.1-9. prestando juram ento. O juram ento era sem­pre feito em nome de um deus e colocava um a pesada responsabilidade sobre quem jurava, no sentido de cum prir sua parte no acordo, um a vez que estava sujeito à punição tanto divina como humana se não o fizesse. As vezes, como nesse caso, um gesto era acres­centado ao juram ento. O gesto geralm ente era um símbolo da tarefa a ser executada por quem fazia o juram ento. Por exemplo, ao colocar a mão debaixo da coxa de Abraão (perto de seus órgãos genitais), o ser­vo associa seu juram ento de obediência à aquisição de uma noiva para Isaque e, conseqüentemente, à per­petuação da linhagem de Abraão.24.4. casamento na mesm a tribo. A prática de casar- se dentro da própria tribo ou fam ília é cham ada de endogamia. Geralmente, a endogamia obedece a cri­térios religiosos, sociais ou étnicos. Nesse texto parece que o critério é étnico, uma vez que não há indícios que a fam ília de Labão, Rebeca e Raquel com parti­lhasse das mesmas crenças religiosas de Abraão e sua família. De modo semelhante, a posição social repre­senta um problema apenas quando há envolvimento entre nobres e plebeus ou entre certas classes da soci­edade urbana encaradas como necessariam ente dis­tintas. Os critérios étnicos geralmente giram em tom o de tradições do clã ou da manutenção de proprieda­des e terras da família. Em alguns casos, eles repre­sentam hostilidades de longa data estabelecidas entre dois grupos. N esse texto, a endogamia parece ser mo­tivada pela *aliança, procurando evitar que Abraão e sua fam ília sejam contaminadas com a m istura étnica de Canaã.24.10,11. domesticação do camelo. Embora as ossadas de camelo encontradas na Arábia remontem ao ano 2660 a.C., os camelos domesticados não eram comuns na Palestina até 1200 a.C.. As referências ocasionais a eles em Gênesis são autenticadas por provas da do­mesticação desse animal encontradas em um texto da* Antiga Babilônia, de *Ugarite, datado do início do

segundo milênio. As evidências de que o camelo era usado como animal de carga na Arábia datam do final do terceiro milênio. Os estágios de domesticação po­dem ser traçados a partir do desenvolvim ento das selas. Os camelos eram animais extremamente valio­sos, capazes de carregar pesados fardos por terrenos áridos e inóspitos. Logo, raramente eram usados como fonte de alimento, sendo um sinal de opulência.24.10. M esopotâm ia (Arã N aaraim ). *A rã N aaraim (Arã dos dois rios), tendo Harã à margem do rio Ba- lique, incluia a área geral entre o rio Eufrates e o rio Habur que formam um triângulo, no norte da Mesopo­tâm ia. O nom e tam bém aparece em D euteronôm io23.4, na nota introdutória do Salmo 60 e em 1 Crônicas19.6. P od e ser a m esm a N arim a das cartas de *E1 Am am a, datadas do século 14 a.C., entre o faraó egíp­cio e os governantes das cidades-Estado cananéias.24.11. ao cair da tarde, junto ao poço que ficava fora da cidade. O frescor da m anhã e do fim do dia seria a melhor hora para as mulheres da vila irem ao poço buscar água. Uma vez que os poços ficavam fora da cidade a fim de acomodar os rebanhos que ali bebi­am, as mulheres normalmente iam até lá em grupos para se protegerem. Os que vinham de fora podiam usar o poço, mas esperava-se que pedissem permis­são aos aldeões. Era costume da hospitalidade ofere­cer água aos viajantes.24.12-21. consultas ao oráculo. O servo de Abraão fez uso de um *oráculo a fim de identificar a futura noiva de Isaque. N um oráculo, um a pergunta do tipo "sim ou não" era feita à divindade, e a resposta era dada através de um a estrutura binária. No Israel pós-Sinai o sacerdote carregava as pedras de U rim e Tumim, que eram usadas nas consultas ao oráculo. O servo de Abraão teve de ser m ais criativo e usar uma estrutura natural para o oráculo. Sua dúvida era se a jovem com quem iria falar seria ou não a esposa certa para Isaque; para tanto, fez um a consulta ao oráculo baseando-se num a pergunta que iria fazer à jovem . Quando al­guém pede água, geralm ente espera ter seu pedido atendido. Esse seria o comportamento norm al no con­texto de etiqueta e hospitalidade. N esse caso, uma resposta negativa indicaria um "n ão" à sua pergunta. Como alternativa, o servo escolheu algo muito além da expectativa: se aquela jovem , m otivada por um pedido tão comum e humilde, decidisse voluntaria­mente dar de beber a todos os seus camelos, a respos­ta indicaria um "sim ". O raciocínio envolvido nesse processo é que se a divindade estivesse realm ente fornecendo a resposta, então ela poderia alterar o com­portamento norm al e superar o instinto natural, a fim de comunicar sua resposta. Sobre mecanismos seme­lhantes de oráculos, ver Juizes 6.36-40 e 1 Samuel 6.7­12. Os profetas ocasionalmente faziam uso desse tipo

de consulta ao oráculo, só que se colocavam na posição de quem dá as respostas, nas situações em que apre­sentavam sinais para comprovar que eram realmente representantes de Deus, como em Números 16.28-30 ou 1 Samuel 12.16, 17.24 .11 ,13 . poço ou fonte? A diferença de terminologia entre o versículo 11 ("poço") e 13 ("fonte") pode refle­tir uma variedade no acesso à água. Há casos em que a água se originava de um a fonte, m as conform e o lençol subterrâneo foi diminuindo, foi necessário ca­var um poço. Esse é o caso de Arad, onde um profun­do poço agora substitui a fonte original.24.19, 20. quanto beb e um cam elo. Os camelos be­bem apenas a quantidade de água que perderam , sem arm azená-la em suas corcovas. A concentração de gordura e a cobertura dos pêlos perm item a dissi­pação do calor, menos suor e uma variação maior da temperatura corporal tanto de dia como de noite. O cam elo tam bém consegue m anter um a quantidade de água constante no plasm a do sangue o que lhe permite suportar m elhor a perda de água que a m ai­oria dos anim ais. U m cam elo que tivesse passado alguns dias sem água poderia beber até 95 litros. Em contraste, os jarros usados para buscar água geral­mente não comportavam mais que 11 litros.24.22. pendentes. Pendentes para o nariz eram espe­cialmente populares durante a Idade do *Ferro (1200­600 a.C.), em bora existam exem plos de seu uso em períodos anteriores. Feitos de prata, bronze e ouro, quase sempre com formato tubular, os pendentes eram arredondados e tinham duas pontas para inserção. Às vezes incluíam um discreto pingente. U m beca (me­dida de peso hebraica) corresponde à metade de um siclo e equivale a seis gramas.24.22. jóias. As pulseiras eram faixas usadas no pulso como braceletes. Eram muito populares e m uitas vezes encontradas nos braços e nos pulsos de m ulheres mor­tas, em suas tumbas. Ao colocá-las no braço de Rebeca, talvez o servo procurasse oferecê-las como símbolo de um contrato de casamento. Um a pulseira de dez siclos pesava cerca de 120 gramas. A lguns docum entos re­lacionados às leis datados da prim eira m etade do se­gundo milênio sugerem que o trabalhador poderia re­ceber no máximo dez siclos por ano. Freqüentemente, ele recebia um valor inferior a isso. Esses siclos eram de prata, pois o ouro era m ais valioso.24.28. casa da m ãe. Seria natural que um a jov em solteira se referisse à casa de sua mãe como sua casa, até se casar (ver Cantares 3.4).24.50-59. presentes de noivado. Para que o casamen­to fosse acertado, a família do noivo deveria estipular o preço da noiva, enquanto a família da noiva provi­denciava o dote. Os objetos de prata e ouro e os vesti­dos oferecidos a Rebeca eram parte de sua transfor­

mação num m em bro da família de Abraão. A palavra usada no texto denota um a transformação do metal em algo útil, como jóias ou pratos e outros utensílios domésticos. Os presentes oferecidos a seu irmão Labão e à sua m ãe dem onstram a riqueza de Abraão e o desejo de que o casamento se concretizasse.24.57, 58. a decisão de Rebeca. No mundo antigo não era comum que uma m ulher tom asse parte de deci­sões importantes. Rebeca não foi consultada em rela­ção ao casam ento (v. 50, 51), m as quando o servo pediu para retom ar à casa de seu senhor im ediata­mente, os homens aguardaram a opinião de Rebeca antes de consentirem na sua partida. Os contratos de casamento deste período geralmente demonstravam uma grande preocupação com a manutenção da segu­rança da m ulher na família de seu esposo. A presença da família da noiva era um a das garantias de que ela seria cuidada e tratada de form a adequada. Os dez dias solicitados pela família de Rebeca (v. 55) teriam lhes dado um pouco m ais de tempo para confirmar se as coisas eram realmente como pareciam ser. É prová­vel que ela tenha sido consultada devido ao grande risco que estaria correndo em deixar a proteção da família em circunstâncias tão incomuns.24.59. ama de com panhia. Seria conveniente que a noiva de um homem rico tivesse um séquito de ser­vas. A ama, porém, teria uma posição mais elevada, com a função de cuidar da filha que agora faria parte de uma nova casa, e também servindo como dama de companhia na viagem de volta.24.62. Beer-Laai-Roi. O nome do lugar significa "poço daquele que vive e me vê" e anteriormente apareceu associado à teofania de Hagar em Gênesis 16.14. Situ­ava-se provavelm ente a sud oeste de H ebrom , no Neguebe. Talvez Isaque e Abraão tivessem transferi­do seu acampamento para o sul ou então Isaque esti­vesse morando separadamente.24.62-66. uso do véu. Como Rebeca estava viajando sem véu, ao encontrar-se com Isaque ela se cobriu, demonstrando assim que era a sua noiva. As noivas usavam véu durante o casamento, mas depois de ca­sadas não o usavam mais. Os costumes sobre o uso do véu diferem de acordo com a localidade e a época. Nas pinturas da tumba de Beni Hasan (início do se­gundo milênio), as m ulheres asiáticas não estão co­bertas pelo véu, mas pelas leis medo-assírias (final do segundo milênio) todas as mulheres respeitáveis de­veriam sair em público usando véu.24.67. tenda de sua mãe. Provavelmente, a tenda de Sara não havia sido ocupada por ninguém desde a sua morte, devido à sua posição de senhora dentro do contexto fam iliar. Ao levar Rebeca para a tenda de sua mãe, Isaque estava demonstrando que ela agora seria a senhora da casa. É um fato que se assemelha à

im portância dada à entrada dos recém -casados em sua nova casa, presente em textos *ugaríticos.

2 5 .1 -1 1A morte de Abraão25.1-4. descendentes de Abraão e Quetura. Nem to­dos esses dezesseis nomes podem ser identificados, em bora a m aioria deles esteja associada ao deserto sírio-árabe, a leste do Jordão, e pode representar uma confederação de tribos envolvidas com o lucrativo co­mércio de especiarias. Dentre os seis filhos de Abraão e Quetura, Midiã é o nome mais proeminente no final da narrativa, sendo descrito como um povo que vivia na periferia do território israelita , nas regiões do Neguebe e do Sinai. Alguns desses nomes aparecem nos anais *assírios (Medã é Badana, ao sul de Temá; Isbaque é a tribo síria de Iasbuque, ao norte; Sabá fica na parte sudoeste da Arábia). Suá tam bém aparece em textos *cuneiformes como uma localidade no mé­dio Eufrates, perto da foz do rio Habur (ver Jó 2.11).25.1-4. concubinas. As *concubinas ou esposas secun­dárias de Abraão foram H agar e Quetura. Geralmen­te, as concubinas eram m ulheres que não possuíam dote e assim, seus filhos não tinham, a princípio, di­reitos sobre a herança. No caso de a esposa principal não ter gerado nenhum filho, o pai podia escolher um deles como seu herdeiro. No entanto, se o pai não agisse assim, quaisquer reivindicações sobre a pro­priedade da fam ília teriam como base as condições dos contratos de casamento.25.2, 4. origem dos m id ian itas. M idiã era um dos filhos de Abraão e Quetura, e a referência a ele mos­tra o perm anente interesse do autor em estabelecer ligações entre Abraão e os povos da Palestina, Transjor- dânia e A rábia. Os m idianitas são freqüentem ente mencionados como um grupo de tribos nômades de pastores que viviam nos desertos do N eguebe e do Sinai. Foram os mercadores midianitas que levaram José para o Egito (Gn 37.28). Moisés se casou com a filha de Jetro, príncipe de M idiã, depois de fugir do Egito (Êx 2.16-21). Na narrativa da conquista de Canaã, os midianitas são aliados dos moabitas e considerados inimigos dos israelitas (Nm 25.6-18). Não existem in­formações fora da Bíblia sobre a origem e a história desse povo.25.5, 6. dar presentes. Era prerrogativa do pai desig­nar seu herdeiro, porém, ele deveria prover algo para os outros filhos. Assim, ao dar presentes aos filhos que teve com Quetura e ao enviá-los para longe, Abraão repartia sua riqueza com eles, mas tam bém protegia a posição de Isaque como herdeiro da casa.25.6. terra do oriente. O termo hebraico qeden citado nessa única frase pode indicar tanto uma direção, "les­te ", como o nome de um lugar. A história egípcia do

século 20 a.C. sobre o exüio político de *Sinuhe men­ciona a terra de Q edem como próxima a Byblos. Em outros textos bíblicos, o termo refere-se aos povos que habitavam a região desértica nas extremidades orien­tais de Israel (Jz 6.3; 7.12; Is 11.14).25.8. fo i reunido aos seus antepassados. Na cosmo- visão dos povos antigos, o passado se assem elhava mais a uma aldeia espalhada pelo vale, do que a um trem se afastando. Eles consideravam que estavam diante do passado (e não do futuro). Reunir-se aos antepassados expressava não apenas a idéia de ser enterrado no túm ulo da fam ília, mas tam bém a de fazer parte da galeria dos antepassados na "aldeia dos ancestrais" que incluía o passado. Esta visão está mais relacionada à história do que à vida após a morte.

2 5 .1 2 -1 8A linhagem de Tsmael25.12-16. descendentes de Tsmael. Continuando a lis­ta dos descendentes de A braão que habitavam as regiões circunvizinhas, surgem os filhos de Ismael. O termo 'filho', às vezes, representa uma união política em vez de laços sangüíneos, mas qualquer que seja o caso, essa lista compreende a confederação de tribos que viviam no deserto sírio-árabe. A ocorrência des­ses nomes em registros *assírios, combinados aos no­mes da lista de Quetura, sugere mudanças na aliança e na fidelidade entre as tribos. Dentre os nomes que se destacam estão Nebaiote, provavelmente o Nabaiati das campanhas de Assurbanipal contra as tribos ára­bes e possivelmente associado aos nabateanos posteri­ores de Petra; Tem á, um oásis a nordeste de Dedã, situado na rota das caravanas entre o sul da Arábia e a M esopotâmia; e Quedar, um povo mencionado em outros contextos como pastores nômades (SI 120.5; Is 42.11; 60.7).25.18. região dos descendentes de Ism ael. A região desde Havilá (ver G n 2.11; 10.7) até Sur (ver G n 16.7) provavelm ente correspondia às rotas de m igração e de caravanas dos descendentes de Ismael. Não era uma região apropriada para populações sedentárias numerosas, mas seria adequada para os grupos nô­m ades de pastores. Essa área era o centro do comércio de especiarias do sul da Arábia, de onde saíam cara­vanas em direção ao Egito (oeste) e à Mesopotâmia e Síria (leste). Assur, nesse contexto, não seria o reino m esopotâm ico da região do alto Tigre, e sim uma região do norte da Arábia (ver G n 10.22; 25.3).

2 5 .1 9 -2 6O nascimento de Jacó e Esaú25.21. esterilidade. A esterilidade era um recurso usa­do nas narrativas antigas para aumentar a tensão da tra­ma, como um fator de am eaça aos descendentes pro­

m etidos (12.2) pela *aliança. Também era um a forma de tornar especial o filho nascido após longa espera, porque som ente Deus poderia anular a infertilidade.25.22, 23. resposta profética. A preocupação de Re- beca pela sua gravidez levou-a consultar o *oráculo. O texto não dá indícios dos meios usados por ela para consultar o Senhor. Ela não utiliza uma estrutura ora­cular que ofereça um a resposta do tipo "sim ou não". Não há referência a um profeta, sacerdote oracular ou a um anjo que transmitisse o oráculo. No Egito e na M esopotâmia, os oráculos como esse eram quase sem­pre concedidos pelo sacerdote. Um a outra possibilida­de seria buscar um a resposta através de um sonho. N esse caso, geralm ente era necessário dormir num lugar sagrado. O texto se preocupa menos com o modo e mais com o conteúdo do oráculo em si. O oráculo não se refere especificam ente aos filhos, na medida em que trata do destino final da linhagem da família que cada um estabelecerá. Um oráculo como esse não im­plicaria um tratam ento diferenciado dos filhos por parte dos pais.25.24-26. dando nom e aos filh os. No mundo antigo, a escolha dos nomes era um ato significativo. Acredi­tava-se que o nom e poderia afetar o destino da pes­soa; por isso quem o escolhia exercia um certo controle sobre o futuro da pessoa. M uitas vezes, os nomes expressavam esperanças ou bênçãos, ou preservavam algum detalhe a respeito da ocasião do nascimento, especialm ente se fosse algo considerado relevante. Aqui, Esaú recebeu um nome por causa de uma ca­racterística física, enquanto que o nome dado a Jacó estava relacionado ao seu com portam ento singular durante o nascimento. Nem sempre o significado dos nomes correspondia à palavra da qual se originavam, mas freqüentemente havia uma relação por meio de um jogo de palavras. Assim, a palavra hebraica para Jacó não significa "calcanhar", apenas soa como a pa­lavra "calcanhar". Esperava-se que o nome desempe­nhasse um papel no desenrolar do destino do indiví­duo e que assumisse um significado e se mostrasse adequado ao longo de sua vida, em bora fosse algo impossível de se prever.

25.27-34 Esaú troca seu direito de primogenitttra25.28. o papel da m ãe nas decisões de herança. Umcontrato cananeu de *Ugarite apresenta um a situação em que o pai perm ite à m ãe escolher o filho que deve receber tratamento preferencial na herança.25.29, 30. Jacó prepara um ensopado. O incidente do ensopado parece ter acontecido longe de casa, de ou­tro m odo Esaú poderia ter apelado para seus pais. Jacó não era do tipo aventureiro, assim seria improvável que estivesse sozinho, longe do acampamento. Ele é

descrito como um homem que "vivia nas tendas", o

que pode ser um indício de que estivesse mais ligado ao cuidado do rebanho. Os pastores deslocavam seus acampamentos por uma ampla área de terra, a fim de encontrar água e pasto para os rebanhos. O mais pro­vável é que Jacó tivesse saído para supervisionar al­guns dos pastores num desses acampamentos, quan­do Esaú encontrou-se com eles. Jacó estaria no coman­do do acampamento, assim a decisão seria dele e ha­veria testemunhas quanto ao acordo feito com Esaú.

25.31-34. direito de primogenituxa. O direito de pri- mogenitura dizia respeito apenas à herança material proveniente dos pais. A herança era dividida pelo núm ero de filhos, m ais um, pois o m ais velho recebia duas partes da herança. Essa era uma prática comum no antigo Oriente Próximo. Em troca do prato de en­sopado, Jacó com prou de Esaú essa parte adicional (provavelm ente não toda a sua parte da herança). Não há exemplos na literatura conhecida do antigo Oriente Próximo de um acordo como esse sendo feito. O relato que mais se aproxima, faz parte do material sobre leis de *N uzi, em que um irm ão vende uma propriedade já herdada a um de seus irmãos.

26.1-16 Isaque e Abimeleque26.1-6. fom e periódica. Às incertezas quanto à ocor­rência de chuvas na estação própria e na quantidade adequada fizeram da seca e da fome episódios bastan­te comuns na antiga Palestina. O escritor menciona essa calam idade freqüente, distinguindo-a da fome ocorrida no tempo de Abraão (Gn 12).26.1. filis te u s na P alestina. Um grande núm ero de filisteus ocuparam Canaã, depois que a invasão dos Povos *Marítimos (1200 a.C.) derrubou o controle egíp­cio da área. N esse contexto, eles são mencionados nos registros de Ramsés III (1182-1151 a.C.). Os filisteus estabeleceram a pentápolis, uma união das cinco prin­cipais cidades-Estado (Gaza, Gate, A sdode, Ecrom , Asquelom) ao longo da planície da costa sul e rapida­mente conquistaram o controle político sobre as regi­ões próximas (Jz 15.11). A menção deles em Gênesis pode referir-se a um grupo anterior que se estabele­ceu em Canaã antes de 1200 a.C., ou pode ser um *anacronismo baseado em sua presença na região de Gerar, em períodos posteriores (ver G n 21.32), quan­do povos que ocuparam anteriormente essas proximi­dades foram denominados pelo nome conhecido dos leitores da época posterior. As evidências arqueológi­cas de sua presença são encontradas na introdução de novos tipos de cerâmica, objetos para sepulturas (por exemplo, sarcófago com traços humanos) e novas li­nhas arquitetônicas.

26.7-11. esposa como irm ã. O tema esposa/irmã apa­rece três vezes nas narrativas dos ancestrais (ver tam­bém capítulos 12 e 20). Aqui, Abimeleque (nome do trono ou da dinastia, significando "m eu pai é rei") é enganado por Isaque e Rebeca. Como resultado, eles obtêm a proteção real e o direito de cultivar a terra e criar rebanhos em Gerar.26.12-16. p lantações. Não era incom um que tribos nômades de pastores formassem lavouras ou colhes­sem o fruto das palmeiras, ao longo de sua rota usual de passagem. Talvez fosse um passo no sentido de se estabelecerem em aldeias, m as não é necessariamen­te o caso. Geralmente, o sedentarismo (fixação de raízes dos nômades) está m ais diretam ente relacionado às ações dos governantes ou a mudanças nas fronteiras políticas por onde os nômades conduziam seus reba­nhos. O acúmulo de riqueza também poderia levá-los a se estabelecer num lugar, m as não era um a das principais razões.

26.17-35Os poços de Isaque26.17-22. direitos e disputas a respeito de poços. Ospoços eram geralm ente cavados e protegidos pelos habitantes das aldeias. A probabilidade de entupir ou ruir exigia que fossem vistoriados periodicamente. O trabalho envolvido e a necessidade de água tanto para o uso das pessoas como para plantações e ani­m ais, favorecia o aparecimento de disputas entre as aldeias e/ou entre pastores, que também reivindica­vam a posse e o uso dos poços.26.20. dando nom e aos poços. Um a forma de desig­nar o proprietário de um poço ou de outros recursos naturais era escolhendo um nome. Assim que o nome passasse a fazer parte da tradição, não seria difícil vincular a posse a quem deu o nome. Essa era uma maneira de resolver qualquer contenda que surgisse e de evitar disputas posteriores. A escolha de nomes também fazia parte das tradições de uma tribo, e seu conhecimento era passado de geração em geração.26.23-25. construir um altar, invocar, armar acampa­m ento, cavar um poço. As ações do versículo 25 são todas relacionadas à posse da terra e, portanto, uma resposta adequada à promessa da *aliança do versículo 24. O altar era um reconhecim ento da santidade do lugar onde o Senhor falara com Isaque. A rm ar um acampamento e cavar um poço eram os meios geral­m ente aceitos para se estabelecer os direitos sobre uma terra que ninguém ainda havia tomado posse.26.26-33. acordo de paz. O acordo de paz dos ver­sículos 28-30 constitui um reconhecimento por parte dos vizinhos de Isaque de que sua presença na região era aceita. O acordo era selado por um a refeição com­partilhada pelas partes envolvidas e por m eio de jura­

m entos. Assim como Abraão havia construído altares (cap. 12) e estabelecido direitos reconhecidos sobre a terra (cap. 23), Isaque faz o mesmo agora.26.33. etim ologia popular do nom e de cidades. Ber- seba fora assim denominada anteriormente por Abraão (em 21.31). A apresentação do significado de um nome não indica necessariam ente que tenha se originado naquela ocasião. Assim como o nome de pessoas pode ser reinterpretado (por exemplo, Jacó, em 27.36), tam ­bém pode acontecer o m esm o com o nom e de um lugar. Os antigos se im portavam m enos com a ori­gem do nome do que com o significado adquirido ao longo do tempo. Essa cidade situada no extremo sul passou a ser a base da família de Isaque. A localidade identificada pelos arqueólogos como Berseba não apre­senta ruínas anteriores ao período dos Juizes (Idade do *Ferro, 1200), mas não há indícios na história de Isaque da existência de um a cidade naquele lugar durante nessa época. De qualquer m odo, isso não representa um problema.

27.1-40Isaque abençoa seus filhos27.1-4. bên ção no le ito de m orte. Bênçãos ou m al­dições proferidas pelo patriarca da fam ília sem pre eram levadas a sério e consideradas válidas. Tais pa­lavras de um patriarca, ditas em seu leito de morte, seriam ainda m ais graves. Nesse texto, porém, Isaque não se encontrava em seu leito de morte, apenas esta­va bastante idoso, de modo que desejava colocar sua casa em ordem a fim de dar a bênção tradicional.27.4. am biente adequado para a bênção. O banquete que Esaú estava prestes a preparar garantiria um am biente agradável e adequado para a bênção e ao mesmo tempo serviria como uma celebração, que ge­ralmente acompanhava os eventos significativos; algo semelhante ao que fazemos quando saímos para jan­tar num bom restaurante para alguma comemoração.27.11-13. transferir um a m aldição. A reação de Re­beca diante do temor de Jacó de ser descoberto e rece­ber uma maldição é atrai-la sobre si, caso isso aconte­ça. Ela podia fazer isso? Como esse capítulo demons­tra, um a bênção não é transferível, nem tam pouco uma maldição. Mas nesse caso, é m ais provável que Rebeca estivesse se referindo às conseqüências da m aldição, em vez da m aldição em si. V isto que a divindade seria responsável pelo cum prim ento da maldição, o reconhecimento de que ela forçou Jacó a enganar seu pai faria dela o alvo da maldição, caso fosse proferida.27.14. preparação do alim ento. Tanto homens como m ulheres costumavam preparar alimentos. Um a das maneiras de variar o cardápio das refeições (que em geral eram bastante monótonas e sem carne no cardá-

pio) era caçar anim ais selvagens. Com o essa carne costum ava ser rígida e de sabor forte, deveria ser cozida até tornar-se m acia, e tem perada com ervas para melhorar o sabor.27.27-29. tipo de bênção. A bênção que Isaque conce­deu a Jacó (a quem confundiu com Esaú) lhe assegura­va a fertilidade da terra, o domínio sobre outras na­ções, inclusive dos descendentes de irmãos, e um efei­

to bum erangue para maldições e bênçãos. Esses são elementos típicos da bênção patriarcal e não têm ne­nhum a relação com a herança de bens materiais ou com a *aliança, embora algumas dessas características tam bém estejam presentes em benefícios da aliança que o Senhor prom etera a Israel. Eram elem entos

fundamentais para a sobrevivência e prosperidade. 27.34-40. im possibilidade de retirar a bênção. O po­der das palavras proferidas era tal que não podiam ser canceladas; isso valia até mesmo fora da esfera da superstição, quando as palavras proferidas acabavam causando um benefício ou um malefício, independen­te da pessoa que falou ter mudado de opinião. Assim, as palavras concernentes ao destino de Esaú refletem

a realidade da bênção anteriormente concedida a Jacó. Não seria considerada uma maldição, pois admitia a continuidade da existência e um a libertação final. 27.37. "eu o constitu í". Isaque explicou a Esaú: “eu o

constituí senhor... a ele su p ri". O uso da prim eira pessoa mostra que Isaque não estava sugerindo que essa bênção era uma proclamação profética da divin­dade; tampouco recorreu à divindade para que ela se cumprisse. Expressões semelhantes na Mesopotâmia costumavam invocar a divindade em bênçãos e mal­dições como essa.

27.41-46 O resultado da fraude27.45. perder os dois num só dia. Rebeca expressa sua preocupação de que pudesse perder ambos em um só dia. Pode ser uma referência a perder Isaque e Jacó, isto é, Isaque morreria e Jacó seria m orto por Esaú; ou uma referência a perder ambos os filhos, Jacó e Esaú, isto é, Jacó seria morto por Esaú, que como

assassino, teria de fugir ou acabaria como vítima de um a vingança de sangue.27.46. m ulheres hititas. As mulheres *hititas com quem Esaú se casara faziam parte da população nativa de Canaã, nessa época. Em bora seja possível que esse grupo esteja relacionado aos famosos hititas da Anatólia, nosso conhecimento sobre a história e cultura dos hititas cananeus, no período patriarcal, é insuficiente para perm itir conclusões fundam entadas. Há indícios da presença dos hititas da Anatólia em Canaã durante a monarquia; mesmo antes da metade do segundo mi­

lênio os textos de *A m am a contêm nomes próprios hititas e *hurrianos.

28.1-22 O sonho e o voto de Jacó28.2. Padã-Arã. Esse nome de lugar aparece apenas em Gênesis. Trata-se da designação de um a região geral no norte da Mesopotâmia (= Arã N aaraim em 24.10) ou talvez de um outro nom e para H arã. Em *acadiano, tanto padanu como harranu significam “ca­m inho" ou "estrad a". De qualquer maneira, Jacó foi instruído a retom ar à terra de seus ancestrais em bus­ca de um a noiva, como parte da prática da endogamia (casamento dentro de um grupo restrito).28.5. aram eu. A origem dos *arameus é problemáti­ca. De fato, eles só aparecem nos registros m esopo- tâmicos dos anais *assírios de Tiglate-Pileser I (1114­1076 a.C.), datados do final do segundo milênio. No século nono, Salmaneser III menciona reis de A rã em Damasco (inclusive Hazael e Ben-Hadade III). Entre­tanto, essa ocorrência se deu m uitos séculos depois do cenário em que as narrativas ancestrais se desenrola­ram. Provavelmente, a menção dos arameus em rela­ção a Abraão e Jacó seja uma referência a tribos esparsas de povos, na alta M esopotâm ia, que ainda não ti­nham sido aglutinadas na nação de Arã, citada em textos posteriores. Tendo como base outros exemplos da literatura *cuneiforme, Arã pode de fato ter sido o nome de uma região (cf. Sippar-Am nantum do perío­do da * Antiga Babilônia) e m ais tarde aplicado aos povos que lá viviam. Evidências atuais sugerem que os arameus habitaram a região do alto Eufrates, du­rante o segundo m ilênio, prim eiro como aldeões e criadores de gado, depois como uma coalizão política ou nacional.28.10-12. Itinerário de Jacó. Jacó seguiu pela estrada central, no desfiladeiro que atravessava a região mon­tanhosa de Berseba, passando por H ebrom, Betei e Siquém até chegar à estrada principal, o Grande Tron­co, em Bete-Sem. Provavelmente levaria alguns dias para ir de Berseba a Betei (cerca de cem quilômetros) e a viagem até H arã teria levado m ais de um mês (cerca de 880 quilômetros).28.13-15. escada. A escada que Jacó vê em seu sonho é a passagem entre o céu e a terra. A palavra corres­pondente em *acadiano é usada na mitologia meso- potâmica para descrever o meio usado pelo mensageiro dos deuses quando quer passar de um a dim ensão para outra. Foi essa escada mitológica que os b a b ilô ­nios procuraram representar na arquitetura dos zigu- rates, que foram construídos a fim de prover à divin­dade um caminho para descer ao templo e à cidade. A formação de Jacó perm itia que ele estivesse familiari­zado com esse conceito, concluindo assim que estava

em solo sagrado, exatamente onde havia um portal aberto entre os dois mundos. Embora ele possa ver a escada em seu sonho, com os mensageiros (anjos) usan­do-a para passar de uma dimensão para outra (saindo e chegando de m issões, não em um desfile ou pro­cissão), o Senhor não é visto fazendo uso dela, mas de pé ao lado da m esm a (essa é a tradução correta do hebraico).28.16,17 . casa de Deus, porta dos céus. Quando Jacó acorda, ele identifica o lugar sagrado como a casa de Deus (beth-el) e a porta dos céus. Na mitologia *aca- diana, a escada usada pelos m ensageiros subia até a porta dos deuses, enquanto o templo da divindade ficava localizado na parte inferior. D essa maneira, a divindade protetora podia deixar a assem bléia dos deuses e descer até o lugar de adoração.28.18.19 . coluna e unção com óleo. Colunas sagradas ou pedras erigidas são bem conhecidas na prática religiosa do antigo O riente Próxim o, remontando a períodos anteriores ao quarto m ilênio a.C.. Elas são retratadas principalmente nos locais cananeus de *cul- to, tais como o lugar alto em Gezer, sendo também usadas no templo israelita, em Arad. Algumas colu­nas de pedras eram erig idas sim plesm ente com o memoriais. O fato de serem encontradas vasilhas na base de tais colunas, permite inferir que libações (ofertas líquidas) eram derramadas sobre elas, como vemos Jacó fazendo em 35.14. A dedicação da coluna era representada pela sua unção com óleo.28.19. Betei/Luz. Como já foi mencionado em Gênesis23.2, a mudança no nome de um lugar se baseava no aparecimento de novos povos ou eventos significati­vos. Betei era uma im portante cidade localizada na região montanhosa central, bem ao norte de Jerusa­lém. Uma importante estrada leste-oeste ficava ao sul da cidade, transformando-a numa encruzilhada para viajantes, e favorecendo o surgim ento de locais de *culto. Há certa especulação de que Luz era a cidade original e Betei (literalmente "casa de D eus") era um local separado de culto, localizado fora da cidade. A s­sim que os israelitas se estabeleceram na região, po­rém, a associação do lugar com Abraão (12.8) e Jacó teria substituído o nome antigo.28.20-22. votos. Votos são promessas atreladas a algu­mas condições, quase sempre feitas a Deus. No m un­do antigo, a situação mais comum para um voto era quando se fazia um pedido à divindade. A condição implicava a provisão e o cuidado de Deus, embora os votos fossem geralm ente um presente à divindade. Geralmente, os votos tomavam a forma de um sacrifí­cio, mas podiam ser também presentes para o santu­ário ou para os sacerdotes. O cum prim ento de um voto era geralmente realizado no santuário, publica­mente. No voto de Jacó, as condições na verdade se

estendem até o final do versículo 21. Jacó prometeu dar o dízimo de tudo que recebesse, se seus pedidos fossem atendidos.28.22. dízimo. No m undo antigo, geralmente o dízimo era um tipo de cobrança de im postos. O s dízimos eram pagos ao templo e ao rei. Visto que os proventos e a riqueza de uma pessoa não eram primordialmen­te em forma de dinheiro, todos os bens eram incluídos nos cálculos do dízimo, conforme indicado aqui pela afirmação de Jacó "d e tudo o que me deres". O dízimo de Jacó era evidentemente voluntário, e não imposto, portanto não estaria associado a nenhum tipo de co­brança de tributos. Não havia templo ou sacerdotes em Betei, assim não se sabe a quem Jacó daria o dízimo. Provavelm ente Jacó estivesse prevendo que toda a riqueza que iria adquirir viria na form a de rebanho. Nesse caso, o dízimo seria representado na forma de sacrifícios oferecidos em Betei.

29.1-14Jacó encontra Labão e sua família29.2, 3, 10. poço tapado por um a grande pedra. Apedra tinha uma função dupla: proteger o poço de contaminação ou envenenamento da água e impedir que qualquer pastor da área tirasse m ais água do que a quantidade a que tinha direito. Aparentem ente, a água era escassa nessa ampla região e assim, o direito de usar o poço era resguardado com cuidado e zelo. Pastores beduínos sequer divulgam a localização dos poços em seu território, o que dem onstra que esse nível de segurança não está desproporcional. A pedra podia servir também como um disfarce da localização do poço para os transeuntes casuais. Os poços dessa época não eram cercados por um muro de proteção, assim a pedra também evitaria que animais (ou pes­soas) inadvertidamente tropeçassem e caíssem neles.29.3. acordos a respeito do uso da água. N as regiões onde havia escassez de água, era necessário que os pas­tores fizessem um acordo acerca do uso do poço ou da fonte. A falta de confiança, porém , poderia resultar num a cena como a descrita no texto, em que todos os pastores se reuniam antes que alguém pudesse beber.29.6. pastora. Embora não seja difícil nos dias de hoje encontrar mulheres e crianças pastoreando rebanhos beduínos, na antigüidade as m ulheres só se dedica­vam a essa tarefa se não houvesse nenhum descen­dente do sexo masculino na casa. Era uma atividade perigosa, visto que podiam ser m olestadas, m as era também uma meio eficaz de atrair um marido.29.11. beijo de saudação. A forma tradicional de sau­dação entre amigos e parentes no Oriente M édio con­siste num abraço caloroso e um beijo em cada boche­cha. Isso é feito entre parentes do sexo m asculino e feminino.

29.15-30Jacó trabalha por suas esposas29.17. os olhos de Lia. Na descrição comparativa en­tre Lia e Raquel, o único com entário sobre Lia diz respeito a seus olhos. O term o usado geralm ente é considerado positivo e indica fragilidade, vulnerabi­lidade, ternura ou uma qualidade delicada. Embora os olhos fossem um dos componentes principais da beleza no m undo antigo, as características positivas de Lia perdiam o brilho diante da graça de Raquel.29.18-20. sete anos de trabalho. Os arranjos típicos para o casamento incluíam um pagamento feito pelo noivo ou por sua família à família da noiva. Esse valor funcionaria como um fundo de reserva para sustentar a esposa, caso o marido morresse, a abandonasse ou se divorciasse dela. De maneira alternativa, às vezes era usado pela família para pagar o preço da noiva a seus irmãos. Em alguns casos, até mesmo retom ava à noiva por meio de um dote indireto. Nos textos de *Nuzi o preço típico de uma noiva é trinta ou quaren­ta siclos de prata. Um a vez que dez siclos correspon­diam ao salário anual típico de um pastor, Jacó estava pagando um preço alto. Isso pode ser explicado, po­rém, pelas circunstâncias: Jacó não estava em posição de negociar e o pagamento seria feito em forma de trabalho.29.21-24. festa de casamento. O casamento era basea­do num contrato entre duas famílias, sendo, portanto, semelhante a um tratado ou a transações comerciais. Da m esma forma, o casamento era consumado com uma refeição *ritual (um sinal de paz entre as duas partes envolvidas). Havia também uma procissão até a "prim eira casa" designada aos noivos (geralmente dentro da casa ou da tenda do pai do noivo, embora não seja esse o caso em G n 29), onde então o casal praticava o ato sexual. A noiva usava um véu durante essas festividades públicas e pode-se presumir que os ânimos exaltados tenham levado à embriaguez, fato­res que explicariam a incapacidade de Jacó em identi­ficar a substituição de Lia por Raquel durante a festa.29.24. um a serva com o presente. E ra bastante co­mum que a noiva recebesse uma serva como presente na ocasião de seu casamento. Dessa maneira ela obti­nha seu próprio séquito ou serviçais na casa, o que lhe garantiria m aior prestígio e serviria de auxílio na execução das tarefas domésticas.29.26-30. costum e da mais velha casar-se primeiro. Era costume dos povos do antigo Oriente Próximo, e ainda nos dias de hoje é uma tradição naquela área, a filha mais velha casar-se primeiro. Isso evitaria que a irm ã m ais nova envergonhasse a m ais velha, que talvez não fosse tão bonita quanto ela, e tam bém evi­tava que a família esgotasse seus recursos por causa das filhas que permaneceram solteiras. As mulheres

eram usadas, através dos contratos de casamento, para obtenção de riqueza e prestígio para a fam ília. Se um a irm ã m ais velha ficasse para trás e nunca se casasse, a fam ília ficaria com a responsabilidade de cuidar dela.29.27. semana de núpcias. Talvez a origem da sema­na de núpcias esteja na relação entre os sete dias da história da criação e a criação de uma nova vida atra­vés do casamento. Afastar a noiva e o noivo de outras tarefas era também uma maneira de garantir a ocor­rência de gravidez logo no começo do casamento.

29.31- 30.24 O s filh o s d e Ja có29.33. escolha do nome dos filhos. A escolha do nome de um filho era um ato cheio de significado e geral­m ente representava algum a circunstância ou senti­mento relacionado ao m omento do nascim ento, po­rém raramente afetava o provável destino da criança. Era crença geral que o nome não determinava o futu­ro da criança, mas estava diretamente relacionado à identidade pessoal e, portanto, esperava-se que se associasse de forma significativa à natureza e às expe­riências da pessoa.30.3-13. serva como esposa substituta. Assim como Sara deu a Abraão sua serva H agar como esposa subs­tituta (16.1-4), também as esposas de Jacó lhe oferece­ram suas servas. O objetivo era que a esposa estéril (ou não amada) tivesse filhos por meio dessa substi­tuição legal. Esse costume tam bém encontra respaldo no Código de *Lipite-Istar e no Código de *Hamurabi, da Mesopotâmia.30 .14 ,15 . m andrágora. M andragora officinarum é uma planta perene, sem caule, da família das batatas, que cresce em solo arenoso, cujo formato assemelha-se a um ser humano. Possui propriedades narcóticas e pur­gativas, que explicam seu uso medicinal. Sua forma e fragrância penetrante provavelmente originaram seu uso em ritos de *fertilidade e como afrodisíaco (ver Cântico dos Cânticos 7 .13 ,14). Ela possui folhas ver- de-escuras ovais, de onde cresce um a flor purpúrea com formato de sino. Seu fruto é uma baga amarela­da, aproxim adam ente do tam anho de um pequeno tom ate, que pode ser consum ido. A m andrágora é nativa da região m editerrânea, e pouco comum na Mesopotâmia.

30.25-43J a c ó c o m o e m p re g a d o d e L a b ã o30.22-25. o pedido de Jacó. Quando um a m ulher era incapaz de gerar filhos, sua situação na fam ília podia tornar-se m uito delicada. U m a m ulher estéril podia ser (e muitas vezes era) descartada, condenada ao ostra­cismo ou colocada numa posição inferior, encontrando

proteção junto aos seus parentes. Agora que a posição de Raquel está estabelecida na fam ília de Jacó, ele se sente livre para pedir perm issão para ir em bora.

30.27. adivinhação de Labão. Um leitor israelita teria ficado chocado com a sugestão de Labão de que *Yah- w eh lhe concedeu informações através de *adivinha- ção. Não se sabe que tipo de adivinhação Labão usou, mas essa prática foi m ais tarde proibida pela lei. A adivinhação se baseava na premissa de que era possí­vel obter conhecimento das atividades e motivações dos deuses, através do uso de vários indicadores (por exemplo, as entranhas de animais sacrificados). Fun­cionava dentro de uma cosmovisão contrária àquela ensinada pela Bíblia. Não obstante, Deus ocasional­m ente escolhe usar alguns desses m étodos, como a estrela de Belém atesta.30.32, 33. raça de ovelhas. A s ovelhas m anchadas (salpicadas ou pintadas) escolhidas por Jacó geralmente representavam um a pequena porção do rebanho. Pa­rece que Jacó está fazendo um acerto sobre uma parte que seria muito menor que a usual, de acordo com os contratos da época, que designavam até 20% das crias das ovelhas para o pastor (estudos m ostram que, atu­almente, entre os beduínos o percentual comum é de 10%). Subprodutos (lã, derivados do leite) não são m encionados aqui, m as geralm ente um a porcenta­gem desses produtos também fazia parte da comissão do pastor.30.37-43. uso de galhos. A resposta de Jacó à desleal­dade de Labão contém elementos de procriação cien­tífica e tradição folclórica. Obviam ente, os pastores tinham conhecimento do período de cio das ovelhas (que vai de junho a setem bro) e a observação teria

demonstrado que cruzar anim ais saudáveis produ­ziria cordeiros resistentes. O que não é científico, no entanto, é o princípio de que certas características (co­loração, por exemplo) possam ser determinadas por meio de auxílios visuais. Os galhos listrados colocados por Jacó diante dos bebedouros das ovelhas não pode­riam afetar geneticamente a prole. Esse tipo de sim­patia é encontrado em m uitas tradições populares (in­clusive mitos modernos sobre mães que usam deter­m inadas cores para determinar o sexo do bebê). Esse ardil tem um papel importante no aspecto trapaceiro dessa narrativa e reflete uma cultura que depende da m istura de métodos mágicos e de senso comum para conseguir resultados.

31.1-21 A fuga de Jacó31.1. a queixa dos filh os de Labão. O sucesso de Jacó nos negócios com Labão naturalm ente im plicou na redução das posses de Labão e, portanto, na diminui­

ção da herança que seus filhos esperavam receber. Assim, não é surpresa que eles alimentassem rancor contra o cunhado.31.13. D eus de Betei. Ao identificar-se como o Deus de Betei, o Senhor traz à m emória de Jacó o voto que fizera em 28.20-22. Embora seja verdade que para os cananeus cada lugar sagrado possuía sua própria di­vindade, não há indícios no texto de que Jacó conside­rava o D eus de Betei distinto de *Yahw eh, e certa­

mente o autor do Pentateuco considera-os como um só Deus (compare v. 3 e 13).31.14-16. a qu eixa de R aq u el e Lia. R aquel e Lia expressam o desejo de ir embora com Jacó pela forma como foram tratadas por Labão em suas negociações financeiras. Alguns sugerem que elas poderiam estar

se referindo aos bens que geralm ente eram reserva­dos para proteção da mulher, caso o marido morresse ou se divorciasse dela. Esses bens seriam parte do dote da noiva, que nesse caso, havia sido pago por Jacó com seu trabalho e não através de bens materiais. Se Labão não tivesse separado o valor dos catorze anos de trabalho de Jacó, não haveria nada reservado para a provisão das mulheres. Como resultado, elas não desfrutariam de nenhuma proteção adicional, em termos financeiros, se ficassem junto de sua família. Elas colocam-se como estrangeiras pela forma como foram tratadas, porque Labão havia enriquecido com o trabalho de Jacó, mas não tinha transferido o lucro a elas, portanto, era como se ele as tivesse vendido.31.18. Padã-Arã. Padã-Arã parece referir-se à região norte da Mesopotâmia e nordeste da Síria (ver comen­tário sobre 28.2). O acréscimo de *Arã sugere ligações com os arameus (ver comentário sobre 28.5).31.19. 20. tosqu iar as ovelhas. A tosquia das ovelhas domésticas para a extração da lã ocorre na primavera, poucas sem anas antes do nascim ento dos cordeiros. Essa prática permite o crescim ento do pêlo durante o verão, a fim de proteger os animais contra temperaturas extrem as. Os pastores levavam seus rebanhos a um lugar central onde a lã era processada, tingida e trans­formada em fio para a confecção de roupas. Escavações arqueológicas em Tim na (38.12) descobriram grande quantidade de teares, um indício de que ali funciona­va um centro de tosquia e produção de lã. Como esse processo envolvia uma viagem, eram feitas provisões a fim de proteger os aldeões que ficavam. Havia tam ­bém um a celebração associada ao evento, assim que o árduo trabalho de tosquia term inava.31.19. íd olos do clã. Os terafins ou "ídolos do clã" estavam associados à sorte e à prosperidade da famí­lia. Supõe-se que, assim como os lares e penates da tradição rom ana, essas pequenas im agens guarda­vam a soleira da porta e o lar. Eram passados de

geração em geração, como parte da herança. O fato de Raquel ter conseguido escondê-los debaixo de sua sela dá idéia de seu tam anho reduzido, em bora al­guns fossem m aiores (ver 1 Sm 19.13). Foram encon­tradas muitas dessas estatuetas na Mesopotâmia e na Sírio-Palestina. Elas faziam parte da religião popular do local e não estavam associadas aos templos ou *cul- tos nacionais das divindades m ais importantes. Um estudo recente sugeriu que seriam estatuetas dos an­

cestrais, mas outros acreditam que estejam relaciona­dos, de modo geral, à divindade protetora da família. O desejo frenético de Labão em conseguir de volta essas imagens perm ite avaliai* a im portância que ti­nham para sua família, em contraste com a disposição de Jacó em entregá-las, antes de partir para Canaã.31.21. m ontes de G ileade. Ao partir da região de Harã, Jacó seguiu em direção ao sud oeste, através do rio Eufrates, até a região da Transjordânia conhecida como Gileade. Essa área com preende grande parte do pla­nalto jordaniano, entre o rio Iarm uque, perto do mar da G aliléia e da extrem idade norte do m ar Morto.

31.22-55O acerto entre Jacó e Labão31.27. instru m entos m usicais. Tam borins e harpas eram os instrumentos musicais comuns associados à celebração dentro da cultura aldeã. Eram usados para destacar eventos importantes, como vitórias militares (Êx 15.20), danças religiosas e celebrações (1 Sm 10.5) e, no caso, festas de despedida.31.35. a desculpa de R aquel. A desculpa de Raquel de que estava em seu período menstrual era suficien­te para afastar Labão, porque no mundo antigo uma mulher menstruada era considerada um perigo, visto que havia a crença generalizada que o sangue mens­trual era o habitat de demônios.31.38-42. responsabilidades do pastor. Foram desco­bertos docum entos em escavações na M esopotâm ia que explicam em detalhes quais eram as responsabi­lidades e qual o salário dos pastores. Neles são descri­tas atividades m uito parecidas com as dessa passa­gem: levar os animais a áreas adequadas de pasto e a fontes de água, cuidar do nascimento dos cordeiros, tratar dos animais enfermos ou machucados, proteger o rebanho dos predadores selvagens e recuperar ani­mais perdidos. Estava implícito que perdas devido à negligência ou incapacidade de proteger o rebanho seriam descontadas do salário do pastor. Além disso, somente animais que tivessem sido m ortos ou m or­ressem de causas naturais poderiam ser comidos pe­los pastores.31.42. divindade ancestral. O uso que Jacó fez dos term os "D eu s de m eu pai, o D eus de A braão e o

Temor de Isaque" garantia um sentido de parentesco, baseado na adoração de um a divindade ancestral pra­ticada por esses povos tribais (ver 28.12; Êx 3.6; 4.5). A expressão "Tem or de Isaque" aparece apenas em Gênesis e talvez represente um cognom e (apelido) para o Deus da família, bem como uma ameaça im plí­cita contra qualquer violência que partisse de Labão (ver 31.29). A referência a protetores divinos, "A ssur, o deus de seus pais", também é encontrada em textos da antiga *Assíria (início do segundo m ilênio a.C.). 31.45-53. coluna de pedra como testem unha. O uso de uma coluna de pedras como marco de divisa, ou m em orial de um evento, ou ainda, para servir de testemunha a um a *aliança, aparece em diversos con­

textos na Bíblia (ver 28.18; 35.20; Js 24.27). N a religião cananéia, a massebah (poste ou coluna sagrada) era erigida e considerada guardiã ou habitação de um deus (ver Dt 16.21, 22; 1 Rs 14.23). O fato de serem erigidas duas colunas aqui, cada um a recebendo um nom e diferente, sugere um *ritual de invocação em que o deus (ou deuses) de cada um a das partes envol­vidas é cham ado para testem unhar a cerim ônia do acordo e fazer cum prir suas condições. As colunas gêmeas, Jaquim e Boaz, colocadas na frente do templo de Salomão, em Jerusalém (1 Rs 7.15-22), podem ser um possível paralelo.31.48-53. características do acordo. Assim como ou­tros documentos de tratados no antigo Oriente Próxi­

m o (tais com o os tratados *assírios dos súditos de Esaradon, no século sete a.C. e o tratado entre RamsésII e Hattusilis III, do século treze a.C.), os deuses de cada um a das partes são invocados como testem u­nhas, uma série de condições precisas são detalhadas e um sacrifício e um a refeição *ritual selam o acordo. Em bora a única cláusula explícita aqui seja a de que Jacó não tomaria outras mulheres, parece que a posi­ção das colunas também serviria como um acordo de fronteiras e delimitação do território. A restrição de não tomar outra esposa encontra um paralelo nas lâ­m inas legais de *Nuzi (século 15 a.C.). A condição tem como objetivo proteger os direitos e a posição da atual esposa/esposas, especialm ente nesse contexto, onde a família da(s) esposa(s) não estava perto para assegurar um tratamento justo e imparcial.31.54. refeição sacrificial. Aparentemente era o pro­cedim ento padrão usar uma refeição para selar um acordo (ver 14.18; 26.30; Êx 24.5-11). Assim como a comida fazia parte do *ritual de hospitalidade (18.2­5), aqui ela funcionava como um m eio de atrair as duas partes num a relação familiar e amigável. A in­clusão de um elemento sacrificial garantia a partici­pação dos deuses e aum entava o caráter solene da ocasião.

3 2 .1 -2 1O retorno de Jacó a Canaã32.1. encontro com anjos. Assim como Jacó passou por um a experiência angelical de *teofania, ao partir da terra prom etida (28.12), ele também teve um en­contro com anjos na viagem de volta. Essa forma de narrativa é um recurso literário em que os m esm os eventos ocorrem no início e no final de um trecho literário e é visto como sinal da aprovação divina para o acordo recém-concluído e o restabelecimento do con­tato direto com o herdeiro da *aliança.32.2. dando nom e a lugares. Colocar nomes a lugares onde ocorreram eventos específicos, especialm ente *teofanias, é bastante comum nas narrativas antigas (ver 16.14; 21.31; 26.20, 33; 28.19). Era também uma form a de garantir a presença da divindade naquele lugar. Por exemplo, Betei, o local onde Abraão cons­truiu um altar e Jacó passou por um a experiência de teofania, mais tarde tom ou-se um importante centro religioso. M aanaim , o nom e do lugar citado nesse versículo, significa "dois exércitos", m as a referência é desconhecida. Em bora não tenha sido localizada, esta cidade era bastante importante no território tribal de Gade (ver Js 13.26; 21.38; 2 Sm 2.8, 9).32.3. Seir. A terra de Seir geralm ente é identificada como a região m ontanhosa central de Edom (eleva­ções com mais de 1500 metros de altura) situada entre W adi Al-Ghuwayr, no norte e Ras en-Naqb, no sul.32.3-5. a m ensagem de Jacó. A m ensagem de Jacó a Esaú tinha vários objetivos: Jacó queria mostrar que não estava entrando na terra sorrateiram ente ou se escondendo de Esaú e o m ais importante, que ele não estava voltando para reivindicar seus direitos de he­rança. Ao mencionar sua prosperidade e suas rique­zas, Jacó insinuou que não havia voltado por estar falido ou para buscar aquilo a que tinha direito.32.13-21. presentes para Esaú. A generosidade ex­pressa nos presentes de Jacó a Esaú pode ser melhor entendida se comparada ao valor dos impostos pagos por uma nação a outra. Assim, por exemplo, no século nono a.C., a cidade de H indanu pagou ao rei *assírio Tikulti-Ninurta II certa quantia em prata, pão, bebida ferm entada, trinta cam elos, cinqüenta bois e trinta jum entos. O presente de Jacó seria suficiente para perm itir que Esaú iniciasse seu próprio negócio no ramo de pastoreio ou seria usado para pagar os mer­cenários contratados por ele, que esperavam tom ar parte nos despojos.32.13-21. a estratégia de Jacó. Os presentes a Esaú demonstram claram ente a astúcia de Jacó. Além de ser uma tentativa de ganhar o favor de Esaú através de tam anha generosidade, a chegada daquela gran­de quantidade de rebanhos iria desm antelar qual­quer esquema de emboscada e baixar o nível de pron­

tidão m ilitar que Esaú estivesse planejando em seu encontro com Jacó. Som ando-se a isso, deslocar-se com tal quantidade de animais diminuiria o ritmo de Esaú e tornaria sua com itiva bem m ais barulhenta. Por fim, o plano acrescentava servos de Jacó à comitiva de Esaú, o que representava uma vantagem no caso de haver luta.32.22. lugar de passagem do Jaboque. Lugares de passagem (vaus) em rios funcionam como portões. Ambos são passagens que perm item a entrada e saí­da de um território. Ambos têm valor estratégico para os exércitos (ver Jz 3.28; 12.5; Jr 51.32). Por essa razão, estão associados a poderes tanto físicos como sobrena­turais. Logo, não é difícil im aginar que haja um a ligação entre a entrada de Jacó na terra prometida e sua luta com um ser sobrenatural à beira das águas, na passagem do ribeiro de Jaboque.32.24-26. lutando para ser abençoado. Um texto *ritu- al *hitita descreve um a luta entre a deusa Khebat e o rei, na qual a deusa é detida e surge a discussão sobre quem prevalecerá, culminando no pedido que o rei dirige à deusa, a fim de receber um a bênção.32.24. até o amanhecer. A referência ao tempo indica a duração da luta entre Jacó e o ser divino e serve também como um indicador da falta de percepção de Jacó durante a luta. O am anhecer ou "o cantar do galo" geralmente são vistos no folclore como o m o­mento em que as criaturas das trevas perdem o poder de atingir os seres humanos, embora esse não seja um traço fam iliar na literatura do antigo Oriente Próxi­mo. No caso, a questão não é de poder, mas de supre­m acia (como indicado pelo nome) e discernim ento (ver v. 29).32.28-30. m udança de nome. Existe, é claro, um as­pecto etimológico (relacionado à origem) na m udança de nomes (por exemplo, Abrão passou a ser chamado Abraão, em 17.5, o que ratifica a promessa da *aliança de que ele seria o pai de muitas nações). Quando o anjo perguntou a Jacó o seu nome, isso fez surgir uma oportunidade de destacar a m udança do mesmo para Israe l. Logo, a m ud ança serviu para um objetivo etimológico (registrando esse evento como um m e­m orial em Peniel), mas também marcou a mudança de Jacó para Israel, ou seja, a transformação de um proscrito e usurpador em um herdeiro da aliança e líder escolhido do povo de Deus. A m udança de nome também era um a forma de exercer autoridade sobre um a pessoa. Quando um suserano colocava um vassalo no trono, costumava dar-lhe um novo nome, demons­trando assim seu domínio sobre ele.32.31, 32. com entário etim ológico. U m com entário etimológico fornece a origem de um nome, suas carac­terísticas ou uso. Comentários etimológicos folclóricos geralmente são fantasiosos (explicações sobre como o

camelo adquiriu sua corcova, por exemplo), enquanto que nas tradições nacionais ou étnicas, tendem a se transformar em lendas. Em bora tais relatos fantasiosos ou lendários possam muitas vezes ser fruto da imagi­nação, nem sempre os comentários etimológicos são inventados por uma imaginação fértil, mas podem de fato preservar a história acurada de um a tradição. O nome do lugar onde Jacó/Israel lutou com Deus se origina de sua exclamação de surpresa ao "ver Deus face a face" (um paralelo de seu encontro anterior em Betei, em 28.16-19). A nota final desse episódio forne­ce um a explicação para um a regra alimentar singu­lar, que não aparece em nenhum a outra lei judaica. Mas seja como for, a proibição de comer "o músculo ligado à articulação do quadril" (possivelmente o ner­vo ciático) tem como base a recordação da luta de Jacó/Israel no Jaboque - de certa forma, comparável à instituição da circuncisão (17.9-14) - e serve como marca de confirmação da *aliança.

33.1-20O encontro de Jacó e Esaú33.1-3. curvou-se até o chão sete vezes. No mundo antigo, o ato de curvar-se até o chão era um a forma de dem onstrar respeito a um superior. Para conceder maior honra e demonstrar a subserviência da pessoa que se curvava, esse gesto podia ser repetido sete vezes. Alguns textos egípcios de El Am arna (século 14 a.C.) relatam de alguns súditos curvando-se sete vezes diante do faraó.33.16. Seir. Essa região com preende a área m onta­nhosa que se estende até o sudeste de Arabá, entre o m ar M orto e o golfo de Acaba. Esse território mais tarde foi habitado pelos edomitas (ver 36.20; Jz 5.4). D evido à altitude e ao alto índice anual de chuvas, essa área possui água suficiente, além da água resul­tante do degelo da neve, para manter uma vegetação de m oitas e arbustos. Talvez essa seja a origem do nome Seir, que significa "cabeludo".33.17. Sucote. Uma cidade situada a leste do rio Jordão, perto de sua confluência com o rio Jaboque (Jz 8.5). Diversos arqueólogos a identificaram com Tell Deir 'A lia , com base em relatos egípcios (as esteias de Sisaque) e resquícios culturais que datam da Idade 'Calcolítica e da Segunda Idade do *Ferro. O nome, que significa "barracas", seria adequado como m ora­dia temporária da população m ista dessa região, for­mada de pastores nômades e mineiros (evidências de fundição de minérios foram encontradas em sedimen­tos da Primeira Idade do Ferro).33 .18 ,19 . S iquém . Identificada com Tell Balata, nas m ontanhas centrais, aproxim adam ente 56 quilôm e­tros ao norte de Jerusalém , Siquém é citada em muitas rontes antigas, inclusive nos registros egípcios de Sem-

Usert III (século 19 a.C.) e nas tábuas de *E1 Amarna (século 14 a.C.). Sua ocupação praticamente contínua é comprovada ao longo do segundo e primeiro m ilê­nios, o que dem onstra a im portância dessa cidade posicionada estrategicam ente entre as estradas que atravessavam o norte, partindo do Egito, passando por Berseba e Jerusalém , indo até D am asco. Foi a primeira parada de Abraão em Canaã (ver comentá­rio sobre 12.6). O solo fértil dessa área favorecia a agricultura e proporcionava boas áreas de pastagem.33.19. aquisição de terra. Como no caso de Gênesis 23, essa transação de compra de terra inclui um preço estipulado (cem peças de prata), caracterizando assim um contrato de venda e não o pagamento de um a taxa para uso da propriedade. Pelo fato de estar fixando residência nos limites territoriais da cidade, Jacó tinha de adquirir a propriedade em que iria se estabelecer. A quantia que pagou é incerta, porque o valor da unidade monetária mencionada é desconhecido. Como em Gênesis 23, a terra também é usada para sepulta- mento (ver Js 24.32).33.20. significado do altar. U m altar serve com o um a plataforma de sacrifício. Sua construção também pode marcar a introdução do culto a um determinado deus, num a nova terra. A construção de altares para a ado­ração a *Yahw eh na terra prom etida (12.7, 8; 13.18; 26.25) representa um a ligação entre as gerações de líderes da *aliança. O nom e dado ao altar de Jacó/Is­ra e l, " E l E lo h e Is ra e l" é u m re co n h ec im en to da m udança de seu próprio nom e e a aceitação de seu papel com o herdeiro da aliança prom etida em Betei (28.13-15). Para outro exem plo de nom e de altar, ver Êxodo 17.15.

34.1-31Diná e Siquém34.2. heveus. A partir do surgimento dos heveus em diversas narrativas, aparentem ente eles habitavam um a área da região m ontanhosa central de Canaã, estendendo-se desde Gibeom, perto de Jerusalém (Js9.1-7), passando por Siquém e indo até o norte, no monte Herm om (Js 11.3; Jz 3.3). A origem dos heveus é incerta (seriam descendentes de Cam, conforme Gn10.17), m as é possível que estivessem relacionados tanto aos povos *hurrianos como aos *hititas estabele­cidos em Canaã durante o período que vai desde meados do segundo milênio, até o início do primeiro m ilênio a.C..34.2. violência contra m ulheres. O estupro como meio para se obter um contrato de casam ento parece ser uma tática comum no antigo O riente Próximo. As leis que regulavam essa prática são encontradas em Êxodo22 .16 ,17 , Deuteronômio 22.28, 29, e também nas leis *m edo-assírias e *hititas. De m odo geral, essas leis

exigiam que o estuprador pagasse um preço especial­m ente elevado pela noiva e, às vezes, proibiam a possibilidade de divórcio. A Lei *Sum éria 7, assim como Gênesis 34, relata o caso de uma jovem solteira que deixou a casa de seus pais, sem permissão, e foi estuprada. Como resultado, os pais decidiram que ela deveria se casar com o estuprador, mesmo sem o con­sentimento dela.34.7. conceito universal da lei. A literatura do antigo Oriente Próximo contém coleções de leis dessa época e de épocas anteriores que deixam claro que as proibi­ções relacionadas ao comportam ento sexual ilícito e violento não eram uma inovação introduzida pela lei dada no m onte Sinai. Os códigos de conduta que norteavam a vida das pessoas dessa época revelam grande semelhança com as leis recebidas no Sinai e demonstram um senso universal de moralidade e ju s­tiça. As leis e regulamentos menos formais freqüente­mente procuravam proteger a honra e a integridade da fam ília, a dignidade do indivíduo e a segurança da sociedade.34 .11 ,12 . dote e presente. O pagamento do dote e a oferta de um presente pela fam ília do noivo freqüen­temente dependiam do desejo de que o casamento se concretizasse. Podia-se esperar um valor m ais alto caso a fam ília da noiva fosse socialmente superior à do noivo ou se existissem outros fatores (como por exem­plo, a beleza da noiva) que elevassem seu preço. Nos textos de *Nuzi, um dote normal variava entre trinta e quarenta siclos de prata.34.13-17. circuncisão. N a época em que foi estabelecida a *circuncisão (Gn 17), tanto homens como meninos foram submetidos a esse procedimento, como um si­nal de que eram m em bros daquela comunidade. A circuncisão era amplamente praticada no antigo Ori­ente Próximo como um rito de purificação, fertilidade ou casam ento, m as não por todos os povos. Os ho­mens de Siquém concordaram em submeter-se a esse costume a fim de se tornarem aceitáveis como possí­veis maridos para as filhas de Jacó. A circuncisão quando realizada em adultos é bastante dolorosa e teria prati­camente debilitado toda a população de homens, du­rante vários dias.34.20. porta da cidade. A porta da cidade era um local de assembléia, tanto para transações comerciais como para questões relacionadas à lei. Também era usada nas reuniões públicas onde era necessária a presença de todos os moradores da cidade. As cidades da Anti­güidade eram pequenas, comparadas às metrópoles de nossos dias; as casas eram próximas um as das ou­tras e as ruas, estreitas. As únicas áreas m ais abertas e am plas eram o mercado (presente apenas em algu­mas cidades) e a região da porta, sendo que a primei­

ra não era um local adequado para assuntos relaciona­dos a negócios públicos.34.25-29. saquearam a cidade. A negociação entre as partes havia considerado uma recompensa adequada (preço da noiva) a Diná, devido ao fato de ela ter sido tomada à força. M as como fica evidente na narrativa, a compensação que os irm ãos de Diná consideraram

adequada foi o confisco da vida e dos bens de todos os homens da cidade. Situação semelhante ocorreu com os gregos na Ilíada, quando cercaram Trôade a fim de resgatar Helena.

35.1-15O retorno de Jacó a Betei35.1. construindo um altar. Quando Abraão construiu altares durante suas viagens (12.6-8), não tinha como objetivo oferecer sacrifícios, m as sim invocar o nome do Senhor. Também parece ser esse o caso de Jacó, visto que não há nenhum a referência a ofertas de sacrifícios sobre o altar. Alguns estudiosos sugerem que os altares serviriam para marcar o território da divindade. De qualquer form a, eram m em oriais ao nome do Senhor.35.2-5. livrando-se dos deuses estrangeiros. O apelo para livrarem-se dos deuses estrangeiros é um apelo para se com prom eterem exclusivam ente com *Yah- w eh. Isso não quer dizer que eles entendessem ou aceitassem o conceito filosófico de monoteísmo, mas que aceitavam *Yahweh como a divindade protetora de sua família. A crença num deus pessoal, capaz de garantir proteção e provisão às famílias, era comum na M esopotâm ia do início do segundo milênio. Essa divindade "fam iliar" não substituía os grandes deu­ses cósm icos, m as para o indivíduo era o principal objeto de adoração e devoção religiosa.35.2. purificação. A purificação geralmente era acom­panhada de procedimentos *rituais, mas nesse caso, também poderia ser um a reação ao derramamento de sangue do capítulo 34. Em geral, incluía banho e troca de roupas. A preparação para a adoração e para os *rituais tam bém incluía abrir mão de qualquer sinal de lealdade a outros deuses. Todos esses fatos ocorre­ram em Siquém, 32 quilômetros ao norte de Betei. A adoração é representada como uma peregrinação, como indica a expressão do versículo 1. A relação entre os brincos usados nas orelhas e a adoração a outros deu­ses não está clara. Em bora o uso de brincos para ador­nar os deuses seja comprovado (Êx 32.2; Jz 8.24), as­sim com o o fato de geralm ente fazerem parte dos despojos de cidades saqueadas, nenhuma dessas pas­sagens parece explicar essa ocorrência. Um a possibili­dade é que talvez os brincos fossem algum tipo de *amuleto, podendo até m esm o estam par a im agem

de um a divindade, em bora não haja evidências de que os brincos tenham servido a esse propósito. Não obstante, existe um brinco com um a inscrição dedicada a uma deusa, datado do terceiro período de *Ur (cerca de 2000 a.C.).35.4. enterrou-os ao pé da grande árvore. Os objetos foram enterrados debaixo de uma árvore especial em Siquém , que possivelm ente tam bém é descrita em12.6, Josué 24.23-27 e Juizes 9.6, 37. As árvores sagra­das desem penhavam um papel im portante na reli­gião popular daqueles dias, que considerava pedras e árvores como lugares prováveis para habitação divi­na. N a religião cananéia acreditava-se que as árvores eram símbolos de ^fertilidade (ver Dt 12.2; Jr 3.9; Os 4.13), embora os resquícios arqueológicos ou literários da cultura cananéia sejam insuficientes para esclare­cer o papel das árvores sagradas.35.14. ungiu a coluna. Assim como Jacó erguera uma pedra e a ungira, em 28.18, também aqui outra colu­na é erigida e uma libação (oferta líquida) é derrama­da sobre ela para celebrar a *teofania (manifestação de Deus). Não era incom um encontrar diversas colu­nas erigidas num a mesma área.

35.16-29 A morte de Raquel e Isaque35.16-18. parteiras. As parteiras, que geralmente eram mulheres m ais velhas, ensinavam as mulheres mais jovens sobre a atividade sexual e as auxiliavam du­rante o parto. Tam bém faziam parte do *ritu al de escolha dos nom es e é provável que ensinassem as jovens m ães a amamentar e cuidar dos filhos.35.16-18. m orte no parto. A m orte durante o parto não era uma ocorrência incom um no mundo antigo. A literatura sobre feitiçaria da *Babilônia contém uma série de feitiços proferidos para proteger a m ãe e a criança d u ran te o p arto , p a rticu larm en te contra Lamastu, o demônio que, acreditava-se, atacava m u­lheres e crianças.35.18. escolha do nom e. A ntes de m orrer, Raquel deu um nome a seu filho, que refletia seu sofrimento. Era costume na época que as circunstâncias relaciona­das ao nascim ento servissem como sugestão para o nome. Nesse caso, Jacó mudou o nome da criança, o que era um direito do pai. Benjamim pode significar filho da direita (mão), com o sentido de lugar de pro­teção, ou filho do sul (uma vez que os israelitas se orientavam a partir do leste, o sul ficava à sua direita).35.19, 20. a sepultura de Raquel. A morte de Raquel após o parto aconteceu a caminho de Efrata, cerca de 20 quilôm etros ao norte de Belém , na fronteira dos territórios que mais tarde fariam parte das tribos de Judá e Benjamim (ver 1 Sm 10.2). Outro exemplo de

erigir uma coluna em m emória de um morto pode ser encontrado em 2 Sam uel 18.18. A últim a m enção à sepultura de Raquel, em Jerem ias 31, sugere que era um lugar de peregrinação bastante conhecido até o final do período monárquico. Tradições m ais recentes demonstram certa confusão entre um lugar identifica­do como a sepultura de Raquel em Belém e outro ao norte de Jerusalém.35.21. M igdal-Éder. O nome desse lugar significa "tor­re do rebanho", um alojam ento usado por pastores para proteger seus animais contra predadores. Basea­do no itinerário de Jacó, que viajou para o sul após ter enterrado Raquel, Migdal-Éder ficaria perto de Jeru­salém. Essa identificação pode ser reforçada pelo rela­to encontrado em Miquéias 4.8. Tradições posteriores, porém, a posicionam perto de Belém.35.21,22 . filho com a concubina do pai. *Concubinas eram m ulheres sem dote cujas responsabilidades in­cluíam dar filhos à fam ília. Gerar filhos era um a fun­ção im portante no m undo antigo, onde a sobrevivên­cia da fam ília e m uitas vezes, de todos era no m ínimo precária. Como a concubina era tam bém uma parceira sexual, usar a concubina do pai era considerado não

apenas um ato incestuoso, m as também uma tentativa de usurpar a autoridade do patriarca da família.

36.1-30 A linhagem de Esaú36.1-43. os descendentes de Esaú. A genealogia de Esaú é apresentada em etapas, começando com suas três prim eiras mulheres (duas delas *hititas e a outra filha de Ism ael). C ontinuando a lista, doze nom es tribais são identificados (v. 9-14, exceto Am aleque, que é filho de um a *concubina), que coincidem com as listas genealógicas de Naor (22.20-24), Ismael (25.13­16) e Israel. Um terceiro ramo de descendentes (v. 15­19) aparentemente menciona nomes de clãs, com al­gumas repetições da lista anterior. O últim o grupo contém o nom e de oito reis que governaram em Edom, antes do estabelecimento da monarquia em Israel (v. 31-39). D entre os nom es que m ais se destacam em toda a genealogia estão Temã, identificado com a re­gião sul de Edom, e Uz, que tem o mesmo nome da terra de Jó.36.12. origem dos am alequitas. Os am alequitas va­garam por extensas regiões de terra no Neguebe, na Transjordârtia e na península do Sinai. Sua existência não é comprovada fora da Bíblia, e nenhuma desco­berta arqueológica pode ser ligada a eles de forma positiva. No entanto, pesquisas arqueológicas da re­gião descobriram amplas evidências da presença de grupos nômades e seminômades, como os amaquelitas, durante esse período.

36.15-30. chefes. A inclusão de vários chefes de dife­rentes regiões faz essa lista parecer m uito mais uma relação de reis do que um a genealogia, na medida em que esses grupos beduínos possuíam um a forma de governo representada por chefes. A lista de reis da *Sum éria, de m odo semelhante, apresenta uma bre­ve linhagem de reis associados a diversas regiões geográficas.36.24. fontes de águas quentes. Para distinguir pesso­as com o m esm o nome em uma genealogia, era co­mum apresentar um breve comentário sobre seus fei­tos (ver Lam eque em 4.19-24; 5.25-31). Aqui, Aná é diferenciado de seu primo com a informação adicional de que descobriu as "fontes de águas quentes", um fenômeno natural que poderia ter beneficiado o clã. A tradução aqui se baseia unicam ente na Vulgata. A tradução judaica traduz a expressão como "m ulas" e dá a Aná o crédito de ter aprendido a cruzar cavalos com jumentos.

37.1-11 Os sonhos de José37.3. a tú n ica de Jo sé . A túnica esp ecial que José ganhou de seu pai significava uma posição de autori­dade e predileção. Talvez fosse uma túnica colorida, m as tam bém poderia se d istinguir de outras pelo m aterial de que era feita, ou pelo tipo de tecido ou comprimento (tanto da barra como das mangas). Visto que a palavra hebraica usada para descrevê-la apare­

ce somente aqui, é difícil afirmar com segurança que tipo de túnica era essa. Pinturas egípcias desse perío­do ilustram cananeus bem vestidos, usando roupas bordadas de m anga comprida, com um a estola de­bruada colocada na diagonal, da cintura até o joelho.37.5-11. im portância dos sonhos. No m undo antigo, acreditava-se que os sonhos transmitiam mensagens divinas e, como tais, eram levados a sério. Considera­va-se que alguns sonhos, concedidos a reis e profetas, fossem um m eio de revelação divina. D e m aneira geral, os sonhos, até mesmo de pessoas comuns, eram considerados presságios que comunicavam mensagens sobre as atividades dos deuses. Sonhos que continham revelações geralmente eram identificados pela divin­dade e a incluíam ; já os sonhos de presságio, geral­m ente não faziam nenhuma referência à divindade. Como eram repletos de simbolismos, geralm ente os sonhos precisavam ser interpretados, em bora algu­mas vezes, os símbolos explicavam -se por si só. As informações recebidas em sonhos podiam ser altera­das. Sonhos como esse que José teve, revelando sua ascensão ao poder, eram comuns no antigo Oriente P róxim o, especialm ente um sonho que se refere a Sargon, rei de Akkad, quinhentos anos antes de José.

37.12-36 José vendido como escravo37 .12 ,13. apascentando rebanhos. A vegetação viço­sa, resultado das chuvas de inverno, teria permitido aos pastores ficar em áreas de pastagens perto de suas aldeias e acam pam entos. A ssim que o período de chuvas terminasse, os rebanhos seriam levados para pastar nos campos ceifados e depois para as regiões montanhosas, onde a vegetação subsistia durante os meses de verão.37.17. D otã. Localizada em Tell Dotã, era um impo­nente lugar cobrindo uma área de 25 acres. Situava-se aproximadamente 22 quilômetros ao norte de Siquém, na estrada principal usada pelos mercadores e pasto­res que seguiam em direção ao norte, até o vale de Jezreel. Tom ou-se uma das principais cidades duran­te a Idade do Bronze * Antiga (3200-2400 a. C.) e funci­onava como um ponto de referência natural para os viajantes. A área ao redor da cidade fornecia abun­dantes pastagens, o que explica a presença dos irmãos de José.37.19-24. poços. Poços (ou cisternas, nas versões mais antigas) eram escavados no leito de pedra calcária ou cavados e depois revestidos de cal para armazenar água das chuvas. Forneciam provisão de água para as pessoas e os animais durante grande parte dos meses de seca. Quando vazios, às vezes eram usados como celas temporárias para prisioneiros (ver Jr 38.6).37.25-28. com ércio de escravos. O comércio de escra­vos existiu desde os prim órdios, no antigo Oriente Próximo. Os escravos geralm ente eram prisioneiros de guerra ou pessoas apanhadas em invasões. Os comerciantes muitas vezes aceitavam escravos como pagamento, que depois eram transportados para ou­tras áreas e vendidos. Essas pessoas raramente obti­nham sua liberdade.37.25. comércio de especiarias e rotas de caravanas.As caravanas traziam incenso do sul da Arábia para Gaza, na costa palestina, e para o Egito, usando diver­sas rotas ao longo da península do Sinai. Provavel­mente foi numa dessas rotas no Sinai que os midianitas encontraram os irm ãos de José e o compraram para revender no Egito, juntam ente com o restante de sua mercadoria.37.25-36. midianita/ismaelita. O uso alternado desses

dois nom es na história provavelm ente reflete um a forte afinidade entre os dois grupos. Alguns sugerem que os ismaelitas eram considerados uma tribo secun­dária dos midianitas. Outros sugerem que os midia­nitas sim plesm ente com praram José dos ismaelitas. No entanto, baseado na mistura dos nomes em Juizes8.24, parece que o escritor bíblico considerava uma relação entre eles ou então mostra a existência de um laço de parentesco.

37.28. vinte peças de prata. As vinte peças de prata pagas por José eram o preço normal de um escravo naquela época, como pode ser confirmado em outros textos co n tem p o rân eo s (por exem p lo , as le is de *Hamurabi). Seria equivalente ao salário de dois anos, aproximadamente.37.34, 35. sinais de luto. Os costumes relacionados ao luto geralm ente incluíam rasgar as vestes, chorar, jogar pó e cinzas na cabeça e vestir pano de saco. O pano de saco era feito de pêlo de bode ou camelo e era rústico e desconfortável, servindo em m uitos casos apenas como cobertura para os quadris. O período oficial de luto era de trinta dias, mas podia estender- se pelo período que a pessoa enlutada escolhesse.

38.1-30 Os filhos de Judá38.1. Adulão. Localizada em Shefelá, Adulão tem sido identificada com Tell esh Sheikh MadKkur, a noroeste de Hebrom (ver 1 Sm 22.1; M q 1.15). Ficava num a al­titude um pouco abaixo de H ebrom (cerca de nove­centos m etros acima do nível do mar) sendo correta a afirmação de que Judá “ desceu" (em algumas versões).38.6-26. obrigação de levirato. Um a solução para o rompimento da herança causado pela morte prema­tura de um hom em , antes que tivesse gerado um herdeiro, era o costum e do casam ento de levirato. Como apresentado em Gênesis 38, o irmão do falecido tinha de engravidar a viúva, a fim de que o nome de seu irmão (e conseqüentemente, sua parte da heran­ça) fosse passado para a criança que nascesse como fruto de sua obrigação. U m estatuto parecido encon­tra-se na lei *hitita 193 e parte dela pode estar repre­sentada em Rute 4. A lei está detalhada em Deutero- nômio 25.5-10, onde o irmão do falecido tem a permis­são de recusar-se a cum prir sua obrigação ao parti­cipar de um a cerim ônia pública em que a viúva o envergonha. Provavelm ente isso era necessário ten­do em vista situações como essa que Judá enfrenta aqui, em que um irmão ganancioso (Onã) se recusa a engravidar Tamar porque sua parte da herança seria diminuída.38.11. viúvas. N um a sociedade onde as guerras e doenças era freqüentes, era comum encontrar viúvas. No antigo Israel lidava-se com esse problem a através do casamento levirato (para assegurar um herdeiro ao marido falecido) e do novo casamento das viúvas jo ­vens, o mais rapidamente possível, após o período de luto. As viúvas costumavam vestir roupas especiais que as identificavam como tais. Visto que não tinham direito à herança do marido, a lei garantia provisões especiais a elas, perm itindo a rebusca nos cam pos colhidos (Rute 2) e impedindo que fossem oprimidas (Dt 14.29; SI 94.1-7). Som ente a filha viúva de um

sacerdote poderia voltar com honra à casa de seu pai (Lv 22.13).38.13. Tim na. A localização exata da cidade nessa narrativa é incerta. É um nome bastante comum na lista de terras distribuídas às tribos e na narrativa épica de Sansão (ver Js 15.10 ,56; Jz 14 .1 ,2 ; 2 Cr 28.18), com vinculações com o território da tribo de Judá, na região m ontanhosa ao sul (possivelm ente Tell el- Batashi, cerca de seis quilômetros a leste de Tel Miqne- Ekron).38.13 .14 . roupas de viúva. As viúvas, assim como as

mulheres casadas, não usavam véu. Elas vestiam uma roupa especial que as destacava como viúvas. Essas roupas lhes garantiam os privilégios reservados pela lei às viúvas, como a rebusca e uma porção do dízimo.38.14, 21. Enaim . As duas referências a esse lugar nessa narrativa indicam provavelm ente tratar-se de um a cidade, talvez a m esm a cham ada de Enam (Js 15.34), cujo nome pode ter se originado das fontes de água locais. Entretanto, sua localização exata é desco­nhecida, em bora se saiba que esteja relacionada ao território de Judá.

38.15-23. prostituição. Na cultura cananéia havia o costume da prostituição *cultual como forma de pro­mover a *fertilidade. As devotas da deusa-mãe *Istar ou * Anate moravam no próprio santuário ou nas pro­xim idades, e se vestiam com um véu, como noivas simbólicas do deus *Baal ou *E1. Os homens podiam visitar o santuário e fazer uso dos serviços das prosti­tutas cultuais antes de semearem seus campos, duran­te períodos importantes como a época da tosquia ou da procriação de rebanhos. Dessa m aneira, eles da­vam honra aos deuses e representavam o casamento divino, num a tentativa de assegurar fertilidade e pros­peridade a seus campos e rebanhos.38.18, 25. selo, cordão e cajado. Um modo caracterís­tico de assinar um documento no antigo Oriente Pró­ximo era através de um selo cilíndrico contendo uma gravura ou inscrição esculpida, e que podia ser rolado num tablete de argila ou pressionado em cera. Foram descobertos pelos arqueólogos vários selos cilíndricos esculpidos em pedras preciosas ou semipreciosas, da­tados de quase todos os períodos após a Idade do Bronze *Antiga. Geralmente, o selo era preso a um cordão de couro e usado ao redor do pescoço de seu proprietário. N a Palestina, é m ais comum encontrar a estampa do selo do que o selo em si. Outra forma de identificação mencionada aqui é o cajado, um recurso de apoio para andar, que também funcionava como meio de incitar os animais e até como arma. Pelo fato de ser um objeto pessoal, provavelmente seria enta­lhado e polido, podendo assim identificar a pessoa a quem pertencia.

38.24. prostituição como crime capital. A prostituição ou m eretrício geralm ente era punida com apedreja­mento até a morte (Dt 22.23, 24). A sentença de morte atribuída a Tamar de ser queimada viva é excepcio­nal. Essa sentença é prescrita em outro contexto so­mente no caso da filha de um sacerdote se envolver em meretrício e em situações de incesto (Lv 20.14).

39.1-23 José na casa de Potifar39.1-20. lenda egípcia dos dois irmãos. A lenda da 19a Dinastia Egípcia (cerca de 1225 a.C.) de Anubis e Bata apresenta muitas semelhanças com a história de José e a m ulher de Potifar. Em ambos os casos, um jovem é seduzido pela m ulher de seu senhor e em seguida falsamente acusado de estupro, ao recusar-se a ceder aos desejos dela. Talvez essa história egípcia tenha se tornado popular (o papiro está escrito num estilo cursivo [hierático] e não com os caracteres mais formais dos *hieróglifos) devido à lenda comum da rivalidade entre irmãos (como Jacó e Esaú), pelo nível elevado de suspense e emprego de técnicas folclóricas (animais que falam, intervenção dos deuses). Mas além do cenário, a história de José não tem quase mais nada em comum com essa lenda egípcia.39.16. conservou o m anto. Além do paralelo interes­sante com o fato dos irmãos de José terem tomado sua túnica, deve-se mencionar aqui que novamente o man­to serviu como sinal de identificação de José. As rou­pas continham indicações de status, posição ou função e, portanto, podiam ser usadas dessa maneira.39.20. prisão em que eram postos os prisioneiros do rei. Um a indicação de que Potifar havia percebido o que ocorrera de fato entre José e sua m ulher pode estar na escolha da prisão. Em vez de ser executado por estupro (como era ordenado, por exemplo, nas leis *m edo-assírias), José foi lançado na prisão real onde ficavam os prisioneiros políticos. É provável que as condições nessa prisão fossem um pouco m ais con­

fortáveis (dentro dos limites de uma prisão), m as o mais importante é que ali José pôde entrar em contato com membros da corte de faraó (Gn 40.1-23).

40.1-23 O copeiro e o padeiro do Faraó40.1-4. a função do copeiro. O copeiro era um mem­bro do alto escalão da corte de um m onarca (ver Ne 1.11). Precisava ser uma pessoa confiável, visto que sua responsabilidade prim ordial era provar toda a comida e bebida de seu senhor, evitando, assim, que fosse envenenado.40 .1 ,2 . ofensas contra o faraó. Ofensas contra o faraó certamente poderiam ser praticadas de muitas manei­ras. É praticamente impossível saber se esses oficiais eram suspeitos de algum envolvimento num a conspi­ração ou simplesmente culpados de desagradar o faraó no cum prim ento de suas obrigações. Pode ser que estivessem sob prisão dom iciliar, aguardando a in­vestigação das acusações contra eles.40.5-18. interpretação de sonhos. A interpretação dos sonhos geralmente era uma tarefa para especialistas que haviam sido instruídos na literatura sobre sonhos disponível na época. Existem mais informações sobre essa prática na Mesopotâmia do que no Egito. Tanto os egípcios como os *babilônios com pilaram o que cham am os de livros dos sonhos, que contêm exem­plos de sonhos acompanhados da chave para sua in­terpretação. Visto que os sonhos muitas vezes depen­diam de simbolismos, o intérprete precisava ter aces­so a esses documentos, conservando assim os dados empíricos concernentes a sonhos passados e suas res­pectivas interpretações. Acreditava-se que os deuses se com unicavam através dos sonhos, m as não que revelassem o significado deles. Se fossem revelar o significado, por que fariam uso de um sonho? Mas José tinha uma posição diferente. Ele não consultou nenhuma literatura "especializada", e sim Deus. Não obstante, sua interpretação se aproxima bastante da-

PRINCIPAIS ROTAS DE COMÉRCIO NO ANTIGO ORIENTE PRÓXIMOO comércio era a principal atividade das civilizações do antigo Oriente Próximo. Existem evidências do comércio de obsidiana desde o norte da Anatólia por todo o Oriente Próximo, que remontam ao ano 5000 a.C.. Embora as viagens por terra fossem demoradas (25 a 30 quilômetros por dia, aproximadamente) e perigosas, o anseio por produtos exóticos e, em alguns casos, funcionais, era tão grande que os mercadores e governantes estavam dispostos a assumir os riscos, a fim de obter os elevados lucros envolvidos (no mínimo 100% de lucro). Por exemplo, documentos comerciais do antigo período assírio (2100-1900 a.C.) e dos arquivos de Mari (1800-1700 a.C.) mencionam caravanas de mercadores que viajavam pela Ásia Menor e norte da Síria, levando de duzentos a trezentos jumentos. Essas caravanas seguiam a rota de comércio que partia da capital assíria, Assur, no rio Tigre em direção ao ocidente para a região de Habur, até as montanhas de Taurus e daí para o centro comercial de Kanis, na região centro-oeste da Ásia Menor. A rota, então, continuava no sentido oeste pela Cilicia, até Antioquia, na Pisídia, seguindo por Filadélfia, Sardes, Pérgamo e Tróia, na costa do mar Jónico. Cada cidade oferecia abrigo e suprimentos, sendo também um mercado disponível para esses comerciantes empreendedores.

As rotas eram ditadas pela topografia das diversas regiões (as áreas pantanosas, infectadas por doenças e os terrenos irregulares ou escarpados eram evitados) e também de acordo com a situação política e comercial. Essas rotas partiam dos principais centros populacionais. Assim, a principal rota de comércio do Egito, conhecida como Grande Estrada do Tronco, começava em Mênfis, no Nilo, cruzava o norte da península do Sinai, seguia mais ao norte pela planície costeira de Canaã,

quela sugerida pela literatura sobre sonhos. Como na literatura m esopotâmica, ele chega a uma indicação de tem po a partir de um núm ero que aparece no sonho. Os símbolos que aparecem nesses sonhos são parecidos com os encontrados nos livros de sonhos. Uma taça cheia, por exemplo, indicava que a pessoa ficaria fam osa e teria descendência. Carregar alimen­tos na cabeça era sinal de sofrimento.40.22. execução. O enforcam ento era uma form a de desonrar o corpo da pessoa executada (ver Js 8.29; 2 Sm 4.12). No processo, a pessoa era suspensa com uma corda pelo pescoço ou em palada num a estaca. A form a com um de execução provavelm ente era por apedrejamento ou decapitação,

41.1-32 José interpreta os sonhos de Faraó41.1-55. id entid ad e do faraó. O nom e do faraó da história de José é desconhecido. Elementos da narrati­va perm item deduzir que se trata do período dos*hicsos (1750-1550 a.C.) ou da Idade *A m am a (século 14 a.C.), quando uma grande quantidade de semitas se estabeleceu no Egito ou são m encionados em fontes egípcias ocupando posições de liderança no governo. O conhecimento atual da história e dos costumes egíp­cios confirma essa últim a como a época mais lógica e viável. Inform ações cronológicas da Bíblia, porém , levam alguns estudiosos a considerar um período an­terior, durante o Reinado M édio da Décim a Segunda D inastia (1963-1786 a.C.). Como não há referências históricas específicas na narrativa, fica impossível fa­zer qualquer associação com um rei em particular. E característico do autor do Livro de Gênesis não m enci­onar nenhum faraó pelo nome. Talvez isso tenha sido intencional, visto que o faraó era considerado um deus pelos egípcios e os israelitas não queriam invocar o seu nome.41.1-7. sonhos duplos. No antigo Oriente Próximo, os sonhos eram geralmente considerados como m ensa­

gens vindas dos deuses. Alguns eram bem simples e diretos (cf. o sonho de Jacó, em Betei, 28.10-22), mas nos casos relacionados ao rei ou ao faraó, muitas vezes ganhavam um a ênfase especial através dos sonhos duplos. Assim, nesse episódio, o faraó teve duas vi­sões avisando-o de uma fom e im inente. Sem elhan­temente, o rei *sumério Gudea, teria tido um sonho duplo, em que fora instruído a construir um templo. Em ambos os casos, os sonhos foram interpretados por m agos ou por um representante divino. De acordo com um texto de Mari, o mesmo sonho, repetido em noites consecutivas, acrescentava peso à m ensagem nele contida. No Épico de Gilgam és e em um poema sobre um sofredor justo, a repetição por três vezes de um sonho confirmava sua confiabilidade.41.8-16. m agos e sábios. No Egito, bem como no reino dos *hititas e na Mesopotâmia, havia associações de magos, cuja função era interpretar sinais e sonhos e preparar remédios para diversos tipos de problemas m édicos, através da m agia. Esses especialistas usa­vam o *exorcismo para afugentar demônios ou deu­ses, e feitiços e maldições para amaldiçoar pessoas ou lugares (ver nos textos egípcios de *maIdição e em Jr19.10-13). M ilhares de textos foram descobertos em todo o antigo Oriente Próximo, contendo feitiços para proteção, bem com o receitas para a confecção de *amuletos contra mau-olhado, bonecos, cumbucas de encantamentos e estatuetas elaboradas com o objetivo de causar a destruição dos inimigos. A feitiçaria meso- potâmica fazia distinção entre a magia negra e a bran­ca, e assim, os praticantes eram divididos em feiticei­ros e m agos ou sábios. No Egito, porém, não havia essa distinção. Embora sua função primordial fosse a cura de doenças, os magos egípcios pareciam adotar um procedim ento m enos tem eroso em relação aos deuses, inclusive fornecendo feitiços para as almas escaparem do castigo no Hades, ou m undo inferior (Livro dos M ortos). No Egito, era bastante incomum que um faraó precisasse de um intérprete para seus

depois seguia em direção ao oriente, pelo vale de Jezreel, em Megido e finalmente para o norte, até Hazor. Dali, a rota seguia em direção ao nordeste para Damasco, passando por Ebla e Alepo, na Síria, e depois chegava à extremidade noroeste do rio Eufrates, que servia como orientação em direção ao sul, até as principais cidades da Mesopotâmia. A outra rota importante, conhecida como Estrada Real, juntava-se às caravanas vindas do norte pela Arábia, atravessava a região da Transjordânia, desde o porto de Eziom-Geber, no norte do mar Vermelho, passando por Edom, Moabe, Amom, fazendo junção com a Estrada do Tronco em Damasco.

Visto que os desertos norte e central da Arábia eram desabitados, as rotas comerciais se desviavam deles pelo norte, viajando acima dos vales dos rios Tigre e Eufrates, sentido em direção oeste até Palmira e Damasco, e então para o sul, ao longo da estrada costeira da Palestina ou pela Estrada Real, na Transjordânia. Caravanas que transportavam especiarias (mirra, resina para incenso) e índigo seguiam pela costa ocidental da Arábia, atravessavam de navio até a Etiópia e mais ao norte, até o Egito, seguindo pelo Nilo. Mais tarde, esses mercadores alcançaram portos de mares profundos (muitos deles usados entre 2500-100 a.C., como Biblos, Tiro, Sidom, Aco, Ugarite, Acaba, Alexandria), garantindo-lhes acesso aos mer­cados e às fontes de recursos naturais (tais como as minas de cobre de Chipre) no Mediterrâneo (Creta, Chipre, ilhas dos mares Egeu e Jónico, costa da Turquia e norte da Africa), bem como ao longo da península da Arábia e no leste da África. O transporte marítimo era dominado por Ugarite (1600-1200 a.C.) e pelos fenícios (1100-600). As frotas percorriam as costas ou navegavam entre as ilhas do Mediterrâneo ou do mar Vermelho, viajando cerca de 60 quilômetros por dia.

sonhos, pois como o faraó era considerado divino, os deuses se com unicavam diretam ente com ele, e os sonhos eram apresentados de forma clara. A palavra hebraica para descrever os especialistas que faraó mandou chamar origina-se de um termo técnico egíp­cio, algumas vezes usado para descrever intérpretes de sonhos. E usado para descrever o famoso funcioná­rio Imhotep, num a inscrição posterior (segundo sécu­lo a.C.) em que é retratado aconselhando o faraó acer­ca de um período de sete anos de fome.41.14. barbear-se. A fim de estar m ais apresentável di­ante do Faraó, José barbeou-se. E provável que o ato de se barbear envolvesse rapar a cabeça (Nm 6.9), bem como fazer a barba (Jr 41.5). Ele teria desse modo, mu­dado sua aparência para ficar m ais parecido com um egípcio. Pinturas em paredes egípcias demonstram que os egípcios costum avam barbear-se completam ente.41.27-32. fom e no Egito. Embora o Egito fosse uma das maiores áreas produtoras de grão no antigo Ori­ente Próxim o, devido à regularidade das enchentes do Nilo, ocasionalmente sofria períodos de escassez. Uma calam idade sem elhante é m encionada nas Vi­sões de N eferti, um docum ento egípcio da época do reinado de Am enem het I (1991-1962 a.C.). Como na narrativa de José, uma visão é interpretada e prevista um a calamidade nacional.

41.33-57O conselho de José e sua ascensão41.33-40. racionam ento de com ida. Em face da fome iminente, José aconselha o faraó a armazenar um quinto da produção de grãos a cada ano de boa colheita, que então seriam distribuídos às pessoas, conform e fosse necessário. A construção de armazéns também é suge­rida nesse sensato conselho (ver Êx 1.11; 1 Rs 9.19).41.35. cidades de arm azenagem . O controle egípcio sobre o rio Nilo e sua previsibilidade fizeram do Egito um celeiro para os povos do antigo Oriente Próximo. As cidades de armazenagem eram a marca registrada de um povo próspero que sabia planejar para o futuro e perceber que a fome também era um a possibilidade a ser considerada. H avia praticam ente um a cidade- armazém no centro de cada região geográfica.41.40. o segundo, depois do faraó. M uitos nobres egípcios podiam reivindicar o direto de ser o segundo no reino, ficando abaixo apenas do faraó. Diversos títulos indicam essa posição, como "G rande Favorito do Senhor das Duas Terras" e "Principal dos Corte­sãos", identificados em inscrições.41.41-45. a posição de José . A descrição da função e os detalhes da cerimônia de posse concedem a José uma posição no governo egípcio comparada à de "G rão- vizir" ou "Supervisor dos Estados Reais", ambas en­contradas em documentos egípcios (ver 1 Rs 16.9; Is

22.15, 19-21, para o uso posterior de tais títu los na burocracia de Israel). Tal posição é detalhada em pin­turas de túmulos egípcios, mostrando toda a seqüên­cia de eventos desde a obtenção do título até a coloca­ção de vestes e anéis no funcionário nomeado pelo faraó. José atua mais ou menos como "Supervisor dos Silos do Alto e Baixo Egito". Era raro um estrangeiro ocupar esse tipo de cargo antes do período dos *hicsos (1750-1550 a.C.), quando um grande número de semitas serv iu no Egito . Em *E1 A m arn a, no re in ad o de Akhenaton, foi encontrada a tum ba do funcionário semita Tutu, nomeado para ser "a mais alta voz em todo o país", um a posição com poderes semelhantes aos de José. Biografias encontradas em tum bas e nos textos da literatura egípcia, como a História de *Sinuhe, nos fornecem amplas informações sobre detalhes da vida dos funcionários do faraó. Não é raro encontrar relatos de funcionários que ocupavam posições inferi­ores e que depois foram promovidos para postos ele­vados de autoridade. N a história de Sinuhe, ele foge da corte e vive no exílio durante m uitos anos, para finalm ente retornar e ser honrado. D iante disso, a descrição da ascensão política e da honra concedida a José pode ser vista como uma característica do contex­to egípcio da época. -41.42. anel-selo. Reis e administradores reais usavam um anel-selo para selar os documentos o fic ia is. E sse anel era distintivo e continha o nome (emblema, no Egito) do rei. Qualquer pessoa que o usasse, estaria agindo em nom e do rei (ver N m 31.50; Ester 3.10; Tobias 1.20; 1 M acabeus 6.15). A corrente de ouro e as vestes de linho fino eram dadas na cerimônia de pos­se, fornecendo ao nomeado os acessórios que demons­travam seu status, posição e função.41.43, 44. José é honrado. A ndar na carruagem real acompanhado de guardas que iam à frente abrindo caminho e proclamando sua posição como "segundo no comando" garantia a José um status extremamente elevado (ver 2 Sm 15.1; Ester 6.7-9). O título de segun­do, abaixo apenas do faraó, ou vice-rei (em *acadiano, terdennu; Is 20.1 tartan) concedia a José extraordinários poderes, exigindo que todos, exceto o faraó, se curvas­sem diante dele. Além disso, visto que José recebera a proteção ou o favor do rei, ninguém tinha permissão de "levantar a mão ou o p é" contra ele ou opor-se às suas ordens (compare com os poderes concedidos, em Esdras 7.21-26).41.45. nom e eg íp cio . A intenção de dar um nome egípcio a José é com pletar o processo de m udança iniciado na cerim ônia de posse. Ao ter a aparência transformada de acordo com o estilo egípcio, era mais provável que José fosse aceito na corte e pelo povo egípcio (ver a lenda egípcia sobre o retom o de *Sinuhe ao Egito, lançando suas roupas de estrangeiro aos

"répteis do deserto"). O costum e de dar um novo nome a um funcionário semita também é encontrado no reinado do faraó M erenptah (1224-1208 a.C.). O significado do nom e egípcio de José é incerto, mas talvez seja "D eus falou e ele viverá" ou "aquele que

conhece".41.45. sacerdote de Om . O casamento arranjado para José ligou-o a uma das mais poderosas famílias sacer­dotais do Egito. D urante o período de 1600 a 1100a .C , os sacerdotes de Ptah, em M ênfis eram os mais influentes. O sacerdote de Om celebrava todas as fes­tas principais e supervisionava os sacerdotes menos importantes que serviam ao deus-sol, Rá, no templo da cidade de Heliópolis (16 quilômetros a nordeste do Cairo).

42.1-38 O primeiro encontro de José com seus irmãos42.6-17. espiões. Assim como mais tarde os israelitas enviaram espiões para fazer o reconhecimento da ter­ra de Canaã, da m esm a form a os irm ãos de José foram

acusados de serem espiões de outra nação. Comerci­antes e mercadores eram geralmente contratados para esse propósito, pelo fato de poderem se locom over sem que fossem notados e sem levantar suspeitas. Assim , era norm al que alguns governos suspeitas­sem de estrangeiros e a acusação de espionagem fosse sempre difícil de refutar.42.25-28. com ércio de prata. O uso de m oeda nas transações com erciais só 'aparece a partir do século sexto a.C.. Assim, metais preciosos, pedras, especiari­as, incenso e outros artigos de luxo eram trocados de acordo com o peso. O valor relativo desses itens tam ­bém dependia de sua escassez. A prata era usada na A ntigüidade como artigo com um para o escam bo. Visto que no Egito não existiam reservas naturais de prata, esse metal era particularmente desejado como padrão nas transações comerciais.

43.1-34 O segundo encontro de José com seus irmãos43.11. produtos da terra. Os presentes enviados por Jacó a José representam o que havia de m ais caro e dispendioso, sendo assim os itens disponíveis que mais agradavam. Apenas o bálsamo, o mel e as amên­doas eram produtos naturais de Canaã. As especiarias e a m irra eram produtos importados, sendo, portanto, presentes preciosos que tinham a intenção de con­quistar o tratamento favorável por parte do represen­tante do faraó.43.16. A dm inistrador da casa. A casa onde morava alguém de tão elevada posição, como José, exigia uma equipe de empregados sob a orientação de um m ordo­

mo-chefe ou administrador. Essa pessoa era responsá­vel pela m anutenção da casa, cuidava dos compro­

m issos financeiros e supervisionava o trabalho dos demais empregados. O fato de José tratar esse homem como seu confidente (ver Gn 44.1, 4) sugere que era um cargo de confiança. Aparentemente, ele também servia de intermediário para os pedidos que porven­tura fossem dirigidos a seu senhor (ver Gn 43.19-23).43.26. curvar-se até o chão. A m aneira com um de dem onstrar subm issão, no antigo Oriente Próxim o, era curvar-se até o chão. A arte egípcia representada nas tumbas está repleta de exemplos de servos e fun­cionários reais prostrando-se diante do faraó. Nas tá­buas de *E1 Am arna (século 14 a.C.), o form ato de cada letra contém um a saudação, acom panhada de um m odelo para honrar ao faraó, curvando-se sete vezes para frente e para trás.

43.32. procedim entos para comer. Os egípcios consi­deravam todos os outros povos bárbaros. Assim, eles não se m isturavam com eles de form a direta, por exemplo, comendo à mesma mesa. A refeição de José também era servida separada tanto dos egípcios como dos filhos de Jacó, devido à sua alta posição.

44.1-34 O plano de José44.5. taça de adivinhações. A taça que José colocou na bagagem de Benjam im é identificada como a que ele usava para fazer *adivinhações. A ssim com o é co­m um nos dias de hoje procurar ler o desenho das folhas de chá no fundo da xícara, os antigos liam

presságios nos líquidos contidos nas taças. Um a das m aneiras de fazer isso era derram ar óleo na água para ver a form a que tom aria (chamada de lecano- mancia). M étodos m ais populares de adivinhação fa­ziam uso de ocorrências do cotidiano, tais como a for­ma das entranhas de animais sacrificados ou o mo­vimento de corpos celestes. A lecanomancia era usada no tempo de José, como pode ser confirmado em di­versos textos de presságios da *Antiga Babilônia, que tratavam das diversas formas possíveis do óleo e suas respectivas interpretações. O utra técnica, a hidro- mancia, extraía suas observações dos reflexos na pró­pria água. Não se conhecem mais detalhes específicos dessas técnicas egípcias de adivinhação, mas nesses períodos iniciais, apenas as pessoas que ocupavam altos cargos tinham acesso aos procedimentos de adi­vinhação.

45.1-28 José revela sua identidade45.8. títu los de José . É mais provável que o uso dotítulo "pai do faraó" [encontrado na edição revista e

atualizada] esteja relacionado ao título egípcio it-ntr, "p ai do deus", usado para referir-se a uma categoria

de fu n cion ários e sacerd o tes que serv iam n a co rte do faraó. "P a i" representa um a relação de conselheiro, talvez equiparada ao papel do sacerdote contratado

por M ica, em Juizes 17.10 ou ao papel de Elias como

conselheiro do rei de Israel, em 2 Reis 6.21.45.10. G ósen. O nome sem ita desse lugar provavel­

mente se refere à região do delta no Baixo Egito, na área de W adi Tumeilat (desde o braço oriental do rio

Nilo até o Grande Lago Amargo). Textos egípcios do período dos *hicsos referem-se à presença de semitas nessa região, sendo também uma área de excelentes

pastagens para os rebanhos. U m outro dado favorá­

vel a essa localização é o uso da expressão "n a região de R am essés" (47.11), usada com o equivalente de

Gósen.45.19. carruagens. As carruagens providenciadas para o transporte da família de José não comparam as car­

ruagens do Egito às carruagens cananéias, m as são

sim plesm ente um gesto de cortesia, a fim de evitar

que as m ulheres e as crianças tivessem de fazer o percurso a pé, um a vez que os povos seminômades

geralmente não possuíam carruagens.45.22. provisões para Benjam im . Como adm inistra­

dor no Egito, um a das funções de José era racionar e

distribuir comida e roupa para o povo (um aspecto com um nos textos do antigo O riente Próxim o da

*Babilônia e de *M ari). E le faz o m esm o com sua

fam ília (uma inversão irônica de papéis, visto que sua

história teve início com ele recebendo uma túnica de seu pai, 37.3). Assim como Jacó destacou José como

seu favorito, agora José demonstra sua predileção para com Benjamim, seu irmão também por parte de mãe,

ao dar-lhe cinco vezes m ais do que dera aos outros irmãos, além de uma grande quantidade de prata.

46.1-34Jacó e sua família viajam ao Egito46.1. sacrifício em Berseba. Apesar de os patriarcas

terem construído muitos altares, há pouca menção às suas ofertas de sacrifícios. A única referência anterior

está relacionada ao acordo entre Jacó e Labão (31.54).

Isaque construiu um altar em Berseba (26.25), mas não há nenhum registro quanto a ter oferecido sacrifí­

cios nesse altar. Jacó aproveitou a viagem em direção ao sul para fazer um a peregrinação ao lugar onde crescera e ao santuário onde seu pai adorava.

46.29. carruagens. As carruagens egípcias desse perí­

odo eram leves, feitas em estrutura de m adeira e

couro, com duas rodas raiadas. As carruagens orna­mentais dos faraós (e sem dúvida, tam bém de seus

funcionários do alto escalão) são representadas muitas vezes na arte do Novo Império.46.34. pastores no Egito. É improvável que os egípci­os desprezassem seus próprios pastores de rebanho. O conselho de José a seu pai é ao mesmo tempo um aviso sobre o modo como os egípcios tratavam os es­trangeiros e uma atitude diplomática, pois evidencia­va a independência deles (eles possuíam seus própri­os rebanhos para seu sustento) e m ostrava que não eram um bando de ambiciosos que queria conseguir posições elevadas; ao contrário, estavam satisfeitos

como pastores.

47.1-12A família de Jacó se estabelece no Egito47.11. região de Ram essés. Aparece aqui uma equiva­lência entre a "região de Ram essés" e a terra de Gó­sen (ver 45.10). Essa parte nordeste do delta era co­nhecida por sua população semita, e foi o centro da atividade dos *hicsos, durante os séculos dezoito a dezesseis a.C .. Tam bém é equiparada à região de Tânis, onde se diz que foram escravos hebreus que construíram as cidades-armazém de Pitom e Ramessés (Êx 1.11). O faraó Ramessés II, que construiu cidades

nessa região, expandindo seus territórios, em m eados do século treze a.C., pode ser um a referência *anacrô-

nica nessa expressão.

47.13-31As estratégias de José na economia e na agri­cultura47 .16 ,17 . escam bo. O escambo ou troca era um a for­ma de comércio desde os primórdios. A troca de pro­priedades, bens ou produtos manufaturados, benefi­ciando ambas as partes envolvidas na transação, era a base da economia antiga, quando ainda não existia moeda. Nesse caso, os rebanhos foram usados como pagamento do trigo vendido por José, durante o perí­

odo de fome.47.20-26. terra como propriedade do faraó. O gover­

no adquiria terras através do confisco por dívidas, não pagamento de impostos e no caso da família não pos­

suir herdeiros. Não tendo mais com que pagar pelo trigo, durante a fome, os egípcios tiveram de vender suas terras ao governo e assim tom aram -se arrendatá­

rios do faraó.47.21-25. escravidão por dívida. A escravidão por dívida era bastante comum em todo o antigo Oriente Próximo. Lavradores que perdiam suas terras vendi­am a si mesmos como escravos temporários para con­seguir o sustento de suas famílias. O período de servi­dão podia durar um dia (Êx 22.26, 27) ou vários anos. Em Israel, o tempo de escravidão pox dívida não po­

dia exceder aos seis anos (Êx 21.2). O caso egípcio que aparece nesse texto, porém, sugere uma servidão per­pétua, com os egípcios permanecendo como arrenda­tários do faraó. O aluguel era pago com um quinto da colheita.47.22. isenção dos sacerdotes. A observação de que os sacerdotes eram sustentados regularmente pelo faraó e, portanto, não tinham de vender suas terras, reflete uma situação privilegiada para a classe sacerdotal, no Egito. O clero muitas vezes acumulava poderes polí­ticos im portantes e fazia uso de seus amplos recursos econôm icos para m anipular esses poderes. M uitos faraós consideravam vantajosa a troca de favores com os sacerdotes. Em contraste, o sistem a israelita não permitia a posse de terra à tribo de Levi.47.24. um quinto ao faraó. A taxa de 20% não era incom um no m undo antigo, em bora o que se sabe sobre impostos no Egito seja pouco para esclarecer o imposto cobrado por José.47.28-31. túm ulo dos ancestrais. Assim que se estabe­lecia a tum ba de um a fam ília, a tradição m andava que cada membro fosse enterrado juntamente com os outros fam iliares. Essa prática ligava as gerações e, mais tarde, serviria para fortalecer o direito da família sobre a terra onde a sepultura estava localizada.

48.1-22Jacó abençoa Efraim e Manassés48.5, 6. Efraim e M anassés como primogênitos. Em­bora Jacó não deserde Rúben e Simeão, ele adota os filhos de José, Efraim e M anassés e dá a eles priorida­de na herança. A prática de adoção e a fórmula aqui apresentada são m uito semelhantes àquelas atestadas no Código de *Hamurabi. U m texto *ugarítico relata também o caso de um avô adotando seu neto. Num certo sentido, essa adoção pode ser vista como um meio de José receber a porção dupla da herança que era devida ao prim ogênito, visto que dois de seus filhos recebem partes da herança de Jacó.48.7. sepultura de Raquel. A s recordações de Jacó sobre as circunstâncias da m orte de sua esposa Raquel revelam que sua sepultura se localizava nas proxim i­dades de Belém e Efrata (cf discussão a esse respeito em 35.19,20).48.12-19. bênção trocada. Nas narrativas patriarcais, o filho m ais novo recebe um tratamento privilegiado em cada geração. Isaque recebeu a herança, em detri­mento de Ismael, e Jacó, em detrimento de Esaú; José foi favorecido em relação a seus irmãos e agora Efraim é favorecido em relação a M anassés. Na maioria das civilizações antigas o primogênito tinha certos privi­légios na divisão da herança e em Israel não era dife­rente. Não obstante, exceções podiam ser feitas por

diversas razões. Sobre comentários acerca de bênçãos proferidas no leito de morte, ver 27.1-4.48.22. terra dos amorreus. Aparentemente a palavra *amorreu está sendo usada como um termo genérico para todos os povos que ocuparam anteriormente a terra de Canaã (ver 15.19-21), especificamente aque­les que habitavam as proximidades de Siquém, onde Jacó adquirira um lote de terra (33.18, 19). Em bora aqui não apareçam detalhes da diversidade étnica daquela região, certamente os amorreus, cuja área de influência pirm ordial foi o norte da M esopotâmia e da Síria, afetaram profundamente os costumes e práticas religiosas de Canaã.

49.1-33Jacó abençoa seus filhos ?

49.1. bênção patriarcal. N o texto bíblico, a bênção patriarcal geralmente está relacionada ao destino dos filhos concernente à produtividade do solo, fertilida­de da família e relacionamento com os familiares. As bênçãos ou maldições proferidas pelo patriarca da fa­m ília eram sem pre levadas a sério e consideradas válidas, embora não fossem apresentadas como men­sagens proféticas vindas de Deus.49.8-12. mão sobre o pescoço. A bênção de Jacó a seu filho Judá reflete a grande importância que mais tar­de seria atribuída à tribo de Judá, na história de Isra­el. U m sinal de seu poder encontra-se na expressão "su a m ão estará sobre o pescoço dos seus inim igos", que significa controle ou domínio sobre os inimigos de Judá. A expressão "aquele a quem ele pertence", no versícu lo 10, de d ifíc il com p reensão, tem sido explicada de forma mais plausível como referência a uma oferta paga em tributo, ou "até que venha aque­le a quem pertence o tributo".49.11. lavará no vinho as suas roupas. Nessa bênção de Judá, a prosperidade futura dessa tribo é simboli­zada na fertilidade abundante. O vinho será tão farto que as pessoas poderão lavar suas roupas nele. Tam­bém é possível que essa seja uma referência às indús­trias de tintura, m as caracterizando a prosperidade econômica futura.49.13. porto para os navios. Como o litoral não possuía portos naturais, o m ar geralmente era considerado ape­nas como fronteira para os israelitas. Som ente nas re­giões costeiras ao norte teria havido alguma tendência para se desenvolver habilidades de navegação.49 .14 ,15 . atitudes dos jumentos. A bênção de Issacar contém a caracterização de um animal forte, que às vezes é teimoso e preguiçoso, podendo sentar-se e empacar de m aneira inesperada num lugar inconve­niente. A im agem tam bém pode se referir a um a tribo que faz aliança com estrangeiros ou é forçada a servir outros (Jz 5.15).

49.17. dom esticação do cavalo. A m enção de um ca­valeiro m ontando um cavalo presume um grau eleva­do de domesticação do cavalo, alcançado no terceiro mi­lênio. Na M esopotâmia, aparecem descrições de cava­leiros na m etad e do terce iro m ilên io , m as nos do­cumentos egípcios, somente a partir do quarto milênio. Os cavalos geralmente eram usados para puxar carru­agens, e não era com um o seu uso para montaria.

50.1-14 O sepultamento de Jacó50.1-3. em balsam am ento. Em bora fosse uma prática comum no Egito para aqueles que tinham condições de pagar, o em balsam am ento de israelitas é citado apenas nessa passagem. Era um procedimento elabo­rado e repleto de *rituais, executado por um grupo treinado de sacerdotes fúnebres. Os órgãos internos eram removidos e o corpo ficava m ergulhado em flui­dos embalsam adores durante quarenta dias. O con­ceito subjacente a essa prática baseia-se na crença egíp­cia de que o corpo tinha de ser preservado como um repositório para a alma após a morte. Jacó e José foram em balsamados e se, por um lado, foi uma forma de confortar os egípcios, por outro, serviu para preservar seus corpos para o sepultamento posterior, em Canaã.50.3. período de luto. Esse período talvez incluísse os quarenta dias necessários para em balsam ar o corpo, mais os trinta dias tradicionais de luto (ver Dt 34.8). Vis­to que os egípcios tam bém choraram a morte de Jacó,

de acordo com a narrativa parece que lhe foram con­feridas honras reais, como a um visitante importante.50.10.11 . eira de Atade. Nenhum local exato foi iden­tificado a esse lugar, descrito como situado a leste do Jordão. É estranho que os restos de Jacó tenham sido levados para o oriente através da Transjordânia, em vez de por uma rota mais direta até Hebrom. A ceri­mônia de luto solene de sete dias em solo sagrado é bastante apropriada. Esse é um lugar associado a ne­gócios, leis e vida, e, portanto, adequado para se tor­nar o m emorial de um líder tribal (ver Nm 15.20; Rt 3.2; 2 Sm 24.16-24).50.11. A bel-M izraim . A escolha de um novo nome para o solo sagrado de Atade, juntam ente com a ceri­m ônia de luto solene realizada ali, proveu um m em o­rial perene a Jacó. O nom e em si contém um elemento familiar: abei significa "córrego" e aparece em diver­sos outros textos (Nm 33.49 - Abel-Sitim; Jz 11.33 - Abel-Queramim). Aqui, porém, há um trocadilho com a palavra hebraica ebel, que significa "lu to".

50.15-26 Os últimos anos de José50.26. A idade de José . José morreu com 110 anos, tem po de vida considerado ideal para os egípcios. Exames de múmias demonstraram que a expectativa média de vida no Egito era de quarenta a cinqüenta anos. O uso de esquifes ou sarcófagos na mumificação era um costume egípcio, não israelita.

Ê X O D O

vy1.1-22 Escravidão do povo de Israel no Egito1.8-14. um rei que nada sabia sobre José. O Livro de Êxodo m antém no anonimato os faraós que, de algum modo, estavam relacionados aos israelitas. Visto que nos registros egípcios não há nenhum relato a respei­

to da presença dos israelitas, tampouco da opressão que sofreram e de seu êxodo, as tentativas de identi­ficar esses faraós dependem de algumas pistas vagas

contidas na narrativa. Nos séculos 16 e 17 a.C., um povo conhecido como "h icsos", que não era egípcio nativo, governou o Egito. Geralmente acredita-se que o faraó mencionado nesse versículo representa o pri­

meiro governante *hicso ou o prim eiro governante egípcio nativo, após a expulsão dos *hicsos. A diferen­ça seria de no m ínimo cem anos (cerca de 1650 ou 1550a.C.), podendo chegar a duzentos anos, caso alguns

dos primeiros governantes *hicsos que detinham um poder apenas parcial, tenham sujeitado os israelitas à escravidão.

1.10. m otivo para subjugar Israel. O argumento para

escravizar os israelitas é que se eles não fossem subju­gados, se aliariam aos inim igos e deixariam o país. Isso pode ser um indício de que esses fatos ocorreram no período em que os *hicsos estavam sendo expulsos da terra. Os egípcios teriam interesse em m anter os

israelitas no país por razões econômicas.1.11. trabalhos forçados. A mão-de-obra necessária para a construção dos imensos projetos de engenharia desenvolvidos no m undo antigo fazia do trabalho for­çado uma alternativa bastante freqüente. Esse tipo de trabalho era usado tam bém como form a de pagam en­

to de impostos (por exemplo, as pessoas comuns pode­riam trabalhar de graça, um mês por ano, nas obras de construção do governo). Quando os projetos eram muito ambiciosos para serem tocados pela população nativa ou pelos prisioneiros de guerra, ou ainda se fossem muito onerosos, dificultando a contratação de m ão-de-obra, grupos populacionais vulneráveis ser tornavam alvo de trabalhos forçados.1.11. Pitom. Pitom tem sido identificada como a cidade egípcia de Pi(r)-Atum , "estado-real de A tum ", atual­mente conhecida como Tell el-Rataba, ao longo do ca­nal de Ism alia, aproxim adam ente cem quilôm etros a nordeste do Cairo. A identificação desses projetos de construção, no texto, como sendo de cidades-celeiros,

não significa que elas eram usadas apenas para o arma­zenam ento de grãos. Essas cidades eram importantes centros na região, podendo até m esm o ser considera­das como capitais.1.11. Ram essés. A localização da cidade de Ramessés foi motivo de controvérsia durante muitos anos, mas foi agora identificada com o Tell ed-D ab'a, cerca de trinta quilôm etros ao norte de Pitom. O lugar tem sido alvo de amplas escavações arqueológicas por M. Bietak. Foi a capital dos *hicsos,com o nome de Ávaris, e m ais tarde reconstruída por Ram sés II, como sua capital, Pi-Ramesse, durante o século 13. Foi destruída para construir Tânis (vinte quilômetros ao norte) como a capital do Delta, na Vigésim a Dinastia, durante o século 12 a.C. (período dos Juizes). Ram sés II escravi­zou diversos povos para trabalharem na construção da cidade, inclusive os "ap iru" (um termo usado no segundo m ilênio para designar povos sem posses), um a design ação que m ais tarde fo i ap licad a aos hebreus, bem como a outros povos.1.14. fabricação de tijo los. Os registros antigos con­cordam ao considerar a fabricação de tijolos como um trabalho im undo. Um a obra conhecida como Sátira sobre os Comércios comprova que as pessoas que fazi­am esse tipo de trabalho viviam constantemente sujas e na miséria. Casas, prédios públicos, muros ao redor das cidades e até m esm o pirâm ides eram às vezes feitos de tijolos. Literalm ente, havia necessidade de milhões de tijolos e a cota diária individual variava, dependendo do número de pessoas que faziam parte da equipe. O trabalho era dividido entre as equipes, que desempenhavam tarefas como colher e triturar a palha, transportar barro e água, dar form a aos tijolos, m anualm ente ou com o uso de m oldes, colocar os tijolos para secar ao sol e transportá-los, vários dias m ais tarde, para o local da obra. Os tijolos usados nas grandes construções tinham m ais de 30 centímetros de comprimento, 15 de largura e talvez o mesmo de espessura.1.15-22. a juda durante o trabalho de parto. No m un­do antigo, as m ulheres geralm ente davam à luz de joelhos ou de cócoras. Banquetas, pedras ou tijolos eram usados para servir de apoio à m ãe, enquanto ela dava à luz. As parteiras não apenas auxiliavam no trabalho de parto como tam bém davam conselhos so­bre todo o processo de concepção, gravidez, nasci­mento e cuidados com o bebê.

2.1-10O nascimento de Moisés2.1-10. heróis poupados ao nascer. No mundo antigo existem vários relatos de heróis sendo m ilagrosamen­te poupados ao nascer ou crescendo em circunstâncias inusitadas. A mais intrigante dessas obras literárias é A Lenda do Nascimento de Sargão (provavelmente sécu­lo oitavo a.C.). Em vez de sacrificar seu filho (como as sacerdotisas tinham de fazer), a m ãe de Sargão o es­condeu num cesto de junco, à beira do rio Eufrates. Depois de ser arrastado pelo rio, o bebê foi encontra­do e criado pelo jardineiro real. Ele cresceu e tom ou-

se o fundador da dinastia de *Akad, no século 24 a.C.. Mas existem importantes diferenças entre os relatos. Geralmente, essas histórias narram como um perso­nagem real, deixado à sua própria sorte é criada por pessoas comuns, enquanto que M oisés, sob cuidadosa supervisão, é resgatado pela realeza e criado em cir­cunstâncias privilegiadas. Não há razão para presu­mir que essa filha do faraó ocupasse uma posição de poder ou influência. Em todas as cortes, existiam inú­meros haréns de filhos, sendo que as filhas eram con­

sideradas inferiores aos filhos.2.3. cesto de junco vedado com piche e betume. A palavra hebraica usada para o cesto de M oisés é a m esma usada para a arca de Noé. O papiro ou junco usado para fazer o berço flutuante também era usado na construção de barcos leves, no Egito e na Mesopo- tâm ia, e os escritores bíblicos estavam a par desse costume (Is 18.2). Os feixes de junco eram sobrepostos em três camadas e o piche tinha a função de torná-lo im perm eável (Gn 6.14 usa um a palavra diferente, mas o conceito é o mesmo). No mito hitita intitulado A Lenda das Duas C idades: Kanes e Zalpa, a rainha de Kanes teria dado à luz trinta filhos num único ano e os teria colocado em cestos calafetados, lançando-os rio abaixo. O mito relata que os deuses os apanharam no mar e os criaram.2.8. ama-de-leite. A adoção de uma ama-de-leite para amamentar e cuidar da criança até que fosse desma­mada era um costume norm al entre as famílias abas­tadas ou aristocráticas. Em bora a literatura e g íp c ia forneça pouca informação, os textos de leis mesopo- tâmicas mencionam o uso desse método quando uma criança abandonada era encontrada. A ama-de-leite tinha a função de um tutor legal, recebendo um paga­mento pelos seus serviços; a adoção acontecia somente

após o desmame.2.10. o nome "M oisés". O nome Moisés vem do egíp­cio ms(w), que significa "g erar". É um elem ento co­mum presente em muitos nomes, geralmente relacio­nado ao nom e de um deus, assim com o Tutm ósis ("gerado de Tot" ou "nascid o de T ot") ou Ram sés

("gerad o de R á" ou "n ascid o de R á"). U m a outra hipótese é que como ms em egípcio significa "m eni­no", M oisés pode simplesmente ter recebido um nome genérico. O jogo de palavras se deve ao fato de que o radical hebraico mais próximo significa "tirar de".2.10. crescendo na corte do faraó. Crescer na casa de

faraó envolvia certos privilégios em termos de educa­ção e formação, incluindo literatura, ensino das artes dos escribas e preparo bélico. Línguas estrangeiras eram consideradas im portantes para o desempenho de funções diplomáticas, e deste modo, deveriam fa­zer parte do processo de formação na corte. Um a das qualidades que os egípcios m ais adm iravam era a retórica (eloqüência e argum entação no discurso).

Obras literárias como O Camponês Eloqüente mostram como eles se impressionavam com alguém que fosse capaz de se expressar bem. Embora Moisés provavel­mente tenha sido treinado na arte da retórica, ele não

se considerava habilitado nessa área (4.10-12).

2.11-25Moisés foge para Midiã2.12-15. o crime de M oisés. Os egípcios conservavam um forte senso de orgulho étnico, que os levava a considerar os estrangeiros como inferiores. Quando um estrangeiro matava um egípcio, era considerado um grande crime.2.15. fuga do Egito: Sinuhe. Numa das lendas mais populares do Egito, A História de *Sinuhe, o protago­nista teme a desaprovação de um novo faraó, no início do segundo milênio a.C., e foge para a Síria, passan­do por Canaã. Lá, ele se casa com a filha de um chefe beduíno e tom a-se um poderoso líder entre esse povo.2.15. M idiã. Os m idianitas eram um povo sem inô- made, localizando-se de acordo com diferentes histó­rias e fontes, desde a Transjordânia e o Neguebe, na região da Palestina, até o norte do Sinai. A região leste do golfo de A caba, no noroeste da Arábia, no entanto, tem sido considerada a localização central do

povo midianita.2.16-19. pastoras. Normalmente só havia pastoras nas fam ílias que não tinham filhos homens. A s desvanta­gens dessa situação são destacadas nesse relato, em que outros pastores importunam as moças.2.23. a identidade do faraó. Novamente a identidade do faraó não é mencionada. M uitos concluem tratar-se

de Tutmósis III ou Ramsés II.

3.1- 4.17A sarça em chamas e o chamado de Moisés3.1. nom es diferentes: R eu el (2.18) e Jetro (3.1). No capítulo anterior, o sogro de M oisés é cham ado de Reuel, enquanto aqui é denominado Jetro e em Juizes

4.11 recebe ainda outro nome, Hobabe (ver N m 10.29). A dificuldade pode ser esclarecida assim que a ambi­güidade da terminologia é identificada. O termo para designar parentes do sexo m asculino resultantes do casamento (sogro, cunhado, etc.) não é específico. Logo, o termo usado em relação aos fam iliares da mulher podia referir-se ao pai, ao irmão ou até m esmo ao avô. Grande parte das explicações para essa confusão de nomes leva isso em conta. Talvez Reuel seja o avô, chefe do clã, Jetro, o pai de Zípora, e Hobabe, o cu­nhado de M oisés, filho de Jetro. Outra explicação é a de que Jetro e Hobabe podiam ser os cunhados de M oisés e Reuel, o sogro.3.1. m onte de D eus. O monte de Deus aqui é desig­nado como Horebe, e em outras passagens, como Sinai, embora ambos os nomes possam referir-se a uma área geral, a um a cadeia de m ontanhas ou a um monte específico. Provavelm ente Moisés o denomina "m on ­te de D eus" como reconhecimento da posição que irá adquirir ao longo da narrativa, e não devido a ocor­rências anteriores ou superstições. No m undo antigo e no m undo clássico, acreditava-se que as divindades norm alm ente faziam das m ontanhas seu lugar de morada.

3.2-4. sarça em cham as. Explicações envolvendo fenô­menos da natureza para o episódio da sarça ardente têm sido abundantes, desde o exemplo dos arbustos que exalam gases inflamáveis até aqueles cujas folhas e frutos têm cores fortes e brilhantes. Nos textos egíp­cios de Hórus do período posterior, encontrados no templo de Edfu, o deus do céu aparece numa visão, em forma de uma chama num tipo específico de ar­busto, m as isso, um m ilênio depois de Moisés.3.2-7. Yahw eh, D eus de seu pai. A apresentação que D eus faz de si m esm o com o o "D eu s de seu p ai" sugere que o conceito de divindade protetora talvez ainda fosse a com p reen são m ais acu rad a que os israelitas tinham de *Yahweh. Esse título deixa de ser usado, assim que Yahw eh tom a-se a divindade naci­onal, no Sinai. Também serve para identificá-lo como o Deus da *aliança.

3.5,6. tirar as sandálias. Os sacerdotes tinham o costu­m e de entrarem descalços nos templos, a fim de evitar levar pó e impurezas de qualquer tipo.3.7-10. terra de leite e m el. A terra de Canaã é descrita como um a terra "ond e m anam leite e m el". É uma referência à exuberância da terra, favorável ao pasto­reio, m as não necessariam ente adequada à agricultu­ra. O leite é um produto dos rebanhos, enquanto que o m el representa um recurso natural, tratando-se provavelmente da seiva extraída da tâmara, e não do mel de abelhas. Um a expressão sem elhante a essa pode ser encontrada no épico *ugarítico de *Baal e

Mot, que descreve a volta da fertilidade à terra atra­vés de chum aços de onde escorria o mel. Os textos egípcios como A História de *$inuhe já descreviam a terra de Canaã como rica em recursos naturais e tam ­bém na produção agrícola.

3.8. povos de C anaã. N a lista dos seis grupos de povos que ocupavam Canaã, os três prim eiros são praticamente desconhecidos. Um a das primeiras refe­rências a Canaã pode ser encontrada nas tábuas de Ebla (século 24 a.C.); os cananeus eram os principais habitantes das cidades fortificadas da terra, embora não pareçam ser nativos da região. Os *hititas eram originários da Anatólia, a atual Turquia, mas alguns grupos m igraram para o sul e ocuparam partes da Síria e de Canaã. Os *amorreus (conhecidos na Meso- potâmia como os amurru ou martü) são conhecidos a

partir de documentos já da m etade do terceiro m ilênioa.C.. A maioria dos estudiosos acredita que eles ocu­param m uitas áreas no O riente Próxim o, devido às suas raízes na Síria. Ainda existem dúvidas sobre o termo ferezeu, não se sabe ao certo se é uma classifica­ção étnica ou sociológica (aqueles que habitavam em

povoados sem muros). Os heveus às vezes são relaci­onados aos horeus; nesse caso, pode tratar-se dos

*hurrianos. Os jebuseus ocuparam a região mais tar­de associada à tribo de Benjam im , especialm ente a

cidade de Jerusalém , e freqüentem ente são ligados aos ferezeus, que habitavam essa m esma região. Não existem referências aos ferezeus, heveus ou jebuseus fora da Bíblia.3.11. objeção de M oisés. A objeção de Moisés não foi m uito convincente, devido ao treinamento que rece­bera na casa do faraó (ver comentário sobre 2.10).3.13. revelação do nom e divino. No m undo antigo, acreditava-se que os nomes estivessem intimamente relacionados à essência da pessoa. Conhecer o nome de alguém significava conhecer sua natureza e obter potencialmente, a possibilidade de dominá-lo. Como resultado, os nomes dos deuses, às vezes, eram cuida­dosamente omitidos. Por exemplo, no Egito, o deus- sol, Rá, tinha um nome secreto, oculto, conhecido ape­nas por sua filha ísis. Ver comentário sobre 20.7.3.13-15. EU SO U . O nome pessoal do D eus de Israel, *Yahweh (geralm ente traduzido como SEN H OR; v. 15), é form ado a partir do verbo hebraico "se r". O versículo 14 faz uso de uma forma alternada do verbo na prim eira pessoa, "e u Sou o que Sou ". O nom e Yahw eh para o Deus de Israel é confirmado fora do Antigo Testamento, na Inscrição de Mesha, nos óstracos de A rad, nas cartas de Láquis e em inscrições de Khirbet el-Qom e Kuntillat Ajrud, apenas para citar algumas das principais fontes. Existe um a série de possíveis citações de Yahw eh ou Yah como nome de

um a divindade fora de Israel, embora sejam discutí­veis. U m a das m ais intrigantes é a referência a "Yhw, na terra de Shasu", mencionada em algumas inscri­ções egípcias em N úbia (atual Sudão), datadas da m etade do segundo milênio. Os shasu são beduínos m encionados nas mesmas inscrições da área de Seir (ver Dt 33.2; Jz 5.4). Talvez seja uma confirmação da inform ação b íb lica de que Je tro , o m id ian ita , era adorador de Y ahw eh (cap. 18). D evem os lem brar, porém, que M idiã também era descendente de Abraão (Gn 25.2-4), podendo assim estar relacionado ao povo de Israel.3 .16 ,17. autoridades. A s autoridades ou anciãos aqui são os líderes dos clãs em Israel. Os anciãos geralmen­te formavam um a assembléia governante que super­visionava a liderança de uma aldeia ou comunidade. A ntes de aceitar a liderança de M oisés, as pessoas buscariam a aprovação dos anciãos.3.18-20. D eus dos hebreus. "D eus dos hebreus" é um título usado somente no contexto do êxodo. Visto que os israelitas geralmente referem-se a si mesmos como hebreus apenas para os estrangeiros, alguns relacio­naram o term o hebreu às palavras apiru/*habiru, en­contradas em textos antigos desse período. Apiru/habiru não é um a designação étnica, mas sociológica, que se refere a povos desalojados.3.18. cam inhada de três dias para oferecer sacrifício.O pedido feito a faraó é no sentido de obter permissão para um a peregrinação religiosa de três dias no de­

serto. Geralmente, seriam dois dias para a viagem de ida e volta e um dia inteiro para as cerimônias reli­giosas. A recusa por parte do faraó acrescenta aos seus

crimes o de opressão religiosa.3.19, 20. poderosa mão de D eus. A imagem de uma poderosa mão ou braço estendido é comum em inscri­ções egípcias, representando o poder do faraó. E uma expressão usada em toda a narrativa do êxodo como sinal do poder de D eus, superior ao do faraó. Ver comentário de Deuteronômio 26.8.4.1-9. os três sinais de M oisés. É provável que cada

um dos sinais que o Senhor concedeu a M oisés tivesse um significado sim bólico. A vara era o sím bolo de autoridade no Egito; o faraó era representado pela figura da serpente, o uraeus, que se destacava em sua coroa. O primeiro sinal então, indicava que a autori­dade do faraó estava totalmente nas mãos de Deus. O segundo sinal provoca um a doença de pele, geral­

mente traduzida como "lep ra", na m ão de Moisés. Na verdade, esse term o é usado para descrever várias doenças de pele de m enor gravidade do que a han- seníase (lepra; ver comentário em Lv 13). Na Bíblia, quando essa doença é infligida a uma pessoa, é sinal de castigo por húbris, ou seja, quando alguém pre­

sunçosamente, atribui a si um papel divino (Nm 12.1­12; 2 Rs 5.22-27; 2 Cr 26.16-21), demonstrando assim a intenção de Deus em punir o faraó. A doença implica­va um afastam ento da presença de Deus, um a vez que a pessoa infectada tom ava-se impura. O terceiro sinal, transformação da água em sangue, demonstra que D eus era quem controlava a prosperidade do Egito, que dependia totalm ente das águas do Nilo. Tam bém é um a antecipação das pragas que D eus enviaria.4.17. a vara de M oisés. A vara de M oisés torna-se o sím bolo do poder de D eus e de sua presença com Moisés. Não possui nenhuma semelhança com os ins­trumentos de magia pelo fato de Moisés nunca fazer uso dela através de encantamentos ou palavras mági­cas. Não é um objeto usado para m anipular Deus, e, exceto em um incidente infeliz (Nm 20), M oisés não tem controle sobre ela, mas apenas a utiliza de forma correta, conforme instruído.

4.18-26 A culpa de Moisés4.19. a situação de M oisés. O fato de os egípcios não mais buscarem a morte de Moisés pelo seu crime de assassinato não significa que ele tivesse sido absolvi­do de sua culpa nessa questão.4.20-23. endurecer o coração do faraó. Nesse trecho é m encionado pela prim eira vez o endurecim ento do coração do faraó, um tem a recorrente que aparece mais de vinte vezes nos próximos dez capítulos (des­de o envio das pragas até a travessia do mar). Dife­rentes verbos são usados para descrever essa situação; algumas vezes, o faraó endurece seu próprio coração, enquanto que em outras, o coração do faraó é endu­recido pelo Senhor. Esse conceito é semelhante a ex­pressões egípcias que transm item idéia de perseve­rança, teim osia, persistência e um a natureza insub­missa. Podem ser qualidades ou defeitos, dependen­do do tipo de comportamento ou atitude que a pessoa

demonstra.4.22. Israe l, o p rim ogên ito de D eus. A passagem coloca en gen h osam en te a qu estão da am eaça ao primogênito: o primeiro filho de Deus, Israel; o pri­

m eiro filho do faraó e o prim eiro filho de M oisés. Israel é o prim ogênito de D eus por ser a prim eira

nação a iniciar um relacionamento com ele.4.24-26. o Senhor procurou matá-lo. O texto nos in­form a que não havia m ais n ingu ém no Egito que quisesse matar M oisés (v. 19), m as diante de Deus ele ainda era culpado por ter derram ado sangue. Mais tarde, surgiram as cidades de refúgio, para garantir abrigo aos que haviam cometido um crime, até que a situação se atenuasse. M oisés buscou refúgio em Midiã.

Ao deixar seu lugar de refúgio, M oisés fica sujeito a

ter de prestar contas de seu crime. H á outros persona­gens, no Antigo Testam ento, que o Senhor chamou

para ir a algum lugar, mas depois abordou durante o caminho, como Jacó (Gn 31 ,32) e Balaão (Nm 22). Em

ambos os casos, D eus de fato queria que fizessem a

viagem, mas precisava resolver um assunto com eles, antes que pudessem seguir adiante.

4.25. pedra afiada. Era costume em Israel e no Egito

usar um a lasca de pedra para realizar a *circuncisão,

mesmo depois que instrumentos e artefatos de metal já tinham sido inventados. Eram pedras bem pontia­

gudas, fáceis de serem encontradas, e o instrumento

tradicionalmente usado nos *rituais da Antiguidade.4.25. m arido de sangue. Estudos recentes sugerem,

que em muitas culturas, os homens eram Circuncida­dos pelos parentes de sua m ulher, que deste modo

estendiam a proteção dos familiares sobre o homem e

seus filhos. Se esse era um costume dos midianitas, podia servir como uma extensão do refúgio que Moisés

teve em Midiã. Em meio aos israelitas, o uso do san­gue como sinal de proteção (através dos borrifos nos

umbrais das portas) também é encontrado no ritual da *Páscoa (12.7), oferecendo proteção contra a m atan­

ça efetuada pelo anjo (12.44-48). O com entário de

Zípora de que Moisés era um marido de sangue indi­caria tanto a necessidade que ele tinha de receber

proteção de sua família como a de expiar sua culpa.

4.27-31 O retomo de Moisés ao Egito4.29. autoridades. A s autoridades ou anciãos m en­

cionados nessa passagem são os líderes dos clãs em Israel. Os anciãos geralmente atuavam como um a as­

sembléia governante que supervisionava a liderança

de uma aldeia ou com unidade. N esse contexto, os anciãos reconhecem a legitim idade do papel e da

missão de M oisés, confirmando sua autoridade como líder de Deus.

5.1-21 Moisés defronta-se com Faraó5.1-5. festa no deserto. As festas, no mundo antigo, eram relacionadas aos ciclos da natureza (ano-novo ou

festas de *fertilidade), aos eventos mitológicos (entro­nização ou vitória da divindade sobre o caos), eventos

agrícolas (colheita) ou m emoriais históricos (dedica­ções ou libertações). Era costume celebrar alguns fei­tos da divindade, procurando com isso perpetuar a

ação da m esm a em favor deles. M uitas vezes, esses elem entos apareciam m isturados num a única festa.

Geralmente, as festas eram celebradas num lugar sa­

grado, o que exigia m uitas vezes, que se fizessem peregrinações até o local.5.6-14. palha para tijo los . A palha servia como ele­mento para dar liga aos tijolos quando aquecidos. Se a palha fosse insuficiente ou de m á qualidade, os tijolos

não tom ariam forma facilmente e um grande número deles se quebraria, dificultando a tarefa de alcançar a cota exigida. Nem sempre os relatos egípcios esclare­cem qual o núm ero de pessoas ou o prazo envolvido para um a determinada cota, mas sabemos que dificil­mente elas eram atingidas.

5.22- 6.12 Deus anuncia a libertação6.3-8. SEN H O R. Um a leitura casual do versículo 3 pode levar à conclusão de que o nome *Yahweh (SE­

NH OR) não era fam iliar aos patriarcas, em bora os textos de Gênesis 15.7 e 28.13 claramente sugiram o contrário. É verdade que El-Shadai (Deus Todo-pode- roso) era conhecido dos patriarcas e em Gênesis 17.1 e35.11 é El-Shadai que aparece associado aos aspectos da *aliança que vão sendo assimilados pelos patriar­cas ao longo dos anos. Em contraste, *Yahweh está ligado às prom essas que demandavam longo prazo para serem cumpridas, particularm ente aquela rela­cionada a terra; assim é correto dizer que os patriarcas não conheciam esse aspecto de Deus (isto é, Ele não se revelou a eles dessa maneira). Os patriarcas prova­velm ente não adoravam a D eus usando o nom e de Yahw eh, mas não podem os concluir por esse texto, que o nome era totalmente estranho a eles.6.6. braço estendido (ARA). Os egípcios estavam acos­tum ados a ouvir falar do braço estendido do faraó realizando grandes feitos. Agora o braço estendido de Yahw eh iria sobrepujar o braço do faraó. Deus está confirmando o cumprimento do juram ento que fizera a Abraão, representado pelo gesto de levantar a mão (em direção aos céus). Aqui, podemos ver que o gesto é simplesmente uma outra m aneira de Deus referir- se ao juram ento, visto que não há nenhum outro po­der acima dele pelo qual pudesse jurar. Ver comentá­rio em Deuteronômio 26.8.

6 .28- 7.13Moisés e Axão diante do Faraó 7.9. serpente. A serpente era considerada um a criatu­ra sagaz e mágica no Egito. W adjet, a deusa protetora do Baixo Egito, é representada por uma cobra (uraeus) na coroa do faraó, que por sua vez, passou a ser um sím bolo do poder do faraó. Além disso, Apopis, o inim igo dos deuses, tinha a form a de um a cobra, e representava as forças do caos. Portanto não é por acaso que esse sinal representasse um a serpente, já

que, na concepção egípcia, não havia outra criatura tão agourenta.7.11-13. m agos do faraó. Os m agos do faraó eram especialistas em feitiços e encantam entos, e conhe­ciam a fundo a literatura de presságios e sonhos. Eles faziam sim patias (com base na idéia de que existe uma relação entre o objeto e o que ele representa, por exem plo, o que é feito à fotografia de um a pessoa acontecerá à pessoa) e usavam suas mágicas para dar ordens aos deuses e espíritos. A m agia era o elemento que dava sustento a toda a criação, e era usada pelos que a praticavam, fossem eles humanos ou divinos, como meio de proteção e também para causar o mal.7.11. 12. varas transform adas em serpentes. Alguns afirmam que existe um tipo de cobra que pode ficar totalmente rígida se um a certa pressão for aplicada atrás de sua cabeça, o que talvez teria permitido que os magos egípcios dessem a impressão de estar segu­rando varas que se transform aram em cobras. Esse procedimento é retratado nos *amuletos egípcios de escaravelho e ainda hoje é praticado. Deve ser m enci­onado, no entanto, que a palavra traduzida como "ser­pente" nesse trecho não é a mesma usada em 4 .3 ,4 . A criatura a que se refere esse texto geralmente é consi­derada um m onstro de tamanho considerável (ver Gn1.21), apesar de ser usado como equivalente a "cobra" em dois outros contextos (Dt 32.33; SI 91.13). Essa m esm a criatura é com parada ao faraó em Ezequiel29.3 e alguns acreditam tratar-se de um crocodilo. N ão é necessário considerar esse incidente um sim­ples truque dos magos do faraó, visto que eles eram mestres do ocultismo.7.12. a vara de A rão en gole as varas dos m agos.Quando a vara de Arão engoliu as serpentes dos m a­gos, o simbolismo implícito indicava que os israelitas iriam triunfar sobre o Egito. Assim, por exemplo, um

texto das pirâm ides, do período do Antigo Reinado representa um a coroa engolindo outra para ilustrar a conquista do Alto Egito sobre o Baixo Egito. De acordo com os Textos Egípcios das Tumbas, engolir era consi­derado um ato mágico, representando a absorção dos poderes do que foi engolido. Desse modo, os magos egípcios teriam concluído que o poder de suas varas

fora absorvido pela vara de Moisés.7.13. o coração se endureceu. Essa segunda menção ao endurecimento do coração do faraó (ver comentário em 4.20-23) reflete seu propósito de levar adiante a

decisão que tomara.

7.14- 11.10 As dez pragas7.14-11.10. pragas como ataques aos deuses egípcios e como ocorrências naturais. As pragas têm sido con­

sideradas por alguns como ataques específicos aos deu­ses do Egito (ver 12.12). Isso é verdade no sentido de que os deuses egípcios foram incapazes de protegê- los e que as áreas supostamente sob jurisdição dessas divindades foram usadas contra os egípcios. É difícil, porém, afirmar se era dirigida a algum deus em par­ticular. Seguindo outra linha, estão aqueles que su­gerem que um a seqüência de fenôm enos naturais pode explicar as pragas, a partir de um ponto de vista científico. Todas as pragas seriam resultantes de uma enchente ocorrida nos meses de verão, que teria oca­sionado um processo de causa e efeito até o mês de março. Aqueles que m antêm essa posição ainda as­sim terão de admitir a natureza m iraculosa das pra­gas quanto ao tempo e duração exata, a distinção en­tre egípcios e israelitas, seu anúncio prévio e a gravi­dade dos acontecimentos. Assim , no comentário de cada um a das pragas, apresentaremos tanto suas ex­plicações naturais como aquelas que indicam que os deuses foram o alvo das pragas. Cabe ao leitor decidir qual o papel desem penhado por cada um a dessas explicações para a compreensão do texto.7.14-24. água em sangue. O Nilo era a vida do Egito. A agricultura e a própria sobrevivência dependiam das enchentes periódicas que tom avam a terra fértil em toda a extensão do rio, de mais de seis m il quilô­metros. O obeso Hapi, um dos filhos de Hórus, não era propriamente o deus do Nilo, mas a personifica­ção das inundações. A coloração vermelha de sangue tem sido atribuída ao excesso de terra vermelha, de algas brilhantes e de suas bactérias, também de colo­ração vermelha, que resultam de enchentes m ais in­tensas que o normal. Em vez de promover exuberân­cia de vida, esse tipo de inundação causava a morte dos peixes e o empobrecimento do solo. Um fenôme­no como esse se assemelha a um a observação contida

nas Exortações de Ipuwer (alguns séculos antes de Moisés) de que o Nilo se transformara em sangue e sua água não era adequada ao consumo. O comentário bíblico que menciona o fato dos egípcios cavarem buracos às margens do rio (v. 24) pode ser explicado como uma tentativa de encontrar água limpa que teria sido fil­

trada pelo solo.7.19. vasilhas de m adeira e de pedra. No versículo 19, a maioria das traduções faz referência a reservatórios de m adeira ou pedra, sugerindo que a água contida nessas vasilhas também se transformara em sangue. O texto hebraico não diz nada a respeito de vasilhas. A com binação de "m ad eira e p ed ras" é usada na literatura *ugarítica para referir-se a regiões afastadas e improdutivas. O texto tam bém inclui canais, açudes e reservatórios, sugerindo os canais artificiais usados na irrigação.

8.1-15. praga das rãs. É natural que as rãs abandonas­sem as águas e brejos dos rios, abarrotados de peixes em estado de decomposição. A deusa H eqet era re­

presentada na forma de rã e auxiliava o nascimento das crianças, mas é difícil imaginar de que maneira esse episódio poderia ser visto como uma vitória so­bre ela. Os magos egípcios não conseguiram acabar com a praga, apenas intensificá-la.8.15. coração obstinado. Aqui, um verbo diferente é usado em relação às referências anteriores (ver co­mentários em 4.20-23; 7.13). Esse verbo significa "pe­sar" e é uma im agem bastante familiar para os egíp­cios. Na cena do julgam ento, no Livro dos Mortos, o coração do morto é pesado na balança tendo como contrapeso uma pena (representando Maat, a verda­de e a justiça) para determinar se ele será conduzido à um a vida de felicidade no além ou será devorado. Aumentar o peso no coração do faraó é uma forma de expressar que sua sentença após a morte está selada.8.16-19. praga dos piolhos. O tipo de inseto envolvi­do nessa praga não está claro, visto que a palavra hebraica é usada apenas nesse contexto. M uitos estu­dos têm sugerido o pernilongo ou o carrapato como os mais prováveis. O primeiro se reproduziria em todas as poças de água resultantes da enchente. "D edo de Deus" pode ser uma expressão egípcia referindo-se à vara de Arão. O fracasso dos m agos e o reconheci­mento de que Deus está agindo, é o início do cumpri­mento do propósito que o Senhor tinha: "saberão que eu sou *Yahw eh".8.20-32. terra arruinada pelas m oscas. O inseto que aparece na quarta praga não é identificado. Em vez disso, o texto fala de enxames, usando uma palavra conhecida apenas em relação a esse contexto. As mos­cas seriam a conseqüência lógica, tanto em relação ao clima como às condições existentes de peixes e rãs apodrecendo e vegetação em decomposição. Por ser um transmissor do antraz de pele (associado a pragas posteriores), a espécie Stomoxys calcitrans tem sido a identificação m ais popular. Tanto como peste, como transmissores de doença, esses insetos arruinaram a terra do Egito.8.22. Gósen. Essa é a primeira praga que não afeta os israelitas que m oravam em Gósen. A localização exa­ta de Gósen ainda é desconhecida, embora certamen­te se situasse na parte leste da região do Delta do Nilo.8.26. sacrilégio para os egípcios. Quando o faraó pro­pôs aos israelitas que oferecessem seus sacrifícios ali mesmo, em vez de reivindicarem a necessidade de conduzir o *ritual em local sagrado, Moisés argumen­

tou que os rituais israelitas eram inaceitáveis para os egípcios, pois eles os consideravam como sacrilégio. O sacrifício de animais com o objetivo de providenciar

alimento aos deuses era uma prática religiosa bastan­te popular no Egito, como aparece retratada em m ui­

tos relevos. Entretanto, os sacrifícios de animais de­sem penhavam um papel secundário nos cultos de adoração ao sol, ao rei e nas cerimônias *funerárias, que formavam grande parte da religião egípcia. M ui­tas vezes, considerava-se que o animal sacrificado re­presentava um inimigo da divindade.9.1-7. praga nos reban h os. A praga nos rebanhos geralmente é identificada como antraz, contraída das bactérias que desceram pelo Nilo e infectaram os pei­xes, rãs e moscas. A deusa egípcia do amor, Hathor, tinha a forma de uma vaca e o touro sagrado Apis foi tão venerado que ao morrer, foi embalsamado e en­terrado num a necrópole, em seu próprio sarcófago.9.8-12. punhado de cinza. Em bora alguns tenham sugerido que as cinzas foram extraídas de um forno de tijolos (simbolizando o trabalho dos israelitas), sabe- se que os egípcios geralmente usavam tijolos queima­dos ao sol e não em fornos. A fornalha mencionada aqui é de tamanho considerável e poderia ser identi­ficada como o lugar onde as carcaças de animais mor­tos foram queim adas. O ato de espalhar cinzas às vezes é utilizado como um *ritual mágico no Egito, com o objetivo de provocar um a pestilência ou eliminá- la. Aqui, além da praga nos rebanhos, as cinzas fo­ram uma calamidade para os homens.

9.10-12. feridas purulentas. O antraz de pele teria sido transmitido pela picada das m oscas que haviam tido contato com as rãs e com os rebanhos, gerando feridas, particularmente nas mãos e nos pés.9.13-35. efeitos do granizo. Um a tempestade de gra­nizo provoca destruição não apenas às plantações, mas também a homens e animais. A designação no texto do tipo de plantações atingida (v. 31, 32) é um indício de que teria ocorrido no mês de janeiro ou fevereiro.10.1-20. praga dos gafanhotos. Gafanhotos eram bas­tante comuns no antigo Oriente Próximo, e famosos pela devastação e destruição que causavam. Os gafa­nhotos se reproduziam na região do Sudão e sua po­pulação estaria m aior do que a habitual, devido ao clima úmido que deflagrou toda a seqüência de fenô­menos naturais. Sua m igração deveria acontecer em fevereiro ou março, acompanhando os ventos predo­minantes em direção ao Egito ou à Palestina. O vento oriental (v. 13) os teria trazido ao Egito. Um gafanhoto consom e por dia um a quantidade equivalente ao seu peso. H á notícias de enxames de gafanhotos que co­briram uma área de 640 quilômetros quadrados, sen­do que um quilômetro quadrado pode conter mais de cinqüenta m ilhões de insetos. Certamente, tudo o que sobrevivera à tempestade de granizo, agora seria des­truído, e no caso de os gafanhotos terem deixado ovos

antes de serem soprados para o mar, o problema acon­teceria novam ente, tornando-se cíclico. A economia do Egito foi destruída, mas os deuses principais ainda

precisavam ser humilhados.10.19. vento ocidental. A praga foi eliminada por um "vento que veio do m ar". Em Israel, esse vento viria

do ocidente, mas no Egito, viria do norte ou noroeste e levaria assim, os gafanhotos de volta ao mar.

10.21-29. praga das trevas (que podiam ser apalpa­das). O comentário de que as trevas podiam ser apal­padas (v. 21) sugere que seriam causadas por algo

transportado pelo ar, ou seja, as tempestades de areia

khamsin conhecidas na região. A quantidade excessi­va de pó seria resultante da terra vermelha trazida e

depositada pelo Nilo, bem como do solo exposto pela ação do granizo e dos gafanhotos. A duração de três

dias é característica desse tipo de tem pestade, que geralm ente ocorre entre março e maio. O fato de o texto enfatizar as trevas e não a tem pestade de pó

pode indicar que o deus-sol, A m on-Rá, o deus do

Egito, o pai divino do faraó, era o alvo específico da

praga.11.1-10. a décim a praga e o faraó. No Egito, o faraó

também era considerado um a divindade e essa últi­ma praga é dirigida a ele. Na nona praga, seu "p ai",

o deus-sol havia sido derrotado e agora, seu filho, o

provável herdeiro do trono, seria morto. Isso repre­

senta um terrível golpe à pessoa do faraó, ao seu

reinado e à sua divindade.11.2. ped ir o b je to s de prata e ouro. As instruções

dadas aos israelitas para que pedissem aos egípcios

objetos de prata e ouro e roupas (m encionadas em outras passagens), provavelmente estaria relacionada

à idéia de que os israelitas iriam fazer uma festa ao

seu D eus. Trajes elegantes e adornos eram usados nessas ocasiões e não é difícil imaginar que os escra­

vos israelitas não possuíam tais luxos. A essa altura, o

povo do Egito estava desesperado por causa das pra­gas, e a idéia de que a ira do Deus de Israel poderia

ser aplacada com um a festa os teria deixado bastante

cooperativos.

11.4. o Senhor passará por todo o Egito. No Egito, o momento mais notável e esperado dos grandes festi­

vais era quando a divindade se manifestava entre o

povo. A qui, porém , a passagem do D eus de Israel pela terra teria como propósito o julgamento.

11.5. m oinho. A escrava que trabalhava no moinho era considerada a pessoa que ocupava a posição social

m ais baixa. O moinho, ou moinho de mão, era feito

de duas pedras: um a na base, com um a superfície côncava e outra de forma arredondada, que era colo­cada por cima. A rotina diária de moer o trigo para

transformá-lo em farinha consistia no processo de ar­rastar a pedra de cima sobre o trigo que ficava espa­lhado na pedra de baixo.11.7. nem sequer um cão latirá. Os cães não eram vis­tos com o anim ais de estim ação e eram considerados indesejáveis e em geral, um transtorno, talvez do mes­mo modo como os ratos são vistos hoje. A afirmação de que nem sequer um cão latirá sugere um a calma fora do comum, visto que esses anim ais errantes eram fa­cilm ente hostilizados por motivos insignificantes.

1 2 .1 -2 8Páscoa12.1-28. origem da Páscoa. De acordo com o relato bíblico, a Festa da Páscoa foi instituída em associação com a décima praga, mas isso não significa que ela não tenha se originado de algum tipo de festival já existente. Devem os nos lem brar de que D eus insti­tuiu a *circuncisão como um sinal da *aliança, usando um costume que já era praticado, só que com um novo propósito. M uitos elementos do *ritual da Páscoa su­gerem que ela possa ter sido adaptada de algum *ri- tual nômade que visava proteger os pastores dos ata­ques demoníacos e assegurar a *fertilidade dos reba­nhos. M as ainda que seja essa a origem, cada um dos elem entos é adequadam ente "convertido" ao novo contexto da décima praga e do êxodo do Egito. Se isso realm ente ocorreu, seria algo semelhante à substitui­ção que os cristãos da Europa Ocidental fizeram com o Natal, colocando-o no lugar de seus festivais pagãos do solstício de inverno, e m antendo a presença de alguns símbolos, tais como visco, azevinho e os ramos de árvores sem pre verdes.12.1-11. calendário. Esse evento estabeleceu abibe (mais tarde chamado de nisa) como o primeiro mês do calen­dário religioso de Israel. Pelo calendário civil, o mês de tishri, seis meses m ais tarde, era o primeiro mês, em que o "D ia de Ano-Novo" era celebrado. O calen­dário israelita era lunar, com ajustes periódicos em relação ao ano solar. Abibe começava com a primeira lua nova depois do equinócio da prim avera, geral­mente em meados de março, e ia até meados de abril.12.5. macho de um ano, sem defeito. Com um ano, o m acho teria superado seu período de vida mais vul­nerável (os índices de mortalidade ficavam entre 20% e 50%) e estaria se preparando para assumir seu papel como membro produtivo do rebanho. Nos rebanhos, geralmente o núm ero de machos era menor que o de fêmeas, especialmente entre os bodes, sendo que m ui­tos machos eram abatidos com um ano de idade, para consumo de suas peles e carne. As fêmeas eram man­tidas até a idade de oito anos, para procriação e tam­bém para produção de leite.

12.6. sacrificado ao pôr-do-sol. No calendário civil egípcio, cada mês tinha trinta dias, divididos em três períodos de dez dias. O calendário religioso egípcio, onde se incluíam, os festivais, m antinha o ciclo lunar como base. A décima praga e a celebração da Páscoa ocorreram na véspera do que os egípcios chamavam de "d ia da m etade do m ês". Visto que, pelo cálculo lunar, o mês começava com a lua cheia, a festa ocorreu no período da lua cheia, que sem pre se seguia ao equinócio de prim avera. A m atança aconteceria ao pôr-do-sol, quando a primeira lua cheia do ano israelita surgisse.12.7. função do sangue. N as religiões prim itivas, o sangue geralmente era usado como proteção contra os poderes do mal, enquanto que no *ritual israelita o sangue servia como elemento de purificação. Embora os israelitas conservassem alguns elementos primiti­vos em sua visão e prática religiosa e acreditassem, de maneira supersticiosa, que o sangue tivesse um cará­ter de proteção, não era essa a função pretendida. Os

umbrais das portas das casas na antiga Mesopotâmia freqüentemente eram pintados de verm elho porque havia a crença de que essa cor afastava os demônios.12.8. cardápio. O cardápio da refeição da Páscoa era bastante comum nas comunidades nômades de pasto­res. A proibição do ferm ento pode acrescentar um valor simbólico. Na literatura rabínica posterior e no Novo Testamento, o fermento é associado à ’'im pure­za ou *sujeira. É difícil discernir se já nesse período o fermento tinha essa conotação. A s ervas amargas são identificadas na literatura rabínica posterior como al­face, chicória, eríngio, raiz forte e serralha, todas de fácil preparo. Não se sabe ao certo, porém , se essas verduras estão incluídas na terminologia bíblica. Sa­be-se que a alface era cultivada no Egito e a palavra hebraica traduzida como "ervas amargas" corresponde a uma palavra *acadiana (babilónica) para alface. A ordem para assar a carne perm ite duas possibilida­des: seria um contraste com as festas pagãs da prima­vera que, às vezes, incluíam carne crua, e tam bém uma indicação de que as pessoas estariam com pressa, sem tem po para cozinhar a carne (seria necessário mais tempo para cortar, preparar e temperar a carne). Visto tratar-se de um a refeição sagrada, a carne não poderia ser com ida em nenhum outro m om ento e deveria ser eliminada da forma adequada.12.11. Páscoa. A tradução para a língua portuguesa da palavra "Páscoa" (do latim pascere: apascentar, ali­mentar) não faz jus à terminologia hebraica (pesah). O termo hebraico tem a ver com proteção, o que pode ser visto em Isaías 31.5, onde é comparado a um escu­do e livramento. O Senhor é retratado passando pela terra e protegendo da ação do anjo todas as casas que

tivessem o sangue na porta. O sangue na viga supe­rior e nas laterais da porta pode ser visto tam bém

como purificador da entrada, como uma preparação

para a presença do Senhor.

12.12-30 A décima praga12.12,13. festival egípcio da realeza. Pode haver uma

referência aqui ao fam oso festival egípcio Sed, que

representava a renovação da autoridade real. A cele­bração era planejada para que todos os deuses confir­

m assem a autoridade real do faraó, enquanto aqui, como resultado das pragas, todos os deuses devem

reconhecer a realeza de *Yahweh, não com um a nova coroação, mas através do reconhecimento do seu po­

der eterno. No festival Sed, o rei afirmava seu domí­

nio passando por toda a terra (sim bolicam ente) da

forma que desejasse. A majestade do faraó é ridicula­rizada enquanto a de Yahw eh é confirmada, à m edi­

da que Deus vai passando pela terra para firmar sua

autoridade por meio da praga.12.14-20. Festa do Pão sem Ferm ento. A Festa do Pão

sem Ferm ento é celebrada durante os sete dias da

Páscoa. Como uma comemoração da saída do Egito,

essa festa representa a pressa dos israelitas, que não

puderam esperar o pão crescer, tendo de assá-lo sem fermento. O fermento era produzido com a farinha da

flor de cevada, que ferm entava e era usada com o ferm ento. G eralm ente, pequ en as qu an tid ad es de

m assa ferm entada eram reservadas e depois usadas

em outras fornadas. Sem a porção "in icial" de reserva

(um pouco de massa já fermentada), o processo teria de ser começado de novo, levando de sete a doze dias

para chegar ao nível necessário de fermentação.12.16. reunião santa. Reuniões ou proclamações san­tas eram uma parte importante das práticas religiosas

no mundo antigo. Podiam ser reuniões locais ou naci­

onais, para adoração pública ou congregacional. As pessoas normalmente se reuniam em locais distantes

de onde moravam.12.19. pão sem ferm en to e co lh eita de cevada. A

Festa do Pão sem Fermento coincidia com a colheita da cevada, que marcava o início da época da colheita. N esse contexto, o pão sem fermento significa um novo

começo e os primeiros frutos da colheita da cevada são comidos sem esperar a fermentação.

12.22. uso de h issop o . O sangue é espalhado nos um brais da porta com hissopo, uma planta aromática que passou a ser associada à purificação, provavel­

mente devido a seu uso em *rituais como esses. Sua consistência era bastante adequada para escovas e vassouras.

12.23. o destruidor. O sangue nos umbrais da porta seria o sinal para que o Senhor protegesse do destrui­dor os que estivessem dentro daquela casa. Na Meso- potâmia, o demônio Lam astu (feminino) era conside­rado o responsável pela morte de crianças, enquanto que Mantaru (masculino) era o responsável pela pra­ga. Os egípcios tam bém acreditavam em hostes de­moníacas que ameaçavam a vida e a saúde das pesso­

as. N essa passagem , no entanto, os dem ônios não agem independentem ente dos deuses, m as sim um mensageiro do julgam ento de Deus. Em Jeremias esse

mesmo termo é usado para designar um destruidor e saqueador das nações (Jr 4.7).

12.29, 30. prim ogênito. Em Israel, a dedicação do primogênito era uma forma de reconhecer que o Se­nhor era o provedor da vida, da fertilidade e da pros­peridade. Ao tomar para si o primogênito, tanto dos homens como dos animais, Yahw eh novamente rea­firma seu direito de ser reconhecido como a divinda­

de responsável pela vida no Egito - um papel geral­mente atribuído ao faraó.

12.31-42 A saída do Egito12.34. am assadeiras. A m aneira mais fácil de transpor­

tar a farinha já preparada para o pão do d ia segu in te, de acordo com esse relato, era em am assadeiras, em ­brulhadas com panos para evitar que pegassem pó.

12.37 . ro ta do êxodo. R am sés é T ell e l-D ab 'a , no Delta oriental (ver com entário em 1.8-14), onde os

israelitas estavam trabalhando na construção de uma cidade para o faraó. Sucote tem sido identificada como Tell el-Maskhuta, em direção à extremidade leste do uádi Tumilate. Seria uma rota normal para deixar o

Egito em direção ao oriente, como diversos documen­tos egípcios demonstram. A jornada de Ram sés até

Sucote leva aproximadamente um dia. (Para a rota do

êxodo, ver mapa 1, na p. ).12.37. número de israelitas. O tamanho da população israelita tem sido considerado problem ático por di­versas razões. Se realmente havia seiscentos mil ho­

m ens, o grupo total ultrapassaria os dois milhões. A rgum enta-se que a região do D elta do Egito não

teria suportado uma população desse tamanho (esti­

mativas sugerem que a população total do Egito nessa

época seria de apenas quatro ou cinco m ilhões). A

população atual da área do uádi Tumilate é de menos

de vinte mil. Os exércitos egípcios desse período com­

preendiam um contingente de menos de vinte mil.

D e fato, na batalha de Cades (século 13), os *hititas

reuniram um exército de 37 mil homens (considerado

exagerado) que, acredita-se, tenha sido uma das m ai­

ores forças m ilitares já reu n id as. Sh am shi-A d ad

(Assíria, 1800 a.C.) declarou ter reunido um exército

de sessenta mil para o cerco de Nurrugum. Se Israel

tivesse um a força m ilitar de seiscentos mil homens,

não teria o que temer.

À medida que seguiam, o povo formava um a fila de

mais de 300 quilômetros. M esmo sem animais, crian­

ças e idosos, os viajantes dificilmente fariam mais de

30 quilômetros por dia (embora caravanas conseguis­

sem avançar 30 a 35 quilômetros). Quando famílias e

anim ais se deslocavam, a média era de apenas dez

quilôm etros por dia. Seja com o for, o final da fila

estaria pelo menos algumas semanas atrás do grupo

do começo da fila. Isso causaria alguns problemas na

travessia do mar, que parece ter sido feita durante a

noite, embora alguns certamente já calcularam como

isso seria possível. Contudo, a fila seria suficiente­

mente longa para alcançar desde o local da travessia

do m ar até o monte Sinai.

Além disso, se dois milhões de pessoas tivessem vivi­

do no deserto durante quarenta anos e metade deles

tivesse morrido lá, os arqueólogos teriam encontrado

mais vestígios, principalmente em lugares como Cades-

Bam éia, onde os israelitas permaneceram por algum

tempo. Quando voltamos nossa atenção para a chega­

da a Canaã, a situação não é melhor. A população de

Canaã, nesse período, era m uito m enor que a força

militar israelita e todas as provas arqueológicas suge­

rem que houve um acentuado declínio na população

A DATA DO ÊXODODefinir uma data para o êxodo tem se mostrado uma tarefa difícil. Visto que no relato não é mencionado o nome de nenhum dos faraós, os eruditos tiveram de basear suas teses em dados mais circunstanciais. Essas informações podem ser divididas em dados internos (retirados do texto bíblico) e dados externos (reunidos a partir de pesquisas arqueológicas e históricas).

A evidência interna, que compreende principalmente intervalos de tempo genealógicos ou cronológicos apresentados no texto (p. ex„ 1 Rs 6.1), sugere uma data no meio do século 15 a.C.. Se essa data for adotada, tendo como base o texto bíblico, pode ser defendida em termos histórico-arqueológicos, mas tem de presumir que uma série de conclusões a que chegaram os arqueólogos não apresentam dados suficientes ou são o resultado da interpretação errada dos dados. Por exemplo, se o êxodo aconteceu por volta de 1450, a conquista de Canaã teria de ser designada na Idade do Bronze Moderna. Infelizmente, os arqueólogos que têm participado de escavações nas áreas da conquista israelita em Canaã não encontraram ruínas de cidades muradas desse período. Muitas dessas áreas não demonstram nenhuma evidência de ocupação durante a Idade do Bronze Moderna. Em contrapartida, tem sido sugerido que a destruição de grandes cidades fortificadas em Canaã, na Idade

Mapa I O ÊxodoEste mapa traça a possível rata do êxodo do Egito,

do Bronze Média, talvez esteja relacionada à conquista. No entanto, muitos arqueólogos têm geralmente datado o final desse período em cerca de 1550 e é bastante complexo tentar alterar em cem anos todo um sistema de datas.

Acredita-se que a evidência externa geralmente ofereça mais base para uma data no século 13, durante o período de Ramsés, o Grande. A partir dessa visão, alguns números do texto bíblico precisam ser interpretados de maneira diferente. ?or exemplo, os 480 anos em 1 Reis 6.1 teriam de ser considerados como doze gerações (12 x 40), o que pode representar um número significativamente menor do que 480. Além disso, apesar de ter sido afirmado que os dados histórico-arqueológicos do século 13 se encaixam melhor ao êxodo, uma série de dificuldades ainda permanece sem solução. Uma delas é uma inscrição do faraó Merenptah, já no final do século 13, fazendo menção a Israel como um povo de Canaã.

As duas datas propostas apresentam algumas dificuldades e é provável que certas pressuposições ainda estejam sendo sustentadas, nos impedindo de enxergar como as partes se encaixam. Talvez, com o tempo, as pesquisas históricas e arque­ológicas sejam capazes de trazer maior clareza a essa questão. Até lá, teremos de nos satisfazer com nossas incertezas.

da região, na Idade do Bronze *M odem a, quando os israelitas tom aram posse da terra. Algumas estimati­

vas do oitavo século a.C. indicam que ainda não ha­

via um m ilhão de pessoas em toda a terra de Israel nem naquele período. A população atual de Israel,

mesmo considerando-se as grandes regiões m etropo­litanas, é apenas o dobro do que teria sido a popula­

ção do êxodo. Ainda assim, o texto é consistente em seus relatos quanto ao tam anho do grupo (ver Nm

1.32; 11.21; 26.51). M uitas soluções têm sido apresen­tadas, m as todas oferecem problemas. A conclusão a que podem os chegar é que os núm eros não devem

ser interpretados da forma tradicional. As pesquisas

relacionadas ao uso de núm eros nas inscrições assírias sugerem a possibilidade de que eles eram entendidos

e usados dentro de uma estrutura ideológica e não no sentido de oferecer um cálculo preciso. Mas é muito

difícil afastarmo-nos de nossas próprias expectativas culturais. A abordagem mais promissora parte do re­

conhecim ento de que a palavra hebraica traduzida como "m il" pode ser traduzida também como "tropa

m ilitar"; nesse caso haveria seiscentas tropas m ilita­

res. Para m ais informações, ver comentários em Josué

8.3 e Números 2.3-32.12.40. 430 anos. A cronologia desse período é muito

difícil. O texto de 1 Rs 6.1 relata que 480 anos sepa­

raram o êxodo da dedicação do templo, em 966. Isso

posicionaria o êxodo em meados de 1400. O acrésci­mo de 430 anos a esse versícu lo sugeriria que os

israelitas dirigiram -se ao Egito na prim eira m etade

do século 19 a.C.. Existem muitas variações e opções

diferentes defensáveis, tanto a partir das evidências bíblicas, como das arqueológicas. Para um a discus­

são m ais profunda, ver o artigo intitulado "A Data

do Êxodo", na p. .

12.43-51Leis sobre a participação na páscoa12.43. Leis da Páscoa. O versículo 38 m enciona que

muitos não-israelitas se juntaram ao êxodo, assim esse trecho trata de três regras adicionais sobre a Páscoa.

A prim eira estabelecia que somente quem fosse cir­

cuncidado poderia participar. Isso indica que seria

um a celebração restrita à com unidade de Israel. A segundo lei dizia que nenhum pedaço de carne po­

deria ser levado para ser com ido fora da casa, e a

terceira, que nenhum osso do anim al pod eria ser quebrado. Essas regras serviriam de orientação so­

bre a m aneira como a refeição poderia ser comparti­lhada com estrangeiros que se integrassem à comu­

nidade de Israel. O cordeiro devia ser assado intei­

ro, dentro da casa.

13.1-16O primogênito13.1-3. consagração. O primeiro filho do sexo mascu­lino nascido de qualquer mãe pertencia à divindade. N o antigo Oriente Próxim o esse conceito, às vezes, conduzia ao sacrifício de crianças, como meio de asse­gurar a *fertilidade. Como alternativa, nos cultos an­cestrais, o prim ogênito herdava a função sacerdotal na família. Em Israel, esse costume conduz à consa­gração - a entrega do primogênito à autoridade divi­na, para servir nos cultos ou no templo, apenas para o serviço sagrado. O filho poderia ser redimido dessa posição, e de acordo com a lei israelita, seu lugar seria ocupado por um levita (Nm 3.11-13).13.4. abibe. O m ês de abibe abarca os meses de março e abril. É o antigo nome do mês que m ais tarde rece­beu o nome de nisã, no calendário israelita.13.5. povos de Canaã e terra de leite e m el. Sobre os povos de Canaã e sobre a terra onde m anam leite e mel, ver comentários em 3.7-10 e 3.8.13.6-10. Festa do Pão sem Fermento. Ver comentário em 12.14-20.13.9. am uletos. * Amuletos eram usados no antigo Ori­ente Próximo como uma proteção contra espíritos do mal. M etais e pedras preciosas eram considerados par­ticularmente eficazes. Às vezes, os amuletos incluíam algumas palavras mágicas ou feitiços. O costume israe­lita desaprovava os amuletos, mas o conceito foi assi­m ilado e convertido num a form a de recordar a lei (como é o caso dessa festa), ou, em outras passagens (ver Dt 6.8), tom aram -se m emoriais físicos, que conti­nham orações ou bênçãos, tais como os pequenos rolos de prata encontrados em 1979, num túm ulo fora de Jerusalém, do período pré-exílio. Esses rolinhos con­têm a bênção encontrada em Núm eros 6.24-26 e re­presentam uma das cópias m ais antigas desse texto.13.11-16. sacrifício do prim ogênito. Os primeiros ma­chos de todo rebanho eram sacrificados em gratidão ao Senhor, m as os jum entos não eram aceitos para o sacrifício. Dentro dos costumes cananeus, os jum entos eram esporadicamente oferecidos em sacrifício e nos textos de *M ari, há o relato de um a cerim ônia de confirmação de pacto que apresenta o sacrifício de um jum ento. A importância do jum ento como animal de carga provavelmente seja a causa dessa exclusão. Desta forma, os jum entos, à semelhança dos filhos prim o­gênitos, deviam ser redim idos - isto é, outra oferta

devia ser dada em seu lugar.

13.17- 14.31 A travessia do mar13.17. rota dos filis te u s. A estrada que passava pela terra dos filisteus é uma referência à rota principal que

atravessava todo o C rescen te Fértil, do Egito até a Babilônia, conhecida como a Grande Estrada do Tron­co. Essa estrada seguia ao longo da costa do M editer­râneo, passando pelo território dos filisteus, no sul da Palestina, antes de seguir para o interior, através do vale de Jezreel, bem ao sul do m onte C arm elo. N a região ao norte da península do Sinai, os egípcios se referiam a essa estrada como o Caminho de Hórus; era

um a estrada fortem ente protegida, por ser um a rota usada tanto pelos exércitos, como pelos mercadores.13.18. m ar V erm elho. O max que recebe o nome de “m ar V erm elh o" em m uitas versões da B íb lia, na verdade em hebraico é designado como "m ar de jun­cos" - um termo que pode ser usado para diferentes tipos de form ações aquáticas. Os juncos, provavel­mente se referem aos papiros que proliferavam na área pantanosa que ia desde o golfo de Suez até o Mediterrâneo, atualmente eliminada em grande par­te pelo canal de Suez. Esse tipo de junco cresce apenas em água doce. Seguindo ao norte a partir do golfo de Suez,o povo teria encontrado os lagos amargos, o lago Timsa, o lago Balá e, finalmente, perto do m ar M edi­terrâneo, o lago Menzalé. O uádi Tumilate, por onde Israel viajou, os teria conduzido ao lago Tim sa, o que permite a identificação desse último, neste contexto, como o mar de Juncos, embora existam argumentos favoráveis a cada um dos outros lagos. Se os israelitas inicialmente tivessem tomado o sentido noroeste, teri­am voltado e se deparado com o lago Balá. Se tives­sem tomado o sentido da região do Sinai, certamente não teriam descido até a parte oeste do golfo de Suez, e de qualquer maneira, estariam m uito longo de onde a narrativa sugere (cerca de 200 quilômetros de Sucote). Assim , em bora a tradução "m ar V erm elho" tenha sido a identificação mais comum, é a menos provável. Um a alternativa ao "m ar de Juncos" como um a distin­ção geográfica é a sugestão de que a tradução deveria ser "m ar da Destruição". Nesse caso, as águas que se d iv id iram p ara p erm itir a travessia do povo são identificadas m entalm ente com um tema comum no antigo Oriente Próximo, de que na criação as águas do caos foram dominadas e os inimigos de Deus fo­ram derrotados.13.20. Sucote. Sucote geralmente é identificada como Tell el-M askhuta, na extrem idade leste do uádi Tu­milate. Na literatura egípcia, essa área é conhecida como Tjeku, o equivalente egípcio à palavra hebraica sucote. Etã equivale ao term o egípcio htm, "forte" e poderia ser um a referência a algumas fortalezas exis­tentes nessa área. Visto que Deus ordenou que m u­dassem de rum o, em 14.2, eles talvez ainda estives­sem seguindo pelo caminho que vai para a terra dos filisteus, nesse prim eiro trecho do percurso. Se for

esse o caso, é m ais provável que Etã seja Sile, atual

Tell A bu Sefa, onde se localizava a prim eira fortaleza

que guardava a passagem pela fronteira, nos tempos

antigos. Este era o ponto de partida normal para expe­dições que iam a Canaã. N esse caso, 13.17,18 é descri­to em detalhes em 14.1-3. O problema é que Sile fica

a 80 quilômetros de Sucote, e desta forma eles teriam

levado vários dias para chegar ali. Também há men­

ção de um a fortaleza do faraó M erenptah (final do século 13) perto de Tjeku, no Papiro de Anastasi VI.

(Para uma possível rota do êxodo, ver mapa 1, na p . .)

13.21, 22. coluna de nuvem/fogo. Alguns acreditam que a m elhor explicação para as colunas de nuvem e

de fogo é que teriam resultado da atividade vulcâni­

ca. Um a erupção na ilha de Tera (960 quilômetros a noroeste), em 1628 a.C. provocou a destruição da civi­

lização minóica e é possível que seus efeitos fossem

sentidos no delta. M as a data é m uito anterior (ver artigo "A Data do Êxodo, na p. ), e essa teoria não

ofereceria explicação para o movimento das colunas

nem para a localização descrita no relato bíblico (em direção ao sudeste). O texto não sugere que as colunas

tenham surgido de maneira sobrenatural, apenas que

eram conduzidas por m eios sobrenaturais. Por essa

razão, alguns consideram que elas possam ter resulta­

do de um tipo de braseiro, carregado num a vara, usado pelos primeiros exploradores, e freqüentemente

usado pelas caravanas. Por outro lado, as colunas es­tão sem pre em atividade (descendo, m ovendo-se) e

nunca são movidas pela ação humana, assim é difícil achar fundamento para essa teoria. No mundo antigo,

a divindade era sempre retratada com uma aura bri­lhante ou flam ejante à sua volta. Na literatura egíp­

cia, essa aura é ilustrada pelo disco solar alado acom­panhado de nuvens de tem pestade. Os *acadianos usam o termo melammu para descrever essa represen­

tação visível da glória da divindade, que por sua vez é envolvida por fumaça ou nuvens. Alguns têm suge­

rido que na mitologia cananéia, o conceito de melammu é expresso pela palavra anan, o mesmo termo hebraico

traduzido como "nuvem ", mas as ocorrências são muito

raras e obscuras para se ter certeza. De qualquer modo, as colunas seriam na verdade um a só: durante o dia,

somente a fumaça era visível, enquanto que à noite, a chama interna oculta pela nuvem podia ser vista.14.1-4. Pi-H airote. Pi-Hairote não tem nenhum outro

nome, mas muitos a interpretam como a "entrada das escavações", possivelmente uma referência ao traba­

lho de escavação de canais. Sabe-se que um canal de

norte a sul estava sendo construído durante esse perí­

odo (Seti I) e que o mesmo atravessava a região perto de Qantara, poucos quilômetros a oeste de Sile.

14.2. M igdol. M igâol significa "torre" ou "forte" em hebraico, sendo um term o em prestado das línguas sem itas para o egípcio. H avia diversas localidades assim designadas, sendo que um a delas, nessa época, ficava perto de Sucote.14 .2 . B aa l-Z e fo m . B aal-Z efom está re lacion ad a a Tafnes, em Jerem ias 44.1 e 46.14, que por sua vez é identificada como Tell Dafana, cerca de 30 quilôme­tros a oeste de Sile. Se os israelitas acamparam perto desse lugar, o lago Balá seria o "m ar" mais próximo.14.5-9. exército do Egito. A maioria das unidades de carros de guerra desse período possuía de 10 a 150 carros, assim 600 representa um grande núm ero, e seria apenas a unidade do faraó. Quando Ramessés II lutou contra os *hititas, na batalha de Cades, seu ini­migo vangloriou-se de ter 2.500 carros.14.19, 20. escondidos pela nuvem . Os anais do rei *hitita M urshili relatam que o deus da tem pestade providenciou um a nuvem para escondê-los de seu inimigo, um a afirmação também feita por Priam, rei de Tróia, e também por outros, na Ilíada, de Homero.14.21, 22. m ar afastado pelo vento oriental. Se a água fosse rasa a ponto de secar pela ação do vento oriental e da m udança das m arés, não seria suficiente para afogar os egípcios ou formar paredes de água. Portan­to, é difícil im aginar qualquer cenário natural para explicar os fatos relatados nesse texto. Esse vento não seria o mesmo que khamsin (siroco), associado à nona praga. Esse fenômeno era causado pelo forte sistema de baixas pressões, no norte da Á frica, geralm ente acompanhado de inversão de temperatura. O vento oriental mencionado aqui se originou de um sistema de alta pressão sobre a M esopotâmia e, ao contrário de um tom ado, que gira num sistema de baixa pressão, esse vento é caracterizado por um acentuado aumento na pressão barométrica.14.23-25. fim da m adrugada. O fim da m adrugada era o período entre duas e seis horas da manhã. A im agem da divindade como um a cham a flam ejante

no meio de uma nuvem é comum em todo o Oriente Próximo, como também na m itologia grega, presente na Ilíada de Homero, onde Zeus lança trovões e relâm­pagos que derrubam os cavalos e quebram os carros. O deus guerreiro da M esopotâmia, Nergal, e o deus cananeu *Baal, afirmam sua superioridade no comba­te através de seu brilho ofuscante e fogo.

15.1-21 O cântico de Moisés e Miriã15.3. o Senhor é guerreiro. O Livro de Êxodo desen­volve a idéia de *Yahw eh lutando pelos israelitas contra os egípcios e seus deuses; deste modo, o Senhor é louvado como um guerreiro no cântico de Moisés.

Esse conceito é bastante significativo em todo o Anti­go Testamento, e até mesmo no N ovo, recebendo des­taque principalm ente nos livros de Sam uel, onde o título de "Senhor dos Exércitos" (Senhor das Hostes) é comum. Yahw eh é o rei e o defensor dos israelitas e os conduzirá vitoriosam ente nas batalhas. A m itologia antiga freqüentemente retrata os deuses em batalhas, mas essas imagens geralmente estão relacionadas ao domínio e à organização do cosmo. Tanto *M arduk (deus babilónico) como *Baal (deus cananeu) subjugam o mar, personificado em seu inimigo divino (*Tiamat e Yamm , respectivamente). Em contraste, esse cântico reconhece o modo como Yahw eh domina o mar (que não é representado por um ser sobrenatural) a fim de derrotar seus inim igos hum anos e reais. Tanto no texto bíblico como na literatura concernente às bata­lhas cósmicas, do antigo Oriente Próximo, promover a ordem durante um conflito, ser proclam ado rei e estabelecer um a morada são temas comuns.15.4. m ar V erm elho. A referência ao m ar Vermelho nesse versículo não coloca mais em questão as discus­sões a respeito de sua identidade (ver comentário em13.18), mas pode aludir a um trocadilho. A palavra hebraica suph não significa apenas "ju nco", pode ser interpretada tam bém como o substantivo "fim " e o verbo "v arrer" (ver SI 73.19).15.6-12. mão direita. A mão direita é aquela que se­gura a arma, e assim , aquela que traz a vitória. No versículo 12, não é a mão direita literalmente que faz a terra abrir. Em hebraico, o termo para "terra" pode ocasionalmente significar também "m undo inferior",

e parece ser o caso aqui. Dizer que o m undo inferior os engoliu é dizer que foram enviados à sua sepultu­ra. Deve ser lembrado tam bém que de acordo com os conceitos egípcios de vida após a morte, os ímpios, quando não são capazes de convencer os juizes acerca de sua bondade, são devorados pelo "Engolidor".15.13-16. povos aterrorizados. O terror dos povos passa a ser um tema freqüente no relato da conquista. Em­bora os povos de Canaã estivessem anteriorm ente aterrorizados diante dos egípcios (como indicam as cartas de *A m am a desse período), não é m ais o braço do faraó, e sim o braço de Yahweh, responsável pela derrota do faraó, que representa uma ameaça a eles.15 .1 7 .1 8 . m onte da tua herança. A combinação das palavras "m onte", "herança", "habitação" e "santuá­rio" sugere tratar-se de um a menção ao monte Sião

(Jerusalém).15.18. Y ah w eh com o re i. *Y ahw eh não é retratado como um rei mitológico, ou um rei dos deuses que sub­ju g o u o c o s m o e re in a so b re os d em ais deu ses do panteão. Ao contrário, Ele governa realmente sobre seu povo, a quem libertou por meio das forças da nature­

za controladas por Ele. Esse cântico não exalta sua vi­tória sobre os outros deuses ou sobre as forças cósmicas caóticas, m as sim seu poder sobre povos verdadeiros.15.20, 21. profetisa. Miriã, aqui aclamada como pro­fetisa e irm ã de Arão (não se faz menção a Moisés), assume a direção do cântico. Essa é a única referência a Miriã pelo nome no Livro de Êxodo e o único lugar em que é descrita como um a profetisa. O outro relato em que seu nome é mencionado é quando a autorida­de de M oisés é desafiada, em Núm eros 12. Outras profetisas de destaque no Antigo Testamento são Dé­bora (Jz 4) e Hulda (2 Rs 22). Não há razão para se considerar estranho o fato de mulheres estarem ocu­pando essa função. Os textos proféticos de *Mari apre­sentam mulheres exercendo esse papel com a mesma freqüência que os homens. Era comum tam bém en­contrar grupos musicais formados por mulheres. Ha­via um a relação entre a música e a profecia, visto que a prim eira era muito usada para induzir os transes dos quais provinham as revelações proféticas (1 Sm 10.5; 2 Rs 3.15).

15.22- 17.7 A provisão de Deus no deserto15.22-27. deserto de Sur. O deserto de Sur se localiza na região noroeste da península do Sinai. Um a rota leste-oeste atravessava a região que liga o Egito à Estrada Real, na Transjordânia, em Bozra, ou ia até a Palestina passando por Berseba. Os israelitas, porém,

não tomaram essa rota. Sur significa "m uro" ou "m u ­ralha" em hebraico, assim, é possível que esse termo se refira à conhecida seqüência de fortificações egípci­as nessa região. Essa possibilidade encontra apoio em Números 33.8, onde Sur é cham ado de deserto de Etã (etã significa "fortaleza"). Construída alguns séculos antes para proteger as fronteiras do nordeste do Egito, essa série de fortificações era conhecida como a M ura­lha do Soberano. Essa região m arca o ponto de partida da fuga de *Sinuhe do Egito, no texto A História áe Sinuhe.

15.22. evidências arqueológicas no Sinai. Embora te­nham sido encontrados, em toda a península, vestígi­os arqueológicos da população beduína que habitou o Sinai durante dez mil anos, as pesquisas arqueológi­cas não conseguiram achar nenhum a evidência da passagem dos israelitas por essa região.15.23. Mara. Os israelitas viajaram durante três dias para chegar a M ara ("am arga"). Se eles cruzaram o lago Balá, provavelm ente chegaram ao lugar atual­mente conhecido como Lagos Amargos. Se a travessia foi mais ao sul, Mara talvez possa ser identificada com um oásis chamado Bir Mara, onde a água é salina e contém m inerais pesados.

15.25. arbusto transform a a água am arga em doce.Alguns comentaristas costumam citar as tradições lo­cais a respeito de um tipo de arbusto de espinhos, nativo da região, que absorve a salinidade, m as ne­nhum a investigação científica conseguiu identificar ou confirmar a existência de tal arbusto. Numa época posterior, Plínio relatou que havia um tipo de cevada capaz de neutralizar o sal contido na água.15.27. oásis de Elim. O oásis em Elim, com doze fon­tes de água e setenta palm eiras é freqüentem ente identificado ao uádi Gharandal, cerca de cem quilô­metros descendo a costa do golfo de Suez. Nesse local encontram-se tamargueiras (elim), palmeiras e fontes de água, servindo até hoje como um importante local de descanso para os beduínos. M ais perto de Mara, porém, fica Ayun M usa, poucos quilômetros ao sul da ponta do golfo de Suez. Esse local, além de ter um

bosque de tamargueiras e palmeiras, possui doze fon­tes, tendo a preferência.16.1-3. deserto de Sim. O deserto de Sim é uma área na região centro-oeste da península. Nesse ponto, a rota principal avançava para o interior cerca de dez a quinze quilômetros num trecho de 120 quilômetros e depois acom panhava novam ente o litoral em Abu Zenimah e na planície de El Markha. Pode ser o local em que os israelitas acamparam perto do m ar (Nm33.10, 11). Dali, eles seguiram em direção ao leste e nordeste cruzando o deserto de Sim , pelo caminho do uádi Ba'ba e Rod el 'A ir, até a região de Serabit el- Khadim, onde provavelmente ficava Dofca.16.1. tem po da jornada. Até aqui, a jornada levara cerca de um m ês (os israelitas partiram no décim o quinto dia do primeiro mês).16.3. panelas de carne. Nas lem branças exageradas da situação em que viviam no Egito, os israelitas men­cionam as grandes panelas cheias de carne - podería­mos interpretar como "baldes de carne".16.4-9. pão do céu/maná. O pão do céu era chamado de "m an á", de acordo com o versículo 31 (ver tam ­bém Nm 11.7). O fato de que vinha com o orvalho sugere que D eus usou um processo natural em sua provisão miraculosa. Tem sido freqüentemente iden­tificado com a secreção de pequenos afídeos (pulgões) que se alimentam da seiva das tamargueiras. Quan­do essa secreção endurece e cai no chão, pode ser colhida e usada como adoçante. O problem a é que isso acontece apenas durante certas estações (maio a julho) e somente nas regiões onde há tamargueiras. Ao final da estação, a produção inteira normalmente atinge cerca de 230 quilos, enquanto que no relato bíblico as pessoas juntavam cerca de 250 gramas cada uma diariamente. Outra explicação defendida por al­guns se refere ao líquido adocicado da planta hammaâa,

comum no sul do Sinai, usada para adoçar bolos. A s­sim como nas pragas, não é propriamente a ocorrên­cia do fenômeno que é inusitada, mas sim o período em que acontece e sua magnitude. Não obstante, es­sas explicações naturais ficam m uito aquém dos dados apresentados no relato bíblico. A comparação, feita por muitas traduções, com a semente do coentro (rara­mente encontrado no deserto) parece ser mais um a tentativa de referir-se a uma categoria m ais genérica de plantas desérticas com sementes brancas, do que a

identificação exata.16.10,11 . a glória do Senhor na nuvem . "A glória do Senhor" refere-se ao brilho que sinalizava sua pre­sença. A imagem de um a divindade se manifestando dessa m aneira não se restringia à teologia israelita, visto que na Mesopotâmia os deuses demonstravam seu poder através de seu melammu, ou brilho divino.16.13. codornizes. Bandos de pequenas e roliças co- dornizes m igratórias atravessam com freqüência o Sinai em direção ao norte, desde o Sudão até a Euro­pa, geralmente nos meses de março e abril. Elas voam impelidas pelo vento e são atiradas ao solo (ou à água), se apanhadas por uma corrente contrária. Por causa do cansaço, algumas vezes elas voam tão baixo que podem ser facilmente capturadas. H á notícias de pe­quenos barcos que afundaram devido ao excesso de codornizes que buscavam ali um lugar para pousar e descansar. N o Sinai, elas já foram avistadas em tão grande núm ero, que forravam o chão e pousavam nas cabeças umas das outras.16.14-36. jarro/ômer. Um ôm er corresponde a uma porção diária de pão ou grãos, equivalente à medida de dois litros.16.20. deterioração. Se o m aná era a secreção dos afídeos (ver acim a sobre 16.4-9), as form igas eram responsáveis por carregá-lo todos os dias, assim que a tem p eratura aum entava, e tam bém eram atraídas pelos restos de maná que as pessoas por acaso tentas­sem recolher e guardar. A palavra hebraica traduzida como "b icho" pode referir-se a qualquer tipo de inse­to com escam a, m as o term o usado para form iga é diferente. Além do mais, as secreções de insetos não

costumam estragar.16.34. ju nto às tábuas da aliança. Em bora esse ver­sículo faça m enção às tábuas da aliança, provavel­mente tratava-se da arca da aliança, que ainda não havia sido construída nessa altura da narrativa. Esse apêndice (v. 31-36) se relaciona ao final da peregrina­ção no deserto (ver v. 35), portanto, devemos enten­der que a porção de maná foi colocada no interior da

arca mais tarde.17.1. R efid im . Se aceitarmos a teoria de que o monte Sinai se localiza em direção ao sul da península, então

a jornada até Refidim deu início à m archa dos israelitas para o interior, seguindo um a rota mais agradável até a montanha. O uádi Refayid corta o uádi Feiran, pou­cos quilôm etros ao norte da m ontanha e tem sido freqüentem ente identificado como a localização de

Refidim .17.5-7. rocha do m onte H orebe. Em algumas tradu­ções essa fonte de água é identificada como a rocha de H orebe, m as provavelm ente H orebe seja um a refe­rência à região nas redondezas do monte Sinai (monte Horebe) como registra a NVI, e não a uma localidade específica.17.6. água da rocha. É fato que as rochas sedimen- tárias abrigam bolsões de água um pouco abaixo da superfície, e caso haja algum vazamento, é possível localizar esses bolsões e rom per a camada de pedra da superfície, chegando até o reservatório de água. No­vamente, porém, trata-se de uma quantidade de água

muito maior do que essa explicação permite.17.7. M assá e M eribá. Massá e M eribá não represen­tam novos lugares, m as sim se referem a esse local específico em Refidim.

17.8-15 A vitória sobre os Amalequitas17.8. am alequitas. Os am alequitas, que descendiam de Abraão, por meio de Esaú (Gn 36.15) eram um povo nômade ou seminômade que habitava a região do Neguebe e do Sinai, durante a segunda m etade do segundo m ilênio a.C..17.11, 12. sinais de batalha. Os sinais eram usados com freqüência para colocar as tropas em posição du­rante as batalhas. É possível que Moisés tenha usado os auxiliares com esse objetivo. Quando ele não conse­guia repassar a orientação divina através de sinais, os israelitas não conseguiam vencer. Em textos egípcios, existem relatos do faraó com os braços levantados, trazendo proteção ao exército e, ao m esm o tempo, sinalizando o ataque.17.15. altar: "o Senh or é m inh a b an d eira". O altar construído por M oisés é em comemoração à vitória. O nom e dado a ele, "o Senhor é o m eu estand arte", reflete a teologia dos israelitas, que viam Yahw eh como o chefe de seus exércitos. As divisões do exército egípcio recebiam nomes de diversos deuses (p. ex., a divisão de Amun, a divisão de Set) e os estandartes continham alguma representação do referido deus, servindo para identificar a divisão.

18.1-27 Jetro e Moisés18.1, 2. sacerdote de que deus? Jetro é identificado como sacerdote de Midiã, e não como sacerdote de um

deus específico. Sabe-se muito pouco acerca do deus, ou deuses, que os midianitas adoravam nesse perío­

do. Os sacerdotes não eram necessariamente ligados a um único deus, portanto o reconhecimento da superi­oridade de Yahweh, por parte de Jetro, não significa­va que ele fosse um sacerdote ou mesmo adorador de Yahweh. Os sacerdotes que serviam em um santuário eram considerados servos daquele respectivo deus, mas nem mesmo eles eram monoteístas; sendo assim, podiam reconhecer o poder de outras divindades quan­do se manifestavam.18.5. M onte de D eus. "M onte de D eus" é a expressão usada para descrever o monte Sinai. Em Refidim, os israelitas estavam na região do Sinai, mas esse capítu­lo provavelm ente registra eventos que aconteceram após eles terem montado acampamento ao pé desse monte.18.7. saudação respeitosa. A saudação de Moisés a Jetro acompanha o padrão da época. Era costume curvar-se para saudar alguém que ocupava posição social supe­rior e tam bém como sinal de respeito. O beijo na face era uma saudação de amizade. Esse é o único inciden­te registrado em que são feitas am bas as saudações.18.9-12. Y ahw eh e os deuses. Ao reconhecer a superi­oridade de *Yahw eh em relação aos outros deuses, Jetro não está sugerindo que ele fosse ou tivesse se tom ado um adorador de Yahw eh. O politeísm o do mundo antigo permitia o reconhecimento das forças relativas de diversas divindades e era esperado que cada uma delas fosse enfaticamente louvada quando houvesse evidência de sua ação ou demonstração de seu poder. A despeito das convicções religiosas de Jetro, Y ahweh estava cumprindo seu propósito de que, através de seus poderosos feitos, "todo o m undo saiba que eu sou o Senhor".18.12. refeição sacrificia l. Os sacrifícios, no mundo antigo, freqüentemente eram oportunidades para re­feições com unitárias. Em bora essas refeições geral­mente acompanhassem uma ratificação formal de acor­dos, elas também faziam parte das ofertas de ação de graças, o que se encaixaria mais a esse contexto. Seria como um banquete, em que *Yahweh ocupava o lu­gar de convidado de honra.18.13-27. a cadeira de M oisés. A cadeira do ju iz era o assento ocupado por uma autoridade quando o "tri­bunal" estava "em sessão". N as cidades, essa cadeira geralmente ficava na entrada, à porta da cidade. Jetro aconselha M oisés a estabelecer um a hierarquia judici­ária, onde ele deveria ocupar a posição mais elevada, como a de um rei em uma monarquia, ou à de um sacerdote ou patriarca, nas sociedades tribais. Nesse sistema, algumas disputas seriam resolvidas pela apli­cação da lei e outras através de um claro discernimento

do problema (para informações sobre o sistema judici­ário no antigo Oriente Próxim o, ver comentário em Dt 1.9-18). Alguns casos podiam ser resolvidos nas instâncias mais baixas. Havendo insuficiência de pro­vas em casos complexos ou m ais sérios, a questão era tratada "profeticam ente", isto é, era trazida diante de Deus. Nesse ponto, o papel de M oisés era essencial. Sua função era o marco que separava os aspectos "c i­v is" do sistema judiciário, com os quais ele não preci­sava se envolver, dos aspectos "religiosos". Esse siste­m a não é diferente daquele encontrado no Egito, onde o faraó garantia a justiça, mas estabeleceu um sistema chefiado pelo vizir, que era o "Profeta de M a'at" (Ma'at é a deusa da verdade e da justiça) e ocupava a cadeira de juiz. O estabelecimento desse sistema formalizou o papel social, ou m esm o político, representado por M oisés, levando Israel a deixar de ser uma sociedade puram ente tribal para tornar-se um governo quase centralizado.

19.1-25Os Israelitas no monte Sinai19.1, 2. deserto do Sin ai. Os israelitas chegaram ao deserto do Sinai três m eses após terem partido do

Egito, embora não esteja claro se a expressão "n o dia em que" refere-se à lua nova ou à lua cheia. Seja como for, trata-se do mês de junho. A localização do monte Sinai ainda é incerta e pelo menos doze alternativas têm sido sugeridas, sendo que as m ais fortes são Jebel M usa e Jebel Serbal, no sul, e Jebel Sin Bishar, no norte. Jebel Musa (2.281 metros) fica no agrupamento de montanhas na região centro-sul do Sinai, e como é o pico mais alto da cadeia, tem recebido apoio tradici­onal, desde o quarto século d.C.. Essa região também compreende a planície de er-Raha, ao norte, que teria sido um lugar adequado para os israelitas acampa­rem (cerca de quatrocentos acres), apesar de não ofe­recer acesso direto à água. Jebel Serbal (2.069 metros) fica 32 quilômetros a noroeste de Jebel Musa, isolado do restante da cadeia de m ontanhas, sobre o uádi Feiran. O fato de se localizar perto de um oásis e de uma estrada principal que atravessa a região, faz dele um a alternativa atraente, em bora a área disponível para acampamento seja muito menor que a de Jebel Musa. Alguns preferem localizá-lo m ais ao norte, por presum irem que o pedido inicial de M oisés a faraó para uma peregrinação de três dias (5.3) os levaria ao monte Sinai. Os defensores dessa posição argumentam também que um a rota em sentido norte estaria mais diretamente ligada a Cades-Barnéia e às redondezas de M idiã, onde M oisés viveu por um tempo.19.4. transportar sobre asas de águia. Embora a águia não possa ser excluída, o pássaro aqui d escrito é

freqüentem ente identificado como o abutre branco, cuja envergadura é de 2,40 a 3,0 metros. Embora os livros da Bíblia m encionem m uitas vezes a m aneira como a águia carrega os filhotes em suas asas, en­quanto eles ainda têm m edo de voar, ou com o os sustêm em suas asas, quando estão se debatendo em queda (ver D t 32.11), os naturalistas têm tido dificul­dade para confirmar esse comportamento através da observação. De fato, a maioria das águias e abutres voa pela prim eira vez som ente com três ou quatro m eses de idade, quando já estão quase totalm ente crescidos. Além disso, observações de naturalistas têm confirm ado insistentemente que o primeiro vôo em geral é feito quando os pais estão longe do ninho. Se a metáfora aqui diz respeito a um abutre, pode ser um a referência de natureza política. No Egito, a deu­sa Nekhbet é a deusa abutre, que representava o Alto Egito e servia como um a divindade protetora do faraó

e da terra. Israel foi protegido no Egito até que Yahweh o trouxe para junto dele.19.5, 6. re in o de sacerdotes. A expressão "tesouro pessoal" utiliza um a palavra comum em outras lín­guas do antigo Oriente Próximo para descrever bens acumulados, seja através da divisão de despojos ou por direito de herança. A evidência de que essa ex­pressão podia também ser aplicada a pessoas encon­tra-se no selo real de *Alalakh, onde o rei se identifica como o "tesouro pessoal" do deus Hadad. Semelhan­tem ente, em um texto *ugarítico, o re i vassalo de Ugarite recebe o favor de seu senhor *hitita, que o descreve como seu "tesouro pessoal". Além disso, os israelitas são identificados como "reino de sacerdo­

tes", o que investe Israel de um papel sacerdotal entre as outras nações, como um mediador entre os povos e Deus. Há ainda um conceito largamente comprovado no antigo O riente Próxim o de que um a cidade ou povo podia ser liberto da sujeição a um rei para se sujeitar diretamente a um a divindade. Assim, Israel, libertado do Egito, é colocado agora num a posição sagrada (ver Is 61.5).19.7. autoridades. As autoridades ou anciãos eram os líderes tribais de Israel. Eles form avam uma assem ­bléia governante que supervisionava a liderança de um a aldeia ou com unidade. Eles representavam o povo no acerto do acordo da *aliança, que agora ultra­passa a esfera familiar de uma aliança feita com Abraão, séculos antes, e passa a ser um acordo de toda a nação.19.10-15. consagração. A consagração consistia numa série de passos que precisavam ser dados para tom ar- se ritualmente puro. Esse processo requeria em pri­meiro lugar lavar-se e evitar contato com objetos que pudessem tornar alguém impuro. O monte foi desig­nado solo sagrado e até o simples fato de alguém tocá-

lo estando impuro, seria considerado sacrilégio passí­vel de morte. O apedrejamento era a forma mais co­mum de execução; dessa forma, toda a comunidade assumia a responsabilidade pela execução da pena, em bora ninguém individualmente pudesse ser acusa­do de ter causado a morte do criminoso.19.13. com eta. A com eta no versículo 13 é menciona­da por um a palavra diferente da usada para shofar (trombeta) no versículo 16, em bora talvez fosse usada para referir-se ao mesmo instrumento. O shofar é ca­paz de produzir um a variedade de tons, m as não uma melodia, assim é usado basicamente para emitir sinais sonoros tanto na adoração como na guerra. A corneta, feita de chifre de carneiro, era amolecida em água quente, entortada e achatada para adquirir dife­rentes formas.

20.1-17 Os dez mandamentos20.1-17. lei apodíctica. Um a série de documentos que registram leis dos tempos antigos foi encontrada, in­clusive com pilações de leis *sum érias, babilónicas, *hititas e *assírias. A mais famosa é o Código de *Hamu- rabi, estabelecido muitos séculos antes de Moisés. Es­sas com pilações de leis consistem basicam ente de modelos de decisões judiciais relacionadas a casos es­pecíficos. Por tratar-se de casos jurídicos, os textos apre­sentam as penas aplicadas a vários tipos de culpas, sem especificar regras de comportamento sobre o "certo e errado" ou sobre o que as pessoas deviam fazer ou deixar de fazer. As leis encontradas nos Dez M anda­mentos, proibindo ou exigindo certos comportamen­tos, são chamadas de leis *apodícticas, que raramente são encontradas nas com pilações de leis do antigo Oriente Próximo.20.1-17. decálogo com o aliança (não com o lei). OsDez M andam entos não apenas estão relacionados à lei, eles também compõem uma parte da *aliança. A formulação literária da aliança é bastante semelhante às formulações de tratados internacionais do antigo Oriente Próxim o. G eralm ente, esses tratados deter­minavam o tipo de comportamento exigido ou proi­bido. N esse sentido, pode-se entender que a forma *apodíctica dos Dez M andamentos os classifica mais como aliança do que como lei.20.3. prim eiro m andam ento. Quando o texto diz que não deve haver nenhum outro deus "além de m im ", não está se referindo à existência de outros deuses inferiores a Yahwe. A introdução do versículo dois já pressupõe que Y ahw eh era o D eus deles. A frase "a lém de m im " significa "e m m inha presença" e, portanto proíbe que a existência de outros deuses seja considerada diante de Yahw eh. Essa proibição diz

respeito a diversos conceitos que faziam parte do sis­tem a de crenças do m undo antigo. A m aioria das religiões naquela época tinha um panteão, ou seja, um a assembléia divina que governava o m undo dos deuses, o m undo sobrenatural e, por fim, o mundo dos humanos. Uma divindade geralmente ocupava a posição superior do panteão, e à semelhança dos ou­tros deuses, possuía um a consorte (parceira fem ini­na). Esse m andam ento proíbe que Israel tenha esse tipo de pensamento. Yahw eh não é o deus superior do panteão, tampouco possui um a consorte - não exis­tem outros deuses além dele. A única assembléia di­vina legítima, de acordo com o modo de pensar israelita, é formada de anjos (1 Rs 22.19, 20), e não de deuses. Esse mandamento tam bém elim ina efetivamente, os aspectos da mitologia que tratam do relacionamento entre os deuses.20.4. segundo m andam ento. O segundo m andam en­to estabelece a form a como *Yahw eh deve ser adora­do, com a proibição de se fazer ídolos ou imagens dele (não de outros deuses; essa possibilidade já foi descar­tada no m andam ento anterior). O m andam ento não tem nada a ver com representações artísticas, embora as imagens esculpidas do mundo antigo fossem, de fato, obras de arte. Essas imagens eram entalhadas na m a­deira, recobertas por lâminas de prata ou ouro e então, adornadas de ricas vestimentas. A proibição está mais relacionada ao uso das imagens e ao poder represen­tado por elas. No antigo Oriente Próximo, era através das imagens que as divindades se faziam presente de forma especial, a ponto de o ídolo de *culto transformar- se no próprio deus (quando o deus assim favorecia seus adoradores), embora essa não fosse a única forma dele se manifestar. Como resultado dessa ligação, feitiços, encantamentos e outros atos mágicos podiam ser exe­cutados diante da imagem a fim de ameaçar, intimidar ou obrigar a divindade a fazer algo. P or outro lado, alguns ritos relacionados à im agem tinham como ob- ietivo ajudar ou cuidar da divindade. Assim , as im a­gens representavam um a visão de m undo e um con­ceito de divindade incom patível com a form a como Yahw eh se revelara. O m andam ento tam bém proíbe que se faça im agens de qualquer coisa no céu, na ter­ra ou debaixo da terra. Em contraste com o Egito, na Sírio-Palestina não havia o costume de adorar animais e nem deuses em forma de animais. No entanto, acre­ditava-se que certos anim ais, tais com o o touro e o cavalo, representassem atributos da divindade, e as­sim, eram retratados artisticamente em esculturas co­locadas no lugar da divindade.2 0 .5 ,6. castigo até a terceira e quarta geração. Castigo até a terceira e quarta geração não é prerrogativa de Hiízes humanos, m as de Deus. Expressa o fato de que

a violação da *aliança traz culpa sobre toda a família, e assim a menção à terceira e quarta geração é uma forma de referir-se a todos os m embros ainda vivos da família. M as em contraste, a bondade se estende so­bre m il gerações enquanto que o castigo atinge ape­nas três ou quatro gerações.20.6. solidariedade da raça. No antigo Oriente Próxi­mo a identidade do indivíduo estava ligada ao grupo do qual fazia parte, isto é, ao clã ou família. A integra­ção e a interdependência eram valores importantes, contribuindo para a unidade do grupo. Como resulta­do, o comportamento individual não era considerado como algo isolado do grupo. Quando havia pecado num a família, todos os seus m em bros com partilha­vam a responsabilidade. Esse conceito é conhecido como *solidariedade da raça.20.7. terceiro mandam ento. Enquanto o segundo man­dam ento diz respeito à não existir nenhum poder acima de Deus, o terceiro volta sua atenção à utiliza­ção do poder de Deus sobre outras pessoas. Esse m an­

damento não está relacionado à blasfêmia ou lingua­gem obscena. Ao contrário, seu objetivo é evitar que o nom e de Yahw eh seja utilizado para fins de magia ou encantamentos. Esse mandamento dá continuida­de à preocupação presente no segundo mandamento, em relação à crença de que o nom e de alguém estava intimam ente ligado à essência da pessoa. Revelar o nome era uma demonstração de graça e confiança e, em term os hum anos, tam bém de vulnerabilidade. Israel não devia fazer uso do nome de Yahw eh num sentido mágico, na tentativa de manipulá-lo. O man­damento tam bém visava assegurar que o uso do nome de Yahw eh em juram entos, votos e acordos fosse leva­do a sério.20.8-11. quarto m andamento. Não se conhece nenhum conceito equivalente à guarda do sábado nas culturas do antigo Oriente Próximo. Seu caráter peculiar deve­se ao fato de não se ligar a qualquer padrão ou ciclo da natureza. Um term o parecido foi usado em alguns textos *babilónicos referindo-se a um dia de lua cheia, quando o rei oficiava ritos de reconciliação com a di­vindade, mas esse não era um dia de descanso nem se assemelhava ao sábado israelita. A lei não exige pro­priamente o descanso, mas estabelece como norm a o cessar dos trabalhos, interrompendo as atividades nor­mais de cada um.20.12. quinto mandam ento. Honrar aos pais implica­va em respeitar suas instruções acerca da *aliança e pressupõe a transmissão de um a herança religiosa. O lar era considerado um elo de ligação importante e necessário para a transmissão das instruções da alian­ça às gerações seguintes. Os pais eram honrados por serem representantes da autoridade de Deus na pre­

servação da aliança. Se os pais não fossem considera­dos ou se sua autoridade fosse rejeitada, a aliança estaria em perigo. Nesse sentido, note que esse m an­damento é acompanhado de um a promessa: vida lon­ga na terra. No antigo O riente Próxim o não era a herança religiosa, e sim a estrutura da sociedade é que era am eaçada quando não havia respeito pela autoridade dos pais e as obrigações filiais eram negli­genciad as. A s v io laçõ es inclu íam bater n os pais, amaldiçoá-los, negligenciar pais idosos e não provi­denciar um sepultamento adequado.20.12-17. os m andam entos e a comunidade. Os man­damentos de cinco a nove tratam de questões concer­nentes à *aliança dentro da comunidade, influindo na transmissão da aliança e na posição dos indivíduos na com unidade. São ordenanças que dizem respeito a tudo aquilo que colocaria em risco a continuidade da aliança nas gerações futuras ou que am eaçaria a li­nhagem ou a reputação da família. A aliança era trans­m itida pela família, logo, essa devia ser preservada. No antigo Oriente Próximo existiam questões seme­lhantes, m as o enfoque na preservação da comunida­de era visto mais em termos sociais e civis. No Egito, foram encontradas listas de infrações éticas, no Livro dos Mortos, onde o indivíduo negava que tivesse co­m etido qualquer crime. Na Mesopotâmia, um a lista de feitiçarias conhecida como Shurpu contém uma re­lação de crimes confessados pelo indivíduo para que

possa ser absolvido de ofensas desconhecidas e assim aplacar a ira da divindade. No entanto, em nenhuma dessas obras tais ações são proibidas. Elas tam bém incluem uma grande variedade de ofensas.

20.13. sexto m andam ento. A palavra usada aqui não se restringe, literalmente, a assassinato, m as admite a pessoa como sujeito e também como objeto da ação. Pelo que se tem observado, é um termo usado somen­

te no contexto de homicídio (seja acidental ou inten­cional, prem editado ou não, judicial, político ou de

qualquer outra natureza) dentro da comunidade da *aliança. D evido à n atureza do term o usado, esse versículo não pode facilm ente servir de argum ento nos debates sobre pacifismo, pena de morte ou vege­tarianismo. Várias compilações de leis do antigo Ori­ente Próximo não m encionam qualquer tipo de puni­ção para assassinato, enquanto que outras exigem como punição para esse crime apenas o pagamento de uma indenização. No entanto, o assassino ainda corria o risco de ser executado pela fam ília da vítima, numa vingança de sangue.20.14. sétim o m andam ento. O objetivo dessa lei era proteger o nome do m arido, assegurando-o de que seus filhos eram realmente seus. A lei não garantia a fidelidade conjugal; sua ênfase era a paternidade, não

a ética sexual. A integridade da família, e não a do casam ento, era protegida. Se um hom em casado se envolvesse com um a jovem solteira, isso não era con­

siderado adultério. O transgressor tinha de pagar ao pai da jovem pelo prejuízo causado (22.16,17). Essa é

a conseqüência natural de uma sociedade polígama. O com portam ento prom íscuo não era aceitável (Dt 22.21; 23.2), m as não era considerado adultério se a

m ulher não fosse casada. Na Bíblia, a esposa é uma extensão do marido, cujo nome é m anchado pelo adul­

tério. Em outras culturas, a esposa era considerada propriedade do marido e nesse caso, o adultério cau­

sava danos apenas materiais. Não obstante, no Egito

(nos contratos de casamento), na M esopotâm ia (nos hinos a Ninurta e Shamash) e em Canaã (história do

rei de *Ugarite, que extradita e executa sua esposa), o

adultério era considerado extremamente prejudicial à sociedade, sendo caracterizado como anarquia. As leis

*hititas, *medo-assírias e o Código de Hamurabi con­

têm leis contra o adultério. A proteção da integridade da família era importante, pois a fam ília era a base da

sociedade. A crise ou o esfacelamento da família acar­

retaria a crise ou o esfacelamento da sociedade.20.15. oitavo m andam ento. O furto de propriedade é

evitado pelo décimo mandamento que trata do passo anterior ao ato em si. Em bora o verbo usado no oitavo

mandamento possa ser usado para roubo de bens, o

enfoque aqui é muito mais abrangente. Questões como

seqüestro (cf. D t 24.7) e danos m orais (privando o outro de dignidade, respeito próprio, liberdade, di­

reitos) tam bém são importantes. A palavra tam bém é

usada para roubo no sentido de trapaça, o que signi­

fica que obter algo de alguém por meio de trapaça tam bém é considerado roubo.

20.16. nono m andam ento. A terminologia indica que o enfoque principal está relacionado principalmente

à difamação e à calúnia dentro do contexto jurídico.

A manutenção da justiça dependia da confiabilidade da testem unha. Não obstante, destruir a reputação

de alguém, legal ou inform almente, constituía falso

testem unho e era considerada um a violação desse

m andam ento.20.17. décim o m andam ento. No antigo Oriente Pró­

ximo o conceito de cobiça está presente em expressões

do tipo "levantar os olhos", mas era detectado e puni­do como crime somente quando o desejo se traduzia

em ação. A literatura do antigo Oriente Próximo mos­

tra que ofensas como o roubo e o adultério podem ser descritas, de m odo geral, em term os do desejo que

desencadeia a seqüência de ações. Esse desejo ilegíti­mo por algo que pertence a outra pessoa é o cerne do

problem a e um a am eaça à comunidade, e qualquer

ação no sentido de satisfazer o desejo é tida como pecado.20.18. trovões e relâm pagos. Trovões e relâmpagos normalmente acompanhavam a chegada da divinda­de, segundo se acreditava, em bora muitas vezes isso acontecesse durante as batalhas, não num momento de revelação, visto que os deuses do antigo Oriente Próximo não costumavam revelar-se aos homens.

20.24-26 Altares20.24. a ltar de terra. A lguns altares desse período eram feitos de tijolos de barro, e ao mencionar altares de terra, talvez o texto se refira a isso. Outra possibi­lidade é que se refira a altares cujas paredes externas eram de pedras, mas preenchidos com terra. A Bíblia não menciona nenhum altar feito de terra e as escava­ções arqueológicas também não encontraram nenhum altax desse tipo.20.25. altar de pedras. Se o altar fosse construído com pedras, estas não deveriam ser lavradas. Nos altares israelitas descobertos por arqueólogos em Arad foram usadas pedras brutas, em bora alguns altares, como aqueles construídos em D ã e Berseba fossem feitos de alvenaria de silhar (um tipo de pedra lavrada).20.26. pudor sacerdotal. A nudez ritual era bastante difundida no antigo Oriente Próximo, enquanto que aqui toda precaução é tomada no sentido de assegurar a discrição. Os prim eiros altares com degraus cons­truídos pelos cananeus foram encontrados em lugares como M egido. A lei israelita tam bém preservava a discrição ao prescrever túnicas longas e roupas de baixo para os sacerdotes.

21.1- 23.19 O livro da aliança21.1-23.19. le i casuística. No antigo Oriente Próximo, a lei era apresentada principalm ente em função de casos, ou seja, era um a lei *casuística. É caracterizada pela estrutura "se... então'7, baseada na idéia de causa e efeito. Nos códigos de leis israelitas, a justiça pressu­põe a igualdade entre todos os cidadãos, portanto, a punição pelo crime não pode ser obstruída, atenuada ou intensificada pela condição social ou financeira do acusado. Não era isso, porém, que acontecia na Meso- potâmia, onde o código de *Hamurabi (c. 1750 a.C.) prescrevia diferentes níveis de punição (desde a apli­cação de m ultas até a execução) a escravos, cidadãos livres e membros da nobreza. É possível traçar a ori­gem do casuísmo nas leis *apodícticas (ordens), tais como as que se encontram nos Dez M andamentos. Visto que as pessoas cometiam crimes em circunstân­cias variadas, era necessário ir além do mero estatuto

"não furtarás", e levar em conta questões como a hora do roubo e o valor do objeto roubado.21.1-23.19. natureza do livro da aliança. O código de leis encontrado nos capítulos 21 a 23 do Livro de Êxodo é denominado o "livro da *aliança" e provavelmente é o exemplo m ais antigo de lei *casuística na Bíblia.

Esse código aborda um a am pla variedade de situa­ções legais (escravidão, roubo, adultério) e tende a impor sentenças bastante severas (nove exigem a exe­cução), muitas das quais baseiam-se no princípio da Lex Talionis (lei de Talião) do "olho por olho". As leis procuram antecipar várias situações comuns dentro

da cultura das vilas de povoamento e no período ini­cial da m onarquia, e tam bém regulam entam o co­mércio, o casamento e as responsabilidades pessoais. O caráter dessas leis é menos teológico que as compi­ladas em Levítico e Deuteronômio.

21.2. hebreu. O termo hebreu é usado para designar o israelita que perdera suas terras e se tornara m iserá­vel. Em bora essa pessoa pudesse ser forçada a vender a si m esm o e à sua fam ília com o escravos para o pagamento das dívidas, seus direitos como membro da comunidade eram mantidos e ele não podia per­m anecer como escravo indefinidam ente. Após seis anos de trabalho, sua dívida era considerada quitada e ele deveria ser solto.21.2-6. escravidão por dívida. Devido à precariedade do meio ambiente em grande parte do antigo Oriente Próximo, os agricultores e os proprietários de peque­nos lotes de terra m uitas vezes se endividavam. Os problemas podiam se agravar se a seca se prolongas­se por m ais de um ano, provocando péssimas colhei­tas. Em situações assim, eles eram forçados a vender suas terras e propriedades, e às vezes suas famílias e seus próprios corpos. A lei israelita levava em conta essa situação, estabelecendo um período razoável de serviço ao credor, bem como um limite no tempo de servidão para todos os que se tom aram escravos por causa de dívidas. Ninguém podia perm anecer como escravo por mais de seis anos e, ao final desse perío­do, a dívida era considerada quitada e a pessoa liber­ta. Para alguns, essa era um a boa solução, mas para aqueles que não tinham um a terra para onde voltar, era preferível continuar a serviço do credor, ou buscar trabalho nas cidades ou então alistar-se no exército.21.2-6. comparação com as leis sobre escravidão do antigo O riente Próxim o. As leis sobre escravidão dos israelitas tendem a ser mais hum anas que as encon­tradas em outros lugares no antigo Oriente Próximo. Por exemplo, nenhum escravo podia ser mantido em servidão perpétua sem que concordasse com essa situ­ação. Escravos fugitivos não precisavam voltar para seus donos. Na Mesopotâmia, o escravo (geralmente

prisioneiro de guerra) podia ser liberto por seu se­nhor ou então comprar sua liberdade. As leis de Ha- m urabi estabelecem um lim ite de três anos para a escravidão por dívida, em oposição aos seis anos esti­pulados em Êxodo 21.2. Os escravos não tinham os mesmos direitos que os homens livres e no caso de

prejudicarem um homem livre, receberiam uma pu­nição maior do que este receberia se tivesse cometido o m esm o delito.21.5, 6. furar a orelha à porta. As portas e passagens eram lugares sagrados e com significado legal. Quan­do um escravo escolhia permanecer nessa situação a fim de m anter a família que formara durante o tempo de escravidão, era levado à porta da casa de seu dono e ali, sim bolicam ente, era considerado preso àquele lugar ao ter o lóbulo de sua orelha furado. É possível que fosse colocado um brinco na orelha furada para marcá-lo como escravo permanente.21.7-11. filh a vendida como escrava. Quando um pai vendia sua filha como escrava, podia ter como propó­sito pagar uma dívida ou obter um marido para ela, sem o pagamento do dote. Nesse caso, ela tinha mais direitos que o escravo masculino, pelo fato de poder obter sua liberdade no caso de seu dono privá-la de alimento, roupas e dos direitos conjugais. A venda dos filhos como escravos é fato comprovado em toda a Mesopotâmia, em quase todo esse período de tempo.21.10. condições m ínim as. Visto que a escravidão per­manente geralm ente era reservada a estrangeiros e prisioneiros de guerra, as pessoas que se tornavam escravas por causa de dívidas eram protegidas pela lei de serem abusadas por seus credores. A lei deter­minava o período de seis anos como suficiente para quitar qualquer dívida, sendo que no sétimo ano o escravo devia ser liberto (um paralelo evidente com o ciclo da criação em sete dias). As leis de *Hamurabi exigiam que esse tipo de escravo fosse liberto após três anos de servidão, abrindo assim um precedente para esse procedimento na Mesopotâmia.

21.10, 11. provisão para a esposa. A provisão para uma m ulher sob os cuidados de alguém no antigo Oriente Próximo consistia de alimento, roupas e óleo. O terceiro item na lista apresentada aqui ("direitos conjugais") é uma tentativa de traduzir uma palavra que, em todo o Antigo Testamento, aparece somente nesse contexto. A ocorrência freqüente do termo "ó leo" usado nesse contexto em inúm eros docum entos do Antigo Oriente Próximo levou alguns a suspeitar que a palavra no texto hebraico possa ser um termo pouco conhecido para óleo (compare Os 2.7; Ec 9.7-9).21.12. punição capital. A pena máxima era exigida nos casos em que o acusado era considerado um a ameaça ao bem-estar e à segurança da comunidade.

Assim , o assassinato, o desrespeito aos pais (maus­tratos), o adultério e a idolatria são crimes capitais, porque ofendem às pessoas e corrompem a sociedade. O princípio envolvido presum e que a indulgência m otivaria outras pessoas a praticar esses crimes. O apedrejamento era a form a usual de execução. Dessa maneira, nenhum indivíduo específico era responsá­vel pela morte do réu, m as toda a comunidade parti­cipava na eliminação do mal.21.13. lugar do santuário. Nos casos em que o homi­cídio não fosse intencional, a pessoa envolvida tinha a chance de recorrer ao santuário, num lugar indicado, geralmente um altar ou lugar sagrado (ver N m 35.12; D t 4.41-43; 19.1-13; Js 20). Era uma forma de proteger o réu da família da vítim a e dar tempo para as autori­dades ouvirem as testemunhas e chegarem a um juízo. A concessão para continuar no santuário dependeria então da forma como a m orte fosse julgada: se intenci­onal ou acidental. Com o tempo, o núm ero de lugares de santuário teve de ser aumentado, à medida que a população crescia.21.15 ,17. am aldiçoar os pais. Ao contrário do que diz a tradução da N VI, estudos têm dem onstrado que a infração aqui não se tratava de amaldiçoar os pais, e sim de tratá-los com desprezo. Seria um a categoria m ais geral e certam ente incluiria a proibição de agredir os pais, em 21.15, e seria oposto à ordem do quinto m an­damento, "honra teu pai e tua m ãe" (20.12). Cada uma dessas leis era designada para proteger a unidade da fam ília, bem como assegurar que as gerações seguin­tes garantissem aos pais o respeito, o alimento e a pro­teção que m ereciam (ver D t 21.18-21). Os códigos de leis e documentos legais da M esopotâmia também tra­tam da questão do desprezo para com os pais. As leis *sum érias perm itiam que o filho que renegasse seus pais fosse vendido com o escravo. O Código de *Ha- m urabi exigia que fosse am putada a mão do homem que agredisse seu pai. Um testam ento de *Ugarite ao descrever o comportamento de um filho usa esse mes­m o verbo, determ inando que ele fosse deserdado.21.16. seqüestro (comércio de escravos). Os seqües- tros eram praticados esporadicamente, quando alguém não honrava o com prom isso de pagar um a dívida, mas muitas vezes simplesmente faziam parte do co­m ércio ilegal de escravos. Tanto a lei mosaica como a m esopotâm ica exigiam a pena de m orte para esse crim e. Um a pena tão severa reflete a preocupação com a liberdade individual e tam bém com a proteção contra a invasão de lares desprotegidos.21 .18 ,19 . le is sobre ofensas pessoais comparadas às do antigo O riente Próximo. A responsabilidade por injúria pessoal como resultado de um a briga, e não devido à ação premeditada, é tratada de modo seme­

lhante na Bíblia e nos códigos legais do antigo Orien­te Próximo. De modo geral, a vítim a tinha o direito de ser indenizada pelas despesas médicas, com alguns acréscimos a essa provisão nos diferentes códigos. O texto aqui considera se a pessoa m achucada recupera- se a ponto de conseguir andar, sem o auxílio de uma bengala. O Código de *Hamurabi avalia a morte re­

sultante dos ferimentos e um a m ulta a ser paga, com base na posição social. O código *hitita exige que uma pessoa seja enviada para administrar a casa da víti­ma, até que ela se recupere.21.20,21. direitos humanos (escravo como proprieda­de). O direito básico à vida implica que nenhuma morte pode passar sem castigo. Sendo assim, se o proprietário de um escravo o espancasse até a morte, receberia uma p unição não esp ecificad a. No entanto, não haveria

punição se o escravo se recuperasse da surra. A pre­missa é que o proprietário tinha o direito de discipli­nar seus escravos, visto que eram considerados como sua propriedade. Os direitos hum anos eram restritos, nesse caso, devido à condição de escravo.21.22. aborto. Diversos códigos antigos de leis inclu­em este estatuto que penalizava o homem que provo­casse o aborto em um a mulher. As penas variavam, dependendo da posição social da m ulher (as leis de *Hamurabi estipulavam um a pequena multa no caso de ser uma escrava; as leis *medo-assírias especifica­vam uma multa elevada, cinqüenta açoites e um mês de trabalho, se alguém ferisse a filha de um cidadão) ou do motivo da agressão (as leis *sum érias prescrevi­am uma multa para ferimentos acidentais e outra multa bem maior para os deliberados). A lei do Êxodo con­siderava a hipótese da mãe, além da perda do feto, sofrer conseqüências m ais sérias, e im punha um a multa com base no valor estipulado pelo marido e na aprovação dessa quantia pelos juizes. O objetivo da multa é compensar a agressão cometida contra a mãe e não em relação à perda do feto. Entretanto, as leis medo-assírias exigiam que a morte do feto fosse com­pensada com o pagamento de outra vida.21.23-25. Lei de Talião. O princípio legal da Lei de Talião, "olho por olho", é baseado na idéia de recipro­cidade e de uma retaliação equivalente (ver Lv 24.10­20). Teoricam ente, quando um a ofensa era com etida contra alguém, a m aneira de fazer justiça era causan­do a m esm a ofensa ao culpado. Em bora pareça um recurso extrem o, na verdad e lim ita a punição a ser infligida ao culpado, isto é, o castigo não podia exceder ao prejuízo causado. Visto que a maioria das leis de res­ponsabilidade pessoal implicava o pagamento de uma multa em vez da desforra pessoal da ofensa, é m ais provável que a afirm ação do ta lião seja um lim ite designado de compensação, com um valor estipulado

para cada parte do corpo ferida (ver as leis de *Esnuna, que determ inam m ultas específicas para ferim entos provocados no nariz, nos dedos, na mão e no pé). O princípio de Talião tam bém é encontrado em sua for­m a básica nos códigos 196-197 de *Ham urabi, m as as leis subseqüentes a esse trecho contêm variações com base na posição social das pessoas envolvidas (cidadãos livres, escravos ou membros da nobreza). N a maioria dos casos, aplicava-se a lei de talião quando havia in­tenção prem editada de prejudicar.21.22-36. responsabilidade pessoal. No antigo Orien­te Próximo, dava-se grande ênfase à responsabilida­de pessoal dos atos. Foram escritos vários estatutos no sentido de proteger a pessoa e sua capacidade de trabalho, detalhando como lidar com todo tipo de ofen­sas possíveis, praticadas por mão hum ana ou pela propriedade de alguém. O exemplo clássico é o caso do boi bravo. Além de ser encontrado no Êxodo, está presente tam bém nas leis de *Esnuna e *Hamurabi, onde a pena por deixar solto um boi que costum a chifrar as pessoas é limitada ao pagamento de uma multa. O exemplo bíblico, porém, exige que o boi e seu proprietário sejam apedrejados até a morte. Leis semelhantes tratam da falta de habilidade de um pro­prietário em lidar com situações que coloquem outros em perigo, como cães ferozes (Esnuna), transgressões do código (Esnuna; Êx 21.33, 34) ou quando um ani­mal valioso era ferido por outro animal ou por uma pessoa (*Lipite-Istar; Hamurabi - prática veterinária indevida). G eralm ente, esses crim es eram punidos com multas baseadas no grau do ferimento e no valor da pessoa ou do animal ferido.

21.26-36. penas pela responsabilidade pessoal. As pe­nas impostas nos casos de responsabilidade pessoal geralmente dependiam de quem havia sido ofendido e do tipo de ofensa. Se o proprietário de escravos abusasse deles a ponto de m utilá-los - inutilizando um olho ou arrancando um dente - então o escravo era liberto, como compensação. Nos casos em que o escravo chegava a morrer, a pena era decidida pelas

circunstâncias. Se um proprietário tom asse conheci­mento de uma situação perigosa e não fizesse nada a respeito, deveria pagar com a vida no caso de alguém ser morto devido à sua negligência. De igual modo, se animais valiosos fossem mortos ou feridos, a pessoa responsável deveria providenciar uma compensação igual. A lei, no entanto abria uma exceção nos casos em que o proprietário não estivesse a par do perigo potencial, não o considerando assim totalmente res­ponsável pelas perdas ou danos causados.22.1-4. furto no antigo Oriente Próximo. O furto pode ser definido como a apropriação de bens ou de propri­edades sem autorização legal. A quantidade e a espe­

cificidade das leis concernentes ao farto sugerem que esse era um problema sério no antigo Oriente Próxi­mo. H á casos de arrombamentos (22.2,3; *Hamurabi); roubos (Hamurabi), saques durante incêndios (Hamu- rabi) e uso de propriedades ou de recursos naturais sem a perm issão do proprietário (por ex., levar os rebanhos para pastar no campo de outro homem, em Êx 22.5 e no Código de Hamurabi). A cultura mesopo- tâmica dava grande importância a documentos como contratos, recibos de venda e confirmação de um ne­gócio por testemunhas (Hamurabi). Essas práticas co­merciais, estabelecidas com o objetivo de evitar frau­des, também são mencionadas no texto bíblico, mas com m ais freqüência nas narrativas (Gn 23.16; Jr 32.8­15) do que nos códigos de leis. Nas situações em que não existiam provas físicas suficientes ou a responsa­bilidade pela perda era incerta, era feito um juram en­to (Êx 22.10-13; H am urabi). D esse m odo, Deus era cham ado a ser testem unha e a pessoa que fazia o juram ento colocava-se à m ercê da justiça divina.22.1-4. pu nições para o fu rto . A punição prescrita para furto variava de acordo com a identidade do proprietário e com o valor do bem furtado. Nas leis de *Hamurabi, a pena de morte era exigida para pessoas que roubavam templos e palácios. No entanto, essa pena era reduzida a um a m ulta de trinta vezes o valor do objeto roubado, se a vítim a fosse um fun­cionário do tem plo ou do governo, e dez vezes o valor, se o objeto pertencesse a um cidadão. Essa m es­m a lei impunha a pena de morte ao ladrão que não pagasse a multa. Êxodo 22.3 ameniza essa exigência ao permitir que o ladrão seja vendido como escravo para compensar o dano. As penas para esse tipo de crime, incluindo pesadas multas ou sentenças de m or­te, dão um a idéia de como a sociedade da época leva­va a sério esse tipo de infração.22 .2 ,3 . arrombam entos. A lei parte do pressuposto de que as pessoas têm o direito de proteger sua proprie­dade contra o furto e de defender-se. A ssim , se um

ladrão arrombasse uma casa à noite e fosse morto pelo proprietário, era considerado um caso de autodefesa (ver exem plo nas leis de *U r-N am m u). Porém , se a invasão acontecesse à luz do dia, a situação era diferente porque o proprietário podia ver com m ais clareza o nível de ameaça e podia pedir ajuda. As leis de '‘Hamu­rabi acrescentam uma repressão simbólica para casos de arrombam entos sugerindo que se um ladrão fosse m orto durante um arrombam ento, seu corpo deveria ser emparedado para tapar o buraco que ele mesmo ca­vara na parede da casa de sua vítim a.22.5-15. proteção da prop riedad e. N a m aioria dos casos, a responsabilidade por perdas ou danos à pro­priedade baseava-se em circunstâncias ou contratos.

A restituição geralmente baseava-se na perda real da propriedade (animais, grãos, frutas) ou na perda da produtividade, em se tratando de campos ou pomares danificados ou im pedidos de produzir. H avia tam ­bém um forte senso de responsabilidade em casos de negligência, como incêndios que se alastravam por descuido, agressão de anim ais ou incapacidade de m anter açudes ou sistem as de irrigação. Em casos assim, a pessoa que se omitisse em situações perigo­sas ou que não tivesse controle sobre seus anim ais tinha de pagar uma restituição pelas perdas que provo­cara (como nos códigos de *Hamurabi e *Ur-Nammu). No entanto, nem todas as perdas eram cobertas. Nos casos em que as perdas eram decorrentes de eventos imprevisíveis ou estivessem previstas em acordos de aluguel, as reivindicações eram recusadas (22.13,15).22.5-15. penas para danos à propriedade. Visto que as perdas ou danos causados às propriedades podiam ser calculados em term os concretos, as penas eram estipuladas de modo a garantir a justa restituição do valor monetário. De acordo com os estatutos bíblicos, às vezes esse valor era estipulado pelos ju izes, en­quanto que em alguns casos, estabelecia-se o dobro do valor dos bens prejudicados. Nos códigos mesopo- tâmicos as penas são mais específicas, estipulando-se a quantia exata a ser paga para os danos a um animal alugado, junto com a compensação equivalente (como no Código de *Lipite-Istar) e a exata quantidade de grãos por acre num campo inundado (*Hamurabi).22.16. contrato de casam ento. As famílias negociavam os contratos de casamento, estipulando um valor a ser pago pela fam ília do noivo e um dote pela fam ília da noiva. Assim que o casal se comprometesse ou acertasse o casam ento, eram considerados legalm ente unidos pelo contrato. Assim, a pena por estupro dependia da m ulher ser virgem e prom etida em casam ento.22 .16 .17. preço da noiva. A família do noivo pagava o preço da noiva como parte do acordo de casamento. Esse preço variava, dependendo da moça ser virgem ou ter sido casada anteriormente. Nesse caso, era exi­gido o preço para uma virgem, ainda que ela tivesse sido estuprada.22 .16 .17 . sexo antes do casamento. O sexo antes do casamento era desencorajado por diversas razões: 1) usurpava a autoridade do pai de fazer o contrato de casam ento; 2) reduzia o valor v irtual do preço da noiva; e 3) impedia que o marido tivesse certeza de que seu primeiro filho era de fato seu. Essa lei regula­m entava o sexo antes do casam ento ao im por um casamento forçado ao culpado e/ou uma multa igual ao preço da noiva, em se tratando de um a virgem. Desse m odo, o pai era poupado da vergonha e da perda dos rendimentos ao negociar um contrato de casamento para uma filha que não era mais virgem.

22.18. fe iticeira. Praticantes de feitiçaria eram conde­nados à pena de m orte dentro da com unidade de

Israel (ver Lv 19.31; 20.27). Todas as leis concernentes

a eles encontram-se na forma *apodíctica, ou de uma ordem. Essa intolerância absoluta pode ser decorrente

da magia estar associada à religião cananéia ou sim­

plesmente porque sua prática representava um desa­fio à suprem acia de Deus sobre a criação.

22.19. bestialidade. As leis que proíbem as relações sexuais com animais (ver Lv 21.15 ,16; Dt 17.21) tam­

bém estão escritas em forma de mandamento. A bes­

tialidade, assim como a hom ossexualidade, viola o princípio básico de ser fecundo e multiplicar-se (Gn

1.28; 9.1), e também corrompe as categorias da criação

ao misturar as espécies. Tais atos também são proibi­dos pelas leis *hititas.

22.21. proteção aos estrangeiros. A ordem para pro­teger o "estrangeiro" sempre é baseada na lembrança

do êxodo e na situação dos israelitas como estrangei­

ros, antes de se estabelecerem na Palestina (ver Dt14.17-22). É basead a tam bém na im agem de D eus

como o protetor supremo dos fracos - seja um a nação

inteira ou os membros mais vulneráveis da socieda­

de. O tratamento humano para com os estrangeiros acompanha o espírito do código de hospitalidade e

também reconhece a existência de pessoas que não desfrutam da cidadania, estando sujeitas à discrimi­

nação ou abuso se não receberem uma atenção espe­

cial por parte da lei.

22.22-24. proteção aos órfãos. Órfãos, estrangeiros e viúvas form avam as três categorias de pessoas des­

providas na sociedade antiga. Deus dedicou um cui­dado especial aos órfãos por serem indefesos, exigin­

do que não fossem oprimidos, e caso fossem tratados assim, ameaçando seus opressores com a maldição de

que seus filhos também se tom ariam órfãos. As guer­

ras freqüentes, a fom e e as doenças causavam um

grande núm ero de órfãos. Em bora pudessem contri­buir para a força de trabalho, eles tinham de ser ado­

tados para terem o direito de herdar propriedades ou

de aprender uma profissão como aprendizes (como nas leis de *Hamurabi).22.22-24. proteção às viúvas. Assim como estrangei­

ros e órfãos, as viúvas muitas vezes dependiam de caridade para sobreviver. Esses três grupos necessita­vam da proteção da lei porque eram incapazes de se

defender. As viúvas tinham permissão para rebuscar

nos campos, pomares e vinhas (Dt 24.19-21) e m anti­nham sua dignidade como um a classe protegida pelo

estatuto divino. Elas não podiam herdar a proprieda­de do marido e seu dote seria usado para sustentar os filhos (como nas leis de *Hamurabi). Em alguns casos

elas tinham direito ao casamento por levirato da parte dos familiares de seu falecido esposo (ver Dt 25.5-10 e leis *hititas), de outra forma eram forçadas a sair em busca de em prego ou de um novo casam ento (ver Rute).

22.22-24. tratam ento das classes desfavorecidas. Deacordo com as declarações encontradas nos prólogos dos Códigos de *Ur-Nammu e de *Ham urabi, os reis consideravam que parte de sua tarefa como "sábios

governantes" era proteger os direitos dos pobres, das viúvas e dos órfãos. Semelhantemente, no texto egíp­cio A Lenda do Camponês Eloqüente o queixoso começa­va seu discurso identificando o juiz como "o pai dos órfãos, o esposo das viúvas". Estatutos individuais (encontrados em diversas leis *medo-assírias) decla­ram o direito de um a viúva casar-se novam ente e prover seu sustento quando seu marido fosse levado como prisioneiro e dado como morto. Dessa maneira, essas pessoas menos favorecidas tinham suas necessi­dades supridas em todo o antigo O riente Próximo. Somente o "estrangeiro" não é mencionado especifi­camente fora da Bíblia. Isso não significa que os códi­gos de hospitalidade não vigorassem em outros luga­

res, mas sim que o estrangeiro está associado à Bíblia devido à experiência ímpar do êxodo.22.25. cobrar ju ros. Dois princípios são evidentes na restrição quanto à cobrança de juros nos empréstimos: 1) Como comunidade agrícola vivendo em povoados, as pessoas perceberam que para sobreviver precisa­

vam depender um as das outras; e 2) o pagamento de juros era uma característica dos mercadores que vivi­am nas cidades, com quem os agricultores às vezes tinham de negociar, m as que não se interessavam pela comunidade aldeã (ver Os 12.7, 8). Assim, a fim de m anter um padrão de igualdade entre todos os israelitas e evitar que o antagonismo entre cidadãos rurais e urbanos aumentasse (ver Ne 5 .7 ,1 0 ,1 1 e Ez22.12 para as violações da lei), a cobrança de juros entre o povo israelita tinha de ser eliminada (ver Lv25.35-38; Dt 23.19). Só poderia haver cobrança de ju ­ros nos empréstimos feitos a estrangeiros (Dt 23.20). Esse costume contrasta com as práticas comerciais de outros lugares e às relações periódicas dos juros que podiam ser cobrados de empréstimos, de acordo com as leis de *Esnuna e de *Hamurabi.22.25. regulam entação para em préstim o de dinhei­ro. Como nos dias de hoje, agricultores, artesãos e hom ens de negócios so licitavam em préstim os de especuladores para financiar o plantio do ano seguin­te, expandir seus negócios ou iniciar um novo empre­endim ento. Todos esses em préstim os eram feitos à base de juros e como os códigos de leis eram conside­rados a norma padrão para a comunidade, as taxas de

juros eram estipuladas pela lei. As leis de *Esnuna ofereciam detalhes técnicos sobre a taxa de câmbio no pagamento de juros tanto de cevada como de prata. A produção de uma colheita podia ser dada como pe­

nhora de um empréstimo (*Hamurabi), mas se ocor­resse um desastre natural, o pagamento dos juros se­ria cancelado (Hamurabi). Para evitar práticas frau­dulentas, não era permitido aos especuladores partici­par da colheita de campos ou pomares a fim de tomar o que lhes era devido. Ao contrário, o proprietário fazia a colheita, assegurando assim que apenas a quan­tia justa seria paga; os juros não podiam ultrapassar os 20% (Hamurabi).22.26, 27. m anto como garantia. Trabalhadores dia­ristas geralmente penhoravam suas roupas em troca de um dia inteiro de trabalho. Em m uitos casos, o m anto era a única cobertura que tinham , além da roupa de baixo. Assim, a lei exigia que fosse devolvi­do ao final do dia, a fim de que não ficassem sem proteção durante o frio da madrugada (ver Dt 24.12, 13; Am 2.8). Se o m anto não lhes fosse devolvido, teriam de abrir mão de sua condição de homens livres e trabalhar como escravos. U m a inscrição hebraica do final do século sétimo a.C., de Yavneh-Yam, contém o apelo de um trabalhador rural cujas vestes foram to­madas de m aneira injusta. Ele pede que sejam devol­vidos a ele seus direitos e sua liberdade, juntamente com a roupa.

22.28. b lasfêm ia contra D eus ou autoridade. O termo hebraico usado nesse versículo pode ser traduzido como "D eu s" ou "juizes", sendo que nenhum deles deve ser ignorado ou menosprezado. Tanto os juizes como os governantes deviam ser respeitados (antes da monarquia, o chefe da tribo era eleito pelos anciãos e confirm ado por Deus naquela posição). Havendo desrespeito, a autoridade dos anciãos e de Deus em

escolher um governante seria questionada; por essa razão, o desrespeito era punido com a m orte (ver 2 Sm 19.9; 1 Rs 21.10). Blasfêmia e rejeição do poder e da presença de D eus tam bém eram consideradas ofensas capitais (Lv 24.15, 16).

22.29. o fertas das co lh eitas. A s cidades arm azena­vam suas colheitas em enormes celeiros em forma de fossos revestidos de pedra; já os camponeses tinham celeiros menores, construídos de pedra calcária nati­va, situados próximos de suas casas. U m a parte de toda a colheita devia ser separada como oferta a Deus. Essa ordenança servia para lembrar o povo de sepa­rar aquela oferta antes de encher e selar seus arm a­zéns com a colheita.

22.29. sacrifício do prim ogênito. Geralmente acredi­tava-se que a fertilidade era assegurada somente se o primogênito do rebanho e de todas as famílias fosse

sacrificado a D eus (ver 13.2; Lv 27.26). A religião israelita proibia o sacrifício humano, assim a criança era substituída por um animal (ver Gn 22). Os levitas serviam a Deus em lugar dos primogênitos dedicados ao Senhor (Nm 3.12, 13).22.30. oitavo dia. A exigência de que os animais não fossem tirados de suas mães para serem oferecidos em sacrifício antes do oitavo dia após o nascimento (ver Lv 22.27) talvez seja (1) um paralelo com a Circunci­são dos filhos ao oitavo dia (Gn 17.12), (2) um a de­monstração do tratamento bondoso concedido aos ani­mais ou (3) uma tentativa de relacionar o sacrifício ao término do ciclo de sete dias da criação.22.31. carne de anim ais mortos. Como um sinal de que os israelitas eram o povo "separad o" de Deus, eles não podiam comer nada que ritualmente pudes­se contam iná-los. Assim , o anim al que tivesse sido morto por feras não podia ser comido por causa do contato da carne com os predadores, que podiam ser anim ais im puros, e pela im possibilidade de confir­mar se o sangue tinha sido derramado por completo (Lv 17.14).22.31. cães. M atilhas de cães ferozes geralmente são associadas à carniça (SI 59.6; 1 Rs 14.11). Os cães vas­culhavam o lixo pelas ruas e arredores das cidades e aldeias, sendo identificados de modo geral como ani­mais impuros. Essa palavra era usada para escarnecer de um inimigo ou ao fazer um juramento (1 Sm 17.43;2 Sm 16.9).23.1-9. m anutenção da im parcialidade no sistem a ju ­diciário. Qualquer sistema judiciário está sujeito ao abuso de autoridade quando seus funcionários são corruptos. Para preservar a integridade do processo legal em Israel, os juizes eram admoestados a manter um padrão de justiça igual para todos, a não executar sentença contra os inocentes e a não aceitar subornos. As testemunhas eram exortadas a não dar falso teste­munho, a fim de não colaborarem com a condenação de inocentes. Nesse trecho, todos os israelitas são lem­brados de sua responsabilidade de ajudar o próximo e tratar o estrangeiro com hospitalidade e justiça. Desse modo, as pessoas se sentiriam seguras quando procu­rassem os juizes e poderiam esperar um julgamento justo. Além disso, as pessoas ficariam mais tranqüilas ao saber que cada uma delas assim como suas proprie­dades diziam respeito a todos os cidadãos.23.1-9. condição dos pobres no antigo O riente Próxi­mo. Visto que a maioria das culturas no antigo Orien­te Próximo reconhecia a existência de classes sociais, os pobres nem sem pre recebiam o mesmo tratamento que os ricos e poderosos. *H am urabi descrevia a si mesmo como um "príncipe devoto e temente a deus", que praticava a justiça e protegia os mais fracos, em­

bora haja num erosos indícios nos códigos de leis e em escritos criteriosos que as coisas não iam tão bem as­sim. O texto egípcio Ensinos de A m enem ope incluía repreensões contra aquele que roubasse do pobre, enganasse o aleijado e invadisse o campo de uma viúva. O discurso do "cam ponês eloqüente" (Médio Império do Egito, 2134-1786 a.C.) recordava ao magis­trado que ele devia ser um pai para os órfãos e marido para as viúvas.23.8. suborno no m undo antigo. O suborno repre­senta qualquer provento obtido por funcionários pú­blicos ou juizes por meios ilícitos. Geralm ente o su­borno tem como objetivo favorecer ou influenciar a decisão de um a ação judicial. Por se tratar de uma subversão da justiça, essa prática era oficialmente con­

denada por todas as civilizações no mundo antigo. No Código de *Hamurabi há o caso de um juiz que foi exonerado por ter alterado uma decisão judicial firm a­da, e a correspondência real de H amurabi menciona a punição de um funcionário que aceitou suborno. O

texto bíblico inclui as proibições legais (23.8; D t 16.19), sendo que o suborno de juizes é condenado também nos livros dos profetas (Is 1.23; M q 3.11).23.10 ,11 . ano de descanso. A orientação para deixar a terra descansar no sétimo ano acompanha o padrão da história da criação, quando D eus descansou no sétimo dia. E provável que os agricultores separas­sem a sétim a parte dos cam pos para um descanso anual, em vez de deixar toda a terra descansar um ano inteiro. Na M esopotâm ia, os campos entravam em rodízio de descanso com m ais freqüência a fim de limitar o impacto do sal presente na água usada na irrigação. Essa prática também ajudava a evitar a per- i a dos nutrientes, causando o em pobrecim ento do solo. O aspecto legal do bem -estar social do pobre explicado de forma m ais direta em Lv 25.1-7 e 18-22;

ver comentários desses versículos) é m ais um a vez contemplado pela lei.23.13. invocar o nome de outros deuses. Era costume r. o antigo O riente Próxim o invocar o nom e de um ieu s para abençoar as ações, as ofertas de sacrifícios :u as atividades diárias tais como axar a terra ou cons- m iir uma casa. Para evitar que os israelitas praticas­sem o politeísmo, foi preciso proibir o uso do nome de ?utros deuses e até mesmo o reconhecimento de sua existência (ver 20.3). Somente Yahw eh podia ser in­vocado para abençoá-los e ajudá-los.23.15. Festa dos pães sem ferm ento. A festa dos pães 5em fermento m arca o início da colheita da cevada março a abril). O pão sem fermento era feito com o

§jão recém-colhido e celebrado como o primeiro sinal ia s colheitas vindouras naquele ano. Essa festa pro­vavelm ente originou-se das celebrações agrícolas

cananéias e passou a ser associada ao êxodo e ao festi­val da Páscoa pelos israelitas.23.16. Festa da colheita. O segundo dos três festivais da colheita acontecia sete sem anas após a colheita dos primeiros grãos (34.22; Dt 16.9-12) e é m ais conhecido como Festa das Semanas ou Pentecostes. Dentro do ciclo da agricultura, esta festa m arcava o final da co­lheita do trigo, e estava tradicionalm ente ligada à entrega da lei no monte Sinai. Também estava associ­ada à renovação da *aliança e à peregrinação. A cele­bração consistia em dedicar um a "oferta sim bólica" de dois pães e um cesto de frutos maduros em grati­dão pela boa colheita.23.16. Festa do encerram ento da colheita. A última

colheita do ano acontecia no outono, antes do início da estação das chuvas, e m arcava o começo de um novo ano agrícola. Era o momento de juntar e armazenar os últimos grãos e frutos maduros. Esse evento tinha a duração de sete dias e tam bém é conhecido como Festa dos tabernáculos, simbolizada pela construção de cabanas para os trabalhadores que participaram da colheita. O festival ligava-se à tradição israelita

como um a comemoração pela peregrinação no deser­to. Também foi nessa ocasião que ocorreu a dedicação

do templo de Salomão em Jerusalém (1 Rs 8.65).23.17. peregrinação obrigatória. A exigência de que

todas as famílias israelitas (ver Dt 16.11,14) compare­cessem diante de Deus, no templo, três vezes por ano está ligada ao calendário agrícola e aos três principais festivais: Festa dos Pães sem Fermento, Festa da Co­

lheita e Festa dos tabernáculos. Essa obrigação religi­osa proporcionava uma ocasião favorável para a reali­zação de feiras, julgam ento de questões legais, ceri­m ônias de casamentos e ritos de purificação aos que haviam se contaminado física ou espiritualmente.23.18. ferm ento e sacrifício de sangue. O uso de fer­mento e farinha levedada em sacrifícios com animais eram estritamente proibidos. Essa restrição baseava- se na associação do fermento ao processo de corrupção. O sangue sacrificial, relacionado à vida, poderia as­sim ser aviltado ou corrompido se entrasse em contato com o fermento.23.18. o que fazer com a gordura. As partes gorduro­sas do animal sacrificado que estivessem na região do estôm ago e dos intestinos eram destinadas a Deus (29.12,13; Lv 3.16,17). Não deviam ser guardadas até a manhã seguinte porque, assim como o sangue, con­tinham a essência da vida.23.19. primeiros frutos. Os primeiros frutos da colhei­ta, associados à Festa da Colheita, deviam ser levados a Deus como oferta. Representavam a gratidão e tam ­bém uma parte simbólica da produção que ainda es­tava por vir, com a colheita do outono (ver D t 26.2-11).

23.19. cabrito no leite da m ãe. A proibição quanto a cozinhar o cabrito (talvez representando todos os ani­m ais jovens) no leite da própria m ãe tem sido inter­

pretada como um a reação contra as práticas religiosas cananéias ou de outros povos (ver 34.26 e Dt 14.21). Os cabritos geralmente nasciam n a época da Festa dos tabernáculos e sua inclusão nas refeições de celebra­ção talvez explique essa lei. Outra explicação baseie- se n a prescrição de tratar os anim ais bondosamente, visto que um animal que ainda não fora desmamado provavelm ente teria leite da m ãe em seu estômago. Existe ainda a consideração de que o leite da m ãe contém sangue e, portanto, contaminaria a carne ou a refeição sacrificial.

2 3 .2 0 -3 3A conquista de Canaã23.20. an jo preparando o cam inho. A prom essa de um anjo preparando o caminho para o povo segue o padrão da narrativa, mostrando a presença e orienta­ção divinas, inicialm ente representadas pela coluna de nuvem e de fogo durante o êxodo (13.21, 22).23.21. nele está o m eu nom e. O "m ensageiro" ou anjo enviado por D eus é um a extensão do próprio Deus, representando sua presença contínua com o povo Israel. Como os nomes e a escolha deles (ver G n 17.5) eram considerados poderosos no m undo anú), (ver 9.16; Lv 19.12), dizer que Yahw eh colocara nome naquele anjo significava dizer que/e^d^v^a serobedecido da m esm a form a presença e o poder de Deus m ensageiro. O p o v o ^ n h

que D eus p rom etera^^23.23. povos de

ram em Can<

s. A ■S(Tnaquele

q u e ele faria o

os povos que habita- h diversidade étnica da-

Canaã servia como um a pon- ám ia e o Egito, e desta forma, foi

diferentes povos, colunas sagradas. Era comum que se erigissem

ocais de adoração, em Canaã, altares, postes e colunas sagradas. Essas últim as eram enormes pedras colocadas de pé que representavam o poder de um a divindade local. Podiam ser encontradas isoladas ou em grupo.23.28. vespas. O termo traduzido como "pânico" ou "terror divino" em algumas versões, no original tem m ais o sentido de "v esp as" (ver D t 7.20; Js 24.12), semelhante às pragas no Egito. Textos e relevos egíp­cios e *assírios retratavam seu deus como um disco alado que aterrorizava o inimigo antes da chegada de seus exércitos. Tam bém pode ser um trocadilho, pela sem elhança com a palavra usada para Egito (zirah e mizraim) indicando assim que Yahw eh teria usado as

campanhas m ilitares egípcias em Canaã para enfra­quecer a área e tom ar a ocupação israelita possível. 23.31. fronteiras da terra. Os limites da terra prom e­tida são definidos pelo m ar Vermelho (golfo de Aca­ba) ou pela fronteira com o Egito a sudoeste, pela costa do m ar M editerrâneo a oeste, e pelo rio Eufrates e M esopotâm ia a leste. N a verdade, em nenhum perío­do, nem m esm o durante o reinado de Salom ão, a nação israelita ocupou todo esse território. No entanto, de acordo com um a representação ideal, que incluía toda a área entre as duas superpotências daquele tem­po, essas seriam as fronteiras naturais.

2 4 .1 -1 8A confirmação da aliança 24.1. setenta autoridades. Esses home; sentantes indicados pelas tribos^u nttf^áfffl M oisés, A rão e os filhos de Arão des^m^nnítm^er papel de

representantes da *a lian £a£A j^ W raJleles, bem como seu núm ero (set@ ta), (representava a nação como um todo aceitg, _

{ do ano 3100 a.C. é que Í£as evidências de sistemas de es-

friente Próxim o. Tanto os hieróglifos i escrita *cuneiforme da Mesopotâmia

éj^temas silábicos e complexos, havendo neces- ^ade de escribas profissionais que pudessem ler e

í escrever para a m aioria iletrada. Os exem plos m ais antigos de escrita alfabética no m undo encontram-se n a região do Sinai (Serabit el-Khadim) e rem ontam à m etade do segundo milênio (essas inscrições são cha­m adas de proto-sinaíticas, enquanto que as correlatas de Canaã são cham adas de proto-cananéias). Todos os alfabetos do m undo derivam dessa prim eira escrita. A invenção do alfabeto elevou radicalm ente o uso da escrita. N o início, a escrita era usada em documentos comerciais, tratados, relatos históricos, na literatura e em obras religiosas. N a M esopotâm ia utilizavam -se tabuletas de argila para escrever enquanto que no Egito eram usados rolos de papiro. Em ambos os luga­res, existiam tam bém inscrições gravadas em m onu­m entos de pedra. Infelizmente, grande parte dos do­cum entos escritos em papiros ou em peles de animais

foi perdida, devido à decomposição ou deterioração ao longo dos séculos. Registrar algo por escrito era não só um a form a de preservar o conteúdo de alguma transação, m as tam bém representava a conclusão de um tratado ou de um a *aliança (como no caso desse versículo), sendo que o ato da escrita em si colocava em vigor o acordo.24.4. altar e doze colunas. Construir um altar e er­guer colunas fazia parte da cerimônia de *aliança. As colunas representavam a presença de D eus e a reu-

nião das doze tribos de Israel num juram ento solene de m útua lealdade através de um acordo escrito e de um ato sacrificial (ver Gn 31.45-54 e Js 24.27 sobre outras colunas comemorativas).24.5. sacrifícios de comunhão. Esse tipo de sacrifício ajustava-se bem a uma cerim ônia de *aliança, visto que era com partilhado pelos participantes. Apenas uma porção do sacrifício era totalmente queimada no altar; o restan te era servido em um a refeição que consumava o acordo entre Deus e o povo.24.6. derramar sangue sobre o altar. Por ser a essên­cia da vida, o sangue pertencia a D eus, o Criador. Assim, o sangue dos animais sacrificados quase sem­pre era derramado no altar, servindo para lembrar ao povo que o doador da vida é santo, assim com o a própria vida.24.7. livro da aliança. A leitura pública das condições da *aliança faz ia parte de toda cerimônia de confirma­ção desses acordos (ver Js 24.25-27; 2 Rs 23.2; Ne 8.5­9). A lei era então lida para o povo, apreciada e colo­cada em vigor a partir daquela data pelo povo de Israel. Diversos tratados *hititas do mesmo período também estipulam que o acordo deveria ser lido em voz alta periodicamente.24.8. aspergir sangue sobre o povo. A aspersão do sangue sacrificial sobre o povo era uma prática pouco comum, tendo ocorrido novam ente apenas na cerimô­nia de ordenação de Arão e seus filhos (Lv 8). Um laço especial era estabelecido através desse ato simbólico, marcando o povo como propriedade de Deus. N a ver­dade, talvez as doze colunas teriam sido aspergidas com o sangue, visto que representavam o povo e poderiam ser marcadas de uma só vez.24.10. viram o Deus de Israel. Ver a Deus face a face *teofania) é sem pre descrito como algo perigoso (Gn

16.7-13; 28.16, 17; 32.24-30; Jz 6.22, 23). Os represen­tantes de Israel encerraram a cerim ônia da *aliança com uma refeição. Nesse caso, porém, a presença de Deus não representava perigo, pois eles estavam cum ­prindo a ordem de Deus e sob proteção divina.

24.10. pavim ento de safira. V isto que a safira era desconhecida no antigo Oriente Próximo, esse pavi­mento ricam ente decorado provavelm ente era feito de lápis-lazúli (levado para a região por mercadores do Afeganistão), usado para guarnecer câmaras reais e tronos (ver Ez 1.26). Alguns textos mesopotâmicos do primeiro m ilênio m encionam algumas tradições, provavelmente anteriores ao período cassita, que fa- j m de três céus. Cada nível do céu é descrito como rendo um tipo especial de pedra em seus pavimentos, sendo que os céus intermediários eram pavimentados de pedra saggilmud, parecida com o lápis-lazúli. Acre­ditava-se que essa pedra era responsável pela colora­

ção azul do céu. Os céus intermediários eram o lugar

em que a maioria dos deuses habitava.24.12. tábuas de pedra. Era comum no antigo Oriente

Próximo gravar em pedra alguns documentos impor­

tantes, códigos de leis e os registros reais de campa­nhas militares heróicas (ver comentário em 32.15, 16

para m ais inform ações sobre tábuas de pedra). As tábuas de pedra que Moisés recebeu de Deus no mon­

te Sinai acompanham esse padrão. Infelizmente, não

se sabe ao certo o que estava escrito nessas tábuas,

em bora a tradição afirmando tratar-se dos Dez M an­damentos seja m uito antiga. As tábuas originais fo­ram destruídas (32.19) e posteriormente substituídas

por D eus (34.1). A segunda versão foi colocada na

arca da *aliança (Dt 10.5).

24.18. quarenta como núm ero aproxim ado? O nú­mero quarenta aparece muitas vezes como um núm e­

ro final, significando a passagem de um determinado

período de tempo, ou seja: uma geração (Gn 25.20), a

chegada da maturidade (2.11), o período no deserto (16.35; N m 14.33), o m andato de um juiz ou chefe (Jz

3.11; 13.1). A regularidade com que esse núm ero sim­

bólico é usado sugere que esteja impregnado de sig­nificado cultural e literário e, portanto, não deve ser

tom ado com o um núm ero preciso, na m aioria dos casos.

25.1- 27.21 O tabernáculo e seus objetos25.3. m etais preciosos. Ouro, prata e bronze eram

considerados os m etais e ligas mais importantes para

os israelitas no período pré-monárquico. Eram usados para troca e tam bém para decorar jóias, objetos de

culto e altares de incenso. N o caso desse versículo, representam a disposição do povo em contribuir com seus bens mais preciosos para a construção e provisão do tabernáculo.

25.4. fios de tecidos coloridos. Som ente os artigos

mais preciosos deveriam ser usados na decoração do tabernáculo. A s tintas, algum as delas feitas com o

fluido glandular extraído de moluscos marinhos e de certas plantas, eram extremamente caras e, geralmen­te, importadas. A s cores alistadas aqui estão em or­

dem decrescente conforme seu valor e apreciação: azul, roxo e vermelho.

25.4. linho. Assim como outros tecidos, o linho feito de fibra batida era produzido em diferentes níveis de

qualidade. O linho rústico era usado para velas de embarcações, turbantes e túnicas. O termo usado aqui

é "linho fino", usado nas vestim entas dos funcionári­

os egípcios (José, em G n 41.42) e nesse caso, seria usado para enfeitar o tabernáculo (ver 26.31,36 ; 38.9).

25.5. tinta verm elha. A preparação de tinturas não é mencionada muitas vezes no texto bíblico. Envolvia o uso de cal, casca de árvores e seiva de plantas, sendo necessário o acesso a um tanque com água. N esse caso, talvez as peles de carneiro fossem curtidas pelo sol ou tingidas de vermelho, ou as duas coisas, atra­vés de um processo artesanal.25.5. couro. N o original, o termo "couro" provavel­m ente seja uma referência à pele de anim ais m ari­nhos (o peixe-boi ou dugongo, um mamífero herbívo­ro, e golfinhos) encontrados no m ar Vermelho, cujas peles seriam curtidas e usadas para decoração. Essas criaturas foram caçadas durante milênios no golfo ára­be, por causa de sua pele. Essa palavra também pode ser comparada a um term o *acadiano que descreve um a pedra sem ipreciosa de cor am arela ou laranja, referindo-se assim à cor da tintura usada.25.5. m adeira de acácia. Trata-se de um a variedade de árvore do deserto encontrada no Sinai, muito utili­zada no Egito, cuja m adeira é extremamente dura e adequada para a construção do tabernáculo e de seus utensílios.25.6. óleo da unção. As especiarias que deveriam ser usadas no preparo do óleo da unção eram a mirra, a canela, a cana arom ática e a cássia (ver receita em30.23-25). O objetivo era rem over qualquer vestígio de odores m undanos e transform ar o in terior do tabernáculo em um santuário adequado para a adora­ção e para a presença de Deus.25.7. pedras de ônix. Em bora seja traduzida aqui como "ô n ix", a identificação exata dessa pedra preciosa é desconhecida. Tam bém é m encionada em G ênesis2.12 como natural da terra de Havilá, perto ou dentro do jardim do Éden. Existem algumas possibilidades dessa pedra, que pode ser cinzelada, ser a lápis-lazúli ou o ônix, um a calcedônia com listras brancas leitosas e pretas.25.7. colete sacerdotal. Vestim enta sacerdotal reser­vada para o sumo sacerdote (ver capítulo 28). Era feita de ouro e adornada com pedras preciosas encravadas no peitoral. Era um a das vestes exteriores do sacerdo­te (28.25, 31), e fazia referência à autoridade do sumo sacerdote e à presença de Yahweh.25.8. id eolog ia do tem p lo. O tem plo não era um a estrutura para a adoração coletiva e sim um lugar onde Deus podia habitar no meio do povo. Para tanto, tinha de ser preservado em santidade e pureza, a fim de que a presença de Deus se manifestasse. A tarefa dos sacerdotes era m anter a pureza do local e contro­lar o acesso. O templo não foi idealizado para funcio­nar como um lugar de ofertas de sacrifícios. Ao contrá­

rio, muitos sacrifícios tinham como objetivo prover o tem plo. A presença de D eus era o elem ento m ais

importante a ser preservado. As ofertas de sacrifícios pelo pecado (ver comentário em Lv 4.1-3) e pela culpa (ver comentário em Lv 5.14-16) tinham esse objetivo.25.10-22. a arca (dim ensões, m odelo, função). A arca era um a caixa de m adeira, aberta em cima, com apro­ximadamente um metro de comprimento, setenta cen­tímetros de altura e setenta de largura. Era revestida por dentro e por fora de lâminas de ouro fino e tinha quatro argolas (também revestidas de ouro), duas de cada lado, onde passavam duas varas de m adeira revestidas de ouro, que eram usadas para carregar a arca e evitar que alguém, além do sumo sacerdote, a tocasse. Uma tampa de ouro puro, decorada com dois querubins com as asas estendidas, fechava a arca que continha as tábuas da lei. Sua função primordial era guardar as tábuas e servir como um estrado para o trono de Deus, garantindo assim uma ligação terrena entre Deus e os israelitas. N o Egito, era comum que im portantes docum entos confirm ados por um jura­mento (p. ex., tratados internacionais) fossem deposi­tados aos pés da divindade. O Livro dos Mortos men­ciona uma regra escrita pela mão de uma divindade num bloco de m etal que foi depositado aos seus pés. Portanto a combinação "estrado/receptáculo" segue um conhecido costume egípcio. Nos festivais egípcios, as imagens dos deuses geralmente eram carregadas em procissão, dentro de barcas portáteis. Pinturas re­tratam procissões em que caixas semelhantes à arca eram carregadas por meio de varas e decoradas com im agens de criaturas em cima ou dos lados, como guardiãs. Um baú com argolas (para ser carregado), de tamanho semelhante, foi encontrado na tumba de Tutancâmon.25.10. côvado. A medida padrão do côvado israelita era a distância entre o cotovelo e a ponta do dedo médio. Pelas proporções do túnel de Siloé, descrito como tendo 1.200 côvados de com prim ento ou 528 metros, o côvado teria entre 53 e 55 centímetros. Como os arqueólogos ainda não encontraram nenhum indí­cio sobre o côvado, sua medida real ainda é incerta.25.16. as tábuas da aliança. Esse term o refere-se às tábuas da lei que M oisés recebeu. Era bastante co­mum no antigo Oriente Próximo colocar códigos de leis em receptáculos construídos especialmente para representar a presença diante da divindade.25.17. o propiciatório (dim ensões, m odelo, função). O propiciatório ou "tam pa" era um a lâmina de ouro que servia como cobertura da arca (com as mesmas medidas especificadas no texto), mas por figurar como um item específico da arca, tinha um significado espe­cial. Decorando o propiciatório havia dois querubins com as asas abertas, um de frente para o outro; as asas quase se encontravam acima da arca e serviam para

sustentar simbolicamente o trono invisível de Deus. Assim, tendo a arca como "estrado" e o propiciatório

como suporte para o trono, a presença de D eus era m anifestada ao povo.25.18-20. querubins. As descrições bíblicas, bem como as descobertas arqueológicas (incluindo algumas pe­ças finas de marfim, de Ninrode, na M esopotâmia, de Arslan Tash, na Síria e da Samaria, em Israel) suge­rem que os querubins eram criaturas múltiplas (com características de diversas criaturas, como a esfinge egípcia), geralm ente com cabeça hum ana, corpo de

animais quadrúpedes (leão) e asas. A figura de um querubim aparece com certa regularidade na arte an­tiga, ladeando tronos de reis e divindades. A combi­nação de todos esses elem entos (querubins com o guardiães do trono, arcas como estrados e afirmações no Antigo Testam ento, do trono de Yahw eh sendo sustentado por querubins, cf. 1 Sm 4.4) apóia a im a­gem da arca como uma representação do próprio tro­no invisível de Yahweh. O uso de tronos vazios era largamente difundido em todo o mundo antigo; esses tronos ficavam à disposição das divindades ou dos reis, quando estivessem presentes.25.23-30. m esa dos pães da Presença. A m esa da Pre­sença era um a m esa de quatro pés revestida de ouro, também carregada por varas introduzidas em quatro argolas, duas de cada lado. Os pães sagrados eram colocados sobre ela (ver Lv 24.5-9) para serem vistos por :odos, sendo substituídos no final de cada semana.25.31-40. candelabro. O menorah (em hebraico) ou can­delabro de ouro com sete castiçais ficava na parte externa do lugar santo do tabernáculo, na extremida­de oposta à m esa da Presença. Em bora suas dimen­sões não apareçam no texto bíblico, o candelabro de­via ser fund ido em um a única peça de ouro. Sua função era ilum inar o recinto sagrado e apenas Arão e 5-eus filhos tinham perm issão para cuidar dele. Inú­meros relevos e alguns mosaicos de candelabros já da epoca correspondente ao Novo Testamento foram en­contrados, quando passaram a ser usados como sím­bolo do judaísm o e da vida eterna, m as acredita-se que não seguiam o m esm o m odelo do menorah dos .empos do Antigo Testamento. A m ais antiga repre­sentação do menorah encontra-se em uma moeda do primeiro século a.C., onde aparece o desenho de um

candelabro de sete castiçais bastante simples, com uma rase oblíqua. A lguns acreditam que o candelabro representava a Árvore da Vida - um símbolo recor­rente em representações artísticas.26.1-6. cortinas de linho com querubins bordados. Das quatro cam ad as de cortin as que cercavam o tabernáculo, essas eram as m ais internas, sendo for­madas por dez cortinas de linho fino, decoradas com

figuras de querubins. Cada cortina media vinte e oito côvados de comprimento e quatro de largura (doze metros de comprimento por um metro e oitenta centí­m etros de largura). Eram costuradas em grupos de cinco, formando duas cortinas mais longas, que por sua vez eram presas com laços de tecido azul e colche­tes de ouro (medida total: 18 metros por 12).26.7-13. cortinas de pêlos de cabra. A s cortinas inter­nas de pêlos de cabra serviam como um a cobertura

para proteger as cortinas de linho que cobriam o tabernáculo. Assim como as cortinas de linho, essas eram compostas de onze cortinas feitas separadamen­te e depois costuradas um as às outras e presas por meio de laços e colchetes de bronze (mediam 20 metros por 14).26.14. cobertura de pele de carneiro. Nenhuma me­dida é m encionada para essa terceira cam ada que cobria o tabernáculo por cima, feita de pele de carnei­ro tingida de vermelho. Essas camadas intermediári­as tinham um duplo propósito: proteger o tabernáculo e servir como símbolo dos dois animais mais im por­tantes para a economia de Israel (ovelhas e cabras).26.14. cobertura de couro. As cortinas do tabernáculo seguiam uma progressão, indo do mais fino tecido até o couro mais resistente, garantindo assim que o recin­to sagrado ficasse protegido por uma cobertura im ­permeável. As medidas dessa quarta camada de cou­ro (pele de peixe-boi ou golfinho, que seriam m ais resistentes à água; cf. 25.5) não são apresentadas.26.15-30. as armações. A estrutura que sustentava as cortinas do tabernáculo era feita de m adeira de acácia. Era formada por três armações verticais de madeira ligadas por encaixes e travessões, que eram introdu­zidos em fendas revestidas de ouro e prata. Toda a estrutura media trinta côvados (aproximadamente 14 metros) de comprimento, dez côvados (aproximada­mente cinco metros) de altura e dez de largura.26.31-35. o véu. O véu era um a espécie de cortina espessa na form a de um cubo e delimitava um espaço no átrio interno conhecido como Santo dos Santos, onde a arca da aliança era colocada. O véu media dez côvados (aproximadamente 5 metros) de cada lado, era pendurado com ganchos de ouro a quatro colunas de m adeira de acácia revestidas de ouro e fincadas em bases de prata. Era confeccionado com linho fino e fios de tecido colorido, e com bordados de figuras de querubins feitos por artífices habilidosos, assim como nas cortinas de linho na parte interna do tabernáculo.26.1-36. m odelo, dim ensões e traçado do taberná­culo. O tabernáculo era uma estrutura retangular (50 côvados de largura por cem côvados de comprimento, ou aproximadamente 25 m etros por 50), dividida em dois quadrados iguais, (cada um com 25 m etros de

cada lado) onde se localizavam três lugares sagrados: o Lugar Santíssimo que continha a arca; o Lugar San­to, fora do véu, que abrigava o candelabro, o altar de incenso e a m esa dos pães da Presença; e o átrio exter­no, onde ficava o altar de sacrifícios. Tanto a arca como o altar de sacrifício se localizavam exatamente no cen­tro de seus respectivos quadrados sagrados. A entra­da no átrio externo ficava do lado oriental e tinha vinte côvados de largura (dez metros). O acesso às áreas m ais sagradas do tabernáculo (orientadas num eixo oriental) só era possível através do átrio externo. Estruturas móveis de modelo semelhante (cortinas pen­duradas em travessões ou varas douradas), usadas tanto em atividades sagradas como seculares, tam ­bém existiam no Egito, remontando à metade do ter­ceiro milênio. As tendas reais da décima nona dinas­tia eram feitas de duas câmaras, um a dentro da outra, sendo que a externa tinha o dobro do tam anho da interna.26.1-36. santuários m óveis no antigo Oriente Próxi­mo. Não há evidências de outros santuários móveis

tão elaborados como o tabernáculo, m as é fato com­provado que grupos beduínos (tanto antigos como

m odernos) carregam consigo objetos sagrados e alta­res móveis de um acampamento para outro. Relatos do antigo Oriente Próximo também descrevem itine­rários de procissões sacerdotais que carregavam ima­gens de deuses e objetos sagrados de uma cidade para outra. Esse costume era um a forma de permitir que a divindade visitasse os santuários, inspecionasse as dependências dos templos e participasse dos festivais anuais que aconteciam fora da capital. Textos religio­sos cananeus também falam de tendas usados como habitação dos deuses. Os arqueólogos encontraram vestígios de um santuário m idianita instalado numa

tenda, em Tim ná, datado do século doze a.C ., que apesar de não ser portátil, era composto também de cortinas penduradas em varas.26.1-36. modelo de "eixo reto" do santuário. A arqui­tetura simétrica dos santuários antigos indica a impor­tância dada à geometria do espaço sagrado na Anti­

güidade. A entidade divina era considerada o centro de poder no Universo, portanto, o santuário deveria refletir esse papel central, pelo menos simbolicamen­te, dividindo o local em áreas progressivam ente sa­gradas e colocando o altar e os objetos associados à presença da divindade exatamente no centro do lugar m ais santo do santuário. D essa m aneira, criava-se um vínculo de poder e majestade, tornando mais efetivas as orações, os sacrifícios e as invocações ao deus. Os arqueólogos costumam classificar os templos de acor­do com a organização das câmaras de acesso aos com­partimentos m ais internos e pela posição da câmara

principal, que representava a presença da divindade. Uma arquitetura de "eixo reto" perm itia que a pessoa caminhasse num a linha reta desde o altar até o santu­ário interior (cela ou cubículo). Num a construção de "eixo inclinado", a pessoa precisaria fazer uma volta de 90 graus entre o a ltar e o lugar onde ficava a imagem. Na planta de acesso direto, a porta de entra­da para a cela retangular podia ficar na parede curta ("largura da sala") ou na parede longa ("com prim en­to da sala"). A planta do tabernáculo seguia o modelo do "eixo reto", m as não havia parede curta ou longa porque o Lugar Santíssimo (cela) era quadrado, não retangular.

27.1-8. altar. O altar era o lugar onde se queimavam os sacrifícios. Pelo fato de precisar ser facilmente trans­portado, sua forma era de um quadrado vazio (cinco côvados de cada lado e três côvados de altura) feito de troncos de acácia, com chifres em cada um dos quatro cantos, revestido de bronze e com um a grelha tam­bém de bronze. V ários utensílios (recipientes para recolher cinzas, pás, garfos e braseiros) eram usados para m anusear a carne sacrificial e as cinzas. Assim como a arca, o altar tinha argolas e varas laterais para facilitar o transporte. Em bora não fosse tão sagrado como a arca, o altar também era um local de contato com Deus, e ficava no eixo principal do átrio externo do tabernáculo. A ministração no altar era restrita à família sacerdotal de Arão, sendo que funcionava como meio de ligar o povo à promessa da *aliança (fertili­dade e terra prom etida). A través dos sacrifícios, o povo reconhecia a generosidade de Deus e era condu­zido a uma comunhão com o poder que os protegia e

abençoava.27.9-19. o pátio. A arquitetura do tem plo requeria que os recintos mais sagrados fossem separados do m undo profano da vida cotidiana por um a área cerca­d a - o pátio, no caso do tabernáculo. Essa área era demarcada por cortinas de linho (com aproximada­mente dois metros de altura) fechando um pátio de

aproximadamente 990 metros quadrados (cem côvados por cinqüenta). Visto que a parte interna do taberná­culo tinha quatro m etros e m eio de altura, as paredes tapavam apenas parte da visão, deixando claramente visível o símbolo da presença de Deus. As cortinas do pátio eram presas em 56 colunas encaixadas em bases de bronze. O em prego de m aterial de m enor valor reflete o uso progressivo de materiais preciosos até os m ais comuns, na construção do tabernáculo.27.21. a Tenda do Encontro. A rão e seus filhos ti­nham de colocar azeite de oliva nas lâm padas que

ficavam diante da "Tenda do Encontro", o "lugar san­to" que ficava do lado de fora do véu que separava aquela área do Lugar Santíssimo. A li a presença de

D eus se m anifestaria a M oisés e o povo receberia instruções através dessas mensagens oraculares (ver 39.32; 40.2; 6.29). Esse espaço, portanto, tinha uma função sim bólica e tam bém prática. A presença de Deus era reconhecida pelas lâmpadas que perm ane­ciam sempre acesas. A tarefa de m anter as lâmpadas acesas fornecia um papel para a comunidade sacerdo­tal, e era garantia de direção, prom etida prim eiro a Moisés e conseqüentemente ao povo, o que está im­

plícito no nome "Tenda do Encontro".27 .20 ,21 . lâm padas sem pre acesas. O azeite puro de oliva devia ser usado para garantir um a luz perm a­nente à entrada do Lugar Santíssim o. O serviço rela­cionado a essas lâmpadas era feito por Arão e seus fi­lhos, e sim bolizavam a presença de Deus. A continui­dade dessa função sacerdotal é vista em 1 Sam uel 3.3.

28.1-43As vestes sacerdotais28.1. sacerdócio. A criação de um sacerdócio profissi­onal é a m arca do am adurecimento de um sistem a religioso. Ao escolher Arão e seus filhos para o sacer­dócio, Deus designou quem era digno de servi-lo no tabernáculo e estabeleceu a sucessão hereditária para as futuras gerações de sumos sacerdotes em Israel. A linhagem sacerdotal se originava da tribo de Levi e, especificamente, da descendência de Arão. As tarefas do sacerdote compreendiam apresentar sacrifícios pelo povo e celebrar os principais festivais religiosos, o que lhes conferia certos direitos e responsabilidades que ninguém mais tinha, como: uso de vestes espe­ciais e direito a um a porção do sacrifício , que era separada para eles. Os sacerdotes não tinham permis­são de possuir terras, nem de executar funções que não se relacionassem ao sacerdócio. Eles estavam pre­sos a um padrão mais elevado de obediência e eram rapidamente punidos se fracassassem no eumprimen- :o de suas obrigações ou não servissem de exemplo adequado para o povo.28.1. sacerdotes no antigo O riente Próxim o. Todas as culturas do antigo O riente Próxim o desenvolveram algum tipo de sacerdócio. Apenas as tribos beduínas não costumavam separar alguns indivíduos para de­sempenhar funções estritamente sacerdotais. As fun­ções exercidas por eles, como parte de um a comunida­de sacerdotal, eram servir nos templos, realizar sacri­fícios, dirigir cultos religiosos e participar dos festi­vais. O sacerdote recebia instrução no templo desde a mais tenra idade e sua posição na classe sacerdotal era hereditária, em alguns casos. Eles faziam parte do pequeno grupo de pessoas letradas da sociedade, que dependia deles para m anter os registros dos princi­pais eventos e revelar-lhes a vontade dos deuses. Esse

processo era conhecido como *adivinhação e, junto com o sacrifício *ritual, era a principal fonte de poder e autoridade dos sacerdotes. Havia uma hierarquia entre os sacerdotes, que incluía o chefe dos sacerdotes, que às vezes, rivalizava com o rei em poder, os indi­víduos de nível médio que executavam *rituais e sa­crifícios diários, os músicos, e por últim o os servos do templo, que atuavam como zeladores e faziam os ser­viços domésticos necessários a qualquer comunidade

de tamanho considerável.28.6-14. éfode ou colete sacerdotal. A veste sacerdo­tal mais importante usada por Arão era o éfode, ou colete, que era uma roupa de linho que cobria a parte superior do corpo ou um a peça frontal presa aos om­bros e atada na cintura. O uso de fios de tecido de cinco cores e de ouro, bem com o de duas pedras engastadas, indicam sua im portância. O nom e das seis tribos gravado em cada um a das pedras servia como um constante lembrete a todos de que ele era o representante da nação diante de Deus. Em passa­

gens posteriores, o éfode aparece relacionado a ídolos e adoração falsa (Jz 17.5, 8; 24-27), sugerindo que era um a veste assim ilada da sociedade m esopotâm ica, talvez usada pelos sacerdotes ou para adornar ídolos. O peitoral (28.15), o Urim e o Tumim (28.30) e o éfode eram usados nas *adivinhações (1 Sm 23.9-11),assim, o sum o sacerdote vestia-se com roupas que auxilia­vam no discernimento da vontade de Deus.28.15-30. peitoral. Usando um pedaço do mesmo li­nho colorido de que era confeccionado o éfode, fazia- se um bolso de 22 centím etros quadrados, dobrado em dois. Esse peitoral era então firm emente preso ao colete por meio de correntes de ouro e cordões azuis que passavam por argolas, prendendo-o às ombreiras e à cintura do colete. Presas em bases douradas do peitoral ficavam as doze pedras semipreciosas dispos­tas em quatro fileiras (compare à lista de pedras pre­ciosas em Ez 28.13). Cada pedra tinha o nome de uma das tribos de Israel, servindo como uma lembrança adicional para todos (inclusive Deus) da responsabili­dade do sacerdote como representante do povo. No bolso, eram colocados o Urim e o Tumim, que fica­vam exatamente sobre o coração do sacerdote. Esses objetos, juntam ente com o peitoral, eram usados como instrumentos oraculares para discernir a vontade de Deus. No antigo Oriente Próximo acreditava-se que as pedras (inclusive gemas de diversos tipos) tives­sem poderes *apotropaicos (ofereciam proteção contra forças espirituais). Um manual *assírio do sétimo sé­culo a.C. preserva uma lista de várias pedras e seus respectivos "pod eres", que variam desde "aplacar a ira divina" até "evitar enxaqueca". Um texto ritual alista doze pedras preciosas e semipreciosas que de-

viam ser usadas na confecção de um filactério que era

colocado ao redor do pescoço, como uma gargantilha.28.30. Urim e Tum im . Ao contrário da maioria dos

objetos descritos aqui, não há nessa passagem nenhu­m a referência à "confecção" do Urim e do Tumim.

Isso sugere que já eram usados anteriormente, e ago­

ra passariam a ficar no peitoral para serem usados pelo sumo sacerdote (ver Lv 8.8 e D t 33.8). Nenhuma descrição desses objetos é encontrada nas Escrituras,

embora as tradições helenistas e de períodos posterio­res indicam que serviam para revelar a vontade de

Deus, através da disposição formada ao serem lança­dos como dados (ver Nm 27.21; 1 Sm 14.37-41 e 28.6).

Não há nenhuma característica negativa atrelada ao

U rim e ao Tum im , como havia em outras práticas divinatórias, e tam bém nunca são m encionados em passagens relacionadas à adoração ou *rituais não

israelitas. De qualquer forma, a prática de apresentar perguntas do tipo "sim ou não" (oráculos) aos deuses

era bastante conhecida em todo o antigo Oriente Pró­ximo. Nesse aspecto, são particularmente interessan­

tes os textos *babilônicos tamitu, que preservam as

respostas a muitas perguntas oraculares. Pedras posi­tivas e negativas (acredita-se que fossem pedras cla­

ras e escuras) tam bém eram am plamente usadas na

M esopotâm ia, num procedim ento cham ado psefo- mancia. Em um texto *assírio, o alabastro e a hematita

são m encionados de m aneira específica. O processo

consistia geralmente em se fazer uma pergunta cuja

resposta seria "sim ou não" e a seguir tirava-se uma pedra. Para confirmar a resposta, uma pedra da mes­

m a cor deveria ser tirada por três vezes consecutivas.

Urim é a palavra hebraica para "lu zes" e, portanto, estaria associada às pedras claras ou brancas. Um es­

tudo recente mostrou que a hematita, por ser usada

para pesos e lacres, era chamada de "pedra da verda­de" entre os *sum érios. A palavra hebraica Tum im

poderia ter um significado semelhante.

28.31-35. m anto. Sob o colete, o sumo sacerdote devia usar um largo manto azul que chegava quase até o

tornozelo. A gola era reforçada para que não se ras­

gasse e o manto era sem mangas. A borda era rica­

mente decorada com bordados de romãs e com sinos de ouro, que se alternavam por toda a volta.

28.33, 34. rom ãs. A borda do m anto do sacerdote

tinha romãs bordadas com fios de tecido azul, roxo e verm elho. Essa fruta é m encionada geralm ente em

narrativas e canções (Nm 13.23; 20.5; Ct 4.3; 6.7) e foi usada na decoração do templo de Salomão (1 Rs 7.18).

As romãs simbolizavam a fertilidade da terra prome­tida e também eram usadas na decoração de acessóri­os rituais em *Ugarite.

28.33-35. sinos de ouro. Pequenos sinos de ouro eram presos na borda do manto do sacerdote, intercalando- se com as romãs bordadas. A função deles era sinali­zar os m ovimentos do sumo sacerdote dentro do Lu­gar Santíssimo, lembrando-o da responsabilidade de executar suas obrigações exatamente de acordo com a lei e indicando ao povo sua presença no recinto santo.28.36-38. diadema gravado. Como um memorial per­pétuo de seu papel esp ecial com o sacerd ote, um diadem a de ouro gravado com a inscrição "C on sa­grado ao Senhor" era preso ao turbante. Esse adereço era equivalente ao diadema da coroa do rei e simbo­lizava sua autoridade. O diadema tam bém responsa­bilizava pelas infrações a pessoa encarregada de to­dos os *rituais.28.38. levará a culpa. Como o responsável por todos os *rituais religiosos, era importante que o sumo sa­cerdote levasse seu ofício a sério. Assim, um diadema gravado era preso ao seu turbante como sinal de auto­ridade e para lembrá-lo de que ele levaria a culpa e o castigo por qualquer falha em obedecer às leis dos *rituais e sacrifícios.28.39-41. túnica. A vestimenta comum usada por ho­mens e mulheres no período bíblico era uma túnica de linho. Era usada diretam ente sobre a pele, com com prim ento até o tornozelo e m angas compridas, oferecendo assim proteção contra o sol. As túnicas das pessoas abastadas (Gn 37.3 e 2 Sm 13.18, 19) e dos sacerdotes às vezes eram bordadas ou recebiam uma bonita aplicação na borda.

28.39. turbante. O turbante tam bém era feito de li­nho, e de acordo com Josefo, não tinha o formato de

um cone (.Antiquities o fth e Jews 3.7.6). É provável que o turbante do sumo sacerdote fosse mais elaborado do que o dos sacerdotes comuns (28.40), pois além de ter um diadema gravado preso a ele, era m ais colorido.28.42, 43. roupas de baixo. Ao contrário das pessoas comuns, os sacerdotes tinham de usar calções de linho debaixo de suas túnicas para cobrir seus órgãos ge­nitais. Dessa forma não exporiam sua nudez quando

estivessem subindo os degraus do altar ou cuidando de sua lim peza. A nudez era um costum e comum entre os sacerdotes da Mesopotâmia, mas proibida na prática israelita.

29.1-46 A consagração dos sacerdotes29.1-46. cerimônia de ordenação. Após ter ordenado a construção do tabernáculo, da arca, do altar e de todos os objetos e enfeites relacionados, Moisés deu as instruções para a consagração desses objetos e dos sacerdotes ao serviço de Deus. Moisés exerceu as fun­ções de um sacerdote na direção e execução dos *ri­

tuais de consagração, que a partir daí ficariam a cargo de Arão e seus descendentes. U m ritual de sete dias marcou a inauguração e o uso do tabernáculo e do altar, mostrando os tipos de sacrifícios a serem feitos nos recintos sagrados e as funções e privilégios dos sacerdotes. O sangue, que sim bolizava a vida, era um dos elementos mais significativos do ritual, e foi aspergido sobre o altar e sobre as vestes dos sacerdo­tes. Elementos sacrificiais (trigo, bolos e azeite), bem como animais, foram oferecidos e queimados no altar. Desse m odo o tabernáculo e o altar foram purificados e preparados para uso. Alguns pedaços de carne fo­ram usados como oferta m ovida e depois separados como porção reservada aos sacerdotes. Ao longo da cerimônia, formou-se um sentido de continuidade entre a primeira consagração e todas as ações sacerdotais subseqüentes.29.2, 3. m elhor farinha de trigo. Os elementos usados na consagração do tabernáculo, do altar e dos sacer­dotes representam a fertilidade da terra, as dádivas de Deus ao povo. A farinha de trigo usada na fabrica­ção de pães sem ferm ento e bolos tinha de ser da melhor qualidade, representando um sacrifício apro­priado a pessoas que dependiam da agricultura para seu sustento.29.2, 3. bolos amassados com azeite. O trigo e o azei­te de oliva eram os principais produtos agrícolas do antigo Israel. M isturá-los no bolo sacrificial era uma forma do povo reconhecer o papel de Deus em garan­tir a fertilidade do solo a cada ano. A seqüência das ofertas também sim bolizava os eventos sazonais de plantio e colheita e os festivais agrícolas.29.2, 3. pães finos untados com azeite. A entrega conjunta das ofertas de grãos e de carne simboliza a *aliança sendo aceita pelo povo e o reconhecimento de que Deus é o provedor da fertilidade. Embora o signi­ficado dos pães sem fermento, bolos e pães finos não esteja claro, talvez representem os melhores produtos assados da época ou elem entos separados para uso "ritual.29.4. lavar-se com água. N ão seria apropriado aos sacerdotes novatos vestirem suas vestes sacras novas sem primeiro tomar um banho ritual. Para isso, eles anham de ficar totalm ente im ersos na água, como rarte da cerim ônia de consagração. Após o banho, tinham de lavar novamente apenas os pés e as mãos antes de executar suas tarefas (30.17-21).29.5. cinturão. Som ente o sum o sacerdote tinha um cinturão especialm ente confeccionado e tecido para prender suas vestes. Os sacerdotes inferiores usavam cintos comuns (29.9). O objetivo desse cinturão talvez rosse indicar o grau na hierarquia ou garantir m aior mobilidade ao sacerdote, mantendo as roupas amarra­

das quando tinha de curvar-se ou oferecer sacrifícios.

29.7. unção. Apenas nessa passagem e em Levítíco8.12. há referência ao fato do sumo sacerdote ser ungi­do com óleo na cabeça ao ser ordenado. No entanto, em Êxodo 30.30 e 40.15, tanto Arão como seus filhos são ungidos. U ngir a cabeça com óleo poderia ser comparado à unção dos reis em períodos posteriores (1 Sm 10.1; 16.13). Em ambos os casos, o óleo simboli­zaria as dádivas de Deus ao seu povo e as responsabi­lidades agora depositadas sobre seus líderes, por meio dessa cerimônia. N a prática israelita, a unção era sinal de eleição e freqüentemente estava intimamente rela­cionada à capacitação pelo Espírito. Ver comentário em Levítico 8.1-9.29.8, 9. túnicas, gorros e cinturões. Os filhos de Arão,

que serviam como sacerdotes inferiores sob as ordens de seu pai, tinham vestes sacerdotais m ais simples. Eles usavam roupas diferentes, que os distinguiam dos demais israelitas, mas a consagração deles ao ser­viço não envolveu tanta solenidade, visto que suas obrigações seriam menos importantes que as do sumo sacerdote.

29.10, 15, 19. im posição de m ãos sobre anim ais. Àmedida que cada animal era trazido ao altar, os sacer­dotes tinham de examiná-los para certificar-se de que atendiam às exigências da lei. Após essa verificação, um *ritual simbólico de confirmação era representa­do, no qual os sacerdotes colocavam as mãos sobre o animal, assumindo a responsabilidade por sua morte e pelo motivo do sacrifício. Alguns sugerem que esse ato correspondia a uma afirmação de posse. Ver co­mentário em Levítico 1.3, 4 para discussão sobre di­versas possibilidades.29.12. sangue nas pontas do altar. As pontas do altar sim bolizavam especificam ente a presença de D eus em qualquer ato sacrificial. Ao colocar o sangue do novilho sacrificado nas pontas do altar, os sacerdotes estavam reconhecendo a presença e o poder de Deus, o doador da vida, e purificando-se de seus pecados (ver comentário em Lv 4.7).29.12. sangue na base do altar. O altar é o ponto central do sacrifício animal. É a plataform a onde os israelitas oferecem a Deus aquilo que lhe é devido. Para que o altar pudesse ser totalmente consagrado a esse serviço, seus fundam entos (base) deviam ser pu­rificados com o sangue da oferta pelo pecado (v. 14).29.13. gordura queimada. Nenhuma parte do novilho podia ser poupada, visto que era uma oferta pelo pe­cado. Assim, a gordura, os rins e o fígado, que prova­velmente eram usados para ^adivinhações (como era costume na M esopotâmia) ou dados aos participantes do sacrifício, agora deveriam ser queimados sobre o altar.

29.14. outras partes fora do acampamento. Im pure­

zas e restos tinham de ser levados para fora do acam­pam ento (ver D t 23.12-14). Pelo fato do novilho ter

sido usado como oferta pelo pecado, a carne, o couro e o excrem ento tinham se contam inado e assim não

poderiam ser consum idos ou usados de para qual­quer fim (ver Lv 4.12).

29.14. oferta pelo pecado. Existiam diversos tipos de sacrifícios e ofertas feitos pelos israelitas, geralmente por motivo de gratidão ou expiação pelo pecado. A

oferta pelo pecado tinha o propósito de purificar a pessoa que tivesse se contaminado através do contato

com *im pureza (física ou espiritual) ou devido a al­gum incidente (polução noturna, em Dt 23.10). Tam ­

bém era usada na consagração de sacerdotes, visto que era exigido deles um padrão m ais elevado de

*pureza do que aos israelitas com uns. Os anim ais usados nesses *rituais recebiam o pecado e a im p u re ­

za das pessoas pelas quais estavam sendo sacrifica­dos. Assim, todo seu corpo ficava contaminado e ne­

nhuma de suas partes podia ser consumida ou usada para produzir alguma outra coisa. Todas as partes do

animal sacrificado deviam ser eliminadas: os órgãos e

a gordura eram queimados sobre o altar e a carne, o

couro e os ossos eram queimados até se transforma­rem em cinzas, fora do acam pam ento. Essa últim a recom endação evitava que a casa das pessoas fosse contaminada. Para mais informações, ver comentário em Levítico 4.1-3.29.15-18. cordeiro como holocausto. O primeiro cor­

deiro sacrificado no *ritual de consagração devia ser

completamente consumido pelo fogo no altar. O ani­mal era cortado em pedaços a fim de que coubesse no

altar e suas vísceras lavadas, para que não fossem

contaminadas por nenhum resquício de excremento. A carne era um bem precioso para um povo de pasto­

res com o os israelitas, m as o cordeiro e o novilho,

ambos símbolos de fertilidade, deviam ser totalmente

destruídos para que a oferta sacrificial a Deus fosse completa. Quando o sacrifício era feito em honra ao

poder de Deus, nenhuma parte do animal podia ser poupada.

29.18. aroma agradável. Os deuses da Mesopotâmia

também eram atraídos pelo aroma dos sacrifícios (como na história do dilúvio de *Gilgamés). No entanto, os

deuses precisavam também comer a carne do sacrifí­cio para se sustentar. Na tradição israelita, um "arom a

agradável" significava um sacrifício adequado que

agradava a Deus (ver G n 8.21). Com o tempo, tom ou-

se um termo técnico para descrever um sacrifício acei­tável e aceito por Deus (compare Lv 26.31), e não algo para ser comido.

29.20. sangue na ponta da orelha, no polegar da mãoe do pé. Assim como o sangue era usado para prepa­rar adequadam ente o altar para o serviço, tam bém era usado para designar as funções dos sacerdotes: ouvir a palavra de Deus, oferecer sacrifícios com as mãos e conduzir o povo na adoração com os pés. Há tam bém um elem ento de purificação em cada uma dessas atitudes, através do sangue da expiação (com­pare Lv 14.14).29.20. sangue nos lados do altar. O sangue de três animais sacrificados era usado para tratar dos pecados dos novos sacerdotes. Ao aspergir o sangue do pri­meiro cordeiro no altar, eles reconheciam o poder de Deus para sustentar a vida e a significativa relação do serviço e do compromisso deles como servos de Deus (compare 24.5, 6).29.21. aspersão com sangue e óleo sobre os sacerdo­tes. O sangue e o óleo são os principais elementos do processo sacrificial. Ao aspergi-los sobre os sacerdotes e sobre suas vestes, a cerimônia de ordenação foi en­cerrada e os sacerdotes foram m arcados fisicamente para o serviço (compare com a marca do povo como fiadores da *aliança, em 24.8) e também purificados.29.22-25. oferta m ovida. N a terceira etapa do *ritual sacrificial, eram apresentadas perante o Senhor, como "oferta m ovida", porções da cesta de pães e do cordei­ro da oferta de ordenação. Provavelmente essa desa­jeitada pilha de ofertas sacrificiais era erguida, e não literalmente m ovida, visto que desse modo seria mais difícil desequilibrar-se e/ou derrubar os elem entos sagrados. A m elhor tradução para a terminologia usa­da no texto é "oferta elevada"; esse m odo de lidar com as ofertas tam bém aparece em relevos egípcios. O gesto de levantar fisicam ente a oferta significa que todos os elementos sacrificiais derivam de Deus e per­tencem a Ele. Nesse caso, os bolos e pães finos seriam levantados e depois queimados sobre o altar. A carne do cordeiro, porém, seria usada como alimento para um banquete de *aliança do qual Arão e seus filhos tom ariam parte, ao contrário do prim eiro cordeiro, que era totalmente queimado. Aqui tam bém é esta­belecido o m odelo concernente às porções do sacrifício que pertenciam aos sacerdotes (note que Moisés toma sua parte, pois está servindo como sacerdote oficiante da cerimônia - v. 26).29.26-28. partes do sacrifício como alimento para os sacerdotes. Visto que os sacerdotes dedicavam-se ex­clusivamente às tarefas religiosas e não podiam pos­suir terras, eram sustentados pelas porções dos sacrifí­cios que eram trazidos ao altar. Certas partes, como o peito e a coxa do cordeiro, eram separadas especifica­mente para os sacerdotes. Um a vez que esse alimento fosse apresentado como sacrifício e oferecido a Deus,

somente os sacerdotes poderiam comê-lo, e o que não

fosse con su m id o , pela m esm a razão d everia ser

destruído.29.29,30. vestes sacerdotais hereditárias. Nesse trecho,

que interrom pe as orientações acerca da carne sacri­ficial, o cuidado passa a ser com a ordenação das futu­

ras gerações de sacerdotes. A s vestes originais do sumo

sacerdote, confeccionadas para Arão, deveriam ser pas­

sadas ao seu sucessor na ocasião de sua m orte. Assim, quando Arão morreu, Moisés o despiu de suas vestes

sagradas e obedecendo a um *ritual de sete dias, colo­

cou-as em Eleazar, filho de Arão (Nm 20.22-29).29.31. cozida num lugar sagrado. Visto que a carne

das ofertas m ovida e de ordenação tom ara-se sagra­da, não podia ser preparada em recintos com uns.

Assim, era levada ao pátio do tabernáculo para ser cozida. Desse m odo, os elem entos sagrados m anti­

nham seu poder e autoridade pelo fato de serem usa­

dos ou m anuseados som ente em áreas igualm ente

sagradas. '

29.34. queima da sobra. Devido à sua natureza sagra­da, a carne sacrificial que fora reservada para a ali­

m entação dos sacerdotes não podia ser usada para

nenhum outro propósito nem consumida por pessoas comuns. Assim, a porção que não fosse imediatamen­te consumida devia ser destruída pelo fogo a fim de

evitar que o elemento sagrado fosse usado de m anei­

ra incorreta.29.36, 37. fazer propiciação. A idéia subjacente ao

processo de transformação pelo qual o altar atravessa,

é de purificação. Nenhum objeto feito por mãos hu­manas pode, por definição, ser puro o suficiente para

ser usado no serviço de Deus. Apenas por m eio de

um *ritual prescrito de sacrifícios diários de animais valiosos (novilhos) por um tempo considerável (duas

vezes por dia, durante sete dias) o altar poderia ser suficientemente purificado a ponto de tom ar-se santo

e sagrado. Através desse processo, o pecado inerente

dos hom ens que construíram o altar e os m ateriais contaminados (no sentido de não serem santos) usa­

dos para sua construção, se tom am apropriados para o uso no serviço de Deus. A partir de então, tudo que

entrasse em contato com o altar devia ser puro (tanto os sacerdotes como os sacrifícios). Se o nível de *pure-

za fosse mantido, então os sacrifícios seriam aceitos e o povo seria beneficiado com isso. Ver comentário em

Levítico 1.4.29.37. tudo o que nele tocar será santo. Devido ao nível superior de santidade do altar sacrificial (abaixo

apenas do Lugar Santíssimo), qualquer coisa que to­casse nele se tom aria santa. Sendo assim, era impor­

tante que o altar fosse protegido de pessoas e coisas

impuras para que a santidade não fosse perdida ou

corrompida.29.38. ofertas diárias. As ofertas pelo pecado e de ação de graças deviam ser trazidas pelo povo diariamente, não apenas em ocasiões especiais, tais como a cerimô­nia de ordenação. Assim, os sacerdotes tinham de sa­crificar a cada dia dois cordeiros de um ano (conhecida com o tamid ou oferta "p erp étu a"), um de m anhã e o outro ao entardecer. Esse *ritual diário servia para mos­trar ao povo a presença contínua de D eus entre eles, bem como sua constante obrigação de obedecer à *ali- ança. O fluxo constante de m ovim ento no altar sacri­ficial tam bém m antinha sua santidade e reforçava o papel dos sacerdotes como profissionais da religião.29.40. um décimo de efa (ARA). A principal medida para secos em Israel era o hômer, equivalente à carga transportada por um jumento. Não se sabe exatamen­te a quanto correspondia essa medida, devendo osci­lar de 138 a 236 litros; um cálculo aproximado confere ao hômer a capacidade de 189 litros. O efa (palavra emprestada do egípcio) equivalia à décima parte do hôm er (Ez 45.11) ou a 18,9 litros. Um décimo de efa de farinha seria cerca de dois litros, e era a oferta diária de cereais.

29.40. um quarto de him (A R A ). O h im (palavra em prestada do egípcio) era um a medida para líqui­dos equivalente a 3,15 litros. U m quarto de him (equi­valente a 0,79 litro) de azeite de oliva devia ser m istu­rado com a farinha, como parte da oferta diária. Além disso, um litro de vinho devia ser derramado no altar como oferta, diariamente.

29.40. 41. oferta derramada. A libação ou oferta der­ramada fazia parte dos sacrifícios diários no taberná­culo. Era dedicada, juntam ente com o cordeiro e a m istura de farinha e azeite, pela manhã, e ao entardecer, simbolizando a proteção e o favor de Deus ao longo do dia. O oferecimento de libações era uma prática comum nas casas, antes das refeições, e esse *ritual tam bém era praticado nos holocaustos diários como parte de uma refeição *ritual, de comunhão entre Deus

e o povo.

30.1-38Incenso, óleo e água30.1-10. o altar do incenso. Assim que o tabernáculo foi guarnecido e purificado, e os sacerdotes ordena­dos, a Presença de Deus entrou no Lugar Santíssimo para encontrar-se regularm ente com M oisés (29.42, 43). No entanto, era preciso um objeto adicional para representar a Presença e ao m esm o tempo proteger os hum anos, escondendo-a de sua visão. Esse objeto era o altar do incenso, uma pequena mesa (45 centímetros quadrados por 90 de altura) feita de madeira de acácia,

com pontas, como o altar sacrificial, e recoberta de ouro. Ficava na área im ediatamente externa ao véu

que encerrava o Lugar Santíssimo. Assim como a arca,

esse altar interior tinha argolas para ser transportado por meio de varas. Um a mistura especial de incenso

era queim ada nesse altar todas as m anhãs e tardes. N o dia da propiciação, as pontas do altar tinham de

ser untadas com o sangue do sacrifício, num processo de purificação anual.

30.7, 8. queim ar incenso. O uso de incenso tem sido comprovado por descobertas arqueológicas que re­

montam aos primeiros períodos da história israelita,

embora poucos altares de incenso tenham sido esca­vados *in loco nos santuários israelitas (Arad é uma

exceção). O incenso usado provavelm ente consistia num a m istura de resina de incenso e outras gomas

aromáticas. A prática de queimar incenso tinha obje­tivos religiosos e práticos. O cheiro da carne queiman­

do no altar sacrificial seria desagradável e o incenso ajudaria a mascarar aquele odor. A fumaça do incenso

também era usada para defumar os recintos sagrados e proporcionar um ar de mistério, com a fumaça re­

presentando a presença de Deus ou ocultando-a dos

olhos humanos. Também é possível que a fumaça do

incenso simbolizasse as orações do povo subindo até Deus.

30.10. propiciação anual. O Dia da Propiciação era

um dia especialmente reservado para remover a con­taminação pelos pecados do ano anterior. De acordo

com Levítico 23.27-32, esse evento acontecia dez dias

após o início do ano-novo. Nesse dia o sumo sacerdote entrava nos recintos interiores do tabernáculo e quei­

mava incenso no altar dourado. As pontas do altar do

incenso também eram untadas com o sangue do sacri­

fício especial do dia, de modo a vincular a santidade desse altar e o fluir do incenso à necessidade de puri­

ficação pelos pecados da nação. Um a descrição mais

detalhada desse *ritual anual, incluindo o ritual de

lançar os pecados do povo sobre o bode expiatório, pode ser encontrada em Levítico 16.

30.11-16. preço do recenseam ento. Todos os homens com mais de vinte anos tinham de pagar uma taxa de

meio siclo por cabeça para ajudar na manutenção do

tabernáculo. Vemos aqui um senso de igualdade pelo fato de não se fazer distinção entre ricos e pobres -

todos deviam pagar a m esm a quantia. No entanto, havia também um aspecto sombrio representado pela ameaça de uma praga e pelo descontentamento divi­no se todos não se submetessem ao censo. Compara­

ções com outros recenseamentos (Nm 1 e 2 Sm 24)

indicam que as pessoas temiam passar pelo censo, por

ele ser usado no recrutamento de soldados e também

para arrecadar impostos. Nesse caso, porém, o paga­mento da taxa e a contagem dos homens, à medida que passavam, talvez represente a aceitação da res­

ponsabilidade de cada um deles em prover recursos para a construção e manutenção do tabernáculo.

30.11-16. superstição em relação ao censo. O recense­am en to era um a m ed id a p rá tica to m ad a p elo s governantes, no antigo Oriente Próximo, desde o pe­

ríodo que antecede às tabuletas de Ebla, (cerca de 2500 a.C.). Os benefícios resultantes desse costume não eram necessariamente percebidos pelo povo, vis­

to que os censos geravam o aumento dos impostos, bem como o alistamento m ilitar obrigatório ou a im ­

posição de trabalhos forçados. Por essa perspectiva, não é de estranhar que existisse a noção popular de

que o censo trouxesse azar ou provocasse o desconten­

tamento divino. Textos de *M ari (século 18 a.C.) da M esopotâm ia descrevem hom ens fugindo para as m ontanhas para escapar do censo. Em 2 Samuel 24 há

o relato de Deus punindo Davi e o povo de Israel com

um a praga, após o térm ino de um recenseam ento. Mas esse castigo pode ser explicado pelo fato do censo

ter sido motivado pelo orgulho humano.

30.13. siclos (ARA). O pagamento da taxa do templo,

correspondente a meio siclo, efetuado pelos israelitas pelo menos até o sexto século a.C., era baseada no

valor de algum m etal precioso e não m onetário. O siclo pesava em m édia 11,4 gramas, mas esse texto

m enciona o "peso padrão do santuário", que muito

provavelm ente seria um a fração m enor que o siclo

comum. Pesos descobertos em escavações arqueológi­cas com provam que um siclo pesava de 9,3 a 10,5

gramas. O peso padrão do santuário tam bém pode

referir-se a um siclo de valor e peso m aior que o "valor de m ercado".

30.13. geras (ARA). Um a gera (termo *acadiano trans­

portado para o hebraico) era a menor medida de peso dos israelitas. Era o equivalente a aproximadamente

meio grama ou 1/20 de um siclo.30.17-21. bacia de bronze. Na entrada do pátio, entre

o altar sacrificial e o tabernáculo propriamente dito,

deveria ser colocada uma bacia de bronze com água. Essa bacia seria usada pelos sacerdotes para lavar as

mãos e os pés, toda vez que entrassem nesse recinto

santo, como preparação para o serviço sagrado. Desse modo, antes de oferecer os sacrifícios, eles tiravam das

mãos as impurezas do mundo externo e limpavam os pés para não deixar rastro da poeira e fuligem das

ruas. Esse utensílio foi acrescentado à lista do taber­

náculo depois da ordenação e consagração dos sacer­dotes, visto que devia ser usado diariam ente e não

apenas em ocasiões especiais.

30.22-33. óleo da unção. O óleo da unção seguia uma fórmula especial, misturando especiarias preciosas (mir­

ra, canela, cana aromática, cássia) ao azeite de oliva,

produzindo uma substância a ser usada na unção do tabernáculo e de seus utensílios, bem como dos sacer­

dotes. O processo envolvia mergulhar as especiarias na água, fervê-las, misturá-las com o azeite e depois

deixar repousar até a fragrância permear toda a mis­

tura. Para assegurar a exclusividade, o óleo da unção deveria ser preparado por um perfumista profissional

e seria usado para designar o caráter sagrado dos

recintos e tam bém dos sacerdotes.

30.23, 24. especiarias. Visto que todas as especiarias alistadas na receita do óleo da unção eram produtos

im portados, custavam m uito caro e eram extrem a­mente valiosas. Elas eram importadas do sul da Arábia

(mirra), da índia ou do Sri Lartka (canela) e de outras

terras distantes (ver Jr 6.20 a respeito da cana aromá­tica) por via marítima ou terrestre, através de rotas já

estabelecidas pelas caravanas. As especiarias eram

misturadas a óleos aromáticos por associações de per- fumistas profissionais e eram usadas para realçar a

pessoa, e tam bém para ungir sacerdotes e lugares

sagrados.30.30-33. receita sagrada. A receita do óleo da unção

era exclusivam ente destinada para uso sagrado. A

fragrância especial dessa substância sagrada era res­trita apenas ao tabernáculo e aos seus funcionários, e

não devia ser usada com propósitos seculares.

30.34-38. receita do incenso. O incenso queimado no altar dourado, dentro do tabernáculo, era preparado

de acordo com uma receita especial, que não podia ser

copiada nem usada para outro propósito. A receita incluía quatro itens específicos: goma ou resina, tal­

vez de árvores de bálsamo; uma substância extraída das glândulas de moluscos; gálbano, uma resina nati­

va da Pérsia que intensifica o arom a de outras essên­cias e incenso do sul da Arábia.

31.1-18 Preparação para a construção do tabernáculo e de seus utensílios31.1-11. artesãos de m adeira e metal. Depois de ter

dado as instruções sobre a construção do tabernáculo e de seus utensílios, M oisés destacou os artesãos que iriam executar essa tarefa. O texto diz que eles recebe­

ram de Deus grande destreza e habilidade artística para trabalhar metais, talhar e esculpir pedras e enta­lhar madeira. A idéia de uma divindade concedendo

habilidade artística a artesãos envolvidos numa tarefa sagrada tam bém é citada no relato do deus Ea, que

orientou os responsáveis pela construção da estátua

de Sipar (século nono). Os dois artesãos escolhidos por Moisés deveriam supervisionar o trabalho das várias

equipes de trabalhadores treinados. Essas equipes se encarregariam de tarefas como: m oldar as peças do

tabernáculo, revestir os objetos sagrados de bronze e ouro, coser os tecidos usados nas coberturas, no véu e

nas vestimentas dos sacerdotes, e gravar as pedras do éfode e do peitoral.

31.12-17. sábado como sinal da aliança. Enquanto o sinal individual de participação na *aliança era a cir­

cuncisão, o sinal da participação coletiva de Israel era

a guarda do sábado. Assim como a circuncisão, a guar­da do sábado era um a norm a permanente, aplicável a

todas as gerações. Porém, ao contrário da circuncisão,

não se limitava a uma única ação, mas relacionava-se a uma atitude que devia ser mantida para sempre e

praticada periodicamente. Depois que as instruções a

respeito da construção do tabernáculo foram dadas e

escolhidos os trabalhadores que fariam a obra, era necessário ligar esse trabalho sagrado à lei do sábado.

Mesmo nessa obra, o trabalho devia cessar todo séti­mo dia, como sinal de respeito e reconhecim ento a

Deus como Criador, e também de submissão à pro­

messa da aliança de obedecer às ordens de Deus (ver20.8-11). Em bora a interrupção do trabalho pudesse

ser um encargo para a economia, seria compensada

pela renovação do ânimo e das forças físicas por meio

do descanso. O m andamento para o descanso no sába­do era tão im portante que aqueles que o violassem estariam sujeitos à pena de morte.

31 .14 ,15. nenhum trabalho (profano ou sagrado). A

disposição em interromper o trabalho no sábado era

um sinal de obediência à *aliança. Nenhum tipo de trabalho, profano ou sagrado, poderia ser feito nesse

dia de descanso completo. Nenhum exemplo específi­co de trabalho é apresentado aqui, mas o texto m enci­ona que os transgressores seriam punidos com a ex­

clusão da comunidade ou execução. O fato de existi­rem dois tipos de punição talvez indique que cada

caso teria de ser exam inado individualm ente para

determinar se o ato executado podia ser considerado "trabalho" (ver exemplos em Nm 15.32-36 e Jr 17.21).31.18. duas tábuas da aliança. Essa afirmação de que

Deus deu a M oisés as duas tábuas da aliança retoma a narrativa do ponto em que foi interrompida, em 24.18. Também é uma indicação de que o parêntese com as instruções sobre a construção do tabernáculo e consa­

gração dos sacerdotes está no fim e que o narrador passaria a resumir a seqüência de eventos do monte

Sinai. O termo "tábuas da aliança" tam bém aparece em 32.15 e deu origem à expressão "arca da aliança" (25.16-22).

32.1-35 O bezerro de ouro32.1. faça para nós deuses que nos conduzam. Moisés

era o único contato dos israelitas com Y ahw eh e o mediador do poder e da direção de Yahweh. A demo­

ra de M oisés para descer do m onte levou o povo a pensar que ele estivesse morto, e com isso, o contato

com Yahw eh estaria perdido. Portanto, se isso real­mente tivesse acontecido, eles precisariam de um novo

mediador para "conduzi-los" a Deus. Um anjo assu­m iu esse papel em 33.2, da mesma form a que o be­zerro desempenharia essa função de representante de

Yahw eh.

32.2-4. bezerro como íd olo. Estátuas de bois ou be­zerros, feitas de bronze ou de um a com binação de

metais, foram encontradas em várias escavações ar­queológicas (monte Gilboa, H azor e Asquelom), mas

de pequeno tamanho (cerca de 8 centímetros de altura por 18 de com prim ento). A figu ra do bezerro era

bastante conhecida no contexto cananeu do segundo milênio e representava fertilidade e força. Os deuses

não eram retratados na form a de bois ou bezerros,

m as colocados de pé, no lombo do animal. Todavia, a adoração da imagem de animais não era desconheci­

da e há poucos indícios no texto bíblico de que os

israelitas entendessem que o bezerro fosse sim ples­m ente um pedestal (não com o a arca). O fato de o

bezerro ter sido adorado durante um a festa dedicada

a Yahw eh sugere que esse ato foi um a violação do

segundo mandamento, e não do primeiro.32.4. fabricação do bezerro. Quando o ouro fundido

estava suficientem ente m aleável, A rão com eçou a

m odelá-lo, provavelm ente usando o m olde de uma figura entalhada na madeira.

32.4. eis aí os seus deuses. A exclamação "E is aí os

seus deuses!" deixa implícito que o bezerro, de certa

forma, representava Yahw eh, visto que na história de Israel nenhuma outra divindade havia sido indicada

como responsável pela saída deles do Egito.

32.5,6. altar para a festa a Yahw eh. Visto que esse altar foi construído para a celebração de um a festa sagrada,

pode-se concluir que seria usado para sacrifícios, como o versícu lo 6 afirm a. M as assim com o a adoração a

Yahw eh fora corrompida pela introdução de uma ima­

gem para representá-lo, a cerim ônia de adoração dos

israelitas tam bém se corrompera. O clima vulgar e de excessiva licenciosidade a que o povo se entregou era

típico dos festivais pagãos de *fertilidade.32.9-14. ira de D eus. N as religiões do antigo Oriente

Próximo era comum a crença de que os deuses habitu­almente ficavam irados com seus adoradores (por ra­

zões desconhecidas e incompreensíveis) e os açoita­

vam duramente. O apelo de Moisés é uma tentativa de preservar as características de Yahw eh que tom a­

vam sua reputação distinta dos outros deuses.32.15,16 . escritas em am bos os lados. O uso de duas

tábuas provavelm ente ind ica que M oisés recebeu duas cópias, e não que parte dos mandamentos esti­vesse num a tábua e o restante na outra. O fato de

serem de ped ra sugere que eram m aiores que as

tabuletas com uns de argila, em bora algum as tabu­letas de pedra com inscrições, tais como o calendário de G ezer, fossem bem pequenas, a ponto de cabe­

rem na palm a da mão. O costume egípcio desse pe­ríodo era usar lâminas de pedra lascadas de rochas.

Inscrições em ambos os lados eram bastante comuns.

Quando a escrita preenchia um lado, o escriba vira­va a lâm ina e continuava a escrever do outro lado.

A té m esm o lascas m enores, que cabiam na palm a

da m ão, chegavam a conter de quinze a v in te li­nhas de texto.

32.19. 20. danças. De modo geral, as danças no m un­

do antigo estavam associadas a festas rituais, especial­mente relacionadas à *fertilidade, com um aspecto de

sensualidade, ainda que não necessariamente. As dan­

ças tam bém podiam estar relacionadas às celebrações das vitórias militares, o que pode sugerir que se trata­

va de um a celebração à divindade que os tirara do

Egito.32.19. quebrou as tábuas. Embora M oisés tenha que­

brado as tábuas por se sentir irado, não significa que ele tenha tido um ataque de mau hum or. A rom pi­

mento de um a *aliança geralm ente era simbolizado

pela quebra das tabuletas em que as condições do

acordo estavam inscritas.32.20. beber o pó do ídolo m oído. A seqüência de queimar-moer-espalhar-comer também é encontrada

num texto *ugarítico, indicando a destruição total de

uma divindade. O fato de que o ouro não pode ser queimado é irrelevante (provavelmente tratava-se de

um a im agem de madeira revestida de ouro; ver co­

m en tário em 32.4), v isto que um a ação b astan te destrutiva é levada adiante. Forçar os israelitas a be­

ber a mistura não representa um castigo e sim a des­

truição final e irreversível do bezerro.

32.30-35. livro. O conceito de livro divino era comum na M esopotâmia, onde estava relacionado ao destino

de um a pessoa e às recompensas ou castigos subse­qüentes. Para mais informações, ver comentário em

Salmo 69.28.32.35. praga. Inúmeros documentos do antigo Orien­

te Próxim o m encionam epidem ias de doenças, mas

nesse caso é impossível especificar o tipo de doença, visto que nenhum sintoma é descrito.

33.1-6 Preparando-se para partir33.2. povos da terra onde m anam leite e mel. Acerca dos povos da terra, ver comentário em 3.8, e sobre a descrição de Canaã como um a terra onde "m anam leite e m el", ver comentário em 3.7-10.

33.7-23 O encontro de Moisés com o Senhor33.7-10. Tenda do Encontro. O sistema estabelecido pela lei (caps. 25-30) requeria que se construísse um santuário para que o Senhor habitasse no m eio do povo. Devido às circunstâncias, porém, o Senhor não iria habitar mais no m eio deles e a Tenda do Encontro teve de ser colocada fora do acampamento, onde Moisés receberia a orientação de Deus. Nada é m encionado a respeito do que acontecia no interior da tenda, apenas que o Senhor encontrava-se com Moisés à entrada da tenda, quando a coluna de nuvem descia. Nenhum sacrifício é oferecido ali, tampouco há um altar. É um lugar para atividade profética e não sacerdotal. Assim que o tabernáculo foi construído e posicionado no meio do acampamento, a Tenda do Encontro passou a ser ali também.33.11. falar face a face. Falar face a face é um a ex­pressão idiomática que sugere um relacionamento sin­cero e aberto. Não é uma contradição ao que se encon­tra em 33.20-23. A mesma expressão aparece em Nú­meros 12.8.

33.18-23. a glória, as costas e a face de D eus. Quando Moisés pediu para ver a glória de Deus, ele não pediu algo que Deus nunca havia feito antes. Em 16.7 é dito que eles veriam a glória do Senhor (ver também Lv 9.23). Moisés pediu a Deus que lhe mostrasse a sua glória para confirmar sua presença acompanhando e conduzindo o povo. Deus concordou com o pedido de M oisés, m as avisou a ele que não poderia ver sua face. O conceito de uma divindade de aparência temí­vel e inacessível não era restrito à teologia israelita, uma vez que na Mesopotâmia os deuses demonstra­vam seu poder através de seu melamu, ou esplendor divino.

34.1-35 Novas tábuas e mais leis34.6, 7. os atributos de D eus e sua disposição em punir até a terceira e quarta gerações. M oisés pedira a Deus que lhe revelasse os seus propósitos (33.13) e essa lista de treze atributos de Deus (de acordo com a tradição judaica) foi a resposta ao seu pedido. Essas

listas contendo diversos atributos da divindade eram comuns no mundo antigo. Apesar de alguns atributos como m isericórdia e ju stiça terem m aior destaque,

muitas listas se preocupavam mais com os atributos de poder, enquanto que nessa a ênfase é colocada na bondade m isericordiosa de Deus. Essa lista é citada m uitas vezes em outros trechos das Escrituras (Nm 14.18; Ne 9.17; SI 86.15; 103.8; 145.8; J1 2.13; Jn 4.2; Na 1.3) e representa um tipo de afirmação confessional. A litania dos atributos de Deus é usada até hoje na liturgia judaica e provavelmente foi estabelecida como parte da adoração do templo, no período anterior ao exílio. Em bora a compaixão, a perseverança e a fidelidade do amor de Deus sejam destacadas, as conseqüências de não obedecer aos m andam entos de D eus ficam evidentes com o prolongamento do castigo às gera­ções futuras (ver D t 5.9). A punição até a terceira e quarta gerações expressa o fato de que a violação da *aliança traz culpa sobre toda a fam ília e também é um a referência a todos os m em bros vivos da família. Essa afirmação é uma dura lembrança da culpa coleti­va de Israel, após o incidente do bezerro de ouro (32.19-35).34 .12 .13 . destruição dos o b je tos de adoração pagã.N esse trecho, que reafirma a importância de se obe­decer aos mandamentos, uma especial atenção é con­cedida à destruição de toda forma de adoração pagã, especialm ente de objetos de *culto e ídolos. Talvez seja outra reação ao incidente do bezerro de ouro (32.19­35). Certamente os habitantes da terra prometida ti­nham outros deuses e outras maneiras de adorá-los, assim, os israelitas são advertidos a não fazer acordos com esses povos nem adorar seus deuses. A ordem de Deus é para não deixar nenhum resquício da adora­ção estrangeira. O cum prim ento dessa ordem seria uma demonstração de grande fé, visto que se acredi­tava que a destruição de objetos sagrados era uma grave ofensa à divindade e resultava em severos cas­tigos. A obediência dos israelitas seria um a expressão palpável da confiança de que Deus podia protegê-los de represálias.34.13. postes sagrados. A deusa *Aserá (também cha­m ada de Astarote, Astorete ou Astarte) era a consorte divina do deus principal em vários templos mesopo- tâmicos e siro-palestinos: consorte de A murru, o deus *babilõnico da tem pestade; consorte de *E1, o deus *ugarítico e talvez de *Baal, o deus cananeu. Ela ge­ralm ente é representada na Bíblia através de postes sag rad os erig id o s próx im os a um altar. Su a p o­pularidade entre os israelitas, cuja visão de mundo ainda estava im pregnada pelo politeísm o, pode ser inferida pela inscrição de Kuntillet 'A jrud, na parte noroeste do Sinai, "Yahw eh e sua A será". A ordem para cortar esses postes cultuais simbolizava a neces­sidade que a nação tinha de purificar-se da influência estrangeira. Seguindo o m esm o tema de obediência

aos mandamentos, vem a afirmação de que o Senhor é "D eu s Zeloso", que não tolera a adoração ou a pre­

sença de símbolos de divindades rivais (20.4, 5).

34.16. prostituição sagrada. É possível distinguir di­ferentes categorias dessa prática. Na prostituição “sa­grada", os lucros eram destinados ao templo; na pros­

tituição "cu ltual", o objetivo era assegurar a *fertilida- de através do *ritual sexual. Também devemos fazer distinção entre prostituição sagrada ou cultual ocasio­

nal (como em Gn 38) e a prostituição sagrada ou cultual profissional (como em 2 Rs 23.7). Não há evidências

conclusivas da prática da prostituição cultual no anti­go Israel ou em qualquer outro lugar no antigo Orien­

te Médio. Textos cananeus m encionam as prostitutas como sendo funcionárias do tem plo, e a literatura

*acadiana confirm a que elas dedicavam toda a sua vida servindo nessa função. Em bora a palavra hebraica

usada aqui seja equivalente à palavra acadiana para prostituta, isso não prova o envolvim ento de qual­

quer prática cultual ou ritual religioso. É bastante provável que as prostitutas se sujeitassem a esse ser­

viço nos templos como uma forma de angariar dinhei­

ro, m as sem ocupar qualquer posição oficial como

sacerdotisas. Além disso, visto que de modo geral as mulheres não possuíam bens, parece que a prostitui­

ção era uma das únicas maneiras delas conseguirem

dinheiro para pagar algum voto. A proibição de tra­zer ao templo o salário de uma prostituta pode, no

entanto, ser uma reação contra as práticas semelhan­

tes às do templo de *Istar, no período neobabilôrúco,

que contratava as mulheres da comunidade para se­rem prostitutas, depositando seus salários na tesoura­

ria do templo. Tudo isso com prova a existência de

prostituição sagrada, tanto ocasional como profissio­nal, em Israel e no antigo Oriente Próximo, em bora a

existência de prostituição cultual, em qualquer nível,

seja mais difícil de provar. Não há confirmações sobre

a prática de prostituição cultual na Mesopotâmia, a menos que se inclua o ritual sagrado anual de casa­

mento. Mas é difícil imaginar que as prostitutas que serviam no templo de Istar (que personificava a força

sexual) não desem penhassem um papel sagrado na

fertilidade cultual.

34.17. ídolos de m etal. Era uma prática bastante co­mum (confirmada por dados arqueológicos) no antigo

Oriente Próximo, fabricar grande quantidade de ima­gens de vários deuses usando moldes de metal. Essas

im agens eram feitas de argila ou de diferentes me­

tais, e depois vendidas às pessoas, que as colocavam nos santuários particulares em suas casas (ver Jz 17.4,

5). A proibição aqui é um exem plo específico para

tom ar ainda m ais claro o mandamento de 20.4 e faz

menção ao episódio da fundição do bezerro de ouro (ver 32.2-4).34.18. festa dos pães sem ferm en to . Essa ordem é uma ratificação do mandamento em 23.15, que ganha m ais força ao ser incluída na versão ritual dos Dez M andamentos (ver 34.28).34.19, 20. ofertas dos prim ogênitos. Na versão ritual dos Dez Mandamentos, essa ordem é um a repetição da prescrição dada durante a narrativa do êxodo, quan­to à remissão de todo primogênito, tanto dos homens, como dos animais (13.11-13).34.21. sábado. A ordem de descansar no sábado é uma repetição de 20.9 (ver comentário desse versículo).34.22. festa das sem anas. Esse é o mesmo festival da colheita do trigo descrito como festa da colheita em23.16, um dos três principais festivais do ano agrícola. Ganha m aior peso ao ser incluída na versão ritual dos Dez M andamentos.34.22. fe sta do encerram ento da colheita . Esse é o mesmo festival da colheita da primavera descrito em23.17. Esses im portantes festivais agrícolas também são m encionados em Deuteronôm io 16.9-17. A pro­messa adicional de proteção contra ataques dos povos vizinhos aos trabalhadores que participassem da co­lheita é um incentivo a mais para o povo cumprir o mandamento de trazer as ofertas da colheita três ve­zes por ano.34.23. 24. peregrinações. Essa é a mesma ordem en­contrada em 23.17 e Deuteronômio 16.11,14. Todos os homens tinham de comparecer perante o Senhor três

vezes por ano trazendo os frutos de seu trabalho, a fim de garantir a fertilidade da terra para as próximas colheitas e demonstrar submissão à aliança.34.25. sangue misturado com ferm ento. Essa ordem encontrada na versão ritual dos Dez M andamentos, é um a repetição da lei apresentada em 23.18. O fer­mento faz o pão crescer, m as também está associado à corrupção ou deterioração dos alimentos e assim não deve ser misturado ao sangue, que simboliza a vida.34.25. sobras da Páscoa. Essa ordem refere-se à refei­ção da Páscoa, e aparece primeiro em 12.8-10, sendo confirmada em 23.18. Sua inclusão aqui acompanha a seqüência de leis relacionadas aos principais festivais agrícolas e reforça a ligação entre essas leis e o êxodo. A proibição de guardar as sobras é um sinal da natu­

reza sagrada da festa.34.26. prim eiros frutos. Essa ordem é um a repetição da lei citada em 23.19. Assim como o primogênito era redimido através do sacrifício, a colheita dos cereais e dos frutos era redimida para o consumo por meio da entrega da primeira colheita como sacrifício a Deus.34.26. cabrito no le ite da m ãe. Essa ordem é uma repetição da lei em 23.19. É a base para a proibição de

m isturar leite e carne no preparo de alimentos e no

sacrifício. Também pode refletir uma reação contra

esse tipo de prática na adoração cananéia.34.28. versão ritual dos Dez M andam entos. A pri­

meira versão dos Dez M andamentos, escrita por Deus em duas tábuas de pedra foi destruída por M oisés,

por causa de sua ira diante da infidelidade do povo no incidente do bezerro de ouro (32.19). Assim, foi escri­

ta uma segunda versão das tábuas, m as as leis não correspondem exatam ente àquelas encontradas em

Êxodo 20 e Deuteronômio 5. Na leis incluídas nessa segunda versão, há uma ênfase m aior aos aconteci­mentos do êxodo, e também m aior preocupação com

as normas para a adoração (inclusive com a transcri­

ção quase literal de trechos do capítulo 23).

34.29. os "chifres" de M oisés. O resplendor de Deus

estava refletido na face brilhante de M oisés, quando ele voltou com as tábuas da lei. Moisés a princípio não

percebeu o que havia acontecido, mas a seguir ele e o

povo reconheceram que aquele fenôm eno era uma prova de que ele estivera em contato direto com Deus.

Posteriorm ente, M oisés usou um véu sobre o rosto

para ocultar do povo o brilho de sua pele. Jerônimo usa a palavra com uta , "ch ifres" , na V ulgata (c. 400

d.C.), ao traduzir o termo hebraico qaran, "resplande­cente", porque essa palavra geralm ente se refere a

chifres. Conseqüentemente, criou-se a tradição de que nasceram chifres em M oisés, com o resultado dessa

experiência. O erro de tradução está representado graficamente na estátua esculpida por M iquelângelo,

no século dezesseis, em que Moisés aparece com chi­

fres. A relação entre chifres e brilho pode ser verificada na iconografia do antigo Oriente Próximo, em que o

poder das divindades é representado por figuras de raios ou chifres em suas coroas. Os chifres eram asso­

ciados à glória divina (melamu acadiano) que emana­va dos deuses, especialmente de suas cabeças e coro­

as. A ssim , por exem plo, a deusa Inana, é descrita

num hino *sumério como tendo um sem blante que

resplandecia terrivelmente, intimidando todos à sua volta. Um paralelo mais próximo pode ser encontrado no exemplo de Samsuiluna (filho de *Hamurabi), que

recebe mensageiros do deus *Enlil cujas faces eram resplandecentes. Um texto faz referência ao deus Enlil como "aquele cujos chifres brilham como os raios do

sol".

35.1-4 O sábado35.2, 3. nem sequer acendam fogo. Esse mandamen­to repete a proibição contra qualquer forma de traba­

lho no sábado, encontrada em 31.15, acrescentando a

ordem para nem sequer se acender fogo nesse dia.

Essa proibição é uma continuação da lista dos tipos de trabalho que não podiam ser executados no sábado

(ver 34.21). Mais tarde, por decisão dos rabinos, ficou determinado que o fogo deveria ser aceso na véspera

do sábado para que as casas não ficassem em comple­

ta escuridão. Porém, não era permitido alim entar o

fogo durante o sábado.

35.4- 39.31Obedecendo as instruçõesEsses capítulos tratam da construção propriamente dita

do tabernáculo, incluindo a coleta de materiais (35.4­

29), a apresentação de Bezalel e Aoliabe como chefes

dos artesãos e a formação das equipes de trabalhado­res (35.30-36.7; cf. 31.1-10). Êxodo 36.8-38 descreve a

construção do tabernáculo exatamente de acordo com

as dimensões descritas em 26.1-36. A seguir temos a fabricação da arca (37.1-9; ver 25.10-22), do candela­

bro (37.17-24; ver 25.31-40), do altar de incenso (37.25­

29; ver 30.1-10), do altar de ofertas queimadas (38.1-8; ver 27.1-8) e do pátio (38.9-20; ver 27.9-19), bem como

um resumo dos materiais usados pelos artesãos (38.21­

31). A parte final descreve a confecção das vestimentas dos sacerdotes: o éfode ou colete (39.2-7; ver 28.6-14),

o peitoral (39.8-21; ver 28.15-30) e as outras roupas

sacerdotais (39.22-31; ver 28.31-43). Moisés inspeciona

tudo, verificando se estão seguindo corretam ente as instruções de Deus, e abençoando-os (39.32-43).

38.8. m ulheres que serviam à entrada. N o antigo Ori­

ente Próxim o, há inúm eros exem plos de m ulheres

que serviam nos templos exercendo diversas funções, das tarefas dom ésticas a obrigações sacerdotais, do celibato à prostituição, de votos breves à dedicação por toda a vida. Portanto, é difícil identificar a nature­za do serviço que as mulheres aqui mencionadas esta­

vam executando. Em 1 Sam uel 2.22 o fato dos filhos de Eli serem acusados de conduta sexual imprópria

sugere que essas m ulheres estavam envolvidas em algum trabalho sagrado ou eram virgens. D eve ser

observado, porém , que não existem evidências de

celibato por m otivos religiosos em Israel; nem esse texto descreve as mulheres como virgens.38.24. ouro das ofertas movidas. Os m etais usados na construção do tabernáculo são relacionados em ordem

decrescente de valor. Assim como se fazia com a carne sacrificial reservada para o consum o dos sacerdotes

(29.27), esses materiais primeiro deviam ser apresen­tados a Deus como oferta movida, a fim de consagrá-

los para o uso na obra do Senhor.

38.24. peso do ouro: 29 talentos e 730 siclos. O peso total do ouro usado na obra do tabernáculo é re ­

presentado em talentos (a m aior unidade de peso israelita, igual a 3 mil siclos). O talento equivalia a

35,10 quilos, enquanto que o siclo pesava aproxima­

dam ente 11,7 gramas. Assim , o peso total do ouro recebido e utilizado na obra foi de aproximadamente

um a tonelada.38.25. peso da prata: cem talentos e 1775 siclos. O

peso total da prata doada e usada na decoração do tabernáculo foi superior a três toneladas e meia (com base no talento, que pesava 35,10 quilos e equivalia a

3 mil siclos, que por sua vez correspondia a 11,7 gra­mas). Essa quantidade tam bém está relacionada ao

total da oferta da propiciação (30.11-16) cobrada de cada homem israelita com m ais de vinte anos.

38.26. um b eca por cabeça (A RA ). O beca é um a medida de peso que correspondia a m etade de um

siclo, ou seja, seis gram as. Era o valor da taxa de propiciação que cada homem israelita teve de pagar a

fim de a ju d a r n a c o n stru çã o e m a n u ten çã o do tabernáculo (ver 30.11-16).

38.26. núm ero dos israelitas. O núm ero de homens

recenseados que pagaram a taxa de propiciação (ver

30.11-16) de meio siclo de prata foi de 603.550. Esse é

o m esm o núm ero obtido no censo encontrado em N ú­

meros 1.46, usado para determinar o núm ero de ho­mens acima de vinte anos e, portanto, aptos para se

alistar para a guerra.38.29-31. peso do bronze: setenta talentos e 2400 siclos.Com a relação de três m il siclos (11,7 gramas) por

talento (35,10 quilos), o peso total do bronze apresen­tado como oferta m ovida e usado na construção do tabernáculo foi de duas toneladas e meia. Esse metal mais resistente foi usado para fazer as bases da entra­

da da Tenda do Encontro, o altar de bronze, a sua grelha e todos os seus utensílios, bem como as bases

do pátio e as estacas que sustentavam a tenda.

39.32- 40.38O tabernáculo é armado40.17. data. O tabernáculo foi armado no dia de ano- novo, duas semanas antes do aniversário do êxodo e

exatamente nove meses após a chegada do povo no

monte Sinai. O processo de construção foi conduzido exatam ente de acordo com as instruções dadas por

Deus. É interessante notar que juntam ente com o iní­

cio de um novo ano, a inauguração do tabernáculo

representa também o início de um novo m odelo de adoração para o povo de Israel.

L E V Í T I C O

V1.1-17A oferta queimada1.1, 2. Tenda do Encontro. Antes que o tabernáculo fosse construído, a Tenda do Encontro ficava fora do acampamento e servia como lugar de revelação (ver

com entário em Êx 33.7-10). Entretanto, quando o tabernáculo ficou pronto, tam bém passou a ser cha­mado de Tenda do Encontro.

1.1, 2. revelação de rituais. No antigo Oriente Próxi­mo os sacerdotes afirmavam que os rituais usados por eles tinham origem divina, em bora os docum entos que relatam esses rituais não os apresentem como revelação divina, tal como nesse trecho. Alguns pro­cedimentos rituais eram ordenados através da adivi­

nhação ou de oráculos proféticos, o que não significa que sempre fossem instituídos por meio desses m eca­nismos. A antiga literatura *sum éria retrata a deusa- mãe dando instruções sobre os rituais de purificação,

e como conduzir súplicas e aplacar a ira dos deuses.1.2, sacrifício anim al. Existem muitas teorias acerca do conceito representado pelo sistema sacrificial. Em algumas culturas, o sacrifício era considerado como

um zelo pela divindade ao lhe oferecer alimento. Em outras, o sacrifício era visto como um a oferta para agradar os deuses e solicitar auxílio. E outras ainda viam os sacrifícios como um m eio para iniciar um relacionamento com a divindade ou mantê-lo. Essas,

porém, são algumas das muitas possibilidades. É difí­cil traçar a história dos sacrifícios com animais. A an­tiga literatura *suméria, especificam ente o Épico de Lugalbanda, atesta que os sacrifícios (considerados como "m atanças rituais") surgiram como uma espécie de recurso para perm itir o consum o de carne. Ao

com partilhar a carne com a divindade, as pessoas teriam permissão de m atar o animal para alimentar- se dele. A s prim eiras ev idências arqueológicas de sacrifícios procedem dos altares do período Ubaid, no quarto m ilênio a.C ., na M esopotâm ia. Em grande parte da história *assíria ou *babilônica, a m atança *ritual era feita com o objetivo de retirar as vísceras do animal, que segundo a crença, indicavam presságios.1.3, 4. oferta queim ada (holocausto). Na oferta quei­mada, um animal macho era colocado no altar e com­pletamente queimado, exceto o seu couro. Noé ofere­ceu esse tipo de sacrifício e era desse m odo que Isaque seria oferecido. A Bíblia m enciona outros povos fa­

zendo tam bém ofertas queimadas (p. ex., Nm 23.14,

15) e textos da Síria (*Ugarite e Alalakh) e Anatólia (os *hititas) comprovam essa prática na região siro-pales- tina. No Egito e na M esopotâmia não foi encontrado nenhum indício desse tipo de sacrifício. A oferta quei­

m ada servia para aproximar-se do Senhor para fazer um pedido, que tanto poderia ser a obtenção de uma vitória como um pedido de misericórdia, de perdão,

de purificação ou uma série de outras coisas. O propó­sito da oferta era suplicar a resposta da divindade. Pelo m enos um a oferta por dia era dedicada em nome

do povo de Israel. Cerim ônias especiais e festivais tam bém se caracterizavam pelas ofertas queimadas.1.3. macho. Animais machos eram mais valiosos, mas

também mais descartáveis. Podia-se m anter um reba­nho com apenas alguns machos, em relação ao núm e­ro de fêmeas necessárias para parir os filhotes. Isso significa que um a grande porcentagem dos machos

que nasciam podiam ser usados como alimento e nos sacrifícios. Por outro lado, os m achos m ais fortes eram cobiçados por causa de seus traços genéticos que seri­am transmitidos a uma grande parcela do rebanho.

1.4. im posição de m ãos na cabeça. A im posição de mãos sobre a cabeça do animal era uma parte impor­tante do *ritual sacrificial. Não representava a transfe­rência de pecados, visto que tam bém era feita nos

sacrifícios não relacionados ao pecado. Poderia repre­sentar tam bém um a identificação do ofertante com o animal, talvez como seu substituto ou como algo que

lhe pertencia. Na maior parte das vezes, a ocorrência desse ritual confirma que havia uma transferência ou uma indicação de algo (ou ambas), mas nem sempre fica claro o que está sendo transferido ou indicado, podendo variar conforme a situação.1.4. propiciação. A função desse sacrifício, bem como de outros, era que fosse "aceito como propiciação".

M uitos estudiosos concordam que "propiciação" não é a m elhor tradução para esse conceito, seja no plano *ritual ou teológico. Talvez a m elhor explicação seja o fato de que nos textos rituais o objeto de "propiciação" não era o pecado, nem a pessoa, mas um objeto sagra­do relacionado à presença de Deus, como a arca ou o

altar. Também é importante observar que em diver­sos casos a "propiciação" era necessária, mesmo quan­do nenhum pecado havia sido cometido (por exem­plo, a *im pureza ritual das m ulheres, um a vez por

mês). Por essas e outras razões, m uitos estudiosos modernos têm preferido "purificação" ou mais literal­mente "purgação", como a tradução mais adequada para o termo. Assim, o altar seria purgado em nome do ofertante, pois havia sido ritualm ente manchado pelos seus pecados ou impurezas. O objetivo era pre­servar a santificação concedida pela presença de Deus no meio deles. Esse ritual era visto normalmente como um a m edida corretiva, m as podia ser tam bém pre­ventiva. O principal agente desse ritual era o sangue, embora não obrigatoriamente. A descontaminação do

santuário tom ava o ofertante ritualmente limpo e abria o caminho para sua reconciliação com Deus. A purga­ção de objetos (inclusive cidades, casas, templos e pes­soas) de contaminação ritual ou influências maléficas tam bém era feita através de substâncias esfregadas neles, prática conhecida no antigo Oriente Próximo, embora fosse usada basicamente em ritos mágicos.1.5-9. papel dos sacerdotes. Alguns aspectos dos *ritu- ais eram executados pelos sacerdotes, porque somen­te eles tinham acesso ao altar e ao lugar santo. (Ver co­mentário em Êxodo 28.1 para informações gerais.) No

antigo Oriente Próximo, os sacerdotes participavam não apenas de rituais sacrificiais, m as tam bém de *adi- vinhações e outros ritos mágicos. Os encantamentos e os conselhos gerais sobre como aplacar os deuses tam ­

bém eram atribuições dos sacerdotes. Os sacerdotes de­viam conhecer a fundo os diversos tipos de rituais de modo a usá-los na obtenção dos resultados desejados e a executá-los da m aneira apropriada.

1.5. im portância do sangue. O sangue funcionava como elemento de purificação ritual em Israel - um conceito que não era com partilhado pelos seus vi­zinhos no antigo Oriente Próximo. O sangue repre­sentava a vida ou força vital do animal; dessa forma, o anim al tinha de ser m orto para que seu sangue

tivesse eficácia. Ver comentário em 17.11 para mais informações.1.5. derram ar sobre o altar. D erram ar sangue em todos os lados do altar era um modo simbólico de usar a morte do animal para a purgação de qualquer con­taminação que pudesse interferir com a súplica feita na ocasião do sacrifício. O sangue representava a vida/ m orte do anim al e o altar representava o santuário

(presença de Deus) e era especificamente o lugar onde seria feito um pedido a Deus.1.8, 9. pedaços. Os pedaços incluíam tam bém a cabe­ça e a gordura que circunda os órgãos internos. As vísceras (intestinos) e as pernas eram as únicas partes lavadas, a fim de que nenhum excremento fosse colo­cado sobre o altar.1.9. aroma agradável. Era de se esperar que os sacri­fícios liberassem o que é identificado como um aroma

agradável de carne sendo assada. Embora certamente essa expressão seja um antropom orfism o (atribuir a Deus características humanas), a carne assada era ser­vida apenas nas refeições comunitárias e em ocasiões especiais, desta forma, o odor estava associado a im­portantes conceitos de comunidade (como o cheiro de um almoço de domingo, com toda a família reunida). Seria a mesma coisa que agradar a Deus com alguma visão ou um som. No antigo Oriente Próximo o con­ceito de antropomorfismo era ainda mais forte, visto que os deuses precisavam de alimento e o recebiam através dos sacrifícios, em que o aroma era associado à expectativa de uma refeição.1.10-13. lado norte do altar. O lado norte do altar foi indicado muito provavelmente porque era onde ha­via m ais espaço para se fazer todo o trabalho.1.14-17. aves com o oferta. As aves, principalm ente pombos domesticados, eram usadas como oferta pelas pessoas muito pobres que não possuíam ou não po­diam abrir m ão de u m anim al m aior do rebanho.

Textos de *A lalakah e A natólia m ostram que, nas culturas circunvizinhas, as aves tam bém eram ade­quadas para os sacrifícios. Descobertas recentes indi­cam que não era o papo das aves que era removido e sim o crisso, incluindo a cauda, o ânus e os intestinos. O sentido, novam ente, era de lim par o anim al ao prepará-lo para o sacrifício.1.16. lado leste, onde ficam as cinzas. Foi sugerido, a princípio, que o monte das cinzas ficava no lado leste porque era o lado mais distante do santuário, mas o texto não permite deduzir essa explicação.

2.1-16A oferta de cereal2.1-3. oferta de cereal. Os rabinos aceitavam a oferta de cereal em substituição à oferta queimada, quando se tratava de pessoas pobres. Há evidências de que na M esopotâm ia tam bém se considerava os pobres de maneira semelhante. A palavra usada para descrever essa oferta significa "dádiva" ou tributo. A oferta era usada nas ocasiões em que se pretendia demonstrar respeito ou honra. O m esm o term o era usado em *ugarítico e *acadiano (Canaã e Mesopotâmia). Esse

tipo de oferta era uma característica das ocasiões de celebração e não de tristeza ou luto. Geralmente uma pequena parte era queimada sobre o altar como sím­bolo da oferta ao Senhor, enquanto que o restante era dado ao sacerdote oficiante. As vezes, era oferecida juntam ente com outras ofertas.2.1. a melhor farinha com óleo e incenso. Os ingredi­entes que compunham essa oferta eram cereal, óleo e incenso. O cereal era representado pelos grãos ou semolina deixados na peneira depois que o trigo era

moído e transformado em farinha. O óleo era azeite de oliva. O m elhor azeite era aquele extraído de azei­tonas esm agadas, m as no caso da oferta de cereal, era aceito um azeite de qualidade inferior, extraído por meio de prensagem e moagem. O óleo era usado como gordura no preparo dos alimentos, sendo facilmente inflamável. O incenso era obtido da resina de um tipo de árvore encontrada somente no sul da Arábia e na Som ália, na extrem idade oposta do golfo de Aden. Essa árvore, boszvellia, é típica de regiões onde há uma combinação bastante peculiar de chuvas, temperatu­ra e condições do solo. Sua fragrância aromática era usada na produção de um incenso muito procurado em todo o Oriente Próximo, onde era largamente usa­do, tanto na M esopotâm ia como no Egito {foram en­contrados vestígios desse incenso na tum ba de Tutan- câmom). A alta demanda, somada à escassez do pro­duto, encarecia essa mercadoria, e a transformava num dos principais produtos das caravanas de m ercadores. As ofertas de cereais geralm ente consistiam num a

pequena porção que era totalmente queim ada num pequeno queimador.2.3. a porção dos sacerdotes. Como acontecia com m uitas ofertas, o sacerdote recebia um a porção da oferta de cereal para seu sustento. Era uma das formas de suprir as necessidades dos sacerdotes. Para mais inform ações sobre essa prática, ver com entário em6.14-18.2.4-10. oferta de cereais assados; bolos sem ferm en­to, com óleo. A oferta de cereal destinada ao consumo dos sacerdotes podia ser preparada no forno, numa assadeira ou num a panela, usando tam bém óleo e semolina, m as sem incenso. Aqui é especificado que não era permitido o uso de fermento. Geralmente, o uso de fermento não era permitido quando se tratava de ofertas sagradas, talvez devido ao princípio de deterioração (fermentação).2.11-13. m el. O mel representa um recurso natural; no caso, trata-se provavelmente, de xarope da tâmara e não de mel de abelha. Não existem evidências de domesticação de abelhas em Israel, embora os *hititas dominassem a técnica e usassem m el de abelhas em seus sacrifícios (assim como os cananeus). Na Bíblia, o mel é citado nas relações de produtos agrícolas (ver 2 Cr 31.5).

2.13. sal. O sal era usado freqüentemente como sím­bolo de preservação. Quando se faziam tratados ou alianças, empregava-se o sal para simbolizar que as condições seriam m antidas por um longo tempo. O uso simbólico do sal é comprovado também em outros contextos culturais, como *babilônicos, persas, árabes e gregos. Na Bíblia a *aliança entre D eus e Israel era descrita como uma aliança de sal - uma aliança que

seria preservada por muito tempo. As partes envolvi­das num acordo geralmente compartilhavam de uma

refeição em que era servida carne salgada. Assim, o uso do sal no sacrifício era um a forma bastante ade­quada do povo relembrar o acordo da aliança. Além disso, o sal im pedia a ação do ferm ento (levedo), e como o levedo era considerado um símbolo de rebel­dia, o sal talvez representasse algo capaz de inibir a rebeldia. Finalmente, o sal também era um símbolo de infertilidade, sendo usado nas maldições pronun­ciadas em tratados. Entre o povo hitita, quando se firmava um tratado, era proferida um a maldição: se a pessoa rompesse o acordo, ele, sua família e suas ter­ras, ficariam como o sal, isto é, sem semente ou sem

descendência.2.14-16. oferta de cereal dos prim eiros frutos. Asofertas de cereal eram feitas em substituição às ofertas queimadas, ou acompanhando outros sacrifícios, mas também eram trazidas ofertas de cereal dos primeiros frutos da colheita. Esse cereal não havia passado por nenhum processo de beneficiam ento, m as incluía a torrefação dos feixes ainda verdes. É provável que em vez de trigo, fosse usada cevada nessa oferta.

3 .1 -1 7

A oferta de comunhão3.1-5. oferta de com unhão. A oferta de comunhão geralm ente acom panhava a oferta queim ada, e en­volvia tam bém o sacrifício de um animal. Freqüen­temente associada à participação em refeições comunais de *aliança (Êx 24.5; Js 8.31), quando da instituição da m onarquia servia para reconhecer o papel do rei em relação a Deus ou ao povo. Um a expressão semelhan­te referindo-se a um presente entre dignitários, é usa­da em relação a refeições festivas de *Ugarite e *E1 Amarna (Canaã). Os três tipos de sacrifício nessa cate­goria são as ofertas voluntárias, a oferta de voto e a oferta de gratidão. O ponto comum entre elas é o fato de propiciarem um a refeição entre a fam ília e os am i­gos do ofertante. A gordura deveria ser queimada no altar, mas a carne fazia parte da refeição.3.4. gordura que cobre as vísceras. Corresponde à cam ada de gordura que reveste os órgãos internos, principalm ente dos intestinos, fígado e rins. Essa gor­dura pode ser tirada com facilidade, e não serve como alimento. Não era costum e entre os m esopotâm ios incluir essa gordura em seus sacrifícios, m as outras culturas do antigo O riente Próxim o a incluíam . A descrição no texto é bastante técnica. J. M ilgrom tra­duziu esse trecho em seu com entário da seguinte maneira: "A gordura que cobre as vísceras e toda a gordura em volta das vísceras; os dois rins e a gordu­ra ao redor deles, que está nos tendões [e não perto

dos "lom bos", como na NVI]; e o lóbulo do fígado, que ele removerá junto com os rins".

3.6-11. cauda gorda. Quando um animal de rebanho era oferecido, a "cauda gorda" era incluída no sacrifí­

cio. As ovelhas dessa região tinham caudas longas, m edindo cerca de um m etro e m eio, e chegando a

pesar 33 quilos.3.11. queim ados como alim ento. A linguagem desse

trecho deixa transparecer novam ente que os term os usados em Israel em relação aos sacrifícios sofriam in­

fluência dos conceitos de outros povos. M as algumas passagens (como o Salmo 50.12 ,13) deixam claro que os israelitas não consideravam os sacrifícios como um

alimento necessário a Deus. Visto que essa terminologia

é usada apenas para essa oferta específica, talvez re­presente a inclusão de D eus na refeição comunitária, e não que Ele tivesse necessidade de alimento.

3.12-17. a gordura é do Senhor. A gordura era coloca­da junto com o sangue com o porção pertencente ao

Senhor. A ssim como o sangue era o símbolo da vida do

animal, a gordura representava a carne do sacrifício.

4 .1- 5.13 A oferta de purificação4.1-3. oferta pelo pecado. A oferta de purificação era

tradicionalmente chamada de "oferta pelo pecado". A

terminologia mudou quando se reconheceu que a ofer­

ta não se referia apenas a ofensas morais, mas tam ­

bém era usada para purificação em casos de significa­tiva im pureza ritual. Tanto nas situações pessoais,

como nos cultos públicos de consagração associados a

certas festas, a oferta servia para purificar ou purgar o santuário (não o oferente) dos efeitos do pecado ou da

condição. N o antigo Oriente Próximo, a purificação

dos templos era um a necessidade constante, uma vez que o povo acreditava que a *im pureza tornava o templo vulnerável aos ataques demoníacos. Em Isra­

el, a preservação da *pureza do santuário dizia res­peito à santidade de Deus. O Senhor só permaneceria

entre eles se a santidade de seu santuário fosse mantida.

4.4-12. imposição de mãos. A imposição de mãos era

um a parte im portante do *ritual sacrificial. Não era

feita com o objetivo de transferir os pecados, visto que

tam bém era usada em sacrifícios que não lidavam com pecado. Outra possível explicação é que o ofertante

se identificava de algum a m aneira com o anim al, talvez como seu substituto, ou como algo que lhe

pertencia. A maioria das vezes em que ocorreu esse

ritual acontecia um a transferência ou a indicação de

algo (ou ambas), mas nem sempre fica claro o que está

sendo transferido ou indicado, podendo variar, con­

forme a situação.

4.6. aspergir sete vezes. A aspersão por sete vezes era um m eio de purificar todas as partes do santuário, sem ter de ir a cada uma delas individualmente. A aspersão era feita diante do véu que separava o santu­ário externo do Lugar Santíssimo.4.7. pontas do altar. N o antigo O riente Próxim o, os altares geralm ente eram projetados de form a a apre­sentar pontas em seus quatro cantos. Pesquisas têm sugerido que essas pontas eram símbolos dos deuses, embora não se conheça sua utilidade. Tanto o altar de incenso que ficava dentro do santuário como o altar de sacrifícios, do lado de fora do santuário, tinham pontas.4.7. altar de incenso. Nesse sacrifício, um pouco de sangue era colocado nas pontas do altar de incenso. Os altares de incenso eram bastante comuns nos san­tuários israelitas e cananeus. O incenso oferecido nes­ses altares era um a m istura de especiarias, sendo a resina de incenso o principal ingrediente, acrescida de goma aromática, onicha e gálbano. M ais tarde, a tradição judaica incluiu outras especiarias a essa mis­tura. A fumaça do incenso simbolizava as orações do povo subindo até Deus.4.12. partes restantes queimadas fora do acampamen­to. Depois que o sangue e a gordura eram oferecidos, o que restava do anim al (inclusive a carne), era quei­mado fora do acampamento, para que ninguém se apro­veitasse dos restos do sacrifício. Nenhuma refeição es­tava relacionada a esse sacrifício. Na época do segun­do templo, o monte de cinzas ficava bem ao norte da m uralha de Jerusalém. Análises de seu conteúdo con­firm aram a existência de vestígios de animais.4.13-32. perdão. As ofertas de purificação e de repara­ção eram feitas com o propósito de obter perdão O verbo perdoar era usado apenas em relação a Deus, nunca a seres hum anos, e não elim inava o castigo (ver Nm 14.19-24). Devemos, portanto, concluir que esse conceito se refere m ais ao relacionamento do que à questão judicial da punição. Quem oferecia esses sacrifícios buscava a reconciliação com Deus, não ficar livre do castigo.5.1-4. obrigação pública de testemunhar. O primeiro caso diz respeito a alguém que não atende a um a convocação pública de prestar depoimento num caso judicial. Esse tipo de convocação era comum no antigo Oriente Próximo. O segundo e o terceiro casos dizem respeito ao contato com a *impureza. O quarto, a um juram ento impensado. Textos *hititas tam bém relacio­navam o rompimento de um juram ento à impureza.5.5-10. ações classificadas como "pecados". Esses ca­sos constituem um a categoria distinta porque não se trata de negligência nem tampouco de rebeldia. Uma ofensa foi cometida por descuido ou talvez por fraque­za, e esquecida, seja por um lapso de memória ou por

falta de disposição em pagar o preço. Essa oferta é diferente daquela do capítulo 4, que exigia confissão, mas assemelha-se a ela pelo fato de ambas resultarem na purificação do santuário e na reconciliação com Deus.5.11-13. não derramará óleo, nem colocará incenso.A oferta a ser trazida era determinada de acordo com as posses do oferente. Até mesmo um a oferta de fari­nha podia ser usada pelos m ais pobres. O óleo e o incenso eram omitidos porque estavam associados à celebração e não se tratava de um a ocasião festiva.

5.14- 6.7 A oferta de reparação5.14-16. a oferta de reparação. A oferta de reparação era chamada tradicionalm ente de oferta pela culpa. Em bora o termo usado seja freqüentemente traduzido como culpa, ele é mais específico ao sistema sacrificial. Essa oferta era destinada a um a categoria específica de ofensa - entendida como um abuso de confiança ou um sacrilégio. O "abuso de confiança" representava algo como o rompimento de uma *aliança, enquanto que "sacrilégio" referia-se, de m odo geral, à profana­ção de áreas ou objetos sagrados. Esses dois crimes eram bastante conhecidos no antigo Oriente Próximo, e encontram -se exem plos deles entre os *assírios, *babilônios, egípcios, *hititas e *arameus. O texto hitita Instruções para os Funcionários ão Templo é particular­mente esclarecedor na identificação de um a série de sacrilégios, como por exemplo: (1) sacerdotes se apo­derando de porções dos sacrifícios que não lhes per­tenciam ou tomando para o uso de sua família objetos de valor doados ao templo, e (2) leigos deixando de entregar a tempo as ofertas que pertenciam às divin­dades. O pecado relacionado à oferta de purificação (capítulo anterior) contaminava o lugar sagrado com o que era profano. O pecado relacionado à oferta de reparação era a apropriação de algo santo para ser usado na esfera profana. Nenhuma dessas ofertas fa­zia parte de outros sistemas sacrificiais do antigo Ori­

ente Próximo.5.18. carneiro, um quinto de sobretaxa, siclo do san­tuário. Enquanto a oferta de purificação exigida pelo pecado de um sacerdote de Israel era um cabrito, o carneiro da oferta de reparação era usado para distin­guir esse sacrifício de qualquer outro que tivesse como objetivo a purificação. Além do carneiro, o culpado tinha de pagar um a certa quantidade de prata no valor do que ele havia profanado, e acrescentar um quinto para a restituição. O siclo do santuário, usado para o cálculo do valor, geralmente era considerado uma fração do siclo normal, mas não há informações precisas disponíveis. Descobertas arqueológicas con­

firm am a existência de peças de siclo pesando de 9,3 a 10,5 gramas.

6.1-7. comparação de culpas. Nos casos alistados aqui, a inocência ou culpa do suposto ofensor podia ser determinada apenas por meio de um juramento, por­que muitas vezes a prova não estava disponível ou não havia sido identificada. Enquanto o trecho anteri­or dizia respeito ao sacrilégio de objetos sagrados, esse trecho refere-se ao sacrilégio cometido por jurar falsamente. Para os delitos classificados como leves, requeria-se o pagamento de uma multa além da res­tituição plena do valor roubado ou extorquido. Porém em m uitos dos antigos códigos de leis o reembolso monetário era usado até mesmo em casos de delitos graves.

6.8-13 A oferta queimada6.9. oferta queim ada m antida acesa durante a noite.Esse trecho apresenta as instruções aos sacerdotes concernentes aos sacrifícios descritos nos capítulos an­teriores. A oferta queim ada era o último sacrifício a ser oferecido no dia e as regulamentações aqui especi­ficam que a oferta deveria perm anecer queimando a noite toda, sendo que a limpeza do altar deveria ser feita pela manhã. Dessa forma, as petições em favor de Israel continuariam tam bém durante as horas da noite.6.10. roupas de linho. O linho usado nas vestimentas

dos sacerdotes era importado do Egito, onde também era usado de maneira a distinguir os sacerdotes. Ha­via tam bém a crença de que os anjos vestiam -se de linho (por exemplo, Dn 10.5).

6.14-23 A oferta de cereal6.16. p ro v isão p ara os sa ce rd o te s . A inda que o ofertante comesse uma parte do sacrifício, muitos sa­crifícios ofereciam uma ocasião oportuna para os sa­cerdotes se alimentarem. Isso tam bém acontecia na prática *babilônica, onde o rei, o sacerdote e outros funcionários do templo recebiam porções dos sacrifíci­os. Textos que remontam ao período *sumério mos­tram que era considerado um crime grave comer algo que havia sido separado como sagrado.6.16. pátio da Tenda do Encontro. O pátio do templo israelita descoberto em Arad era dividido em duas partes, ficando m ais restrita a área próxima ao santu­ário. A descrição do templo feita por Ezequiel retrata algumas salas especiais contíguas ao templo, onde os sacerdotes podiam comer a porção que lhes era reser­vada. É provável que o pátio mencionado aqui fosse uma área com divisões ao ar livre ou então salas contí­

guas ao pátio, m as seja como for, tratava-se de uma

área restrita.

6.18. o qu e n e la tocar será santo. A santidade de diversos objetos sagrados podia ser transmitida dire­

tam ente pelo contato com esses objetos, m as não a terceiros (Ag 2.12). Um a análise descuidada levou

alguns especialistas a concluir que apenas objetos, não pessoas, eram santificados pelo contato com algo

sagrado, mas nem todos estão convencidos de que tal distinção exista. Semelhantem ente, regulam entações mesopotâmicas proibiam que objetos sagrados fossem

tocados, mas não há informações sobre transferência de santidade. Se um objeto "ad qu irisse" santidade,

deveria ser confiscado pelos sacerdotes e, dali por

diante, restringido ao uso sagrado.6.20. um décim o de efa (ARA). Essa medida equivale a aproximadamente cinco xícaras de farinha para as

duas ofertas, sendo cada uma suficiente para fazer um bolo achatado de 20 a 25 centímetros de diâmetro.

6.24-30 A oferta de purificação6.27. a roupa respingada de sangue será lavada. Como

o sangue desse sacrifício absorvia a *im pureza, se respingasse na roupa, esta se tom aria impura e deve­

ria ser lavada.

6.28. tratam ento dado a vasos de cerâm ica e de m e­tal. Vasos de barro, por serem porosos, absorvem a

*impureza do que é colocado dentre deles. Recipien­

tes de bronze ou de cobre podem ser lavados e esfre­gados com facilidade, sendo assim purificados para

uso posterior.

7.1-10 A oferta de reparação7.2. sangue aspergido em todos os lados. A aspersão

do sangue em todos os lados do altar era um símbolo

da aplicação da m orte do anim al na purificação de qualquer contaminação que pudesse interferir no pe­

dido que estava sendo feito. O sangue representa a vida e a morte do animal, e o altar representa o santu­

ário (presença de Deus).

7.3. gordura. A gordura é um a camada que cobre os

órgãos internos, principalmente os intestinos, o fíga­do e os rins. Podia facilmente ser retirada e não era

comestível. Ver 3.1-5 para mais informações.7.6. com ida num lugar sagrado. H avia áreas na es­

trutura do tabernáculo designadas para tais ocasiões.

Ver 6.14-23.

7.6. partes dos sacerdotes. O conceito de porções re­servadas aos sacerdotes foi apresentado acima em 6.14­

23. A qui o couro do anim al tam bém pertencia ao

sacerdote, uma prática atestada na *Babilônia, como tam bém em todo o contexto Mediterrâneo.

7.11-21 As ofertas de comunhão7.12. preparo da oferta de gratidão. De cada um dos diferentes pães dedicados na oferta, um seria dado ao sacerdote. Os "bolos" provavelmente eram roscas tran­çadas perfuradas no processo de assar, enquanto que os "pães finos" eram do tipo redondo, talvez com 1,3 centímetro de espessura.7.14. contribuição. Esse termo geralmente é traduzi­do como "oferta alçada" e refere-se à consagração de um a dádiva. Term os cognatos são encontrados em *acadiano (babilónico) e *ugarítico. Ao ser colocada nessa categoria a oferta era transferida do indivíduo para a divindade por meio de procedimentos infor­mais, nem sempre dentro dos limites do santuário.7.15. diferença entre oferta de gratidão e outras ofer­tas de comunhão. Ao contrário das outras ofertas de comunhão, a oferta de gratidão muitas vezes era feita em outros lugares, fora do santuário. Por essa razão, as regras para esse tipo de oferta eram mais rígidas, determ inando que a carne fosse com ida no dia do sacrifício, talvez para evitar o perigo de contamina­ção, o que não seria um grande problema se fossem usados os recintos do santuário.7.19-21. elim inar aquele que, estando impuro, comer da carne da oferta. A punição mencionada aqui não se refere a algo que seria aplicado pelo povo, e sim pela ação de D eus. Esse tipo de punição geralm ente era reservado àqueles que profanavam o que era sagrado.

7.22-27 Comer gordura e sangue7.22-27. proib ição de com er gordura ou sangue. Agordura, junto com o sangue, fazia parte da porção que pertencia ao Senhor. Assim como o sangue sim­bolizava a vida do animal, a gordura era o símbolo da carne do sacrifício. A gordura de animais não ofereci­dos em sacrifícios podia ser comida, mas não era per­mitido comer o sangue de nenhum tipo de animal.

7.28-36 A porção dos sacerdotes7.30-34. oferta m ovida. U m a análise textual atenta m ostra que, na verdade, nada era "m ovid o" nessas ofertas, em bora seja possível que a oferta fosse levan­tada diante de Deus em sinal de dedicação (uma prá­tica atestada nas "ofertas de elevação" dos egípcios). É diferente da "contribuição" (v. 14) pelo fato de ser dedicada sempre na presença do Senhor, ou seja, no santuário. M uitos concordam que essa oferta talvez

represente uma cerimônia especial de dedicação. Fo­ram encontrados indícios de cerimônias movidas em

rituais mesopotâmios e *hititas, apesar de tratar-se de contextos bastante diferentes do ritual israelita.

7.31-34. uso do peito e da coxa. Como não há indica­ção de qual lado do peito, esquerdo ou direito, seria

ofertado, provavelmente o animal não era cortado no

sentido do comprimento, mas ao meio, na parte abai­xo das costelas, o que deixava o peito intacto, isto é,

um grande pedaço da melhor carne para ser compar­tilhado pelos sacerdotes. A coxa era a parte seleta

individual reservada ao sacerdote oficiante.

8.1-36A consagração de Arão e de seus filhos8.1-9. a unção e o óleo da unção. As especiarias usa­das para ungir eram mirra, canela, cana aromática e

cássia (ver receita em Êx 30.23-25). O óleo simboliza­

va as dádivas de Deus ao povo e as responsabilidades agora depositadas sobre seus líderes, através dessa

cerimônia. Na cultura israelita, a unção era sinal de eleição e, em geral, estava intim am ente relacionada

ao dom do Espírito, embora isso não esteja implícito no caso dos sacerdotes. Entre os egípcios e *hititas,

que praticavam a unção de reis e sacerdotes, acredita­

va-se que esta seria um a forma de proteger a pessoa

do poder das divindades inferiores. N os textos de *A m arna há um a referência a um rei de N uhasse

sendo ungido pelo faraó, e em Emar, há menção de

que a sacerdotisa de Baal foi ungida. Não há compro­vação de que os reis na M esopotâmia fossem ungidos,

mas alguns sacerdotes eram. Além disso, em todo o

mundo antigo a unção simbolizava um progresso na posição legal da pessoa. O conceito de proteção, assim

como o de mudança de status, está associado à unção sacerdotal, pois através da unção o sacerdote recebia

proteção para manipular as coisas sagradas e ao mes­mo tempo, era elevado à uma dimensão divina.

8.5-30. cerim ônia de consagração. Cerimônias de or­

denação e de unção aconteciam normalmente em oca­

siões sociais. Na literatura m esopotâmica os exemplos incluem Enku sendo preparado para ingressar na so­ciedade, relatado no Épico de *Gilgamés, e a hospita­

lidade oferecida a *Adapa quando ele é cham ado a comparecer diante do poderoso deus Anu, no M ito de

Adapa. Na cerimônia de consagração israelita, a pre­paração para fazer parte do círculo de pessoas que

servem à divindade simplesmente acentua os proce­dim entos norm ais, pelo uso da m elhor roupa e do

óleo mais caro. A cerimônia de ordenação de sacerdo­tes no Egito também incluía roupas especiais e rituais de unção.

8.1-7. sacerdotes no m undo antigo. Todas as culturas do antigo Oriente Próximo desenvolveram um a clas­se sacerdotal. Apenas as tribos beduínas não tinham o

costume de separar alguns indivíduos para a execu­ção de tarefas exclusivam ente sacerdotais. O papel dos sacerdotes, em parte como função do sacerdócio com unitário, era de m inistrar nos tem plos, oferecer sacrifícios, dirigir cultos religiosos e coordenar as fes­tividades. Os sacerdotes eram educados dentro do

templo desde a m ais tenra idade, e em alguns casos, a posição dentro da classe sacerdotal era hereditária. Eles faziam parte do seleto grupo de pessoas letradas da sociedade, que dependia deles p ara m anter os registros dos principais eventos e ligá-los à vontade dos deuses. O processo de ligação com a divindade era conhecido como *adivinhação e, juntam ente com o sacrifício * ritual, constituía a principal fonte de poder

e autoridade dos sacerdotes. Havia um a hierarquia dentro da classe sacerdotal, incluindo o chefe dos sa­cerdotes, que às vezes, rivalizava em poder com o rei, os que ocupavam um nível intermediário e que exe­cutavam *rituais e sacrifícios diários, os músicos, e por fim os servos do templo, que atuavam como zeladores e faziam os serviços dom ésticos necessários a qual­quer comunidade de tamanho considerável.8.7. colete sacerdotal (éfode). A peça m ais importante do vestuário sacerdotal de Arão era o colete, repre­sentado por uma roupa de linho que cobria a parte su­perior do corpo ou uma peça frontal presa aos ombros e atada na cintura. O peitoral (Êx 28.15), o U rim e o Tum im (Êx 28.30) e o éfode eram usados nas *adivi- nhações (1 Sm 23.9-11). A ssim, a própria vestimenta do sumo sacerdote o auxiliava no discernimento da von­tade de Deus. Para mais detalhes sobre outros itens das vestes sacerdotais, ver comentários de Êxodo 28.8.8. Urim e Tum im . Nenhuma descrição desses obje­tos é encontrada nas Escrituras, em bora tradições do período helenista e posteriores a essa época indiquem tratar-se de objetos que, quando lançados, revelariam a vontade de Deus através da apresentação e disposi­ção das peças (ver N m 27.21; 1 Sm 14.37-41 e 28.6). Não existe nenhum aspecto negativo atrelado ao Urim e ao Tumim, como havia em outras práticas de adivi­nhação; tam bém não há referência a eles em passa­gens que descrevem a adoração ou *rituais não israe­litas. Sem dúvida, a prática de apresentar perguntas do tipo "sim ou não" (oráculos) aos deuses é conhecida em todo o antigo Oriente Próximo. De particular inte­resse são os textos *babilônicos tamitu, que preservam as respostas a m uitas perguntas oraculares. Pedras positivas e negativas (acredita-se que fossem pedras claras e escuras) também eram largamente utilizadas na M eso p o tâ m ia , nu m p ro ced im e n to ch am ad o

psefomancia; em um texto *assírio, há menção especí­fica ao alabastro e à hematita. Era feita uma pergunta cuja resposta seria na forma de "sim ou não" e então

se retirava uma pedra. Para que um a resposta fosse

realmente confirmada, uma pedra da mesma cor de­

veria ser tirada por três vezes consecutivas. Urim é a palavra hebraica para "lu zes" o que, logicam ente, indica a associação com uma pedra clara ou branca.

Estudos recentes apontam que a hematita, devido ao seu uso para pesos e lacres, era chamada de "pedra da verdad e" em *sum ério. A palavra hebraica Tumim

poderia ter um significado semelhante.8.9. lâm ina de ouro ou coroa sagrada (diadem a).

Trata-se de um símbolo de autoridade usado na fronte

ou sobre um turbante. Talvez o exemplo mais conhe­cido no mundo antigo seja a figura da serpente (uraeus) colocada na parte da frente da coroa do faraó e que servia, segundo a crença, como um amuleto protetor.

Na descrição das vestes do sumo sacerdote, a coroa

sagrada usada por ele geralm ente é descrita como um a "lâm ina de ouro", como na versão NVI. Visto

que a palavra traduzida como "lâm ina" é a mesma

usada para flor, é possível que a insígnia tivesse o formato de uma flor.

8.10-21. unção dos objetos sagrados. Essa unção era

feita para consagrar o tabernáculo e todos os seus uten­sílios, designando-os para uso sagrado. O s egípcios

algum as vezes ungiam as im agens dos deuses, mas

isso era feito como parte dos cuidados dispensados ao

templo e não como um a cerim ônia de consagração.

8.14. imposição de mãos. Ver comentário em 4.4-12.8.22-30. carneiro para a oferta de ordenação. A ex­pressão "p ôr nas m ãos" usada para a cerim ônia de

ordenação, é entendida dentro do contexto *acadiano

de ordenação, tanto de reis como de sacerdotes. No caso do rei *assírio Adad-Nirari II, há menção especí­

fica de um cetro sendo colocado em suas mãos, simbo­

lizando a autoridade de sua posição. Essa expressão,

porém, era usada de form a m ais abrangente, e não exigia uma insígnia. Nesse relato, o sacrifício de um

carneiro, a oferta de purificação (v. 14-17) e a oferta

queimada (v. 18-21) funcionam como elementos que confirmam a autoridade dos sacerdotes no cargo.

8.23. orelha direita, polegar da mão e do pé direito. N ão se sabe ao certo em que parte da orelha o sangue era colocado (as sugestões mais freqüentes apontam o

lóbulo ou a extremidade oposta da orelha). O sangue era usado tanto para lim par das *im purezas, como

para proteger do "contágio com o sagrado". No antigo

O riente Próxim o, *rituais sem elhantes espalhavam ou esfregavam alguma substância nas bordas de obje­

tos ou nas portas.

8.29. oferta m ovida. Ver comentário em 7.30-34. De­talhes relacionados aos versículos 25-29 podem ser encontrados no comentário do capítulo 1.8.30. aspersão de óleo e sangue. Arão já havia sido ungido com óleo e lambuzado de sangue, m as a asper­são aqui tem um propósito diferente, o de consagração.8.31-36. propiciação. A idéia de "purificação" expri­me m elhor o que está acontecendo do que o termo "propiciação". Ver comentário em 1.4.8.35. perm anecer por sete dias. O sumo sacerdote não podia retirar-se do local por nenhum motivo, do con­trário seria exposto à impureza. No cumprimento de suas funções, ele absorvia *impureza, mas permane­cia imune a seus efeitos enquanto estivesse nas de­pendências do santuário. Ao retirar-se dali ficaria vul­nerável ao perigo letal criado pela *impureza. Textos *sumérios apresentam esse mesmo tipo de preocupa­ção pelas sacerdotisas entu, que não deveriam arris­car-se a sair do templo enquanto *Dumuzi, ainda per­tencente ao m undo dos mortos, perambulasse pelas ruas (Dumuzi é um deus que morre e ressuscita, rela­cionado ao ciclo de fertilidade das estações). Cerimô­nias de dedicação com a duração de sete dias eram comuns, como na dedicação do templo de Gudea, em *Lagás.

9.1-22O in íc io d o m in is té rio sa ce rd o ta l9.1. cerimônia do oitavo dia. Informações mais deta­lhadas desse trecho podem ser encontradas nos co­mentários anteriores. Terminada a cerimônia dos sete dias de dedicação e ordenação, o oitavo dia marcava o começo do ministério. Essa cerimônia devia ser assi­nalada pela presença do Senhor (v. 4-6, 23, 24). Uma

cerim ônia de iniciação sem elhante ocorre quando o templo de Salomão é inaugurado (1 Rs 8.62-64), onde o term o hanok ("in iciação") é usado (cf. Hanukkah, em bora esse feriado judeu da atualidade não esteja relacionado a esse evento e sim à reinauguração do altar e do templo pelos m acabeus, após terem sido profanados por Antíoco Epifânio, no segundo séculoa .C ).

9.23- 10.20 O aparecimento da glória do Senhor e a ex­plicação9.23. a glória do Senhor. A dedicação de um templo no antigo O riente P róxim o se caracterizav a pela oficialização da presença da divindade no local (isto era feito geralmente levando-se a im agem da divin­dade e colocando-a no templo). Aqui, não é *Yahweh que é colocado no tabernáculo, mas a sua glória é que parece emergir do tabernáculo recém-dedicado, m ui­

to provavelmente na forma de uma coluna de nuvem e de fogo (ver comentário em Êx 13.21, 22) que repre­sentara a presença do Senhor durante o tem po de peregrinação no deserto. O fogo saltou da coluna e consumiu as ofertas.10.1. incensários. Trata-se provavelmente de panelas com cabo com prido que podiam conter carvão em brasa. Serviam com o altares portáteis, visto que o incenso era na verdade queim ado dentro deles. Os incensários também eram usados no Egito para quei­m ar incenso, quando as pessoas queriam proteger-se de forças demoníacas. Para comparação na Bíblia, ver Números 16.46-50.10.1. fogo profano. Como o acesso ao altar principal (de onde o fogo para as ofertas de incenso devia ser tirado) era difícil, por causa do fogo que queimava, e como os filhos de Arão decidiram que o incenso era necessário para proteger o povo da visão da glória do Senhor (ver 16.13), eles resolveram (sem autorização) trazer brasa de outro lugar (fogo profano).10.3. o silêncio de Arão. O silêncio de Arão contrasta com o choro em alta voz que geralmente acompanha­va o luto. M as ao contrário de ser um silêncio de espanto, representa a determinação de seguir o regu­lamento que dizia que os sacerdotes oficiantes não podiam estar de luto.10.4. parentes cuidando de seus m ortos. U m a dasprincipais incumbências da família era cuidar de seus mortos. No caso, os irmãos dos mortos não estavam disponíveis, pois ainda se encontravam ocupados com a celebração do sacrifício. Desta forma, os primos fo­ram orientados a cumprir as obrigações necessárias.10.6, 7. ritos de luto e óleo de unção. Cabelos desali­nhados e roupas rasgadas eram as principais manifes­tações de luto. Outros sinais incluíam rapar a cabeça ou a barba, jogar cinzas sobre a cabeça e até mesmo cortar-se. O período de luto geralmente durava sete dias. Arão foi advertido a não participar dos rituais de luto, para não interromper os serviços sacerdotais que ele tinha de m anter para a cerim ônia. Interrom per algo que tinha sido iniciado pelo óleo da unção seria menosprezar a santidade do santuário e da presença de Deus. Ver 21.10-12.10.8. vinho e bebida ferm entada. Tâm aras, m el e cereais podiam ser fermentados e usados como bebi­das, m as a cerveja de cevada provavelm ente era a bebida alcoólica mais comum. Existem algumas evi­dências de rituais envolvendo embriaguez na litera­tura do antigo O riente Próxim o, e a Bíblia tam bém atesta essa prática (Is 28.7).10.10. os limites do sagrado. O versículo 10 estabele­ce diversas categorias. Tudo que era santo (consagra­do à d iv ind ade) era consid erad o lim po ou puro

(ritualmente purificado). O que não era santo (portan­to, profano ou comum) podia ser considerado puro ou imundo. Era obrigação dos sacerdotes manter a dis­tinção entre essas categorias, e eles assim o faziam m antendo o que é cham ado de lim ite sagrado. A partir desse conceito, o centro do espaço sagrado era o Lugar Santíssimo, onde ficava a arca. Exteriormente, espalhavam -se as zonas concêntricas de santidade,

cada qual exigindo um determinado nível de *pure- za. Os sacerdotes eram responsáveis por fazer cum­prir as regras que m anteriam o nível apropriado de

santidade e *pureza de cada zona.10.11. ensino sacerdotal. O ensino m inistrado pelos

sacerdotes incluía ética e tam bém questões *rítuais, embora aqui a ênfase provavelmente esteja no último. Deuteronômio 24.8 oferece um exemplo desse tipo de ensino sacerdotal. N o m undo antigo, os sacerdotes eram considerados especialistas em relação aos rituais e às atitudes durante o *culto, sendo regularmente con­sultados sobre procedimentos mais complexos.10.12-15. porção dos sacerdotes. Os detalhes rela­cionados aos versículos 12-15 foram abordados nos comentários dos capítulos 6 e 7.

10 .16 ,17 . a importância de comer a oferta de purifi­cação. Acreditava-se que a oferta de purificação ab­sorvia as *impurezas pelas quais ela havia sido ofere­cida como reparação. Esse conceito de absorção ritual era comum no antigo Oriente Próximo. Quando uma grande quantidade de impureza era absorvida (como no Dia da Propiciação), a oferta inteira deveria ser queim ada a fim de elim inar a im pureza. M as em muitas ocasiões, o fato do sacerdote comer as partes determinadas tinha um importante papel no processo de purificação. M ilgrom sugere que o ato de comer simbolizava que a santidade estava engolindo a i m ­pureza. N esse caso, M ilgrom estaria correto em en­tender que a explicação dada por Moisés a Arão aqui estaria refletindo uma temerosa advertência. A pre­sença do corpo de seus filhos mortos na área do santu­ário teria aum entado grandemente a quantidade de im pureza absorvida pela oferta de purificação, tor­nando-a mortal para o sacerdote.

11.1-46 Alimentos puros e impuros11.2. restrições alimentares. Na M esopotâm ia havia inúmeras ocasiões em que era proibido ingerir certos alimentos por um período curto de tempo. Também n a Babilônia há provas da existência de restrições quanto aos animais que podiam ser aceitos em sacrifí­cio por determinados deuses. Mas nenhum sistema pode ser comparado a esse encontrado aqui. Embora não se conheça nada equivalente a esse sistem a de

restrição alimentar israelita em todo o mundo antigo, os animais permitidos geralmente estão em conformi­dade com a dieta comum do antigo Oriente Próximo.11.3-7. critérios para a classificação dos anim ais. Os principais critérios levam em conta (1) m odo de loco­moção e (2) características físicas. Não se faz menção aos hábitos alimentares desses animais, nem das con­dições de seu habitat. Antropólogos têm sugerido que os animais eram considerados puros ou impuros de­pendendo das características que possuíam e que os faziam serem considerados "norm ais" dentro daque­la categoria. Outras sugestões quanto ao critério de classificação levam em conta a saúde e higiene. No entanto, essas possibilidades não encontram apoio diante do fato de que muitos exemplos não se encai­xam em nenhuma categoria. Uma explicação tradici­onal popular sugere que alguns animais eram proibi­dos por estarem de alguma form a relacionados aos *rituais não israelitas. No entanto, há evidências de que os rituais sacrificiais praticados pelos povos vizi­nhos de Israel, fossem surpreendentemente bastante sem elhantes aos de Israel. Um a hipótese aceitável elaborada recentem ente é a de que a dieta israelita seguia o modelo da "d ieta" de Deus, ou seja, se al­gum animal não podia ser oferecido em sacrifício a Deus, então, também não seria adequado para o con­sumo humano.11.7. porco. A literatura *assíria de sabedoria descre­ve o porco como um animal impuro, que não podia ser usado no tem plo por ser um a abom inação aos deuses. Um texto sobre sonhos tam bém m enciona que comer porco seria um m au agouro. Entretanto, a carn e de p o rco fa z ia p arte da d ieta re g u la r na M esopotâmia. Alguns *rituais *hititas exigiam o sacri­fício de um porco. M ilgrom observa, porém, que nes­ses rituais, o porco não era colocado no altar como alimento para os deuses, m as era usado para absorver as *impurezas, sendo depois queimado ou enterrado com o o fe rta às d iv in d a d es do m u n d o in ferio r . Semelhantemente, n a M esopotâmia o porco era ofere­cido como sacrifício aos demônios. Há evidências de que no antigo Egito os porcos eram usados como ali­mento e Heródoto declara que tam bém seriam usados para sacrifícios. Documentos egípcios falam de mana­das de porcos sendo mantidas em terrenos de propri­edade dos templos e de porcos doados aos templos

como oferta. O porco era considerado um animal es­pecialm ente sagrado pelo deus Seth. G rande parte das evidências referentes a sacrifícios de porcos, po­rém, vem da Grécia e de Roma, onde também eram oferecidos em sacrifício aos deuses do mundo inferior. Nas áreas urbanas, era comum encontrar porcos, jun­tamente com cães, perambulando pelas ruas e vascu­

lhando o lixo, o que fazia deles animais repulsivos. A atitude que o povo de Israel deveria ter em relação ao porco é apresentada com clareza em Isaías 65.4 e 66.3,17; a primeira referência mostra que havia uma íntima relação desse animal com a adoração aos mor­tos. É bastante provável que sacrificar um porco re­presentasse oferecer um sacrifício aos demônios ou aos mortos.11.8. transferência da *im pureza. Qualquer objeto que tivesse contato com um cadáver seria considerado im­puro, a menos que fosse enterrado no chão. As fontes e nascentes de água eram im unes por essa mesma razão, bem como as sementes que seriam plantadas. A semente molhada mencionada no versículo 38 esta­ria sendo preparada como alimento, por isso tornou- se impura. Qualquer pessoa que tocasse em um cadá­ver tam bém seria considerada im pura, e precisava ser purificada. A maior parte da carne usada na ali­mentação vinha de animais que tinham sido mortos ritualmente e, portanto, não seriam agentes transmis­sores de impureza.

12.1-8Purificação após o parto12.2. im pureza cerim onial. N em toda impureza po­dia ser evitada e muitas vezes era causada por algo que de m aneira nenhum a poderia ser considerado pecado. H avia situações que dificilmente poderiam ser evitadas, incluindo as im purezas de ordem se­xual, as relacionadas a doenças e aquelas decorrentes do contato com um cadáver ou carcaça de animal. Em bora se tratasse principalm ente de uma questão de etiqueta, e não propriam ente de ética, as áreas sagradas do tabernáculo precisavam ser protegidas de tudo que não fosse adequado. Além disso, havia a crença com um de que os dem ônios habitavam no sangue menstrual. Em Israel, os fluidos corporais, tais como sangue m enstrual ou sêmen, estavam intim a­m ente relacionados à vida. Quando o potencial de vida que eles representavam não era aproveitado, passavam a representar a morte e, conseqüentemen­te, a impureza. Era comum nas culturas antigas, in­clusive no Egito, na *Babilôrúa e na Pérsia, considerar a impureza após o parto semelhante à impureza men­

sal do ciclo menstrual.12.3. circuncisão. Ver comentário em Gênesis 17.9-14.12.4. 5. purificação durante 33 ou 66 dias. O período inicial de sete dias mais os 33 dias adicionais totalizam quarenta dias - o período normal de acordo com as estim ativas. O fluxo de sangue após o parto pode durar de duas a seis semanas, dependendo da mu­lher, assim, esse cálculo seria um a aproximação ade­quada. Entre os persas e gregos havia restrições se­

melhantes, estipulando que som ente quarenta dias depois que a mulher tivesse dado à luz ela teria per­missão para entrar em lugares sagrados. Muitas cul­turas exigiam um período de purificação maior quan­do a mulher dava à luz uma menina. Os *hititas con­sideravam a criança im pura até o terceiro m ês (se fosse menino) ou quarto mês (se fosse menina). Não há nenhum argumento lógico que justifique essa dife­rença entre o período de purificação relacionado ao sexo da criança.12.7. propiciação. Exemplos como esse deixam claro que a cham ada "oferta pelo pecado" na verdade é uma oferta de purificação (ver comentários no cap. 4). Não existe aqui nenhum pecado que justifique essa "propiciação", em vez disso, trata-se de limpar a i m ­pureza do altar (ver comentário em 1.4).

13.1-46Doenças de pele13.2. variedades de doenças de pele. Pesquisas lin­güísticas concluíram que o termo freqüentemente tra­duzido como "lepra" na verdade seria mais bem tra­duzido como "lesão " ou, de form a m enos técnica, "escam ação da pele". Tais feridas podiam estar incha­das, vazando ou descamando. A term inologia para

esse tipo de doenças também é bastante abrangente em *acadiano, sendo consideradas de igual maneira pelos *babilônios como um a condição im pura e um castigo dos deuses. Não há evidências de lepra (han- seníase) no antigo Oriente Próximo em períodos ante­riores a Alexandre, o Grande. O texto não menciona nenhuma das características mais marcantes da hanse- níase, e os sintomas descritos não são relacionados à lepra. A condição apresentada no texto também não é descrita como contagiosa. A descrição dos sintomas sugere que, de acordo com diagnósticos modernos, tratava-se de psoríase, eczemas, vitiligo e dermatite

seborréica, bem como um a série de infecções causa­das por fungos. A grande aversão cultural a doenças de pele talvez seja porque seu aspecto (e às vezes, odor) assemelha-se ao estado de putrefação da pele de um cadáver estando, assim, associadas à morte. Essa repulsa natural das pessoas aumentava consideravel­mente a situação de isolam ento da vítim a quando combinada à quarentena, cujo propósito era m ais no sentido ritual do que médico. Um reflexo dessa atitu­de pode ser visto em um presságio da Antiga Babilônia que interpretava as áreas brancas da pele como uma indicação de que a pessoa havia sido rejeitada pelo seu deus e, portanto, deveria ser rejeitada tam bém pela comunidade.13.45. com p ortam en to da vítim a. O s cabelos d es­grenhados, as roupas rasgadas e o rosto coberto carac­

terizavam a vítim a com o um a pessoa enlutada. De acordo com as crendices da época, era uma forma do en­lutado se disfarçar das forças do mal que pairavam no lugar dos mortos. O grito era para impedir que as pes­soas se aproxim assem, já que havia a crença popular de que até m esm o sua respiração podia contaminar.13.46. viver separado, fora do acampamento. Embo­ra não fosse necessário m anter no acam pam ento o mesmo nível de *pureza do templo, existiam restrições. Esse tipo de restrição também é m encionado na litera­tura *babilônica relacionado a vítimas de doenças de

pele, que eram forçadas a viver em isolam ento. É provável que as pessoas com esse tipo de doença vi­vessem em áreas próximas a cemitérios.13.47-59. roupa contaminada. Esse trecho diz respeito aos diversos tipos de fungos causadores de mofo, que podem contaminar roupas ou madeira. N a literatura mesopotâmica, o aparecimento de fungos é relaciona­

do a demônios, embora no texto bíblico essa relação não seja tão explícita.

14.1-57A purificação da lepra14.2. ritual de purificação. Esses *rituais não estão relacionados a sujeira ou bactérias, m as a *impureza cerimonial. As aves usadas eram aves selvagens por­que aquela que fosse solta (contaminada) não poderia mais ser usada inadvertidam ente em algum sacrifí­cio. Nos *rituais mesopotâmios e *hititas de purifica­ção, era comum o uso de aves porque existia a crença de que elas levavam a *impureza de volta aos céus, de onde tinham vindo. A m adeira de cedro era usa­da, aparentemente, pela sua cor vermelha, juntam en­te com o pano vermelho e o sangue. Esse ritual não era usado pelos israelitas com um sentido mágico (a cura já acontecera), mas de modo simbólico. Muitos intérpretes acreditam que o vermelho representava a vida.14.8. significado de rapar-se. Às vezes, o cabelo repre­sentava a vida ou a identidade da pessoa, m as aqui não há nenhum sentido sim bólico. O s pelos eram rapados para que todos vissem a condição restaurada da pele e também para que nenhum resíduo de i m ­pureza ficasse encoberto ali.14.10. três jarros ou três décimos de efa. Três décimos de efa representava cerca de seis litros, o equivalente a uma oferta de cereal para cada ovelha oferecida.14.10. um a caneca de óleo. No hebraico, essa medida era cham ada de logue. Era uma quantidade peque­na, menos que uma caneca, mas é difícil quantificar com precisão. Esse term o aparece na Bíblia apenas nesse capítulo e as ocorrências em outras línguas são igualm ente vagas.

14.12. oferta pela culpa. Essa oferta, que seria mais

apropriadamente traduzida como "oferta de repara­ção", já foi descrita no capítulo 5. Era oferecida geral­m ente como form a de reparar algum dano sofrido

pelo santuário. Poderia ser parte desse *ritual com­

pensar alguma oferta que tivesse sido om itida pelo ofertante durante sua quarentena. Outra hipótese é

que como a ferida na pele podia às vezes representar um castigo de Deus por algum ato de sacrilégio, a

oferta de reparação serviria justam ente para reparar alguma ofensa que havia passado despercebida pela vítim a.

14.12. a oferta m ovida. Ver comentário em 7.30-34. Esse é o único relato em que um anim al inteiro é

incluído na cerimônia (ver caps. 7, 8).14.14. orelha direita, polegar da mão e pé direitos. Ver comentário em 8.23.

14.15. o uso do óleo. No antigo Oriente Próxim o, o óleo era usado como substância protetora. Em bora

essa função provavelmente tivesse desaparecido em

Israel, o óleo continuava a ser um elemento importan­

te nos rituais (assim como o visco, que é usado hoje em dia como enfeite nas festas de final de ano, no passado

era visto como proteção contra os demônios). U m ’‘r i ­tual egípcio de preparação de um ídolo para a cerimô­

nia do dia incluía um procedimento sem elhante ao descrito no versículo 18.

14.18. propiciação. O óleo (ou, mais provavelmente,

todo o *ritual de reparação), a oferta de purificação, a oferta queimada e a oferta de cereal, faziam cada um

por sua vez uma propiciação pelo indivíduo. Sobre o sentido de purgação contido na propiciação, ver co­

mentários no capítulo 1. Aqui o termo é usado para descrever o complexo processo ritual que concederia

ao indivíduo uma condição limpa para poder ser rein­

tegrado plenam ente na participação do sistema ritual.

14.34. m ofo. A referência aqui é a contam inação por fungos, considerada como m au presságio no mundo

antigo. *Rituais mesopotâmios atacam o crescimento de

fungos em várias situações diferentes. Acreditava-se

que a parede em que surgissem manchas de mofo seria uma indicação de qual m embro da família iria morrer. O bolor era visto como um presságio da chegada imi­

nente de demônios e de todos os problemas que trazi­

am. Este conceito não aparece nesse texto bíblico; os procedimentos rituais apresentados são necessários ape­

nas para a casa, não para seus m oradores.

14.48. ritual de purificação. Esse *rito demonstra certa semelhança com os rituais de purificação contra mofo

praticados por outros povos do antigo Oriente Pró­ximo. O ritual *hurriano usava aves (duas eram sacrifi­

cadas, e um a solta) e queim ava m adeira de cedro,

exatamente como faziam os israelitas. Os *babilônios usavam um corvo e um falcão, que era solto no deser­to. Para outros detalhes sobre esse ritual, ver comen­

tário no início desse capítulo.

15.1-33 Fluxos15.1-15. fluxos provocados por doenças. O fluxo des­crito aqui é aquele geralmente causado pela gonorréia

(embora somente as formas mais benignas existissem

no mundo antigo). Também pode ser identificado como bilharziose urinária (esquistossomose), um flagelo bas­

tante comum no mundo antigo. Essa doença era cau­sada por um parasita - Schistosoma - relacionado a

caramujos que ficavam no sistema de águas descober­

to por escavações arqueológicas. N a m aior parte do antigo Oriente Próximo acreditava-se que esses corri­

mentos fossem evidência da presença de demônios na pessoa. Em Israel, porém , a pessoa deveria apenas lavar-se e purificar-se no santuário, pois o *exorcismo

não era praticado como na Mesopotâmia.

15.16-18. expelir sêm en. Entre os *hititas, as poluções

noturnas eram consideradas resultado de relações se­xuais com os espíritos. No texto bíblico não existe essa

conotação e o ritual de purificação exigia somente a

lavagem, não o sacrifício. Qualquer atividade sexual impedia a pessoa de entrar no templo até o entardecer.

O m esm o ocorria entre os egípcios, apesar de não estar m uito evidente em várias outras culturas do

antigo Oriente Próximo, talvez devido ao predomínio

da prostituição ritual. Nessas culturas, representadas pela prática *hitita, quem tivesse praticado o ato sexu­al, deveria lavar-se antes de participar de qualquer

ritual, mas não havia necessidade de um período de

espera; tampouco existia a proibição explícita de se manter relações sexuais nas dependências do templo.

15.19-24. m enstruação. O fluxo menstrual era consi­derado um a fonte de *im pureza em todo o mundo

antigo, e representava, em algumas culturas, o peri­

go de influência demoníaca. Mas em Israel, como no caso anterior, era tratado apenas como *im pureza,

exigindo-se apenas rituais de lavagem, e não sacrifíci­

os ou rituais de proteção. U m decreto real *assírio do final do segundo m ilênio proibia que um a m ulher

menstruada fosse à presença do rei quando eram ofe­

recidos sacrifícios.15.25-33. fluxos irregulares. M enostasia é o nome da

principal causa do fluxo de sangue contínuo que ul­trapassa o período mensal regular. Isso resultaria em

um estado quase permanente de imundície e impos­

sibilitaria à mulher ter filhos, visto que a relação se­xual era proibida enquanto existisse fluxo de sangue.

16.1-34O dia da propiciação (expiação)16.2. acesso lim itado aos lugares santos. No mundo antigo, de m odo geral, os tem plos não eram locais públicos de adoração. O acesso aos recintos sagrados era bastante restrito por serem considerados solo sa­grado. Quanto mais sagrada a área, mais restrito era o acesso a ela; o objetivo dessa medida era proteger as pessoas de pôr a vida em risco caso invadissem o solo sagrado, e também evitar que o lugar de habitação da divindade fosse profanado.16.2. aparecendo em um a nuvem. O termo *acadiano melammu era usado para descrever o resplendor divi­no, ou seja, a representação visível da glória da divin­dade que, por sua vez, era envolta por fum aça ou nuvem. Na mitologia cananéia, o conceito de melammu poderia ser traduzido pela palavra anan, a m esm a palavra hebraica traduzida nesse versículo como "n u ­vem "; mas as ocorrências são muito raras e obscuras para se ter certeza.16.2. tam pa. Esse term o tem sido tradicionalm ente traduzido como "propiciatório", embora todas as tra­duções sejam especulativas. O termo refere-se a uma tam pa ou lâm ina de ouro retangular (moldada em uma só peça, juntam ente com os querubins) que fica­va em cim a da arca (ver com entário em Êx 25.17). Talvez seja uma palavra de origem egípcia, pois pos­sui uma sonoridade semelhante ao termo egípcio usa­do para indicar um lugar de descanso para os pés. Considerando que a arca algum as vezes era vista como o estrado de Deus, então esse sentido estaria de acordo.

16.4. vestes de Arão. Ver comentários em Êxodo 28 sobre a descrição das vestes do sumo sacerdote. Aqui ele não está vestido com toda a pompa, m as numa atitude de humildade, com roupas de linho mais sim­ples. O linho usado na confecção das roupas sacerdo­tais era importado do Egito, onde também era usado pelos sacerdotes, de m odo a distingui-los das pessoas comuns. Os anjos tam bém usavam roupas de linho (ver, por exemplo, Dn 10.5). M ais tarde, na cerimô­nia, o sumo sacerdote tirava essa roupa, lavava-se e vestia sua roupa usual (v. 23, 24).

16.6-10. propósito do dia. Apesar de outras culturas do antigo Oriente Próximo terem *rituais para elimi­nar o mal, todas consideravam sua natureza ritual ou demoníaca, enquanto que em Israel, os pecados do povo também estavam incluídos. A cerimônia come­çava com as ofertas de purificação para que o sacerdo­te pudesse entrar no Lugar Santíssimo. Um a vez lá dentro, o ritual de sangue purificava todas as partes do santuário das impurezas acumuladas ao longo do ano. O ritual era feito de dentro do santuário para

fora, até que os pecados fossem colocados sobre a ca­beça do "bod e expiatório", que os levava embora. O objetivo das ofertas habituais de purificação era o per­dão (ver com entário em 4.13-32). Esse ritual anual tinha o propósito de eliminar os pecados do povo.16.8. Azazel. A palavra hebraica traduzida como "b o ­de expiatório" é azazel. Essa tradução resultou da di­visão da palavra hebraica em duas outras palavras, levando a uma conclusão bastante improvável. Visto que o versículo 8 identifica um bode "para o Senhor" e outro "para A zazel", parece mais coerente conside­rar Azazel como um nome próprio, provavelmente o de um demônio. Os prim eiros herm eneutas judeus interpretavam dessa forma, como é demonstrado no livro de Enoque (segundo século a.C.). Esse bode não era sacrificado a Azazel (conforme 17.7), mas solto para Azazel (v. 26). Os *babilônios acreditavam em demônios alu, que viviam em regiões desérticas; tal­vez represente um conceito semelhante. As tabuletas de Ebla descrevem um rito de purificação para um mausoléu em que um bode era solto nas estepes da região desértica.16.8. conceito de bode expiatório no antigo O riente Próximo. Inúmeros *rituais *hititas tinham como ca­racterística a transferência do mal para um animal, que depois era enviado para longe. Em alguns casos, o animal era também considerado um presente ofere­cido para acalmar os deuses ou uma espécie de sacri­fício, mas em outros, era simplesmente um m eio de eliminar o mal. Rituais mesopotâmios de transferên­cia do mal geralmente viam o animal como um subs­tituto para uma determinada pessoa, passando a en­frentar os ataques demoníacos no lugar dela. No ritu­al Asakki M asuti contra febre, o bode que substituía a pessoa enferma era enviado para o deserto. Porém, todos esses ritos apresentam diferenças significativas em relação ao que era praticado entre os israelitas, pois eram realizados por meio de feitiços (por exem­plo, com a repetição de palavras mágicas), conceitos totalm ente ausentes no ritual israelita. Além disso, não havia nenhum a intenção no ritual israelita de aplacar a ira da divindade ou de demônios, ao passo que esse era o motivo principal dos rituais do antigo Oriente Próximo.16.8. lançar sortes. O fato de lançar sortes dava ao Senhor a oportunidade de escolher o bode para o sacrifício.16.12. função do incenso. Os altares de incenso eram comuns nos santuários israelitas e cananeus. O incen­so oferecido nesses altares era uma mistura de especi­arias que continha como ingrediente principal resina de incenso e também goma aromática, onicha e gálbano (ver comentário em Êx 30.34-38). Tradições judaicas

posteriores incluíram uma série de especiarias à mis­tura. A fumaça do incenso representava as orações do povo subindo até Deus.16.29. décim o dia do sétim o mês. Essa data seria no outono, dez dias após o ano-novo. Em nosso calendá­rio cai por volta do final de setembro.16 .34 . p ro p ic ia çã o um a vez por an o. No *ritu al *babilônio de ano-novo, o sacerdote m atava um car­neiro que era usado na purificação do santuário e recitava encantamentos para exorcizar os demônios. O rei se declarava livre de vários crimes relacionados à sua posição, e a seguir o corpo do carneiro era lança­do no rio.

17.1-16 Consumo de carne e sangue17.4. culpado de sangue. Os animais domésticos apro­priados para os sacrifícios não podiam ser ritualmente abatid os para as ofertas de com unhão, exceto no tabernáculo/templo. Essa proibição visava im pedir que esses sacrifícios fossem oferecidos a outros deuses ou em santuários impróprios. Também servia como

im pedim ento ao conceito de que o sangue de um animal que tivesse sido morto longe do santuário po­deria ser usado para apaziguar as d ivindades do m undo inferior. E desse derram am ento de sangue em rituais ilícitos que o indivíduo seria considerado culpado.

17.7. ídolos em form a de bode. O term o provavel­mente faz referência aos demônios em forma de sátiros

que, segundo a crença, vagavam pelos descampados e lugares desabitados.

17.9. elim inado do m eio do povo. Essa terminologia geralmente é entendida como resultado da crença de que Deus executaria o castigo adequado. Não há indi­cação de qualquer ação judicial ou social contra a pes­soa, apenas a ação iminente de Deus.17.11. vida no sangue. A idéia de que o sangue era a

essência da vida fica evidente na crença mesopotâmica de que as primeiras pessoas foram criadas com o san­gue de uma divindade morta. Apesar desse conceito ser semelhante ao dos israelitas, não havia restrições

alimentares em relação ao sangue e nada que sugeris­se um uso ritual do sangue, nem na oferta à divinda­de nem em rituais de purificação, nas demais culturas do antigo Oriente Próximo.17.11. sangue com o propiciação. Devido à crença de que o sangue era a essência da vida, ele podia servir como agente purificador nos *rituais de cerim ônias sacrificiais. Para m ais inform ações sobre a palavra traduzida como "propiciação", ver comentário em 1.4.17.12. proibição de com er sangue. Comer o sangue poderia facilmente ser interpretado como um m eio de

absorver a vida de outra criatura. Esse tipo de pensa­m ento era proibido, assim como a idéia de que, ao ingerir sangue, a pessoa destruiria sua força vital. Em vez disso, a vida devia ser oferecida de volta a Deus, de onde se originara.

18.1-30 As relações sexuais ilícitas18.1-29. tabus sexuais. Toda sociedade desenvolve ta­bus no sentido de estabelecer regras para o matrimô­nio, adultério e práticas sexuais inaceitáveis. Essas restrições variam de cultura para cultura, mas todas refletem os valores econômicos e morais da sociedade. As leis no capítulo 18 são *apodícticas (ordens), desta­cando que essas práticas aviltavam o povo. A palavra usada nos versículos 22-29 ("repugnante") identifica o comportamento descrito como contrário ao caráter de Deus. Um termo equivalente em *sumério e *acadiano descreve certas condutas como desprezíveis aos deu­ses. Em caso de incesto (v. 6-18), a principal preocupa­ção era com as relações de consangüinidade mais pró­ximas (pai, mãe, irmã, irmão, filho, filha) e afins (es­posa, marido, tio, tia). A única exceção é no caso da obrigação de levirato (Dt 25.5-10), quando o irmão de um homem falecido era obrigado pela lei a ter rela­ções sexuais com a cunhada. O incesto era igualmente abominável na maioria das sociedades (era proibido pelas leis *hititas). Um tratado hitita proibia o relacio­namento com cunhadas ou primas, sob pena de mor­te. A exceção é o Egito, onde o incesto era uma prática comum na fam ília real (mas pouco comprovada em outros grupos), usado como meio de fortalecer ou con­solidar a autoridade real. Esse conceito também exis­tia entre os reis *elamitas. O adultério (v. 20) viola a santidade da família e contamina o processo de heran­ça (ver comentário em Êx 20.14).18.21. filh o s sacrificados a M oloque. Foram encon­tradas evidências de sacrifícios de crianças em locali­dades fen ícias, no norte da Á frica (C artago) e na Sardenha. Esse tipo de sacrifício era praticado tam­bém na Síria e na M esopotâm ia durante o período *assírio (oitavo e sétim o século a.C.). A prática de dedicar os filhos a um deus em forma de sacrifício é encontrada em diversos relatos b íblicos. Pode ser explicada como um meio de promover a *fertilidade (M q 6.6, 7) ou a fim de obter vitórias m ilitares (Jz11.30-40; 2 Rs 3.27). Porém, esse tipo de sacrifício não era considerado aceitável para *Yahweh, de acordo com a lei bíblica (Dt 18.10). M uitos acreditam que M oloque seria um a divindade do m undo inferior, cuja adoração era com posta de *rituais de origem cananéia dedicados aos ancestrais. U m a inscrição fenícia do século oitavo a.C. menciona sacrifícios feitos

a Moloque pelos habitantes da Cilicia e seus inimigos, antes da batalha.

18.22, 23. hom ossexualidade e bestialidade. Tanto a homossexualidade (v. 22) como a bestialidade (v. 23) eram praticadas no contexto de *rituais ou feitiçarias no antigo Oriente Próxim o. Essa últim a, particular­mente, é encontrada na mitologia de *Ugarite, e sua prática era considerada ilegal (especialm ente pelas leis *hititas). A m istura das espécies nos relaciona­mentos sexuais era considerada contrária aos concei­tos de *pureza.18.24-28. perversões sexuais caxianéias. Essas perver­sões não podem ser vistas simplesmente como resul­tado da depravação humana. As relações sexuais ha­viam se incorporado aos ritos de adoração e eram praticadas com o propósito de garantir a *fertilidade da terra, dos rebanhos e das pessoas. Há várias evi­dências quanto ao aspecto de fertilidade da religião cananéia, m as pouco se sabe a respeito dos detalhes específicos dos rituais sexuais. Sabe-se que havia ho­mens e mulheres nos templos que praticavam a pros­tituição, mas o papel ritual que desempenhavam ain­da é desconhecido. Esses versículos tam bém fazem supor que a violação do código sexual contaminava não só o povo, m as também a terra, exigindo, portan­to, um processo de purificação, com a expulsão dos habitantes daquela terra para que os israelitas pudes­sem ocupá-la. Assim, essa intima relação entre a terra e as pessoas que nela habitavam era um conceito natural a um povo cuja vida baseava-se na agricultura e no pastoreio. Apesar dos israelitas terem a garantia de que a terra pertenceria a eles, foram alertados a não assum ir as m esm as práticas dos cananeus, sob pena de tam bém serem banidos.

19.1-37 Diversas leis19.9,10. recom endações sobre a colheita. Nos *cultos de *fertilidade, um a parte da colheita era deixada nos campos como um a oferta às divindades do solo. N es­ses versículos, uma parte da colheita deveria ser dei­xada no campo para suprir as necessidades dos po­bres. Embora não tenham sido encontrados exemplos desse tipo de leis no antigo Oriente Próxim o, textos da cidade de *Nuzi sugerem que ali havia um costume sem elhante.19.11-19. contrato social. Esta é outra série de decretos *apodícticos (ordens) sem elhante ao Decálogo (Dez Mandamentos, encontrado em Êxodo 20.1-17), porém apresentando um conceito ainda m ais completo do contrato social entre Deus e os israelitas, bem como dos direitos e deveres dos israelitas perante a socieda­de. Não há exemplos de outros contratos sociais como

esse entre o povo e sua divindade. No entanto, no antigo Oriente Próximo havia a crença de que os deu­ses se preocupavam com a justiça social e no fato das pessoas terem de prestar contas de seus atos aos deu­ses, fossem eles pessoais ou familiares, ou o próprio Shamás, o deus da justiça. Acreditava-se tam bém que os deuses julgavam a conduta das pessoas e podiam ser invocados como testemunhas do comportamento humano. Desta forma, os contratos sociais que regula­vam o comportamento dos habitantes das nações vizi­nhas de Israel eram firmados entre homens e deuses, sendo que esses últimos eram invocados nos juram en­tos para dar proteção.

19.19. m istura de anim ais, sem entes e m ateriais. Al­gumas m isturas eram consideradas exclusivas para uso sagrado. O texto paralelo em Deuteronômio 22.9­11 deixa claro que em Israel também havia essa prá­tica. Uma mistura de lã e linho era usada no taberná­culo e nas vestes do sumo sacerdote, sendo por esse motivo reservada para uso sagrado. Essa interpreta­ção tam bém pode ser encontrada nos Manuscritos do

M ar Morto (4TMMQ). Semear dois tipos diferentes de sem entes tam bém era proibido pelas leis *hititas e quem transgredisse essa ordem seria am eaçado de morte.

19.20-22. condição da escrava. Tanto os padrões de conduta como as formas de punição variavam quando se tratava de escravos. As leis do antigo Oriente Pró­ximo apresentam diversos tipos de punição para quem estuprasse um a escrava. Tanto as leis neo-sumérias de *Ur-Nammu, como as leis *babilônicas de *Esnuna (cerca de 2000 a.C.) estipulavam o pagam ento de multas para aquele que estuprasse uma escrava. A lei de Esnuna acrescentava que a vítima deveria perma­necer com seu proprietário original, a fim de que o estupro não se tom asse um meio predatório de obter um escravo. No exemplo bíblico, o caso não é conside­rado adultério e, portanto, não culmina em execução (ver D t 22.23, 24), visto que a m ulher é considerada como escrava por não ter sido ainda libertada (ver Êx22.15-17).19.23-25. árvores frutíferas. Os pomares eram tão va­liosos que a lei proibia que suas árvores fossem corta­das durante o período de guerra (Dt 20.19). G eral­m ente, havia vários tipos de árvores frutíferas (ver Am 9.14), sendo que as mais comuns eram a figueira, a oliveira, a tamareira e o sicômoro. Alguns pomares eram irrigados (Nm 24.6), m as a m aior parte parece ter sido cultivada nas colinas (Jr 31.5). Durante os três primeiros anos era necessário o cultivo cuidadoso e a poda a fim de garantir boas colheitas e o amadureci­mento das árvores. Os frutos produzidos durante esse período não podiam ser comidos e eram declarados

impuros (literalmente, "incircuncisos"). No quarto ano toda a colheita deveria ser dedicada como oferta a Deus e só a partir do quinto ano o proprietário pode­ria comer os frutos.19.26. adivinhação. A ^adivinhação compreendia uma variedade de métodos empregados pelos profetas (Mq3.11), adivinhos, médiuns e feiticeiros para descobrir qual era a vontade dos deuses e para predizer o futu­ro. As técnicas m ais comuns incluíam o exam e das vísceras de animais sacrificados, a análise de diversos tipos de presságio e a leitura do futuro a partir de fenômenos naturais e não naturais (ver G n 44.5). Aqui, a proibição de não comer carne com sangue está liga­da à ordem para não se envolver em nenhum tipo de adivinhação ou feitiçaria. Desta forma, não se trata de um a lei alim entar, m as de um decreto proibindo a prática de derramar sangue de um animal sacrificado no chão ou num a cova sagrada, com o objetivo de atrair os espíritos dos m ortos (ver 1 Sm 28.7-19) ou divindades do m undo inferior a fim de consultá-los sobre o futuro. Tais práticas são encontradas em di­versos textos rituais *hititas e na visita de Odisseu ao mundo inferior (Odisséia 11.23-29, 34-43). Essas práti­cas são condenadas (Dt 18.10,11) porque contrariam a idéia de que *Yahweh é o Deus Todo-poderoso, que não pode ser controlado pelo destino.19.27. significado de aparar os cabelos. Para os ho­mens, o cabelo era considerado um símbolo de sua masculinidade ou virilidade (ver 2 Sm 10.4) enquanto que as mulheres penteavam e enfeitavam cuidadosa­

mente os cabelos como um sinal de beleza. A expres­são usada para a proibição de "cortar o cabelo dos lados da cabeça" ou aparar "as pontas da barba" é a m esma usada em 19.9, 10, que trata da colheita dos campos. Os dois casos estão relacionados a ofertas, uma para os pobres e a outra para Deus. O fato de essa lei ter sido ordenada logo após a proibição de praticar *adivinhação sugere que a restrição quanto a cortar o cabelo talvez estivesse relacionada ao costu­me cananeu de ofertar os cabelos a fim de aplacar os esp íritos dos m ortos (ver D t 14.1). No Código de *Hamurabi a punição para testemunhas falsas consis­tia em cortar m etade do cabelo da pessoa. As leis m edo-assírias perm itiam que o proprietário de um escravo arrancasse seus cabelos como form a de castigo (ver N e 13.25). Esses dois casos sugerem que a perda dos cabelos estaria associada à vergonha. Uma inscri­ção fenícia do século nono a.C. relata o caso de um indivíduo rapando os cabelos para cumprir um voto feito à deusa *Astarote. Na concepção do mundo anti­go, os cabelos (juntamente com o sangue) representa­vam a essência da vida da pessoa, e por essa razão eram freqüentemente usados em simpatias. Esse fato

pode ser exem plificado na prática de enviar um a mecha de cabelos do profeta junto com as profecias destinadas ao rei de *Mari. O cabelo poderia ser usa­do num a adivinhação para determinar se a m ensa­gem do profeta seria ou não verdadeira.19.28. fazer cortes no corpo por causa dos mortos. Algum as práticas *cultuais e de luto incluíam fazer cortes pelo corpo (ver 1 Rs 18.28; Jr 16.6; 41.5). Talvez o objetivo fosse atrair a atenção dos deuses, ou afastar os espíritos dos mortos ou então demonstrar grande sofrimento. A proibição pode ser decorrente de uma associação com a religião cananéia. O ciclo *ugarítico de histórias sobre o deus *Baal (c. 1600-1200 a.C.) descreve que *E1, a divindade superior, num a de­monstração de luto devido à morte de *Baal cumpre o ritual de jogar cinzas sobre a cabeça, vestir pano de saco e cortar-se com uma navalha. O texto diz que ele "fez sulcos em seu peito como em um jardim ".19.28. tatuagens. A proibição quanto a fazer marcas na pele pode estar relacionada à tatuagem ou à pintu­ra do corpo como parte de um *ritual religioso. Essas marcas talvez servissem para proteger a pessoa dos espíritos dos mortos ou demonstrar sua adesão a um determinado grupo. Algumas evidências nesse senti­do foram encontradas em escavações arqueológicas nas tum bas de Scythian, anteriores ao século sextoa.C.. A lei israelita talvez proibisse essa prática por envolver uma alteração feita pelo próprio homem na criação de Deus, diferente da ^circuncisão, que era ordenada por Deus.

19.29. prostituição. Seguindo a mesma linha das leis anteriores, que proibiam a corrupção tanto do povo

com o do produto da terra, essa lei que im pedia a entrega de um a filha para a prostituição tinha como objetivo evitar a desonra da própria filha bem como de sua fam ília. U m pai que estivesse enfrentando dificuldades financeiras poderia ser tentado a vender sua filha, mas isso representaria um a contaminação m oral tanto do povo como da terra. Como em 18.24­48, essa prática podia acarretar uma eventual expul­são da terra. Essa severa punição pode estar baseada na perda da honra tanto da fam ília como da comuni­dade. Entretanto, tam bém é possível que se refira à prostituição *cultual, o que implicaria na adoração de outros deuses além de *Yahweh.19.31. m édiuns e espiritualistas. A prática do espiri­tismo e da feitiçaria era condenada (Dt 18.10,11) por­que estava associada à religião cananéia e tam bém porque representava um a tentativa de igualar-se a *Yahweh, buscando obter conhecim entos e poderes dos espíritos. O espiritismo e a feitiçaria representa­vam um tipo de "religião popular" m ais próxima das práticas religiosas de pessoas comuns e serviam como

um a espécie de "relig ião oculta" para m uitos. Por estarem associadas à ^adivinhação, seus *rituais e téc­nicas opunham-se diretamente à "religião oficial" ou funcionavam como uma religião alternativa à que se recorria em situações de desespero (por exemplo, a consulta de Saul à feiticeira de Endor, em 1 Sm 28). Tanto a feitiçaria como o uso de poções mágicas eram proibidos pelo Código de *Hamurabi e pelas leis medo- assírias, o que indica que a proibição dessas ativida­

des e o m edo que provocavam não se restringiam a Israel.19.35, 36. m edidas honestas. A ordem para utilizar medidas honestas em relação ao comprimento, peso ou quantidade de produtos está diretamente relacio­nada às leis de 19.11-18, que exigem um tratamento justo e a percepção interior de que o próximo tinha de ser tratado da m aneira como você gostaria de ser tra­tado. A padronização de pesos e medidas era exigida no Código de *Hamurabi em relação ao pagamento de dívidas com cereais ou prata ou na quantidade de cereais para o pagam ento de vinho. O castigo para quem violasse a lei ia desde o confisco de bens até a execução.

20.1-27Procedimentos ofensivos20.2-5. entregar os filh os a M oloque. Um dos princi­pais tem as desse livro é a com paração da idolatria como um a forma de prostituição. Essa prática m an­chava o santuário de *Yahweh, o povo de Israel e a terra. O sacrifício de crianças a Moloque (ver comen­tário em 18.21) era condenado e seus praticantes devi­am ser apedrejados (uma forma de execução comuni­tária em que todos estariam envolvidos no ato da purificação). N enhum a transgressão dessa ordem se­ria tolerada, ainda que D eus tivesse de executar o castigo, caso a comunidade fechasse os olhos ao peca­do. A idéia de "elim inar" o pecador implicava o com­pleto banimento da presença de Deus e da comunida­de, e a punição geralm ente era encarada com o um cumprimento da vontade de Deus.20.9. am aldiçoar os pais. Estudos têm demonstrado que não se trata de amaldiçoar os pais, e sim de tratá- los com desprezo. Seria um a categoria m ais geral e certam ente incluiria a proibição de agredir os pais (Êxodo 21.15), e seria o oposto do quinto m andamento que diz, "h o n ra teu pai e tua m ãe" (Êx 20.12). O propósito dessas leis era proteger a unidade da fam í­lia e assegurar que as próximas gerações garantissem aos pais o respeito, o alimento e a proteção que m ere­ciam (ver Dt 21.18-21). Os códigos de leis e documen­tos legais da M esopotâm ia também m encionavam a questão de tratar os pais com desprezo. As leis *su-

mérias permitiam que o filho que renegasse seus pais fosse vendido como escravo. O Código de *Hamurabi exigia que fosse am putada a m ão do hom em que agredisse seu pai. Um testamento de *Ugarite descre­ve o com portam ento de um filho usando o mesmo verbo desse versículo, e determina que seja deserdado.20.10-16. pena capital para crim es sexuais. A violação das regras de conduta sexual (adultério, incesto, ho­m ossexualidade, bestialidade) é equiparada à idola­tria, exigindo um a sentença de morte. A corrupção de pessoas e da terra não podia ser tolerada. Crim es dessa natureza tam bém eram punidos pelo Código de *Hamurabi (o adultério exigia julgam ento de acor­do com as leis 129 e 132; o estupro era considerado crime capital pela lei 130; o incesto era punido com o exílio pela lei 154), pelas leis *medo-assírias (a homos­

sexualidade era punida com a castração, pela lei 20) e pelas leis *hititas (a bestialidade praticada com porcos

ou cães era punida com a morte, de acordo com a lei 199). No tratado h itita entre Shuppilulium a e Hu- qqana, esse é exortado a não possuir sexualmente sua irm ã ou sua prim a porque entre os hititas, os que praticassem tais atos eram condenados à morte. Proi­bições desse tipo, porém, não eram universais. Entre os persas, por exemplo, os homens eram encorajados a se casar com suas irmãs, filhas ou m ãe como um ato de compaixão. Entre os israelitas, no entanto, acredi­tava-se que esse comportamento destruiria a família, o elemento fundamentai da sociedade israelita, e des­truir a família significava destruir a *aliança.20.20, 21. castigo de não ter filh os. Ter filhos signifi­cava contar com os cuidados de alguém na velhice, re­

ceber um sepultamento digno e garantir a continuida­de da família nas gerações seguintes. Ficar sem filhos representava ficar privado de um a fam ília e correr o risco de ser abandonado na velhice e na morte.20.27. m édium ou espiritualista. Ver comentário em19.31.

21.1- 22.32Regulamentação para os sacerdotes21.5. regras sobre rapar a cabeça e aparar a barba. Ossacerdotes tinham o dever especial de se manterem puros e santos porque tinham a responsabilidade de apresentar as ofertas a Deus. Por essa razão, a pele e os cabelos deviam ficar intactos, sem m anchas ou ferimentos, como testemunho de sua santidade. Sen­do assim, não podiam mutilar-se, arrancar os cabelos nem rapar a barba, práticas de luto comuns em Canaã. N a verdade, seria vergonhoso se eles se apresentas­sem numa condição que demonstrasse impureza (ver a acusação de Satanás contra o sumo sacerdote Josué em Zc 3.3).

21.7. regulam entações quanto ao casam ento dos sa­cerdotes. Havia um a regulamentação especial para os sacerdotes proibindo-os de se casar com uma mulher que tivesse se envolvido notoriamente com prostitui­ção. Também não podiam se casar com uma mulher divorciada, provavelmente porque o principal moti­vo de divórcio fosse a acusação de infidelidade feita contra a m ulher por seu marido (ver Nm 5.11-31; Dt22.13, 14; 24.1).21.10-14. regulam entações especiais para o sum o sa­cerdote. D o sumo sacerdote, era exigido um padrão ainda mais elevado de *pureza. Ele devia evitar a conta­m inação decorrente do contato com os mortos, ainda que isso significasse ausentar-se do funeral de seus pais, e também não podia praticar os ritos usuais de luto (ver rituais de purificação quanto à contam inação de cadáveres, em N m 19). Essa restrição podia represen­tar uma tentativa de dissociar o sacerdócio do *culto aos mortos. A lém disso, a esposa do sacerdote devia ser virgem , portanto não podia ser viúva, divorciada nem prostituta. O sumo sacerdote era ungido para represen­tar a *pureza da nação em seu procedimento para com Deus. Portanto, ele devia evitar todo contato com pes­soas ou objetos que pudessem contaminar não só a ele, m as tam bém o Lugar Santíssim o.21.16-23. proibição de sacerdotes com defeitos. A s­sim como animais com defeitos físicos ou manchas não podiam ser oferecidos em sacrifício (22.19-22), os sa­cerdotes que tivessem algum defeito físico não podi­am ministrar diante do altar. Em todas as religiões do

antigo Oriente Próximo, era exigida uma *pureza *ri- tual para os recintos sagrados do altar, para o sacrifício e para o sacerdote que estivesse conduzindo a cerimô­nia. Portanto, os sacerdotes precisavam ter uma saúde perfeita e o completo comando de seus corpos e men­tes. Assim, o cego [ainda que de um só olho], o alei­jado, o defeituoso ou deformado não podiam minis­trar como sacerdote. A lista é específica, citando de­feitos causados por acidentes (ossos quebrados, testí­culos defeituosos), defeitos de nascença (anão, aleija­do, corcunda) ou doenças (feridas, doenças de pele). Em bora não pudesse aproximar-se do altar, mesmo assim o sacerdote deficiente tinha direito à sua porção do sacrifício.

21.21, 22. alim ento de seu D eus. Na m aioria das ofer­tas sacrificiais, um a porção era reservada para o supri­mento dos sacerdotes (ver 2.3, 10; 7.6, 31-34; 24.8, 9; Nm 18.12, 1 3 ,1 5 , 26, para um a descrição dos sacrifí­cios e da porção reservada aos sacerdotes). Ainda que o sacerdote fosse desqualificado para participar do *ritual sacrificial, devido a um defeito físico, ele tinha o direito de com er esse alim ento santo por ser um sacerdote. Em alguns textos egípcios e mesopotâmios

tam bém é possível encontrar o alim ento sacrificial

dedicado à divindade sendo compartilhado pelos sa­cerdotes, criando assim um elo especial entre o sacer­dote oficiante e a divindade. Ver comentários em 1.1,

2 e 3.6-11.22.3-9. proibição quanto à im purezas. Tanto o altar

como seus celebrantes tinham de manter um rigoroso estado de *pureza e santidade. Essa era uma exigên­

cia comum entre os israelitas e os outros povos do antigo Oriente Próximo. Os sacerdotes egípcios tinham de se submeter a longos rituais de purificação antes

de se aproximarem do altar. Um texto *hitita contém uma longa lista de instruções quanto a manter a pure­

za ritual dos sacerdotes e dos templos, bem como dos

meios de purificá-los em caso de contaminação, bas­tante sem elhante àquela encontrada no capítulo 22. Qualquer que fosse a origem da contaminação (sacri­

fício defeituoso ou impróprio, ou impureza do ofertante ou do sacerdote) tom aria impuros os sacerdotes e como

conseqüência, deveriam se submeter a longos rituais

de purificação antes de poderem novamente desem­

penhar suas funções. A lista em 22.4, 5 relaciona as pessoas que deviam ser mantidas longe dos recintos

sagrados e dos sacerdotes, incluindo quem tivesse

tido contato com cadáver ou com algum animal impu­ro, ou ainda a pessoa que tivesse comido um alimento

impuro. As leis *hititas proibiam as pessoas que tives­

sem tido relações sexuais com um cavalo ou m ula de se tornarem sacerdotes; este é um outro tipo de impu­

reza que não é compatível com a função de sacerdote.

22.8. anim ais mortos. Todo animal encontrado morto era considerado impuro; desta forma, somente os ani­

mais sacrificados ritualm ente, cujo sangue havia sido

devidamente drenado, eram acessíveis aos sacerdotes.

22.10-16. restrições quanto às porções dos sacerdotes. Alguns alimentos podiam ser consum idos som ente

pela divindade e por seus sacerdotes. Um exemplo bastante elucidativo é apresentado no juram ento de

um príncipe *hitita, em "O rações de Kantuzilis", de­

clarando que nunca havia comido "o que é santo ao

meu deus". Pela lei israelita, a porção reservada ao sacerd ote tam bém podia ser com p artilhada pelos

m em bros de sua fam ília, em bora hóspedes e traba­

lhadores contratados não pudessem tomar parte dela. As restrições baseiam -se no fato de que por ser um

alimento sagrado, não devia ser dado a pessoas de fora do círculo fam iliar (que incluía os escravos). A

filha que se casasse com alguém de fora da comunida­

de sacerdotal seria proibida de comer esse alimento. M as, caso ela ficasse viúva e voltasse para a casa de

seu pai, teria novam ente a perm issão de comer da oferta do sacrifício.

22.17-28. sacrifícios inaceitáveis. Assim como o altar e os sacerdotes tinham de ser ritualmente puros e sem

defeitos, os elementos trazidos em sacrifício deveriam ser de igual modo. No entanto, existiam diferentes categorias de ofertas aceitáveis, baseadas no tipo de sacrifício. Por exemplo, o animal apresentado como oferta voluntária ou para pagar um voto devia ser macho e sem defeito. Não seria aceito nenhum animal cego, machucado, mutilado ou que tivesse qualquer problema na pele (úlceras ou feridas). Mas no caso de ofertas voluntárias m enores, um a vaca ou ovelha de­

form ada ou atrofiada seria aceita, em bora não um anim al que tivesse seus testículos m achucados. De m odo semelhante, nos *rituais *hititas, os cães, que normalmente eram considerados impuros, podiam ser sacrificados aos deuses do mundo inferior.

22.28. proibição quanto a matar um a vaca ou ovelha e sua cria. A regulamentação para que uma vaca, ou ovelha, e sua cria não fossem oferecidas em sacrifício no mesmo dia funcionava como uma proteção àqueles que possuíam apenas alguns animais. D e outro modo, o cum prim ento das exigências rituais dizim aria seu pequeno rebanho. Não se sabe se essa medida visava combater alguma prática *cultual estrangeira ou se tratava de um a regulam entação com preocupações hum anitárias.

23.1-44Calendário religioso23.1-44. calendário relig ioso de Israel. Diversas ver­sões do calendário das festas em Israel podem ser encontradas em Êxodo 23.12-19; 34.18-26; Levítico 23; D euteronôm io 16.1-17 e N úm eros 28, 29, cada uma apresentando características e ênfase próprias. Em Levítico, um a lista de sacrifícios exigidos ao longo do ano é relacionada às com em orações do Sábado, da Páscoa, da Festa dos Pães sem Fermento, da Festa das Semanas, da Festa das Trombetas, do Dia da Propi­ciação e da Festa dos tabernáculos. Essas festividades serviam para m arcar os diversos estágios do ano agrí­cola, celebrando as colheitas e agradecendo a Deus por sua generosidade, bem como lhe ofertando uma porção sacrificial. Várias festas também foram posteri­ormente relacionadas a eventos históricos. Embora o Sábado não seja tecnicamente um dia de festa, o fato de ser citado aqui destaca sua importância; além dis­so, esse dia serve também de parâmetro para enten­der como os antigos calculavam o tempo. Grande par­te dos calendários do antigo Oriente Próximo eram baseados no movimento do Sol e da Lua, considera­dos m anifestações de suas prin cipais divindades. Embora o calendário israelita não ignorasse os ciclos lunar e solar, pouca atenção era dada aos equinócios e

solstícios (às vezes, encarados como conflitos entre os deuses do Sol e da Lua). Visto que as estações agrí­colas, na verdade, estão ligadas aos ciclos solares, o sistem a de m ês/ano lunar usado em todo o antigo Oriente Próximo tinha de ser ajustado periodicamen­te ao ciclo solar. Isso era feito através da adição de um décimo terceiro mês com alguns dias apenas, sempre que os sacerdotes determinavam que era preciso fa­zer um ajuste.23.3. reunião sagrada no sábado. Reuniões ou pro­clamações sagradas constituíam uma parte importan­te das práticas religiosas do mundo antigo. Eram reu­niões locais ou nacionais para a adoração pública ou comunitária, em que as pessoas se afastavam de suas ocupações e trabalhos. Além da realização de *rituais com unitários, não se sabe ao certo o que acontecia nessas reuniões. Posteriormente, essas reuniões eram usadas para leituras públicas, mas não há evidências suficientes de que isso acontecia também nos prim ei­ros tempos (ver Dt 31.10-13). Essa passagem é a única

referência dessa reunião associada ao Sábado.23.5. Páscoa. Essa celebração diz respeito ao sacrifício que comemorava a saída do povo israelita do Egito (detalhado em Êx 12,13). Começava no entardecer do décimo quarto dia do primeiro mês (março - abril). Visto que o animal oferecido em sacrifício devia ser um cordeiro de um ano, alguns especulam que esse evento teria se originado entre os grupos de pastores nômades da região e que, nessa época, foi anexado à festa do Pão sem Ferm ento, de conotação agrícola. Mais tarde, quando Jerusalém passou a ser o centro da adoração, a Páscoa tornou-se uma festa de peregrina­ção, voltando a ser um a celebração nos lares após a destruição do templo em 70 d.C..23.6-8. Festa dos Pães sem Ferm ento. A Festa dos Pães sem Ferm ento m arcava o início da colheita da cevada (março - abril). O pão sem fermento era feito com o cereal recém-colhido, sem adição de levedura,

celebrado como o primeiro sinal das colheitas vindou­ras daquele ano. As celebrações e ofertas queimadas duravam sete dias; no primeiro e no último dia havia uma reunião santa e não era permitido nenhum tra­balho nesses dias (ver comentário em Êx 12.14-20).23.10-14. ofertas m ovidas pela colheita. Como parte das festividades da colheita, os "prim eiros frutos" eram levados ao sacerdote, que movia o feixe de cere­ais ou o elevava diante do altar do Senhor. Esse gesto tinha por objetivo atrair a atenção de D eus para o sacrifício e sim bolizava que todas as dádivas e ele­mentos sacrificiais se originavam de Deus e pertenci­am a Ele. Essa cerimônia também liberava o restante da colheita para ser usado pelo povo (ver comentário em 7.28-38).

23 .12 ,13 . ofertas: queim ada, de cereal e derramada.

A oferta queim ada de u m cordeiro de um ano, o dobro da quantidade usual de cereais e a libação de

vinho representavam os três principais produtos de Israel (às vezes, o vinho era substituído ou comple­

mentado pelo azeite de oliva - ver 2.1; N m 15.4-7). A

com binação desses elem entos tinha o propósito de direcionar a fertilidade concedida por D eus para a

criação de anim ais e a produção agrícola, de modo que o trabalho do povo redundasse em rebanhos e colheitas abundantes. O aroma agradável atrairia a

atenção de Yahw eh para o sacrifício (ver o sacrifício de

Noé em G n 8 .20,21) e o caracterizava adequadamente como um *ritual de gratidão - e não para alimentar os deuses como nas religiões mesopotâmicas e egípcias.

23.15-22. Festa das Sem anas. Essa era a segunda das três principais festas da colheita, começando sete se­

manas após a colheita dos primeiros cereais (Êx 34.22; D t 16.9-12) T am bém era conhecida com o Festa da Colheita ou do Pentecoste (Êx 23.16). No ciclo agrícola,

essa festa m arcava o final da colheita de trigo e pela

tradição ligava-se à entrega das leis no monte Sinai.

Também está relacionada à renovação da *aliança e à

peregrinação pelo deserto. A celebração incluía a en­trega de uma "oferta m ovida" de dois pães, sacrifícios

animais (sete cordeiros de um ano, um novilho e dois

carneiros) e uma oferta derramada em gratidão pela boa colheita. Um bode também deveria ser sacrifica­do como oferta pelo pecado do povo.

23.16-20. ofertas. A Festa das Sem anas exigia um a

variedade de ofertas do povo. A oferta de "cereal

n ovo" era distinta da oferta norm al de cereal (ver

2.13). Os dois pães ofertados eram feitos com ferm en­to, m as não eram de fato levados até o altar (ver

regulam entações em 7.13). Os anim ais sacrificados

nas ofertas queimadas (sete cordeiros de um ano, um

novilho e dois carneiros) representavam o caráter misto da economia israelita. Não se sabe ao certo o motivo

da inclusão do sacrifício de um bode como oferta pelo

pecado, a não ser pela idéia de que o povo devia ser restabelecido à *pureza *cultual antes de comer o que havia colhido.

23.23-25. Festa das T rom betas. O prim eiro dia do sétimo mês (o mês mais sagrado no calendário israelita) era marcado pelo soar do chifre de um carneiro (shofar),

comemorando assim o acordo da *aliança e as dádivas

de Deus ao seu povo. Nenhum trabalho era permiti­

do e as ofertas queim adas eram apresentadas (ver N m 29.2-6 a respeito dos itens sacrificados). A festa

continuava até o décimo dia do mês, quando se come­

morava o Dia da Propiciação (ver detalhes em 16.29­34). Posteriormente, a Festa das Trom betas transfor­

mou-se na festa de Ano-Novo, mas isso ocorreu muito tempo depois do exílio.23.26-32. O dia da expiação. Para informações sobre o dia da expiação, ver comentários no capítulo 16.23.33-43. Festa das cabanas ou Festa dos tabernáculos.A últim a colheita do ano acontecia no outono, antes do início das chuvas, e m arcava o começo de um novo ano agrícola (décimo quinto dia do sétimo mês). Era o m omento de juntar e arm azenar os últim os grãos e frutos maduros. O evento de sete dias tam bém era conhecido como Festa do Encerramento da Colheita e era simbolizado pela construção de cabanas decora­das com os cereais das colheitas. Esta festa ligava-se à tradição israelita como uma comemoração pela pere­

grinação no deserto. Tam bém foi nessa ocasião que ocorreu a dedicação do templo de Salomão em Jerusa­lém (1 Rs 8.65).23.40. frutos, folhagens e galhos. Para representar a abundância e a exuberância da terra, os israelitas pre­paravam-se para uma celebração decorando suas ca­banas com frutas (cidra) e com folhagens e galhos de salgueiros e palmeiras. As festividades provavelmente incluíam danças e procissões em que se carregavam feixes de galhos. Era uma forma do povo reconhecer a provisão abundante de Deus e celebrar comunitaria- mente o cumprimento visível da *aliança.23.42,43 . m orar em tendas. Para comemorar o tempo que passaram no deserto, os israelitas foram instruí­dos a construir tendas e a m orar nelas durante sete dias - o tempo de duração da Festa das Cabanas. Uma aplicação prática seria que esses abrigos temporários serviriam de m oradia para os trabalhadores que cui­davam da colheita até a distribuição dos cereais, após o festival.

24.1-9 A manutenção do lugar santo24.2-4. lâmpadas com azeite. Somente azeite de oliva da melhor qualidade podia ser usado nas lâmpadas sagradas que ilum inavam os recintos sagrados do tabernáculo. Essas lâmpadas eram colocadas em can­delabros de ouro (ver Êx 25.31-39), que ficavam do lado de fora do véu que escondia as tábuas da aliança, na Tenda do Encontro (ver Êx 27.20, 21). Elas deviam queim ar desde o entardecer até a m anhã, e Arão e seus descendentes tinham a incumbência sagrada de m antê-las continuam ente acesas. Como m uitos dos elementos *cultuais relacionados à Tenda do Encon­tro, as lâmpadas simbolizavam a presença e a prote­ção de *Yahweh, assim como o m inistério perpétuo dos sacerdotes.

24.4. sign ificado do candelabro (m en o ra h ). A im a­gem tradicional do menorah, com seis castiçais e uma

lâm pada central, vem de um a descrição encontrada em Êxodo 25.31-40, e talvez seja um símbolo da árvo­re da vida (do jardim do Éden). No entanto, o que esses versículos relatam apenas é que ele era feito de ouro. O núm ero de castiçais também não é especifica­do aqui.24.5-9. d isposição dos pães e do incenso. Os doze pães da Presença (Êx 25.23-30) representavam as doze tribos de Israel. Esses pães eram consum idos pelos sacerdotes todos os sábados, e substituídos por novos pães. O incenso queimado fornecia o “aroma sacri­ficial", substituindo a farinha que era queimada no altar. Por serem sagrados, os pães eram reservados apenas para o consumo dos sacerdotes (ver, porém, 1 Sm 21.4-6).

24.10-23O castigo da blasfêmia24.10-16. natureza da blasfêm ia. O nome de Deus é santo. Assim como o mandamento proíbe usar o nome de D eus em vão (Êx 20.7), proferir um a m aldição usando o nom e de D eus ou am aldiçoar o nom e de D eus (Êx 22.28) é considerado blasfêm ia. Entre os israelitas, a blasfêm ia era considerada um a ofensa

capital passível de execução por apedrejamento. Nos textos *assírios/ o castigo para quem blasfemasse in­cluía ter sua língua arrancada e ser esfolado vivo.24.14-16. apedrejam ento como form a de execução. O apedrejamento era um a forma de execução comunitá­ria e também o tipo m ais comum de execução m enci­onado na Bíblia. Era usado para punir crimes contra a comunidade (apostasia em 20.2, feitiçaria em 20.27), e exigia que todas as pessoas que tivessem sido ofendi­das participassem da execução; desta forma, ninguém individualm ente poderia ser responsabilizado pela morte do condenado. Textos mesopotâmicos não m en­cionam o apedrejamento, mas relatam outras formas de execução como afogamento, empalação, decapita­ção e fogueira.24.17-22. lex ta lion is . O princípio legal da retribuição eqüitativa ou "olho por olho" pode ser encontrado nos códigos de leis da Bíblia (Êx 21.23-25; D t 19.21) e mesopotâmios. Esse princípio apresenta algumas va­riações no Código de *Hamurabi (*Babilônia do sécu­lo 18 a.C.), com base na posição social (nobreza, cida­dão, escravo) do acusado e da vítima. É possível que fosse estipulado um preço para redim ir uma vida, no caso de crime capital, ou para substituir a necessidade de infligir o mesmo mal causado à vítima (fratura no braço, olho arrancado etc.). Essas leis visavam assegu­rar a restituição legal e eram usadas para evitar a necessidade de vingança pessoal ou de fazer justiça com as próprias mãos, práticas não aceitas cultural­

mente. A lei estabelecia que quando uma pessoa fos­

se vítim a de um m al praticado contra ela, a maneira ideal de garantir justiça era causando um mal igual ao culpado. Embora possa parecer uma pena exagerada, na verdade limitava o castigo e garantia que a retali­ação infligida à pessoa acusada fosse proporcional ao delito praticado.

25.1-55O ano sabático e o ano do jubileu25.2-7. descanso sabático para a terra. Essa séria de leis que determinam que no sétimo ano de cultivo a terra terá um descanso é paralela àquela encontrada em Êxodo 23 .10 ,11 . No entanto, somente aqui o ter­mo sabático é aplicado ao sétimo ano. O benefício re­sultante do repouso da terra era o retardamento do n ív e l de salin ização (conteúdo de sódio no solo) provocada pela irrigação. Na Mesopotâmia, grandes áreas eram abandonadas devido à exaustão do solo e ao elevado e desastroso nível de sal. Durante o sétimo ano não era permitido cultivar a terra. Textos *ugarí- ticos m encionam ciclos agrícolas de sete anos, o que talvez seja um a indicação de que o conceito de descan­so da terra tam bém estivesse presente. A pesar do

descanso da terra, qualquer pessoa, como trabalhado­res contratados, e os animais de criação tinham per­

m issão de com er o produto da terra que crescesse naturalmente, sem o cultivo humano. É possível tam­bém que essa prescrição, na verdade, fosse cumprida através do descanso de partes do campo em um siste­ma de rodízio, de modo que após um período, o cam­po inteiro teria descansado.25.8-55. Ano do Ju b ileu . Todo qüinquagésim o ano (sete anos sabáticos mais um) era marcado pelo per­dão geral das dívidas, pela libertação de escravos e pela devolução das terras que haviam sido hipoteca­das ou vendidas aos seus legítimos donos. Essa preo­cupação com a posse perpétua da terra tam bém pode ser encontrada em documentos *ugaríticos imobiliári­os. Entre os *hititas e na M esopotâm ia, eram feitas periodicam ente declarações devolvendo a terra aos seus proprietários originais e libertando os escravos por dívida (muitas vezes isso ocorria no primeiro ano do reinado de um novo rei). Essa prática pode ser com provada em proclam ações de reis com o U rui- nim gina e Amisaduqa. O cerne das leis israelitas era o direito inalienável de posse da terra. A terra podia ser usada no pagamento de um a dívida, m as no Ano do Ju bileu devia ser devolvida, exigência bastante sem elhante à de libertar quem se tornara escravo devido a dívidas, todo sétim o ano (Êx 23.10, 11; Dt15.1-11). Esse costume tam bém serviu como base para os exilados que retom avam reivindicarem a posse de

suas terras; no entanto, isso não significa que esse costume não fosse praticado numa época anterior a esse período histórico.25.23. D eus como proprietário da terra, comparado à econom ia do tem plo. Toda terra ocupada pelos israe­litas pertencia a *Yahweh. Eles podiam usá-la como arrendatários, e como tais, não podiam vendê-la de­finitivam ente a ninguém . N o ano do Jubileu (todo qüinquagésim o ano), toda terra que fora entregue para o pagamento de dívidas devia ser devolvida a seus proprietários. Se um homem morresse, seu pa­rente mais próximo tinha a responsabilidade de res­gatar a terra a fim de que a propriedade permaneces­se na fam ília (25.24, 25; Jr 32.6-15). Esse conceito é semelhante ao encontrado no Egito, onde o faraó, con­siderado "d iv in o ", possuía a terra e a cedia a seus súditos. No entanto, contrasta com a economia do tem ­plo praticada na Mesopotâmia, onde a terra pertencia aos cidadãos, ao rei e aos templos dos diversos deuses. As leis de *Hamurabi m encionam a concessão de ter­ras que pertenciam ao rei e que retornavam a ele por ocasião da m orte do vassalo. A terra que pertencia aos templos era cedida a arrendatários, que pagavam com um a parte da colheita o direito de cultivar a terra. Esse padrão fragmentado de posse (que muitas vezes dependia de arrendatários que não podiam vender a terra), não permitia o sentido de unidade implícito no conceito bíblico.25.24,25. resgate pelo parente. Como *Yahweh havia cedido a terra aos israelitas como arrendatários, eles

não podiam vendê-la, e se eles hipotecassem uma parte dela para pagar dívidas, era obrigação do parente mais

próxim o "resgatar" a terra, pagando a hipoteca. Essa atitude é um a dem onstração do senso de dever e de solidariedade que caracterizava a sociedade com uni­tária do antigo Israel. A prática dessa legislação pode

ser encontrada em Jeremias, que resgatou a terra de seu parente durante o cerco de Jerusalém 0 r 32.6-15) e no contexto legal de R ute 4.1-12. D esse m odo, a terra perm anecia na fam ília como sinal de que eram m em ­bros da comunidade da *aliança. A importância desse direito inalienável da terra pode ser percebida na re­cusa de Nabote em se desfazer da herança de seus pais, quando o rei Acabe lhe propôs a compra de sua vinha (1 R s 21.2, 3). N a M esopotâm ia (especialm ente nos primórdios da história) a terra freqüentemente era pos­se de fam ílias, e não de indivíduos.25.29-31. diferença entre casas em cidades muradas e casas em povoados. Havia uma diferença no aspecto legal entre as casas situadas em cidades m uradas e aquelas que se encontravam em povoados sem m u­ros. Nas cidades, habitadas por levitas, artesãos e fun­cionários do governo, um a casa podia ser resgatada

de seu com prador apenas dentro de um ano. Após esse período, a venda era definitiva. Semelhantemente, a Lei de *Esnuna permitia que o devedor que havia vendido sua casa fosse o primeiro a fazer um a propos­ta de compra quando a casa fosse novam ente colocada à venda. Porém, as moradias situadas nos povoados israelitas (literalmente "acam pam entos"), próximas a campos e pastos, enquadravam-se na mesma catego­

ria das terras cultiváveis e não podiam ser vendidas definitivam ente, devendo ser devolvidas no ano do Jubileu. Tal legislação baseava-se nas condições soci­ais distintas desses dois contextos (cidade e campo) e indicava uma percepção de que a propriedade situa­da nos centros urbanos servia apenas como abrigo e para o comércio, pois não produzia colheitas.25.37. p roib ição da cobran ça de ju ro s . D a m esm a forma que outras proibições acerca da cobrança de juros de empréstimos feitos a israelitas (Êx 22.25; Dt23.19, ver comentários desses versículos), essa legisla­ção tinha como propósito ajudar uma pessoa a livrar- se da falência e evitar que ela se tornasse escrava, devido ao não pagamento de um empréstimo. Essas regras se aplicavam tanto a empréstimos de dinheiro como de cereais, que geralmente eram pagos no final da colheita. Essas leis eram tam bém um m odo de permitir que o devedor mantivesse certa dose de dig­nidade pessoal e honra ao ser tratado num nível supe­rior ao de um escravo ou estrangeiro (ver D t 23.20). Tanto as leis de *Esnuna, como as do Código de *Ha- m urabi estipulavam taxas definidas de juros a em ­préstimos (a taxa comum era de 20 a 33,3%, considera­da justa). No entanto, a ocorrência de fatos considera­dos "atos divinos", tais como um a inundação, exigi­am que o devedor fosse tratado com compaixão e o

pagamento dos juros cancelado.25.39-55. escravidão em Israe l. N o antigo Israel, a escravidão perpétua era considerada a condição mais desumana possível. As leis que tratavam da escravi­dão refletem uma compreensão das razões que causa­vam a pobreza e procuravam lidar com suas vítimas de form a não violenta. Tam bém não levavam em

consideração a principal causa da escravidão na M e­sopotâmia, ou seja, as guerras. Um sinal da preocupa­ção de Israel pode ser visto na prática de permitir que um a família penhorasse seus membros como garantia de algum empréstimo concedido por uma outra famí­lia. Para evitar o confisco da terra ou dos filhos da família endividada, seus m em bros trabalhariam por um tempo determinado até pagar a dívida. A legisla­ção em Israel procurava evitar que as dívidas se acu­mulassem a ponto de a escravidão ser a única alterna­

tiva. Assim, as leis sobre a cobrança de juros funciona­vam, na maioria dos casos, de maneira a favorecer os

pobres (Êx 22.24; Dt 23.19, 20; Lv 25.35-37; Ez 18.3). De outro modo, a família poderia perder tudo e dian­te da insistência de seus credores, vender seus mem­bros como escravos para pagar as dividas (2 Rs 4.1; N e 5.1-5). A escravidão, nesse caso, era declarada temporária, como resultado de dívida, visto que a lei limitava em seis anos o tempo que um a pessoa podia

ficar detida (Êx 21.2-11; Dt 15.12-18). As regulamenta­ções tam bém limitavam a venda ou a escravização de israelitas (Lv 25.35-42). N esse caso, o israelita que estivesse com dificuldades financeiras teria que se submeter a trabalhar como m ão-de-obra contratada ou como servo obrigado por contrato, mas não como escravo, ainda que seu proprietário não fosse israelita (25.47-55). O versículo 48 refere-se ao resgate de es­cravos, um a prática tam bém confirm ada em vários documentos mesopotâmicos.

26.1-46Obediência e desobediência26.1. pedra esculpida. Esse term o aparece somente aqui (embora provavelmente seja mencionado nova­mente em N m 33.52) e é bastante vago. A. Hurowitz (baseado em um a inscrição *assíria) sugere que o ter­m o seja um a referência a um pórtico decorado ou entalhado que ficava na área do templo onde o rei se prostrava ao fazer um a petição por um sinal favorá­vel. Sobre um a situação bastante semelhante, ver co­mentário em Ezequiel 44.3.

26.1. coluna sagrada. Assim com o os ídolos (19.4), as colunas sagradas eram proibidas por serem obje­tos de *culto estrangeiro. Talvez fossem imensos mo- nólitos representando um a divindade ou uma série de colunas dispostas ao redor de um altar ou santuá­rio. Algumas delas, encontradas em escavações em Gezer e Hazor, eram decoradas com figuras de mãos erguidas ou sím bolos relacionados a um a determ i­nada divindade.26.1. n atu reza e fo rm a dos íd o lo s . Os íd olos eram feitos num a variedade de formas e tam anhos, no an­tigo Oriente Próximo. Podiam ser esculpidos em pedra ou m adeira e fundidos e m oldados em ouro, prata e bronze (ver Is 40 .19 ,20). G eralm ente tinham aparên­cia hum ana (exceto os deuses do Egito, cujas caracte­rísticas hum anas eram m escladas às de animais), e ca­racterísticas de postura, vestim entas e corte de cabelo distintos, ainda que seguindo um padrão. A im agem não era propriam ente a divindade, m as seu lugar de habitação, por meio da qual m anifestava sua presen­ça e vontade. Descobertas arqueológicas encontraram

poucas imagens de tamanho natural, como aparece no texto, mas existem representações delas que permitem um conhecim ento acurado dos detalhes.

26.3-45. bênçãos e m aldições em pactos form ais. Noscódigos e acordos legais do antigo Oriente Próximo era com um o acréscim o de um a parte contendo as bênçãos e m aldições divinas (ver D t 28; Código de *Ham urabi [século 18 a.C.]; Acordo de Esarhaddon [680-669]; tratado do século 13 a.C. entre Ramsés II, do Egito e o rei *hitita H attusilis III). É interessante notar que as maldições superavam em muito as bênçãos e, como nesse caso, eram apresentadas geralmente em ordem crescente de intensidade. O princípio subjacente a essas declarações era a necessidade de garantir o cumprimento da lei ou do pacto, recorrendo à bene­volência e aprovação divinas. Era também um modo de fazer com que as partes envolvidas no acordo se sentissem m ais responsáveis do que se dependessem sim plesm ente da consciência de seus povos ou dos vizinhos.26.4, 5. im portância da fertilidade. Se a produção da terra não fosse contínua, o povo não conseguiria so­breviver. Assim , havia um a constante preocupação com a fertilidade, na form a de chuvas regulares e colheitas abundantes dos campos e vinhas. Como re­sultado, m uitos deuses do antigo O riente Próxim o eram relacionados às chuvas e tempestades, *fertili- dade e estações de plantio. A inclusão da fertilidade nessa série de bênçãos é um a confirmação da promes­sa da *aliança feita por *Yahweh de dar ao povo terra e descendência (isto é, um a terra que lhes pertencesse e fertilidade para garantir a continuidade das futuras gerações).26.5. calendário agrícola. Conforme observado no ca­lendário Gezer, um exercício escolar do século deza.C. encontrado num fragmento de pedra calcária, o ano israelita era dividido em estações agrícolas. Sen­do assim, a "estação chuvosa" acontecia no outono (outubro-novembro), molhando os campos recém plan­tados, e no início da primavera (março-abril), termi­nando o processo de amadurecimento que antecede à colheita (Dt 11.14).26.8. cinco perseguirão cem. Como sinal da bênção de paz prom etida, *Yahweh, o "G uerreiro D ivino", lutaria por eles e lhes daria vitória contra seus inim i­gos, não importando o quanto estivessem em desvan­tagem. Assim, cinco derrotariam cem. Esse tema do "derrotado que se transforma em vencedor" também é encontrado em D euteronôm io 32.30, Josué 23.10 e Isaías 30.17. Um a garantia semelhante do auxílio de um "G uerreiro D ivino" foi encontrada na inscrição moabita do rei M esha (cerca de 830 a.C.).26.13. traves do jugo. Jugos eram peças geralmente feitas de madeira que eram presas na nuca, ao redor do pescoço dos animais. As traves tinham cavilhas para prendê-las embaixo, dos dois lados da cabeça de

cada animal. As cavilhas eram presas com correias que passavam por baixo do queixo. Durante a escra­vidão no Egito, o povo foi oprimido e subjugado com trabalhos forçados, como bois presos num jugo (ver Jr28.10-14). Porém, Deus quebrara esse jugo de servi­dão, libertando-os de seu pesado fardo e permitindo que se firm assem como hom ens e m ulheres livres, restaurando-lhes a liberdade e a dignidade.26.16. causas das doenças. As doenças prom etidas nessa maldição incluem febre e sintomas que prejudi­cam a visão e causam perda de apetite. Tudo isso pode ser explicado pelo "pavor repentino" - depres­são e angústia causadas pela ira de Deus e pelas inva­sões do inim igo. Em bora na M esopotâm ia tenham sido descobertos textos com diagnósticos médicos, é impossível identificar com precisão as doenças men­cionadas aqui.26.19. céu como ferro, terra como bronze. O sentido da m etáfora presente nessa m aldição tam bém pode ser encontrado na execração (maldição) de Deutero- nômio 28 e no Tratado de Esarhaddon (século sétimoa.C.). Significava que a terra se voltaria contra o povo, tornando-se dura como o bronze pelo fato dos portões de ferro dos céus terem se fechado impedindo que a chuva caísse.26.26. dez m ulh eres assando num único forno. Aim agem de tam anha escassez de cereais, representa­da pelas inúm eras m ulheres assando seus pães no m esm o forn o , tam bém fo i en contrad a na estátu a *aram aica descoberta em Tell Fekherye, onde cem mulheres não conseguiam encher um forno com seus pães.

26.29. canibalism o no antigo O riente Próxim o. So­mente uma situação de completo desespero e de fome permanente poderia levar as pessoas do antigo Ori­ente Próximo a praticar o canibalismo (ver 2 Rs 6.24­30). O canibalismo está incluído na lista das m aldições

apresentadas nesse trecho e em Deuteronômio 28.53­57 e tam bém nos tratados *assírios do século sétimoa .C , e serve para demonstrar o quanto o castigo de Deus aos desobedientes poderia ser terrível.

27.1-34 Votos27.2-13. características dos votos. Informações a res­peito de votos podem ser encontradas em muitas cul­turas do antigo Oriente Próxim o, inclusive entre os *hititas, nas culturas *ugarítica e m esopotâmica e, com m enos freqüência, entre os egípcios. O s votos eram

acordos voluntários feitos com a divindade. Aqui, o voto incluía a penhora do valor atribuído à pessoa dedicada ao serviço do templo (ver 1 Sm 1.11). Pode talvez estar relacionado ao resgate do prim ogênito

em Êxodo 13.13; 34.20 e Núm eros 18.15, 16, embora não envolva sacrifício humano. A tabela de valores equivalentes que definia o valor da pessoa a ser res­gatada levava em conta o sexo, a idade e a aptidão para o trabalho. Essa era uma form a do templo rece­ber fundos suficientes para fazer reparos e adquirir equipamentos (ver 2 Rs 12.5, 6). Como acontecia em todos os votos, o nome de D eus era invocado (note a seriedade desse ato em Êx 20.7) e am bas as partes deveriam agir de acordo com os termos do voto. Os votos geralm ente eram condicionais e seguidos de uma petição feita à divindade. Os itens ofertados para resgatar a pessoa se tornavam santos e eles mesmos não podiam ser resgatados, a m enos que, devido à sua natureza, fossem inaceitáveis como oferta (ou seja, impuros ou inadequados). As enormes quantias en­volvidas (até cinqüenta siclos) indicam que os votos desse tipo eram pouco comuns.27.2-8. dedicação de pessoas. A idéia de consagrar uma pessoa para o serviço do templo pode estar base­ada no conceito de que cada família deveria sacrificar- se (ou seja, abrir mão de sua força de trabalho) para o serviço de Deus. Nesse sentido, Samuel foi dedicado ao santuário em Siló, por Ana, sua mãe, antes mesmo de seu nascim ento (1 Sm 1.11). N o entanto, num a região onde havia carência de m ão-de-obra, e onde todos os filhos ajudavam no trabalho, isso seria impra­ticável. Assim, foi criado um sistema em que a obri­gação era cumprida através do resgate da pessoa, a partir de uma tabela de valores equivalentes basea­dos na idade, sexo, capacidade para o trabalho e con­dições para pagar. Essa tabela pode ser comparada às leis de ofensas físicas do código de *Ur-Nammu, das Leis de *Esnuna e das leis de *Hamurabi, que deter­m inavam um a m ulta baseada no tipo de ofensa, ida­de, posição social e sexo da vítima.27.3-8. valores relativos. A série de valores relativos estabelecidos para o resgate de pessoas dedicadas ao

serviço do tem plo, baseava-se em quatro critérios: idade, sexo, aptidão para o trabalho e possibilidades de pagar. Presume-se que o valor da força de trabalho de um homem adulto de vinte a sessenta anos era de cinqüenta siclos de prata. A inda que um a criança pudesse servir por m uito m ais tempo que um adulto, o valor estabelecido para ela correspondia apenas a uma fração dessa quantia (variava de acordo com o sexo). No entanto, para as pessoas com m ais de ses­senta anos é compreensível que o valor fosse menor do que para aquelas em pleno vigor para o trabalho. A quantia estipulada aos pobres dependia da de­term inação do sacerdote, que avaliava as possibili­dades que tinham de pagar. Em bora essas quantias possam refletir o valor dos escravos, esse valor flutua­

va demais ao longo do tempo para ser um indicador confiável.27.3-7. q u an tias em d in h eiro . A quantia estipulada para o resgate de pessoas dedicadas ao serviço do tem­plo deveria ser paga em prata. O valor maior, de cin­qüenta siclos, era calculado com base no peso padrão de vinte geras (27.25) e correspondia a várias vezes o salário anual de um trabalhador. Isso indica que é pouco provável que as pessoas fizessem esse tipo de voto sabendo que deveriam pagar essa quantia um a vez que o voto tivesse sido feito. Não seria possível pagar tal soma, portanto o resgate de um a pessoa dedicada talvez tenha acontecido em raras ocasiões.27.3. siclo do santuário. O preço a ser pago em prata tinha como padrão o siclo do santuário, em oposição ao siclo comum, que geralmente pesava 11,4 gTamas. O siclo do santuário usado para o cálculo é geralmente considerado como um a fração do siclo comum, mas não há comprovação quanto a isso. Descobertas ar­queológicas confirmam a existência de peças de siclo pesando de 9,3 a 10,5 gramas.27.9-13. resgate de anim ais. Se uma pessoa quisesse usar um animal como pagamento de um voto, então o sacerdote faria uma inspeção no animal para determi­nar seu valor e a possibilidade dele ser aceito, verifi­cando a existência de manchas ou outras imperfeições e se o animal era limpo (ou seja, aceitável como sacri­fício). Se o animal fosse cerimonialmente impuro, ain­da assim poderia ser oferecido, m as teria de ser resga­tado com o pagam ento extra de um quinto de seu valor. Se o doador tivesse a intenção de abrir m ão do animal, dedicando-o em sacrifício, ele não poderia, sob nenhuma circunstância, ser resgatado (ver 22.21­25). Esse cuidado quanto à *pureza ritual do animal sacrificial tam bém era comum nos rituais *hititas e mesopotâmios.27.14-25. dedicação da casa ou das terras. Tanto uma casa como um campo de propriedade de um pessoa ou mantidos como garantia de uma dívida, podiam ser consagrados ao Senhor, m as as propriedades ti­nham de ser inspecionadas e avaliadas pelo sacerdo­te. Isso permitia que um valor fosse estipulado, caso o proprietário resolvesse resgatá-las, acrescentando um quinto de seu valor. Tam bém poderia ser incluído um ritual de purificação da propriedade, presente também em textos *hititas. A base para essa prática talvez envolvesse um voto de ofertas para uma provi­são esp ecial, além dos sacrifícios regulares e dos dízimos, para o santuário de D eus ou para os sacerdo­tes, e poderia tam bém resultar da ausência de um herdeiro. Assim, o produto da terra ou o uso da casa (como armazém ou para aluguel) pertenceriam a Deus. O Ano do Jubileu também era um fator a ser consi­

derado no cálculo do valor e atribuição da proprieda­de. Somente as terras de propriedade da família que não tivessem sido resgatadas poderiam tom ar-se pro­priedade permanente dos sacerdotes (27.20, 21).27.21. propriedade dos sacerdotes. Sabemos, através de textos *hititas, egípcios e m esopotâm ios que as comunidades dos templos possuíam terras e se bene­ficiavam de sua produção. Embora a prática de trans­ferir alguma propriedade para o templo não seja men­cionada fora da Bíblia, é bem provável que a comuni­dade sacerdotal do antigo Oriente Próximo pudesse adquirir terras consagradas para o uso dos deuses. Isso poderia acontecer se o proprietário da terra não conseguisse resgatá-la; nesse caso, a terra se tornava "san ta" e, como os animais sacrificiais, não podia mais ser resgatada no futuro. Assim, na celebração israelita do Ano do Jubileu, em vez de a terra retornar ao seu proprietário original, passava a ser propriedade per­m anente dos sacerdotes.27.25. vinte geras para um siclo. O siclo do santuário (que pesava de 11 a 13 gramas) correspondia a vinte geras de prata (0,571 gramas ou 8,71 grãos). Esse era o peso estabelecido como pagamento aceitável para pessoas ou bens dedicados.

27.29. pessoa dedicada para a destruição. Certos atos não podiam ser expiados através de sacrifício ou res­gate. Pessoas que tinham sido condenadas por adora­ção falsa (Ex 22.19), ou por transgredir um acordo (Js7.13-26), ou por assassinato (Nm 35.31-34) ou ainda por violação intencional da *pureza ritual (como nos textos *hititas) não podiam ser resgatadas. Em alguns casos, suas fam ílias e propriedades tam bém eram destruídas, num ato de eliminação completa do mal. Essas pessoas tinham cometido atos que violavam a santidade de D eus e contam inavam a comunidade, portanto, sua sentença tinha de ser executada, sem exceção. Som ente dessa m aneira seria restaurada a santidade do nome de Deus e o povo ficaria limpo de sua *impureza.27.31-33. resgatando o dízim o. Visto que toda a pro­dução da terra (cereais e frutos) pertence a Deus, um dízimo dessa produção deveria ser pago (Dt 14.22-26). Os itens separados para o dízimo não podiam ser con­siderados como ofertas "voluntárias", pois o dízimo era consid erad o prop riedad e irrestrita de *Y ahw eh. A quantia do dízimo podia ser resgatada pelo pagamento de seu valor, acrescido de um quinto. O bserve que esse pagamento podia ser feito somente com produtos do cam po (com pare N m 18.14-19). Os anim ais não podiam ser resgatados e qualquer tentativa nesse sen­tido resultava na perda, tanto do animal originalmen­te escolhido para o dízimo, como de seu substituto.

N Ú M E R O S

V/1.1-46O recenseamento1.1. deserto do Sinai. O "deserto do Sinai" refere-se à região árida ao redor das montanhas onde os israelitas acamparam (ver comentário em Êx 19.1, 2).1.1. cronologia. Com parando esse versículo com Êx40.17, pode-se constatar que o tabernáculo fora mon­tado há um mês e o povo estava acampado no Sinai há quase um ano.1.2. ob je tivo do recenseam ento. De modo geral, os recenseamentos no mundo antigo eram usados como meio de alistar os homens para o serviço m ilitar ou para projetos públicos de construção. Freqüentemente eram acompanhados ou até mesmo m otivados pela arrecadação de uma taxa individual. Esse recensea­mento serviu para o alistamento no exército, mas não pode ser facilmente dissociado do censo de Êxodo 30.11­16 (ver com entário), quando foi cobrada um a taxa para o templo.1.46. total da população. Quanto a dúvidas a respeito desse número, ver comentário em Êxodo 12.37.

1. 47- 2.34A disposição das tribos no acampamento1.52. disposição das tribos. O acampamento dos sa­cerdotes e levitas ficava ao redor do tabernáculo, en­quanto as outras tribos formavam em volta deles um retângulo com três acampamentos de cada lado. Acam­pamentos retangulares eram comuns na prática egíp­cia desse período. A arte *assíria do nono século retra­ta acampamentos com esse formato, ficando o rei prote­gido ao centro. A tribo de Judá liderava a parte orien­tal do acampamento que se destacava por ser o lado da entrada para o tabernáculo. A tribo do filho mais velho, Rúben, liderava o grupo do lado sul, enquanto a tribo de Dã, o filho m ais velho das *concubinas, liderava o grupo do norte. As tribos dos filhos de Raquel ficavam no lado oeste, lideradas por Efraim, filho de José com direito de primogenitura.1.52. bandeiras. No Egito, cada divisão do exército recebia o nome de uma divindade, cujo símbolo era colocado na bandeira daquela divisão. Parece, por­tanto, razoável presumir que a bandeira de cada tribo continha um símbolo que representava a tribo. Por outro lado, alguns estudiosos têm entendido que a palavra traduzida como "bandeira", na verdade, re­feria-se a uma unidade m ilitar e não a um estandarte.

2.3-32. núm eros do censo. Como já foi discutido no comentário de Êxodo 12.37, existe um problema em relação aos números citados. O mais provável é que os núm eros aqui apresentados foram m isturados e acabaram se confundindo. Visto que a palavra hebraica traduzida como "m il" ('lp) é parecida com a palavra para "divisão m ilitar", o núm ero 74.600 (v. 4) pode na verdade, significar 74 divisões militares, totalizando 600 homens. O número total do versículo 32, no origi­nal estaria se referindo a 598 divisões militares ('lp), cinco mil (lp ) e quinhentos homens, mas em algum momento da transmissão do texto, as duas palavras se confundiram e foram somadas, perfazendo 603 mil. Se essa explicação estiver correta, o número de israelitas que deixaram o Egito teria sido cerca de 20 mil.

3.1- 4.49 Os levitas3.7-10. levitas como encarregados do santuário. Oslevitas ficavam acampados ao redor do santuário e tinham ordem para executar todo aquele que dele se aproximasse, restringindo o acesso ao tabernáculo. Os santuários antigos não eram lugares para reuniões públicas, e sim moradas divinas. Os sacerdotes eram vistos como guardiões nos textos *hititas, e também nos textos de *M arí do alto Eu frates. N a relig ião *babilônica existiam demônios ou espíritos protetores que guardavam a entrada dos templos.3.12, 13. levitas em substitu ição aos prim ogênitos. Em muitas culturas do mundo antigo havia o *culto aos ancestrais, em que se derram avam libações aos antepassados, cujos espíritos passariam então a prote­ger e a a judar os vivos. N a *Babilônia, o espírito desencarnado (utukki) ou fantasma (etemmu) podia tor­nar-se muito perigoso se não recebesse a devida aten­ção e, muitas vezes, se tornava alvo de encantamen­tos. O cuidado com os mortos começava com o sepul- tamento adequado e continuava com a dedicação pos­terior de presentes em honra da memória e do nome do falecido. O primogênito era responsável pela m a­nutenção dessa adoração ancestral e, sendo assim, era quem herdava os deuses da fam ília (muitas vezes, imagens dos ancestrais já mortos). Em bora não fosse permitida aos israelitas a adoração dos ancestrais ou *culto funerário, as acusações dos profetas deixam cla­ro que essa era um a das formas mais comuns para fazer o povo se desviar de Deus. A transferência da

posição de primogênito para os levitas, portanto, indi­cava que, em vez de uma adoração aos ancestrais, em nível fam iliar, conduzida pelo prim ogênito, Israel deveria ter uma prática religiosa em nível nacional, m antida e regulamentada pelos levitas (ver também os comentários em Êx 13.1-3; Dt 14.1,2; 26.14). Para os detalhes legais, ver comentário em 8.24-26.3.47-51. pagam ento do resgate. O conceito de paga­mento de resgate ocorre também em textos *acadianos (babilônios) e *ugaríticos (cananeus), embora não com essa m esm a função. Aqui, a nação comprava de Deus seus primogênitos "negociando" os levitas; os primo­gênitos excedentes tinham de ser comprados com di­nheiro, de acordo com o valor estabelecido em Lv27.6. O siclo pesava em m édia 11,4 gramas, embora tam bém haja referências a um "siclo pesad o", que poderia pesar m ais que isso. O peso padrão do santu­ário citado nesse relato talvez se refira a um siclo que tivesse m aior valor e peso que o padrão do "m erca­do"; geralm ente era considerado m ais leve (ver co­m entário em Êx 30.13). Cinco siclos representavam aproximadamente a metade do salário de um ano.4.6. couro ou pele de anim ais m arinhos. No original, o termo "couro" provavelmente seja uma referência à pele de animais marinhos (o peixe-boi ou dugongo, um anim al herbívoro, e golfinhos) encontrados no m ar Vermelho, cujas peles eram curtidas e usadas em decoração. Essas criaturas foram caçadas durante mi­lênios no golfo árabe por causa de sua pele. Essa palavra tam bém pode ser com parada a u m term o *acadiano que designa uma pedra semipreciosa ama­rela ou laranja, referindo-se assim à cor da tintura usada e não a um animal.4.6. pano azul. Essa cor tem sido interpretada mais recentemente como um tom de azul-púrpura ou roxo. A tintura dessa cor era um dos principais produtos de exportação da Fenícia, sendo extraída de determina­dos moluscos marinhos (.Murex trunculus) que viviam em águas rasas na costa do Mediterrâneo. Um a antiga fábrica de tinturas foi descoberta em Dor, ao longo da costa norte de Israel. Especialistas calculam que seri­am necessários 250 mil moluscos para produzir apro­ximadamente m eio quilo de corante puro. Esse corante era utilizado na fabricação da maioria dos objetos sa­grados, tais com o o véu do Lugar Santíssim o e as vestes do sumo sacerdote.4.46-48. núm ero de levitas. Aqui, o número de levi­tas que tinham entre trinta e cinqüenta anos de idade é de 8.580, enquanto que em 3.30 o número total dos homens acima de um m ês de idade era de 22 mil. Isso poderia ser uma indicação de que havia 13.420 pesso­as do sexo masculino com menos de trinta anos e com mais de cinqüenta. Essa distribuição é razoável e re­vela que os números estão na proporção correta. To­

davia, é possível que tam bém aqui tenha havido a m esm a confusão concernente à palavra mil como a descrita no comentário em 2.3-32.

5.1-4 Pessoas enviadas para fora do acampamento5.2. doenças de pele contagiosas. A respeito da natu­reza dessas doenças, ver comentário em Levítico 13.2.5.2. fluxos. Acerca dos diversos fluxos, ver comentá­rios em Levítico 15.5.2. im pureza cerim onial. Nem toda impureza podia ser evitada, e muitas vezes era causada por algo que de modo algum poderia ser considerado pecado. Ha­via diversas categorias de impureza que não podiam ser facilmente evitadas, inclusive as im purezas sexu­ais e aquelas relacionadas a doenças e ao contato com pessoas ou animais mortos. Apesar de ser m ais uma questão formal do que ética, o ambiente sagrado pre­cisava ser protegido de tudo que fosse inadequado. Nas culturas antigas, inclusive no Egito, na *Babilônia e na Pérsia, a impureza da m ulher em decorrência do parto era encarada da m esma m aneira que a impure­za mensal causada pela menstruação. Além disso, era bastante comum a crença de que os demônios habita­vam no sangue menstrual.5.3. morar fora do acampamento. Embora não fosse necessário que o acampamento tivesse o mesmo nível de *pureza do templo, havia algumas restrições. Na literatura *babilônica também foram encontradas res­trições para vítim as de doenças de pele, que eram forçadas a viver em isolamento. Provavelmente essas pessoas viviam nos arredores dos cemitérios.

5.5-10 A restituição por danos e prejuízos5 .6 ,7 . caráter da legislação. Esse trecho diz respeito à situação de um a pessoa que fez uso de um juramento formal para enganar alguém no tribunal e mais tarde sentiu-se culpada por ter agido assim. A lei ordenava que o culpado desse uma restituição acrescida de vin­te por cento do valor à pessoa prejudicada ou a um parente próxim o ou ao sacerdote, além de oferecer uma oferta de reparação. Nas leis de *Hamurabi ge­ralmente acrescentava-se um sexto ao valor da resti­tuição, na forma de pagamento de juros.

5.11-31 O caso do marido ciumento5.14. base da ação legal. A única base para essa ação é o ciúme do marido. A palavra usada no versículo 12 para descrever a natureza do delito geralmente está relacionada a um abuso de confiança ou a um ato de sacrilégio (ver comentário em Lv 5.14-16). Portanto, é provável que a m ulher tivesse sido interrogada ante-

riorm ente e prestado juram ento de sua inocência, e agora estaria sendo acusada de perjúrio. Tal suspeita poderia ser levantada no caso em que a m ulher esti­vesse grávida e o marido desconfiasse que o filho não era dele.5.15. conduta do m arido. N ão fica claro por que o marido deveria levar a oferta específica descrita nesse versículo. A o contrário da oferta comum de alimento, essa era uma oferta de cevada (oferecida pelos pobres) e não de trigo, sem azeite nem incenso, que eram elementos presentes nas ofertas relacionadas a possí­veis transgressões. Talvez sua omissão seja explicada pelo fato de que, geralm ente, o azeite e o incenso eram associados à celebração, e essa não era um a ocasião festiva.5.16, 17. conduta do sacerdote. Um texto de *M ari (noroeste da M esopotâmia) relata um teste em que os deuses deveriam beber água m isturada ao pó tirado do portão da cidade como forma de obrigá-los a cum­prir o juram ento de proteger a cidade. Aqui, os ingre­dientes sagrados (água sagrada num jarro de barro e poeira do chão do santuário) eram m isturados e o sacerdote pronunciava um juram ento com maldições relacionadas à obrigação da m ulher de preservar a *pureza do santuário.5.18. soltar o cabelo. Em outros contextos, o ato de soltar o cabelo está relacionado ao luto. Talvez seja uma indicação de que a m ulher deveria adotar tuna postura de luto até que o Senhor desse seu veredicto.5.23,24. provas no antigo O riente Próximo. Esse tipo de "teste" ou "prova" descreve um a condição judicial em que o acusado era colocado nas m ãos de Deus através de algum tipo de circunstância em que ficava exposto a um a situação de perigo. Se a divindade viesse socorrer o acusado para protegê-lo do mal pro­vocado, ele seria julgado inocente. Grande parte das provas no antigo Oriente Próxim o envolviam riscos com água, fogo e veneno. O acusado subm etido a essas ameaças, na verdade, era considerado culpado até que a divindade o declarasse inocente agindo em seu favor. O procedimento nesse texto difere de ou­tras práticas, pois não recorre a magias nem envolve perigo, apenas cria uma situação propícia para que Deus responda. Deste modo, a m ulher aqui é consi­derada inocente até que as circunstâncias (dirigidas pelo Senhor) provem o contrário. As leis de *Hamurabi contêm casos semelhantes em que a m ulher se sub­metia a um a prova num rio para determinar sua cul­pa ou inocência.5.27. resultados potencialm ente negativos. As suges­tões quanto às conseqüências negativas do teste a que a m ulh er era subm etid a variam , inclu in d o útero hemorrágico, falsa gravidez, prolapso pélvico e atrofia dos órgãos genitais. Porém , qualquer que fosse o pro­

blem a, o texto deixa claro que o resultado seria a esterilidade. Se a m ulher tivesse se submetido a esse processo devido a uma gravidez, talvez a poção pu­desse provocar um aborto, caso a gravidez tivesse ocorrido através de relacionamento ilícito.

6.1-21 O voto de nazireu6.3. abstinência de bebidas alcoólicas. Nesse texto, diferentes palavras são usadas para descrever as be­bidas fermentadas feitas de uvas. Em bora alguns ter­mos façam referência a bebidas alcoólicas feitas a par­tir de outros ingredientes (cereais, por exemplo), nes­se versículo são mencionadas apenas aquelas que se referem aos produtos da uva. Isso sugere que somen­te as bebidas feitas de uva eram proibidas aos *nazi- reus. A questão aqui não é a embriaguez, m as sim o vinho ou qualquer outra bebida ferm entada feita de uva.6 .3 ,4 . abstinência dos produtos da videira. A proibi­ção em relação aos produtos da videira tem sido inter­pretada por alguns estudiosos como um a apologia ao estilo de vida nômade, mas é muito difícil enxergar isso como uma questão bíblica ou sacerdotal. Por ou­tro lado, deve-se notar que a uva era um dos princi­pais produtos da terra de Canaã, possivelmente uma fruta típica daquela região. N esse caso, o vinho e qualquer produto da videira estariam simbolicamen­te relacionados à fertilidade (note que os espias trou­xeram um enorme cacho de uvas [13.24] como prova da fertilidade da terra). O uso de passas no preparo de bolos oferecidos nos *cultos à fertilidade pode ser en­contrado em Oséias 3.1.6.5. significado do cabelo. Um a inscrição fenícia do século nono a.C. relata o caso de um indivíduo que rapou o cabelo em dedicação ao cumprimento de um voto feito à deusa *Astarote. É im portante destacar que o texto bíblico não m enciona o que deveria ser feito com o cabelo rapado. Fica evidente que ele não exa dedicado, como no relato m encionado acima, nem depositado no templo, como era costume em algumas culturas. O cabelo era dedicado ao Senhor enquanto estivesse na cabeça (v. 9), não quando fosse cortado. Nos homens, o cabelo tinha um valor simbólico: era sinal de masculinidade ou virilidade (ver 2 Sm 10.4). A s m ulheres arrum avam e adornavam cuidadosa­mente os cabelos como sinal de beleza. Na proibição de "cortar o cabelo dos lados da cabeça" ou aparar “as pontas da barba" é usada a m esma terminologia de Levítico 19 .9 ,10 que trata da colheita dos campos. Nos dois casos estava implícito o pagamento de duas ofer­tas, um a para os pobres e outra para Deus. O Código de *Hamurabi punia as testemunhas falsas cortando m etade do cabelo da pessoa. O código medo-assírio

perm itia que o senhor arrancasse os cabelos de um escravo como castigo (ver Ne 13.25). Os dois códigos sugerem que a perda dos cabelos estava associada à vergonha. Na maneira de pensar do m undo antigo, o cabelo (juntamente com o sangue) representava a es­sência da vida de uma pessoa, e como tal era usado como um ingrediente para simpatias. Isso fica claro, por exem plo, na prática de enviar um a m echa de cabelos supostamente pertencentes ao profeta, junta­mente com as profecias destinadas ao rei de *Mari. O cabelo era usado nas adivinhações para determinar se a mensagem do profeta era ou não verdadeira (ver Lv 19.27). Várias pesquisas têm comprovado que no m un­do antigo, o corte do cabelo era uma maneira da pes­soa se distinguir das outras (como no luto) ou para marcar o reingresso na sociedade (que parece ser o caso dos nazireus).6.6, 7. proibição de contato com cadáver. A contami­nação pelo contato com cadáver era uma das causas m ais com uns e inevitáveis da im pureza ritual (ver comentário em 19.11). Alguns estudiosos especulam que a impureza ritual resultante da contaminação por contato com cadáver possa também representar uma posição contra o *culto aos mortos, que freqüentemente era praticado (ver comentário em 3.1, levitas em lu­gar dos primogênitos).6.8. contexto do nazireu. As três áreas proibidas ao *nazireu simbolizavam a fertilidade (produtos da vi­deira), os ritos mágicos e simpatias (cabelo) e o *culto aos mortos (contaminação com cadáveres); essas eram justam ente as principais práticas religiosas que o culto a *Yahw eh buscava elim inar. É difícil explicar, no entanto, por que esses elementos foram escolhidos, ou qual o conceito subjacente que deu origem ao voto do nazireu.

6.9-12. procedim ento ritual em caso de violação. Aviolação ritual do voto exigia que o altar fosse purifi­cado por meio da oferta mais simples (pombos). Tam ­bém era necessário que se oferecesse um cordeiro de um ano como oferta de reparação, visto que a violação envolvia um abuso de confiança (ver comentário em Lv 5.14-16).6.13-20. térm ino do voto. O término do voto envolvia uma série de ofertas (ver comentários nos primeiros capítulos de Levítico para m ais detalhes sobre cada oferta), acompanhadas do corte e queima do cabelo. A maioria dos votos no antigo Oriente Próximo eram condicionados a alguma súplica feita no passado ou no presente (ver comentário em Lv 27) e não há razão para presum ir que o voto do nazireu fosse diferente. Portanto, seria normal que o voto culminasse em ofer­tas de dádivas. O que é incom um , em relação ao contexto de votos do antigo Oriente Próximo é o perío­do ritualizado de abstinência que precede as ofertas.

6.22-27A bênção sacerdotal6.24-26. bênçãos no antigo O riente Próximo. No mun­do antigo, era comum a crença de que as bênçãos e maldições possuíam um poder intrínseco que provo­caria seu cumprimento. A bênção aqui, hoje conheci­da como bênção sacerdotal, provavelmente era dada pelos sacerdotes a qualquer pessoa que estivesse sain­do do santuário após ter participado de um *ritual. Dois pequenos rolos de prata (com cerca de 2,5 centí­metros de comprimento) foram encontrados numa área conhecida como Keteph Hinnom, em Jerusalém. Os rolinhos, que eram uma espécie de *amuleto, conti­nham essa bênção e estavam dentro de um a caverna sepulcral do século sexto ou sétimo a.C.. Esses peque­nos rolos representam o exemplar mais antigo de um texto das Escrituras. O conceito de um a divindade com o rosto resplandecente resultando em m isericór­dia está presente em documentos e inscrições meso- potâmios que remontam ao século doze a.C. e tam ­bém em uma carta de *Ugarite. A idéia de invocar aos deuses também era expressa regularmente, como meio de garantir a proteção e o bem-estar, nas sauda­ções *ugaríticas e *acadianas. Finalmente, a frase "o Senhor te abençoe e te guarde" está incluída nas pala­vras pintadas (em hebraico) num grande jarro do sé­culo nono a.C., encontrado em K untillet A jrud, ao norte do Sinai.

7.1-89Ofertas por ocasião da dedicação do taber­náculo7.1. unção dos objetos sagrados. A unção era um atode dedicação. O texto não esclarece se os objetos foram ungidos com óleo ou sangue, mas o mais provável é que tenha sido com o primeiro.7.13. prato de prata. Os dois objetos de prata mencio­nados aqui se parecem mais com uma tigela do que com um prato, sendo que o primeiro tinha o dobro do tamanho do segundo, e provavelmente era mais fun­do. O m aior pesava um quilo e quinhentos e sessenta gramas e o menor oitocentos e quarenta gramas.7.13. m elhor farinha. Essa farinha era feita dos grãos (ou da semolina) que ficavam na peneira depois que o trigo era m oído e transform ado em farinha. E a m esm a farinha usada para a oferta de cereal (ver comentário em Lv 2.1).7.14. vasilha de ouro. Essas vasilhas pesavam cento e vinte gramas. A palavra traduzida como "vasilha" é a m esma usada para "m ão". Foram encontrados cer­tos objetos em form a de tenaz em *A m arna, cujas extremidades tinham o formato de mãos, mas o fato de que os utensílios citados nesse versículo estariam cheios de incenso, sugere que se tratava m esm o de

vasilhas e não de tenazes. Em bora fossem relativa­mente pequenas, o incenso que carregavam era va­lioso, assim, até mesmo essa pequena porção era uma dádiva substancial, além do valor do ouro de que era feita a vasilha.7.84-88. função das ofertas dedicadas. Esses versículos resumem as ofertas dadas pelo representante das doze tribos, em doze dias consecutivos, descritas a partir do versículo 12. É provável que essa descrição detalhada seja para enfatizar a posição de igualdade de cada tribo na adoração a D eus e que cada tribo estava inteiramente dedicada ao sustento do tabernáculo e dos sacerdotes.

8.1-4O candelabro8.2. o candelabro. Nas culturas do Mediterrâneo, du­rante o último período da Idade do Bronze, o modelo de candelabro com um eixo central e três hastes de cada lado era bastante comum. V er com entário em Êxodo 25.31-40.

8.5-26A consagração dos levitas8.7. rapar o corpo para pu rificação . Os sacerdotes egípcios também tinham de rapar a cabeça e o corpo como parte do processo de purificação. A s navalhas geralmente eram feitas de bronze e tinham o formato de facas, com um cabo arredondado ou lâminas com uma alça fina presa de forma perpendicular.8.10. im posição de m ãos. É o mesmo procedimento usado pelos israelitas quando iam apresentar algum sacrifício (ver comentário abaixo). Simbolizava a de­signação dos levitas para exercerem o sacerdócio em favor dos israelitas.8.11. levitas como oferta m ovida. A oferta m ovida (ou melhor, oferta levantada) era um rito de dedica­ção (ver comentário em Lv 8.27).8.12. lev itas im pondo as m ãos sobre a cabeça dos novilhos. V er comentário em Levítico 1.4.8.12. fazer propiciação pelos levitas. A respeito da palavra traduzida aqui como "propiciação", que era a conseqüência purificadora do sacrifício, ver comentá­rio em Levítico 1 .3 ,4 . No entanto, nenhum sacrifício é oferecido aqui, apenas o simbolismo sacrificial é usa­do. Os levitas não faziam ritos de purificação em favor dos israelitas - essa era um a tarefa dos sacerdotes - , em vez disso, eles protegiam os israelitas contra a ira divina, pois serviam como pagamento de um resgate. Essa função era bastante comum nos *rituais *hititas e 'babilônios usados para aplacar a ira dos deuses.8.24-26. papel dos levitas. No antigo Oriente Próxi­mo, havia um dispositivo legal que permitia ao cre­dor receber os serviços de alguém da fam ília da pes­

soa a quem fizera um empréstimo ou cedera algum bem . A pessoa em débito era designada para um trabalho específico por um período de tem po pré- determinado. Esse trabalho era feito como pagamento dos juros do empréstimo. A pessoa passava a fazer parte da família do credor e recebia proteção e susten­to dele. Da mesma forma, os levitas faziam trabalhos específicos na casa do credor (Deus) e recebiam susten­to e proteção, provenientes das ofertas que os israelitas dedicavam a Deus em troca de seus primogênitos.

9.1-14 A páscoa9.1. o deserto do Sinai. Área desértica ao redor do monte Sinai (ver comentário em 1.1).9.2. Páscoa. Essa foi a prim eira celebração da Páscoa, desde sua instituição um ano antes, no Egito. Sobre o significado do term o hebraico, ver com entário em Êxodo 12.11. Para informações mais detalhadas sobre a Páscoa, ver comentários de Êxodo 12.1-23.

9.15-23A nuvem sobre o tabernáculo9.15. função e natureza da nuvem . Alguns acreditam que a melhor explicação para as colunas de nuvem e de fogo é que seriam resultantes da atividade vulcâ­nica. Uma erupção na ilha de Tera (960 quilômetros a noroeste), em 1628 a.C. pôs fim à civilização minóica e provavelm ente seus efeitos puderam ser vistos na região do delta. Mas a data é muito anterior (ver item "A D ata do Êxodo, na p. ), além dessa teoria não oferecer explicação para o m ovim ento das colunas, nem para o local descrito no relato bíblico (em direção ao sudeste). O texto não diz que as colunas tinham origem sobrenatural, apenas que eram conduzidas por meios sobrenaturais, e por essa razão, alguns su­põem que se originavam de um tipo de braseiro car­regado num a vara, usado pelos primeiros explorado­res e pelas caravanas. Por outro lado, as colunas sem­pre são apresentadas em ação (descendo, movendo- se) e não sendo dirigidas (não havia necessidade de ação hum ana para m ovim entá-las), e assim é difícil fundamentar essa teoria. N o mundo antigo, a divin­dade era sempre retratada circundada por uma aura brilhante ou flam ejante. N a literatura egípcia, essa aura é ilustrada pelo disco solar alado acompanhado de nuvens de tempestade. Os *acadianos usam o ter­mo melammu para descrever essa representação visí­vel da glória da divindade, que por sua vez é envolta por fumaça ou nuvens. H á indicações de que na m ito­logia cananéia, o conceito de melammu é expresso pela palavra anan, o mesmo termo hebraico traduzido como "n u v em ", mas as ocorrências são muito raras e obscu­ras para se ter certeza. De qualquer modo, as colunas

seriam na verdade uma só: durante o dia, somente a fum aça era visível, enquanto que à noite, a cham a interna oculta pela nuvem podia ser vista (ver Êx13.21, 22).

10.1-10 As cometas10.2. cornetas de prata. Pelo tipo de material de que eram feitas, é evidente que não se trata das mesmas com etas feitas de chifre de carneiro, mencionadas em outros contextos. Com etas tubulares com um a das ex­trem idades m ais larga eram usadas nesse período tanto em contextos militares como em rituais. O uso nessas ocasiões é ilustrado em relevos egípcios e tam­bém comprovado por instrumentos encontrados, por exemplo, na tumba do rei Tut (uma com eta de prata com mais de meio metro de comprimento).10.2. trabalhos em prata. As técnicas de exploração dos minérios de prata já eram conhecidas desde mea­dos do terceiro m ilênio. U m processo denom inado copelação usava um cadinho para extrair a prata do chum bo e refiná-la através de diversos estágios de purificação. Em *Ur, artesãos que trabalhavam com prata produziam instrumentos musicais, jóias e outros objetos já no terceiro milênio.10.3-7. toque das com etas como sinal. Nas guerras, era comum o uso de diversos sinais. Sinais utilizando fogo eram freqüentemente usados tanto nas linhas de frente como em campo aberto, e às vezes ordens sim­ples eram comunicadas através do levantamento de um mastro ou arremesso de dardos. H á evidências do em prego de sinais de corneta no Egito, no últim o período da Idade do Bronze, tanto em contextos mili­tares como religiosos. Os sinais eram dados através de um código pré-definido que incluía certas combina­ções de sopros longos e curtos.

10.11-36Os israelitas partem do Sinai10.11. cronologia. Por essa época, os israelitas ainda estavam no Sinai, tendo saído do Egito havia treze meses. Em nosso calendário, seria início de maio.10.12. itinerário. Se o deserto do Sinai situava-se na região sul da península do Sinai, como sugerimos, então os israelitas partiram em direção a noroeste. O deserto de Parã incluía Cades-Baméia e é localizado geralmente no ângulo nordeste da península do Sinai. No final do capítulo 11 são mencionados diversos lu­gares em que os israelitas pararam ao longo do cami­nho. Grande parte dos quarenta anos de peregrina­ção do povo de Israel ocorreu no deserto de Parã.10.29. H obabe, filh o de R euel. Em Êxodo 2, o sogro de Moisés é chamado de Reuel, em Êxodo 3, é deno­minado Jetro, e aqui recebe o nom e de Hobabe (ver Jz

4.11). Esse problema pode ser resolvido assim que a ambigüidade da terminologia é identificada. O termo para designar parentes do sexo masculino resultantes do casamento (sogro, cunhado etc.) não é específico. Logo, o term o usado em relação aos fam iliares da mulher podia referir-se ao pai, ao irmão ou até mes­mo ao avô. Grande parte das explicações para essa confusão de nomes leva isso em conta. Talvez Reuel fosse o avô, o chefe do clã, Jetro o pai de Zípora, e Hobabe, o cunhado de M oisés, filho de Jetro. Outra explicação talvez seja de que Jetro e Hobabe fossem os cunhados de Moisés e Reuel, o sogro (ver Êx 3.1).

11.1- 12.16Um povo rebelde e queixoso11.3. Taberá. H á uma boa razão para associar Taberá a Quibrote-Hataavá (v. 34), visto que não há registro de viagem entre esses dois relatos. Cada nom e reflete um incidente que aconteceu ali. Não é possível iden­tificar com certeza a localização desses lugares.11.4. carne. A carne pela qual o povo ansiava não era de vaca, carneiro ou veado. Os israelitas tinham leva­do seus rebanhos, mas relutavam em m atar os ani­mais e assim acabar com seu gado. Além disso, esse tipo de carne não fazia parte de sua dieta normal, mas era usado apenas em ocasiões especiais. O tempo em que viveram no Egito, às m argens do rio N ilo, os acostumara a um a dieta regular à base de peixe, e o versículo seguinte deixa claro que era a esse tipo de carne que eles estavam se referindo.11.5. dieta no Egito. São mencionados aqui cinco pro­dutos básicos que faziam parte da dieta dos israelitas enquanto viviam no Egito. Diversos deles são conhe­cidos a partir de textos egípcios e pinturas em pare­des. A referência a melancias pode também represen­tar um tipo de melão.11.7-9. maná. O pão do céu descrito em Êxodo 16.31 era cham ado de m aná. O fato de vir com o orvalho (Êx16.4) sugere que Deus usou um processo natural para sua provisão miraculosa. Geralmente, esse alimento tem sido identificado com a secreção de pequenos afídeos (pulgões) que se alimentam da seiva das tamar- gueiras. Quando essa secreção endurece e cai no chão, pode ser colhida e usada como adoçante. O problema é que isso acontece apenas durante certas ocasiões do ano (maio a julho) e somente onde há tamargueiras. Além disso, a produção total de uma estação normal­mente chega a atingir cerca de 230 quilos, enquanto que no relato bíblico as pessoas juntavam diariamen­te cerca de 250 gramas cada uma. Uma outra explica­ção sugere o líquido adocicado da planta hammaâa, comum no sul do Sinai, usada para adoçar bolos. As­sim como nas pragas enviadas por Deus ao Egito, não é a ocorrência do fenôm eno em si que é inusitada,

m as sim seu tem po de duração e sua m agnitude. A lém disso, essas explicações naturais ficam m uito distantes dos dados apresentados no relato bíblico. A comparação, feita por algumas traduções, com a se­mente do coentro (raramente encontrado no deserto) talvez seja um a referência a um a categoria mais gené­rica de plantas desérticas com sem entes brancas do que uma identificação exata. (Ver Êx 16.4-9.)11.25. o E sp írito v e io ...e profetizaram . A profecia por êxtase ou proveniente de alguém "possuído" ou num estado de transe era bem conhecida tanto em Israel com o no antigo O riente Próxim o. Na M eso- potâmia o profeta que ficava em êxtase recebia o nome de muhhu, e em Israel, os profetas desse tipo geral­mente eram considerados loucos (ver, por exemplo, 1 Sm 19.19-24; Jr 29.26). Aqui, o acontecimento não re­sultou em mensagens proféticas do Senhor, mas ser­viu como um sinal de que o poder de D eus estava sobre as autoridades. Nesse aspecto, poderia ser com­parado ao fenômeno das línguas de fogo que desce­ram sobre os apóstolos em Atos 2.11.31. codornizes. Bandos de pequenas codornizes m igratórias atravessam com freqüência o Sinai em direção ao norte, desde o Sudão até a Europa, geral­mente nos meses de março e abril. Elas voam im pul­sionadas pelo vento e são arremessadas ao chão (ou à água) se apanhadas por uma corrente contrária. M ui­tas vezes, devido ao cansaço, elas voam tão baixo que se tornam presas fáceis. H á casos de barcos terem afundado devido ao excesso de codornizes que neles pousaram em busca de um lugar para descansar. No Sinai, já foram avistadas em tão grande número que forravam o chão e pousavam nas cabeças tunas das outras (ver Êx 16.13).11.32. dez barris (hômeres). A principal medida para secos em Israel era o hômer, equivalente à carga trans­portada por um jumento. Essa medida é variável, de acordo com as diversas fontes, oscilando entre 138 a 236 litros; um cálculo aproximado confere ao hômer a capacidade de 189 litros. Porém, qualquer que seja a medida utilizada fica evidente que os israelitas esta­vam dominados pela gula. Normalmente, as codom i- zes eram conservadas no sal antes de ser colocadas para secar. Como não há menção dessa atividade no texto, talvez não tenha sido praticada. Isso sugere que a praga mencionada esteja relacionada a uma intoxi­cação por alimento estragado.11.34. Quibrote-H ataavá. E praticamente impossível identificar esse local.11.35. H azerote. Alguns têm identificado esse local com Ain el-Khadra.12.1. esposa etíope (no hebraico, cuxita) de M oisés.Cuxe pode referir-se a diferentes lugares no Antigo Testamento, embora seja a designação m ais freqüente

para o lugar geralm ente traduzido como "E tiópia". Essa tradução acaba gerando confusão porque a re­gião de Cuxe não corresponde à m oderna Etiópia (Abissínia), m as sim à área ao longo do Nilo, bem ao sul do Egito, no local da antiga N úbia (atual Sudão). A fronteira entre Egito e N úbia nos tempos antigos se situava na prim eira ou segunda catarata do Nilo. E im provável que o território da N úbia tivesse se ex­pandido até a sexta catarata em Khartoum. Outra pos­sibilidade relaciona Cuxe com Cuchã, identificada em Habacuque 3.7 como Midiã. Para alguns, essa identi­ficação tem boas probabilidades, pois é de conheci­m ento geral que M oisés casou-se com Z ípora, um m ulher m idianita (ver Êx 2-4). Em bora a crítica de M iriã e Arão seja aparentemente étnica, não há evi­dências suficientes para esclarecer qual a origem des­sa esposa de Moisés. Os nubianos são representados em pinturas egípcias com pigmentação escura da pele, mas nem sem pre apresentam outras características típicas da raça negra.12.5. coluna de nuvem. Para uma análise m ais ampla sobre a coluna de nuvem, ver comentário em Êxodo13.21, 22. Sobre a coluna como forma de Deus encon­trar-se com M oisés, ver comentário em Êxodo 33.10. Aqui, M oisés, Arão e Miriã foram à Tenda do Encon­tro para o ju lgam en to de um caso. N a literatu ra cananéia, a principal divindade, *EL tam bém m ora­va num a tenda (onde, de acordo com a crença, se reunia a assembléia divina), de onde partiam os de­cretos e julgam entos. Para outro exem plo de ju lga­m ento, em termos de punição, proveniente da tenda, ver comentário de Levítico 9.23.12.6. profetas. Por essa época, já havia uma institui­ção profética bem estabelecida no antigo Oriente Pró­ximo. Como relata o texto, os meios usuais de revela­ção eram sonhos e visões. Em mais de cinqüenta tex­tos da cidade de *M ari (diversos séculos antes de Moisés) funcionários locais relatam profecias proferi­das ao rei de Mari, Zimri-Lim. Yahw eh podia esco­lher qualquer pessoa para transmitir sua mensagem, mas a posição e a experiência de M oisés ultrapassa­vam a de outros profetas. Em geral, os sonhos e visões eram repletos de sim bolism os que necessitavam de interpretação (muitas vezes, eram interpretados atra­vés de *adivinhações ou de um especialista no livro dos sonhos; ver com entário em G n 40.5-18), m as a form a como Deus se revelava a M oisés não envolvia esse tipo de enigma.12.10. a doença de M iriã. A existência de hanseníase (o termo moderno para lepra) no antigo Oriente Pró­xim o em um período anterior ao de A lexandre, o G rande não foi comprovada (ver comentário em Lv13.1-46). As doenças de pele descritas aqui e em ou­tras partes do Antigo parecem se referir mais a psoríase

e eczem as. A analog ia com o "fe to ab ortad o" no versículo 12 confirma esse tipo de diagnóstico caracte­rizado pela escamação da pele (um sintoma não asso­ciado à hanseníase), e não pela necrose (destruição dos tecidos do corpo, inclusive ossos e nervos). A pele do feto abortado passa da coloração avermelhada para um tom acinzentado, para depois escamar.12.16. deserto de Parã. Ver comentário em 10.12.

13.1-33O reconhecimento da terra de Canaã13.21. 22. ob jetivo da m issão de reconhecim ento. Odeserto de Z im é um a área situada ao sul de uma linha imaginária localizada entre a extremidade meri­dional do m ar M orto e o M editerrâneo, na região também conhecida como Neguebe. É a região que faz fronteira com o sul de Canaã. Reobe tem sido identi­ficado com freqüência como Tell el-Balat Bete-Reobe, quase na metade do caminho entre o Mediterrâneo e Hazor. Lebo-H am ate provavelm ente corresponde à m oderna Lebw eh, um a das nascentes do O rontes. Essa região era a fronteira ao sul da terra de Hamate sendo, portanto, a fronteira norte de Canaã. Esses pontos de referência indicam que os homens foram enviados para reconhecer a terra na parte que fica entre o rio Jordão e o M editerrâneo, subindo e descen­do por um trecho de 560 quilômetros.13.22. enaquins. Os descendentes de Enaque são es­pecificam ente m encionados nos versículos 22 e 28. Numa lista de povos apresentada, eles são descritos como *hurrianos (os horeus m encionados na Bíblia; ver comentário em D t 2). Os descendentes de Enaque eram geralmente considerados "gigantes", (v. 33; Dt 2.10 ,11 ; 2 Sm 21.18-22), embora um a designação mais adequada fosse "com o gigantes". Não se faz menção aos enaquins em outras fontes, m as a carta egípcia no Papiro de A nastasi I (século treze a.C.) descreve a existência de guerreiros cruéis em Canaã, medindo entre 2,10 e 2,70 m etros de altura. Tam bém foram encontrados em Tell es Sa'ideyeh, na Transjordânia, dois esqueletos de m ulheres do século doze a.C. com cerca de 2,10 metros de altura.13.22. a construção de H ebrom . H ebrom foi cons­truída sete anos antes de Zoã. Zoã refere-se à cidade egípcia de Dja'net, denominada pelos gregos de Tânis. Tom ou-se a capital da região do delta na Vigésima Prim eira Dinastia (século doze a.C.). O mais antigo construtor de cidades identificado pelas descobertas arqueológicas é Psusennes I, da m etade do século onze. A arqueologia de Hebrom é bastante complexa. O local foi inicialmente ocupado na Idade do Bronze *Antiga II (na m etade do segundo m ilênio); há evi­dências da presença de um a população tribal durante o período da conquista e posteriormente, de ocupação

permanente na Idade do *Ferro (a partir do ano 1200). É difícil dizer ao certo a qual construção de Hebrom esse versículo se refere.13.24. o vale de Escol. Existem m uitos uádis nessa área, e não há como verificar qual deles está sendo m encionado aqui. N as proxim idad es da m oderna Hebrom fica Ramet el-'Amleh, conhecida por sua pro­dução de uvas e localizada perto de um uádi.13.26. Cades. Cades-Baméia geralmente é identificada com 'A in el-Qudeirat, cerca de 80 quilômetros ao sul de Berseba, onde se encontram as m ais abundantes reservas de água da região. Não existem ali vestígios arqueológicos desse período, mas essa região tem ser­vido como ponto de parada para nômades e beduínos, e a abundância de objetos do "N eguebe" (cerâmica datada desse período) sugere que tam bém exercia esse mesmo papel durante o período em que os israelitas peregrinaram na região.13.27. terra onde manam leite e m el. A terra de Canaã é descrita como uma terra "onde manam leite e m el". É uma referência à exuberância da terra, favorável ao pastoreio, mas não necessariamente adequada à agri­cultura. O leite é um produto do rebanho, enquanto que o mel representa um recurso natural, provavel­mente uma referência à seiva extraída da tâmara, e não ao mel de abelhas. Um a expressão semelhante a essa é encontrada no épico *ugarítico de *Baal e Mot, que descreve a volta da fertilidade à terra, em termos de uádis onde corria o mel. Textos egípcios, como A H istória de *Sinuhe, já descreviam a terra de Canaã como rica em fontes naturais e também na produção agrícola (ver Êx 3.7-10).13.29. habitantes da terra. Os povos que habitavam a terra são mencionados no versículo 29: amalequitas, *hititas, jebuseu s, *am orreus e cananeus. Os am a­lequitas, que descendiam de Abraão através de Esaú (G n 36.15), eram um povo nôm ade e sem inôm ade que habitou na região do Neguebe e do Sinai durante a segunda metade do segundo m ilênio a.C.. O s *hititas eram originários da Anatólia, a atual Turquia, mas alguns grupos que ocupavam partes da Síria e de Canaã tam bém eram denom inados hititas e podem ou não estar relacionados ao primeiro grupo. Os hititas que viv iam em Canaã tinham nom es sem itas, en­quanto que os hititas da A natólia tinham nomes indo- europeus. Os jebuseus habitavam na área próxima a Jerusalém e nada se sabe sobre eles a não ser o que é mencionado no Antigo Testamento. Os *amorreus (co­nhecidos na Mesopotâmia como os amurru ou martu) são conhecidos a partir de documentos escritos já da metade do terceiro milênio a.C.. A maioria dos estu­diosos acredita que eles ocuparam m uitas áreas no Oriente Próximo. O termo pode ser usado para refe­rir-se a um a área geográfica ("ocidentais") ou a um

grupo étnico. Alguns amorreus eram nômades, mas já havia cidades-estado dos amorreus na Síria, desde o final do terceiro milénio. Os cananeus eram os princi­pais habitantes das cidades fortificadas da terra, em­bora nada indique que fossem nativos dali. Os reis dessa área re ferem -se a si m esm os nas cartas de *A m am a (meados do segundo milênio) como kinanu, um termo também usado nas inscrições egípcias des­se período. Também existem registros no Egito sobre a população de Canaã. Uma lista de prisioneiros de uma campanha m ilitar de Amenotep II (século quin­ze) relaciona diversos povos cananeus: os apiru (povo sem terra ou sem posses), os shasu (povos nômades relacionados a grupos bíblicos como os midianitas e amalequitas) e os hurru (hurrianos).13.33. como gafanhotos. Era costum e usar um ani­mal como metáfora para fazer uma comparação exa­gerada quanto a tamanho. Como os gafanhotos eram comestíveis, a m etáfora acrescenta a perspectiva as­sustadora de que eles poderiam ser "devorados" pe­los cananeus. No épico *ugarítico de *Keret, um exér­cito é comparado a um a nuvem de gafanhotos para indicar o vasto número de soldados.13.33. g igantes. A palavra traduzida como "g igan­tes" no original é "nefilins", também mencionada em Gênesis 6.4, mas as duas referências oferecem pouca informação a respeito de sua identidade. Alguns acre­ditam que os guerreiros m encionados em Ezequiel 32.27 tam bém sejam um a referência aos nefilins. As

interpretações m ais tradicionais -(intertestamentárias) dividem-se entre considerá-los gigantes, heróis ou anjos caídos.

14.1-45A revolta do povo14.6. rasgar as vestes. Além de jogar cinzas na cabeça, rasgar as vestes era um a forma comum de manifestar luto no antigo Oriente Próximo. Um exemplo fora da Bíblia pode ser encontrado no épico *ugarítico de *A qhat (por volta de 1600 a.C.) em que a irm ã do herói rasga as vestes de seu pai, à medida que prediz

uma seca iminente. Esta atitude muitas vezes era um sinal de dor pela m orte de um parente, am igo ou pessoa de destaque (2 Sm 3.31), mas também era sinal de vergonha (como nesse caso) ou de perda da honra ou posição (2 Sm 13.19).14.8. m anam leite e mel. Ver comentário em 13.27.14.13-16. a proteção divina e suas im plicações. Eracomum aos povos do antigo Oriente Próximo a crença em deuses protetores. Cada cidade tinha uma divin­dade protetora (p. ex., *M arduque, na Babilônia) e muitas profissões recebiam ajuda especial de suas di­vindades protetoras. Isso, porém , significava que,

quando cidades ou grupos guerreavam entre si, seus respectivos deuses tam bém se juntavam à batalha. Com o conseqüência , o deus (ou deuses) do lado perdedor ficava desacreditado e muitas vezes era aban­donado por seus adoradores. Desse m odo, a oração de Moisés a Yahw eh implica o reconhecimento de Deus como protetor dos israelitas e a crença na promessa de terra e descendência que Ele lhes fizera. Se Yahweh destruísse os israelitas no deserto por causa de sua desobediência, as nações ao redor poderiam interpre­tar como se Deus tivesse fracassado em cum prir suas promessas.

14.25. inform ações geográficas. Essas instruções or­denam aos israelitas, que estavam com m edo de diri­gir-se ao norte para tomar Canaã, que sigam em dire­ção ao sul, saindo de Cades, no deserto de Parã e indo

para a região de Elath, no golfo de Ácaba. A referên­cia a Yam Suph nesse versículo não diz respeito ao m ar V erm elh o e sim , com o em N ú m eros 21 .4 e

Deuteronômio 1.40; e 2.1, ao golfo de Ácaba na costa leste da península do Sinai.14.36-38. destino dos espias. Inicialmente, Deus ficou tão irado com a murmuração dos israelitas que conde­nou todos à morte através de uma praga (v. 12). No entanto, depois que M oisés pediu a Yahw eh que ti­

vesse m isericórdia, essa sentença foi alterada, e só iriam morrer sem poder ver a Terra Prometida aque­les que haviam sido infiéis no deserto. Som ente os espias que apresentaram um relatório pessimista, ques­tionando o poder de Deus, morreram imediatamente vítimas da praga. O termo traduzido como "praga" é

bastante vago para ser identificado a um a doença específica, embora alguns consideram a possibilidade de se tratar de peste bubônica. No Antigo Testamen­to, geralm ente a praga era um castigo de D eus por profanação grave e blasfêmia.14.45. H orm á. "H orm á" tem um duplo significado aqui. No hebraico, significa "destruição" e foi o que aconteceu aos israelitas que haviam desobedecido a

Deus. Também é um termo geográfico para um lugar que fica doze quilômetros a leste de Berseba, identifi­cado com Tell M asos (Khirbet el-Meshash).

15.1-31Ofertas suplementares15.1-31. elem entos gerais do sistem a sacrific ia l. Osistema sacrificial de Israel envolvia tanto as ofertas voluntárias como as obrigatórias, e am bas se apli­cavam a toda a comunidade israelita e tam bém aos estrangeiros que viviam entre eles. Os sacrifícios obri­gatórios, levados ao templo ou santuário e queimados sobre o altar pelos sacerdotes, incluíam porções das colheitas (cereais, frutas, azeite e vinho) assim como

dos rebanhos. Um a porção de cada oferta era designa­da para uso e m anutenção da comunidade sacerdotal. Alguns sacrifícios eram expiatórios e com o objetivo de atenuar pecados específicos ou infrações da lei, servindo também como parte do *ritual de purificação para as pessoas que tivessem tido contato com ele­m entos im puros (cadáveres, pessoas enfermas, flui­dos corporais). Os sacrifícios voluntários eram ofereci­dos como prova de generosidade e como gratidão por um motivo particular de regozijo (casamento, nasci­m ento de um filho, colheita especialmente abundan­te). Ao contrário dos sacrifícios oferecidos aos deuses em outras regiões do antigo Oriente Próximo, as ofer­tas dedicadas a *Yahweh não se destinavam a alimen­tar a divindade (note, sobre esse assunto, os deuses fam intos no final da h istória do dilúvio no épico babilónico de *Gilgamés). Os sacrifícios deveriam ser apresentados de form a ritualm ente correta ("arom a agradável ao Senhor") a fim de se obter as bênçãos ou o favor de Deus. Para m ais inform ações, ver os co­m entários no início de Levítico.15.22-26. pecados involuntários. Transgressões não intencionais da lei também exigiam purificação. Por exemplo, no código de *Hamurabi, a pessoa que vio­lasse por desconhecimento as leis acerca dos escravos, devia fazer um juram ento diante do deus para ser inocentado. No contexto israelita, toda a comunidade era considerada culpada pelos pecados cometidos sem intenção ou por omissão (geralmente envolvendo ’"ri­tuais ou questões da lei). A comunidade era composta tanto dos israelitas como dos estrangeiros residentes entre eles. A infração podia tanto ser algo feito sem o

conhecim ento de que fosse um a violação da lei ou alguma confusão sobre o consumo de uma porção da carne ou da gordura sacrificial. Ao contrário de Levítico 4.13-21, porém, o sacrifício expiatório de um novilho não é chamado de oferta "pelo pecado" (de purifica­ção). Em vez disso, é descrito aqui como uma "oferta queim ada", e tam bém era necessário o sacrifício de um bode como oferta de purificação (ver comentário em Lv 4.1-3).15.30. pecado deliberado. Contrastando com o peca­do sem intenção, essa ofensa era cometida com pleno conhecimento das ações, representando uma atitude premeditada de desafio a Deus e à comunidade. Na lei *suméria, por exemplo, se um filho acusasse publi­camente o pai, deveria ser deserdado e poderia ser

vendido como escravo. Semelhantemente, de acordo com a lei israelita, os atos criminosos deliberados não podiam ficar impunes, visto que representavam uma violação não somente das leis de Deus, m as também da *aliança coletiva, feita pela comunidade, de obede­cer a esses estatutos. A expressão "terá que ser elimi­

nado" envolve um castigo tanto por m ãos humanas com o divinas - talvez a aplicação da pena capital pelas autoridades e a extinção da descendência por meio da ação de Deus.15.30. insu lta o Senhor. A expressão "insulta o Se­nhor" tem o mesmo significado de "blasfem ar, zom­

bar ou insultar a Deus a ponto de negar sua autori­dade" e é citada apenas nesse versículo do Antigo Testamento. Esse tipo de atitude demonstra total de­safio à lei e por causa do perigo que pairava sobre a comunidade, o transgressor deveria "ser eliminado do meio do seu povo". Isso pode implicar uma pena capital, mas provavelmente também um castigo vin­do de Deus, eliminando a linhagem completa da fa­

m ília da pessoa. U m exem plo da gravidade dessa ofensa pode ser encontrado no Cilindro de Ciro (por volta de 540 a.C.) que acusa o rei *babilônio Nabonido de não reconhecer a autoridade de *M arduk como deus da cidade; como conseqüência, o deus o abando­nou e permitiu que os persas capturassem a cidade.

15.32-36 O castigo pela transgressão do sábado15.32-36. recolher lenha no sábado. Essa história apre­senta um a *etiologia legal sobre a seriedade de se violar o sábado (recolher lenha, provavelmente para cozinhar, era um a transgressão de Êx 35.3) e serve de antecedente para futuras violações do sábado (ver as reform as civis de N eem ias em N e 13.15-22). O réu ficaria preso até que Deus lhes mostrasse o que deve­ria ser feito; no caso aqui relatado, a sentença divina foi o apedrejamento. As execuções, comunitárias ou não, deveriam ser feitas fora do acampamento, a fim de evitar a contaminação pelo contato com o cadáver.

15.37-41 As borlas das roupas15.37-41. as borlas das roupas. Todos os homens adul­tos israelitas receberam a ordem de costurar cordões azuis nas borlas de suas roupas como um memorial perpétuo dos mandamentos de Deus. O corante azul era extraído da glândula do molusco M urex trunculus e era m uito caro (ver com entário em 4.6). Bainhas decoradas eram comuns na moda do antigo Oriente Próximo, conforme m uitos relevos, pinturas e textos atestam. M uitas vezes o desenho da bainha indicava a posição ou ofício da pessoa. As borlas eram simbóli­cas e serviam como incentivo para atitudes corretas, e não como *amuletos para afastar o perigo ou a tenta­ção. O cordão azul talvez servisse para demonstrar que cada israelita ocupava uma posição importante como m em bro de um Reino de sacerdotes (ver co­mentário em Êx 19.5, 6).

16.1- 17.13 A rebelião de Corá e a vara de Arão16.1-3. estrutura política tribal e de clã. Cada pessoa dentro da comunidade de Israel era identificada como membro de um a família, tribo ou clã particular. Essa m edida servia para organizá-los em grupos de paren­tesco (como os rubenitas, que se insurgiram contra M oisés) e tam bém como base para a indicação dos anciãos e m em bros do concílio, que representavam cada tribo e clã, auxiliavam na manutenção da ordem e ajudavam M oisés na adm inistração da justiça. As

rivalidades entre grupos tribais eram comuns. Nesse tipo de estrutura política, a lealdade ao grupo menor, ao qual eram unidos por laços de sangue, m uitas vezes superava a lealdade ao grupo maior. M esmo durante o período m onárquico, os reis tam bém en­frentaram esse tipo de lealdade dividida (2 Sm 20.1, 2; 1 Rs 12.16, 17).16.6,7. função dos incensários. Os incensários prova­velmente eram uma espécie de panela com cabo com­prido onde era colocado carvão em brasa. Serviam como altares portáteis, pois o incenso era, na verdade, queimado dentro deles. No Egito, os incensários eram usados para queimar incenso quando as pessoas que­riam proteger-se de forças demoníacas. O incenso quei­mado purificava a área do altar e simbolizava a pre­sença de Deus no local (ver comentários em Êx 30.7,8, 34-38). Moisés propôs um teste, ordenando que o re­belde Corá e seus seguidores oferecessem incenso a

Deus num incensário. Essa função era exclusiva dos sacerdotes e poderia representar perigo para qual­quer pessoa, sacerdote ou leigo, que a executasse de maneira incorreta (Lv 10.1, 2).16.10. distinção entre levitas e sacerdotes. Os levitas eram responsáveis pelo tabernáculo e pelos recintos sagrados ao redor do altar. Deveriam também acom­panhar os israelitas que se dirigiam ao tabernáculo levando suas ofertas para sacrifício, para evitar que violassem qualquer estatuto ou invadissem alguma área sagrada restrita aos sacerdotes. Os *rituais e sacri­fícios eram realizados pelos sacerdotes sobre o altar. Tanto os levitas como os sacerdotes pertenciam à co­munidade sacerdotal e recebiam uma porção das ofer­tas sacrificiais, no entanto, os sacerdotes tinham maior responsabilidade e controle sobre os atos *rituais. Na Mesopotâmia, também era comum entre os sacerdo­tes uma diferenciação nas funções e na autoridade.16.13,14. terra onde m anam leite e m el. A expressão "terra onde manam leite e m el" tom ou-se sinônimo da terra prometida. Fazia parte da promessa da *ali- ança e foi usada aqui para contrastar com os tempos difíceis no deserto. Era uma referência também à exu­berância dos pastos que garantiriam boa produção de

leite nos rebanhos de ovelhas, cabras e gado. Ver também comentário em Êxodo 3.7-10.16.14. cegar os olhos. Essa expressão significa "enga­nar" ou "ilud ir". Os seguidores de Corá recusaram-se a participar de qualquer teste proposto por Moisés, cham ando-o de charlatão, que "ceg ara" as pessoas para obedecê-lo e segui-lo.16.28-30. m aldição. Para provar que sua autoridade vinha de Deus, Moisés pediu um a demonstração de poder semelhante às pragas no Egito. Os líderes re­beldes Data e Abirão, numa atitude de desafio, havi­am se postado de pé diante de M oisés, juntam ente com suas famílias. Moisés precisava amaldiçoá-los de forma a não deixar dúvidas em relação ao fato de ele ser o líder escolhido por Deus. Moisés então pediu a Deus que abrisse a terra e arrastasse para o Seol aque­les hom ens e suas fam ílias. O m undo inferior, na tradição do antigo Oriente Próximo (nos épicos uga- rítico e mesopotâmico) muitas vezes é retratado como uma garganta aberta. Assim, ninguém poderia afir­mar que os rebeldes foram engolidos e m ortos por um evento natural, como um terremoto. O destino deles estava selado e Moisés provou, por fim, ser um verda­deiro profeta.16.31-35. terrem oto e fogo com o castigo. Terremoto e fogo já causaram muitas mortes. Nesse caso, porém, os homens que se opuseram a Moisés e Arão foram consumidos, juntam ente com suas famílias, pela terra e por um fogo divino (o kabod de Deus, ou "glória"). Toda a comunidade de Israel testemunhou o evento, que confirmou a posição de M oisés como líder escolhi­do de Deus. O texto Lamento pela Destruição de Ur, da literatura mesopotâmica apresenta uma manifestação sem elhante da ira divina através de tempestade de fogo e terremoto. Um outro exemplo é o texto assírio de A ssurbanipal, em que a intervenção divina fez com que caísse fogo do céu e consumisse o inimigo. 16.47. incenso como propiciação. Aqui, a ira de Deus pela rebeldia do povo contra M oisés "exp lod e" na forma de uma praga. Moisés fez Arão queimar incen­so, como um tipo de remédio *apotropaico (semelhan­te ao sangue aspergido nos batentes das portas duran­te a Páscoa, em Êx 12.7). Quando um sacerdote quei­mava incenso, o objetivo era obter propiciação pelos pecados do povo e proteger as pessoas da ira de Deus. Entretanto, o meio mais comum de expiação era atra­vés do sacrifício de sangue (ver Lv 17.11). Entre os egípcios, o incenso era usado para afastar poderes sobrenaturais hostis; assim, os incensários eram carre­gados nas procissões cultuais. Há descrições de uso de incensários em *rituais realizados quando uma cida­de estava sitiada por inimigos.16.47-50. natureza da praga. A praga, que dizimou 14.700 pessoas, assumiu a forma do "A n jo D estrui­

dor" que eliminou os primogênitos no Egito. Seu po­der era tão devastador que M oisés ordenou a Arão que passasse com um incensário queimando entre os mortos e moribundos, para evitar m aior destruição. Esse é um fato extraordinário, visto que os sacerdotes normalmente não podiam ter contato com cadáveres. Aparentemente, essa era a única maneira de conter a praga. É im possível determ inar com exatidão qual seria essa praga pelas informações do texto (ver co­m entário em 25.8).17.2-7. vara como sím bolo de liderança tribal. A vara era usada pelos pastores para conduzir seus reba­nhos. Nas mãos de um ancião ou líder tribal, a vara (provavelmente com entalhes distintivos, indicando a quem pertencia) era um símbolo de autoridade (ver Gn 38.18). Ao escrever nas varas o nome de cada um dos doze líderes tribais e colocá-las diante da Tenda do Encontro, ficaria evidente qual delas floresceria sob o comando de Deus, confirmando assim o sacer­dote cujo nome estivesse gravado nela. Esse método público de discernimento também é encontrado em Josué 7.14, 15 e 1 Samuel 10.20, 21.17.4-11. adivinhação com objetos de madeira. O m é­todo usado para determinar quem seria o líder sacer­dotal escolhido por Deus envolveu um tipo de *adivi- nhação (uso de objetos para descobrir a vontade de Deus). Esse método não deve ser confundido com as práticas de adivinhação condenadas em Oséias 4.12, envolvendo um ídolo de madeira ou um poste-ídolo (*Aserá). Aqui, cada líder tribal, inclusive Arão, rece­beu a ordem para colocar sua vara na Tenda do En­contro. O texto contém um trocadilho com a palavra hebraica para vara, que tam bém significa "tr ib o ", sim bolizando a intenção de Deus em diferenciar os líderes das tribos, destacando um dentre eles. Esse evento nunca mais é repetido, portanto, não faz parte de um *ritual cultual. Quando a vara de Arão brotou, sua autoridade foi comprovada e não se permitiu ne­nhuma discussão sobre o assunto. Relatos de práticas de adivinhação na proxim idade de árvores podem ser encontrados em Juizes 9.37, na menção ao carva­lho dos adivinhadores e em Juizes 4.4, 5 referindo-se à palmeira de Débora. Textos *ugarí ticos também men­cionam o uso de árvores em certos rituais.17.8. significado das am êndoas. A vara de Arão bro­tou, produziu flores e amêndoas maduras. Todo esse processo criativo representava o poder de Deus sobre a criação, a abundância e fertilidade da terra prome­tida (ver G n 43.11) e a "d iligência" (significado da palavra hebraica saqed, "am êndoa") que se esperava do sacerdócio de Arão. Em Jeremias 1 .11 ,12 , o ramo de um a am endoeira sim boliza o cuidado de D eus sobre Israel. A amêndoa era considerada a primeira planta a florir na região (p. ex., na Sabedoria Egípcia

de *Ahiqar), o que poderia representar a primazia do cargo de Arão.

18.1- 32Direitos e deveres dos sacerdotes e levitas18.1-7. conceito de am biente sagrado e cuidados em relação a ele. O centro do espaço sagrado era o Lugar Santíssim o, onde ficava a arca. Partindo desse ponto, ficavam as zonas concêntricas de santidade, cada uma exigindo determinado nível de *pureza. U m a das prin­cipais tarefas dos sacerdotes era fazer com que se cum­prissem as regras que m anteriam o nível apropriado de santidade e *pureza de cada zona. Visto que toda a tribo de Levi fora separada para servir no sacerdócio, era preciso estabelecer deveres e responsabilidades e criar uma hierarquia dentro do grupo encabeçado por Arão e seus filhos. Todos os levitas eram encarregados de cuidar da família de Arão; era dever deles fazer as tarefas seculares necessárias à manutenção da Tenda do Encontro, tomar conta dos recintos sagrados e auxiliar os adoradores que levavam suas ofertas para o sacrifí­cio. No entanto, ninguém, exceto Arão, seus filhos e os descendentes deles, tinha realm ente perm issão para apresentar sacrifícios ou m inistrar diante da arca do testemunho. Qualquer violação dessas restrições acar­retaria na morte tanto do levita como de Arão. Se algu­ma pessoa que não pertencesse à tribo de Levi entras­se nos recintos proibidos do santuário seria condenada à morte. Através dessas restrições à comunidade e das pesadas responsabilidades impostas à família de Arão, o mistério e o poder relacionados ao serviço de Deus e tudo que dizia respeito a isso, eram engrandecidos e protegidos.18.8-10. porções sacrificiais. As porções sacrificiais mais sagradas eram reservadas ao consumo de Arão e seus filhos, como recompensa por suas pesadas responsa­bilidades. Essas porções consistiam de alguns itens que eram levados aos recintos mais sagrados da Ten­da do Encontro (ver Lv 6.1-7.10). Esse alimento não podia ser compartilhado por suas famílias, como acon­tecia com outras porções, mas devia ser comido pelos sacerdotes que estavam ritualmente puros e, portan­to, santos o bastante para consum ir dádivas sagradas. Essas porções incluíam as ofertas de cereais e as ofer­tas pelo pecado e pela culpa, algumas das quais devi­am ser queimadas no altar, e o restante destinado ao alimento sagrado dos sacerdotes. O s textos sagrados hititas também demonstram uma preocupação acerca do "alim ento oferecido aos deuses" consum ido por príncipes e funcionários seculares. A propriedade sa­grada também era considerada com seriedade na lei mesopotâmica, com imposição de penas severas (mul­tas pesadas ou pena capital) para quem roubasse algo que pertencia ao templo.

18.11. ofertas m ovidas. D ando continuidade à lista de porções sacrificiais separadas para os sacerdotes e suas famílias estão as ofertas movidas. Os elementos dessa oferta eram levados ao santuário e oferecidos num *ritual especial de elevação, diante do altar (ver comentário em Lv 8.22-30). N em todas as ofertas mo­vidas estão incluídas aqui, visto que algumas eram totalmente consumidas pelo fogo (Êx 29.22-25) e ou­tras reservadas exclusivam ente aos sacerdotes (Lv14.12-14).18.12-19. prerrogativas dos sacerdotes. A lista dos ele­m entos separados perpetuam ente para uso dos sa­cerdotes e de suas famílias (com exceção das noras e dos trabalhadores) termina com os primeiros frutos da co­lheita (cereais, óleo e vinho) e a carne dos animais pri­mogênitos. Algumas regulamentações foram impostas. Animais impuros podiam ser resgatados por um pre­ço estipulado por seus proprietários, e bebês podiam ser resgatados por seus pais (ver Êx 1 3 .12 ,13 ; 34.19, 20). Todo sangue, gordura e certos órgãos internos de­viam ser queimados sobre o altar como uma oferta de comunhão (ver Lv 3.9; 7.3). Visto que as partes desses animais continham a essência sim bólica da vida, era adequado que fossem dadas inteiramente a Deus e não separadas para o consumo dos sacerdotes.18.16. siclo do santuário. O peso do siclo usado no resgate de crianças e de anim ais im puros era equi­valente a vinte geras de prata (11,5 gram as). Esse valor passou a ser pago na forma de moeda somente a partir do século quarto a.C.. Sobre considerações a respeito do peso do siclo, ver comentário em Êxodo30.13.18.19. aliança de sal. O sal era usado freqüentemente como símbolo de preservação. Quando se faziam tra­tados ou alianças, o sal era empregado como sinal de que as condições seriam mantidas por um longo tem­po. Seu uso simbólico é comprovado também em con­textos *babilônicos, persas, árabes e gregos. D a m es­m a forma, na Bíblia a *aüança entre Deus e Israel é descrita como uma aliança de sal - um a aliança que seria preservada por muito tempo. As partes envolvi­das num acordo geralmente compartilhavam de uma refeição em que constava carne salgada. Assim, o uso de sal no sacrifício era um m em orial adequado do relacionamento da aliança. Além disso, o sal impedia a ação do fermento (lêvedo), e como o lêvedo era um símbolo de rebeldia, o sal poderia facilmente repre­sentar aquilo que inibe a rebeldia. (Ver Lv 2.13.)18.21-32. dízimo como pagam ento aos sacerdotes no antigo O riente Próxim o. Ao que tudo indica, a práti­ca de destinar um décimo da produção (cereais, frutos e animais) como salário para os sacerdotes era exclusi­va dos israelitas. Embora os templos mesopotâmicos cobrassem aluguéis dos agricultores que arrendavam

suas terras, essa taxa não podia ser estendida a toda a população. Como resultado, a renda necessária para a manutenção do templo e do sacerdócio vinha de suas próprias terras e de presentes oferecidos por indiví­duos e pela realeza. Os reis do Egito e da Mesopotâmia tam bém possu íam terras de onde obtinham seus proventos, porém, sem o mesmo significado do dízimo. N a cultura cananéia o dízimo era bastante semelhan­te ao de Israel, mas era destinado ao rei e aos funcio­nários reais e não ao sacerdócio, embora os sacerdotes, às vezes, fossem incluídos entre os funcionários admi­nistrativos. Uma vez que os levitas não haviam rece­bido nenhum a porção de terra na distribuição feita após a conquista, eles tinham de ser sustentados pelo povo, através do dízimo. D eve ser m encionado, no entanto, que os levitas também pagavam o dízimo de tudo que recebiam a Arão e sua fam ília, o que de­monstrava um a clara distinção entre os levitas e os sacerdotes.

19.1-22A cerimônia da novilha vermelha19.2-10. significado da novilha verm elha. O animal designado para esse sacrifício, cujo sangue seria mis­turado às cinzas para servir como purificação das pes­soas que tivessem tido contato com os mortos, era uma novilha. A cor verm elha poderia sim bolizar o san­gue, mas não se pode afirm ar com certeza. A idade exata do animal não fica clara no hebraico, mas o fato de que não poderia ter puxado um arado, nem feito qualquer tipo de trabalho, sugere que tivesse acaba­do de alcançar a m aturidade. A s vacas am arradas pelos filisteus à carroça em que a arca foi depositada, em 1 Sm 6.7 talvez sejam um exem plo disso. Elas eram adequadas para o sacrifício e assim, poderiam ser usadas nesse teste que revelaria o propósito divi­no quanto aos filisteus. O caso de um homicídio cujo autor era desconhecido, em Deuteronômio 21.1-9 tam­bém exigia o sacrifício de um a novilha e o uso de seu sangue num *ritual de purificação. O sangue e a ino­cência do anim al eram os elem entos-chave para a purificação.19.2-10. ritual da novilha verm elha. A fim de fazer a m istura necessária para purificar a pessoa contamina­da pelo contato com cadáver, a lei exigia que uma novilha verm elha, sobre a qual nunca tivesse sido colocada um a canga, fosse levada para fora do acam­pamento e sacrificada por Eleazar, filho de Arão. Ca­bia a Eleazar oferecer esse sacrifício, pois, de outro modo, Arão, o sumo sacerdote, se contaminaria com o cadáver do animal. Eleazar aspergia parte do sangue sete vezes em direção à Tenda do Encontro e, enquan­to a novilha era queim ada, atirava ao fogo m adeira de cedro, h issopo e lã verm elha. A s cinzas eram

m antidas fora do acampamento para serem usadas posteriormente em *rituais de purificação. Quem to­masse parte nessa cerimônia era considerado impuro até o entardecer, mesmo depois de ter se banhado e lavado suas vestes. Comparações com rituais *hititas permitem concluir que esse ato ritual, juntam ente com os elem entos preparados para a purificação das pes­soas, causava um estado temporário de *impureza ao sacerdote.19.11. contam inação ritual pelo contato com cadáver.O *culto aos mortos era uma prática bastante difundi­da no antigo Oriente Próximo. Embora não existisse um conceito bem definido sobre a vida após a morte nem na M esopotâm ia, nem no antigo Israel, ainda assim acreditava-se que os espíritos dos mortos podi­am afetar os vivos. Por exemplo, em textos hititas o medo parece decorrer do receio de comparecer "im ­p u ro" diante dos espíritos dos m ortos, exatam ente como aconteceria diante de um deus. D esse modo, eram feitas oferendas nas tumbas dos antepassados, mas parece que a contaminação pelo contato com ca­

dáveres não era um a preocupação dos *hititas. Por outro lado, o *ritual mesopotâmico namburbi eviden­cia um temor significativo de contaminação com cadá­veres. Talvez a preocupação fosse em relação à m istu­ra das duas esferas da existência: dos vivos e dos mortos. A pessoa se contaminava quando entrava em contato com um cadáver, humano ou animal. A puri­ficação era necessária para que aquela pessoa não infectasse outras ou a com unidade inteira com sua *im pureza. Os rituais bíblicos de purificação talvez

sejam os mais detalhados dentre os rituais desenvol­vidos no antigo Oriente Próximo, embora os rituais hititas tam bém incluíssem banhos, sacrifícios e um período de exclusão.19.17-19. ritu al de pu rificação . Para purificar uma pessoa contam inada pelo contato com cadáver, um homem cerimonialmente limpo deveria pegar as cin­zas da novilha verm elha, m isturá-las com água de um a fonte ou ribeiro corrente e aspergi-la sobre a pessoa impura com um galho de hissopo. O uso do hissopo se deve ao fato de seus galhos fibrosos absor­verem líquidos. A aspersão deveria acontecer no ter­ceiro e no sétimo dia (esses dois números primos eram

freqüentemente usados em *rituais e narrativas), sen­do que nesse último, a pessoa impura se purificava tomando um banho e lavando suas roupas. Naquela tarde seria considerada ritualmente pura novamente. Assim , não haveria m istura de puros e im puros na comunidade, e esta se manteria no ideal de pureza digno para servir a Deus.

19.20, 21. água da purificação. A mistura das cinzas da novilha sacrificada com a água de um a fonte ou

ribeiro corrente era chamada de "água da purificação". Deveria ser aspergida sobre a pessoa impura como parte do *ritual de purificação. Os textos rituais hititas também se referem à água como meio para remover *impurezas reais ou apenas aparentes. Porém, a mis­tura descrita em Núm eros tam bém tom ava impura até o entardecer a pessoa que fazia a aspersão. Esse estado de impureza baseava-se na associação que ha­via entre o propósito da m istura e a contaminação transferida aos ingredientes sacrificiais.

20.1-13 As águas de Meribá20.1. n ota cron ológ ica . A esta altura, os quarenta anos de peregrinação no deserto estavam chegando ao fim e os remanescentes do êxodo que ainda esta­vam vivos tinham de sair de cena, visto que não tinham perm issão para entrar na terra prom etida. Assim, no primeiro mês do quadragésimo ano, Miriã, irm ã de M oisés, m orreu, m arcando a transição da liderança que culminaria na morte de Arão, no quin­to mês (Nm 33.38).20.1. deserto de Z im . O deserto de Zim fica ao norte do deserto de Parã: Em bora sua exata localização seja desconhecida, é mencionado como a fronteira ao sul da terra prom etida (Nm 3 4 .3 ,4 ; Js 15 .1 ,3 ). Cades, o oásis onde os israelitas passaram um período considerável de tem po, fica no deserto de Zim (ver caps. 13 e 14).20.6. a glória do Senhor lhes apareceu. Em tempos de crise, M oisés e Arão buscavam a Deus para rece­ber orientação e ajuda. Aqui, eles foram até a entrada da Tenda do Encontro e prostraram-se com o rosto no chão. Em resposta à sua súplica, feita em hum ilde submissão, a glória de Deus (kabod) apareceu e lhes ofereceu uma solução (ver situações semelhantes em Nm 145-12; 16.19-22). A manifestação física da aura ou do poder de uma divindade era comum nos épicos mesopotâmicos, em que era descrita como a melammu

do deus, e podia ser usada como recurso para derrotar o inimigo (como na luta de *M arduk com *Tiamat, no

texto *Enuma Elish).20.1-13. água da rocha. Sabe-se que as rochas sedi­

mentarias abrigam bolsões de água um pouco abaixo da superfície. Q uando ocorre algum vazam ento, é possível localizar esses bolsões e, rompendo a camada de pedra da superfície, chegar até o reservatório de água. Porém, a quantidade de água m encionada no texto é muito maior do que a que poderia ser obtida dessa forma.20.13. águas de M eribá. As águas de M eribá mencio­nadas em Êxodo 17 ficavam nas proximidades do Sinai, mais especificamente em Refidim. Nesse relato, elas se localizam em Cades, cerca de 240 quilôm etros a

nordeste de Refidim. No entanto, essas também são águas de "rebelião" (meribah), exatam ente com o as outras.

20.14-21 Edom nega passagem a Israel20.14-21. Edom na Idade do Bronze Posterior. Edom era o território que se estendia do m ar Morto até o golfo de Ácaba. Recentemente, pesquisas arqueológi­cas descobriram um a pequena quantidade de cerâmi­ca do período do Bronze *Posterior, em num erosas ocupações nessa região, m as não foram encontrados vestígios ou ruínas de construções, nem registros es­critos. O s egípcios referiam -se à população nômade dessa região como os "sh o su ", em bora esse term o talvez se refira à classe social, e não à origem étnica do grupo.

20.22-29 A morte de Arão20.22-26. m onte Hor. Lugar da morte de Arão (embo­ra Dt 10.6 m encione M oserá como local de sua morte). Tradicionalm ente localizado nas proxim idades de Petra, em Jebal Nabi Harum, apesar desse lugar não estar "n a fronteira de Edom ". Outra possibilidade é que esteja em Jebal M adrá, a oeste de Cades e perto da fronteira de Edom, m as ali não há fontes de água suficientes.20.29. trinta dias de luto. O período norm al de luto erade sete dias (Gn 50.10; 1 Sm 31.13). No entanto, como demonstração da importância tanto de Moisés (Dt 34.8) como de A rão, eles foram pranteados durante trinta dias. A ocasião tam bém foi marcada pela transferência de liderança: Eleazar passou a usar as vestes de seu pai e o sucedeu como sumo sacerdote (Nm 20.26) enquan­to que Josué sucedeu a M oisés (Dt 34.9).

21.1-3 A destruição de Arade21.1-3. Arade. O lugar identificado como A rade era uma cidade murada da Idade do Bronze *Antiga (pri­meira m etade do terceiro milênio), bem antes da épo­ca de Abraão, que teve um importante papel na in­dústria de cobre que se desenvolvia na península do Sinai. A segunda cam ada de ocupação identificada pelos arqueólogos está relacionada à Idade do Ferro * Antiga (período dos juizes). Nessa camada foram en­contradas diversas cidadelas e até mesmo um templo, que remontam ao período de Salomão. Visto que não há sinais de ocupação durante o período do êxodo e da conquista, alguns arqueólogos têm sugerido que a Arade do período cananeu é a localidade identificada hoje como Tell M alhata, cerca de treze quilômetros a sudoeste do lugar hoje conhecido como Arade. Inscri­

ções egípcias do século dez identificam duas cidades com o nome de Arade.21.1. Atarim . Essa palavra é desconhecida, e pode se referir tanto a um lugar com o a um a profissão (a Septuaginta e a versão King Jam es traduzem como "esp ias"). É bem provável que esteja relacionada a uma região bem ao sul do m ar Morto, possivelmente a localidade de Tamar. Foi nesse lugar que os israelitas foram atacados pelo exército do rei de Arade.21.3. H orm á. Essa palavra hebraica significa "d e s­truição". Aqui é o nome dado a um lugar para come­m orar a vitória israelita. O povo de Israel havia feito um voto de destruir totalmente as cidades cananéias daquela área e dedicar os despojos ao santuário, se Deus lhes desse a vitória. Esse termo é semelhante ao *herem, "guerra santa", declarada contra Jericó (Js 6.17­1 9 ,24). Como nome geográfico refere-se a um a locali­dade doze quilômetros a leste de Berseba, identificada por alguns como Tell M asos (Quibrote el-Meshash).

21.4-9 A serpente de bronze21.4. itinerário. Os israelitas m archaram em direção ao sul, desde o m onte Hor, na fronteira de Edom, para Elá, na extremidade norte do golfo de Ácaba. Pesqui­sas arqueológicas sugerem que os edomitas não havi­am se propagado por essa região até a época de Salomão (século dez a.C.).21 .6 ,7 . serpentes. Não é possível identificar essas ser­pentes de form a clara, m as possivelm ente seria um tipo de víbora do deserto. O fato de serem caracteriza­das como "abrasadoras" ou "alad as" pode estar rela­cionado à rapidez com que davam o bote (Dt 8.15). Para inform ações gerais, ver com entário em Gênesis 3.1.21.8, 9. serpente de bronze num poste. N a verdade, o term o hebraico indica que era um a serpente de "cobre". O bronze, uma liga de cobre e estanho, era fundido na região de Timná, onde ocorreu esse fato e assim, a tradução aqui leva em conta o contexto físico. Um templo egípcio dedicado ao deus Hathor foi de­senterrado em escavações nessa área e durante o perí­odo dos juizes esse templo passou a ser usado pelos m idianitas da região, que o transform aram em um santuário fechado por cortinas. Numa câmara interna desse templo, foi encontrada a im agem de um a ser­pente de cobre com 13 centímetros de comprimento. N o antigo Oriente Próximo havia a crença de que a im agem de um objeto ou de um ser tinha o poder de proteger as pessoas do que ela representava. Por essa razão, no Egito era comum que as pessoas (vivas ou mortas) usassem *amuletos com o formato de serpen­tes como forma de se protegerem das serpentes ver­dadeiras. Finalmente, é interessante notar que uma vasilha de bronze encontrada em *Nínive com nomes

hebraicos gravados contém a figura de uma serpente alada presa a um tipo de poste.

21 .10-20A viagem para Moabe21.10-20. itin erário . A lista com pleta dos locais de parada durante o percurso até Moabe encontra-se em Números 33.41-48. Várias cidades são desconhecidas, tornando difícil a identificação por m eio de evidências arqueológicas. No entanto, inúmeras localidades men­cionadas nessa passagem também aparecem em m a­pas egípcios e itinerários desse período. O vale de Zerede é hoje o uádi el-Hesa e o rio A m om atravessa o uádi el-Mojib; os dois rios correm na direção leste- oeste; o primeiro desembocando na extremidade sul do mar Morto e o último no meio do lado oriental.21.14. Livro das Guerras do Senhor. Ao compilar a história e as tradições da conquista, os escritores bíbli­cos recorreram a diversas fontes, tanto escritas como orais. Dentre as fontes escritas se encontram o Livro de Jasar (ver Js 10.13; 2 Sm 1.18) e o Livro das Guerras do Senhor. Baseado nos três fragmentos desses docu­m entos citados na Bíblia pode-se afirm ar que eram compostos principalmente de canções de vitória e de histórias dos atos poderosos de D eus e dos líderes, durante o período de form ação da nação de Israel. Infelizm ente, nenhum desses livros foi preservado, mas sua menção no texto bíblico indica que a narrati­va era baseada, pelo menos em parte, nas memórias culturais.

21.21-35 Seom e Ogue21.21. am orreus. Os *amurru, ou amorreus da Meso- potâm ia form avam um im portante grupo étnico do período posterior a 2000 a.C. e são m encionados nos textos de *Mari e nos documentos administrativos de *Hamurabi, durante o século dezoito a.C., na M esopo- tâmia. Registros egípcios os descrevem como um dos muitos reinos existentes durante o século catorze a.C., na área sul do rio Orontes e na Transjordânia. Seu controle efetivo sobre a região da Transjordânia pode estar associado ao conflito entre o Egito e o império hitita. A batalha inacabada de Cades (cerca de 1290a.C.) entre essas duas potências abriu um a oportuni­dade política temporária para o controle dos amorreus, mas a chegada dos povos *marítimos, em 1200 a.C., causou mais tarde um a divisão na região. Na Bíblia, a palavra amorreus é um termo étnico usado para desig­nar os reinos de Seom e Ogue (Nm 21.21, 33), e tam ­bém os habitantes de Canaã (Gn 15.16; Dt 1.7).21.23. Jaza. O local da batalha entre Israel e o exército de Seom, rei dos *amorreus, é descrito como Jaza. Sua localização provável, de acordo com o historiador

Eusébio (quarto século d.C.), é entre os territórios de M adaba e Dibom, em Quibrote Medeiniyeh, no lado leste de Moabe, perto do uádi al-Themed. A batalha tam bém é mencionada em Deuteronômio 2.33 e Juizes11 .20 .

21.24-30. terra tom ada. A área cen tral da T ran sjor­dânia, descrita aqui como os reinos de Seom e Ogue, estende-se desde o vale do rio A m om , no sul, até o rio Jaboque, no norte. É bem provável que, por essa épo­ca esses "reinos" não fossem estados organizados; ao conquistá-los, os israelitas garantiram passagem, sem que as tribos efetivamente tomassem controle e ocupas­sem essa região.21.25-28. H esbom . O lugar atualmente cham ado de Tell-Hesbam localiza-se a oitenta quilômetros a leste de Jerusalém. Entretanto, os arqueólogos não conse­guiram detectar nenhuma evidência de que essa loca­lidade tenha sido ocupada antes de 1200 a.C.. Alguns estudiosos suspeitam que a cidade de H esbom , da Idade do Bronze *Posterior, talvez ficasse em outro local, e Tell Jalul pode ser um a possibilidade. Pesqui­sas e escavações recentes nessa região têm revelado grande quantidade de cerâmicas da Idade do Bronze *Posterior, m as ainda -é difícil identificar o tipo de ocupação desse período.21.29. Cam os. O deus m oabita *Camos, mencionado nesse "cântico de afronta" de Israel em comemoração à vitória contra os reis Seom e Ogue, da Transjordânia, tam bém é citado em um a inscrição m oabita do rei M esha (ver tam bém Jz 11.24; 1 Rs 11.7) do século nono a.C.. Por ser a divindade nacional de Moabe, Camos opunha-se a *Yahweh, assim como Moabe se opunha a Israel. O *culto dedicado a Cam os tinha semelhanças com a adoração de Yahweh, e seus atri­butos (aquele que dá a terra ao seu povo e conquista a vitória nas batalhas) também eram parecidos. Tal­vez Isso seja um indício de que os povos do antigo Oriente Próximo tinham expectativas bastante simila­res em relação a seus deuses. O nome do deus Camos apareceu pela primeira vez num a lista de deuses de Ebla, no norte da Síria (c. 2600-2250 a.C.) e pode ter sido adorado também na Mesopotâmia e em *Ugarite como um a divindade relacionada à argila e tijolos de barro.21.30. área de destruição. Hesbom, ao norte e Dibom, ao sul, eram as principais cidades da área setentrional de Moabe (norte do rio Am om ). Sobre Hesbom, ver comentário anterior neste capítulo. Dibom é a atual Dibam, apenas dois ou três quilômetros ao norte de A m om (uádi al-Mujib). No século nono a.C. era uma das cidades reais de Mesha, com grande destaque nas inscrições de M esha encontradas ali. A falta de evi­dências da Idade do Bronze *Posterior nessa locali­dade levanta a questão se a antiga cidade ficava em

Dibam ou em algum outro lugar ali perto. O fato da cidade de D ibom tam bém constar do itinerário de Ramsés II m ostra que existiu uma cidade nesse pe­ríodo com esse nome. Nofá não pôde ser identificada até hoje e m esm o a pronúncia do nom e é incerta. M edeba era a cidade principal na região central do norte de Moabe e tem sido identificada com a atual cidade homônima. As escavações no local são limita­das, pois a moderna Medeba localiza-se sobre o sítio arqueológico.21.32. Jazar. Esse nome geográfico é relacionado tanto a uma cidade como a uma região, incluindo aldeias ou "filhas". Embora sua localização seja controversa, o mais provável é que seja Quibrote Jazzir, vinte quilô­metros ao sul do rio Jaboque. Esse local funcionou como posto m ilitar avançado na fronteira com Amom e representou o avanço oriental do exército de Israel.21.33. Basã. Após derrotar Seom , os israelitas viaja­ram em direção ao norte, até a região de Basã (conhe­cida hoje como planalto de Golan), limitada ao norte, pelo m onte H erm om , a leste, por Jebel D ruze e a oeste, pelo m ar da G aliléia, onde derrotaram o rei Ogue, em Edrei (moderna Der a, cerca de cinqüenta quilômetros a leste do m ar da Galiléia). É uma ampla e fértil região de planalto conhecida por suas pasta­gens (SI 22.12; A m 4.1-3). Ver comentário em Deute- ronômio 3 para mais detalhes.

21.33. Edrei. Os israelitas derrotaram Ogue, o rei dos *amorreus, em Edrei, na fronteira sudeste de Basã. O local é identificado como a moderna D er'a, na Síria, cerca de cem quilômetros ao sul de Damasco e cin­qüenta quilômetros a leste do m ar da Galiléia, perto do rio Iarmuque. Embora não tenham sido feitas esca­vações arqueológicas no local, essa cidade também é mencionada em textos egípcios antigos e de *Ugarite.21.33. O gu e. O gue, rei dos *am orreus, de Basã, é mencionado como o último dos refains ou gigantes, cuja "cam a era feita de ferro e m edia quase quatro m etros de comprim ento e dois de largura" (ver co­mentário em Dt 3.11). Não há nenhuma informação histórica adicional sobre esse indivíduo. Essa vitória foi celebrada muitas vezes na tradição israelita e está registrada tam bém em Deuteronômio 1.4; 3.1-13; 4.47; 29.7; 31.4; Josué 2.10; 9.10; 1 Reis 4.19.

22.1- 24.25 Balaão e Balaque22.1. cam pinas de M oabe. Trata-se da região de este­pe ou da extensa planície imediatamente ao norte do mar M orto e a leste do rio Jordão, exatamente do lado oposto à "planície de Jericó" (Js 4.13). Essa região ser­viu como ponto de partida do povo de Israel para a entrada na terra de Canaã.

22.2. Balaque de M oabe. Balaque, rei de Moabe, não é m encionado em outras fontes históricas. De fato, pouco se sabe da história de Moabe, além das infor­mações presentes na Inscrição de Mesha, referente ao nono século. E importante lembrar que, nesse perío­do, o título de rei era usado para designar governantes de vastos im périos e também, como parece nesse caso, governantes menores ou líderes tribais.22.4-7. m idianitas. Os midianitas eram um povo que habitava a região sul da Transjordânia. São apresen­tados como descendentes de Abraão e Quetura (Gn25.1-4) e aparecem como mercadores em um a carava­na, na narrativa de José (Gn 37.25-36). Após fugir do Egito, Moisés juntou-se ao clã m idianita de Jetro (ver com entário em Êx 2.15), m as os m idianitas não se ju ntaram aos israelitas na conquista de Canaã. No episódio de Balaão, os anciãos midianitas aliaram-se aos m oabitas e participaram da negociação com o pro­feta para amaldiçoar Israel.22.4-20. Balaão em D eir Alá. Em 1967, uma expedição arqueológica holandesa, liderada por H. J. Franken descobriu alguns fragmentos de gesso com inscrições, numa localidade da planície do Jordão conhecida como D eir 'Alá. Aparentem ente, as inscrições estão escritas em *aram aico e rem ontam ao ano 850 a.C.. N elas há m enção a Balaão, filho de Beor, a mesma pessoa des­crita com o "v id en te" em N úm eros 22-24 . Em bora o texto esteja bastante fragmentado, com muitas lacunas e palavras imprecisas, pode-se afirmar que Balaão era um v id ente que recebeu um a m ensagem divina du­rante a noite, m as essa m ensagem não era exatam en­te o que seus vizinhos esperavam ouvir. Não é possível afirmar com certeza que esse texto refere-se aos even­tos descritos na Bíblia, porém, esse relato deu origem a um a tradição não bíblica, corrente no século nono, da existência de um profeta cham ado Balaão. T alvez a fama de Balaão fosse tal que ele permaneceu como uma im portante figura profética durante séculos e assim , pôde ser identificado com as primeiras narrativas israe­litas da conquista.22.5. Petor. O mais provável é que esteja se referindo a Pitru, localizada no rio Sajur, um afluente do alto E u frates, d istante cerca de v in te q u ilôm etros de Carquem is, no norte da Síria. Em N úm eros 23.7 é citado que Balaão foi levado de Arã, sendo assim, essa identificação parece correta. N o entanto, a distância envolvida (cerca de 640 quilôm etros) fez com que alguns considerassem Moabe, que é bem mais próxi­ma, como a localização para Petor.22.6. Balaão como profeta. No texto de Josué 13.22, Balaão é apresentado como um "adivinho", enquanto que em Números 22.6 ele é considerado um homem capaz de proferir bênçãos e m aldições eficazes. Ele procedia da região da alta M esopotâm ia, perto de

Carquem is, e era reconhecid o internacionalm ente como um verdadeiro profeta. Ao longo da narrativa de N úm eros 2 2 -2 4 , Balaão con tin u am en te alerta Balaque de que ele poderia falar somente as palavras que D eus lhe concedesse (Nm 22.18, 38; 23.12, 26;24.13). Embora Balaão utilize rituais sacrificiais para obter a resposta de Deus, ele não pode ser considera­do simplesmente um adivinho. A *adivinhação, em­bora fosse usada algumas vezes pelos profetas meso- potâmios, estava mais relacionada aos sacerdotes cul­tuais que examinavam animais sacrificados ou situa­ções naturais (como, por exemplo, o vôo dos pássaros). Nos casos citados, parece que Balaão recebia um a ori­entação direta de Deus e depois comunicava a pala­vra de Deus a Balaque, na forma de *oráculos. Esse era o m étodo com um ente usado na transmissão de profecias, encontrado nos Livros de Isaías, Jerem ias e outros profetas israelitas. Há registros de oráculos fa­lados em mais de cinqüenta textos de *Mari (poucos séculos antes de Balaão, localizada a quatrocentos qui­lôm etros de Carquem is, rio abaixo). Nesses textos,

diversas m ensagens procedentes de várias divinda­des são dirigidas a Zimri-Lim, rei de Mari, seja atra­vés de leigos, seja por funcionários do templo. Portan­to, não há dúvida que a atividade profética no antigo Oriente Próxim o durante esse período era bastante comum.

22.6. poder de um a m aldição. A maldição lançava a ira da divindade sobre pessoas, grupos, cidades ou lugares, e podia ser proferida por qualquer pessoa que tivesse a intenção de causar m orte, destruição, doença ou derrota. As maldições envolviam também o emprego de rituais, como aparece num texto hitita, exigindo que fosse servida água e proferida uma mal­dição contra qualquer pessoa que oferecesse ao rei água "polu ída". As maldições geralmente selavam os

acordos ou *alianças, invocando o poder dos deuses como garantia, e deixando claro o perigo que correria a parte que não cumprisse as condições do acordo. No entanto, um a maldição tam bém podia ter efeito nega­

tivo sobre a pessoa que a proferisse. Nesse sentido, a pena de m orte era im posta a quem am aldiçoasse a seus pais (Êx 21.17) ou a D eus (Lv 24.11-24). Pela tradição israelita expressa na narrativa de Balaão, so­mente Yahw eh era capaz de cumprir um a maldição, e nenhum profeta agindo por si só poderia efetiva­m ente amaldiçoar alguém. Ainda assim, Balaque des­creve Balaão como alguém tão afinado com os deuses, que suas bênçãos e maldições sempre se cumpriam. De fato, acreditava-se que o profeta, por ser o repre­sentante ou mediador de algum deus, era capaz de interceder junto a ele pedindo o bem ou o mal. Balaão,

porém , não leva em conta as palavras de Balaque,

afirmando que poderia falar apenas o que Deus lhe concedesse falar.22.7. pagam ento pelas *adivinhações. É natural que se pagasse um a taxa ou fosse oferecida um a recom­pensa em troca de informações vitais (ver 2 Sm 4.10). Os adivinhos, assim como os religiosos, eram pagos por seus serviços (1 Sm 9.8). Balaão, no entanto, só iria receber o pagamento depois que tivesse amaldiçoado os israelitas (Nm 24.11), o que talvez seja um a indica­ção que fosse apenas um presente e não um adianta­mento pelo acerto de um serviço.22.18. Balaão e Yahw eh. Supondo que Balaão fosse um profeta m esopotâm io, que falava em nom e de m uitos deuses, parece estranho que ele se refira a *Yahweh como "o Senhor, o m eu D eus". É perfeita­m ente possível que Balaão tivesse conhecimento do Deus israelita, ao menos por ouvir falar (ver a decla­ração de Raabe em Js 2.9-11). Ou poderia ser que ele se referisse com intim idade aos deuses com quem tratava, a fim de demonstrar sua autoridade profética. O interesse de Balaque por Balaão parece basear-se em sua habilidade de proferir bênçãos ou m aldições - não importando qual deus ele invocasse. H á poucas razões para se acreditai^que Balaão servia exclusiva­m ente a Yahweh.22.21-35. D eus opõe-se a Balaão, após enviá-lo. Àsvezes, parece que Deus m uda de idéia de maneira estranha. O Senhor chamou Jacó (Gn 31, 32) e Moisés para irem a um determinado lugar, mas depois ques­tionou cada um deles durante o caminho. Em cada situação, de fato Deus queria que eles fizessem a via­gem, mas antes tinha um assunto a tratar e resolver com eles.22.22-35. A n jo do Senhor. No mundo antigo, a comu­nicação direta entre chefes de estado era algo pouco comum. Negociações diplom áticas e políticas geral­mente exigiam o uso de um intermediário. O mensa­geiro que servia de intermediário era totalmente in­vestido de autoridade pela parte que representava. Ele falava em nome de quem o enviara e com a mes­ma autoridade; recebia o mesmo tratamento que seria dado ao seu superior, se estivesse ali pessoalmente. Apesar de tratar-se de um procedimento protocolar, não havia confusões quanto à identidade da pessoa. Essa forma de tratamento simplesmente servia como um reconhecim ento adequado da pessoa represen­tava pelo interm ediário. D essa form a, os presentes ofertados pertenciam à parte representada, não ao representante. Esperava-se que as palavras dirigidas ao representante fossem relatadas com exatidão, sen­do proferidas como se a pessoa representada estivesse presente. Quando palavras oficiais eram proferidas pelo representante, todos entendiam que ele não fala­va de si m esm o, m as simplesmente estava transmi­

tindo as palavras, opiniões, posições e decisões de seu soberano. Do mesmo modo, o Anjo do Senhor atuou como mensageiro, o enviado real investido da autori­dade daquele que enviou a m ensagem . A palavra em hebraico que descreve o Anjo do Senhor nesse texto é satan, porém não se refere ao "acusador" ou "in im ig o " encontrado em Jó 1 -2 e Z acarias 3.1. O termo é usado apenas para explicar o papel de adver­sário desempenhado pelo anjo.22.28-30. anim ais falantes. A Bíblia faz referência ape­nas a um outro animal falante, no diálogo entre Eva e a serpente, em Gênesis 3.1-5. Ali, a serpente é descri­ta como o m ais astuto dos anim ais e talvez fosse o único animal capaz de falar. Na narrativa de Balaão, a jum enta foi capaz de falar somente depois de rece­ber tal habilidade de D eus. Essas narrativas onde aparecem animais que falam são geralmente conheci­das como fábulas, e são bastante populares tanto na literatura antiga como na moderna. Geralmente tra­tam de um tema relacionado à sabedoria e têm por objetivo apresentar verdades e valores m orais básicos ou questioná-los. Na literatura do antigo Oriente Pró­ximo são encontrados vários exemplos, dentre eles o gado falante, no texto egípcio intitulado A Fábula dos Dois Irmãos e o diálogo entre o leopardo e a gazela no texto *assírio Ensinos de *Ahiqar. Nessa história, o fato da jum enta falar tem como propósito mostrar a Balaão que D eus pode falar através de qualquer criatura, portanto o crédito não é da criatura, mas de Deus.22.36-41. geografia. Da cidade de Ar-M oabe (ou "c i­dade m oabita", como na NVI), perto da fronteira nor­te de M oabe, Balaque e Balaão seguem para o norte até Quiriate-Huzote e Bamote-Baal. A cidade de Ar, em Moabe (ver 21.15) não pode ser identificada com segurança, m as geralm ente está relacionada à m o­derna Balu'a, ao longo do afluente sul que acompa­nhava a Estrada Real, até o rio A m om . A localização tanto de Q uiriate-H uzote com o de Bam ote-Baal é desconhecida. Talvez se situasse de quarenta a cin­qüenta quilômetros ao norte de Ar, ao longo da Estra­da Real, embora alguns defendem sua localização no extremo norte, bem perto de onde os israelitas esta­vam acampados.23.1. sete altares. O número sete é mencionado inú­meras vezes na Bíblia e pode estar associado aos sete dias da criação ou ao fato de ser um núm ero primo íver 1 Rs 18.43; 2 Rs 5.10). Em nenhum outro lugar na Bíblia é mencionada a construção de sete altares para sacrifícios. Esse fato pode estar relacionado a um *ritu- al dos povos pagãos, em que cada altar era dedicado a um deus diferente. Quando um tratado internacio­nal era firmado, os deuses eram invocados como teste­munhas daquele acordo (como no tratado entre o rei *assírio Esarhadon e Baal, rei de Tiro, em que "sete

deuses" são invocados), e se erigia um altar para cada deus invocado, onde eram oferecidos sacrifícios (ver Gn 31.44-54). M as em outras situações na Mesopotâmia também se evidencia a prática de usar sete altares a fim de oferecer sete sacrifícios simultaneamente dian­te dos deuses superiores.23.1. sacrifício de n ovilhos e carneiros. Novilhos e carneiros eram os animais de criação mais valiosos no antigo Oriente Próximo, de modo que oferecê-los em sacrifício representava o grande empenho dos adora­dores em agradar o deus (ou deuses) e obter seu auxí­lio. O sacrifício de sete animais tam bém é encontrado na oferta que Jó faz pelo pecado de seus três amigos (Jó 42.8).23.3. retirar-se para receber a revelação. Em algumas traduções, Balaão retira-se para um lugar "elevado", mas esse termo pode ser contestado, visto que o sig­nificado da palavra hebraica é questionável. Fica cla­ro no texto que Balaão separou-se dos moabitas para fazer suas *adivinhações a sós. Talvez fosse um a exi­gência do *ritual ou então uma indicação de que Deus queria se comunicar diretamente apenas com Balaão. De qualquer maneira, lugares elevados como montes e colinas, freqüentemente estão relacionados aos deu­ses e às suas revelações (montes Sinai, Zafom, Olimpo).23.4. D eus o encontrou. No mundo antigo, as mensa­gens das divindades eram geralm ente transmitidas através de sonhos, pela comunicação com pessoas mor­tas ou por funcionários do templo em transe profético. A linguagem aqui sugere que nenhum a dessas op­ções foi usada, em bora a natureza do encontro de Balaão com Deus não seja descrita.23.14. Zofim/Pisga. Zofirn significa "sentinela" ou "v i­gia". Quando usado juntam ente com Pisga, o termo genérico Zofim serve para descrever os promontórios do planalto de Moabe, voltado para o oeste, em dire­ção a Canaã (ver N m 21.20). N esse relato, sim ples­mente significa que Balaão foi a um ponto de observa­ção conhecido para observar dali o sinal que Deus iria lhe mostrar. É possível que ele pretendesse observaro vôo dos pássaros, a fim de receber um presságio. Esse procedimento não só era um a prática comum de *adivinhação na Mesopotâmia, m as parece estar rela­cionada a Balaão na inscrição de Deir A lá (ver comen­tário em 22.4).24.1, 2. diferença entre o m étodo de Balaão e o papel do Espírito de Deus. Por ser um profeta da M esopo­tâmia, o método usado por Balaão para invocar a divin­dade ou buscar um presságio, envolvia algum tipo de *adivinhação. Tendo percebido que o propósito de Yahw eh era abençoar os israelitas, Balaão dispensou esse método e aguardou um a revelação direta de Deus. Ao voltar o rosto em direção ao deserto, ele avistou os israelitas e foi tomado pelo Espírito de Deus, proferin­

do uma bênção divina, provavelm ente num transe. Sua disposição em m ostrar-se vulnerável aos olhos do rei moabita demonstra a veracidade de sua m ensa­gem e fornece um exemplo de profecia por êxtase (ver1 Sm 10. 5, 6, 10, 11).24.5-7. m etáforas. O *oráculo de Balaão contém uma promessa de abundância e prosperidade para Israel. Ao olhar para o lugar onde estavam acampados, ele compara suas tendas a um a floresta contendo ervas aromáticas como o aloé e árvores como o cedro. O aloé não era uma planta nativa de Canaã, m as a metáfora pode referir-se aos imigrantes israelitas "sem eados" por Deus na terra prometida. Os cedros não crescem à beira de rios, mas podem representar qualquer outra árvore conífera. A imagem de águas e vegetação abun­dantes refere-se à exuberância da terra de Canaã e à prom essa da *aliança de que os israelitas teriam m ui­tos filhos e se multiplicariam. Ao mencionar um rei, o autor fala do triunfo da futura nação sobre seus inim i­gos, os amalequitas, cujo rei, Agague, seria derrotado por Saul (1 Sm 15.7, 8).24.7. Agague. Agague era o poderoso rei dos am a­lequitas na época de Saul (1 Sm 15.7, 8). Em bora tenham sido derrotados por Saul, os amalequitas con­tinuaram a ser um entrave para Israel (1 Sm 27.8; 30.1; 2 Sm 1.1). O nome de Agague aparece também no Livro de Ester, representando o nom e étnico do vilão Ham ã, descendente de Agague. Alguns estudi­osos sugeriram que Agague deve ser entendido como um título (assim como faraó), m as não há evidências disponíveis para confirmar essa hipótese.24.17. estrela e cetro. Embora "estrela" seja um a me­táfora bastante com um no antigo O riente Próxim o para representar um rei, na Bíblia ela é raram ente usada (Is 14.12; Ez 32.7). Porém, quando associada ao cetro, que é um símbolo do poder real (SI 45.6), fica evidente o significado da metáfora. Assim, o *oráculo de Balaão prediz o surgimento da m onarquia em Isra­el e a extensão de seu poder (como o levantar do cetro) sobre as terras da Transjordânia. Assim como na ins­crição egípcia de Tutmóses III (c. 1504-1450 a.C.), aqui

o cetro tam bém é usado como um bastão para esm a­gar a cabeça das nações inimigas.

24.20. am alequitas. Os amalequitas eram uma confe­deração de tribos que viviam principalm ente na re­gião de estepes a sudeste de Canaã (Êx 17; Jz 6-7). Talvez existissem grupos de amalequitas também na região montanhosa a oeste de Samaria. Eles sempre são apresentados como rivais de Israel, na luta pelo território. A expressão "o primeiro entre as nações"

pode se referir à maneira como eles designavam a si mesm os ou ao fato de terem sido os primeiros a desa­fiar os israelitas (Êx 17.8-15).

24.21, 22. queneus. Embora os queneus fossem consi­derados am igáveis antes desse *oráculo (sogro de M oisés, Êx 2.16-22), aqui eles são destruídos ju nta­m ente com os amalequitas. Os queneus eram tribos nômades que viviam ao redor de Cades, no norte da pen ín su la do S inai e na região da G aliléia; talvez fossem artesãos de metais (havia minas de cobre nas proxim idades do Sinai), e tam bém pastores. Balaão zomba de seus assentamentos nas montanhas, dizen­do que não poderiam evitar a futura invasão e con­quista de Assur.24.22-24. Assur. É improvável que essa seja uma refe­rência ao im pério neo-assírio, que dom inou todo o antigo Oriente Próximo durante os séculos oitavo e nono a.C.. Se assim fosse, o enfoque do *oráculo (e de acordo com alguns, sua própria composição) estaria m uito atrasado. No entanto, os assuritas, um a tribo descendente de Abraão e Quetura (Gn 25.3), não pa­recem ser importantes a ponto de derrotar os queneus. Os *assírios do século catorze tinham um preparo mi­litar suficiente para contribuir com a queda do reino *hurriano de Mitanni, mas não há provas de ativida­de m ilitar posterior no oeste. Assim, o m ais provável é que esse Assur aqui mencionado esteja relacionado aos descendentes de Ismael citados em Gênesis 25.18.24.24. Q uitim . Esse é o antigo nome da ilha de Chipre (Gn 10.4) e se origina do nome da cidade de Quitiom. Em textos posteriores (Qumran), Quitim é usado como um termo genérico para as nações marítimas (Dn 11.30) ou para os romanos. Alguns têm sugerido que aqui talvez seja uma referência aos "povos m arítim os" - um a m istura de tribos (incluindo os filisteus) que in­vadiu o Oriente Próximo por volta de 1200 a.C..24.24. H éber. Héber é identificado como um ancestral dos hebreus, em G ênesis 10.21 e 11.14. Entretanto, esse H éber não se encaixa no contexto do *oráculo, visto que seria um a m aldição sobre Israel. Pode ser uma referência a um ataque de Quitim contra "H é­ber", ou a um clã dos queneus ou à tribo israelita de Aser. Até o momento, nenhuma explicação satisfatória foi apresentada a respeito desse nome.

25.1-18O in c id e n te e m B a a l-P e o r25.1. S itim . O nome completo desse lugar era Abel- Sitim (Nm 33.49) e foi o ponto de partida dos espias de Josué e o local da entrada dos israelitas na terra de Canaã (Js 2.1; 3.1; Mq 6.5). O historiador Josefo locali­zou-o a onze quilômetros do rio Jordão, mas sua real lo ca lização é incerta . P ossiv elm en te seja T ell el- Hammam, no uádi Kefrein.25.3. Baal-Peor. Era comum que o deus *Baal fosse identificado com várias montanhas (Zafom) ou cida­des na região de Canaã (ver N m 32.38; 33.7; 2 Rs 1.2).

Nesse episódio, os israelitas foram influenciados pelas mulheres moabitas e levados a adorar o deus da cida­de de Peor (ver Dt 3.29 a respeito de Bete-Peor). Apa­rentemente, esse foi o primeiro contato dos israelitas com Baal, o deus cananeu da *fertilidade e da chuva, visto que esse nom e não aparece em Gênesis. O resul­tado é desastroso e abre um precedente para a reação de Deus à idolatria.25.4. exposição de cadáveres. Pelo tipo de execução usada aqui (enforcamento), fica claro que se pretendia colocar o corpo dos líderes infiéis à exposição pública. Pode ser um a tentativa de aplacar a ira de Deus ou um aviso aos demais de que a idolatria não será tole­rada. A tradição legal proibia que se deixassem cor­pos expostos ou empalados de um dia para outro (Dt21.22, 23). A empalação e a exposição pública de cor­pos era um castigo comum entre os *assírios (mencio­nado nos anais de Senaqueribe e Assurbanipal).25.6. levou para casa. O israelita, cujo nom e não é mencionado, podia simplesmente estar levando uma m ulher m idianita para casa como sua esposa. Mas m uitos acreditam que a razão para o que aconteceu a seguir foi a prática de relação sexual ritual. Ao levar a mulher midianita para sua casa, esse homem estava encorajando todos os seus parentes do sexo masculino a participar desse *ritual proibido - num momento em que se esperava que as pessoas estivessem se arrependendo da idolatria praticada anteriorm ente. O "in terio r da ten d a" (v. 8) em que eles estavam parece se referir ao recinto sagrado e, portanto, suge­re sexo ritual. Apesar de ser um ritual possivelmente voltado para a *fertilidade, os israelitas não se dedica­vam à agricultura, assim , é difícil im aginar qual a ligação que poderia existir nesse contexto. Já no Salmo106.28, Baal-Peor está associada aos sacrifícios aos m ortos (NVI: "íd o los m ortos"). A praga citada no versículo 3 pode ser atribuída aos espíritos dos ante­passados que seriam aplacados através do ato sexual ritual. Nesse caso, a "casa" para onde a m ulher foi levada pode ser a dos espíritos antepassados.25.8. a praga. Visto que nenhum sintoma é descrito, é difícil estabelecer com clareza que tipo de praga afli­giu os israelitas. Alguns textos mesopotâmios trazem informações de diagnósticos médicos, num a tentativa de estabelecer um a relação causal entre certos sinto­mas ou doenças e os supostos pecados que as causa­ram. Os israelitas não classificavam as doenças, mas interpretavam as epidemias ou o alastramento de cer­tas doenças como um castigo de Deus. Dentre as do­enças endêmicas e epidêm icas do m undo antigo se incluem o tifo, a m alária, a cólera, a tuberculose, o antraz, a peste bubônica e a difteria. O m odo como Yahweh faz uso da praga é semelhante àquele asso­ciado às pragas causadas por divindades no antigo

Oriente Próximo. Na mitologia mesopotâmia, Nergal (ou Erra) era considerado o deus das pragas e rei do m undo inferior. A divindade cananéia equivalente era Resefe, e entre os hititas, Irshappa. M ursilis, um rei hitita desse período, queixou-se em um a oração sobre um a praga que durou vinte anos, e a descreveu como um castigo pelos pecados de seu pai.25.13. aliança do sacerdócio. Tal como a *aliança feita com Davi (2 Sm 7.8-16; SI 89.29), essa é uma aliança "perpétua". Novamente, essa expressão e o conceito de um acordo perpétuo não eram exclusivos dos israelitas: eram comuns nos textos de acordos na Meso­potâm ia (ver os Tratados *A ssírios de Vassalos de Esarhaddon). Aqui, a atitude piedosa de Finéias ser­ve como base para a escolha desse ram o particular da fam ília de A rão como o grupo que tinha o direito exclusivo de servir no templo (ver a genealogia em 1 Cr 6.3-14, que traça a linhagem de Finéias, m as exclui a de seus irmãos).

26.1-65O segundo recenseamento 26.55. distribuição por sorteio. Ao fazer uso de um sorteio para determinar a distribuição da terra, a de­cisão foi deixada a critério de Deus. Esse processo também foi empregado em *Mari, na Mesopotâmia, para distribuir as terras do rei aos vassalos e m ilitares reformados.

27.1-11 A herança das filhas de Zelofeade27.1-11. direitos de herança das filh as. Quando um hom em m orria sem deixar herdeiros, a terra geral­mente era redimida por um parente do sexo masculi­no, (sobre a obrigação do levirato, ver comentário em Dt 25.5-10; sobre o Ano do Jubileu, ver comentário em Lv 25.8-55; sobre direitos do parente, ver Lv 25.25­28). Nesse relato, para resolver a questão isolada so­bre os direitos das filhas à herança do pai foi necessá­rio recorrer a um *oráculo e à decisão divina, visto que a legislação existente não considerava essa hi­pótese. Os direitos do levirato (Dt 25.5-10) aparente­mente não se aplicariam a esse caso, visto que não se m encionam herdeiros do sexo m asculino (filhos ou parentes do pai). Em vista disso, a decisão foi tomada e as leis aprovadas, garantindo às filhas o direito de herança e estabelecendo uma lei sobre o procedimen­to em casos como esse, em que não havia nenhum herdeiro do sexo masculino. Alguns precedentes des­se gênero parecem ter existido em documentos legais da Mesopotâmia (texto sumério do estatuto B de Gudea [c. 2150 a.C.]; *Alalal<h [século dezoito a.C.]; *Nuzi e *Em ar). A lei em N úm eros 27, porém , teve de ser modificada mais tarde, devido ao problema de a terra

deixar de pertencer à família no caso da filha se casar com alguém de fora da tribo. Assim, o texto de Núme­ros 36.6-9 acrescenta a condição de que as filhas que herdassem terras de seu pai deveriam se casar com alguém do seu próprio clã.

27.12-23Josué, sucessor de Moisés27.12. serra de A barim . Essa cadeia de m ontanhas estende-se desde o leste da foz do rio Jordão até o extremo norte do m ar Morto (ver D t 32.49), formando a borda noroeste do planalto moabita. O m onte de onde Moisés avistou a terra prometida é o monte Nebo, com 835 metros de altitude.27.14. geografia. O relato do pecado de M oisés e Arão em M eribá, recontado nesse parêntese, é baseado na versão de Núm eros 20.1-13. Aqui, o evento é situado perto do oásis de Cades-Baméia, provavelmente 'Ein Q udeirat, no uád i e l'A in , o m aior oásis na região norte do Sinai. O deserto de Zim é uma região árida no N eguebe, ao sul de C anaã, que se estende em direção ao Sinai.27.18. o Espírito. Como sucessor de M oisés, a qualifi­cação de Josué para essa posição baseava-se na autori­dade que recebera de Deus. Ele já havia demonstrado essa capacitação nas campanhas m ilitares (Êx 17.9-13), e pela sua coragem ao posicionar-se diante do povo e dos anciãos (Nm 14.6-10; 26.65). M ais tarde, ele tam­bém receberia o espírito de sabedoria (Dt 34.9), mas aqui são suas qualidades de liderança, conferidas por D eus, que contribuem para sua ascensão ao comando. Não havia nenhuma outra autoridade política sobre as tribos, exceto aquela designada pelo Senhor. O reconhecimento da capacitação pelo Espírito de Deus passou a ser o critério para a concessão de autoridade política sobre as tribos.27.18. im posição de m ãos. A imposição de mãos fazia parte do processo de investir uma pessoa de autorida­de, significando a transferência de poder de um líder para outro (ver N m 8.10; Lv 16.21). Um exemplo são as pinturas encontradas nas tum bas de *E1 Am am a, escavadas na rocha (c. 1400-1350 a.C.) retratando a posse de funcionários do faraó. Esses funcionários são representados usando vestes especiais e o faraó é ilus­trado estendendo os braços sobre eles, como sinal de sua autoridade.27.21. o sacerdote e o Urim. U m sinal confirmando a liderança de Josué como sucessor de Moisés foi o uso do oráculo na função de sumo sacerdote. Ao fazer uso do U rim e do Tumim, o sumo sacerdote podia consul­tar Deus e obter um a resposta do tipo "sim " ou "n ão" para determinadas perguntas (ver o uso dessa prática por Davi e Abiatar em 1 Sm 23.9-12; 30.7, 8). Embora a aparência do U rim e do Tum im seja incerta, seu uso

é sem elhante ao sistem a de perguntas e respostas oraculares encontradas em textos *babilônios de agou­ros. As pedras eram mantidas num bolso externo do "peitoral" do sacerdote e próximas ao coração (Êx 28.16; Lv 8.8). Para m ais inform ações, ver com entário em Êxodo 28.30.

28.1-15 Ofertas28.1-30. festas e dias santos. No antigo Oriente Próxi­mo, as principais festas religiosas e dias santos eram relacionados, em sua m aioria, a eventos agrícolas. Ofertas diárias eram oferecidas aos deuses; em algu­mas cidades e aldeias era comemorado o "d ia do pa­droeiro" em honra das divindades locais, e em certas ocasiões o deus nacional era levado em procissão de uma cidade a outra, "v isitando" os santuários e pro­movendo a *fertilidade e o bem -estar geral da nação. Dentre os festivais mesopotâmios o m ais importante era o Akitu ou a celebração do ano-novo. Nessa oca­sião, o m onarca representava o deus principal, en­quanto os sumos sacerdotes atuavam como seu con­sorte, representando a deusa principal. Como parte da celebração eram realizados uma série de intrincados *rituais e sacrifícios sagrados, com o objetivo de agra­dar os deuses e assim , assegurar um ano vindouro próspero e fértil. Durante o ano, que era baseado no calendário lunar, celebravam-se as festas da "lua nova", bem como os eventos do calendário agrícola (a estação das chuvas ou das águas, a época do plantio e da colheita). A lguns rituais não tinham relação com a mudança de estações, como o luto pelo "deus mori­bundo" Tamm uz (ou *Dumuzi), que só podia ser li­bertado do m undo inferior através das lágrim as de seus devotos (ver Ez 8.14).28.1-8. ofertas diárias. O cerne do sistema sacrificial no antigo Israel era as ofertas diárias feitas em favor do povo, pelos sacerdotes. Eram ofertas comunitárias feitas em nome do povo, e não ofertas pessoais. Ape­sar de o conteúdo do sacrifício apresentar diferenças de tempos em tempos (compare os sacrifícios animais feitos de manhã e à tarde, descritos aqui, com o sacri­fício anim al pela m anhã e um a oferta de cereais, à tarde, descritos em 2 Rs 16.15), seu objetivo era pres­tar continuamente ações de graça a Deus e confirmar diariamente que o povo estava em conformidade com a *aliança (ver comentário sobre as ofertas queimadas em Lv 1.1). Fica bastante clara a crença de que qual­quer interrupção nesse padrão resultaria em conseqü­ências terríveis para o povo (ver D n 8.11-14).28.9, 10. o ferta do sábado. A ordem de guardar o sábado, o sétimo dia da semana, não realizando ne­nhum tipo de trabalho e oferecendo uma oferta quei­m ada adicional representava a comemoração sema-

nal da libertação da escravidão no Egito (Êx 20.11). De acordo com este estatuto, todos os israelitas, assim como seus anim ais, servos e hóspedes, tinham de respeitar o sábado (Êx 31.12-17). A oferta do sábado não era feita por cada família ou clã, mas em nome de todo o povo, como um todo. Há pouca evidência de que no antigo Israel o sábado fosse usado como uma ocasião para adoração comunitária. O sábado não está relacionado a nenhum outro evento do calendário ao longo do ano e só pode ser comparado à celebração do ano sabático e do Jubileu (Lv 25). Como o êxodo era um evento exclusivo da história de Israel, nenhum dia santo sem elhante era observado pelos dem ais povos do antigo Oriente Próximo.28.11-15. oferta m ensal. O calendário lunar era usado em todo o antigo O riente Próxim o e a adoração ao deus Sin era bastante comum, especialmente no norte da M esopotâm ia. Cada m ês se iniciava no primeiro dia da lua nova, representando a continuidade do domínio do deus da lua. A inclusão de um a oferta no primeiro dia de cada mês aparece somente em Núme­ros 28, em bora sua celebração seja m encionada em outros contextos ("festa da lua nova" em 1 Sm 20.5; "lua nova" em 2 Rs 4.23). O sacrifício oferecido na lua nova, assim com o a oferta do sábado, deveria ser acrescentada à oferta diária. Pode ser com parada a outros festivais im portantes, em que se oferecia um grande núm ero de anim ais valiosos (dois novilhos, um carneiro e sete cordeiros), além do bode sacrificial como oferta pelo pecado. .

28.16- 29.40O calendário das festas28.16-25. A festa do pão sem ferm ento. A festa do pão sem ferm ento m arcava o início da colheita da cevada (março-abril). O pão sem ferm ento era feito com os cereais recém-colhidos, aos quais não se acres­centava ferm ento, e devia ser com ido com alegria, como o primeiro sinal das colheitas vindouras daque­le ano. Para m ais inform ações, ver com entários em Èxodo 12.14-20.28.26-31. festa das sem anas. O segundo dos três prin­cipais festivais de colheita acontecia sete semanas após a colheita dos primeiros grãos (Êx 34.22; Dt 16.9-12) e era conhecido também como festa da colheita ou do Pentecoste (Êx 23.16). Assim como a celebração do sábado, a festa das semanas não tinha ligação com o calendário lunar (nesse caso, devido à inexatidão de um calendário baseado unicamente nas fases da lua). X o calendário agrícola, essa festa marcava o final da colheita do trigo e tradicionalmente estava relaciona­da à entrega da lei no monte Sinai. Tam bém estava associada à renovação da *aliança e à peregrinação. A celebração incluía a dedicação de uma "oferta movi­

da" (ver comentário em Lv 8.27) de dois pães, sacrifí­cios de animais (sete cordeiros de um ano, um novilho e dois carneiros) e um a oferta derramada como grati­dão pela boa colheita (ver Lv 23.15-22). Como nas outras festas principais, um bode tinha de ser sacrifi­cado como oferta pelo pecado do povo (Nm 28.30).29.1-6. festa das trom betas. O primeiro dia do sétimo mês (o mês mais sagrado no calendário israelita) era marcado pelo soar do chifre de um carneiro (shofar), comemorando assim o acordo da *aliança e as dádivas de Deus ao seu povo. A importância dessa festa deve­se, em parte, pelo fato de ser comemorada na sétima lua nova do sétimo mês do ano (compare com o ciclo sabático). N enhum trabalho era perm itido e eram apresentadas ofertas queimadas, além das ofertas di­árias. A festa continuava até o décim o dia do mês quando era comemorado o Dia da Propiciação (ver Lv16.29-34 para detalhes). M ais tarde, a Festa das Trom ­betas transformou-se na festa de Ano-Novo, m as isso só ocorreu num período bem posterior ao exílio (ver Lv 23.23-25).29.7-11. D ia da Expiação. O Dia da Expiação era um dia especialmente separado todos os anos, para lidar com os pecados do povo. A seriedade dessa ocasião era dem onstrada pelo fato de que todos os *rituais tinham de ser realizados no interior do santuário, pelo sumo sacerdote. De acordo com Levítico 23.27-32 o Dia da Expiação correspondia ao décimo dia depois da abertura do ano novo civil (durante o sétimo mês). N aquele dia, o povo perm anecia em casa orando e jejuando enquanto o sumo sacerdote entrava nos re­cintos interiores do tabernáculo e queim ava incenso no altar dourado de incenso. O sangue desse sacrifício especial também tinha de ser esfregado nas pontas do altar do incenso para representar a ligação entre o m ais santo dos altares e o incenso que dele flu ía à necessidade de livrar-se dos pecados da nação. Uma descrição m ais elaborada desse ritual anual, inclusive do bode expiatório que levava os pecados do povo, encontra-se em Levítico 16. Ver os com entários ali para informações adicionais.29.12-39. Festa dos tabernáculos. A última colheita do ano acontecia no outono, antes do início da estação das chuvas, e marcava o início de um novo ano agrícola (décimo quinto dia do sétimo mês). Era o momento de juntar e armazenar os últimos grãos e frutos maduros, reservando algum tempo depois disso para a peregri­nação a Jerusalém. O evento de sete dias tam bém era conhecido como festa do encerramento da colheita (Êx23.16) e era simbolizado pela construção de cabanas decoradas com cereais para os trabalhadores das co­lheitas. Esta festa estava ligada à tradição israelita como uma comemoração da peregrinação pelo deser­to e foi também a ocasião da dedicação do templo de

Salomão em Jerusalém (1 Rs 8.65). Essa festa era tão popular que o profeta Zacarias descreveu-a como a festa escatológica celebrada pelas nações, após o triun­fo supremo de Yahw eh (Zc 14.16).29.13-38. núm ero de anim ais. O número de animais sacrificados durante os oito dias da Festa dos taberná­culos era maior do que o de qualquer outra festivida­de anual. Um total de 71 novilhos, 15 carneiros, 105 cordeiros e 8 bodes eram sacrificados, além das ofertas de cereais e líquidas (compare o núm ero muito menor prescrito em Ez 45.13-25 para dias santos). O número de novilhos oferecidos diminuía no decorrer das festi­vidades, talvez para demonstrar a passagem do tem­po ou possivelmente como um meio de poupar um dos mais valiosos rebanhos da nação. O número ele­vado de animais envolvidos, no entanto, diz respeito tanto à alegria associada à colheita (um sinal do cum­primento da *aliança) como à necessidade de alimen­tar um grande número de pessoas que haviam pere­grinado até Jerusalém.

30.1-16 A regulamentação dos votos30.2-15. im p ortân cia e p ap el dos votos. Fazer um voto aum entava a devoção da pessoa em desem pe­nhar uma tarefa específica (sacrifício - ver Lv 27; trans­porte da arca a Jerusalém por Davi - SI 132.2-5) ou servia como forma de barganhar com a divindade a fim de obter algo (o voto que Jefté fez para conseguir a vitória - Jz 11.30, 31). Assim, um voto diferia de um juram ento por ser condicional e não apenas promis­sor. O voto também era usado para iniciar um perío­do especial de consagração, como acontecia com o voto de nazireu (Nm 6), ou durante a guerra, como uma form a de sacrifício de abstinência, em que todos os despojos eram dedicados a Deus (Nm 21.1-3; Js 6.18, 19). Por ser um ato religioso que estabelecia um pacto entre a divindade e o adorador, não podia ser quebra­do, sob pena de desagradar a Deus (ver Êx 20.7 e a ordem de não usar o nome de Deus "em vão"). Para inform ações adicionais, ver comentário em Levítico27.2-13.30.3-15. m ulheres e votos. De acordo com a ordem aqui expressa, as m ulheres não podiam fazer votos sem o consentim ento do pai ou do marido. Se isso ocorresse, o pai ou m arido, como chefe da fam ília, tinha o direito de anular qualquer voto. No entanto, se ele aprovasse o voto e mais tarde impedisse a m u­lher de cum pri-lo, o castigo pelo não cum prim ento recairia sobre ele (v. 14,15). No primeiro caso (v. 3-5), um a mulher solteira estava sob a tutela do pai e assim não podia ter propriedades, nem obstruir a habilida­de do pai em arranjar-lhe um casamento ou utilizar a si m esma em benefício da família. Mulheres casadas,

do m esm o m odo, estavam ligadas à fam ília de seu marido e, sem o consentimento dele, não podiam to­m ar decisões que afetassem o funcionam ento ou o equilíbrio econômico da família (v. 6-8,10-13). O úni­co caso em que um a m ulher casada toma a iniciativa de fazer um voto, dedicando seu filho para servir no templo em Silo é o de Ana, mãe de Sam uel (ISm 1).30.3-15. a subm issão das m ulheres. Apesar de muitas vezes as mulheres exercerem grande influência sobre seus maridos (especialmente as mulheres da realeza), aparentemente só as viúvas e anciãs podiam agir de form a independente na sociedade israelita. As m u­lheres solteiras que viviam com os pais, estavam sob controle legal deles, assim como as casadas estavam sob controle legal de seus maridos. Nenhum a delas podia ter bens, m ontar um negócio, dar entrada a um processo legal nem arranjar seu próprio casamento. Todas essas atividades eram exclusivas dos homens. Parece que em alguns momentos as mulheres casadas tiveram mais liberdade para desenvolver atividades na com unidade (como em Pv 31), m as sem pre fica implícito que tudo era feito com o consentimento do marido. A responsabilidade prim ordial das m ulhe­res, tanto no contexto bíblico, como no contexto mais abrangente do antigo Oriente Próximo, era cuidar da casa, garantir herdeiros para o marido e, quando pos­sível, ajudar no sustento da casa (na lavoura, nos re­banhos, na confecção de utensílios). Nas leis de *Ha- m urabi, a m ulher que negligenciasse seus deveres domésticos por dedicar-se aos negócios podia ser rejei­tada pelo marido através do divórcio. Pode ser que as mulheres mais velhas, que já não estavam em idade fértil, passassem para uma categoria social diferente, funcionando como anciãs (ver D ébora [Jz 4-5] e as sábias de Tecoa e Abel [2 Sm 14.2-20; 20.15-22]).

31.1-54A vingança contra os midianitas31.1-12. m idianitas. Os m idianitas concentravam -se na região leste do golfo de Á caba, no noroeste da Arábia, mas em algumas ocasiões espalharam-se para o oeste, na p en ínsu la do S in ai e p ara o norte , na Transjordânia. Embora nos primórdios de sua história pareçam ter sido basicamente um povo seminômade ou beduíno, estudos arqueológicos têm revelado a existência de aldeias, cidades m uradas e sistema de irrigação nessa região, que remontam à Idade do Bron­ze Moderna (o período do êxodo e dos primeiros juizes). Até hoje nenhuma menção aos midianitas foi encon­trada em textos antigos.31.6. ob jetos do santuário. No antigo Oriente Próxi­mo geralm ente os exércitos incluíam a presença de sacerdotes (como pode ser visto nos textos de *Mari), profetas (2 Rs 3) e objetos sagrados (Anais Assírios de

Shalmaneser III [858-824 a.C.]). Isso permitia que os deuses fossem consultados mesmo durante as bata­lhas ou invocados para conduzir os soldados à vitória. Finéias, filho de Arão e um dos principais sacerdotes, ajudava a m anter a confiança do exército com sua presença. Aqui, é difícil afirmar com exatidão quais objetos sagrados foram levados, mas é provável que se tratasse da arca da aliança, do peitoral do sacerdote e do U rim e Tum im (ver a arca da aliança sendo levada para o campo de batalha em outras passagens - Js 6.4-7; 1 Sm 4.3-8).31.6. cornetas para o toqu e de guerra. Quando um grande núm ero de soldados ocupava uma área bas­tante ampla, as notas agudas das com etas tinham um duplo objetivo simbolizando a voz de D eus para as­sustar os inimigos (ver Jz 7.17-22) e dando sinal aos batalhões sobre os deslocamentos das tropas (ver 2 Cr 13.2). Embora em outras situações o shofar ou com eta de chifre fosse usado como um instrumento sinalizador (Jz 3.27; 6.34; Ne 4.18-20), aqui, a palavra em hebraico indica uma com eta de metal, provavelmente feita de bronze ou prata e capaz de produzir som em quatro ou cinco tonalidades. Cornetas tubulares com uma das extremidades alargada eram usadas nesse perío­do tanto em contextos militares como em rituais. Esse uso é ilustrado em relevos egípcios e tam bém com­provado por exemplares de instrum entos encontra­dos, por exemplo, na tumba do rei Tut (uma cometa de prata com mais de meio metro de comprimento). Sinais de com eta eram usados comprovadamente no Egito, na Idade do Bronze *M oderna, em contextos militares e religiosos. Um código pré-estabelecido in­cluía diversas combinações de sopros longos e curtos.31.17, 18. decisão quanto a quem seria m orto. De acordo com os critérios usados deveriam ser executa­dos: (1) todos os meninos, para evitar que represen- 3ssem um a ameaça m ilitar no futuro e (2) todas as m ulheres que não fossem virgen s, visto que já ti­nham sido contaminadas pelo contato sexual com um povo proscrito. As virgens representavam um "cam ­po não arado" e podiam ser inseridas nas tribos israe­litas através do casamento (ver Jz 21.11,12). Também e possível que fossem escravizadas ou usadas como ^concubinas. Essas jovens provavelm ente eram ino­centes quanto à sedução de israelitas por mulheres midianitas em Baal-peor (Nm 25).31.19-24. purificação. Os soldados tinham de passar por rituais de purificação por causa do contato com cadáveres. O *ritual de sete dias para a purificação, 3n to dos soldados como dos despojos tomados na guer­ra, tinha de ser realizado fora do acampamento (com­pare com D t 23.10-15) a fim de evitar que o restante do povo fosse contaminado (ver N m 19.11-13; 16-22). A purificação exigia que os soldados se banhassem

(Nm 19 .18 ,19) e lavassem suas próprias roupas (ver Lv 11.25, 28 e o Rolo de Guerra de Qumran para or­dens semelhantes). Os espólios eram purificados por meio do fogo e da água. Passar metais pelo fogo tam ­bém era um a prática encontrada em rituais *hititas de nascimento.31.25-50. a divisão dos despojos. Até pouco tempo atrás, era comum a prática de pagar os soldados com os despojos da batalha. No antigo Oriente Próximo, isso era um direito sagrado. Nos textos de *Mari, há relatos de oficiais fazendo um juram ento de não usur­par o espólio que por direito cabia a seus homens. Normalmente, os deuses também recebiam um a par­te, que era coletada no campo de batalha pelos sacer­dotes que acompanhavam o exército. Nesse caso, os critérios estabelecidos para a divisão garantiam aos soldados uma parte dez vezes m aior que a dos civis, enquanto que um qüingentésimo da parte do exército era separada para Eleazar (e para a manutenção do santuário) e um qüinquagésimo da parte dos civis era reservada para o sustento dos levitas. Essas porções podem ser comparadas ao dízimo que Abraão entre­gou a M elquisedeque, em Gênesis 14.20 e à divisão igualitária feita por Davi entre soldados e civis, em 1 Sam uel 30.24, 25.31.50. ouro para resgate. No m undo antigo, fazer a contagem de pessoas era algo particularmente impo­pular (ver comentário em Êx 30.11-16) e poderia desa­gradar aos deuses por sugerir falta de confiança neles ou preocupação com o poder pessoal (ver a praga que resultou do censo de D avi, em 2 Sm 24.1-17). De acordo com a lei expressa em Êxodo 30.12, sem pre que se fizesse um recenseam ento deveria ser pago um resgate pela vida de cada homem contado. A s­sim, após contar o exército de Israel e verificar que não ocorrera nenhum a baixa, os oficiais pagaram o resgate com os objetos de ouro que tinham arrancado dos cadáveres. Esse resgate (ou "propiciação", na NVI) era feito para evitar que fossem atingidos por uma praga (ver N m 8.19). As jóias foram derretidas e trans­formadas em utensílios sagrados que seriam usados no santuário e serviriam como um mem orial eterno da vitória e da disposição do povo em submeter-se à lei de Deus. A quantidade de ouro oferecido foi de cerca de duzentos quilos.

32.1-42A s tr ib o s q u e h e rd a ra m a tr a n s jo r d â u ia32.1. Jazar e G ileade. A região da Transjordânia, pró­xim a ao rio Jaboque, tinha bons pastos e foi nesse lugar atraente que as tribos de Rúbem e Gade pude­ram se estabelecer. Jazar provavelmente é Quibrote- Jazzir, cerca de vinte quilômetros ao sul do rio Jaboque, na fronteira com A m om (ver N m 21.32). A região de

Gileade (mencionada em textos *ugaríticos) estende- se do rio A m on, ao sul, até Basã e o lado transjordânico da Galiléia, ao norte.32.3. lista de cidades. Esta relação de cidades também aparece em Núm eros 32.34-38. Atarote é identificada com Quibrote 'A tarus, treze quilôm etros a noroeste de Dibom e treze quilômetros a leste do m ar Morto. Tam bém é m encionada na inscrição das esteias de M esha (c. 830 a.C.) com o o local constru ído pelos israelitas e habitado pela tribo de Gade. Dibom (ou Dibam ), a capital m oabita, fica pouco m ais de seis quilômetros ao norte do rio A m on e quase vinte qui­lômetros a leste do m ar Morto. Ninra, perto da atual Tell Nimrin, fica na parte setentrional da Transjordânia, juntam ente com Jazar. Hesbom (ou Hesbam), na ex­tremidade noroeste da planície de Madaba (cinco qui­lômetros a nordeste do monte Nebo), é conhecida como a capital de Siom , rei dos am orreus, apesar de não haver provas arqueológicas que confirm em a ocupa­ção desse lugar antes de 1200 a.C. (ver comentário em N m 21.25-28). Eleale (ou el-'Al) localiza-se a nordeste de H esbom (ver Is 15.4; 16.9; Jr 48.34). Sebã é um a localidade desconhecida. Nebo também ainda não foi identificada, m as é m encionada na esteia de Mesha. B eom (ou M a 'in , B aal M eom em N m 32.38) fica dezesseis quilômetros a sudoeste de Hesbom. Em uma das esteias que narram suas vitórias, M esha (rei de Moabe do século nono) afirm a tê-la edificado.32.1-37. topografia da Transjordânia. A Transjordânia é caracterizada por um a topografia bastante variada, incluindo as regiões de Basã, Gileade, Amom, Moabe e Edom. É formada, ao norte, pela cordilheira do monte H erm om (o pico m ais elevado fica a 2.813 m etros acim a do n ível do m ar) e por um a parte do vale formado por uma falha tectônica situada entre a planí­cie de H ulá (70 m etros acima do nível do mar) e o mar da Galiléia (211 m etros abaixo do nível do mar). A região é lim itada ao sul pelo golfo de Aqaba. Esse vale estende-se em direção ao sul ao longo do rio Jordão, até o m ar Morto (777 metros abaixo do nível do m ar em seu ponto m ais profundo). A leste do Jordão, os m ontes de G ileade alcançam mil m etros acim a do nível do m ar e no sul, as m ontanhas de Edom chegam a 1.737 m etros na região próxim a a Petra. A m aior parte do percurso no sentido norte-sul acompanhava a "Estrada Real", começando em Da­masco, cortando as principais áreas de uádis e m ar­geando o deserto pelo leste. Os percursos no sentido leste-oeste acompanhavam os uádis de Yabis, Jaboque, Nim rin e Abu Gharaba. O clima geralmente seco da região exige a utilização de irrigação na agricultura,

em bora os pastos sejam suficientes para os grupos nômades de pastores.

32.34-42. geografia dos locais ocupados pelas tribos na Transjordânia. De acordo com a localização das cidades mencionadas nesta lista (ver N m 32.3 para a localização da m aioria delas), a tribo de Gade edificou cidades nos setores sul, norte e noroeste da Transjor­dânia (principalm ente G ileade e Basã). A tribo de Rúben se estabeleceu na cidade de H esbom e nas aldeias circunvizinhas. O relato de Josué 13.15-31 apre­senta a distribuição final das cidades, em que são cedidas à tribo de Rúben algumas das cidades construí­das pela tribo de Gade. A possível localização dessas cidades não é discutida em Números 32.3, incluindo A roer, cinco quilôm etros ao sul de D ibom , no rio Am om ; Jogbeá (ou Jubeihat), oito quilômetros a noro­este de Rabá; Bete-Harã (Tell er-Rame ou Tell Iktanu), ao sul de T ell N im rim ; Q u iriataim (Q u ibrote el- Q ureiyat), cerca de dez quilôm etros a noroeste de Dibom. Nas últimas décadas, o interesse arqueológi­co por essa área aum entou consideravelm ente, mas m uitos desses lugares ainda não foram escavados.

33.1-56O itinerário pelo deserto33.1-49. as etapas da viagem . Relatos com itinerários de viagens eram comuns nos anais do antigo Oriente Próxim o, inclusive nos relatos deixados pelos reis *assírios do século nono a.C. descrevendo suas cam­panhas militares, alistando pontos de parada e cida­des conquistadas. Mais próximo a essa época são os itinerários egípcios preservados nos registros de suas várias excursões pela região da Sírio-Palestina. Esta lista apresenta uma crônica bastante completa da jor­nada de Ram sés pelo Egito até o local em que os israelitas cruzaram o Jordão, antes da conquista da terra prom etida. Entretanto, a om issão de lugares importantes (como M assá, Meribá) é um a indicação de que essa lista não está com pleta. A s etapas da jornada foram as seguintes: (1) do Egito até o deserto do Sinai (v. 5-15; m uitos desses lugares são discutidos especificamente nos comentários de Êx 13 - 17); (2) do deserto até Eziom-Geber (v. 16-35); (3) de Eziom-Geber até Cades, no deserto de Zim (v. 36); e (4) de Cades até M oabe (v. 37-49). M uitos desses nomes são desco­nhecidos, sendo citados apenas no relato bíblico e ignorados pelos registros antigos ou estudos arqueo­lógicos e geográficos m odernos. Dentre eles, talvez seja possível identificar, pelo menos como tentativa Ramsés (Tell el Dab'a, ver comentário em Êx 1.8-14); Eziom-Geber, uma cidade portuária na ponta do gol­fo de Ácaba (1 Rs 9.26) em Tell el-Kheleifeh ou na ilha de Jezirat Far'on (a única localidade na região em que há provas da existência de um a área portuária subs­tancial); Punom (Quibrote Feinan), 48 quilômetros ao sul do m ar Morto; montes de Abarim, perto do monte

Nebo, bem a leste do m ar Morto (ver comentário em N m 27.12) e A bel-Sitim (Sitim, ver comentários em N m 25.1), que é Tell el-H am m am , no uádi Kefrein (atravessa o Jordão no sentido leste-oeste, a partir de Jericó) ou a leste dali, em Tell Kefrein.

34.1-29As fronteiras de Canaã34.1-12. delim itação das fronteiras. As fronteiras da terra prometida são traçadas aqui como um a conseqü­ência lógica à ordem de expulsar os habitantes que viv iam naqu ela área (N m 33.50-56). Em bora essas não sejam as fronteiras reais da nação de Israel em nenhum momento de sua história, elas se aproximam bastante do território de Canaã reivindicado pelo Egi­to, entre os séculos quinze e treze a.C. (ver 2 Sm 3.10 sobre as dimensões imaginadas: "d e D ã a Berseba") e também à descrição do território controlado por Davi e Salomão. As fronteiras são definidas a partir de uma série de limites conhecidos então (ver Js 15-19 a res­peito da divisão das tribos). O s limites m ais óbvios são os do leste e do oeste: o rio Jordão e o m ar M editer­râneo, respectivamente. A fronteira norte alcança as montanhas do Líbano, até o monte Hor (pico desco­nhecido, provavelm ente na cadeia m ontanhosa do Líbano) e Lebo (Lebo-Hamate, provavelmente a atual Lebweh em uma das nascentes do Orontes). Essa era a fronteira sul da terra de Ham ate e, portanto, a fron­teira norte de Canaã, incluindo a área de Damasco e Basã (aproximadamente semelhante às montanhas da moderna Golan). É provável que Zedade seja a mo­derna Sedade, cerca de 56 quilômetros a nordeste de Lebweh, enquanto Zifrom e H azar-Enã geralm ente são identificados com o os dois oásis a sudeste de Zedade. Para chegar à fronteira sul, o território atra­vessa a Galiléia até o vale do Iarm uque (os lugares mencionados no versículo 11 são desconhecidos), indo para o oeste até o vale do Jordão, de onde estende-se para o sul até Cades-Baméia (ver comentário em Nm 13) no deserto de Zim (ver comentário em N m 20.1), antes de fazer uma curva em direção a oeste, para o M ed iterrân eo, em ET A rish . É com u m id entificar Hazar-Adar e Azm om com duas outras nascentes nas proximidades de Cades, a saber, 'A in Qedeis e 'A in Muw eilih. A localização de A crabim (Passagem de Escorpiões) é desconhecida, em bora seja identificada com uma passagem estreita ao longo do uádi Marra apontando para o nordeste, em direção à extremidade sul do m ar Morto.

35.1-34Cidades de refúgio35.1-5. Cidades dos levitas. Visto que a responsabili­dade dos levitas era principalm ente servir como sa­

cerdotes e funcionários religiosos, eles não receberam um a porção da terra prometida para lavrar (ver Nm18.23, 24). No entanto, receberam 48 cidades e a área ao redor delas para servir de pastagem aos seus reba­nhos (ver Lv 25.32-34 acerca dos direitos de proprie­dade nessas cidades). O precedente de designar cida­des ao controle sacerdotal pode ser encontrado na prá­tica do governo egípcio em Canaã (e também entre os hititas), onde algumas cidades eram separadas como propriedades reais e entregues nas m ãos dos sacerdo­tes, que as administravam. Esses centros administra­tivos egípcios, de m odo geral, eram fortificados e era onde se recolhiam as taxas ou impostos daquela re­gião. Do m esm o m odo, na prática m esopotâm ia e assíria, cidades designadas tinham terras reais para pastagens ligadas a elas. Embora as cidades levíticas não tenham se destacado por seu papel administrati­vo secular, elas devem ter sido centros de educação religiosa e recolhim ento de renda para o santuário. Um a vez que as pastagens são mencionadas de forma específica, pode ser que os animais para o uso ritual também fossem obtidos do mesmo modo.35.6-34. as cidades de refúgio e o sistem a ju d icial. Dentre as cidades dos levitas, seis delas deviam ser­vir como lugares de refúgio para pessoas que tives­sem cometido um homicídio não intencional (ver tam ­bém Dt 4.41-43). Essa solução, que garantia proteção ao acusado e evitava que fosse morto numa "vingan­ça de sangue", talvez fosse uma extensão ou alterna­tiva ao uso de altares como refúgio, conforme m enci­onado em Êxodo 21.12-14. A comunidade sacerdotal talvez estivesse preocupada também com a contami­nação do altar e do santuário, no caso de um criminoso agarrar as pontas do altar apelando para a lei. Assim, ao estender a zona de proteção para os lim ites da cidade de refúgio, essa *contaminação não aconteceria e a pessoa acusada ficaria m ais bem acomodada até que o julgam ento terminasse. Cidades tidas como re­ais ou sagradas gozavam de um a posição privilegia­da, o que pode ser constatado em todo o antigo Orien­te Próximo, m as a proteção oferecida por elas era mais em relação a certas obrigações impostas pelo governo, embora um texto fale de uma proibição quanto a der­ramar o sangue de qualquer pessoa que estivesse sob proteção. O conceito de "asilo" também é encontrado em fontes clássicas e sugere uma tentativa por parte do governo em endurecer o controle do sistema judi­ciário, afastando da fam ília o direito à vingança e

assegurando a justiça por meio do processo legal.35.9-34. a responsabilidade da fam ília em vingar-se. Em bora a lei bíblica claramente determine a respon­sabilidade de vingar a morte de um parente através da "vingança de sangue", essa prática podia obstruir

o cumprimento da justiça. Assim, as seis cidades de refúgio foram estabelecidas tanto para garantir um "abrandam ento" dos ânimos como um processo justo para o acusado. Para condenar um acusado, eram necessárias duas testemunhas (Nm 35.30); só depois disso que a responsabilidade de executar o réu passa­va a ser do "vingador do sangue" (Nm 35.19-21; Dt 19.12). Não havia possibilidade de pagar algum tipo de resgate pelo assassino condenado (Nm 35.31, 32), ao contrário do que era estipulado pelas leis de outros povos do antigo Oriente Próximo. Tanto as leis hititas como as leis medo-assírias asseguravam o pagamento de um resgate para poupar a vida do assassino. A lei assíria dispunha de um a solução intermediária, em que o parente m ais próximo da vítima tinha a opção de executar o assassino ou aceitar o pagamento de um resgate.35.25, 28. morte do sum o sacerdote. Não era o perío­do de exílio num a cidade de refúgio que absolvia uma pessoa acusada de homicídio não intencional (ver Js 20.2-6). O sangue da vítima somente podia ser expi­ado pelo derramamento do sangue de outra pessoa, visto que tirar a vida de um ser humano incorria em culpa de sangue. No entanto, mesmo quando o acusa­do não era considerado culpado, ele devia permane­cer exilado até a morte do sumo sacerdote. Desse modo, era a morte do sumo sacerdote que eliminava a culpa de sangue que estava atrelada ao homicídio. Até mes­mo na morte o sumo sacerdote prestava seus serviços *cultuais ao povo, rem ovendo a culpa de sangue e livrando o povo de seus pecados (ver Êx 28.36-38; Lv16.16).

35.33. o derramamento de sangue profana a terra. Aterra prometida, por ser um a promessa da *aliança, era sagrada e podia ser contam inada por derram a­mento de sangue e idolatria (ver Ez 36.17, 18). Visto que o sangue é a fonte da vida e um a dádiva de Deus, a *contaminação causada por derramamento de san­

gue podia ser eliminada somente com derramamento de sangue. Assim , até mesmo o sangue de animais

tinha de ser derram ado sobre o altar como resgate pela pessoa que os sacrificara (ver Lv 17.11). É por

essa razão que o assassino condenado devia ser exe­cutado e tam bém por esse m otivo que a m orte do

sumo sacerdote eliminava a impureza do homicídio não intencional. A desobediência a esse mandamento

profanava a terra, e se a terra e seu povo se contami­nassem, Deus não poderia mais habitar no meio de­

les. Se D eus abandonasse a terra, ela não m ais pro­

porcionaria a abundância prometida na *aliança (ver Gn 4.10-12). '

36.1-13 A lei da herança das mulheres36.1-13. a tribo m antém em seu poder as terras her­

dadas pelas filhas. Na lei estabelecida em Números27.1-11, as filhas de Zelofeade receberam o direito de

herdar a terra, visto que não havia herdeiros do sexo

m asculino (o livro apócrifo de Tobias [6.13] mostra uma aplicação da lei). Dessa forma, havia sido criada

inadvertidam ente, um a brecha na lei perm itindo a transferência de propriedade a outra tribo, através do

casamento. Assim, um a cláusula adicional foi acres­

centada, restringindo as mulheres que tivessem her­dado terras de seus pais a se casarem somente dentro

do clã da tribo, a fim de que a propriedade original da

tribo permanecesse intacta. Aqui, fica evidente que a

preservação das propriedades da família era um dos mais elevados valores da sociedade israelita. Isso se

justifica pelo fato de a terra ser um a dádiva da *alian-

ça, e desta forma, o lote de cada fam ília era sua porção

da aliança. Embora a posse de terra fosse importante para os demais povos do Oriente Próximo, nenhum

outro povo tinha um a ligação religiosa tão forte rela­

cionada à terra.

D E U T E R O N Ô M I O

1 .1-8 Introdução1.1, 2. geografia. Arabá é a área da grande fenda do Jordão, às vezes limitada à região entre o m ar Morto e o golfo de Ácaba. A lista de localidades parece mais um itinerário do que um a descrição da localização atual dos israelitas (por isso, o comentário a respeito da viagem pelo caminho dos m ontes de Seir). A iden­tificação dessas localidades é bastante incerta. Os m on­tes Seir são um a denominação alternativa para Edom e o caminho dos montes Seir parte da península do Sinai em direção a Edom. Para detalhes acerca de Cades-Baméia, ver o comentário em Números 13.26; sobre a localização do Sinai/Horebe, ver comentário em Êxodo 19.1, 2. A jornada de onze dias (224 quilô­metros) mencionada aqui é compatível com a localiza­ção do monte Sinai ao sul.1.3. cronologia. O décim o prim eiro m ês é Tebet, e corresponde aos meses de dezembro e janeiro do nos­so calendário. Em Israel, é o meio da estação das chu­vas, m as na região sul onde os israelitas se encontra­vam, o índice de chuvas é m uito baixo (média de 5 centímetros por ano) e mesmo no inverno a tempera­tura média durante o dia é de 20 graus centígrados. É difícil determ inar um núm ero para esse quadragé­simo ano, visto que o texto não nos oferece nenhuma base para uma cronologia precisa. No mundo antigo, a cronologia era observada apenas em termos relati­vos ("o quinto ano do rei fu lano"), o que tam bém acontece no texto bíblico (quadragésimo ano desde o êxodo). Não havia um a cronologia precisa (por exem­plo, o ano de 1385). Sobre essa questão, ver o artigo "A Data do Êxodo", na p.1.4. história. O relato dessas batalhas encontra-se em Números 21.21-35. Das três localidades mencionadas nesse trecho, apenas em Hesbom foram feitas escava­ções arqueológicas, e ainda assim , causaram m uita controvérsia (ver comentário em N m 21.25-28). Asterote é identificada como a capital de Basã. Essa cidade é mencionada tam bém em textos egípcios e *assírios e nas cartas de *Am am a; alguns acreditam que ela tam ­bém apareça em um texto de *Ugarite como o lugar onde o deus *E1 reinava. É conhecida hoje como Tell 'A shtarah e situa-se às m argens do rio Iarm uque, quarenta quilômetros a leste do m ar da Galiléia. Quan­to aos reis Seom e Ogue, não há nada a respeito deles fora da Bíblia.

1.6. H orebe. Horebe é um a outra designação para o m onte Sinai, localizado provavelm ente na parte sul da península do Sinai. Para mais detalhes, ver o co­mentário em Êxodo 19.1, 2.

1.7. geografia. A descrição apresentada nesse versículo é basicamente de áreas topográficas. A região m onta­nhosa ou serra dos *am orreus pode ser um a refe­rência a toda a região sul, em oposição à terra dos

cananeus, que seria a parte norte. Arabá refere-se ao vale da grande fenda do Jordão, a partir do norte do

golfo de Acaba, enquanto que a região montanhosa estende-se de norte a sul ao longo da margem ociden­tal do rio Jordão, interrom pida pelo vale de Jezreel.

Sefelá refere-se a um a pequena faixa de relevo variá­vel, na região sul, que fica entre a planície costeira e

as m ontanhas. O N eguebe é a região desértica no triângulo formado pelo mar M orto, mar Mediterrâneo e golfo de Ácaba. O Líbano é a cadeia de montanhas

que fica ao norte e a ponta noroeste do Eufrates define a fronteira a nordeste.

1.9-18O sistema judiciário1.16. estruturas ju d iciais no antigo O riente Próximo.Os registros egípcios e *hititas desse período também

com p rovam a ex istên cia de u m sistem a ju d ic ia l estruturado em níveis. O texto hitita Instruções a Ofici­ais e Comandantes apresenta líderes m ilitares na posi­ção de juizes, assim como o versículo 13 dessa passa­gem. Isso é um indício da íntim a relação que havia entre a atividade militar e a atividade jurídica im plí­cita no Livro de Juizes. Na m aior parte dos sistemas juríd icos dos povos do antigo O riente Próxim o, os casos difíceis eram julgados pelo rei, enquanto que no

contexto israelita, Moisés dava a palavra final. Assim, no antigo O riente Próxim o, os líderes, fossem eles tribais, m ilitares, de cidades, províncias ou da nação, tinham a obrigação de julgar os casos sob sua jurisdi­ção. Não havia tribunal formado por júri, em bora às vezes um grupo de anciãos participasse do julgamen­to de alguns casos. Quando um único juiz cuidava do

caso, o risco de favorecer os ricos e poderosos era de fato bastante grande. Tanto nos documentos do antigo Oriente Próximo como na Bíblia, a imparcialidade e o discernimento são valorizados. Como não havia ad­vogados, a m aioria das pessoas representava a si mes-

m a nos tribunais. Testemunhas podiam ser chamadas e os juram entos exerciam um papel muito importan­te, visto que nenhum de nossos recursos científicos de coleta de provas existia na época.

1.19-25A expedição de reconhecimento da terra e o relatório dos espias1.19. amorreus. Os *amorreus também eram conheci­dos como amurru (em *acadiano) e martu (em *sumério). Tanto o termo amorreus ("ocidentais") como o termo cananeus podem ser usados para descrever a popula­ção geral da terra de Canaã. Enquanto grupo étnico, os amorreus são conhecidos a partir de fontes escritas que remontam à m etade do terceiro m ilênio a.C.. A maioria dos estudiosos acredita que eram oriundos da Síria, de onde partiram para ocupar muitas áreas no Oriente Próximo.1.24. vale de Escol. Há m uitos uádis nessa região, e é impossível afirmar a qual deles o texto se refere. Nos arredores da atual Hebrom situa-se Ram et el-'Amleh, conhecida por sua produção de uvas e próxima a um uádi.

1.26-46A rebelião do povo1.28. enaquins. Os descendentes de Enaque são espe­cificam en te m en cion ad os em N úm eros 13 .22 , 28. Numa relação de povos apresentada, eles são chama­dos de *hurrianos (os horeus descritos na Bíblia; ver com entário em D t 2). Os descendentes de Enaque eram geralmente considerados "gigantes", (Nm 13.33; D t 2 .10 ,11 ; 2 Sm 21.18-22), embora a expressão "com o gigantes" talvez fosse m ais adequada. Os enaquins não são mencionados em outras fontes antigas, embo­ra a carta egípcia no Papiro de Anastasi I (século trezea.C.) faça referência a guerreiros selvagens de Canaã que mediam de 2,10 a 2,70 metros de altura. Também foram encontrados em Tell es Sa'ideyeh, na Trans- jordânia, dois esqueletos de m ulheres do século doze, com cerca de 2,10 metros de altura.

1.44. desde Se ir até Hormá. Seir geralmente é consi­derada a região m ontanhosa central de Edom (com altitudes superiores a 1.500 metros) localizada entre o uádi al-Ghuw ayr, ao norte, e Ras en-N aqb, ao sul. Hormá situava-se doze quilômetros a leste de Berseba, correspondendo possivelm ente à atual Tell M asos (Quibrote el-Meshash). A distânica de Seir a Hormá é de cerca de oitenta quilômetros, seguindo em direção a noroeste.

1.46. C ad es-B arn éia . C ad es-B arnéia geralm ente é identificada com 'A in el-Q udeirat, cerca de oitenta quilômetros ao sul de Berseba. N esse local se encon­

tram as maiores reservas de água da região, e talvez por isso seja há m uito tempo um ponto de parada para nômades e beduínos. Não foram encontrados vestígi­os arqueológicos desse período no local, m as a abun­dância de artefatos do "N eguebe" (cerâmica datada desse período) encontrados ali talvez seja um a indica­ção de que na época em que os israelitas peregrina­ram na região, esse local já era um ponto de parada para viajantes.

2.1-25A peregrinação no deserto2.1. geografia. Seguindo em direção ao m ar Verme­lho, os israelitas foram para o sul, ao longo da região de Arabá, m as provavelm ente não tão ao sul como Elá, que fica na ponta do golfo de Acaba. Ao contrá­rio, parece que eles m udaram o rum o em um dos uádis que ficam na região de Seir, para tomar a dire­ção norte que os levaria até as planícies de Moabe.2.8. rota da Arabá. A rota da Arabá percorre de norte a sul desde o golfo de Ácaba até o mar Morto, atraves­sando o vale da fenda.2.8. Elate e Eziom -G eber. Elate ficava nas proximida­des da atual cidade de Á caba, na extrem idade do golfo de Ácaba. Eziom-Geber era uma cidade portuá­ria, localizada às m argens do m ar Verm elho (1 Rs 9.26) e pode ser Tell el-Kheleifeh (que alguns identi­ficam com Elate) ou a ilha de Jezirat Far'on (a única localidade na região em que há provas da existência de uma área portuária considerável).

2.9. Ar. Alguns estudiosos entendem que "A r"é uma variante de Aroer. Talvez seja o nome de um a região, mas também pode se tratar de Quibrote Balu, ao lon­go de um dos afluentes do rio A rnom , na Estrada Real, a principal rota no sentido norte-sul que atra­vessava a parte oriental do Jordão.2.10. em ins. Esses povos tam bém são m encionados em Gênesis 14.6, m as nada m ais se sabe a respeito deles.2.10. enaquins. Ver comentário em 1.26-46.2.11. refains. Os refains são m encionados como um dos grupos étnicos que habitavam a terra de Canaã, em Gênesis 15.20, m as nada m ais é dito a respeito deles em outras passagens bíblicas, nem fora da Bí­blia. Os textos *ugaríticos referem-se aos refains, con­siderados por alguns eruditos como fantasm as dos heróis e reis m ortos. Não há m otivo, porém , para interpretar dessa forma esse grupo bíblico, embora os refains m encionados em textos poéticos, como o de Isaías 14.9 (tam bém no Livro de Jó e nos Salm os) possam ser espíritos.2.12. horeus. Os horeus são conhecidos na literatura do antigo Oriente Próximo pelo nome de *hurrianos.

P ertencentes ao grupo étnico indo-europeu eles se concentravam ao longo do rio Eufrates, durante o ter­ceiro e o segundo milênio. Os horeus estabeleceram um im pério político conhecido com o *M itanni, na m etad e do segundo m ilênio. No período em que aconteceram os fatos narrados aqui, esse império esta­va se desintegrando. A ssim , grupos de hurrianos acabaram se transformando em povos deslocados, pe­regrinando pela região da Síria e Palestina. Os hu­rrianos representavam o principal grupo étnico em *Nuzi e ficaram conhecidos a partir de textos das ci­dades de *Alalakh, *Mari, *Ugarite e da cidade egíp­cia de *A m arna. O s egípcios freqüentem ente refe­riam-se à Canaã como a terra dos khurri.2.13. vale de Zerede. O vale de Zerede fica na frontei­ra entre Edom e Moabe. Provavelm ente trata-se do uádi conhecido hoje com o al-H esa, situado a leste, partindo da ponta m eridional do m ar Morto, por cerca de 48 quilômetros.2.19. am onitas. Os amonitas habitavam ao norte dos moabitas, na região ao redor do rio Jaboque. São cita­dos nos registros *assírios como Bit-Am m on e como a terra dos Benammanu. Estavam estabelecendo-se nes­se território exatamente no período da peregrinação dos israelitas.

2.20. zanzumins. Os zanzumins eram conhecidos como zuzins, conform e o texto de Gênesis 14.5, mas além de sua relação com os refains, nada m ais se sabe a respeito deles.2.22. descendentes de Esaú e horeus. N ão há registros dessa batalha histórica entre os descendentes de Esaú e os *hurrianos. A té o presente não foi descoberta nenhuma evidência arqueológica confirmando a pre­sença dos hurrianos em Edom.2.23. aveus e caftoritas. Caftor é identificada como Creta e é m uitas vezes associada à terra natal dos filisteus (Gn 10.14; Am 9.7). Gaza era uma das cinco cidades dos filisteus na planície costeira. Nada se sabe sobre os aveus, além das obscuras referências feitas a

eles na Bíblia.2.24. Arnom. O ribeiro de A m om é hoje identificado como o uádi al-M aw jib, que corre por cerca de 48 quilômetros em direção a noroeste e oeste, através da Transjordânia, antes de desembocar no m ar Morto. O rio Arnom foi por muito tempo a fronteira norte de Moabe, em bora em alguns momentos da história, os moabitas tenham estendido seu controle m ais ao nor­te até Hesbom.2.25. terror divino. Acreditava-se que um a investida militar poderosa e vitoriosa na batalha muitas vezes era precedida pelo pavor provocado por um a divin­dade guerreira. Textos egípcios atribuem esse terror ao deus Amom-Rá, nas inscrições de Tutmósis III, e

textos *hititas, *assírios e *babilônicos tam bém men­cionam guerreiros divinos que despertavam pavor

no coração do inimigo.

2.26-37 A batalha contra Seom, rei de Hesbom2.26. Seom , o *am orreu . Essa batalha é registrada pela primeira vez em Números 21. Seom é conhecido apenas pelos registros bíblicos e a arqueologia tem poucas inform ações a respeito dessa cidade e desse reino.2.26. H esbom . A localidade moderna de Tell-Hesbam fica oitenta quilôm etros a leste de Jerusalém. Entre­tanto, os arqueólogos não conseguiram detectar ne­nhum a evidência de que essa localidade tenha sido ocupada em períodos anteriores a 1200 a.C.. Alguns estudiosos suspeitam que a cidade de Hesbom , da Idade do Bronze *M oderna, talvez ficasse em outra localidade, e Tell Jalu l tem sido apresentada como um a possibilidade. Pesquisas e escavações recentes nessa região têm descoberto inúm eras cerâmicas da Idade do Bronze *Moderna, m as ainda há dificuldade para identificar o tipo de ocupação desse período.2.26. deserto de Quedemote. Essa é uma referência à região desértica além da fronteira leste de Moabe. A cid ad e de Q u edem ote tem sido id entificad a com Saliya, na extrem idade sul.

2.32. Jaza. O local da batalha entre Israel e o exército de Seom, rei dos *amorreus, é descrito como Jaza. Sua

localização provável, de acordo com o historiador Eusébio (quarto século d.C.), seria entre os territórios

de M adaba e Dibom , em Quibrote M edeiniyeh, no lado leste de M oabe, perto do uádi al-Them ed. A batalha também é m encionada em Deuteronômio 2.33 e em Juizes 11.20.2.24-30. terra conquistada. A área central da Trans­jordânia, descrita aqui como os reinos de Seom e Ogue, estendia-se desde o vale do rio A m om , ao sul, até o rio Jaboque, ao norte. O território incluiria Moabe, mas não Amom. É bem provável que, nesse período, esses "reinos" não fossem Estados organizados e sua conquista garantiu passagem livre aos israelitas, sem que as tribos tivessem efetivamente controlado e po­voado essa região.2.34. destruição completa. Ver comentário sobre "des­truição com pleta" em 7.2.2.36, 37. geografia. Aroer era um a fortaleza na fron­teira identificada como a m oderna 'A ra'ir, ao norte do desfiladeiro do rio Am om , onde seu curso é desviado para o sul. Vestígios da Idade do Bronze *M odem a foram encontrados no local. Os israelitas foram vitori­osos em todos os territórios da Transjordânia, desde o rio A m om (fronteira norte de Moabe) até o Jaboque

(território dos amonitas), oitenta quilômetros de norte

a sul e entre 30 a 40 quilômetros de leste a oeste.

3.1-11 A batalha contra Ogue, rei de Basã3.1. Basã. Após derrotar Seom, os israelitas viajaram

em direção ao norte, até a região de Basã (conhecida hoje como as Colinas de Golã), limitada ao norte pelo m onte H erm om , a leste por Jebe l D ruze (m onte Hauran), a oeste pelo m ar da Galiléia e ao sul pelo rio Iarmuque. Em Edrei, derrotaram o rei Ogue (Edrei é a m oderna D er'a, cerca de cinqüenta quilôm etros a leste do mar da Galiléia). A região de Basã propria­m ente d ita, lim itada à área do (alto?) Iarm uqu e,

corresponde a um amplo e fértil planalto conhecido por suas pastagens (SI 22.12; Am 4.1-3).

3.1. Ogue. Não existe nenhuma inform ação fora da Bíblia, de fontes históricas ou arqueológicas, que lan­ce alguma luz sobre a figura de Ogue.3.4. Argobe. De acordo com o que está descrito nesse versículo, fica evidente que a região de Argobe era

bastante populosa. Algumas vezes, ela é equiparada a Basã, e um a possibilidade é que se trate da área

bem ao sul do Iarmuque, circundada por esse rio. Os reis *assírios do século nono também encontraram e conquistaram m uitas cidades nessa região nos arredo­res do monte Hauran.

3.5. cidades fortificadas na Transjordânia. Apesar de

pouquíssimas escavações terem sido conduzidas nes­sa região, lugares como Tel Soreg podem ser caracte­rísticos de comunidades agrícolas que viviam naque­

la área, agrupadas em aldeias, sem muros. Sete ci­dades na região a leste do mar da Galiléia são men­cionadas nos textos de *Amarna, datados do século

catorze, numa área conhecida como Garu (= Geshur?).

Pesquisas arqueológicas nas Colinas de Golã localiza­ram vinte e sete cidades ocupadas no final da Idade do Bronze *Intermediária e oito na Idade do Bronze *Moderna.

3.5. portas e trancas. As portas eram com freqüência feitas de diversos compartimentos (havia portas inter­

nas e externas) e em alguns casos, para passar pelas portas era preciso fazer um tipo de curva. O portão

externo de Tell en-Nasebeh, datado da Idade do *Fer- ro, era ladeado por colunas de pedras com orifícios,

onde as trancas eram colocadas. Os habitantes tranca­vam as portas da cidade introduzindo as trancas nos buracos do muro.3.9. Hermom/Siriom/Senir. O m onte H erm om fica

na cordilheira do Anti-Líbano. O pico m ais alto, Jabal ash-Shaykh, chega a 2800 m etros de altitude e seu topo geralmente está coberto de neve. O termo Siriom (um a form a variante) aparece em textos egípcios,

*hititas e *ugaríticos. Registros *assírios do século nono referem -se a esse monte como Saniru.

3.10. Salcá e Edrei. Edrei é identificada como a atual D er'a , na Síria, cerca de 96 quilôm etros ao sul de

Damasco e 48 quüômetros a leste do m ar da Galiléia, perto do rio Iarm uque. A té agora não foram feitas escavações arqueológicas nesse local. A cidade tam ­

bém é m encionada em textos antigos do Egito e de *Ugarite. Salcá, a moderna Salhad, fica 40 quilôme­tros a leste de Edrei.

3.11. cam a de ferro do re i O gue. Em bora m uitos co­

mentários e até m esmo algumas traduções substituam "cam a de ferro" por um sarcófago de basalto, a expres­

são é bastante clara e refere-se a uma "cam a de ferro". Do mesmo modo que muitos objetos descritos como "de ouro, de prata ou de marfim" não eram feitos desses ma­teriais, e sim decorados, revestidos ou adornados com

A ALIANÇA E OS TRATADOS NO ANTIGO ORIENTE PRÓXIMOMuitos tratados do segundo e do primeiro milênio, firmados entre nações soberanas e suas dependentes, foram recuperados através das escavações arqueológicas. Grande parte dos tratados do segundo milênio são relacionados aos hititas e a outras nações, enquanto que os exemplos do primeiro milênio ocorreram na época dos reis assírios Esarhaddon e Assurbanipal, do sétimo século a.C.. A estrutura desses tratados mostra semelhanças surpreendentes com uma série de documentos bíblicos da aliança, em especial com o Livro de Deuteronômio. Esses tratados iniciavam com um preâmbulo onde o suserano era identificado como a pessoa que firmava o tratado. Além de apresentar seus títulos e atributos, essa introdução enfatizava sua grandeza e seu direito para proclamar o tratado. Em Deuteronômio, essa parte encontra-se nos cinco primeiros versículos do capítulo um. Em seguida, os tratados ofereciam um prólogo histórico que fazia uma retrospectiva do relacionamento entre as partes envolvidas no acordo. Era concedida primazia para a bondade e o poder do suserano. Em Deuteronômio, essa seção compreende o trecho de 1.6-3.29 (e alguns a estenderiam até o final do capítulo 11). O ponto principal do tratado era a parte que estabelecia as condições e descrevia detalhadamente os deveres de cada lado. O Livro de Deuteronômio segue esse mesmo padrão ao apresentar a lei nos capítulos 4-26. Na conclusão dos tratados havia três seções de leis incluindo instruções concernentes ao documento, às testemunhas do acordo e bênçãos e maldições que resultariam, respectivamente, do cumprimento e da violação do tratado. Esses aspectos são abordados nos capítulos 28 e 31 de Deuteronômio.

O fato de essa estrutura conhecida estar presente na aliança bíblica toma evidente que o Senhor fez uso de uma forma literária bastante familiar para comunicar sua aliança com Israel. Os israelitas teriam percebido que Deus estava se colo­cando como suserano e que eles deveriam responder como vassalos. Era um tipo de relacionamento que garantia ao vassalo cuidado e proteção, desde que fosse fiel ao suserano.

eles, não devem os supor que a cam a fosse de ferro

maciço. Esse relato é do período situado na Idade do

*Brortze, quando o ferro era considerado precioso, as­sim, não seria estranho que essa cama recebesse algum

destaque por ser um a peça notável. A cama tinha qua­

tro metros de comprimento e um metro e oitenta cen­

tím etros de largura, o m esm o tam anho da cam a de Marduque que ficava no templo Esagila, na Babilônia.

As cam as não serviam apenas para dorm ir, m uitas

vezes eram usadas como encostos durante festas e ce­

lebrações. Alguns relevos trazem ilustrações de reis re­

clinados em esplêndidos sofás.3.11. refains. Ver comentário em 2.11.

3.12-20 A divisão da transjordânia3.12-17. geografia. Gileade é a parte montanhosa da Transjordânia que fica entre o Jaboque, ao sul e vai

quase até o Iarmuque, ao norte. A m etade sul, bem como o território tomado de Seom, ao sul do ribeiro de

A m om (fronteira norte de M oabe), foi entregue às

tribos de R úben e G ade. A parte de G ilead e que

estende-se ao longo da curva do rio Iarmuque (região

de Argobe?) e tam bém parte do território ao norte desse rio (tom ados de O gue) foram d estinados a

Manassés. Gesur e M aacah ficaram de fora, embora

aparentem ente tam bém fizessem parte do reino de Ogue. Gesur é uma pequena área bem a leste do mar

da Galiléia e M aacah fica ao norte de Gesur, esten­

dendo-se até o monte Hermom. É citada nos Textos

Egípcios de *Execração.

3.17. Pisga. Pisga é o nome dado a um dos picos das m ontanhas de A barim (Nm 27.12). Fica ao lado do

monte Nebo, que é ligeiramente m ais alto. São iden­

tificados como os dois picos de Jebel Shayhan, oito quilômetros a noroeste de Medeba, distantes cerca de dois quilômetros um do outro e a dezesseis quilôme­

tros do rio Jordão.

3.21-29 Moisés avista a terra3.27. v ista de P isga. A pesar do m onte Pisga estar cerca de 120 metros abaixo do monte Nebo, sua posi­

ção m ais em direção ao norte e oeste permite que se tenha uma visão melhor do vale do Jordão e da terra

do outro lado. N esse ponto, o M editerrâneo está a

uma distância de 96 quilôm etros a oeste, m as não pode ser avistado porque as colinas do lado ocidental

do Jordão obstruem a visão. Num dia claro, pode-se enxergar o monte Hermom, cerca de 160 quilômetros

ao norte, as m ontanhas a noroeste que m argeiam o vale de Jezreel (Tabor e Gilboa) e as m ontanhas do

planalto central (Ebal e Gerizim) até Engedi, no extre­mo sudoeste.3.29. vale diante de Bete-Peor. O uádi Ayun Musa, no pé do monte Nebo geralmente tem sido identifica­do como o vale de Bete-Peor; a localidade de Quibrote Ayun M usa é provavelmente a cidade.

4.1-40 Exortação à obediência4.3. Baal-Peor. *Baal-Peor era o deus adorado em Bete- Peor. O texto faz referência ao incidente acontecido anteriormente e descrito em Números 25, quando os israelitas são influenciados pelas mulheres m oabitas a envolver-se com idolatria. Provavelm ente esse foi o primeiro contato dos israelitas com o culto à *fertilida- de praticado em Canaã. Rituais de fertilidade eram com uns em sociedades agrárias, cuja sobrevivência dependia das chuvas e da produtividade do solo. Nes­sas seitas quase sempre havia um deus "qu e morria e re n a sc ia " a cad a m ud ança de estação. A relação estabelecida entre a fertilidade humana e a fertilida­de da terra provocou o surgimento de elementos se­xuais nos *rituais religiosos.4.6-8. resultado das leis. A obediência às leis é apre­sentada como uma evidência da sabedoria e da reti­

dão que distinguiriam Israel do restante das nações. Um a série de compilações de leis do antigo Oriente Próximo contêm um prefácio e um epílogo explicando o quanto o rei é sábio e justo. Foi desse modo que a sabedoria de Salomão tom ou-se evidente: através de sua capacidade de elaborar decretos e preceitos justos. Os reis do antigo Oriente Próximo geralmente confia­vam em seus códigos de leis para convencer os deuses de que eram governantes sábios e ju stos. A qui, o Senhor está revelando sua própria sabedoria e justiça ao seu povo e também ao mundo.4.7. proxim idade de D eu s. N a M esopotâm ia, o rei apresentava as leis ao deus da justiça (Shamás) para demonstrar o quanto ele era justo. A autoridade do rei para elaborar as leis era concedida a ele pelos deuses,

os guardiões da lei cósmica. As leis eram vistas como algo inerente ao Universo e, portanto, deveriam re­fletir o caráter impessoal das leis universais. Na con­cepção israelita, porém, a lei emanava do caráter de Deus, que era considerado a fonte de toda lei. Sendo assim, não era M oisés quem elaborava as leis e sim *Yahweh. Portanto, ao prom ulgar suas leis, o Senhor estava revelando-se de forma a distinguir-se dos ou­tros deuses do m undo antigo. Esse é o sentido da expressão "u m Deus tão próxim o" destacada no texto.4.10. Horebe. Horebe é outro nom e dado ao monte Sinai, provavelmente localizado no sul da península do Sinai. Ver comentário em Êxodo 19.1, 2.

4.13. duas tábuas de pedra. Ver comentários em Êxodo 24.12; 32.15, 16.4.15-18. proib ição de im agens. O segundo m anda­mento diz respeito à form a como *Yahweh deve ser adorado, pois proíbe que sejam feitas imagens dele (não de outros deuses, cuja possibilidade já foi descar­tada no mandamento anterior). O mandamento não diz respeito a representações artísticas, embora as ima­gens esculpidas do m undo antigo fossem , de fato, obras de arte. Essas im agens eram entalhadas em m adeira, recobertas de lâm inas de prata ou ouro e então, adornadas de ricas vestimentas. Aqui, a proi­bição está m ais relacionada à m aneira com o eram usadas as im agens, e a um a questão de poder. No antigo Oriente Próxim o, era nas imagens que as di­vindades se manifestavam de form a especial, a ponto de a estátua de *culto tornar-se o próprio deus (quan­do os adoradores eram assim agraciados), embora essa não fosse a única m aneira da divindade se apresen­tar. Como resultado dessa ligação entre a divindade e sua im agem , feitiços, encantam entos e outros atos mágicos podiam ser executados diante do ídolo a fim de ameaçá-lo, intimidá-lo ou obrigá-lo a fazer algo. Por outro lado, alguns rituais relacionados à imagem tinham como objetivo ajudar ou cuidar da divindade. Assim sendo, as imagens representam uma visão de m undo e um conceito de divindade incom patível à forma como Yahw eh se revelara.4.19. adoração aos astros no antigo O riente Próximo. Os astros (deus-sol, deus-lua e Vênus, principalmente; na *Babilônia, Sham ás, Sin e Istar, respectivamente) eram os deuses principais das antigas religiões. Por controlarem o tempo, o calendário, as estações e o clima, eram considerados os m ais poderosos dentre os deuses. Seus sinais no firm am ento eram interpreta­dos como presságios. *Yahw eh, porém , adverte os israelitas a não se envolverem com o culto à *fertilida- de (v. 3), nem com magia e encantamentos (idolatria, v. 16-18) ou presságios que relacionassem as divinda­des aos fenômenos cósmicos (v. 19), todos esses ele­mentos fundamentais ao politeísmo pagão do mundo antigo.4.20. fornalha de fund ir ferro. No mundo antigo não existiam fornos de alta temperatura como os usados atualmente para produzir ferro fundido. O ponto de fundição do ferro é de 1.537 graus centígrados, uma temperatura im possível de atingir com a tecnologia antiga. No entanto, se aquecido a um a temperatura inferior a 1.100 graus centígrados, o ferro adquire uma forma esponjosa ou semi-sólida e pode ser forja­do. A fornalha geralm ente era alimentada com car­vão, a fim de produzir o carbono necessário para o processo químico. A resistência do aço depende da

quantidade de carbono capaz de absorver. Quanto mais baixa a temperatura, mais vezes o processo pre­cisa ser repetido a fim de livrar-se das escórias e alcan­çar um produto adequado para o uso. Embora a forna­lha certam ente seja uma m etáfora negativa, signifi­cando a opressão do Egito, o significado do fogo, em vez de destrutivo, é construtivo. A alta temperatura da fornalha transforma o m inério maleável no produ­to final, ou seja, um ferro duro e resistente. A experi­ência do êxodo, embora difícil, transformou Israel no povo da *aliança de Deus.4.26. o céu e a terra como testem unhas. Nos acordos firmados no antigo Oriente Próximo, os deuses eram geralmente invocados como testemunhas, pois eram considerados capazes de julgar qualquer falha no cum ­prim ento das exigências. N este contexto, o céu e a terra não são divinizados, m as servem com o um a representação do Universo criado, simbolizando que a duração do acordo deve ultrapassar o limite da vida humana. É possível ver de form a mais clara as impli­cações dessa expressão no Salmo 89.28, 29; 34-37 (ver também Jr 33.20, 21).4.28. concepção acerca dos ídolos. Este tema é tam­bém desenvolvido em outras passagens, como Isaías 44, Jerem ias 10 e Salm o 115.4-8. Para inform ações sobre crenças relacionadas aos ídolos na prática religi­osa do antigo Oriente Próximo, consulte o comentário em 4.15-18. Tem despertado o interesse dos estudio­sos o fato de que este texto não refuta a mitologia ou a existência dos deuses pagãos, mas sim ataca a com­preensão que o m undo antigo tinha dos ídolos. De fato, é bastante difícil provar a uma pessoa que seus deuses não existem, m as é possível mostrar que eles não agem de acordo com a crença depositada neles. Para os escritores bíblicos, a característica da crença pagã em considerar o "ídolo como fetiche" era não só vulnerável, como também ridícula. Se os deuses não se m anifestavam através de suas próprias imagens, então muitos outros aspectos da cosmovisão geral tam­bém estavam ameaçados.4.32-34. a experiência única de Israel com a divinda­de. Os dois aspectos destacados pelo texto como únicos correspondem às duas principais características da *ali-

ança: eleição (v. 34, 37) e revelação (v. 33, 35). São essas duas ações que distinguem *Yahweh dos outros deuses do antigo Oriente Próximo. Os deuses do m un­do antigo às vezes escolhiam um indivíduo ou uma família para favorecer e abençoar; geralmente o esco­lhido era o rei que afirmava ter determinada divinda­de como sua protetora. M as não existindo uma revela­ção, essa "eleição" não passava de inferência ou estra­tégia para confirmar sua autoridade como governante. Os deuses do antigo Oriente Próximo não revelavam

seus planos (e nem sem pre se acreditava que tives­sem algum plano), nem o que lhes agradava ou desa­gradava. Tudo tinha de ser deduzido ou inferido por seus adoradores. Contudo, *Yahw eh quis revelar-se através da lei ("Sede santos, porque eu sou santo") e por m eio de suas ações (a aliança feita com os antepas­sados, as pragas, o êxodo, a conquista da terra prome­tida etc.).

4 .41-43As cidades de refúgio4.42. cidades de refúgio. Para saber mais a respeito das cidades de refúgio, consulte os comentários em Números 35. Bezer fica nas redondezas de Medeba e é citada na inscrição de M esha (século nono a.C.), mas sua identificação arqueológica ainda é incerta. As prin­cipais possibilidades são U m m al-Amad (cerca de 11 quilômetros a nordeste de Medeba) e Tell Jalul (cinco ou seis quilôm etros a leste de M edeba). Ram ote- G ilead e gera lm ente é id e n tificad a com o T e ll er- Rumeith, perto da moderna Ramtha, ao sul de Edrei, ao longo da Estrada Real. Escavações feitas no local, porém, não encontraram nenhum vestígio de perío­dos anteriores ao rei Salomão. Golã, a atual Sahm al- Joulan, fica na fronteira oriental das Colinas de Golã, no lado leste do rio el-Allan.

4.44-49Descrição do território4 .48. fro n te ira s . F in alm ente, tod o o território da Transjordânia está delimitado, desde o rio A m om , ao sul (a fronteira norte de M oabe), até o m onte Hermom, ao norte, incluindo o vale do Jordão e o m ar Morto (mar de Arabá).

5 .1-33Os dez mandamentos5.2. H orebe. Horebe é um outro nome dado ao monte Sinai, localizado provavelmente na parte sul da pe­nínsula do Sinai. Para um a discussão mais detalhada, ver comentário em Êxodo 19.1, 2.

5.6-21. os D ez M andam entos. Ver com entários em Êxodo 20.5.22. duas tábuas de pedra. O uso de duas tábuas provavelmente indica que M oisés recebeu duas cópi­as, e não que parte dos mandamentos estivesse numa tábua e o restante na outra. O fato de serem de pedra sugere que eram m aiores que as tabuletas de argila comuns, em bora algumas tábuas de pedra com inscri­ções, tais com o o calendário de Gezer, podiam ser bem pequenas, a ponto de caber na palm a da mão. Era costume entre os egípcios desse período usar lâ­minas de pedra lascadas de rochas, com inscrições dos

dois lados: quando a escrita atingia a base, o escriba v irava a lâm ina e continuava a escrever do outro lado. Algumas lascas bem pequenas, que cabiam na palm a da mão, chegavam a conter de quinze a vinte linhas de texto.

6.1-25A importância da lei6.3. leite e m el. A terra de Canaã é descrita como a terra "on d e m anam leite e m el", num a referência à exuberância da terra, favorável ao pastoreio, m as não n ecessariam ente adequada à agricultura. O leite é produzido pelos rebanhos, enquanto que o mel re­presenta um recurso natural, provavelmente tratan­do-se da seiva extraída da tâmara, e não do mel de abelhas. Um a expressão semelhante a essa pode ser

encontrada no épico *ugarítico de *Baal e M ot, que descreve a volta da fertilidade à terra m encionando os uádis de onde corria mel. Textos egípcios antigos, como A História de *Sinuhe, já descreviam a terra de Canaã como rica em recursos naturais e também na

produção agrícola.6.4. tipos de m onoteísm o. É possível identificar dife­

rentes níveis de monoteísmo que podem ter caracteri­zado a crença dos israelitas em vários períodos de sua

história. O monoteísmo absoluto, que pode ser cha­mado de monoteísmo filosófico, afirma que existe e sem­pre existiu somente um deus. O *henoteísmo reconhe­ce a existência de outros deuses, mas geralmente in­siste na supremacia de um deus. De modo semelhan­te, na monolatria, uma pessoa ou grupo decide adorar apenas um deus, quer existam ou não outros deuses. Por fim,o monoteísmo prático,qu.e pode reconhecer di­versos deuses, mas concentra grande parte de sua adoração e atividade religiosa num a divindade espe­cífica. O conteúdo de D euteronôm io não adm ite o monoteísmo prático, mas tolera o mínimo possível o henoteísmo e a monolatria.6.4. Y ahw eh. Quando um a divindade afirm ava ser única ou exclusiva, como aparece também em outros textos do antigo Oriente Próximo (na reivindicação do deus *Enlil [sumério] e de *Baal [cananeu]) estava se referindo, de modo geral, à supremacia de seu domí­nio. Outra possibilidade é que essa afirmação apre­sentasse um a visão unificada da divindade, visto que no antigo Oriente Próximo o deus principal poderia ter vários santuários diferentes, cada um deles desta­cando um atributo diferente. N a M esopotâmia, a deu­sa *Istar de Arbela era bem diferente da deusa Istar de *Uruk. Inscrições na Palestina m ostram que isso poderia na verdade ter acontecido também em Israel, já que se faz menção a Yahw eh de Sam aria e a Yahw eh de Temã.

6.4. m onoteísm o no antigo O riente Próxim o. Dois m ovim entos foram interpretados como m onoteístas no antigo O riente Próxim o, durante o período que corresponde ao Antigo Testam ento. O prim eiro foi promovido pelo faraó egípcio Akhenaton, no período geral do Pentateuco; o segundo, pelo rei *babilônio N abonido, nos anos que antecederam a queda da Babilônia para o rei persa Ciro. Nenhum desses mo­vim entos durou mais que vinte anos. Akhenaton ten­tou estabelecer a adoração exclusiva ao deus-sol, Aton, um deus que não era representado em im agens e, portanto, de pouca utilidade para os templos e *ritu- ais. O faraó empenhou-se em erradicar a adoração a Amon-Rá, a principal divindade do Egito, e o disco solar foi declarado como único deus (embora pareça não ter havido tentativa de erradicar outros deuses). Ainda que Akhenaton tivesse a intenção de instaurar o monoteísmo filosófico (alguns chegaram a identificá- lo como trinitariano), parece que poucos de seus súdi­tos adotaram essa crença. Nabonido em preendeu a promoção oficial de Sim, o deus-lua, restabelecendo seu templo em Harran. O rei então passou dez anos em Teima, no noroeste da Arábia, aparentemente (de acordo com algumas interpretações) dedicando-se a instaurar o culto a *Sim. H á poucas evidências, no entanto, de que as outras divindades tenham sido eliminadas. Embora Nabonido favorecesse o deus Sim, continuou a fazer visitas obrigatórias e doações a ou­tros templos. É provável que sua estada em Teima foi decorrência de uma desavença com o domínio sacer­dotal na Babilônia, ou ainda, motivada por questões comerciais ou políticas, não havendo razão para consi­derar essa ação como um a reforma m onoteísta. Ainda que a crença em Israel referente a este período seja rotulada de m onoteísta ou henoteísta, não pode ser comparada a nenhum outro sistema religioso do m un­do antigo.6.6. m etáforas da anatom ia. A ssim como a língua por­tuguesa, o hebraico faz uso de partes do corpo para referir-se metaforicamente a diferentes aspectos da pes­soa. "M ão" pode referir-se a poder ou autoridade; "bra­ço", a força; "cabeça", a liderança e assim por diante. Muitas dessas m etáforas podem ter sido incorporadas à nossa língua, seja pela lógica inerente a elas, seja pela influência da Bíblia nas línguas do m undo ocidental. Nem todas as m etáforas relacionadas à anatom ia, no entanto, possuem o m esm o significado tanto no por­tuguês como no hebraico. Por exemplo, no hebraico, os rins eram considerados o centro da consciência e a gar­ganta era relacionada à vida e à essência da pessoa. Em português, o "coração" é usado metaforicamente como

o centro de nossas em oções, em oposição à lógica e à razão. O hebraico usa esse term o com o o centro das

em oções e tam bém da razão e do intelecto. Esse uso tam bém ocorre em línguas semitas como no *ugarítico, no *aram aico e no *acadiano.6.8. s in a l nos braços e na testa. Turbantes e faixas enroladas nos braços eram acessórios comuns na re­gião Sírio-Palestina, em bora não haja evidências grá­ficas para comprovar o seu uso entre os israelitas. Os *amuletos geralmente eram usados no antigo Oriente Próxim o como proteção contra os espíritos do mal, sendo que os metais preciosos e gemas eram conside­rados particularm ente eficazes. As vezes, o uso de amuletos era acompanhado por palavras mágicas ou feitiços. Os costumes israelitas condenavam os amu­letos, m as quando usados, eram transform ados em lembretes da lei ou ainda como forma de conter ora­ções ou bênçãos, tais como os pequenos rolos de prata encontrados numa tumba do período pré-exílico nos arredores de Jerusalém , em 1979. Esses minúsculos rolos continham a bênção encontrada em Núm eros6.24-26 e representam a cópia mais antiga já encontra­da de um texto das Escrituras. Existem evidências tam bém de que sinais usados na testa e nos braços

indicavam lealdade a um a determinada divindade.6.9. inscrições nos batentes das portas e nos portões. As portas eram a entrada da casa e por isso necessita­vam de proteção especial. Existem evidências de que no Egito as colunas das portas tinham inscrições sa­gradas. Esse tipo de prática servia para preservar a continuidade da vida e um relacionam ento m utua­mente vantajoso com a divindade; ou evitar as conse­qüências negativas trazidas por situações perigosas. O sangue aspergido nos batentes das portas por oca­sião da saída do Egito é um exemplo dessa proteção contra o mal, enquanto que as inscrições da lei têm um caráter positivo, não de evitar o m al, m as de promover o bem-estar. A idéia de que textos escritos garantiam proteção pode ser encontrada também no texto mesopotâmico do Épico de Erra, em que a inva­são do deus da peste podia ser evitada enquanto uma cópia dessa obra fosse m antida na casa.

6.10. 11. cidades de Canaã na Idade do Bronze M o­derna. Esse período (1550-1200 a.C.) foi caracterizado

pelo declínio da população e das cidades fortificadas em Canaã; até m esm o os povoados e aldeias rurais apresentaram um significativo declínio. Nas cartas de *A m arna (correspondência do século catorze entre Canaã e Egito), H azor e M egido constam com o as duas cidades-estado mais importantes e poderosas no norte, Siquém, na região central e Jerusalém e Gezer no sul. Pesquisas arqueológicas têm descoberto evi­dências de que os habitantes m ais ricos viviam em casas confortáveis, geralmente com um pátio no cen­tro. M uitas cidades eram rodeadas por terras boas

para o plantio, cultivadas pela maioria da população. O estilo de vida agrícola de Canaã incluía o trabalho de cavar poços e escavar cisternas nas pedras, prepa­rar o solo e m ontar sistemas de irrigação. Geralmente eram necessários muitos anos para que os pomares e vinhas crescessem e se tornassem produtivos, mas quando os israelitas chegaram , tudo isso já estava pronto.6.13. ju rar p elo nom e de Y ahw eh. Fazer um ju ra­mento em nome de determinada divindade era uma forma de demonstrar que ela era considerada podero­sa. Embora os israelitas tivessem herdado as cidades, casas e propriedades rurais dos cananeus, não devi­am receber como herança os deuses que estavam as­sociados à proteção desses lugares ou à fertilidade da terra. Um a das maneiras de demonstrar que haviam rejeitado esses deuses era a recusa em atribuir poder a eles através de juramentos.6.16. M assá. Massá é o nome dado ao lugar em Refi- dim, perto do Sinai, onde brotou água da rocha (ver Êx 17.7).

7.1-26Promessas e orientações quanto às nações7.1. povos de Canaã. Os *hititas eram originários da A natólia, a atual Turquia, m as alguns grupos que ocupavam partes da Síria e de Canaã também eram denominados hititas e podem ou não estar relaciona­dos ao prim eiro grupo. O s h ititas que viv iam em Canaã tinham nomes semitas, enquanto os hititas da Anatólia tinham nomes indo-europeus. Os girgaseus são pouco conhecidos, embora sejam citados também

em textos *ugaríticos. Os *amorreus (conhecidos na M esopotâmia como amurru ou martu) são conhecidos a partir de documentos escritos já da metade do tercei­ro m ilênio a.C.. A maioria dos estudiosos acredita que eles ocuparam muitas áreas no Oriente Próximo, de­vido às suas raízes na Síria. O termo "am orreu" pode ser usado tanto para referir-se a uma área geográfica ("o c id e n ta is") com o a um grupo étn ico . A lgu ns amorreus eram nômades, m as já havia cidades-estado dos amorreus, na Síria, desde o final do terceiro m ilê­nio. Uma das primeiras menções a Canaã encontra-se nas tabuletas de Ebla (século vinte e quatro a.C.) e os cananeus eram os principais habitantes das cidades fortificadas da terra, embora não pareça que fossem nativos dali. Os reis dessa área referem-se a si mes­mos nas cartas de *A m am a (meados do segundo mi­lênio) como kinanu, um termo também usado nas ins­crições egípcias desse período. Ainda existem contro­vérsias quanto ao termo ferezeu indicar uma classifi­cação étnica ou sociológica (aqueles que habitavam em povoados sem m uros). Os heveus às vezes são

relacionados aos horeus, nesse caso, talvez sejam os *hurrianos. Os jebuseus ocuparam a região mais tar­de associada à tribo de Benjam im , especialm ente a cidade de Jerusalém , e freqüentem ente são ligados aos ferezeus, que habitavam na m esm a região. Não há referências aos ferezeus, heveus ou jebuseus fora da Bíblia.7.2. destruição total (herem ). A ordem dada no versículo 2 e depois desenvolvida nos versículos 5 e 6 era para que os povos da terra fossem totalmente destruídos. Certos sacrifícios dedicados a Deus podiam ser com­partilhados pelo sacerdote oficiante e pelo oferente, no entanto, outros eram exclusivos do Senhor. Do mesmo m odo, alguns despojos eram separados exclu­sivamente para o Senhor. Assim como a oferta quei­mada era consumida totalmente no altar, também os inimigos deveriam ser aniquilados. As batalhas eram comandadas por Yahw eh e representavam seu juízo sobre os cananeus; os israelitas estavam num a missão divina sob o com ando de Yahw eh, logo, não só o mérito da vitória era de Deus, como também o espólio pertencia a Ele. Em bora o tema da divindade guerrei­ra apareça em todo o antigo Oriente Próximo, o con­ceito de herem é m ais restrito - a única ocorrência do termo está numa inscrição m oabita de Mesha, embora a idéia de destruição total tam bém esteja presente em

textos *hititas. Alguns lugares, como Gezer, apresen­tam um a camada bastante peculiar de cinzas, relacio­nada à Idade do Bronze Moderna ou Posterior. Quan­do as cidades eram sitiadas, as condições sanitárias se tom avam extremamente precárias e surgiam doenças devastadoras. Assim, a prática de queim ar tudo após a derrota da cidade também envolvia uma preocupa­ção com a saúde.7.3. proibição do casam ento m isto. Em documentos *hititas desse período, certas cidades eram designa­das cidades-templo e recebiam privilégios e tratamen­to especial. A fim de preservar esses privilégios, os habitantes eram proibidos de se casar com pessoas de fora da comunidade. De maneira similar, toda a terra de Israel fora designada como "a terra de Deus" e os israelitas eram um reino de sacerdotes. A proibição visava preservar os privilégios da *aliança, bem como a *pureza de seus valores religiosos.7.5. colunas sagradas. Colunas sagradas ou masseboth eram aparentem ente elem entos com uns na religião Cananéia, também servindo como memoriais em vá­rios contextos israelitas relacionados à *aliança (ver Êx24.3-8; Js 24.25-27). Por estarem associadas a *Aserá, *Baal e outras divindades cananéias, são reprovadas por representarem um a ameaça à adoração a *Yahweh. Arqueólogos descobriram colunas sagradas em Gezer, Siquém, Hazor e Arad. Nestas três últimas, as colunas

situavam-se no interior de recintos sagrados onde fa­ziam parte das práticas *cultuais. As colunas encon­tradas em H azor apresentam gravações de figuras com braços levantados e um disco solar.7.5. postes-ídolos. *A será era o nom e da deusa da *fertilidade e tam bém a denominação dada a um ob­jeto de *culto (como é o caso desses postes). A deusa Aserá era bastante popular durante os desvios pagãos de Israel e algumas vezes era considerada uma m edi­adora das bênçãos de Yahweh. U m a indicação dessa crença foi encontrada nas inscrições de Kuntillet Ajrud e Khirbet el-Qom. N a m itologia cananéia, ela era a consorte do deus principal *E1; na literatura m eso- potâmica ela é citada desde o século dezoito, onde é a consorte de A m urru, o deus *am orreu. O sím bolo *cultual podia ou não trazer um a representação da divindade. O poste talvez representasse um a árvore artificial, visto que Aserá muitas vezes é associada a bosques sagrados. O objeto de culto algumas vezes era fabricado e em outras ocasiões, era plantado. Te­mos poucas informações acerca da função desses pos­tes na prática *ritual.7.6-11. a *aliança. A terminologia usada neste trecho (amor, bondade, fidelidade e obediência) era comum nos tratados internacionais da época. Exem plos de acordos *hititas, *acadianos, *ugaríticos e *aramaicos m ostram a atitude positiva do suserano para com seus vassalos, expressa através do amor, da bondade e da compaixão, retribuídas pelo vassalo com sua obediên­cia e lealdade.

7.15. doenças do Egito. Alguns acreditam que essa é um a referência às pragas, enquanto outros a associam a doenças típicas do Egito. Nesse caso é difícil precisar a que tipo de doenças o texto se refere, em bora exa­m es de m úm ias tenham sugerido a predom inância de varíola, m alária e pólio. Enfisem a e tuberculose tam bém eram freqüentes. A m edicina eg ípcia era bastante conhecida por seu tratamento de doenças dos olhos e dos aparelhos digestivo, urinário e excretor. Isso nos leva a crer que as doenças dos egípcios se concentravam nessas partes do corpo. A situação pio­

rava devido às condições sanitárias precárias iden­tificadas pelos arqueólogos, até m esm o nas áreas e propriedades onde viviam os m ais ricos. Além disso, a estação seca no Egito é conhecida por favorecer a proliferação de doenças, e os riscos só diminuíam quan­do começava a época das cheias do Nilo.7.20. pânico. Embora nesta versão apareça a palavra "pânico" em outras o termo "vespão" é usado. Abe­lhas, moscas (Is 7.18, 19) e gafanhotos (J1 1, 2) eram usados freqüentemente como metáforas para exérci­tos. Entretanto, alguns estudiosos acreditam que se trata de um jogo de palavras com o termo Egito (ver

com entário em Êx 23.28) ou de um a referência ao Egito através do inseto que simbolizava o Baixo Egito. Outros ainda traduzem essa palavra como um a "pra­ga" ou "terror".

8.1-19 Recordando o que Deus fez8.3. m aná. O alim ento que nutriu os israelitas no deserto não é facümente identificado. Sobre as alter­nativas possíveis, ver comentário em Êxodo 16.4-9.8.4. roupas que não se gastaram . No Épico de Gil- gamés, *Utnapishtim ordena que Gilgam és, em sua viagem de retorno, seja vestido com roupas que não se desgastem. Jó 13.28 descreve o desgaste das roupas com a expressão "roupa que a traça vai roendo". Este texto sugere que houve um a proteção sobrenatural para evitar que a roupa estragasse.8.7. fon tes de água. O texto m enciona riachos, tan­ques e fontes. O primeiro é resultado do escoamento das águas das chuvas dos lugares elevados, e os ou­tros dois representam os lençóis de água subterrâne­os. N um a terra onde a chuva é sazonal, e em algumas áreas, limitada, a irrigação é necessária para a manu­tenção da agricultura. As fontes de água tam bém são importantes para os rebanhos e agrupamentos huma­nos. Apesar de existir poucos riachos a oeste do Jordão, há muitas fontes de água subterrânea que foram usa­das para m anter cidades e povoados.

8.8. principais produtos agrícolas. Sete produtos agrí­colas são mencionados aqui como os principais produ­tos da região. O texto egípcio História de *Sinuhe des­creve a terra de Canaã e alista seis desses sete produ­tos m encionados aqui (as rom ãzeiras são omitidas). Vinho e azeite de oliva eram os dois principais produ­tos de exportação da região, enquanto os outros repre­sentavam um a parcela significativa da dieta da popu­lação. O mel mencionado aqui é um produto das ta­mareiras, e não mel de abelhas.8.9. ferro e cobre. O texto tam bém identifica os recur­sos naturais da terra quanto à extração de minérios. Existem inúmeros depósitos de ferro de baixa quali­dade na Palestina, mas alguns são de excelente quali­dade. A m aior jazida de m inério de ferro conhecida atualmente na Palestina fica em M ughar-at el-Wardeh, nas colinas de Ajlun, perto do rio Jaboque. As minas de cobre concentram-se na Transjordânia. Enquanto o ferro pode ser extraído na superfície, o cobre requer um trabalho de mineração subterrâneo.

9.1-6 A conquista como castigo9.1. cidades muradas. A defesa das cidades era uma das principais preocupações nas épocas difíceis e in­

seguras. No último período da Idade do Bronze *Mé- dia (sécu los dezoito a d ezesseis) m u itas cidades

fortificadas foram edificadas em Canaã, m as no final

dessa era, muitas delas foram destruídas e assim per­maneceram durante a Idade do Bronze *M odem a (1550­

1200). Acredita-se que isso ocorreu devido ao controle

egípcio da região que ofereceu segurança àquelas ci­dades. Existiam, porém, certas cidades fortificadas que

serviam como centros adm inistrativos para o Egito.

As técnicas de fortificação desenvolveram-se na Idade do Bronze M édia e incluíam escarpas íngrem es de

terra (algumas chegavam a atingir 15 metros de altu­ra) na base dos muros, que eram rodeados por um

profundo fosso. Esses recursos serviam tanto para evi­

tar a aproximação de mecanismos usados no cerco a cidades, como para dificultar a escavação de túneis.

Os muros de pedra tinham de 7,5 a 9 metros de largu­ra e talvez nove metros de altura.

9.2. enaquins. Ver comentário em 1.28.

9.7- 10.11 Relembrando os acontecimentos no Sinai9.8. H orebe. Horebe é um outro nom e dado ao monte

Sinai, localizado provavelm ente na parte sul da pe­

nínsula do Sinai. Ver comentário em Êxodo 19.1, 2.9.9. tábuas de pedra. Ver comentário em 5.22.

9.16. bezerro de ouro. Estátuas de bois ou bezerros, feitas de bronze ou liga metálica, foram encontradas

em muitas escavações arqueológicas (monte Gilboa,

Hazor e Asquelom), m as m edindo apenas de 7 a 18cm

de comprimento. A imagem do bezerro era bastante conhecida no contexto cananeu do segundo milênio e

representava fertilidade e força. Os deuses não eram representados na forma de bois ou bezerros, e sim de

pé no lombo do animal. Todavia, a adoração da ima­gem do anim al não era desconhecida e há poucos

indícios no texto bíblico de que o bezerro fosse consi­derado pelos israelitas como um simples pedestal (não

como a arca da aliança). O fato de o bezerro ter sido

adorado durante um a festa dedicada a Yahw eh suge­

re que esse ato foi uma violação do segundo manda­mento, e não do primeiro.

9.22. Taberá, M assá, Quibrote-H ataavá. Todos esses nomes são de locais onde os israelitas foram castiga­

dos por Deus. Taberá e Quibrote-Hataavá são citados em Números 11 e estão relacionados à praga enviada

como castigo por terem comido as codom izes, e M assá está associado ao incidente registrado em Êxodo 16,

onde o povo desafiou o Senhor a providenciar água.

9.23. Cades-Barnéia. Cades-Bam éia era um local de acampamento que serviu como parada durante a pe­

regrinação no deserto. Ver comentário em 1.46.

9.28. deuses hostis. Em bora a afirmação do versículo 28 pareça descabida, não era estranha ao contexto relig ioso do antigo O riente P róxim o. No sistem a politeísta, os deuses não podiam ser onipotentes, e por essa razão, às vezes falhavam em cum prir algo que tinham proposto fazer. A lém disso, não eram considerados amigáveis, sinceros ou previsíveis. Essa hostilidade é evidenciada no deus mesopotâmio *Ea, quando diz ao seu "protegido" *Adapa que a comida

que receberia seria o "p ão da m o rte ", quando na realidade deveria garantir a ele a vid a eterna. No Épico de *Gilgamés, Ea engana o povo, levando-os a a c re d ita r q u e só se r ia m a b en ço ad o s q u an d o *Utnapishtim fosse em bora em seu barco. Assim que o despedem , algo inesperado lhes sobrevêm e um dilúvio destrói a todos. Por volta de 1200 a.C ., os líbios queixaram-se de que os deuses lhes deram uma vitória iniciai contra o Egito, apenas para perm itir que no final, fossem destruídos. Textos fúnebres do Egito (Textos da Pirâmide e Textos do Sepulcro) ataca­vam as divindades hostis.10 .6 , 7. poços dos ja a ca n ita s , M o será , G u d god á,

Jotbatá. Essas localidades tam bém são mencionadas no itinerário de Núm eros 33.30-34. A maioria delas não foi identificada, mas Jotbatá tem sido associada a Tabé, um oásis ao longo da costa ocidental do golfo de Á caba.

10.12- 11.32 A aliança com Yahweh10.17. títu los divinos. Relacionar nomes e atributos divinos era um a forma comum de louvar uma divin­dade no antigo Oriente Próximo. Talvez a lista mais notável seja a do épico *babilônico sobre a criação, *Enum a E lish, que apresen ta cinqüenta títu los de *M arduque, o deus principal da Babilônia.10.17. deuses que aceitam subornos. Nas crenças re­ligiosas do antigo Oriente Próximo, os deuses podiam ser m anipulados porque se acreditava que tinham necessidades. Os sacrifícios e a manutenção dos tem­plos faziam parte do programa de cuidado e alimenta­ção dos deuses. Ao providenciar alimento, vestimentas e abrigo aos deuses, os homens poderiam conquistar o favor das divindades. Esse texto deixa claro que *Yahweh não deve ser visto da m esma forma que os deuses dos povos vizinhos de Israel. Também reflete a figura de Yahw eh como um justo ju iz que se recusa a distorcer a verdade em benefício próprio.11.1. am or à divindade. Nas cartas de *A m am a (cor­respondência entre os reis vassalos de Canaã e o suse- rano egípcio), o termo "am or" é usado para caracteri­zar um relacionamento am igável e leal entre as na­ções, expressando a intenção do vassalo de ser leal ao

suserano e de honrar os termos do acordo firmado entre as duas partes. O texto bíblico apresenta um exemplo claro desse uso em 1 Reis 5.15. Na literatura m esopotâmica, são raras as ocasiões em que uma di­vindade exortava uma pessoa a amá-la; em geral, os deuses do antigo Oriente Próximo não exigiam amor de seus adoradores nem estabeleciam *alianças com eles.11.2. o seu braço forte. A im agem de um braço forte é uma metáfora comum em inscrições egípcias para descrever o poder e a autoridade do faraó. Foi o braço forte de *Yahw eh que estendeu seu poder contra o Egito para libertar seu povo. Ver comentário em 26.8.11.4. m ar V erm elh o . Têm sido sugeridas diversas possibilidades quanto à identificação dessa m assa de águas. A s m ais com uns são o lago Balá ou o lago Timsá. Ver comentário em Êxodo 13.18.11.9. terra de le ite e mel. Ver comentário em 6.3.11.10. m étodos de irrigação no Egito. A comparação nesse versículo entre a água das chuvas e irrigação não significa que se esteja favorecendo as chuvas em detrimento da irrigação, visto que todos reconhecem o valor e a eficácia deste método. Além do mais, não está implícito aqui que as chuvas, muitas vezes raras na Palestina, sejam um recurso superior às cheias anu­ais regulares e abundantes do rio N ilo. N ão existe nenhum sistema de irrigação conhecido como "irriga­ção a p é", m as em alguns m anuscritos de 2 Reis 18.27, essa expressão é usada como um eufemismo para uri­nar. Se o significado aqui for esse, o contraste não seria entre tecnologia de irrigação ou abundância de fontes de água, e sim quanto à pureza da água utiliza­da nas culturas de produtos alimentícios.11.11-15. estações em Israel. Em Israel há uma estação chuvosa (inverno) e uma seca (verão). A estação chu­vosa tem início com as chuvas de outono ("prim eiras chuvas", de outubro a novembro) e termina com as chuvas de prim avera ("últim as chuvas", no início de abril). Estas últim as são im portantes por contribuir para o aumento do nível de umidade do solo e para prepará-lo antes do cultivo. A colheita dos cereais acontece na prim avera (cevada em m aio, trigo em junho) e nos meses de verão (julho e agosto) eles são debulhados e peneirados. A s uvas são colhidas no outono, enquanto a colheita de azeitonas estende-se até o inverno.11.18. sin ais nas m ãos, n a testa e nos batentes das portas. Ver comentário em 6.8, 9.11.24. do Líbano ao Eufrates. A respeito das frontei­ras da terra de Canaã, ver comentário em 1.7.11.29. G erizim e Ebal. Gerizim e Ebal são os montes que m argeiam a cidade de Siquém, na região m onta­nhosa central. Gerizim (868 metros de altitude) fica ao

sul e Ebal (937 metros) ao norte. Esse local foi escolhi­do para a celebração desta cerimônia por estar locali­

zado exatam ente no centro de Canaã, conform e se acreditava (Jz 9.37), e por perm itir que se avistasse um a grande porção da terra, a partir dali. O vale que

atravessa as duas montanhas, o uádi N ablus, era uma

das únicas passagens da região. Esse vale fica na ex­tremidade sudeste e é bastante estreito (as partes mais baixas das colinas são separadas por pouco mais de

400 metros), acomodando bem a cerimônia de antífona

realizada ali.11.29. bênçãos e m aldições. Nos tratados internacio­nais da época constavam bênçãos e maldições lançadas

sobre as partes envolvidas no acordo e responsáveis

por cumprir as condições ali propostas. Acreditava-se que as divindades, testemunhas dos acordos, encarre­

gavam-se de cum prir essas bênçãos e maldições. As

expressões de bênçãos eram mais raras e curtas; já as de m aldições aumentaram de tamanho entre o segun­

do e o primeiro milênio.

11.30. G ilgal. Não se trata da mesma Gilgal que ser­

viu de base aos israelitas no Livro de Josué. Esta fica bem m ais ao norte, n as proxim idades de Siquém .

U m a possível localização seria em El-Unuk, pouco

mais de 6 quilômetros a leste de Siquém, ao longo do

uádi F ar 'ah.

1 2 .1 -3 2

O ú n ic o lo c a l d e a d o ra çã o

12.2, 3. santuários ao ar livre. Aparentemente, a exis­tência de santuários ao ar livre era comum entre os

cananeus. Esses locais de adoração *cultual nativa eram vistos como abomináveis pelo escritor do texto bíbli­co, por prom overem um tipo de religião "popular"

que continha elementos da adoração Cananéia, afas­

tando o povo da adoração somente a *Yahweh. Desta

forma, os altares, colunas e postes sagrados dedicados a *Aserá, assim como os bosques sagrados e qualquer

local relacionado a divindades cananéias (*Baal, *E1,

etc.), inclusive a adoração a D eus fora de Jerusalém

("o local que o Senhor, o seu Deus, escolher" - Dt12.5), eram proibidos. Existe um a diferença entre es­

ses locais de adoração ao ar livre e o "lu g ar alto"

(bamah) mencionado muitas vezes como o centro reli­

gioso nas cidades e povoados (1 Rs 11.7; Jr 7.31; Ez 16.16; 2 Cr 21.11; inscrição de Mesha). O "lugar alto"era

ao que tudo indica um recinto fechado construído para abrigar alguns objetos e utensílios sagrados e um al­

tar, com recintos suficientemente espaçosos para aco­

m odar os sacerdotes. U m a com paração entre esses

dois tipos de locais religiosos pode ser encontrada em

2 Rs 17.9-11.

12.3. colunas sagradas. Ver comentário em 7.5.12.3. postes sagrados. Os postes sagrados eram uma característica comum do culto cananeu e do *sincre- tismo religioso de Israel, tanto nos altares e lugares altos, como nos santuários na cidade (Jz 3.7; 1 Rs 14.15; 15.13; 2 Rs 13.6). Não se pode afirmar com certeza se seriam simplesmente de postes de m adeira simboli­zando árvores, talvez contendo um a im agem enta­lhada da deusa da *fertilidade, ou se faziam parte de um bosque sagrado. A referência em 2 Reis 17.10 a postes sagrados erguidos debaixo de "to d a árvore frondosa" parece indicar que, de fato, tratava-se de postes de m adeira erguidos com objetivos *cultuais e não plantados como árvores. Por ser a consorte de *E1, Aserá evidentemente era um a deusa popular (ver 2 Rs 18.19) e o culto dedicado a ela é mencionado em textos *ugaríticos (1600-1200 a.C.). O destaque que ela recebe na narrativa bíblica é um indício claro de que a adoração a Aserá rivalizava fortemente com o culto à Yahw eh (ver a proibição em Êx 34.13; D t 16.21). Isso explica o grande número de situações em que postes sagrados foram erguidos e venerados, seu uso forte­mente condenado e os inúmeros relatos desses postes sendo cortados e queimados (Jz 6.25-30; 2 Rs 23.4-7). Para mais informações, ver comentário em 7.5.12.4. 30 ,31 . como eles adoram. Os aspectos proibidos da religião cananéia incluíam o uso de ídolos a fim de manipular a divindade, rituais de *fertilidade (inclu­sive rituais sexuais com as prostitutas dos templos; ver comentário em 23.17, 18), sacrifício de crianças, *adivinhação e rituais para aplacar a ira dos deuses.12.3-5. elim inem os nom es deles, ponham o Nome do Senhor. A força e o poder associados aos nomes e à escolha de nomes são claramente demonstrados na narrativa bíblica (ver G n 17.5; 41.45; Êx 3.13-15; Dt5.11). U m exem plo disso pode ser visto na prática egípcia de apagar dos m onumentos os nomes de ofici­ais e até mesmo de faraós que caíram em desonra. Os n om es tam b ém eram u sad o s n as exp ressõ e s de

*execração em todo o Oriente Próximo para amaldiço­ar os inimigos e invocar desgraças provenientes dos d eu ses (N m 2 2 .6 ; Jr 1 9 .3 -1 5 ). T ex to s co n ten d o *execração eram conhecidos no Egito durante o se­gundo m ilênio e seu uso consistia em escrever nomes de governantes ou de cidades sobre objetos que seri­am depois esm agados. Quando os israelitas foram chamados para eliminar os nomes dos deuses cana- neus, a ordem era para que esses nomes fossem apa­gados das páginas de sua história. Numa época em que as pessoas estavam presas ao poder existente no nome de pessoas e deuses, a destruição completa des­ses nomes só aconteceria se eles fossem totalmente esquecidos. Feito isso, restaria apenas um nom e, e

então não haveria m ais m otivo ou desejo de adorar qualquer outro deus (ver Is 42.8).12.5-7. sacrifícios na presença da divindade. Em todo o antigo Oriente Próximo, acreditava-se que os deu­ses exerciam domínio sobre as regiões a que estavam ligados (p. ex., *Marduque na Babilônia; Belzebu, em Ecron). Esperava-se que os devotos desses deuses se dirigissem a esses santuários principais, onde oferece­riam sacrifícios, fariam votos, formalizariam contratos ou acordos e garantiriam um testemunho legal atra­vés da presença sagrada do deus (como no Código de *Hamurabi e nas leis *Médio-assírias). Ao agir assim, o devoto estaria invocando a divindade como teste­munha, e conseqüentemente dando mais peso ao ato

realizado. Além disso, o santuário ganhava credibili­dade por ficar conhecido como o lugar onde a divin­dade se manifestava.12.11. votos. Ver comentário em Levítico 27.2-13.12.16. derramar o sangue antes de com er a carne. Naliteratura sagrada de *Ugarite e da M esopotâm ia, o

sangue era identificado como a essência da vida de qualquer animal. Na tradição israelita, o sangue tam­bém era considerado a essência da vida e, por essa razão, pertencia ao doador da vida, o Deus Criador, *Yahweh. Sendo assim, os israelitas eram proibidos de com er carne com sangue. Esse líquido sagrado tinha de ser escorrido da carne e "derram ado no chão como se fosse água", a fim de que voltasse à terra. Em circunstâncias sacrificiais, o sangue devia ser derra­mado sobre o altar (ver Lv 17.11,12).

12.20. com er carne. A prom essa de que os israelitas poderiam comer carne quando tivessem vontade está ligada à prom essa contida na *aliança, de que possui­riam um a terra fértil. Porém , o povo de Israel, de modo geral, nunca possuiu tantos rebanhos a ponto de dar-se ao luxo de abater os animais indiscrimina­damente. O sacrifício animal, portanto, era considera­do não só um ato sagrado, mas também uma ocasião

solene, pois a carne do sacrifício, muitas vezes, era a única carne consumida após semanas de abstinência.

13.1-18A adoração a outros deuses13.1-18. focos de rebelião. N esta passagem, profetas, parentes próxim os e grupos locais subversivos são vistos como terreno propício para fomentar rebeliões. Nas instruções do rei assírio Esarhadon a seus vassalos, ele exige que prestem relatório de qualquer expres­são im própria ou de desagrado feita contra ele por inimigos ou aliados, sejam parentes, profetas ou intér­pretes de sonhos.13.1-3. profeta exortando a adoração a outros deu­ses. Com o propósito de delinear um a religião mo-

noteísta, de adoração exclusiva a *Yahweh, o Livro de Deuteronômio procura desacreditar e desautorizar os

ensinos e palavras de todos os outros deuses e seus profetas. O s profetas, adivinhos e sacerdotes desses

outros deuses estavam presentes entre os cananeus e

povos vizinhos (mencionados nos texto de *Mari, no relato de Balaão, em Números 22-24 e nas inscrições de Deir 'Alia). Entretanto, o que parece mais abomi­

nável aqui é o fato de israelitas falarem em nome de

outros deuses. Esse tipo de proselitismo interno era particularmente ameaçador, visto que gozava de mai­

or credibilidade, podendo assim ser mais efetivo (ver Nm 25.5-11). No caso das palavras ou predições des­

ses profetas se cum prirem (um sinal de sua aprovação

como profetas, D t 18.22), os israelitas tinham de ficar atentos para ver se eles atribuíam os sinais a Yahweh.

Caso contrário, seria uma prova da falta de lealdade deles, e deveriam então ser rejeitados como profetas e

condenados à morte por serem uma influência malé­fica ao povo.

13.1-5. predições por m eio de sonhos no antigo O ri­

ente Próximo. Acreditava-se que os sonhos eram um

dos principais instrumentos usados pelos deuses para

transmitir mensagens (ver Jacó em G n 28.12; José em

Gn 37.5-11; Nabucodonozor, capítulos 2 e 4 de Daniel). Os sonhos são citados em antigos textos *babilônicos

de presságios, juntam ente com o exame do fígado de

ovelhas, irregularidades no clim a e nascim ento de

animais, e outros sinais considerados de origem divi­na. Dentre os m ais famosos, encontra-se o sonho de

G u dea, de Lagás (c. 2150 a.C .), que recebeu um a

ordem para construir um templo de uma figura que

remete às figuras apocalípticas presentes nos sonhos de Daniel e na narrativa do chamado de Ezequiel (Dn

7; Ez 1.25-28). A correspondência real de *M ari (c.

1750 a.C.) contém cerca de vinte profecias relaciona­

das a sonhos, sempre recebidas por pessoas que não

pertenciam à categoria profissional dos videntes. Es­ses augúrios eram levados a sério e analisados. A

categoria profissional formada pelos sacerdotes tanto

na M esopotâmia como no Egito era instruída na inter­

pretação de sonhos e de outros presságios (ver o apa­recim ento de sábios, m édiuns e astrólogos em Gn

41.8 e Dn 2.4-11).

13.10. apedrejam ento como pena máxima. Além da quantidade de pedras disponíveis em Israel, o apedre­

jam ento era a form a preferida de execução por ser praticada comunitariamente. Nenhum indivíduo era

responsabilizado pela m orte do crim inoso, mas no

caso de ofensas públicas (apostasia, blasfêmia, feitiça­

ria, violação do sábado, roubo no *herem), todos os

cidadãos eram chamados a participar da eliminação

do mal dentro da comunidade (ver Dt 17.5; Lv 20.27; 24.14; Js 7.25). Ofensas que envolviam a família, tais como adultério e desobediência aos pais, também eram

punidas com o apedrejamento e, novam ente, toda a comunidade participava da execução (Dt 21.21; 22.21).

O apedrejamento não é mencionado em nenhum ou­

tro lugar fora da Bíblia como forma de execução. Os

códigos de leis do antigo Oriente Próximo relacionam como form a de punição o afogamento, a empalação, a

decapitação e a fogueira, sendo que em cada caso, um

órgão oficial e não toda a comunidade se encarregava

de executar a sentença.13.16. d esp o jo com o oferta queim ada. H avia dois

tipos de despojos que pertenciam unicamente a Deus:

os tomados em um *herem (guerra santa, Js 6 .18 ,19) e aq u eles tirad o s de um povoado con d en ad o por

apostasia. M anter qualquer um desses objetos saque­

ados corrompia a pessoa que agira assim e trazia a ira de Deus sobre o povo (Js 7).

13.16. ru ín as. A palavra hebraica traduzida como "ru ín as" é tel (*tell) e refere-se a um m onte form a­

do por cam adas das ruínas acum uladas de antigos

povoamentos.

14.1-21 Animais puros e impuros14.1, 2. rituais pelos mortos. A adoração dos ances­

trais e os *rituais associados ao luto e à celebração dos

m ortos eram com uns no antigo Israel. Presumia-se que, em bora tivessem um a existência espectral, os

mortos podiam, em certos momentos, exercer alguma

influência no mundo dos vivos (ver 1 Sm 28.13, 14). Assim, havia o costume de derramar libações durante as refeições e vestir roupas especiais nas ocasiões de

luto. Ao contrário do culto público, porém, os rituais

para os mortos eram privados e assim, mais difíceis de controlar. Essa prática foi especificamente combati­

da durante a monarquia, no esforço de nacionalizar a

ad o ração a *Y ah w eh e cam in h ar em d ireção ao monoteísmo restrito, nos reinados de Ezequias e Josias

(2 Rs 23.24). Algumas práticas específicas (como fazer cortes na pele) proibidas em Deuteronômio também

são mencionadas no ciclo de histórias de *Baal e no

épico *ugarítico de *A qhat (c. 1600-1200 a.C.). Por estarem associados à magia e às culturas politeístas,

esses rituais se tom aram alvos dos principais ataques

dos escritores israelitas. Ver comentários em Números3.12,13 e D euteronôm io 26.14.

14.2. tesouro pessoal. A expressão "tesouro pessoal"

utiliza um a palavra com um em outras línguas do

antigo Oriente Próximo para descrever bens acumu­

lados, seja através da divisão de despojos ou por he­

rança de propriedades. A prova de que pessoas tam ­bém podiam ser assim designadas encontra-se no selo

real de *Alalakh, onde o rei se identifica como o "te­

souro pessoal" do deus Hadad. Do mesmo modo, em um texto *ugarítico, o rei vassalo de Ugarite recebe o

favor de seu senhor *hitita, que o descreve como seu "tesouro pessoal". Além disso, os israelitas são identi­

ficados como "reino de sacerdotes", o que investe Isra­

el de um papel sacerdotal entre as outras nações, como

mediador entre os povos e Deus. H á ainda um concei­to bastante usado no antigo O riente Próxim o pelo

qual uma cidade ou povo podia ser libertado da sua

condição de subm issão a um rei e colocado num a

posição de sujeição direta a um a divindade. Assim,

Israel, libertado do Egito, é colocado agora num a po­sição sagrada.14.3-21. restrições alim entares. Na M esopotâmia ha­

via determ inadas ocasiões em que certos alimentos

eram proibidos por um período curto de tempo. Tam­

bém há evidências na Babilônia de que havia certas

restrições quanto a animais aceitos como sacrifício por

alguns deuses específicos. M as nenhum sistem a se

sobrepõe a esse encontrado aqui. Em bora não haja nenhum paralelo conhecido no m undo antigo seme­

lhante ao sistema israelita de restrições alimentares,

os animais permitidos geralmente estão em conformi­dade com a dieta habitual do antigo Oriente Próximo.

14.6-10. critérios para a classificação dos anim ais. Os principais critérios são (1) modo de locomoção e (2)

características físicas. Não se m enciona nada acerca

dos hábitos alimentares desses animais, nem das con­

dições de seu habitat. Antropólogos têm sugerido que

os animais eram considerados puros ou impuros de­pendendo das características consideradas "norm ais"

dentro daquela categoria. Outras sugestões quanto ao critério de classificação levavam em conta a saúde e

higiene. No entanto, essas possibilidades se tom am

inviáveis diante do fato de que m uitos exemplos não se encaixam em nenhum a explicação. U m a explica­

ção tradicional popular sugeria que os animais proibi­

dos tinham alguma relação com *rituais não israelitas. No entanto, é fato que as práticas sacrificiais dos povos

vizinhos de Israel parecem ser muito semelhantes às de Israel. Uma sugestão bastante promissora feita re­

centemente é a de que a dieta israelita seguia o pa­drão da "d ie ta " de D eus, ou seja, se algum animal

não podia ser oferecida em sacrifício a Deus, então, também não era adequado para o consumo humano.

14.8. porco. A literatura *assíria de sabedoria descre­

ve o porco como um animal impuro, inadequado para uso no templo e abominável aos deuses. Existe tam ­bém um texto do livro dos sonhos em que com er

porco representa um m au agouro. Entretanto, a carne de porco fazia parte da dieta regular na Mesopotâmia.

A lguns *rituais *hititas exigiam o sacrifício de um

porco. Milgrom observa, porém, que nesses rituais, o porco não era colocado no altar como alimento para os deuses, m as era usado para absorver as *impurezas e

depois queimado ou enterrado como uma oferta às divindades do m undo inferior. Do mesmo modo, na

M esopotâm ia, o porco era oferecido em sacrifício a demônios. H á evidências de que no Egito os porcos

eram usados como alim ento, m as H eródoto afirma

que também eram usados em sacrifícios. Fontes egíp­cias citam m anadas de porcos sendo mantidas na pro­

priedade dos templos e freqüentemente sendo doa­

dos aos templos. O porco era especialmente sagrado para o deus Seth. Grande parte das evidências relaci­

onadas a sacrifícios de porcos, porém, vem da Grécia

e de Roma, onde também eram dedicados aos deuses do m undo inferior. Em assentamentos urbanos, m ui­

tas vezes os porcos, juntam ente com os cães, peram­

bulavam pelas ruas vasculhando lixo, o que fazia

deles animais repulsivos. Em Israel, a atitude em re­

lação ao porco fica bastante clara em Isaías 65.4; 66.3,

17; a prim eira referência mostra uma íntima relação com o culto aos mortos. É bem provável que o fato de

sacrificar um porco representasse sacrificar aos demô­nios ou aos mortos.

14.21. anim ais encontrados mortos. Em um a região como a de Israel, carente de alimentos ricos em prote­

ínas, era quase um crim e desperdiçar carne. Entre­tanto, visto que o sangue de um animal encontrado

morto poderia não ter escoado, os israelitas não podi­

am comer sua carne (ver Dt 12.16; Lv 11.40; 17.50). A carne poderia ser distribuída como caridade aos es­

trangeiros que moravam entre eles(uma das categori­as protegidas pela lei, D t 1.16; 16.11; 26.11) ou vendi­

da a estrangeiros que não residiam em Israel.14.21. cabrito cozido no leite da m ãe. Ver comentário em Êxodo 23.19.

14.22-29 Dízimos14.22-29. dízim os e im postos. No antigo Oriente Pró­ximo, havia pouca distinção entre dízimos e impostos. Ambos eram cobrados dos povoados como pagamen­

to ao governo e geralm ente eram arm azenados nos edifícios dos templos, de onde os cereais, o azeite e o

vinho eram redistribuídos para o sustento dos funcio­nários religiosos e reais. No processo de coleta e re-

distribuição do dízimo, a distinção entre sagrado e profano se confundia. Os reis eram considerados como

eleitos divinos e os armazéns eram centros religiosos.

Os serviços prestados em troca dos dízimos e impostos eram de caráter religioso e administrativo. O processo

é descrito de forma bastante clara em 1 Samuel 8.10­

17, um texto que descreve como o rei "tom ará um décimo (...) e o dará a seus oficiais e a seus criados".

Esse é exatam ente o m esm o procedim ento descrito

em textos relacionados à economia e na correspondên­cia real de *Ugarite. Nesses escritos, também são alis­

tados profissionais de diversas áreas (artesãos, buro­cratas, funcionários do tem plo), juntam ente com a

porção que lhes era destinada. As edificações públicas no antigo Oriente Próximo também exigiam o paga­

m ento de cotas em relação à produção anual origi­nária de suas terras e povoados. A coleta do dízimo é

um reflexo desse tipo de planejamento administrati­

vo. Ver comentário em Números 18.21-32 para mais informações.

14.23. com er o dízim o. É im provável que a pessoa que entregasse o dízim o era a m esm a que deveria comê-lo. Isso frustraria o objetivo do dízimo, que era prover o sustento à comunidade sacerdotal e servir como uma reserva para os menos favorecidos. A or­dem aqui provavelmente está mais relacionada a tra­zer o dízimo (ou o seu valor equivalente em prata) ao santuário de Deus em Jerusalém , num a demonstra­ção de devoção (ver Dt 14.24-26). Parte do dízimo era servido num a refeição de *aliança, semelhante àque­la encontrada em Êxodo 24.9-11.14.27-29. provisão para os levitas. Conforme a des­crição m ais detalhada de 18.1-8, os levitas deviam receber uma porção das ofertas sacrificadas por não terem recebido terras na distribuição após a conquista de Canaã. Como pessoas especialmente dedicadas à religião, era-lhes designada uma parte da produção da terra de m odo bastante sem elhante à porção de cereais e vinho que era destinada aos burocratas e artesãos conform e os docum entos econôm icos de *Ugarite (ver comentário em 14.22-29). Por esta razão, era esperado que os levitas fossem pagos pelos servi­ços que prestavam.

14.29. sustento para os m enos favorecidos. Um as­pecto fundamental da tradição legal israelita envolvia garantir o sustento dos grupos de pessoas classificadas como indefesas ou pobres: as viúvas, os órfãos e os estrangeiros (ver Êx 22.22; D t 10.18, 19; 24.17-21). Assim, o dízimo referente ao terceiro ano (não um dízimo adicional) devia ser separado e usado no sus­tento dos menos favorecidos da sociedade. A preocu­pação com os carentes pode ser vista nos códigos de leis da M esopotâmia já na m etade do terceiro m ilênio, mas esse cuidado geralm ente estava relacionado à proteção de direitos e garantia de justiça em caso de julgam ento, e não a um sustento financeiro.

15.1-18 Cancelamento das dívidas e libertação dos escravos15.1-11. sistem as financeiros no antigo O riente Pró­ximo. Visto que a riqueza das nações no antigo Orien­te Próxim o era baseada no comércio e nos recursos naturais (m inérios e agricultura), foi necessário de­senvolver um intricado sistema financeiro para forne­cer recursos a esses empreendimentos. Por exemplo, reis e investidores do Egito e da Mesopotâmia forne­ciam capital de risco (na form a de ouro, prata, pedras preciosas, especiarias etc.) aos m arinheiros que nave­gavam nas rotas do Mediterrâneo até Chipre e Creta, e nas rotas comerciais ao longo do m ar Vermelho até a Arábia, África e índia. Eram feitos empréstimos aos m ercadores que conduziam caravanas pelo Oriente Próximo (esperava-se obter no mínimo cem por cento de lucro com o investimento) e aos agricultores, a fim de que adquirissem sementes e equipamentos para a época de plantio. Todos esses empréstimos geralmen­te eram feitos à base de juros (embora houvesse tam­bém um tipo de em préstim o sem juros, desde que fosse pago dentro de um período estabelecido). O código de *Hamurabi contém inúmeros exemplos de controle do índice de juros e até mesmo cancelamento do negócio, se o credor cobrasse m ais que 20 por cento. Agricultores que passavam por um a colheita difícil muitas vezes contraíam mais dívidas a fim de garantir alimento para a fam ília e suprimentos para o plantio do ano seguinte. Um ciclo de colheitas ruins muitas vezes fazia com que o agricultor perdesse sua terra ou vendesse sua própria família e, por fim, a ele mesmo, para saldar as dívidas.15.2,3. resgate de dívidas. Para garantir o cancelamen­to de toda dívida ao final do sétimo ano, esta lei ampliou a legislação original sobre o ano sabático (Êx 23.10,11), que estava relacionado ao descanso da terra. À m edi­da que a econom ia se expandia, foi necessária um a abrangência m aior da lei, a fim de inclu ir dívidas e também a devolução de propriedades que haviam sido penhoradas como garantia de dívidas (ver a lei refe­rente ao Ano do Jubileu, em Lv 25). A possibilidade de se tratar de um perdão total da dívida, em vez de uma suspensão tem porária, é confirm ada pelo decreto de misharum , do rei da *Antiga Babilônia, Am m isaduqa (1646-1626 a.C.). Esse documento proíbe os credores de exigirem o pagamento da dívida, após a promulgação do decreto, sob pena de execução. Entretanto, assim com o na lei ordenada no Livro de D euteronôm io, os m ercadores, que quase sem pre eram estrangeiros re­sidentes ou recém -chegados (estrangeiros, conform e15.3), deviam pagar seus credores, visto que o emprés­timo era encarado como uma transação comercial e não como um a dívida.

15.1-6. ano sabático. O descanso da terra no sétimo ano, como um reconhecimento da obra do Criador e exemplo de boa administração, aparece pela primeira vez em Êxodo 23.10, 11. U m a ampliação dessa lei é encontrada m ais tarde, em Levítico 25.2-7, comentan­do m ais detalhadamente os efeitos do descanso para a terra e para o povo. A legislação de Deuteronôm io está mais voltada para o perdão das dívidas, para a libertação dos escravos (15.12-18) e para o processo educacional de leitura pública da lei (31.10-13) duran­te o ano sabático. Em bora não haja um equivalente direto do sábado ou do ano sabático fora da Bíblia, o épico *ugarítico de *Baal contém um ciclo agrícola de sete anos que pode estar relacionado a essa prática. D e acordo com as leis de *H am urabi, m ulheres e crianças vendidas como escravas deviam ser liberta­das após três anos.15.12. hebreu. É bem possível que o termo hebreu, ou *habiru nos textos *acadianos, fosse um termo genéri­co para descrever pessoas sem posses e sem terra que se empregavam como mercenários, trabalhadores ou servos. Não se trata necessariamente de um a designa­ção pejorativa, porém há uma certa conotação negati­va já que as pessoas no mundo antigo tinham tendên­

cia a se identificar com um grupo ou lugar. Mas o fato de que Abrão, o primeiro "hebreu", foi um imigrante sem terra, semelhante a um "cigano", pode dar uma idéia geral do significado da palavra. Os camponeses israelitas consideravam -se proprietários de terra li­vres. H ebreu , p ortan to , estaria se referin d o a um israelita que perdera seus bens (compare com Jr 34.9) ou que vivia em terras estrangeiras (Jz 19.16). Um hebreu precisava trabalhar durante seis anos a fim de obter de volta sua terra hipotecada e sua posição como proprietário de terra. Assim, o hebreu citado em Êxodo21.2, D euteronôm io 15.12 e Jerem ias 34.9 era um israelita que, ao contrário do estrangeiro, não podia ser vendido para escravidão perpétua. Era esse direi­to de tornar-se um cidadão livre novamente que dis­tinguia o israelita do estrangeiro.15 .16 ,17 . cerim ônia de furar a orelha. Ver comentá­rio em Êxodo 21.5, 6. A única diferença na descrição desta cerimônia é que o texto de Deuteronômio acres­centa a frase: "F aça o m esm o com a sua escrava" no final do versículo 17, visto que esta versão da lei de libertação de escravos trata tanto de escravos como de escravas.

15.19-23 As primeiras crias15.19-23. os anim ais prim ogênitos. A prática de dedi­car a primeira cria dos animais à divindade não pode ser confirmada com segurança em outras culturas do

antigo O riente Próxim o, em bora alguns estudiosos afirmem ter encontrado indícios nos textos *ugaríticos. Se esse costume de fato existiu ali, os textos oferecem

poucas informações para compreender as razões que levaram a essa prática.15.23. com er o sangue. Ver comentários em Levítico 17.11 e Deuteronôm io 12.16, 20 quando à proibição

de comer o sangue do animal junto com a carne.

1 6 .1 -1 7

As três principais festas16.1-17. calend ário re lig ioso de Israel. Outras ver­sões do calendário podem ser encontradas em Êxodo23.12-19; 34.18-26; Levítico 23 e Núm eros 28, 29 (ver comentários nessas referências).16.1. abibe. O mês de abibe (março-abril) é considera­do o primeiro mês do calendário israelita e está relaci­onado ao êxodo (ver Êx 13.4; 23.15). A origem desse term o é freqüentem ente associada aos nom es dos meses cananeus. Posteriormente, o primeiro mês pas­sou a ser conhecido como nisã, quando os nomes fo­ram adotados a partir do calendário *babilônico. Em

Êxodo 23.15, abibe está relacionado à festa dos pães sem fermento, enquanto que em Deuteronômio mar­ca a comemoração da Páscoa.16.1-8. Páscoa. Compare o comentário a respeito da Páscoa em Êxodo 12. A legislação de Deuteronômio abre espaço para as mudanças ocorridas na sociedade israelita desde o êxodo e centraliza a celebração da Páscoa no "local que ele escolher para habitação do seu N om e" (v. 6), ou seja, Jerusalém.16.8. assem bléia solene. Assembléias solenes ou pro­clamações representavam uma parte importante das práticas religiosas no mundo antigo. Eram reuniões locais ou nacionais para adoração comunitária; as pes­soas eram convocadas a interromper suas atividades e não fazer nenhum trabalho nesse dia.16.9. colheita do cereal. A festa das semanas (ver Êx23.16) estava ligada à colheita do trigo, em março e abril. O calendário de Gezer destacava esse mês como o mês de "colher e festejar". Visto que os cereais ama­dureciam em épocas diferentes dependendo da re­gião do país, era necessário um período de sete sema­nas para que toda a colheita terminasse.16.9-12. Festa das sem anas. A segunda das três prin­cipais festas relacionadas à colheita acontecia sete se­manas após a colheita dos primeiros cereais (Êx 34.22) e também era conhecido como festa da colheita ou do Pentecoste (Êx 23.16). No calendário agrícola, essa fes­ta m arcava o térm ino da colheita do trigo, e pela tradição está ligada à entrega das leis no monte Sinai, estando também relacionada à renovação da *aliança e à peregrinação. A celebração consistia em entregar

um a "oferta movida" de dois pães, sacrifícios de ani­m ais (sete cordeiros de um ano, um novilho e dois carneiros) e uma oferta derramada em gratidão pela

boa colheita. Um bode também tinha de ser sacrifica­do como oferta pelo pecado do povo.16.13-17. Festa das cabanas. A últim a colheita do ano acontecia no outono, antes do início da estação das chuvas, e m arcava o começo de um novo ano agrícola (décimo quinto dia do sétimo mês). Era o m omento de juntar e armazenar os últimos grãos e frutos maduros. O evento de sete dias tam bém era conhecido como festa do encerram ento da colheita (Êx 23.16) e era simbolizado pela construção de cabanas decoradas com os cereais das colheitas. O uso do termo cabanas para essa festa aparece pela primeira vez em Deuteronômio, e provavelmente está relacionado ao fato dos traba­lhadores que participavam da colheita montarem abri­gos no campo, a fim de poderem trabalhar o dia todo sem ter de retornar para suas casas (ver Lv 23.42). Essa festa estava ligada à tradição israelita como uma com em oração da peregrinação no deserto; foi tam ­bém a ocasião da dedicação do templo de Salomão em Jerusalém (1 Rs 8.65).

16.16. fe stas de peregrinação . V er com entário em Êxodo 23.17 referente à obrigação imposta aos israelitas de apresentar-se diante do Senhor como peregrinos três vezes ao ano. No mundo antigo, geralmente cada cidade tinha sua divindade protetora e seu respectivo templo local. Assim, as festas e as demais atividades de adoração não exigiam peregrinações por grandes

distâncias, a não ser em festas como a do grande Akitu (Ano Novo) e de *M arduk, na Babilônia, que atraíam

peregrinos de todos os lugares. Um dos aspectos mais importantes das festas do antigo Oriente Próximo eram as procissões, em que a im agem da divindade era carregada por vários locais simbólicos. A s festas israe­litas não apresentam semelhanças com outras festas religiosas, porém o aspecto de peregrinação das festas israelitas pode ser comparado ao tratado *hitita que exigia que o rei vassalo viajasse periodicamente para visitar o suserano, a fim de reafirmar sua lealdade (e pagar os tributos anuais).

1 6 .1 8 - 1 7 .1 3O estabelecimento da justiça16.18-20. institu ições ju d iciais no antigo O riente Pró­ximo. Pelo que se pode observar no prefácio do Códi­go de *Hamurabi (c. 1750 a.C.) e nas afirmações feitas pelo "cam ponês eloqüente", na literatura de sabedo­ria egípcia (c. 2100 a.C.), esperava-se que as autorida­des protegessem os direitos dos pobres e dos menos favorecidos da sociedade. Reis, oficiais e magistrados locais deveriam "ju lgar o seu próximo com justiça"

(ver Lv 19.15). De fato, o tema de "m undo às avessas" encontrado no Livro de Juizes e na literatura profética (Is 1.23) descreve uma sociedade em que "as leis são aprovadas, m as ignoradas" (por exem plo no texto egípcio Visões de Neferti [c. 1900 a.C.]). No antigo Ori­ente Próximo, um a administração eficiente estava apoi­ada na confiabilidade das leis e na execução das m es­mas. Com este objetivo, todo estado organizado criou um corpo de ju izes e oficiais locais para tratar dos casos civis e criminais. A tarefa desses juizes era ouvir as testem unhas, investigar as acusações, analisar as provas e então, efetuar o julgam ento (detalhado nas leis *m edo-assírias e no Código de H am urabi). No entanto, em alguns casos era requerida a atenção es­pecial do rei (ver 2 Sm 15.2-4) e esporadicam ente apelava-se para o magistrado supremo (como nos tex­tos de *Mari).16.19. suborno no m undo antigo. Em todas as épocas e lugares (ver Pv 6.35; M q 7.3) é possível encontrar ju izes e funcionários do governo sendo tentados a aceitar subornos. O suborno acabou se tornando uma prática quase institucionalizada em ambientes buro­

cráticos, à medida que grupos rivais procuravam pre­judicar uns aos outros (ver Mq 3.11; Ed 4 .4 ,5 ), embora fossem empregados argumentos e punições na tenta­tiva de m inorar esse problema. Assim , o código de *Ham urabi estabelecia severas punições a qualquer ju iz que alterasse uma de suas decisões (presumivel­mente por causa de suborno), incluindo desde pesa­das multas até o afastamento permanente do cargo.

Em Êxodo 23.8, aceitar subornos e perverter a justiça são práticas proibidas e consideradas ofensivas a Deus, aos fracos e inocentes e à toda a comunidade (ver Is 5.23; A m 5.12).16.21. postes sagrados. V er com entários em Êxodo34.13 e D euteronôm io 7.5; 12.3.16.21. coluna sagrada. Ver comentários em Êxodo 23.24 e D euteronôm io 12.3.17.3. adoração dos astros. A adoração de corpos celes­tes (sol, lua, planetas, estrelas) era bastante comum em todo o antigo Oriente Próximo. Os principais deuses da *Assíria e da *Babilônia eram o deus-sol (Shamash) e o deus-lua (Thoth, no Egito; Sin , na M esopotâm ia e Yarah, na religião cananéia), cuja adoração era ampla­m ente difundida. Durante grande parte de sua histó­ria, os israelitas foram grandemente influenciados pela cultura e religião assíria (ver D t 4.19; 2 Rs 21.1-7; 23.4, 5). Essas práticas proibidas continuaram a ser motivo de reprovação durante o período neobabilônico, quan­

do os israelitas queimaram incenso a "todos os corpos celestes", em altares postos no telhado de suas casas (Jr19.13). A adoração aos elementos da natureza era con­denada por diminuir a posição de *Yahweh como único

criador de todas as coisas. No entanto, o caráter popular desse tipo de adoração fez com que essa prática conti­nuasse a existir entre os israelitas, com o aparece na literatura profética e no Livro de Jó (ver Jó 31.26-28; 38.7). Para inform ações adicionais, consulte o comen­tário em D euteronôm io 4.17.5. apedrejam ento como pena m áxima. Ver comen­tário em 13.10.17.6, 7. testem unhas no antigo sistem a ju ríd ico . Atarefa de servir como testemunha aplicava-se a diver­sos contextos legais e era uma obrigação solene que

não devia ser tratada com displicência (Êx 20.16; Nm 35.30; Dt 19.16-19). A testemunha servia para presen­ciar acordos e transações, na assinatura de documen­tos comerciais ou civis, e para prestar depoimento em um ju lg a m en to (le is de *U r-N am m u , cód igo de *Hamurabi e as leis *M edo-Assírias). Em transações com erciais (Jr 32.44; H am urabi), a testem unha de­sempenhava um papel essencial confirmando a ven­da de propriedades, e tam bém com provando casa­m entos e m udança de posição social (leis *M édio- Assírias). Ocasionalmente, a testemunha servia como representante do povo em questões a serem levadas diante da divindade (Êx 24.9-11; Hamurabi).17.8-13. vered icto através de presságios no antigo O riente Próximo. Quando não havia provas ou quan­do estas eram insuficientes, podia-se chegar a um veredicto através da leitura de presságios. Nesse caso, o queixoso deveria consultar os profissionais religio­sos (sacerdotes levitas em 17.9), cujos serviços incluí­am buscar o veredicto divino. Dentre os métodos de

*adivinhação usados no antigo O riente Próxim o fi­guravam a análise do fígado de uma ovelha (hepatos- copia), a interpretação de sonhos (textos *babilônicos específicos contêm listas de sonhos e seu significado - acidentes, mortes, derrotas ou vitórias m ilitares; ver Dn 2.9), a observação de acontecimentos estranhos na natureza e o uso de m apas astrais (especialmente du­rante o período do império *assírio, do século dez ao sétimo a.C.). No texto bíblico, o Urim e o Tum im (Êx 28.30; Nm 27.21) eram usados para descobrir a vonta­de de Deus e diversos profetas mencionam situações de escassez, secas e outras calamidades naturais como sinais indicativos do castigo de Deus sobre um povo infiel (Am 4.10-12; Ag 1.5-11).

17.14-20 O rei17.14-20. re i escolhido pela divindade. A Relação de Reis *sum érios, que contém o nom e de todos os reis desde antes do dilúvio até o final da terceira dinastia de *Ur (c. 2000 a.C.), com eça com a frase: "Q uando o soberano desceu dos céus". A pressuposição corrente

em toda a h istória da M esopotâm ia, d izia que todo governante havia recebido uma autorização dos deu­ses para reinar. Por isso, no prólogo de suas leis, *Ha- m urabi (1792-1750 a.C.) declara que os deuses esta­beleceram um "reinad o duradouro" na *Babilônia e explica com o os deuses A num e *Enlil o escolheram para governar em nome do povo. Como resultado dessa "eleição divina" o rei era obrigado a governar de ma­neira sábia e ju sta , n u n ca abusando de seu poder e sendo submisso às ordens e exigências dos deuses. A situação era um pouco diferente no Egito, onde o faraó

era considerado um deus.17.16. proliferação de cavalos. Visto que os cavalos eram usados primordialmente para puxar carruagens ou transportar cavaleiros para as batalhas, a aquisição de um grande núm ero desses animais im plicava uma atitude ostensiva para com os outros países ou a tenta­tiva do m onarca em impressionar o povo e as nações vizinhas através de seu poder e riqueza. A menção ao

Egito é um indício de que Israel dependia dessa na­ção, recorrendo a ela para fazer alianças e adquirir cavalos. (Is 36.6-9). Essa aliança com o Egito mostrou-

se desastrosa para Israel e Judá no período final da m onarquia e foi totalmente condenada pelos profetas (Is 31.1-3; M q 5.10).17.17. casam ento como form a de aliança. O casamen­to era usado como um a ferram enta diplom ática em todo o antigo O riente Próximo. Por exemplo, Zinri- Lim, o rei de *M ari (século dezoito a.C.), usou suas filhas para solidificar alianças e firmar acordos com os

re in o s v iz in h o s . D e m od o se m e lh a n te , o fa raó Tutmoses IV (1425-1412 a.C.) arranjou um casamento com a filha do rei *mitânio a fim de demonstrar rela­ções amigáveis e encerrar um a série de guerras con­tra esse reino do m édio Eufrates. As setecentas m u­lheres e trezentas *concubinas de Salomão (1 Rs 11.3) eram um sinal de sua riqueza e poder (assim como os cavalos, em Dt 17.16), especialmente o casamento com a filha do faraó (1 Rs 3.1). Em bora as vantagens polí­ticas decorrentes de tais casamentos fossem bastante grandes, o perigo residia na introdução da adoração a outros deuses, como no caso das esposas de Salomão (1 Rs 11.4-8).17.17. tesouros reais. O tema relacionado à excessiva aquisição de símbolos reais de poder (cavalos, mulhe­res, ouro e prata) continua a ser tratado nessa exorta­ção contra cobrar pesados impostos do povo simples­mente para aumentar o tesouro real. Todas as catego­

rias de riqueza são descritas como causas do orgulho excessivo, da apostasia e da rejeição ou diminuição da figura de *Yahweh (compare 8.11-14). A vaidade dos reis que ajuntam riquezas com nenhum outro objeti­vo senão orgulhar-se delas, é descrita em Eclesiastes

2.8-11 e Jerem ias 48.7. Os tesouros eram compostos de peças de m etais preciosos de propriedade do templo e do governo, incluindo tanto as recebidas através de contribuições como as adquiridas de despojos. Era pos­sível encontrar moedas ou barras de ouro e prata em um tesouro, m as a m aior parte dele era em forma de jóias, vasos de uso *ritual, objetos religiosos ou diver­sos utensílios de famílias abastadas ou reais. Às ve­zes, a m aior parte do tesouro real era usada para o pagam ento de tributos, sendo que em alguns casos, tudo era levado (ver 1 Rs 14.26; 2 Rs 18.15). Diversas escavações arqueológicas e descrições de tem plos e palácios revelam a existência de câmaras sendo usa­das como cofres, e de oficiais reais servindo como guardiães dos tesouros.17.18-20. rei subm isso à lei. No Egito e na Mesopo- tâmia, a lei emanava do rei. Era sua responsabilidade conceber e m anter a ordem que sustentava o Univer­so (em egípcio, ma'at; em m esopotâmico, me). O rei não podia ser julgado, exceto pelos deuses. Ele não estava acima da lei, mas não existia nenhum mecanis­m o para fazê-lo submeter-se a um tribunal humano. Em Israel, juridicam ente não era diferente, em bora os profetas, como porta-vozes de Deus, podiam chamaro rei para prestar contas.

18.1-13 Sacerdotes e levitas18.1-5. p rovisão dos lev itas. M esm o que o oferente comesse uma porção do sacrifício, a quantidade deles garantia a provisão dos sacerdotes. O mesmo ocorria na prática *babilônica, onde porções dos sacrifícios eram concedidas ao rei, ao sacerdote e a outros funcionários do templo. Já nos textos *sum érios é considerado um crim e grave com er a parte que havia sido separada com o santa. V er tam bém o com entário em Núm eros18.12-19 acerca dos dízimos pagos aos sacerdotes.18.6-8. função dos levitas nas cidades. Durante o pe­ríodo inicial da ocupação de Canaã, os levitas m inis­travam nos santuários e altares locais. Eles deveriam ministrar, como religiosos profissionais, realizando sa­crifícios e instruindo o povo na lei. Enquanto alguns levitas permaneceram no mesmo lugar durante gera­ções (1 Sm 1.3), há também evidências de que outros tom aram -se sacerdotes itinerantes que viajavam pelo país e eram contratados para m inistrar por um tempo num determinado santuário ou lugar de adoração (Jz17.7-13). Por não possuírem herança (Js 14.3, 4), os levitas ficavam excluídos numa sociedade baseada na posse da terra. Apesar de terem a função de instruir o povo na verdadeira adoração, o Livro de Juizes deixa claro que às vezes, os levitas eram a causa de m uitos problemas. Os levitas tinham a obrigação de preser­

var a tradição e a lei e podiam freqüentemente servir como juizes.

18.9-22 Sendo instruídos pela divindade18.10. adivinhação. Ver comentário em Levítico 19.26. A *adivinhação envolvia um a variedade de métodos empregados pelos profetas (Mq 3.11), adivinhos, mé­diuns e feiticeiros para declarar qual era a vontade dos deuses e predizer o futuro. O exame de vísceras de anim ais sacrificados, a análise de presságios de diversos tipos e a leitura do futuro a partir de fenôme­nos naturais ou extraordinários (ver G n 44.5) eram alguns desses métodos. Certas práticas de adivinha­ção eram aceitas em Israel (como o uso do U rim e do Tumim); o que está sendo condenado nesse texto é a prática profissional da adivinhação.18.10.m agia. Como a magia era considerada no mun­do antigo um m eio de contatar o sobrenatural, acredi­tava-se que ela podia ter um lado bom e outro mau. Na Mesopotâmia e entre os *hititas, a magia voltada para o mal era praticada por feiticeiras e punida com a morte. Sua prática envolvia o uso de poções, esta­tuetas e m aldições que tinham como objetivo causar a morte, provocar doenças ou trazer azar à vítima. Esse tipo de m agia diferenciava-se daquela que tinha como propósito ajudar as pessoas e era praticada por exor­cistas profissionais e "v elh as", cujo papel incluía os ritos envolvidos na construção e dedicação de templos e também ajuda médica. Som ente no Egito não havia distinção entre m agia negra e m agia branca. Nesse local, uma das funções dos praticantes de magia era am eaçar e intim idar os demônios e outros poderes divinos obrigando-os a realizar determinados atos ou a afastar maldições. A lei israelita rejeitava todos esses tipos de magia devido ao seu caráter politeísta e por subestimarem o papel de *Yahweh como Senhor da criação (ver Êx 22.18).18.10. presságios. Um a das classes sacerdotais mencio­

nadas em textos m esopotâmicos é a dos adivinhos- baru. Sua tarefa era examinar o fígado (geralmente de cordeiros) e interpretar o presságio ali indicado para a pessoa que pedira um a previsão do futuro. Os baru podiam ser consultados por um rei que planejava ir para a guerra (compare com 1 Rs 22.6), por um m er­cador prestes a partir em caravana ou por qualquer pessoa enferm a. M uitas vezes, oficiais do governo incluíam em suas cartas relatórios de presságios (tex­tos de *Mari). Entretanto, como estes presságios nem sem pre eram claros, era com um que se buscasse a opinião de adivinhos antes de se tomar um a decisão final. U m a coletânea de textos de presságios (com descrições de acontecimentos passados e predições)

ficava guardada nos templos e palácios para consulta dos adivinhos. Para a preparação de aprendizes, eram usados moldes de fígado, feitos de argila.18.10. feitiçaria. Assim como a magia negra, a feitiça­ria era classificada como uso ilegítimo de magia. Os feiticeiros muitas vezes prestavam serviços nos tem­plos ou nos palácios reais como herbolários e adivinha­dores itinerantes que, em troca de uma recompensa,

providenciariam os meios para destruir ou prejudicar um inimigo (ver Lv 19.26; 20.6; 2 Rs 21.6). A distinção mesopotâmica entre magia negra e branca não apare­ce na lei israelita, que condena a feiticeira (Êx 22.18) e diz que não se deve dar crédito às palavras de feiticei­ros (Jr 27.9; Ml 3.5).18.11. fe itiçarias, m édiuns e espiritism o. Os pratican­tes do espiritism o e da feitiçaria eram condenados porque essas práticas estavam associadas à religião cananéia e porque sua "a rte " era uma tentativa de enganar *Yahw eh, buscando obter conhecim ento e poder dos espíritos. Todas essas atividades represen­tavam uma forma de "religião popular", mais próxi­

ma das práticas religiosas de pessoas comuns e que servia como um a espécie de "religião das som bras" para muitos. Às vezes, devido à sua associação com a *adivinhação, seus *rituais e métodos opunham-se di­retam ente à "religião oficial" ou funcionavam como uma religião alternativa à que se recorria em tempos de desespero (ver o uso que Saul fez da feiticeira banida de Endor, em 1 Sm 28). Feitiçarias e poções m ágicas tam bém eram proib idas pelo C ódigo de *H am urabi e pelas leis m edo-assírias, o que indica que a proibição e o temor dessas práticas não eram exclusivos a Israel.

18.11. consu lta aos m ortos. Em bora na antiga Meso- potâmia não existisse um conceito claro de vida após a morte, nem de castigo ou recompensa futura, o culto aos ancestrais era uma realidade e ofertas eram dedicadas aos espíritos dos mortos. U m grupo de m agos inven­tou um meio de consultar os espíritos dos mortos a fim de conhecer o futuro (ver sobre a feiticeira de Endor em1 Sm 28.7-14). Essa prática passou a ser cham ada de necromancia e envolvia a consulta a um espírito espe­cífico ou "fam iliar”, ou a qualquer outro espírito que fosse atraído pelos fe itiços do m édium . N os rituais *hititas de adivinhação era comum o uso de covas ri­tuais, cheias de pão e sangue; o herói grego Odisseu tam bém usou um a cova cheia de sangue para atrair o espectro de seus companheiros mortos. Acreditava-se que se fossem derramadas libações aos antepassados, seus espíritos passariam a proteger e a ajudar os vivos. Na *Babilônia, o espírito desencarnado (utukki) ou fan­tasma (etemmu) podia tom ar-se muito perigoso se não recebesse a devida atenção e, m uitas vezes, tornava-

se objeto de feitiçarias. O cuidado com os mortos incluía um sepultam ento adequado e a dedicação posterior de presentes em honra da m em ória e do nom e do fale­cido. O filho primogênito era responsável pela manu­tenção desse culto aos ancestrais e, por essa razão, era quem herdava os deuses da fam ília (geralmente ima­gens dos ancestrais já mortos).18.10-13. razões para a proibição da adivinhação. De acordo com a visão de m undo presente no Antigo Testamento, *Yahweh é o único Deus e a autoridade suprema no Universo. Num nítido contraste, as reli­giões politeístas do antigo Oriente Próximo não consi­deravam seus deuses (nem mesmo todos eles juntos) com o o poder suprem o do U niverso. Ao contrário, acreditavam em um a força primitiva impessoal, que deu origem a todo conhecimento e poder. A *adivi- nhação era uma tentativa de penetrar nessa fonte para obter conhecimento; já os encantamentos visavam fa­zer uso do poder ali contido. Portanto, tanto a adivi­nhação como os encantamentos adotavam uma visão de mundo contrária à revelação bíblica de Yahweh.18.14-22. função dos profetas. Esses indivíduos eram mais que simples religiosos profissionais. Embora al­guns fossem membros da comunidade sacerdotal, os profetas de modo geral eram excluídos dessa institui­ção. Seu papel era desafiar o sistema e a ordem social, relembrando aos líderes e ao povo de suas responsa­bilidades para com a *aliança feita com *Yahw eh e advertindo-os do castigo que adviria da violação des­se acordo. O profeta era alguém investido de poderes especiais, de um a m ensagem e de um a m issão, ha­vendo ainda um a certa compulsão associada ao cha­mado profético que podia ser negado por algum tem­po (veja a fuga de Jonas), m as por fim tinha de ser atendido. D eve-se destacar tam bém que os profetas às vezes relutavam em proferir palavras duras ou condenações contra seu próprio povo. Quando isso acontecia, o profeta passava por uma experiência de compulsão irresistível que o levava a falar (Jr 20.9). Visto que sua mensagem provinha de Deus, os profe­tas não podiam ser acusados de traição, sedição ou maldições. Assim, a mensagem era mais importante que o profeta. Certamente houve profetas como Balaão e Elias que conquistaram uma certa fama e reconhe­cimento, m as isso era devido à sua m ensagem ou à habilidade de falar em nome de Deus. Para que um profeta tivesse credibilidade diante do povo, era ne­cessário que sua mensagem se cumprisse. Apesar de, às vezes, os profetas serem mencionados como m em ­bros da com unidade *cultual (Tsaías e Ezequiel) ou como profetas da corte (Natã), eles conseguiam distan­ciar-se dessas instituições, sempre que necessário, para criticá-las e mostrar que haviam rom pido a *aüança

com Deus. No período inicial da m onarquia, os profe­tas dirigiam-se primordialmente ao rei e à sua corte,

de m odo bastante semelhante aos de seus colegas de outras regiões do antigo Oriente Próximo (foram de­

nominados de profetas "pré-clássicos"). No início do século oitavo, porém, sua atenção voltou-se para o

povo e para as questões sociais e espirituais que en­volviam a nação (classificados como profetas "c lás­

sicos" e "escritores"). Seu papel não era fazer predi­ções, e sim advertir e alertar o povo sobre os projetos e planos de Deus.

18.20-22. fa lso s p ro fetas . A ssim com o o texto de

Deuteronômio 13.1-3 menciona pessoas insistindo para que o povo adorasse outros deuses, os falsos profetas

geralm ente são aqueles que falavam em nom e de outros deuses. Deuteronômio desconsidera a existên­

cia desses outros deuses e, por conseguinte, a veraci­dade de seus profetas. Quando um profeta falava em

nome de *Yahweh sem autorização, a profecia passa­

va por um teste: se ela se cumprisse, era verdadeira. Existem diversos exemplos de falsas profecias no texto

bíblico, um a deles é quando Jerem ias repreende o

falso profeta Hananias (Jr 28.12-17) e outros profetas

que haviam predito o término do exílio (29.20-23). Em alguns casos, a confusão gerada por profecias contra­

ditórias era tal que o verdadeiro profeta era conhecido

somente após o curso dos acontecimentos (ver 1 Rs 22). O s israelitas não eram os únicos a ter cautela em

relação à falsa profecia. Em outras culturas, porém,

fazia-se uso de *adivinhações na tentativa de confir­

m ar a m ensagem do profeta, mas essa prática não era permitida em Israel.

18.14-22. as p rofecias no antigo O riente Próxim o.Textos da M esopotâmia, Síria e Anatólia contêm um

grande núm ero de profecias, demonstrando a exis­tência de profetas ao longo da história do antigo Ori­

ente Próximo. Embora alguns desses textos sejam clas­sificados como literatura de sabedoria ou relatórios de

presságios, muitos envolvem indivíduos que afirma­vam ter recebido uma m ensagem de um deus. Den­

tre esses textos, os mais famosos são cerca de cinqüen­ta documentos de *M ari (século dezoito a.C.) que con­

têm relatórios de profetas e profetisas: avisos de cons­

piração contra o rei, admoestações de um determina­do deus para que um templo fosse construído ou que

fosse providenciada uma oferta *funerária e garantias

de vitória militar. Esses profetas apresentavam as men­

sagens supostam ente divinas, recebidas em sonhos ou através de presságios; outros ainda transm itiam

suas profecias em um estado de transe. Esse tipo de

profecia aparece no século onze a.C. na lenda egípcia de *W enamom, em 1 Sam uel 10.5-11 e 2 Reis 3.15.

19.1-21Penas capitais19.1. Cidades cananéias da Idade do Bronze M oder­na. Grande parte do que se sabe a respeito das cida­des cananéias da Idade do Bronze *M oderna provém de escavações e pesquisas arqueológicas e de inscri­ções dos faraós egípcios que governaram aquela re­gião. A s evidências indicam que as principais cidades desse período (Jerusalém , Siquém , M egido) eram m uradas, m as os agrupam entos hum anos ficavam bastante afastados. A região montanhosa central era habitada de m aneira esparsa no período anterior a 1200 a.C.. A população era mista, formada por *hititas, e por povos provenientes da Síria, da Mesopotâmia e das áreas desérticas da Arábia. Os egípcios aparente­mente encontraram certa dificuldade em dominar a área e foram obrigados a enviar expedições militares em inúmeras ocasiões para pôr fim às revoltas e insur­reições (conforme relatos nas cartas de *Amarna [sécu­lo catorze a.C.] e nas inscrições de vitória de AmenofisII [c. 145-1425 a.C.] e de Merenptah [c. 1208 a.C.]).19.2, 3. cidades de refúgio no antigo O riente Próxi­mo. Consulte o comentário de Números 35.6-34 acer­

ca das cidades de refúgio em Israel. O conceito de asilo e refúgio é bastante antigo. Textos *babilônicos e *hititas falam de lugares sagrados que deveriam dar proteção a todos. Os habitantes das grandes cidades- templo de N ippur, Sippar e Babilônia desfrutavam de um a posição especial por causa da proteção de suas divindades padroeiras. O princípio era que apenas o deus podia retirar a proteção das pessoas que fugis­sem para lá e assim , ninguém podia derram ar san­

gue sem antes receber um presságio ou sinal direto dos deuses (Heródoto apresenta um exemplo do perí­odo clássico). A tradição egípcia quanto ao refúgio parece aplicar-se somente ao recinto do templo e não à cidade toda. Seria equivalente aos exemplos bíbli­cos em que o fugitivo refugiava-se no altar (1 Rs 1.50­53; 2.28-34).19.6. vingad or da vítim a e o sistem a ju d ic ia l. Vercomentário em Números 35.9-34 acerca da responsa­bilidade da fam ília em vingar seus mortos. É possível que o título "vingador da vítim a" (em algumas tradu­ções, "v ingad or de sangue") tenha se originado da obrigação da fam ília em vingar-se, derramando san­gue, quando um dos membros de seu clã fosse morto. Essa prática, em bora comum nas sociedades tribais, era extrem am ente prejudicial à m anutenção da or­dem num Estado organizado. Como resultado, a "vin­gança de sangue" (term o que aparece som ente no contexto das cidades de refúgio) pode ter sido deter­minada pelo governo a fim de servir à necessidade

tanto da família como do Estado, quando então o acusa­

do era detido e executado, caso fosse confirm ado o assassinato.

19.11-13. pena capital. Na Bíblia, a pena capital era a

sentença aplicada nos casos de: crimes de apostasia (Lv20.2), blasfêm ia (Lv 24.14), feitiçaria (Lv 20.27), trans­

gressão do sábado (Nm 15.35, 36), roubar o *herem (Js

7.25), desobediência aos pais (Dt 21.21), adultério (Dt22.21), incesto (Lv 20.14) e homicídio deliberado (Nm

35.9). Embora o apedrejamento fosse a forma m ais co­

mum de execução, algumas ofensas exigiam que o con­

denado fosse queimado ou atravessado por um a espa­

da. O objetivo era sem pre elim inar da sociedade os

elem entos de contam inação, purgando assim o m al que am eaçava afastar as pessoas da *aliança.

19.14. mudar marcos de divisa. Visto que a terra fora

dada por Deus ao povo e distribuída de acordo com os critérios por Ele estabelecidos, mudar os m arcos de

divisa e apropriar-se indevidamente de terras era con­siderado um crim e de roubo contra D eus. As leis

concernentes a direitos de propriedade são muito an­

tigas, o que é confirmado pelas inscrições de marcos de divisa do período cassita kudurru (século dezesseis

a.C.), em repreensões da literatura egípcia do século

onze (Ensinos de Amenemope, onde há um a exortação

para que não se altere o marco do agrimensor) e na maldição de Oséias 5.10. Em cada exemplo, os deuses

são invocados para proteger os direitos do proprietá­

rio contra as invasões e apropriações indevidas de suas terras.

19.15-20. o papel das testem unhas no antigo O riente

Próximo. As testemunhas eram um elemento impor­tante do sistema judicial no mundo antigo. Uma pro­

va disso é que a lei israelita exigia duas testemunhas

para que uma pessoa fosse executada por um crime

(Nm 35.30; D t 17.6; 1 Rs 21.13). Tanto o Código de *Ham urabi com o as leis *m edo-assírias dependiam

grandemente da presença de testemunhas para ates­tar transações comerciais e para prestar depoimento

em julgam entos.

19.21. lex ta lio n is . O princípio legal da retribuição,

ou "olho por olho", é encontrado em códigos de leis bíblicos e m esopotâmicos. Nos exemplos da Bíblia (Êx

21.24; Lv 24.20), essa lei expressava o desejo de elimi­nar o elemento impuro ou corrupto da sociedade. A ordem era não demonstrar misericórdia para com o

acusado. A lei m esopotâmica contém a versão ideali­

zada da lex talionis e tam bém um aperfeiçoam ento que estabelece limites de compensação. Por exemplo,

o código de *Esnuna estabelece uma m ulta de uma peça de prata pelo dano causado ao olho da vítima. Nas leis de responsabilidade pessoal encontradas no

Código de *Hamurabi, a pena por um ferimento po­

dia ser a aplicação do m esm o ferim ento através da mutilação ou o pagamento de uma multa, dependen­

do da posição social tanto do acusado como da vítima.

Mesmo nos casos em que a lei mesopotâmica exigia a retribuição exata do m al infligido, é possível que um

valor monetário fosse pago como indenização (a não

ser que constasse explicitamente da lei), evitando que um olho ou um dente fosse de fato arrancado.

20.1-20As leis sobre a guerra20.2. sacerdote dirigindo-se ao exército. Visto que a guerra era encarada com o um a atividade religiosa,

esperava-se que os sacerdotes e outros funcionários religiosos acompanhassem o exército. Os textos e rele­

vos *assírios ilustram o papel dos sacerdotes acompa­

nhando as tropas. Eles carregavam ou escoltavam as

imagens e sím bolos dos deuses (ver Js 6.4, 5; 1 Sm4.4), realizavam *rituais religiosos e sacrifícios e, cer­

tam ente, dirigiam -se ao exército, falando em nome

dos deuses. Esta última tarefa envolvia a interpreta­ção de presságios garantindo a presença e a ajuda dos

deuses, e exortar as tropas a lutar pelo rei escolhido

pela divindade (como nos anais de Tukulti-Ninurta I

[1244-1208 a.C.]. e Assumasirpal II [883-859 a.C.]).20.5-9. dispensa do serviço m ilitar. Apesar de todo

homem saudável ter a obrigação de servir o exército

na prática, certas dispensas eram permitidas a grupos específicos, tais como, sacerdotes (nos textos de *Mari),

recém-casados (Dt 24.5) e todos que tivessem alguma obrigação relig iosa a cum prir (ver Lv 19.23-25). O

serviço militar obrigatório fazia parte das obrigações

dos vassalos ao rei e seu cum prim ento se dava de diversas formas, inclusive através de recenseamentos

e coerção (em Mari). A determinação bíblica de que os "m edrosos" poderiam ser dispensados do exército tal­vez tivesse como base a m anutenção da disciplina nos

pelotões, além de ser uma garantia de que todos os

que lutassem confiariam na ajuda de Yahw eh duran­te a batalha (ver Jz 7.1-3). Os códigos de leis às vezes

são contraditórios na questão de contratar substitutos

para o serviço militar. O código *hitita permitia essa prática, considerada ilegal pelo Código de *Hamurabi. Talvez fosse possível abrir algumas exceções no caso

de membros da nobreza, resguardando-os de quais­quer problem as legais. O épico cananeu intitulado

*Kerret relata uma situação em que o rei convocou o

exército para uma causa de grande importância, da qual as dispensas que normalmente aconteceriam (de

recém-casados, por exemplo) não foram aceitas.20.10-15. práticas com uns de guerra. No mundo anti­

go, os soldados não recebiam soldo, m as recebiam

uma parte dos espólios tomados na conquista de po­voados e cidades. Pelo fato de as guerras serem con­sideradas missões divinas, ordenadas pelos deuses e facilitadas pela intervenção divina, todo despojo obti­do em batalha teoricamente era visto como proprieda­

de sagrada dos deuses. Como resultado, para que não houvesse violação de tabus sagrados, a divisão tinha de seguir certos critérios restritos. Por exemplo, nos textos de *M ari, oficiais fizeram juram ento de não "com er o asakkum" (ou seja, infringir os direitos) de seus iguais ou de patentes inferiores. Os infratores eram punidos com pesadas m ultas. Seguindo esse mesmo padrão, os exércitos mesopotâmicos e israelitas geralm ente tom avam as m ulheres e crianças como espólio, juntam ente com os animais e bens m óveis, ao passo que os homens eram mortos (ver Gn 34.25-29; Anais * Assírios de Senaqueribe). Desse modo, os es­forços do lado vitorioso eram recompensados, e o efei­to psicológico da visão das cidades devastadas servia ao propósito de aumentar a fama da nação conquista­dora e de seu(s) deus(es).

20.16-18. procedim entos da guerra santa. Em circuns­tâncias excepcionais, um exército podia abrir mão dos prisioneiros ou do espólio e dedicá-los inteiramente ao deus que lhes dera a vitória. Essa prática era co­nhecida como *herem em hebraico, sendo usada muito raramente como método de guerra. Som ente em al­guns contextos Deus ordenou a destruição total: Jericó, em Josué 6.17-24, Hazor, em Josué 11.10, 11, Zefate, em Juizes 1.17 e os am alequitas, em 1 Sam uel 15.3. Em algumas situações, uma variação da destruição total foi permitida, como em Deuteronômio 2.34, 35 e3.6, 7 (as pessoas deveriam ser m ortas, m as os ani­mais seriam poupados e tomados como espólio). Fora da Bíblia, essa estratégia de guerra é comprovada já no século nono a.C., na guerra contra a tribo de Gade travad a pelo rei m oabita M esha. U m conceito se­m elhante pode ser visto nos anais de diversos reis *assírios, que faziam uso da destruição total como um recurso psicológico para am edrontar e subjugar as nações rebeldes.20.20. cercos. Para capturar um a cidade murada, era preciso empregar vários m étodos de cerco, como ram­pas (2 Sm 20.15; 2 Rs 19.32), torres (Is 23.13; Ez 21.22) ou construção de paredes ao redor dos muros para ev itar fugas (Ez 26.8; M q 5.1). A ríetes (Ez 26.9) e

suportes para túneis cavados por baixo dos m uros também exigiam o uso de toras ou vigas de madeira. Isso explica a permissão contida em Deuteronômio de cortar árvores durante o cerco. Os relevos *assírios de Assurnasirpal II (883-859 a.C.) em Ninrode retratam vários instrumentos e engenhocas utilizados para cer­cos em simultâneos m étodos de guerra.

21.1-9 Casos de homicídio não desvendado21.1-9. procedim entos acerca de sangue inocente. Vercomentários em Números 19 que abordam a questão

do significado do *ritual de purificação e do uso da novilha vermelha. Esses comentários tam bém tratam

da importância da expiação através do derramamento de "sangue inocente". Na lei *hitita, se um corpo fosse

encontrado a céu aberto, o herdeiro da pessoa morta recebia o direito de posse de algum a propriedade

situada na cidade m ais próxima ao lugar onde o corpo fora encontrado, até um a distância de três léguas.

Essa legislação preocupava-se mais com os direitos do

herdeiro do que com a questão do derramamento de sangue inocente.

21.10-14 Direitos das prisioneiras21.10-14. tratam ento dado a prisioneiras. Os prisio­neiros de guerra eram comuns e por isso, as leis regu­

lam entavam o tratamento a eles destinado. Algumas prisioneiras acabavam servindo como escravas (2 Rs

5 .2 ,3 ), mas muitas podiam ser tomadas como esposas

pelos soldados. A lei de Deuteronômio aborda o pro­

cesso de integração dessas m ulheres na sociedade israelita. O processo incluía rapar a cabeça, mudar as

vestes e passar por um período de luto simbolizando

a morte da vida antiga e o início de uma nova vida

(compare com a transformação à qual José foi subme­tido, em Gn 41.41-45). Os textos de *M ari tam bém

garantiam às prisioneiras receber roupas novas e um

trabalho. Um a vez casada com um israelita, os direi­tos daquela que fora prisioneira eram os mesmos das

mulheres israelitas e a lei deixava claro que, no caso

de divórcio, sua posição não seria alterada. Preocupa­ções sem elhantes aparecem nas leis *medo-assírias,

determinando que, um a vez casadas, as ex-prisionei­

ras deveriam usar o m esm o tipo de roupas usadas

pelas m ulheres assírias daquela posição social.

21.15-21 Tratamento dos filhos21.15-17. direitos do prim ogênito. Os direitos de he­

rança se baseavam na lei da primogenitura. Segundo

essa lei, a propriedade do pai deveria ser dividida em partes iguais para todos os filhos, m as o primogênito

devia receber um a porção dobrada. Essa era a prática

usual no antigo Oriente Próximo, como pode ser com­provada em textos medo-assírios e nos documentos de

*Larsa, *M ari e *Nuzi, sem mencionar outras fontes.

O objetivo dessas leis era assegurar a transm issão

justa e ordenada da propriedade de um a geração a

outra. A lei de *Hamurabi dava ao pai o direito de

favorecer qualquer um de seus filhos. Nos textos de

Nuzi o pai tinha a possibilidade de mudar os direitos

do primogênito. No antigo Oriente Próximo, a legis­lação que m ais se aproxim a a esta descrita aqui é a cláusula na lei de H am urabi que afirm ava que os

filhos de uma escrava, se reconhecidos enquanto o pai

fosse vivo, teriam parte na herança igual à dos filhos

da m ulher livre.21.18-21. punição dos filh os rebeldes. Quando a uni­

dade de uma família era abalada ou um filho se recu­sava a tratar os pais com obediência e respeito que

lhes era devido, essa rebeldia representava um a ame­aça à comunidade como um todo. A linguagem usada

nesse trecho deixa claro que se tratava de um repúdio

à *aliança. O fato de o filho ser descrito como "devasso e bêbado" é um indício de que não havia esperança

de reabilitação. O processo incluía o testemunho dos

pais sobre a ofensa praticada e o condenado era então

executado pela coletividade, conform e a prescrição bíblica (ver comentário em Dt 13.10). Esse delito era

considerado tão grave quanto a adoração a outros deu­ses e, por essa razão representava um a ameaça à ali­

ança. A lei mesopotâmica também defendia o direito dos pais, mas a punição máxima se limitava a deserdar

ou a mutilar. Ver comentário em Êxodo 21.17. A legis­

lação de Deuteronômio limitava a autoridade dos pais,

fazendo com que levassem a questão diante das auto­ridades, em vez de agirem de modo independente.

21.22, 23Tratamento dos criminosos executados21.22, 23. exposição do corpo dos crim inosos. Visto

que as leis deuteronômicas raramente tratam de ques­tões de *pureza ritual ou de contaminação (ver Lv 13­

17 e com entários em Lv 20.10-16; 22.3-9), pode ser que o sentido de "contam inar" a terra seja pela visão

do cadáver em decomposição ou do odor decorrente

de sua exposição. O cadáver era considerado algo im puro (Lv 22.8; N m 5.2) e, portanto, representava

um perigo para os vivos. Poucas narrativas descre­

vem a prática de exposição de cadáveres (Js 8.29;10.26, 27; 2 Sm 4.12; 21.8-13). É pouco provável que a

forma de execução usada aqui seja o enforcamento. Relevos *assírios do palácio de Senaqueribe, em Nínive

(704-681 a.C.) ilustram soldados levantando estacas com corpos empalados de homens da cidade de Láquis.

É possível que o horror dessa form a de exposição humilhante tenha originado a lei israelita que exigia

que o corpo fosse removido e enterrado ao entardecer, em vez de deixá-lo exposto para ser devorado por aves ou outros animais (Gn 40.19; 2 Sm 21.10).

22.1-12 Diversas leis22.1-3. bens perdidos. Como em Êxodo 23.4, o israelita deveria proceder de duas maneiras quanto a objetos

perdidos (animais, roupas etc.): devolvê-los ou mantê- los em seu poder até que alguém os reclamasse. Jun­tando as duas leis, essa máxima aplica-se tanto a com­patriotas israelitas como a inimigos. As leis de *Esnuna e *Hamurabi tam bém tratam dessa questão, mas am­pliam o alcance da legislação incluindo as responsabi­lidades do que encontra o objeto perdido e os direitos legais do proprietário quando o bem é colocado à venda novam ente.22.5. inversão dos atributos sexuais no antigo O rien­

te Próxim o. No mundo antigo as roupas serviam para indicar a posição social da pessoa e também para dis­

tinguir os sexos. N o contexto clássico, os atores de teatro usavam roupas femininas para representar per­sonagens do sexo fem inino, já que era proibida a participação de m ulheres; vestir-se com roupas de mulher era também um aspecto da prática homosse­xual. A m aioria das vezes em que esse costum e é m encionado em textos do antigo O riente Próxim o, apresenta um caráter *cultual ou legal. Por exemplo, quando o herói *Aqhat, de *Ugarite, foi assassinado, sua irmã Paghat passou a usar roupas de hom em por baixo de suas vestes fem ininas, a fim de assum ir o papel de vingador do sangue, caso nenhum parente do sexo masculino tomasse a iniciativa de fazê-lo. Um texto *assírio contém um diálogo entre um casal que se propõe a trocar as roupas, cada um assumindo o papel do outro. Talvez fosse um rito de fertilidade ou então parte de um a encenação religiosa em honra a uma deusa. Essa relação com outras religiões pode ter sido a causa desse tipo de atitude ser considerada como "abom inação" em Deuteronômio, mas a ques­tão também pode estar relacionada a dificultar a dis­tinção entre os sexos. Textos *hititas m encionam obje­tos e roupas relacionados a cada um dos sexos em uma série de ritos mágicos usados para influenciar a sexu­alidade ou diminuir ou alterar a identidade sexual do adversário. Os objetos que caracterizavam o sexo fe­m inino eram o espelho e o fuso, ao passo que diversos tipos de armas identificavam a masculinidade.22.6, 7. procedimento em relação aos ninhos de pás­saros. A lém da aparente preocupação hum anitária com o bem -estar das criaturas envolvidas aqui, a pre­servação da natureza é garantida através da orienta­ção de deixar o pássaro adulto livre para reproduzir- se novamente. Essa prescrição pode ser comparada à proibição do abate de árvores frutíferas, em Deutero­nômio 20.19, 20. Em ambos os casos as fontes de ali­mento são preservadas para o sustento futuro e ao

mesmo tempo uma alternativa é sugerida para aten­der às necessidades imediatas.22.8. parapeito no terraço da casa. Visto que os terra­ços e telhados das casas eram espaços utilizados nor­malmente (ver 2 Sm 11.2; 2 Rs 4.10), o parapeito seria um a m edida de segurança adequada. Essa lei diz respeito à responsabilidade do proprietário da casa pela segurança de seus hóspedes e à culpa que recai­ria sobre ele, caso alguém se m achucasse devido a descuido na construção da casa. O Código de *Hamu- rabi (leis 229-33) alerta os construtores quanto a um trabalho de baixa qualidade ou sem segurança, capaz de provocar acidentes ou mesmo a morte de pessoas. As punições para essa negligência iam desde multas até a pena de morte.22.9-11. m isturas. Algumas misturas eram restritas ao uso sagrado. Por exemplo, a m istura de lã e linho era usada no tabernáculo e nas vestes do sumo sacerdote, sendo reservada apenas para esse fim. Essa explica­ção encontra-se nos Rolos do M ar Morto (4QMMT). Plantar dois tipos de semente tam bém era proibido pelas leis *hititas, e seus infratores eram ameaçados de morte. Em bora não esteja bastante claro por que essas misturas eram proibidas, é bem possível que a razão esteja relacionada a tabus culturais ou religio­sos. O fato de que o produto de duas sementes estaria "contam inado" ou seria confiscado pelos sacerdotes, sugere que a m istura tinha im plicações religiosas e talvez fosse um a reação à prática ou aos rituais de fertilidade cananeus. Em Levítico 19.19 a proibição é contra cruzar animais de espécies diferentes, enquanto que aqui a preocupação é relativa a arar a terra usan­do dois animais diferentes. Experimentos com hibri- dação ou cruzamento de espécies remontam ao tercei­ro m ilênio a.C..22.12. borlas. Todos os homens israelitas tinham de costurar cordões azuis nos quatro cantos da bainha de suas vestes como um mem orial perpétuo dos m an­dam entos de D eus (Nm 15.37-41). Bainhas decora­tivas eram comuns na moda do antigo Oriente Próxi­mo conforme evidências encontradas em relevos, pin­turas e textos. O tipo de bainha, muitas vezes, era um símbolo da posição ou do cargo da pessoa. As borlas eram simbólicas e tinham o objetivo de levar a pessoa

a fazer o que era certo e não servir como *amuletos para afastar o perigo ou tentações.

22.13-30 Leis concernentes ao casamento22.13-21. prova da virgindade. A virgindade m an­tida até o casam ento era valorizada como m eio de assegurar que os filhos e herdeiros eram realmente do marido e não de outro homem. A integridade da

família da mulher dependia da capacidade de provar sua virgindade. A evidência física exigida nesse caso eram os lençóis da primeira penetração (manchados de sangue devido ao rompimento do hímen) ou pos­sivelmente os panos usados durante o último período menstrual da mulher que comprovavam que ela não estava grávida antes do casamento.22.19. cem peças de prata. A multa imposta por falsa acusação atingia cerca de um quilo e cem gramas de prata. As leis de *Ham urabi incluem casos de falsa acusação sobre conduta sexual inadequada, mas não tratam do contexto de casamento e não há cobrança de

m ultas. Com base no preço de cinqüenta peças de prata pago pela noiva (22.29), essa punição chegava ao dobro do dote da noiva, o que representava um grande obstáculo a esse tipo de acusação. O valor era equivalente ao salário de dez anos de trabalho.22.22. adultério. Manter relações sexuais com a mu­lher de outro homem era crime punível com a pena de morte, tanto nas leis bíblicas como nos códigos do antigo O riente Próxim o. O texto egípcio Lenda dos Dois Irmãos descreve o adultério como um "grande crim e" que nenhum homem ou m ulher honestos de­veriam sequer considerar. O adultério era encarado como um ataque à fam ília do homem, visto que u­surpava seu direito de procriar e colocava em risco a transmissão ordeira de suas posses aos seus herdeiros (ver comentário em Êx 20.14). O ato em si maculava ambos os participantes (Lv 18.20; Nm 13.5). Por cons­tituir não somente um ataque à santidade da família, m as também um a fonte de contaminação geral à socie­dade, o adultério era considerado um m otivo para Deus expulsar o povo da terra (Lv 18.24, 25).22.23, 24. estupro na cidade. O estupro de um a vir­gem na cidade incorria em pena de morte tanto para o homem como para a jovem , porque a m ulher teria tido a oportunidade de gritar e, nesse caso, esperava- se que recebesse ajuda. A execução da m ulher basea­va-se na pressuposição de que o estupro fora cometido com o consentimento implícito de sua parte. Os códi­gos mesopotâmicos também incluem o local do estu­pro como parte da lei concernente a esse crime. As leis *sumérias, porém, dão mais ênfase ao fato de os pais saberem que a filha estava fora de casa e do estuprador saber se ela era escrava ou livre (as leis de *Ur-Nammu e *Esnuna im punham m ultas pelo estupro de uma escrava virgem ). A lei de *H am urabi assem elha-se bastante à lei deuteronômica: o estuprador deveria ser executado se atacasse um a mulher na rua e teste­m unhas atestassem que ela havia se defendido. As leis *medo-assírias perm itiam que os pais da vítima pegassem a esposa do estuprador e fizessem com que fosse estuprada; havia também a possibilidade de o

estuprador ter de casar-se com a vítima, se a família assim desejasse, em troca de um dote.22.23, 25. jov em prom etida em casamento. O contra­to de casamento era um pacto sagrado comparável à *aliança feita com Yahw eh (ver Ez 16.8). O acordo de casamento: (1) estabelecia o preço da noiva bem como o valor do dote; (2) garantia que a noiva se manteria virgem até o casamento e (3) exigia completa fidelida­de de am bas as partes. O casam ento era um fator social e econômico de grande importância no antigo Oriente Próximo, dando origem a uma enorme quan­tidade de leis. As leis de *Esnuna e de *H am urabi explicam a importância de firm ar um contrato oficial de casamento e as leis de Ham urabi tam bém orien­tam quanto ao pagamento do preço da noiva e quan­do um a das partes deseja rom per o contrato (ver 2 Sm 3.14). Assim que o acordo era firm ado, esperava-se que as outras pessoas respeitassem a condição da noi­va, que já era considerada como casada (ver G n 20.3). Assim, as leis sobre o adultério podiam ser aplicadas plenamente, mesmo antes da cerimônia e da consu­mação do casamento.22.25-27. estupro no campo. Nesse caso, a lei israelita

acrescenta outro critério para especificar a inocência da m ulher estuprada no cam po, onde seria pouco provável que seus gritos atraíssem qualquer tipo de ajuda. A pressuposição de sua inocência baseia-se na resistência implícita ao estupro sob essa circunstância. É provável que a lei se aplicasse tanto a m ulheres casadas com o a noivas prom etidas em casam ento, embora somente estas sejam mencionadas. Uma de­claração semelhante pode ser encontrada na lei *hitita, que condena o homem que se aproveita de uma m u­lher "n as m ontanhas" e condena a m ulher que for estuprada "n a casa (dela)" (ver sobre a m ulher adúl­tera em Pv 5.3-14).22.29. c inqü enta peças de prata. O preço da noiva provavelmente variava dependendo da posição soci­al e das posses da família. Cinqüenta peças de prata talvez fosse o valor-padrão (equivalente ao valor da virgindade da noiva, de acordo com as leis *medo- assírias), mas provavelmente outros itens eram consi­derados tam bém (com pare com Ex 22.16, 17). Para que houvesse parâmetros nessas negociações, os tex­tos religiosos de *Ugarite descrevem o deus-lua ofere­cendo m il peças de prata como valor pago pela deusa- lua N ikkal. Para entender os valores envolvidos é

importante considerar que o salário anual no mundo antigo correspondia a cerca de dez peças de prata.22.29. divórcio no antigo O riente Próxim o. A decla­ração m ais direta sobre divórcio encontrada nos códi­gos legais do antigo Oriente Próximo é a lei m edo- assíria 37, que sim plesm ente estabelecia que o ho­

mem tinha o direito de se divorciar de sua m ulher e decidir se daria ou não um a pensão a ela. Outras

cláusulas, porém, m encionam alguns motivos para o

divórcio: negligência da esposa em cuidar das tarefas dom ésticas (Ham urabi); esposa que abandonar seu

marido(leis *medo-assírias); incapacidade de gerar fi­

lhos (Hamurabi). De m odo geral, há indícios de que

tanto no Egito como na M esopotâmia, os homens po­diam divorciar-se de suas esposas praticam ente por

qualquer motivo. Existem tam bém diversas fontes que prescrevem um a pensão fixa: um a mina de prata

para a esposa principal e m eia m ina de prata para

um a ex-viúva (Ur-Nam m u); um a m ina de prata se

não tivesse sido pago o preço da noiva (Hamurabi).

Deve-se destacar que as m ulheres tam bém tinham alguns direitos quanto ao divórcio: manter o preço da

n oiva (leis m edo-assírias); receber de volta o dote

(Hamurabi); receber uma parte da herança como dote (Hamurabi). Havia tam bém o caso em que a mulher

podia abandonar o marido, se o casamento não fosse

satisfatório, levando consigo seu dote (Ham urabi).

Entretanto, esse caso dependia de uma análise de seu caráter, que poderia levá-la à execução se fosse encon­trada nela alguma culpa (Hamurabi).

22.30. incesto. O incesto era igualmente detestável na

m aioria das sociedades do antigo O riente Próxim o

(veja proibições nas leis *hititas). A exceção mais notá­vel é o Egito, onde o incesto era um a prática comum

na família real (mas pouco confirmada em outros con­

textos), usado como meio de fortalecer ou consolidar a

autoridade real. Esse costume tam bém é encontrado entre os reis *elamitas. As leis de *Hamurabi exigiam

a execução do filho que tivesse relações sexuais com a mãe após a morte do pai.

23.1-14Casos de profanação da assembléia e do acam­pamento23.1-8. excluídos da assem bléia. A expressão "A s­

sembléia do Senhor" bem como a forma mais comum, "assem bléia de Israe l", era um term o técnico para

designar todos os homens com direito de tom ar deci­sões, participar de atividades *cultuais e servir o exér­

cito de Israel (Mq 2.5). Por ser um povo escolhido, do qual exigia-se pureza *ritual como requisito da *alian-

ça (Ex 19.6), os impuros e estrangeiros eram excluídos das atividades da assembléia. Os casos mencionados

incluem pessoas com os órgãos sexuais mutilados (pro­vavelmente eunucos) e assim, incapazes de procriar,

filhos de uniões ilícitas (inclusive de incesto e casa­

m ento m isto) e certos grupos nacionais que jam ais poderiam ser inseridos na assembléia.

23.4. terra de Balaão . A localização exata da terra onde Balaão vivia é desconhecida. Números 22.5 ,23 .7 e D euteronôm io 23.4 parecem indicar que seria na região do alto Eufrates, talvez na localidade de Pitru, ao sul de Carquem is, m encionada na inscrição do monólito do rei Salm aneser III (858-824 a.C.). A via­gem de Balaão, descrita em N úm eros 22.21-35, po­rém, sugere uma distância menor, talvez partindo de Am on.23.9-14. pureza do acampamento. Visto que o exérci­to estava engajado num a guerra santa, todos deve­riam manter-se num estado de pureza ritual em con­formidade com a santidade de Deus. Assim, questões de higiene pessoal eram valorizadas reforçando a ne­cessidade de manter a limpeza do corpo (ver Lv 15.16, 17) e do acam pam ento. Evidentem ente havia uma razão sanitária na orientação de cavar latrinas fora do acampamento, m as o objetivo principal dessas ativi­dades triviais era evitar a impureza *ritual que leva­ria Deus a afastar-se de Israel, abandonando-os (ver Dt 8.11-20).

23.15-25 Diversas leis23.15, 16. escravidão. Em bora existisse em Israel a escravidão decorrente de dívidas, após um período máximo de seis anos o escravo nessa situação deveria ser liberto. A escravidão perpétua tam bém existia, mas era limitada aos prisioneiros estrangeiros e aos israelitas que tinham tomado a decisão de aceitar aquela condição (Êx 21.2-11; D t 15.12-18). É mais provável que o trecho em questão refira-se a esta segunda cate­goria de escravos, visto que escravos de dívidas eram libertos depois do período estipulado pela lei. A lei israe lita que trata do escravo fu gitivo é bastante incom um dentro do contexto legal do antigo Oriente Próxim o. Talvez estivesse relacionada à escravidão anterior dos israelitas no Egito, ocasionando o ódio nacional contra essa instituição (ver Êx 22.21). O Códi­go de *Hamurabi considerava crime capital esconder um escravo fugitivo e estabelecia um a recompensa de duas peças de prata para quem encontrasse e devol­

vesse um escravo. De m odo sem elhante, o tratado internacional entre o faraó Ram sés II e o rei *hitita Hattusilis III (cerca de 1280 a.C.) continha um a cláusu­

la de extradição exigindo a devolução de escravos fugitivos.23 .17 ,18 . ^prostituição cultual. Existiam diversas ca­tegorias de prostituição. A prostituição podia ser "sa ­grada", em que os lucros eram encaminhados ao tem­plo, ou "cultual", cujo objetivo era assegurar a *fertili- dade através do ritual sexual. Tanto a prostituição cultual como a sagrada podiam ser diferenciadas tam ­

bém como ocasional (ver Gn 38) ou profissional (ver 2 Rs 23.7). Não há evidências que permitam confirmar a existência de prostituição cultual no antigo Israel ou em outras partes do antigo Oriente Próximo. Em tex­tos cananeus, as prostitutas eram consideradas funcio­nárias dos templos e a literatura *acadiana comprova que algumas dedicavam-se ao serviço do templo por toda a vida. Embora a palavra hebraica usada neste texto esteja relacionada à palavra acadiana para pros­tituta, não é suficiente para provar a ligação com qual­quer prática cultual ou ritual religioso. Possivelmen­te, as prostitutas eram contratadas como meio de le­vantar recursos para os templos, sem que ocupassem um a posição oficial como sacerdotisas. A lém disso, como as mulheres não tinham posses nem fonte de renda, geralmente a única m aneira de ganhar algum dinheiro para pagar um voto era através da prostitui­ção. A ordem para não trazer os ganhos de um a pros­tituta ao tem plo pode, no entanto, ser um a reação contra as práticas realizadas no templo de *Istar (perí­odo neobabilônico), onde os devotos contratavam mu­lheres de sua comunidade como prostitutas, encami­nhando o salário delas ao templo. Tudo isso demons­tra a existência da prostituição sagrada, tanto ocasio­nal como profissional, em Israel e no antigo Oriente Próxim o. A prostituição cultual, no entanto, é mais difícil de comprovar. Esse tipo de prostituição é difícil de ser confirmado na M esopotâmia, com exceção do ritual anual de casamento sagrado. Apesar da falta de evidências, é difícil imaginar que as prostitutas que serviam no templo de Istar (que personificava a ener­gia sexual) não tivessem um papel sagrado no culto à fertilidade. A palavra "prostituto" usada em Deutero­nômio 23.18 é um termo comumente empregado em hebraico para "cachorro". Na inscrição de Kition, do século quarto a.C., esse termo é usado para descrever um grupo que recebia mantimentos do templo. Tal­vez seja um a m enção a um oficial ou sacerdote do templo. Estudos recentes têm mostrado que, ao me­nos no período persa (século sexto ao quinto), os cães tin h am um papel im p ortan te na p rática *cu ltual fenícia. Kalbu (cão) tem um sentido positivo de "aque­

le que é fiel", como pode ser observado pelo uso em nomes próprios (como o Calebe bíblico) (ver Êx 34.16).23.19, 20. cobrança de juros. Ver comentário em Êx22.25. No texto de Deuteronôm io aparece explicita­mente a permissão para a cobrança de juros aos es­trangeiros, embora o texto de Êxodo nada mencione sobre isso.23.21-23. votos. U m dos mandamentos do Decálogo afirma que ninguém deve "tom ar em vão o nome do Senhor" (Êx 20.7). Quando alguém proferia um jura­m ento em nom e de D eus, estava assu m in do um

compromisso com o próprio Deus. Assim/ se a pessoa

falhasse em cum prir as condições do voto, o juram en­

to estaria quebrado e ela estaria sujeita à ira divina

(ver Jz 11.35,36). A orientação contida em Deuteronô- mio acerca dos votos é bastante parecida com o texto

de Eclesiastes 5.4-7 e tem por objetivo alertar contra palavras insensatas, encontrando muitos paralelos na

literatura de sabedoria do antigo Oriente Próximo. O

texto assírio do século sétimo a.C., Instruções de *Ahiqar observa que a "palavra hum ana é como um pássaro;

uma vez solto, não há como capturá-lo novam ente".

As Adm oestações de Am enenope tam bém afirm am de modo bastante semelhante que "parar e pensar antes

de falar... é um a qualidade que agrada os deuses"

(cerca de 1100 a.C.). Para mais informações sobre vo­tos, ver comentário em Levítico 27 e Números 30.

23.24, 25. apanhar com as mãos. Assim como as viú­

vas tinham perm issão p ara rebuscar nos cam pos e pomares e assim obterem o suficiente para seu susten­

to, como providência de Deus era permitido ao via­jante saciar sua fome com um punhado de frutas ou

cereais ao passar por um a plantação (ver D t 24.19-21).

Colher no cam po vizinho, porém , era considerado

roubo. Os direitos de hospitalidade dos viajantes tam ­bém são abordados no texto egípcio, A Lenda do Cam­

ponês Eloqüente (cerca de 2100 a.C.).

24.1-22Proteção da dignidade24.1-4. divórcio. A base para o divórcio nesse texto

bíblico é a insatisfação do marido em relação à esposa

(como nas leis *medo-assírias). As razões para o divór­

cio deviam ser claras (como nas leis *medo-assírias e de *Hamurabi). A "certidão de divórcio" era emitida

com base nesses critérios (Jr 3.8), que à maneira de outros procedimentos legais, deveria ser examinada

por um conselho de anciãos e confirmada por teste­

munhas (como nas leis de Hamurabi). Para informa­ções mais detalhadas, ver comentário em Deuteronô- mio 22.29.

24.4. contaminação. A forma pouco comum do verbo hebraico usado no versículo 4 deixa claro que a m u­

lher nesse caso era a vítima, não a culpada. Ela fora forçada a declarar-se impura diante das atitudes cru­

éis do prim eiro m arido, mas o segundo casam ento demonstrara que esse outro marido fora capaz de ade­

quar-se a qualquer *impureza que perturbasse a mu­lher. Assim, como a proibição é dirigida ao primeiro

marido e não à mulher, fica claro que o objetivo era evitar que ele se casasse novam ente com aquela m u­

lher (se isso acontecesse, ele teria algum ganho finan­ceiro); se a m ulher estivesse realm ente impura, a proi­

bição seria contra ela e impediria seu casamento com qualquer outro homem.24.5. norm as para o recém-casado. Esta lei humanitá­ria pode ser com parada à lei do recrutam ento em Deuteronômio 20.7, que dispensava os noivos do ser­

viço m ilitar, enquanto que aqui, especificam ente os hom ens recém -casados é que são dispensados. Em ambos os casos, o objetivo era que o homem tivesse o tempo necessário para gerar um herdeiro e constituir família. A lei apresentada no capítulo 24, porém, tam ­bém se refere ao direito do indivíduo de aproveitar das alegrias da vida antes de ir para a guerra.24.6. pedra de m oinho como m eio de subsistência. O moinho era constituído de duas pedras, geralmente de basalto. Os cereais eram colocados na pedra de

baixo (pesando cerca de 45 quilos), que era achatada ou ligeiram ente curva, e depois esm agados com a pedra de cima, mais leve (aproximadamente dois qui­los), até serem transformados em farinha. Os pobres, que não tinham condições de comprar farinha, tinham de m oer diariam ente a quantidade de cereais que necessitavam. Se fossem forçados a penhorar suas pe­dras de moinho por um dia de trabalho, poderiam acabar ficando sem o meio de garantir seu alimento.24.7. com ércio de escravos no antigo O riente Próxi­mo. Embora existisse comércio de escravos em todo o antigo Oriente Próximo (ver Gn 37.28-36), a lei proi­bia que se seqüestrasse cidadãos livres para serem vendidos como escravos (compare com Êx 21.16). Tan­to as leis deuteronômicas como as de *Hamurabi con­denavam o seqüestrador à morte. Era uma forma de restringir os mercadores de escravos que muitas ve­zes aumentavam sua mercadoria capturando crianças perdidas ou adultos desafortunados. A grande maio­ria das pessoas que acabavam sendo escravizadas ha­viam sido vendidas por suas próprias famílias ou en­tão eram prisioneiras de guerra.24 .8 ,9 . leprosos. Ver comentários sobre o diagnóstico de doenças de pele feito pelos sacerdotes em Levítico13.1-46. A instrução de Deuteronômio apenas reforça as prerrogativas e a autoridade dos sacerdotes em determinar se uma pessoa encaixava-se na descrição da doença (provavelmente psoríase ou outra doença de pele, visto que a hanseníase era desconhecida no Oriente Próximo até o período helenístico) e instruir sobre o *ritual de purificação quando curada.24.10-15. regras quanto ao penhor. No antigo Orien­te Próximo, era bastante comum nos negócios a práti­ca de "penh orar" um a parte da propriedade como garantia do pagam ento de um a dívida ou de outro compromisso financeiro. O Código de *Hamurabi e as leis *hititas estipulavam terras ou plantações como penhor. As leis m edo-assírias e de H am urabi trata­

vam dos direitos legais de pessoas que haviam sido dadas como penhor por causa de um a dívida. O que distingue a lei deuteronômica, se comparada à versão mais antiga da *aliança (Êx 22.26, 27), é sua ênfase na proteção dos direitos humanitários e da honra do de­vedor. Por essa razão, o credor não tinha o direito de entrar na casa do devedor para pegar algum objeto como penhor. Ao contrário, a dignidade do devedor era preservada através da manutenção do respeito à sua moradia, dando-lhe a oportunidade de escolher o que seria dado como penhor. Dessa forma, os pobres eram tratados do mesmo modo que todos os outros israelitas.

24.16. culpa individual. O conceito legal da responsa­bilidade individual é citado em 2 Reis 14.6 como base para poupar os filhos do homem que havia sido con­denado. O que não fica claro é a relação desse princí­pio com o conceito de responsabilidade *coletiva, evi­denciado em Deuteronômio 13.12-17 e 21.1-9. Nesses dois últim os textos, toda a nação tinha o dever de manter a pureza ritual eliminando os elementos que poderiam contaminá-la. No caso de a responsabilida­

de individual e a coletiva serem conceitos legais que coexistiam, então as situações em que famílias inteiras eram m ortas por causa do pecado do pai (Js 7.24-26; 2 Sm 21.1-9; 2 Rs 9.26) seriam encaradas como casos de castigo divino e não procedentes da ação do sistema civil legal.

24 .17 ,18 . ju stiça para os m ais fracos. M ais uma vez, os direitos das "categorias protegidas" da sociedade (viúvas, órfãos e estrangeiros) são mencionados (ver Êx 22.21-24; D t 26.12). A proteção e a provisão dessas pessoas está baseada na compaixão de Deus durante o acontecimento do êxodo, e também na promessa da *aliança de uma terra fértil. O tema da proteção legal aos menos favorecidos era bastante comum no antigo Oriente Próximo (Êx 23.6), especialmente na literatu­ra de sabedoria. Por exemplo, o texto egípcio Ensinos âe Amenemope inclui admoestações contra “roubar do pobre, enganar o aleijado e invadir a propriedade de um a v iú va". D entre os m uitos títu los usados pelo "cam ponês eloqüente" (literatura egípcia) para refe­rir-se ao governante local encontram-se "p ai dos ór­fãos" e "m arido das viúvas", relembrando-o de sua responsabilidade de defender os direitos dos m ais fracos na sociedade.

24.19-22. provisão para os necessitados. Visto que a abundância da colheita era um reflexo da promessa de Deus contida na *aliança, era justo que os proprie­tários de campos e pomares compartilhassem parte de suas colheitas (ver comentários em Êx 22.22-24 e Dt23.24, 25). Essa provisão visava atender a diversos propósitos, como assegurar que toda a comunidade

participasse dos esforços humanitários de sustentar os pobres (ver Lv 23.22), além da prática de deixar uma parte do campo sem colher, o que talvez estivesse

ligado ao pousio regular dos campos (Êx 23.10, 11), garantindo o descanso da terra e a preservação de sua fertilidade. No antigo O riente Próxim o, é provável

que parte da colheita deixada nos campos estivesse originalmente associada a ofertas dedicadas aos deu­

ses locais de *fertilidade. A o ofertar esses produtos aos pobres em vez de oferecê-los às divindades locais, o

escritor bíblico ao mesmo tempo elim ina o vírus da

adoração falsa e institui um sistema prático de assis­tência social.

25.1-19 Direitos individuais25.1-3. punições prescritas pelos tribunais. Nas socie­

dades m ais complexas, quando surgia um a disputa legal esta deveria ser encaminhada ao sistema judici­

ário. Esse sistema deveria contar com juizes e um local

para o depoimento das testemunhas. Nos povoados m ais sim ples, o sistem a judiciário era representado

pela reunião dos "anciãos" à porta da cidade ou à eira

(ver D t 21.18-21; R t 4.1-12). N as cidades, os ju izes eram oficiais nom eados pelo governo, que podiam

atender os recursos encaminhados pelos tribunais dos

povoados (Dt 17 .9 ,10) ou julgar casos dentro de sua própria jurisdição (2 Sm 15.3; Jr 26.10-19). A responsa-

büidade dos magistrados incluía ouvir o depoimento

das testemunhas, fazer um julgam ento com base na lei e garantir que a pena fosse aplicada exatamente

como a lei determinava (nas leis medo-assírias os juizes

tinham de assistir à aplicação da pena).25 .2 ,3 . lim ite do núm ero de açoites. As leis no antigo

Oriente Próximo (leis *medo-assírias e de *Hamurabi)

estipulavam que tanto homens como mulheres deve­riam ser açoitados quando cometessem algum crime.

O núm ero de açoites variava de vinte a sessenta. Em

Deuteronômio, porém, o limite máximo era de qua­

renta açoites. Esse limite talvez estivesse baseado no

valor simbólico do núm ero quarenta ou no grau de mutilação e hum ilhação pessoal suportável por um

israelita, sem que ele fosse permanentemente excluí­

do das atividades sociais e religiosas.25.4. uso do boi para debulhar cereais. Os bois eram

usados para arar a terra e para puxar debulhadores a

fim de triturar os cereais após a colheita. Os cereais eram espalhados na eira onde um pesado tronco era passado sobre os grãos. Os cascos do animal também

ajudavam no processo de debulhar os grãos. A ordem

para que o boi não fosse amordaçado enquanto debu­lhava o cereal segue o padrão hum anitário das leis

anteriores, permitindo ao animal comer um a parte do

cereal como recompensa pelo seu trabalho. Visto que poucos proprietários de terra possuíam seu próprio

gado, os bois eram fornecidos pelo governo (presente

nos textos de *Mari) ou alugados dos fazendeiros mais

ricos ou até de outros povoados (como nas leis de *Lipite-Istar e de *Hamurabi, que incluíam estatutos

quanto ao aluguel de bois e sua conservação).25.5-10. casam ento por levirato. Para informações adi­

cionais sobre essa prática, ver comentário em Gênesis

38.6-26. As ordens estabelecidas pelas leis *hitita (193) e medo-assíria (33) são bastante sem elhantes embora

nenhuma delas ofereça um a explicação quanto à pro­

vidência de um herdeiro ou à transmissão de propri­

edades, questões abordadas em Deuteronôm io. A s­sim , apesar de ter com o objetivo garantir à viúva

segurança e sustento através do casamento com o cu­

nhado, além da continuidade da família, a lei visava primordialmente fazer cumprir os direitos do marido

falecido. A responsabilidade do cunhado (descrito

como o parente mais próximo) para com o irmão fale­cido podia ser um peso em term os financeiros (ver

Rute 4). Desse modo, a segunda parte da lei permitia

a esse parente próximo se desobrigar do seu compro­misso publicamente permitindo que a viúva, de acor­

do com o que está registrado em Rute, se casasse com quem desejasse. Embora o cunhado tivesse de se sub­

m eter a hum ilhação pública, os fatores financeiros

envolvidos talvez justificassem sua recusa em casar-se

com a viúva.25.7, 8. anciãos à porta da cidade. N as cidades do

antigo Oriente Próximo a porta da cidade era o lugar

onde se realizavam os tribunais e as transações co­

merciais, devido ao tráfego constante de pessoas pelo local. Os m ercadores m ontavam suas barracas ou sim­

plesm ente se sentavam debaixo de um toldo e ali ficavam à espera dos fregueses, que vinham até eles

(ver Ló em G n 19.1). Quando surgia alguma questão legal, era possível encontrar vários anciãos assenta­

dos junto à porta da cidade (Pv 31.23) ou quando isso

não ocorria, os que estavam passando por ali eram convocados a se reunir (Rt 4.1, 2).

25.9. tirar a san dália. A s sandálias eram o tipo de calçado m ais usado no antigo Oriente Próximo. Além

de fazer parte da vestimenta, elas também eram um elemento de valor simbólico, especialm ente na rela­

ção entre a viúva e seu tutor legal. Isso se deve ao fato de que a posse da terra era baseada numa área trian­

gular que a pessoa conseguia caminhar por uma hora, um dia, um a semana ou um mês (1 Rs 21.16 ,17). Os

lotes eram medidos e marcados em triângulos, usan­do pedras como m arcos de divisa (Dt 19.14). Visto que

a pessoa fazia a marcação calçando sandálias, estas passavam a ser um tipo de escritura móvel daquela

terra. Ao remover as sandálias de seu tutor (Rt 4.7), a

viúva removia dele a autoridade para administrar a terra de sua família.

25.11, 12. lei. O código *medo-assírio apresenta um conceito bastante sem elhante a essa lei, em que o

grau de punição física aplicada à m ulher dependia do

dano causado aos órgãos genitais. Aparentemente, o

castigo da lei deuteronômica se baseia não no grau do dano infligido aos órgãos sexuais do homem, mas sim

no ato indecoroso praticado pela mulher. A mão da

mulher deveria ser cortada por ser o membro causa­dor do ato (ver comentário sobre as leis de talião em

Deuteronômio 19.21). Embora a mulher estivesse ten­

tando ajudar o marido, ao agarrar os órgãos genitais

de outro homem ela estaria cometendo um gesto se­

xual que causaria desonra a ela e a seu marido.25.13-16. padrões de pesos e m edidas. O comércio em

um a sociedade onde não existia moeda dependia de

padrões de pesos e medidas. M odelos de pesos de pedra e metal, m arcados com símbolos especificando

valores de peso, foram encontrados em tumbas egíp­

cias e em diversos lugares em Israel e na Mesopotâmia

(pesos com a figura estilizada de um leão foram en­contrados nos sedimentos do oitavo século a.C., em

N inrode, na *A ssíria). O m ercador que usava um

peso mais pesado para comprar e outro para vender

estava defraudando seus fornecedores e clientes (ver Pv 11.1; 20.23; A m 8.5). Em bora isso fosse condenado

como um a prática abominável, era bastante comum

no mundo antigo. Um bom exemplo aparece no texto

egípcio A Lenda do Cam ponês Eloqüente, que acusa funcionários do governo e distribuidores de cereais de lesar o povo.

25.17-19. am alequitas. Ver comentário em Números

24.20. Os am alequitas vagaram por vastas faixas de terra no N eguebe, na Transjordânia e na península

do Sinai. Não há evidências desse povo fora da Bíblia e nenhum vestígio arqueológico pode ser comprova-

damente ligado a eles. No entanto, pesquisas arqueo­lógicas conduzidas nessa região descobriram amplas

evidências de grupos nômades e seminômades seme­lhantes aos amalequitas durante esse período. Apesar

de diversas tentativas para elim inar os am alequitas (Êx 17.8-13; 1 Sm 15.2, 3), eles reaparecem como ini­migos de Israel em um número alarmante de ocasiões

(Jz 6.3; 1 Sm 30.1; 2 Sm 8.12; 1 Cr 4.43). Sua recusa em ajudar os israelitas a atravessar o Sinai serviu de base

para a inimizade original,como também aqui, mas as

disputas subseqüentes provavelm ente foram decor­rentes de conflitos territoriais e invasão de povoados.

26 .1-18O s p r im e ir o s fr u to s

26.1-5. oferta dos prim eiros frutos no antigo O riente Próxim o. O princípio religioso envolvido na oferta dos "prim eiros frutos" (animais, vegetais ou hum a­nos) aos deuses tinha com o base a promoção da ferti­lidade. D esde os primórdios, existia a crença de que os deuses haviam gerado a vid a em suas variadas form as e, portanto, esperavam receber em troca a prim eira colheita ou o prim eiro fruto do ventre. A religião israelita fez algumas m udanças, permitindo que o filho primogênito e a prim eira cria fossem res­gatados (Êx 13.11-13; N m 18.14, 15). A entrega dos prim eiros frutos tam bém podia assum ir um caráter político. O s anais *assírios de Senaqueribe (705-681 a.C.) contêm um a ordem dada por ele aos povos con­quistados para que oferecessem os prim eiros frutos das ovelhas, vinhas e tamareiras aos deuses da Assíria. 26.5. aram eu errante. A declaração contida neste tre­cho enfatiza o caráter nôm ade dos ancestrais de Israel. A terra natal de Abraão e de sua fam ília geralmente é identificada como Padã-Arã ou A ra Naharaim (ver com entário em G n 11.28). A m enção aos aram eus relacionada a A braão e Jacó provavelm ente é um a referência às tribos espalhadas na alta M esopotân que ainda não haviam se juntado à nação de

citada em textos posteriores. Com base em outros^ exemplares de literatura *cuneiforme/ o nome de A rã

pode ter sido usado originalmente para (pesígftafc uma região (cf. Sippar-Ainnantum<^o ^éríc^^^babijonico antigo), e m ais tarde aplicado a^pesshaXque lá vivi-

aram eus, veram . P ara m ais info: comentário em Gêne; 26.8. "m ão podei ras egípcias,

ém e]

forte" como m etáfo- íbu tos de Deus aparecem

11.2 e 26.8 e na literatura !z 20.33). A origem desses term os

cõntrada em h inos eg ípcios reais e na ncfência oficial. Por exem plo, nas cartas de

arna do século catorze a.C., Abdi-H eba, gover­nador de Jerusalém , refere-se ao "braço forte do rei" como base para sua nomeação ao governo. D e m odo semelhante, o "H in o a O síris", da 18a Dinastia, des­creve a predom inância de Osíris sobre os outros deu­ses com a frase "quand o seu braço estava forte"; o "H ino a *Toth" de H arem hab's fala do deus-lua gui­ando o barco divino pelo céu com "braço estendido". 26.9. leite e m el. Ver comentário em 6.3.26.11. alegrar-se com os levitas e estrangeiros. Nova­mente as "classes protegidas" são mencionadas, e a ordem é de compartilhar um a porção da oferta sacrificial

com elas. Os grupos dos levitas e estrangeiros não tinham permissão para possuir terras e, assim, eram

prejudicados economicamente (ver 1.16; 12.18; 14.29; 16.11). A com pensação p ara a ajuda que recebiam vinha, no caso dos levitas, pelo serviço que presta­vam como sacerdotes e, no caso dos estrangeiros, por seu trabalho itinerante.26.12-15. dízim o no antigo O riente Próxim o. Ver co­m entários sobre dízimo em 14.22-29 e em Números 18.31, 32.26.12. terceiro ano, o ano do dízim o. Ver comentário em 14.29.26.12, 13. provisão para os necessitados. Os quatrogrupos de pessoas carentes eram os levitas, os estran­geiros, as viúvas e os órfãos. Por não possu írei^W ras nem terem a proteção de um a família, a n açãg tm hk a obrigação de prover a eles alimento e protec^a-4eg^Th (ver 1.16). A m aneira como recebiam ^eSê^ppb^era através do dízim o do terceiro aBo. [Presmtfe-se, po­rém , que outras provisões eram f^ a s V c a d a ano para sua sobrevivência (verJ&íW\2KLSÍ) J26.14. comer estado(d/Ttito^-ou im puro. Esta ladai­nha relacipnada'~á^ e à obediência, cujo

formato e ^ e i^ litó j^ \ o 4 u fa m e n to de pureza de Jó

(Jó 31), mja^rna q u eV oferente não havia contaminado a rêfeiçackêa^mda estando impuro. Como exemplo,

éi^as\qíle^ivessem tido contato com defunto eram ipradas impuras (Lv 5.2). O *ritual *hitita esta-

?lecia regras para a preparação do alimento do rei e para as ofertas de refeições aos deuses, advertindo cuidadosamente sobre a necessidade de limpeza físi­ca, bem com o a exclusão de certos anim ais (cães e

porcos) e pessoas ritualm ente im puros. O estatuto deuteronômico tam bém pode estar ligado a refeições rituais associadas ao *culto aos ancestrais ou a rituais cananeus e m esopotâm icos de *fertilidade (ver m u­lheres de luto por *Dumuzi/Tammuz, em Ez 8.14).26.14. ofertas aos m ortos. V er com entários em N ú­m eros 3 e D euteronôm io 14.1, 2 sobre *rituais associ­ados ao culto dos ancestrais. N este texto há um a ga­rantia de que a refeição sacrificial não havia sido con­tam inada por pessoas ou ações impuras, tal como de­dicar um a parte dela como oferta aos mortos. Esse tipo de oferta era feito com o objetivo de garantir o susten­to do espírito de um a pessoa morta, a fim de que se fortalecesse p ara seguir em sua jornad a até o Seol (como vem os em Tobias 4.17) ou então para descobrir algo a respeito do futuro (D t 18.11). A lém disso, o Salm o 106.28 m enciona que h á um a relação entre com er "sacrifícios oferecidos aos m ortos" e a adoração ao deus cananeu Baal. Porém , seja qual for o objetivo dessa oferta aos mortos, o fato é que esta oferta fazia com que outros poderes recebessem a confiança que devia ser colocada em *Yahw eh e , por essa razão as duas atitudes citadas foram condenadas pelo escritor

bíblico por provocarem contam inação e levarem à destruição.

27.1-8 O altar no monte Ebal27.2. altares de pedra p intados com cal. A s técnicas antigas de escrita incluíam: tinta para escrever em pa­piro (Egito); o estilo de escrita sobre placas de argila (Mesopotârrúa), instrum entos para gravações nas pe­dras e bastões de cera para uso em tábuas. Fazer ins­crições em pedras era um a técnica que gastava muito tempo, assim, um a alternativa para textos m ais longos era cobrir a superfície da pedra com um a cam ada de gesso e então escrever sobre ela enquanto ainda esta­va fresca. Inscrições desse tipo foram encontradas na re­gião da Palestina, em Deir A llah (ver comentários em N m 22.4-20) e em Kuntillet A jrud (ver comentário so­bre os postes de A será em 7.5).27.4. m onte Ebal. Ebal e Gerizim são montes situados ao redor da cidade de Siquém, na região montanhosa central. O monte Gerizim, com 870 metros de altitu­de, localiza-se ao sul e o monte Ebal, com 940 metros, fica ao norte. O altar m encionado no texto na verdade só será erguido em Josué 8. Alguns arqueólogos acre­ditam que vestígios desse altar foram encontrados, representados por uma estrutura em um dos picos do monte Ebal, com paredes medindo cerca de um metro e meio de espessura e quase três m etros de altura, feita de pedras. A m assa parece feita de barro e cin­zas, e algo semelhante a um a rampa vai até o topo. A estrutura está cercada por um pátio e ossos de animais espalham-se pelo local. A cerâm ica encontrada no sí­tio remonta ao ano de 1200 a.C..27.5. altar de pedras, sem ferram enta de ferro. Essas orientações são semelhantes àquelas encontradas em Exodo 20.25. A s ferramentas de ferro eram utilizadas para entalhar a pedra, m oldando-a de modo a tom ar a estrutura m ais robusta. A ltares de pedra lavrada foram encontrados em Judá (o m elhor exemplo está em Berseba). O altar aqui descrito não era para ser colocado em um santuário e talvez o uso de pedras brutas ajudasse a m anter essa distinção. Existe um altar de pedra no pátio do santuário da fortaleza de Arad que remonta ao período monárquico.27.6. 7. propósito do altar. Aparentemente esse altar não seria uma instalação permanente (outra razão para usar pedras brutas), tendo sido erigido para a celebra­ção das cerimónias naquela ocasião. A s ofertas eram especificamente sacrifícios de comunhão (ver comen­tário em Lv 3) e não h á m enção de ofertas de purifica­ção ou reparação.

27.8. le i escrita nas pedras. As leis de *H am urabi foram inscritas em um m onólito de diorito com 2,5

m etros de altura e expostas publicam ente para que todos pudessem vê-las e consultá-las. Inscrições reais geralm ente eram posicionadas em lugares de desta­que, do mesmo modo que atualmente fazemos inscri­ções em locais públicos como sepulturas, pedras fun­dam entais de edifícios e m onum entos em diversos lugares de valor histórico, com o objetivo principal de trazer à m emória das pessoas acontecimentos e feitos importantes. Os documentos de tratados e alianças no Oriente Próximo, ao contrário, eram colocados em lu­gares sagrados onde as pessoas comuns não tinham acesso. O propósito era registrar o acordo por escrito diante dos deuses em nome de quem o compromisso fora jurado.

27.9-26 As maldições proferidas no monte Ebal27.12. m ontes G erizim e Ebal. Ver com entário em11.29.27.15-26. proferir m aldições. A s maldições aqui não

são ameaças relacionadas ao que aconteceria a quem infringisse o acordo da *aliança, e sim maldições gené­ricas acerca de comportamentos específicos de trans­gressão da aliança. Este trecho representa um jura­mento solene feito pelo povo em relação a transgres­sões secretas. Esta cerimônia de juram ento geralmen­te acompanhava os tratados internacionais.27.15. ídolos. Ver comentário em 4.15-18.27.16. desonrar os pais. H onrar os pais significava respeitar suas instruções acerca da *aliança e pressu­punha a transmissão de um a herança religiosa. O lar era considerado uma ligação importante e necessária para a transmissão das instruções da aliança às gera­ções seguintes. Os pais deviam ser honrados por se­rem representantes da autoridade de Deus na preser­vação da aliança. Se os pais não fossem respeitados ou se sua autoridade fosse rejeitada, a aliança estaria em perigo. Nesse sentido, note que esse mandamento é acompanhado de um a promessa: uma vida longa na terra prometida pela aliança. No antigo Oriente Pró­ximo não era a herança religiosa, e sim a estrutura da sociedade que era ameaçada quando não havia res­peito pela autoridade dos pais e negligência pelas obrigações filiais. A s transgressões a esta lei incluíam bater nos pais, amaldiçoá-los, negligenciar o cuidado de pais idosos e não providenciar um sepultamento adequado (ver Êx 20.12).27.17. im portância dos marcos de divisa. Ver comen­tário em 19.14.27.19. ju stiça para os m ais fracos. Um dos principais aspectos da tradição legal israelita diz respeito ao cui­dado para com as pessoas classificadas como fracas ou desprovidas de recursos: as viúvas, os órfãos e os

estrangeiros (ver Êx 22.22; Dt 10.18, 19; 24.17-21). A preocupação com os necessitados é também evidente nos códigos de leis mesopotâmicos desde a m etade do terceiro m ilênio, tratando geralm ente de providen­ciar a proteção dos direitos e garantia de justiça nos tribunais.27.20-23. incesto e bestialid ade. O incesto era tam ­bém visto como uma atitude abominável em muitas outras sociedades antigas (ver, por exemplo, as proi­bições sobre incesto nas leis *hititas). A exceção pode ser vista no Egito, onde o incesto era um a prática com um na fam ília real (mas pouco confirm ada em outros contextos), usado como meio de fortalecer ou consolidar a autoridade real. Esse conceito tam bém pode ser encontrado entre os reis *elamitas. A bestia­lidade era praticada em situações de *rituais ou magia no antigo Oriente Próximo, estando presente na mito­logia de *Ugarite (onde é provável que fosse ritual­mente imitada pelos sacerdotes), porém proibida em textos legais (especialmente nas leis hititas).27.25. aceitar pagam ento para m atar um inocente. Não fica claro nesse versículo se a maldição diz respei­to ao pagam ento feito a um assassino (sendo assim um a variação do versículo anterior) ou refere-se ao suborno pago a um juiz ou a um a testemunha a fim de condenar um hom em inocente por um crime capi­tal, fazendo com que fosse executado (cf. 1 Rs 21.8-14). Em todas as épocas e lugares (ver Pv 6.35; M q 7.3) é possível encontrar juizes e funcionários do governo

sendo tentados a aceitar suborno. Essa prática acabou se tom ando um costume quase institucionalizado nos am bientes burocráticos, em que a competição entre facções rivais busca prejudicar umas às outros (ver Mq 3.11; Ed 4.4, 5). Entretanto, ao menos no plano ideal, foram feitas tentativas de m inorar esse problem a, im pondo-se punições e discussões sobre o assunto. A ssim , o código de *H am urabi estabelecia severas punições a qualquer ju iz que alterasse suas decisões (presumivelmente devido a um suborno), inclusive impondo pesadas multas ou até m esmo o afastamento permanente do cargo. Em Êxodo 23.8 aceitar subor­nos e corromper a justiça são práticas proibidas e consi­deradas ofensa contra Deus, contra os fracos e inocen­tes e contra toda a comunidade (ver Is 5.23; A m 5.12).

28.1-14 As bênçãos da aliança28.2-11. m aldições e bênçãos nos tratados do antigo O riente Próxim o. Bênçãos e m aldições eram elemen­tos comuns nos antigos tratados do terceiro, segundo e p rim eiro m ilên io a .C ., em b ora v a riem qu an to à especificidade e proporção nos diferentes períodos. Visto que os documentos de tratado eram confirmados

por juram entos feitos em nom e das divindades, as bênçãos e maldições geralmente seriam causadas pe­los deuses e não pelas partes envolvidas no tratado. N este trecho, isso não faz m uita diferença, uma vez que o próprio Deus é um a das partes envolvidas na *aliança e não um mero supervisor do cumprimento da mesm a. M uitas das m aldições encontradas aqui também estão presentes em tratados *assírios do sécu­lo sétimo a.C.. Existem sem elhanças tam bém com o Épico de Atrahasis, no qual, antes de enviar o dilú­vio, os deuses castigam a terra com diversos flagelos: doenças, seca, fom e, venda de m em bros da família como escravos e canibalismo.

28.15-68 As maldições da aliança28.22. patologia no antigo O riente Próxim o. As afli­ções causadas por diversas doenças são uma das mal­dições encontradas nos tratados *assírios. N o antigo Oriente Próximo, as doenças eram sempre encaradas à luz de explicações sobrenaturais de causa e efeito. De m odo geral, acreditava-se que eram provocadas por demônios hostis ou deuses irados devido à que­bra de algum tabu. "D oenças devastadoras" prova­velmente incluíam a tuberculose (rara no antigo Isra­el), bem como outras doenças caracterizadas por sinto­mas externos; o versículo 22 também inclui categorias de doenças cujos sintomas eram febre e inflamações; o versícu lo 27 descreve diversos tipos de doença de pele enquanto que os sintomas descritos no versículo 28 são típicos da sífilis (do tipo não-venérea, comum no antigo Oriente Próximo). Assim, as categorias de doenças são na verdade, uma lista de sintomas que podem ser relacionados a diversas patologias.28.23. céu de bronze, chão de ferro. Uma maldição presente em um tratado *assírio do século sétimo a.C.. (Esarhadon) é bastante semelhante a esta, não apenas por usar as analogias do bronze e do ferro, m as tam­bém por desenvolver a idéia de que no chão de ferro não há fertilidade, tampouco pode cair chuva ou orva­lho de um céu de bronze.28.25-29. derrotados, infectados, loucos, oprim idos.Os tratados de Esarhadon incluem uma lista bastante semelhante a essa e praticamente seguindo a mesma ordem. Portanto, essas expressões eram comuns em um texto de maldições nos documentos desse tipo. 28.27. úlceras. As úlceras eram vistas como sintoma e não como doença em si. Os sintomas não são descritos em detalhes suficientes para que possibilitem um di­agnóstico específico (as doenças prováveis incluem varíola, eczem a crônico, úlceras na pele, sífilis e es­corbuto), mas a maldição é o sintoma e não a doença. Trata-se do mesmo sintoma da sexta praga no Egito

(Êx 9.8-11) e do sofrimento que afligiu Jó (Jó 2.7, 8), sendo também uma das doenças de pele descritas em Levítico 13 (v. 18-23).28.40. as azeitonas cairão. O azeite de oliva é extraído do fruto m aduro, ou seja, da azeitona preta. As olivei­ras norm almente perdem um a grande porcentagem de frutos devido à queda precoce de flores e das azei­tonas ainda verdes. A pequena quantidade restante pode ainda ser consumida pela seca ou por pragas, provocando uma perda ainda m aior dos frutos. Essa maldição não é encontrada em textos *assírios porque em vez de azeite de oliva era usado óleo de semente de gergelim na Mesopotâmia.28.42. gafanhotos. O tratado aramaico Sefire contém uma maldição de sete anos de gafanhotos. Os gafa­nhotos eram bastante comuns no antigo Oriente Pró­ximo, provocando grande devastação e destruição nas plantações. Os gafanhotos se reproduzem na região do Sudão. A migração desses insetos acontece em fe­vereiro ou m arço e acom panha as correntes de ar predominantes que os levam ao Egito ou à Palestina.

U m gafanhoto consom e por dia o equivalente a seu próprio peso. H á notícias de enxames de gafanhotos que cobriram um a extensão de 600 quilômetros qua­

drados; apenas um quilômetro quadrado pode conter cerca de cinqüenta m ilhões de insetos.28.48. jugo de ferro. Jugos eram peças feitas geral­m ente de m adeira que eram colocadas na nuca do animal, ao redor do pescoço. As barras tinham cavi­lhas localizadas embaixo e dos dois lados da cabeça do

animal, presas com correias que passavam por baixo do queixo. O jugo de ferro provavelmente teria cavi­lhas desse mesmo material, já que essa parte se que­brava com facüidade.28.51. cereal, vinho e azeite como principais produ­tos. Além de serem os principais produtos da região, os cereais, o vinho e o azeite representavam a produ­ção das três principais colheitas (cereais durante a primavera e o verão, uvas no outono e azeitonas no inverno). O azeite mencionado aqui era extraído das oliveiras, sendo um dos principais produtos de expor­tação da região, visto que as oliveiras não eram culti­vadas no Egito nem na Mesopotâmia.28.53. canibalism o. O canibalismo era um elemento comum nas maldições dos tratados *assírios do século sétimo a.C, sendo visto como o último recurso a que se recorria em tempos de fom e extrema. Tamanho de­sespero podia acontecer nos períodos de fom e prolon­gada (como ilustrado no Épico de Atrahasis) ou em conseqüência de cercos demorados, quando o supri­mento de alimentos se esgotava, conforme a descrição contida neste trecho e prevista em textos de tratados. O costume de sitiar as cidades nas guerras era uma

estratégia m uito comum no m undo antigo, assim, não seria difícil imaginar a possibüidade de canibalismo. Um exemplo dessa medida drástica pode ser visto no relato bíblico de 2 Reis 6.28, 29.28.56. encostar no chão a sola do pé. O que o autor deste texto está querendo expressar é que até a m u­lher mais gentil e delicada que havia entre eles, aquela que jam ais andaria descalça para não ferir os pés, ficaria tão desesperada que seria capaz de com er a carne de seus próprios filhos.

28.58. livro. Nossa tendência é imaginar um livro tal como conhecemos atualmente, com páginas de papel e um a bela capa, m as livros desse tipo não existiam no m undo antigo. O termo usado neste versículo refe­re-se a qualquer documento escrito, podendo ser uma simples inscrição num a pedra ou num bloco de argila ou em um rolo de papiro.28.68. voltar para o Egito em navios. Os reis *assírios do século sétimo obrigavam seus vassalos a fornecer tropas para as campanhas militares. Assim, um modo

dos israelitas voltarem ao Egito em navios poderia ser pela participação forçada deles em campanhas assírias partindo da costa fenícia. De acordo com os detalhes da maldição, isso representaria um a opressão contí­nua por parte das nações inimigas. Outra possibili­dade seria cair nas m ãos dos comerciantes de escravos do Egito que atuavam na região sírio-palestina, de onde os escravos eram transportados quase sempre de navio.

29.1-29 A renovação da aliança29.5. roupas e sandálias que não se gastaram . Vercomentário em 8.4.29.6. não com eram pão, nem beberam vinho. A pro­visão do Senhor, em vez de pão e vinho, era maná e água. A m enção a um a bebida ferm entada aqui é bastante incomum, visto que somente os sacerdotes (Lv 10.9) e aqueles que tivessem feito voto de nazireu (Nm 6.3) não podiam consum ir esse tipo de bebida.29.7. Seom e O gue. Essas batalhas são registradas inicialmente em Números 21. Seom é conhecido ape­nas a partir dos registros bíblicos e a arqueologia tem poucas informações referentes a seu reino ou sua capi­tal. Tam bém não existem informações fora da Bíblia, ou fontes históricas e arqueológicas que tragam al­gum esclarecimento a respeito de Ogue. Para infor­mações acerca de Hesbom e Basã, ver os comentários em Números 21.25-28, 33 e Deuteronômio 3.1.29.19-21. o pecado oculto. O conceito de que qual­quer pessoa que cometesse um a transgressão, ainda que em segredo, estaria sujeita às maldições pode ser tam bém observado nos tratados aram aico (Sefire) e

*hitita, nos quais a maldição incluía a destruição do nome (família) do transgressor.29.23. terra de sal e enxofre. Sal e enxofre (ver Gn 19) são m inerais que em pobrecem o solo. São os dois m i­

nerais mais evidentes na região do m ar M orto, onde a terra é conhecida por sua aridez e infertilidade, asso­ciada à destruição de Sodom a e Gomorra.2 9 .24 ,25 . o m otivo do castigo. Essa m esm a pergun­ta, acom panhada de um a resposta sem elhante, pode ser observada em um texto *assírio do século sétimo em que o rei assírio Assurbanipal descreve as razões que teve para sufocar um a revolta de árabes que haviam transgredido os term os de um acordo. Os árabes ti­nham quebrado os juram entos que haviam feito dian­te dos deuses assírios.29.29. coisas encobertas. No m undo antigo, acredita­va-se que algum as áreas do conhecim ento perten­ciam somente aos deuses. Num hino ao deus Gula, a prática da m edicina era considerada como um segre­do dos deuses.

30.1-20 Atitudes diante das bênçãos e maldições30.2-5. cláusula do perdão. Ao contrário dos demais tratados do antigo Oriente Próximo, a *aliança descri­ta em Deuteronômio apresenta um a cláusula de per­dão oferecendo uma segunda chance ao transgressor do acordo. O arrependimento e a renovação do com­promisso com a aliança resultavam em restauração.

Tal demonstração de misericórdia não seria algo im­possível nos tratados antigos, no entanto, não existem evidências explícitas em nenhum documento escrito.30.6. coração fiel. Em algumas versões, a expressão aqui é "circuncisão no coração"; evidentemente trata- se de uma figura de linguagem, e não de uma cirur­gia nesse órgão. A ^circuncisão fora adotada como um sinal da *aliança e da submissão a seus termos. Sendo assim, podia ser aplicada ao coração, como um reflexo do *ritual exterior que perm eava o interior de cada israelita.30.19. os céus e a terra como testemunhas. Ver comen­tário em 4.26.

31.1-8 Josué, o sucessor de Moisés31.2. expectativa de vida no antigo Oriente Próximo.No Egito a duração ideal da vida chegava aos 110 anos; num texto de sabedoria de *Emar, na Síria, a idade de 120 anos era considerada como o tempo de vida ideal. A nálises de m úm ias têm dem onstrado que a expectativa média de vida no Egito nesse perí­odo era de 40 a 50 anos, embora alguns textos apre­sentam pessoas que chegaram a viver até os 70 ou 80

anos. Textos m esopotâmicos de períodos diferentes

m encionam indivíduos que viveram setenta ou oiten­ta anos e há um registro de que a mãe do rei *babilônico

Nabonido teria vivido 104 anos.31.4. Seom e Ogue. Para mais detalhes acerca desses dois reis e das batalhas contra eles, ver comentários

em Números 21.

31.9-13 Instruções sobre a leitura da lei31.9. escrevendo as leis. Desde as leis de *Ur-Nammu (na verdade, com piladas por seu filho Shulgi) por

volta do ano 2000 a.C., passando pelas leis de *Lipite- Istar, *Esnuna, *Ham urabi e as leis *hititas da primei­

ra m etade do segundo m ilênio, até as leis *m edo- assírias do final do segundo milênio, os governantes tinham como prática compilar e registrar as leis por

escrito como evidência de que estavam cum prindo

seu dever de mantenedores da justiça.31.10. a leitura da lei a cada sete anos. Vários tratados

*hititas continham cláusulas exigindo a leitura públi­

ca do documento; um deles estipulava que a leitura fosse feita três vezes ao ano, enquanto que outros são

m enos específicos, dizendo apenas que deviam ser

lidas "sem pre e constantem ente".

31.10. ano do cancelam ento das dívidas. As dívidas

eram perdoadas no ano sabático. Ver comentário em15.1-6.

31.10. festa das cabanas. A festa das cabanas era rea­lizada durante a colheita do outono, quando se come­

m orava a peregrinação pelo deserto. Ver comentário em 16.13-17.

31.14-29 A predição da rebeldia de Israel31.15. coluna à entrada da Tenda do Encontro. Antes

da construção do tabernáculo no Livro de Exodo, a

Tenda do Encontro ficava fora do acampamento e ser­via como lugar de revelação (ver comentário em Ex

33.7-10). Porém, agora que o tabernáculo está pronto

ele tam bém é descrito com o a Tenda do Encontro. N ovam ente o Senhor aparece num a coluna de nu­

vem. No mundo antigo, a divindade era sempre re­presentada circundada por um a aura brilhante ou

flamejante. Na literatura egípcia, essa aura é ilustrada

pelo disco solar alado acom panhado de nuvens de tempestade. Os *acadianos usavam o termo mélammu

para descrever essa representação visível da glória da divindade, que por sua vez é envolta por fumaça ou

nuvens. Tem sido sugerido que o conceito de mélammu seria expresso na mitologia cananita pela palavra anan,

o mesmo termo hebraico traduzido como "n uvem ",

m as as ocorrências são poucas e vagas para se ter certeza. Ver comentário em Êxodo 13.21, 22.31.22. a canção da aliança. Canções de todos os tipos eram conhecidas em todo o antigo Oriente Próximo desde a prim eira m etade do terceiro m ilênio. Uma relação *assíria de canções, um século antes do rei Davi, contém títulos de 360 canções de muitas catego­rias diferentes. Canções relacionadas à *aliança tam­bém estão presentes no Livro de Salmos (p. ex., SI 89).31.26. conteúdo da arca. Os únicos objetos colocados dentro da arca eram as tábuas da lei (10.2, 5). No Egito, era comum depositar aos pés da divindade os documentos confirmados por juramento(como trata­dos internacionais) para selar o acordo. O Livro dos M ortos chega a mencionar um preceito escrito numa placa de m etal pela m ão de um a divindade e colocada depois sob seus pés. Havia um a série de objetos depo­sitados diante da arca, inclusive uma vasilha com maná (Êx 16.33, 34) e a vara de Arão (Nm 17.10). De acordo com o versículo 26, o Livro da Lei foi colocado junto a esses objetos.

32.1-43 A canção de Moisés31.30. a canção da aliança. Ver comentário em 31.22.32.4. m etáfora da rocha. U sada em 2 Sam uel 22.3 como um epíteto divino, a palavra rocha podia tam ­bém significar "m ontanha" ou "fortaleza". Esse ter­

mo aparece em alguns nom es israelitas como uma metáfora de Deus (Zuriel, citado em Nm 3.35 signifi­ca "D eu s é a m inha R ocha") e tam bém com o um nome divino (Pedazur, em Nm 2.20, significando "A Rocha é o m eu Redentor"). Era usado também como referência a outras divindades nos nomes próprios *aramaicos e *amorreus; o indício de que o termo era aplicado a outros deuses pode ser encontrado nos versículos 31 e 37. Como metáfora, tem o sentido de segurança e libertação.

32.8. o A ltíssim o (Elyon). No Antigo Testam ento o termo Elyon geralm ente é usado com o um epíteto para *Yahweh (ver comentários em Gn 14.17-24). Até agora, não foram descobertas evidências convincen­tes de que Elyon se referisse a um a divindade do antigo O riente Próxim o, apesar de ser bastante co­mum como epíteto para vários deuses, especificamen­te *E1 e *Baal, os principais deuses do panteão cananeu.32.8. d ivindade garantindo herança às nações. Na teologia israelita, *Yahweh deu a cada nação sua res­pectiva herança (5.2, 9, 19; Am 9.7), embora também haja espaço para o conceito de que cada povo havia recebido seu território como herança de seu respecti­vo deus (Jz 11.24). Muitas vezes alguns reis do antigo Oriente Próximo buscaram expandir seus territórios

afirmando que a divindade tinha assegurado ou con­cedido terras a eles. Em Israel, a distribuição territorial era exclu siv am en te basead a em sua ligação com Yahw eh através da *aliança.32.10. como a m enina dos seus olhos. A "m enina dos olhos" não é uma expressão do idioma hebraico e sim da língua portuguesa. A referência à pupila no caso é por ela ser um a parte sensível e protegida do corpo.32.11. com portam ento das águias. Em bora a águia não possa ser excluída, o mais provável é que o pássa­ro aqui descrito seja o abutre branco, que possui uma envergadura de 2,40 a 3 metros. Em bora os Livros da Bíblia freqüentemente descrevam a m aneira como a águia carrega seus filhotes em suas asas enquanto eles ainda têm medo de voar, ou os apanha em suas asas, quando estão se debatendo em queda, os natu­ralistas têm tido dificuldade em confirmar esse com­portamento. Na verdade, os filhotes tanto das águias como dos abutres voam pela prim eira vez somente aos três ou quatro meses de idade, quando já estão quase totalmente crescidos. Além do mais, observa­ções de naturalistas têm confirmado que o primeiro vôo geralmente é feito quando os pais estão longe do ninho. Se a metáfora aqui diz respeito a um abutre, a

menção talvez seja de natureza política. No Egito, a deusa Necbete era representada por um abutre, que representava o alto Egito e servia como um a divinda­de protetora do faraó e da terra. O povo de Israel foi protegido no Egito até *Yahweh trazê-lo para junto dele. Necbete era descrita como um a deusa particu­larm ente maternal e acreditava-se que ela prestasse ajuda durante os nascimentos reais e divinos. Duran­te a 18a Dinastia, no final da permanência dos israelitas no Egito, foi construído um templo dedicado a essa

deusa em El-Kab, m ostrando que ela era bastante popular nesse período. É possível que a imagem des­crita neste versículo não tenha sido extraída da obser­vação do comportamento dessas aves propriamente, e sim, de elementos presentes na imagem de Necbete, cujas características foram transferidas a Yahw eh (ver

v. 12, "nenhum deus estrangeiro o ajudou"). A pri­m eira m etade do versículo introduz a m etáfora da águia que cuida de seus filhotes e os protege; a se­gunda metade fala do cuidado e da proteção do Se­nhor ao seu povo, usando uma imagem familiar pro­veniente das metáforas egípcias de cuidado e prote­ção. A lém disso, na M esopotâm ia, a Lenda de Etana inclui uma águia que carrega *Etana deixando-o cair repetidas vezes para depois apanhá-lo em suas asas (ver Êx 19.4).

32.13. m etáfora dos lugares altos da terra. Em geral, as cidades eram construídas sobre colinas pela defesa natural proporcionada pelo local. Do mesmo modo, os

exércitos escolhiam o alto das m ontanhas como ponto estratégico. A comparação com os lugares altos, por­tanto, está relacionada à vitória e segurança dessa posição.

32.13. m el e óleo. Na m aior parte das vezes em que o mel é mencionado no Antigo Testamento, refere-se à seiva da tamareira, porém, aqui, a descrição parece sugerir que seja mel de abelhas, extraído de colméias encontradas nas rochas. As oliveiras, de onde era ex­traído o óleo, são resistentes e capazes de crescer e produzir fruto mesmo em solo rochoso, pois não ne­cessitam de grande quantidade de água.32.14. carneiros de Basã. A região de Basã (ver co­mentário em D t 3.1) era fam osa pelos seus rebanhos selecionados. As excelentes áreas de pastagens forne­ciam um a dieta natural que gerava animais da mais alta qualidade.32.15. Jesurum . A palavra Jesurum origina-se do mes­mo termo usado para "Israel" e é um a forma poética de referir-se a Israel.

32.17. sacrifícios a demônios. A palavra aqui traduzida como "dem ônios" é usada somente em uma outra pas­sagem do Antigo Testamento, no Salmo 106.37. O ter­mo é um a referência a um tipo bastante conhecido de espírito ou demônio (shedu) da M esopotâmia, onde era considerado o protetor da saúde e do bem -estar das pessoas. Essa palavra não é o nome de um a divindade, apenas indica a categoria de um ser (como cherub). Os

shedu podiam tanto proteger como destruir a saúde de um a pessoa, então, era aconselhável oferecer sacrifíci­os para m antê-los satisfeitos. Esses seres são descritos como criaturas aladas (semelhantes aos querubins; ver comentários em Gn 3.24 e Êx 25.18-20), apesar de não existir nenhum tipo de representação deles (imagens ou ídolos, como dos deuses) de form a a serem adora­dos (ver com entário em D t 4.28 para entender a rela­ção entre os deuses e suas imagens).32.22. alicerces dos m ontes. Pela cosmovisão antiga, o mundo inferior, ou reino dos mortos, ficava debaixo da terra, onde se encontravam os alicerces dos mon­tes, especialm ente daqueles que, acreditava-se, sus­tentavam a abóbada celeste. Apesar de ser um a ex­

pressão usada pelos israelitas no sentido conceituai dessa visão de m undo, é difícil distinguir se seria reflexo de um a crença ou o mero uso poético de uma figura de linguagem.32.23-25. castigo d ivino no antigo O riente Próxim o.Fom e, doenças, an im ais selvagen s, guerras - esses eram os instrumentos usados pelos deuses quando que­riam castigar seus súditos humanos. Ao longo da his­tória e da literatura, os "atos de D eus" aparentemente

aleatórios acabaram sendo considerados sinais do des­contentam ento divino. Os épicos de A trahasis e de

*Gilgamés contêm relatos dos deuses tentando reduzir a população humana por vários meios antes do dilúvio. Diferentemente do Antigo Testamento, onde as trans­gressões são identificadas como causa para várias ca­tástrofes, no antigo Oriente Próximo estas indicavam apenas que alguma divindade deveria estar irada com algum a coisa, e as pessoas tinham de descobrir que ofensa haviam com etido contra ela. Pod em ser en­contrados exemplos na oração *hitita de M ursilis (em que ele suplica para que um a praga seja abrandada),

em diversos textos *sum érios e *acadianos de lamen­tações pela queda de um a grande cidade e nas Admo­estações Egípcias de Sabedoria (Ipuwer). Todos esses do­cumentos apresentam diversas calamidades nacionais como sendo castigo dos deuses. Talvez o exemplo mais impressionante seja o do Épico de Erra, em que a pró­pria civilização é ameaçada pela anarquia e pela des­truição descarregadas pela violência de Erra (a divin­dade *babilônia Nergal). O texto de Deuteronômio 32, porém, também deve ser entendido no contexto dessa form a de tratado, onde os castigos não são aleatórios, arbitrários ou inexplicáveis, mas proporcionais às trans­gressões dos termos do acordo.32.33. serpentes venenosas. A segunda parte do ver­sículo 24 faz alusão a animais selvagens e víboras com m ordidas venenosas; essas últim as não se referem apenas a cobras, cujas espécies venenosas na região são poucas, mas também a escorpiões.

32.38. alim ento e b eb id a aos deuses. Era bastante comum no antigo Oriente Próximo a idéia de que os sacrifícios serviam para prover os deuses de alimen­

tos e bebida, pois eles dependiam destas ofertas para se sustentarem (ver comentários em Lv 1.2). Esse con­ceito não era aceito pela visão de m undo dos israelitas (ver SI 50.7-15), em bora alguns talvez tivessem assi­milado esse conceito. Este texto zom ba da idéia de que os deuses tinham necessidades que precisavam ser supridas, perguntando se deuses assim poderiam servir de alguma ajuda a quem recorresse a eles.32.39. o único D eus. A maioria das religiões daquela época tinha um panteão, ou seja, um a assem bléia divina encarregada de governar o reino dos deuses, o m undo sobrenatural e, por fim , o m undo humano. Geralmente, um dos deuses era escolhido para ser o chefe do panteão e, como os outros, teria pelo menos um a deusa como sua consorte. O prim eiro m anda­mento proíbe Israel de pensar desta forma em relação a Deus. *Yahweh não era o chefe de um panteão de deuses, nem tampouco tinha um a consorte - não há outros deuses diante dele. Este versículo vai além, insistindo que não há nenhum outro deus que possa com petir em poder ou autoridade com Yahweh. De acordo com essa cosmovisão, a bênção e a prosperida­

de não resultam do controle bondoso da divindade sobre as forças dem oníacas e sobre o caos, nem o castigo é um poder m aligno para esmagar o homem. Tudo que acontece faz parte do plano de Yahw eh - um conceito inadmissível no politeísmo pagão do res­tante do mundo.

32.44-52Conclusão e instruções a Moisés32.49. as m ontanhas de A barim e o m onte N ebo. Asmontanhas de Abarim situam-se a leste da foz do rio

Jordão e ao redor da extremidade norte do m ar Morto, formando a borda noroeste do planalto moabita. O monte de onde Moisés avistou a terra prometida é o m onte N ebo, com 835 m etros de altitude. P isga e Nebo são identificados como os dois picos de Jebel Shayhan, localizados oito quilômetros a noroeste de

M edeba, distantes cerca de dois quilômetros e meio um do outro e a dezesseis quilômetros do rio Jordão.32.50. m onte Hor. Lugar onde Arão morreu (embora Dt 10.6 identifique o local de sua morte como sendo Moserá). O monte tem sido tradicionalmente localiza­do nas proximidades de Petra, em Jebal Nabi Harum, mas esse local não está "n a fronteira de Edom ". Outra possibilidade é que esteja localizado em Jebal M adrá, a oeste de Cades e perto da fronteira de Edom, mas ali não existem fontes de água suficientes.32.51. M eribá, em Cades, no deserto de Zim. Cades- Barnéia localiza-se no deserto de Zim (ver comentário em N m 13.26). Foi nesse lugar que aconteceu o in­cidente narrado em Números 20, quando M oisés ba­teu na rocha para que vertesse água. M eribá significa "rebelião" e é um nome aplicado tanto ao local quanto ao incidente ocorrido quando a água foi tirada da rocha.

33.1-29A bênção de Moisés33.1. bênção patriarcal. No contexto bíblico, a bênção patriarcal geralm ente dizia respeito ao destino dos filhos com relação à fertilidade da terra, da família e ao relacionamento entre seus membros. Bênçãos ou maldições proferidas pelo patriarca da fam ília sempre eram levadas a sério e consideradas verdadeiras, ain­da que não fossem vistas como m ensagens proféticas vindas de Deus. Tais palavras de um patriarca geral­mente eram proferidas em seu leito de morte. Este capítulo relem bra bastante o episódio narrado em Gênesis 49, em que Jacó abençoa seus filhos - os ante­passados das tribos que agora são abençoadas por Moisés.33.2. Se ir . Seir geralm ente é consid erad a a região montanhosa central de Edom (com altitude acima de

1500 m etros), situada entre o uádi al-Ghuw ayr, ao norte, e Ras en-Naqb, ao sul.

33.2. m onte Parã. M onte Parã é considerado em geral como uma variação poética para o monte Sinai/Horebe.33.5. Jesurum . Ver comentário em 32.15.33.8. U rim e Tum im . Objetos usados pelos sacerdotes para transmitir m ensagens *oraculares. Ver comentá­rio em Êxodo 28.30.33.17. m etáfora do touro e do boi. O touro e o boi sãosímbolos de fertilidade e força, e por essa razão, boi era um título usado para *E1, o deus-chefe do panteão cananeu. Força e fertilidade são elementos presentes nesta bênção às tribos de José, M anassés e Efraim. Um texto *ugarítico descreve os deuses *Baal e M ot como touros selvagens, com chifres fortes, e o rei *babilônico *Hamurabi ao descrever seu poderio bélico compara- se a um boi chifrando o inimigo.33.22. Basã. A região de Basã situa-se na área superi­or do rio Iarmuque, a leste do m ar da Galiléia. Sua fronteira ao norte é o monte Hermom. O território de Dã localizava-se originalm ente ao sul da costa da re­gião dos filisteus, mas essa tribo deslocou-se para o norte, para a região da cidade de Dã, ao norte do mar da Galiléia, nas proximidades de Basã.33.24. ban har os pés no azeite. Num a terra seca e poeirenta, lavar os pés era um a necessidade constante e um gesto de hospitalidade para com os viajantes. Porém, somente as pessoas ricas e requintadas faziam uso regular do óleo (de oliva) para a higiene dos pés. Com pare com João 12.3. Trata-se de um a m etáfora representando prosperidade.33.25. trancas das portas. O sistem a de travas em portas e portões geralm ente incluía uma tranca (de madeira ou metal) que era introduzida em orifícios feitos nas colunas que ladeavam a porta. Ao usar o termo "tran cas", provavelmente o texto esteja fazen­do uma referência às presilhas que m antinham a tranca presa firmemente às portas. O portão da cidade podia ser arrombado usando-se um aríete e batendo com ele bem no centro, onde as folhas da porta se encontra­vam, a fim de quebrar a tranca. As presilhas torna­vam a tranca m ais difícil de ser quebrada, mas em compensação elas também podiam se quebrar. Sendo assim, presilhas de bronze ou de ferro dificultavam o arrombam ento.

34.1-12A morte de Moisés34.1. N ebo e Pisga. Ver comentário em 32.49.34.1-3. v ista do m onte N ebo. Desse ponto de obser­vação, o m ar Mediterrâneo fica quase cem quilôme­tros a oeste, mas não pode ser visto porque as colinas do lado oeste do Jordão obstruem a visão. N um dia

claro é possível ver o m onte Hermom, cerca de 160 quilômetros ao norte, os montes a noroeste que cer­cam o vale de Jezreel (Tabor e Gilboa), as montanhas da região central (Ebal e G erizim ) até Engedi, em direção a sudoeste.34.1-3. as fronteiras da terra. Em bora a terra ainda não tivesse sido distribuída, essa observação da terra é descrita parcialmente em termos de territórios tribais, para distinguir-se da descrição geográfica apresenta­da em 1.7. A descrição parte do ponto onde Moisés se encontra em direção ao norte, e então segue o trajeto no sentido anti-horário.34.6. Bete-Peor. O uádi Ayun Musa, no pé do monte Nebo geralmente é identificado como o vale de Bete- Peor, e o lugar cham ado Khirbet A yun M usa seria provavelm ente a cidade.34.7. literatura apócrifa acerca da morte de M oisés.Judas 9 fala de um a disputa sobre o corpo de M oisés e

diversos textos da literatura apócrifa e rabínica espe­culam sobre esse assunto, particularmente A Assunção de M oisés (cujos manuscritos se perderam) e O Testa­

mento de M oisés (manuscrito em latim do século sexto

d.C.). O primeiro fala de M oisés ascendendo direta­mente aos céus, enquanto que este últim o deixa im­plícito que ele teve um a m orte natural. Deuteronômio

deixa bastante claro o fato de M oisés ter morrido, e não há nenhum fato extraordinário no relato. O texto

deixa dúvidas apenas sobre quem enterrou Moisés, m as é evidente que o local da sepultura se encontra

num local desconhecido e sem nenhuma pista.

34.8. cam p inas de M oabe. Trata-se da planície ou região de estepe ao norte do m ar Morto e a leste do rio

Jordão, do lado oposto à "planície de Jerico" (Js 4.13). Sua localização serviu como o ponto de partida para a

entrada em Canaã (ver N m 22.1).

Livros históricos

IntroduçãoA existência de grande quantidade de material do antigo Oriente Próximo nos auxilia a com­preender melhor os Livros históricos do Antigo Testamento - mais do que qualquer outro gênero literário do Antigo Testamento. Dentre os recursos antigos de que dispomos, alguns itens podem ser classificados como inscrições reais, textos cronográficos e textos de literatura histórica. As inscrições reais relatam os feitos dos reis, particularmente suas façanhas militares e seus projetos de construções. Os textos cronográficos traçam uma seqüência dos eventos históricos, abrangendo desde listas de reis até crônicas das cortes e anais militares. Os textos de literatura histórica são basicamente narrativas épicas ou poéticas que contam os atos heróicos dos reis. Esses textos podiam ser gravados em pedra (nos rochedos, em relevos de pedra ou estátuas), mas geralmente eram usadas placas de argila. Alguns cronistas registravam seus relatos em pequenas placas retangulares, enquanto outros usavam pranchas maiores ou até mesmo polígonos de argila no formato de tijolo ou cilindro.

Quando se deseja fazer um registro dos eventos de modo a torná-los conhecidos pelas gerações futuras, é necessário que em algum momento, esse registro assuma a forma de um texto. Mas o registro na forma de texto exige que o compilador ao escrever siga, consci­ente ou inconscientemente, uma série de princípios norteadores. Esses princípios orientam o que chamamos de historiografia e variam de cultura para cultura, e até mesmo de historia­dor para historiador. A historiografia se define pela maneira como o historiador lida com a forma, o conteúdo e a estrutura adequada do registro dos eventos, mas esses são apenas os aspectos superficiais. Quais os fatos realmente importantes do passado? Por que determina­do evento foi registrado? Como realmente ocorreram os eventos do passado? Que razões ou forças conduzem a história? Existem padrões na história? Há um plano na história? As respostas a essas perguntas desempenham um papel significativo na maneira como se pro­duz um relato histórico. Não é necessário dizer que diferentes indivíduos e diferentes cultu­ras responderão a tais perguntas de modos diferentes. Portanto, todo registro histórico re­presenta uma perspectiva específica acerca dos eventos passados. A forma assumida por uma historiografia é determinada pelas perguntas que o historiador procura responder. Não se pode falar em perspectivas "corretas" ou "erradas" em relação à história, pois de outro modo, estaríamos admitindo a existência de um único critério como absoluto. Perspectivas, percepções e sensações podem ou não existir; a questão não é simplesmente rotulá-las como certas ou erradas. Diante disso, qualquer historiografia deve ser entendida como uma "pers­pectiva sobre a história". Toda historiografia deve, num certo sentido, ser encarada como um editorial de jornal.

Quando estudamos a historiografia, devemos descobrir o que motiva o autor a registrar os fatos, do contrário, não saberemos como usar seus textos ao reconstruirmos a história daque­le período. É importante não pressupor que a noção de registro histórico de outras épocas seja igual a do mundo ocidental atual. Na cultura ocidental, quando se escreve um texto histórico, freqüentemente ele é considerado como um esforço para se preservar a história (embora, às vezes, não seja esse o caso). Um dos valores da sociedade contemporânea é a crença de que é essencial registrar, analisar e preservar os eventos do passado - apenas como registro. Além disso, há também o desejo de reconstituir "o que realmente aconteceu" e de identificar a relação de causa e efeito.

Em grande parte da historiografia antiga "o que de fato aconteceu" não era tão importante. Grande parte dos documentos que nos fornecem informações históricas foi escrito sob o patrocínio da realeza. Esses documentos tinham por objetivo servir aos interesses do rei, não do historiador. A reputação real era muito mais relevante que a veracidade dos fatos. Na linguagem de hoje, isso seria descrito como propaganda política. A historiografia do antigo Oriente Próximo, representada em inscrições ou crônicas reais, listas de reis e registros de seus atos, com certeza tinha um caráter de promoção e divulgação pessoal. Assim como nas campanhas políticas de nossos dias, a verdade podia ser útil à realeza, mas não era sua prioridade. A propaganda é grandemente impulsionada quando a verdade está a seu favor, mas se contém apenas estatísticas ou outros "fatos" aleatórios, o resultado alcançado é o mesmo. E evidente que esse tipo de texto sempre apresentava o rei pela melhor perspectiva possível da verdade. A pergunta que o historiador devia tentar responder nessa situação era: "Por que o rei deveria ser considerado bom e bem-sucedido?". Na maioria dos casos não é possível determinar se seria o caso de omissão ou de desinformação, mas com certeza as informações negativas não estavam presentes. Quando existem relatos dos dois lados envol­vidos em uma batalha específica, não é difícil que ambos reivindiquem para si a vitória. Também era uma prática comum entre os reis alterar inscrições de seu predecessor (mesmo quando se tratava do pai), colocando seu próprio nome no lugar. Um rei da Antigüidade raramente admitia uma derrota; assim, as referências negativas sobre um determinado reina­do partiam dos sucessores daquele rei, que pretendiam com isso legitimar seu próprio gover­no. A historiografia nas culturas antigas era, de certa forma, um empreendimento que visava essencialmente à autopromoção.

Os Livros históricos de Israel apresentam traços semelhantes aos textos cronográficos e contêm alguns exemplos isolados que podem ser comparados às inscrições reais ou aos textos literários históricos. O objetivo dos Livros históricos de Israel, porém, é teológico. Como todo escrito histórico, é uma literatura necessariamente seletiva, e com um propósito. Seu interesse não é preservar os eventos para manter o registro rigoroso dos fatos; ao contrário, seu objetivo é documentar a ação de Yahweh na história e sua soberania no desenrolar dos eventos. Nesses documentos, a nação é mais importante que o rei, e Deus está no centro dos acontecimentos. A identidade de Israel e seu papel como povo da aliança com Deus é a espinha dorsal de todo registro histórico do Antigo Testamento. Pode-se dizer, então, que enquanto o principal objetivo da historiografia antiga era oferecer a compreensão desejada dos feitos do rei, o objetivo da historiografia de Israel era oferecer a compreensão desejada dos feitos de Deus.

Também é importante perceber que, no mundo antigo, a noção do papel representado pela divindade na história é bastante diferente da visão do mundo ocidental. Até o fim da Idade Média, a visão de mundo era totalmente permeada pelo sobrenatural. O papel da divindade era aceito sem restrições e a crença em fatos que desafiavam as explicações naturais era comum. O Iluminismo, porém, trouxe uma mudança significativa no modo de enxergar o mundo. O método histórico crítico decorrente dessa mudança sugere que uma verdade só pode ser aceita se puder ser provada empiricamente. A nova historiografia passa a se preocu­par apenas com a causa e o efeito natural dos fatos na história. Essa é a visão amplamente adotada pela cultura ocidental contemporânea.

A visão de mundo da sociedade em que vivemos difere, portanto, radicalmente da visão de mundo dos historiadores antigos. A forma como se escreve história hoje seria encarada com estranheza pelos autores antigos. O simples relato de fatos e eventos não teria significado algum, a menos que a informação tivesse alguma utilidade. Embora os antigos não negassem a relação de causa e efeito na história, eles estavam muito mais interessados no papel desem-

penhado por Deus no desenrolar dos fatos. Um historiador moderno diante da historiografia israelita talvez pense: "Não é capaz de fornecer dados confiáveis"; ao passo que um historia­dor israelita diante da historiografia moderna, consideraria: "Não fornece informações úteis".

Portanto, ao estudar a historiografia de uma cultura anterior ao Iluminismo, é importante identificar a visão de mundo que a orienta e respeitar a coerência entre ambas. Como já foi dito, a cosmovisão representada na historiografia de Israel prioriza a atividade de Deus na história humana. Essa visão abarca não apenas o reconhecimento da intervenção sobrenatu­ral de Deus ocasionalmente, mas também identifica a ação divina nas ocorrências naturais. Na verdade, de acordo com essa visão, todos os eventos estão entrelaçados de alguma forma dentro do plano de Deus, que é a força motriz da história.

A historiografia de Israel tem muitos pontos em comum com a das demais culturas antigas do Oriente Próximo. Registros históricos da Mesopotâmia, apesar de não reivindicarem o status de revelação divina, demonstram grande preocupação em entender as atividades dos deuses. O caráter politeísta da religião mesopotâmica, no entanto, impede o desenvolvimento de qualquer conceito de um plano divino único envolvendo toda a história. A dinastia reinan­te podia, no máximo, identificar o plano da divindade em estabelecer e manter aquela dinas­tia. Alguns documentos voltaram-se para o passado remoto em busca de um padrão que orientasse o presente (um exemplo são as Crônicas de Akitu e de Weidner, que se preocupam em relatar não o que a divindade havia feito, mas o que fora feito para ela). Na Mesopotâmia havia a crença de que as divindades desempenhavam um papel ativo no processo de causa e efeito que promove a história. Os deuses eram capazes de intervir na história e esperava-se que assim o fizessem. A ação e a intervenção dos deuses eram entendidas como casuais e não como parte de um plano arquitetado por eles ou com um propósito maior. Assim como na visão mesopotâmica, Israel considerava que Deus era a causa de todas as coisas e suas inter­venções davam forma aos eventos. Assim, o registro da história de Israel não tinha como objetivo apenas relatar eventos, mas registrar os meios usados por Deus para atuar na histó­ria. Por essa razão, não há~possibilidade de existir uma historiografia israelita secular.

De acordo com a visão sobrenatural corrente no mundo antigo, os eventos eram uma espécie de revelação divina e resultado da ação dos deuses. Infelizmente, era preciso interpre­tar os eventos para discernir a razão pela qual haviam agido daquela maneira A interpretação dos fatos, porém, não era revelada pelos deuses das nações politeístas ao redor de Israel. Para entender o que os deuses estavam planejando fazer, os mesopotâmios tinham de descobrir por eles memsmos. Na visão de Israel, porém, não somente os eventos, mas a própria historiografia faziam parte da revelação de Deus. Ou seja, Deus assumiu a tarefa de não apenas agir, mas também de apresentar a interpretação de seus atos, comunicando aos israelitas o motivo e os propósitos a que serviam. Desse modo, Yahweh era não apenas a causa dos eventos, como também a fonte para sua interpretação. Em termos teológicos, podemos afirmar que a revelação geral da história foi complementada pela revelação específica da historiografia.

Resumindo, Israel partilhava com o mundo antigo da idéia de que os eventos eram uma revelação, ou seja, evidenciavam a ação dos deuses no mundo. Essa abordagem contrasta com a visão da historiografia ocidental. No entanto, Israel distinguia-se dos outros povos por acreditar que sua historiografia também era parte da revelação divina, o que difere tanto da historiografia antiga como da moderna.

J O S U É

V1.1-18 O chamado de Josué1.4. território da terra prom etida. O "deserto" limita as fronteiras ao sul e à leste da terra. O Líbano e o Eufrates são as fronteiras setentrionais, nos lados leste

e oeste. Em descrições semelhantes das fronteiras da terra (ver comentário em Dt 1.7), o Eufrates refere-se à

área onde o rio faz uma curva para o norte, na região

de Em ar. O m ar Grande, ou M editerrâneo, m arca a fronteira ocidental. A terra dos hititas provavelmente

é uma referência à Síria, onde m uitos grupos hititas se fixaram após a queda do império hitita, por volta do ano 1200 a.C..

1.8. Livro da Lei. N ossa tendência é imaginar um livro como os que temos atualmente, com páginas de papel e uma bela capa, m as livros desse tipo não existiam no

m undo antigo. O termo usado neste versículo refere-se a qualquer docum ento escrito , podendo ser de um a simples inscrição a um rolo, de papiro ou placa de ar­gila ou pedra. O Livro da Lei era um a cópia das ins­truções dadas a M oisés em Deuteronômio, colocada di­ante da arca (ver com entário em D t 31.26).1.16-18. juram ento de lealdade. Nas relações interna­

cionais, como relatam vários docum entos do antigo Oriente Próximo, quando um novo rei assumia o tro­

no, os vassalos do rei anterior eram chamados a pres­tar um juram ento de lealdade, declarando sua sub­missão ao novo rei. Essa prática é comprovada entre os

faraós do Egito e os reis das cidades-estado da Palesti­na desse período.

2.1-24 Os espias em Jerico2.1. S itim . O nome completo desta localidade era Abel

Sitim (Nm 33.49) e trata-se do local de onde os espias de Josué e os israelitas entrariam em Canaã (Js 2.1; 3.1; Mq 6.5). O historiador Josefo a localiza cerca de onze quilômetros de distância do rio Jordão. Porém sua lo­calização exata é incerta, podendo ser Tell el-Hammam, no uádi Kefrein.2.1. Jericó . Jericó localizava-se num oásis (er-Riha), oito quilômetros a oeste do rio Jordão, ao longo do uádi Kelt e cerca de dez quilômetros ao norte do m ar Morto. Sua localização servia de proteção à estratégica passa­

gem entre o vale do Jordão e a região m ontanhosa central, a oeste (incluindo Jerusalém, situada 24 quilô­

m etros a sudoeste, e Betei, a m esma distância em dire­

ção ao noroeste), bem como o vau principal entre o Jaboque e o m ar M orto. Em bora a m édia anual do índice pluviom étrico fosse baixa, entre dez e doze centímetros, Jericó contava com um amplo suprimento

de água de suas nascentes, hoje cham ada de A in es Sultan. O *tell da antiga cidade é denominado Tell es

Sultan. Situada 250 m etros abaixo do nível do mar,

Jericó é a cidade mais baixa do mundo. Seu formato alongado cobria uma área de cerca de dez acres, com

quase 800 metros de diâmetro. É provável que uma cidade desse tamanho tenha abrigado cerca de duas mil pessoas, apesar de muitas delas terem permaneci­

do nas áreas agrícolas e aldeias circunvizinhas. Ver comentário em 6.1 para informações arqueológicas.

2.2. espias no antigo O riente Próximo. Os espias ge­ralmente colhiam informações sobre o movimento e o tamanho das tropas inimigas. Era bastante comum o fato de espias se infiltrarem no exército inimigo como

desertores ou refugiados. No caso de reconhecimento de uma cidade, a preocupação dos espias era verificar

sua defesa, seu suprim ento de alim ento e água, o n úm ero de soldados na região e a prontidão geral para ataques ou cercos. O m ais im portante, porém, era descobrir o máximo possível sobre o suprimento

de água, pois se houvesse possibilidade de ser cortado ou prejudicado, isso aumentaria em m uito as chances de sucesso de um cerco.2.3. re is de cidades-estado. Nesta época, Canaã não era um estado político unificado. Ao contrário, era form ada por pequenos "rein os", ou cidades-estado, geralmente abrangendo uma cidade grande fortificada e as pequenas aldeias e fazendas da região. Cada

cidade-estado tinha seu próprio rei e um exército. As cartas de Amarna, do século catorze, são a correspon­dência entre muitas dessas cidades cananéias e o faraó egípcio, de quem eram vassalas.2.5. porta da cidade fechada ao anoitecer. N as cidades m uradas, era costum e fechar a porta da cidade ao anoitecer, principalmente quando um inimigo estava rondando. Registros hititas m encionam o cuidado com que essa tarefa era cum prida. Os funcionários mais graduados da cidade supervisionavam pessoalmente

o fechamento dos portões e a colocação das travas. Os portões eram construídos de estruturas maciças, inter­calados por câm aras entre as diversas entradas, de

m odo que vigias e até m esm o oficiais passavam a noite ali, bem ao lado dos portões.2.6. arquitetura das casas. A casa israelita típica, tal como ficou conhecida a partir de 1200, é chamada de casa de quatro aposentos, constituída de uma estrutu­ra de nove metros quadrados, feita de pedra bruta ou tijolos. Os aposentos (às vezes em dois pavimentos) tinham um telhado achatado e eram rodeados por um pátio aberto . Sabe-se a ind a m enos sobre as casas cananéias, embora tam bém tivessem um pátio ao re­dor dos aposentos. As paredes externas eram feitas de pedras grandes em pilhadas (às vezes da largura de um a fileira, outras vezes, de diversas fileiras), com pedras m enores preenchendo os vãos. Geralmente a parede era revestida exteriorm ente com barro e do lado de dentro com gesso. As portas eram de madeira e se movim entavam por meio de um pino de pedra fixado no chão. Em geral, não havia janelas nas casas. Os aposentos eram separados do pátio por uma fileira de pilares de pedra ou de m adeira, talvez com corti­nas servindo como divisórias. O telhado era feito de vigas de m adeira colocadas perpendicularm ente às paredes, cobertas com galhos ou palha e recobertos de arg ila. O chão era de terra b atid a algu m as vezes revestida de gesso, embora na cozinha existisse o cos­tume de colocar blocos de pedra como piso.2.6. talos de lin h o . A fibra do linho é um a planta usada na fabricação de tecidos. As plantas jovens eram usadas na produção de tecidos de alta qualidade, ade­quados para a confecção de roupas, e as plantas mais duras eram destinadas à fabricação de materiais rústi­cos e resistentes, como cordas. Em bora o linho seja m encionado no calendário de Gezer como um a das plantas cultivadas na região, grande parte era impor­tada do Egito. As plantas colhidas tinham de ser esten­didas para secar antes de macerar, um processo que envolvia m ergulhá-las em água parada para separar as fibras aproveitáveis. Em seguida, os talos eram separados para secar por completo, antes de continuar o processo. O forte odor e a um idade das plantas tom a­vam o esconderijo um a experiência peculiarm ente desagradável, talvez equivalente a um mergulho no lamaçal de um chiqueiro.2.7. passagem do Jordão. Na falta de pontes, os locais que permitiam atravessar o rio serviam como lugares estratégicos. D a extrem idade sul do m ar da Galiléia até o rio Iarmuque, não há locais de fácil travessia no Jordão. A partir do Iarm uque, ao sul do uádi Jalud (ribeiro de Herodes) existiam diversas passagens, es­pecialmente na região de Bete-Sam, saindo do vale de Jezreel e entrando em Gileade. Ao sul dessa área, as m ontanhas se aproxim am do vale até a confluência com o Jaboque, onde m ais abaixo se formam os vaus

de Adã. A partir daí, os terrenos apresentam dificul­dades em ambas as margens do Jordão até chegar às

passagens perto de Jericó, quase 30 quilômetros mais ao sul.

2.10. Seom e Ogue. Não há informações fora da Bíblia sobre Seom e Ogue. Trata-se de dois reis amorreus

que derrotaram os israelitas na Transjordânia. Para informações adicionais, ver comentários em Números21.21-35.

2.11. a co n fissão de R aabe. Raabe expressa tem or

pelo D eus de Israel, Yahw eh, e o reconhece como Deus em cima nos céus e embaixo na terra. N o contex­

to religioso do antigo Oriente Próximo, Yahw eh seria

inserido na categoria de divindade cósmica e reconhe­cido como um poderoso protetor da nação. As notícias

que haviam chegado até os cananeus sugerem que Yahw eh tinha poder para controlar o tempo, as águas,

as doenças e o mundo animal. Embora sua confissão demonstre o quanto Raabe e todos os moradores de

Jericó estavam impressionados com a extensão da au­

toridade e do poder de Yahweh, não se pode afirmar

que seja uma expressão de monoteísmo. Ela ainda não renunciara a seus deuses, tam pouco se dispusera a abrir mão deles. Raabe não afirmara nenhuma lealda­

de a Yahw eh, apenas pedira sua ajuda. Ela não de­

monstra nenhum conhecimento das exigências da lei e não há razão para concluir que estivesse consciente

do sistema religioso revolucionário que estava se de­

senvolvendo em Israel. Em resum o, sua declaração não indica que ela se afastara de sua visão politeísta,

no entanto ela sabia reconhecer o poder quando via

sua m anifestação. Acreditava-se que o pavor provoca­

do por uma divindade guerreira antecedia uma bata­lha poderosa e vitoriosa. Textos egípcios atribuem esse

terror a Am on-Rá, nas inscrições de Tutm ósis III, e textos hititas, assírios e babilónicos tam bém apresen­

tam seus guerreiros divinos como aqueles que semei­

am terror no coração dos inimigos.2.15. casas no muro. Era comum construir casas sobre

o muro da cidade neste período. Esse costume favore­

cia a cidade, aumentando a largura e a resistência do m uro e beneficiava os m oradores, fornecendo uma

parede firm e para dar apoio à casa. Escavações em

Jericó descobriram casas edificadas sobre a marquise entre dois muros, com o fundo voltado para o interior

da parede externa (ver comentário em 6.1).

3.1- 4.24 A travessia do Jordão3.1. Sitim . Ver comentário em 2.1.

3.4. dois m il côvados. D ois m il côvados correspon­

dem a pouco mais que m eia milha (IlOOm).

3.10. os habitantes da terra. A lista aqui é semelhante àquela que aparece diversas vezes no Pentateuco. Da

relação de sete povos que habitavam Canaã, três são bastante conhecidos, enquanto que os outros quatro

são praticamente desconhecidos. A primeira menção a Canaã pode ter ocorrido nas tábuas de Ebla (século

24), m as a prim eira referência com provada aparece

nos textos de M ari (século 18). Os cananeus eram os

principais habitantes das cidades fortificadas da re­gião, em bora não fossem nativos dali. Os reis dessa

localidade referem-se a si mesmos nas cartas de Am am a

(metade do segundo milênio) como kinahu, o equiva­lente a um termo (kinanu) também usado nas inscri­

ções egípcias desse período. Os hititas, de quem temos

mais informações, eram oriundos da Anatólia, a atual Turquia, m as alguns grupos que ocupavam partes da

Síria e de Canaã também eram denominados hititas e podem ou não estar relacionados ao primeiro grupo.

Os hititas que viviam em Canaã tinham nomes semitas,

enquanto que os hititas da Anatólia tinham origem

indo-européia. Os heveus às vezes são relacionados aos horeus, e nesse caso talvez possa se tratar dos

*hurritas. A inda há controvérsias quanto ao termo

ferezeu, quanto a se referir a um grupo étnico ou social (aqueles que viviam em povoados sem m uros). Os

girgaseus são pouco conhecidos, embora sejam citados

em textos *ugaríticos. Os *am orreus (conhecidos na Mesopotãmia como amurru ou martu) são conhecidos a

partir de documentos escritos já da m etade do terceiro

m ilênio a.C.. A maioria dos estudiosos acredita que eles ocuparam muitas áreas no Oriente Próximo, de­

vido às suas raízes na Síria. O termo "am orreu" pode

ser usado para referir-se a uma área geográfica ("oci­

dentais") ou a um grupo étnico, embora nem sempre

estejam inter-relacionados. Alguns amorreus eram nô­mades, m as já havia cidades-estado dos amorreus, na Síria, desde o final do terceiro m ilênio. Os jebuseus

ocuparam a região m ais tarde associada à tribo de

Benjam im , especialm ente a cidade de Jerusalém e, com freqüência, são relacionados aos ferezeus, que

habitavam na m esm a região. Não existe referência

aos ferezeus, heveus ou jebuseus fora da Bíblia.

3.16. separação das águas do Jordão. Durante a pri­mavera (ver 4.19), o derretimento da neve nas m onta­nhas do Anti-Líbano geralmente faz o rio Jordão trans­

bordar. Deslizamentos de lama resultantes do impac­to das enchentes nas encostas ou de atividade sísmica

ocasionalmente interferem no curso do rio Jordão exa­tamente no ponto mencionado aqui neste texto (a mais

recente ocorreu em 1927). De acordo com os registros, essas ocorrências geralmente bloqueavam o curso do Jordão durante vários dias.

3.16. Adã, em Zaretã. Adã é a m oderna D am iya, à leste do Jordão, e ao sul da foz do rio Jaboque, cerca de 30 quilômetros ao norte dos vaus de Jericó. As m ar­gens íngrem es do Jordão são especialm ente suscetí­veis a deslizamentos de terra, devido ao grande volu­m e de água provocado pela confluência de dois rios nesse local. Zaretã é identificada com Tell es-Sa'idiyeh, vinte quilômetros m ais ao norte, ou com Tell U m m Hamad, no lado norte do Jaboque.3.17. terra seca. H á um interessante relato num a ins­crição de Sargom II, da Assíria (século dezoito), em que ele afirma ter conduzido seu exército através dos rios Tigre e Eufrates, na época da cheia, como se fosse terra seca.3.17. o papel da arca. No tema do guerreiro divino, o deus luta nas batalhas e derrota os deuses do inimigo. Na Assíria, Nergal era o rei das batalhas e Istar era considerada a deusa da guerra. O deus cananeu Baal e M arduque, da Babilônia, também eram considera­dos guerreiros divinos. Esses duelos entre os deuses não devem ser encarados como uma "guerra santa", já que no antigo Oriente Próximo não havia outro tipo de guerra. Na maioria das situações, faziam -se ora­

ções e consultavam-se oráculos a fim de assegurar a presença da divindade nas frentes de batalha. Im a­gens ou símbolos da divindade geralmente eram car­regados nas batalhas para representar sua presença junto ao exército. A arca, símbolo de Yahweh, repre­sentava a presença do Senhor abrindo caminho à frente dos israelitas e conduzindo o exército até Canaã. Esse conceito não é m uito diferente da crença assíria de que os deuses concediam poderes às armas do rei e lutavam adiante dele ou ao seu lado.

4.13. quarenta m il hom ens. A palavra traduzida como "m il" pode às vezes referir-se a uma divisão militar. Talvez seja esse o significado pretendido pelo autor na expressão "quarenta mil hom ens", embora a ques­tão seja complexa. Para mais informação, ver comen­tário em Êxodo 12.37. Compare esse número à popu­lação estimada da cidade de Jericó (de mil e quinhen­tas a duas mil pessoas).4.13. p lanície de Jericó. Jericó fica a oito quilômetros do Jordão, com uma extensa planície ocupando toda a região entre eles.4.18. retorno da enchente. Se o fluxo do rio foi inter­rompido por um deslizamento de lama, um volume imenso de água ficou represado e quando o bloqueio foi rom pido pela força das águas, a intensidade da correnteza foi ainda maior.4.19. décim o dia do prim eiro m ês. O últim o dado cronológico foi citado em Deuteronômio 1.3, o prim ei­ro dia do décimo primeiro mês do ano quadragésimo. Após essa menção, Moisés sobiu ao monte para mor-

rer (Dt 32.48) e o povo o pranteou durante trinta dias (Dt 34.8). Assim, pode-se presumir que essa data seja agora do prim eiro m ês do quadragésim o prim eiro ano, apenas dois m eses após a m orte de M oisés. O primeiro mês é Nisã (vai de março a abril), época em que se celebra a Páscoa. Era visto como um bom perí­odo para as atividades militares porque as tropas in­vasoras podiam alimentar-se das colheitas nos cam ­pos. Se considerarmos a data mais antiga para o êxodo (ver nota 'data do êxodo' em Êxodo 12), seria por volta do ano 1400 a.C.; se a data posterior do êxodo for a correta, então seria por volta de 1240.4.19. G ilga l. A localização de G ilgal ainda não foi identificada. Algumas tentativas situam-na a nordes­te de Jericó, perto de K hirbet M efjir, onde há um razoável suprimento de água, jazidas de pedras (sílex) na superfície (ver 5.2) e vestígios de eras passadas (mas somente a partir de 1200). Outra Gilgal bíblica tem sido identificada com Khirbet ed-Dawwara, loca­lizada no centro do círculo formado pelas cidades de Jericó, Ai, Gibeão e Jerusalém, a uma distância inferi­or a dez quilômetros de cada uma delas. Esse, porém, não é considerado o local mais provável para Gilgal.

5.1-12 Circuncisão e páscoa5.1. reis am orreus e cananeus. N esse período, a re­gião era formada por pequenas cidades-estado, cada um a tendo seu próprio rei e exército. Os amorreus ocupavam a parte m ontanh osa, enquanto que os

cananeus habitavam as planícies costeiras. As cidades cananéias estavam situadas em posições mais estraté­gicas, visto que as principais rotas comerciais do Egito seguiam pela costa (para m ais informações sobre as rotas de comércio, ver nota na página ). Os israelitas tiveram m uito m ais sucesso no controle das áreas m ontanhosas do que das p lan ícies. As cartas de A m am a nos dão uma boa dose de informações acerca

das cidades-estado de Canaã, no século catorze. Em muitas dessas cartas, os reis apelam ao Egito para que envie mais tropas a fim de ajudá-los a conter os Apiru/ Habiru, que estavam causando problemas. Habiru é

um termo usado para descrever pessoas sem posses em m ais de 250 textos de todo o segundo m ilênio, abrangendo desde o Egito e Anatólia até o leste do Tigre. Certamente os israelitas (hebreus) foram conta­dos entre os habiru. De acordo com os arquivos de Amarna, os reis mais proeminentes da região da Pa­lestina foram M ilkilu (Gezer), Abdi-Heba (Jerusalém), Lab'ayu (Siquém) e Abdi-Tirshi (Hazor). Os egípcios tinham uma série de cidades administrativas, inclusi­ve Gaza e Jope, na costa, e Bete-Seã, onde o vale de Jezreel (e a rota de comércio) vai até o Jordão.

5.2. facas de pedra. Os primeiros instrumentos e fer­ramentas conhecidos da Idade da Pedra eram lascas

de pedra obtidas por golpes aplicados na pederneira

nos ângulos certos. Essas lascas, cujos gumes eram

extremamente afiados, eram de fácil fabricação e ra­zoavelmente duráveis. O uso de um a lasca de pedra

no processo de circuncisão tanto em Israel como no Egito perm aneceu m esm o depois de terem sido in­

ventadas as ferram entas e arm as de m etal. O uso dessas lâminas de pedra pode refletir a longa tradição

que antecedera a existência de lâminas de metal ou simplesmente a necessidade de se usar muitas lâmi­

nas de uma só vez. Alguns estudiosos têm sugerido

que o texto esteja se referindo à obsidiana, valorizada por seu fio cortante e preciso.

5.2. circuncisão. A *circuncisão era amplamente prati­cada no antigo Oriente Próxim o como um ritual de

puberdade, fertilidade ou casamento. Relevos egípci­

os já do terceiro m ilênio retratam a circuncisão feita em adolescentes por sacerdotes que usavam facas de

pedras. Em bora os israelitas não fossem o único povo a circuncidar seus filhos, esse sinal foi usado para

marcá-los como membros da comunidade da *aliança.

Quando usada em relação ao casamento, a terminolo­gia sugere que era realizada nos novos integrantes

(do sexo masculino) da família, indicando que, nesse

novo relacionamento, o noivo passava a ficar sob a proteção daquela família. Em crianças, a circuncisão

era mais um ritual para deixá-la com um sinal, do que

algo feito por razões sanitárias. O fato de o sangue ser derramado tam bém significava que seria um *ritual sacrificial e podia funcionar como uma substituição ao

sacrifício humano praticado por outros povos. A cir­

cuncisão pode ser vista como um dos m uitos casos em

que Deus dá a um a prática comum um novo significa­do (apesar de não necessariamente sem relação entre

si) revelando-se e relacionando-se com seu povo.

5.2. circuncidar novam ente os israelitas. Alguém pode

perguntar como os israelitas poderiam ser circuncida­dos, se já haviam passado por esse procedim ento.

Talvez fosse um a referência à realização do rito da

circuncisão pela segunda vez ou a um procedimento cirúrgico mais radical. A circuncisão egípcia envolvia

apenas um a incisão superficial e não a remoção total

do prepúcio. Os versículos 5-8, porém, sugerem outra

explicação, dizendo que quem fora circuncidado an­tes da saída do Egito já havia morrido; esses que são

circuncidados agora fazem parte da nova geração,

que ainda não passara pelo rito da circuncisão.

5.3. G ibeate-A ralote. Gibeate-Aralote significa "coli­na dos prepúcios". Se este nome refere-se a um lugar,

sua localização é desconhecida.

5.6. leite e m el. A terra de Canaã é descrita como uma terra "onde m anam leite e m el". É uma referência à exuberância da terra, favorável ao pastoreio, m as não

necessariam ente adequada à agricultura. O leite é um produto de rebanhos, enquanto que o mel repre­senta um recurso natural, referindo-se provavelmen­te à seiva extraída da tâmara, e não ao mel de abe­

lhas. Uma expressão semelhante a essa pode ser en­contrada no épico *ugarítico de *Baal e M ot, que des­creve a volta da fertilidade a terra em termos de uádis onde fluía mel. Os textos egípcios como A História de

*Sinuhe já descrevem a terra de Canaã como rica em recursos naturais e também na produção agrícola.5.10. Páscoa. A Páscoa celebrava a libertação da escra­

vidão no Egito e talvez tam bém representasse uma cerimônia de purificação preparando para a conquista de Canaã. Ver comentários em Êxodo 12.1-11.5.12. m aná. Para um a análise com pleta a respeito do

maná, consulte os comentários de Êxodo 16.4-9 .0 fato de que o m aná foi enviado em diferentes regiões pe­las quais Israel passou durante a peregrinação sugere que essa provisão de D eus era algo bastante diferente

do que as explicações naturais podem apresentar.

5.13- 6.27A conquista de Jericó5.13, 14. com andante. O com andante sobrenatural que Josué encontrou é outra indicação de que Yahweh se encarregara da batalha e seria o responsável pelo sucesso m ilitar dos israelitas. Assim como Moisés tive­

ra um encontro com D eus na sarça ardente, em que Ele lhe comunicara seu plano de tirar o povo de Israel

do Egito (êxodo), também nesse encontro de Josué o plano de D eus para a conquista é apresentado. A

mensagem trazida pelo comandante inclui a estraté­

gia para a tomada de Jericó (cujo relato se inicia em6.2). No antigo Oriente Próximo, considerava-se que as guerras geralmente eram dirigidas pelos deuses e seguiam o os planos divinos. Porém, o aparecimento

da divindade na véspera das batalhas não era comum na literatura do antigo Oriente Próximo. Em vez dis­so, a palavra divina ordenando a batalha era dada através de um oráculo, ao passo que a presença divi­na era vista na batalha em si. No épico ugarítico de Keret, entretanto, o deus El aparece ao rei Keret num

sonho com instruções específicas sobre a batalha. Ou­tro p ara le lo b astan te sem elh an te é quan do o rei

babilônio Samsuiluna (século 18 a.C.) recebe mensa­geiros sobrenaturais de Enlil dando instruções sobre um a série de campanhas contra Larsa e Esnuna. Ne­

nhuma dessas aparições divinas, porém, ocorreu na véspera da batalha - as tropas ainda tinham de ser

reunidas.6.1. Je ricó . A ocupação de Jericó rem onta ao nono

milênio a.C., o que garante a ela o título de cidade m ais antiga do mundo. Sua localização tem gerado muita controvérsia; além disso, a análise arqueológi­

ca tem sido dificultada devido a enormes erosões que tendem a m isturar as camadas analisadas pelos ar­queólogos, eliminando por completo grande quanti­

dade de evidências. A s escavações conduzidas por Kenyon nos anos cinqüenta concluíram que a cidade 4 foi violentamente destruída (há indícios de terremo­to e incêndio) por volta de 1550 (final da Idade do

Bronze Média) e depois disso foi ocupada apenas par­

cialmente e ocasionalmente até o século nono. Isso é um problem a tanto para a data m ais recente como

para a data m ais antiga do êxodo e da conquista.

INFORMAÇÃO EGÍPCIA ACERCA DE CANAÃ E ISRAELDesde o surgimento da 18a dinastia, na metade do século 16 a.C., os egípcios estabeleceram uma base de operações em Canaã, alternando períodos de apogeu e declínio por mais de quatro séculos. As expedições militares eram bastante comuns e em alguns períodos, a presença egípcia se fazia sentir através da presença de tropas em pontos críticos ao longo das rotas comerciais. Durante o reinado de Tutmósis III (século 15), a região da Síria-Palestina tomou-se uma província egípcia. Após um período de declínio, na época de Amama (século 14), o início da 19a dinastia (início do século 13) trouxe uma renovada atividade militar tendo Canaã como base de operações contra os hititas, na luta pelo controle da Síria. Além dos textos de Amarna, que fornecem informações inestimáveis sobre a situação política em Canaã e o papel significativo do Egito na região, registros egípcios também apresentam outros dados que contribuem para melhor compreensão esse período. (1) Os itinerários das campanhas egípcias freqüentemente se referem a cidades também mencionadas pela Bíblia. Tutmósis III alista mais de cem cidades de Canaã. As vezes, esses itinerários podem ajudar a localizar uma cidade porque neles são descritas as cidades situadas em ambos os lados da rota em questão. Além disso, embora as escavações realizadas em algumas cidades não demonstrem ocupação naquele período, o itinerário egípcio demonstra que foram efetivamente ocu­padas naquela época específica, visto que faziam parte da rota. (2) Relevos egípcios do século 13 ilustram fortalezas cananéias e cidades fortificadas do mesmo tipo que as encontradas por Josué. (3) A famosa esteia da vitória de Memeptá (segunda metade do século 13 a.C.) é a mais antiga referência a Israel fora da Bíblia. Descoberta em 1896, esse monumento em granito preto, com mais de dois metros de altura, apresenta detalhes das campanhas do faraó contra os líbios e os povos do mar, mencionando as vitórias contra Asquelom, Gezer, Yanoam e Israel como parte da invasão de Canaã. Um egiptólogo (F. Yurco) sugeriu que essas campanhas de Memeptá também estão gravadas nas paredes de Kamak. Se ele estiver certo, esse registro representa a mais antiga referência aos israelitas.

Outro dado bastante significativo é a ausência de ce­râm ica cipriota da Idade do Bronze Posterior, m as algu ns estud iosos têm argum entad o que existem m uitos exem plares de cerâm ica local, desse mesmo período (1550-1200). Restam ainda muitas perguntas a serem respondidas quanto à arqueologia do local. A cidade 4 era cercada por um m uro revestido de pedra (com quatro metros e meio de altura e encimado por um m uro de tijolos com pelo menos m ais dois metros e m eio de altura) que sustentava um a m arquise de gesso que subia cerca de quatro metros e meio para um segundo m uro, tam bém feito de tijolos. A inda que a cidade 4 não seja a cidade invadida na época de Josué, é provável que seus m uros ainda estivessem sendo usados. H avia casas construídas no topo da m arquise de gesso que dividia os dois muros. A cida­de não é mencionada nos textos de A m am a nem nos itinerários egípcios da época. Ver comentário em 2.1 acerca de dados geográficos.6.3, 4. sete d ias m archan d o em s ilê n c io . No épico ugarítico de Keret (que provavelm ente era conhecido pelos habitantes de Jericó), o exército de Keret chega à cidade de Udm e é instruído pelo deus El a permanecer em silêncio por seis dias e a não fazer uso de nenhu­m a arma; no sétimo dia a cidade enviaria m ensageiros e ofereceria tributos pedindo que eles se retirassem.6.4, o papel dos sacerdotes. Os sacerdotes eram ne­cessários para m anter a santidade da arca. Seu papel era fundam ental porque lem bravam ao povo que a batalha era de Yahw eh e não dos israelitas. A respeito do simbolismo da arca, ver comentário em 3.17.6.4, 5. sin ais de trom beta. A trom beta m encionada aqui era feita de chifre de carneiro (shofar). O shofar era capaz de produzir um a variedade de tons, mas não tocava um a m elodia; assim era usado primordial­mente para emitir sinais tanto na adoração como na guerra. A corneta, fe ita de chifre de carneiro , era amolecida na água quente, entortada e achatada para produzir formas diferentes. Era comum o uso de di­versos sinais na guerra. Sinais com fogo eram usados tanto nas linhas de frente com o em campo aberto. Ordens básicas às vezes eram com unicadas através do levantamento de um mastro ou do arremesso de dardos. Os sinais de trombeta são atestados no Egito na Idade do Bronze M odem a em contextos m ilitares e religiosos. U m código pré-definido incluía certas com­binações de sopros longos e curtos.6.20. m uros da cidade. A s técnicas de fortificação de­senvolveram-se na Idade do Bronze M édia e continu­aram a ser usadas na Idade do Bronze Posterior. Essas técnicas incluíam íngrem es aclives de terra (alguns chegavam a atingir 15 metros de altura) na base dos muros, rodeados por um profundo fosso que atingia o

leito rochoso. Esses recursos serviam tanto para evitar a aproximação de instrumentos usados no cerco a cida­des, como para dificultar a escavação de túneis. Os

muros, feitos de tijolos sobre fundações de pedra, eram da largura de três a sete m etros e m eio, com uma

altura de aproximadamente nove metros. Textos hititas

apresentam um relato em que, de modo bastante se­m elh ante, um a div ind ad e en via um castigo pro­vocando a queda dos m uros (no caso, tapum es de

madeira).6.21-24. consagrado ao Senhor (herem ). A ordem dada

no versículo 17 e depois obedecida nos versículos 21­

24 era a de que todos os seres vivos que habitavam naquela cidade fossem totalmente destruídos (exceto

a prostituta Raabe e sua fam ília, que foram poupa­

das). Certos sacrifícios dedicados a Deus podiam ser compartilhados pelo sacerdote oficiante e pelo oferente,

no entanto, outros eram exclusivos do Senhor. Do mesmo m odo, alguns despojos eram separados exclu­

sivam ente para o Senhor. A oferta queim ada, por

exemplo, deveria ser consumida totalmente no altar;

assim também os inimigos deveriam ser aniquilados. As batalhas eram comandadas por Yahw eh e repre­

sentavam seu ju ízo sobre os cananeus; os israelitas

estavam em um a m issão divina, num a batalha do Senhor, logo, não só o mérito da vitória era de Deus,

com o tam bém o espólio pertencia a Ele. Em bora o tema da divindade guerreira apareça em todo o anti­

go Oriente Próximo, o conceito de herem é m ais limi­

tado - a única ocorrência do termo está num a inscrição

moabita de M esha, embora a idéia de destruição total

tam bém esteja presente em textos *hititas. Alguns lugares, como Gezer, apresentam uma camada bas­

tante peculiar de cinzas, relacionada à Idade do Bron­

ze M oderna ou Posterior. Quando as cidades eram sitiadas, as condições sanitárias eram extremamente

precárias, provocando doenças devastadoras. Assim, a prática de queim ar tudo após derrotar a cidade tam­

bém tinha um caráter sanitário. A m elhor analogia

para nos ajudar a entender o herem é pensar em ter­mos de radiação. Uma explosão nuclear destrói mui­

tas coisas e o alcance da radiação vai m uito além. O

escrúpulo e o cuidado que teríamos ao lidar com coi­sas que foram expostas à radiação é sem elhante ao que se esperava dos israelitas em relação àquilo que

Deus ordenara fosse destruído. Se a radiação pudesse ser personificada, poderíam os entender que se algo

fosse entregue a ela, aquilo jam ais poderia ser resga­

tado. Foi exatamente a esse tipo de perigo que Acã se

expôs: ao m anter consigo algumas coisas que deveri­am ser destruídas, ele colocou-se num a situação com­

pletam ente irrem ediável.

6.21. ao fio da espada. A expressão usada na Bíblia para referir-se ao "fio " da espada reflete o fato de que, nessa época, as espadas não eram retas nem tinham dois gumes. A lâmina era reta de um lado, m as o fio ficava no lado externo da parte curva, em form a de foice. Não era um a arma usada para traspassar e sim para golpear a vítima.6.26. maldição a quem reconstruísse a cidade. Inscri­ções assírias geralmente expressam a intenção de que uma cidade destruída jam ais deveria ser reconstruída, mas não são acompanhadas de um juram ento como nesse caso. N um docum ento hitita referente à con­quista de H atusha, no início do segundo m ilênio, Anitta profere um a maldição contra qualquèr rei que reconstruísse a cidade.6.26. relação entre reconstruir e perder os filh os. Ver1 Reis 16.34. Durante um tempo acreditou-se que a consagração de uma casa envolvia o sacrifício de uma criança da família. Esse argumento foi usado muitas vezes para explicar a incidência de esqueletos de cri­anças enterrados debaixo da soleira das portas das casas. Essa interpretação tem sido amplamente rejei­tada e alguns pesquisadores agora vêem uma relação entre a maldição e a doença conhecida como esquisto­ssomose (bilhárzia). Essa doença é causada por um parasita que se hospeda em caramujos do tipo encon­trado em abundância em Jericó. O verm e penetra na pele e é levado pela corrente sangüínea, infectando o aparelho urinário, afetando a fertilidade e provocan­do a mortalidade infantil. ~

7.1-26O pecado de Acã e suas conseqüências7.1. coisas consagradas. Ver comentário em 6.21-24.7.1. responsabilidade coletiva. No antigo Oriente Pró­ximo, a identidade do indivíduo se confundia com sua identificação como parte do grupo. Integração e interdependência eram valores importantes, que man­tinham o grupo como uma unidade. Como resultado, o comportam ento do indivíduo não era visto como algo isolado do restante do grupo. Quando um israelita pecava, o grupo partilhava da responsabilidade pelo pecado. Além de refletir essa perspectiva da socieda­de, a responsabilidade coletiva tam bém era resultado do relacionamento de aliança que Israel tinha com o Senhor. A lei incluía muitas orientações para o com­portamento individual e quando ocorriam violações desse tipo, os benefícios da aliança eram ameaçados para todo o povo de Israel.7.2. A i. A cidade de Ai geralmente é identificada com a localidade de et-Tell, um *tell de vinte e sete acres localizado catorze quilômetros a oeste-noroeste de Jericó, cerca de dezesseis quilômetros ao norte de Jerusalém.

A principal ocupação do lugar ocorreu durante o ter­ceiro m ilênio (Idade do Bronze A ntiga), sendo des­truída bem antes dos patriarcas. A localidade não de­m onstra nenhum sinal de ocupação após esse período até que um a pequena aldeia (cobrindo cerca de seis acres) foi estabelecida na região em algum momento após 1200 a .C , usando o que restara dos muros da Idade do Bronze Antiga como defesa. Não há, portanto, ne­nhum a indicação de que essa localidade tenha sido ocupada durante qualquer dos períodos prováveis da conquista. Esse dado arqueológico tem feito alguns du­vidarem da autenticidade do registro bíblico, enquanto outros questionam se esta é de fato a cidade de Ai. Ao longo dos últimos séculos, muitas localidades têm sido e continuam sendo apresentadas com o alternativas, porém nenhum a delas foi comprovada.7.2. Bete-Á ven. A cidade de Bete-Áven ainda não foi

identificada com segurança. A m aneira como é intro­duzida no texto sugere que se tratava de uma cidade m ais im p o rtan te que A i. T ell M ary am tem sido freqüentemente considerada a localização m ais pro­vável. A localidade não foi escavada, m as algumas pesquisas descobriram vestígios que remontam à Ida­de do Ferro. A credita-se que Oséias use Bete-Áven como um nome alternativo para Betei (4.15; 5.8; 10.5).7.2. Betei. Ver comentário em 8.9.

7.5. Sebarim (pedreiras) Algumas traduções descre­vem os israelitas fugindo para as pedreiras; outras u tilizam o term o Sebarim , que é o nom e de um a localidade. Pedreiras eram comuns nessa região, mas sebarim não é a palavra usual para descrevê-las. Um arqueólogo (Z. Zevit) sugeriu que a palavra deveria ser traduzida como "ru ínas", uma menção às ruínas da cidade da Idade do Bronze Antiga, situadas bem abaixo na elevação dessa ocupação m enor da Idade do Bronze Posterior. O texto original não diz se os ho­mens de A i perseguiram os israelitas a partir da fren te do portão (embora muitas traduções o façam, inclusi­ve a NVI: "desde a porta da cidade" - 7.5); a persegui­ção se deu "desde as portas até as pedreiras". Nesse caso, pode ser o portão Uádi da cidade da Idade do Bronze Antiga.7.6. luto. O s hábitos relacionados ao luto geralmente incluíam rasgar as vestes, prantear, jogar pó e cinzas sobre a cabeça e vestir-se de pano de saco. O pano de saco era feito de pelo de bode ou camelo e era rústico e desconfortável. Em m uitos casos, o pano de saco era um a cobertura apenas para os quadris. O período oficial de luto era de trinta dias, m as podia estender- se pelo tempo que a pessoa desejasse.

1.1, 8. am orreus e cananeus. Os am orreus e os ca- naneus eram os principais habitantes da terra. Para informações acerca do contexto étnico, consulte o co­

m entário em 3.10; sobre o contexto político, ver co­m entário em 5.1.7.13. consagração. A consagração consistia num a sé­rie de passos para que a pessoa se tom asse ritualmente pura. Esse processo envolvia principalmente o ato de lavar-se e evitar contato com objetos impuros. De modo geral, a consagração antecedia a participação em al­gum ritual, inclusive sacrifícios, festas ou atividades relacionadas a Yahweh, tais como guerras ou consul­tas ao oráculo.7.14-18. escolha através do oráculo. O texto não men­ciona o m étodo pelo qual os grupos ou indivíduos eram escolhidos, em bora algum as traduções acres­centem a expressão "p or sorteio". Em Israel, porém, os sorteios eram usados quando o objetivo era fazer uma escolha aleatória. Aqui, ao contrário, os israelitas buscavam a orientação divina através de um oráculo, apresentando um a pergunta a D eus a fim de obter uma resposta (ver comentário em Gn 24.12-21). Cada tribo ou clã se apresentava diante do Senhor como que perguntando: "Som os nós os culpados?" Se o pro­cesso usado aqui for sem elhante ao U rim e Tum im (ver comentário em Êx 28.30), a resposta só seria con­siderada como enviada por Deus se desafiasse às leis da probabilidade (ou seja, se o mesmo resultado se repetisse por diversas vezes seguidas). No antigo Oriente Próximo, eventualmente se usavam sorteios para receber oráculos, embora na m aioria dos casos os oráculos fossem buscados através de adivinhações (como por exemplo, o exam e das entranhas de um animal sacrificado, cujos agouros podiam ser favorá­veis ou desfavoráveis). Como o processo aqui foi pre­cedido por um a consagração, é provável que nenhum desses m étodos tenha sido usado e sim a comunicação direta com Yahweh.

7.21. os despojos de Acã. Os metais preciosos saque­ados das cidades cananéias deveriam ser levados ao santuário, portanto, A cã se apropriara indevidamente daquilo que pertencia ao Senhor. No tesouro de Acã havia quase dois quilos e meio de prata e seiscentos gramas de ouro, o equivalente ao salário de um a vida inteira de um trabalhador. A capa confeccionada na Babilônia desse período tinha franjas e formava um drapeado cobrindo um dos ombros, com a borda apoia­da no braço.7.25. ap ed rejam en to com o form a de execução. Oapedrejamento era uma forma de execução comunitá­ria mencionada inúmeras vezes na Bíblia. Era comu- mente usada para punir crimes contra a comunidade (apostasia, em Lv 20.2; feitiçaria, em Lv 20.27) e exi­gia que as pessoas que tivessem sido ofendidas parti­

cipassem da execução. Por tratar-se de um a form a com unitária de execução, nenhum indivíduo podia

ser responsabilizado pela morte do criminoso. Textos mesopotâmicos não mencionam o apedrejamento, mas em pregam o afogamento, a empalação, a decapitação e a fogueira como formas de execução.7.25. execução de toda a fam ília. O castigo pela viola­ção da ordem divina de destruição total era ser total­m ente destruído. Toda a descendência do infrator ti­nha de ser elim inada para que seu nom e caísse no esquecimento. A lei proibia que os filhos fossem pu­nidos pelos pecados de seus pais (Dt 24.16), mas o objetivo dessa lei era restringir certas práticas bastan­te específicas. Por exemplo, nas leis de Hamurabi, se um hom em provocasse a morte do filho de outro ho­mem, seu próprio filho teria de ser morto. Outro exem­plo era a aplicação da vingança de sangue sobre toda a família do assassino. Assim, a lei tinha o objetivo de aplicar restrições ao sistema legal civil. O caso aqui pertence a um a categoria inteiramente diferente, em

que o próprio Deus está julgando a situação. A des­truição de toda a linhagem da família era um castigo que somente Deus poderia infringir.7.26. vale de Acor. A identificação do vale de Acor é incerta . U m a sugestão é el-B uqeia , n o deserto da Judéia, cerca de 16 quilômetros a sudeste de Jerusa­lém, percorrendo de norte a sul, bem a oeste de Cunrã. Infelizmente, parece ser m uito distante de Jericó e na direção errada para se encaixar nessa hipótese. As outras citações de Acor o localizam n a fronteira entre Judá e Benjamim (ver 15.7). El-Buqeia fica muito ao sul, mas qualquer outra possibilidade que inclua a região de Jericó/A i/G ilgal (como o uádi Nu'eim a) ficaria m uito ao norte.

8.1-29 A destruição de Ai8.1. Ai. Ver comentário em 7.2.8.2. em boscada. As estratégias empregadas por Israel (emboscadas, falsos recuos, armadilhas, infiltração nas tropas inimigas e outras) incluem-se na categoria de guerra indireta e não dos cercos prolongados ou bata­lhas intensas. Essas eram táticas conhecidas no antigo

Oriente Próximo, de acordo com o que está registrado nos textos de M ari (século dezoito), no papiro egípcio de Anastasi (século treze) e em um texto medo-assírio (século dez).8.3. trinta m il hom ens de guerra. Trinta m il parece ser um núm ero exorbitante para se enviar contra uma cidade que provavelm ente não teria m ais que algu­m as centenas de soldados. Com certeza, esse número tão elevado também seria impraticável para executar um a em boscada. O versícu lo 25 cita que doze m il pessoas de Ai foram m ortas, porém m encionou-se an­teriorm ente que A i era um a cidade pequena, com

poucos habitantes (7.3). Se fosse menor que Jericó, sua população total não chegaria a mil pessoas. Tudo isso sugere que a palavra traduzida como "m il" em passa­gens semelhantes a esta, na verdade, estaria se refe­rindo a "com panhia", "batalhão" ou "d iv isão", que é o sentido alternativo do termo em hebraico. Em vez de um núm ero determ inado, alguns têm sugerido que cada clã enviava uma divisão com o núm ero de homens proporcional ao tamanho do clã. Posterior­mente, na história dessas companhias ficou padroni­zado que teriam mil homens, mas aqui é bem possí­vel que houvesse um núm ero tão reduzido como dez soldados apenas num a divisão. No primeiro ataque a Ai, em 7.4,5, "cerca de três mil hom ens" foram envi­ados para atacar a cidade; entretanto a m orte de trinta e seis deles foi considerada um m assacre, um sinal de derrota diante das outras nações. Nas cartas de Am am a os reis das cidades-estado im ploram ao Egito que lhes envie dez ou doze soldados para reforçar seus exérci­tos. Sobre a questão do número de israelitas, consulte o comentário de Êxodo 12.37. Para um a discussão mais aprofundada sobre esses núm eros, ver comentários em 2 Crônicas 11.1; 13.2-20.8.9. Betei. Betei é mencionada até o versículo 17 ape­nas como uma localidade vizinha, quando os homens dessa cidade saíram em perseguição a Israel. Não há referência à destruição de Betei, embora seu rei conste da lista de reis derrotados por Josué e pelos israelitas em 12.16. Em Juizes 1, essa cidade foi atacada pela tribo de José. Betei tem sido identificada com Beitin, pouco m ais de dezesseis quilômetros ao norte de Jeru­salém, cerca de dois quilômetros e meio a oeste de et- Tell, o local tradicionalm ente identificado como Ai. Nessa região havia uma cidade fortificada durante a Idade do Bronze Média, que foi destruída na metade do século dezesseis. Grande parte dela foi reconstruída na Idade do Bronze Posterior, e há evidências de duas destruições durante esse período (1550-1200). Alguns, porém, contestam o fato de que Beitin seja Betei por causa da dificuldade em encontrar um a localidade próxima que possa ser satisfatoriamente identificada com Ai (ver comentário em 7.2). A principal alterna­tiva é Bireh, dois ou três quilômetros ao sul de Beitin.8.9-13. posição de batalh a. A m archa de dezesseis quilômetros do contingente que armou a emboscada foi feita sob o manto da escuridão. Eles se posicionaram na extremidade da cidade (lado oeste; Jericó e Gilgal ficavam a leste de Ai). O restante do exército marchou para o oeste na m anhã seguinte através do uádi el- Asas, arm ando um acam pam ento num vale ou na encosta de um a colina, ao norte de Ai. Quando os soldados de A i saíram para a batalha, o exército israelita fugiu para o deserto, retom ando à sua base, permitin­

do que os soldados que estavam de emboscada atrás da cidade tomassem posição.8.18. lança. As lanças da época de Josué tinham uma cabeça de metal presa a um a haste curta de madeira. M ais tarde, as lanças seriam atiradas com a ajuda de um laço que as fazia girar e permitia que alcançassem maiores distâncias com mais precisão. Muitos têm su­gerido que a arma descrita neste texto na verdade não é um a lança e sim um a espada em form a de foice, bastante usada na época (para uma descrição dessa arma, ver comentário em 6.21).8.25. doze m il mortos. Provavelmente esteja se refe­rindo a doze divisões. Ver nota em 8.3.8.28. incendiou a cidade. A localidade de et-Tell não

apresenta vestígios de destruição por fogo no período do Bronze Posterior, tampouco a ocupação da Idade do Ferro parece ter sido destruída por um incêndio. Ver discussão sobre os problemas arqueológicos rela­cionados a Ai, em 7.2.8.29. en forcou o rei. De acordo com 10.26, os reis foram executados primeiro e depois pendurados, su­gerindo que o enforcam ento não era um a form a de execução e sim um tratamento dado ao cadáver (ver 2 Sm 21.12 e compare com 1 Sm 31.10). M uitos acredi­tam que seja uma referência ao empalamento numa forca, que mais tarde seria o tipo de execução pratica­da pelos assírios e pelos persas. O costume de deixar o corpo exposto também era ocasionalmente praticado pelos egípcios. A exposição representava um a hum i­lhação final e uma profanação (ver Is 14.19,20; Jr 7.33;8.1-3), já que a maioria dos povos antigos acreditava que um sepultamento adequado afetava a qualidade da vida após a morte. Ver comentário em 1 Reis 16.4. N o Épico de Gilgamés, ao retornar do m undo inferi­or, Enkidu relata a Gilgamés que aquele que morrera e não fora enterrado não tinha descanso e quem não tinha parentes vivos só podia alim entar-se daquilo que era jogado nas ruas. U m a maldição babilónica relaciona o sepultamento à união do espírito do morto com seus entes queridos. Sabemos que até mesmo os israelitas acreditavam que um sepultamento adequa­do afetava a vida após a morte, visto que eles, assim como seus vizinhos, enterravam seus entes queridos com provisões que lhes proporcionariam sustento na vida após a m orte. G eralm ente, acrescentava-se às provisões algum as vasilhas de cerâm ica (cheias de alim ento), jó ias (para afastar o m al), ferram entas e objetos pessoas.8.29. erguer um m onte de pedras. Sepulturas feitas de m onte de pedras eram comuns na Palestina por volta do ano 2000 a.C., especialmente nas áreas meri­dionais do N eguebe e do Sinai, que são bastante ári­das e rochosas. Os sepultamentos cananeus desse perí­

odo eram feitos em tumbas de uso múltiplo, permitin­do que famílias inteiras fossem sepultadas juntas, em túm ulos escavados na base de formações rochosas. Geralmente essas tumbas eram guarnecidas de todos os acessórios da vida cotidiana.

8.30-35A renovação da aliança no monte Ebal8.30. função do altar. Aparentemente esse altar não seria uma construção para uso permanente (outra ra­zão para se usar pedras não lavradas ou brutas), mas fora erigido apenas para a celebração das cerimônias daquela ocasião. As ofertas oferecidas eram especifi­camente ofertas queimadas e sacrifícios de comunhão (ver comentário em Lv 3) e não há m enção a ofertas de purificação ou de reparação.8.30. 31. descobertas arqueológicas em Ebal. Alguns arqueólogos acreditam que foram encontrados vestí­gios do altar erigido no monte Ebal. Trata-se de uma estrutura de oito a nove metros em um dos picos do monte, com paredes de pedras medindo cerca de um metro e m eio de espessura e quase três m etros de altura. O aterro é de barro e cinzas, e algo semelhante a uma rampa vai até o topo. A estrutura está cercada por um pátio e ossos de animais estão espalhados pelo local. A cerâmica encontrada no sítio remonta ao ano de 1200 a.C..8.31. altar fe ito de pedras, sem ferram enta de ferro.Essas orientações são semelhantes àquelas encontra­das em Êxodo 20.25. As ferram entas de ferro eram utilizadas para entalhar a pedra, moldando-a de modo a fazer um a estrutura m ais robusta. Altares de pedra lavrada foram encontrados em Judá (o melhor exem­plo está em Berseba). O altar aqui descrito não deve­ria ser colocado em um santuário e talvez o uso de pedras brutas ajudasse a manter essa distinção.8.32. a le i escrita em m onum entos de pedra. As leis de *H am urabi foram inscritas em um m onólito de diorito com 2,5 metros de altura e expostas publica­mente para que todos pudessem vê-las e consultá-las. Inscrições reais geralmente eram colocadas em luga­res de destaque, assim como nos dias de hoje são feitas inscrições em locais públicos como sepulturas, pedras fundamentais de edifícios e monumentos em diversos lugares de valor histórico, com o objetivo principal de trazer à m em ória das pessoas os acontecim entos e feitos importantes. Os documentos de tratados no Ori­ente Próximo, ao contrário, eram colocados em luga­res sagrados, aos quais as pessoas comuns não tinham acesso. O propósito era registrar o acordo por escrito diante do deus em nome de quem o compromisso fora jurado. Para informações a respeito de pedras como marcos de divisa e documentos de concessão de ter­ras, ver comentário em 1 Samuel 7.12.

8.34. leitura pública. Nas culturas em que a maioria da população era praticam ente analfabeta, onde as pessoas não possuíam nenhum tipo de material escri­to além dos documentos da família, a leitura pública de documentos de interesse religioso, cultural ou po­lítica era m uito importante. M uitos tratados *hititas contêm cláusulas exigindo a leitura pública do do­cumento; um deles determina que a leitura deve ser feita três vezes ao ano, enquanto outros são menos específicos, dizendo apenas em termos gerais que a leitura deveria ser feita "sem pre e constantemente".

9.1-27O acordo com os gibeonitas9.1. situação política na Idade do Bronze M oderna(1550-1200 a.C.). A Idade do Bronze M oderna foi um período de disputa política entre as principais potên­cias internacionais. O Egito exerceu um controle polí­tico sobre a Palestina por quase todo o período e mui­tas vezes desejou estender seu controle até a Síria, onde emergiam importantes rotas comerciais maríti­mas e terrestres. A segunda m aior potência na região era a coalizão hurrita conhecida com o M itani, que ocupou uma ampla faixa da região norte entre o Tigre e o Mediterrâneo. À medida que o reino M itani en­trou em declínio e por fim desintegrou-se (por volta

de 1350), foi substituído por uma potência assíria em crescente ascensão ao longo do alto Tigre, estenden­do-se posteriormente até o Eufrates. O Império hitita aproveitou-se do declínio dos mitânios para estender seu controle para o sul partindo da Anatólia, compe­tindo com o Egito pelo controle do importante corre­dor entre os portos da Fenícia e a rota fluvial do Eufrates. Durante todo esse período, a Babilônia este­ve sob o domínio dos cassitas. Diante desses conflitos entre as principais potências, pouca esperança restou às m inúsculas cidades-estado da Palestina de alcançar importância política. Não obstante, a região era estra­

tegicamente im portante, fornecendo guarnições ad­ministrativas e de suprimentos para o Egito e continu­ava a ser a única opção para as rotas comerciais terres­tres que entravam e saíam do Egito.9.1. as cartas de A m arna. O arquivo das cartas de A m am a contém quase quatrocentas cartas enviadas pelos reis das cid ad es-estad o aos faraós egípcios Amenotep III e Aquenaton, durante a prim eira meta­de do século catorze a.C.. Elas foram encontradas em Tell el-A m arna, local onde se situava a capital de Aquenaton, no alto Nilo, cerca de 320 quilômetros ao sul do Cairo. Essa correspondência apresenta o me­lhor retrato disponível da situação política deste pe­ríodo. Os insignificantes reis de Canaã não estavam m uito preocupados com os conflitos internacionais

descritos no comentário anterior; estavam muito mais preocupados com a ameaça que os habiru (ver próxi­

mo comentário) representavam, e para isso foram em busca da ajuda egípcia. Nesses documentos eles de­m onstram sua inquietação sobre a possibilidade de diversos reis cananeus desertarem e se aliarem aos habiru. De fato, um a aliança com os habiru era uma grande tentação diante da negligência com que eles eram tratados pelo Egito naquele período. Esse tipo de preocupação poderia encaixar-se perfeitamente ao contexto da conquista israelita. Os reis das cidades- estado estariam sobremodo perturbados com a possi­bilidade desse inimigo obter o controle de um a cida­de fortificada.9.1. habiru. O termo habiru/apiru é usado para descre­ver povos sem posses em mais de 250 textos, durante todo o segundo milênio, abrangendo desde o Egito e Anatólia, até o leste do Tigre. Em muitas cartas de Amarna, os reis de Canaã apelam ao Egito a fim de que mais tropas sejam enviadas para conter os habiru, que estavam causando problem as. C ertam ente os israelitas foram contados entre os habiru e é possível que o termo hebreu, em algumas ocasiões, tenha se originado do termo habiru (ver com entários em Gn14.13 e Êx 21.2). Por estarem espalhados por um a ampla região geográfica na prim eira m etade do se­gundo m ilênio, quando o povo de Israel ainda se encontrava no Egito, é im possível associar o termo habiru exclusivamente aos israelitas.9.3. G ib eo m . A c id ad e de G ibeom geralm ente é identificada com a moderna el-Jib, localizada cerca de dez quilômetros a noroeste de Jerusalém e onze quilô­metros a sudoeste de Ai. As escavações arqueológicas descobriram no local um sistema duplo de abasteci­mento de água, cuja construção precede ao período dos juizes. O mais antigo dos sistemas consistia numa perfuração de dez metros de profundidade através da pedra calcária (descia-se até a base por meio de uma escada em espiral) até um túnel, onde os habitantes da cidade tinham acesso às fontes de água. O outro sistema, de um período posterior, contava com um túnel em degraus que descia até outra fonte. Esse sistema de água encontrado no local é um a forte evi­dência de que se trata de Gibeom, devido ao famoso "açude de Gibeom " (ver 2 Sm 2.13). A identificação do local é confirmada pela presença de alças de jarros encontradas ali com a inscrição do nome da cidade (embora é preciso observar que foram encontradas tam bém alças de jarros contendo nom es de outras cidades, o que é explicado pelo principal produto da cidade: vinho de exportação). Sobre o período da con­quista, pouco ou quase nada foi encontrado, mas as escavações (realizadas no final da década de 50) fica­

ram restritas a uma pequena área do sítio. A c id a d e de G ibeom aparece em poucas fontes fora da Bíblia. O faraó Sheshonk I (final do século dez a.C.) acrescentou Gibeom a um a lista de cidades capturadas (ou visi­tadas) durante um a vitoriosa cam panha m ilitar na Palestina.

9.4. estratégia de ardil. Em bora não existam outros exemplos de ardis exatamente como este, a literatura contém inúmeros exemplos de fraude e desonestidade nas negociações de acordos no mundo antigo.9.7. heveus. Geralm ente os heveus são confundidos

ou considerados como horeus; ambos os grupos são identificados com os *hurritas. Os hurritas pertenciam a um grupo étnico indo-europeu e estabeleceram um império político conhecido como *M itani no período de 1500-1350 a .C. (ver com entário em 9.1 sobre a situação política). Parte da correspondência entre os hurritas de M itani e os egípcios foi preservada nos documentos de Amarna. O s hurritas eram o principal grupo étnico do im pério h itita e tam bém o grupo étnico predominante na cidade de *Nuzi. Documen­tos egípcios do período referem -se com freqüência a Canaã como a terra de Hurru.9.10. Seom e Ogue. Não existem informações fora da Bíblia de fontes históricas ou arqueológicas que tra­gam qualquer esclarecim ento a respeito de Seom e Ogue. Trata-se dos reis amorreus que foram derrota­dos pelos israelitas na região da Transjordânia. Para informações adicionais, consulte os comentários em Núm eros 21.21-35.9.10. A sterote. A sterote é identificada aqui como a capital de Basã. H á várias referências a esse nome nos textos egípcios desse período, nas cartas de Amarna (quanto então era governada por Ayyab) e mais tarde em textos assírios. Alguns estudiosos acreditam que seja m encionada tam bém em um texto de U garite como o lugar onde o deus El reinava. Conhecida hoje como Tell 'Ashtarah, fica quarenta quilômetros a leste do m ar da Galiléia.9.14. consultar o Senhor. A consulta ao Senhor era feita através de oráculos; em Israel, o método geral­mente usado para essa consulta era através do Urim e Tumim. Ver comentário em 7.14-18.9.17. cidades dos heveus. Além de Gibeom, duas ou três cidades podem ser identificadas com certa segu­rança. Quefira é a moderna Khirbet el-Kefireh, nove ou dez quilôm etros a oeste, um pouco ao sul de Gibeom. Quiriate-Jearim, poucos quilômetros ao sul de Q uefira, é Tell el-Azhar. Beerote, que ficaria ao norte de Quefira em direção à área de Betei/Ai, tem sido identificada com el-Bireh ou Nebi Samwil.9.18. o com prom isso dos juram entos. Numa cultura em que os deuses eram temidos por serem considera­

dos ativos e poderosos, os juramentos eram vistos como um sério compromisso. Votos até podiam ser abran­dados (Lv 27; N m 30), m as a pessoa que fazia um

juram ento esta v a p r es a à q u e le co m p ro m is so e, se o rom pesse, ficaria à m ercê da vingança divina. Se o juram ento não fosse cumprido, a divindade invocada passava a ser considerada inútil e sem poder. O rei hitita do século catorze enfrentou guerras e pragas como resultado do rompimento de tratados que ha­viam sido selados com juramentos. A atitude de Josué ao considerar sagrado o juram ento com os gibeonitas fica evidente em 2 Sam uel 21, onde é relatado que a quebra desse mesmo juram ento trouxe conseqüências terríveis.9.27. lenhadores e carregadores de água. M anter o fogo sacrificial e não deixar acabar a água da purifica­ção exigia muito trabalho. Essa tarefa de providenciar lenha e água foi então delegada aos gibeonitas. Por se tratar de um trabalho servil, era um a garantia de que eles perm aneceriam na posição inferior de servos, conforme haviam escolhido.

10.1-43 A derrota da coalizão do sul10.1. A doni-Zedeque. Esse nome é bastante parecido com o do re i de Jeru sa lém , em G ên esis 14, M el- quisedeque (melqui = "m eu re i"; adoni = "m eu se­nhor"). Não há informações sobre esse rei em fontes extrabíblicas.

10.1. Jerusalém nos textos de Amarna. Existem seis cartas nos textos de Am arna (ver comentário em 9.1) do rei de Jerusalém, Abdi-Heba, ao faraó solicitando apoio m ilitar. Ele alerta que o controle egípcio na região está ameaçado, devido à presença dos habiru e por causa da deslealdade dos reis de outras cidades- estado, que estariam se aproveitando da indiferença do Egito. Jerusalém era um a das principais cidades da região e competia com Siquém pelo controle da região montanhosa.10.1. vestígios da Idade do Bronze M oderna em Je ­rusalém . Nessa época, a cidade de Jerusalém ocupava apenas um a faixa no sentido norte-sul abrangendo

cerca de dez acres, situados ao sul dos muros da atual cidade. A população provavelmente não ultrapassa­va m il pessoas. O ponto mais alto nas montanhas tem apenas 120 metros de largura e 450 de comprimento. Vestígios da idade do Bronze M oderna são esparsos e confinados à área G, na orla nordeste das montanhas. Os achados arqueológicos no local incluem as funda­ções de uma estrutura não identificada e um terraço de pedra maciça.10.2. posição estratégica de G ibeom . U m a das princi­pais passagens da região montanhosa para as planí­

cies, desde Bete-Horom até o vale de Aijalom, ficava n a área controlada por Gibeom . Com a derrota de Jericó, Ai e Betei, Israel obteve o controle da principal rota la tera l a través d a Palestina (da fe n d a d o Jo rd ão até a costa).10.2. cidades reais. A s cidades governadas por reis seriam os centros administrativos dos grandes distri­tos. Os egípcios controlavam diversas cidades duran­te o período Amarna, onde seus governantes viviam, dentre elas, G aza e Bete-Seã. Cidades como Siquém e H azor tam bém poderiam ser consideradas cidades reais por causa das grandes áreas que controlavam. A posição estratégica de Gibeom e suas fortificações lhe ofereciam condições de ser um a dessas cidades.10.3. os aliados: Hoão, Piram , Ja fia e D ebir. Textos do período não fornecem nenhuma informação sobre esses reis, mas seus nomes são variações de nomes bastante docum entados. Com pare, por exem plo, o nome Jafia com o rei de Beirute, Yapa-'Hadda, citado nos textos de Amarna. Era costume incluir no nome um a declaração sobre a divindade; por exemplo, Yapa- 'H adda significa "o deus Hadda apareceu". Os nomes que continham esse tipo de afirm ação geralm ente eram abreviados, suprimindo-se o nome do deus. O nom e do rei de Gezer, Yapahu, tam bém citado nos textos de Am arna está ainda mais de acordo com esse costume.10.3. H ebrom. Tell Hebrom é o local onde foram en­contrados vestígios de um a antiga cidade de doze acres, cerca de 32 quilôm etros ao sul de Jerusalém.

Apesar de os arqueólogos não terem encontrado ne­nhum vestígio de ocupação na Idade do Bronze Mo­derna e de não ser m encionada nos textos de Amarna, Hebrom está relacionada nos itinerários egípcios de Ram sés II (século treze) com o um a das cidades da região. Para m ais inform ações, ver com entários em Gênesis 13.18 e Núm eros 13.22.10.3. Jarm ute. Jarmute é identificada com Khirbet el- Yarm uk, 24 quilômetros a sudoeste de Jerusalém. A acrópole de quatro acres foi ocupada por um a cidade da Idade do Bronze M oderna, estrategicamente situa­da entre os vales de Elá e de Sorek, as duas passagens que saíam de Sefelá (colinas baixas entre a região montanhosa e a planície costeira) até as cidades da

costa.10.3. Láquis. Localizada 48 quilômetros a sudoeste de Jerusalém, Láquis (Tell ed-Duweir) era um a das mai­ores cidades de Sefelá, cobrindo cerca de trinta acres. Junto com Hebrom, protegia a passagem para a re­gião montanhosa. Nos textos de Amarna, Abdi-Heba de Jeru salém afirm a que Láqu is, ju n tam en te com Gezer e Asquelom, forneceram provisões aos habiru (tributo ou aliança?). Outra carta dá a entender que os

EDOM

Vapa 2 - Mapa das Principals Cidades e Regites da Palestina

habiru haviam m atado o rei de Láquis, Zim redda. Outros reis m encionados nesses textos são Shipti-Bali e Yabni-Ilu. Há também no arquivo de A m am a cinco cartas enviadas pelos reis de Láquis. As escavações no local trouxeram à tona uma cidade da Idade do Bron­ze M édia com impressionantes fortificações destruídas pelo fogo no final daquele período (meados de 1500). A ocupação do local na Idade do Bronze M oderna (período Am am a) revelou uma cidade relativamente grande, porém, sem fortificações. Não há evidências de destruição durante esse período (o texto bíblico não sugere que a cidade tenha sido destruída). Havia um grande templo nesse local durante todo esse período.10.3. Eglom. Tell Aitun, onze quilômetros a sudeste de Láquis, entre Láquis e H ebrom , é a localização mais provável para Eglom. Essa cidade não é menci­onada em nenhum a fonte fora da Bíblia; ainda não foram feitas escavações arqueológicas no local.10.5. am orreus. Ver comentário em 5.1.10.6. G ilgal. Localização desconhecida; ver comentá­rio em 4.19.

10.9. m archa desde G ilgal até G ibeom . Visto que a localização de Gilgal é incerta, é difícil precisar a dis­tância percorrida na m archa dos israelitas. De Jericó a Gibeom são cerca de 24 quilôm etros, o que permite supor que essa m archa não teria ultrapassado 30 e poucos quilôm etros, e tam bém poderia ter sido tão curta quanto 8 quilômetros.10.10. Bete-H orom , Azeca e M aquedá. A passagem de Bete-Horom é guardada pelas cidades gêmeas de Bete-Horom: a "Bete-H orom de cim a", Beit Ur el-Foqa (cerca de três quilômetros a noroeste de Gibeom) e a "Bete-H orom de baixo", Beit Ur et-Tahta (dois quilô­metros e meio a noroeste), cerca de 300 metros mais baixo, em relação à primeira. Alguns sugerem tratar- se da cidade m encionada como Bit Ninurta nas cartas de Am am a. A passagem dá acesso ao vale de Aijalom (mencionado nos textos de A m am a como Ayyaluna), a principal rota partindo da região montanhosa até a p lan ície costeira. A ssim que chegaram ao vale de Aijalom, os amorreus viraram em direção ao sul, cru­

zando o vale de Sorek, dirigindo-se a sudeste, cerca de vinte quilôm etros, até A zeca (um quilôm etro e meio a oeste de Jarmute), de onde se avista o vale de Elá. De lá avançaram para o sul cerca de 22 quilôme­tros até M aquedá. Essa rota segue pelos flancos entre a região montanhosa e Sefelá. M aquedá é identificada com K hirbet el-Q om , situada no meio do cam inho entre Láquis e Hebrom e apenas cinco quilômetros a nordeste de Eglon, tendo um a localização bastante central em relação às cidades da coalizão. Escavações limitadas foram feitas no local, sem que se tenha re­gistrado qualquer achado da Idade do Bronze Moder­

na. Azeca é Tell Zakariya onde, apesar das evidên­cias de ocupação dos cananeus, as escavações não acres­centaram muitas informações úteis à arqueologia.10.11. pedras de granizo. A ocorrência de pedras de granizo como castigo divino em relatos de conquista não é exclusividade dos israelitas. Em uma carta a seu deus (Assur), Sargon II da Assíria relata que em sua campanha contra Urartu (714 a.C.), o deus Adad fez cair sobre seus inim igos "u m a chuva de pedras do céu", aniquilando-os por completo. Nessa batalha, ha­via tam bém um a coalizão que fugiu pelos vales e passagens da região m ontanhosa perseguidos por Sargão; o rei inimigo por fim escondeu-se nas fendas da montanha.10.12. G ibeom e A ijalom . A posição do Sol em re­lação à Lua é importante para a interpretação desta passagem . G ibeom fica a leste e A ijalom , a oeste, sugerindo que o Sol estaria nascendo e a Lua se pon­do. Durante a Lua cheia, a Lua se põe no oeste, logo após o nascer do Sol no oriente.10 .12 ,13 . So l e Lua como presságios. No antigo Ori­ente Próximo os m eses não tinham um núm ero deter­minado de dias, sendo que a duração variava confor­me as fases da lua. Esse calendário lunar era então periodicamente ajustado ao ano solar, a fim de equi­parar os meses às estações. O inicio do mês era calcu­lado a partir da prim eira Lua nova. A Lua cheia coin­cidia com o meio do mês e era identificada pelo fato de que a Lua se punha exatamente alguns minutos de­pois do nascer do sol. O dia do mês em que ocorria a Lua cheia servia como um indicador de quantos dias o mês teria. Se a Lua cheia aparecesse no décimo quarto dia do mês isso seria considerado um bom presságio, porque então a Lua crescente seria vista no trigésimo dia, desse modo o mês teria a duração "certa" e tudo estaria em harm onia. M as se a "oposição" entre os astros (lua e Sol simultaneamente em horizontes opos­

tos) acontecesse no décim o quarto dia, o mês seria considerado longo, feito de dias tam bém longos. A s­sim os dias eram considerados m ais longos ou mais curtos, de acordo com a característica do m ês. O

versículo 13 relata que o Sol e a Lua não se comporta­ram com o se fosse um dia longo. Com o resultado dessa crença, o horizonte era atentamente observado

nos dias próximos à metade do mês, com a esperança de que a oposição do Sol e da Lua acontecesse no dia propício (décimo quarto). A oposição no dia "errado" era entendida como um presságio de várias desgra­ças, inclusive derrotas militares e destruição de cida­des. Desse modo, o movimento do Sol e da Lua pro­porcionava presságios m ensais de boa ou m á sorte. N o antigo O riente Próxim o, dava-se im portância a esses presságios e eles eram usados com freqüência

para determinar se batalhas deveriam ser feitas em determinado dia ou não. Como já foi mencionada no comentário sobre Gibeom e Aijalom , a posição relata­da em Josué sobre o Sol e a L u a sugere que o dia

estava quase amanhecendo e era fase de Lua cheia.10.12, 13. term inologia usada em presságios celes­tiais. Os presságios celestiais m esopotâmicos eram ex­pressos em term os com o esperar, fic a r e parar para registrar os movimentos e posições dos corpos celes­tes. Quando a Lua ou o Sol não esperava, a Lua sumia no horizonte antes que o Sol nascesse e não acontecia a oposição (vide comentário anterior). Quando a Lua ou o Sol esperava ou parava, era um indício de que aconteceria a oposição, determinando assim o dia de Lua cheia. A série de presságios conhecida com o Enuma Anu Enlil fala muitas vezes da mudança na velocidade do curso da lua, afetando ou evitando a oposição com o sol. De modo semelhante, o versículo13 descreve que o Sol não se apressou, ao contrário, parou no ponto em que se encontrava no firmamento. É im portante observar que ao afirm ar que "nunca houve um dia como aquele", o versículo 14 não está sugerindo que aquele fenômeno astronômico nunca havia ocorrido, e sim que o fato extraordinário foi que o Senhor aceitou um a sugestão de estratégia militar vinda de um hom em ("o Senhor atendeu a um ho­m em "). U m a lam entação m esopotâm ica (prim eiro milênio) mostra esse mesmo tipo de terminologia acer­ca do ju ízo divino, quando descreve os céus retum­bando, o Sol parado no horizonte,-a Lua imóvel no meio do céu e a Terra sendo assolada por terremotos e

terríveis tempestades. O conhecimento de Josué sobre a crença e a dependência dos amorreus nos presságios talvez tenha sido o m otivo que o levou a pedir ao Senhor que fizesse algo que diminuísse o m oral dos inimigos, isto é, a oposição do Sol e da Lua num dia inadequado.10.13. livro de Jasar. Presume-se que o livro de Jasar seja um a antologia poética relatando antigos feitos heróicos (outra referência a esse livro pode ser encon­

trada em 2 Sm 1.18). A palavra "Jasar" poderia ser tanto o adjetivo honrado como um a form a do verbo hebraico cantar. Não há evidências de que tenha sido preservado.10.16-43. narrativas de conquistas no antigo O riente Próxim o. O s d iários de guerra egípcios (livros de registros diários) registram as cam panhas m ilitares de forma bastante parecida ao relato de Josué. A com­binação de narrativas mais longas com relatórios cur­tos e o uso de frases padronizadas e repetidas, pode ser confirmado nos registros de Tutm és III. Pesquisas sobre os registros das cam panhas hititas e assírias também dem onstram grande sem elhança estilística.

Afirmações de que a divindade havia se encarregado da campanha, intervindo na luta para trazer a vitória, bem como relatos de perseguição, domínio e conquis­ta coroando a derrota completa e cabal dos inimigos são traços comuns nessas narrativas. Isso sugere que o escritor do texto b íblico conhecia bem o estilo e a técnica dos escribas do antigo Oriente Próximo.10.19. im pedindo os inim igos de alcançar as cidades. Maquedá fica a poucos quilômetros de distância das cidades de Láquis, Eg lom e H ebrom . Josué queria evitar que os reis inim igos chegassem às suas cida­des, onde poderiam organizar um plano de defesa. Sem liderança, as cidades ficariam mais vulneráveis à conquista.10.24. pôr o pé no pescoço . O re i assírio T ukulti-

Ninurta I (século treze) "punha o pé no pescoço" de cada rei conquistado (sim bolicam ente) e nas terras conquistadas, deixando claro que haviam se tom ado o estrado de seus pés. Como resultado, a ação aqui descrita pode estar relacionada a esse simbolismo de subjugar os inimigos transformando-os em estrado (SI 110.1).

10.26. exposição de cadáveres. Os reis foram executa­dos primeiro e depois pendurados, sugerindo que o enforcamento não seria uma forma de execução e sim uma maneira de lidar com o cadáver (ver 2 Sm 21.12 e com pare com 1 Sm 31.10). M uitos acreditam que possa ser um a referência ao empalamento num a for­ca, um tipo de execução usado posteriorm ente por assírios e persas. Os egípcios ocasionalmente também tinham o costume de deixar o corpo exposto. A expo­sição representava uma humilhação final e um sacri­légio (ver Is 14.19, 20; Jr 7.33; 8.1-3), já que a maioria dos povos antigos acreditava que a qualidade da vida após a morte era afetada por um sepultamento ade­quado (ver comentário em 8.29).10.29. L ibn a. A cidade de Libna, entre M aquedá e Láquis, tem sido geralm ente identificada com Tell Bom at, situada estrategicamente no uádi Zeita, prote­gendo a m elhor rota de H ebrom até a costa. Não foram feitas escavações no local, m as levantamentos topográficos têm apresentado evidências tanto da Ida­de do Bronze Moderna como da Idade do Ferro no local. Outros a identificam com Khirbet Tell el-Beida, um a localidade oito quilôm etros m ais para o leste (cerca de catorze quilômetros a nordeste de Láquis).10.33. G ezer. Gezer, conhecida como Tell Jezer nos dias de hoje, é um a colina de 33 acres situada na extremidade oeste do vale de Aijalom, cerca de 40 ou 50 quilômetros ao norte da área de m aior concentra­ção. Apesar do exército de Gezer ter sido derrotado, a cidade não foi conquistada nesta campanha (ver 16.10). É alistada como um a das cidades conquistadas pelo

faraó M erenptá; nos textos de A m arna, onde estão contidas dez cartas de Yapahu, rei de Gezer, ao faraó, figura com o um a das cidades m ais im portantes de Canaã. Am plas escavações têm sido conduzidas no local. U m a cidade solidamente fortificada, da Idade do Bronze Média, foi destruída por fogo, no final des­se período (talvez a destruição assumida por TutmésIII, século quinze). A cidade da Idade do Bronze Mo­derna era rodeada por muros com 3 metros e meio a quatro m etros de largura e quase cinco m etros de altura.10.33. Horão. Horão, rei de Gezer, não é mencionado em nenhum outro texto do período, embora seja um típico nome semita ocidental.10.36. destruição de H ebrom . Para inform ações ge­rais a respeito de Hebrom, ver comentário em 10.3. Como não foi descoberto em Hebrom nenhum sedi­mento referente à Idade do Bronze M oderna, a arque­ologia não pode contribuir com muitas informações a respeito da destru ição prom ovid a por Josu é e os israelitas. A antiga Hebrom está situada atualmente debaixo de uma cidade moderna, o que não permite que muitas áreas da cidade antiga sejam escavadas.10.38. D eb ir. D ebir é K hirbet Rabud, um a área de quinze acres situada treze quilômetros a sudoeste de Hebrom. Era um a cidade Cananéia, fortificada, du­rante a Idade do Bronze M oderna, e controlava a rota ao longo do uádi Hebrom que ia de Berseba até He­brom. As escavações arqueológicas no local limitam- se a duas valas, logo, não há muitas informações con­cernentes à destruição causada por Josué.10.40. região e extensão da conquista. Todas as ci­dades descritas nesta passagem ficavam no sul da região m ontanhosa, ao sul da Sefelá. Cidades como Gezer e Jerusalém não são mencionadas como alvos de ataques, no entanto, a descrição dada no versículo engloba a região onde estariam situadas. Visto que os reis que controlavam a região haviam sido derrota­dos, o território passaria a pertencer aos israelitas. O uso da hipérbole na descrição da destruição total ("sem deixar sobrevivente algum ") é comum em relatos de conquista. O texto em si demonstra que se trata de um a figura de linguagem , visto que m ais adiante, em Josué 15.13-16, há uma menção aos habitantes de Hebrom e Debir. Esse tipo de hipérbole aparece na Inscrição de M erenptá, num a referência a Israel, de­clarando que não havia restado nenhum descendente de Israel; na Inscrição de M esha Israel é descrito como com pletam ente destruído para sempre. Afirmações retóricas como essas são sinais de vitória m ilitar e podem ser encontradas em relatos hititas, egípcios e assírios de campanhas militares. O uso da hipérbole não quer dizer que a narrativa seja imprecisa, enga­

nosa ou falsa, pois qualquer leitor poderia reconhecer esse estilo retórico, bastante utilizado para informar os resultados das batalhas.10.41. desde C ades-Bam éia até G aza. Cades-Baméia representa a fronteira entre a parte do N eguebe da terra prometida e o deserto do Sinai. Gaza (cerca de cem quilômetros ao norte) representa a fronteira entre a Palestina e os territórios egípcios no Sinai, ao longe da costa do M editerrâneo. Juntos, esses pontos de refe­rência servem como fronteira sudoeste da terra.10.41. de G ósen a G ibeom . Gósen não está se referin­do ao território homônimo situado no delta do Egito, e sim a uma área na região montanhosa de Judá, comc fica evidente em 11.16 e 15.51, onde é mencionada junto com as localidades do extrem o sul da regiãc montanhosa. Gibeom representa as conquistas mais ao norte, da campanha do sul. Juntas, representam as fronteiras orientais dos territórios conquistados nessa campanha.

11.1-15A vitória sobre os reis do norte11.1. Jabim . Esse pode ser outro nome que foi encur­tado pela supressão do nome da divindade (ver co­m entário em 10.3 sobre os aliados). O s textos de Amarna mencionam um nome semelhante para o rei de Láquis, cujo nome é Yabni-Ilu ("[o deus] II criou"). Nos textos de M ari (século dezoito a.C.) o rei de Hazor é denominado Yabni-Addu ("[o deus] Adad criou"). Talvez Jabim seja o m esm o nom e m encionado em uma lista de itinerários de Ramsés II, em que Ibni é chamado de rei de Quisom. Quisom, provavelmente, é o mesmo que Quedes, onde Débora e Baraque luta­ram contra um rei cham ado Jabim , tam bém relacio­nado a Hazor (Jz 4.1-13).11.1. Hazor. Hazor (modernamente conhecida como Tell el-Qedah) situava-se cerca de dezesseis quilôme­tros ao norte do mar da Galiléia, ao longo das princi­pais rotas comerciais da região. A cidade de cima, no topo do *tell tinha por volta de 25 acres, enquanto a cidade de baixo estendia-se por m ais de 175 acres, sendo uma das maiores cidades do crescente fértil. O tell tinha cerca de 43 metros de altura. Os muros da Idade do Bronze M édia que circundavam a cidade de cima eram feitos de tijolos e tinham sete m etros de altura. Partes da cidade de baixo eram protegidas por um muro encimado por uma plataform a e rodeado por um fosso (fosso seco). Hazor figura como a cidade mais importante da região nos textos de Amarna. O rei de Hazor, nesses textos, afirm a sua lealdade ao Egito, apesar de seu nome constar como um dos reis que tom aram o partido dos habiru. Ele tam bém é acusado de tomar cidades de Ayyab, rei de Astarote (ver comentário em D t 1).

11.1. M adom . Devido a variações textuais, a maioria dos estudiosos entende que M adom é o mesmo que Merom, mencionado no versículo 5 como o local onde acamparam os reis que fizeram a coalizão. A localiza­

ção m ais provável de M erom é Tell Q arnei H ittin, cerca de 8 quilômetros a oeste de Tiberíades e do mar da Galiléia. Escavações no local revelaram uma forta­leza da Idade do Bronze que foi destruída no século treze. Tanto Tutmés m do Egito (século quinze) como Tiglate-Pileser III da Assíria (século dezoito) afirma­ram ter tomado Merom. O rei Jobabe não é menciona­

do em nenhuma outra fonte.11.1. Sinrom . Sinrom (Samruna, nos textos de Am am a, tam bém m encionada no itinerário de Tutm és III) é Khirbet Sammuniya, na extremidade ocidental do vale de Jezreel, 8 quilômetros a oeste de Nazaré e 27 qui­lômetros a sudoeste de Qarnei Hittin. Foram encon­trados vestígios da Idade do Bronze Moderna no local.11.1. A csafe. Acsafe (Acsapa nos textos de A m am a, também mencionado no itinerário de Tutm és III) tem sido identificada com Tell Keisan, cerca de vinte qui­lômetros a noroeste de Sinrom, cerca de cinco quilô­metros da costa do M editerrâneo, na planície de Aco. O papiro de Anastasi I (século treze) confirma a exis­tência de uma localidade na planície de Aco, embora nos leve a pensar que seja um pouco mais ao sul de Keisan. Foram encontrados vestígios da Idade do Bron­ze Moderna no lugar.

11.2. regiões. A descrição da região feita no versículo2 é bastante imprecisa, mas sugere ser um atalho que vai de Hazor e do m ar da Galiléia, no leste, em dire­

ção a sudoeste, passando pela região da Galiléia até a costa, em Nafote-Dor. Este último provavelmente se­ria um dos nomes da cidade de Dor (Khirbet el-Burj), que era um im portante porto na Idade do Bronze Moderna. Quinerete talvez seja uma referência à ci­dade situada na margem noroeste do lago ou ao pró­prio lago. Arabá é a região do vale do Jordão.11.3. povos. Para informações sobre esses povos, con­sulte o comentário em 3.10.11.3. heveus em M ispá. A região de Mispá compre­ende o vale que segue em direção ao sul passando pelo lago Hulá, ladeada a leste pelo monte Hermom. Os heveus que viviam ali provavelmente eram hurri- tas provenientes da região dos mitânios. Ver comen­tário em 9.7.11.4. carros da Idade do Bronze M oderna. Os carros cananeus da Idade do Bronze Moderna eram veículos leves praticamente sem nenhuma proteção, puxados

por dois cavalos e com rodas de quatro raios. Esses carros contrastam com os do período posterior que possuíam uma couraça de proteção e contavam com rodas de seis raios para suportar o peso extra.

11.5. águas de M erom . Se a localização correta de

M erom for Qarnei Kittin (ver comentário sobre M a­dom, em 11.1), então as águas de M erom seriam uma

fonte ou um rio perto dali. Existe um uádi que atra­vessa o vale ao norte do local.

11.6. cortar os tendões dos cavalos. Os cavalos não podiam ser m ortos por m isericórdia, como se faz hoje. Para os israelitas, os cavalos não tinham utilidade e

eles sequer tinham condições de cuidar deles; mas certamente não queriam que os cavalos continuassem a ter utilidade para seus inimigos. Sendo assim, eles

cortaram os tendões dos cavalos n a altura dos jarretes

(o equivalente no corpo hum ano ao tendão calcâneo

ou tendão de Aquiles).

11.8. rota de perseguição. A rota de perseguição pa­

rece englobar a área conhecida como Alta Galiléia.

Dali os israelitas dirigiram-se para a costa (oeste) pas­sando pelo vale de Turan e pelo vale de Iftael (ao

norte de N azaré); depois subiram pela costa até o

território de Sidom , cuja fronteira ao sul é a parte

leste-oeste do rio Litani (Misrefote-Maim?), a leste da altura onde o rio Litani faz um a curva no vale de Julá

(vale de M ispá, M arj 'A yyun). D ali eles rum aram

novam ente para o sul, até Hazor, para tom ar posse

das cidades dos reis derrotados.11.11. destruição de Hazor. As cidades alta e baixa de

Hazor foram destruídas pelo fogo no século treze a.C.

e a cidade baixa nunca mais foi edificada. A constru­ção de Salomão no local limitou-se à cidade alta.

11.12. cidades reais. As cidades governadas por reis seriam os centros administrativos dos grandes distri­

tos. Os egípcios possuíam várias cidades durante o

período A m am a, onde seus governantes moravam, dentre elas, Gaza e Bete-Seã. Cidades como Siquém e

H azor tam bém poderiam ser consideradas cidades reais por causa das grandes áreas que controlavam. A posição estratégica de Gibeom e suas fortificações per­

mitiam que fosse uma dessas cidades.

11.13. c idades constru íd as nas co lin as. A s colinas m encionadas neste texto são os *tells que caracteri­

zam as ruínas de m uitas cidades antigas. A cidade construída num terreno elevado estava m ais prote­

gida, mas além da elevação natural da colina, à me­dida que cada cam ada sucessiva de ocupação era destruída ou abandonada, os entulhos eram aplai­

nados e compactados para a reconstrução da cidade.

À m edida que as cam adas se em pilhavam , século após século, essa colina artificial, ou tell, ficava cada

vez m ais alta. Algumas localidades apresentam mais de vinte camadas de ocupação e a tarefa dos arqueó­

logos é estudá-las, um a a uma, a fim de reconstruir a história daquela cidade.

11.16- 12.24 Resumo da conquista11.16,17. extensão da conquista. O versículo 16 apre­senta as áreas geográficas que abrangem desde a Galiléia, no norte, até o Neguebe, no sul, com exceção da costa. No versículo 17 há dois marcos que delimi­tam o território conquistado: o m onte Halaque, que fica na fronteira edomita, ao sul, e geralmente é iden­tificado como Jebel Halaq, ao longo do uádi Marra, entre Berseba e o deserto de Zim; e Baal-Gade, que fica na fronteira norte, perto de Dã/Laís, ao norte de Hazor, às vezes identificada como Banis, a leste de Dã. O vale do Líbano geralmente é identificado comoo vale de Mispá (ver comentário em 11.8), unindo o vale Litani ao vale Hulé. Para informações adicionais, ver tam bém o comentário em 10.40.11.21. enaquins. Os descendentes de Enaque são ge­ralmente considerados "g igantes" (ver N m 13.21-33; Dt 2 .10 ,11 ; 2 Sm 21.18-22), embora a descrição "com o gigantes" talvez seja m ais apropriada. Os enaquins não são mencionados em outras fontes antigas, embo­ra talvez haja um a referência a eles em textos egípcios de maldições. Além disso, a carta egípcia no Papiro Anastasi I (século treze a. C.) descreve guerreiros sel­vagens que habitavam Canaã e que m ediam entre2.10 e 2,70 metros de altura. Também foram encontra­

dos em Tell es Sa'ideyeh, na Transjordânia, dois es­queletos de m ulheres do século doze, com cerca de2.10 metros de altura.11.21. H ebrom , D eb ir, A nabe. H ebrom e D ebir já foram analisadas nos com entários em 10.3 e 10.38, respectivamente. Anabe tam bém se localizava na re­gião montanhosa de Judá e provavelmente seja Khirbet Unab es-Seghir (Tell Rekhesh), cerca de 24 quilôme­tros a sudoeste de Hebrom. Há referências a Anabe em textos egípcios do período, e pesquisas arqueoló­gicas identificaram no local alguns vestígios anterio­res à Idade do Ferro.11.22. G aza, G ate, A sd ode. G aza, G ate e A sdode eram três das cinco capitais dos governantes filisteus situadas nas planícies costeiras. Asdode ficava a qua­se cinco quilômetros da costa, a oeste de Jerusalém, sendo m encionada em textos ugaríticos; escavações descobriram no local um a grande ocupação da Idade do Bronze Moderna. Gaza fica a três quilômetros do litoral, cerca de 32 quilômetros a sudoeste de Asdode. A cidade m oderna construída no local im pede que sejam feitas amplas escavações, m as a cidade antiga é bastante citada em fontes extrabíblicas do período. Gate, conhecida atualmente como Tell es-Safi, fica mais no interior, perto do vale de Elá, onde este se une a

Sefelá, oito a dez quilômetros a oeste de Azecá. Pou­cas escavações foram conduzidas no local.

12.1-24 Lista dos reis derrotados12.1. do ribeiro de A rnom até o m onte Hermom. Aárea da Transjordânia que, segundo o relato, foi con­quistada estendia-se desde o ribeiro de Arnom (fron­teira entre M oabe e o reino de Seom ) no sul, até o monte Herm om no norte (ver Dt 3.8), com 208 quilô­m etros de extensão. Esse tipo de descrição de uma área geográfica seria sem elhante à designação dos limites da Palestina: de Dã a Berseba.12.2, 3. área geográfica. Visto que ainda não se sabe ao certo a localização exata da cidade de Hesbom men­cionada na Bíblia (Tell H esban não parece conter ma­teriais relacionados ao período da conquista), pode-se apenas afirmar que ficava perto da extremidade norte do m ar Morto, em território moabita (ver comentário em N m 21.25-28). A região oriental sob domínio de Seom estendia-se desde Aroer, um a cidade fronteiriça localizada n a orla do vale de Arnom que controlava o comércio e a rota que cruzava a área, seguindo até a região de G ileade, ao sul do rio Jaboque. N o lado oriental do vale do Jordão, Seom governava o territó­rio ao norte do Jaboque até o mar de Quinerete (mar da Galiléia), e ao sulr até as praias na parte nordeste do m ar Morto, indo diretamente de Jericó até as encos­tas do monte Pisga.12.4. re fa in s . Os refains aparecem no texto bíblico como os espíritos dos mortos (SI 88.10-12; Is 26.14) ou, como nesse texto, um dos povos nativos da Transjor­dânia, na região de Basã (G n 14.5; D t 3.13). Eram fam osos por sua elevada estatura (N m 13.33; 2 Sm21.16) e, como os enaquins e emins de Moabe, foram expulsos pelos israelitas durante a conquista da terra de Canaã. O rei Ogue (com sua imensa cama de ferro) é considerado um dos últim os representantes deste povo, outro indício de seu declínio durante a invasão israelita. O uso do termo refains para referir-se aos mortos pode ser explicado por meio de lendas ugaríticas de reis e heróis antigos (ver Is 14.9). Os refains podem estar ligados aos povos da Transjordânia como um resquício do legado ugarítico naquela área e também podem estar relacionados a Rapá, um deus ou ances­tral epônim o (ver Dt 3.11, 13 para inform ações adi­cionais sobre os refains).12.4, 5. área geográfica. O território de Ogue esten­dia-se desde o monte Herm om e Basã, na parte norte da Transjordânia, até o rio Jarmuque, no sul. Ele rei­nou em Astarote (Tell Astarah, 40 quilômetros a nor­deste do m ar da Galiléia) e em Edrei (mencionada nos anais do faraó Tutmós III; situada às m argens de um afluente do Jarm uque, atual D er'a, na Jordânia). A fronteira oriental do dom ínio de O gue era Salecá, provavelm ente a moderna SaLkhad (ver comentário em D t 3.1-11).

12.7, 8. área geográfica. Esta lista de territórios con­quistados a oeste do rio Jordão é a mesma encontrada em Josué 11.16,17. Tal repetição reforça a posse israe­lita da terra, com base na aliança de Gênesis 15.19-21 e serve de referencial para a distribuição posterior às tribos. A fronteira ao sul é o monte H alaque (atual Jebel Halaq), próximo à região de Edom e a fronteira ao norte é Baal-Gade, perto do sopé do monte Hermom, na fronteira com o Líbano. Alguns traços geográficos são acrescentados, como "a s encostas das m ontanhas" (ver Js 10.40; provavelm ente o declive em direção a Sefelá ou no deserto da Judéia, apontando para o mar Morto) e "o deserto", uma área m ais tarde ocupada pela tribo de Judá (ver Js 15.61).12.9-12. lis ta de reis. A lista dos reis conquistados acompanha a seqüência da conquista israelita descrita em Josué 6-11. É por isso que Jericó e A i (ao lado de Betei, ver Js 7.2) aparecem em Josué 6-8 . Os reis da coligação sul de Canaã relacionados nos versículos 10­12 encontram-se também em Josué 10.3,23. Inscrições assírias eventualm ente apresentam listas de terras e reis conquistados por um determinado rei ao longo de sua campanha. Tiglate-Pileser I, por exemplo, menci­ona 42 terras conquistadas em cinco anos e SalmanéserI relata ter destruído 51 cidades.12.13. D ebir. Ver comentários a respeito de Debir em Josué 10.38.

12.13. Geder. A localização de Geder é desconhecida. Alguns estudiosos acreditam que possa ser um erro do escriba e que o correto seriã y'G erar", uma cidade cananéia a oeste do Neguebe. Um dos oficiais de Salo­mão, porém, é identificado como natural de Gederá, em 1 Crônicas 27.28, o que sugere a possibilidade desse nome ser um a variação de Geder e, portanto, de fato o nome de uma cidade.12.14. Hormá. É possível que o nome dessa localida­de, cujo significado é "destruição", tenha sido usado p ara d esign ar d iv ersos lu g ares. A p aren tem en te , H orm á localizava-se ao sul do N eguebe, em Judá, mas o local exato ainda é duvidoso (dentre as suges­tões estão Tell el-M ilh, onze quilômetros a nordeste de Berseba e Tell Masos, onze quilômetros a leste de Berseba). O nome está associado à derrota inicial de Israel em Núm eros 14.45, bem como à vitória contra Arade (Nm 21.1-3).12.14. Arade. Arade llocalizava-se 29 quilôm etros a nordeste de Berseba, na região sul do Neguebe. Há uma série de pequenas localidades associadas a esta ocupação e é possível que a Arade de Josué seja na verdade Tell M alhata, situada cerca de seis quilôme­tros a leste de Tell 'Arad, ou Tel M asos (Khirbet el- Meshash), cerca de onze quilômetros a leste de Ber­seba. Evidências em cerâm icas ou a ausência delas

nesses locais, porém, tem gerado opiniões variadas. É possível observar que TelT Arad foi praticamente aban­donada no final da Idade do Bronze Antiga, depois de ter sido um a importante cidade fortificada, com signi­ficativa influência egípcia. Existem tam bém evidên­cias do surgimento de uma aldeia não fortificada du­rante a Idade do Ferro (século onze a.C.) que pode corresponder à ocupação dos queneus, m encionada em Juizes 1.16.12.15. Libna. Ver comentário a respeito de Libna emJosué 10.29.12.15. Adulão. Localizada na região sul de Judá, cerca de 25 quilôm etros a sudoeste de Jerusalém , Adulão tem sido identificada com Tell esh Sheikh Madhkur. Embora seja mencionada aqui apenas como parte da lista de reis conquistados, o lugar tam bém é associa­do a Davi (1 Sm 22.1) e figura entre as cidades forti­

ficadas de Salom ão (2 Cr 11.7). No texto profético, M iquéias lamenta sua destruição durante a invasão assíria (Mq 1.15).12.16. M aqued á e B etei. Ver com entários em 10.10 sobre Maquedá e 8.9 sobre Betei.12.17 . T ap u a. Id en tificad a com o T ell Sh eikh A bu Zarad, situada no topo de um a colina, cerca de 14 quilômetros a sudeste de Nablus, Tapua era uma cida­de fronteiriça situada entre os territórios das tribos de Efraim e Manassés (ver 16.8; 17.7, 8 ) .0 texto de 15.34 m enciona outra cidade com esse m esm o nom e em Judá, m as não se sabe ao certo sua localização.12.17. H éfer. Embora não se saiba ao certo a localiza­ção da cidade-estado de Héfer, provavelmente ficava na parte nordeste da porção territorial designada à tribo de M anassés, talvez bem ao norte, perto do vale de Dotã e do monte Gilboa. Pesquisas arqueológicas recentes fornecem indícios que Tell el-M uhaffar tal­vez seja um a provável localização para H éfer (ver17.2, 3 a respeito das ligações entre Héfer e a porção de Zelofeade).12.18. A feque. Mencionada nos anais dos faraós egíp­cios Tutm ós III (c. 1490-1436) e A m enotepe II (c. 1447­1421), essa cidade estava localizada na planície de Sharom e é identificada com Tell Ras el-'Ain, na nas­cente do rio Jarmuque, perto da moderna Tel Aviv. É também o local onde foram travadas duas importan­tes batalhas entre israelitas e filisteus (1 Sm 4.1; 29.1).12.18. Lasarom . De acordo com a interpretação da Septuaginta, é possível que Lasarom seja sim ples­m ente um indicador geográfico para A feque, visto que esse nom e é usado em várias passagens para designar outras cidades (ver Js 13.4; 1 Rs 20.26-30). Se for um a designação para uma localidade distinta, o m ais provável é que se situasse perto do território filisteu.

12.19. M adom e Hazor. Ver comentário em 11.1 so­bre essas cidades conquistadas.12.20. Sinrom -M erom e A csafe. Ver comentário em11.1 sobre essas cidades conquistadas.12.21. Taanaque. Embora tenha sido fundada por volta do ano 2700 a.C. em Tell T finn ik , cerca de seis quilô­metros a noroeste de Megido, num a elevação sobre o vale de Jezreel, Taanaque só aparece em registros fora da Bíblia a partir do século quinze, nos anais do faraó Tutmós III em seu relato da Batalha de Megido (cerca de 1468 a.C.). Trata-se de um a das diversas localidades de Jezreel que geralmente eram incluídas nas listas de cidades conquistadas dessa rica e dispu­tada área. Sua inclusão na lista de Josué, portanto, segue esse padrão. Embora tenha sido originalmente parte da porção territorial designada à tribo de Aser, referências posteriores a descrevem como parte da tribo de Manassés (Js 17.12; Jz 5.19). Baseado nos rela­tórios das escavações conduzidas no local pode-se ob­servar que Taanaque teve seu apogeu na metade do terceiro milênio e entre os séculos dezessete e catorze a.C.. Foi ocupada apenas parcialmente durante o sé­culo doze a.C., após o colapso do controle egípcio da área e a invasão dos povos do mar. Um novo sistema defensivo, porém, foi construído no século dez, indi­cando um ressurgimento populacional no período da monarquia.12.21. M egido. Essa cidade controlava a entrada oci­dental para o estratégico vale de Jezreel, a planície de Sharom e a rota comercial internacional costeira entre o Egito e a M esopotâm ia; por essa razão, atraía a atenção de muitos governantes. Fundada por volta do ano 3300 a.C., próxima de duas nascentes, M egido foi destruída e reconstruída vinte vezes por causa das constantes guerras entre os exércitos egípcio (anais de Tutm ós III, Seti, Ram sés II; cartas de El A m arna), hitita e mesopotâmio, que disputavam o controle da cidade e da conexão econômica entre a Síria e a Pales­tina. A destruição da cidade na Idade do Bronze M o­derna (sedimento VII A), no século doze, provavel­mente coincide com a ruptura do dom ínio egípcio seguido da chegada dos povos do m ar na região (com base nas descobertas de cerâmica filistéia). Com exce­ção desta lista de reis conquistados, M egido não é mencionada em nenhuma outra passagem da narrati­va da conquista. A cidade foi designada a Manassés (Js 17.11), mas só foi tomada pelos israelitas (Jz 1.27) durante a monarquia (1 Rs 4.12; 9.15).12.22. Quedes. Esse nome aparece em diversos contex­tos geográficos, inclusive na Galiléia (Tell Qades) e em Naftáli, perto de M egido (Jz4.11;5.19; Tel AbuKudeis). Como foi mencionada quase no final da lista, é possí­vel que estivesse situada no vale de Jezreel, m as não se pode afirm ar com certeza sua exata localização.

12.22. Jocneão. Identificada com Tel Yoq-neam, essa localidade situava-se bem a noroeste de M egido, na saída do uádi M ilh, no vale de Jezreel, fronteira de Zebulom (Js 19.11; 21.34). Sua fundação ocorreu na Idade do Bronze Antiga e permaneceu ocupada até a era otomana. Sua importância estratégia é documen­tada por estar incluída na lista de conquista de TutmósIII. A cidade foi destruída por causa de um motim durante o século treze e novamente no final do século onze, talvez como resultado da expansão israelita no norte.12.23. Dor. A cidade costeira de Dor provavelmente foi fundada durante o século treze a.C., como parte da tentativa de Ramsés II de estimular o comércio entre a região Siro-Palestina e o mar Egeu. Os filisteus, sub­seqüentem ente, estabeleceram-se ali (confirmado na história egípcia da jornada de W enamom) e mais tar­de foi tomada por Salomão, passando a funcionar como

um de seus centros adm inistrativos (1 Rs 4.11). A cidade de D or constava do território da tribo de Manassés, mas foi conquistada apenas no período da monarquia (Js 11.2; Jz 1.27).12.23. Goim/Gilgal. Há diversas cidades identificadas com o G ilgal em toda a antiga Canaã. A expressão Goim , "g en tios", não é de muita ajuda, em bora al­guns estudiosos, a partir da versão da Septuaginta, liguem o nome a Harosete-Hagoim, em Jz 4.2. O fato de constar na lista dos reis entre Dor e Tirza, pode ser um indício de que estivesse localizada no quadrante oriental da planície de Sharom.

12.24. T irza. G eralm ente identificada com T ell el- Far'ah (onze quilôm etros a nordeste de N ablus, no planalto central), a única vez em que Tirza é citada no relato bíblico no período anterior à m onarquia, é nes­sa lista dos reis conquistados. Sua associação à tribo de Manassés deve-se à m enção de uma m ulher chamada Tirza na genealogia (Nm 26.33; Js 17.3). A ocupação teve início no período N eolítico, cuja m aior cidade data de aproximadamente 1700; era fortemente prote­gida com muros espessos e um a cidadela. Alcançou seu apogeu na Idade do Ferro quando se tornou a capital de Israel (1 Rs 15.21), m as a m udança para Sam aria rebaixou-a a um a posição inferior.

13.1-33 Divisão da Transjordânia13.1. listas de fronteiras no antigo O riente Próximo.Existem diversos tratados hititas que apresentam se­melhanças com as listas de fronteiras encontradas em Josué 13-19. Nos tratados, as listas indicam as frontei­ras da terra confiada ao vassalo pelo suserano. Ainda que tecnicamente a terra pertencesse ao suserano, ele oferecia controle local ao vassalo e delimitava as frontei­

ras da terra, definindo essa relação legal. Essa terra era designada como território a ser protegido em leal­dade ao suserano. A mais extensa lista de fronteiras encontra-se no tratado entre os hititas e o distrito vassalo de Tarhuntassa (no centro-sul da Anatólia). O objetivo das listas nesses dois tratados é especificar o território que pertencia a Tarjuntassa e o que pertencia aos vizinhos, ou seja, os outros distritos vassalos. Trata-se de um propósito semelhante ao de Josué 13-19, que procura distinguir que território pertence a qual tri­bo. Era papel do suserano definir as fronteiras dessa maneira, demonstrando assim seu controle sobre os vassalos e suas terras.13.2-5. a terra que resta. A relação dos territórios que restaram sem serem conquistados é dividida em três regiões: (1) a Filistia, inclusive as cinco principais ci- dades-estado filistéias, e a área ao sul que faz fronteira com o Egito, no uádi el-/Arish (ver Js 15.4); (2) a região costeira da Fenícia; e (3) Biblos e a região montanhosa do Líbano, a leste da Síria. Essa última região nunca foi conquistada pelos israelitas, em bora existissem la­ços comerciais e diplomáticos entre eles (1 Rs 9.19). As cidades-estado fenícias de Tiro e Sidom, da segunda região, foram designadas a Aser, m as nunca foram conquistadas (Jz 1.31). Entretanto, elas certamente se aliaram aos governos de D avi e Salom ão (1 Rs 5.1;9.11-13). No território da Filistia ocorreu o estabeleci­mento de um segmento dos povos do mar. Escavações em diversas dessas localidades (mais recentem ente em Tel M iqne/Ecrom) dem onstraram que as cam a­das de destruição encaixam-se ao período de invasão desses povos e a subseqüente expulsão dos habitantes cananeus (quanto aos aveus, ver Dt 2.23). Dessas ci­dades, somente Gate não pôde ser identificada com precisão (Tell esh-Sheri'ah e Tell es-Safi foram su­geridas, sendo esta última a m ais provável).13.6. geografia da região. Esse versículo reafirm a a região geográfica da Fenícia, em bora se refira a ela como "terra dos sidônios". E possível considerar esse versículo como parte da descrição das áreas não con­quistadas de Josué 13.5, m as tam bém pode ser enten­dido como um resum o. De qualquer m odo, o texto confirma a fronteira ao norte da região, descrita ante­riormente como de fato conquistada por Josué (sobre Misrefote-Maim, ver Js 11.8).13.9-13. geografia da região. Para m ais detalhes sobre a descrição geográfica da Transjordânia, consulte os comentários em Josué 12.2-6 e Deuteronôm io 3.8-17.13.9. p lanalto de M edeba. Esse fértil planalto, dentro de M ishor (parte norte de M oabe), fica 40 quilômetros ao sul de Amã, na Jordânia. Foi designado à tribo de Rúben e tam bém foi cenário de inúm eras batalhas entre israelitas e m oabitas pelo controle da área (Jz3.12-30; 1 Sm 14.47; 2 Sm 8.2; 1 Cr 19.7).

13.10. Hesbom . Ver comentários em Núm eros 21.26­30 sobre o reino am orreu de Seom nesta região de M oabe.

13.17-20. localidades. A lista de cidades capturadas no re in o de Seom (H esbom , Jaza , E d rei, D ibom , M edeba) tam bém aparece em Núm eros 21.21-35. A passagem de Números 32.33-41 reivindica as cidades dessa região para as tribos de Rúben, Gade e Manassés. Bamote-Baal também é citada na seqüência narrativa de Balaão (Nm 22.41) e diversas dessas localidades aparecem na lista de cidades levíticas (Js 21). O local de várias dessas cidades não é m encionado em ne­nhum a outra fonte, inclusive a de Bete-Baal-M eom (identificada com M a'in, cerca de seis quilômetros a sudoeste de M edeba); a de Quedem ote (Khirbet er R em eil ou 'A leiyan , 24 quilôm etros a sud este de M edeba); a de M efaate (Khirbet N efa , cerca de seis

quilôm etros ao sul de A m ã ou U m m er-Rasas, 32 quilômetros a sudeste de Medeba); a de Sibma (Khirbet qum el-Kibs); a de Zerete-Saar (Khirbet ez-Zarat, perto do litoral do m ar Morto) e a de Bete-Peór (Khirbet 'U yun Musa).13.21. líderes midianitas. Essa lista dos chefes ou prínci­pes m idianitas derrotados tam bém aparece em N ú­meros 31.8, onde são apresentados como reis. Evi e Reba só aparecem nessas duas listas, enquanto Zur é descrito como um chefe tribal em Números 25.15 (1 Cr 8.30) e Hur é o nome de um líder israelita em Êxodo17.10. Requém é um nom e bastante comum , usado tanto p aia pessoas (1 Cr 2.43, 44; 7.16), com o para lugares (Js 18.27). Esses nomes tam bém podem ser associad os a lu g ares esp ecífico s, d esde o su l da Transjordânia até o norte da Arábia, traçando assim o controle das rotas comerciais daquela região.13.22. B alaão . Leia os com entários sobre Balaão em Núm eros 22 e o comentário de Núm eros 25.3, onde é discutido o incidente em Baal-Peór, podendo ser a base para o relato da m orte de Balaão aqui em Josué 13.13.24-29. geografia de Gade. O território atribuído à tribo de Gade incluía grande parte de Gileade. Essa região localizava-se ao sul do rio Jaboque, indo até as montanhas perto de Amã. A Aroer mencionada aqui fica perto de Amã (Rabá), portanto não se trata da localidade ao sul, mencionada em Josué 13.16. Jazar provavelmente pode ser identificada com Khirbet es- Sar (a 13 quilômetros de Hesbom), e Betonim fica em Khirbet el-Batne, cerca de cinco quilômetros a sudeste de es-Salt. M aanaim tem sido identificada com fre­qüência com Tell Heggag, no vale do Jaboque, bem ao sul de Penuel, e Debir talvez seja um pouco mais ao norte dali, mas sua localização exata é desconheci­da (ver Am 6.13). Quanto às outras localidades, Bete- Arã é provavelm ente Tell er-Ram eh ou Tell Iktanu,

na confluência do uádi Hesban; Bete-Ninra é Tell el- Blebil ou Tell Nim rin; Sucote é provavelm ente Tell Deir 'alla, no Jaboque e Zafom é Tell es-Sa'idiye, no uádi Kafrinji.13 .30 ,31. geografia de M anassés. A descrição do ter­ritó rio d esign ad o à m etad e o rien ta l da trib o de Manassés não é tão detalhada quanto à de Gade. As passagens paralelas encontram-se em Números 32.39­42 e Deuteronôm io 3.13, 14. De m odo geral, a área estendia-se desde M aanaim (tam bém um ponto de referência na fronteira ao norte do território de Gade), seguia em direção ao norte passando por grande par­te de Basã (ver Js 12.4 e 13.11,12) até o monte Hermom. Não é possível identificar os "povoados de Jair" pois eram acampamentos em barracas (ver Nm 32.41; Dt 3.14; 1 Cr 2.22), m as provavelm ente espalhavam -se por toda a região de Basã. Quanto a M aquir como descendente de M anassés, leia Gênesis 50.23 e N ú­meros 26.29. Essa parte da tribo estaria relacionada ao norte de Gileade (leia Nm 32.39, 40; Jz 5.14).

14.1- 19.51 A divisão das terras14.6. quenezeus. Os quenezeus eram um grupo tribal não-israelita ligado geográfica e etnicamente aos que-

neus e aos descendentes de Calebe e Otoniel (ver Gn 15.19; N m 32.12; Jz 1.13). Seu território incluía a re­gião sudoeste de Hebrom estendendo-se até o sul do m ar Morto, nas proximidades de Edom. Esses grupos tribais menores com o tempo foram absorvidos pela tribo de Judá, após o estabelecimento da monarquia.14.15. enaquins. Ver comentário em 11.21.14.15. H ebrom . Ver comentário em 10.3.15.2-4. geografia da fronteira su l de Judá. A fronteira sul da tribo de Judá é a mesma da nação descrita em Núm eros 34.3-5. Estende-se do extrem o sul do m ar Morto, na fronteira com Edom, até o deserto de Zim (ver N m 13.21; 20.1) e por fim, em direção a oeste, até o m ar M editerrâneo. A subida de Acrabim (ou dos Escorpiões) pode ser identificada com Naqb es-Safa (ver Nm 34.4). Cades-Barnéia foi o ponto de partida dos israelitas para a travessia do deserto e o local onde iniciaram a conquista de Canaã (ver Nm 13.26; Dt1.19, 46). Sua localização m ais provável é 'A in el- Qudeirat, no uádi el-'Ain, ao norte do Sinai. As aldei­as de Hezrom, Adar e Carca não foram localizadas, embora possam estar associadas a fontes ou nascentes de água perto de Cades-Barnéia. A localização de A zm om tam b ém é in c e rta , em b o ra te n h a sido identificada com A in M uw eilih, um a das nascentes da região. Quanto ao ribeiro do Egito, ou uádi el- 'A rish , ver Josué 13.3. Os diversos indicadores de direção citados na lista das localidades são bastante

genéricos e servem apenas como uma referência apro­ximada do local.15.5a. fronteira oriental de Judá. A fronteira oriental do território destinado à tribo de Judá é o m ar Morto. Estendia-se desde sua extrem idade sul na fronteira com Edom, ao noroeste até Jericó e uádi Qelt, indo até as montanhas de Betei. A menção da "fo z" do Jordão é uma referência à confluência do rio com o m ar Mor­to, num ponto localizado 391 metros abaixo do nível do mar. Como muitas nações antigas, Judá utilizou um a barreira natural como limite para sua fronteira. 1 5 .5 b - ll. fronteira norte de Judá. A fronteira norte começava na "foz do Jordão" e estendia-se a noroeste até Jericó e o uádi Qelt. Passava bem ao sul de Jerusa­lém (cidade dos jebuseus) até Quiriate-Jearim (Deir el-Azhar), passando pelas m ontanhas da Judéia até Bete-Semes (Tell el-Rumeileh), indo até a fronteira da Filistia na "encosta norte de Ecrom " (Tel Miqne). De­pois, passava pelo vale de Soreque em direção a oes­te, até Jabneel (2 Cr 26.6; posteriormente Jamnia) e o mar Mediterrâneo. A menção a Gilgal é problemáti­ca, pois a maioria dos estudiosos concorda que essa localidade ficasse situada no norte do território de Judá (Js 5.9). A subida de Adumim, literalmente "su ­bida de sangue" é TaTat ed-Damm. En-Semes refere- se a um poço ao sul de Jerusalém e tem sido identificada com "Ain el-Hod, a leste do monte das Oliveiras. En- Rogel situa-se no encontro dos vales Quidrom e Hinom, a leste de Jerusalém. Neftoa é identificada como Lifta, três quilômetros a noroeste de Jerusalém.15.7. D ebir. Ver comentário sobre esse nom e em Josué10.3, onde D ebir é identificado como rei de Eglom,

que fazia parte de uma coligação cananéia derrotada por Josué. Também aparece como nome de uma cida­de em Josué 10.38. Aqui neste caso, Debir é o nome de um lugar, m as não deve ser confundido com a cidade citada em Josué 10.38. Talvez seja Togret ed- Debr, a nordeste de Jerusalém.15.15. Q uiriate-Sefer. É o nome cananeu para o lugar m ais tarde conhecido como Debir (ver Jz 1 .11 ,12). O nom e significa "cidade do livro" ou "cidade do trata­d o ", podendo assim indicar que era sede de um a escola de escribas ou possivelmente o local de assina­tura de algum tratado. As referências bíblicas indicam que a cidade ficava localizada a sudoeste de Hebrom, na parte sul da região montanhosa de Judá. Escava­ções recentes ind icam tratar-se provavelm ente de Khirbet Rabud.15.13-19. doação de terras. A doação de terra feita por Calebe a Otoniel e à sua filha Acsa é uma característi­ca das doações feudais feitas no antigo Oriente Próxi­mo. Era bastante comum que reis e príncipes ofere­cessem terras a oficiais m ilitares com o recom pensa

por serviços prestados, e também como meio de culti­var terras improdutivas e desta form a aum entar os impostos (evidente em algumas das leis de Hamurabi). Essa prática também era usada pelos governantes a fim de facilitar a fixação de povos tribais, evitando assim que representassem um a am eaça à paz e às atividades econômicas do reino (prática encontrada nos textos de Mari). O fato da doação da terra estar atrelada a um a proposta de casamento (ver 1 Sm 17.25;18.17) simplesmente dá mais peso à importante tarefa de conquistar os enaquins. Visto que a terra designa­da era bastante árida, o pedido de Acsa a seu pai para que lhe concedesse fontes de água (ver G n 26.17-33) é bastante razoável, tom ando essa proposta mais justa que a anterior.15.21-32. cidades do su l de Judá. Essas cidades situa­das no sul tinham como centro Berseba e estendiam-se desde a fronteira edomita até Saruém (ver Js 19.6), na costa m editerrânea. A lgum as dessas cidades foram identificadas, como Cabzeel (2 Sm 23.20; N e 11.25) que pode ser Tell Gharreh, entre Berseba e A rade; Jagur que pode ser Khirbet el-Gharrah, cerca de catorze qui­lômetros a leste de Berseba; Quiná é identificada como Horvat 'U za, cinco quilôm etros a sudoeste de Arade; Queriote-Hezrom talvez seja Khirbet el-Qaryatein, cer­ca de seis quilôm etros ao norte de A rade; Am ã, que pode ser B e 'er N avatim , perto de Berseba; M oladá, que pode ser Khirbet el-Waten, dez quilômetros a leste de Berseba; Baalá, que pode ser Tulul el-Medbah, perto de Tel Masos; Madmana, que tem sido identificada com K hirbet T atrit; Sansan a, que pode ser K h irbet esh- Shamsaniyat, nas planícies do Neguebe e Rimom, que pode ser T el H alif, treze quilôm etros a nordeste de Berseba (ver N e 11.29; Zc 14.10).15.33-47. cidades do oeste de Judá. A lista de cidades e povoados da região oeste de Judá, situados na Sefelá, está organizada em quatro grupos, seguindo uma ordem de direção de norte a sul, tendo Láquis como centro. O último grupo incluia a Filistia e suas princi­pais cidades-estado (Ecrom, Asdode e Gaza) e foi de­signado a Judá apenas nominalmente, visto que estas cidades foram dominadas apenas a partir da monar­quia. D en tre aquelas que têm sido id entificad as, Jarm ute (ver Js 10.3) é Khirbet Yarm uk, cerca de 25 quilômetros a oeste de Jerusalém; Zenã pode s e r ' Araq el-K harba, p róxim o de L áq u is ; L áqu is é T ell ed- Duweir (Js 10.3) e foi maciçamente fortificada durante o período da m onarquia; Eglom perm anece desco­nhecida (sua identificação tradicional com Tell el-Hesi é infundada); Libna pode ser Tell es-Safi ou Tell Bornat; Eter é Khirbet el-'Ater; Asná é Idnah; N ezibe é Khirbet Beit Nesib, treze quilômetros a noroeste de Hebrom e Queila é Khirbet Qila, na parte leste da Sefelá (Tábu­as de A m am a: Qütul).

15.48-60. cidades da região m ontanhosa. A região montanhosa da Judéia, localizada num a faixa estreita no sentido norte-sul entre o deserto da Judéia, a leste, e o planalto de Sefelá, a oeste, continha cinco (seis na Septuaginta) distritos com suas respectivas cidades e povoados que foram designados à tribo de Judá. Den­tre os que foram identificados, Sam ir é el-Bireh; Jatir é Khirbet ' Attir (ver 1 Sm 30.27); Anabe é Khirbet ' Anab; Artim pode ser Khirbet Ghuw ein et-Tahta, onze qui­lômetros a sudoeste de Hebrom; Holom fica em Khirbet 'Illin ; Arabe está localizada em er-Rabiyeh; D um á pode ficar em D eir ed-Domeh (possivelmente Udumu em EA n° 256); Bete-Tapua fica em Taffuh, cinco qui­lômetros a oeste de Hebrom; Zior fica em Si'ir, oito quilômetros a nordeste de Hebrom; M aom pode ser Tell M a"n , bem ao sul de Hebrom (ver 1 Sm 25.2); Carmelo fica em Khirbet el-Kermel; Jutá fica em Yatta; Gibeá pode ser el-Jeba', a sudoeste de Jerusalém; Bete- Zur é Khirbet et-Tubeiqah, cerca de seis quilômetros ao norte de Hebrom; Gedor pode ser Khirbet Jedur e

Rabá pode ser a Rubutu m encionada nas listas de conquistas egípcias e nos textos de A m am a.

15.61,62. cidades no deserto. A faixa de terra árida ao longo da costa oriental do m ar Morto abrangia o de­serto da Judéia (ver SI 63.1). Escarpas elevadas e vales profundos caracterizam a área imediatamente contí­

gua à costa. M ais para o interior, a encosta leste da região montanhosa apresenta um declínio de mais de 900 m etros num a área de quase dezesseis quilôm e­tros. Esse recorte afeta drasticamente o clima, bloquendo a quantidade de chuvas anuais necessárias para o desenvolvim ento da agricultura ou para a sobrevi­vência dos povoados maiores. A sobrevivência nessa região só era possível perto de fontes e poços, por isso, som ente seis cidades são mencionadas, dentre elas, Bete-Arabá (possivelmente 'A in el-Gharabeh na mar­gem norte do uádi Qelt, cinco quilômetros a sudeste de Jericó) e En-Gedi foram localizadas com certa segu­rança. Esta últim a foi identificada com o oásis de fon­tes de águas quentes em Tell ej-Jurn, na costa ociden­tal do mar Morto. Alguns estudiosos têm identificado Secacá com Khirbet Qumran.16.1-4. fro n te ira s das tr ib o s de Jo sé (M an assés e Efraim ). Atingindo a fronteira ao norte de Judá, no rio Jordão, perto do m ar M orto e de Jericó, e a fronteira de Benjamim, que incluía a cidade de Jericó, esse territó­rio estendia-se ao norte desta cidade. Sua fronteira continuava em direção às montanhas até Betei, pas­sando pela região árida conhecida como o deserto de Bete-Áven (ver 18.12). As fronteiras estendiam-se para o ocidente até Gezer (ver 10.33) e por fim até o mar M editerrâneo. Essa últim a parte constaria apenas no­m inalmente do território israelita.

16.2. Betei/Luz. A relação entre Luz e Betei implica m ais do que um a troca de nom es (ver G n 28.19; Js 18.13; Jz 1.23). Inicialmente, é possível que se tratasse de duas localidades distintas, m as a importância reli­giosa da cidade de Betei num período posterior da história eclipsou a cidade de Luz, e acabou unindo-as. Ambas ficariam em Beitim ou próximas dessa locali­dade (ver comentário em 8.9).16.5-9. fronteiras de Efraim. Com seus limites ao sul já delineados nos versículos 1-4, a fronteira de Efraim estendia-se ao norte até a área ao redor de Siquém e depois se dirigia para o leste e para o sul em direção a T aan ate-S iló (K h irbet T a 'n a h el-F oqa) e Jan oa (Khirbet Yanun). As localidades identificadas nessa região incluem A tarote (possivelm ente T ell Sheikh ed-Diab ou Tell-Mazar) e Naarate (Tell es-Jisr, perto de Jericó, ou Khirbet Mifgir). A extremidade ociden­tal de seu território incluía Tapua (possivelm ente Sheikh Abu Zarad; ver Js 17.7, 8).

16.10. trabalhos forçados. Era comum sujeitar os po­vos conquistados a trabalhos forçados ou utilizá-los como servos nos serviços domésticos (ver Js 9.27). O

trabalho forçado também era considerado um dos abu­sos de poder atribuídos a reis e tiranos, obrigando os

homens a submeter-se a trabalhos forçados, na cons­trução de estradas, pontes e muros das cidades (ver 1 Rs 5.13, 14; 12 .4 ; acusação contra o rei babilôn io N ebonido, no Cilindro de Ciro, século sexto a.C.). N esse período a prática foi em pregada pelo rei de Megido, como os textos de A m am a confirmam.

17.3, 4. as filhas de Zelofeade. Ver com entário em Números 36.1-13 relacionado à questão do direito de herança das filhas.17.7-11. o território de M anassés. A s dim ensões do território dessa tribo são um pouco vagas e descrevem a área imediatamente ao norte de Efraim, nas proxi­m idades de Siquém, estendendo-se a um local perto de Aser. Havia de certa forma uma superposição de terras, pelo menos em relação à cidade de Tapua (ver Js 12.17) que pertencia a Efraim enquanto que a re­gião ao seu redor foi designada a M anassés (ver Js16.9). A fronteira ocidental era o m ar Mediterrâneo e a oriental aproximava-se da região de Issacar. Nova­m ente diversas cidades e suas populações situadas em territórios de outras tribos foram designadas a Manassés, exceto Dor na planície de Esdrelom (ver Js12.21). São elas: Bete-Seã (Tell el-Husn), M egido (Tell el-Mutesellim), Ibleã perto de Nablus, Dor, na encos­ta sul do monte Carmelo, En-Dor (onze quilômetros a sudeste de Nazaré) e Taanaque (Tell T iin n ik , cerca de seis quilômetros a noroeste de Megido).

17.16. carros de ferro. Conforme Juizes 1.19, o uso de carros de guerra feitos de ferro por parte dos inim igos

explica o fracasso dos israelitas na conquista definitiva de algumas áreas de Canaã. A técnica de produção do ferro foi introduzida pelos hititas e pelos povos do m ar no século doze a.C.. N o entanto, foi difundida na cultura sírio-palestina somente a partir do século dez. É provável que as referências feitas a carros de ferro na narrativa da conquista estejam relacionadas ao uso de encaixes de ferro para manter a estrutura firme ou então ao uso de rodas calçadas com ferro. É possível que pinos pontiagudos fossem adicionados aos carros tom ando essa m áquina de guerra mais pesada e de­vastadora ao golpear as linhas de infantaria. A capa­cidade para fazer manobras e o tamanho dos cavalos, porém, provavelmente teriam limitado a quantidade de ferro utilizada nos cairos.17.16. Bete-Seã. Essa localidade ficava na extremida­de oriental do vale de Jezreel e controlava a entrada do vale do Jordão, por onde passava um a importante rota comercial. Foi designada a M anassés, m as não foi conquistada na época de Josué porque seus habitantes faziam uso de carros de ferro. Permaneceu como terri­tório cananeu ind epend en te encravado em terras israelitas até o período da monarquia (1 Sm 31.10-12),

mas foi incorporado aos distritos administrativos de Salomão (1 Rs 4.12). No *tell de Bete-Seã, existe uma cidade romano-bizantina (Citópolis), construída no se­dim ento que fica na base do tell. A s investigações arqueológicas têm demonstrado que houve ocupação quase contínua do local desde o período Calcolítico (4500-3300). Su prim ento adequado de água (uádi Jalud), uma terra favorável para o cultivo, e localiza­ção estratégica asseguraram à população um a certa prosperidade, geralmente sob domínio egípcio (inici­ado com Tutm és III, no século dezesseis) e m ais tarde, sob domínio dos povos do m ar e dos israelitas.18.1. Siló com o centro de adoração. Siló (K hirbet S e ilu n), um v ale fértil em m eio às m ontanhas de Efraim , entre Betei e Siquém , foi habitada durante toda a Idade do Ferro e em diversos momentos de sua história teve significativos traços arquitetônicos, in­cluindo um complexo de portões e o que talvez tenha sido as dependências de um templo. Um a camada de destruição da metade do século onze pode coincidir com a captura da arca pelos filisteus, descrita em 1 Sam uel 4.1-10. Indícios de atividade relig iosa pré- m onárquica nesse local podem ser encontrados no texto de Juizes 21.19-23, e tradições posteriores (SI

78.60; Jr 7.12-15) sugerem que Siló serviu como um centro de adoração anterior à construção do templo de Jerusalém .

18.4-8. mapeam ento da região. A confecção de mapas rem onta pelo m enos ao terceiro m ilênio a.C. tendo sido encontrados blocos de argila com m apas grava­

dos na superfície. Os mais notáveis são os m apas da cidade de N ipur (por volta de 1500 a.C.) e um mapa

babilónico do "m undo" (metade do primeiro milênio

a.C.). Existe também um antigo mapa das m inas do

Egito que data da época de Ram sés II (século treze

a.C.).18.6-10. sorteio. A prática de fazer sorteio para desco­brir a vontade de Deus é um a forma de adivinhação.

Ver os comentários sobre "o U rim " e o "T um im " em

Êxodo 28.30 e o uso de sorteios em Núm eros 26.55. Visto que a relação das tribos segue um a ordem lógica

de prioridade, pode-se inferir que os sorteios não eram

usados para decidir qual tribo seria a primeira a esco­

lher sua parte. Em vez disso,, as tribos enviavam seus

representantes na ordem prescrita, e o sorteio era feito para ver que porção da terra cada tribo receberia. No

antigo Oriente Próximo, a divisão de uma proprieda­de entre os herdeiros costumava ser feita da seguinte

maneira: o filho mais velho escolhia sua parte e em

seguida o restante era dividido por sorteio.

18 .11-20. a porção de B e n ja m im . O território de Benjamim ficava entre o de Judá e o de José, sendo a

fronteira norte de Judá e a fronteira sul de Benjamim

basicamente as mesmas. Os limites ao norte acompa­nhavam os de Efraim, até alcançar Quiriate-Jearim ,

em vez de estender-se até o M editerrâneo. D esse

modo, uma área ficava reservada para o território da tribo de Dã. A descrição vai de leste a oeste (partindo

da foz do rio Jordão no m ar Morto). Estendia-se bem

ao norte de Jericó, passando pela região m ontanhosa e a seguir para o sul, em direção à encosta de Luz

(Betei) até Bete-Horom e Quiriate-Baal (também co­

nhecida como Quiriate-Jearim), que era o limite final

na fronteira ocidental. O fato de suas fronteiras atra­vessarem o vale de H inom significa que Jerusalém ficava no território de Benjamim.

18.14. Bete-H orom . Trata-se na verdade de uma cida­

de dupla (a cidade alta e a cidade baixa): a alta Bete- Horom é Beit Ur el-Foqa (cerca de três quilômetros a

noroeste de Gibeom) e a baixa Bete-Horom, Beit Ur

et-Tahta (cerca de dois quilômetros m ais a noroeste e 300 metros abaixo da cidade alta). Alguns acreditam

que essa é a cidade descrita como Bit N inurta nas cartas de Amarna. A passagem de Bete-Horom con­

duz ao vale de Aijalom (descrito como Ayyaluna nos textos de Amarna), a principal rota da região monta­

nhosa até a planície costeira. Embora não fique claro

se a Bete-H orom m encionada em Josué 16 e 18 é a cidade alta ou a baixa, é possível que a importância de am bas na vigilância da rota com ercial garantia-

lhes igual status, por isso, o escritor bíblico não fez nenhuma distinção entre elas.

18.15. Q uiriate-Jearim . Situada treze quilômetros ao norte de Jerusalém, em D eir el-Azhar, Quiriate-Jearim ou "cidade das m adeiras", ficava no ponto de interse­ção entre os territórios das tribos de Benjamim e Judá. É chamada de Baalá em Josué 15.9 e de Quiriate-Baal em Josué 15.60 e 18.14. A cidade figura na narrativa da conquista (Js 9 ,10 ) e na história da retirada tempo­rária da arca (1 Sm 6.19-7.2).18.21-28. cidades da tribo de Benjam im . Em bora vá­rias dessas cidades sejam desconhecidas, algumas fo­ram identificadas: Pará é Khirbet el-Farah, a nordeste

de Anatote; Ofra é et-Taiyibeh, cerca de seis quilôme­tros a nordeste de Betei; G eba pode ser Khirbet et- Tell, onze quilômetros ao norte de Betei; Gibeom ge­

ralm ente tem sido identificada com el-Jib, cerca de seis quilômetros a noroeste de Jerusalém (ver Js 9.3-5); Ram á é er-Ram, oito quilômetros ao norte de Jerusa­lém; Beerote pode ser el-Bireh; M ispá pode ser Tell en-Nasbeh; Quefira é Khirbet Kefirah, a sudoeste de el-Jib; M osa pode ser Khirbet Beit Mizze, a oeste de

Jerusalém e G ibeá e Q uiriate podem ser um lugar conhecido como "a colina de Quiriate-Jearim " (ver 1 Sm 7.1, 2).

19.1-9. a porção de Sim eão. Visto que o território de Sim eão "ficava dentro do território de Ju dá", essa tri­bo pode ter sido destruída ou assimilada muito cedo, ficando apenas com a lembrança de suas possessões originais. A m aioria das cidades m encionadas aqui ficava no N eguebe e duas (Eter e Asã) ficavam na Sefelá (ver os com entários em Js 15.21-32). D entre aquelas que não haviam ainda sido m encionadas, Bete-M arcabote ou "casa dos carros" e Hazar-Susa, "aldeia dos cavalos", talvez sejam referências ao que se fazia no local e não exatamente o nome das cidades, podendo tratar-se das cidades de M admana e Sansana (Js 15.31).

19.8. Baalate-Beer. Essa localidade talvez seja a mes­m a Bealote m encionada em 15 2 4 (ver Baal em 1 Cr 4 .33), e provavelm en te situ ava-se bem a leste de Berseba. A referência a "Ram á, no N eguebe" sugere um "lugar alto" ou local de adoração (ver 1 Sm 30.27).

19.10-16. a porção de Zebulom . O principal ponto de referência para esse território é a cidade de Nazaré, em bora não seja mencionada nessa lista. As fronteiras e grande parte das cidades irradiavam desse ponto, tanto em direção ao leste como para o oeste. A frontei­ra norte ficava vinte quilômetros a oeste de Tiberíades e dez quilômetros a nordeste de Nazaré, em Rimom (m oderna Rum m aneh). Saride, provavelm ente Tell Shadud (oito quilôm etros a sudeste de Nazaré) era outro ponto de referência na parte ocidental. De lá, a fronteira estendia-se ao longo do ribeiro de Quisom até Jocneão (ver Js 12.22). O limite oriental alcançava

o território de Issacar, cerca de três quilômetros a su­deste de Nazaré. O único meio de Zebulom ter acesso à costa era através do comércio com Aco, possivelmente pela proximidade da cidade de Naalal (Tell en-Nahl), pois esse território não chegava até o Mediterrâneo.19.15. B elém . Esse lugar a noroeste de N aalal, em Zebulom, não deve ser confundido com a localidade também denominada Belém, situada ao sul, em Judá. O juiz Ibsã foi enterrado aqui (Jz 12.9,10). Atualmen­te, próximo a esse local existe um povoado árabe que ainda mantém o nome de Beit-Lahm.19.17-23. a porção de Issacar. G rande parte desse território situava-se no vale de Jezreel, ao norte de Manassés, a leste de Aser e ao sul de Naftali. A fronteira norte estendia-se desde o monte Tabor até o rio Jordão, bem ao sul do m ar da Galiléia. O caráter estratégico e de passagem dessa área é demonstrado por sua men­ção nos anais egípcios dos faraós Tutm és III (Anaarate e Quisiom) e Seti I (Remete = Jarmute, talvez o m es­mo que monte Yarmuta, dez quilômetros ao norte de Bete-Seã). Outras localidades que foram identificadas são Jezreel, que é Zer'in, a noroeste do monte Gilboa; Quesulote = Quislote-Tabor (ver Js 19.12) é a moderna Iksal, três quilômetros a sudeste de Nazaré; Suném é Solem, cinco quilômetros a nordeste de Jezreel.19.24-31. a porção de Aser. Situado na planície de Aco, o território de Aser ficava a oeste de Zebulom e Naftali e estendia-se até os portos fenícios de Tiro e Sidom, ao norte. Essa área tam bém aparece com des­taque nos anais reais egípcios. Tutm és III alista Helcate (possivelmente Tell el-Harbaj ou Tell el-Qassis), Acsafe (ver Js 11 .1 ), M isa l (perto do m onte C arm elo) e Alameleque, e Ram sés II menciona Caná (onze quilô­metros a sudeste de Tiro) dentre as cidades cananéias conquistadas. As localidades identificadas incluem

C abul (K abul); Ebrom (K hirbet 'A bdeh, dezesseis quilômetros a nordeste de Aco): Um á pode ser Aco; Reobe (não a m esm a de Js 19.28) pode ser Tell el- Gharbi, onze quilômetros a leste de Aco. A menção a Tiro e Sidom não significa que de fato estivessem sob controle israelita. É m ais provável que a fronteira fosse mais teórica do que real, embora é possível que os povoados relacionados a essas cidades-estado tal­vez tenham sido controlados por Israel em diversos períodos.

19.29. A czibe. Situada ao norte de Aco, A czibe foi destinada a Aser, mas nunca foi conquistada (Jz 1.31). Escavações no local dem onstram que esse lugar foi um próspero centro comercial desde a Idade do Bron­ze M éd ia a té o p eríod o rom an o. Fo i saq u ead a e reconstruída várias vezes, atingindo seu apogeu no século oitavo a.C., antes de ser destruída por Sena- queribe, em 701. A czibe não deve ser confundida

com a cidade m encionada em 15.44 na Sefelá, atri­buída a Judá.19.32-39. as terras da tribo de N aftali. O monte Tabor é o principal ponto de referência no território dessa tribo. A fronteira sul de Naftali acompanha o uádi Fajjas até o rio Jordão, no leste. Existe certa controvérsia em relação à localização do "carvalho" de Zaanim (ver Jz4.11), m as é provável que fique no sul. D entre as lo­calidades identificadas nessa seqüência estão Helefe (Khirbet 'Arbathath, próxima ao monte Tabor); Adami- N eguebe (Khirbet et-Tell); Jabneel (Tell en-N a'am ) e Lacum (Khirbet el-M ansurah). A localização exata de H ucoque tem causado polêm ica, m as a m aioria dos estudiosos a identifica com Yaquq, a oeste do mar da G aliléia . O utras localid ad es id en tificad as incluem Adamá (possivelmente Hajar ed-Damm, quatro quilô­metros a noroeste da confluência do rio Jordão com o m ar da Galiléia); Irom (Yarun, na fronteira do Líbano); quanto a Hazor, ver o comentário em 11.1; Quedes lo­caliza-se ao norte do lago Hulé, atualmente drenado. 19.40-48. as terras da tribo de Dã. Em bora Dã tivesse um território bastante grande a oeste de Benjamim, considerando-se a região costeira, desde o ribeiro de Soreque até o rio Yarkon, perto de Jope, é pouco pro­vável que a tribo tenha ocupado mais que uma parce­la da terra. A maior parte dessa área era controlada pelos filisteus e, posteriorm ente, pelos assírios. Du­rante a época de Salomão, a tribo de Dã compreendia o distrito sudoeste de seu reino, tendo sido anexada a Judá. U m exem plo disso é a cidade de Bete-Sem es (Tell er-Rum eileh), que m ais tarde é alistada como um a cidade levítica em Judá (21.16). Outras localida­des de D ã identificadas incluem Saalabim (leste de Gezer, possibelm ente Selbit; ver Jz 1.35); Aijalom é provavelmente Yalo, oito quilômetros a leste de Gezer (mencionada nos textos de Amarna); Tim na (Tell el- Batashi, oito quilômetros a noroeste de Bete-Semes); Gibetom (possivelm ente Tell el-M elat; m encionada na lista de cam panha de Tutm és III); Bene-Beraque

aparece nos anais de Senaqueribe e fica localizada perto da aldeia árabe el-Kheiriyah, próxim o a Jope; R acom pode ser um rio ou possivelm ente Tell er- Reqqeit, perto de Jope.19.47. Lesém . A tribo de Dã provavelm ente m igrou para o norte devido à pressão que sofreu por parte dos filisteus (ver Jz 18). Deslocaram-se para Lesém (Lais), que recebeu o nome de D ã e subseqüentemente tor­nou-se um importante centro de adoração durante o reinado de Jeroboão. A cidade (a m aior da região, com cerca de 50 acres) localizava-se ao norte da bacia de Hulé, no caminho para Damasco e era favorecida pela existência de uma fonte (uma das nascentes do rio Jordão). Sua importância é comprovada por cons­

tar dos textos egípcios de maldição e das cartas de Mari.

19 .50 . T im n a te -S e r a . T am b ém co n h ec id a com o

Timnate-Heres (Jz 2.9), essa cidade foi a porção desig­nada a Josué, depois da divisão e distribuição de todos

os territórios tribais. A variação no nom e pode ser

conseqüência desse processo, visto que serah significa "sobra" e a etimologia popular pode ter transformado

o termo no nome do local. Apesar de ficar localizada

em Efraim, Timnate-Sera era uma localidade política que pertencia exclusivamente a Josué e sua família.

Foi identificada com Khirbet Tibnah, cerca de vinte

quilômetros a sudoeste de Siquém. Escavações no lo­

cal têm mostrado a existência de um povoado relati­vam ente grande que foi reconstruído na Idade do

Ferro I (ver Js 19.50).

20.1-9. cidades de refúgio. Consulte o comentário em Números 35.

21.1-45 As cidades dos levitas21.1, 2. sign ificado de cidades dos lev itas. V er co­

mentário em Números 35.1-5.21.3-40. distribuição das cidades em todo o território.

A legislação de Números 35.1-5 estabelecia que uma

parte das cidades e das pastagens deveria ser destina­

da ao sustento dos levitas; essa legislação é posta em prática aqui através do sorteio, um meio de descobrir

a vontade divina. A distribuição das cidades entre as tribos, porém, foi desigual e não se baseava no tama­

nho da população de cada tribo. Um a possibilidade é

que a distribuição tenha m ais a ver com o tamanho dos clãs dos levitas.

21.3-40. as cidades dos levitas. Enquanto algumas ci­

dades levíticas são conhecidas como centros de adora­ção (Hebrom, Siquém), outras, como Anatote, por es­

tarem relacionadas a grupos levitas posteriores (os des­

cendentes de Abiatar). M uitas dessas cidades ficavam em zonas de fronteiras ou divisas, portanto, podiam ser

"colônias" ou postos avançados. Por isso, nos versículos

11-15, encontram-se as localidades situadas ao longo da fronteira com a Filistia e nos versículos 28-35 são apre­

sentadas as cidades na fronteira norte e litorânea de Israel, controladas por poderosas cidades-estado cana-

néias, como M egido. Os versículos 36-39 descrevem a área leste do Jordão, submetida ao controle israelita após

o reinado de Salom ão. D entre as cidades aqui re la­cionadas que não foram mencionadas anteriormente e

que foram identificadas encontram -se Jatir (Khirbet 'A ttir, vinte quilôm etros a sudoeste de H ebrom ); Es-

temoa (es-Samu', treze quilômetros a sudoeste de He­brom), cuja escavação tem confirmado sedimentos da

Idade do Ferro; A im (Khirbet 'A san, quase dois qui­lôm etros a noroeste de Berseba); Jutá (Yatta, oito qui­

lôm etros a sudoeste de H ebrom ); G eba (Jeba, quase

dez quilôm etros a nordeste de Jeru salém ); A lm om

(Khirbet Alm it, quase dois quilôm etros a nordeste de A natote); Elteque (Tell el-M elat, a noroeste de Gezer)

é m encionada nos anais de Senaqueribe do ano 701;

Aijalom (Yalo, 19 quilômetros a noroeste de Jerusalém); Abdom (possivelmente Khirbet 'Abdeh, cerca de seis

quilôm etros a leste de A czibe); Q uedes (Tell Qedes,

quase dez quilômetros ao norte de Hazor, com níveis

de ocupação bastante evidentes da Idade do Bronze A ntiga e esporádicos da Idade do Ferro); Dim na (pos­

sivelmente Rummaneh, quase dez quilômetros a nor­deste de Nazaré).

21.16. Bete-Sem es. Essa cidade ficava localizada na fronteira da Filistia, no vale de Soreque, na região

nordeste da Sefelá. É identificada com Tell er-Rumeilah

e escavações têm mostrado ocupações quase contínuas

desde a Idade do Bronze M édia até o período romano. Exerce um papel de destaque na narrativa bíblica em

1 Sam uel 6.9-15, na história da captura da arca. Uma

destruição no século onze precedeu sua ocupação como

posto administrativo israelita durante o reino unido (não fortalecido por Reoboão e talvez desocupado du­

rante parte do século nono). A descoberta de escara­

velhos egípcios de Am enotepe III e Ram sés II, bem como de uma tábua ugarítica, confirmam as relações

comerciais dessa cidade localizada estrategicamente.

21.18. Anatote. Localizada em Ras el-Kharrubeh, cer­ca de cinco quilôm etros a nordeste de Jerusalém ,

Anatote era um a cidade levítica do território benja- mita. Foi o local do exílio de Abiatar e de seu clã (1 Rs

2.26) e o lar do profeta Jerem ias (Jr 1.1). Pesquisas no local demonstram que houve ocupação desde a Idade

do Ferro I até o período bizantino.21.21. Siquém . V er comentários em Gênesis 12.6, Josué24.1 e Juizes 9.1.

21.21. G ezer. A cidade de G ezer, que guardava a

estratégica estrada que ia da costa até Jerusalém , é identificada como Tell Jezer, oito quilômetros a sudes­

te de Ramleh. A primeira ocupação no local remonta ao período calcolítico (3400-3300 a.C.), m as atravessou

um longo período de abandono entre 2400-2000 a.C.. Na idade do Bronze Média, Gezer foi reconstruída e após 1800 tom ou-se a principal cidade fortificada. Um

"lu g ar alto" foi construído em algum período após

1650, com dez m onólitos ou pedras erigidas na dire­ção norte-sul. A destruição presente nessa camada de

ocupação pode estar associada à campanha de Tutmés

III (c. 1482). Outro período de apogeu aconteceu du­rante o período de A m am a, quando Gezer tom ou-se

um dos principais centros de controle egípcio em Canaã. Os filisteus controlaram o lugar durante a Idade do

Ferro I, nos séculos doze e onze. A primeira ocupação

israelita aconteceu durante o reinado de Salomão (1 Rs 9.15-17) e escavações têm identificado muros de

casamatas e portões com diversas câmaras, ao estilo típico de Salomão, também encontrados em M egido e Hazor.

21.24. G ate-Rim om . Essa cidade tem sido identificada a duas localidades próxim as, Tell A bu Zeitun e Tell

Jerishe. Am bas situam-se num a área a poucos quilô­metros do M editerrâneo, perto da m oderna Tel Aviv

e próxim o ao rio Y arkon. É possível que am bas es­tejam corretas, visto que muitas vezes uma localidade

era abandonada por um período e a cidade se deslo­cava para as proxim idades, m antendo o m esm o n o­

me. Essa cidade pode ser a Gate m encionada na lista de cidades de Tutm és III como knt e também pode ser

a m esm a m encionada nas tábuas de A m arna com o Giti-rim uni.

21.38. Ram ote em G ileade. Originalmente atribuída

a Gade, Ram ote em Gileade tam bém foi designada

como um a cidade de refúgio (Dt 4.43), sendo citada na

lista de Josué como um a cidade levítica. Sua localiza­ção exata é desconhecida visto que o texto não é espe­

cífico quanto a isso, e existe um a série de *tells ao longo da fronteira com a Síria que poderiam encaixar-

se a essa descrição. É bem provável que seja Tell

Ramith, quase cinco quilômetros ao sul de Ramtha, n a atual fronteira entre a Síria e a Jordân ia, onde

foram encontrados depósitos da Idade do Ferro.

21.43-45. declarações universais nos relatos de con­

quista no antigo O riente Próxim o. Relatórios resu­mindo a conquista total e o domínio completo de uma

área, de acordo com o plano divino e com o esforço valoroso do governante escolhido pela divindade, eram

bastante com uns nos anais reais do antigo Oriente

Próximo. Por exemplo, o registro do rei assírio Sena- queribe a respeito de sua terceira cam panha (que

incluiu o cerco de Jerusalém no ano 701 a.C.) contém

não apenas um a lista de cidades conquistadas (o tipo

de lista também encontrada na Esteia de Merenptah, na Pedra M oabita e em muitas outras inscrições), mas

também um a declaração conclusiva indicando a gran­deza de seus feitos. Sem elhantem ente, a Esteia de

Armant (1468 a.C.), do faraó Tutm és III, contém um

resumo "dos feitos valorosos e das vitórias que este

bom deus realizou em excelentes ocasiões". D eclara­ções desse tipo eram típicas do estilo literário da época

e faziam parte do código dos anais de conquista no

antigo Oriente Próximo (para mais informações sobre o tema, consulte o comentário em 10.40).

22.1-34Desentendimento com as tribos da Trans- jordânia22.8. natureza dos despojos. Uma conquista bem -su­cedida resultava em grande quantidade de variados despojos tomados das cidades e dos povos derrotados. A lista de itens apresentada aqui representa bem a eco­nom ia antiga e o que era considerado objeto de valor na época. A ordem de repartir o saque indicava a união das tribos em seu esforço comum e contribuía para a cooperação posterior entre elas (ver 1 Sm 30.16-25).22.9. Siló . Ver comentário em 18.1 a respeito do papel dessa cidade com o um lugar de ajuntam ento e de adoração para os israelitas.22.10. G elilote . Há uma alternância de nomes entre Gelilote e Gilgal em 18.17 e é possível que o mesmo aconteça aqui (o Codex Vaticanus substitui Gelilote por Gilgal). A preocupação aqui, porém, parece ser com a edificação desautorizada de um altar em Canaã pelas tribos que viviam a leste do Jordão. Quase todas as identificações prováveis para a localização de Gilgal situam-na um pouco a nordeste de Jericó, junto ao rio Jordão.22.9-34. am bigüidade do altar (dupla função). A cons­trução de um altar pelas tribos de G ade e Rúben despertou nas outras tribos que viviam a oeste do rio

Jordão um a inquietação no sentido de que aqueles grupos transjordânicos estivessem buscando estabele­cer um local de adoração rival em relação a Siló. O que chama a atenção nessa questão é que o sacerdote Finéias é a principal personagem e não Josué, o que enfatiza a preocupação ritual no caso. As tribos gilea- ditas, porém, rapidamente explicaram-se, dizendo que não haviam construído um altar para sacrifício, mas apenas um monumento como m emorial de sua alian­ça com Yahw eh e com as outras tribos (ver 4.19-24). A "im ponência" desse altar, portanto, é explicada como um sinal de unidade e não de rivalidade religiosa. Desse modo, Gilgal manteve seu papel como local de reunião para firm ar acordos (9.6-15), e Siló e m ais tarde Jerusalém, como centro de sacrifícios.22.11-20. violação da aliança como causa de guerra. Era padrão incluir nos documentos dos tratados uma cláusula estipulando que a violação de qualquer ter­mo ou acordo da aliança justificaria um a guerra. Por exemplo, no tratado firmado entre o faraó Ram sés II e o rei hitita, Hatusilis III (c. 1280 a.C.), os reis amaldi­çoam o violador da aliança e convocam vários deuses como testemunhas do acordo. As acusações feitas con­tra as tribos de Rúben e Gade sugerem que o vínculo com a aliança exigia não apenas lealdade m ilitar du­rante e após a conquista, mas tam bém o reconheci­mento de Siló como centro de adoração. A ênfase colo­

cada nesse local pode indicar que se tratava de um assunto sacerdotal e não tanto político. Aqui, a rivali­dade entre as tribos aparentem ente resultou de um desentendimento em relação às intenções para a cons­trução do altar ou talvez estivesse relacionado à passa­gem livre pelo rio Jordão (ver Jz 12.1-6).22.17. pecado de Peor. A referência ao pecado de Peor diz respeito à idolatria praticada pelos israelitas que adoraram a Baal (ver comentários em N m 25 .3 ,4 ,6, 8). Os líderes das outras tribos temiam que o altar desautorizado construído pelos rubenitas e gaditas resultasse potencialmente em falsa adoração e conse­qüentemente, no derramar da ira de Deus (a conse­qüência foi uma praga; ver N m 25).22.34. nom es para os altares. D ar nome a lugares e monumentos a fim de comemorar importantes even­tos é uma prática bastante comum na Bíblia. Por exem­plo, a teofania de Hagar, em Gênesis 16.7-14 resulta no nom e "Beer-Laai-R oi" (poço daquele que vive e me vê) dado a um poço que ficava nas proximidades. De m odo sem elhante, em Ju izes 6.24 G ideão dá o nome de "O Senhor é Paz" a um altar recém-construído.

23.1-16Josué convoca os líderes23.1. cronologia. O texto não deixa explícito se o "ú l­timo sermão" de Josué aos líderes do povo aconteceu imediatamente após os incidentes narrados no capítu­lo 22 ou se antecedeu ao ritual de renovação da alian­ça narrado em Josué 24 (observe tam bém a ausência de um a referência geográfica). O m ais im portante, talvez, seja a relação entre o final da conquista (o "descanso" prometido de Deus) e o término da lide­rança de Josué.23.2. categorias de líderes. Moisés havia indicado um grupo de oficiais para servirem como juizes em Êxodo18.21, 22, a fim de aliviar parte da carga de sua lide­rança. Durante a conquista, vários líderes das tribos e clãs são mencionados em diversas ocasiões: autorida­des (Js 7.6); líderes (8.33); oficiais (1.10; 3.2; 8.33) e juizes (8.33). Esses indivíduos ofereciam conselhos a Josué em assuntos administrativos e m ilitares, cum ­priam suas ordens para a organização e manutenção da ordem no acam pam ento, m as a presença deles aqui nesse texto também é cerimonial. Em outras pas­sagens, os líderes atuavam como representantes do povo em ocasiões importantes, como em rituais e ali­anças (ver Êx 24.1; N m 11.16). Além disso, desempe­nhavam um papel legal mencionado com freqüência (Dt 16.18; 19.16-18; 21.1-4, 20).23.13. m etáforas para opressão. A sedução provocada por outras culturas e seus deuses é metaforicamente comparada a armadilhas, a um chicote e a espinhos

que podiam cegar o viajante. Esse é um alerta muitas vezes repetido contra o sincretismo (Êx 23.33; 34.12;

N m 33.55; Dt 7.16). Em bora essa m etáfora tenha a aparência de um ditado local de sabedoria (ver SI 69.22; Pv 29.6), foi relacionada à aliança e às conseqü­ências da desobediência.

24.1-27Renovação da aliança24.1. Siquém . Localizada 56 quilômetros ao norte de Jerusalém, na região montanhosa de Efraim, Siquém (Tell Balatah) controlava a rota de comércio entre o monte Ebal e o monte Gerizim. Sua história arqueoló­gica contém 24 sedimentos de ocupação, abrangendo desde o período calcolítico até o helenista. Durante a Idade do Bronze M édia, os hicsos aparentemente ad­ministraram ou controlaram Siquém, construindo enor­

m es fortificações e um templo. A retom ada do do­mínio egípcio na região, durante o século dezesseis, destruiu por completo a cidade da Idade do Bronze M édia III. Foi reconstruída, porém, na Idade do Bron­ze M oderna, quando é m encionada nos textos de A m am a como a base do rei nativo Lab'ayu, que pro­fessava lealdade ao Egito, mas criou um mini-império no norte de Canaã (c. 1400 a.C.). Não existem níveis de destruição anteriores à Idade do Ferro, um indício de que a cidade talvez tenha sido dom inada pelos

israelitas sem m aiores conflitos (não consta da lista de cidades conquistadas - 12.7-23). A escolha desse local para a cerimônia de renovação da aliança pode estar relacionada à associação de Siquém com os ancestrais israelitas (o altar de Abrão em G n 12.6; a aquisição da terra por Jacó, em Gn 33.18-20 e o estupro de Diná, em Gn 34). Também é possível que a cerimônia tenha acontecido em um santuário cananeu (ou nas proximi­dades dele) situado na acrópole da cidade, já que os israelitas proclam avam a suprem acia de seu D eus sobre as divindades cananéias (para informações adi­cionais, consulte o comentário em Jz 9.1).24.1. categorias de líderes. Ver comentário em 23.2.24.2-27. tipos de acordo ou aliança. Essa cerimônia de renovação da aliança segue o mesmo padrão usado para tratados no m undo antigo e no Livro de Deutero- nômio. A respeito desse tema, leia a nota de rodapé sobre tratados e alianças no antigo Oriente Próximo, no início de Deuteronômio.24.2. raízes pagãs de Israel. O local de origem dos ancestrais israelitas era a Mesopotâmia, uma terra de tradições religiosas politeístas. O texto bíblico mostra que Abrão e sua fam ília adoravam a outros deuses, incluindo os deuses considerados patronos da cidade, bem como divindades ancestrais e deuses individuais cujos atributos eram curar enfermidades e promover

a fertilidade. Eles abandonaram essa prática por cau­sa da promessa contida na aliança firmada com Yahweh (ver nota sobre a religião de Abraão, em G n 12). Essa é uma importante evidência que demonstra que Abrão não era o herdeiro de um a longa e ininterrupta tradi­ção de monoteísmo.24.2. terra além do Eufrates (ou do rio). Essa designa­ção é um termo técnico aplicado à região oeste do rio Eufrates. Por exemplo, Harã, a cidade para onde Terá migrou, em Gênesis 11.31, ficava a oeste do Eufrates. Tecnicamente, também deste lado ficava a cidade de Ur, mas a província, como sugerem os anais da cam­panha de reis mesopotâmios e, mais tarde, documen­tos administrativos persas (ver Ed 7.21), estendia-se por faixas ao norte do Eufrates e a oeste, até a Síria e a Fenícia-Palestina.24.5-7. m ar Vermelho. Ver comentários em Êxodo 13,14 para informações adicionais.24.8. terra dos amorreus. Para mais informação, con­sulte os comentários em Números 21.21-35.24.9-11. Balaão e os moabitas. Para mais informação, consulte os comentários em Números 2 2 - 24.24.11. pânico (ou vespas). N ão se sabe ao certo o si­gnificado exato da palavra traduzida como "pânico". A Septuaginta (a m ais antiga tradução grega do Anti­go Testamento) usa os term os "vespa" ou "vespão" e m uitos com entaristas entendem que a term inologia funcione como um símbolo da intervenção divina, aju­dando a preparar o caminho para a conquista dos israe­litas. E com um o uso de insetos com o m etáfora para exércitos, por exemplo, abelhas e m oscas (Is 7 .18 ,19) e gafanhotos (J11 ,2 ). Alguns intérpretes, porém, acre­ditam que essa palavra seria um trocadilho com "E gi­to" (ver comentário em Êx 23.28) ou uma referência ao Egito, através de um inseto que era usado como sím ­bolo do baixo Egito. N esse caso, seria um indício de um a invasão anterior da Palestina pelos egípcios que teria ajudado a causa israelita. Alguns estudiosos tra­duziram o termo como "p ân ico" ou "terror divino".24.1-27. cerimônias de renovação da aliança. É possí­vel identificar quatro cerimônias de renovação da ali­ança no texto bíblico e cada uma representa não ape­nas a confirmação das condições estipuladas na alian­ça, m as também a inauguração de uma nova fase na história israelita (ver Êx 24.1-8; 2 Rs 23.1-3, 21, 22; Ne8.5-9). Em cada uma delas ocorre um ajuntamento do povo, a recitação dos atos poderosos de Deus ou a leitura da lei, a reafirm ação da lealdade do povo à aliança e a realização de um sacrifício ou de um a festa de celebração. As ações de Josué em Siquém colocam um ponto final no passado (o êxodo e a conquista) e apontam para um futuro onde o povo se fixaria e se estabeleceria na terra prometida.

24.26. pedra e Grande Árvore. Colunas de pedras e bosques ou árvores sagradas faziam parte dos locais de adoração dos israelitas (sobre pedras, ver Gn 28.18­22; Êx 24.4; 2 Sm 18.18, sobre árvores, G n 12.6; Dt11.30; Jz 6.11; 9.6; 1 Sm 10.3) e cananeus (ver o Épico ugarítico de Aqhat). Em bora ambos sejam condena­dos posteriorm ente (Êx 23.24; Lv 26.1; D t 12.2; 2 Rs16.4), seu uso aqui é bastante natural. Tam bém é possível que tenham servido como memoriais de even­tos importantes (como as doze pedras que marcavam a travessia do rio Jordão em Js 4.2-9). Esses elementos também distinguem a cerimônia de renovação da ali­ança do templo de Baal em Siquém.

24.28-33Morte e sepultamento de Josué24.30. monte Gaás. Embora sua localização exata seja desconhecida, é provável que o monte Gaás se locali­zasse n a região m ontanhosa de Efraim , ao sul de Timnate-Sera (Khirbet Tibneh). N esse caso, ficaria 32 quilômetros a sudoeste de Siquém.

24.32. locais de sepultam ento de ancestrais israelitas em Canaã. Os dois locais originais de sepultamento usados pelos ancestrais foram adquiridos de habitan­tes locais. O primeiro foi a caverna de M acpela, com­prada por Abraão de Efrom, o hitita, nas proximida­des de Hebrom. Serviu como local para a sepultura de Abraão, Sara, Isaque, Rebeca e Jacó. Som ente Raquel não foi sepultada ali por causa de sua m orte súbita durante o parto, perto de Belém (Gn 35.19). A coluna que Jacó erigiu sobre o túmulo de Raquel é típica de túmulos de povos nômades daquela região. O relato de Josué faz menção ao sepultamento de José no lote de terra próximo a Siquém vendido por Ham or a Jacó com o um a área de pastagem . Como im igrantes, os ancestrais não teriam tido possibilidade de enterrar seus mortos em jazigos de família. Primeiro eles tive­ram de adquirir a terra, para depois obter o título de posse perpétua; do contrário suas tum bas poderiam ser profanadas ou ficariam inacessíveis. O sepulta­mento de Josué e Eleazar, porém, contrasta com essa prática, visto que foram enterrados em terra reivin­dicada através de conquista e distribuída entre eles e seus descendentes.

24.33. G ib eá . O local de sepultam ento de Eleazar, filho de Arão, situava-se nas terras atribuídas à tribo de Efraim. Eusébio estabeleceu sua localização a oito quilômetros ao norte de Gofna. Porém, existem diver­sos locais denominados Gibeá e o texto pode estar se referindo sim plesm ente à "co lin a de F in éias", um lugar que ainda não foi identificado.

J U Í Z E SV1.1-2.5 Tentativas de possuir a terra1.1, 2. oráculos. Antes de engajar-se em campanhas m ilitares, os comandantes dos exércitos do antigo O ri­ente Próximo costumavam buscar o auxílio e a orien­tação divina através de oráculos e agouros (ver 20.18). Por exemplo, na inscrição real assíria há um a declara­ção de que as guerras aconteciam "p or ordem do deus Assur". Vários meios de adivinhação eram utilizados a fim de descobrir a natureza e a urgência dessa con­vocação divina, dentre eles: o exam e das entranhas de um animal sacrificado, sorteios ou observação de fenômenos naturais tais como o vôo dos pássaros ou formações de nuvens. O oráculo ou a resposta divina geralm ente determ inava se deveriam ou não lutar naquele dia e também quais as estratégias que deve­riam ser empregadas.1.3. território de Sim eão e Judá. A porção de terra atribuída a Simeão em Josué 19.1-9 ficava na parte sul da Palestina, "d entro do território de Ju d á", o que explica o fato dessas duas tribos vizinhas terem se juntado nesse episódio para lutar contra os cananeus. Com o passar do tempo, porémASimeão foi absorvido pela tribo de Judá, mais proeminente. Assim, a pro­posta de Judá a Simeão para ajudá-los a conquistar seu território, na verdade, transformou-se em um convite para que essa tribo caísse no esquecimento.1.4. B ezequ e. Este foi o local da batalha contra os cananeus e os ferezeus, em que Judá e Simeão derro­taram seu líder Adoni-Bezeque. Em bora o Livro de Juizes não ofereça nenhum a inform ação geográfica, esse lugar tam bém aparece na narrativa de Saul (1 Sm 11.8-11). O texto indica que se tratava de um a planície aberta adequada para o ajuntamento e a re­vista de tropas, localizada de 20 a 24 quilôm etros a sudoeste de Jabes-Gileade (El Maklub), a leste do rio Jordão. Pesquisas feitas na região montanhosa entre Siquém e o vale do Jordão mostram que seria a atual Khirbet Salhab (com a evidência de depósitos que remontam à Idade do Ferro).1.6. cortar os polegares das mãos e dos pés. Esse ato de m utilação, assim como a perfuração do olho direito em 1 Sam uel 11.2, tinha como objetivo hum ilhar os prisioneiros e assegurar que jam ais poderiam servir como soldados novamente. Sem equilíbrio para ficar de pé e incapazes de segurar uma espada, lança ou arco, tudo que esses hom ens podiam fazer era im ­

plorar por suas vidas. Relevos assírios da época de Salm aneser III (século nono) ilustram prisioneiros sen­do mutilados e desmembrados.1.7. apanhar m igalhas debaixo da mesa. Esses muti­lados e infelizes prisioneiros não tinham outro recurso senão esm olar debaixo da m esa de seu captor. Eram expostos como sinal do poder de seu conquistador e com iam as migalhas que caíam da mesa, como os cães (relatos ugaríticos sem elhantes incluem o deus E l tra­tando os deuses inimigos desse mesmo modo). A iro­nia dessa passagem é que Adoni-Bezeque foi reduzi­do à mesma condição dos setenta reis que ele havia anteriorm ente mutilado.1.7, 8. Je ru sa lém . A pesar de, segundo essa passa­gem, Jerusalém ter sido saqueada e incendiada, todas as outras referências a essa cidade e a seus habitantes jebuseus durante o período de povoamento indicam que nem Judá (Js 15.63) nem Benjamim (Jz 1.21) foram capazes de tom á-la. Em Juizes 19.10-12 ela ainda é considerada um a cidade estrangeira. A questão per­m anece sem resposta, devido à falta de evidências arqueológicas para esse período (posterior à invasão de El A m am a e à destruição provocada pelos povos do mar). Alguns estudiosos têm sugerido que uma área não fortificada da cidade foi atacada e queimada, mas não há como comprovar essa afirmação. A cidade finalmente foi conquistada por Davi e transformada na capital israelita (2 Sm 5.6-10).1.9. geografia. A descrição contida nesse versículo sugere um movimento em direção ao sul, incluindo as montanhas de Judá, em direção a Hebrom e a serra situada na parte norte do deserto do Neguebe, a oci­dente, em direção a Sefelá e à região costeira da Filístia. O itinerário evidencia a tentativa de capturar o máxi­mo possível da área designada a Judá (Js 15.1-12, 21­63) e a Calebe (Js 15.13-19).1.10. H ebrom. Situada em Jebel er-Rumeidah, 37 qui­lôm etros a nordeste de Berseba e 30 quilôm etros a sudeste de Jerusalém , Hebrom ficava na junção das estradas que vinham da Sefelá, da parte ocidental do Neguebe e de Jerusalém. O texto menciona um nome anterior, Quiriate-Arba (ver G n 23.2; Ne 11.25), pos­sivelmente um centro do clã dos enaquins (Js 14.15;15.13). Para informações adicionais sobre essa locali­dade, leia o comentário em Josué 10.3-5.1.11. D eb ir. Localizada a sudoeste de H ebrom , no extremo sul da região montanhosa de Judá, é prová­

vel que no início da Idade do Ferro Debir tenha sido um posto avançado durante a invasão dos povos do mar (se os enaquins de Js 11.21 não forem cananeus). Sua provável localização é Quiriate-Rabude. Consul­te os comentários em Josué 10.3, 38, 39 e 11.21.1.12. filh a como recom pensa. Em bora não se trate de um acontecimento freqüente, a idéia de alcançar mai­or status através do casamento, talvez fosse bastante atraente para alguns hom ens ambiciosos. Davi, por exemplo, pôde ingressar na fam ília real de Saul por causa da oferta que o rei fez de sua filha e de sua eventual vitória contra Golias (1 Sm 17.25). A proeza envolvida nessa passagem de Juizes era ao mesmo tempo difícil e perigosa. Assim, o excepcional ofereci­mento de um casamento lucrativo foi feito para sedu­zir um herói a dar o primeiro passo. Otoniel já era visto por Calebe com bons olhos, mas o prestígio a ser obtido seria ainda maior.1.14. pedido de um campo. Após ter obtido sua espo­sa com a conquista de Quiriate-Sefer, Otoniel agora é convencido por Acsa a pedir um pedaço de terra para poder sustentar sua família. Isso poderia ser conside­rado como um dote, já que não há menção anterior sobre isso na narrativa. Porém, as filhas geralmente não herdavam terras nem as obtinham como parte de seu dote (ver, entretanto, N m 36.1-13). Assim , um pedido desse tipo teria de ser feito por um parente do sexo masculino. Além disso, Otoniel era um valioso vassalo que anteriormente havia prestado excelentes serviços militares e candidato a receber uma doação de terra (casos semelhantes são encontrados nos textos de M ari). U m m arco de fronteira babilónico desse período ilustra um pai transferindo direitos de terra a uma filha.1.14. desceu do ju m ento. Essa atitude de Acsa tem sido interpretada de várias m aneiras. Alguns estu­diosos acreditam que ela tenha feito algum barulho (como bater palmas) a fim de atrair a atenção de seu pai ou como sinal de menosprezo pela doação de terra feita a seu marido. Outra sugestão é que ao descer de sua m ontaria, ela tenha se colocado na posição de suplicante, de uma filha pedindo mais uma vez um favor a seu pai. Certamente uma terra sem água seria inútil; o pedido de Acsa visava assegurar a sobrevi­vência de sua família.1.15. fontes superiores e inferiores. Talvez essas fon­tes superiores estejam se referindo à água extraída de escavações rasas no leito de vaus e as inferiores seri­am as águas obtidas pela perfuração profunda de po­ços em lugares onde o lençol freático ficava bastante distante da superfície. Também é possível que essas fontes estejam relacionadas a pontos geográficos na região do N eguebe, m as até hoje nenhum local foi identificado.

1.16. queneus. Os queneus eram um dos diversos clãs ou tribos que habitavam nos desertos da península do Sinai e na área sul e leste do Neguebe, até o golfo de Ácaba (Gn 15.19; 1 Sm 27.10; 30.29; 1 Cr 2.55). Tam ­bém é possível, de acordo com a localização do acam­pam ento de H éber, em Juizes 4.11, que o território dos queneus se estendesse até o norte do vale de Jezreel. O relacionamento dessa tribo com M oisés e Jetro (Hobabe) é m encionado já em Êxodo 3.1. Os queneus são caracterizados como sendo pastores (Jz5.24-27), líd eres de caravanas e artesãos de m etal itinerantes. Essa últim a habilidade fica im plícita na etimologia de seu nome, que significa "forjar". Ver comentário em Números 24.21, 22.1.16. Cidade das Palm eiras. De acordo com a descri­ção apresentada nessa passagem, associada a outros textos (Jz 3.13), provavelmente essa cidade seria Jericó, a antiga cidade em um oásis, treze quilôm etros a noroeste do m ar Morto (Tell es-Sultan). A existência da cidade e a fertilidade de suas terras (exibindo muitas palm eiras e tam bém áreas cultiváveis) baseavam-se no fluxo contínuo de águas das fontes de yA in es- Sultan e yA in Duq. A mais antiga ocupação do local teve início no período mesolítico (c. 9000-8700 a.C.) e com o passar do tempo, a população e a importância da cidade cresceram a tal ponto que um sistema com­pleto de muros feitos de tijolos de barro foi construído, durante a Idade do Bronze Antiga III (c. 2700 a.C.). O povoamento da região apresenta certos intervalos de­vido a invasões e conquistas (como no final da Idade do Bronze Antiga III, c. 2500 a.C. e novam ente duran­te o início da Idade do Bronze M oderna, c. 1350 a.C.). Na época dos juizes, o local foi ocupado apenas em parte e talvez tenha servido como um posto avançado ou um ponto de parada de caravanas. A cidade só foi reconstruída no século nono a.C. (ver 1 Rs 16.34).1.16. A rade. Localizada em Tell 'A rad , no vale de Berseba, 32 quilômetros ao sul de Hebrom, esse local foi ocupado pela primeira vez no período calcolítico e a cidade baixa (situada num a depressão natural que funcionava como uma espécie de manancial e tabém cisterna) expandiu-se durante a Idade do Bronze An­tiga devido aos intensos contatos econômicos com o Egito. Durante a Idade do Ferro, existiu ali uma ocu­pação não fortificada, que somada aos vestígios de uma área de adoração ou pátio, além de casas, pode indicar uma ocupação pelos queneus, mencionada em Juizes e 1 Samuel 27.10. A parte alta do *tell de Arade contém sete camadas da Idade do Ferro, com ruínas de um a fo rta lez a e do com p lexo de um tem p lo construído no século dez a.C..1.17. Z efate (Horm á). Essa foi um a das aldeias do Neguebe capturada pelas tribos de Judá e Simeão no relato da conquista em Juizes. Os israelitas lhe deram

o nome de Hormá, que quer dizer "destruição" (ver também N m 21.3, que situa a aldeia nas proximida­des de Arade). O local tem sido identificado com Tel M asos e T el Ira , am bas na reg ião en tre A rad e e Berseba.1.18. Gaza. Situada n a parte sudoeste da planície cos­teira de Canaã e num a importante estrada internacio­nal ("C am inho dos Filisteus" ou Via M aris), Gaza (Tell Harube) funcionou como a capital do Egito na província de Canaã de 1550 a 1150 a.C.. A cidade é mencionada nos anais do faraó Tutm és III e nos textos de El Am arna. Após a invasão dos povos do m ar, tomou-se a mais importante das cinco cidades filistéias e figura em diversos conflitos entre os filisteus e os israelitas (6.3, 4; 16.1-4). O texto que relata sua con­quista por Judá é incerto. A Septuaginta afirma que os israelitas não chegaram a tom ar G aza, A scalom e Ecrom, e esse fato parece ser confirmado em 1.19, que afirma que os homens de Judá não conseguiram con­quistar as cidades da planície.1.18. A scalom . U m a das principais cidades da Pen- tápolis filistéia, Ascalom ficava situada cerca de 16 quilôm etros ao norte de G aza e serviu com o porto marítimo durante muito tempo. Sua localização estra­tégica chamou a atenção dos egípcios que almejavam controlar Canaã e as estradas do norte, a partir da Idade do Bronze M édia (c. 2000-1800 a.C.), quando a cidade é m encionada nos textos de Execração. Duran­te o p eríod o El A m arn a (sécu lo ca to rze a .C .), o governante de Ascalom foi vassalo de Aquenaton e escreveu diversas cartas a esse faraó. M erenptá tam ­bém mencionou esta cidade entre suas conquistas na inscrição da esteia que narra suas vitórias (c. 1208a.C.) e ilustrou sua conquista nas paredes do grande tem plo de Karnak. Em bora tenha sido atribuída a Judá, Ascalom e as outras cidades filistéias da planície não foram conquistadas pelos israelitas.1.18. Ecrom. Esta cidade figura n a relação das cidades designadas tanto à tribo de Judá (Js 15.11) como à tribo de Da (Js 19.43). Ecrom ficava na divisa entre a Sefelá e a região m ontanhosa central. É identificada com Tel M iqne, 32 quilôm etros a sudoeste de Jerusalém , na fronteira que separava a Filístia de Judá. Em bora exis­tam in d íc io s de p o v o am en to qu e re m o n tam ao Calcolítico, as escavações têm mostrado que a princi­pal ocupação da cidade aconteceu na Idade do Bronze M oderna, quando fez contato com Egito e Chipre, confirmado por vestígios de cerâmicas e escaravelhos (19a Dinastia). A mudança brusca na cultura material foi resultado da invasão dos povos do mar, no século doze a.C., que prom oveu a expansão da cidade e o surgimento de um novo grupo populacional. Duran­te o primeiro milênio, sob dom ínio assírio e babiló­nico, Ecrom se transformou num a importante cidade

industrial, produzindo enormes quantidades de azei­te de oliva em suas refinarias. Sua menção na lista de Juizes indica que se tratava de um a importante cida­de filistéia que não havia sido capturada pela tribo de Judá (Jz 3.1-4).1.19. carros de ferro. O uso de carros de ferro é atribu­ído aos inimigos de Israel em Canaã, especialmente aos habitantes das cidades das planícies, durante todo o período da conquista (ver comentários em Js 17.16 e Jz 4.3). O uso desse tipo de carro demonstra que a tecnologia dominada pelo inimigo era mais elabora­da que a dos israelitas, assim com o sua riqueza era também m aior (ver 1 Sm 13.19-21), o que representa­va um a grande ameaça ao avanço e sucesso da con­quista. A quantidade de ferro usada na fabricação desses carros de guerra na verdade pode ter sido bastante pequena, mas o ferro empregado na decora­ção, no reforço ou nos aros das rodas já teria sido suficiente para provocar terror no inimigo. Nessa pas­sagem, a menção a carros de ferro sugere um a avali­ação realista da situ ação m ilitar, que m anteve os israelitas confinados à região m ontanhosa, onde os carros não seriam tão eficazes. Certamente, as forças tribais israelitas tinham a convicção de que com a ajuda de Deus, o Divino Guerreiro, seriam capazes de superar esse obstáculo (Js 17.18; Jz 4.7). Porém , o registro arqueológico e o reconhecimento aqui de que algumas áreas nunca foram conquistadas indicam uma racionalização da derrota baseada na realidade da situação. Somente quando Israel conseguiu dominar a tecnologia do ferro e atingir o m esm o nível m ilitar dos filisteus foi que essa terrível arma perdeu o poder de assustá-los.1.20. filh os de Enaque. Faziam parte dos habitantes de Canaã na época da conquista. Seu território con­centrava-se em Hebrom (Js 21.11) e eram homens de elevada estatura (Dt 2.10; 9.2), m uito temidos pelos israelitas (Nm 13.28, 33). O fato de terem sido expul­sos de Hebrom por Calebe deve ter representado pelo menos um sucesso dos israelitas em expulsar um povo nativo da região de Judá. Posteriormente, um sobre­vivente enaquim pode ter se refugiado nas cidades filistéias de Gaza, Gate e Asdode. Leia o comentário de Josué 11.21.1.21. jebuseu s. Inicialmente mencionados como des­cendentes de Canaã (Gn 10.16) os jebuseus provavel­mente eram povos não-semitas, relacionados aos hititas ou aos hurritas, que se m udaram p ara essa região durante o início do segundo milênio. Eles habitavam na região m ontanhosa ao longo da fronteira sul de Benjam im (Js 15.8) e na cidade de Jebus (Js 15.63; 2 Sm 5.6). Jerusalém, e não Jebus, é mencionada nos textos de Amarna, e Jebus também não aparece nos textos de Execração. A declaração de que os benjamitas não

conseguiram conquistar a cidade é reforçada pela re­cusa dos levitas em parar num a "cidade estrangeira" habitada por não-israelitas, episódio narrado em Juizes 19.10-12. Após a conquista de Jerusalém por Davi, os jebuseus aparentemente foram assimilados ou com o passar do tempo perderam sua identidade étnica por se tornarem um povo escravizado (2 Sm 5.6-9).1.22, 23. B etei. A localização estratégica de Betei (a atual Beitin), situada na junção das estradas que cor­tam a região montanhosa central ao norte de Jerusa­lém , fazia dela um alvo natural para os israelitas e para outros conquistadores de épocas posteriores (a menção a José [isto é, a Efraim] pode indicar alianças tribais posteriores à atribuição de Betei à tribo de Benjamim; ver Js 18.22). Seu papel como local de ado­ração é m antido por bastante tempo na narrativa bí­blica (ver comentário em G n 28.19) e escavações reve­laram ter existido ali um local de adoração na época da Idade do Bronze M édia. Com o passar do tempo, Betei tom ou-se um dos dois principais centros de ado­ração na época da divisão de Israel nos reinos do norte e do sul (1 Rs 12.29-33). A conquista desse local, que não é narrada em Josué, pode ter sido feita através de um portão secundário (uma passagem menor usada quando os portões da cidade eram fechados durante a noite) com o aquele encontrado nas escavações de Ram at Rahel (bem ao sul de Jerusalém). As escava­ções identificaram um sedimento que indica a com­pleta destruição de Betei no final do século treze a.C..1.26. Luz, na terra dos h ititas. Os hititas têm sido localizados geralm ente na Síria ou no Líbano, duas regiões que fizeram parte do império hitita antes da invasão dos povos do m ar em 1200 a.C.. Também é possível que a nova cidade de Luz simplesmente te­nha sido fundada mais ao norte na região da Palestina e a oeste de Betei (ver N m 13.29; Js 16.2).1.27. Bete-Seã. Identificada como Tell el-Husn, Bete- Seã situava-se na extremidade leste do vale de Jezreel, no norte de Canaã. Como Megido, que ficava na ex­trem idade oeste, B ete-Seã fu n cion ava com o um a guardiã da importante Via Maris. O povoamento teve início no período Calcolítico sendo praticamente contí­nuo até o presente. Uma segunda cidade fica na base do *tell, construída durante o período helenístico como um a das cidades da D ecápolis, alcançando grande crescimento durante os períodos romano e bizantino (Citópolis). Escavações parecem mostrar que, ao con­trário de muitas localidades da Idade do Bronze M o­derna, Bete-Seã não foi destruída pelos povos do mar e Ramsés III continuou a m anter o controle desse im­portante centro comercial durante a primeira metade do século doze a.C.. O texto bíblico observa que Saul não conquistou essa cidade (1 Sm 31.10-12) e somente

nos dias de Salomão ela foi acrescentada ao território israelita (1 Rs 4.12).1.27. T aanaqu e. Leia o com entário em Josué 12.21 para mais informações sobre essa cidade do norte de

Canaã.1.27. Dor. Consulte o comentário de Josué 12.23 para detalhes sobre essa cidade costeira do norte de Canaã.1.27. Ibleã. Essa fortaleza (Khirbet Beram eh) localiza­va-se na extremidade leste do vale de Jezreel e serviu como um a das cidades que controlavam essa impor­tante ligação de transporte. É alistada como uma das cidades que a tribo de Manassés não conseguiu con­quistar (Js 17.11 ,12), mas teve um papel significativo como posto avançado israelita durante o reino dividi­do (2 Rs 9.27). Sua importância estratégica é confirma­da por constar da lista de cidades conquistadas por Tutm és III (c. 1504-1450 a.C.).1.27. M egido. V er com entário em Josué 12.21 para mais detalhes sobre essa importante cidade localizada na entrada ocidental do vale de Jezreel.1.29. Gezer. Ver comentário em Josué 12.21 para mais informações sobre essa importante cidade que ligava a planície costeira e a Filístia com a região montanho­sa central e Jerusalém.1.30. Q uitrom . A tribuída a Zebulom , a localização m ais provável dessa cidade é na parte noroeste do vale de Jezreel. Alguns sugerem que estaria localiza­da na Planície de Aco (Tell Qurdaneh e Tell el-Far), pois esse local seria favorável às táticas m ilitares cananéias, mas informações atuais indicam que essa possibilidade seria menos provável.1.30. Naalol. Em bora não se saiba ao certo a localiza­ção exata, alguns têm afirmado que essa cidade esta­ria no território da tribo de Zebulom e seria Tell en- Nahl, oito quilômetros a leste do m ar Mediterrâneo, perto de Haifa. As semelhanças etimológicas no nome e a descoberta de vestígios de artefatos abrangendo desde a Idade do Bronze Antiga até os períodos ára­bes favorecem essa identificação, mas sua localização no território de Aser é dificultada por questões geo­gráficas insolúveis.1.31. 32. território de Aser. Ver comentário em Josué19.24-31 para m ais detalhes sobre a porção de terra atribuída à tribo de Aser.1.33. Bete-Sem es. Ver comentário em Josué 21.16 para inform ações sobre essa cidade localizada na região nordeste da Sefelá, na fronteira com a Filístia.1.33. Bete-A nate. A localização exata dessa cidade ainda é desconhecida, m as a mais provável até agora é Safed el-Battikh, na região da alta Galiléia. A cidade aparentemente foi mencionada nos registros egípcios da época de Tutm és III, Seti I e Ramsés II e talvez se

situasse na rota entre Hazor e Tiro.

1.34-36. am orreus. Ver comentário em Números 21.21 para informações sobre esse grupo étnico que habita­va a região de Canaã antes da formação de Israel. A influência cultural e lingüística que exerceram na

Mesopotâmia e na região Sírio-Palestina talvez tenha sido m aior do que de qualquer outro povo. Foram responsáveis pela criação da alta civilização da Babi­lônia da época de Hamurabi e m antiveram sua iden­tidade cultural, ao menos em algumas regiões, até o início da Idade do Ferro.1.35. m onte Heres. A "m ontanha do sol" geralmente tem sido identificada com Bete-Semes (ver Js 21.16) ou Ir Semes (Js 19.41). Não se trata, porém, de algo confir­mado e o lugar em si pode ser um a das m uitas aldeias localizadas bem a sudeste de Yalo (oito quilômetros a leste de Gezer). Por fazer parte da porção atribuída a Dã, provavelmente estaria situada no sudeste do vale de Aijalom.1.35. A ija lom . Esse lugar atribuído a Dã (Js 19.42) pode ser identificado com Yalo, situado oito quilôme­tros a leste de Gezer, na extrem idade ocidental do vale de Aijalom. Sua importância estratégica, devido ao fato de estar localizado na estrada principal para a região montanhosa, é confirmada por sua m enção nos textos de El A m am a e por figurar nas campanhas de Saul (1 Sm 14.31).

1.35. Saalbim . Essa cidade no território de D ã (Js 19.42) tem sido identificada com Selbit, quase cinco quilô­metros a noroeste de Aijalom. Mais tarde foi incorpo­rada ao segundo distrito administrativo de Salomão (1 Rs 4.9) e é provável que tenha servido, assim como Aijalom, como fortaleza, guardando a passagem de entrada ao vale de Aijalom.

1.36. subida de A crabim (ou dos Escorpiões). Trata- se de um a passagem a sudoeste do m ar M orto, a Neqb es-Safa, que talvez tenha sido usada primeira­mente pelos egípcios, quando se dirigiam à região de mineração de cobre, perto de Arabá e de Eilat (ver N m 34.4; Js 15.3).1.36. Selá. Embora não se saiba ao certo sua localização,o fato de estar relacionada à subida de Acrabim suge­re um local a sudoeste do m ar Morto. Devido ao signi­ficado de seu nome, "pedra", alguns comentaristas afir­mam tratar-se de Petra, a cidade nabaetana construída na rocha, ou da m oderna Selá, três quilôm etros a no­roeste de Buseira. As escavações arqueológicas, no en­tanto, não têm revelado sedimentos anteriores ao século nono a.C. para nenhum desses lugares.2.1-5. Boquim . Esse lugar recebeu o nome de Boquim por causa do pranto dos israelitas, após terem sido repreendidos pelo anjo de Deus por terem falhado ao desobedecer à aliança e não terem destruído total­m ente os cananeus. Sua localização é desconhecida,

em bora o texto sugira que se localizasse a oeste do rio Jordão, próximo a Gilgal.

2.6-3.6 O período dos juizes2.9. T im nate-H eres. V er comentário em Josué 19.50 (Timnate-Sera) acerca desse lugar, que é associado à porção de terra designada a Josué, dentro dos limites do território de Efraim. É identificada com Khirbet Tibnah, 24 quilôm etros a sudoeste de Siquém , que apresenta am plas evidências da existência de um a aldeia durante a Idade do Ferro I e II.2.9. m onte G aás. A ssociado a Tim nate-H eres e ao território de Josué, esse m onte não foi identificado. Sua provável localização seria numa área situada en­tre 24 e 32 quilôm etros a sudoeste de Siquém , no território de Efraim . O terreno acidentado daquela região dificulta a identificação exata (ver 2 Sm 23.30).2.11-13. baalins. O uso da forma plural aqui não indi­ca a ex istên cia de um grand e núm ero de deuses cananeus. Ao contrário, refere-se a várias manifesta­ções locais do m esm o deus Baal, o deus da tempestade e da fertilidade. Os deuses geralmente eram vincula­dos a locais específicos de uma determ inada região (lugares altos, montes, santuários, cidades). O mesmo parece acontecer com Yahw eh (Betei, Jerusalém e Siló estavam todas associadas ao nome ou à presença de D eus). Baal, que significa "se n h o r", aparece como nome de divindade já no século dezoito a.C. em no­mes am orreus de Mari. Alguns estudiosos apresen­tam exemplos que remontam ao final do terceiro mi­lênio. Por volta do século catorze, esse nome foi usado pelos egípcios para referir-se ao deus da tempestade, e também é confirmado em textos de Alalakh, Am am a e Ugarite como o nome próprio para Adad, o deus da tem pestade. Baal era um a divindade relacionada à fertilidade, tendo um ciclo de vida característico, pois era um deus que morria (no inverno) e ressuscitava (na primavera). Na m itologia de Ugarite, ele figura no combate com Yamm (o deus do mar) e M ot (o deus da morte). Suas consortes eram Anat e Astarte.2.13. A starote. Em bora aqui esteja no singular, na m aioria das vezes em que esse nom e aparece nas passagens bíblicas é usado o plural, que à semelhan­ça de "baalins", não representa a existência de muitos deuses, mas sim diversas m anifestações locais da mes­m a divindade. A starote era a consorte de Baal no panteão cananeu e era a deusa da fertilidade e da guerra. A forma singular aparece tam bém em 1 Rs11.5 e 2 Rs 23.13 referindo-se à principal deusa da cidade fenícia de Sidom. Na verdade, diversas divin­dades são mencionadas como consortes de Baal (Anate, A starote, Aserá) em textos ugaríticos e fenícios. A popularidade de Astarote entre os cananeus pode in­

dicar um a fusão dessas outras deusas na figura de um a só, ou sim plesm ente um a preferência local. O culto a Astarote também aparece no Egito durante o Novo Reinado (talvez devido ao contato mais intenso com Canaã) e na Mesopotâmia.2.11-19. ciclos de relacionam ento. A idéia de um rela­cionamento cíclico com a divindade era um tema co­m um no antigo O riente Próxim o. A seqüência de certos tipos de comportamento em que o povo aban­donava a divindade, provocando sua ira e conseqüen­temente a destruição da terra, seguida pela retomada do favor divino, restaurando o relacionamento, é ofe­recida em geral para explicar o apogeu eo declínio das nações. Isso pode ser observado, por exemplo, no relato da destru ição da Babilôn ia prom ovid a por Senaqueribe, no século sétimo, registrado por seu fi­lho, o rei assírio Esarhaddon. As diferenças em rela­ção ao texto bíblico incluem: (1) as ofensas no texto de Esarhaddon são ofensas rituais e (2) ninguém é pro­m o v id o a l ib e rta d o r, em b o ra fiq u e c la ro que Esarhaddon considerava-se como tal.2.16-19. ju izes . Em português o term o ju iz é usado para referir-se a um oficial que m antém a justiça den­tro do sistema judiciário estabelecido no país. O termo hebraico usado no contexto deste livro refere-se a um indivíduo que m antinha a justiça nas tribos de Israel. Essa justiça era representada por providenciar prote­ção contra os opressores estrangeiros. A manutenção da justiça internacional geralmente era um a atribui­ção do rei. A diferença entre os reis e os juizes era que estes não passavam por nenhuma formalidade para assumir o cargo, nem podiam transmiti-lo a seus her­deiros. N ão havia um sistem a adm inistrativo para dar apoio ao juiz; ele não possuía exército nem tinha o direito de cobrar impostos para bancar as despesas de seu ofício. Assim, em bora a função do juiz pudesse ser de fato m uito parecida com a do rei, ele não desfruta­va das mesmas prerrogativas reais. Como o rei tam­bém julgava os casos civis, os juizes talvez tivessem parte dessa responsabilidade (ver 4.5), mas esta seria uma função secundária. Os juizes não eram os chefes do governo, em geral, mas tinham autoridade para convocar os exércitos das tribos. Antes da monarquia, ninguém estava apto a exercer tal autoridade sobre outra tribo. Deus era a autoridade principal, portanto, quando um juiz se m ostrava capaz de reunir os exér­citos de diversas tribos, era porque o Senhor estava agindo através dele (ver 6.34, 35). Som ente com o estabelecimento da monarquia é que foi atribuída a um único homem um a autoridade permanente sobre todas as tribos.3.3. cinco governantes dos filisteus. Após a invasão dos povos do m ar (c. 1200 a.C.), um grupo conhecido como filisteus ocupou a planície costeira e a Sefelá, na

região de Canaã. Com o passar do tempo, cinco im­portantes cidades-estado emergiram: Gaza, Ascalom. Asdode, Gate e Ecrom (Js 13.2,3). Depósitos com mar­cas de destruição encontrados em escavações arqueo­lógicas em Asdode e A scalom indicam a expulsão das guarnições egípcias por volta de 1150 a.C. e a reo­cupação da área pelos filisteus. Embora essas cidades- estado e suas aldeias fossem independentes politica­mente, elas funcionavam em coligação nos negócios com Israel e outros estados (ver 1 Sm 6.16; 29.1-5). Em seu apogeu, a coligação filistéia expandiu-se para o norte até Tell Qasile (às m argens do rio Yarkon) e para o leste passando pelo vale de Jezreel até Bete- Seã. Somente o surgimento de um a forte monarquia sob Davi e Salomão foi capaz de deter a hegemonia filistéia em relação ao restante da Palestina.3.3. cananeus. Ver com entário em Gênesis 15.19-21 para inform ações sobre esses habitantes de Canaã, antes da conquista. No contexto de Juizes, "cananeus" é um term o genérico usado para designar um dos quatro povos vizinhos dos israelitas invasores (os ou­tros três eram os filisteus, os heveus e os fenícios [sidônios]). Esta lista é bastante reduzida em relação àquela encontrada em Gênesis 10.15-18 e 15.19-21 e provavelmente reflete os principais grupos políticos com os quais os israelitas tiveram de lidar.3.3. sidônios. Os sidônios aparecem em Gênesis 10.15 como descendentes de Canaã. No período dos juizes, p orém , eles rep resentam o povo do L íbano e da Fenícia, na fronteira norte do território das tribos de Israel. A cidade-estado de Sidom era um importante porto na costa M editerrânea, 40 quilômetros ao norte de outro importante porto fenício, Tiro. Há menção deles no épico ugarítico de Keret (c. 1400 a.C.) e tam­bém nos textos de A m am a e nas listas de campanha do faraó Tutm és III. Suas relações posteriores com Isra­el são diplomáticas (Jr 27.3) e comerciais (Is 23.2).3.3. heveus. V er com entário em G ênesis 34.2 para informações detalhadas acerca desse povo de Canaã e sua possível relação com os invasores hurritas e hititas.3.3. m ontes do L íbano. Essas m ontanhas estendem- se por mais de 160 quilômetros de norte a sul e atin­gem m ais de 3 m il m etros de altitude. A s encostas ocidentais dessas montanhas recebem até 150 cm de chuva e neve por ano, tom ando o solo bastante fértil e propício para atividades agrícolas. As enormes flo­restas de cedro que também existiam na Antigüidade eram o resultado direto desse tipo de clim a mediterrâ­neo. Em bora o índice anual de chuvas não seja tão elevado no lado oriental das montanhas, há uma série de rios e fontes que tom am m uito férteis essas encos­tas m enos acidentadas na região do vale Beqa'.3.5. povos de Canaã. A lista das nações em Canaã com quem os israelitas tiveram de combater pode ser

encontrada em diversas outras passagens, com algu­mas variações (ver Gn 15.19-21; D t 7.1 alista sete na­ções, inclusive a dos girgaseus, que não aparece em Juizes). Para informações sobre cada grupo, consulte os comentários em Juizes 3.3 (cananeus); Gênesis 23.3­20 (hititas); Juizes 1.34-36 e Números 21.21 (amorreus); Gênesis 15.20 (ferezeus); Gênesis 34.2 (heveus) e Juizes1.21 (jebuseus).

3.7-11Otoniel3.7. baalins e Aserá. Essas divindades cananéias da fertilidade geralm ente aparecem juntas. Elas repre­sentam a abundância de chuvas e o crescimento das plamtações nos campos. Veja os comentários em Juizes2.11-13 para inform ações sobre o perigo que repre­sentavam para a fidelidade dos israelitas à aliança.3.8. M esop otâm ia (Arã N aaraim ). A região iden­tificada como Mesopotâmia ou Arã Naaraim ficava na parte norte do rio Eufrates, no leste da Síria e no triângulo formado na região de Habur, onde Naor e H arã viv iam (ver G n 24.10). Foi nessa área que o império hurrita de Mitani se estabeleceu, entre 1500 el350. Os hititas haviam começado a investir contra os mitani já em 1365, e na metade do século catorze ocorreu a desintegração do reino hurrita, gerando re­fugiados e expulsando as tribos da região. O nome Cuchã-Risataim, embora tenha sido reconhecidamen­te "hebraizado", apresenta semelhanças com nomes hurritas comuns do período (Çusari-Risti). É possível, então, que essa prim eira am eaça tenha partido de um a tribo deslocada tentando encontrar um a terra onde pudesse se fixar e não de um conquistador es­trangeiro tentando ampliar seu império.

3.12-30 Eúde3.12, 13. m oabitas, am onitas, am alequitas. M oabe e Am om eram reinos da Transjordânia cujos povos ti­nham vínculos genealógicos com os israelitas (ver o comentário em Gn 19.30-38). Sua menção aqui como nações rivais provavelmente reflete o crescimento de tensões nas fronteiras, como resultado da expansão das tribos israelitas. Os amalequitas sempre são retra­tados como inim igos declarados de Israel (ver Nm 24.20; Dt 25.17-19). Em bora relacionados à península do Sinai e a Midiã em algumas narrativas, eles pare­cem também ter se espalhado pelo sudeste de Canaã e pela região montanhosa da Samaria, o que os tom a­va um aliado útil para qualquer inim igo invasor, como a potência moabita de Eglom.3.13. Cidade das Palm eiras. A referência aqui, como em Juizes 1.16, é ao oásis onde se localizava a cidade de Jericó, ao norte do m ar M orto. O local era um

refúgio natural para qualquer força m ilitar que esti­vesse tentando controlar o deserto da Judéia e as estra­das que iam para a região montanhosa central.3.15. canhoto. A m enção aqui e em Juizes 20.16 a ben- jam itas canhotos sugere que essa tribo teria o costume de usar a técnica ambidestra no manejo de armas. O fato de ser canhoto já representava um a vantagem fora do comum, que podia ser usada como fator estratégico; foi essa característica que perm itiu a Eúde chegar à pre­sença de Eglom com um a arm a escondida.3.15. tributos. Quando uma nação ou outra organiza­ção política conquistava um determinado povo ou es­tendia sobre ele sua hegemonia, a nação subjugada tinha de pagar tributos (ver 2 Sm 8.2; 1 Rs 4.21; 2 Rs17.3, 4) ao conquistador. O pagamento era feito com metais preciosos (em barras, jóias ou objetos), produ­tos agrícolas (grande parte da colheita) ou através de trabalho. Certamente essas exigências eram bastante impopulares e acabavam gerando revoltas ou confli­tos armados. Existe farta documentação fora da Bíblia comprovando essa prática. Por exemplo, os anais dos reis assírios freqüentemente incluíam listas de objetos recebidos como tributos: o "O belisco N egro", inscri­ção de Salm aneser III, (859-824 a.C.) contém o tributo pago por Jeú à Assíria na forma de prata, ouro, chum ­bo e m adeira; Tiglate-Pileser III (744-727 a.C.) rece­beu couro de elefante, marfim, vestes de linho e ou­tros itens luxuosos de seus vassalos de D am asco, Samaria, Tiro e outras cidades.3.16. a espada de Eúde. A adaga confeccionada por Eúde provavelmente era feita de bronze. Devido ao seu tam anho (apenas 45 cm de comprimento) seria difícil de ser detectada pelos guardas de Eglom, o rei de Moabe. O fato de ser pequena tam bém permitia que tivesse dois gumes, ao contrário das espadas mais comuns daquela época, que tinham o formato de foice e eram usadas para cortar e não perfurar o inimigo. Visto que a lâmina foi feita de modo a ser introduzida na vítim a, a espada não poderia ter nenhum a peça transversal, apenas um cabo ou uma superfície reves­tida onde o combatente pudesse segurar. Por isso, ela pôde ser totalmente cravada no corpo de Eglom, ma­tando-o rapidam ente sem derram ar m uito sangue, visto que o ferim ento ficava tam pado pela própria arma. A ssim como muitos outros elementos nesta nar­rativa, essa arm a não era um objeto comum, mas uma arma utilizada por um homem canhoto e confecciona­da para um fim específico: matar.3.16. am arrada na coxa direita. Visto que Eúde era canhoto, seria natural para ele amarrar sua adaga na coxa direita. Armas com lâminas tinham de ser leva­das presas transversalmente ao corpo, para que numa ação, o acesso a elas fosse imediato. No entanto, como a maioria das pessoas é destra, os guardas de Eglom

não tiveram o cuidado de revistar o que para eles seria considerado um lugar estranho para se colocar um a arma.3.19. ídolos que estão perto de G ilgal. Essas imagens (colunas ou ídolos esculpidos em pedra) talvez fossem marcos de divisa entre o território israelita (Efraim/ Benjam im ) e o dom inado por Eglom , em Jericó. É possível que existisse um santuário cananeu em Gilgal e o tributo pago por Eúde fosse levado até lá a fim de que os deuses testem unhassem essa demonstração de submissão. A ação subseqüente (mencionada nova­mente em Jz 3.26), porém, sugere que esse local foi apenas o lugar em que Eúde retornou para o palácio de Eglom.3.19. m ensagem secreta. A reação de Eglom diante da mensagem secreta a ser proferida por Eúde (afastan­do seus auxiliares do local) sugere que se tratava de um a informação importante e valiosa. Provavelmen­te ele não estivesse esperando receber o relatório de um espia, mas sim o oráculo de um deus; do contrá­rio, ele teria preferido que seus auxiliares estivessem presentes para ouvir as notícias. Eúde tratou Eglom com deferência ao usar o título "ó rei" e depois confir­mou sua intenção ao declarar que tinha um a mensa­gem de Deus para ele (v. 20). Assim como o povo de Eúde havia se submetido a ele, Eglom agora espera­va uma palavra divina favorável para conquistas fu­turas (em um a profecia dos textos de M ari o rei recebeo aviso secreto de uma revolta). Desse modo, a ambi­ção de Eglom provocou sua própria ruína.3.20. o rei se levantou do trono. Essa afirmação foi incluída na tradução com base na narrativa da Septua­ginta, fornecendo um detalhe extra na ação. Certa­mente, ao colocar-se de pé, Eglom transformou-se num alvo mais fácil para o golpe fatal de Eúde, que tras- passou-o com a espada (ver 3.21).3.23. arquitetura. Os detalhes arquitetônicos da sala de audiência de Eglom são descritos com palavras que não aparecem em nenhum outro contexto, mas podem ser traduzidas como "u m a sala superior sobre vigas". Isso indica que havia um pavimento elevado, com acesso através de uma escada, no interior de uma sala de audiência maior. Aparentemente, havia por­tas que separavam esse côm odo privativo da área maior e por ser uma sala particular do rei, provavel­mente contava com instalações sanitárias, o que por vezes era motivo de orgulho. Assim, quando Eglom levou Eúde para cim a até esse côm odo e fechou e trancou as portas da sala atrás de si, Eúde pôde livrar- se dele sem ser observado. Depois, conseguiu esca­par, removendo o assento do toalete e descendo pelo piso até a latrina que ficava embaixo (na NVI, "saiu para o pórtico"). Sua saída pelo pórtico não despertou a atenção dos guardas presentes no local, que demo­

raram a investigar a ausência do rei, devido ao odor de fezes que emanava de seu cômodo privativo.3.24. fazendo suas necessidades. Quando Eúde per­furou Eglom, o esfíncter anal provavelmente se rom­peu, produzindo um odor semelhante ao de fezes. Os guardas de Eglom hesitaram em interrom per o rei

enquanto ele estava fazendo suas necessidades (ver eufemismo semelhante em 1 Sm 24.3) e assim deram a Eúde tem po para que escapasse e reunisse suas tropas.3.26. Seirá. Essa localidade ainda não foi identificada com segurança. Sua proximidade com os "ídolos que estão perto de G ilgal" (ver Jz 3.19) indica que seria a área ao norte de Jericó, no vale do Jordão. Um lugar assim ficaria perto o suficiente para que os israelitas se reunissem e atacassem a guarnição moabita em Jericó.3.28. passagem . Tomar posse do lugar de passagem ou do vau do rio Jordão significava obter controle efetivo da passagem dos exércitos de Canaã para a Transjordânia e vice-versa (ver comentário em Js 2.7). A estratégia de Eúde foi evitar a dispersão das tropas de Eglom e impedir que reforços chegassem de Moabe. Uma estratégia semelhante também é encontrada em Juizes 12.5, 6 quando Jefté manteve controle das pas­sagens contra os efraimitas e na descrição de RamsésII da Batalha de Cades contra os hititas (c. 1285 a.C.).

3 .3 1Sangar3.31. Sangar. N ão há razão para considerar que Sangar fosse um israelita ou um juiz. Os filisteus estavam se deslocando do norte para o Egito, no final do século treze e, sem dúvida, os egípcios usaram bandos de m ercenários para detê-los. Sangar pode m uito bem ter sido o líder de um bando como esse (talvez Apiru, ver com entário em Js 5.1). Sua intervenção m ilitar beneficiou tanto a Israel quanto ao Egito. Não obstante, ele foi usado pelo Senhor como um instrumento de salvação para os israelitas.3.31. filh o de Anate. Essa designação ou título para Sangar pode indicar sua devoção ou relação com a deusa cananéia Anate, que era a deusa protetora dos guerreiros. É provável que o nom e "San g ar" fosse hurrita (embora alguns estudiosos sugerem tratar-se de um nom e semita ocidental e, portanto, cananeu). Assim, ele pode ter sido um mercenário, como Jefté ou como os "trinta valentes" de Davi (2 Sm 23.8-39). O título foi comparado aos haneanos, dos textos de Mari, que eram m ercen ários do santu ário de H an at (= Anate). Além disso, há um guerreiro egípcio do sécu­lo treze identificado como filho de Anate e também a ponta de um a flecha da Palestina, datada da Idade do Bronze Moderna, com a inscrição "B en A nate". Esses

dados sugerem que esse título designava uma posi­ção militar.3.31. filisteus. À medida que os povos do m ar come­çaram a estabelecer-se na Sírio-Palestina, após terem obtido sucesso na invasão de todas as áreas costeiras do Oriente Próximo (exceto no Egito, onde Ramsés III com muito custo os expulsou), eles tiveram de dispu­tar a região com os habitantes locais (ver Jz 3.3). Os filisteus, que faziam parte desses povos do mar, de­vem ter enfrentado um a série de oponentes, inclusive os israelitas. Nesse versículo, um a unidade de seis­centos filisteus foi atacada e derrotada por Sangar, o que dá a entender que ele sozinho acabou com os filisteus usando uma aguilhada de bois. Essa leitura, porém, não elimina a possibilidade de que ele tenha sido um líder local m ercenário, cananeu ou hurrita (famoso o bastante para aparecer tam bém na narrati­va de D ébora, em Jz 5.6), cujas proezas, ao m enos indiretam ente, ajudaram os israelitas a destruir um inimigo comum.3.31. aguilhada de bois. O termo malmaã aparece ape­nas nesse relato. Pode referir-se a um aguilhão, ou vara, usado pelos boiadeiros para conduzir o gado, tendo geralm ente um a ponta de m etal, e servindo dessa forma também como uma lança curta, caso ne­nhuma outra arma estivesse disponível. Assim como m uitas das arm as im provisadas usadas em Juizes, esse instrumento reflete o pequeno avanço tecnológico dessa cultura.

4.1-24 Débora e Baraque4.2. Hazor. Mencionada como um a importante cidade tanto nos textos de M ari (século dezoito) como nas cartas de El A m am a (século catorze), Hazor (Tell el- Q edah), ficava num ponto estratégico no norte da Galiléia (16 quilômetros ao norte do m ar da Galiléia), na estrada entre Damasco e Megido. Josué a descreve como "a capital de todos esses reinos" (Js 11.10) e tanto em Josué como em Juizes, o rei Jabim é derrotado (Js11.13; Jz 4.24; ver tam bém 1 Sm 12.9). Investigações arqueológicas demonstram um grande rúvel de des­truição no século treze, que pode ser o resultado de ataques dos povos do mar, dos israelitas ou de algum outro grupo. Posteriormente, a cidade foi fortificada novam ente por Salom ão (1 Rs 9.15) perm anecendo como um importante centro de comércio e um ponto estratégico para a fronteira norte de Israel até a con­quista assíria (2 Rs 15.29). Ver comentário em Josué11.1 para informações adicionais.4.2. H arosete-H agoim . Não se sabe ao certo se esse nome, traduzido na Septuaginta como "floresta das nações", está relacionado a um a cidade ou a um a floresta da Galiléia. Foram feitas várias tentativas no

sentido de identificá-lo a algumas localidades (Tel el- Harbaj e Tell Amr), mas as evidências arqueológicas são inconclusivas. D a m esma forma, não se pode afir­m ar que se trata da M uhrashti m encionada nas cartas de El Am am a. De acordo com a descrição no texto, parece tratar-se de uma área de concentração ou reu­nião de tropas no vale de Jezreel, talvez dentro de uma área sob controle dos filisteus (o nome Sísera não é semita). Pode simplesmente referir-se a uma região da G aliléia sob o controle de Sísera, que aparente­mente era um governante m ilitar aliado de Jabim, rei de Hazor.4.3. novecentos carros de ferro. O núm ero de carros envolvidos nessa batalha é tão grande que alguns eruditos o consideram um exagero. Números exage­rados às vezes eram usados no antigo Oriente Próxi­mo para engrandecer a força do oponente e acrescen­tar m aior glória ao comandante ou à divindade de­pois de alcançar a vitória. Outros exemplos em que há suspeita do uso de hipérbole pelo cronista ocorrem nos anais assírios de Salmaneser III (858-824 a.C.), que relaciona 3240 carros entre seus inimigos, e na afirma­ção de Tutm és III de ter capturado 892 carros na bata­lha de Megido. Outros números elevados de carros de guerra em relatos bíblicos podem ser encontrados em1 Sam uel 13.5 (30 mil/ 3 mil na Septuaginta); 1 Reis10.26 (1400 carros) e 1 Crônicas 19.7 (32 mil carros). Para m ais informações sobre o uso de acessórios de ferro, leia Juizes 1.19.4.5. decidir as questões. Débora é a única figura apre­sentada no Livro de Juizes exercendo a função de ju íza tal como nos dias de hoje. Ela ouvia e decidia questões, oferecendo respostas com grande autorida­de, debaixo de um a tamareira que servia como marco daquela região. A descrição de Débora "decidindo as questões do povo" é semelhante àquela encontrada no épico ugarítico de Aqhat (c. 1500 a.C.), que apre­senta o rei D anil assentado sobre a eira, diante dos portões da cidade, julgando as questões das viúvas e dos órfãos (Aqhat III.i.20-25).4.5. entre Ram á e Betei. Ramá, na tribo de Benjamim, é identificada com er-Ram, cerca de cinco quilômetros ao norte de Jerusalém, e Betei (Beitin) fica outros seis quilômetros m ais ao norte, ao longo da estrada que vai para o território de Efraim. Essa rota era usada por m uitos viajantes sendo, portanto, um bom lugar para um juiz ou profeta sentar-se e resolver as questões.4.6. Quedes. Ver comentário em Josué 12.22 a respeito dessa localidade identificada como Tell Qades, a noro­este do lago Hulá, na região da alta Galiléia.4.6. reunir tropas no m onte Tabor. Seu formato pecu­liar, um promontório de topo plano, situado na extre­m idade nordeste do vale de Jezreel (a quatro quilô­m etros de Nazaré) e sua localização na junção dos

territórios de Zebulom, Issacar e Naftali (Js 19.22) fa­ziam do monte Tabor um ponto óbvio para a reunião de tropas dessas tribos. De seu cume é possível avis­tar o monte Gilboa ao sul e o monte Carmelo, a oeste. Por ser um local de solo neutro, era possível oferecer ali sacrifícios e outras atividades cultuais antes ou de­pois da batalha (ver Jz 8.18 e 1 Sm 10.3). Se o inimigo detectasse o movimento das tropas, as tribos estariam posicionadas num lugar alto, onde poderiam lutar e se m anter a salvo dos carros de Sísera. A batalha em si, porém, aconteceu ao sul, no vau de Quisom.4.7. atraindo Sísera a Q uisom . O rio Quisom fica ao sul do monte Tabor, perto de Taanaque (ver Js 12.21). Embora seja um a planície que norm almente favore­ceria o uso dos carros pelas forças de Sísera (ver Jz1.19), o rio aparentemente havia transbordado, devi­do às pesadas chuvas da época (Jz 5.20, 21). Isso teria formado muita lama no campo de batalha a ponto de os carros ficarem encalhados, transform ando-se em alvos fáceis para os israelitas. A capacidade de atrair o inimigo para um local onde se sentiria confiante para depois surpreendê-lo pelas condições do terreno deu aos israelitas a vantagem de que precisavam.4.10. dez m il hom ens. E difícil determinar se esse nú­m ero deve ser entend ido com o dez m il hom ens ou como dez divisões. Os termos hebraicos são ambíguos. Geralmente cada clã enviava um a divisão de homens arm ados, m as com bem m enos de m il homens. Para

m ais detalhes, ver com entário em Josué 8.3.4.11. queneus. Para informações sobre esse povo, que se espalhava da Galiléia até o Neguebe e o Sinai, ao sul, ver com entários em N úm eros 24.21, 22 e Juizes 1.16.4.11. carvalho de Zaanim . O acampamento de Héber ficava na fronteira sul de N aftali (Js 19.33) e está asso­ciado a um ponto de referência, um a árvore sagrada, sem elhante à tam areira de D ébora (Jz 4.5). O mais

provável é que ficasse próximo ao monte Tabor, den­tro do território de Quedes. Isso o posicionaria ao nor­te do cenário da batalha e numa distância possível de ser alcançada por um homem em fuga, como Sísera.4.12. 13. a estratég ia de S ísera . A pós ter recebido relatórios (possivelmente de algum aliado queneu - ver Jz 4.17) sobre o posicionamento das tropas aliadas de Baraque no monte Tabor, Sísera reuniu seu exér­cito, tom ou posição para o com bate e enviou seus carros de guerra para o leste, pelo vale de Jezreel, até a planície de Esdrelom . O objetivo era passar por M egido (que ainda não fora reocupada nesse período) e Taanaque, até alcançar o rio Quisom. Foi nesse pon­to que a estratégia de Sísera foi frustrada, devido à combinação do volume de águas no leito do vau e às pesadas chuvas que transform aram a planície num verdadeiro atoleiro.

4.14-16. a estratégia de Israel. Aparentemente, a es­tratégia ordenada por Débora e executada por Baraque era para reunir as tropas no monte Tabor, em pontos altos da divisa do território das tribos israelitas, de onde se podia avistar claramente toda a região. Dessa form a, caso fossem descobertos antes da hora, eles estariam protegidos. Assim que conseguissem atrairo exército de Sísera para o vale de Jezreel e dali para a planície perto do rio Quisom, os israelitas poderiam fazer um rápido ataque às tropas do inim igo, que estariam atoladas na lama proveniente do transbor- damento do vau. A estratégia retratada em Juizes 4­5 dependia da intervenção divina (enviando fortes chuvas) enquanto que a definição do momento exato do ataque dependia de D ébora, a representante de Yahw eh.4.18-21. a hospitalidade de Jael. No Livro de Juizes, é comum uma inversão de alguns costumes ou atitudes cotidianas (ver a atitude correta num a situação de hospitalidade em G n 18.2-8). É um a m ulher, e não seu m arido, que oferece hospitalidade a Sísera. Na qualidade de hóspede, Sísera não deveria pedir nada, no entanto, ele pede algo para beber e também pede a Jael para ficar de.sentinela à porta da tenda, para protegê-lo. Além disso, assassinar um hóspede nunca fez parte do protocolo da hospitalidade. Porém, Jael pode ter sido justificada por ter matado Sísera, visto que ele representava um a ameaça em potencial tanto a ela como à honra de sua família.4.21. estaca da tenda e um m artelo. Os instrumentos usados por Jael para matar Sísera, enquanto ele dor­mia, lhe eram bastante fam iliares, já que ela certa­mente deveria usar estacas e martelo para m ontar a tenda cada vez que eles arm avam acampamento. É possível que ela tivesse recorrido a esses instrumen­tos com facilidade e o fato de ter cravado a estaca na cabeça de Sísera até penetrar o chão não fosse nada fora do comum para Jael.

5.1-31O cântico de Débora5.1-3. cânticos de vitória. Um a das maneiras de cele­brar as vitórias m ilitares e com em orá-las nos anos seguintes era compondo e entoando canções. Além de servir como um tributo aos heróis (ver Jz 11.34 e 1 Sm18.6, 7), esses cânticos passavam a fazer parte da tra­dição oral (ver o "Cântico de M oisés" em Êx 15.1-8). Os cânticos de vitória eram comuns no antigo Oriente Próximo; um exemplo é o cântico do Épico de Tukulti- Ninurta (Assíria, século treze a.C.), que descreve sua campanha contra o rei cassita Kashtiliash. Esse cântico relata como Tukulti-N inurta pede o auxílio divino, com base em seu relacionamento anterior com a di­vindade, e como recebe essa ajuda, e tam bém inclui

um trecho zombando do rei inimigo que havia fugido da batalha. Assim como o cântico de Débora é seme­lhante ao relato do capítulo 4, a literatura do antigo O riente Próxim o oferece diversos exem plos (além desse já mencionado do Épico de Tukulti-Ninurta) de relatos de batalha preservados tanto em prosa como em verso (outros exemplos procedem de Tiglate-PileserI e Ramsés II, ambos do século treze e Tutm és IQ, do século catorze).5.6, 7. cam inhos tortuosos. No conturbado período associado a Sangar e a Jael, em que atos individuais de heroísmo eram os únicos momentos de glória, as estradas eram m uito perigosas e sujeitas ao ataque de bandidos, obrigando mercadores e agricultores a per­correr trilhas tortuosas, para se protegerem de assal­tos. Esses caminhos tortuosos estão relacionados ao tema do Livro de Juizes e às visões de Balaão inscritas em gesso em Tell D eir 'A lia , no leste do v ale do Jordão, em que o contrário ou o inverso dos fatos é apresentado como natural.5.8. nenhum escudo ou lança. O baixo nível de de­senvolvimento tecnológico dos israelitas e a escassez de instrumentos de guerra também são mencionados em 1 Sam uel 13.19-22. E provável que os israelitas tenham sido obrigados a entregar todas as armas aos governantes filisteus e cananeus ou talvez não tives­sem o conhecim ento necessário para fabricá-las. De qualquer maneira, o cântico de Débora dá a entender que os israelitas foram dominados e subjugados por terem adorado a outros deuses, despertando assim, a ira de Yahweh.5.10. cavalgar em jum entos. Apenas os comerciantes abastados podiam se dar ao luxo de possuir esses valiosos animais. Nesse texto, todas as camadas soci­ais (os que cavalgam e tam bém os que caminham por não te rem co n d içõ e s de te r um ju m e n to ) são convocadas a juntar-se no cântico de louvor a Yahweh por Ele ter libertado o seu povo.5.11 . voz dos qu e d is tr ib u e m águ a. O cân tico a Yahw eh devia ser cantado ainda m ais alto que os gritos daqueles que disputavam um lugar junto aos bebedouros para dar de beber aos animais durante as paradas das caravanas. Esses homens proclamavam em alta voz as novidades ou contavam histórias, m ui­tas vezes com a ajuda de címbalos ou outros instru­mentos. Enquanto divertiam os viajantes e transpor­tavam água, esses homens obtinham algum sustento e transmitiam os acontecimentos.5.14. ra ízes de A m aleque. N a lista das tribos que atenderam ao chamado de Débora há um grupo de Efraim, associado à região montanhosa de Amaleque, em Piraton (ver Jz 12.5). Embora essa passagem possa ser uma indicação do fato de os amalequitas estarem espalhados por um a grande área, faz m ais sentido

entender que se trata de uma região dentro do territó­rio de Efraim.5.14. M aquir. Essa passagem, assim como a de 1 Crô­nicas 7.14, indica que M aquir era um grupo tribal que habitava a região situada entre as tribos de Efraim e Zebulom, perto do rio Quisom.5.19. Taanaque. Localizada oito quilômetros a sudes­te de M egido e aproximadamente a mesma distância a oeste do monte Gilboa, Taanaque era um a das cida­des fortificadas que guardavam o vale de Jezreel (ver comentário em 6.33). Há um a referência a Taanaque nos relatórios de Tutm és III sobre a Batalha de M egido (século quinze a.C.) e possivelmente, um a breve men­ção nas tábuas de Amarna. H á indícios de focos de ocupação durante o século doze, m as há uma camada de destruição que remonta ao ano 1125.5.20. lutaram as estrelas. Nas tradições mediterrâneas e do Oriente Próximo diversos deuses (o deus egípcio Resefe, o mesopotâmio Nergal e o deus grego Apoio) aparecem associados a corpos celestes (planetas, estre­las ou cometas). Acreditava-se que em algumas ocasi­ões, esses astros deixavam seu curso para juntar-se às batalhas humanas, confundir os inimigos e trazer pra­gas aos animais. Já no final do terceiro m ilênio, os textos de Sargom referem-se ao Sol ofuscando os ini­m igos e às estrelas avançando contra eles. A esteia G ebal Barkal de Tutm és III também m enciona a ajuda das estrelas brilhando no céu para confundir e dizi­m ar os inim igos hurritas (sobre o uso de estrelas e cetros, ver N m 24.17). É importante observar, porém, que as estrelas mencionadas nessa passagem de Juizes não são personificadas como divindades, e sim, vistas com o m en sageiras ou in stru m entos nas m ãos de Yahweh. Ver comentários adicionais em Js 10 .12 ,13.5.21. rio Q uisom . O rio Quisom pode ser tanto o vau al-Muqatta, que serve como um escoadouro do vale de Jezreel correndo a oeste para o M editerrâneo, ou o vau el-Bira, que corre para o leste, do monte Tabor em direção ao rio Jordão. No cântico de Débora, o rio funciona como parte integrante da estratégia de bata­lha. Com a ajuda das estrelas nos céus, um a fonte de chuva de acordo com o épico ugarítico e mesopotâmico, a batalha de Quisom foi decidida por uma incomum tempestade de verão que provocou fortes correntezas no rio Quisom. Como o rio transbordou e toda a área foi inundada, os carros de guerra de Sísera tornaram- se ineficazes. A história é bastante parecida com a de Êxodo 14.19-25, em que os carros do faraó são inutili­zados e destruídos pelas águas do mar Vermelho.5.26. esm agar a cabeça. N a literatura cananéia de Ugarite, a deusa Atarte (que aparece na Bíblia com o nome de Astarote) é conhecida como uma deusa guer­reira que esmaga a cabeça de seus oponentes.

5.28. m ãe olhando p ela ja n ela . A im agem de uma mulher, seja ela m ãe ou esposa, de pé, esperando que seu m arido ou filho retorne da batalha é realm ente comovente. Se por um lado ela deve tentar manter a dignidade e procurar encontrar explicações lógicas para a demora do retorno (v. 29, 30), por outro ela pode apenas fixar o olhar através da janela e observar a estrada. Algumas vezes, a janela se tom a uma espé­cie de clausura que a m antém prisioneira dentro de um universo particular, e outras vezes funciona como a moldura de um quadro representando-a como de­fensora de uma causa perdida (ver M ical em 2 Sm 6.16 e Jezabel em 2 Rs 9.30-32).5.30. despojo. No mundo antigo, a guerra era justi­ficada por uma ordem divina ou pela honra nacional. No entanto, a verdadeira motivação que impulsiona­va reis e soldados para a batalha eram os despojos. Os espólios de guerra representavam riquezas, poder e submissão do inimigo (ver Dt 31.11,12; 20.14; Js 11.14;1 Sm 14.30-32).

6.1-8.35Gideão6.1. m id ian itas. O s m idianitas eram um povo que habitava o sul da Transjordânia. São descritos como descendentes de Abraão e Quetura (Gn 25.1-6), e na narrativa de José eles aparecem como comerciantes e líderes de caravanas (37.25-36). M oisés juntou-se ao clã m idianita de Jetro depois de ter fugido do Egito (ver comentário em Ex 2.15), mas os midianitas não se juntaram aos israelitas na conquista de Canaã. Na narrativa de Balaão, os anciãos m idianitas unem -se aos moabitas e participam da contratação do profeta para amaldiçoar Israel (Nm 22.4). O território midianita originalmente concentrava-se na região leste do golfo de A caba, no noroeste da A rábia, m as em alguns períodos, os midianitas estenderam seu território pela península do Sinai, a oeste, bem como pela Transjor­dânia, ao norte. Em bora a princípio aparentem ser um povo seminômade ou beduíno, estudos arqueoló­gicos têm revelado aldeias, cidades m uradas e am­plos sistemas de irrigação nessa região já na Idade do Bronze Moderna (a época do êxodo e dos primeiros juizes). Até o momento, não foram encontradas refe­rências aos midianitas em textos antigos, em bora às vezes sejam identificados com os shasu, mencionados com freqüência na literatura egípcia.6.2. esconderijos nas cavernas. Por possuírem poucas cidades fortificadas, a única form a de proteção para os

israelitas era esconder-se nas m ontanhas, onde po­diam preservar seus suprimentos e suas famílias. Nessa região, é provável que tenham usado desde as ca­vernas da cadeia de m ontanhas do m onte Carmelo

até as colinas que flanqueavam o vale de Jezreel no sudoeste.6.3. invasão na época da colheita. Era muito impor­tante escolher a época certa para a invasão. Se a co­lheita já tivesse acontecido, os aldeões teriam estocado e escondido os cereais e poderiam conter mais faril- mente o ataque. Se o cereal ainda estivesse nos cam­pos, o invasor teria am plas provisões e os aldeões ficariam sem nada. Esse fato indica que os meses de abril ou maio eram a época m ais propícia às invasões, pois as aldeias seriam facilmente arrasadas se fossem privadas de seu suprimento anual de cereais. Por essa razão, tudo que os invasores não usavam ou rouba­vam , eles destruíam com pletam ente. A s plantações tam bém eram prejudicadas pela m archa das tropas nos campos, pisoteando as plantações e colocando em risco as colheitas futuras.6.3. am alequitas. Ver comentário em Números 24.20. Os amalequitas vagavam através de vastas faixas de terra no N eguebe, na Transjordânia e na península do Sinai. A existência deles não é confirmada fora da Bíblia e nenhum vestígio arqueológico pode ser rela­cionado a eles com segurança. Pesquisas arqueológi­cas na região, porém, têm descoberto amplas evidên­cias da existência de grupos nômades e seminômades semelhantes aos amalequitas durante esse período.6.5. camelos. É importante não tirar conclusões preci­pitadas sobre fatos que o texto não está afirmando. Embora o texto afirme claramente que os midianitas possuíam m uitos camelos, não se pode afirmar que esses animais eram usados como cavalos de guerra em unidades de infantaria. De fato, as evidências que confirmam a domesticação do camelo indicam que o uso desse animal para montaria só aconteceu vários séculos depois. No entanto, o tipo de sela usado nessa época permite concluir que os camelos eram de fato usados como meio de transporte e como animais de carga.6.8. profeta. Esse é o primeiro profeta anônimo men­cionado no texto bíblico. Para uma discussão sobre os diversos aspectos da profecia e a função dos profetas, consulte os comentários em Deuteronômio 18.14-22. Aqui o profeta é apresentado como defensor da alian­ça e sua m ensagem concentra-se exclusivamente na adoração a Yahweh. As mensagens transmitidas pe­los profetas do antigo Oriente Próximo muitas vezes incluíam advertências quanto ao objeto de adoração e à form a de culto.6.11. o A njo do Senhor. No mundo antigo, comuni­cações diretas entre chefes de Estado eram raras. As negociações diplomáticas e políticas geralmente eram feitas através de um mediador, que era investido de plena autoridade pela pessoa que representava. Ele falava em nom e de quem o havia enviado e com a

m esma autoridade; recebia o mesmo tratamento que seria dado ao seu superior, se estivesse ali pessoal­mente. Apesar de tratar-se de um procedimento pro­tocolar, não havia confusões quanto à identidade da pessoa. Todo esse tratam ento sim plesm ente servia como um reconhecimento adequado da pessoa que o mediador representava. Entendia-se que os presentes ofertados pertenciam à parte representada, não ao representante. Esperava-se que as palavras dirigidas ao representante fossem relatadas com detalhada pre­cisão e entendidas como se proferidas diretamente à pessoa ali representada. Quando o representante profe­ria oficialmente algumas palavras, todos entendiam que ele não falava de si mesmo, m as simplesmente estava transmitindo as palavras, opiniões, posições e decisões de seu soberano. Do mesmo modo, o anjo do Senhor atuou como m ensageiro ou enviado real inves­tido da autoridade daquele que enviou a mensagem.6.11. Ofra. Não se sabe ao certo a localização de Ofra. A mais provável é a moderna Affuleh, entre Megido e a colina de M oré, no vale de Jezreel. A s árvores

geralmente eram associadas a oráculos e a teofanias, e às vezes serviam como marcos de lugares de adoração (ver G n 12.6; 21.33; 35.4; Jz 4.5; 9.37; Is 1.29; Os 4.13).6.11. m alhando o trigo num tanque de prensar uvas. Eiras eram amplas áreas de chão batido ou de pedra, geralm ente a céu aberto para perm itir que a brisa pudesse soprar para longe a palha ou a casca dos grãos. Geralmente eram usadas por toda a comunida­de. Essa atividade era feita basicamente nos meses de junho e julho; os grãos eram espalhados com a ajuda de um bastão ou esmagados pelo gado que era levado para andar em cima dos feixes. Um tanque de pren­sar uvas era um buraco quadrado ou redondo cavado

num a rocha, com capacidade para algumas pessoas caminharem dentro dele. Malhar o trigo num tanque de prensar uvas seria m uito m ais discreto e menos notado do que num a eira.6.12. poderoso guerreiro. O epíteto usado pelo anjo geralmente tem sido traduzido pela expressão "pod e­roso guerreiro" e é aceitável quando inserido num contexto militar. Há, no entanto, uma série de pessoas que são assim descritas em contextos da comunidade (ver Rt 2.1; 1 Sm 9.1; nessas duas passagens a tradu­ção da N V I é "hom em influente"). N esses casos, a expressão descreve a pessoa como um indivíduo res­ponsável e de destaque na comunidade.6.15. clã m enos im portante, m enor da fam ília. Os co­mentários de Gideão sobre a insignificância de seu clã e sua posição de inferioridade dentro de sua própria família estão relacionados com a questão da autoridade. Ele não tinha autoridade para convocar soldados em seu próprio clã ou família, quanto mais nas outras tri­

bos. As prerrogativas de liderança eram decorrentes da posição social, que ele afirm ava não possuir.6.16. como se fossem um só homem. A tradução da NVI aplica essa expressão se referindo à fraqueza dos midianitas diante de Gideão. Uma outra possibilida­de seria que, apesar da falta de autoridade oficial de Gideão, os israelitas fariam um pacto e lutariam uni­dos sob sua liderança.6.19. a oferta de Gideão. Ao descrever o que deseja oferecer, Gideão usa a palavra genérica "oferta", que não necessariam ente tem o sentido de "sacrifíc io ", em bora adquira esse aspecto quando relacionada a uma refeição. Trata-se da mesma palavra usada para descrever as ofertas de Caim e Abel (ver comentário em G n 4.1-7) e descreve uma das categorias de ofertas sacrificiais (ofertas de cereais, ver Lv 2). O fato de o cabrito ter sido preparado em casa e depois levado ao lugar do oferecimento em vez de ser sacrificado no local sugere tratar-se de um a refeição e não de um holocausto. Os ingredientes dessa refeição incluíam carne de cabrito e pão sem fermento (já que a refeição foi preparada rapidamente, não houve tempo para o pão crescer). Um efa corresponde a cerca de um a arroba, o suficiente para fazer dez bolos achatados de 20 a 25 cm de diâmetro, uma porção bastante genero­sa para os tempos difíceis que os israelitas estavam atravessando.6.20. pôr sobre a rocha. É o anjo que orienta Gideão a colocar a comida sobre a rocha, onde é consum ida pelo fogo, deixando assim de ser uma simples refei­ção para se trasform ar num sacrifício. À s vezes, as rochas eram usadas como altar (1 Sm 14.32-34), mas geralm ente para perm itir que o sangue do anim al sacrificado escorresse até o chão, o que não é o caso aqui.6.25. segundo n ovilho, de sete anos de idade. O texto pode estar falando de dois novilhos (não na N VI, mas em outras versões). O segundo foi oferecido em sacri­fício e alguns estudiosos interpretam que o primeiro deve ter sido usado para ajudar Gideão a destruir o altar de Baal. Para manter um rebanho, não há neces­sidade de muitos novilhos, sendo assim, m uitos ma­chos eram mortos ainda jovens e apenas os melhores exem plares eram preservados para procriação. Um novilho de sete anos de idade, portanto, devia ser um excelente m acho reprodutor. O sacrifício desse animal seria de um a im portância extrem am ente significati­va. Alguns bois eram mantidos para trabalhos pesa­dos, m as nesse caso geralmente eram castrados para que se tornassem m ais maleáveis e dóceis. Se de fato o texto faz menção a dois animais, é provável que o primeiro fosse castrado e usado para tração.6.25. altar de Baal. Embora o texto afirme que o altar pertencia ao pai de Gideão, a reação dos moradores

da cidade sugere que se tratava de um santuário co­munitário. Vários templos cananeus e alguns locais de adoração ao ar livre desse período foram encontra­dos em Israel (Hazor, Láquis), tais como o "Lugar do Touro", poucos quilômetros a leste de Dotã. É prová­vel que os objetos encontrados nessas localidades, porém , sejam m asseboth (colunas de pedra, ver co­mentário em Gn 28.18,19) e incensários e não altares. Um dos primeiros altares israelitas é o altar de pedra bruta do século dez, em A rade, com cerca de dois metros e meio quadrados e quase um metro e meio de altura.6.25. poste sagrado de Aserá. Aserá pode ser o nome de um a deusa da fertilidade ou o nome de um objeto de culto (como é o caso nesta passagem). Essa deusa era bastante popular entre o povo de Israel, durante seus desvios politeístas e às vezes era considerada a mediadora das bênçãos de Yahweh. Um indício dessa crença encontra-se nas inscrições de Kuntillet Ajrud e K hirbet el-Q om . N a m ito logia cananéia ela era a consorte de El, o deus principal, aparecendo também na literatura mesopotâmica já no século dezoito como a consorte de Amurru, o deus dos amorreus. O poste sagrado era o símbolo de sua adoração, podendo ou não portar um a representação da divindade. Talvez representasse um a árvore artificial, visto que Aserá muitas vezes é associada a bosques sagrados e retrata­da como uma árvore estilizada. O objeto de culto po­dia ser confeccionado ou fabricado, ou em outras oca­siões podia ser plantado. Temos poucas informações sobre a função desses postes na prática ritual.6.31. a defesa de Joás. O pai de Gideão, Joás, confron­tado pelos aldeões que buscavam vingança em nome do deus afrontado, sugere que não se trata de uma questão para a com unidade punir, m as sim para o próprio Baal se vingar. Quando se praticava um sacri­légio, era função da divindade executar justiça (ver Lv 10.1-3; 1 Sm 6.19; 2 Sm 6.7). Joás afirma que qual­quer que tomasse a vingança em suas próprias mãos seria julgado por seu clã como culpado de sangue e estaria sujeito à punição. No antigo Oriente Próximo, é comum ver um deus agindo em defesa de seu tem­plo ou im agem . Assim , por exem plo, a Crônica de W eidner relata como M arduque castigou todos aque­les que realizavam os rituais de form a inaceitável. De m odo sem elhante, M arduque busca trazer sua ima­gem de volta à Babilônia, que fora levada pelos ela- mitas. Todas essas desforras, porém, eram executadas por seres humanos que afirmavam ser instrumentos da vingança dos deuses, um a pretensão que Joás de­sejava evitar.6.33. vale de Jezreel. O vale de Jezreel tem esse nome por causa da cidade de Jezreel localizada na extremi­dade leste do vale. Essa planície fértil divide a cadeia

montanhosa do Carmelo, desde a baixa Galiléia, es­tendendo-se a sudeste no rio Quisom, da planície de Aco acima do Carmelo, até passar por entre a colina de Moré e o monte Gilboa e chegar ao vale do Jordão, por Bete-Seã. Atinge de oito a dezesseis quilômetros de largura e 24 quilômetros de extensão (de Jocneão a Jezreel). Importantes rotas comerciais passavam pele vale através do caminho de Nahal Iron, em Megido, de modo que às vezes o vale recebe a designação de "planície de M egido" e, mais tarde, "A rm agedom ". Era um a área naturalmente adequada para batalhas e m uitas aconteceram ali durante os tempos bíblicos, inclusive a batalha de D ébora e Baraque contra os cananeus (Jz 4), a batalha do monte Gilboa entre Saul e os filisteus (1 Sm 31) e a batalha entre Josias e o faraó Neco (2 Rs 23.29).Foi o cenário também para a famosa batalha de Megido, no século quinze, quando TutmésIII tentou subjugar a terra de Canaã.6.34, 35. o E spírito do Senh or sobre os ju izes. No Livro de Juizes, geralmente o Espírito do Senhor apa­rece relacionado à convocação de um exército. Numa sociedade tribal onde não havia governo centraliza­do, era difícil conseguir que as outras tribos apoias­sem aquela que estivesse enfrentando problemas. Em situações como essa, a autoridade de um líder depen­dia de sua habilidade de convencer os outros a segui- lo, ainda que ele não tivesse nenhum a posição ou comando acima deles. Em Israel, essa era a marca do poder de Yahw eh, visto que esse líder sozinho tivera autoridade para convocar os exércitos de todas as tri­bos. Yahw eh era a única autoridade central, portanto, quando alguém exercia autoridade convocando os exér­citos, algo que era função de Yahweh, ficava evidente que a autoridade do Senhor estava sobre essa pessoa (ver Jz 11.29; 1 Sm 11.6-8). Esse era um dos traços distintivos dos juizes de Israel.6.36-40. oráculo da lã. Em um oráculo, é apresentada à divindade uma pergunta do tipo "sim ou não" que é respondida através de um sistema binário. Em Isra­el, o sacerdote portava o Urim e o Tum im que eram usados em situações de oráculo (ver comentário em Êx 28.30). Aparentem ente eles não estavam disponíveis no caso, assim Gideão teve de ser mais criativo e fazer uso de um fenômeno natural para o oráculo (ver Gn 24.14 e 1 Sm 6.7-9 para outras ocorrências). A pergun­ta de Gideão era se o Senhor iria ou não usá-lo para libertar a Israel. Seu sistema oracular baseava-se no que norm alm ente aconteceria a um chum aço de lã que fosse deixado durante a noite num a eira, ao re­lento. Visto que a lã é m acia e absorvente e o chão da eira era de pedra ou chão batido, o natural era que a lã estivesse úm ida e o chão seco. Se isso acontecesse, a resposta à pergunta oracular seria "sim ". Gideão já havia sido informado pelo anjo acerca das intenções

do Senhor e estava apenas dando um a oportunidade ao Senhor de informá-lo sobre alguma mudança nos planos. Quando na primeira noite tudo acontece con­forme a expectativa natural, Gideão questiona se esse "silên cio" pode significar que o Senhor não estava dando atenção ao seu oráculo. Ele então, inverte o oráculo, de m odo que a ocorrência fora do comum represente o "s im ", ou seja, a lã ficando seca e o chão da eira, úmido. O raciocínio por trás disso é que, se a resposta realmente tivesse vindo da divindade, seria capaz de alterar um fenômeno natural e ultrapassar as leis naturais a fim de transmitir a resposta, confir­mando-a. No antigo Oriente Próximo, era comum usar o fígado ou os rins de animais sacrificados para obter respostas oraculares (ver comentário sobre presságios e o costume de examinar as vísceras em D t 18.10).7.1. fon te de Harode. A fonte de Harode fica no sopé da encosta norte do monte Gilboa, cerca de dois quilô­metros e meio a leste da cidade de Jezreel. Esta é a passagem estreita à leste do fim do vale de Jezreel.7.1. m onte M oré. O m onte M oré fica ao norte do monte Gilboa e ao sul do monte Tabor, bloqueando a parte nordeste do vale de Jezreel. O cam inho para Bete-Seã e para os vaus do Jordão naquela área fazia uma curva para o sul do monte M oré até a passagem onde Gideão e seus hom ens estavam reunidos. Os midianitas estavam acampados no vale, bem a oeste de Moré, seis a oito quilômetros da fonte de Harode e bem próximos de Ofra, cidade natal de Gideão (ver comentário em 6.11).7.3. m onte G ilead e. Essa é uma referência bastante confusa; muitos estudiosos acreditam tratar-se de um problem a na transcrição do texto. O monte Gileade geralmente diz respeito a uma área a leste do Jordão que dificilmente se encaixaria nesse contexto.7.5, 6. estilo s de b eb er água. A quele que bebesse água de joelhos, sofregamente, com a cabeça perto da água, seria um alvo fácil, estaria desatento a qualquer movimento do inimigo enquanto bebia e estaria sus­cetível a parasitas. A alternativa era agachar-se (fi­cando m enos vu lnerável com o alvo do inim igo) e manter-se alerta, levando a água até a boca enquanto observava tudo ao redor.7.13. sonho. No m undo antigo, acreditava-se que os sonhos tivessem significados. Não apenas os soldados midianitas o encararam como um presságio, mas tam­bém G ideão, que escutou o sonho às escondidas. Em­bora a interpretação de sonhos muitas vezes fosse re­servada aos especialistas, devido à com plexidade do simbolismo neles contido, alguns sonhos eram relati­vamente óbvios. Não era preciso um especialista para interpretar que o pão de cevada representava o agri­cultor e a tend a representava o nôm ade. Para m ais informação sobre sonhos consulte os comentários em

G ên esis 40 .5 -18 ; 41 .8-16 e D eu teron ôm io 13.1-5 . A idéia de uma palavra ouvida por acaso (não intencio­nalmente) ser entendida como um providencial pres­ságio de encorajamento tam bém é encontrada na Odis­séia, onde uma jovem escrava expressa o desejo de que aquela fosse a últim a refeição de seu pretendente.7.16-21. a estratégia de Gideão. As três companhias de Gideão ficariam posicionadas nas três extremida­des do acampamento, norte, oeste e sul (o m onte Moré ficava a leste). As tochas que cada um deles carregaria eram feitas de materiais como junco, que permitiriam uma combustão lenta até serem expostas ao ar e m ovi­mentadas. Os jarros cobririam o brilho da tocha até o m omento adequado, e quando as três divisões esti­vessem corretamente posicionadas, as trombetas soa­riam. Geralm ente apenas alguns soldados eram en­carregados do toque da trombeta, já que precisavam das m ãos para segurar as arm as e os escudos. Nas batalhas noturnas, do mesmo modo, um certo núm e­ro de soldados era designado para segurar as tochas usadas para iluminar a zona de batalha e bloquear a retirada. Esperava-se, então, que os soldados respon­sáveis pelas trombetas e pelas tochas representassem apenas um a pequena porcentagem do exército, en­quanto o restante se envolveria na luta. Portanto, quando os m idianitas ouviram o som de trezentas trombetas e viram uma multidão de tochas ao redor do acampamento, naturalmente imaginaram que ha­via um enorme exército pronto para atacá-los, visto que Gideão havia instruído seus homens a manterem suas posições em volta do acampamento.7.22. lutando uns contra os outros. A idéia de uma divindade que alcança a vitória lançando o inimigo em confusão era bastante comum no mundo antigo. U m exemplo na literatura egípcia é o mito de Hórus, em que este, em Edfu, confunde os inimigos de modo a fazê-los lutar uns contra os outros, até todos serem mortos.7.22. Bete-Sita. G eralmente essa cidade tem sido loca­lizada na aldeia de Shatta, cerca de dez quilômetros a leste de Jezreel, em direção a Bete-Seã. Portanto, os m idianitas fugiram pela extrem idade sul do monte M oré, tentando alcançar os vaus do Jordão, ao longo do vale de Bete-Seã.7.22. Zererá. Zererá também é conhecida como Zaretã (Js 3.16) ou Zeredá. M uitos eruditos a identificam com Tell es-Sadiyeh, treze quilôm etros ao sul de Abel- Meolá, na m argem direita do Jordão, ao longo do lado sul do vau Kufrinje.7.22. A bel-M eolá, Tabate. Abel-M eolá situava-se na margem esquerda do Jordão, em algum ponto ao sul de Bete-Seã. A candidata m ais provável é Tell Abu Sus, cerca de dezessete quilôm etros ao sul de Bete- Seã, na extremidade sul do vale de Bete-Seã, onde o

rio Yabis encontra o Jordão, vindo do leste. Pesquisas feitas no local descobriram fragm entos de cerâm ica desse período. A localização de Tabate é incerta. Tem sido identificada muitas vezes a Ras abu Tabat, em­bora esse local pareça estar muito ao sul, mais perto de Tell es-Sadiey que de Tell A bu Sus.7.24. Bete-B ara. A identificação dessa localidade é desconhecida, mas certamente situava-se ao longo do vale do Jordão, sendo aparentem ente um lugar de passagem (vau) perto de Abel-Meolá.8.1. a qu eixa de Efraim . Em bora cada tribo tenha recebido um a porção de terra, as disputas territoriais en tre e las eram freq ü en te s . A a tiv id ad e m ilita r conduzida por Gideão permitiria que o território an­tes controlado pelos midianitas ficasse agora disponí­vel para ser conquistado. Os efraimitas não queriam ser deixados de fora, caso algum território adicional fosse dividido entre os israelitas. H avia tam bém a questão dos despojos, do qual todos esperavam rece­ber uma parte.

8.5. Sucote. Sucote localizava-se em Tell Deir Allah, cerca de dois quüômetros ao norte do rio Jaboque e cinco quilômetros a leste do rio Jordão. Vestígios desse período (Idade do Ferro I) foram encontrados no local. A área superior do *tell equivale a um estádio e meio de futebol, ou seja, cerca de um acre e um quarto. Trata-se de um pequeno povoado envolvido com a indústria de fundição do bronze.8.6, 7. a ind a não estão em seu poder. Era prática comum nesse período decepar as mãos de cada inimi­go morto para evitar algum possível desastre. M onu­mentos egípcios desse período representam pilhas de mãos sendo recolhidas após as batalhas. Visto que os reis midianitas ainda não estavam mortos, os homens de Sucote não estavam dispostos a ficar do lado da resistência, ou seja, de Gideão.8.8. P eniel. Peniel localizava-se a oito quilômetros de Sucote, ao longo do rio Jaboque, na moderna Tell ed- D hahab esh Sherqiyeh. Pesquisas têm apresentado evidências de ocupação durante esse período, m as o local ainda não foi escavado.8.9. fortaleza. Visto que o provável local de Peniel ainda não foi escavado, nenhum vestígio dessa forta­leza foi encontrado. Porém, nas localidades da Idade do Ferro, era comum a existência desse tipo de forta­leza como parte da defesa da cidade. Por exemplo, escavações demonstraram que a cidade de Sucote ti­nha uma torre sem elhante, no final do período dos juizes, com quase oito metros de diâmetro. Fortalezas assim podiam estar ligadas à estrutura dos portões, torres de vigia ao longo dos muros ou, m ais freqüen­temente nessa época, como cidadelas internas na área do santuário local.

8.10. Carcor. Essa palavra não deveria ser traduzida como nome de um lugar. No texto, ela é acompanha­da de artigo definido (pouco comum para nomes de lugares), significando "n ível do chão". É bem prová­vel que esteja se referindo à bacia de Beqa'a. Trata-se de um a ampla e rasa depressão com oito quilômetros de comprimento e cerca de três quilômetros de largu­ra, orientada num eixo sudoeste-nordeste, quase onze quilôm etros a noroeste da moderna Amã (a cidade bíblica de Rabá).8.11. rota dos nôm ades. Uma rota local subia do vale do Jaboque em direção ao sul, partindo de Peniel e seguia para o sudeste até cruzar a extremidade sudo­este da bacia de Beqa'a, mas a "rota dos nômades" era um pouco afastada desse caminho. Esse versículo diz que Gideão e seus homens seguiram a rota a leste de Noba e Jogbeá. A localização de Noba é desconheci­da, mas Jogbeá geralmente é identificada com Jubeihat, cerca de dez quüômetros a noroeste de Amã, situada num cum e elevado, m ais ou m enos na m etade do lado sul da am pla bacia de Beqa'a. Se Gideão dirigiu- se a leste de Jogbeá, ele deve ter margeado a extre­m idade leste de Beqa'a. Isso sugere que a "rota dos nôm ades" acompanhava o leste do Jaboque por di­versos quüômetros, antes de seguir para o sul e des­viar-se para o sul da bacia de Beqa'a, de onde partiu o ataque. Essa rota ficava a 32 quüômetros de Peniel e cerca de 112 quilômetros do encontro inicial em Moré.8.13. subida de Heres. Assim como Carcor, já menci­onado anteriormente, o termo "H eres" é acompanha­do de um artigo definido, portanto, não deve se tratar de um nome próprio. Heres significa "so l", mas isso não ajuda a identificar o local. Se a reconstituição do comentário em 8.11 estiver correta, a subida de Heres estaria localizada na saída da bacia, a sudoeste. Tal­vez esteja se referindo à própria subida da bacia ou à subida ao longo da estrada que ia desse local até a vertente, alguns quilôm etros a noroeste de Beqa'a, em direção a Sucote.8.14. dom ínio da escrita por pessoas com uns. Idio­mas como o sumério, o egípcio, o acadiano e o hitita, que utilizavam hieróglifos e escrita cuneiforme, eram süábicos e continham centenas de sinais diferentes. Isso tom ava a leitura e a escrita algo que somente os escribas profissionais podiam dominar, devido ao tem­po necessário para adquirir essas habüidades. A es­crita alfabética foi inventada na metade do segundo m ilênio e popularizou a alfabetização entre pessoas com uns, pelo fato de em pregar m enos de trinta si­nais. Os escravos das minas na região do Sinai (minas de turquesa de Serabit el-Khadem) deixaram inscri­

ções alfabéticas (proto-sinaíticas) já no século dezessetea.C.. Portanto, é bem provável que Gideão tenha de

fato encontrado alguém que soubesse escrever os no­mes dos líderes.8.14. autoridades. As autoridades ou anciãos repre­sentavam o conselho governante da cidade. Nas cida­des pequenas, esse grupo podia ser composto de dois anciãos de cada família. Talvez seja o caso nesse con­texto, visto que 77 líderes são identificados e, conside­rando-se o tamanho do lugar (ver o comentário acima em 8.5), a população seria de 200 a 250 pessoas, e o núm ero de casas na cidade de 30 a 35. Em ugarítico o núm ero 77 é usado figuradamente, do mesmo modo que o núm ero 66, representando um núm ero eleva­do. Para m ais detalhes sobre o uso potencialm ente representativo do núm ero 77, consulte o comentário

em 8.30.8.16. castigar com espinhos. O verbo usado aqui e no versículo 7 sempre é traduzido como "bater" no Anti­go Testamento, e em diversas passagens é em prega­do de m aneira figurada para indicar a destruição de inim igos (ver M q 4.13). Gideão am eaça destruir os líderes "castigando-os com espinhos e espinheiros do deserto". Pode ser uma menção a um método de exe­cução, ou a um tratamento humilhante e desonroso dado aos cadáveres. Observe que os homens de Peniel são mortos também (8.17).

8.18. hom ens m ortos em T abor. N enhum a batalha ou luta é m encionada em Tabor. Quando os midia- nítas caíram na emboscada e ficaram acuados no m on­te M oré, a principal rota de fuga os levou ao sul do monte (ver comentário em 7.22). Se houve um a bata­lha em Tabor, significa que alguns podem ter tentado

escapar dando a volta pelo lado norte do monte, a fim de alcançar o Jordão, através do vau de Tabor. Pode- se inferir a partir do versículo 19 que Gideão teria designado alguns de sua família para controlar a pas­sagem e bloquear a retirada dos inimigos.8.20, 21. execução por um menor. A morte por uma espada podia ser lenta e dolorosa se o executor não soubesse onde golpear ou lhe faltasse força ou firm e­za. Embora fosse uma honra oferecida por Gideão a seu filho, é fácil entender por que os reis preferiram um a m ão habilidosa e experiente para fazer o serviço.8.21. enfeites do pescoço do camelo. Acredita-se que esses enfeites tinham o formato de um a Lua crescente. A lguns enfeites com o esses foram encontrados em escavações em lugares como Tell al-Ajjul. Os brincos também costumavam ter esse formato, como muitos exemplares encontrados em Tell el Fara e Tell Jemm eh confirmam.8.26. m il e setecentos siclos (vinte quilos e m eio). Gênesis 24.22 menciona uma argola de nariz pesando meio siclo. Se os brincos fossem do mesmo tamanho, m il e se tecen to s sic lo s rep resen tariam três m il e

quatrocentos brincos. Seria o equivalente a vinte qui­los e meio de ouro.8.27. m anto de ouro. O manto fazia parte das vesti­mentas sacerdotais (ver comentário em Ex 28.6-14) e tanto no Egito como na M esopotâmia era usado para vestir os ídolos e os sacerdotes mais graduados. Êxodo 39.3 explica como o ouro era trabalhado em cada fio usado para tecer essa veste. É provável que esse m an­to também fosse feito de fios de ouro, e não de ouro maciço. O fato de Gideão ter sido bem -sucedido na

consulta aos oráculos (6.30-36) e sabendo que em ou­tros contextos o manto é associado aos oráculos (o man­to sacerdotal continha o Urim e o Tumim, [ver comen­tário em Ex 28.30] e foi usado para consultas oracula- res em 1 Sm 30.7, 8), pode indicar que esse m anto funcionava como um elemento oracular. As pessoas que desejavam receber orientação da divindade viri­am (pagariam uma taxa) e receberiam um a resposta (através da mediação dos especialistas: Gideão e sua família).

8.30. setenta filh os, m uitas m ulheres. As esposas dos antigos governantes geralmente eram fruto de alian­ças políticas. Cidades, cidades-estado, tribos ou na­ções que desejassem aliar-se com um governante ou ficar sob sua proteção selavam o tratado oferecendo a filha de uma das principais fam ílias para casar-se com o suserano. Isso representava um ato de lealdade por parte do vassalo que então teria um interesse pessoal em preservar a dinastia. O grande núm ero de filhos indicava a força da linhagem familiar, já que muitos filhos garantiriam a continuidade da família. Isso era m uito im portante para o governante porque geral­m ente a família ocupava posições-chave na adminis­tração. Um a fam ília grande, teoricamente, teria con­dições de assegurar o futuro da dinastia. Alguns eru­ditos têm considerado o núm ero setenta simplesmen­te como uma convenção para indicar um núm ero ele­vado, porém indefinido. Além dos diversos exemplos bíblicos, o mito ugarítico concernente à casa de Baal fala da deusa Atirat (Aserá) que tinha setenta filhos e no m ito hitita de Elkunirsa, A sertu Baal afirm a ter matado os 77 (88) filhos de Asertu (Aserá).8.32. túm ulo da fam ília. Os costumes relacionados ao sepultamento nesse período tinham como característi­ca a existência de tumbas familiares onde eram feitos vários sepultamentos. O corpo era deitado de costas e rodeado por objetos pessoais.8.33. Baal-Berite. Baal-Berite significa "senhor da ali­ança" e designava a divindade adorada em Siquém (cerca de cinqüenta quilômetros ao sul de Ofra; uma

das concubinas de Gideão era de Siquém). Não existe confirmação fora da Bíblia para esse epíteto, m as ver o comentário em 9.46 sobre El-Berite.

9 .1 -5 7Abimeleque9 .1 . S iq u é m . A lo ca lid a d e de S iq u ém tem sido identificada como Tell Balatah, a leste da m oderna Nablus e 56 quilômetros ao norte de Jerusalém. Tal­vez devido à sua proximidade com duas montanhas da região, os montes Gerizim e Ebal, foi considerada por muito tempo um local sagrado. A posição estraté­gica de Siquém , na entrada leste para a passagem entre esses montes, tam bém fez dela um importante centro com ercial. Já na Idade do Bronze M édia I, Siquém é m encionada nos textos egípcios do faraó Sesostris III (1880-1840 a.C.). No período de Am am a (século catorze), Siquém era um a das principais e mais prósperas cidades de Canaã. O governante de Jeru­salém queixou-se ao faraó de que o governante de Siquém , Labayu, entregara a área ao controle dos habiru (para mais informações, ver comentários em Js5.1 e 9.1). A cidade estendia-se por cerca de seis acres e era cercada por muros circulares com um portão a leste e um templo na acrópole. A Idade do Ferro do período dos juizes encontrou poucas mudanças na ci­dade. Não foi conquistada por Josué e como confirma­ção para esse fato, não há indícios de destruição nos sedimentos da antiga cidade referentes a essa época. É provável que o templo na acrópole seja o templo de El-Berite mencionado no versículo 46. A evidência da destruição relatada no versículo 49 pode ser vista na forma de escombros e cinzas que marcam o final do sedimento XI, datado do ano 1125.9.2. prim ogenitura em Israel. No antigo Oriente Pró­xim o, a prim ogenitura nem sem pre era regra geral. Em m uitos textos, fica evidente que os filhos dividiam a herança em partes iguais. Em relação à sucessão ao governo, em várias culturas os irm ãos tinham prio­ridade sobre os filhos, enquanto que em outras, cabia ao rei designar quem o sucederia, sendo que em al­guns casos havia necessidade do consentim ento dos súditos. Na cultura israelita o primogênito geralmente tinha certas vantagens, mas nem a herança nem a su­cessão política cabiam inevitavelmente ao primogênito.9.4. setenta peças de prata. O tesouro do templo foi retirado e entregue a Abim eleque como pagamento pela morte dos setenta filhos de Gideão. Isso demonstra como eles foram desvalorizados (compare o preço de cinqüenta peças de prata pago pelo resgate de um homem em Lv 27.3 e o valor norm al de vinte peças que devia ser pago pela compra de um escravo).9.4. tem plo de Baal-Berite. A respeito de Baal-Berite, ver o comentário em 8.33. Foi confirmada a existência de apenas um templo nesse período, encontrado por arqueólogos dentro da cidade de Siquém (embora outros prédios tenham sido considerados como possí­veis templos). Se esse templo era de Baal-Berite ou de

El-Berite (ver o v. 46), ou se seriam duas designações para o mesmo templo, é um a questão que tem gerado certa controvérsia, e pelas informações disponíveis da época, perm anece insolúvel.9.4. uso de m ercenários. U m a cidade do tam anho de Siquém teria um a população de talvez m il pessoas, portanto, seu exército teria de duzentos a trezentos sol­dados. No entanto, a maioria deles não se sentia dispos­ta a cum prir a tarefa de executar os setenta filhos de Gideão, por isso, foram contratados mercenários. Ge­ralmente, mercenários eram m otivados pela possibili­dade de lucrar com os despojos. Numa situação como essa, porém , não haveria despojos. N a organização m ilitar de M ari, no século dezoito a.C., há indícios de que os templos bancavam o sustento financeiro de ati­vidades m ilitares ordenadas pela divindade.9.5. execução ritual. O comentário de que os filhos de Gideão foram executados "sobre uma rocha" sugere que tenha sido um a execução ritual. G eralm ente os sacrifícios eram feitos num altar e às vezes uma gran­de pedra era usada com o um altar provisório (ver comentário em 6.20). Mais adiante isso pode ter algu­ma relação com a enorm e coluna de pedra que ocupa­va um lugar de destaque no pátio do templo na acró­pole, em Siquém, nesse período. A execução de con­correntes ao trono é bastante comum em todo o antigo O riente Próxim o e, certam ente, em toda a história. Porém não se conhece nenhum caso de execução ritu­al de candidatos ao trono na forma de sacrifício hum a­no, no antigo Oriente Próximo.9.6. coluna de S iquém . A palavra traduzida como "co ­lun a" é um a adaptação de um a palavra hebraica de difícil tradução. Alguns estudiosos têm sugerido, com base nas pesquisas arqueológicas, que o term o não deveria ser corrigido, e sim traduzido como um termo técnico da arquitetura referindo-se a um a paliçada.9.6. B ete-M ilo . É m ais provável que Bete-M ilo seja uma referência a uma parte fortificada do templo situ­ado na acrópole da cidade (ver comentário em 9.46). U m milo geralm ente era um a área onde havia sido feito um aterro a fim de gerar um a plataforma artifi­cial elevada.9.7. m onte G erizim . Não há dúvida de que alguém posicionado no topo do m onte Gerizim podia se fazer ouvir desde Siquém. Gerizim ficava ao sul da cidade e a acústica natural perm itiria um confronto como esse. Existe um a saliência de rocha n a parte m ais baixa do topo do monte, não muito distante de Siquém, que tem sido identificada com freqüência como a pro­vável localização. No mesmo local foram encontradas ruínas de um templo de séculos atrás.9.8. parábola das árvores. Existe uma antiga fábula babilónica do início do segundo milênio intitulada "A Tam arga e a Palm eira". A s duas árvores discutem

qual delas é a m ais importante, tendo como parâmetro o que cada um a tem a oferecer para o palácio do rei. Também é interessante o trecho do Poema de Amor de Nabu e Tashmetu, em que a som bra de diversas árvores (cedro, cipreste etc.) serve como uma m etáfo­ra de proteção ao rei. No mito sumério Lugal-e, Ninurta enfrenta um inim igo nom eado pelas plantas como seu rei.9.9-13. oliveira, figueira e videira. Essas três árvores são as espécies m ais produtivas para a economia da Palestina. O azeite de oliva, os figos e o vinho estão entre os principais produtos da região e os primeiros itens de exportação. Portanto, eles representam tanto a prosperidade da nação como o sucesso nas relações com países estrangeiras - ambos resultado da admi­nistração competente do rei.9.14. espinheiro. Muitos estudiosos acreditam tratar- se do buxo espinhoso, que, com suas m inúsculas fo­lhas, não oferece nenhuma sombra, a menos que al­guém se assente entre os arbustos - um a experiência não m uito agradável. No clim a seco da Palestina é comum ver arbustos pegando fogo. Esses pequenos incêndios por sua vez, podem gerar calor suficiente para alastrar o fogo em direção às árvores maiores. A Sabedoria A ram aica de A hiqar contém um diálogo entre a sarça e a romãzeira.9.21. Beer. Em hebraico, "b e 'e r" significa "p o ço " e m uitos nomes de cidades são compostos por essa pala­vra (por exemplo, Berseba). Portanto é difícil identifi­car essa cidade com segurança. A sugestão mais co­mum é a cidade de el-Bireh, ao norte de Siquém, no vale de Jezreel, perto de Ofra, a cidade natal de Gideão.9.25. ladrões nas colinas. Um a das vantagens de uma cidade posicionada estrategicam ente num a rota co­mercial era o tráfego de mercadores que passava pela cidade, vendendo mercadorias, comprando produtos nativos para comercializá-los em outras localidades e gerando negócios e im postos para a cidade. Arm ar emboscadas nas colinas faria de Siquém um local pou­co atraente para os m ercadores viajantes e privaria Abimeleque da renda dos impostos cobrados por ele. Essa estratégia foi então elaborada com o objetivo de destruir Abim eleque através do enfraquecimento do comércio na cidade.9.26. G aal e seus parentes. O bando formado por Gaal e seus parentes apresenta todos os traços dos peque­nos clãs sem posses, bastante comuns nesse período. Após terem sido expulsos de suas cidades ou de sua própria terra natal, eles viviam pelas estradas como errantes ou m ercenários, sem pre em busca de uma nova área onde pudessem se estabelecer. Nas cartas de Amarna esse grupo é chamado de "habiru".9.28. disputas entre grupos diferentes. Hamor, pai de Siquém, é citado como referência para a população

nativa que vivia em Siquém desde os dias dos patri­arcas (ver G n 34). Parece, então, que Gaal está provo­cando uma dissensão entre os israelitas e os heveus (hurritas?). Abimeleque conseguira seu intento ao ser indicado como governante (ver 8.31 e 9.2) por causa de sua linhagem m ista. Do m esm o m odo que sua identidade com ambos os grupos perm itiu que fosse aceito tanto pelos israelitas como pelos heveus, agora esse fato serve como motivo para ser rejeitado por ambos.9.35-37. som bras dos m ontes. Z ebul e G aal estão de pé, diante do portão leste da cidade, olhando para o leste. A partir desse ponto privilegiado pode-se avis­tar a planície de A skar, im ediatam ente à frente, e as colinas no sudeste (monte el-Urmeh) e nordeste (mon­te el-Kabir). O Sol nascente faria com que tanto a en­costa ocidental da colina ao norte como a encosta norte da colina ao sul (ambas recobertas de florestas) ficassem na sombra. Vestígios de um a fortaleza desse período foram encontrados no topo do monte el-Urmeh, e é bem provável tratar-se do local onde se situava o quartel­general de A bim eleque (Arum á, v. 41).9 .42 .43 . atacou o povo que saiu aos campos. A frase usada nesse versículo para descrever a atividade do povo pode referir-se à saída aos campos para o traba­lho agrícola (como em 9.27), m as também pode refe­rir-se à expressão "invadir o cam po" usada nas cam­panhas militares (ver 2 Sm 11.23; 18.6). Em bora Gaal tivesse sido expulso da cidade, aparentemente havia um contingente que não queria m ais nada com Abi­m eleque e estava envolvido num a operação militar.9.43, 44. em boscad as. É provável que o grupo de emboscada que descia até o portão da cidade vinha da encosta do monte Gerizim, que ficava ao sul da cida­de, a fim de posicionar-se atrás dos que estavam sain­do da cidade, que por sua vez seriam atacados de frente pelas outras duas divisões.9.45. espalhar sal. Embora essa prática não seja confir­m ada em outras passagens bíblicas, antigos documen­tos hititas fazem menção a espalhar agrião sobre uma cidade devastada e em textos assírios do século treze, Salmaneser I espalha sal sobre uma cidade destruída. O Tratado Aramaico de Sefire refere-se a essas duas substâncias em uma de suas maldições. Nenhum des­ses textos, porém, oferece qualquer explicação sobre o que se pretendia com essa ação. Alguns estudiosos acreditam que o motivo era tom ar o solo infértil. Mas nem todos os tipos de sal são capazes de provocar essa reação, além disso, no contexto em questão, o sal não foi espalhado nos campos e sim na cidade. Essa expli­cação tampouco justificaria o uso do agrião. No Antigo Testam ento, assim como em todo o antigo Oriente Próxim o, o sal era usado para consagração (ver co­mentário em Lv 2.11-13). Isso pode indicar que a prá­

tica de espalhar sal era um ritual para purificação ou consagração da cidade à divindade. Além disso, o sal impede a ação do ferm ento e visto que o fermento era um símbolo de rebeldia, o sal poderia representar o fator para reprimir as rebeliões. Por fim , o sal simbo­lizava a infertilidade. Num tratado hitita, o responsá­vel proferia uma maldição segundo a qual, se o trata­do fosse rompido, ele, sua família e suas terras ficari­am como o sal, sem semente ou descendência.9.46. tem plo de El-Berite. O título il brt é confirmado em um dos hinos hurritas relacionados nas tábuas de Ugarite. El era o principal deus do panteão cananeu e "berite" significa aliança. Foi sugerida a existência de um sincretismo religioso entre a população m ista de israelitas e cananeus em Siquém , com binando ele­mentos de Yahweh, a aliança do Deus de Israel, com El, a divindade cananéia. Foram encontrados vestígi­os de um templo desse período na acrópole de Siquém (ver comentários em 9.1 e 9.4). Esse templo media 33 metros de largura por 28 metros de comprimento e suas paredes tinham 5 m etros e meio de espessura, transformando-o num a verdadeira fortaleza. N o pá­tio, erguia-se uma coluna de pedra (massebah). Outros estudiosos sugeriram que o lugar sagrado no monte Ebal, situado nas proximidades (ver comentário em Js8.30, 31), deveria ser identificado com o santuário de El-Berite (visto que a retirada aqui parece ter aconte­cido após a cidade ter sido destruída, v. 45), mas não há evidências de nenhuma fortaleza ali.9.48. m onte Zalmom. O monte Zalmom não é m enci­onado em nenhuma outra passagem do Antigo Testa­mento. Alguns eruditos acreditam tratar-se do monte Ebal ou Gerizim, m as é difícil entender por que um nome diferente teria sido usado aqui. Outra possibili­dade é que esteja se referindo a um cume que ficava além do vale, ao sul de Gerizim.9.50. T ebes. Tebes tem sido identificada com a m o­derna Tubas, cerca de catorze quilômetros a nordeste de Siquém, com base nos primeiros registros cristãos (Eusébio). Nenhum trabalho arqueológico foi feito no local.9.51. torre dentro da cidade. U m a característica co­m um das cidades desse período era a existência de um a segunda área fortificada dentro da cidade - um tipo de cidadela. Geralmente essas cidadelas tinham o formato de uma torre e situavam-se no ponto mais alto da cidade; talvez também incluíssem um a área para o templo, armazéns e a casa do tesouro.9.53. ped ra de m oinho. G eralm ente o trabalho no moinho era feito com duas pedras de basalto. A pedra que ficava embaixo era m uito pesada (algumas pesa­vam cerca de 45 quilos), achatada ou levemente cur­va; os cereais eram depositados sobre ela e então m o­ídos e transformados em farinha com a segunda pe­

dra, mais leve, que pesava cerca de dois quilos e se adaptava bem à mão do trabalhador.

10.1-5Juizes menores: Tolá e Jair10.1. ju izes "m en ores". O texto não se refere a esses juizes como "m enores", visto tratar-se de uma classifi­cação moderna usada para referir-se aos juizes sobre os quais não há nenhum registro de envolvim ento em ações m ilitares. Sendo assim, a natureza de sua função com o juizes deve ser identificada de outra maneira. Era papel do rei estabelecer a justiça e, nesse caso, também era função desses "ju izes". Essa tarefa não era executada exclusivamente através de um sis­tem a judiciário, em bora fizesse parte, m as também por meio de muitos aspectos do governo. Logo, esses juizes podem ser classificados como governantes lo­cais. Ver comentário em 2.16.10.1. Sam ir. Samir tem sido identificada por alguns es­tudiosos como Samaria, a última capital do reino do nor­te. Se não for Samaria, sua localização é desconhecida.10.4. trinta filh os, trinta jum entos, trinta cidades. Além de referir-se a filhos biológicos, essa terminologia pode referir-se a vassalos (ver 2 Rs 16.7) ou àqueles que estão a serviço de um superior (ver 1 Sm 25.8; 2 Rs 8.9). N esse caso, Jair é identificado como tendo um território de trinta cidades sob seu com ando, cada um a com seu próprio governante (que geralm ente montava um jumentos) que era também seu vassalo. Existe um a lenda hitita que fala da rainha de Canes dando à luz trinta filhos em um único ano.10.4. "povoados de Ja ir" . Esses povoados referem-se aqui às ocupações na região leste do m ar da Galiléia, em Gileade, entre os rios Iarmuque e Jaboque.10.5. Camom. Em bora m uitos lugares diferentes se­jam apontados como a provável localização de Camom, não há evidências suficientes que permitam a confir­mação de qualquer deles.

10.6-12.7Jefté10.6. lista de deuses. Baalins e imagens de Astarote (Astarte) referem-se às divindades cananéias, enquan­to que os outros deuses são denominados de acordo com a nação que representam e não pelo nome pró­prio. Não se deve, porém, pensar que essas divinda­des nacionais tivessem conotação política. N a verdade esses deuses estavam relacionados à fertilidade e a outros aspectos ou fenômenos da natureza (tempesta­des, por exemplo). Isso mostra o sincretismo que ha­via em Israel e a propensão dos israelitas em se deixar influenciar pelo pensamento politeísta. O politeísmo do mundo antigo era um sistema aberto, ou seja, para

os antigos seria tolice ignorar ou desconsiderar qual­quer deus que pudesse eventualmente trazer bênção ou causar o mal.10.8. G ilead e. G ileade é a região da Transjordânia delimitada pelo rio Jaboque ao sul (embora em algu­mas épocas tenha se estendido até o A m om , m ais ao sul) e pelo rio Iarmuque, ao norte.10.9. am onitas. Os am onitas v iv iam ao norte dos moabitas, na região do rio Jaboque. Eram conhecidos nos registros assírios como Bit-Ammon, e sua região é denominada "terra de Benam m anu". Esse povo esta­va se estabelecendo nesse território quase no mesmo periodo da peregrinação dos israelitas.10.17. M ispá. Diversas localidades recebem o nome de Mispá. A mais conhecida situa-se no território da tribo de Benjamim e é identificada como a moderna Tell en-Nasbeh, cerca de dez quilômetros ao norte de Jerusalém, mas seria m uito distante para reunir tro­pas para um a batalha em Gileade. É m ais provável que a M ispá de Gileade seja o lugar onde Jacó e Labão fizeram um acordo (Gn 31), mas esse local tam bém é desconhecido. A Gileade onde os amonitas acampa­ram pode ser a cidade de Gileade, a moderna Khirbet Jel'ad, cerca de dez quilômetros ao sul do Jaboque.10.18. chefes m ilitares. Em tempos de ameaça militar, os territórios governados pelos anciãos ou líderes tribais aceitavam subm eter-se a um chefe m ilitar que lhes garantisse proteção e talvez os livrasse dos inimigos. Uma situação semelhante pode ser vista nas histórias relacionadas aos deuses. No Hino Babilónico da Cria­ção, dedicado ao deus M arduque, ao concordar em assumir a responsabilidade para enfrentar a ameaça m ilitar representada pelos deuses m ais jovens, M ardu­que torna-se o chefe do panteão. Acredita-se que esse tipo de acordo tenha proporcionado a alavanca socio­lógica para o desenvolvimento da m onarquia no anti­go Oriente Próximo.11.1. guerreiro valente. O texto refere-se a Jefté como "guerreiro valente". A terminologia usada aqui não é apenas m ilitar, m as pode tam bém se referir a um a pessoa de excelente reputação ou de destaque na co­m unidade - uma pessoa de confiança. Nesse contexto, porém, é provável que a fam a de Jefté tenha se origi­nado de suas conquistas militares. É a m esm a expres­são usada para descrever Gideão em 6.12.

11.2. filh os ilegítim os expulsos da fam ília. Deve-se observar que a expulsão de Jefté não foi m otivada por nenhum ato que tivesse trazido vergonha ou humi­lhação à família. Com a existência das prostitutas que serviam no templo e a prática da poligamia, era bas­tante comum que num a mesma família houvesse fi­lhos de diferentes mães. Aqui o texto deixa claro que o que m otivou a expulsão foi a questão da herança. Como prim ogênito Jefté teria direito a um a porção dobrada da herança, m as ainda que os bens fossem divididos em partes iguais (ver o com entário sobre primogenitura em 9.2), a eliminação de um filho au­m entaria a parte destinada aos demais.11.3. terra de T obe. Tobe foi identificada com o et- Tayibeh, na região entre Edrei (Der a) e Bosrá (Busra ash-Sham) no oeste de Gileade, 32 quilômetros a oeste do monte Hauron. Embora nenhuma escavação tenha sido conduzida no local, é possível que esteja incluída na lista de cidades de Tutm és III.11.8-10. posição oferecida a Jefté . A oferta inicial feita pelos líderes de Gileade faria de Jefté o governante m ilitar de Gileade, embora aparentemente ainda con­tinuasse sob a autoridade dos líderes. No versículo 9, Jefté negocia para ter autoridade tam bém sobre os líderes, o que representa um passo a m ais em direção ao conceito de m onarquia (compare como Abimeleque tornou-se rei na região de Siquém, no cap. 9 e com o reino de Davi apenas sobre Judá, em 2 Sm 2.1-4).11 .12 ,13 . negociações quanto a disputas territoriais. Para entender essa negociação é necessário reconhe­cer que tanto os amonitas como Jefté compartilhavam do conceito de posse territorial garantida pela divin­dade. Eram os deuses que garantiam a posse da terra e o direito sobre ela, desse modo, apelava-se aos deu­ses para que julgassem o caso e se necessário (em caso de guerra), defendessem a distribuição territorial. A questão dos direitos da terra não estava relacionada ao fato de quem havia sido o primeiro a chegar, mas sim à confirm ação de que a divindade havia dado aquela terra e à capacidade do povo em preservar sua posse.11.15-23. reivindicações de Je fté . Os israelitas havi­am tomado a terra dos amorreus, não a dos amonitas. Em bora os amonitas pudessem dizer que os amorreus haviam tomado a terra deles, Jefté tentou mostrar em

CONTEXTO POLÍTICO NA IDADE DO FERRO ANTIGANa Idade do Bronze Moderna (1550-1200 a.C.) havia um conflito permanente entre as principais potências políticas que buscavam o controle da Palestina (ver comentário em Is 9.1). Com a chegada dos povos do mar, por volta de 1200 (ver comentário em Jz 13.1), todas essas potências foram expulsas (como os hititas) ou neutralizadas (Egito). Durante a Idade do Ferro (exatamente na época do Livro de Juizes), o impasse entre essas potências deu lugar a um esvaziamento do poder político. A inexistência de grandes potências cobiçando o controle da região permitiu que estados menores testassem sua força, se desenvolvessem e formassem "im périos" regionais. Os filisteus aproveitaram-se dessa situação no início desse período. Logo depois, Davi e Salomão conseguiram estabelecer um sólido império na região da Sírio-Palestina, sem precisar preocupar-se com as potências políticas da Mesopotâmia, Anatólia ou Egito.

seu discurso que Yahw eh tom ou a terra dos amorreus e deu-a a Israel. Quaisquer reivindicações anteriores dos amonitas pela posse da terra foram anuladas de­vido ao tempo que Israel ficara de posse da terra, sem que ninguém a reclam asse. Para detalhes sobre as questões geográficas apresentadas por Jefté, consulte os respectivos comentários em Números 21.11.24. Camos. Camos é mais conhecido como o deus nacional dos moabitas, e na pedra moabita do século nono (inscrição de Mesha) ele é descrito como o deus que traz vitória na batalha, assim como Yahw eh em relação a Israel. A divindade nacional amonita geral­mente é denominada M ilcom ou na NVT, M oloque (1 Rs 11.5, 33). Embora Camos tenha sido adotado como divindade nacional dos moabitas, a ocorrência da for­m a variante, Cam is, num a lista de deuses de Ebla, onde havia um tem plo dedicado a ele, sugere que tenha sido incluído no rol dos deuses semitas da Síria, no terceiro milênio, muito antes dos moabitas. Uma lista de divindades assírias associa Camos (Camus) a Nergal, o deus do mundo inferior. Não se sabe ainda a qual fenômeno natural Camos estava relacionado, nem evidências de representações desse deus nas des­cobertas arqueológicas.11.26. nota cron ológ ica . Jefté declara que a posse israelita daquela terra já tinha m ais de trezentos anos de história. Embora se trate, sem dúvida, de um nú­m ero arredondado, indica que a data provável da conquista seria o século quinze e não o treze (ver nota quanto à data do êxodo em Ex 12). Jefté provavelmen­te viveu por volta do ano de 1100 a.C. e não poderia ser muito depois, de outro modo não restaria espaço para Samuel, Saul e Davi. Em bora a integridade da Bíblia não seja colocada em risco ainda que Jefté esti­vesse mal informado ou exagerando, é difícil acredi­tar na força de seu argumento se Israel estivesse na terra apenas a m etade daquele tempo, ou seja, por 150 anos.11.29. o E spírito do Senh or. O Espírito do Senhor novam ente aparece associado à convocação de um exército (ver comentário em 6.34, 35). Apesar de Jefté ter recebido autoridade para comandar em Gileade, seu papel como líder ainda não fora formalmente re­conhecido em outras áreas de M anassés, inclusive em Basã (norte de Gileade), assim como no território a oeste de Jordão.11.29. m ovim ento das tropas. Visto que a localização de Mispá é incerta, não há dados específicos aqui que permitam reconstituir o posicionamento das tropas de Jefté.11.30. votos. Um voto é um a promessa condicional, geralmente relacionada a algo a ser oferecido à divin­dade (para informações adicionais, ver comentários de G n 28.20-22; Lv 27.2-13 e N m 30.2-15). Votos seme­

lhantes a esse de Jefté podem ser encontrados na lite­ratura clássica, como o voto feito pelo rei de Creta (quase contemporâneo de Jefté) Idomenus, ao ser ame­açado por um a tem pestade quando retornava para casa, após a invasão e o saque de Tróia. A situação o levou a fazer um voto bastante parecido com o de Jefté e que acabou resultando no sacrifício de seu filho. Antes das batalhas, geralmente eram oferecidos sacri­fícios a fim de buscar o auxílio divino (ver 1 Sm 13.8­12). Quando não era possível fazer isso antes das ba­talhas, pode-se ter um a idéia da força do tipo de voto feito por Jefté. Um a alternativa para o voto de Jefté seria dedicar os despojos ao Senhor (compare com Nm 21.2), mas talvez essa prática fosse inadequada para cidades fora do território israelita.11.31. o que Je fté esperava que fosse ao seu encon­tro. Embora seja verdade que as casas israelitas aco­modassem também animais, nenhum deles saía para recepcionar qualquer pessoa. Naquela época, não ha­via o costume de m anter em casa animais domésticos como cães, tampouco seriam considerados adequados para um sacrifício. Além do mais, um simples sacrifí­cio anim al não estaria à altura da am plitude e do significado da vitória que Jefté acabara de conquistar. Portanto, pode-se concluir que Jefté já previa um sa­crifício humano (a respeito de sacrifícios humanos no antigo Oriente Próximo, consulte os comentários de Gn 22.1, 2; D t 18.10).11.31. holocausto. O term o usado aqui aparece em m ais 250 ocorrências, e em todas elas, refere-se a um sacrifício literalmente queimado sobre o altar. Nunca é em pregado de m odo figurado ou simbólico. Para um a discussão sobre o holocausto ou oferta queimada, ver o comentário em Levítico 1.3, 4. Esta mesma pala­vra é usada em Gênesis 22.2 e em 1 Rs 3.27, onde o que se tem em vista são sacrifícios humanos.11.33. regiões conquistadas. De acordo com o texto, a área que Jefté conquistou incluía vinte cidades, sendo que três delas são mencionadas especificamente. Pes­quisas arqueológicas encontraram m uitos povoados fortificados nessa região que datam desse período e apresentam traços de fortalezas arredondadas. E pro­vável que muitas dessas vinte cidades fossem assim. Existe uma Aroer bastante conhecida bem ao norte do desfiladeiro de Am om , onde o rio faz um desvio para o sul, na fronteira sul do território am onita, mas é provável que seja um a outra cidade com o mesmo nom e, vizinha de Rabá (como em Js 13.25). A bel- Queramim provavelmente é a cidade chamada krmm na lista de cidades de Tutm és III, mas sua localização é desconhecida. Minite, de acordo com fontes gregas posteriores, estaria situada entre Hesbom e Rabá, po­dendo ser U m m el-Basatin. Embora não seja possível localizar exatamente essas cidades, fica claro que Jefté

não apenas expulsou Am om do território israelita em Gileade, mas também invadiu o território de Am om e conquistou m uitas de suas cidades fortificadas, a maioria delas entre Rabá e Hesbom.11.34. celebração de vitória. Era comum que as moças saíssem para saudar com músicas e danças os solda­dos vitoriosos que retom avam da batalha. Essa práti­ca é confirmada na celebração oferecida a Saul e Davi (1 Sm 18.6, 7) e em parte pelo cântico de Miriã, em Êxodo 15.20, 21. O "tam borim " que a filha de Jefté tocou tem sido identificado em relevos arqueológicos como um tambor ou um pequeno pandeiro (um peda­ço de couro esticado sobre um aro), sem o som dos pequenos guizos dos pandeiros modernos.11.34. única filh a. Na crença religiosa popular do an­tigo Oriente Próximo, dava-se grande importância à veneração dos ancestrais pelas gerações seguintes como m eio de garantir o bem-estar na vida após a morte. Tais conceitos às vezes eram mantidos também pelos israelitas, apesar de não receberem apoio divino. No contexto da aliança, o fim de uma linhagem familiar representava a perda da terra que havia sido recebi­da como herança. Em ambas as visões de mundo, a m orte de um único filho era terrível tanto pelo signi­ficado filosófico, como pelo im pacto em ocional que acarretava ao indivíduo.11.35. rasgar as vestes em sin a l de lu to . A lém de jogar cinzas na cabeça, rasgar as vestes era uma forma comum de demonstrar luto no antigo Oriente Próxi­mo. Um exemplo fora da Bíblia encontra-se no épico ugarítico de A qhat (cerca de 1600 a.C .), em que a irmã do herói rasga as vestes de seu pai ao predizer um a seca iminente. Essa atitude geralm ente era um sinal de pesar pela morte de um parente, amigo ou pessoa proeminente (2 Sm 3.31). Porém, também po­dia significar uma desgraça iminente, como no exem­plo da literatura ugarítica, e tam bém em Núm eros14.6 e aqui.11.35. 36. cum prir os votos. Sendo o voto um ato religioso em que a divindade é invocada a fazer um pacto com o adorador, não pode ser rom pido sob pena de desagradar a Deus (ver Êx 20.7 e a ordem de não "usar o nome de Deus em vão"). Embora o voto não pudesse ser rompido, a lei permitia que fosse atenua­do, especialm ente quando envolvia pessoas (ver o comentário em Lv 27.2-8). Aparentemente, Jefté des­conhecia essa possibilidade.11.37. chorar por dois m eses nas colinas. Na mitolo­gia cananéia de Ugarite (Baal e Mot) a deusa virgem A nat vagueia pelas colinas pranteando a perda da fertilidade, visto que Baal está morto. O motivo do lamento pelas colinas por causa da perda da fertilida­de, portanto, pode estar relacionado ao pedido feito pela filha de Jefté. Na antiga tradição mesopotâmica

foi o deus Dumuzi (Tamuz), o "vivificador da criança no ventre" que m orreu e foi lamentado. O período de dois m eses provavelm ente está relacionado a uma das "estações" de Israel. O calendário de Gezer (sécu­lo dez) dividia o ano em oito períodos: quatro perío­dos de dois meses e quatro de um mês de duração. O segundo período de dois m eses (semeadura) coincidia com o inverno, época em que as preocupações com a fertilidade e a produtividade eram prioritárias.11.39. cum prim ento do voto: m ulheres servindo no tabernáculo? Alguns eruditos têm sugerido que em vez de ser sacrificada, a filha de Jefté foi consagrada para servir no tabernáculo em regime de celibato. Há exemplos de dedicação vitalícia ao serviço no templo (Samuel; ver 1 Sm 1.28) e de mulheres servindo no santuário (Êx 38.8; 1 Sm 2.22), mas não há exemplos de mulheres servindo no santuário com voto de celi­bato ou em consagração perpétua. No antigo Oriente Próximo geralmente as m ulheres que serviam no tem­plo praticavam uma prostituição cultual, não o celiba­to (ver comentário em Dt 23.17,18). Esse tipo de con­sagração tem sido considerado o equivalente ao sacri­fício de um filho. Talvez um dado significativo esteja relacionado a um a categoria de m ulheres chamadas de naáitu no período da Antiga Babilônia (1800-1600). Essas mulheres eram ligadas ao templo como "noivas da divindade" e por essa razão, eram proibidas de se casar, embora não precisassem perm anecer virgens. As leis de Hamurabi relatam casos de homens que se casaram com um a naáitu, mas ela ficava impedida de ter filhos.

11.40. celebração. O verbo traduzido aqui por "cele­brar" é impreciso (é citado apenas mais uma vez, em Jz 5.11, onde é traduzido pela NVI como "recitar"), porém , esse é o único relato desse costum e anual. Como resultado, os comentaristas podem apenas es­pecular sobre a natureza dessa celebração. Como não há qualquer indicação de como seria essa celebração, é difícil sugerir eventos semelhantes no mundo anti­go. No período da Antiga Babilônia as naditus (ver o comentário acima) realizavam anualmente uma ceri­

m ônia em m em ória daquelas que tinham m orrido sem ter dado à luz nenhum filho. O contexto dessa passagem sugere a observância de quatro dias, o que de certa forma representa um período de luto e pranto por causa da fertilidade perdida (ver os comentários em 11.37).12.1. Zafom . A área em que se localizava Zafom é bastante clara, mas ainda assim não há consenso so­bre sua localização exata. Josué 13.27 a situa próximo de Sucote, no território de Gade. De m odo geral, tem sido identificada com Tell el-Qos, alguns quilômetros ao norte de Sucote (Tell Deir 'Allah).

12.1. a queixa dos efraim itas. Os efraimitas tinham a tendência de causar contendas (ver o ocorrido com Gideão, em 8.1 e o respectivo comentário), m as en­quanto que Gideão foi capaz de acalmá-los, aqui suas queixas atingem o nível de uma guerra civil. Nenhu­ma parte do território tomado dos amonitas fora de­signado a Efraim , m as seu território atravessava o Jordão a partir das terras dos amonitas. É importante le m b ra r tam b ém qu e as tr ib o s de Isra e l fo ram estabelecidas individualmente, m antendo-se unidas pela fé comum e pela herança prometida na aliança com Yahweh. A única liderança form al reconhecida por todas era a de Y ahw eh, o D eus da nação e a liderança tribal dos anciãos e chefes dos clãs. Jefté distanciava-se de tudo isso porque recebera um a posi­ção formal de comando (ver comentário em 11.8-10). Talvez isso tenha sido encarado como uma ameaça para as outras tribos.12.4. gileaditas como desertores. Os efraimitas tenta­ram anular os direitos territoriais dos gileaditas ne­gando sua posição como tribo. Historicamente, Gileade era um dos clãs da tribo de Manassés. Ao identificá- los como um a linhagem m ista (Efraim e M anassés), os efraimitas estavam classificando-os como invasores que não tinham direito à posse da terra como tinham os dem ais clãs e tribos. Representa um a tentativa por parte dos efraimitas de apoderar-se da terra conquis­tada pelos gileaditas.12.5. passagens do Jordão. As passagens m enciona­das aqui são aquelas perto da cidade de Adã, ao sul da confluência com o rio Jaboque (ver comentário em Js 2.7).12.6 variações na pronúncia do hebraico antigo. Naslínguas semitas do antigo Oriente Próximo, a pronún­cia de certas consoantes é variável. Numa dessas vari­ações, a consoante hebraica shin (ch) com bina duas consoantes do ugarítico (parecido com o cananeu), sh e th. Assim, a palavra hebraica para "três" é shalosh, em ugarítico é thalath e em aramaico é talat. É interessante observar que na língua dos amonitas também existia a variante consonantal th. Foi esse tipo de variação na pronúncia que provocou uma diferença entre a fala dos efraimitas e a dos gileaditas. Não seria o caso de um dialeto diferente, m as apenas de um a variação regional ou sotaque diferente. G eralm ente, os sons consonantais são os mais difíceis de serem reproduzi­dos. G. Rendsburg identificou o cenário que mais se encaixa dentro dos detalhes lingüísticos e contextuais. Os efraim itas geralm ente pronunciariam a palavra "sibolete", enquanto os gileaditas pronunciariam "chi- bolete". Quando os gileaditas confrontavam os efrai­m itas suspeitos, insistiam para que pronunciassem "chibolete", visto que só conseguiam pronunciar "s i­bolete". A palavra "sibolete" pode significar "espiga

de m ilho" ou "torrente de um rio", mas esse último faz m ais sentido em relação ao contexto.

12.8-15Juizes menores: Ibsã, EIom e Abdom12.8. ju izes "m en ores". Não há nenhum a menção a esses três indivíduos, dentro ou fora da Bíblia, além dessa passagem. Para inform ações sobre as atribui­ções do juiz, ver comentários em 10.1 e 2.16.12.8. Belém . Essa Belém geralmente não é considera­da aquela de Judá, poucos quilômetros ao sul de Jeru­salém , e sim um a cidade no território de Zebulom, nas colinas da Galiléia, ao norte do vale de Jezreel. O único indício para essa localização é o fato de Elom e Abdom tam bém estarem nessa m esma área.12.9. casam entos políticos. As esposas de um gover­nante, asssim como seus filhos, geralmente represen­tavam alianças políticas. Cidades, cidades-estado, tri­bos ou nações que desejavam aliar-se a um governante ou ficar sob sua proteção selavam o tratado oferecendo a filha de um a das principais fam ílias para casar-se com o suserano ou com seu filho. Isso representava um ato de lealdade por parte do vassalo, que então teria interesse pessoaLem preservar a dinastia. O gran­de núm ero de filhos indicava a força da linhagem da fam ília, já que m uitos filhos proporcionavam uma garantia de continuidade. Isso era muito importante para o governante porque geralmente a família ocu­pava posições-chave na administração. Um a fam ília grande, teoricamente, teria condições de assegurar o futuro da dinastia. O versículo 9 indica um a vasta rede de relações políticas.12.11. A ijalom em Zebulom . A cidade m ais conhecida com esse m esm o nom e e o vale de Aijalom ficavam no território de Dã; portanto, não é a mesma Aijalom men­cionada aqui, cuja localização ainda é desconhecida.12.13. Piratom . Piratom tem sido identificada com a aldeia de Farata, dez ou doze quilômetros a sul-su- deste de Samaria.12.14. quarenta filh o s e trin ta netos m ontados em setenta jum entos. É difícil dizer se esses filhos e netos representam alianças políticas (ver comentário em 10.3) ou o tamanho do clã que ele governava (ver comentá­rio em 12.8). A referência a jum entos favorece a pri­m eira alternativa enquanto que a menção aos netos favorece a última.

13.1-25O nascimento de Sansão13.1. filisteu s. Os filisteus são conhecidos através das narrativas de Juizes e de 1 e 2 Samuel e chegaram à Palestina juntam ente com os chamados povos do mar, que migraram da região do Egeu por volta de 1200a.C.. De m odo geral, os povos do m ar têm sido consi­

derados responsáveis pela queda do império hitita e pela destruição de muitas cidades ao longo da costa da Síria e da Palestina, tais como Ugarite, Tiro, Sidom, M egido e A squelom , em bora as evidências de seu envolvimento nessas áreas sejam circunstanciais. Suas batalhas com o faraó egípcio Ramsés III são ilustradas nos famosos murais de M edinet Habu. Esse grande movimento populacional também se reflete no épico de Homero sobre o cerco de Tróia. Saindo de Creta, da G récia e da A natólia, é provável que esses povos tenham usado Chipre como base de onde desferiam seus ataques. Após terem sido im pedidos de entrar no Egito, a tribo que passou a ser conhecida como filisteus estabeleceu-se na costa sul da Palestina, fun­dando cinco capitais: Asquelom, Asdode, Ecrom (Tell Miqne), Gate (Tell es-Safi) e Gaza.13.2. Zorá. Zorá é identificada como a moderna Sar'a, cerca de 25 quilômetros a oeste de Jerusalém, no vale de Soreque, que era a principal passagem das planí­cies costeiras através da Sefelá até as montanhas ao redor de Jerusalém.13.2. esterilidade. O fato de uma mulher ser incapaz de gerar filhos muitas vezes a deixava vulnerável aos caprichos do marido, visto que m uitos contratos de casamento permitiam que o marido se divorciasse por esse motivo. A esterilidade geralmente levava o m a­rido a tom ar outras m ulheres que, por sua vez, ao gerarem filhos, assum iam um a posição privilegiada na fam ília. Esse texto, porém , não está tratando de relações familiares ou de tensões emocionais. A esteri­lidade da esposa de M anoá é um fator que ajuda a demonstrar o aspecto sobrenatural da vida e do mi­nistério de Sansão.13.4, 5. voto de nazireu. Assim como a maioria dos votos no antigo Oriente Próxim o, o voto de nazireu representava tipicamente um acordo condicional fir­mado com a divindade. Se a resposta da divindade fosse favorável à petição, o voto era pago com a dedi­cação de ofertas à divindade. O que tom ava distinto o voto do nazireu era o período de abstinência que antecedia a entrega das ofertas. A situação de Sansão é ainda mais notável, visto que seu período de absti­nência não durava alguns dias ou semanas, como era costume, m as sim a vida toda. Para mais informações sobre o voto nazireu, consulte os comentários em N ú­m eros 6.1-21.13.5. im portância ritual dos cabelos. Uma inscrição fenícia do século nono relata a dedicação de uma pes­soa rapando os cabelos em cumprimento a um voto feito à deusa Astarte. É im portante destacar que no texto bíblico não se discute o que deveria ser feito com o cabelo que era rapado. Não era dedicado, como na inscrição acima, nem depositado no templo, como em certas culturas. No caso de Sansão, o cabelo dedicado

não podia ser cortado. No pensamento do mundo an­tigo, o cabelo (junto com o sangue) representava a essência da vida da pessoa, e como tal, sempre era um ingrediente usado em simpatias. Isso fica claro, por exemplo, na prática de enviar uma mecha de cabelos supostamente do profeta, juntam ente com as profecias destinadas ao rei de *Mari, para que fosse usado em adivinhações para determinar se a m ensagem do pro­feta seria considerada válida.13 .15 ,16 . refeição de hospitalidade. Os costumes re­lacionados à hospitalidade exigiam que todos os estra­nhos que chegassem a uma m oradia fossem bem tra­tados e tivessem oportunidade de descansar, se lavar e comer uma refeição. Isso era feito com o objetivo de assegurar a amizade do estranho. Também era prati­cado no caso de alguém que estivesse trazendo profe­cias como as descritas aqui. O que é particularmente generoso neste episódio é a carne fresca, um prato que raramente fazia parte do cardápio do dia-a-dia.13.17. im portância do nom e. No mundo antigo, acre­ditava-se que o nom e estava intimamente relaciona­do à essência da pessoa e que podia ser usado para propósitos de m agia e feitiço. Revelar o nom e a al­guém era visto como um ato de favor, de confiança e, em term os hum anos, de vu lnerabilid ad e. Os D ez M andam entos proibiam Israel de usar o nom e de Yahw eh em magias ou festiços a fim de manipulá-lo. Mas aqui, a intenção de M anoá ao perguntar ao anjo o seu nome, não visava causar mal, nem invocar o nome dele. O texto indica que M anoá não percebeu que se tratava de um visitante sobrenatural. Se fosse um profeta, sua reputação seria enaltecida e ele seria su­prido por alguém favorecido pela exatidão e bondade de suas palavras. Tais recompensas, porém, só pode­riam ser oferecidas se a identidade da pessoa fosse conhecida.13.19. oferta de cereal. A palavra usada para descre­ver a oferta de cereal significa "dádiva" ou "tributo". Essa oferta era usada em situações em que se preten­dia demonstrar respeito ou honra. O m esm o termo era usado também em *ugarítico e *acadiano (Canaã e Mesopotâmia). A oferta de cereal geralmente era ofe­recida em ocasiões de celebração e não em situações de tristeza ou luto. Em ocasiões formais, uma peque­na parte era queim ada sobre o altar como símbolo da oferta ao Senhor, enquanto que o restante era dado ao sacerdote oficiante. Os ingredientes dessa oferta eram cereais, azeite e incenso. Os cereais eram os grãos ou a semolina que ficavam na peneira depois que o trigo era m oído e transform ado em farinha. O óleo era azeite de oliva, usado como gordura no preparo dos alimentos e facilmente inflamável. O incenso era feito da resina de um tipo de árvore encontrada somente no sul da Arábia e na Som ália. A oferta de cereais

usava uma pequena quantia de incenso que era total­mente queimado num pequeno queimador (para mais informações, ver comentários em Lv 2).13.19. sacrifício sobre um a rocha. O ato de colocar o alimento sobre a rocha fazia com que esse alimento deixasse de ser simplesmente um a refeição e passasse a ser um sacrifício para ser consumido. As rochas às vezes eram usadas como altares (1 Sm 14.32-34), ge­ralmente para permitir que o sangue do animal sacri­ficado escorresse até o chão.13.22. tabu a respeito de ver a D eus. O conceito de divindade com uma aparência impressionante da qual os seres humanos não podiam aproximar-se não era restrito à teologia israelita, visto que na Mesopotâmia os deuses demonstravam seu poder através de seu melam mu, ou fulgor divino. Em bora a visão da di­vindade causasse bastante m edo e pavor, não era considerada como fatal. Também fica claro no texto bíblico que o m ensageiro não apresentava um mela­mmu, já que M anoá não pôde reconhecer sua identi­dade sobrenatural. Tabus semelhantes a esse não são confirmados na literatura do antigo Oriente Próximo.13.24. o n om e de San são . O nom e Sansão é um a variação do substantivo hebraico que significa "so l". A poucos quilômetros ao sul de sua casa ficava a cida­de de Bete-Semes, considerada a casa ou templo do sol. Sabe-se que o culto ao Sol existiu em Israel como parte de um a das aberrações religiosas do povo (2 Rs 23.11); alguns estudiosos têm sugerido que Yahweh, às vezes, era representado na form a de um Sol em relevos (o incensário de Taanaque) e na literatura (ver SI 80.2, 3; D t 33.2).13.25. M aané-D ã. M aané-Dã significa "cam po de D ã", portanto, é provável que não seja o nom e de um povoado estabelecido. Zorá e Estaol (K hirbet D eir Shubeib) estão separadas por apenas dois quilôm e­tros uma da outra, mas existe um a fonte perto do vau de Kesalon entre as duas cidades que talvez seja a área mencionada aqui.

14.1-16.31 As proezas de Sansão14.1. T im n a . T im na situ a-se ao longo do vale de Soreque, cerca de nove quilômetros a oeste da casa de Sansão em Zorá. É a m oderna Tell el-Batashi, localiza­da mais ou menos na metade do caminho entre Zorá e a cidade filistéia de Ecrom. Escavações no local de­monstram que houve ocupação durante esse período, mas esclarecem pouco a narrativa bíblica.14.2. casam ento arranjado pelos pais. Em todo o anti­go Oriente Próximo o casamento era visto mais como uma parceria entre clãs (muitas vezes com motivações econômicas), relacionada à posição social das famílias envolvidas, do que como a união rom ântica de um

casal apaixonado. Como resultado, os acertos dessas parcerias ficavam nas mãos do chefe da família. Os pais decidiam quando o casamento deveria acontecer e quem seria o futuro cônjuge. Geralmente esses ar­ranjos eram feitos quando os futuros cônjuges ainda eram crianças. A endogam ia, ou seja, o casamento entre pessoas da m esma tribo ou aldeia, era a prática comum, especialmente em Israel onde a posse da ter­ra estava atrelada à filiação tribal. Mesmo quando um indivíduo tinha a liberdade de escolher com quem se casar, os pais deveriam conduzir as negociações sobre os acertos financeiros quanto ao preço da noiva (ver com entário em G n 29.18-20) e ao dote (geralmente um a propriedade), sendo ambos considerados como bens ligados à esposa. O preço da noiva é muito mais discutido do que o dote no antigo Oriente Próximo e na Bíblia.

14.3. incircunciso. A circuncisão era praticada por mui­tos povos no antigo Oriente Próximo (ver comentário em G n 17.9-14), mas não pelos filisteus. O comentário aqui não diz respeito aos atributos físicos ou aos costu­mes de um grupo social; trata-se de um a distinção étnica que para os israelitas era um sinal da aliança.14.5, 6. leão. Reis e heróis do mundo antigo costuma­vam se gabar de suas habilidades de lutar com leões ou caçá-los. Uma cena comum nas pinturas egípcias representa o faraó montado em seu carro enfrentando leões com um arco ou um a lança nas mãos. Reis assírios, do mesmo modo, afirmavam ter caçado centenas de leões. U m relevo de T el H alaf (cerca de 900 a.C.) ilustra um guerreiro usando uma espada para lutar com um leão. M atar um leão sem nenhuma arma nas mãos é um feito atribuído a vários heróis da Antigui­dade como, por exemplo, o rei sumério Gilgamés e na lenda grega de Heráculo. Os leões eram comuns nas florestas da Palestina e nesse período toda a região que circundava o vale do Soreque, entre Zorá e Timna, era coberta de florestas.14.6. o Espírito do Senhor. Nas ocasiões anteriores em que ocorreu o aparecimento do Espírito do Senhor no Livro de Juizes, este passava a agir quando a auto­ridade para convocar o exército era uma questão deci­siva (ver com entários em 6.34, 35 e 11.29). Nesses casos, o Espírito concedia ao ju iz uma autoridade que poderia ser dada apenas por Deus. No caso de Sansão, o que está em questão não é a autoridade e sim a força física. O Espírito do Senhor veio sobre Sansão em várias ocasiões (ver 14.19 e 15.14), m as nem sempre ele realizou algo incomum. O fator em comum é que o Espírito estava envolvido em cada situação em que Sansão atacava ou era atacado.14.10. festa para os noivos. Essa era a segunda etapa das celebrações do casam ento, que acontecia algum

tempo após o anúncio formal do compromisso. A fes­ta, que tradicionalmente durava sete dias, culminava com a consumação do casamento, que pode ter aconte­cido depois da primeira noite da festa. Um a cerim ô­nia debaixo de um a tenda é m encionada em textos bíblicos (SI 19.4, 5; J1 2.16). A lenda ugarítica do rei Keret relata a festa de seu casamento com Huray, mas poucos detalhes são dados.14.11. trinta rapazes. Os acompanhantes do noivo per­tenciam ao clã ou à aldeia da noiva e se apresentavam para prestar apoio à união. Suas obrigações não estão m uito claras, mas talvez estivessem relacionadas com garantir a segurança da noiva, verificando se ela esta­va sendo bem tratada em sua nova família, e também assumindo a responsabilidade de sustentá-la, caso fosse abandonada pelo marido. No início do versículo 11, algumas versões trazem um a variação na tradução: em vez da expressão "quando ele chegou", aparece "porque eles o tem iam ". Se essa variante estiver cor­reta, pode dar a entender que houve certa intimida­ção para forçá-los a vir, confirmando assim a queixa do versículo 15 de que eles teriam sido convidados a ir à festa para serem roubados.14.12. enigm a. Os enigmas se caracterizavam por dois níveis de significado, inerentes às palavras usadas. Um nível estava relacionado ao uso comum ou literal das palavras, enquanto que a solução para o enigma geralmente exigia a elucidação de um significado mais profundo ou oculto. Há indícios de que o nível básico do significado do enigm a proposto por Sansão era algo bastante grosseiro (relacionado aos resultados de comer descontroladamente num banquete) ou erótico (relacionado à consumação im inente do casamento), embora essas duas interpretações pareçam metafóri­cas demais para constituir-se num nível comum de significado. Numa lenda grega desse período, Mopsus manteve Calchus, líder dos aqueianos, entretido numa competição de enigmas enquanto saía de Tróia, após o saque. A conexão intrigante entre esses relatos é que posteriormente, atribuiu-se a M opsus a fundação da cidade de Ascalom.14.13. tr in ta m udas de roupa. A s trinta m udas de roupa de que fala o texto eram roupas finas usadas em ocasiões especiais. Hoje seriam equivalentes a trinta ternos. Da m esma forma que se usa um a camisa de­baixo de um tem o, as vestes de linho m encionadas aqui seriam usadas por baixo das roupas ricamente adornadas.14.14. m el n a carcaça. O relato de abelhas construindo suas colmeias na carcaça de um grande animal apare­ce tam bém na literatura da região do Egeu (região de onde se originavam os filisteus). D esta form a, esse seria um enigm a que os filisteus teriam condições de decifrar.

14.18. respond er a um enigm a com outro enigm a.Os companheiros de Sansão responderam ao seu enig­ma ao mesmo tempo em que propuseram outro enig­ma, dando um a pista sobre como haviam descoberto a resposta. Mel e leão eram as respostas ao enigma de Sansão, m as o que é m ais doce do que o mel e mais

forte que um leão? A sedução de uma mulher, certa­mente! Sansão demonstrou sua habilidade em deci­frar enigm as, respondendo im ediatamente ao deles através de um trocadilho. A expressão "arar com a novilha de alguém " pode ser análoga à expressão "cam inhar alguns quilômetros com os sapatos alhei­os", mas também tem um significado mais insidioso no sentido de se envolverem em intrigas com sua esposa.

14.19. Ascalom . Ascalom situava-se cerca de 65 quilô­metros ao sul de Tel Aviv, na costa do Mediterrâneo. A antiga cidade estendia-se por 150 acres, era forte­mente protegida por muralhas, e uma das cinco prin­cipais cidades dos filisteus. Durante o período A m aina (século catorze) o governante cananeu era Yidya, res­ponsável por diversas cartas do arquivo de Amarna. Os filisteus estabeleceram -se no local por volta de 1175 a.C.. Durante o período das proezas de Sansão (Idade do Ferro I), Ascalom era fortificada pelo menos na encosta norte e protegida por uma ladeira (área em aclive fora da cidade que dificultava o acesso aos mu­ros) e um a torre constru ída com tijo los de barro. Ascalom distava de Tim na cerca de 40 quilômetros. O texto não explica por que Sansão dirigiu-se para lá em vez de ir a Ecrom, a Gate ou até m esm o a Asdode, todas muito mais perto.

14.20. resultado do casam ento: esposa dada a outro homem. Entregar a noiva a um dos amigos não signi­fica que poderia haver um rom ance secreto entre eles, mas seria o procedimento normal numa situação como essa. O papel dos com panheiros no casam ento era garantir o sustento da esposa, caso ela fosse abando­nada, e foi exatam ente isso que a fam ília presumiu que tivesse acontecido. Em um a oração babilónica a Istar, há um pedido para que um jovem irado volte para sua esposa e para a casa de seus parentes e o ritual relacionado tem como propósito a concepção.15.1. época da colheita do trigo. A colheita do trigo acontecia no final de maio nessa região.15.1. levou-lhe um cabrito. Embora o casamento ge­ralm ente se consumasse na primeira noite da festa, a noiva muitas vezes não ia m orar com o noivo depois dos sete dias de festa. Durante vários m eses, o marido levava um presente e visitava a noiva na casa de seu pai (onde passava a noite) até que tudo estivesse pronto para que ele se mudasse definitivamente. Na Babilônia geralmente isso acontecia durante quatro meses, tal­

vez com o um período de teste, com o objetivo de verificar se a noiva conseguiria engravidar.15.4. trezen tas raposas. A credita-se que a palavra traduzida como "raposa" seja um termo genérico refe­rindo-se também a chacais. Do ponto de vista prático, é mais provável que Sansão tenha usado chacais, pois as raposas caçam sozinhas, ao passo que os chacais caçam em bandos. Assim, capturar um núm ero tão elevado de raposas exigiria não apenas m uito tempo, mas também seria preciso cobrir uma ampla extensão do território. Aprisionar os chacais seria um a tarefa m ais viável visto que bandos inteiros poderiam ser capturados de uma só vez. Tanto raposas como cha­cais eram espécies nativas na Palestina durante esse período.15.5. os feixes e o cereal que iam colher. As espigas, que já haviam sido cortadas e estavam separadas em pilhas, eram os feixes à espera da debulha e moagem. O cereal que ainda iam colher era aquele que ainda não fora cortado. Faltavam alguns meses para a co­lheita das uvas e das olivas, m as o fogo causou danos irreparáveis a essas plantações também.15.8. rocha de Etã. Existiu uma cidade perto de Belém chamada Etã (2 Cr 11.6), mas ficava muito a leste para estar relacionada a esse contexto, além do m ais Sansão não estava numa cidade. A identificação m ais comum é com 'A raq Ism a^n, nas proxim idades da casa de Sansão, em Zorá, nas encostas do vale de Soreque.15.9. Lei. Não se sabe ao certo se Lei (queixada) seria o nome de um lugar ou a descrição para o incidente que aconteceu entre Sansão e os filisteus. Em acadiano essa m esm a palavra (queixada) é usada para descre­ver a fronteira de um território e alguns estudiosos acreditam que seja o caso aqui em Juizes, embora não seja confirmado em nenhuma outra passagem do An­tigo Testam ento. Se for um a referência ao nom e de um lugar, o mais indicado seria Khirbet es-Siyyagh, na região montanhosa de Judá em direção a Jerusa­lém, nas proximidades de Bete-Semes, e cerca de três quilômetros de Zorá e da rocha de Etã.15.13. cordas novas. N as tumbas egípcias foram en­contradas cordas em bom estado, feitas de papiro ver­de ou de fibra de tamareira. Em Israel, o caule de um arbusto encontrado no deserto, era um dos materiais m ais adequados e disponíveis para a fabricação de cordas. Cordas novas seriam m enos quebradiças e, portanto, m ais elásticas.15.15. queixad a de ju m ento . U m a queixada de ju ­mento teria cerca de 23 centímetros de comprimento e pesaria pouco menos de meio quilo. Por ser levemen­te curva e talvez ainda conter alguns dentes no lugar, seria uma arma de bastante eficácia.15.19. fon te de água. A s rochas sedimentares geral­mente apresentam bolsões onde a água pode ficar

armazenada, logo abaixo da superfície. Para ter aces­so à água, basta quebrar a superfície da pedra. O texto não explica como Deus abriu a rocha.15.19. En-Hacoré. Nenhum a fonte foi localizada até agora nessa região com as características apresentadas aqui.16.1. Gaza. Gaza era um a das cinco principais cidades dos filisteus. Ficava localizada cerca de 20 quilôme­tros a sudeste de Ascalom, e a cinco quilômetros do Mediterrâneo. No período de Am am a essa cidade era o centro de administração egípcia m ais importante da região. O local de 135 acres ficava na entrada sul da planície costeira, no ponto m ais alto da região, ao longo da principal rota comercial que subia do Egito. Relevos egípcios representam essa cidade bastante fortificada no século treze, embora as escavações feitas no local tenham encontrado pouca coisa sobre o perí­odo do Antigo Testamento.16.3. estrutura dos portões da cidade. O texto menci­ona que o portão se compunha de três partes: o portão em si, os batentes e a tranca. Duas folhas do portão geralmente eram colocadas em encaixes de pedra fin­cados no solo. Os batentes eram feitos de madeira e ficavam nas laterais do portão, ligados ao muro. Du­rante a Idade do Ferro I muitas cidades não tinham m uros para protegê-las, então as casas eram cons­truídas bem próxim as um as das outras, cercando a cidade e servindo como proteção. A tranca era coloca­da atravessando o portão e as extremidades se encai­xavam em aberturas nos batentes. Essas trancas podi­am ficar travadas por meio de diversas cavilhas de m adeira que eram introduzidas em buracos de um bloco de m adeira ajustado ao portão. Portanto, não era possível sair da cidade quando o portão estivesse tran­cado. Visto que as fortificações da antiga G aza não foram encontradas pelos arqueólogos, é difícil deter­minar com exatidão todos os detalhes desse portão. A abertura dos portões nessa época era de quase quatro metros, embora alguns fossem menores, com apenas dois metros de largura.16.3. colina que fica defronte de H ebrom . Hebrom fica cerca de 64 quilôm etros a leste de G aza, numa árdua subida. O texto não afirm a que Sansão carre­gou o portão até as proximidades de Hebrom. A ex­pressão usada aqui geralmente significa "a caminho de" (ver, por exemplo, Js 13.3). Ele seguiu na direção de Hebrom e deixou o portão num a colina que havia no caminho.16.4. vale de Sorequ e. O vale de Soreque é a área onde se concentraram as atividades de Sansão. A re­gião principal do vale fica cerca de vinte quilômetros a oeste de Jerusalém e faz parte do vau que se estende por quase cinqüenta quilômetros a noroeste das mon­tanhas ao redor de Jerusalém até o M editerrâneo. É a

principal passagem entre a planície costeira e as coli­nas de Judá, perto de Jerusalém.16.5. líderes dos filisteus. Os cinco líderes dos filisteus aparentemente tinham o mesmo grau de autoridade. Provavelm ente o term o usado para descrevê-los é filisteu e a maioria dos eruditos acredita que se origi­

nou da língua falada pelos povos do m ar (grego ou outra língua indo-européia). Enquanto não se desco­brirem mais dados, não há possibilidade de se fazer uma análise política mais esclarecedora.16.5. trezentos quilos de prata. Trata-se de uma quan­tia exorbitante (mil e cem siclos de prata), equivalente ao preço de um rei (ver 2 Sm 18.12). Compare com o padrão de salário anual de um trabalhador (dez siclos) e com a quantia paga por um lote de terra (entre quatrocentos e seicentos siclos). Esses cinco m il e qui­nhentos siclos oferecidos pelos líderes seriam equiva­lentes a 550 vezes o salário anual de um trabalhador. Se considerarmos, atualmente, um salário médio anu­al de aproximadamente doze mil reais, a oferta esta­ria na faixa dos seis milhões.16.5. o que os filisteu s pensavam sobre a força de Sansão. Os filisteus achavam que havia um segredo para a grande força de Sansão. O que eles precisavam fazer era descobrir qual seria esse segredo para então usá-lo contra ele a fim de enfraquecê-lo. Isso demons­tra que eles consideravam que suas habilidades se originavam de elementos m ágicos ou sobrenaturais. Sansão demonstrou ter percebido isso ao oferecer so­luções mágicas para que pudessem prendê-lo. Assim como nas superstições modernas existe a crença de que para m atar um lobisomem é necessário usar mu­nição de prata, também nas tradições antigas havia a crença de que certos materiais tinham propriedades m ágicas capazes de neutralizar um fenômeno natu­ral. Isso se enquadra no tipo de mágica denominada "rito de contato e transferência" encontrada nos textos hititas. Nesses ritos, lã ou cordas de diversas cores e d iferentes m ateriais eram usadas para neutralizar qualidades mágicas.16.7. tiras de couro úm idas. Tiras de couro úmidas às vezes eram feitas de tripa de boi. A literatura suméria refere-se a tiras extraídas da perna de um a ovelha (provavelmente dos tendões) ou das vísceras de um carneiro, enquanto a literatura ugarítica refere-se a tendões da perna de um boi. Nesses casos, geralmen­te eram deixados para secar antes de serem usados. O utros preferem achar que se tratava de ram os de videira. O fato de serem usadas sete tiras sugere a existência de um elemento mágico no procedimento.16.11. cordas novas. Ver comentário em 15.13.16 .13 ,14 . lançadeira. Havia dois tipos de lançadeiras usadas nesse período: a horizontal e a vertical. Pela

descrição dada, a lançadeira de Dalila parece ser do primeiro tipo. N a lançadeira horizontal, quatro esta­cas eram fincadas no chão formando um padrão retan­gular; os fios que formariam a trama do tecido eram amarrados nas extremidades das varetas, em interva­los regulares, e as varetas então eram usadas para passar os fios entre as estacas. Quando as extremida­des de cada vareta estivessem presas atrás das esta­cas, os fios estariam esticados horizontalmente em re­lação ao chão, prontos para serem tecidos. U m pino de tear então era preso ao fio, a fim de fazer a trama do tecido, usando uma barra para separar os fios alterna­

dos da trama e permitir a passagem do pino com o fio. Sansão foi bastante criativo ao sugerir que seu cabelo substituísse os fios do tecido. Esse seria um procedi­mento mágico lógico, visto que se acreditava que o cabelo continha a essência da vida da pessoa, logo, tecer os fios de cabelo de alguém teria o sentido de tom á-lo prisioneiro. Quando Sansão acordou, arran­cou a lançadeira, soltando os pinos de tear que esta­vam prendendo os fios às estacas.16.13. sete tranças. Era costume os homens usarem os cabelos amarrados ou enrolados em cachos. O cabelo de Sansão era dividido em sete partes (uma atrás e três de cada lado), de acordo com o estilo da época.16.17. nazireu. Ver comentários em Núm eros 6 para

inform ações adicionais sobre o voto de nazireu e a importância do cabelo. Em bora Sansão tivesse viola­do o voto em inúmeras ocasiões, tudo que ele precisa­va fazer era renovar o voto. M as nesse caso era dife­rente porque rapar o cabelo significava rom per o voto.16.17-19. rapar o cabelo para perder a invencibilidade. Existem alguns exemplos desse mesmo conceito na literatura antiga da região do Egeu relatados por Apolodoro (século segundo a.C.). Um dos relatos é o de Nisus, rei de M egara, cujos longos cabelos o tom a­vam invencível. Sua filha, Scylla, se enam orara de seu inim igo, M inos, rei de Creta (século dezessetea.C.), então ela cortou parte do cabelo de seu pai para que M inos pudesse derrotá-lo. Um destino semelhan­te acometeu Pterelaos, rei de Teleboea (também rela­tado por Apolodoro), cujos cabelos, que o tom avam im ortal, foram rapados por uma de suas filhas, que estava apaixonada por um inim igo. É possível que essas histórias fossem do conhecimento dos filisteus provenientes da região do Egeu; nesse caso a suges­tão de Dalila teria sido bastante lógica para eles.16.21. cegando os p rision eiros. A m aior parte das evidências vem da M esopotâm ia, onde era comum que prisioneiros de guerra tivessem seus olhos fura­dos ou a língua arrancada.16.21. algem as de bronze. Algemas e grilhões eram objetos usados no antigo O riente Próxim o e, nessa

época, o bronze era o m aterial m ais acessível para confeccioná-los. Mesmo m ais tarde na Idade do Ferro, o bronze continuou a ser usado para esse propósito (ver Jr 39.7). É provável que Sansão tivesse as mãos e os pés presos com algemas.16.21. girar um m oinho. Transformar grãos em fari­nha geralm ente era um trabalho feito nos moinhos pelos m em bros das camadas sociais inferiores. Um a das "instalações" básicas de qualquer casa desse perío­do era o moinho de m ão com duas pedras para moer (ver comentário em Jz 9.53). Os moinhos maiores ge­ralm ente serviam com o um a espécie de prisão de trabalhos forçados na Mesopotâmia, m as cada prisio­neiro também tinha um moinho de mão. Os moinhos maiores, puxados por jumentos ou por escravos, fo­ram inventados som ente após o período do Antigo Testamento. U m palácio em Ebla tinha um cômodo com dezesseis m oinhos de mão, presumivelmente um lugar onde prisioneiros m oíam cereais. Nas casas de moinho havia prisioneiros de guerra, crim inosos e endividados.16.23. D agom . Há evidências de que Dagom era um importante deus do panteão semita já no terceiro mi­lênio a. C., em Mari. Os assírios adoravam a Dagom na primeira metade do segundo milênio e na literatu­ra ugarítica ele aparece como pai de Baal Haddu. Seu templo na cidade de Ugarite era maior que o templo de Baal. De modo geral, não há indicações de que os filisteus tenham trazido seu deus quando migraram da região do Egeu, e sim que adotaram o culto a D agom quando chegaram em seu novo território . D agom é identificado freqüentem ente como o deus do cereal ou da tempestade, mas não há evidências para nenhum a dessas identificações, perm anecendo de certa maneira como simples especulação.16.25. trazer para divertir. O "divertim ento" promo­vido por Sansão provavelmente não estava relaciona­do à sua capacidade ou à sua força, mas à sua ceguei­ra. Colocar obstáculos no caminho e depois empurrá- lo ou fazê-lo tropeçar seriam apenas algumas das pos­sibilidades cruéis de atormentá-lo, junto ao fato dele estar num lugar desconhecido.16.29. arqu itetu ra do tem p lo. Os tem plos em Tell Qasile (o nome antigo é desconhecido, m as foi ocupa­da pelos filisteus; localizada dentro da moderna Tel Aviv) e em Bete-Seã são os únicos templos filisteus desse período que foram descobertos pelos arqueólo­gos, em bora o templo de Láquis tam bém ofereça uma boa noção sobre os templos. Geralm ente esses tem ­plos tinham um saguão central, com pilares que sus­tentavam o teto (talvez parcialm ente descoberto). Geralmente nessa época, os pilares dos templos eram feitos de madeira e ficavam sobre pedestais de pedra, sendo m antidos no lugar pelo peso do telhado. A

m aior parte dos templos da Idade do Ferro I em Tell Qasile mediam quase oito metros por catorze. O tem­plo em Bete-Seã tinha um a área central com duas colunas e media quase catorze metros quadrados. O templo da acrópole da Idade do Bronze Moderna em Láquis (cananeus e um pouco antes) tinha um dese­nho parecido, com duas colunas na área central, po­rém era maior, medindo cerca de dezoito metros por trinta.16.29, 30. derrubou o templo. O verbo usado no ver­sículo 30 sugere um movimento inclinado, podendo indicar que Sansão tirou as colunas de cima das bases de pedra, removendo assim o suporte para o teto e provocando a queda do telhado e a destruição do templo.16.31. Zorá e Estaol. Zorá é identificada com a moder­na Sar'a, cerca de 25 quilômetros a oeste de Jerusa­lém, no vale de Soreque, que era a principal passa­gem das planícies costeiras através da Sefelá, até as colinas ao redor de Jerusalém. Zorá e Estaol (Khirbet Deir Shubeib) distam apenas cerca de dois quilôme­tros um a da outra, mas há entre essas duas cidades um a fonte, perto do uádi Quesalom, que talvez seja a área m encionada aqui.

17.1-18.31Mica e a tribo de Dã17.2. treze quilos de prata (1100 siclos). Apesar de ser uma quantia bastante elevada, a quantidade de prata envolvida aqui não era algo além da possibilidade (compare com os 400 siclos pagos por Abraão pelo cam po de M acpela e com os despojos obtidos por Gideão em Jz 8.26). É bem provável que a prata repre­sentasse o dote da m ulher, recebido por ocasião do seu casamento com o objetivo de garantir o seu sustento caso ela ficasse viúva ou fosse abandonada. Foi a mes­m a quantia paga pelos reis filisteus a Dalila em 16.5.17.2. m aldição. O texto é ambíguo o suficiente para deixar dúvidas quanto a ser um "juram ento" ou uma "m aldição" que estaria relacionada aos 1100 siclos de prata. É possível que a mãe de Mica tivesse prometi­do dar aquela quantia a Yahw eh ou talvez ela tivesse rogado um a m aldição contra quem a roubou. Nos dois casos D eus teria sido invocado como testemunha (ver Nm 5.21 e Ne 10.29). Tam bém é provável que a m ãe estivesse desesperada tentando encontrar suas reservas e tivesse recorrido a Deus para ajudá-la em sua busca. A atitude de Mica confirmando que a prata estava com ele parece m ais a de alguém assustado com o tabu de um objeto amaldiçoado (ou consagrado; ver Js 7.20, 21) do que a reação de um filho responsá­vel e zeloso.17.2. a m aldição se transform a em bênção. Assim como Balaão (Nm 23.11), a mãe de M ica transformou

sua m aldição em bênção. Talvez ela tivesse ficado desapontada ao descobrir que seu próprio filho havia se apossado da prata, m as rapidam ente ela m uda um a forma de invocação divina em outra. Desse modo, o mal que poderia ser causado é evitado (2 Sm 21.3).17.3. consagrado ao Senhor para fazer um a im agem . A fabricação de im agens sagradas foi proibida em Êxodo 20.4. Porém, o contexto de Juizes, onde "cada um fazia o que lhe parecia certo" e tam bém o costume dos cananeus tom am praticamente certo o uso de ima­gens entre os israelitas (veja a questão do m anto de Gideão em Jz 8.27). Os ídolos eram entalhados em madeira ou pedra e também fundidos em metais pre­ciosos (como os bezerros de ouro em Êx 32.1-4 e 1 Rs 12.28). Foram encontrados em várias cidades cananéias m oldes usados para a fabricação de ídolos. E bem provável que o material empregado na confecção das imagens fosse consagrado desde o início do processo, e certos rituais (como "abrindo a boca" em textos egíp­cios e m esopotâmicos) e cerimônias fossem realizados para trazer o objeto à vida. Por fim , o objeto era consa­grado para servir o deus representado (ver Êx 40.9-11 e Lv 8.10,11 a respeito da consagração do tabernáculo).17.5. santuário. Escavações arqueológicas em locali­dades de toda a região da Sírio-Palestina revelaram a existência de santuários domésticos. Esses santuários particulares devem ter servido às necessidades de uma família ou mesmo de diversas famílias dentro de um povoado (os fragm entos de gesso de Tell Deir 'A lia podem estar associados a um santuário desse tipo, assim como as inscrições de Kuntillet 'A jrud). Nos centros populacionais m aiores, tam bém existia um m aior núm ero se tem plos e santuários formais, que funcionavam como locais de adoração e sacrifícios para todos os devotos e como um a base de operações para a comunidade sacerdotal a serviço da divindade. O texto bíblico, porém, deixa claro que o santuário de Mica não era um local adequado para a adoração a Yahweh, e a inclusão de um ídolo demonstra nitida­m ente o perigo de se prestar adoração sem orientação (ver a lei em Dt 12.2-7).17.5. m anto. O manto era uma das vestes sacerdotais usadas apenas por Arão e outros sumos sacerdotes (ver com entário em Êx 28.6-14). Provavelm ente era semelhante a um avental, feito de um tecido especial e tecido com uma m istura de fios de lã, linho e tam­bém de ouro. O peitoral que continha as doze pedras representando as tribos de Israel ficava preso ao man­to (Êx 28.25). A associação do peitoral com o U rim e o Tumim, usados como oráculo para descobrir a vonta­de de Deus, tom ava o m anto parte desse procedimen­to. Assim , é provável que o m anto, por ser intim a­m ente associado ao elemento divino, tam bém acabas­se se tom ando objeto de culto (ver o manto de ouro de

Gideão em Jz 8.27). O m anto de M ica tinha a função de dar legitimidade ao seu santuário particular; o fato de estar associado aos seus ídolos sugere que também era objeto de adoração (ver Jz 18.14-31).17.5. ídolos. Imagens esculpidas de qualquer tipo são estritamente proibidas em Êxodo 20.4-6; 34.17. Entre­tanto, era com um em Israel a existência de ídolos feitos de metal, madeira e pedra (ver Is 40.19, 20; Os8.4-6). Portanto, não causa nenhum espanto o fato de Mica ter fabricado seus próprios ídolos. Porém, a apro­vação oficial concedida pelo levita à atitude de Mica revela a desordem e o tumulto desse período sem lei de Juizes.17.6. não havia rei. Visto que os ju izes tinham uma autoridade limitada, eles não eram capazes de pro­m over reform as espirituais ou sociais significativas entre o povo, nem estavam em posição de julgar dis­putas entre as tribos. N o relato de Juizes, tanto os sacerdotes como os líderes tribais e os juizes são consi­derados igualm ente responsáveis pela situação de desordem. O estabelecimento de um poder civil cen­tralizado poderia resolver alguns desses problemas, m as som ente um a visão apropriada da m onarquia poderia trazer algum progresso. Como 1 Samuel 8-12 alerta, a monarquia tam bém tem suas desvantagens e sempre é um erro perigoso tentar resolver um pro­blema espiritual através de um a solução política.17.7-10. sacerdotes da fam ília. Inicialmente, M ica es­colheu um de seus filhos como administrador sacerdo­tal de seu santuário. Q uando, porém , surgiu um a oportunidade de colocar um levita no lugar, ele rapi­damente o fez, com o objetivo de legitimar o santuário (observe como isso lhe proporcionou prestígio, em Jz18.14,15). O uso do termo "p ai" aqui tem a ver com a habilidade de conceder respostas oraculares autênti­cas a perguntas do tipo "sim ou não" apresentadas a D eus através dele (veja o uso desse termo em 2 Rs 6.21; 8.9; 13.14). Tam bém pode ser sem elhante ao título "m ãe em Israel" atribuído a Débora, em Juizes5.7. Entretanto, a prática de usar sacerdotes locais ou membros da família acabou sendo proibida, à m edi­da que a m onarquia tentava centralizar a adoração em Jerusalém (ver 2 Rs 18.4; 23.5-9).17.7-9. levita itinerante. Os levitas não recebiam um território específico porque deviam servir a todas as tribos como sacerdotes (Js 18.7). Portanto, não é fora do comum nesse período encontrar um jovem levita via­jando ou em busca de emprego como sacerdote. Há algumas dificuldades aqui por sua associação a Judá, mas o contexto histórico é incerto.17.10. salário do sacerdote. A lei não determina se o sacerdote deveria receber um salário. Êxodo 28.1 e29.26-28 descrevem a porção do sacrifício que deveria ser reservada para os sacerdotes e Josué 21.3-40 traz

um a relação das cidades e das áreas de pastagens destinadas ao sustento dos levitas. Porém, o ofereci­mento de um a quantia específica de metais preciosos como pagamento funciona m ais como um suborno ou estímulo para convencer o levita a aceitar a proposta de emprego.18 .1 ,2 . m igração da tribo de D ã. O território designa­do à tribo de D ã ficava entre os territórios de Efraim e Benjamim, ao longo da planície costeira (Js 19.40-48). Além de estarem geograficamente mais próximos dos filisteus, eram os que m ais sofriam influência desse povo (veja as proezas de Sansão em Juizes 13-16). Com o tempo, talvez tenham chegado à conclusão de que nunca seriam capazes de competir com um povo tão m ais forte e m ais bem equipado que eles.18.5, 6. oráculo. U m a das form as m ais com uns de adivinhação empregadas no antigo Oriente Próximo envolvia a consulta aos deuses por meio de perguntas cujas respostas eram do tipo "sim ou não". A resposta a esse tipo de oráculo era obtida através de um sorteio ou então, como é o caso aqui, fazendo-se a pergunta a um profeta ou sacerdote num santuário. Em bora esse

critério aparentemente elimine a possibilidade de uma resposta ambígua, a resposta do levita sugere que era possível oferecer uma afirmação vaga como resposta. N a Mesopotâmia, o sacerdote baru às vezes utilizava um a "taça de adivinhações" (veja a taça de José em G n 44.5) ou consultava um a coletânea de textos de presságios para obter respostas.18.7. Laís. Localizada ao pé do m onte Herm om, no extrem o norte de Israel (tam bém conhecida como Lesém, em Js 19.47), esta cidade ficava a 160 quilôme­tros do território atribuído a Dã. Laís foi conquistada por essa tribo, recebendo a seguir o nome de Dã. O local, que continha uma das nascentes do rio Jordão, tem um a lo n g a h is tó ria , a te stad a p or te x to s de execração egípcios e pelas cartas de Mari. Não seria surpreendente encontrar nessa cidade do norte uma influência fenícia (sidônios). Para m ais inform ação, ver o comentário sobre Dã em 18.29.18.12. Q u iriate-Jearim . A listada com o um a das ci­

dades do território de Judá (Js 15.60), essa localidade tem sido identificada com Tell el-Azhar, cerca de ca­torze quilômetros a oeste-noroeste de Jerusaém, mas essa localização não tem sido confirmada pelas des­cobertas arqueológicas nem pelas referências bíblicas. Nesse versículo, aparece associada com Maané-Dã, o que a localizaria nessa área geral (ver o comentário em 13.25) e apenas a dez quilôm etros de G ibeon, com a qual também tem sido associada (ver o comen­tário em Js 9.17).18.14-27. saqueando o santuário. A prática de atacar e pilhar santuários e tem plos fazia parte das m ano­

b ras de guerra no m undo antigo. V isto que esses lugares geralm ente arm azenavam cereais e outros produtos, e também continham objetos de valor feitos de metais preciosos, tom avam -se alvos naturais. To­mar imagens e objetos sagrados como "reféns" tam­bém era uma prática bastante comum (ver 1 Sm 5.1, 2), sendo documentada nas cartas de Mari (século de­zoito a.C.) bem como no Cilindro de Ciro, do período persa (cerca de 540 a.C.).18.28. Sidom , Bete-Reobe. Na época em que a tribo de Dã conquistou Lais, essa cidade era um povoado controlado pelos sidônios (na costa do Líbano). A loca­lização exata de Bete-Reobe é desconhecida, embora provavelmente estivesse situada "próxim o à entrada de H am ate" (Nm 13.21), no vale de H ulé, no lugar onde se junta ao vale de Bekah, no sul do Líbano.18.29. D ã. Tel D ã (Tell el Qadi) localiza-se ao pé do monte Herm om e é abastecida de água por um a série de fontes que dão origem a uma das nascentes do rio Jordão. Sua identificação foi comprovada pela desco­berta de uma inscrição que invoca o "deus de D ã". O nome original da cidade, porém, era Laís (ver Js 19.47; Jz 18.7) e é m encionada com esse nome nos textos de execração do Egito e nas-cartas de Mari. Durante a Idade do Bronze M édia a cidade espalhou-se por mais de trinta acres. U m pórtico feito de tijolos de barro desse período atesta o notável padrão cultural da cida­de. A conquista da cidade no início da Idade do Ferro não é confirmada por nenhuma evidência arqueoló­gica, m as há provas concretas (cerâmica, fossos para estocagem) de que a cidade foi ocupada por um novo povo na Idade do Ferro. Nenhum templo ou santuá­rio desse período pôde ser encontrado, m as talvez Jeroboão estivesse seguindo a antiga tradição de cons­truir um templo quando a nação foi dividida no sécu­lo dez (1 Rs 12.29, 30).18.30. sacerdócio tr ib a l. Os levitas deviam prestar serviço como sacerdotes a todas as tribos, portanto, não é um equívoco falar de Jônatas, filho de Gérson, como sacerdote da tribo de Dã. Jônatas chegou a essa posição servindo como sacerdote de um a fam ília em Efraim , m inistrando diante de ídolos, e m ais tarde, consentindo com o confisco dessas imagens sagradas da casa de Mica. N esse aspecto, ele perpetuou uma form a de falsa adoração em toda um a linhagem de sacerdotes condenados por Oséias por falharem em transmitir ao povo o conhecimento verdadeiro de Deus (Os 4.6).18.31. san tu ário de D eu s em S iló . O santuário de Siló funcionou como centro de adoração durante o período dos juizes (Jz 21.19) e na época de Samuel (1 Sm 1 .3 ), m as ap aren tem en te foi d estru íd o pelos filisteus após a batalha de Ebenézer (1 Sm 4.1-11). A re ferên cia a este san tu ário no Salm o 78.60 e em

Jerem ias 7.12; 26.6-9 indica que este santuário pro­vavelmente foi reconstruído e usado até que Salomão construiu o tem plo de Jerusalém . O local tem sido identificado como Khirbet Seilun, na m etade do ca­minho entre Betei e Siquém. Com sete acres e meio de extensão, situava-se num local estratégico, onde desfrutava de terras férteis, amplo abastecimento de água e acesso à principal rota no sentido norte-sul até o centro de Israel. Ruínas consideráveis da Idade do Ferro I foram encontradas no local, juntam ente com evidências de destruição provocada por um in­cêndio. Em bora vestígios de prédios públicos desse período tenham sido encontrados, nenhum traço des­se santuário pôde ser identificado. Sua localização pro­vável, no ponto mais alto do *tell foi prejudicada pela erosão e por colonizações posteriores.

19.1-21.25 A guerra civil contra Benjamim19.1. levitas. Para detalhes relacionados ao papel de­sempenhado pelos levitas, suas funções e seus direi­tos, ver os comentários em Números 16.10; Deutero- nômio 14.27-29; 18.1-5; 18.6-8.19.1. concubinas. A concubina era um a espécie de esposa secundária que provavelmente se casara sem um dote. Seus filhos poderiam receber apenas uma parte dos bens do pai, caso ele os reconhecesse publi­camente como seus herdeiros (confira como Abraão tratou os filhos que teve com Q uetura e com suas concubinas em G n 25.1-4). É possível que esse tipo de arranjo se tom asse necessário nos casos em que a pri­meira esposa fosse estéril (veja o uso de H agar em Gn16.1-4 e as servas de Lia e de Raquel em G n 35.21, 22). Porém , na maioria das vezes em que era feito um contrato de casamento com o pai de uma m ulher que seria considerada concubina, presumia-se que ela es­tava ciente de que estaria num a posição inferior em relação à esposa principal. Portanto, é possível que o levita tenha contratado essa m ulher apenas como uma parceira sexual, visto que a posição social de um levi­ta exigia que sua esposa tivesse certos atributos (ver Lv 21.7). Talvez isso explique por que ele não estava com pressa em levá-la de volta para casa (Jz 19.2).19.1. m ontes de Efraim/ Belém . As distâncias geo­gráficas envolvidas não são grandes (talvez cerca de 50 quilômetros), m as representam duas áreas tribais e, posteriormente, os reinos de Israel e Judá. De qual­quer m aneira, teria sido necessário pelo m enos um dia inteiro de viagem para chegar ao destino, portan­to, fica claro por que tiveram de parar para passar a noite depois de terem partido no final da tarde, che­gando apenas a Jebus/Jerusalém (Jz 19.8-11). O texto na verdade refere-se aos montes de Efraim que po­

dem ser identificados com o Jebel Asur, a elevação m ais proeminente da região.19.10. Jebus/Jerusalém . Sobre o nom e duplo dessa cidade, ver com entários em 1.7, 8 e 1.21. A cidade ficava apenas cerca de seis quilôm etros ao norte de Belém .19.12-14. G ibeá. Os eruditos concordam que se trata da localidade atual de Gibeá em Jaba', cerca de seis quilômetros a nordeste de Jerusalém. Jaba' fica numa colina em um vale escarpado, repleto de cavernas (veja a rocha de Rimom , em Jz 20.47). Em bora seja descrita como um a aldeia do território de Benjamim, posteriorm ente Gibeá serviu de fortaleza para Saul, quando ele se tom ou o primeiro rei de Israel (ver 1 Sm 10.26; Is 10.29). É provável que os viajantes pas­sassem a oeste de Jerusalém e tom assem a estrada nordeste, por Anatote até Geba.19.15-17. hospitalidade n a praça da cidade. O que fica evidente nessa passagem é que ninguém ofereceu abrigo ao levita e a seus acompanhantes quando en­traram na aldeia, diferentem ente da atitude de Ló narrada em Gênesis 19.1, e assim eles foram forçados a buscar abrigo na praça da cidade (réhob), um local bem rústico. Passar a noite num lugar como esse seria a últim a alternativa e refletia a falta de hospitalidade dos moradores da cidade. Em Gênesis 19, a intenção do anjo ao dirigir-se à rehob sugere que ele estava testando a comunidade enquanto que em Juizes 19 o fato do levita ser forçado a ficar na réhob demonstra um a falha básica dos cidadãos de Gibeá, ao se recusa­rem a oferecer hospitalidade.19.18. santuário do Senhor. É possível que o levita estivesse falando de sua própria casa no território efraimita, onde ele talvez fosse encarregado das tare­fas e funções relacionadas ao culto, ou estivesse se referindo ao santuário de Siló, onde se encontrava a arca da aliança, onde um grupo de levitas era encar­regado dos serviços sacrificiais (1 Sm 1.3).19.21. lavar os pés. Normalmente o anfitrião oferecia ao hóspede um tratamento modesto (oferecendo água, com ida, abrigo e a possibilidade de lavar os pés). Nada im pedia que o anfitrião oferecesse mais ao hós­pede, mas esse tratamento básico desobrigava o anfi­trião que se encontrava num a situação difícil de ter de oferecer mais do que estava ao seu alcance. De qual­quer maneira, o anfitrião procurava fazer todo o pos­sível para garantir conforto ao hóspede, e isso incluía refrescar e lavar os pés cansados e empoeirados dos viajantes (ver G n 18.4; 19.2; 24.32).19.24. filh a e concubina à disposição. A situação des­crita aqui talvez tenha o propósito de retratar um m undo perverso em que ninguém está a salvo da violência e do mal. O convite do efraimita para eles fazerem "com elas o que quiserem " serve de indi­

cação à últim a frase dessa seqüência de eventos (Jz 21.25b): "e les a violentaram e abusaram dela a noite toda". Deve-se mencionar que as mulheres eram ex­tensões legais de seus maridos no antigo Israel, portan­to, estariam sob as mesmas proteções legais garantidas a eles - enquanto fossem reconhecidas como tal pelo marido. Nessa circunstância, o efraimita aparentemente deixou seu papel de anfitrião hospitaleiro para se tor­nar um a pessoa inóspita, ao oferecer descaradamente a concubina do levita aos homens que estavam lá fora para com isso salvar sua honra e talvez sua própria vida. Teoricamente, a concubina não poderia ser se­parada do levita e de acordo com os costum es de hospitalidade, deveria receber certa proteção.19.25. o levita entrega a concubina à m ultidão. Essa troca é menos dramática do que a de Gênesis 19.9. Os cidadãos de Gibeá simplesmente ignoraram a oferta do efraim ita, mas não o acusaram de "querer ser o ju iz". H á um sentido de urgência nesse texto, eviden­ciado pela ausência de um motivo na atitude do ban­do e que talvez explique a ação do levita de lançar sua concubina porta afora, diretamente nas mãos daque­les homens. Tanto em Gênesis 19 como aqui, a vida do anfitrião foi salva pelo(s) hóspede(s), m as certa­m ente a solução oferecida pelos hóspedes de Ló foi preferível à do levita. O que fica claro em ambas as narrativas é que o hóspede foi forçado a salvar sua própria vida e a de seu anfitrião. A ironia da substi­tuição garante o clímax da narrativa, embora provo­que um a sensação de asco, devido à violência pratica­da contra a concubina do levita. Essa concubina foi um a vítim a prim eiram ente de seu pai, pois ao afir­m ar sua independência (quando fugiu do marido em Jz 19.2) foi impedida por ele, depois de seu m arido e tam bém dos cidadãos de G ibeá, que falharam em desem penhar adequadamente o papel de anfitriões. O levita escolheu sacrificá-la para poder salvar a si mesmo.19.29. cortar o corpo em doze p artes e enviar. Olevita cometeu ainda um último ultraje com o corpo de sua concubina, cortando-o em doze pedaços e usan­do-os como convites macabros para um a assembléia geral das tribos. Existem semelhanças evidentes en­tre essa atitude e a convocação para a guerra feita por Saul em 1 Sam uel 11.7, em que ele retalhou seus bois em doze pedaços.20.1. de D ã a Berseba. Esse é o âm bito geográfico tradicional apresentado no texto para referir-se aos limites políticos ao norte e ao sul de Israel. Representa uma distância de aproximadamente 250 quilômetros.20.1-3. assem bléia em M ispa. Essa localidade situada no território da tribo de Benjam im era um ponto co­m um de reuniões em Israel, no período que ante­cedeu a m onarquia (Js 18.26; 1 Sm 7.16). O nom e

significa "observar" e o local pode ter sido um posto m ilitar avançado ou um a fortaleza na fronteira, por­tanto, um a área favorável para uma reunião das tro­pas como esta narrada em Juizes. Pode ser identificada com Tell en-Nasbeh, cerca de dez quilômetros ao nor­te de Jerusalém.20.2. quatrocentos m il soldados armados de espada.Como acontece em outras passagens que mencionam o tamanho de um exército, é difícil afirmar se a pala­vra hebraica deve ser traduzida como "m il" ou "d ivi­sões" (para m ais informações, ver o comentário em Js 8.3). Mas seja qual for a m elhor tradução, certamente representa uma grande reação à convocação. As es­timativas populacionais das cidades desse período va­riam de 200 m il a 250 m il, com base no núm ero de ocupações, no tamanho dos povoados e na média de habitantes por acre. As espadas m encionadas pro­vav elm en te eram de b ron ze, v isto que Israe l de­senvolveu a tecnologia do ferro somente a partir da m onarquia.20.3-8. a assem bléia e o veredicto. É possível acompa­

nhar alguns aspectos do procedimento judicial israelita neste episódio. Os líderes das tribos reuniram-se para ouvir o depoimento é depois de terem ouvido o teste­m unho do levita, eles apresentaram seu veredicto (compare com o caso do filho rebelde em Dt 21.18-21). M as uma importante diferença ocorrida nesse proces­so é que apenas o testemunho do levita foi ouvido, e para se dar um veredicto geralmente era necessário ouvir duas testemunhas (ver N m 35.30; Dt 19.15). A decisão tomada pelas tribos nesse caso incluía fazer um juram ento de não voltar para casa enquanto o castigo não fosse aplicado. N ão há precedentes de um a união como essa entre todo o povo no período dos juizes, pois as tribos geralmente brigavam entre si (Jz 12.1-6) ou se recusavam a participar de investidas m ilitares conjuntas (ver Jz 5.15-17). A noção de que o caso fosse considerado uma grave ofensa à honra ou um a grande afronta, que exigia um a ação m ilitar, pode ser com parado ao voto de D avi após ter sido rejeitado por Nabal em 1 Sam uel 25.21, 22.20.9, 18. o rien tação por sorteio . Fazer um sorteio antes de sair para a batalha é um procedimento co­mum no Livro de Juizes. No início do livro, quando os israelitas perguntaram a Deus quem seria o primeiro a atacar os cananeus, Deus respondeu com o nome de Judá (1.1, 2). Novamente, neste episódio final, Judá é escolhido para " ir lutar prim eiro" na batalha contra Gibeá e os benjam itas (20.18). O uso de sorteios era

comum na tradição israelita em situações de distribui­ção de terra (ver Js 14.2; 19.1-51) e em procedimentos judiciais (ver Js 7.14-21; 1 Sm 14.41/ 42). Era um tipo de adivinhação em que a decisão, baseada no sorteio

(dados, ossos pequenos, fragm entos de marfim etc.) era obtida pela resposta de Deus a uma pergunta (ver os comentários em Jz 1.1, 2 e 18.5, 6).

20.15. vinte e seis m il hom ens armados de espadas. Para informações sobre o número elevado de solda­dos, leia o comentário em 20.2.20.16. setecentos canhotos, atiradores de fu nd a. Onúmero pode representar um grupo de elite formado por guerreiros ambidestros (ver o comentário em Jz3.15) com grande habilidade para m anejar suas fun­das, portanto capazes de desequilibrar um exército superior e mais numeroso (ver 1 Cr 12.2 para outro grupo de heróis benjamitas ou tropas de elite especi­alistas em atirar com a funda).20.26. je ju m . Há poucas evidências da prática do je ­ju m no antigo Oriente Próximo fora da Bíblia. O jejum geralm ente era praticado em ocasiões de luto. No Antigo Testamento o uso religioso do jejum freqüen­temente está relacionado a um pedido dirigido a Deus, baseado no princípio de que a importância do pedido leva o indivíduo a preocupar-se de tal forma com sua condição espiritual que as necessidades físicas são relegadas a segundo plano. Nesse aspecto, o ato de je juar é visto como um processo de purificação e humi­lhação diante de D eus (SI 69.10). A pós terem sido derrotadas um a segunda vez pelos benjam itas, as outras tribos se reuniram para buscar a orientação de Deus e prepararam-se para essa consulta através do je ju m e da oferta de sacrifícios, a fim de rem over qualquer pecado ou obstáculo que pudesse ser a cau­sa de sua derrota. Esforços semelhantes relacionados a ações militares podem ser encontrados em 1 Sam uel7.6 e 2 Crônicas 20.1-4.20.26-28. arca em Betei. Essa é a única referência à arca no Livro de Juizes, por essa razão, na m aior parte do livro, não se sabe onde a arca está depositada nem como está sendo usada. E provável que sua localiza­ção tenha mudado diversas vezes durante o período. No início de 1 Sam uel ela está em Siló.20.28. período de tem po. Visto que os episódios no Livro de Juizes nem sem pre estão apresentados em ordem cronológica, talvez esses eventos tenham acon­tecido próxim o ao início do período da ocupação de Canaã. Isso perm itiria que um filho de Arão ainda estivesse vivo e capaz de servir como sacerdote diante da arca em Betei. Se o relato se refere a um período posterior, então provavelmente se trata de Finéias II, o predecessor de Eli em Siló.20.29-36. estratégia de em boscada. O uso de embos­cadas como essa descrita neste episódio, parece ter sido um a estratég ia bastan te usad a pelo exército israelita. Josué fez uso de um a em boscada em seu segundo ataque à cidade de Ai (Js 8.2-21) e Abimele-

que utilizou táticas sem elhantes quando capturou a cidade de Siquém (Jz 9.30-45). Essa estratégia é classi­ficada como guerra indireta, caracterizada por embos­cadas, supostas retiradas, cham ariz e infiltração em vez de cercos longos ou batalhas campais. Seria difícil para um exército invadir cidades m uradas sem dispor de mecanismos de cerco ou de um exército grande o suficiente para cercar completamente a cidade e evi­tar contra-ataques ou a fuga dos cidadãos. Portanto, esse tipo de estratégia servia como meio de iludir os m oradores da cidade a fim de que abrissem os portões ou enviassem contingentes de tropas para fora dos muros, que seriam então surpreendidos pelas embos­cadas (ver a estratégia frustrada de Jeroboão em 2 Cr13.13-18). Esse tipo de tática de guerra é conhecido no antigo Oriente Próximo pelos textos de M ari (século dezoito a.C.), pelo papiro egípcio de Anastasi (século treze a.C.) e por um texto medo-assírio (século dez

a.C.).20.33. Baal-Tam ar. Trata-se de uma localidade entre G ibeá e Betei, que ainda não foi identificad a com segurança. D entre as possibilidades estão K hirbet A tarah, Ras et-Tavil e Sahre al G ibiyeh, todas elas situadas nessa área. Essa cidade serviu de local para um a batalha cujo objetivo era desviar a atenção do inimigo, permitindo que outro exército de israelitas atacasse e destruísse Gibeá.20.35. 25.100 m ortos. O exército benjam ita original­m ente era formado de 26 divisões, além dos 700 guer­reiros treinados (v. 15). O núm ero que aparece no versículo 35 refere-se à contagem final das baixas, que está detalhada nos versículos seguintes. Das divi­sões, 25 foram elim inadas, sendo 18 n o cam po de batalha (v. 44), 5 durante a fuga (v. 45) e as 2 outras num a operação "lim peza final" (v. 45). Dos 700 guer­reiros treinados, cem foram mortos enquanto 600 es­caparam e se esconderam (v. 47).20.45. rocha de Rim om . O penhasco escarpado situa­do ao redor da cidade de Gibeá/Geba era cheio de pequenas cavernas, onde os soldados podiam ficar escondidos preparando uma emboscada ou onde seis­centos sobreviventes poderiam se esconder (ver co­m entário em Jz 19.12-14). Essa é a origem do nome "rocha da Rom ãzeira", identificada com a caverna de el-Jaia, no uádi es-Swenít, aproximadamente dois qui­lômetros a leste de Gibeá/Geba.20.48. destruindo cidades (inclusive os anim ais). Em­bora não seja esse o termo usado aqui, a ação prati­cada contra as cidades benjamitas foi exatamente uma herem ou guerra santa, em que todas as pessoas, ani­mais e bens são destruídos como um sacrifício a Deus (ver Js 6.17-21 em Jericó e 1 Sm 15.2, 3 e a herem contra os amalequitas). Isso explicaria por que ape­

nas seiscentos benjam itas sobreviveram a essa de­vastação (escondidos na rocha de Rimom). Essa for­ma extrema de guerra ocorria apenas esporadicamen­te, visto que não rendia ao exército vitorioso nem despojos nem escravos.21.1. ju ram en to . M ais um a vez um juram ento tolo aparece na narrativa (ver o juram ento feito anterior­mente por Jefté, em Jz 11.30, 31). Em seu zelo para punir os benjam itas, os israelitas prom overam uma devastação completa e selaram o destino futuro des­sa tribo, jurando não perm itir que suas mulheres se casassem com algum sobrevivente (ver a im portân­cia de manter um voto em N m 30.2-15). Talvez essa tenha sido um a m edida de segurança, para o caso de haver futuros conflitos com os benjamitas. Porém, a destruição foi tão completa que os seiscentos sobre­viventes foram deixados sem esposas ou quaisquer outras mulheres com quem pudessem se casar. Vis­to que os israelitas não podiam quebrar seu juram en­to, sob pena de trazer a ira de D eus sobre eles, foi preciso buscar uma alternativa para o problema dos benjam itas.21.4. construiu um altar. Se Betei era apenas um local de reunião para esse episódio e não o local permanen­te da arca, é de se esperar que um novo altar a Yahw eh teria de ser construído para o uso dos israelitas (veja a legislação sobre a construção de altares em Êx 20.24­26). Também é possível que um novo altar tenha sido construído num local aberto ou num lugar alto para poder acomodar o grande núm ero de israelitas reuni­dos ali (ver o novo altar de Gideão em Jz 6.26).21.4. ofertas. Com o fim de se purificarem e se torna­rem dignos da atenção de D eus, um novo altar foi construído, onde holocaustos e ofertas pacíficas foram dedicados (ver Êx 20.24). Isso foi necessário porque os israelitas haviam se colocado num a situação difícil após terem feito um voto tolo, tornando-se assim res­p onsáveis pelo quase exterm ínio da tribo de Ben­jam im . Agora, eles lamentavam essa atitude e queri­am buscar a orientação de Yahw eh sobre como impe­dir a extinção da tribo de Benjamim. A atitude toma­da por eles de construir um altar e oferecer nele sacri­fícios foi apropriada (como o foi em Jz 20.26) e provo­cou uma resposta de Deus.21.8-12. Jabes-G ileade. Provavelmente estava locali­zada em Tell M aklub, às m argens do rio Yabis, na parte norte da região montanhosa de Gileade, a leste do rio Jordão. Era um local estratégico que controlava uma passagem bastante movimentada, imediatamen­te abaixo da cidade. Por essa razão, controlava tam­bém grande parte do tráfego com ercial naquela re­gião (ver 1 Sm 11).

21.5, 10. m orte à tribo qu e não com p arecesse. Astribos israelitas haviam feito um juram ento de soli­dariedade. Desta forma, presumia-se que se alguma das tribos não estivesse naquela assembléia, estaria do lado do inim igo e, portanto, m erecia ter o m es­m o destino. A ssim , Jab es-G ilead e foi p u nida em cumprimento ao juram ento, e convenientemente, ser­viu como fonte de noivas para os seiscentos benja­mitas remanescentes. Um juram ento como esse pode ser comparado à afirmação de Saul em 1 Samuel 11.7 quando ele convocou uma assembléia das tribos israe­

litas para salvar Jabes-G ileade dos am onitas. Saul am eaçou destruir o gado de qualquer hom em que não comparecesse a essa campanha. A ameaça pro­vavelm ente implicava em violência contra a pessoa também. Um texto de M ari apresenta um exemplo claro desse tipo de ameaça, em que a cabeça de um crim inoso é carregada num a estaca com o dem ons­tração do que poderia acontecer com quem se esqui­vasse de uma convocação.21.16. líderes da com unidade. N a falta de um rei oude outra autoridade central, as tribos tinham de recor­rer à assembléia dos líderes tribais. Eles aplicavam a justiça dentro do contexto das aldeias (Dt 19.12; 21.2-6;22.15) e serviam com o representantes do povo em reuniões importantes (Js 8.10; 1 Sm 4.3).21.19. geografia. O festival de Siló (Khirbet Seilun) acontecia na rota de peregrinação entre Bei, no sul, e Siquém (Tell Balatah, cerca de cinqüenta quilômetros ao norte de Jerusalém), ao norte. Lebona ficava situa­da ao norte de Siló (provavelmente seja El-Lubban ou Lubban Sherqujeh). Todos esses limites geográficos fornecidos pelos líderes sugerem que nenhum deles havia comparecido ao festival cananeu.21.21-23. m oças de S iló . O plano de roubar noivas também está presente na tradição grega e rom ana e provavelmente reflete um a prática comum no mundo antigo. O festival em questão aparentemente era um ritual cananeu de fertilidade associado à colheita.21.25. não h avia re i. Esse capítulo term ina com a m esm a afirmação que aparece anteriorm ente, expli­cando as condições anárquicas no período dos juizes observando que não havia rei em Israel (ver o comen­tário em Jz 17.6). Essa afirmação serve para chamar a atenção para o livro todo. As histórias recheadas de violência e morte forneciam um argumento óbvio em favor da monarquia. A aliança fora ignorada, o povo se rebelara e as leis eram infringidas, caracterizando um período em que cada um fazia o que era certo aos seus próprios olhos. D este modo, a única esperança de paz e ordem era através do restabelecim ento da aliança e da im posição de um a liderança forte.

R U T E

v y

1 .1-22 De Moabe a Belém1.1. nota cronológica. A história de Rute é situada pelo narrador na época dos juizes, m as não há nenhu­

m a indicação m ais precisa, visto que esse período durou diversos séculos. Se não houver lacunas na genealogia apresentada no final do Livro (ver comen­

tário em G n 5.1-32), é mais provável que os eventos aqui narrados tenham acontecido na segunda metade do século doze, na época de Jefté e de Sansão.1.1. Belém. Belém fica localizada oito quilômetros ao

sul de Jerusalém. Foram encontradas no local cerâm i­cas da Idade do Bronze e do Ferro, m as as escavações arqueológicas têm sido limitadas devido à contínua ocupação. A cidade era particularmente suscetível ao clima devido à escassez de fontes de água, e a popu­

lação dependia das cisternas para o abastecimento. Os principais produtos da região eram cereais (trigo e cevada), azeitonas e uvas.1.1. indo para M oabe por causa da fom e. Há umasérie de vaus cortando a região de Moabe, que combi­nados a bons índices de chuva e um solo poroso tom a­vam a região m uito propícia para a agricultura. A fam ília de Elim eleque teria viajado em direção ao

norte, para a região de Jerusalém, e então tomado a estrada de Jerusalém para Jericó, cruzando o Jordão nas passagens próximas a Jericó. De lá, a estrada se­guia para o leste até Hesbom, fazendo conexão com a

Estrada Real, no sentido norte-sul, que atravessava a região de Moabe. Dependendo do local onde se fixa­ram, devem ter percorrido entre 110 e 160 quilôme­tros num período de aproximadamente uma semana.1.1. Moabe. A região de Moabe, a leste do m ar Morto, estendia-se desde as planícies ao norte do rio A m om ,

até o rio Zered, ao sul. A região media cerca de cem quilôm etros de norte a sul e cinquenta quilômetros desde o m ar Morto até o deserto, a leste. As "terras de M oabe" ao norte do rio A m om eram uma região que pertencera a Seom (ver Nm 21) e havia sido distribu­ída à tribo de Rúben. Pouco se sabe a respeito de Moabe durante esse período, em bora pesquisas ar­

queológicas tenham identificado dezenas de ocupa­ções que remontam a essa época.

1.2. efrateus. "E frateu " pode referir-se tanto a um distrito geográfico como ao ancestral de um clã. Como essa designação pode se referir a indivíduos de dife­

rentes tribos e clãs há certa confusão quanto à identi­ficação do grupo, m as as possibilidades geográficas são igualmente imprecisas.1.3-5. a difícil situação da viúva. As viúvas no antigo

Oriente Próximo perdiam a posição social garantida pelo marido, e geralmente perdiam tam bém a posi­ção política e econômica. Em termos atuais, a situação das viúvas seria comparável a dos sem-teto que peram­

bulam pelas ruas de nosso país. Como não tinham a proteção de um homem, eram economicam ente de­pendentes da sociedade em geral.

1.1-6. intervenção divina. Com o era natural nessa época, considerava-se que a intervenção do Senhor é que trouxe fim àquela fome. No antigo Oriente Próxi­

mo, a divindade desempenhava um papel muito im­portante na relação de causa e efeito, tanto nos fatos históricos como nos fenôm enos naturais. Em nossa

visão de mundo, estaríam os inclinados a identificar primeiro as causas humanas e naturais, para só de­pois mencionar que "certam ente Deus estava por trás

de tudo". No antigo Oriente Próximo, era exatamente o contrário, Deus era identificado como a causa por trás da fome ou da guerra, e as causas naturais ou humanas eram consideradas secundárias, ou nem isso.

No antigo Oriente Próximo, as causas naturais tinham o mesmo valor que atualmente se confere às causas sobrenaturais.1.8. retornar para a casa das m ães. G eralm ente, o lugar de proteção era a casa do pai e não da mãe. Rute 2.11 dá a entender que o pai de Rute ainda era vivo. Em outras ocorrências no Antigo Testamento (Gn 24.28; Ct 3.4; 8.2), a casa da mãe aparece relacionada com a

preparação para o casamento, o que corresponde tam ­bém aos costumes praticados tanto na Mesopotâmia como no Egito, onde a mãe era a protetora da filha e quem lhe dava conselhos e a orientava nas questões de am or, casam ento e sexo. Portanto, ao encorajar suas noras a retom ar para a casa de suas mães, Noemi

não está sugerindo a elas que busquem proteção le­gal, m as sim um lugar que lhes perm itisse form ar uma nova família.

1.13. por que elas iriam esperar pelos filhos de Noemi?Em Israel, a lei estabelecia a instituição do casamento

sob levirato (ver comentários em G n 38.6-26; Dt 25.5­10), ou seja, se um homem m orresse sem deixar fi­lhos, seu irmão era responsável por engravidar a viú-

va a fim de que a linhagem do falecido não acabasse. Alguns comentaristas têm observado, porém, que neste

caso específico, os filhos em potencial que poderiam garantir um herdeiro a Rute e Orfa seriam de outro

pai, e não do pai de seus falecidos maridos, logo não se qualificariam para o casamento sob levirato. Por­

tanto, é difícil compreender de que m aneira essa solu­ção apresentada por Noem i preservaria a linhagem

de M alom e Quiliom. Todavia, esses filhos poderiam ao menos garantir a proteção legal e o sustento das m ulheres em sua velhice.

1.16.17. a natureza do com prom isso de Rute. Em vez

de dem onstrar um a intenção evangelística, N oem i faz todo o possível para encaminhar Rute de volta ao

seu povo e ao seu deus. Geralmente, as mulheres que se casavam com estrangeiros continuavam a adorar

seus deuses nativos (ver G n 31.19; 1 Rs 11.8; 16.31). A partir da informação fornecida pelo texto, pode-se con­cluir que o reconhecimento de Yahw eh por parte de

Rute é acompanhado por sua adoção a um novo povo

em um a terra estrangeira. Assim como Rute afirmou

que aonde quer que Noem i fosse ela iria junto, ela

tam bém declarou que o povo e o deus de N oem i seriam tam bém seu povo e seu deus. Parece que o

compromisso assumido foi com Noemi, baseado no

relacionamento que mantinham, e não com Yahweh, por estar convencida da superioridade teológica do

monoteísmo e reconhecê-lo como único Deus no céu e na terra.

1.17. só a m orte irá n os sep arar. Ao contrário de

muitas traduções, Rute afirmou que nem na m orte ela

abandonaria N oem i. Com isso, ela quis dizer que

pretendia cuidar do sepultam ento de N oem i e dos

rituais relacionados à sua morte e que seria enterrada no mesmo lugar que Noemi. Essa seria um a preocu­

pação comum para um a viúva sem filhos, por isso o

compromisso de Rute teve um significado muito pro­

fundo para Noemi. A decisão de Rute de ser enterra­da na terra de N oem i demonstra que ela estava abrin­

do mão de sua lealdade aos relacionamentos do passa­do para arriscar tudo com Noemi. Ser enterrada no

mesmo túmulo da família de Noem i seria uma garan­

tia adicional de que Rute continuaria as receber as provisões necessárias m esm o depois da m orte de Noem i. Popularm ente acreditava-se que o cuidado

com os m ortos poderia influir no tipo de vida que eles teriam depois da morte.

1.19. todo o povoado. Belém nunca foi um a cidade

grande, apesar do importante papel que teve na his­tória de Israel. Na maior parte do tempo, a população

da cidade era de algumas centenas de pessoas, e é provável que nessa época fosse bem menor.

1.20. significado de nomes. No antigo Oriente Próxi­mo, a escolha de um nom e muitas vezes era feita em função do seu significado, com a esperança de que o nom e caracterizaria ou marcaria o destino da pessoa. Infelizmente, o nome de Noemi, que significa "agra­dável" causa apenas ironia, à medida que parece zom­bar de sua m á sorte. Ela sugere que não mais a cha­m em de Noemi, pois seria uma declaração falsa de­pois de toda a am argura (Mara) que tinha suportado.1.21. divindade como causa do sofrim ento. No mun­do antigo os deuses eram considerados responsáveis por todas as situações cotidianas e, portanto, por tudo que acontecia na vida de um a pessoa. O ciclo da natu­reza (que havia trazido a fome), assim como a doença e a morte estavam nas mãos da divindade. É natural, então, que Noem i identifique Yahw eh como a origem de sua desgraça. É importante observar que isso não se traduz explicitamente em culpa. Ela não proclama sua inocência ou busca vingança, tampouco acusa ou coloca em questão a justiça de Deus. Pode-se presu­mir, porém, que ela não tinha consciência de nenhum pecado do qual pudesse ser acusada pela divindade e que também estava perturbada por não entender as razões das ações de Yahw eh contra ela. Por outro lado, a opinião geral no mundo antigo era de que os m ortais raramente eram capazes de discernir o que levava os deuses a fazer o que faziam. Esse questiona­mento é um tema comum da literatura de sabedoria mesopotâmica.1.22. início da colheita da cevada. A colheita da ceva­da nessa região com eçava geralm ente na segunda quinzena de abril, quando a estação chuvosa chegava ao fim, sendo a prim eira dentre as principais colheitas da estação.

2.1-23Rute encontra Boaz2.1. a reputação de B oaz. Em algum as traduções, Boaz é chamado de "hom em valente", mas na tradu­ção da NVI ele é cham ado m ais acertadam ente de "h om em rico e in flu en te", A proem inência de um indivíduo podia ser obtida através de proezas milita­res (ver Jefté, Jz 11.1), mas muitas pessoas descritas dessa form a no Antigo Testam ento não realizaram nenhuma façanha militar. Provavelmente essa expres­são tinha um a aplicação m ais ampla (ver o comentário em Iz 6.12).

2.2. pobres recolhendo cereais. A lei de Israel garan­tia o direito aos pobres e desprovidos de seguir os trabalhadores que faziam a colheita nos cam pos e recolher as espigas que caíam ou eram deixadas para trás (ver comentários em Lv 19.9, 10 e Dt 24.19-22). Essa era um a boa form a de resolver um problem a

social, pois exigia que os m enos favorecidos traba­lhassem duro para conseguir seu sustento, preservan­do a dignidade da qual muitas vezes eram privados por dependerem inteiramente da generosidade e so­

lidariedade de outros.2.8. a lavoura de Boaz. Visto que a terra era distribu­ída entre diversas tribos, clãs e fam ílias, parece que cada campo tinha trechos delimitados que pertenciam a vários clãs ou membros de uma família. Eram usa­dos marcos de pedra para identificar as divisas, mas era muito fácil uma pessoa passar de um a proprieda­de para outra sem perceber. De fato, era bastante fácil para os pobres transitar por toda a propriedade, au­mentando assim as chances de obter bons resultados. Boaz, porém, demonstrou que gostaria que Rute rece­besse mais do que o suprimento necessário recolhen­do apenas em sua lavoura.2.12. refúgio sob as asas. A metáfora de refugiar-se sob as asas da divindade pode ser encontrada tam ­bém nos Salmos (36.8; 57.2; 61.5; 91.4), sem pre rela­cionada ao cuidado e à proteção garantida pela alian­ça. O uso de metáforas também era comum em ou­tras culturas do antigo Oriente Próxim o, particular­mente na egípcia, onde a simples figura de um a asa já representava proteção. M uitas vezes, as divinda­des eram retratadas como tendo asas para proteger os reis. De modo semelhante, um marfim de Arslan Tash, datado do século oitavo apresenta personagens com formas hum anas aladas protegendo uma figura ao centro. -2.14. m olhar o pão no vinagre. O pão que Rute mo­lhou no vinagre provavelmente era um bolo de cere­ais, geralm ente cozido no azeite. A substância em que ela mergulhou o pão era um subproduto do pro­cesso da fermentação do vinho, resultando num a be­bida amarga, mas que usada como molho ou condi­mento seria bastante agradável ao paladar.2.15,16. privilégios adicionais na colheita. O versículo 16 utiliza alguns termos desconhecidos em relação às orientações de Boaz aos seus servos, mas fica claro que ele pretendia tornar m ais produtivo o trabalho de Rute. Alguns estudiosos concluíram que os trabalha­dores foram instruídos a tirar algumas espigas dos feixes que haviam colhido, deixando-as cair para que Rute pudesse recolhê-las.2.17. d ebu lhar o cereal. A superfície dura da eira geralmente atendia às necessidades de toda a comu­nidade. Para bater nas espigas e separar o cereal da palha era usado um bastão ou um a pedra.2.17. efa. O efa era um a medida de capacidade para secos; as estimativas variam entre 20 e 40 litros. De acordo com os cálculos, Rute conseguiu ajuntar quase uma arroba de cevada ou um efa, o que representava

a porção de cereais obtida por uma pessoa do sexo masculino durante em um mês de trabalho.2.20. parente resgatador. O papel do parente resga- tador era ajudar a recuperar as perdas da tribo, fos­sem elas humanas (nesse caso ele vingava o sangue da vítima, perseguindo o assassino até matá-lo), judi­ciais (oferecendo assistência nos julgamentos) ou eco­

nômicas (recuperando a propriedade de um membro da família). Visto que Yahw eh garantira a terra aos israelitas pelo sistema de arrendamento, eles não po­diam vendê-la, e se h ipotecassem um a parte para pagar dívidas, era importante que a posse desse pe­daço de terra voltasse ao proprietário original o mais rápido possível. Desse modo, a terra permanecia na posse daquela fam ília como um sinal de que faziam parte da comunidade da aliança. A im portância desse direito inalienável da terra pode ser vista na recusa de Nabote em desfazer-se da "herança de seus pais" quando o rei Acabe lhe fez um a oferta para comprar sua vinha (1 Rs 21.2, 3). Na M esopotam ia (especial­mente nos primórdios de sua história) a terra geral­m ente era um a propriedade fam iliar, e não indivi­dual, de forma que qualquer pessoa ficaria limitada a vendê-la ou negociá-la individualmente.2.23. co lheitas da cevada e do trigo. A colheita da cevada terminava em maio e se misturava à colheita do trigo que continuava até junho.

3.1-18 A proposta de Rute3.2. lim pando cevada na eira. A lim peza do cereal era feita geralmente no final da tarde, quando sopra­v a um a brisa que amenizava o forte calor do dia. Para executar essa tarefa, era usada um a forquilha presa a um cabo longo para debulhar o cereal e lançá-lo para cim a, perm itindo que a brisa levasse a palha para longe (mais tarde essa palha era recolhida para ser usada como forragem), enquanto o cereal caía na eira. A eira geralmente era um a área ao ar livre para po­der aproveitar ao máximo a ação da brisa.3.3. R ute se prepara. O perfum e m encionado aqui consistia de óleos aromáticos geralmente usados nas celebrações ou em outras ocasiões festivas. As essências geralmente eram extraídas de plantas importadas.3.3. por que Boaz não deveria saber que ela estava lá? Alguns com entaristas sugerem que Rute talvez estivesse adornada como uma noiva, e se Boaz a visse vestida assim poderia interpretar mal suas intenções. A maioria, porém, acredita que o fato de ter perm ane­cido escondida estaria relacionado à questão de espe­rar o momento certo.3.7. deitar-se perto do m onte de grãos. Como a eira era usada por m uitos m em bros da com unidade, é

provável que outras pessoas estivessem debulhando cereais ao lado de Boaz. Cada pessoa ficava num a área determinada onde, depois de comer e beber po­dia dorm ir junto ao seu m onte de grãos, vigiando assim sua mercadoria até que fosse transportada na manhã seguinte.3.7-9. descobrir os pés e estender a capa. Em alguns relatos do Antigo Testamento, o termo "p és" é usado como um eufem ism o para os órgãos sexuais. A ex­pressão "estender a capa" também é usada com uma conotação sexual em um a situação de contrato matri­m onial, em Ezequiel 16.8. O texto de Rute, porém, não sugere um ato sexual ostensivo, m as é provocativo devido à sua ambigüidade.3.9. o que Rute está pedindo? Rute usa uma expres­são que, em outras situações, é empregada para refe­rir-se a um noivado seguido de casamento. Também fica claro a partir da reação de Boaz no versículo se­guinte que ela lhe propôs casamento. N oem i não acon­selhara Rute a ir tão longe, m as certamente era isso que ela tinha em mente.3.12. e se houvesse um parente m ais próxim o? Osbenefícios decorrentes do papel desem penhado por um parente resgatador exigiam que algumas priori­dades fossem estabelecidas. Por essa razão, era conce­dida ao parente mais próximo a preferência para de­sem penhar esse papel.3.14. por que ninguém deveria saber que um a m u­lher esteve lá? Além do desejo natural de preservar tanto a reputação de Rute quanto a sua (a palavra usada no v. 13 para "deitar-se ali até de m anhã" não tem conotação sexual), Boaz estava ansioso para não colocar em risco o procedimento legal do dia seguinte por qualquer indício de imoralidade.3.17. seis m edidas. Essa quantidade não está espe­cificada, portanto, é imprecisa. É im provável que es­teja se referindo a seis efas, visto que ela não conse­guiria carregar um a carga tão pesada. Talvez Boaz tenha usado como medida uma pá ou as duas mãos cheias para dar a cevada a Rute.

4.1-16Um marido e um filho4.1. sentou-se à porta da cidade. A área onde ficavam os portões nas cidades israelitas era um espaço aberto onde se concentravam várias atividades. Mercadores, visitantes, m ensageiros e juizes, todos freqüentavam essa área e conduziam ali seus negócios. Era um lugar óbvio para encontrar alguém que você estivesse pro­curando. Visto que as pessoas que se dirigiam às suas plantações passavam necessariamente por aquela área, Boaz esperava encontrar ali a pessoa que procurava. Inúmeras escavações revelaram a existência de áreas

próximas aos portões onde havia bancos permitindo que as pessoas se encontrassem para diversos pro­pósitos. Visto que em Belém foram feitas poucas esca­vações, ainda não foram encontrados portões desse período.4.2. dez líderes como testem unhas. Os líderes, geral­m ente, eram os chefes dos clãs ou das famílias, que serviam como governantes da cidade e cuidavam das questões jurídicas e legais. Aqui, não se trata de um julgam ento, m as esses líderes iriam supervisionar a negociação para assegurar que tudo seria feito de acor­do com a lei e os costumes, e também serviriam como testemunhas .4.4. por que e le teria interesse em resgatar a terra? Aoresgatar a terra de Noemi, o parente teria a oportuni­dade de m uito em breve am pliar sua propriedade. V isto que N oem i não tinha herdeiros, quando ela morresse, a terra retornaria para sua fam ília e seria transferida a seus herdeiros. O dinheiro empregado na compra da terra seria um investimento que pro­porcionaria um bom retom o no futuro. Se a questão aqui fosse apenas um caso de resgate de terra, pode­ria ser uma proposta de negócio bastante atraente.4.5, 6. por que a inclusão de Rute altera a proposta? Quando Boaz mencionou que o parente teria também a responsabilidade de se casar com Rute, a situação mudou consideravelmente, em termos econômicos. É com preensível que o outro parente não estivesse a par que Rute estivesse incluída no negócio. Para que ele fosse considerado responsável pelo casamento por levirato em relação a Rute, seria necessário fazer uma interpretação forçada da lei (para uma revisão das leis do levirato, ver o comentário em D t 25.5-10), no en­tanto, fica claro que essa questão está relacionada ao versículo 5, isto é, à manutenção do nome do falecido. Se o parente precisasse casar com Rute, se ela tivesse um filho, ele seria o herdeiro da propriedade da famí­lia de Elimeleque. Nesse caso, o dinheiro usado para resgatar a terra não seria um investimento, m as ape­nas uma diminuição dos bens da sua família. Em vez de permitir que ele aumentasse sua propriedade, seu dinheiro seria gasto em um a causa caridosa. Além disso, ele também teria outros gastos tendo de susten­tar Noemi, Rute e os possíveis filhos desse casamento. E ainda haveria a possibilidade de que os filhos de Rute reivindicassem uma parte da herança que per­tencia aos filhos que ele já tinha. E bastante provável que ele fosse casado, desta forma, o impacto econômi­co que o resgate de Rute traria à sua família deve ter pesado em sua decisão.4.7, 8. tirar a sandália. O tipo de calçado m ais usado no antigo O riente Próxim o eram as sandálias, mas elas também eram um elemento simbólico do vestuá-

rio, especialmente na relação entre a viúva e seu tutor legal. Isso se deve ao fato de que a posse da terra era baseada na área triangular que a pessoa pudesse ca­minhar durante um a hora, um dia, um a semana ou um m ês (1 Rs 21.16, 17). O s lotes eram m edidos e marcados em form a de triângulos, e as pedras servi­am como m arcos de divisa (Dt 19.14). V isto que a pessoa caminhava para marcar sua propriedade usan­do sandálias, elas passavam a ser um a espécie de escritura móvel daquela terra. Ao remover as sandá­lias de seu tutor (Rt 4 .7), a viúva rem ovia dele o

direito de adm inistrar a terra de sua fam ília. Nos textos de Nuzi, a transferência de terras também en­volvia a substituição da pegada do antigo proprietá­rio na terra pela do novo proprietário.4.9, 10. n atureza da transação. Ao adquirir toda a propriedade e os bens de Noemi, Boaz assumia total re sp o n sa b ilid a d e p or N oem i, sen d o o b rig ad o a sustentá-la enquanto fosse viva e a cuidar dela em sua morte. Ao adquirir Rute, ele se comprometia a dar a ela a oportunidade de gerar filhos, sendo que o pri­meiro deles se tom aria herdeiro de Elimeleque e de seus filhos.4.11, 12. bênção. A s bênçãos relacionadas ao casa­mento raramente tratavam do relacionamento entre marido e m ulher; ao contrário, elas se concentravam nos filhos. A bênção da criação bem como a bênção da aliança considerava a procriação como um a bênção de Deus. Essa era uma crença comum em todo o mundo antigo, como pode ser visto- na bênção sobre o rei Keret, encontrada nos textos ugaríticos, afirmando que sua nova esposa lhe daria sete ou oito filhos. A bênção dirigida a Boaz encontra eco na história nacional de Israel (Raquel e Lia, ver G n 30) bem como na história tribal de Judá (Tamar, ver G n 38).4.15. responsabilidade dos filh os. O texto sugere que o filho levantaria o ânim o de N oem i e a consolaria após a perda do marido e dos filhos. A dor decorrente

dessas perdas não se lim itava aos relacionam entos pessoais, mas refletia também em termos de dificul­dades financeiras e talvez até m esm o nas questões relacionadas à vida após a morte, que estavam popu­larmente associadas a rituais realizados pelos descen­dentes (ver comentário em N m 3.1). Esse pesar pode­ria ser então diminuído, visto que era responsabilida­de dos filhos cuidar dos pais em sua velhice (garantin­do-lhes comida e abrigo, proteção legal e um sepulta- mento adequado).4.17. o filh o de N oem i. Alguns estudiosos sugerem que houve um a adoção oficial da criança por parte de Noemi. Embora a adoção com propósitos legais fosse uma prática bastante comum no mundo antigo, a situ­ação legal aqui não exigia uma adoção. Outra suges­tão é que o filho teria de fato sido entregue a Noemi em custódia para que ela o criasse, visto que ele era um filho substituto para ela. Em bora isso seja possí­vel, é m ais provável que Noemi simplesmente tenha sido reconhecida como a m ãe legal da criança, desem­penhando um papel im portante em sua educação e garantindo que ele continuasse a cuidar dela nos pró­ximos anos.

4 .1 7 -2 1

Genealogia4.18. im portância da linhagem fam iliar. Aqui desco­brimos que esse incidente quase resultou na extinção de um a fam ília de Israel relacionada à fam ília de Davi. O grande rei Davi esteve sujeito a sequer ter nascido. A genealogia é um a demonstração de que Deus proveu uma solução para essa crise familiar. A família de Noem i não apenas sobreviveu, como tam ­bém prosperou a ponto de tornar-se uma das princi­pais fam ílias em Israel. A sobrevivência durante o período traumático dos juizes (a partir de 1.1) depen­dia da fidelidade e da lealdade; condições que resul­taram em indivíduos como Davi (4.21).

1 S A M U E L

v y1 .1-28 O nascimento de Samuel1.1. Ram ataim , nos m ontes de Efraim . H avia uma cidade chamada Ramá (moderna er-Ram) no territó­rio de Benjamim, oito quilômetros ao norte de Jerusa­lém e cerca de seis quilômetros ao sul de Betei. Visto que Ramá é citada em 1.19 como o lugar onde ficava a casa de Sam uel, alguns acreditam que seja essa localidade. O texto, porém, não deixa dúvidas de que Ramataim situava-se na região m ontanhosa de Efraim. Essa lo ca lid a d e tem sido asso ciad a à c id ad e de Arimatéia do Novo Testamento, cerca de 24 quilôme­tros a oeste de Siló.1.2. poligam ia em Israel. Em Israel, como na maior parte do mundo antigo, a m onogamia era a prática comum . A poligam ia não era vista como ilegal ou imoral, mas em geral não era considerada economica­mente viável. A poligam ia era praticada principal­mente nas situações em que a prim eira esposa não podia ter filhos, m as diversos outros fatores estimula­vam essa prática, como: (1) disparidade entre o núm e­ro de homens e m ulheres; (2) necessidade de gerar grande quantidade de filhos para trabalhar nos cam­pos ou para cuidar dos rebanhos; (3) desejo de aumen­tar o prestígio e as riquezas da fam ília através de m últiplos contratos de casam ento e (4) alta taxa de mortalidade de mulheres durante os partos. A poliga­mia era m ais com um entre os grupos nôm ades de pastores e nas comunidades rurais onde era impor­tante que a mulher estivesse ligada a um a fam ília e fosse produtiva. Na Bíblia, a maior parte dos casos de poligamia praticados por pessoas comuns ocorre antes do período da monarquia.1.2. vergon h a por não ter filh o s . V isto que gerar filhos era um sinal da m aior bênção de Deus (SI 127.3), a incapacidade de ter filhos freqüentemente era en­tend ida com o um sinal de castigo de D eus. Além disso, se a m ulher não fosse capaz de gerar filhos, ficava num a situação bastante delicada dentro da fa­mília, já que a m ulher estéril podia ser descartada, repudiada ou diminuída perante sua família. Orações e textos legais da Mesopotâmia demonstram que es­sas mesmas questões existiam em todo o antigo Ori­ente Próximo.1.3. S iló . Independente do lugar onde ficava a casa de Elcana (fosse Ramá, em Benjamim ou Ramataim, em Efraim) o percurso até Siló era de cerca de 24 quilôme­

tros, o que para uma família, representava uma via­gem de dois dias. A localidade de Siló foi identificada como Khirbet Seilun, na m etade do cam inho entre Betei e Siquém. Esse lugar com sete acres e meio de

extensão situava-se em um local estratégico, desfru­tando de terras férteis, amplo abastecimento de água e acesso à principal rota norte-sul até o centro de Isra­el. Ruínas consideráveis da Idade do Ferro I foram

encontradas no local, juntam ente com evidências de destruição por um incêndio. Embora tenham sido en­

contrados vestígios de prédios públicos desse perío­do, nenhum sinal do santuário foi identificado. A lo­calização provável do santuário seria no nível mais alto do *tell, m as esse local foi prejudicado pela erosão e pelas ocupações posteriores.

1.3. sacrifício anual. A lei estabelecia três peregrina­ções anuais: na festa dos pães sem fermento, na festa

das semanas e na Festa dos tabernáculos. Muitos eru­ditos acreditam que a visita de Elcana deu-se por ocasião dessa última festa. Visto que o texto não espe­

cifica o motivo dessa peregrinação, alguns estudiosos sugerem que poderia tratar-se apenas de um ritual

familiar tradicional, evidenciando a devoção de Elcana.1.3. linh agem sacerd otal de Eli. Eli pertencia à li­nhagem de Arão por descender de seu quarto filho, Itamar. No início do período dos juizes, o sumo sa­

cerdote era Finéias, filho de Eleazar, o filho mais ve­lho de Arão. O s dois filhos do meio de Arão, Nadabe e Abiú, tinham morrido por causa de profanação ri­tual (Lv 10). Não se sabe como os cuidados com a tenda do encontro e com a arca foram transferidos dos descendentes de Eleazar para os de Itamar.1.4. dava porções do sacrifício . Diversos sacrifícios ofereciam a oportunidade de compartilhar da refeição ofertada, principalm ente o da oferta de comunhão

(ver o comentário em Lv 3.1-5). Quando o sacrifício incluía uma refeição, o sacerdote oficiante e a família dos celebrantes recebiam porções da carne, um item raro no cardápio do mundo antigo, talvez equivalen­te ao peru servido nas ceias de Natal.1.5. porção dupla para Ana. A expressão hebraica usa­

da para descrever a porção de Ana é obscura. A maio­ria das traduções (NVI, ARA, BLH, e versão KJ) usa a expressão "porção dupla", enquanto outras sugerem que seria "apenas uma porção" (BV) ou "u m a porção esp ecial". M uitos com entaristas defendem o uso da

expressão "apenas um a porção" porque ela estabele­ce o contraste revelado no contexto da história.1.7. santuário em Siló . O santuário é descrito nesse versículo como sendo a "casa do Senhor", que é uma expressão ambígua quanto à natureza da construção. No versículo 9 o term o usado é "santu ário", o que implica a existência de um prédio e em 2.22 há uma referência à "T en da do Encontro", que era o taber­náculo. Essa variação no uso dos termos sugere que a tenda era cercada por uma estrutura mais durável e resistente ou que havia sido arm ada dentro de um recinto sagrado, possivelm ente um antigo tem plo cananeu.1.8. m arido m elhor do que dez filh os. A tentativa de Elcana em consolar Ana é pouco convincente. Embora tivessem um bom padrão de relacionam ento conju­gal, e ele fosse capaz de satisfazer, em termos huma­nos, as necessidades emocionais de Ana, havia muito m ais coisas envolvidas aqui. Primeiro, havia o estig­m a social da esterilidade; depois, havia a questão da continuidade da fam ília no futuro. Os filhos eram responsáveis pelo sustento dos pais em sua velhice, por providenciar a eles um sepultam ento digno e pela manutenção de sua memória. Em alguns casos,

acreditava-se que a qualidade da vida após a morte dependia das providências tom adas pelas gerações posteriores. A posição de A na na sociedade e sua perspectiva para o futuro eram desalentadoras, o que tornava a pergunta de Elcana descabida.1.9. cadeira do sacerdote à entrada. Talvez Eli já esti­vesse com idade avançada para continuar ministran­do no santuário, m as ele ainda podia exercer suas funções de relacionamento com as pessoas, saudando os adoradores à entrada e oferecendo-lhes conselhos e orientações. O m óvel descrito aqui poderia ser tra­duzido como "cadeira", m as na maioria das ocorrên­cias refere-se a um trono ou a um assento de honra. Nas áreas públicas geralmente havia bancos disponí­veis, enquanto que nas residências era m ais comum o uso de sofás ou banquetas. Escavações arqueológicas em M ari revelaram algum as banquetas usadas em residências.1.11. votos. O voto era uma espécie de pacto condi­cional, feito voluntariamente, bastante comum entre as culturas do antigo Oriente Próximo, inclusive na hitita, na ugarítica, na m esopotâmica e, com menos freqüência, na egípcia. No mundo antigo, o voto ge­ralmente estava relacionado a um pedido dirigido à divindade, condicionando o recebimento do cuidado ou da proteção divina a um presente oferecido à di­vindade. Esse oferecimento na maioria das vezes as­sumia a forma de um sacrifício, mas outros tipos de presentes ofertados ao santuário ou aos sacerdotes tam­

bém eram usados. O cumprimento do voto geralmen­te era feito no santuário, como um ato público. Na literatura ugarítica, é relatado que o rei Keret fez urr. voto pedindo uma esposa que pudesse gerar filhos oferecendo em troca uma quantidade de ouro e prata equivalente ao peso da noiva.1.11. cortar os cabelos. Abster-se de cortar os cabelos era o elemento m ais importante do voto de nazireu (ver os com entários em N m 6). O voto de nazireu geralmente era restrito a um período limitado de tem­po, mas aqui, como no caso de Sansão, seria por tod= a vida. O significado do cabelo para esse voto é desco­nhecido, embora no pensamento do mundo antigo, c cabelo (juntamente com o sangue) era um dos princi­pais representantes da essência da vida da pessoa, e como tal era freqüentemente usado em simpatias. Isso fica claro, por exem plo, na prática de enviar uma mecha de cabelos supostamente do profeta, juntamente com as profecias destinadas ao rei de *Mari para ser usada em adivinhações e determinar se a mensagem do profeta poderia ser considerada válida.

1.13. oração silenciosa. M uitas vezes as orações eram acompanhadas de sacrifícios, em que o sacerdote ofici­ante recebia o pagamento de uma taxa para oferecer o sacrifício e recitar uma oração apropriada. Como Ana não tinha condições financeiras para encomendar uma oração oficial, ela mesma orou silenciosamente, e ale­grou-se ao receber uma bênção favorável do sacerdo­te que para ela tinha o valor de um oráculo. Na Meso- potâmia, existiam alguns sacerdotes videntes que usa­vam adivinhações para ler presságios em favor de m ulheres que desejavam ter um filho. Existem inú­m eros exem plos de orações espontâneas no Antigo Testamento, porém esse é o único caso específico de oração silenciosa. No antigo Oriente Próximo as ora­ções geralmente seguiam uma determinada fórmula e muitas vezes eram baseadas em encantamentos ou feitiços. Por essa razão, há poucas referências a respei­to de orações espontâneas ou silenciosas.1.19. natureza da adoração. A adoração mencionada aqui provavelmente indica uma participação no sacri­fício matinal diário (ver comentário em Lv 6.8-13).1.22-24. idade de desm am ar. A criança geralm ente era desmamada entre o segundo e o terceiro ano de idade e a ocasião era acompanhada por uma celebra­ção, visto tratar-se de um rito de passagem. No texto egípcio intitulado Instrução de A ny, é relatado que uma criança foi amamentada por cerca de três anos.1.24, 25. natureza do sacrifício. O sacrifício oferecido por Elcana e Ana incluía um novilho, farinha e vinho. De acordo com Núm eros 15.8-12 a farinha e o vinho deviam acompanhar a oferta de um novilho. É mais provável que o texto original esteja se referindo a três

novilhos e não a um novilho de três anos. Essa hipó­tese é apoiada pelo fato de que eles também oferece­ram três vezes a quan tia exigid a de farinha e de vinho. Se a oferta foi realmente de três novilhos, fica evidente a generosidade de Elcana e Ana.1.28. dedicação por toda a vida. Como já foi visto no comentário de 1.11, essa duração não era normal para o voto de nazireu, m as, como havia sido estipulada no voto, precisava ser cumprida. Ao dedicar seu filho ao Senhor, Ana não estava simplesmente cumprindo um voto, e sim continuando um a antiga tradição que di­

zia que o primeiro filho homem deveria ser oferecido à divindade. No antigo Oriente Próximo esse conceito às vezes levava ao sacrifício de crianças para garantir a fertilidade. Como alternativa, nos cultos ancestrais, o primogênito era o herdeiro das funções sacerdotais na família. Em Israel, essa tradição levou à consagra­ção do primogênito, que era levado ao templo para servir na adoração ou nos serviços sagrados. Em situ­ações assim, o filho podia ser resgatado, e a lei israelita estipulava que os primogênitos dedicados ao Senhor deveriam ser substituídos pelos levitas (Nm 3.11-13). Por causa do voto que havia feito, Ana não deu início ao processo de resgate de seu filho. Na M esopotâmia, os escravos algumas vezes eram doados para o servi­ço no tem plo, ali perm anecendo pelo resto de suas vidas, e a literatura acadiana atesta a existência de uma categoria especial de m ulheres que se dedica­vam a servir no templo como prostitutas, por toda a vida. Há evidências de crianças oferecidas ao templo em textos sumérios do início do segundo milênio.

2 .1-10 A oração de Ana2.1. m inha força. Em hebraico, o termo usado é "m eu chifre". A imagem do chifre aparece às vezes relacio­nada à posteridade (ver especialmente 1 Cr 25.5 e SI 132.17), mas tam bém é usada para representar uma força visível, como uma arma capaz de espetar o ini­migo. Era comum o uso de chifres nas coroas cerimo­niais de deuses e reis da Mesopotâmia.2.6. sepultura. A palavra traduzida como "sepultura'' é o termo hebraico seol. No antigo Oriente Próximo, era comum a crença de que a vida continuava além da sepultura, em uma espécie de m undo inferior, e ser enviado para lá era considerado um ato da justiça de Deus, embora o seol não fosse visto como um lugar de recom pensa ou castigo. Como a sepultura era a entrada para esse mundo inferior, o seol muitas vezes era empregado como sinônimo para essa palavra.2.8. m undo de cabeça para baixo. As ações de Deus muitas vezes pareciam provocar uma reviravolta no mundo, tanto no aspecto da criação (montanhas redu­

zidas a pó, vales transformados em montanhas, Sol se

escurecendo); quanto no aspecto social (o pobre rece­bendo honra, o poderoso sendo derrubado); ou políti­co (queda de impérios). Esse tema relacionado à visão de um mundo às avessas era usado para expressar o controle soberano de D eus, sendo em pregado para transmitir juízo ou recompensa, passando a estar rela­cionado tam bém ao reino futuro de Deus, onde as injustiças seriam corrigidas e uma nova ordem seria estabelecida.2.8. alicerces da terra. Os alicerces da terra às vezes eram vistos como colunas (SI 75.3) e outras vezes como água (SI 24.2). Os intérpretes dessa passagem têm considerado igualmente as duas possibilidades, visto que esse versículo contém apenas a palavra traduzida aqui como "alicerces". Tanto a água como as colunas faziam parte da antiga visão dos fundam entos do mundo.2.10. trovejará do céu. No antigo Oriente Próximo, a presença da divindade geralmente era acompanhada de trovões e relâmpagos, em um cenário de batalha. Na Exaltação Sum éria de Inanna, nos m itos hititas sobre o deus da tempestade e nas mitologias acadiana e ugarítica, os deuses eram vistos como trovões conde­nando os inim igos. Baal é representado segurando nas mãos muitos raios de trovão. Essa mesma termi­nologia aparece no discurso dos reis hititas ou assírios que se apresentavam como instrumentos dos deuses, trovejando contra aqueles que violassem os tratados ou obstruíssem a expansão do império.2.10. rei nessa época. A referência a um rei aqui é surpreendente visto que Israel ainda não instituíra a monarquia. Não obstante, as m onarquias eram bas­tante conhecidas nessa época, e segmentos de Israel já haviam considerado a idéia (Jz 9). A lém do mais, o reino a que Ana se refere era uma expectativa futura refletida em passagens como a de Gênesis 17.6; Nú­meros 24.17 e Deuteronômio 17.14-20.

2.11-36A decadência da família de Eli2.13. garfo de três dentes. Exemplares de garfos de três dentes foram encontrados por arqueólogos em Gezer. Esses instrumentos de bronze eram fáceis de manejar, com dentes longos e retos (como um forcado de cabo curto) e datam da Idade do Bronze Moderna. O termo usado aqui descreve um utensílio semelhan­te citado em antigos textos assírios.2.13-16. deveres de sacerdotes. O texto contrasta o procedimento norm al em Siló com o procedimento demonstrado pelos filhos de Eli. Am bos diferem do procedimento prescrito no Pentateuco (ver Lv 7.30­34). O Pentateuco detalha quais partes do sacrifício

deveriam ser dadas ao sacerdote. A prática norm al em Siló era destinar ao sacerdote qualquer pedaço que fosse tirado primeiro do caldeirão com o garfo. Os filhos de Eli insistiam em pegar a parte que queriam e na hora que bem entendessem , com etendo assim três transgressões rituais: (1) escolha das m elhores partes do sacrifício para consumo pessoal; (2) prefe­rência pela carne que estava sendo assada em vez da cozida; e (3) recusa em deixar que a gordura fosse queim ada sobre o altar (Lv 3.16; 7.25).2.18. túnica de linho. A túnica de linha era uma veste usada apenas pelos sacerdotes (ver 2.28), então essa é uma indicação de que Samuel se envolvera nas fun­ções sacerdotais como aprendiz. A túnica provavel­m ente era parecida com um avental. O linho era o material básico, embora as vestes dos sacerdotes que ocupavam posições elevadas fossem tecidas com fios de ouro junto com o linho.2.19. veste fe ita pela m ãe de Sam uel. A roupa descri­ta nesse versículo tam bém era uma veste sacerdotal (ver Êx 28.31-34), m as podia ser usada por outras pessoas de destaque ou em posição de autoridade (reis, profetas, Jó e seus amigos, Deus). É identificada como um a veste que distinguia os sacerdotes em 1 Crônicas 15.27. Era adornada com um a franja distinti­va na barra que indicava a posição social da pessoa.2.22. m ulheres à entrada da Tenda do Encontro. No antigo Oriente Próximo havia muitos casos de m ulhe­res servindo no templo em diversas tarefas. Elas exer­ciam desde tarefas domésticas até funções sacerdotais, do celibato à prostituição, por períodos curtos (em cumprimento a um voto) ou por toda a vida. Portanto, é difícil identificar a natureza do serviço que essas mulheres mencionadas aqui realizavam. A acusação de m á conduta sexual dos filhos de Eli sugere que as m ulheres estavam cumprindo alguma devoção ou de­viam se m anter virgens. D eve-se observar, porém, que não há evidência de celibato com motivação reli­giosa em Israel, e o texto não as descreve como vir­gens. Para um a discussão mais ampla, ver o comentá­rio em Juizes 11.39.2.27. profeta. O papel do profeta era bem conhecido no antigo O riente Próxim o, como atestam m ais de cinqüenta textos encontrados na cidade de M ari com registros de diversas mensagens dadas por vários pro­fetas. Geralmente, o profeta transmitia um a m ensa­gem da divindade. Para mais detalhes, ver comentá­rios em Deuteronômio 18.

3.1-21Samuel torna-se um profeta3.3. santuário. O termo usado aqui sugere um a cons­trução ou prédio. Para m ais inform ação, consulte o comentário em 1.7.

3.3. lâm pada de D eus. A menorah do tabernáculo de­veria perm anecer acesa durante toda a noite (Êx 27.21: Lv 24.1-4) e jam ais poderia se apagar, sendo assim, o comentário de que "ainda não havia se apagado" não faz sentido. Por outro lado, já foi mencionado anterior­mente que as práticas em Siló nâo seguiam necessari­amente as estipulações da Lei. A expressão "lâm pada de D eus" tam bém era usada para referir-se à espe­rança (2 Sm 21.17; 1 Rs 11.36; 2 Rs 8.19) e seria ade­quada a esse contexto.

3.3. incubação de sonhos no antigo O riente Próxi­mo. No m undo antigo acreditava-se que se um a pes­

soa dormisse no templo ou em seus recintos sagra­dos, ficaria a par dos planos divinos. Alguns reali­zavam rituais sacrificiais e passavam a noite no tem­plo a fim de receber tais revelações. Esse processo era descrito como "incubação". Na literatura antiga, reis como Naram-Sin e Gudea buscaram informações através da incubação. No período dos juizes, essa prá­tica é observada nos épicos ugaríticos de Aqhat (em que Daniel pede um filho) e de Keret (em que Keret pede um filho). Em bora Sam uel estivesse sim ples­m ente cum prindo seus deveres regulares, essa ex­periência seria entendida levando em consideração a relação entre o tem plo e a revelação. Não há ne­nhum exemplo na literatura do antigo Oriente Pró­ximo da ocorrência desse tipo de sonho de incuba­ção de forma não intencional.3.4-10. o sonho (?) de Sam uel. Visto que Samuel le­vantou-se para ir até Eli e respondeu quando o Se­nhor apareceu (v. 10), os intérpretes m odernos geral­m ente não caracterizam essa experiência como um sonho. No entanto, esses elementos não são contradi­tórios ao antigo conceito de sonho. N a literatura do antigo O riente Próxim o (exem plos m esopotâmicos, egípcios, hititas e até mesmo gregos) havia uma cate­

goria de sonhos que incluía m ensagens audíveis. Há vários exemplos bastante conhecidos, como os sonhos do rei egípcio Tutm és IV (século quinze), do rei hitita Hatusilis (século treze) e do rei babilónico Nebonido (sexto século). Em todos esses casos, os sonhos tinham

o propósito de confirmar o remado ou as tarefas em­preendidas pelos reis. Em sonhos com m ensagens

audíveis o deus aparece (ver o v. 10) e às vezes assus­ta a pessoa, despertando-a. O conteúdo do sonho é uma mensagem falada pela divindade e não eventos ou imagens simbólicas. H á vários exemplos de pesso­as respond endo verbalm ente à d ivind ade (p. ex., Nebonido). De acordo com os padrões do antigo Ori­ente Próxim o, a experiência de Sam uel poderia ser classificada como um sonho.3.11-14. repetição da m ensagem . A mensagem dada a Sam uel é basicam ente a m esm a que o hom em de

Deus havia proferido no capítulo 2. A repetição da mensagem indica sua importância e confirma sua ve­racidade. Também serve para confirm ar o chamado de Samuel como profeta.

4 .1 - 7 .1A captura e o retorno da arca4.1. contexto p o lítico na Idad e do Ferro antiga. AIdade do Bronze Moderna (1550-1200) foi um período de disputas políticas entre as principais potências in­ternacionais pelo controle da Palestina (consulte o co­m entário em Js 9.1). Com a chegada dos povos do m ar, por volta de 1200 (ver o comentário a seguir), todas essas potências foram expulsas (como os hititas) ou neutralizadas (Egito). Durante a Idade do Ferro, o impasse entre essas potências deu lugar a um vazio político. O fato das grandes potências não estarem disputando o controle da região perm itiu aos estados menores testarem sua força, desenvolverem-se e for­m arem "im périos" regionais. Os filisteus souberam tirar proveito dessa situação no início desse período. Logo depois, Davi e Salomão conseguiram estabele­cer um sólido império na região Sírio-Palestina, sem precisarem se preocupar com as potências políticas da M esopotâmia, Anatólia ou Egito.4.1. os filisteus. Os filisteus, povo bastante conhecido nas narrativas de Juizes e de 1 e 2 Samuel, chegaram à Palestina junto com os chamados povos do mar, que m igraram da região do Egeu por volta de 1200 a.C.. De m odo geral, os povos do m ar são considerados responsáveis pela queda do império hitita e pela des­truição de muitas cidades ao longo da costa da Síria e da Palestina, tais como Ugarite, Tiro, Sidom, Megido e Ascalom, embora as evidências de seu envolvimento nessas áreas sejam circunstanciais. Suas batalhas com o faraó egípcio Ramsés III são ilustradas nas famosas pinturas de parede em M edinet Habu. Essas transfor­mações sociais e políticas também foram representa­das no épico de Homero sobre o cerco de Tróia. Vindo de Creta, da G récia e da A natólia, é provável que esses povos tenham usado Chipre como base para seus ataques. Após terem sido impedidos de entrar no Egito, esse povo que passou a ser conhecido como "filisteu s" estabeleceu-se na costa sul da Palestina, onde fundaram cinco capitais: Ascalom, Asdode, Ecrom (Tell Miqne), Gate (Tell es-Safi) e Gaza.4.1. Ebenézer e A feque. Essas duas localidades ficam num a im portante área de passagem entre a região m ontanhosa e a planície, cerca de 32 quilôm etros a oeste de Siló e ao norte do território filisteu (32 quilô­metros ao norte de Ecrom; dentre as principais cida­des fílistéias, Ecrom era a que ficava mais ao norte). Afeque é identificada como a m oderna Ras el-Ain,

tam bém cham ada de Tell A feque, próxim o ao rio Yarkon. É citada em textos egípcios já no século deze­nove, tanto nos textos de Execração como também nos itinerários de Tutm és III (século quinze). Escavações arqueológicas têm descoberto evidências de ocupação filistéia no local anteriores a esse período. A identifi­cação de Ebenézer, porém, é mais imprecisa. Muitos estudiosos atualm ente acreditam tratar-se do local denominado Izbet Sartah, situado na extremidade da região m ontanhosa além da passagem de A feque e cerca de três quilômetros a leste. O pequeno povoado (meio acre) foi estabelecido tardiam ente no período dos juizes e logo abandonado, no século onze. Uma das inscrições protocananéias mais antigas e mais lon­gas foi encontrada neste local, formada por 83 letras, m as com palavras incom preensíveis, sendo identi­ficada como um abecedário (lista alfabética). Alguns intérpretes acreditam que o fragm ento deveria ser classificado como israelita primitivo.4.3, 4. arca e qu eru bin s. A arca era um a caixa de madeira, aberta em cima, com aproximadamente um

m etro de com prim ento e setenta centím etros de al­tura e largura. Era revestida por dentro e por fora de camadas finas de ouro e tinha quatro argolas (tam­bém revestidas de ouro) presas lateralm ente, onde eram introduzidas duas varas de m adeira revestidas de ouro, usadas para carregar a arca e evitar que alguém , além do sum o sacerdote, a tocasse. Uma tam pa de ouro puro, decorada com dois querubins com as asas estendidas, fechava a arca. Sua função prim ordial era guardar as tábuas da lei e servir como um "estrad o" para o trono de Deus, garantindo as­sim um a conexão terrena entre Deus e os israelitas. Nas celebrações egípcias, as imagens dos deuses ge­ralm ente eram carregadas em procissão, em altares móveis. Pinturas retratam procissões em que caixas semelhantes à arca eram carregadas por meio de va­ras e decoradas com figuras de criaturas guardiãs em cima ou do lado.As descrições bíblicas, bem como as descobertas ar­queológicas, (inclusive algumas peças de marfim fino de N inrode, na M esopotâm ia, de A rslan Tash, na Síria e da Sam aria, em Israel) sugerem que os que­rubins eram criaturas compostas (com características de diversas criaturas, como a esfinge egípcia), geral­m en te com cab eça h u m an a e corp o de an im ais quadrúpedes alados. O querubim aparece com certa regularidade na arte antiga, geralmente ladeando tro­nos de reis e divindades. A combinação de querubins como guardiães do trono, arcas como estrados e as afirmações no Antigo Testamento concernentes ao tro­no de Yahw eh sendo sustentado por querubins forne­cem a base para o conceito da arca como um a repre­

sentação do próprio trono invisível de Yahw eh. A im agem de tronos vazios era propagada em todo o m undo antigo, ficando à disposição de divindades ou personalidades reais, quando presentes.4.3-7. presença da arca na batalha. No tema do guer­reiro divino, a divindade luta nas batalhas, derrotan­do os deuses do inimigo. Na Assíria, Nergal é o rei da batalha e Istar é considerada a deusa da guerra. O deus cananeu Baal e M arduque da Babilônia também são guerreiros divinos. Essas batalhas entre os deuses não devem ser vistas com o um a "guerra san ta", já que no antigo Oriente Próximo não havia outro tipo de guerra. Na maioria das situações, faziam -se ora­ções e consultavam-se presságios a fim de assegurar a presença da divindade nas frentes de batalha. Im a­gens ou símbolos da divindade eram carregados para representar sua presença junto ao exército; reis assírios dos séculos oitavo e nono referem -se regularmente ao símbolo divino que vai à frente deles. A arca, símbolo de Yahweh, representava a presença do Senhor abrindo caminho à frente dos israelitas e conduzindo o exérci­to até Canaã. Esse conceito não é muito diferente da crença assíria de que os deuses preparavam as armas do rei e lutavam adiante dele ou ao seu lado. Pratica­mente todos os exércitos no antigo Oriente Próximo eram acompanhados por sacerdotes e adivinhos (como confirmam os textos de Mari), profetas (2 Rs 3) e obje­tos sagrados (Anais Assírios de Salm aneser III [858­824 a.C.]). Desse modo, o(s) deus(es) podiam ser con­sultados mesmo durante as batalhas ou invocados para conduzir os soldados à vitória.4.9, 10. d om ínio filis te u sobre Israe l. É difícil ter certeza quanto à extensão do território israelita que ficou sob controle filisteu nessa época. A maioria dos estudiosos calcula que compreenderia a região do vale de Jezreel, ao sul, passando pela região montanhosa central, m argeando as colinas de Jerusalém e esten­dendo-se até grande parte do Neguebe.

4.10. m assacre de trinta m il israelitas. Esta com certe­za foi um a perda significativa, mas é difícil interpre­tar com segurança a quantidade exata que esses nú­m eros representavam . Para inform ações adicionais, ver o comentário em Juizes 20.2.4.12. S iló . A localidade de Siló foi identificada como

Khirbet Seilun, na m etade do caminho entre Betei e Siquém. A localidade com sete acres e meio de exten­são estava situada em um a posição estratégica onde desfrutava de terras férteis, contava com um amplo abastecimento de água e acesso à principal rota norte- sul até o centro de Israel. Em bora esse capítulo não m encione a destruição de Siló pelos filisteus, Jeremias

7.12-15 sugere que a cidade foi destruída nesse perío­do. Ruínas consideráveis da Idade do Ferro I foram

encontradas no local, juntam ente com evidências de destruição por um incêndio.4.12. terra na cabeça. Colocar terra, poeira ou cinzas na cabeça era um a caraterística típica de manifestar luto, podendo ser observada em todo o Antigo Testa­mento e tam bém no período do Novo Testamento. Esse costume era também praticado na Mesopotâmia e em Canaã. D iversos rituais de luto serviam para que os vivos pudessem se identificar com os m ortos, o que explica a terra na cabeça como um a representação simbólica do sepultamento.4.21. nom es com significado. A escolha do nome no mundo antigo era um ato muito importante. Acredi­tava-se que o nome poderia afetar o destino da pes­soa; desse modo, quem atribuía o nome a um a pessoa poderia exercer certo grau de controle sobre seu futu­ro. Geralm ente, o nom e dado a alguém expressava expectativas ou bênçãos esperadas. Outras vezes eles preservavam algum detalhe relacionado à ocasião do nascimento, especialmente no caso de algo significati­vo ter ocorrido. Esse nome, Icabode, é derivado do mesmo substantivo/adjetivo ligado à arca, também usado para descrever Eli (v. 18). Embora dar à luz um filho geralmente fosse considerado um acontecimento importante, a importância em nível nacional desapa­recera - Eli, seus filhos e, especialm ente, a arca. O futuro parecia sombrio.5.1. Asdode. Asdode ficava a aproximadamente cinco quilôm etros da costa, bem a oeste de Jerusalém . O *tell da antiga cidade fica a quase seis quilômetros da atual cidade. Nessa colina artificial existe uma acrópole de vinte acres e um a cidade mais baixa com mais de cem acres. A cidade é mencionada em textos ugaríticos como sendo um importante centro de comércio e esca­vações arqueológicas têm demonstrado um grande povoado cananeu da Idade do Bronze Moderna sobre a acrópole. A cidade cananéia foi destruída pelos po­vos do mar e o local foi então ocupado pelos filisteus,

tom ando-se um a de suas principais cidades. O povo­ado da Idade do Ferro da época de Sam uel está repre­sentado na camada X, que apresenta a cultura filistéia. Nessa época a cidade era bastante fortificada e estava com eçando a se expandir da acrópole até a cidade baixa. A té agora, as escavações não revelaram n e­nhum templo nessa camada.5.2. tem plos filisteus. Os templos filisteus desse perí­odo eram considerados um lugar santo onde a ima­gem da divindade ficava exposta com destaque sobre um a plataforma elevada. Para informações adicionais sobre a arquitetura dos tem plos filisteus, leia o co­mentário em Juizes 16.29.5.2. D agom . Existem evidências de que D agom era um importante deus do panteão semita já no terceiro

milênio a.C., em Mari. Os assírios adoravam a Dagom na primeira metade do segundo milênio e na literatu­ra ugarítica ele é rep resentad o com o pai de Baal Haddu. Seu templo na cidade de Ugarite era maior que o tem plo de Baal. Essas evidências perm item geralmente concluir que os filisteus não teriam trazi­do seu deus com eles, quando migraram da região do Egeu, mas teriam adotado a D agom quando chega­ram em seu novo território. D agom é identificado com freqüência como deus do cereal ou da tempesta­de, m as am bas perm anecem de certa form a com o meras especulações.5.2. a arca m antida no tem plo com o um troféu de guerra. A arca teria sido colocada no templo filisteu para demonstrar que Yahw eh, o Deus de Israel, fora derrotado por Dagom e era agora seu prisioneiro. Sua inferioridade havia sido demonstrada no campo de batalha e sua subordinação era representada em sua hum ilde servidão diante de seu senhor D agom . É possível que os filisteus acreditassem que a captura da arca resultasse em contínuas oportunidades de hu­milhação. Essa atitude é bastante parecida com a ma­neira como os reis conquistadores tratavam os reis derrotados (ver comentário em Jz 1.6, 7). Existem di­versos exemplos no mundo antigo de estátuas de deu­ses sendo carregadas como troféus de guerra. A ima­gem de M arduque foi tom ada da Babilônia pelos heneus (século dezessete), pelos elamitas (sécuio tre­ze) e pelos assírios (sétimo século) e todas as vezes, após algum tempo foi recuperada e levada de volta ao templo. Outro exemplo é a imagem de Sham ash que foi levada de Sippar pelos suteanos (século onze). Nos séculos oitavo e sétimo essa era uma prática comum dos assírios e Isaías profetizou que o destino dos deu­ses da Babilônia seria o cativeiro (Is 46.1, 2). O rei assírio Esarhaddon fala de tom ar os deuses de seus inimigos como despojo.5 .3 ,4 . significado da queda da estátua; m ãos e cabeça quebrados. As duas quedas sofridas pela estátua de D agom eram um indício claro de que Yahw eh não havia sido derrotado nem se submetido, não era infe­rior nem estava prestes a ser humilhado. Em bora a presença da arca no templo de Dagom tivesse o obje­tivo de hum ilhar, as m ãos e a cabeça quebradas da estátua de Dagom indicavam destruição. A cabeça de um inimigo conquistado geralmente era exibida como prova de sua m orte (ver 17.51-54) e as m ãos eram cortadas como forma de contar as baixas (ver o comen­tário em Jz 8.6); além disso, a m utilação dos corpos demonstrava a impotência do inimigo. Em um texto ugarítico, Anat, a deusa da batalha, leva para longe do cam po de batalha as cabeças e as mãos de seus oponentes mortos. Por fim , considerando-se o modo

como as estátuas eram confeccionadas seria natural que essas partes se quebrassem. Numa oração hitita desse período, é feita uma prom essa de oferecer ao rei um a estátua em tam anho natural, com a cabeça, as mãos e os pés de ouro e o restante do corpo, de prata. V isto que as im agens dos deuses geralm ente eram vestidas, as partes que ficavam à m ostra recebiam maiores cuidados. D e modo geral as estátuas não eram fundidas em um a só peça, m as feitas em partes e depois ligadas com encaixes.5.5. soleira sagrada. A soleira geralmente era feita de um a única pedra que cobria a entrada, ficando um pouco acima do nível do piso. Nas extremidades ex­ternas da soleira eram colocados encaixes para as por­tas ou portões, permitindo que fossem abertos. A altu­ra da soleira evitava que as portas se abrissem para fora. Os pórticos de entrada geralmente eram consi­derados um lugar ao mesmo tempo sagrado e vulne­rável. De acordo com superstições da época, pisar na soleira perm itia a entrada de demônios que assom ­bravam o pórtico. Talvez essa fosse a explicação prefe­rida dos filisteus para ju stificar os problem as que Dagom estava tendo. Superstições semelhantes conti­nuaram a existir tanto no Oriente Próximo como no Extremo Oriente, desde a Síria e o Iraque até a China, em bora as inform ações concernentes a essa crença antiga sejam escassas.5.6. praga sobre os filisteus. A relação com roedores nessa passagem (5.6, de acordo com uma frase citada apenas na Septuaginta; 6.4) indica que as feridas eram infecciosas, tratando-se possivelmente da peste bubô­nica. O term o hebraico traduzido como "tum ores" tam bém pode significar furúnculos (pústulas) sinto­máticos da peste. Há, porém, certa controvérsia quan­to à existência comprovada da peste bubônica no an­tigo O riente Próxim o num a época tão rem ota. Em vista disso, alguns estudiosos sugeriram que essa pes­te podia ser um tipo de disenteria bacilar, que pode ser transm itida por comida contam inada por ratos. Entretanto, se essa interpretação for verdadeira, sua relação com as feridas não fica clara.5.8. governantes dos filisteus. Aparentemente, os cinco governantes dos filisteus tinham o m esm o grau de autoridade. A palavra usada para descrevê-los é pro­vavelm ente um termo filisteu e a maioria dos erudi­tos acredita que a raiz da palavra se origina da língua dos povos do m ar (grego ou outra língua indo-euro- péia). Enquanto não forem descobertas m ais infor­mações, é impossível apresentar uma análise política

mais clara.5.8. Gate. Gate tem sido identificada com Tell es-Safi, oito quilôm etros ao sul de Tell M iqne/Ecrom . Das cinco principais cidades dos filisteus, era a que ficava

mais próxim a de Judá. Poucas escavações foram feitas no local, em bora haja confirm ação de vestígios da Idade do Ferro. A cidade ficava localizada no vale de Elá, uma das principais passagens da planície costeira para a região m ontanhosa ao redor de Jerusalém.5.10. Ecrom. Ecrom tem sido identificada como Tell Miqne, no vale de Soreque, cerca de 32 quilômetros a sudoeste de Jerusalém e a 24 quilômetros do Mediter­râneo. Apresenta um a cidade baixa de quarenta acres, um *tell superior de dez acres e uma acrópole de dois acres e meio. Escavações arqueológicas do início da década de 80 forneceram um a boa quantidade de informações sobre essa cidade que, durante o período do reino dividido ficou conhecida por sua produção de azeite (com mais de cem fábricas de processamento). U m a inscrição encontrada no local em 1996 (datada do sétim o século a.C.) revelou a prim eira am ostra do dialeto filisteu dos sem itas ocidentais com escrita fenícia. N esse período a cidade era fortificada com muros de mais de três metros de espessura, feitos de tijolos de barro. U m enorme prédio público (mais de

750 metros quadrados) desse período foi descoberto pelas escavações e os arqueólogos acreditam tratar-se das edificações de um templo-palácio. Se essa infor­mação se confirmar, provavelmente esse prédio teria sido o local onde a arca ficou guardada e onde os governantes filisteus teriam se reunido.6.2. sacerdotes e adivinhos. Diante das suspeitas de que o poder sobrenatural relacionado a Yahw eh e à arca era maior do que os filisteus ou seus deuses podi­am suportar, foram consultados especialistas para que aconselhassem sobre o que deveria ser feito. Os sacer­dotes eram especialistas quanto a objetos sagrados ou nas questões de pureza, enquanto os adivinhos pos­suíam habilidades para encantamentos, presságios e atividades mágicas.

6.2. im portância do procedim ento adequado. A pes­te provocada pela presença da arca entre os filisteus deixou evidente que eles estavam lidando com um deus irado. Para aplacar a ira da divindade eram exigidas certas oferendas e rituais. Segundo a crença popular, a divindade só seria apaziguada se ofertas aceitáveis fossem oferecidas, se as palavras certas fos­sem proferidas e se os rituais apropriados fossem rea­lizados. Procedimentos incorretos, além de se mostra­rem inteiram ente inúteis, poderiam despertar ainda m ais a ira da divindade. É im portante lem brar que tudo isso precisa ser entendido dentro do conceito de magia da época, que exigia procedimentos precisos.6.3. oferta pela culpa. Para inform ações sobre essa oferta, ver o com entário em Lv 5.14-16 ("oferta de reparação"). U m a das ofensas tratadas por essa oferta era a do sacrilégio cometido pela profanação de áreas

ou objetos sagrados. O delito a que se destinava a oferta de reparação dizia respeito a transferir o que pertencia ao domínio do sagrado para um ambiente profano, e com isso os filisteus estavam admitindo que haviam profanado a arca.6 .4 ,5 . sím bolos eficazes da peste. Fazer símbolos dos ratos e dos tumores era um tipo de simpatia mágica em que a figura de algo representava o real. Ao envi­ar esses símbolos de volta junto com a arca eles espe­ravam livrar-se do castigo divino. Imagens de ratos e de outros animais usados em rituais de magia foram encontradas em inúmeras escavações em todo o anti­go Oriente Próximo.6.4, 5. ratos e peste. No comentário em 5.6 observa­m os que pode ter existido algum a relação entre a peste e os roedores. A palavra hebraica usada é com freqüência traduzida como "ratos", m as tem também um sentido mais genérico, podendo referir-se a outros roedores. A peste bubônica é dissem inada através das pulgas que infestam os ratos.6.7-9. m ecanism o oracular. O sucesso dessa estratégia determinaria se eles tinham tratado do problema da forma correta e se sua dádiva fora aceita pela divinda­de que tentavam apaziguar. Além de fazer uma ofer­ta de apaziguamento e tentar livrar-se da peste por meio de um a simpatia, os filisteus também pediram um oráculo a Yahw eh. Todos esses procedim entos foram feitos porque ao devolver a arca eles estavam reconhecendo que o Deus de Israel era m ais poderoso que o deles. Esse reconhecim ento era humilhante, e certamente eles só agiriam dessa forma se estivessem absolutamente convencidos de que Yahw eh era o res­ponsável por todos os seus problemas. O objetivo do oráculo era exatamente esse: determinar se Yahw eh era ou não o responsável pelas desgraças. Em um oráculo um a pergunta do tipo "sim ou não" era feita à divindade e a resposta era dada através de um meca­nismo binário. Em Israel o sacerdote carregava o Urim e o Tumim para utilizar nas questões oraculares (vero comentário em Êx 28.30). No antigo Oriente Próxi­mo, era comum usar o fígado ou os rins de animais sacrificados para obter respostas oraculares (ver co­mentário sobre presságios e exame de vísceras em Dt

18.10). Aqui os filisteus fazem uso de um mecanismo natural para o oráculo (ver Gn 24.14 e Jz 6.36-40 para outras ocorrências) e sua pergunta era se Yahweh, o Deus de Israel, era ou não o responsável pela peste. O

mecanismo oracular era baseado no comportamento natural das vacas. Se a resposta fosse "n ão ", as vacas agiriam normalmente e iriam para o curral amamen­tar seus bezerros ou ficariam vagando pelo pasto. Se a resposta fosse "sim ", o Senhor alteraria o comporta­mento norm al dos animais e as vacas ignorariam seus

úberes inchados e o balido de seus bezerros famintos e seguiriam pelo cam inho (íngrem e) em direção à

cidade de Bete-Sem es, em Israel. A idéia por trás desse processo é que se a resposta fosse realmente da

divindade, ela poderia alterar o comportamento nor­

mal e ignorar as leis naturais a fim de comunicar sua resposta, assim como fizera ao enviar a peste.

6.9. Bete-Sem es. Bete-Semes ficava localizada na re­

gião entre a fronteira de Israel e a Filístia, ocupando cerca de sete acres nas montanhas que davam para o

vale de Soreque, que ficava ao norte da cidade. O

percurso de Ecrom a Bete-Semes acompanhava o vale de Soreque e era de cerca de 14 quilômetros. O sítio

arqueológico da cidade é Tell er-Rumeilah, a oeste da

m oderna A in Shems, onde foi encontrado um nível de ocupação da Idade do Ferro que remonta à metade

do século onze (a época de Samuel). As escavações

nesse local revelaram uma residência com um pátio espaçoso, pavimentado com laje e rodeado por diver­

sos cômodos.

6.13. colheita do trigo. A colheita do trigo acontecia nos meses de maio e junho nessa região.

6.15. rocha como altar. Outras passagens confirmam

0 uso de rochas servindo como altar (Jz 6 .20 ,21; 13.19;1 Sm 14.33, 34), permitindo que o sacrifício fosse ofe­

recido num local m ais alto e o sangue pudesse es­

correr até o chão. Em geral, os altares israelitas pro­visórios eram feitos com diversas pedras grandes

em pilhadas.

6.19. m atando setenta deles. Existe bastante contro­vérsia quanto ao número de mortos em Bete-Semes.

A NVI m antém o núm ero "seten ta", seguindo uma

série de m anuscritos hebraicos. Vários m anuscritos m ais convincentes (Texto M assorético, Septuaginta)

apresentam a cifra de 50.070, o que é estranho porque o Antigo Testamento geralmente arredonda para dez

mil. É improvável, porém, que o núm ero de mortos fosse tão elevado porque Bete-Semes era uma cidade

pequena que teria uma população de menos de mil

pessoas. Até mesmo o núm ero setenta pode ser consi­derado como uma indicação convencional de um gran­

de núm ero de pessoas (ver o comentário em Jz 8.30).

6.19. castigo por terem olhado para dentro da arca. Apesar de ter sido estudado m inuciosam ente, esse

texto não dá nenhum indício sobre o tipo de m orte dos culpados. Em N úm eros 14.20 até os sacerdotes são

proibidos de olhar para a arca. Teria sido difícil para as pessoas de Bete-Semes evitar de olhar, mas a curio­

sidade deles os levou a violar a santidade da arca e a ir além de um a sim ples olhadela casual. O acesso restrito ao espaço sagrado e a objetos santos era co­m um no m undo antigo (ver o comentário em Lv 16.2),

assim tratar a arca como um objeto comum de curiosi­dade seria considerado um ato de profanação.6.21. Q uiriate-Jearim . Alistada como um a das cidades de Judá (Js 15.60), o local é comumente identificado como Tell el-Azhar, cerca de catorze quilôm etros a oeste-noroeste de Jerusalém , em bora não possa ser confirm ado pelas descobertas arqueológicas ou por referências bíblicas. Sua associação com M aané-Dã em Juizes 18.12 perm ite situá-la nessa área geral (ver o comentário em Jz 13.25) e apenas a dez quilômetros de Gibeon, com a qual tam bém tem sido associada (ver o comentário em Js 9.17). Ficava cerca de onze quilômetros no sentido nordeste de Bete-Semes.

7 .2 -1 7A derrota dos filisteus7.3. deuses estrangeiros e im agens de Astarote. Aqui as imagens de Astarote são distinguidas dos deuses estrangeiros. Astarote era o nome da deusa conhecida em Canaã como Astar ou Astarte, a consorte de Baal (ver o comentário em Jz 2.13). O uso do plural sugere que todas as divindades e suas respectivas consortes deveriam ser eliminadas do meio do povo de Israel.7.5. M ispá. Embora diversas localidades distintas te­nham esse mesmo nome (significa "posto avançado" ou "guarnição"), a M ispá situada no território da tribo de Benjamim é a m ais conhecida. Freqüentemente é associada à localidade de oito acres chamada Tell en- Nasbeh, cerca de dez quilômetros ao norte de Jerusa­lém. N essa época, Mispá era um campo oval rodeado por uma muralha de aproximadamente um metro de espessura, que protegia a principal estrada norte-sul que atravessava as colinas de Judá e as colinas de Efraim.7.6. tiraram água e a derramaram. Em bora libações de vinho sejam com uns nos textos sacrificiais, não existem outros exem plos de rituais de libação com água no Antigo Testam ento. Documentos rabínicos mencionam libações com água como um dos rituais praticados durante a Festa dos tabernáculos. Acredi­ta-se que no contexto dessa festividade as libações eram acompanhadas de orações por chuva. Na Meso- potâm ia libações com água eram um a das ofertas dedicadas aos mortos, sendo também usadas para afas­tar espíritos m alignos quando se cavava um poço. Nenhuma dessas possibilidades se encaixa nesse con­texto, em que a libação está relacionada a arrependi­mento e purificação.7.6. je ju m na prática religiosa. Há poucas evidências da prática do jejum no antigo Oriente Próximo fora da Bíblia. Geralmente era praticado em ocasiões de luto. No Antigo Testamento, o jejum era feito dentro de um contexto religioso e geralmente relacionado a um pe­

dido dirigido a Deus. O princípio relacionado a essa prática diz respeito à importância do pedido, levando o indivíduo a preocupar-se tanto com sua condição espiritual que as necessidades físicas seriam relegadas a segundo plano. Nesse aspecto o ato de jejuar serve como um processo de purificação e humilhação diante de Deus (SI 69.10). Como sinal de arrependimento, os israelitas jejuaram a fim de remover qualquer pecado ou obstáculo que pudesse ter sido responsável por sua sujeição aos filisteus. Relatos semelhantes relaciona­dos a ações m ilitares podem ser encontrados em Juizes20.26 e 2 Crônicas 20.1-4.7.6. a liderança de Sam uel. A liderança de Samuel é

descrita com o mesmo termo usado como título para os juizes (ver o comentário em Jz 2.16-19). Isso confirma suas credenciais como profeta, sacerdote e juiz. Nessa passagem, Samuel exerce essas três funções ao condu­zir os israelitas ao arrependimento para que possam ser libertos da opressão dos filisteus.7.7. a reação dos filisteus. Por que os filisteus ataca­ram quando viram os israelitas reunidos para cum ­prir um ritual religioso? No antigo Oriente Próximo era comum realizar certos rituais antes de iniciar uma ação militar. Um a das maneiras dos espiões ou infor­mantes confirmarem a iminência de uma ação militar

era quando ocorriam reuniões suspeitas para realiza­ção de rituais que não tinham nenhuma relação com as festas conhecidas. Os reis assírios recebiam relatóri­os regulares informando se algum rei vassalo havia se envolvido em rituais que poderiam estar relaciona­dos à preparação para a guerra.

7.9. cordeiro em holocausto. O sistema sacrificial exi­gia que as ofertas de cordeiro fossem feitas diariamen­te (ver comentário em Êx 29.38), sendo que também se usavam cordeiros nas ofertas de purificação (ver Lv12.6 e 14.10). Essas ofertas exigiam o sacrifício de cor­deiros de um ano, que ainda não haviam sido desma­mados. Os acadianos referiam-se a esse animal como

um cordeiro tenro, portanto sua carne era extrem a­m ente m acia. Em um texto assírio da época do rei A ssur-N irari V (oitavo século) um cordeiro tenro é usado em um a cerimônia de juram ento relacionada à assinatura de um tratado.

7.10. trovejou com fortíss im o estrondo. No antigo Oriente Próximo, a presença da divindade geralmen­te era acompanhada por relâmpagos e trovões, princi­palm ente durante as batalhas. D esde a Exaltação Suméria de Inanna, passando pelos mitos hititas do deus da tem pestade, até as m itologias acadiana e ugarítica, os deuses eram vistos como trovões conde­

nando os inim igos. Baal é representado segurando nas m ãos muitos raios de trovão. A terminologia do trovão aparece na retórica real dos reis hititas ou assírios

que se apresentavam como instrumentos dos deuses, trovejando contra aqueles que violavam os tratados ou obstruíam o caminho para a expansão do império. Para informações adicionais concernentes à visão da divindade guerreira, consulte os comentários de Êxodo 15.3; Josué 3.17; 6.21-24; 10.11.7.11. Bete-Car. Esse local é mencionado apenas aqui e permanece sem identificação.7.12. pedra m em orial. No antigo Oriente Próximo era comum o uso de pedras, geralmente com inscrições, para delimitar as fronteiras. As pedras kudurru babi­lónicas eram m arcos que algumas vezes continham inscrições detalhadas assegurando a garantia real dos direitos sobre aquela terra. Essas pedras eram uma indicação pública e legal dos direitos de posse e acre­ditava-se que desfrutavam da proteção divina. Como a pedra mencionada aqui, as kudurru às vezes recebi­am nomes (por exemplo, "A que estabelece fronteiras perm anentes"). Os egípcios costumavam erigir esteias

memoriais para indicar as fronteiras de seu território, especialmente das regiões que haviam sido conquis­tadas. Há vários exemplos relacionados ao uso de pe­dras como marcos em todo o segundo milênio. Tanto os m arcos babilónicos como os egípcios geralmente continham longas inscrições descrevendo relatos de vitórias ou estabelecendo condições ou ainda estipu­lando maldições referentes à posse contínua da terra.7.12. Sem . M uitas traduções trazem "Jeshanah" em vez de Sem e a m aioria dos com entaristas acredita que é mais provável tratar-se dessa localidade. Além disso, nada se sabe sobre Sem, enquanto que Jeshanah geralm ente é relacionada a Burj el-lsan eh . Parece menos provável, porém, que os filisteus fugissem di­retamente para o norte (embora tivessem guarnições naquela direção). É possível que Sem ("dente") esteja apenas se referindo a um a formação natural.7.12. Ebenézer. O local cham ado Ebenézer m encio­nado em 4.1 (Izbet Sartah) ficava cerca de 32 quilôme­tros a noroeste de Mispá. É provável que a Ebenézer deste capítulo seja outro lugar. Samuel deu esse nome ao lugar e usou o significado ("pedra de ajuda") para dem onstrar que essa Ebenézer representava a vitó­

ria, e não a derrota hum ilhante, que passara a ser associada com a outra Ebenézer.7.14. desde Ecrom até G ate. A distância entre Ecrom (vale de Soreque) e Gate (vale de Elá) é de oito qui­lômetros no sentido norte-sul. A planície costeira dos filisteus fica a oeste desta linha e a Sefelá, que vai até

a região montanhosa de Judá, fica a leste. Este versículo provavelmente indica que essas cidades da Sefelá, ou- trora tomadas pelos filisteus, haviam sido recuperadas.7.14. am orreu s. Os am orreus, ju n tam en te com os cananeus, eram os principais habitantes da terra an­

tes da chegada dos israelitas e dos filisteus. Para infor­mações sobre sua origem, ver o comentário em Nú­m eros 13.29.7.16. o território de Sam uel. A região ao redor de Betei, Gilgal e Mispá parece estar toda no território de Benjamim. Existem diversas cidades com o nom e de Gilgal, inclusive uma na fronteira norte de Judá. Caso seja essa Gilgal, a região percorrida por Samuel teria começado de sua casa em Ramataim, cerca de 24 qui­lômetros a sudeste de Betei, de onde ele seguiria três quilômetros mais ao sul para chegar a Mispá, da qual Gilgal ficava a cerca de dezesseis quilômetros. A via­gem de volta para casa daria em torno de 40 a 50 quilômetros. Existem outras cidades chamadas Gilgal

próximas a Betei e a M ispá que podem ser considera­das aqui. Nos documentos de M ari há um adivinho chamado Ascudum que regularmente percorria qua­tro cidades oferecendo seus préstimos aos moradores.7.17. altar em Ram á. O texto não especifica se era um altar de sacrifício ou um altar memorial (ver o comen­tário em Js 22.9-34). No caso de ser um altar de sacri­fício, talvez esteja substituindo aquele que ficava em Siló e que fora destruído pelos filisteus.

8 .1-22 Israel pede um rei8.2. a função dos filh os de Sam uel. Samuel desempe­nhava sua função como "ju iz" na região das cidades mencionadas em 7.16. Essa função não era a mesma desenvolvida no início do capítulo anterior (7.6), mas dizia respeito a resolver as contendas entre o povo (ver os comentários em Êx 18.13-27 e Dt 16.18-20). Os

filhos de Sam uel desem penhavam essa mesma fun­ção, ou seja, não eram ju izes do tipo "libertad or", como os encontrados no Livro de Juizes. O território em que atuavam era bastante remoto (ver o comentá­rio a seguir), e não tão centralizado como o de Samuel.8.2. Berseba. Berseba situava-se na extrem idade sul da terra, na parte norte do Neguebe, em Tell es-Seba' (quase cinco quilômetros a leste da cidade moderna). Descobertas arqueológicas sugerem que o local esta­va passando por uma transição, deixando de ser um povoado temporário para tom ar-se um local de ocu­pação permanente, pois há evidências de que as pri­meiras casas estavam sendo construídas. A população local seria inferior a duzentas pessoas, portanto a po­sição dos filhos de Sam uel era bastante insignificante.8.6. reis no antigo O riente Próximo. Os reis da Anti­guidade desfrutavam de poder e autoridade quase

ilimitados e regularmente reivindicavam a confirma­ção divina para seu governo. Acreditava-se que o rei era escolhido pelos deuses e que sua autoridade vi­nha diretamente do céu, com raízes na criação e na

organização do mundo. O rei exercia o papel de vice- regente para a divindade, governando em sem nome, e era seu dever m anter a ordem e a justiça social. Ele era incumbido pela divindade de governar sobre o povo e sobre a terra. Com freqüência, era atribuído aos reis, enquanto viviam, um papel divino e quando morriam acreditava-se que se transformavam em deu­ses. A lei e a justiça em anavam do rei. Os reis tam­bém tinham responsabilidades sacerdotais e cuida­vam da manutenção e do sustento dos templos, sendo representados como pastores. No antigo Oriente Pró­ximo, os reis eram tam bém líderes m ilitares, garan­tindo proteção e liberdade para seu povo, bem como realizando conquistas de outras terras. As conquistas perm itiam o aumento dos recursos naturais e o acesso a novas rotas de comércio, além de acrescentar despo­jos para os cofres reais e fornecer mão-de-obra escrava para o reino, reduzindo o fardo sobre a população do

país.8.6. o que os líd eres qu eriam . A s autoridades de Israel haviam decidido que queriam um líder para governá-los, que centralizasse o poder sobre todas as tribos e estivesse no comando de um exército efetivo. De fato, os israelitas haviam percebido que a organi­zação política de Israel, como uma federação de tribos, os deixava em desvantagem militar. Por essa razão, eles acreditavam que se tivessem um rei, com um exército treinado sob seu comando, estariam em pé de igualdades com seus vizinhos, pois o rei estaria pron­to a defender com sucesso seu território. Os líderes israelitas, porém, erraram ao considerar essa questão como um problema político e, conseqüentemente, ao

optar por uma solução política. O que Samuel procu­rou esclarecer é que o problema deles não era político, mas espiritual. A solução política que eles propunham não serviria de nada a m enos que fosse acompanhada de um a solução espiritual.8.7. rei divino versus rei hum ano. Na estrutura tribal de Israel não havia espaço para uma autoridade hu­m ana centralizada. Moisés possuía autoridade profé­tica e Josué recebeu autoridade militar, mas ninguém sucedera a Josué em tal posição. Moisés foi considera­do um mediador, alguém que transmitia ao povo as instruções de Deus. Do m esm o m odo, como clara­m ente é dem onstrado no Livro de Josué, Josué foi submisso ao comando de Deus (Js 5.13-15), atribuindo suas vitórias m ilitares ao Senhor. Cada tribo tinha uma liderança própria, mas a autoridade central per­tencia ao Senhor e cabia a Ele designá-la a quem quer que fosse. Os juizes eram líderes suscitados pelo Se­nhor e dotados por Ele de um a autoridade central reconhecida (ver o comentário em Jz 2.16-19). O fato de os israelitas considerarem que Deus era quem le­

vantava os líderes m ilitares e que as vitórias deve­riam ser atribuídas ao Senhor demonstrava que Deus

era o único rei à frente dos exércitos nas batalhas. Se o

Senhor se agradasse de Israel, as vitórias nas batalhas estariam asseguradas. Ao pedirem um rei, os líderes deixaram implícito que Deus não estava conseguindo

garantir a vitória e que, de alguma forma, o rei pode­ria ser mais bem-sucedido nessa tarefa.

8.11. prerrogativas do rei. P ara que a m onarquia funcionasse, era necessário um suporte administrati­

vo. Os funcionários deveriam ser alojados e alimenta­dos, prédios teriam de ser construídos para abrigar a

administração e as terras passariam a pertencer à co­roa. H averia necessidade de form ar um exército e,

certam ente seus soldados precisariam ser alimenta­dos e abrigados. O rei precisaria, assim, ter acesso a

trabalhadores e bens de toda sorte. Im postos e traba­lhos forçados seriam os principais meios de sustentar

a monarquia e como tais, seriam prerrogativas reais. Isso geraria dramáticas m udanças políticas e econômi­

cas. Esse retrato da monarquia pode ser visto em todo

o antigo Oriente Próxim o nesse período, particular­

m en te n os te x to s u g a rít ico s , com o n o m od elo m onárquico cananeu.

8.11. carros de guerra e cavalaria. Anteriorm ente, Is­rael não contava com cavalaria ou carros de guerra. A

form ação de um exército regular exigia que a auto­

ridade fosse centralizada no rei. O treinamento neces­sário para esse tipo de equipam ento poderia ser obti­do apenas por um exército efetivo. A construção e ma­

nutenção dos carros, bem como o cuidado com os cava­

los exigiam um a supervisão adm inistrativa rigorosa.

8.11. correr à frente dos seus carros de guerra. Aque­les que corriam à frente dos carros de guerra procla­

mavam a presença do rei e lhe davam proteção, exer­

cendo um a função semelhante a de arautos (ver 2 Sm

15.1; 1 Rs 1.5; 18.46). Em documentos hititas, os deu­ses aparecem correndo à frente do carro do rei, condu­

zindo-o à vitória.

8.12. comandantes de infantaria. Quando o exército era convocado de forma espontânea em ocasiões inespera­das (como acontecia anteriorm ente em Israel), os co­

m andantes treinados não precisavam se apresentar.

M as um exército regular, porém, exigia de seus ofici­ais um compromisso permanente. As divisões m ilita­

res d escritas aqu i tam bém eram com u ns en tre os

assírios e babilónicos, onde, por exemplo, um dos ofi­ciais menos graduados comandava cinqüenta homens.

8.12. arar as terras do rei. U m a vez estabelecida a

administração, parte das terras passaria a ser conside­

rada propriedade real (2 Cr 26.10). A terra podia ser

confiscada pela coroa nos casos de atividade criminosa

ou falta de herdeiros. Essa terra passava a ser cultiva­da para garantir alimento para os funcionários reais e

prover estoque para situações de emergência. O culti­vo das terras reais dependia do trabalho forçado obti­

do principalmente como pagamento de uma forma de tributo, dos escravos das nações estrangeiras ou de

pessoas que foram escravizadas por causa de dívidas.8.12. fabricar armas de guerra. As armas usadas pe­

los reis nas batalhas incluíam arco e flecha, espada, punhal, escudo e lança. N esse período, os israelitas ainda não haviam desenvolvido a técnica para fundir

o ferro ou então haviam sido proibidos de fabricar

armas de ferro, de modo que suas armas eram feitas

de bronze. Até a Idade Média, era comum encontrar viajando junto com o exército, a figura do ferreiro real,

que tinha a função de cuidar das arm as do rei. Os

textos de N uzi m encionam carpinteiros e trabalhado­res de bronze dentre os funcionários do palácio.8.13. perfumistas, cozinheiras, padeiras. Cozinheiras

e padeiras trabalhavam na cozinha real. A família do

rei e os funcionários do palácio (freqüentemente fami­

liares do rei) deveriam ser servidos em suas refeições normais no mesmo estilo do rei. Algumas vezes, ha­

via prisioneiros que tam bém precisavam ser alimen­

tados, além dos servos domésticos, que precisariam no mínimo de algumas parcas refeições. As perfumis­

tas eram responsáveis por um a série de tarefas na corte, como perfum ar as vestes reais e queim ar espe­

ciarias para manter um aroma agradável no palácio.

Além disso, algumas especiarias eram reconhecidas

por suas propriedades medicinais, e nesse caso a per- fumista desempenhava também um papel de farma­

cêutica. Textos assírios e pinturas em tumbas egípcias

retratam os elaborados procedimentos necessários para

preparar essas especiarias e ungüentos.8 .1 4 ,1 5 . confisco de terras. As melhores proprieda­

des eram alvos freqüentes do confisco real, e muitas vezes essas terras eram transferidas como recompen­

sa a administradores e protegidos do rei, para que se

m antivessem fiéis (ver o comentário em 22.7). Essa prática é bastante comum em docum entos hititas e

ugaríticos e tam bém no período babilónico cassita,

em que doações de terra a cortesãos eram normais.

8.16. requisição de jumentos e servos. Era comum o rei requisitar um servo que despertasse sua atenção

ou interessar-se por algum animal de boa qualidade. O súdito não tinha outra escolha senão presentear o

rei com o que lhe agradara.

8.17. dízimo dos cereais e dos rebanhos. Na literatu­

ra ugarítica o dízimo era considerado um pagamento fixo que cada cidade ou aldeia deveria fazer ao rei.

Em passagens bíblicas anteriores, o dízimo era visto

como um direito devido aos sacerdotes e ao santuário. Aqui o dízimo representa o pagamento de um tributo

real.

9.1-27O encontro entre Saul e Samuel9.1. a posição de Q uis. Algumas traduções identifi­cam Quis como um "guerreiro valente", mas na NVI ele é descrito, mais apropriadamente, como um "h o­m em rico e influente". Talvez ele tenha se destacado por suas proezas m ilitares (ver Jefté em Jz 11.1), mas muitas das pessoas que foram caracterizadas desse modo não eram fam osas por suas façanhas militares. É provável que essa expressão tenha uma aplicação mais ampla (ver comentário em Jz 6.12).9.1. B en jam im . A tribo de Benjam im descendia do filho m ais novo de Jacó. Sua história mais recente foi m anchada por uma guerra civil que quase resultou em seu extermínio, durante o período dos juizes (Jz 20, 21). O território da tribo de Benjam im era peque­no, mas estrategicamente posicionado entre as pode­rosas tribos de Judá e Efraim. Jerusalém , que ainda não se encontrava sob o domínio israelita e teria um futuro grandioso, ficava no território benjamita.9.2. aparência e estatura de Saul. No antigo Oriente Próximo, dava-se muito valor à estatura e à aparên­cia do rei. O s primeiros reis eram conhecidos como "senhores da guerra" - guerreiros valentes e pode­rosos. M esm o depois da m onarquia ter se transfor­mado em um a instituição permanente, o rei que car­regava a fam a de grande herói era motivo de orgu­lho para seu povo. Alguns exemplos incluem Sargon de A cade, d escrito com o pod eroso nas bata lh as; Tukulti-N inurta da Assíria, que não tinha rivais no campo de batalha; Nabucodonosor, hom em valente e forte na batalha e Gilgam és, heróico guerreiro de grande estatura e virilidade.9.2. Saul fora da B íb lia . Não foi encontrada nenhuma m enção a Saul nas inscrições do antigo Oriente Próxi­mo. Saul teve pouco contato com outros povos, exceto os filisteus, e não foi descoberto nada significativo sobre a história desse povo.9 .4 ,5 . Â m bito da busca de Saul. Saul vivia em Gibeá, cerca de dez quilôm etros ao norte de Jerusalém . A região m ontanhosa de Efraim ficava a cerca de 24 quilômetros da cidade onde morava. Em bora Salisa e Saalim sejam localidades desconhecidas, têm sido identificadas pela maioria dos intérpretes como Baal­Salisa e Saalbim , respectivamente, situadas nas extre­midades noroeste e sudoeste das montanhas de Efraim. Só o contorno dessa região representaria um percurso de quase cem quilômetros, uma extensão grande de­mais para ser percorrida em apenas três dias (v. 20).

O distrito de Zufe (1 Sm 1.1) é geralmente considera­do como a região da cidade natal de Samuel, entre as montanhas de Efraim.9.6. a reputação de Sam uel. É curioso notar que Saul, apesar de m orar a poucos quilômetros da cidade de Sam uel e dentro da região que ele percorria em seu circuito, parece desconhecer essa figura reconhecida nacionalmente. Isso não sugere que a fam a de Samuel fosse pouco divulgada, mas provavelmente indica a ingenuidade espiritual e política de Saul.9.6-9. papel do "hom em de D eus". Embora a reputa­ção de Sam uel fosse reconhecida por toda a nação, para as pessoas que moravam próximas a ele, e que conviviam com ele por longo tempo, Samuel era ape­nas um a espécie de hom em santo da aldeia. Esses homens santos eram sustentados pelos presentes ofe­recidos pelas pessoas a quem serviam e que o consul­tavam por qualquer questão pessoal, por m ínima que fosse. Dentre as áreas de sua especialidade incluíam- se questões de saúde e doenças, rituais e orações, assuntos políticos e legais e uma ampla variedade de problemas pessoais e comunitários.9.8. prata com o presente. Três gramas de prata ou um quarto de siclo de prata seria o equivalente a uma sem ana de salário de um trabalhador comum. Essa quantia seria apropriada, considerando o valor das jum entas extraviadas.9.9. designação para profetas. Três termos são usados nessa passagem: homem de Deus, vidente e profeta. O primeiro é um termo geral que poderia ser aplica­do também aos outros dois. Já vidente e profeta repre­sentariam basicam ente a m esm a ativ idade, m as o papel que cada um desempenhava na sociedade era diferente (semelhante à diferença existente entre as funções de juiz e rei). Porém, o que está em destaque aqui é a m udança de term inologia e não da função desempenhada na sociedade.9.11. saindo para buscar água. Geralmente as cidades se localizavam em regiões elevadas próximas a algu­ma nascente de água (fonte ou poço). Mais tarde, fo­ram construídos túneis para permitir o acesso seguro a essas nascentes, mas nessa época ainda era preciso sair da cidade para buscar o suprim ento diário de água. De modo geral, isso era feito ao entardecer, e não durante o calor do dia.9.12. m onte. O m onte ou lugar alto (em hebraico bamah) era um lugar de adoração onde havia um al­tar. G eralm ente não era um santuário ao ar livre e sim um tipo de construção mobiliada e com ambien­tes grandes o suficiente para acomodar os sacerdotes (não podemos supor que todos os santuários ficassem em m ontes). A Inscrição de M esha dem onstra que esses sa n tu á rio s tam b ém faz iam p arte do cu lto

moabita. Possíveis exemplos foram encontrados em lugares como Megido e Nahariya.9.12r 13. sacrifício no monte. Embora o nome da cida­de não seja mencionado, a maioria dos estudiosos acre­dita tratar-se da cidade onde Sam uel nasceu, Ram á (Ramataim, ver 1.1). Depois da queda de Siló, Samuel construiu um altar em Ram á (7.17), que provavel­m ente funcionava como um santuário central, já que a arca estava no exílio. Os sacrifícios normalmente eram ocasiões para refeições e parece ser esse o caso aqui. Talvez fosse um sacrifício de Lua nova, que era uma ocasião festiva (ver comentário em 20.5), mas poderia também ser uma cerimônia de entronização, especial­m ente convocada por causa da chegada de Saul, pre­vista por Samuel.9.13. abençoar o sacrifício . N enhum a outra passa­gem no Antigo Testamento fala sobre abençoar o sa­crifício. Geralmente uma bênção é uma oferta de pa­lavras boas que se espera que a divindade traga so­bre as pessoas. Visto que os sacrifícios muitas vezes estavam associados a petições, a bênção de Samuel talvez estivesse refletindo a esperança de que aquele pedido fosse atendido.9.21. objeção de Saul. No antigo Oriente Próximo os reis tentavam atribuir alguma importância aos seus ancestrais, especialmente quando isso não era tão evi­dente, a fim de impedir que algum rival ambicioso se aproveitasse desse defeito para provocar um a revolta. O simples fato dos antepassados carecerem de impor­tância era m otivo para a pessoa ser rotulada como impostora. A objeção apresentada por Saul, mencio­nando sua genealogia insignificante, pode ser encon­trada em diversas ocasiões na Bíblia, e de fato algu­m as vezes é usada como uma característica distintiva (Am 7.14). Para inform ações referentes à tribo de Benjam im , ver o com entário em 9.1. N ada m ais se conhece sobre a posição social do clã de Saul.9.22. sala onde comeram. As vezes a lei determinava que as porções de carne destinadas aos sacerdotes e aos adoradores fossem consumidas no local (ver, por exemplo, Lv 7.6). Visto que as refeições eram partes importantes do sacrifício e do culto, os santuários eram providos de cômodos apropriados para essa ativida­de. A palavra usada neste versículo para descrever esse recinto é usada em outros contextos para referir- se a diversos cômodos ligados ao santuário dentro das instalações do templo. Descobertas arqueológicas têm revelado com freqüência a existência de cômodos con­tíguos ao salão principal do santuário, mas é muito difícil especificar qual uso era reservado a cada um deles.

9.23. 24. carne separada para Saul. A coxa era consi­derada um a das partes m ais nobres da carne e ge­

ralm ente era reservada para o sacerdote oficiante (Lv 7.32-34). A qui Sam uel m andou separá-la para seu convidado de honra.

9.25, 26. terraço . Em bora a presença de escadas e pilares para sustentação (dentre outras evidências) de­

monstre que muitas casas tinham um segundo andar

(ou até mesmo um terceiro), os arqueólogos dificil­m ente conseguem recuperar algum vestígio de ou­

tros pavimentos nas casas a partir dos materiais rema­

nescentes dos níveis de ocupação. Esse lugar no alto da casa (eirado ou terraço) era bastante usado para

atividades familiares e também para dormir por ser bem ventilado.

1 0 .1 - 2 7

Saul é ungido rei10.1. unção com óleo. U ngir o rei era um a prática

comum em algumas partes do antigo Oriente Próxi­mo. As principais evidências encontram-se em fontes

h ititas que descrevem cerim ônias de entronização.

N ão existem evidências de unção de reis na M eso-

potâmia. No Egito, o faraó não era ungido, ao contrá­rio, ele ungia seus oficiais e vassalos, estabelecendo

assim um a relação de subordinação entre eles e como demonstração de que lhes daria proteção. Esse mode­

lo seria apropriado à idéia de Saul sendo ungido como

vassalo de Deus. Mas em 2 Samuel 2.4 é o povo que unge Davi. Essa unção sugere algum tipo de acordo

contratual entre Davi e o povo que iria governar. Em

Nuzi, quando as pessoas faziam algum acordo comer­

cial, ungiam um as às outras com óleo; no Egito, a prática da unção era comum nas cerimônias de casa­

mento. Para inform ações sobre coroações, ver o co­m entário em 11.15.

10.2. o túm ulo de R aquel em Zelza. É extremamente

complicado situar essa localidade. Estudos detalha­

dos, procurando conciliar as diversas variáveis e difi­culdades, oferecem duas possibilidades principais. A

prim eira seria que o túm ulo estaria localizado nas

proxim idades de Quiriate-Jearim (ver o comentário

em 6.21), que se situava cerca de 24 quilômetros ao sul-sudoeste da cidade onde Samuel vivia. A segun­

da opção acompanha o suposto trajeto da jornada de

Saul nessa passagem , que parece ter sido de Ramá para Geba, a leste. N esse caso, o túmulo de Raquel

ficaria naquela estrada.

10.3. carvalho de Tabor. Juizes 4.5 rerere-se à "tam arei­ra de D ébora", onde ela julgava as questões, e Abraão

faz uma parada junto ao "carvalho de M oré" (ver o co­

m entário em Gn 12.6). A s árvores eram usadas como m arcos de divisas, pontos de encontro ou até mesmo

como locais sagrados. Em lugares onde o Sol é caus-

ticante e a sombra é algo desejável, as árvores podem assumir um a im portância bastante significativa.10.3. santuário em Betei. Ao longo de grande parte da história de Israel, Betei foi considerado um impor­tante local de culto. A arca ficou guardada nesse local durante algum tem po no período dos ju izes, além disso, havia ali um altar para sacrifícios (ver os co­m entários em Jz 1.22, 23; 20.26-28; 21.4).

10.3. elem entos para sacrifício . Cabritos, pães e vi­nho eram os elem en tos básicos de um a refeição sacrificial. Ao lhe oferecerem pão consagrado, Saul está novamente sendo tratado como um sacerdote (ver o comentário em 9.23) e reconhecido como uma pes­soa digna de honra.10.5. G ibeá de D eus. A designação "d e D eus" sugere que havia nessa colina (Gibeá = colina) algum tipo de santuário, m as havia ali tam bém um destacam ento filisteu. Visto que em algumas traduções de 1 Sm 13.3 há referência aos destacamentos dos filisteus em Geba (na NVI consta Gibeá), m uitos consideram tratar-se do m esm o local, oo seja, o povoado m oderno de Jaba, cerca de dez quilômetros ao norte de Jerusalém. N e­nhuma escavação arqueológica foi conduzida no lo­cal, m as buscas superficiais encontraram vestígios da Idade do Ferro. Essa localidade dom inava a passa­gem entre o profundo desfiladeiro do vau Swenit, de Micmás, que segue do norte para a região de Jerusa­lém. Para uma discussão sobre Gibeá, ver o comentá­rio em 10.26.10.5. m onte. H á um a diferença entre os lugares de adoração ao ar livre e o "m onte" (bamah) mencionado em diversas passagens como centro religioso das cida­des e povoados (1 Rs 11.7; Jr 7.31; Ez 16.16; 2 Cr 21.11; esteia moabita de Mesha). O termo "m on te" algumas vezes podia indicar um local sagrado ao ar livre, mas geralmente referia-se a um a construção contendo mo­biliário sagrado, um altar e recintos grandes o sufici­ente para acomodar os sacerdotes.10.5. instrum entos m usicais. Todos os instrumentos musicais citados aqui são típicos da época e confirma­dos em textos, relevos e pinturas do antigo Oriente Próxim o, desde o terceiro m ilênio. A inda há certa discordância entre os eruditos sobre qual a palavra hebraica que deveria ser traduzida como "harp a" e qual como "lira " . O term o que a NVI traduz como "lira" diz respeito a um instrumento de dez cordas, enquanto que a palavra traduzida como "h arp a" pro­vavelmente esteja se referindo a um instrumento com um menor núm ero de cordas. Ambos possuíam uma estrutura de m adeira que permitia segurá-los com as mãos. O tamborim tem sido identificado em relevos arqueológicos como um tambor ou pequeno pandeiro (couro esticado sobre um aro), sem os pequenos guizos

dos pandeiros m odernos. O instrum ento traduzido como flauta provavelmente se refere a dois tubos de bronze ou caniços.10.6. relação entre m úsica e profecia. Nessa época, as pessoas podiam receber treinamento para exercer a função de profeta (ou vidente) e nesse período inicial da história de Israel existia uma associação de profe­tas, geralmente designada como "o s filhos dos profe­tas". Esses profetas faziam uso de variados métodos com o objetivo de se prepararem para receber os orá­culos proféticos. A música exercia um importante pa­pel na indução a um estado de transe (êxtase) através do qual, segundo a crença da época, a pessoa se torna­va receptiva a uma m ensagem divina. Nos textos de M ari são relatados episódios em que um grupo de funcionários do tem plo entrava em transe e geral­mente recebia m ensagens proféticas.10.6. papel do Espírito do Senhor. No Livro de Juizes, o Espírito do Senhor geralmente se m anifestava em

situações relacionadas à convocação de um exército. N uma sociedade tribal, onde não há um governo cen­

tralizado, era difícil conseguir que as outras tribos apoiassem aquela que estivesse enfrentando dificul­dades. Nesses casos, a autoridade do líder era reco­nhecida de acordo com sua habilidade de convencer outros a segui-lo, ainda que não tivesse nenhum car­go de comando sobre eles. Em Israel, essa habilidade era reconhecida como sinal do poder de Yahweh, vis­to que esse líder sozinho tivera autoridade para con­vocar os exércitos de todas as tribos. Yahw eh era a única autoridade central, portanto, quando alguém demonstrava autoridade para convocar exércitos, que era função de Yahweh, ficava claro que o Senhor esta­va agindo sobre essa pessoa (ver Jz 11.29; 1 Sm 11.6­8). Esse era um dos traços distintivos dos ju izes de Israel. A autoridade central de Saul deveria ser per­manente e m ais abrangente que a dos juizes, apesar de também ser atribuída a ele através da capacitação concedida pelo Espírito do Senhor. Em 11.6 a capa­citação do Espírito irá resultar na convocação de um exército por parte de Saul, assim como os juizes fazi­am. Neste contexto, porém, está associada à atividade profética, especificamente em relação à receptividade à orientação divina.10.8. G ilgal. Como já foi observado no comentário em7.16, havia diversas localidades com o nome de Gilgal. É impossível afirmar com certeza a qual delas o texto se refere.10.8. propósito dos sacrifícios. H olocaustos e ofertas de comunhão eram os dois tipos m ais comuns de sa­crifícios. O primeiro muitas vezes acompanhava uma petição, enquanto o últim o era uma oportunidade para celebrações festivas e refeições comunitárias diante do

Senhor. Provavelmente os sacrifícios mencionados aqui tivessem a intenção de marcar o início da monarquia ou talvez a preparação de alguma atividade militar

contra os filisteus. Levando-se em conta o sacrifício

oferecido na cidade de Samuel, o sacrifício daqueles que iriam a Betei e esse em Gilgal, fica evidente que

nesse período, os sacrifícios não eram restritos a uma única localidade.

10.10. Sau l com o profeta. No antigo Oriente Próxi­mo, geralm ente se acreditava que os reis possuíam

dons proféticos. Isso acontecia principalmente no Egi­to, onde o faraó era considerado representante dos

deuses e falava em nom e deles. Por esse tem po, a liderança civil em Israel também era uma mistura de

poder político com atividade profética (Moisés, Débo­ra, Samuel). Samuel acumulou as funções de sacerdo­

te, profeta e líder político, em bora esta últim a fosse conseqüência das duas primeiras. Com Saul, a ques­tão seria até que ponto a pessoa escolhida para ocupar

o trono poderia acumular as funções de profeta e sa­

cerdote. A m onarquia no antigo Oriente Próximo às

vezes im plicava em exercer todas essas funções. Des­ta forma, seria bastante lógico perguntar: "Saul pode

ser considerado um dos profetas de Israel?".10.17. M ispá. Em bora diversas localidades distintas

tenham esse mesmo nom e (significa "posto avança­

do" ou "guarnição"), essa Mispá no território da tribo

de Benjam im é a mais conhecida. Com freqüência é

associada à localidade de oito acres chamada Tell en-

Nasbeh, cerca de dez quilômetros ao norte de Jerusa­lém. Nessa época, M ispá era um terreno oval cercado

por uma muralha de aproximadamente um metro de

espessura, que protegia a principal estrada norte-sul, entre as colinas de Judá e Efraim.

10.20, 21. processo para escolha do rei. Documentos da Mesopotâmia sugerem o uso da adivinhação para

confirmar a escolha do rei que havia sido indicado, mas não para nomeá-lo ao trono. A adivinhação não

era considerada um a prática aceitável em Israel. O

processo empregado aqui se assemelha mais ao orá­culo e é bastante parecido com aquele usado em Josué 7 (ver o comentário em Js 7.14-18).

10.25. leis do reino. Aparentemente, esse documento seria um tipo de constituição ou carta magna, deta­

lhando as leis relacionadas à subordinação do povo

para com o rei e do rei para com o Senhor. No Egito, a cerimônia de coroação envolvia uma declaração do

deus Thoth concedendo a aprovação oficial dos deuses

para a ascensão do rei ao trono. Não há nenhum a

indicação neste capítulo de que Saul foi coroado; ele simplesmente foi aclamado como o escolhido paia ser rei (ver o comentário em 11.15).

10.26. G ibeá. A cidade natal de Saul, Gibeá, tem sido tradicionalmente identificada como Tell el-Ful, cerca de cinco quilômetros ao norte de Jerusalém, embora m uitos estudiosos não estejam convencidos, apesar da descoberta de um a pequena fortaleza no local de­signada "fortaleza de Saul". Até agora, todas as evi­dências arqueológicas, textuais e topográficas são fa­voráveis à teoria de que Gibeá e Geba são a mesma localidade, identificada como Jaba, na margem sul do vau Sw enit, cerca de dez quilôm etros ao norte de Jerusalém .

11 .1-11Saul derrota os amonitas11.1. Jabes-G ileade. Jabes-Gileade era um a cidade da Transjordânia, provavelmente situada ao longo do ri­beiro el-Yabis, um afluente do rio Jordão que cortava o norte da região montanhosa de Gileade. Diversas lo­calidades da região foram indicadas como sendo as ru­ínas de Jabes-G ilead e, m as nenhum a delas foi con­firmada. A candidata mais provável é Tell Maqlub, na extremidade norte de uma curva do rio Yabis. Existem evidências detalhadas de resquícios materiais da Ida­de do Ferro I (c. 1200-1000 a .C.) nessa área. H á refe­rências de que essa cidade m antinha um acordo com Israel desde o período dos juizes (cap. 21; cf. 2 Sm 2.4­7). Jabes-G ileade só foi incorporada ao território de Israel após a m orte de Saul. Cf. 1 Sam uel 11 .9 ,10 .11.1, 2. Naás. Am om e Israel lutaram continuam ente pelo controle da região a leste do rio Jordão (ver Jz11.33). Fragmentos encontrados nos Rolos do Mar Mor­to perm itiram um a recuperação do texto de 1 Samuel 10.27b, apresentando evidências de que Naás também havia ameaçado as tribos israelitas de Gade e Rúben, fato confirm ado pelo historiador judeu Josefo (37-100 d.C.). Não há inform ações sobre Naás em outras fon­tes além da Bíblia, visto que nenhum documento his­tórico am onita desse período foi preservado.11.1, 2. am onitas. A lém da Bíblia, os am onitas são mencionados apenas em fontes escritas dos últimos an ais a ssírio s (c. 733-665 a .C .) e em fragm en tos epigráficos locais (que rem ontam a c. 590 a.C.). A Bíblia os descreve como um povo da Transjordânia aparentado com os israelitas através do sobrinho de Abraão, Ló. Depois do êxodo, os amonitas se torna­ram inimigos constantes de Israel até serem conquis­tados por Davi, o sucessor de Saul (2 Sm 10-12).11.2. arrancar o olho direito. A prática de furar ou arrancar os olhos do inim igo era com um entre os filisteus (ver o exemplo de Sansão em Jz 16.21) e tam­bém na Babilônia, com N abucodonosor (ver Zede- quias, rei de Judá; 2 Rs 25.7). Os assírios costumavam fazer uso dessa prática contra reis vassalos que não

cum priam as condições de um tratado. O historiador judeu Josefo (37-100 d.C.) afirm a que o olho direito era arrancado para im pedir o soldado de lutar, visto que o escudo era mantido sobre o olho esquerdo. Porém , no contexto de 1 Sam uel 11, o ato de furar os olhos parece ter como objetivo causar humilhação e vergo­nha. A m utilação de indivíduos subjugados é vista também no caso de reis que tinham os polegares das m ãos e dos pés cortados (ver o comentário em Jz 1.6).11.4. G ibeá. Consulte o comentário em 10.26.11.6. papel do Espírito de D eus. O Espírito de Deusapoderou^se de Saul do m esm o m odo com o havia acontecido anteriormente com os juizes Otoniel, Gideão, Jefté e, especialmente, Sansão (Jz 14.6, 19; 15.14). Quan­do o Espírito Santo é relacionado a algum a atividade no Livro de Juizes, geralm ente é para convocar um exército. N um a sociedade tribal, sem um governo centralizado, era difícil conseguir que as outras tribos apoiassem aquela que estivesse enfrentando proble­mas. Em situações como essa, o reconhecim ento da autoridade de um líder dependia de sua habilidade para convencer os outros a segui-lo, ainda que ele não tivesse nenhum cargo de com ando sobre eles. Em Israe l, e ssa h ab ilid ad e era a m arca do p o d er de Yahw eh sobre esse líder, visto que ele sozinho tivep autoridade para convocar os exércitos de todas as i bos. Yahw eh era a única autoridade central, portanto,^ quando alguém exercia autoridade convocando exér\ eitos, que era função de Yahw eh, ficava/eyfâeníse que a autoridade do Senhor esta\ráNagind« aquela

pessoa (ver Jz 11.29; 1 Sm l lX ^ ) f S à ^ s e r ã um dos traços distintivos dos^ m z^ a^ Sam uel 10,o Espírito levou Saul^N^iACorTO profeta, enquanto aqui em 1 Sam u êf ll^ a u X ^ c e r c e u sua autoridade conv ocan d og á^ ^ iriraâ^ ieIsrael. Quando o Espírito de D eus apotí^ira\-si^de Saul, imediatamente ele ma- nif^tphvU^aNimjgnação justa semelhante à de Sansão

"(quando m atou trinta hom ens, v er Jz sua fú ria fo i confirm ada pela atitude das

jsptoas.11.7. pedaços de bo is com o aviso. U m relato seme­lhante é n arrad o em Ju izes 19.29, 30 , em que um levita cortou sua concubina em doze pedaços e os enviou com o um convite para os israelitas participa­rem da guerra contra a tribo de Benjam im . A idéia subjacente era que todo aquele que não comparecesse à batalha seria punido dessa form a. U m a carta da cidade de M ari m enciona um certo Bahdílim que pede perm issão ao rei de M ari para cortar a cabeça de um prisioneiro e enviá-la com o um aviso às tropas que evitavam apresentar-se para a batalha.11.8. Bezeque. Bezeque tem sido localizada em Khirbit Ibzik, a oeste do rio Jordão, 19 quilômetros a nordeste

de Siquém e cerca de 22 quilômetros a oeste de Jabes- Gileade, na vertente sudoeste da cordilheira Ras es-

Salmeh, que se eleva acim a das colinas de Manassés.

Logo, era um lugar conveniente de onde se podia atravessar o rio Jordão e chegar em Jabes-Gileade.

11.8. tam anho do exército. N as versões m ais antigas do Antigo Testam ento, o núm ero de soldados m enci­

onado neste versículo varia bastante, m as os textos m ais recentes apresentam números elevados tanto para

os soldados de Israel como para os de Judá. Entretan­to, m uitos arqueólogos consideram que nem a popu­

lação total de Canaã naquela época chegava a tanto. O term o hebraico para "m il" freqüentemente erásubado

para designar um destacam ento de soldados^ e\nap

deve ser interpretado como um núm ero re^ l^ e l\ c Q m entários em Js 8.3; Jz 20.2). í11.9. d istância en tre B ezeq u e íé ^ a b e ^ è u e a d e . Se

Bezeque e Jabes-Gileade foíáiha cOTretarfíente identi­

ficadas pelos arqueólogos ni^a^rfrtís/então a distância

entre as duas s á ^ d í^ ^ ^ im a d a m e n te vinte quilô­

metros. I^sse ie r coberto facilmenteem um a raarh ^ m ciM cS atránoitecer e concluída nas p rim eii4^ h ^ ^ ^ Í«r manhã.

a {Tm 5Confirmado como rei

r.14, 15. confirm ação do re in o em G ilgal. G ilgal,

um centro de adoração que fazia parte do circuito de

Samuel, ainda não foi localizado, m as tudo indica que

seria perto de Jericó (ver o comentário em 1 Sm 7.16). P or ser o local sagrado m ais próxim o ao cenário da

batalha, foi escolhido para a coroação. Em bora Saul

tenha sido designado re i através de dois processos diferentes, som ente agora, após ter provado sua com­

petência em questões m ilitares (lembre-se que o povo queria um rei que fosse capaz de conduzir seus exér­citos nas batalhas), ele é de fato coroado. O texto diz

que Saul foi "proclam ado rei na presença do Senhor". N a M esopotâm ia havia cerim ônias anuais que cele­

bravam a entronização, relacionadas às celebrações

do A no N ovo. N o antigo Oriente Próxim o, geralmen­te o rei era investido com as insígnias reais e ungido.

Era comum tam bém que durante a cerimônia a legi­tim idade do rei fosse confirmada pela divindade prin­cipal. N o caso de Saul, tanto a unção como a confirma­

ção da legitim idade já haviam sido feitas.11.15. sacrifícios de com unhão. Um a parte dos sacri­

fícios de comunhão era oferecida a Deus e o restante

era consumido pelos ofertantes. Era com um fazer uso

dessas ofertas para ratificar tratados ou acordos de aliança. Para m ais informação, ver os comentários em

10.8; Êxodo 24.5 e Levítico 3.1-5.

12.1-25 A palavra de Samuel12.15. Sam uel se isenta de culpa. A política não m u­dou muito em três m ilênios de história. Atualmente, é comum um governante atribuir a culpa dos proble­mas da nação ao governo anterior. No mundo antigo, também era comum lançar uma acusação sobre qual­quer pessoa que representasse um a possível ameaça ao governante. Portanto, é compreensível que Samuel tenha tomado algumas medidas para garantir a afir­mação de sua inocência nas questões administrativas. Era responsabilidade do governante manter a justiça e Samuel quis certificar-se de que ele não seria acusa­do de nenhum a injustiça. O processo legal descrito aqui incluía três partes: (1) apresentação das testem u­nhas (Yahweh, seu ungido [i.e., o rei] e o povo, v. 3), (2) apelo de Samuel a essas testemunhas e (3) resposta das testemunhas. Esse padrão tam bém é confirmado em Rute (4.4, 11) e Josué (24.22).

12.6-12. resum indo a história. Êxodo 12.40 diz que os israelitas perm aneceram no Egito durante 430 anos. O texto de 1 Reis 6.1 afirma que foram 480 anos desde o êxodo até a dedicação do templo. A coroação de Saul talvez tenha acontecido oitenta anos antes da dedica­ção do templo, o que significa que Sam uel resum iu cerca de 800 a 850 anos de história em cinco versículos. Seria o mesmo que um orador contemporâneo abor­dar os rumos do Cristianismo desde as Cruzadas até os dias atuais em aproximadamente cem palavras.12.12. D eus como rei. Desde o Livro de Êxodo, o texto bíblico desenvolve a idéia de Yahw eh lutando pelos israelitas, e sendo louvado e reconhecido como seu guerreiro e rei. O Livro de Josué demonstra repetida­mente que as vitórias dos israelitas eram devidas ao Senhor. Yahw eh fora reconhecido como rei e herói dos israelitas, e como tal os conduzira vitoriosamente nas batalhas. A s referências a Yahw eh como rei de Israel são abundantes nas Escrituras (p. ex., Êx 15.18; N m 23.21; Jz 8.7; 1 Sm 8.7; 10.19), entretanto, a idéia relacionada à divindade como rei não era exclusiva de Israel. Tanto M arduque (babilônio) com o Baal (cananeu) representam o reino conquistando o mar, que é personificado como um inimigo divino (Tiamat e Yam respectivamente). Questões como instaurar a ordem e evitar conflitos, proclamação do rei e firmar uma moradia, são temas interligados na literatura do antigo Oriente Próximo, relacionados às batalhas cós­m icas. Os assírios, por exem plo, afirm avam que o deus Assur era o m onarca, sendo representado na terra pelo rei. Em Israel era diferente, pois até aquele momento Yahw eh não tinha um representante terre­no, como as outras nações. Para os israelitas, Deus era visto como aquele que levantava os líderes m ilitares e

o responsável pelas vitórias, portanto, Deus era o rei que conduzia os exércitos nas batalhas (ver o comen­tário em 8.7). Agora o reino de Saul seria um reflexo terreno do governo de Yahw eh no céu.12.17,18 . chuva durante a colheita do trigo. Durante a colheita do trigo, nos meses de maio e junho, quase não chovia na Palestina, portanto isso foi interpretado como um a ocorrência sobrenatural. A lém do mais, poderia prejudicar a safra (ver Pv 26.1). Portanto, Deus estava se colocando como testemunha divina contra os israelitas.12.19. o novo papel de Sam uel. Até aqui, Samuel era o líder político, devido à sua função de profeta, assim como M oisés e Débora antes dele. Com o início da monarquia, o profeta passaria a ser um conselheiro. Em vez de conduzir o povo, transmitindo-lhe as men­sagens divinas, o profeta ofereceria orientação ao rei, que teria liberdade para aceitá-la ou rejeitá-la. Essa passagem também enfatiza o papel do profeta como intercessor (para mais informação, ver os comentários em Dt 18.14-22).12.25. identificação entre rei e povo. No antigo Ori­ente Próxim o o rei m uitas vezes era visto com o a personificação da nação. Como resultado, o rei podia ser considerado responsável pelo comportamento do povo e este podia ser punido ou abençoado conforme a conduta do rei.

13.1-22 Saul oferece um sacrifício13.1. nota cronológica. A idade de Saul ao assumir o trono não é precisa, visto que este versículo sofreu alterações na maioria dos manuscritos antigos. A ver­são grega do Antigo Testamento (Septuaginta) acres­centou o núm ero trinta aqui, mas trata-se provavel­mente de um cálculo feito a partir da idade de Davi quando ascendeu ao trono (2 Sm 5.4). Saul tinha um filho adulto, Jônatas, e pelo menos um neto quando morreu (2 Sm 4.4). Embora a NVI afirme que a dura­ção do reinado de Saul foi de 42 anos, a maioria das versões menciona dois anos, apesar de grande parte dos estudiosos acreditar que um dos dígitos desse núm ero se perdeu no texto (ou seja, seriam "X e dois anos"). No entanto, o historiador judeu Josefo (37-100 d.C.) e Lucas (At 13.21) demonstram conhecer a tradi­ção de que Saul teria reinado por quarenta anos. Por

causa da grafia peculiar do núm ero nos prim eiros m anuscritos, acredita-se que o núm ero original da duração de seu reino foi perdido.13.2. tam anho e natureza de um exército efetivo. Ao selecionar três mil homens Saul provavelmente esta­ria escolhendo alguns para sua proteção ou guarda im perial. Esse núm ero não representaria o total de

voluntários para a guerra, que teria sido mais eleva­do. Nos exércitos regulares no antigo Oriente Próxi­mo havia soldados treinados profissionalmente e tam ­bém mercenários. Esses soldados serviam em guarni­ções e postos em fronteiras, além de garantirem a guarda do palácio. O núm ero "três m il" pode sim­plesm ente representar três com panhias (um a com Jônatas e duas com Saul). Gibeá não era um a cidade grande e é pouco provável que fosse capaz de abrigar mais de algumas centenas de homens em circunstân­

cias normais, e em breve os israelitas teriam de en­frentar as forças m ilitares dos filisteus (ver o comentá­rio no versículo 5).13.2. M icm ás. Situada seiscentos metros acima do ní­vel do m ar, M icm ás (a m oderna M ukhm as) ficava sete quilômetros a sudoeste de Betei. Algumas desco­bertas no local de vestígios da Idade do Ferro levaram alguns especialistas a preferir a identificação com Khirbet el-Hara el-Fawqa, menos de um quilômetro ao norte, onde foram encontradas mais evidências de ocupação nesse período. O terreno m ontanhoso da área seria um obstáculo para o uso de carros de guerra durante as batalhas.

13.3. destacam ento filisteu em G ibeá. Gibeá tem sido identificada como o povoado moderno de Jaba, cerca de dez quilômetros ao norte de Jerusalém. Nenhuma escavação foi conduzida no local, mas buscas superfi­ciais descobriram ali vestígios da Idade do Ferro. Gibeá dominava a passagem estratégica que atravessa o pro­fundo desfiladeiro do vau deSw enit, em M icmás, que segue para o norte, até a região de Jerusalém.13.4. distância entre G ilgal e M icm ás. Existem diver­sos lugares com o nome de Gilgal e todos com locali­zação desconhecida (ver o com entário em 7.16). A Gilgal em 10.8 parece ficar próxima a Gibeá. Se Saul estivesse acampado na Gilgal da época de Josué, esta­ria mais para o leste, perto do rio Jordão, a cerca de 32 quilôm etros de M icm ás, portanto, bastante distante do cenário das operações militares.13.5. exército filisteu . Os filisteus detinham uma su­perioridade m ilitar esm agadora, com trinta m il (na NVI aparece "três m il") carros de guerra e seis mil condutores de carros. Se o núm ero da NVI estiver correto, seriam dois soldados por carro, o que era comum no Egito, Anatólia e Assíria. Como compara­ção, Salm aneser III, da Assíria (século nono a.C.) afir­m ou ter atravessado o rio Eufrates com um exército de 120 mil homens. Os governantes das províncias assírias eram obrigados a recrutar tropas para o exército assírio, geralmente totalizando 1500 batalhões de cavalaria e 20 mil tropas. Visto que havia mais de vinte provín­cias, a quantidade total das tropas assírias era bastan­te grande.

13.6. escond erijos. Poços e cisternas eram cavados para acum ular água das chuvas e, quando vazios, serviam como bons esconderijos. Geralmente estavam localizados na área das cidades. Havia florestas nos dois lados do vau Sw enit em épocas remotas, deste m odo, o mato era abundante. O vau Sw enit e o vau K elt tam bém tinham m uitas cavernas nas encostas dos rochedos. Com freqüência, as cavernas na Palesti­na ofereciam proteção para as pessoas em perigo e às vezes, eram tam bém usadas como túm ulos fam ilia­res. Elas eram bem conhecidas pelos habitantes da região e protegidas pela dificuldade de acesso. Exis­tem registros extrabíblicos de refugiados que habita­ram em cavernas perto de Láquis, uma cidade judaica fortificada. Foi encontrada a seguinte inscrição nas paredes: "Poupa-m e, ó Deus misericordioso, poupa- me, ó Yahw eh" e também: "Salva-m e, ó Yahw eh".13.7. G ade e G ileade. Gade e Gileade eram termos em pregados com o designação geral para as terras israelitas que ficavam a leste do rio Jordão. Gileade era habitada pelas tribos de Rúben e Gade. Os israe­litas fugiram para essa região porque estavam sendo pressionados a deixar a base de operações dos filisteus.

13.8. o dilem a de Saul. O ferecer sacrifícios na im i­nência de um a batalha a fim de obter a proteção da divindade era prática comum no antigo Oriente Pró­ximo. Esse oferecim ento garantiria a disposição da divindade em participar do conflito. Podemos encon­trar vários exemplos dessa prática na literatura grega (Ilíada), e diversos relatos hititas e assírios (Esarhadon da Assíria, sétimo século a.C.) confirm am amplamen­te o uso de sacrifícios e presságios para determinar a vontade dos deuses antes de sair para a batalha, como parte fundamental das estratégias militares. No caso de Saul, a necessidade de cum prir o ritual poderia prejudicar sua estratégia militar. Sua decisão de ofere­cer o sacrifício foi um a tentativa de obter os benefícios do ritual sem se arriscar a perder o momento estraté­gico para atacar.13.8-13. a culpa de Saul. Era comum que o rei desem­penhasse algumas funções sacerdotais (ver o comen­tário em 2 Sm 8.18). Porém, considerando-se o papel de destaque desempenhado por Samuel, não é difícil supor que a legislação no reinado de Saul (10.25) esta­belecesse um a clara distinção entre seus respectivos papéis em Israel. Observe que Saul não é acusado, no versículo 13, de transgredir o protocolo sacerdotal ou com eter sacrilégio, e sim de desobedecer a um a or­dem de Deus.13 .9 ,10 . função dos sacrifícios. Holocaustos e ofertas de comunhão eram os dois tipos mais comuns de sa­crifícios. O primeiro muitas vezes acompanhava uma petição, enquanto o último era uma oportunidade para

celebrações festivas e refeições comunitárias diante do Senhor. A lém disso, as ofertas pacíficas às vezes re­presentavam o reconhecimento de que o reino era da divindade - um elemento importante antes da bata­lha. Para informações gerais sobre os sacrifícios, con­sulte os comentários em Levítico 1.3, 4; 3.1-5.13.14. um hom em segundo o coração de D eus. Essa afirmação significa que Deus iria agora fazer sua pró­pria escolha (de acordo com sua vontade e propósito e não de acordo com a von tad e e o p rop ósito dos israelitas). A expressão não está relacionada à devo­ção de Davi, mas demonstra como Deus exerceu sua vontade ao rejeitar Saul (um hom em que satisfazia o desejo de Israel, 9.20) e substitui-lo por alguém avali­ado segundo critérios diferentes. A língua acadiana usa a m esm a term inologia para falar do deus Enlil estabelecendo um rei que ele próprio havia escolhi­do. Até Nabucodonosor colocou em Jerusalém um rei que ele mesmo escolhera.13.15. de G ilgal a G ibeá. A distância que o exército teria que percorrer, desde Gilgal de Josué até Gibeá, era de 24 quilômetros, o equivalente à jornada de um dia (sobre as dificuldades para identificação dessas localidades, ver o comentário em 13.4).13.16. G ibeá e M icm ás. Essas duas localidades fica­vam uma defronte da outra, separadas pelo profundo desfiladeiro do vau Sw enit, ao longo da passagem estratégica que cruzava o vau desde o norte até a região de Jerusalém. Micmás ficava quase dois quilô­metros a nordeste de Gibeá.

13.17,18. rota das divisões invasoras. As divisões dos filisteus tom aram três direções distintas. A rota de Ofra seguia para o norte, em direção à cidade de Ofra, que ficava oito quilôm etros ao norte de M icm ás. A rota de Bete-H orom ia até a cidade com o m esm o nome, a cerca de vinte quilômetros de M icmás, pas­sando por Gibeão, sendo uma das principais rotas de suprimento desde as planícies dos filisteus até as coli­nas de Jerusalém. E por últim o, a rota da fronteira, que cobria o vale das Hienas (Zeboim) a sudeste de

Micmás, provavelmente no encontro entre o vau Swenit e o vau K elt, quase na m etade do cam inho entre Micmás e Jericó. Esra era a principal passagem para o vale do Jordão.13.19, 20. m onopólio do ferro. Na Antiguidade, as dificuldades técnicas para o processo de fundição do

ferro eram muitas, incluindo a m anutenção de uma temperatura adequadamente elevada e a combinação da quantidade certa de carbono e ferro (chamada de "carbon ização", que transform a o ferro forjado em aço), além da necessidade de ferramentas fortes para

remover a escória. As armas feitas de ferro não carbo­nizado eram inferiores às armas de bronze. Na Pales­

tina, há evidências de carbonização somente a partir do século dez. N ão se sabe ao certo onde surgiu a fundição do ferro, m as era bastante difundida em todo o Oriente Próximo (especialmente na Anatólia e no norte do Iraque) já no final do segundo milênioa.C.. Atualmente, supõe-se que a substituição do bron­ze pelo ferro resultou não só do acesso à técnica de fundição desse metal, mas tam bém da crescente difi­culdade em obter o estanho necessário para a fabrica­ção do bronze. O que deve ser observado, porém, é que o texto não indica um a inferioridade tecnológica de Israel, e sim a ausência de ferreiros. As armas de bronze ainda seriam m uito utilizadas pelos israelitas. É provável que esses versículos indiquem que a pro­fissão de ferreiro fora banida, evitando assim a fabri­cação de armas de metais.13.21. preço para serviços de ferreiro. O preço cobra­do pelos fe rre iro s filisteu s pod e ser consid erad o exorbitante se comparado ao salário m ensal de um trabalhador, que era de aproximadamente um siclo (o equivalente a doze gramas). As ferram entas afiadas (arados, enxadas, machados e foices) eram usadas na lavoura e talvez fossem feitas de ferro ou bronz;e, mas os israelitas eram proibidos de operar as forjas neces­sárias para afiá-las. Não foram descobertos arados de ferro na Palestina desse período. Enxadas de ferro foram encontradas em Tell Jemm eh, no sudoeste da Palestina.13.22. escassez de armas. Esse versículo confirma que os israelitas estavam proibidos de fabricar instrumen­tos de ferro e bronze. Podem os presum ir que o domí­nio dos filisteus na região acarretou o confisco das arm as e a lei proibindo qualquer tipo de fundição tom ou disponível aos israelitas apenas armas bastan­te primitivas.

13.23-14.48 Vitória no desfiladeiro de Micmás13.23. o desfiladeiro de M icm ás. O desfiladeiro de M icm ás era uma passagem estratégica que ia do norte para a região de Jerusalém, através do profundo vale do vau Swenit. Para m ais informações sobre Micmás, ver o comentário no versículo 2. Um destacamento se deslocara do acampamento filisteu para o desfiladeiro que separava M icm ás de Gibeá/Geba e o acam pa­mento israelita. O local era rodeado pelas montanhas que form avam a encosta ao norte do vau. O único acesso a M icm ás era através do desfiladeiro que a ligava a G ibeá/Geba.14.1, 6 ,1 7 . escudeiro. O escudeiro de Jônatas não era simplesmente alguém que carregava os equipamen­tos militares. Ele lutava ao lado de Jônatas e provavel­mente desempenhava a função de acompanhante ou

aprendiz. O equivalente m ais próxim o na literatura do antigo Oriente Próximo seria o membro da cavala­ria encarregado de levar o escudo.14.2. rom ãzeira em M igrom . Alguns estudiosos su­gerem que M igrom seria um a eira, outros, porém, acreditam tratar-se do antigo nome do vau es-Swenit. H avia um a rocha em Rim om (termo hebraico para "rom ãzeira") situada um quilômetro e meio a leste de Gibeá/Geba (ver o comentário em Jz 20.45) com uma grande caverna, que talvez tenha servido como quar­tel-general de Saul. Por outro lado, se "e ira" estiver correto, havia um a antiga eira entre G eba e o vau Swenit, e textos ugaríticos confirm am a existência de um a eira com o sendo o lugar onde um rei (Danil) encontrou-se com seu povo. A área aberta de um a eira, porém, seria pouco provável nesse contexto.14.3. colete sacerdotal. O colete fazia parte das vestes sacerdotais (ver o com entário em Êx 28.6-14) e era considerado, tanto no Egito como na M esopotâm ia, uma vestim enta dos sacerdotes mais graduados e para vestir imagens da divindade. Em outras passagens, o colete tam bém está associado aos oráculos (o Urim e o Tum im eram guardados nele, ver comentário em Êx28.30, e foi usado para consulta oracular em Jz 8.27).14.4. 5. Bozez e Sené. Khirbet el-M iqtara é um pe­queno povoado não m uito distante do desfiladeiro, no lado sul do vau Swenit, onde os penhascos são mais escarp ad os. E ssa área ap resen ta grand es p ro tu ­berâncias perm itindo que um a pessoa escale o pe­nhasco sem ser vista. “14.6. ideologia do guerreiro divino. No conceito de guerreiro divino, a divindade luta contra as divinda­des do inimigo, derrotando-as nas batalhas travadas. Na Assíria, Nergal é o rei da batalha e Istar é conside­rada a deusa da guerra. O deus cananeu Baal e o babilônio M arduque tam bém são considerados guer­reiros divinos. Dentro dessa visão de mundo, as guer­ras travadas entre os humanos são encaradas simples­m ente como uma representação das guerras entre os deuses. A divindade m ais forte seria a vitoriosa, a despeito da força ou fraqueza dos combatentes hum a­nos. Portanto, se Yahw eh lutasse por eles, Jônatas tinha plena convicção de que eles seriam vitoriosos.14.10. explicação do mecanismo oracular. Os m eca­nismos oraculares dessa época funcionavam de acor­do com um a estrutura binária em que determinadas ocorrências representariam uma resposta afirm ativa ou negativa por parte da divindade. Geralmente, es­sas ocorrências eram opções entre fatos comuns versus algo extraordinário (ver os comentários em Jz 6.36-40 e 1 Sm 6.7-9). N esse caso, porém, am bas as reações dos filisteus poderiam ser consideradas adequadas ao contexto. A situação parece sugerir, então, que Jônatas

buscava a orientação de Yahw eh através de um con­

vite (im prudente) dos filisteus para que ele e seu escudeiro entrassem no acampamento.14.14. área de batalha. O texto hebraico é bastante complexo e as traduções variam muito (na NVT, "p e­quena área de terra"). A referência a um a "área de terra arada por um jugo de bois num dia" encontrada no texto hebraico sugere que Jônatas fez um sulco dividindo ao meio uma área de cerca de um acre.14.15. terremoto. No antigo Oriente Próximo o apare­cimento de trovões e relâmpagos no céu acompanha­do de trem o res n a te rra g e ra lm en te in d icav a o envolvim ento divino na batalha (ver o com entário em 2.9). Além disso, acreditava-se que o terror des­pertado pela presença do guerreiro divino freqüente­mente precedia a investida de um exército poderoso e bem -sucedido na batalha. Textos egípcios atribuem esse terror a Amon-Rá nas inscrições de Tutm és III, e textos hititas, assírios e babilónicos fazem menção a

seus guerreiros divinos provocando terror no coração do inimigo. Outro conceito comum dizia que uma das formas da divindade conquistar a vitória era gerando

confusão no exército inimigo. N a literatura egípcia, encontramos um exemplo no mito de Hórus em Edfu, em que Hórus confunde seus inimigos levando-os a lutar entre si até que nenhum sobreviva.14.19, 20. uso oracular do colete. Em bora a NVI faça menção à arca, no texto da Septuaginta Saul pede a Aias que traga o colete sacerdotal. O U rim e o Tumim ficavam dentro de um bolso no colete do sacerdote (ver o versículo 3). U m a pergunta do tipo "sim ou não" era feita e em seguida tirava-se um a das pedras do bolso. A resposta deveria ser confirmada tirando- se três vezes seguidas a mesma pedra. Quando Saul ordena a Aias que retire a sua mão (no texto hebraico; na NVI, "não precisa trazer a arca"), ele demonstra ter tomado a decisão de interromper o processo oracular e de agir sem a orientação divina.14.23. aspectos da intervenção divina. Para que a vitória fosse atribuída ao Senhor, era necessário que ela se evidenciasse através de quatro fatores que tipi­camente indicavam a intervenção divina: orientação através de um oráculo (v. 10); vitória sobre um exér­cito m ais numeroso (v. 14); terremoto (v. 15); confusão e pânico entre os filisteus (v. 20). Tudo isso estava relacionado ao esforço de Jônatas, enquanto Saul não desfrutava nem do auxílio nem da orientação divina, em bora os buscasse ansiosamente.14.23. Bete-Aven. A cidade de Bete-Áven ainda não foi identificada com segurança. A m aneira com o é introduzida no texto sugere que era m ais importante do que Ai. Tell M aryam é considerada a principal candidata, e apesar de não ter sido escavada, algumas

buscas descobriram vestígios da Idade do Ferro. Acre­dita-se que Oséias utilize Bete-Áven como um nome

pejorativo (lit. "casa da im piedade"; cf. Os 4.15; 5.8;

10.5) para Betei (casa de Deus), ao norte de Micmás. Ainda como alternativa, alguns manuscritos do Anti­go Testamento m encionam Bete-Horon, que ficava a

leste de Micmás. As duas cidades estariam na rota de perseguição para Aijalom.

14.24. je ju m para a batalha. H á poucas evidências da prática do je jum no antigo Oriente Próximo fora da Bíblia. Geralmente era praticado em ocasiões de luto.

N o Antigo Testamento, o jejum geralmente está rela­

cionado a um pedido dirigido a D eus, baseado no princípio de que a im portância do pedido seria tal

que levaria o indivíduo a preocupar-se apenas com sua condição espiritual, relegando as necessidades fí­sicas a um segundo plano. N esse aspecto o ato de

je juar serve como um processo de purificação e humi­lhação diante de D eus (SI 69.10). O je jum seria um

procedimento normal em rituais de preparação para a

batalha, mas exigir que fosse praticado durante a ba­

talha é incom preensível. O je jum im posto por Saul era motivado pelo seu desejo de vingança e não como

consagração ao Senhor.14.31. desde M icm ás até A ijalom . Aijalom (moderna

Yalo) ficava poucos quilômetros a sudoeste de Bete-

H oron e cerca de 32 quilômetros a oeste de Micmás, no limite da região montanhosa.

14.32-35. com er carne com sangue. Na literatura sa­

grada de Ugarite e da M esopotâmia, bem como na de

Israel, o sangue é identificado como a essência ou a força vital de qualquer animal. Por isso, na tradição

israelita o sangue pertencia ao doador da vida, o Deus

Criador, Yahw eh, o que explica a proibição aos israe­litas de comer carne que ainda contivesse o sangue. O

líquido sagrado tinha de escorrer da carne pois "é o

sangue que faz propiciação pela vida" (ver Lv 17.11,

12). A ordem expressa em Levítico 19.26 proibindo comer carne com sangue está ligada à proibição de se

envolver com algum tipo de adivinhação ou feitiça­

ria. Assim, não se tratava de uma restrição alimentar, m as de um decreto relacionado à proibição da prática

de derramar sangue de um animal sacrificado no chão

ou num a cova sagrada, com o objetivo de atrair os espíritos dos mortos (ver 1 Sm 28.7-19) ou divindades

ctônicas (mundo inferior) a fim de consultá-los sobre o

futuro. Tais práticas podem ser encontradas em diver­sos textos rituais *hititas e na visita de O disseu ao

mundo inferior (Odisséia XI, 23-29,34-43). Essas práti­cas eram condenadas (Dt 18.10,11) por infringirem a

idéia de *Yahweh como o Deus Todo-Poderoso, im­

possível de ser controlado pelo destino.

14.33-35. rocha como altar. O uso de um a rocha como altar pode ser visto em outras ocasiões, como em Bete- Semes, onde um a rocha havia servido de altar para o sacrifício (6.14). A matança de animais para servir de alimento era perm itida contanto que o sangue fosse derramado no chão (Dt 12.15-24).14.37. nenhum a resposta do oráculo. Supõe-se que o Urim e o Tumim fossem usados para perguntas ora- culares (ver o comentário a seguir) e que a confirma­ção da resposta dependia dela ser repetida um núm e­ro determinado de vezes.14.40-43. processo binário para identificar o culpado.Saul organizou um sorteio semelhante ao que foi usa­do para elegê-lo rei (10.19-21) e para condenar Acã (Js7.16-18). De acordo com fragmentos de textos de al­guns manuscritos confiáveis, a decisão foi tomada atra­vés do Urim e do Tumim (ver Êx 28.30; Lv 8.8; Dt33.8), objetos que ficavam no colete sacerdotal. A Es­critura não apresenta nenhuma descrição desses obje­tos, embora tanto as tradições do período helenístico como de períodos posteriores sugiram tratar-se de in­dicadores, revelando a vontade de Deus conforme a aparência e disposição assumida depois de lançados como dados (ver N m 27.21; 1 Sm 14.37-41 e 28.6). A

prática de apresentar perguntas do tipo "sim ou não" (oráculos) aos deuses é conhecida em todo o antigo O riente Próxim o, sendo que os textos *babilônicos tamitu apresentam respostas a muitas perguntas ora- culares. Pedras indicando respostas positivas e nega­tivas (provavelm ente pedras claras e escuras) tam ­bém eram amplamente usadas na M esopotâmia, em um procedimento chamado psefomancia. Em um tex­to *assírio, o alabastro e a hematita são mencionados de maneira específica. Uma pergunta do tipo "sim ou não" era feita e então se tirava uma pedra. Para con­firm ar a resposta, era necessário que uma pedra da mesma cor fosse tirada três vezes consecutivas. Urim é a palavra hebraica para "lu zes" indicando que esta­ria associada às pedras claras ou brancas. U m a pes­quisa recente revelou que a hematita, devido ao seu

uso para pesos e lacres, era cham ada de "pedra da verdade" na língua dos *sumérios. A palavra hebraica tumim poderia ter um significado semelhante. Orácu­los h ititas apresentam um a descrição detalhada da pergunta, concluindo com o pedido para que a res­posta fosse favorável. Em seguida, a sorte era lançada três vezes para determ inar a resposta. No contexto deste versículo, várias perguntas foram apresentadas e após o uso da estrutura binária, a sorte caiu sobre Jônatas, apontando-o como culpado.14.47, 48. vitórias de Sau l. O narrador concentrou-se inicialmente nas derrotas espirituais de Saul, m as aqui ele deixa claro que ocorreram m uitas vitórias. Em ne­

nhum momento o texto bíblico ou fontes seculares su­gerem que essas vitórias representaram uma expansão do controle israelita ou de seu território. M oabe, Amom e Edom eram vizinhos a leste e ao sul. Os filisteus e os amalequitas ocupavam a fronteira ao sudoeste e eram os arquiinimigos de Israel nesse período. Zobá era um estado aram eu localizado no vale de Beqa, região do atu al Líbano. E possível que essas batalhas de Saul fossem m ais defensivas do que ofensivas.

15.1-35A derrota de Saul pelos amalequitas15.2-8. am alequitas. Os amalequitas eram um a tribo nôm ade que habitava o deserto, ao sul de Judá, na região do N eguebe e do Sinai. D e acordo com os escritores bíblicos, seriam descendentes de Esaú, as­sim como os edomitas. Eram tradicionalmente inim i­

gos de Israel, desde o episódio narrado em Êxodo17.8-13, onde tentaram impedir os israelitas de seguir para o oeste da Á sia, ao saírem do Egito. Este é o prim eiro registro dos israelitas invadindo território amalequita. Os amalequitas não são mencionados em nenhuma outra fonte além da Bíblia.15.3. consagrem ao Senhor para destruição. A ordem aqui era para destruir todos os seres vivos que habita­vam aquela cidade. Certos sacrifícios dedicados a Deus podiam ser compartilhados pelo sacerdote oficiante e

pelo oferente, no entanto, outros deveriam ser dedica­dos inteiramente ao Senhor. Do mesmo modo, alguns despojos eram separados exclusivamente para o Se­nhor. A oferta queim ada, por exem plo, deveria ser consumida totalmente no altar, assim como tudo que havia sido consagrado para destruição deveria ser totalm ente aniquilado. As batalhas eram com anda­das por Yahw eh e representavam seu ju ízo sobre os inimigos de Israel; os israelitas estavam em um a m is­são divina sob o com ando de Yahw eh, portanto o mérito da vitória era de Deus, assim como o espólio também pertencia a Ele. Em bora o tema da divinda­de guerreira apareça em todo o antigo Oriente Próxi­mo, o conceito de herem é m ais lim itado - a única ocorrência do termo está num a inscrição moabita de M esha, apesar de a idéia de destruição total também estar presente em textos *hititas. A melhor analogia para nos auxiliar a entender o herem é pensar em term os de radiação. Um a explosão nuclear destrói muitas coisas e o alcance da radiação vai muito além. O temor e o cuidado que teríamos ao lidar com objetos expostos à radiação é semelhante ao que se esperava dos israelitas em relação àquilo que D eus ordenara destruir. Pensando na radiação num a forma personi­ficada, por exemplo, poderíamos entender que se algo fosse entregue a ela, aquilo jam ais poderia ser resga­

tado. Foi exatamente a esse tipo de perigo que Saul se expôs ao desobedecer a ordem do Senhor. Embora os povos fora de Canaã estivessem isentos do herem, Deus escolheu os am alequitas para serem destruídos por causa de seus atos contra o povo de Israel (15.2).15.4. T ela im . Telaim (Telem , em Js 15.24) era uma cidade de localização incerta no N eguebe, mas não distante de Zife (moderna Khirbit ez-Zeifeh), 48 qui­lômetros ao sul de Hebrom. A cidade pertencia à tribo de Judá.15.4. tam anho do exército. Saul fizera uso apenas de três mil homens em 1 Sam uel 13, e Davi lutou contra os amalequitas com apenas quatrocentos homens. O termo traduzido como "m il" nessas passagens pode ser entendido pelo significado alternativo, "com pa­nhias" ou "d ivisões". Em vez de um núm ero deter­m inado, alguns sugerem que provavelm ente cada clã enviava um a divisão com o núm ero de homens proporcional ao seu tamanho. Posteriormente, padro­nizou-se que essas companhias teriam mil homens, m as aqui é possível que fossem apenas dez num a

divisão. Assim , duzentas divisões m ilitares teriam sido enviadas por Israel e dez por Judá. É impossível determinar o núm ero exato de soldados.15.6. queneus. Os queneus são mencionados nas Es­crituras com o um povo que se relacionava pacifi­camente com Israel. Alguns estudiosos argumentam que o termo queneu refere-se ao trabalho de fundição de m etais e, p o rtan to , q u en eu s seriam fe rre iro s itinerantes. De m odo geral, situavam-se na fronteira sudesde de Judá, perto de Edom . M uitos queneus estão relacionados a M oisés (Jz 1.16; 4.11). Alguns

afirmam que eles desfrutavam de uma posição privi­legiada por serem especialistas em rituais.15.7. desde H avilá até Sxir. A localização de Havilá é incerta, mas é provável que ficasse no lado ocidental da península arábica, perto da atual M edina (ver o comentário em Gn 25.18). Em bora não seja impossí­vel que Saul tenha perseguido os am alequitas até o Egito, o texto dá m argem a outras interpretações. Saul talvez tenha perseguido os amalequitas ao longo des­sa estrada, ou então o texto pode estar se referindo a um grupo específico de amalequitas, aqueles que tra­balhavam na rota comercial de Havilá a Sur.15.12. m onum ento do rei. Os reis do antigo Oriente Próxim o m uitas vezes com em oravam um a vitória erigindo uma coluna contendo inscrições com deta­lhes das campanhas m ilitares bem -sucedidas e pro­clamando a soberania do rei naquela área. Uma das mais famosas esteias é a do rei egípcio Merenptá (c. 1224-1214) que celebrava sua vitória contra os líbios. Esses monumentos tendiam a glorificar (e engrande­cer) o rei, mas, além disso, tinham tam bém o objetivo

de demonstrar como a divindade concedera vitória ao seu escolhido. O monumento de Saul ficava na cidade judaica de Carmelo. Absalão construiu um monumento semelhante no vale do Rei (2 Sm 18.18).15.22. a obediência é m elhor do que o sacrifício. No antigo Oriente Próxim o, as instruções oraculares da divindade geralmente estavam relacionadas a certos procedimentos rituais que o rei devia realizar. Se as instruções incluíssem atividades m ilitares, presumia- se que a divindade ordenasse que o tem plo fosse beneficiado com os despojos. Por essa razão, era difícil separar os conceitos de obediência e sacrifício, já que a obediência, na maioria dos oráculos, inevitavelmente resultaria em sacrifícios dedicados à divindade. A s­sim, é fácil entender por que Saul considerava a obe­diência em termos de sacrifício e não como um a possi­bilidade alternativa.15.23. comparação de pecados no contexto do antigo O riente Próximo. A palavra hebraica traduzida pela NVI como "rebeldia" diz respeito a um a pessoa que exerce pressão para im por sua vontade. É o termo usado para descrever a murmuração dos israelitas no deserto. Aqui essa palavra é usada para designar a atitude de Saul ao tentar justificar e desculpar suas ações. A feitiçaria envolvia a adivinhação, presum in­do ser possível adquirir conhecimento sobre as ativi­dades e propósitos dos deuses através do uso de di­versos indicadores (como exame das vísceras de ani­mais sacrificados). Os adivinhos diziam saber identi­ficar o que agradaria a divindade sem que ela ofere­cesse qualquer indicação sobre isso. D a m esm a m a­neira, Saul estava afirmando que sabia o que agrada­ria a Deus (apesar dos mandamentos específicos de Yahweh). Ele argumentava que tinha acesso ao mes­mo tipo de informação oferecido pela adivinhação, ou que tinha um a percepção interior sobre o que agrada­ria a Deus. O termo hebraico que a NVI traduz por "arrogância" é usado quando alguém procura forçar um determinado curso de ação. Sam uel apropriada­m ente compara isso à idolatria (numa referência espe­cífica aos terafins; ver comentário em G n 31.19) em que os ídolos eram usados para m anipular e coagir os deuses a agir de determinada maneira (ver o comen­tário em Dt 4.15-18). Alimentos e presentes eram ofe­recidos aos deuses como form a de constrangê-los a atender os pedidos ou conferir bênçãos. Sam uel esta­v a sugerindo que era exatamente essa a intenção de Saul ao separar todo aquele gado para sacrificar ao Senhor. Saul estava tentando manipular Yahw eh ofe­recendo-lhe presentes, à semelhança dos adoradores de ídolos.

15.27. barra do m anto de Sam uel. Assim com o as vestes do sum o sacerdote tinham barras ricam ente

adornadas (Êx 28.33,34), o manto de Sam uel também tinha um a franja distintiva que o caracterizava como profeta. Talvez a barra fosse tingida com alguma tinta especial ou tivesse um bordado simbolizando seu po­der e autoridade. A importância desse elemento para a identificação da função de um a pessoa é demonstra­da nos textos de Mari, onde um a barra impressa em um a placa de argila é usada para identificar um pro­feta. Q uando o m arido queria se divorciar de sua esposa, ele demonstrava isso cortando simbolicamen­te a barra do vestido dela. "Segurar na barra do man­to" era um a expressão usada tanto na língua hebraica como em ugarítico, aramaico e acadiano (línguas apa­rentadas com o hebraico bíblico). Em acadiano, a ex­pressão usada era "agarrar a barra". Segurar na barra do m anto de alguém sim bolizava um a atitude de súplica e submissão, tanto em Israel como na Meso- potâmia. Ao agarrar-se à barra do manto de Samuel, Saul implorava por misericórdia uma últim a vez. Um fato semelhante também é narrado no Ciclo Ugarítico de Baal, em que Anat agarra a barra da veste de Mot para im plorar por seu irm ão Baal. Textos da antiga Babilônia indicam que esse tipo de atitude era usado como um a forma de forçar a pessoa a um confronto legal. Quando a barra de Samuel se rasgou, o profeta interpretou aquilo como um ato simbólico, represen­tando que o reino de Saul seria arrancado de suas mãos.15.33. despedaçou Agague. Essa expressão é usada somente aqui em todo o Antigo Testam ento e algu­m as vezes é traduzida como "cortar em pedaços" ou "destroçar". O desmembramento era um procedimen­to geralmente usado na execução de inimigos de alta posição e é representado num relevo do rei assírio Salmaneser III.

16 .1-12 A unção de Davi16.1-13. narrativas sem elhantes à ascensão de D avi ao trono. O relato da ascensão de Davi ao trono de Israel apresenta certas semelhanças com os documentos referentes aos anais da Anatólia hitita dos séculos ca­torze e treze a .C . A Proclamação de Telepinu é um decreto ou edito com um longo prólogo justificando a atitude do rei. Telepinu, um usurpador, tentou justifi­car sua subida ao trono lem brando eventos que, na verdade, haviam ocorrido m uito antes da época do rei que ele derrubara. Embora, assim como Davi, ele não reivindicasse para si nenhum a legitim idade genea­lógica, afirmou, porém, que pertencia a um a linha­gem de antepassados legítimos e bem-sucedidos que haviam sido traídos pelo rei que ele removera. Um segundo exemplo pode ser encontrado na Apologia

de Hattusilis, um documento cujo propósito era justifi­car a revolta que levou H attusilis ao trono. Como Telepinu, ele reivindicava ter assumido o trono por­que seu antecessor era indigno. A substituição do indigno Saul por D avi apresenta certa sem elhança com esses dois reis hititas. O texto bíblico, entretanto, preocupa-se em demonstrar que Davi não usurpou o trono e, que, de fato, nada fez para arruinar o remado de Saul. Davi não participou de nenhuma conspira­ção para derrubar Saul, ele foi um simples instrumen­to dos planos divinos.16.1. unção com óleo de oliva. A prática de ungir o rei era comum em algumas partes do antigo Oriente Próximo. Entre os egípcios e hititas, acreditava-se que a unção protegia a pessoa dos poderes das divindades do m undo inferior. As principais evidências encon­tram-se em fontes hititas que descrevem cerimônias de entronização. Não foram encontradas evidências da unção de reis na M esopotâmia. No Egito, o faraó não era ungido, ao contrário, ele ungia seus oficiais e vassalos, estabelecendo assim uma relação de subor­dinação e demonstrando que estariam sob sua prote­ção. Nos textos de A m am a existe um a referência a um rei de Nuhasse (na moderna Síria) sendo ungido pelo faraó. Esse modelo é adequado à idéia de Davi sendo ungido como um vassalo de Deus. Em 2 Sam uel 2.4 Davi é ungido pelo povo. Essa unção sugere algum tipo de acordo contratual entre Davi e o povo sob seu governo. Em Nuzi, as pessoas que acertavam algum negócio ungiam umas às outras com óleo; no Egito, era costume usar a unção com óleo nas cerimônias de casamento. Para inform ações sobre coroações, ver o comentário em 11.15. As especiarias usadas no prepa­ro dos óleos de unção eram a mirra, a canela, a cana aromática e a cássia (ver a receita em Êx 30.23-25). O óleo simbolizava os dons de Deus ao povo e as res­ponsabilidades agora depositadas sobre os líderes atra­vés dessa cerimônia. Entre os israelitas, a unção era um sinal de que Deus havia escolhido aquela pessoa e com freqüência estava relacionada à capacitação do

Espírito. Além disso, em todo o m undo antigo a unção simbolizava a ascensão da pessoa a um a posição legal mais elevada. Tanto os conceitos de proteção como de mudança de status possivelmente estariam relaciona­dos à unção do rei, visto que seria oferecida a ele a proteção do trono e uma identificação com a dimensão divina.16.4. Belém. O povoado de Belém ficava cerca de dez quilômetros ao sul de Jerusalém, na fronteira entre a fértil região de Beit-Jalah e a região árida de Boaz, próxim o ao deserto da Judéia. Belém talvez tenha sido mencionada em um a carta do século catorze es­crita por Abdi-Hepa, rei de Jerusalém, referindo-se a

um a cidade chamada Bet-Ninurta, que alguns estu­diosos acreditam tratar-se de Bit-Lahama. Foram en­contrados poucos vestígios da Idade do Ferro (c. 1200­586 a.C.) em Belém , principalm ente na cidade mais baixa.16.5. sacrifícios em santuários locais. Antes da cons­trução do templo em Jerusalém, os israelitas podiam oferecer sacrifícios em santuários locais, que eram bas­tante numerosos. Em bora não seja o termo usado, é provável que o local m encionado aqui fosse um dos santuários (em hebraico, bamoth) situados nos lugares altos, onde eram realizadas cerimônias cultuais. Essas construções muitas vezes incluíam m óveis e objetos sagrados, tais como um a plataforma ou um altar. Pos­teriormente, esses "lugares altos" ou "m ontes" foram condenados pelos profetas.16.7. o Senhor vê o coração. Era consenso geral que os deuses não tinham apenas um a visão exterior ou limitada daquilo que observavam, mas que eram ca­pazes de enxergar internamente, com um a visão mais profunda. Em um a interessante elegia sum éria, o deus-lua é retratado como aquele que vê as entranhas e o coração do ungido que está de pé diante dele, em atitude de súplica. Um texto neobabilônico afir­mava que Sham ash (o deus da justiça) via o coração do homem.16.10, 11. oitavo filho. O épico sum ério cham ado Lugalbanda em Khurrumkhurra (metade do terceiro milênio) usa o tema do oitavo filho, o caçula, como herói. Lugalbanda é o oitavo filho que se junta a seus sete irm ãos m ais velhos em um a em preitada para conquistar a cidade de Aratta. Após inúmeras aven­turas, ele finalmente emerge como herói.

16.13-23 Davi no palácio16.13,14. ação do Espírito do Senhor. No período dos juizes, o Espírito do Senhor dotava um indivíduo com a autoridade central exclusiva do Senhor (ver o co­m entário em Jz 6.34, 35). O Espírito do Senhor veio sobre Saul em circunstâncias bastante parecidas (ver o comentário em 11.6) relacionando-o também à ativi­dade profética (ver 10.6). O rei representava um a autoridade central m ais efetiva e por essa razão, de­pendia da autorização do Senhor. O rei era um agente da divindade e um funcionário celestial, assim como os juizes e profetas. Quando Davi recebeu autorização para exercer o papel de representante de Deus, Saul perdeu sua autorização para exercer essa função, poiso Espírito não capacitava duas pessoas para exercer a mesma tarefa ao mesmo tempo. Assim como o Espíri­to podia conceder atributos positivos, como coragem, carisma, percepção, sabedoria e confiança, resultados

negativos também podiam ser produzidos por influ­ência espiritual, como medo, paranóia, insegurança, desconfiança e falta de visão. O term o usado para descrever essa influência espiritual no versículo 14 não sugere algo necessariamente mau, mas uma am ­pla gama de m anifestações negativas (ver, por exem­plo, Jz 9.23; Is 4.4; 37.7; 61.3). Assim como Deus pode punir alguém com uma doença física, Ele pode dis­ciplinar através da angústia psicológica. Na M eso- potâm ia o rei era considerado alguém escolhido e capacitado pela mélammu dos deuses (a manifestação da glória da divindade). Essa glória divina designa­va-o como representante divino e confirmava que fora aprovado pelos deuses. Em inscrições assírias, a gló­ria da divindade é retratada como uma aura sobre o rei. A melammu podia ser revogada se o rei demons­trasse ser indigno ou incompetente. Assim, no epílo­go das Leis de Hamurabi, o rei profere uma maldição contra todo aquele que não atentasse para as palavras da lei. N o caso de algum futuro rei não cumprir a lei, Hamurabi diz: "Q ue Anu revogue sua melammu, que­bre seu cetro e amaldiçoe seu destino".16.16-18. m úsicos da corte. A presença de m úsicos (homens e mulheres) nas cortes reais em todo o antigo Oriente Próximo pode ser comprovada por inúmeras evidências. Textos como os de Uruk e de Mari com­provam a presença deles no vale do Tigre e do Eufrates, na Anatólia hitita e no Egito. Além disso, representa­

ções de m úsicos eram comuns nas pinturas de tumbas egípcias. Os músicos geralmente eram mantidos para proporcionar entretenimento ao governante ou para cerimônias cultuais e faziam parte da relação de fun­cionários permanentes do palácio, como demonstram as listas de distribuição de alimentos do palácio.16.16. harpa. O instrumento musical mencionado aqui é m ais precisam ente um a lira, um instrum ento de

cordas com dois braços que saíam por cima da caixa acústica. As cordas eram presas a uma trave na parte superior do instrumento. Vários tipos de liras foram encontrados na cidade cananéia de Megido.16.20. presentes enviados com Davi. Pode-se presu­mir que o pai de Davi, Jessé, sentiu-se honrado pelo fato de seu filho ter sido requisitado para o serviço real, por isso, enviou presentes ao rei. Pão e vinho são m encionados esporadicam ente com o presentes no Antigo Testamento. Não se sabe qual o objetivo es­pecífico desses presentes, no entanto, como não havia n enhum tipo de tributo, a fam ília de D avi talvez tenha feito uma doação à cozinha real, visto que Davi

agora faria parte do palácio do rei. Existem num ero­sos exemplos de funcionários levando alimentos de presente para o m onarca assírio durante o período neo-assírio.

17.1-58 Davi e Golias17.1. filisteus. O povo filisteu tornou-se bastante co­nhecido através das narrativas de Juizes e de 1 e 2 Samuel. A chegada dos filisteus à Palestina ocorreu juntam ente com a migração dos chamados povos do m ar, que deixaram a região do Egeu por volta de 1200 a.C.. De modo geral, os povos do mar são consi­derados responsáveis pela queda do império hitita e pela destruição de muitas cidades ao longo da costa da Síria e da Palestina, tais como Ugarite, Tiro, Sidom, M egido e Ascalom, embora as evidências da presença deles nessas áreas sejam circunstanciais. Suas bata­lhas com o faraó egípcio Ramsés III foram representa­das nas famosas pinturas de parede em M edinet Habu. Essa convulsão social e política internacional também se reflete no épico de Homero sobre o cerco de Tróia. Vindo de Creta, da Grécia e da Anatólia, é provável que esses povos tenham usado Chipre como uma base para seus ataques. Após terem sido im pedidos de entrar no Egito, a tribo que passou a ser conhecida como filisteus estabeleceu-se na costa sul da Palestina, onde fundaram cinco capitais: Ascalom, Asdode, Ecrom (Tell Miqne), Gate (Tell es-Safi) e Gaza. Eles haviam devastado o território israelita na batalha em que a arca foi tomada (1 Sm 4) e agirão assim novamente na batalha em que Saul e seus filhos serão mortos (1 Sm 31). Durante seu reinado, Saul enfrentou constantes conflitos com os filisteus por tentar expulsá-los da ter­ra e prevenir novas incursões no futuro.17.1. localização do acampamento filisteu . Socó (mo­derna K h irbet Abbad) era um a cidade no vale de Sefelá, cerca de 22 quilômetros a oeste de Belém, per­to do território filisteu. Pesquisas arqueológicas nesse local encontraram vestígios de cerâmica datada desse período. Azeca (moderna Tell ez-Zakariyeh) era uma fortaleza localizada cerca de cinco quilômetros a noro­este de Socó, que controlava a principal estrada atra­vés do vale de Elá. Escavações arqueológicas feitas no início do século 20 revelaram uma fortaleza retangu­lar com quatro torres datada desse período. Essa re­

gião era de grande importância estratégica tanto para os filisteus como para os israelitas por ser a principal passagem entre a p lanície filistéia e os m ontes da Judéia. A principal estrada que cortava a região da Sefelá ia para o norte, de Láquis até Azeca, m as a cerca de dois quilômetros ao sul de Azeca a estrada seguia para o leste, acompanhando o vau es-Sant que desemboca no vale de Elá. Efes-Damim ainda não foi localizada com segurança, mas provavelm ente esta­ria nessa área.17.2. acam pam ento israelita. O vale de Elá ("Tere­binth") era uma extensa planície de norte a sul, com

uma clareira onde o vau es-Sant começava a se elevar

em direção à região montanhosa de Judá, cerca de três

quilômetros a leste de Socó.

17.4. G ate. Gate tem sido identificada com Tell es- Safi, oito quilôm etros ao sul de Tell M iqne/Ecrom.

Das cinco principais cidades dos filisteus, era a que

ficava mais próxima a Judá. Poucas escavações arque­ológicas foram feitas no local, em bora tenham sido

encontrados vestígios da Idade do Ferro. A cidade se

localizava oito quilômetros a oeste de Azeca, próxima ao vau es-Sant, que desemboca no vale de Elá.

17.4. tam anho de G olias. De acordo com o texto bíbli­co, a altura de Golias era de dois metros e noventa

centím etros. Suspeita-se que ele fosse da mesma li­

nhagem dos enaquins - os gigantes que habitavam Canaã e foram derrotados pelos exércitos de Israel

durante a conquista. Os descendentes de Enaque eram

geralm ente considerados "g igantes", em bora a des­crição "com o gigantes" talvez fosse mais apropriada.

Guerreiros desse tam anho não são meras invenções

da imaginação israelita nem resultam de lendas cria­tivas e elaboradas. A carta egípcia no Papiro Anastasi

I (século treze a.C.) menciona guerreiros selvagens de

Canaã medindo de 2,10 a 2,70 metros de altura. Tam ­bém foram en contrados em T ell es Sa 'id eyeh , na

Transjordânia, dois esqueletos de mulheres do século

doze, com cerca de 2,10 metros de altura.17.5-7. a armadura de G olias. O capacete de Golias

era tipicamente filisteu, adornado com penas, repre­

sentado na arte palestina e egípcia. Sua arm adura ("couraça de escam as") provavelm ente era feita de

bronze, pesando mais de 56 quilos e cobria o corpo

todo, de acordo com o padrão egípcio, bastante difun­dido na época. Uma das melhores descrições encon­

tra-se nos textos de N uzi, onde é citado que um a armadura possuía de 700 a m ais de mil escamas de

diversos tamanhos. As escamas eram costuradas numa

espécie de colete de couro ou tecido com costuras unin­do a frente e as costas (deixando um espaço para a

cabeça) chegando provavelm ente até os joelhos. É

provável que suas caneleiras fossem feitas de bronze moldado em volta da panturrilha e revestidas inter­

nam ente de couro, um m odelo popular na G récia micênica. O dardo provavelm ente era um a espada

pesada, curva e achatada, em que a lâmina cortante ficava do lado externo (ver comentário em Js 8.18). A

lança era parecida com o dardo, com uma ponta de ferro que pesava sete quilos e duzentos gramas. Tal­

vez fosse equipada com uma alça para ser carregada a tiracolo, seguindo o padrão usado na Grécia e no

Egito da mesma época. Embora a maioria das armas fosse de bronze, a ponta da lança era de ferro. O

escudo de Golias era, provavelmente, do tipo verti­cal, logo, maior que o escudo redondo.17.8-10. h eró i de guerra. Em algum as ocasiões, as batalhas eram substituídas por combates individuais, em que os lutadores representavam seu respectivo exército, de m odo que a vontade divina ficasse evi­dente. Podemos encontrar exemplos de combates in­dividuais no Egito, representados nos murais de Beni Hasan (início do segundo milênio) e na Lenda Egípcia de Sinuhe. H á também ilustrações num vaso cananeu da primeira metade do segundo milênio. Num perío­do posterior, casos semelhantes podem ser encontra­dos na Ilíada (Heitor versus Ajax, Paris versus Menelau) e na Apologia Hitita de Hattusilis III. Em um relevo do século dez, encontrado em T ell H alaf, há um a ilustração de dois lutadores agarrados um ao outro e armados com espadas pequenas.17.11. papel do rei. Certamente esse texto quer deixar evidente a incompetência de Saul. O povo havia pe­dido um rei para conduzir seus exércitos nas batalhas, no entanto, em certas ocasiões, era normal que o rei enviasse um herói para a batalha, em vez de ir ele mesmo. Isso era feito com o propósito de oferecer a outros uma oportunidade de demonstrar suas habili­dades. De certa forma, seria semelhante às prelimina­res que antecedem a "luta principal" num a competi­ção de boxe. No épico sumério de Gilgam és e Aka, pode-se observar essa prática, em que o verdadeiro cam peão fica na retaguarda, enquanto um lutador capaz se encarrega do inimigo. Isso também fica evi­dente na Ilíada, onde Pátroclo veste a arm adura de Aquiles a fim de desafiar Heitor. Porém, levando-se em conta o tempo decorrido, Saul deveria estar dis­posto a enfrentar o desafio.17.12. efrateu. Os efrateus provavelmente eram uma subdivisão tribal dos descendentes de Calebe, que habitavam na região de Belém. Belém era uma aldeia situada no clã de Efrata; posteriormente, Efrata pas­sou a ser um sinônimo da aldeia em si.17.12. Belém . Ver o comentário em 16.4.

17.17, 18. suprim ento de alim entos. D avi foi até o acampamento levando um a arroba de grãos tostados (trigo ou cevada), dez pães e dez queijos, o tipo de comida que as pessoas comuns apreciavam. Os grãos geralmente eram usados para fazer pães e parte deles provavelm ente seria transform ada em cerveja. Em textos egípcios, dez pães, uma arroba de cevada e um jarro de cerveja representavam o salário norm al de um dia de trabalho. Os anais assírios descrevem sol­dados que viajavam levando grãos e palha para seus cavalos. Governantes locais na Assíria eram obriga­dos a abrir armazéns de grãos para prover os exérci­tos que estivessem passando pela região. Visto que o

exército israelita estava nas proxim idades das mon­tanhas da Judéia, é provável que a população local tivesse de providenciar suprimentos.

17.18. o que D avi deveria trazer. D avi recebeu a or­dem de ir ver como seus irm ãos estavam e "trazer al­guma garantia". Provavelm ente seria um a espécie de sinal que Davi levaria de volta para confirmar que os suprimentos haviam sido entregues. Seria uma prova de que Jessé cum prira suas obrigações de alimentar o exército e um a form a dos irm ãos de D avi receberem um a p orção do a lim ento . E m acad ian o (lín gu a da M esopotâm ia aparentada com o hebraico), a garantia geralm ente era oferecida através de uma placa de ar­gila enviada por um m ensageiro.17.19. distância entre Belém e Elá. Belém ficava a cer­ca de 24 quilômetros do vale de Elá, um a distância que Davi percorreria em quase um dia de cam inhada.17.25. recom pensa para quem m atasse G olias. Os reis da Antigüidade freqüentemente tinham interes­se em conquistar a lealdade daqueles que haviam realizado proezas m ilitares. Os acordos nupciais no antigo Oriente Próximo muitas vezes representavam alianças políticas ou sociais entre famílias, benefician­do assim am bas as partes. Aqui, a fam ília do herói receberia um importante reconhecimento ao ser liga­da à coroa, ao passo que o rei teria como seu aliado o famoso herói que havia matado Golias. O texto origi­nal não menciona que seriam isentos do pagamento de im postos, mas diz apenas que a casa do pai do herói teria liberdade em Israel. A lguns estudiosos compararam a palavra hebraica com sua cognata aca- diana, que às vezes designava um a categoria social específica. Essa expressão provavelmente seria usada para descrever uma família que se tom ara cliente da coroa, e que retirava seu sustento da distribuição de lotes de terra e suprimentos, o que está implícito em 1 Samuel 22.7. Essa relação de clientelismo aparece inú­meras vezes nos textos de Mari, no Código de Hamu-

rabi e nas Leis de Esnuna, em que indivíduos rece­bem doações de terras da coroa, provavelmente em

troca de serviços prestados ao rei. Porém o m ais pro­vável é que esteja relacionad a a um outro term o

ugarítico referindo-se a uma recompensa por atos de bravura. Nesse caso a pessoa ficava isenta de prestar serviços obrigatórios no palácio.17.36. leões e ursos nos arredores de Belém . Escava­ções arqueológicas recentes descobriram que tanto le­ões como ursos eram animais encontrados facilmente na Palestina, durante a Idade do Ferro (início do pri­meiro milênio a.C.). Os ursos habitavam as florestas, na região montanhosa central, onde cavernas e bos­ques garantiam seu habitat; esse local, coberto por densas florestas, era tam bém ideal para os leões.

Em bora não tenha sido com provada a presença de leões nessa região durante a Idade M oderna, os ursos sobreviveram no local até o século passado. Na Anti­güidade, foram encontradas evidências da presença de leões na Grécia, na Turquia (Anatólia), no Oriente Próxim o, no Irã e na índia, bem como de um a varie­dade síria do urso marrom comum.17.37. expectativa da intervenção divina. O conceito de que Deus lutava junto com os exércitos nas bata­lhas era uma temática comum no antigo Oriente Pró­ximo. Tanto no Egito como na Mesopotâmia, as vitóri­as eram atribuídas às divindades. De fato, a batalha era iniciada pela própria divindade, que então passa­va a lutar ao lado do m onarca (ver o comentário em4.3-7). No Egito, cada regim ento recebia o nome de um deus, sob cuja proteção os soldados lutavam. Em Canaã, o guerreiro divino era identificado como aquele que devastava a natureza. Porém , essas sociedades reconheciam que os deuses também podiam partici­par das batalhas através de indivíduos que haviam sido comissionados a agir durante as batalhas de acor­do com as ordens da divindade. Esse aspecto se evi­dencia claramente na literatura grega da época, como na Ilíada, em que os diversos deuses auxiliam e prote­gem seus preferidos.17.38,39 . a armadura de Saul. Foi comprovado o uso de arm aduras (escudos, capacetes, couraças e cane­leiras) no Egito e na Mesopotâmia já no início do ter­ceiro milênio a.C.. Em bora sejam raras as descobertas arqueológicas, ilustrações antigas retratam soldados usando pesadas armaduras (por exemplo, nos relevos da cidade suméria de Lagash e nos murais de Hiera- conópolis, no Egito pré-dinástico). O palácio do rei assírio Senaqueribe (sétimo século a.C.) exibe inúm e­ros relevos de parede retratando o vestuário e as táti­cas m ilitares assírias. A armadura do rei, do mesmo modo que suas vestes, era bastante distintiva, permi­tindo sua identificação. Se Davi tivesse usado a arma­dura do rei para ir lutar, m uitos teriam achado que se tratava do próprio rei. Talvez essa confusão quanto à identificação do guerreiro que iria lutar com os filisteus interessasse a Saul, pois ele havia sido escolhido pelos israelitas para liderá-los nas batalhas. Na Ilíada, uma troca semelhante ocorre quando Pátroclo vai lutar ves­tido com a arm adura de Aquiles, esperando com isso intim idar os troianos. A recusa de D avi em usar a armadura e as armas de Saul demonstra seu reconhe­

cimento de que sem treinamento para saber usá-las, em vez de ajudá-lo, elas iriam prejudicá-lo.17.40. atiradeira. A pesar de ser descrita como uma arm a usada pelos pastores, a atiradeira tam bém era útil nas batalhas e Golias conhecia bem seu potencial letal. Os atiradores assírios figuram nas paredes do

palácio de Senaqueribe, em N ínive. No texto de sabe­

doria babilónica intitulado Ludul Bei Nemeqi o sofre­

dor relata sua libertação através de um a série de me­

táforas, e em uma delas afirma que M arduque tomou a atiradeira do inimigo e atirou longe a pedra. Seixos

assírios para atiradeiras, do tamanho de um punho (de cinco a oito cm de diâmetro) foram encontrados

em Láquis, um a cidade fortificada da Judéia, tendo sido provavelm ente usados no bem -sucedido cerco

assírio de Láquis, em 701 a.C. (possivelm ente tam ­

bém pelos babilônios no cerco de Láquis, em 587

a.C.). Os benjamitas eram conhecidos por sua destre­

za e precisão como atiradores (Jz 20.16) e estima-se que um atirador habilidoso era capaz de arremessar

as pedras a uma velocidade superior a 160 quilôme­tros por hora. O alcance efetivo provavelm ente não

excederia os cem metros. As pedras eram colocadas

em um a pequena bolsa de couro presa nas pontas com tiras cruzadas. A atiradeira era girada sobre a

cabeça até a pessoa soltar uma das pontas.

17.43-47. insultos antes das batalhas. Os insultos e imprecações de Golias contra Davi e seu Deus refle­

tem uma retórica comum nesse tipo de confronto, en­

contrada em todo o O riente Próxim o e no leste do

M editerrâneo. Essas bravatas ofensivas tinham o ob­jetivo de desm oralizar e intim idar o oponente. As

im precações não eram interpretadas como simples

palavras, pois se presum ia que tivessem o respaldo da divindade. Quando os assírios ameaçaram invadir

Jerusalém , em 701 a.C., os representantes de Sena­queribe pararam diante dos portões da cidade para

enaltecer a grandeza dos deuses da A ssíria e ridicula­

rizar o Deus de Judá, afirm ando ser Ele incapaz de

defender sua cidade (2 Rs 18.17-36). No Épico de Gil- gam és, o guardião da floresta de cedros, Huwawa, diz a Gilgam és que ele deveria ter dado sua carne

para servir de alimento às aves de rapina e aos ani­

mais carniceiros.

17.43. nom es dos deuses de G olias. Embora os nomes dos deuses de Golias não sejam citados, um a das prin­cipais divindades dos filisteus mencionada na Bíblia é

Dagom, o protetor de muitos povos semitas ociden­

tais, desde a região do médio Eufrates até a costa do

Mediterrâneo. Tem plos a Dagom foram encontrados nas cidades filistéias de Gaza e Asdode. Os filisteus também adoravam Baal-Zebu, cujo templo foi encon­

trado em Ecrom , e a deusa Astarote, que tinha um tem plo em Bete-Seã (1 Sm 31.8-13). A arqueologia

também revelou que os filisteus tinham conexões com o Egeu no aspecto cultual e na arquitetura. Represen­

tações esquemáticas de divindades femininas seme­lhantes às encontradas no Egeu, assim como vasos de

ap arê n cia eg éia fo ra m tam b ém en co n tra d a s em Asdode, Ecrom e Tell Qasile.17.45-47. D avi gloria-se em Yahw eh. A declaração feita por D avi seria reconhecida no am plo sistem a teológico do mundo antigo. Há dois conceitos em ques­tão aqui. O primeiro é que o guerreiro m ais forte e m ais bem equipado seria o m ais eficaz para lutar pelos deuses. Essa seria a base para a suposta supe­rioridade de Golias. D avi simplesmente segue o ra­ciocínio lógico para esse desfecho inevitável e chega ao segundo conceito. Se os deuses, de fato, estavam

lutando entre si, usando as pessoas como seus repre­sentantes, então força física ou arm as seriam irrele­vantes para o resultado final. Portanto, Y ahw eh é descrito como Senhor dos Exércitos, parafraseado na expressão militar como "o Deus dos exércitos de Isra­el" e Davi gloria-se no poder de Yahweh, não no seu. Essa declaração por si só talvez fosse suficiente para m inar a confiança de Golias. Sem elhantem ente, na Ilíada, Heitor reconhece a superioridade de Aquiles, mas sugere que os deuses talvez estivessem do lado dele, permitindo que ele matasse Aquiles. Em outro exemplo, quando Heitor e Ajax se enfrentam numa luta e term inam em patados, H eitor sugere que eles façam uma trégua até o dia seguinte, quando os deu­ses decidiriam quem seria o vencedor.17.49. o arrem esso de D avi. O texto não inform a a distância que havia entre Davi e Golias quando Davi usou a atiradeira. A pedra arrem essad a por um a

atiradeira pode desferir um golpe fatal, mas somente quando atinge algumas áreas vitais da cabeça (que, no caso, estava protegida). O arremesso de Davi teve como alvo uma dessas partes vulneráveis que, se atin­gida, deixaria o oponente inconsciente. Isso lhe per­m itiria aproxim ar-se de G olias e tom ar sua espada, m atando com ela sua vítima inconsciente (apesar de a NVI dar a entender que Golias foi morto com o golpe da pedra).17.51. cortar a cabeça do inim igo. M atar o inimigo com sua própria arma não era um feito sem preceden­tes. De m odo sem elhante, Benaia tom ou a lança de um egípcio de suas mãos e matou-o (2 Sm 23.30). Na literatura egípcia, Sinuhe matou um soldado de Retenu com sua própria arma. É possível que a cabeça de Golias fosse uma espécie de troféu para ser exposto pu blicam en te. H á um re la to de que o re i assírio Assurbanipal teria jantado com a rainha no jardim do palácio, estando a cabeça do rei de Elão exposta numa

árvore ali perto.17.52. G ate, Ecrom e Saaraim . Ecrom , assim como Gate, era um a das cinco principais cidades filistéias, situada cerca de oito quilôm etros ao norte de Gate. Saaraim era uma cidade (e também o nome de uma

estrada) perto de Socó e Azeca (ver Js 15.36) e talvez seja a localidade moderna de Khirbit esh-Sharia que fica um quilômetro e meio a nordeste de Azeca. Logo, Saaraim ficava cerca de dez quilôm etros a leste de Gate e onze quilômetros a sudeste de Ecrom. A estra­da de Saaraim seguia em direção oeste por onde se chegava a Gate ou a Ecrom.17.58. inform ações extrabíblicas sobre D avi. Não háreferência a Davi, por si só, em nenhum a inscrição antiga israelita, nem em fontes fora de Israel ou pela evidência de qualquer m aterial contem porâneo en­contrado em Jerusalém. Porém, um fragmento de uma inscrição em aramaico, do século nono a.C., encontra­da em Tel Dan contém a expressão "C asa de D avi", indicando a casa real do reino de Judá, sucessor do reino unido de Israel. Desta forma, existem evidênci­as extrabíblicas vindas de um Estado inimigo, de que Judá acreditava que sua dinastia descendia de um certo Davi, que ao que tudo indica, seria o famoso Davi da Bíblia.

18.1-30Davi na família e na corte de Saul18.4. o presente de Jônatas a D avi. A palavra usada para descrever o manto que Jônatas deu a Davi geral­m ente se refere a um a veste real. Textos ugaríticos m encionam uma veste especial usada pelo príncipe. Se em Israel também existisse esse costume, Jônatas estaria renunciando ao seu direito ao trono quando entregou seu m anto a Davi. Jônatas tam bém deu a Davi sua túnica, sua espada, seu arco e seu cinturão. A espada israelita era levada em um a bainha que

ficava am arrada num cinto. O arco provavelm ente era feito de chifre e tendões de animal ligados com tiras de madeira. Os presentes de Jônatas a Davi po­dem muito bem representar sua disposição em abrir mão do trono, transferindo sua reconhecida posição de herdeiro ao trono de Israel para Davi. Dessa for­ma, ele estava expressando sua lealdade e, possivel­mente, sua submissão a Davi.18.5. cargo ocupado por D avi. O grupo de homens armados que Davi comandava era um exército cons­tituído por soldados profissionais. É provável que não fosse um posto de campanha, mas um a função adm i­nistrativa (uma espécie de "m inistro do exército"). Essa função é contrastante com o posto dado a Davi em 1 Samuel 18.13, que sugere um comando militar ativo.18.6. 7. comparação entre Sau l e Davi. A afirmação de que Saul "m atou m ilhares" e Davi "d ezenas de m ilhares" reflete um a fórm ula padrão de expressar núm eros elevados em versos poéticos. Esse mesmo padrão pode ser encontrado no Salmo 91.7 ("m il po­

derão cair ao seu lado, dez m il à sua direita") demons­trando a proteção de Deus e até mesmo na poesia de

Ugarite, em que o deus artesão Kothar-w a-H asis é descrito trabalhando a prata aos milhares e o ouro às dezenas de milhares. A intenção dessas palavras é

expressar um núm ero elevado, e não estabelecer uma comparação. Em alguns casos, a honra era concedida

ao último a ser mencionado, mas Saul pode ter ficado irado simplesmente porque Davi foi mencionado em

pé de igualdade com ele, o que o colocava no mesmo nível do rei.

18.10. harpa. Ver os comentários em 10.5 e 16.16.

18.10. lança. O texto parece indicar que a lança de Saul era um símbolo de seu reinado, como uma espé­

cie de cetro (ver tam bém 22.6; 26.7). Saul estava sen­tado com a lança nas mãos à frente de suas tropas em

22.6, de um modo bastante semelhante às ilustrações artísticas do faraó com seu cetro . O s reis assírios

freqüentemente eram ilustrados segurando uma arma

nas mãos, que algumas vezes podia ser uma lança. A

lança não era arremessada como se arremessam dar­dos, mas era usada pela infantaria para dar um golpe

no inimigo. Na Ilíada, porém, há descrições de pode­

rosos guerreiros atirando com grande habilidade pe­sadas lanças e atingindo seus oponentes.

18.13. o cargo de D avi. O texto menciona que Davi

recebeu o comando de uma tropa de "m il soldados", m as é provável que o term o esteja se referin do à

divisão m ilitar enviada por um clã, em que o número

dos homens era variável, dependendo do tamanho do clã. Posteriormente, essas companhias foram pa­

dronizadas como tendo mil homens, mas é possível

que algumas tivessem um núm ero reduzido de ho­

mens (como dez) em cada divisão. Aparentemente, o exército de Israel era formado por esses "clãs" (Nm 31.5; Js 22.21, 30; Jz 5.8), e só mais tarde foi dividido

em batalhões de "cem " (1 Sm 22.7) ou m esm o cin­

qüenta (ver o comentário em 1 Sm 8.12). Davi agora

está sendo colocado no comando efetivo das campa­nhas m ilitares.

18.17. casar-se com a filh a do rei. Casar-se com a filha

mais velha do rei daria a Davi o título de "genro do

re i", elevando imensamente seu status. Em algumas

sociedades isso seria considerado um tram polim para o trono, mas não há evidências dessa prática em Isra­

el. Davi reconheceu que sua fam ília não pertencia à m esm a posição social de Saul. Porém , Saul estava

ansioso em conquistar a lealdade e o apoio de um guerreiro notável como Davi (ver o com entário em

17.25). Por isso, a posição inferior de Davi não foi

considerada um obstáculo para ele ingressar na famí­

lia de Saul através do casamento com sua filha.

18.25. preço da noiva. O preço da noiva era um a so­ma de dinheiro paga pelo noivo aos pais da moça (ver os comentários em G n 29.21-24; Êx 22.16,17 ; D t 22.23, 25; 22.29), servindo m uitas vezes com o um a reserva p ara p rover o sustento da m ulher, caso o m arido a abandonasse ou morresse. Essa providência não seria necessária para alguém da fam ília real, m as o valor do preço da noiva deveria refletir sua posição social. D avi não teria condições financeiras de ingressar na fam ília real através do casam ento , porém , o preço parece ter sido estabelecido pelo pai (ver G n 34.12) e Saul atrelou o preço da noiva às façanhas m ilitares do futuro m arido e não a seus recursos financeiros. No antigo O riente Próxim o, m uitas vezes o cálcu lo das baixas num a batalha era feito através da am putação de algu m a parte do corpo, em geral as m ãos (ver o comentário em Jz 8.6) ou a cabeça (2 Rs 10.6-8 e o cos­tum e do rei assírio Sargon II de am ontoar as cabeças dos in im ig o s m ortos). O p ed id o de Sau l p ara que Davi trouxesse cem prepúcios provaria que as vítimas eram de fato filisteus, visto que m uitos outros povos vizinhos de Israel praticavam a circuncisão.

19.1-24Saul procura matar Davi19.13. íd olo do clã . O term o usado em hebraico é terafim e refere-se ao ídolo (ou ídolos) do clã que apa­rentemente teria um papel nas adivinhações (Ez 21.21; Zc 10.2) e estava associado à sorte e prosperidade da família. Esses ídolos eranvexplicitamente condenados pelos autores bíblicos (Êx 15.23; 2 Rs 23.24). O narrador de Gênesis 31 refere-se aos deuses de Labão como terafins. O fato de Raquel ter conseguido escondê-los debaixo de sua sela (Gn 31.19) dá idéia de seu tama­nho reduzido, embora nesta passagem o ídolo de Mical e D avi pareça ter o tamanho e a form a de um homem. M uitas estatuetas desse tipo foram encontradas na Mesopotâmia e na região Sírio-Palestina. Elas faziam parte da religião local ou popular e não estavam asso­ciadas aos templos ou *cultos nacionais das divinda­des mais importantes. Estudos recentes sugeriram que seriam estatuetas dos ancestrais, m as outros acredi­tam que estejam relacionadas, de m odo geral, à di­vindade protetora da família.19.18. Ramá. Em sua busca por segurança, D avi mu­dou-se para Ramá, a cidade natal de Samuel, apenas três quilômetros a leste de Gibeá/ Geba.19.18-24. Naiote. O termo Naiote é associado a Ramá e é citado apenas aqui. Provavelmente não se trata de nome próprio, e sim de um a palavra para designar, em termos gerais, um acampamento. Nos textos de M ari a palavra acadiana relacionada a esse term o hebraico é usada para descrever os acampamentos de

comunidades nômades de pastores nos arredores das cidades. É possível que os grupos proféticos israelitas tenham ocupado residências de pastores ou simples­mente tenham montado um acampamento semelhan­te fora de Ramá.19.20. transe profético. N essa época, a profissão de profeta (ou vidente) podia ser aprendida em Israel, existindo ainda as associações de profetas, geralmente identificados como "filhos dos profetas". Esses profe­tas faziam uso de diversos procedimentos a fim de se

prepararem para receber os oráculos proféticos. A música tinha um papel importante na indução a um estado de transe (êxtase), e era vista como preparação para que a pessoa se tom asse m ais receptiva à m ensa­gem divina. Os textos de M ari relatam o caso de um grupo de funcionários do templo que entrava em transe e freqüentem ente recebia m ensagens proféticas. Na M esopotâm ia, o êxtase profético ou proveniente de alguém "possuído" ou em estado de transe era reali­zada pelo muhhu. Em Israel, esse fenôm eno muitas vezes fazia com que os profetas fossem considerados loucos (ver, por exemplo, 19.19-24; Jr 29.26). Aqui, o transe não resultou na transmissão de m ensagens pro­féticas vindas do Senhor, mas apenas serviu para de­monstrar o poder de D eus sobre os m ensageiros. Nes­se aspecto, poderia ser comparado às línguas de fogo enviadas sobre os discípulos no cenáculo, em Atos 2.19.22. cisterna em Seco. A palavra Seco indica uma região descam pada e não deve ser entendida como nome próprio, visto que está acompanhada de artigo definido (o que não é comum para nomes próprios). Provavelm ente esteja se referindo a m ais de m eia dúzia de poços ou fontes ao longo da estrada de três quilôm etros entre Gibeá e Ramá.19.24. a "n u d ez" de Saul. A té Saul foi "contagiado" pelo Espírito de Deus e entrou em transe (uma expe­riência de êxtase), despindo-se de suas roupas. Esse, porém, é apenas um dos casos em que Saul é domina­do pelo Espírito (cf. 10.10; 11.6; 16.14). O termo "d es­pido" pode indicar a remoção das vestes de cima, não um a total nudez, e provavelmente foi o que aconte­ceu aqui. Saul não apenas envergonhou a si mesmo diante de Sam uel, como tam bém se despiu de suas insígnias reais, confirmando sua rejeição como rei.

20.1-42Jônatas ajuda Davi20.5. festa da Lua nova. De acordo com o calendário lunar, o prim eiro dia do m ês no antigo Israel era

marcado pelo início da fase da "lua nova" (a cada 29 ou 30 dias). Era um dia de celebração e com o no sábado, todo trabalho cessava (ver Am 8.5) e sacrifí­cios eram oferecidos (Nm 28.11-15). No período da

m onarquia o rei tornou-se um a figura proeminente nessas celebrações (ver Ez 45.17), o que pode explicar a importância política do banquete de Saul. Essa data continuou a ser festejada no período pós-exílico (Ed 3.5; N e 10.33). As festas de Lua nova também eram comemoradas na M esopotâmia desde o final do tercei­ro milénio até o período neobabilônico, na metade do prim eiro m ilênio a.C..20-6. sacrifício anual da fam ília. A tradição familiar de oferecer um sacrifício anual pode ser vista na fam í­lia de Ana e Elcana (ver o comentário em 1.3). Esse sacrifício era diferente das festas agrícolas e das pere­grinações (2 Cr 8.13). N a época de Davi isso implicava n a reunião da fam ília no local do clã, no caso em Belém. Por ser considerada uma obrigação de lealda­de familiar, o sacrifício anual poderia facilmente ser­vir como uma justificativa válida para a ausência de Davi no jantar de celebração m ensal da Lua nova.20.26. im pureza cerim onial. Saul considerou que a ausência de Davi poderia ter sido motivada por im­pureza ritual. Ninguém podia participar de celebra­ções religiosas, como a festa da Lua nova, se estivesse em estado de im pureza. Essa condição poderia ser provocada por vários fatores: contato com mortos ou com doentes ou contato com objetos impuros (em re­lação às leis de impureza e aos métodos para purifica­ção ritual, ver Lv 11-15). Os principais meios de puri­ficação incluíam lavar-se, m anter um tempo de res­guardo, oferecer sacrifícios e ser examinado por um sacerdote.

21.1-9 A fuga de Davi para Nobe21.1. N obe. Em bora a localização exata de Nobe seja desconhecida, supõe-se que ficaria ao norte da cidade de Jerusalém. As possíveis localizações incluem Ras el-Mesharif, na encosta do monte Scopus e Q u'm eh (ver Is 10.32). Na época de Davi, Nobe era o local de

um santuário, servido pelos descendentes de Arão. É provável que o santuário tenha sido rem ovido de Siló, após a m orte de Eli e de seus filhos (ver 1 Sm 4.10-22).

21.4-6. pão consagrado. A cada sábado, doze pães frescos eram colocados na m esa da Presença para sim­bolizar as doze tribos de Israel (ver Êx 25.23-30). Os pães que haviam sido substituídos eram consumidos pelos sacerdotes (ver Lv 24.5-9). Aqui, devido à n e­cessidade de alimentos e diante da garantia de Davi de que seus hom ens estavam ritu alm en te puros, Aim eleque permitiu a alteração dessa prática.21.5. pureza dos hom ens. Visto que o "pão consagra­do" era reservado para consumo dos sacerdotes, Davi teve de jurar que seus hom ens estavam ritualm ente

puros antes que os sacerdotes lhes dessem os pães. Relações sexuais ou contato com mulheres menstrua­das eram algumas das maneiras de um homem tor­nar-se "im puro" (Lv 15.32, 33).21.7. chefe dos pastores. Doegue, o edomita, prova­velmente era um mercenário a serviço de Saul. Mui­tas traduções perm item um a pequena correção, tra­duzindo o termo por "m ensageiro". Isso se encaixaria bem com sua função de m ensageiro real ou espião, cu ja tarefa era levar instruções por todo o reino e apresentar relatórios sobre algum acontecimento fora do comum , como essa visita de Davi a Nobe. Uma

função semelhante dos mensageiros reais encontra-se nos textos de Mari. Não obstante, chefe dos pastores era um a designação adm inistrativa com um usada, por exemplo, no título do escriba que copiou o mito ugarítico de Baal e Mot.21.7. razão da presença de D oegue. O texto fala que D oegue estava em Nobe "cum prindo seus deveres diante do Senhor". É possível que ele estivesse espe­rando a resposta de alguma questão enviada pelo rei ou um oráculo pessoal. No caso dele ser um mensa­geiro, a prim eira alternativa seria a m ais provável, mas se for um pastor, poderia estar levando animais para serem usados no sacrifício ou prestando contas de suas atividades aos oficiais de Nobe.21.9. atrás do colete sacerdotal. O colete sacerdotal, de acordo com Êxodo 28.6-14, era um a veste usada pelo sumo sacerdote. No antigo Oriente Próximo, o colete era um a das vestes usadas para cobrir a ima­

gem da divindade. V isto que nenhum a im agem é m encionada aqui, é provável que estivesse pendura­do em algum tipo de cabide (uma explicação plausí­vel também para o colete de Gideão, em Jz 8.24-27). Com a arca ainda estava fora, o colete talvez tenha se tom ado a relíquia mais sagrada do santuário. Os ob­

jetos importantes que haviam sido apreendidos, como a espada de Golias, também seriam mantidos no san­tuário (assim como a arca fora colocada no templo de Dagom; ver o comentário em 5.2).

21.10-15 Davi e Aquis21.10. A qu is. N ão há nenhum a m enção a esse rei Aquis em fontes extrabíblicas, m as o nom e Aquis é confirmado como um rei filisteu de um período poste­rior. Registros assírios do sétimo século alistam Ikausu, filho de Padi, como rei de Ecrom. Ikausu é o mesmo que Aquis, filho de Padi, mencionado num a inscrição desse período encontrada em Ecrom (Tell Miqne).

21.10. por que D avi iria para G ate? Embora estivesse localizada a mais de trinta quilômetros de Nobe, den­

tre as principais cidades filistéias, G ate era a que fica­

va mais próxim a a Judá. É bastante provável que a

intenção de D avi fosse oferecer seus serviços aos filisteus como mercenário. Era de se esperar que eles

recebessem bem um guerreiro com a reputação de

Davi e tratassem de aproveitar a oportunidade de ter um famoso m ilitar lutando ao lado deles, e não contra

eles. Além do mais, a lealdade de Davi poderia even­

tualm ente lhes dar a chance de realizar um ataque contra Saul e derrubá-lo do trono de Israel, colocando

D avi no lugar com o testa-de-ferro. Tudo isso teria

corraborado para que os filisteus recebessem Davi de

braços abertos, mas havia outros fatores que ele não havia previsto.

21.11. canção. A fam a de Davi como poderoso guer­

reiro e inimigo dos filisteus é lem brada pelos conse­lheiros de Aquis, mencionando a canção citada pela

prim eira vez em 1 Sam uel 18.7 para alertar seu se­nhor a não confiar em Davi. A canção de exaltação a

Davi assumira um caráter de hino nacional e o fato de

ser lembrada pelos conselheiros neutralizou qualquer possibilidade de Davi ser bem recebido pelos filisteus.

21.13-15. loucura fingida. Davi era esperto o suficien­te para perceber que sua posição de guerreiro inimi­

go fazia com que os filisteus o vissem de forma nega­

tiva e os im pedisse de enxergar seu potencial como

mercenário, aliado e governante testa-de-ferro. Ape­sar de a fam a de Davi ser notória, é bem provável

que apenas alguns filisteus fossem capazes de iden­tificá-lo. Ao fingir-se de louco, ele colocou em dúvida

sua identidade, pois agora ele é apenas um louco

afirmando ser outra pessoa. N o antigo Oriente Próxi­

mo, a loucura muitas vezes era vista como sinal de possessão divina. Um a evidência disso é que a pala­

vra hebraica usada aqui para descrever as atitudes de

Davi, shaga', aparece tam bém em 2 Reis 9.11, Oséias 9.7 e Jeremias 29.26 para descrever o estado de êxtase

ou transe (ou "loucura") dos profetas. As pessoas nes­

sa condição não eram bem-aceitas, embora isso fosse visto como sinal da presença dos deuses sobre elas ou

como seus mensageiros. Sempre que possível, as pes­soas nessas condições eram excluídas do convívio so­

cial, mas não poderiam ser mortas. Davi certamente estava contando com isso ao agir assim.

22.1-5Davi reúne um bando22.1. caverna de Adulão. Esse lugar na Sefelá (possi­velmente Tell esh-Sheikh M adhkur, oito quilômetros

a sudeste de Gate) serviu como ponto de encontro e refúgio para Davi e seus homens durante o período

em que esteve foragido (ver em 2 Sm 23.13 a relação desse lugar com as façanhas de D avi e seus trinta

"hom ens valentes"). Parece ser uma espécie de "terra

de ninguém " entre os territórios filisteu e israelita.22.1, 2. o bando de D avi. Assim como outros dissi­

dentes políticos e sociais antes dele (ver sobre o bando de aventureiros de Jefté em Jz 11.3), Davi reuniu um

grupo de quatrocentos homens durante o período em

que foi perseguido por Saul. Esse grupo incluía al­guns familiares (visto que de outro modo, provavel­

mente teriam sido presos ou mortos por Saul, devido

à sua relação com Davi), m as é bem provável que a maior parte do bando fosse formada por marginaliza­

dos (conhecidos na literatura do antigo Oriente Próxi­

mo com o hàbiru), m ercenários e hom ens que viam

uma oportunidade de derrubar Saul do poder. O ran­cor e o descontentamento dessas pessoas fez com que

elegessem Davi como seu herói.

22.3. M isp á em M oabe. A localização exata dessa Mispá ("torre de vigia") é desconhecida. Talvez fosse

a cidade real moabita ou pelo menos uma fortaleza.

Dentre as localidades sugeridas estão Kerak e Rujm el-M eshrefeh, na Jordânia.

22.3. 4. por que D avi refugiou-se em M oabe? Talvez

por causa de sua linhagem moabita (através de Rute),

D avi sentiu que poderia reivindicar seus laços de parentesco e assim deixar seus pais num lugar segu­

ro, sob a proteção do rei de Moabe (ver Rt 4.17-22).

Também é possível que Davi estivesse contando com

a inim izade entre Moabe e Saul (ver 1 Sm 14.47). Um exemplo de fugitivos revolucionários buscando refú­

gio na região de seus ancestrais pode ser visto em

Idrimi, rei de Alalakh (durante o período dos juizes),

que se refugiou com a família de sua mãe em Emar. N o exílio, Idrim i tornou-se líd er de um bando de

hàbiru que, posteriormente o ajudou a reconquistar o trono.

22.4. a fortaleza. E bastante provável que esteja se

referindo à base de operações de D avi, próxim a à

caverna de Adulão (ver 1 Sm 22.1). Alguns estudiosos têm sugerido que seja uma referência a Massada.

22.5. Gade. Esta é a primeira vez que esse profeta ou vidente israelita é mencionado. O conselho que deu a

D avi para que voltasse a Judá e assim enfrentasse Saul deu a ele o respaldo divino necessário para ini­

ciar sua trajetória em direção ao trono. Ver seu envol­vim ento com o censo de Davi em 2 Samuel 24.11-25.22.5. flo resta de H erete. A localização exata dessa

região florestal é desconhecida, em bora é provável

que ficasse em Judá. Sugestões incluem a localidade de Khirbet Khoreisa (aproximadamente dez quilôme­

tros a sudeste de Hebrom) e Kharas, perto de Queila (Khirbet Qila, cerca de dez quilômetros a noroeste de Hebrom).

22.6-23 Execução dos sacerdotes22.6. tam argueira em G ib eá . N ovam ente o gover­nante é descrito conduzindo um julgam ento debaixo de um a árvore (ver Saul anteriormente em 14.2 e o rei ugarítico Danil no épico de Aqhat). Uma tamargueira é um a árvore de galhos finos e folhas ásperas que se adapta bem a ambientes hostis como o deserto. Seria um local excelente para atender ao povo, na região montanhosa perto de Gibeá. Aqui, essa árvore talvez servisse tam bém para m arcar um lugar sagrado de culto (ver a tamareira de Débora, onde ela se assenta­va para ju lgar as questões do povo, em Jz 4.5).22.7. prerrogativas dos o ficia is . Um a das maneiras do governante, rei ou líder m ilitar m anter a lealda­de e o apoio de seus comandantes militares era atra­vés de doações de terra (feudos) e de concessões para fazer colheitas e arar a terra (ver 8.12-15). As leis de Hamurabi, assim como os textos de M ari, descrevem os direitos dos senhores feudais e suas obrigações para com o governo. Aqui, Saul está relembrando aos seus oficiais que os direitos que eles tinham sobre aque­las terras dependiam do favor do rei para com eles, e que se quisessem m antê-las, deveriam perm ane­cer leais a ele. Os oficiais também não deveriam acre­ditar que Davi fosse capaz de cumprir qualquer pro­m essa de doação de terra ou de postos m ilitares a seus seguidores.22.10. consultou o Senhor. Um a das funções do sumo sacerdote no antigo Oriente Próximo era consultar a divindade nas questões que requeriam uma resposta através do oráculo. Textos religiosos assírios e babi­lónicos m encionam o exame das vísceras de animais, a consulta a textos de presságios e o emprego de obje­tos associados à divindade como m eios de adivinhar o futuro. E provável que algo parecido tenha aconte­cido em Nobe, através do Urim e do Tumim (ver Êx 28.30) ou do colete sacerdotal (ver o uso que Abiatar faz do colete em 1 Sm 23.5, 9). O texto bíblico não faz qualquer menção a oráculo em 21.1-9, mas Aimeleque admite ter "consultado a D eus" em favor de Davi em22.15.22.14. a função de D avi. Visto que raramente os reis retribuíam as visitas de estado às capitais de outros reinos, era comum o envio de m ensageiros como emis­sários reais, muitas vezes como representantes ou subs­titutos do rei. Esse papel exigia que exercessem as funções de diplomatas, negociadores e, eventualmen­te, de emissários dos deuses. Como representantes da autoridade e do poder de seu governo, os m ensagei­ros reais geralmente eram bem tratados pelas autori­dades locais, recebendo proteção tanto pessoal como para seus bens. Para defender-se da acusação de ter

prestado auxílio a um traidor da coroa, Aim eleque apresentou algumas qualidades nobres de Davi, in­clusive sua posição como membro da família real ("gen­ro do rei") e capitão da guarda pessoal do rei. Somen­te os homens m ais confiáveis e leais podiam alcançar essas posições (ver 18.27; 2 Sm 23.22,23). Assim, como sinal de cortesia, foi providenciado alimento tanto para Davi como para seus homens. Textos de M ari e de outras cidades da M esopotâmia m encionam alimento, vestes e alguns outros itens sendo oferecidos a emissá­rios reais a fim de satisfazer suas necessidades duran­te as viagens e tam bém como forma de agradar seu senhor.22.16-19. a m atança dos sacerdotes. A ordem de Saul para que m atassem Aim eleque e toda a comunidade sacerdotal em Nobe era um sacrilégio de tal afronta que seus próprios oficiais se recusaram a obedecê-la. Somente Doegue, o mercenário edomita, se dispôs a executar a ordem, que redundou tam bém no massa­cre de toda a população de Nobe. A ordem de Saul era mais um sinal de sua instabilidade e, como ele mes­mo irá descobrir m ais tarde (28.6), impedirá qualquer contato dele com Yahweh. M uitas vezes, os reis eram acusados por seus inim igos políticos de cometerem ofensas contra a divindade. O rei assírio Tukulti- Ninurta acusou Kashtiliash de "crim es contra Shamash" e o rei persa Ciro afirm ou ter sido escolhido por M arduque para punir Nebonido por ele ter falhado em honrar o deus e seus sacerdotes. Aquenaton, o trapaceiro faraó egípcio do século catorze, privou os poderosos sacerdotes do deus Amom-Rá de seus di­reitos e raspou o nome desse deus de todas as inscri­ções. Certamente essa atitude de Saul sexia entendida como um significativo ato de profanação.22.20-23. A biatar. A penas um sacerdote conseguiu escapar do m assacre de Nobe. A biatar, o filho de Aim eleque, fugiu para o acampamento de Davi, le­vando com ele o colete sagrado (23.6). A ssim que Abiatar contou o que Saul havia feito, Davi assumiu a responsabilidade e incluiu o sacerdote em seu grupo. Esse evento é o ponto crucial do episódio, visto que colocou no acampamento de Davi um representante divino, enquanto Saul ficou sem nenhum ponto de contato com Deus. Mais tarde, Abiatar consultaria o colete para D avi (1 Sm 23.9-12) e serviria como símbo­lo visível da presença de D eus nesse bando de foragi­dos. Esse episódio mostra também o cumprimento da profecia concernente à fam ília de Eli (1 Sm 2, 3) da qual fazia parte esse clã sacerdotal.

23.1-29 Perseguição e fuga de Davi23.1. Q ueila. Localizada na parte leste da Sefelá, pertoda fronteira do território filisteu, Queila (Khirbet Qila,

oito quilôm etros ao norte de Hebrom) era alvo fre­qüente de invasores. Também é mencionada nas ta­buletas de El A m am a como a cidade disputada pelos governantes de Jerusalém e Hebrom.23.1-5. filisteus. Um dos povos que habitavam a re­gião de Canaã e inimigos de Israel. Ver o comentário em 4.1.23.9-12. uso oracular do colete. Para detalhes sobre o uso do colete para fins de adivinhação, ver o comentá­rio em Ju izes 8.24-27. A habilidade de A biatar ao fazer consultas oraculares para Davi contrasta clara­mente com a falta de orientação divina de Saul.23.7. cidade murada. Queila é identificada como uma cidade m urada cujos portões podiam ser trancados. Por ser um a importante ligação entre as estradas que atravessavam a Sefelá no sentido norte-sul e a leste até Judá, a cidade era fortificada para proteger-se de ataques. Observe que foram as eiras desprotegidas, localizadas fora dos muros da cidade, que os filisteus atacaram em 23.1. Saul presumiu que Davi estivesse encurralado, cercado pelos muros da cidade, e assim seria mais fácil capturá-lo ali do que em campo aber­to. Ainda não foram feitas escavações no local, portan­to a contribuição da arqueologia para a compreensão do texto bíblico é pequena.23.14. forta lezas do deserto de Z ife . Tell Z ife fica vinte quilômetros a sudeste de Queila e oito quilôme­tros a sudeste de Hebrom. Embora estivesse no terri­tório da tribo de Judá, era um a região de estepe, esparsamente habitada, õ que a tom ava um esconde­rijo ideal para os fugitivos. As fortalezas eram peque­nos postos avançados que serviam como base militar e ponto de encontro para pastores e aldeões que vivi­am na região.23.15-18. Horesa. O termo literalmente significa "bos­que" ou "ponto na m ata" e simplesmente acrescenta um dado para ajudar a localizar a região onde Davi e seus homens estavam escondidos, no deserto da Judéia. Serviu como ponto de referência para o encontro de Davi e Jônatas. Geralmente é identificado com Khirbet Khoreisa, cerca de três quilômetros ao sul de Tell Zife.23.19. Haquilá/Jesimom. A faixa de terra árida para­lela ao m ar Morto, na região leste do deserto da Judéia, era conhecida como Jesim om . Apesar da aridez de seu clima, o terreno acidentado e escarpado da região oferecia muitos esconderijos, como a colina de Haquilá, usada por fugitivos com o D avi (ver um a descrição sem elhante em 26.1, 3).23.24. deserto de M aom , na Arabá. Davi deslocou-se em direção ao sul pelo deserto da Judéia, ao longo do m ar M orto. A rabá é sim plesm ente um term o para designar todo o vale do Jordão e aqui, provavelmen­te, é usado como sinônimo para o deserto da Judéia.

M aom p rov avelm en te pode ser id entificad o com Khirbet M a'in, treze quilômetros ao sul de Hebrom e cerca de sete quilômetros ao sul de Tell Zife.23.29. En-G edi. O oásis de En-Gedi situa-se no cami­nho para o m ar Morto e aproximadamente 56 quilô­metros a sudeste de Jerusalém. Alimentado por uma nascente abundante, esse oásis é um cenário deslum­brante no meio de um deserto árido. Serviu durante m uito tempo como local de adoração, posto m ilitar avançado e centro comercial. Davi escolheu essa área provavelmente pelo grande número de cavernas nas proximidades e pelo suprimento de água abundante. Foram encontradas nessa área evidências de várias fortalezas do período do reino dividido (séculos séti­mo e oitavo), uma delas no oásis, e um a outra no topo de um penhasco, perm itindo avistar a aproximação dos viajantes a quilômetros de distância.

24.1-22 Davi poupa a vida de Saul24.2. roch ed os dos Bod es Selv agen s. O nom e En- Gedi significa "nascente do bode jov em ", portanto esses rochedos provavelmente receberam esse nome por causa da nascente. Essas colinas tam bém eram habitadas por cabritos selvagens, oferecendo mais uma possibilidade para o nom e do lugar. Trata-se, porém, de um a região precária para levar três mil homens num a missão de busca.24.3. Saul entra na caverna para fazer suas necessida­des. Enquanto os currais de ovelhas do lado de fora da caverna permitem supor a presença de possíveis in­formantes sobre o paradeiro de Davi, o fato de Saul ter entrado sozinho na caverna sugere que ele sim ­plesmente planejava fazer ali suas necessidades.24.4. 5. significado da ponta do m anto. Assim como as vestes do sumo sacerdote tinham barras ricamente adornadas (Ex 28.33, 34), o m anto de Saul tam bém tinha um a franja distintiva que o destacava como rei. Talvez a barra fosse tingida com alguma tinta especi­al ou tivesse um bordado exclusivo que simbolizava seu poder e autoridade. U m a barra im pressa num a tabuleta de argila serviu para identificar um profeta nos textos de Mari. N a literatura acadiana, quando um marido se divorciava de sua esposa cortava sim­bolicam ente a barra do vestido dela. Em contextos diplomáticos, cortar a barra do manto simbolizava o rompimento de uma aliança.24.6. o u n gid o do S en h o r. A recu sa de D avi em m atar Saul quando teve oportunidade (ver também26.8-11) baseia-se na posição do rei como "ungido do Senhor". Ele havia recebido essa posição de Deus e somente Deus poderia tirá-la. Praticar um assassinato político seria um precedente m uito ru im para um

candidato ao trono (ver a dimensão desse ato em 1 Rs 15.25-16.27). O direito divino ao trono servia como uma extraordinária política de proteção para o rei, assim como a aura mística de ser o "ungido do Se­nhor". Portanto, o fato de Davi se recusar a agir de­monstra sua lealdade ao desígnio original de Deus de nom ear Saul com o rei e tam bém oferece um argu­mento contra atentados futuros à sua própria vida, depois que assumisse o trono. No antigo Oriente Próxi­mo, o rei era visto como alguém debaixo da proteção da divindade. Esse conceito pode ser notado na bên­ção hitita em que o rei afirm a que o deus da tem ­pestade destruiria qualquer ameaça ao rei.24.14. cão morto. N a literatura acadiana era comum o uso de expressões depreciativas como form a de de­monstrar humildade, e uma delas era comparar-se a um cão morto ou a um cão perdido. Metáforas seme­lhantes são usadas nas cartas de A m am a e Láquis.24.21. juram ento de não elim inar os descendentes de Saul. No antigo Oriente Próximo, o rei que assumia o trono não por direito hereditário mas por outro meio qualquer, costumava executar sumariamente todos os

descendentes do rei anterior a fim de eliminar algu­ma possível am eaça de sedição. Popularm ente, po­rém, considerava-se que esse expediente político de elim inar a linhagem fam iliar estaria prejudicando a vida depois da m orte daqueles membros da família que já estavam mortos (para informações adicionais, ver os comentários em N m 3 .1 2 ,1 3 e Js 8.29).24.22. fortaleza. Ver o comentário em 22.4.

2 5 .1 -4 4

Davi e Abigail25.1. deserto de M aom . Ver o comentário em 23.24.25.2. Carmelo. Essa cidade fica no deserto da Judéia, cerca de treze quilômetros a sudeste de Hebrom e um quilômetro e meio ao norte de Maom. Foi tomada dos amalequitas por Saul (15.12), portanto, não é de estra­nhar que o povo se inclinasse a ser leal a Saul (como fica im plícito na resposta que Nabal dá a D avi nos versículos 10 e 11).

25.3. N abal. Esse nom e significa "o tolo". É pouco provável que um a m ãe escolhesse um nom e como esse para seu filho, o que sugere que N abal foi assim denominado pelos escritores bíblicos, indicando seu papel nessa história. Sua insensatez contrasta total­mente com a sabedoria demonstrada por sua esposa A bigail.25.7. proteção das ovelhas. D avi dá a entender em

sua mensagem a Nabal que seu grupo havia volunta­riam ente protegido as ovelhas do ataque de animais selvagens ou saqueadores (ver v. 15, 16). Agora, na tosquia, um a ocasião festiva em que as ovelhas eram

contadas e os pastores recebiam recompensas, Davi pede algo para seus homens. Contratos entre pastores e proprietários de ovelhas no início do segundo milê­nio eram comuns na Mesopotâmia, na cidade de Larsa. Os pastores geralmente recebiam um a gratificação ou comissão pelas ovelhas e cabritos que fossem levados a salvo de volta ao aprisco no período de tosquia. Os hom ens de D avi estavam reivindicando um a parte desse pagamento, que geralmente incluía lã, produ­tos de laticínio ou grãos. Porém, em vez de atendê- los, Nabal desprezou o pedido que fizeram, insultan­do Davi.

25.18. a lim entos no presente de A bigail. A recom ­pensa de N abal aos seus servos incluía pão, água e carne (25.11), mas Abigail acrescentou ao seu presen­te duzentos pães, duas vasilhas cheias de vinho e cinco ovelhas preparadas, como reconhecim ento ao serviço prestado por Davi e seus homens, protegendo os rebanhos de Nabal. Além desses itens, como sinal de hospitalidade durante um a época festiva, ela tam­bém ofereceu cinco medidas (cinco seás) de grãos tor­rados, cem bolos de uvas passas (de acordo com a versão da Septuaginta) e duzentos bolos de figos pren­sados. Esses últimos eram produtos que podiam ser arm azenados, portanto, seriam bastante adequados para a companhia de Davi.25.23-31. discurso persuasivo no antigo O riente Pró­xim o. Palavras persuasivas, como as que aparecem no discurso de Abigail, eram comuns nos textos de sabedoria. E la sugere a D avi que desconsidere as palavras dos tolos (ver Pv 26.2), adotando um estilo bastante parecido com o de Ptah-Hotep (2450 a.C.) e de Amenemope (sétimo século a.C.) nas "instruções" egípcias e do sábio assírio Ahiqar, do sétimo séculoa.C.. Com o A bigail, eles enaltecem as virtudes da lealdade e as obrigações dos governantes para com seus súditos. Esse últim o aspecto é um elemento es­sencial de um dos m ais famosos discursos persuasivos do antigo Oriente Próximo, os Protestos do Camponês Eloqüente, do período do Médio Império egípcio. 25.39-44. alianças através de casam entos. Textos di­plomáticos do antigo Oriente Próximo contêm contra­tos de casam entos que funcionavam como alianças políticas entre os países. Zimri-Lim, rei de M ari du­rante o século dezoito a.C., foi bem-sucedido ao colo­car suas filhas nos haréns de reinos vizinhos, e ele mesmo casou-se com diversas esposas estrangeiras a fim de aum entar o poder e a estabilid ade do seu reino. Davi, antes de se tom ar rei de Israel, fortaleceu sua posição política e econôm ica através de vários casamentos: com Mical, a filha de Saul, que lhe per­m itiu o acesso à família real; com Abigail, que garantiu a ele firm ar vínculos na região de H ebrom , e com

Ainoã de Jezreel, que lhe possibilitou ligações com as famílias das redondezas de M egido e Bete-Seã. Esses relacionamentos perm itiram que Davi contasse com elementos favoráveis e amigáveis dentro do conselho

de líderes de toda a região.

26.1-25D a v i p o u p a n o v a m e n te a v id a d e S a u l26.1. localidades. Ver os comentários em 23.14 e 23.19.26.8-11. o ungido do Senhor. Ver o comentário em

24.6.26.11. lança e jarro com água. A lança geralmente era usada pelos soldados da linha de frente do pelotão de infantaria, um a posição onde dificilmente se espera­ria encontrar um rei. O fato de Saul ter sem pre uma lança à m ão (ver 18.10; 19.9; 2 Sm 1.6) sugere que poderia ser um símbolo de sua posição, logo, é possí­vel que fosse um a lança cerim onial. É interessante observar também que foi com essa mesma arma que ele tentou matar Davi em ocasiões anteriores. O jarro ou vaso de cerâm ica poderia ser um a pequena vasi­lha arredondada típica desse período, com alças de cada lado da boca, presas por um a tira. Privar um hom em de sua arm a e de sua água naquela região poderia representar uma ameaça à sua vida. Portan­to, Davi estava demonstrando o quanto a vida de Saul estava em suas mãos.26.19. forçad o a adorar outros deuses. Os fugitivos exilados em outro país não tinham o direito de adorar seus próprios deuses nos lugares sagrados da família, sendo obrigados a servir os deuses de outros povos e a adotar a forma de culto das pessoas com quem convi­viam. Esses m esmos sentimentos são expressos na his­tória do exilado Sinuhe, no M édio Im pério do Egito.26.20. perdiz nos m ontes. A caça de perdizes envol­via explorar os cerrados e perseguir as aves até que ficassem exaustas. Essa é uma descrição adequada da maneira como Saul estava perseguindo a Davi. Existe também um jogo de palavras baseado no significado literal da palavra hebraica para perdiz, que é "aquele que se refugia nas m ontanhas" (ver Jr 17.11). Davi emprega essa metáfora para demonstrar sua reprova­ção ao rei Saul.

27.1-12Davi entre os filisteus27.2-12. m ercenário filisteu . O uso de tropas mercená­rias era bastante com um no m undo antigo (ver Jr46.20. 21). Em m uitos casos, esses homens eram fugi­tivos políticos como Davi, e sua lealdade para com quem os contratasse se baseava no ódio que tinham do governante que os exilara (muitos dos tiranos gre­gos do quinto século a.C. uniram-se ao exército persa

após terem sido expulsos de suas posições e assim lutaram contra os gregos na batalha de M arathon). Deste modo, a confiança que Aquis, rei de Gate, de­positava em Davi, devia-se à inimizade entre Davi e Saul, mas era reforçada pela quantidade de despojos que Davi lhe trazia de seus ataques inesperados. Davi aproveitou essa oportunidade para: (1) fugir de Saul,(2) obter riquezas através de invasões e saques, que poderia usar para agradar os líderes de Judá (30.26),(3) aprender as táticas m ilitares e a tecnologia do ferro com os filisteus e (4) elim inar alguns dos inimigos de Israel em suas investidas. O fato de não deixar ne­nhum sobrevivente perm itiu a Davi elim inar todas as testemunhas e assim m anter a confiança de Aquis, até o momento de retom ar a Judá para reinar.27.2, 3. Gate. Embora sua localização exata ainda não tenha sido definida, a tendência atual dos estudiosos é identificá-la com Tell es-Safi, oito quilômetros ao sul de Tell Miqne/Ecrom, no norte da Sefelá. Sua existên­cia pré-filistéia é confirmada nas cartas de El Am am a e está tradicionalm ente ligada a A naquim cananita (ver Js 11.22). Gate era um a das cinco principais cida- des-estado dos filisteus e também a cidade natal de Golias, um guerreiro gigante que liderou uma cam­panha contra Israel (ver Jz 3.3).27.2. A qu is. Esse rei A quis não é m encionado em nenhuma fonte extrabíblica, mas seu nome posterior­mente é confirmado como um nome real filisteu. Re­gistros assírios do sétimo século alistam Ikausu, filho de Padi, como o rei de Ecrom. Ikausu é o mesmo que Aquis, filho de Padi, mencionado num a inscrição do mesmo período encontrada em Ecrom (Tell Miqne).27.6. Ziclague. A localização exata de Ziclague ainda é alvo de controvérsias. V árias localid ades foram sugeridas, m as as duas mais prováveis são Tell esh- Sari'a (na parte noroeste do Neguebe, 24 quilômetros a sudeste de Gaza) e Tell es-Seba' (com freqüência identificada como a antiga Berseba e a cerca de seis quilômetros da cidade moderna; ver comentário em G n 22.19). A polêmica se relaciona aos possíveis inter­valos na ocupação durante a Idade do Ferro (início da monarquia) em Tell esh-Sari'a e na possibilidade de que a localização original de Berseba fosse m ais a oeste de Tell es-Seba'. Embora a história de ocupação de Tell es-Seba' geralmente se encaixe com as infor­mações que temos sobre Ziclague, essa identificação colocaria Ziclague mais de 48 quilômetros ao sul de Gate. Ambas as localidades situam a fortaleza de Davi no Neguebe, de onde ele facilmente poderia articular invasões no Sinai, ao sul, ou em Edom e M idiã, a leste. Elas tam bém ficariam afastadas o suficiente do território filisteus permitindo que Davi agisse sem ser observado.

27.7. nota cronológica. Esse é o último período antes da subida de Davi ao trono, que geralmente é datada por volta de 1010 a.C..

27.8. gesuritas. Esse povo vivia na região a sudeste da Filístia, no norte do Sinai (ver Js 13.2) e não deve ser confundido com os habitantes de Gesur, que ficavam na parte sul de Golã, na região de Basã (Js 13.11). Esse local seria inacessível para as invasões e ataques de Davi. É provável que esses gesuritas do sul fossem aliados dos filisteus e assim fossem alvos adequados para as expedições de Davi no Neguebe.27.8. gersitas. Os gersitas aparecem apenas nesta pas­sagem e não são m encionados em nenhum a outra fonte fora da Bíblia. Algum as versões identificam o povo m encionado aqui como os gezireus. A cidade de G ezer ficava entre dezesseis e vinte quilôm etros a nordeste de Gate. Seria um a área improvável para as invasões de Davi, se Ziclague de fato estivesse situa­da de 40 a 48 quilômetros ao sul de Gate.27.8. am aleq u itas. V er os com entários em D eute- ronômio 25.17-19.27.8. Sur. O deserto de Sur fica no norte do Sinai entre

Canaã e a fronteira norte do Egito (ver o comentário em Ex 15.22). Tribos de pastores nômades, tais como os gesuritas e os amalequitas, tradicionalm ente habi­taram nessa região e usaram o ambiente árido como m eio de defesa.27.10. Jeram eel. A resposta ambígua de Davi à per­gunta de Aquis sobre suas invasões sugere que ele estava saqueando aldeias em Judá. Os jeram eelitas eram um clã de Ju d á que ficava na área ao sul de Berseba (ver 30.29).

27.10. q u en eu s. V er os com entários em N úm eros24.21, 22.

28.1-25Saul e a médium de En-Dor28.2. D avi como chefe da guarda pessoal. Assim como servira a Saul (22.14), Davi agora é nomeado chefe da guarda pessoal do rei Aquis. Isso o coloca num a situ­ação difícil, visto que nessa posição era quase certo que ele teria de participar da batalha contra Saul.28.3. m édiuns e esp iritualistas. Para m ais informa­ções sobre os procedimentos de adivinhação, ver os comentários em Deuteronômio 18. Os praticantes de espiritismo e feitiçaria são condenados por causa de sua associação com a religião cananéia e porque sua "arte" era uma forma de enganar e tirar vantagem de Yahw eh, tentando obter conhecim ento e poder dos espíritos. Eles representavam um a espécie de "reli­gião popular". Nesse caso, os indivíduos banidos par­ticipavam de um a form a de adivinhação através de buracos rituais de onde se acreditava que os espíritos

de ancestrais podiam ser despertados para revelar o futuro aos vivos.28.3. m édiuns expulsos do país. A decisão de Saul de expulsar os médiuns e espiritualistas de seu reino era louvável, por causa da associação que eles tinham com as práticas de adoração cananéia, que incluía a consulta aos espíritos dos ancestrais como forma de conhecer o futuro. A superstição e a atração exercida pelo ocultismo faziam com que pessoas assim fossem tem idas e, m uitas vezes consideradas indesejáveis. Quase um milênio antes, o rei Gudea de Lagás tam­bém havia expulsado os m édiuns de seu reinado,

portanto, essa atitude não está relacionada exclusiva­mente ao monoteísmo. N este contexto, a expulsão or­denada por Saul é apresentada paralelamente à mor­te de Sam uel a fim de demonstrar que ele não tinha nenhum recurso à sua disposição, legítimo ou ilegíti­mo, para descobrir a vontade de Deus.28.4. localização dos acampamentos filisteu e israelita. O lim ite leste do v ale de Jezreel tem cerca de 16 quilômetros de extensão de norte a sul. O limite norte é bloqueado pelo monte Tabor e o sul tem o monte G ilboa com o obstáculo. A faixa de 16 quilôm etros entre as duas montanhas é dividida em dois desfila­deiros pela colina de Moré. A cidade de Suném, onde os filisteus acam param , ficava no lado sudoeste da colina de Moré, através do vale de Harode (o desfila­deiro ao sul do vale de Jezreel em direção à cidade de Bete-Seã), onde estava o acampamento de Saul, perto do m onte Gilboa. Os dois acampamentos distavam cerca de oito quilômetros um do outro. En-Dor ficava na m etade do desfiladeiro ao norte (entre a colina de M oré e o monte Tabor), cerca de 10 ou 12 quilômetros ao norte do acampamento israelita (uma caminhada de cerca de duas horas). Saul avançara fazendo a volta pelo lado leste da colina de Moré, evitando assim o acampamento filisteu. Observe que En-Dor (Khirbet Safsafeh) estava teoricam ente situada no território

tribal de Manassés, fora do território controlado por Saul (Js 17.11). O fato de as batalhas terem ocorrido tão longe, ao norte da Filístia, sugere que eles estavam tentando tirar a região da Galiléia do controle de Saul. A posição de Saul se beneficiou do terreno m ontanho­so, que favoreceu o uso de armamento leve pelos seus soldados.28.6. m eios usados por Saul para obter inform ações.Saul estava realm ente preocupado com a perspectiva de uma batalha iminente com as forças somadas das cinco cidades-estado filistéias. Inicialmente, ele em ­pregou os métodos usuais de adivinhação para con­sultar a Deus e saber se o Guerreiro Divino lhe conce­deria a vitória. Esses métodos incluíam rituais de in­

cubação em que o requerente dormia nas dependências

de um santuário ou perto de um objeto sagrado a fim

de receber um sonho proveniente da divindade (ver

o comentário em 3.3), o uso do Urim e do Tum im para lançar sortes (ver o comentário em Êx 28.30) e as vi­

sões dos profetas (1 Sm 10.10, 11). Saul não obteve

resposta a nenhuma dessas consultas, ficando eviden­

te que ele fora abandonado por Deus.28.7. Sau l procura um a m édium . Não dispondo de

outro recurso para saber a vontade de Deus e com a proxim idade da batalha, Saul infringiu sua própria

lei, pela qual os m édiuns haviam sido expulsos de

seu reino, e fez uma visita secreta à m édium de En- Dor. Essa m ulher era conhecida por sua capacidade

de consultar fantasmas e espíritos de ancestrais. Em­

bora essa prática seja considerada em Deuteronômio 18.10 ,11 como uma das "abom inações" relacionadas

à religião cananéia, esse procedimento através de um

buraco não é mencionado em nenhum outro episódio no Antigo Testam ento. Com o na feitiçaria hitita, a

pratican te era um a "v e lh a " . A cred itava-se que os

buracos fossem portais mágicos pelos quais os espíri­tos podiam passar, transitando entre o m undo dos

vivos e dos mortos. Quem consultava os espíritos ti­

nha um conhecim ento especial sobre a localização desses buracos e estava a par dos procedimentos ne­

cessários para invocar os mortos. Não há indício nes­ses rituais de que o praticante fosse possuído pelo

espírito ou que o espírito falasse através dele, portan­to essa m ulher que Saul consultou não era um a mé­

dium no sentido que entendemos hoje.

28.8-11. procedim entos para invocar os espíritos. As

literaturas grega (a Odisséia de Homero), mesopotâmica

e, especialmente, hitita oferecem detalhes sobre a in­vocação dos mortos: (1) era feita à noite, (2) depois de

identificado o local, cavava-se um buraco com uma ferram enta especial, (3) colocava-se no buraco uma

oferta de alimento (pão, óleo, mel) ou o sangue de um animal sacrificado para atrair os espíritos, (4) recitava-

se um ritual de invocação, m encionando o nome do

espírito e (5) cobria-se o buraco para evitar que os

espíritos escapassem depois de concluído o ritual. Tanto o mediador como o cliente desempenhavam funções de acordo com os procedim entos. Os espíritos que

subiam vinham na form a humana e geralmente eram capazes de comunicar-se diretamente com o cliente.

Nos encantamentos de necrom ancia na M esopotâmia,

somente o m ediador podia ver o espírito, o que era obtido através de unções rituais espalhadas no rosto.28.14. m anto do profeta. Visto que as roupas no mun­

do antigo geralm ente forneciam um a indicação do status da pessoa (ver as diversas m udanças nas roupas de José em Génesis 37, 39-41), é possível que os pro­

fetas fossem reconhecidos por usarem vestes específi­cas. O espírito de Sam uel é reconhecido por causa de

seu manto (ver o manto de Elias, em 1 Rs 19.19 e 2 Rs

2.8, 13, 14).28.8-20. crenças sobre a vida após a morte. Acredita­

va-se que os espíritos dos mortos desciam até o m un­do inferior conhecido como Seol, um a região nebulosa

de vida após a m orte, em bora não seja identificado

como um lugar de recompensa ou de castigo.

28.8-11. consulta aos mortos no antigo O riente Próxi­m o. D evido à im portância do culto aos ancestrais,

praticado por grande parte do antigo Oriente Próxi­m o (talvez um reflexo da importância do herdeiro do

sexo masculino, responsável pelo santuário do pai,

como consta em documentos ugaríticos), considerava- se que os mortos tinham o poder de afetar os vivos.

Acreditava-se que o oferecimento de libações em fa­

vor dos ancestrais mortos iria garantir que seus espí­

ritos assegurassem proteção e ajuda aos membros da fam ília que ainda estavam vivos. N a *Babilônia, o

espírito desencarnado (utukki) e o fantasma (etemmu)

podiam tom ar-se m uito perigosos se não fossem bem

cuidados e, m uitas vezes, se transform avam em obje­tos de encantamentos. O cuidado com os mortos come­çava com o sepultamento adequado e prosseguia pos­teriormente com a dedicação de presentes em honra

da memória e do nome do falecido. O filho primogénito era o responsável pela m anutenção dessa adoração

ancestral e, por essa razão, era quem herdava os deu­

ses da família (muitas vezes imagens dos ancestrais já mortos). Todo esse tipo de procedimento era baseado

na crença de que os espíritos dos m ortos podiam se

comunicar com os vivos e fornecer informações úteis sobre o futuro, como fica evidente na consulta de Saul

à m édium de En-Dor. Esses espíritos eram consulta­dos através de sacerdotes, médiuns e necromantes. A consulta aos mortos podia ser uma prática perigosa,

visto que alguns espíritos eram considerados demôni­os e poderiam causar m uitos danos. Em bora seja di­

fícil reconstruir totalmente as crenças israelitas dessa

época relacionadas aos ancestrais e à vida depois da m orte, é bem provável que no período pré-exílico existisse uma form a de culto aos mortos ou adoração

aos ancestrais. Essa hipótese é apoiada em evidências encontradas em vestígios arqueológicos como: (1) uten­

sílios, vasilhas e objetos usados para com er e beber em tumbas israelitas da Idade do Ferro, (2) referênci­

as a oferecimento de alimentos e bebidas como ofertas para os mortos (ver Dt 26.14; SI 106.28) e (3) a impor­

tância das tumbas familiares (ver o túmulo ancestral de A braão e de seus descendentes em H ebrom ) e

rituais de luto realizados no local (ver Is 57.7, 8; Jr

16.5-7). O culto aos ancestrais era condenado pelos profetas e pela lei.28.24. refeição preparada para Saul. Podemos obser­var alguns costumes de hospitalidade na refeição ofe­recida a Saul pela m ulher de En-Dor. Assim como Abraão, ela providenciou um a refeição cara, sacrifi­cando um bezerro e preparando pão (ver Gn 18.6, 7). Provavelm ente essa m ulher não possuía outros ani­mais além desse, portanto ela estava prestando gran­de honra a Saul com esse oferecimento. A relutância de Saul em aceitar sua oferta pode estar relacionada à profissão dela ou à sua associação com outros deuses. Também pode ser um sinal de seu estado depressivo, devido às fatídicas palavras de Samuel. O fato de Saul ter aceitado posteriormente a oferta da m ulher está de acordo com seu comportamento indeciso e contraditó­rio, observado freqüentemente em suas atitudes. Além disso, tam bém pode ter o sentido de resignação em comer a "últim a refeição".

29.1-11 Os filisteus rejeitam a ajuda de Davi29.1. Afeque/fonte de Jezreel. Existem várias locali­dades diferentes com esse nome, Afeque, em Canaã. Essa mencionada aqui é descrita como aquela "junto à fonte de Jezreel". É bastante provável que essa Afeque se localizasse no sul da planície de Sharon, especifica­m ente em Ras el-'A in , na nascente do rio Yarkon. Essa localização sugere que os filisteus inicialmente reuniram suas tropas em Afeque (como haviam feito antes da batalha de Ebenézer em 4.1) e depois avan­çaram 55 ou 65 quilômetros até Jezreel para o confron­to com Saul. Referências em Josefo ligam essa Afeque a Antipátride (ver A t 23.31), 41 quilômetros ao sul da Cesaréia marítima.29.3. hebreus. Os israelitas são chamados repetida­mente de hebreus pelos filisteus (ver o comentário em Gn 14.13). Talvez fosse um termo genérico, como é o caso do term o habiru e apiru nos textos acadianos e egípcios, ou um apelido pejorativo aplicado a pessoas que não possuíam um líder ou com situação política indefinida. O papel de Davi como mercenário encai­xa-se bem ao termo habiru nos textos de El Am am a.29.5. D avi, suas dezenas de m ilhares. Essa é a terceira vez que essa canção é citada no texto bíblico (ver 1 Sm 18.7; 21.12). Inicialmente essa canção era apenas um sinal da superioridade de Davi e motivo da inveja e do ódio de Saul para com ele. Nos episódios relaciona­dos aos filisteus, o cântico é usado como um aviso de que não se podia confiar que D avi iria servir o rei A quis com lealdade. D essa form a, fornece a Davi uma desculpa plausível para não participar da bata­lha final contra o "ungido do Senhor".

30.1-31 Tragédia em Ziclague e vingança contra os amalequitas30.1. distância entre A feque e Ziclague. A distância entre a planície de Sharon e o sul da Sefelá, onde Ziclague estava localizada, é de aproxim adam ente oitenta quilômetros. Seria normal que um grupo ar­mado e seus auxiliares levassem três dias para percor­rer esse trajeto.30.1. am alequitas. U m dado curioso a respeito dos amalequitas é que eles pareciam estar sempre pron­tos a causar problemas, não importando o núm ero de vezes que fossem derrotados pelos israelitas (ver Êx17.8-16; 1 Sm 15.1-9). No caso, os amalequitas respon­dem ao ataque de Davi às suas aldeias (1 Sm 27.8) aproveitando-se da presença dele em Afeque. O ata­que é imediatamente seguido de uma derrota devas­tadora dos amalequitas pela mão de Davi, resgatando sua família e seus bens. Desse modo, a narrativa bí­blica demonstra que Davi não estava nas proximida­des quando Saul foi morto. Ele estava desempenhan­do o papel de herói, derrotando os inimigos de Israel e salvando o povo do perigo, enquanto Saul estava sendo derrotado pelos filisteus em Gilboa.30.7, 8. uso oracular do colete. A pergunta de Davi é típica de situações oraculares, em que se solicita uma resposta do tipo "sim ou não". Para outros exemplos do uso do colete sacerdotal com esse propósito, ver os comentários em Juizes 8.24-27 e 1 Samuel 23.9-12.30.9. ribeiro de Besor. Trata-se do leito profundo de um vau (com 90 a 120 m etros de largura) cujos barran­cos íngrem es tornavam a travessia bastante difícil, exigindo agilidade e energia. Localiza-se na região oeste do Neguebe e servia, juntam ente com o ribeiro Gerar, como fronteira sul de Canaã.30.11-13. escravo egípcio. Em sua fuga, os invasores amalequitas haviam abandonado um escravo egípcio doente. O cuidado demonstrado por Davi para com esse hom em , dando-lhe alim ento, água e bolos de uvas passas se assemelha à oferta de Abigail a Davi em 1 Samuel 25.18. A atitude de Davi evidencia mais uma vez seu apreço pelos valores tradicionais e tam ­bém lhe perm ite ter acesso a inform ações m ilitares valiosas para sua pequena força de quatrocentos ho­m ens poder derrotar o contingente m uito maior dos am alequitas.30.14. queretitas. Esse povo tinha algum tipo de vín­culo com os filisteus e com os peletitas e seu nome sugere que eram originários de Creta. Seu território no N eg u ebe p ro v av e lm en te era co n tíg u o ao de Ziclague e Judá.30.14. N eg u ebe de C aleb e. O território atribuído a Calebe ficava na região ao redor de H ebrom e Debir

(ver Js 14.6-15; 15.13-19), no sul de Canaã. Posteriormen­

te, passou a ser de fato território de Judá (Js 15.1-12).

30.17. fugiram m ontados em cam elos. Para os amale- quitas que viviam nas estepes do Neguebe e no norte

do Sinai, o cam elo era um excelente anim al de carga

e um rápido m eio de transp orte para os invasores. Nesse caso, também permitiu um a fuga rápida para os

remanescentes do bando dos amalequitas. Para infor­

mações adicionais, ver o com entário em Juizes 6.5.30.18-25. divisão dos despojos. Ver o comentário em

D euteronôm io 20.10-15 sobre a regulam entação da

divisão dos despojos após a batalha. D avi foi fiel à norma sagrada que garantia às tropas auxiliares, que

haviam permanecido de guarda na fortaleza ou dan­

do proteção à bagagem , o direito de receber partes iguais do espólio. Os duzentos homens que estavam cansad os dem ais para continu ar p ersegu ind o os

am alequitas depois de terem saído de Afeque, fica­ram servindo de retagu arda, no caso de D avi ser

forçado a fugir, portanto, tinham o direito de receber

partes iguais dos despojos.30.26. autoridades de Judá. A generosidade de Davi

ao enviar um a parte do saque tom ado dos am ale­quitas tinha na verdade implicações políticas. Ser ca­

paz de distribuir presentes e riquezas era visto como

um sinal de poder no antigo Oriente Próximo. Essas autoridades locais tom aram -se clientes de Davi e era

de se esperar que apoiassem sua tentativa de chegar

ao trono (ver 2 Sm 2.4). _

30.27-31. cid ad es. A lém de H ebrom , D avi enviou parte de seus despojos para outras cidades, dentre

elas Betei (K hirbet el-Q aryatein), bem ao norte de Arade (Js 19.4); Bete-Zur (Khirbet et-Tubeiqah), cer­

ca de seis quilômetros ao norte de Hebrom e ligada

a Calebe (Js 15.58); Ram ote em Neguebe (possivel­m ente Bir Rakhm ek; cham ada de Baalate-Beer em

Js 19.8), trinta quilômetros a sudeste de Berseba; Jatir (Khirbet 'A ttir), um a cidade levítica, vinte quilôme­

tros a sudoeste de Hebrom (Js 21.14); Aroer (moder­

na 'A /arah), vinte quilômetros a sudeste de Berseba (Js 15 .22); Sifm ote, um a localid ade desconhecida; Estemoa (es-Semu), dezesseis quilômetros a sudoes­

te de H ebrom (Js 15.50); Carm elo (Tell el-K irm il), onze quilôm etros ao sul de H ebrom (1 Sm 15.12); Hormá, possivelmente Khirbet el-Meshash, onze qui­

lômetros a leste de Berseba (Js 15.30); Corasã (Khirbet 'A san), um a cidade levítica de Judá a noroeste de Berseba (Js 19.7); Atace (Khirbet e l-A ter) na Sefelá,

cerca de 24 quilôm etros a noroeste de H ebrom . A

m aior parte dessas cidades ficava na região m onta­nhosa de Judá, em bora algum as ficassem m ais ao

sul, no Neguebe.

31.1-13A morte de Saul31.1. m onte G ilboa. Ver o comentário em 1 Samuel28.4 a respeito da posição das forças israelita e filistéia no vale de Jezreel (ver tam bém 1 Cr 10.1-12). O fato de muitos homens de Saul e três de seus filhos terem sido mortos nas encostas do monte Gilboa demonstra que seu exército foi rapidamente forçado a fugir dian­te das táticas superiores dos filisteus. Talvez estives­sem tentando restaurar a ordem retomando o controle da batalha, mas sem a liderança dos filhos de Saul eles foram rapidamente colocados em situação infe­

rior e Saul ficou prestes a ser capturado.31.3-5. os planos de Saul, caso fosse capturado vivo. Nessa época, quando um rei era feito prisioneiro, era norm al que fossem m utilados e subm etidos a uma série de humilhações. Furar os olhos e cortar os pole­gares dos prisioneiros eram alguns dos cruéis proce­dimentos usados. Como um sinal de sua ignomínia, o rei era obrigado a passar o restante de sua vida infeliz esmolando ou disputando as migalhas que caíam de­baixo da mesa do rei conquistador (ver comentários em Jz 1.6, 7), ou então era exposto em lugares públi­cos, à disposição dos passantes, que abusavam dele como bem entendessem. A prática da tortura foi em­pregada por babilônios, assírios e persas e a literatura está repleta de atos repulsivos realizados contra os inimigos capturados. Nos registros de reis assírios há relatos casos de reis solicitando a seus escudeiros que os matassem, antes que fossem capturados pelo inimi­go. O rei elamita e seu escudeiro atravessaram um ao outro com a espada, simultaneamente.31.9. cortaram a cabeça. A cabeça do rei era conside­rada um prêmio de grande valor, usada pelo exército vitorioso para gabar-se de suas conquistas. Existem relatos de que o rei assírio Assurbanipal jantou com sua rainha no jardim do palácio, tendo ao fundo a cabeça do rei de Elão pendurada num a árvore. O ato de cortar a cabeça era descrito como "fazer com que fique mais morto do que já estava".31.10. arm as expostas no tem plo. A lém de tirar as roupas do morto para entregar como despojo, as ar­m as de Saul (símbolo de sua posição real e conhecidas pelos inimigos - ver 1 Sm 17.38) foram levadas como um troféu, da m esma forma que a espada de Golias (1 Sm 17.54) e a arca da aliança (1 Sm 5.2) foram levadas e colocadas num templo. Desse modo os deuses dos filisteus seriam honrados e a derrota de Saul e de seu Deus seria notória. Ver o comentário em Juizes 2.13 sobre Astarote.31.10. exposição do cadáver. Desmembrar o corpo de Saul e deixá-lo exposto era a pior desgraça e suprema vergonha para a vítima e sua família/nação. Acredi­

tava-se que se a pessoa não fosse devidamente sepul­tada, sua vida após a m orte estaria am eaçada (paxa informações adicionais, ver o comentário e m l Rs 16.4). A prática de empalar os corpos dos inimigos derrota­dos também era comum entre os soldados do antigo Oriente Próximo. Entre os assírios, essa prática tinha um efeito psicológico e era considerada um a tática de terror (como confirmam as ilustrações nas paredes de seus palácios reais).31.10-12. Bete-Seã. N esse período Bete-Seã (Tell el- Husn) estava sob o controle dos filisteus ou se aliara a eles. Por estar situada num local estratégico no vale de Jezreel, no alto de uma m ontanha, seria o lugar ideal para expor o corpo de Saul. A montanha de dez acres fica na extrem idade leste do vale de Jezreel e servia de proteção para a im portante rota de entrada para o vale do Jordão. Perm aneceu como território cananeu independente encravado em terras israelitas até o período da monarquia, mas foi incorporado aos distritos administrativos de Salomão (1 Rs 4.12). Tra­ta-se de um local ocupado por duas cidades, com uma cidade rom ano-bizantina (Citópolis) construída no se­

dim ento que fica na base do tell. A s investigações arqueológicas têm demonstrado que houve ocupação q u ase co n tín u a da lo ca lid a d e d esd e o p erío d o Calcolítico (4500-3300 a.C.). Como essa região possuía um bom suprim ento de água (ribeiro Jalud), terras adequadas paxa o cultivo e uma localização estratégi­

ca a população local adquiriu uma certa prosperida­de, principalm ente sob o governo egípcio (iniciado

com Tutm és III, no século dezesseis) e m ais tarde, sobo dom ínio dos povos do m ar e dos israelitas. Esca­vações arqueológicas encontraram vestígios de tem­plos duplos que remontam a esse período, identifica­dos por alguns estudiosos como o templo de Astarote m encionado aqui e o tem plo de D agom (ver 1 Cr 10 .10).31.11, 12. Jabes-G ilead e. Ver o com entário em 11.1 sobre a origem da relação de Saul com essa cidade da Transjordânia. O resgate do corpo de Saul em Bete- Seã pelos habitantes de Jabes-Gileade reflete a con-

sideraçao deles para com Saul, m otivada pelo seu empenho em salvar essa cidade do cerco dos amonitas (1 Sm 11).31.12. percurso de Jabes-G ileade a Bete-Seã. Embo­ra a localização exata de Jabes-Gileade seja desconhe­cida, é provável que ficasse perto do vau el-Yabis, no norte das montanhas de Gileade. Tell Maqlub, a cerca de vinte quilômetros de Bete-Seã, é o local mais provável.31.12. cremação. A cremação não é considerada um ritual fúnebre em nenhuma passagem da Bíblia (ver Lv 20.14; Js 7.25 a respeito do costume de queimar os corpos como pena capital). É possível que o estado avançado de decomposição exigisse uma medida ex­trem a para purificar o corpo, já que apenas o embal- samamento não seria suficiente. A crem ação dos cor­pos dos heróis relatada na Ilíada sugere um ritual semelhante a esse de honra a Saul. Os únicos povos do antigo Oriente Próximo que praticavam a crema­ção exam os hurritas de M itani e os hititas (ambos na metade do segundo milênio).31.13. tam argueira em Jabes. Como um a nota de iro­nia final na narrativa, os ossos de Saul foram enterra­dos debaixo de uma" tamargueira. Em 1 Samuel 22.6 há o relato de Saul reunindo suas tropas e exercendo poder como rei debaixo ou perto de um a tamargueira. A qui, seu túm ulo foi dem arcado por essa sim ples planta do deserto em vez de ser marcado pela cons­trução de um palácio, um a cidade ou um reino. A tam argueira cresce em solo arenoso; é um a planta resistente, com folhas pequenas que excretam sal, podendo atingir m ais de seis m etros de altuia. Sua casca é usada como corante e sua m adeira, em cons­truções e na fabricação de carvão vegetal. O s beduínos costumam plantar essa árvore vigorosa por causa da som bra que ela proporciona e de seus galhos, que servem de alimento para os animais. Na Mesopotâmia, a tarmargueira era considerada uma árvore sagrada, com qualidades purificadoras, usada em feitiçarias e na fabricação de imagens; às vezes ela era relaciona­da ao equilíbrio cósmico.

2 S A M U E L

vy1 .1-16 A notícia da morte de Saul1.1. cron olog ia . A proxim adam ente 1010 a .C.. Essa

data pode ser calculada levando-se em conta certos acontecimentos ocorridos posteriormente no período

monárquico.1.1. Z iclague. Ziclague não foi identificada com segu­rança. Para possíveis localizações, ver o comentário

em 1 Samuel 27.6.1.2. terra na cabeça. A prática de colocar terra, pó ou

cinzas na cabeça era um a form a típica de demonstrar luto tanto no Antigo como no Novo Testamento, ob­servada tam bém na Mesopotâmia e em Canaã. Mui­tos rituais de pesar e luto eram um a forma dos vivos se identificarem com os mortos, e é fácil perceber que

a terra na cabeça representava simbolicamente o se- pultamento.

1.2. prostrar-se em sinal de respeito. A form a comum de demonstrar submissão no antigo Oriente Próximo era curvar-se até o chão. As representações artísticas nas tum bas egípcias estão repletas de exem plos de servos e oficiais reais prostrando-se diante do faraó. Nas tábuas de El A m am a (século catorze a.C.), o for­

mato de cada letra contém uma saudação, seguida de um a regra para prestar honra ao faraó curvando-se

sete vezes para frente e para trás.1.2. transm issão de notícias. A maneira oficial de di­vulgar notícias era através do uso de m ensageiros. Porém, os mensageiros estavam sendo enviados ape­nas para lugares importantes. Como os funcionários reais foram praticam ente eliminados e os que resta­

ram fugiram ou se esconderam, é provável que tives­sem sobrado poucos m ensageiros oficiais para trazer um relatório sobre a batalha em Gilboa, especialmen­

te num a cidade tão distante como Ziclague, cerca de 120 a 130 quilôm etros ao sul do cenário da batalha. Soldados que retom avam da batalha e comerciantes

que percorriam as cidades da região também podiam servir como m ensageiros. N este caso, porém, é evi­dente que o amalequita dirigiu-se a Davi esperando

obter algum favor.1.6. apoiado em sua lança. A lança era um importan­te símbolo de Saul, desde que foi usada como arma contra Davi (1 Sm 18.10,11), servindo para identificá- lo com o rei (1 Sm 26.11) e por fim com o apoio ao enfrentar a morte.

1.8. am alequita. Ver o comentário em Deuteronômio25.17-19. Visto que os amalequitas haviam invadido recentemente a cidade de Davi, Ziclague (ver o comen­tário em 1 Sm 30.1), esse homem já estava correndo perigo e sua mensagem não teria m uita credibilidade.1.9. o pedido de Saul. Saul preferia m orrer a ter que enfrentar a situação alternativa (ver o comentário em1 Sm 31.3-5). O pedido de Saul reflete o desejo de dar fim à sua vida com o mínimo possível de sofrimento.1.10. coroa e b racelete . A m elhor tradução para o adorno de cabeça mencionado aqui seria "diadem a", referindo-se a um objeto que pendia na testa ou na frente do turbante, visto geralmente como símbolo de autoridade. Já no início do período sumério o diadema era um a das insígnias reais concedidas ao rei pelo deus Anu. Talvez o m elhor exem plo desse tipo de ornamento no mundo antigo seja a serpente (uraeus) representada na frente da coroa do faraó para garantir proteção, segundo a crença na época. N as descrições das vestes dos sum os sacerdotes de Israel o diadema geralmente era associado a uma "lâm ina de ouro" ou coroa sagrada colocada na frente do turbante (ver o comentário em Lv 8.9). Não há nenhuma menção ao bracelete em outras passagens do Antigo Testamento. Braceletes eram adornos comuns no primeiro m ilê­nio. Os exemplares mais antigos encontrados por ar­queólogos em Israel datam do século onze. N um a relação de jóias que o rei assírio Senaqueribe deu a seu filho (e sucessor) Esarhadon, constam braceletes e um diadema.1.11. rasgar as vestes em sinal de luto. Além de jogar cinzas na cabeça, rasgar as vestes era um a demonstra­ção comum de pesar no antigo Oriente Próximo. Um exemplo fora da Bíblia encontra-se no épico ugarítico de Aqhat (c. 1600 a.C.), em que a irmã do herói rasga as vestes de seu pai ao predizer um a seca iminente. Essa atitude geralmente indicava pesar pela morte de um parente, amigo ou pessoa proeminente.1.12. rituais de luto. Os rituais de luto se baseavam: (1) na identificação com os mortos, (2) em oferecer algo para os mortos e (3) proteger os vivos do espírito dos mortos. No entanto, nem sempre é possível descobrir como esses conceitos deram origem a qualquer ritual específico. Prantear, gemer e lamentar fazia parte dos ritos fúnebres da maioria das pessoas no antigo Ori­ente Próximo. Jejuar, rasgar as vestes e deixar de usar roupas comuns eram meios de expressar pesar.

1.15. a ordem de Davi. A execução do amalequita está

ligada a alguns elementos complexos. Como já foi men­

cio n a d o a n te r io rm e n te , o fa to d esse h o m em ser

am alequita o colocava num a situação de alto risco e perigo. Em segundo lugar, em duas ocasiões Davi se recusara a tirar a vida de Saul por respeitá-lo como un­

gido do Senhor e ele esp erava esse m esm o tipo de atitude das outras pessoas. Por fim, se Davi aceitasse

o ato do am alequita como um serviço prestado a ele, estaria sujeito à acusação de que encarregara alguém de executar Saul. Era im portante que D avi não tives­

se nenhuma ligação com a morte de Saul, ainda que esta

pudesse ser justificada como um ato de misericórdia.

1.17-27O lamento de Davi por Saul e Jônatas1.17. elegia. Vários exemplos de lam entos fúnebres foram encontrados na literatura do antigo Oriente Pró­xim o. T alv ez o m ais conhecido seja o lam ento de

Gilgamesh por seu amigo Enkidu, na oitava tábua do

Épico de Gilgamesh. O lamento de Davi convoca ou­

tros a se juntarem ao pranto e enaltece as qualidades e feitos heróicos dos falecidos.

1.18. Livro de Jasar. Supõe-se que o Livro de Jasar continha antigos relatos poéticos dos feitos heróicos (é

m encionado apenas m ais um a vez em Js 10.13). O

Livro não foi preservado. O título Jasar pode ser tanto um adjetivo ("honrado") como uma forma do verbo

hebraico "cantar".

1.20. Gate, Ascalom. Gate e Ascalom eram duas das

cinco principais cidades da Filístia. Para m ais infor­

mações, consulte os comentários em 1 Sam uel 5.8 e

Juizes 14.19, respectivamente.1.20. incircuncisos. A circuncisão era praticada por

m uitos povos no antigo Oriente Próxim o (ver o co­mentário em G n 17.9-14), m as não pelos filisteus. O

comentário aqui tem pouco a ver com atributos físicos ou costumes sociais, mas seria um a designação étnica

simbolizando a aliança dos israelitas com Yahweh.

1.21. m aldição contra G ilboa. A maldição aqui tinha

com o alvo a fertilidade da região. É sem elhante às m aldições encontradas no Épico de A trahasis, que

tinham como objetivo provocar a fome. Ao tom ar-se

um lugar de m orte (campos secos e im produtivos), Gilboa serviria como um m em orial para as m ortes

ocorridas ali.

1.21. escudo polido com óleo. Os escudos israelitas deste período eram feitos de madeira revestida com

couro, podendo ser redondos ou retangulares, com a

parte de cima arredondada. O óleo era usado para limpar o sangue após as batalhas e proteger o couro

para que permanecesse flexível.

1.24. roupas finas. As roupas usadas pelas mulheres de Israel refletem a melhoria no padrão de vida ocor­rida durante o reinado de Saul. O policiamento das rotas de comércio perm itiu o aumento da atividade dos m ercadores, tom ando as importações mais acessí­veis e garantindo a exportação dos produtos locais.

2.1-7Davi é ungido rei2.1. consulta oracular. Do capítulo 23 de 1 Samuel até o fim do Livro, Davi faz perguntas oraculares ao Se­nhor por meio do colete sacerdotal e auxiliado por Abiatar, o sacerdote. É provável que a mesma coisa esteja acontecendo aqui. Numa consulta oracular, uma pergunta do tipo "s im ou não" era apresentada à divindade e a resposta era obtida por um mecanismo binário. Os meios estabelecidos para esse processo no Livro de Êxodo eram o U rim e o Tum im (que ficavam guardados em um bolso na frente do colete).2.1. Hebrom . Hebrom ficava localizada bem no cen­tro da região m ontanhosa de Judá e era um a das cidades m ais importantes da região, estando a aproxi­m adamente 32 quilômetros ao sul de Jerusalém. Essa localidade de 12 acres,’ ocupada por volta de 1200a.C., era bastante atraente por ficar num a área onde havia m ais de vinte fontes. Na época de Davi as forti­ficações da cidade foram aperfeiçoadas e ampliadas. H ebrom foi a capital do reino de Davi durante sete anos, período em que desfrutou de maior prestígio.2.4. re i tribal. Como experiência prévia para o reina­

do, Davi foi declarado rei inicialmente em nível tribal (ver Jz 9). Visto que os filisteus haviam tomado quase toda a região central da terra como resultado da bata­lha de Gilboa (1 Sm 31), apenas algum as tribos ti­nham a liberdade de participar da nomeação de um novo rei. E preciso lembrar também que os israelitas tinham uma longa tradição de autonomia tribal e a forma de governo em cidades-estado era uma caracte­rística dos cananeus, povos que ocuparam anterior­mente aquela região. Por fim, com a m orte de Saul e de três de seus filhos, a sucessão ao trono estava com­prometida, mesmo no caso dos líderes tribais estarem satisfeitos com a linhagem de Saul e os filisteus con­cordarem com isso. Todos esses fatos tom aram o pro­cesso de escolha do rei por um a tribo algo bastante lógico.2.5-7. em busca de apoio. A cidade de Jabes-Gileade na Transjordânia ainda estava livre do controle filis­teu e seus moradores representavam um apoio estra­tégico a Saul, devido à libertação que ele lhes propor­cionara quando do cerco dos amonitas (1 Sm 11). Se os líderes desse distrito favorável a Saul fossem conven­cidos a reconhecer a autoridade de Davi, a atitude

deles seria acompanhada por muitas outras cidades da Transjordânia e talvez até por aquelas de regiões situadas ao norte. Davi reconheceu o tratamento que esses líderes deram a Saul providenciando um sepul- tamento decente, m as sugeriu que eles não deviam mais lealdade à fam ília de Saul. Davi mostrou-se dis­posto a garantir a proteção de Jabes-Gileade, assim como Saul fizera anteriormente.

2.8-3.5A guerra entre Judá e Israel2.8. M aanaim . A lém de servir como centro adminis­trativo para o governo do filho de Saul, foi nesse local que D avi estabeleceu seu quartel general quando teve de fugir de Absalão (17.27). M aanaim também é mencionada como uma das cidades destruídas pela invasão do faraó Sisaque durante o reinado do filho de Salomão. Embora fique claro que M aanaim se situ­ava na região da Transjordânia, sua localização preci­sa é desconhecida. Atualmente tem sido identificada com Tell edh-Dhahab el-Gharbi, na margem norte do Jaboque. Não foram feitas escavações arqueológicas no local, mas levantamentos topográficos na superfí­cie confirmam que foi ocupada durante esse período.2.9. região controlada pelo filh o de Saul. Abner ha­via sido com andante do exército de Saul e era seu primo. Em vez de usurpar o trono para si, garantiu- o para Is-Bosete, um dos filhos de Saul que havia sobrevivido. A parentem ente ele havia conseguido manter o apoio de várias"tribos do norte. Em bora Is- Bosete fosse o rei, o texto dá a im pressão de que Abner é que estava de fato no controle. Não era fora do comum que um militar decidido favorecesse um herdeiro pusilânime ao trono. Na história egípcia an­tiga, no final da 18a D inastia, A y, um com andante militar (e talvez sogro) de Aquenaton foi o principal patrocinador e conselheiro do jovem Tutancâm om , genro de Aquenaton.2.12. G ib eo m . A cidade de G ibeom geralm ente é identificada com a m oderna el-Jib, localizada cerca de dez quilômetros a noroeste de Jerusalém e onze quilô­m etros a sudoeste de Ai. Escavações arqueológicas descobriram no local um sistema duplo de abasteci­mento de água, cuja construção remonta ao período dos juizes. O sistema mais antigo consistia num a per­furação de dez m etros de profundidade através da pedra calcária (descia-se até a base por meio de uma escada em espiral) até um túnel, onde os habitantes da cidade teriam acesso às fontes de água, no caso da cidade estar cercada. O outro sistema, de um período posterior, contava com um túnel em degraus que des­cia até outra fonte (mais segura). Esse sistema de água encontrado ali é um a forte evidência de que esse seja

o local de G ibeom , devido ao fam oso "açu d e de G ibeom " m encionado no texto bíblico. A identifica­ção do local é confirmada pela presença de alças de jarros encontradas com a inscrição do nom e da cidade (embora alças de jarros contendo nom es de outras cidades tam bém tenham sido encontradas, o que é explicado pelo principal produto da cidade: vinho de exportação).2 .12 .13 . m otivo da batalha. Gibeom era uma impor­tante cidade da região que havia sido devastada pelos filisteus e provavelm ente ainda estava sob controle filisteu. Portanto, é difícil imaginar que os exércitos de Davi e de Is-Bosete tivessem liberdade para pro­mover um a ação militar nesse território. É mais pro­vável que Abner estivesse a caminho, a fim de fazer os acertos prelim inares com Davi, transferindo seu apoio a ele. Possivelmente como precaução, Davi le­

vou uma escolta m ilitar, visto que Abner não seria tolo a ponto de vir ao encontro de Davi sem estar acompanhado de soldados. Joabe interceptou Abner em Gibeom e eles decidiram divertir-se com um a luta de gladiadores entre alguns de seus guerreiros ou m ercenários. Em bora fosse esperado que ocorresse derramamento de sangue nesses "jogos", os ânimos se exaltaram, dando início ao conflito.

2.13. açude de G ibeom . O açude de Gibeom era um famoso sistema de abastecimento de águas - um mo­delo de engenharia moderna. Os construtores abri­ram um túnel de dez m etros através da rocha calcária, cavando um buraco de quase doze metros de largura. Degraus foram escavados na lateral formando uma escada esp iralada até a base do açude onde outro lance de escadas de pedra descia por m ais catorze metros através de um túnel até o lençol de água (79 degraus ao todo). Esse sistema havia sido construído para garantir aos habitantes locais um abastecimento seguro de água sem necessidade de sair da cidade, durante períodos de cerco. Calcula-se que cerca de três mil toneladas de pedra foram removidas para a realização dessa obra grandiosa de engenharia. Só mais tarde foi construído um túnel de acesso à fonte pelo lado de fora da cidade.2.14-16. lutas individuais. As lutas individuais eram usadas algumas vezes, sendo que cada um dos com­batentes era considerado um representante de seu respectivo exército, de m odo que a vontade divina se revelaria através do resultado da luta (como no com­bate entre Davi e Golias). É im provável que seja esse o caso aqui, visto que havia doze pares (não apenas um) e também porque o motivo da luta era propor­cionar diversão para os chefes de ambos os exércitos. Deve-se notar, porém, que às vezes as batalhas eram descritas como um a celebração (como no Épico de

Sargon e, m ais próximo ao período do contexto em questão, no de Tukulti-Ninurta). A tradução da NVI

de que cada um "pegou o adversário pela cabeça e

fincou-lhe o punhal no lado", não permite compreen­der que se tratava de uma mera exibição. Foram en­

contrados exemplos de combates individuais no Egito e nas pinturas m urais em Beni H asan (inicio do se­gundo milênio) e também na história de Sinuhe. Lu­

tas assim foram igualmente ilustradas num vaso ca- naneu da prim eira metade do segundo milênio. Num

período posterior, encontramos exemplos desse tipo de combate nas literaturas greco-micênica e hitita. Foi

encontrado um relevo do século dez em Tell H alaf representando dois combatentes agarrados um à ca­

beça do outro e golpeando-se com pequenos punhais.2.16. punhal. A palavra hebraica usada para descre­ver a arma usada pelos combatentes normalmente é

traduzida por "espada", referindo-se tanto a espadas pequenas de dois gumes (geralmente com menos de

40 centímetros de comprimento) ou espadas m ais lon­

gas de apenas um gume. A arm a usada aqui seria

provavelmente essa última, visto que os combatentes

lutavam próximos e desferiam golpes entre si.2.21. ficar com as armas. Nas lutas pessoais, o morto

era despojado de tudo que lhe pertencia. A graduação ou posição do guerreiro podia ser observada pelas

suas vestes, pelo tipo de armadura ou pela qualidade

de suas arm as e por essa razão eram considerados como troféus para o vencedor. Asael não está disposto

a ficar com as armas de qualquer soldado: ele quer as

do comandante.

2.23. lança. A lém de guarnecidas de um a ponta de

ferro, as lanças geralmente tinham uma extremidade de m etal que servia com o aguilhão ou como apoio

para firmá-la no chão, como se fosse um bastão. Inú­meras extremidades de m etal foram encontradas em

escavações e retratadas em pinturas murais. Embora

a N VI refira-se à "p on ta da lança", é possível que

Abner tenha cravado essa extrem idade de metal no estômago de Asael.

2.24. geografia. Não é possível identificar com segu­

rança os lugares m encionados no versículo 24. É pro­vável que "o cam inho para o deserto de G ibeom "

seguisse na direção nordeste para o vale do Jordão.

A m á e G ia são localidades desconhecidas. H á uma colina que desponta no vale fértil ao redor de Gibeom,

no caminho para Geba, que poderia ser identificada como Amá.

2.29. o itinerário de A bner. Arabá refere-se ao des­filadeiro do vale do Jordão. Abner teria descido por

ele pela passagem de Micmás (ver o comentário em 1 Sm 10.5) em direção ao vau de Adã (ver o comentário

em Js 2.7). Bitrom (citada no rodapé na NVI) talvez não seja o nom e de um lugar e se for, perm anece desconhecido.2.32. sepultaram no túm ulo de seu pai. N a Idade do Ferro, era costume sepultar os m ortos em jazigos cole­tivos dentro de cavernas, que serviam de túmulo. O corpo era colocado deitado de costas, cercado por obje­tos pessoais do falecido.

3.6-39 Deserção e execução de Abner3.7. deitar-se com a concubina. As concubinas eram mulheres sem dote que deveriam, entre outras coisas, gerar filhos à fam ilia. N a fam ília real, elas às vezes representavam alianças políticas de menor importân­cia. Visto que a concubina era uma parceira sexual, deitar-se com a concubina do pai era considerado não apenas um ato incestuoso, m as também um a tentati­va de usurpar a autoridade do patriarca da família. Da m esm a forma, o herdeiro do trono às vezes procu­rava apropriar-se da autoridade de seu predecessor tomando para si suas concubinas. Israel era uma soci­edade tribal em transição para a monarquia, portanto o rei precisava buscar apoio estabelecendo vínculos com os clãs e famílias mais fortes e influentes. Uma forma de obter esse vínculo era através de concubinas e esposas, que garantiriam o apoio em suas respecti­vas regiões. Outro m eio de obter apoio político era através de vínculos com mercadores abastados, líde­res m ilitares e até mesmo famílias de sacerdotes.3.8. cão. Ver o com entário em 1 Sam uel 24.14 para informações a respeito de comparação com cães como form a de se menosprezar.

3.9. fórm ula de m aldição. Essa form a de expressar um a m aldição pode ser encontrada diversas vezes nos Livros de Sam uel e Reis, geralm ente proferida por reis. Rute é um a exceção, ao usar essa m esm a fórmula em Rute 1.17. Essa form a de maldição tam­bém é conhecida nos textos de Alalakh e Mari. Abner não especificou qual seria o castigo que receberia de Deus, m as como esse tipo de juram ento às vezes era ligado a rituais em que se m utilavam animais, presu­m e-se que quem está proferindo a m aldição esteja cham ando para si o mesmo tipo de mutilação.3.10. transferir o reino com a ajuda de Abner. Como já foi m encionado no comentário em 2.9, é provável que Abner estivesse exercendo de fato o poder e que Is-Bosete servisse apenas como um a figura de facha­da. Se os militares declarassem lealdade a Abner, sua deserção deixaria Is-Bosete praticamente desprotegido. É bem provável que A bner fosse bem -sucedido ao tentar obter a lealdade da maioria das tribos do norte que tinham permanecido fiéis à fam ília de Saul.

3 .13 .14 . a posição de M ical. Como vim os no comen­

tário em 3.7, os haréns reais eram m eios politicamente

aceitos de estabelecer um a base de apoio, tanto em nível nacional como internacional. M ical, a filha de Saul, daria a Davi uma certa legitimidade, à medida

que ele tentava assumir o reinado de Saul. Na Anti­guidade (como fica evidente nas leis de Ham urabi,

Esnuna e medo-assírias) a lei garantia ao hom em que

fosse tirado de sua casa à força o direito de reivindicar

sua esposa, quando retom asse. Seu direito como m a­rido era mantido mesmo que ela tivesse se casado de

novo (muitas vezes ela precisava fazer isso para ga­rantir seu sustento e sobrevivência) e tivesse filhos

com o novo marido.

3.14. cem prepúcios. Esse foi o preço pago por Davi a Saul em troca de M ical (ver o com entário em 1 Sm

18.25). O feito de Davi, ao m atar cem filisteus, teria

garantido a ele a posição de importante aliado militar, merecendo ingressar na família real por meio do casa­

mento com a filha do rei.

3.17-19. a diplom acia de Abner. Abner tomou-se agora um agente do reino de Davi e juntam ente com seus

planos de deserção, pretende conseguir o apoio das

tribos do norte. As decisões tribais eram feitas pelas autoridades que se reuniam quando convocadas. O

fato de Abner ter ido falar pessoalmente com os ben-

jam itas é estratégico por ele ser um líder destacado na tribo de Benjamim e, mais importante ainda, porque

Saul pertencia à tribo de Benjamim, o que tom ava os benjamitas os mais leais defensores dos descendentes de Saul.

3.20, 21. acordo entre A bner e D avi. Era comum que

importantes transações fossem seladas com um ban­quete com partilhado pelas partes envolvidas como

um a form a de celebrar a conclusão do acordo. Os vinte homens que acompanhavam Abner talvez fos­

sem importantes representantes de facções poderosas de Israel ou então um pequeno séquito m ilitar de altos oficiais.

3.22. invasão e saque. De modo geral, os exércitos -

quer fossem formados por mercenários, soldados re­crutados ou profissionais - , consideravam que os des­pojos faziam parte do pagamento dos soldados. Al­

guns ataques eram efetuados com intenção de atingir objetivos m ilitares (expansão, controle de rotas comer­

ciais etc.), mas outros simplesmente pretendiam inco­m odar o inim igo e, ao m esm o tempo, providenciar

um soldo extra para os soldados. Visto que Davi dis­punha de poucos recursos para financiar sua adminis­

tração e sustentar seu exército, os saques provavel­mente eram a única form a de compensação para os soldados.

3.26. cisterna de Sirá. Trata-se de um oásis localizado provavelmente cerca de três quilômetros ao norte de H ebrom .3.29. m aldição sobre a casa de Jo ab e . A m aldição proferida por Davi é bastante abrangente. A prim ei­ra parte refere-se às formas m ais hum ilhantes e gra­ves de enfermidades físicas (para detalhes a respeito dessas doenças, ver os comentários em Lv 13). A se­gunda parte é m ais obscura. O termo que a NVI tra­duz como "m uletas" é a palavra usada para "fu so" ou "ro ca" nos vocabulários ugarítico e acadiano. A ex­pressão usada aqui era a descrição comum de uma m ulher envolvida em tarefas domésticas. Se um sol­dado hitita quebrasse seu juram ento, seria castigado com a perda da virilidade, e o juram ento descreve esse castigo como o infrator segurando o fuso e o espe­lho. Essa segunda parte da m aldição parece, assim,

representar um a ameaça à casa de Joabe com a dimi­nuição da virilidade. A terceira maldição fala de mor­te violenta e a quarta, de passar necessidades ou fome.3.31. ritos de luto. Ver comentário em 1.12.

4.1-12O assassinato de Is-Bosete4.3. Beerote e G itaim . Beerote geralm ente tem sido localizada ao norte de Quefiré, em direção à região de Betel/A i, talvez em el-B ireh ou N ebi Sam w il. Era um a das cidades dos heveus de Gibeom que engana­ram Josu é (ver Js 9). Este versícu lo nos diz que a população dos heveus fugiu para Gitaim (localização específica desconhecida), deixando aparentem ente apenas os benjamitas em Beerote.

4.4. o acidente de M efibosete. Em bora o texto bíblico não esclareça os detalhes, supõe-se que a batalha no monte Gilboa, onde Saul foi morto, resultou no con­trole dos filisteus de toda a região central. Se isso estiver correto, é provável que os filisteus tenham saqueado a capital de Saul, em Gibeá. Tais circuns­

tâncias explicariam a fuga apressada da casa de Saul e a subseqüente queda de M efibosete. U m ferim ento no pescoço ou na coluna poderia ter deixado M efi­bosete paraplégico, m as talvez a queda não tenha sido tão grave assim. Pem as ou tornozelos quebrados poderiam deixá-lo paralítico da m esm a forma. O uso de talas para fixar ossos era um a prática conhecida no m undo antigo, m as fraturas m últiplas geralm ente eram consideradas sem solução.4.5. hora do descanso do m eio-dia. N o clim a semi- árido do Oriente Próximo é normal que as horas mais quentes do dia (após o almoço) sejam reservadas para o descanso ou cochilo.4.6. trigo na casa do rei. Em bora não seja difícil com­provar a existência de armazéns nas proximidades do

palácio, há uma variação textual bastante convincente nesse ponto da narrativa referindo-se a um a sentinela (mulher) que teria adormecido de cansaço por ter tra­balhado na colheita do trigo.4.12. m utilação e exposição. Desmembrar o corpo dos assassinos e deixá-lo exposto era uma grande desgra­ça e vergonha tanto para a vítim a como para seus fam iliares. Acreditava-se que se a pessoa não fosse adequadamente sepultada, sua vida após a morte se­ria am eaçada (para informações adicionais, ver os co­m entários em N m 3 .12 ,13 e Js 8.29). A exibição públi­ca do corpo dos inimigos é encontrada na prática do empalamento num a estaca, usada pelos assírios para produzir um efeito psicológico aterrorizante (como con­firm am as figuras nas paredes de seus palácios reais). Cortar as m ãos e os pés provavelmente era visto como uma extensão do sofrimento e da dor na vida após a morte, mas não há confirmações suficientes dessa prá­tica ou de seu sentido subjacente, para explicar com segurança a razão desse ato.

5.1-25As vitórias de Davi5.1. sangue do teu sangue. A expressão exata em hebraico é "osso e carne", mas tem o mesmo sentido da expressão "sangue do teu sangue" na língua por­tuguesa. A comprovação do parentesco é apresentada como base para a aliança política. Com pare com o contexto semelhante em Juizes 9.2.

5.3. papel das autoridades. As autoridades aqui são os representantes das tribos e clãs de Israel. N a ausência de um rei ou de qualquer outro líder proeminente, as tribos dependiam da assem bléia coletiva das autori­dades tribais. Essas autoridades eram responsáveis pela manutenção da justiça no âmbito das aldeias e serviam como representantes do povo em assembléias maiores. Antes de reconhecer a liderança de Davi, o povo espe­

rava que as autoridades a aceitassem.5.3. acordo com as autoridades. Como em 2.4, quan­do foi firmado um acordo com os líderes de Judá, aqui todas as tribos assinam uma declaração form al reco­nhecendo o reinado de Davi. Essa declaração talvez incluísse um documento de ratificação como aquele redigido para Saul em 1 Samuel 10.25.5.3. ungido. Davi fora ungido pelos líderes de Judá em2.4. A unção designava um a m udança de status e era um ato sim bólico da confirm ação de seu reinado por parte das tribos. Para inform ações adicionais sobre a prática da unção, ver o comentário em 1 Sam uel 16.1.5.4. 5. cronologia. Supõe-se que o reinado de Davi tenha abrangido os prim eiros trinta anos do século dez a.C. (por volta de 1010-970). O número quarenta muitas vezes é um número aproximado, m as a pausa

da narrativa no versícu lo 5 para oferecer detalhes sugere que esse número pode ser visto como um cál­culo preciso.5.6. Jeru salém . Cidade estrategicam ente localizada ao longo da estrada no sentido leste-oeste que atraves­sava os vaus do Jordão, perto de Jericó, até a estrada costeira. Também ficava ao lado da estrada principal no sentido norte-sul, que atravessava a região monta­nhosa entre Berseba e Bete-Seã. Jerusalém tam bém era um local importante devido à sua posição na fron­teira entre Judá e Benjam im . Os vales profundos a leste e oeste das montanhas e o razoável suprimento de água disponível nas fontes de Geom tom avam o lugar defensável e desejável. A prim eira referência a Jerusalém encontra-se nos textos egípcios de execração do início do segundo milênio a.C., em que seus reis são chamados de Yaqirammu e Shayzanu. A referên­cia seguinte está nas seis cartas dos textos de Amarna escritas por Abdi-H eba, rei de Jerusalém , ao faraó, solicitando apoio militar. Jerusalém era um a das cida­des m ais im portantes da região, com petindo com Siquém, durante o período de Amarna, pelo controle da região montanhosa. Jerusalém foi derrotada pelos exércitos israelitas na época da conquista, m as seus habitantes não foram expulsos; nesta época ainda não havia sido ocupada pelos israelitas (Jz 1.21). A cidade de Jerusalém deste período ocupava apenas uma fai­xa de norte a sul cobrindo cerca de dez acres ao sul dos m uros da cidade m oderna. A população não teria ultrapassado mil pessoas. A cidade cananéia foi cons­truída sobre uma plataforma artificial sustentada por um a série de terraços. O s arqueólogos descobriram uma estrutura de pedra em degraus com m ais de 15 metros de altura na extremidade nordeste dessa ele­vação. Provavelmente trata-se da plataforma onde fi­cava a cidadela dos jebuseus m encionada no versículo 7 e que foi ampliada por Davi e usada como fundação na construção de seu palácio, no versículo 11. A cida­de era cercada por um muro de três metros de largura construído havia mais de oitocentos anos. Além disso, poucos vestígios encontrados no local pelos arqueólo­gos podem ser atribuídos ao período de Davi.5.6. je b u seu s. São m encionados pela prim eira vez como descendentes de Canaã (Gn 10.16). Trata-se pro­vavelmente de um povo não-semita, relacionado aos hititas ou aos hurritas, que se instalou nessa região durante o início do segundo m ilênio, habitando a reg ião m on tan h osa ao long o da fro n te ira su l de Benjam im (Js 15.8) e a cidade de Jerusalém (Js 15.63; 2 Sm 5.6). Após D avi ter conquistado Jerusalém , os jebuseus aparentemente foram assimilados ou perde­ram gradualm ente sua identidade étnica por vive­rem como escravos (2 Sm 5.6-9).

5.6. cegos e aleijados. Alguns sugerem que essa ex­pressão seria um a tática mágica envolvendo feitiça­ria, pela qual os cegos e aleijados seriam colocados nas muralhas como sinal de que todos aqueles que entras­sem na cidade se tom ariam como eles. A maioria dos estudiosos, porém, prefere entender que seria simples­m ente um a expressão exagerada de zombaria: "A té mesmo os cegos e aleijados podem im pedir o avanço de seus exércitos!".5.7. Sião. Não é possível traçar a origem etimológica de Sião, m as aqui (sua prim eira ocorrência) parece referir-se à acrópole da cidade dos jebuseus. Mais tar­de passou a representar a cidade de Davi e toda a cidade de Jem salém em grande parte dos Livros poé­ticos e proféticos do Antigo Testamento.5.8. passagem de água. Durante mais de um século, muitos eruditos identificaram o local por onde Davi entrou na cidade com a passagem de W arren, um túnel cavado na rocha que perm itia aos moradores o acesso às águas da fonte de Geom. Porém, as pesqui­sas arqueológicas mais recentes no sistema de túnel, dirigidas por Reich e Shukron, mostraram que a pas­sagem W arren nunca foi usada como túnel de água e não estava conectada ao sistema subterrâneo na época de Davi. Os comentários a seguir analisam os diver­sos elem entos envolvidos nessa interpretação.A fon te de Geom fica no vale de Kidron, no lado sudeste da cidade. Essa fonte jorra água três ou quatro vezes ao dia, durante aproxim adam ente quarenta m inutos. O volume total dessa água (14 mil metros cúbicos por dia) é suficiente para encher um a cisterna com 23 m etros quadrados e dois m etros e m eio de profundidade.A importância estratégica dos sistemas de água. Se a cida­de fosse cercada, seus habitantes precisariam ter aces­so a um a fonte segura de água, m as os m uros da cidade ficavam no alto da colina, enquanto que a fonte ficava no vale. Por essa razão, foi preciso empre­gar m uita criatividade para que fosse criado um siste­m a de túneis e de passagens através das rochas que garantisse o fornecim ento de água à cidade. Outros túneis são conhecidos em H azor, M egido, Gezer e Gibeom (ver o comentário em 2.13). Os sistemas de água m ais antigos cavados na rocha de que se tem notícia no antigo Oriente Próximo remontam ao sécu­lo treze, em Micenas.O sistema de água de Jerusalém. Era possível entrar na passagem e gradualmente descer através de degraus e ram pas até os mananciais sem precisar sair da ci­dade. U m a curva acentuada à direita levava a um túnel horizontal que term inava num a escada íngre­m e que seguia dentro de um a caverna natural. A distância entre a entrada da passagem até essa caver­na era de cerca de 40 metros. Depois de um a curva

acentuada, chegava-se a uma torre fortificada, onde a água da fon te de G eom era arm azenada em um a grande cisterna.A entrada de Davi na cidade. A única maneira de entrar no sistema de água pelo lado de fora da cidade seria através de um canal que saía do túnel levando a água da fonte até a cisterna, na torre. Esse canal percorria toda a extensão da cidade. Não era um túnel, mas era coberto por enormes pedras, tornando difícil perceber claram ente como Joabe conseguiu entrar na cidade por ali.5.9. capital como posse pessoal do rei. O título "C ida­de de D avi" pode refletir um antigo costume pelo qual a capital do reino não seria apenas o local de residên­cia real, m as propriedade pessoal do rei que estivesse no poder e de seus sucessores. Desde Tukulti-Ninurta, no século treze, até Sargon II, no oitavo século, era comum que os reis assírios dessem seus nomes às ca­pitais. Sargon adquiriu um a localidade chamada Dur- Sharrukin e edificou ali sua capital (K horsabad), de m odo bastante sem elhante a Onri, que com prou um lugar para ser sua nova capital, Sam aria (1 Rs 16.24). Essas cidades de propriedade real geralmente abriga­vam os funcionários do governo (a maioria parentes do rei) que desfrutavam de certos privilégios, incluindo isenção de impostos, dispensa de trabalhos forçados e da obrigatoried ad e do serviço m ilitar e en carcera­m ento , bem com o se ben eficiav am dos m ais belos projetos de construção. T ais priv ilégios (kidinnutu) eram usufruídos, por exem plo, pelas cidades babiló­nicas de Nippur, Sippar e Borsippa, devido à sua po­sição como centros religiosos e não como capitais polí­ticas. Certas capitais políticas como N ínive e Babilônia tam bém se beneficiavam desses privilégios.5.9. defesas na parte interna da cidade (M ilo). Atu­almente, a maioria dos estudiosos acredita que essa importante estrutura defensiva pode ser identificada com o que os arqueólogos cham am de "estrutura de pedra em degraus" (ver com entário em 5.6). Essa estrutura era construída com pedra e terra, perm i­tindo que a área de construção se estendesse por cerca de seiscentos metros quadrados.5.11. Tiro. Tiro era um dos principais portos fenícios do mundo antigo. A cidade ficava localizada em uma pequena ilha (cerca de 150 acres) no M editerrâneo, a cerca de 160 quilômetros da costa, ao norte de Jerusa­lém. Tanto a cidade como sua importante fortaleza são citadas em antigos registros de Ebla e tam bém nos textos de execração egípcios, nas cartas de Amarna, no Épico de Keret (Ugarit), na Lenda de W enam om (Egito) e ainda em docum entos gregos e romanos. Além de sua importância para o comércio marítimo da época, a indústria têxtil e de corantes (ver comen-

tário em N m 4.6) bem como a exportação do cedro formavam a base de sua economia.

5.11. Hirão. O período do reinado de Hirão I, rei de Tiro (em fenício, Airão; em assírio, Hirummu) geral­m ente é situado de 969 a 936 a.C., baseado no cálculo cronológico do historiador judeu Josefo (primeiro sé­culo d.C.), que afirm ava ter inúm eros registros da história de Tiro, oferecendo muitas informações sobreo reinado de Hirão. De acordo com essa cronologia, Davi e Hirão não teriam sido contem porâneos, po­rém, os m étodos de cálculo disponíveis a Josefo não são inteiramente confiáveis. Fontes do Oriente Próxi­mo contemporâneas à época delimitada por Josefo não oferecem nenhum a inform ação sobre Hirão, apesar de destacarem seu hom ônim o, Hirão II. Esse nom e tam bém é bem conhecido nessa m esm a época pelo sarcófago de Airão, rei de Biblos, cidade próxima de Tiro.

5.11. toras de cedro. O cedro é uma árvore que cresce lentam ente, podendo atingir m ais de 35 m etros de altura e viver até três mil anos. A beleza de sua madei­ra, o arom a adocicado e a durabilidade tom aram o cedro a madeira preferida dos reis do mundo antigo, usada na construção de tem plos e palácios. A alta concentração de resina no tronco inibe a formação e o desenvolvimento de fungos. As florestas do Líbano, na encosta oeste das montanhas do Líbano (a cerca de 1500 metros de altitude) eram um dos poucos lugares onde essa árvore crescia. A Mesopotâmia e o Egito já im portavam m adeira de cedro no início do quarto milênio a.C.. Por volta do ano 1000, pouco havia res­tado das lendárias florestas do Líbano, tom ando essa madeira rara e ainda m ais valiosa.5.11. o palácio de D avi. Em bora não tenha sido desco­berto nenhum vestígio do palácio de Davi, a ajuda de Hirão, rei de Tiro sugere que o projeto arquitetônico teria sofrido influência do estilo fenício. Escavações arqueológicas na Síria revelaram algum as constru­ções fenícias da mesma época, identificadas pela des­crição acadiana bit-hilani, num a referência ao caracte­rístico pórtico com colunas que figurava com destaque nesses edifícios. Um palácio seguindo o estilo bit-hilani foi descoberto pelas escavações em Israel, na cidade de M egido, sendo identificado com o o palácio de Salomão. Esse palácio, provavelm ente, é o exemplo m ais próximo de como teria sido o palácio de Davi em Jerusalém . O palácio de M egido tinha cerca de 21 m etros quadrados. Em seu interior, havia no primei­ro pavim ento um a série de am plos aposentos, um salão de audiência, um pátio e cerca de uma dúzia de cômodos menores para uso dos m oradores ou funcio­nários. Em geral, havia pelo menos dois pavimentos, além de um a torre de vigia.

5.13. casam entos reais com o estratégia política . Ocasamento era uma espécie de ferram enta diplomáti­ca no antigo Oriente Próximo. Cidades, cidades-esta- do, tribos ou nações que desejavam aliar-se a um governante ou submeter-se à sua proteção selavam o tratado através do casamento de um a jovem , filha de uma das principais famílias, com o suserano ou com seu filho. Isso representava um ato de lealdade por parte do vassalo que, a partir de então, estaria pesso­alm ente interessado em preservar a dinastia do rei. Por exemplo, Zimri-Lim, rei de M ari durante o século dezoito a.C., foi bem-sucedido em colocar suas filhas no harém de reinos vizinhos, casando ele mesmo com diversas esposas estrangeiras a fim de aum entar o poder e a estabilidade de seu reino. Igualm ente, o faraó Tutm és IV (1425-1412 a.C.) casou-se com a filha do rei de Mitani a fim de demonstrar sua disposição em ter boas relações com esse povo e pôr fim a uma série de guerras com aquele reinado do médio Eufrates. No caso de Davi, antes de se tornar rei de Israel, ele fortaleceu sua posição política e econômica através de diversos casamentos (ver o comentário em 1 Sm 25.39­44). Os casamentos mencionados neste versículo pro­vavelm ente asseguraram o apoio de algumas das fa­mílias m ais importantes de Jerusalém.5.17. fortaleza. A fortaleza mencionada aqui não é a m esm a de 1 Sam uel 22.4 e 24.22; trata-se provavel­mente da cidade dos jebuseus em Jerusalém. O pavi­mento dessa cidade e algumas ruínas dos muros fo­ram encontrados por arqueólogos no limite norte da cidade dos jebuseus, na área ao sul dos m uros atuais da Cidade Velha.5.18. vale de Refaim . Assim como o vale de Soreque, este vale segue para o leste a partir da Sefelá, perto de Bete-Semes, e passa por diversos desfiladeiros até che­gar nas montanhas ao redor de Jerusalém. O vale de Soreque faz um a curva em determinado ponto para o nordeste, em direção a Gibeom, enquanto o vale de Refaim dirige-se para o leste-sudeste, em direção à área entre Belém e Jerusalém, juntando-se à estrada norte-sul que vai de Jerusalém a Belém e seguindo para o nordeste até Jerusalém . Esse vale seria um local estratégico para os filisteus bloquearem a chega­da dos reforços de Judá até Davi.5.19. pergun ta oracular. D esde o capítulo 23 de 1 Sam uel até o fim do Livro, Davi faz perguntas oracu- lares ao Senhor através do colete sacerdotal com o auxílio de Abiatar, o sacerdote. É provável que aqui estivesse acontecendo a m esma coisa. N um a consulta oracular, um a pergunta do tipo "s im ou não" era apresentada à divindade e um m ecanism o binário era usado para determinar a resposta. Os meios norma­tivos estabelecidos para esse processo no Êxodo eram

0 U rim e o Tum im (mantidos em um bolso na frente do colete).

5.20. Baal-Perazim. Supõe-se que o termo "b aal" nes­se nome (como título de uma divindade) identifique esse local como sagrado. Esse nom e talvez tenha se originado de Perez, filho de Judá e ancestral da linha­gem de Davi. Alguns identificam o local como sendo a cadeia de montanhas entre Giló e Beit Jala, cerca de três quilômetros a noroeste de Belém.5.21. ídolos abandonados. Sacerdotes, adivinhos (como pode ser visto nos textos de Mari), profetas (2 Reis 3) e objetos sagrados (anais assírios de Salmaneser III [858­824 a.C.]) geralmente acompanhavam os exércitos no antigo O riente Próxim o. D esse m odo, o(s) deus(es) podiam ser consultados durante as batalhas ou invo­cados a fim de conduzir os soldados à vitória. Na temática do guerreiro divino, a divindade participa­va das batalhas e derrotava os deuses do inimigo. Nas situações difíceis, faziam -se orações e consultavam-se presságios para assegurar a presença da divindade. O s ídolos só eram abandonados sob circunstâncias extremamente críticas. Há diversos casos de estátuas de divindades sendo carregadas como troféus de guer­ra nesse período. Para exemplos, ver o comentário em1 Samuel 5.2.

5.24. passos por cim a das amoreiras. O termo tradu­zido pela NVI como "am oreiras" aparece em outras versões como "árvores de bálsam o". Se for esse o caso, trata-se de um tipo de arbusto conhecido como tere- binto, comum nas regiões montanhosas. Em bora essa tradução deixe algumas dúvidas, nenhuma outra foi considerada convincente. H á um consenso, porém, de que se trata de algum tipo de árvore. Alguns sugeri­ram que Davi estivesse buscando orientação divina através de um oráculo baseado no m ovim ento dos galhos das árvores, mas é difícil confirm ar esse proce­dimento como uma prática oracular regular.5.24. Deus à frente do exército. Na temática do guer­reiro divino, a divindade vai à frente para derrotar o inimigo, um tema comum em todo o antigo Oriente Próximo. Nos relatos hititas, Hatusilis III declara que Istar foi à sua frente para lutar. No Egito, Amom-Rá teria ido à frente dos exércitos de Tutm és III. A pre­sença da divindade aterrorizava e confundia o inimi­go, sendo às vezes acompanhada de trovões (ver o comentário em 1 Sm 7.10) ou terremotos (ver o comen­tário em 1 Sm 14.15).5.25. desde G ibeom até G ezer. O vale de R efaim (onde os filisteus estavam acam pados, conform e o versículo 22) ficava a sudoeste de Jerusalém. A passa­gem entre G ibeom e Gezer acompanhava o vale de Aijalom, que ficava a noroeste de Jerusalém. O versí­culo 23 sugere que D avi posicionou seu exército a

oeste dos filisteus para bloquear a retirada deles e empurrá-los em direção a Jerusalém (a cerca de três quilômetros), por onde passariam para o lado oeste. Exatam ente ao norte da cidade eles teriam virado para o noroeste, a fim de recuperar Gibeom (cerca de dez quilômetros). E provável que outras guarnições de filisteus estivessem na região, ou que eles simples­mente estivessem se dirigindo para passagem seguin­te na planície. Visto que o texto faz menção a Gezer, os filisteus devem ter rumado para o noroeste por fora de Gibeom até a passagem de Bete-Horom (cerca de cinco quilôm etros; ver o com entário em Js 10.10) e descido até o vale de Aijalom (oito quilômetros). Dali até Gezer, seriam cerca de onze quilôm etros, o que significa que Davi expulsou completamente os filisteus da região montanhosa.

6.1-23A a rca é le v a d a p a ra Je ru sa lé m6.1. trinta m il m elhores guerreiros. O exército regu­lar de Davi agora era composto de trinta divisões (ver

o comentário em Js 8.3). A importância da arca assim como o significado m ilitar subjacente a essa busca, é demonstrada pelo tamanho da escolta. Eram comuns no m undo antigo desfiles de tropas como form a de exibir o poderio militar, um procedimento ainda po­pular nos dias de hoje. De modo semelhante, o exér­cito assírio teria acompanhado a estátua de Marduque quando foi resgatada de Assur e levada de volta para a Babilônia, no sétimo século.

6.2. Baalá. Em 1 Crônicas 13.6, Baalá é apenas um outro nome para Quiriate-Jearim. A arca havia ficado guar­dada em Quiriate-Jearim desde que retornara da Filís- tia. Essa localidade é geralmente identificada com Tell el-Azhar, catorze quilômetros a noroeste de Jerusalém.6.2. trono entre os querubins. A arca era uma caixa de madeira, aberta em cima, com aproximadamente um metro de comprimento e setenta centímetros de altura e de largura. Era revestida por dentro e por fora com lâm inas de ouro fino e tinha duas argolas (também revestidas de ouro) de cada lado, onde se introduziam duas varas de m adeira revestidas de ouro para carregar a arca e evitar que alguém , além do sum o sacerdote, a tocasse. U m a tampa de ouro puro, decorada com dois querubins com as asas estendidas, fechava a arca. Sua função primordial era guardar as tábuas da lei e servir como um "estrado" para o trono de Deus, garantindo assim uma ligação terrena entre Deus e os israelitas. Nos festivais egípcios, as imagens dos deuses geralm ente eram carregadas em procis­são, em altares portáteis. Há várias pinturas retratan­do procissões em que caixas semelhantes à arca eram carregadas por varas e decoradas com figuras de criatu­

ras guardiãs em cima ou do lado. As descrições bí­blicas, bem como as descobertas arqueológicas (inclu­sive algumas peças de m arfim fino de N inrode, na M esopotâmia, de Arslan Tash, na Síria e da Samaria, em Israel) sugerem que os querubins eram criaturas compostas (isto é, com características de diversas cria­turas, como a esfinge egípcia), geralmente com cabe­ça hum ana, corpo de anim ais quadrúpedes (p. ex., leão) e com asas. O querubim é representado na arte antiga com certa regularidade ladeando tronos de reis e divindades. A combinação de querubins como guar­diães do trono, arcas como estrados e afirmações no Antigo Testamento concernentes ao trono de Yahweh sendo sustentado por querubins dão fundamento ao conceito da arca como uma representação do próprio trono invisível de Yahw eh. N o m undo antigo, era comum manter tronos vazios, deixados à disposição das divindades ou personalidades reais, quando esti­vessem presentes.6.3. carroção novo. O uso de um carroção novo era um a garantia de que não estaria ligado a nenhuma im pureza ritual decorrente de usos anteriores (por exemplo, se tivesse sido usado para transportar ester­co ou animais mortos). Entretanto, as instruções para o transporte da arca sempre recomendavam que fosse carregada pelos sacerdotes e não transportada numa carroça. O carroção foi um precedente introduzido pelos filisteus (1 Sm 6.7).

6.5. m úsica de adoração. Todos esses instrum entos musicais são típicos desse período e confirmados em textos, relevos e pinturas do antigo Oriente Próximo desde o terceiro milênio. Ainda há controvérsias quan­to a qual palavra hebraica deveria ser traduzida como "h arpa" e qual como "lira". O termo que a NVI tra­duz como "lira" refere-se a um instrum ento de dez cordas, enquanto que a palavra traduzida por "h ar­pa" diz respeito a um instrumento com um número menor de cordas. Am bos podiam ser segurados nas m ãos através de uma estrutura de madeira. O tambo­rim foi identificado em relevos arqueológicos como

um tambor ou um pequeno pandeiro (couro esticado sobre um aro), mas sem o som dos pequenos guizos dos pandeiros modernos. O quarto instrumento (tra­duzido pela NVI como "chocalho") é o mais difícil de ser identificado porque essa é a única vez em que é mencionado no texto bíblico. Os últimos instrumentos citados no texto, os címbalos, eram feitos de bronze e classificados como instrumentos de percussão, sendo que a única dúvida seria quanto ao tamanho.6.6. eira de Nacom. A localização dessa eira é desco­nhecida. O texto a situa nas proximidades da casa de Obede-Edom, que ficava a pouca distância de Jerusa­lém, m as é impossível ser m ais preciso.

6.7. a atitude irreverente de Uzá. A arca era conside­rada como um objeto que exigia respeito e cuidado e por isso mesmo era natural que fosse vista como algo perigoso (comparável à eletricidade). A palavra tra­duzida pela expressão "a to de irreverência" ocorre apenas aqui no Antigo Testamento, mas essa mesma raiz, em língu as ap arentad as sign ifica "d esd é m " (acadiano) ou "negligência" (aramaico).6.10. casa de O bed e-E dom . O nom e Obede-Edom significa "servo de Edom " (talvez Edom fosse o nome de alguma divindade; compare com Obadias = Obede- Yah[weh]). Obede-Edom também é identificado como alguém da cidade de Gate. Um a companhia de solda­dos (mercenários?) de Gate formava a guarda pessoal de D avi (ver 15.18) e é possível que Obede-Edom fizesse parte desse grupo. Presume-se que a casa esti­vesse nas proxim idades de Jerusalém , mas não há evidências sobre o local exato.6.13. sacrifício a cada seis passos. Quando o rei assírio Assurbanipal levou a estátua de M arduque de volta para a Babilônia (sétimo século), durante o percurso eram feitas ofertas de bois cevados a cada três qui­lômetros (de Assur até a Babilônia são cerca de 400 quilôm etros). D avi teria feito o m esm o núm ero de sacrifícios que Assurbanipal, mas num trecho de ape­nas um quilômetro. O texto não especifica o que foi usado como altar ou quanto tempo durou a procissão. A palavra traduzida como "b o i" é um termo usado para gado, podendo ser macho ou fêmea do rebanho. A especificação quanto a um novilho gordo não é

mencionada nas instruções rituais do Pentateuco. Pre­sum e-se que fosse um anim al que tivesse recebido um a alim entação especial para que a carne ficasse macia. O texto não oferece detalhes do tipo de sacrifí­cio que foi realizado.6.14. colete sacerdotal de linho. Em bora o colete fosse uma veste sacerdotal, Davi não está sendo retratado necessariamente como o oficiante, exercendo a função de sacerdote. Um a alternativa possível é que ele esti­vesse assumindo o papel de suplicante diante do Se­nhor e assim "oferecendo" sacrifícios, não como um sacerdote, m as como qualquer adorador faria (ver o comentário a seguir sobre o versículo 17).6.14. a dança no m undo antigo. As danças no mundo antigo geralmente estavam relacionadas a rituais, em­bora algumas fontes da M esopotâmia e do Egito ofere­çam ilustrações de dançarinos num contexto de diver­são. A dança relacionada aos festivais poderia ser com­parada às danças folclóricas de nossos dias, caracteri­zadas pelos m ovimentos coordenados de um grupo de dançarinos. Em outras épocas, as danças se asse­m elhavam a um balé, representando um a cena ou um drama, em que os dançarinos, muitas vezes escas­

samente vestidos, davam giros, agachavam, saltavam e pulavam, fazendo acrobacias semelhantes às exibi­ções modernas de ginastas. Em contextos rituais, al­gumas vezes os sacerdotes e funcionários do templo também participavam das danças, não apenas os dan­çarinos profissionais. Há relatos de um ritual hitita em que a rainha participa de um a dança. Não há n e­nhum relato, porém, de reis dançando.6.14-21. atitude de D avi. O verbo traduzido por "d an­çando" nos versículos 14 e 16 é usado apenas nessa passagem. Na língua ugarítica, esse mesmo termo é usado para demonstrar algo que se fazia com os de­dos, como estalar ou movimentar os dedos. O verbo usado no versículo 16 é citado de form a ligeiramente diferente em Gênesis 49.24, descrevendo a agilidade no manejo de armas. Na passagem paralela (1 Crôni­cas 15.29), o verbo traduzido por "dançando" é usado apenas duas vezes para referir-se a atitudes hum a­nas, em Jó 21.11, expressando regozijo, e em Eclesiastes3.4 em oposição a pranto. Esse verbo geralmente ex­prim e um a expressão corporal com m ovim entos de balanços, trem ores ou vibrações. É possível, então, que Davi não estivesse de fato dançando, mas agitan­do os braços e estalando ou movimentando os dedos.6.15. trom betas. A trom beta m encionada aqui é o chifre de carneiro (shofar). O shofar pode produzir uma variedade de sons, mas não é capaz de executar uma melodia, por isso, era usado principalmente para trans­mitir sinais, tanto nos cultos como nas batalhas. O chifre de carneiro deveria_primeiramente ser amole­cido em água quente, depois dobrado e achatado para adquirir seu formato característico.6.17. ten d a preparada para a arca. O texto não se refere a essa tenda como sendo a tenda do encontro ou tabernáculo, as duas formas que geralm ente identi­ficavam o santuário ordenado no Sinai. Textos religio­sos cananeus também mencionam o uso de pavilhões como m orada dos deuses. Descobertas arqueológicas em Timná revelaram vestígios de um a tenda midianita que servia de santuário, anterior ao século doze a.C., também com cortinas penduradas em vigas ou varas. Estruturas portáteis semelhantes já existiam no Egito na m etade do terceiro milênio, tanto para uso sagrado como secular.6.17. holocaustos e sacrifícios de comunhão. Os holo- caustos deveriam ser consumidos sobre o altar e ge­ralm ente estavam associados a petições (ver o co­m entário em Lv 1.3, 4). Os sacrifícios de comunhão forneciam base para um a refeição comunitária e ge­ralm ente eram usados para ratificar tratados ou acor­dos. Para mais detalhes, ver comentários em 1 Samuel 10.8; Êxodo 24.5 e Levítico 3.1-5. Os sacrifícios de comunhão eram usados em ocasiões de coroação (1 Sm

11) e dedicação de templos (1 Rs 8). É possível que a colocação da arca na tenda tenha ocorrido durante um a celebração de entronização; ver o próxim o co­m entário.

6.17. celebração de entronização. As comemorações assírias de entronização na época de Tukulti-NinurtaI (século doze) descrevem o rei despindo-se de suas

vestes reais e orando hum ildem ente diante da divin­dade. Depois, o rei era novam ente coroado e abenço­ado, e uma procissão o conduzia até o trono, onde a cerimônia era encerrada com a entrega de presentes por seus altos funcionários, que demonstravam assim sua lealdade e submissão ao rei. As semelhanças en­tre essa cerim ônia e as celebrações de Davi são evi­dentes. Aqui, é a entronização de Yahw eh que está sendo celebrada. Davi deixa de lado suas vestes reais e conduz a procissão como um simples suplicante até a sala do trono (a tenda), onde os sacrifícios de petição e submissão são oferecidos. A partir do versículo 21, podemos deduzir que nessa ocasião foram confirma­dos a eleição e o reinado de Davi. Registros assírios tam bém apresentam diversos relatos sobre a funda­ção de uma nova cidade real (Asumasirpal, Sargon, S e n a q u e rib e , E sa rh a d o n ). N eles , a d iv in d ad e é conduzida à cidade, acompanhada de sacrifícios e de um banquete (incluindo música), com comida e bebi­da sendo distribuídas liberalmente ao povo.6.18. abençoou o povo. No mundo antigo, acredita­va-se que as bênçãos (bem como as maldições) tinham poder para se fazer cum prir por si mesmas. G eral­mente eram proferidas pelos sacerdotes a alguém que estivesse saindo do santuário após ter participado de algum ritual. No antigo Oriente Próxim o, as sauda­ções ugaríticas e acadianas geralmente incluíam uma invocação aos deuses para garantir cuidado e pro­teção. Por fim, a expressão "o Senhor te abençoe e te guarde" também é encontrada em hebraico, pintada num grande jarro do nono século a.C. encontrado em Kuntillet Ajrud, no norte do Sinai.6.19. presentes para o povo. O pão era um tipo de rosca trançada com um furo no meio. "B olo de tâma­ras" é um a tradução tradicionalmente aceita, já que essa palavra aparece apenas nessa passagem e o sig­nificado é incerto. O presente traduzido como "bolo de uvas passas" poderia ser um bolo feito com qual­quer tipo de fruta seca. Oséias 3.1 especifica que uvas passas eram usadas para fazer bolos sagrados, mas o contexto aqui não dá esse tipo de informação. Poderia ser um tablete ou um a bola de frutas secas prensadas.6.20. a queixa de M ical. No versículo 16, o texto diz que quando M ical viu Davi dançando (ver o comen­tário em 6.14-21), ela o desprezou, porém só agora fica claro o que a ofendeu. A queixa de M ical não se

relaciona a algum comportamento indigno de Davi, mas a seus trajes. H avia duas razões pelas quais Davi teria se despojado de suas vestes reais e usado uma

simples túnica de linho: como participante da procis­são (ver 6.14 acima), poderia ter adotado o traje dos dançarinos, que costumava ser bastante sumário, ou no caso de um a festa de entronização (ver 6.17 acima), poderia, como rei, ter adotado o papel de suplicante. Visto que M ical o compara a um "hom em vulgar", é provável que a prim eira alternativa represente sua interpretação pessoal da cena.

7.1-29A promessa de Deus a Davi7 .1 ,11 . descanso. O texto afirma que Deus concedeu a Davi descanso de seus inimigos e em todo o Antigo Testam ento o Senhor declara que dará descanso ao seu povo. Essa afirmação é especialmente significati­va neste contexto, visto que Davi desejava construir um templo, e no antigo Oriente Próximo, esperava-se que o templo proporcionasse descanso à divindade. Os nomes dados a alguns templos até mesmo suge­rem que essa seria a principal função deles. O descan­so divino freqüentemente resultava em descanso para o povo em sua terra. A Bíblia, porém, faz pouca m en­ção ao descanso divino, e nunca é visto como condição para o descanso humano, exceto no caso do sábado.7.2, 3. profeta como conselheiro. Antes da época de Sam uel, os profetas exerciam liderança política em decorrência de sua função. Com o início da m onar­quia, o papel do profeta passou a ser o de um conse­lheiro, e em vez de conduzir o povo transmitindo as mensagens divinas, ofereciam orientação ao rei, que tinha a liberdade de aceitá-la ou rejeitá-la. Para mais informação, consulte os comentários em Deuteronômio18.14-22.7.2. palácio de cedro versu s tenda. No antigo Oriente Próximo, quando um rei vitorioso desejava demons­trar sua gratidão à divindade protetora, ele geral­m ente construía um tem plo para ela. Há inúm eros exemplos que remontam à metade do terceiro m ilê­nio entre os sum érios, atravessando o período dos assírios, dos babilônios e até mesmo dos persas. Espe­rava-se que o templo (considerado como morada da divindade) oferecesse proteção ao rei e ao seu povo. Um a habitação permanente e luxuosa (de cedro) teria como objetivo assegurar a presença e o favor do Se­nhor. Na literatura ugarítica acreditava-se que o deus pai, El, habitasse num santuário em forma de tenda (como muitas divindades cananéias). Baal, ao contrá­rio, construiu para si m esm o um belo palácio.7.5. perm issão divina para construir. No m undo anti­go era preciso buscar a permissão divina para se cons­

truir um templo. Se o rei construísse um templo de

acordo com sua própria vontade, sem buscar orienta­ção dos deuses quanto à localização, posição, tamanho e materiais adequados, estaria fadado ao fracasso. No

período neobabilônico, Nebonido fala de um rei que deu início à construção de um templo sem o consenti­

mento dos deuses, resultando no desmoronamento do templo. No texto sumério M aldição de Acade, Naram-

Sin procura um presságio que lhe permita construir um templo, e apesar de não receber a confirmação, ele prossegue com seus planos. Esse fato fez com que

fosse acusado pela queda da dinastia de Acade.

7.8-11. divindade com o protetora do rei. Na retórica

do antigo Oriente Próxim o, era comum que um rei

declarasse estar sob a proteção da divindade nacional. Documentos hititas e m esopotâm icos fornecem ele­mentos que confirmam esse fato com bastante clareza.

Atribui-se à divindade a escolha do rei, sua ascensão

ao trono bem como a doação de terras e o estabeleci­mento de seu reinado. A divindade era responsável

por proteger o rei, conceder-lhe vitória contra o inimi­

go e estabelecer sua dinastia, determ inando dessa forma o destino do reL

7.13. filh o construirá o tem plo. Foi descoberta uma

inscrição em que Ada-Guppi, a fam osa rainha-m ãe do império neobabilônico (sexto século) relata um so­

nho recebido do deus Sin em que o deus teria dito a

ela que seu filho construiria um templo para ele na

cidade de Harran. A situação de Davi era diferente, pelo fato de ser uma obra de restauração de um santu­

ário que havia se transformado em ruínas.7.14. relacionam ento de pai/filho entre D eus e o rei.

Essa é um a característica particularmente forte da m o­

narquia egípcia, visto que até m esm o a origem do faraó era considerada divina, sendo concebido como

filho de Rá, o deus-sol. Na literatura ugarítica, Keret,

rei de Khubur, é identificado como o filho de El, o

deus principal dos cananeus. Entre os arameus, até mesmo os títulos reais incluíam essa designação (Ben-

H adade significa "filh o de H adade"). N a M esopo-

tâmia, tanto G ilgam és, na m etade do terceiro m ilê­nio, como Gudea, Hamurabi, Tukulti-Ninurta e Asur- banipal, afirm avam ter origem divina.

7 .14 ,15 . segurança, apesar da disciplina. Em um tra­tado hitita do segundo m ilénio o rei hitita Hatusilis III

garante a seu vassalo, Ulmi-Teshup de Tarhuntassa,

que seu filho e seu neto herdariam a terra depois dele. O texto continua dizendo que se os descenden­

tes de Ulmi-Teshup cometessem erros, seriam puni­

dos (até m esm o com a m orte), m as que a terra não seria tirada da fam ília de Ulmi-Teshup enquanto hou­

vesse um herdeiro do sexo masculino.

7.15. aliança de am or. Exem plos hititas, acadianos, ugaríticos e aramaicos m ostram que a atitude favorá­vel do suserano para com o vassalo se expressava como amor, bondade e misericórdia e em troca o vassalo devia prestar-lhe obediência e lealdade. Nas cartas de A m am a (dos reis vassalos de Canaã para o soberano egípcio) o termo "am or" era usado para caracterizar ou descrever relações internacionais am igáveis e le­ais, e expressava as intenções do vassalo em ser leal e honrar os termos do acordo firmado entre as partes. O texto bíblico dá um exemplo claro desse uso em 1 Reis5.15. São raros os exemplos na literatura mesopotâmica em que um indivíduo é exortado a amar a divindade; em geral, os deuses do antigo Oriente Próxim o não procuravam ser amados por seus adoradores nem fa­ziam alianças com eles.

7.18-29. observações a respeito da oração de Davi.Em uma oração de A sum asirpal I (rei assírio da gera­ção anterior a Davi) a Istar, ele agradece a essa deusa pela proteção recebida. Dentre os atos de bondade que ele reconhece, estão tirá-lo da obscuridade, indicá-lo como pastor para o povo, tom á-lo conhecido e per­mitir que ele fizesse justiça a seu povo. Essas também foram algumas das obras divinas que Natã identifi­cou na vida de Davi (versículos 8-11).7.22. m onoteísm o. A afirm ação aqui de que não há outro deus além de Yahw eh ultrapassa qualquer ou­tra declaração já feita. Embora no mundo antigo te­nham ocorrido diversas tentativas de engrandecer um deus em detrimento de outros, nada se compara ao ideal de monoteísmo encontrado no antigo Israel (ver os comentários em Êx 20.3 e Dt 6.4).

8.1-18O reinado de Davi8.1. M etegue-Am á. É pouco provável que seja o nome de um lugar, mas se de fato fo r o nome de um lugar, sua localização é desconhecida.8 .2 ,3 . execução seletiva. Os meios usados para seleci­onar aqueles que seriam executados não são compará­veis a nenhum outro, nem na Bíblia nem nos regis­

tros disponíveis do antigo Oriente Próximo.8.2. im postos. Quando uma nação ou alguma institui­ção política conquistava um povo ou estendia sobre ele sua hegemonia, como resultado, a nação subjugada era obrigada a pagar tributos. O pagamento era feito com m etais preciosos (em barras, jó ias ou objetos), produtos agrícolas (grande parte da colheita) ou atra­vés de trabalhos forçados. Evidentemente essas exi­gências eram bastante im populares e provocavam muitas revoltas ou lutas armadas. Existe farta docu­mentação extrabíblica que comprova essa prática, como os anais dos reis assírios, incluindo listas de objetos

recebidos como tributos. Alguns exemplos: o "Obelisco N egro", inscrição de Salmaneser III (859-824 a.C.) con­tém o tributo pago por Jeú à A ssíria na form a de prata, ouro, chumbo e m adeira; T iglate-Pileser III (744­727 a.C.) recebeu couro de elefante, marfim, vestes de linho e outros itens luxuosos de seus vassalos de Da­masco, Samaria, Tiro e outros lugares.8.3. Hadadezer. Hadadezer é apresentado como filho de Reobe, o que pode indicar sua relação com a im­portante cidade de Bete-Reobe (ver 10.6). Ashurabi II, o rei assírio contemporâneo de Davi, registra conside­ráveis dificuldades causadas por um rei arameu que tentava expandir seu domínio até o território assírio. O relato não menciona o nom e desse rei, mas Hada­dezer é o candidato m ais provável. O nome em si é familiar, visto que também é o nome de um rei arameu que se opôs aos assírios no nono século (Adad-Idri é a forma assíria do nome).

8.3. Zobá. Importante reino arameu situado próximo às montanhas do Anti-Líbano e na parte norte do vale de Beqa (parte sul do Orontes), estendendo-se a leste até a planície de Homs. É mencionado nos registros neo-assírios dos séculos oitavo e sétimo.8.3. rio Eufrates. A região mencionada aqui é prova­velm ente a da curva do rio Eufrates em Emar. De acordo com 1 Crônicas 18, essa batalha aconteceu em Hamate, às margens do rio Orontes. O termo traduzi­do pela N VI com o "con tro le" é a palavra hebraico usada para "m ão", que em outros contextos refere-se a um monólito ou a um monumento com uma inscri­ção real (1 Sm 15.12; 2 Sm 18.18), erigido aqui por Davi. O versículo 13 menciona que Davi ficou ainda m ais "fam oso", em hebraico, fez um "nom e", que é um a expressão usada também para designar um mo­num ento, em hebraico. O faraó egípcio Tutm és III (século quinze) orgulhava-se das colunas que havia erigido às m argens do Eufrates.8.4. carros de guerra. Os carros da Síria durante esse período eram semelhantes aos modelos assírios ilus­trados em relevos do nono século. Eles eram puxados por dois cavalos, com m ais um ou dois animais atrela­dos nas laterais. Duas rodas com raios de madeira presas a um eixo traseiro sustentavam um a pequena plataforma ocupada pelo condutor e um acompanhante equipado com arco e lança. A s laterais do carro chega­vam apenas até a metade da coxa dos passageiros.8.4. a le ijou os cavalos. Cavalos não podiam ser sacri­ficados com um tiro como se faz atualmente; os israelitas não tinham como usá-los, nem dispunham de meios para cuidar deles e certamente não queriam que seus inimigos continuassem a usá-los. Para aleijar os cava­los era preciso cortar o tendão na altura dos jarretes (o equivalente no corpo humano ao tendão calcâneo ou

tendão de Aquiles), deixando-os assim incapazes de andar.

8.5. arameus de Damasco. O deslocamento dos arameus para o Oriente aconteceu no século onze. Conforme algu ns outros exem plos da literatu ra cuneiform e, A ram talvez tenha sido originalm ente o nom e de uma região (cf. Sipar-Amnantum, do período da A n­tiga Babilônia), e mais tarde passou a designar o povo que ali vivia. Evidências atuais sugerem que os ara­m eus habitaram o alto Eufrates durante o segundo m ilênio, inicialm ente com o aldeões e criadores de gado, depois como uma coligação política. O texto não menciona um rei de Damasco, sugerindo que D amas­co ainda não emergira como a principal potência da região.

8.5. D am asco. D am asco está localizada em um oásis abastecido pelas águas do rio Barada, aos pés da cadeia de montanhas do Anti-Líbano a oeste e com o deserto sírio a leste. A prim eira referência à cidade encontra- se nas listas de Tutmés III, no século quinze, sendo tam­bém citada, em bora não com destaque, nos textos de Am am a. Damasco passou a ter m aior importância de­vido aos conflitos com a A ssíria nos séculos nono e oitavo. A contínua ocupação do local tem dificultado as

escavações arqueológicas, deixando-nos com poucas inform ações relacionadas ao período bíblico.8.7. "escu d os" de ouro. O termo hebraico traduzido aqui como "escu do" permaneceu obscuro por um lon­go tempo, mas atualmente é reconhecido como um termo técnico derivado do aramaico para referir-se ao estojo ou caixa do arco. Relevos persas de períodos posteriores apresentam figuras de caixas de arco.8.8. T ebá e Berotai. Nos textos de Am am a há referên­cia a uma cidade chamada Tubikhu, ao sul de Homs, e talvez seja a Tebá mencionada aqui. Também cons­ta dos itinerários egípcios. Berotai é Bereitan, no vale Beqa, ao sul de Baalbeque. O texto de 1 Crônicas 18.8 acrescenta Cum (Kunu) à lista, que era o antigo nome de Baalbeque (quase oitenta quilômetros ao norte de Damasco).

8.9. Toú, rei de Ham ate. Toú, rei de Hamate, contro­lava a região norte de Zobá e aparentem ente ficou satisfeito ao ver que a influência do reino de Zobá havia sido detida pelos israelitas. Hamate (atual Hama, cerca de 200 quilôm etros ao norte de Damasco) é o nome de uma cidade localizada acima do rio Orontes, mas nos registros neo-assírios é identificada também como um a nação. Não existem referências a Toú fora da Bíblia, mas esse nom e era comum na língua dos hurritas, o que sugere que nessa época Ham ate não era um estado arameu.8 .10 ,11 . consagrar m etais preciosos ao Senhor. O atode consagrar metais preciosos ao Senhor significa que

esses metais seriam doados ao tesouro do santuário, em vez de encam inhados ao tesouro real, e se tornariam

parte dos bens administrados pelos sacerdotes. Artigos selecionados como armas cerim oniais ou importantes objetos cultuais eram mantidos no santuário, enquan­

to que os artigos m enores eram derretidos.8.12. área controlada por Davi. O território do reino de D avi in clu ía a T ran sjord ân ia , esten d en d o-se até o

Am on. O território de Edom englobava a região sudo­este do m ar M orto. A s conquistas de D avi visavam

controlar as duas principais rotas comerciais da região.

8.13. vale do Sal. A passagem el-M ilh é um a possibi­lidade, na metade do caminho entre Berseba e o mar

M orto, em bora essa suposição se baseie apenas no nome.

8.14. estabeleceu guarnições. Posicionar guarnições em territórios anexados ou em países vassalos permitia ao

país dom inador am pliar sua rede de suprim entos e m onitorar atividades, mantendo o controle da região.

Esses locais serviriam para armazenar os suprimentos

de alimentos e de armas e os m ilitares estariam a pos­tos para lidar com qualquer desvio das condições es­tipu lad as no tratad o ou abafar quaisquer revoltas.

A lém disso, p erm itiria tam bém o recolh im ento de impostos e o controle da atividade mercantil.

8.16-18. os o ficia is de D avi. Joabe encabeça a lista,

demonstrando que o com andante do exército era a segunda autoridade no governo, o que era norm al

entre os povos do Levante. O arquivista real era o

responsável pelos registros e documentos de Estado e

podia ser considerado tam bém um arauto ou uma espécie de porta-voz do governo. Controlava também

quem seria admitido para falar com o rei e cuidava do

protocolo real. O secretário era responsável pela cor­respondência diplom ática e de certa form a poderia

ser com parado a um secretário de Estado. Alguns estudiosos sugerem que os cargos aqui mencionados

acompanham o modelo egípcio de administração, mas

esse m esm o argum ento pode ser usado a favor do modelo cananeu.

8.17. dois sum os sacerdotes. A biatar descendia da

linhagem de Eli (ver comentário em 1 Sm 1.3), que m antivera o cargo de sumo sacerdote desde o início

desse período. Zadoque é identificado mais adiante

como representante da linhagem de Arão, através de seu primogênito, Eleazar (1 Cr 6.8). Não há informa­

ções quanto à transferência de poder durante o perío­

do dos juizes. Não é im possível que a linhagem de

Zadoque tenha mantido as prerrogativas sacerdotais em Judá, mas tudo não passa de especulação. A dis­

puta pelo cargo de sumo sacerdote entre sacerdotes rivais era com um no antigo O riente Próxim o, mas

geralm ente representavam sacerdócios que serviam a deuses diferentes.8.18. queretitas e peletitas. Am bos representam gru­pos de m ercenários que serviam a Davi como vassalos e não como membros do exército efetivo. Os queretitas são identificados com o im igrantes de Creta e estão intimamente ligados aos filisteus, que, supostamente, teriam vindo de alguma região do Egeu. Os peletitas são citados apenas em passagens em que aparecem relacionados aos queretitas.8.18. filh os como "conselheiros". O texto hebraico (e a NVI) usa a palavra "sacerdotes", m as não é isso que o texto está retratando. Embora a tribo de Levi tivesse sido designada exclusivamente para cum prir as obri­gações e funções relacionadas ao santuário (ver os com entários em Lv 10.10 e N m 18.1-7), não havia nenhuma proibição explícita impedindo aqueles que não pertenciam a essa tribo de realizar tarefas sacer­dotais (ver os comentários em Êx 28.1). Só que com o passar do tempo, as tarefas sacerdotais não relaciona­das ao santuário foram gradualmente eliminadas (ver2 Rs 23.8). A existência de atividades sacerdotais de­sempenhadas dentro do contexto familiar é evidenci­ada em contextos pós-Sinai (Jz 6.24-26; 13.19; 1 Sm 20.29). Na cultura do antigo Oriente Próximo, o filho m ais velho freqüentem ente desem penhava as obri­gações sacerdotais relacionadas à veneração dos an­cestrais (ver o comentário em N m 3.1). Saul foi repre­endido por ter se envolvido em um serviço sacerdo­tal, mas é provável que a causa da repreensão tenha

sido a transgressão do preceito (1 Sm 10.25) que deter­minava seu papel em relação ao de Sam uel (ver co­mentário em 1 Sm 13.8-13). As prerrogativas sacerdo­tais de Davi talvez estivessem ligadas às funções tra­dicionais de Jerusalém. A existência de uma tradição sacerdotal real é reconhecida em passagens como Sal­mo 110.4 e talvez na participação de Davi na cerimô­nia de instalação da arca (acima, 6.14).

9.1-13O cuidado de Davi para com Mefibosete9.3. aleijado dos pés. V er o comentário sobre M efibo­sete e sua deficiência em 2 Samuel 4.4.9.4. L o-D ebar. Á rea ao norte do rio Iarm uque, na Transjordânia, aliada a Saul e mais tarde transforma­da num Estado vassalo sob o dom ínio de D avi. A localidade de Tell D ober, que apresenta evidências de ocupação nas idades do Ferro I e II, talvez seja a cidade que controlava essa região. Está situada na extrem id ad e su d oeste de G olã e ao n orte do rio Iarm uque.

9.7. contraste entre a atitude de D avi e de outros reis.M efibosete tinha boas razões para estar com m edo de

Davi. Documentos mesopotâmicos relatam inúmeros casos de reis que ao assumir o poder eliminaram to­dos os rivais que poderiam reivindicar o trono (com­pare com o assassinato da família de Jeroboão por Asa em 1 Rs 15.29). Esse tipo de eliminação ocorreu tam ­bém anos m ais tarde como um a form a de vingança por oposição política ou tentativa de rebelião contra governantes anteriores, como Assurbanipal, que mu­tilou, executou e deu aos cães os corpos dos rivais de seu avô, em um de seus primeiros atos oficiais como rei da Assíria. Davi, porém, trata Mefibosete, o único hom em sobrevivente da família real, como genuíno herdeiro das propriedades de Saul. Sua generosidade também se manifesta na ordem para que Mefibosete passe a comer na mesa do rei. Desse m odo, Mefibosete é tratado com honra, em bora alguns com entaristas tenham sugerido que esta também seria um a forma de m antê-lo sob observação, caso ele manifestasse al­guma propensão à subversão.

9.7. com er à m esa do rei. Prisioneiros políticos rara­mente eram mantidos em prisões. Era m ais vantajoso para o rei mantê-los confinados no palácio ou na cida­de real, oferecendo-lhes os m anjares de sua m esa, m as sem pre debaixo de suas vistas. Registros con­tendo relação de suprimentos, dos períodos babilónico e assírio, apresentam evidências de que alim entos, roupas e azeite eram oferecidos aos "h ósped es" do rei. A s cortes persas m antinham na presença do rei presos políticos e "a lia d o s" , a fim de garantir um fluxo contínuo no envio de impostos e soldados para o exército. Assim, tanto M efibosete como Joaquim , m ui­tos anos mais tarde (2 Rs 25.27-30), desfrutaram dos benefícios da corte do rei, m as não eram verdadeira­mente livres.

10.1-19Guerra contra os amonitas10.2. atitude de D avi em relação a Hanum. Durante o período em que Davi viveu como um proscrito, ele não apenas prestou serviço aos filisteus como m erce­nário, como tam bém buscou ajuda de Naás, rei dos am onitas e inim igo de Saul. Isso teria resultado em um acordo de não-agressão e apoio mútuo, benefici­ando tanto a Davi como a Naás. A maioria dos trata­dos do antigo O riente P róxim o eram acordos de suseranos em que o Estado m ais forte impunha tribu­tos e outras obrigações aos Estados vassalos (ver os tratados de Esarhaddon). Alguns, como o tratado que pôs fim à guerra entre egípcios e h ititas no século treze a.C., reconheciam um a "fraternidade" ou igual­dade entre os dois soberanos (Ramsés II e HatusilisIII). Visto que os tratados eram considerados "e ter­nos", era norm al que Davi enviasse uma delegação a

H anum a fim de renovar os itens desse acordo. A recepção hostil dada aos m ensageiros sugere que os am onitas tem iam que D avi quisesse transform ar o acordo de igualdade num tratado de suserano.10.4. atitude de Hanum para com os m ensageiros de D avi. Os mensageiros de Davi tiveram suas barbas rapadas pela metade (simbolizando a perda da virili­dade tanto dos m ensageiros como, por extensão, de Davi) e suas roupas foram cortadas "até as nádegas", deixando-os nus, como escravos ou prisioneiros (ver Is20.4). Esses homens eram embaixadores do rei e, como tais, deviam ser tratados com respeito e gozar de imu­nidade diplomática. O que parece ter sido uma "brin­cadeira de m au gosto" de fato foi uma afronta direta ao poder e à autoridade de D avi, provocando uma guerra entre as duas nações. Davi não podia permitir que um a atitude abusiva com o essa ou a castração simbólica de seus representantes ficasse impune. Um a coletânea de anais reais assírios (Sargon II, Senaqueribe e Asurbanipal) contém justificativas para um a decla­ração de guerra com base na violação de um tratado juram entado ou na afronta física da autoridade assíria. Em bora os casos relatados nos anais não sejam tão evidentes como esse episódio, representam também a "gota d'água" em termos políticos.10.5. até que a barba cresça. A barba era um símbolo de virilidade (nas cartas de A m am a o rei assírio Sham- shi Adad zomba de seu filho Yasmah-Addu, dizendo: "Você não é um homem - por acaso você tem barba?"). A m ensagem transm itida pelo ato de H anum é que Israel perderia sua força e enfrentaria o luto, tendo suas vestes rasgadas e cabelo e barba rapados (ver Is 15.2). Como representantes do rei, esses mensageiros foram hum ilhados e constrangidos pelo tratam ento que re­ceberam; por extensão, Davi também foi envergonha­do, por essa razão, procurou m antê-los fora do alcance dos olhares públicos até que a "afronta" não fosse mais v isível.

10.6. coalizão. Freqüentemente, os Estados ou reinos menores se uniam contra um inimigo comum. Aqui, os amonitas, sentindo a necessidade de fortalecer sua posição contra Davi, buscaram a ajuda dos arameus. Vinte divisões de tropas foram enviadas de Bete-Reobe, na fronteira entre a Síria e Israel (nas proximidades do vale Hulé, perto de Tel Dã - ver Jz 18.28) e de Zobá, no norte do vale de Beqa. Bete-Reobe também é men­cionada nos registros egípcios da época de Tutm és III. Ver o comentário em 2 Samuel 8.3 a respeito de outros conflitos entre Israel e o rei arameu Hadadezer. Maaca se situava a sudeste de Bete-Reobe, ao sul do monte H erm om e a leste do Jordão. O último grupo de solda­dos (doze divisões) partiu de Tobe (et-Tayibeh, 19 quilômetros a sudeste do m ar da Galiléia, em Gileade).

A relação dos aliados, portanto, designa as regiões de norte a sul, abrangendo o território desde o rio Orontes até o território de Amom.10.7-12. posição de batalha. A presença de duas for­ças distintas (os amonitas defendendo os portões de sua cidade [provavelmente Rabá] e os arameus posi­cionados na região adjacente) obrigou Joabe a dividir seu exército e elaborar novas estratégias com seu co- com andante, A bisai, no caso de algu m grupo dos israelitas ser derrotado (compare com o relato em 1 Cr19.9-13). Essa estratégia indica que ele foi surpreendi­do pela posição do inimigo e não tinha forças suficien­tes para enfrentar uma dupla frente de batalha. Em­bora sua situação fosse aparentemente insustentável, com tropas inimigas cercando-o dos dois lados, a es­tratégia de Joabe parece ter funcionado, pelo menos conseguindo que os inimigos recuassem. Isso talvez explique por que ele não foi capaz de prosseguir com suas investidas e retirou-se para Jerusalém.10.16. H elã. Em bora sua localização exata seja desco­nhecida, a cidade ou distrito de Helã ficava provavel­m ente no norte da Transjordânia, talvez entre D a­masco e Hamate (de acordo com uma interpretação de Ez 47.16). Esse lugar poderia servir com o área de concentração de tropas do arameu Hadadezer do ou­tro lado do Eufrates e uma área próxima o suficiente para ameaçar o controle de Davi na região. Esse mes­mo local é mencionado quase um m ilênio antes num texto de execração egípcio, mas isso não ajuda a deter­m inar sua localização.10.17. linh as de com bate. As formações m ilitares eram posicionadas de forma a tirar o máximo proveito do terreno e dos armamentos utilizados pelo exército. O texto indica que Soboque, o comandante arameu, con­tava com carros de guerra e grupos de infantaria. Os batalhões de infantaria eram organizados em forma­ções de "cin qü en ta" e liderados por com andantes, incluindo lanceiros com escudos na fileira de frente e arqueiros e atiradores de funda posicionados imedia­tamente atrás deles. Quando os exércitos se confronta­vam , os soldados usavam machadinhas com lâminas chatas e punhais. Os carros geralmente eram coloca­dos nos flancos para facilitar as manobras.10.19. sujeitaram -se a Israel. N o antigo Oriente Próxi­mo, muitas vezes as guerras provocavam mudanças nas relações políticas de vassalagem. Com a derrota do exército arameu, m uitos dos povoados e cidades que anteriorm ente haviam jurado lealdade a Hada­dezer agora ofereciam seu apoio e tributo a Davi. Práticas semelhantes podem ser encontradas nas lis­tas de campanhas da maioria dos monarcas assírios. N ão devem os presum ir, porém , que D avi poderia com isso assum ir o com ando total dessa região no

norte da Transjordârria. Esse tipo de apoio, obtido

pela força através de batalhas, podia desaparecer ao

m enor sinal de fragilidade.

1 1 .1 - 2 7Davi e Bate-Seba11.1. época em que os reis saíam para a guerra. No

antigo Oriente Próximo, as campanhas militares, em­bora fossem raramente declaradas oficialmente, acon­

teciam de forma previsível com o final das chuvas de

inverno. Isso permitia que os homens estivessem dis­

poníveis, durante o período da prim avera, antes da colheita, para trabalhar nos campos. Vários anais re­

ais assírios e babilónicos incluíam o aviso de que as

campanhas militares começariam no primeiro (Nisanu)

ou no segundo mês (Aiaru) do ano (período de março a maio).

11.1. o rei perm aneceu em Jerusalém. Devido às suas

funções como chefes de Estado ou então por motivos pessoais, algum as vezes os reis deixavam de acom ­

panhar seus exércitos nas campanhas m ilitares, como no caso do rei assírio Senaqueribe, que delegou a um

oficial conhecido como Rabsaqué a tarefa de cercar Je­

rusalém (ver 2 Reis 18.17-35). O fato de Davi ter deci­dido perm anecer em Jerusalém pode ter sido m otiva­

do pela sua confiança na habilidade m ilitar de Joabe,

ou por alguma questão diplomática urgente ou ainda por estar preocupado com algum assunto familiar.

11.1. Rabá. Rabá era a capital dos antigos amonitas.

Sua localização corresponde ao lugar onde está situa­da hoje a m oderna A m ã, na Jordânia, na m argem

norte do Zerqa, nas nascentes do rio Jaboque, cerca de

64 quilômetros a leste de Jerusalém. Devido à ocupa­ção contínua da área, as escavações arqueológicas fo­

ram pre ju d icad as. A an tiga acróp ole , porém , foi pesquisada, mas forneceu poucos dados sobre a cida­

de na época de Davi (talvez D avi tenha construído

um muro).11.2. terraço do palácio. Por causa da brisa refrescan­

te que soprava em Jerusalém no final da tarde, muitas

pessoas costumavam sair nesse horário para encon­tros sociais ou então desfrutar do ar fresco na privaci­

dade de seus terraços. A arquitetura do palácio prova­velmente era semelhante à de moradias mais comuns,

com uma ampla sala de estar ou quarto de dormir no piso superior, rodeado por um terraço (1 Sm 9.25).

11.2. tomando banho. O banho de Bate-Seba prova­velm ente era um ato de purificação após seu ciclo m enstrual (ver 2 Sm 11.4). Essa prática era baseada

nas leis de purificação descritas em Levítico 15.19-24. É difícil avaliar se sua intenção em banhar-se no te­

lhado era simplesmente usar a brisa para se secar ou

se estaria tirando proveito da situação para atrair so­bre si a atenção do rei.11.3. fam ília de Bate-Seba. O pai de Bate-Seba, Eliã, fazia parte da categoria especial dos "hom ens valen­tes" de D avi (2 Sm 23.34) portanto, era o chefe de uma fam ília influente. Eliã era filho de A itofel, um dos m ais respeitados conselheiros de D avi (2 Sm 15.12;16.23). Essa informação, somada ao fato de que Urias, o hitita, também fazia parte dos "hom ens valentes" (2 Sm 23.39), sugere que Davi sabia exatamente de quem era a casa que estava observando e conhecia bem

Bate-Seba (tuna tradução alternativa sugere que Davi perguntou: "A quela não é Bate-Seba?").11.4. purificação da im pureza. A referência ao banho de Bate-Seba diz respeito a um ritual de purificação depois de completados os sete dias de impureza após o ciclo menstrual (ver Lv 15.19-24). Essa informação ind ica que ela deveria estar em seu período m ais fértil quando teve um relacionamento sexual com Davi (10-14 dias após o início da m enstruação) além de evidenciar a im possibilidade de U rias ser o pai da criança.

11.6, 7. hitita no exército. Os hititas constituíam um dos principais povos que habitavam a região de Canaã (Dt 7.1) e podiam facilm ente ser contratados como mercenários, ou convocados para grupos de trabalho ou ainda se misturado aos israelitas através de casa­mentos, durante o período dos juizes e da monarquia. Eles poderiam ser descendentes de imigrantes vindos do império da Anatólia ou então do estados neo-hititas da Síria.

11.9-11. o com portam ento de Urias. A presença da arca da aliança (v. 11) junto às tropas sugere que os israelitas estavam engajados num tipo de "guerra san­ta ", portanto, os m ilitares teriam que se su jeitar a algum as restrições especiais (ver a circuncisão em massa dos homens antes de iniciar a conquista, em Js5.4-8 e as exigências de certos rituais de purificação para os soldados em campanha, em D t 23.9-11 e 1 Sm21.5). Se U rias tivesse aproveitado a oportunidade para ter relações sexuais com Bate-Seba, seria possível afirm ar que ele era o responsável por sua gravidez. No entanto, a insistência de U rias em m anter sua pureza ritual, dormindo nas barracas dos guardas do palácio, forçou Davi a tomar medidas mais drásticas.11.14, 15. o destino numa carta. Visto que Urias foi enviado a Davi com o pretexto de levar um relatório em primeira mão da situação militar, era de se espe­rar que Davi o enviasse de volta a Joabe com despa­chos e ordens oficiais. Um a situação envolvendo uma vítim a entregando seu próprio atestado de morte é um elemento narrativo presente no folclore de muitas culturas (ver a Ilíada, em que a história fala de Belerófon

que, falsamente acusado, leva seu próprio atestado de m orte ao rei de Lícia), m as na B íblia não há m ais

nenhuma ocorrência desse tipo.11.15,16 . Urias na frente de batalha. Por ser um dos

"hom ens valentes" de Davi, Urias talvez fosse coloca­

do regularmente à frente de um contingente de solda­

dos e ocupasse uma posição estratégica no plano de batalha (ver a descrição desses "hom ens valentes" em

2 Sm 23.8-39). Aqui, porém, ele foi colocado proposi­tadamente diante de um a tropa de elite dos amonitas,

num a situação de evidente inferioridade. A imagem de Urias como um soldado irrepreensível sugere que

ele aceitou sua m issão sem questionar, m as é bem provável que tenha ficado surpreso com as táticas

em pregadas.11.16-24. táticas de batalha. As táticas de ambos os

lados envolviam simulação de ataques e emboscadas. Com a cidade sob cerco, não havia necessidade de

lançar ataques ofensivos. Talvez as tropas de Urias

tenham sido enviadas com a m issão de tentar desco­brir um a brecha nas muralhas. As baixas israelitas

ocorreram quando a divisão de Urias deparou-se com uma tropa enviada para expulsar os invasores e tam­

bém porque se aproxim aram demais dos muros, fi­

cando ao alcance dos dardos inimigos. O fato de Joabe

poder prever que D avi faria menção ao famoso inci­dente da morte de Abimeleque (Jz 9.50-53) demons­

tra que essa ação poderia ser vista como um risco

calculado ou um erro tático, como se os israelitas tives­

sem simplesmente se enganado e caminhado em di­

reção à linha de fogo mortal. Por outro lado, também oferece um a explicação plausível para a morte de Urias

e provavelm ente poupou a vid a de m uitos outros soldados israelitas.

11.26, 27. período de luto. O período padrão de luto

era de sete dias (Gn 50.10). A penas as pessoas de

destaque m ereciam um período m ais longo (trinta

dias para M oisés e Arão em D t 34.8 e Nm 20.29). No caso de um a viúva, ela teria de cumprir esse período

habitual juntam ente com outras formas de rituais de im pureza, antes de considerar um novo casam ento

(ver Lv 12.2; 15.19).

12.1-13Natã repreende Davi12.2-4. propósito da parábola. A parábola de Natã sobre a cordeirinha providencia o fundamento jurídi­

co para o indiciam ento de D avi pelo seu adultério

com Bate-Seba. Como principal defensor dos direitos de seu povo (ver 2 Sm 15.4; 1 Rs 3.4-28), o rei tinha de

dar o veredicto e demonstrar sua sabedoria. Embora Davi tenha julgado corretamente as ações do "hom em

rico", ele não foi sábio o suficiente para perceber que o réu era ele mesmo.12.2-12. natureza da acusação. O caso apresentado por N atã para ser ju lgado por D avi aparentem ente não tem nenhum a relação com os crim es de Davi, visto que não se trata de adultério nem de assassinato. M as o que fica evidente no caso é que adultério e assassinato são apenas conseqüências de um crime m ais grave: abuso de poder. D avi é form alm ente indiciado pelo tribunal divino (Deus falando através do profeta) não apenas por ter tomado a mulher de outro homem, como também por acreditar que pode­ria ter tudo que desejasse, m ostrando-se insatisfeito com o que Deus lhe dera. Fica claro, portanto, que o rei não está acima da lei e que será julgado por Deus, ainda que não pelas autoridades civis.12.5, 6. m erece a morte/ deverá pagar quatro vezes. Em sua ira, D avi gostaria de sentenciar à m orte o infrator por sua falta de m isericórdia, m as a lei era clara quanto a isso. O pagam ento de quatro vezes mais como compensação está de acordo com o que a lei estipula em Êxodo 22.1 para o roubo de um a ove­lha (o Código de Hamurabi exigia um a multa corres­pondente a dez vezes o valor de um anim al roubado).12.8. a casa e as m ulheres de seu senhor. Visto que os casamentos reais representavam o poder do monarca e as alianças políticas e econômicas feitas em nom e do Estado, era necessário que, na sucessão, o harém do rei anterior se tom asse responsabilidade do novo m o­narca, garantindo assim as obrigações e condições dos tratados. Depois da morte de Is-Bosete (2 Sm 4.5-7) e da ascensão de D avi ao trono, esperava-se que ele estendesse sua proteção à fam ília de Saul, inclusive sobre seu harém . Portanto, é possível que a breve referência ao casam ento de D avi com Ainoã em 1 Sam uel 25.43 seja um a alusão ao casamento dele com a esposa de Saul, Ainoã (1 Sm 14.50).12.11. m aldição. O castigo é equivalente ao crim e, sugerindo que o poder de Davi seria usurpado e suas esposas lhe seriam tomadas (ver Absalão tomando as esposas de D avi em 2 Sm 16.21, 22). Pode indicar também a possibilidade dele perder o trono. As atitu­des violentas de D avi e sua m á conduta sexual irão se reproduzir dentro de sua própria família, através das atitudes violentas e do m au comportamento sexual de seus filhos.

12.15-25A morte do filho de Davi e Bate-Seba12.16. a súplica de D avi. No Antigo Testam ento, o je jum geralmente está relacionado a um pedido diri­gido a Deus, partindo do princípio de que a im por­tância do pedido leva o indivíduo a preocupar-se tan­

to com sua condição espiritual que as necessidades físicas são deixadas de lado. Nesse aspecto o ato de jejuar serve como um processo de purificação e humi­lhação diante de Deus (SI 69.10). Orações babilónicas incluem expressões semelhantes de súplica e de de­pendência do poder dos deuses para remover o mal e restaurar a saúde.12.20-23. conduta de D avi. Os servos de D avi não tinham conhecimento do juízo de Deus contra a crian­ça e por essa razão interpretaram m al as ações de Davi. O je jum fazia parte das manifestações de pesar (como os servos de Davi haviam presumido), m as o empenho de Davi aqui era no sentido de fazer Deus mudar de idéia e o jejum era parte do procedimento de apresentar sua petição. Ao constatar que seu pedi­do fora negado, ele encerrou o jejum.12.23. eu irei até ela, mas ela não voltará para mim. Com essa afirm ação, D avi sim plesm ente está reco­nhecendo que seus esforços no sentido de salvar seu filho fracassaram . Ele não faz nenhum pedido para que seu filho volte a viver, m as reconhece que so­m ente com a m orte eles estarão juntos novam ente. Essa afirmação, portanto, é uma expressão pungente do destino suprem o de toda a hum anidade, sem e­lhante à resposta pesarosa de Jacó, em Gênesis 37.35. O luto de G ilgam esh por seu com panheiro Enkidu inclui a afirmação de que "ele agora teve o destino da hum anidade" e o herói é relembrado por Siduri, no mesm o épico, com as palavras: "quando os deuses criaram o homem, lhe destinaram a m orte". Para mais informações sobre a vida após a morte, ver o comen­

tá r io em Jó 3.13-19.

12.26-31 A queda de Rabá12.26. fortaleza real. Esse versículo refere-se à fortale­za, ao passo que o seguinte refere-se aos reservatórios de água. E praticamente certo que a antiga Rabá era abastecida pelo suprimento de água de uma rica nas­cente situada perto da cidade. Não se sabe se havia duas fortalezas distintas, uma para guardar a acrópole e outra para guardar o reservatório de água, ou se ambos eram guardados por uma única fortaleza. Uma das form as de conquistar um a cidade m urada era cortando o abastecimento de água. Talvez a fortaleza tenha sido conquistada porque o exército israelita con­seguiu controlar o reservatório de água. Essa tática foi usada por Antíoco III, no período helenista, para con­quistar essa m esma cidade.12.27. reservatório de água. Devido aos baixos índi­ces de chuvas e pelo fato de só ocorrerem nos meses de inverno, as cidades dependiam de poços, fontes e cisternas para m anterem seus suprim entos de água

durante grande parte do ano. Os reis da M esopotâmia costumavam se gabar, nos registros reais, de terem construído canais, aquedutos e outros recursos para m anter o abastecim ento de água (ver tam bém 2 Rs 20.20). Portanto, a conquista do reservatório de água da cidade, de m odo geral, significava a queda im i­nente da cidade. Não se sabe quais os meios empre­gados para proteger o reservatório de Rabá.12.28. rei concluindo a conquista. Os registros dos reis e faraós da Antigüidade raramente mencionam o nome de seus generais, mas sempre fazem referência aos deuses que garantiram as vitórias à coroa. Nem sempre os reis acompanhavam o exército nas campa­nhas militares. Registros assírios falam do rei perma­necendo em casa, enquanto um general de alta paten­te ou príncipe recebiam a incumbência de acompa­nhar o exército. Isso geralmente ocorria quando havia questões domésticas urgentes para serem resolvidas, exigindo a presença do rei. A ausência de Davi no campo de batalha, portanto, poderia fazer com que

seus súditos (ou alguns difamadores) deduzissem que ele estivesse incapacitado, ameaçado ou impedido de alguma forma de cumprir seus deveres de rei. M es­mo nas situações em que o rei ia à frente na campa­nha, ele não costumava ficar no comando das bata­lhas, mas na retaguarda, no quartel-general do acam­pamento planejando as estratégias. Era costume tam ­bém que, quando possível, o rei liderasse a marcha final para a cidade conquistada. O próprio Davi pre­senciara a demonstração de lealdade do povo dividi­da entre ele e o rei Saul, com o resultad o de suas próprias vitórias. Foram essas vitórias que, aos pou­cos, contribuíram para que Davi chegasse ao trono. A preocupação de Joabe quanto à receber a fam a de ter conquistado Rabá poderia, assim, despertar a atenção de Davi e levá-lo rapidamente ao campo de batalha.12.30. a coroa do rei. A palavra traduzida como coroa geralmente é empregada para se referir a uma espé­cie de touca usada em cerimônias. Barretes em forma de cone ou turbantes eram bastante comuns entre os reis e divindades do m undo antigo. Os que eram usados pelos reis geralm ente eram feitos de tecido trabalhado, bordado com ouro e pedras preciosas. Às vezes um diadema de ouro era colocado em volta do turbante. O peso da coroa mencionada aqui permite supor que era feita de ouro maciço e não era usada sobre a cabeça do rei, mas talvez sobre a estátua do deus M ilcom (uma interpretação alternativa do texto). Várias estátuas de deuses cananeus apresentavam uma espécie de touca em formato de cone na cabeça, por­tanto não seria improvável que o deus amonita esti­vesse adornado dessa forma. É morfologicamente pos­sível que o que foi colocado na cabeça de Davi tenha

sido algum adereço da coroa tomado como despojo, e

não a coroa de trinta e cinco quilos, que seria difícil de ser sustentada, mesmo numa cerimônia curta.

12.31. trabalho para prisioneiros. U m dos meios de se obter m ão-de-obra para trabalhos pesados tanto na Mesopotâmia como na Sírio-Palestina, era através dos

prisioneiros de guerra. Em bora os anais reais e as inscrições (tais como a esteia de M esha, de Moabe)

descrevam núm eros elevados de cativos, m uitos tal­vez sejam exagerados. Contudo, os documentos ad­

m inistrativos que alistam os alim entos e as roupas destinadas aos prisioneiros e relacionam o núm ero de

mortes entre os escravos apresentam dados mais con­fiáveis. E provável que esses prisioneiros fossem obri­

gados a trabalhar logo após a guerra, a fim de recupe­rar os danos causados pelas batalhas, mas com o tem­po acabaram se estabelecendo no local, tom ando-se

cidadãos, lavrando a terra ou servindo no exército.

13.1-22Tamar é violentada por Amnom13.8, 9. preparou os b o lo s. O uso de um a assadeira

especial (m encionada na literatura judaica posterior)

em que a m assa era cozida para fazer um tipo de pu­dim sugere que não se tratava exatamente de pão como

algumas versões traduzem. A falsa doença de Amnom,

som ada com a sugestão de que ele necessitava de al­guém em quem pudesse confiar para lhe preparar uma

comida nutritiva, dá a entender que era um alimento

de fácil digestão, além de incluir as devidas precauções contra suspeita de envenenam ento.

13.12, 13. a súplica de Tam ar. Quatro elem entos se

destacam na súplica de Tamar. O primeiro é que esse

tipo de com portam ento não era costum e entre os israelitas. Obviam ente, a atitude de tomar noivas à

força não era um a prática desconhecida (ver o estupro

de Diná por Siquém, em G n 34.2 e o rapto das dança­

rinas de Siló em Jz 21.19-23), mas aparentemente era algo inaceitável e considerado um costu m e "n ão -

israelita". Ao descrever o estupro, Tam ar usa uma

expressão para causar "im p acto ", em pregada para fazer um a pessoa recobrar o ju ízo. O segundo e o

terceiro elem entos de sua súplica dizem respeito à

honra, tanto dela como de Amnom. Ela percebe que sem testemunhas não haveria como acusá-lo, portan­

to, sua única esperança era fazê-lo recuperar o ju ízo e

seu caráter de príncipe de Israel. Ela lhe diz que ele cairia em desgraça (em algumas traduções, seria "com o

um dos loucos de Israel") uma expressão aplicada a

homens sem princípios e sem honra pessoal, aos quais estaria reservado um destino terrível. Na últim a ten­

tativa de Tamar (v. 13) ela sugere que estaria disposta

a fazer parte da família de Am nom casando-se com ele.13.18.19. a túnica de Tamar. Tamar usava uma túnica bordada e cara (essa expressão só ocorre m ais um a única vez, para descrever a túnica de José em G n 37.3) que a distinguia como um a das filhas virgens de Davi. Significava que ela era pura e que não fora prometida a ninguém , portanto, ainda estava sob a proteção e o cuidado da fam ília real. Ao rasgar sua túnica, Tamar demonstrava seu pesar e o fato de que sua honra esta­va comprometida, perdendo o direito de vestir a túnica especial e comprometendo seriamente suas perspecti­vas para o futuro.13.19. cinza na cabeça. Assim como rasgar as vestes e vestir pano de saco, colocar cinza na cabeça era uma m anifestação de pesar (Et 4.3; Jr 6.26). O gesto de colocar as mãos sobre a cabeça talvez esteja represen­tado nas figuras de mulheres de luto encontradas no sarcófago fenício de A irão, rei de Biblos, no século

treze. A Lenda dos Dois Irm ãos da literatura egípcia também descreve esse gesto como um sinal de luto.

13.20. o destino de Tam ar. O fato de não ser m ais v irgem fazia com que seu valor perante a fam ília diminuísse e que talvez não fosse m ais possível con­seguir um casamento para ela. Isso fica implícito pelo fato dela ter passado a m orar sob a proteção da casa de Absalão e não m ais de Davi. Tamar passaria a viver um a vida de insatisfação e frustrações. Os textos de El A m ar na com param um a m ulher sem m arido a um campo não arado.

13.23-39Assassinato de Amnom e fuga de Absalão13 .23 . B aa l-H azo r. E ssa loca lid ad e gera lm en te é identificada com Jebel el-'A sur, oito quilôm etros a nordeste de Betei, em uma área acidentada nas mon­tanhas centrais.13.23. tosquiadores de ovelhas. A indústria da lã era extrem am ente im portante no antigo O riente Próxi­mo, o que pode ser observado pelo fato de grande parte das tábuas adm inistrativas da cidade suméria de Nipur se referirem à indústria lanífera e ao comér­cio da lã. A tosquia das ovelhas era feita no início do verão, geralmente perto dos locais onde havia fábri­cas de tinturas e tecelagem (como em Tim ná, onde foi descoberta um a grande quantidade de teares). Visto que esse trabalho exigia uma grande quantidade de pessoas, assim como a colheita de cereais, a carga de trabalho era aliviada pela associação do período de tosquia a uma época de festas (ver 1 Sm 25.7, 8). 13.34. geografia. A rota de fuga dos filhos de Davi de Baal-Hazor não pode ser delineada com certeza. Sem dúvida foi um cam inho tortu oso, m as o texto do

versículo é m uito vago quanto aos detalhes. A NVI faz um a citação a H oronaim , conform e o texto da Septuaginta, talvez representando Bete-Horon supe­rior e inferior, onde havia um a passagem m aior do noroeste. Essas localidades são identificadas com Beit 'U r el-Foqa' e Beit 'U r et-Tahta, am bas cerca de 16 quilômetros a noroeste de Jerusalém. Nenhuma des­sas cidades pode ser avistada de Jerusalém , m as é possível que algumas sentinelas estivessem posicio­nadas no lado oeste da cidade aguardando essa im­portante chegada. O texto apenas inform a que eles vieram pela estrada usada pelos viajantes.13.37, 38. a fuga de A bsalão. Após o assassinato de Amnom, Absalão fugiu para o reino de seu avô em Gesur, ao sul das montanhas de Golã, em Basã. Esse reino independente e suas cidades a leste do m ar da G alilé ia são con h ecid os a través dos textos de El A m am a e dos textos de execração egípcios. O casa­mento de Davi com a filha de Talm ai representa mais um a de suas diversas alianças diplom áticas obtidas por uniões desse tipo (2 Sm 3.3).

14.1-20 A mulher astuta de Tecoa14.2. a m ulher astuta. O contexto histórico e a situação política exigiam uma pessoa eloqüente e persuasiva (ver também a m ulher sábia da cidade de Abel, em 2 Sm 20.16-19). Entretanto, para que um a m ulher tives­se autoridade no falar, como era o caso dessas duas m ulheres, ela precisava ocupar uma posição especial. Textos do antigo Oriente Próximo m encionam m ulhe­res instruídas e exercendo cargos de autoridade (sa­cerdotisa, escriba e profetisa), mas não há nenhuma referência isolada a um a m ulher astuta ou sábia.14.2. Tecoa. Localizada 16 quilômetros ao sul de Jeru­salém, Khirbet Tequ'a fica na região montanhosa de Judá, na fronteira com o deserto. O fato de ser uma localidade pequena e remota permitiu à m ulher apre­sentar um caso que talvez não fosse conhecido pelas pessoas de Jerusalém.14.2. estratégia da m ulher astuta. A estratégia empre­gada pela m ulher segue o conhecido padrão envol­vendo um disfarce e um a h istória inventada. Um mito egípcio (texto do século doze) relata que os deu­ses Hórus e Seth estavam tentando conseguir o trono deixado vago por O síris. A m ãe de H órus, ísis, se disfarça de viúva de um pastor e inventa um a história para Seth no qual estrangeiros estão tentando confis­car a propriedade de seu filho e desapropriá-lo. Seth fica indignado com a situação da m ulher e ao conce­der seu veredicto condena a si mesmo.14.4-11. rei como últim o recurso. Um a das principais responsabilidades do rei no antigo Oriente Próximo

era garantir o cumprimento da lei e a manutenção da justiça ao povo (prólogo do Código de Hamurabi; 2 Sm 8.15; 1 Rs 10.9). Para lidar com o acúmulo de casos que surgiam, os reis delegavam autoridade a anciãos e juizes que julgavam a m aior parte dos litígios (2 Sm15.4). Existem também vários textos (cartas de Mari e o Código de Ur-Nammu) que tratam das questões das viúvas e órfãos, onde o rei é considerado como o últi­mo recurso no tribunal.14.7. clã responsável por pena capital. De acordo com Êxodo 21.12, assassinato é um crime capital (também confirmado no código de Ur-Nammu). Normalmente, cabia ao clã o direito de ju lgar e executar a sentença (como nas leis medo-assírias). Porém , é possível que o "vingador da vítim a" (2 Sm 14.11) não fosse membro do clã e sim alguém contratado para executar a sen­tença. Esse caso é mais complicado pela ausência de testemunhas (Nm 35.30). Porém , mais grave ainda é a elim inação do herdeiro, que deixaria a viúva sem um provedor e a terra da fam ília seria revertida ao clã e ao parente m ais próximo do sexo masculino.14.7. vantagem do clã em extinguir a linhagem . Se o últim o descendente de um hom em fosse executado ou morresse, sua propriedade passaria para o clã até que fosse resgatada pelo parente m ais próxim o (ver Jr32.6-16). Essa aquisição proporcionava algumas van­tagens econômicas, pois aumentava as posses do mem­bro proem inente do clã (com pare com a oferta de Acabe para comprar a vinha de Nabote em 1 Rs 21 e2 Rs 25, 26) e garantia o cultivo da terra.14.11. vingador da vítim a. O papel legal do vingador da v ítim a é d e scr ito em N ú m ero s 3 5 .1 6 -2 8 e Deuteronômio 19.6-12. Há discordâncias se essa pes­soa seria contratada pelo clã para executar a sentença ou se seria um m embro do clã. Situações que envolvi­am derramamento de sangue, mesmo as que ocorri­am dentro do próprio clã, causavam tanta divisão, que as cidades de refúgio foram estabelecidas para perm itir "acalm ar os ânim os" e reexam inar as cir­cunstâncias do caso (ver os comentários em Nm 35).14.13-17. analogia com o caso de A bsalão. A mulher sábia habilm ente faz uma ligação de seu caso hipoté­tico com a situação de Absalão. Na analogia, a m ulher representa a nação (ou o povo) e Davi teria se tom ado o vingador da vítima, retratado como uma ameaça ao futuro do reino e à herança da aliança por causa de suas atitudes contra Absalão. Há tam bém um a refe­rência implícita a conspiradores que estariam prontos a se aproveitar do exílio ou da m orte de Absalão, para se apresentarem como eventuais herdeiros da autori­dade e do poder de Davi. Através de uma sábia ale­gação, a m ulher apela a Davi para que seja um "rei ju sto" e resolva o caso com justiça.

14.20. re i com o o m ais sábio . Os egípcios tam bém acreditavam que seus reis eram dotados de todo o conhecimento e eram capazes de discernir até mesmo os pensam entos das pessoas. Essa sabedoria permi­tiria ao rei governar com justiça e exercer julgam entos justos.14.19, 20. Joabe como protetor de Absalão. Ao longo da carreira de Davi, Joabe serviu como comandante do exército e principal conselheiro político do rei. Às vezes, quando ficava evidente que D avi seria inca­paz de tomar uma decisão (como no caso de Absalão) ou quando colocava em risco a autoridade da m onar­quia (ver 2 Sm 19.1-8), ele agia por conta própria. Tal autonomia beneficiava a Davi e ao mesmo tempo o tom ava consciente do poder de Joabe. Nesse contexto, Joabe talvez tenha percebido o crescente apoio do povo a Absalão e sentiu que seria m elhor m antê-lo onde pudesse ser vigiado, ou seja, na corte, do que no exílio, am eaçando a autoridade de Davi. Como ho­m em do exército, Joabe tam bém tinha interesse em assegurar que a sucessão ao trono ocorresse de forma legítim a e tranqüila, portanto, ignorar essa situação não seria uma atitude sábia.

14.21-33Absalão volta para Jerusalém14.24. a restauração parcial de A bsalão. Era comum que pessoas fossem exiladas por motivos políticos. Du­

rante o M édio Im pério no Egito, o cortesão egípcio Sinuhe passou m ais de vinte anos exilado e Ahiqar, o conselheiro do rei assírio Senaqueribe, viveu um tem­po exilado no Egito. Porém , quando alguém exilado retom ava, esperava receber um tratamento honroso e ser restaurado à posição que tinha anteriormente. Mas ainda que D avi tenha concordado com o pedido de Joabe para que Absalão retom asse à corte, ele não es­tava preparado para restaurá-lo à sua posição (como príncipe herdeiro?). Isso indica que, em bora a senten­

ça de m orte tivesse sido revogada, Davi não tinha in­tenção de oferecer um perdão completo a Absalão, mas desejava apenas m antê-lo por perto para vigiá-lo.14.26. o cabelo de A bsalão. A beleza viril de Absalão é realçada por seus longos cabelos. A quantidade e o peso (dois quilos e quatrocentos gramas) de seus ca­

belos eram notáveis. Há um a inscrição fenícia do nono século que registra a dedicação de cabelos rapados em cum prim ento a um voto feito à deusa A starte. De acordo com o pensamento do m undo antigo, os cabe­

los (juntamente com o sangue) representavam a es­sência da vida da pessoa, e por essa razão, sem pre eram usados em simpatias. Essa prática é evidenciada pelo envio de um a m echa de cabelos supostamente do profeta, juntam ente com as profecias destinadas ao

rei de *M ari. O cabelo era usado em adivinhações para determinar se a m ensagem do profeta seria acei­ta como válida. O cabelo de Absalão, porém, não está relacionado a nenhuma dessas funções no texto bíbli­co. Ao contrário, a m enção ao cabelo simplesmente serve como prenúncio de sua morte bastante incomum (2 Sm 18.9-15); esse conceito pode ser corroborado por um presságio que dizia que se um hom em tivesse cabelos bonitos, teria uma morte prematura.14.26. peso segundo o padrão do rei. A padronização de medidas em Judá era provavelmente baseada em siclos de peso inicialmente estabelecidos em Ugarit, na Babilônia ou no Egito (cada siclo equivalia a 12 gramas). Esse padrão apresenta algumas variações, em que um siclo chegaria a pesar quase 20 gramas.14.33. restauração com pleta de Absalão. A aceitação com pleta de Absalão por seu pai pode ser vista na longa audiência que tiveram e no beijo de Davi (ver Gn 33.4 e Êx 18.7 a respeito do beijo como uma sauda­ção afetuosa e sinal de parentesco). U m a demonstra­ção pública como essa evidenciou a plena reconcilia­ção, m as ainda não garantiu a Absalão sua posição como herdeiro do trono.

15.1-19.43A conspiração de Absalão15.1. carruagem e cavalos. O fato de possuir uma carruagem , cavalos e um a escolta de cinqüenta ho­mens talvez fosse uma demonstração oficial da posi­ção de rei ou do herdeiro do trono. As carruagens eram puxadas por dois cavalos, tendo m ais um ou dois atrelados nas laterais. Duas rodas com raios de madeira presos a um eixo traseiro sustentavam uma pequena plataforma ocupada pelo condutor e por um acompanhante equipado com arco e lança. As laterais do carro chegavam apenas até a metade da coxa dos passageiros que perm aneciam de pé. O termo usado aqui sugere tratar-se de um a carruagem ornamenta­da, semelhante às usadas no Egito e na Mesopotâmia. Por serem o meio de transporte luxuoso daqueles dias, as carruagens eram geralmente adornadas com enfei­tes de ouro, lápis-lazuli e pedras preciosas.15.1. escolta de c inqüenta hom ens. Esse tipo de escol­ta ia à frente das carruagens anunciando a presença do rei ou do príncipe e garantindo sua proteção. Tex­tos hititas apresentam relatos de deuses indo à frente da carruagem real, conduzindo o rei à vitória. Os homens que corriam à frente da carruagem do rei, escoltando-a, eram como arautos. C inqüenta era o núm ero de soldados que compunham um a unidade militar. U ma escolta desse tamanho garantia a Absalão a proteção de uma guarda pessoal e o posto de capi­tão. O nde quer que fosse, seus cinqüenta hom ens

cham avam a atenção e conferiam a ele as credenciais para se declarar o herdeiro legítimo.15.2-6. A bsalão procura ganhar a sim patia do povo. Quando um príncipe deseja usurpar o trono de seu pai, geralm ente tenta m inar a autoridade do rei fa­zendo declarações públicas sobre corrupção ou má adm inistração do governo. O rei ugarita Keret, por exemplo, foi acusado por seu filho de não ouvir as causas das viúvas, dos pobres e dos oprimidos. Absalão emprega essa mesma estratégia, aproveitando-se de um a lacuna na liderança de Davi (omissão na indica­ção de juizes) e do crescente descontentamento entre as tribos do norte. Além de lhes oferecer um modelo de adm inistração eficiente da justiça, Absalão tam ­bém procede como um "hom em do povo", não per­m itindo que os queixosos se curvem diante dele e beijando-os como alguém igual a eles ou um amigo.15.7-10. Hebrom . Esta é uma astuta manobra política da parte de Absalão para ser coroado em Hebrom (30 quilôm etros a sudeste de Jerusalém). Além de ser o local onde estavam enterrados os ancestrais de Davi (Macpela), Hebrom tam bém havia sido a capital do reino de Davi em Judá. Dessa forma, Absalão estabe­lece um vínculo entre ele, a aliança e as origens da autoridade de Davi, além de ficar a um a distância segura de Jerusalém, evitando interferências e prepa­rando o cenário para sua m archa até a capital.15.8, 9. cum prir um voto. É possível encontrar infor­mações relacionadas a votos na maioria das culturas do an tig o O rie n te P ró x im o, in c lu s iv e n a h itita , ugarítica, m esopotâmica ou, com menos freqüência, na egípcia. Os votos eram acordos voluntários feitos com a divindade. Geralmente envolviam um a condi­ção e acompanhavam um pedido dirigido à divinda­de. Visto tratar-se de um ato religioso em que a divin­dade era invocada para fazer um pacto com o adorador, o voto não podia ser rompido, sob pena de desagra­dar a Deus. Isso talvez explique por que Davi aceitou o pedido de Absalão, embora já tivessem passado seis anos desde que o voto fora feito.15.10. som das trom betas. O som de trombetas ou de chifres de carneiro (shofar) era usado para emitir sinais durante as batalhas, celebrações e preparações de im ­portantes eventos, como a coroação de um rei. O shofar é capaz de produzir um a variedade de sons, m as não um a m elodia, por isso, era usado prim ordialm ente para sinalizações. O chifre de carneiro era amolecido em água quente, depois dobrado e achatado para adquirir seu form ato característico. H á registros de sons de trombeta no Egito durante a Idade do Bronze M oderna (desse mesmo período) tanto em contextos m ilitares quanto religiosos. Um código pré-estabele- cido incluía combinações de sopros longos e curtos.

15.10. rei em H ebrom . D avi havia reinado em H e­brom durante sete anos, antes de mudar sua capital para Jerusalém. Acompanhando a tradição dessa di­nastia, Absalão se declarou rei em H ebrom, dando m aior legitim idade à sua conspiração e fornecendo evidências de que havia conseguido apoio de Judá e também das tribos do norte. Hebrom ficava localiza­da bem no centro da região montanhosa de Judá e era uma das m ais importantes cidades da região, estando cerca de 32 quilôm etros ao sul de Jerusalém . Para m ais informações, ver o comentário em 2.1.15.12. oferecer sacrifícios. Como em 1 Samuel 10.8 é provável que aqui os sacrifícios de Absalão também fossem holocaustos e ofertas de comunhão, dois dos sacrifícios m ais comuns. O primeiro geralmente acom­

panhava uma petição, enquanto que o segundo ser­via como uma oportunidade para celebrações e refei­

ções comunitárias diante do Senhor. Esses sacrifícios foram oferecidos como forma de marcar o início de seu reinado e talvez como preparação para as atividades m ilitares co n tra D avi. A través desses sacrifícios Absalão pediu a bênção de Deus e ao mesmo tempo ofereceu um banquete para aqueles que estavam fir­mando um a aliança com ele.15.12. A itofel. Essa é a primeira vez que o nome de Aitofel é mencionado, um dos principais conselheiros de Davi. Com o sugerim os no com entário de 11.3, provavelmente ele seria avô de Bate-Seba. Em nações onde reinos eram herdados ou conquistados no cam­po de batalha, os conselheiros eram fundam entais para garantir instrução, sábias estratégias diplomáti­cas e conselhos. Os conselheiros geralmente eram agra­ciados com títulos como de vizir, primeiro-ministro ou m ordom o real, e a eles eram confiadas m uitas das responsabilidades para governar o reino. Nessa épo­ca, os reis israelitas ainda não haviam criado esses cargos, e Aitofel nunca é alistado entre os funcionários do governo, m as sua posição como conselheiro real sugere que ele talvez tenha desfrutado de parte dessa função.

15.12. G ilo. Embora às vezes identificada com Khirbet Jala, oito quilômetros a noroeste de Hebrom, prova­velmente a cidade natal de Aitofel possa ser encontra­da m ais ao sul e a oeste, perto de Debir. Foi atribuída ao território da tribo de Judá (Js 15.51).15.16. concubinas tom ando conta do palácio. Visto que os casam entos reais representavam o poder de um m onarca e as alianças políticas e econômicas feitas em nome de um Estado, era necessário que na suces­são, o harém do antigo rei passasse a ser responsabi­

lidade do novo monarca, mantendo desse modo, as condições e obrigações dos tratados. É provável que as concubinas deixadas por Davi no palácio fossem

aquelas que ele havia tomado das famílias influentes de Jerusalém (ver 5.13) ou de algum as fam ílias de Hebrom que estavam agora apoiando Absalão.15.18. queretitas, peletitas, giteus. Todos esses eram grupos de m ercenários que serviam a D avi com o vassalos e não como membros do exército efetivo. Os queretitas são identificados como vindos de Creta e estão intimamente ligados aos filisteus, que suposta­m ente seriam provenientes de alguma área no mar Egeu. Os peletitas são conhecidos apenas em passa­gens como essa, em associação com os queretitas. Os giteus talvez fossem uma brigada de tropas formada durante o período em que Davi serviu a Aquis, rei de Gate (1 Sm 27.1-12) ou simplesmente um grupo for­mado para sua guarda pessoal após ter se tom ado rei. Todas essas tropas parecem ser de origem filistéia ou cretense. O texto não esclarece se essas unidades espe­ciais de tropas mercenárias (ver 2 Sm 8.18) represen­tavam todas as unidades do exército reunido por Davi em sua fuga de Jerusalém ou se seriam simplesmente grupamentos adicionais.

15.19-22. lealdade dos m ercenários. Era uma prática comum no antigo Oriente Próximo empregar tropas de mercenários a fim de aumentar os exércitos nativos (como no caso em que os egípcios recorreram aos nubianos no início do Novo Império). Porém, como Davi sugere, a lealdade das tropas mercenárias geral­mente se baseava no pagamento periódico que rece­biam e, quando possível, na possibilidade de esco­lher lutar do lado que estava vencendo. A notável declaração de Ita, o giteu, expressando lealdade pes­soal a Davi indica um relacionamento de m uitos anos e uma fidelidade que transcende o lucro monetário.15.23. geografia . D avi saiu de Jerusalém viajando pelo leste através do vale de Quidrom em direção ao monte das Oliveiras, que ficava do outro lado do vale. Em seguida, ele continuou rumando para o nordeste até Baurim pela estrada que ia de Jerusalém a Jericó até o vale do Jordão, região mencionada no texto como

deserto. Finalmente ele teria cruzado o Jordão pelos vaus de Jericó e prosseguido para o norte até Maanaim.15.24, 25. o papel da arca. Seria lógico levar a arca porque ela representava a presença de Yahweh, por­tanto, era um poderoso talismã (para o significado da arca durante as batalhas, ver o comentário em 1 Sm4.3-7). Porém, Davi teve discernimento suficiente para perceber que se ele não estava sendo favorecido por Deus, a arca não lhe traria nenhum benefício, poden­do até m esm o transform ar-se num a ameaça. H avia também uma possível vantagem em deixar a arca em Jerusalém, pois Davi astutamente usou sua devolução como um disfarce para a ação dos espiões Zadoque, Abiatar e dos sacerdotes (2 Sm 15.35, 36; 17.15, 16).

15.25, 26. testando o favor do Senhor. Os israelitas

acreditavam que as coisas boas ou m ás que aconteci­am na vida de um a pessoa evidenciavam a benevo­

lência ou a desaprovação de D eus. A expulsão de Davi de Jerusalém , portanto, é descrita quase que

como uma dura provação. O discurso do rei indica sua resignação em deixar o curso dos eventos nas m ãos de Deus. Ao recordar as palavras de condenação de Natã,

registradas em 12.10-12, Davi não se sente plenamen­te convicto de que esses trágicos acontecimentos pode­

riam ser um castigo por seus crimes. Davi confiava na habilidade de Zadoque como profeta para obter uma

palavra de Yahw eh sobre o destino final do rei (com­

pare o uso que Saul fez da médium de En-Dor em 1 Sm 28.3-8). U m texto profético de M ari contém um

alerta sobre um a revolta e a necessidade de cercar o rei de oficiais confiáveis; talvez fosse esse tipo de men­

sagem que D avi esperava receber.

15.28. desfiladeiros do deserto. A expressão "desfila­deiros do deserto" é uma referência aos vaus perto de

Jericó, a uma distância de um dia de viagem de Jeru­

salém. Em vez de dar o passo simbólico de abandonar totalmente seu reino, Davi planeja acampar na m ar­

gem oeste do rio Jordão, cerca de seis quilômetros da foz do rio que desemboca no m ar Morto. Ali ele des­

cansaria e aguardaria notícias do desenrolar dos fatos

em Jerusalém (ver 2 Sm 17.16).

15.30. m onte das O liveiras. Sem pre que aparecem

nomes de antigas localizações geográficas, é possível que a referência seja a algum marco ou traço do terre­

no que não mais existe. N esse versículo, o nome pode referir-se ao m onte das O liveiras (ver Zc 14.4) ou

então a uma trilha específica na subida por uma das

três escarpas do m onte das O liveiras, indo para o nordeste. Ficaria a cerca de um quilômetro dos muros

da cidade.

15.32. lugar onde o povo costum ava adorar. Esse lugar de adoração não foi citado anteriormente, mas é

possível que represente um antigo altar ao ar livre ou

um santuário abandonado. Alguns estudiosos suge­rem que poderia ser identificado com N obe (1 Sm

21 .1 ,19), m as não se pode afirmar com certeza, além

disso, Nobe ficaria mais ao norte.

16.1, 2. suprim ento de alim entos. Qualquer exército no campo de batalha necessitava de provisões e de

meios para se abastecer. Na Assíria, os governantes

locais eram obrigados a abrir seus celeiros para suprir os exércitos que estivessem passando pela região. Ge­

ralmente, os habitantes da região costumavam forne­

cer alimentos aos soldados. Aqui, a comida também representava um tributo ao soberano e o reconheci­

m ento do direito de D avi governar. O presente de

Ziba é menos generoso que o de Abigail em 1 Samuel 25, mas a quantidade não é inadequada.

16.3, 4. a ausência de M efibosete. Embora a preocu­

pação imediata de Davi fosse a conspiração dentro de sua própria casa, esse capítulo nos faz recordar que

uma dinastia havia sido deposta (a de Saul) e alguém

poderia estar à espreita, disposto a tirar proveito da fraqueza de Davi. Z iba considerou M efibosete um

ingrato, num a tentativa evidentemente bem -sucedi­

da de agradar a Davi. A acusação de Ziba foi suficien­temente convincente a ponto de Davi confiscar as ter­

ras de M efibosete. O código sum ério exigia que o

filho adotivo fosse privado da terra se repudiasse suas obrigações legais para com a família que o havia ado­

tado. O confisco das terras pertencentes ao seu prede­cessor sempre foi um a possibilidade para Davi e ago­

ra ele exercita esse direito, mas em vez de tomar as

terras para a coroa, ele as oferece como presente a um servo leal.

16.5. Baurim . Localizada ao norte do monte das Oli­

veiras, Baurim era uma aldeia benjam ita (provavel­mente Ras et-Tmim ou Khirbet Ibqe'dan). Saul per­

tencia à tribo de Benjamim, portanto, era de se espe­

rar que entre seus parentes houvesse um grupo leal a

ele. Esse povoado ficava praticamente na entrada de Jerusalém, que tam bém ficava em território benjamita.

16.11. fo i o Senhor que m andou fazer isso. Davi não

afirm ou estar a par da discussão entre o Senhor e Simei, nem sugeriu que Sim ei teria recebido algum

oráculo profético. A form a pela qual o Senhor "en ­v iou " Sim ei para am aldiçoar D avi era através dos

acontecimentos recentes. O fato de Davi estar sendo expulso do trono por seu próprio filho permitiria facil­

mente inferir que ele estava sendo alvo de um castigo de Deus, faltando apenas deduzir qual ofensa havia

provocado tal castigo. Davi simplesmente reconhece que Simei tem razão em pensar que Deus o amaldiço­

ara, portanto, não pode ser considerado culpado por querer atacar a im agem do rei. Só depois de uma

vingança futura é que Davi passaria a considerar os

atos de Sim ei como traição e não m ais como um a voz

reconhecendo as circunstâncias pelas quais Deus esta­va executando a retribuição de seus atos.

16.21. A bsalão e as concubinas de D avi. Inúm eros exemplos demonstram que o harém real era conside­rado propriedade exclusiva do rei. Qualquer tentati­

va no sentido de obter um a m ulher do harém era vista como sinal de rebelião ou usurpação de poder

(ver a reação de Is-Bosete para com Abner em 2 Sm3.6-11 e o pedido de Adonias em relação a Abisague em 1 Rs 2.20, 21). A perda do harém para outro mo­

narca, como descrita nos anais assírios de Senaqueribe,

era um sinal de submissão ou deposição. Para mais detalhes, ver o comentário em 3.7.17.1. doze m il hom ens. Esse núm ero possivelmente se refere ao recrutamento de tropas de cada uma das doze tribos e não a uma cifra exata. Alguns eruditos sugerem que a palavra traduzida como "m il" desig­na apenas um a unidade m ilitar. P ara inform ações adicionais, ver o comentário em Josué 8.3.17.1-3. a estra tég ia de A ito fe l. A o elim inar D avi, Aitofel acreditava que qualquer oposição ao governo de Absalão cessaria. Um rápido ataque ao "exército" desorganizado e exausto de Davi poderia ter êxito em m atar o rei e obrigaria as forças já desmoralizadas a marchar para o lugar que eles escolhessem. Essa não seria uma batalha de trincheiras, m as um ataque pre­ciso com um propósito definido.17.5-13. a estratégia de Husai. Desempenhando bem seu papel como agente duplo designado por Davi (2 Sm 15.32-36), H usai argumentou contra o conselho de Aitofel, que sugeria um ataque imediato contra Davi. Ele sugeriu então uma estratégia militar segura para consolidar o controle de Absalão sobre a capital e a nação, antes de partir em ação contra o rei deposto. Ele também apresenta a perspectiva de uma possível derrota no início do reinado de Absalão, que poderia colocar em questão sua aptidão e restaurar as chances de Davi retom ar ao poder. Habilm ente m anipula o orgulho de Absalão ao descrever a cena do novo rei cavalgando a frente de uma legião de soldados pron­tos a esmagar qualquer oposição. A procrastinação e o

tempo adicional para planejar a ação foram aceitos como conselhos sábios, apesar das evidentes vanta­gens da estratégia de Aitofel (ver o destino de Amasa quando falhou em reagir à revolta de Seba em 2 Sm20.4-13).17.13. arrastar a cidade com cordas. Um a das estraté­gias empregadas para invadir cidades sob cerco era colocando escadas apoiadas nos muros. Talvez fossem usassem ganchos presos a cordas com esse mesmo objetivo. As cordas eram usadas para escalar os muros ou para deslocar as pedras tornando os muros mais vulneráveis ao ataque dos aríetes. Ilustrações de cer­cos em palácios assírios incluem a demolição de pare­des usando picaretas, m as é possível que ganchos e cordas também fossem usados pelos invasores.17.17. En-Rogel. Fonte localizada um quilômetro ao sul da fonte de Geom, perto da junção dos vales de H inom e Q uidrom . En-Rogel provavelm ente com ­partilhava da mesma nascente de Geom (relacionado a Bir Ayyub, o "poço de Jó ") e supria as necessidades do povo que viv ia do lado de fora dos m uros de Jerusalém. Visto que era freqüentada por muitas pes­soas, era o lugar ideal para ouvir as notícias e n in­

guém iria suspeitar se Jônatas e Aimaás permaneces­sem ali, esperando por notícias da cidade.17.18. Baurim . Localizada ao norte do monte das Oli­veiras, Baurim era um a aldeia benjam ita (provavel­m ente Ras et-Tm im ou Khirbet Ibqe'dan). H á uma certa ironia no fato dos espias de Davi terem recebido ajuda para se esconder em um poço de um habitante de Baurim, visto que também era o lugar onde m ora­va Sim ei ben Gera, que havia am aldiçoado o rei (2 Sm 16.5).17.23. as ações de A itofel. O suicídio não é condenado pela Bíblia hebraica. Os seis exemplos (Abimeleque, Sansão, Saul, seu escudeiro, Aitofel e Zinri) que fa­zem parte da narrativa bíblica chegam a sugerir uma certa dose de honra e coragem associada ao ato, de form a bastante parecida com a descrição de Sêneca (70" Epístola). O filósofo romano diz: "O homem sábio vive o tem po que deve, e não o tempo que pode". Sendo assim, a partida de Aitofel é uma saída racio­nal. Ele colocou seus negócios em ordem, provavel­mente redigiu um testamento assegurando a transfe­rência de suas propriedades aos seus herdeiros e em seguida se enforcou. Ele também enganou o executor, visto que seu apoio a Absalão seria interpretado como traição contra o ungido do Senhor.17.24. geografia. O texto afirma que Absalão atraves­sou o Jordão depois de Davi ter passado e chegado a Maanaim, a 56 quilômetros dos vaus de Jericó. Maa- naim é identificada com Telul ed-D habab el-Garbi, na encosta norte do Jaboque. Sua importância como centro adm inistrativo é confirm ada pelo fato de ter sido a capital de Is-Bosete (2 Sm 2.9) e por ser m enci­onada nos registros do faraó Sisaque. Não foram feitas escavações no local, mas levantamentos topográficos na superfície confirmam sua ocupação nesse período.17.28, 29. provisões. Mais uma vez Davi recebe pro­visões para ele e seus homens (ver os suprimentos de Abigail em 1 Sm 25.18 e as provisões oferecidas por Ziba em 2 Sm 16.2). Em todos esses casos, os alimen­tos poderiam ser considerados como pagam ento de um tributo ou cumprimento do dever de um vassalo. Os amonitas haviam sido dominados por Saul (1 Sm 11) e m ais tarde por D avi (2 Sm 10), logo, o rei é tratado por seus aliados com hospitalidade e respeito, apesar de sua partida forçada de Jerusalém.

18.1, 2. organização das tropas. Essa divisão do exér­cito em três companhias formadas por batalhões de cem e de mil soldados é típica da estrutura m ilitar israelita (ver N m 31.48; Jz 9.43; 1 Sm 11.11). Fontes m esopotâmicas, como os textos de Mari, mencionam uma variedade de grupos militares comandados por oficias de diferentes graduações e patentes. Além des­ses contingentes regulares de tropas, são menciona­

das também algumas tropas especiais levemente ar­madas usadas em emboscadas e m issões de reconhe­

cimento, e outras designadas para dar proteção aos comandantes ou ao rei.

18.6. floresta de Efraim . A área m ais provável para essa batalha é na Transjordânia, perto de M aanaim

(ver 2 Sm 17.27). Esse local seria adequado à cena de Absalão trazendo as lutas até Davi, em vez de Davi invadindo Israel após atravessar o Jordão. A densida­

de dessa "floresta" é controversa, visto que o desflo­restamento e a erosão modificaram drasticam ente a

região ao sul do Jaboque. O termo usado aqui pode

descrever tanto um terreno escarpado com pequenos bosques isolados como uma floresta de fato. É difícil

ver essa floresta como atribuição de Efraim, visto que

o território designado a essa tribo ficava a oeste do Jordão. M as essa tribo pode ter reivindicado algumas áreas daquele território ou ocupado algumas faixas de

terra daquele lado do Jordão (ver Jz 12).

18.8. a floresta m atou m ais que a espada. Quando o Antigo Testamento faz menção a terra devorando pes­

soas (como no caso da floresta aqui), isso indica um

am biente hostil e ameaçador à sobrevivência. Visto

que esse era um campo de batalha escolhido por Davi e não por Absalão, é bem possível que as tropas do rei conseguissem tirar vantagem do terreno irregular e

das áreas de floresta. Emboscadas, simulação de ata­ques atraindo as tropas para precipícios ou vaus e

outras táticas de guerrilha talvez tenham sido empre­

gadas, provocando desorientação nas tropas e deixan­do-as perdidas ou isoladas, tom ando-as assim alvos fáceis.

18.9. a situação de A bsalão. O texto diz que Absalão

ficou preso pela cabeça e não pelo cabelo, como tradi­

cionalm ente se presume. A situação é carregada de simbolismo, como na mula real (montaria própria de

reis) que abandona o futuro rei, deixando-o pendura­

do num a árvore, refletindo a condição de alguém amaldiçoado por Deus (Dt 21.23).

18.11. dez peças de prata e um cinturão de guerreiro.

Essa recompensa era equivalente ao salário de um ano de trabalho, acrescida de uma peça distintiva de ves­

tuário, representando assim um valor significativo e in­

dicando o quanto a m orte de Absalão era estratégica para Joabe. Os trajes m ilitares de Gilgam és incluíam

um cinto para colocar o punhal e um tipo de cinta ou

faixa, mas o termo usado aqui (na forma feminina) não aparece em nenhum outro contexto para designar uma

peça do equipamento m ilitar (apesar da versão da NVI

acrescentar "d e guerreiro"), geralmente usada na for­ma masculina. Esse mesmo termo é usado para referir-

se à cinta de um a m ulher em Isaías 3.24; talvez fosse

um cinto enfeitado ou para ser usado em ocasiões es­peciais (ver o com entário em 1 Rs 2.5).18.14. dardos. O "d ardo" usado por Joabe é descrito em outros contextos como um bastão sem ponta usado para golpear alguém. O verbo citado aqui geralmen­te significa bater (exceto em Jz 3.21). A palavra "cora­ção" nem sempre diz respeito ao órgão em si, m as sim ao peito ou ao centro do tórax. Se Joabe tivesse inten­ção de perfurar Absalão, uma espada ou lança teria sido a escolha mais provável. Parece que Joabe, em vez disso, pretendia derrubar Absalão da árvore dan­do-lhe um a forte pancada no peito e se usasse um único bastão ele se quebraria com a violência do gol­pe (ver Is 14.29), por isso ele usa três. Um a vez que a vítim a (provavelm ente inconsciente) foi derrubada no chão, os dez assistentes de Joabe term inaram o serviço.18.14. escudeiros. Comandantes e oficiais do exército costumavam ser escoltados por seus escudeiros (ver exemplos na Ilíada) que, durante as batalhas form a­vam um tipo de guarda pessoal (ver 1 Sm 31.4-6), providenciando outras armas caso a do comandante se quebrasse ou se perdesse e, aparentem ente, até mesmo atuando como "am igos" ou conselheiros (ver Davi com o escudeiro de Saul em 1 Sm 16.21 e de Jônatas em 1 Sm 14.12-17).18.16. tocou a trom beta. Como parte dos preparativos para a batalha, os exércitos no antigo Oriente Próximo transmitiam às suas tropas uma série de sinais esti­pulados para indicar avanço ou retirada. O som das trombetas (shofar) e as informações dos mensageiros eram os únicos meios de controlar o movimento das tropas. Havia alguns sons específicos para reunir as tropas para a batalha ou sinalizar algum perigo imi­nente, como os sinais de fogo dos textos de Mari.18.17. prática de sepultam ento. Textos assírios indi­cam que os rebeldes geralmente eram punidos com o em palam ento e seus corpos ficavam expostos, sem um enterro digno. Os líderes israelitas tam bém fazi­am uso dessas formas de "exibição" (ver a execução dos cinco reis inimigos em Js 10.27), mas os corpos não ficavam expostos indefinidamente (Dt 21.23). Por isso, até mesmo indivíduos amaldiçoados eram enterrados debaixo de um monte de pedras (ver o comentário em Js 8.29). Esse tipo de sepultamento não deve ser con­fundido com os honrosos montes funerários dos reis mesopotâmicos.18.18. coluna com o m onum ento. O épico ugarítico de A qhat (c. 1600 a.C.) menciona que um dos deveres do filho para com seu pai era erigir um a esteia ou coluna em honra aos deuses ancestrais. V isto que Absalão não tinha filhos [vivos?], ele m esm o erigiu um monumento em sua honra. Trata-se de uma ob­

servação bastante irônica, considerando-se que ele não

foi enterrado no túmulo da família. Seu monumento

tom ou-se um triste marco de uma vida fracassada. O túm ulo encontrado na aldeia de Silw an (depois do

vale de Quidrom), hoje chamado de tumba de Absalão,

pertence a um a época posterior (período herodiano).18.18. vale do Rei. A localização exata desse vale é

desconhecida. Geralmente é identificado com o vale de Quidrom, a leste de Jerusalém, ou com a confluên­

cia dos vales de Hinom, Tiropoeon e Quidrom. Tam ­

bém é descrito como vale de Savé, em Gênesis 14.17.

18.19-23. m ensageiros levando as n otícias. Era co­m um o uso de mensageiros pelos exércitos e por ofici­

ais do governo no antigo Oriente Próximo. Os textos de M ari relatam que o movimento das tropas no cam­

po de batalha era parcialmente coordenado por men­

sageiros, que tam bém traziam despachos diplomáti­cos e notícias da aproximação de delegações e carava­nas. De acordo com esses textos e tam bém pela narra­

tiva bíblica, parece que esses m ensageiros tinham

diferentes graduações. Alguns, como os suharum de M ari, eram jovens em pregados por sua resistência

física e velocidade. Entretanto, existiam também m en­

sageiros nos níveis inferiores dos órgãos diplomáticos

(talvez comparáveis à posição sacerdotal de Aimaás) a

quem eram confiadas as missões mais importantes.18.24. entre a porta interna e a externa da cidade. A

partir da Idade do Bronze Média, o sistema de defesa das cidades incluía a construção de sólidas m uralhas e

portões com diversos com partim entos. Os padrões eram variáveis (casamatas e construção de muros es­

pessos), m as geralmente o acesso à cidade era limita­

do por degraus ou por uma passagem estreita, impe­dindo a passagem de alguns tipos de veículos e res­tringindo o tráfego pelos portões da cidade. A lém

disso, geralm ente havia uma curva à direita dentro da porta externa, antes do acesso à porta interna. Na

área entre as duas portas havia guaritas de sentinelas, sendo esse local usado como ponto de encontro para

transações legais e comerciais. Escavações arqueológi­cas na cidade de Dã revelaram que havia um a plata­

form a elevada entre as duas portas. É possível que essa plataform a fosse o local em que se assentava o

governante da cidade quando havia um julgamento público.18.24. terraço sobre a porta. O s portões podiam ser

retangulares ou circulares, mas sem pre eram vigia­dos do alto das torres de diversos andares, que podi­

am ser consideradas postos de sentinela. Evidências

encontradas em M egido, Timna, Hazor e Láquis com­provam a existência de torres fortificadas que serviam

de defesa e também como plataforma para sentinelas.

18.33. quarto por cim a da porta. Visto que tanto as portas da cidade como suas torres tinham diversos pavim entos, havia espaço para um am plo cômodo

dentro das muralhas, usado para reuniões e também

com o alojam ento dos sentinelas. Após a notícia da m orte de Absalão, D avi retirou-se para um desses

quartos de onde podia avistar a disposição de seu exército e ainda assim ter um pouco de privacidade.

O fato de não ter entrado na cidade sugere sua per­cepção da delicada situação política, e ao mesmo tem­po demonstra que ele não estava pronto para reassumir suas agenda normal.

19.8. o rei sentou-se à porta da cidade. Escavações

recentes em Tel Dã revelaram o que parece ser um a plataform a de pedra no interior da porta, que possi­

velmente seria uma plataforma para sustentar o tro­no. Talvez fosse usada em cerimônias, eventos diplo­

máticos ou procedimentos legais (ver 1 Rs 22.10). O épico ugarítico de Aqhat descreve o rei Danil assenta­

do junto à porta da cidade julgando as questões de

viúvas e órfãos. Portanto, um rei assentado no trono é um rei desempenhando suas funções ordinárias - uma

imagem que Davi queria agora passar para o povo.

19.11-15. processo para o retom o de D avi ao palácio. Como Absalão não foi ungido rei, e também porque

os líderes tribais tanto de Judá como de Israel estavam

divididos quanto a ter Davi de volta ao trono, certas garantias e acertos tiveram de ser feitos. Por exemplo,

o general de Absalão, Amasa, assume o comando do

exército de Davi (embora não das tropas de elite e dos

mercenários, que perm aneceram sob o comando de Joabe). Davi tam bém teve de convencer sua própria tribo, relembrando os laços de sangue que os uniam e

os juram entos de lealdade que haviam feito. O exílio

de Davi e o eventual retorno para assum ir o trono

poderiam ser comparados às experiências de Idrimi, o rei de Alalakh, do século quinze a.C., que foi forçado

a deixar o trono por sete anos, até poder reconquistar a lealdade de seus vassalos.

19.15. G ilgal. N o início da monarquia, Gilgal aparen­temente era um centro de adoração. Talvez por estar relacionada à coroação de Saul e por sua proximidade

com o rio Jordão (possivelmente identificada com loca­

lidades próximas a Khirbet M efjir, pouco m ais de um

quilômetro a nordeste de Jericó), seria um local apro­

priado para os líderes tribais aceitarem novam ente D avi como rei. Ver os comentários em 1 Sam uel 7.16;

11.14, 15.19.24. lavar os pés e aparar a barba. A tradução da

NVI sugere uma negligência com a aparência pesso­

al, freqüentemente associada ao luto. Esse relato tam­

bém indica que M efibosete não tinha nenhuma inten­

ção de assumir o trono, pois de outro modo ele teria tomado cuidado para se apresentar com a aparência digna de um rei. Ezequiel 24.17 tam bém identifica

pés descalços e barba por fazer como sinais de luto. As atitudes atribuídas a M efibosete permitem essa inter­

pretação, porque o texto sim plesm ente diz que ele não havia lavado os pés nem aparado a barba.

19.22 ,29. perdão concedido em ocasiões especiais. O rei atuava como "chefe da casa" em relação aos nobres e à corte real. Com o tal, ele podia agir com o um

paterfamilias, concedendo perdão ou sentenciando à m orte aqueles que eram acusados de crimes políticos

ou deslealdade (ver 1 Rs 2.19-46). Simei e M efibosete

haviam com etido crim es contra D avi que justificari­

am a pena de morte. No entanto, no dia de sua ascen­são ao trono, Davi decidiu perdoá-los, como sinal de

sua m agnanim idade e disposição em perdoar seus inimigos políticos (ver a afirmação semelhante de Saul

em 1 Sm 11.12 ,13). Era comum na Mesopotâmia que o rei declarasse anduraru - a libertação de prisioneiros

e de escravos por dívidas - quando da sua ascensão ao

trono. Indultos semelhantes podiam alcançar também os culpados de crimes políticos como se observa no documento da reform a do rei sumério Uruinimgina

(século 24 a .C ), em que até ladrões e assassinos foram libertados. No Egito, a coroação de um novo faraó era

acompanhada muitas vezes da concessão de anistia.

19.42. com er das provisões do rei. Aqueles que comi­

am à m esa do rei ou de sua provisão eram seus de­pendentes, portanto, deveriam demonstrar lealdade

por receberem esse tratamento (evidenciado nas listas

de provisões fornecidas a nobres e membros do go­verno em textos administrativos de Mari e da Babi­

lônia). O crime de M efibosete era baseado nesse fato, visto que ele aceitara as provisões da m esa de Davi (2

Sm 9.6, 7). Os líderes de Judá negaram esse tipo de vínculo, insistindo que suas boas-vindas a Davi eram

baseadas na sua capacidade de governar, e não em

subornos ou favores garantidos a eles pelo rei.

19.41-43. argum entos da discussão intertribal. A pre­

sença de favoritismo e discriminação fatalmente iria se refletir na política na forma de privilégios. A ques­

tão era se a m onarquia estava estruturada ao redor da pessoa e da família de Davi (posição que os homens

de Judá defendiam, referindo-se a seus laços de pa­

rentesco) ou era uma instituição merecedora de leal­

dade, não importando quem estivesse no poder (posi­ção de Israel). Esse argum ento é um prenúncio da

rebelião de Seba e da eventual divisão das tribos do norte, sob a liderança de Jeroboão. A disputa também

remete às discussões comuns entre as tribos, ocorridas

no período dos juizes. Essas duas situações indicam

que a idéia de um governo centralizado sob a forma

de m onarquia ainda não se firmara entre os israelitas. É comum supor que havia uma unidade natural em

Israel, que se refletia na m onarquia unificada, en­quanto que a monarquia dividida é considerada uma

aberração. N a verdade, porém , até o período pós-

exílio o que havia era um a lealdade tribal e não uma

lealdade nacional que atendia às decisões políticas do

governo.

20.1-25A rebelião de Seba20.1. a declaração de Seba. Os exércitos de todas as

tribos, sentindo-se excluídos no processo de retom o

do rei, não iniciam uma ação m ilitar contra Judá ou Davi, m as sim plesm ente abandonam D avi para se­

guir Seba (ele os envia de volta às suas casas, em vez

de reuni-los para a batalha). A declaração de Seba efetivamente anuncia a retirada do apoio ao reinado

de Davi, mas não indica que estaria apoiando outro rei. Visto que Seba era benjamita, é possível que ain­

da m antivesse algum vínculo com a casa de Saul e

que um descendente de Saul seria cham ado, m as o

texto não revela esse elemento.20.3. m and ou co n fin ar as dez con cu b in as. Como

A bsalão havia m antido relações sexuais com essas

mulheres, elas não poderiam mais servir como par­ceiras sexuais do rei. Se a presença delas no harém

representasse alianças políticas que haviam sido apoi­adas por Absalão, o fato de serem consideradas persona

non grata seria duplamente justificado. Davi cumpriu

suas obrigações para com elas, garantindo-lhes o sus­

tento, m as elas nunca mais teriam filhos com o rei. O código de Hamurabi exigia que as viúvas recebessem

"com ida, óleo e rou p as", e o texto de Êxodo 21.10 garante direitos semelhantes às concubinas.

20.4, 5. conv ocar o exército . O curto período que Am asa tinha para ajuntar as tropas dos clãs de Judá

talvez fosse um teste para m edir sua lealdade e tam ­bém a lealdade das tropas. A m asa havia prestado

serviço a Absalão e as autoridades de Judá haviam renovado seus juram entos de lealdade a Davi havia

pouco. O uso de m ensageiros para reunir as tropas

era comum (ver a convocação de sete dias em 1 Sm11.3-5), mas os textos de M ari indicam o uso de listas

de inscrição que deviam ser levadas às aldeias e acam­pamentos para alistar os soldados. Esse procedimen­

to, porém, requeria um tempo m aior do que o prazo de três dias concedido por Davi para reunir um gran­

de contingente.20.6. m eus soldados. Joabe é identificado aqui como

senhor de A bisai. V isto que Joabe estava despres­

tigiado e talvez fora deposto de seu cargo, A bisai

recebeu o comando do exército efetivo. O exército foi

dividido em três grupos. O primeiro era de mercená­rios que serviam como guarda pessoal do rei, repre­

sentado pelos queretitas e peletitas, que provavel­

mente som avam algum as centenas de soldados. O segundo grupo formava o exército regular, que pro­

vavelm ente incluía israelitas e m ercenários. Eram

soldados profissionais, treinados, que tinham servido

sob o comando de Joabe e agora estavam sendo lide­rados por Abisai. A essa altura, provavelmente ape­

nas os soldados de Judá perm aneciam leais, o que reduzia o contingente de soldados para apenas algu­

mas centenas, em bora o exército efetivo geralmente

chegasse a alguns milhares. O terceiro grupo era for­

mado por todos aqueles que podiam se alistar em

tempos de crise. Era esse o grupo que Am asa estava tentando organizar.

20.8. grande rocha de G ibeom . M uitas vezes o texto

bíblico se refere a algum marco conhecido na época, mas que atualmente não nos é fam iliar (ver a tamarei­

ra de Débora em Jz 4.5). Assim, o escritor aqui pode

estar se referindo a um altar ou a um lugar elevado

como Nebi Sam wil (pouco mais de um quilômetro ao sul de el-Jib; ver 1 Sm 14.33; 1 Rs 3.4) ou simplesmen­

te a um a formação rochosa inusitada que ficava perto

de Gibeom (el-Jib, cerca de seis quilômetros a noroes­te de Jerusalém).

20.8. equipam ento de Joabe. E difícil reconstruir a

estratégia de Joabe para m atar Amasa. Joabe vestia seu traje m ilitar e usava o cinturão normal dos guer­

reiros com um punhal na bainha. A explicação mais

comum é que Joabe teria conseguido tirar o punhal para fora da bainha, deixando-o cair no chão de forma

aparentemente acidental. A seguir, apanhou-o do chão com a mão esquerda, mantendo-o oculto até aproxi­

mar-se de Amasa.20.9. pegar p ela barba. Há poucas referências do beijo

como uma saudação entre pessoas sem vínculos de parentesco, exceto em situações de submissão (como

beijar os pés, atitude encontrada em m uitos textos antigos, inclusive no épico de Gilgamés). Em alguns

contextos, o beijo era uma form a de expressar reconci­liação (ver José e seus irm ãos em G n 45.15), o que talvez seja o caso de joabe e Amasa. O beijo também

podia ser um a form a de expressar consideração ou compaixão por alguém que estivesse enfrentando um

problema, como em 2 Sm 15.5. Quando os homens se

beijavam era comum um segurar a barba do outro. Esse ato fazia com que ficassem vulneráveis e era

geralmente relacionado às ações agressivas nas bata­lhas. Aqui, representava uma demonstração de confian­

ça, porém Am asa confiou na pessoa errada e Joabe aproveitou a oportunidade para eliminar seu rival.

20.14. A bel-B ete-M aaca. Identificada em geral com Tell Abel el-Qamh, cerca de cinco quilômetros a noro­este de Dã, no extrem o norte de Israel, A bel-Bete- M aaca tam bém aparece na relação das cidades con­quistadas de Tutm és III. Sua im portância estratégica é confirmada por constar no registro das conquistas de Tiglate-Pileser III em 1 Reis 15.29 e nos anais assírios.20.15. rampa. Um método bastante comum no cerco de cidades era a construção de um a rampa que podia ser usada como plataforma para permitir o acesso às torres e também para facilitar a aproximação dos aríetes (2 Rs 19.32; Jr 6.6; Ez 4.1-8). As ram pas eram necessá­rias porque normalmente existiam inclinações íngre­mes e m uros altos ao redor das cidades, dificultando a realização de ataques frontais. Pesquisas arqueológi­cas encontraram evidências da construção dessas ram­pas (por exemplo, em Masada); ilustrações de rampas foram encontradas em baixos-relevos assírios e men­cionadas nos anais de Senaqueribe e outros reis assírios. O vestígio arqueológico m ais antigo desse tipo de rampa utilizada nos cercos foi o do cerco assírio de Láquis, em 701. Em bora não tenham sido encontra­das evidências de rampas nesse período, o aríete já era usado há quase m il anos, o que indica que as rampas também fossem usadas.20.16. m ulher sábia. Ver o comentário em 2 Samuel14.2.20.19. cidade que é m ãe em Israel. N a língua dos

fenícios, em Ugarit e na antiga Babilônia as palavras equivalentes a "em", "m ãe", são termos relacionados a clãs. Portanto, é provável que o argumento da m u­lher sábia esteja associado ao extermínio de um dos clãs de Israel, e não à destruição de um a antiga cida­de. A lém disso, os habitantes de Abel tinham um a longa tradição de bom senso. Joabe, portanto, foi exor­

tado a ser "sábio" como eles e a poupar a vida de seus companheiros de aliança.

20.23-25. cargos adm inistrativos. A lista de funcioná­rios dentro do círculo íntimo de Davi é um indício da crescente complexidade do seu governo (compare com as listas de funcionários do governo de Salomão em 1 Rs 4.1-19). Essa e a lista de 2 Samuel 8.15-18 são seme­lhantes a outras encontradas nos documentos admi­nistrativos neobabilônicos. Em bora esses cargos não estejam relacionados à história da rebelião de Seba, o autor do texto bíblico achou conveniente inserir a lista aqui, demonstrando assim que a ordem política havia sido restaurada. A criação de um novo cargo relacio­

nado aos trabalhos forçados indica o surgimento de novos objetivos políticos para reforçar as fortalezas e m elhorar as estradas e a comunicação dentro do reino.

21.1-14 Os gibeonitas são vingados21.1. sofrim entos causados pelos erros do governo an terior. N o antigo O riente Próxim o, o rei m uitas vezes era visto como a personificação do Estado e o representante do povo. Durante o reinado do rei hitita M ursilis, houve uma peste que durou vinte anos, e foi considerada conseqüência dos erros cometidos pelo rei anterior. Para resolver o problem a foram feitas várias tentativas no sentido de aplacar a ira dos deu­ses e com p en sá-lo s. D e m odo sem elh an te , o re i babilônio N ebonido entendeu, através de oráculos, que algumas de suas dificuldades resultavam da ne­gligência para com o deus-lua Sin; ele então procurou corrigir essa situação. Entre os docum entos antigos que condenam a conduta de reis anteriores talvez o mais notável seja a crônica de Weidner. Nesse docu­mento treze reis são criticados por falharem em pres­tar a devida honra ao santuário de Esagil na Babilônia. Os conselheiros se apoiaram nesses fatos para alertar a atual administração a ser mais fiel.21.1. fom e que leva o re i a consu ltar os oráculos. Fomes e pestes geralmente eram vistas como um si­nal da reprovação ou da ira divina. O rei hitita Mursilis com pôs um a coletânea de Súplicas de Aflição para evitar a ira dos deuses. Buscar a "face do Senhor" (NVI: "consultar o Senhor") é uma expressão também encontrada em fontes babilónicas e hititas. Buscar a face de um superior normalmente significava ter uma audiência com ele para buscar sua orientação ou con­selho. Neste caso não se sabe ao certo se Davi buscou a presença do Senhor através de um oráculo ou se ele foi a um lugar sagrado para falar diretam ente com

Deus.21.2-4. gibeonitas. A cidade de G ibeom (moderna el- Jib) fica cerca de dez quilômetros a noroeste de Jerusa­lém , no território da tribo de Benjam im . Para mais

informações, ver o comentário em Josué 9.3. Os gibeo­nitas estavam protegidos por um tratado firmado como resultado do incidente registrado em Josué 9. É com­preensível que eles se tornassem alvo do zelo na­cionalista, m as não há informações nos registros bíbli­cos sobre o rem ado de Saul detalhando suas ações contra eles.21.5-9. executados sete descendentes de Saul. A exe­cução de criminosos e infratores de tratados, deixando seus corpos em exposição, era comum no antigo Ori­ente Próximo. Foram encontrados alguns corpos ex­postos dessa forma em Terqa (Tell Ashara) na Síria, anteriores a essa época, quando os arameus seminô- m ades viajaram para o local a fim de pagar tributo aos assírios. Além disso, m uitos m arcos de fronteira na Babilônia do período cassita (final do segundo milê-

nio a.C.) contêm maldições que incluem a exposição do cadáver, no caso de alguém transgredir as condi­ções do acordo em questão.21.6, 9. no m onte, perante o Senhor. O monte a que se refere o texto provavelm ente é o lugar sagrado gibeonita m encionado em 1 Reis 3. É norm alm ente identificado com Nebi Samwil, que fica pouco mais de um quilômetro ao sul de Gibeom. O fato de a execu­ção ter acontecido "diante do Senhor" pode indicar um tipo de ritual. A s m aldições do tratado cassita acima mencionado também eram executadas na pre­sença de um a divindade.21.9. dias da colheita. O início da colheita da cevada acontece no mês de abril, que corresponde ao mês de Ziv, no calendário hebraico. O nome do mês foi toma­do emprestado dos cananeus e corresponde ao mês Iyyar do calendário babilónico, o segundo mês do ano agrícola. Uma antiga descrição da época da colheita na Palestina pode ser encontrada no calendário de Gezer (século dez a.C.). O calendário menciona o mês de colheita da cevada e a seguir o mês da colheita do trigo. Os grãos eram puxados com a mão ou cortados

com uma foice.21.12-14. tratam ento concedido aos ossos. Pode-se presum ir que som ente as cinzas de Saul e Jônatas foram enterradas aqui, visto que seus corpos haviam sido queimados (1 Sm 31.11-13), um costume raro no antigo Israel. Os israelitas consideravam que o corpo ("carne") e o espírito de um a pessoa eram insepará­veis. Logo, o indivíduo era espírito e carne. Por causa disso o cadáver era tratado com m uito cuidado, visto que era considerado como parte da existência da pes­soa. Se o cadáver fosse de alguma forma destruído (p. ex., por ficar exposto), a existência posterior daquela pessoa estaria seriamente ameaçada (para mais infor­mações, ver o comentário em 1 Rs 16.4). Essa idéia está implícita na literatura e em vestígios de materiais da cidade mesopotâmica de Ur, no início do segundo milênio a.C.. O corpo de parentes mortos era enterra­do debaixo dos santuários encontrados nas residên­cias particulares. Eles ainda eram considerados, de certa forma, como parte da família e era necessário reservar para eles os utensílios usados nas refeições e outros objetos da vida cotidiana. Por isso, era impor­tante tratar os ossos com m uito cuidado. De modo semelhante, Davi preocupou-se em tratar cuidadosa­mente os restos de Saul e Jônatas.

21.15-22Guerra contra os filisteus21.16. armas. A lança ou a ponta da lança filistéia (a haste da lança normalmente não era feita de bronze) pesava três quilos e seiscentos gram as, m etade do

peso da lança de Golias (1 Sm 17.7). O texto diz que o filisteu estava armado com uma "espada nova", um termo ambíguo que pode indicar alguma característi­ca especial.21.17. a lâm pada de Israe l. No tem plo havia um a lâm pada que deveria ficar acesa perm anentem ente (Êx 27.20). A lâmpada simbolizava a presença de Deus no meio dos israelitas e a vida e a esperança que eles usufruíam como conseqüência. A expressão "lâm pa­da de D eus" tam bém é usada para referir-se à espe­rança (1 Rs 11.36; 2 Rs 8.19); esse significado também poderia ser aplicado a esse contexto, pois a dinastia de Davi representava a provisão de Deus para a m onar­quia. Term os sem elhantes em ugarítico e acadiano estão ligados à perpetuação do governo ou da presen­ça divina. O rei assírio T iglate-Pileser III é descrito

como a luz da humanidade. Uma expressão babilónica antiga utiliza a imagem de um braseiro se apagando ao se referir a uma família sem descendentes.21.19. haste da lança parecida com um a lançadeira de tecelão. A lança em questão devia ser equipada com uma correia e um a argola para ser carregada a tiraco­lo, sem elhante aos bastões de m adeira com argolas usados para levantar o tecido no tear. Esse tipo de

lança era usado no Egito e na região do Egeu no início da Idade do Ferro (c. 1200-900 a.C.). Existem ilustra­ções de m ulheres, tanto no Egito com o na Grécia, tecendo com instrumentos desse tipo.21.20-22. seis dedos em cada mão e seis dedos em

cada pé. Deformidades eram objeto de intensa curio­sidade e especulação no mundo antigo. Há uma série completa de textos de presságios mesopotâmicos des­crevendo diversas anomalias de nascença, inclusive um núm ero anormal de dedos nas mãos e nos pés.

22.1-51Cântico de louvor de Davi22.1-51. cantando um cântico de vitória. Uma forma de celebrar vitórias e comemorá-las nos anos vindou­ros era através de canções compostas para celebrar os feitos. Cânticos variados são conhecidos em todo o antigo Oriente Próximo desde a primeira metade do terceiro milênio. Uma relação de canções assírias de cerca de um século antes de D avi inclui títulos de aproximadamente 360 canções de dezenas de catego­rias diferentes. Entoar um cântico após ter recebido auxílio divino que resultara em vitória é um tem a comum na Bíblia. Embora de estilo diferente dos sal­mos hebraicos, os reis da M esopotâm ia e do Egito tam bém com punham hinos dedicados aos deuses, agradecendo-lhes pela v itória contra os inim igos. Tukulti-Ninurta I da Assíria (c. 1244-1208 a.C.) com­pôs um longo épico a A sur, agradecendo-lhe pela

vitória contra a Babilônia e ao m esm o tempo justifi­cand o sua conqu ista alegan d o que o governan te babilónico não merecia a vitória.22.2, 3. comparação com a rocha. A rocha no Antigo Testamento é um símbolo da segurança e proteção de um refúgio inatingível. Deus era a rocha (ou m onta­nha) que dava segurança e proteção ao seu povo. Algumas das mais importantes divindades da Anatólia e da Palestina, do final do segundo milênio a.C. (tais como El, o criador divino), eram descritas como mon­tanhas divinizadas.22.5. ondas da morte. Aqui, como no Livro de Jonas (2.6, 7), o escritor compara sua situação como se uma enorme onda de água o cercasse, trazendo-lhe a mor­te, que é um sinônimo de Seol, a m orada dos mortos. As torrentes representam as águas caóticas e destrui­doras que ameaçam não apenas a vida, mas também toda a criação.

22.6. cordas da sepultura. Armadilhas feitas com la­ços e cordas eram usadas por caçadores no antigo Oriente Próximo. Nessa comparação, a morte ou Seol é o caçador. Para muitas culturas no antigo Oriente Próximo o Seol, a m orada da sepultura (isto é, o mun­

do inferior), era um lugar real onde os indivíduos levavam uma existência amorfa, comendo pó e terra, esperando que seus descendentes cuidassem de suas necessidades. Ali havia portões guardados por portei­ros a fim de m anter os mortos lá dentro; por isso era chamada a "terra sem volta". Essa descrição pode ser encontrada no épico acadiano do segundo m ilênio, intitulado A Descida de Istar. Aparentemente, a visão hebraica da sepultura não era muito diferente, em bo­ra não haja um a descrição elaborada sobre isso no Antigo Testamento.22.14-16. Y ahw eh com o guerreiro. N a tem ática do guerreiro divino, a divindade luta contra as divinda­des do inimigo, derrotando-as nas batalhas travadas. Na Assíria, Nergal era considerado o rei da batalha e Istar a deusa da guerra. O deus cananeu Baal e o babilônio M arduque tam bém eram guerreiros divi­nos. Trovões e relâm pagos eram considerados ele­m entos que geralm ente acom panhavam a presença da divindade no antigo Oriente Próximo, quase sem­pre durante as batalhas. D a Exaltação Sum éria de Inanna, aos mitos hititas sobre o deus da tempestade

e nas mitologias acadiana e ugarítica, os deuses eram vistos como trovões condenando os inimigos. Baal é ilustrado tendo nas m ãos m uitos raios de trovão. Ex­pressões como essas aparecem no discurso dos reis hititas ou assírios que se apresentavam como instru­m entos dos deuses, trovejando contra aqueles que violavam os tratados ou obstruíam a expansão do império.

22.34. v e lo z com o a gazela. H avia grande quanti­dade de gazelas iranianas na Palestina durante o pe­ríodo da m onarquia israelita (embora tenham sido extintas no século passado). Esses animais nunca fo­ram domesticados e representavam apenas uma pe­quena porcentagem do suprimento de carne da po­pulação local durante as Idades do Bronze e do Ferro. Algumas gazelas eram mantidas em cativeiro, como descreve uma lista de suprimentos do século quinze, da cidade costeira de Alalakh (ver comentário em SI 18.33).

23.1-7As últimas palavras de Davi23.1. oráculo de D avi. A expressão inicial traduzida como "palavras de Davi" (em algumas versões, "orá­culo") geralmente era usada para introduzir mensa­gens do Senhor, como os versículos dois e três suge­rem, m as também era usada às vezes para introduzir provérbios de sabedoria (ditados de Agur, oráculo - Pv 30.1) ou m ensagens proféticas (oráculo de Balaão, N m 24.3, 15). Essa é a única vez em todo A ntigo Testamento em que se insinua a possibilidade de Davi ser considerado um profeta.23.1. cantor dos cânticos. Não fica claro se essa expres­são se refere a Davi ou ao "D eu s de Jacó". Am bas poderiam ser justificadas pelo emprego dessa termi­nologia em textos ugaríticos. No caso de Davi, a ex­pressão descreveria seus talentos musicais enquanto que poderia ser uma referência a Deus como motivo de canções ou talvez como o amado defensor de Israel.23.5-7. m etáforas do reino. A metáfora que dá inicio ao versículo quatro remete ao sol. O governo de um rei justo é como o calor do sol, benéfico para as planta­ções, mas terrível para os injustos. O Sol representan­do a justiça do rei (Yahweh nesse caso é o rei) é uma

im agem recorrente entre os hititas e especialm ente em relação aos reis do Egito. U m hino egípcio do Médio Império ao deus Amom-Rá descreve o rei como o senhor dos raios, que através de sua luz dá vida a quem ele ama, m as é um fogo consumidor para seus inimigos. Na M esopotâm ia, Shamás, o deus-sol, é o deus da justiça. Os espinhos simbolizam os rebeldes, que simplesmente são arrancados e lançados no fogo (o resultado do calor do sol).

23.8-39Os principais guerreiros de Davi23.8. os guerreiros de D avi. Acredita-se em geral que esses trinta homens formavam uma espécie de guar­da pessoal - campeões que haviam se ligado a Davi (ver comentário em 1 Sm 17.25) e o serviam como sua "força especial". Esses grupos de operações de elite

não funcionavam necessariamente dentro de uma es­

trutura m ilitar organizada.23.9. Pas-D am im . Pas-Damim ou Efes-Damim (1 Sm 17.1), é localizada nas Escrituras entre Socó e Azeca, perto do vale de Elá. Portanto, ficava a oeste de Belém, em direção à costa filistéia. Damun, cerca de seis qui­lômetros a nordeste de Socó, é a possível localização moderna de Pas-Damim, mas é difícil enxergar como esse local poderia estar situado entre Socó e Azeca.23.13. geografia. Adulão ficava cerca de 25 quilôme­tros a sudoeste de Jerusalém . É identificada com a m oderna Tell esh-Sheikh M adhkur. Não se sabe ao certo se a "caverna" de Adulão refere-se à cidade ou a algum local próximo. A localização do vale de Refaim é incerta, mas é possível que seja a moderna el-Baq'a, um a área a sudoeste de Jerusalém (ver o comentário em 5.18). Portanto, a caverna de Adulão ficava em algum ponto entre o norte e o leste do vale de Refaim.23.14. fortaleza. A fortaleza mencionada aqui prova­velm ente ficava perto de A dulão (ver 1 Sm 22.4). Alguns estudiosos sugerem que seja um a referência a M asada. O contexto para a narrativa contida nesse trecho parece ser o período em que D avi estava fugin­do e ainda não era rei. Durante o reinado de Davi, a

"fortaleza" era Sião (2 Sm 5.17).23.15-17. porta de B e lém . N em a cisterna, nem a porta foram localizadas nos escassos vestígios da Belém da Idade do Ferro. Os vestígios da antiga cidade fo­ram localizados na encosta da moderna Belém, perto da Igreja da Natividade. A parte superior do morro não parece ter sido ocupada durante a Idade do Ferro. Portanto, a porta e a cisterna de Davi ficavam prova­velmente na parte baixa da cidade.23.20. leão num buraco em dia de neve. Provavelmen­te ainda existiam leões, em bora em pequena quanti­dade, vagando pelo interior do país durante a Idade do Ferro. Caçar leões era um esporte apreciado por reis e heróis. Reis egípcios e assírios escolheram cenas de caçadas a leões para retratar sua virilidade. Um a das técnicas usadas para caçar leões era através de fossos. O leão era atraído para o buraco onde uma rede o man­tinha preso. O caçador então ia até o fosso com uma lança e term inava a m atança. A razão provável para m encionar a neve é que tornaria a cam inhada m ais difícil. A ocorrência de neve não era um fato extraor­dinário nas m ontanhas do sul da Palestina.23.23. guarda pessoal do rei. A posição ocupada por Benaia, capitão da guarda pessoal do rei, era a mesma que Davi ocupara no governo de Saul (ver 1 Sm 22.14). Provavelm ente essa guarda era a força m ercenária descrita como "o s queretitas e os peletitas" (ver co­mentário em 15.18). Os capitães da guarda pessoal do rei são m encionados com freqüência nos registros

assírios e em fontes gregas (p. ex., H eródoto) que descrevem o exército persa de Dario I e Xerxes I (521­465 a.C.).

2 4 .1 -1 7

O recenseamento de Davi24.2. recenseam ento . Fazer um recenseam ento era uma medida prática utilizada pelos governantes do antigo Oriente Próximo, talvez desde o período das tábuas de Ebla, cerca de 2500 a.C. (embora as evidên­cias sejam escassas), e claram ente com provada por volta da metade do segundo milénio. Porém, os bene­fícios dessa prática não eram necessariamente apreci­ados pelo povo, visto que resultava no aumento das cobranças de impostos e no serviço m ilitar ou traba­lhos forçados. Visto por esse prisma, não é de admirar que o conceito popular pregasse que o censo acarre­tasse má sorte ou provocasse a ira dos deuses. Textos de M ari (século dezoito a.C.) da M esopotâmia descre­vem hom ens fugindo para as m ontanhas a fim de escapar do censo.24.5-8. itinerário. Os fiscais do censo iniciaram o itine­rário seguindo para o leste, na região da Transjordânia, até a extremidade sudeste da terra de Aroer, ao longo do Arnom e depois seguiram para o norte até a extre­m idade nordeste em Dã. Cades dos hititas (Tatim- Hodsi) é desconhecida, m as a lógica do itinerário su­gere que seria algum lugar na região do monte Her- mom, muitas vezes considerado um a fronteira a nor­deste. De lá, eles rum aram para o noroeste até a costa fenícia em Sidom e então começaram a ir para o sul através das principais partes do país. É interessante notar que os heveus e os cananeus são mencionados após a m enção de Tiro (fora dos lim ites e Israel) e então a lista pula para Berseba, na extremidade sul da terra. Ao fazer essa descrição, os distritos, cidades e territórios do lado oeste do Jordão são om itidos do itinerário.24.9. relatório do recenseam ento. O total de um m i­lhão e trezentos mil homens habilitados para a guerra parece elevado demais para os estudiosos de densida­des populacionais. Estimativas da população israelita no período de Davi variam entre trezentos mil a no­vecentos mil. Em bora os métodos usados para esses cálculos possam ser contestados, deve-se lembrar tam ­bém que a palavra traduzida com o "m il" no texto bíblico pode tam bém representar um a quantidade muito menor.24.10. rem orso por ter fe ito o recenseam ento. A irade D eus (contra pecados ocultos, v. 1) fez com que D avi decidisse fazer um recenseam ento. Ao sentir remorso por haver tomado essa decisão, o texto suge­re que a motivação de Davi ao fazer o recenseamento

era aplacar a ira de Deus. No antigo Oriente Próximo, um a das form as de aplacar a ira da divindade era oferecendo generosas dádivas ao santuário, como com­pensação. Visto que durante o recenseam ento cada pessoa deveria pagar um imposto destinado ao tem­plo (ver comentário sobre o recenseamento para arre­cadação do im posto do templo em Êx 30.11-16), é pos­sível que esse recenseamento fosse uma tentativa de aplacar a ira de Deus, através do dinheiro depositado nos cofres do templo. Mas não era dessa form a que Yahw eh desejava ser tratado e essa atitude, em vez de apaziguá-lo, aumentou sua ira. O castigo foi conse­qüência tanto de sua ira inicial como da tentativa de Davi em apaziguá-la.24.11. vidente. Vidente e profeta praticavam basica­mente a m esma atividade, mas o papel de cada um na sociedade era diferente (de certo modo semelhante à diferença entre o ofício de ju iz e de rei). Parece que os videntes eram capazes de transmitir seus conheci­mentos e suas funções a alunos ou a seus filhos, ao passo que o profeta era diretam ente cham ado por D eus.

24.12-15. id entificação entre rei e povo. No antigo Oriente Próximo era comum que o rei fosse considera­do a personificação do Estado e o representante do povo. Na literatura hitita, por exemplo, uma ofensa cometida pelo rei poderia trazer castigo sobre todo o povo. As orações reais muitas vezes eram dirigidas às divindades a fim de buscar perdão por ofensas come­tidas tanto pelo rei atual como pelos reis anteriores e que eram consideradas como causa de dificuldades presentes.24.16. an jo afligindo o povo. Essa expressão é a mes­m a usada para referir-se ao anjo destruidor no relato da Páscoa em Êxodo 12. No épico mesopotâmico cha­mado Erra e Ishum, o deus da peste (Erra ou Nergal) envolve-se numa campanha de destruição e finalmente é acalmado por um subordinado, Ishum, evitando o

extermínio total da terra. Um a diferença óbvia (den­tre muitas) é que aqui em 2 Samuel o anjo destruidor

está debaixo do controle absoluto do Senhor, enquan­to que no épico de Erra, Marduque, o principal deus da Babilônia, está distante e ambivalente.

24.18-25 Altar e Eira24.18. Araúna, o jebu seu . Quando Davi conquistou Jerusalém ele não expulsou os jebuseus da cidade.

Pelo fato de Araúna ter m antido um a significativa faixa de terra ao norte da cidade, alguns sugerem que

ele seria o governador jebuseu. A palavra hurrita (os

jebuseus geralm ente são considerados descendentes dos hurritas) para senhor feudal é ewrine, o que pode­

ria indicar que Araúna (variante: Aw ama) fosse um título e não um nome.

24.18. eira. Visto que a eira era uma área aberta am ­

pla e plana, era o lugar ideal para o povo da cidade se

reunir. Por estar também intimamente relacionada à colheita, a eira era o local usado nas cerim ônias e festivais religiosos. A combinação desses fatos permi­

te supor que a eira de Araúna já estivesse ligada a algumas tradições sagradas em períodos anteriores.

24.22. debulhador e ju go dos bois. O debulhador era

uma plataform a de madeira presa com peças de ferro introduzidas em orifícios. Poderia ser amarrado atrás

dos animais e carregado com pedras. Quando arrasta­

do por cima do trigo, auxiliava no processo de debu­lha. Nesse texto, tanto o debulhador como o jugo for­

neceram lenha para o sacrifício.24.24. cinqüenta peças de prata. Essa não é uma quantia

m uito elevada comparada às quatrocentas peças de prata que A braão pagou pela caverna de M acpela (Gn 23). Além desse valor, 1 Crônicas 21.25 relata que

Davi pagou a quantia de sete quilos e duzentos gra­

mas (600 siclos) de ouro por toda a propriedade.

1 R E I S

v y1.1-53Adonias declara-se rei, mas Salomão assume o trono1.3, 4. a posição de A bisagu e. O fato de D avi ter afirm ado que não teve relações com A bisague de­monstra que ela nunca foi oficialmente levada para o harém real. Embora ela não tenha sido nem esposa, nem concubina, seu papel como a com panheira do rei, em seus últimos dias, gerou ambigüidade sufici­ente a ponto de, m ais tarde, colocá-la no meio de um conflito de poder (ver o comentário em 2.13-21).1.3. sunam ita. Localizada no território de Issacar (Js 19.18), Suném (moderna Solem) ficava onze quilôme­tros a sudeste de Nazaré. É m encionada na lista de conquista de Tutm és III, no século quinze a. C., e nas cartas de El A m am a do século catorze a.C..1.5, 6. prim ogenitura em Israel. N o antigo Oriente Próxim o, a prim ogenitura nem sem pre era a regra. Em muitos textos fica claro que os filhos tinham partes iguais na herança. Quanto à sucessão para reinar, em algumas culturas os irmãos do m onarca tinham prio­ridade em relação aos filhos. Em outras, cabia ao rei designar seu sucessor e, em alguns casos, os súditos tinham que consentir. Na cultura israelita, o primo­gênito geralm ente tinha certas vantagens, m as nem sempre a herança ou a sucessão ao trono inevitavel­m ente cabiam a ele. Ver o comentário em D eutero- nômio 21.15-17 a respeito do contexto do antigo Ori­ente Próxim o na questão dos direitos à herança do prim ogênito.1.5. cinqüenta hom ens para correr à sua frente. Erabastante comum que pessoas de elevada posição polí­tica demonstrassem sua autoridade conduzindo uma carruagem, acompanhada de uma escolta de homens que corriam à frente (ver o comentário em 2 Sm 15.1). Em form ações de batalha, isso correspondia a uma unidade de luta, como se observa nos anais de SargonII e de outros reis assírios.1.7, 8. apoio do exército e dos sacerdotes. No épico ugarítico de Keret, o príncipe Yassib, filho de Keret, argumenta que o rei inválido não era mais capaz de desem penhar suas funções e que, portanto, deveria transferir o trono a seu sucessor. Igualmente, os filhos de Davi se apresentam para tirar o trono de seu pai que já estava debilitado e com idade avançada. Para tanto, eles solicitaram o apoio de grupos que deti­nham poderes dentro do estado - especificamente os

líderes militares e a comunidade sacerdotal. A oposi­ção de qualquer um desses grupos poderia ser a causa de um curto reinado (ver respectivamente 1 Rs 16.15­18 e 2 Rs 11). Visto que a linhagem dinástica perma­neceria no poder, não havia necessidade de recrutar novamente o apoio de tribos e clãs. Ao pressionarem o rei no sentido de estabelecer um regime de regência simultânea (uma prática comum nas monarquias egíp­cia e m esopotâm ica), em vez de tentar depor Davi com o uso de força, Natã e Bate-Seba conquistam o trono para Salomão.1.9, 19. sacrifícios. É provável que esses sacrifícios fossem os dois mais comuns: holocaustos e ofertas de com unhão. A quele geralm ente acom panhava uma petição, enquanto este servia como uma oportunida­de para celebrações e refeições comunais diante do Senhor. Esses sacrifícios teriam sido oferecidos por Adonias para marcar o início de seu reinado (coroa­ção). Através deles, Adonias pediu a bênção de Deus e ao mesmo tempo ofereceu um banquete para aque­les que ali estavam firm ando um a aliança com ele, seguindo o estilo de Absalão. Esse tipo de refeição comunal fazia parte de acordos de tratados e alianças, como exemplificam os textos de Mari e as cartas de Am arna.1.9. En-Rogel. Essa fonte se localiza cerca de 600 metros ao sul da fonte de Geom, no vale de Cedrom (ver o comentário em 1.33) e a menos de um quilômetro do palácio de Davi. A escolha desse lugar, para a cerimô­nia, provavelmente deve-se ao fato de que ela ficava na junção do território de Benjamim com Judá (suge­rindo que ambos teriam acesso a esse reservatório de água). Portanto, pode-se inferir que a base de apoio de Adonias compreendia as mesmas alianças tribais que haviam levado D avi ao poder. Seu apoio, por parte de Joabe e Abiatar, também representaria esse elemento tradicional. A pedra de Zoelete às vezes é traduzida como a rocha da Serpente e provavelmente refere-se a um a pedra de formato distintivo associada a alguma tradição ritual.1.21. tratam ento aos candidatos ao trono. Há inúme­ros precedentes, nos textos mesopotâmicos, quanto à eliminação de candidatos rivais ao trono quando um rei assumia o poder. Essa limpeza também acontecia, anos mais tarde, como um a form a de vingança a opo­sição política ou a rebeliões atentadas contra gover­nantes anteriores. Um a form a de entender m elhor os

m edos de Bate-Seba, em relação a ela e a seu filho Salomão, é olhar para o assassinato do rei assírio Sena- queribe, em 681 a.C., por seus próprios filhos. Embo­ra o rei tivesse designado seu filho, Esar-Adon, como seu sucessor, a guerra civil estourou com facções m ili­tares tomando partidos. Esar-Adon finalmente garantiu o trono e mandou executar os culpados pelo assassina­to de seu pai. Esse tipo de intriga que cercava a suces­são ao trono não era incomum no antigo Oriente Pró­ximo. Já havia acontecido um a luta sangrenta entre os filhos de D avi no passado (ver 2 Sm 13-15) e a elimi­nação de outros candidatos ao trono poderia ocorrer após a m orte de Davi. Esar-Adon resolveu o proble­m a para seu sucessor, conseguindo que seus parceiros de tratado assinassem um acordo para apoiar a nome­ação de seus dois filhos com o rei da A ssíria e da Babilônia, respectivam ente.1.33. a m ula do rei. Durante o início da monarquia, o animal adequado para o rei m ontar era a m ula (ver 2 Sm 18.9). Essa prática encontra precedentes num a car­ta de M ari que contém um a sugestão, ao rei Zinri- Lim, de que seria m ais apropriado à sua dignidade se ele tivesse um a carruagem puxada por mulas em vez de cavalos. Também é possível que o uso de cavalos só tenha se tom ado comum, aos israelitas em períodos posteriores. Durante esse período, as mulas custavam duas ou três vezes mais que os eqüinos. Eram impor­tadas e, naturalmente, não se reproduziam.1.33. G eom . Essa fonte agora é conhecida como 'E n Sitti M aryam, no vale de Cedrom, abaixo da encosta leste da Jerusalém de Davi (ver comentário em 2 Sm5.8). Em contraste com a base de apoio tradicional de grupos tribais, a base de Salomão parece estar concen­trada na cidade real, Jerusalém. A fonte de Geom, por ser o reservatório de água de Jerusalém, portanto, é um cenário adequado para essa cerimônia.1.34. ungido pelo sacerdote e pelo profeta. Até essa altura dos acontecimentos, de acordo com o padrão, um profeta ungia o rei antes de ser entronizado (ver o comentário em 1 Sm 16.1). Isso lhe garantia a aprova­ção divina para que reinasse. N o antigo Oriente Pró­ximo, sacerdotes freqüentemente desempenhavam pa­péis políticos, m as não se sabe de nenhum profeta que tenha exercido a função de nom ear reis. Agora, com o primeiro exemplo de sucessão hereditária, era apropriado que ambos, o sacerdote e o profeta, parti­cipassem desta cerimônia. D este m odo, D eus (através do profeta) e a com unidade relig iosa que servia o povo e a Yahw eh (especialmente no santuário de Je­rusalém) reconheceriam o direito de governar do rei.1.28. queretitas e peletitas. Ver o com entário em 2 Samuel 15.18 para m ais informações sobre essas tro­pas m ercenárias (provavelmente cretenses ou descen­dentes de outros povos do mar). Serviam como uma

guarda pretoriana, cujas obrigações e lealdade eram restritas ao rei. O uso de soldados m ercenários alta­mente treinados também se encontra em fontes egíp­cias, mesopotâmicas e romanas.1.41. alvoroço n a cidade. Em bora En-Rogel ficasse somente a 230 m etros dos muros, ao sul da cidade, era bem m ais baixa (perto da extrem idade sudeste do sopé da m oderna aldeia de Silwan). Desse ponto, não é possível avistar movimentação em Jerusalém, nem em Geom . O barulho de gritos e alvoroço, porém, atravessaria facilmente o vale.1.49. a dispersão dos convidados de Adonias. O gru­po de apoio a Adonias aparentemente estava disposto a tentar im por a questão da sucessão; porém , não tinha coragem de enfrentar um a guerra civil. Tam ­pouco desejava ser aliado de alguém que, sem dúvi­da, agora seria classificado com o um rebelde. Está claro que Salom ão conquistara o apoio tanto do rei quanto da estrutura política de Jerusalém , e que a causa de Adonias era um a causa perdida.1.50. agarrar-se às p on tas do altar. A donias apela para o santuário ao agarrar-se às pontas do altar (ver Ex 21 .13 ,14). Foram encontradas provas arqueológi­cas de altares com pontas em lugares como Berseba (ver o comentário em 2.28). O asilo político, porém, era garantido a hom icídio culposo, e o "crim e" de Adonias era considerar-se no direito de governar como rei. Parece provável que o altar, devido à sua ligação com o lugar sagrado e associação com a divindade (ver o comentário em Êx 27.1-8), podia ser usado para fazer juram entos de inocência diante de uma possível punição (como se observa no código de Hamurabi).

2.1-11As instruções de Davi a Salomão2.1-11. instruções do rei m oribundo. U m a série de obras da literatura de sabedoria egípcia, especialmente a Instrução de M erikare (por volta de 2100 a.C.), serve de instrução a um rei recém coroado por parte de seu predecessor. Como aqui, os ensinos passados a M eri­kare, por seu pai, oferecem conselhos sobre como li­dar com certas situações a fim de garantir um governo justo e sem ameaças. A responsabilidade do novo rei era tratar com sabedoria daqueles que apresentavam tendências revolucionárias. A té mesmo as categorias de rebeldes m encionadas dem onstram algum as se­melhanças aos conselhos de precaução que Davi dá a Salomão.2.5. crim es de Joabe. Abner (ver o comentário em 2 Sm 3.29) e Amasa (ver o comentário em 2 Sm 20.9), rivais políticos e m ilitares de Joabe, foram eliminados por ele, desafiando as intenções de Davi. Em ambos os casos, esse rei foi envergonhado politicam ente e obrigado a acusar em público as ações de Joabe. Por

causa do tratamento dado, por este, a seus oponentes, a estabilidade do reinado exigia que ele fosse punido como um criminoso.2.5. m anchou de sangue o seu cinto e as suas sandá­lias. Os term os usados para cinto e sandálias, neste versículo, nunca são usados de forma clara para refe­rir-se ao uniforme m ilitar (ver o comentário em 2 Sm 18.11). A idéia aqui pode ser a de que as vestes man­chadas de sangue indicavam que as mortes não havi­am acontecido em contextos de batalha.2.7. com er à m esa do re i. A queles que com iam à mesa do rei ou de sua despensa eram seus dependen­tes e pessoas que ele escolhia proteger. Portanto, es­perava-se que demonstrassem sua lealdade com base nesse tratamento (evidenciado nas listas de provisões fornecidas a nobres e membros do governo em textos administrativos de M ari e da Babilônia). Geralmente os alvos desse tipo de proteção do rei eram os mem­bros da adm inistração e heróis de guerra com reco­nhecimento militar. M uitos desses já faziam parte da família real ou acabariam ingressando nela por meio de casamento (ver o comentário em 1 Sm 17.25).2.8. M aanaim . Além de servir como um centro adm i­nistrativo para o governo do filho de Saul (2 Sm 2), foi ali que Davi estabeleceu seu quartel general quando teve que fugir de Absalão (ver o comentário em 2 Sm17 .2 4 ). A c id a d e tam b ém é m en cio n a d a com o destruída pela invasão do faraó Sisaque durante a época do filho de Salomão. Em bora fique claro que M aanaim estava situada na região da Transjordânia, sua localização precisa é desconhecida. A identifica­ção m ais comum feita hoje é com Tell edh-Dhahab el- G harbi, na m argem norte do Jaboque. N ão foram feitas escavações no local, mas achados na superfície confirmam que foi ocupada durante esse período.2.8. o crime de Sim ei. Ver o comentário em 2 Samuel16.11.2.10. túm ulo real. Por direito de conquista, a cidadela de Jeru salém era p rop riedad e p rivada de D avi e, portanto, um local adequado para seu túm ulo e de seus sucessores. Tum bas ugaríticas no interior de re­cintos dos palácios indicam que essa era um a prática da fam ília real. Tum bas da Idade do Ferro Antiga (1200-1000 a.C.) e da Idade do Ferro II (1000-600 a.C.), descobertas em investigações arqueológicas ao longo da planície costeira na área de Judá, parecem ter sido p rim ord ia lm ente fe itas em cavernas ou câm aras mortuárias retangulares, com algumas antecâmaras e bancos elevados para o armazenamento dos corpos. A qualidade e a quantidade dos utensílios colocados nas sepulturas pode som ente ser especulada, visto que não há sinal de tum bas reais do período da m onar­quia. Porém, pode-se presumir, com base nas sepul­turas reais de M icenas, Egito e Ugarit, que elas conti­

nham tesouros que representavam o status do morto. O lugar identificado atualmente aos turistas, como o túmulo de Davi no monte Sião, é uma tradição poste­rior. Os únicos túmulos monumentais do período do Primeiro Templo encontram-se na aldeia moderna de Silwan, no outro extremo do vale de Cedrom, a partir da Jerusalém de Davi. Esses sepulcros não remontam a uma data tão antiga como a de Davi (que foi enter­rado na Cidade de Davi) e não se tratam de tumbas reais.2.11. cronologia. Característica dos anais do antigo Oriente Próximo, a narrativa que descreve cada um dos reis, de Israel e de Judá, term ina com um resumo, apresentando o total de anos que o rei governou e, às vezes, um a m enção a m onarcas da m esm a época. Em bora o núm ero quarenta apareça com freqüência como um número aproximado, aqui ele é subdividi­do em períodos bastante precisos, sugerindo que de fato o reinado de Davi tenha tido essa duração, esten­dendo-se do ano 1010 a 970.

2.13-46A ascensão de Salomão ao trono2.19. trono da rainha mãe. Havia três tipos de rainhas no m undo antigo. A mais comum à nossa visão era a esposa principal do rei (p. ex. a rainha Ester). Embora às vezes essas consortes reais não passassem de "orna­m entação", em outros contextos (como entre os hititas do segundo m ilênio), elas atuavam com o represen­tantes reais com amplos poderes (compare com o pa­pel de Jezabel na corte de Acabe). Um outro tipo era a esposa (ou mãe) do rei que ascendia ao trono após sua m orte e reinava em seu lugar (p. ex., Atalia de Judá, H atshepsut do Egito). E por fim, o papel ilustra­do por Bate-Seba. A extensão com que a rainha mãe exerceria um papel significativo ou influente nas ques­tões judiciais, econômicas ou sociais, dependia de sua personalidade. O fato de que o nome da mãe é men­cionado em relação a quase todos os reis de Judá (em­bora não quanto aos reis de Israel), sugere que seu papel era bastante importante na m onarquia davídica.2.13-21. o pedido de Adonias. A rede de apoio de um rei partia de clãs e fam ílias poderosas. C onseguir concubinas e esposas, portanto, seria o mecanismo de desenvolver essa estrutura em cada área local. Esse auxílio tam bém podia ser obtido através de vínculos com mercadores ricos, líderes m ilitares ou até mesmo fam ílias sacerdotais. Os casam entos reais eram um reflexo de poder e representavam as alianças políticas e econômicas feitas em nome do estado. Portanto, era necessário, na sucessão, que o harém do antigo mo­narca ficasse sob a responsabilidade do novo rei. Des­sa maneira, as condições e obrigações de tratados fir­m ados previam ente seriam mantidas. Conseqüente-

mente, um sucessor em potencial ao trono às vezes procurava desapropriar seu predecessor de autorida­de, tom ando seu harém. Como resultado, qualquer tentativa de conseguir mulheres dali era vista como sinal de rebelião ou usurpação de poder. A perda desse harém para outro m onarca, como descrita nos anais assírios de Senaqueribe, era um sinal de sub­missão ou deposição. A posição de Abisague continu­aria sendo ambígua se ela nunca tivesse oficialmente ingressado no harém; nesse caso, o pedido de Adonias não se constituiria em um a tentativa de conquistar o trono. E possível, porém, que ao obter a últim a com­panheira de Davi, Adonias desejasse colocar-se numa posição de tentar tomar o reinado. Certamente Salomão preferiu interpretar aquele pedido como uma disposi­ção para a rebelião.2.26. A biatar é banido em Anatote. Anatote era uma aldeia da Idade do Ferro I localizada em Ras-Kha- rrubeh, cerca de cinco quilômetros a nordeste de Jeru­salém. No período persa, o local deslocou-se ligeira­m ente para o norte, em direção à aldeia de Anata. Aparentemente, Abiatar e sua família continuaram a possuir terras nessa área (observe os v íncu los de Jerem ias com Anatote e o campo de Hanam el em Jr 1.1 e 32.7-9). Como parte da eliminação daqueles que apoiavam Adonias, Abiatar foi banido para a "vida no cam po" e forçado a renunciar à sua função como sumo sacerdote. A relutância de Salomão em executá- lo, ou sua família sacerdotal, é compreensível diante do serviço fiel que prestou a Davi como sacerdote e adivinho (ver 1 Sm 23.9-12).2.28. pontas do altar. V er o com entário em 1 Reis1.50. Altares com pontas também foram encontrados em escavações cananéias e em Chipre. As pontas eram usadas para amarrar um animal a ser sacrificado ou para sustentar uma vasilha de incenso. A tentativa de Joabe em buscar asilo, agarrando as pontas do altar, foi rejeitada por causa de sua traição contra Salomão e por ter assassinado Abner e Amasa sem a permissão do rei. A acusação e a maldição por ter "derramado sangue inocente", nos versos 31-33, são um juramento de inocência para a fam ília de Davi e de condenação para a de Joabe. Documentos egípcios da época de Ramsés IV, século doze a. C., alertam oficiais a serem cautelosos para não punir uma pessoa sem a devida autorização. O texto afirma que "tudo o que fizessem se voltaria contra eles".2.34. sepultado em sua casa no campo. É provável que Joabe tenha sido enterrado na tumba de sua fam í­lia, perto de Belém (seu irm ão Asael foi enterrado lá, em 2 Sm 2.32). A descrição é de um campo aberto encaixando-se à área geográfica da região montanho­sa de Judá.

2.36, 37. prisão dom iciliar para Sim ei. Com base na maldição que Sim ei lançara sobre Davi (2 Sm 16.11), anteriormente e nas instruções finais desse rei (1 Rs2.8, 9), Salom ão o m antém em prisão dom iciliar - um a condição em que o prisioneiro é responsável por respeitar os próprios limites determinados. Aparente­m ente havia um a certa preocupação de que Sim ei pudesse conquistar apoio contra Salomão entre os ho­m ens da tribo de Benjam im , caso tivesse permissão de viajar para o norte de Jerusalém . Esse episódio pode ser comparado às restrições feitas ao movimento de escravos nos códigos de Ur-Nam mu e de Hamurabi e sugere que Sim ei perdera seus direitos de plena cidadania. Nas Instruções de Merikare (ver o comen­tário em 2.1-11), os vassalos que tinham um histórico de rebeliões, m as não haviam se envolvido de fato, deviam ser exilados.2.37. V ale de Cedrom. A menção ao vale de Cedrom como o limite norte para Simei é um claro indício de que ele não deveria ter contato com outros membros da tribo benjam ita - um grupo que fizera parte da rebelião de Seba contra Davi, em 2 Sam uel 20. O uádi de Cedrom fica a leste do Ofel, que separa Jerusalém do monte das Oliveiras.2.39. geografia. Em bora uma identificação conclusiva da cidade filistéia de Gate ainda não foi estabelecida, o consenso geral é que fique em Tell es-Safi, dezesseis quilômetros a sudeste de Tel M iqne-Ecrom. A associ­ação de Davi com Aquis, rei de Gate, e seu bando de m ercenários giteus (2 Sm 15.18-23) sugere que essa cidade ficava na esfera política de Israel - ao menos por um acordo de tratado. A jornada de Simei até lá, para recuperar seus dois escravos, o teria levado a oeste de Jerusalém até a Sefelá, e aí ele facilm ente teria ultrapassado os limites de sua prisão domiciliar.

3.1-3Resumo de Salomão3.1. identidade do faraó. O narrador bíblico escolheu não m encionar o nome do faraó, m as é provável que se trate de Siam un, o penúltimo governante da relati­vam ente debilitada 21a Dinastia. Visto que esse faraó estava enfrentando dificuldades com os sacerdotes de Tebas, ele foi incapaz de conquistar a Filístia ou Isra­el. Por isso, escolheu aliar-se a Salomão dando-lhe sua filha em casamento, talvez como uma forma de enfra­quecer os filisteus ao longo da costa sul da Palestina (c. 960 a.C.).3.1. alianças de casam ento. A política de usar casa­mentos reais como um a estratégia diplomática, esta­belecendo vínculos entre líderes locais e m onarcas estrangeiros, através de tratados e alianças familiares, tinha uma longa história no antigo Oriente Próximo (ver o comentário em 11.1). O fato de Salomão ter se

casado com a filha do faraó demonstra que ele ocupa­va um a posição m ais forte que a do monarca egípcio naquela época. Seu dote incluiu a entrega de Gezer a Salomão, garantindo ao rei de Israel um local estraté­gico posicionado no norte da Sefelá e guardando uma das principais estradas entre a costa e a região m onta­nhosa ao redor de Jerusalém.3.2, 3. oferecia sacrifícios nos lugares sagrados. A im agem retratada aqui na narrativa bíblica é a de que antes da construção do tem plo em Jerusalém , sacrifícios e rituais religiosos geralmente aconteciam em santuários locais ou bamoth. Eles eram construídos com esse propósito e na maioria dos casos parece que era possível entrar nessas instalações e desenvolver ali atividades religiosas (ver o comentário em 1 Sm 9.12,13). M uitas dessas construções talvez ficassem no perímetro urbano, embora isso não exclua a possibili­dade de existirem fora dos m uros da cidade, em coli­nas nos arredores (2 Rs 17.9-11). Nada se sabe sobre a aparência dos lugares sagrados ou dos objetos relacio­nados a eles, m as o grande núm ero de referências sugere que alguns talvez fossem bem elaborados. Com o passar do tempo, a m onarquia e o sacerdócio de Jerusalém tentaram suprimir o uso desses lugares sagrados por causa de seu desejo de destacar o templo de Salomão como "o lugar escolhido por Yahw eh".

3.4-15O sonho de SalomãoPara inform ações sobre esse trecho, consulte os co­mentários em 2 Crônicas 1.

3.16-28Exemplo da sabedoria de Salomão3.16. prostituição. Apesar de ser proibida pela lei (Lv 19.29; D t 23.18), a prostituição era aparentemente to­lerada pelos israelitas. De fato, existem diversas nar­rativas em que um a prostituta aparece como heroína (Raabe em Js 2 e Tam ar em G n 38). C ertam ente a posição que ocupavam na sociedade era extremamen­te baixa, m as talvez esse elem ento seja om itido na narrativa de Raabe, em que diversos eventos inespe­rados acontecem. A disposição de Salomão em ouvir o caso das duas prostitutas aqui se encaixa bem à sua imagem de um rei justo (compensando os fracassos judiciais de Davi - 2 Sm 15.2-4). Também demonstrao cumprimento dos direitos legais garantidos a elas pelos códigos mesopotâmicos (o código de Lipit-Istar e das leis médio-assírias).3.16-28. sabed oria rea l em ju lg ar. A sabedoria de Salomão fica evidente em sua habilidade de discernir a verdadeira justiça, um a qualidade que o destaca como um "rei ju sto". Esse atributo era reivindicado por quase todo rei do antigo Oriente Próximo quando

ascendia ao trono e estabelecia seu reino, garantindoo bem-estar do estado e até mesmo de seus cidadãos m ais fracos (ver o prólogo do Código de Hamurabi em que ele é encarregado pelos deuses a "fazer a justiça prevalecer na terra"). Outros exemplos da ex­pectativa da sabedoria real encontram-se nos protes­

tos egípcios do Camponês Eloqüente (séculos vinte ao dezoito a.C.) e no apelo do sacerdote egípcio Wenamom (século onze a.C.), que pediu ao príncipe de Biblos uma resolução ao seu caso.

4.1-28A administração de Salomão4.7. sistem a distrital. Num a tentativa de centralizar sua autoridade como rei e iniciar o processo de enfra­quecimento dos vínculos locais e tribais, Salomão re­organizou seu reinado. Os distritos tribais que havi­am sido criados após a conquista e durante o período de ocupação poderiam constituir-se num a ameaça à dinastia davídica. As tribos do norte, sob a liderança de Seba, já haviam tentado separar-se do reino unifi­

cado (2 Sm 20.1, 2). Se novas fronteiras políticas fos­sem redesenhadas de form a a m isturar populações tribais com as novas cidades cananéias anexadas à nação, o rei poderia evitar futuros problemas políti­cos. Essa reestruturação também ajudou a financiar os projetos de obras nacionais (ver 1 Rs 9.15-19), a defesa nacional e o início de em preendim entos comerciais internacionais (1 Rs 9.26-28). Visto que cada distrito era responsável por fornecer provisões para o susten­to do rei e de seu palácio durante um mês do ano, um sistema regular de impostos (diferente do dízimo reli­gioso) poderia ser implantado, enfraquecendo ainda mais a autonomia local e favorecendo uma forma cen­tralizada de governo.

4.7. provisões para o rei e para o palácio real. A casa real era composta pelos fam iliares diretos do rei, bem como por seus principais oficiais do governo e funcio­nários (ver a lista em 1 Rs 4.1-6). Dessa maneira, cada um dos doze governadores distritais (ver a lista em 1 Rs 4.8-19) ajudava a custear as despesas do governo de Salomão. Suas responsabilidades incluíam admi­nistrar os recursos naturais e humanos de seus distri­tos a fim de garantir um uso m ais rentável e eficiente desses meios, visando o interesse nacional. Essa pro­visão também servia como um a form a de cobrança de impostos, levando o distrito local a prestar serviço ao governo nacional. D ocum entos adm inistrativos de Ugarit, M ari e da Babilônia apresentam alguns indí­cios das expectativas reais em relação aos governado­res locais. U m a cota de produtos in natura e m anufatu­rados e de outros m ateriais são alistados, às vezes, lado a lado com as ofertas do ano anterior.

4.8-19. geografia. Ugarit e Alalakh também produzi­ram textos administrativos com uma forma literária sem elhante a esse encontrado aqui. Os lim ites geo­gráficos para as diversas províncias do reinado de Salomão não foram delineados de forma específica o bastante que permitam estabelecer as fronteiras exa­tas entre cada uma delas. Cada governador aparente­mente tinha uma ou m ais áreas sob sua responsabili­dade: por exemplo, Ben-Abinadabe administrava Dor e Baaná, Taanaque e M egido. A lguns dos distritos parecem abarcar a m esm a área compreendida pelas tribos anteriorm ente: a área de D ã nas m ontanhas centrais, Naftali no leste da Galiléia e Aser nas encos­tas ocidentais da Galiléia. É distintiva, porém, a inclu­são de territórios cananeu e filisteu: Dor, uma cidade portuária dos povos do m ar, m encionada na lenda egípcia de W enam on (século onze a .C ), e a terra de Héfer (Tell Ibsar), na planície de Sharon (Js 12.17). O fato de Judá ser referido no final da lista (v. 20) sugere que as responsabilidades fiscais e a administração desse distrito diferiam dos outros devido à sua associação com a casa de Davi.4.21. fronteiras do reino de Salom ão. A descrição do reino de Salomão estendendo-se desde o rio Eufrates, no leste (refere-se à área onde o rio faz um a curva para o norte na região de Emar), até o uádi al-Arish, na fronteira do Egito, pretende demonstrar a magni­tude de seu reino e relacioná-lo às fronteiras da terra prometida da aliança mencionada em Deuteronômio1 e Josu é 1. O s anais m esopotâm icos da época de Sargon de Acade (terceiro milênio) até os governantes assírios posteriores incluíam informações com a exten­são de seus reinados. Em geral, esses dados refletem as cam panhas m ilitares que levavam o rei a áreas além de suas fronteiras ou descrevem a extensão da hegem onia econômica em que o governante era ca­paz de conseguir tributos ou taxas de reinos vizinhos ou de mercadores estrangeiros. A realidade é que há diversos níveis do que se constituía nesse "controle" ou "fronteiras". O texto aqui não oferece detalhes so­bre o nível de fiscalização que Salom ão tinha sobre cada área, não obstante os diversos relacionamentos distintos que podem ser identificados. Além do terri­tório tradicional de D ã a Berseba, Salomão tinha pro­víncias (terras conquistadas tais como Moabe, Edom e Amom), vassalos (que pagavam tributos, mas tinham governantes nativos tais como Hamate, Zobá e Filístia) e aliados (parceiros de tratados como o Egito e Tiro).4.22. provisões diárias. Essas anotações com a quanti­dade diária de grãos e animais fornecida para alimen­tar Salomão e sua corte encaixa-se bem com a figura de um monarca equiparado ao faraó egípcio. O uso de alguns termos egípcios para medida (coro = hôm er = as estimativas variavam entre 200 e 400 litros) sugere

que a estrutura desse texto possa ter acompanhado modelos de registros oficiais do Egito ou dos reinados cananeu ou filisteu. Observe que todos os itens alista­dos podiam ser armazenados ou mantidos no pasto ou nos currais até que se necessitasse deles. Alimentos perecíveis tam bém faziam parte da dieta, m as esses (além do óleo) raramente aparecem como itens medi­dos ou pesados em listas adm inistrativas, com o as relações de ração encontradas nos textos de Mari que m antêm registro da quantidade exata dada a escra­vos, oficiais e viajantes dignitários.4.25. sua videira e sua figueira. Essa é uma expressão que aparece nos anais históricos e em m uitos dos pro­fetas com o sinal de paz e prosperid ade para Israel. Quando Deus ficava irado com seu povo, então o oposto aco n tecia , ou se ja , as v id eiras e as fig u e iras eram destruídas, assim como a paz. A expressão idiomática refere-se à segurança e à prosperidade equilibrada que perm ite às pessoas desfrutarem dos pequenos praze- res que a vida oferece. A videira e a figueira garantem sombra e fruto, e desfrutar delas era um a perspectiva em longo prazo, visto que cada um a delas levava di­versos anos para tornar-se produtiva.4.26. cavalos e carro_s de guerra. Geralmente um car­ro de guerra era formado por três cavalos, sendo que dois eram usados de uma vez, enquanto o terceiro era m antido com o reserva. O s três ficavam juntos nas cocheiras do estábulo, de m odo que para doze mil cavalos era preciso quatro m il cocheiras (embora al­guns deles fossem usados como montaria). Não obstante,1 Reis 10.26 relata que Salomão tinha m il e quatrocen­tos carros. Esse é um contingente bastante grande, mas não tão grande quanto os dois m il que Acabe forneceu para a aliança com o ocidente no confronto com os assírios na batalha de Qarqar, em 853 (ver o comentário em 22.1). No século treze, os hititas e seus aliados haviam reunido dois mil e quinhentos carros para um embate com Ram sés II, na batalha de Cades.4.30. sabedoria dos hom ens do oriente. Havia uma tradição, há m uito existente, acerca da sabedoria no antigo O riente Próxim o. Ditados proverbiais, como aqueles dos sábios egípcios Ptah-Hotep (2450 a.C.) e Am enem ope (c. 1100) e do cortesão assírio Ahiqar 9c. 700), apresentam paralelos próximos a trechos do Li­vro de Provérbios. A lém disso, obras de sabedoria com o Jó e Eclesiastes são bastante sem elhantes, na forma e no conteúdo, ao Argumento Egípcio a respei­to do Suicídio (c. 2100) e ao Diálogo Babilônio acerca da Miséria Humana (c. 1000). Até m esm o textos mais clássicos da poesia épica, como o ciclo de Gilgamés e a lenda da descida de Istar ao mundo inferior, contêm elementos da literatura de sabedoria que explora ques­tões como a m ortalidade hum ana e a busca pela reali­zação pessoal. Com um acervo tão rico de literatura e

tradição, a afirmação com que Salomão ultrapassou todos esses sábios da Antigüidade é extraordinária.4.31. Etã, H em ã, C alcol e D arda. Essas renom adas figuras de sábios também estão ligadas à genealogia de Judá e Tamar, através de seu filho Zerá (Gn 38.30). M aol (em hebraico, dançarinos) pode, na verdade, referir-se ao seu papel como músicos, uma profissão que é associada ao culto e à sabedoria. Etã e Hemã aparecem no título de Salmos (SI 88 e 89) e, portanto, foram incorporados aos aspectos formais do culto no templo, embora não sejam listados entre os levitas.4.32. três m il provérbios. O mashal ou provérbio en­caixa-se num gênero de escrita no antigo Oriente Pró­ximo que é caracterizado por frases curtas, concisas que expressam bom senso ou valores do consenso popular. Três mil é um núm ero aproximado e é des­crito como o núm ero que ele compôs. Como hoje, o conhecimento muitas vezes é resultado de pesquisa e coleta de informações e dados, e não m eramente de um processo reflexivo e criativo.4.32. m il e cinco cânticos. Era comum no mundo anti­go fazer uso de um núm ero redondo mais um ou mais um dígito (ver Pv 6.16; Am 1.3) para expressar "m ais de". Porém, se o núm ero cinco, nessa cifra, está aí com esse objetivo, seria anormal. Essa forma de expressão oriental também se observa na lenda árabe das "M il e uma noites". Por volta de 2000 a.C., Shulgi, rei de Ur, também era conhecido por sua fama literária. Em hinos dedicados a si mesmo, ele se vangloria de sua erudição e habilidades literárias, assumindo o título de primeiro músico real.4.33. plantas. A sabedoria botânica no mundo antigo não dizia respeito às questões de que os biólogos se ocupam atualmente. Um a área de interesse era o sa­ber sobre as ervas, que envolvia suas funções m e­dicinais bem como seu uso na indústria (tinturas) e na produção de alimentos. Em outras culturas, esse co­nhecimento também incluía as propriedades mágicas de diversas ervas. O utra área do conhecim ento da botânica era de natureza agrícola - a sabedoria de um agricultor quanto às sementes e a todo o processo de plantar, nutrir, adubar e colher. Visto que a descrição deste versículo, acerca da sabedoria de Salomão, con­centra-se em árvores, e ocorre no contexto de provér­bios e cânticos, é mais provável que esse seu conheci­mento se expressasse no uso delas em parábolas ou fábulas com ensinamentos sábios. Tais parábolas são conhecidas no Antigo Testam ento (Jz 9.8-15) e tam ­bém n o an tigo O rien te P róxim o (p. ex., a fábu la sum éria da Tam argueira e da Palm eira) e exigiam um certo saber a respeito da natureza dessas árvores e arbustos.4.33. anim ais. Embora a NVI use verbos como "d es­creveu" e "d iscorreu ", o hebraico sim plesm ente diz

que Salomão "falou a respeito de" plantas e animais. Como no item anterior, isso sugere que ele usou sua percepção para contar histórias - parábolas e fábulas a fim de transmitir ensinamentos sábios. Aesop não foi0 primeiro a usar esse recurso, e a m ais de um milênio antes de Salomão, os sumérios já produziam fábulas e debates a respeito de animais. A fábula acadiana de m aior destaque que chegou até nós é "A Cobra e a Á guia". A lém desse exemplo, ditados de sabedoria no antigo Egito (p. ex., as Intruções de Amenemope) e na M esopotâm ia (como nas Palavras Aramaicas de Ahiqar do primeiro milênio) estavam repletos de ana­logias e parábolas envolvendo plantas e animais.

5 .1 - 6 .3 8 A construção do temploPara mais informações sobre o capítulo 5, consulte os comentários em 2 Crônicas 2.1-18.5.1. relacionam ento entre Israel e T iro. Os fenícios de Tiro, localizada 32 quilômetros ao sul de Sidom, numa ilha a menos de um quilômetro da costa fenícia, pros­peravam como resultado do controle que exerciam no comércio naval que cruzava o M editerrâneo. Sua in­dependência é confirm ada no relatório egípcio de W enam on (c. 1080 a.C.) e sua influência encontra-se em sedimentos arqueológicos de Chipre e mais tarde em Cartago, no norte da África. No entanto, sua pre­ocupação com o comércio e a escassez de terras culti­váveis os obrigou a estabelecer relações com nações vizinhas que estivessem interessadas nos produtos transportados pelos navios fenícios e que podiam comprá-los pagando com cereais ou outros recursos naturais. A consolidação de Salom ão na região da Palestina fez dele um excelente parceiro para Hirão e uma fonte constante de renda para os construtores e fornecedores fenícios.5.1. Hirão. A s datas de Hirão I, de Tiro (em fenício Airão e em assírio Hirummu) geralmente são citadas como 969-936 a.C., com base no cálculo cronológico do historiador judeu, }osefo (primeiro século d.C.). Ele afirma ter amplos registros da história de Tiro e ofere­ce muitas informações sobre o reinado desse rei. De acordo com essa datação, Davi e Hirão não teriam sido contemporâneos; além disso, os métodos de cálculos disponíveis a Josefo abrem m argem para suspeitas quanto à sua confiabilidade. Fontes do Oriente Próxi­mo da m esma época, delimitada pelo historiador, não oferecem nenhum a inform ação sobre H irão, apesar de mencionarem com destaque seu homônimo, Hirão II. O nom e também é bastante conhecido no sarcófago de Airão, rei de Biblos, um a cidade nas proxim ida­des, tam bém por volta desse m esm o período.5.3. debaixo dos seus pés. O rei assírio Tukulti-Ninurta1 (século treze) "coloca seu pé no pescoço" de cada rei

conquistado e tam bém (simbolicamente) na respecti­va terra dom inada, deixando claro que haviam se tornado seu escabelo. Isso é ilustrado de form a clara na pintura de um a tumba do século quinze a.C. mos­trando Tutm és IV sentado no colo de sua m ãe (?) com os pés apoiados num a caixa cheia de inimigos deposi­tados num a pilha. Para informações adicionais, ver o comentário em Salmo 108.13.5.17. pedreiras. A pedra calcária da região montanho­sa era extraída das pedreiras para a construção do templo em Jerusalém. Isso envolvia a simples retira­da delas dos penhascos; porém, o processo de cortar e p repará-las em b locos, era um trabalho feito por artesãos e construtores da Fenícia (ver 1 Rs 7.10).6.1. cronologia. Essa nota cronológica relacionada à construção do templo de Jerusalém por Salomão está no cerne da discussão sobre a data do êxodo e do período da conquista (ver nota de rodapé a respeito da data do êxodo). A maioria dos historiadores situa­ria a dedicação do templo de Salomão em 966 a.C.. Acrescentando 480 anos a essa data, teríamos o ano de 1446 a.C. como a provável partida do Egito. As difi­culdades arqueológicas e a força do domínio egípcio na região siro-palestina, durante o século quinze a.C., colocaram essa data em questão. Com o resultado, muitos estudiosos agora entendem o número 480 como um a cifra estilizada, sim bólica para quarenta anos (um núm ero aproximado comum) representando cada um dos doze juizes ou indicando doze gerações (40 x 12 = 480). Com base nas datas de Hirão I e da funda­ção da colônia fenícia em Cartago, é m ais provável que a construção do templo tenha acontecido entre 967-957 a.C.. A nota cronológica faz uso de uma cons­trução de frases tipicamente fenícia.6.1. zive. Esse era o segundo mês do calendário cananeu e israelita. Corresponde aos períodos de abril e maio do nosso calendário. O fato de que a passagem iden­tifica zive como o segundo mês do ano pode indicar que esse não era o nome israelita usado norm almen­te, m as representava um a designação oficial com a qual um público maior, composto por não israelitas, estava familiarizado.6.4. janelas com grades estreitas. Pelo fato dos termos arquitetônicos, encontrados em hebraico, serem técni­cos, seu significado exato é incerto. Alguns estudiosos têm sugerido que as janelas eram construídas com um a abertura estreita do lado de fora e um a m ais larga no interior (ver Ez 40.16). Tam bém é possível que seja um a menção a janelas com treliças. A escas­sez delas, nos templos mesopotâmicos, porém, argu­menta contra a entrada de luz natural no templo de Salomão (ver 1 Rs 8.12). O templo de 'A in Dara tinha janelas falsas escavadas na pedra com um desenho em treliças.

6.5. salas laterais. Essa parte da estrutura do templo é enuviada de incertezas por causa da term inologia hebraica geralmente traduzida como "salas laterais" ou "asas". Talvez fossem parte da construção mais antiga do prédio, servindo primeiramente como áre­as de armazenamento, e m ais tarde foram expandi­das para cima, à medida que o templo cresceu. Não fica claro se foram planejadas para serem estruturas permanentes ou suportes, tampouco os materiais com que foram construídas. A arquitetura de templos da mesma época em 'A in Dara apresenta corredores al­tos ladeando o átrio. É possível que este versículo esteja descrevendo corredores desse tipo.6.6. saliências de apoio. Essas câm aras laterais que acompanhavam as paredes externas do templo eram recuadas ou rebaixadas à m edida que subiam . V. H urow itz oferece duas interpretações desse traço arquitetônico: (1) um a form a de fechar o templo den­tro de um a "cerca ou grade de cedro" (com tábuas de cedro colocadas horizontalmente nas reentrâncias) ou(2) um tipo de "tem plo pagão às avessas" criando o efeito visual que a parede externa do templo ficava m ais larga, da base para cima.6.7. ferram entas usadas. Antigos tabus quanto ao uso de ferram entas de ferro, na construção de altares ou prédios sagrados (ver D t 27.5; Js 8.31), são de certa form a m inim izados pelo uso aparente delas na pe­dreira, m as não nas proxim idades do tem plo. Um antigo relato sumério de um templo, construído por G udea a seu deus, insistia que não deveria haver barulho nessa área durante o projeto de construção. Os construtores utilizavam martelos ou picaretas gran­des (pesando de 13 a 16 quilos) para o trabalho nas pedreiras e talhadeiras e picaretas pequenas (pesando de 5 a 7 quilos) para lavrar as pedras. Ferram entas encontradas em escavações têm pontas de ferro de diversos formatos e cabos de madeira. Martelos com cabeça de ferro e serrotes com longos cabos duplos também são retratados em relevos assírios.6.14-35. Ver os comentários em 2 Crônicas 3.6.36. três camadas de pedra lavrada. Talvez à manei­ra de pára-choques arquitetônicos contra estragos pro­vocados por terremotos, as paredes do átrio interno eram construídas com vigas de cedro (em alguns exem­plos elas tinham dez centímetros de espessura) inter­caladas a cada três camadas de pedra. Isso ajudaria a compensar pequenas irregularidades na superfície e no tamanho dessas pedras. Esse estilo também é ates­tado em Ugarit, em toda a A natólia, no palácio de Knossos, em Creta e em outras localidades de Micenas. Ver a menção em Esdras 6.4 em relação ao segundo templo do período pós-exílio.6.38. m ês de bul. Os nomes dos meses do calendário cananeu são usados aqui, bem como o antigo nome

para mês (yerah, que significa "lu a"). Bul tam bém é encontrado designando um mês em inscrições fení­cias. Significa "um idade" e está ligado à estação chu­vosa do outono no clima mediterrâneo. Como oitavo mês do ano, corresponde a outubro/novembro.

7.1-12 A construção do palácio7.1-12. dim ensões e arquitetura do palácio. Assim como outros complexos de palácio no antigo Oriente Próxim o (tais como os de M ari, Nínive, Babilônia e Susa), a habitação real de Salomão cobria quase mil metros quadrados e era em si m aior que o templo. O prédio funcionava como a sede administrativa e tam ­bém como o salão da justiça e depósito de armas. Das estruturas mencionadas aqui, o "Palácio da Floresta do Líbano" é descrito com mais detalhes (45 metros de comprimento, 22 metros e meio de largura e 13 metros e m eio de altura), contendo suas quatro fileiras de colunas de cedro assemelhando-se m uito a uma "flo­resta". O estilo global da construção é bastante pareci­do com o de Bit-Hilani da Síria e da Mesopotâmia (ver o com entário em 2 Sm 5.11), com câm aras nos três lados ao redor de um salão central (22 metros e meio de comprimento e 13 metros e meio de largura). Os cômodos laterais eram distribuídos em três pavimen­tos, enquanto o salão tinha um a abertura até a altura do teto. Existiam portas em am bos os lados e nas extremidades e janelas nos pisos superiores permitin­do que a luz se projetasse até embaixo, no salão de audiências. Os outros dois palácios (v. 8) não são des­critos em detalhes, mas visto que serviam como m ora­dias, o aspecto m onum ental dessas construções não era tão importante ao prestígio da m onarquia como o dos prédios públicos.7.9. entalhe nas pedras. As pedras usadas no palácio eram cortadas em tamanho e formato específicos de modo a se encaixar no padrão, do "alicerce até o bei­ral", com vigas de cedro garantindo uma estabilidade adicional. Era necessário prim eiro extrair a pedra calcária (que ficava mais dura após o contato com o ar) dos penhascos da Judéia. Isso garantia um bloco já preparado (pedras de alvenaria), cujo encaixe era o m ais justo possível e de qualidade superior a um que fosse produzido com martelo e cinzel.7.10. tam anho das pedras. As enorm es pedras do alicerce tinham quatro metros e meio ou três metros e sessenta centímetros de altura e pesavam muitas to­neladas. Blocos de pedra ainda maiores, encontrados no alicerce da plataforma do templo de Herodes, em Jerusalém (um bloco media m ais de doze metros de comprim ento e pesava cerca de cem toneladas), de­monstram que esse tamanho não era raro para cons­truções colossais.

7.15-22. colunas de bronze. Essas duas colunas ocas de bronze mediam oito metros e dez centímetros de altura e quase cinco metros e quarenta centímetros de circunferência. A descrição de colunas sem elhantes num templo da cidade assíria de Kar-Tukulti-Ninurta tam bém contém detalhes sobre a altura, a circunfe­rência e o desenho dos capitéis com que eram orna­mentadas no alto. De interesse particular é o fato adi­cional de serem entalhadas com inscrições. Essa carac­terística era típica de pórticos e é provável que elas fossem consideradas pilares. U m a possibilidade é que Jaquim e Boaz fossem a prim eira palavra das respec­tivas inscrições e, portanto, teriam passado a ser con­sideradas como o nome das colunas. Romãs e lírios (flor de lótus) são usados freqüentemente em decora­ções arquitetônicas.7.23-51. Ver os comentários em 2 Crônicas 4.

8.1-66 Dedicação do templo8.2. mês de etanim . Esse mês do outono (corresponde a setembro/outubro) fazia parte da estação chuvosa e estava ligado à Festa dos tabernáculos (ver os comentá­rios em Êx 23.16b e D t 16.13-17). A dedicação do tem ­plo durante o sétim o mês (1 Rs 6.38 relata que o tem ­plo ficou pronto no oitavo mês) pode refletir uma cele­bração que teria durado um ano após o término da obra ou um atraso de quase um ano para que as comemo­rações coincidissem com o festival da colheita.8.14-66. Ver o comentário em 2 Crônicas 6.

9.1-9 Resposta de YahwehPara informações a respeito desse trecho, verificar co­mentários em 2 Crônicas 7.

9.10-28 Feitos de Salomão9.11. vinte cidades da G aliléia. Visto que a Galiléia é definida de diversas maneiras (ver Js 20.7; Is 9.1), é possível que o território dado a Hirão incluísse trechos do sopé de colinas, na parte ocidental, até Megido. É ainda m ais provável que envolvesse a área neutra entre a Fenícia e Israel. O bserve que essas terras e cidades retom am a Salomão na narrativa do cronista (2 Crônicas 8.2). Precedentes na troca de territórios e cidades encontram -se em anais, tratados e registros reais do Egito e da M esopotâmia. Por exemplo, nos anais assírios de Senaqueribe, o rei descreve a toma­da de cidades no território de Ezequias e a transfe­rência delas para os reis filisteus de Asdode, Ecrom e G aza.9.14. 120 ta len tos de ouro. No sistem a de pesos e medidas do antigo Oriente Próxim o, o talento era a

maior unidade de peso (equivalente a 35 quilos). Cento e vinte talentos, portanto, seriam quatro mil e duzen­tos quilos de ouro. Para dados a respeito de ouro, ver os comentários em 1 Crônicas 22.14.9.15-19. projetos de construção. Como parte da conso­lidação de seu controle sobre todo o Israel e também como um a proteção contra incursões armadas do faraó egípcio Sisaque, Salomão deu início a um programa de obras públicas fazendo uso de mão-de-obra escra­va ou do sistem a de trabalhos forçados. A lista de obras apresentada aqui, que se estende geografica­mente de norte a sul, tem o estilo semelhante àquela encontrada na inscrição de Mesha, em Moabe, e nos anais reais assírios. Esse programa transformou Jeru­salém , expandindo suas fronteiras e defesas. Tam ­bém fortaleceu a postura defensiva da nação em cen­tros m ilitares e com erciais com o H azor, M egido e Gezer, bem como em Baalate e Tam ar ('A in Husb), cidades que ficavam na fronteira sul. A estrutura do

estilo de construção (casamatas e muros que cercavam as cidades com portões formados por seis câmaras) em m uitas dessas localidades auxilia os arqueólogos a estabelecer características arquitetônicas desse perío­do, apesar da escassez de evidências documentais fora da Bíblia. A injeção de capital necessário para essas m elhorias na infra-estrutura provavelm ente foi um impulso à economia local e m anteve as populações canan éias, potencialm en te hostis, em pregad as de maneira m ais construtiva.9.15. M ilo (aterro). A cidade de Jerusalém, no perío­do de Davi, ocupava apenas uma faixa norte-sul, co­

brindo cerca de dez acres ao sul dos muros da cidade moderna. O topo desse monte de ruínas tem apenas

120 metros de largura e 450 de comprimento. A cida­de cananéia foi construída sobre um a plataforma arti­ficial sustentada por um a série de terraços ou aterros. Os arqueólogos descobriram uma estrutura de pedra

em degraus com mais de 15 metros de altura na extre­midade nordeste dessa elevação. Provavelmente, tra­ta-se da plataforma onde ficava a cidadela dos jebuseus, mencionada em 2 Sam uel 5.7, ampliada por Davi e usada como a fundação na construção de seu palácio.

À m edida que a cidade expandiu-se para o norte, Salomão também utilizou esse aterro para edificar seu palácio e o complexo do templo. A m aioria dos estudi­

osos atualmente entende que o "M ilo" deva ser iden­tificado com os m uros de arrimo (inclusive a "estrutu­ra de pedra em degraus") que serviam como alicerce para esses prédios monumentais. Além desses dados, são poucos os vestígios encontrados pelos arqueólo­gos, na cidade, que possam ser atribuídos ao período de Davi e Salomão.9.20-28. Ver os comentários em 2 Crônicas 8.

10.1-13A visita da rainha de SabáPara inform ações sobre este trecho, consulte os co­m entários em 2 Crônicas 9.1-12.

10.14-29A riqueza e o esplendor de SalomãoPara informações sobre este trecho, ver os comentári­os em 2 Crônicas 9.13-28.

11.1-13Salomão desvia-se por causa de suas mulheres11.1-3. alianças de casam ento. O casam ento era uma espécie de ferram enta diplom ática no antigo Oriente Próximo. Por exemplo, Zinri-Lim, rei de Mari, duran­te o século dezoito a .C , fez uso de suas filhas para con­solidar alianças e estabelecer tratados com reinos vizi­nhos. Igualm ente, o faraó Tutm és IV (1425-1412 a.C.) casou-se com a filha do rei de M itani a fim de demons­trar sua disposição em ter boas relações com esse povo e pôr fim a um a série de guerras com aquele reinado

do m éd io E u fra te s . A s esp osas d os an tig o s governantes, portanto, geralmente representavam ali­anças políticas. C idades, C idad es-estad o, tribos ou nações que desejassem aliar-se a um governante ou submeter-se à sua proteção selavam o tratado através do casamento de uma jovem , filha de um a das princi­pais famílias, com o suserano ou com seu filho. Isso se configurava num ato de lealdade por parte do vassalo que, a partir de então, teria um interesse pessoal em preservar a dinastia do rei. No caso de Davi, antes de tomar-se rei de Israel, diversos casamentos fortaleceram sua posição política e econômica. Assim, a união com M ical, a filha de Saul, perm itiu-lhe o acesso à fam ília real, com A bigail garantiu-lhe vínculos com a área ao redor de H ebrom e com Ainoã, de Jezreel, possibilitou ligações com as fam ílias das redondezas de M egido e Bete-Seã. Essa rede de relacionam entos assegurou a Davi vozes am igáveis e favoráveis no conselho de lí­deres de todo o país. O núm ero enorm e de esposas e concubinas m encionado no versículo 3 tem como obje­tivo refletir a riqueza e o poder de Salomão em relação à nobreza de Israel e aos reinos vizinhos. O autor não condena Salom ão por poligam ia - era um elem ento necessário às suas atividades políticas. A condenação é fe ita pelo fato de Salom ão ter perm itido que suas esposas o afastassem do Senhor.11.2. proibição contra casam entos m istos. Um a das principais preocupações dos escritores bíblicos era o sin cretism o. P ara qu e Israe l p erm an ecesse fie l a Yahw eh, era preciso m anter-se livre da influência estrangeira. De acordo com essa visão, o casamento m isto e a educação dos filhos feita pelas mães que não

fossem israelitas poderiam apenas enfraquecer os vín­culos da aliança (ver o comentário em Dt 7.3).11.3. princesas. Existia um a certa distinção entre as

esposas que ocupavam uma posição m ais importante e as concubinas. Textos ugaríticos apresentam um exemplo semelhante a esse tipo de divisão no harém. Na corte de Arhalba, as esposas cujos filhos fossem da linhagem da sucessão ao trono (como Kubaba) eram consideradas m em bros da realeza e diferenciadas da­quelas que tinham um status inferior.11.3. trezentas concubinas. O harém tinha funções políticas e também sexuais. As esposas faziam parte do sistema de aliança entre as nações e eram o meio de se obter um herdeiro ao trono. Ter m uitas delas era um sinal de poder e um subterfúgio contra a infer­tilidade fem inina. Porém , nem todas as esposas do harém ocupavam a m esm a posição social; aquelas que vinham de famílias menos importantes eram de­signadas concubinas e seus filhos não tinham direito à sucessão real.11.5. Astarote. Ver o comentário em Juizes 2.13 acerca

dessa deusa cananéia da fertilidade e cônjuge de Baal, o deus da tempestade. Em textos ugaríticos (épico de Keret e o ciclo de Baal e Anate), ela é conhecida como

A star ou A starte e em docum entos re lig iosos da Mesopotâmia ela é chamada de Istar. Astarote/Astarte era adorada como a deusa principal de Tiro e Sidom, na Fenícia. Seu culto difundiu-se por todo o M editer­râneo, sendo identificada pelos gregos como a deusa Afrodite.1 1 5 , 7. M oloque. Ver o comentário em Levítico 18.21

a respeito da relação entre M oloque, uma divindade cananéia e fenícia, e o sacrifício de crianças. Embora na N VI seja feita menção apenas a M oloque, em algu­mas traduções, no verso 5, o deus amonita M ilcom (= Baal, deus cananeu) é mencionado. O nome Milcom foi confirmado em inscrições amonitas e na formação de nomes próprios, e faz mais sentido do que Moloque, neste contexto, pois se trata de um a lista de deuses nacionais. É difícil dizer se M oloque, no verso 7, é resultado de um erro de grafia ou um a forma variante de Milcom.11.7. Cam os. Descrito em termos bastante semelhan­tes a Yahw eh, na inscrição m oabita do rei M esha (c. 830 a.C .), Cam os era um a divindade nacional que puniu seu povo permitindo que fosse dominado por Israel durante o reinado de Onri (ver 2 Rs 3); além disso, foi convocado para um a guerra santa de liberta­ção (parecida com o uso do herem em Js 6.17-21) e lutou, à semelhança de Yahweh, como um guerreiro divino para os m oabitas (Js 10.42). Fora de Moabe, Camos talvez tenha sido adorado em Ebla como Camise, com. base num texto assírio que o iguala a Nergal,

o deus do m undo inferior, parece que ele fez parte do panteão de deuses da Mesopotâmia.

11.14-43Os adversários políticos de Salomão11.14. Hadade, o edomita. Edom havia sido conquis­tada por D avi durante suas guerras para subjugar seus vizinhos (ver 2 Sm 8 .13,14). As guarnições desse rei provavelm ente tinham com o objetivo m anter o controle das rotas comerciais e o acesso ao porto no golfo de Acaba. Agora, talvez com o apoio dos egípci­os (ver o comentário no v. 22), um novo líder edomita ameaçava o controle israelita. Há poucas informações para sugerir que Edom fosse um a nação instituciona­lizada nessa época. É m ais provável que Hadade re­presentasse um a das tribos mais influentes da região. Sua oposição possivelmente deu-se na forma de ata­ques a caravanas e não através de um a guerra civil visando a independência. Não há referências a ele em fontes extrabíblicas da época.11 .15 ,16 . a ação de Joabe contra Edom. Extermínios completos como esse aparecem também em registros assírios e na evidência de valas coletivas em Láquis que datam da cam panha de Senaqueribe, em 701a.C., contra Judá. Muitos dos mil e quinhentos mortos encontrados naquelas valas eram civis, indicando que perderam a v id a durante o cerco e a form a como grande parte das tropas foi exterminada.11.17. 18. a fu ga de Hadade. Assim como Jeroboão, no verso 40, H adade buscou asilo no Egito. Sua fuga o levou para o sul e para o leste de Edom até Midiã, na parte norte da península arábica e daí até Parã, no noroeste do Sinai (possivelm ente o oásis Feran; ver N m 13.3). O terreno acidentado e a rota circular teria protegido os refugiados de perseguições.11.18. identidade do faraó. Ao contrário do versículo 40, onde Sisaque é mencionado como faraó do Egito, neste contexto o monarca é mantido anôrúmo. É mais provável que o soberano descrito aqui seja membro da 21a Dinastia, mas não há indícios de sua identida­de. Visto que Hadade ficou no Egito desde sua infân­cia até atingir a idade adulta, ele teria se relacionado com diversos faraós, inclusive com O sorkon (984-978) e Siam un (978-959). Todos eles, nesse período, acolhi­am refugiad os políticos vin d os da P alestin a e da Transjordânia na tentativa de equilibrar e contraba­lançar o poder crescente de Salomão e de Hirão, na região.11.18. o exílio de Hadade. É um fato interessante da vida política, no antigo Oriente Próxim o, que dissi­dentes políticos e refugiados reais fossem freqüen­temente recebidos por reis (do Egito, da Babilônia, da Pérsia e até mesmo por líderes da Palestina, de acordo com a Lenda de Sinuhe). Essas pessoas faziam parte

de um esquem a m aior entre m onarcas rivais e, de fato, o que estava em jogo era o controle econômico e político da região. Os refugiados eram abrigados, li­gados ao protetor através de casamento com filhas e depois liberados com algum apoio m ilitar ou financei­ro a fim de causar o m áximo de problemas nas frontei­ras do rei inimigo. Desse modo, uma potência podia exaurir os recursos de sua rival e eventualmente par­tir para uma conquista.11.19. Tafnes. Essa palavra é baseada no termo egíp­cio t.hmt.nsw e provavelm ente não é um nom e pró­prio e sim um título. Seria comparável ao termo he­braico gebira ("rainha m ãe"), que no texto hebraico acompanha a palavra Tafnes, como forma de explica­ção. Sua posição, portanto, é indicada como "esposa do rei" e m ãe do herdeiro ao trono.11.22. tentativa do faraó em m anter Hadade. Se esse faraó for Siamun, como parece, é o mesmo que fez um tratado com Israel (3.1), selado com o casamento de sua filha com Salomão. Isso representava um a m u­dança na política em relação ao período de Davi, quan­do o faraó am eaçara a expansão israelita acolhendo inim igos como Hadade. A resolução de Hadade em voltar e organizar um a oposição contra Salomão colo­ca Siam un num a posição difícil.11.23. Rezom . Esse termo, que em sua etim ologia é parecido com rozen ("governante"), pode ser um títu­lo real. Em bora alguns estudiosos tenham sugerido que esse nome próprio de fato seja Heziom (ver 15.18), há poucos dados que fundam entem essa posição e é m ais provável que Rezom seja o pai ou até m esm o o avô de Heziom. Aparentemente, esse antigo vassalo do governante arameu Hadadezer fugiu da matança de D avi (2 Sm 8.3-8) e passou algum tem po como chefe de um bando de salteadores. Depois, no início do remado de Salomão, ele conseguiu estabelecer-se como governante de Damasco e criar um reino (Aram) que seria rival de Israel ao longo dos séculos dez e nono.11.24. H adadezer, re i de Zobá. V er os comentários em 2 Sam uel 8.3-8 e 10.6 sobre a rivalid ade entre D avi e os estados arameus no norte da Transjordânia e no oeste da Galiléia. Zobá ficava no norte de Da­m asco (ver com entário em 2 Sm 8.3) e era um dos reinados arameus que controlavam partes da Síria e o norte da M esopotâm ia, até a expansão do controle israelita no governo de Davi e Salomão.11.24. 25. Aram de D amasco. Esse é o nome da pe­quena nação centralizada ao redor da cidade síria de D am asco (ver 2 Sm 8.5, 6). O crescim ento de seu poder nesse período, após a divisão de Israel em dois reinos, transformou-a na nação m ais influente da re­gião siro-palestina. Fontes assírias do reinad o de Salm aneser IH m encionam esse reino como um im ­

portante rival e o cabeça de uma coalizão de nações (Batalha de Qarqar em 853, ver comentário em 22.1).I.26 . Zeredá. O lugar onde Jeroboão nasceu pode ser identificado com 'A in Seridah, cerca de 24 quilôme­tros a sudeste de Siquém , no território da tribo de Efraim.II .2 7 . M ilo (aterro). Ver o comentário em 9.15 a res­peito do objetivo do Milo.11.28. a função de Jeroboão. Como m em bro do go­verno de Salomão, Jeroboão era um líder local encar­regado do trabalho forçado, formado por um grupo de homens recrutados para serviços temporários (car­regadores e construtores), no distrito da "tribo de José" (Efraim e Manassés). Visto que a expressão "trabalho forçado" não é usada no texto original, pode-se supor que o trabalho de Jeroboão fosse com israelitas e não com escravos. Sua posição pode ser comparada ao rabi Am urrim (chefe dos am orreus) nos textos de Mari, cujas tarefas incluíam comandos militares e também organizar o trabalho local, supervisionando projetos de construção de açudes e reforma de templos.11.29. Aias. Em bora Siló (ver comentário em 1 Sm 1.3) tivesse sido destruída na época de Eli e m uito de seu prestígio cultual se perdera, ela manteve sua herança religiosa devido à sua antiga tradição. Talvez não re­presente nada o fato de Aias ser natural do território do n o rte , m as e le está d e sem p en h an d o o p ap e l de aclamador do rei, bastante fam iliar nesse período ini­cial do ofício profético. Tanto Saul como Davi foram un­gidos pelo profeta Samuel, que tam bém fora educado em Siló. Esse precedente continuou por todo o século seguinte, à m edida que as principais dinastias do rei­no do norte (Jeroboão, Baasa, O nri, Jeú) surgiram e caíram de acordo com as predições. Às vezes, o rei designado se contentava em esperar pelo tempo opor­tuno (como Jeroboão fez), enquanto para outros indi­víduos (como Jeú), a proclamação profética deu início a um golpe. No antigo Oriente Próximo, sacerdotes de­sem penhavam m uitas vezes im portantes papéis po­líticos, m as não se sabe de nenhum que tenha tido fun­ções iguais à desses profetas israelitas aclamadores de rei; não obstante, acreditava-se que eles não apenas proclam assem a m ensagem vinda da divindade, mas tam bém desencadeassem a ação divina no processo. Nas instruções do rei assírio Esaradon a seus vassalos, ele exige que façam relatórios de qualquer afirm ação imprópria ou negativa proferida por qualquer pessoa, mas especificam ente por profetas, intérpretes de so­nhos e praticantes de adivinhação estática. Logo, não é de se espantar que essa ação de Aias tenha colocado im ediatam ente Jeroboão em perigo (v. 40).11.30. divisão da capa do profeta. A capa rasgada por Aias era um a veste normal (ver Dt 22.26) e não uma indumentária característica de seu ofício de profeta.

Essa atitude é espantosa, considerando o custo das vestim entas e a probabilidade de que a maioria das pessoas tinha apenas um a muda adicional de roupa. Gestos simbólicos como esse passaram a ser um dos métodos comuns utilizados pelos profetas para trans­m itir um a m ensagem . A lguns deles são atividades com uns, norm ais, em bora geralm ente seu desfecho seja bastante excêntrico e raro (ver comentários em Ez 4.1). O gesto que geralmente acompanhava uma pro­fecia reforçava a idéia de que a m ensagem estava se cum prindo e se tornando realidade. Existem certas semelhanças em relação à m aneira como o restante do mundo antigo encarava a dimensão mágica. N a ma­gia, com freqüência, rituais deveriam acompanhar os encantamentos, com o objetivo de concretizar o resul­tado desejado. Para mais informações concernentes à relação entre os profetas e os procedimentos de ma­gia, ver os comentários em 2 Reis 4.34; 5.11.11.33. Astarote, M oloque, Camos. Ver os comentári­os em 1 Reis 11.5 e 7 acerca desses deuses cananeus.11.36. um descendente no trono em Jerusalém . Em hebraico, a expressão utilizada é "u m a lâm pada". Por ser um símbolo de perm anência e memória, a men­ção a ela significa que o reinado de um descendente de Davi, em Jerusalém, garantiria um vínculo com a promessa de Deus para a sua dinastia (2 Sm 7.8-16). Usos sim ilares da palavra em ugarítico e acadiano estão ligados à perpetuação de um reinado ou da presença divina. O rei assírio Tiglate-Pileser III é des­crito como a luz da humanidade. Um a expressão em babilónico antigo faz uso da im agem de um braseiro apagando-se para expressar o conceito de um a família sem descendentes.11.40. S isaq u e. Sisaque (Sheshonq I) foi o líder de uma proeminente família líbia que se estabelecera na região do delta egípcio (Bubastis), como resultado de conquistas, diversos séculos antes (século doze). Ele ingressou para a fam ília dos faraós da 21a D inastia através de um casam ento e quando essa linhagem extinguiu-se, assumiu a posição de ascender ao trono como o fundador da 22a Dinastia (c. 945). Ele se esta­beleceu no trono através da introdução de familiares em postos-chave e também de outros casamentos en­volvendo alianças políticas. U m a vez entronizado, empenhou-se com determinação a fim de restaurar o poder egípcio inaugurando um monumental progra­m a de construções em diversas áreas: na região do D elta (inclusive nas áreas de Tânis e Mêrtfis) e em Heracleópolis. O relato bíblico bem como sua estátua em Biblos indicam um forte interesse em expandir a hegem onia egípcia até a região siro-palestina. Sua inscrição em Cam ac descreve sua invasão na Palesti­na em 925 (inclusive um a lista de 154 cidades des­truídas) e também é comemorada num a esteia erigida

em Megido. Jerusalém foi poupada porque Jeroboão pagou um enorme resgate pela cidade (1 Rs 14.26).11.40. Egito como protetor. Assim como Hadade bus­cou refúgio político no Egito (ver o comentário em 11.18), Jeroboão volta-se para Sisaque em busca de

apoio e proteção. Ajudar o rival de Salomão se encai­xaria bem aos planos que o faraó tinha de invadir a Palestina. Também é possível que o preço pago por Jeroboão, em troca desse auxílio, fora o de dar passa­gem a Sisaque quando este se dirigiu em campanha militar ao longo da costa até Tanaque e M egido e no interior até Bete-Seã.

11.41. registros h istóricos de Salom ão. Era bastante comum encerrar o relato a respeito de um rei fazendo referência a obras adicionais de onde a narrativa ha­via sido extraída - geralmente "os registros históricos dos reis de Israel" (ver 1 Rs 14.19; 16.14). A fonte mencionada aqui, no entanto, parece ser um compên­dio à parte, que abordava especificamente os eventos da vida de Salomão e relatos adicionais de sua sabe­doria. Do ponto de vista histórico é lam entável não termos mais acesso a esse material. No mundo antigo, os anais reais muitas vezes eram feitos não como uma sim ples reprodução im parcial de eventos, m as sim como um m eio utilizado pelo monarca para fortalecer sua reputação perante os deuses e para o benefício de reis que viriam depois. Se tinham um caráter teológi­co ou de propaganda, ou ambos, o fato é que geral­mente eram compostos tendo em mente o legado que deixariam à posteridade.

12.1-24A revolta contra RoboãoPara informações sobre esse trecho, ver os comentá­rios em 2 Crônicas 1 0 ,11 .

12.25-33Jeroboão estabelece seu reinado12.25. fortificação de Siquém . A escolha de Siquém (Tell Balatah), por Jeroboão, como sua primeira capi­tal, era baseada em sua localização estratégica (48 quilômetros ao norte de Jerusalém num vale estreito entre os montes Ebal e Gerizim), no abastecimento de água disponível e nos ricos recursos agrícolas da re­gião. Sua posição também permitia o controle de todo o trânsito militar e comercial em toda a região efraimita. Evidências arqueológicas quanto à fortificação promo­vida por Jeroboão, no local, são escassas, embora haja indícios da parede de uma casamata e de torres cons­truídas no Estrato IX acompanhando a linha das anti­gas fortificações da Idade do Bronze Moderna. Sedi­mentos de destruição que terminam nos Estratos IX e X podem ser indícios das incursões do faraó egípcio

Sisaque. Para saber m ais sobre os primórdios da his­tória de Siquém, ver o comentário em Juizes 9.1.12.25. Peniel. Peniel/Penuel tem sido identificada com Tell edh-Dhahab, oito quilômetros a leste do rio Jordão. É possível que Jeroboão tenha se deslocado para lá durante a invasão de Sisaque, na Palestina, m as a m enção de Peniel na lista de cidades conquistadas por esse faraó sugere que não foi um refúgio distante o bastante. Talvez Jeroboão tenha usado a fortaleza ali para conseguir o controle daquela parte da Transjor- dânia (G ileade), que anteriorm ente estivera sob o domínio de Davi.12.26, 27. Jeru salém e a relação com a d inastia de Davi. Visto que Jerusalém havia sido conquistada por D avi e o santuário fora ali estabelecido por ele e Salomão, existiam fortes laços ideológicos entre a casa de Deus e a casa de Davi, ligadas inseparavelmente a Jerusalém (para informações relacionadas a Jerusalém como propriedade particular da dinastia davídica ver o comentário em 2 Sm 5.9). O santuário de Yahweh, que estabeleceu a dinastia davídica, encontrava-se no templo em Jerusalém. Portanto, Jeroboão era obriga­do a procurar um m eio de romper os laços políticos com a adoração de Yahw eh nessa cidade, sem romper os laços tradicionais da aliança com Ele, que havia tirado os israelitas do Egito e lhes dado aquela terra.12.28. bezerros de ouro. A arca da aliança e os bezer­ros de ouro não eram considerados ídolos, mas sim, tronos ou pedestais que sustentavam a glória de Deus. Os bezerros eram um reflexo do sincretismo, dos em­préstim os cu ltu rais e re lig iosos proven ientes dos cananeus, tão predominante entre os israelitas. Tou­ros ou bezerros eram associados ao deus Baal e ao culto à fertilidade em textos ugaríticos. El muitas ve­zes é descrito como o "Touro E l" e há uma lenda que a união entre Baal e Anat gerou um novilho. É bas­tante provável que Jeroboão encarou essa oportunida­de como uma excelente manobra política, agradando os israelitas que se sentiam m ais à vontade com uma m istura do im aginário do deus Yahw eh e do deus Baal. Estátuas de bezerros ou touros feitas de bronze ou outros m etais foram encontradas em diversas esca­vações arqueológicas (monte Gilboa, Hazor, o Local do Touro e Ascalom; também foi encontrado um exem­plar de cerâmica em Siló), mas tinham apenas de 8 a 18 centímetros de comprimento.12.28. bezerros como tronos. Visto que o intento de Jeroboão era providenciar centros alternativos de ado­ração além de Jerusalém, seria necessário guarnecer esses novos santuários com um símbolo religioso tão poderoso quanto a arca. O sím bolo do bezerro era bem conhecido no contexto cananeu do segundo m ilê­nio e representava fertilidade e força. Porém, a fim de que eles não fossem considerados ídolos, foi apresen­

tado o argum ento de que seriam apenas o trono de Yahweh. Esse argumento tem como base o retrato de deuses cananeus e ugaríticos, em esculturas e relevos, de pé sobre o corpo de um touro. A lém disso, os deuses mesopotâmicos da lua, Sin e Nanar, estão re­presentados, em selos cilíndricos e em textos religio­sos, com um touro ou são retratados como um "touro feroz". Logo, existe a possibilidade de que os bezer­ros de ouro colocados por Jeroboão nos santuários de Dã e de Betei tivessem o objetivo de servir como tronos ou pedestais divinos para o invisível Yahweh. Alguns estudiosos têm observado que em figuras do terceiro milênio (principalmente em selos cilíndricos) a divindade era retratada de pé no dorso de um a criatura alada composta (como os querubins). Foi na Síria do segundo m ilênio que o touro tornou-se o mais comum "anim al pedestal".12.28. a relação entre os bezerros e Yahw eh. De modo geral, há um consenso entre os eruditos de que os bezerros de ouro de Jeroboão estavam relacionados a uma adoração (sincretista) a Yahweh. Esse argumento é baseado na falta de outro nome divino associado a eles e a referência feita aos "deuses que tiraram vocês do Egito". Essa expressão parece negar a possibilida­de da associação desses bezerros com Apis, o deus- touro egípcio (apesar dos laços de Jeroboão com o Egito; ver 1 Rs 11.40). Paralelos ugaríticos sugerem laços entre esses animais e Baal ou El. As tentativas de re lacion á-los a Sin , o deus lua de H arã e U r, e a vestígios da religião ancestral das tribos de José são motivadas por uma grande quantidade de evidências textuais e arqueológicas, m as ainda há espaço para especulação. Qualquer que seja a intenção original ou o pano de fundo, os bezerros acabaram sendo associ­ados com a falsa adoração praticada pela comunidade israelita, na violação do primeiro ou do segundo m an­damento. Esta últim a visão parece mais provável vis­to que até mesmo um século mais tarde, quando Jeú elimina de Israel a adoração a Baal, ele não faz nada a respeito dos bezerros (ver 2 Rs 10.28, 29).12.29. D ã e Betei. Os dois locais escolhidos por Jeroboão como centros religiosos nacionais tinham como base sua associação anterior à atividade cultual. Betei era o local da teofania de Jacó (Gn 28.10-22) e de um altar (Gn 35.1), enquanto Dã tom ou-se o santuário para a tribo de D ã, em Ju izes 18.27-31. G eograficam ente, essas cidades estavam situadas em ambos os extremos da nação, facilitando, portanto, as peregrinações reli­giosas e os sacrifícios.12.30. Betei. Ver os comentários em Josué 8.9 e Juizes1.22, 23. Apenas 18 quilômetros ao norte de Jerusa­lém, na linha divisória entre os dois reinados, Betei (Beitin?) era um a escolha natural para o santuário de Jeroboão. Esse santuário atrairia peregrinos que do

contrário teriam de viajar até o sul para adorar no templo de Salomão. Por fim, a im portância de Betei sobrepujaria Dã e se tom aria o "santuário do rei".12.30. D ã. Ver o comentário em Juizes 18.29. Jeroboão edificou sobre as tradições de D ã (Laís) um lugar de culto, que rem ontam ao período em que era um a colônia fenícia e também, mais tarde, quando a tribo de Dã m igrou para a essa área (Jz 18.27-31). Situada no extremo norte e na fronteira com a Fenícia e a Síria, essa cidade provavelmente era um local propício para negociações de tratados e um posto de fronteira. Sua posição de certo m odo era isolada no sopé do monte Hermom e a distância do centro de controle de Israel, em Samaria, porém, pode ter contribuído para a per­da de seu status após o período de Jeroboão. Escava­ções ali trouxeram à tona o santuário construído por Jeroboão onde foi colocado o bezerro. O complexo do santuário tinha 60 por 44 metros e contava com um grande altar num pátio ao ar livre. Um a enorme pon­ta (ou chifre) do altar principal foi encontrada e tam­bém um altar menor com pontas.12.31. altares. Visto que a estratégia de Jeroboão tinha uma motivação política implícita, parece natural que ele tenha assegurado o uso de altares em locais tradi­cionais de culto. Trata-se do reconhecimento do desejo por m ais autonom ia local (ver o pedido feito pelos líderes tribais em 1 Rs 12.4) e um a artim anha para engodar o povo, permitindo o florescimento de for­m as "populares" de expressão religiosa sem a restri­ção excessiva a lugares como monte Carmelo, Gilgal, Mispa e monte Tabor. Apesar de alguns desses alta­res estarem ao ar livre, a m enção a "casas" sugere uma instalação cultual m ais elaborada associada a cen­tros urbanos (2 Rs 17.9-11; 2 Cr 1.3). A ausência de controle central sobre a prática religiosa naturalmente acabou por facilitar a promoção do sincretismo.12.31. designou sacerdotes. Existem precedentes no antigo O riente Próxim o quanto à rem oção de uma comunidade de sacerdotes a favor de outra. Por exem­plo, o faraó egípcio Aquenaton tentou desmantelar o sacerdócio de A m om , engrandecendo a adoração a Aten. Igualmente, o rei neobabilônico Nabonido subs­tituiu M arduque, a principal divindade de culto do im pério, por Sin, o deus lua. Em am bos os casos a vingança perpetuada pelos sacerdotes depostos cus­tou, à dinastia no poder, a sua posição. O tratamento de Jeroboão aos levitas, em seu novo reinado, é um indício de que ele não confiava na lealdade deles. Ele acreditava que, ao designar sacerdotes que não fos­sem levitas, poderia garantir que sua política (santu­ários em Betei e em D ã, bezerros de ouro, uso de altares, novo calendário religioso) fosse executada sem questionamento. Sacerdotes e levitas em Israel exerci­am influência política significativa, por isso Jeroboão

considerou ser obrigatório indicar legalistas cuja posi­ção dependesse dele.12.32,33. instituição de um a nova festa. O oitavo mês (marchesvan) abarca outubro-novembro, um mês mais tarde do que os festivais em Jerusalém, quando o Ano N ovo e a Festa dos tabernáculos eram celebrados. Essa festa era um festival da colheita (ver comentário em D t 16.13-17), então, alguns estudiosos sugerem que a alteração do calendário, proposta por Jeroboão, foi reflexo de um a safra posterior em Efraim, em rela­ção a Judá. A festividade durante o sétimo mês talvez tivesse assum ido alguns elem entos políticos. 1 Reis8.2, 65 deixa claro que a dedicação do tem plo em Jerusalém coincidiu com esse período. Na Babilônia, o Ano Novo era uma ocasião para celebrar a entroni­zação do deus nacional e do rei. Visto que a dedicação do tem plo envolvia a entronização de Y ahw eh na­quele lugar, existe, ao m enos em certo nível, um a continuidade em relação à tradição babilónica. Se esse festival incluía a comemoração do reinado, a prática de Jerusalém teria, naturalmente, se concentrado na posição eleita da dinastia davídica.

13.1-34 -O santuário e o profeta13.1. hom em de D eus. Para uma discussão a respeito dos diversos aspectos da profecia e dos profetas, ver os com entários em D euteronôm io 18.14-22. Com o em Juizes 6.8, esse profeta anônim o é um defensor da aliança. Sua m ensagem, denunciando Jeroboão e seu altar em Betei, insinua claram ente tratar-se de um santuário ilegítimo. Os profetas do antigo Oriente Pró­ximo tinham muitas vezes m ensagens que incluíam exortações quanto a quem deveria receber adoração e como, e quais eram os santuários legítimos.13 .2 . sa c r ifíc io h u m an o . V er os com en tários em Gênesis 2 2 .1 ,2 e 22.13-19 sobre a condenação de sacri­fício hum ano entre os israelitas (contraste Jz 11.30-40). Embora o sacrifício humano, especialmente de crian­ças, fosse praticado por alguns povos do antigo Orien­te Próximo (evidências arqueológicas de Cartago, Nuzi e Tepe Gawra; ver Lv 18.21; 2 Rs 3.27), a maldição do hom em de D eus nesta narrativa está relacionada à profanação do altar de Betei. O termo "sacrifício" é esclarecido pela frase seguinte que explica que são os ossos dos hom ens mortos, e não vítim as executadas, que serão queimadas sobre o altar. Qualquer instala­ção sagrada devia m anter sua pureza ritual. Queimar ossos, tirados de túmulos, sobre o altar o contaminaria de tal maneira que seria difícil usá-lo novamente.13.3. o sinal. Um profeta seria reconhecido como "ver­dadeiro" se suas profecias se cumprissem ou, de algu­ma forma m ais espetacular, quando Yahw eh enviava um "sin a l" confirm ando que ele fora enviado por

Deus. N este caso, era necessário um sinal inegável da ira divina contra o altar de Betei. Não bastava sim­plesmente proclamar sua ruína iminente. Assim, não somente a destruição do altar foi declarada, como as cinzas do sacrifício foram profanadas. Essas cinzas con­tinham os resíduos de gordura reservados para Deus (ver Lv 1.16; 6.10, que fala sobre a form a adequada de dispor-se delas). Desse modo, tanto o veículo do sacrifício (o altar) quanto o sacrifício em si são invali­dados pela ordem divina. Muitos altares encontrados pelos arqueólogos eram feitos de pedra calcária, uma pedra m acia extraída com facilidade da pedreira e abundante na região. Impurezas ou tempo inadequa­do para vulcanizá-la podiam ser algumas das causas que provocavam rachaduras nas pedras, quando ex­postas ao calor.13.4. braço paralisado. A maioria dos intérpretes iden­tifica essa condição física como resultado de algum tipo de hem orragia ou coágulo, m as esse quadro não ex­plica por que o braço perm aneceu estendido. A pa­ralisia de membros atualmente tem sido descrita como um estado denom inado "ap op lexia" (um choque no sistem a nervoso que provoca rigidez muscular).13.7-9. com partilhar refeição e presentes. Era comum oferecer refeições e presentes na assinatura de trata­dos e formação de alianças (ver G n 24.52-54; 31.43-46; Ex 24.9, 10). Essas refeições também faziam parte do protocolo de hospitalidade em que, por um período, as inimizades entre as partes envolvidas eram deixa­das de lado (ver Jz 19.1-9). A recusa do homem de Deus em fazer uma trégua com Jeroboão é m ais um sinal do desagrado de Yahw eh para com o rei e suas práticas. Algumas semelhanças podem ser identifica­das na cena entre Samuel e Saul, em 1 Samuel 15.24­31, na qual a adoração ao Senhor também teria envol­vido um a refeição festiva acertando as diferenças que havia entre eles e renovando sua aliança. Neste caso, porém, esse tipo de aproxim ação havia sido term i­nantemente proibido pelas as instruções de Deus.13.11-18. com portam ento do profeta idoso. Embora o homem de Deus ter tido bom êxito em recusar a tentativa de Jeroboão em conseguir sua lealdade, ele não foi tão bem sucedido em evitar as ofertas da co­munidade profética de Betei. A refeição compartilha­da teria um significado im plícito de aliança entre o homem de Deus, de Judá, e o(s) profeta(s) de Betei.13.21, 22. oráculo de ju lg am en to . Era com um aos profetas receber mensagens incômodas que eles pre­feririam não transmitir. Esse oráculo, especificamen­te, demonstrava que o profeta idoso de Betei usara de engano, mas isso não im pediu que fosse usado por D eus para proferir o ju lgam ento que viria sobre o homem que desconsiderou as instruções dadas pelo Senhor inicialmente.

13.26-32. sepultam ento do profeta. A morte incomum tida por um homem de Deus (v. 24, 25) e as testemu­nhas que viram um leão, sim plesm ente ao lado do corpo, sem atacar o jum ento, confirmam ser o julga­m ento do Senhor. Esse "sin al", m ais do que aquele que destruiu o altar de Betei, convence o "profeta idoso" de que ele fora o responsável pela m orte de seu colega. De fato, sua afirm ação no versículo 32, atestando a veracidade da maldição feita por esse ho­m em de Deus, contra o altar e contra os santuários em Samaria, funciona como um reforço por parte de um profeta "d o norte" de sua inevitável concretização. A fim de honrar o homem que ele havia traído, o profe­ta providencia um túmulo para enterrá-lo (em essên­cia o adota como m em bro de sua fam ília), também compartilhando dele na hora da sua morte - entrela­çando para sempre sua maldição dupla. Embora uma interpretação da rara morte desse homem seja a de que sua m aldição, contra o altar, não tinha fundam en­to, a história preservada aqui confirm a sim ultanea­mente essa maldição e explica a morte.

14.3. presente para o profeta. Ver 1 Sam uel 9.6-8; 2 R eis 5.5 e o com entário em 2 R eis 8.9 para outros exemplos desse tipo: enviar um presente a um profe­ta. Pode ser que estes, assim com o os levitas, não tivessem terras e, para sua subsistência, dependes­sem de ofertas daqueles que os consultassem. Esse presente seria relativamente insignificante, visto que a esposa do rei estava disfarçada. Qualquer que fosse o seu valor, demonstrava um senso de respeito pelo Deus que o profeta representava (ver o "presente" de Gideão para o anjo em Jz 6.18-21). O grande número de pequenas im agens encontradas por arqueólogos em contextos cananeus e israelitas sugere que era comum dedicar oferendas de comida e símbolos de fertilidade quando um oráculo ou um deus era con­sultado.14.2, 4. S iló . Para inform ações a respeito de A ias e Siló, ver o comentário em 11.29. Não se sabe ao certo se em Siló (Khirbet Seilun, entre Betei e Siquém) ha­via um santuário ao ar livre ou um complexo de tem­plo m ais elaborado no início da m onarquia e dos rei­nos divididos. De qualquer m aneira, a presença de um a comunidade sacerdotal afiliada à família de Eli teve sua origem na época dos ju izes (1 Sm 1.7-9) e continuou até a monarquia (ver Jr 7.12-15 a respeito da menção de sua decadência e destruição). Um cen­tro como esse teria também atraído profetas como Aias, associando-se à presença de Deus.14.9. acusação do rei. Existe um a longa tradição na M esopotâmia que identifica o estereótipo de um rei

que fazia escolhas desastrosas trazendo sobre si a ira dos deuses e a ruína de seu remado. O exemplo clás­sico da Mesopotâmia é Naram-Sin, da dinastia de Acad, no final do terceiro milênio. Em um a obra conhecida como "A Maldição de A gade", Naram-Sin é acusado de profanar o famoso templo Ekur de Enlil, na cidade santa de Nippur, e culpado por provocar, com isso, a queda do reinado (que só acontece diversas décadas mais tarde).14.10, 11. m aldição sobre a casa de Jeroboão. Para uma dinastia no poder, a pior maldição possível era aquela que predizia a extinção da família e a transfe­rência do reinado para outro grupo, isso explica o porquê dos m onarcas assírios terem sem pre muito cuidado em alistar os reis violentamente depostos por serem um a am eaça visível, ou por apresentarem a remota possibilidade de prom overem um a rebelião, ou, ainda, "por não terem se curvado, rápido o bas­tante, aos pés do re i" (Sidqia de Jope nos anais de Senaqueribe). A linguagem vívida que descreve a completa aniquilação de Jeroboão, de seus filhos e até de seus servos ou daqueles que viviam sob sua prote­ção, fornece imagens de todos eles sendo consumidos pelo fogo e se esvaindo em fum aça, não deixando nenhum rastro, senão de esterco queimando. A hu­milhação posterior de seus corpos, sendo deixados a céu aberto, sem um enterro decente, e devorados como carniça por cães, desonrava a casa de Jeroboão, desli­

gando-a de seus ancestrais (ver Dt 28.26). A respeito de m aldições sem elhantes contra um a casa real em Tsrael, ver o comentário em 1 Reis 16.4.14.15. postes sagrados. Ver os comentários sobre Aserá e os postes sagrados que sim bolizavam a presença dessa deusa nos lugares sagrados cananeus em Deute- ronômio 7.5 e Juizes 2.13.

14.17. Tirza. Ver o comentário em Josué 12.24 acerca do contexto pré-monárquico dessa cidade. Parece pro­vável que Jeroboão governasse dali de Tirza, como o fizeram seus sucessores imediatos - Baasa, Elá, Zinri e Onri. Tirza foi identificada como Tell el-Farah, onze quilôm etros a nordeste de Siquém , na estrada para Bete-Seã. É favorecida por estar posicionada em um terreno elevado, ter abastecimento abundante de água (duas fontes que alimentavam o uádi Farah) e por sua localização estratégica na rota comercial. Tam bém tem acesso direto aos vaus do rio Jordão em Adam. Os vestígios da Idade do Bronze M édia indicam que o portão e as fortificações foram reconstruídos e há evi­dência de um plano central na construção de novas casas em toda a cidade. Sua importância política tam­bém pode ser inferida a partir de sua menção na lista de conquistas de Sisaque, durante sua invasão na Palestina.

14.19. registros históricos. O método padrão de regis­trar os principais eventos e realizações, ano a ano, dos reis do antigo O riente Próxim o, era a produção de registros ou anais reais. Algumas crônicas conhecidas do mundo antigo (como as dos reis assírios), embora sejam úteis na reconstrução da cronologia e da locali­zação de pontos geográficos, com freqüência são um exem plo gritante de propaganda oficial dos gover­nantes. Outros documentos (como aqueles do período neobabilônico) sim plesm ente oferecem informações sem floreios. A referência aos registros históricos dos reis de Israel demonstra novam ente que os escritores bíblicos extraíram seus relatos de fontes m aiores e mais detalhadas.

1 4 .2 1 -29Reoboão de JudáPara mais informações sobre este trecho, consulte os comentários em 2 Crônicas 12.14.23. altares. A parentem ente, o uso de santuários exteriores era comum entre os cananeus. Esses locais de adoração *cultual eram considerados abomináveis ao(s) escritor(es) deuteronômico(s), por promoverem um tipo de religião "popular" que continha elemen­tos da adoração cananéia que se afastavam da adora­ção somente a *Yahweh. Logo, altares, colunas e pos­tes sagrados dedicados a *Aserá, bosques sagrados e qualquer lugar associado a deuses cananeus (*Baal, *E1 etc.), bem como a adoração a Deus, fora de Jerusa­lém ("o local que o Senhor, o seu Deus, escolher" - Dt12.5), eram proibidos. Existe uma diferença entre es­ses locais de culto ao ar livre e o bamàh (termo traduzi­do como "m onte, altar ou alto" em 1 Rs 11.7; Jr 7.31; Ez 16.16; 2 Cr 21.11; inscrição de Mesha), muitas ve­zes m encionado como o centro religioso em povoados e cidades; ele era, ao que tudo indica, uma construção erigida para abrigar um altar, alguns objetos e uten­sílios sagrados, e possuía recintos suficientemente gran­des para acomodar os sacerdotes. Um a clara diferenci­ação acerca desses dois tipos de locais religiosos pode ser vista em 2 Rs 17.9-11.14.23. colunas sagradas. Colunas sagradas ou massebot eram aparentem ente um elem ento com um na re li­gião cananéia e tam bém aparecem como memoriais em uma série de contextos israelitas relacionados à *aliança (ver Êx 24.3-8; Js 24.25-27). Por estarem asso­ciadas a *Aserá, *Baal e outras divindades cananéias são condenadas como rivais e consideradas uma am e­aça à adoração a *Yahweh. Arqueólogos descobriram algum as delas em G ezer, Siquém , H azor e A rad. Nestas duas últimas, as colunas encontram-se no inte­rior de recintos sagrados onde faziam parte das práti­cas *cultuais. Aquelas encontradas em H azor contêm ilustrações entalhadas de braços levantados e de um

disco solar. A partir de pias, às vezes encontradas perto da base de tais colunas, infere-se que libações (ofertas líquidas) eram derramadas sobre elas.14.23. postes sagrados. U m a característica comum do culto cananeu e da adoração israelita sincretista, tanto em "a lta res" com o em santuários da cidade, era a construção de postes sagrados (Jz 3.7; 1 Rs 14.15; 15.13;2 Rs 13.6). Não se pode afirmar com certeza se eram sim plesm ente feitos de m adeira sim bolizando árvo­res, talvez contendo um a imagem entalhada da deu­sa da *fertilidade, ou se faziam parte de um bosque sagrado. A referência, em 2 Reis 17.10, a postes sagra­dos erguidos debaixo de "toda árvore frondosa" pare­ce indicar que, de fato, tratava-se de postes de madei­ra ali erguidos com objetivos *cultuais e não de árvo­res. Por ser a cônjuge de *E1, A será evidentem ente era um a deusa p opu lar (ver 2 Rs 18.19) e o culto dedicado a ela é m encionado em textos *ugaríticos (1600-1200 a.C.). O destaque que ela recebe na narra­tiva bíblica é um indício claro de que sua adoração era uma forte concorrência à de Yahw eh (ver a proibição em Êx 34.13; D t 16.21). Isso explica o grande número de exemplos em que postes-ídolos eram erguidos e venerados, a veemente condenação a essa prática e os relatos desses postes sendo cortados e queimados (Jz6.25-30; 2 Rs 23.4-7). Para m ais inform ações, ver o comentário em Deuteronômio 7.5.14.24. prostitutos cultuais. Para informações adicio­nais acerca da prostituição cultual, consulte o comen­tário em Deuteronômio 23.17,18. O termo usado aqui ocorre tanto na forma feminina quanto na m asculina e

refere-se, talvez com o um eufem ism o, àqueles que haviam sido separados para funções específicas. Esse mesmo termo é usado na literatura acadiana aplican­do-se aos funcionários que foram consagrados para o serviço nos templos ou santuários. Os prostitutos (ou prostitutas) faziam parte desse grupo, assim como as amas-secas e as parteiras. Não fica claro qual a função desempenhada pelo prostituto.

15.1-8Abias, rei de JudáPara informações sobre este trecho, ver os comentári­os em 2 Crônicas 13.1-22.

15.9-24Asa, rei de JudáPara informações sobre este trecho, ver os comentári­os em 2 Crônicas 14-16.15.18. T abriom , Heziom . Esses dois nomes aparecem apenas neste contexto. Não existem fontes aramaicas deste período e os registros assírios não envolvem reis

arameus nesta época. Os nomes representam formas

aramaicas lógicas e legítimas, mas não existe nenhu­ma outra informação histórica disponível.

15.25-32Nadabe, rei de Israel15.25. cronologia. A tentativa, por parte do escritor bíblico, em relacionar os remados dos reis de Israel e de Judá nem sem pre é fácil de sincronizar. É provável que o primeiro ano do reinado de Asa tenha sido 914a.C ., m as é quase certo que o reinado de N adabe tenha se iniciado no ano 911 a.C.. Além disso, o reina­do deste últim o, em bora tenha abarcado partes de dois anos, na verdade durou apenas alguns meses, antes dele ser assassinado no outono de 910 a.C..15.27. G ibetom . Cerca de três quilômetros a oeste de Gezer, no território filisteu, Tell el-M elat provavel­m ente era um posto m ilitar na fronteira com Israel (observe que é alistado no território de D ã, em Js21.23). Sua localização estratégica é confirm ada por sua menção na lista de campanha do faraó Tutm és III (1468 a.C.) e na do rei assírio Sargon II, quando teve que sufocar a revolta de Asdode (713 a.C; Is 20.1).15.29. elim inação da fam ília do predecessor. Ver o com entário em 1 R eis-1.21 para um a abordagem a respeito da faxina política promovida em períodos de mudanças administrativas (sucessão de um rei de ou­tra linhagem). Ao eliminar todos os futuros candida­tos ao trono, Baasa aum entou as chances de que sua família o sucederia. O cumprimento da maldição (1 Rs 14.7-16) contra a casa de Jeroboão é parecida com a "M aldição de A gade", de U r UI, sobre o rei acadiano Naram-Sin, que ao profanar um santuário em Nippur trouxe sobre si e sobre seu reinado a ira dos deuses.

15.33-16.7 Baasa de Israel15.33. Tirza. Ver o comentário em 1 Reis 14.17. Tirza oficialm ente tom a-se a capital do reino do norte de Israel durante o reinado de Baasa. Continua sendo a capital até que Onri a transfere para Sam aria (1 Rs16.24).15.33. cronologia. O reino de Baasa apresenta um dos problem as cronológicos m ais difíceis da Bíblia. Se, como o versículo afirma, ele subiu ao trono no terceiro ano de Asa e reinou por vinte e quatro anos, então, ele teria morrido no vigésimo sexto ano de Asa (ver16.8). O problema surge quando 2 Crônicas 16.1 apre­senta esses dois reis em guerra, no ano trinta e seis de Asa. As soluções apresentadas têm sido inúm eras, m as nenhum a convincente o bastante. As datas de Thiele, para Baasa, são 909-886. Ele é contemporâneo de A sa, rei de Judá, e de Ben-Hadade I, rei de Damas­co. Esse é o início de um período que durou um sécu-

lo, quando os arameus de Damasco começaram a as­sumir um papel de liderança na região.16.4. cães, aves do céu e corpos expostos. O destino designado à fam ília de Baasa (observe, não a Baasa) era o pior que poderia acometer alguém no mundo antigo. Não ter o corpo enterrado, permanecendo ex­posto, representava um a últim a hum ilhação e uma profanação, visto que a m aioria dos povos antigos acreditava que um enterro adequado, decente, no m om ento apropriado, afetava a qualidade da vida após a m orte. No Ép ico de G ilgam és, Enkidu, ao retornar do m undo inferior, relata a Gilgam és que quem não fosse enterrado, após a m orte, não tinha descanso e quem não deixasse parentes vivos para cuidar dos rituais, comia apenas o que era jogado nas ruas. U m a m aldição babilónica relaciona o enterro com o encontro do espírito do morto com seus entes queridos. Sabemos que até mesmo os israelitas acre­ditavam que um sepultam ento adequado afetava a vida no além, porque eles, assim como seus vizinhos, enterravam seus parentes com provisões que lhes ser­viriam na vida após a morte: com freqüência vasilhas de cerâmica (cheias de comida) e jóias (para afastar o mal), além de utensílios e objetos de uso pessoal que às vezes eram acrescentados. A lei israelita exigia que até o corpo de um criminoso empalado fosse removi­do e enterrado ao pôr-do-sol, em vez de ser deixado para ser devorado por aves e outros animais. Regis­tros assírios do prim eiro m ilênio dem onstram esse tipo de conceito, quando Assurbanipal pune seus opo­nentes mandando que seus corpos sejam jogados nas ruas e arrastados. Um corpo devorado por carniceiros não podia ser sepultado e era o castigo mais desonroso que havia. Do mesmo período, um a maldição assíria declara: "Q u e os cães despedacem seu corpo expos­to". Em algumas situações, os corpos eram esquar­tejados e seus pedaços serviam de com ida para os cães. A intenção dessa atrocidade era elim inar qual­quer possibilidade de um enterro adequado e, por­tanto, condenar o espírito da pessoa a vagar sem des­canso em vez de usufruir um a vida tranqüila no além. A exposição de cadáveres também era ocasionalmen­te praticada pelos egípcios.16.6. Tirza. Tirza era a residência real de Jeroboão e depois se tom ou a capital do reino do norte, provavel­mente na época de Baasa. Foi identificada como Tell el-Farah, onze quilômetros a nordeste de Siquém, na estrada para Bete-Seã. É favorecida por estar posi­cionada num terreno elevado, ter abastecimento abun­dante de água (duas fontes que alimentavam o uádi Farah) e por sua localização estratégica na rota comer­cial. Também tem acesso direto aos vaus do rio Jordão em Adam. O s vestígios da Idade do Bronze M édia indicam que o portão e as fortificações foram recons­

truídos e há evidência de um plano central na cons­trução de novas casas em toda a cidade. Sua importân­cia política também pode ser inferida a partir de sua m enção na lista de conquistas de Sisaque, durante sua invasão na Palestina.

16.8-14 Elá, rei de Israel16.8. cronologia. O reinado de Elá foi breve e aparen­temente não foi marcado por nenhum evento impor­tante. Assim como seus predecessores, ele não é men­cionado em nenhum registro extrabíblico. Thiele o situa em 886-885.16.11. elim inar a fam ília do predecessor. Deixar vi­vos os parentes de um rei que fora deposto do trono e assassinado era um convite à guerra civil. Esses pa­rentes, leais aos laços de sangue, vingariam a morte do rei anterior e com certeza encontrariam outros que apoiariam sua tentativa de reconquistar o trono. A eliminação completa das famílias dos governantes de­postos era uma prática comum e em grande escala em Israel e no antigo Oriente Próximo.16.13. íd olos inúteis. O texto aqui em hebraico fala apenas de "coisas inúteis", mas essa era uma designa­ção comum de ídolos do nono ao sexto século. Expres­sa a perspectiva bíblica de que eles nada são e nada podem e que a crença neles é essencialmente inválida e inútil.16.14. registros h istóricos. Registros ou anais reais eram m antidos em todo o antigo O riente Próxim o, com a m aioria dos exem plos provenientes dos reis hititas, da metade do segundo milênio, e da Assíria e Babilônia, dos séculos nono ao sexto. Os anais eram representados por inscrições reais que apresentavam relatos detalhados de campanhas m ilitares. Existem também crônicas das cortes que dão informações so­bre eventos importantes acontecidos a cada ano. Ne­nhum registro dos reinos de Israel ou de Judá foi descoberto até hoje pelos arqueólogos.

16.15-20 Zinri, rei de Israel16.15. cronologia. Os sete dias que Zinri governou são datados por Thiele em 885.16.15. G ibetom . Gibetom era uma das cidades alista­das entre aquelas tom adas por Tutm és III, em sua campanha, quando invadiu a Palestina na prim eira metade do século quinze a.C.. Mais de setecentos anos m ais tarde, foi uma das importantes conquistas do rei assírio Sargon II em sua batalha contra Asdode (713­712). Se a cidade for identificada com Tell M alat, fica localizada estrategicamente próxima à junção da pla­nície filistéia com os sopés das m ontanhas de Judá, quase 32 quilômetros a oeste de Jerusalém e cerca de

seis quilômetros a oeste de Gezer. Amplas escavações não foram conduzidas, mas existem achados no local que datam deste período e fica claro que se tratava de um a cidade fortificada.16.16. o exército proclam a um rei. Em bora proclamar um rei não fosse uma tarefa típica do exército, o apoio dos militares era um importante vínculo para assegu­rar o trono disputado. Golpes militares provavelmen­te eram mais freqüentes no Oriente Próximo do que as fontes indicam: a maioria dos reis desejava apre­sentar-se como sucessores legítimos ao trono e omiti­am certos detalhes de seus anais. Usar o poderio m ili­tar para obter o poder e garantir o governo não é um precedente que m uitos teriam buscado estabelecer. Não obstante, exemplos proeminentes de investidas apoiadas por milícias, para tomar o governo das mãos de conterrâneos, podem ser vistas entre os reis assírios Tiglate-Pileser III (745) e Sargon II (722) e o rei persa Dario, o Grande (522), apesar de cada um distorcer os fatos da história a seu modo, dando a entender que sua sucessão foi resultado do direito legítimo ao trono.16.18. cidadela do palácio real. Tell el-Farah, a antiga Tirza, demonstra evidências de destruição e abando­no neste período. H á um a cidadela fortificada encon­trada na extremidade noroeste do local, possivelmen­te a que Zinri lançou fogo. A prática de um rei incen­diando o próprio palácio à sua volta também pode ser vista em 648, quando a Babilônia sucumbe ao cerco de Assurbanipal e Sham ash-shum a-ukin atira-se nas chamas de seu palácio.

16 .21-28Onri, rei de Israel16.21, 22. d isputa p ela sucessão ao trono. Quando a sucessão ao trono não era um caso do filho assu­m ir o lugar do pai, podia-se esperar o surgim ento de diversos cand idatos, cada um com o apoio de diferentes facções. N ada se sabe a respeito da na­tureza das reiv ind icações de T ibni ou de quem o teria apoiado. Igu alm en te , os detalhes da guerra civil não são apresentados.16.23. cronologia. As datas de Thiele para Onri são 885-874. Trata-se de um a conjuntura crítica na história da região porque os assírios estavam prontos a iniciar suas tentativas de expansão no ocidente. AsumasirpalII ascendeu ao trono em 883 e estendeu seu controle em todo o curso do Eufrates, o que o colocou na porta de entrada das nações ocidentais. O estado arameu de Bit-Adini, pela via ocidental do Eufrates, passou sob o seu controle e, em 877, ele marchou para o M editerrâ­neo e dali para o sul entre os rios Orontes e Litani e o Mediterrâneo, cobrando tributos de cidades como Tiro, no extremo sul. Adicionalmente, os arameus de Da­m asco, sob o governo de Ben-Hadade, se tom aram

uma potência para contê-lo; e todo esse contexto força­ria Israel a encontrar seu espaço nesse alinhamento internacional.16.24. Sam aria. Foi Onri quem construiu Samaria e a estabeleceu como capital do reino do norte, Israel. Cerca de 20 quilôm etros a oeste de Tirza, a antiga capital, a cidade estava localizada num im portante cruzamento de estradas com fácil acesso ao vale de Jezreel, ao norte, a Siquém , a sudeste e à costa, a oeste. Ficava perto das duas principais rotas norte-sul que cruzam o oeste do Jordão. As escavações no local descobriram o que se acredita ser o palácio de Onri, na acrópole, e tam bém partes do muro que separava a acrópole da cidade baixa. O muro tinha cerca de um metro e meio de espessura e foi construído com a mais excelente a lvenaria existente na época (pedras de silhar postas em valas usando a técnica de am arra­ção). Acabe melhorou as fortificações acrescentando- lhes um muro de casamata com m ais de nove metros de largura.16.24. setenta q uilos de prata. O preço que A sa pagou pela propriedade de Sêm er foi de dois talentos de prata, o equivalente a seis mil siclos. Essa quantia é consideravelm ente m aior do que o valor pago por Davi pelo terreno do templo em Jerusalém, visto que essa propriedade adquirida por A sa é substancial­m ente maior. Cada talento equivale a 35 quilos de prata. Em term os de poder de com pra atualmente, estaria entre quinze e vinte milhões de dólares. Ain­da que toda a cidade alta e baixa (que compreendia 160 acres nos tempos romanos) estivesse incluída, con­tinuaria a ser uma propriedade extremamente cara.

16.27. O nri no antigo O riente Próximo. Embora não haja fontes da m esma época que registrem dados so­bre Onri, existem algumas, da m etade do século nono, que se referem a ele de diversas maneiras diferentes.

A inscrição moabita do rei M esha narra o passado de opressão sofrida por Moabe, nas mãos de Onri, e ao mesmo tempo o relato histórico de M esha afirmando seu m ais recente domínio sobre os sucessores de Onri. As inscrições assírias de Salm aneser III identificam Israel como a terra de Onri. Visto que este tinha rela­ções favoráveis com Tiro e Sidom, é provável que ele tam bém tenha adotado um a posição pró-assíria. Sua aliança com os fenícios foi selada pelo casamento do príncipe Acabe com Jezabel, a princesa sidônia. Essa estratégia o colocou lado a lado com os arameus, que estavam contra os assírios e eram a ameaça mais forte contra Israel. Não obstante, parece que Onri negociou um tipo de relacionamento e manteve a paz, de certo modo apreensiva, com os arameus que estavam sen­tindo a pressão dos assírios e necessitavam de amigos na região.

16.29-34Sucessão de Acabe, rei de Israel16.29. cronologia. A s datas de Thiele, para Acabe, são 874-853. É certo que ele ainda estava no poder em 853 porque é m encionado nos registros de SalmaneserIII como um dos principais membros da coalizão oci­dental que combateu os assírios na batalha de Qarqar naquele ano.16.31. Jezabel. A única referência possível a Jezabel, em registros da época, é um selo deste mesmo perío­do com o nome “yzbl". É um grande selo com motivos egípcios acompanhados de um a inscrição fenícia do nome. Como filha do rei, foi sugerido que ela teria desfrutado do status de sum a sacerdotisa da divinda­de nacional, Baal Melqart.16.31. Etbaal, rei de Sidom . Etbaal foi o rei dos sidônios de 887 a 856. Ele governou toda a região da Fenícia e, na verdade, usou Tiro como sua capital. Josefo, escre­vendo m uitos séculos m ais tarde, o descreve como um sacerdote da deusa A starote que usurpou o trono. N em sempre o material de Josefo é confiável acerca dessas questões, mas parece que ele usou fontes gre­gas que podem ser traduções de registros fenícios. Etbaal recebe bastante crédito quanto ao desenvolvi­mento de Tiro, como um a ilha portuária, e é provável que tenha construído o porto ao sul com um quebra- mar adjacente. Nenhuma menção dele foi encontrada em outros registros da m esma época.16.31. Baal. M elqart era o principal deus de Tiro des­de o nono século a.C.. Ele é comparado a Nergal, o deus mesopotâmico/senhor do mundo inferior, e mais tarde com Heracles, o deus grego. Às vezes, é descrito como Baal de Tiro, por isso, sua identificação como o Baal que goza da lealdade de Jezabel e de Acabe. Deve-se entender que se trata de um deus diferente do Hadade cananeu, que geralm ente tam bém é de­nom inado de Baal, no texto b íblico. N a inscrição aramaica de Bir-Hadade, do nono século, M elqart é um deus guerreiro, mas nenhum mito relacionado a suas atividades foi preservado desde o período vete- rotestam entário. Em textos posteriores, este último tam bém é visto como o deus da morte e da ressurrei­ção (relacionado ao ciclo da natureza), que parece ser trazido de volta à vida pelo fogo. Visto que a Bíblia nunca faz uso do título Melqart, algumas alternativas são possíveis. A m ais com um é que Baal seja Baal Sham em (senhor dos céus), conhecido no prim eiro milênio como um dos principais deuses da Fenícia. A m aior parte das inform ações sobre ele, porém, vem após 800 e, portanto, pouco se pode afirm ar a seu respeito quanto ao período desta narrativa.16.32. tem plo de B aal em Sam aria. Escavações em Sam aria ainda não localizaram vestígios do templo que Acabe construiu para Baal. Foi sugerido que esse

templo contribuiu para o conceito promovido por Acabe e Jezabel de que a cidade era a m orada sagrada desse deus (acerca dos privilégios de tal posição ver o co­m entário em 2 Sm 5.9). Isso significa que a cidade funcionava como um a unidade política independen­te, assim como acontecia com freqüência a Sião, no sul. Para as implicações disso, ver os comentários em2 Rs 10.21.16.33. poste sagrado. *Aserá era o nome da deusa da *fertilidade e também a denominação dada a um objeto de *culto (como é o caso desses postes). Essa deusa era bastante popular nos desvios pagãos de Israel e às vezes era até mesmo considerada a cônjuge de Yahweh. Um indício dessa crença encontra-se nas inscrições de K u n tille t A jru d e K h irb et el-Q om . N a m ito logia Cananéia, ela era a consorte do deus principal, *E1. Ela aparece na literatura m esopotâmica, desde o sécu­lo dezoito, sendo a esposa de Amurru, o deus *amorreu. O sím bolo *cultual podia ou não trazer em si uma im agem da divindade. O poste podia representar uma árvore artificial, visto que Aserá muitas vezes é asso­ciada a bosques sagrados. Às vezes, o objeto de culto era feito ou construído, ao passo que em outras ocasi­ões, era plantado. Temos poucas informações acerca da função desses postes na prática *ritual.16.34. a reconstrução de Jericó. Josué proferira uma maldição contra qualquer um que reconstruísse a ci­dade de Jericó. Muitos intérpretes acreditam que fazia parte dos costum es da época sacrificar um filho na ocasião da dedicação de uma construção. Esse argu­mento foi usado para explicar os restos de esqueletos de crianças encontrados debaixo de soleiras de portas (sacrifícios nos alicerces). De modo semelhante, o cons­trutor de uma cidade ofereceria um filho em sacrifício que seria enterrado numa parte importante dali. Essa interpretação tem sido amplamente desconsiderada e alguns pesquisadores agora vêem um a relação entre a maldição e a doença da esquistossomose (bilharzíase). Essa doença é causada por um verm e cujo hospedeiro é um tipo de caracol encontrado em abundância em Jericó. Em contato com a pele hum ana, penetra no tegum ento e é carregado pela corrente sangüínea. Contamina o trato urinário, afeta a fertilidade e causa m ortalidade infantil.

17.1-18.15 Elias e a seca17.1. T isb e, em G ileade. Tisbe não é mencionada em nenhum outro trecho do A ntigo Testam ento e sua localização é desconhecida. A identificação tradicio­nal, Istib, cerca de treze quilômetros ao norte do rio Jaboque, oferece poucas evidências para endossá-la.17.1. chuva retida e Baal. A política e as ações de Acabe e Jezabel tinham como objetivo promover Baal

com o a divindade nacional de Israel em lugar de Yahw eh. A disputa da qual Elias sai vencedor diz respeito a qual divindade é rei - qual é a mais pode­rosa. N o m aterial cananita disponível na literatura antiga (particularmente as informações fornecidas pe­los tabletes ugaríticos), Baal é o deus da tempestade e dos relâm pagos e é responsável pela fertilidade da terra. Ao reter a chuva, Yahw eh está demonstrando o poder de seu senhorio na área específica da natureza em que Baal supostamente dominaria. Dar esse aviso de antemão para A cabe é o meio pelo qual o senhorio e o poder de Yahw eh estão sendo retratados. Se Baal é o provedor da chuva e Yahw eh anuncia que irá contê-la, a disputa está em andamento.17.3. riacho de Q uerite. Esse incidente demonstra o controle de Yahw eh através de sua capacidade de sustentar a quem Ele quiser. O uádi Querite não foi identificado com segurança. A NVI traduz a descrição como " a leste do Jordão", m as a expressão hebraica freqüentemente significa "a caminho de", sugerindo tratar-se do uádi que escoa para o Jordão, vindo do oeste. O uádi Quelt encaixa-se nessa descrição, sendo conhecido por seu terreno desolado. O uádi Sw enit corre além de M icm ás e, na metade do caminho para Jericó, encontra-se com o uádi Quelt, que é a principal passagem para a região do Jordão. Ficaria 48 quilô­metros a sudeste de Samaria, cuja alternativa seria o uádi Faria, que encontra o Jordão nos vaus de Adam.17.4. alim entado por corvos. Os corvos abrigam -se em áreas rochosas e desertas como os uádis. Seu hábi­to de estocar reservas de alimento em fendas de rocha redundou para o benefício de Elias. Ele podia obser­var onde os corvos colocavam os alimentos e os retira­va para seu consumo. Embora grande parte da dieta de corvos consista de carniça, eles tam bém comem frutas como tâmaras.17.9. Sarepta. Sarepta (moderna Sarafand) é uma ci­dade perto da costa do M editerrâneo, entre Tiro e Sidom. É alistada como uma cidade portuária nos tex­tos egípcios do século treze a.C.. Foi um florescente centro industrial e de manufatura durante o primeiro milênio a.C. até os tempos romanos. Sua importância aqui é por m ostrar que Yahw eh provocou seca no próprio território de origem de Baal.17.10. colhendo gravetos à porta da cidade. A m u­lher está colhendo gravetos para fazer um a pequena fogueira. O verbo sugere a coleta de restolhos que foram jogados fora. O tráfico pelos portões da cidade e o choque de cargas faria dali um local provável para encontrar pequenos pedaços que haviam sido derru­bados por outros.17.10. viúva. Numa sociedade sujeita a guerras e con­flitos, era comum encontrar viúvas. Visto que elas não tinham direito a herança, a lei lhes garantia condições

de vida especiais, perm itindo que respigassem em campos ceifeiros e oferecendo proteção para que não fossem oprimidas. Elas necessitavam do respaldo da lei porque eram incapazes de se proteger e geralmen­te dependiam de caridade para sobreviver. Com base nas afirm ações dos prólogos dos Códigos de *Ur- Nammu e de *Ham urabi, fica claro que os reis consi­deravam parte de seu papel enquanto "sábios gover­nantes" proteger os direitos dos pobres, das viúvas e dos órfãos. Sem elhantem ente, no texto egípcio "A Lenda do Camponês Eloqüente", o querelante come­ça identificando seu ju iz como "o pai dos órfãos, o esposo das viúvas". Se um deus iria demonstrar seu papel como um rei, uma form a clara de fazê-lo era mostrar seu cuidado para com os m ais fracos, suprin­do as necessidades de uma viúva que se encontrava em situação desesperadora.17 .10 ,11. o pedido de Elias. O pedido de Elias pode­ria ser considerado bastante modesto dentro da práti­ca comum de hospitalidade (que com freqüência era oferecida à porta da cidade). Entretanto, num período de seca e fome como este, serviu apenas para expor a crise pessoal e coletiva que assolava a todos.17.12. o Senhor, teu D eus. Aqui a m ulher refere-se claramente ao Deus israelita, Yahweh. Deveria haver algo na aparência de Elias que o identificava como israelita e a mulher segue o protocolo padrão, fazendo um juram ento em nome da divindade daquele com quem ela estava falando. Embora ela use uma fórmu­la comum de juram ento, também afirma, involunta­riamente, a vitalidade de Yahweh. Sua expressão não evidencia nenhuma crença pessoal nele.17.12. farin ha e azeite. Um dos alimentos assados que faziam parte de uma refeição básica era um pequeno bolo achatado feito de farinha de trigo e cozido no azeite.17.14. provisão de farinha e azeite: fertilidade. Cere­ais e azeite eram os dois principais produtos de expor­tação da cidade de Sarepta. O fato de haver escassez deles é um indício do quanto aquela seca estava sen­do rigorosa. Eles também são dois dos itens m ais bá­sicos para a sobrevivência. Como produtos essenciais, são alguns dos principais símbolos de fertilidade. A disputa entre Yahw eh e Baal continua à medida que Yahw eh demonstra ser capaz de prover sustento para o "povo de Baal", no "território de Baal", com a mes­m a facilidade com que é capaz de sustentar seu pró­prio povo e reter o sustento de quem ele desejar.17.18. m orte do filh o relacionada ao profeta. O s pro­fetas eram m uitas vezes considerados perigosos e con­viver com um deles representava um risco considerá­vel. Os deuses podiam ser cruéis algozes com a mes­m a freqüência com que podiam ser benfeitores gene­rosos. A lém disso, se o profeta fosse ofendido ou ficas­

se irado por algum a coisa, m esm o que pequena, e num momento de descontrole, proferisse algum tipo de maldição, inevitavelmente ela se cumpriria. A mu­lher presume que a morte de seu filho é castigo por causa de alguma suposta ofensa (ainda que desconhe­cida) que teria chamado a atenção da divindade por causa da presença do profeta ali. Até então ela havia se beneficiado da presença de Elias, mas agora avalia que o custo era alto demais.17.21. deitou-se sobre o m enino três vezes. Alguns estudiosos interpretaram a ação de Elias como um tipo de ressuscitamento boca a boca, visto que nos tempos antigos a morte era determinada quando se constata­va que a pessoa havia parado de respirar. M as o peso de um homem em cima de uma criança seria contra­producente a esse procedim ento. A descrição m ais completa do processo, em 2 Rs 4.34, 35, sugere uma explicação distinta. N a literatura de encantam ento mesopotâmica, tocar cada parte do corpo é um meio pelo qual os demônios exercem poder sobre suas víti­mas pretendidas - é a expressão para possessão de­moníaca. Nessa crença, a vitalidade ou a essência da vida podia ser transferida de um corpo para o outro pelo contato de cada parte. Imitando o procedimento que, segundo a crença, era usado por demônios, o profeta é capaz de expulsar os demônios e restaurar a vida do menino através do poder de Yahw eh (obser­ve a oração). Isso muitas vezes é considerado como um dos casos mais evidentes de simpatia na Bíblia.17.22. o retorno da vida versus Baal. Parte do perfil dos deuses de fertilid ad e era o ciclo de m orrer e reviver, relacionado à vegetação e às estações. A di­vindade "m orria" durante os meses de inverno e des­cia ao mundo inferior. Na primavera, voltava de lá e revivia para trazer a fertilidade novam ente à terra: não só às plantações, mas também aos animais e pes­soas. Como um deus que regularm ente voltava da morte, acreditava-se que esses deuses da fertilidade tivessem o poder de ocasionalmente restaurar a vida de alguém que tivesse morrido. Portanto, ao recupe­rar a vida do m enino, Y ahw eh novam ente está de­m onstrando seu poder na esfera de dom ínio consi­derada jurisdição de Baal (ver o comentário em 2 Rs4.16-35).

18.1-46A disputa no monte Carmelo18.3. O badias, o responsável pelo palácio. Obadias ocupava um dos mais elevados postos administrati­vos (ver o com entário em 4.6). Em bora essa função mais tarde tenha se tom ado equivalente à do primei­ro-ministro, neste estágio é provável que designasse o gerente ou adm inistrador das terras e bens reais.

A firm a-se que seja o título de um oficial cham ado Gedalias, num selo do sexto século em Láquis.18.4. exterm inando os profetas do Senhor. Os sistemas relig iosos padrões do antigo O riente Próxim o eram abertam ente tolerantes ao culto de qualquer divin­dade. Ignorar um deus potencialm ente poderoso ou perseguir seus adoradores faria com que as pessoas fi­cassem vulneráveis à ira e ao castigo divinos. A into­lerância ou perseguição relig iosa surge apenas mais tarde, na história. Práticas desse tipo, no m undo anti­go, geralm ente são de n atureza política. Q uando o faraó eg ípcio A quenaton se opôs aos sacerd otes de Amom-Rá, foi por causa da influência política e econô­m ica que eles exerciam. Ele tinha como objetivo des­m antelar seu poder. O alvo de Jezabel era entronizar Baal como o rei e deus nacional de Israel no lugar de Yahweh. Sua lealdade a Baal foi demonstrada através desse ato de exterm ínio. Os profetas de Yahw eh teri­am, é claro, contestado essas m udanças com base em argumentos religiosos, políticos, pessoais e tradicionais. Eles seriam capazes de mobilizar uma oposição, formal e em larga escala, dentre a população comum. Portan­to, considerando-se a influência política desses profe­tas, eles teriam que ser elim inados.18.19. m onte Carmelo. É provável que o monte Car­melo, ao sul do m oderno porto de Haifa, tivesse servi­do por muito tempo como uma fronteira natural entre Israel e a Fenícia e era, como muitas montanhas, con­siderado um local sagrado. Desde as listas do faraó Tutmés III (século quinze), Carmelo provavelmente é identificado como uma montanha sagrada nas proxi­midades de Aco. Também é o local onde o rei assírio Salmaneser III coletou tributo de Tiro e de Jeú, rei de Israel, em 841. O nome Carmelo na verdade refere-se a uma cadeia montanhosa que se estende por cerca de 50 quilômetros desde seu afloramento até o mar M e­diterrâneo, a sudeste, em direção a Megido, e fica na extremidade noroeste do vale de Jezreel. Não se sabe ao certo qual dos montes dessa cadeia foi o local da competição entre Elias e os profetas de Baal. O lugar de adoração em montanhas sagradas geralmente fica­va na base e não no cume, que era considerado terre­no santo, inacessível às pessoas comuns. No desenro­lar do episódio, Elias sobe até o cume para oferecer sua oração pedindo chuva (v. 42).18.19. com em à m esa de Jezabel. É interessante notar que é a mesa de Jezabel, e não a de Acabe, que serve aos profetas de Baal e de Aserá. Esse dado sugere que ela tinha seus próprios recursos e aposentos de refei­ções e que era também a protetora e benfeitora desses profetas.18.23,24. a competição. Existem três conceitos signifi­cativos no fato da disputa estar centrada na habilida­de da divindade em m andar fogo para o sacrifício. (1)

O fog o é um indício da presença de Deus. Em textos bíblicos, tanto na sarça ardente, na coluna de fogo quanto na visão do trono tida por Ezequiel (1.4), o fogo é visto como um elemento presente nas teofanias (aparição de D eus). D esse m odo, na disputa, cada divindade teria que se revelar. (2) O fogo está relaciona­do aos relâmpagos do deus da tempestade. Como deus da tempestade, Baal é retratado, em figuras, com raios em suas mãos e em textos, como lampejando relâmpa­gos ou fogo. Em um desses escritos, o fogo é até mes­mo usado por Baal como um instrumento para cons­truir sua casa. Portanto, ele era considerado por seus adoradores como o senhor do fogo. Mais um a vez, o propósito da narrativa é mostrar a superioridade de Yahw eh em cada área do suposto domínio desse deus, por isso, a habilidade de m andar fogo é estratégica.(3) O fog o representa a aceitação do sacrifício. Esse tipo de oferta queimada geralmente era dedicado quando uma petição era dirigida à divindade. Neste caso, o pedido que todos tinham em m ente era o fim da seca. Se ambos os grupos estavam orando pelo fim da estia­gem, quando a chuva chegasse, cada um atribuiria esse resultado ao seu próprio deus. D iante disso, a competição é preparada de form a a demonstrar qual divindade responderia a seus seguidores. Se fogo fos­se enviado, a oração teria sido atendida e a chuva subseqüente poderia ser atribuída som ente à divin­dade correta. Portanto, é importante reconhecer a ín­tim a relação entre o envio do fogo e da chuva.18.26-29. os profetas apelam a Baal. A NVI fala dos profetas "dançando em volta do altar" e "ferindo-se com espadas e lanças" (v. 28). N a primeira parte da descrição, o verbo é controverso. É o mesmo traduzi­do como "páscoa" em Êxodo 12 (ver o comentário em Ex 12.11) e pode ser entendido de forma m ais clara como um permanente estado de alerta e vigília visan­do proteção. Certamente há abundância de evidênci­as de danças rituais no mundo antigo, porém, nenhu­m a delas encontra-se na literatura relacionada aos cananeus. A autolaceração deste versículo faz parte de um ritual de luto. Na literatura ugarítica, os deuses são retratados fazendo o mesmo quando ficam saben­do da morte de Baal. Há ainda um texto da sabedoria acadiana de U garit que com para o sangram ento de ritos de luto àqueles praticados por profetas estáticos.18.27. a zom baria de Elias. O texto bíblico apresenta quatro atividades que Elias sugere a respeito de Baal: meditar, estar ocupado, viajar e dormir. Elas podem ser comparadas àquelas dos textos ugaríticos, em que esse deus está envolvido. Quando a deusa Anat vai procurar Baal, ela descobre que ele está caçando. A literatura ugarítica, que retrata sua morte, contém o refrão repetido de que ele precisa ser despertado. A fonte clássica usada por Josefo, M enander de Éfeso,

relata que o rei de Tiro, H irão, contem porâneo de D avi, institu iu o ritual para despertar H eracles (= Melqart, ver o comentário em 16.31). A m itologia do mundo antigo entendia que os deuses se envolviam num a série de atividades parecidas com aquelas pra­ticadas pelos seres humanos. Embora as palavras de Elias devam ser entendidas como zombaria, não são um retrato irrealista das crenças cananéias. Os profe­tas de Baal não teriam encarado suas sugestões como ridículas ou indignas de uma divindade.18.30. Elias reparou o altar. Os termos usados suge­rem a existência de um altar anterior, para o culto de Yahw eh, que estava estragado devido a um ato de destruição. Pode-se provavelm ente inferir que esse altar fora derrubado como resultado do culto a Baal, promovido por Jezabel. Com freqüência, durante uma reforma religiosa, altares rivais ou inaceitáveis eram destruídos. M uitas vezes acreditava-se que a localiza­ção precisa de um santuário fora determinada pela divindade e era significativa. Portanto, mesmo que Elias, na verdade, tenha "construído" um altar (v. 32) com doze pedras, que provavelmente comporiam ele inteiro, essa ação pode ser descrita como um "conser­to ", no sentido de que havia uma continuidade no uso do local onde ficava o altar anterior.18.32. tam anho e objetivo da valeta. O tamanho da valeta é descrito como algo que poderia conter duas medidas de sementes, não sendo, assim, muito gran­de. Talvez o texto esteja fazendo referência a um reci­piente padrão, que continha (no texto hebraico: "abri­gava") essa quantidade de sementes (do m esmo modo que hoje iríam os nos referir a um a garrafa de dois litros), e está sugerindo a profundidade da valeta ca­vada ao redor do altar. O propósito dessa cavidade era recolher o que transbordasse, que de outro modo simplesmente seria absorvido pela terra seca.18.33, 34. encharcar o sacrifício . Alguns estudiosos consideraram que derram ar água sobre o altar teria sido visto como um grande desperdício por aqueles que estavam agonizando o terceiro ano de uma seca. Deve-se lembrar, no entanto, que não há indicação de que se tratava de água potável fresca. H avia abun­dância de água, embora não potável, no mar M editer­râneo que ficava ali perto.18.38. fogo do Senhor. De modo geral, os deuses da tempestade do antigo Oriente Próximo eram guarne­cidos de raios e relâm pagos que serviam como ins­trum entos para enviar fogo. Os reis assírios desse período falam dos deuses como um a chama ardente, enviando fogo adiante deles. Esaradon (na Assíria do sétimo século) usa a figura de um fogo inextinguível para descrever sua marcha e ataque. Todas essas ima­gens eram a maneira como se acreditava que a divin­dade fosse para a batalha. O fogo provocado por raios

era um a de suas principais armas. Em bora os even­tos, no m onte Carm elo, não dem onstrem Yahw eh usando esse elemento para destruir seus inimigos, é usado como um meio para derrotar Baal, seu oponen­te. Outra ocorrência de fogo do Senhor consumindo um sacrifício aparece na ordenação de Arão e seus filhos (Lv 9.24).18.40. riacho de Q uisom . O riacho de Quisom corre do noroeste para o norte do vale de Jezreel até o M editerrâneo, a leste de Haifa. Alimenta-se das mon­tanhas da cadeia do Carmelo e das colinas da Galiléia que cercam Nazaré.18.44. nuvem. O texto não oferece nenhum indício da época do ano em que esse episódio acontece. Os ve­rões geralmente são privados de chuva na Palestina, embora haja ocasionalmente nuvens no céu. O inver­no é o período das águas. Quando a estação chuvosa tem início no outono, pancadas de chuva muitas ve­zes são trazidas rapidamente do oeste (do mar), como se observa aqui. Comparar o tamanho da nuvem com a mão de um homem indica como ela estava longe - ao segurar a mão esticada na direção da nuvem, ela ficaria fora do alcance de sua visão.18.45. Jezreel. Jezreel ficava entre 24 a 32 quilômetros da área do Carmelo. Essa localidade de quinze acres estava situada na entrada sudeste do vale de Jezreel, entre a colina de M oré e o monte Gilboa. Foi aqui que Acabe construiu um a capital onde passava o inverno. Escavações trouxeram à tona um grande recinto real murado que data desse período, ocupando um a am ­pla porção da colina (ver o comentário em 21.1).18.46. prendendo a capa com o cinto. A expressão original "cingir o lom bo" em geral envolve prender firm em ente um a veste larga ou dobrar um a roupa longa no preparo para alguma atividade física desgas­tante. Essa passagem, em particular, é difícil porque o verbo usado é peculiar a este versículo e seu significa­do é incerto. Assim , por exem plo, se Elias "cing iu seus lom bos" para a m atança dos profetas, ele poderia m uito bem estar fazendo o oposto aqui. Apesar da tradução da NVI fazer menção a uma capa, nenhuma indumentária é mencionada no texto original.18.46. Elias correu à frente de A cabe. Esse versículo não fala de correr mais rápido, mas de correr à fren te do carro de A cabe, até chegar a Jezreel. A queles que corriam à frente da carruagem de um rei ou príncipe formavam sua escolta ou séquito (ver o comentário a respeito dessa m esm a expressão em 2 Sm 15.1). Elias, sob o poder de Yahweh, desempenhou o papel de um arauto profético, aparentemente proclamando sua le­aldade a E le e a m udança de atitude de Acabe. O poder de Yahw eh traz bênção, sucesso e vitória. Em textos hititas, são os deuses que correm à frente da carru agem do rei - aqui Elias faz o m esm o como

representante de D eus. Bir-Rakib, o rei aram eu do oitavo século, descreve a si mesmo, como um vassalo leal ao rei assírio Tiglate-Pileser III, com a expressão "correndo à sua roda".

19.1-18 A fuga de Elias19.3. Berseba. Berseba ficava no extremo sul da terra. Estava localizada no norte do Neguebe, em Tell es- Seba' (cerca de cinco quilômetros a leste da moderna cidade). Seu nom e deriva de sua associação com os poços cavados para fornecer água às pessoas e reba­nhos dessa área (ver G n 26.23-33). Foram encontradas evidências arqueológicas de ocupação desde a monar­quia até o período persa.19.4. cam inhada de um dia até o deserto. Elias apa­rentem ente está indo para o sudeste, em direção à península do Sinai. Um dia de jornada o teria levado a um terço do caminho para Cades-Barnéia.19.4. pé de giesta. A giesta (retama raetam) é comum nesta região e cresce de um metro e meio a três metros de altura. É o único arbusto que oferece sombra nessa região seca e desértica.19.5-7. provisão do anjo. Não há nada de surpreen­dente na descrição do alimento providenciado pelo anjo. É o m esm o que E lias pedira à viúva que lhe preparasse (ver 17.13). Talvez m ais significativo seja o fato de que os israelitas, em sua peregrinação pelo deserto, tenham feito esse tipo de pão ou bolo com o m aná (Nm 11.8).19.8. viagem a H orebe. Horebe é outro nome para o monte Sinai. Se o Sinai de fato encontra-se na região sul da península, como o texto parece afirm ar (ver comentário em Ex 19.1, 2), Elias teria que viajar 320 quilômetros, um a distância que ele levaria quarenta dias para percorrer. Um a caravana geralm ente conse­guia percorrer cerca de trinta quilôm etros por dia, mas Elias não estava acostumado com esse tipo de viagem e estava sozinho. Nessas condições, e conside­rando o clima da região, oito quilômetros por dia não era incomum.19.11-13. fogo, vento e terrem oto com teofania. Umateofania é a aparição da presença divina. No antigo Oriente Próximo, a manifestação de Deus geralmente estava relacionada às batalhas, e acreditava-se que o deus guerreiro lutasse em defesa de seu povo usando raios de tempestade (relâmpagos, fogo), ventos e tre­m ores de terra para assu star o inim igo. No texto sumério Exaltação de Inana, nos mitos hititas sobre o deus da tempestade e nas mitologias acadiana e uga- rítica, os deuses eram vistos como trovões no julga­mento contra seus inimigos. Baal é ilustrado seguran­do raios nas mãos. A terminologia do trovão aparece na retórica real de reis assírios ou hititas que descre­

vem a si mesmos como instrumentos dos deuses, tro­vejando contra aqueles que tivessem violado tratados ou se colocado como um entrave à expansão do impé­rio. O Yahw eh de Israel também era visto como um Deus guerreiro; m as aqui, Elias vê que há m uito mais que isso (ver o comentário seguinte).19.12-17. o plano de Yahw eh. No antigo Oriente Pró­ximo, acreditava-se que os deuses fossem responsá­veis pelos eventos da história. Os reis afirmavam que haviam sido colocados no trono por sua divindade protetora de quem tinham apoio e recebiam orienta­ção, conduzindo-os à vitória e ao sucesso. É interes­sante observar, porém , que esse envolvim ento dos deuses sem pre parecer ter um tom de propaganda política. Nessa época, as divindades não tinham um plano que revelassem aos humanos. Embora existisse a crença de que fossem responsáveis pelo curso dos acontecimentos, não há nenhum indício de que tives­sem um projeto para o desenrolar dos fatos. Aqui fica claro para Elias que Yahw eh não é simplesmente um guerreiro irascível protegendo ou destruindo reis ar­bitrariamente a seu bel-prazer, como o faziam os deu­ses do antigo Oriente Próximo. Ele tinha um propósi­to para a história. Sua guerra não era simplesmente uma carnificina fruto de sua ira - havia um intento m aior que estava sendo cuidadosamente executado. Quando todo o fogo, a tempestade e o terremoto tives­sem passado, o plano poderia ser articulado. A "brisa suave" do verso 12 não é uma descrição de como o Senhor fala, m as reflete o silêncio ressonante que se segue ao clamor de destruição. É no silêncio que a voz orientadora de Yahw eh pode ser ouvida.19.15,16. ungir três substitutos. Elias errou ao pensar que ele era indispensável, a última e única esperança de Deus. Ao anunciar três sucessores, o Senhor está deixando claro que Ele nunca fica sem recursos. O rei arameu, Hazael, seria um instrumento de Deus para punir Israel (para m ais informações, ver o comentário em 2 Rs 10.32), Jeú se tom aria rei dessa nação e no processo traria o castigo do Senhor sobre a casa de Acabe (para m ais informações, ver o comentário em 2 Rs 10) e Eliseu continuaria a obra profética de Elias.19.15. deserto de D am asco. O deserto de Damasco refere-se ao grande deserto sírio que se estende desde Damasco até a bacia do rio Eufrates. Era ao redor dali que havia o "crescente fértil".19.16. A bel M eolá. A bel-M eolá fica localizada na m ar­gem oeste do Jordão em algum ponto ao sul de Bete- Seã. A candidata mais provável é Tell Abu Sus, cerca de dezoito quilômetros ao sul de Bete-Seã, onde o rio Yabis desemboca no Jordão, vindo do leste.19.18. bocas que não beijaram a Baal. Na esteia ne­gra de Salm aneser III, o rei israelita Jeú é retratado beijando o chão diante do rei assírio. Em Enuma Elish,

o tribunal dos deuses beija os pés de M arduque após ele ter sufocado a rebelião e se estabelecido como líder do panteão. Esse era um ato comum de subm issão oferecido a reis e deuses. Igualmente, o beijo do ídolo envolvia beijar seus pés como um ato de hom ena­gem , subm issão e lealdade. N as cartas de M ari, o governador de Terqa, Kibri-Dagan, aconselha Zinri- Lim, rei de Mari, a dirigir-se a Terqa para beijar os pés da estátua do deus Dagan.

19.19-21Eliseu é escolhido como aprendiz19.19. arando com doze parelhas de bois. Proprietá­rios de grandes áreas podiam realizar a tarefa de arar a terra, mais rapidamente, usando múltiplos arados, cada um puxado por um par de bois conduzidos por um trabalhador. N este contexto, Eliseu está no co­mando de doze dessas parelhas.19.19. a capa do profeta. A capa m encionada neste versículo é um a veste usada por cima da túnica, dife­rente da roupa discutida em 1 Samuel 15.27. A capa característica do profeta provavelm ente era feita de pele de animal, revestida de pêlos (ver Zc 13.4), em­bora nem todas fossem do m esm o m aterial. M uito pouco está registrado a respeito da indumentária des­ses profetas no antigo Oriente Próxim o, por isso, fica difícil fazer comparações. Pode ser de interesse que inscrições assírias desse período retratem alguns indi­víduos usando capas com cabeça de leão em ativida­des rituais (dança) e ao lado de divindades. Supõe-se que sejam exorcistas.19.21. a resposta de Eliseu . O beijo era usado com m ais freqüência na saudação de chegada do que na despedida (uma palavra acrescentada pelos traduto­res da NVI, m as inexistente no texto hebraico). O beijo entre um pai (ou avô) e um filho ou filha é encontrado em diversos contextos como um prelúdio para receber um a bênção (Gn 27.26; 31.28, 55; 48.10) e pode estar implícito aqui. O sacrifício dos bois forneceu a comida para a celebração que tam bém acom panhava esse tipo de favor divino. Parece, então, que Eliseu pediu permissão para receber a bênção de seus pais.

20.1-43Acabe e Ben-Hadade20.1. Ben-H adade, re i da S íria . A história dos ara- meus, desse período, ainda necessita de m uitos dados esclarecedores, sendo pelo menos parte do problema causado pela menção de diversos governantes com o nome de Ben-Hadade ("filho de [o deus] H adade"). A questão fica ainda m ais complicada pelo fato de que as in s cr içõ e s de S a lm a n e se r III d e n o m in am o governante dessa época como Hadadezer (ver o co­mentário em 2 Sm 8.3). O prim eiro Ben-Hadade foi

m encionado anteriormente no capítulo 15 e governou durante a primeira parte do nono século, embora não seja possível estabelecer a data precisa. Em 2 Reis 8, o rei assassinado por H azael (por volta de 824) é chama­do de Ben-Hadade, e Hazael,,mais tarde, é sucedido por um rei tam bém com esse nom e. O nom e Bir- H adade ocorre num a inscrição dedicada ao deus M elqart, m as novam ente não fica claro a qual Ben- Hadade se refere. Foi sugerido que a seqüência pode ser Ben-Hadade I (1 Rs 15), Ben-Hadade II (1 Rs 20), H adadezer (Inscrição de Salmaneser, considerada por alguns estudiosos como um a variante de Ben-Hadade), Ben-Hadade III (inscrição de M elqart), H azael, Ben- Hadade IV. Até hoje não foi encontrado nenhum ou­tro m aterial do antigo O riente Próxim o que possa ajudar a elucidar todo esse emaranhado.20.1. trinta e dois reis. M uitos pequenos reinados fre­qüentem ente se uniam nessa época. Quando Salma­neser III invadiu o oeste em 853, na batalha de Qarqar, ele foi recebido por uma coalizão de doze importantes reis. A sua inscrição alista o núm ero de cavalaria, infantaria e carros de guerra fornecidos pelos vários m em bros dessa coalizão. A inda havia m uitas Cida- des-estado e grupos tribais nesse período, cada qual com seu "re i"; por isso, não é difícil imaginar trinta e dois deles reunidos.20.5, 6. condições do tributo. Acabe inicialmente es­tava preparado para atender às exigências do tributo e da rendição pacífica im posta por Ben-H adade. A relação de vassalo, que resultaria desse acordo, envol­veria m em bros de sua fam ília sendo levados como reféns para assegurar que as condições seriam satis­feitas. A prática assíria, deste período, era levar os príncipes como reféns para "m otivar" o bom compor­tamento por parte do rei vassalo, e aqui os arameus estão fazendo o mesmo. Quando Ben-Hadade perce­be que Acabe está bastante disposto a colaborar, insis­te em que o direito do confisco seja estendido a qual­quer coisa de valor que fosse encontrada no palácio.20.13,14. papel do profeta. Nesse período da profecia pré-clássica, os profetas de Israel desempenhavam um papel bastante parecido ao de seus colegas do restante do antigo Oriente Próximo (ver os comentários em Dt18.14-22). Um a das áreas em que atuavam com mais freqüência, como aqui, era como conselheiros de ati­vidades militares. Visto que se acreditava que o envol­vim ento de D eus era essencial para o sucesso das forças armadas, toda seqüência de eventos tinha iní­cio com a ordem divina para ir à batalha. Essa ordem pode ser vista em inscrições reais dos assírios. Tam ­bém era im portante consultar a divindade sobre as estratégias e momentos oportunos para a m ovimenta­ção das tropas. Durante o período de Saul e Davi, esse tipo de informação geralmente era obtido através da

m anipulação de objetos oraculares pelo sacerdote (ver os comentários em 1 Sm 14.10; 22.10; e 23.9-12). Dife­rentemente agora, no entanto, as perguntas eram fei­tas a um profeta que, como representante de Deus, transmitia os oráculos proféticos como respostas vin­das de Deus.20.23, 28. deus das m ontanhas, deus dos vales. Nocenário politeísta do antigo O riente Próxim o, geral­mente considerava-se que os deuses atuassem em ju ­risdições específicas, assim como líderes políticos. Esse domínio territorial podia ser dividido ao longo das linhas divisórias de cada nação (com suas respectivas divindades) ou por áreas topográficas ou fronteiras naturais (rios, m ontanhas, lagos, planícies), como se vê neste contexto. O fato de Israel ser um país m onta­nhoso e das capitais, Samaria e Jerusalém, ficarem em áreas elevadas fom entaria a especulação de que as montanhas eram a jurisdição de Yahweh.20.24,25. estratégia planejada. As táticas usadas para essa segunda campanha são significativamente dife­rentes. N a primeira investida, a coalizão dos arameus atacou Samaria diretamente com o objetivo de fazer um cerco. Na segunda fase da batalha, a ênfase não era m atar o povo de fome ou penetrar na cidade por brechas nos muros, e sim fazer um a guerra de trin­cheiras em terreno aberto onde os arameus pretendi­am ganhar vantagem por causa de seus carros de guerra e cavalaria. Não se sabe se foi devido à m u­dança nas táticas de batalha ou por causa da derrota da prim eira campanha que os arameus designaram um novo grupo de comandantes e colocaram novos recrutas nas tropas.20.26. A feque. A identificação do local onde essa ba­talha foi travada é complicada por existirem diversas cidades diferentes com o nome de Afeque, no antigo Israel (talvez cinco delas). A que tem sido comumente indicada como o local da batalha fica situada a leste do mar da Galiléia, na rota de D amasco para Israel. O problema é que fica difícil imaginar os arameus esco­lhendo um lugar tão longe da Samaria ou os israelitas deslocando-se tão longe para o confronto. Algum lu­gar nas proxim idades da planície de Jezreel é mais lógico, e o uso de Afeque, como um ponto de reunião das tropas dos filisteus na batalha de Gilboa, torna essa alternativa igualmente m ais provável (compare com os comentários em 1 Sm 28.4 e 29.1).20.30. fuga para A feque. Visto que a localização de Afeque ainda não foi identificada, é im possível co­m entar sobre o registro arqueológico de fortificações. A queda do muro não é especificamente atribuída a um cerco, à abertura de brechas nem à intervenção divina. U m a das principais táticas para provocar essa queda era fazer túneis debaixo dele. De fato foi suge­rido que o objetivo de fossos secos (cavados até o leito

das rochas) e de ram pas de terra, ao redor desses muros, era evitar a construção de passagens subterrâ­neas que viessem a ameaçar sua estabilidade. Se seu alicerce fosse enfraquecido, a estrutura de cima inevi­tavelm ente cairia.20.31. panos de saco e cordas. Vestir pano de saco era um sinal comum de luto. O sarcófago de Airão apre­senta figuras de m ulheres com algo sem elhante a panos de saco enrolados ao redor dos quadris, por cima de suas saias. As cordas provavelm ente eram um símbolo de servidão; logo, ao fazer uso delas em volta do pescoço, os arameus estariam se consideran­do cativos dos israelitas. Relevos assírios e egípcios ilustram escravos da Síria com um a corrente em volta do pescoço.20.33. o fez subir no seu carro. Um vassalo deveria correr ao lado da roda da carruagem (como na inscri­ção do aram eu Bir-Rakib), enquanto alguém de igual status seria levado dentro do carro. Ao referir-se a Ben-Hadade como seu irmão e ao levá-lo em sua car­ruagem, Acabe está expressando sua disposição em renegociar o acordo prévio. É provável que Acabe fosse considerado anteriormente um vassalo de Ben- Hadade; nesse caso, haveria um tratado de suserania entre eles, cujas condições exigiriam que Acabe pa­gasse tributo e se submetesse à autoridade da Síria. Nessa nova relação de "irm ão", um tratado de igual­dade seria firmado entre eles, pelo qual não haveria cobrança de tributos. Eles estariam nas mesmas con­dições, garantiriam apoio m ilitar mútuo, abertura de rotas de comércio e iguais oportunidades de negócios entre eles. Em vez de se beneficiar neste acordo, fa­zendo de Ben-Hadade seu vassalo, Acabe demonstra bondade, estabelecendo uma igual posição aos dois.20.34. condições do tratado. A devolução de território conquistado teria restaurado as fronteiras tradicionais entre as duas nações. A outra concessão de Ben-Hadade diz respeito a oportunidades de comércio. Um a das ações tomadas quando um a cidade passasse para o controle de um novo rei era construir um mercado para seus negociantes num a praça feita em sua honra. Um a colônia de mercadores passava então a residir na cidade para ali dirigir seus negócios. Essa prática é ilustrada pelo pátio fora do portão da cidade de Dã. Lá os arqueólogos escavaram uma série de prédios que foram identificados como um a área de lojas construída em honra ao conquistador aram eu, onde sua esteia (agora denom inada a "Inscrição da Casa de D avi") figurava com destaque.20.35-40. ações do profeta. O encontro inicial com o homem que se recusou a ferir o profeta deixou claro que até mesmo um ato de misericórdia, que desobe­decesse a uma ordem de Deus, im plicava na perda da vida. A ferida que o profeta pede que lhe façam apa­

rentemente é na cabeça, o que tom aria m ais realista a atadura usada por ele. Embora essa atadura fosse ape­nas seu disfarce, o ferim ento pode tê-lo ajudado a conseguir acesso ao rei. É interessante que, em bora o rei fosse conhecido por sua misericórdia (v. 31) e a tivesse dem onstrado para Bem -H adade, a sentença que ele dá a esse homem não tem nada de misericor­diosa. Um talento (trinta e cinco quilos) de prata era um a quantia exorbitante e sugere que o prisioneiro era um a pessoa muito importante. A respeito de "d is­cípulos dos profetas" (ou filhos), ver o comentário em1 Sam uel 19.20.

21.1-29A vinha de Nabote21.1. o palácio de Jezreel. Para comentários gerais a respeito de Jezreel, ver 18.45. O palácio em Jezreel foi escavado no início da década de 90 (1990). O recinto retangular cobria cerca de onze acres e era cercado por um a m uralha de casamata com torres nos cantos. Tinha um portão com seis câmaras, um fosso e rampas de terra ao redor. O fosso era escavado até a rocha e chegava a ter nove m etros de largura e em alguns pontos tinha quase seis metros de profundidade. Os fossos usados na Palestina não continham água e pro­vavelm ente tinham o objetivo de evitar que túneis fossem cavados debaixo dos muros da cidade. Jezreel ficava a cerca de 37 quilômetros de Samaria.21.3. vinha como parte da herança. A oferta de Acabe é m ais do que justa e até m esm o generosa. A recusa de Nabote não se baseia m eramente em sentimentos do tipo " é propriedade e herança da fam ília", mas sim em questões teológicas. A posse da terra fora um presente da aliança. Distribuídos às tribos, clãs e fa­m ílias, os lotes de terra representavam o seu patri­mônio e a parte que tinham nas promessas e benefíci­os dessa aliança (para m ais informações ver o comen­tário em Lv 25.23). Documentos de M ari e de Ugarit confirmam a prática de posse permanente de terra e regras rígidas sobre a transferência de propriedade, em bora não seja apresentada uma explicação religio­sa para tal prática. Tam bém é possível que, como residência real, Jezreel desfrutasse de um a posição privilegiada, na qual todos os m oradores gozassem de certos benefícios (ver o comentário em 2 Sm 5.9). Dentre eles estava a proteção contra a expropriação real da terra, até m esm o no caso de troca por uma outra propriedade.21.7. direitos do rei. Acredita-se que essa passagem represente uma verdadeira distinção entre os direitos estendidos ao rei em Israel e os que vigoravam na Fenícia. A s diferenças envolviam questões concer­nentes (1) à posse final da terra e (2) ao poder absoluto do rei. N a prim eira categoria, os israelitas acredita­

vam que toda a terra pertencia a Yahweh, ao passo que os fenícios consideravam -na como feudos reais, ou seja, toda a terra pertencia ao rei, mas era cedida por ele. Na segunda categoria, o reinado israelita foi idealizado para que fosse menos despótico do que a maioria das monarquias - o rei não estava acima da lei. Por não ser israelita, Jezabel não estava acostuma­da a tais delicadezas.21.9. decretar um dia de je ju m . Os jejuns podiam ser decretados pelo rei e geralmente eram proclamados no contexto de algum tipo de situação crítica (ver 1 Sm7.6). Por exemplo, num período de seca como aquele que atravessavam, um dia de je jum serviria ao propó­sito de orar, pedindo chuva, e talvez identificar as ofensas que poderiam potencialm ente ter trazido a seca. Assim como Davi determinou que os membros da família de Saul fossem mortos para retificar a ofen­sa de 2 Samuel 21, aqui a morte de Nabote seria uma tentativa de trazer um fim a qualquer situação que fosse o motivo do jejum.21.9. colocar sentado. O lugar de destaque dado a Nabote, para que se assentasse, refletiria seu status na comunidade e o apanharia na alegação de que suas ações afetavam toda a comunidade. As duas falsas testemunhas foram colocadas à frente dele para que pudessem afirmar ter ouvido suas palavras.21.11-13. o crime de N abote. Am aldiçoar o rei, consi­derado culpado pela situação, geralmente implica na renúncia imediata de lealdade a ele (como em Jz 9.27, 28 e 2 Sm 16.7, 8). Amaldiçoar a Deus tam bém está relacionado à deslealdade e envolve a difamação ou o descrédito, às vezes através da atribuição de culpa. Isaías 8.21 apresenta a combinação da maldição tanto a D eus quanto ao rei no contexto de atribuir culpa pelas dificuldades ou crises. Como a comunidade es­tava sendo conduzida nesse je jum em busca do moti­vo que teria provocado esse m om ento difícil, essas duas testemunhas implantadas afirmaram ter ouvido Nabote culpar Deus e o rei. Isso era considerado trai­ção, portanto, ele foi sentenciado à m orte pelos oficiais que haviam sido orientados a lidar com o caso daque­la maneira. U m texto de A lalakh indica que se um homem é condenado à m orte por traição, suas propri­edades passam a pertencer ao palácio.21.19. cães lam bendo o sangue. Os cães eram carni­ceiros que perambulavam pelas ruas e vielas alimen­tando-se de lixo. Quando o corpo de uma pessoa (quanto mais de um rei) era exposto, significava que não ha­veria honra na morte, nem mesmo um sepultamento decente. Acreditava-se popularmente que um enter­ro inadequado ameaçasse a vida após a morte (para mais informações ver o comentário em 1 Rs 16.4). Os israelitas acreditavam que o corpo ("carne") e o espí­rito de uma pessoa fossem inseparáveis. Logo, o in­

divíduo era espírito e carne. Por causa disso, o cadá­ver era tratado com muito cuidado, visto que ainda era considerado parte da existência. Registros assírios do primeiro milênio demonstram esse tipo de concei­to quando Assurbanipal pune seus oponentes, m an­dando que seus corpos sejam jogados nas ruas e arras­tados. Do mesmo período, um a maldição assíria de­clara: "Q ue os cães despedacem seu corpo exposto".21.27. a resposta de A cabe. V estir pano de saco e jejuar eram considerados alguns dos elementos bási­cos de arrependimento, bem como de luto, no antigo Israel. Há poucas evidências da prática do jejum no antigo O riente Próxim o fora da Bíblia. N o Antigo Testamento, o uso religioso do je jum geralmente está relacionado a um pedido dirigido a Deus. O princípio é que a im portância do pedido leva o indivíduo a preocupar-se tanto com sua condição espiritual que as

necessidades físicas são relegadas a segundo plano. Nesse aspecto, o ato de jejuar serve como um processo de purificação e humilhação diante de Deus (SI 69.10). O pano de saco era feito de pêlo de bode ou de camelo e era rústico e desconfortável. Em m uitos casos, o pano de saco era um a cobertura para o lom bo. O sarcófago de Airão apresenta figuras de mulheres com algo semelhante a panos de saco enrolados ao redor dos quadris, por cima de suas saias.

22.1-40Batalha em Ramote-Gileade22.1. cronologia: Batalha de Qarqar. Desde a aliança entre Acabe e Ben-Hadade, narrada no final do capí­tulo 20, três anos haviam se passado. G eralm ente presume-se que a razão de sua aliança ter perm aneci­do forte era a ameaça do rei assírio Salmaneser III, que estava avançando para o ocidente. Ele finalmente pas­sou a representar um a ameaça à Síria em 853, quando uma coalizão de doze nações do ocidente o enfrentou na Batalha de Qarqar. Salmaneser alista Acabe, rei de Israel, e H adadezer, rei de D amasco, como os dois parceiros m ais im portantes da aliança que foi enca­beçada por Iarhuleni, rei de Hamate. Qarqar fica no rio O rontes, cerca de 240 quilôm etros ao norte de D am asco, m as apenas 40 quilôm etros ao norte de Hamate. Embora Salmaneser afirme ter tido a vitória, estudos da história subseqüente sugerem que a coali­zão ocidental teve êxito em seu principal objetivo. Apenas dez ou doze anos mais tarde, quando a confe­deração se desfez, Salm aneser finalm ente dem ons­trou algum indício de controle da região. E mais pro­vável ter sido o sucesso geral contra ele que deu a Acabe a segurança para investir num a ação m ilitar contra os aram eu s e tentar reconqu istar Ram ote- G ileade.

22.12-38. M icaías e Acabe. Ver os comentários em 2 Crônicas 18.22.38. açude em Sam aria. Nas escavações de Samaria, um grande açude (quase cinco por dez m etros) foi descoberto do lado de dentro da esquina noroeste do muro, perto do palácio; no entanto, é impossível dizer se é esse o açude m encionado aqui. Não se sabe ao certo se as prostitutas estavam se banhando lá, ou se o sangue do carro do rei estava sendo lavado, ou se ambos.22.39. palácio de m arfim . O uso de marfim na decora­ção em m osaicos, incrustações de móveis e painéis de parede era m uito popular nessa época. Uma das prin­cipais fontes de marfim eram os dentes de elefantes, que eram im portados de A ram (onde os elefantes sírios não haviam ainda se extinguido). Peles e presas desse animal, e, às vezes, até mesmo elefantes vivos, eram incluídos como pagamento de tributos. Escava­ções no palácio de A sum asirpal, em Kalah, trouxe­ram à tona alguns entalhes de m arfim muito requin­tados decorando as paredes. Mais de quinhentos frag­mentos dessa substância tam bém foram encontrados nas escavações de Samaria, datando dos séculos nono e oitavo a.C.. M uitos apresentam m otivos artísticos egípcios e fenícios.

22.41-50 Josafá, rei de Judá22.41. cronologia. As datas de Thiele para Josafá são 872-848, com outros sistemas de contagem situando-o num a margem de dois anos em relação a essa data. Nenhuma referência a Josafá foi encontrada em m ate­riais extrabíblicos do antigo Oriente Próximo.22.46. prostitutos cultuais. Para informações adicio­nais a respeito da prostituição cultual, consulte o co­mentário em Deuteronômio 23.17 ,18 . O termo usado aqui ocorre tanto na forma feminina quanto na m as­culina e refere-se, talvez como um eufemismo, àque­les que haviam sido separados para funções específi­cas. Essa mesma palavra é usada na literatura acadiana para reportar-se aos funcionários que haviam sido consagrados para o serviço nos templos ou santuários.

Os prostitutos (ou prostitutas) faziam parte desse qua­dro de empregados, assim como as amas-secas e as parteiras. Não fica claro qual a função desempenhada pelo prostituto.22.48. frota de navios. O comércio por meio de em­barcações marítimas já estava acontecendo na prim ei­ra metade do terceiro milênio a.C.. Por volta da m eta­de do segundo m ilênio, uma frota de navios de Ugarit totalizava 150 embarcações. Escavações em um navio mercante afundado (na costa de Uluburun, Turquia), desse mesmo período, dá uma idéia da variedade de

produtos que eram transportados. Navios mercantes do primeiro milênio tinham apenas um mastro com um cesto no topo e podiam ter fileiras sim ples ou duplas de rem os. O com prim ento típico era de 15 metros, embora se saiba da existência de alguns ain­da maiores.

22.48. O fir. O ouro de Ofir é mencionado num a ins­crição do oitavo século em Tell Qasile. A localização precisa é desconhecida. O fato de o navio ter naufra­gado em Eziom-Geber sugere tratar-se de um territó­rio árabe, embora algumas terras na índia e no leste da África tenham sido consideradas.22.48. E ziom -G eber. Eziom -G eber era um a cidade portuária localizada na ponta do golfo de Á caba e pode ser Tell el-Kheleifeh (que alguns estudiosos iden­tificam com o Elath) ou um lugar na ilha de Jezirat Far'on (ilha Coral), o único território na região com evidências de um antigo porto. N esta últim a, um sig­nificativo trabalho arqueológico, conduzido debaixo

d'água, trouxe à tona enormes muros, quebra-mares (embora não da Idade do Ferro) e uma pequena quan­tidade de cerâm ica da Idade do Ferro. A tecnologia usada no porto artificial é semelhante àquela encon­trada na cidade fenícia de Tiro.

22.51-53 Acazias, rei de Israel22.51. cronologia. A cronologia de Thiele para Acaziaso situa em 853-852. Ele não é m encionado em n e­nhum registro extrabíblico.

2 R E I S

sy1 .1-18Acazias, rei de Israel1.2. sacada do seu quarto. As escavações em Samaria com provaram que o palácio real tinha um segundo pavim ento. O estilo arquitetônico da época incluía algumas áreas abertas; talvez a sacada descrita aqui

fosse um balcão de madeira que oferecia ao mesmo tempo sombra e ventilação ao ambiente.1.2. Sam aria. Samaria era a capital de Israel, o reino

do norte. Para m ais informações, ver o comentário em

1 Rs 16.24.1.2. B aal-Z ebu be. Esse nom e tem sido tradicional­mente considerado como um a corruptela intencional

de Baal-Zebul (chefe Baal), identificado na literatura ugarítica como o senhor do m undo inferior. Isso expli­ca a forma grega usada em Mateus 10.25 e 12.24. Em

outras passagens do Novo Testamento aparece a for­m a "B elzebu" e o título é atribuído a Satanás. "Z e-

bube" significa "m oscas"; no caso de ser um título elogioso, talvez indique a habilidade de afastar mos­

cas transmissoras de doenças e infecções. H avia uma divindade em U garit chamada El-Dhubub, cujo nome

pode ter um significado semelhante. Encantamentos de Ugarit invocam Baal-Zebul a fim de exorcizar de­

mônios de enfermidades. Acazias, porém, não estava solicitando um encantamento que lhe trouxesse cura,

m as apenas um oráculo para informá-lo se iria ou não se recuperar. Essa informação lhe será oferecida por

Elias no versículo 6.1.2. Ecrom . A cidade filistéia de Ecrom (Tel Miqne) dista cerca de cem quilômetros de Samaria. Para mais informações sobre essa localidade, ver os comentários

em Juizes 1.18 e 1 Sam uel 5.10.1.8. as roupas de Elias. Ver o comentário em 1 Reis 19.19 sobre a capa de Elias. O texto original aqui, porém, não m enciona especificamente a capa de Elias,

apenas faz referência a pêlos, que poderiam tanto ser de sua roupa (conforme a tradução da NVI) como de seu corpo peludo. Esta últim a alternativa é a m ais provável, porque o term o que a N VI traduz como "c into", quando citado em outros contextos tem o sen­tido de "tan g a", que não poderia ser notada se ele estivesse usando um a outra roupa por cima, como a capa, por exemplo. Se considerarmos a outra opção, talvez ele estivesse vestindo uma capa de pêlos que permitia enxergar a tanga de couro usada por baixo.

1.10. fogo do céu. Os deuses da tempestade no antigo Oriente Próximo costumavam carregavar raios e re­lâm pagos, que eram seus instrum entos para enviar

fogo. Os reis assírios desse período falam dos deuses como uma chama ardente enviando fogo adiante de­

les. Esar-Hadom (na Assíria do sétimo século) usa a figura de um fogo inextinguível para descrever sua m archa e ataque. Todas essas im agens refletem a m aneira como se acreditava que a divindade partici­

pava das batalhas. O fogo provocado por raios era

um a de suas principais armas.1.17. cronologia. O irmão de Acazias, Jorão, sucedeu- o no trono, reinando, de acordo com Thiele, de 852 a

841. Durante esse período, Judá e Israel tiveram reis com nomes idênticos ocupando o trono.

2 .1-18Elias é levado aos céus2.1. G ilgal. Existem diversas localidades com o nome de Gilgal e é difícil especificar a qual delas o texto se

refere aqui. A m ais conhecida ficava na região de Jericó (ver o com entário em Js 4.19), m as eles não teriam ido primeiro até Betei para depois voltar para Jericó. A lém disso, o texto original m enciona descer

até Betei, o que não faz sentido se for essa a Gilgal em questão. A outra possibilidade é a cidade nas proxi­

midades de Geba e M icm ás (ver o comentário em 1 Sm 13.4), poucos quilôm etros ao sul de Betei, cujo percurso estaria de acordo com a expressão "descer".2.2. B e te i. Betei era o local onde estava um dos san­tuários dedicados aos bezerros de ouro de Jeroboão e um im portante centro religioso. Sua história abrange os patriarcas (Gn 28), a conquista e a ocupação (Js 8; Jz l ) e Sam uel (1 Sm 7). Durante um curto espaço de tem­po foi também o local que abrigou a arca (Jz 20.26-28).

2.3. discípulos dos profetas. Era possível ser treinado para exercer a função de profeta, e nesse período ini­cial da história de Israel havia um a associação de pro­

fetas geralm ente cham ada de "filh os ou discípulos dos p rofetas". Esses p rofetas em pregavam vários métodos a fim de se prepararem para receber os orá­

culos proféticos. A m úsica tinha um papel importante na indução de um estado de transe (êxtase), conside­

rado uma preparação para que a pessoa se tornasse mais receptiva a uma m ensagem divina. Nos textos de M ari havia um grupo de funcionários do templo

que en trava em transe e freqü en tem en te receb ia mensagens proféticas. Textos acadianos também usam a designação mar bari (filho de um barü) para referir- se a um membro do grupo de adivinhos que algumas vezes transmitia oráculos proféticos.2.4. Jericó . O percurso de Betei a Jerico tinha cerca de 20 quilômetros (a m aior parte em declive), correspon­dendo a m eio dia de caminhada. A cidade foi recons­truída durante o reinado de Acabe (ver o comentário em 1 Rs 16.34).2.6. Jordão. O rio Jordão fica cerca de oito quilômetros depois de Jericó. Esse seria m ais ou m enos o local onde Josué atravessou o Jordão.2.9. porção dupla. Ao pedir porção dupla, Eliseu não estava pedindo o dobro do que Elias possuía, m as o dobro do que qualquer sucessor norm alm ente rece­beria . Seria sem elh an te ao direito de h eran ça do prim ogênito, que era o principal responsável pela continuidade da família. O pedido de Eliseu era no sentido de ser considerado o principal sucessor de Elias (na tradução da NVI, "Faze de mim o principal herdeiro de teu espírito profético").2.11. local da ascensão de Elias. O ministério de Elias reflete alguns eventos da vida de M oisés. Após terem atravessado para o lado leste do Jordão, Elias e Eliseu foram para o monte Nebo (onde M oisés morreu), a cerca de dezesseis quilômetros do Jordão. O texto não m enciona o nom e do m onte, nem sugere que eles estavam num a montanha, mas os situa basicamente nessa m esm a região.2.11. carro e cavalos de fogo; redem oinho. A pala­

vra traduzida como "redem oinho" geralm ente está relacionada à ação de Deus (a tempestade de Jonas 1) e às vezes à sua presença (Jó 38.1). A imagem do carro de fogo é mais difícil de decifrar, visto que o texto não atribui nenhum papel a ser desempenhado pela car­ruagem ou pelos cavalos. No antigo Oriente Próximo, era comum imaginar que as principais divindades às vezes vinham acompanhadas de cocheiros. Um a di­vindade conhecida como Rakib-El era o condutor da carruagem do deus cananeu El. Este, por sua vez, é relacionado a Hadade, o deus da tempestade, mas os dados são muito escassos para estabelecer qualquer relação interessante a esse respeito (carro de fogo rela­cionado à tem pestade, por exemplo). Na literatura acadiana, Bunene, o conselheiro do deus-sol Shamás, é designado como condutor da carruagem. O fato de tratar-se do deus-sol pode servir como um a possível explicação para o carro de fogo. O cocheiro seria o responsável pelo transporte da divindade, especial­m ente n as batalhas. N a crença re lig iosa israelita , Yahw eh muitas vezes é representado de modo seme­lhante ao pensam ento do antigo O riente Próxim o.

Isso pode ser observado no episódio de Elias com os profetas de Baal, em que Yahw eh é apresentado como um Deus que controla a fertilidade e responde m an­dando fogo do céu. Além disso, a linguagem figurada muitas vezes o associa com o Sol (SI 84.11). Aqui, a im agem que se tem de D eus apresenta elem entos com uns com H adade, o deus da tempestade, que é acompanhado de um condutor de carruagem. Essas semelhanças sugerem a possibilidade do uso de con­ceitos familiares do imaginário popular para esclare­cer o envolvim ento da divindade neste evento sem precedentes.2.12. m eu pai. O termo "p a i" é usado para designar o líd er de um grupo, tanto em h ebraico quanto em acadiano. Da m esm a forma, "filh o" designa um m em ­bro daquele grupo.2.12. carros de guerra e os cavaleiros de Israel. Nãose sabe ao certo se Eliseu fez essa declaração diante da visão que presenciou ou se atribuiu esse título a Elias. Se a últim a alternativa for a correta (como 13.14 suge­re), o título pode estar indicando a identificação de Elias como o cocheiro, alguém intimamente relaciona­do à divindade (cf. Bunene no comentário em 2.11), aquele que a transporta até as batalhas.2.12. rasgar as vestes. Além de jogar cinzas n a cabeça, rasgar as vestes era um a forma comum de manifestar pesar no antigo Oriente Próximo. U m exemplo fora da Bíblia encontra-se no épico ugarítico de Aqhat (c. 1600 a.C.), em que a irmã do herói rasga as vestes de seu pai ao predizer um a seca iminente. Essa atitude geralmente indicava pesar pela morte de um paren­te, amigo ou pessoa proeminente (2 Sm 3.31).2.13. a capa do profeta. Elias atirou seu manto para Eliseu indicando assim que o havia escolhido para a tarefa mencionada em 19.19. A capa a que se refere o texto era usada por cima da túnica, portanto diferente da roupa em 1 Samuel 15.27. A capa característica do profeta provavelm ente era feita de pele de anim al, adquirindo um a aparência peluda (ver Zc 13.4), em­bora nem todas as capas fossem assim. Pouco se sabe a respeito das vestes usadas pelos profetas no antigo Oriente Próximo, por isso, fica difícil fazer compara­ções. É interessante observar que inscrições assírias desse período mencionam alguns indivíduos usando capas com cabeça de leão. Alguns deles estão envolvi­dos em atividades rituais (dança) ao lado de divinda­des. Alguns sugerem que seriam exorcistas. O manto de E lias aqui representa o esp írito e o poder que Eliseu estava herdando.

2.19-22 As águas de Jericó2.19. água ruim . Os detalhes relacionados à água da fonte A in es-Sultan, perto de Jericó, podem ser en­

contrados nos comentários referentes a Josué 6.26 e 1 R eis 16.34. U m a a ltern ativ a à teo ria do p arasita sugerida nesses comentários, e que talvez possa ser relacionada à queda de Jericó, é que a fonte de água

teria entrado em contato com a radioatividade das camadas de rocha, provocando a contaminação da água

e causando esterilidade.2.20. sal num a tigela nova. O uso de um recipiente novo sugere a ausência de impurezas, indicando tra­tar-se de um ritual. "Frasco" seria uma tradução mais adequada, em vez de "tig ela", termo usado na NVI, em bora essa palavra seja usada apenas aqui e seu significado seja incerto. O sal era usado para combater maldições, visto que geralm ente estavam relaciona­das à rebeliões e o sal era considerado, simbolicamen­te, um elemento capaz de neutralizar a rebelião (ver o comentário em Jz 9.45).

2.23-25Rapazes e ursas2.23. idade dos zom badores. Duas descrições dife­rentes são usadas para este grupo. A primeira (v. 23) combina um substantivo e um adjetivo que em outros contextos refere-se a crianças ou pré-adolescentes. A segunda (v. 24) geralmente refere-se à geração mais jovem , de bebês (como em Rt 4.16) a homens de meia idade (1 Rs 12.8; Roboão e seus companheiros tinham mais de quarenta anos e foram chamados de jovens). Provavelmente trata-se de um grupo de adolescentes. A m aldição foi proferida por Eliseu, m as o castigo veio de Deus.2.23. careca. Se Elias era realm ente um homem pelu­do (ver o comentário em 1.8), a careca de Eliseu faria grande contraste e talvez sugerisse a alguns que ele nunca teria os m esm os poderes de seu mestre. Essa zom baria, portanto, representava um descrédito de seu ofício e chamado proféticos e foi veementemente refutada pelo cum prim ento imediato da sua m aldi­ção. Assim, enquanto nos versículos 19-22 Eliseu can­cela uma maldição, em 23, 24 ele executa outra.2.24. ursas. O s ursos sírios ainda não haviam sido extintos nessa época e havia m uitos desses animais nas regiões de florestas nas m ontanhas da área central de Israel, onde cavernas e bosques garantiam seu habitat. Essa região florestal ficava m ais próxim a de Betei do que de Jericó. O ataque de feras selvagens com freqüência era visto como um castigo de Deus (ver o comentário em 17.25).2.25. a jornada de Eliseu. A distância entre Jericó e Betei é de cerca de 20 quilômetros, enquanto que de Betei até o m onte Carmelo são quase 120 quilômetros. Do monte Carmelo de volta para Samaria são aproxi­madamente 64 quilômetros.

3.1-27A rebelião de Moabe3.1. cronologia. O sucessor de Jorão foi mencionado em 1.17, m as essa sucessão está relacionada ao se­

gundo ano de Jeorão, filho de Josafá. Aqui, está rela­

cionada ao décimo oitavo ano de Josafá. Isso levou Thiele a identificar um período de co-regência entre o

reinado de Josafá e seu filho. O ano, de acordo com

Thiele, é 852.3.2. coluna sagrada de Baal. M uitas vezes as colunas

eram usadas em santuários e tem plos no lugar do

ídolo. Algum as continham entalhes com relevos da

divindade, enquanto outras eram lisas. Foram encon­tradas colunas desse tipo em muitas escavações em

Israel, inclusive em Dã, Gezer e Arad.

3.4. M essa, rei de M oabe. M essa é conhecido pela inscrição (a Pedra Moabita) que detalha o antigo do­

mínio de Israel sobre Moabe e celebra sua libertação, conquistada por M essa. A inscrição de um m etro e

vinte centímetros de altura foi encontrada em Dibom, ao norte do rio Arnom , em 1868. Ela com em ora a

construção de um santuário, m enciona Onri e refere-

se a seu filho (Acabe, ou talvez a seu neto, Jorão) sem

denominá-lo. Faz referência ao deus nacional moabita,

Quemós, que usara Israel para punir seu povo, mas agora o libertara concedendo-lhe a vitória. O versículo

seguinte faz referência à vitoriosa revolta de Messa

contra o controle israelita (durante o reinado de Aca-

zias?). Desta forma, os eventos registrados na pedra moabita são anteriores aos acontecimentos narrados

neste capítulo.

3.4. tributo. Em bora cem mil cordeiros represente um

valor exorbitante de tributo, esse valor é ofuscado em comparação às oitocentas mil ovelhas que o rei assírio

Senaqueribe declarou ter tomado da Babilônia.3.6-8. estratégia de batalha. Os aliados não podiam avançar facilmente pelo norte para o confronto com

Moabe porque M essa havia fortificado a planície de M edeba, ao norte do Arnom . Como resultado, eles

m archaram para o sul passando por Jerusalém , H e­brom e Arade, margearam a extremidade sul do mar

Morto (pelo deserto de Edom) e chegaram a Moabe

por um a direção inesperada. A m archa de Samaria até A rade é de cerca de 140 quilôm etros. D ali até Quir-Haresete pode chegar a 80 quilômetros, depen­

dendo da rota seguida.

3.8. deserto de Edom. É difícil identificar o deserto de Edom, m as o comentário no versículo 9 indicando que

fizeram um a m archa de sete dias, sugere tratar-se da área leste de Edom. Talvez eles tenham m argeado

pelo sul do vau de Zered fazendo essa volta a fim de

atacar Moabe pelo leste.

3.9. fa lta de água. D esde que saíram de Jerusalém , eles estavam viajando por uma região árida e deserta, com poucas fontes de água. A desidratação em climas assim pode ser muita rápida e fatal.3.11. presença do profeta. Era comum no antigo Ori­ente Próximo que o exército tivesse como parte de sua comitiva alguns religiosos (sacerdotes ou profetas) com o objetivo de fazer consultas oraculares, interpretar presságios, oferecer os sacrifícios adequados e repre­sentar a presença de Deus junto ao exército.3.11. era auxiliar de Elias (costum ava derram ar água nas m ãos de Elias). Aqui Eliseu é identificado como o auxiliar de Elias. Em bora ele executasse tarefas domés­ticas, a simples associação de seu nome ao famoso pro­feta representava alguma esperança de auxílio divino.3.13. profetas de seu pai e de sua mãe. Os pais de Jorão, Acabe e Jezabel, tinham favorecido os profetas de Baal e Aserá. É interessante que Jorão não repu­diou esses profetas ou os deuses a quem serviam , apenas respondeu que Yahw eh havia incitado a cam­panha, portanto Ele deveria ser consultado. Isso pode sugerir que os oráculos de Yahw eh haviam sido con­sultados pelo rei do norte e a resposta concernente a essa ação m ilitar havia sido favorável, em bora tam ­bém possa indicar que a aliança dos três reis tenha acontecido apenas porque Josafá consultou a Yahw eh em relação a seu envolvimento (ver 2 Cr 18.4-7). Essa orientação divina, não im porta com o tenha vindo, agora é interpretada por Jorão com o a intenção de Yahw eh em destrui-los.

3.15. harpista. A palavra "m enestrel" seria m ais ade­quada aqui, visto que não há menção a instrumento. O m ais provável é que fosse um a lira do mesmo tipo da que Davi tocava para Saul. N o início desse perío­do, os profetas costumavam lançar mão de diversos procedimentos a fim de se prepararem para receber

oráculos proféticos. A música tinha um papel impor­tante na indução de um estado de transe (êxtase), que era visto como preparação para deixar a pessoa recep­tiva a um a m ensagem divina. Nos textos de M ari havia um grupo de funcionários do templo que entra­va em transe e freqüentem ente recebia m ensagens proféticas. A lira era um instrumento com dois braços que saíam da caixa acústica. As cordas eram presas a uma trave na parte superior do instrumento. Modelos de liras foram encontrados em M egido do período cananeu.3.17. p rovisão de água. É provável que o exército estivesse nas proximidades do vau de Zered. Como todos os vaus de passagem , o Zered passa por um período de cheia em algumas épocas do ano devido à precipitação e escoam ento de água das m ontanhas que o rodeiam. Dessa forma, seu leito pode encher-se

de água repentinamente, sem que nenhuma gota de chuva tenha caído nas regiões m ais baixas. Cavar cisternas no vale seria uma forma de armazenar, para uso do exército e seus anim ais, parte da água que estaria escoando e que, de outro m odo, simplesmente passaria por eles e não seria aproveitada. O conhe­cimento profético de chuva em elevadas altitudes tra­zendo água para a área m ais baixa tam bém é demons­trado por Débora (ver o comentário em Jz 4.14-16).3.22. água verm elha como o sangue. Não seria difícil confundir água com sangue, com a luz do Sol no am anhecer incidindo no leito de arenito de um dia quente, de m orm aço - especialm ente considerando que os m oabitas não tinham nenhum a razão para pensar que haveria água recolhida nas cisternas ao longo do curso da passagem . M as se de fato fosse sangue, onde estariam os corpos? Se os moabitas fo­ram ao acam pam ento dos inim igos a fim de obter despojos, é provável que o que viram foi algo seme­lhante a um acampamento deserto. Portanto, eles con­sideraram a aparência das águas como um presságio de que rivalidades internas provocaram a deserção do acampamento, à medida que os exércitos lutaram entre si. De fato uma série de presságios mesopotâmicos de crenças populares contém indícios de que, se um rio trouxesse sangue em suas águas, era um sinal da existência de conflitos internos, levando irm ão a lutar contra irm ão. A im agem de sangue correndo como água é usada em descrições assírias de batalhas.3.24.25. destruição de M oabe. A destruição ecológica tinha como objetivo desestruturar a economia por um

longo período. Seria possível retirar as pedras das fontes e dos campos, mas para restabelecer a produ­ção agrícola era preciso um longo e lento processo. As nascentes, eventualmente, encontravam outros luga­res para brotar, m as os campos ficavam tão danifica­dos que a fertilidade e a produtividade caíam drasti­camente. Cortar árvores tinha um efeito ainda mais

devastador no equilíbrio ecológico da região. Não só as reservas de som bra e m adeira eram destruídas, como tam bém a erosão do solo aumentava, contribu­indo para o desenvolvimento de áreas desérticas. Al­gumas árvores frutíferas (como a tam areira) levam vinte anos para crescer e produzir frutos. A devasta­ção da agricultura e a destruição das florestas eram táticas comuns dos exércitos invasores que procura­vam punir o povo conquistado e apressar sua rendi­ção. Os registros e relevos assírios apresentam em detalhes medidas punitivas que incluem a derrubada de árvores, a devastação de cam pinas e prados e a destruição dos canais usados na irrigação.3.25. Q uir-H aresete. Esse era o nom e da capital da região sul de Moabe, conhecida tam bém como Quir-

M oabe e identificada com a moderna Kerak, 27 quilô­m etros ao sul do rio A m om , ao longo da Estrada do Rei. N enhum a escavação im portante foi conduzida no local, mas descobertas superficiais apresentam al­guns vestígios da Idade do Ferro.3.27. sacrifício de crianças. Evidências de sacrifício de crianças foram encontradas em localidades fenícias no norte da Á frica (Cartago) até a região da Sardenha. Também há indícios dessa prática na Síria e na Meso- potâmia durante o período assírio (séculos oitavo e sétim o a.C.). Sacrificar crianças a um a divindade é um a prática encontrada em diversas narrativas bíbli­cas. Esses sacrifícios podem ser explicados como meio de prom over a fertilidade (Mq 6.6, 7) ou obter uma vitória m ilitar (Jz 11.30-40), como é o caso aqui. Em nenhum contexto, porém, Yahw eh considera esse tipo de sacrifício aceitável (Dt 18.10). U m a inscrição fenícia do oitavo século fala de sacrifícios sendo oferecidos a M oloque antes de um a batalha, pelos habitantes da Cilicia e seus inimigos.

4.1-7O milagre do azeite4.1. discípulos dos profetas. Ver o comentário em 2.3.4.1. escravidão por dívida. D evido às dificuldades causadas pelo meio ambiente hostil em grande parte do antigo Oriente Próximo, os agricultores e proprie­tários de pequenos lotes de terra muitas vezes se viam endividados. Os problemas podiam se agravar ainda m ais quando ocorriam secas prolongadas que resulta­vam em péssimas colheitas. Em casos assim, eles eram forçados a vender suas terras e propriedades e, m ui­tas vezes até m esm o suas fam ílias e seus próprios corpos. A lei israelita levava em conta essa situação ao estabelecer um período razoável de prestação de ser­viços, bem com o um lim ite no tem po de servidão para aqueles que se encontravam em tal situação por causa de dívidas. Ninguém podia trabalhar como es­cravo por mais de seis anos e, ao final desse período, a dívida era considerada quitada e a pessoa liberta. Para alguns, essa era um a boa solução, m as para aque­les que não tinham uma terra para onde voltar, era m elhor perm anecer a serviço de seu credor ou ir às cidades em busca de trabalho ou alistar-se no exército.4.2. azeite. Trata-se de azeite de oliva, usado como gordura para preparar alimentos. Era costume m istu­rar azeite aos cereais antes de assá-los, m as poderia tam bém ser espalhado sobre a farinha.

4.8-37Eliseu e a sunamita4.8. Suném . A cidade de Suném localizava-se na extre­midade leste do vale de Jezreel, na encosta sudoeste do

m onte M oré. A cidade está relacionada nos itinerários egípcios e apresenta vestígios da Idade do Ferro.4.10. quarto lá em cima. O modelo de casa israelita típico da Idade do Ferro ficou conhecido como "casa de quatro côm odos". No piso térreo havia um cômodo que ocupava todo o comprimento da casa. A parte da frente era dividida em três quartos paralelos, perpen­diculares ao quarto do fundo. No centro desses cômo­dos geralmente havia um a área aberta ou pátio. Su­põe-se que a m aioria das casas tinha um segundo piso, em bora essa parte da construção não tenha sido preservada para estudo dos arqueólogos. A termino­logia arquitetônica específica usada neste versículo perm anece obscura.4.16-35. dar um filh o, tom ar o filh o, reviver o filh o. No

épico ugarítico de A qhat, os deuses deram um filho (Aqhat) ao justo rei Danilo, porém esse filho desagra­dou aos deuses e por essa razão eles lhe tiraram a vida, m as depois aparentem ente a restauraram , sendo ele revivido pelos deuses. Em bora nenhum detalhe da narrativa de A qhat apresente qualquer sem elhança com o re la to d e ste trech o b íb lic o , o tem a b á sico concernente ao poder atribuído à divindade de dar, tirar e restaurar a vida é bastante fam iliar.4.18-20. causa da morte. A morte do filho da sunamita geralm ente é atribuída a insolação, em bora outras sugestões m encionem hem orragia cerebral, m alária cerebral e meningite. Os poucos detalhes apresenta­dos no texto dificultam um diagnóstico preciso.4.23. não é Lua nova nem sábado. Por causa do calen­dário lunar, para os antigos israelitas o primeiro dia do mês coincidia com o início da "L u a nova", quando era celebrada um a festa (a cada 29-30 dias). No sába­do, nenhum trabalho podia ser realizado (ver Am8.5) e certos sacrifícios precisavam ser oferecidos (Nm28.11-15). Durante o período da monarquia, os reis se tom aram figuras de destaque nessas celebrações (ver Ez 45.17). As festas de Lua nova também eram cele­bradas na M esopotâm ia desde o final do terceiro milê­nio até o período neobabilônico, em meados do pri­meiro milênio a.C.. Essas ocasiões eram bastante pro­pícias para a consulta de oráculos, o que pode explicar a relação que o marido da sunamita estabeleceu entre a visita ao profeta Eliseu e essas festas.4.25. m onte Carm elo. Como o texto não especifica o local exato em que Eliseu se encontrava, é difícil cal­cular, m as a distância entre Su ném e a região do monte Carmelo é de cerca de 32 quilômetros.4.27. abraçar-se aos pés. A braçar-se aos pés de al­guém era um gesto de humilhação e súplica. Embora esse tipo de atitude não ocorra em nenhum outro contexto do Antigo Testamento, a literatura acadiana relata um grande núm ero de casos em que fugitivos

ou suplicantes abraçam os pés do rei num a atitude de submissão ou rendição e fazem seus pedidos.4.29. pôr a capa por dentro do cinto. Para evitar que um a veste m ais longa in terferisse em algum a ativ i­dade física que exigisse m ais m ovim entos, era costu­me virar a ponta inferior da capa e prendê-la no cinto.4.29. encostar o cajado no rosto do m enino. Não há nenhuma referência a profetas usando cajados (a vara de Moisés é descrita com uma palavra hebraica dife­rente). O utras passagens onde esse term o é usado falam apenas de um bastão não identificado que ser­ve de apoio - talvez um a muleta ou bengala. A julgar pelo versículo 31, poderíamos supor que Eliseu e Geazi consideraram possível que o cajado pudesse reviver o menino. Em textos de feitiçaria acadianos, o cajado às vezes era usado como instrumento para exorcizar os demônios asaku (responsáveis por causar doenças e febre). Visto que a enfermidade se localizava na cabe­ça do menino, o cajado então foi colocado sobre seu rosto.4.34. o procedim ento de Eliseu. Nos livros de encan­tamentos da M esopotâmia, o toque de alguma parte

do corpo é que permitia aos demônios exercer poder sobre suas futuras vítimas - essa era a forma de trans­mitir uma possessão demoníaca. De acordo com essa crença, a vitalidade ou essência da vida poderia ser transferida de um corpo para outro pelo contato entre as partes do corpo. Imitando esse procedimento que

de acordo com as crenças da época era usado por dem ônios, o profeta, através do poder de Y ahw eh

(observe a oração) expulsou os demônios e restaurou a vida do menino. Esse relato muitas vezes é interpre­tado como um dos casos m ais evidentes de m agia favorável na Bíblia.4.35. espirrou sete vezes. A palavra traduzida como "espirrou" ocorre apenas aqui e seu significado é in­certo. A partir do contexto, é possível interpretar tam­bém como "agitou-se" ou "m urm urou".

4.36-41A morte na panela4.36. G ilgal. Localização incerta; ver o comentário em2 .1 .

4.38. caldeirão. Trata-se de um grande caldeirão de cerâmica ou metal usado para preparar alimentos.4.39. ingredientes do ensopado. O ingrediente vene­

noso geralmente é considerado um fruto amarelo co­nhecido com o colocíntida, popularm ente cham ado "m açã de Sodom a". Seu veneno pode ser fatal.4.41. acrescentou farinha. Acreditava-se que a fari­nha tivesse propriedades m ágicas e fosse capaz de afastar poderes malignos. M uitas vezes era usada em encantamentos e rituais de magia do antigo Oriente

Próximo, m as não exatamente desta maneira. Às ve­zes preparava-se um a m assa de farinha para confecci­onar estatuetas usadas em algum ritual m ágico, ou então espalhava-se farinha ao redor do altar ou de algum objeto usado no ritual. Como de outras vezes, Eliseu fez uso de procedimentos de certa form a co­muns ao mundo da magia, mas nunca exatamente da m aneira como eram praticados ou com os elementos ritualísticos envolvidos.

4.42-44O milagre dos pães4.42 . B a a l-S a lis a . B aa l-S a lisa é trad ic ion alm en te identificada como Bete-sarisa, na planície de Sharon, cerca de 24 quilômetros a oeste-noroeste de Jope. Ou­tros estudiosos, porém, favorecem Ein Samiya, uma localidade perto de G ilgal na parte leste da região m ontanhosa de Efraim, cerca de dez quilôm etros a noroeste de Betei.4.42. p resen te para E liseu . O presente oferecido a Eliseu consistia dos primeiros frutos da colheita, ge­ralm ente dedicados como oferta ao santuário para o sustento dos sacerdotes. Por ser um homem de Deus, Eliseu era qualificado para recebê-lo.

5.1-27Eliseu e Naamã5.1. Síria. A terra de Aram, situada ao norte de Israel, era conhecida pelos gregos como Síria. Evidências atuais sugerem que os aram eus habitaram no alto Eufrates durante o segundo m ilênio, primeiro como aldeões e criadores de gado, depois como uma coali­zão política nacional. Durante esse período, eles fo­ram ora aliados, ora inimigos terríveis de Israel.5.1. lepra. Estudos linguísticos concluíram que o ter­mo freqüentem ente traduzido como "lep ra" refere- se, de forma mais acurada, a uma "lesão" ou "esca- mação da pele". Tais feridas podiam estar inchadas, vazando ou descam ando. A term inologia para esse tipo de doença é bastante abrangente em *acadiano, sendo considerada tam bém pelos *babilônios como um a condição impura ou um castigo dos deuses. Não há evidências de lepra (hanseníase) no antigo Oriente Próxim o antes de Alexandre, o G rande. N enhum a das características marcantes da hanseníase é m encio­nada nos textos antigos e os sintomas descritos não se relacionam à lepra. A condição apresentada no texto não é descrita como contagiosa. As descrições suge­rem que poderia tratar-se, de acordo com diagnósticos modernos, de psoríase, eczema, vitiligo ou dermatite seborréica, bem como um a série de infecções causa­das por fungos. A grande aversão cultural a doenças de pele talvez seja devido ao seu aspecto (e às vezes,

odor) semelhante ao estado de putrefação de um ca­dáver, portanto, associada à morte. Essa repulsa na­tural, associada ao isolamento do doente, aumentava ainda m ais o sofrim ento da vítim a, quando com bi­nada à quarentena, cujo objetivo era mais ritual que terapêutico.5.5. o presente de Naam ã. O presente que N aam ã levou para o profeta era exorbitante - equivalente ao resgate de um rei. Dez talentos de prata equivalem a trinta m il siclos, aproxim adam ente trezentos e cin­qüenta quilos de prata. Seis m il siclos de ouro equiva­lem a setenta e dois quilos de ouro (um siclo de ouro era equivalente a quinze siclos de prata). Esse valor corresponderia, atualmente, a cerca de 750 milhões de dólares. Para se ter idéia da proporção desses va­

lores, é preciso considerar que dez siclos de prata correspondiam a um ano de trabalho, e um siclo de ouro era o suficiente para se adquirir uma tonelada de cereais.5.6. pedido de cura enviado ao rei. Existem inúmeros exemplos de reis recorrendo a outros reis em busca de auxílio p ara a cu ra de doenças. Os exorcistas da Babilônia eram valorizados pelos hititas e os médicos egípcios eram famosos por sua habilidade em tratar as doenças, especialmente doenças dos olhos.5.7. rasgou as vestes. O ato de rasgar as vestes, espe­cialm ente vestes reais, era um sinal de pesar. Aqui nesse caso, representa a proximidade de uma crise ou tragédia nacional. O texto bíblico não faz nenhuma menção a qual rei de Israel se refere o episódio, embo­ra Eliseu tenha interagido bastante com Jorão.5.10. vá até o rio Jordão. Visto que Eliseu encontrava- se provavelm ente na Sam aria (ver o com entário no versículo 24), o percurso até o rio Jordão seria de apro­xim adam ente 64 quilômetros. Como não há nenhu­m a rota direta de Sam aria até o Jordão, provavelmen­te N aam ã teve de voltar pelo caminho por onde viera, ou seja, pelo norte até Dotã, passando pelos vales de Dotã e Jezreel, depois atravessando o estreito de Gilboa até Bete-Seã para chegar ao Jordão.5.10. lavar-se no Jordão. Nos rituais mesopotâmicos namburbi, para se purificar era preciso mergulhar sete vezes no sentido contrário ao curso do rio e outras sete vezes no sentido da correnteza do rio. Esse ritual tam­bém incluía deixar presentes no rio para o deus Ea. Acreditava-se que a correnteza levaria as impurezas para o mundo inferior. Aqui novamente, os procedi­m entos escolhidos por Eliseu soam fam iliar para as pessoas que viviam num mundo de rituais mágicos. Em term os terapêuticos, existiam várias fontes ter­m ais em Israel (p. ex., perto do m ar de Tiberíades) cu jas águas poderiam restaurar a saúde da pele e curar diversos males. No entanto, o texto refere-se

especificamente ao rio Jordão, que não pode ser con­fundido com uma fonte mineral.5.11. procedim ento esperado. Naam ã obviamente es­perava ser recebido pelo profeta de outra forma. O ato de mover a mão (o termo preferível é "elevar" a mão, e não "m over") era comum nas invocações e encanta­mentos. O ato de orar com as mãos estendidas consta na inscrição aramaica de Zakkur, com ilustrações em inúm eros relevos (mão direita, palm a virada para baixo, cotovelo dobrado). Existem vários encantamen­tos acadianos chamados shuilla (elevação da mão) que incluem invocação e louvor da divindade, orações para apaziguar a divindade, dar proteção e remover o mal. De acordo com o pensamento do mundo anti­go, não seria adequado realizar um ritual sem a pre­sença do especialista para conduzir os procedimentos, recitar os encantamentos e fazer os gestos adequados. A ausência de Eliseu levou Naamã a pensar que qual­quer curso de água poderia servir para sua purifica­ção. Ele esperava que a presença de Eliseu, que havia ordenado o ritual, fizesse diferença, enquanto que Eliseu tom a todo cuidado para manter-se afastado e não desempenhar nenhuma função.5.12. A bana e Farfar. É m ais provável que a grafia cor­

reta seja Am ana, devido à existência do m onte Ama- na nas montanhas do Anti-Líbano e do rio Amana (hoje

conhecido como Barada) que corre pelas planícies de Damasco. Pouco se sabe sobre o Farfar, embora possa ser o rio el-A w aj que desce das encostas do m onte Herm om até os pântanos a sudeste de Damasco.5.17. levar duas m ulas carregadas de terra. Naamã deixa claro que o motivo de levar terra estava relaci­onado a sacrifícios, indicando que ele pretendia cons­truir um altar com essa terra (o term o usado para "terra" neste contexto é o mesmo que aparece no texto sobre a construção do altar em Êx 20.24; ver o comen­tário respectivo para mais informações).5.18. tem plo de Rim om . Acredita-se que Rim om (= Ramam, "estrondoso, trovejante") seja um título para H adade, o deus da tem pestade, chefe do panteão arameu. Embora essa associação seja baseada em da­dos seguros, não há nenhuma ocorrência desse título fora da Bíblia (mas veja Hadade-Rimom em Zc 12.11). As limitadas escavações feitas em Damasco não reve­laram esse templo aqui mencionado, mas um ortóstato (coluna de pedra entalhada) de basalto desse período, encontrado junto à estrutura inferior da mesquita de Um ayyad, sugere que a m esquita foi construída no mesmo local onde estaria esse templo.5.22. discípulos dos profetas. Ver o comentário em 2.3.

5.22,23. pedido de G eazi. Considerando o que Naamã tinha trazido para oferecer, o pedido de Geazi é ex-

irem am ente modesto, porém, ainda assim é uma soma considerável. Um talento de prata correspondia a tre­zentos anos de salário (equivaleria hoje, a alguém que ganha 30/35 m il dólares por ano receber um presente de dez milhões de dólares) e Naamã ainda dobrou a quantia. G eazi estava tentando com isso garantir seu futuro.5.24. colina. A palavra traduzida como "colina" é um termo usado para designar a área da acrópole associa­da à cidade do rei, o que sugere que nesse tem po Eliseu estava morando em Samaria.5.26. G eazi é repreendido. G eazi não se im portava com a origem daquele dinheiro, se provinha da ri­queza pessoal de Naamã ou dos tesouros do rei ara- m eu. G eazi sim plesm ente racionalizou que estava tomando de volta o que havia sido saqueado de Isra­el. Mas Geazi não tinha em m ente distribuir aquele dinheiro aos pobres ou devolvê-lo aos cofres nacio­nais. A referência de Eliseu a olivais, vinhas, ovelhas e servos reflete o que Geazi poderia comprar para si m esm o com aquele dinheiro. Sua riqueza recém-ad- quirida lhe teria proporcionado uma vida de luxo e conforto. Ao ter esse tipo de atitude, Geazi reduziu o chamado profético a um a vocação m ercenária, explo­rando o poder divino em causa própria.5.27. transferência da doença. No m undo antigo, acre­ditava-se que bruxos e feiticeiros fossem capazes de causar doenças através de feitiços e m aldições. Rituais p ara re m o v er d iv ersas en ferm id ad es (os ritu a is namburbu por exemplo) geralmente envolviam a trans­ferência do mal para um objeto que em seguida era jogado fora. Talvez o ritual de lavar-se sete vezes no Jordão, praticado por Naamã, indicasse que a doença seria transferida para a água e levada embora. Naamã, porém, também esteve em contato com os presentes que havia trazido e neste contexto eles são considera­dos m eios de transferência do m al de N aam ã para Geazi. Isso se assemelha ao que chamaríamos de con­tágio (embora nenhuma infecção causada por doenças de pele poderia ser contraída naturalmente de forma tão rápida).5.27. o castigo de G eazi. V er o com entário sobre a lepra em 5.1. Não se trata de um a sentença de morte, visto que a doença não colocava em risco a vida, nem a saúde da pessoa. Podia ser classificada como uma doença "social", já que a principal conseqüência era a exclusão da sociedade, passando a ser considerado um proscrito. A comparação com neve está mais rela­cionada às manchas na pele do que à cor.

6.1-7 Um machado é recuperado6.1. discípulos dos profetas. Ver o comentário em 2.3.6.2. troncos (vigas) para construção de casas. O pro­

blem a dos discípulos de Eliseu era que o lugar onde se reuniam para receber instrução do profeta era muito pequeno, então decidiram trabalhar para construir um prédio m ais adequado. O vale do Jordão, com suas densas florestas era o lugar natural para encon­trar a madeira necessária (acácia, tamargueira e sal­gueiro seriam as m ais comuns).6.5. o ferro do m achado. Esse período corresponde ao auge da Idade do Ferro, m as apesar desse m etal estar cada vez m ais acessível devido ao aperfeiçoam ento tecnológico e aos processos de fundição, objetos e fer­ramentas de ferro continuavam a custar caro e eram consideradas valiosas.6.6. fazendo o ferro flutuar. Alguns tipos de magia envolviam rituais de contato e transferência. Acredi­tava-se que através do contato com objetos que possu­íam poderes mágicos, as propriedades e característi­cas desse objeto poderiam ser transferidas a outro. O texto bíblico não menciona de qual árvore Eliseu cor­tou um galho, mas na M esopotâmia, era comum o uso da tam argueira para esse tipo de ritual. Em bora al­guns relutem em aceitar que o profeta de Deus costu­m ava em pregar algu m as p ráticas ap arentem en te mágicas, permanece o fato de que as pessoas da época veriam como magia a ação de Eliseu; ver os comentá­rios em 4.34; 4.41 e 5.11.

6.8-23 O exército arameu é ferido de cegueira6.9-11. profetas fornecend o inform ações m ilitares.Há vários exem plos de profetas do antigo O riente Próxim o dando conselhos m ilitares a reis, porém a informação dada por Eliseu é m ais específica do que os exemplos de outros relatos.6.13. D otã. Localizada em Tell Dotã, esse imponente lugar cobre cerca de 25 acres. Ficava a dezesseis qui­lôm etros de Sam aria pela rota principal, usada por mercadores e criadores de gado, em direção ao norte até o vale de Jezreel. A área ao redor da cidade (o vale de Dotã) oferecia abundantes pastagens, por isso trans­form ou-se num a im portante cidade já na Idade do Bronze Antiga (3200-2400 a.C.), servindo como ponto de referência para os viajantes. A pesar de não ser mencionada em nenhum a outra fonte, com exceção da Bíblia, a arqueologia do local confirma a existência de um grande povoado na Idade do Ferro II.6.17. cavalos e carros de fogo. O texto original não diz que os cavalos e os carros de fogo enchiam as colinas (plural) e sim a colina (singular), ficando à volta de Eliseu. Isso sugere que a "co lin a" é o tell onde a cidade de D otã está localizada (cerca de 60 m etros acim a do terreno ao redor). Estes cavalos e carros formavam uma escolta protetora para o profeta.

Yahw eh muitas vezes é chamado de "Senhor dos Exér­citos" - o comandante dos exércitos celestiais, e aqui encontramos um contingente de sua cavalaria partici­pando de uma batalha. Para m ais informação a res­peito de cavalos e carros de fogo, ver o comentário em 2.11-13. Para informações sobre Yahw eh como guer­reiro divino, ver o comentário em 1 Samuel 4.3-7.6.18. cegueira. A palavra usada para cegueira aqui aparece somente na ocasião em que a casa de Ló, na cidade de Sodoma, foi cercada (Gn 19). É um termo relacionado à palavra acadiana para designar ceguei­ra diurna, também usado no hebraico (ou no aramaico) para referir-se à dificuldade de enxergar à noite (ce­gueira noturna; G n 19). Em textos acadianos, os dois casos requeriam m edicação mágica. A principal causa da cegueira tanto diurna como noturna é a deficiência de vitamina A, mas a falta de vitamina B pode tam ­bém contribuir para a confusão visual evidente em am bas as passagens. Portanto, é interessante notar que o fígado (rico em vitamina A) tinha um lugar de destaque nos procedimentos mágicos da Mesopotâmia para corrigir situações desse tipo. U m trecho interes­

sante do épico de N ukulti-Ninurta relata como os deu­ses perm aneceram do seu lado na batalha, e como Shamás (o deus-sol e deus da justiça) teria provocado cegueira nos inimigos.6.19. v iagem de D otã até Sam aria. É provável que essa viagem tenha sido demorada, apesar da distân­cia de apenas dezesseis quilômetros, visto que os sol­dados estavam debilitados e confusos, por não conse­guirem enxergar direito.6.21. "p a i" como título. O título "p ai" era usado para designar o líd er de um grupo, tanto em hebraico quanto em acadiano; da m esma forma, "filh o" servia para indicar o m em bro desse grupo. A o usar esse título, o rei demonstrou reconhecer a posição de Eliseu e também seu respeito pelo homem de Deus.6.22,23. tratam ento dispensado aos prisioneiros. "P ri­sioneiros do arco" é um a expressão acadiana para descrever pessoas capturadas como parte dos despo­jos. Estas pessoas ficavam à disposição do conquista­dor, que poderia usá-las para trabalho escravo, vendê- las ou libertá-las. A intenção de Eliseu era aproveitar essa oportunidade para promover relações amigáveis com os arameus. O banquete servido aos prisioneiros era um a refeição cerim onial que geralm ente fazia parte da assinatura de um tratado de paz ou de um acordo amigável.

6.24-7.20 O cerco de samaria6.24. Ben-Hadade. Esse período da história dos arameus necessita de m ais dados para ser com preendido, e

parte do problem a é causada pelo fato de diversos governantes receberem o nome de Ben-Hadade ("fi­lho de [o deus] H adade"). A questão se complica ain­da mais devido às inscrições de Salmaneser III desig­narem o governante dessa época com o H adadezer (ver o com entário em 2 Sm 8.3). O prim eiro Ben- Hadade é mencionado em 1 Reis 15 e governou du­rante a prim eira parte do nono século, em bora não seja possível estabelecer o período exato. Em 2 Reis 8, o rei assassinado por Hazael (por volta de 824) é tam­bém chamado de Ben-Hadade, e Hazael mais tarde é sucedido no trono por seu filho, tam bém chamado Ben-Hadade (2 Rs 13.24). O nome Bir-Hadade apare­ce num a inscrição dedicada ao deus M elqart, mas novam ente não fica claro a qual Ben-Hadade se re­fere. Foi sugerido que a seqüência talvez seja Ben- Hadade I (1 Rs 15), Ben-Hadade II (1 Rs 20), Hadadezer (Inscrição de Salmaneser, considerada por alguns es­tudiosos com o um a variante de Ben-Hadade), Ben- Hadade m (inscrição de Melqart), Hazael, Ben-HadadeIV (2 Rs 13). Até hoje não foram encontrados docu­m entos do antigo Oriente Próximo que possam ajudar a elucidar essa questão. Se essa passagem estiver cro­nologicam ente correta, o m ais provável é que seja Ben-H adade III, m as se a narrativa seguir um a se­qüência temática, então talvez esse rei seja o sucessor de Hazael.6.25. cerco causando fom e. O propósito do cerco era levar a população ao limite da fome e da sede, fazen­do com que se rendesse sem oferecer resistência. A fome no caso não era provocada por causas naturais, mas conseqüência do cerco, que fazia a cidade esgotar suas reservas de alimentos.6.25. preço de alim entos in d ese jáveis . "C abeça de jum ento" seria um a das últim as coisas que alguém desejaria comer, no entanto, aqui era vendida por um preço exorbitante. Vale a pena lembrar que o salário- padrão era de cerca de um siclo por mês. O segundo item "alim entício", designado literalmente de "ester­co de pom ba", pode realm ente referir-se a fezes de pombos, usadas com o alimento em tempos difíceis, ou então seriam vagens de uma variedade espinhosa de acácia, como na linguagem acadiana. Mas sendo usado como alimento ou como combustível, o fato é que apenas uns poucos gramas desse artigo equivalia ao salário de vários meses. Na Lenda de Naram-Sin (governou a M esopotâmia já no final do terceiro m ilê­nio), cerca de seis litros de cevada (alimento insufici­ente para um a semana) custavam cinqüenta siclos de prata (cinco anos de salário), nos períodos de cerco.6.29. canibalism o. O canibalismo era parte integrante de maldições em tratados assírios do sétimo século. Era o últim o recurso em tem pos de fom e extrem a.

Esse nível de desespero poderia ocorrer em períodos de grave fome (como o épico de Atrahasis ilustra) ou em conseqüência de cercos (p. ex., durante o cerco de A ssurbanipal na Babilônia, por volta de 650 a.C.), quando as reservas de alimentos se esgotavam, con­forme menciona este texto, e como está previsto em textos de tratados. A estratégia de cerco era comum no mundo antigo, por isso um a situação desse tipo não era tão rara quanto poderíamos supor.6.32. autoridades. A s autoridades representavam as famílias influentes de um a cidade ou tribo. Estavam assentados com Eliseu provavelmente à espera de um oráculo que mostrasse a eles como agir ou anunciasse uma libertação iminente. Entretanto, esse desconheci­do rei perdeu a paciência com o que lhe pareceu uma espera m uito longa para obter uma informação oracu­lar (v. 33) e decidiu que o cerco era castigo de Yahweh. Em Israel, não era m uito clara a distinção entre a papel do profeta como proclamador ou incitador. Essa confusão ocorria por causa da crença disseminada no m undo antigo, também presente em Israel, de que as palavras proferidas por indivíduos habilidosos tinham o poder de coagir os deuses a agir de determinada m aneira. O rei israelita chegou à conclusão que Eliseu era o responsável por ter induzido Yahw eh a agir contra Samaria.7.1. m udança nos preços. U m a m edida de farinha (em hebraico, um seá) variava entre 7 e 14 litros e era o suficiente para alimentar um adulto durante uma semana, o que significa que o preço ainda estava alto (mas ver o comentário em 6.25 para constatar como a situação havia melhorado). Há várias informações so­bre preços na literatura babilónica. Enquanto em cir­cunstâncias normais um siclo daria para comprar cer­ca de cem litros de cevada, aqui seriam apenas 15. D urante o cerco de A ssurbanipal à Babilônia, dez litros de cevada chegaram a um siclo. A quantidade básica para a subsistência de um a fam ília de quatro pessoas seria de aproxim adam ente quatro litros de cevada por dia.7.2. o fic ia l. É geralm ente aceito que o term o usado aqui se referia a princípio a um terceiro homem den­

tre os ocupantes da carruagem, responsável por segu­rar o escudo que protegia o cocheiro e o arqueiro. Com o passar do tempo, o termo passou a ser usado fora do contexto de carros de guerra e provavelmente estaria relacionado ao escudeiro ou ao auxiliar do rei, um a função administrativa.7.2. comportas do céu. O texto usa a expressão poética "com portas do céu" para descrever as aberturas por onde a chuva descia. Não se trata de linguagem cien­tífica; apenas reflete a perspectiva do observador, bas­tante semelhante à nossa expressão para o pôr-do-sol.

A outra ocorrência desse termo na literatura do antigo Oriente Próximo encontra-se no mito cananeu de Baal construindo sua casa, onde essa m esm a expressão é

usada para descrever uma fenda nas nuvens. O ofici­al está se referindo à provisão de Deus de m odo geral,

visto que o assunto está relacionado à comida e não à

água.7.3. lepra. Para informações sobre problemas de pele traduzidos como "lep ra", ver o com entário em 5.1.

Esses indivíduos banidos da sociedade teriam ainda menos recursos à sua disposição do que as pessoas da

cidade.

7.6. exércitos h ititas e eg ípcios. Os hititas haviam partido da Anatólia, sua terra natal, séculos atrás e

tinham se fixado no norte da Síria, concentrando-se nas cidades-Estado de Carquêmis e Karatepe. É pro­

vável que até mesmo Hamate fosse considerada uma

cidade hitita nesse período. Já existia uma tradição de guerras entre hititas e arameus. A menção ao Egito é

mais difícil de ser explicada, visto que há poucas evi­

dências de que o Egito estivesse envolvido ou interes­

sado no Levante nessa época. Além disso, a referência a reis (plural) do Egito seria estranha. Alguns estudi­

osos sugeriram que em vez de Egito (hebraico: msrym) o texto refere-se a M usri (msry), embora não haja ne­

nhum consenso quanto à sua localização. O grupo mencionado aqui deve ser entendido como os m es­

m os M usri que aparecem nas inscrições de Salmaneser

III desse período. M usri consta entre os aliados da

"Terra de H atti" que lutaram contra Salm aneser III em Qarqar, em 853 e aparece im ediatam ente após

Jeú, rei de Israel, na lista de tributos da Esteia Negra

de Salmaneser III, de 841. Se esse Musri refere-se ao Egito, como muitos supõem, demonstra que o Egito

estava ativo na região. Se for um a localidade no norte

da Síria, sua identidade permanece incógnita. Alguns favorecem essa opção porque também é chamado de

vizinho de Arpad (norte de Alepo, no norte da Síria),

no tratado aram eu de Sefire do oitavo século, embora outros consideram que Musri seja o nome de um rei e

não de um lugar.

7.10. sentinelas da porta da cidade. As portas de uma

cidade eram sempre trancadas à noite e, certamente

permaneciam fechadas durante o cerco.7.15. retirad a dos aram eus. Os líderes de Sam aria

suspeitaram de um ardil bastante conhecido no m un­do antigo - a armação de um a emboscada, dando a

aparência de que haviam desistido e ido em bora.

Talvez a aplicação m ais conhecida desse artifício foi a usada pelos gregos contra Tróia, no episódio registra­

do na Ilíada. Os arameus em fuga foram seguidos até

o Jordão, a 64 quilômetros de distância.

8 .1-6 A sunamita recebe de volta sua propriedade8.2. terra dos filisteus. Embora a quantidade de chu­va anual na região de Samaria fosse um pouco maior do que na planície costeira ao sul (terra dos filisteus), a planície aluvial da costa é m enos dependente de chuvas e seria a escolha lógica para tentar resistir a um período de fome.8.3-6. confisco de terra. As terras abandonadas geral­mente eram confiscadas como propriedade da coroa até que alguém as reivindicasse. O fato de um a m ulher estar reivindicando a posse sugere que ela seria v iú­va; nesse caso, ela poderia solicitar a posse da terra em nom e do filho, o herdeiro legítim o da propriedade.8.6. rend a das co lh eitas. G eralm ente a pessoa não esperava receber a renda de tudo que a terra havia produzido durante o período de sua ausência. Essa renda seria um a espécie de reem bolso para os que cultivaram a terra durante esse tempo.

8.7-15Hazael torna-se o rei da Síria8.7. D amasco. A distância entre Samaria e Damasco

era de cerca de 200 quilômetros, o que corresponde a pouco mais de uma semana de viagem a pé. Damasco era a capital da Síria e sede do palácio real. Para mais inform ações sobre essa localidade ver o comentário em 2 Sam uel 8.5.8.7. Ben-H adade. A respeito da confusão quanto à identificação dos diversos reis com esse nome, ver o com entário em 6.24. Visto que esse período corres­ponde à ascensão de Hazael ao trono, o ano é 842 a.C.. Salmaneser informa que Hazael assassinou Hadadezer.8.8. H azael. Hazael é m encionado nos registros de seu contemporâneo, Salmaneser III da Assíria, onde é descrito como um usurpador. Ele reinou de 842 a 800a.C. aproxim adam ente. Tam bém é m encionado em diversos fragmentos de inscrições aramaicas e assírias. Quando a coalizão ocidental que resistiu a SalmaneserIII em Qarqar desintegrou-se na década de 840, Hazael m anteve sua posição contra a Assíria, resistindo por vários anos com batalhas e trincheiras, e também com um a tentativa frustrada de cerco a Damasco (apesar de pagar pesados tributos). A partir de 836, Salmane­ser passou a se interessar por outras regiões (especial­m ente U rartu) e posteriorm en te foi sucedido por governantes fracos, deixando Hazael livre para con­centrar sua atenção sobre Israel durante grande parte de seu reinado. Para inform ações sobre suas ações militares contra Israel, ver o comentário em 10.32.8.8. con su ltar a Y ahw eh . Em bora os aram eus não adorassem a Yahweh, eles não negavam sua existên­cia nem seu poder. O politeísmo no m undo antigo era

um sistema aberto que respeitava o poder divino sem se importar com sua origem. Os profetas, da mesma

forma, eram muito respeitados e a chance de consul­

tar um deles num a ocasião de enfermidade não podia ser desperdiçada. Em bora existisse a possibilidade

dos profetas de Baal se sentirem ofendidos (ver co­

m entário em 1.2), as pessoas geralm ente assumiam esse risco para obter respostas oraculares vindas da divindade.

8.9. presente. Como no caso de Naam ã, o presente

oferecido é exorbitante. No m undo antigo era comum

oferecer presentes à divindade com o objetivo de manipulá-la e obrigá-la a agir de determinado modo,

e aqui não é diferente. Ao agir assim , o rei tentou

obter um oráculo favorável, visto que se acreditava

que os profetas exerciam influência sobre os deuses

que representavam. Naamã não estava tentando com­

prar uma sentença falsa, mas obter um a palavra po­derosa do profeta, capaz de influenciar a ação divina.

8.12. tratam ento dado às cidades conquistadas. As

táticas alistadas aqui representam o procedim ento- padrão para elim inar qualquer possibilidade de re­

belião no futuro. Incendiar as fortalezas era uma for­

m a de destruir qualquer esperança de que aquela cidade pudesse ser usada mais tarde como lugar de

reunião de tropas ou de defesa durante uma provável

revolta. A execução indiscriminada de homens, crian­

ças e até m esm o de bebês no ventre de m ulheres grávidas elim inaria a possibilidade de formação de

qualquer exército no futuro. R elatos de conquista assíria do nono século m encionam atear fogo em me­

ninos e meninas. O ato de rasgar o ventre de uma mulher grávida é m encionado raras vezes, sendo uma

delas pelo rei assírio Tiglate-Pileser I (por volta de 1100) em um hino de louvor às suas conquistas e

também num lamento neobabilônico.8.13. cão. Os cães eram geralmente considerados pra­

gas, anim ais im undos, o que indica que essa com ­p aração era com u m em term os de h u m ilh ação e

autodepreciação. Expressões sem elhantes foram en­contradas nas cartas de Láquis e na correspondência de Am ar na.

8.16-24Jeorão, rei de JudáPara informações a respeito deste trecho, ver os co­

mentários em 2 Crônicas 21.

8.25-29Acazias, rei de JudáPara informações a respeito deste trecho, ver os co­

mentários em 2 Crônicas 22.

9 .1 -2 9Jeú é consagrado rei de Israel9.1. unção de re is . U n gir um re i era um a práticacomum em algumas partes do antigo Oriente Próxi­mo. Tanto os hititas como os egípcios acreditavam que a unção protegia a pessoa dos poderes das divindades do m undo inferior. Não há evidências de reis sendo ungidos na M esopotâmia. N o Egito, era o faraó que ungia seus oficiais e vassalos, estabelecendo desta for­ma uma relação de subordinação entre eles e demons­trando que lhes daria proteção. Os textos de A m am af. i referência a um rei 1 a N uhasse (na moderna Síria) sendo ungido pelo faraó. Esse m odelo encaixa- se à idéia da unção de Jeú como uma indicação de que teria o apoio dos profetas e, presum ivelm ente, de Y ahw eh. E m 2 Sam uel 2.4, quando o povo ungiu D avi, ficou im plícito um tipo de acordo contratual entre eles. Em Nuzi, os indivíduos que entravam em acordo em alguma negociação ungiam -se com óleo; no Egito, o ato de ungir com óleo era um costum e praticado nas cerim ônias de casam ento. N a prática israelita, a unção era sinal de eleição e, com freqüên­cia, estava intimam ente relacionada à capacitação pelo Espírito. Além disso, em todo o m undo antigo, a un­ção simbolizava a ascensão na posição legal da pes­soa. Tanto o conceito de proteção como de m udança ç. status estão relacionados à unção do rei, visto que lh e „ garantiria a proteção no trono e o identificaria com < dimensão da divindade. í9.1. R am ote-G ilead e. R am ote^ ileaxte ainds/njío foi

identificada com segurança, m as m i^ o ^ esm d io so s apontam para Tell R^imte^Qi^kuha^de seu tamanho,

t aa^ aad e do Ferro en~ 5p>eâpavado. Se essa identi-

r ia localizada na Estrada rad a sul de D amasco faz uma

zando o Jordão, perto de Bete-Seã,

localização e devido < contrada no locaLam tl

ficação estivej^OTreta ReaLno cur

sem penhavam importantes papéis políticos, m as ne­nhum deles desem penhava a função de indicar o rei como os profetas israelitas. N ão obstante, em todo o m undo antigo acreditava-se que os profetas não ape­nas proclam avam a m ensagem vinda da divindade, m as tam bém desencadeavam a ação divina no pro­cesso. N as instruções do rei assírio Esar-Hadom a seus vassalos, ele exige que seus vassalos relatem as decla­rações impróprias ou negativas proferidas por qual­quer pessoa, m as principalm ente de profetas, intér­pretes de sonhos e praticantes de adivinhação por "xtase. Não é 1 admirar, então, que se o profeta se colocasse contra o rei, deveria ser m antido sob rôntro- le para não causar estragos. Isso explica por qu p o\ ei estaria inclinado a aprisionar um profeta d e ^ e iip a rç ^que suas palavras poderiam incitar i ................ou provocar a destruição de seu reina d 9.14. batalh a em R a m o te-G j^ a ^ ^ A s3 êq ííê n c ia de eventos m encionada aqu^\pàsra^]|fe tom plexa já que no ano de 841 a Síria e envolvi res com neser, Házaeie)H erm om Q fi

5.no vale de Jezreel e en contrar-se com a principal cham ada de G rande Tronco (ver a

rifotk de rodapé sobre rotas comerciais em Gênesis 38).9.6-10. profetas incitando golpes. Em Judá, o reino do sul, a sucessão ao trono estava firmemente estabelecida pela aliança com a linhagem de D avi. O rein o do norte, Israel, passou a existir por meio de um a decla­ração profética (1 Rs 11.29-39), m as sem garantia de sucessão dinástica. Cada um a das principais dinastias (Jeroboão, Baasa, Onri, Jeú) teve sua ascensão e queda de acordo com palavras proféticas. À s vezes, o rei indicado para governar se resignava em aguardar pelo m omento adequado de ascender ao trono (Jero­boão), porém em outros casos, como aqui, a declara­ção profética acabava provocando um golpe. No anti­go Oriente Próxim o, os sacerdotes m uitas vezes de-

.a Assíria, invadiu os confrontos milita-

d& cu piios registros de Salm a- ou-o no auge da batalha do monte

irrotadõ. H azael, então, refugiou-se nrDarfoàsee^que foi subm etida a um cerco que fra- £9Sou. £ o m o resultado de seu fracasso em dominar (amaseo, Salm aneser despejou sua fúria na região de aurã, a leste de Ramote-Gileade, de onde marchou

para o monte Carmelo, recebendo tributo do rei Jeú. A m archa de H aurã até o m onte Carmelo provavel­mente foi feita passando pelo vale de Jezreel. Se todos esses eventos se ajustarem , é possível supor que a Síria teria se colocado contra Ramote-Gileade no início da primavera, deparando-se com a coalizão das tro­pas de Ju dá e Israel. Salm aneser teria partido para suas campanhas em maio, e como a distância entre a Assíria e Damasco é de 880 quilômetros, ele só chega­ria ao seu destino em m eados de junho. Assim que H azael ficou sabendo que Salm aneser estava indo para a região, ele apressou-se para o norte a fim de encontrar-se com o exército assírio no m onte Hermom. Jeú, ainda em Ram ote-Gileade, igualm ente recebeu as notícias do avanço do exército assírio e enfrentou a questão de que posição Israel assumiria. Reunindo o apoio daqueles que defendiam a posição a favor da Assíria fortalecida pela unção profética, ele deu conti­nuidade ao golpe. Enquanto Salm aneser fracassava em seu cerco a D amasco e partia para o m assacre da área de H aurã, Jeú estava elim inando a fam ília de Acabe e os seguidores de Baal. Depois de estabeleci­do o controle, Jeú voluntariam ente permitiu a Salm a­neser passar por Jezreel e pagou tributo ao rei assírio em Carmelo.

9.14-16. v iagem de R am ote-G ilead e até Jezreel. Adistância entre Ramote-Gileade e Jezreel é de cerca de 72 quilôm etros. Jezreel é um a área de quinze acres situada na entrada sudeste do vale de Jezreel, entre a colina de M oré e o m onte G ilboa. Era a capital do reino de Acabe durante o inverno. Escavações arque­ológicas revelaram um grande recinto real desse perí­odo, ocupando um a área relativam ente extensa do tell (ver o comentário em 9.30).9.17-20. envio de m ensageiros para abordar a tropa que se aproxim a. A rápida aproximação de um pe­queno contingente de carros de guerra dava margem a várias possibilidades, e nenhum a delas era boa. Poderiam estar fugindo de algum inimigo ou dirigin­do-se para lá com más intenções. O cavaleiro enviado podia servir como m ensageiro para levar um a respos­

ta para o rei ou como negociador. O que é estranho, porém, é que numa situação arriscada como essa, os reis (aparentemente desacompanhados de um a guar­da pessoal) tenham ido ao encontro de Jeú (v. 21) expondo-se a um perigo evidente.9.21. Nabote. Para informações sobre os eventos rela­cionados a Nabote, ver os comentários em 1 Reis 21.9.22. idolatria e feitiçarias. Uma acusação desse tipo foi usada como justificativa para depor uma rainha- m ãe na m etade do segundo m ilênio, quando o rei hitita M urshili II opôs-se à última esposa babilónica de seu pai, afirmando que ela praticava bruxaria. É im portante lembrar que tanto Acazias quanto Jorão tinham um estreito laço de parentesco com Jezabel, visto que o prim eiro era seu neto e o segundo, seu filho.9.27. Bete-H agã, G ur, Ib leã , M egido. Acazias seguiu pela estrada ao sul de Jezreel. Essa direção o levaria de volta para casa (Judá), m as também era a rota para a capital do norte, Samaria, onde ele esperava encon­trar proteção. A estrada sul margeava o leste do vale de Jezreel, no pé das m ontanhas de G ilboa. Bete- Hagã era o local onde a estrada subia do vale até a planície de Dotã e depois em direção às colinas de Samaria. Ibleã ficava no topo da subida, na extremi­dade norte da planície, quase dezesseis quilômetros de Jezreel. Um a carruagem em fuga, em sua veloci­dade m áxim a, poderia percorrer essa distância em menos de m eia hora. M as ele ainda estava a 24 quilô­metros de Samaria. Quando Acazias decidiu mudar de rumo e ir para Megido, teve de fazer uma curva para noroeste. A distância para M egido era menor, apenas 19 quilômetros, e lá o rei ferido poderia recor­rer à proteção do santuário. Além disso, esse percurso era m ais ameno, em termos de regularidade no solo, visto que costeava a extremidade sudoeste do vale de Jezreel. Bete-H agã é a m oderna Jenin, m encionada

nos textos egípcios de execração e denominada Gina nos textos de A m am a. No local encontra-se um tell de sete acres com vestígios de cerâmica da Idade do Fer­ro. Ibleã é citada nos anais de Tutmés III e é identificada com Khirbet Belameh. N enhum a dessas localidades foi escavada até hoje.

9.30-10.17A morte da família de Acabe9.30. atitude de Jezabel. No mundo antigo, usava-se cosmético em pó (galena [sulfeto de chumbo] ou estíbio [trisulfeto de antimônio]) m isturado com óleo ou água para delinear e acentuar o formato arredondado dos olhos. Para arrumar o cabelo eram usados perfumes, tinturas ou penteados com tranças. O objetivo de Jezabel era parecer atraente em todos os sentidos: física, social e politicamente. O tema de uma m ulher olhando pela janela era bastante comum, sendo re­presentado artisticamente em entalhes de marfim en­contrados em N inrode, Sam aria e Arslan Tash (em que a m ulher está adornada com um a peruca egíp­cia). Na literatura, a m ulher é descrita contemplando o horizonte à espera de notícias do m arido ou do filho que teriam partido para a guerra (ver o comentário

em Jz 5.28), porém nas imagens entalhadas em m ar­fim a m ulher é vista como prostituta, talvez relaciona­da à adoração a Astarte. Talvez seja uma advertência sutil relacionada a Astarte e ao culto pagão promovi­do por Jezabel (observe a acusação de Jeú faz contra ela no v. 22).

9.30. o palácio de Jezreel. O palácio de Jezreel foi escavado no começo de 1990. U m a área retangular cobria cerca de oruze acres, cercada por um muro de casamata com torres nos cantos. O portão do palácio tinha seis câmaras, e ao redor havia um fosso e ram ­pas de barro. O fosso era escavado até a rocha chegan­do a ter nove metros de largura e, em alguns pontos, quase seis metros de profundidade. Os fossos na Pa­lestina não continham água e provavelm ente eram usados para evitar que se cavassem túneis debaixo dos m uros da cidade. Jezreel ficava a aproxim ada­mente 37 quilômetros de Samaria.9.31. Jeú é chamado de "Z in ri". A dinastia de Onri, a qual p ertenciam A cabe e Jezabel, havia tom ado o poder do usurpador Zinri (ver 1 Rs 16). Ao aludir a esse incidente, talvez Jezabel estivesse alertando Jeú que seu golpe não garantia que ele assumiria o trono, m as sim que provavelmente seria deposto. Sua per­gunta (Como vai, assassino de seu senhor?) insinua que a destruição da casa de Acabe não trará paz e sossego nem a ele nem ao país. A alternativa seria aliar-se a ela e assim tirar vantagem da continuidade. Se o objetivo de Jezabel ao m aquiar-se era apresentar-

se sedutora, talvez ela estivesse sugerindo que ele tomasse o harém do antigo rei e assim estabelecesse sua legitim idade (a respeito dessa prática, ver o co­mentário em 2 Sm 3.7). A perda do harém para um p re ten d en te ao tro n o é d e scr ita n o s a n a is de Senaqueribe como um sinal de deposição.9.32. o ficiais (eunucos). É provável que os oficiais que estavam junto de Jezabel fossem eunucos, responsá­veis por cuidar e supervisionar o harém real. Por serem castrados, eles não representavam am eaça às mulheres do harém e não podiam ter filhos com elas, evitando assim que filhos ilegítimos fossem conside­rados herdeiros do trono. É im portante notar que a palavra hebraica usada aqui não é restrita a eunucos- alguns estudiosos acreditam tratar-se de um termo m ais abrangente relacionado a oficiais adm inistrati­vos. Neste contexto, porém, é lógico supor que a rai­nha estivesse acompanhada pelos guardiães do harém.9.36. devorada por cães. Entre os assírios (especial­mente com Assurbanipal) havia o costume de aban­donar os cadáveres nas ruas para serem devorados pelos cães (e tam bém por porcos, chacais e aves). Em alguns casos, os corpos eram esquartejados e seus pe­daços oferecidos como alimento para os cães. O objeti­vo dessa atrocidade era elim inar qualquer possibili­dade de um enterro adequado condenando assim o espírito da pessoa a ficar vagando em vez de usufruir de uma vida tranqüila no além. H á tam bém um texto acadiano, da coleção de encantamentos de Maqlu, que roga uma maldição a uma bruxa (ver v. 22) para que os cães a despedacem. Para mais informações, ver o comentário em 1 Reis 16.4.10.1. Jezreel. Ver o comentário em 9.14-16.10.6. elim inação dos descendentes. Se os parentes do rei deposto e assassinado permanecessem vivos, have­ria grande possibilidade de um a guerra civil. Os pa­rentes leais aos laços de sangue vingariam a morte do rei e com certeza encontrariam outros que apoiariam suas reivindicações ao trono. A eliminação completa da família dos governantes depostos era uma prática comum em Israel e no antigo Oriente Próximo.10 .7 ,8 . cabeças am ontoadas. Os assírios costumavam empilhar as cabeças dos inimigos mortos nas batalhas ou dos criminosos acusados de rebelião. As cabeças eram amontoadas fora dos portões da cidade, como um aviso aos seus habitantes de que qualquer rebe­lião seria tratada com severidade.

10.11. execução com pleta. O termo traduzido como "am igos pessoais" é uma expressão usada em docu­mentos acadianos e ugaríticos para descrever aqueles que desfrutavam da proteção da corte. Era um grupo que dependia dos favores reais e que gozava de pri­vilégios na corte; provavelmente não eram israelitas.

Além da família de Acabe, funcionários do governo e sacerdotes tam bém foram executados.10.12. Bete-Equede dos Pastores. Localizava-se pro­vavelmente ao longo da rota de 48 quilômetros entre Jezreel e Samaria, mas ainda não foi identificada com segurança. No caso de indicar um lugar onde os pas­

tores se reuniam ou ajuntavam seus rebanhos, a loca­lização lógica seria nas proximidades da planície de

Dotã.10.12-14. tratam ento dado aos parentes de Acazias.Visto que Jorão, rei de Israel era tio de Acazias, rei de Judá, todos esses parentes de Acazias tinham ao me­nos um vínculo indireto com a linhagem de Acabe. Isso foi suficiente para sentenciá-los à morte. No local em que os pastores se reuniam geralmente havia um poço ou cisterna. Foi num a cisterna como essa que os irm ãos de José o lançaram , em algum lugar nessa mesma região de Dotã.10.15. aliança com Jonadabe. Jonadabe era o líder dos recabitas, um clã pouco conhecido de Israel e que, aparentem ente, adotava um estilo de vida ascético. Ficaram famosos por seu compromisso com uma vida seminômade (talvez por causa de sua vocação como artesãos itinerantes) e pelo conservadorismo religioso (ver a referência a eles em Jr 35, dois séculos m ais tarde).

10.18-27Eliminação do culto a Baal10.19. grande sacrifício a Baal. Quando um novo rei assumia o trono, fazia parte do seu discurso firm ar o compromisso de que seria m ais devotado aos deuses locais ou nacionais do que seu antecessor. Geralmente isso incluía reparar, restabelecer, am pliar ou adornar o santuário. Essa estratégia visava conquistar o apoio dos sacerdotes e da população devota e tam bém a aprovação divina ao novo reinado. Era politicamente correto que o rei assumisse seu lugar como patrono real e principal defensor da divindade local. E pos­sível que Jeú estivesse convocando para um a cele­bração de entronização na qual ele assumiria o trono com o vassalo de Baal, que ao m esm o tem po seria reconhecido como rei dos deuses. N ão estar presente a um evento como esse poderia facilmente ser conside­rado como traição.10.21. tem plo de Baal em Sam aria. Escavações arque­ológicas em Sam aria ainda não revelaram nenhum vestígio do templo de Baal construído por Acabe. Al­guns sugerem que esse templo contribuiu para o con­ceito promovido por Acabe e Jezabel de que a cidade era a m orada sagrada de Baal. Isso significa que a cidade era um a espécie de unidade política indepen­dente, assim como Sião, no sul. Portanto, mesmo de­

pois de Jeú ter se tom ado rei de Israel e a linhagem de

Acabe ter sido totalm ente elim inada, o controle de Samaria, especialmente do complexo do templo, pre­

cisava ser tratado separadamente.10.22. encarregados das vestes cultuais. Esses mantos

seriam vestes cultuais para a adoração a Baal (ver Sf

I.8). É provável que o uso de vestes sagradas e a oca­sião específica im pedissem o porte de qualquer arma

- um a vantagem considerável para os homens de Jeú.

10.26. coluna sagrada. Nos santuários cananeus, mui­tas vezes havia colunas sagradas no lugar de ima­

gens. Essas colunas de modo geral eram simples, mas

ocasionalmente a figura da divindade era entalhada

em relevo na face da pedra.10.27. usado com o la trin a. Era com um no m undo

antigo reconstruir um templo no local onde anterior­mente havia existido outro templo, pois se acreditava

que o local fora escolhido pelo deus, portanto era solo

sagrado. Ao transformar o local do templo de Baal em um a latrina (ou talvez num a área de despejo de lixo),

Jeú estava garantindo que naquele lugar nunca mais seria construído um templo. Essa m edida lim itava

bastante qualquer possibilidade do ressurgimento do

culto oficial a Baal em Samaria.

10.28-36 Jeú, rei de Israel10.32. as ações de Hazael contra Israel. Nenhum de­talhe militar é oferecido aqui, mas o texto descreve a

perda de toda a região da Transjordânia para Hazael.

Depois de 838, os assírios ficaram ausentes do oeste por diversas décadas e isso permitiu que os arameus

construíssem seu próprio im pério. Essa situação se

manteve durante o reinado do sucessor de Jeú, Jeoacaz (ver os comentários em 2 Rs 12, 13).

10.34. Jeú nos registros assírios. O tributo pago por

Jeú a Salmaneser III logo após sua ascensão ao trono de Israel sugere que ele recebeu apoio não apenas do

religioso partido conservador, m as tam bém da facção pró-assíria do governo (ver o com entário em 9.14).

Para esse grupo, cansado das guerras ininterruptas, a

ruptura das coalizões ocidentais levaria inevitavel­mente à derrota pelos assírios. Jeú é retratado prostra­

do, de m odo pouco lisonjeiro , na Esteia N egra de Salm aneser que relata o tributo pago por ele ao rei

assírio, em 841. Esse tributo consistia em objetos de

prata e ouro e alguns dardos.

I I .1-21 AtaliaPara informações sobre esse trecho, ver os comentári­os em 2 Crônicas 22, 23.

12.1-21Joás, rei de JudáPara informações sobre esse trecho, ver os comentári­

os em 2 Crônicas 24.

13.1-9 Jeoacaz, rei de Israel13.1. cronologia. De acordo com Thiele, Jeoacaz tor­

nou-se rei de Israel em 814 a.C., no vigésimo terceiro

ano de Joás, rei de Judá, e reinou até 798 a.C.. Duran­te esse período, os assírios concentraram seus interes­

ses em outras regiões. Como resultado, os arameus, governados por Hazael, tentaram ampliar seu contro­

le na área.

13.3. o dom ínio de H azael sobre Israel. Hazael rei­

nou em Aram -Dam asco por volta de 842-800. Além dos registros bíblicos, sua existência é atestada num

fragmento de m arfim de Arslan Tash, na Síria, e num

cilindro lacrado de A ssur, um a cidade assíria. Os

assírios afirmavam ter saqueado Hazael. O rei arameu lutou contra Salmaneser III, o rei assírio, em 841 e foi

derrotado, embora os assírios não tenham obtido êxito

em conquistar Damasco, a principal cidade de Hazael. A ameaça assíria diminuiu após 836, e Hazael pôde então concentrar sua atenção sobre Israel e a Filístia.

13.5. libertador para Israel. O "libertador" (palavra

que se origina do mesmo radical hebraico para Messi­as) não é citado pelo nome. A expressão remete aos

libertadores do período dos juizes. Talvez fosse um

governante vizinho, como Zakur, rei de Hamate, ou

Adad-Nirari III, rei da Assíria, ambos poderosos nes­sa época. Até mesmo Joás, rei de Judá tem sido suge­

rido como um a possibilidade.

13.6. poste sagrado. U m a característica comum entre o culto cananeu e o culto *sincretista de Israel, eram os

postes-ídolos, presentes tanto nos altares e lugares altos, como nos santuários urbanos. Não é possível afirm ar com certeza se seriam sim plesm ente postes

de m adeira sim bolizando árvores, talvez contendo

uma imagem entalhada da deusa da *fertilidade, ou se faziam parte de um bosque sagrado. A referência

em 17.10 a postes sagrados erguidos debaixo de "toda árvore frondosa" parece indicar que, de fato, tratava-

se de postes de madeira erguidos com objetivos C ul­tuais e não árvores. Por ser a consorte de *E1, Aserá evidentemente era um a deusa popular, cujo culto é

mencionado em textos *ugaríticos (1600-1200 a.C.). O

culto a adoração a Aserá continuou a ocupar um lugar proem inente na Fenícia do prim eiro m ilênio a.C.,

quando presumivelmente foi introduzido em Israel, durante a dinastia de Onri e de Acabe. O destaque

que recebe na narrativa bíblica é um indício claro de

que o culto a Aserá fazia forte concorrência ao culto a

Yahweh. Para m ais informações, ver os comentários em Êxodo 34.13 e Juizes 6.25.

13.10-25 Jeoás, rei de Israel13.10. cronologia. De acordo com os cálculos de Thiele, Jeoás, filho de Jeoacaz, começou a reinar em 798 a. C. (o trigésimo sétimo ano de Joás, rei de Judá) e gover­

nou por dezesseis anos (até 782). Durante esse perío­do, os assírios se tom aram m ais poderosos e sua influ­

ência no ocidente manteve os arameus ocupados (ver o comentário em 13.22-25). Jeoás é mencionado nomi­

nalmente nas inscrições do rei assírio Adad-Nirari III (810-783).

13.14. carros e cavaleiros de Israel. Essa expressão, tam bém encontrada em 2 Reis 2.12, aparentem ente

era um ditado bastante popular durante o período das guerras contra os aram eus. E liseu tinha um papel

ativo nas questões militares de Israel, atuando como

mediador da participação de Yahw eh nas guerras de Israel. De acordo com a m itologia dessa época, certas

divindades atuavam como cocheiros, conduzindo o

guerreiro divino para a batalha (ver comentário em 2.11). Essa expressão pode significar o reconhecimen­

to do papel de Eliseu em relação à divindade - quan­

do ele ia para a guerra, Yahw eh ia com ele.

13.15-19. sim bolism o da flecha. Embora os atos rea­lizados por Eliseu tenham a aparência de fenôm e­

nos m ágicos não-israelitas, sem referência explícita ao Deus de Israel, eles são uma manifestação da von­

tade divina. Esse ritual específico, aparentemente uma imitação das práticas de adivinhação através de fle­

chas, não é confirm ado em fontes m esopotâm icas,

apesar de vários rituais de magia incluírem arcos e flechas.

13.22-25. em bates com a S íria . O texto bíblico aqui

coincide com as fontes assírias. Durante o reinado do

rei assírio Shamshi-Adade IV (824-811 a.C.) os assírios

se concentraram em campanhas militares na Babilônia,

desconsiderando o ocidente. Por isso, os Estados ara­m eus conseguiram expandir seu espaço. Por volta do

reinado de Adade-Nirari E I (811-783), os assírios des­locaram m ais um a vez seu foco de atenção para o

ocid en te . Inú m eras in scrições com em orativas de

Adade-Nirari descrevem a derrota de Damasco e de

Arpad (outros poderosos Estados arameus) e o recolhi­mento de tributos. U m a esteia de Tell al-Rimah regis­

tra Jeoás pagando tributos aos assírios. Assim , D a­masco foi enfraquecida pela Assíria a ponto de permi­tir a libertação de Israel, que por sua vez, tom ou-se

dependente da Assíria.

14.1-22 Amazias, rei de JudáPara informações sobre esse trecho, ver os comentári­os em 2 Crônicas 25.

14.23-29 Jeroboão, rei de Israel14.23. cronologia. Jeroboão II tom ou-se rei de Israel em 782, segundo a cronologia de Thiele. Talvez tenha ocupado anteriorm ente (793) o cargo de co-regente junto com seu pai Jeoás durante onze anos, que foram contados como parte de seu reinado também. Duran­te esse período, Israel perm aneceu livre de ameaças tanto da Síria quanto da Assíria, o que lhe garantiu certa prosperidade e expansão e relativa segurança.14.25. restabelecim ento das fronteiras. Israel voltou a expandir seu território restabelecendo os limites da época do reinado de Salomão. Lebo-Hamate (moder­n a Lebw eh [Ematu, nos textos de Ebla; Lab'u , nas fontes assírias]), local de uma das nascentes do Orontes, ficava no norte de Baqa', no Líbano, 72 quilômetros ao norte de Damasco. Essa área representava a fron­teira sul da terra de Ham ate e, conseqüentemente a fronteira norte de Canaã, designando a extremidade norte do im pério. Esse nom e aparece nas listas de cidades do rei egípcio Tutm és III (século quinze a.C.) e nos anais de Tiglate-Pileser III, rei da Assíria (oitavo século a.C.). O mar da Arabá (ou vale de Arabá, Am6.14), hoje chamado de m ar Morto, era a fronteira sul do reino.14.25. Gate-H éfer. Gate-Héfer é mencionada apenas aqui como sendo a terra de Jonas. Foi identificada como el-Meshed, um a localidade poucos quilômetros a nordeste de Nazaré.14.27. profecia pré-clássica. No início da monarquia a função principal dos profetas era dirigir-se ao rei e à corte, papel bastante sem elhante ao desem penhado pelos profetas de outras regiões do antigo O riente Próximo. Os profetas desse período foram classifica­dos como "pré-clássicos". A partir do oitavo século, porém, cada vez mais os profetas voltavam sua aten­ção para o povo e exerciam influência nas áreas social

e espiritual. Essa atividade foi prontamente identificada com a instituição profética; esses profetas e seus escri­tos proféticos são chamados de profetas clássicos. A furvção desses profetas não era tanto predizer o futuro, mas alertar quanto aos planos e ações de Deus. Nesse contexto, Jonas desempenha o papel de profeta pré- clássico, em bora o Livro de Jonas siga um m odelo mais ao estilo clássico em desenvolvimento na época. Para mais informações sobre profecias no antigo Ori­ente Próxim o, ver o com entário em Deuteronôm io18.14-22.

14.27. apagar. O termo " apagar" origina-se da im a­gem de lavar um rolo de papiro para poder usá-lo novam ente, um costum e tipicam ente egípcio. Além do mais, na Mesopotâmia o ato de apagar o nome de um ancestral de um registro enfurecia os deuses. Em vez de apagar (i.e., destruir) o nome de Israel, Yahweh prom ete libertá-los.14.28. D am asco, H am ate, Iaudi. Damasco e Hamate eram im portantes cidades dos aram eus (para mais inform ações, ver os comentários em 2 Sm 8). Iaudi, porém , é m ais difícil de ser identificada. Provavel­mente trata-se da Iaudi de fontes assírias normalmen­te identificada com Judá. A A ssíria não estava em condições de opor-se à expansão israelita no período de 773 a 745 a.C., durante o reinado de Jeroboão.

15.1-7 Azarias (Uzias), rei de JudáPara informações a respeito desse trecho, ver os co­mentários em 2 Crônicas 26.

15.8-12 Zacarias, rei de Israel15.8. cronologia. O breve reinado de Zacarias ocor­reu no ano de 753 a.C.. Foi contemporâneo de Azarias (Uzias), rei de Judá (c. 792-740 a.C.).

15.13-16 Salum, rei de Israel15.13. cronologia. Salum sucedeu Zacarias em 752 a.C. e reinou apenas por um mês. Azarias ainda ocu­pava o trono de Judá.15.16. Tirza. Tirza era o local da residência real de Jero­boão I. Provavelm ente tom ou-se a capital do reino do norte na época de Baasa e permaneceu como capital até O nri transferi-la para Sam aria. Tirza foi identificada com o T ell el-Farah, onze quilôm etros a nordeste de Siquém na estrada para Bete-Seã. Era favorecida por estar localizada em um terreno elevado, possuir um abastecimento abundante de água (duas fontes que ali­m en tav am o v ale de Farah) e ocupar um a posição estratégica na rota comercial, além de ter acesso direto aos vaus do rio Jordão em Adão. Vestígios da Idade do Bronze M édia indicam que o portão e as fortificações foram reconstruídos e há evidência de um plano cen­tral na construção de novas casas em toda a cidade. Sua im portância política tam bém pode ser inferida a par­tir de sua menção na lista de conquistas de Sisaque, du­rante a invasão da Palestina.15.16. T ifsa . Tifsa (ou Tapuá) posteriormente pode ter sido chamada de Tapsacus, na Síria, um a cidade na curva ao norte do rio Eufrates. O nome Tapsacus só é confirmado a partir do quarto século a.C. pelo escritor

grego Xenofonte. A cidade de Tifsa também é men­cionada como uma das cidades de Salomão (1 Rs 4.24). A distância de Tifsa a Israel mostra que M enaém exer­ceu grande influência durante o período do declínio assírio.15.16. tratam ento dado a m ulheres grávidas. O atode rasgar ao meio as mulheres grávidas é menciona­do muito raramente. Essa prática foi atribuída ao rei assírio Tiglate-Pileser I (por volta de 1100) em um hino de louvor às suas conquistas. Também é citada de passagem num lamento neobabilônico.

15.17-22 Menaém, rei de Israel15.17. cronologia . D e acordo com Thiele, M enaém reinou no período de 752 a 742 a.C.. Como os três reis israelitas anteriores, ele foi contemporâneo de Azarias, rei de Judá. Seu reinado sobrepõe-se ao início do im­pério neo-assírio, sob Tiglate-Pileser III.15.17-22. M enaém em inscrições assírias. M enaém é mencionado, juntam ente com outros reis do Levante, nos anais assírios, como pagador de pesados tributos a Tiglate-Pileser III (também conhecido como Pul ou Pulu). Ele tam bém é citado na esteia assíria encontra­da recentem ente no Irã. A lista de tributos incluía prata, ouro, estanho, ferro, peles de elefante, marfim, vestes de púrpura azuis e vermelhas, vestes de linho e camelos. Supõe-se que M enaém não teria enviado todos esses itens, mas apenas um a parte deles.

15.23-26 Pecaías, rei de Israel15.23. cron ologia . Pecaías, filho de M enaém , assu­m iu o trono de Israel em 742 a.C. e reinou por dois anos. Azarias ainda era o m onarca de Judá.15.25. cidadela do palácio real. Esse termo também é encontrado em Isaías 13.22, com o significado de "p a­lácios de delícias". Lá o contexto parece referir-se a um a estrutura específica dentro do complexo do palá­cio. Os reis assírios construíam enorm es complexos palacianos muitas vezes chamados de "fortalezas do re i", que serviam como uma área de defesa no interi­or da cidade, caso os m uros fossem derrubados ou surgissem revoltas internas.

15.27-31 Peca, rei de Israel15.27. cronologia. O texto afirma que no último ano de Azarias, rei de Judá, Peca tom ou-se rei de Israel, permanecendo no trono por vinte anos. Thiele situa seu reinado de 752 a 732 a.C., tornando-o assim, con­temporâneo de M enaém e, por um curto período, de Pecaías. Se esses dados estiverem corretos, então ha­

via m ais de um a pessoa usando o título de monarca em Israel nesse período, o que seria coerente com o tum ulto descrito pelo(s) escritor(es) de 2 Reis. O(s) escritor(es) de 2 Reis podem ter datado o reinado de Peca a partir do estabelecimento de um reino separa­do, a leste do Jordão. Ainda não foi possível decifrar esse emaranhado de dados.15.25-31. Peca e as cam panhas assírias. Peca é menci­onado nos anais assírios de Tiglate-Pileser III como Paca. O rei assírio declarou que quando os israelitas d epuseram Peca, T ig la te-P ileser o su bstitu iu por Oséias, o últim o rei de Israel (732 a.C.). Depois disso, os assírios exigiram pesados tributos de Israel. Peca também é citado num fragmento de jarro de Hazor, que sim plesm en te reg istra , "v in h o p ertencente a Peca".

16.1-20 Acaz, rei de JudáPara informações relacionadas aos versículos 1-9, ver os comentários em 2 Crônicas 28.16.10. Acaz e T ig late-P ileser em D am asco. Esse en­contro aconteceu depois da queda de Dam asco em 732. Esperava-se que Acaz, como leal vassalo, estives­se ali presente para reafirmar sua submissão e partici­par da celebração pela vitória do rei assírio.16.10. o altar de D amasco. A construção de uma cópia desse altar deve-se m ais ao fato de Acaz ter ficado impressionado e não a uma imposição assíria. Consi­derando o modo de agir dos assírios nesse período, parece que eles não forçavam seus vassalos a adotar o culto a Assur, seu deus principal. Portanto, essa atitu­de de Acaz deve ser interpretada como um interesse artístico e não como sincretismo religioso. Não foram encontrados indícios arqueológicos ou textuais que ofereçam um a descrição detalhada das características desse altar.16.14. altar de bronze. Ver o comentário em 2 Crô­nicas 4.1. Trata-se do altar principal do pátio, usado para o sacrifício de animais.16.14. m udança na posição dos altares. O altar de bronze foi colocado na parte leste do templo, ou seja, à frente da entrada. O novo altar de Acaz foi inicial­m ente colocado entre a entrada para o pátio e o altar de bronze, m as depois se tornou o altar principal, uma vez que o altar de bronze foi transferido do eixo leste-oeste para um lugar ao norte do novo altar. Por­tanto, o novo altar substituiu efetivamente o altar de bronze.16.15. divisão das funções. Os rituais realizados so­bre o novo altar eram tipicamente israelitas. N ão ocor­reu nenhuma inovação nos cultos de adoração, nem ritos estrangeiros foram incorporados à prática israelita. O novo altar assum iu todas as funções do sistem a

sacrificial, restando apenas um a função para o altar de bronze, que não é descrita na literatura ritual israelita. O verbo usado (NVI "bu scar orientação") significa examinar ou inspecionar e pode sugerir sacrifícios em que as vísceras dos anim ais eram exam inadas para obter presságios. Não fica claro por que Acaz reser­vou essa função ao altar tradicional.16.17. tributos. A atividade descrita aqui é parte do processo da coleta de tributos. As pias usadas para transportar água do lavatório principal ficavam em estrados com rodas. Objetos sem elhantes foram en­contrados em Chipre datando da época de Salomão. Os touros de bronze que sustentavam o tanque (ver 2 Cr 4.2-5) teriam de ser retirados para somar-se à cota de bronze exigida pelo pagam ento de tributos. No nono século, o rei assírio Assumasirpal recebeu tou­ros de bronze como parte do pagamento de tributos.16.18. a ju stes por causa do rei da A ssíria. É difícil afirm ar com certeza se essas providências descritas foram tomadas com o propósito de ajuntar um tributo adicional para os assírios ou se refletem m udanças que destacariam e confirmariam a submissão de Acaz à suserania assíria. Os termos arquitetônicos usados são desconhecidos.

17.1-6 Oséias, rei de Israel17.1. cron olog ia . O séias tornou-se rei em 732 a.C. como resultado da destruição de grande parte do rei­no do norte promovida pelos assírios. O sincronismo entre os reinos do norte e do sul durante esse período é bastante com plexo e não há soluções fáceis. G e­ralm ente supõe-se que existiam diversas co-regên- cias, o que causaria essa aparente confusão. O rei assírio Tiglate-Pileser III afirma em seus anais ter colo­cado Oséias no trono de Judá.17.4. relações entre O séias e a A ssíria. Por causa do restabelecim en to do pod erio eg ípcio no L evante, Oséias achou melhor negociar com o Egito a fim de libertar-se do domínio assírio. O rei egípcio Sô não foi identificado, m as é bem provável tratar-se de Osor- kon IV, que governou na região leste do delta do Egito (Tânis, Bubastis) de 730 a 715 a.C.. Entretanto, o apelo de Oséias ao Egito não teve êxito. Não se sabe ao certo quando Oséias foi aprisionado pelos assírios (ou deportado). O s registros do breve reinado de Salmaneser V (governou de 727-722) são relativamen­te escassos. Sargon II (governou de 721-705) m encio­nou os samaritanos (i. e., os israelitas), m as não um rei, sugerindo que o rei já teria sido deportado.17.5, 6. a queda de Sam aria. Fontes assírias descre­vem a "devastação" ocorrida em Samaria (c. 724-721), que possivelmente atingiu não só a cidade, mas toda a região. Algumas evidências arqueológicas dessa des­

truição foram encontradas na cidade israelita de Si- quém. Isso estaria de acordo com a estratégia normal­mente empregada pelos assírios de assolar o território de um a determ inada nação e em seguida cercar a cidade principal, impedindo o acesso a suas reservas. Tanto Senaqueribe quanto Nabucodonosor II empre­garam essa política contra Jerusalém. O fato de o cerco de Sam aria ter durado três anos, apesar de os assírios serem especialistas nesse tipo de estratégia, demons­tra que a cidade era bastante fortificada. A cidade sucum biu em 722-721. Em bora na B íblia o crédito pela conquista de Sam aria seja atribuído a SalmaneserIII, seu sucessor Sargon II reivindicou-o para si nos anais assírios. Sargon também afirmou ter reconstruído a cidade.17.6. política de deportação. N essa época, a política assíria de deportação estava em vigor há aproximada­mente quatro séculos. Sargon afirmou ter deportado 27.290 pessoas de Samaria. O registro não esclarece se seriam todos homens e se vieram de toda a terra de Samaria ou apenas da cidade principal. O rei assírio afirm ou ter tom ado hom ens em núm ero suficiente para form ar um regim ento de cinqüenta carros de guerra. Os assírios também tinham uma política de repovoar os territórios conquistados com outros povos derrotados (embora Tiglate-Pileser parece ter deixado essa prática de lado ao não transferir pessoas para a G aliléia em 733). Sargon afirm ou ter repovoado a cidade de Samaria com outros deportados. A deporta­ção tinha como objetivo.tirar dos povos conquistados qualquer possibilidade de se unirem para tentar se defender. Sem terra e sem nação, a identidade étnica ficaria comprometida (através da imposição cultural e da miscigenação), deixando-os sem uma identidade para defender e pela qual lutar.

17.7-41O pecado de Israel e suas conseqüências17.9. altares idólatras. A imagem retratada na narra­tiva bíblica é que, antes da construção do templo em

Jerusalém, os sacrifícios e rituais religiosos geralmen­te eram oferecidos nos santuários locais ou bamoth. Estes santuários foram construídos com esse propósito e na maioria dos casos era permitido entrar e prestar culto à divindade (ver o comentário em 1 Sm 9.12,13). Muitos desses santuários estavam localizados em áre­as urbanas, m as isso não exclui a existência de santu­ários fora dos muros da cidade ou próximo às colinas. Nada se sabe a respeito da aparência dessas constru­ções ou dos móveis e objetos utilizados, mas o grande núm ero de referências a esses locais de sacrifício suge­re que alguns santuários eram construções esm era­das. Com o passar do tempo, a m onarquia e os líderes religiosos de Jerusalém tentaram suprimir o uso desse tipo de san tu ário a fim de en fatizar o tem plo de Salom ão com o o "lo ca l que o Senhor, o seu D eus, escolheu" e tam bém para elim inar o crescente sin- cretismo religioso em Israel. Inform ações adicionais sobre esses altares podem ser encontradas nos comen­tários de Deuteronômio 12.2, 3.17.10. colunas sagradas. Colunas sagradas ou mas- seboth eram ap aren tem en te com u n s n a re lig ião Cananéia. Em Israel, colunas desse tipo eram ergui­das para celebrar algum acontecim ento e tam bém servir como m em orial em contextos relacionados à *aliança (ver Êx 24.3-8; Js 24.25-27). Esses m onum en­tos estavam associados a *Aserá, *Baal e outras d i­vindades cananéias e por esse motivo foram conde­n ad os e con sid erad os um a am eaça à ad oração a *Yahw eh. Arqueólogos descobriram colunas sagra­das em Gezer, Dã, Hazor e Arade. Nas duas últimas, as colunas estavam no interior de recintos sagrados onde faziam parte das práticas *cultuais. As colunas encontradas em Hazor contêm relevos de figuras com braços levantados e um disco solar. As pedras de Dã encontram-se na entrada do santuário, onde também foram encontrados vestígios claros de ofertas votivas.17.10. postes sagrados. Um a característica comum do culto cananeu e do culto *sincretista de Israel eram os postes-ídolos, presentes tanto nos altares e lugares

AS CAMPANHAS DE TIGLATE-PILESER III NO OCIDENTE, 734-732Desde o início de seu reinado (por volta de 743) Tiglate-Pileser interferiu grandemente na Síria com a finalidade de controlar as rotas comerciais dessa região economicamente estratégica. Por volta de 738 ele havia arrecadado tributos da maior parte das cidades da região (incluindo Damasco, cidades portuárias e Samaria). Nos anos seguintes ele voltou sua atenção para Urartu (na região do lago Van, ao norte) e em 735 já dominava aquela região. Em 734, deu início ao que ficou conhecido como a segunda campanha do ocidente, com o objetivo inicial de demonstrar seu controle sobre a região (especialmente das rotas comerciais) e coletar tributos. O itinerário da campanha o levou da estrada do Grande Tronco até Gaza. Não há registro de oposição por parte de nenhum rei da época. Em 733, os exércitos assírios retornaram à região, tendo como alvo principal a cidade de Damasco. Apesar de os arameus terem sofrido terríveis perdas, Damasco resistiu a um cerco de 45 dias conduzido pelos assírios. Nessa campanha, Tiglate-Pileser alcançou a região de Israel, anexando amplas áreas de seu território e transformando-as em províncias assírias. As cidades fortificadas, como Hazor e Megido, foram destruídas, e mais de 13 mil israelitas foram deportados; como não foram enviados outros habitantes para repovoar a área, a população da baixa Galiléia permaneceu reduzida por diversas gerações. A última fase da campanha em 732 resultou na queda de Damasco e sua posterior anexação. Em Israel, Peca foi executado e substituído por Oséias, um rei favorável aos assírios.

altos, como nos santuários na cidade. Não se pode afirm ar com certeza se seriam sim plesm ente postes de m adeira sim bolizando árvores, talvez contendo uma imagem entalhada da deusa da *fertilidade, ou se faziam parte de um bosque sagrado. A referência aqui de que esses postes sagrados eram erguidos de­baixo de "toda árvore frondosa" parece indicar que, de fato, tratava-se de postes de m adeira erguidos com objetivos *cultuais, e não árvores. Por ser a consorte de *E1, Aserá evidentemente era uma deusa popular, cujo culto é mencionado em textos *ugaríticos (1600­1200 a.C .). O destaque que a narrativa bíblica lhe concede é um indício claro de que a adoração a Aserá rivalizava fortem ente com a de Yahweh. Ilustrações em selos encontrados em escavações na Palestina, datados da Idade do Ferro, m ostram Aserá como uma árvore estilizada. Para m ais inform ações, ver o co­mentário em Êxodo 34.13 e Juizes 6.25.17.11. queim ar incenso como ritual pagão. N o mun­do antigo, o incenso era usado de diversas formas e em várias situações. Os fenícios usavam incenso para preparar o corpo do rei depois da morte. Em uma inscrição de Biblos, um rei descreve a si mesmo dei­tado sobre incenso. Também era usado nos rituais de culto aos mortos na Ugarit cananéia. Na Mesopotâmia, o incenso era usado nas ofertas dedicadas e propicia­tórias. As pessoas da época acreditavam que o incenso ajudaria a levar as orações até a divindade, que se agradaria do perfum e exalado pelo incenso. Todas essas práticas eram condenadas pelos escritores das Escrituras.17 .16 ,17 . práticas inaceitáveis. As imagens fundidas de bezerros ou touros eram elementos característicos do culto cananeu. Foram encontradas imagens de be­zerros em diversas localidades dessa região (para mais informações, ver os comentários em 1 Rs 12.28). Incli­

nar-se perante os exércitos celestiais estava relacio­nado ao culto dedicado aos deuses celestiais (deus-sol, deus-lu a e V ênus p articu larm en te; n a B abilôn ia , Sham ás, Sin e Istar respectivam ente), costum e pre­sente na m aioria das relig iões antigas. Segundo a crença, esses deuses controlavam o calendário, o tem­po, as estações e o clima, portanto, eram considerados muito poderosos. Eles comunicavam presságios atra­vés de sinais e consideravam todos os demais despre­zíveis. O Zodíaco não era conhecido ainda nessa épo­ca. Para informações concernentes a Baal, ver os co­m entários em Juizes 2.11-13. H á poucas referências fora das Escrituras quanto a "queim ar filhos e filhas em sacrifício", m as foram encontradas evidências des­sa prática entre os assírios e os arameus (ver o comen­tário em D t 18.10). A divinhações e encantam entos tam bém eram bastante conhecidos na Mesopotâmia.

A adivinhação era usada para descobrir as atividades e motivações dos deuses, empregando para isso diver­sos indicadores (p. ex., as vísceras de animais sacrifi­cados). A s pesquisas arqueológicas dos últim os 150 anos revelaram m ilhares de presságios e feitiçarias.17.24. repovoam ento de Sam aria. Em bora o rei da Assíria não seja mencionado aqui, fontes assírias afir­m am que Sargon II reorganizou a área em 720 a.C.. Esses textos não citam quais os povos que foram de­portados para repovoar a Samaria, porém, algumas tribos árabes foram transportadas para essa região cinco anos após sua reorganização. A Babilônia estava sob o domínio assírio nessa época. Cuta é identificada com Tell Ibraim, 32 quilômetros a nordeste da Babi­lônia. Ava é identificada como a cidade de Aw a (Ama, em acadiano, Amatu, no leste da Babilônia). Ham ate era a principal cidade dos arameus, às m argens do rio Orontes, na Síria. Sefarvaim tem sido identificada com Sipirani, ao sul de Nipur, apesar de Sabarain, na Síria ser também um a possibilidade. De qualquer m anei­ra, a política assíria era deportar os povos das áreas conquistadas e repovoá-las com povos diferentes.17.25. leões enviados por deus. A nim ais selvagens eram considerados iim castigo enviado pelas divinda­des para punir o povo. Desde o épico de Gilgamés, na M esopotâm ia, o deus Ea repreendeu Enlil por não enviar leões para assolar as pessoas, em vez de usar algo tão drástico como uma enchente. Animais selva­gens, doenças, seca e fome eram alguns dos recursos usados pelos deuses para reduzir a população. Uma ameaça comum relacionada a maus agouros no perío­do assírio era que leões e lobos podiam devastar toda a terra. Do mesmo m odo, a devastação provocada por animais selvagens era um a das maldições invocada em violações de tratados (ver também D t 32.24).17.25-29. sincretism o na Sam aria. As inscrições assí­rias da época de Sargon II afirm am que os novos habitantes da região eram obrigados ao pagam ento de impostos como se fossem assírios. Além disso, re­ceberam instrução quanto à m aneira adequada de reverenciar a Deus e ao rei. A maioria dos povos da A ntigüidade acred itava que os deuses tinham ju ­risdição sobre áreas geográficas específicas. Assim, Yahw eh tinha controle sobre a Samaria, portanto de­veria ser adorado por seus habitantes. Entretanto, os novos m oradores haviam levado seus deuses, e de acordo com o pensam ento politeísta antigo, sem pre havia espaço para m ais um deus. Se um deus de­m onstrasse poder, seria perigoso não reconhecê-lo ou deixar de reverenciá-lo (ver comentário em Js 2.11). O objetivo de Sargon ao incentivar o sincretismo re­ligioso na região era enfraquecer o impacto das ten­dências nacionalistas.

17.30,31 . lista de deuses. Não há nenhuma menção a

Sucote-Benote nos registros mesopotâmicos. Benote tal­vez seja Banitu (form a fem inina para "o criador"),

termo usado muitas vezes para designar Istar. Nergal

era o deus mesopotâmio das pragas e do mundo infe­rior; seu local principal de culto era Cuta (32 quilôme­

tros a nordeste da Babilônia). Asim a aparece numa

inscrição de Teima, na Arábia, e também em alguns nomes próprios aramaicos, mas nada se sabe sobre a

divindade. Os aveus são identificados com a cidade

de Awa (Ama, em acadiano, Amatu, no leste da Babi­

lônia). Nibaz e Tartaque foram identificados com as divindades elamitas Ibnaaza e Dirtaque (Dacdadra).

Acredita-se que Adrameleque represente Adir-Mele- que. Adir é um título que significa "o poderoso" e é

aplicado tanto a Baal quanto a Yahweh. M eleque sig­

nifica "re i" e seria uma referência ao rei divino. Por

último, acredita-se que Anameleque represente a jun­ção da deusa cananéia Anat (ou seu consorte masculi­

no, An) com M eleque (um título com freqüência atri­buído à divindade sem ita ocidental Atar). Pouco se

sabe a respeito desses dois últim os deuses, m as al­

guns estudiosos os associam ao deus Moloque (ver os comentários em Lv 18.21; Dt 18.10).

18 .1 - 20.21Ezequias, rei de Judá18.1. cronologia. Ver os comentários em 2 Crônicas 29.

18.4. serpente de bronze, Neustã. Neustã não é men­cionada em nenhuma outra fonte além das Escrituras.

O term o ap arentem ente é um a fu são dos term os hebraicos para bronze (nehoshet) e serpente (náhash).

Figuras de serpentes confeccionadas em cobre ou bron­ze foram encontradas em inúm eras localidades do

antigo Oriente Próximo, provavelmente representan­do im agens cultuais. Im agens de divindades segu­

rando um a serpente eram bastante comuns. Este tipo de culto era praticado principalmente na região sírio-

palestina no final do segundo milênio e início do pri­

meiro m ilênio a.C.. Supõe-se que N eustã era um a divindade com poder de cura (especialmente de mor­

didas de cobras), considerada uma intermediária en­

tre Yahw eh e o povo de Israel (ver o comentário em N m 21.8, 9). Em um a fam osa tigela de bronze en­contrada em N ínive aparecem inscrições de nomes

hebraicos e também a figura de um a cobra com asas enrolada em um a espécie de bastão.

18.8. derrota dos filisteu s. Os portos filisteus estavam sob domínio assírio desde Tiglate-Pileser III (745-727

a.C.). Ezequias provavelm ente invadiu essa região em 705, depois da m orte de Sargon II, rei da Assíria,

durante um a batalha. Contando com a vulnerabili­

dade da Assíria, Ezequias comandou grupos de opo­

sição e iniciou um a rebelião explícita contra aquela poderosa nação visando enfraquecer o controle assírio

sobre as rotas comerciais para o Egito. O sucessor de

Sargon, Senaqueribe, porém, conseguiu estabelecer governos favoráveis à Assíria na Filístia.

18.11. lugares de deportação no norte. As áreas de deportação dos samaritanos não são exatamente co­

nhecidas. Haia era uma cidade e província a nordeste

de Nínive, onde Sargon construiu sua capital através do trabalho forçado dos prisioneiros, dentre os quais

se incluíam os israelitas, provavelmente. Habor (Habur)

era um grande afluente do rio Eufrates no leste da Síria. A área tinha uma grande população de arameus.

Gozã (Tell Halaf) era uma cidade próxima à nascente

do rio H abur e era a principal cidade da província

assíria de Bit Bahian. Nomes próprios israelitas foram

encontrados em documentos assírios de Gozã. Essas áreas sofreram uma diminuição da população devido

às freqüentes incursões assírias nos séculos anteriores.

N essa região, os deportados provavelm ente cuida­vam das terras do rei. As "cidades dos m edos" prova­

velmente eram regiões da Média, no noroeste do Irã,

controladas pela Assíria. As campanhas de Sargon na

Média são bem documentadas. As inscrições de Sargon relatam a repovoamento de cidades fortificadas como

Harhar e Quiessu com a chegada de deportados. Pro­

vavelm ente os israelitas deportados iriam servir em alguma força m ilitar na linha de frente.

18.14-16. o tr ib u to de E zequ ias. A s inscrições de

Senaqueribe declaram que Ezequias pagou trinta ta­

lentos de ouro (cerca de um a tonelada) e oitocentos talentos de prata (cerca de 25 toneladas). Os textos

assírios são mais detalhados, afirmando que Ezequias foi obrigado a enviar suas filhas, suas concubinas,

seus m úsicos, marfim, peles de elefantes e diversos outros objetos.18.17. os oficia is de Senaqueribe. Tartan, Rabsaris e

Rabsaque são citados em algumas traduções, porém a

NVI refere-se a eles como "general, oficial principal e comandante de cam po". A NVI está correta no sentido

de que esses termos são títulos (que aparecem com freqüência em textos assírios) e não nomes. O primei­

ro, Tartan (acadiano, turtan), ou "oficial de cam po" era o principal oficial militar. Ele representava o rei e às vezes o príncipe herdeiro da coroa. O segundo,

R ab saris (acad iano, rab sha resh i), ou "ch e fe dos eunucos", provavelmente era o representante de uma

divisão militar específica, como a guarda pessoal do

rei. O terceiro , Rabsaque (acadiano, rab shaqe), ou "copeiro-m or" aparentemente seria o governador da província.

18.17-37A ameaça de Senaqueribe a JerusalémP aia informações, ver os comentários em 2 Crônicas 32.19.2. Sebna, o secretário. Sebna foi um burocrata do alto escalão durante o reinado de Ezequias. Certa oca­sião, ele foi um "assessor real", desempenhando uma função incerta. O cargo de assessor real provavelmen­te era a m ais alta função civil na administração, com evidências de documentos tanto do próprio texto como também em selos oficiais e bulas (ver a nota de rodapé em Jr 32). Sebna mais tarde foi removido desse cargo e tornou-se um escriba ou secretário (provavelmente por causa de algum escândalo). Foi encontrada uma tumba perto de Jerusalém com um fragmento de nome próprio (com Yahw eh no sufixo) e o título de assessor real. Alguns acreditam tratar-se da tumba de Sebna, mencionada em Isaías 22.15, 16.19.8. Senaqueribe contra Libna. Libna ficava na Sefelá ju d a ica , treze qu ilôm etros a n o rd e ste da c id ad e fortificada de Láquis, podendo ser identificada como Khirbet Tell el-Beida ou Tell Bom at (oito quilômetros em direção ao oeste). Localizada estrategicamente perto da passagem de Zeita, servia de guarda para o me­lhor caminho para Hebrom, vindo da costa. Os anais assírios d escrev em o cerco de G ate e A zeca por Senaqueribe e relevos de parede em Nínive retratam o cerco de Láquis. Libna situava-se nos arredores des­sas cidades, revelando que o m onarca assírio lenta­m ente se m ovia em direção ao seu verdadeiro propó­sito, Jerusalém.19.9. Tiraca. Tiraca (nubiano: Taarca) foi um rei etíope

(em hebraico, cuxita) que governou o Egito durante a Vigésima Quinta Dinastia (reinou de 690 a 664 a.C.). Acerca da identificação geográfica de Cuxe, ver o co­mentário em Núm eros 12.1. Em bora não exista ne­nhuma evidência fora da Bíblia, o título bíblico "rei de Cuxe" pode ter sido atribuído a ele enquanto ain­da era um príncipe. D urante seu governo realizou muitas obras, restaurando os templos e os muros das cidades de Mênfis (sua residência real), Tebas e Napata, deixando inúmeras inscrições em todo o Egito. Tiraca desenvolveu uma forte campanha militar no Levante antes de 674 a.C.. N esse ano, Esar-H adom , rei da Assíria, atacou o Egito, mas foi detido pelas forças de Tiraca. Três anos mais tarde, porém, Esar-Hadom con­quistou Mênfis, obrigando o m onarca egípcio a fugir para o sul. Outra força assíria dirigiu-se para o Egito em 666 a.C., obrigando-o a fugir para a Núbia. Mas apesar de tudo, Tiraca foi considerado rei do Egito até sua morte em 664.19.12, 13. lista . G ozã ficava na Síria, para onde os deportados de Israel haviam sido enviados (ver o co­m entário em 18.1). H arã ficava a oeste de Gozã, ao

longo do rio Balikh, na atual Turquia. Rezefe (Ra- sapa) provavelm ente foi a cidade que se tornou a capital da província assíria na Síria, a leste de Em ar e a oeste de Mari, ao longo do alto Eufrates. A tribo aram aica de Bit-A dini (Eden), no noroeste da Síria fora conquistada por Salm aneser III (reinou de 858­824 a.C.) e passou a ocupar Telassar, que provavel­m ente era Til-A shshuri ("m orro dos assírios"), um lugar entre os m ontes Zagros, perto do rio Diyala, no Iraque. H am ate e A rpade eram im portantes ci­dades dos arameus na Síria, conquistadas por Tiglate- P ileser III (reinou de 745-727 a.C.). Sefarvaim tem sido identificada como Sipirani, ao sul de Nipur, mas Sabara in , na S íria , tam bém é um a p ossib ilid ad e. Hena e Iva são desconhecidas.19.15. entronizado entre os querubins. Os querubins eram criaturas aladas associadas à arca da aliança e à presença de Yahweh. Eles tam bém acom panhavam Yahw eh em suas incursões pelos céus (ver SI 18.10). Nos textos mitológicos assírios são representados como Karibu, ou intercessores angelicais. Na arte assíria, são retratados como criaturas compostas bípedes ou quadrúpedes, tendo uma ou mais faces (de homem, boi, águia ou leão). Para informações adicionais, con­sulte o comentário em Êxodo 25.18-20.19.23. derrubar os cedros do Líbano. Isaías está para­fraseando o estilo arrogante do rei assírio Senaqueribe. Os anais assírios reais dos séculos nono e oitavo a. C. costumavam empregar temas como atravessar despe­nhadeiros de difícil acesso, derrubar grandes árvores e suprir o exército com água. Senaqueribe declarou ter derrubado os cedros do Líbano e usado a madeira para construir seus palácios reais e prédios públicos em Nínive.19.28. anzol em seu nariz. Essa im agem tem seme­lhança com a literatura e iconografia assíria. Esar- H adom é ilustrado numa esteia de Zinjirli, na Síria, conduzindo Baal de Tiro e Tiraca, rei do Egito, por

um a corda am arrada a um a argola presa em seus lábios. Assurbanipal afirmou ter furado as bochechas de Uate' (rei de Ismael) com um instrumento pontia­gudo e introduzido um a argola em seu maxilar. Ao fazer uso dessas expressões, Isaías, estava zombando das práticas assírias.19.29. agricultura renovada. Esse versículo deixa im­plícito que as áreas agrícolas haviam sido devastadas pelo exército assírio. A intenção dos assírios em des­truir as plantações dos inimigos pode ser comprovada pelos registros nos anais. Tiglate-Pileser III destruiu os arredores de Damasco, derrubando seus pomares. Os anais desse rei assírio descrevem destruição seme­lhante durante suas campanhas na Babilônia. Apesar de toda essa destruição, Isaías disse a Ezequias que

aquilo que a terra produzisse naturalmente seria sufi­ciente para abastecê-los por dois anos, quando então o trabalho normal nos campos seria retomado.19.32. nem flech as, n em ram pas. Senaqueribe des­creveu detalhadamente em seus anais as técnicas em­pregadas para os cercos de 46 cidades de Judá. Além disso, o rei assírio afirmou ter "aprisionado" Ezequias em Jerusalém e cercado a cidade com "ram p as de terra". Em nenhum trecho de seus anais, porém, Sena­queribe afirm ou ter iniciado um cerco a Jerusalém , como havia feito em outras cidades. O rei assírio con­tinuou a relatar o tributo enviado a ele por Ezequias, mas não mencionou a conquista da cidade em si. Para m ais inform ações, consulte a nota de rodapé em 2

Crônicas 32.19.35. divindade destruindo o inim igo. Em uma dasinscrições de Assurbanipal, consta que Erra (a divin­dade que representava as pragas) destruiu Uaite (rei árabe de Shumuilu) e seu exército por não terem res­peitado as condições de um acordo firmado entre eles.19.37. N isroque. Não se tem informação sobre nenhu­ma divindade com esse nom e na Mesopotâmia. Tal­vez seja uma alteração intencional do nom e de algu­ma divindade, como Marduque, N uscu ou Ninurta. O evento mencionado nesse versículo ocorreu no vi­gésimo dia do décim o m ês do ano 681, vinte anos depois do cerco de Jerusalém.19.37. Ararate. Ararate (ou Urartu) era um poderoso reino na atual A rm ênia, na região dos lagos Van, Urmia e Sevan. Esar-Hadom menciona o fato de seus irmãos terem lutado contra sua ascensão ao trono, mas não esclarece o local onde se refugiaram. Porém, Esar- H adom exigiu que o rei Surpia, no sul de Ararate, extraditasse os fugitivos assírios, e alguns deles pode­riam ser seus irmãos. O reino de Ararate representou uma constante ameaça para a fronteira norte da Assíria por cerca de três séculos (c. 900-600 a.C.). Escavações no local revelaram uma próspera civilização com lite­ratura e iconografia sofisticadas.20.3. a oração de Ezequias. Foi descoberta uma ora­ção do rei assírio Assurnasirpal I (metade do século onze a.C.) na qual ele pede à deusa Istar para curá-lo de um a enferm idade, com base em sua fidelidade. Na oração, o rei se declara humilde, reverente e ama­do pela divindade, além de mencionar que cumpriu fielm ente vários rituais. M enciona tam bém suas lá­grimas e sua ansiedade, implorando pela cura m iseri­cordiosa. O texto da oração de Ezequias encontra-se em Isaías 38.9-20; ver também os comentários.20.7. em plastro de figos. É possível que um a pasta de figos amassados fosse usada como condimento e com propósitos medicinais em Ugarit. Tanto fontes rabínicas quanto fontes clássicas posteriores (p. ex., Plínio, o

Ancião) compartilhavam da crença no valor medici­nal dos figos secos. Emplastros às vezes eram usados no diagnóstico e não como medicamento. Um dia ou dois após o emplastro ter sido aplicado, verificava-se a reação da pele ao em plastro. U m texto m édico de Em ar prescreve o uso de figos e uvas passas para um processo sem elhante a esse. Esse tipo de emplastro ajudava a determ inar qual tratam ento deveria ser prescrito ao paciente e se ele iria ou não se recuperar.20.11. som bra na escadaria de Acaz. A "som bra na escadaria de Acaz" talvez fosse uma espécie de reló­gio de sol. O Rolo de Qumran relacionado ao texto de Isaías 38.8 traduz essa expressão como "n o relógio de Sol no telhado do quarto de Acaz". Uma idéia seme­lhante pode ser encontrada no m odelo de uma casa egípcia, descoberta por escavações, com dois lances de escadas que perm itiam ver as horas. Por outro lado, talvez fossem alguns simples degraus para con­duzir à parte mais elevada da casa, onde havia som­bras em determinada hora do dia. O texto não menci­ona se a estrutura era usada para mostrar as horas. Poderia tratar-se também de uma estrutura usada para prestar culto às divindades astrais. Se de fato repre­sentava um m ecanism o para m ostrar as horas, esta seria a única menção a um instrumento desse tipo em todo o Antigo Testamento. Os relógios de Sol eram conhecidos na época do Antigo Testamento, tanto na Babilônia como no Egito, com evidências arqueológi­cas que remontam ao século quinze a.C..20.12. M erod aqu e-B alad ã . M erodaque-Baladã (ou Berodaque-Baladã) é M arduque-apla-idina II citado em fontes assírias e babilónicas. Ele foi um chefe caldeu da tribo Bit-Yakin que se aliou a Tiglate-Pileser III, rei da Assíria, contra outro governante babilónico (c. 731 a.C.). D ez anos m ais tarde M erodaque-Baladã assu­m iu o trono da Babilônia e Sargon II só conseguiu afastá-lo em 710 a.C.. M ais uma vez ele voltou a ser chefe de uma tribo dos caldeus, tom ando-se vassalo do rei assírio. Após a m orte de Sargon, na batalha de 705 a.C., M erodaque-Baladã ajudou a instigar uma revolta contra o domínio assírio. É nesse período que está situada a narrativa de 2 Reis. Baseado nas ações de Ezequias contra o governo assírio, ele aparente­m ente agiu em concord ância com a estratégia de Merodaque-Baladã. O chefe babilônio depôs o assírio nomeado para o trono da Babilônia e governou próxi­mo de Borsipa (703 a.C.) até ser deposto por Senaque­ribe, o novo rei da Assíria, no mesmo ano. M erodaque- Baladã fugiu para Elão, onde m orreu logo depois.

21.1-26 Manassés, rei de JudáPara informações a respeito desse trecho, ver os co­m entários em 2 Crônicas 33.

21.13. fio de prumo. O fio de m edir e o fio de prumo eram ferram entas comuns usadas na construção de prédios feitos de tijolos de barro, em todo o Oriente Próxim o. Para m edir um terreno usava-se o fio de medir (geralm ente uma corda, um barbante ou um fio). O mestre de obras usava um fio de prumo, com uma pedra ou um pedaço de lata servindo de peso, para verificar se a estrutura construída estava reta.21.18. jard im de Uzá. O jardim de Uzá não foi locali­zado com segurança. Alguns estudiosos afirmam que ficava no cemitério localizado na aldeia de Siloam, a leste da Cidade de Davi. Porém, Uzá pode ser uma forma reduzida de Uzias, o rei leproso de Judá, indi­cando que talvez se trate do jardim privativo de Uzias, usado tam bém pelos reis que vieram depois dele.

22.1-23.30 Josias, rei de JudáPara informações a respeito desse trecho, ver os co­mentários em 2 Crônicas 34.

23.1. função das autoridades. As autoridades (chefes das famílias patriarcais) exerceram um papel funda­m ental no período inicial da organização tribal de Israel e evidentemente ainda desem penhavam uma importante função durante a monarquia. Esses líde­res eram investidos de autoridade pelas comunidades locais e é possível que durante a m onarquia suas funções na liderança política fossem limitadas. As au­toridades das cidades tam bém tinham um a função limitada na manutenção da estabilidade e no cumpri­mento das leis nas comunidades da Babilônia. Porém, esses líderes não tinham influência nas questões polí­ticas, visto que o monarca controlava o poder do Esta­do, a economia e as forças armadas.23.2. leitura pública de docum entos. Mesmo após a

invenção do alfabeto, a maior parte da população do antigo Oriente Próximo era analfabeta, assim, a leitu­ra pública de documentos tinha uma importante fun­ção. Fontes assírias descrevem arautos à entrada dos

portões da cidade lendo pronunciamentos reais para grupos de espectadores.23.3. coluna. O rei ficou junto a uma coluna ou pilar (plataforma, de acordo com o escritor judeu Josefo). Talvez fosse uma estrutura no templo reservada para a realeza. Não existe nenhum texto semelhante relaci­onado a esse costume em todo o Oriente Próximo.23.4. exércitos c e lestes . A adoração aos exércitos celestiais refere-se ao culto aos deuses celestiais (deus- sol, deus-lua e Vênus particularmente; na Babilônia, Sham ás, Sin e Istar respectivam ente), presentes na maioria das religiões antigas. Segundo a crença, esses deuses controlavam o calendário e o tempo, as esta­ções e o clim a, portanto, eram considerados m uito

poderosos. Eles comunicavam presságios através de sinais e consideravam todos os demais desprezíveis. Por volta do final do segundo m ilênio um a grande coletânea de presságios celestes, as setenta tabuletas da obra conhecida como Enuma Anu Enlil, havia sido compilada, sendo usada para consulta por quase mil anos. Estampas de selos de Israel desse período mos­tram que as divindades astrais eram m uito popula­res. Havia muitas constelações reconhecidas pelos as­trólogos mesopotâmios (muitas delas são as mesmas que identificamos hoje, transmitidas através dos gre­gos), mas o Zodíaco ainda não era conhecido nessa época. Para mais informações, ver o comentário em 2 Crônicas 33.523.4. vale de Cedrom para Betei. O vale de Cedrom ficava a leste da Cidade de Davi. Betei ficava cerca de 16 quilômetros ao longo da principal rota de transpor­te, bem ao norte de Jerusalém. Betei havia sido o local do santuário do bezerro de ouro até um século atrás, quando o reino do norte foi derrotado pela Assíria. Josias tam bém profanou o altar de Betei (ver os v. 15, 16), tom ando-o um lugar adequado para jogar as cin­zas desses objetos religiosos profanos.23.5. sacerdotes pagãos. O termo "sacerdotes de ído­los pagãos" (hebraico, komer) tem m uitos paralelos no antigo O riente Próxim o, especialm ente na Assíria. Documentos do Antigo Período Assírio (c. 2000-1800a.C.), na Capadócia, e um único documento de Mari,

do reino do rei assírio, Sam shi-A dade I (reinou de 1814-1781 a.C.) mencionam sacerdotes Kumru. Uma rainha árabe recebeu o título de sacerdotisa "kum irtu", num a inscrição do rei assírio Assurbanipal (668-631a.C.). Kumra' tam bém era a palavra para sacerdote em aram aico no prim eiro m ilênio a.C.. É plausível que os sacerdotes m encionados nesse versículo servis­sem também nos santuários das divindades semitas do ocidente, tais como Baal e Aserá, contudo alguns estudiosos os consideram sacerdotes renegados de Yahw eh.23.6. espalhar cinzas sobre os túm ulos. A seqüência de ações (queimar, triturar, espalhar) tam bém apare­ce em um texto ugarítico indicando a destruição total da divindade - toda ação destrutiva estava sendo cum ­prida. Espalhar as cinzas sobre os túmulos era o ato final e extremo de profanação da divindade.23.7. prostitutos cultuais. O termo hebraico qedeshim refere-se a "hom ens consagrados". Sabe-se muito pou­co a respeito dessa prática, mas era totalmente conde­nada; é possível que estivesse relacionada à prostitui­ção cultual (ver D t 23.18, 19). Existem alguns termos cognatos em acadiano e ugarítico que tam bém não esclarecem a função desempenhada por esses homens. O radical da palavra indica estar ritualm ente puro.

Um a qaãishtu em acadiano era um a m ulher que ocu­pava posição especial, desempenhando funções espe­cíficas no tem plo (parteira, am a-seca ou devota do deus do templo), m as nenhuma dessas funções parece ter um a conotação sexual óbvia. Um a situação seme­lhante pode ser encontrada em Ugarit. A condenação dos prostitutos aqui em 2 Reis 23.7 pode estar relacio­nada ao fato de que eram devotos de divindades es­

trangeiras.23.7. teciam para Aserá. Aparentemente as mulheres estavam tecendo tipos de m antos ou vestes para ador­nar a estátua de Aserá (ou seu poste-ídolo). Era bas­tante comum na Mesopotâmia a prática de confeccio­nar vestes ricamente bordadas a fim de colocá-las nas estátuas dos deuses.23.8. profanou os altares. A profanação de lugares sagrados ocorria quando práticas cultuais proibidas eram realizadas nesses locais. As leis para preservar a pureza dos santuários de Yahw eh estão registradas no Livro de Levítico, mas aqui a profanação decorreu de práticas inaceitáveis realizadas na presença de Yahweh. Os santuários de diferentes deuses podiam ser profanados por diversos motivos, no entanto, al­

gumas ações eram consideradas por todos como profa­nação. Transform ar um lugar sagrado em cemitério (ver v. 14) ou latrina (ver 10.27) resultaria em profa­nação permanente.23.8. desde G eba até Berseba. Geba (moderna Jaba) era uma pequena aldeia no território de Benjam im , cerca de dez quilômetros ao norte de Jerusalém. N e­nhum a escavação foi conduzida ali, m as pesquisas superficiais revelaram vestígios da idade do Ferro no local. Localizava-se acim a da estratégica passagem que atravessava o profundo d esfilad eiro do vale Swenit, em M icmás, partindo do norte até a região de Jerusalém. Provavelm ente exercia a função de cida- de-santuário na fronteira. É comparada a Berseba, a cidade do extremo sul de Judá. Os arqueólogos encon­traram ali um altar demolido que talvez tenha sido destruído durante o período de Josias. De qualquer maneira, o texto aqui deixa claro que Josias fez uma limpeza em toda a terra de Judá (de norte a sul) elimi­nando todo tipo de culto pagão.23.8. altares idólatras ju nto às portas. Em D ã foram encontradas colunas em um santuário situado exata­mente no interior das portas da cidade, havendo tam­bém no local vestígios da dedicação de ofertas votivas. A credita-se que essas colunas representavam algu­m as das divindades das cidades que haviam sido conquistadas por Israel. As ofertas votivas eram dedi­cadas em cumprimento de votos feitos àquelas divin­dades (talvez buscando ajuda para destruir a cidade contra a qual os israelitas estavam lutando). Para mais

informações sobre colunas, ver o comentário em 17.10.23.8. porta de Josu é. A porta de Josué não é m en­cionada em nenhum outro trecho das Escrituras e sua localização precisa é desconhecida. Pode ser um nome alternativo para uma das portas de Jerusalém. Prova­velm ente era a porta reservada para o governador, que era o oficial m ais graduado na administração da cidade. Foi encontrado um selo do sétimo século a.C., de Judá, com uma inscrição onde se lê "governador da cidade". O selo contém uma ilustração artística que remete ao simbolismo assírio.23.9. com iam pães sem ferm en to . O term o usado aqui para pão sem fermento é uma expressão genéri­ca que designava as ofertas de cereais ou os bolos sem fermento consumidos durante a celebração da Páscoa. Visto que o fermento estava associado à contaminação e, portanto, à impureza, muitas cerimônias sagradas incluíam o uso de pão sem fermento.23.10. Tofete, Ben-H inom , M oloque. Tofete era um templo onde se sacrificavam crianças ao deus M olo­que. Supõe-se que essa palavra designava o forno no qual a criança era colocada. O termo hebraico equiva­le, tanto em ugarítico como em aramaico, ao significa­do de "fornalha" ou "fogueira". Eruditos acreditam que Tofete estava na beira do vale de Ben-H inom ,

antes de sua junção com o vale de Cedrom. O vale de Ben-Hinom foi identificado com o vale er-Rahabi, a sudoeste da Cidade de Davi. Muitos estudiosos admi­tem que M oloque era uma divindade do mundo infe­rior presente em rituais de origem cananéia voltados ao culto dos ancestrais. Um a inscrição fenícia do oita­vo século a.C. fala de sacrifícios oferecidos a Moloque pelos habitantes da Cilicia e por seus inimigos, antes da batalha. O nome M oloque parece estar relacionado ao termo hebraico mlk ("governar"). Os sacrifícios de­dicados a M oloque eram oferecidos no templo de Baal,o que permite supor que M oloque fosse um epíteto do próprio Baal ou de outras divindades (Jr 32.35).23.11. cavalos e carruagens consagrados ao sol. Ca­valos brancos desempenhavam um importante papel nos rituais assírios e geralmente estavam associados a Assur e Sin, as principais divindades do panteão assírio. Certos rituais incluíam a dedicação de cavalos brancos que eram colocados aos pés da divindade. Diversas divindades assírias cavalgavam durante as festas em carruagens puxadas por cavalos. Na mitologia assíriao deus-sol era transportado pelo céu num a carruagem conduzida por seu cocheiro Rakib-il. No sincretismo religioso mencionado aqui, Y ahw eh provavelm ente estava sendo adorado como o deus-sol, e as carrua­gens e cavalos representavam seu veículo. Evidên­cias arqueológicas da idade do Ferro revelaram estatue­tas de cavalos com discos solares no pedestal cultual

de Taanaque, representando um cavalo com um disco solar no dorso. Essas figuras teriam alguma sem e­lhança com os bezerros de ouro e a arca da aliança que serviam respectivamente como pedestal ou escabelo da divindade. N enhum a dessas im agens representa a divindade propriamente, mas seu trono.23.12. quarto sup erior de Acaz. O quarto superior funcionava como um a sala de audiência, logo, estava situado na área principal do palácio.23.13. m onte da D estru ição. A expressão hebraica para "m onte da Destruição" provavelmente é um jogo de palavras relacionado ao "m onte da Unção ou das O liveiras". Foi identificado com segurança com o o m onte situado na atual aldeia árabe de Silwan.23.13. ídolos de Salom ão. Para agradar suas esposas estrangeiras, Salomão construiu altares e santuários para elas adorarem seus deuses (ver o comentário em1 Rs 11.5-7).23.14. cobriu com ossos hum anos. Supõe-se que os ossos hum anos foram espalhados sobre os entulhos para que ninguém tentasse retirar dali qualquer obje­to, visto que era considerado um tabu entrar em con­tato com cadáveres ou restos mortais (ver o comentá­rio em N m 19.11).

23.16. exumação. Josias está cumprindo a profecia de1 Reis 13.2. Os piores criminosos, tanto na Mesopo- tâmia quanto em Israel, não eram enterrados de m odo digno, m as seus ossos eram queim ados ou jogados fora. Essa era a pior coisa que poderia acontecer a uma pessoa, visto que a existência espiritual estava total­mente entrelaçada com a existência física (para mais informações, ver os comentários em N m 3 .1 2 ,1 3 e Js 8.29). Assim, se os ossos de uma pessoa fossem destruí­dos, a própria existência daquela pessoa também se­ria extinta.23.21-30. celebração da Páscoa. Para inform ações a esse respeito, ver os comentários em 2 Crônicas 35.

23.31-35Jeoacaz, rei de Judá23.31. cronologia. Jeoacaz iniciou e terminou seu bre­ve reinado de três meses em 609 a .C , não m uito tem­po depois da queda final do império assírio em Harran, e às vésperas do grande confronto entre o Egito e a Babilônia pela suprem acia no O riente Próximo.23.33. relações com o Egito. O Levante tom ou-se uma área instável após o colapso da Assíria, em 612-610a.C., quando Egito e Babilônia passaram a lutar pela supremacia na área. O Egito aparentemente não obte­ve sucesso ao tentar suspender o cerco do últim o local ainda sob domínio assírio em Harã, em 610-609 a.C.. Quatro anos m ais tarde, Josias, rei de Judá tentou conter a invasão do Egito na Síria, mas foi ferido na

batalha de Megido, vindo a morrer logo em seguida. Por causa do vácuo político na região, Judá tom ou-se um protetorado egípcio (609-608 a.C.). Os egípcios, em bora com certo atraso, avançaram para o norte e lutaram contra os caldeus em Carquemis, sofrendo um a terrível derrota (605 a.C .). O s caldeus deram continuidade à guerra invadindo o Egito em 601-600, mas sofreram pesadas baixas. De qualquer maneira, Judá ficou apenas tem porariam ente sob o domínio político do Egito.23.33. R ibla, na terra de Hamate. Ribla (moderna Tel Zerr'a) era um im portante centro adm inistrativo e militar perto de Cades, às margens do rio Orontes, na Síria, cerca de 32 quilômetros ao sul do principal cen­tro político aram eu em Hamate. Os assírios haviam construído um a fortaleza no local no oitavo século utilizada posteriormente por Nabucodonosor II, rei da Babilônia, como quartel-general durante sua campa­nha no ocidente.23.33. tributo im posto a Judá. Esse valor é bem me­nor do que a multa imposta a Ezequias (três talentos de prata e trinta talentos de ouro; 2 Rs 18.14). A por­centagem de prata (três toneladas e m eia de prata) em relação ao ouro (35 quilos de ouro) também é diferen­te (100 para 1 em vez de 10 para 1).23.34. m udança de nom e. A m udança de nom e foi mínima, visto que o elemento teofórico (o radical indi­cando Deus contido no nome) foi alterado de "E l" (genérico para deus) para "Jeo" (Yahweh). A mudan­ça provavelmente estava relacionada ao juram ento de

lealdade a um novo soberano, algo que os reis assírios tam bém faziam. Na geração anterior, Psam eticus I, rei do Egito (pai de Neco), teve seu nome mudado para N abushezibani pelo rei assírio A ssurbanipal, quando passou a ocupar o cargo de governante distrital. O bserve tam bém a m udança no nom e de D aniel e seus amigos (Dn 1.6, 7),

23.36-24.7Jeoaquim, rei de Judá23.36. cronologia. O reinado de Jeoaquim durou onze anos, de 609 a 598 a.C.. Durante esse período, Nabu­codonosor, re i da Babilônia enfrentou um a terrível batalha na fronteira egípcia, em 601-600, com resulta­dos duvidosos. Ambos os exércitos sofreram graves perdas e o rei caldeu não conseguiu invadir o Egito. Esse fato pode ter encorajado Jeoaquim a rebelar-se contra a Babilônia.

24.1. N abucodonosor e Jeoaquim . Nabucodonosor II assumiu o trono da Babilônia em 605 a.C., após sua vitória contra o Egito na Batalha de Carquemis, nesse mesmo ano. A partir desse período, Jeoaquim tornou- se vassalo da Babilônia durante grande parte de seu

remado. A Crônica Babilónica afirma que depois dis­so os caldeus conseguiram firmar seu domínio no Le­vante a partir do Egito. N abucodonosor reagiu ata­cando Judá com a guarnição de tropas vindas do oes­te. Jeoaquim foi capturado e acorrentado (ver 2 Cr36.6), mas aparentemente escapou de ser exilado, vis­to que morreu em Judá.24.2. tropas invasoras. "C ald eu s" era a designação dada ao povo de língua sem ita de Nabucodonosor II, rei da Babilônia. São mencionados nos registros assírios como habitantes da Babilônia no início do primeiro m ilênio a.C.. Em bora os arameus ligados ao estado aram eu no norte de Israel sejam m ais conhecidos, também havia os arameus do leste, um povo de lín­gua sem ita que habitava um a grande parte do vale dos rios Tigre e Eufrates e que freqüentemente apare­ce ao lado dos caldeus. As evidências perm item supor que os caldeus viviam em cidades, enquanto que os arameus eram seminômades. De acordo com fontes babilónicas, os m oabitas e os am onitas estavam de­baixo do domínio da Babilônia, portanto foram obri­gados a recrutar e enviar tropas para lutar contra os

rebeldes vizinhos.24.7. B ab ilôn ia versu s Egito. Nabucodonosor II ten­tou repetir sua vitória contra os egípcios em Carque- mis, invadindo o Egito em 601-600. O confronto acon­teceu no vau do Egito (provavelmente o vau el-Arish na região leste do delta do Nilo) e após uma terrível batalha as tropas de Nabucodonosor foram incapazes de conquistar o Egito. Porém7 os babilônios consegui­ram reunir suas tropas e dar início a um a nova cam ­panha no levante pouco tempo depois, de m odo que os egípcios não conseguiram organizar suas tropas para se defenderem contra eles.

24.8-17Joaquim, rei de Judá24.8. cronologia. Joaquim subiu ao trono no últim o mês do ano de 598 e reinou apenas durante os prim ei­ros dois meses de 597. Visto que Joaquim parece ter ascendido ao trono enquanto o exército de N abu­codonosor estava a caminho de Jerusalém, foi seu pai, Jeoaquim , quem deu início ao conflito que levou os babilônios para o oeste.24 .10 ,11 . o cerco de Jerusalém . Em resposta à rebe­lião de Judá, os caldeus atacaram Jerusalém em 597. A Crônica Babilónica afirma que o cerco durou apenas três meses, provavelmente o tempo que Joaquim per­maneceu no trono. Em bora a vitória seja atribuída a Nabucodonosor, ele m esmo não presidiu essa campa­nha, m as deixou-a a cargo de seus generais. A relati­va facilidade com que a cidade foi conquistada pode ser explicada pelo fato de que a guerra aconteceu

durante o inverno e os alimentos eram escassos. A população da cidade seria m aior do que o norm al, visto que os habitantes das áreas m ais rem otas de Judá buscaram refúgio em Jerusalém.24.12. a prisão de Jo aq u im . A rápida rendição de Judá talvez tenha sido decorrência do tratamento de certa forma indulgente concedido pelos babilônios ao povo de Judá. A deportação do monarca rebelde era a forma de procedimento comum tanto entre os assírios como babilônios, sendo tratado como governante que havia rom pido um ju ram ento de lealdade com os babilônios (ou assírios), portanto deveria ser severa­mente punido. Os conquistadores normalmente colo­cavam no trono um m onarca favorável à sua causa, muitas vezes da m esm a casa real, a fim de preservar o sentido de continuidade para a população local.24.14. d ep ortação . Em bora n ão haja reg istro s na Babilônia concernentes a práticas de deportação, é provável que os babilônios tenham assimilado essas práticas administrativas dos assírios. Era comum de­portar pessoas influentes do povo conquistado (ricos e m ilitares) e tam bém trabalhadores habilidosos que p o d eriam ser em p reg ad os a um baixo cu sto na Babilônia. Os habitantes mais pobres eram considera­dos sem utilidade, além de não serem vistos como um a ameaça caso permanecessem na terra de Judá.24.17. m ud ança de n om e. A ssim com o Jeoaquim , M atanias foi forçado pelos babilônios a m udar seu nome. A Crônica Babilónica sim plesm ente diz que Nabucodonosor II indicou um rei de sua escolha para Judá e que esse novo rei era "segundo o seu coração", o que significa que ele havia sido "dom esticado" pe­los babilônios. Como anteriormente, os babilônios acre­d itavam que o fato de dar ao rei um outro nom e hebraico os beneficiaria, evitando assim que o povo se rebelasse.

24.18-25.26Zedequias, rei de Judá e a queda de Jerusalém24.18. cronologia. Zedequias, o últim o rei de Judá, reinou de 597 a 586. Nesse período, Neco II (610-595), P sa m e tic u s (595 -5 8 9 ) e A p rie s (58 9 -5 7 0 ) fo ram governantes do Egito, e Nabucodonosor II (604-562)

governou o império caldeu.25.1. cerco de Jerusalém . Os babilônios evidentemente adotaram o sistema de rampas para atacar Jerusalém em 587-586. As fontes assírias descrevem Esar-Hadom usando esse m esm o tipo de recurso durante a con­quista de Shurbia, um reino urartiano ao sul do lago Van, em 672. Esar-Hadom declarou que suas tropas "escalaram os m uros para guerrear". As rampas de ataque usadas no cerco provavelm ente eram m ais altas que os muros da cidade, permitindo que os sol­

dados subissem até o topo e ficassem acima do bata­lhão de defesa da cidade posicionado nos muros. As­sim como aconteceu com os assírios durante o cerco de Senaqueribe em 701, os babilônios sistematicamente destruíram as cidades fortificadas de Judá, inclusive Láquis (ver Jr 34.7). Outro m otivo para elim inar as ameaças m ilitares ao redor de Jerusalém era desen­corajar qualquer interferência egípcia.25.4. fuga dos soldados. É possível supor a partir do contexto desse difícil versículo que o rei e sua guarda pessoal tentaram escapar pelo leste. Os "sold ados" talvez possa ser uma referência aos soldados babilônios que abriram uma brecha no muro da cidade, permi­tindo que Ezequias fugisse.25.5. p lanícies de Jericó. O rei saiu em direção a Arabá (ver v. 4), pela estrada entre Jerusalém e Jericó, que ficava nas estepes do vale do Jordão. As planícies de Jericó formavam a faixa de terra plana e seca a leste de Jericó e por ser um a região aberta, facilitou a perse­guição dos fugitivos pelas tropas babilónicas.25.7. tratam ento dado a Z edequias. Cegar os olhos era uma forma comum de tratar os escravos rebeldes (até mesmo os reis vassalos) no antigo Oriente Próxi­mo. Os tratados assírios de vassalagem m encionam cegar os olhos como um a maldição para quem violas­se um juram ento de lealdade. Outras fontes assírias mencionam a prática de furar só um olho dos prisio­neiros de guerra, perm itindo que fossem utilizados como força de trabalho, mas incapacitando-os para a guerra. Zedequias foi colocado num a "casa de puni­ção", expressão assíria equivalente à prisão.25.8-10. queda de Jerusalém . Nebuzaradã, o coman­dante da guarda imperial babilónica, era o "cozinhei- ro-m or" m encionado num a lista de oficiais do alto escalão de N abucodonosor II. O título "cozinheiro- m or", assim como o de "copeiro-m or", era uma desig­

nação arcaica para aqueles que ocupavam postos ele­vados nas cortes assíria e babilónica. Com freqüência

eram enviados em missões m ilitares e diplomáticas (p. ex., Rabsaque era o "copeiro-m or" de Senaqueribe,2 Rs 18.17). Nebuzaradã foi quem comandou a des­truição da cidade de Jerusalém, ordenou a execução dos oficiais de Judá (v. 8-12; 18-21) e foi responsável pela deportação de outro grupo alguns anos mais tar­de (c. 582 a .C ; Jr 52.24-30). Agindo de acordo com a prática assíria e babilónica, Nebuzaradã destruiu os principais edifícios públicos e os m uros de proteção da cidade, tom ando-a vulnerável a futuros ataques.25.13-17. saque de Jerusalém . O escritor de 2 Reis está provavelmente repetindo a relação de objetos extraí­da de registros oficiais do tem plo de Ju d á que não foram preservados. A lista pode ser comparada com 2

Reis 17.15-50, onde está registrada a lista original desses objetos. O grande núm ero de objetos de bron­ze pode indicar uma contagem de despojo. Os objetos citados em 2 Reis 17 que são omitidos aqui haviam sido enviados à A ssíria em anos anteriores (p. ex. doze touros de bronze foram enviados por Acaz a Tiglate-Pileser III; 2 Rs 16.17). Não há nenhum regis­tro babilónico dos objetos tomados de Jerusalém.25.22. governador. É possível que Gedalias já tivesse prestado serviço ao rei Zedequias, como indica um selo do final do sétimo século a.C., da cidade de Láquis, onde se lê "pertencente a Gedalias, mordomo do rei". Outra possibilidade, porém, é que o documento esteja se referindo a outro Gedalias desse mesmo período (ver Jr 38.1). O nome Gedalias também foi encontrado num óstraco de Arade. É bem provável que ele tenha sido um im portante m em bro do grupo favorável a Babilôn ia em Jerusalém . D a m esm a form a que os assírios, os babilônios também desejavam firmar um centro administrativo com um a forte presença babiló­nica em Judá. Ao contrário da prática assíria, entre­tanto, os babilônios não repovoaram Judá com povos de outras partes do império.25.23-25. M ispá. Essã cidade foi a capital dos que foram deixados em Judá. M ispá era um a localidade de oito acres, situada a cerca de treze quilômetros ao norte de

Jerusalém. Para informações concernentes à sua histó­ria an tiga, ver os com entários em 1 Sam u el 7.5 e 2 Crônicas 16.6. Escavações recentes identificaram um se­dimento de ocupação que remonta a esse período. Um dos artefatos encontrados no local foi um selo perten­cente a "Jazanias, o servo do re i" - provavelm ente a m esm a pessoa m encionada no versículo 23.

25.27-30 Joaquim é libertado da prisão25.27-30. Joaqu im na B abilônia. O trigésimo sétimo ano do exílio de Joaquim corresponde ao ano de 560a.C.. Evil-Merodaque (em babilônio, Amel-Marduque, "o hom em de M arduque") filho e sucessor de Nabuco­donosor II governou a Babilônia de 562 a 560 e foi assassinado por seu sucessor Neriglissar. H á poucos registros de seu breve reinado. Evil-M erodaque con­cedeu a Joaquim o "lugar mais honrado" entre os reis que estavam com ele na Babilônia, indicando que havia outros prisioneiros reais na Babilônia. O Unger Prism apresenta uma lista de reis que foram mantidos

prisioneiros na Babilônia durante o reinado de Evil- M erodaque, incluindo os reis de Tiro, Gaza, Sidom, Arvade e Arpade. Joaquim é m encionado na lista dos que recebiam rações na Babilônia, confirmando a in­formação bíblica de que ele comia à m esa do rei.

1 C R Ô N I C A S

v1.1-37Genealogias: de Adão a Abraão

1.1-54Genealogias de Adão: descendentes de Jacó e Esaú1.1-4. filh os de Adão. Para m ais detalhes sobre esta parte da genealogia ver Gênesis 5.1.5-27. filh os de Noé. Para m ais detalhes sobre esta parte da genealogia ver os capítulos 10 e 11 de Gênesis.1.13. povos de Canaã. Para mais informação a respei­to desses povos, consulte o comentário em Êxodo 3.8. 1.29-54. descendentes não-israelitas de Abraão. Co­mentários sobre estas genealogias podem ser encon­trados da seguinte forma: H agar (Ismael) em Gênesis25.12-28; Quetura, Gênesis 25.1-6; Esaú, Gênesis 36.

2.1-7.40Genealogias das doze tribos 2.42-55. a proem inên cia de C alebe. Calebe e Josué foram os únicos representantes da geração do êxodo que entraram na terra de Canaã. Calebe recebeu uma possessão especial de terra_dentro do território da tri­bo de Judá, nas proximidades de Hebrom (Js 14.6-15). Visto que as genealogias eram usadas para reivindi­

car a posse da terra, era importante para Calebe que sua posição fosse reconhecida.3.1-16. linhagem real de D avi. A outra linhagem pro­eminente na tribo de Judá, naturalmente, era a linha­gem real. Muitos nomes citados aqui apresentam va­

riações em relação à form a como são mencionados nos Livros de Reis: Abias/Abisã; Jorão/Jeorão; Azarias/ Uzias; Salum/Jeoacaz; Jeoaquim/Jeconias. De forma geral, isso pode ser explicado de três m aneiras: (1) variações na grafia do nom e divino presente no nome; (2) palavras diferentes com o m esm o significado ou (3) nome real substituindo o nome pessoal.3.17-24. descendentes de D avi após o exílio . A maio­ria desses nomes não é mencionada em nenhum ou­

tro lugar além desta lista. As exceções são Zorobabel, a respeito de quem temos muitas informações (ver o comentário em Ed 3.2) e H atus (v. 22), do qual se sabe apenas ter sido um dos que retom aram com Esdras (Ed 8.2).4.21. aqueles que trabalhavam com linh o em B ete-

A sbéia. A referência a M aressa no início do versículo levanta a suspeita de que Bete-Asbéia tam bém esti­vesse localizada na Sefelá, entre as colinas de Jerusa­lém e as planícies costeiras, mas é impossível ser mais específico. As corporações de artesãos geralmente es­tavam vinculadas a cidades específicas, escolhidas para ser um local especializado em determinado produto. O conhecimento das técnicas era passado de geração em geração. Um texto de Alalakh relaciona m ais de sessenta indústrias artesanais como essa, que remon­tam ao século quinze a.C.. A indústria têxtil normal­m ente se concentrava nas casas, com produção em pequena escala, mas também existiam alguns centros de produção industrial em larga escala. A técnica de produção do linho incluía o processamento da fibra,

SIGNIFICADO DAS GENEALOGIAS NO PERÍODO PÓS-EXÍLIOEmbora grande parte do Livro de Crônicas esteja relacionada ao período pré-exílio, seu material é dirigido àqueles que retomaram do exílio babilónico nos séculos 6 e 5 a. C. e se estabeleceram na terra. Para aqueles que retornavam, as genealogias representavam uma espécie de prova de sua própria identidade. A aliança com o Senhor os caracterizava como povo esco­lhido de Deus, habitando na terra por Ele prometida. A linhagem familiar assegurava a participação de cada um nessa aliança, e representava sua herança e seu legado. No mundo antigo, as genealogias muitas vezes eram usadas mais pela sua função social do que histórica. Em vez de apresentar um relato seqüencial da ordem das gerações, elas tinham como propó­sito usar a continuidade com o passado como uma explicação para a estrutura e condições atuais da sociedade. Juntamente com isso, Israel acrescentava às genealogias uma ênfase teológica e um significado inerente aos seus relatos genealógicos. A continuidade com o passado era o elemento que dava sentido à situação teológica presente. No mundo antigo as pessoas buscavam sua identidade não no individualismo, mas junto à solidariedade do grupo. Isso incluía não apenas os que recuperaram seu grupo familiar atual, mas estendia-se através das gerações. As genealogias eram o modo pelo qual eles se encaixavam nessa solidariedade transm itida de geração em geração. Nem todas as gerações estão representadas nas genealogias. Podemos compará-las, por exemplo, à galeria seleta dos heróis da fé encontrada em Hebreus 11. Atualmente, muitos norte-americanos se orgulham por descenderem daqueles que vieram no Mayflower ou então dos que assinaram a Declaração de Independência. A diferença é que em Israel a associação com os antepassados garantia certos direitos e privilégios em vez de ser apenas um símbolo de status.

sendo necessário instalações adequadas para fiar, tin­gir e tecer o fio.4.22. hom ens de Cozeba. É provável que Cozeba seja um a variação ortográfica para A quezibe, na Sefelá. Foi identificada com a atual Tel el-Beida, a cerca de oito quilômetros de Maressa.4.23. oleiros do rei em N etaim e Gederá. Presume-se que o palácio ou templo atraía os melhores artesãos dos produtos que a corte e a comunidade sacerdotal necessitavam. Esses artesãos eram acolhidos e recebi­am a proteção do rei, que lhes garantia suprimentos, oficinas de trabalho, equipamentos, m atéria-prima e talvez até alguns escravos para ajudar nas tarefas que não exigiam conhecimentos técnicos. Além disso, re­cebiam rações de alimentos, roupas e outros itens bá­sicos. As cidades m encionadas aqui provavelm ente estavam localizadas na Sefelá, mas não há consenso quanto à identificação exata.

4.41. m eunitas. As opiniões concernentes à identifica­ção desse grupo são divergentes. Alguns consideram tratar-se dos mineanos do sul da Arábia, que estende­ram seu comércio de incenso até a Palestina, por volta do quarto século. Outros identificam esse grupo com os M u'unaya mencionados nas inscrições de Tiglate- Pileser III. Um a terceira possibilidade os vincula à cidade de M aom, sul de Hebrom, na região m onta­nhosa de Judá.

4 .42 ,43 . novo território sim eonita. O novo território ocupado pelos simeonitas ficava ao sul do território de­signado a eles no N eguebe, m as provavelm ente ain­da situado a oeste da Arabá e a leste de Cades-Baméia. A transferência para essa nova região acarretou numa jornada m igratória de 60 a 80 quilômetros.5.1. R úben é destituído. Para informações acerca des­se episódio, ver Gênesis 35.21, 22.5.8, 9. área de ocupação. O s rubenitas ocuparam a Transjordânia ao longo da região norte do m ar Morto, desde o rio Arnom (vau de M ujib), no sul, até o pla­nalto de M edeba e o monte Nebo, ao norte. Essa área de cerca de 32 quilôm etros quadrados perm aneceu por um longo tempo nas mãos dos moabitas.5.10. hagarenos. As inscrições de T iglate-Pileser III m encionam um a tribo de aram eus cham ada Haga- ranu, que alguns associam aos hagarenos. N essa épo­ca, porém, pouco se sabia a respeito deles.5.16. território da tribo de G ade. G ileade e Basã são duas áreas que se estendem por m ais de 160 quilôme­tros (de norte a sul) na Transjordânia. Gileade é a re­gião alta da Transjordânia, situada entre o rio Jaboque, no sul, até quase alcançar o rio Iarmuque, no norte. Basã (hoje conhecida como as colinas de Golã) situa-se na área limitada pelo m onte Hermom, ao norte, por Jebel D ruze (m onte H aurã), a leste, pelo m ar da Galiléia a

oeste e pela região do Iarm uque, ao sul. A região de Basã propriam ente, m ais restrita à região do (alto?) Iarmuque, é um amplo e fértil planalto conhecido por suas pastagens. Salcá (v. 11) fica cerca de cem quilôme­tros a leste do m ar da Galiléia, ao sul do monte Haurã. As terras de pastagens de Sarom referem -se a um a lo­calidade na Transjordânia que permanece sem identi­ficação. A Inscrição M oabita também faz menção a essa área, sem, contudo, localizá-la.5.19. guerra contra os hagarenos e seus aliados. Os aliados dos hagarenos pertenciam a tribos árabes. Jetur (Ituréia, do período rom ano, a nordeste da Galiléia, ver Lc 3.1) e Nafis são conhecidos como descendentes de Ismael (Gn 25.15). A região de Nafis é mencionada em um a carta do sétimo século enviada ao rei assírio Assurbanipal. N odabe (talvez Adbeel em Gn 25.13) pode também constar nos registros assírios (Tiglate- Pileser III) como um a tribo da Transjordânia. Além dessas poucas referências, nada se conhece a respeito desses povos ou dessa guerra.

5.21. despojos. A quantidade de animais e de prisio­neiros é incrivelmente grande. A título de compara­ção, os vinte anos de campanhas m ilitares extrem a­m ente bem -su ced id as de Salm aneser III geraram 110.610 prisioneiros, quase 10 m il cavalos e mulas, mais de 35 mil bois, quase 20 mil jum entos e quase 185 m il ovelhas. A cam p anha de Senaqu eribe na Babilônia rendeu 20 mil prisioneiros, 11 mil jum en­tos, 5 mil camelos e 800 mil ovelhas.5.26. deslocam ento assírio das tribos da T ransjor- dânia. Tiglate-Pileser III (originalmente chamado Pul) invadiu a Alta e a Baixa Galiléia em 733 a.C. e relatou ter deportado 13.520 pessoas (ver o comentário em 2 Rs 15.29). N essa campanha o reino do norte, Israel, ficou reduzido apenas à região da Samaria, sobrevi­vendo de forma independente por m ais doze anos. A

recolocação centralizou-se na região do médio Eufrates, em Gozã (Guzanu = Tel Halaf, cerca de 160 quilôme­tros a leste de Carquemis) situada nas margens do rio Habor. Haia é identificada como Halahhu, das ins­crições assírias, cerca de treze quilômetros a nordeste de Nínive.6.31-46. m úsicos levitas. O s três principais músicos de Davi, Hemã, Asafe e Etã, tinham um a longa e ilustre árvore genealógica ligando-os a seu ancestral Levi. No mundo antigo havia corporações dos músicos que serviam nos santuários e templos. No Egito, a partir do terceiro m ilênio os músicos que participavam do culto eram supervisionados pelos sacerdotes. Entre os hititas e babilônios tam bém constavam m úsicos na relação dos funcionários dos templos. M uitas ativida­des religiosas, desde rituais individuais a cerimônias coletivas e festivais, eram acompanhadas de música

(vocal e instrumental). Para mais informações, ver o

comentário em Amós 5.23.

6 .48 ,49 . deveres dos levitas e dos sacerdotes descen­dentes de Arão. Os sacerdotes descendentes de Arão estavam envolvidos de forma m ais direta com a reali­

zação de sacrifícios e com as questões relacionadas ao

Lugar Santo. Os levitas, por sua vez, estavam direta­

mente envolvidos com outros serviços, como o contro­le do acesso à área sagrada e o suprimento e manuten­

ção do santuário (ver detalhes em 9.22-33).

6.55, 56. diferença entre povoados e terras de pasta­gens. A terra ao redor de H ebrom era parte da heran­

ça dada aos levitas. Esse versículo deixa claro, porém,

que os povoados da região de Hebrom, inclusive os campos cultiváveis em tom o da cidade, faziam parte

do território de Calebe.

6.64. cidades dos levitas. Para informações sobre as

cidades dos levitas, ver os comentários em Números35.1-5 e Josué 21.3-40.

7.28, 29. território de Efraim e M anassés. O território de Efraim estendia-se desde Betei, no sul, até Siquém,

ao norte e não incluía a planície costeira (Gezer ficava

no limite ocidental) nem o vale do Jordão. O território de Manassés estava posicionado ao norte de Efraim e

incluía os montes de Samaria (até Gilboa) e as monta­

nhas do Carmelo que margeava a extremidade sul do

vale de Jezreel (logo, incluía Taanaque e M egido). Esse território incluía também o vale do Jordão (Bete-

Seã) e a planície costeira (Dor) até o monte Carmelo.

9.1. genealogias dos registros históricos dos reis. Cer­tamente existiam inúmeras razões para m anter as lis­

tas genealógicas nos arquivos oficiais dos palácios. A primeira é que a posse da terra, baseada em doação

real ou divina, estava relacionada às famílias, portan­

to, as disputas por causa de propriedades muitas ve­zes tinham de ser resolvidas através da consulta aos

registros genealógicos. A segunda razão é que o re­crutamento para prestar serviços ao governo através

de trabalhos forçados ou serviço militar, bem como o

pagam ento de im postos, eram baseados nos dados dos recenseamentos. Esses registros geralmente eram

organizados por categorias genealógicas.

9.3. significado das listas de repovoam ento. Essa lis­ta m enciona os que se instalaram em Jerusalém . É diferente das anteriores porque todas tratavam de

propriedades ancestrais sendo reocupadas. A razão pela qual Jerusalém recebeu tão poucos moradores é

que a maioria das famílias havia sido dizimada quan­do Jerusalém foi destruída pelos babilônios. Para que pessoas de outras tribos fossem m orar em Jerusalém,

elas precisavam abandonar (ou até mesmo abrir mão) as terras de seus ancestrais situadas em outros terri­

tórios. A disposição para fazer esse sacrifício com o intuito de repovoar Jerusalém é digna de nota.9.22-27. guardas das portas. Uma das tarefas m ais importantes atribuídas aos sacerdotes era controlar o acesso ao interior do templo, a área interna considera­da o "âm bito sagrado" (a respeito desse conceito, ver os comentários em Lv 16.2 e Nm 18.1-7). A contami­nação do santuário devido a alguma impureza reque­ria uma oferta de purificação ("oferta pelo pecado", ver o comentário em Lv 4.1-3), pois a contaminação poderia acarretar um castigo tanto individual como coletivo. Por essa razão, os guardas das portas tinham o dever de evitar a entrada de intrusos. Além disso, havia tam bém inúm eros objetos valiosos dentro do templo, o ouro e a prata eram abundantes e represen­tavam uma tentação para um indivíduo sem escrúpu­los que chegasse a invadir e roubar o templo. Portan­to, esses objetos também tinham de ser protegidos. O uso inadequado de objetos considerados sagrados exi­gia uma oferta de reparação ("oferta pela culpa", ver o comentário em Lv 5.14-16). Os guardas das portas tinham a responsabilidade de proteger o templo con­tra esse tipo de transgressão.9.28-33. outros deveres dos lev itas. Possuir muitas habilidades era extrem am ente útil para o sacerdote exercer suas funções. A contabilidade dos utensílios sagrados (note que grande parte deles era de ouro) exigia que se fizesse um inventário para controle e registro desses objetos, assim como cuidados na ma­nutenção e arm azenagem dos m esm os. Era preciso também registrar o que havia sido consumido e repor o estoque. Além disso, havia receitas sagradas especi­ais para algumas das m isturas usadas (ver o comentá­rio em Êx 30.23-25).

10.1-14A morte de SaulPara comentários a respeito dos detalhes desse trecho, consulte 1 Samuel 31.

11.1-9O reinado de Davi e a conquista de JerusalémPara comentários a respeito dos detalhes desse trecho, consulte 2 Sam uel 5.

11.10-47Os principais guerreiros de Davi e seus feitosPara comentários a respeito dos detalhes desse trecho, consulte 2 Sam uel 23.8-39.

12.1-40O primeiro exército de Davi12.2. guerreiros am bidestros. Os canhotos não eramaceitos no m undo antigo porque essa característica

geralmente estava associada ao mal ou a demônios. Por essa razão, aqueles que eram canhotos acabavam

se tornando ambidestros. Porém, durante as batalhas,

a habilidade para usar as duas mãos podia represen­tar um diferencial vantajoso. Por exemplo, um a es­

tratégia comum nas lutas consistia em forçar o inimi­go a se movimentar para o lado esquerdo enquanto lutava. Para um soldado destro, essa posição poderia

manter seu escudo (em sua mão esquerda) longe do inimigo e com isso deixá-lo vulnerável ao ataque. Um

soldado ambidestro poderia facilmente passar o escu­do para a mão direita sem comprometer a habilidade

de lutar à medida que se movimentava. U m arqueiro ambidestro protegido atrás de uma rocha ou de uma

árvore poderia atingir seu alvo com mais facilidade, visto que poderia atirar de ambos os lados, sem ex­por-se ao inimigo.

12.15. atravessar o Jordão durante a cheia. O prim ei­

ro mês judaico começa em março, quando as tempera­turas da primavera derretem a neve nas montanhas

fazendo o Jordão transbordar. H á um a inscrição inte­

ressante de Sargon II, rei da Assíria (oitavo século), em que ele afirma ter conduzido seu exército através

dos rios Tigre e Eufrates em época de cheia como se

fosse solo seco. Se por um lado a travessia tornava-se bastante perigosa e arriscada, por outro (e exatamente

por essa razão), oferecia a possibilidade de um ataque

surpresa, já que ninguém poderia supor que alguém

atravessasse o rio numa época como aquela.

12.23-40. aliança tribal como base do reinado. Israel ainda era uma sociedade tribal, apesar da decisão de

ter um rei como líder, portanto, qualquer um que

aspirasse ao trono precisava buscar o respaldo da lide­rança tribal e dos contingentes m ilitares do clã.

13.1-14Tentativa frustrada de levar a arca para Jeru­salémPara comentários a respeito dos detalhes desse trecho,

consulte 2 Samuel 6.1-11.

14.1-17Davi derrota os filisteusPara comentários a respeito dos detalhes desse trecho, consulte 2 Samuel 5.17-25.

15.1-16.43A arca é levada para Jerusalém15.1. projetos de construção de D avi para Jerusalém .

O único projeto mencionado no texto bíblico é o do

palácio real. Infelizmente, as pesquisas arqueológicas ainda não conseguiram identificar qualquer outra cons­

trução da época de Davi em Jerusalém. A respeito do palácio real, ver o comentário em 2 Samuel 5.11.15.20, 21. estilos m usicais. O term o hebraico "ala- m oth", que a NVI traduz aqui como "soprano" e no título do Salmo 46 como "vozes agudas", e o termo "shem inith", traduzido como "oitava" pela NVI (pre­sente também nos títulos dos salmos 6 e 12) ainda têm um sentido incerto em relação ao seu significado téc­nico. Em outros contextos, o primeiro termo significa "d am as" portanto, às vezes, é interpretado como so­prano. O último termo corresponde a "oitava" e su­põe-se que indique uma certa posição na oitava. Tex­tos acadianos demonstram que eles conheciam a es­cala de sete notas e outras variações tonais. Em algu­mas anotações musicais acadianas também encontra­mos os intervalos usados para completar os acordes (p. ex., terças). Para comentários a respeito de outros detalhes desse trecho, consulte 2 Samuel 6.12-23.16.26. d eu ses são íd o los . V er os com entários em Levítico 26.1 e Deuteronômio 4.15-18.16.39. tabern ácu lo em G ib eo m . N ão há nenhum a outra menção específica ao tabernáculo em Gibeom.

Essa localidade ficava cerca de dez quilômetros a no­roeste de Jerusalém ; 1 Reis 3.4 refere-se a G ibeom como o principal lugar sagrado no qual havia um altar.

16.42. instrum entos usados nos cultos no antigo O ri­ente Próximo. Ver os comentários em 6.31-46.

17.1-27A promessa de Deus a DaviPara comentários a respeito dos detalhes desse trecho, consulte 2 Samuel 7.

18.1-17Davi estabelece seu reinadoPara comentários a respeito dos detalhes desse trecho, consulte 2 Samuel 8.

19.1-19A guerra contra os amonitasPara comentários a respeito dos detalhes desse trecho, consulte 2 Sam uel 10.

20.1-3A conquista de RabáPara comentários a respeito dos detalhes desse trecho, consulte 2 Sam uel 11.1; 12.29-31.

20.4-8Guerras contra os filisteusPara comentários a respeito dos detalhes desse trecho, consulte 2 Samuel 21.15-22.

21.1-30 O recenseamento de DaviPara comentários a respeito dos detalhes desse trecho, consulte 2 Samuel 24.

22.1-19 Preparativos para a construção do templo22.2. cortadores de pedra. A pedra lavrada usada nes­se período era conhecida como pedra de cantaria. As laterais de cada bloco eram desbastadas com um cin­zel de ferro enquanto a parte frontal da rocha era dei­xada bruta. A área ao redor de Jerusalém era rica em pedra calcária, m as as pedras m ais resistentes eram trazidas de distâncias maiores. Na Galiléia e em Golã havia grande quantidade de basalto; o granito era en­contrado no sul da A rabá, perto de E lia te , sob um depósito de arenito. A técnica para extrair blocos mai­ores consistia em introduzir cunhas de m adeira nas

fend as da roch a e d epois en ch arcá-las de água. A medida que a m adeira inchava, a rocha se partia per­m itindo assim extrair os blocos. Para transportar os blocos mais pesados usava-se espalhar bolas de chum ­bo debaixo do bloco. Depois de algum tempo, o peso dos blocos acabava achatando as bolas de chumbo.22.3. pregos e dobradiças de ferro. Nesse período, o ferro era bastante usado, embora ainda fosse conside­rado um material decorativo. As dobradiças prova­velmente eram placas decorativas ou braçadeiras pre­sas à porta com pregos.22.3. trabalho em bronze. O bronze era refinado em um crisol e depois colocado em moldes para dar forma ao metal.22.4. toras de cedro. O cedro era usado principalmen­te para compor intricados painéis nos cômodos inter­nos. Também poderia ser usado para cobrir os vãos form ados entre as pedras. M uitos dos entalhes de madeira usados no templo eram feitos com toras de oliveiras e não de cedro.22.14. três m il e quinhentas toneladas de ouro (cem m il talentos de ouro). Trata-se de uma enorme quan­tidade de ouro, equivalente a 45 bilhões de dólares ao preço atual do grama, m as representa ainda mais em term os de poder de com pra. Essa é com certeza a m aior quantidade de ouro mencionada no Antigo Tes­tamento. Outras passagens de Crônicas fazem men­ção a 3 mil talentos (112 toneladas) de ouro (1 Cr 29.4). Excetuando-se as passagens de Crônicas, o m aior nú­mero m encionado equivale a 25 toneladas de ouro (666 ta len to s), corresp on d en te à qu an tid ad e que Salomão dizia receber anualmente. N o Egito, a maior doação de ouro e prata feita por um faraó aos deuses foi de 200 toneladas, oferecida por Sisaque (que sa­queou grande quantidade de ouro de Jerusalém). Em

inscrições assírias, reis como Tiglate-Pileser III, SargonII e Salm aneser III raramente m encionam a quantida­

de específica de ouro recebida na form a de tributo ou

tomado como despojo e quando o fazem, geralmente seria algo em tom o de dez a cinqüenta talentos. Sé­

culos m ais tarde, foi atribuída a Persépolis a posse da

m aior reserva de ouro do m undo antigo. N a época das conquistas de Alexandre, a quantidade de ouro e

prata existente no tesouro dessa cidade foi avaliada

em 120 mil talentos (4500 toneladas) de prata.22.14. quanto ouro? Em 1993, as estatísticas demons­

travam que a reserva m ineral m undial som ava um total de 55.435 toneladas. A reserva de ouro do Banco

Central dos Estados Unidos era de cerca de 900 tone­

ladas. Um a barra de ouro de trinta centímetros pesa

cerca de 500 quilos (equivalente a m ais de sete m i­lhões de dólares no mercado atual). As contribuições

recebidas por Salomão teriam preenchido duas gara­

gens de tamanho médio, do chão até o teto, com bar­

ras como essa (6250 delas). Se os construtores tivessem usado blocos do tamanho dessas barras, teriam levan­

tado três paredes externas de dois aposentos princi­pais do templo com 30 centímetros de espessura (com

as dimensões de 27 metros por 9 x 9 ) .22.14. trinta e cinco m il toneladas de prata (um m i­

lhão de talentos de prata). Assim como a quantidade

de ouro anterior, essa quantidade de prata também é enorm e (35 mil toneladas) e excede qualquer outra

menção, seja em outras passagens bíblicas ou em fon­

tes extrabíblicas.

23.1-26.32 Os levitas e suas obrigações23.28-31. deveres dos levitas. Ver os comentários em

9.22-33.24.6. escriba. No mundo antigo, os escribas desem pe­

nhavam as funções de cronistas, historiadores, jorna­listas, secretários, professores e bibliotecários da épo­ca. Grande parte da formação de um escriba incluía o

domínio da leitura e da escrita, além de outras habili­dades especializadas. Em bora muitos escribas não pas­

sassem de meros copistas ou funcionários medíocres, alguns adquiriam a fam a de sábios e outros ainda

alcançavam a posição de prim eiro-m inistro, como é possível notar em documentos de Ugarit.

25.1. relação entre m úsica e profecia. Geralmente os

profetas em pregavam diversos procedimentos a fim de se preparar para receber os oráculos proféticos. A música tinha um importante papel na indução a um

estado de transe (êxtase) que, segundo a crença da

época, tom ava a pessoa receptiva à mensagem divi­na. O s textos de M ari m encionam um grupo de fun­

cionários do templo que entrava em transe e freqüen­temente recebia m ensagens proféticas.26.15. depósito. Esse termo aparece apenas aqui e em Neemias 12.25. Em acadiano, o termo refere-se a al­gumas edificações externas aos portões do templo, significado que se encaixa m elhor ao contexto mais específico de Neemias.26.16. porta Salequete. Essa é a única menção a essa porta; sua posição e função são desconhecidas. A par­tir do contexto, é possível supor que ficava do lado ocidental (fundos) do templo, m as não era exatamente a porta ocidental. Visto que havia um pátio no lado ocidental (ver o com entário em 26.18), talvez essa porta permitisse o acesso à extremidade oeste dessa área enquanto que a porta ocidental dava passagem do pátio para a área do templo.26.16-18. fu nção dos guardas das portas. U m a das tarefas mais importantes dos sacerdotes era controlar o acesso ao interior do templo, a área interna conside­rada o "âm bito sagrado" (a respeito desse conceito, ver os comentários em Lv 16.2 e Nm 18.1-7). Quando o santuário era contaminado com impurezas, era pre­ciso fazer um a oferta de purificação ("oferta pelo peca­do", ver o comentário em Lv 4.1-3). A contaminação do santuário podia acarretar um castigo individual ou coletivo. Os guardas das portas tinham o dever de evitar a entrada de intrusos. Além disso, havia tam ­bém inúmeros objetos valiosos dentro do templo, e a abundância de ouro e prata seria uma tentação para os indivíduos sem escrúpulos que chegassem a inva­dir e roubar o templo. Portanto, esses objetos também tinham de ser protegidos. O uso inadequado daquilo que era considerado sagrado exigia uma oferta de reparação ("oferta pela culpa", ver o comentário em Lv 5.14-16). Os guardas das portas tinham a responsa­bilidade de proteger o tem plo contra esse tipo de transgressão.26.18. pátio (parbar). Supõe-se que esse obscuro ter­mo arquitetônico (de acordo com os Manuscritos do M ar Morto) refira-se a um a área aberta (semelhante a

um pátio) a oeste do santuário (isto é, nos fundos) caracterizada por colunas espalhadas.26.20. te so u ro s do tem p lo . V er o com entário em26.16-18.

27.1-24 Os tesoureiros e outros oficiais27.1. im portância da lista. Parte da responsabilidade dos israelitas para com seu rei e nação envolvia o serviço m ilitar e a prestação regular de serviços em equipes de trabalhos forçados. Esse últim o caso era considerado um tipo de cobrança de imposto. Essa lista, porém, refere-se às divisões do exército que não

eram organizadas estritam ente por tribo. Na transi­ção para um exército efetivo, o sistema militar convoca­va cada divisão para servir efetivamente durante um m ês, formando assim um exército rotativo regular, além das tropas profissionais que se dedicavam inte­gralmente ao exército e das tropas de mercenários.27.24. ira divina sobre Israel. Para informações sobre esse incidente, ver os comentários em 2 Samuel 24.

27.25-34 Os superintendentes do rei27.25-31. propriedades do rei. Esses funcionários su­pervisionavam os tesouros do palácio. A coroa tinha propriedades em toda a região porque quando al­guém morria sem deixar herdeiros, a terra automati­camente revertia para o rei. No caso também de al­guém contrair dívidas com o rei por qualquer motivo, passaria a trabalhar para o rei. Além das terras e de toda a produção, o rei também possuía rebanhos que pastavam em suas terras.

28.1-21 Salomão é encarregado de construir o templo28.1. adm inistração réal no antigo O riente Próximo.As categorias alistadas nesse versículo incluem repre­sentantes de cada tribo (um resquício do sistema de doze tribos que antecedeu a m onarquia), todos os oficiais militares (tanto da guarda pessoal do rei quan­

to do exército nacional), encarregados reais, funcioná­rios do palácio (escribas, eunucos, conselheiros, ofici­ais) e integrantes das forças especiais de D avi (um grupo de elite sem uma rígida estrutura militar). Não há referência aos sacerdotes ou levitas, mas talvez a presença deles estivesse im plícita (v. 21). Estruturas

burocráticas são evidentes no antigo Oriente Próximo desde o quarto milênio a.C.. Magistrados, meirinhos,

juizes, arautos e supervisores, todos faziam parte do governo de cidades e povoados. M as essa lista refere- se à administração do rei e do Estado, ou seja, adminis­tração real, e não administração social. Esta lista pode ser comparada e contrastada com a estrutura assíria de alguns séculos mais tarde, caracterizada por três oficiais principais imediatamente abaixo do rei, compa­rável em parte a três funções da estrutura de governo norte-americana: secretário de Estado, chefe de gabi­nete do presidente e presidente dos chefes de gabine­

tes do estado. O segundo escalão na hierarquia do governo incluía a maioria dos funcionários do palácio.28.2. arca com o estrad o. A arca era um a caixa de madeira, aberta em cima, com aproximadamente um metro de comprimento e setenta centímetros de altura e largura. Era revestida por dentro e por fora de lâmi­n as fin as de ouro e tin h a duas arg o las (tam bém

revestidas de ouro) de cada lado, onde eram introdu­zidas duas varas de madeira revestidas de ouro, usa­das para carregar a arca e evitar que alguém, além do sumo sacerdote, a tocasse. Uma tampa de ouro puro, decorada com dois querubins com as asas estendidas, fechava a arca. Sua função prim ordial era guardar as tábuas da lei e servir como um "escabelo" ou estrado para o trono de Deus, garantindo assim uma ligação terrena entre Deus e os israelitas. No Egito era costu­me depositar aos pés da divindade os documentos importantes confirmados em juram entos (p. ex., trata­dos internacionais). O Livro dos Mortos chega a men­cionar um a fórm ula escrita pela m ão da divindade em um bloco de metal sendo depositada aos pés da divindade. Portanto, a combinação estrado/receptá­culo segue um costume egípcio já conhecido. Nos fes­tivais egípcios, as imagens dos deuses com freqüência eram carregadas em procissão, dentro de altares por­táteis. Foram encontradas ilustrações de procissões em que caixas sem elhantes à arca eram carregadas por varas e decoradas com criaturas guardiãs em cima ou dos lados. Uma arca com argolas (para ser transporta­da com varas), parecida com a arca da aliança, foi encontrada na tumba de Tutancâmon.28.11. arquitetura do tem plo. Os templos são classifi­cados pelos arqueólogos de acordo com a disposição das câm aras que possibilitam o acesso aos compar­timentos internos e também pela localização da câma­ra principal, onde a presença da divindade é repre­sentada. O sistema de construção em "eixo reto" per­mitia caminhar num a linha reta, do altar até o santu­ário interior. O "e ixo cu rv o" exigia um a curva de noventa graus entre o altar e o lugar onde a imagem da divindade ficava. A porta que dava acesso direto ao santuário retangular podia ficar na parede peque­na ("côm odo com prido") ou na parede longa ("côm o­do am plo"). O templo de Salomão seguia o estilo de arquitetura de "eixo reto", m as não havia nem a pa­rede longa nem a pequena, porque o lugar santíssimo era quadrado, e não retangular. No templo de Salo­mão havia também um a antecâmara entre o altar e o Lugar Santo, bem como um pórtico, um pátio e vários cômodos laterais. A arquitetura dos templos do antigo Oriente Próximo apresentava m uitos elem entos em comum. Um templo do século nono em Tell Tayanat, na Síria, apresenta a estrutura exata de um pórtico com duas colunas, uma antecâmara comprida e uma pequena cela construída a partir de eixos retos, me­dindo 11 metros por 25 metros (a cela do templo de Salomão media 9 por 27).28.15-17. u tensílios do templo. Os arqueólogos encon­traram vários utensílios usados nos templos em todo o antigo Oriente Próximo, inclusive um a série de brasei­

ros, pás e vasilhas. Para mais informações sobre utensí­lios específicos, ver os comentários em 2 Crônicas 4.28.18. carro dos querubins. Esse versículo é o único que apresenta uma relação explícita entre querubins e carruagens. Os capítulos 1 e 10 de Ezequiel relatam de criaturas identificadas como querubins acom pa­nhando o trono m óvel de Yahw eh, m as elas nunca são descritas como carruagens. A s descrições bíblicas, bem como as descobertas arqueológicas (inclusive algu­m as peças de m arfim de Ninrode, na Mesopotâmia, de A rslan Tash, na Síria e da Sam aria, em Israel) sugerem que os querubins eram criaturas compostas (com características de diversas criaturas, como a es­finge egípcia), geralmente com cabeça hum ana, cor­po de anim ais quadrúpedes (leão, por exem plo) e asas. O querubim aparece na arte antiga com certa regularidade ao lado de tronos de reis e divindades, assim com o na figura de um trono encontrada no sarcófago de Airão.

29.1-9Dádivas para a construção do templo29.2. ônix. As vezes traduzido como "com alina" ou até mesmo "lápis-lazúli", a identificação exata dessa pedra é desconhecida.29.2. tu rqu esas. A lguns sugerem tratar-se de "an ti- m ônio", e outros acreditam que seria a argamassa usa­da como base para assentar os mosaicos (ver o comen­tário a seguir).29.2. pedras de várias cores. A referência a pedras de

várias cores sugere o uso de m osaicos. No m undo antigo, os mosaicos eram m uito populares. As pedras não eram coloridas artificialmente, ao contrário, pe­dras de diferentes tonalidades eram trazidas de seu lugar de origem a fim de proporcionar um a bela com­binação de cores ao m osaico. Os pisos mais antigos de mosaico eram feitos de seixos coloridos dispostos na forma de padrões geométricos. A técnica de cortar as pedras em cubos (marchetaria) e usá-las para formar figuras só aparecerá mais tarde. Não foi encontrado nenhum exem plar de m osaico no O riente Próximo anterior ao oitavo século a. C. (Gordion, na Ásia M e­nor), embora a técnica para revestimento de parede já fosse conhecida desde o terceiro m ilênio (como no padrão real de Ur).29 .2 . m árm o re . A lg u m as tra d u çõ es m en cion am "alabastro". O m ármore precisava ser importado da Grécia e não aparece no mundo antigo até ser intro­duzido na Fenícia durante o período persa. Só exis­tem evidências arqueológicas do uso de mármore em capitéis (a decoração no topo das colunas) a partir do primeiro ou segundo século d.C., embora o texto de Ester 1.6 faça menção a colunas feitas desse mesmo

m aterial descrito aqui, usado também como revesti­mento para «o piso. O alabastro oriental era um carbo­nato de cálcio parecido com o mármore, diferente do alabastro europeu, que é feito de gesso. Este tipo de material era usado na fabricação de utensílios finos em toda a região durante o período bíblico e também na arquitetura de colunas. Na construção do "palácio sem rival" de Senaqueribe foi utilizada principalmente a pedra calcária branca, embora o rei não tivesse difi­culdade para conseguir o alabastro.29.4. quantidade de m etais preciosos. A quantidade m encionada aqui é superior a cem toneladas de ouro e 250 toneladas de prata. No Egito, a m aior doação de ouro e prata oferecida por um faraó aos deuses foi de 200 toneladas, feita por Sisaque (que saqueou gran­des quantidades de ouro de Jerusalém). Em inscrições assírias, re is com o T ig late-P ileser III, Sargon II e Salm aneser III raram ente m encionam a quantidade específica de ouro recebida na form a de tributo ou tomado como despojo e quando o fazem, geralmente fica entre dez e cinqüenta talentos. Esta quantidade pode ser comparada m ais apropriadam ente com os nove mil talentos de ouro e 40 mil talentos de prata que A lexandre, o G rande, teria tom ado da capital persa, Susã.

29.4. O fir. Ouro de O fir é m encionado num a inscrição do oitavo século, em Tell Qasile. O local exato é desco­nhecido. O fato de ter vindo de Eziom-Geber indica que seria um a localidade árabe, em bora a índia e o leste da Africa não devam ser descartados.29.7. doações dos líderes. Cinco m il talentos de ouro

equivalem a quase 200 toneladas e a quantidade de prata doada é o dobro disso. Parte do ouro doado foi calculada em dáricos, a m oeda do Império Persa. Para m aior clareza, o autor de Crônicas converteu esse va­lor na unidade monetária da época. O dárico é uma moeda de ouro cujo nom e deriva de seu criador, o rei

persa Dario, o Grande, que reinou por volta do final do século 6 a.C.. Foi a prim eira m oeda cunhada no

O riente Próximo (embora o m undo grego cunhasse m oedas há m ais de um século). O dárico trazia a imagem de uma âncora e pesava cerca de 10 gramas. D ez m il dáricos, portanto, equivaleriam à cerca de cem quilos (dois talentos e meio). Talvez o cronista não tenha incluído esse valor junto com os outros ta­lentos de ouro porque parte da doação fora feita em barras com a medida exata para transações comerci­ais. M uito antes de surgir a moeda, eram usadas pe­ças de peso padronizado na form a de barras (sem um modelo definido), ou argolas de diversos tamanhos já no segundo milênio.

29.10-30 Salomão é ungido rei29.21. sacrifícios. Os holocaustos e as ofertas de comu­nhão eram dois dos sacrifícios m ais comuns. O pri­meiro geralmente acompanhava uma petição, enquan­to que o segundo oferecia a oportunidade para cele­brações e refeições com unitárias diante do Senhor. Essas ofertas geralmente eram oferecidas em contex­tos nacionais para ratificar tratados ou acordos de ali­anças. A qui, os sacrifícios foram oferecidos com o pro­pósito de pedir a bênção de Deus e ao mesmo tempo, oferecer um banquete, firm ando assim um a aliança entre Salomão e os que estavam presentes.29.29. fon tes usadas no Livro de Crônicas. O cronista menciona diversas fontes usadas por ele na compila­ção de sua obra. A maioria delas não foi preservada, embora os Livros canônicos de Samuel e Reis façam parte do acervo consultado pelo cronista. As fontes mencionadas aqui são registros dos três profetas fa­m osos do período de D avi, em bora seja im possível saber se seriam memórias, antologias de profecias ou algum outro tipo de documento. Não há nenhum li­vro procedente do mundo antigo que possa ser atri­buído a um profeta da corte, exceto os que se encon­tram na Bíblia, portanto faltam elementos para iden­tificar a natureza dessas obras.

2 C R Ô N I C A S

1.1-17 Deus abençoa Salomão1.3. alto de G ibeom . Localizada cerca de seis quilô­metros a noroeste de Jerusalém, Gibeom (el-Jib) fica na região montanhosa do território benjam ita próxi­m a a diversas fontes e com um elaborado sistema de túneis de água, tom ando o local um importante povo­ado. O lugar alto ou sagrado onde Salomão fez sua enorm e oferta de mil sacrifícios (1 Rs 3.4) talvez fique num a elevação chamada Nebi Samwil, cerca de dois quilômetros ao sul de Gibeom. A importância da ci­dade tam bém se evidencia pelo fato de estar incluída na lista de cidades feita por Sisaque durante sua cam ­panha na Palestina. O uso de um lugar alto não é condenado pelo escritor bíblico antes da construção do templo de Jerusalém e da implementação do "pecado de Jeroboão" (ver os comentários em 1 Sm 10.8; 1 Rs12.28-31).1.3. Tenda do Encontro. Ver s comentários em Êxodo 27.21 e 33.7-10 a respeito da construção e do uso dessa instalação sagrada durante a época da peregrinação no deserto. O fato de ter sido separada da arca aparece somente nessa narrativa.1.4. Q uiriate-Jearim . Essa aldeia foi o local onde a arca da aliança ficou guardada por algum tempo após ter sido devolvida pelos filisteus (1 Sm 7.1, 2). A cidade foi identificada com Tell el-Achar, cerca de 14 quilô­metros a oeste-noroeste de Jerusalém, apesar de não ter respaldo arqueológico nem referências fora da Bí­blia. Sua associação com M aané-Dã em Juizes 18.12 a situa naquela área geral (ver o comentário em Jz 13.25). De acordo com essa localização, Quiriate-Jearim fica­ria apenas a cerca de dez quilômetros de Gibeom.1.5. altar de bronze. Ver Êxodo 38.30 e 39.39 a respei­to da construção desse altar que ficava à entrada da Tenda do Encontro (ver tam bém 2 Rs 16.14). A pre­sença da Tenda do Encontro e do altar de bronze em Gibeom, enquanto a arca era deslocada para Jerusa­lém, sugere a existência de dois centros relig iosos importantes e distintos, antes da construção do templo em Jerusalém.1.5. consulta da assem bléia. As consultas da assem ­bléia geralm ente eram na form a de um a pergunta oracular feita à divindade, aqui, no entanto, nenhu­ma pergunta é colocada. Um a interpretação alternati­va bastante convincente é a de que a busca ("consul­ta") seria pelo altar e não por um oráculo do Senhor.

Essa interpretação faria sentido antes do início da cons­trução do templo descrita nos próximos capítulos. Com a construção prevista de um novo santuário, era im­portante reunir todas as relíquias que haviam tido relação com o santuário tradicional. Havia um sentido sagrado nesse altar que havia sido usado por Arão séculos atrás. Se um oráculo estivesse sendo consulta­do nesse contexto, é provável que estivesse relaciona­do ao desejo de edificar um templo, pois um a obra desse tipo só tinha início após a específica aprovação divina (ver o comentário em 2.1).1.6. m il holocaustos. A magnitude desse sacrifício só pode ser comparada aos sacrifícios coletivos narrados em Êxodo 24.5-8 e 1 R eis 8.5. Esse exagero geral­mente m arcava importantes eventos da aliança ou o

início de um novo relacionam ento com Yahw eh. A im ensa quantidade de ofertas empilhadas sobre me­sas representadas em pinturas de túm ulos egípcios pode ser comparada, ao menos em termos de quanti­dade, à devoção e ao poder exemplificados pelas ofer­tas de Salomão em Gibeom.1.7-12. incubação de sonhos. Em bora a passagem de Crônicas não m encione um sonho, 1 Reis 3 oferece os detalhes desse episódio. Era comum no m undo antigo que indivíduos ou grupos, após um a peregrinação a santuários, dormissem diante do altar na esperança de obter um a m ensagem da divindade local, através de um sonho (ver os comentários em Gn 28.13-15 e 1 Sm 3.3). O contexto, portanto, era extremamente im­portante para incubar um sonho contendo uma teofania (como no sonho do rei e herói ugarítico Keret). Nesse tipo de visão, a pessoa é despertada pela presença da divindade e cham ada para estar atenta às palavras que serão proferidas. Dentre os m uitos exemplos na literatura do antigo Oriente Próximo, em um deles o rei assírio Assurbanipal descreve um sonho em que Istar aparece a ele, e em outro o rei neobabilônio Nabonido registra diversos sonhos em que M arduque ou Sin aparece de pé diante dele em toda a sua glória.1.7. o oferecim ento de D eus. Em m ensagens como essa, transmitidas através de sonhos (ver o comentá­rio em 1 Sm 3.4-10), geralm ente ocorria um diálogo entre a divindade e o rei. O sonho servia para confir­m ar o reinado ou alguma tarefa proposta ao rei.1.8. Salom ão reconhece a proteção de D eus. Expres­sões semelhantes podem ser encontradas em todo o antigo Oriente Próximo, proferidas por reis em reco­

nhecimento à divindade que os colocara no trono. O rei hitita, Muwattalli II, por exemplo, declarou-se in­digno em comparação à posição e aos feitos de seu pai, mas a seguir reconheceu que a divindade foi quem o fez prosperar, ascender ao trono e firmar seu reinado.1.12. Salom ão recebe sabedoria. Os reis do antigo Oriente Próximo eram em geral vistos como sábios, e não raro reconheciam ter recebido essa sabedoria da divindade. O rei assírio Sargon foi proclamado o mais sábio governante do mundo, graças aos deuses Ea e Belet-ili. O deus Asur garantiu a Senaqueribe num sonho que sua sabedoria ultrapassaria a sabedoria dos mais entendidos. Assurbanipal vangloriava-se não apenas de sua grande erudição e sabedoria, mas tam ­bém de seu conhecimento técnico e habilidade para argumentar, reconhecendo ter recebido de Sham ás e Adade toda essa riqueza de sabedoria.1.14. carros e cavalos de Salom ão. A acumulação de tantos carros e cavalos indica a intenção de Salomão em imitar as grandiosas ostentações militares de seus vizinhos e rivais. Em conflitos e batalhas travadas em campo aberto e nas extensas planícies, os carros de guerra, acom panhados de batalhões de infantaria e cavalaria eram ao m esm o tem po um a arm a letal e um a plataforma móvel para os arqueiros. O número assombroso de carros registrado nos anais assírios da Batalha de Qarqar (853 a.C., ver comentário em 22.1) indica o quanto eram considerados importantes pelos comandantes no planejamento das estratégias milita­res. O contingente de carros de Salom ão não chega aos dois mil carros que Acabe enviou para a aliança ocidental na batalha de Qarqar. No século treze, os hititas e seus aliados reuniram 2.500 carros para com­bater Ramsés II, na batalha de Cades.1.14. os estábulos de Salom ão. A grande quantidade de estábulos descobertos por arqueólogos em Israel (Megido, Tell el-Hesi, Láquis, Berseba, Hazor) indicao uso extensivo de unidades formadas por carros de guerra nos exércitos de Israel e de Judá. O estilo arquitetônico comum encontrado na maioria dessas instalações (um cômodo longo, dividido em três baias por pilares, com uma só entrada) revela um a atenção especial à construção dessas estruturas e a existência de um a planta comum. H avia nesses locais pilares baixos de pedra, com furos, nos quais se amarravam os animais, e grandes manjedouras de pedra (seme­lhantes àquelas ilustradas em monumentos assírios). As instalações geralmente eram grandes para poder abrigar e exercitar os garanhões treinados. Os estábu­los de M egido (os que foram descobertos remontam à época de Acabe) podiam abrigar até 480 cavalos. Se acrescentarmos os demais estábulos encontrados por arqueólogos, o número de baias chega a quase 800.

1.15. o ouro de Salom ão. Acerca de dados referentes ao ouro de Davi e de Salomão, ver os comentários em1 Crônicas 22.14.1.16. 17. com ércio com o Egito. Salom ão parece ter sido um a espécie de "interm ediário" entre o Egito e a Anatólia no comércio de cavalos e carros. Os fenícios haviam estabelecido as principais rotas comerciais e forneciam os navios para o transporte de mercadorias em todo o M editerrâneo. Através da parceira comer­cial com os fenícios e pela posição estratégica de Salomão entre a África e a Ásia (ver suas fazendas de cavalo em 2 Cr 8.3, 4), era natural que Israel sugasse os mer­cados financeiros durante um período de relativa paz. D esde o período A m am a, cavalos de excelente quali­dade eram importados do Egito por diversas nações, inclusive pelos hititas. Tanto fontes assírias quanto hititas apontam a diferença entre os cavalos disponí­veis no Egito (cavalos nubianos, de grande porte) e seus próprios cavalos (de porte menor).1.16. C ilicia (hebraico: Cuve). Localizada nas planíci­es do sudeste da Turquia e descrita pelas fontes clássi­cas como a Cilicia, Cuve em ergiu da destruição do império hitita em 1200 a.C. para tom ar-se um impor­tante centro comercial. Além de sua m enção como um dos parceiros comerciais de Salomão, Cuve é citada nos anais assírios por ter participado da Batalha de Qarqar (853 a.C.) e também na inscrição Karatepe de Azitawada (final do oitavo século a.C.).1.17. preço dos carros e cavalos. O preço de cada carro variava entre sessenta e cem siclos, de acordo com registros encontrados. O fato de Salom ão estar p agand o um v alor bem m aior sugere que não se tratava de carros comuns, e sim carros ornamentados, usados em exibições e desfiles militares. O uso desse tipo de carro é amplamente comprovado tanto no Egito como na M esopotâmia. Considerados como o trans­porte luxuoso da época, esses carros eram geralmente adornados com enfeites de ouro, lápis-lazúli e pedras preciosas. As cartas de A m am a referem-se a um carro pertencente a um rei m itani enfeitado com m ais de trezentos siclos de ouro. O preço dos cavalos também é elevado, mas não abusivo, considerando-se que eram animais de qualidade. De acordo com fontes hititas do

segundo milênio um cavalo podia ser comprado por vinte siclos, mas na Síria e na Babilônia, do início do segundo milênio até a metade do primeiro milênio, o preço chegou a atingir de duzentos a trezentos siclos por animal.1.17. exportação para hititas e arameus. Para receber cavalos e carros por qualquer rota terrestre, os hititas (ver o comentário em 2 Rs 7.6) e os arameus tinham de fazer um acordo com Salom ão e seus parceiros fenícios. Durante os séculos onze e dez a.C., as tribos

dos arameus haviam se aproveitado da fraqueza da Assíria e da Babilônia e estabelecido pequenos rei­nos, como o de Damasco (ver o comentário em 1 Rs11.23-25). Percebendo que os assírios ainda tinham condições de emergir novamente como potência (como de fato aconteceu no nono século), seria um a boa polí­tica tanto para a Cilicia quanto para a Síria, continuar a treinar e equipar seus exércitos, mesmo diante de

preços tão inflacionados.

2.1-4.22A construção do templo2.1. constru ção de tem p los no m undo antigo. Noinício do segundo m ilênio, Gudea, governante de Lagas, recebeu instruções através de sonhos de incu­bação de que ele teria de construir um templo para a deusa Ningirsu. O texto relata que o rei ajuntou m ate­rial (madeira, pedra, ouro e prata) e reuniu um a equi­pe de trabalho. Ao término da obra, foi oferecido um banquete de consagração do templo durante sete dias. Com o resultado de seu trabalho, Gudea recebeu a prom essa de um a vid a longa e um reinado bem - sucedido. Detalhes semelhantes surgiram mais de um milênio mais tarde, quando Esar-Hadom foi orienta­do a recon stru ir o fam oso tem plo de E sagila , na

Babilônia. Outro relato interessante de construção de um tem plo pode ser encontrado no épico ugarítico que mostra o deus Baal construindo uma casa para si mesmo. Podem os encontrar ali novam ente os aspec­tos relacionados a reunir o m aterial necessário, convo­car uma equipe de trabalho e celebrar após o término da obra.2.2. trabalho obrigatório. A convocação de trabalha­dores para a construção de obras públicas como tem­plos era feita através de um recenseamento. Conside­rando-se o enorme núm ero de projetos em andamen­to durante o reinado de Salom ão, parece provável que tanto os israelitas como os estrangeiros que mora­vam entre eles tenham se subm etido a esse tipo de trabalho. Há indícios disso no fato de Salom ão ter colocado Jeroboão como encarregado dos que faziam trabalhos forçados da tribo de José (1 Rs 11.28) e no apedrejam ento de Adonirão, um outro capataz, por parte das tribos do norte (1 Rs 12.18, 19). O uso de trabalho forçado já era bastante comum na Síria na segunda metade do segundo milênio. Um a das acu­sações contra o rei neobabilônio Nabonido, encontra­da no Cilindro de Ciro, refere-se aos excessos relacio­nados ao "trabalho forçado".2.2. carregadores. Como em qualquer equipe de tra­balho, é provável que existisse uma divisão de tarefas entre os trabalhadores qualificados e aqueles menos capacitados. Provavelm ente aqueles que exerciam a

função de "carregadores" eram os menos qualifica­dos, responsáveis pelo trabalho pesado, como carre­

gar pedras, vigas de madeira, material de construção e ferramentas. Documentos mesopotâmicos registram

que o trabalho mais pesado era, em geral, designado aos prisioneiros de guerra ou escravos. No contexto

em questão, é provável que os estrangeiros ficassem encarregados dessa tarefa, m as isso dependia tam ­

bém das habilidades individuais e da experiência de cada trabalhador.

2.2. cortadores de pedras. A passagem paralela em 1

Reis 5.15-18 indica a necessidade de trabalhadores encarregados de extrair as pedras das rochas e tam ­

bém de trabalhadores altam ente treinados como os

fenícios de Gebal (de Biblos) que esculpiam e davam

forma aos blocos de pedra que seriam usados na cons­trução do templo. A técnica utilizada para extrair os

blocos de pedra na pedreira incluía cavar fossos (com

mais de meio metro de largura em toda a volta) a fim de isolar a rocha. A seguir, eram introduzidas cunhas

de madeira na base da pedra e embebidas com água,

de forma que a dilatação da m adeira provocada pela

água soltasse a base da pedra. Em bora esse trabalho

fosse relativam ente simples, havia a necessidade de um supervisor treinado para determinar onde seria

introduzida a cunha e tam bém para localizar os me­

lhores blocos de pedra. Após a extração, os pedreiros m ais qualificados assumiam o trabalho dando forma e

tamanho adequado à pedra a ser usada na construção.

O trabalho era feito com tamanha precisão que nem era preciso usar argam assa, visto que as pedras se

encaixavam com perfeição. O texto egípcio "Sátira

sobre as Profissões" m enciona que os cortadores de

pedras eram acometidos de cãibras nas costas e nas coxas, e que prejudicavam seus braços esculpindo

"pedras valiosas" para as construções. O trabalho dos cortadores de pedra é ilustrado em alguns murais que

decoravam o palácio de Senaqueribe, em Nínive.2.2. quantidade de trabalhadores. O total de traba­lhadores era de 153.600 (v. 17 ,18), divididos em três

grupos: carregadores, cortadores de pedra e capata­zes. Núm eros elevados com o esse podem refletir o

total aproximado de todos os trabalhadores recrutados para a construção do templo durante anos até o tér­

m ino da obra, e não o núm ero de pessoas trabalhando simultaneamente num determinado período. Os reis

assírios e babilônios geralmente conseguiam mão-de- obra para seus projetos em campanhas militares. De

fato, às vezes uma campanha era motivada pela ne­

cessidade de força de trabalho. Em um relatório, Assur- nasirpal afirma ter reunido quase cinqüenta mil ho­

mens para trabalhar na cidade de Kalhu.

2.3-16. correspondência real. Existem m uitos exem­plos de correspondência real no antigo Oriente Próxi­mo contendo pedidos de suprim entos para a cons­trução (como os cedros do Líbano), artigos de luxo e permutas diplomáticas. A carta levada por W enamon,o sacerdote egípcio do século onze, continha um pedi­do de toras de cedro e fazia m enção ao relacionamento duradouro, de muitas gerações entre o faraó e os reis da costa fenícia. Os reis de M ari escreviam regular­mente a seus vassalos e aliados, mandando notícias e descrevendo a chegada de produtos manufaturados, anim ais e m atéria-prim a que haviam solicitado ou adquirido. N esse contexto, a troca de cartas entre Salo­mão e Hirão, em bora não estruturada no estilo formal típico de correspondência extrabíblica, tem um cará­ter comercial, como era comum.2.4. queim ar incen so . Ver o com entário em Êxodo30.7, 8 a respeito do uso de incenso na tenda do en­contro e a evidência de seu uso em outras partes do antigo Oriente Próximo. Queimar incenso diante da divindade era um a parte normal do culto em todo o antigo O riente Próxim o, portanto essa necessidade seria algo fam iliar a Hirão.2.4. pão consagrado. V er o com entário em Levítico24.5-9 sobre o preparo e a apresentação sem anal do pão consagrado. Esse sacrifício simbolizava a presen­ça de Deus e tam bém a prom essa de fertilidade en­contrada na aliança. Era uma prática comum no anti­

go Oriente Próximo oferecer comida aos deuses, em­bora a prática israelita nesse aspecto fosse bastante

diferente daquela de seus vizinhos (ver o comentário em Lv 1.1, 2).

2.4. sábados, Luas novas e festas fixas. Ver os comen­tários em Números 28 e 29 que tratam do calendário religioso de Israel. Apesar da guarda do sábado ser uma prática exclusiva de Israel, as Luas novas e festas anuais eram obrigações conhecidas por Hirão e pelos fenícios.2.5. b ase p ara a a firm ação da su p erio rid a d e de

Yahw eh. Declarações sem elhantes da superioridade de deuses padroeiros podem ser encontradas nos anais assírios e na história da criação de Enum a Elish, a respeito de A ssur e do deus babilônio M arduque, respectivamente. Essa seria a retórica esperada para qualquer nação em seus documentos internos. Quan­do um a nação afirm ava a superioridade de seu(s) deus(es) em relação ao(s) deus(es) de outro povo, ge­ralm ente o argum ento era baseado na suprem acia militar ou em atos de poder. Tais declarações tinham m aior credibilidade quando eram proferidas pela boca de alguém que anteriormente fora adorador de outro(s) deus(es), agora considerado(s) inferior(es). É esse o caso da declaração de Raabe (com base na supremacia

militar e nos atos poderosos de Yahweh, Js 2.11) e da exclamação de Naamã (com base num ato de cura; 2 Rs 5.15).2.7. im portação de artesãos. Quando os assírios ou babilônios partiam em cam panhas visando recrutar força de trabalho, um dos principais objetivos era con­seguir artesãos hábeis (ver a lista daqueles que foram exilados em 2 Rs 24.14,16). Porém, a intensa deman­da m uitas vezes exigia um a quantidade m aior de artesãos do que os que estavam disponíveis localmen­te. A lém disso, alguns povos haviam desenvolvido certas técnicas relacionadas aos recursos naturais dis­poníveis na área em que viviam. As corporações de artesãos com freqüência eram formadas por famílias que haviam desenvolvido suas próprias técnicas que eram transmitidas de geração em geração. Essas habi­lidades eram cobiçadas e as rotas comerciais acaba­vam divulgando-as e aum entando a dem anda por tais artesãos.2.7. tecido roxo, verm elho e azul. Essas cores eram as mais exóticas e cobiçadas no mundo antigo, portanto m uito caras. H aviam sido usadas na decoração do tabernáculo e nos enfeites das vestes sacerdotais. O tecido de cor "azu l" recentem ente foi interpretado como sendo azul-púrpura ou roxo. O corante dessa cor era um dos principais produtos de exportação da Fenícia, sendo extraído de determ inados m oluscos m arinhos (M urex trunculus), que viviam em águas rasas na costa do M ed iterrân eo. U m a fábrica de corantes foi descoberta em D or, ao longo da costa norte de Israel. Especialistas calculam que seriam ne­cessários 250 mil moluscos para produzir aproxima­damente meio quilo de corante puro. Esse corante era usado na confecção da maioria dos objetos sagrados, tais como o véu do Lugar Santíssimo e as vestes do sumo sacerdote.2.8. tipos de m adeira. O cedro e o pinho eram usados basicam ente para as vigas e outras estruturas de sus­tentação. O uso dessas m adeiras acompanha o padrão estabelecido por outros reis do antigo Oriente Próximo, como fez Nabucodonosor, rei da Babilônia, na constru­ção de seus prédios monumentais. Junípero, conforme1 R eis 1 0 .1 1 ,1 2 é um a m adeira de sândalo averm e­lhada importada de Ofir (nativa da índia e do Ceilão), considerada madeira de lei e extremamente cara, muito usada na fabricação de m óveis pelo fato de poder ser polida. O junípero citado aqui talvez seja o junípero grego, um abeto alto da espécie conífera usado para ex­tração de madeira. Geralmente eram usadas madeiras mais duras que davam um bom acabamento e tinham textura bonita e odor agradável. M uitas dessas m adei­ras também eram resistentes a mofo, cupins ou outros insetos. Para preparar as tábuas eram usadas ferramen-

tas como m achados com cabeçote de ferro e serras de

cobre com dois cabos. Inform ações sobre esse tipo de

ferramentas foram descobertas em túmulos egípcios e

em pinturas de tum bas.2.10. pagam ento dos lenhadores. Em bora os salários

dos lenhadores fenícios fossem por empreitada, é pos­

sível que cada trabalhador recebesse um salário ou ração diária pelo trabalho. Apesar de a maioria desses

homens pertencer a um a corporação de lenhadores, é

provável que tam bém houvesse alguns trabalhadores lupshu (m encionados em textos de A m arna, N uzi e

assírios), sem elhante a diaristas, cuja sobrevivência dependia do que conseguiam ganhar a cada dia. Os

quarenta m il tonéis de trigo e cevada e os quatro mil

barris de vinho e azeite seriam suficientes para alimen­tar de seis a oito m il trabalhadores durante três anos.

2.14. entalhe. O entalhe podia ser feito em osso, m ar­

fim, conchas, pedra, pedras preciosas, m adeira e m e­tais de diversos tipos. A arte de entalhar incluía burilar

e fazer inscrições em selos e insígnias feitos de pedras

preciosas e semipreciosas. Selos cilíndricos e selos com estam pa eram usados em todo o antigo O riente Pró­

ximo com o form a de identificação pessoal e tam bém

para selar documentos e contratos oficiais com o nome dos participantes. No templo, eram usados entalhes em

grande parte dos m óveis e dos painéis.

2.16. m adeira transportada em jangadas. O comércio de toras de cedro do Líbano é largamente comprova­

do pelas fontes egípcias (Antigo Reinado, durante o

oitavo século) e assírias. D urante um determinado período, Tiglate-Pileser III ordenou a interrupção do

comércio entre os fenícios e seus parceiros egípcios e

filisteus, temendo que formassem uma frota ou enri­

quecessem a ponto de se tornarem perigosos. O trans­porte de m adeira ao longo da costa sul da Palestina

era feito em navios ou jangadas formadas por toras presas umas às outras; no caso das jangadas, era pre­

ciso mantê-las bem próximo à costa para evitar que as tem pestad es em alto-m ar as quebrassem . Relevos

assírios m ostram navios fenícios carregados de toras e

também rebocando madeiras. Relevos no palácio de Sargon ilustram jangadas de toras de cedro flutuando

rio abaixo transportando madeira para ser usada nos projetos de construção, desde 2000 a.C., durante a

construção do templo de Gudea. Jope era o porto mais próxim o a Jerusalém na Antigüidade e local de de­

sembarque natural para as toras. De Tiro a Jope eram quase 160 quilômetros; o percurso terrestre de Jope a Jerusalém era de cerca de 56 quilômetros.

2 .17 ,18 . estrangeiros para trabalhos forçados. Ver o comentário em 2.2 e 2.7 a respeito do uso do trabalho

obrigatório.

3.1. m onte M oriá. Essa identificação tem o objetivo de associar o local do templo ao sacrifício de Isaque (ver o comentário em Gn 22.2), ainda que apenas no nome.3.1. eira de Araúna. Ver os comentários em 2 Samuel24.18-25 a respeito da compra dessa propriedade efe­tuada por Davi. A eira, assim como a porta da cidade, era o local onde se fazia a distribuição de cereais, resolviam -se as disputas (ver 1 Rs 22.10) e onde a presença de Deus poderia se manifestar (ver Jz 6.36­40). A eira tam bém podia ficar fora dos m uros da cidade num terreno elevado a fim de tirar maior pro­veito do vento e da brisa para soprar a palha dos cereais. A escolha de um terreno para a construção de

um templo no mundo antigo era uma questão muito importante, consumindo um a quantidade considerá­vel de tempo e energia. Acreditava-se que a divinda­de iria mostrar o local apropriado, m as não é isso que está sendo descrito neste versículo, ao contrário, um lugar já tradicionalm ente sagrado seria o mais ade­quado. Não houve consulta a nenhum oráculo, nem m ensagem divina designando o local.

3.2. cronologia. A construção teve início durante o reinado de Salom ão, em m eados do ano de 960. O segundo dia do segundo mês coincide com o começo da primavera, quando a estação chuvosa já chegou ao fim e os primeiros festivais já aconteceram. O prim ei­ro dia do mês provavelmente seria o dia da festa da Lua nova, por isso, a obra tem início no segundo dia.3.3. 4. dim ensões. O texto de Crônicas que descreve as dimensões físicas do templo é incompleto e as me­

didas apresentadas aqui são diferentes daquelas en­contradas em 1 Rs 6 2 (vinte e sete metros de compri­mento por nove m etros de largura e treze m etros e meio de altura). Crônicas omite a altura da estrutura principal, m as m enciona que o pórtico tinha nove metros de altura (versículo 4). Essa m edida pode estar baseada sim plesm ente na fundação. Existe tam bém alguma variação na terminologia, mas isso pode ser explicado pelas m udanças sofridas pela língua ao lon­go do tempo. O côvado "p elo padrão antigo" é um pouco m enor que o padrão usado em Deuteronômio3.11. Ao contrário dos tem p los constru ídos pelos mesopotâmios cujo propósito era glorificar o rei que havia construído o templo, o texto bíblico fornece in­form ações bastante precisas, p erm itind o ao leitor visualizar a construção.

3.4. pórtico. O pórtico era a área m ais externa das três partes que compunham o templo de Jerusalém. Esse traço arquitetônico estaria de acordo com o padrão encontrado no templo em Tainat e em outras regiões da Síria e da Fenícia. Parece ser um "an exo" e não um a parte integrante do complexo do templo; ao con­trário das duas câmaras internas, não tem porta de

entrada. Sua construção é sem elhante a do grande pátio do palácio (ver 1 Rs 7.12). Enquanto a câmara interna principal e o Lugar Santíssimo constituem efe­tivamente a "casa do Senhor", o pórtico assemelha-se m ais à arquitetura tradicional do O riente Próxim o, como um a espécie de pátio anexado aos principais cômodos.3.5. desenhos de tam areiras e correntes. O uso dedesenhos de tamareiras nas construções de monumen­tos do antigo Oriente Próximo tam bém aparece em p inturas de parede no palácio de M ari, durante o reinado de Zinri-Lim (século dezoito). A tam areira era o sím bolo da fecundidade, além de produzir a tâmara, um dos principais produtos da economia e da alimentação de toda aquela área. O desenho de cor­rentes é ampliado na versão de Crônicas, enquanto em 1 Reis 7.17 aparece apenas adornando os capitéis das colunas de bronze. Nos templos egípcios, colunas com desenhos de tamareira e flor de lótus represen­tam a concepção do templo como um microcosmo di­vino na terra.3.6. ouro de Parvaim. Apesar de Parvaim provavel­mente designar um lugar, sua localização é desconhe­cida. Alguns têm sugerido o Iêm en e o nordeste da Arábia, mas não há nenhum lugar precisam ente as­sociado ao termo. Sua relação com o ouro pode estar

baseada num padrão de pureza, associada à etimologia ligada ao termo parim, "novilhos" ou para, um a árvo­re frutífera. Em ambos os casos a cor do sangue ou da fruta poderia ter feito com que fosse particularmente classificado como ouro de alta qualidade.3.7. querubim esculpido. A descrição dos entalhes na parede é semelhante a 1 Reis 6.29. Esses seres alados, que simbolizavam a presença de Deus, também eram bordados nas cortinas e no véu que cobria o Lugar Santíssimo no tabernáculo (Êx 26.1). Uma inscrição de Agum-kakrime, da segunda metade do segundo mi­lênio, refere-se à sua contribuição e à construção de um santuário para os deuses M arduque e Sarpanitum. As portas desse santuário eram decoradas com figuras de serpente com chifres, bisão, cão, homem-escorpião e diversos demônios, inclusive demônios protetores, Iahmu. O templo de 'A in Dara, na Síria, desse mes­mo período, também tinha muitos entalhes de figuras de esfinges e leões.3.8. v in te e um a ton elad as de ouro (600 talentos).Seria certam ente um exagero revestir um pequeno cômodo, o Lugar Santíssimo, com vinte e uma tonela­das de ouro. Provavelm ente toda essa quantidade teria sido aplicada na form a de filetes de ouro na decoração de todas as paredes internas do templo. Para comparações em relação à quantidade de ouro, ver os comentários em 1 Crônicas 22.14.

3.9. pregos de ouro, seiscen tos gram as (50 siclos).Diferente do que foi traduzido na N VI, o que esse difícil texto provavelmente diz é que esses cinqüenta siclos de ouro foram usados para chapear os pregos de ferro usados para prender as incrustações de ouro nas paredes. Pregos pesando seiscentos gram as seriam pesados demais, enquanto que seiscentos gramas de ouro em pregos não seriam suficientes para fazer todo0 serviço.3.10-13. querubim esculpido. As imagens de queru­bins feitas de m adeira de oliveira serviam como guar­diões ou sentinelas do Lugar Santíssimo (compare com1 Rs 6.23-28), bastante semelhante aos querubins que guardavam o jardim do Éden (Gn 3.24). A arquitetu­ra dos tem plos do antigo O riente Próxim o evocava imagens do jardim (como m orada ou local de encontro da divindade) em diversos aspectos. Criaturas com­postas aladas posicionadas em colunas, à semelhança de árvores (geralmente tamareiras), eram comuns es­pecialm ente na sírio-palestina e na região do alto Eufrates. Tal como aqueles querubins cujas asas cobri­am a arca da aliança dentro do Lugar Santíssim o, esses querubins esculpidos e revestidos de ouro tam­bém representavam a presença de Deus e um a espé­cie de trono. A iconografia do antigo Oriente Próximo freqüentemente ilustra os tronos de reis e divindades ladeados por criaturas aladas com postas. Entre os cananeus, seria o equivalente a Baal, o deus da tem­pestade, que era freqüentemente representado de pé no dorso de um touro (compara com SI 18.10 a respeito de Yahw eh "m on tad o" num querubim ). Para m ais informações, ver o comentário em Êxodo 25.18-20.3.14. véu. De acordo com o relato de 1 Reis 6 .31 ,32, as duas partes do templo de Salomão eram divididas por uma porta de madeira incrustada de ouro e decorada com entalhes de querubins, tam areiras e flores. O cronista descreve também que a cortina servia como uma segunda barreira. N a época do Novo Testam en­to o templo tam bém tinha portas e um a cortina. Sepa­rar os recintos sagrados do mundo secular e de sua impureza era um a exigência do projeto arquitetônico

dos templos antigos.3.15-17. colunas. Para m ais inform ações, ver os co­mentários em 1 Reis 7.15-22. A colocação dessas colu­nas pode ser com parada à arquitetura sagrada dos santuários de Siquém, H azor e Tiro.3.16. correntes com rom ãs. As romãs sim bolizavam a fertilidade tanto no antigo Oriente Próxim o quanto nas prom essas da aliança (Dt 8.8). Relevos antigos trazem figuras de reis e sacerdotes exibindo um cetro com um a romã na ponta durante ofertas de sacrifícios. Uma romã de marfim recentemente descoberta (prova­velmente a ponta de um cetro como esse m encionado)

contém a inscrição hebraica "pertence ao templo do Senhor", sugerindo que era usado pelos sacerdotes.4.1. altar de bronze. O uso de objetos esculpidos em bronze surgiu durante a monarquia. O altar mencio­nado aqui era um a plataform a sacrificial quadrada,

medindo nove metros de cada lado, com níveis mais baixos formando degraus até o topo do altar. Assim como os outros, esse altar tinha a função simbólica de um a "m esa de D eus", onde se colocavam sacrifícios em reconhecim ento à dádiva da fertilidade enviada por Yahw eh (ver 1 Rs 8.64 e 2 Rs 16.14). É bastante provável que este altar não tenha sido esculpido numa única peça de bronze fundido, já que seu tamanho era enorm e. Ao contrário, é possível que fosse feito de madeira e revestido de bronze (compare com o altar menor descrito em 2 Cr 6.13).4.6. pias. Os arqueólogos encontraram um suporte de bronze que poderia servir de base para essas pias, do século doze a.C.. O suporte tinha rodas e era decorado com criaturas aladas compostas (ver 1 Rs 7.29).4.2-5. o tanque (o "m ar"). Esse tanque enorme (ver 1 Rs 7.23-26) pode ser com parado com dois enorm es caldeirões apoiados sobre as patas dianteiras de tou­ros à entrada do templo de M usasir, retratados em relevos assírios da época de Sargon II (oitavo séculoa.C.). Esses tanques eram usados basicamente para as ab lu ções dos sacerd otes , assim com o a b acia do tabernáculo (Êx 30.18-21) e as dez pias (v. 6). Além disso, alguns estudiosos atribuíram a esse tanque um valor simbólico. Visto que o tanque se assentava so­bre doze touros, representando as doze tribos, com um tamanho monumental (treze metros de circunfe­rência), ele evocava imagens de Yahw eh como Deus Criador e Senhor sobre as águas caóticas da terra. D esse modo, Yahw eh supera as divindades cananéias Yam m e Baal e o deus babilônio M arduque que re­presentavam o m ar e a tempestade (ver Sl 29.10; 104.1­9; Is 51 .9 ,10).4.7. candelabros. Os dez candelabros de ouro (ver 1 Rs 7.49) apresentam um a diferença significativa em relação ao único candelabro do tabernáculo (Êx 25.31­38). Provavelm ente tinham um form ato cilíndrico, eram esculpidos em madeira e revestidos de lâminas de ouro. D istribuídos dos dois lados no interior do tem plo, sua luz e reflexo dourado proporcionavam m aior esplendor ao templo de Salomão e à presença inerente de D eus no local (ver Jr 52.19; 2 Cr 13.11; 29.7 para detalhes adicionais sobre esses objetos). Jun­tam ente com as m esas e os altares de incenso ou incensários, esses acessórios davam ao lugar o sentido de "casa do Senhor".4.8. m esas. Para informações a respeito das m esas e do uso do pão, ver o comentário em Levítico 24.5-9.

4.8. bacias para aspersão. As bacias de ouro também são mencionadas em 1 Rs 7.50, mas o cronista acres­centa a quantidade delas (cem). A função exata dessas bacias não é clara, mas talvez fossem usadas para pegar água das pias (v. 6) ou para recolher o sangue dos sacrifícios (ver Êx 24.6, 8; 27.3).4 .9 ,10 . pátios. Essa divisão dos pátios ao estilo fenício tam bém é encontrada no tem plo de 'A in D ara, no noroeste da Síria. N esse aspecto, observa-se que a entrada nos recintos sagrados era restrita aos sacerdo­tes e havia um a separação clara entre essa parte do templo e as demais áreas seculares anexas.4.11. jarros, pás, bacias para aspersão. Encerrando a lista de objetos rituais fabricados por Hirão estão aque­les relacionados aos sacrifícios e às ofertas de incenso. As pás de incenso foram descobertas em escavações de Tel D ã (ver Lv 16.12, 13); os jarros eram usados para recolher as cinzas do altar de incenso e as bacias

continham o sangue dos sacrifícios (Êx 38.3; Nm 4.14). Todos esses objetos sagrados tinham a função de pro­porcionar um tratamento adequado aos restos das ofer­tas sacrificiais. As cinzas e o sangue dos sacrifícios tinham de ser recolhidos da m aneira correta para as­segurar a pureza do altar e do templo.

4.16. garfos de carne. Os arqueólogos descobriram um a enorme quantidade de garfos grandes que tal­vez sejam os objetos descritos pelo cronista (ver a in­clusão deles nas listas de Êx 27.3 e Nm 4.14). A parte do sacrifício destinada ao sacerdote, prescrita em Levítico 7.28-36, era a coxa direita e o peito. Porém, no santuário de Siló, antes da m onarquia, a história re­gistra um episódio em que os sacerdotes tiravam car­

ne sacrificial de um caldeirão comum (ver o comentá­rio em 1 Sm 2.13).4.17. geografia . Zeredá situava-se "n a plan ície do Jordão", do lado leste do rio e a meio caminho entre o m ar Morto e o m ar da Galiléia, de acordo com Josué 3.16 e 1 Reis 4.12. A localização exata ainda não foi d eterm in ad a, em bora T ell es-S a 'id iy e h e T ell el- M eqberah estejam entre as localid ades sugeridas. Sucote fica em Tell Deir Allah, cerca de um quilôme­tro e meio ao norte do rio Jaboque e cerca de cinco quilômetros a leste do rio Jordão. Foram encontrados vestígios desse período no local. A área no topo do tell é comparada a um campo de futebol, cerca de um acre e um quarto. Trata-se de um pequeno povoado volta­do para a indústria de fundição do bronze.4.21. flores. U m a descrição mais precisa do estilo flo­ral dos candelabros (flor de am endoeira) pode ser encontrada em Êxodo 25.31-40 e 37.17-24. U m exem­plo semelhante de modelo floral foi encontrado num candelabro de M egido e em miniaturas de colunas de A rslan Tash. A flor de lótus tam bém era bastante

usada na decoração cananéia e egípcia. Talvez o obje­tivo desses desenhos florais fosse o sentido de constan­te fertilidade, remetendo às promessas da aliança.4.21. lâm padas e tenazes. A lista dos objetos sagrados de ouro fornecida pelo cronista inclui as lâm padas presas às diversas hastes dos candelabros e as tenazes usadas para carregar as brasas usadas para acender as lâmpadas e os altares de incenso (ver 1 Rs 7.49; Is 6.6). Essas tenazes também poderiam ser usadas para re­mover os pavios apagados, que seriam acesos nova­mente e recolocados nas lâmpadas. A qualidade do ouro "p u ro" ou "m aciço" usado para folhear até m es­mo objetos como tenazes é uma confirmação de sua importância no ritual cultual.4.22. cortad ores de pavio. Os cortadores de pavio eram necessários para evitar que os pavios ficassem boiando no azeite das taças dos candelabros (Êx 27.20), fumegando ou não m ais se acendendo (ver Is 42.3). Um a das tarefas comuns dos sacerdotes era zelar pe­las lâm padas (Êx 30.7) e para isso eles podiam em pre­gar um cortador para garantir que o ritual não fosse interrompido ou que a luz não se apagasse (Is 42.3;43.17). Visto tratar-se de um termo hebraico incomum, algu ns eru d itos trad u ziram essa exp ressão com o " in stru m en tista s m u sica is" , com base em textos mesopotâmios e relevos assírios que descrevem o uso de música acompanhando rituais realizados no tem­plo e a "refeição divina".4.22. tigelas e incensários. A palavra usada aqui e em1 Reis 7.50 para incensários refere-se a um tipo de frigideira - nesse caso, um a de cabo longo (ver Lv 10.2; Nm 16.6). O incenso era colocado nessa vasilha junto com um pedaço de carvão quente e carregado pelo aposento para aromatizar o lugar ou o altar. Os textos de Qumran m encionam um a frigideira como essa usada para levar fogo ao templo. Ilustrações do Novo Império egípcio ilustram o uso de incensários com cabos nos rituais para afastar o mal ou sendo carregados em procissões. As tigelas eram usadas para derramar óleo nas lâmpadas ou para levar o incenso aos altares ou incensários (1 Rs 7.50).

5.1-7.22Salomão dedica o templo ao Senhor5.3. festa do sétim o mês. O cronista menciona apenas o núm ero do mês, não o seu nom e, Etanim . V er o comentário a respeito deste mês de outono em 1 Reis8.2. A lguns calendários sim plesm ente usavam n ú ­meros, em vez de nomes, para designar cada mês. A festa mencionada aqui é a festa da colheita ou festa

das cabanas, celebrada em tendas (hebraico: Sucote).5.12. vestes de linho. Embora as vestes de linho ge­ralm ente fossem reservadas para uso exclusivo dos

sacerdotes (Lv 6.10; 16.4), nessa ocasião especial, os levitas e os m úsicos também usaram linho. O linho usado pelos sacerdotes era importado do Egito, onde também era usado de form a distintiva nas vestes sa­cerdotais. A lguns afirmam que os anjos também usam vestes de linho.5.12. instrum entos m usicais. Címbalos, harpas, liras e trombetas são instrumentos musicais típicos da épo­ca e confirm ados em textos, relevos e pinturas do antigo Oriente Próximo desde o terceiro milênio a .C . A inda existe certa discordância entre os eruditos a respeito das palavras hebraicas traduzidas como "h ar­pa" e "lira". O termo que a NVI traduz como "lira" refere-se a um instrumento de dez cordas, enquanto a palavra traduzida por "harpa" talvez tivesse um me­nor núm ero de cordas. Ambos tinham uma estrutura de m adeira que perm itia segurá-los nas m ãos. O címbalo era feito de bronze e fazia parte dos instrumen­tos de percussão, portanto a única dúvida seria quan­to ao seu tamanho. Trombetas tubulares com uma das extrem idades alargada eram usadas nesse período em contextos militares e também rituais. Esses instru­

mentos aparecem em relevos egípcios e são confirma­dos por exemplares de instrumentos descobertos, por exemplo, na tumba do rei Tut (uma trombeta de prata com quase meio metro de comprimento).6.12,13. postura de oração. De acordo com o versículo 12 e com o texto de 1 Reis 8.22, Salom ão inicialm ente se colocou de pé com os braços levantados e a palma das mãos viradas para cima, enquanto se dirigia à assem ­bléia e fazia uma oração dedicatória para o templo. Fica im plícito a p artir de 1 R eis 8.54 que, em algum m o­mento, Salomão ajoelhou-se, mas esse detalhe não apa­rece em 2 Crônicas 6.13. De acordo com registros meso­potâmios, as orações de encantamento, tal como a ora­ção de Istar, exigiam que o suplicante se prostrasse e levantasse as mãos. Registros hititas indicam posturas e gestos semelhantes. Orações ditas por reis não eram incom uns, em bora seja difícil discernir se eram lidas

(compostas com antecedência) ou espontâneas.6.22. juram entos no processo ju dicial. V er os comen­tários em Deuteronôm io 1.9-18 sobre situações que exigiam juram entos. Os ju ram entos eram bastante comuns nos códigos de leis do antigo Oriente Próxi­mo, sendo usados nos casos de roubo e de danos à propriedade. Também eram usados para firmar trata­dos, convocando os deuses para serem testemunhas do acordo.7.5-7. quantidade e tipo dos sacrifícios. Holocaustos, ofertas de cereais e ofertas de comunhão são m encio­nados aqui. Ver o comentário em Levítico 3.1-5 a res­peito das ofertas de comunhão e das porções de gor­dura que eram queimadas antes que a carne sacrificial

fosse consumida, e o comentário em Levítico 2.1-3 e6.14-23 sobre os regulam entos referentes à oferta de cereais. O texto não diz quantos desses sacrifícios eram na form a de holocaustos (totalmente consumidos no altar) e quantos eram ofertas de comunhão (a carne do animal sacrificado era usada em refeições comunitári­as). É bem provável que o rei estivesse fornecendo grande parte da carne oferecida no banquete religio­so com unitário a todos os presentes. Em bora esses núm eros sejam bastante elevados, não destoam em relação a outras cifras encontradas na literatura do antigo O riente Próxim o. Q uando em 879 a.C. o rei A ssurnasirpal deu um a festa de dedicação por seu palácio, na capital assíria de Calah, ele providenciou cinco m il ovelhas, m il cordeiros e bois, quinhentos cervos, quinhentas gazelas, trinta e quatro m il aves e dez m il peixes.

7.8. desde Lebo-H am ate até o ribeiro do Egito. Ver ocomentário em 1 Reis 4.21 sobre as fronteiras do reino de Salomão. É m ais provável que a "entrad a" para H am ate (Ematu nos textos de Ebla), Lebo-H am ate, seja a atual Lebweh, localizada num a das nascentes do rio Orontes. Estava localizada na fronteira sul da terra de Hamate, portanto, na fronteira norte de Canaã, e designava a extremidade norte do império, cerca de 70 quilôm etros ao norte de D amasco. O ribeiro do Egito seria o vau al-Arish.

7.12-22. a resposta de D eus. Esse pronunciam ento divino apresenta um a série de peculiaridades. Pri­meiro, ao contrário da prática típica do antigo Oriente Próxim o pela qual a divindade era quem deveria escolher o lugar onde o templo seria construído (ver comentário em 3.1), Deus manifesta sua escolha por ocasião da dedicação. Segundo, ainda que o templo fosse considerado como o local da presença de Deus, o versículo 14 deixa claro que Deus ouviria as orações "d os céus". No entanto, em terceiro lugar, seu nome, seus olhos e seu coração estariam no templo. O "nom e" representava um a extensão da própria pessoa. Os "o lhos" representavam na época o meio de se obter informações, portanto, "sabedoria ou conhecim ento". Em português, o termo "coração" é usado metaforica­mente para indicar o centro das emoções, em oposição à lógica e à razão. No hebraico, esse termo compreen­de tanto o centro das emoções quanto da razão/inte­lecto, o que também acontece em outras línguas semitas como o ugarítico, o aramaico e o acadiano. Para mais informações a respeito da idealização do templo, ver o comentário a seguir. As orações que Deus iria ouvir no templo não viriam de reuniões de oração sem a­nais, mas de petições (nacionais, reais, sacerdotais ou individuais) associadas aos holocaustos. Por fim , a ameaça de destruição do templo relacionada ao fato

das pessoas se afastarem de Deus e o negligenciarem pode ser com parada aos deuses que abandonavam

seus tem plos e suas cidades por causa de ofensas, geralmente relacionadas à negligência aos rituais. Aqui Israel é alertado para não negligenciar a lei, que in­cluía o cumprimento dos rituais, m as era muito mais abrangente.7.16. conceito de tem plo no antigo O riente Próximo.O templo era visto como refúgio ou abrigo do poder de Deus na terra. Era dali que Ele veria o que estava acontecendo e a partir dali que iria agir (emoções e decisões). No antigo Oriente Próxim o, o templo era considerado um microcosmo da terra, representando a montanha cósmica (Mesopotâmia) ou o outeiro pri­mitivo (Egito) de onde tudo emergia. Era um tipo de

palácio semelhante ao palácio habitado pela divinda­de nos lugares celestiais ou no monte celestial. Acre­ditava-se que a divindade se incorporasse na estátua que a representava no templo; m as o ídolo não era a própria divindade (para mais informações a respeito de ídolos, ver os comentários em Dt 4).

8.1-18 Os feitos de Salomão8.2. cidades que Hirão lhe tinha dado. Ver o comen­tário em 1 R eis 9.11, que descreve com o Salom ão cedeu a Hirão, rei de Tiro, vinte cidades da região da G aliléia. Se essas são as m esm as cidades referidas aqui, é possível que Hirão as estivesse devolvendo por diversas razões. Se essa m enção refere-se a um outro incidente, o texto não oferece nenhuma infor­mação quanto à localização das cidades ou os acertos para a transferência.8.3. H amate-Zobá. Em passagens anteriores esse nome refere-se a duas áreas separadas (ver os comentários em 2 Sm 8), m as na época de Salom ão parece que haviam sido unidas sob um único governante. Zobá e Hamate ficavam na extremidade norte da fronteira do reino de Salomão. Qualquer tropa enviada para esse local seria provavelm ente na form a de um a campa­nha de pacificação ou uma exibição de força, como as declarações dos reis m esopotâmicos de suas expedi­ções "ao m ar". Ham ate era conhecida por suas pasta­gens e m ais tarde foi usada pelos reis assírios como uma estação intermediária de criação de cavalos. Tal­vez Salomão também tenha usado esta cidade, visto que ele importava cavalos de Cuve (ver o comentário em 1.16).8.4-6. projetos de construção. V er o comentário em 1 Reis 9.15-19 a respeito dos projetos de construção de Salomão. Tadm or é o oásis de Palmira (cerca de 200 quilômetros a nordeste de Damasco), situado na rota das caravanas que liga a Palestina ao norte da Arábia.

As cidades gêmeas de Bete-Horom Superior, Beit Ur e l-F oqa (cerca de três q u ilôm etros a n oroeste de Gibeom), e Bete-Horom Inferior, Beit U r et-Tahta (cer­ca de dois quilôm etros e meio m ais para noroeste, com trezentos m etros de altitude), protegiam a pas­sagem de Bete-Horom. A passagem vai até o vale de A ijalom (m encionado nos textos de A m arna como Ayyaluna), a principal rota da região montanhosa até as planícies costeiras. Alguns sugerem que Bete-Horom é a cidade citada com o Bit N inurta nas cartas de Amarna. Baalate geralmente é identificada com Qui- riate-Jearim ou uma localidade na proximidade leste de Jerusalém (Js 15.9; 18.14). Alistada como uma cida­de dentro do território de Ju d á (Js 15.60), o local é geralm ente identificado com Tell el-Azhar, cerca de catorze quilôm etros a oeste-noroeste de Jerusalém , em bora não seja confirmado por descobertas arqueo­lógicas ou referências extrabíblicas. O propósito de todo esse empenho em reconstruir essas cidades era fortificar pontos de defesa, estabelecer postos de trocas de m ercadorias ao longo das principais rotas comer­ciais e deixar claro que a jurisdição de Salom ão era reconhecida ao longo de suas fronteiras.8.7-10. trabalho forçad o. V er os com entários em 2 Crônicas 2 .2 ,7 sobre o uso de estrangeiros em projetos de trabalho forçado.

8.13. sábados, Luas novas e as três festas anuais. Em2 Crônicas 2.4 há uma relação semelhante das princi­pais obrigações religiosas - semanais e anuais. A res­peito das três festas anuais, ver os comentários em D euteronôm io 16.1-17.8.17. Eziom -G eber e Elate. Eziom-Geber era uma ci­dade portuária localizada à frente do golfo de Ácaba e talvez seja Tell el-Kheleifeh (que alguns estudiosos

identificam como Elate) ou um local na ilha de Jezirat Far'on (ilha Coral), a única localidade na região onde

há evidências de um antigo porto. Nesse local foram feitas pesquisas arqueológicas submarinas que reve­

laram enormes muros e quebra-m ares (embora não da Idade do Ferro) e um a pequena quantidade de cerâm ica da Idade do Ferro, usada nas embarcações egípcias. A tecnologia usada na enseada artificial é sem elhante àquela encontrada na cidade fenícia de Tiro. Elate era um povoado n a costa norte do golfo de Acaba que servia como um porto com ercial para a navegação árabe e no m ar Vermelho.8.18. O fir. Essa nação fornecia grandes quantidades de m adeira exótica e pedras preciosas (1 Rs 10.11), além de possuir im portantes jazidas de ouro e um forte comércio desse m etal precioso (1 Rs 9.28). Com exceção da Bíblia, a única menção a Ofir é em uma inscrição de Tell Qasile (oitavo século a.C.), m as que não fornece nenhum dado para estabelecer sua locali-

zaçao. Sugestões para a localização de Ofir incluem a Arábia, a índia e a região Somali, na África.

9.1-12A rainha de Sabá9.1. Sabá. A localização de Sabá geralmente tem sido sugerida como um reino na extremidade sudoeste da península árabe (possivelmente o Iêmen). Nesse caso, ficaria b astan te próxim o das rotas com erciais da Mesopotâmia e também da conexão, através da nave­gação no m ar Vermelho, com a África e a índia. Sabá já tinha contato com a região siro-palestina desde a metade do segundo milênio. O novo centro comercial de Salom ão no porto em Eziom -Geber, no golfo de Ácaba, talvez tenha ameaçado as caravanas de came­lo de Sabá, devido à concorrência, portanto era espe­rado que o governante dessa região desejasse estabe­lecer relações amigáveis com essa potência comercial emergente. Não há nenhuma referência ao nome da rainha, em bora os contatos assírios com a Arábia na primeira metade do primeiro milênio geralmente fos­sem tratados com rainhas poderosas. Ela poderia ser a governante ou a consorte do governante, enviada por seu marido nessa importante m issão diplomática. O percurso foi de aproximadamente dois m il e duzentos quilômetros e teria levado muitas semanas.9.1-4. teste de sabedoria. Competições de sabedoria eram bastante comuns na literatura do antigo Oriente Próximo. A literatura babilónica representa esse tipo de prova através de fábulas cujas personagens (ani­mais e plantas) rivalizam em sabedoria. Debates para determ inar qual das partes envolvidas era a m ais sábia estão presentes na literatura desde os tempos sum érios. A ssurbanipal vangloriava-se não apenas de sua grande erudição e sabedoria, mas também de seu conhecimento técnico e habilidade para argumen­tar, reconhecendo ter recebido de Sham ás e Adade toda sua profunda sabedoria. A reconstrução de cida­des e templos, o desenvolvimento de terras anterior­mente não cultivadas, a construção de sistem as de irrigação e a direção de rituais eram considerados evidências de sabedoria. A maior parte era interpre­tada como um ato de piedade.9.4. o que era servido em sua mesa. A grande quan­tidade e a variedade de alim entos n a m esa do rei eram vistas como uma demonstração de extrema ri­queza. Era considerada um a grande honra comer à mesa do rei e o núm ero de pessoas que podiam ser acomodadas à sua mesa demonstravam o poder da­quele governante. A m esa real também era o equiva­lente humano ao banquete divino, tantas vezes retra­tado nos textos épicos m esopotâmicos (como na Lenda de Adapa). Os banquetes reais no antigo Oriente Pró­

ximo eram caracterizados pela abundância e sofistica­ção dos pratos, como pode ser comprovado em antigas receitas preservadas em tabuletas desse período.9.4. o lugar de seus oficiais. A dimensão do governo e do poder de Salomão como monarca pode ser ava­liada pelo núm ero de pessoas que regularm ente se assentavam à sua m esa. O fato de Salom ão prover continuamente o sustento de tal núm ero de pessoas também era um a expressão da riqueza de seu reina­do (observe as acomodações oferecidas por Jezabel aos 450 profetas de Baal e aos 400 profetas de Aserá em 1 Rs 18.19).9.4. criados e copeiros. O grande núm ero de agrega­dos de Salomão e a suntuosidade de sua criadagem forneciam um a prova clara de sua riqueza e poder, comparável às cortes do Egito, M esopotâm ia e Pérsia, que tam bém ju lgavam o poder de um governante pelo núm ero de servos que possuía.9.9. quatro m il e duzentos quilos de ouro (120 talen­tos). D entre os presentes oferecidos pela rainha de Sabá a Salomão, havia quatro mil e duzentos quilos de ouro. Um a quantidade como essa talvez poderia estar relacionada ao pagamento de tributos ou de uma parcela no estabelecimento de uma parceria comerci­al. De acordo com 1 Reis 9.14 Hirão, rei de Tiro en­viou essa mesma quantidade de ouro para Salomão. Para inform ações a respeito de quantidades exorbi­tantes de ouro, ver o comentário em 1 Crônicas 22.14.9.9. especiarias. Sabá provavelmente estaria localiza­do em um a das rotas principais do comércio de incen­so e m irra, produtos cujo valor era com parável ao ouro. Foram encontradas evidências dessa rota nos relevos em D eir el-Bahari que ilustram a viagem da rainha-faraó Hatsepsut até Punt, no sul do Egito. Es­sas mesmas rotas eram usadas também para o comér­cio de óleos aromáticos, perfumes, bálsamos e subs­tâncias medicinais. Certamente essas especiarias seri­am um presente adequado para o tesouro real, valori­zando-o ainda mais. Para mais informações a respeito de incenso, ver o com entário em Levítico 2.1. Para mais informações quanto ao uso de especiarias, ver o comentário em Êxodo 30.23, 24.9.9. pedras preciosas. Escavações em Megido, Gezer e Eziom -G eber revelaram estoques de pedras pre­ciosas, incluindo cornalina, ágata e alabastro. Sinetes e jóias com pedras preciosas incrustadas foram desco­bertos em localidades fenícias, Ugarit e Biblos; escara­velhos egípcios feitos de esteatita (pedra-sabão) ou faiança também foram encontrados em muitas locali­dades. No antigo Oriente Próximo acreditava-se que as pedras (inclusive as pedras preciosas) tivessem valor apotropaico (garantiam proteção contra forças espiri­tuais). Um m anual assírio do sétimo século a.C. apre­

senta uma relação de diversas pedras com suas res­pectivas funções - que variavam entre aplacar a ira dos deuses até afastar enxaquecas. Um texto ritual alista doze pedras preciosas e sem ipreciosas presas num filactério para ser usado ao redor do pescoço, como um colar. Além disso, as pedras raras (não pre­ciosas) eram m uito valorizad as na com posição de mosaicos (ver o comentário em 1 Cr 29.2).9 .10.11. junípero. Ver o comentário em 2 Crônicas 2.8 a respeito dessa espécie de junípero e sua relação com a madeira de sândalo, em 1 Reis 10 .11,12 .9.11. harpas e liras. Os instrumentos musicais podem ser fabricados com diversos tipos de m adeira, e a escolha da madeira influi na qualidade do som dos instrumentos (ver sândalo e junípero no comentário em 2 Cr 2.8). Foram encontradas figuras de liras num a placa de m arfim em M egido (século doze a.C.) e em moedas. As harpas aparecem em vários contextos, inclusive em um relevo egípcio da época de Ram sés II

(século treze a.C.) que retrata um harpista cego. Para mais informações a respeito de harpas e liras, ver o comentário em 5.12.

9.13-31O esplendor do reino de Salomão9.13. 23.300 quilos de ouro (666 talentos). Trata-se de uma quantidade incrível de ouro, talvez comparável às listas de tributos dos anais assírios (Senaqueribe afirmou ter exigido trinta talentos [quase uma tonela­da] de ouro de Ezequias). A quantidade de ouro men­cionada representa um a vasta rede comercial que ge­rava rendas superiores a de muitas outras nações (ob­serve as quantidades registradas em 1 Rs 9.14, 28 e10.10). Para informações a respeito de quantidades de ouro, consulte o comentário em 1 Crônicas 22.14.9 .15 ,16 . escudos de ouro. Os quinhentos escudos de "ou ro batid o" (um term o peculiar a esse contexto) foram feitos tanto com propósito cerimonial como para demonstrar a riqueza de Salomão. Os escudos maio­res pesavam três quilos e seiscentos gramas enquanto os menores continham um quilo e oitocentos gramas de ouro. Esses escudos são m encionados em 1 Reis 14.25-28, no relato do saque de Jerusalém por Sisaque, juntam ente com sua substituição por escudos de bron­ze (um sinal claro de m udança na situação econômica, indicando o fim da "idade de ouro" de Israel). Peças cerimoniais (como as espadas e machados de ouro de Ur) foram encontradas em escavações. Escudos ceri­moniais de bronze foram encontrados por arqueólo­gos no O riente Próxim o, m as nenhum de ouro foi ainda descoberto. Sargon II alistou seis escudos de ouro na lista de despojos que conquistou em Urartu, cada um pesando mais de vinte e dois quilos.

9.17-19. trono. O magnífico trono do palácio de Salomão pode ser comparado, ao menos em term os de material usado e fabricação, aos móveis fenícios, como o trono de marfim do oitavo século descoberto na tum ba 79 de Salamis, Chipre. No sarcófago de Airão, o rei fenício, ele é representado sentado num trono ladeado por leões alados. Os relevos de Senaqueribe que ilustram o saque de Láquis (701 a.C.) incluem figuras de tronos decorados. Tal como o trono do épico ugarítico de Baal, o trono de Salomão ficava num patamar eleva­do, demonstrando sua posição de poder. O estrado de ouro tam bém era usado em U garit, indicando que somente o rei poderia sentar-se confortavelmente, con­fiante de sua autoridade e dom ínio sobre a terra (a respeito da arca da aliança como o estrado de Yahweh, ver o comentário em 1 Cr 28.2).9.20. Palácio da Floresta do Líbano. Ver o comentário em 1 Reis 7.1-12 para a descrição desse palácio. A probabilidade de que esse palácio fosse uma residên­cia real e tam bém um arsenal de guerra é indicada pelos escudos de ouro mantidos ali (v. 15 ,1 6 ) e pelo estoque de armas (Isaías 22.8).9.21. navios m ercantes. A referência a enormes navi­os de carga conhecidos como navios de Társis parece indicar um tipo de navio em pregado na navegação do mar Vermelho e da costa árabe (ver Is 2.16). Aqui o cronista refere-se a navios que iam para Társis (um local rico em metais preciosos [Jr 10.9] e pedras preci­osas [Ez 28.13], situado provavelm ente no oeste do Mediterrâneo - talvez em Cartago ou no sudoeste da Espanha). Essa frota estendia cada vez mais as cone­xões com erciais de Salom ão e sugere um a parceira ainda maior com os fenícios. Para mais informações a respeito de navios, ver o comentário em 1 Reis 22.48.9.21. m arfim , m acacos e pavões. A lém da enorm e quantidade de ouro gerada pelos empreendimentos comerciais de Salomão, artigos de luxo tam bém eram transportados de lugares exóticos para Israel. Os ter­mos hebraicos para "m arfim , m acacos e pavões" apa­recem somente nessa passagem e provavelmente são derivados de outras línguas ou adaptações hebraicas de palavras nativas. Nesse sentido, não se tem certeza se a tradução do terceiro term o seria "p av õ es" ou "galos". Reis assírios dos séculos onze e dez também se vangloriavam de suas coleções de animais exóticos, mencionando especificamente macacos.9.25. cidades com guarnições. Geralmente um carro de guerra tinha três cavalos, sendo que dois deles puxavam o carro enquanto o terceiro era m antido como reserva. Os animais ficavam juntos nas cocheiras do estábulo, de modo que para doze mil cavalos era preciso quatro mil cocheiras (embora alguns desses cavalos fossem usados como montaria). O texto de 1

Reis 10.26 relata que Salomão tinha mil e quatrocen­tos carros. Esse é um contingente bastante grande, mas inferior aos dois mil carros fornecidos por Acabe para a aliança com o ocidente no confronto com os assírios na batalha de Qarqar em 853 (ver o comentá­rio em 22.1). No século treze os hititas e seus aliados haviam reunido dois mil e quinhentos carros para um em bate com Ram sés II, na batalha de Cades. Fica claro que Salomão havia deslocado um grande núm e­ro de tropas para suas fronteiras a fim de garantir a proteção necessária e manter no local uma força capaz de um rápido contra-ataque.9.29. fon tes. O texto paralelo a esse breve relatório sobre o reinado de Salom ão encontra-se em 1 Reis11.41-43 (ver o comentário ali para informações acerca dos registros reais). Porém, a lista adicional das fontes de informação do cronista inclui os registros de dois contemporâneos de Salomão, os profetas Natã e Aias. As visões do vidente Ido, incluídas aqui, talvez se refiram ao texto de 2 Crônicas 12.15. A citação dessas fontes adicionais é um indício de que o cronista ex­traiu seu relato de uma série de fontes orais e escritas, encorajando o leitor no sentido de dar continuidade à pesquisa.

1 0 .1 - 12.16O reinado de Roboão10.1, 2. cronologia. O ano desses eventos pode ser estabelecido com relativa segurança com o sendo o ano de 931 a. C. (ver o comentário em 12.2).10.1. Siquém . A escolha de Siquém para esse encon­tro da cúpula política sugere dois fatos: (1) Roboão estava numa situação política frágil em comparação a D avi, visto que em 2 Sam uel 5.1 os líderes tribais tinham ido à capital de Davi, Hebrom, para aclamá-lo como rei, e (2) a realização desse encontro no centro do território ligado à liderança pré-monárquica de Josué (Js 24) e em um local que rivalizava com Jerusalém (ver o comentário em 1 Rs 12.25) colocava Roboão em desvantagem. De fato, Roboão estava assumindo um risco ao deslocar-se até Siquém, longe de seu próprio centro de poder. A escolha desse local para a assem­bléia acabou revelando sua falta de visão e de percep­ção para negociações administrativas.10.4. ju go pesado de Salom ão. Assim como Ciro, o rei persa, acusou Nabonido, seu rival babilônio, de infligir "trabalhos forçados" a seu povo, as autorida­des de Israel pediram que essa prática fosse diminuí­da no governo de Roboão. Há um caso precedente em documentos mesopotâmicos em que um novo rei pro­mulgou um decreto mesharum alforriando uma cate­goria de escravos ou reduzindo a carga tributária de uma cidade ou distrito. Certamente existiam inúme­

ras razões para que as tribos estivessem descontentes sendo necessário que o novo rei assumisse esse com­promisso para que o reino permanecesse unido. 10.6-8. autoridades. Parece ter havido uma divisão na administração real entre "novos" e "antigos" oficiais (isto é, os que foram nom eados como conselheiros pelo novo rei e os que já serviam nessa função há muito tempo). As "autoridades" representavam aque­les que já ocupavam esse cargo durante o reinado de Salomão, podendo alguns ter parentesco com a famí­lia real (meio-irmãos e primos como Jonadabe em 2 Sm 13.3) ou apenas funcionários civis. O s "jovens" provavelm ente seriam os próprios primos ou meio- irmãos de Roboão, que pertenciam a sua faixa etária. O épico sum ério de Gilgam és e A ka tam bém apre­senta uma situação em que Gilgamés procura se acon­selhar prim eiro com as autoridades (anciãos, que o aconselham a não se rebelar) e depois com os jovens da cidade (que reúnem as tropas aconselhando-o a se rebelar). Em ambos os casos, a escolha recai sobre o conselho dos jovens.10.11. chicotes/escorpiões. O uso de chicotes para con­duzir escravos e anim ais, ou como instrum ento de tortura vem de longo tempo. Alguns eruditos identi­ficam os escorpiões mencionados aqui como um tipo de chicote com fragmentos de metal ou de vidro pre­sos às pontas (que os romanos chamavam de "escorpi­ões"). Até o momento não foram encontradas evidên­cias desse tipo de chicote nem em escavações, nem em relevos ou na literatura anterior aos tempos romanos. Numa relação de palavras acadianas, porém, um es­corpião de cobre é m encionado juntam ente com os grilhões de cobre para algem ar escravos. Especialis­tas em acadiano tentaram identificar esse instrumento como um chicote tendo na ponta dentes de metal.10.16. a frágil unidade de Israel e Judá. O protesto das tribos do norte já havia se manifestado anterior­m ente durante a revolta de Seba (ver o comentário em 2 Sm 20.1). M uitos imaginam que a unidade for­mada pelas doze tribos de Israel era algo natural e intrínseco, mas não era bem esse o caso. Na verdade, cada uma das doze tribos era uma unidade indepen­dente, com muitos elementos contribuindo para afastá- las. A unidade conquistada durante o período de Davi e Salom ão resultara de m uita habilidade e esforço, além de ter ocorrido num período de prosperidade. Os elementos que m antinham a unidade desses gru­pos políticos, porém , haviam sido estabelecidos há pouco tempo, e como supremacias (tais como as orga­nizadas por Saul entre as tribos israelitas), também dependiam muito da personalidade e do carisma do governante. Supremacias e impérios tendiam a frag­m entar-se à m enor provocação. Agora, as diferentes

expectativas entre as tribos do norte e do sul abriram um abismo entre elas, a partir do momento em que ficou claro para as tribos do norte que Judá e a casa de Davi não tinham a intenção de assumir um compro­misso com o pedido que haviam feito de mais autono­m ia local e impostos mais baixos.10.18. apedrejam ento até a morte. Ver o comentário em Deuteronôm io 13.10 sobre apedrejam ento como meio de aplicação de um a pena capital. A morte de Adonirão foi o estopim que deu início à rebelião ou tumulto. Chega a ser irônico e ao mesmo tempo paté­tico que o homem responsável pelos trabalhos força­dos (inclusive pelo carregam ento de pedras) tenha morrido apedrejado.11.1.180.000 hom ens de com bate. Esse é um número extremamente elevado considerando-se apenas as tri­bos de Judá e Benjamim. Seria praticamente o mesmo núm ero de soldados que serviram nas tropas do exér­cito americano durante a guerra civil. Estimativas atuais da população naquele período indicam que não havia mais de trezentos mil habitantes no reino do sul. Re­gistros neo-assírios dos séculos nono e oitavo mostra­ram que o tamanho do exército assírio aumentou de cerca de 45 mil (Salmaneser III) para mais de duzentos mil (Senaqueribe) soldados. A coalizão das doze na­ções ocidentais combateu Salm aneser na Batalha de Q arqar com sessenta m il homens. O m aior exército hitita de que se tem registro tinha quase cinqüenta mil homens (na batalha de Cades, século treze). To­dos esses dados sugerem que o termo traduzido como "m il" nessas passagens poderia ser traduzido a partir de seu significado alternativo como "com panhias" ou "d ivisões". Em vez de um número específico, foi su­gerido que cada clã forneceria uma divisão com um núm ero de hom ens proporcional ao seu tam anho. Posteriormente essas companhias passaram a ter mil soldados, mas aqui é provável que o núm ero de sol­dados em cada divisão fosse bem menor.11.2-4. oráculo profético relacionado à batalha. No período da profecia pré-clássica, os profetas de Israel desem penhavam um papel sem elhante ao dos de­mais profetas de outras partes do antigo Oriente Pró­ximo (ver os comentários em Dt 18.14-22), atuando principalmente como conselheiros de atividades mi­litares. De acordo com a crença da época, o envolvi­mento de Deus era essencial para o sucesso das cam­panhas m ilitares, assim, toda seqüência de eventos tinha início com a ordem divina para ir à batalha. Ordens divinas desse tipo podem ser encontradas em inscrições reais dos assírios. Também era importante consultar a divindade sobre as estratégias e o momen­to oportuno para a movimentação das tropas. Às ve­zes, porém, os deuses comunicavam oráculos inespe­

rados ou não solicitados, como num texto de M ari que descreve um sonho em que o rei Zinri-Lim é alertado a não sair em campanha.11.5-12. cidades fortificadas de Judá. Todas as cida­des alistadas, exceto Adoraim (atual Dura, cerca de cinco quilômetros a oeste de Hebrom), aparecem em outras fontes (por exem plo, na invasão de Sisaque, ver 12.2) e estavam localizadas em Judá, formando uma linha interna de defesa nas colinas de Jerusalém. H avia quatro grupos, estendendo-se de norte a sul, em pontos estratégicos, guardando os principais pon­tos de aproximação e estradas: (1) Belém, Etã, Tecoa e Bete-Zur, na fronteira leste; (2) Socó, Adulão, Gate e Maressa, a oeste; (3) uma linha de defesa incluía Láquis, Zife e Adoraim; (4) Zorá e Aijalom eram fortificações a noroeste, enquanto Hebrom (antiga capital de Davi em 2 Sm 2.1) funcionava como uma área de concentra­ção de tropas ou centro regional tanto para o sul quan­to para o oeste. As pesquisas arqueológicas não forne­cem elem entos para ajudar na identificação das re­

construções feitas por Roboão, embora algumas des­sas localidades (particularmente Láquis) apresentem evidências de fortificações.11.11, 12. suprim entos para as cidades fortificadas.A s guarnições situadas nas cidades fortificadas de Roboão tinham de arm azenar grandes quantidades

de mantimentos e armas, a fim de funcionarem efeti­vamente como guardiãs da fronteira. Assim como as listas administrativas de Mari, que detalhavam a quan­tidade de alim ento, azeite e bebida necessária para sustentar as tropas durante longos períodos (de dez a quinze dias ou até um mês), o cronista apresenta um breve resumo (omitindo as quantidades e os períodos de entrega regular) das rações.11.15. ídolos em form a de bodes e de bezerros. Para informações a respeito de bezerros, ver o comentário em 1 Reis 12.28. É bastante provável que os ídolos em forma de bodes fossem uma referência a sátiros que, segundo a crença do m undo antigo, eram demônios que assom bravam os cam pos abertos e os lugares ermos. São m encionados apenas algum as vezes no Antigo Testamento e não há nada semelhante no an­tigo Oriente Próximo.11.22, 23. príncipes como adm inistradores. U m dosprincipais m étodos usados para treinar príncipes e outros m em bros da fam ília real era nomeá-los para ocupar cargos adm inistrativos. A posição de Abias poderia ser considerada como a de co-regente de seu pai Roboão (ver 21.2-4). Os registros egípcios e os anais mesopotâmicos regularmente descrevem a no­meação de príncipes como governantes ou adm inis­

tradores distritais (como exemplo, note a indicação do rei assírio Shamsi-Adade para que seus filhos Yasmah-

A ddu e Ishm e-D agan governassem algum as partes do reino).12.2-4. a inv asão de S isaq u e . O próprio relato de Sisaque, registrado nas paredes do templo dedicado a Am om em Carnac (Tebas), contém uma lista de mais de 150 cidades que ele afirmou ter conquistado, junta­m ente com vagas referências a tributos acumulados na Síria. Não há menção a Jerusalém nessa lista, e as localidades incluídas ficavam no sul e no norte de Israel. Partindo de Gaza, diversas divisões avança­ram pelo Neguebe, enquanto a força principal ia pela Sefelá em direção a Jerusalém . D ali fez um a curva para o norte, passando pela região montanhosa cen­tral, seguiu para oeste pelo vale de Jezreel até M egido

e depois seguiu a Estrada do Tronco para o sul, ao longo da costa. O itinerário de Sisaque tam bém in­cluiu um a incursão na Transjordânia, cruzando a re­gião leste de Adão e depois voltando para o oeste em

direção a Bete-Seã. Pesquisas arqueológicas identifi­caram sedimentos de destruição em muitas das cida­des mencionadas e que correspondem a esse período.12.2. cronologia. Fontes egípcias situam o reinado de Sisaque e a fundação da 22a Dinastia entre 945 e 924a.C.. Roboão ascendeu ao trono em 931, desta forma o quinto ano seria 927, um período razoável depois da morte de Salomão e da divisão dos reinos.12.3. líb io s , suqu itas e etíopes. Dentre as tropas que vieram do Egito, havia grupos recrutados nas frontei­ras sul e oeste do Egito (Líbia e Núbia). V isto que Sisa­que era líbio, era esperado que ele incluísse em suas tropas soldados recrutados de sua própria tribo. Sabe- se tam bém que ele cond uziu cam panhas na N úbia (atual Etiópia) e provavelm ente obrigou-a a cooperar com suas investidas militares. O s suquitas não apare­cem em nenhum a outra passagem bíb lica , m as são mencionados em fontes egípcias dos séculos treze e doze (onde são chamados de tjukten) como um povo relaci­onado aos líbios. O s m il e duzentos carros de guerra mencionados aqui podem ser comparados ao exército de Salom ão (ver o com entário em 1 Rs 4.26).12.9. S isaqu e saqueia Jerusalém . M uitos objetos de

ouro e prata que haviam sido feitos para o templo, inclusive os famosos escudos de ouro (ver o comentá­rio em 9 .15 ,16) foram levados como pagamento para evitar a destruição de Jerusalém . É provável que o conteúdo desse saque tenha sido incluído nas duzen- tas toneladas de ouro e prata que Sisaque relatou ter contribuído para os templos de seus deuses.12.13. a mãe de Roboão. Visto que Salomão casou-se com mulheres de muitos países, inclusive de Am om (ver 1 Rs 11.1), seria norm al que Naam á, a m ãe de Roboão, fosse amonita. Este casamento provavelmen­te representava uma aliança política entre os dois pa­

íses. O fato de várias vezes se fazer menção ao nome da mãe dos reis de Judá pode indicar que o papel da rainha-mãe era bastante significativo (ver o comentá­rio em 1 Rs 2.19).12.15. fontes. As genealogias de Ido, o vidente, po­dem ser comparadas a outras obras associadas a esse profeta (2 Cr 9.29 e 13.22), embora ele não seja citado em nenhum a narrativa desse período. Os "relatos" do profeta Semaías provavelmente se referem a ano­tações separadas, que não constam da Bíblia, consul­tadas pelo cronista para redigir seu resumo dos even­tos. Semaías é o profeta que alertou Roboão a não se engajar na guerra civil e exortou-o ao arrependimen­to quando da invasão de Sisaque (ver 2 Cr 11.2; 12.5).12.15. guerras entre R oboão e Jeroboão. Não ocorre­ram grandes batalhas entre os dois reinos, m as os constantes conflitos nas fronteiras, que duraram até o reinado de Josafá (1 Rs 22.44), foram turbulentos e sangrentos o bastante para causar o esgotamento con­tínuo de suas forças. Essas guerras podem ser compa­radas, num a escala menor, ao conflito entre Davi e Is- Bosete em 2 Sam uel 2.12-32.

13.1-22O reinado de Abias13.1, 2. cronologia. Essa é a prim eira ocorrência de um relato sincronizado dos reis de Israel e Judá (ver 1 Rs 15.1). Porém, ao contrário do(s) escritor(es) dos Li­vros dos Reis, o cronista usa o sistema de datas apenas nesse único contexto. Tendo como base a ascensão de Jeroboão ao trono em 930 a.C., o governo de Abias teria começado em 913.13.2-20. batalha entre A bias e Jeroboão. O local da batalha, o monte Zemaraim, ainda não foi identifica­do com segurança, m as geralmente é situado nas pro­xim idades de Betei. A identificação m ais com um é com Ras et-Tahuneh. O discurso de Abias sugere que sua intenção era reunificar o norte e o sul, através de conquista militar, se necessário. Essa foi uma batalha de campo aberto e não de cerco a cidades. Como é comum no Livro de Crônicas, o tamanho dos exércitos (um milhão e duzentos mil soldados) é muito maior que o esperado, em bora não seja o número mais ele­vado encontrado em relatos do mundo antigo. Heró- doto geralmente é acusado pelo exagero grosseiro ao relatar que o exército de Xerxes contra os gregos com­preendia cinco m ilhões de pessoas. A lém disso, o núm ero de baixas (meio m ilhão para o reino do norte) faria dessa batalha uma das guerras mais sangrentas da história. Em registros antigos, o rei assírio Arik- den-ili afirm ou ter matado 254 mil homens. Seu rival mais próximo é Senaqueribe que afirmou ter causado 150 m il baixas na Batalha de Halule. As baixas entre

os aliados na prim eira batalha de Som m e (França, 1916) foi de 623 mil homens. Essa batalha durou seis meses e consta do Livro dos Recordes Guinness como a mais sangrenta que já houve. Na Batalha de Gettys­burg o total de baixas chegou a 50 mil, apenas um décimo do que é registrado aqui. Um a das batalhas mais sangrentas da Antiguidade foi entre romanos e hunos em Châlons-sur-M am e (França, 451), onde fo­ram contados 200 mil mortos. Para mais informações, ver o comentário em 11.113.5. aliança de sal (irrevogável). No clima quente do antigo Oriente Próximo, o sal era um elemento neces­sário para a saúde das pessoas e dos animais, princi­palmente para a preservação dos alimentos (textos de Mari descrevem seu valor comercial). Quando trata­dos ou alianças eram firmadas, o sal era empregado para simbolizar que as condições estipuladas seriam mantidas por longo tempo. Esse uso simbólico do sal é comprovado em contextos babilónicos, persas, ára­bes e gregos. N a Bíblia, a aliança entre o Senhor e Israel é identificada como um a aliança de sal - preser­vada e mantida por m uito tempo. Aqueles que parti­cipavam desse tipo de acordo geralmente comparti­lhavam de uma refeição comunitária em que se ser­via carne com sal. Assim, o uso do sal nos sacrifícios era um lembrete apropriado da aliança entre Deus e Israel. Além disso, o sal impede a ação do fermento e visto que o fermento era um símbolo de rebelião, o sal poderia representar o elemento inibidor da rebeldia.13.8. bezerros de ouro n a batalha. Era costume no m undo antigo levar im agens da divindade para a guerra. Na temática do guerreiro divino, a divindade luta contra as divindades do inimigo, derrotando-as nas batalhas travadas. Estátuas ou representações das divindades geralmente acompanhavam as tropas sim­bolizando sua presença no meio delas. Os reis assírios dos séculos oitavo e nono referem-se regularmente à imagem divina que ia à frente deles nas batalhas. A arca, símbolo de Yahweh, representava a presença do Senhor abrindo caminho à frente dos israelitas e con­duzindo os exércitos até Canaã. Esse conceito não é m uito diferente da crença assíria de que os deuses concediam poderes às armas do rei e lutavam ao seu lado. Quase todo exército no antigo Oriente Próximo incluía sacerdotes e adivinhos (como confirm am os textos de Mari), profetas (2 Rs 3) e objetos sagrados (Anais Assírios de Salm aneser III [858-824 a.C.J). Des­se modo, o deus (ou deuses) poderia ser consultado no campo de batalha ou invocado para conduzir os solda­dos à vitória.

13.11. rituais sacerdotais. Para informações adicionais sobre essas atividades rituais, ver os comentários em Levítico 6.8-13 e Êxodo 25.23-30.

13.19. cidades tom adas por Judá. Betei, o principal local de adoração de Jeroboão, no sul, era um a con­quista significativa. Textos bíblicos posteriores escla­recem que essa cidade voltou para o controle de Israel na época de Jeroboão II e A m ós (Am 7.10). Jesana, perto de Betei e 27 quilômetros ao norte de Jerusalém, foi identificada com Burj el-Isaneh, e Efrom (Ofra em Js 18.23) geralm ente é identificada com et-Taiyibeh, cerca de seis quilômetros a nordeste de Betei. A vitó­ria de Roboão garantiu a ele o controle de duas prin­cipais rotas que atravessavam o território de Judá até Israel. Essas rotas seguiam pelo norte, dos dois lados de Betei e convergiam ao su l de Siló. O território abrangia cerca de 32 quilômetros quadrados.13.22. fon te . Os "relatos do profeta Id o" provavel­mente são os mesmos mencionados anteriormente em2 Crônicas 9.29 e 12.15. E curioso notar que a única m enção ao nome desse profeta é em relação ao m ate­rial de consulta usado pelo cronista, não aparecendo em nenhum a narrativa bíblica.

14.1-16.14O reinado de Asa14.3. altares dos deuses estrangeiros. Os favores e cortesias que Salomão proporcionava a suas esposas estrangeiras incluíam a construção de altares e santu­ários para que cultuassem seus próprios deuses (ver o com entário em 1 Rs 11.5-7). É provável que esses tenham sido alguns dos altares destruídos por Asa.14.3. m ontes. Para mais informação a respeito de mon­tes ou lugares altos, ver os comentários em 1 Reis 3.2,3 e Deuteronômio 12.2, 3.14.3. colunas sagradas. O uso de colunas sagradas ou m asseboth era bastante comum na religião Cananéia. Essas colunas eram também usadas como memoriais em uma série de contextos israelitas relacionados à *aliança (ver Êx 24.3-8; Js 24.25-27). Por estarem asso­ciadas a *Aserá, *Baal e outras divindades cananéias foram condenadas e consideradas uma ameaça à ado­ração a *Yahweh. Arqueólogos descobriram colunas sagradas em Gezer, Dã, Hazor e Arade. Nestas duas últimas, as colunas encontravam-se no interior de re­cintos sagrados onde faziam parte das práticas *cultuais. As colunas encontradas em H azor contêm entalhes de figuras com braços levantados e um disco solar. Em Dã, foram descobertas colunas no pórtico de entrada, que rem etem claram ente à apresentação de ofertas votivas.

14.3. postes sagrados. Um a característica comum da adoração cananéia e do culto *sincretista de Israel, tanto nos altares como nos lugares altos e nos santuá­rios da cidade, eram os postes sagrados ou postes- ídolos. Não se pode afirm ar com certeza se seriam

simplesmente postes de madeira simbolizando árvo­res, talvez contendo uma imagem entalhada da deu­sa da *fertilidade, ou se faziam parte de um bosque sagrado. A referência em 2 Reis 17.10 a postes sagra­dos erguidos debaixo de "toda árvore frondosa" pare­ce indicar que, de fato, tratava-se de postes de madei­ra ali erguidos com objetivos *cultuais e não árvores. Por ser a consorte de *E1, Aserá evidentem ente era um a deusa popular e seu culto é m encionado em textos *ugaríticos (1600-1200 a.C.). A forma como ela é citada na narrativa bíblica é um indício claro de que a adoração a Aserá fazia forte concorrência à de Yahweh. Para mais informações, ver os comentários em Êxodo 34.13 e Juizes 6.25.14.7. fortificações. Em bora o cronista não aliste ne­nhum a das cidades fortificadas por Asa, é evidente que ele tinha uma sólida reputação como construtor. Anais mesopotâmicos e crônicas de reinados regular­mente se referiam às obras de construção do rei como evidência de seu sucesso. O cronista aqui tam bém desejou incluir essa característica ("construtor") como m arca de um "bom re i", conseqüência de um período de paz e prosperidade.14.8. equipam entos do exército. A divisão de tarefas dentro do exército é ilustrada pela infantaria de Asa atuando como tropa de choque (equipada com gran­des escudos e lanças) e por seus arqueiros benjamitas (compare com o equipamento distribuído por Uzias para as suas tropas em 2 Cr 26.14). O s relevos do palácio do rei assírio Senaqueribe incluem ilustrações de soldados armados com lanças e escudos circulares, usados para defesa e tam bém como armas em lutas corpo a corpo. Os relevos de Salmaneser III retratam seus arqueiros usando armaduras de m alha com escu­dos protetores adaptados, que os protegiam dos dar­dos e deixavam suas m ãos livres. Talvez as tropas benjamitas não tivessem esses equipamentos, ou en­tão levassem seus pequenos escudos presos ao braço de forma a garantir alguma proteção enquanto atira­vam as flechas.14.9. Zerá, o cuxita (etíope). Visto que os cuxitas m ui­tas vezes são relacionados aos faraós egípcios núbios

(ver o comentário em 2 Cr 12.3), alguns eruditos iden­tificaram Zerá com Osorkon I, o faraó egípcio contem­porâneo a esse período (por volta de 897). Osorkon, filho de Sisaque, porém, era líbio e não núbio. Portan­to, se Zerá marchou contra A sa com um exército egíp­cio, ele devia ser um general núbio trabalhando em

cooperação com a 22a Dinastia (que exercera algum controle sobre a N úbia na época de Sisaque). Outros

estudiosos acham mais provável que Zerá fosse o che­fe de uma tribo beduína (ver o com entário em Nm 12.1 para essa variação do termo "cuxe"). Para uma

discussão a respeito do tamanho dos exércitos, ver o comentário em 13.3-20. Não existe em hebraico a pa­

lavra "m ilhão" - o texto refere-se a "m ilhares de mi­

lhares" (ou m il divisões) expressando um exército numeroso.14.9. carros de guerra. Considerando o núm ero de tropas conduzidas por Zerá, é surpreendente a pe­

quena quantidade de carros de guerra. Ainda assim,

cada exército tinha seu ponto forte e trezentos carros

representam um a quantidade considerável. É possí­vel saber, a partir de registros egípcios e mesopotâ-

micos e de relevos de palácios, que cada carro levava dois ou três homens que atiravam dardos e flechas e

transportava os com andantes ou m ensageiros pelo

campo ou até a frente de batalha. Os exércitos em

geral eram organizados em equipes de carros, com

contingentes de infantaria ligados ao comandante de cada carro. Para comparar a dimensão das tropas de

carros de guerra, ver o comentário em 1.14.14.10. geografia. A batalha entre Asa e Zerá aconte­

ceu perto de M aressa, um a cidade fortificada por

Roboão e identificada com Tell Sandakhanna na fron­teira sudoeste de Judá. Localizava-se a cerca de seis

quilômetros a nordeste de Láquis e quase cinqüenta

quilômetros a sudoeste de Jerusalém. Zefatá (talvez a Zefate de Jz 1.17) aparece somente nesse texto. Visto

que é descrito com o um vale ao norte de M aressa,

provavelm ente deva ser identificado com o vale de Guvrin, bem ao norte de M aressa e Beit Guvrin.

14.12-14. Gerar. Ver o comentário em Gênesis 20.1 a

respeito desse local na região oeste do Neguebe, cuja

localização exata ainda permanece indeterminada (Tel Haror, quarenta quilômetros a sudoeste de Berseba, é

a escolha m ais provável). Gerar pode indicar o nome

de uma região em vez de um a cidade, o que explica­ria a destruição das "cidades" mencionada aqui.

15.8. ídolos repugnantes. Os ídolos não são mencio­nados de form a específica. O termo refere-se a qual­

quer coisa que cause extrema aversão ou repugnância

do ponto de vista religioso ou ritual, particularmente alimentos proibidos e objetos usados em cultos estran­

geiros desaprovados.15.10. cronologia. Talvez Asa estivesse tentando vin­

cular a assembléia e o sacrifício a uma festa ou evento religioso importante, sendo assim, o terceiro mês se­

ria adequado pois foi nesse m ês que ocorreu a teofania do monte Sinai (Êx 19.1) e também era comemorada a

festa das semanas (Lv 23.15,16). Visto que a renova­ção da aliança também fazia parte desse evento, Asa talvez estivesse com em orando essa festa no m onte

Sinai (Êx 24). A m enção ao décim o quinto ano do reinado de Asa situa esse evento no ano de 892.

15.16. poste sagrado. V er o com entário em 14.3 a respeito dos postes dedicados a Aserá. A influência e a posição política da rainha-mãe (ver o comentário em1 Rs 2.19) poderiam arruinar as reform as de Asa, assim isso explica por que ele rejeitou completamente a atitude de M aaca e destruiu por completo o poste sagrado.15.16. vale de Cedrom. Localizado a leste dos muros da cidade de Jerusalém e contendo uma das princi­pais fontes de água da cidade, a fonte de Giom, esse lugar seria um a excelente área para o rei Asa destruir os ídolos. Salomão havia construído altares para Astoré, Camos e M oloque no vale de Cedrom (1 Rs 11.7), mas as reformas posteriores de reis como Asa, Ezequias (2 Cr 29.16) e Josias (2 Rs 23.13) transform aram o vale num modelo de limpeza da corrupção que contami­nava toda a nação.15.19-16.1. cronologia. Existem algumas dificuldades para conciliar a data da batalha entre Asa e Baasa apre­sentada aqui e a que consta no texto paralelo de 1 Reis. Para m ais inform ações, ver o com entário em 1 Reis15.33.16.1. Ram á. Situada oito quilômetros ao norte de Jeru­salém, a incorporação de Ramá (er-Ram) ao território de Israel teria causado grande preocupação a Judá.

Assim como Roboão havia estendido seu domínio pe­las principais estradas que cortavam Israel e Judá por m ais oito quilôm etros (ver o com entário em 13.19), assim também Baasa impôs seu domínio sobre as mes­mas rotas, oito quilômetros ao sul da fronteira tradici­onal entre as nações. O lugar ainda não foi escavado pelos arqueólogos.16.2, 3. tratado com Ben-H adade. N a form a como esse tratado é descrito aqui e no texto paralelo de 1 Reis 15 .18 ,19 , parece que a Síria havia mantido uma política de neutralidade, talvez aguardando a melhor proposta proveniente das partes envolvidas na guer­ra. Ben-Hadade I governou durante a primeira meta­de do nono século, embora não seja possível estabele­cer uma data específica. Para informações a respeito das dificuldades enfrentadas pelos arameus durante o nono século, ver o comentário em 1 Reis 20.1.16.4. conqu istas do rei da S íria . O ataque de Ben- Hadade às cidades do norte de Israel, instigado por A sa, custou a Baasa um a im portante passagem co­mercial. Dentre as cidades conquistadas nessa campa­nha (ver 1 Rs 15.20) estariam Dã (local de adoração do reino do norte), Ijom ('Ayyun), na extremidade norte da bacia do lago H ulá (cerca de 16 quilôm etros ao norte de Dã), Abel-M aim (Abel Bete-M aaca em 1 Reis) e todas as cidades situadas na estrada entre a Síria e as cidades costeiras fenícias, Tiro, Sidom e Aco. O fato de Ijom ser mencionada primeiro sugere um ataque vin­

do do oeste e alcançando o sul. Não se sabe quanto tempo a Síria conseguiu m anter essas cidades, mas fica claro que algumas décadas m ais tarde elas volta­riam para as m ãos de Jeú, de acordo com 2 Reis 10.29. A inscrição de Dã que menciona outra campanha da Síria contra o norte de Israel sugere que os governantes de Israel enfrentavam constantem ente esse tipo de ameaça.16.6. G eba e M ispá. Essas duas cidades, agora forti­ficadas por Asa com material tomado das guarnições em Ramá, guardavam a fronteira norte de Judá. Geba (moderna Jaba', cerca de seis quilômetros a nordeste de Jerusalém) aparece em outras passagens como a fronteira norte de Judá (2 Rs 23.8) guardando a passa­gem de Micmás. Mispá (Tell en-Nasbeh, treze quilô­m etros ao norte de Jerusalém ) era a fortaleza que controlava a bacia hidrográfica na fronteira entre Isra­el e Judá. Ao fortificar essas cidades, A sa impediu outras ações m ilitares contra Ramá. Mispá ficava qua­se cinco quilômetros ao norte de Ramá, guardando a estrada de Betei e Ramá. As escavações no local desco­briram um m uro com onze torres que rem ontam a esse período. O muro tinha entre três metros e meio e quatro m etros e meio de largura e entre dez e doze m etros de altura. Geba ficava a cerca de três quilôme­tros a leste de Ramá, bloqueando o acesso para aquela direção.

16.7. v id en te . Em bora H anani, o v id ente, apareça som ente nessa passagem, ele é mencionado como o pai do profeta Jeú, em 1 Reis 16.1; 2 Crônicas 19.2; 20.34. O título Vidente', ro'éh, aparentemente era uma form a alternativa para profeta (n abï; ver o comentá­rio em 1 Sm 9.9).16.9. os olhos do Senhor. Essa im agem transm ite o sentido da universalidade da visão de Y ahw eh (equi­valente à sua onipresença) e de seu envolvim ento

(refletindo seu controle soberano). Um m arco babi­lónico do final do segundo milênio fala do deus-lua, Sin, como "o olho do céu e da terra".16.12. doença nos pés. Tentativas no sentido de diag­nosticar a doença nos pés de Asa sugerem gota (rara nos tempos bíblicos) ou gangrena provocada pela obs­trução do fluxo sangüíneo. O fato de Asa ter decidido consultar apenas m édicos, que naquela época esta­vam associados a rituais m ágicos ou, no máximo, a remédios à base de ervas, demonstra seu fracasso em buscar a ajuda de Deus, o que contribuiu para sua morte.16.14. fog u eira em sua honra. Túm ulos reais eram cavados em rochedos. O s ritos funerários em homena­gem a Asa foram bastante elaborados, incluindo es­peciarias queim adas em sua honra, e um lam ento coletivo durante a introdução de seu corpo na tumba

da fam ília. O fogo não significa que o corpo seria crem ado nem era um m eio de m ascarar os odores associados a um cadáver, mas uma demonstração da riqueza do rei. Esse costume era bastante conhecido entre os reis assírios, onde era usado como um ritual apotropaico.

1 7 .1 - 2 1 .3O reinado de Josafá17.2. cidades fortificadas de Efraim . De acordo com 2 Crônicas 15.8, Asa havia estendido seu domínio em direção ao norte até a região m ontanhosa de Efraim, assim a fortificação dessas cidades não identificadas representaria a continuidade natural dessa política. Também não se faz nenhuma menção específica quanto ao núm ero de tropas ali posicionadas. Sabem os a par­tir das cartas de Láquis de um período posterior que a correspondência regular era m antida através desses postos avançados e que sinais de fogo eram usados como um antigo sistema de alerta.17.3. consulta aos baalins. Essa "consulta" refere-se a dirigir oráculos à divindade. Isso geralmente era feito num santuário dedicado à divindade, com os sacerdo­tes servindo como‘mediadores do oráculo. No mundo

antigo, respostas oraculares geralm ente eram trans­mitidas por adivinhos, que interpretavam as respos­tas favoráveis ou desfavoráveis através do exame das entranhas de animais sacrificados. Mesmo durante os períodos em que os israelitas reconheciam Yahw eh como sua divindade nacional, alguns ainda relaciona­vam Baal à fertilidade e continuavam a consultar esse deus em questões ligadas à agricultura. Às vezes, os israelitas preferiam buscar a ajuda de Baal tam bém para as questões do dia-a-dia (como doenças), em vez de procurar o auxílio do Senhor (ver 2 Rs 1.2).17.6. retirou os altares e postes sagrados. "Ver o co­m entário em 14.3.17.11. árabes. Os árabes mencionados no Antigo Tes­tamento habitavam as regiões próximas ao deserto da Síria, estendendo-se tam bém até o Neguebe e a pe­nínsula árabe. Foi por volta dessa época que surgi­ram as prim eiras referências a árabes em inscrições reais assírias (por exemplo, como um dos aliados da batalha de Qarqar).17.12. projetos de construção. A maioria desses pré­dios eram instalações m ilitares que serviam de base para as guarnições, e também como centros de abaste­cimento (cidades-armazéns) ou postos avançados nas fronteiras para guardar as entradas que davam acesso à região. Foram encontradas evidências arqueológi­cas de várias fortalezas no vale do Jordão e nas adja­cências do m ar Morto que talvez possam estar relaci­onadas ao reinado de Josafá. A s cidades-arm azéns

tinham o objetivo de armazenar grandes quantidades de alimentos e outros produtos para situações de cerco ou escassez de alimentos.17.14-19. o exército de Josafá. O exército recrutado por Josafá tinha m ais de um milhão (ver 2 Cr 14.7) de homens, exatamente o dobro em relação ao de seu pai Asa. Para uma discussão a respeito do tamanho dos exércitos, ver o com entário em 13.2-20. A s divisões em clãs seguem o padrão encontrado em outras for­m ações de tropas (1 Cr 27.1). D eixando de lado os números, esse tipo de alistamento sugere um a forma específica de recrutamento e um cuidado com a repu­tação, refletindo um a regulamentação adequada em relação à organização e à hierarquia militar.18.1. laços de casam ento. Na Antiguidade, as esposas dos governantes ou de seus filhos geralm ente eram frutos de alianças políticas, sendo que o casamento era visto como um a espécie de ferram enta diplomática. Cidades, cidades-Estado, tribos ou nações que dese­jassem aliar-se com um governante ou submeter-se à sua proteção selavam o tratado através do casamento entre a filha de uma das principais famílias e o suserano ou seu filho. Por exem plo, Z inri-Lim , rei de M ari durante o século dezoito a.C., usou suas filhas para consolidar alianças e estabelecer tratados com reinos vizinhos. Igualm ente, o faraó Tutm és IV (1425-1412a.C.) casou-se com a filha do rei de M itani a fim de demonstrar sua disposição em m anter boas relações com esse povo e pôr fim a um a série de guerras com aquele reino do m édio Eufrates. O grande núm ero de casamentos de Salomão (setecentas esposas e trezen­tas concubinas) refletia o poder e a riqueza de seu reino, principalmente seu casamento com a filha do faraó. A aliança de casam ento entre Josafá e Acabe uniu Atalia, filha de Acabe, com Jeorão, filho de Josafá.18.2. fo i v isitar Acabe em Sam aria. No texto hebraico, a expressão usada é "d esceu a Sam aria". Jerusalém ficava num plano relativamente mais alto em relação a Samaria, mas ainda que estivesse na m esma altitu­de, para chegar a Samaria seria preciso "d escer" pelas colinas de Jerusalém, qualquer que fosse a direção a seguir. A distância entre essas duas capitais era de cerca de 64 quilômetros.18.2. abateu m uitas ovelhas e bois. Os acordos geral­mente eram firm ados durante um grande banquete comunitário. Os animais a que o versículo se refere teriam sido sacrificados como oferta para trazer a apro­vação divina sobre o acordo.18.2. Ram ote-G ileade. Ramote-Gileade ainda não foi identificada com segurança, mas m uitos estudiosos admitem que seja Tell Ramite por causa de seu tama­nho, localização e devido à cerâm ica da Idade do Fer­ro encontrada no local (ainda não foi escavado). Se

essa identificação estiver correta, então Ramote-Gileade ficava na Transjordânia, cerca de 72 quilôm etros a

leste de Jezreel. Estava localizada estrategicam ente

na Estrada do Rei, no ponto onde a estrada do sul de

Damasco faz um a curva para o oeste cruzando o Jordão, perto de Bete-Seã, e entra no vale de Jezreel para

encontrar-se com o Grande Tronco, a rota principal (ver a nota de rodapé sobre Rotas C om erciais em

Gênesis 38). De acordo com 1 Reis 20.34, o rei arameu

havia prometido devolver as cidades tomadas de Isra­

el. É possível que isso ainda não tivesse acontecido e R am o te-G ilead e p erm an ecesse sob co n tro le dos

arameus. Essa foi a batalha que provocou a morte de Acabe, portanto trata-se do ano de 853, após a batalha

de Qarqar contra os assírios (ver o comentário em 1 Rs

22.1) quando Israel e a Síria foram aliados.18.4. papel do profeta. Nesse período da profecia pré- clássica, os profetas de Israel desem penhavam um

papel bastante parecido ao dos dem ais profetas do

antigo O riente Próxim o (ver os com entários em Dt18.14-22). Um a das áreas em que atuavam com mais

freqüência, como aqui, era como conselheiros de ati­

vidades m ilitares. De acordo com a crença da época, o envolvim ento de Deus era essencial para o sucesso das campanhas militares, assim, as atividades só co­

m eçavam com a ordem divina para ir à batalha. Essa

ordem divina pode ser atestada em inscrições reais

dos assírios. Também era importante consultar a di­vindade sobre as estratégias e m omentos oportunos

para a movimentação das tropas. Durante o período

de Saul e Davi, esse tipo de inform ação geralmente

era obtido através da m anipulação de objetos oracula-

res pelo sacerdote (ver os comentários em 1 Sm 14.10; 22.10; e 23.9-12). Agora, em vez de fazer perguntas ao sacerdote para receber respostas oraculares, as per­guntas eram feitas ao profeta que, como representan­

te de D eus, transm itia os oráculos proféticos como

sendo mensagens enviadas por Deus.18.7. profetiza coisas ruins. No m undo antigo, acredi­

tava-se que os profetas não apenas proclam avam a m ensagem vinda da divindade, m as também desen­

cadeavam a ação divina no processo. Logo, não é de admirar que se o profeta ficasse contra o rei deveria,

de certa forma, ser controlado, sob pena de gerar todo tipo de destruição. Nas instruções do rei assírio Esar- Hadom a seus vassalos, ele exigia que fossem feitos

relatórios indicando qualquer declaração imprópria ou negativa proferida por alguma pessoa, m as princi­

palmente pelos profetas, intérpretes de sonhos e pra­

ticantes de adivinhação em transe. Assim, é possível compreender por que o rei estaria propenso a aprisi­

onar um profeta como esse, cujas palavras poderiam

incitar um a insurreição ou provocar a ruína de seu reino.

18.9. tronos na eira. Devido à importância que a agri­cultura (e conseqüentem ente a fertilidade) ocupava na econom ia da região, a eira com freqüência era vista como um local de im portância ritual. As eiras eram terrenos am plos, planos, em áreas abertas e certamente eram usadas para outras atividades além de debulhar os cereais. Portanto, não é de estranhar que elas se transformassem em "salões reais" no caso das dependências do palácio se mostrarem inadequa­das ou quando interessava ao rei ser visto pelos seus súditos. No épico ugarítico de Aqhat, o rei Danilo é descrito julgando os casos publicam ente na eira do lado de fora dos portões de sua cidade.18.16. como ovelhas sem pastor. U m a inscrição de Sargon II, rei da Assíria, relata que o comandante das tropas inimigas fugiu como um pastor cujo rebanho havia sido roubado, m as mais tarde foi capturado e levado preso em grilhões.18.18. visão do Senhor assentado em seu trono. Aim agem de um trono rodeado por um a assem bléia celestial era com um em textos ugaríticos (especial­mente no épico de Keret), embora a assembléia dos cananeus fosse form ada pelos deuses do panteão. Outros exemplos aparecem tam bém na inscrição de Yehimilk em um a edificação do século dez em Biblos e na esteia Karatepe de Azitawadda. O texto acadiano Enuma Elish relata que foi a assembléia que indicou M arduque como chefe dos deuses. Essa assem bléia era constituída por cinqüenta deuses, sendo que cinco faziam parte do concílio interno. Na religião israelita, os deuses foram substituídos por anjos ou espíritos - os filhos de Deus ou exércitos celestiais. Esperava-se que essa assembléia estivesse planejando as estratégi­as para guerrear em favor de Israel, m as ao invés

disso, a discussão foi dirigida contra Acabe.18.19. a assem bléia procura voluntários. No épico ugarítico de Keret, o líder da assembléia, El, pede a

voluntários da assembléia que expulsem a doença de Keret. No final, porém, El acaba assumindo ele mes­mo a tarefa criando um ser para efetuar a cura.18.19-22. espírito m entiroso. A operação planejada aqui implicava "infiltrar-se" entre o inimigo. Quando D avi qu is m inar o su cesso de seu filh o rebeld e, Absalão, ele "plantou" um de seus conselheiros, Husai, no círculo íntimo de Absalão com a tarefa de sugerir um a estratégia que coincidisse com as inclinações na­turais de Absalão, m as que na verdade produzisse

um resultado favorável a Davi e a seu plano (2 Sm 15.32-37; 16.15-17.14). A qui o processo é o mesmo. Deus planejou uma ação contra Acabe de m odo que ele seria levado à ruína através de estratégias sugeri­

das por conselheiros confiáveis (os profetas) que coin­cidiriam com suas inclinações naturais.18.24. se escondendo de quarto em quarto. O termo

usado aqui indica um local de extrema privacidade, no qual alguém se recolheria para ficar sozinho ou

encontrar refúgio.18.26. a prisão de M icaías. N o mundo antigo as pri­

sões não eram usadas com a intenção de recuperar criminosos. O m ais provável era que um criminoso

cumprisse sua pena de prisão perpétua prestando ser­viços em grupos de trabalhos forçados. As prisões não

relacionadas a trabalhos forçados geralm ente eram localizadas em palácios ou templos, embora algumas

fossem apenas um a espécie de fosso. Alguns prisio­

neiros eram mantidos na prisão enquanto esperavam o julgam ento, mas a maioria deles estava ali por causa

de dívidas ou por razões políticas. Esse últim o grupo

era considerado perigoso para a estabilidade política do país, mas não para a sociedade. As medidas puni­tivas para aqueles que pertenciam a esse grupo fre­

qüentem ente envolviam hum ilhação pública e não prisão propriamente. Micaías foi enviado para a pri­

são para esperar o resultado de sua profecia e o final da batalha, que lhe daria sua sentença.

18.29. Acabe disfarçado. Na Assíria, quando um m au agouro (geralmente um eclipse) alertava o rei a res­

peito de más notícias, costumava-se usar um substitu­

to para o rei. Essa prática é comprovada desde 800a.C., m as tom ou-se mais conhecida a partir do sétimo

século. N esse ritual uma outra pessoa colocava as ves­

tes reais e a seguir executava diversos ritos e encanta­

mentos para identificar-se com o rei. Essa pessoa en­tão assumiria para si o impacto da desgraça que deve­

ria recair sobre o rei (geralmente a morte). Acredita­va-se que dessa maneira os maus presságios poderi­

am ser redirecionados e o rei conseguiria driblar seu

destino. Embora não constem aqui muitos elementos

que possam sugerir um ritual de substituição do rei, é possível ao menos identificar uma mentalidade seme­

lhante na atitude de Acabe, esperando evitar o desti­

no declarado pelo profeta não se vestindo como rei. D eve-se notar, porém, que evitar o mal aqui é mais

importante do que transferi-lo, como acontecia no ri­

tual do substituto do rei (para m ais inform ações a

respeito desse ritual, ver o comentário em 2 Rs 5.27). M ais im portante ainda, nenhum substituto foi indi­

cado, a menos que Josafá, recorrendo a seus privilé­gios reais, tenha desem penhado esse papel, tom an­

do-se assim um pára-raios para o desgraça, da m esma

form a que o substituto faria. Apesar do disfarce de Acabe ter conseguido enganar os soldados inimigos, a intenção m aior era poder iludir as forças sobrena­

turais que cumpririam o destino determinado contra

ele.18.30. a estratégia da S iria . Enquanto a infantaria estava envolvida no combate corpo a corpo, os carros de guerra tinham como alvo específico o rei de Israel. Geralmente os carros de guerra tinham objetivos bas­tante específicos durante as batalhas, em vez de se misturarem aos demais combatentes. Talvez fossem usados no ataque inicial, mas depois seriam usados para conter o avanço do inim igo ou para perseguir certos alvos, como é o caso aqui. A estratégia de con­centrar-se no rei tinha como alvo infligir um castigo apenas sobre ele a fim de prevenir incidentes futuros.18.33. encaixes da arm adura. A arm adura descrita aqui era formada de duas partes: um a sólida proteção para o peito e uma espécie de saiote de escamas de metal. A flecha provavelmente atingiu o rei no encai­

xe entre as duas peças ou então entre as junções das placas de metal da armadura. Um a das melhores des­crições desse tipo de armadura aparece nos textos de Nuzi, em que um casaco de m alha é revestido com cerca de setecentas a mil escamas de bronze de diver­

sos tamanhos. A frente e as costas do casaco foram costuradas nos ombros (deixando um espaço para pas­sar a cabeça) e provavelmente chegavam até os joe­lhos. Por volta do nono século já estariam sendo usa­das escamas de ferro.19.5. nom eação de ju izes. Em documentos de M ari do período babilónico antigo na Síria (c. 2000-1600 a.C.), os juizes eram nomeados pelo rei para executar tare­fas especiais, tais como supervisionar a administração de um território, desempenhar a função de governante territorial, conduzir cam panhas m ilitares e intervir em questões legais internas. Pode-se supor que as nomeações judiciais de Josafá concentravam-se em ta­refas m ais específicas, primordialmente na área legal. C om o está e v id e n te n o p re fá c io do C ó d ig o de Hamurabi (c. 1750 a.C.) e nas afirmações encontradas no "C am ponês Eloqüente" da sabedoria egípcia (c. 2100 a.C.), o padrão para o com portam ento dessas autoridades era proteger os direitos dos fracos e opri­midos. Esperava-se que reis, oficiais e m agistrados locais agissem com "verdadeira justiça" (ver Lv 19.15). A temática presente no Livro dos Juizes e nos Livros proféticos (Is 1.23) aponta para um "m undo de cabeça para baixo", em que as "leis existem, mas são ignora­das" (por exem plo, nas visões egípcias de N eferti [c.1900]). U m governo para ser eficiente, no antigo O riente Próxim o, precisava depender da confiabi­lidade da lei e de sua aplicação. D esta forma, todo Estado organizado criava um a burocracia de juizes e oficiais locais para tratar dos casos civis e criminais. Era função desses juizes ouvir os depoimentos de tes­

tem unhas, investigar as acusações feitas, avaliar as provas e por fim, executar o julgam ento (detalhes nas leis medo-assírias e no Código de Hamurabi). Alguns

casos, porém, exigiam a atenção do rei (ver 2 Sm 15.2­4) e ocasionalmente se dirigiam apelos ao magistrado supremo (como nos textos de Mari).19.6, 7. sistem a ju dicial. O termo "juizes" era usado tanto para Deus quanto para as pessoas. A autoridade dos juizes provinha de D eus, e seu papel principal era m anter a harmonia entre os israelitas (ou, no caso, os habitantes da tribo de Judá). Durante a monarquia os juizes estavam claram ente subordinados ao m o­narca que os nomeava. Portanto, eles não governa­vam como no período dos ju izes, mas executavam suas funções debaixo da proteção do rei. No antigo

O riente Próxim o, os líderes, fossem eles tribais ou militares, das cidades, províncias ou da nação, tinham a obrigação de julgar os casos sob sua jurisdição. Quando apenas um juiz estava envolvido, corria-se o risco de favorecer os ricos e poderosos. Tanto em documentos do antigo O riente Próxim o quanto na Bíblia dá-se grande valor à im parcialidade e ao discernim ento. Não havia advogados, por isso a maioria das pessoas representava a si mesma nos tribunais. As testemunhas deveriam ser ouvidas e os juram entos desempenha­vam um importante papel, visto que os recursos cien­tíficos atuais de coleta de provas ainda não existiam.19.8-11. papel dos levitas e sacerdotes. Após a divisão da monarquia, m uitos levitas e sacerdotes do norte foram expulsos de Jerusalém e de outros santuários do sul. Josafá exigiu que os levitas e sacerdotes, junta­mente com os líderes das fam ílias patriarcais, assu­missem as funções de juizes em Jerusalém (julgando contendas). Os levitas eram basicamente funcionários que cumpriam as decisões da corte (ver o comentário em Dt 18.6-8). O papel dos sacerdotes e juizes muitas vezes coincidia, porque era comum o uso de oráculos para decidir os casos. Na falta ou insuficiência de evi­dências físicas, o veredicto era determinado através da interpretação de presságios. Isso significava que os queixosos tinham de consultar os religiosos (sacerdo­tes levitas em Dt 17.9) em busca de um veredicto divino. Muitos dos que se dirigiam à cidade de Jeru­salém com pendências jurídicas estavam em busca desse tipo de assistência, o que explica a razão desse sistema judiciário levítico ter se estabelecido ali.19.11. estrutura adm inistrativa. O tribunal de Jerusa­lém era composto pelos levitas, sacerdotes, chefes das famílias e juizes. Existiam sistemas semelhantes nas administrações egípcias da 22a Dinastia (séculos onze a oitavo a.C.).20.1. m o ab itas e am onitas. Salm aneser III, re i da Assíria, m enciona em seus anais um rei amonita, Ba'as,

filho de Ruhubi, que enviou soldados para a confede­

ração síria que lutou contra a A ssíria em 853 e 841a .C . O rei moabita provavelmente era Messa, citado

em 2 Reis 3 e num a longa inscrição m oabita que

descreve sua rebelião contra Israel (ver o comentário em 2 Rs 3.4). Essa invasão em particular não é m enci­

onada em nenhuma outra fonte fora da Bíblia. Talvez tenha ocorrido num período em que a coalizão oci­

dental contra a Assíria havia se desfeito e os Estados estavam combatendo uns aos outros isoladamente.20.1. m eunitas. Existem várias opiniões a respeito da

identificação desse povo. Um a delas sugere que de­veriam ser identificados com os mineanos do sul da

Arábia, cujo controle da rota do incenso se estendera até a região da Palestina por volta do quarto século.

O u tros estu d iosos id en tificam esse povo com os M u'u naya m encionados nas inscrições de T iglate-

Pileser III. U m a terceira possibilidade os vincula à cidade de Maom, ao sul de Hebrom, na região m onta­

nhosa de Judá. Eles são citados juntam ente com outros

grupos que habitavam a fronteira sul de Judá.20.2. Edom. O centro de Edom ficava a leste da Arabá

(o profundo desfiladeiro que se estende do sul do mar

Morto até o golfo de Ácaba), desde o Zered (vau el Hasa) até o golfo de Ácaba. Durante grande parte do

período de D avi e até Josafá, Edom havia sido um

território anexado de Judá. Aqui, parece que os edo-

mitas haviam reconquistado um a certa independên­cia, sendo que seu território serviu como base estraté­

gica para esse ataque a Jerusalém.

20.2. H azazom -T am ar/En-G edi. A localização de Hazazom-Tamar é desconhecida, mas alguns estudio­

sos a situaram no extremo sul do m ar Morto, possivel­

mente em el-Hasasa, entre En-Gedi e Belém. O oásis

de En-Gedi fica no meio do caminho para o m ar Morto e aproximadamente 56 quilômetros a sudeste de Je­

rusalém . A lim entado por um a fonte contínua, este

oásis é um a paisagem transbordante de vida e cor em

meio ao cenário desértico. Este local serviu como lu­

gar de adoração, posto m ilitar avançado e centro co­mercial durante muito tempo. Diversas fortalezas do

período da m onarquia foram descobertas nessa área, sendo que uma delas localizava-se junto à fonte, en­

quanto outra ficava no topo de um penhasco, permi­

tindo avistar a aproximação de viajantes a quilôme­tros de distância.

20.10. m ontes de Seir. Os montes de Seir ficavam em

Edom. Seir normalmente é considerada a região mon­tanhosa central de Edom (picos com m ais de 1500

metros de altitude) entre o vale Ghuwayr, ao norte, e

Ras en N aqb, ao sul. Aqui, o termo provavelmente se refere a toda a região de Edom.

20.16. subida de Ziz. A subida de Ziz tem sido asso­ciada com freqüência ao ribeiro de Hasasa, que desá­gua no mar M orto a cerca de 14 quilômetros a sudoes­te de Tecoa. O contexto da passagem sugere que essa subida seria uma importante ligação entre Jerusalém e En-Gedi.20.16. deserto de Jeruel. O deserto de Jeruel ficava a sudeste de Tecoa, descendo em direção à planície para En-Gedi.20.19. coatitas e coreítas. Os coatitas e os coreítas eram duas das principais famílias envolvidas na liderança

do templo de Jerusalém durante a monarquia. Eram tam bém as duas famílias levíticas (ou clãs) mais im­portantes. Na genealogia de 1 Crônicas 6.22-24 (ver tam bém Êx 6.18; 1 Cr 6.31), os coreítas aparecem como descendentes dos coatitas.20.20. deserto de Tecoa. O deserto de Tecoa estendia- se a leste de Tecoa (Khirbet Tequ'a), uma cidade nas montanhas de Judá, num a área a aproximadamente vinte quilômetros ao sul de Jerusalém20.26. vale de Beraca. Não se sabe ao certo a localiza­ção do vale de Beraca ("bênção, louvor"). Alguns eru­ditos acreditam que poderia tratar-se do vale Berekut, entre Tecoa e En-Gedi.20.28. harpas, liras e cornetas. A lira era bastante usada no antigo Oriente Próximo. Pinturas de tumbas egípcias exibem habitantes da Transjordânia tocando lira. O texto de D aniel 3 relata o uso da harpa na orquestra de Nabucodonosor (ver D n 3). Em Israel, a harpa era um instrumento de madeira com oito cor­das (ver 1 Cr 15.21). Havia diferentes tipos de com e­tas no antigo Israel; essa em particular era usada em contextos m ilitares e religiosos para reunir o povo. Pinturas do antigo Oriente Próximo traziam às vezes algumas ilustrações de com etas, incluindo a figura de bronze de um tocador de com eta de Caria, no sudoes­te da Turquia (cerca de 800 a.C.).20.31. cronologia. De acordo com Thiele, Josafá rei­nou de 872 a 848 a.C. (a maioria dos cálculos difere apenas um ano ou dois dessas datas). A lguns sugerem que durante os três primeiros anos de seu reinado ele

teria governado como co-regente de seu pai Asa. Seus contem porâneos em Israel foram A cabe, A cazias e Jorão, enquanto que Assum asirpal II e Salm aneser III governaram a Assíria nesse mesmo período. Não há referências a Josafá em fontes extrabíblicas.

20.33. altares idólatras. Para m ais informação a res­peito desses altares, ver os comentários em 1 Reis 3.2,3 e Deuteronômio 12.2, 3.20.34. registros históricos (anais). Os anais ou registros históricos dos reis de Israel m encionados em 1 e 2 Reis e em 1 e 2 Crônicas não foram preservados. Porém , é possível supor que sua estrutura e contexto fossem

sem elhantes aos anais reais de outras regiões do anti­go Oriente Próximo. Os assírios deixaram registros m i­

litares detalhados de seus reis (a partir de 1100 a.C.), descrevendo campanhas militares, estratégias, relações

com reis vassalos e devoção aos deuses nacionais. Os

anais hititas, egípcios e babilónicos da m etade do se­gundo m ilênio a.C. são bastante parecidos. Pode-se

presum ir que outros reinos da região siro-palestina

tam bém tenham feito seus registros históricos.

21.1. cronologia. Segundo os cálculos de Thiele, Jeorão governou de 853 a 841 a.C.. Alguns sugerem que ele

teria governado como co-regente de seu pai Josafá durante os cinco primeiros anos de seu reinado. Os

reis de Israel nesse período foram A cazias e Jorão.

Esse foi um período crítico devido às inúmeras cam­

panhas militares conduzidas no ocidente pelo rei assírio Salm aneser III (ver o comentário em 1 Rs 22.1).

21.3. presentes. Josafá seguiu o precedente de Roboão colocando seus filhos em cidades fortificadas onde es­

tariam bem abastecidos (por meio de presentes, ver 2

Cr 11.23). Essa era uma prática assíria bastante conhe­cida. Esar-Hadom (reinou de 681 a 668 a.C.) colocou

seu filho mais velho, Sham ash-shum -ukin, no trono

da Babilônia, enquanto seu filho caçula, Assurbanipal,

recebeu o trono da Assíria. Não obstante, o filho mais velho considerou seu "presente" insatisfatório e deu

início a uma guerra civil pouco tempo depois.

21.4-20O reinado de Jeorão21.4. m atou todos os seus irm ãos. A prática de elimi­

nar todo e qualquer possível candidato ao trono era bastante conhecida no contexto do Antigo Testamento

(ver Jz 9.5 e 2 Rs 11.1) e no antigo O riente Próxim o.

Visto que os monarcas tinham muitas esposas (e m ui­tas concubinas), portanto, muitos filhos, com freqüên­

cia havia um número elevado de candidatos ao trono.

Haja vista Ramsés II, rei do Egito (reinou cerca de 1292­1225 a.C .), que teve m ais de cinqüenta filhos. Como

nem sem pre os rein ad os em pregavam a prática da primogenitura, que favorecia o filho mais velho, a su­

cessão ao trono ficava quase sem pre em aberto.

21.6. relações com A cabe. Acordos firmados através de casamentos não eram sim plesm ente um a prática com um da época, m as eram tam bém considerados

indispensáveis para o estabelecimento de boas rela­

ções estrangeiras com vizinhos potencialmente hostis. É possível reconstruir aqui o cenário apresentado em2 Crônicas. Josafá, um fiel aliado de Acabe, solidificou

essa aliança através do casamento de seu filho Jeorão com a filha de Acabe e Jezabel, Atalia. Certam ente

isso fez com que o culto a Baal, oriundo da Fenícia,

terra natal de Jezabel, fosse levado a Judá. Ver o co­m entário em 18.1.21.7. descendente (hebraico: lâmpada) de D avi. EmIsrael, muitas vezes a palavra "lâm pada" era usada m etaforicam ente como sím bolo de vida e prosperi­dade, razão pela qual algumas pessoas costumavam

colocar lâmpadas nos túmulos. A expressão "su a lâm­pada" é freqüentem ente usada nas Escrituras como símbolo da vida. Como uma chama flamejante é um símbolo de continuidade e recordação, então o reino do descendente de D avi em Jerusalém estabeleceria um vínculo com a promessa de Deus para a dinastia de Davi (2 Sm 7.8-16). Usos similares dessa expressão em ugarítico e acadiano estão relacionados à continui­dade do reino ou da presença divina. O rei assírio Tiglate-Pileser III é descrito como a luz da hum anida­de. Um a antiga expressão babilónica utiliza a im a­gem de um braseiro se apagando para representar um a família sem descendentes.21.8-10. a revolta de Edom. Em bora essa revolta não seja citada em nenhuma outra passagem das Escritu­ras nem em fontes extrabíblicas, foram encontrados sedimentos de destruição em Ram et Matred Neguebe da época da invasão de Sisaque (final do século deza.C.) ou da revolta mencionada nesse trecho.21.10. L ibna. Libna era um a das principais cidades fortificadas de Judá na linha de defesa da capital, Jerusalém. Portanto, se essa cidade se rebelasse, todo o reino de Judá ficaria vulnerável. A cidade de Libna geralm ente é identificada com Khirbet Tell el-Beida (cerca de 14 quilômetros a nordeste de Láquis) ou com Tell Bornat (cerca de oito quilômetros mais para oes­te), estrategicamente localizada no vau de Zeita, na entrada da principal rota costeira para Hebrom.21 .15 ,18 . a doença de Jeorão. Alguns eruditos suge­rem que essa "doença nos intestinos" de Jeorão pode­ria ser uma disenteria am ebiana crônica. Outros su­gerem que sua morte foi provocada por um prolapso retal generalizado.21.16, 17. invasão de filis te u s e árabes. A invasão aqui mencionada provavelmente refere-se a um a sé­rie de ataques vindos do oeste (filisteus) e do sul (ára­bes) desferidos por dois inimigos tradicionais de Judá. A partir do contexto da passagem, é possível supor que a invasão tenha ocorrido por causa da situação vulnerável de Judá, decorrente da rebelião edomita.21.19. fogueira em sua hom enagem . Os ritos funerá­rios negados a Jeorão eram bastante elaborados, in­cluindo a queim a de especiarias em homenagem ao morto, um lamento pela sua morte e a colocação do corpo na tum ba da fam ília. O fogo não significava que o corpo seria cremado nem era uma tentativa de mascarar os odores associados ao cadáver, m as uma

demonstração da riqueza do rei. A prática era bastan­te comum entre os reis assírios, onde era usada como um ritual apotropaico.21.20. túm ulos dos reis. Os reis de Judá eram enterra­dos na Cidade de Davi, em um a pequena serra entre os vales de C edrom , H inom e T iropoeom . D esde Roboão até Acaz, todos os reis foram enterrados ali (com poucas e notáveis exceções). Os reis posteriores foram queimados no "jardim de U zias" (Manassés e Amom) ou enterrados em sua própria tumba (Josias). Não há menção ao túmulo de Ezequias nem dos su­cessores de Josias. O local exato onde os reis eram enterrados n a Cidade de D avi não foi identificado com segurança. M uitos reis egípcios do Novo Império (c. 1550-1050 a.C.) foram enterrados no vale dos Reis, em tum bas separadas. Aparentemente não havia ne­nhum local específico de sepultamento para os reis da Assíria.

2 2 .1 -9

O reinado de Acazias22.1. tropas que vieram com os árabes. É provável que as tropas invasoras mencionadas neste versículo (que teriam acompanhado os árabes) estivessem rela­cionadas ao episódio de 2 Crônicas 21. Talvez fossem tropas dos filisteus ou de outros povos que buscavam aproveitar-se ao máximo da vulnerabilidade da mo­narquia de Judá. Certam ente esses invasores teriam concluído que o reino de Judá havia se enfraquecido depois que os descendentes de D avi não m ais ocupa­ram o trono.

22.2. cron ologia. A cazias reinou em 841 a.C. e foi contemporâneo de Salmaneser III, rei da Assíria (go­vernou de 858 a 824 a.C .). N esse período, grande parte da coalizão que havia im pedido o avanço de Salmaneser na batalha de Qarqar havia se desfeito e o sentim ento de oposição à Assíria se tornava cada vez menos popular.

22.5. guerra contra H azael. Os laços familiares entre Judá e Israel explicam o ataque unificado contra Hazael, rei da Síria, em Damasco. As nações da coalizão oci­dental haviam se separado e agora lutavam entre si.22.6. Jezreel. Jezreel tem sido identificada com Zein/ Tel Yizra'al, no extremo leste do vale de Jezreel, no território de Issacar. Essa cidade ficava 24 quilômetros a sudeste de M egido e era a capital do reino israelita durante o inverno, na época do reinado de Acabe. Com a destruição do reino do norte pelos assírios (722/ 21 a.C.), Jezreel perdeu sua im portância e não mais conseguiu recuperá-la. Para m ais informações, ver 1 Reis 21.1.22.9. Sam aria. Samaria foi a capital do reino do norte, Israel, durante dois séculos. Onri construiu a cidade

no início do nono século a.C., e os assírios a destruí­ram em 722/21. A cidade foi construída sobre uma colina, ficando assim 90 metros acima dos vales que a rodeavam . Sua localização era privilegiada, pois se situava nas proximidades dos cruzamentos das prin­cipais rotas comerciais em direção a Siquém, no vale do Jordão, M egido, Jezreel e Jerusalém . O local foi exaustivam ente escavado pelos arqueólogos. Para mais informações, ver o comentário em 1 Reis 16.24.

2 2 .1 0 - 2 3 .2 1 Atalia, a usurpadora22.10. as execuções de Atalia. Como rainha-mãe (ver o comentário em 1 Rs 2.19) durante o reinado de seu filho Acazias, Atalia desfrutou da privilegiada posi­ção de "soberana", que evidentemente era um título oficial. Isso permitiu que ela exercesse grande influ­ência nas questões cerimoniais e políticas. Seguindo o costume de outras dinastias, a usurpadora Atalia ten­tou destruir os membros da família real de Judá, da m esma forma como os usurpadores do reino do norte haviam matado os m em bros da dinastia anterior. A elim inação de fam ílias inteiras de governantes era um a prática largam ente em pregada tanto em Israel quanto no antigo Oriente Próximo. Existem inúmeros precedentes, em textos mesopotâmicos, da eliminação daqueles que reivindicavam o trono assim que o novo rei assumia o poder.22.11,12 . escondido no tem plo. Não se sabe ao certo onde o últim o rem anescente da linhagem de Davi ficou escondido. Alguns estudiosos da Idade M édia consideraram a hipótese de um local recluso, destina­do aos sacerdotes que se aposentavam de suas fun­ções, cuja entrada era proibida a A talia. Porém , a Escritura não se refere a nenhum quarto dentro do templo. De qualquer maneira, o menino ficou escon­dido nos alojam entos do sumo sacerdote dentro do recinto do templo. Além de serem locais com acesso limitado a poucas pessoas, os templos no m undo anti­go eram vistos como um lugar sagrado e protegido.23.1-3. poder político dos sacerdotes. Em grande par­te do antigo Oriente Próximo os sacerdotes detinham considerável poder político. Eles possuíam muitas pro­priedades que eram doadas como presentes para o templo e m antinham o povo sob controle. Em Israel, a autoridade dos profetas é m ais evidente que a dos sacerdotes, m as é provável que estes tam bém tives­sem alguma influência política. Jeoseba, a esposa do sum o sacerdote Joiada, era filha de Jorão, o monarca anterior, portanto, Joiada estava ligado à linhagem real através de seu casamento.23.5. porta do A licerce. A porta do Alicerce é chama­da também de porta de Sur em 2 Reis 11.6. Sua loca­lização não foi determinada com segurança.

23.9. arm as no tem plo. N ão se sabe ao certo onde essas arm as ficavam guardadas, visto que as Escritu­ras não m encionam nenhum depósito de arm as no tem plo. É provável que essas arm as fossem peças usadas pelo rei em alguma cerimônia e mantidas em exibição no tem plo. Talvez estivessem ali algumas armas importantes conquistadas nas batalhas ou to­m adas como tributo. Os termos hebraicos usados para designar os tipos de arm as são incomuns. A expressão traduzida pela NVI como "escudo pequeno" foi por m uito tempo considerada obscura, m as atualmente foi identificada como um termo técnico derivado do aramaico para designar o estojo ou caixa onde eram guardadas as lanças. Esses estojos cerimoniais apare­cem em relevos persas posteriores.23.10. disposição do tem plo. Os guardas aparente­m ente cercaram todos os lados do palácio protegendo o caminho que ia desse local até o templo. A partir da descrição dessa passagem em 1 Reis, parece que o templo de Salomão fazia parte do amplo complexo do palácio. Sabe-se m uito pouco a respeito da planta do templo e do palácio dessa época.23.11. cópia da aliança. Parece que esse documento era o projeto de algum tipo de lei ou constituição, apresentando em detalhes a subordinação do povo ao rei e a submissão do rei ao Senhor. No Egito, a cerimô­nia de coroação envolvia um a proclamação do deus Tot concedendo a aprovação oficial dos deuses para a ascensão do rei. O tem a da aliança entre o rei, os súditos e a divindade tam bém pode ser encontrado nos anais hititas do final do segundo m ilênio a.C. e nos juram entos de lealdade dos vassalos assírios da m etade do prim eiro m ilênio a.C.. Registros assírios relatam uma cerimônia em que o rei Esar-Hadom faz um a aliança com o povo da Assíria para que sejam leais ao seu sucessor, Assurbanipal. O que é diferente nas Escrituras é a menção de um documento que foi entregue ao rei, m as que não é mencionado em fontes extrabíblicas.23.11. unção. Os atos aqui descritos fazem parte do ritu al de p roclam ação dos reis de Israe l e de Judá. Primeiro, o chifre de carneiro era soprado simbolizando o reconhecim ento e a submissão do povo ao novo rei. A expressão "V iva o re i!" é confirm ada em diversos contextos nos Livros h istóricos das E scrituras e nos salmos de entronização (47; 93; 96; 97; 99), sendo usa­da após a ascensão do rei ao trono. A unção do rei tam­bém era um gesto simbólico do favorecim ento divino do rei perante Yahw eh. Para m ais inform ações sobre a unção dos reis, ver o com entário em 1 Sam uel 16.1.23.13. coluna do rei. Essa coluna podia ser um dos dois pilares do pórtico à entrada do templo, designa­dos Jaquim e Boaz (ver o comentário em 1 Rs 7.15-22).

Ezequiel descreve o local onde o príncipe deveria ficar, na soleira da entrada, ju nto ao "b a ten te" do templo (Ez 46.2). É provável que o rei estivesse de pé em algum tipo de plataforma reservada apenas para ele.23.15. porta dos Cavalos, no terreno do palácio. Aporta dos Cavalos era um a das portas do templo e não a porta dos Cavalos localizada nos m uros da cidade. Talvez fosse uma passagem por onde os cavaleiros que vinham do leste entravam na cidade vindos do leste (Jr 31.40).23.17. destruição do tem plo de Baal. No original, a expressão usada é "casa de Baal". Esta é a única refe­rência ao templo de Baal em Jerusalém (paralela a 2 Rs 11.18). Sua localização, portanto, é resultado m era­m ente de especulações. Talvez fosse um santuário particular nas redondezas do palácio. Existe, no en­tanto, uma grande estrutura escavada em Ramat Rahel, três quilôm etros ao sul de Jerusalém, que apresenta semelhanças com o palácio de Samaria. Sua localiza­ção pode ser comparada ao local do templo de Baal em Sam aria, que ficava fora da acrópole da cidade. A reação do povo destruindo o templo de Baal é seme­lhante ao expurgo praticado por Jeú alguns anos an­tes. Todas as evidências do governo anterior foram elim inadas. No Novo Im pério do Egito, Tutm és III tentou d estru ir tod os os vestíg ios do reinad o de Hatsepsute, enquanto Horemheb (e outros) fez a m es­ma coisa com os reis de Aton.23.19. guardas nas portas. Os guardas das portas evi­dentemente eram guardas reais responsáveis pela en­trada no recinto do templo por onde o rei normalmen­te passava (ver também 1 Rs 14.28; 2 Rs 11.19). Não é possível saber exatam ente qual o cam inho entre o templo e o palácio. Talvez ficasse ao sul, entre a colina do templo e a Cidade de Davi.23.20. geografia de Jerusalém . A colina do templo ficava no ponto m ais alto do extremo norte da Cidade de Davi. O palácio ficava ao sul (provavelmente adja­cente) do complexo do templo. Imediatamente a su­deste estava o vale de Cedrom, situado entre a colina do tem plo e o m onte das Oliveiras. A sudoeste da Cidade de Davi ficava o vale de Ben-Hinom.

24.1-27O reinado de Joás24.1. cronologia. Joás governou de 835 a 796 a.C. e foi contem porâneo de Jeú , Jeoacaz e Jeoás, de Israel. Salm aneser III, Sham shi-A dad V e A dad-N irari III governaram a Assíria durante esse período.24.4. conceito de reform a do tem plo no antigo Ori­ente Próximo. O templo era o centro da cultura, da economia e da sociedade tanto em Israel como na Síria

e na M esopotâm ia. Por ser a m orada da divindade protetora da cidade acreditava-se que o deus estivesse presente ali. O governante da cidade tinha a obriga­ção de cuidar e de suprir as necessidades da divinda­de, sendo necessário lavar, vestir e alim entar dia­riam ente a estátua da divindade. Esse cuidado pela

manutenção da casa da divindade era tão importante para o rei quanto suas vitórias m ilitares. Inúm eras inscrições em prédios da Assíria e da Babilônia confir­m am a devoção do rei ao se em penhar em restaurar determinado templo. Esse m esm o tipo de devoção era atribuído ao rei que se dedicasse a reconstruir ou reform ar a casa de Yahweh. A reforma envolvia tanto aspectos físicos quanto rituais. Um templo abandona­do ou negligenciado necessitaria de reparos estrutu­rais (ver o comentário no v. 13) e provavelmente da reposição de móveis e utensílios roubados. É possível que objetos de ouro ou revestim entos de ouro nas paredes tam bém precisassem ser substituídos. D e­pois de concluídas as reformas, era necessário restau­rar a santidade do templo através de rituais apropria­dos. Portanto, seria preciso providenciar recursos e

contratar funcionários para que o templo pudesse vol­tar a funcionar.

24.5. recolhim ento de im postos. O recolhimento de impostos para a restauração do templo era um a ocor­rência comum no antigo Oriente Próximo. M uitas ve­zes, porém, as reformas eram feitas através de traba­lhos forçados ou com material de construção cedido pelos súditos. O procedimento empregado no início aparece apenas em 2 Reis 12.5-7 e envolvia a coleta de fundos dos tesoureiros (NVI), m as não obteve sucesso. O termo "tesoureiro" aparece somente neste contexto e foi identificado em textos ugaríticos e acadianos como

relacionado ao tesouro do templo, podendo referir-se tanto aos oficiais que distribuíam os bens do templo quanto aos bens em si.24.5. im postos em Israel. Surpreendentemente, exis­tem poucas palavras nas Escrituras para designar "im ­posto". O termo m ais comum é um a palavra genérica

que significa "avaliar para tributar", usada em rela­ção ao tributo que os reis israelitas eram obrigados a pagar para os suseranos e tam bém para o recolhimen­to de recursos para o templo, como aqui. O processo de cobrança de impostos é descrito em 1 Samuel 8.15­17. O rei pod eria tam bém isen tar um a fam ília de pagar impostos (ver 1 Sm 17.25). Salomão tinha um

grupo de governadores que periodicamente forneci­am provisões para o palácio (1 Rs 4.7-19) como forma de tributo. Parece que a rebelião contra Roboão foi m otivada por impostos abusivos. Óstracos da Samaria registram a entrega de vinho para o palácio real com a seguinte frase, "p ara o re i". Esses óstracos foram

encontrados em locais que provavelm ente serviam como depósitos para onde os impostos eram recolhi­dos. Outra forma de se cobrar impostos era através do trabalho forçado (ver Êx 1.10; Js 16.10; 2 Sm 20.24). Embora a cobrança de impostos na Mesopotâmia seja m ais bem documentada, parece ter características se­m elhantes às práticas encontradas em Israel.24.6. tenda da arca da aliança. A tenda da arca da aliança era chamada geralmente de Tenda do Encon­tro ou tabernáculo (ver o comentário em Êx 33.7-10). Era o centro de adoração dos israelitas anterior à cons­trução do templo de Salomão e também o lugar onde ficavam a arca da aliança e diversos objetos cultuais. O tabernáculo continuou a ser um importante vínculo

para a história de Israel, m esm o durante a m onar­quia, sugerindo que a tenda provavelm ente era ar­m ada no interior do recinto do templo (ver 1 Rs 8.4 =2 Cr 5.5).

24.11. supervisão dos recursos dividida entre o rei e os sacerdotes. A responsabilidade de supervisionar os recursos destinados à restauração do templo era dividida entre o rei e os sacerdotes. Essa prática é confirm ada nos registros do rei assírio Esar-Hadom (sétimo século). Aqui também há acusações de ambas as partes em relação à responsabilidade pelo atraso no projeto.

24.12. equipe de trabalho. A manutenção regular do templo ficava a cargo dos "operários responsáveis pelo tem plo", m as para reformas importantes era preciso contratar trabalhadores com habilidades específicas. A lista desses operários tam bém aparece em registros assírios contemporâneos.24.13. natureza do trabalho. Parece que os homens encarregados do trabalho reconstruíram o templo de acordo com o modelo original. Esses hábeis operários eram carpinteiros, construtores, pedreiros e cortadores de pedra. O termo para "construtor" aplicava-se tanto aos operários qualificados como àqueles que trabalha­vam com tijolos de barro. Os carpinteiros eram res­ponsáveis por todos os itens de madeira da constru­ção, incluindo teto, portas, janelas, escadas e diversos objetos cultuais do templo. O pedreiro/cortador de pedra extraía pedras de cavernas ou das encostas das colinas. Em seguida, as pedras eram cortadas e encai­xadas no lugar. Deve-se mencionar que Salomão con­tratou artesãos fenícios para construir o templo, mas o texto não afirma explicitamente que trabalhadores es­trangeiros foram empregados para a reconstrução do templo durante o reinado de Joás.24.14. u tensílios para o tem plo. As vasilhas cultuais m encionadas aqui foram feitas pelos artesãos de Salo­m ão (1 Rs 7.50) e eram distintas daquelas feitas pelos fenícios (1 Rs 7.13-47). Essas vasilhas seriam saqueadas

por Nabucodonosor II durante a captura de Jerusa­lém, m ais de dois séculos depois de Joás. U m a descri­ção m elhor desses objetos seria: "vasilhas para o ser­viço e para os holocaustos, tigelas e vasilhas de ouro e de prata".24.15. Jo iad a com 130 anos. Joiada viveu m ais que Moisés (120 anos) e Arão (123 anos), demonstrando o quanto foi favorecido por Deus. O fato de o cronista ter chamado a atenção para a idade de Joiada eviden­cia sua grande im portância, equivalente a qualquer um dos m onarcas judaicos. Textos egípcios considera­vam 110 anos como o tempo de vida ideal, enquanto para a visão mesopotâmica o alvo era atingir os 120 anos. Textos afirmam que no sexto século, Adad-Guppi, a m ãe do rei babilónico Nabonido, teria vivido até os 104 anos.24.18. postes sagrados. Os postes sagrados aparente­mente eram objetos feitos por homens e colocados em geral perto de árvores (ver Jr 17.2), embora em algu­mas ocasiões (ver D t 16.21) as próprias árvores fossem usadas como postes sagrados. O objeto de culto a Aserá simbolizava a própria deusa. Os postes muitas vezes eram associados à imagem da divindade, que por sua vez era um elemento distinto. Para mais informações, ver o comentário em 2 Reis 13.6.24.23. guerra na prim avera. No antigo Oriente Próxi­mo a primavera era a estação propícia para dar início às investidas m ilitares. Hm prim eiro lugar, o clim a durante o inverno não era propício para longas via­gens m ilitares. Em segundo, como as colheitas aconte­ciam na primavera, os exércitos invasores consegui­am abastecer-se com provisões de alimentos. Os anais assírios descrevem insisten tem ente as cam panhas m ilitares que aconteciam durante o inverno ou no final do verão, destacando que o calor era insuportá­vel para os soldados.24.23, 24. guerra com a Síria. Nas últimas décadas do nono século o reino aram eu de Damasco livrou-se das pressões assírias e conseguiu firm ar sua influência no sul e no oeste, até Judá (ver o com entário em 2 Rs 10.32). H ou ve um ataque a G ate (provavelm ente Gitaim, no norte da Sefelá, não na Gate filistéia), que representou um a ameaça direta a Jerusalém (ver 2 Rs12.18). O rei arameu nesse período era H azael (ver o comentário em 2 Rs 8.8), que governou de 843 a.C. até quase o final do nono século.

25.1-28O reinado de Amazias25.1. cronologia. De acordo com Thiele, A m azias rei­nou de 796 a 767 a.C ., tendo sido contem porâneo de Jeoás e Jeroboão II, de Israel. A dad-N irari III, Salm a- neser IV e Assur-Dã governaram a Assíria nessa época.

25.5. tam anho do exército. O term o hebraico para m il, 'eleph, tam bém é usado para "u n id ad e", m ais adequado a esse contexto. Assim, o recenseamento de A m azias conseguiu trezentas unidades de hom ens disponíveis para o exército, m as o texto não apresenta nenhum núm ero preciso de soldados. Para mais in­form ação sobre núm eros, ver os com entários em 2 Crônicas 11.1; 13.2-20.25.6. m ercenários. O uso de soldados mercenários nas guerras do antigo Oriente Próxim o era bastante di­fundido. Os assírios começaram a depender grande­m ente de m ercenários no reinado de Tiglate-Pileser III (reinou de 745 a 727 a.C.). Em bora os mercenários fossem experientes e bem treinados, sua lealdade com freqüência era abalada quando não recebiam o paga­mento em dia, ou no caso de enfrentarem um inimigo com quem tinham algum grau de parentesco. Merce­nários jónicos deixaram o acampamento persa e luta­ram ao lado dos gregos na batalha de Platéia durante as guerras greco-pérsicas (480 a.C.).25.6. cem talentos de prata. O talento era a m aior medida de peso usada no Oriente Próximo. Era equi­valente a três mil siclos em Alalakh e Ugarit, na Síria e no Antigo Testamento (Ex 38.25, 26). Cem talentos de prata equivaliam a três toneladas e meia de prata. Obviamente esse era o valor total pago na contratação de mercenários e dava um talento de prata para cada divisão. Assim , não era um pagam ento exorbitante, m as apenas a "prim eira parcela" - o verdadeiro pa­gamento viria na form a de despojos.25 .11 ,12 . vale do Sal. O vale do Sal tem sido identi­ficado com o vale el-milh, a leste de Berseba, cerca de cinco quilômetros ao sul do m ar Morto. Existem inú­meros penhascos nessa região bastante altos, de modo que se uma pessoa fosse jogada lá de cima, certamen­te m orreria na queda.25.11. Seir. Seir era o nom e bíblico usado para desig­nar um a região do território de Edom e freqü en ­temente usado como sinônim o de Edom. Assim , os "hom ens de Seir" seriam os edomitas. Seir é alistada como um topónimo geográfico nas cartas de Am am a do Egito (século catorze a.C.).25.12. estilos de execução. Atirar os inimigos do alto de um penhasco é um estilo de execução que só é conhecido nessa passagem bíblica. E provável que fosse a form a m ais conveniente de se livrar dos inimi­gos devido às circunstâncias geográficas. No ano 67 d.C., durante a revolta dos judeus contra Roma, mi­lhares de judeus de Gam la se atiraram de um penhas­co para não serem capturados pelos romanos.25.13. desde Sam aria até Bete-H orom . Bete-Horom ficava num local elevado entre o vale de Aijalom e a região montanhosa, cerca de vinte quilômetros a no-

roeste de Jerusalém . D o local onde os exércitos se encontravam, a principal estrada de volta ia do norte

de Arade para Hebrom, fazendo uma curva um pou­

co para o oeste e depois seguindo para o norte através da Sefelá. O percurso entre Arade e Bete-Horom por

essa estrada era de 80 quilômetros. A té a cidade de Samaria seriam mais 80 quilômetros, mais ao norte de

Bete-Horom. Samaria era a capital do reino, portanto não deve ser a cidade m encionada aqui. Logo, ou havia uma outra cidade chamada "Sam aria" em Judá,

mas que não aparece em nenhum a outra passagem das Escrituras, ou no texto original constava algo como

"H ebrom ". V isto que a m aior parte do pagam ento dos mercenários era obtida através dos despojos, essa

foi a maneira deles receberem seu salário.25.14. deuses de Seir. O m ais provável é que esses

deuses fossem imagens das divindades dos edomitas. O deus nacional dos edomitas era Qos. Era comum na

época que se prestasse culto aos deuses das nações

derrotadas. Em D ã foram encontradas colunas de pe­dra, do lado de dentro dos portões da cidade, com

claras evidências de ofertas votivas. Há indicações de

que as colunas representavam algumas das divinda­des das cidades conquistadas por Israel. A s ofertas

votivas seriam dedicadas em cumprimento dos votos

feitos a estas divindades (talvez buscando auxílio para tomar a cidade contra a qual lutavam).

25.21. Bete-Sem es. Bete-Semes era um a cidade a cer­

ca de 24 quilômetros a oeste de Jerusalém, na região

da Sefelá, entre Jerusalém e a costa da Filístia. Era

uma importante cidade fortificada que protegia o des­filadeiro de Soreque dos invasores que desejavam

saquear Jerusalém . O local de Bete-Sem es (Tell er-

Rumeliah) apresenta vestígios de uma ampla ocupa­ção cananéia da cidade, anterior à conquista israelita.

25.23. topografia de Jerusalém . M uitos eruditos su­

põem que a porta de Efraim estivesse localizada no

ângulo noroeste da cidade de Jerusalém , enquanto a porta da Esquina ficava no ângulo nordeste. A parte

norte de Jerusalém era a única direção que permitia o

fácil acesso à cidade. Outras partes do muro dificulta­vam o acesso à cidade por causa do vale de Ben-

Hinom, a sudoeste, e do vale de Cedrom, a sudeste.

25.24. saque de Jeoás. Registros assírios relatam que muitas vezes a fam ília do rei derrotado era enviada

como refém para a Assíria a fim de garantir o bom

com portam ento do rei. A ssurnasirpal II (reinou de 883 a 859) é descrito como "tom ando reféns e estabele­

cendo a vitória". Aqui a identidade dos prisioneiros não é mencionada, m as pode-se presumir que perten­

ciam à fam ília real ou então eram importantes m em ­

bros da nobreza.

25.27. Láquis. Láquis (Tell ed-Duweir) era uma das principais cidades fortificadas da Sefelá judaica. Não é de estranhar que Amazias fosse até essa cidade, visto que ficava na linha de defesa ao redor de Jerusalém. Tanto os assírios quanto os babilónicos conquistaram Láquis em seus ataques contra Judá nos séculos oitavo e sétimo a.C.. Localizada cerca de 48 quilôm etros a sudoeste de Jerusalém, o local cobre por volta de trin­ta acres.

26.1-23O reinado de Uzias26.2. E late. Elate (ou Elote) era a cidade portuária construída por Salom ão à frente do golfo de Ácaba (ver o comentário em 2 Cr 8.17), estreitamente associ­ada ao porto de Eziom-Geber, nas proximidades. A cidade expandiu o comércio de Judá com a Arábia, a África e a índia. Uzias aparentemente tentou restau­rar a rota com ercial do m ar V erm elho criada por Salomão.

26.3. cronologia. O longo reinado de Uzias, segundo os cálculos de Thiele, teria durado de 792 a 740 a.C.. Alguns estudiosos postulam que durante um longo tempo ele teria sido co-regente com seu pai Amazias, no início de seu reinado, e no período final com seu filho, Jotã. Foi contemporâneo de Jeroboão II (durante quarenta anos), Z acarias, Salum , M enaem , Peca e Pecaías de Israel. Adad-Nirari III, Salmaneser IV, Assur- D ã, Assur-Nirari V e Tiglate-Pileser III governaram a Assíria nessa mesma época. A Assíria estava enfra­quecida durante a maior parte desse período, permi­tindo a expansão e a prosperidade de Israel e de Judá. O nom e de Uzias foi encontrado num selo de Tell Beit M irsim . Os registros de Tiglate-Pileser m encionam um rei chamado Azriau de Yaudi, mas a maioria dos estudiosos não crê que ele fosse Uzias.26.6-8. sucessos m ilitares. Embora não haja outras fon­tes literárias que descrevam as vitórias de Uzias con­tra os filisteus, os árabes e os meunitas, existem evi­dências arqueológicas da destruição da cidade filistéia de Asdode, que poderia ter acontecido na época de Uzias. Tam bém há evidências de que Uzias construiu fortalezas nesses territórios recém-conquistados. Gate (Tell es-Safi; ver o comentário em 1 Sm 5.8), Asdode e Jabne form am um triângulo, com cerca de 15 a 25 quilômetros de cada lado, ocupando a parte norte da planície filistéia a oeste de Jerusalém. Tell M or, perto da cidade filistéia de Asdode, oferece um exemplo de uma dessas fortalezas. Visto que Uzias não foi capaz de expandir-se para o norte, por causa do poderio de

Israel sob Jeroboão II, ele voltou sua atenção para o oeste e para o sul, subjugando povos que anterior­mente haviam tirado vantagem das condições vulne­

ráveis de Judá. Para m ais informação a respeito dos meunitas, ver o comentário em 20.1. A localidade de

Gurbaal perm anece sem identificação.

26.9. torres de Jerusalém . Embora as torres construídas por Jerusalém não tenham sido identificadas, é prová­

vel que fossem semelhantes às torres construídas pe­

los assírios em suas principais cidades: Nínive, Calá, Assur e Dur-Sharrukin. Dur-Sharrukin era uma for­

taleza construída por Sargão II (reinou de 721a 705

a .C ), com torres posicionadas estrategicamente nos

quatro cantos da cidade. Ver 2 Crônicas 25.23 para uma descrição das portas onde as torres de Uzias fo­

ram construídas. Pesquisas recentes revelaram uma enorm e torre nas proxim idades da fonte de Giom,

que talvez fizesse parte dessas fortificações.

26.10. torres no deserto. Há claras evidências arque­

ológicas das construções de Uzias em Judá. A torre no

nível estratigráfico IIIB em Gibeá provavelmente foi construída nesse período. A grande quantidade de

obras em Tell Abu Selim eh também data desse perí­odo. Há evidências de prédios antigos e cisternas em

Qumran e A in Feshka que remontam ao reinado de

Uzias. Fortificações, cisternas e propriedades agríco­las tam bém foram localizadas na área do Neguebe, perto de Berseba.

26.11-13. o exército de Uzias. O poder de Uzias pode

ser atestado pelo fato dele possuir um exército efetivo,

sem precisar depender do alistamento temporário de

soldados no caso de surgir um conflito. Fontes assírias indicam que o exército de U zias era im portante o

bastante para ter participado da coalizão contra Tiglate-

Pileser III durante a invasão do Levante, em meados do oitavo século a.C..

26.14. armas. A riqueza de Uzias lhe perm itia equi­

par seus soldados com o arm am ento tradicional do

Oriente Próximo na Idade do Ferro. As armas menci­onadas aqui eram as mesmas utilizadas pelo exército

assírio. O armamento bélico assírio é descrito em de­talhes nos anais assírios e ilustrado com freqüência

em relevos do palácio real. É bem provável que Uzias tenha começado a equipar seu exército devido à ame­

aça da Assíria e do vizinho Israel.26.15. m áq u in as. A s "m áq u in as" constru ídas por

Uzias provavelmente seriam uma proteção formada por escudos instalada sobre os muros da cidade per­

mitindo que os soldados atirassem pedras e flechas contra o inim igo. Os vestígios da fortaleza judaica

em Láquis confirm am o m odelo desses equipam en­tos construídos por Uzias. Além disso, são represen­

tados nos relevos m urais assírios do palácio de Sena- queribe, em N inrode. Tem pos atrás, alguns intér­pretes sugeriram que essas máquinas seriam catapul­

tas, embora não haja evidência do uso de catapultas nesse período.26.16-19. o pecado de Uzias. O pecado de Uzias foi

um a violação direta das prerrogativas sacerdotais

concernentes à adoração no tem plo (Nm 16.40). O altar de incenso ficava localizado na câmara exterior

do templo, cujo acesso era permitido somente aos sa­cerdotes oficiantes. Uzias foi acusado de cometer sacri­

légio ("in fie l", NVI v. 18), um pecado que requeria

ofertas de reparação (ver o comentário em Lv 5.14-16).

26.19. lepra. O rei de Mari, Yahdun-Lim, amaldiçoou com lepra todo aquele que profanasse o templo que

ele estava construindo, num a clara relação com o inci­dente aqui narrado. Lingüistas dedicados ao estudo

das línguas do antigo O riente Próxim o concluíram

que o termo freqüentemente traduzido como "lepra"

seria m elhor traduzido como "lesão " ou, de form a

menos técnica, "escam ação da pele" através de feri­das que podiam estar inchadas, vazando ou desca­

mando. A terminologia para esse tipo de doença tam ­bém é bastante abrangente em *acadiano, o mesmo

ocorrendo entre os *babilônios, sendo vista como uma condição impura ou um castigo dos deuses. A ocor­

rência de lepra (hanseníase) não foi comprovada no

antigo Oriente Próximo em períodos anteriores a Ale­

xandre, o Grande. Nenhuma das características m ar­cantes da hanseníase é alistada nos textos antigos e os

sintomas descritos não se relacionam à lepra. A condi­

ção apresentada no texto não é descrita como contagi­osa. Os relatos sugerem tratar-se, de acordo com diag­

nósticos modernos, de doenças como psoríase, eczemas,

vitiligo, favo ou dermatite seborréica, bem como uma

série de infecções causadas por fungos. Por essa razão, não se sabe exatamente que tipo de doença de pele

Uzias adquiriu. A comparação a "neve" está mais rela­cionada à aparência de escama (flocos) do que à cor. A grande aversão cultural a doenças de pele talvez seja

devido ao seu aspecto (e às vezes, odor) semelhante

ao estado de putrefação de um cadáver e, portanto, associado à morte. Essa repulsa natural pesava consi­

deravelmente para o isolamento da vítima, especial­mente quando combinado à quarentena, cujo propó­sito era m ais ritual que terapêutico. Não se sabe ao

certo se U zias ficou em quarentena por causa da doen­ça ou devido às ofensas cultuais que praticara. Naamã

tinha um a doença parecida e continuou a desempe­nhar suas funções como general do exército. É possí­

vel presumir que Jotão, filho de Uzias, tenha assumi­do as responsabilidades oficiais como co-regente após

o pecado de seu pai.

26.23. túm ulo de Uzias. O Museu de Israel preserva um epitáfio que foi encontrado no local da tumba de

Uzias, rei de Judá, indicando que ele foi enterrado num túmulo de segunda categoria.

27.1-9 O reinado de Jotão27.1. cronologia. Jotão governou de 750 a 732 a.C. e possivelmente foi co-regente com seu pai Uzias du­rante dez anos e com seu filho Acaz por três anos. Evidências extrabíblicas do reinado de Jotão incluem um sinete encontrado em Tell el-Kheleifeh com seu nome e a figura de um carneiro com chifre. Ele tam ­bém é m encionado num a bula encontrada no selo real de Acaz.27.3. porta superior do tem plo. Pouco se sabe a res­peito da arquitetura do templo após Salomão. A porta superior do templo ficava localizada na entrada norte. Jeremias ficou confinado na porta superior de Benja­m im, que provavelm ente era um nom e alternativo para a porta superior.27.3. colina de O fel. A colina de Ofel é identificada como a região entre a colina do templo e a elevação ao sul conhecida como a Cidade de Davi. Aparentemente existiam ali fortificações que cercavam o complexo do tem plo e do palácio e alguns acreditam que havia também um a cidadela, denominada "a Ofel".27.4. fortes. Jotão deu continuidade aos extensivos projetos de construção de seu pai em Judá, edificando cidades fortificadas nas montanhas de Judá, provavel­mente como uma linha de defesa contra invasões. Ele não apenas construiu fortes nas matas, como também desenvolveu um programa de reflorestamento. Esca­vações arqueológicas não descobriram ainda nenhu­ma fortificação que poderia ser identificada como uma das construções de Jotão. Foi durante seu remado que ocorreu a consolidação do im pério neo-assírio com Tiglate-Pileser III, fato que certamente renovou a pre­ocupação com projetos de defesa diante dessa ameaça crescente.27.5. am onitas. O s am onitas v iv iam ao norte dos moabitas na região ao redor do rio Jaboque. São ci­tados em registros assírios como Bit-Am m on e como a terra de Benammanu. No final do reinado de Jotão, o rei de Am om era Sharib. Nenhum registro amonita ou assírio fornece inform ação a respeito da história dos amonitas anterior a 733. Eles pagavam tributo a U zias, mas aparentem ente tentaram libertar-se do controle de Judá e foram subjugados pelo força.27.5. quantidade de tributo. O valor do tributo pago pelos am onitas é bastante elevado e com parável às condições que os assírios im puseram a Judá durante o reinado de Ezequias (2 Rs 18.14-17). Cem talentos de prata eram mais de três toneladas, enquanto dez mil coros de trigo e cevada equivaliam a dez mil barris de cada cereal (ver o comentário em 2.10).

28.1-27 O reinado de Acaz28.1. cronologia. Segundo Thiele, Acaz reinou de 735 a 715 a.C.; foi contemporâneo de Oséias, o último rei de Israel, e tam bém dos reis assírios Tiglate-PileserIII, Salm aneser V e Sargão II. A cronologia desse perí­odo é bastante complicada e os núm eros variam con­sideravelmente de um sistema para outro. A maioria dos sistemas depende de uma complexa combinação de co-regências. Em relação a Acaz é possível conside­rar que ele teria sido colocado no poder por um a facção pró-Assíria da administração de Judá, a partir de 741, na esperança de que a cooperação com a Assíria lhes garantisse um período de paz. O nome de Acaz aparece (na forma mais longa de seu nome, Jeoacaz; em assírio, Iauhazi) nas inscrições de uma edificação de Tiglate-Pileser como um dos reis que pagou tribu­to. Foi encontrada tam bém uma bula (impressão de selo) de seu selo real.

28.2. ídolos de m etal. Acaz fundiu ídolos dos baalins, não das divindades locais. O plural (baalins) pode ser equivalente a Eloim , o nom e genérico para o Deus dos hebreus. Fundir ídolos para adorar era especifica­m ente condenado pela lei de M oisés (ver Êx 34.17). Exem plares de divindades cananéias (inclusive de Baal) fundidos em m etal foram encontrados em inú­meras localidades da Palestina.28.3. vale de Ben-H inom . O vale de Ben-H inom fica­v a no lado sul de Jerusalém e se ju ntava ao vale de Cedrom n a extrem idade sudeste da cidade. O acesso da cidade para o vale de Ben-H inom era através da porta das ovelhas e pela porta do vale. O vale de Ben- Hinom ficou conhecido como local de culto a Baal por causa dos atos de Acaz e M anassés. Josias profanou a região a fim de evitar futuros atos idólatras (2 Rs 23.10).28.3. queim ar os filh o s em sacrifício . Os escritores bíblicos fazem distinção entre o costume que muitas nações tinham de queim ar os filhos em dedicação a seus deuses (Dt 12.31 e 2 Rs 17.31) e a prática dos israelitas idólatras de "passar seus filhos pelo fogo". Se "passar pelo fogo" era diferente de oferecer sacrifí­cios de crianças, não se sabe ao certo. Em D eutero- nômio 18.9 o ato de "passar pelo fogo" aparece junta­mente com outras práticas cananéias de adivinhação. Existem indícios em fontes assírias desse período da prática de sacrifícios de crianças. Alguns documentos comerciais assírios incluíam uma cláusula de "qu ei­m ar os filhos para Sin" como punição.

28.4. alto das colinas, árvore frondosa. O culto em altares idólatras não é atribuído aos reis, mas sim ao povo de Ju d á (ver 1 Rs 22.43). U m a form a verbal diferente é usada em hebraico para indicar sacrifícios ilegais de adoração em oposição a sacrifícios aprova­

dos pela lei, oferecidos no templo de Jerusalém. Para m ais inform ações a respeito de lugares altos, ver o comentário em 2 Reis 17.9.28.5. derrotados pelos arameus. Trata-se aqui do epi­sódio que ficou conhecido como guerra siro-efraimita. Um a versão popular afirma que as nações na região da Síria e da Palestina (inclusive Israel e Síria) haviam formado um a coalizão para lutar contra a potência emergente da Assíria, sob Tiglate-Pileser III. Rezim, rei da Síria-Damasco, encabeçou essa coalizão em 733a.C.. Um ano antes, Síria e Israel tentaram forçar Acaz, rei de Judá, a unir-se a essa coalizão contra a Assíria e esses dois Estados procuraram depor Acaz (ver Is 7.6). Em vista do apelo de Acaz, a A ssíria m archou em direção ao oeste em 733-732 a.C. e devastou a área, pondo fim ao governo dam asceno e estabelecendo um governo fantasma em Israel (Oséias). Outros estu­diosos acreditam que o ataque da coalizão siro-efrai- mita resultou apenas de suas próprias am bições de expansão e não teve nenhuma relação com a investida contra a Assíria. Os anais assírios de Tiglate-Pileser III estão bastante deteriorados, m as é possível perceber neles um a visão geral da conquista assíria.28.14,15. form a de tratar prisioneiros. Os anais assírios e relevos de parede retratam as péssimas condições daqueles que eram deportados de seu território para terras longínquas. Os homens normalmente ficavam nus e eram puxados por ganchos presos no nariz ou nos lábios. Alguns haviam perdido membros, outros arrastavam seus pertences. Parece que os israelitas tratavam seus prisioneiros da mesma forma, mas essa atitude foi condenada pelo profeta Oded. A dimensão do cuidado e da compaixão descritos nesses versículos, portanto, é notável.28.16. Acaz pede ajuda aos assírios. Como resposta à invasão de Judá pelos Estados da região siro-palesti- na, Acaz apelou à Assíria. Em bora os anais assírios não registrem explicitam ente esse pedido de ajuda, A caz é alistado como um dos reis que pagou tributo a Tiglate-Pileser III.28 .17 ,18 . dificuldades m ilitares. Acaz não só estava temeroso diante das invasões siro-israelitas, como apa­rentem ente seu apelo à A ssíria estava relacionado com sua guerra contra Edom e a Filístia. Escavações recentes ao longo da antiga fronteira entre Edom e Judá confirmaram a expansão de Edom no Neguebe de Judá, em cidades como en Hatzeva e Qitmit. Óstracos de cerâmica de Arade contendo correspondência m ili­tar desse período tam bém demonstram que as inva­sões edomitas eram consideradas iminentes. Os filisteus expandiram sua presença na região da Sefelá, recon­quistando o controle da área m antida sob controle judaico durante o reinado de Uzias (ver o comentário

em 26.6-8). A descrição inclui as três principais entra­das de acesso às colinas de Judá (os vales de Aijalom, Soreque e Elá). Não existem evidências arqueológicas sobre a conquista filistéia em qualquer dessas locali­dades mencionadas. A campanha de Tiglate-Pileser de 734 incluiu os filisteus dentre seus alvos. Isso levou os assírios a erigir um a esteia em G aza em 734 e à conquista de Ascalom em 733. Um a carta assíria de N inrode indica as condições instáveis existentes na Palestina nesse período. Os territórios perdidos por A caz não foram devolvidos a ele, m as organizados em províncias assírias.28.23. deuses de D amasco. A maioria dos povos no antigo Oriente Próximo acreditava que os deuses ti­nham jurisdições geográficas lim itadas. A terra de determinado deus ficava sob a responsabilidade do monarca instituído pela divindade local. Norm alm en­te, os deuses não controlavam os eventos que aconte­ciam em outras regiões (pois pertenciam à jurisdição de outros deuses). Visto que a m aioria das guerras era considerada guerra santa, o exército vitorioso dava o crédito ao seu respectivo deus. D esde a m etade do terceiro milênio a.C. os habitantes da cidade suméria de Lagash afirmavam que seus deuses haviam conce­dido a eles a vitória contra a cidade vizinha, Umma. Nesse texto, Acaz faz um reconhecimento sincero de que, já que os aram eus foram vitoriosos contra ele, seus deuses eram m ais poderosos, portanto deviam ser adorados. Os deuses de Damasco eram do panteão arameu e incluíam Hadade (o deus da tempestade), que provavelmente era o nome correto de Baal m en­cionado em fontes cananéias. Acaz tam bém edificou um enorme altar aos "deuses de D am asco" (ver 2 Rs16.9-16). Não fica claro no texto se o altar era fenício, aram eu ou assírio, mas deveria substituir o altar de bronze confeccionado por Salomão. O templo que Acaz visitou provavelmente era o de Hadade-Rimom (cf. 2 Rs 5.18). Porém, os ritos descritos aqui são tipicamen­te israelitas.28.24. utensílios do tem plo. Os utensílios do templo provavelmente incluíam vasilhas, móveis e ferramen­tas. De acordo com 2 Reis 16 .17 ,18 Acaz foi obrigado a enviar itens bastante precisos, inclusive a "cobertu­ra usada no sábado", para o rei da Assíria. Os assírios normalmente não interferiam nas práticas cultuais lo­cais. Parece que Acaz enviou os utensílios do templo a fim de cumprir um pagamento de tributo na forma de metais.28.24. altares em todas as esqu inas. Textos babiló­nicos m encionam pequenos santuários ao ar livre ou nichos colocados nas esquinas ou nos pátios. U m texto relata que havia 180 altares desse tipo na cidade da Babilónia, dedicados à deusa Istar. Esses santuários

apresentavam uma estrutura construída com um altar no topo e pareciam ser freqüentados principalmente por m ulheres. N esse sentido, a palavra "esqu ina" talvez se refira basicamente a um nicho cultual.28.25. altares idólatras em todas as cidades. Nessa época, toda a região de Judá havia se transformado num centro de práticas cultuais estrangeiras. Os assírios (e aram eus) não exigiam que os povos subjugados transferissem sua lealdade a deuses diferentes, mas talvez algum grupo tenha imaginado que seu relaci­

onamento com os conquistadores melhoraria se eles seguissem essas divindades estrangeiras. Para infor­mações a respeito de altares idólatras, ver o comentá­rio em 2 Reis 17.9.

29.1-32.33O reinado de Ezequias29.1. cronologia. As datas do reinado de Ezequias são bastante controversas. Thiele, reconhecendo a contra­dição existente em alguns sincronismos bíblicos, de­signou o período do reinado de Ezequias entre 715 e 687 a.C., contem porâneo a Sargão II e Senaqueribe, reis da Assíria. Os monarcas egípcios desse período foram Shabako, Shebitku e Taharqa. Muitos estudio­sos acreditam que é mais provável que Ezequias te­nha subido ao trono em 727 e que seu encontro com Senaqueribe, no décimo quarto ano (2 Rs 18.13), deu­se quando Senaqueribe ainda era o príncipe que co­m andava os exércitos de seu pai, Sargão II. Registros assírios confirm am que houve uma campanha no oci­dente contra Asdode em 713. Isso representa o início de uma longa série de conflitos entre esses protago­nistas, culminando com o cerco a Jerusalém em 701, após a ascensão de Senaqueribe ao trono. Evidências arqueológicas do reinado de Ezequias incluem um selo encontrado em Tell Beit Mirsim, com seu nom e e da época de seu reinado. Os jarros com selos reais encontrados na região siro-palestina a partir do final do oitavo século provavelmente tam bém pertencem ao período do remado de Ezequias. Juntam ente com a expansão e construção de obras em Jerusalém (ver o comentário em 32.5), há uma grande coluna em Láquis que provavelmente foi construída nesse período.29.3. ideologia da restauração dos tem plos no antigo O riente Próxim o. O templo era o centro da cultura, da economia e da sociedade na Síria, na Mesopotâmia e em Israel. Era a casa da divindade protetora da cidade, por

essa razão acred itava-se que a d iv ind ade estivesse presente ali. Era responsabilidade do governante da cidade cuidar e suprir as necessidades da divindade, o que incluía lavar, vestir e alimentar a divindade di­ariamente. O cuidado que o rei deveria ter para a m a­n utenção da casa da d iv ind ade era tão im portante

quanto seu sucesso m ilitar. Incontáveis inscrições em prédios da Assíria e da Babilônia confirm am essa de­

voção do rei quando determinado tem plo era restau­rado. Esse mesmo tipo de devoção era atribuído a quem reconstruísse ou reformasse a casa de Yahweh. A refor­

m a envolvia tanto aspectos físicos quanto rituais. Um

templo abandonado ou negligenciado necessitaria de reparos estruturais (ver o comentário no v. 13) e talvez da reposição de móveis e utensílios furtados. É possível

que objetos de ouro ou incrustações de ouro nas pare­des tam bém precisassem ser repostas. Depois disso, a

santidade do templo teria de ser restabelecida através

de rituais apropriados. Finalmente, seria preciso pro­videnciar recursos e funcionários para que o templo pu­desse voltar a funcionar.

29.4-15. os levitas. As famílias levíticas não desempe­nhavam um papel importante no culto em Jerusalém desde a época de Josafá, mais de um século antes. De

acordo com os procedimentos comuns usados na refor­

m a no templo, Ezequias utilizou as famílias tradicio­nais de sacerdotes para purificar o templo e restaurar

sua pureza ritual e a seguir recolocou-os em suas fun­

ções originais (ver o comentário em 19.5).

29.15. consagração. A consagração era o processo de purificação ritual que visava preparar a pessoa a se

relacionar com o sagrado. Os procedim entos varia­

vam de uma cultura para outra, mas a m aioria concor­dava com a necessidade de cum prir um ritual para

remover a impureza e preservar a santidade da casa

da divindade. Provavelm ente os sacerdotes foram consagrados com base nas regras detalhadas encon­

tradas em Êxodo 29.

29.16. vale de Cedrom. O vale de Cedrom, a sudeste do templo, é ligado ao vale de Ben-Hinom, que era

usado há m uito tempo como depósito de lixo e entu­

lho pelos m oradores de Jerusalém . Ezequias, assim como Josias, procurou limpar toda a área do templo de

Jerusalém levando os objetos cultuais idólatras para

esse vale. As pessoas sem recursos tam bém costuma­

vam enterrar seus mortos no vale de Cedrom.29.17. calendário. O primeiro mês era Nisã, que abran­

gia os meses de março e abril e marcava o início do calendário das festas religiosas. O procedimento de

purificação do templo englobava as áreas externas e

internas, visto que cada área tinha suas próprias exi­gências rituais. Quando um nível de purificação era atingido, permitia-se a entrada naquela área. O pró­xim o nível de purificação perm itia o acesso à área

seguinte e assim por diante. Aqui foram necessários oito dias para consagrar as áreas contíguas ao templo

e mais oito para a consagração da estrutura do templo em si.

29.18,19. consagração dos utensílios. A restauração do templo envolveu três etapas: purificação, reconsagra- ção e por últim o a celebração de uma cerimônia inau­gural de dedicação. Os utensílios removidos por Acaz tiveram de ser reconsagrados porque foram tirados dos recintos sagrados, portanto considerados impuros.29.21-24. ritual sacrificial. Nenhum ritual sacrificial foi usado durante a dedicação do tabernáculo. Quan­do o templo de Salom ão foi dedicado, os animais sacri­ficados eram num erosos demais para serem contados. Não há nenhuma passagem dando instruções quanto ao núm ero de sacrifícios descrito aqui. Para informa­ções sobre a oferta pelo pecado, ver os comentários em Levítico 4.1-3 e 4-12.29.25. instru m entos m usicais. Sobre harpas e liras, ver a nota em 2 Crônicas 20.28. Havia dois tipos de cím balos no antigo O riente Próxim o: um produzia som através da batida de dois pratos de m etal um contra o outro, e no outro o som era produzido através de um tipo de taça que deveria ser batida num a outra taça m antida fixa. Não se sabe ao certo qual tipo de címbalo foi utilizado aqui, mas provavelmente era de bronze.29.27-30. canto. Referências às palavras de D avi e Asafe indicam que os levitas provavelmente usavam um hinário ou saltério, talvez algo parecido com o Livro dos Salmos. A maioria dos monarcas do antigo Oriente Próximo empregavam cantores (masculinos e femininos) para servir no palácio ou no templo. Os arquivos de Mari descrevem em detalhes a contratação de cantoras e as provisões de alim ento necessárias para sustentá-las. Foram registradas mais de vinte e quatro categorias de cantores em Israel (2 Cr 25) e três chefes de famílias de cantores são mencionados pelo nome (Asafe, H em ã e Etã; 1 Cr 6.18-32). Geralmente, os cantores eram homens livres, mas escravos tam ­bém podiam estar ligados ao templo (Ed 2.43-58; Ne 7.46-60). As m ulheres desem penhavam um a função específica no tabernáculo (Êx 38.8), m as não há refe­rências claras de cantoras relacionadas ao templo.29.29, 30. postura de adoração. Alguns textos indi­cam que os israelitas oravam de pé (1 Sm 1.26; 1 Rs 8.22; Jr 18.20), outros descrevem uma postura de joe­lhos (como 2 Cr 6.13), com as mãos levantadas (SI 28.2; Is 1.15; Lm 2.19) ou totalmente prostrados (SI 5.8; 99.5, 9). Talvez a postura variasse dependendo do tipo de oração. Os israelitas não eram os únicos a adotar uma postura de oração. Há muitos exemplos na Mesopotâmia de indivíduos adotando as posturas mencionadas aci­ma, como as orações de encantamento dirigidas a Istar, nas quais o suplicante deveria se prostrar e praticar um ritual de levantar as mãos. Fontes hititas sugerem posturas e gestos semelhantes.

29.29, 30. adoração ao ar livre. Os israelitas de Jerusa­lém norm alm ente oravam nos pátios do templo, de frente para o santuário (SI 5.8; 28.2; 138.2). Os judeus que viviam fora de Jerusalém deveriam voltar-se na direção da cidade de Jerusalém e do templo (1 Rs 8.44­48). Na maioria das culturas do antigo Oriente Próxi­mo, o povo não tinha acesso ao interior do templo, devendo perm anecer nos pátios. No mundo antigo, os templos não eram construídos para abrigar os fiéis, mas para servir como m orada da divindade. A adora­ção (orações e sacrifícios) era feita no templo, mas não havia cultos regulares com a participação dos fiéis.29.31. ofertas de gratidão. A oferta de gratidão era um tipo de oferta de comunhão (ver o comentário em Lv 3.1-5). Porções dessa oferta eram consumidas no altar, e o ofertante comia o que sobrava.29.32, 33. anim ais para holocaustos. As orientações a respeito dos holocaustos encontram-se em Levítico 1.1­17. O versículo 32 enumera os animais oferecidos em holocaustos, que foram totalmente consumidos pelo fogo, enquanto o versículo 33 enum era os que foram usados nas ofertas de gratidão, em que um a parte simbólica era queimada e o restante usado para uma refeição comunitária. Essa combinação de ofertas era comum em cerimônias públicas.29.35, 36. sacrifício e festa. As festas bíblicas se dife­renciavam das festas celebradas por outros povos (que coincidiam com o Ano Novo ou mudança de estação) pelo seu propósito, conteúdo e origem. Os israelitas participavam das festas do calendário religioso como uma forma de demonstrar reconhecimento e gratidão a Yahweh. As festas dos povos vizinhos geralmente incluíam lamentos, procissões, dramatizações sagra­das (e outros tipos de entretenimento) e a oportunida­de de dirigir oráculos à divindade.30.1. o convite de Ezequias. O reino do norte, Israel, havia sido conquistado pelos assírios (ver o comentá­rio em 2 Rs 17.5, 6), que agora se lançavam sobre os demais reinos do ocidente. O pai de Ezequias, Acaz, havia instituído um a política de cooperação com a Assíria, atestada por sua inclusão nas listas de paga­mentos de tributos a essa potência. Ezequias tentou reivindicar parte do território de Israel que havia sido conquistado por Uzias mas que Acaz havia perdido (ver 2 Rs 18.4-8). As ambições políticas de Ezequias só poderiam ser alcançadas com o estabelecimento de uma base religiosa no norte. Ezequias provavelmen­te só deu início a esse empreendimento após a morte de Sargão II, rei da A ssíria (705 a.C.) durante uma batalha. Com a Assíria enfrentando sérias dificulda­des, Ezequias pôde então começar a expandir suas ambições territoriais. Posteriormente, essa ação resul­tou na invasão da região sírio-palestina por Senaqueribe (701 a.C.).

30.1-3. celebração da Páscoa. A queda de Sam aria provavelmente provocou um a reestruturação interna em Israel, favorável aos planos políticos de Ezequias e à sua tentativa de reunificar a nação através da centra­lização do culto em Jerusalém. Alguns refugiados do norte haviam fugido para Judá após a conquista assíria, especialm ente agora que Israel havia assum ido as­pectos do sincretismo religioso (mistura de elementos relig iosos estrangeiros na adoração). A celebração nacional da Páscoa ajustou-se bem aos planos de reuni­ficação nacional de Ezequias, visto que Israel e Judá puderam relembrar um evento do passado partilha­do por ambos, o êxodo.30.2, 3. data da Páscoa. A Páscoa norm alm ente era celebrada no décimo quarto dia do primeiro mês do calendário hebraico. Porém, caso alguém não pudes­se estar presente por motivo de viagem ou estivesse im puro nessa ocasião, a lei perm itia (Nm 9.6-13) a celebração da Páscoa no segundo mês. Ezequias adiou a celebração para perm itir que os israelitas tam bém pudessem participar desse evento.30.13. festas de peregrinação. H avia três festas no calendário hebraico que exigiam a peregrinação a Jerusalém (para mais detalhes, ver os comentários em Ex 23.15-17). Durante essas festas, multidões de pere­grinos se aglom eravam nas ruas de Jerusalém . As peregrinações não eram muito comuns na prática re­ligiosa do antigo Oriente Próximo porque o culto às divindades protetoras era praticado, na m aior parte, nos santuários locais. No entanto, as pessoas que vivi­am em lugares afastados tinham de peregrinar até os santuários. Este tipo de peregrinação pode ser atesta­do na descoberta de hospedarias para caravanas, como a de Kuntillet Ajrud, em que há desenhos nas pare­des, feitos por viajantes que, possivelm ente seriam peregrinos (ou talvez mercadores). N a Babilônia al­gumas pessoas costumavam viajar até a capital para participar das festas do Ano Novo, m as essa não era um a exigência da prática relig iosa babilónica. No Egito, acreditava-se que os deuses viajavam em pere­grinação pelos diversos santuários do país, em vez das pessoas viajarem até determinado santuário.30.15-17. rituais da Páscoa. A Páscoa de Ezequias dis­tinguiu-se da prática comum em dois aspectos: pri­meiro, a data da celebração foi diferente (ver a nota em 2 Cr 30.2, 3), e segundo, os israelitas foram libera­dos de cumprir certas regras rituais. Pelo fato de mui­tos na assembléia não terem se purificado, os levitas dirigiram o sacrifício dos cordeiros pascais, tarefa que cabia norm alm ente aos chefes das fam ílias, m as da qual foram liberados por não estarem devidamente santificados nessa ocasião (Nm 9.6). Todavia, mesmo àqueles que estavam impuros, era permitido, em cer­tas ocasiões, comer o cordeiro pascal.

30.21. festa dos pães sem ferm ento. A festa dos pães sem fermento foi estabelecida para relembrar a liber­tação do povo hebreu do Egito (ver o comentário em Êx 12.14-20). Era um a das três festas anuais, sendo normalmente comemorada no décimo quarto dia do prim eiro mês. D urante sete dias só se podia comer pão sem ferm ento e nenhum trabalho podia ser reali­zado. Os sacrifícios eram oferecidos no primeiro e no último dia do mês (Nm 28.16-25; D t 16.1-8).30.23, 24. Ezequias fornece anim ais. Aparentemente o rei forneceu a m aior parte da carne consumida nas refeições com unitárias pelos que estavam presentes na celebração. O número de animais é bastante gran­de, mas não desproporcional, em com paração com algum as cifras encontradas na literatura do antigo Oriente Próximo. Quando o rei A ssumasirpal II ofere­ceu uma festa de dedicação por seu palácio na capital assíria de Calá, ele forneceu 5 mil ovelhas, mil cordei­ros e bois, 500 cervos, 500 gazelas, 34 m il aves e 10 m il peixes (879 a.C.).31.1. postes sagrados. Ver o comentário em 2 Rs 17.9.31.1. altares idólatras. Ver o comentário em 2 Rs 17.9.31.2. funções dos levitas. Ezequias reafirmou as fun­ções da ordem levítica estabelecida por Salomão. As­sim, os sacerdotes ficaram encarregados das ofertas e os levitas da adoração (ver tam bém o comentário em2 Cr 29.15).

31.3. contribuição do rei. Enquanto o texto de 30.23, 24 destaca as contribuições do rei para a festa, esse versículo trata das contribuições regulares que sus­tentavam o funcionamento do templo. Ezequias se­guiu o exem plo de Salom ão, providenciando holo- caustos periodicamente para o serviço do templo (2 Cr 2.4). As orientações específicas para as ofertas estão descritas em N úm eros 28 - 29. N o antigo O riente Próximo, o rei (representante da nação) era visto como o principal adorador do deus nacional. Portanto, espe­rava-se que o palácio desempenhasse um papel proe­minente no suprimento dos sacrifícios regulares.31.4. a porção dos lev itas. A porção dos levitas e sacerdotes foi apresentada em N úm eros 18 (ver os comentários relacionados), sendo que as ofertas eram destinadas aos sacerdotes (v. 12) e os dízimos aos levi­tas (v. 21). Ezequias estava empenhando-se ao m áxi­mo para conseguir que os oficiais religiosos se dedi­cassem às obrigações prescritas nos cinco Livros de Moisés.31.7. o calendário . O terceiro m ês hebraico corres­pondia a m eados de m aio até m eados de junho em nosso calendário. Embora esse mês fosse chamado de sivan no período pós-exílio, não era conhecido por esse nome na época de Ezequias. O sétimo mês, etanim (■tishri, no período pós-exílio), correspondia ao período

que vai da metade de setembro até metade de outu­bro. Visto que o recolhimento das ofertas durou desde

o terceiro até o sétimo mês, significa que incluiu o período de colheita da m aior parte da produção (maio - lentilhas, cevada; junho - trigo; setembro - tâmaras, uvas; outubro - azeitonas).

31.11. despensas no tem plo. A maioria dos templos no antigo Oriente Próximo possuía alguns cômodos usados como depósito de alimentos, cozinha, aloja­mentos para os sacerdotes e outras funções não reli­

giosas. O templo de Nankarrak, em Terqa, na Síria (c. 1600 a.C.) tinha uma ampla cozinha, além de despen­sa e alojamentos sacerdotais (que serviam como vesti­ário, não como moradia). Assim, as novas despensas de Ezequias provavelmente foram acrescentadas àque­

las já existentes.31.14. guarda da porta leste. Um a das tarefas mais importantes dos sacerdotes era controlar o acesso ao interior do templo, a área interna considerada o "âm ­

bito sagrado" (a respeito desse conceito, ver os comen­tários em Lv 16.2 e N m 18.1-7). Quando o santuário era contam inado com im purezas, era preciso fazer uma oferta de purificação ("oferta pelo pecado", ver o

comentário em Lv 4.1-3). A contaminação do santuá­rio podia acarretar um castigo tanto individual quan­to coletivo, logo os guardas das portas precisavam impedir a entrada de intrusos. Além disso, havia tam ­

bém inúm eros objetos valiosos dentro do templo: o ouro e a prata eram abundantes servindo como tenta­ção a pessoas sem escrúpulos que chegassem a inva­dir e roubar o templo. Portanto, esses objetos também

tinham de ser protegidos. O uso inadequado de obje­tos considerados sagrados exigia um a oferta de repa­ração ("oferta pela cu lpa", ver o comentário em Lv

5.14-16). Os guardas das portas tinham a responsabi­lidade de proteger o templo contra esse tipo de trans­gressão. O texto atribui tam bém uma tarefa adicional: distribuir as contribuições dedicadas ao Senhor e ao templo. A porta leste era a mais importante, visto que

a fachada do templo ficava desse lado.32.1. as cam panhas de Senaqueribe. Senaqueribe con­duziu campanhas m ilitares principalmente em duas regiões durante seu reinado (705-681 a.C.). Ele reali­zou pelo m enos uma grande campanha na Sírio-Pa- lestina, concentrando-se ao redor de Jerusalém e na

rebelião de Ezequias (701). Desenvolveu também uma vigorosa campanha contra a Babilônia, outra área pro­blemática durante seu reinado. Enfrentou constante

oposição por parte de rebeldes caldeus liderados por Merodach-Baladan (ver o comentário em Is 39.1), cul­minando no saque brutal da Babilônia em 689 a.C..32.3. abastecim ento de água. O abastecimento de água

incluía fontes, poços e canais. As fontes e poços fora da cidade foram fechados para evitar que os assírios fi­zessem uso desses recursos. A am eaça assíria levou

Ezequias a garantir a provisão de água para Jerusa­lém através da construção de um sistem a de túnel

conhecido como túnel de Ezequias. Esse túnel era cavado no leito da rocha por aproximadamente 500 m etros desde a fonte de G iom , no leste da cidade, próximo ao vale de Cedrom, até o tanque de Siloé, no

lado oeste do extremo sul da cidade. No final do sécu-

AS INSCRIÇÕES DE SENAQUERIBEAs informações sobre o remado de Senaqueribe foram obtidas de diversas fontes. Os "anais" não são exatamente registros por não serem contemporâneos às campanhas que descrevem, mas são mencionados porque ainda que tenham sido escritos posteriormente, seguem uma rigorosa ordem cronológica. Várias inscrições eram colocadas nas divisões dos alicerces de prédios; algumas foram encontradas em seus locais originais. Os anais geralmente passavam por uma série de edições. Um texto curioso, que não se ajusta à categoria de anal, é um fragmento literário conhecido como "Carta para Deus".

O relato da campanha contra Jerusalém provavelmente foi redigido vários meses depois do término da campanha (c. 700 a.C.). Além de depositar os textos nos alicerces das construções, os assírios expunham suas inscrições nos baixos-relevos que decoravam as paredes dos palácios. Existem inúmeras cópias dessa campanha inscritas em grandes cilindros. Foram encontradas também, no aposento 36 do palácio de Senaqueribe, pedras esculpidas da cidade de Nínive com relevos refe­rentes ao cerco assírio de Láquis (uma importante cidade fortificada de Judá). Os anais descrevem a destruição de uma grande área de Judá, mas não mencionam a tomada de Jerusalém, visto que operações radicais contra a capital judaica nunca foram de fato efetivadas, embora Senaqueribe afirme ter cercado Jerusalém com torres. Quarenta e seis cidades de Judá foram saqueadas, e muitas delas cedidas para a Filístia, sua grande rival. Não há indicações sobre Senaqueribe sendo magnânimo com Ezequias como teria sido com o rei de Tiro. Vários governadores foram substituídos nessa área (como Sidra de Ascalom). O testemunho dos escultores assírios é importante; Láquis aparece em suas obras, mas não Jerusalém. Os anais afirmam que mais de duzentos mil homens de Judá foram levados cativos (mas não necessariamente como escravos), e diversas cidades filistéias que se rebelaram também são alistadas como cidades conquistadas. Senaqueribe colocou a responsabilidade pelo destino de Judá nas mãos de Ezequias (os assírios geralmente culpavam o monarca inimigo pelas invasões). Há indicações de que os assírios teriam exigido de Ezequias suas filhas, suas armas, suas mulheres, seu ouro e vários outros artefatos. As listas de tributos são as inscrições mais longas e mais detalhadas de Senaqueribe, sugerindo que o autor buscou desviar a atenção do fato de que a capital, Jerusalém, não havia sido tomada. Ezequias, porém, foi subjugado. Essa batalha foi vencida, mas Ezequias continuou sendo vassalo do rei assírio e enviou tributo a Senaqueribe quando este retornou a Nínive.

lo dezenove foi encontrada uma inscrição descreven­do o encontro dos trabalhadores que escavaram o tú­nel a partir das duas extremidades. Para m ais infor­mação sobre sistemas de água, ver o comentário em 2 Sam uel 5.8.32.5. am pliação dos m uros de Jerusalém . Estudos arqueológicos recentes apresentaram evidências do crescimento da cidade de Jerusalém e de sua popula­ção na época de Ezequias. Ele provavelm ente am ­pliou as fortificações e estabeleceu centros administra­tivos e postos de comando. Escavações no quarteirão judeu da cidade velha de Jerusalém revelaram frag­mentos do muro de Ezequias, que se estendia do lado de fora dos muros da cidade, talvez por 640 metros a oeste da serra que a cidade havia ocupado antes desse período.32.9. estratégia de cerco. Os relevos assírios de Nínive que ilustram o cerco de Láquis apresentam aríetes, sete mecanismos de cerco e judeus deportados, bem como Senaqueribe sentado confortavelm ente num a poltrona, assistindo ao desfile dos despojos tomados em Láquis. Os painéis revelam o avanço da tecnologia m ilitar dos assírios. Seu exército era bastante organi­zado, com arqueiros, atiradores de lança, atiradores de funda, rampas e equipamentos para cercos. Esses m ecanism os para cerco eram m ontados sobre quatro rodas (os m odelos m ais antigos tinham seis rodas), com um longo eixo com a ponta de ferro projetando-se para frente. Tinham de três a seis metros de compri­mento e de um a quase dois metros de altura, abertos na parte de trás e fechados na frente. As inovações de Senaqueribe nesse m ecanism o de guerra incluíam uma cobertura de couro que servia de proteção. Há inúm eros relevos de parede que ilustram os cercos assírios em todo o antigo Oriente Próximo. Entretan­to, os assírios preferiam a técnica da negociação, con­forme é descrito em 2 Reis 18-19.32.11. papel da divindade durante a batalha. N o an­tigo Oriente Próximo, muitas vezes as ações militares

eram conduzidas pelos deuses estrangeiros. Assim ,

Y ahw eh foi apresentad o com o sendo fav orável a A ssíria, de form a que Judá seria derrotado (ver Is 7.19; 10.5, 6; 2 Cr 35.20-22). Esse fato é semelhante aos textos que m ostram deuses inimigos convocando os assírios para a guerra. Em um texto assírio, Marduque convocou Sargão II para acom panhá-lo e invadir a Babilônia. N um texto babilónico, M arduque convocou Ciro, rei da Pérsia, para ir com ele e tomar a cidade. De modo sem elhante, Yahw eh é visto como aquele que reuniu os exércitos que deram início à queda da Babilônia (Is 13.4). Para mais informação sobre o pa­pel da divindade nas batalhas, ver os comentários em Êxodo 15.3; 1 Sam uel 4.3; 8.7; 17.37.32.12. retirou os altares desse deus. Retirar os altares fazia parte da reforma de Ezequias cujo objetivo era centralizar a adoração em Jerusalém . Do ponto de vista do escritor bíblico, essa era um a atitude positiva. Da perspectiva assíria, porém, essa ação poderia ser usada contra Ezequias de diversas maneiras. Em pri­meiro lugar, os assírios não consideravam positiva a retirada dos santuários em que se adorava um a divin­dade. N a visão deles, quanto m aior o núm ero de santuários, melhor seria a adoração. Em segundo, é possível que os assírios tenham interpretado a atitude de Ezequias à luz de uma prática comum no mundo antigo, ou seja, quando a invasão era im inente, as im agens dos deuses eram recolhidas dos santuários m ais distantes e reunidas na capital. Essa foi uma das atitudes tomadas por M erodach-Baladan nos dias de Sargão. A retórica do invasor baseava-se no argu­mento de que esses deuses estavam aborrecidos por terem sido privados de seus santuários, portanto, ele se apresentaria como o escolhido por essas divindades para restaurá-las aos seus devidos lugares.32.18. hebraico versus aramaico. Os escribas de Judá disseram a Rabsaque (ver o comentário em 2 Rs 18.17) que parasse de falar em hebraico, visto que não que­riam que o povo que estava sobre o muro ouvisse essa m ensagem. Pediram a ele que falasse em aramaico, que era a língua dos judeus após o exílio, mas não a

LÁQUISLáquis (Tell ed-Duweir) era uma importante cidade fortificada ou cidadela real. Fortificada por Roboão (cerca de 920) sua localização era estratégica porque protegia a frágil fronteira norte. A cidade ficava sobre uma colina retangular na base da Sefelá, entre as colinas de Judá e a planície costeira, firmada sobre promontórios naturais e rodeada por profundos vales. Láquis possuía um complexo sistema de portões externos e internos, além de um muro interno com cerca de três metros e meio de espessura. Pesquisas arqueológicas em ruínas que remontam ao período assírio revelaram a existência de peças de bronze nas câmaras dos portões. Foram encontrados dezoito óstracos (fragmentos de cerâmica com inscrições) do período caldeu com inscrições referentes à invasão de Nabucodonosor. A cidade de Láquis enfrentou dois cercos em pouco mais de um século; muitos sedimentos estão misturados, tomando difícil a identificação. Visto que a cidade era rodeada por monta­nhas, o único local que permitiria o cerco assírio seria na extremidade sudoeste, embora não exista até o momento nenhuma evidência arqueológica que defina a localização do acampamento assírio. Há sinais de destruição em toda a região da cidade, incluindo muitos fragmentos de carvão. Há uma rampa de cerco construída com pedras empilhadas, considerada a mais antiga em todo o antigo Oriente Próximo e a única com confirmação arqueológica em Israel. Há desenhos de rampas de aspecto semelhante em relevos assírios. A cidade foi arrasada a poucos centímetros de sua fundação. Todos os prédios

essa altura dos acontecimentos. Rabsaque surpreen­deu a todos com seu domínio da língua judaica (he­braico bíblico). A resposta rude desse oficial de Se- naqueribe demonstrou que seu papel era persuadir e causar tumulto. Talvez esse homem fosse um israelita a serviço de Senaqueribe (como governador provin­cial), tal como Neemias e Aicar (um "sábio de Esar- Hadom" identificado como israelita no Livro de Tobias). O aramaico era a língua mais próxima ao hebraico e nesse período havia se tom ado a língua diplomática do antigo Oriente Próximo.32.27-29. a prosperidade de Ezequias. A prosperida­de de Ezequias é descrita em termos de crescimento dos seus bens. O ouro, as pedras preciosas e as espe­ciarias indicam seu sucesso no comércio e talvez no recolhimento de tributos. Os produtos agrícolas e os rebanhos sugerem colheitas abundantes e sabedoria adm inistrativa para recolher e arm azenar alimentos de forma eficaz. Esse sucesso é surpreendente diante da condição de vassalo ocupada por Ezequias e serve como prova da bênção de Deus.

33.1-20O reinado de Manassés33.1. cronologia. O longo reinado de Manassés é situ­ado por Thiele entre 696 e 640 a.C., incluindo talvez uma co-regência com seu pai. Os reis assírios contem­porâneos a ele foram Senaqueribe, Esar-H adom e Assurbanipal. Os reis egípcios de mais destaque nes­se período foram Taharqa e Psammeticus I. A Assíria continuou a exercer forte influência no ocidente du­rante grande parte desse período.33 .4 .5 . altares no tem plo. A localização dos dois páti­os do templo tem confundido os eruditos. A planta do templo em 1 Reis 6 descreve com detalhes apenas o pátio interno, por essa razão, não é possível saber a localização exata desses altares na área m ais ampla do pátio externo.33.5. práticas pagãs de Manassés. Os exércitos celes­tes (Sol, Lua, estrelas e constelações) eram adorados

nos altares dos pátios do templo e no terraço do palá­cio (ver 2 Rs 23.12). Textos do antigo Oriente Próximo da região siro-palestina descrevem a prática de adora­ção dos astros a partir do segundo m ilênio a.C. assim como em toda a M esopotâmia; selos de Israel revelam que as divindades astrais eram bastante populares lá também. As estrelas eram vistas como intermediárias entre os deuses e os homens e capazes de controlar os eventos na terra. Os reis assírios muitas vezes eram retratados usando símbolos dos planetas, intimamen­

te associados a certas divindades (para mais informa­ções, ver o comentário em 2 Rs 23.4). A política assíria desse período não interferia ou restringia a prática religiosa local, por isso, não há razão para supor que Manassés fosse obrigado a instituir essas práticas de adoração.

33.6. queim ar os filhos em sacrifício. São raras as evidências dessa prática fora das Escrituras. Os textos

legais assírios descrevem uma cláusula que estabele­ce como punição " queim ar seu filho a Sin (uma divin­dade lunar) e sua filha a Belet-seri". Ver tam bém o comentário em 2 Crônicas 28.3.33.11. relações de M anassés com a Assíria. Manassés herdou de seu pai Ezequias um pequeno estado vassalo sujeito à Assíria. Os anais de Esar-Hadom, rei da Assí­ria (reinou de 681 a 668) mencionam Manassés junta­mente com um grupo de reis da Sírio-Palestina que foram requisitados a enviar material para um projeto de construção em Nínive. O sucessor de Esar-Hadom, Assurbanipal, também colocou Manassés num a lista de governadores que lhe enviaram presentes. Em ambos os textos, M anassés é descrito como um leal vassalo.

33.11. a prisão de M anassés. Q uando Esar-H adom morreu, o governo da Assíria foi dividido entre seus dois filhos. A ssurbanipal recebeu a A ssíria e logo dom inou seu irm ão, Sham ash-shum -ukin, que rece­bera o controle da Babilônia. De fato, Shamash-shum- ukin foi pouco m ais que um governador e por volta de 652, aparentem ente cansado de seu papel de su­

foram consumidos pelo fogo, indicando um incêndio intenso atestado pelos restos de tijolos avermelhados. Os pavimentos estavam cobertos de cacos de vasos e de utensílios quebrados. A cidade foi totalmente pilhada, restando apenas alguns objetos de pouco valor ou muito pesados. Foram encontradas centenas de pontas de flechas bem como vinte pedaços de armadura de escamas e a ponteira de bronze de um capacete. Foram encontrados também mil e quinhentos ossos humanos e crânios decapitados (considerados pelos pesquisadores como sendo de civis, e não de soldados) que foram rolados mon­tanha abaixo até uma grande cova. Por cima dos ossos humanos foram encontrados muitos ossos de animais (inclusive de porcos) e muitas vasilhas de cerâmica. Mais de quatrocentos jarros também foram encontrados no local com a inscrição Imlk ("para o rei"); o único contexto que se ajusta a esses jarros é o de Láquis. Os assírios consideraram esse cerco extremamente importante, o que pode ser comprovado pela descoberta de relevos em Nínive ocupando todas as paredes de um quarto, em comemoração à façanha. O quarto de Láquis (36) ficava num ponto estratégico do palácio com o objetivo de exibir a conquista de Judá e de Láquis. Os painéis mostram o exército assírio avançando para a cidade em três colunas, tendo ao fundo uma paisagem semelhante à de Láquis. Esses relevos e painéis oferecem aos estudiosos a oportunidade única de comparar o relevo neo-assírio representando uma antiga cidade com o local propriamente.

bordinado, liderou uma sangrenta guerra civil (apoi­ada pelos elamitas) que durou cinco anos. Essa guerra só term inou quando Sham ash-shum -ukin foi morto no incêndio que varreu a cidade de Babilônia depois de dois anos de cerco. Há documentos atestando que Sham ash-shum -ukin tentou recrutar apoio entre as nações vassalas e alguns especulam que M anassés teria se aliado ao governante babilónico durante a revolta. É interessante notar que Manassés foi preso pelos assírios na Babilônia (junto com outros rebeldes, talvez para testemunhar o resultado de uma revolta fracassada), e não em Nínive. Os reis vassalos que se rebelavam com freqüência eram deportados pelos assírios por períodos indeterminados. H á evidências de que aqueles que se "arrependiam " (isto é, eram "acalm ados" pelos assírios) muitas vezes retom avam ao trono de sua nação.33.12. a oração de M anassés. O texto de Crônicas não registra o conteúdo da oração de M anassés, mas a literatura apócrifa posterior preservou um a bela ora­ção atribuída a ele.

33.14. expansão de Jerusalém . A expansão das fortifi­cações conduzida por Manassés talvez não tenha tido o mesmo objetivo das ampliações feitas por seu pai Ezequias (ver o comentário em 32.5). A ascensão polí­tica do Egito, sob o governo de Psamm eticus I, talvez tenha levado os assírios a reforçar as defesas de Judá, que rap id am ente estava se tornando um estado- tampão.Foram encontrados vestígios de fortificações que podem ter sido construídas no reinado de Manassés em Tell el-Hesi e Arade.

33.21-25 O reinado de Amom33.21. cronologia. O breve reinado de A m om foi de 642 a 640 a.C., contemporâneo ao governo de Assur- banipal na Assíria.

34.1-36.1 O reinado de Josias34.1. cronologia. Josias foi rei de Judá entre 640 e 609a.C.. Após o reinado de Assurbanipal seguiu-se um período de anarquia na Assíria, culminando no colap­so da nação em 610. Psammeticus I e N eco II governa­vam o Egito nessa época e Nabopolassar era o rei da Babilônia (626-605). Esse período corresponde ao iní­cio da decadência da Assíria e ao avanço da Babilônia sobre o território assírio, enquanto o Egito tentava aproveitar-se da confusão para conquistar a Palestina. 34.3-5. expurgo relig ioso. O expurgo religioso mais famoso da Antigüidade ocorreu quando os egípcios re jeitaram as reform as re lig iosas prom ovid as por Aquenáton, no século catorze. Durante o breve rei­

nado de Tutancâmon houve um a tentativa de retom ar à adoração dos deuses tradicionais através dos sa­cerdotes e erradicar a heresia de Aquenáton. Isso in­cluiu a restauração dos santuários e dos templos anti­gos, garantindo a eles os recursos e os funcionários necessários para seu funcionam ento, assim com o a devolução de tudo que havia sido confiscado. Tanto o santuário como a capital estabelecidos por Aquenáten em Am am a foram abandonados. Horemhab destruiu os templos de A m am a, demoliu os prédios, reciclou o material utilizando-o em outros projetos de construção e queim ou tudo que havia sobrado. Foram encontra­dos selos israelitas que fornecem evidências do expur­go promovido por Josias. Todos os selos existentes em Judá que retratavam sím bolos fam iliares de deuses da fertilidade, do deus-sol e de divindades astrais de períodos anteriores foram substituídos por selos con­tendo apenas a inscrição identificando a pessoa e de­senhos de romãs.34.6. expurgo no norte . Em bora tenham sido des­truídos anteriormente colunas sagradas e altares idó­latras (como com Ezequias), o expurgo realizado por Josias foi sem precedentes devido a sua amplitude. O texto de 2 Reis 23.15 acrescenta que ele queimou os altares no norte, algo que ainda não havia ocorrido antes. Essa limpeza só foi possível por causa do enfra­quecimento do domínio assírio na região.34.8. ideologia da restauração do tem plo no antigo O riente Próxim o. O templo era o centro da cultura, da economia e da sociedade tanto na Síria, como na M esopotâm ia e em Israel. Era a casa da divindade protetora da cidade, e por essa razão, acreditava-se que o deus estivesse presente ali. Cabia ao gover­nante da cidade cuidar do templo e suprir as necessi­dades da divindade, o que incluía vestir, lavar e ali­mentar diariamente a estátua da divindade. O cuida­do pela m anutenção da casa da divindade era tão im portante para o rei quanto seu sucesso m ilitar. Incontáveis inscrições em prédios da A ssíria e da Babilônia confirmam essa devoção do rei quando de­terminado templo era restaurado. Esse mesmo tipo de devoção era atribuído a quem reconstruía ou reforma­va a casa de Yahweh. A reforma envolvia tanto aspec­tos físicos quanto rituais. U m templo abandonado ou negligenciado necessitava de reparos estruturais (ver o comentário no v. 13) e talvez da reposição de móveis e utensílios furtados. E possível que tam bém fosse necessário repor os objetos de ouro ou os revestimen­tos de ouro das paredes. Isto feito, era preciso restabe­lecer a santidade do templo através de rituais apropri­ados. Finalmente, seria preciso providenciar recursos e contratar funcionários para que o templo pudesse voltar a funcionar.

34.9. fundos para reform a do tem plo. As inform a­ções apresentadas aqui sugerem que foi cobrado al­gum tipo de im posto como form a de arrecadar os recursos necessários para a reforma. O recolhimento de im postos para a restauração do templo era uma ocorrência comum no antigo Oriente Próximo. Muitas vezes, porém, o monarca fazia as reformas no templo empregando trabalhos forçados ou recolhendo mate­rial de construção cedido pelos súditos.34.10, 11. trabalhadores e materiais. A manutenção regular do templo era responsabilidade dos "operári­os responsáveis pelo tem plo", mas a execução de re­formas importantes requeria a contratação de traba­lhadores qualificados. Registros assírios contemporâ­neos também relacionam operários com habilidades específicas. Esses operários qualificados eram carpin­teiros, construtores, pedreiros e cortadores de pedra. O termo "construtor" era usado tanto para trabalha­dores treinados quanto para aqueles que trabalha­vam com tijolos de barro. Os carpinteiros eram res­ponsáveis por todos os trabalhos de m adeira envolvi­dos na construção, incluindo teto, portas, janelas, esca­das e diversos objetos cultuais do templo. O pedreiro/ cortador de pedra era encarregado da extração de pedras das rochas ou das encostas das colinas. Em seguida, essas pedras eram cortadas e encaixadas no lugar.34.12,13. papel dos levitas. Todas as funções m encio­nadas aqui eram típicas dos funcionários de templos no antigo Oriente Próxfmo. Para mais inform ação a respeito do papel dos levitas, ver o com entário em 19.8-11.34.14. o Livro da Lei é encontrado. A descoberta de documentos antigos durante reform as de templos é confirmada no Egito e na M esopotâmia. N o Egito fo­ram encontrados rolos m anuscritos na alvenaria de préd ios, enquanto que n a M esopotâm ia freq ü en ­temente eram encontrados documentos e esteias no alicerce das construções. Em períodos anteriores, era comum o uso de inscrições nas fundações das constru­ções (em tijolos, por exemplo) com o objetivo de dedi­car aquela obra à divindade. Gradualmente essas ins­crições se tornaram mais elaboradas, e nesse período era comum enterrar um a caixa nas obras de fundação de um templo ou palácio. Essas caixas continham ins­crições reais descrevendo os feitos m ilitares e as obras de construção do rei, de forma que se algum rei futu­ram ente quisesse restaurar aquela obra teria as infor­mações necessárias. Essas descobertas costumavam ser devidamente registradas. Nabonido, o últim o rei da Babilônia (556-539) ficou conhecido por sua busca por documentos antigos enterrados em prédios. Shabaka, um faraó egípcio por volta do ano 700, afirm ou ter

encontrado um antigo papiro bastante deteriorado contendo um texto teológico concernente à criação do mundo pelo deus Ptá. Ele ordenou então que o texto (hoje chamado de Teologia Menfita) fosse inscrito numa pedra. O Livro da Lei (ou instrução) talvez fosse um documento depositado num a caixa no alicerce do tem­plo ou então ocultado em um a de suas paredes. E possível também que estivesse esquecido nos arqui­vos do templo. Não se sabe ao certo quais Livros do A ntigo Testam ento esse docum ento continha, mas certamente incluía Deuteronômio.34.22. profetisas. Existiam profetisas na M esopotâmia, embora elas não fossem muito comuns. Os textos de M ari da Síria, do início do segundo milênio, apresen­tam evidências tanto de profetas quanto de profetisas. Há notícias também da existência de profetisas duran­te o reinado de Esar-Hadom, na Assíria. Parece que a função desempenhada pelas profetisas era sem elhan­te a dos profetas.34.22. responsável pelo guarda-roupa. Um dos funci­onários do templo de Baal na Samaria desempenhava um a função semelhante (ver 2 Rs 10.22). Há também um texto babilónico desse período que faz menção a

esse cargo. Essas roupas provavelmente eram vestes cultuais usadas para o culto da divindade (ver Sf 1.8). Nos templos pagãos, a estátua da divindade precisa­va ser vestida, mas não era esse o caso do templo de Jerusalém. A única função desse guarda-roupa aqui seria guardar as vestes sacerdotais, que exigiam cui­dados especiais para não serem profanadas nem se tornarem impuras.

34.22. bairro novo. Esse bairro ou distrito novo (em algumas versões aparece "segundo distrito") também é mencionado em Sofonias 1.10 relacionado às "coli­nas" da cidade e ao quarteirão Maktesh. Alguns estu­diosos identificaram essa área como subúrbio da Ci­dade de Davi, que surgiu a oeste das colinas de Jeru­salém. Escavações nessa área revelaram um grande povoado urbano anterior a esse período. Para mais informações, ver o comentário em 32.5.34.29-33. a reform a de Josias. Ver os comentários em2 Reis 23.1-20.35.7. a contribuição do rei. A contribuição de Josias para a P áscoa é com parável à de Ezequias. V er o comentário em 2 Crônicas 30.23, 24.35.10-14. preparativos para a Páscoa. Para mais infor­mação acerca dos preparativos para a celebração da Páscoa, ver os comentários em Êxodo 12.1-11. Em re­lação à celebração da Páscoa na época de Ezequias, ver o comentário em 30.15-17.35.18. celebração incomparável. Essa foi a prim eira celebração centralizada da Páscoa, desde aquela men­cionada em Josué 5 .10 ,11 . A Páscoa era basicamente

um ritual familiar, até Josias im plantar sua política de m udanças (no entanto, ver a observância desse ritual nos dias de Ezequias em 30.15-17). O festival babi­lónico A kitu é um exemplo do restabelecim ento de antigas festas religiosas que haviam deixado de ser celebradas. Por vinte anos (689-669) a cerim ônia de entronização (a festa babilónica m ais importante) dei­xou de ser com em orada, e só foi restabelecida por Esar-H adom , quando a Babilônia reconquistou sua proeminência.35.20. Neco saiu para lutar em C arquem is. A Crônica Babilónica afirm a que em 609 Neco, faraó do Egito, estava prestando ajuda à A ssíria, que por sua vez estava tentando retomar a capital provisória de Harran, na Síria, capturada pelos m edos e pelos babilônios no ano anterior. A s tropas de Neco iriam reforçar a guar­nição da base m ilitar em Carquemis. Os egípcios ha­viam transferido sua lealdade para a Assíria quando perceberam a m udança de poder da Assíria para a Babilônia. P od e-se supor, portanto, que N eco via m aiores oportunidades para suas próprias ambições de expansão territorial na Palestina e na Síria, se a Assíria conseguisse conter o avanço dos babilônios e dos medos. É fácil entender a posição de Josias contra a Assíria, visto que Judá havia estado sob domínio assírio por m ais de um século. Porém, mesmo com a ajuda do Egito, os assírios não tiveram sucesso em expulsar os m edos e os caldeus de Harran.35.22. batalha de M egido. A Grande Estrada do Tron­co (ver a nota de rodapé sobre as principais rotas co­m erciais em Gn 38) atravessava o crescente fértil des­de o Egito até a Babilônia e continuava pela costa da Palestina até atingir a cadeia montanhosa do Carmelo. A partir daí dirigia-se para o interior passando pela

cidade de M egido (ver o comentário em Js 12.21) e pelo vale de Jezreel (ver o com entário em Jz 6.33). Esse era o local ideal para interceptar algum exército que estivesse m archando pela região, e muitas bata­lhas aconteceram nessa famosa arena geográfica. Nada se sabe a respeito dessa batalha além do que está narrado nas Escrituras. Embora Josias tenha fracassa­do em im pedir o avanço egípcio para o norte, talvez tenha conseguido atrasá-los o suficiente de modo que, ao chegarem ao seu destino, pouco puderam ajudar os assírios na guerra entre os m edos e os babilônios.35.25. cântico de lam ento. Esse lamento composto por Jerem ias não foi preservado. Era comum na época a composição de cânticos de lamento em honra a mo­narcas que haviam morrido (especialmente no caso de m orte precoce) ou a cidades que haviam sido toma­das e destruídas. Além do Livro das Lamentações da Bíblia, existem as lam entações sumérias do início do segundo milênio relacionadas à destruição de cidades tais com o Ur, Eridu, N ipur e U ruk, e tam bém de templos destruídos. O estilo literário das lamentações sum érias é adm iravelm ente sem elhante ao m odelo

bíblico. A cidade em questão havia sido destruída com a permissão de seu próprio deus, resultando numa crise espiritual e física. Lam entações bíblicas e su­m érias continham um a expectativa da m udança no destino da cidade em questão no futuro.

36.1-23Os reinados de Jeoacaz, Jeoaquim, Zedequias e a queda de JerusalémV er os comentários em 2 Reis 23.31-25.30.36.22, 23. Para inform ações sobre Ciro e sua procla­mação, ver os comentários em Esdras 1.

E S D R A S

V1.1-11 O decreto de Ciro1.1. Cronologia. Com base na proclam ação de Ciro registrada no Cilindro de Ciro, convocando o povo cativo na Babilônia para a reconstrução do templo em

Jerusalém , o "prim eiro ano do reinado de Ciro" pro­vavelm ente se referia a 539 a.C., ano em que Ciro conquistou a Babilônia e promulgou esse decreto. Ciro

tom ou-se rei da Pérsia (Ansã) em 559 a.C. e durante vinte anos preocupou-se em consolidar o reino, esten­dendo-o até a Lídia, na Á sia M enor (conquistando Sardes em 546 a.C.), para depois se voltar contra a Babilônia e seu rei, Nabonido.

1.1. Ciro. Um a análise cuidadosa das Guerras Persas do historiador grego Heródoto (ver a nota de rodapé

no Livro de Ester) e da Crônica Babilónica revela que Ciro era o chefe de um a tribo persa (Aquemênida) que vencera um a luta de poder contra A stíages, o

últim o rei dos medos, em 550 a.C.. A combinação de forças dessas duas regiões a leste do Tigre (atual Irã), perm itiu a Ciro organizar campanhas contra a Lídia (537 a.C.) e, após a conquista de Sardes no oeste da

Á sia M enor, anexar as-colônias gregas daquela re­gião. Ele consolidou as fronteiras ao norte e a leste entre 546 e 540 e então voltou sua atenção para o ocidente a fim de conquistar a Babilônia, acrescentan­

do o reino neobabilônico ao seu império em 539 a .C . A cidade da Babilônia abriu seus portões para Ciro em outubro desse mesmo ano e, em troca, ele impe­diu que o santuário de Marduque fosse destruído ou profanado. Sua estratégia adm inistrativa perm itia o culto dos deuses locais e o reconhecimento das cultu­ras nativas. Um exemplo excelente dessa política foi

preservado no que hoje é chamado de "O Cilindro de Ciro" (ver o próximo comentário). Ciro foi morto lu­tando contra as tribos massagetas (povo parente dos citas) na fronteira leste de seu reino em 530 a.C. e foi sucedido por seu filho Cambises.

1.2-4. O C ilindro de Ciro e as políticas persas. É evi­dente que a política adm inistrativa persa diferia da

política da Assíria ou da Neobabilônia em relação ao tratamento concedido aos reis vassalos e à suas cultu­ras. O Cilindro de Ciro preserva um decreto que re­flete a tolerância de Ciro ao garantir um certo grau de autonom ia aos povos de seu im pério. Em bora não haja um a referência específica a Judá, o decreto orde­

nava que fossem feitos reparos nos santuários e tem­plos danificados e que aqueles que haviam sido destruí­

dos fossem reconstruídos e que as imagens levadas para a Babilônia fossem devolvidas. Escavações no templo de Uruk revelaram tijolos usados na restaura­ção do santuário contendo uma inscrição com o nome do rei Ciro. O s cativos receberam permissão de voltar

para sua terra natal e foram encorajados a servir ao império persa sob a liderança dos governadores do

rei que, em muitos casos, eram nativos desses países. Todas essas medidas sugerem que em vez de cruel­mente condenar e destruir as culturas nativas, os persas

empregavam um a abordagem m ais tolerante e bon­dosa. O reconhecimento das identidades regionais e a preservação de certa autonom ia local, na form a de

liberdade religiosa, visavam evitar a ruptura do im­

pério e im pedir o surgim ento de revoltas, que os assírios e babilônios enfrentaram continuam ente. É possível que essa política resultasse, em parte, da natureza do zoroastrismo, a religião oficial dos persas.

E preciso deixar claro, no entanto, que os persas não se mostravam tão tolerantes com os governantes lo­cais que exorbitavam de suas funções ou criticavam o governo persa (note a relutância de Zorobabel, ape­

sar da exortação dos profetas Ageu e Zacarias).1.2. o "D eu s dos céu s" n o zoroastrism o. N o Cilindro

de Ciro está registrado que o rei Ciro reconheceu que sua vitória contra a Babilônia deveu-se ao auxílio que

recebeu do deus babilónico M arduque. O texto de Isaías 45.1-5 adota esse mesmo tema, m as dá a Yahw eh

o crédito , apesar de Ciro não "co n h ecê-lo " ainda. A m bas as afirm ações encaixam -se bem à natureza

sincrética do zoroastrismo, em que o deus principal, Ahura M azda, está em constante conflito com o deus Ahrim an e as forças do mal. O s deuses considerados como auxiliares do rei persa (M arduque e Yahweh) eram reconhecidos com o participantes do exército celestial de A hura M azda, ou seja, de suas hostes celestes. O Livro de Esdras reforça o m esm o argu­mento de Isaías, mas sem mencionar Ahura Mazda, ao contrário, proclamando Yahw eh como o Deus dos céus. A expressão "D eus dos céus" também aparece nos papiros elefantinos, documentos judeus referen­

tes ao Egito que remontam ao final do quinto século. O fato de Yahw eh ser chamado de Deus dos céus não reflete as crenças pessoais de Ciro. Esse mesmo tipo

de tratamento era concedido aos demais deuses quan­do eram promulgados decretos referentes a reformas de santuários.1.3. D eu s que em Jerusalém tem a sua m orada. Areferência ao Deus que habita em Jerusalém reflete o estilo usado no Cilindro de Ciro, orientando os povos cativos e seus deuses a retornarem para sua pátria. Há uma dupla visão sobre D eus nesse versículo, a de um Deus universal, motivando as ações do mais poderoso líder do mundo, e a de um Deus que, como sempre, está assentado em Jerusalém.1.4-6. bens e ofertas. Visto que nem todos os exilados israelitas decidiram voltar, essa proclamação pode re­ferir-se tanto àqueles que iriam ficar como a seus vizi­nhos não judeus. Se esta última alternativa for correta, então há aqui uma forte relação com o "espólio" dos egípcios durante o êxodo, quando os israelitas tom a­ram o ouro e a prata dos egípcios por ocasião de sua partida do Egito (Êx 11.2; 12.35, 36). As ofertas "v o ­luntárias" podem ser comparadas àquelas recolhidas para equipar a Tenda do Encontro no deserto (Êx 25.2­9). Desse m odo, eram supridas as necessidades dos que voltavam à terra natal (gado e outras provisões) e providenciados recursos para reconstruir o templo em Jerusalém .1.7-10. u tensílios do tem plo. Como se sabe a partir de citações nos textos de M ari e no Cilindro de Ciro, quando um povo era conquistado, diversos objetos sagrados, incluindo ídolos e utensílios usados na ado­ração, eram levados como despojo. U m a das formas de demonstrar a superioridade do deus vitorioso so­bre o deus do povo vencido era profanando seus obje­tos sagrados ou colocando-os em posição de submissão (ver D n 5.1-4 e 1 Sm 5.1, 2). Como parte da restau­ração do templo e da adoração adequada a Yahweh, foi feito um inventário de todos os utensílios sagrados, de m odo a assegurar que nenhum ficasse para trás, mas todos voltassem a Jerusalém (ver os comentários em 2 Cr 4.8-11 para um a descrição de alguns desses

utensílios).1.11. Sesbazar. A pesar das tentativas de identificar Sesbazar com Senazar (1 Cr 3.18) a fim de vinculá-lo à linhagem davídica como "príncipe de Judá" (Ed 1.8) ou com Zorobabel, a fim de conciliar eventos narra­dos em Esdras com aqueles citados nos Livros dos profetas Ageu e Zacarias, parece que esse indivíduo pouco conhecido tinha um a identidade distinta. O título "príncipe de Judá" pode indicar ancestrais re­ais, m as nesse caso ele seria considerado um membro da casa de D avi. Talvez o títu lo se referisse à sua função, e nesse caso ele seria um oficial persa que serviu como acompanhante dos exilados na volta à sua terra natal, supervisionando a transição para um

governo local (retornando para Zorobabel). Ele foi o primeiro governador nomeado pelos persas para ad­m inistrar Judá (Yehud) e ficou encarregado dos uten­sílios sagrados, bem como da tarefa de lançar o alicer­ce do tem plo em Jerusalém . A rqueólogos descobri­ram alças de jarros e selos contendo o nome de outros três governadores de Judá dos quais nada se sabe e que sequer são mencionados por Esdras e Neemias.1.11. da Babilôn ia para Jerusalém . O mais provável é que os exilados ao retom arem a Judá tenham seguido pelo norte, na rota acim a do Eufrates até M ari ou Carquemis e depois para o sul e oeste até Damasco. Daí desceram pela rota das caravanas até a estrada costeira ou talvez voltaram pelo vale do Jordão até Jericó e seguiram então para o noroeste até Jerusalém. A distância entre a Babilônia e Jerusalém era de apro­ximadamente 1400 quilômetros, logo a viagem teria levado de oito a dez semanas.

2.1-70 O retomo dos exilados2.1. p rov ín cia . A província de Ju dá (Yehud) fazia parte da satrapia da Babilônia até o reinado de Xerxes, quando passou a fazer parte da satrapia "A lém do Rio" (a oeste do Eufrates). O texto, portanto, está se referindo aos exilados oriundos da província de Judá que agora voltavam a Jerusalém. Pesquisas arqueoló­gicas revelaram, com base na distribuição de moedas, que a província de Judá provavelm ente se estendia ao sul até Bete-Zur (cerca de dez quilômetros ao norte

de Hebrom), a oeste até Gezer, ao norte até Mispá e a leste até o Jordão.2.2. o que se sabe sobre os líderes. Zorobabel ficou conhecido como o governador da época da conquista de Dario, m as Sesbazar o antecedeu. Bigvai (um nome persa) foi governador de Judá após a administração de Neemias. Jesua (Josué nos Livros de A geu e Zaca­rias) serviu como sumo sacerdote na época de Zorobabel (Zc 3.1-10). É curioso que conste na lista os nomes de Neemias e de Seraías (uma form a alternativa de Es­dras), m as talvez fossem nomes comuns. M ardoqueu não deve ser confundido com o tio de Ester com esse mesmo nome e M ispar e Bilsã não são mencionados em nenhum a outra passagem. Reum é m encionado em Esdras 4.7-24 como um dos oficiais ("com andan­te") que escreveu um a carta queixando-se ao rei Arta- xerxes sobre as atividades em Jerusalém.2.3-67. lista dos exilados. Os principais grupos que retom aram eram constituídos por membros de clãs ou grupos aparentados (17 nom es nos v. 2-19); outros foram alistados por região geográfica, sendo a m aio­ria do norte de Jerusalém (22 nomes nos v. 20-35), e outros ainda com o m em bros de quatro fam ílias de

sacerdotes (totalizando 4289, v. 36-39) além de um pequeno grupo de levitas (apenas 74 alistados no v. 40). O restante da lista incluía pessoas relacionadas ao templo ou ao exercício do sacerdócio: músicos, portei­ros e 35 servidores do templo (v. 43-54), que podiam ser de origem não israelita (talvez comparável às corpo­rações ugaríticas e neobabilônicas de servidores espe­cíficos do templo). Um grupo era formado por descen­dentes dos "servos de Salom ão" (v. 55-58), que tam­bém não tinham origem israelita (ver os grupos de trabalho forçado em 1 Rs 9.20, 21) e provavelmente foram ligados à com unidade do tem plo devido ao aumento do trabalho. O último grupo (v. 59-63) não teria preservado a genealogia da fam ília para poder reivindicar uma posição entre os sacerdotes, mas por outro lado, tam bém não teria assim ilado a cultura babilónica.2.69. quantidade de presentes. As ofertas atingiram o valor de 61.000 dracm as (em hebraico). O dracm a equivalia a aproximadamente meio siclo. O siclo babi­lónico pesava cerca de 8,4 gramas e era representado pela m oeda persa conhecida como dárico, visto que começou a ser cunhada na época de D ario (poucas décadas após o período de Ciro). Assim, foram arreca­dados cerca de quinhentos quilos de ouro e três tone­ladas de prata para a reconstrução do templo.

3.1-13 A reconstrução do altar e do templo3.1. sétim o m ês. O sétim o mês no calendário anual é conhecido como tishri e fica no outono (setembro/ou­tubro). A conexão entre esse mês e a Festa das cabanas (ou dos tabernáculos) também pode ser observada na cerim ônia de renovação da aliança narrada em N ee- m ias 7 .73-8.2.3.2. Jesu a . Jesua foi o sum o sacerdote no início do período pós-exílio. Seu avô, Seraías, foi executado por Nabucodonosor quando Jerusalém caiu nas mãos dos babilônios (2 Rs 25.18-21; observe que Esdras tam ­bém pertence à linhagem de Seraías; ver 7.1). O her­deiro ao trono de Judá, Z orobabel (ver o próxim o comentário), assumiu a função de governador, mas como Judá ainda estava sob domínio persa, sua auto­ridade era restrita (a fim de não competir com o rei persa). Conseqüentemente, o governo da comunida­de dividia-se entre o governador e o sumo sacerdote, que exercia um papel m ais proem inente. Pouco se sabe a respeito de Jesua, exceto que foi um dos líderes que ajudou na reconstrução do templo. Não há refe­rências a ele fora da Bíblia.3.2. Zorobabel. Zorobabel era o herdeiro do trono de D avi (neto de Joaquim , ver os comentários em 2 Rs 24) e serviu como governador de Judá durante o do­

mínio do rei persa Dario I. Havia um a relativa expec­tativa em torno dele, que lhe conferiu um aspecto

m essiânico. Sem dúvida, alguns esperavam que ele

estabelecesse o reino prometido e os libertasse da es­cravidão (do jugo dos persas). Embora suas funções

fossem primordialmente seculares, ele é descrito em

Esdras, juntam ente com o sacerdote Jesua, com o o grande impulsionador da reconstrução do templo em

Jerusalém. Governando sob os auspícios do rei persa,

Zorobabel era responsável pela m anutenção da lei e da ordem e pelo recolhimento de impostos. Embora

tenha sido o ú ltim o herdeiro de D avi a exercer a função de governador, os arqueólogos encontraram

um selo em que Selom ite (alistada com o filh a de Zorobabel em 1 Cr 3.19) é citada com o esposa ou

oficial de Elnatã, o governador que supostamente te­ria sucedido Zorobabel.

3.2. holocaustos. A restauração do templo e do culto a

Yahw eh tiveram início com a construção do altar e a

retom ada dos holocaustos (ver o precedente em Dt 27.6,7). É interessante notar que os papiros elefantinos

citam que aquela comunidade desejava reconstruir o

templo destruído, m as se comprometia a não oferecer

holocaustos em seu próprio altar apenas para preser­var a preem inência de Jerusalém . Para informações

gerais a respeito dos holocaustos, ver os comentários em Levítico 1.

3.3. base. Para assegurar o mesmo tipo de adoração prestada no templo de Jerusalém no período pré-exí-

lio, era essencial que o altar fosse construído sobre a

mesma base ou alicerce do anterior (ver uma recons­trução semelhante em 2 Cr 24.12 ,13). Desse modo, o

espaço sagrado foi restaurado como o único lugar apro­priado para os sacrifícios rituais do culto a Yahweh.

No mundo antigo, a escolha do local para se construir um santuário nunca era arbitrária. As tábuas de Gudea,

do início de 2000 a C., registram um sonho complexo no qual ele recebe instruções a respeito de detalhes precisos quanto ao local, dimensões e posição de um

templo. D esta form a, quando o local adequado era

identificado, a reconstrução sem pre procurava re­cuperar a planta e a posição originais. Em um a de

suas inscrições, Nabonido, o últim o rei da Babilônia, relata ter reconstruído o templo de Sipar sobre o ali­cerce lançado por Sargão, quase um século antes, sem

desviar-se um centím etro sequer. A lguns sítios ar­queológicos na Mesopotâmia preservam mais de doze

níveis de construção e reconstrução de templos em um mesmo local.

3.3. sacrifícios da m anhã e da tarde. M anter um a

observância contínua dos sacrifícios diários da manhã e da tarde era sinal de completa submissão às regras

do templo. De acordo com Êxodo 29.38-42 e Números28.3-8 (ver os respectivos comentários para informa­

ções adicionais), deveriam ser oferecidos dois cordei­

ros de um ano como holocausto diário, um cordeiro

pela manhã e um ao final da tarde, juntam ente com um a oferta de farinha, azeite e vinho. Essa prática teve de ser restaurada em duas outras ocasiões (por

joás em 2 Cr 24.14 e Ezequias em 2 Cr 29.7, 27-29),

após um período de abandono ou supressão devido a pressões da Assíria.3.4. Festa das cabanas. Ver os comentários em Êxodo

23.16b; Levítico 23.33-43 e Deuteronômio 16.13-17 para

informações sobre essa importante festa religiosa, cuja celebração também estava associada à dedicação do templo por Salomão (2 Cr 5.3) e à cerimônia de reno­

vação da aliança, por Esdras (Ne 8.13-18). Nos três casos, a festa sinalizava um novo começo para o povo,

visto que uma celebração que incluía um banquete representava a comemoração de um acordo ou aliança

(ver o comentário em Gn 31.54).

3.5. Lua nova e outras festas sagradas. Ver o comen­

tário em Núm eros 28.1-30 acerca do contexto dessas festas religiosas no calendário israelita (observe tam ­

bém 1 Sm 20.5). Fica evidente aqui a determinação de novamente regularizar a prática religiosa através da

restauração de todos os rituais sacrificiais anteriormente

celebrados.3.7. comida, bebid a e azeite. O salário-padrão para os

trabalhadores incluía a ração diária de comida, bebi­

da e azeite (ver a lista em 2 Cr 2.10). Isso é comprova­

do por evidências encontradas em listas de rações da Babilônia, M ari e outras cidades mesopotâmicas (mui­

tas listas chegavam a incluir especificamente a quan­

tidade de alimento destinada aos trabalhadores livres e aos escravos).

3.7. toras de Cedro lev ad as p elo m ar. D a m esm a form a que W enam om, um sacerdote egípcio do sé­

culo onze, negociara a compra de toras de cedro com

o governante da Síria, que seriam transportadas pelo

mar, aqui é feito um acordo semelhante para trans­portar até o porto de Jope as toras utilizadas na recons­

trução do templo (ver o comentário em 2 Cr 2.16 para exemplos adicionais dessa prática).

3.8. cronologia. Assim como no templo de Salomão, a

construção desse segundo templo teve início na pri­mavera, no segundo mês, ziv (1 Rs 6.1, 37). A s obras

começaram no segundo ano da chegada de Zorobabel

ao templo de Deus em Jerusalém, porém, o texto não especifica a data precisa da vinda de Zorobabel. Não

há nenhuma identificação explícita com o período de Sesbazar ou Ciro (embora 4.1-5 possa sugerir um a

relação), em bora esteja sem pre associado a Dario.

Muitos estudiosos acreditam que Esdras 2 se refira a um a outra leva de exilados, que retom aram talvez quinze anos depois da primeira, descrita no capítulo

1. Em conseqüência, fica difícil identificar a que ano se refere "o segundo ano depois de Z orobabel ter

chegado".3.10. im portância dos alicerces. Ver o comentário em

3.3 sobre o significado do alicerce para o lugar sagra­do. Além disso, era costume na M esopotâm ia fazer

um sacrifício na fundação e enterrar tábuas ou cilin­dros contendo a descrição do lançamento do alicerce

pelo rei, como na inscrição de Yahdunlim , o rei de

M ari no século dezenove a.C., que descreve não ape­nas a construção do templo de Shamás, mas também

a campanha nas montanhas de cedro e no mar M edi­terrâneo. Os persas geralmente costumavam relançar os alicerces de novos tem plos em lugares tradicio­

nalm ente usados para a construção de santuários, o

que é comprovado pela função desempenhada pelo próprio Cambises nas celebrações do lançamento de

um novo alicerce no templo de Neith, no Egito, por volta de 525.

3.10. trom betas e c ím b alo s. Instrum entos m usicais como trom betas, cím balos, liras e harpas eram geral­

mente usados para marcar o início de uma procissão que acompanhava certos rituais religiosos (ver 1 Cr 16.5,6;

2 Cr 25.11-13). O som dos címbalos provavelmente era usado para representar o estrondo de trovões ou para

m arcar a hora da procissão. As trombetas serviam para

sin alizar as m ovim entações no cam po de batalha e

anunciar ocasiões de grande importância.3.12. comparação entre o prim eiro e o segundo tem ­

plo. O esplendor dos templos antigos era baseado em

diversos fatores. Embora o tamanho do templo tivesse alguma importância, o material utilizado na constru­

ção e a habilidade dos artesãos eram muito mais im­

portantes. Salomão teve acesso a muito mais recursos que a comunidade do pós-exílio (mesmo com o patro­

cínio do governo persa) para conseguir material de excelente qualidade. A quantidade de ouro, a quali­

dade e o tamanho das pedras e a habilidade dos cor­tadores de pedra e dos artesãos de m etal deram tal

aspecto ao templo que eliminava qualquer chance do segundo templo poder ser comparado com o primei­

ro. A frustração da geração mais antiga não necessari­

amente reflete uma obsessão com a aparência do tem­

plo, apesar de toda a riqueza e grandeza do edifício,

juntam ente com seus utensílios, representarem uma form a legítim a de honrar a D eus, que habitava no

santuário. O povo se entristeceu diante de sua própria

incapacidade de providenciar acomodações adequa­

das ao esplendor compatível com a glória de Deus.

4.1-24A oposição à obra4.1. inim igos dos exilados. Os territórios de Israel e de Judá não estavam desabitados na época em que os exilados retom aram . Os descendentes daqueles que não foram levados para a Babilônia juntaram -se aos que foram levados para esses territórios pelos assírios (2 Rs 17.1-6) formando um grupo com características distintas. O fato do autor do Livro de Esdras classificá- los como "inim igos" indica que provavelmente já te­riam ocorrido alguns conflitos (Ed 3.3) e que o ofereci­mento feito por eles de ajudar a reconstruir o templo não era sincero. De qualquer modo, é provável que a form a com o eles com preendiam o culto a Yahw eh fosse diferente da visão dos exilados (ver 2 Rs 17.33). Isso ajudaria a explicar a resposta ríspida de Zorobabel ao oferecimento de ajuda.4.2. Esar-Hadom nos trouxe para cá. Após a queda da Samaria em 722 a.C., o rei assírio Sargão II ordenou a transferência da nata da população israelita para Haia e para a M édia (ver o comentário em 2 Rs 17.6) colo­cando no lugar povos de todo o império assírio para reocupar Israel (ver o comentário em 2 Rs 17.24). As deportações posteriores ocorreram sob o governo de Esar-H adom (681-669 a.C., ver o com entário em Is 7.8). Os descendentes desses povos, provavelm ente expulsos de Sidom após a campanha de 676 a.C., são descritos como "inim igos de Judá e Benjam im ", mas no início do período persa eles ainda não eram conhe­cidos como samaritanos.4.5. de Ciro até o reinado de Dario. O rei persa Ciro reinou até 530, quando foi morto na batalha contra os

massagetas na fronteira nordeste de seu império, sen­do sucedido pelo seu filho Cambises, cujo m aior feito foi a conquista do Egito. Entretanto, foi assassinado pouco tempo depois, ocasionando um conflito que cul­minou na ascensão de Dario, que havia se casado com a filha de Ciro e obtido apoio da maioria da nobreza persa. Dario começou a reinar em 522 e foi durante sua administração (515 a.C.) que o templo de Jerusa­lém ficou pronto.4.6-23. seqü ência cronológica. A época em que o au­tor registrou esses acontecim entos seria em torno de 440 a.C., correspondente ao período de Esdras e Nee- mias. Os capítulos iniciais fazem uma retrospectiva dos eventos ocorridos cerca de um século atrás, entre 538 e 518. Ao mencionar a oposição e o atraso provocados pelos opositores no versículo 5, o autor abre um parên­tese para narrar a longa história de oposição desde esse incidente inicial até sua própria época, antes de reto­m ar a história do ponto onde havia parado, ou seja, por volta de 520 a.C.. O que fica claro em toda essa narra­tiva é a contínua oposição aos desejos dos exilados que

haviam voltado para Jerusalém . Os com entários do autor durante essa digressão fazem com que sua nar­rativa passe do rei D ario para Xerxes e a seguir para Artaxerxes (o rei n a época em que o texto foi escrito). Xerxes (Assuero) começou seu reinado em 486/485 a.C. e im ediatamente tentou reprim ir as revoltas na Babi­lônia (essas revoltas tam bém poderiam ter provocado insurreições nas províncias ocidentais, até m esm o em Judá). De qualquer maneira, uma sensação de tum ul­to generalizado seria motivo suficiente para atrasar as obras nos projetos de construção de Jerusalém , até o reinado de Artaxerxes (465-424 a.C.), e lançar suspei­ta sobre os líderes, pelo envio contínuo de cartas acusan­do os israelitas de deslealdade.4.6. Xerxes. Xerxes (Assuero), o filho de Dario, subiu ao trono persa em 486-485 a.C.. Os primeiros anos de seu re in ad o foram gastos su focand o revo ltas na Babilônia e no Egito. O resultado foi o estabelecimen­

to da Babilônia com o um a satrapia separada, sob controle direto do governo persa. Subseqüentemente, X erxes deu continuidade à am bição de seu pai de conquistar os gregos. Seu enorme exército atravessou o Helesponto até o norte da Grécia e conseguiu incen­diar Atenas. Porém, a destruição de sua frota na bata­lha naval de Salamina deixou seu exército sem supri­mentos e a morte de seu general M ardônio, em 470, na batalha de Platéia elim inou qualquer chance de vitória. Xerxes ficou conhecido por uma série de pro­

jetos m onum entais de construção, m as seu reinado terminou drasticamente, com seu assassinato em 465a.C.. Para m ais inform ações, ver o com entário em Ester 1.1.

4.7. Artaxerxes. Existiram três reis persas com esse nom e; aquele mencionado em N eemias é provavel­mente Artaxerxes I (465-424 a.C.), o sucessor de Xerxes I. Um a das poucas referências a esse rei fora da Bíblia pode ser encontrada numa lista de impostos e medi­das econômicas ocorridas em seu governo relatadas pelo historiador grego Heródoto. As cidades-Estado gregas, logo após terem derrotado os persas em Sala­mina e Platéia (480-479 a.C.), aproveitaram ao máxi­mo toda e qualquer oportunidade para m inar a auto­ridade persa no Oriente Próximo. Portanto, Artaxerxes enfrentou duas revoltas durante seu reinado (ver a nota em Neemias 1.1). Porém, mesmo assim ele con­seguiu se manter no trono por quarenta anos.4.7. uso do aramaico. O aramaico pertence ao mesmo grupo lingüístico do hebraico, e já era um a língua importante durante o período assírio (ver o comentá­rio em 2 Cr 32.18), sendo em pregada com o língua diplomática internacional tanto por babilônios como persas. Em bora os docum entos internos fossem re­digidos na língua persa (freqüentemente traduzidos

do aram aico), a correspondência de oficiais como Tabeel era em aramaico. Desse modo, os burocratas de todo o im pério tinham um a língua comum para tratar dos negócios do rei (compare ao uso do grego pelos romanos e o atual uso do francês em questões diplomáticas).4.8, 9. títu los usados pelos rem etentes. O título de Reum, traduzido como "com andante", refere-se a um oficial civil com poder de prom ulgar editos ou ordens reais. A função de Sinsai com o "secretário" (sapar) exigia que ele copiasse os documentos oficiais, tradu­zisse para o aramaico ou alguma outra língua e regis­trasse os impostos em atas. Esses funcionários podiam ser encontrados em qualquer parte do império, inclu­sive em Elefantina (uma ilha no Alto Egito), visto que seus serviços eram sempre requisitados por oficiais do alto escalão. Os outros títulos (juizes e oficiais) não são definidos com clareza e provavelmente se referem a membros da comitiva de Reum.4.10. nações que A ssurbanipal deportou e assentou na Sam aria. O texto bíblico não faz nenhum a outra referência a essa deportação feita pelo rei assírio. Po­rém, os reis assírios lideraram m uitas campanhas com o objetivo de suprim ir as revoltas ou fazer acordos com coalizões de oponentes (tais como a revolta de A sdode em 711 a.C., m encionada em Is 20.1-4). É bem possível que a expedição de Assurbanipal contra a rebelião babilónica em 648 a.C. tenha se estendido até as províncias ocidentais e resultado na deportação de israelitas envolvidos nessa revolta.

4.12-16. tipo de acusação. A referência aos que retor­naram pode ser dirigida àqueles que foram para Jeru­salém durante o reinado de Ciro e Dario ou ainda àqueles que saíram m ais recentem ente, durante o reinado de Artaxerxes I. A preocupação dos oficiais quanto à reconstrução da cidade parece ser baseada, a partir de experiências passadas, na tradição de que

Jerusalém era um a cidade rebelde e problem ática, cujo povo poderia incitar possíveis revoltas em toda a região. Por outro lado, a verdadeira am eaça talvez fosse um sátrapa rebelde, M egabizo (c. 448 a.C.), que estaria procurando ter Jerusalém como possível alia­da. A acusação de que não iriam mais pagar os impos­tos equivale à traição (uma acusação sem elhante foi feita contra Ezequias nos anais assírios de Senaque- ribe). A descrição exagerada da situação talvez fizesse parte de uma estratégia diplomática para conseguir a atenção do rei e forçar o povo de Jerusalém a ter de pedir perm issão aos oficiais reais antes de iniciar a reconstrução.4.15. arquivos reais. Os arquivos reais se compunham de anais e crônicas. Os anais ou registros reais foram preservados em todo o antigo Oriente Próxim o, sendo

a m aior parte deles proveniente dos reis hititas da metade do segundo milênio e da Assíria e da Babilônia dos séculos nono ao sexto. Os anais continham inscri­ções reais com relatos detalhados de campanhas mili­tares. Havia também as crônicas da corte que registra­vam informações dos eventos importantes ocorridos anualmente. Ainda não foram descobertos pelos ar­queólogos os anais da Pérsia Aquem ênida, embora provavelm ente a burocracia persa tam bém teria se empenhado em acumular tanto quanto fosse possível os registros oficiais dos assírios e dos babilônios, visto que esses dados lhe dariam um a perspectiva histórica dos povos que agora governava. Assim , é possível que o pedido para que os arquivos reais fossem con­sultados deva-se ao fato de conterem antigas negocia­ções feitas com Israel e Judá (particularmente nos anais de Sargão II, Senaqueribe e Nabucodonosor) e tam ­bém eventos recentes registrados pelos escribas persas.4.16. a oeste do E u frates. A região a oeste do rio Eufrates, com exceção da Babilônia, que era uma satra- pia independente, compreendia um a grande provín­cia persa controlada por um governador (sátrapa), por subordinados conhecidos como pahat (ver Tatenai em Ed 5.3) e por investigadores reais, os patifrasa. Dentro da satrapia havia unidades administrativas menores, tais como Yehud (Judá), que tinham um governante real escolhido por eles mesmos.4.18. carta fo i traduzida e lida. Em bora o aramaico fosse tuna espécie de língua oficial para as negocia­ções diplomáticas (correspondência, tratados), a lín­gua oficial da corte era o persa. Portanto, quando uma carta era lida para o rei Artaxerxes, o escriba a tradu­zia do aramaico para o persa para beneficiar o rei e m anter um senso de decoro oficial no círculo mais íntimo da corte.4.24. segundo ano de D ario. Após o interlúdio que trata da oposição à construção dos m uros da cidade, a narrativa agora retoma a questão da reconstrução do templo de Jerusalém, no reinado de Dario. O segun­do ano de D ario seria 520 ou o início de 519 a.C.. Nessa época as disputas pela sucessão ao trono após a morte de Cambises haviam se acalmado, e ele pôde então se dedicar a questões como a reconstrução do templo de Jerusalém.

5.1-17 A carta de Tatenai a Dario5.1. Ageu. Dentre os exilados que haviam retom ado estavam os profetas Ageu e Zacarias. Am bos expres­saram fervorosamente suas expectativas m essiânicas em relação a Zorobabel como líder do povo e apoia­ram a reconstrução do tem plo de Jerusalém . A geu demonstrou particular preocupação com o fato de que

os exilados haviam investido tempo e energia recons­truindo suas vidas e suas casas, enquanto o templo ficou esquecido (Ag 1.2-11). O nom e Ageu é citado várias vezes nos Papiros Elefantinos (mais de um sé­culo mais tarde), m as esse fato apenas confirma que era um nome bastante comum naquele período.5.1. Zacarias. O nome Zacarias significa "Yahw eh se lem bra", e tam bém era um nome comum durante e após o exílio. Esse profeta do sexto século é identifica­do como m em bro de uma importante família sacerdo­tal descendente de Ido (ver Zc 1.1). Sua m ensagem, tal com o a de Ageu, enfatizava a reconstrução do tem plo de Jerusalém , porém ele tam bém apoiou o crescimento do papel político do sumo sacerdote em comparação ao do governador nomeado pelos persas na província de Judá.5.3. T a ten a i, gov ern ad or do territó rio a oeste do Eufrates. Tatenai era um pahat ou pehu, subordinado ao sátrapa Ustanu. Fontes babilónicas indicam que mais tarde (502 a.C.) ele assumiu as funções de sátrapa. Como oficial local e representante do rei, ele assumiu a responsabilidade de investigar o processo de cons­trução do templo e pedir a confirmação de Dario quanto à legitim idade dessa atividade. Ao receber a confir­mação, demonstrou ser um burocrata competente, pois executou eficientemente as ordens do rei (Ed 6.13).5.3. Setar-Bozenai. Se esse é um nome próprio, refe­re-se a um dos com panheiros de Tatenai (possivel­m ente um escriba) que participou da investigação das obras de construção do tem plo de Jerusalém . Tam ­bém é possível que o nom e seja um título atribuído a Tatenai cujo significado é "chanceler-m or de justiça".5.8. grandes pedras e vigas de madeira nas paredes. H á uma certa divergência quanto ao significado da palavra aramaica traduzida como "grandes pedras".

Alguns comentaristas relacionam essa expressão à raiz da palavra "ro lo" e assim especulam que talvez essas enorm es pedras fossem cortadas de form a a serem roladas até o lugar antes de receberem o formato apro­priado para serem encaixadas. Outros estudiosos apon­tam para um a expressão acadiana, aban galala, que significa pedra de cantaria. As vigas talvez tivessem a função de proteger as paredes contra terremotos ou então im itassem o estilo de construção do templo de Salomão (ver o comentário em 1 Rs 6.36).5.12. D eus dos céus. Ver o comentário em Esdras 1.2.5.12. a destruição de Jerusalém por N abucodonosor. É interessante comparar os argumentos apresentados pelos líderes de Jerusalém em defesa da reconstrução do templo com aqueles encontrados na carta elefantina que solicitava perm issão para reconstruir o templo destruído naquela colônia m ilitar egípcia, por volta de 400 a.C.. Em ambos os casos o "D eu s dos céus" é

invocado, assim como se recorre a argumentos históri­cos do passado. A argumentação em Esdras justifica a destruição im petrada pelos babilônios como resultado da infidelidade do povo de Judá e da necessidade de um período de purificação (ver Jr 25.8-14). O rei persa foi chamado a participar como instrumento dessa res­tauração religiosa, assim como seu predecessor Ciro havia sido (ver Is 45.1-3).5.14. Sesbazar. Ver o comentário em 1.11.

6 .1-12 O decreto de Dario6.1. arquivos nos tesouros da B ab ilôn ia . Ver o co­mentário em 4.15 sobre a preservação de arquivos no império persa. Durante o reinado de Dario, a Babilônia ainda era capital da satrapia do oeste do Eufrates, assim , talvez existisse ali um depósito onde seriam mantidos todos os registros referentes às províncias. Muitos desses registros eram inscrições em tabuletas de argila ou cilindros, em bora alguns fossem papiros ou rolos de couro.6.2. cidadela de Ecbatana. Ecbatana foi a capital dos medos até 550 a.C.. Localizava-se nas montanhas de Zagros, no noroeste do Irã, aos pés do monte Orontes. Após sua conquista por Ciro, tom ou-se a residência de verão dos reis persas, que deslocavam sua corte entre Susa e Ecbatana para usufruir de clim as mais am enos. A pesquisa em busca do registro de Ciro contendo o acordo feito com os exilados israelitas foi feita também nesse arquivo real, visto que nada fora encontrado no centro regional de arquivos da Babi­lônia. No império persa, esse tipo de documento ge­ralm ente era inscrito em rolos de couro.6.3. dim ensões do tem plo. Os números apresentados aqui geralmente são considerados resultado de uma confusão do escriba, visto que o templo de Salomão tinha apenas vin te e sete m etros de com prim ento, nove metros de largura e treze metros e meio de altura (1 Rs 6.2). Uma vez que esse templo seria construído sobre o alicerce do antigo, deveria ter o m esm o tam a­nho. Outra possibilidade é que os números registrados no texto do decreto representassem um tamanho ideal ou o m áximo permitido. É curioso notar que Ciro e Dario tenham demonstrado tanto interesse em patro­cinar a construção do templo de Jerusalém, visto que não há confirmação (nem n a literatura nem na arque­ologia) da importância dos templos para o zoroastrismo, a relig ião da Pérsia A quem ênida. H eródoto igual­mente observa a ausência de templos na prática reli­giosa persa.6.7. reconstrução no antigo local. Um a das tarefas registrada com m ais freqüência nos anais reais da Mesopotâmia era a restauração de templos (por exem-

pio, a restauração feita por Ur-Nammu, em U r III e pelo rei cassita Kurigalzu). Um a vez identificado o local sagrado e usado para fins religiosos, era essen­cial que fosse mantido sempre dessa forma. Por essa razão, reis como Ciro considerariam as fundações do antigo templo como o único local apropriado para a reconstrução do novo (ver os comentários em 3.3 e3.10). Essa prática também explica por que as nações ou religiões que conquistavam outros povos procura­vam construir seus santuários nos locais onde se situ­avam antigos templos ou igrejas.6.8. pagam ento pela tesouraria do rei. A inclusão das dim ensões do tem plo restaurado (v. 3) refere-se às despesas que seriam pagas pelo governo persa. Tal­vez fosse cobrada uma taxa especial ou uma espécie de pagam ento do sátrapa da província a oeste do Eufrates, a fim de ajudar a custear o projeto de restau­ração, mas esses fundos seriam enviados primeiro ao tesouro real e só então distribuídos, de acordo com a necessidade dos empreiteiros de Jerusalém. O projeto também recebeu um selo oficial visto que tinha acesso aos cofres reais. O Cilindro de Ciro (ver o comentário em 1.2-4) não especifica o valor destinado pelo tesouro real aos projetos de reconstrução m encionados ali, em bora escav açõ es fe ita s em d iv erso s lo ca is da Babilônia tenham encontrado tijolos gravados com o nome de Ciro, usados na reconstrução do templo. Isso sugere que o tesouro real financiou o projeto.

6 .9 .10 . provisões para os sacrifícios. A generosidade de D ario refletida aqui é tam bém evidenciada em

inscrições por todo o império. De fato, os egípcios, que se beneficiaram de sua benevolência, o chamavam de "o amigo de todos os deuses". Os animais menciona­dos aqui são específicos para holocaustos (ver o co­m entário em Lv 1.3, 4). Talvez as porções de trigo, sal, vinho e azeite, por serem porções diárias, fossem divididas entre os sacerdotes e os trabalhadores da obra, mas também poderiam ser usadas como ofertas. As ofertas de cereais (feitas com azeite e semolina) geralmente acompanhavam outras ofertas, sendo uma parte delas destinada aos sacerdotes oficiantes (a res­peito do uso do trigo, azeite e sal nessas ofertas, ver os com entários em Lv 2). Sobre o uso do vin ho em libações, ver o com entário em Levítico 23.12, 13. O historiador Josefo relata a doação aos judeus de recur­sos para a construção do templo e de elementos para os sacrifícios feita por Antíoco, o G rande, diversos séculos mais tarde.6.10. orar pelo bem -estar do rei. Esse pedido é seme­lhante a recom endações encontradas no Cilindro de Ciro solicitando aos deuses e presumivelmente a seus adoradores que "recom endassem " Ciro e seu filho ao deus M arduque para que tivessem um a "v id a lon­

ga". Em bora esse pedido possa representar apenas o desejo de receber a bênção da divindade, pode tam ­bém ter como alvo evitar que fossem dirigidas peti­ções aos deuses para derrubar ou am aldiçoar o rei. Heródoto relata que todos os sacrifícios deveriam in­cluir orações em favor do rei. Os Papiros Elefantinos tam bém mencionam orações em favor de um oficial persa, no caso dele ajudá-los a reconstruir um templo. A preocupação do rei com a prática religiosa de seus súditos é com provada pelo D ecreto de Xantos, um docum ento da Lícia (atual Turquia), datado de 358а.C. formalizando o apoio persa ao culto local, abor­dando algumas questões semelhantes às encontradas nesse decreto de Dario.б.11. castigo por desobedecer ao decreto. Os tratados e decretos reais geralm ente incluíam um a maldição ou cláusula ameaçando punir a quem desobedecesse as condições prescritas pelo documento. É possível comparar o juram ento de Josué amaldiçoando aqueles que tentassem reconstruir Jericó, em Josué 6.26 e a maldição contra qualquer príncipe que substituísse o portão construído pelo rei Azitawada de Karatepe com essa cláusula final. Um a afirmação semelhante apare­ce também no epílogo do Código de H am urabi, res­ponsabilizando os futuros governantes a garantir jus­tiça ou enfrentar um a maldição dos deuses. A punição do em palam ento é ilustrada em relevos assírios de Láquis e m encionada em diversos arquivos reais. A prática era em palar o corpo da vítim a num a estaca pontiaguda, em local público. O em palam ento era praticado na Pérsia, como na execução de Inaros (líder de uma revolta líbia) ordenada por Amestris, durante o reinado de seu filho, Artaxerxes. A vítima era pri­vada de um enterro adequado, tendo seu corpo devo­rado por aves e insetos. Uma inscrição de Dario inclui a seguinte maldição: "A o que apagar essas palavras, que seja morto e tenha sua casa destruída por Ahura M azda", enquanto uma outra dizia "Tudo que fize­res, que Ahura Mazda faça recair sobre ti".6.12. m aldição em nom e do deus local. V isto que m uitos povos do mundo antigo acreditavam que os deuses estavam circunscritos a certos lugares e povos, seria adequado que a divindade local supervisionas­se os eventos ocorridos em sua "jurisdição".

6.13-22Término da obra, dedicação do templo e cele­bração da páscoa6.15. data do térm ino da obra. Um evento importan­te como o término das obras de reconstrução do se­gundo templo exigia um cuidadoso registro. A data apresentada situa o acontecimento no mês de adar, o décimo segundo mês do calendário babilónico, que

corresponderia aos meses de fevereiro/março. O sex­to ano de Dario seria 515 a.C., e o terceiro dia do mês de adar situaria a conclusão da obra em 12 de março de 515. Deve-se observar que 1 Esdras 7.5 e Josefo situam o evento no dia vinte e três de adar, data que muitos estudiosos têm preferido pelo fato do dia três ter sido um sábado.6.17. sacrifícios com parados com 1 R eis. Ver o co­mentário em 2 Crônicas 7.5-7 sobre a dedicação do templo de Salomão. O número dos animais sacrifica­dos na cerimônia de dedicação do segundo templo é muito menor que na época de Salomão (1 Rs 8.63): 22 mil touros versus cem touros; 120 m il ovelhas versus 200 carneiros e 400 cordeiros. A oferta pelo pecado de doze bodes segue o ritual sacerdotal (Lv 4.22-26; ver o comentário em Lv 4.13-32) e encaixa-se à tentativa de Esdras de restabelecer a idéia de um a coalizão das doze tribos, tom ada possível através da experiência do exílio, preparando-as para retom ar o relaciona­mento de aliança com Yahw eh em Judá e Jerusalém.6.19. Páscoa. O texto bíblico não menciona nenhuma celebração da Páscoa desde a época de Josias (cem anos antes; ver o comentário em 2 Cr 35.18). Agora, como parte do processo de renovação e restauração da com unidade judaica em Judá, esse ritual (ver o co­mentário em Êx 12.1-28), comparável à libertação da servidão experim entada pelos exilados, deveria ser reinstituído. O décimo quarto dia de nisã (o primeiro mês) é baseado no calendário religioso (Êx 12.2-6; Lv 23.5). Observe que as celebrações anteriores da Pás­coa acom panhavam a purificação ou renovação do templo (ver comentários em 2 Cr 30).6.21. todos os que haviam se separado das práticas impuras dos gentios. Esse grupo designado como "gen­tios" pode ser interpretado de diversas maneiras. É possível que fosse formado por remanescentes do rei­no do norte ou habitantes de Judá que não haviam sido levados para o exílio (ver 2 Cr 30.17-21). Durante o período do exílio, o contato com não israelitas seria considerado um a contaminação, portanto, esse rema­nescente teria conscientemente se separado deles. Tam ­bém é possível que a cerimônia da Páscoa, como em Êxodo 12.48, fosse estendida a prosélitos (gerim) que haviam se convertido à adoração exclusiva a Yahweh.6.22. festa dos pães sem ferm ento. Ver os comentári­os em Êxodo 12.14-20 e Levítico 23.6-8. Visto que a celebração dessa festa também está ligada à celebra­ção da Páscoa efetuada por Ezequias (2 Cr 30.13) e por Josias (2 Cr 35 .16 ,17), seria apropriada a esse contex­to. A alegria expressa nessa celebração de sete dias resultou da ação de Deus em "m udar o coração do rei da Assíria" (um símbolo para os governantes persas da Mesopotâmia), tornando a restauração possível.

7.1-28A chegada de Esdras com a comissão de Artaxerxes7.1, 7, 8. cronologia. Se esses eventos aconteceram durante o reinado de Artaxerxes I, então o sétimo ano desse rei teria sido 458 a.C., aproxim adam ente ses­senta anos após os eventos descritos no capítulo ante­rior. A data da partida desse grupo de exilados corres­ponde ao primeiro dia de nisã (8 de abril) e sua chega­da em Jerusalém ao primeiro de ab, o quinto mês (4 de agosto). Nessa época do ano, entre a primavera e meados do verão, o clima quente e seco tom ou neces­sário seguir um a rota pelo norte para evitar o deserto, assim como um cuidadoso planejamento para garan­tir reservas de água aos viajantes.7.1-5. genealogia de Esdras. Esdras precisava ser re­conhecido como alguém com as credenciais apropria­das para que sua missão fosse aprovada e suas ações reconhecidas como lei. Ao contrário de Jesua (ver o com entário em 3.2) o texto não sugere que Esdras tenha sido um sumo sacerdote, mas sua inclusão na genealogia de Arão (que apresenta apenas dezesseis gerações entre Arão e Esdras; para uma lista comple­ta, ver 1 Cr 6.5-53) revela a importância de seus ances­trais. O texto indica que ele provavelmente seria des­cendente de Seraías, sumo sacerdote na época da des­truição do templo em 586 a.C.. Visto que Jesua não é mencionado nessa genealogia, talvez ele pertencesse a uma linhagem distinta de Seraías ou então seria um outro Seraías (um nome comum naquele período).7.6-12. as habilid ad es de Esdras. Esdras é descrito como alguém com uma série de atributos, a maioria deles relacionada à sua habilidade com o escriba e mestre da lei do Senhor. Como escriba, é bem prová­vel que Esdras tenha sido um funcionário do governo persa. Era bastante comum nos governos do antigo Oriente Próximo em pregar pessoas capacitadas não apenas como secretários e escriturários, mas também como diplom atas e advogados. Essas pessoas eram usadas para traduzir documentos na língua dos povos conquistados ou aliados, ou enviadas em missões de investigação para auxiliar o rei e seus conselheiros a tom ar alguma decisão (para mais informações, ver o comentário em N e 8.1). Como exemplo podemos citar o escriba assírio do sétimo século, Ahiqar, e a descri­ção da profissão de escriba no texto egípcio "Sátira dos O fícios", do M édio Império Egípcio, em que essa pro­fissão é louvada como digna e honrosa, com benefíci­os que superam outras funções.7.8. jornada de quatro m eses. Como geralmente ocor­re no texto bíblico, os eventos ocorridos durante lon­gas jornadas não são narrados (ver G n 12.1-9). Visto que partiram em abril e chegaram no início de agos­

to, foi um a cam inhada difícil devido ao calor e ao clima seco. É provável que tenham seguido a rota das caravanas, ao norte (aproximadamente 1400 quilôme­tros), até o Eufrates, talvez fazendo um a curva para o oeste em M ari, até Tadm or, e dali para o sudoeste passando por Damasco até chegar na Palestina. Con­siderando o tam anho do grupo, incluindo fam ílias inteiras, é provável que conseguissem percorrer uma média de 16 quilômetros por dia.7.14. sete conselheiros do rei. De acordo com o relato de Ester 1.14 e informações registradas pelos historia­dores Xenofonte e Heródoto, os reis persas contavam com um grupo de sete príncipes ou conselheiros que form avam um conselho privado. Seria norm al que uma comissão de investigação fosse enviada, como essa designada a Esdras, em nom e do rei e de seus conselheiros.7.14. a natureza da comissão. Os reis persas demons­travam grande interesse em que os povos sob seu dom ínio m antivessem o favor de seus respectivos deuses. Restaurar templos era uma das maneiras de alcançar esse objetivo, assim como obedecer às ordens divinas. Se o Deus de Israel se agradava com a obedi­ência do povo às suas instruções, então elas deveriam ser cum pridas. Era necessário colocar pessoas para instruir e ensinar as leis ao povo, bem como monitorar e garantir o cum prim ento das m esm as. Portanto, a m issão de Esdras era determ inar se os ju deu s que habitavam a província persa de Yehud (Judá) esta­vam obedecendo à lei prescrita na Torá. M uitas pesso­as dessa província tinham enviado queixas e acusa­ções ao rei persa, sugerindo que fosse feita um a inves­tigação sobre o assunto. Como escriba, Esdras era ca­pacitado para conduzir essa m issão e fazer os julga­mentos corretos acerca do cumprimento da lei do Se­nhor. Dessa maneira, o rei persa empregou um mem­bro do próprio povo dominado (exatamente como acon­teceu com Neemias) para assegurar a aprovação divi­na sobre seu império e evitar a ira de Deus (ver v. 23).7.15-17. ofertas dos persas a Yahw eh. Os reis persas

costumavam oferecer sacrifícios públicos a divinda­des locais como demonstração de respeito e também procurando obter vantagem política, acalmando os ânimos do povo recém-conquistado (como as atitudes de Ciro para com M arduque, encontradas no Cilindro de Ciro). A lista de animais oferecidos em sacrifício, além das ofertas de cereais e bebida (ver N m 15.2-10) sugere que foram consultados especialistas judaicos durante a elaboração do decreto persa. Tal prática é evidenciada durante o reinado de Cambises (530-522).

Um sacerdote egípcio de Saís, Uzahor, desempenhou um im portante papel atraindo o interesse do rei na restauração do santuário de N eith e supervisionando

o processo de reconstrução. Essa reforma incluiu lan­çar os alicerces, restabelecer os rituais e as festas reli­giosas e obter fundos do governo para financiar o funcionamento do templo.7.22. quantidades fornecidas. A lista de produtos for­necidos por Artaxerxes a seus oficiais das províncias é limitada a uma certa quantidade, m as ainda assim os núm eros são espantosamente elevados: três toneladas e m eia de prata, cem tonéis de trigo, dez barris de vinho, dez barris de azeite de oliva e sal à vontade. Essas quantidades não foram calculadas com base na­quilo que era necessário para o funcionam ento do templo, e sim, como o versículo seguinte sugere, como o necessário para aplacar a ira do Deus de Israel.7.23. m entalidade teológica. N a m entalidade do m un­do antigo, se a ira de D eus não fosse aplacada, facções rebeldes em Israel poderiam afirmar que suas ações contra a Pérsia eram instigadas por Yahweh. Na épo­ca de Esdras, havia diversos pontos de revolta em todo o império persa. Inaro, um líbio, havia tomado o controle do Egito em 460 e encontrara apoio imediato

da frota ateniense no M editerrâneo. Essa revolta foi esm agada por M egabizo, entre 456 e 454, de modo que a viagem de Esdras (458) aconteceu no auge des­se conflito. Ao demonstrar grande respeito por Yah­weh, pelo templo e pelos seus sacerdotes, Artaxerxes deu continuidade à política persa (Cilindro de Ciro), reconhecendo o poder do Deus dos céus e acrescen­tando um caráter de urgência ao decreto com a ex­pressão: "que se faça com presteza".7.24. fu ncion ários do tem plo isentos de im postos. Talvez tenha havido um propósito duplo nessa isen­ção de impostos. Esdras iria enfrentar um contexto em que era um desconhecido, além de sua presença estar associada a um poder estrangeiro. A isenção de im­postos e taxas o ajudaria a obter algum apoio da comu­nidade do templo de Jerusalém. Um precedente para essa prática dos persas pode ser encontrado na inscri­ção de Gadatas, durante o reinado de Dario, que con­cedeu isenção de impostos aos sacerdotes do deus gre­go Apoio.7.25. nom eação de oficiais. Parece bastante apropria­do que Esdras tivesse autoridade para nomear m agis­trados e juizes em sua área de jurisdição. Desse m odo ele não teria de enfrentar oposição judicial e poderia assegurar uma estrutura política comum (ver a refor­m a judicial de Josafá em 2 Cr 19.4-11). A estrutura administrativa persa era constituída por dois grupos de oficiais - um para questões locais e ordinárias e outro encarregado de executar decretos e estatutos reais. É possível que Esdras tivesse autoridade para nom ear esses oficiais em toda a satrapia do oeste do Eufrates, mas, considerando-se a referência às "leis de

seu D eus", o m ais provável é que seu m aior interesse fossem os m agistrados locais, que estariam lidando com a lei judaica em toda a província.7.26. autoridade para punir. Visto que Esdras estava agindo sob a égide e com poder concedido pelo go­verno persa, a lista de punições é semelhante ao códi­go penal persa. A pena capital e o confisco de bens tam bém aparecem na lei israelita, m as não há men­ção a encarceramento, além de prisão domiciliar (Lv24.12), exceto para prisioneiros de guerra e aqueles m antidos em custódia por razões políticas (Jr 37.11­16). A melhor tradução para a palavra "exílio" nesse contexto seria "açoite" ou "castigo corporal", baseada em seu uso comum na lei persa. O direito de punir indica a seriedade da missão de Esdras, quer ele te­nha ou não sido forçado a exercer esse poder.

8.1-36Esdras lidera o retorno a Jerusalém8.2-14. comparação entre os grupos que retom aram . A lista completa do núm ero de hom ens que faziam parte do grupo que voltou com Esdras foi de 1.513. Acrescentando-se a esse núm ero a quantidade comum de mulheres e filhos, daria um total de 5 m il pessoas, de forma que esse grupo representaria um sétimo da quantidade de pessoas do prim eiro grupo, alistado em Esdras 2.64, 65 (42.360).

8.15. canal de A ava. Provavelm ente seria um dos m uitos canais que flu íam do rio Eufrates perto da Babilônia (pelo menos num raio de 140 quilômetros), ou então algum povoado situado ao longo de um desses canais, m as as variações nas fontes (LXX; 1 Esdras 8.61 apresenta Theras como o local) tom am a questão confusa. Como resultado, o local exato ainda é desconhecido.8.17. C asifia . Se Casifia refere-se a um local, então seria nas proxim idades de Aava, m as nenhum dos dois lugares foi identificado, além do fato de estarem situados no norte da Babilônia. Também é possível, com base na interpretação da Septuaginta, que o ter­mo seja um substantivo (uma variante do hebraico kesep, "prata") indicando que Ido era um tesoureiro ou líder de uma corporação de artesãos da prata.8.20. servidores do tem plo. Além dos 38 levitas que foram persuadidos a se unir ao grupo de Esdras, du­zentos servidores do templo também foram arrolados. A importância desses indivíduos como assistentes dos levitas não deve ser ignorada. Com um núm ero tão pequeno de levitas disponíveis, esses servidores se­riam essenciais para a realização adequada dos ritu­ais, visto que havia muitas tarefas de limpeza e m a­nutenção do templo a serem feitas. Esdras legitima a citação deles nessa lista mencionando seus ancestrais.

8.21. je ju m . Há poucas evidências da prática do jejum no antigo Oriente Próximo fora da Bíblia. Geralmente era usado em situações de luto. No A ntigo Testam en­to, o je jum estava geralm ente relacionado a um pedi­do dirigido a Deus, baseado no princípio de que a im­portância do pedido fazia o indivíduo relegar suas ne­cessidades físicas a segundo plano. Nesse aspecto o ato de jejuar funcionava como um processo de purificação e hum ilhação diante de D eus (SI 69.10). Conform e o texto indica, os judeus estavam preocupados com sua segurança, de m odo que o pedido deles era no senti­do de buscar a proteção de D eus para que a viagem pudesse ser realizada com a aprovação divina.8.21-23. risco de serem assaltados. Visto que o grupo

de Esdras estaria viajando sem a proteção de um a escolta m ilitar (compare com a comitiva de Neemias em N e 2.9), os perigos da estrada eram um problema sério. Disputas políticas estavam perturbando o equi­líbrio na região ocidental do Império da Pérsia, além disso, um grupo transportando grandes quantidades de ouro e prata poderia facilm ente ser assaltado e destroçado por um bando de criminosos.8 .26 ,27 . quantidade. Ao pesar e registrar os presentes doados pelo rei persa, Esdras estava cum prindo uma parte de sua missão. Os 650 talentos de prata equiva­liam a 22.750 quilos de prata, enquanto os cem talen­tos de ouro totalizavam três toneladas e m eia de ouro. Cada tigela de ouro pesando m il dáricos equivalia a oito quilos e meio. Em bora esses valores sejam extre­m am ente elevados, incluem os presentes reais e tam ­bém as doações das fam ílias dos israelitas exilados.8.31. duração da viagem . A partida se deu no mês de abril, impedindo que a viagem fosse feita diretamen­te pelo deserto (aproximadamente 800 quilômetros). Portanto, os viajantes seguiram por um a rota m ais longa, ao norte, até o Eufrates e dali rum aram para o oeste até Damasco, dirigindo-se então para a Palesti­na (aproximadamente 1.400 quilômetros). Ver os co­m entários em 1.11 e 7.8.8.35. sacrifícios. Ver o comentário em Esdras 6.17 a respeito dos sacrifícios de dedicação do segundo tem­plo. O rei persa havia ordenado que os sacrifícios fossem oferecidos quando os exilados voltassem para Jerusalém (Ed 7.17) e Esdras agora está executando essas ordens. A menção à "oferta pelo pecado" como em Esdras 6.17, é um a indicação a mais da necessida­de de purificar cada grupo que voltava do exílio.

8.36. sátrapas e governadores. O im pério persa era dividido em vinte e uma satrapias (vinte e duas de­pois que a Babilônia tom ou-se uma província separa­da). Cada um a delas era administrada por um gover­nador ou sátrapa. Entretanto, considerando a enorme dimensão de algumas dessas províncias, era necessá-

rio um grupo de oficiais secundários, conhecidos como peha, para ajudar a fazer o recolhimento dos impostos e assegurar a execução dos decretos reais (ver o co­mentário em 5.14).

9.1-15A questão dos casamentos mistos9.1, 2. natureza da acusação. Esdras rapidamente foi informado de uma séria violação da Lei: o casamento dos israelitas com mulheres dos povos vizinhos, prá­tica que colocava em risco a identidade cultural e religiosa de Israel. A endogamia, ou casamento den­tro de um grupo seleto (que incluía os convertidos ao judaísmo), se tornara um dogma para a comunidade dos exilados (ver o comentário em 9.10-12). Eles per­ceberam que o casamento com pessoas de outros po­vos criaria divisões culturais e enfraqueceria sua iden­tidade religiosa como povo separado e "escolhido". O que tom ava essa acusação ainda m ais vergonhosa erao fato de que os sacerdotes e os levitas, que deveriam conhecer a Lei (compare com Os 4.6), também esta­vam participando dessa prática "desleal".9.1. re lação de povos estrangeiros. Os povos não israelitas mencionados nesse versículo representam o padrão populacional desde a época da conquista (quan­do os israelitas foram encarregados de expulsá-los), incluindo alguns que haviam maltratado os israelitas durante o êxodo (Dt 23.3-6). Dessa forma, referem-se ao período correspondente à lei citada por Esdras e não ao período pós-exílio. Vários desses povos não mais existiam na época de Esdras. O objetivo da lista, então, não é focalizar esses povos especificamente, e sim identificar certas categorias. No contexto pós-exí­lio, alguns povos podiam ser identificados como aqueles que precisavam ser expulsos e outros como inimigos dos judeus. Q ualquer povo que se ajustasse a um a

dessas categorias, portanto, não seria adequado para casamento.9.3. a reação de Esdras. A reação inicial de Esdras diante das acusações da mistura do povo israelita com povos pagãos é demonstrada através de rituais tradi­cionais de luto: rasgar as roupas e arrancar os cabelos.

Essas práticas eram comuns em todo o antigo Oriente Próximo e representadas em pinturas de túmulos egíp­cios e na literatura (Lenda Ugarítica de Aqhat). Para inform ações adicionais sobre rituais de luto, ver o comentário em Ester 4.1.9.10-12. o pecado da exogamia. Em bora a proibição contra a exogamia, ou seja, o casamento com mem­bros de outras tribos, seja baseada em Deuteronômio7.1-5, essa citação na verdade é um resumo de várias passagens de Levítico e Deuteronômio. Era costume entre as sociedades do antigo Oriente Próximo que o

casamento fosse realizado dentro do clã (endogamia) ou então acertado entre grupos amigos como um tipo de aliança. Atitudes culturais desencorajando a exo­gamia podem ser vistas desde o tempo dos sumérios.0 mito "O Casamento de M artu" descreve os beduínos como bárbaros que comiam carne crua e não enterra­

vam seus m ortos - um grupo com quem nenhum povo civilizado deveria se misturar através do casa­m ento. Os israelitas receberam a ordem de se casar apenas com pessoas do seu próprio clã "espiritual" (isto é, de adoradores do Senhor). Aqui nesse contex­to, porém, algumas questões haviam se tom ado mais importante do que m anter a homogeneidade espiri­tual. A posse da terra era um a questão teológica im­portante relacionada à eleição e à aliança firmada com Yahw eh. O casam ento m isto am eaçava a posse da terra e, com ela, os benefícios da aliança. Os textos e lefantinos (textos ju d eu s sep arados de Esdras e N eem ias por pouco m enos de cinqüenta anos) de­monstram como a terra foi redistribuída e emancipa­da e muitas famílias judaicas perderam suas proprie­dades devido aos casamentos com mulheres estran­geiras. O casamento com pessoas dos povos vizinhos contaminava culturalmente os israelitas, enfraquecia sua identidade religiosa como povo separado por Deus e violava as condições da aliança que lhes garantia "com erem das coisas boas que há na terra" (Dt 6.11).

10.1-44A solução para o problema dos casamentos mistos10.3. divórcio no período persa. Não havia nenhuma exigência específica na lei judaica para que um ho­m em se divorciasse de sua esposa estrangeira. De acordo com a legislação deuteronômica (Dt 7.1-5), esse tipo de união não deveria sequer ocorrer. As infor­mações a respeito do divórcio no período persa po­dem ser encontradas nos docum entos judaicos de Elefantina. Os contratos de casamento muitas vezes incluíam cláusulas que estipulavam a disposição do dote, o preço da noiva, propriedades e filhos n a even­tualidade de um divórcio. Aparentemente o divórcio era algo comum e bastante simples, e a maior preo­cupação era suas im plicações econômicas. Em Ele­fantina, não era necessário apresentar um motivo para justificar o divórcio.10.8. confisco dos bens e expulsão da comunidade.Um período de três dias foi suficiente para todos os cidadãos comparecerem a Jerusalém e responderem pela prática do casamento misto. Os bens confiscados e destinados ao templo (visto também no Livro apócrifo1 Esdras 9.4) e a expulsão da com unidade israelita eram punições que se complementavam, visto que a

participação na comunidade garantia o direito de pos­se ao cidadão (observe a pena de m orte em 2 Cr15.13). O crime era considerado violação da aliança e sinal de deslealdade para com a comunidade. Desde os tempos do Código de Hamurabi, os crimes sexuais podiam resultar na sentença de exílio. Em ambos os casos, os crimes envolviam atividade sexual inade­quada e violação de normais sociais.10.9. cronologia. Esse evento ocorreu no vigésim o dia de quisleu (o nono m ês), na terceira semana de dezembro, do ano 458 a.C., apenas quatro meses após a chegada de Esdras. As fortes chuvas e o frio em Jerusalém nessa época do ano certamente teriam tor­nado a assembléia bastante desconfortável. O abati­mento associado às emoções decorrentes da dissolução de seus casamentos combinava com o clima ruim.10.13. estação das chuvas. A estação fria e chuvosa em Judá e Jerusalém vai de outubro a fevereiro. O termo aqui é geralmente usado para descrever chuvas tor­renciais. Não raro, a temperatura chega aos 5 graus nessa época do ano. É possível que a realização de um a assem bléia em praça aberta durante a estação das chuvas no final de dezembro (dia 19) abatesse os ânimos dos homens o suficiente para torná-los dispos­tos a se comprometerem e a aceitarem a solução de

Esdras para a questão do casamento misto. Entretan­to, o desconforto provocado pelo frio e pela chuva tam bém pode ter exacerbado os ânim os, principal­m ente se os homens permaneceram longo tempo de

pé naquelas condições climáticas. Transferir a questão para ser decidida por um a com issão de líderes, ao menos os livraria daquela situação desconfortável.10.16,17. cronologia. Foram necessários dez dias para reunir a comissão, que iniciou seus trabalhos no pri­meiro dia do décimo mês (tebet) e continuou até o primeiro dia do primeiro mês (nisã). Assim, a tarefa exigiu que eles investigassem os casos de casamentos com m ulheres estrangeiras desde o final de dezem­bro até o final de m arço (27 de março de 457 a.C.; cerca de setenta e cinco dias).10.16, 17. m otivo da investigação. A questão a ser investigada era se as esposas de 110 israelitas eram de fato não israelitas. Certamente ocorreram muitas dú­vidas em relação a questões de genealogia e a quais povos as novas disposições legais estariam se referin­do. A lista dos que foram investigados incluía sacer­dotes, levitas, cantores, porteiros e pessoas sem ne­nhuma relação com a comunidade do templo. Visto que muitos desses homens eram pessoas influentes, a comissão precisaria agir com muita diplomacia para desempenhar sua tarefa. Cada caso foi cuidadosamente analisado, incluindo a questão dos filhos resultantes desses casamentos, visto que afetava os padrões de herança dentro da comunidade. A seguir, cada um

deles comprometeu-se (ver 1 Cr 29.24) a abandonar a esposa e a deserdar os filhos resultantes desse casa­mento. Além disso, foi determinada um a oferta ade­quada pela culpa (ver Lv 5.14-26).

N E E M I A S

1 .1-11 A oração de Neemias1.1. N eem ias. Neemias ocupava a importante função de copeiro do rei da Pérsia durante o reinado de Artaxerxes I (465-424 a.C.). Nessa época eclodiu uma revolta no Egito (460 a.C.) que só foi sufocada após

cinco anos de conflitos. Megabizo, um sátrapa do nor­te da M esopotâmia, também se rebelou em 448 a.C.. Portanto, esse foi um período turbulento na vida do império. Por causa disso, é possível presumir que os

persas estivessem dispostos a se aliar aos grupos minoritários dentro do império, tais como os judeus. Assim, é plausível que judeus como Neemias ocupas­sem cargos importantes dentro do império.1.1. quisleu. Quisleu era o nome do mês hebraico do

período pós-exílio correspondente a novem bro/de­zembro. Os judeus aparentemente passaram a seguir o calendário mensal babilónico após serem deporta­dos para a Babilônia, no final do sexto século a.C., e

continuaram a empregar esse sistema até o período persa.

1.1. cron olog ia . N ão se sabe ao certo qual seria o referencial para esse "vigésim o ano". Pode referir-se

ao vigésim o ano de N eem ias em Susã, m as o mais provável é que se refira ao vigésimo ano do reinado

de A rtaxerxes I (465-424 a.C .), cujo nom e sim ples­mente foi omitido (ver 2.1). Se for esse o caso, então seria o ano de 445 a.C..

1.1. cidade de Susã. A cidadela de Susã era a residên­cia de inverno dos reis persas. Ficava separada do restante da cidade de Susã, numa área bastante ocu­pada no passado, sendo habitada desde o quarto mi­lênio a.C.. Mais tarde, Susã pertenceu aos elamitas até ser conquistada pelos medos e persas, no sétimo sécu­lo a.C.. A cidadela de dez acres localizava-se numa

área elevada na parte norte da região, a Apadana. O palácio foi construído por Dario e usado por vários de seus sucessores. Escavações no palácio identificaram diversas características arquitetônicas, incluindo um salão de audiências, onde os reis persas presidiam julgamentos. O palácio era uma construção quadrada com m ais de cem m etros de cada lado, no qual se destacavam setenta e duas colunas de pedra com cer­ca de 20 a 25 metros de altura. A Grande Susã, locali­zada 360 quilómetros a leste da Babilônia, foi construída sobre três colinas que davam vista para o rio Shaur. A

elevação em forma de losango tinha cerca de quatro

m etros de circunferência e estendia-se por aproxima­damente 250 acres. Um a área adicional de vinte acres compreendia o quarteirão do mercado, além do vale, a leste.I .2 , 3. condição de Jerusalém . Jerusalém permanecia

em ruínas desde sua destruição por NabucodonosorII, 140 anos atrás. Um a cidade cujos muros e portas

haviam sido derrubados ficava completamente vulne­rável à invasão e agressão externa. O Livro de Esdras descreve uma tentativa anterior de restaurar os m u­

ros, durante o reinado de Artaxerxes I (cerca de 458a.C.) que acabou fracassando. Assim, aparentemente,

esses homens estão descrevendo essa empreitada mais recente que não deu certo. Alguns estudiosos suge­

rem que houve um a ação persa contra Jerusalém du­rante o reinado de Xerxes, mas as evidências são es­cassas, em bora haja confirm ação de conflitos entre persas e gregos na região sul do Levante.

1.4. a reação de N eem ias. A reação de Neemias ex­pressa a atitude típica de um judeu ao enfrentar uma

tragédia (ver Ed 9.3-5). Freqüentemente, junto com o pranto, a pessoa demonstrava seu pesar rapando o cabelo e a barba. Era comum acrescentar à oração a prática do jejum , para que o indivíduo se concentrasse

exclusivam ente nas questões que o afligiam , ainda que isso prejudicasse seu físico.1.4. "D eu s dos céu s" no zoroastrism o. A expressão

"D eus dos céus" era bastante comum no império persa e passou a fazer parte da linguagem relig iosa dos

judeus. O termo também é encontrado na correspon­dência judaica dos textos de Elefantina, no Egito, que datam do quinto século a.C.. É provável que o termo tenha se originado de Zoroastro, um santo iraniano que teria vivido no final do segundo m ilênio a.C., embora a data exata seja motivo de controvérsias. O zoroastrism o passou a ser a religião oficial dos reis persas na época de Dario I (521-486 a.C.). Seus segui­dores adoravam o "D eus dos céus", conhecido pelo nome de Ahura M azda, um ser eterno com propósitos morais. Eles também reconheciam a existência de uma divindade do mal oposta a Ahura M azda e com poder

equivalente. Neemias, porém, não hesita em atribuir esse título familiar a Yahweh.1.11. copeiro. Nas cortes do antigo Oriente Próximo o

copeiro ocupava um a posição m uito importante com

acesso direto ao rei, portanto exercendo grande influ­ência. H á inúm eros textos e relevos descrevendo copeiros nas cortes assíria e persa. O copeiro geral­mente estava próximo ao harém do rei, por essa razão esse cargo era muitas vezes exercido por um eunuco, embora não se possa dizer que fosse o caso de Neemias. Fontes posteriores identificam o copeiro como a pes­soa que provava o vinho servido ao rei. Além disso, ele era responsável pelo anel com o sinete real e o oficial-mor das finanças.

2 .1-10 Neemias é enviado a Jerusalém2.1. nisâ. O mês hebraico de nisã corresponde a m ea­dos dos meses de março e abril. Nisã trazia consigo as prim eiras chuvas e também as colheitas da cevada e do linho. Esse nom e foi tom ado em prestad o dos babilônios durante o cativeiro dos israelitas, sendo chamado anteriormente de mês de abibe.2.1. A rtaxerxes. Existiram três reis persas com esse nom e. O rei m encionado em N eem ias é provavel­mente Artaxerxes 1 (465-424 a.C.), o sucessor de Xerxes 1. N ão há in fo rm açõ es sobre esse re i em fon tes extrabíblicas. O historiador grego Heródoto descreve uma lista de impostos e algumas m edidas econômicas que ocorreram durante o reinado desse rei. As cida- des-Estado gregas, logo depois de terem derrotado os persas em Salam ina e Platéia (480-479 a.C.), fizeram uso de toda e qualquer oportunidade para m inar a autoridade persa no Oriente Próximo. Portanto, Arta­xerxes enfrentou duas revoltas durante seu remado (ver a nota em N eem ias 1.1). A pesar de enfrentar oposição, ele conseguiu se m anter no trono por qua­renta anos.2.1. atitude dos m em bros da corte perante o rei. Emrelevos persas, os cortesãos são retratados muitas ve­zes com as m ãos protegendo a boca, a fim de não ofenderem o rei respirando sobre ele. Não se sabe se essa m edida era decorrente da preocupação com a saúde do rei (improvável), da predominância de mau hálito ou simplesmente extrema deferência. Seja como for, as expressões faciais eram de certa forma mascara­das. Esperava-se que os membros da corte expressas­sem alegria por servirem na presença do rei, e deixas­sem essa atitude visível em cada rosto.2.5. reconstruir a cidade onde os pais estavam enter­rados. Os laços de fam ília tinham um a importância enorm e na m aioria das culturas do antigo Oriente Próximo. Os membros de um a família tinham de de­dicar rigorosa atenção na preservação dos restos mor­tais dos parentes falecidos. Nas culturas antigas, isso im plicava a realização de rituais que garantiam e proviam o sustento dos mortos. Aparentemente, su­

punha-se que eles tinham uma existência consciente após a morte. José implorou à sua família que levasse

seus ossos de volta para Canaã quando saíssem do Egito e Neemias estava preocupado com a preserva­

ção do túmulo de seus pais.2.6. rainha sentada ao seu lado. Há inúmeros exem­plos na iconografia do antigo Oriente Próximo da ra­

inha sentada ao lado do rei, geralmente em seu pró­prio trono. Muitos estudiosos argumentam que as ra­

inhas exerciam forte influência na corte persa desse período, com base nos escritos do historiador grego

Heródoto. A esposa de A rtaxerxes era Damaspia, mas é possível que o trono fosse ocupado pela rainha-mãe,

Amestris, conhecida por sua personalidade forte (ver

o comentário em Et 5.3) e desempenhando um papel ativo até 449; talvez ainda estivesse viva nessa época.

2.6. duração da viagem (distância e tempo). É prová­vel que Neemias tenha seguido um a rota mais longa

de Susã a Jerusalém, indo pela estrada real persa até

o norte da M esopotâm ia e dali para o oeste, até a região siro-palestina. A distância percorrida seria de

aproximadamente 1.400 quilômetros, que levaria cer­

ca de quatro meses para ser coberta. Foi essa a dura­ção da viagem de Esdras quando foi da Pérsia para

Jerusalém (ver o comentário em Ed 7.1).

2.7. governadores do Trans-Eufrates. O termo usado aqui para "governadores" pode referir-se ao gover­

nador distrital de um a pequena província ou a um sátrapa, o governador regional do império persa. O

im pério era dividido em várias satrapias governadas

com grande eficiência e desfrutando de certo grau de

autonomia. Os governadores do Trans-Eufrates con­trolavam a área norte da M esopotâmia, na região da

Arm ênia e da Geórgia.2.7. cartas para passar em segurança. V isto que o

objetivo de Neemias era político, poderia temer uma certa hostilidade por parte dos oficiais persas locais.

Talvez ele tam bém estivesse preocupado por causa

dos distúrbios em diversas partes do império (ver o

comentário em 1.1). Documentos aramaicos do quinto século preservaram um a dessas cartas. A principal

função delas era instruir os oficiais regionais a suprir

os viajantes com provisões dos armazéns reais.2.8. guarda da floresta do rei. O guarda da floresta do

rei tinha um nom e hebraico (Asafe). A floresta prova­velm ente ficava no Líbano (que os persas haviam

invadido e tomado na metade do sexto século a.C.),

embora algumas áreas da planície costeira da Palesti­na poderiam servir para esse propósito. Historiadores

gregos como Xenofonte e Diodoro mencionam a exis­tência de bosques locais sob os cuidados de oficiais do

governo persa.

2.8. uso de m adeira na reconstrução. A madeira re­quisitada seria usada especificamente: (1) nas portas da cidadela, que seria a precursora da fortaleza Anto­nia, construída no lado norte do segundo templo por Herodes, o Grande; (2) na reconstrução dos muros da cidade (embora os m uros fossem feitos de pedra e tijolos de barro, as madeiras seriam usadas para dar firm eza e tam bém nas portas e passagens) e (3) na construção da residência de Neemias (como governa­dor). Embora o material normalmente usado na cons­trução das casas fosse tijolos e pedras, o cedro era usado nos painéis das paredes internas.2.10. Sam balate. Sam balate, o horonita, era o go­vernador da Sam aria, atestado pelas inscrições nos papiros aramaicos de Elefantina, no Egito, que tam ­bém m encionam dois de seus filhos. Os papiros en­contrados no vau de D aliyeh apresentam um a se­qüência de governadores samaritanos, três deles com o nome de Sambalate. Visto que o nome de seus filhos in clu ía o e lem en to te o fó rico " Y a h " , re fe re n te a Yahweh, é provável que Sambalate fosse um adora­dor de Y ahw eh (no en tan to , ver 13.28). O term o horonita não é explicado, em bora possa significar sim­plesmente alguém oriundo de uma das cidades cujo nome continha o elemento "H oron". Sambalate opôs- se a Neemias porque Jerusalém e Judá haviam estado anteriorm ente sob sua jurisdição, apesar de não ser possível afirmar se Judá faz ia parte de sua província ou se ele havia sido nomeado para supervisionar a administração do distrito judaico.2.10. Tobias. Tobias era amonita, portanto, de origem estrangeira. Talvez tenha sido o ancestral da impor­tante família dos Tobias da Jordânia, em um período posterior. Apesar de o texto não afirmar explicitamen­te, é provável que fosse o governador de A m om , assim com o seu neto (tam bém Tobias), do terceiro século, o foi.

2.11-20A inspeção noturna dos muros de Jerusalém2.13-15. topografia da Jerusalém do quinto século. Aidentificação dos lugares mencionados nesses versículos tem enfrentado muitas dificuldades. Os muros e por­tas inspecionados por Neemias nos lados norte e oeste não m ais existem ou estão enterrados debaixo da pla­taforma do templo de Herodes. A fonte e o tanque do rei no lado leste talvez possam ser identificados com o Tanque de Siloé. É provável que o vale mencionado aqui seja o vale de Cedrom. Escavações arqueológicas revelaram um a grande quantidade de pedras espar­ram adas, sem elhante a essa que bloqueou a passa­gem de Neemias. Evidentemente Neemias teve que deixar de lado a encosta leste da cidade e começar a

construir o novo muro da cidade a partir desse local. Portanto, a cidade era certamente menor que na épo­ca anterior ao exílio. Estima-se que a circunferência da cidade era de cerca de dois quilômetros e meio, englo­bando talvez oitenta ou noventa acres.2.16. grupos m encionados. Os oficiais provavelmente eram representantes do im pério persa que tinham ido com N eemias ou que já tinham jurisdição local. O termo judeus refere-se ao cidadão comum. Os sacerdo­tes tinham um papel importante na vida da comuni­dade de Jerusalém, após o exílio, com o aumento de seu papel político. Os nobres referem -se aos chefes das principais fam ílias da área, talvez o equivalente a autoridades, como eram chamados anteriormente.2.19. Gesém. Gesém, o árabe, é mencionado também em fontes extrabíblicas. H á um Gesém em inscrições aramaicas e líbias, conhecido como rei de Kedar. Esse nome também pode ser visto numa inscrição posteri­or de Bete-Searim, e num vaso de prata dedicado por seu filho Qainu à deusa H an-'Ilat, encontrado em Tell el-M ashkuta, na região do delta egípcio. Os árabes haviam recentemente se fixado no Neguebe e na re­gião da Transjordânia (ver 2.10).

3.1-32A distribuição do trabalho3.1-32. divisão do trabalho. No período assírio, a cons­trução dos muros foi distribuída entre diversos gru­pos de trabalhadores. Quando Sargão construiu sua capital em Corsabade, cada parte do muro foi desig­nada a um grupo de trabalhadores das diversas pro­víncias do império.

3.1. porta das Ovelhas. A porta das Ovelhas (algu­m as vezes chamada de porta de Benjamim), situada ao norte do monte do templo, saía da área do Tanque de Betesda (conhecido nessa época como o Tanque das Ovelhas) para o vale de Cedrom. Ficava no lado norte do muro leste e conduzia à estrada de Jericó.3.1. torre dos Cem e torre de Hananeel. Essas duas torres ficavam no lado noroeste da cidade, perto do m onte do templo, praticam ente no m esm o local da fortaleza Antonia, na Jerusalém da época de Herodes.3.3. porta do Peixe. A porta do Peixe (também conhe­cida como porta de Efraim) era a saída do lado noroes­te da cidade. Podia dar acesso a uma das rotas para a planície costeira.3.3. estrutura das portas. O texto m enciona quatro partes: portas, batentes, ferrolhos e trancas. As duas folhas da porta deveriam ser colocadas nos encaixes de pedra fincados no solo. Os batentes ficavam nas laterais da porta; eram feitos de m adeira e estavam ligados ao muro. A tranca era colocada transversal­mente sobre o portão e suas extremidades se encaixa­

vam nas aberturas dos batentes. Essas trancas podiam ser travadas por m eio de pequenas cavilhas de m a­deira introduzidas em buracos em um bloco de m a­deira ajustado à porta. Desta forma, não era possível sair da cidade quando o portão estivesse trancado.3.6. porta Jesana. Às vezes chamada de Porta Velha, provavelmente estaria localizada ao sul da porta do Peixe. Alguns estudiosos a identificam como a porta M isné que dava acesso ao distrito oeste da cidade.3.8. ourives e perfum ista. Nas cidades antigas, certos distritos ou bairros eram ocupados por membros de corporações específicas. As corporações de artesãos ge­ralm ente eram com postas por fam ílias que haviam desenvolvido suas próprias técnicas e segredos de um determinado ofício, que eram transmitidas de gera­ção em geração.3.8. muro Largo. Escavações na colina ocidental em Jerusalém desenterraram um muro desse período com uma espessura bastante incom um (mais de seis metros de espessura), que se estendia na direção oeste pelo lado ocidental do m onte do Templo. O muro Largo em si não passou por reform as, visto que a colina ocidental não foi ocupada durante esse período.

3.9. g o v ern ad o r da m etad e do d istrito . U m títu lo assírio bem conhecido, rab p ilkani, ou "ch efe do dis­trito", perm ite um a m elhor compreensão da term ino­logia usada nesse contexto. Infelizmente, os detalhes da administração distrital da região são pouco conhecidos.3.11. torre dos Fom os. A maioria dos intérpretes as­socia essa torre ao distrito dos padeiros, situado nessa parte da cidade, de m odo a ficar perto do palácio e do complexo do templo (ver Jr 37.21).

3.13. porta do V ale. A porta do Vale ficava no muro oeste, ao longo da vertente da Cidade de Davi, dando acesso ao vale de Tiropeom. Acredita-se que essa te­nha sido a p orta id en tificad a nas escav ações de Crowfoot, em 1926-27. Sua largura era de aproxima­damente três metros e meio.3.13. Zanoa. Essa cidade situava-se na região da Sefelá, cerca de 24 quilômetros no sentido oeste-sudoeste de Jerusalém .

3.14. porta do Esterco. A porta do Esterco ficava na extremidade sul da Cidade de Davi, quase quinhen­tos metros ao sul da porta do Vale. Essa porta se abria para o vale do Hinom e para a estrada que levava à fonte de En-Rogel, e não deve ser confundida com a porta do Esterco atual (próximo da extremidade sudo­este do monte do Templo, contemporânea ao período Otomano).3.14. distrito de Bete-H aquerém . Bete-Haquerém é a atual Ramate-Raquel, apenas fora de Jem salém .3.15. porta da Fonte. Localizada no lado sudeste da cidade, essa porta ficava a pouca distância da porta do

Esterco e provavelm ente dava acesso ao Tanque de Siloé, onde a fonte de Giom formava canais. Tanto a porta do Esterco como da Fonte foram escavadas na década de 1920.3.15. distrito de M ispá. M ispá é identificado como Tell en-Nasbeh, cerca de treze quilômetros ao norte de Jerusalém.3.15. muro do tanque de S iloé, ju n to ao jard im do rei. Aparentemente, esse tanque refere-se a um canal que conduzia as águas da fonte de Giom para irrigar as terras a leste de Jerusalém. Localizava-se na extre­m idade sul da cidade e fornecia água para o jardim do rei, na junção dos vales de Cedrom e Hinom.

3.15. degraus da Cidade de D avi. Esses degraus fica­vam na extrem idade sul da cidade para facilitar a subida íngreme do vale de Cedrom. Vestígios de uma antiga escada foram encontrados nessa área.3.16. m eio distrito de Bete-Zur. Bete-Zur era a extre­m idade sul da província. Localizava-se cerca de seis quilômetros ao norte de Hebrom.3.16. túm ulos de D avi. O lugar freqüentemente indi­cado aos turistas como o local do túm ulo de Davi no atual m onte Sião é um a tradição recente. As únicas tumbas monumentais do período do primeiro templo estão na atual aldeia de Silwan, do outro lado do vale de Cedrom, da Jerusalém de Davi. Essas tumbas são da Idade do Ferro II, mas não são túmulos de reis. Os reis de Judá, desde Roboão até Acaz, eram enterrados na Cidade de Davi (com algumas notáveis exceções). Os reis mais recentes foram enterrados no "jardim de U zias" (Manassés e Amom) ou em sua própria tumba (Josias). Os locais das tumbas de Ezequias e dos suces­sores de Josias não são m encionados. O local dos túmulos reais na Cidade de Davi não foi identificado com segurança.

3.16. açude artific ia l. Esse açude algum as vezes é confundido com o tanque mencionado no versículo anterior, mas trata-se de outro local, apesar de ficar na m esm a região.3.16. casa dos soldados. É bem provável que esteja se referindo às barracas usadas pelas tropas de elite, representadas antigamente pelos homens valentes de Davi (ver o comentário em 2 Sm 23.8).3.17. metade do distrito de Q ueila. Queila localizava- se aproxim adamente entre Zanoa (v. 13) e Bete-Zur (v. 16), 32 quilômetros a sudoeste de Jerusalém.3.25. esquina. A área do palácio ficava ao sul do m on­te do templo. A torre situada na esquina do complexo do palácio era contornada pelo muro da cidade e pro­vavelm ente seja essa a esquina mencionada aqui.3.26. O fe l. A colina de O fel é identificada com o a região situada entre o monte do Templo e a serra ao sul conhecida como Cidade de Davi. Aparentemente

existiam ali fortificações que cercavam o complexo do templo e do palácio. Alguns estudiosos acreditam que havia nesse local um a cidadela designada sim ples­mente " a Ofel".3.26. porta das Águas. Essa porta ficava do outro lado da elevação da porta do Vale e abria-se para o leste, em direção à fonte de Giom e ao vale de Cedrom.3.27. muro de O fel. O muro de Ofel estendia-se des­de Ofel em direção ao sudoeste, pelo vale de Cedrom, até a porta das Águas. Antes dessa época, essa parte do muro ficava posicionada um pouco abaixo da en­costa, m as Neemias recolocou-a no alto da encosta. Escavações na Cidade de Davi encontraram algumas partes desse muro.3.28. porta dos Cavalos. Essa porta levava do comple­xo do templo, a leste, ao vale de Cedrom.3.29. porta O riental. Alguns estudiosos associam essa porta com aquela comumente chamada hoje de porta Dourada, no lado leste do complexo do templo. Sob a atual porta D ourada pode ser observado o arco de um a antiga porta.3.31. porta da Inspeção. Sabe-se m uito pouco a res­peito dessa porta, que às vezes é chamada de porta da

Guarda. A maior parte dos estudiosos considera que seria uma porta no muro do templo e não no muro da

cidade.3.31. posto de vigia da esquina. Esse local geralmen­te é relacionado à esquina nordeste da cidade e é bem provável que fosse um tipo de torre de vigia.3.32. porta das Ovelhas. Vèr o comentário em 3.1.3.32. ourives e com erciantes. U m dos im portantes centros com erciais da cidade localizava-se próximo das portas do norte, assim , seria natural que esses grupos ficassem responsáveis pela reconstrução dessa

parte dos muros.

4.1-23Oposição à reconstrução4.1. Sam balate. Ver o comentário em 2.10.4.2. poderosos de Sam aria. Grande parte das tradu­ções (não a NVI) usa a expressão "exército da Samaria". Apesar de não ser um a colônia militar, o governador de Sam aria possuía um exército para auxiliar o rei persa. Porém, não se sabe ao certo se esse exército era formado por tropas persas ou por uma milícia local.4.2. sacrifícios. D e m odo geral, os projetos de constru­ção m ais im portantes eram dedicados com rituais sacrificiais. Alguns sacrifícios eram oferecidos ainda no alicerce da obra, sendo esse um costume bastante conhecido no antigo Oriente Próximo.4.2. ressuscitar pedras de construção. Essa expressão pode se referir à idéia difundida no antigo Oriente Próximo de que pedras enegrecidas pelo fogo eram

amaldiçoadas e não podiam ser reutilizadas como m a­terial de construção. O s israelitas não tinham tempo para extrair pedras novas das pedreiras e as pedras queimadas que haviam sido usadas na construção do muro antigo estariam deterioradas demais para se­rem reutilizadas.4.3. T obias. Ver o comentário em Neemias 2.10.4.18. hom em pronto para tocar a trom beta. Nos tem­pos bíblicos, o toque das trombetas era usado para emitir sinais em contextos religiosos, civis e militares. Em geral, essa trombeta era feita de chifre de carneiro (shofar), tam bém usada no passado para sinalizar o acesso ao monte Sinai (Êx 19.13). Para mais informa­ção sobre esse tipo de sinalização, ver os comentários em Números 31.6 e Josué 6.4, 5.

5.1-19A solução das injustiças sociais5.3-5. natureza da queixa. Por estarem envolvidas na reconstrução de Jerusalém, essas pessoas não tiveram condições de produzir alimentos o suficiente para so­breviver. Por essa razão, tiveram de comprar cereais e como não tinham os recursos necessários para pagá- los, foram obrigadas a penhorar suas propriedades (campos, vinhas e casas). Além disso, os reis persas evidentemente cobravam impostos sobre as proprie­dades, uma cobrança instituída pelos caldeus. Dario I (521-486 a.C.) recolhia um a taxa sobre a produção dos campos. Tanto em Israel como em outros lugares do antigo Oriente Próximo, era costume os pais vende­rem seus filhos como escravos de modo a suprir algu­ma necessidade m aterial, com a esperança de mais tarde resgatá-los (ver o comentário em Êx 21.2-6).5.7. ju ros. O term o no original refere-se a "u su ra", que em essência significa a cobrança de juros por um empréstimo. Era proibido ao israelita cobrar juros de um com patriota (ver com entários em Êx 22.25; Lv 25.38; Dt 15.1-11). Era permitido, porém, cobrar juros de estrangeiros. A cobrança de juros era perm itida pelo código babilónico de Hamurabi (século dezoitoa.C.) apenas em situações de empréstimos comerciais, para as quais não havia equivalência em Israel. Para o israelita, o empréstimo era considerado um ato de caridade, feito com o objetivo de ajudar um compatri­ota necessitado, e não para ajudar um comerciante a desenvolver seu comércio.5.11. solução. Toda terra que havia sido tomada por motivo de dívida seria devolvida sem qualquer exi­gência. Era um a prática com um no antigo O riente Próximo tomar a propriedade (e até mesmo os filhos) de alguém que não fosse capaz de honrar suas dívi­das. Aqui, aparentemente até os juros cobrados foram devolvidos aos devedores.

5.14. duração do governo de Neem ias. Neemias o­cupou o cargo de governador de 445 a 433 a.C.. Este foi seu primeiro mandato como governador. Alguns estudiosos acreditam que ele exerceu um segundo mandato algum tempo depois (ver o comentário em13.6, 7). Não há registros extrabíblicos referentes a Neemias ou à sua gestão como governador.5.14. com ida destinada ao governador. Assim como os sátrapas, os governadores persas tinham o direito de recolher impostos de seus súditos para seu próprio tesouro, e não apenas para o tesouro do rei. Os recur­sos coletados dessa form a serviriam para financiar projetos locais e m anter a administração. Os alimentos e bebidas arrecadados eram destinados ao governador e à sua família. Textos elamitas desse período encon­trados em Persépolis (Textos do Tesouro) refletem essa prática ao registrar as despesas do tesouro real.5.15. 480 gram as de p rata (40 siclos). Em bora os governantes anteriores mencionados aqui talvez fos­sem ju deu s, é possível que a referência seja a não judeus, indicados pelos sátrapas da região. O único governante, além de Neemias, mencionado no texto bíblico é Zorobabel, setenta anos antes de Neemias. Não fica claro no texto se a quantia mencionada seria a taxa anual paga por cada cidadão ou a quantidade diária necessária para sustentar a administração. De qualquer maneira, trata-se de um valor elevado. Vá­rios jarros encontrados em escavações talvez fossem usados pelos governantes persas para coleta de im­postos. Algum as impressões de selos desse período também preservam o nom e dos governantes.5.18. provisão diária. As provisões necessárias para alimentar os 150 oficiais judeus provavelmente eram parte do salário deles. A ssim como outros governantes, N eem ias tinha o dever de oferecer, regularm ente,

banquetes aos oficiais locais e às autoridades estran­geiras. Devido ao elevado custo dessas festas, o fato de Neemias não cobrar impostos do povo para repor seu tesouro pessoal é ainda m ais impressionante.

6.1-19 Conspiração contra Neemias e o término da reconstrução6.2. planície de Ono. A planície de Ono localizava-se cerca de 43 quilômetros a noroeste de Jerusalém. Du­rante o período persa, algumas vezes essa região era a fronteira da província de Judá, outras vezes era um território neutro entre as províncias de A sdode e Samaria. De qualquer modo, era um local perigoso para encontrar-se com inimigos.6.7. proclam ação profética de reinado. Em bora pou­co se saiba a respeito do ofício profético no período pós-exílio, anteriormente os profetas desempenharam

um im portante papel na "proclam ação de re is". O

reino do norte, Israel, passou a existir através de um anúncio profético (1 Rs 11.29-39) e as principais dinas­tias (Jeroboão, Baasa, Onri, Jeú) surgiram e caíram de

acordo com as proclamações proféticas. No antigo Ori­ente Próximo, os sacerdotes com freqüência desempe­

nhavam um papel político significativo, mas não se sabe de nenhum profeta no antigo Oriente Próximo

que tenha exercido a função de nom ear reis. Não obstante, em todo o mundo antigo acreditava-se que

os profetas não apenas proclam avam a m ensagem

vinda da divindade, como também desencadeavam a ação divina no processo. Isso perm ite entender por

que os rumores de proclamações proféticas poderiam incitar insurreições ou causar tumultos e destruição.6.15. o término da reconstrução. Em bora o historia­

dor Josefo (37-100 d.C.) afirme que os m uros foram

construídos em dois anos e quatro meses, o texto bíbli­co diz que foram necessários apenas 52 dias para ter­

m inar a obra. Existem alguns casos sem elhantes na

Antiguidade. Tucídides afirma que os muros da cida­

de de Atenas foram construídos em apenas um mês

(quinto século a.C.). Levando-se em conta que: (1) Jerusalém era menor (os arqueólogos consideram que

o perím etro dos m uros nessa época atingia apenas dois quilômetros e meio); (2) apenas a parte leste dos

muros foi construída desde o alicerce (enquanto os outros trechos foram apenas reforçados); (3) a obra não

era de padrão elevado (de acordo com as descobertas

arqueológicas), é razoável supor que a tarefa tenha sido concluída num curto espaço de tempo.

7.1-73Registros das famílias7.2. com andante da fortaleza. Os persas em prega­vam inúmeros comandantes militares em suas forta­

lezas espalhadas por todo o império. Embora na mai­

or parte dos casos o contingente dessas guarnições fosse formado por tropas persas e não por milícias

locais, os soldados ficavam sob o comando do gover­nador ou de alguém designado por ele.

7.65. restrições alimentares. Essa restrição é mencio­

nada também em Esdras 2.63. Os sacerdotes que não tinham registro de família, cuja genealogia era desco­

nhecida, não podiam comer das "ofertas santíssimas"

(ver Lv 2.3; 7.21-36), um alimento que os sacerdotes

comiam como parte das ofertas reservada a eles, após os ritos cultuais. O Urim e o Tum im eram instrumen­

tos oraculares (ver o com entário em Êx 28.30) que seriam usados para consultar a Deus quanto às cre­

denciais daqueles que afirmavam ter um a genealogia

sacerdotal.

7.70. oito quilos de ouro (mil dracmas de ouro). Dra­

cmas de ouro, dáricos persas, siclos m edos e dracmas gregas (as mais comuns) eram equivalentes. Os dáricos

só foram cunhados a partir da época de Dario e pesa­vam cerca de 8,4 gramas, ou seja, mil deles equiva­

liam a aproximadamente oito quilos de ouro. O siclo

era igual ao dárico, em bora a dracm a grega fosse

equivalente a meio dárico.7 .72 .160 quilos de ouro, 1200 quilos de prata (vinte

m il dracmas de ouro, duas m il m inas de prata). Para um a comparação entre esses valores e as quantidades

usadas na construção do templo de Salomão, ver os

comentários em 1 Crônicas 22.14. Inúmeras moedas de prata foram encontradas em escavações, provavel­

mente cunhadas em Jerusalém ou nas proximidades,

durante o período persa. As moedas eram gravadas com a inscrição yhd ou Yehud (Judá) e decoradas com

o desenho da cabeça da deusa Palas A tena de um

lado, e do outro a figura de um a coruja (símbolo de Atenas). O trabalho de confecção dessas m oedas é

evidentemente inferior ao da dracma grega. As m oe­das continham apenas um a fração de prata, portanto

valiam menos que suas equivalentes encontradas ao

longo da costa de Tiro e Sidom.

8.1-18 A leitura pública da lei8.1. cronologia. Supõe-se que os israelitas tenham se

instalado no ano da chegada de N eemias, 445 a.C.. Esdras já estaria em Judá há treze anos. O sétimo mês

é tisri (setembro/ outubro), que marca o início do ano

novo civil e das celebrações do Yom Kipur e da Festa

das cabanas (tabernáculos).8.1. porta das Águas. A porta das Águas (ver 3.26) ficava perto da fonte de Giom, portanto dava acesso às fontes de águas. Alguns argumentam que essa porta pertencia a um muro do período pré-exilío que não foi

reconstruído por Neemias. Não se sabe se essa porta foi incluída no novo m uro ou se ficava a leste dele. De

qualquer m aneira, Esdras não leu a Torá dentro do templo ou num local próximo a ele.

8.1. escriba. N a Pérsia e na Mesopotâmia o escriba era uma espécie de comissário encarregado da manuten­

ção da lei e da ordem, mas no mundo antigo de modo geral, essa função era m ais abrangente. Os escribas

deveriam conhecer e dominar as diversas línguas co­nhecidas da época, saber escrever textos (cópias, dita­dos ou composições), conhecer a literatura tradicional

(canônica e não canônica), a literatura internacional

(particularm ente a literatura de sabedoria) e saber interpretar essa literatura (talvez até mesmo literatu­

ra legal ou ritual). Assim, em Israel, os escribas eram

especialistas na lei de Moisés. Um a de suas principais obrigações era estudar as Escrituras. Os escribas se tornaram extremamente importantes para a vida ju ­daica no período pós-exílio. É provável que se organi­zassem em clãs ou corporações (ver 1 Cr 2.55). Mais tarde, foram eles que organizaram o culto nas sinago­gas. M uitos escribas tam bém eram sacerdotes e/ou líderes da comunidade, como Esdras. Eram os guar­diões da cultura e da tradição. O interesse persa nessa questão é demonstrado através da nomeação por Dario de um sum o sacerdote egípcio para reorganizar a escola dos escribas e os rituais do templo de Saís. É provável que os escribas tenham desempenhado um papel preponderante no processo de formação do cânon do Antigo Testamento.8.1. Livro da Lei de M oisés. O Livro da Lei de Moisés continha, se não totalmente, ao m enos um a grande parte dos primeiros cinco Livros do Antigo Testam en­to (de Gênesis a Deuteronômio).8.3. leitura pública de documentos oficiais. Devido à dificuldade de acesso a documentos escritos no antigo O riente Próxim o, a leitura pública de docum entos oficiais por um escriba ou arauto era um procedimen­to bastante comum. As cartas de Kalhu, na Assíria, retratam um oficial assírio lendo um pronunciamento

diante do povo da Babilônia.8.4. plataform a elevada. A plataform a m encionada aqui pode ser comparada à plataforma usada por Salo­mão na dedicação do primeiro templo (2 Cr 6.13). A raiz do termo usado aqui significa torre, enfatizando a altura da estrutura, permitindo que Esdras pudesse ser visto e ouvido por todos.8.5. Livros ou rolos? Embora a palavra hebraica usa­da aqui tenha sido traduzida como "L iv ro", o mais provável é que Esdras estivesse lendo em um rolo. Páginas dobradas e encadernadas no formato de um livro m oderno só passaram a existir a partir do segun­do século d.C. e só substituíram por completo os rolos alguns séculos mais tarde.8.5. o povo se levantou. Ficar de pé era uma forma de manifestar respeito no Antigo Testamento (ver Jz 3.20; Jó 29.8; Ez 2.1).8.6. adoraram. A reação do povo diante da leitura das Escrituras foi de adoração ao Senhor. O ato de levan­tar as mãos demonstrava a dependência do povo para com Deus (ver Ed 9.5; SI 28.2; 134.2). Prostrar-se de­monstrava humilhação diante de Deus e de sua Pala­vra. Prostrar-se diante de uma autoridade superior era uma atitude comum em todo o Oriente Próximo. Nas cartas acadianas de Amarna, no Egito, os prínci­pes simbolicamente se prostravam diante do faraó.8.7. 8. interpretação de docum entos religiosos. As treze pessoas mencionadas no versículo 7 eram levi-

tas encarregados de interpretar a Lei (2 Cr 17.7-9). Eles tam bém traduziam o texto, provavelm ente do hebraico pré-exílio para o aramaico, a língua normal­

m ente falada na Palestina no quinto século a.C.. O term o "in stru ir" significa que os levitas "esm iu ça­

vam " o texto, ou seja, traduziam e interpretavam pa­rágrafo por parágrafo. Textos acadianos citam várias conclusões de comentários sobre documentos, assim

como confirmam um comentário tradicional transmi­

tido oralmente. Esses comentários estão relacionados à literatura canônica, tais como os presságios do Enuma

Anu Erilil, e também às tradições legais.8.10. comida. O texto não especifica o tipo de alimento

preparado pelos israelitas nesse banquete, quando voltaram para suas casas. Certamente foi uma festa de

ação de graças, visto que foi exigido deles que repar­tissem os alimentos com os vizinhos. "C om er do me­

lhor", ou "d a gordura", era uma prática comum (ver Lv 3; 2 Sm 6.19; 1 Cr 12.40, 41; 29.22; 2 Cr 7.8-10;30.21-26).

8.14-17. celebração da Festa das cabanas (Festa dos tabernáculos). Para informações a respeito dessa festa,

ver os comentários em Êxodo 23.16; Levítico 23.33-36, 39-43 e D euteronôm io 16.13-15. A Festa das cabanas

norm alm ente era celebrada no dia quinze do sétim o m ês. A peculiaridade dessa celebração parece estar

relacionada a uma combinação de tradições. Levítico

23.40 instrui os celebrantes a juntar galhos de árvores

e o v ersícu lo 42 os orien ta a h ab itar em tend as ou

barracas. Mas o texto de Levítico não especifica a ma­neira de constru ir as tendas, nem exige que se faça

peregrinação até Jerusalém . Deuteronôm io 16.15 de­

signa essa festa como um a das três festas de peregri­

nação, m as não diz nada a respeito de ajuntar ramos ou habitar em tendas. As orientações de Esdras com­binav am essas trad ições de m odo que o povo saiu

para juntar os ramos e com eles construir as tendas em

que iriam m orar em Jerusalém durante o período da festa.

8.16. porta das Águas e porta de Efraim . Sobre a por­ta das Á guas, ver a nota no versícu lo 1. A porta de

Efraim ficava no muro do período pré-exílio (ver o co­mentário em 2 Cr 25.23) e estava localizada a cerca de

180 m etros da porta da Esquina. É provável que essa

porta se abrisse na direção de Efraim, a noroeste, entre­tanto ela não é m encionada na lista de N eem ias 3.

9.1-38A confissão do pecado9.1. cronologia. O je jum teve início poucos dias após

a celebração da Festa das cabanas, no sétimo mês de 445 a.C.. Caso tenha começado no dia quinze, confor­

m e determ inava a Lei, teria se estendido até o dia

vinte e dois. N esse caso, é estranho que não se faça

menção ao Dia da Expiação, que deveria ser observa­

do no décim o dia do sétim o m ês. O versícu lo 13,

porém, sugere que as festividades começaram no se­

gundo dia, portanto, teriam durado até o dia nove.

Talvez o D ia da Expiação tam bém estivesse sendo

comemorado com um certo atraso, sendo representa­

do nesse je jum , apesar de nenhum dos ritu ais de

Levítico 16 ser mencionado.

9.1. ocasião para je ju m . Há poucas evidências da práti­

ca do je jum no antigo Oriente Próximo fora da Bíblia.

Geralmente era praticado em ocasiões de luto. No An­

tigo Testamento, o jejum geralmente estava relacionado

a um pedido a D eus, baseado no princípio de que a

im portância do pedido era tal que fazia com que o

indivíduo deixasse de lado suas necessidades físicas.

Nesse aspecto o ato de jejuar funcionava como um pro­

cesso de purificação e hum ilhação diante de Deus (SI

69.10). Conforme o texto indica, os judeus estavam pre­

ocupados por causa de seus pecados e dos pecados dos

seus antepassados que haviam violado a aliança, evi­

denciados pela leitura da lei. O pedido deles era que

fossem libertados do dom ínio estrangeiro.

9.1. pano de saco. O pano de saco era um sinal típico

de luto e arrependimento na Bíblia. Era um tipo de

tecido rústico, norm almente feito de pêlo de bode, em

geral usado diretamente sobre a pele como um a faixa

ou saiote ao redor da cintura. O significado simbólico

do pano de saco pode ser encontrado também entre os

assírios, moabitas, fenícios e arameus.

9.6. "só tu és o Senhor". Trata-se de um típico reco­

nhecim ento bíblico do caráter único e absoluto de

Deus (ver o comentário em Dt 6.4) expresso de modo

particular na criação e na aliança com o povo israelita.

9.6. divindades criadoras no período persa. Na época

de Neemias a religião predominante entre os persas

(ou pelo menos do Estado persa) era o zoroastrismo.

Seus seguidores acreditavam que A hura M azda, a

divindade do bem , havia criado o m undo perfeita­

mente bom. Porém, havia uma divindade igualmen­

te poderosa, Angra M ainyu, que representava o mal

e a ignorância e que perverteu a criação de Ahura

Mazda. Entretanto, por causa de sua presciência, Ahura

Mazda fez com que sua criação combatesse esse deus

do m al, abrindo o cam inho para a restauração do

mundo ao seu estado original de pureza.

9.6. exércitos dos céus. A frase inicial do versículo

("T u d o que há nos céu s") é equivalente à que se

encontra no final do versículo ("os exércitos dos céus").

O term o pode referir-se tanto às estrelas quanto às

hostes angelicais, ambas objetos de veneração (e m ui­

tas vezes indistintos, visto que as estrelas eram consi­

deradas m anifestações dos deuses) dos povos vizi­

nhos. No zoroastrismo, Ahura M azda era considerado

o criador de todos os outros deuses (yaza tas), m as de

certa forma, dependia deles e lhes oferecia sacrifícios.

9.7-37. resum o da história de Israel na oração. Ora­

ções ou hinos apresentando um resumo da história de

Israel são comuns na Bíblia (ver SI 78; 105; 135; 136).

Essa é um a característica peculiar dos israelitas. Os

povos vizinhos faziam m enção ao Ano Novo em suas

orações, m as não discorriam sobre fatos históricos do

passado ou da criação.

9.20. Espírito para instrui-los. Por causa da expressão

"teu bom Espírito", empregada pelos zoroastristas ao

se dirigirem ao deus Ahura Mazda, alguns estudiosos

defendem a possibilidade do judaísmo ter sofrido uma

certa influência da religião persa. Porém, a diferencia­

ção entre o Espírito do Senhor e um espírito maligno

era usada muito antes de qualquer contato entre esses

dois povos (ver 1 Sm 16.14; 1 Rs 22.23, 24). Além dis­

so, no período persa, os israelitas não hesitavam em

usar expressões conhecidas do zoroastrismo para refe­

rir-se a Y ahw eh (ver o com entário em 1.4). O uso de

títu los divinos fam iliares pode ser observado já na

época de Abraão (ver os comentários em Gn 14.17-24).

9.36. escravos do rei persa? Os judeus, assim como

todos os outros povos do império persa, eram súditos

do rei persa, portanto obrigados a lhe pagar tributo.

Em quase todas as m onarquias do antigo Oriente Pró­

ximo, os habitantes geralm ente eram considerados

escravos (ou súditos) do rei. O monarca, por sua vez,

era escravo da divindade da nação (Assur, na Assíria,

e Marduque, na Babilônia).

9.38. assinado. Na verdade, o termo traduzido pela

NV1 como "assinado" refere-se a firmar com um selo.

Os selos eram amplamente usados em todo o antigo

Oriente Próximo, desde o Egito até o Irã, a partir do

quarto milênio a.C.. M ilhares de selos foram encon­

trados em escavações arqueológicas. Os selos eram

usados como sinal de autenticidade e prestígio, para

atestar um documento ou evitar que as pessoas inva­

dissem um recinto ou abrissem qualquer tipo de reci­

piente. O formato mais comum de selo na Mesopotâmia

era cilíndrico, mas os israelitas davam preferência aos

selos com estampa. As figuras dos selos eram geral­

m ente desenhadas por hábeis artesãos, que emprega­

vam uma grande variedade de materiais. Foram en­

contradas centenas de selos hebraicos em escavações

arqueológicas, bem como mais de mil alças de jarros com selos gravados.

10.1-39O acordo do povo10.30. endogam ia. O contexto legal dessa cláusula encontra-se em Esdras 9.1, 2. A Lei do Pentateuco já proibia os israelitas de se casarem com mulheres es­trangeiras (ver o comentário em D t 7.3). Os israelitas haviam se misturado com os povos vizinhos e se con­taminado com suas práticas religiosas pagãs. Era co­mum entre as sociedades do antigo Oriente Próximo o casamento dentro do próprio clã (endogamia) ou atra­vés de alianças com um clã am igável. A ssim , os israelitas eram encorajados a casar-se dentro de seu clã "espiritual" (isto é, de adoradores do Senhor). Nessa época, porém, as implicações dessa ordem iam além da necessidade de m anter a homogeneidade espiri­tual. A posse da terra era uma questão teológica im­portante relacionada à eleição e à aliança firm ada com Yahw eh. O casam ento m isto am eaçava a posse da terra e prejudicava os benefícios da aliança. Os textos e lefan tin os (textos ju d eu s sep arados de Esd ras e Neemias por pouco menos de cinqüenta anos) mos­tram como a terra foi redistribuída e muitas famílias judaicas acabaram perdendo suas propriedades por causa de casamentos com mulheres estrangeiras.10.31. regras sobre o sábado. As regras para o sábado proibiam que os israelitas exercessem suas atividades profissionais no sétimo dia. De início, é provável que as restrições fossem limitadas ao trabalho na agricul­tura e no pastoreio de rebanhos. À medida que Israel desenvolveu uma economia mercantil, no período da monarquia, a proibição passou a ser aplicada também ao envolvimento com o comércio, ou seja, à compra e venda de mercadorias. No período pós-exílio, a ques­tão era se a lei permitia comprar mercadorias daque­les que não eram proibidos de vendê-la no sábado (mercadores estrangeiros). Alguns argumentavam que fazer compras não seria desempenhar uma atividade profissional. Não obstante, os líderes da comunidade aplicavam as proibições do sábado tanto para a venda quanto para a compra de mercadorias.10.31. regras relacionadas ao sétim o ano. É provável que o "sétim o ano" m encionado aqui seja o ano sa­bático citado em Êxodo 23.10,11 e Deuteronômio 15.1­3 (ver os respectivos comentários). Talvez Neemias estivesse fundindo os dois ou até mesmo regulamen­tando a prática para que ambos fossem praticados ao mesmo tempo. Essa medida certam ente facilitaria o cumprimento da lei.10.32. 33. im p ostos para o tem p lo . O riginalm ente não havia a cobrança anual de impostos destinados à m anutenção do templo. Êxodo 30.13 determina que deveria ser paga ao templo a quantia de meio siclo na época do recenseamento, mas essa era uma outra ques­

tão. Embora os reis persas Dario I e Artaxerxes tives­sem prometido auxiliar na construção do templo (ver Ed 6 .9 ,10 ; 7.21-24), eles não providenciaram os recur­

sos para seu funcionamento (embora Ed 7 .21 ,22 m en­

cione algum tipo de auxílio em andamento). Durante os reinados de Dario e Xerxes a economia passou a ter um padrão m onetário. O desenvolvim ento de uma economia monetária exigia o respaldo de fundos para

as operações do templo. As quatro gramas menciona­

das (um terço de siclo) aqui provavelmente resulta­vam de um ajuste para adaptar a economia aosistema

m onetário usado no im pério persa. N essa época, a moeda-padrão do império persa, o dárico, pesava 8,4 gramas e era equivalente ao siclo babilónico. O zuz

aramaico correspondia a metade desse valor e equi­

valia à dracma grega. O siclo israelita-padrão, porém, durante m uito tempo pesou 11,4 gramas (assim como o siclo assírio), mas havia também o siclo real (siclo

"pesado", na terminologia ugarítica), descoberto pe­

las pesquisas arqueológicos, pesando entre 12,5 a 12,8 gramas. Portanto, um zuz (4,2 gramas) equivalia a um terço do siclo real tradicional.

10.34. provisão de lenha. No período da monarquia, o templo tinha funcionários suficientes para prover a lenha necessária. O texto de Josué 9.27 esclarece que

essa era um a das tarefas designadas aos gibeonitas.

Agora, porém, o templo não contava com um número

tão significativo de funcionários, assim foi preciso en­

contrar um outro m eio para abastecer o tem plo de lenha.

10.35. oferecim ento dos prim eiros frutos. O princí­pio religioso envolvido na oferta dos "prim eiros fru­

tos" (animal, vegetal ou humano) aos deuses basea­

va-se no increm ento da fertilidade. D esde os pri­

mórdios, acreditava-se que os deuses haviam criado a vida em suas variadas formas, portanto, esperavam

receber como ofertas devidas as primícias da colheita

e o primeiro fruto do ventre. A religião israelita ate­

nuou essa crença perm itindo que alguns anim ais e todos os primogênitos humanos fossem resgatados (Êx

13.11-13; Nm 18.14,15). A oferta dos primeiros frutos tam bém poderia envolver um aspecto político. Os

anais assírios de Senaqueribe (705-681 a.C.) contêm ordens para que os povos conquistados pagassem ofer­tas dos primeiros frutos das ovelhas, vinho e tâmaras

aos deuses da Assíria. Em Israel, os primeiros frutos

das colheitas tradicionalm ente eram destinados ao sustento dos sacerdotes. Números 18.12,13 especifica

cereais, vinho e azeite. Aqui, as árvores frutíferas são acrescentadas à lista.

10.36. oferta do prim ogênito. V isto que crianças e animais impuros eram resgatados, essa prática garan­

tia algum "fluxo de dinheiro" para as operações do templo. Para m ais informação a respeito das leis re­

lacionadas ao primogênito, ver o comentário em Êxodo13.1-3.10.37. ofertas aos sacerdotes e levitas. Em bora nem

sempre o ofertante pudesse comer uma parte do sacri­

fício, diversos sacrifícios proporcionavam a oportuni­dade dos sacerdotes se alimentarem. Isso também acon­tecia na prática babilónica, segundo a qual o rei, o

sacerdote e outros funcionários do templo recebiam porções dos sacrifícios. Em textos sumérios era consi­

derado um crime grave com er o que fora separado como sagrado. As tradições religiosas da maioria dos

povos do antigo Oriente Próximo exigiam o sustento

dos templos de form a bastante parecida. A comida era "con su m id a" pelos deuses, m as naturalm ente,

quem se alim entava dela eram os funcionários do

templo. Para informações adicionais sobre o dízimo, ver o comentário em Números 18.31, 32.

11.1-36O repovoamento de Jerusalém11.1, 2. Por que as pes_soas não queriam m orar em

Jerusalém? O simples fato da realização de um sorteio indica que alguns foram forçados a m orar em Jerusa­

lém. No antigo Oriente Próximo e na região do M edi­

terrâneo, os sorteios eram vistos como um meio de permitir que Deus (ou os deuses) determinasse o des­

tino de uma certa situação. Assim, as pessoas conside­ravam o resultado do sorteio uma ordem divina (para

m ais informações a respeito de sorteios, ver os comen­

tários em Js 7.14-18 e Jn 1.7-10). Visto que Jerusalém havia sido devastada e era um ponto de grande dis­

puta entre os judeus e os povos vizinhos, não era um

lugar atraente nem seguro para m orar no quinto sé­culo a.C.. Além disso, é compreensível que as pessoas

não estivessem ansiosas a abandonar suas terras e

colocar em risco suas propriedades.11.22, 23. m úsicos sujeitos às prescrições do rei. É

provável que o texto esteja se referindo ao rei persa Artaxerxes I, que tinha interesse em m anter as práti­

cas cultuais locais (ver Ed 4.8-10; 7.21-24). A partir do terceiro m ilênio a.C., a maior parte dos reis do antigo

Oriente Próximo m antinha cantores profissionais em

suas cortes. Por exemplo, Zinri-Lim, rei de M ari (c.

1780-1760 a.C.) mantinha um grupo de cantores liga­dos à corte. A respeito de cantores em Israel, ver o

comentário em 2 Crônicas 29.27-30.

11.24. representante do rei. Evidências encontradas em fontes relacionadas ao império persa confirmam a existência de altos funcionários que atuavam como

representantes do rei em diversas satrapias. Ocasio-

nalm ente, esses representantes apareciam na corte

persa para levar algum pedido do sátrapa ao rei, prestar relatório sobre as atividades na região e acon­

selhá-lo a respeito de questões locais.11.25-36. territórios repovoados. Todos os nomes de

cidades dessa lista tam bém aparecem em Josué 15,

exceto Dibom, Jesua e Meconá. A lista revela que os judeus ocuparam um a área relativamente grande. A

lista de Judá concentra-se no Neguebe e na Sefelá,

enquanto a lista de Benjamim cobre as montanhas da região central e a planície costeira. Esses territórios

podem indicar os parâmetros da província persa.

12.1-26 A lista dos sacerdotes e dos levitas12.8. encarregados dos cânticos de ações de graças.

H á um relato detalhado da organização do coral e da orquestra dos levitas feita por Davi em 1 Crônicas

15.16-24, porém, são raras as descrições relacionadas à

música na corte. É possível que houvesse um número igual de homens e mulheres no coral (ver Ed 2.65).

Alguns estudiosos argumentam que o coro, na verda­

de, recitava os cânticos. A lém desse texto, nada se sabe sobre as responsabilidades da pessoa encarrega­

da dos cânticos de ações de graças. O s músicos consta­vam da relação de funcionários do templo, o que é

atestado em inscrições neo-assírias, incluindo cantores

e cantoras. Um texto de Ninrode faz referência a um cantor principal.

12.24. conform e prescrito por D avi. As únicas instru­ções para a adoração relacionadas a Davi encontram-

se nos Livros de 1 e 2 Crônicas (ver 1 Cr 15-16; 23-29).

12.25. porteiros que vigiavam os depósitos ju nto às

portas. Para detalhes sobre a função dos porteiros, ver o comentário em 1 Crônicas 9.22-27.

12.27-47 A dedicação dos muros12.27. cím balos, harpas e liras. Para inform ações a

respeito de instrumentos m usicais, ver os comentários em 2 C rônicas 5.12 e 29.25. A term inologia usada

para instrum entos m usicais em Israel é sem elhante aos termos usados em Ugarit.

12.28, 29. povoados v iz in h o s. A s aldeias de onde provinham os cantores ficavam nos arredores de Jeru­

salém: Netofate, a sudeste de Jerusalém, Geba e Azma- vete, duas cidades benjamitas cerca de dez quilôme­tros ao norte de Jerusalém. Bete-Gilgal provavelmen­

te era o nome completo de Gilgal, perto de Jericó.

12.30. purificaram as portas e os m uros. Não se sabe ao certo o que seria essa purificação de portas e muros, visto que é um a idéia sem precedentes na Bíblia. O

termo usado aqui normalmente aplica-se a objetos usa­

dos em rituais ou a lugares onde se realizavam rituais. Contudo, as casas onde havia m ofo precisavam ser

purificadas (ver os comentários em Lv 14.34-53). Se a prim eira alternativa for a correta, isso poderia refletir

a concepção de Jerusalém como cidade santa. Mas no caso de referir-se a m ofo, a purificação teria como ob­

jetivo limpar a cidade das impurezas ocasionadas pela

destruição dos muros (especificamente provocada pela

contaminação de cadáveres ou práticas idólatras reali­zadas às portas ou sobre os muros, ou ainda pela corru­

pção m oral generalizada; ver Jr 13.27). O ritual de pu­rificação não é descrito aqui. Talvez os muros tenham

sido aspergidos, um conceito que era praticado junta­m ente com a lim peza das casas.

12.31-37. posição do prim eiro coro. As procissões co­

meçaram provavelmente nas proximidades da porta

do Vale, no lado oeste da cidade. O prim eiro coro avançou por cima do muro em direção ao sul (sentido

anti-horário) até a porta do Esterco, na extremidade

sul da cidade. Depois seguiu para o norte margeando o m uro até a porta das Á guas, através da estreita

passagem da porta do Vale. Desta forma, eles percor­

reram a m etade sul da cidade, a velha Cidade de D avi.

12.38, 39. posição do segundo coro. O segundo gru­

po seguiu Neemias no sentido horário, do oeste para

o norte e leste. Também partiram da porta do Vale e fizeram o circuito da extremidade noroeste da cidade.

A s portas e torres são m encionadas em N eemias 3, enquanto a porta de Efraim é mencionada em Neemias

8.16. A porta da Guarda é mencionada apenas nessa

passagem da Escritura e geralmente é considerada o ponto de encontro dos dois grupos, próximo ao com­

plexo do templo (o primeiro grupo estaria vindo da porta das Águas e o segundo, da porta das Ovelhas).

Cada grupo cam inhou cerca de um quilôm etro em cima dos muros. Nos muros modernos, essa distância seria da porta de Jaffa até a porta de Herodes, levando

cerca de trinta m inutos para ser percorrida.

13.1-31 As últimas reformas13.1-3. exclusão dos estrangeiros. A lei a que se re­

fere o texto encontra-se em Deuteronômio 23.3-6 e diz respeito à exclusão dos amonitas e moabitas da comu­

nidade israelita. Aqui, portanto, essa lei foi interpre­tada de form a mais abrangente, excluindo da comu­

nidade qualquer estrangeiro que não adorasse o Deus de Israel. A menção aos amonitas era especialmente

relevante, visto que a ascendência de Tobias, o amo- nita, era bem conhecida (ver Ne 2.10).

13.4, 5. acomodações para T obias. Para informações acerca de Tobias, ver o comentário em 2.10 (ver tam ­bém 6.17-19). Há relatos de que o rei persa Cambises

teria expulsado de modo semelhante os estrangeiros do complexo do templo em Neith, no Egito.

13.6,7. detalhes dos dois m andatos de N eem ias como

governador. Visto que esse trecho trata de outras ques­tões, sabe-se pouco a respeito dos detalhes dos man­datos de N eemias como governador de Judá. Neemias

ausentou-se de Jerusalém por um período indeter­minado. O fato de ter que pedir permissão para voltar

indica que Artaxerxes I provavelmente não tinha in­tenção de nom eá-lo para um segundo m andato no

cargo. O texto não esclarece se ele voltou para Jerusa­lém ocupando o m esm o cargo. É possível que ele

tenha retom ado devido às circunstâncias acima men­cionadas relacionadas a Tobias.

13.16. hom ens de Tiro. Os homens de Tiro eram os famosos mercadores fenícios (ver Ez 27.12-36; 28.16)

que com ercializavam em todo o m undo m editerrâ­neo. Os mercadores da Antigüidade chegaram à con­clusão de que não bastava ter caravanas viajando pe­

las cidades e povoados da região. Era preciso também estabelecer colônias mercantis nos grandes centros de comércio a fim de escoar suas mercadorias. Eviden­

tem ente havia em Jerusalém um grupo de pessoas provenientes de Tiro com perm issão para trabalhar

fora dos parâmetros da lei judaica. Ver o comentário em 10.31.

13.24. a língua de Asdode e a língua de Judá. Embo­

ra Asdode fosse uma cidade filistéia no período ante­rior ao exílio, não se sabe qual língua era falada lá

nessa época. É provável que fosse um dialeto origina­

do do aramaico, a língua diplomática e comercial do império persa, ou algum dialeto cananeu. A "língua

de Judá" refere-se ao hebraico bíblico (ver o comentá­rio em 2 Cr 32.18).13.28. Sam balate. Ver o comentário em 2.10.

E S T E R

V1.1-22 A rainha Vasti é deposta1.1. Xerxes. Xerxes é o nome grego do rei conhecido no texto hebraico como Assuero, que governou a Pérsia de 486 a 465 a .C . Seu Pai era Dario, o Grande, e sua m ãe, Atossa, filha de Ciro. Ele herdou um extenso império de seu pai, m as foi incapaz de expandir as fronteiras durante seu reinado, apesar de ter feito diversas tentativas. Sua política em relação aos gru­pos religiosos afastou-se drasticamente da tolerância que havia caracterizado Ciro e Dario. Xerxes era adepto do zoroastrism o, assim como seu pai, m as conside­rava a religião de m odo geral um foco de rebelião, tom ando-se conhecido por ter destruído muitos tem­plos, num a tentativa de reprim ir o nacionalismo. A escassez de novas conquistas tam bém criou tensões econômicas anteriormente inexistentes. As guerras com a G récia, em vez de abastecerem os tesouros com despojos e tributos e expandirem as oportunidades de comércio, sugaram a economia. Há mais de vinte ins­crições associadas a Xerxes, a mais importante delas é conhecida como a Inscrição Daiva. Para mais informa­ções, ver o comentário em Esdras 4.6.1.1. 127 p rov ín cias. O Im pério Persa era dividido geograficamente, para fins administrativos, em satra- pias, cujo núm ero variava entre vinte e trinta e uma, logo, não são a essas divisões que o texto se refere. É provável que essas províncias estivessem se referin­do a distritos administrativos m enores ou a povos que faziam parte do império.1.1. desde a ín d ia até a Etiópia. O território do Impé­rio Persa estendia-se desde o vale do rio Indus, no noroeste da índia, através de todo o Oriente Próximo até o norte da África, incluindo Egito, Líbia e Etiópia (em hebraico, Cuxe). A noroeste incluía a Trácia, a Cítia e toda a Ásia Menor, estendendo-se a leste até a Armênia, Urartu e Báctria.1.2. cidadela de Susã. A cidadela de dez acres locali­zava-se numa área elevada na parte norte do local, o Apadana. O palácio foi construído por Dario e usado por diversos de seus sucessores. Escavações no palácio identificaram muitas de suas características arquite­tônicas, inclusive um salão de audiências, onde os reis persas presidiam julgam entos. Era um prédio qua­drado com m ais de cem m etros de cada lado, com setenta e duas colunas de pedra de 20 a 25 metros de altura. A Grande Susã, localizada 360 quilômetros a leste da Babilônia, foi construída sobre três colinas

defronte ao rio Shaur e durante m uito tempo foi a capital do antigo Elão. A colina em forma de losango tem cerca de quatro metros de circunferência e esten­de-se por aproximadamente 250 acres. U m a área adi­cional de vinte acres com preende o quarteirão do mercado, do outro lado do vale, a leste. Susã era a capital dos reis persas apenas nos meses de inverno. Visto que as temperaturas atingiam até 60 graus no verão, a corte se deslocava para o norte, até Ecbatana.1.3. cronologia. Xerxes ascendeu ao trono após a morte de seu pai, em novem bro de 486. O terceiro ano de seu reinado, portanto, corresponde ao período de março de 483 até março de 482 a.C.. Os principais eventos ocorridos nesse período foram duas revoltas na Babi­lônia, uma em 484, mais fraca, e outra mais significa­tiva, em agosto de 482.1.3. o ficiais na lista de convidados. Na Antigüidade, os reis costumavam patrocinar grandes festas e banque­tes. O re i assírio A ssu rn asirpal declarou ter recep ­cionado quase setenta mil pessoas durante dez dias de festividades. A lista de convidados aqui é detalhada, incluindo pessoas de toda a Assíria, além de autorida­des estrangeiras, pessoas da capital (Kalah) e nobres da corte. Os banquetes persas eram famosos por acolher até 1.500 convidados. D entre os convidados do ban­quete oferecido por Xerxes encontravam-se membros da aristocracia da M édia e da Pérsia, nobres que ocu­pavam altos cargos na adm inistração, m ilitares de al­tas patentes e talvez os governadores das províncias.1.4. seis m eses de ostentação. O versículo 5 menciona outro banquete, oferecido para os moradores da cida­dela. N esse local habitavam apenas o rei, sua fam ília e os funcionários da administração, mas a terminologia usada aqui sugere que os oficiais de categorias inferiores que serviam na cidadela tam bém foram incluídos. Os seis meses de ostentação da riqueza do rei aconteceram entre os dois banquetes. A prática de ostentar o tesou­ro real tam bém pode ser vista em Israel (Is 39.2).1.5. jard im interno do palácio do rei. O jardim inter­no está relacionado ao bitan ("p alácio"), que é um termo técnico derivado do acadiano bitanu, indicando uma construção separada do complexo do palácio. O bitanu existente no palácio de Esar-Hadom media 45 por 15 m etros, sendo um a espécie de pavilhão ou terraço privativo do rei. Esse local muitas vezes era rodeado por um jardim particular onde havia árvores que proporcionavam frutos e uma agradável sombra, além de riachos, lagos e caminhos - semelhante a um

parque. Era comum encontrar ali árvores e plantas exóticas. Escavações revelaram jardins como esse em Pasárgada, a capital do império de Ciro, o Grande.1.6, 7. decoração do jardim. A área principal do local em que foi oferecido o banquete era um amplo pátio com colunas, fora do pavilhão, com piso de mosaicos. No mundo clássico, os mosaicos eram bastante popu­lares. O colorido das pedras era natural, visto que pedras de diferentes tonalidades eram importadas de vários lugares a fim de garantir o colorido do mosaico. Os primeiros pisos de mosaico eram feitos de seixos coloridos dispostos no formato de padrões geométri­cos. Posteriormente foi introduzida a técnica de cortar as pedras em cubos (marchetaria) para serem usadas na formação de figuras. Não foi encontrado nenhum exemplo de mosaico no Oriente Próximo anterior ao oitavo século a.C. (Gordion, na Ásia Menor), embora a arte de incrustação já fosse conhecida desde o tercei­ro milênio (como no padrão real de Ur). Algumas das palavras empregadas para descrever a decoração do jardim são obscuras, mas o exagero era evidentemen­te espetacular. Os tecidos citados aqui eram os m elho­res disponíveis na época e tingidos com as cores mais exuberantes e caras (ver o comentário em Nm 4.6). A grande variedade de vasos usados para servir vinho (e não "taças", como na NVI) era um a característica da etiqueta persa.1.6, m árm ore. A lgum as traduções m encionam ala­bastro. O mármore era importado da Grécia e não era usado no mundo antigo até sua introdução na Fenícia durante o período persa. Só foram encontradas evidên­cias arqueológicas de capitéis de mármore (parte supe­rior da coluna, geralm ente decorada) no Oriente Pró­ximo a partir do prim eiro ou segundo século d.C.. O alabastro oriental era um carbonato de cálcio semelhan­te ao m árm ore, d iferente do alabastro eu ropeu (de gesso), usado no período bíblico em toda a região para a fabricação de vasos finos e também na arquitetura de colunas. No "palácio inigualável" de Senaqueribe foi u tilizad a p rin cip alm en te a p ed ra ca lcária branca, em bora esse rei tivesse algum acesso ao alabastro.1.7, 8. protocolo quanto à bebida. Geralmente, nas recepções de gala, o protocolo estabelecia que todos deveriam beber quando o rei bebesse. No entanto,

aqui os convidados não foram obrigados a seguir essa orientação. Eles não precisavam acom panhar o rei, bebendo toda vez que ele bebesse; não havia nenhu­ma restrição, permitindo que todos bebessem à von­tade. Foram encontrados exemplares de taças de ouro ricamente adornadas que datam desse período; uma delas, bastante famosa, tem a forma de um leão alado cujo dorso se abre formando o cálice.1.9. Vasti. Não há nenhuma referência a Vasti na obra de Heródoto, nem nos registros persas contemporâne­os. Seu nom e é tipicamente persa, mas não há nenhu­ma informação adicional a respeito dele. No relato de Heródoto, a esposa de Xerxes é chamada de Amestris. Ela é a mãe de Artaxerxes, o sucessor de Xerxes, que nasceu por volta de 483. Ctesias, historiador e médico, registra diversos exemplos do poder cruel dessa rai­nha-mãe durante o reinado de Artaxerxes e também sua morte em 424. Alguns lingüistas acreditam que Vasti e Amestris seriam as traduções hebraica e gre­ga, respectivamente, do mesmo nome persa.1.9. banquete à parte para as m ulheres. Sabe-se que as rainhas persas possuíam muitos bens e provisões. Porém, não há nenhum registro de mulheres comen­do separadamente dos homens ou de banquetes ex­clusivos para cada um desses grupos.1.9. o harém de Xerxes. Xerxes adotava um a política de monogamia, m as isso não im pedia que tivesse um harém. Embora ele tivesse apenas uma esposa de cada vez, seu harém tinha m ais de 360 concubinas. Seus inúm eros casos amorosos foram igualm ente bem do­cumentados e eram motivo de m uita intriga na corte.1.10. alegre por causa do vinho. Heródoto relata que os persas costumavam tomar importantes decisões en­quanto estavam bêbad os, confirm and o-as depois, quando ficavam sóbrios.1.10. sete oficiais. E provável que esses oficiais fossem eunucos. Os eunucos eram altamente valorizados na administração, ocupando um a variedade de cargos. A grande dem anda por eunucos fazia com que os jovens fossem incluídos no pagamento de tributos à Pérsia a fim de serem castrados e treinados para o serviço no governo. Eles não tinham fam ílias para que não tivessem a atenção distraída de suas tarefas. Geralmente eram encarregados do cuidado e da su­

HERÓDOTOHeródoto foi um historiador grego que viveu no quinto século a.C., famoso por suas Histórias (escritas por volta de 445 a.C), que documentam a história das Guerras Greco-Pérsicas, também chamadas Guerras Médicas, incluindo as batalhas de Maratona, Term ópilas e Salam ina. Como contemporâneo dos eventos relatados, ele apresenta inform ações valiosas concernentes à história e à cultura da Grécia e da Pérsia, durante esse período. Embora acusado por aceitar com facilidade a veracidade de boatos ou rumores, sua obra é de grande importância tanto pelo registro dos eventos quanto pelas descrições que apresenta (como da cidade da Babilônia). Acima de tudo, Heródoto é considerado um grande contador de histórias. Embora algumas vezes seus relatos sejam contraditórios, ele é considerado um importante cronista de eventos, lugares e práticas. Existem inúmeras passagens no Livro de Ester que podem ser comparadas às informações contidas na obra de Heródoto. Algumas dessas comparações ajudam, muitas vezes, a esclarecer alguns dados encontrados no Livro.

pervisão do harém real, pois por serem castrados, não apresentavam risco às mulheres do harém e nem po­deriam gerar filhos com elas que pudessem ser con­fundidos com herdeiros do rei. Assim, a probabilida­de de se envolverem em conspirações seria menor, porque não teriam herdeiros para colocar no trono. Os eunucos já exerciam funções administrativas no go­verno da A ssíria, U rartu e M édia antes do período persa. Quatro dos nomes mencionados nessa lista fo­ram confirmados em documentos elamitas, portanto, podem ser considerados nomes autênticos do período. Heródoto refere-se ao chefe dos eunucos de Xerxes como Hermótimo. Ao descrever as pessoas que fre­qüentavam a corte de Xerxes, H eródoto refere-se a eles como aduladores e parasitas, que diziam ao rei somente o que achavam que ele queria ouvir.1.11. exibir a beleza da rainha. A lguns supõem que Vasti tenha sido constrangida a fazer algo indiscreto ou m oralmente comprometedor (como a antiga interpre­tação rabínica presum ia), mas provavelm ente não se trata disso. Em algumas sociedades orientais, o harém ficava cuidadosam ente isolado e a lei proibia que as pessoas olhassem para o rosto das m ulheres que ali viviam . N essa época, as m ulheres persas se desloca­vam de um lugar para outro em carruagens fechadas, para não se exporem ao olhar das pessoas. Se for esse o caso, como Josefo relata, Xerxes estaria pedindo a Vasti que se rebaixasse e assumisse um a conduta indigna à sua posição real. Expor-se ao olhar de toda a população da cidadela seria um a humilhação muito m aior do que não se curvar diante de um oficial respeitado, mas seria uma quebra de protocolo semelhante.1.13,14. consultar especialistas em questões de direi­to e justiça. H eródoto relata que os reis persas tinham uma equipe de juizes com cargos vitalícios que asses­soravam o rei na interpretação das leis. Xenofonte tam bém confirm a a existência desse grupo de sete conselheiros.1.19. lei irrevogável da Pérsia e da M édia. Não há ne­nhum a referência a esse tipo de lei fora dos Livros de Daniel e Ester. Entretanto, uma tradição anterior à épo­ca de H am urabi (século dezoito a.C.) reconhecia que um juiz não poderia voltar atrás num a decisão depois de havê-la tomado. N esse sentido, poderia tratar-se de um a regra e não de uma lei. As fontes gregas são confli­tantes, visto que Heródoto indica que os reis persas des­frutavam de significativa liberdade para tom ar suas decisões, enquanto Diodoro Siculus m enciona uma si­tuação em que Dario III foi im pedido de voltar atrás. Certamente nenhum oficial de posição inferior poderia revogar os decretos do rei persa, e o próprio rei conside­raria humilhante voltar atrás e reconsiderar algo que já havia decretado. O código de honra real considerava inaceitável que o rei anulasse uma ordem.

1.19. o castigo de V asti. A punição decretada para Vasti não se refere à execução nem ao divórcio. Ela apenas foi rebaixada de posição no harém, de forma a não mais desfrutar do privilégio de estar na presença do rei Xerxes, na corte. Isso resultou efetivamente na perda de poder e prestígio e removeu-a de uma posi­ção em que poderia esperar obter favores do rei.1.20. alcance do decreto real. O Im pério Persa era famoso por sua rede de comunicação - semelhante ao sistema de mensageiros a cavalo do oeste americano, m ais de dois m ilênios m ais tarde. De acordo com Heródoto, esse sistema se caracterizava pela m anu­tenção de postos onde era feita a troca do mensageiro e do cavalo a cada dia de viagem. Heródoto acrescen­ta ainda que nem a neve, nem a chuva, nem calor ou escuridão poderiam im pedir esses m ensageiros de cumprir sua tarefa.

2 .1-18 A coroação da rainha Ester2.1. intervalo de tem po. Presume-se de modo geral que a reunião mencionada no capítulo 1 envolveu o planejamento da campanha contra os gregos. Heródoto refere-se a um a reunião sem elhante a essa em que Xerxes fez um discurso inflamado incitando um a ação m ilitar contra a Grécia. A cam panha teve início na primavera do ano de 481, o quinto ano do reinado de Xerxes. Sua atenção concentrou-se no ocidente duran­te mais de dois anos, na época em que gregos e persas lutavam nas batalhas de Termópilas (28 de agosto de 480), Salamina (22 set/480), Platéia e M ícale (agosto 479). No outono de 480, Xerxes deixou a Grécia, mas passou o inverno em Sardes, na costa ocidental da Ásia Menor, voltando para Susã no outono de 479, por volta do sétimo mês do sétimo ano de seu reinado. Talvez durante esse inverno que passou em Sardes, Xerxes tenha sentido falta de V asti e colocado em prática um plano para substitui-la.2.3. busca por beldades. H á registros dessa prática apenas na época do rei Chosroes II (dinastia sassânida, cerca de 600 d.C.), quando cada sátrapa foi incumbido de encontrar m oças bonitas e enviá-las ao rei.2.3. vid a no harém . A vida no harém real propor­cionava algumas vantagens e desvantagens. Se por um lado essas m ulheres desfrutavam de todo conforto m aterial e eram aduladas e m im adas de diversas maneiras, por outro lado não havia a m enor possibili­dade de desenvolverem um relacionam ento íntimo com um marido. As ocasiões em que desfrutavam de encontros íntimos com o rei eram raras e não havia possibilidade de desenvolver um companheirism o. Sem dúvida, elas desfrutavam da camaradagem das m ulheres do harém ou algumas vezes dos eunucos encarregados do harém. Mas o relacionamento con­

jugal, o privilégio de formar um a fam ília e criar os filhos eram prazeres negados a essas mulheres.2.5. tribo de Benjam im , bisneto de Quis. A lista de nomes citada aqui é uma verdadeira "árvore genea­ló g ica" - o rei Sau l tam bém p ertencia à tribo de Benjam im e era descendente de Quis, e Sim ei é co­nhecido como sendo parente de Saul, na época de Davi (2 Sm 16.5). É difícil saber se Quis e Sim ei men­cionados aqui seriam os mesmos personagens dos Li­vros de Sam uel ou se, ironicam ente, teriam nomes iguais. Considerando-se o largo em prego da ironia em todo o Livro de Ester, a segunda alternativa não seria despropositada. Para outras analogias intrigan­tes, ver o comentário em 3.1.2.6. perspectiva cronológica. Os acontecimentos nar­rados no capítulo 2 se passam em 479/478 a.C.. O exílio de Joaquim sob Nabucodonosor aconteceu em 597 a.C., cerca de 120 anos antes. Por essa razão, é lógico supor que ele seria um dos ancestrais alistados que foram levados cativos em 597, e não M ardoqueu.2.9. com ida especial. Esse comentário simplesmente indica que Ester foi submetida a uma dieta específica fornecida pela cozinha do palácio.2.12. tratam ento de beleza. A suposição m ais comum é que nesse tratam ento a m ulher deveria ser diaria­mente exposta ao vapor de incensos para que sua rou­pa e pele absorvessem o aroma. Pesquisas arqueológi­cas descobriram vários vaporizadores de cosm éticos que provavelmente eram usados dessa forma. Apesar dos detalhes apresentados na narrativa, essa prática só foi confirmada nos tempos modernos. Era comum tam­bém o uso de ungiientos para hidratar a pele, que res­secava com facilidade no clima árido do O riente Pró­ximo. A m irra era im portada do sul da Arábia (atual Somália e Iêmen), onde era produzida juntam ente com a resina extraída de arbustos de comífora.2.14. concubinas. Concubinas eram moças que se ca­savam sem um dote. Elas não tinham sido levadas ao harém devido a alianças políticas com outros países nem por algum acordo firm ado entre a coroa e as famílias abastadas. As concubinas eram sustentadas como membros da família real, mas era bastante im­provável que uma delas desfrutasse da atenção do rei no futuro (ver o comentário em 2.3).2.16. contexto cronológico. Xerxes havia voltado de sua estada em Sardes (por causa da campanha contra os gregos) no sétimo mês do sétimo ano de seu reina­do (ver o comentário em 2.1). Ester foi levada para o palácio do rei no décimo mês daquele mesmo ano, ou seja, entre janeiro/fevereiro de 478. Heródoto faz pou­cas referências a Xerxes após o término da campanha contra os gregos, portanto, não há registro detalhado dos eventos desse período.

2.17. Ester nos registros persas. Não há registros persas ou relatos de historiadores gregos que façam menção a Ester ou a qualquer evento relacionado a ela.

2.19-23Mardoqueu descobre uma conspiração2.19. porta do palácio real. Escavações em Susã reve­laram um enorme portão cerca de cem metros a leste do palácio principal. A passagem até o portão tinha cerca de quinze metros de comprimento. Quatro tor­res adornavam a parte externa da estrutura e quatro colunas (com cerca de 12 metros de altura) decoravam a área de m ais de 3500 metros quadrados por onde um corredor levava à entrada do complexo do palá­cio. Foi encontrada uma inscrição no local, colocada por Xerxes, identificando seu pai, Dario, como o cons­trutor do portão.2.23. foram en forcad os (pendurados em postes, ou em p alad o s). "P o s te s " é um term o de certa form a interpretativo, visto que o texto hebraico indica vaga­m ente um objeto de m adeira. Pelas inform ações que temos da prática persa na época, é improvável que essa palavra se refira ao m odo de execução propriamente. O m ais provável é_que os dois oficiais tenham sido empalados e os corpos colocados em local público. Essa prática era bastante usada na Pérsia, como na execução de Inaros (líder de um a revolta líbia) por A m estris, durante o reinado de seu filho A rtaxerxes. A vítim a desse tipo de execução era privada de um enterro de­cente, e seus restos ficavam expostos para serem devo­rados por aves e insetos. A morte por enforcam ento é um a form a de execução não com provada no m undo antigo. Se o texto está se referindo a uma forma de exe­cução, possivelmente seria pela crucificação (conforme a in terp retação da Sep tu ag in ta ), id e n tificad a por Heródoto como uma prática persa. Mas é preciso obser­var que para Heródoto, mesmo a crucificação poderia ser feita depois que a vítim a estivesse morta.2.23. registros históricos reais. Os arquivos reais eram compostos de anais e crônicas. Os anais ou registros reais eram mantidos em todo o antigo Oriente Próxi­mo, sendo a maioria proveniente dos reis hititas da metade do segundo milênio e da Assíria e da Babilônia dos séculos nono ao sexto. Os anais continham inscri­ções reais com relatos detalhados de campanhas m ili­tares e as crônicas da corte registravam os eventos importantes ocorridos a cada ano. O s anais da Pérsia Aquemênida ainda não foram descobertos pelas esca­vações arqueológicas.

3.1-15O plano de Hamã3.1. Hamã, descendente de Agague. Assim como a identificação de M ardoqueu foi relacionada ao perío­do do rei Saul (ver o comentário em 2.5), Hamã agora

é apresentado de modo a ser associado a um antigo personagem da época de Saul, Agague, rei dos amale- quitas (ver 1 Sm 15.7-9, 32, 33).3.1. posição de Hamã. Apesar de o Livro de Ester não conferir nenhum título a Hamã, os estudiosos geralmen­te lhe concedem o título de vizir. Relevos persas apre­sentam ilustrações de um oficial de alta posição na presença do rei, designado hazarapatish (geralmente tra­duzido como "quiliarco") segurando as arm as do rei. Esse oficial com andava a guarda real e determ inava quem teria acesso ao rei. Havia também alguns impor­tantes oficiais na corte persa conhecidos como "olhos e ouvidos do rei". Xenofonte relata que os oficiais encar­regados dessa função observavam os súditos das pro­víncias e depois apresentavam um relatório ao rei.3.2. hom enagem protocolar. H eródoto relata que os persas de igual posição costumavam se saudar com um beijo na boca. Alguém de posição um pouco inferior deveria saudar um superior com um beijo no rosto. Se a distância social fosse muito grande, o protocolo exi­gia que a pessoa em posição inferior se prostrasse. É im provável que o fato de M ardoqueu não se curvar diante de H am ã tenha algo a ver com restrições reli­giosas, visto que o texto não apresenta nenhum indí­cio de que M ardoqueu tivesse problemas em se pros­trar diante do rei. Os israelitas eram conhecidos por mostrar deferência através desse tipo de atitude reve­rente. Por envolver respeito e submissão, a reverência poderia ser considerada um ato de adoração, mas não é o caso aqui, v isto que não há n enhu m ind ício de endeusamento no contexto. Possivelmente Mardoqueu não estava disposto a reconhecer a diferença de status entre ele e Ham ã, relacionada ao ato de prostrar-se.3.7. c ro n o lo g ia . O décim o segundo ano de X erxes corresponde ao ano de 474 a.C., ou seja, Ester já ocupa­va o trono de rainha há aproximadamente quatro anos. O mês de nisã começava em março e o m ês de adar era o décim o segundo mês, com início em fevereiro.3.7. lançaram o pu r. Pur(u) é a palavra babilónica para sortes. Os arqueólogos descobriram um exem­plar desses cubos de argila. O dado de Iahali, vizir de Salmaneser III (nono século), m ede cerca de 2,5 centí­metros de cada lado. Embora tenha o formato de um dado (anterior ao terceiro milênio), esse cubo contém um a inscrição (orações para dar sorte) em vez de pon­tos. O objetivo de lançar os dados era determinar se aquele seria um dia favorável para o tipo de ação que H am ã planejava realizar. A lguns supõem que uma forma de determinar o mês seria lançar o pur sobre um tabuleiro com o nome de cada mês e ver onde ele pararia. Geralmente, para ser considerada válida, a mesma resposta precisaria ser repetida em três lança­mentos consecutivos.3.8. 9. intolerância dos persas. Os persas geralmente são retratados pelos historiadores como um povo re­

lativamente tolerante. Essa teoria é fundamentada ba­sicamente na política de Ciro que permitiu aos grupos de exilados voltarem para sua terra natal e reconstru­írem seus templos. M as é preciso observar que essa atitude não foi motivada pela tolerância. N a verdade, havia fatores econôm icos, políticos e religiosos por trás desse procedim ento. Sessenta anos haviam se passado desde o decreto de Ciro e se tom ara óbvio que toda aquela tolerância não havia elim inado as revoltas. No mundo antigo, de modo geral, a perse­guição religiosa era m otivada por questões políticas ou econômicas (talvez hoje não seja diferente). À me­dida que Ham ã apresenta o problema, fica evidente que não é um grupo religioso ou um a prática de culto que deve ser erradicada, e sim um grupo étnico que preserva um alto grau de nacionalismo, capaz de sus­citar uma rebelião.3.9. quantidade de prata providenciada por Hamã. Aquantidade de prata que H amã se comprometeu a dar era de aproxim adam ente trezentas e cinqüenta tone­ladas, ou mil talentos de prata, de acordo com o padrão estabelecido por Dario. No m ercado atual esse valor corresponderia a cerca de 5,5 milhões de dólares. Para se obter uma compreensão mais adequada dessa quan­tia, é preferível comparar esse valor a quantidades da época. Heródoto relata o valor dos tributos anuais pa­gos pelas vinte províncias a Dario, sendo que a quan­tia mais elevada era paga pela província Assíria-Babi- lônia: mil talentos (trinta e três toneladas). O total de impostos arrecadados pelas vinte províncias equivalia a treze m il talentos de prata (pelo padrão de Dario). Portanto, o valor que H am ã considerava necessário para viabilizar a ação m ilitar que ele havia planejado era bastante elevado (a última frase do v. 9 deixa claro que o dinheiro serviria para financiar seus planos). Outra comparação ainda mais interessante seria com a contribuição oferecida por Pítio, o lídio, a Xerxes para financiar o esforço de guerra na Grécia. Heródoto apre­senta Pítio como o segundo homem m ais rico do m un­do (depois de Xerxes), com uma fortuna avaliada em 16.400 talentos de prata, que ele colocou inteiramente à d isp o s ição de X erxes. C om o co m p aração fin a l, Tucídides relata que Atenas, em seu período de apo­geu, tinha um a reserva total de nove m il talentos de prata (mais de dez mil pelo padrão persa).3.10. anel-selo. Evidências atuais sugerem que os pri­m eiros reis persas usavam selos cilíndricos para as operações comerciais do império e anéis-selo ou sinetes para assuntos pessoais, em bora o uso de anéis-selo estivesse aumentando nesse período. O anel-selo tra­zia o selo oficial do rei através do qual ele autorizava os negócios do império. Apenas alguns desses anéis foram encontrados por arqueólogos. Os selos geral­m ente eram feitos de calcedônia e retratavam ima-

gens do rei realizando feitos heróicos (como matando feras) sob a proteção do disco solar alado (representan­do a divindade Ahura Mazda). M uitas tabuletas da cidade fortificada de Persépolis contêm impressões de estampas de selos.3.11. fique com a prata. A expressão traduzida como "fiq u e com a p rata" na verdade diz "a prata é sua" (como diversos comentários observam), sugerindo que Xerxes aprovou os gastos com os planos de Hamã (note que 4.7 supõe que o dinheiro havia sido transferido). Não fica claro se H am ã estaria financiando seu plano com recursos extraídos de sua fortuna pessoal ou se teria um a verba à sua disposição. Cada distrito dispunha de seu próprio tesouro e de um corpo de funcionários. No caso, de H amã fosse um oficial de um a das províncias, ele poderia transferir fundos do tesouro provincial para o tesouro real, e encam inhá-lo para financiar a cam ­panha militar patrocinada pela coroa. Documentos do tesouro de Persépolis trazem ilustrações sobre a função do tesoureiro ao contratar trabalhadores e desembolsar fundos para o pagam ento.3.12. cronologia. A Páscoa, a grande festa da liberta­ção dos israelitas, era celebrada no dia catorze do mês de nisã. O decreto foi escrito no dia treze de nisã, portanto, as cartas começaram a ser distribuídas no dia catorze. Deste m odo, no momento exato em que os judeus celebravam a libertação do povo das mãos de um grande inimigo do passado, os egípcios, eles tomaram conhecimento da existência de um novo pla­no para destrui-los, elaborado por um novo inimigo.3.13. natureza do decreto. Fica evidente, a partir do versículo nove, que havia intenção de se colocar em prática um a ação m ilitar form al (a expressão "para que se execute esse trabalho" perm ite concluir isso; essa m esm a expressão é usada em 9.3 referindo-se àqueles que ajudaram os judeus). Visto que cada uma das províncias fornecia tropas para o exército persa, havia um grande núm ero de guarnições posicionadas em cada província. Não devemos concluir que o de­creto se destinava ao cidadão comum , concedendo permissão para qualquer pessoa que quisesse matar os judeus. O mais provável é que as tropas das pro­víncias tenham sido colocadas em alerta para desen­cadearem um a ação m ilitar conjunta no dia previsto. Essa ação não seria lim itada necessariam ente a um "ú nico" dia. A melhor tradução para essa expressão hebraica seria "n o mesmo dia", indicando tratar-se de um a ação coordenada, ou seja, todas as províncias agiriam ao mesmo tempo.

4.1-17O pedido de Mardoqueu a Ester4.1. rasgar as roupas, vestir-se de pano de saco, jogarcinzas. A prática de jogar pó, terra ou cinzas sobre a

cabeça era um sinal típico de luto observado no perí­odo que vai do Antigo ao Novo Testamento, também presente na Mesopotâmia e em Canaã. Diversos ritos de luto tinham como objetivo a identificação dos vivos com os mortos. É fácil perceber que colocar cinzas ou pó sobre a cabeça e rasgar as roupas eram um a espé­cie de representação simbólica de sepultamento e de­composição. O pano de saco era feito de pêlo de bode ou cam elo, resultando num a vestim enta rú stica e desconfortável. Em muitos casos, o pano de saco era um tipo de roupa usada diretam ente sobre a pele, que cobria apenas as costas. As manifestações de luto comuns entre os persas, de acordo com Heródoto, in­cluíam rasgar as vestes, chorar e lamentar-se.4.2. restrições para transpor a porta real. Heródoto afirm a que a porta do rei era o lugar onde ficavam os suplicantes, muitas vezes chorando, quando sofriam alguma injustiça criada pelo sistema e gostariam queo rei retificasse. É razoável que existissem restrições quanto ao acesso desses suplicantes ao complexo do palácio, embora não se tenha notícia de uma lei assim em fontes antigas.4.4. criadas e oficiais (eunucos). Essas eram as duas ca­tegorias de assistentes-pessoais da rainha. Para mais in­formações sobre os eunucos, ver o comentário em 1.10.4.11. acesso limitado ao rei. Para que a corte funcio­nasse de forma adequada, era necessário restringir o acesso ao rei. Heródoto oferece algumas indicações de que os governantes persas seguiam essa regra, mas não apresenta nenhum detalhe concernente à pena de m orte e ao cetro de ouro. M uitos com entaristas estranham o fato de Ester não ter tentado obter uma audiência com o rei pela form a apropriada ou mesmo esperado mais tempo para ver se seria chamada (ain­da faltavam alguns meses para chegar à data estipu­lada para o extermínio dos judeus). Porém, se Hamã realmente era o hazarapatish (ver o comentário em 3.1), ela teria de fazer os acertos da audiência com ele, o que colocaria em risco todo o plano.4.11. cetro de ouro. Relevos persas retratando cenas de audiência m ostram os reis segurando longos cetros.4.11. falta de acesso ao rei. Em bora alguns possam achar que como rainha e esposa principal Ester ti­vesse muitas oportunidades de trocar algumas pala­vras com o rei, não era bem esse o caso. A rainha não compartilhava regularm ente da m esm a cama que o rei, nem tom ava refeições com ele, pois tinha seus próprios aposentos. Em bora pudesse ser convidada para juntar-se ao rei no salão de audiência, ela não tinha livre acesso à presença do rei.4.16. jejum . No Antigo Testam ento, o je jum de modo geral ligava-se a um pedido dirigido a Deus, baseado no princípio de que a importância do pedido levava o indivíduo a preocupar-se tanto com sua condição espiri­

tual que as necessidades físicas eram deixadas de lado. N esse aspecto o ato de je ju ar fu ncion ava com o um processo de purificação e hum ilhação diante de Deus (SI 69.10).

5.1-14 O pedido de Ester e o plano de Hamã5.1. topografia do palácio. Visto que o rei estava assen­tado no trono, trata-se sem dúvida do salão de audiên­cias. Apesar das amplas escavações em Susã e em pa­lácios de outras localid ades persas, a term inologia usada aqui não permite identificar quais seriam essas áreas do palácio. Ver o comentário em 1.2 a respeito das descobertas feitas no complexo do palácio em Susã.5.3. Xerxes dispõe-se a atender ao pedido. Heródoto m enciona duas ocasiões em que Xerxes m ostrou-se favorável a atender qualquer tipo de pedido e acabou se arrependendo. N a prim eira ocasião, seu ofere­cimento visava obter os favores de sua suposta aman­te, Artaynte. Desafortunadam ente, ela pediu a bela túnica do rei, feita à mão por sua esposa, Amestris, que assim tomou conhecimento do caso amoroso de Xerxes e planejou vingar-se. Artaynte ganhou a túni­ca quando, no dia do aniversário do rei, recebeu a garantia de que o pedido feito por sua mãe (que pro­vavelmente estava por detrás de toda a trama) seria atendido. Amestris mandou mutilar Artaynte de for­ma brutal, fazend o com que seu m arido, que era irm ão de Xerxes, incitasse um a revolta. A literatura neo-assíria apresenta um oferecimento semelhante ao de Xerxes, em que um rei assírio mostrou-se disposto a dar metade do reino a qualquer pessoa que curasse a enfermidade de seu filho.5.4. banquetes no m undo persa. Os banquetes eram bastante populares entre a realeza persa, e também dispendiosos. Heródoto descreve um banquete típico de aniversário em que um animal inteiro foi servido (boi, cavalo, avestruz, camelo ou jumento). Os persas apreciavam de modo especial as sobremesas e a abun­dância de vinho. Criados e músicos cuidavam de to­dos os detalhes dos banquetes, que se caracterizavam pela discrição e decência e não pela falta de respeito ou incentivo à glutonaria.5.14. forca. Ver o comentário em 2.23.

6.1-14 Hamã é obrigado a honrar Mardoqueu6.1. circunstâncias no Livro de Ester. No Livro de Ester, as circunstâncias são um importante tema lite­rário. Enquanto homens como Ham ã tentavam mani­pular as circunstâncias em seu próprio benefício atra­vés de esquemas e presságios, os judeus viam as cir­cunstâncias sendo dirigidas pelas m ãos de um Deus que age por trás dos bastidores. Assim, é interessante notar as palavras que Heródoto colocou na boca de

Artabanus, um conselheiro de Xerxes, às portas do que se tornaria um a desastrosa campanha contra os gregos: "O s homens estão à m ercê das circunstâncias, que nunca se curvam à sua vontade". H am ã estava perto de aprender essa mesma lição.6.1. Livro das crônicas. Ver o comentário em 2.23.6.8. m anto do rei. O manto do rei persa é descrito por Xenofonte como púrpura com bordados dourados. Na obra de Plutarco intitulada Temístocles, Demarato, o rei exilado de Esparta (contem porâneo de Xerxes), pede como presente o direito de cavalgar pelas ruas de Sardes usando a coroa do rei persa. Plutarco tam ­bém relata que Artaxerxes um a vez honrou um pedi­do como esse, m as não perm itiu que seu m anto fosse usado. O manto de Xerxes ficou famoso ao ser descrito num a das histórias de Heródoto como um presente fatal e causador de inveja dado à amante do rei (ver o comentário em 5.3).6.8. cavalo com o brasão do rei na cabeça. Relevos persas em Persépolis retratam um cavalo com um adorno na cabeça preso entre as orelhas.

7.1-10 A queda de Hamã7.7. jard im do palácio. Esse banquete provavelmente foi oferecido no mesmo local do banquete do capítulo1 (ver o comentário em 1.5).7.8. assento onde Ester estava reclinada. Os persas costumavam reclinar-se em divãs enquanto tomavam as refeições. H am ã, desesperado, violou um rígido protocolo que estabelecia regras para qualquer pes­soa que se aproxim asse da rainha. Se alguém fosse encontrado no mesmo divã em que um membro do harém estivesse reclinado, as conseqüências seriam terríveis. Na Assíria do século onze, o protocolo esta­belecia que as pessoas deveriam m anter a distância m ínima de sete passos de um membro do harém.7.8. cobriram o rosto. Os gregos e romanos geralmente cobriam a cabeça dos criminosos condenados à morte, mas se esse fosse o caso aqui a palavra usada seria "ca­beça" e não "rosto". N a elegia assíria, cobrir o rosto era um a forma de tratamento concedida aos mortos. Visto que o enforcamento era considerado um procedimen­to dispensado ao cadáver e não uma forma de execução (ver o comentário em 2.23), o fato de Ham ã ter o rosto coberto pode ser um indício de que teria morrido. O rei não em itiu um a sentença de morte.

8.1-17 O decreto do rei em favor dos judeus8.1. Ester recebe os bens de Hamã. Heródoto relata vários exemplos de confisco de propriedades de pes­soas condenadas e executadas por ordem da coroa. O fato de Xerxes sentir-se propenso a dar a Ester tais bens é demonstrado por outro exemplo de Heródoto.

Após Artaynte ter pedido o manto que Am estris ha­via confeccionado para Xerxes (ver o comentário em 5.3), o rei ofereceu a ela cidades inteiras, grandes quantidades de ouro e até mesmo seu exército pes­soal, na tentativa de conseguir o manto de volta.8.1. M ardoqueu nos registros persas. Há um oficial p ersa , M ard u ka, m en cion ad o num a ta b u leta de Borsipa, que às vezes é identificado pelos comentaris­tas como Mardoqueu. M arduka foi um contador que viveu nos últimos dias do reinado de Dario e no início do reinado de Xerxes. Esse nome aparece freqüente­mente nas tábuas elamitas de Persépolis, entre 505 e 499 a.C. relacionado a diversos indivíduos. Não há como provar se algum deles seria M ardoqueu antes de ser promovido, assim como nenhuma fonte refere- se a ele na alta posição em que o Livro o coloca.8.2. anel-selo. Ver o comentário em 3.10.8.9. cronologia. O dia 23 de sivã estava inserido no mês de junho de 474 a.C., setenta dias após a promul­gação do edito.8 .9 ,10 . Com entários a respeito das províncias e da ex­tensão do império podem ser encontrados em 1.1. Para um com entário sobre o anel-selo, ver 3.10. A respeito do serviço de m ensageiros, ver o comentário em 1.20.8.11. estratégia do decreto. Visto que o edito anterior não poderia ser revogado, a estratégia foi anular o primeiro pela ação do segundo. O primeiro decreto havia retirado dos ju deu s a proteção do im pério e garantido o financiamento da ação militar contra eles. O segundo perm itiu que os judeus form assem suas próprias milícias, elim inando assim a proteção real (embora não os recursos) daqueles que haviam sido contratados para lutar contra os judeus. Com a retira­da da proteção real, a ação contra os inim igos dos judeus não mais seria considerada rebelião contra a coroa. Essa m edida colocava o grupo de H am ã na mesma situação dos judeus, tom ando-o um alvo que podia ser atacado sem temer represálias do governo.8.15. vestes de M ardoqueu. As cores e o material das vestes de M ardoqueu o identificavam com a nobreza e com um a elevada posição política. A s cores reais só podiam ser usadas por aqueles intimamente relacio­nados ao rei. A "coroa" de ouro não significa que ele iria governar, e sim um favorecimento diante do rei. H eródoto relata que Xerxes recom pensou o coman­dante de um navio cujo conselho evitara que o navio afundasse, dando-lhe um a coroa de ouro. Por ser de ouro, não poderia ser apenas um turbante. Mas como esse tipo de adorno geralmente ficava preso no alto da cabeça, o m ais provável é que fosse um a tiara ou diadema usado na testa.8.17. tornaram -se judeus. Essa é a única vez que essa expressão aparece na Bíblia e há várias interpretações para essa ocorrência. As pessoas de outros povos po­

deriam "tom arem -se judeus" pela conversão, por se declararem judeus ("se fizeram judeus" por causa dos benefícios em potencial) ou por se aliarem aos judeus. A última alternativa explicaria a subseqüente vitória obtida pelos ju deu s à m edida que m ais pessoas se engajavam em seus grupos de milícia.

9.1-17A vitória dos judeus9.1. cronologia. A data corresponde ao final de feve­reiro ou inicio de março do ano de 473 a.C..9.1-10. inim igos dos judeus. Os inimigos dos judeus eram aqueles que ainda estavam engajados no plano de Hamã. Eram grupos de mercenários ou tropas or­ganizadas por Ham ã e financiadas por ele para essa ação militar. Os versículos 7-10 sugerem que os filhos de H am ã deram prosseguim ento ao plano do pai. Heródoto relata que durante o reinado de Dario um oficial de alta posição e próximo ao rei foi julgado por estar envolvido num a revolta. Além disso, Heródoto conta a fascinante história de dois magos que tenta­ram assum ir o trono após a m orte de Cam bises e foram assassinados por Dario e outros sete conspira­dores. Esse dia acabou se transformando num a revol­ta pública contra todos os magos, em que m uitos deles foram mortos pela população enraivecida. Heródoto até mesmo relata que essa data passou a ser comemo­rada como um importante feriado no calendário persa.

9.18-32A comemoração do purim9.18-32. Purim . Em bora essa passagem relate as ori­gens da festa do Purim, as evidências da prática dessa celebração só surgiram bem mais tarde. O livro apócrifo de 2 M acabeus (15.36) é o primeiro a se referir a essa comemoração fora do Livro de Ester. Nessa citação, o dia treze de adar é identificado como a véspera do dia de Mardoqueu. No primeiro século d.C. o historiador Josefo chamou esse feriado de phouraious, e pouco de­pois disso, o M isná empregou o termo Purim. 9.24-26. pur. Ver o comentário em 3.7.

10.1-3 Mardoqueu10.2. livro das crônicas dos reis da M édia e da Pérsia.Ver o comentário em 2.23.10.3. posição de M ardoqueu. Apesar de ser identifi­cado como o segundo depois do rei, não há nenhuma indicação de que M ardoqueu tenha ocupado algum cargo oficial. O comentário de 3.1 apresenta uma dis­cussão, relacionada à posição de Ham ã, sobre alguns postos importantes que poderiam ser ocupados pelo segundo depois do rei.

Livros poéticos e de sabedoria

IntroduçãoO leitor moderno, habituado ao Livro de Salmos, percebe certa semelhança ao ler alguns materiais egípcios ou babilónicos. Os atributos pelos quais a divindade é louvada, as questões que induzem à oração, as preocupações pessoais e coletivas e até mesmo o estilo de lingua­gem dão um tom de familiaridade. Em quaisquer das sociedades do antigo Oriente Próximo, os deuses eram considerados responsáveis pela manutenção da justiça e se ocupavam dela no âmbito da vida humana. Isso era freqüentemente tema de louvor e a base das petições. Além disso, todos os povos compartilhavam da condição humana e buscavam alívio para o sofri­mento comum provocado pelas doenças, opressão, desamparo e dificuldades da vida.

Hinos e oraçõesApesar das semelhanças superficiais, pode-se perceber diferenças profundas entre a visão de mundo de Israel e a de seus vizinhos, a partir desse material literário. Quando são feitos pedidos por libertação e salvação, ou misericórdia e graça, ficam evidentes certos pressupos­tos acerca de como o mundo divino funciona e como interage com a humanidade. Tanto os israelitas como seus vizinhos acreditavam que sofriam pela falta de atenção da divindade. No mundo antigo, de modo geral, acreditava-se que a divindade estava desatenta porque tinha sido ofendida. Visto que o comportamento ético não desempenhava um papel muito signifi­cativo na maneira como os povos da antiguidade encaravam suas responsabilidades para com a divindade, geralmente, supunha-se que ela se ofendia por não ter recebido a devida atenção por parte do indivíduo afligido. O adorador tinha pouca esperança de discernir qual ritual havia sido omitido ou causara a ofensa. A única opção era tentar aplacar a ira da divindade, em vez de especificamente reparar o erro. Portanto, o indivíduo estava disposto a reconhecer sua culpa (de um erro desconhecido) e dirigir suas orações, encantamentos e rituais no sentido de amolecer o coração da divindade e tentar reconquistar o seu cuidado e a proteção.

Os israelitas não estavam muito convencidos de que a desatenção de Yahweh era causada por ira. Eles prontamente reconheciam que, às vezes, mistificavam o porquê de Yahweh não vir em auxílio deles. Como indivíduos, nem sempre estavam dispostos a reconhecer a culpa, mas concentravam suas orações em pedidos de vingança. Eles necessitavam da retaliação porque o sofrimento naturalmente levaria os outros a concluir que Deus estava punindo-os por algum pecado. A resposta de Deus à oração demonstraria que Ele não estava irado com eles, e que não haviam cometido nenhuma ofensa grave. Quando pecavam, entendia-se como sendo um erro ético e não uma missão ritual. Eles esperavam que a graça de Deus resultasse de quem Ele era; não esperavam ser capazes de induzi-lo a agir com misericórdia, através de dádivas e agrados ou da invocação através de ritos mágicos.

Apesar dessas diferenças fundamentais, existe muito material, na literatura do antigo Oriente Próximo, que pode trazer compreensão aos salmos bíblicos. Muitas metáforas bíblicas originam-se do contexto cultural da época. Por exemplo, a imagem de Deus como um pastor, uma rocha ou um escudo encontra paralelos na literatura da Mesopotâmia. Expressões como "o desejo do teu coração", ser "tirado de um poço" ou usar o vento como mensageiro têm precedentes que ajudam a explicar o que os israelitas queriam dizer ao usá-las.

Existem muitas composições de todas as partes do mundo antigo que podem ser classifi­cadas na categoria geral de textos dirigidos à divindade. A literatura suméria, acadiana e

egípcia têm inúmeros exemplos. Já o material ugaritico ou hitita é muito escasso. Além de hinos de louvor à divindade, existe uma ampla literatura de encantamento na Mesopotâmia. Nela estão incluídos ershemmas, salmos com o objetivo de aplacar a ira de uma divindade; ershahungas, lamentos referentes a sofrimentos ou calamidades; shuillas, orações de petição; shigusi e dingirshadibbas, orações de penitência; e shurpu, orações de purificação; apenas para citar algumas das categorias mais importantes. Os hinos egípcios datam basicamente do segundo milênio e são repletos de louvor descritivo. São grandiosos, otimistas e confiantes, com pouco traço de lamento ou petição (com notáveis exceções nos textos de Deir el-Medina e do Papiro Anastasi II da 19a Dinastia).

Literatura de sabedoriaUma definição moderna de sabedoria incluiria palavras como bom senso, prudeltóa, discernimento, julgamento, saber, percepção e compreensão. Qualquer leitura da l^rktò»^ de sabedoria bíblica indica que esses mesmos componentes estavam associadog^rsAiedojia israelita. Mas, estaríamos enganados se achássemos que a sabedoria no mupdoí árjírgQ estava restrita a algumas áreas como conhecimento, inteligência, instrução ou ^tWidâdeí^Ao con­trário, ela refletia um conceito muito mais amplo da compreensão de^M i^ágs seres huma­nos no cosmo. Provavelmente, deva ser entendida como a habu|dad^de)trazer ordem ao caos ou perceber ordem em meio ao caos. A sabedoria da dhródadf^(ètóelü^/gii outra) se refletia em trazer ordem através da organização, manutenção,^«stra^ewnCfóhamento do cosmo. É por isso que a criação é um tema tão proeminente nelsl^l^mmra de sabedoria. Ela inclui a compreensão do mundo natural e humano; da sociedade civilização; do cidadão comum e do rei; do mundo dos deuses e das (^ s e je s humanos são confrontados com odesafio de adquirir sabedoria à m edidaqueSíom ovem a ordem no caos de seu próprio mundo e percebem a ordem que Deusxolocou^no cosmo ao criá-lo. Isso inclui ética e etiqueta; filosofia e psicologia; e a compreerísão pe como funcionam o mundo (ciência) e o coração humano (estabelecendo

O pensamento egípçmesta^m^jS ligado à ordem que resulta do estabelecimento da verda­de e da justiça. (QtaOTTMMí^tengloba esse aspecto de retidão natural, social e política. A literatura mesoptítamtóa^demonstra uma grande preocupação com a compreensão da ordem que pode sersáblídajkjSávés da leitura de presságios, da recitação de encantamentos e realiza- çãode rimais^sB^éabedoria é a habilidade expressa pelo termo nemequ. Muitos provérbios enoontowss-jWMesopotâmia estão relacionados a agouros e podem ser classificados como sàbMorrâjpresságio. Os presságios partiam da observação (com freqüência de fenômenos

\iattt<ajs) e chegavam a determinadas conclusões (com freqüência sobre o destino ou aconte- cixpentos futuros). A sabedoria igualmente faz observações (com freqüência a respeito de coi \ rtamentos/ e ch g a conclusõe ( m l ^ência sobre resultados inevitáve ) A. lite­ratura de sabedoria do Antigo Testamento insiste em que somente o temor do Senhor (o princípio da sabedoria) pode trazer ordem ao caos da vida. Além disso, os rituais do templo também eram um meio de manter a ordem.

O material do antigo Oriente Próximo inclui provérbios, admoestações e instruções, deba­tes filosóficos na forma de diálogos, monólogos e fábulas. Eles tratam de muitos dos temas da literatura de sabedoria israelita, inclusive, notavelmente, de diversos exemplos em que um sofredor está em busca das razões para seu sofrimento.

O problema subjacente a essa discussão que une todas essas obras dos "sofredores justos" é a teodicéia - a justiça da divindade. A tensão gerada entre a justiça divina e o sofrimento humano tem como base a crença no princípio da retribuição. Em poucas palavras, esse prin-

cípio afirma que o justo prosperará e o ímpio sofrerá; no entanto, se uma pessoa aparente­mente justa está sofrendo e o princípio da retribuição é aceito, então a justiça de Deus é posta em dúvida. Essa tensão não era sentida tão intensamente fora de Israel porque não havia uma crença forte nas qualidades éticas da divindade. Além do mais, em um cenário politeísta, o comportamento de um indivíduo podia agradar a uma divindade, mas ofender a outra. O sofrimento humano, sem nenhuma razão aparente ou dúvidas concernentes à existência da justiça divina de forma compreensível, minava a habilidade de assegurar um mundo ordena­do. Quando as coisas vão mal, as pessoas se sentem envolvidas pelo caos e não pela ordem. A literatura de sabedoria mesopotâmica tipicamente resolvia o problema afirmando que não existe nenhum sofredor justo. Eles também estavam dispostos a aceitar que os deuses eram inescrutáveis.

A literatura de instrução é mais proeminente no Egito, onde mais de uma dúzia de compo­sições abarcam mais de dois mil anos (início do terceiro milênio até o final do primeiro milênio). Essas composições demonstram que a literatura de sabedoria israelita, assim como a encontrada em Provérbios, era parte de um gênero internacional (assim como o Livro de Reis afirma, 1 Rs 4.30). A literatura de instrução do antigo Oriente Próximo inclui afirmações concisas e incisivas como aquelas encontradas em Provérbios 10-29, e também, longas admo­estações como em Provérbios 1-9. O paralelo mais próximo encontra-se na comparação de A Instrução de Amenemope (cerca de 1200 a.C.) em Provérbios 22.17-24.22, em que há um núme­ro relativo de temas e expressões bastante similares.

O tratado de Eclesiastes relaciona-se a uma subcategoria conhecida como a "literatura de pessimismo" que é exemplificada pelo Diálogo Acadiano do Pessimismo e pelos Cânticos Egípcios do Harpista e A Disputa entre um Homem e Seu Ba. Todos esses textos exibem um cinismo irônico a respeito da vida. O Diálogo do Pessimismo retrata uma conversação entre um senhor e seu escravo, na qual o senhor afirma sua intenção de engajar-se em diversas empreitadas. A cada sugestão, o escravo afirma os benefícios do curso de ação proposto, e em cada caso, o senhor muda de idéia e decide não concretizar seus planos. O escravo então replica, sobre a decisão, citando todas as desvantagens que determinada ação acarretaria. Os tópicos incluem: ir ao palácio, comer, caçar, formar uma família, liderar uma revolução, amar uma mulher, oferecer sacrifício, montar um negócio de crédito e fazer caridade pública. O texto termina quando o senhor finalmente pergunta ao escravo sobre determinada ação e ele responde: "Ter o meu e o seu pescoço quebrados e sermos lançados no rio é bom". A base desse tipo de literatura é mostrar que não é simples encontrar significado e propósito na vida e em suas atividades. Conseguir a ordem em meio ao caos raramente é alcançado de forma satisfatória.

O Cântico dos Cânticos também é incluído com freqüência na literatura de sabedoria. Essa classificação pode ser sustentada pela percepção de que o Livro usa poesia de amor para ilustrar o ensino da sabedoria (8.6, 7). Outros exemplos do gênero poesia amorosa são conhe­cidos na literatura suméria mitológica concernente a Dumuzi, no terceiro milênio, mas os paralelos mais próximos são encontrados em um grupo de canções de amor egípcias do período dos juizes (19a e 20a Dinastias Egípcias, 1300-1150 a.C.). Essas canções de amor eram geralmente executadas em festas e compartilham muitas das características encontradas no Cântico dos Cânticos. Falta-lhes, porém, o ensino da sabedoria que o Livro bíblico considera crucial: romance, amor e sexo também podem ser forças do caos que precisam ser abrigadas sob a capa da ordem.

Em tudo o que foi dito acima fica evidente que, à medida que Deus incluiu os gêneros poético e de sabedoria em sua revelação a Israel, Ele não elaborou novos estilos literários,

nem criou novos temas para abordar; ao contrário, Ele usou o que era familiar a qualquer habitante do antigo Oriente Próximo. Ele foi ao encontro de seu povo, onde eles estavam, e comurdcou-se com eles de forma clara e poderosa. Aumentar nosso conhecimento da cultura e da literatura do antigo Oriente Próximo, portanto, pode somente ampliar nossa compreen­são da Bíblia.

J óss1.1-2.13As provações de Jó1.1. Uz. Não se sabe ao certo a localização da terra de Uz. Talvez seja um term o genérico para o O riente

Próximo. Lam entações 4.21 fala de uma terra de Uz onde habitava a filha de Edom, dando a entender que

trata-se de uma localidade no sul. Porém, em Jeremias25.20, 21, Uz é associada a Filístia, Edom e Moabe.

1.3. tam anho dos rebanhos. Os rebanhos de Jó eram imensos. Aristóteles afirma que os árabes tinham no máximo três mil camelos, o mesmo núm ero alistado aqui. A s cifras podem ser com paradas as três mil ovelhas e mil bodes de Nabal (1 Sm 25.2). Textos do terceiro milênio registram rebanhos dos templos com

cerca de m il e quatrocentas ovelhas; no entanto, os particu lares geralm ente eram m enores. No antigo Oriente Próximo, rebanhos sedentários não costuma­vam exceder três mil animais. Os m igratórios (cuja

migração era controlada) podiam variar de duzentos a quinhentos animais. Os nômades eram os maiores, chegando a dezenas de m ilhares. A proporção de

animais de pequeno porte em relação aos de maior, no rebanho de Jô, serve de exemplo. A maioria dos núm eros disponíveis em fontes antigas está relaciona­da às listas assírias de tributo que oferecem poucos

indícios acerca de rebanhos particulares.1.3. o hom em m ais rico do oriente. A alusão ao orien­te ("povo do Oriente" literalmente "filhos do oriente"), em línguas semitas, geralmente refere-se aos habitantes da região leste de Biblos, onde os semitas seminômades viviam. É assim que o termo é usado na história egíp­

cia de Sinuhe, do início do segundo m ilênio a.C.. Em G ênesis 29.1, o term o refere-se aos aram eus que v i­viam ao longo do norte do rio Eufrates; em Isaías 11.14, refere-se aos edom itas, m oabitas e am onitas; e, em

Juizes 6.3, aos midianitas. Em resumo, o povo do "ori­ente" parece ser um term o genérico com o "U z".1.5. purificação após os banquetes. A purificação ge­ralm ente garantia o acesso a recintos sagrados ou a participação em atividades rituais. Em Israel, havia níveis de pureza exigidos para permanecer no "acam ­pamento ou arraial da comunidade" e para entrar em recintos sagrados ou nas dependências do templo. Jó

era ritualm ente exigente, visto que buscava m anter um certo nível de pureza para sua fam ília o tempo todo. Assim, como Balaão, em Números 23, Jó dirigia

os sacrifícios como patriarca da família, sem a presen­ça de um sacerdote. Balaão teve de oferecer um touro,

um carneiro e sete cordeiros (Nm 29.36). É possível que o processo de purificação envolvia lavar-se e mu­dar de roupa (Gn 35.2 e Êx 19.10).1.5. amaldiçoado a D eus. O termo para "am aldiçoa­do" literalmente significa "abençoado", um eufemis­

mo encontrado em outras passagens das Escrituras (p. ex., Jó 1.11; 2.5, 9; 1 Rs 21.10, 13). Esse term o com freqüência significa "d esprezar, tratar com levian­

dade". Assim, em vez de, na verdade, amaldiçoar a Deus, os filhos de Jó poderiam ter negligenciado ou

desconsiderado Ele. O termo também pode referir-se ao tratam ento com desrespeito a ponto de extremo desprezo e repúdio.1.6. an jos (filhos de Deus). No antigo Oriente Próximo, os "filh os dos deuses" eram m em bros de m enor im­

portância do panteão. Em textos m esopotâm icos e ugaríticos encontramos relances de reuniões dos deu­

ses e sua corte divina. Em Israel, os filhos de D eus são anjos que, tal como os filhos dos deuses, posicionam-se diante Dele na corte divina. Micaías teve uma visão de D eus assentado no trono com todos os seus subor­

dinados ao redor (1 Rs 22.19-23). Os filhos de Deus tam­bém são cham ados de "d eu ses" no Salm o 82.1, 6.

1.6. Satanás. É im portante notar que o termo aqui, satã (literalm ente "o acu sad or"), é antecedido em

hebraico pelo artigo definido ("o "). Logo, no contexto de Jó, o termo parece mais descrever um a função do que servir como um nome próprio. Em bora o indiví­duo que se apresenta como adversário de Jó pode ser o mesmo que, mais tarde, é chamado de Satanás, não se pode chegar a essa conclusão com segurança. A palavra hebraica satan é usada para descrever um adversário e pode referir-se a seres humanos ou so­brenaturais. Até mesmo o anjo do Senhor pode de­sempenhar essa função (Nm 22.22). O termo só assu­me claramente o papel de nom e próprio, a partir do período intertestamentário (especificamente no segun­do século a.C.). Quem atua como adversário, geral­mente desem penha um papel de fiscalizar ou desa­fiar as ações e decisões de D eus. Não fica claro se

Satanás era um dos filhos de Deus (NVI "anjos").1.6. o papel de acusador. O termo satã refere-se àque­le que age com o um prom otor público. O m esm o term o é usado para um inim igo político que tenta

derrubar o rei (p. ex., 2 Sm 19.22). Pode tam bém aludir à pessoa que leva acusações contra alguém n um tribun al (SI 109.6; Zc 3.1, 2). N a P érsia e na Assíria, agentes secretos semelhantes viajavam pelo império buscando identificar a lealdade de determi­nados grupos e indivíduos para depois fazerem acu­sações no tribunal.1.15. sabeus. Existem três grupos de sabeus nas Escri­turas. Um grupo é de Sabá, o atual Iêmen, um a área

extrem am ente urbanizada e que havia atingido um complexo nível de civilização nessa época (1 Rs 10). Muitas inscrições desse povo foram encontradas nessa área. Havia também os sabeus da Etiópia (Is 43.3). Em

Jó 6.19, eles são igualados a Tema, no norte da Arábia, e provavelmente identificados com a Sabá das inscri­ções assírias de Tiglate-Pileser III e Sargão II, no final do oitavo século a.C.. É m ais provável que sejam esses os sabeus mencionados aqui, em Jó 1.1.16. fogo de Deus. Os relâmpagos são descritos aqui como "fogo de D eus". Durante a com petição entre Deus e Baal, narrada em 1 Reis 18.38, o relâmpago é chamado de "fogo do Senhor" (ver também 2 Rs 1.12; Jó 20.26; N m 11.1-3; 16.35 e 26.10). O s deuses da tem pestade geralm ente eram ilustrados segurando raios e relâmpagos na mão.

1.17. caldeus. Os caldeus são mencionados nos anais assírios desde a época de A ssum asirpal II (884-859

a.C.). Provavelm ente eram um grupo sem inôm ade que havia se fixado na Babilônia e teve êxito no con­trole da área, no final do oitavo século a .C . Além do mais, sucederam aos assírios como os construtores do grande império do Oriente Próximo, no final do séti­mo século a.C.. O ápice de seu poder veio durante o reinado de Nabucodonosor II (605-562 a.C.), o destrui­dor de Jerusalém.2.7. feridas terríveis. Em ugarítico, esse term o refere- se a febre e não a feridas. Já em hebraico, geralm ente denota um a variedade de doenças de pele (ver o co­

m entário em Lv 13.2). Em textos ugaríticos, a doença afeta o lombo e deixa a vítim a prostrada. Não se sabe ao certo que tipo de doença de pele é ilustrada aqui em Jó 2. As patologias do antigo Oriente Próximo sempre eram explicadas pelo sobrenatural. Geralmente, demô­nios hostis ou deuses irados por causa da violação de algum tabu eram considerados responsáveis pelas en­fermidades. As doenças eram classificadas pelos sinto­mas e não pelas causas, por isso, o diagnóstico correto m uitas vezes era difícil, senão im possível.2.8. caco de louça. Fragm entos de cerâm ica (grego, óstraco) foram encontrados em grande quantidade nas

escavações arqueológicas em todo o Oriente Próximo. Essa louça quebrada geralm ente era "reciclada" ou utilizada de alguma outra forma. Não fica claro, neste

contexto, se o fragmento era usado para coçar a pele em busca de alívio ou para raspar o corpo num sinal de luto. Na maioria dos casos, nas Escrituras, os cacos eram usados com esse último objetivo. Na Mesopotâmia e na lenda ugarítica de Aqhat, o "m on te de cacos" parece ser o nome da habitação dos mortos. No épico de Baal, quando El pranteia por Baal, ele coloca terra na cabeça e raspa a pele com uma pedra.2.8. sentado entre as cinzas. As cinzas mencionadas aqui provavelmente se encontravam num "m onte de esterco" ou depósito de lixo fora dos limites da cidade, onde os dejetos eram periodicamente queimados. Os pranteadores no Oriente Próximo iam se sentar nesse m onte de cinzas para se atormentar. Prião, o pai de H eitor, na Uíaâa, rolou sobre o m onte de cinzas da cidade.

2.11. terra dos amigos de Jó. Eruditos da igreja primi­tiva (Eusébio e Jerônim o) e da história clássica (Plínio, o Jovem) associam Tem ã ao território nabateano, per­

to da cidade de Petra, na atual Jordânia. Fontes cunei- formes identificam Suá como um a localidade ao longo do médio Eufrates, ao sul do rio Habur. Porém, Suá era filho de A braão com Q uetura e tio de Seba e D edã, im plicando assim num local ao sul para os habitantes de Suá. Não obstante, a localização é incer­ta. O naamatita possivelmente é identificado com Jebel el N a'am aeh, no noroeste da A rábia, em bora tam ­bém não se possa afirmar com certeza.2.12. práticas de luto. No antigo Israel, rasgar as ves­tes e colocar terra sobre a cabeça eram considerados sinais de luto. Também eram praticados na Mesopo­tâmia e em Canaã. Muitos desses ritos eram um meio dos vivos se identificarem com os mortos. É fácil per­ceber como as cinzas sobre a cabeça e as roupas rasga­das serviam como representações sim bólicas de se- pultamento e decomposição.

3.1-26O lamento de Jó3.3-6. dias am aldiçoados. A s listas de dias, na M eso­potâmia, identificam dias maus no mês (dias 7 ,1 4 ,1 9 ,

21 e 28). Esses dias eram ditos agourentos e as pessoas eram incentivadas a não se envolverem em negócios, construção de casa ou casamento. Era até mesmo proi­

bido comer peixe e alho-poró, no sétimo dia do sétimo mês. A lém disso, listas de agouro da M esopotâm ia descrevem dias em que era im próprio que um h o­m em e um a m ulher tivessem relações sexuais, um a m ulher desse à luz e as pessoas se envolvessem numa série de outras atividades sociais. E ainda, certos eventos podiam transform ar um dia em azarado (p. ex., o

nascimento de um a anomalia ou a morte do rei). No M ito àe Ezra e Ishum, o governador da cidade que está

sendo destruída é retratado, dizendo à sua mãe, do

desejo dele de nunca ter nascido ou de ter sido impe­dido de nascer, para que não tivesse tal destino.3.8. atiçar o Leviatã. O Leviatã aparece na Bíblia como

um monstro marinho, representando as forças do caos, derrotado por D eus (SI 74.14; ls 27.1). Esse texto solici­ta os serviços de um m ágico habilidoso que possa atáçar um Leviatã dormente por m eio de um encanta­

mento. A descrição do Leviatã tem semelhanças com os m onstros m arinhos ugaríticos e babilónicos que am eaçam a criação (ver o comentário em 41.1).

3.9. estrelas m atutinas. As estrelas matutinas aqui são Vênus e M ercúrio, que deveriam tom ar-se "escuras". Esses planetas eram considerados os precursores de

cada dia.3.13-19. conceito da vid a após a m orte. O conceito israelita de vida após a morte era bastante semelhan­

te ao de seus vizinhos em Ugarit e na Mesopotâmia. Nem sem pre, porém , a m orte é descrita com o um lugar de descanso, como aqui em Jó. A morte (hebraico,

sheol) é o lugar exato onde os m ortos com em pó e bebem água suja. De acordo com o épico acadiano A Descida de Istar, há grades e portões mantendo os mortos

presos. O Sheol tam bém é um lugar de escuridão onde não há luz, apenas silêncio. Os mortos não po­dem louvar a Deus naquela condição. Para m ais in­

formações, ver a nota de rodapé em Isaías 14.

4.1-5.27O primeiro discurso de Elifaz4.9. sopro destruidor de D eus. Aqui em Jó, o sopro de D eus representa o vento do deserto que destrói a vegetação (Os 13.15 e Is 40.7). Normalmente, refere- se à atividade dinâmica de Deus (ver G n 2.7).

4.13-15. esp írito dos sonhos. O ato de D eus causar um sono profundo em um a pessoa, a fim de transmi­tir a ela um sonho, é recorrente em toda as Escrituras. Como exemplo, Deus fez cair um pesado sono sobre

Abraão durante a cerimônia da aliança (Gn 15.12-21).

Isso também acontecia com as divindades da M eso­potâmia. Dagan (chamado de Dagom na Bíblia) fala­

va freqüentem ente aos adoradores dos tem plos em M ari e Terqa, no nordeste da Síria, através de sonhos. Esses adoradores muitas vezes passavam a noite no tem plo, esperando receber um a m ensagem , em so­

nhos. No épico de Gilgamés, um zéfiro passa trazen­do sono e um sonho. No pensamento mesopotâmico, Zaqiqu era o deus dos sonhos, e seu nome deriva da palavra para espírito. Esse espírito ou brisa passa pe­

las fendas das portas e se dirige às pessoas durante a noite. A Odisséia e a Ilíada confirmam a mesma idéia.4.18. vendo erros nos an jos. A segunda carta de Pedro

tam bém descreve o castigo de anjos rebeldes, m as não existe evidência clara de tal crença no Antigo Testamento. Em mitos ugaríticos, os subordinados aos

deuses (especificam ente escravas divinas) com fre­

qüência eram considerados desobedientes e indignos de confiança. Para acrescentar dificuldade à interpre­tação desse versículo, o termo traduzido como "erro" ocorre apenas aqui no Antigo Testamento e seu signi­

ficado é incerto.4.19. casas de barro. O termo "C asa" é usado como uma

figura de linguagem para o corpo, no livro apócrifo Sabedoria de Salom ão 9.15, em 2 Coríntios 5.1 e em 2

Pedro 1.14; mas a idéia do espírito habitando o corpo é desconhecida em outras passagens do Antigo Testa­mento. Argila e barro significam a fragilidade do cor­

po hum ano e representam a m ortalidade hum ana.5.1. seres celestes (santos). O termo "seres santos", que designa servos ou anjos, ocorre em outros contex­

tos das Escrituras (Os 11.12; 2 c 14.5; D n 4 .10 ,14 , 20; 7.13 e SI 89.7). São santos por causa de sua proximida­de a Deus e não por alguma pureza inerente.

6.1-7.21O primeiro discurso de Jó6.2. aflição e desgraça na balança. As balanças eram usadas por m ercadores para determ inar o peso de

O PRINCÍPIO DA RETRIBUIÇÃOOs versículos sete e oito tratam do que é descrito como o princípio da retribuição, cuja premissa básica é que o justo prospera e o ímpio sofre. Na esfera nacional, esse princípio tinha como base a aliança, com suas bênçãos potenciais e ameaça de maldições. No âmbito individual, foi estabelecido como necessário para que Deus mantivesse a justiça. Visto que os israelitas tinham apenas um vago conceito da vida após a morte e nenhuma revelação concernente a juízo ou recompensa no além, a justiça de Deus só podia ser efetuada nesta vida. A maioria dos israelitas acreditava que se Deus fosse justo, recompensas e castigos nesta vida deveriam ser proporcionais à justiça ou injustiça de cada um. Essa crença também levou grande parte deles a crer que, se alguém estava prosperando, era uma recompensa por sua justiça e, se alguém estava sofrendo, era castigo por sua injustiça. Quanto maior fosse o sofrimento, maior deveria ser o pecado. Escritores babilónicos e assírios de textos mágicos descrevem esse mesmo princípio da retribuição. Mas, visto que esses povos não eram plenamente convictos da justiça dos deuses, essa não era uma questão teológica tão importante na Mesopotâmia. No livro de Jó, esse princípio é colocado de cabeça para baixo, visto que ele, aparentemente o epítome da justiça, está sendo vítima de todo tipo de desastre possível. Todas as personagens do Livro acreditam no princípio da retribuição. Essa é a premissa em que os amigos de Jó se baseiam para acusá-lo, e o raciocínio pelo qual Jó questiona a justiça de Deus. É até mesmo a lógica que Satanás usa para

seus produtos. Aqui neste contexto, Jó demonstra o desejo de que seu infortúnio fosse pesado em relação à m aior coisa conhecida por ele, a areia dos m ares, que normalmente representa uma quantidade imen­

surável de peso.6.4. Todo-poderoso (S h a d a i). O termo Shadai ("todo- poderoso") às vezes é um epíteto para Deus (Gn 17.1). Aqui, Shadai age como aquele que m uda a sorte das pessoas, sem elhante a Resefe, o deus da peste e da guerra no panteão cananeu, que espalha doenças atin­gindo suas vítimas com seu arco e flecha.6.15-17. riachos tem porários (uádis). Os uádis da Pa­lestina são rios que transbordam na estação chuvosa. No verão, porém, precisamente a época em que mais

se precisa de água, eles têm pouca ou nenhuma água.6.19. caravanas de Tem á. Tem á (atual Teima) era um importante oásis e centro de comércio no noroeste da Arábia, 320 quilôm etros ao sul de D amasco. Tem á também é alistado como filho de Ismael (Gn 25.13-15).6.19. m ercadores de Sabá. Sabá era um importante

centro de comércio no sudoeste da Arábia. Ver a nota em Jó 1.15.7.1. pesado labor, assalariado. O termo para "pesado

labor" era usado para o serviço m ilitar e, ocasional­mente, para os trabalhos forçados, como os que Salomão

exigiu dos lenhadores na Fenícia (1 Rs 5.13, 14). O assalariado tam bém era usado no serviço m ilitar (Jr46.21) e nos trabalhos dom ésticos (Êx 25.40). Eram considerados pobres e tinham de ser pagos diaria­

m ente (Lv 19.13). N o épico babilónico da criação, a humanidade foi criada especificamente para fazer as

tarefas menores que os deuses não estavam dispostos a fazer (construir as casas dos deuses e providenciar

comida para eles).7.6. lançadeira do tecelão. Alguns termos usados nes­te versículo precisam de um esclarecimento. A pala­vra que a NVI traduz como "lançadeira do tecelão",

em outras passagens, sempre é traduzida como "tear". O advérbio "d epressa" tem o significado básico de

" le v e " ou, a ind a, " ir r e a l" . F in alm en te, a palavra traduzida como "esperança" tam bém significa fio (p.

ex., o fio escarlate de Raabe em Js 2.18). Nos teares horizontais da época, quatro estacas eram fincadas no chão form ando um padrão retangular. Os fios que form ariam a tram a do tecido eram am arrados nas duas extremidades em varetas, com intervalos regu­lares; as varetas, então, eram usadas para passar os

fios entre as estacas. Quando as extremidades de cada vareta estivessem presas atrás das estacas, os fios esta­riam esticados horizontalmente em relação ao chão, em condições de serem tecidos. A seguir, um pino de tear era preso ao fio para fazer a tram a do tecido. U sando-se um a barra para separar esses fios alterna­

dam ente, era possível sua passagem pelo pino. De­pois que o fio estivesse no lugar, o pino era usado para apertar as fileiras de linha. Q uando o tecido estava pronto, os fios eram cortados do tear, deixando

apenas as sobras dos fios presas às varetas. A tradução a seguir transm ite bem a im agem : "M eu s dias são mais irreais do que um tear no qual chegam a um fim sem esperança/fio".

7.8. teu "o lh ar". N a m itologia egípcia, o deus do céu, Hórus, machuca um olho em um a batalha com Seth. O Sol é visto como seu olho bom e a lua como seu olho machucado. Logo, dia e noite o olho de Hórus observa

o mundo dos homens.

7 .9 ,10 . conceito de vida após a morte. Aqui a ênfase é na finalidade da morte. Para mais informações so­

bre o conceito da vida após a morte, ver o comentário em 3.13-19.

7.12. m onstro das profundezas sob guarda. Nas tra­dições do antigo Oriente Próximo, o m ar ou os mons­tros que habitavam nele representavam as forças do

caos que deveriam ser derrotadas e contidas, a fim de que a ordem fosse m antida no mundo. M arduque, o herói divino no mito babilónico da criação, apanhou Tiam at e a colocou dentro de um a gaiola trancada com

um a barra, e guardas foram posicionados. Yamm , o

sentir-se tão seguro de suas acusações. Ele usa o princípio da retribuição para criar a tensão de sua acusação contra Deus. Se Deus age segundo o princípio da retribuição, argumenta satanás, Ele estará de fato evitando o desenvolvimento da verdadeira justiça, uma vez que as pessoas farão o que é certo apenas para obter a recompensa em troca. Por outro lado, se Deus não age de acordo com o princípio da retribuição, então as pessoas, como Jó, concluirão que Deus é injusto. Satanás sairia vitorioso se Jó cedesse à pressão de seus amigos. Eles queriam que ele aplacasse a ira de Deus, simplesmente confes­sando toda e qualquer culpa, independente de considerar-se inocente ou não. Nesse caso, ele poderia unir-se novamente às fileiras dos justos e ter de volta sua prosperidade. Mas, a integridade de Jó faz com que ele recuse colocar em jogo sua justiça - afinal, ele não age simplesmente com justiça esperando obter algo em troca. Ele está interessado em ser declarado inculpável e não meramente em reconquistar sua prosperidade. Sua integridade é um voto de confiança em Deus, porque acredita que Deus considera a justiça mais importante que o apaziguamento de sua ira. O Livro resolve o problema sugerindo que o princípio da retribuição não se constitui numa garantia ou promessa de prosperidade, mas a idéia é a de que Deus tem prazer em recompensar a justiça e leva a sério a necessidade de punir os ímpios. A justiça de Dele não pode ser avaliada, porque ninguém tem informações suficientes para chamá-lo a prestar contas. Ao contrário, as pessoas podem acreditar que Ele é justo porque estão convictas de que Ele é sábio (o impacto dos métodos de Deus).

monstro do m ar na mitologia ugarítica, foi preso por Baal e colocado sob guarda. Esse tipo de im agem tam bém é usado em trechos poéticos do Antigo Testa­m ento (SI 74.13; 89.9, 10; 104.7-9).7.14. assustas com sonhos. Os pesadelos eram tradici­onalm ente vistos, no antigo O riente Próxim o e no mundo clássico, como oriundos de um agente divino demoníaco ou malévolo. Existem também referências a terrores demoníacos da noite nos escritos de autores clássicos como Ovídio e Plutarco. A qui em Jó 7.14, porém, o agente é Deus. A história babilónica (Ludlul

bei Nemeqi) relata acerca de um homem que sofre por estar sendo afligido por agouros assustadores e so­nhos aterrorizantes.7.15,16. preferência p ela m orte na literatura de sabe­doria do antigo O riente Próxim o. A incom parável obra mesopotâmica, o Diálogo do Pessimismo, é um debate satírico entre um senhor e seu escravo. No final da discussão, o senhor pergunta o que é bom ao

escravo e ele responde que os dois deveriam ter os pescoços quebrados e depois lançados no rio. Porém, o contexto irônico dessas afirmações não nos permite afirmar que os mesopotâmicos sofredores preferiam a morte à vida.7.20. vig ia dos hom ens. Na concepção do antigo Ori­ente Próxim o, o vigia divino geralm ente desem pe­nha um papel positivo no sentido de garantir a prote­ção aos homens. Talvez, o paralelo m ais próxim o se encontre na referência ocasional aos sete sábios anti­gos como vigias. Isso também, geralmente, ocorre em relação à proteção de Yahw eh que vigia Israel (Dt 32.10; SI 12.7; 25.20; 31.23; 40.11; 61.7). N esse caso, porém, Jó vê Deus como um fiscal e não com o um protetor dos seres humanos.

8 .1-22 O primeiro discurso de Bildade8.6, 7. princípio da retribuição. Ver a nota de rodapéno capítulo 3.8.8-10. im portância do ensino tradicional na sabedo­ria do antigo O riente Próxim o. Juntam ente com ou­tras passagens das Escrituras (Jó 15.18; Dt 4.32; e o apócrifo Eclesiástico 8.9), um a grande parte da litera­tura de sabedoria da Mesopotâmia (p. ex., a Teodicéia Babilónica "Louvarei o Senhor da Sabedoria" e diver­sos provérbios sumérios) defende que a sabedoria dos antigos é importante. Na tradição mesopotâmica, os possuidores dessa sabedoria eram os sete sábios ido­sos, conhecidos como os ctpkallu, que a trouxeram, jun­tam ente com a arte da civilização, à hum anidade. Essa tradição é representada nas obras de Berossus, por sua afirmação de que a soma total do conhecimen­to revelado foi transmitida pelos sábios pré-diluvianos.

8 .11 ,12 . analogia do papiro. O papiro não era usado apenas no Egito, m as tam bém na Palestina. Textos ugaríticos descrevem o papiro como original dos pân­tanos do lago Samak. Era usado para um a variedade de coisas, inclusive cestos, tapetes e pergaminhos para escrita. O papiro cresce bastante e às vezes chega a atingir mais de três metros de altura. No entanto, sua exuberância desaparece rapidam ente se a fonte de água secar.

9.1-10.22O segundo discurso de Jó9.2. ninguém é justo diante de D eus. O texto sumério de sabedoria intitulado O Homem e Seu Deus afirma que "n u n ca nasceu um a criança sem p ecad o". No entanto, esse não era o conceito de pecado original,

visto que esse pensamento reflete a idéia suméria de que os deuses haviam incorporado o m al na civiliza­ção humana, desde o princípio.

9.5-9. controle cósm ico da divindade no antigo O ri­ente Próxim o. A últim a parte do versículo 4, junta­m ente com o 8, deixa claro que o contexto desses comentários é o conflito cósmico do guerreiro divino. O tema desse conflito retrata a principal divindade sobrepujando as forças cósm icas (geralmente forças caóticas como a morte ou o mar) a fim de promover a ordem no cosmos. No antigo Oriente Próximo, essas forças, geralmente eram personificadas como deuses, mas essa passagem preserva uma certa ambigüidade nessa questão. Aqui, Yahw eh subjuga as montanhas (v. 5), aterroriza o m undo inferior (v. 6; a palavra

hebraica traduzida com o "terra" às vezes significa mundo inferior e os verbos aqui transmitem a idéia de tremer de medo não por causa de um terremoto), extingue o Sol (v. 7; provavelm ente através de um eclipse), prende as estrelas em sua seqüência de apa­rição (v. 7), estende os céus (v. 8; com o cadáver do inimigo derrotado como no Enuma Elish?), derrota o mar (v. 8) e forma as constelações (v. 9).9.6. colunas da terra. A s colunas às vezes são conside­radas como representações de fronteiras. O templo de Salomão tinha duas colunas, no pórtico, que podiam servir como um limite para o santo lugar. O taberná­culo usava colunas de onde as divisórias eram pendu­radas para estabelecer o limite entre o pátio e o santo lugar. Até mesmo quando elas sustentavam algo (como no templo filisteu que Sansão derrubou), dados ar­queológicos sugerem que serviam como divisas para pórticos ou pátios. N a Babilônia, m arcos de divisa conhecidos como kudurrus tinham a forma de coluna, m as a conexão pode ser acidental. A literatura do antigo Oriente Próximo não apresenta paralelo com a terra sendo sustentada por colunas. A outra única

referência, no Antigo Testamento, fica em Salmo 75.3, que pode ser interpretada como mantendo divisas de distinção. Em Jó 26.11, os céus têm colunas, m as esse com entário tam bém ocorre em relação à divisas (v. 10). É m ais provável que as fronteiras cósm icas da terra sejam aquelas entre os v ivos e os m ortos. A palavra traduzida como "terra", nesse versículo, às vezes refere-se ao mundo inferior. Na literatura aca- diana, as fronteiras do m undo inferior são representa­das por portões.9.7. veda a luz das estrelas. A palavra " lu z" (NVI) não ocorre no hebraico, que diz "e le fixa um selo em volta das estrelas". Isso sugere que Yahw eh é quem deter­m ina a seqüência da aparição das estrelas e os cami­nhos por onde elas passam. N a astronomia mesopo- tâmica (Mul-Apin), as trinta e seis principais estrelas eram divididas em três segmentos conhecidos como os cam in hos de A nu, E n lil e Ea. Esses cam inhos estelares predeterminados ocupavam as faixas norte, sul e equatorial do céu. Na série de presságios conhe­cida como Enuma Anu Enlil, os deuses Anu, Enlil e Ea estabelecem a posição, localização e caminhos das es­trelas. No texto Enuma Elish, o deus M arduque esta­belece a posição das estrelas. Na visão mesopotâmica, as estrelas eram entalhadas na superfície de jaspe dos céus intermediários e toda essa superfície se movia. Todos esses exemplos explicam o verbo "vedar" usa­do neste texto de Jó , visto que o que é fixado ou inscrito é "vedado ou selado".

9.8. anda sobre as ondas. É m ais provável que o termo "on das" tenha o sentido de "costas ou dorso" de algo. É com esse sentido que a mesma palavra hebraica é usada em Deuteronôm io 33.29, onde as costas do inimigo são pisadas. Nos mitos de Baal, Yam , "M ar", é um de seus principais oponentes. Visto que Yam também é a palavra hebraica para m ar, neste versículo; andar sobre suas costas seria uma imagem apropria­da de domínio. A iconografia egípcia ilustra o faraó usando os inim igos derrotados como seu escabelo. Assim, como andar sobre as costas expressa a derrota de um inimigo, estender os céus, evoca a im agem de M arduque usando o cadáver do inim igo derrotado, Tiamat, para fazer os céus. Ambas essas imagens se refletem no versículo 4: "Q uem tentou resistir-lhe e saiu ileso?".9.9. constelações. Evidências textuais da Babilónia, inclusive o "tablete de V ênus" de A m m isaduqa (c. 1650 a.C.) indicam que estudos astronôm icos eram conduzidos com habilidade e precisão. Em bora a as­trologia também fosse predom inante nos últimos pe­ríodos do Egito e na Mesopotâmia do período persa, parece que essa atividade de adivinhações, interpre­tação de presságios (ver Is 47.13) era apenas uma

extensão do trabalho de um a ciência verdadeira, a astronomia. H á registros do movimento dos planetas, da posição das principais estrelas e constelações fixas, bem como, de descrições das fases da lua e de eclipses solar e lunar. Considerando-se o conhecimento difun­dido acerca das estrelas e dos planetas nas culturas m esopotâmica e egípcia, era necessário que os escrito­res e profetas bíblicos atribuíssem esses corpos celes­tes à criação de Yahweh. As constelações mesopotâ- micas incluem figuras de animais como bode (Lira) e serpente (Hidra); objetos como uma flecha (Sírio) e um carro (Ursa Maior) e personagens como Anu (Órion). As constelações m ais populares eram a Plêiade, retra­tada com freqüência em selos na Palestina e na Síria. Textos neo-assírios preservam esboços de estrelas em constelações. Um a oração aos deuses da noite de 1700a.C. invoca as constelações por nom e, pedindo-lhes que respondessem ao adivinho que buscasse um pres­ságio. A prim eira constelação m encion ada, neste versículo, é incerta. Leão e a Ursa M aior são as duas principais candidatas.9.9. constelações do sul. Na literatura mesopotâmica, a parte sul do céu é descrita como o caminho de Ea. Mas o texto aqui se refere às "câm aras" do sul, que podem ou não se referir a constelações.9.13. Raabe e seu séquito. Raabe é descrito como um dos monstros m arinhos mortos por Deus (Jó 26.12; SI 89.11; Is 51.9). Em ambos os mitos da criação (babiló­nico e ugarítico), a divindade vencedora (Marduque na Babilônia e Baal em Ugarit) luta e mata um mons­tro m arinho, e seu séquito de form a sem elhante a Yahweh. Em outros contextos, o termo Raabe é sim­bolicamente usado para designar o Egito (Is 30.7; SI87.4). O nom e Raabe ainda não foi encontrado em fontes extrabíblicas.9.17. esm agar com tem pestades. Alguns intérpretes

argumentam (com o respaldo de uma versão antiga) que o termo hebraico para "tem pestade", na verda­de, é "cabelo", visto que um a tempestade não neces­sariam ente "esm aga" alguém . Portanto, a tradução ficaria "p or um cabelo, Ele me esm aga", significando que Deus esm aga Jó por um fio de cabelo (ou seja, por

nenhuma razão ou por algo muito pequeno). Contra essa interpretação está o fato de que o verbo não pre­cisa ser tão específico como "esm agar", m as refere-se

a aplicar a alguém um golpe potencialmente mortal (mesmo verbo usado duas vezes em G n 3.15). A refe­rência à tempestade também se encaixaria m elhor no contexto cósmico.9.26. barcos de papiro. Existem representações artísti­cas no Egito que m ostram o uso de juncos de papiro na construção de barcos. Isso é declarado explicitamente pelo autor clássico, Plínio, em sua H istória Natural.

Isaías 18.1, 2 refere-se a essas em barcações de junco que eram consideradas muito leves e rápidas, porém,

bastante frágeis.

9.30. sabão e soda de lavadeira. Os term os usados aqui são bor, que se refere a aleli (potassa), substância

obtida a partir das cinzas de plantas queim adas, e

lixívia, um a solução alcalina; dois dos produtos de

limpeza mais fortes que os israelitas conheciam. Visto que a limpeza do corpo normalmente era feita espa­

lhando e esfregando óleo na pele, o uso desses pode­

rosos detergentes era uma medida extrema.9.31. poço de lodo. Embora o termo para poço de lodo

geralmente designe a habitação dos mortos em Israel

(Jó 17.14; 13.22; 28) e no antigo Oriente Próximo, aqui

o termo refere-se a um a fossa.9.33. árbitro no sistem a ju d ic ia l do antigo O riente

Próximo. Textos sumérios freqüentemente descrevem

um deus pessoal que intercedia pela causa de um indivíduo diante do supremo concílio dos deuses. Ele

era, na verdade, um advogado. Além do mais, o sis­

tema judicial na Mesopotâmia era bastante sofisticado. Um juiz muitas vezes arbitrava entre duas partes que

disputavam por um a propriedade m óvel ou imóvel

(p. ex., herança, localização e dim ensões de terra e

preço de venda de propriedade). O texto egípcio Ins­truções de Amenemope aconselha "N ão diga 'Tragam -

m e um protetor porque aquele que m e odeia me

causou mal'. Na verdade, você não conhece os planos de deus" (tradução de M. Lichtheim).

10.15. dom inado pela vergonha. De acordo com a

crença do princípio da retribuição (ver nota de rodapé

no cap. 3), a vergonha seria o resultado natural do sofrimento que proclam aria a todos ao redor que a

vítima estava sendo castigada por Deus. Quanto mais

dram ática a m udança na sorte da pessoa e quanto mais grave o sofrimento, maior se supunha o pecado.

Portanto, com base nas evidências circunstanciais, Jó seria julgado como uma pessoa vil, sendo humilhado

publicam ente.

10.18. desejo de nunca ter nascido. No M ito de Erra e Ishum, o governador da cidade que está sendo des­

truída é retratado dizendo à sua m ãe de seu desejo de nunca ter nascido ou de ter sido impedido de nascer

para que não sofresse tal destino.

10.21 ,22 . terra de som bras e densas trevas. Cinco pa­lavras hebraicas são usadas aqui para descrever a es­

curidão na terra de "som bras e densas trevas", ou seja, Sheol, a habitação dos m ortos. Esse lugar era consi­

derado mais escuro que as trevas da noite na terra. No antigo Oriente Próxim o, o m undo inferior geralm en­te era considerado um lugar de escuridão (em acadiano "casa da escuridão"), onde não havia luz.

11 .1-20O primeiro discurso de Zofar11.13. estender as m ãos. Estender as mãos, como um gesto comum de oração, era um a im agem típica da iconografia do antigo Oriente Próximo. O indivíduo levantava as mãos com as palmas viradas para cima, próxim as um a da outra, até a altura do rosto. Era considerado um gesto de humildade.

12.1-14.22O terceiro discurso de Jó12.24. líd eres privados de razão. H ouve m uitos exem­plos, no mundo antigo, de reis que se tom aram víti­mas de suas próprias buscas pela glória. Não importa se eram buscas individuais, como a de Gilgamés, que perseguiu a imortalidade até os confins da terra; bus­cas religiosas (econômicas?), como a de Nabonido, no exílio de treze anos que impôs a si mesmo em Teimá; ou buscas m ilitares, como a desastrosa tentativa da Pérsia em expandir seus limites até o oeste do Medi­terrâneo. Todas essas buscas eram alimentadas pela megalomania desses líderes e caracterizadas por uma insaciável auto-indulgência.13.4. m édicos no antigo O riente Próxim o. H avia dois tipos de procedimentos m édicos na M esopotâmia: um m ágico que curava o paciente através de encanta­mentos (geralmente expelindo demônios) e um mé­dico que geralmente fazia uso de ervas e remédios. O médico norm almente era subordinado ao mágico que conduzia o prim eiro através de encantam entos. As funções de ambos não eram exatamente distintas; o mágico muitas vezes usava remédios em suas curas e o médico, encantamentos.13.12. provérbios de cinza. As cinzas eram misturadas com água para formar fuligem, um a substância usada para escrever. Era usada apenas em situações informais e provisórias. Bastante parecida com o nosso giz atual­mente, essa substância era facilmente apagada. Certa­m ente ninguém iria registrar verdades m em oráveis usando cinza. Jó sugere que o legado da sabedoria de seus am igos não passa de rabiscos de giz.13.12. defesas de barro. O significado incerto da pala­vra traduzida como "defesas" gera diversas possibili­dades de interpretação. Se a metáfora faz referência às defesas de uma cidade, então o barro seria usado para fazer tijolos. N a M esopotâmia, os tijolos de barro eram levados ao forno para secar, resultando num m aterial muito resistente. Em outras regiões, inclusive em Is­rael, eles eram inferiores, visto que eram deixados para secar ao Sol; m uros das cidades feitos com tijolos de barro não resistiam a ataques. Uma segunda pos­sibilidade é a de que "defesas" refere-se aos argumentos verbais, ou seja, à retórica dos amigos. Nesse caso, o

barro pode referir-se a um tablete de argila onde se

podia escrever e depois apagar, dando continuidade ao tema de como seus argumentos eram inócuos.

13.27. lim ites aos m eus passos. O simbolismo exato

dessa expressão foge aos comentaristas. Alguns suge­rem que os pés do prisioneiro eram marcados ou quei­

m ados de alguma forma, a fim de que seu rastro fosse identificado com sucesso; m as não existe evidência de

tal prática.

14.5. os dias do hom em estão determinados. A idéia de que os dias do homem estão contados está presente

em outras passagens das Escrituras (SI 39.4). Porém, a idéia aqui, provavelmente, não é a de que uma dura­

ção específica da vida foi predeterminada, m as sim, a de que qualquer duração seria um período compara­

tivamente insignificante. No épico de Gilgamés, este diz a Erikidu que os deuses vivem para sempre, po­rém os dias dos homens são contados e nada do que

eles alcançam é permanente.

14.10-13. conceito da vida após a m orte / Sheol. Vero comentário em 3.13-19.

14.13, 14. ressurreição no antigo O riente Próxim o.Há diversos conceitos distintos de vida após a morte

evidentes no antigo Oriente Próximo. O mais funda­m ental deles é a continuação da existência, num m un­

do inferior de sepulturas, onde não há diferenciação

no tratamento dado ao justo e ao ímpio. Os israelitas

chamavam esse lugar de Sheol, e acreditavam que ali não era permitida nenhuma interação com Deus. Em

Canaã e na M esopotam ia existiam div ind ades do

mundo inferior que governavam essa dimensão. No

Egito, a existência nesse mundo era m ais compatível

para aqueles que passavam pelo julgam ento e aden­travam em seus confins. Quem não fosse aprovado

era devorado. Nenhum desses conceitos inclui a idéia de ressurreição. De m odo geral, o único despertar

que acontecia na visão de m undo antiga era a invoca­

ção dos espíritos dos mortos (que não era permanente nem na presença corporal) ou o levantar dos deuses

da fertilidade, nos ciclos da natureza. Estes morriam

anualmente quando o ciclo agrícola terminava, e "pas­savam o inverno" no m undo inferior. Depois, eram

ritualm ente despertados na prim avera. N ada disso

apresenta qualquer semelhança com a doutrina teoló­

gica da ressurreição. Igualmente não são comparáveis

a revificações ocasionais (quando um indivíduo é trazi­do de volta à vida) ou a indícios de um retom o nacio­

nal à vida (os ossos secos de Ezequiel). Uma doutrina da ressurreição inteiramente desenvolvida e elabora­

da, no sentido atual, inclui seis elementos: (1) indivi­dual, não nacional; (2) m aterial, não espiritual; (3)

universal, não isolada; (4) fora do mundo inferior; (5)

imortalidade permanente e (6) distinções entre o justo e o ímpio. O zoroastrismo parece conter todos esses

elem entos, m as a natureza das fontes não perm ite

identificar o período a partir do qual os persas passa­ram a desenvolver esses conceitos (para m ais infor­

mações, ver o comentário em Is 26.19).

14.17. encerradas n u m saco. Itens im portantes (tais como documentos em papiros) com freqüência eram co­

locados em um saco que era selado geralm ente com argila, tom ando assim seu conteúdo inacessível a pes­

soas não autorizadas. M ilhares de selos de argila foram encontrados em toda a M esopotâmia e em outras par­

tes do Oriente Próximo. Na M esopotâm ia, porém, se­

los de argila e sacos (ou jarros) não eram usados para documentos. Importantes tabletes de argila eram sela­

dos num envelope de argila que, na verdade, resumia o conteúdo do documento depositado em seu interior.

15.1-35O segundo discurso de Elifaz15.7. prim eiro hom em igualado a um hom em sábio.N a tradição israelita, o primeiro homem, Adão, não

nasceu, m as foi criado, por isso nunca foi igualado a

uma tradição de sabedoria. Na tradição mesopotâmica, Adapa, às vezes considerado o primeiro homem, foi

formado por Ea, o deus da sabedoria, como um mo­

delo para a hum anidade. Adapa recebeu sabedoria, porém, não recebeu a vida eterna. Quando o rei dos

deuses, Anu, lhe ofereceu a vida eterna, A dapa foi

enganado de m odo a recusá-la. Por isso, toda a hum a­

nidade está resignada a um destino que agora inclui a m orte e as doenças, sem acesso à vida etem a. Adapa

era considerado o primeiro de um a série de sete sábi­os que transmitiram à hum anidade a arte da civiliza­

ção. É improvável, no entanto, que um a tradição es­

pecífica esteja sendo aludida neste versículo.15.27, 28. relação entre gordura e prosperidade. A

gordura era igualada a saúde e riqueza em Israel,

porque os ricos e prósperos tinham os recursos para

um a vida de prazeres e com ida em abundância, a ponto de engordarem. A obesidade, portanto, era si­

nal de bênção e favor de Deus.

15.33. vinha despojada de suas uvas verdes. Não se

trata de um a vinha doente, mas sim, de um a vinha

saudável cujas uvas tenras (verdes) são arrancadas antes que possam amadurecer.

15.33. oliveira que perdeu a floração. Em bora a oli­veira tenha um a grand e quan tid ad e de brotos, a

maioria deles cai e não chega à maturação completa.

Da mesma forma, os desígnios do ímpio, tal como as uvas verdes e as flores da oliveira, não chegarão à

maturidade completa.

16.1-16 O quarto discurso de Jó16.9. D eus irado. D ivindades beligerantes eram co­muns na cosmovisão religiosa do antigo Oriente Pró­ximo. N um sistem a politeísta, os deuses não eram considerados amigáveis, sinceros ou previsíveis. Exem­plos incluem o deus mesopotâmico Ea dizendo a seu "favorito" Adapa que a comida que estaria servindo a ele era o "pão da m orte", quando, na verdade, lhe garantiria a vida eterna. No épico de Gilgam és, os conselhos de Ea enganam o povo, levando-os a pen­sar que as bênçãos não cairiam sobre eles, a menos que U tnapishtim fosse em bora em seu barco. Após terem-no enviado, são surpreendidos por um a inun­dação que destrói a todos. Por volta de 1200, os líbios se queixam de que os deuses lhes deram apenas uma vitória inicial contra o Egito, pois o intento final desse povo, era destrui-los. No Egito, os textos mortuários (textos da Pirâmide e textos do Esquife) tinham como alvo as divindades hostis. Existem inúm eros exem ­plos, tanto de deuses quanto de praticantes de magia lançando m au olhado sobre alguém.16.15. veste de lam ento (pano de saco). O pano de saco era usado por aqueles que estavam de luto por causa de alguma catástrofe ou pela morte de um ente querido. Era o sinal de luto m ais convencional do antigo Oriente Próximo. A veste em si era um pedaço grande de pano, provavelmente na forma de um saco de cereais ou um pano menor usado ao redor da cin­tura. A referência, aqui em Jó, é a única nas Escrituras em que o pano de saco é costurado, embora, prova­velmente, seja um a referência metafórica (Jó o costu­rou permanentemente sobre a sua pele, i. e., ele esta­rá de luto pelo resto de sua vida).17.3. garantia/segurança. Era comum fazer e receber garantias nas Escrituras (ver os comentários em Êx21.2-6; 22.6, 7; Dt 24.10-15) e no antigo Oriente Próxi­mo. Porém, existem provérbios que alertam as pesso­as a não serem fiadoras sem garantia ou penhor (Pv 6.1; 11.15; 17.18; 22.26). O penhor era alguma posse (veste, anel ou até m esm o um filho) que a pessoa dava a seu credor como um a garantia de que pagaria sua dívida.17.16. portas do S h eo l. A creditava-se que o Sheol fosse como um a cidade terrena onde havia casas e até muros (primordialmente para m anter seus habitantes presos). No texto A Descida de Istar, o mundo inferior tem um complexo de portões com sete portas e portei­ros em cada um a delas, controlando o acesso.

18.1-21O s e g u n d o d iscu rso d e B ild a d e18.13. o prim ogênito da m orte. A opinião prevale­cente é de que Jó está descrevendo uma doença fatal.

Textos ugaríticos narram um a divindade cham ada M orte (Mot) que governava o mundo inferior, embo­ra não haja nenhuma m enção a seu primogênito. Uma escolha lógica seria Resefe, o deus da peste, às vezes igualado a N ergal, o governante m esopotâm ico do mundo inferior. Infelizmente, nenhum indício é dado da ascendência de Resefe.18.14. rei dos terrores. Mot era o rei dos terrores na mitologia ugarítica. É provável que os terrores fossem hostes demoníacas comissionadas por Mot para afligir os vivos. N a M esopotâm ia e na Grécia, essas hostes eram consideradas terrores aos vivos.18.15. enxofre ardente. O enxofre ardente é encontra­do em regiões com atividade vulcânica (p. ex., na área do m ar Morto). Quando queima, form a o nocivo gás dióxido de enxofre. O termo geralmente é associ­ado à ira de D eus (ver os comentários em ls 30.33 e Ez38.22). A terra contaminada com o enxofre ardente se tom ava estéril (ver o comentário em Dt 29.23).

19.1-29 O quinto discurso de Jó19.20. pele dos m eus dentes. Alguns estudiosos acre­ditam que há um a ironia nessa expressão, um a vez que os dentes, assim como as unhas, são partes do corpo que não são revestidas por pele. Outros, porém, consideram que pode ser uma referência à gengiva, significando que todos os seus dentes haviam caído.19.24. ferro no chum bo. Presume-se tratar da descri­ção de um estilo de ferro que entalhava letras que eram preenchidas por chumbo. A inscrição de Dario I, rei da Pérsia, em Behistun, no Irã, parece ter sido

gravada com chumbo. Além do mais, tabletes de chum­bo eram usados pelos hititas, bem como pelos gregos e romanos.

20.1-29 O segundo discurso de Zofar20.8. voa como um sonho. O verbo "v oar" pode ser usado para a morte (SI 90.10). Outros textos descre­vem os inim igos como fantasmas em sonhos (SI 73.20 e ls 29.7). No modo do pensar mesopotâmico, os so­n hos eram trazid os p elos deuses pela div ind ade Zaqiqu, cujo nome deriva de uma palavra que signi­fica espírito ou sopro.20.24. arm a de ferro/ bronze de sua flech a. O ferro e o bronze juntos eram considerados símbolos de força 0ó40.18). A palavra para arm a é um termo genérico que se refere a q u alqu er p arte do eq u ip am ento de um soldado (tanto arm as de defesa quanto de ataque; ver a lista representativa em Ez 39.9). Um a arma de ferro, portanto, referia-se a um a arm a letal. Pode ser signi­ficativo, entretanto, que o cognato ugarítico refira-se,

de forma m ais específica, a um dardo. "Bronze de sua flecha" é a interpretação da NVI para "arco de bronze". A eficácia de um arco depende de sua flexibilidade, portanto, ninguém esperaria que fosse feito de bron­ze. Foram encontrados modelos desse tipo, dedicados como peças de exibição; m as, nenhum arco operacional com ornam entos de bronze foi descoberto.

21.1-34 O sexto discurso de Jó21.12. tam borim , harpa e flauta. Todos esses são ins­trumentos típicos da época e confirmados em textos, relevos e pinturas do antigo Oriente Próximo, desde o terceiro m ilênio a.C.. A "h arp a" era segurada pela mão e se constituía de algumas cordas presas a uma armação de madeira. O tamborim foi identificado em relevos arqueológicos como tambor, era um pequeno pandeiro (couro esticado sobre um aro) sem os peque­

nos guizos ou chocalhos típicos dos modernos. O ins­trumento traduzido como flauta provavelm ente era uma flauta dupla, feita de bronze ou de junco.

22.1-30 O terceiro discurso de Elifaz22.2. utilidade do hom em a D eus. Na Mesopotâmia acreditava-se que a hum anidade havia sido criada com o objetivo definido de servir aos deuses e fazer tarefas menores que eles não se dispunham a fazer. Portanto, os deuses dependiam da humanidade para a limpeza e manutenção de suas casas (i. e., templos) e para o suprimento diário de suas necessidades (ali­mento e roupas). As estátuas dos deuses eram literal­m ente vestidas diariam ente, e oferendas de comida eram dedicadas a eles todos os dias.

22.6. penhores. Um credor podia aceitar, como garan­tia, algo escolhido pelo devedor, exceto um a ferra­

m enta que ele usasse em seu trabalho (ver D t 24.6,1 0 ,11 ). Se fosse uma capa, deveria ser devolvida ao devedor ao anoitecer, para que ele pudesse proteger- se do frio (Êx 22.26, 27; D t 24.12,13).22.14. abóbada dos céus. Um hino babilónico ao deus sol, Sham ás, o exalta como o único na abóbada dos céus que governa os povos. A palavra hebraica que a NVI traduz como "abóbada" é a m esma palavra tra­duzida como "cúpula" em Isaías 40.22 (ver o comentá­rio lá). O termo acadiano usado neste e em contextos semelhantes sugere que a forma dos céus e da terra era circular, não como um a esfera, m as plana como um disco. Existe certa evidência textual que insinua que os céus eram vistos como um a cúpula, m as outras informações seriam necessárias para se chegar a essa conclusão. Não tendo nenhuma revelação contrária, Israel compartilhava dessa visão antiga.

22.24. ouro de O fir. O ouro de O fir é m encionado num a inscrição do oitavo século em Tell Q asile. A localização precisa de Ofir é desconhecida. Pelo fato de que o ouro dali era enviado por navio em Eziom- Géber pode-se tratar de uma localidade árabe, embo­ra lugares na índia e no leste da Africa tenham sido considerados.

23.1-24.25 O sétimo discurso de Jó23.10. aparecer como o ouro. A analogia feita aqui é a do processo de purificação do ouro. O ouro é refina­do e purificado através de um processo cham ado copelação ou refino. Ele é colocado num cadinho com chumbo e é derretido. À medida que o ar é soprado na superfície da m istura derretida, as im purezas se juntam formando a escória e o metal purificado per­manece. Assim como o ouro que resulta desse proces­so, Jó teria sua honra restaurada após seu próprio "processo de purificação" (i. e., seu sofrimento).24.2. m udar os m arcos dos lim ites. Mudar desonesta­mente um marco de limite (i. e., limites de uma pro­priedade) era considerado um crime muito grave (Dt 19.14; Pv 23.10). O objetivo desses marcos era prote­ger a propriedade da família (geralmente a terra). Na M esopotâmia, os m arcos continham inscrições com a descrição dos limites da propriedade e um a terrível m aldição contra o crim inoso que os alterasse. Essas maldições geralmente eram um a descrição de doen­ças dirigidas contra o corpo do ofensor. Ironicamente, elas nos ensinaram muito a respeito da compreensão que os mesopotâmicos tinham das enfermidades.24.9. criança arrancada da m ãe por causa de dívida. N a M esopotâmia, as crianças às vezes eram entregues

como garantia de um a dívida ou simplesmente toma­das pelos credores quando o devedor não podia pagá- la. Porém , os credores eram considerados desleais, nesse caso. Ver tam bém o comentário em Jó 17.3.24.11. azeitonas dentro de seus m uros. É possível que o termo usado aqui (shur) refira-se aos aterros que permitiam que as oliveiras crescessem na encosta de colinas. Outros intérpretes acreditam que o termo in­dica o equipamento usado para processar o azeite. As vinte e duas fábricas de azeite, nas cavernas de Ma- resha, fornecem detalhes do processo de fabricação do mesmo. Como parte inicial desse processo, as azeito­nas eram esprem idas num a bacia de pedra, através de um a pedra com formato de lente que era rolada sobre elas. No segundo estágio, cestos de junco, cheios de polpa, eram colocados em prensas feitas de rocha côncava onde pesos suspensos em vigas eram usados para extrair o restante de óleo. U m a das palavras acadianas para o cesto de junco é shuru.

24.11. lagares. O ú ltim o e s t á g io do p rocesso de fa­bricação do vinho é mencionado aqui: as uvas eram pi­sadas no lagar, de onde o suco escorria para os tonéis. O s lagares foram encontrad os por arqu eólogos na Palestina. Geralmente eram buracos quadrados ou re­dondos, cortados na rocha ou cavados no chão, e sela­dos com gesso ou revestidos de pedras. As uvas eram

colocadas no buraco e depois eram pisoteadas. O suco, então, escoava por um canal até um a vasilha, colocada um pouco abaixo do lagar (barril de vinho) que servia tam bém com o um recipiente para a ferm entação.24.17. pavores das trevas. O uso da expressão "rei dos terrores" em 18.14 e o contexto do termo em Ezequiel 27.36 e 28.19 sugere que o termo "terrores" pode ser usado como uma referência aos espíritos dos mortos que foram despachados ao mundo inferior.

25.1-6 O terceiro discurso de Bildade25.2. ord em n as a ltu ras. A exp ressão litera l é "E le prom ove a paz em suas alturas", ou seja, nos céus. A maioria argumenta que o escritor está aludindo ao con­flito prim itivo (Jó 9.13; 26 .12 ,13) em que D eus derro­tou Leviatã e outros m onstros. Baal (U garit) e M ar- duque (Babilônia) colocaram ordem nos céus após a derrota de seus inimigos. A tradução da NVI não é sem

relação, visto que a derrota dos m onstros do caos é o m eio pelo qual a ordem foi estabelecida no cosmos.25.5. nem as estrelas são puras. Não se sabe de ne­nhuma tradição sobre estrelas deificadas ou personifi­cadas que fossem culpadas por alguma falha ou peca­do. A palavra "pu ra" pode também ter a conotação de clara ou lim pa e , provavelm ente, aqui se refere ao fato de que as estrelas nem sempre brilham com cla­reza e limpidez no céu da noite, m as podem ser obs­curas ou opacas.

26.1-27.23 O oitavo discurso de Jó26.6-11. cosm olog ia . H avia um a divisão tríp lice do cosmos: os céus, a terra e a dimensão dos m ortos abai­xo da terra (Sheol e Abadom, no v. 6). Essa cosmologia em três p a rtes era b a s ica m e n te se m elh a n te à da M esopotâm ia e, de algum m odo, parecida com a dos textos de Ugarit. A im agem do Universo descrita aqui era a visão cosmológica comum do antigo Oriente Pró­ximo. O céu era um círculo (cúpula? Ver o comentário em 22.14) que formava uma abóbada sobre o disco da terra que, por sua vez, ficava sobre o cum e de um oceano primitivo. Debaixo desse oceano ficava o mundo inferior, virtualm ente um a im agem espelhada do es­paço sobre a terra. Portanto, todo o Universo era uma enorm e esfera cortada ao centro pela terra.

26.6. D estruição (Abadom). O p a ra le lo a Sheol (NVI: D estruição) sugere se tratar de um lugar e não de uma pessoa. O radical hebraico do qual o termo deri­

va confirma que é um lugar de destruição. Em 28.22, A badom é personificado, ju ntam ente com a m orte (hebraico, m ot); é um nom e bastante usado para se referir ao deus cananeu do mundo inferior. O termo hebraico é adotado como um nome próprio em Apo­calipse 9.11, onde é igualado ao grego Apoliom. Na mitologia grega, Apoio é o deus da peste e da destrui­ção. Em acadiano, o mundo inferior é descrito como a casa da escuridão e não como o lugar da destruição.26.7. norte. A palavra hebraica zophon tem o significa­do de norte somente porque se refere a um a m onta­nha que ficava no norte (geralmente identificada com o monte Casius, Jebel aTAqra, na Síria, altitude 1.800 m). Sua função aqui não é sua localização, mas seu stütus de "m ontanha sagrada" (SI 48.1): os altos céus onde os deuses se reúnem em assembléia e, na litera­tura ugarítica, onde fica a casa de Baal.26.7. suspende a terra sobre o nada. O vasto espaço vazio das águas primitivas é descrito como o "nada" onde a terra fica suspensa. Um a evidência para essa interpretação é a de que a palavra que descreve o lugar onde o norte é estendido (NVI "espaço vazio") é a m esm a que n arra o caos cósm ico das águas em Gênesis 1.2 (NVI "sem form a"). N a literatura babi­lónica, Shamás é louvado como aquele que suspende dos céus o círculo da terra. Esse conceito fazia parte da percepção antiga do cosmos e não de uma alusão im­plícita à compreensão científica moderna sobre o pla­neta. Ver o comentário em Salmo 24.2.26.10. horizonte como lim ite. Na cosmovisão do an­tigo O riente Próxim o, o Sol, a Lua, as estrelas e as nuvens entravam no céu através de portões, e o hori­zonte era o limite onde esses portões ficavam. Portan­to, quando o Sol nascia ou se punha, ele estava atra­vessando esse portão no horizonte que passava pelo mundo inferior. Eles acreditavam que durante a noi­te, o Sol atravessava o m undo inferior até chegar ao outro lado. Aqui, o horizonte é descrito como o limite entre a luz e as trevas.26.11. colunas dos céus. Ver o comentário em 9.6.26.12. agitou vio len tam en te o m ar. Essa descrição indica um a típica cena mítica em que a agitação do oceano cósmico perturba as criaturas (com freqüência monstros marinhos) que representam as forças do caos e da desordem. No texto Enuma Elish, o deus do céu, Anu, cria os quatro ventos que agitam as profundezas e sua deusa, Tiamat. A descrição tam bém rem ete à derrota de Yam, por Baal, na mitologia ugarítica.26.12. Raabe. Raabe é descrito como um dos monstros m arinhos m ortos por Deus. Em am bos os m itos da

criação (babilónico e ugarítico), a divindade vencedo­ra (Marduque na Babilônia e Baal em Ugarit) luta e m ata um m onstro m arinho e seu séquito de form a semelhante a Yahweh. Em outros contextos, o termo Raabe é simbolicamente usado para designar o Egito (Is 30.7; SI 87.4). O nome Raabe ainda não foi encon­trado em fontes extrabíblicas.26.13. serpente arisca. Essa é, provavelm ente, outra alusão à derrota do monstro m arinho e seus aliados. M arduque derrotou Tiam at através de um poderoso vento e usou um a rede para capturá-la. A serpente arisca também aparece em Isaías 27.1 (ver o comentá­rio nessa referência).27.18. cabana fe ita p ela sentinela. A cabana feita pela sentinela era frágil e usada apenas temporariamente. O s agricultores faziam esses abrigos provisórios, no meio de seus campos, a fim de armazenar os cereais durante as colheitas.27.23. bate palm as contra ele. Gestos e linguagem corporal ganham diferentes significados em diferen­tes culturas. N a sociedade ocidental atual, as palmas podem ser usadas para demonstrar apreciação, cha­m ar subordinados ou crianças, chamar a atenção de alguém, acompanhar um a música ou expressar frus­tração (uma palma). As palmas tam bém tinham di­versas funções no m undo antigo. Elas podiam ser usadas no louvor (SI 47.1), ou aplauso (2 Rs 11.12), ou como um gesto de raiva ou escárnio (Nm 24.10). Tal­vez houvesse variações no movimento preciso envol­vido: compare os diferentes sentidos na cultura oci­

dental de (1) bater palmas com as mãos paralelas ao corpo num nível horizontal (aplauso); (2) bater pal­m as num m ovim ento ligeiram ente vertical (frustra­ção) e (3) bater palmas perpendiculares ao corpo, al­ternando uma mão por cima e outra por baixo (como se estivesse limpando a poeira das mãos).

28.1-28Hino de sabedoria28.1-11. m inas no antigo O riente Próximo. A Palesti­na, assim como a M esopotâmia, geralmente era pobre em recursos minerais. Existem inúmeros depósitos de ferro de baixa qualidade, na Palestina; os de boa qua­lidade são poucos. Os únicos principais depósitos de ferro n a P a lestin a , atu alm ente, en contram -se em Mugharat el-Wardeh, nas colinas de Ajlun, perto do rio Jaboque. As minas de cobre estão situadas basica­mente na Transjordânia. Enquanto o ferro pode ser extraído da superfície, a extração do cobre exige uma escavação profunda. O ouro era extraído em Núbia e no sul da Arábia, enquanto que na Turquia era feita a extração da prata. Evidências de m inas vêm do Egito desde a Primeira Dinastia (c. 3000 a.C.). O mé­

todo metalúrgico, descrito aqui em Jó, pode ser visto num a série de relevos egípcios, em paredes funerári­as do N ovo Reinado (c. 1550-1050 a.C.). A s m inas subterrâneas, descritas aqui, começaram a ser utiliza­das no antigo Oriente Próximo por volta de 2000 a.C.. Poços verticais eram cavados em intervalos até alcan­çar o veio horizontal de minério. No Egito, havia a preferência por m inas abertas; e, às vezes, poços hori­zontais eram cavados na encosta das montanhas ou em penhascos. Por volta da metade do segundo m ilê­n io , as subterrâneas eram m ais freqüentes. A s de cobre e turquesa do Egito, no Sinai, forneceram m ui­tas informações a respeito de técnicas de mineração e da profissão de minerador.28.5. fogo. Nas minas antigas, a rocha era partida por meio de um processo chamado "atear fogo" e depois era m olhada com água fria m isturada com vinagre (acreditava-se que se intensificava o frio).28.6. safiras (lápis-lazúli). A safira (lápis-lazúli) era uma pedra azul-escura encontrada principalmente no Irã. Tem sido encontrada, com freqüência, em escava­ções arqueológicas na região do Tigre e Eufrates, es­pecialm ente em túm ulos reais m esopotâm icos. Os depósitos de safira muitas vezes eram m esclados com veios de pirita, talvez o ouro mencionado aqui.28.16-19. pedras preciosas. A s diversas pedras preci­osas aqui mencionadas eram todas de grande valor. O term o para ouro deriva de um a palavra egípcia referente ao lugar onde era extraído, provavelmente Núbia. A identidade das pedras preciosas do versículo

16 não é certa; alguns estudiosos têm sugerido o ônix ou a comalina. O vidro ou cristal era produzido no Egito desde o quarto m ilênio a.C., prim ordialm ente para ornamentação (embora o uso de vasilhas de vi­dro tenha se tom ado comum na Palestina somente a partir do prim eiro século a.C .). A prim eira pedra mencionada no versículo 18 foi considerada a coral, um a pedra vermelha, usada para enfeite. A palavra para cristal (gabish) é a origem do termo gipsita e é usada somente neste contexto das Escrituras. A última pedra do versículo 18 é um tipo de rubi, enquanto o topázio (v. 19) designa a crisólita amarela.

28.20-28. fon te de sabedoria na concepção do antigo O riente Próxim o. Na M esopotâmia, a sabedoria não era considerada um a habilidade intelectual ou uma qualidade moral, m as sim, um a habilidade específi­ca, geralm ente em rituais cultuais ou de magia. A principal divindade associada à sabedoria era Enkidu (ou Ea) que concedeu as artes rituais e cultuais à hu­manidade. Portanto, a fonte da sabedoria era o pró­prio Enki, apesar dele ser apenas o principal repositório e não a origem da dela. Igualm ente, Yahw eh, nos versículos 23-27, é retratado como aquele que sabe

onde encontrar a sabedoria e não como seu criador ou sua origem. Se, no entanto, a sabedoria é encarada como a habilidade de discernir a ordem inerente no mundo criado, ela pode ser alcançada apenas através daquele que estabeleceu essa ordem. D a mesma for­ma, então, a soberania atribuída a M arduque, pelos babilónicos, perm itia que ele fosse cham ado de 'o Senhor da Sabedoria'.

29.1-31.40 A continuação do discurso de Jó29.6. veredas em bebid as em nata. A im agem aqui enfatiza a riqueza de Jó. Seus rebanhos produziam tal abundância de nata (coalho) que Jó podia lavar seus pés com ela.29.6. torrente de azeite da rocha. As oliveiras, princi­pal fonte de azeite, cresciam em solo rochoso porque conseguiam sobreviver com quantidades m ínimas de água. O significado desse versículo é confirmado atra­vés da comparação com Deuteronômio 32.13.29.7. assento à porta da cidade. A porta da cidade, no antigo Oriente Próximo, era tuna área ampla e aber­ta, onde também se situava uma praça ou o mercado da cidade. Era ali que os negócios eram feitos e onde os procedimentos judiciais e outras atividades do go­verno aconteciam. Logo, era a área mais pública dali. Com o Jó era um chefe de fam ília (i.e., um a auto­ridade), ele tomava seu "assento" (lugar) à porta da cidade, enfatizando sua importância.29.12. socorro para o pobre e para o órfão. Ver os co­m entários em Êxodo 22.22-24.29.20. g lória renovada, arco novo. A glória de al­guém (literalm ente o fígado) significava seus senti­mentos mais íntimos e profundos. O "fígad o" renova­do de Jó significava que ele teria um a estabilidade emocional firme e se sentiria contente e feliz. U m arco podia ressecar e tom ar-se quebradiço, ou ser usado demais e perder sua elasticidade e ainda, com fre­qüência, simbolizava a virilidade e o vigor físico de uma pessoa. Logo, Jó seria um "novo hom em " com a força de um jovem.30.4 . ervas do m ato ra s te iro . E ssas ervas foram identificadas como a artiplex halimus, uma planta co­mestível com um sabor bastante amargo. O Talmude diz que essa planta era para os pobres e para aqueles que estavam em perigo de morrer de fome.30.4. giesta. A raiz da giesta (retana roetam) não era comestível, mas era usada para fazer carvão (ver SI120.4). Essa planta cresce principalmente nas regiões desérticas do Sinai e do m ar Morto.30.11. im agem do arco frouxo. O arco frouxo parece significar a perda de forças de Jó. O term o para arco aqui, porém , é obscuro e tem sido in terp retad o de

diversas maneiras. Também pode denotar a corda que, um a vez frouxa, poderia levar a tenda a cair. A im a­gem é clara: o corpo de Jó está frágil e próxim o da morte.30.28. escurecido. O termo "escurecido" parece refe­rir-se à pele de Jó (embora alguns tenham argumen­tado que pode referir-se às suas vestes). A palavra

traduzida como "escurecido", geralmente é usada para luto, e faria m ais sentido n este contexto. A m esma expressão é usada em Salmo 38.6 onde a NVI traduz "p rantean d o". Em bora possa referir-se ao pano de saco (pêlo de bode preto), é mais provável que seja a fuligem preta das cinzas que a pessoa de luto colocava sobre a cabeça. N o versícu lo 30, a pele escurecida (palavra diferente) está relacionada à doença de Jó.31.1-40. paralelos legais de Jó . A renúncia de Jó ao m al é sem elhante, em m uitos aspectos, à confissão negativa do Livro Egípcio dos Mortos. N essa obra, um indivíduo, após a morte, é apresentado diante do trono de julgam ento de Osíris, onde ele recita uma longa lista de quarenta e dois pecados que não come­teu. A lista inclui mentir, roubar, cometer assassinato, matar o touro sagrado, intrometer-se em assuntos alhei­os, praticar o homossexualismo, ser irascível, gritar, ser im paciente e praticar a m agia contra um deus, apenas para citar alguns. Ainda mais direto, Kantuzilis, em um a oração hitita ao deus da tem pestade, pedi alívio ao sofrimento, declarando sua inocência numa lista de itens (quebrar juram entos, com er alimentos proibidos, abster-se de oferecer sacrifícios). Esse jura­mento, claramente coloca Jó na posição de réu. Um a declaração de inocência era um elemento comum em procedim entos legais em que se apelava a um juiz para uma audiência pública. Visto que muitas vezes era impossível reunir provas suficientes nesse tipo de caso, o juram ento assumia grande peso e importância. Até a essa altura, Jó estava aflito com o silêncio de Deus. Ao fazer seu juram ento de inocência, ele espera que a continuidade desse silêncio se volte para seu benefício. Se D eus ignorar seu juram ento, será um reconhecimento tácito de sua inocência.31.12. Abadom (Destruição). Juntamente com Sheol, A badom é o nom e para a habitação dos mortos (ver o comentário em 26.6) e equivale à sepultura. O termo literalm ente significa destruição e tam bém aparece como Apoliom, em Apocalipse 9.11, onde se refere ao anjo do Abismo.31.36. levar a denúncia nos om bros. Vestir ou carre­gar algo nos ombros demonstrava a importância da­quele objeto, e a pessoa que assim fazia , o exibia orgulhosamente (ver Is 9.6; 22.22). Além do mais, um item inscrito ou atado à mão, no pescoço ou na testa passava a ser um constante lem brete para quem o

estivesse usando e uma advertência aos espectadores (Pv 6.21; Êx 8.16; Dt 6.8; 11.18).

32.1-37.24 O discurso de Eliú32.2. Buz. Buz era o sobrinho de Abraão (Gn 22.20, 21) e, presumivelmente, o ancestral desse clã arameu (Rão). Os anais do rei assírio, Esar-Hadom, m encio­nam o nom e geográfico Bazu, que foi identificado com a ilha de Bahrein, no golfo Pérsico.32.19. vinho arrolhado/ odres novos. Os odres novos podiam arm azenar por m uito tempo vinho em pro­cesso de fermentação, visto que o couro de que eram feitos se expandia juntam ente com o vinho. Se os odres fossem arrolhados nesse processo, corriam o risco de explodir, a menos que tivessem algum orifício (Jr 20.9).33 .15 ,16. D eus falando em sonho. Ver o comentário em Jó 4.13-15.33.22. cova/ m en sageiros da m orte. A língua aca- diana também possui uma palavra para referir-se ao m undo inferior que é traduzida como "cova" (hashtu). A terminologia é extraída do buraco que se cava para a sepultura. Não se sabe ao certo a que se referem os

m ensageiros da morte. N a literatura m esopotâmica, havia diversos deuses chamados de "portadores da m orte". M as, o termo "m ensageiros" não aparece aqui no texto, e alguns intérpretes têm sugerido, num a alternativa plausível, a expressão "lugar dos mortos" como um paralelo à cova.

35.10. cânticos da noite. V isto que os problem as e aflições estão associados à noite, os cânticos, durante à noite, trariam uma mudança bem-vinda, fossem eles cantados para expressar as frustrações da pessoa, em angústia, ou sua confiança na presença de Deus. Exis­

tem também alguns cognatos semitas do termo tradu­zido como "cântico" que significam força ou proteção, e que se encaixariam a alguns paralelos no hebraico (por exemplo, em Êx 15.2, onde se lê "O Senhor é a minha força e a m inha canção").36.14. prostitutos. Os prostitutos m encionados aqui, provavelmente são uma referência ao culto cananeu da fertilidade. Para inform ações adicionais concer­

nentes à prostituição cultual em geral, ver o comentá­rio em Deuteronômio 23.17, 18. O termo usado aqui ocorre tanto na form a feminina quanto na m asculina e refere-se, talvez num eufemismo, àqueles que havi­am sido separados para funções específicas no templo. A mesma palavra é usada na literatura acadiana para referir-se àqueles que haviam sido consagrados como funcionários que serviam em templos e santuários. O(A) prostituto(a) fazia parte dessa equipe de funcio­nários, assim como a ama-seca e a parteira. Não fica claro quais outras funções esses prostitutos desempe­

nhavam. Para mais informações, consulte o comentá­rio em 2 Reis 23.7.

36.27. o c iclo da água. Em bora alguns intérpretes modernos tenham tentado ler este versículo como uma

descrição científica do ciclo de condensação e evapora­ção da água, é evidente que o contexto trata de uma

abordagem diferente (ver o v. 32 onde D eus enche as m ãos de relâmpagos atirando-os como se fossem lan­

ças). O s dois verbos, neste versículo, falam de um processo de atrair e escoar ou destilar (como os metais

preciosos eram separados da escória no processo de refino). Acreditava-se, no antigo Oriente Próximo, que

as gotas da chuva caíam de um riacho ou oceano

celeste, uma grande m assa de água que envolvia a

terra, e também de águas subterrâneas. Portanto, havia águas acima e abaixo da terra. Era dessas águas que D eus atraía as gotas de chuva.

37.2-4. deuses da tempestade. Nos mitos ugaríticos, o

deus da tempestade, Baal-Hadade, aterrorizava seus

inimigos que fugiam com medo por causa do estrondo

de sua voz (ver também SI 29). O equivalente acadiano, Adade, tam bém trovejava com sua voz. Os deuses da

tempestade eram retratados segurando relâmpagos e raios na mão.

37.9. câm aras de tem pestade. A creditava-se que os

ventos ficavam armazenados em câmaras, nos céus.

Essas câmaras eram periodicam ente esvaziadas por Deus. Os cananeus e os babilónicos atribuíam as m a­

nifestações das tempestades a Adade, o deus da tem­

pestade e dos ventos. Im agens sem elhantes (e m ais freqüentes) descrevem Yahw eh tendo depósitos de

chuva, granizo e neve, que são colocadas em movi­mento pelo vento, provavelmente instigado por seu

sopro. A palavra traduzida como "depósitos ou câma­

ras" pode ser usada para referir-se à casas de tesouro, onde eram guardados objetos preciosos, bem como

armas reais. Granizo, neve, vento, trovão e relâmpa­

gos freqüentemente são vistos como armas que Deus usa para derrotar seus inim igos. Igualm ente, esses

depósitos podiam servir como arm azéns de cevada,

tâmaras, cereais ou dízimos em geral. Do mesmo modo, Deus recorre aos "produtos" em seu estoque, confor­

me se faz necessário. Os depósitos cósmicos não eram

uma figura comum no antigo Oriente Próximo.

37.13. chuva com o castigo de D eus. As chuvas eram usadas por D eus tanto para abençoar quanto para cas­

tigar, dependendo da situação. Elas traziam a água tão necessária aos cam pos, para o crescim ento das plan­

tações, mas tam bém podiam trazer m uitos estragos e

prejuízos quando eram acompanhadas de fortes ven­tos e granizo. No m undo antigo, as pessoas acredita­

vam que o clim a era totalmente controlado pela divin­

dade e era usado para recompensar ou punir. Elas não viam o m undo sendo regido por leis naturais.37.18. espelho de bronze. O s espelhos, na Antigüi­dade, eram feitos de bronze e eram muito resistentes e difíceis de quebrar. A imagem era apropriada para descrever o céu nos dias quentes e secos de verão, em que o calor do Sol se refletia na rocha e na areia através do mormaço parado e dourado. Além disso, no m undo antigo, acreditava-se que o céu era uma cúpula sólida ou um disco.

38.1-41.34 Os discursos de Deus38.1. D eus fa la do m eio da tem pestade. D eus muitas vezes se apresentava através de um a tempestade (2 Rs 2.11; Ez 1.4) e vinha na tormenta ju lgar as nações. Os deuses da tem p estad e, no antigo O riente Próxim o (Baal-H adade em U garit, A dade na M esopotâm ia), tam bém se m anifestavam dessa m aneira. Yahw eh é retratado como o senhor da tempestade e o dominador dos ventos, que podiam trazer vida, bem como destrui­ção. Esse tipo de linguagem figurada demonstra a m a­jestade de Deus como um traço comum na poesia épi­ca do antigo Oriente Próxim o. Por exemplo, no épico ugarítico de Baal e Anate, o deus Baal é descrito como o "Cavaleiro das N uvens",e sua "voz" é o som e a fúria do trovão e dos relâm pagos. Igualm ente, na história babilónica da criação, Enuma Elish, o deus da tempes­tade, M arduque, derrota a deusa prim itiva do caos aquático, Tiamat, através do controle dos ventos e do uso de relâmpagos. Ver o comentário em Zacarias 9.14.38.4. D eu s respond e aos d esafios fazend o uso de perguntas retóricas. No Épico de Erra, Erra (Nergal) desafia M arduque, tendo em vista a perda da digni­dade divina dele. Com um a longa resposta, M arduque explica sua condição, m as depois defende sua sobera­nia fazendo a Erra uma série de perguntas sem res­posta, do tipo "onde" e "qu em ", a fim de demonstrar

sua sabedoria e domínio.38.4-6. alicerces da terra, fundam entos, pedra de esqui­na. No m undo antigo, o cosm os era visto com o um tem p lo e os tem p los rep resen tavam m icrocosm os. Aqui, os elementos mais importantes para a sua cons­trução são m encionados no m om ento em que Deus estabelece esse cosmos. O s alicerces determ inavam o tamanho e a posição do templo, por isso eram lançados cuidad osam ente. Todo o terreno era explorado; no entanto, era a divindade quem determinava o local e a posição da construção. A palavra traduzida com o "fundam entos" era usada, com freqüência, para des­crever as sapatas que sustentavam as colunas usadas no tabernáculo. A pedra de esqu ina, ou ped ra fu n ­damental, sempre era importante na construção e res­

tauração de templos. Um dos relatos m ais detalhados sobre essas edificações, na literatura do antigo Orien­te Próxim o, descreve a obra de um tem plo feita por Gudea para N ingirsu, por volta de 2000 a.C.. A ceri­mônia do lançamento da pedra fundamental demons­tra sua centralidade em todo o processo de construção.38.5. linha de m edir. A localização e a posição de um templo eram consideradas um aspecto extremamente importante (ver o comentário em Ex 26.1-36) da cons­trução. Essa questão tam bém fica evidente em textos mitológicos e históricos que relatam construções de tem­plos na Mesopotâmia. Quando M arduque está se pre­parando para edificar seu templo cósm ico em Enuma Elish, ele m ede o A psu (a área onde os alicerces do templo seriam lançados). Desde a época dos sumérios até o período dos assírios e babilón icos, a posse de

equipam entos de m edição era um sinal da aprovação divina para o projeto de reconstrução. Era através desse equipam ento que o líder recebia a orientação divina.

38.7. estrelas matutinas/ an jos. Geralm ente o lança­mento da "pedra fundam ental" era acompanhado de grande celebração. A s estrelas m atutinas (planetas como M arte e Vênus) eram adoradas como seres divi­

nos no antigo Oriente Próximo e eram personificadas como parte dos exércitos celestiais em Israel. No con­texto de Jó 38, essas "estrelas" são comparadas a seres angelicais criados. U m poem a ugarítico descreve o nascimento de uma série de divindades astrais.38.8. m ar irrom peu do ventre m aterno. D e acordo com a visão mesopotâmica, a região cósmica de onde as águas subterrâneas haviam emergido era chama­da de Apsu, e ficava localizada entre a terra e o mun­do inferior. Em um encantamento, a mãe de Apsu é descrita como a deusa do rio. O mito babilónico da criação reconta como Tiamat, deusa do m ar e mãe de toda a criação, foi derrotada por M arduque. Igual­mente, Baal, no mito ugarítico da criação, derrota Yam, o deus do mar. A temática, aqui em Jó, concernente ao nascimento do deus do mar, não aparece em nenhum outro contexto. Alguns estudiosos concluíram que o fato do m ar ter sido represado por Yahweh, quando irrompeu do ventre materno, sugere que não foi ne­cessário derrotar um m ar rebelde que ameaçava ge­rar o caos (como M arduque e Baal tiveram de derro­tar), m as que sempre esteve sob o controle de Deus.38.10. portas e barreiras do mar. Após derrotar Tiamat, M arduque criou os m ares e colocou guardas para vi­giar suas águas. O Épico de Atrahasis babilónico cita um ferrolho do m ar sob a posse do deus Ea (Enki). O utros textos falam de fechaduras ou cadeados do mar. Um a das principais tarefas do chefe do panteão era vigiar o m ar para que o caos fosse controlado e a ordem prevalecesse.

38.14. barro sob o sinete. Selos estampados por anéis

e sinetes eram obtidos através da gravação de uma figura na argila ou na rocha (ver a nota de rodapé em

Jr 32). Um sinete pressionado no barro fresco dava

form a, contorno, desenho e significado a algo que anteriorm ente não tinha características distintas. A

luz do nascer do Sol igualmente evidencia os traços topográficos do relevo.38.17. portas das densas trevas (da som bra da m orte).

No épico mesopotâmico da D escida de Istar, a deusa Istar precisa atravessar sete portas para chegar ao mun­

do inferior e dali voltar para a terra dos viventes. Os

israelitas tam bém acreditavam que a m orte (Sheol) era contida por portões.

38.19. m oradia da luz. É provável que a questão se refira ao lugar aonde uma (luz) vai quando a outra (escuridão) está presente. No antigo Oriente Próximo,

o Sol atravessava o mundo inferior durante a noite ou habitava em câmaras isoladas. O Épico de Gilgamés

faz menção a um lugar chamado região da escuridão,

um a área de constantes trevas, em oposição a outra que é chamada de Caminho do Sol.

38.22. reservatórios de neve, depósitos de granizo.

Os israelitas acreditavam que a neve e o granizo, tal

como a chuva, ficavam arm azenados em depósitos para serem usados quando fosse necessário (ver o comentário em 37.9).

38.28, 29. nascim ento da natureza. No antigo Oriente Próxim o e na G récia existia um a forte tradição de

teogonia (nascimento dos deuses como elementos na­turais do Universo). O épico babilónico da criação se

inicia com os elementos naturais divinos, todos gera­

dos de um vapor d'água (Tiamat). Esses elem entos naturais, por sua vez, geraram outras formas divinas.

Imagens semelhantes são encontradas na Grécia, na

Teogonia de Hesíodo. É difícil determinar se o texto em

questão não leva em conta essa visão ou se simples­mente demonstra a ignorância de Jó quanto à respos­

ta. A literatura cananita m enciona Pidrya, filha da

névoa, e Taliya, filha das chuvas, no épico ugarítico de Baal. N a literatura m esopotâm ica, o orvalho às

vezes é visto como proveniente das estrelas e Shamás,

o deus Sol, com o aquele que fornece o orvalho, a névoa e o gelo.

38.31, 32. constelações. As três constelações mencio­

nadas aqui (Plêiades, Órion e a Ursa) são as mesmas mencionadas em Jó 9.9 (ver o comentário ali). Não se

sabe ao certo a que se refere a quarta constelação, mas pode ser um termo para planetas. Os babilónicos nor­

malmente faziam uso de mapas astrais (cf. is 47.13) e

acreditavam que os movimentos dos corpos celestes influenciavam nos assuntos terrenos. Além do mais,

ao traçar o m ovimento dos astros em m apas era possí­vel prever o clima.39.13-18. comportam ento da avestruz. A arte esculpi­da de Israel, desde 1000 a.C. e por diversos séculos, retrata um a divindade ladeada por avestruzes. Keel acredita que esses animais representavam os poderes sobrenaturais que sobrevivem no deserto sem o con­trole da divindade. Não é difícil notar porque os hábi­tos peculiares da avestruz passaram a ser a essência de certos provérbios. Ela parece ser indiferente a seus filhotes, visto que, quando os predadores atacam, a avestruz tenta atrai-los para longe correndo e deixan­do sua prole razoavelmente camuflada sobre o chão. Os ovos de um a avestruz de fato são depositados na areia, mas o perigo de serem esmagados ou pisados não é tão grande quanto parece. A casca dos ovos é seis vezes mais grossa que a de um ovo de galinha. Os machos compartilham das responsabilidades de incubação e assumem a m aior parte do cuidado dos filhotes depois que nascem. U ma avestruz adulta pode atingir uma velocidade de 80 quilôm etros por hora num percurso de m ais ou menos um quilômetro. As avestruzes eram caçadas pelos faraós (retratadas como a presa de Tutancâmon) que apreciavam as plumas para leques. Elas se extinguiram no oeste da Á sia somente no século vinte.40.15-24. B eem ote. D esde por volta do século de­zessete, o Beem ote tem sido tradicionalmente identifi­cado com o hipopótamo, que era abundante no Egito e em grande pare da África. Os m onarcas do Egito caçavam esse animal, como inúmeros relevos de pa­rede ilustram. O hipopótamo desempenha um papel em m uitos m itos egípcios, em que, com freqüência, simboliza poderes inimigos contra o trono. Havia até m esm o um festival egípcio em que um desses ani­mais era morto, simbolizando os inimigos do faraó. A dificuldade com essa identificação é que a descrição no texto não se encaixa particularmente a um hipopó­tamo (especialmente o v. 17). A interpretação inter- testamentária antiga favorece a identificação a um ser mítico/sobrenatural (por exemplo, muitos estudiosos igualariam a besta e o dragão do Apocalipse ao Bee­mote e ao Leviatã respectivamente). Na literatura uga- rítica, o dragão de sete cabeças (ver o comentário abai­xo em 41.1) é comparado à criatura identificada como Arshu, também conhecida como o bezerro de El, Atik.40.24. m eios de captura. Na Antigüidade, o hipopóta­mo era considerado m uito difícil de capturar. Uma estratégia era enganchar o nariz do animal obrigan­do-o a respirar pela boca. Assim, ele podia ser morto atirando-se um arpão pela abertura da boca.41.1. Leviatã. O Leviatã tem sido muitas vezes iden­tificado com o crocodilo, que era encontrado principal­

mente no Egito (onde simbolizava o poder e a gran­deza real), m as tam bém , raram ente, na Palestina. Porém , as m últiplas cabeças, em Salm o 74.14, e o sopro de onde sai fumaça e fogo, conforme a descrição dos versos 19-21, com plicam essa afirm ação. Como alternativa, o Leviatã tem sido descrito como um mons­tro marinho (ver SI 74.14; Is 27.1). Essa hipótese en­contra suporte em textos ugaríticos que contêm descri­

ções detalhadas de uma besta do caos, representando os mares ou a anarquia das águas, na forma de uma serpente do m ar com muitas cabeças, que é derrotada por Baal. Há uma relação íntima entre a descrição do Leviatã, em Isaías, como uma "serpente tortuosa" e o épico ugarítico de Baal, que fala de como o deus da tempestade "golpeou Litan, a serpente que se contor­ce". Em ambos os casos, há um sentido do deus da ordem e da fertilidade subjugando um m onstro do caos. Diversas outras passagens do Antigo Testamen­to mencionam o Leviatã, mas a maioria delas, como o Salmo 74.14, fala em termos da ação criativa de Deus que estabelece o controle sobre o caos das águas (per­sonificado pela serpente do mar). Porém , em Isaías27.1, essa luta entre a ordem e o caos ocorre no fim dos tem pos. Pode ser que Satanás, retratado com o um dragão de sete cabeças em A pocalipse 12.3-9, tam ­bém remeta à figura ugarítica de Litan como "o tirano de sete cabeças". Biblicam ente, o Leviatã, portanto, poderia facilmente encaixar-se na categoria de criatu­ra sobrenatural (como os querubins), em oposição às criaturas naturais ou puram ente mitológicas. Como tal, ele pode aparecer na m itologia extrabíblica, e

também ser simbolizado por algo como um crocodilo

(como em Ez 29.3 em bora o Leviatã não seja especifi­

camente mencionado naquele contexto).

41.18-21. criaturas que soltam fogo. As criaturas que

soltam fogo eram conhecidas no m ito ugarítico de

Baal contra o m ar (Yam). Os terríveis m ensageiros de

Yam aterrorizaram a assembléia divina com sua apa­

rência assustadora. No Épico de Gilgamés, o guardião

H uwawa é descrito pela expressão "su a boca é o pró­

prio fogo".

42.1-17 A restauração de Jó42.11. presentes. O termo hebraico aqui para "peça

de prata" (qesita) era um a unidade antiga usada prin­

cipalm ente no período P atriarcal (Gn 33.19). Cem

qesitas era o valor exigido para comprar uma proprie­

dade de tam anho razoável (ver Js 24.32), portanto,

uma qesita era um presente considerável. O anel de

ouro talvez fosse um a argola de nariz ou brinco, ge­

ralm ente usado pelos ricos.

42.12. tam anho dos rebanhos. Jó agora tem o dobro dos

rebanhos que tinha no início da história (ver Jó 1.3).

42.15. filh as recebendo herança ju nto com os filh os.

Na antiga Israel, as filhas norm alm ente recebiam a

herança apenas quando não havia nenhum filho (ver

Nm 26.33). Dessa forma, é algo excepcional, no Anti­

go Testamento, as filhas receberem herança junto com

os filhos, em bora haja paralelos entre os egeus, no

início do primeiro milênio a.C., e em Ugarit.

Salmos

Conceitos básicosAcrósticos. O "acróstico" é uma forma literária em que as primeiras letras de linhas conse­cutivas formam um padrão. Em acrósticos alfabéticos, o padrão é o alfabeto (a primeira linha começa com a primeira letra do alfabeto a segunda com a segunda letra e assim por diante). Outras formas de acróstico podem soletrar uma mensagem ou um nome (por exem­plo, o escriba que compôs a obra ou a divindade sendo honrada). Existem diversos tipos no Livro de Salmos (9; 10; 25; 34; 37; 111; 112; 119; 145). O Salmo 119 é o mais complexo, visto que cada letra do alfabeto hebraico é representada por oito linhas consecutivas. Todos os acrósticos hebraicos da Bíblia são alfabéticos. Os sete exemplos de acrósticos na literatura mesopotâmica formam nomes/frases (sendo o acadiano uma língua silábica então não ha­via alfabeto, portanto, não existiam acrósticos alfabéticos) e geralmente remontam à pri­meira metade do primeiro milênio. Os exemplos egípcios oferecem seqüências numéricas ou mensagens complexas que envolvem desenhos horizontais e verticais. Os acrósticos de­pendem da escrita e, portanto, não podiam ser compostos oralmente. Tinham o objetivo de ser lidos, não apenas ouvidos, devido à importância do elemento visual. Isso fica claro nos exemplos babilónicos, em que um sinal variável precisa ser lido com um determinado valor em um poema, mas com outro em um acróstico. Alguns dos exemplos babilónicos também contêm um padrão no último signo de cada linha. Outra variação encontra-se nos exemplos em que o acróstico é repetido em cada estrofe.

Vida após a morte. Sheol é a palavra hebraica usada para mundo inferior. Embora a transferência de uma pessoa da vida para o Sheol possa ser considerada um ato de juízo, o Sheol em si não é considerado um lugar de castigo, em oposição a um destino celestial de recompensas. A palavra às vezes é usada como sinônimo de sepultura por ser esta o portal de acesso ao mundo inferior. Além do 'Sheol', os salmos também fazem menção, com freqüên­cia, à "cova". Esse tipo de terminologia ocorre como um termo variante para o mundo inferior desde o período sumério. Faz sentido esse uso, considerando-se que a sepultura (buraco cavado na terra) era a entrada para o mundo inferior. Os israelitas acreditavam que o espírito dos mortos continuava a existir nesse mundo de trevas. Não era uma existência agradável, mas nunca é associada ao tormento do inferno do Antigo Testamento (a imagem descrita em Is 66.24 não é associada ao Sheol). Não fica claro se na visão israelita havia alternativas para o Sheol. As pessoas que eram poupadas desse lugar eram mantidas vivas, não sendo enviadas a nenhum outro local. Havia, pelo menos, uma vaga idéia da existência de outro lugar aonde ir, vista nos exemplos de Enoque e Elias, que não passaram pela morte e presumivelmente não foram ao Sheol. Mas esses textos não deixam claro qual seria a outra alternativa. Na ausência de uma revelação específica, as crenças israelitas se adequavam aos conceitos vigentes entre seus vizinhos cananeus e mesopotâmicos.

Um esboço geral das crenças mesopotâmicas sugeria que os mortos precisavam atraves­sar um deserto, montanhas e um rio e depois descer, passando pelas sete portas do mundo inferior. Embora descrito, nessa literatura mesopotânica, como um lugar de escuridão onde os habitantes se vestiam de penas de aves e comiam terra, relatos mais amenos também eram comuns. Esses habitantes do mundo da sombra também eram sustentados pelas ofertas dedicadas pelos viventes e desfrutavam de alguma luz quando o Solpassava por lá (quando era noite na terra dos viventes) para nascer no leste novamente na manhã seguinte. Os governantes dali, Nergal e Ereshkigal, eram assistidos por um grupo chamado os Anunnaki. Apesar das descrições sombrias, ninguém queria afastar-se das portas do mundo inferior porque a alternativa era ser um espírito vagante sem acesso a ofertas funerárias.

Algumas expressões de Salmos têm sido interpretadas com freqüência como uma refe­rência à vida após a morte na presença de Deus, embora outras explicações sejam possíveis. Outros salmos falam em termos de acordar e ver a face de Deus (11.17; 17.15).0 contexto deste Livro não trata de uma prévia do céu e sim de uma experiência no templo, como 27.4 e 63.3 deixam claro. Essa expressão ocorre com o mesmo significado em acadiano, onde, por exem­plo, Assurbanípal anseia por olhar a face de seu deus Assur (no templo) e prostrar-se diante dele. Um hino a Istar afirma que o homem doente que contemplar o rosto dela será curado. Em termos mais gerais, o sofredor babilónico, em LucLlul Bd Nemeqi, diz invocar seu deus, que não mostra sua face, esperando que o amanhã lhe trouxesse boas coisas. O salmista também espera sua libertação ao acordar pela manhã (139.18). Uma segunda expressão diz respeito à remissão do Sheol (49.15). Ela significa apenas que o salmista foi poupado da morte por algum tempo: não que ele irá para o céu em vez do Sheol (compare as palavras e os contextos em 18.16-19; 30.2, 3). Novamente, expressões semelhantes ocorrem na literatura mesopotâmica, onde Marduque é considerado aquele que restaura a vida à sepultura (ver o comentário em 30.3) ou dá vida aos mortos. Gula, a deusa da cura, afirma ser capaz de trazer os mortos do mundo inferior. Essas são expressões de cura e não de ressurreição. Para uma discussão a respeito da ressurreição, ver o comentário em Daniel 12.2.

A criação em salmos. O louvor a Yahweh como o Criador, em Salmos, concentra-se basicamente no fato de Deus garantir a ordem e a sustentação do cosmos. Seu controle e soberania são demonstrados à medida que Ele exibe seu domínio dos céus, nuvens, Sol, Lua, estrelas, terra, mares, trovões e relâmpagos. Como no resto do mundo antigo, em Israel era mais importante quem estava no controle do que a origem das coisas em si. Não obstante, Yahweh também é visto como a origem de cada parte do cosmos. Isso também se estende aos seus habitantes, desde os seres humanos até as diversas espécies de vida animal, mesmo as mais desconhecidas. A linguagem poética dos Salmos não hesita em adotar a imagem do cosmos que era comum à visão de mundo, contida na mitologia e na ciência do antigo Oriente Próximo. Embora hoje, em nosso mundo cientificamente esclarecido, alguns desejariam en­contrar em Salmos uma precisão implícita na linguagem poética, tal abordagem apresenta um dilema metodológico. Os leitores israelitas estavam familiarizados com suas próprias pers­pectivas culturais, visto que elas não eram compostas a partir de revelação (p. ex., Deus não lhes dissera que uma terra redonda girava ao redor do Sol e era mantida em órbita por causa da gravidade), mas sim, tinham uma íntima relação e se assemelhavam aos conceitos corren­tes do mundo antigo. Nesse caso, as palavras, imagens e idéias usadas no texto comunicavam aos leitores aquilo que para eles era a realidade, e não expressavam meramente uma lingua­gem poética. Não obstante, o controle soberano de Deus sobre a natureza é a questão central.

Não importa se o controle divino da tempestade é descrito na imagem de Deus, armado com relâmpagos e cavalgando nas nuvens ou entendido em seu controle dos sistemas de alta e baixa pressão e das massas de ar; pois a questão de sua soberania permanece inalterada. Deus não os informou a respeito da ciência da meteorologia de modo a assegurar uma idéia "precisa" de seu controle do clima. Ele fez uso da compreensão que tinham na época. De igual modo, Ele nâo lhes disse que o órgão que usavam efetivamente para pensar era o cérebro; e não o coração ou os rins, como o inundo antigo acreditava. Em vez disso, confirmou seu interesse na mente deles utilizando a compreensão que tinham da fisiologia humana. A cosmovisão antiga em relação ao cosmos é evidente em muitas passagens do Antigo Testa­mento. Para uma amostra, ver os comentários em Gênesis 1.6-8; Deuteronômio 32.22; Jó 9.6, 7; 22.14; 26.7, 10; 36.27; 38.1-31; Salmos 8.3; 24.2; 104.1-35; Provérbios 3.19, 20 e Isaías 40.22. Nâo existe nenhum exemplo em que o texto ultrapassa a ciência da época ou pressupõe uma visão mais sofisticada da ciência.

Lamento. Os lamentos podem ser declarações pessoais de desespero, tais como as encon­tradas em Salmo 22.1-21, hinos fúnebres após a morte de uma pessoa importante (a elegia de Davi a Saul em 2 Sm 1.17-27) ou prantos coletivos em tempos de crise, como o Salmo 137. O mais famoso lamento da Mesopotâmia antiga é o Lamento pela Destruição de Ur, que comemo­ra a captura da cidade em 2004 a.C. pelo rei elamita, Kindattu. Para mais informações sobre essa última categoria, ver a nota de rodapé no Livro de Lamentações. Mais de um terço do Livro de Salmos é lamento, a maioria individual. As queixas mais comuns referem-se a doen­ças e opressão dos inimigos. Há uma série de termos técnicos que descrevem a literatura de lamentos na Mesopotâmia, e muitos deles estão relacionados a encantamentos (ou seja, a ritos mágicos feitos para tentar livrar a pessoa do problema). As petições que acompanham os lamentos são bastante semelhantes àquelas encontradas nas orações do antigo Oriente Próxi­mo. Elas incluem pedidos por direção, proteção, favor, atenção por parte da divindade, liber­tação de dificuldades, intervenção, reconciliação, cura e vida longa.

Louvor. Sendo mais de um terço, os salmos de louvor podem ser individuais ou coletivos. Os coletivos geralmente começam com uma convocação ao louvor (p. ex., "louvem ao Se­nhor") e descrevem todas as coisas boas que o Senhor fez. O louvor individual muitas vezes se inicia com uma declaração do motivo do louvor (p. ex., "eu te louvarei, ó Senhor") e afirma o que Deus fez numa situação específica na vida do salmista. Hinos egípcios e mesopotâmicos geralmente concentram-se no louvor descritivo, com freqüência passando do louvor para a petição. Exemplos do formato de proclamação podem ser vistos na composição de sabedoria mesopotâmica Ludlul Bei Nemeqí. O título é a primeira linha da obra que se traduz "Louvarei ao Deus da Sabedoria". Como nos salmos de louvor individuais, esse adorador mesopotâmico relata um problema que teve e como seu deus o livrou.

Adoração pessoal. Em que proporção o louvor relacionado aos Salmos estava associado às festas anuais no templo e às peregrinações para participar dessas festas? Em que proporção estava associado aos-sacrifícios que eram oferecidos? Uma grande porcentagem dos habitan­tes de Israel vivia a muitos quilômetros do templo. Apenas quem morava nas proximidades de Jerusalém podia dirigir-se até lá regularmente (embora não fosse preciso se a pessoa não fosse oferecer um sacrifício que envolvia oferta). O israelita cumpridor da lei talvez viajasse para lá três vezes ao ano conforme a lei exigia (ver os comentários em Êx 23.15-17), mas há poucas evidências no texto de que tal observância tenha se tornado comum no período do Antigo Testamento. Certamente, então, haveria outros contextos em que o culto e a adoração eram praticados. É comum considerar a sinagoga como uma invenção do período pós-exílico e os altares em todo o Israel eram condenados no ideal da prática religiosa bíblica. O sábado não era claramente designado como um dia separado para o culto, embora no templo em Jerusalém, ao menos, atividades de adoração eram realizadas nesse dia específico. Sabemos que o culto de Israel era centrado no lugar sagrado (o templo), nos dias sagrados (sábado, festas), nos rituais sagrados (sacrifício) e nas palavras sagradas (orações). Além disso, temos conhecimento que o foco da adoração era preservar a santidade da presença de Deus, a Lei e a aliança e o reconhecimento de quem Ele era e o que havia feito. Não obstante, temos uma idéia muito limitada da rotina de culto na vida individual.

Princípio da retribuição. A premissa básica do princípio da retribuição afirma que o justo prospera e o ímpio sofre. Na esfera nacional, esse princípio tinha como base a aliança, com suas bênçãos potenciais e ameaça de maldições. No âmbito individual, foi estabelecido como necessário para que Deus mantivesse a justiça. Visto que os israelitas tinham apenas um vago conceito da vida após a morte e nenhuma revelação concernente a juízo ou recompensa no

além, a justiça de Deus só podia ser efetuada nesta vida. A maioria deles acreditava que se Deus fosse justo, recompensas e castigos nesta vida deveriam ser proporcionais à justiça ou injustiça de cada um. Essa crença também levou grande parte dos israelitas a crer que, se alguém estava prosperando, era uma recompensa por sua justiça, e se alguém estava sofren­do, era castigo por sua injustiça. Quanto maior fosse o sofrimento, maior deveria ser o peca­do. Escritores babilónicos e assírios de textos mágicos descrevem esse mesmo princípio da retribuição. Mas, visto que esses povos não eram plenamente convictos da justiça dos deuses, essa não era uma questão teológica tão importante na Mesopotâmia.

Adoração no templo. O templo não tinha por objetivo o culto coletivo. Era uma estrutura que funcionava como o lugar onde Deus podia habitar em meio a seu povo. Deveria ser mantido em santidade e pureza a fim de que a presença contínua de Deus pudesse ser garan­tida. Os sacerdotes existiam para manter essa pureza e controlar o acesso aos recintos sagra­dos. O conceito do templo não foi criado com o propósito de suprir um lugar específico para a dedicação de sacrifícios. Ao contrário, muitos deles existiam como meio de sustentar e manter o templo. A presença de Deus era o elemento mais importante a ser preservado. Os atos de culto mais relevantes eram aqueles que reconheciam a santidade de Deus e tinham como objetivo manter essa santidade de seu lugar. Por essa razão, palavras de adoração muitas vezes incluíam atos de culto. Apesar de algumas vezes haver cultos coletivos no templo, o lugar não foi edificado para esse propósito. O templo tinha o propósito de abrigar Deus de forma adequada; portanto, a adoração ali seria inevitável. A palavra mais usada para adoração no Antigo Testamento também significa "culto". No antigo Oriente Próximo, a maioria das pessoas acreditava que a adoração era o ato de servir e suprir as necessidades dos deuses dando-lhes alimento (sacrifício), roupas (que vestiam os ídolos) e abrigo (templos luxuosos e ricamente adornados). O Deus de Israel não tinha tais necessidades, mas ainda assim era apropriado servi-lo como, de fato, os sacerdotes e levitas faziam.

As festas no mundo antigo centravam-se nos ciclos da natureza (festas de Ano Novo ou da fertilidade), em eventos mitológicos (entronização da divindade sobre o caos subjugado), eventos agrícolas (colheita) ou memoriais históricos (dedicações ou libertações). Elas celebra­vam o que a divindade havia feito e buscavam perpetuar a ação dela em seu favor. Com freqüência esses elementos estavam mesclados. As festas geralmente eram celebradas num lugar sagrado, portanto, muitas vezes envolviam peregrinações. As principais festas religio­sas e dias santos celebrados em todo o antigo Oriente Próximo eram, em sua maioria, relati­vos a eventos agrícolas. Embora ofertas diárias fossem dedicadas aos deuses, havia os "dias do padroeiro" em cidades e povoados específicos para honrar as divindades veneradas local­mente e também ocasiões em que os deuses nacionais eram levados em procissões de cidade em cidade, "visitando" santuários e promovendo a fertilidade e o bem-estar da terra. O único festival de maior destaque dentre as festas mesopotâmicas era o Akitu ou celebração do Ano Novo. O monarca assumia o papel do deus principal, enquanto a suma sacerdotisa atuava como sua consorte e representava a deusa principal. A realização de uma série de intrincados rituais sagrados e sacrifícios tinha como objetivo agradar às divindades, assegurando, assim, um ano vindouro próspero e fértil. Durante o ano, com base num calendário limar, as festas de Lua nova eram celebradas, bem como os eventos do calendário agrícola (a chegada das chuvas ou das cheias, a aragem e a colheita). Alguns rituais tinham origem na mudança das estações, tal como o luto pela "morte do deus Tammuz" (ou Dumuzi), que podia ser libertado do mundo inferior apenas através das lágrimas de seus devotos (ver Ez 8.14). Nessas festas coletivas, os indivíduos não passavam de meros espectadores. Não era raro acontecer um mesmo tipo de festa (ou festas distintas) seis ou oito vezes ao mês.

Principais metáforas para DeusNo antigo Oriente Próximo era comum usar diversos nomes e títulos para a divindade, às vezes usando metáforas, outras vezes, apenas expressões descritivas. No final do texto Enuma Elish, o herói e novo líder do panteão, Marduque, é louvado através da declaração de seus cinqüenta nomes. Alguns dos mais intrigantes, acompanhados da descrição relacionada a eles, incluem Namtilla, aquele que dá a vida; Namru, o deus puro que purifica o caminho; Agaku, quem criou os seres humanos e os libertou; Shazu, o diretor da justiça; e Agilima, aquele que construiu a terra sobre a água. Abaixo algumas das principais metáforas usadas como títulos para Yahweh, nos Salmos.

Chifre (18.2; 75.10; 89.17; 92.10; 112.9; 132.17; 148.14). Essa metáfora é usada para Deus apenas em um contexto nos Salmos (18.2). Na iconografia do antigo Oriente Próximo, raios ou chifres nas coroas das divindades simbolizavam poder. Esses elementos estavam rela­cionados à glória divina (acadiano, melammu) que imanava dos deuses e principalmente de suas cabeças ou coroas. Assim, por exemplo, um texto faz referência ao deus Enlil "cujos chifres brilham como os raios do Sol". Era comum na Mesopotâmia que os reis e os deuses usassem coroas com chifres salientes ou em relevo. As vezes, os chifres eram sobrepostos em camadas. O leão alado do palácio de Assurnasirpal tem uma coroa cônica em sua cabeça humana, com três pares de chifres enfileirados em relevo. Tanto na Bíblia quanto no antigo Oriente Próximo, o poder assombroso da divindade podia ser investido em humanos, par­ticularmente no rei.

Juiz. O juiz tinha a responsabilidade de tomar decisões em relação a casos legais levados diante dele. Nas culturas do antigo Oriente Próximo, o rei representava o supremo tribunal de apelações, do ponto de vista humano. Em muitos casos, porém, as evidências eram insuficien­tes para permitir que um ser humano chegasse a uma decisão segura. Como resultado, muitos casos eram resolvidos pela divindade, fazendo, pois, surgir o conceito do deus como juiz que vê todas as provas e dá um veredicto justo com base em todas as informações. Havia três mecanismos significativos pelos quais esse sistema funcionava. O primeiro era o jura­mento. Ele era feito em casos em que não havia evidências físicas ou não se sabia ao certo de quem era a responsabilidade pelo dano causado (Êx 22.10-13; Hamurábi). Quando se recorria a esse mecanismo, Deus era solicitado como testemunha e a pessoa que fazia o juramento se colocava à mercê da justiça divina. O segundo era o oráculo. Nessa situação, um sacerdote supervisionava o processo em que a divindade era questionada em relação à culpa ou inocên­cia do acusado. No antigo Oriente Próximo, os presságios geralmente eram usados em casos oraculares. Um animal era sacrificado e suas vísceras eram examinadas para determinar o veredicto da divindade (favorável significava que o acusado era inocente desfavorável signi­ficava que era culpado). Em Israel, o Urim e o Tumim eram usados com esse objetivo. O terceiro mecanismo que envolvia a divindade no julgamento era a provação. Esta descreve uma situação judicial em que o acusado era colocado nas mãos de Deus, geralmente através de algo que o colocava em perigo. Se a divindade interviesse para proteger o acusado do mal, o veredicto era sua inocência. A maioria dos julgamentos por provação, no antigo Oriente Próximo, envolviam perigos como água, fogo ou veneno. Quando o acusado era exposto a essas ameaças, ele era, na verdade, considerado culpado até que a divindade declarasse o contrário, agindo em seu favor. Em cada uma dessas situações, cria-se que Deus era o juiz que dava os veredictos. Além desses contextos mais formais, acreditava-se também que a divin­dade era o juiz que mantinha a justiça na sociedade. Isso significava assumir a causa dos desafortunados, dos pobres, dos fracos e oprimidos. Na literatura ugarítica, Baal às vezes recebe o título de "Juiz", mas esse título é associado com mais freqüência a Yamm ("mar"),

que é chamado regularmente de "Rio Juiz" (talvez aludindo ao rio da provação por onde os julgamentos passavam). Na literatura acadiana, o deus-sol, Shamás, é o deus da justiça e, portanto, freqüentemente colocado no papel de juiz divino. No Egito, Amom-Rá, também o deus-sol, era visto como o responsável pela justiça.

Rei. No antigo Oriente Próximo, o papel do rei era atribuído ao principal deus nacional, o chefe do panteão. Durante o período do Antigo Testamento, isso incluía El ou Baal para os cananeus, Marduque para os babilónicos, Quemos para Moabe, Milcom para Amom, Assur para a Assíria, Dagom para a Filístia, Rá para o Egito, Qos para Edom e Hadade para a Aram. O governo desses deuses, na esfera divina, era exercido sobre outros localmente adorados (como chefe da assembléia divina). Na esfera humana, essas divindades eram intimamente identificadas com os reis, na medida em que se envolviam em façanhas militares, projetos de construção (especialmente templos) e na manutenção da justiça na sociedade. Todas as áreas em que o rei humano era considerado responsável, o rei divino era, em última instância, o responsável maior. O sucesso militar significava que o governo da divindade se estendera sobre outras divindades nacionais que ela havia derrotado. Assim, Senaqueribe tentou intimi­dar Ezequias alistando os deuses que haviam caído diante dele (ver o comentário em 2 Cr 32.11). Nos dias de Acabe, Yahweh competiu com Baal pelo reinado de Israel (ver o comentá­rio em 1 Rs 17.1). Nos dias de Samuel, o povo perdeu a fé no reinado de Yahweh e procurou substitui-lo por um rei humano (ver o comentário em 1 Sm 8.7). Nos Salmos, Yahweh repeti­damente é proclamado rei. Quer essa proclamação esteja ou não associada a uma festa formal de entronização em Israel (ver o comentário sobre o Dia do Senhor na nota de rodapé em Joel), a posição Dele, como rei, é um reconhecimento de sua soberania sobre as crises indivi­duais e os eventos que as desencadearam: os desastres nacionais, as nações e seus deuses e todo o cosmos e seu funcionamento.

Redentor. Na sociedade israelita, o papel do redentor (go'el) era desempenhado por um parente que ajudava a recuperar as perdas da tribo, fossem elas humanas (nesse caso ele perseguia o assassino até matá-lo), judiciais (nesse caso ele assistia em processos legais) ou econômicas (nesse caso ele recuperava a propriedade de um membro da família). O redentor era um membro da família que protegia seus interesses quando ocorria alguma intrusão dos direitos ou bens dessa família. Esse é o termo usado com mais freqüência nos Salmos. Um segundo termo (pdh) refere-se, no contexto legal, a libertar alguém de alegações ou acusações sustentadas contra sua pessoa ou de deveres decorrentes. Logo, redimir o primogênito en­volvia liberá-lo de seu compromisso, pagando um preço combinado. No Antigo Testamento, nem essas palavras nem quaisquer de seus sinônimos referem-se a redimir ou salvar alguém eternamente de seus pecados. O Salmo 130.8 é o que mais se aproxima desse conceito, mas, mesmo ali, a referência é de apenas libertar alguém do castigo que a nação havia trazido sobre si. Em ugarítico e acadiano esse verbo é usado com a divindade como sujeito.

Rocha (18.2, 31; 19.14; 28.1; 31.2; 42.9; 62.2; 71.3; 78.35; 89.26; 92.15; 94.22; 95.1; 144.1). Duas palavras hebraicas diferentes eram usadas para essa designação divina, não havendo distin­ção perceptível em seu uso. Esse título não ocorre como tal na literatura das culturas que cercavam Israel, mas sabemos que era usado porque pode ser encontrado como elemento teofórico em nomes próprios amorreus e aramaicos. Uma rocha podia ser a fundação ou o alicerce de uma construção, podia garantir proteção (esconder-se) ou sombra (ficar ao lado) e podia ser inacessível e irremovível. Todas essas qualidades fazem da rocha uma metáfora adequada para descrever Deus.

Pastor. No antigo Oriente Próximo, os reis e os deuses muitas vezes eram retratados como pastores de seu povo. Assim como as ovelhas eram totalmente dependentes do pastor

quanto ao cuidado e proteção, o povo dependia do rei e dos deuses. Shamás, o deus-sol e da justiça mesopotâmico, é louvado como o pastor de tudo que está embaixo. O deus-sol egípcio, Amom, é descrito como um pastor que leva seus rebanhos a pastagens, providenciando, assim, alimento para seu povo sofredor.

Escudo (3.3; 5.12; 7.10; 18.2, 30; 28.7; 59.11; 84.11; 144.2). O tipo de escudo a ser usado nas batalhas era escolhido de acordo com o tipo de combate que se esperava encontrar. Se fosse uma guerra de cerco contra os muros da cidade, o soldado usaria um escudo grande, do tamanho de seu corpo, que lhe garantiria proteção contra a chuva de flechas e pedras atiradas por fundas do alto dos muros. Em contraste, um combate corpo-a-corpo, a campo aberto, favorecia o uso de um pequeno escudo de fácil manuseio que pudesse desviar golpes de espada ou lança. Quase todos os exemplos, em Salmos, referem-se a este tipo (todas as referências acima, exceto 5.12). A metáfora da divindade como um escudo era bastante co­mum no antigo Oriente Próximo e encontra-se, por exemplo, num oráculo profético dado ao rei assírio Esar-Hadom, que é assegurado pela deusa Istar, uma vez que ela será um escudo para ele. Istar, como deusa da guerra, é descrita como a "senhora do escudo", e seu planeta, Vênus, leva a palavra acadiana para escudo, aritu, como um de seus nomes.

Refúgio/fortaleza (9.9; 18.2; 27.1; 31.39; 43.2; 46.7; 48.3; 52.7; 59.9,16,17; 62.2, 6-8; 71.3; 91.2; 94.22; 144.2). Três termos hebraicos diferentes são usados para expressar essa metáfora, com as ocorrências divididas de forma bastante equilibrada. A abrangência do significado estende-se desde localidades de defesa natural, como uma rocha saliente ou uma caverna, até fortes de guarnições, cidades fortificadas e até mesmo cidadelas fortificadas dentro de cidades. Em um texto assírio, o rei é identificado como uma fortaleza para o povo. Não há indícios do uso dessa metáfora para a divindade na literatura egípcia ou acadiana.

Guerreiro. Na temática do guerreiro divino, um deus luta contra as divindades do inimi­go, derrotando-as nas batalhas travadas. Na Assíria, Nergal é o rei da batalha e Istar é consi­derada a deusa da guerra. O deus cananeu Baal e o babilónico Marduque também são guerrei­ros divinos. De acordo com essa cosmovisão, as guerras humanas são consideradas simples­mente uma representação daquelas travadas entre os deuses; o deus mais forte sempre vence, a despeito da força ou fraqueza dos combatentes humanos. Acreditava-se que relâm­pagos e trovões acompanhassem a presença da divindade no campo de batalha. No texto sumério Exaltação de Inana, nos mitos hititas sobre o deus da tempestade e nas mitologias acadiana e ugarítica, os deuses eram vistos como trovões no julgamento contra seus inimigos. Baal é retratado segurando raios nas mãos. Nos Salmos, Yahweh às vezes é descrito como um guerreiro divino que vem em auxílio do salmista para defendê-lo de seus inimigos. Além disso, Ele também figura em batalhas contra as forças cósmicas do caos. A mitologia antiga freqüentemente mostra os deuses em batalhas, mas essas imagens geralmente estão relacio­nadas ao domínio e à organização do cosmo. Tanto *Marduque (deus babilónico) como *Baal (deus cananeu) subjugam o mar, personificado em seu inimigo divino (*Tiamat e Yamm respectivamente). A temática do conflito cósmico apresenta a divindade principal derrotando as forças cósmicas (geralmente forças caóticas como a Morte ou o Mar) e trazendo ordem. No antigo Oriente Próximo, essas forças geralmente eram personificadas como deuses, mas nesse aspecto, os Salmos conservam uma certa ambigüidade.

Termos musicaisDa mesma forma como um hinário, o texto dos Salmos também contém instruções sobre orquestração, tonalidade usada para executar um salmo, ritmo apropriado, bem como sinais que indicam a dinâmica e outros termos como pausa, respiração e uso de modulações. Na

notação musical moderna, a maioria desses termos é escrita em italiano ou latim. Um músico ou cantor deve aprender esses termos técnicos para executar a música adequadamente. Po­rém, é bem possível que depois de dois mil anos o significado de muitos desses termos tenha se perdido. Não é surpreendente, portanto, concluir que não somos capazes de traduzir e entender plenamente alguns dos termos técnicos que aparecem nos títulos e introduções aos Salmos.

Alamote. Título do Salmo 46. Esse termo aparece apenas no Salmo 46, mas também é mencionado em 1 Crônicas 15.20, em que os músicos do templo tocavam suas harpas "de acordo com Alamote". Comparando com a palavra grega élumos, que significa flauta peque­na, esse termo pode referir-se a uma voz aguda ou ao ato de tocar o instrumento em seu registro mais alto.

A Morte para o filho. Título do Salmo 9. Trata-se de uma série de palavras que sugerem uma tonalidade agora desconhecida. O termo 'alumot é de difícil tradução. A Septuaginta o traduz como "a força da juventude". A tradução da NVI aparentemente é baseada na relação com o deus ugarítico Mot, "morte" (ver SI 48.14).

Não D estruas. Título dos Salm os 57-59; 75. Trata-se provavelmente das palavras introdutórias de um texto ou título de canção (possivelmente baseado em Is 65.8). Acompa­nhado de miktam, também pode ser uma forma de taquigrafia usada para proibir a destruição ou remoção de uma inscrição ou texto.

A Corça da Manhã. Título do Salmo 22. Essa expressão é uma sugestão dada ao regente do salmo para executá-lo de acordo com uma melodia popular "A Corça da Manhã". Era comum se criar uma nova letra para uma melodia antiga, já bastante conhecida, popular. Alguns estudiosos sugeriram uma relação com o deus ugarítico shr e, portanto, uma origem antiga para a canção.

Uma Pomba em Carvalhos. Título do Salmo 56. Essa expressão é uma referência ao título de uma canção e a melodia para a execução do salmo. Há uma certa dúvida quanto à tradução de ‘elim como "pombas" ou "deuses".

Flautas. Título do Salmo 5. Tem-se sugerido que o termo traduzido como "flautas" (nehilot) refere-se a "flautas de lamentação" como aquelas ilustradas na arte egípcia, tocadas por pranteadores profissionais. Observe também os instrumentos usados pelos profetas extáticos, em 1 Samuel 10.5, que poderiam ser flautas. A expressão "para flautas" também pode indicar a tonalidade do salmo.

Os Lagares. Título dos Salmos 8; 81; 84. Alguns intérpretes relacionam esse termo a um instrumento musical, possivelmente associado à cidade füistéia de Gate. Também é possível que seja um mote significando um ritmo, uma canção ou uma dança executada após o traba­lho daqueles que pisavam as uvas nos lagares (hebraico gat; ver Is 16.10; Jr 25.30).

Higaion (interlúdio). 9.16. Esse termo pode ser uma orientação aos músicos. Tem o significado de "elocução" ou "meditação" (ver Is 16.7 para seu uso como "lamento") e, por­tanto, pode indicar um tipo de glissando ou som vibrando, talvez acompanhado de instru­mentos de cordas.

Jedutum. Título dos Salmos 39; 62; 77. Visto tratar-se do nome próprio de um dos canto­res do templo de Davi (1 Cr 25.1-6), é possível que sua aparição na introdução de três salmos seja simplesmente uma referência a ele ou possivelmente a um estilo de execução atribuído a ele. Também pode ser a deixa para uma melodia associada a Jedutum.

O Lírio da Aliança. Título dos Salmos 60; 80. Trata-se da deixa para tuna canção cuja melodia hoje é desconhecida. Ver também Salmos 45 e 69, e 2 Crônicas 4.5 para o uso desse termo para "lírio".

Mahalath. Título do Salmo 53. Baseado em 1 Rs 1 .4 0 , esse termo provavelmente refere- se a um tipo de flauta usado em procissões de celebração. Visto que também pode ser tradu­zido como "doença" (1 Rs 8.37), é possível que o instrumento fosse usado em rituais de cura.

Mahalath leannoth. Título do Salmo 88. A palavra le'annoth significa "afligir" e, portanto, pode ter sido acrescentada aqui para coincidir com o tema de penitência do Salmo 88. Uma vez que esse termo pode ser uma forma da palavra hebraica 'anath, "canto" (Êx 15.21), seu uso juntamente com mahalath, "flauta", poderia ser uma referência a uma antífona ou música para mais de um instrumento, ou alternando melodias cantadas e instrumentais.

Masquil. Título dos Salmos 32; 42; 44; 45; 47; 52-55; 74; 78; 88; 89; 142. Visto que esse termo aparece em tantos salmos e tem o significado de "compreender" (do hebraico sakal), pode tratar-se de um rótulo ou classificação geral para uma série de cânticos didáticos ou penitentes (ver a relação possível com lamento em Amós 5.16,17). É possível tratar-se tam­bém de um cântico ou tema "habilmente elaborado", com palavras de exaltação, conclamando o povo a louvar a Deus (ver 2 Cr 30.22).

Mictã. Título dos Salmos 16; 56-60. Esse termo sempre aparece acompanhado da expres­são "de Davi". A Septuaginta traduz a palavra mictã como estelografia, "arte de esculpir inscrições em monumentos", portanto, a palavra pode representar declarações formais, um cântico oficial ou a realização de um ritual. Também pode referir-se a um cântico ou declara­ção inscrita em pedra e recitada publicamente no templo.

Petição (Hazkir). Título dos Salmos 38; 70. O radical do verbo zakar aparece em Levítico 2.2 e Números 5.16 em referência a uma oferta de cereais acompanhada de incenso. Igual­mente, Isaías 66.3 refere-se a uma oferta de incenso. Em outras passagens, é usado para invocar o nome de Deus (Êx 20.21; Am 6.10). Dessa forma, pode referir-se a um ritual público incluindo uma oferta e uma petição pelo auxílio de Deus.

Oração (Tephillah). Título dos Salmos 17; 86; 90; 102; 142. Esse é um termo para um salmo que convoca o povo ou um cantor a orar a Deus em busca de perdão (ver 1 Rs 8.38). O cântico tem a forma de lamento, reconhecendo o direito de Deus de castigar o povo, e convida-os a orar enquanto vestem roupas de luto e fazem jejum (SI 35.13).

Salmo (Mizmor). Título dos Salmos 47-51; 62-68; 76; 77; 80; 82-85; 87; 88; 91; 98; 100; 101; 108-110; 139-141; 143; 145. Esse termo técnico aparece cinqüenta e sete vezes nos sobrescritos de Salmos e é acompanhado da expressão "de Davi" trinta e cinco vezes. Por causa de sua relação com o verbo hebraico "podar uma vinha" (Is 5.6), alguns comentaristas têm sugerido que se refere a um instrumento de cordas, em que estas eram tangidas de modo bastante semelhante a uma vinha cortada pela unha do polegar de um vinhateiro. Porém, compara­ções com o acadiano zamaru, "cantar", podem indicar que mizmor simplesmente seja um termo genérico para cântico ou para um cântico acompanhado de instrumentos de cordas.

Pausa (Selah). Salmos 3; 4; 7; 9; 21; 21; 24; 32; 39; 44; 46-50; 52; 54; 55; 57; 59-62; 66-68; 75­77; 81-85; 87-89; 140; 143. Esse é o termo técnico mais recorrente dos Salmos. Aparece setenta e uma vezes em trinta e nove salmos e três vezes em Habacuque 3, mas nunca em um sobrescrito. Visto que é impossível determinar se a colocação da palavra é original ou foi introduzida por editores ou copistas, seu objetivo preciso permanece incerto. Dentre as su­gestões para seu significado está "pausa" ou "interlúdio", indicando um intervalo no texto ou na execução do salmo. Também é possível que seja uma deixa para o coral repetir uma litania ou afirmação, ou para que um instrumento específico, possivelmente um tambor, fosse toca­do para marcar o ritmo ou enfatizar uma palavra.

Oitava (Sheminith). Título dos Salmos 6; 12. E possível que esse termo técnico possa ter traduzido como "instrumento de oito cordas" e que a referência aqui seja ao seu uso ou

possivelmente ao emprego da oitava corda. Esse registro alto produziria um som agudo, imitando as vozes de cantoras (ver 1 Cr 15.21).

Confissão (Shiggaiott). Título do Salmo 7. Baseando-se em comparações com o termo acadiano segu, "grito ou lamento", é provável que esse termo (também encontrado em Hc 3.1) seja uma classificação de um salmo de lamento. A palavra em hebraico significa "desviar- se" e, nesse contexto, pode referir-se ao sujeito do cântico ou poema, ou talvez a um ritmo exagerado ou canto entusiástico.

Cântico (Shir). Títulos dos Salmos 46; 48; 65-68; 75; 76; 83; 87; 88; 91; 108. Trata-se simples­mente de um termo genérico para "cântico", aparecendo muitas vezes nos Salmos e em outras passagens da Bíblia (Ex 15.1; Nm 21.17; Dt 31.19). É colocado tanto no sobrescrito quanto no corpo de alguns salmos (69.30; 78.63) e às vezes é acompanhado do termo mizmor. E possível que tivesse um significado mais geral ou técnico no conjunto de música religiosa, por exemplo, no título "Cântico dos Degraus" (SI 120-134).

Cânticos dos Degraus. Título dos Salmos 120-134. De acordo com a tradição medieval e rabínica, esses quinze salmos deviam ser cantados sobre os quinze degraus que subiam do pátio das mulheres até o pátio dos israelitas, no templo pós-exílico de Jerusalém. E mais provável, porém, a explicação de que eram entoados ou cantados por peregrinos religiosos, em sua subida até Jerusalém ou "Sião", durante as três principais festas religiosas anuais (ver o comentário em Ex 23.17).

Instrumentos de Cordas. Título dos Salmos 4; 6; 54; 55; 61; 67; 76. Não fica claro se esse termo, neginot, "correr sobre as cordas", indica um instrumento específico de cordas. No entanto, a referência à lira tocada por Davi, em 1 Samuel 16.16, ao harpista, em 2 Reis 3.15, e na Lenda Egípcia de Wenamon, sugere tratar-se de um instrumento portátil (ver também Is 23.16).

Melodia Lírios. Título dos Salmos 45; 69. Essa expressão faz alusão a uma melodia hoje desconhecida. Pode também ser uma orientação para que o salmo fosse acompanhado por um instrumento com forma de lírio, de seis cordas ou seis sinos. E possível que o termo para "lírio" derive do acadiano sussu, "um choque de", mas não se pode confirmar.

Cântico de casamento. Título do Salmo 45 .0 Salmo 45 contém a celebração do casamento de um rei israelita com uma princesa de Tiro, possivelmente de Acabe com Jezabel (1 Rs 16.31). A expressão aparece somente aqui, mas pode ter sido usada em documentos que celebravam casamentos.

S A L M O S

VSalmos 1-41 Primeiro livro1.5. resistir no ju lgam ento. Quem fica de pé (sentido literal de "resistir"), no julgam ento ou na assembléia, é alguém que recebe a tribuna ou o fórum de onde profere sua fala. Geralmente a ação se aplica a uma testem unha (com o em D t 19.15 e SI 27.12), m as o versículo 30.28 descreve Jó como o queixoso. No Ciclo Ugarítico de Baal, um acusador levanta-se e cospe em Baal diante da assembléia dos deuses (filhos de El).1.5. comunidade dos ju stos. A assembléia ou comu­nidade é um corpo judicial formal, tal como a assem­bléia dos filhos de El, no com entário anterior. Essa expressão é sem elhante a um a idéia do Salm o 82.1, onde Deus atua em relação a um concílio judicial à medida que casos são decididos. Na esfera celestial, havia um concílio divino que desem penhava essa função (ver o com entário em Is 40.13, 14), m as os julgam entos humanos também funcionavam por meio de um a assembléia (Js 20.9).2.6. divindade estabelecendo rei. O termo ungir ou estabelecer foi encontrado como um radical ugarítico num texto mitológico. O ofício do rei era uma indica­ção divina no antigo Israel e em outras áreas do Ori­ente Próximo. Sargão de Acade (c. 2300 a.C.) afirma ter sido estabelecido por Istar, e a Lista dos Reis Su- mérios, (compilada algum tempo depois de 2000 a.C.) por sua vez, também afirma que as cidades recebiam seus monarcas por nomeação divina. Essa ideologia foi assim ilada pelos israelitas. Os reis da Assíria e da Babilônia celebravam anualm ente festas de entroni­zação nas quais deus e rei eram restabelecidos. Os reis mesopotâmicos se consideravam firmados no tro­no por m eio de um decreto divino. No Egito, Hórus instituía os reis num a cerimônia de coroação que en­volvia ritos de consagração e purificação.2.7. reis como filh os da divindade. No antigo Oriente Próxim o, geralm ente considerava-se que os reis ti­nham um a relação filial com a divindade e, muitas vezes, acreditava-se que haviam sido gerados por ela. Essa visão era particularm ente forte no reinado egípcio, uma vez que o faraó era visto como oriundo da esfera divina. Ele era, na verdade, concebido como filho de Rá, o deus-sol. N a literatura ugarítica, Keret, rei de Khubur, é identificado como filho de El, o prin­cip al deus dos cananeu s. A lém disso, ev idên cias iconográficas dem onstram dois príncipes m amando

nos seios da deusa Anat. Dentre os reis arameus, a designação era até m esm o incluída em seus nomes reais (Ben-Hadade que quer dizer filho de Hadade). Na Mesopotâmia, desde Gilgamés, na metade do tercei­ro milênio, até reis como Gudea, Hamurábi, Tukulti- Ninurta e A ssurbanipal, citando apenas alguns, era parte da prerrogativa real reivindicar herança divi­na. Os reis israelitas, porém, eram filhos da divinda­de por causa da aliança e não por serem filhos natu­rais (ver SI 89.26; 2 Sm 7.14).2.9. vara (cetro) de ferro. O cetro representava o rei­nado e o ferro era um símbolo de força. Governantes egípcios são retratados como terríveis inimigos muni­dos de vara/cetro. Particularm ente interessante é o fato de que as evidências dos textos de maldição (ver o próxim o comentário) sugerem que os vasos eram esmagados com um bastão.2.9. despedaçarás como a um vaso de barro. Os reis egípcios celebravam seu governo escrevendo o nome de seus inimigos em vasos de barro e simbolicamente despedaçando-os. Esse costume é descrito em textos de m aldição. Os reis assírios igualm ente usavam a metáfora de potes de cerâmica quebrados para afir­mar sua supremacia sobre os inimigos.4.6. a luz do rosto de D eus. A m etáfora "lu z do rosto de D eus" é encontrada em cartas reais da cidade egíp­cia de A m am a e na correspondência ugarítica. Por exemplo, "o rosto do Sol (i. e., faraó) brilhava sobre m im " é uma declaração feita por um dos reis subordi­nados ao Egito. D ois pequenos rolos de prata (com cerca de dois centím etros e m eio de comprim ento) foram encontrados na área conhecida como Keteph Hinnom, em Jerusalém. Eram amuletos de um túmulo feito num a caverna do século sexto ou sétimo a.C. e continham a bênção sacerdotal de Números 6.25, que inclui o pedido de que o Senhor "resplandeça o seu rosto sobre ti". Atualmente, representam o mais anti­go exemplar de qualquer texto das Escrituras. O con­ceito do rosto brilhante da divindade, que resulta em fa v o r, en co n tra -se em d o cu m en to s e in scriçõ es mesopotâmicas que remontam ao século doze a.C..6.6. cam as israelitas. A m etáfora poética de chorar deitado sobre o leito também é encontrada na literatu­ra ugarítica: "Suas lágrimas se derram am como siclos sobre o chão, como punhados sobre a cam a". No anti­go Israel, é provável que as camas fossem semelhan­tes àquelas representadas na iconografia do Oriente

Próximo. Em essência, eram sofás para reclinar-se e camas altas. Os pobres provavelmente dormiam em colchões estendidos no chão, enquanto um a pessoa comum usava um catre.7.13. flechas flam ejantes. O Antigo Testamento jamais usa a palavra flechas para descrever as flechas flam e­jantes usadas pelos exércitos humanos ("brasas" em Pv.26.18). Em acadiano, há pou cas referências ao uso dessas armas sendo lançadas pelos reis sobre os inimi­gos. Acredita-se que essas flechas eram m ergulhadas num tip o de óleo ou piche e ateava-se fogo a elas. Quando atiradas por Yahw eh, geralm ente eram con­sideradas relâmpagos (ver 2 Sm 22.15; SI 77.17,18 para os dois termos usados em paralelo). Estes se encaixariam bem ao conceito de flechas flam ejantes, visto que às vezes são sim p lesm en te d escrito s com o fog o . Na tem ática do guerreiro divino, a divindade luta contra as divindades do inimigo, derrotando-as nas batalhas travadas. Na Assíria, Nergal é o rei da batalha e Istar é considerada a deusa da guerra que atira cham as de fogo durante os com bates. O deus cananeu Baal e o babilónico Marduque também são guerreiros divinos. Acreditava-se que relâmpagos e trovões acompanhas­sem a presença da divindade no campo de batalha. No texto sumério Exaltação de Inana, nos mitos hititas sobre o deus da tem p estad e e nas m ito log ias acad ian a e ugarítica, os deuses eram vistos como trovões no ju lga­mento contra seus inimigos. Baal é retratado seguran­do raios nas mãos. A terminologia do trovão está pre­sente na retórica real à medida que reis hititas e assírios se apresentam como os instrum entos dos deuses que trovejam contra aqueles que violavam tratados ou obs­truíam o caminho da expansão do império.8.3. céus, obra dos teus dedos. A literatura acadiana descreve os diversos patamares dos céus feitos de di­ferentes tipos de pedra. Os céus inferiores eram feitos de jaspe e Marduque, o deus principal da Babilónia, teria desenhado (estam pado) as constelações neles. Esse verbo é usado para descrever o ato de fazer pinturas ou relevos. Em Enuma Elish, Marduque traça os limites do ano nos céus. Isso se refere ao estabeleci­mento do curso das estrelas. A segunda m etade do versículo indica que esse salmo também tem em mente os corpos celestes. Em outras passagens, Deus escreve com seus dedos (Êx 31.18; D t 9.10), entretanto, esses dedos podem também ser usados em paralelo a mãos em relação a algum trabalho manual (Is 2.8).8.4-6. d ignidad e da hum anidade. A posição da raça humana, na visão israelita, era bastante elevada quan­do contrastada com aquela ocupada pelas pessoas no pensam ento m esopotâm ico (como pode ser visto no épico babilónico da criação). N essa visão m esopotâ- mica, os deuses não tinham planos de criar as pessoas como parte integrante do mundo que haviam estabele­

cido para si mesmos. A humanidade só foi gerada como conseqüência dos deuses terem se cansado de tanto trabalhar para seu sustento e provisão. Os seres huma­nos, então, foram criados para serem servos das divin­dades que não estavam dispostas a fazer o trabalho pesado. De acordo com essa visão, a dignidade hum a­na era alcançada através da id éia de que os deuses precisavam dos homens. Aqui, ao contrário, o ser hu­mano dom ina sobre todas as outras criaturas.9.12. aquele que pede contas do sangue derramado. Ver o comentário, em Números 35.9-34, sobre a res­ponsabilidade da família em vingar o assassinato de um de seus membros. É possível que o título "vinga­dor de sangue" tenha se originado da obrigação fami­liar em se engajar na vingança quando algum mem­bro de seu clã fosse morto. Tal processo, em bora típico das sociedades tribais, tumultuava ao extremo a m a­nutenção da ordem em um Estado organizado. Como resultado, um "vingador de sangue" podia ser nome­ado pelo governo para atender às necessidades da família e do estado, aprisionando o acusado e depois executando a sentença, caso o veredicto do julgam en­to confirmasse sua culpa. E possível que uma função m ais genérica seja a pretendida aqui neste salm o, visto que não é usado o mesmo termo técnico na pas­sagem de Números. Ver também os comentários em Gênesis 4.14, 15 e 9.5, 6.9 .13 . p ortas da m orte . A cred itav a-se que o m undo inferior fosse como um a cidade terrena, no qual exis­tiam casas e até muros (com o objetivo prim ordial de m anter seus habitantes presos ali). No texto A Descida de Istar, este lugar possui um complexo de portões com sete portas e porteiros em cada um a delas controlando o acesso. N a iconografia egípcia, as portas da morte são retratadas como passagens para a necrópole.9.20. infundindo-lhes terror. Acreditava-se que o ter­

ror infundido pela divindade, como guerreiro divino, com freqüência antecipava a investida de um exército poderoso e bem sucedido na batalha. Textos e relevos egípcios e assírios retratam a divindade como um dis­co alado aterrorizando o inimigo antes da chegada de seus exércitos. Nas inscrições de Tutmés III, esse terror é atribuíd o a A m om -R á; e textos h ititas, assírios e babilónicos fazem m enção a seus guerreiros divinos provocando espanto no coração do inimigo. O concei­to da deidade cuja aparência era m aravilhosa e ina­cessível não se lim itava à teologia israelita, visto que na M esopotâmia, os deuses exibiam seu poder através de sua melammu, ou seja, sua glória e brilho divino. O esplendor ou "g lória" de Deus sobrepujava o inimigo, derrotando-o. D iante de tal m agnificência divina, os deuses e as forças de outras nações são derrotados e forçados a subm eter-se à divindade suprema.

11.6. brasas ardentes e enxofre incandescente. Em tex­tos acadianos, o enxofre incandescente e as brasas eram agentes de defum ação. O s deuses Ea e Enlil despe­javam enxofre como um purificador que anulava o efei­to da bruxaria. No entanto, esses dois elementos não fa­zem parte do arsenal do guerreiro divino no castigo de inimigos. Os termos aqui remetem, embora não sejam idênticos, àqueles usados no relato da destruição de Sodom a e G om orra (ver tam bém E z 38.22).11.7. os retos verão a sua face. Ver a face de um juiz ou deus era uma m etáfora na M esopotâm ia que equi­valia a estar do "lad o do bem ", porque se referia a ter acesso à presença dos mesmos. Geralmente, refere-se a um suplicante ou lamentador obtendo um a audiên­cia com um juiz. Se um juiz ou um deus voltasse sua face para você, era sinal de que seria contemplado com favor.12.6. fo rn o . O term o h ebraico usado para forno é encontrado apenas um a vez na Bíblia. Por causa da m enção à prata, o contexto sugere tratar-se de um cadinho de argila usado para fundição de metais; ele é retratado em pinturas de paredes egípcias e exem­plares de argila foram encontrados por arqueólogos.12.6. sete vezes refinada. Geralmente a prata passava algumas vezes pelo processo de refino a fim de rem o­ver toda a escória. A im agem aqui é a de que se alguém fosse purificado sete vezes (o núm ero da perfeição em hebraico), ficaria completam ente purificado.13.2. até quando? Essa pergunta ocorre quase vinte vezes neste Livro, geralmente relacionada a um sal­m o de lam ento. E en con trad a tam bém na M eso­potâmia, no texto sumério Lamento pela Destruição de Sumer e Ur que contém a pergunta "A té quando o olho do inimigo contemplará minha situação?"16.4. sacrifícios de sangue. A maioria das libações no antigo O riente Próxim o eram de cerveja, vinho ou água, apesar do m el, azeite e leite tam bém serem usados. Ainda não foi encontrada nenhuma evidên­cia de libações de sangue.16.6. divisas. A im agem de Deus determinando lim i­tes e divisas encontra-se tam bém em Deuteronôm io32.8. em que Deus estabeleceu os limites das nações. Nos contratos m esopotâm icos de venda de terra, as d iv isas, em geral, eram claram en te esp ecificad as. Além disso, os cassitas da Babilônia da Idade do Bron­ze M oderna tam bém usavam m arcos de divisa (aca- diano, kudurru) para delim itar as propriedades. Esses marcos continham inscrições com maldições detalhadas para qualquer um que violasse os limites ali estabele­cidos. N uma herança, a propriedade era dividida entre os herdeiros, e, obviamente, certas partes da terra eram m ais produtivas, portanto, mais desejáveis que outras.16.8. situado à direita. U m guerreiro equipado com todo seu armamento seguraria a arma na mão direita

e o escudo, na esquerda. A pessoa à direita do rei tinha o privilégio de defendê-lo, pois era considerada alguém de confiança para assum ir essa posição de honra. Em contraste, quando o Senhor se coloca à direita de alguém, como aqui, ele está num a posição de oferecer defesa com seu escudo (ver SI 109.31). A metáfora transita facilmente do campo de batalha para o salão da corte. O acadiano geralmente justapõe di­reita e esquerda em linhas paralelas, mas há ocasiões em que a divindade é descrita caminhando à direita de alguém na batalha.16.10. não me abandonarás no sepulcro. Nesse con­texto, a expressão refere-se a não permissão de que alguém m orra nas m ãos de um inimigo maligno. O salmista não será destinado ao Sheol; ele não sofrerá a

decomposição porque sua vida será poupada (ver SI30.2, 3). Um antigo texto sumério relata a lenda de um indivíduo que enfrenta a pena de m orte pelos crimes dos quais é acusado. No entanto, porém, ele é arrebatado das garras da destruição e louva a deusa N ungal por seu livramento.

17.8. m enina dos olhos. Literalmente, o termo signi­fica "a filha m enor de seu olho". É um a expressão

idiom ática encontrada tam bém em D euteronôm io32.10. A pupila ou m enina dos olhos é a parte mais sensível do corpo e, portanto, a parte que necessita de m ais proteção.17.8. som bra das asas. A metáfora de refugiar-se sob as asas da divindade encontra-se também em outros salmos (36.8; 57.2; 61.4; 91.4); e de forma recorrente, tem a ver com questões de cuidado e proteção relaci­onados à aliança. Essa m etáfora tam bém era usada em outras culturas do antigo Oriente Próximo, espe­cialm ente a egípcia, onde até m esm o asas desvin­culadas de um corpo simbolizavam proteção. As di­vindades aladas são freqüentemente retratadas prote­gendo o rei. Um m arfim de Arslan Tash, datado do oitavo século, mostra imagens de forma humana com asas protegendo um a figura ao centro.18.4. cordas da morte/ sepultura. As armadilhas com

laços eram m uito usadas por caçadores no antigo Ori­ente Próximo. Nessa metáfora, a m orte ou o Sheol é o caçador. Para m uitas culturas do antigo Oriente Próxi­m o, o Sheol, habitação dos m ortos (i. e., o m undo inferior) era um lugar m uito real onde as pessoas levavam um a existência amorfa, se alimentavam de barro e pó e esperavam que seus descendentes su­prissem suas necessidades. Havia portas e porteiros que m antinham os mortos presos ali; portanto, o lu­gar era chamado de "terra sem retom o". Essa descri­ção pode ser encontrada no épico acadiano do segun­do m ilênio a.C.. A Descida de Istar. Aparentemente, a v isão hebraica da m orte não era m uito d iferente,

embora não haja uma descrição elaborada da vida no além, no Antigo Testamento.

18.8. fum aça das narinas, fogo consum idor da boca.Essa im agem não ocorre em nenhum outro material do antigo Oriente Próximo. O exemplo que m ais se aproxim a encontra-se no Enuma Elish, que descreve M arduque soltando fogo pela boca ao m over seus lábios. Em bora Yahw eh não pudesse ser retratado de nenhum a form a (animal ou qualquer outro tipo de representação), era perm itida sua descrição poética por meio de imagens animais, a fim de destacar certos atributos seus (leão/leopardo em Os 13.7; aves em Is 31.5; urso em Lm 3.10; bo i selvagem em N m 24.8 [todas as traduções, exceto a NVI]).

18.9. nuvens escuras sob os seus pés. O termo para "nuvens escuras" foi encontrado no épico ugarítico de Baal e Anat, em que o deus Baal é descrito como o "cavaleiro das nuvens" e sua "v o z " com parada ao som e à fúria do trovão e do relâmpago.18.10. m ontou um querubim e voou. Na iconografia da região siro-palestina, as divindades normalmente são retratadas montadas sobre o dorso de criaturas selvagens (geralmente touros). Um relevo assírio de M altaya ilustra sete deuses, cada um de pé nas costas de um anim al diferente. Bastante intrigante é um relevo assírio que retrata o deus da tempestade cheio de armas, montado num a criatura composta por corpo de leão, asas de águia e cabeça de touro. No Antigo Testamento, Yahw eh é descrito como entronizado aci­m a dos querubins, no Santo dos Santos do templo (ver o comentário em 1 Sm 4.3, 4) e também, na visão do trono de Ezequiel (caps. 1 ,10), sendo transportado em um a espécie de trono m óvel puxado por criaturas compostas.

18.12-15. armas do guerreiro divino. As flechas atira­das por Yahw eh geralm ente eram consideradas re­lâmpagos. Na temática do guerreiro divino, a divin­dade luta contra as divindades do inimigo, derrotan­do-as nas batalhas travadas. Na Assíria, Nergal é o rei da batalha e Istar é considerada a deusa da guerra. O deus cananeu Baal e o babilónico M arduque também são guerreiros divinos.Acreditava-se que relâmpagos e trovões acompanhas­sem os deuses no campo de batalha. No texto sumério Exaltação de Inana, nos mitos hititas sobre o deus da tempestade e nas m itologias acadiana e ugarítica, os deuses eram vistos como trovões no julgam ento con­tra seus inimigos. Baal é retratado segurando raios nas mãos. A terminologia do trovão tam bém está pre­sente na retórica real à medida que reis hititas e assírios se apresentam como instrumentos dos deuses que tro­vejam contra aqueles que violam tratados ou obstru­em o caminho da expansão do império.

18.16. águas profundas. Quando o deus babilónico M arduque promovia algum livramento, era louvado por restaurar o indivíduo e tirá-lo das águas do rio Hubur. Esse era o rio que corria às portas do mundo inferior; portanto, ser tirado de suas águas significava ser salvo da morte no último instante. Essa imagem tam bém está presente na m itologia grega com o fa­moso rio Stix e encontra algum espaço até mesmo na literatura cristã, como indica o rio da morte que corre da cidade dourada no Progresso do Peregrino.18.28. m anténs acesa a m inha lâm pada. Em Israel, a palavra "lâm pada" era muitas vezes usada metafori­camente para simbolizar a vida e a prosperidade. Por essa razão, muitas vezes eram colocadas em túmulos. A expressão "su a lâm pada" é bastante utilizada nas Escrituras para expressar vida. Por ser um símbolo de permanência e memória, a menção à lâmpada signi­fica que o reinado de um descendente de Davi, em Jerusalém, garantiria um vínculo com a promessa de Deus para esta dinastia (2 Sm 7.8-16). Usos similares da palavra, em ugarítico e acadiano, estão ligados à perpetuação de um reinado ou da presença divina. O rei assírio Tiglate-Pileser III é descrito como a luz da humanidade. Uma expressão idiomática em babilónico antigo faz uso da imagem de um braseiro apagando- se para expressar o conceito de uma família sem des­cendentes. Além desse conceito, no m undo superstici­oso do antigo Oriente Próxim o, havia demónios es­preitando em lugares especialmente favorecidos pe­las trevas. Um a das maneiras em que os deuses ga­rantiam proteção, de forma figurada, era concedendo luz contínua, o que fica implícito em expressões como "a lâmpada dos deuses", nos textos de Ugarit. O deus cananeu Sapás era considerado a "lâm pada divina". N a M esopotâm ia, Lam ashtu era um demônio parti­cularmente temido. O deus Nushku era representado pelo fogo e sua lâmpada acesa m antinha esses temi­dos demônios acuados e à distância. Aqui, o salmista pode estar referindo-se à lâmpada acesa em seu bene­fício. Yahw eh é a lâmpada ao lado do salmista que o protege do perigo.18.33. pés como os da corça. O termo usado aqui se refere a um a das espécies de cervo conhecidas em todo o antigo Oriente Próxim o. M uitas vezes supõe tratar-se de outros caprinos como o íbex nubiano, o cabrito m ontanhês e a gazela. Todos esses caprinos são conhecidos por sua firm eza nas patas em cami­nhos íngremes e traiçoeiros. D esde a literatura suméria (p. ex., O Sonho de Dumuzi) esse tipo de m etáfora é usado para pés ágeis e firmes.18.34. arco de bronze. Se essa expressão reflete uma arma de fato, então pode indicar um arco de madeira decorado com bronze ou flechas com ponta de bronze. Por outro lado, pode ser sim plesm ente um a forma

poética de denotar a força do arco do guerreiro. Esse objeto era um símbolo de força real na Assíria e no Egito, e tam bém um a das arm as dos deuses. Nesse últim o aspecto, o disco solar é retratado atirando fle­chas com um arco que, por se tratar da arma do deus- sol, poderia ser de bronze. Um relevo assírio da época de D avi retrata A ssur, o deus-sol, entregando nas mãos do rei, algo descrito como um arco magnífico.19.1-4. natureza que revela D eus. No texto egípcio Papiro Insinger (uma com posição do período inter- testamentário), afirma-se que a obra escondida de um deus é m ostrada na terra dia a dia. As vinte linhas seguintes descrevem muitos dos aspectos do funcio­nam ento da natureza criada pelo deus e, presum i­velmente, envolvida nessa revelação. Essas obras da criação incluem a luz e a escuridão; o dia, o mês e o ano; o verão e o inverno; as constelações; o processo de nascimento; o sono e a sucessão das gerações.19.5. aposento do noivo. O quarto de um noivo era um aposento especialm ente preparado para o casa­mento ser consumado. O uso da expressão, no texto paralelo de Joe l 2.16, sugere essa interpretação. A expressão teve esse significado no judaísm o rabínico antigo, mas após a destruição do templo em 70 d.C., passa a referir-se ao pavilhão onde a cerimônia oficial de casamento era realizada.19.6. concepção antiga do trajeto do Sol. Em muitas culturas do antigo Oriente Próximo acreditava-se que o Sol percorria um trajeto diário através dos céus. Textos mesopotâmicos referem-se às portas dos céus por onde o Sol entrava e saía. Nesses textos, os corpos celestes seguiam por caminhos e rotas representadas por faixas cruzando o firmamento. Materiais egípcios tam bém apresentam esses conceitos tanto em textos como na iconografia. O deus-sol é retratado navegan­do em sua embarcação pelos céus entre os pontos de entrada e saída de cada extremidade do horizonte.19.7. le i e Sol. No m undo antigo, o deus-sol geral­mente era o deus da justiça. Por isso, para o salmista, é natural passar a relação de Yahw eh como o Sol para a do cumprimento de sua justiça através da lei. Muitas das imagens usadas para descrever a lei tam bém são relacionadas ao deus-sol no m undo antigo.19.8. luz aos olhos. Luz aos olhos refere-se à vida e, portanto, nesse sentido, é algo garantido a todos (Pv 29.13). A lei, porém, é capaz de estender a vida àque­les que seguem os seus mandamentos. Quando a luz dos olhos se esvai, a morte está próxima (13.3; 38.10).19.10. ouro puro. A im agem do "o u ro p u ro" está presente em outras culturas do antigo Oriente Próxi­mo. Por exemplo, uma série de inscrições em portas de um templo egípcio em Edfu, do período ptolemaico, dizem "A todo que entrar por esta porta, cuidado para não entrar em estado de impureza porque Deus

ama a pureza mais do que milhões de bens, mais do que centenas de milhares de ouro puro". A palavra traduzida como "ou ro puro" é de certa forma obscura (trata-se de um a única palavra, não de um substanti­vo seguido de um adjetivo). Poderia referir-se a um nível de qualidade do ouro ou a uma variedade especí­fica, por exemplo, o ouro verm elho ou o ouro branco.19.10. m el de tâm ara comparado ao m el de abelhas. O mel representa uma fonte de recurso natural, e na maioria das ocorrências trata-se da seiva da tâmara e não do m el de abelhas. Visto que não havia açúcar, era o adoçante m ais usado na Antigüidade. Não há evidências da dom esticação de abelhas em Israel, embora os hititas tenham sido capazes de tal feito e tenham usado mel de abelha em seus sacrifícios (tal como os cananeus). Na Bíblia, o m el é alistado junta­mente com outros produtos agrícolas (ver 2 Cr 31.5). É possível que a referência feita, na terceira linha do versículo, seja àquele extraído das tâmaras, porém, a última linha do versículo está claramente referindo-se ao mel de abelha, visto que o favo é mencionado.19.12. pecado desconhecido. No mundo antigo havia a crença de que os deuses tinham muitas regras, exi­gências e restrições desconhecidas às pessoas. Em uma "O ração a Todos os D euses" um adorador assírio pas­sa por uma lista elaborada de possíveis ofensas (algu­ma coisa ou lugar proibido que porventura tenha se comido ou pisado sem saber) pedindo que seus peca­dos ocultos fossem perdoados, afirmando que os desa­catos haviam sido cometidos na ignorância. As ora­ções penitenciais da M esopotâmia, conhecidas como orações shigu, contêm muitas referências a como ser absolvido de pecados desconhecidos. Os egípcios tam­bém se preocupavam com essa questão, como atesta uma obra de sabedoria, do período demótico posteri­or (Papiro Insinger), onde o autor implora o perdão de seus pecados ocultos.20.5. b an d eiras . A s ban d eiras eram usadas pelos israelitas e outros povos, inclusive os assírios, como estandartes de guerra (Ct 6.4) e com o insígnia das tribos (Nm 2.2). No exército egípcio, cada divisão re­cebia o nome de um deus (p. ex., a divisão de Amom, a divisão de Seth) e os estandartes identificavam o destaque m ilitar através de alguma representação do respectivo deus. Levantar bem alto as bandeiras era evidentemente um sinal de vitória. Elas são descritas em detalhes significativos nos textos de Qumran.21.8. tua mão alcançando os inim igos. Com a inten­ção de contextualizar, a NVI infelizmente distorceu a imagem deste versículo. Os verbos ("alcançar" e "atin ­gir") usados descrevem um ataque ao inim igo com um a arm a, e não sua captura. A m aior parte dos soldados era destra, portanto, o inimigo não era apa­nhado com a m ão direita, visto que era com ela que se

segurava a arma. Portanto, a mão direita era usada para a ofensiva, que "alcançava" seu alvo. U m hino a Sham ás diz que a arm a da divindade atingirá em cheio o ímpio e ninguém poderá salvá-lo. Em relevos e pinturas egípcias (também de Ugarit), o rei freqüen­temente dá um golpe com a arma levantada na mão direita, enquanto a mão esquerda segura o inimigo. Esse versículo está apenas descrevendo parte do qua­dro porque as frases são paralelas, não contrastantes. Ambas descrevem o que a mão direita faz.21.9. fornalha ardente. D eus é ilustrado como um a fornalha ardente que destrói tudo que nela é coloca­do. O escritor provavelm ente está se referindo aos enormes fom os usados para secar tijolos e fundir me­tais. Para m ais inform ações sobre fornalhas, ver o comentário em D aniel 3.6.22.12. poderosos de Basã. Basã era um a região bas­tante fértil a leste do rio Jordão, m uito conhecida por seus rebanhos de ovelha e gado de engorda. Nessas pastagens de excelente qualidade, havia gado bem tratado sendo engordado para o mercado, bem como um a raça de gado selvagem, não dom esticado, que vagava livrem ente pelos campos. Textos legais de­m onstram que os bois com chifres eram um perigo, e que podiam até m esm o ser vistos ocasionalm ente perambulando pelas ruas.22.13. leões. Sabe-se que os leões eram capturados e mantidos em jaulas a fim de serem soltos para a caça. Em textos assírios, pessoas que quebravam juram en­tos eram colocadas em jaulas de anim ais selvagens, em plena praça pública, para serem vistas por toda a cidade, enquanto eram devoradas. M ais relevante para essa passagem, na literatura assíria do sétimo século, são as covas de leões que eram usadas com o uma metáfora para cortesãos malvados e hostis ao rei. Em um a obra babilónica de literatura de sabedoria, M ar- duque m etaforicamente fecha (amordaça) a boca do leão (o opressor) para dar fim a suas táticas devoradoras.22.14. ossos desconjuntados. "D esconjuntado" é uma palavra de certa forma interpretativa; o hebraico fala de ossos "espalhados" (um verbo comparável ocorre apenas em três passagens: Jó 4.11; 41.17; SI 92.9), equivalendo a um bando de predadores devorando uma vítima, e cada membro desse bando carregando sua parte para um lado. A lgum as das culturas do antigo Oriente Próximo praticavam o segundo sepul- tamento: primeiro o corpo era depositado (numa ca­verna, por exemplo) até que a carne fosse decompos­ta, e depois os ossos eram enterrados no lugar de descanso definitivo. A té m esm o se um corpo fosse devorado, o enterro adequado seria realizado, desde que fosse possível recolher os ossos. Assim, Assurba- nípal fala de punir seus inimigos levando seus ossos para longe da Babilônia e espalhando-os fora da cida­

de. Ele tam bém se vangloria de abrir cavernas de antigos reis inimigos e arrastar seus ossos "p ara in­fligir perturbação a suas alm as". Para mais informa­ções, ver o comentário em 53.5.22.16. cães. Nesta passagem, os cães são comparados a pessoas que praticam o mal. Em bora no Oriente Pró­ximo os cães tenham sido domesticados bem no início do período Neolítico, eles ainda viviam como carni­ceiros, com freqüência vagando em bandos pelos su­búrbios das cidades (SI 59.6, 14), revirando lixo e carniça (1 Rs 14.11). Por essa razão, o term o cão, na Bíblia, geralmente expressa desprezo e escárnio. En­tretanto, isso não necessariamente acontecia em todo o O riente Próxim o. Um enorm e cem itério de cães do período P ersa (num contexto aparentem en te não cultual) com m ais de setecentas covas foi descoberto em Asquelom. Os cães eram reverenciados na Pérsia zoroastrista; não eram, no entanto, enterrados em ce­mitérios. Eles (e animais de estimação em particular) desempenhavam um importante papel em rituais de eliminação e purificação na Anatólia e na Mesopotâmia. Muitos oficiais cultuais na Anatólia hitita e na Fenícia (condenados em Israel) eram cham ados de "cães". Finalmente, na Mesopotâmia acreditava-se que os esses animais tinham propriedades de cura. D e fato, Ninka- rrak, a deusa da cura na Mesopotâmia, freqüentemente era representada pela estátua de um cão. Ver o comen­tário em 1 Reis 21.19.22.16. descrição de m ãos e pés. A compreensão dessa descrição de m ãos e pés tem sido problem ática. O verbo hebraico, tradicionalmente interpretado como "perfu rado", ocorre apenas aqui e só pode ter essa tradução se for corrigido. Sua form a original indica que as m ãos e pés do salmista são como as patas "de um leão", que segundo a explicação de alguns co­mentaristas, estariam atados a um pedaço de madeira como se costumava fazer a um leão capturado. Infeliz­m ente, apesar de todas as cenas de caça desses ani­m ais, que têm sido preservadas, nenhum deles é m ostrado sendo transportado dessa maneira. Sendo assim, procura-se um verbo mais adequado; a m elhor opção estaria entre as línguas semitas aparentadas ao hebraico. Provavelm ente assem elha-se a um verbo acadiano e seus cognatos em siríaco, cujo significado é "encolher ou enrrugar". Textos m édicos acadianos falam de um sintoma em que as m ãos e os pés atrofiam ("encolhem "). Mateus 27 não oferece m uita ajuda por­que não se refere a este versículo.22.18. lançar sortes pelas vestes. Embora os soldados rom anos tivessem o direito sobre as vestes de um criminoso condenado (como a aposta dos soldados lan­çando sortes pela túnica de Jesus), não existe evidên­cia dessa prática entre os soldados nas execuções do Antigo Testamento. Não obstante, nesse período sa­

bemos que os despojos às vezes eram repartidos atra­vés de sorteios, por isso não é difícil entender que as roupas de uma pessoa fossem repartidas da maneira descrita neste versículo, por ocasião de sua morte. Deve-se observar, porém, que o salmo não dá indíci­os de que esse ato era praticado pelos executantes da sentença. Procedimentos de herança eram feitos atra­vés de sorteios para repartir a propriedade entre os herdeiros. Um lamento mesopotâmico narra essa prá­tica: um a pessoa, em seu leito, pranteia o fato de seus bens já estarem sendo divididos antes de sua morte.23.2. necessidades das ovelhas. No Levante, as ove­lhas eram apascentadas em pastagens férteis que cres­ciam em decorrência de chuvas. No verão e no outo­no, elas se alimentavam de ervas daninhas e de resto­lhos das colheitas. Como os camelos, também podem passar longos períodos sem água, chegando a beber até nove litros quando surge a oportunidade. Em con­traste aos bodes, que são bastante independentes, elas dependem do pastor para encontrar pastagens e água. Os pastores tam bém providenciam o abrigo, cuida­dos m édicos e auxílio no nascimento dos filhotes. Em resum o, as ovelhas praticamente não sobrevivem sem a ajuda do pastor. Em um antigo texto babilónico, o rei Amiditana afirma que o deus Ea lhe concedeu a sabedoria para apascentar seu povo. Ele continua sua metáfora dizendo que ele lhes supre as necessidades com excelentes pastagens e águas límpidas, fazendo- os descansar em lugares seguros.23.4. o uso da vara e do cajado. A vara era um porre­te usado no cinto, enquanto que o cajado era um ins­trumento de apoio para caminhar, servindo como arma em momentos de necessidade (1 Sm 17.35) e usado para guiar e controlar as ovelhas. Essas eram as ferram en­tas tradicionais dos pastores, como evidencia uma ins­crição de um selo cilíndrico do terceiro milênio.23.5. ungir com óleo. N o mundo antigo, os convida­dos de um banquete muitas vezes eram recebidos por um generoso anfitrião que ungia suas frontes com óleos finos. Além de dar-lhes uma aparência brilhan­te, acrescentava ao ambiente e à pessoa um odor agra­dável. Por exemplo, um texto assírio do reinado de Esar-Hadom descreve como ele "encharcou a fronte" de seus convidados num banquete real com os mais "seletos óleos". O ôleo preservava o aspecto da pessoa no clima quente do Oriente Médio. O texto egípcio "A Canção do H arp ista" e o épico m esopotâm ico de G ilgam és descrevem indivíduos vestidos em linho fino e com m irra espalhada na cabeça.23.6. habitar na casa do Senhor. A casa do Senhor é usada como uma expressão para o templo, mas nunca para o lugar da habitação celestial de D eus (explícito em 27.4). O termo hebraico traduzido como "enquan­to eu viver" significa por períodos longos (Lm 5.20).

Se a tradução "habitar" (de acordo com a Septuaginta) estiver correta, então, sugere que o salmista tinha um ofício sacerdotal, visto que apenas os sacerdotes habi­tavam no recinto do templo. Se, ao contrário, seguir­mos o texto hebraico traduzindo "voltarei à casa do Senhor" (NVI), encontraremos aqui a expectativa de desfrutar de muitas oportunidades de adorar no tem­plo ("hoje e sem pre"). O rei babilónico N eriglissar expressa a seu deus o desejo de estar com ele para sempre. Outro texto diz "Q ue eu possa estar diante de ti para sempre em adoração e devoção". Um hino a M arduque pede que o adorador possa estar diante da divindade para sempre em oração, súplica e rogos. No terceiro milênio a.C., os adoradores sumérios ten­taram atingir esse objetivo colocando, no templo, está­tuas que figuravam eles mesmos em postura de ora­ção. D essa maneira eles estariam continuamente re­presentados naquele lugar.24.2. terra fu nd ad a sobre os m ares. N a concepção babilónica do cosmo, a fundação da terra era o que é cham ado de apsu. Trata-se de um a região de águas primitivas sob a jurisdição da importante divindade Enki/Ea. Do ponto de vista da geografia física, essa área representa os lençóis de água que sobem à su­perfície na forma de, por exemplo, pântanos e fontes, bem como às associadas aos m ares e rios cósmicos. Em Enuma Elish, um dos nomes de M arduque, Agilima, o identifica como aquele que construiu a terra sobre as águas e estabeleceu as regiões superiores.24.4. recorrer a ídolos (elevar a alma). Essa expressão significa "nutrir um desejo" por algo. A palavra tra­duzida como "alm a" refere-se, fisiologicamente, à gar­ganta e, portanto, o significado aproxima-se de apeti­te ou desejo. Em um a série de contextos, a m esm a expressão é usada tendo Deus como objeto (SI 25.1; 86.4; 143.8). O termo para ídolo aqui está relacionado à palavra que significa vazio ou inutilidade. Outros escritores usam a frase "aqueles que não são deuses" para referir-se a ídolos (p. ex., Jr 5.7).24.7. portais e portas antigas. Em um hino a Shamás, o deus-sol babilónico, diversas partes do templo são descritas regozijando-se, inclusive os portais e as en­tradas. Um texto de Nabonido faz menção às portas do templo se abrindo para Shamás entrar. Isso aconte­ceria num contexto de procissões regulares da estátua da divindade no tem plo. Se o term o "cab eça" das portas refere-se a um a característica arquitetônica, é provável que se trate da viga ou projeção cruzando o alto das portas, servindo como uma cornija. Esse era um traço comum da arquitetura egípcia e m esopo- tâmica, e a palavra acadiana kululu, usada para des­crevê-lo, também se refere a um adereço de cabeça ou turbante. A idéia de que eles se levantariam para permitir que algo muito grande passasse é engenho­

sa, m as não persuasiva, no sentido que o desenho usual de portas não teriam cornijas desimpedidas que pudessem ser tão facilmente removidas. A alternati­va de que esse movimento das cabeças é metafórico parece m ais provável. N a literatura ugarítica, os deu­ses abaixam a cabeça quando estão sendo humilhados e a levantam quando têm razões para regozijar-se.27.4. v iv er n a casa do S en h o r. V er o com entário em23.6.29.1. com paração a h in o ugarítico. Este salmo tem mais relações com a literatura ugarítica do que qual­quer outro. U m a visão recorrente entre os eruditos argumenta que essa passagem originalmente era um hino fenício/cananeu que foi m odificado e adaptado ao estilo religioso hebraico. Afirma-se que os três lu­gares mencionados situam-se na Síria (v. 6-8) e que o salmo apresenta termos, conceitos e até mesmo estru­turas gramaticais mais freqüentes no ugarítico do que no Antigo Testamento. Entretanto, embora haja para­lelos e sem elhanças suficientes que identificam ele­m entos cananitas neste versículo, ainda não há evi­dências de que se trata de um original. Todos os ele­m entos assim identificad os, tam bém ocorrem em muitos cenários claramente israelitas, logo, eles ape­n as dem onstram as sem elhanças gerais existentes entre a língua e a cultura israelita e cananéia. É possí­vel que o salmista esteja usando este salmo para im­putar a Yahw eh muitas das funções de Baal, mas não para depor contra esse deus a ponto de elevar-se a proclamar sua glória. Por outro lado, não haveria pro­blema se o salmista escolhesse, como modelo de sua composição, um original cananita de forma que o lou­vor fosse transferido de Baal para Yahweh.29.1. seres celestiais (poderosos). N a mitologia cana­néia os "poderosos" ou "filhos de deus" eram deuses menores subordinados a El, o rei dos deles. No Anti­go Testam ento, a expressão refere-se aos anjos que form avam a assem bléia celestial de Yahw eh (ver SI 89.7; 103.20; 147.1; 1 Rs 22.19; Is 6.2; Jó 1.6; 2.1).29.3. voz de trovão. A literatura do antigo O riente Próximo é cheia de referências a deuses da tempesta­de cuja voz é ouvida no trovão. Dentre eles, encontra­m os Baal em textos ugaríticos e de A m am a e Adade, em textos acadianos. Tam bém é com um nas descri­ções de Yahw eh (ver o comentário em 7.13).29.5, 6. quebra os cedros, salta os m ontes. Na lenda ugarítica referente à construção do palácio de Baal, sua entronização é precedida por sua voz de trovão que faz os lugares altos da terra pularem ou trem e­rem. Algumas linhas abaixo, ele é descrito segurando um cedro em sua mão direita como se fosse uma arma. Igualmente, num hino a M arduque, sua voz de tro­vão provoca um terremoto. Sua palavra é um dilúvio que arrasta árvores de lótus. O verbo hebraico tradu­

zido como "salta" com freqüência descreve um tipo de movimento travesso ou saltitante, m as é mais pro­vável a aparência ondulatória de um rebanho de ove­lhas ou bodes m ovendo-se por um cam inho (ver o comentário em 2 Sm 6.14-21). Esta seria um a imagem apropriada para descrever o deslocam ento da terra num terremoto.29.6. Siriom . Siriom é igualado ao monte Herm om (ver o com entário em D t 3.9) e em linguagem poética é sinônimo de Líbano. Em textos ugaríticos, podem apa­recer em equivalência, m as não fica claro. Am bos são usados claramente em paralelos no Épico de Gilgamés, quando são fendidos durante a batalha em preendida contra Huw aw a, por Gilgam és e Enkidu. Eles apare­cem também em outro material acadiano, demonstran­do que não são usados exclusivam ente na literatura cananéia, m as em todo o antigo O riente Próximo.29.8. d eserto de C ades. O deserto ou a estepe de Cades também é mencionado em um texto ugarítico e provavelmente fica no Líbano, nas proximidades da cidade de Cades, perto do rio Orontes. Pode também ser um a referência a Cades-Baméia, no sul, onde os israelitas passaram grande parte do tempo durante os quarenta anos de peregrinação pelo deserto.29.10. assentar-se soberano sobre o D ilú vio . Uma cena do templo de Shamás, esculpida num tablete do rei neobabilônico Nabu-Apal-Idinna, mostra esse deus (o deus-sol) num trono, debaixo de um a m ontanha cósm ica e uma série de linhas onduladas que, acredi­ta-se, representa o oceano cósmico. A cena é notavel­mente parecida com a de Yahw eh assentado no trono sobre o dilúvio (ou m elhor, o m ar celestia l, ver o com entário em 104.3), conform e a descrição deste versículo. Em relação a isso, pode ser interessante a informação de que em acadiano, a palavra para dilú­vio tam bém pode referir-se a um m onstro do caos. Com m ais destaque nessa literatura, é vista como uma arm a dos deuses e, às vezes, é até mesmo usado em títulos de reis e deuses. Pode ainda preceder o guer­reiro e ser provocado pelo deus que segue para a batalha. Shamshi-Adade V descreve o deus Ninurta como o senhor exaltado que cavalga no dilúvio. Em contraste com a palavra hebraica tehorn, que represen­ta as águas cósm icas na terra, esta palavra, mábbul, representa as águas cósmicas dos céus, de onde vem a chuva. Em Gênesis 6 - 8 é o màbbul que desce sobre a terra na época de Noé.30.3. tirado da sepultura (Sheol), poupado da cova.N a obra babilónica intitu lada Ludlul Bei N em eqi, o deus Marduque é relatado trazendo restauração a um de seus seguidores que estava sofrendo por razões desconhecidas: "O Senhor m e sustentou, o Senhor me colocou de pé, o Senhor me deu vida, resgatou-me [da cova], chamou-me da destruição, [...] tirou-me do rio

H u bu r, [...]. E le seg u rou m inh a m ão " (de W . G. Lambert, A Literatura Sapiencial Babilónica, 59).33.2. harpa, lira. Esses são instrumentos m usicais típi­cos da época e confirmados em textos, relevos e pintu­ras do antigo Oriente Próximo desde o terceiro m ilê­nio. Ainda existe certa discordância entre os eruditos quanto a qual das palavras hebraicas, nessa passa­gem, deveria ser traduzida como "h arpa" e qual como "lira". O termo que a NVI traduz como "lira" refere- se a um instrum ento com dez cordas, enquanto a palavra tradu zid a por "h a rp a " acred ita-se ter um núm ero m enor delas. A m bas eram seguradas nas m ãos através de estruturas feitas de m adeira. Um texto musical, descoberto em Ugarit, lança luz sobre a música da Idade do Bronze Moderna. Esse texto tem as notas a serem tocadas por uma lira acompanhando um hino cultual hurrita.35.2. escudos (escudo e broquel). "Escudo e broquel" representam os dois extremos quando se trata de equi­pam ento de defesa pessoal. Respectivam ente, refe­rem -se a um escudo grande, que protege o todo o corpo e a um pequeno, redondo; o prim eiro m ais provavelm ente era carregado por um ajudante (es­cudeiro). Do m esm o modo, a lança e o dardo ("m acha­do de guerra", v. 3) representam o armamento ofen­sivo de grande alcance. A raiz hebraica (srg) traduzida como "m achado de guerra" não ocorre em nenhuma

outra passagem do Antigo Testamento como uma arma. Heródoto refere-se a um machado cita de lâmina du­pla (sagaris) e nos Rolos do M ar Morto essa expressão é usada com o raiz para o cabo de um a lança. Em últim o caso, o texto simplesmente fala de dois usos para o mesmo equipamento. O longo cabo de madei­ra podia ser usado para aparar e dar golpes, como um bastão, enquanto a extremidade pontiaguda era usa­da para o golpe final. Existem inúm eras ilustrações desses e outros arm am entos m ilitares, da Idade do Ferro I-II, em relevos de parede nas cidades assírias de Nínive e Kalah (Ninrode).36.7. som bra das asas. Ver o comentário em Salmo17.8. A deusa cananéia Anat é representada com asas estendidas num suporte para os pés feito de marfim, de Ugarit.36.8. rio de delícias. Visto que a palavra traduzida com o "d elícias" tem as m esm as letras da raiz para Éden, é possível que esta expressão seja um a referên­cia às águas que fluíam do paraíso. A associação entre os templos do antigo Oriente Próximo e as águas de fontes é bastante confirmada. De fato, alguns templos da Mesopotâmia, do Egito e do mito ugarítico de Baal são descritos tendo sido fundados sobre fontes (com­paradas às águas prim itivas), que às vezes corriam dentro do prédio em si. Isso explicaria o paralelo entre

a casa de D eus na prim eira parte do versículo e as águas deste rio (ver Ez 4.7).36.9. fon te da vida. Em muitas outras passagens, a mais completa expressão "fonte de água viva" é usa­da (como em Jr 2.13). A água viva (ou da vida) refere- se à fonte de água corrente (em contraste com água armazenada ou coletada da chuva). É provável que se refira à fonte divina da vida neste m undo (ver tam­bém Pv 10.11; 13.14). Certam ente no antigo Oriente Próximo, os deuses eram considerados a fonte da vida, m as a metáfora da fonte de água não é confirmada.37.4. desejos do coração. Em textos acadianos, essa expressão é usada para referir-se ao recebimento de um presságio favorável, concernente a atividades que se pretende realizar ou a necessidades, tais como, enfermidades ou opressão da qual se busca liberta­ção. Um texto relata que quando um indivíduo orava aos deuses, seu desejo era satisfeito. Se o conceito israelita apresenta qualquer sem elhança, o desejo mencionado aqui não é qualquer um, mas particular­mente o do salmista nesta oração (que é articulado no v. 6; ver SI 20.4, onde o contexto é um pedido para que os planos de alguém que busca alívio em meio à aflição sejam bem sucedidos).

Salmos 42-72 Segundo livro42. título, coraítas. Os sobrescritos dos Salmos 42; 44­49; 84; 85; 87; 88 contêm o termo "coraítas". Os coraítas aparecem pela prim eira vez na lista de Números 26.58 entre as principais famílias levíticas. Na descrição das funções, em 1 Crônicas 24-26, eles são alistados como "porteiros" (1 Cr 26.1). Sua relação com o louvor ao Senhor, em 2 Crônicas 20.19, também pode ser a base para sua citação nos Salmos e como parte da salmódia cultual.42.1. corça/alma. U m a série de selos de Judá, datados dos séculos oitavo e sétimo, contem uma corça vagan­do (em busca de água?). O. Keel sugere que a popu­laridade desse motivo artístico está ligada à metáfora usada neste salmo.42.2. alma. No hebraico do Antigo Testamento, a pa­lavra traduzida como "alm a" é nephesh. Refere-se ao "e u " ou ao "se r v iv en te" (ver G n 2.7), m as não à "alm a im ortal" dos escritos do Novo Testamento. Por­tanto, não está implícito que a nephesh sobreviva após a morte. A palavra está relacionada ao termo acadiano napasu, que se refere ao pescoço ou à garganta e, por extensão, ao fôlego de vida. No uso hebraico, não há distinção entre o corpo e o princípio da vida, portanto, em passagens como 1 Reis 19.4, nephesh está sendo usada com o significado de "v id a". A energia do cor­po ou a essência da vida pode ser sugada através do "derram ar da alm a" (1 Sm 1.15; SI 42.5), como neste

lam ento. N a visão egípcia, a ba é a essência v ital retratada na forma de um pássaro com cabeça huma­na. Essa essência é separada do corpo na ocasião da morte e é considerada imortal. Seu lugar é no paraíso e não no mundo inferior para onde o corpo está desti­nado. A literatura egípcia conserva uma obra intitulada Disputa entre um Homem e Sua Ba, que é uma discus­são sobre a viabilidade do suicídio. Em contraste, o ka se assemelha à sombra que resta da pessoa depois de ter morrido. Essa sombra fica contida na estátua fune­rária e recebe as oferendas aos m ortos; portanto, é comparada ao espírito. Na M esopotâmia, esse espírito é chamado de etemmu; recebe oferendas e precisa ser apaziguado. Muitas vezes é associado a um fantasma. O outro elemento que compõe o ser na Mesopotâmia é cham ado zaqiqu e parece ser o m ais próxim o ao conceito hebraico de alma. Como o etemmu, também sobrevive à m orte, m as não há outros dados regis­trados sobre ele. Na terminologia israelita, o espírito dos mortos era cham ado de elohim, como m ostra o term o usado para referir-se ao espírito do profeta Samuel (1 Sm 28.13).

42.4. procissão. Embora tais procissões raramente se­jam m encionadas, provavelm ente essa é um a refe­rência à celebração festiva descrita em Salm o 68.24 em que uma delas, conduzida pelos sacerdotes e acom­panhada de cantores, tocadores de instrum entos de corda e outros músicos, abria caminho até a entrada do templo de Jerusalém. Salmo 118. 27 também cita um cortejo em que os participantes carregam galhos

nas mãos, dançando "até as pontas do altar" (ver o comentário ali).42.6. Herm om. A perspectiva geográfica do salmista parece começar com um termo bastante genérico, "a terra do Jordão", e gradualmente tom a-se m ais espe­cífica fazendo referência às "alturas do H erm om ". A

cadeia montanhosa Ante-Líbano geralmente é consi­derada a fronteira norte do controle israelita (Js 11.17)

e o monte Hermom, o pico mais alto, ficando a mais de 2700 metros acima do nível do mar. Os arqueólo­gos descobriram vestígios de mais de vinte templos nas encostas do Hermom. Isso se deve provavelmente à sua proem inência e à associação de lugares altos com a adoração de deuses, no mundo antigo.42.6. m onte M izar. A localização exata desse lugar é desconhecida. O nome significa "a pequena colina" e, portanto, pode referir-se a um pico específico na ca­deia do Hermom. Entretanto, isso dependeria da pers­pectiva geográfica e da motivação poética do escritor. É bastante possível que o salmista esteja se referindo ao m onte H erm om como "pequ eno" em term os de sua santidade, comparada ao santo m onte de Yahweh, Sião (SI 43.3).

44. título, coraítas. Ver o comentário sobre o título do Salmo 42.44.2-8. guerreiro divino. V er o comentário sobre os conceitos básicos dos Salmos, na introdução, para mais informações.44.20. esquecer o nome. O nome de um a divindade é associado com freqüência ao poder e à essência da­quele deus (ver Êx 3 .13 ,14 ; Is 9.6). Em Jeremias 23.27, os falsos profetas intentam remover o nome de Deus da m emória do povo a fim de seduzi-los a seguir Baal. Para m ais informações, ver o comentário em Deutero- nôm io 12.5. A incapacidade de invocar o nom e de Yahw eh como seu Deus seria uma violação da aliança e um motivo para Ele castigar o povo (1 Sm 12.9).44.20. estender as mãos. A posição descrita aqui denota um a atitude de oração ou súplica. Também é mencio­nada em Esdras 9.5 e no Salmo 88.9. Para uma discus­são completa, ver o com entário em 2 Crônicas 6.13.45. titulo, coraítas. Ver o comentário sobre o título do Salmo 42.45.1. versos em honra ao rei. Salmos direcionados ao rei, e não à divindade, eram comuns no antigo Orien­te Próximo, m as este é um dos poucos exemplos pre­sentes neste Livro. Assim como a esteia egípcia erigida em comemoração ao casamento de Ram sés II, o casa­mento retratado neste salmo é resultado de força m ili­tar - representa uma aliança política almejada devido as vitórias m ilitares do rei.45.1. escritor. Os escribas e os sábios eram os cronistas oficiais dos reis no antigo Oriente Próximo. Seu con­trole sobre as tradições e sua associação com os funci­onários reais perm itiam que executassem canções e histórias que permitiam ao povo lembrar do papel do rei como mantenedor e protetor da terra, na forma de agente político de Deus. Por isso, durante o festival de Ano Novo, na Babilônia, o épico da criação Enuma Elish era recontado; representantes de outras cidades dirigiam-se até o palácio para prestar homenagens ao rei e a procissão sagrada passava pelas ruas da cidade dirig indo-se até o grande tem plo de M arduque, o deus padroeiro da Babilônia. Quando N eem ias, o escriba, realizava um a cerim ônia de renovação da aliança, ele lia ao povo a Lei, relembrando-os a res­peito de sua história sagrada (Ne 8.1-3).45 .7 . u nção com ó leo de aleg ria . A s Leis M édio- Assírias determinavam que a noiva fosse ungida pelo pai do noivo na cerimônia de casamento; mas, neste salmo, a unção está relacionada ao remado (e não a um casam ento) e representa D eus ungindo o rei e escolhendo-o para ocupar o trono (para m ais informa­ções, ver o comentário em 1 Sm 10.1).45.8. vestes que exalam aromas. Este salmo contém linguagem e descrições detalhadas próprias de uma antífona de casamento ou unção de um rei (SI 133.2).

No antigo Oriente Próximo, ambos elem entos estão presentes num ritual de casam ento sagrado (fertili­dade), descrito em U r III, que envolvia um rei magni- ficentemente trajado adentrando pelo templo, repre­sentando a divindade. Parece provável que as vestes dos participantes eram ungidas e salpicadas de ervas aromáticas e perfumes. Para discussão a respeito des­sas substâncias, ver os comentários em Cântico dos Cânticos 1.3 e Provérbios 7.17.45.8. palácios adornados de m arfim . A respeito do uso do marfim na decoração de móveis e painéis de parede, ver os comentários em 1 Reis 22.39 e Amós 3.15; 6.4. A riqueza de um a nação geralm ente era ostentada no palácio do rei - um sinal de poder e prestígio para o Estado.45.8. instrum entos de corda. Essa tradução é baseada na correção do texto hebraico de minni para o substan­tivo plural minnim, com base no uso similar da pala­vra no Salmo 150.4. Não fica claro a que tipo de instru­m ento o texto se refere, exceto que se trata de um termo genérico para cordas.45.9. ouro de O fir . V er os com entários em 1 Reis 22.48 e Isaías 13.12 a respeito deste ouro de excelente qualidade.45.12. presentes. As cartas de M ari registram como seu rei procurou contrair matrimônio com a filha do rei de Aleppo. A partir dessa correspondência, fica claro que as negociações que duraram um ano foram consideradas concluídas quando o presente de casa­m ento chegou ao palácio de M ari e foi considerado aceitável pelo rei.45.12. filh a de T iro (N V I "cidad e de T iro"). Embora seja possível que uma filha do rei de Tiro esteja sendo m encionada aqui, é mais provável que a expressão seja um eufemismo para os habitantes daquela cidade portuária fenícia. Existem expressões semelhantes, tais como, a "filha de Sião" (SI 9.14) e a "filha da Babilônia" (SI 137.8). Visto que os fenícios haviam enriquecido muito em virtude de seu controle do transporte mer­cantil no mar M editerrâneo, esperava-se que os pre­sentes de Tiro fossem generosos, exóticos e caros. Ob­serve aqui o paralelo com "m oradores mais ricos".45.13. en feites de ouro. As vestes eram uma marca da posição social no mundo antigo. A princesa-noiva, deste salmo, está adornada com ricas vestes. Tal como a jovem noiva de Ezequiel 16.10-13, ela usa roupas ricam ente enfeitadas, provavelm ente tingidas com púrpura fenícia. Som ado à majestade de sua aparên­cia estão os bordados de ouro. Seria impossível fazer um fio de ouro resistente, mas o ouro em pó revestia o fio do tecido e a veste, dando um toque de esplendor e riqueza. Êxodo 39.3 explica o processo pelo qual esse m etal era trabalhado em cada fio, tornando-se apropriado para tecer.

46. títu lo, coraítas. Ver o comentário no título do Sal­mo 42.46.9. dá fim às guerras. Assim como Yahw eh atuava como o guerreiro divino para ajudar os israelitas nas batalhas (ver o com entário em Js 3.17), o D eus da aliança também é fonte de paz e prosperidade. Esse tema da paz mundial é um dos aspectos esperados da restauração da nação na literatura profética e apocalí­ptica. Como Isaías 2.4 observa, Deus resolverá todas as contendas entre as nações e "e las farão de suas espadas arados e de suas lanças, foices". Igualmente, Ezequiel afirma que um dos meios pelo qual Yahw eh assegurará que "as nações saibam que eu sou o Se­nhor" será a criação de uma época em que as armas de guerra serão usadas como combustível (Ez 39.7-9).47. títu lo, coraítas. Ver o comentário no título do Sal­mo 42.47.5-8. entronização no antigo O riente Próxim o. Oritual de entronização de um rei e sua investidura com os símbolos da coroa eram um as das m ais impor­tantes cerimônias do antigo Oriente Próximo. Isso pode ser visto na atribuição da insígnia real a Marduque, no épico da criação, Enuma Elish. Ele foi nomeado rei e recebeu então o cetro, o trono, as vestes reais e as armas dos outros deuses. Esse ritual era espelhado na coroação praticada na Assíria, em que todos os oficiais da corte entregavam os símbolos de seus ofícios, re­nunciando a seus cargos, a fim de que o rei pudesse decidir indicá-los ou não novamente para suas fun­ções. Na M esopotâmia, a entronização também estava ligada à majestade e ao poder dos deuses, visto que se acreditava que o "reinad o descendia do alto". Por exemplo, no prólogo ao código de leis de Hamurábi, o rei da Babilônia afirma que os deuses o chamaram pelo nom e e o instituíram com o seu representante para executar suas ordens na terra, inclusive restau­rar cidades, purificar ritos sagrados e "estabelecer a verdade e a justiça como declaração da terra". Duran­te a festividade babilónica do A no Novo (A kitu), a autoridade do rei tinha de ser reinvestida à sua pes­soa, por isso um ritual de entronização era novamente realizado. Muitos eruditos supõem que Israel usava salmos como este em suas próprias festas de entroni­zação (para Yahw eh e seu rei), mas nenhuma prova, que confirme essa hipótese, foi encontrada.48. título, coraítas. V er o comentário no título do Sal­mo 42.48.1. santo m onte. O Livro de Salm os repetidam ente refere-se ao monte Sião como o "m onte santo de Yah­w eh" ou simplesmente ao monte santo (SI 2.6; 3.4; 15.1; 43.3; 99.9). Entretanto, é preciso entender que a impor­tância e a santidade deste lugar são atribuídas inteira­mente a presença de D eus ali. O utras m ontanhas sa­gradas são associadas aos deuses: o monte Zafom a Baal,

os m ontes artificiais e os tem plos zigurates da Meso- potâm ia a M arduque e outros deuses.48.2. alturas do Zafom . Trata-se de uma referência ao monte Casius (Jebel el-Aqra, 1770 metros de altitude), 40 a 50 quilôm etros a nordeste de U garit, sendo a montanha associada à habitação de Baal (ver o comen­tário em Is 14.13). N a literatura ugarítica, o monte Zafom é considerado a montanha dos deuses onde a assembléia divina se reúne. Nos anúncios dos mensa­geiros de Baal, esse monte é louvado como uma bela colina de vitória. No contexto deste salmo, pode re­presentar uma direção (norte) ou uma referência ao templo de Dã, tecnicamente no m onte Herm om, na fronteira norte de Israel. Porém, tam bém é possível que aqui Yahw eh seja considerado um Deus univer­sal que substituirá todos os outros deuses em seus lugares sagrados, com Sião tom ando-se o que Zafom outrora fora considerado, o trono de Deus.48.7. navios de Társis. V er os comentários em 2 Crô­nicas 9.21 e Isaías 23.1.48.9. adoração no tem plo. Ao contrário dos reis que fugiam diante da visão do poder de Deus (48.4-7), os peregrinos israelitas são grandemente confortados pela majestade da sua presença em Sião porque é dali que procede a libertação. O uso de hesed (NVI "am or leal"), o termo legal empregado em conexão à aliança, indi­ca um senso de realização por parte desses peregrinos e é a base de sua fervente adoração. A preposição "em " (no templo), neste caso, pode indicar simples­m ente a entrada em Jerusalém (m onte Sião) ou no complexo do templo situado no monte, um a vez que os peregrinos não teriam acesso aos recintos interiores do templo em si.48 .12 ,13 . torres, m uralhas e cidadelas num a cidade fortificada. A arquitetura básica de uma cidade forti­ficada funcionava como um sistema de defesa e servia também como uma forma monumental de ostentar o poder físico da nação. As torres eram posicionadas em intervalos regulares no sistema de muros e controla­vam as portas. As muralhas, chegando a atingir doze metros de altura (como em Tell Dã) ligavam as torres, com freqüência num padrão dentado (trechos volta­dos para fora e para dentro) que garantia mais ângu­los para os arqueiros e outros dardos lançados ou der­rubados pelos defensores. N o interior dessas cidades, era construída um a cidadela como ponto de refúgio, caso houvesse uma invasão. Por ser geralmente cons­truída num a elevação, a torre dessa cidadela também servia com o um a ligação no sistem a de sinais por fumaça usado na comunicação entre as cidades (ver os comentários em Is 32.14 e Ne 3.26 sobre a Colina de Ofel, em Jerusalém). Para m ais informações sobre tor­res e sistemas de muros como defesas da cidade, ver o comentário em Is 2.15. Para informações sobre portas fortificadas, ver o comentário em Isaías 54.12.

49. título, coraítas. Ver o comentário no título do Sal­mo 42.49.4. provérbio. O termo traduzido aqui como "pro­vérbio" é mashal. Possui uma grande gama de signi­ficados: "a leg oria" (Ez 17.2), "p oem a" (N m 21.27), "orácu lo" (Nm 23.7). N este caso, como tam bém em Provérbios 10.1, refere-se a uma "instrução" de Deus para o povo, alertando de forma específica os israelitas; m as considerando-se a universalidade de um tema de sabedoria, é dirigido tam bém a "tod as as pessoas". Pode ainda ser com parado ao "m o te som brio" de Habacuque 2.6 em que os agressores assírios são zom ­bados por terem perdido as riquezas obtidas por mei­os ilícitos.49.4. enigm a acompanhado de harpa. O paralelismo calculado do versículo seria auxiliado em sua cadên­cia pelo toque de um a harpa ou cítara. Isso pode ser comparado ao músico empregado por Eliseu quando proferiu um oráculo (2 Rs 3.15). Um a ocorrência se­m elh an te tam bém ap arece na L en d a E g íp cia de W enam om, em que um m úsico e um profeta formam uma dupla. Certamente palavras de louvor eram can­tadas ou declam adas ao som da lira e da harpa (SI92.1-3). Era natural-que m enestréis e contadores de história recitassem os feitos poderosos de Deus e dos heróis de Israel ao som de música (Jz 5.11).49.14. a morte lhes servirá de pastor. No épico ugarítico de Baal, a im agem da morte, o deus Mot, é um mons­tro voraz cuja boca aberta consome os vivos: "O pó da sepultura devora sua presa. A morte come tudo o que quer com ambas as m ãos". Jó (24.19) descreve o Sheol, o mundo inferior, usando um a figura parecida: "con ­some os que pecaram ". Jó 18.2-13 tam bém contém a descrição da morte devorando os membros do corpo dos ímpios. Provérbios 1.12 descreve a sepultura como um a boca que engole suas vítim as; e esse m esm o conceito é refletido no épico de Baal e Anate, em que M ot é descrito "devorando sua presa", comendo-as "com as duas m ãos".49.15. esperança israelita. Assim como os povos da Mesopotâmia, com quem compartilhavam uma série de idéias religiosas e sociais, os israelitas não tinham um a compreensão ampla da ressurreição dos mortos, do ju ízo final ou de um a vida etem a de castigo ou recompensa. Isso se tom a evidente no judaísm o so­mente no período pós-exílico, conforme exemplificado por Daniel 12.2. Portanto, neste contexto, o salmista está contrastando o destino de seus inim igos, para quem não haverá escape da sepultura, com sua pró­pria esperança de redenção em Yahweh. É imprová­vel que o escritor esteja se referindo, como alguns têm sugerido, ao livramento da morte à m aneira de Eno­que (Gn 5.24) ou de Elias (2 Rs 2.11). A inclusão da NVI da expressão "para si" é totalmente interpreta-

tiva, não sendo encontrada no texto hebraico. O con­ceito de D eus "tom ando" um a pessoa como um a refe­rência a salvar sua vida pode ser visto claram ente no Salmo 18.16,17, onde a NVI traduz a mesma expres­são por "m e segurou". Ver os comentários a respeito da vida após a morte nas notas introdutórias sobre os conceitos básicos de Salmos.50. titulo. A safe. Pode ser uma abreviação para "filhos de A safe" e, portanto, um a referência a um dos corais do tem plo ou ao seu repertório m usical. Em Esdras 2.41, os cantores que haviam voltado com Esdras do exílio para a Palestina eram "descendentes de A safe". D e acordo com a lista dos m úsicos do tem plo, em 1 Crônicas 6.39, Asafe foi nomeado, por Davi, para ser­vir no tem plo de Jerusalém como auxiliar de Hemã.50.1-4. deus-sol com o im agem de ju iz . Existe uma figura no topo de uma coluna de diorito, com cerca de dois metros de altura, contendo uma cópia do código de lei de Hamurábi. Nela, Shamás, o deus-sol babiló­nico, é retratado assentado em seu trono com Hamurábi de pé diante dele. No prólogo que se segue, o rei assume a responsabilidade de "fazer prevalecer a ju s­tiça na terra" e "levantar-se, com o esse deus, sobre toda a hum anidade". Ele passa a ser o representante judicial da divindade para o im pério babilónico. O papel de Shamás, como ju iz divino, também aparece nas orações acadianas que buscam seu perdão. O tex­to egípcio Hino a Aten, composto para a corte do faraó Aquenáten, no século catorze a .C , contem imagens da criação bastante similares a essas deste salmo. Isso ocorre principalmente em relação ao senso de ordem e universalidade: "Su a glória brilha sobre toda a ter­ra; seu resplendor enriquece a terra por ti criada". Ver o comentário sobre Deus como ju iz nas notas intro­dutórias sobre os conceitos básicos de Salmos.50.8-15. id eolog ia do sacrifício . U m a com preensão correta do propósito dos sacrifícios é delineada neste salmo. Ele tem como objetivo apresentar uma ideolo­gia contrastante às práticas sacrificiais dos vizinhos de Israel. Dois aspectos são enfatizados. Primeiramente, Deus não necessita ser alimentado com ofertas como os deuses da Mesopotâmia e do Egito (como no épico de Gilgam és sobre o dilúvio em que os deuses avan­çam com o an im ais fam intos sobre o sacrifício de Utnapishtim). Segundo, e talvez mais importante, os israelitas tinham a obrigação para com Deus de dedi­car "ofertas de ação de graças", com o sinal de seu reconhecimento da aliança. A incapacidade do povo em distinguir entre ritual e o conhecimento de Deus muitas vezes é condenada pelos profetas (1 Sm 15.22; Os 6.6). M iquéias, particularmente, parodia essas ofer­tas inú teis e observa que tudo que D eus exige de Israel é que "pratiquem a justiça e amem a m isericór­dia" (Mq 6.8).

50.21. deus como as pessoas. Deus acusa o povo de esquecer que a divindade não é "com o eles" , que desejam ignorar o m al ou até m esm o aprovar suas ações pecaminosas. Essa forma extrema de antropo­morfismo é um crime terrível que merece repúdio e castigo. O silêncio divino não deve ser considerado um sinal de fraqueza ou desinteresse. Jerem ias, em seu "serm ão do tem plo" (Jr 7.9-11) faz acusações se­m elhantes, destacando que o povo de Judá parecia acreditar que podia com eter qualquer pecado e de­pois se dirigir até o templo e afirmar "Estam os a sal­v o". Ele declara que D eus está vendo tudo e não é cego diante de seus atos. O Antigo Testamento come­ça sua história narrando como as pessoas desejaram ser iguais a Deus e, por isso, caíram em pecado. Por terem caído em tentação, a história hum ana passou a ser marcada pela tentativa de remodelar Deus à im a­gem do hom em . Os deuses da M esopotâm ia e do Egito são descritos agindo como os humanos - prati­cando atos impensáveis de violência (histórias do di­lúvio de Gilgam és e Atrahasis) ou enganando pesso­as em troca de uma recompensa (Adapa); mas ainda assim mantinham seus poderes sobrenaturais e deve­riam ser tratados com respeito oficial. O salmista e os escritores de sabedoria exaltam Yahw eh acima de qual­quer outro deus, num ideal de moral e comportamen­to justo que ultrapassa qualquer coisa já alcançada por qualquer divindade ou ser humano (ver Jó 42.2-6).51.1, 2. m ecanism o para remoção de pecado. No an­tigo Oriente Próximo não eram os pecados que eram removidos e sim a divindade que era apaziguada. O indivíduo só tomava consciência de seu pecado quan­do passava por circunstâncias consideradas como casti­go. O objetivo, então, era acalmar a ira do deus (fosse essa ira considerada justificada ou não). Quando pe­diam que seus pecados fossem rem ovidos ("rasgue meus erros como a uma veste"), eles queriam dizer que a divindade se dispusesse a ignorar esses erros, afastar sua ira e restaurar-lhes seu favor. Os rituais que acompanhavam esse tipo de aproximação tinham como objetivo purificar o indivíduo e pacificar a di­vindade; no entanto, eles em si não removiam o peca­do; apenas permitiam que a pessoa tivesse esperança de que seria absolvida de sua falha. Em Israel, não devemos pensar em termos de pecados sendo rem o­vidos por toda a eternidade, m as sim de sacrifícios purificando a profanação da presença de Deus causa­da pelo pecado (ver o comentário em Lv 1.4, "expia­ção"). Os rituais abriam o caminho para o perdão (ver o comentário em Lv 4.13-32). Este salmo não está tra­tando desse processo (v. 16). Somente a misericórdia de Deus pode remover um pecado do livro de regis­tro dos atos. Subentende-se que o penitente podia apenas pedir, não exigir, a absolvição de suas trans-

gressões (ver SI 32.10). O que está sendo pedido é uma demonstração da misericórdia e graça de Deus, com base na confiança do suplicante e na promessa da aliança feita a Israel. O favor de Deus pode então "apagar" o pecado de form a bastante sem elhante a um pergaminho que era apagado ou a um tablete de argila que era lavado (ver N m 5.23) ou quebrado. Essa metáfora é mencionada em um texto ritual ba­bilónico, que afirma que um rei pode ordenar que "o tablete de m eus pecados seja quebrado", portanto, cancelando ou atenuando dívidas ou acusações crimi­nais. Igualmente, no Código de Hamurábi, um con­trato ilegal para a aquisição da terra de um soldado podia ser cancelado quebrando-se o tablete cuneifor- m e. A literatu ra m esop otâm ica faz re ferên cias a tabletes que contêm registros de atos de m aldade (nos textos Shurpu) e de bondade.51.3. reconhecim ento da ofensa. No antigo Oriente Próximo, os indivíduos afirmavam que haviam sido enganados e, assim, levados a fazer algo que ofendia a divindade. Havia diversos fatores que contribuíam para essa ignorância. Primeiro, os deuses do antigo Oriente Próximo não ofereceram um a revelação per­manente de si mesmos que pudesse ser usada como um guia. Segundo, o politeísmo apresentava um pro­blema, uma vez que determinada ação podia agradar a um deus, mas potencialmente ofender a outro. Ter­ceiro, os deuses não demonstravam agir com coerên­cia, logo, era difícil prever a atitude que teriam . E finalm ente, as ofensas freqüentem ente assum iam a form a de rituais negligenciados que os indivíduos sequer tinham conhecimento. Como resultado, na li­teratura penitencial babilónica (shigus), por exemplo, o ofensor às vezes simplesmente assume a culpa por todo tipo de pecado, esperando, no processo, confes­sar algo que tenha ofendido a divindade. Outras ve­zes, ele alista ofensas e afirma estar consciente de suas falhas. No texto hitita, Orações de M ursilis, a confissão da culpa é o passo em direção à reconciliação com seu senhor. Em Israel, a lei era clara o suficiente e as ofensas podiam ser identificadas com precisão.51.4. só contra a divindade. Se D avi está identifican­do Yahw eh como o único contra quem ele pecou, quem então está ficando de fora? C ertam ente ele tam bém havia pecado contra Bate-Seba e Urias. É im portante notar que no contexto, a questão diz respeito a quem tem o direito de ju lgar e dar a sentença (segunda me­tade do v. 4). Em Israel, a família da vítim a assassinada tinha o direito à vingança de sangue, e sem pre havia inimigos políticos que teriam prazer em apresentar-se como o braço da justiça de Deus contra um rei genioso. Talvez com essa afirmação Davi esteja limitando seu re­conhecimento de culpa, de m odo que apenas Yahw eh tenha o direito a puni-lo.

51.5. concebido e nascido em pecado. O penitente, quando se dirige a D eus, freqüentem ente traça um contraste entre a perfeição divina e a inerente fraque­za humana (ver Jó 4.17; SI 130.3; Jr 17.9). Esse contras­te tam bém é apresentado em uma oração egípcia a Amom, da 19a D inastia, que confessa ser "n orm al" aos humanos fazer o que é errado, assim como é "n or­m al" ao deus ser m isericordioso. D eve-se enfatizar, neste contexto, que o ato da concepção não é conside­rado pecaminoso em si. A atividade sexual, bem como a concepção, a gestação e o nascimento, tom avam os participantes ritualm ente impuros (ver Lv 15.16-33), mas dentro do casamento o sexo nunca foi declarado pecaminoso. Afirmações como as de Jó 15.14 e Isaías6.5 simplesmente definem os hum anos como impuros por natureza em relação à absoluta pureza de Deus. Em bora este salmo tenha sido usado por alguns co­mentaristas para fundam entar a doutrina do "pecado original", a interpretação mais apropriada parece ser considerá-lo parte da confissão geral do penitente. Em encantamentos mesopotâmicos, o sentimento expres­so é de que não existe ninguém que não tenha pecado - todos são pecadores. Um a exortação à confissão, ad­moestando a reconhecer a pecaminosidade da condi­ção humana, aparece nos ensinos egípcios de Amene- mope, "N ão diga: 'N ão pratico o m al'". Parece que os israelitas concordavam com essa teologia, reconhe­cendo haver uma inclinação natural ao erro em todas as pessoas. Porém, eles não deram o próximo passo da teologia cristã que considera o pecado de Adão impu­tado a toda a humanidade.51.6. o d ese jo da d iv ind ade quanto à verdade no íntim o. Com base na imagem de nascimento, do ver­sículo anterior e de um a expressão semelhante em Jó38.36, é provável que E. D alglish esteja correto em sua interpretação quanto a obter conhecimento estan­do no ventre (no "íntim o" da mãe). O penitente reco­nhece que seu pecado não pode ser desculpado por falta de conhecimento. Ele sabe, desde o ventre, o que é certo, m as falhou ao fazer aquilo que achava ser justo (ver o v. 3). Um a imagem semelhante de apren­dizado pré-natal encontra-se no material egípcio Hino a Aten. O escritor repetidamente louva ao deus Aten por suprir tudo que é necessário à sobrevivência hu­m ana, até m esm o dentro do ventre m aterno. Para contrapor a tendência da natureza hum ana em deso­bedecer, o pensam ento religioso egípcio está preen­chido com a necessidade de internalizar a ma'at, a "v erd ad e". É descrita como o pão que sustenta os humanos (como nos anais reais da rainha Hatshepsut).51 .7 . h is so p o . E sse p eq u en o arb u sto , O riganum syriacum (m anjerona), cresce naturalm ente entre as rochas da Palestina. A fragrância arom ática exalada por suas flores azuis ou avermelhadas e folhas pode

ser a origem de seu suposto valor medicinal. No texto bíblico, porém, é associado a rituais de purificação, como na cerimônia de um leproso, em Levítico 14.4-6. Também era empregado no sacrifício ritual da novi­lha verm elha (Nm 19.6) e na marcação dos umbrais das portas israelitas durante a Páscoa (Êx 12.22).51.7. branco = pureza. Com o observado em Isaías1.18, na tradição bíblica, o branco é identificado com a pureza ou a alegria. Cores escuras, especialm ente o preto, eram usadas para simbolizar luto ou lamento - ambos associados a estados de impureza (ver SI 35.13; Zc 3.3-5). Em um a oração assíria, o rei invoca seu deus para "branquear" seu coração, ou seja, libertá-lo de seu pecado de blasfêmia. Em acadiano, o verbo "bri­lhar" se confunde com o verbo "tom ar branco". Em um texto babilónico de magia, o pedinte implora que possa "tom ar-se tão puro como o céu, tão limpo como a terra e tão brilhante como o centro do céu".51.10. coração puro. Após ter reconhecido sua condi­ção de pecado desde seu nascimento, o penitente pede agora a Deus, o único poderoso e capaz de atender a seu pedido, que purifique seu "coração" (a sede do intelecto na tradição hebraica). Uma oração suméria de arrependim ento tam bém pede pela m isericórdia divina dos deuses e pela transformação "d o pecado praticado... em bondade". E semelhante à petição do Lam ento pela D estruição de Ur, que invoca a deusa Nanna para garantir que "todo o coração maligno de seu povo seja puro diante de ti!" O conceito de rege­neração ou novo rumo também é encontrado no orá­culo de Ezequiel pela nação restaurada, em que Deus prom ete "dar-lhes um novo coração" (Ez 36.26).51.11. rem over o Santo Espírito. Em bora a expressão "espírito de D eus" ocorra muitas vezes no texto, ape­nas em Isaías 63.10-14, a expressão "santo espírito" é usada como sinônimo da presença de Deus. Ter essa presença removida ou ser excluído da comunhão com Deus é o pior castigo imaginável. Em escala nacional, seria o fim da aliança e a destruição total do povo (Jr 23.39; compare com o terceiro filho de Oséias "N ão m eu povo" em Os 1.9). Para um m onarca em exercí­cio, que era o representante de Deus, ser expulso da presença de Yahw eh seria um sinal de que sua dinas­tia fora rejeitada e teria um fim (ver os comentários em relação à difícil situação de Saul em 1 Sm 16.14;28.6). O suplicante, no m aterial sum ério "O ração a Todos os D euses", tam bém im plora para que deus "não lance teu servo para baixo", provavelmente lon­ge do favor divino, por causa de suas transgressões.51.16. não te deleita em sacrifícios. Tal como o ataque direto de Jerem ias ao que ele considerava um sistema cultual totalmente corrupto em Jerusalém (Jr 6.20; 7.4;31.31-35), o salmista nega o valor do sacrifício animal sem a dimensão ética que o sustente. O texto egípcio

Instrução de M erikare contém esse mesmo sentimento: "É mais aceitável o caráter de um reto de coração do que o boi de quem pratica o m al". Eles compartilham do argum ento de Sam uel (1 Sm 15.22) e Oséias (Os6.6) de que Deus prefere o coração e as orações de um adorador devoto à sua encenação ritual (ver os comen­tários em 1 Sm 15.22; Is 1.16,17; Jr 7.9). Isso também se observa na literatura de sabedoria babilónica, onde os piedosos são encorajados a prestar homenagem di­ariamente "com sacrifícios, orações e uma oferta de incenso adequada". M as, m ais im portante é "sentir solicitude de coração" para com a divindade.52.2-4. língua m entirosa. O língua, nesta expressão, é sinônimo da pessoa. Exemplos semelhantes dessa m e­táfora podem ser encontrados no texto assírio Palavras de Ahiqar, em que a "língua do governante" é iguala­da ao seu poder soberano. A acusação feita, neste salmo, é a de que os falsos escolhem falar enganos e praticar o m al (compara com Pv 12.17), uma queixa tam bém re g istra d a no m a teria l do M éd io E g ito intitulada Discussão Sobre o Suicídio.53.5. ossos espalhados. Um a imagem comum de der­rota e desesperança completa é o campo de batalha coberto de ossos dos m ortos. Os anais assírios de Salmaneser III relatam a destruição de seus inimigos, com "p ilh as de crânios" am ontoados e cenários de batalhas recobertos de cadáveres. Ezequiel 37 usa essa im agem com o base de seu oráculo de restauração. Jerem ias 8.1, 2 profetiza a violação dos túm ulos dos falsos sacerdotes e reis infiéis, cujos ossos são espalha­dos "com o esterco sobre o solo". Ver tam bém o co­m entário em 22.14.54.1. petição por vingança. Com base na premissa do princípio da retribuição (ver o comentário nas notas introdutórias sobre os conceitos básicos de Salmos), acreditava-se que a pessoa que sofria estava sendo castigada por Deus. V isto que E le era considerado ju sto , o castigo era m erecid o. A s dificuld ades do salm ista, portanto, seriam tom adas como evidência de seu pecado. Ele seria vingado quando Deus inter­viesse invertendo a situação e punindo seus inimigos. Tal ação do Senhor proclamaria sua inocência e m os­traria que ele não havia perdido o favor de Deus. O cam ponês eloqüente da literatura de sabedoria do Egito também invoca seu deus-rei, o faraó, como sua "últim a esperança" e "único ju iz".

54.6. sacrifício voluntário. Ver o comentário em N ú­m eros 15.1-31 sobre os elem entos gerais do sistema sacrificial israelita. U m a oferta "voluntária" era um sacrifício não obrigatório, feito em gratidão ou em cum prim ento de um voto (ver o comentário em Lv22.17-30). Podia ser oferecido no altar com a intenção de participar de uma refeição comunal com Deus ou

como um holocausto. Acerca do papel desta oferta em Salmos, ver o comentário em 50.8-15.55.14. m ultidão na casa de D eus. Os israelitas eram instruídos a comparecer às festas anuais de peregrina­ção e levar seus sacrifícios ao tem plo de Jerusalém (ver os com entários em Êx 23 .17 e D t 16.16). Um am biente de com unhão era gerado à m edida que grandes grupos de pessoas e amigos íntimos se junta­vam nesta jornada religiosa unificada (a Septuaginta usa en hom onoia, "e m un id ad e", na tradução deste verso), demonstrando fisicam ente seu compromisso com a aliança. O salmista aqui parece extremamente perturbado com a possibilidade de alguém, que tinha compartilhado com ele essa peregrinação, o trair.55.15. desçam vivos para a sepultura. O castigo que o salmista deseja que recaia sobre seus inimigos é uma morte prematura. Tal como o levita rebelde, Corá, e seus seguidores (Nm 16.31-35), eles serão engolidos pela terra sem outras oportunidades de praticar o en­gano. O paralelo aqui "d e surpresa" esclarece que descer vivo à sepultura não significa que não morre­rão, e sim que o salmista deseja que sejam acometidos de uma morte súbita. A imagem da morte como uma boca aberta engolindo os desavisados encontra-se no épico ugarítico de Baal, em que o deus do m undo inferior, Mot, é descrito como um "poço atraindo os bois selvagen s", que "co m e tudo o que quer com ambas as m ãos".55.21. fala/coração. Um provérbio acadiano apresen­ta a m esm a distinção, observando que um hom em pode falar palavras agradáveis com seus lábios, mas ter um coração cheio de morte. A série de encanta­mentos Shurpu fala de alguém cuja fala é sincera, mas cujo coração é enganoso.56.8. livro/registro. Assim como o diário da memória mantido em prol da justiça futura em Daniel 7.10 e M alaquias 3.16 (ver os comentários em ambas passa­gens), o salmista faz menção a um registro que Deus mantém de seu sofrimento durante o decurso de sua vida. Esse repositório escrito é comparado a recolher as lágrimas do sofredor num odre. Em ambos os ca­sos, a forma im perativa é usada para mostrar como esse registro é im portante, de m odo que apenas os merecedores são m antidos no "livro da vida" de Deus (ver SI 69.28).57.1. som bra das tuas asas. É possível que o salmista esteja aludindo à metáfora de Deus como uma águia protetora que abriga seus filhotes estendendo sobre eles suas asas, encontrada no "C ântico de M oisés", em D euteronôm io 32.10, 11. Essa im agem com um ente era usada para referir-se aos atos redentores da alian­ça de D eus (ver Êx 19.4). Essa referência tam bém pode ser um reflexo das asas do querubim sobre a arca da aliança (1 Sm 4.4; 1 Rs 6.23-28) ou aos serafins

com seis asas que cercavam Yahw eh na narrativa do chamado de Isaías (Is 6.2). Essa metáfora encontra-se tam bém em outros salmos (36.8; 57.2; 61.4; 91.4), e de forma recorrente tem a ver com questões de cuidado e proteção relacionados à aliança. Tam bém era usada em outras culturas do antigo Oriente Próximo, especi­almente a egípcia, onde até mesmo asas desvinculadas de um corpo simbolizavam proteção. As divindades aladas são continuamente retratadas protegendo o rei. U m m arfim de Arslan Tash, datado do oitavo século, apresenta imagens de form a hum ana com asas prote­gendo uma figura ao centro.57.4. in im ig o s com parados a leõ es. A pesar de na literatura assíria do sétimo século as covas de leões serem usadas como uma metáfora para cortesãos m al­vados e hostis ao rei, a combinação com armas aqui abre um a outra possibilidade. Fontes ugaríticas citam um batalhão de arqueiros que marcha sob o estandar­te da deusa-leão. O salm ista tam bém poderia estar aludindo a um grupo de mercenários que portavam esse estandarte.57.8. harpa e lira. O louvor acompanhado de harpa e "lira de dez cordas" também é encontrado em Salmo 33.2 (ver o comentário ali). Em Salmo 98.5, 6 a harpa é colocada ao lado de trombetas e chifre de carneiro, a fim de marcar o entusiasmo da celebração do salmista e, possivelmente, propiciar um a profecia (ver Eliseu em 2 Rs 3.15). A alegria antecipada pelo amanhecer é encontrada no material egípcio Hino a Aten, em que "a s duas terras do Egito se regozijam " ao rom per da manhã quando o disco solar surge no horizonte.58.4. cobra que se faz de surda. A m etáfora é uma tentativa de igualar o tolo/ímpio, que não escuta, à cobra (um termo encontrado em egípcio e ugarítico) que se faz de surda para não ouvir a m úsica dos encantadores. Am bos causam dor e sofrimento por causa de seu com portam ento insensato. Em bora as serpentes não tenham m ãos para tapar os ouvidos (um órgão interno), a questão aqui tem a ver com ações perversas, abomináveis. Seguindo esta linha, o texto egípcio Instrução de Arikhsheshonqy observa que não há razão para tentar instruir um tolo, porque ele não ouvirá e o odiará por ter tentado ensinar algo a ele. Igualmente, a Instrução de Amenem ope alerta que as palavras dos tolos são mais perigosas que tempes­tades de vento.58.5. encantadores. A profissão de encantador de ser­pente envolvia um conhecim ento profundo do pa­drão de comportamento da serpente. Um a exortação que poderia muito bem ter se originada desta prática encontra-se na Instrução de Anksheshonqy e afirma que um a serpente bem alimentada não ataca. É provável que o encantador tam bém usasse m agias, além da música, ou alguma escora física para controlá-las em

seu número. Esses animais eram bastante temidos no mundo antigo por serem considerados seres mágicos e tam bém por seu veneno. As literaturas egípcia e m esopotâm ica contêm exem plos de encantam entos contra serpentes e suas m ordidas. A palavra aqui traduzida como "encantadores" não deve evocar im a­gens de desenho animado de serpentes hipnotizadas subindo em espiral, controladas por tocadores de flau­ta. Outra alternativa é que se refira a serpentes contra as quais os feitiços são ineficazes. Textos acadianos também falam que esses animais são "desconjuráveis".58.6-11. m aldições comparadas a encantam entos. Este salmo é conhecido como "im precatório" porque roga maldições (imprecações) ao inimigo. No antigo Orien­te Próxim o, tais m aldições eram intensificadas ou ativadas por rituais mágicos e feitiços, mas esse tipo de prática seria inaceitável no sistema bíblico. Os sal­mos imprecatórios podem ser entendidos tendo como pano de fundo o princípio da retribuição (ver as notas introdutórias sobre conceitos básicos dos Salmos). V is­to que a justiça de D eus exigia castigo proporcional à gravidade do pecado, o salm ista está invocando as m aldições que seriam apropriadas para que a justiça fosse m antida. São da m esm a m agnitude das que Deus profere contra seus inimigos (ver Is 13.15,16). A linguagem vigorosa dessa passagem contém aspectos de um a fórm ula de m aldição sem ítica oriental que espera na divindade para executar vingança contra as nações inimigas. Um exemplo deste tipo de maldição indireta encontra-se nos tratados de vassalo do rei assírio Esar-Hadom que invoca um a hoste de deuses para prejudicar todo aquele que rompesse o tratado. Também é empregada, com o acréscimo dos atos ritu­ais de execração, na inscrição aramaica de Sefire: "A s­sim como este arco e estas flechas são quebrados, que assim tam bém Inurta e Hadade quebrem o arco de M ati'el e de seus nobres". O salm ista indiretamente amaldiçoa através das imprecações, invocando Deus para "r ir deles" em seus esforços insignificantes de am eaçar Israel. E le não faz uso de encantam entos mágicos ou rituais de execração contra seus inimigos, ao contrário, confia em Deus para tom ar essas pessoas im potentes - quebrando seu poder e suas armas de destruição (ver Jr 49.35; 51.56; Ez 39.3).59. título, incidente. Parece mais provável que o evento m encionado no sobrescrito deste salmo refira-se a um período anterior à ascensão de Davi ao trono, quando ele era um fora-da-lei e continuam ente perseguido pelos homens de Saul. Para exemplos desse tipo de vigilância e perseguição, ver 1 Samuel 19.11 e a nar­rativa desse episódio em 1 Sam uel 24.60. título, incidente. Os editores do Livro de Salmos às vezes tentam ligar eventos históricos da vida de Davi com o tema por ele escrito. Neste salmo, em particular,

a referência é à campanha de Davi contra os arameus e os edomitas (ver os com entários em 2 Sm 8.3-14).60.3. vinho estonteante. O poder da ira de Deus con­tra o povo é comparado a um a poderosa taça de vinho que estonteia os israelitas, tom ando-os bêbados/im­potentes (ver Is 51.17, 22 e o comentário em Is 28.7). Essa taça pode ser com parada à taça de am argura bebida pela m ulher suspeita de adultério, em Núme­ros 5.16-22, e à taça da salvação, em Salmo 116.13. Ver o comentário em 75.8.60.4. sinal. Bandeiras e estandartes de guerra eram usados pelos militares como instrumentos de sinaliza­ção e pontos de ajuntamento das tropas ou eram pen­durados nos m uros das cidades (ver Jr 4.6). Suas cores e insígnias designavam a quem professavam lealda­de e, em m uitos casos, incluíam um sím bolo do(s) deus(es) que, esperava-se, participaria da batalha jun­tamente com as forças hum anas (ver Jr 50.2). O exér­cito assírio de Salm aneser III viajava com seus "estan­dartes" presos à carruagem real e quando o acampa­m ento era montado, eles eram erigidos perto da ten­da real e tornavam-se o ponto central para sacrifícios e atos de devoção aos deuses.60.6. dividir Siquém . Visto que Deus, na promessa da aliança, sem pre incluía a garantia de posse de terra aos israelitas, era direito de Yahw eh dividir Siquém (Tell Balata, 64 quilômetros ao norte de Jeru­salém) como um a recompensa de guerra àqueles que eram fiéis. Talvez devido à sua proxim idade a dois picos, m onte G erizim e m onte Ebal, S iquém tinha um a longa tradição como lugar sagrado e é menciona­da em muitas fontes antigas, inclusive nos registros egípcios de Sen-Usert III (século dezenove a.C.) e nos tabletes de El Am arna (século catorze a.C.). Há evi­dências de ocupação quase contínua, ao longo do se­gundo e primeiro m ilênios, demonstrando a impor­tância dessa estratégica cidade na rede de estradas que cruzava o norte, desde o Egito, passando por Berseba e Jerusalém , até D am asco. Foi a prim eira parada de Abrão em Canaã. Jacó adquiriu terras per­to dessa cidade, segundo a narrativa de Gênesis 33.18­20, portanto, ela é atrelada às origens da posse da terra prometida aos israelitas. O solo fértil dessa área favorecia a agricultura e as boas pastagens.60.6. vale de Suçote. A cidade de Suçote é localizada a leste do rio Jordão, perto do ponto onde ele se liga ao rio Jaboqu e, um a área conh ecid a com o G h or A bu O beid eh . T ra ta -se de um a reg ião fé rtil que, com o Siquém, tem uma relação com a narrativa de Jacó (Gn 33.17) e poderia representar a área total da terra pro­metida estipulada pela aliança. Um a série de arqueó­logos identifica essa área com a região de Tell D eir 'A lia , com base em reg istro s eg íp cios (a E ste ia de Sisaque) e vestígios culturais que datam desde o Cal-

colítico até a Idade do Ferro II. O nom e, que significa "cabanas", seria apropriado para as moradias provisó­rias da população m ista dessa região, form ad a por pastores nômades e mineradores (evidência de fundi­ção foi encontrada nos sedimentos da Idade do Ferro I). F ica lo ca lizad a no v ale a oeste das m on tan h as de Gileade, à medida que as terras descendem até o Jordão.60.7. G ileade, M anassés. A região transjordânica de Gileade, entre o rio Iarmuque, no norte, e o rio Arnom, no sul, foi repartida entre as tribos de Gade (ver o comentário em Js 13.24-29) e Manassés (ver o comen­tário em Js 13.30, 31), na d istribuição feita após a conquista. A respeito da distribuição geral do territó­rio de cada tribo nessa região, ver o comentário em Números 32.34-42.60.7. Efraim é o m eu capacete, Ju d á é o m eu cetro.Nesse retrato metafórico de Yahw eh como guerreiro divino, os dois reinos de Israel, (Efraim) e Judá, repre­sentavam um capacete e um cetro respectivamente. U m a im agem sem elhante encontra-se em Zacarias9.13, onde Judá é o arco de Deus e Efraim, sua flecha. O termo traduzido como "capacete" não é usado em nenhuma outra passagem como referência à armadu­ra ou equipam ento para a cabeça. O texto hebraico refere-se a um a "fortaleza para m inha cabeça" ou talvez "m inha principal fortaleza". O cetro freqüen­tem ente é identificado como um bastão cerim onial esculpido que, às vezes, é retratado na mão dos reis, como símbolo de sua posição. É mencionado também em Gênesis 49.10 e Núm eros 21.18.60.8. M oabe como pia. Pode ser um a referência à pro­ximidade de M oabe com o m ar M orto, mas certamen­te denota a subm issão dessa nação a Yahw eh (repeti­do em SI 108.9). O s m oabitas são forçados à servidão, sendo colocados num a posição em que devem lavar os pés de seu senhor (compare com Jn 13.5). O utensílio mencionado no salmo geralm ente era usado para co­zinhar, m as também era um pote/ pia de múltiplos usos e de diversos tamanhos. A s pias geralmente eram uti­lizadas para abluções ou banhos rituais e ocorrem em listas de presentes finos nos tabletes de A m am a. A im agem retratada aqui é obscura.60.8. sandália atirada em Edom. As sandálias eram um calçado comum no antigo Oriente Próximo, mas tam bém eram um item simbólico do vestuário. Tal­vez, isso seja devido ao fato de que a terra era adqui­rida com base na área triangular que o comprador era capaz de pisar em uma hora, um dia, uma semana ou um m ês (1 Rs 21.16, 17). A terra era dividida em triângulos e uma marca de nível era construída com pedras servindo como marco para as divisas (Dt 19.14). Visto que o território era medido com os passos de alguém calçado em sandálias, elas passavam a ser a escritura m óvel daquela terra. A tirar um a sandália

era um gesto legal e simbólico usado em situações em que um parente se recusava a aceitar a responsabi­lidade do levirato em relação a uma viúva. Ela, por sua vez, removia dele a sandália, símbolo de posse e herança, e a atirava nele. Esse gesto significava a perda de seus direitos de herança sobre a terra do parente falecido (ver Dt 25.9 e R t 4 .7 ,8 ). Transferênci­as de terra em textos de Nuzi tam bém envolviam a substituição da pegada na terra do antigo proprietário pela a do novo. Neste versículo, Deus atira um a san­dália em Edom como gesto de conquista ou como afirmação da posse das terras daquela nação.60.9. cidade fortificad ^ E d om . Visto que a "cidad e fortificada" é apresentada como paralela a Edom, so­mos inclinados a pensar em Bozrah (principal cidade fortificada de Edom), cujo nome deriva da m esma raiz dessa expressão. Bozrah era a capital do antigo Edom e tem sido identificada com Buseirah, na região norte do país. Controlava um trecho da estrada do rei e ficava relativamente próxima às minas de cobre des­cobertas oito quilômetros a sudoeste, em W adi Dana. As escavações demonstram sedimentos do século séti­mo ou sexto com as m aiores e mais bem fortificadas ocupações da área. -61.4. refugiar-se nas asas. Ver o comentário em 57.1.61.8. rei cum prindo votos. Os reis, no antigo Oriente Próximo, tinham obrigações para com o deus que era a fonte de seu poder. Por exemplo, em Mari, os reis eram obrigados a oferecer sacrifícios anuais aos deu­ses em todo o reinado, reconstruir seus tem plos e assegurar que a comunidade sacerdotal recebesse o devido salário. Além disso, votos especiais eram fei­tos para garantir boas colheitas, vitórias na guerra (ver Jz 11 .30,31 ; 1 Sm 14.24) ou conseguir um herdei­ro. U m exemplo desse últim o empenho encontra-se no épico ugarítico de Keret, em que o rei vai até o santuário de Aserá e faz um voto de entregar a ela o "dobro do preço da noiva em prata", referente a uma esposa real, se tiver permissão de casar-se com a prin­cesa Hurriya.62.9. origem im portante. Como no Salm o 4.2, esse termo, benê'ish, funciona como um eufemismo para ricos e poderosos e tam bém como um termo genérico para todos os homens de influência. Tanto a língua egípcia como a babilónica contém expressões seme­lhantes para essa classe de indivíduos. Por exemplo, textos babilónicos geralm ente fazem distinção entre um "n obre" e um a "pessoa de classe inferior".63.1. alma/corpo na antropologia antiga. De acordo com comentário do Salmo 42.2, a respeito do conceito de "alm a" no antigo Oriente Próximo, as culturas dos mesopotâmicos e israelitas não diferenciavam alma e corpo. Am bos representavam o ser individual, e não um espírito ou entidade separada. No Egito, porém, a

força vital, ka, continha a essência da vida e tam bém a sustância que m antinha os seres vivos. Após a morte, a "a lm a" egípcia ou ba m anifestava essa essência, e com freqüência era ilustrada em pinturas de túmulos como aves ou rostos humanos. A habilidade de dife­renciar entre o ser vivo e sua alma encontra-se numa obra de sabedoria do Médio Egito intitulada Disputa entre um Homem e sua Ba. Nesse documento um ho­m em discute com sua alma. Em seu desespero, ele afirma que os problemas da vida exigem que cometa suicídio. Isso enraivece a ba e ela am eaça deixá-lo, um a ameaça que o homem leva m uito a sério, visto que significaria que ele não ressuscitaria na vida após

a morte.63.7. som bra das asas. Ver o comentário em 57.1.65.4. viver nos átrios do tem plo. Em bora o complexo do templo fosse primordialmente o ambiente da or­dem sacerdotal, era desejo de todo membro da comu­nidade da aliança "habitar" na presença de Deus (ver SI 84.2 e 96.8). A importância do templo como o lugar onde Deus habitava pode ser confirmada no uso que se fazia dos recintos sagrados para orações e procedi­mentos judiciais feitos por alguém , através de jura­mento, "diante do deus" (ver o Código de Hamurábi). Neste salmo, o conceito de ser o "escolhido" é enfatizado estando intim am ente relacionado à prom essa e ao poder de Yahweh. Para m ais informações, ver o co­

m entário em 23.6.65.7. acalmas os m ares. Essa expressão rem ete ao po­der criativo de Yahw eh sobre o caos aquático (como em G n 1.2-10). É bastante provável que o salm ista israelita tam bém esteja aludindo à terminologia dos épicos religiosos da M esopotâm ia (a história da cria­ção Enuma Elish em que M arduque derrota Tiamat, a deusa das águas primitivas) e de Ugarit. Neste últi­mo, Baal tem uma batalha monumental com Yamm, o deus do mar. O uso da temática da batalha cósmica em outros salmos (73.14; 89.9, 10) é outro indício do quanto os escritores israelitas recorriam a narrativas religiosas de outras culturas, m as sempre de maneira a demonstrar a supremacia de Yahw eh sobre todos os outros deuses. Ver o comentário em 107.29.65.12. pastagens do deserto. N essa imagem de fertili­dade até mesmo no deserto, o salmista descreve pas­tagens crescendo em terras áridas. Durante a estação das chuvas, o deserto produz alguma vegetação, como as plantas sazonais e flores silvestres, além dos ar­bustos raquíticos, como a saxífraga branca (Haloxylon persicum). Essa vegetação agarra-se ao solo salgado e arenoso, ao longo dos leitos de uádis e encostas eleva­das, onde há m ais umidade.66.10. refinar com o a prata. V er os comentários em Provérbios 17.3 e 25.4.

67.1. faça resplandecer o seu rosto. A aparição bri­lhan te da div ind ade, de acordo com as tradições israelita e mesopotâmica, em muitos casos representa perigo físico aos humanos (ver os comentários em Ex 16.10 ,11 e 33.18-23). Nesse caso, porém, a imagem é benevolente, com a manifestação do poder de Deus garantindo conforto e segurança. Igualmente, no hino da coroação de Ur-Nammu, de Ur III (c. 2000 a.C.), o monarca recebe seu direito de governar quando Enlil olha para ele "com sua fronte brilhante". Ver o co­m entário em 80.3.68.4. cavalga sobre as nuvens. N a literatura épica ugarítica, o deus da tempestade, Baal, geralmente é descrito como o "cavaleiro das nuvens". Citações po­dem ser encontradas nos ciclos de Anat e Baal e na história do herói Aqhat. Essa imagem de poder sobre o vento e o clima aparece nos Salmos sendo m ais um exemplo de como as histórias de outras culturas foram reestruturadas para demonstrar o controle universal de Yahw eh sobre a natureza e sobre as nações (ver SI 104.3; Jr 4.13). Serve tam bém como um argum ento contra a crença de que qualquer outro deus seja capaz de suprir a fertilidade que Deus promete na aliança.68.6. lar aos solitários. O texto egípcio Lenda do Cam­ponês Eloqüente apresenta um modelo desse tipo de res­

ponsabilidade para com os fracos. Nesta obra de sabe­doria do Reinado M édio, o rei é cham ado de pai dos órfãos e "m ãe daqueles que não têm m ãe". N este sal­mo, Yahw eh é o legislador misericordioso que assegura aos órfãos, viúvas e estrangeiros (traduzido aqui como "so litário s" ou "d eso lad o s") o direito de receberem cuidados como se fossem m embros de um clã israelita (ver os comentários em Dt 24.17,18 e 24.19-22 a respeito das leis que tratam da ju stiça aos vulneráveis). Ecle- siastes 4 .8 ,9 também aborda a difícil situação daquele que é isolado, solitário ou negligenciado.68.6. libertar os presos. No antigo Oriente Próximo, a libertação de prisioneiros (da prisão de seus credores) era um ato de justiça que normalmente acontecia no primeiro ou segundo ano do reinado de um novo rei (e depois periodicamente a partir de então). Por exem­plo, o rei Ammisaduqa do período babilónico antigo (século dezessete a.C.) cancelou dívidas em nome de Shamás. Portanto, o "ju bileu ", nesse caso, dizia res­peito prim ordialm ente a pessoas endividadas (por questões financeiras ou legais) e à libertação de escra­vos por dívidas. Ao contrário do que acontecia em Israel, o edito babilónico era inteiramente um capri­cho do m onarca e não há evidência de que era sanci­onado pela divindade. Ver o comentário em 11.1 onde há um exemplo dessa prática por um rei ideal. H isto­ricam ente, um a proclam ação de liberdade é regis­trada pelo últim o rei de Judá, Zedequias (Jr 34.8-10).

A respeito dessas e outras características do reinado de um rei justo, ver o comentário em 49 .9 ,10 .68.13. pom ba dourada. Não há um consenso a respei­to do significado ligado à pomba "recoberta de prata" e ouro. Alguns estudiosos consideram -na uma refe­rência aos estandartes e flâm ulas de batalha de reis em fuga, coroados por um a pom ba, o sím bolo da deusa cananéia, Astarte. Para outros, trata-se de uma m enção a Israel (ver outras imagens de aves em SI 74.19; Os 7.11). A sugestão de Tate de que as pombas, talvez adornadas com tecidos coloridos, eram usadas para sinalizar um a vitória m ilitar parece plausível.68.14. Zalm om . Por causa do paralelo, no versículo 15, com Basã, é im provável que o m onte Zalmom , neste salmo, seja a mesma montanha mencionada em Juizes 9.48, perto de Siquém. O nome significa "escu­ro" ou "preto" e poderia referir-se a um pico escondi­do por nuvens. Também seria necessária um a altitu­de m aior para que servisse como um a referência de cume recoberto de neve.68.15. m ontes de Basã. A região de Basã, no nordeste da Galiléia, é um platô fértil com cerca de 600 metros de altitude. É cercada por picos de vulcões extintos e colinas envolvidas por florestas suficientes para com­plem entar a econom ia baseada na criação de gado (ver Is 3.13 e Am 4.1-3). A menção aos montes escar­pados provavelmente refere-se às colinas de basalto difíceis de escalar, encontradas nessa área.68.18. su b iste levando cativos. Assim como o Saul vitorioso de 1 Samuel 15.7-15, o Yahw eh triunfante é acompanhado por um a m archa de prisioneiros, des­pojos e pagamentos de tributos. Um a imagem seme­lhante pode ser encontrad a nos anais assírios de Senaqueribe que afirm am ter tom ado m ais de dois m il prisioneiros de Judá, juntam ente com seus ani­m ais e outros espólios. As principais divindades do antigo Oriente Próximo estavam associadas a lugares altos; assim, a descrição de Yahw eh "subindo" seria uma referência ao retom o à sua m ontanha sagrada (ver Jr 31.12), bem com o Baal usa o m onte Zafom com o sua base divina de operações, nas tradições ugarítica e cananéia.68.23. pés encharcados no sangue dos inim igos. Alinguagem poética relacionada a descrições de ba­talhas às vezes pode ser bastante chocante. É cer­tamente o caso dessa expressão (também usada em SI 58.10). A im agem semelhante de atravessar com difi­culdade o rio de sangue dos inimigos também apare­ce no épico ugarítico de Baal e Anat. A li, a deusa alegremente dizimou exércitos inteiros e "cam inhava com dificuldade, afundada até o joelho no sangue dos guerreiros".68.24. m archa adentrando o santu ário . A festa de Ano Novo (Akitu), na antiga Babilônia, incluía uma

procissão em que a imagem do deus M arduque era carregada ao longo de um "cam inho sagrado" pelas ruas da cidade. O deus era conduzido pelo rei ("tom a­do pela m ão") até o templo Esagila, onde a imagem perm anecia por um ano. Esse tipo de procissão ou m archa não era com u m em Jeru salém , v isto que Y ahw eh não podia ser representado por nenhum a imagem. Entretanto, a arca da aliança, que funciona­va como um ícone da presença e do poder de Deus, foi trazida até a cidade pelo rei Davi e colocada no taber­náculo (ver 2 Sm 6); pode ser que este salm o esteja celebrando esse acontecimento.

68.25. m úsicos na m archa. A nomeação dos músicos do tem plo encontra-se em 1 Crônicas 15.16-22. Era tarefa deles acompanhar o cântico dos hinos de grati­dão com instrum entos de cordas e cím balos (ver SI 42.4). Pinturas de túmulos egípcios contêm imagens de cantores, dançarinos e músicos em marcha, de for­ma bastante parecida à descrição deste salmo.

68.30. fera entre os ju ncos. As alternativas mais pro­váveis para essa fera são o hipopótamo e o crocodilo. Ambos são os principais perigos ao longo das praias do rio Nilo, no Egito. As pinturas de túmulos de Beni H asan incluem uma série de cenas em que pescado­res trabalham enquanto o crocodilo ronda nos juncos próximos, ou barcos de papiro sendo usados para ca­çar esse perigoso anfíbio. Politicamente, a referência mais provável é o Egito.68.31. Egito e Etiópia. Visto que as dinastias cuchitas (etíopes) governaram o Egito, não é incomum encon­trar paralelo aqui entre ele e a Etiópia. É possível que o pagamento de tributo por essa região sul da Etiópia esteja atrelado ao poder de D eus que pode ordenar até aos confins da terra que lhe prestem homenagem (cf. Is 18.7).68.33. cavalga os antigos céus. Ver o comentário em68.4.69.10. je ju m . Ver o comentário em Juizes 20.26.69.11. vestes de lam ento. Ver o comentário em 1 Reis20.31.69.19. zom baria ao sofredor. Os israelitas acredita­vam que recompensas e castigos nesta vida deveriam ser proporcionais à justiça ou injustiça de cada indiví­duo. Essa crença também levou grande parte deles a crer que, se alguém estava prosperando, era uma recompensa por sua justiça e se estava sofrendo, era castigo pela injustiça. Quanto m aior fosse o sofrimen­to, m aior deveria ser o pecado. Por causa do princípio da retribuição (ver o comentário nas notas introdutórias a respeito dos conceitos básicos dos Salmos), o sofri­mento tom ou-se uma fonte de vergonha, visto que o suplicante encontra-se sem amigos ou pessoas que o confortem; ele volta-se para Deus, que "conhece" seu

sofrimento e não zom ba de sua súplica, pedindo por ajuda (cf. Lm 1.2, 7, 9). Esse sentimento de desespero encontra eco na "Teodicéia Babilónica" (c. 1000 a.C.) que retrata um m undo de cabeça para baixo em que o sofredor afirma ter de "curvar-se diante da escória da sociedade, que me trata com desprezo".69.21. fe l na comida. Em alguns contextos essa palavra refere-se a veneno (p. ex., veneno de serpente em Dt32.33), ao passo que em outras ocasiões, sim plesm en­te a algo amargo. Esta última alternativa se encaixaria ao paralelo com o vinagre. N o primeiro caso, poderia levar à morte, enquanto que no outro, poderia ser en­tendido como um tipo de sedativo. Provavelm ente o je jum seria interrompido se pessoas levassem alimen­to ao sofredor a fim de confortá-lo (2 Sm 3.35). Dessa forma, porém, em vez de conforto e sustento, o prantea- dor recebe exatamente o oposto - veneno (compare com a acusação de Amós de que a justiça havia se transfor­m ado em veneno, em A m 6.12).69.21. vinagre. O produto amargo, sem valor, da sa­fra oferecida ao sofredor, é como aquele descrito na "canção da vinha" de Isaías (Is 5.2). Igualm ente re­pugnante é a m etáfora para um a "nação sem juízo" em Deuteronôm io 32.28-33, em que o povo é com ­parado a "u vas cheias de veneno" e amargura, cujo vinho é "peçonha de serpentes".69.28. tirados do livro da vida. Em um hino sumério a N ungal, a deusa prova sua justiça à m edida que castiga os ím pios e trata com m isericórdia aqueles que a merecem. Ela afirma ter em suas m ãos os tabletes da vida, onde escreve o nome dos justos. Ver o comentá­rio em Malaquias 3.16.69.31. chifres e cascos. Adoração e louvor sinceros a Yahw eh agradam m ais a Deus do que rituais e sacri­fícios (compare com afirmações semelhantes em 1 Sm 15.22 e Os 6.6). A menção a chifres e cascos indica um touro já crescido (compare com M q 6.6), um animal sacrificial caro, ritualm ente puro, de acordo com o código de santidade (ver Lv 11.3-8).71.7. exemplo. O uso da palavra hebraica mopet indi­ca um extraordinário evento que serve como sinal do poder de D eus e, neste caso, sim boliza castigo ou julgam ento (compare as maldições em D t 28.45, 46). Esse termo técnico aparece com freqüência na narrati­va das pragas do Egito (Êx 7.3; 11.9) e é usado para marcar um evento vindouro (1 Rs 13.3-5).72.1. h inos de coroação no antigo O riente Próximo. Existem muitas evidências de que nas civilizações da antiga Mesopotâmia o reinado era considerado uma dádiva dos deuses. O prólogo do Código de Hamurábi contém uma afirmação de que o rei fora proclamado o "pastor", pelo deus Enlil, e que sua tarefa era "fazer prevalecer a justiça na terra". Durante o Akitu (festi­

val de Ano Novo), ele era reinvestido com os poderes de sua função. O evento incluía uma grande procissão e um a celebração em massa. Os textos de Ur III (por volta de 2000 a.C.) contêm hinos compostos para essas ocasiões, celebrando a coroação do rei Ur-Nammu. Essas composições possuem um a série de afirmações que narram os estágios do ritual de investidura, in­clusive a "passagem do cetro sagrado" para a m ão do monarca. Esses versos deveriam ser cantados pelo rei ou para ele, proclam ando seus deveres, atribuídos pela divindade, como legislador e construtor de ca­nais que trouxessem fertilidade à terra. Existe um a litania responsiva entoada pelos sacerdotes que faz menção aos títulos do rei e o declara "rei de U r".72.8. extensão do reinado. A fim de indicar que Deus havia garantido a esse rei um governo universal, faz- se uso aqui de imagens que tam bém são usadas na inscrição de Karatepe, referindo-se ao rei Azitiwada (730-710 a.C.). Assim como o salmista faz menção ao "governo de m ar a m ar", esses anais proclamam que o rei estendeu seu governo "d esde o nascente até o poente". Textos acadianos tam bém retratam um rei vangloriando-se de que toda a raça humana submete­ra-se a ele, desde o m ar Alto, até o m ar Baixo.72.9. tribos do deserto. Esse texto geralm ente é corri­gido do hebraico siyyim, "habitante do deserto" para saray iv , " s e u s in im ig o s" . S e a fo rm a o rig in a l for m antida, então poderia estar relacionada ao uso de Cuche (região desértica da Etiópia) em Salm o 68.31 como um termo geográfico para "o s confins da terra" e, por isso, acompanha a promessa de coroação de 72.8.72.10. Társis, Sab á e Sebá. A fim de m ostrar a exten­são do poder do rei, governantes de todo o mundo vêm até ele para lhe oferecer presentes. Logo, Társis, asso­ciada às ilhas e nações do M editerrâneo ocidental, re­presenta todos os pontos do ocidente (ver o comentário em Is 23.1). Sabá é identificada com o sul da Arábia (Iêmen) e o reino de Sabá (ver o comentário em Is 60.6). A localização de Sebá ainda é bastante controversa, embora alguns a situem na Etiópia ou ao longo da rota do incenso, no noroeste da Arábia (ver Is 43.3). 72.12-14. fu n ção do re i. É padrão na literatura do antigo Oriente Próximo retratar o rei como um legis­lador (Pv 29.14) e defensor dos mais fracos (um atribu­to de D eus em SI 35.10). O texto egípcio Lenda do Camponês Eloqüente afirm a que a obrigação do rei é ser um "p ai ao órfão". N o hino de coroação, de Ur III, o rei Ur-Nammu é descrito como o "provedor de U r". O prólogo do código de leis de Hamurábi afirma como os deuses concederam a Hamurábi, rei da Babilônia, a tarefa de "prom over o bem-estar do povo" e "fazer a justiça prevalecer na terra" de m odo que "o s pode­rosos não oprimam os m ais fracos".

Salmos 73-89 Terceiro livro73.24. m e receberás com honras. O conceito de Deus "recebendo" um a pessoa como uma referência a sal­v ar sua vida pode ser visto claram ente em Salm o18.16,17, onde a NVI traduz a m esma expressão como "m e segurou". O termo "honras" nunca é usado, no hebraico, como sinônimo para céu, e aqui se refere a um desfecho "honroso" para a crise do salmista. Suas dificuldades lhe causaram vergonha porque o sofri­mento era considerado evidência de pecado e descon­tentamento de Deus (ver os comentários sobre o prin­cípio da retribuição e da vida após a morte nas notas introdutórias sobre os conceitos básicos de Salmos).74.4. bandeiras. Estandartes ou imagens da divinda­de eram carregados simbolizando a presença dos deu­ses. E comum os reis assírios dos séculos nono e oitavo se referirem ao estandarte divino que ia adiante deles nas batalhas. As bandeiras de guerra eram usadas pelos israelitas e outros povos, inclusive os assírios. No exército egípcio, cada divisão recebia o nome de um deus (p. ex., a divisão de A m om , a divisão de Seth) e os estandartes identificavam o destacamento militar através de alguma representação do respecti­vo deus. Esses símbolos de guerra eram usados pelos militares como instrumentos de sinalização e pontos de ajuntamento das tropas ou eram pendurados nos m uros das cidades (ver Jr 4.6). Suas cores e insígnias design avam a quem p rofessav am lea ld ad e e em m uitos casos incluíam um símbolo do(s) deus(es) que, esperava-se, participaria da batalha juntam ente com as forças hum anas (ver Jr 50.2). O exército assírio de Salmaneser III viajava com seus "estandartes" presos à carruagem real. Quando o acampamento era mon­tado, eles eram erigidos perto da tenda real e tom a­vam-se o ponto central para sacrifícios e atos de devo­ção aos deuses.74.6. m adeira esculpida. É difícil determinar se essa expressão se refere aos painéis de parede esculpidos no tem plo ou a entalhes em algum as das peças de bronze ou ouro relacionadas ao templo. O que fica claro é que o intrincado trabalho artístico que embe­lezava esse templo (como m uitos outros no m undo antigo) estava sendo implacavelmente destruído.74.13. d iv id ir o m ar. N ão há nada que nos leve a pensar que essa referência diz respeito à divisão do m ar Vermelho. Ao contrário, o contexto está relacio­nado à batalha cósmica com o mar, mencionada m ui­tas vezes nos Salmos. O verbo usado aparece somente aqui, nessa forma, o que dificulta a precisão de seu sentido. Se o significado pretendido é a divisão do m ar, a expressão pode ser com parada à divisão de Tiamat ("m ar") por Marduque, episódio narrado em Enuma Elish. Outros estudiosos traduziram esse ver­

bo com o um a referência à agitaçao do m ar que às vezes antecedia tais batalhas (ver os comentários em D n 7.2, 3).74.14. Leviatã. O Leviatã tem sido m uitas vezes iden­tificado com o crocodilo, que era encontrado principal­mente no Egito (onde simbolizava o poder e a gran­deza real), m as também, em bora raram ente, na Pa­lestina. Porém, as m últiplas cabeças aqui descritas e o sopro de onde sai fumaça e fogo, conforme Jó 41.19-21, complicam a identificação com tal animal. Como alter­nativa, o Leviatã tem sido descrito como um monstro m arinho (ver Is 27.1). Essa hipótese encontra suporte em textos ugaríticos que contêm descrições detalha­das de uma besta do caos, representando os m ares ou a anarquia das águas, na form a de um a serpente m arinha com m uitas cabeças, que é derrotada por Baal. H á um a relação ín tim a entre a descrição do Leviatã em Isaías, como um a "serpente tortuosa", e o épico ugarítico de Baal que fala de como o deus da tempestade "golpeou Litan, a serpente que se contor­ce", que segundo a descrição, tinha sete cabeças. Em ambos os casos, há um sentido do deus da ordem e da fertilidade subjugando um monstro do caos. Na litera­tura acadiana existe uma-criatura chamada de bashmu, com seis línguas e sete bocas. Em um texto, o bashmu é alistado juntam ente com outras criaturas fantásticas, inclusive um a com duas cabeças e outra, com sete. Esta últim a também é retratada num selo cilíndrico. Esse selo mostra quatro das cabeças pendendo flácidas, enquanto a batalha continua com as três que resta­ram. Diversas outras passagens do Antigo Testam en­to m encionam o Leviatã, m as a maioria delas fala em termos da ação criativa de Deus que estabelece o con­trole sobre o caos das águas (personificado pela ser­pente do mar). Em Isaías 27.1, porém, essa luta entre a ordem e o caos ocorre no fim dos tempos. Pode ser que a queda de Satanás, retratado como um dragão de sete cabeças em Apocalipse 12.3-9, também reme­ta à figura ugarítica de Litan, "o tirano de sete cabe­ças". Biblicamente, o Leviatã, portanto, poderia facil­mente encaixar-se na categoria de criatura sobrenatu­ral (como os querubins), em oposição às criaturas na­turais ou puram ente mitológicas. Como tal, ele pode aparecer na m itologia extrabíblica, e tam bém ser sim ­bolizado por algo como um crocodilo (como em Ez29.3 embora o Leviatã não seja especificamente men­cionado naquele contexto).75.3. colunas da terra. As colunas às vezes são consi­deradas representações de fronteiras. O tem plo de Salomão tinha duas no pórtico que serviam como um lim ite para o santo lugar. O tabernáculo usava co­lunas de onde as divisórias eram penduradas para separar o pátio do santo lugar. Até m esm o quando elas sustentavam algo (como no templo filisteu que

Sansão derrubou), dados arqueológicos sugerem que serviam como divisas para pórticos ou pátios. Na Ba­bilônia, marcos de divisa conhecidos como kudurrus tinham a form a de coluna. A literatura do antigo Ori­ente Próximo não apresenta paralelo para a terra sen­do sustentada por elas. Em Jó 26.11 os céus as possu­em, m as esse comentário também ocorre em relação às divisas (v. 10). É m ais provável que as fronteiras cósmicas da terra seriam aquelas entre os vivos e os mortos. A palavra traduzida como "terra", neste ver­sículo, às vezes refere-se ao m undo inferior. N a litera­tura acadiana, as fronteiras do m undo inferior são representadas por portões.75.8. cálice do ju lgam ento, vinho espum ante. A ima­gem do vinho como um a taça de castigo aparece com freqüência no Antigo Testamento (Jr 49.12; 51.17; Hc2.15,16). Ela é especialmente evidente em Isaías 51.17, em que o cálice resulta em bebedeira (estonteamento) e não em morte. Aqueles que são forçados a beber desta taça perdem o controle total de si mesmos e toda a habilidade de se defender (v. 22, 23), ficando como que anestesiados. Durante o período helenista, o vi­nho geralm ente era m isturado com água para que uma m aior quantidade dele pudesse ser consumida e as conversas pudessem continuar ao longo das refei­ções. No entanto, em períodos anteriores, era comum que o vinho fosse misturado a um agente tóxico mais forte, que devia ser consumido com mais moderação (ver Jz 9.13; Pv 9.2). Na M esopotâmia, onde o vinho era menos comum até a época do império assírio, essa bebida só era servida em ocasiões especiais. Às vezes, havia apenas um xarope de uva ao qual era acrescen­tado mel, produzindo assim um licor.75.10. chifres (poder) dos ju stos e dos ím pios. Ver o comentário sobre "ch ifre" na nota introdutória sobre as principais metáforas dos Salmos.78.2. parábolas. O termo traduzido como "parábolas" é mashal e possui um a grande gama de significados: "alegoria" (Ez 17.2), "poem a" (N m 21.27), "oráculo" (Nm 23.7). Neste caso, como também em Provérbios10.1, refere-se a um a "instrução" de Deus para o povo, especificam ente os israelitas; m as considerando-se a universalidade de um tema de sabedoria, é dirigido também a "todas as pessoas". Pode ser ainda compa­rado ao "m ote som brio", em H abacuque 2.6, em que os agressores assírios são zombados por perderem as riquezas obtidas por meios ilícitos.78.9. derrota de Efraim . O texto não apresenta deta­lhes suficientes para que se possa identificar a batalha aqui mencionada. Efraim muitas vezes é usado como um título para todo o reino do norte, Israel. Essa bata­lha poderia ser um a referência a um episódio bastan­te remoto na história de Israel, ou seja, à derrota dos israelitas pelos filisteus que levaram consigo a arca da

aliança. É um a hipótese que poderia ser sustentada pelo fato de que a lista de problemas se encerra com esse incidente (v. 60-64). Outra possibilidade de inter­pretação apresentada por alguns estudiosos é a de que o incidente faz alusão à queda do reino do norte aos assírios em 722.78.12. Zoã. Zoã refere-se à cidade egípcia de Dja'net, que os gregos chamavam de Tânis. Tom ou-se a capi­tal da região do delta na 21a Dinastia (século doze). Localiza-se na região do Egito e foi habitada pelos israelitas nos tempos de Moisés.78.14. nuvem e fogo. Essa é um a referência clara às colunas de nuvem e de fogo que acompanhavam os israelitas no déserto. Para m ais inform ações, ver o comentário em Êxodo 13.21, 22.78.15. água da rocha. Para informações acerca desse in­cidente, ver os comentários de Êxodo 17 e Números 20.78.24. m aná. Para inform ações a respeito do maná, ver o comentário em Êxodo 16.4-9.78.27. bandos de aves. Para informações a respeito des­sas aves (codornizes), ver os comentários em Êxodo 16. 78.44-51. pragas. A respeito das pragas, ver os comen­tários em Êxodo 7-11.78.60. abandonou S iló . Siló (atual Khirbit Seilun), no coração das colinas de Efraim, era o lugar onde Israel convocava suas assem bléias sagradas, antes de Jeru­salém assumir essa função. Escavações desenterraram amplos vestígios da arquitetura do local que remonta ao século onze a.C.. O lugar sobreviveu à Idade do Ferro, m as as estruturas sagradas passaram a servir como exemplo de um santuário que se tom ou alvo do juízo de Deus. Acredita-se que tenha sido tomada pelos filisteus após a vitória na Batalha de A feque (1 Sm 4).78.61. arca ao cativeiro. Para mais informações sobre esse incidente, ver 1 Sm 4 -6 e os comentários ali.79.1. contexto histórico. A única vez, no período vete- rotestamentário, que o templo foi profanado e a cida­de de Jerusalém destruída foi quando a Babilônia tomou a cidade em 587 a.C..79.2. cadáveres como com ida às aves e anim ais selva­gens. No épico de Gilgamés, o guardião da floresta de cedro, Huwawa, diz a Gilgamés que ele deveria dar sua carne para ser comida por aves de rapina e carni­ceiros. Para mais informações, ver o comentário sobre a exposição de cadáveres em 1 Reis 16.4.79.5. até quando? Essa pergunta ocorre quase vinte vezes nos Salm os e geralm ente está relacionada a lam ento. Encontra-se tam bém na M esopotâm ia, no texto sumério Lamento pela Destruição da Suméria e de Ur que contém a pergunta: "A té quando o olho do inimigo contemplará minha situação?".80.1. trono sobre os querubins. Os querubins estão associados à arca da aliança, sendo retratados sobre ela ou ladeando-a. Essas criaturas compostas apare­

cem na arte antiga com certa regularidade ao redor dos tronos de reis e divindades. A com binação de querubins como guardiães do trono, arcas como esca­belos e afirmações em contextos como este, que des­crevem Yahw eh entronizado sobre querubins, serve de base para o conceito da arca como uma representa­ção do próprio trono invisível de Yahweh. Nos festi­vais egípcios, as imagens dos deuses com freqüência eram carregadas em procissão, dentro de barcas por­táteis. Pinturas retratam cortejos em que caixas seme­lhantes à arca eram carregadas por meio de varas e decoradas com criaturas guardiãs em cima ou ao lado. As descrições bíblicas, bem como as descobertas ar­queológicas, (inclusive algumas peças de m arfim fino de Ninrode na Mesopotâmia, de Arslan Tash na Síria e da Sam aria em Israel) sugerem que os querubins eram criaturas compostas (com características de di­versas criaturas como a esfinge egípcia), geralmente com cabeça humana e corpo de animais quadrúpedes (leão) alados.80.3. respland ecer sobre nós o teu rosto. A m etáfora "lu z do rosto de D eus" é encontrada em cartas reais da cidade egípcia de A m am a e na correspondência uga- rítica. Por exemplo, "o rosto do Sol (i. e., faraó) brilha­va sobre m im " é um a declaração feita por um dos reis subordinados ao Egito. Dois pequenos rolos de prata (com cerca de dois centímetros e m eio de comprimen­to) foram encontrados na área conhecida como Keteph Hinnom, em Jerusalém. Eram amuletos de um túmulo, feito numa caverna do século sexto ou sétimo a.C., que continham a bênção sacerdotal de Núm eros 6.25, que inclui o pedido de que o Senhor "resplandeça o seu rosto sobre t i" . Atualmente representam o mais antigo exem­plar de um texto das Escrituras. O conceito do rosto brilhante da divindade, que resulta em favor, encon­tra-se em documentos e inscrições m esopotâmicas que rem ontam ao século doze a.C..80.5. pão de lágrim as. A palavra traduzida aqui como "p ão " tam bém pode ser usada de form a m ais genéri­ca para referir-se a comida. Textos acadianos usam essa mesma metáfora, em afirmações como "p or pão comi lágrim as am argas" ou "o choro é o m eu alim ento".80.11. M ar, rio. Considerando-se a descrição geográ­fica relacionada a esses termos, é provável que sejam referências ao m ar Mediterrâneo e ao rio Eufrates.80.13. jav alis. Os porcos foram domesticados muito cedo, mas a variedade selvagem continuou a existir no O riente Próxim o e encontra-se representada na arte egípcia e mesopotâmica.81.2. tam borim , lira , harpa. V er o com entário em150.3-5.81.3. trom beta na Lua nova. D evido ao uso de umcalendário lunar, no antigo Israel, o primeiro dia do m ês era m arcado pela fase da "L u a nova", quando

era celebrada uma festa (a cada vinte e nove ou trinta dias). Assim como no sábado, nenhum trabalho podia ser feito nesse dia (ver A m 8.5) e sacrifícios tinham de ser oferecidos (Nm 28.11-15). Durante a monarquia, o rei assumiu um papel de destaque nessas celebrações (ver Ez 45.17). A festa da Lua nova tam bém conti­nuou a ser observada no período pós-exílico (Ed 3.5; N e 10.33). Esse tipo de festa tam bém era bastante proeminente na Mesopotâmia, desde o final do tercei­ro milênio até o período neobabilônico, na metade do primeiro m ilênio a.C.. À luz do paralelo com a Lua cheia, porém, é provável que esse verso não se refira à celebração da Lua nova e sim à Festa dos tabernáculos (ver o próximo comentário).81.3. festa da Lua cheia. A única festa de peregrinos que potencialmente abrange a Lua nova e a Lua cheia é a Festa dos tabernáculos. A descrição de Números 29 inclui instruções para ambos os dias, inclusive o soar de trombetas.81.7. escon d erijo dos trovões, M eribá. H ouve tro­vões no Sinai, m as é difícil ver de que m aneira eles foram um ato de livramento, além disso, o episódio em M eribá antecedeu o do Sinai. Portanto, é mais provável que o "esconderijo dos trovões" seja conside­rado a arm a do guerreiro divino, Yahweh, que liber­tou Israel do Egito (mesmo termo usado em Is 29.6). M eribá foi onde Yahw eh fez brotar água da rocha (ver os comentários em Êx 17).81.16. m el da rocha. Apesar da maioria das ocorrên­cias de mel, no Antigo Testamento, ser um a referên­cia ao xarope da tamareira, a menção à rocha, neste versículo, sugere tratar-se de mel de abelhas extraído de colméias, formadas em rochas.82.1. assem bléia divina; ju iz n o m eio dos deuses. No antigo Oriente Próximo, as principais decisões eram todas tom adas no concílio divino. Lá os deuses se consultavam e com partilhavam suas inform ações e opiniões. A im agem fam iliar de um trono celestial cercado por uma assembléia divina é bem freqüente em textos ugaríticos (de forma m ais evidente no épico de Keret), em bora o concílio cananeu seja formado pelos deuses do panteão. Existem tam bém exemplos nas inscrições de Yehimilk em um prédio do século dez, na cidade de Biblos e na esteia Karatepe de Azi- taw adda. No texto acadiano Enuma Elish, a assem ­bléia dos deuses nomeia M arduque como seu líder. Cinqüenta deles formavam essa assembléia, com sete no concilio interno. N a crença israelita, em lugar dos deuses, figuravam os anjos ou espíritos - os filhos de Deus ou o exército celestial.82.5. fundam entos da terra. Na concepção babilónica do cosmo, os fundam entos da terra se firm avam sobre o que é chamado de apsu. Trata-se de uma região de águas prim itivas sob a jurisdição da im portante di­

vindade Enki/Ea. Do ponto de vista da geografia física, essa área representa os lençóis de água que sobem à superfície na forma de, por exemplo, pânta­nos e fontes, bem como às associadas aos mares e rios cósm icos. Em Enuma Elish, um dos nomes de M ar- duque, Agilima, o identifica como aquele que cons­truiu a terra sobre as águas e estabeleceu as regiões superiores. Para informações adicionais ver os comen­tários em Jó 38.4-6, e sobre a criação, consulte as notas introdutórias sobre os conceitos básicos dos Salmos.82.6. deuses/filhos do A ltíssim o. Ver o comentário em 82.1.83.6-8. m em bros da aliança. Os primeiros sete povos (nações) mencionados estão todos localizados a leste e sul de Judá. O m ais incerto é Gebal, cujo nom e era usado para referir-se a Biblos, no extrem o norte da costa mediterrânea. Um a possibilidade quanto à sua localização, porém, é um a povoação perto de Petra, que se encaixa melhor a esse contexto. Filístia e Tiro eram inimigos tradicionais, a oeste e ao norte respec­tivamente. A menção à Assíria como um componente extraordinário dessa coalizão sugere uma datação en­tre a m etade do nono século e o final do oitavo. A presença assíria no oeste durante essa m etade do nono século estava m ais voltada para o norte, assim é mais provável que a referência aqui seja a conflitos do oita­vo século. Judá sentiu o ímpeto das invasões assírias nos tempos de Sargão e seu filho, Senaqueribe. Em relação ao cerco de Senaqueribe a Jerusalém, as inscri­ções assírias relatam que os reis de Tiro, Biblos, Asdode (Filístia), Amom, Moabe e Edom se submeteram, an­tes da invasão de Senaqueribe, a Jerusalém. Esse dado é suficiente para identificá-los como aliados ou co- conspiradores. Ao invés de tentar estabelecer um a circunstância histórica como pano de fundo a este sal­mo, a alternativa é que seja simplesmente um a lista de antigos inimigos de Israel.83.9. M id iã , Sísera/Jabim . Essa é um a referência a duas batalhas durante o período dos ju izes quando houve uma intervenção divina em favor de Israel. A respeito da derrota de M idiã, nas m ãos de Gideão, ver os comentários em Juizes 6-8 . Quanto à vitória de Débora e Baraque contra o rei Jabim e seu comandan­te, Sísera, ver os comentários em Juizes 4.83.10. En-D or. En-D or não é m encionada no relato dessas batalhas de Juizes, m as ficava nas proximida­des de ambos cenários desses conflitos. A extremida­de leste do vale de Jezreel tem cerca de dezesseis quilômetros de largura, de norte a sul. A extremida­de norte é bloqueada pelo m onte Tabor, enquanto que a extremidade sul é bloqueada pelo m onte Gilboa. Essa faixa de dezesseis quilômetros entre os dois m on­tes é dividida em dois vales pelo monte de Moré, de tamanho menor. En-Dor ficava localizada na metade

do vale do norte , entre o m onte de M oré, onde a batalha de Midiã aconteceu, e o monte Tabor, onde Débora e Baraque reuniram suas tropas.83.11. reis. Os quatro reis m encionados aqui são aque­les que lideraram as tropas midianitas contra Gideão e os israelitas. Sua derrota e execução estão registradas em Juizes 8.84. título, coraítas. Ver o comentário no título do Sal­mo 42.84.1, 2. anseio pelo lugar da habitação de D eus. Otemplo, a habitação da divindade, era um lugar onde se desfrutava de favor e bênção. O verbo usado aqui é sem elhante à palavra "sau dad e" da língua portu­guesa. Envolve a melancolia e nostalgia por alguém ou algo; anseia-se pelo retorno de um a circunstância ou situação lembrada com carinho. Aqui o peregrino sente saudade de estar no templo.84.4. habitar na casa do Senhor. Em Israel, os sacer­dotes eram os únicos que m oravam no recinto do templo. Em todo o antigo Oriente Próximo era consi­derado um privilégio estar constantemente na presença da divindade. O rei babilónico Neriglissar expressou ao seu deus que ansiava estar com ele para sempre. Outro texto registra o seguinte pedido: "Q u e eu possa estar diante de ti para sem pre em adoração e devo­ção ". U m hino a M arduque pede que o adorador possa estar diante da divindade para sempre em ora­ção, súplica e rogos. No terceiro milênio a.C., os ado­radores sumérios tentaram atingir esse objetivo colo­cando no templo estátuas que figuravam eles mesmos na postura de oração. D essa maneira, eles estariam continuamente representados no ali.84.6. vale de Baca. Se essa for uma referência a um local geográfico, é obscura. A palavra baca significa "lágri­m as", mas o termo continua sendo difícil de se enten­der. A alternativa sugerida é a descrição de uma árvo­re, especificam ente o bálsam o (ver o comentário em 2 Sm 5.24). N enhum a dessas explicações, porém, ajuda a localizar o vale ou a identificar seu significado.84.10. porteiro do tem plo. U m a das tarefas mais im­portantes designadas aos sacerdotes era controlar o acesso ao interior do templo, a área interna considera­da o "com passo sagrado" (a respeito desse conceito ver os comentários em Lv 16.2 e N m 18.1-7). Quando o santuário era contaminado com impurezas precisa­va-se fazer um a oferta de purificação ("oferta pelo pecado" ver o comentário em Lv 4.1-3). Essa contami­nação podia trazer castigo sobre indivíduos e também sobre a coletividade. O s porteiros tinham de evitar qualquer invasão desqualificada. A lém disso, havia inúmeros objetos valiosos dentro do templo: o ouro e a prata eram abundantes servindo como um a tenta­ção a um indivíduo sem escrúpulos que chegasse a invadir e roubar. Portanto, esses objetos também deve­

riam ser guardados. O uso inadequado daquilo que era considerado sagrado exigia um a oferta de repara­ção ("oferta pela culpa" ver o comentário em Lv 5.14­16). Os porteiros tinham a responsabilidade de prote­ger o templo contra esse tipo de ofensa. Para o salmista, porém, o porteiro era uma daquelas pessoas privile­giadas que tinham a oportunidade de estar continua­mente na proximidade da presença de Deus.84.11. relação com o Sol. A relação entre o Sol e o escudo é de que ambos oferecem proteção. Quanto ao escudo, essa proteção é óbvia, já o Sol não seria consi­derado nesses termos. Não obstante, os reis assírios usavam a m etáfora de sua proteção espalhando-se sobre a terra como os raios do Sol.85.título. coraítas. Ver o comentário no título do salmo 42.87.4. Raabe. Raabe é descrito como um dos monstros marinhos mortos por Deus (ver Jó 26.12; SI 89.11; Is51.9). Em am bos os m itos da criação (babilónico e ugarítico), a divindade vencedora (Marduque na Ba­bilônia e Baal em Ugarit) luta e m ata um m onstro marinho e seu séquito de form a semelhante a Yahweh. Em outros contextos, assim como aqui, esse termo é simbolicamente usado para designar o Egito (Is 30.7). O nom e Raabe ainda não foi encontrado em fontes extrabíblicas.87.4. lista de nações. Não há necessidade de tentar identificar o contexto histórico a que se refere este versículo porque o texto está simplesmente alistando algumas das nações que serão contadas entre aquelas que reconhecerão a Yahweh. Essa lista inclui as gran­des potências: o Egito (Raabe) e a Babilônia, os vizi­nhos próximos, Filístia (sudoeste) e Tiro (noroeste) e a nação mais distante (Cuxe ou Etiópia, sul do Egito).87.6. registro dos povos. No mundo antigo, as cida­des reais geralmente eram a sede do governo (com­posto em grande parte de parentes do rei) e seus cidadãos desfrutavam de certos privilégios, inclusive isenção de impostos, de trabalhos forçados, das obri­gações para com o serviço militar, im unidade à pri­são, bem como eram beneficiários dos m ais belos e elaborados projetos de construções. Tais privilégios (kidinnutu) eram desfrutados por cidades babilónicas, como Nippur, Sippar e Borsippa, mais com base em sua posição como centros religiosos do que como capi­tais políticas. As capitais políticas como Nínive e Ba­bilônia também usufruíam status semelhante. Supõe- se que registros fossem mantidos para identificar aque­les que desfrutavam de tais privilégios. Neste versí­culo, o salmista faz menção à posição singular daque­les que nasceram em Sião.88. títu lo, coraítas. Ver o comentário no título do sal­mo 42.88. título, ezraíta Hemã. Juntam ente com Etã (SI 89), H em ã é alistado como um dos famosos sábios da épo­

ca de Salom ão (1 Rs 4.31), nom eado com o um dos músicos levitas no tempo de D avi (1 Cr 15.17,19).88.3. pavor da morte. Este salmo, repleto do pavor da morte, apresenta o salmista lamentando-se de sua con­dição como alguém que está destinado a morrer. Esse retrato do salm ista rem ete a Gilgam és, no épico de G ilgam és, que reage a seu próprio m edo da m orte indo em busca da imortalidade. As ações de Gilgamés são motivadas pela morte de seu amigo íntimo Enkidu, da m esm a form a que o salm ista se desespera com morte de seu melhor amigo (v. 8, 18).89. título, ezraíta Etã. Esse nome ocorre entre os sábi­os da época de Salomão (1 Rs 4.31) e talvez entre os músicos levitas do tempo de D avi (1 Cr 15.17, 19). Nada se sabe a respeito dele.89.7. assem bléia dos santos. No antigo Oriente Próxi­mo, as principais decisões eram todas tom adas no concílio divino. Lá os deuses se consultavam e com­partilhavam suas informações e opiniões. A imagem fam iliar de um trono celestial cercado por um a assem­bléia divina é bem freqüente em textos ugaríticos (de form a m ais evidente no épico de Keret), em bora o concílio cananeu seja formado pelos deuses do panteão. Existem também exemplo&nas inscrições de Yehimilk em um prédio do século dez, na cidade de Biblos e na esteia Karatepe de A zitaw adda. No texto acadiano Enuma Elish, a assembléia dos deuses nomeia Mardu­que como seu líder. Cinqüenta deles formavam essa assembléia, com sete no concílio interno. Na crença israelita, em lugar dos deuses, figuravam os anjos ou espíritos - os filhos de Deus ou o exército celestial.89.9. dom ínio sobre o m ar revolto. Na Bíblia e tam­bém no antigo Oriente Próximo, o mar, bem como os monstros marinhos que ali habitavam, representavam o caos e a desordem. O conflito físico óbvio entre ele e a terra, bem como a energia aparentemente inesgotável exibida pela sua fúria deu origem a mitos cósmicos no antigo O riente Próxim o. O épico da criação Enuma Elish, da Babilônia, descreve como M arduque destrói Tiamat, enquanto essa deusa do caos aquático está na forma de um dragão. Grande parte do ciclo de histó­rias sobre Baal, na lenda ugarítica, envolve a luta desse deus contra seu rival Yamm , o deus do mar. Igualmente, no épico ugarítico, Anate e Baal afirmam ter derrotado Litan, o dragão de sete cabeças, tendo, portanto, conquistado o domínio sobre os mares. Logo, o domínio de Yahw eh sobre as águas diz respeito ao seu controle soberano sobre as forças caóticas que, segundo a crença, constantemente am eaçavam o cos­mo. Esse dom ínio é expresso pelo ato de acalmar o m ar (ver os comentários em 65.7 e 107.29).89.10. Raabe. Raabe é descrito como um dos monstros m arinhos mortos por Deus (ver Jó 26.12; SI 89.11; Is51.9). Em am bos os m itos da criação (babilónico e

u g arítico ), a div ind ade venced ora (M arduque na Babilônia e Baal em Ugarit) luta e mata um monstro m arinho e seu séquito de form a sem elhante a Yah- weh. Em outros contextos, assim como aqui, esse ter­mo é simbolicamente usado para designar o Egito (Is30.7). O nom e Raabe ainda não foi encontrado em fontes extrabíblicas.89.12. criaste o N orte e o Sul. A determinação dos pontos cardeais no m undo antigo era um a ciência imprecisa. Naquela época, a Estrela do N orte ficava doze graus ao sul do verdadeiro norte e as rotas de estrelas e constelações eram utilizadas como orienta­ção. No dia-a-dia, pontos topográficos fixos eram usa­dos como indicadores de direção. Na M esopotâmia, o vento oriental era conhecido como "vento da monta­nha" por causa das m ontanhas que ficavam a leste. Na terminologia israelita algumas vezes o norte era descrito como Zafom, o nome de uma montanha na Síria (ver o comentário em Is 48.2).89.12. T abor e H erm om . Essas são as duas m onta­nhas m ais importantes de Israel. O monte Hermom (2800 m etro s de a ltitu d e na cad eia m on tan h osa Antilíbano) marcava a fronteira norte da terra e nor­malmente seu pico ficava coberto de neve. O monte Tabor fica na extremidade nordeste do vale de Jezreel. Em bora sua altitude (590 metros) seja m uito m enor que a do m onte H erm om , ele se destaca de forma isolada em meio a um a planície. Se essas duas m onta­nhas devem ser consideradas como um paralelo ao norte e sul do início do versículo, o autor provavel­mente estava localizado na região da Galiléia.89.14. retidão e ju stiça com o alicerces do trono. A idéia de retidão e ju stiça com o a responsabilidade fundamental do rei é expressa em todo o antigo Ori­ente Próximo. Essa idéia é retratada graficamente na arte egípcia, onde o sím bolo de M aat (a divindade associada à justiça e à verdade) é o pedestal onde o trono está assentado.89.18. rei como escudo. V er o comentário sobre "escu­do" nas notas introdutórias sobre as principais metá­foras para Deus.89.20. ungido com óleo sagrado. U ngir um rei eraum a prática com um em algum as partes do antigo Oriente Próximo. Entre os egípcios e hititas, acredita­va-se que a unção protegia a pessoa dos poderes das divindades do mundo inferior. As principais evidên­cias encontram -se em fontes hititas que descrevem cerim ônias de entronização. Não existem provas de reis sendo ungidos na Mesopotâmia nem no Egito, no entanto em vez disso, o faraó ungia seus oficiais e seus vassalos. Ao fazer isso, ele estabelecia a relação de subordinação e demonstrava a proteção que daria a eles. Nos textos de Am arna existe um a referência a um rei de Nuhasse (na moderna Síria) sendo ungido

pelo faraó. Esse modelo se encaixaria à idéia de Davi sendo ungido como um vassalo de Deus. Em 2 Samuel2.4 é o povo que unge Davi. Esse ato sugere algum tipo de acordo contratual entre D avi e o povo de que ele iria governar. Em Nuzi, indivíduos que entras­sem em acordo de negócios ungiam uns aos outros com óleo, e no Egito, procedia-se da mesma forma em cerimônias de casamento. Para informações sobre co­roações, ver o comentário em 1 Sam uel 11.15. As es­peciarias usadas no preparo de óleos de unção eram a m irra, a canela, a cana arom ática e a cássia (ver a receita em Ex 30.23-25). Esse óleo simbolizava as dá­divas de Deus ao povo e as responsabilidades agora depositadas sobre os líderes através dessa cerimônia. Na prática israelita, a unção era um sinal de eleição e com freqüência estava relacionada à capacitação do Espírito. Além disso, em todo o m undo antigo, simbo­lizava o galgar de um degrau na posição legal da pessoa. Tanto os conceitos de proteção como o de mu­dança de status podem estar relacionados à unção do rei, visto que estaria recebendo a proteção do trono e sendo identificado com a dimensão da divindade.89.24. poder (chifre). Ver o comentário sobre "chifre" nas notas introdutórias sobre as principais metáforas para Deus.89.35-37. linhagem real perm anecendo para sem pre com o o S o l e a Lua. Em um a bênção ao rei assírio Assurbanípal, um de seus cortesãos ora para que seu reinado seja firm emente estabelecido, assim como a Lua e o Sol estão firmes no céu. No Levante, a inscri­ção de Azitawadda afirma que o nome desse rei dura­rá para sempre como o nome do Sol e da Lua. Outra bênção dirigida a outro m onarca assírio diz: "A ssim como os céus e a terra durarão para sem pre, que o nome do rei, meu senhor, dure para sempre na Assíria" (CAD Q :123). Esse pensam ento ecoa num hino ao deus Sin , em que se pede à divindade que faça o reinado de Sargão (rei assírio do oitavo século) durar tanto quanto o céu e a terra e que seu trono se firme sobre os quatro cantos. Finalmente, Assurbanipal pede ao deus Ea que lhe assegure vid a longa, saúd e e felicidade e que torne a fundação de seu trono tão segura e firm e quanto o céu e o m undo inferior.

Salmos 90-106 Quarto livro90.10. expectativa de vida. José morreu aos 110 anos, idade considerada ideal para um egípcio. Exames de m úm ias têm demonstrado que a expectativa média de vida no Egito ficava entre os quarenta e os cinqüen­ta anos. O texto egípcio Papiro Insinger detalha que dez anos são gastos na infância e m ais dez aprenden­do um ofício. O escritor calcula mais dez acumulando bens e outros dez adquirindo sabedoria. Ele conclui,

então, que dois terços da vida de alguém são perdidos (sugerindo uma expectativa de vida de sessenta anos), no entanto, argumenta que o homem piedoso ainda terá sessenta anos restantes dos dias designados por Thoth, completando assim cem anos. Ver os comentá­rios em Deuteronômio 31.2 e Isaías 40.6, 7.91.1. descansa à som bra. A sombra oferece proteção e geralm ente é descrita como a som bra de suas asas. Ver o comentário em 17.8.91.3. laço do caçador. A imagem bastante familiar de caçadores apanhando pássaros em redes e laços pode ser a origem desta metáfora (ver Js 23.13; SI 69.22; Is8.14). Existem inúmeros exemplos dessa atividade em pinturas de túmulos egípcios e também serve de base para a sum éria Esteia dos Abutres (ver o comentário em Ez 12.13). Havia um a série de técnicas diferentes usadas no aprisionamento de pássaros. Embora seja possível que os caçadores usassem fundas, atirassem paus (como na pintura da tumba de Beni Hasan) ou um a flecha para derrubar um a ave individual, na maioria das vezes o texto bíblico e a arte antiga ilus­tram grandes bandos de pássaros sendo capturados em redes ou gaiolas. Por exemplo, a tum ba de Ka- Gem m i, em Saqqarah (6a D inastia do Egito) retrata um caçador usando um a rede. A parentem ente, al­guns deles também usavam de artimanhas em suas armadilhas para atrair os pássaros com comida ser­vindo como isca (confirmado em Eclesiastes 11.30). 91.11. an jos protetores. No antigo Oriente Próximo eram as divindades, e não os anjos, que serviam como guardiões. Os mesopotâmicos acreditavam que os deu­ses pessoais ou familiares ofereciam proteção e cuida­do especial a fim de que as grandes divindades cós­micas ou os deuses nacionais não precisassem ser in­com od ad os. T extos acad ian os tam bém fa lam de guardiões do bem -estar e da saúde, e tam bém de espíritos guardiões. Esses espíritos recebiam ordens da divindade para amparar determinada pessoa, as­sim como neste texto. A proteção que se buscava no antigo Oriente Próximo era contra poderes demonía­cos que, segundo a crença, eram a causa de doenças e problem as. A lém disso, havia o perigo de feitiços m ágicos que podiam ser proferidos contra alguém. Os israelitas certamente acreditavam na realidade dos demônios e muitos ainda não haviam conseguido di­vorciar sua maneira de pensar da perspectiva mágica de seus vizinhos. Ainda assim, o salmista não inter­preta os problemas que enfrenta a partir desse pris­ma. Essa é a única passagem no Antigo Testamento em que se faz referência a anjos da guarda.92. título, para o dia de sábado. Esse é o único salmo específico para o sábado. H á poucos indícios, no A nti­go Testamento, de cerimônias especiais de adoração neste dia. Foi sugerido que este salmo acompanhasse as ofertas diárias do sábado.

92.3. lira de dez cordas. Trata-se de um instrumento musical típico da época e confirmado em textos, rele­vos e pinturas do antigo O riente Próxim o desde o terceiro milênio a.C.. A lira é diferenciada da harpa pelo núm ero de cordas. Ambas eram seguradas nas m ãos através de estruturas feitas de m adeira. Um texto musical foi descoberto em Ugarit que lança luz sobre a m úsica da Idade do Bronze M oderna. Esse texto tem as notas a serem tocadas por uma lira acom­panhando um hino cultual hurrita.92.10. aum entaste a m inha força (chifre). Ver o co­m entário sobre "ch ifre" nas notas introdutórias sobre metáforas comuns para Deus.92.10. óleo novo. No m undo antigo, os convidados de um ban qu ete m uitas vezes eram recebid os por um anfitrião generoso com óleos finos com os quais tinham suas frontes ungidas. Além de dar-lhes um a aparên­cia brilhante, acrescentava ao ambiente e à sua pessoa um odor agradável. Por exemplo, um texto assírio do reinado de Esar-Hadom descreve como ele "encharcou a fronte" de seus convidados num banquete real com os m ais "seletos ó leos". O óleo preservava o aspecto da p essoa no clim a quen te do O riente M édio. O texto egípcio A Canção do Harpista e o épico mesopotâmico de Gilgamés descrevem indivíduos vestidos em linho fino e com m irra espalhada n a cabeça.93.3, 4. comparação com os m ares. Na Bíblia e tam­bém no antigo Oriente Próximo, o mar, bem como os monstros m arinhos que ali habitavam, representavam o caos e a desordem. O conflito físico óbvio entre ele e a terra, bem como a energia aparentemente inesgotá­vel exibida pela sua fúria, deu origem a mitos cósmi­cos no antigo O riente Próxim o. O épico da criação Enuma Elish, da Babilônia, descreve como Marduque destrói Tiamat, enquanto essa deusa do caos aquático está na forma de um dragão. Grande parte do ciclo de histórias sobre Baal, na lenda ugarítica, envolve a luta desse deus contra seu rival Yam m , o deus do m ar. Igualm ente, no épico ugarítico, A nate e Baal afirmam ter derrotado Litan, o dragão de sete cabe­ças, tendo, portanto, conquistado o domínio sobre os m ares. Logo, o dom ínio de Yahw eh sobre as águas diz respeito ao seu controle soberano sobre as forças caóticas que, segundo a crença, constantemente ame­açavam o cosmo.95.8. M eribá/M assá. Esses term os são aplicados a Refidim , perto do Sinai, para descrever a natureza irascível e rebelde do povo. Deus respondeu fazendo brotar água da rocha. Para m ais inform ações sobre esses incidentes, ver os comentários em Êxodo 16 ,17 .97.2. cercado de n u v ens. A im agem de um D eus impetuoso, cavalgando pelos céus num a nuvem, era com um (SI 68.4; 104.3; Jr 4.13). Tais descrições de teofania podem ser encontradas nos textos que falam

do deus ugarítico Baal. No épico de Aqhat e no ciclo de histórias de Baal e Anat, Baal é descrito como o "cavaleiro das nuvens". Os atributos desse deus, co­m andando as tem pestades, soltando relâm pagos e dirigindo-se à guerra como um guerreiro divino, apa­recem até mesmo nos textos egípcios de El Amama. As características de Yahw eh como o Criador, doador da fertilidade e guerreiro divino, têm m uito em co­mum com esses épicos antigos. Um a das formas em que Ele se apresenta aos israelitas como o único poder divino é assum indo os títulos e poderes de outros deuses do antigo Oriente Próximo.98.1. braço santo. A imagem de uma poderosa mão ou braço estendido é comum em inscrições egípcias para descrever o poder do faraó. É usada em toda a narrativa do êxodo como um sinal do poder de Deus acima de faraó. Nas cartas de Am arna do século cator­ze a.C., Abdi-Heba, o governador de Jerusalém, refe­re-se ao "braço forte do rei" como base para sua nom e­ação ao governo. D e m odo sem elhante, o "H in o a O síris", da 18a D inastia, descreve a predom inância dele sobre os outros deuses com a frase "quando seu braço estava forte", e o "H ino a Toth" de H arem habs fala do deus-lua guiando o barco divino pelo firm a­mento com "braço estendido".98.5, 6. ofereçam música. Ver o comentário em 150.3-5.98.8. personificação da natureza. Não é raro um texto bíblico personificar as forças da natureza, embora essa personificação não seja feita como no resto do antigo Oriente Próximo, onde eram encarnadas e ganhavam personalidade. Na M esopotâmia, em Canaã e no Egi­to, as forças da natureza eram m anifestações de divin­dades individuais, cuja jurisdição era sobre a nature­za com a qual estavam integradas.98.9. retidão. O termo aqui é comparável àquele usa­do na Mesopotâmia para a declaração de liberação de dívidas. No antigo Oriente Próximo, a libertação de prisioneiros (da prisão de seus credores) era um ato de justiça que acontecia com freqüência no primeiro ou segundo ano do reinado de um novo rei (e depois periodicamente a partir de então). Por exemplo, o rei Am m isaduqa, do período babilónico antigo (século dezessete a.C.) cancelou dívidas em nom e de Shamás. Uma das maneiras de se fazer justiça era trazer alívio àqueles que estavam sofrendo por causa de dívidas (geralmente não por sua própria culpa).99.1. trono sobre os querubins. Os querubins estão associados à arca da aliança, sendo retratados sobre ela ou ladeando-a. Essas criaturas compostas aparecem na arte antiga com certa regularidade ao redor dos tronos de reis e divindades. A associação de querubins como guardiões do trono, arcas como escabelos e afir­m ações em co n tex tos com o este que d escrev em Yahw eh entronizado sobre querubins, serve de base

para o conceito da arca como uma representação do próprio trono invisível Dele. Nos festivais egípcios, as im agens dos deuses freqüentem ente eram carrega­das em procissão, dentro de barcas portáteis. Pinturas retratam esses cortejos com caixas, semelhantes à arca, sendo carregadas por meio de varas e decoradas com criaturas guardiãs em cima ou do lado. As descrições bíblicas, bem como as descobertas arqueológicas, (in­clusive algumas peças de marfim fino de Ninrode na M esopotâmia, de Arslan Tash na Síria e da Samaria, em Israel) sugerem que os querubins eram criaturas compostas (com características de diversas criaturas, como a esfinge egípcia), geralmente com cabeça hu­mana e corpo de animais quadrúpedes (leão) alados.99.5. adoração diante do estrado de seus pés. Em prim eiro lugar, é preciso reconhecer que a arca da aliança era considerada o escabelo do trono invisível de Deus (ver o comentário em Êx 25.10-22). Segundo, o escabelo ou estrado deve ser entendido como parte integral do trono, representando o acesso mais próxi­mo ao rei. Terceiro, a imagem do escabelo tem impor­tância porque é usada para expressar o domínio do rei sobre seus inimigos (ver o comentário em SI 110.1). E, finalmente, adorar diante do estrado é outra form a de expressar a reverência demonstrada pelo ato de pros­trar-se aos pés de Deus ou do rei. Na esteia negra de Salm aneser III, o rei israelita Jeú é retratado beijando o chão diante do rei assírio. No Enuma Elish, o tribu­nal dos deuses beija os pés de M arduque após ter controlado a rebelião e se estabelecido como chefe do panteão. Esse era um ato comum de submissão ofere­cido a reis e deuses. Segurar os pés era um gesto de auto-humilhação e súplica. Esse gesto ocorre em uma ampla gama de textos acadianos que descrevem fu­gitivos ou suplicantes segurando os pés do rei para demonstrar sua submissão ou rendição e fazer suas petições.103.12. O riente e O cidente. No hino egípcio a Amom- Rá, a divindade é louvada por ju lgar os culpados. Como resultado de seu discernimento, os transgresso­res são destinados ao oriente e os justos, ao ocidente.103.20,21. an jos poderosos, exércitos. No antigo Ori­ente Próximo, o "exército celestial" referia-se à assem­bléia dos deuses que eram, muitos deles, representa­dos por corpos celestes (planetas ou estrelas). Às vezes a Bíblia usa a expressão para fazer alusão à adoração condenada dessas divindades (ver o comentário em Dt 4.19). Em outros contextos, o termo é usado para descrever a assembléia dos anjos ao redor do trono de Yahw eh (ver o comentário em 2 Cr 18.18). Um tercei­ro uso aplica-se a anjos rebeldes (talvez em Is 24.21; geralm ente na literatura intertestam entária). E por último, pode referir-se simplesmente às estrelas, sem nenhuma personalidade atrelada a elas (Is 40.26). No

antigo Oriente Próximo, as principais decisões eram todas tom adas no concílio divino. Lá os deuses se consultavam e com partilhavam suas inform ações e opiniões. A im agem fam iliar de um trono celestial cercado por uma assembléia divina é bem freqüente em textos ugaríticos (de forma m ais evidente no épico de Keret), em bora o concílio cananeu seja formado pelos deuses do panteão. Existem exemplos também nas inscrições de Yehim ilk em um prédio do século dez, na cidade de B iblos e na esteia K aratep e de Azitawadda. N o texto acadiano Enuma Elish, a assem­bléia dos deuses nomeia M arduque como seu líder. Cinqüenta deuses formaram essa assembléia, com sete no concílio interno. N a crença israelita, em lugar dos deuses, figuravam os anjos ou espíritos - os filhos de Deus ou o exército celestial. Yahw eh é retratado com freqüência como o "Senhor dos Exércitos" - o coman­dante dos exércitos celestiais.104.1-35. comparação com H in o a A ten . Existe uma fam osa composição do rei egípcio Aquenáten, datada do século catorze a.C., que apresenta uma série de semelhanças com o Salmo 104, especialmente em re­lação aos term os utilizados e ao conteúdo. O hino louva o deus A ten, deus-sol, por todo seu cuidado sobre a criação. E possível encontrar alguns dos m es­mos temas e analogias em outros hinos dedicados a outros deuses-sol. Um a vez que o salm ista decidiu usar temas solares em um hino a Yahweh, era inevi­tável que os paralelos surgissem. O culto ao Sol era um dos desvios sincretistas que caracterizaram o Isra­el pré-exílico (ver os comentários em 2 Rs 23.11 e Ez8.16) e a adoção de temas relacionados a ele (tanto literários quanto iconográficos) tem sido confirmada (no Antigo Testamento ver também SI 84.11; Hc 3.4; ND 4.2). Não obstante, não há nada de sincretista nas crenças expressas neste salmo. As semelhanças gera­das são apenas a retratação de Yahw eh com imagens relacionadas ao Sol.104.2. veste de luz. N a adoração egípcia a Aten, o disco solar era considerado um a divindade. Como resultado, a imagem do deus envolta em veste de luz seria particularm ente apropriada ao culto de Aten, m as não à adoração de outras divindades do Sol. Ape­sar disso, essa expressão não é usada no hino a Aten. A literatura acadiana fala de deuses celestiais usando a veste do céu, mas essa expressão refere-se a nuvens. Um a outra passagem em que M arduque é vestido, por outra divindade, com brilho e esplender pode ser mais relevante.104.3. vigas dos seus aposentos. N o m undo antigo acreditava-se que os céus tinham diversos níveis e que eram feitos com pisos, paredes e tetos (ver o co­m entário em Êx 24.10). Em textos m esopotâm icos (Enuma Elish), as águas dos céus eram feitas com me­

tade do corpo de Tiamat, quando M arduque a derro­tou e estabeleceu o cosmo. Essas águas eram identifi­cadas como o nível mais elevado dos céus, o céu de Anu (Anu era a principal divindade antiga antes de Enlil ou M arduque). Se essa im agem estiver sendo usada neste salm o, Yahw eh é descrito habitando os m ais altos céus, e as vigas correspondem àquelas do teto do andar superior de seu aposento. Nos textos m esopotâmicos, a moradia do deus principal (Mar­duque) fica nos céus intermediários, m as a descrição da habitação de Anu, nos altos céus, igualmente pres­supõe um aposento.104.3. cosm o como tem plo. A tentativa do salmista em expressar o completo controle de Deus sobre toda a criação inclui um santuário ou palácio nos céus com m uitos andares ou câmaras (cf. SI 78.69; ls 66.1). Na visão bíblica e do antigo O riente Próxim o, o cosmo era um tem plo, e este, um m icrocosm o. O cosm o, portanto, pode ser descrito em termos arquitetônicos como se faria na descrição de um templo.104.3. faz das nuvens a sua carruagem. A imagem de um D eus im petuoso, cavalgando pelos céus num a nuvem, era comum (SI 68.4; 104.3; Jr 4.13). Tais des­crições de teofania podem ser encontradas nos textos que falam do deus ugarítico Baal. No épico de Aqhat e no ciclo de histórias de Baal e A nat, esse deus é descrito como o "cavaleiro das nuvens". Os atributos de Baal, com andando as tem pestades, soltando re­lâmpagos e dirigindo-se à guerra como um guerreiro divino, aparecem até mesmo nos textos egípcios de El A m am a. As características de Yahw eh como o Cria­dor, doador da fertilidade e guerreiro divino, têm m uito em comum com esses épicos antigos. Um a das formas em que Ele se apresenta aos israelitas como o único poder divinal é assumindo os títulos e poderes de outros deuses do antigo Oriente Próximo.104.4. ventos e clarões reluzentes como m ensageiros. Tanto no Enum a E lish quanto na Lenda de A nzu, os ventos levam as notícias da vitória da divindade herói­ca sobre o m onstro do caos. Na prim eira obra, o vento do norte leva o sangue de T iam at com o sinal de sua m orte; na segunda, as penas do derrotado A nzu são carregadas pelo vento até Enlil. Os clarões reluzentes podem ser um a referência ao poder destrutivo da ira de D eus (assim como o vento pode ser destrutivo).104.6-9. águas do caos. Não se trata de uma referência ao dilúvio, m as à narrativa inicial da criação em que a terra seca emergiu, assim como todas as águas fo­ram designadas a seus respectivos lugares. A derrota das forças do caos, personificadas no m ar primitivo, era um dos elem entos m ais comuns da cosmologia do antigo Oriente Próximo (Baal derrotando Yamm nos textos ugaríticos e M arduque derrotando Tiam at no Enuma Elish).

104.9. lim ite das águas. Após ter derrotado Tiamat, M arduque criou os m ares e colocou guardas para vi­giar suas águas. O babilónico Épico de Atrahasis cita um ferrolho do mar sob a posse de Ea (Enki). Outros textos falam de fechaduras ou cadeados do mar. Uma das principais tarefas do chefe do panteão era vigiar o mar para que o caos fosse controlado e a ordem preva­lecesse. Um dos primeiros reflexos desse tema encon­tra-se no M ito de N inurta e A zag, em que N inurta constrói um muro de pedras para conter as águas.104.19. Lua marcando estações. Em contraste com o Sol, que delimita os dias ao nascer e ao se por, as fases da lua marcavam os meses que estavam atrelados às estações. Desde o primeiro milênio, os antigos já co­nheciam bem a diferença entre o ciclo solar (365 + dias) e o ciclo lunar (354 + dias). Eles tam bém tinham uma consciência crescente do cálculo calendário atra­vés da seqüência de surgim ento e desaparecimento de estrelas e constelações no firmamento. A Lua conti­nuava sendo o principal determ inante de m eses e estações, apesar de m eses suplementares serem acres­centados, a cada três anos, para reajustar o ano ao ciclo solar. Se apenas cálculos lunares fossem usados, os meses gradualmente se afastariam das datas das fes­tas que marcavam as épocas de plantação e colheita (que eram determinadas pelo Sol).104.26. Leviatã. Ver o comentário em 74.14.104.28. m ão aberta. Em relevos egípcios, que ilus­tram a adoração a Aten, o disco solar deificado é retra­tado com inúmeros braços estendidos, cada um com um a m ão na extremidade, simbolizando a entrega de bênçãos e favor.104.32. atividade vulcânica no O riente Próximo. Aspessoas do antigo Oriente Próximo conheciam a ativi­dade dos vulcões, m as tinham poucas chances de observá-los. A Mesopotâmia e o Egito eram culturas fluviais, com poucas montanhas em seu relevo, por­tanto, atividade vulcânica era algo extremamente di­fícil de acontecer. Ararate é um dos vulcões ativos no Crescente Fértil (mas não há registro de erupções na história). A lém disso, há diversos deles na Síria e alguns poucos na extremidade sul da Turquia. O Egeu figura meia dúzia: pelo m enos um deles entrou em erupção no período do Antigo Testamento (Santorini, 1650 a.C.).105.13-15. peregrinação patriarcal. Abraão saiu de Ur dos Caldeus, situada no norte ou sul da M esopotâmia (ver com entário em G n 11.28), e viajou até Canaã. Aconteceram alguns incidentes em Gerar e no Egito. Jacó foi para Padã-Arã, no norte da Mesopotâmia, e dali voltou para Canaã. José e toda sua família trans­feriram -se para o Egito onde se fixaram. O cuidado de Deus por eles ficou evidente em cada situação de suas vidas.

105.18. correntes e ferros. A s correntes em volta dos tornozelos, prendendo os pés, são bastante claras. Vis­to que o outro instrumento mencionado, no versículo, se encontrava ao redor do pescoço, é provável que seja uma coleira de ferro. Às vezes esses ferros eram usados para prender um prisioneiro ao outro. Inscri­ções assírias dos séculos nono e oitavo ilustram cativos sendo transportados ou trabalhando com ju gos de m adeira ao redor do pescoço.105.23. terra de Cam . Esse é um nom e alternativo para Egito, onde alguns dos descendentes de Cam, filho de Noé, se estabeleceram.105.29-36. pragas. A respeito das pragas, ver os co­mentários em Êxodo 7-11.105.39. nuvem . Esta é um a referência às colunas de nuvem e de fogo que acompanharam os israelitas no deserto. Para mais informações, ver o comentário em Êxodo 13.21, 22.105.40,41 . codom izes, m aná, água. Para informações relacionadas a esses atos miraculosos da provisão di­vina, ver os comentários em Êxodo 16; 17.106.7. m ar V erm elh o. Para inform ações adicionais, ver os comentários em Êxodo 14; 15.106.15. doença terrível. Ver Números 11.33. Não há informações disponíveis sobre a natureza dessa doen­ça. Ver o comentário em Números 25.8.106.17. Datã e A birão. Ver os comentários na última parte de Números 16.106.19. H orebe. H orebe é um outro nom e dado ao monte Sinai que, provavelm ente, está localizado na parte sul da península do Sinai. Para m ais detalhes, ver o comentário em Êxodo 19.1, 2.106.19,20. bezerro/boi. Ver os comentários em Êxodo 32.106.28. Baal-Peor. Esta é uma referência ao incidente em que os israelitas se envolveram com as mulheres de Moabe. Ver Números 25 e os comentários ali.106.33. palavras duras de M oisés. O pecado de Moisés aconteceu durante o segundo incidente em que brotou água da rocha. V er Núm eros 20 e os com entários ali.106.37. sacrificaram aos dem ônios. Essa palavra para dem ônio é usada apenas m ais um a vez no Antigo Testamento, em Deuteronômio 32.17; mas é um tipo de espírito/demônio bastante conhecido na Mesopo­tâm ia, onde o term o (shedu) descreve um guardião protetor da saúde e do bem-estar do indivíduo. Não se trata do nom e de um a divindade, m as de um a categoria de seres (como querubim no Antigo Testa­mento). U m shedu podia destruir a saúde de alguém da mesma forma que podia protegê-la; por isso, era recom endável oferecer sacrifícios que o aplacasse. Es­ses seres são descritos como criaturas aladas (seme­lhantes aos querubins, ver comentários em G n 3.24 e Êx 25.18-20), m as não são representados na forma de

ídolos (como os deuses) por meio dos quais recebiam adoração (ver o com entário em D t 4 de com o isso funcionava). Para informações a respeito do sacrifício de crianças, ver os com entários em G ênesis 22.1 e Levítico 18.21.106.38. ídolos de Canaã. Entre os deuses dos cananeus estavam incluídos El, Baal (Hadad), Dagom e Anat.

Salmos 107-150 Quinto livro107.10. exilados em prisões. Embora m uitos dos de­portados para a Babilônia não fossem mantidos pre­sos, alguns eram prisioneiros políticos. O s fossos eram usados como prisões em grande parte do antigo Ori­ente Próxim o. A idéia m oderna de prisão, onde os detentos são reabilitados como bons cidadãos à socie­dade, era totalmente estranha ao m undo antigo. Os prisioneiros, fossem eles devedores, criminosos à es­pera de julgam ento ou presos políticos, eram todos mantidos em confinamento.107.16. portas de bronze, trancas de ferro. O histori­ador grego Heródoto descreveu a Babilônia com "cem portas, no circuito completo dos m uros, todas de bron­ze com batentes e vergas de bronze". M uitas dessas enormes portas do período assírio foram desenterra­das em Balawat, dando uma idéia de como os muros babilónicos teriam sido. As portas eram trancadas por m eio de barras que cruzavam a entrada, e o ferro, obviamente, seria o material m ais difícil de quebrar (ver o comentário em Dt 33.25).107.18. portas da morte. Acreditava-se que o mundo inferior (Sheol) fosse como uma cidade terrena onde havia casas e até m uros (com o objetivo primordial de m anter seus habitantes presos ali). No texto A Descida de ístar, esse lugar é retratado possuindo um comple­xo de portões com sete portas e porteiros, em cada um a delas, controlando o acesso.107.23-30. tem pestades no mar. O hino babilónico a Sham ás possui um trecho em que ele é descrito resga­tando mercadores (e suas mercadorias) de tempesta­des no mar. Porém , não fala desse deus acalmando as ondas ou controlando a tempestade, apenas da prote­ção dada ao viajante, ao salvar sua vida.107.29. serenou as ondas. O m ar era a imagem mais poderosa do caos incontrolável conhecida no mundo antigo. Na temática do combate a desordem, presente nas m itologias e tam bém no Antigo Testam ento, as forças cósmicas do caos eram representadas freqüente­mente pelo mar. Às vezes, a criação é descrita sobre­pujando essas forças e trazendo ordem e controle ao cosmo. N esse contexto, não é o passado primitivo que está em pauta, m as a habilidade de Yahw eh em (nova­mente) controlar o m ar e restaurar a ordem em bene­fício desses mercadores. A idéia de transferir atos cós­

m icos para narrativas históricas tam bém ocorre em incidentes como a passagem dos israelitas pelo mar Verm elho, quando as águas foram subordinadas e controladas, obedecendo ao comando de Deus. Não se deve ignorar que esse foi um elemento também sig­nificativo no episódio em que Jesus acalma o mar. 107.33-35. m undo de cabeça para baixo. Na temática do mundo de cabeça para baixo, tudo que é conside­rado seguro e confiável é colocado em perigo. O con­ceito pode ser aplicado à esfera cósmica (sol se escure­cendo), à natureza (montanhas sendo aplainadas), à política (impérios depostos), à sociedade (pobres tor­nando-se ricos) e aos animais (o leão e o cordeiro jun­tos). Essa discussão é abordada, com freqüência, na literatura profética relacionada ao Dia do Senhor e ao julgam ento vindouro. O épico babilónico de Irra apre­senta algumas semelhanças ao descrever um a inver­são na criação da ordem, por Marduque, a partir do caos primitivo.108.2. despertar a alvorada. A alvorada (sahar) muitas vezes é personificada no Antigo Testam ento e está presente em inscrições fenícias e ugaríticas, sendo tam­bém mencionada em Emar. Em acadiano, é personifi­cada com o nom e de Sheru. Não há referência a qual­quer desses papéis na m itologia nem a rituais cujo objetivo fosse despertar a alvorada.108.7. S iquém , vale de Sucote. Siquém tem sido iden­tificada com Tell Balatah, a leste da atual Nablus e 56 quilômetros ao norte de Jerusalém. Talvez, devido à sua proximidade a dois picos, m onte Gerizim e monte Ebal, Siquém tinha um a longa tradição como lugar sagrado. E mencionada em muitas fontes antigas, in­clusive nos registros egípcios de Sen-Usert III (século dezenove a.C.) e nos tabletes de El A m am a (século catorze a.C.). Há evidências de ocupação quase contí­nua ao longo do segundo e prim eiro m ilênios, de­monstrando a importância dessa estratégica cidade na rede de estradas que cruzava o norte, desde o Egito, passando por Berseba e Jerusalém, até Damasco. Foi a prim eira parada de A brão em Canaã. O solo fértil dessa área favorecia a agricultura e as boas pastagens. A cidade de Sucote é localizada a leste do rio Jordão, perto do ponto onde ele se liga ao rio Jaboque (Jz 8.5). Um a série de arqueólogos identificou essa área com a região de Tell Deir 7Alia, com base em registros egíp­cios (a Esteia de Sisaque) e vestígios culturais que datam desde o Calcolítico até a Idade do Ferro II. O nom e, que significa "cabanas", seria apropriado para as moradias provisórias da população m ista dessa re­gião, formada por pastores nômades e mineradores (evidência de fundição foi encontrada nos sedimentos da Idade do Ferro I). Fica localizada no vale a oeste das m ontanhas de Gileade, à m edida que as terras descendem até o Jordão.

108.8. capacete, cetro. O termo traduzido como "capa­cete" não é usado em nenhum a outra passagem re­portando à armadura ou equipamento para a cabeça. O texto hebraico refere-se a uma "fortaleza para mi­nha cabeça" ou talvez "m inha principal fortaleza". O cetro é constantemente identificado como um bastão cerimonial esculpido que às vezes é retratado na mão do rei, como símbolo de sua posição. É mencionado também em Gênesis 49.10 e Números 21.18.108.9. M oabe como pia. O utensílio a que o salmo se refere geralmente era usado para cozinhar, m as tam­bém era um pote/pia de múltiplos usos e de diversos tamanhos. As pias geralmente eram usadas para ablu- ções ou banhos rituais, ocorrendo em listas de presen­tes finos nos tabletes de A m am a. A imagem retratada aqui é obscura.108.9. sandália atirada em Edom. As sandálias eram um calçado comum no antigo Oriente Próximo, mas tam bém eram um item simbólico do vestuário. Tal­vez isso fosse devido ao fato de que a terra era adqui­rida com base na área triangular que o comprador era capaz de pisar em uma hora, um dia, uma semana ou um m ês (1 Rs 21.16, 17). A terra era d ividida em triângulos e um a m arca de nível era construída com ped ras, servindo com o m arco p ara as d ivisas (Dt19.14). Visto que a terra era medida com os passos de alguém calçado em sandálias, estas passavam a ser a escritura m óvel daquele lugar. Uma viúva, ao retirar esse calçado de seu tutor, removia dele o direito de administrar a terra do parente falecido. Transferênci­as de território, em textos de Nuzi, também envolvi­am a substituição da pisada do antigo proprietário pela do novo.108.10. cidade fortificad a. V isto que a "cidade for­tificada" é apresentada em paralelo a Edom, somos inclinados a pensar em sua principal cidade fortificada, Bozrah, cujo nome deriva da m esma raiz da palavra usada aqui para essa expressão. Bozrah era a capital do antigo Edom e tem sido identificada com Buseirah, na região norte do país. C ontrolava um trecho da estrada do rei e ficava relativamente próxim a às mi­nas de cobre descobertas oito quilômetros a sudoeste, em W adi Dana. As escavações demonstram sedimen­tos do século sétimo ou sexto, com as maiores e mais bem fortificadas ocupações da área.108.11. D eus saindo com os exércitos. N a temática do guerreiro divino, a divindade luta contra as divin­dades do inimigo, derrotando-as nas batalhas travadas. N a Assíria, Nergal é o rei da batalha e Istar é consi­derada a deusa da guerra. O deus cananeu, Baal, e o babilónico, M arduque, tam bém são guerreiros divi­nos. N a m aioria das situações, faziam -se orações e consultavam-se presságios e oráculos para assegurar a presença da divindade. Estandartes ou estátuas do

deus geralmente eram carregados como símbolos de sua presença. Os reis assírios, dos séculos nono e oita­vo, muitas vezes faziam menção ao símbolo da divin­dade que ia à sua frente. A arca, símbolo de Yahweh, representava a presença do Senhor abrindo o cami­nho à frente dos israelitas e conduzindo o exército até Canaã. Esse conceito não é m uito diferente da crença assíria de que os deuses concediam poderes às armas do rei e lutavam adiante dele ou ao seu lado. Quase todo exército, no antigo Oriente Próxim o, possuía sa­cerdotes e adivinhos (como confirm am os textos de M ari), profetas (2 Rs 3) e objetos sagrados portáteis (Anais Assírios de Salm aneser III [858-824 a.C.]). Des­se m odo, o(s) deus(es) podia ser consultado, no campo de batalha, ou invocado para conduzir os soldados à vitória. O salm ista aqui está invocando a ajuda de Deus na batalha contra seus inimigos.108.13. p isar os adversários. Os reis egípcios do início do terceiro milênio a.C. são retratados pisando sobre os cadáveres de inim igos derrotados. Por exemplo, Narmer, possivelmente o faraó que unificou o Egito, é visto com um cetro esm agando inim igos e pisando neles. Igualm ente, os reis sum érios de Lagash são ilustrados marchando sobre os corpos de seus adver­sários. A tradição de pisar o inimigo continuou até o primeiro milênio na Assíria e na Babilônia.109.6-15. relação entre im precação e feitiço . Este sal­mo é conhecido como "im precatório" porque roga mal­dições (imprecações) ao inimigo. N o antigo Oriente P ró x im o, ta is m ald içõ es eram in ten sifica d a s ou ativadas por rituais mágicos e feitiços; m as esse tipo de prática seria inaceitável no sistema bíblico. Os sal­m os imprecatórios podem ser entendidos tendo como pano de fundo o princípio da retribuição (ver as notas introdutórias sobre conceitos básicos dos Salmos). V is­to que a justiça de Deus exigia castigo proporcional à gravidade do pecado, o salmista está rogando as mal­dições que seriam apropriadas para que a justiça fosse m antida. São da m esm a m agnitude das m aldições que Deus profere contra seus inimigos (ver Is 13.15, 16). A linguagem vigorosa dessa passagem contém aspectos de um a fórmula de maldição semítica orien­tal que espera na divindade para executar vingança contra as nações inim igas. Um exem plo deste tipo encontra-se nos tratados de vassalo do rei assírio Esar- Hadom que invoca uma hoste de deuses para prejudi­car todo aquele que rom pesse o tratado. Também é empregada, com o acréscimo dos atos rituais de exe­cração, na inscrição aramaica de Sefire: "A ssim como este arco e estas flechas são quebrados, que assim também Inurta e H adade quebrem o arco de M attel e de seus nobres". O salmista indiretamente amaldiçoa através das im precações, invocando Deus a "rir de­les" em seus esforços insignificantes de ameaçar Isra­

el. Ele não faz uso de encantamentos mágicos ou ritu­ais de execração contra seus inim igos, ao contrário, confia em D eus para tornar essas pessoas impotentes - quebrando seu poder e suas arm as de destruição (ver Jr 49.35; 51.56; Ez 39.3).109.7. orações que condenam . A partir do contexto, é possível concluir que se refere a um a oração de petição em uma situação de julgamento. Tais orações podiam ser acompanhadas de juram entos de inocência (como a de Jó em Jó 31). Se a pessoa não fosse de fato inocente tal juram ento seria a base para o castigo divino.109.24. je ju m . H á poucas evidências de prática do jejum no antigo Oriente Próximo fora da Bíblia. Ge­ralm ente era feito em contextos de luto. N o Antigo Testamento, o uso religioso do jejum está freqüente­mente relacionado a um pedido dirigido a Deus. O princípio é que a importância do pedido leva o indiví­duo a preocupar-se tanto com sua condição espiritual que as necessidades físicas são relegadas a segundo plano. Nesse aspecto, o ato de jejuar serve como um processo de purificação e humilhação diante de Deus (SI 69.10).

110.1. senta-te à m inha direita. Um guerreiro equipa­do com todo seu armamento seguraria a arma na mão direita e o escudo, na esquerda. O rei, ao colocar uma pessoa à sua direita para defendê-lo, afirm ava sua

confiança nela; sendo assim, era um a posição de hon­ra. Em contraste, quando o Senhor se coloca à direita

de alguém , com o no Salm o 109.31, Ele está num a posição de oferecer defesa com seu escudo. Uma está­

tua do faraó Horemhab (século catorze a.C.) o retrata assentado à direita do deus Hórus.110.1. in im igos como estrado. O rei assírio Tukulti- Ninurta I (século treze) "coloca seu pé no pescoço" de reis derrotados e (simbolicamente) nas nações domi­nadas, demonstrando assim que se tom aram o estra­

do de seus pés. Essa im agem é ilustrada de form a clara na pintura de um túmulo do século quinze a .C , em que Tutm és IV é retratado assentado no colo de sua mãe (?), com os pés sobre uma caixa repleta de inim igos am ontoados num a pilha. Para m ais infor­mações, ver o comentário em 108.13.

110.4. ordem sacerdotal de M elquisedeque. Melqui- sedeque era o sacerdote-rei de Jerusalém no tempo de Abraão (ver os comentários em G n 14). Como re­sultado, Jerusalém teve um a história de reis exer­cendo algumas das prerrogativas do ofício sacerdo­tal. Para evidência dessa prática na família de Davi, ver o com entário em 2 Sam uel 8.18. Não era raro, no mundo antigo, que o rei também ocupasse a mais elevada posição como sacerdote (compare com a po­sição do presidente da república como comandante das forças armadas).

114.2. Ju dá com o santuário . Essa expressão reflete um a im agem do tem plo com o Estado. O trono de Deus ficava neste lugar, e o do rei, em seu palácio. Ambos governavam a nação a partir de seus respecti­vos tronos. Esse conceito remonta aos períodos mais antigos da história, quando os templos serviam como centros administrativos do Estado. Dessa forma, pode- se ver que há um paralelo entre as duas orações deste versículo em que o santuário é a figura central do "dom ínio" (remado).114.4. os m ontes saltaram . Na lenda ugarítica que relata a construção do palácio de Baal, sua entronização é precedida por sua voz de trovão que faz os lugares altos da terra pularem ou tremerem. Igualmente, em um hino a M arduque, a voz de trovão dessa divinda­de faz a terra trem er. O verbo hebraico traduzido como "saltar" é usado freqüentemente para descrever um movimento travesso ou saltitante, porém, é mais provável a aparência ondulatória de um rebanho de ovelhas ou bodes movendo-se por um caminho (ver o comentário em 2 Sm 6.14-21). Essa seria uma imagem apropriada para descrever o deslocam ento da terra num terremoto.115.4-7. ideologia do ídolo. Os ídolos eram feitos em grande variedade de formas e tam anhos, no antigo Oriente Próximo. Eram esculpidos em pedra ou m a­deira e fundidos e moldados em ouro, prata e bronze. Com uma aparência basicamente humana (exceto os deuses do Egito cujas características hum anas eram m escladas às de animais), esses deuses tinham porte, vestimentas e corte de cabelo distintivos, até mesmo padronizados. No antigo O riente Próxim o, era nas imagens que as deidades se faziam presente de forma especial, a ponto da estátua de culto tom ar-se o pró­prio deus (quando os adoradores eram assim agracia­dos), embora essa não fosse a única manifestação da divindade. Certos rituais e cerimônias eram realiza­dos para dar vida ao ídolo. Como resultado dessa ligação, feitiços, encantamentos e outros atos mágicos podiam ser executados diante da im agem a fim de ameaçar, intimidar ou obrigá-la a fazer algo. Em con­traste, outros ritos relacionados à imagem tinham como objetivo ajudar ou cuidar do deus. Assim, as imagens ou ídolos representavam um a visão de mundo, um conceito de divindade, incom patível à form a como Yahw eh se revelara.A imagem não era a deidade, e sim a sua habitação, por meio da qual manifestava sua presença e vonta­de. Arqueólogos encontraram poucas imagens do ta­m anho natural, como o texto bíblico descreve, mas existem versões delas que permitem um conhecimen­to acurado de detalhes. As imagens de divindades na M esopotâmia eram alimentadas, vestidas e até m es­mo lavadas diariamente. Oferendas de comida eram

levadas diante do ídolo todos os dias (alimento que sem dúvida era comido pelos funcionários do tem ­plo). Alguns funcionários eram responsáveis por ves­tir e despir a estátua, e outros tinham a tarefa de lavá- la e transportá-la durante as celebrações e festas.116.13. cálice da salvação. A relação com o pagamento de votos no templo sugere um a libação sendo derrama­da como testemunho da bondade e proteção de Deus. Essas libações eram um a form a com um de ações de graças no m undo antigo, como ilustram relevos egíp­cios, fenícios e m esopotâmicos. Elas representavam a libertação (salvação) promovida pela divindade e tam­bém liberavam a pessoa do comprom isso do voto.116.14. cum prim ento de votos. Os votos eram acor­dos voluntários e condicionais feitos com a divindade; eram comuns na maioria das culturas do antigo Ori­ente Próxim o, inclusive entre os hititas, ugaríticos, mesopotâmicos e, com menos freqüência, entre os egíp­cios. No mundo antigo, o contexto m ais habitual para se fazer um a promessa era um pedido dirigido à di­vindade. A condição geralmente envolvia a proteção ou provisão de Deus, enquanto que cada voto quase sempre era uma dádiva a ser entregue à deidade. A oferenda normalmente era na forma de um sacrifício; no entanto, outros tipos de presentes também podiam ser entregues ao santuário ou aos sacerdotes. O cum­primento de um voto era feito no santuário como um ato público. Na literatura ugarítica, o rei Keret fez um voto em que pediu um a esposa que pudesse lhe dar filhos. Em troca, ele ofereceu ouro e prata equivalente ao peso da noiva.118.22. pedra re jeitad a pelos construtores. O estilo arquitetônico israelita da Idade do Ferro fazia uso crescente de alvenaria de pedra lavrada em detri­mento das construções feitas com pedra bruta e blocos irregulares de períodos anteriores. A fim de garantir estabilidade e unir duas paredes adjacentes, um bloco de pedra primorosamente talhado era inserido entre as paredes tom ando-se a pedra de esquina. Era uma pedra m aior do que as outras normalmente usadas e sua inserção exigia esforço especial ou rituais. Sua superfície larga e lisa era um espaço natural para a inscrição de frases religiosas, o nome do arquiteto ou o rei responsável pela obra e a data da construção. É possível que a pedra de esquina tam bém fosse a pe­dra fundamental ou angular. Para informações sobre esta última, ver a próxima nota e os comentários em Esdras 3.3 e 3.10.118.22. pedra angular. A pedra de esquina, ou me­lhor, a pedra fundamental era sempre importante na construção e restauração de templos. U m dos relatos mais detalhados na literatura do antigo Oriente Próxi­mo descreve a construção de um templo para Ningirsu, feita por Gudea, por volta de 2000 a .C . A cerimônia

do lançamento da pedra fundamental demonstra sua centralidade em todo o processo de edificação.118.27. cortejo festivo. Para representar a abundân­cia e exuberância da terra, os israelitas foram instruí­dos a celebrar a Festa dos tabernáculos, carregando ram os na procissão e decorando suas cabanas com frutas (cidra) bem como com folhagens e galhos de salgueiros e palm eiras. A ocasião festiva provavel­mente incluía danças e cortejos em que feixes de ga­lhos eram carregados. Desse m odo, o povo reconhecia a abundância propiciada por D eus e celebrava em comunidade o cumprimento visível da aliança. Tex­tos do antigo Oriente Próximo também descrevem os itinerários de procissões sacerdotais; estas diferiam da descrita aqui por carregarem imagens de deuses, jun­tamente com vários atavios divinos, de uma cidade a outra dentro do reino. Com isso, a divindade podia visitar santuários, fazer viagens de inspeções pelas propriedades que pertenciam à comunidade do tem­plo e participar de festivais anuais fora da capital. Esses cortejos sagrados levavam as imagens e símbo­los dos deuses pelas ruas das cidades até seus santuá­rios, onde sacrifícios, danças sagradas e outras ativi­dades cultuais eram realizados.119.1. acróstico. A divisão, a cada oito versículos, des­tacada em quase todas as traduções representa as le­tras consecutivas do alfabeto hebraico. Cada verso, no grupo de oito, inicia-se com a m esma letra hebraica, formando o que é conhecido como um acróstico. Para m ais inform ações, ver a nota introdutória sobre os conceitos básicos dos Salmos.119.72. m ilhares de peças de prata e ouro. Essa é a maneira pela qual o salmista expressa um a fortuna. U m salário m édio era equivalente a dez siclos de prata por ano.119.83. v asilh a in ú til (odre na fum aça). Em bora o termo usado aqui, para descrever um odre, em outro contexto refira-se a um a vasilha para carregar vinho (1 Sm 16.20), não se trata do recipiente usado para sua fermentação, mas sim de um utensílio para carregar diversos líquidos (por exemplo leite em Jz 4.19). O cognato acadiano (nadu) é usado para cantil (geral­mente feito de pele de ovelha) e é bem possível que os gibeonitas tenham usado essas vasilhas com esse objetivo (Js 9 .4 ,13). A palavra traduzida como "fum a­ça" também é incom um e poderia referir-se a cinza. Em Gênesis 19.28, ela enche o ar após a destruição de Sodoma e Gomorra e é descrita saindo de uma forna­lha. Em Salmo 148.8, esse termo é colocado ao lado da neve em um a série de forças destrutivas da natureza (nesse caso poderia referir-se às cinzas expelidas por um vulcão ver 104.32). Neve e cinza (palavra diferen­te) também são comparadas no Salmo 147.16. Aqui a m etáfora que se encaixaria ao contexto é a de uma

espera sem resposta aparente. Colocar um odre na fumaça ou nas cinzas refletiria uma situação em que um nível baixo de calor era necessário por um perío­do longo de tempo, com o na produção do iogurte. Em bora a m anteiga fosse um laticínio m ais comum (ver com entário em Is 7.15), o iogurte tam bém era conhecido na Antigüidade.120.4. brasas incandescentes de sândalo. O tronco da árvore do sândalo produzia madeira dura que servia como excelente carvão.120.5. M eseque, Quedar. Meseque, um reinado cen­tral da Anatólia, foi conquistado por Sargão II, rei da Assíria, e invadido pelos cimérios do sul da Rússia. A credita-se que foi incorporado pelo controle lídio após o encerramento das guerras cimérias. Eram cha­mados pelos assírios de mushku e por Heródoto, de moscos. No final do oitavo século, o rei de Mushku era Mita, denominado pelos gregos de M idas, o rei com o toque dourado. Seu túmulo foi identificado em Gordion e escavado. Quedar, o segundo filho de Ismael (Gn 25.13), era o nom e de um a tribo que floresceu do oitavo até o quarto século a .C , a tribo é descrita em textos assírios e babilónicos como Qadar. Os nomes próprios dos quedaritas parecem estar relacionados à ramificação sul das línguas semitas. Esses povos tribais estavam estabelecidos na península arábica e com freqüência dirigiam -se ao Levante, passando pelo Sinai. Trabalhav am com o criad ores de ovelhas e caravaneiros pelo menos até o período helenista. Vis­to que esses lugares encontram-se em direções opos­tas a Israel, provavelmente são citados como referen­tes a lugares remotos e bárbaros.121.1. socorro nos m ontes. A NVI, de m aneira bas­tante apropriada, capta o sentido por trás da expres­são idiomática de que os m ontes (montanhas) são um lugar onde se precisa de ajuda. Como um peregrino, o salmista se sente intimidado pelas montanhas (por causa do rigor da caminhada íngreme e dos perigos que podiam ficar à espreita na form a de ladrões ou animais ferozes) e busca a proteção divina para sua viagem .121.3,4. dormir. N a literatura mesopotâmica, um deus que dorme não responde as orações da pessoa que está clamando por socorro. Afirma-se que Enlil ficava acordado mesmo quando parecia estar dormindo. Em um a oração babilónica, o adorador se pergunta por quanto tempo a divindade permanecerá adormecida.121.6. m al causado p elo S o l e p ela Lua. Qualquer pessoa que já viajou pelo Oriente M édio sabe os riscos da insolação e da desidratação. M uitas das estradas até Jerusalém expõem o viajante a um calor opressivo. Assim como a exposição demasiada ao Sol pode ser perigosa, no mundo antigo acreditava-se que a expo­sição demasiada à Lua tam bém podia representar um a

ameaça à saúde. Textos de diagnósticos m édicos da Babilônia e Assíria, do primeiro m ilênio, identificam diversos sintomas como resultado da "m ão de Sin" (Sin era o deus-lua): um em que o paciente range os dentes e tem tremores nos pés e nas m ãos e outro que apresenta todos as características de epilepsia. Pala­vras da língua portuguesa como "lunático" demons­tram que essa crença persistiu até épocas relativa­m ente recentes.122.5. tribunais de justiça. Como a m aior autoridade judicial da terra, o rei periodicamente tinha audiênci­as para ouvir os casos em que apelos haviam sido feitos. Um tribunal era montado especificamente para esse propósito no salão de audiências do palácio ou na porta principal da cidade. Nas escavações de Dã, uma área como essa foi descoberta na entrada da porta da cidade, onde o rei provavelm ente ficava assentado sobre um trono coberto a fim de dar a sentença.124.7. arm adilha do caçador. A imagem bastante fa­m iliar de caçadores apanhando pássaros em redes e laços pode ser a origem desta m etáfora (ver Js 23.13; SI 69.22; Is 8.14). Existem inúmeros exemplos dessa ati­vidade em pinturas de túm ulos egípcios e tam bém serve de base para a suméria Esteia dos Abutres (ver o comentário em Ez 12.13). Havia uma série de técnicas diferentes usadas no aprisionamento desses animais. Em bora seja possível que os caçadores usassem fun­das, atirassem paus (como na pintura da tum ba de Beni Hasan) ou um a flecha para derrubar uma única ave, na m aioria das vezes o texto b íblico e a arte antiga ilustram grandes bandos sendo capturadas em redes ou gaiolas. Por exemplo, a tumba de Ka-Gemmi, em Saqqarah (6a Dinastia do Egito) retrata um caçador usando um a rede. Aparentemente, alguns deles tam­bém usavam de artimanhas em suas armadilhas para atrair os pássaros com com ida, servindo como isca (confirmado em Eclesiástico 11.30).126.4. ribeiros no deserto (ou N eguebe). O s uádis da Palestina são semelhantes a rios que transbordam na estação chuvosa. Porém , no verão, precisam ente o período em que a necessidade de água é maior, eles estão secos ou têm apenas um fio de água correndo em seu leito. N a região árida do deserto ao sul de Jerusalém, as cheias periódicas desses uádis traziam alívio e vida.129.6. capim do terraço. Em Israel, a parte superior do telhado das moradias comuns era construída com vigas cruzando as paredes, intercaladas com junco e capim. Todo o telhado era revestido com barro a fim de preencher as lacunas e torná-lo de certa form a im perm eável. Q ualquer sem ente restante, presente no capim ou no barro, podia brotar por algum tempo, m as logo secava por não ter raízes profundas.132.6. Efrata, Jaar. Efrata é identificada em diversas passagens como o território natal de Davi (Rt 4.11; M q

5.2). O s "cam pos de Jaar" geralmente são considera­dos Quiriate-Jearim, onde a arca permaneceu por vin­te anos. Ver o comentário em 1 Sam uel 6.21.132.7. adoração diante do estrado. Em primeiro lu­gar, é preciso reconhecer que a arca da aliança era considerada o escabelo do trono invisível de Deus (ver o comentário em Ê x 25.10-22). Segundo, o escabelo ou estrado deve ser entendido como parte integral do trono, representando o acesso m ais próximo ao rei. Terceiro, a imagem do escabelo tem importância por­que é usada para expressar o dom ínio do rei sobre seus inimigos (ver o comentário em SI 110.1). E, final­mente, adorar diante do estrado é um a outra form a de expressar a reverência demonstrada pelo ato de pros­trar-se aos pés de Deus ou do rei. Na esteia negra de Salm aneser III, o rei israelita Jeú é retratado beijando o chão diante do rei assírio. No Enuma Elish, o tribu­nal dos deuses beija os pés de M arduque após ter controlado a rebelião e se estabelecido como chefe do panteão. Esse era um ato comum de submissão ofere­cido a reis e deuses. Segurar os pés era um gesto de auto-humilhação e súplica. Esse procedimento apare­ce em um a ampla gama de textos acadianos que des­crevem fugitivos ou suplicantes segurando os pés do rei para demonstrar sua submissão ou rendição e fa­zer suas petições.132.17. poder (chifre) de D avi. Ver o comentário so­bre "ch ifre" na nota introdutória sobre as principais metáforas.132.17. lu z do m eu un gid o. V er o com entário em18.28.133.2. óleo sobre a cabeça. N o mundo antigo, os con­vidados de um banquete muitas vezes eram recebi­dos, por um anfitrião generoso, com óleos finos com os quais tinham suas frontes ungidas. Além de dar-lhes uma aparência brilhante, acrescentava ao ambiente e à sua pessoa um odor agradável. Por exem plo, um texto assírio do reinado de Esar-Hadom descreve como ele "ench arcou a fronte" de seus convidados num banquete real com os m ais "seletos óleos". Estes pre­servavam o aspecto da pessoa no clim a quente do Oriente M édio. O texto egípcio A Canção do Harpista e o épico mesopotâmico de Gilgam és descrevem indi­víduos vestidos em linho fino e com m irra espalhada na cabeça. A unção de sacerdotes era feita com óleo de m elhor qualidade e simbolizava as dádivas de Deus ao povo e as responsabilidades agora depositadas so­bre os líderes através dessa cerim ônia. N a prática israelita, a unção era um sinal de eleição e com fre­qüência estava relacionada à capacitação do Espírito. Ver o comentário em Levítico 8.1-9.133.3. orvalho do Hermom. A palavra traduzida como "orvalho" tam bém é usada para descrever chuvisco ou

garoa. O H erm om obviam en te tin ha um idad e em abundância por causa dos riachos que por ali passavam, um símbolo de sua vida e exuberância. Sião aqui é cita­do como o beneficiário dessa m esm a abundância.134.1. serviço noturno no tem plo. O verbo traduzido pela NVI como "servem " tem a ver com assum ir o posto ou o lugar de alguém (mudança de turno). O termo não necessariam ente se refere a algum tipo de ritual sendo realizado, mas simplesmente aos sacer­dotes designados para fazer a guarda noturna. O tem­plo era vigiado vinte e quatro horas por dia a fim de que sua santidade não fosse violada nem seus objetos sagrados fossem roubados. A té mesmo uma tarefa tão "m undana" permitia à pessoa a oportunidade de ado­rar. Por outro lado, rituais noturnos não podem ser totalmente descartados. Eles eram bastante comuns n o antigo O riente P róxim o, m as n esse caso eram centrados no culto ao deus-lua e outras divindades astrais. Em um a oração assíria ao deus-lua que era recitada na celebração da Lua Nova, o adorador fala de espalhar um a oferta de incenso puro da noite. Curiosamente, o hino assírio é um shuilla, uma com­posição de "levantar as m ãos".

135.7. nu v ens desde os co n fin s da terra. N a obra suméria intitulada Enki e a Ordem do M undo, Ishkur, o deus do clima, abre as portas do céu. Essa era a ma­neira que os mesopotâmicos entendiam a origem das nuvens. Na cosm ologia desse povo, os "confins da terra" referem -se ao horizonte, onde o Sol nascia e se punha, acreditando-se que as portas do céu (por onde o Sol entrava e saía) estavam localizadas ali.135.7. d epósitos de vento. Os cananeus e os babi­lónicos atribuíam as m anifestações de tempestades a Adade, o deus do vento e da tempestade. Entretanto, Jerem ias afirmava que Yahw eh era o único responsá­vel pelos fenômenos atmosféricos e climáticos, segun­do a im agem D ele arm azenando depósitos chuva, saraiva e neve, que eram colocadas em m ovimento pelo vento, presumivelmente instigado por seu sopro (ver tam bém D t 28.12; SI 33.7; Jó 38.2). A palavra traduzida como "depósitos" pode ser usada para refe­rir-se a casas de tesouro onde eram guardados objetos preciosos, bem como armas reais. Granizo, neve, vento, trovão e relâmpagos com freqüência são vistos como armas que Deus usa para derrotar seus inimigos. Igual­m ente, esses reservatórios podiam servir como arma­zéns de cevada, tâmaras, cereais ou dízimos em ge­ral. Do m esm o m odo, Deus recorre aos "produtos" em seu estoque, conforme se faz necessário. Os depó­sitos cósmicos não eram uma figura comum no antigo O riente Próximo.135.11. Seom e Ogue. Essas batalhas estão registradas em Números 21. Seom é mencionado apenas em re­

gistros bíblicos e a arqueologia tem poucas informações a oferecer em relação à sua capital ou ao seu reinado. Também não existem dados extrabíblicos em fontes históricas ou na arqueologia que tragam alguma luz sobre Ogue.135.15-17. ideologia do íd olo. Ver o comentário em115.4-7.136.6. terra estendida sobre os m ares. Na concepção babilónica do cosmo, os fundamentos da terra se firma­vam sobre o que é chamado de apsu. Trata-se de uma região de águas primitivas sob a jurisdição da impor­tante divindade Eriki/Ea. Do ponto de vista da geogra­fia física, essa área representa os lençóis de água que sobem à superfície na form a de, por exemplo, pânta­nos e fontes, bem como às associadas aos mares e rios cósm icos. Em Enum a Elish, um dos nom es de M ar- duque, Agilima, o identifica como aquele que construiu a terra sobre as águas e estabeleceu as regiões superi­ores. Para informações adicionais ver os comentários em Jó 38.4-6, e sobre a criação, consulte as notas introdu­tórias sobre os conceitos básicos dos Salmos.136.19,20. Seom e Ogue. Ver o comentário em 135.11.137.2. salgueiros. O salgueiro é um a árvore do tipo chorão que se desenvolve m elhor à beira de riachos e rio s (com o p or exem p lo o T ig re ou E u frates na Babilônia). O salgueiro do Eufrates era nativo da re­gião e tinha galhos baixos, que chegavam quase até o chão. Para inform ações a respeito de harpas, ver o comentário em 33.2.137.7. ação dos edom itas. O tema principal do Livro de Obadias é um a acusação aos crimes de Edom con­

tra Judá. Essa nação, localizada a sudeste do mar M or­to, tem um a história controversa para com os israelitas. Bastante parecido com o relacionamento entre Esaú e Jacó, fundadores dessas respectivas nações, às vezes Edom era visto como um amigo e aliado (Dt 2.2-6; 2 Rs3.9) e outras, como um inimigo terrível (Nm 20.14-21;

A m 1.11-15). D urante o período dos im périos neo- assírio e neobabilônico (734-586), Edom havia sido uma nação vassala. É provável que a queixa de O badias contra essa nação, bem como essa do salmista, estejam relacionadas à sua participação na destruição final de Jeru salém e no exílio de seu povo, prom ovidos por Nabucodonosor, rei da Babilônia em 587/6 a.C.. Infe­lizmente, porém, os registros históricos não são claros quanto ao papel preciso que Edom desem penhou.139.2-4. onisciência divina no antigo O riente Próxi­m o. N ão era raro no m undo antigo supor que os deuses ou reis fossem oniscientes ou que não houves­se limites ao seu conhecimento. Assim, Nabonido afir­ma ser sábio, onisciente e capaz de ver coisas ocultas (ver 2 Sm 14.19). M as na m aioria dos casos, essas afirmações não passavam de autopromoção. Em bora

não haja razão para ver este salmo à luz dessa infor­m ação, deve-se reconhecer que o contexto é judicial e não se trata de um a abstração teológica. Yahw eh está sendo abordado como o ju iz que tem em mãos todas as informações para ju lgar o caso do salmista de forma sábia e justa. Em um hino a Gula, sua esposa é louva­da como quem "exam ina as alturas do céu e investiga as profundezas do mundo inferior" (Foster). Shamás é louvado como aquele que (por ser o deus-sol) vê toda a terra, conhecendo as intenções e vendo as pegadas dos homens. Era m ais com um , porém, atribuir aos deuses sabedoria ilimitada e não onisciência. 139.8-12. onipresença divina no antigo O riente Pró­

xim o. E difícil distinguir entre "ter acesso a todos os lugares" e "estar sim ultaneam ente em todos os lu­gares". A prim eira idéia é o que se subentende das palavras do salm ista e igualm ente era a regra no antigo Oriente Próximo. Visto que o deus-sol geral­m ente era o deus da ju stiça , e não havia nenhum lugar onde sua luz não brilhasse, ele v ia tudo. Até mesmo o mundo inferior estava patente aos seus olhos, visto que se acreditava que o Sol atravessava esse lugar durante a noite em seu trajeto do ocidente até o oriente, onde novamente nascia no dia seguinte. Como resultado, novam ente aqui o ju iz divino está de posse de todas as informações de que necessita. Nada pode ser feito em segredo. O conceito da divindade estando presente em todos os lugares sim ultaneam ente, da maneira como a onipresença é elaborada na teologia cristã, não existia no antigo Oriente Próximo.139.8. alturas e profundezas. Esse contraste expressa a jurisdição de Deus. Em um a das cartas de Amarna, Tagi, um governante local, reconhece o dom ínio do faraó, afirmando: "Se subirmos até o céu ou descermos até o m undo inferior, nossas cabeças estão em suas

m ãos" (Moran). Igualmente, um hino a Shamás afirma que ninguém "d esce até as profundezas" sem ele.139.9. asas da alvorada. Esse verso pode estar adotan­do a term inologia solar (subindo com a alvorada = leste, se pondo na extremidade do m ar = oeste), mas "alvorada" é igualada com mais freqüência a "estrela da m anhã". Era comum os corpos celestes (ou os deu­ses associados a eles) serem retratados com asas, po­rém, a expressão "asas da alvorada" não ocorre em acadiano.139.13. divindade criando no ventre. Existe um para­lelo egípcio para a idéia da divindade conhecendo o indivíduo antes de seu nascim ento. O deus Am om conhecia Pianki (um monarca egípcio da 25a Dinastia

no oitavo século a.C.), enquanto estava "n a barriga de sua m ãe", onde sabia que seria o governante do Egito. No épico de Gilgam és, o seu papel como rei estava destinado a ele "quando seu cordão umbilical

foi rom pido". Os deuses pessoais são louvados como "criad ores de m inha prole". N abucodonosor louva M ard uque com o aquele que o criou. No Epico de Atrahasis, a deusa M ami é identificada como o ventre, a criadora da humanidade. Na literatura suméria, a deusa Ninhursag (Nintur) é responsável pelo proces­

so de nascimento, desde a concepção até a gestação e o parto, e até mesmo atua como parteira. No Egito, Khnum (um deus criador retratado como um oleiro) é descrito dando forma a pessoas. Ele entrelaça o fluxo de sangue com os ossos que são tecidos desde o início. Fica claro, então, que o salmista não está introduzindo nenhum conceito teológico novo, m as está usando um estoque de expressões familiares no mundo antigo.139.16. escritos no teu livro. Em um Hino a Nabu, o sofredor lamenta: "M inha vida está gasta, ó contabi­lista do U n iv erso " (Foster). U m a carta da antiga Babilônia diz que um destino favorável foi decretado para seu escritor desde que estava no ventre de sua mãe. Em contraste, uma oração hitita de Kantuzilis questiona como o deus poderia ter ordenado sua do­ença (e morte iminente?) ainda no ventre. Para infor­mações sobre o livro da vida, semelhante a esse, ver os comentários em Jerem ias 17.13 e Malaquias 3.16.140.10. castigo com brasas incandescentes. Calar bra­sas em alguém é um a expressão encontrada nos trata­dos de vassalo de Esar-Hadom como um castigo para quem rom pesse o acordo. Outros textos descrevem divindades fazendo chover fogo ou pedras flamejan­tes sobre seus inimigos. Esta é uma punição que vem de Deus e não de outras pessoas.140.10. lançados ao fogo. O fogo era usado como uma forma de execução desde as leis de H amurabi. Na Pér­sia do século quinto (durante o reinado de Dario II fi­lho de Artaxerxes) e no segundo século (2 M acabeus13.4-8), há exemplos de execução em que o condena­do era empurrado para dentro de um recipiente com cinzas.141.7. ossos espalhados à entrada da sepultura. Al­gumas das culturas do antigo Oriente Próximo prati­cavam o segundo sepultamento: primeiro o corpo era depositado (numa caverna, por exemplo) até que a carne fosse decomposta e depois os ossos eram enter­

rados no lugar de descanso definitivo. Até mesmo se um corpo fosse devorado, o enterro adequado seria realizado, desde que fosse possível recolher os ossos. Assim, Assurbanípal fala de punir seus inimigos le­vando seus ossos para longe da Babilônia e espalhan­do-os fora da cidade. Ele tam bém se vangloria de abrir cavernas de antigos reis inimigos e arrastar seus ossos "para infligir perturbação a suas alm as".142. título, na caverna. Durante o período em que Davi fugiu de Saul, ele passou bastante tempo escondido em

cavernas (1 Sm 22-26). O deserto da Judéia, onde ele passou seus anos como fugitivo, possui uma grande quantidade delas espalhadas por toda a região.143.10. conduza-m e por terreno plano. A m aior par­te das estradas do antigo Oriente Próximo não era pa­vimentada (exceto algumas no final do período assírio). Dessa forma, as usadas para o transporte em veículos de rodas (chamadas de "estradas de carros" nos textos de Nuzi) deveriam ser demarcadas, aplainadas e pas­savam por manutenção periódica. Porém , poucos tex­tos descrevem a construção e manutenção. As estradas para o transporte pesado eram raras e acompanhavam as rotas comerciais. Por isso, um rei vassalo queixou- se ao rei de M ari por ter que chegar à capital síria por uma rota alternativa ao longo de um a estrada princi­pal. Os reis assírios raramente se gabavam dessas suas construções, um a vez que elas pareciam ser de respon­sabilidade das populações locais. Em um texto de tra­tado, Esar-Hadom ordena que após a sua sucessão, por seu filho, o vassalo deveria submeter-se a ele e "ap lai­nar seu cam inho em todos os aspectos". Em um hino à deusa Gula, a divindade diz que tom a reto o andar daquele que busca seus caminhos.144.6 ,7 . salvo das águas. Ver os comentários em 18.16 e 30.3.144.9. lira de dez cordas. Trata-se de um instrumento musical típico da época e confirmado em textos, rele­vos e pinturas do antigo O riente Próxim o desde o terceiro m ilênio a.C.. A lira é diferenciada da harpa pelo núm ero de cordas. Ambas eram seguradas nas m ãos através de estruturas feitas de m adeira. Um texto musical, descoberto em Ugarit, lança luz sobre a música da Idade do Bronze Moderna. Esse texto tem as notas a serem tocadas por uma lira acompanhando um hino cultual hurrita.144.12. colunas esculpidas para ornar um palácio. Nomundo antigo, os palácios tinham pátios abertos, sa­lões de audiência e pavilhões com jardins em que figuravam colunas, tanto para dar sustentação à estru­tura como para decoração. Não há confirmação do uso de cariátides (colunas na forma de estátuas humanas) em Israel, que teria poucas estátuas devido à proibi­ção das imagens. Certos tipos de cariátides são confir­mados no Egito, onde, por exemplo, templos mortuá­rios tinham colunas contendo figuras na metade. A palavra usada aqui, porém, parece ter algo a ver com cantos (usada apenas em Zc 9.15). Em Israel, as colu­nas eram esculpidas com belos motivos, ricos em de­talhes, que representavam o nível de sua habilidade artística.147.4. nom e das estrelas. As constelações m esopo- tâmicas incluem figuras de animais como bode (Lira) e serpente (Hidra), objetos como um a flecha (Sírio) e

um carro (U rsa M aior) e p ersonagens com o Anu (Órion). As mais populares eram a Plêiade, retratada freqüentemente em selos até na Palestina e na Síria. Textos neo-assírios preservam esboços de estrelas em

constelações. Para inform ações adicionais, ver o co­m entário em 8.3.148.7. grandes criaturas do oceano (serpentes m ari­nhas). No texto babilónico intitulado Hino a Shamás, o deus-sol recebe louvor e reverência até m esm o das piores criaturas. Incluídos na lista estão os temíveis monstros marinhos. O hino, portanto, sugere a exis­tência de um a submissão total de todas as criaturas a Shamás, assim como a criação do Gênesis por Yahweh. O M ito de Labbu registra a criação da serpente mari­nha, cujo comprimento atingia sessenta léguas.148.14. concedeu poder (levantou um chifre). Ver o comentário sobre "chifre" nas notas introdutórias so­bre metáforas para Deus.149.3. danças. A maior parte das danças atestadas no mundo antigo acontecia em contextos cultuais, embo­ra fontes mesopotâmicas e egípcias ilustrem com fre­qüência dançarinos envolvidos em entretenim ento. As danças relacionadas a festas sagradas provavel­mente se assemelhariam às folclóricas de nossos dias, com m ovim entos coordenados por um grupo. Em outras ocasiões, elas seriam m ais parecidas com as coreografias de balé, onde uma cena ou um drama era representado. Dançarinos individuais geralm en­te executavam giros, agachavam-se, saltavam e pula­vam em acrobacias que se aproximavam da exibição de um ginasta na atualidade. Eles às vezes se apre­sentavam escassamente vestidos ou despidos. Em con­

textos cultuais, os oficiais participantes (i.e. sacerdotes e funcionários do templo) dançavam algumas vezes. Em um ritual hitita, a rainha é incluída num a dança. 1493. tamborim e harpa. Ver o comentário em 150.3-5.

149.6. espada de dois gumes. Trata-se de uma espada com corte dos dois lados da lâmina. N a Idade do Bron­

ze M odem a (época de Josué), a espada padrão era cur­vada como um a foice, ficando a parte cortante do lado externo da lâmina. Esse form ato é considerado o res­ponsável pelo surgimento da expressão "ao fio da es­pada" (por exemplo em Js 6.21). É possível que o ter­mo tenha se mantido, mesmo após sua forma ter evo- luídt) e passado a ser descrita como espada de "d o is gum es". Outros estudiosos sugerem tratar-se de um machado com corte nos dois lados da lâmina, embora

nesse caso, a palavra traduzida como "espada" deve­ria ser entendida em seu sentido m ais am plo como

"lâm ina", uma alternativa difícil (mas não impossível).149.8. grilhões e algem as. Embora os termos usados

aqui não sejam os mais comuns, é provável que estas eram algemas que prendiam as mãos e aqueles eram

grilhões colocados em volta dos tornozelos (como fica claro em 105.18). O ferro era usado para a fabricação

desses itens desde o oitavo século a .C .

150.3-5. instrum entos m usicais. Os instrumentos m u­sicais figuram entre as prim eiras invenções do h o­mem. No Egito, as primeiras flautas datam do quarto

m ilênio a.C.. Várias harpas e liras, bem como um par de flautas de prata, foram encontrados em um cem ité­

rio real de Ur, datando da m etade do terceiro milênio. Esses objetos proporcionavam entretenimento e tam ­bém o ritmo de fundo para danças e rituais, tais como

procissões e dramas cultuais. Além de instrumentos

simples de percussão (tambores e chocalhos), as har­

pas e as liras eram os mais habitualmente usados no antigo Oriente Próxim o. Foram encontrados alguns

desses exemplares em tum bas escavadas e em pintu­ras nas paredes de templos e palácios. São descritos na

literatura como um meio de acalmar o espírito, invo­car os deuses ou proporcionar a cadência para um

exército em marcha. Os músicos tinham suas próprias

guildas e eram muito respeitados.

Os instrumentos musicais descritos neste salmo eram típicos da época e são atestados em textos, relevos e

pinturas do antigo Oriente Próximo desde o terceiro

milênio. Ainda existe certa discordância entre erudi­tos quanto a qual das palavras hebraicas, nessa passa­

gem, deveria ser traduzida como "harpa" e qual como

"lira". O termo que a NVT traduz como "lira" refere- se a um instrumento de dez cordas, enquanto o tradu­

zido por "h arp a", a outro com um núm ero m enor delas. Am bos eram segurados nas m ãos através de

estruturas feitas de madeira. O tamborim foi identifi­cado em relevos arqueológicos como o tam bor, um

pequeno pandeiro (couro esticado sobre um aro) que não tinha o som dos pequenos guizos dos modernos.

O instrumento traduzido como flauta provavelmente refere-se a uma flauta dupla feita de bronze ou junco.

Os cím balos eram feitos de bronze e pertenciam à

classe dos instrumentos de percussão; a única pergun­ta que fica sem resposta é quanto ao seu tamanho.

P R O V É R B I O S

V1.1-9.18 Exortação à sabedoria1.1. Sábios no antigo O riente Próxim o. A tradição de sábios que explanavam a sabedoria das culturas anti­

gas é bastante longa no antigo O riente Próxim o. O estilo empregado em obras sapienciais como O Ensino de Ptá-Hotep e A Instrução de A menem ope sugerem que existiam escolas de sábios no antigo Egito e na Meso-

potâmia. O "sábio" exercia o papel de "p a i" dos estu­dantes, transmitindo a essência da bagagem sapiencial da cultura e servindo como um a fonte de onde se ex­traíam exemplos. O texto Palavras de Ahiqar, da Assíria

(oitavo século) pode indicar que alguns desses sábios tam bém estavam ligados de alguma form a à estrutu­ra administrativa do palácio, talvez como m em bros da classe de escribas. A s "palavras" dos sábios incluíam ensaios sobre procedimento pessoal e etiqueta em di­

versas situações sociais. Seus ditos tam bém incluíam afirmações curtas dando conselho sobre assuntos diplo­m áticos e políticos. D essa m aneira, eles transm itiam

um a form a de m em ória cultural bem como o signifi­cado dos valores básicos de sua sociedade.1.1. Salom ão como sábio. De acordo com 1 Reis 3.7­12, Salom ão pediu e recebeu um "coração sábio e cheio de discernim ento" para governar m elhor seu

povo. A tradição de Salomão como rei sábio é reporta­da no sobrescrito do Livro de Provérbios. As muitas áreas de sua sabedoria são detalhadas em 1 Reis 4.30­33 (ver o comentário nesses versículos).

1.6. categorias sapienciais. Este verso alista três dos muitos tipos de escritos sapienciais. O provérbio ou mashal é um aforismo, uma afirmação curta composta, com freqüência, de frases paralelas. Geralmente tem uma base moral e é sempre de natureza didática. As parábolas são composições mais longas em cuja narra­tiva da história é contada e que exige que os ouvintes assimilem um significado duplo ou implícito (ver os

primeiros dois comentários em 2 Sm 12.1-10). Embora não haja enigmas no Livro de Provérbios, aparente­mente eles eram bastante comuns como form a de jogo ou competição intelectual (ver o comentário sobre o enigm a de Sansão em Jz 14.12-14). O termo para enig­m a usado em Provérbios 1.6 aparece apenas aqui e origina-se de um radical que geralmente é traduzido como "zom bador" ou "cínico". Pode ser uma tentati­va de rebaixar os enigm as da posição de genuínos

ditos de sabedoria. U m a forma m ais longa de literatu­

ra sapiencial encontra-se em Eclesiastes, que inclui tanto uma série de ditados como um trecho de refle­xões sobre as ironias da vida. A m aior categoria de todos os escritos sapienciais da Bíblia Hebraica são os

discursos filosóficos do Livro de Jó. Usando o tema do sofrimento, Jó e seus amigos examinam e até mesmo testam sua compreensão do porquê a dor e o sofri­mento acometem o justo.1.8. in stru ção ao f i lh o . A cham ad a p ara atend er à

instrução dos pais é um a inferência da lei que exorta os filhos a honrar a seu pai e à sua m ãe (Êx 20.12). A

sabedoria das m ães, que geralm ente eram as prim ei­ras professoras de uma criança, é igualada à dos pais. Esse provérbio contrasta com afirmações semelhantes

do Ensino de Ptá-H otep e Palavras de A hiqar que m en­cionam um filho atentando para as palavras de seu "p a i". Em cada um desses casos, o termo "filh o" pode

também ser entendido como aquele que recebe o ensi­namento, nem sem pre exigindo laços sangüíneos. Os estudantes m em orizavam os provérbios e as com pa­

rações de seus professores, m as eram considerados sábios aqueles que aplicavam o que tinha aprendido

(ver Os 14.9). A omissão da referência às "filhas" reflete a realid ad e de que os filh os da realeza geralm ente recebiam instrução form al, enquanto as filhas não.1.9. enfeite e adorno. As palavras do pai e da mãe, que personificam a sabedoria da sociedade, podem tom ar-se um enfeite para a cabeça e um adorno para o pescoço do filho. Assim como o campeão era adorna­do com um a grinalda ou coroa de louros, simbolizan­do a vitória, e um oficial recém-nomeado recebia as vestes e o colar de seu ofício, da m esma forma o filho obediente recebe a garantia de prosperidade e uma vida estável (ver Pv 4.1-6). Segundo Ptá-Hotep: "O sábio segue o conselho de seu m estre [e] conseqüente­mente seus projetos não fracassam ". Na literatura egíp­cia, M aat, a deusa associada à sabedoria, à verdade e à justiça, dá uma grinalda de vitória aos deuses e é representada com um a corrente ao redor do pescoço

de vários oficiais.2.18. cam inhos que levam às som bras (ou aos esp íri­tos dos mortos). A literatura do antigo Oriente Próxi­mo apresenta diversos exemplos dos tipos de pros- postas abordadas aqui. No épico de Gilgamés, a deu­sa Istar impressionada pela coragem demonstrada por

Gilgamés quando derrota o terrível Huwawa, lhe ofe­rece a oportunidade de tom ar-se seu esposo. Apesar dos m uitos benefícios citados por ela, Gilgamés deta­lha a vida no m undo inferior que seria o resultado inevitável de sua sedução. Igualmente, no texto uga- rítico Lenda de Aqhat, a deusa Anat oferece a Aqhat ouro, prata e vida eterna em troca de seu arco maravi­lhoso. Tal como Gilgamés, Aqhat enxerga a mentira e discursa sobre a inevitabilidade da morte. U m caso com um a adúltera é m encionado em diversas obras sapienciais como um a das m aneiras m ais certas de uma morte precoce (.Ankhsheshonqy diz: "U m homem que faz amor com uma mulher casada será executado na soleira de sua porta"; ver também Pv 6.25, 26). Os perigos envolvidos tam bém rem etem ao destino do consorte da deusa sum éria Istar, Tam m uz, que foi forçado a viver m etade do ano no m undo inferior com o preço do resgate pela libertação de Istar das regiões inferiores. O m undo de trevas onde os espíri­tos habitavam era um lugar extremamente indesejá­vel. De acordo com o épico de Gilgamés, a "C asa do P ó" não tinha luz, os m ortos eram "vestid os como pássaros", e "o pó [era] sua alimentação e o barro, sua com ida". Ainda assim, parece que os espíritos podi­am ser consultados pelos vivos (ver 1 Sm 28.11-15).3.3. prenda-os ao redor do seu pescoço. V er o comen­tário em Deuteronôm io 6.8 para o uso de amuletos que serviam de lembretes da Lei e como uma forma

de proteção contra o mal. O uso do termo da aliança hesed para "am or" neste versículo tam bém pode ser comparado ao seu uso em Jerem ias 31.3, em que Deus "atrai" para si a nação com "am or leal".3.3. tábua do coração. É razoável pensar que o escritor esteja se referindo a uma prática de usar um pequeno tablete de argila com o um am uleto (com pare com o

cordão e o selo de Judá, em Gn 38.18). Porém, conside­rando-se o paralelo com Jerem ias 31.33, é mais prová­vel que o escritor esteja fazend o m enção à interna- lização da lei de Deus escrita em "seus corações".

3.6. endireitar as veredas. Em um texto de tratado, Esar-Hadom ordena que quando seu filho o sucedesse o vassalo deveria subm eter-se a ele e "aplainar seu caminho em todos os aspectos". Em um hino à deusa Gula, a divindade diz que torna reto o andar daquele que busca seus caminhos.3.15. m ais preciosa do que ru b is . Em bora rubis e safiras sejam formas do mineral coríndon, que consis­te prim ordialm ente de óxido de alum ínio, os rubis são muito m ais raros e, portanto, seu valor é conside­rado maior. O sábio egípcio Ptá-Hotep também com­para a verdadeira sabedoria a pedras preciosas (es­m eraldas), acrescentando peso a tais analogias. Os diamantes não eram conhecidos no m undo antigo.3.18. árvore que dá vida. O tema da árvore da vida é comum nos épicos e na arte do antigo Oriente Próxi­mo. No épico de Gilgamés, há uma planta chamada "hom em velho fica jovem " que cresce no fundo do rio cósmico. Árvores estilizadas com freqüência figuram com destaque na arte do antigo Oriente Próximo e em selos da Mesopotâmia e de Canaã. Essas árvores têm sido interpretadas como ilustrações da árvore da vida, m as seria necessário mais base em fontes escritas para confirmar tal interpretação. A árvore é transformada em Provérbios em uma imagem de sabedoria. Como em Provérbios 11.30, a sabedoria, personificada na

m etáfora da "árvore de vid a", é a chave para uma vida m ais realizada, completa e melhor. A idéia de "abraçar" a sabedoria envolve um a conotação sexual em diversas passagens de Provérbios (8.17; 18.22) e pode ser comparada à m ulher de valor em 31.10 em contraste com a "insensata" e a "m ulher imoral" (9.13­18 e 5.3-14, respectivamente). O sentido de fertilidade e prazer inerentes a um bom casam ento e a um a árvore florescendo é, pois, apresentado como um alvo desejável.3.19, 20. linguagem da cosm ologia do m undo anti­go. Com o no Salm o 104 .2 -9 , P ro v érb io s d eta lh a Yahw eh como o S e n h o r da criação, algo semelhante a

PROVÉRBIOS NO ANTIGO ORIENTE PRÓXIMO

Diversas obras da literatura sapiencial do Egito e da Mesopotâmia contêm paralelos (lingüísticos, estilísticos e de conteúdo)

com o Livro de Provérbios. Do antigo Egito esses paralelos encontram-se (em ordem cronológica) nos textos O Ensino de Ptá-

Hotep (c. 2500 a.C.), a Lenda do Camponês Eloqüente (c. 2000 a.C.), a Instrução de Amenemope (c. 1200 a.C.) e a Instrução de

Anksheshonqy (c. 200 a.C.). Também há alguma repercussão dos provérbios na Teologia Menfita da Criação (c. 2200 a.C.) e na

Disputa sobre o Suicídio (c. 2000 a.C.). Ditados proverbiais semelhantes também podem ser encontrados no texto assírio

Palavras de Ahiqar (c. 700 a.C.) e nos épicos ugaríticos de Baal e Anat e de Aqhat (c. 1400 a.C.). A maioria das semelhanças entre

essas obras da literatura sapiencial pode ser atribuída à universalidade dos ditados e provérbios sapienciais e à prática

bastante comum de emprestar expressões, imagens, figuras de linguagem, provérbios e até mesmo parábolas ou histórias

inteiras. Eis aqui alguns exemplos:

• Provérbios 1.12 descreve a sepultura como uma boca que engole suas vítimas, e essa mesma figura de linguagem

aparece no épico de Baal e Anat, onde o deus da morte, Mot, é descrito "devorando sua presa", comendo-a com "ambas

as m ãos".

um "arquiteto divino" que dá form a ao cosmo como a um prédio bem construído (compare com Jó 38.4-7).

Uma dimensão extra é acrescentada nesses versos atra­vés da im agem de Deus personificado como "Sabedo­

ria" (ver SI 104.24 e Jr 10.12). Se o desejo"de uma

divindade pode ser igualado à sabedoria, então o H ino a Aten expressa um conceito sem elhante, pelo

que diz: "T u criaste o mundo de acordo com teu dese­

jo, estando ainda sozinho!". De acordo com os sábios, o ato criativo, a fim de demonstrar completamente a

presença e o cuidado de D eus, é acom panhado da

m anutenção perm anente das estruturas que susten­tam os céus e a terra. A palavra hebraica para "fontes

profundas" é tehom, que se refere ao oceano cósmico

primevo. N o épico babilónico da criação, Enutm Elish, a deusa que representa esse oceano cósmico, Tiamat,

é dividida na metade por M arduque a fim de formar

as águas superiores e as inferiores.4.9. diadema/coroa. A im agem de um a festa de casa­

mento ganha significado com a entrega de símbolos

tradicionais de união pela noiva (sabedoria) ao seu protegido (noivo). N esse caso, o símbolo do casamen­

to, ou seja, a coroa de esplendor (ver Is 61.10) poderia ser com parado às vestes n upciais perfum adas de

Cântico dos Cânticos 4.11. No sentido metafórico tam ­

bém poderia ser equiparado a Isaías 28.5, onde Deus

passa a ser um a "coroa gloriosa, um belo diadem a" para os israelitas.

4.23. coração como fonte da vida. No antigo Oriente

Próximo, o coração era tradicionalmente considerado a sede do intelecto (ver Pv 14.33) e a fonte da estabi­

lidade para quem quisesse seguir um a vida ju sta e

sábia (ver o pedido de Salom ão em 1 Rs 3.5-9). No pensamento religioso egípcio, o coração (ib) era dis­

tinguido da alma (ba) e considerado a própria essência

da pessoa. O ele era pesado na balança da verdade quando um a pessoa m orta era julgada pelos deuses

Anubis e Thot. O Livro dos Mortos apresenta feitiços

para proteger e fortalecer o coração como um preparo para essa provação final.

5.3. adultério no antigo O riente Próxim o. Ter rela­ções sexuais com a mulher de outro homem era um crime passível de morte tanto pelas leis bíblicas quan­to pelos códigos do antigo Oriente Próximo. O texto egípcio Lenda dos Dois Irm ãos cham a o adultério de "grande crim e" que não deveria sequer ser cogitado por um hom em ou uma m ulher honestos. Era uma violência à casa de um homem visto que roubava seu direito de procriar e colocava em risco a transmissão ordeira de sua propriedade a seus herdeiros (ver o comentário em Êx 20.14). O ato em si tornava ambos os envolvidos im puros (Lv 18.20). Visto que não se tratava apenas de um a violência à santidade da famí­lia, m as tam bém de um a fonte de contam inação, o adultério foi m otivo para D eus expulsar o povo da terra (Lv 18.24, 25). A obra egípcia Instrução de Any (metade do segundo milênio) contém um parágrafo que alerta para tom ar cuidado com a m ulher estranha que está longe de seu marido tentando seduzir.6.1. fiador e penhores. A expressão usada aqui, e os paralelos em 11.15 e 17.18, m ostram uma aversão a algumas práticas comuns de negócios, inclusive co­brar juros de empréstimos e fazer penhores no caso de

contração de dívidas. As Leis de Esnuna e o Código de Hamurabi descrevem em detalhes as regras apli­cadas a esses negócios e as conseqüências do confisco. O peso que uma dívida exercia sobre um individual é claramente retratado na afirmação do sábio assírio Ahiqar: "A rrastei areia e carreguei sal, m as nada é mais pesado do que uma dívida". Provérbios, portan­to, admoesta a saldar suas próprias dívidas, não so­brecarregar outros cobrando juros de empréstimos e não tornar-se fiador que, por sua vez, pode perder tudo por causa de maus pagadores (ver Pv 22.26, 27).6.6. com portam ento da form iga. A observação das criaturas da natureza proporciona bons e maus exem­plos de comportamento. A formiga é declarada como

• Provérbios 6.23-29 e 7.24-27 admoestam o filho a dominar seu desejo por mulheres que o levarão à ruína, de forma bastante semelhante ao alerta de Ptá-Hotep de que deve-se "ficar longe das mulheres da casa" e "manter a mente nos negócios".

• Provérbios 16.8 e 21.9 oferece exemplos de ditados "melhor isso do que aquilo" encontrados também na Instrução deAnkhsheshonqy "melhor habitar em sua própria casa do que na mansão de outra pessoa" e na Instrução de Amenemope,"melhor é um único pão e um coração alegre do que todas as riquezas do mundo e tristeza".

• A progressão encontrada em Provérbios 6.16-19 "Há seis coisas que o S e n h o r odeia, sete coisas que ele detesta" também é usada por Ahiqar: "dois tipos de pessoas são um deleite, um terceiro tipo agrada a Shamás".

• A esposa exemplar descrita em Provérbios 31.27-31 também é exaltada por Ptá-Hotep, assim como o filho que estádisposto a dar ouvidos a seu pai (ver Pv 2.1-5).

• Os "Ditados do Sábio" que aparecem em Provérbios 22.17-24.22 encontram um modelo estrutural na Instrução de Amenemope. Ambos contêm uma introdução geral seguida de trinta ditados com conselhos bastante parecidos sobre uma variedade de temas. Por exemplo, tanto Amenemope quanto Provérbios 22.22 proíbem a exploração do pobre e do necessitado e tanto o sábio egípcio como Provérbios 23.10 aconselham a não mudar de lugar os marcos de uma propriedade para que "sua consciência não o destrua".

o exemplo máximo de trabalho duro e precaução (com­pare com Pv 30.25), armazenando alimento para en­frentar o futuro. Outro aspecto de sua natureza pode ser visto num a carta do arquivo de El Am arna que afirm a que a formiga, apesar de seu tam anho, está

pronta a se defender quando é provocada.6.21. am arrar ao coração, atar ao redor do pescoço. Essa afirm ação introdutória, com o em 3.1-3 e 7.1-3, compara a importância dos provérbios de sabedoria a um objeto concreto como o amuleto perpétuo que ser­via de lem brete das leis. Da m esm a form a, o m an­damento ("shem a") de Deuteronômio 6.6-9 devia ser am arrado "com o um sinal nos braços" e preso "n a testa". Ver o comentário em Deuteronômio 6.8 a respei­to do uso do amuleto, usado ao redor do pescoço, perto do coração, para proteger a pessoa do mal.7.3. amarrar aos dedos. Ver os comentários em 3.3 e6 .21 .

7 .8 ,1 2 . esquina. Textos babilónicos falam de peque­nos santuários ou nichos ao ar livre em esquinas ou pátios da cidade. Um texto diz que havia 180 desses santu ários dedicados à deusa Istar, na cidade de Babilônia. T inham um a estrutura elevada com um altar no topo e pareciam ser freqüentados principal­mente por mulheres. Nesse sentido, a palavra "esqui­n a" pode referir-se essencialmente a um nicho cultual.7.13. descaradam ente. Com pare com a postura e a atitude da "prostituta descarada" em Ezequiel 16.30. O termo hebraico traduzido aqui como "descarada­m ente" com mais freqüência é traduzido como "forte" ou "fero z " (ver D t 8.23), m as tam bém pode ter a conotação de "im pudente" como em Eclesiastes 8.1. Esta última tradução encaixa-se ao contexto da adúlte­ra que fica à espera de suas vítim as e com toda a

desenvoltura as convida a entrar em seus aposentos

perfumados. Também pode ser comparada à esposa

do Código de Hamurabi que "não é séria" e "afronta seu marido".

7.16. lin h o colorido (N V I: fin o) do Egito. U m dosm ais importantes produtos do Egito era o linho (ver

Ez 27.7). Textos reais e pessoais fazem menção à pro­

dução desse tecido e ao seu uso como mercadoria para

troca ou escambo. Um texto da 11a Dinastia (Primeiro

Período Intermediário) descreve como um agricultor

usava tecidos de linho colhido em sua terra para pa­

gar o aluguel. O tecido colorido representava um pas­

so além no processo de manufatura, por isso era mais

caro. No caso da adúltera era usado como um sinal de riqueza e um atrativo a mais para seduzir alguém a

entrar em seu quarto.

7.17. cama perfum ada. Além das cobertas de linho, a

adúltera usa fragrâncias estrangeiras para transfor­

mar seus aposentos em um a armadilha exótica e dese­jável. Os perfum es (mirra, incenso e aloés - ver Ct

3.6; 4.14) viajavam até a Palestina em caravanas da

índia e do deserto da Arábia subindo pela costa do

m ar Vermelho. Jarros de perfum e foram escavados em m uitos lugares do -Oriente Próximo. A produção

de especiarias e perfum es é ilustrada em pinturas de

túmulos egípcios, mas grande parte dos detalhes des­ses antigos processos perdeu-se.

7.23. flech a atravessando o fígado. Pinturas de tú­

mulos egípcios muitas vezes ilustram o nobre falecido

caçando nos pântanos. Batedores assustam os pássaros

na perseguição e em sua fuga amedrontada uma sa­

raivada de flechas inesperadamente vai ao seu encon­

tro. O caráter ingênuo da vítim a da adúltera sugere

essa m esma atitude de desatenção ou esquecimento

ao perigo real que enfrenta. O fígado era considerado

COMO OS PROVÉRBIOS ERAM USADOSComo acontece em conversas atuais, os provérbios nos tempos antigos funcionavam como um meio coloquial de apresentar um raciocínio ou ponto de vista. Assim, visto que hoje são considerados sabedoria antiga, isso deve ser levado seriamente em conta (ver 1 Sm 24.13). Portanto, quando o provérbio "Quem guarda, tem" é citado hoje em dia, o falante está defendendo a sabedoria da precaução na vida pessoal. Do mesmo modo, quando Ezequiel cita o provérbio "tal mãe, tal filha" (Ez 16.44), ele está condenando Jerusalém por seguir as pisadas de sua "m ãe" Samaria (compare com Jr 3.6-11 a respeito desse tema, mas com o uso de "irm ãs" como o termo de parentesco). Ezequiel também usou provérbios para apontar mudanças na política ou no destino de Israel. Por exemplo, em Ezequiel 18.2, 3, o profeta cita um provérbio que na superfície simplesmente reconhece o fato de que uma pessoa que vê outra comendo algo a z ed o vai experimentar uma sensação parecida. Em Israel, porém, esse provérbio era usado para indicar o conceito legal de responsabilidade coletiva em que um filho era considerado responsável pelos pecados de seu pai (ver Êx 20.5). Ezequiel, entretanto, afirma que ninguém será punido pelo pecado de outro, mas apenas pelos seus próprios erros, e assim, afirma que esse provérbio "não mais seria citado em Israel".

Naturalmente, um provérbio é útil apenas no contexto em que é proferido. Por isso, o escritor de Provérbios observa que "como pendem inúteis as pernas do coxo, assim é o provérbio na boca do tolo" (Pv 26.7). Esse era um ditado comum em outros textos sapienciais. Por exemplo, a Instrução áe Ankhsheshonqy alerta que "tolos não sabem a diferença entre um insulto e um ensinamento" e a Instrução de Amenemope afirma que não se deve "tom ar conselho com tolos", visto que suas palavras "sopram como uma tempestade" e são vazias. É claro então, que os provérbios não eram meramente expressões memoriza­das que qualquer um podia entender. O ensino neles implícito precisava ser exposto e explicado por um sábio professor. É como o currículo de uma disciplina que presume a presença do professor para que seus objetivos sejam atingidos.

um dos órgãos m ais vitais, por isso é m encionado

como o alvo.

8.11. ru bi como a pedra m ais preciosa. Ver o comen­

tário em 3.15.8.22-29. sabed oria p ré-existen te ao cosm o. Assim

como o Evangelho de João começa com a afirmação

"N o princípio era aquele que é a Palavra", aqui o(s)

autor(es) de Provérbios afirm a(m ) que a sabedoria

foi a primeira criação de Deus, existente com Ele des­

de o início dos tem pos. A sabedoria está presente

durante a criação de tudo m ais que há no Universo.

Assim como o M aat egípcio, descrito como acompa­

nhante do deus-sol criador, Rá, a sabedoria parece

ser a mensageira de Yahweh, o mais antigo ser cria­

do. É possível que tam bém haja relações entre essa

visão da sabedoria e o mito babilónico da criação ou

a ilustração ugarítica de El, mas não é possível esta­

belecê-las com clareza.

8.30. sabedoria como arquiteto. R. M urphy acertada-

mente relacionou esse versículo ao uso do "E u Sou"

em Êxodo 3.14 como um a referência a Deus, o Cria­

dor. Se o papel da sabedoria é servir a Deus como

"arquiteto" ou espírito da criatividade, então esse é

um paralelo adequado da im agem encontrada em

Provérbios 3.19. Se, por outro lado, a sabedoria é uma

"criancinha" (algumas traduções preferem essa figu­

ra alternativa) brincando aos pés de Deus, ainda há

um sentido de "prazer" em estar na presença de Deus

e compartilhar a emoção-da criação emergente numa

época quando não havia outras preocupações. Maat,

em textos egípcios, também é descrito como "filho dos

deuses", que os delicia brincando. Tam bém existem

inúmeros exemplos de atos criativos, tais como o de

M ard uque, dando form a aos hum anos, no ép ico

babilónico Enuma Elish, e a descrição da competição

entre N intu-M ami e Ea-Enki para criar humanos da

argila no Épico babilónico de Atrahasis. Nos textos egípcios de Mênfis, que relatam a criação, a divinda­

de criadora, Ptá, é retratada como o arquiteto envolvi­do no trabalho criativo. Além disso, a literatura aca-

diana fala dos sete grandes "arquitetos" que são os

antigos sábios que vieram após o dilúvio levando

sabedoria aos primeiros reis.

9.1. sete colunas da casa da sabedoria. Muitas teorias foram elaboradas para explicar o significado das sete

colunas da morada da sabedoria. Dentre elas estão: o

firmamento dos céus, os planetas, os dias da criação,

os Livros da lei e os sete sábios da antiga Mesopotâmia.

E, ainda, o épico ugarítico de Baal e A nat contém uma

referência ao lugar da habitação do grande deus El. O

texto diz que ele habita "nos sete aposentos da sabe­

doria, os oito salões do ju lgam ento". A sugestão de

Murphy, de que o Livro de Provérbios e seus capítu­

los formam a casa da sabedoria, também é atraente.

No lamento sumério por Eridu, Eanna, o templo de

Enki (o deus da sabedoria) é descrito contendo sete

nichos e sete chamas.

9.3. significado do ponto m ais alto da cidade. A sa­

bedoria clama à porta da cidade em 8.3, o lugar onde

se faziam pronunciamentos públicos. Mas o "ponto

mais alto" geralmente é comparado ao templo ou ao

palácio que ocupa a acrópole de um lugar. O signifi­cado do convite ao estudo, à sabedoria e à ju stiça

também se encontra em Isaías 2.2, onde o templo do

Senhor em Jerusalém serve como o ponto alto que

atrai adoradores e "todas as nações" para aquele lu­

gar (ver tam bém M q 4.1). As boas notícias que de­

vem ser proclam adas aos exilados de volta à terra

natal, em Isaías 40.9, tam bém devem ser gritadas de

um "alto m onte".

PROVÉRBIOS COMO VERDADES GENERALIZADASEmbora haja uma universalidade na sabedoria do Livro de Provérbios, muitos desses ditados e provérbios representam o bom senso coletivo do antigo Oriente Próximo e suas culturas naquela época. Entretanto, deve-se também entender que afirmações do tipo "obedeça aos meus mandamentos, e você terá vida" (Pv 7.2) e "o S e n h o r não deixa o justo passar fome" (10.3) não são promessas explícitas ou verdades universais. Os valores expressos no mundo bíblico não necessariamente se traduzem perfeitamente em nosso mundo moderno. Além do mais, existe a realidade concreta da pobreza, da necessidade e da carência que não são evidências de ausência de justiça, mas meramente uma expressão de problemas econômicos e feridas sociais.

Logo, o que se entende como verdade em provérbios modernos também deveria ser entendido como característica dos provérbios antigos (bíblicos ou de outras fontes). Eles não representam a verdade absoluta, mas perspectivas verdadeiras sobre as circunstâncias da vida. "Deus ajuda a quem cedo madruga" não é uma promessa ou uma garantia. Essa caracte­rística dos provérbios é demonstrada nos provérbios bíblicos no fato de que soluções opostas podem ser oferecidas ao mesmo problema. Provérbios 26.4 aconselha a não responder a um tolo de acordo com sua tolice, enquanto o versículo seguinte exorta a responder a um tolo de acordo com sua tolice. O fato é que existem situações em que o versículo 4 será apropriado e também situações em que o versículo 5 será mais adequado. O conselho a ser seguido, muitas vezes, depende da situação, e uma pessoa sábia descobrirá que atitude tomar. Nossos provérbios modernos apresentam uma tendência semelhante de idéias "contraditórias", por exemplo, "Quem tudo quer tudo perde", mas "Quem busca, sempre alcança" ou "Diga-me com quem andas e eu te direi quem és", mas "Os opostos se atraem".

10 .1 - 22.16Provérbios de Salomão10.6. princípio da retribuição. A comparação entre o tolo e o sábio é um tema comum na literatura sapiencial do antigo Oriente Próximo. Um a das tarefas da sabe­doria é assegurar as pessoas de que o m al e a tolice não serão recompensados. Por isso, nos ensinos egíp­cios de Ptá-Hotep (c. século 25 a.C.), o sábio expressa a atitude correta sobre o trabalho: "O sábio se levanta cedo para começar a trabalhar, mas o tolo se levanta cedo para preocupar-se com tudo o que tem para fa­zer". A habilidade de ser bem-sucedido na sociedade sem causar mal ou perturbação é descrita em um ditado pelo sábio egípcio Amenemope (c. século onzea.C.): "A s palavras do tolo são m ais perigosas que os ventos tempestuosos em m ar aberto". Outro mestre egípcio, Ankhsheshonqy (c. oitavo século a.C.), ob­serva que "o sábio busca fazer amigos e o tolo, inim i­go s". Em cada um a dessas afirm ações, a tradição sapiencial deixa claro que existe um princípio de re­tribuição operando no Universo que equilibra o mal causado por palavras e ações impensadas com as pala­

vras e ações benéficas do sábio ou justo. Para uma abordagem geral sobre o princípio da retribuição, consulte as notas em Jó 4, os com entários sobre os conceitos básicos de Salmos e ainda a introdução aos

Livros poéticos e literatura sapiencial.10.10. p isca m aliciosam ente. A palavra "m aliciosa­m ente" é interpretativa, e as outras ocorrências dessa expressão incluem ambos os olhos, de m odo que é improvável que se trate de piscar. Uma alternativa é sugerida pelos presságios acadianos sapienciais que contêm um a série de presságios relacionados aos olhos. U m deles afirma que se uma pessoa fecha os olhos, o que está prestes a dizer é falsidade. Não se sabe ao certo se essa afirmação refere-se ao ato de piscar com certa freqüência ou a m anter os olhos fechados en­quanto fala. Esse mesmo conceito é expresso em 16.30.10.11. fon te de vida. Com o afirm a o sábio egípcio Amenemope, a vida abundante encontra-se nas ações e palavras sábias, mas "o tolo que fala publicamente no tem plo é como um a árvore plantada dentro de casa" que seca e morre por falta de luz e é queimada ou jogada fora como lixo. Por outro lado, o "sábio discreto é como uma árvore plantada em um jardim ", que dá fruto doce, proporciona sombra e floresce "no jardim para sem pre".

11.1. balanças desonestas. A prática de usar "balan­ças desonestas" era um a tentação para comerciantes e banqueiros. Pela autoridade civil do Estado, o código babilónico de leis (código de Ham urabi) procurava inibir essa prática ilegal ameaçando o banqueiro cor­rupto com o confisco de seu negócio. No contexto da

exortação sapiencial, porém, as pessoas são encora­jadas a empenhar-se por ter um comportamento cor­reto. Por isso, o "cam ponês eloqüente" da literatura sapiencial egípcia aconselha o rei e seus oficiais sobre o perigo que existe quando "as pessoas com autorida­de para dar medidas inteiras lesam o povo com m edi­das incom pletas". Fica implícito que o rei terá a sabe­doria de elim inar tais práticas maléficas. Ver os co­m entários em Amós 8.5, 6 acerca das práticas deso­nestas nos negócios durante o oitavo século em Israel.11.15. fiador e penhor. Ver o comentário em 6.1.11.30. árvore de vida. V er o comentário em 3.18.13.12. árvore de vida. Ver o comentário em 3.18.13.24. disciplina dos filh os no m undo antigo. Havia uma verdadeira preocupação nos antigos escritos le­gais (ver o código de leis sumérias e Ex 20.12) e sapien­ciais de ensinar os filhos a honrar e obedecer a seus pais. Por exemplo, o sábio assírio Ahiqar, na m áxima já bastante conhecida, afirm a que "poupar a vara é estragar o filh o". Ele tam bém observa que pessoas "qu e não honram o nome de seus pais são amaldiço­adas por Shamás, o deus da justiça". A responsabili­dade dos pais para com seus filhos tam bém é uma preocupação que fica evidente no texto egípcio Instru­ção de Ankhsheshonqy : "O s filhos de tolos vagueiam pelas ruas, m as os filhos dos sábios estão ao lado de seus pais" (compare com a legislação relacionada ao filho rebelde em D t 21.18-21).14.19. inclinar-se às portas. Nesse contexto, "portas" refere-se às portas da casa do justo, não às portas da cidade (compare com a submissão demonstrada pelos servos do rei, às portas do palácio, em Ester 3.2). N esse sentido, portanto, o paralelism o do versículo mostra que os m alfeitores serão forçados a demonstrar subserviência ao justo, tom ando-se seus servos. Um caso semelhante em que o devido respeito é cobrado

daqueles que anteriormente não faziam caso de seus "novos senhores" encontra-se na predição de Moisés, em Êxodo 11.8, de que os oficiais egípcios "se curva­rão diante de m im ".15.4. árvore de vida. Ver o comentário em Provérbios3.18.15.25. lim ites da propriedade da viúva. A remoção de um marco era considerada uma violação da alian­ça, visto que a terra era parte da herança do povo (ver D t 19.14). Em textos rituais babilónicos uma doença é explicada como o resultado da violação do tabu de estabelecer um marco de divisa falso. O Livro dos Mortos egípcio inclui a retratação daquele que remo­veu o marco de divisa de um vizinho. Para tom ar o crime ainda maior, a viúva vivia sem a proteção legal normal do marido e podia facilmente ser enganada. Por isso, o provérbio fala contra infringir seus direi­

tos. U m paralelo a essa determinação encontra-se nos

ensinos de Amenemope: "N ão invada os campos da

v iú va".16.10. re i com o oráculo. A s palavras de um rei ti­

nham mais peso do que as de um cidadão comum.

Isso aumentava a responsabilidade dos monarcas, uma vez que, como A hiqar observa, as palavras dos gover­

nantes "são espadas de dois gum es". Poucos ou ne­nhum ousava desafiar as palavras de um rei, portan­

to, como porta-voz da nação e do(s) deus(es), o gover­

nante não devia infringir os direitos do povo ou per­

mitir a injustiça. Como o camponês eloqüente diz a seu faraó: "T u és m eu senhor, m inha últim a esperan­

ça, m eu único ju iz".

16.11. b a lan ças e p esos . V er o com entário em 11.1. O bserve tam bém a afirm ação contida no Livro dos

M ortos em que a alm a preste a ser julgada pelos deu­

ses na vida do além inclui em seu "juram ento de ino­cência" não ter "usado falsas m edidas para balanças".

16.33. sorte. Ver o comentário em 1 Samuel 14.40-43

acerca do uso de sortes como m eio de tomada de deci­são. Lançar sortes era uma forma de adivinhação em

que supunha-se que Deus determinaria o resultado,

providenciando assim a resposta (geralmente sim ou

não) à pergunta apresentada.17.3. re fin o de m etais preciosos. O ouro e a prata

podem ser refinados em um cadinho de grafite. O

ponto de fundição do ouro se dá a uma temperatura de 917,6 graus centígrados e a prata, 773,5 graus cen­

tígrados. U m acréscim o de 159 graus é necessário para perm itir que o m etal seja despejado sem esfriar e

não aqueça tanto a ponto de form ar uma estrutura

cristalina destrutiva ou dissipar a escória, antes que o

metal se resfrie. Também é importante evitar a infil­tração de oxigênio o máximo possível durante o pro­

cesso de fundição, a fim de que a estrutura do metal não se tom e porosa. O processo de refino exige técnica

e um conhecimento profundo das ferram entas e dos

metais envolvidos. Por isso, é um a metáfora apropri­ada para o coração provado por Deus (compare com a

"pesagem do coração" no julgam ento da alma na tra­

dição religiosa egípcia).17.18. fiador e penhor. Ver o comentário em 6.1.18.18. lançar sortes para resolver contendas. Ver os

comentários em 1 Sam uel 14.40-43 a respeito do uso

de sorteios para determinar a verdade em uma situa­ção. De um lado, lançar sortes era uma prática usada

quando uma decisão aleatória precisava ser tomada (como nós costumamos tirar um palito ou jogar uma

moeda - cara ou coroa). Por outro lado, apesar disso, acreditava-se que D eus controlava o resultado (ver

16.33).

19.12. re i com o leão. A literatura acadiana desde o

terceiro milênio a.C. descrevia um rei (Sargão) como

um leão que rugia.20.8. p ap el do re i. O papel tradicional do rei era promover a justiça em seu trono (compare o comentá­

rio em 2 Sm 15.2-6, onde surgem problemas quando

o rei D avi fracassa em sua responsabilidade como juiz, com o comentário sobre o papel de Salomão como

rei sábio em 1 Rs 3.16-28). Em bora a afirmação de que

a justiça é "um a dádiva dos deuses" seja feita repeti­das vezes nos ensinos de Amenemope, fica implícito

que o rei, representante dos deuses, deve divulgar e executar a vontade deles na Terra. Por isso, Ahiqar, o

sábio assírio, pode afirmar que "a língua do governante

é gentil, m as é capaz de quebrar os ossos de um

dragão".20.16. penhor a m ulher leviana. A lei acerca de tomar

uma veste como penhor de um a dívida encontra-se

em Êxodo 22.26, 27 e Deuteronômio 24.10-13 (ver os

comentários ali). O abuso dessa lei é mencionado em

Am ós 2.8 e na inscrição de Iavné Yam. Ambas dizem respeito a como se deve tratar o próximo. Esse provér­

bio lida com aqueles cuja reputação é desconhecida ou

questionável. Serve como uma admoestação ao credor

para que não seja clem ente de form a tola, correndo assim o risco de perder seu investim ento (compare

com Pv 27.13).20.23. pesos e balanças. V er o comentário em 11.1.

20.26. roda de debulhar. Ver o comentário em Isaías

28.28 para uma descrição da pá de debulhar presa a

rodas. Esse tipo de trilhadeira ('ôpan 'agalàh) desprovi­

da de pedras e dentes de metal encontrados no morag

(sledge de plataforma) não estragava tanto os cereais e, portanto, o trabalho de separar a palha do cereal

podia ser feito no processo de joeira.21.2. pesar o coração. Na tradição religiosa egípcia o morto tinha de passar por um julgam ento final diante

dos deuses. Thoth, o deus escriba, registrava as res­postas do examinado, enquanto o coração da pessoa

era pesado em um a balança de duas bandejas onde do lado oposto era colocada uma pena, simbolizando

a verdade. Se as respostas estivessem corretas e o coração não ultrapassasse o peso da pena, então a

alma poderia entrar no reino de Osíris e viver para sempre. M as se não passasse no teste, seria extinta, visto que um deus demoníaco, Sebek, na form a de

um crocodilo, consumia a alma. Os Textos da Pirâmi­

de e o Livro dos M ortos continham feitiços e uma lista de respostas corretas para dar durante esse "exam e

final". O pensamento israelita tomou emprestada essa

imagem, retratando Deus pesando o "coração", a sede do intelecto e, portanto, das tomadas de decisões, a

fim de determinar a capacidade da pessoa em fazer o bem ou o mal (ver Ec 3.17; Jr 20.12).21.9. canto sob o telhado. Os ditados "m elhor isto do que aquilo" apresentam um a idéia contrastante ou

oposta preferível em relação a algo ruim ou desagra­dável. O canto sob o telhado ou um apertado quarti­nho de sótão (ver 1 Rs 17.19) seria um "poleiro" des­confortável, mas seus perigos ou inacessibilidade po­deriam proteger o sofredor de um contato ainda mais desagradável com uma esposa briguenta (ver Pv 21.19;25.24). Os ensinos de A m enem ope tam bém fazem uso desse tipo de ditado: "M elhor é um único pão e um coração alegre do que todas as riquezas do m undo e tristeza".

22.16-24.34 Ditados dos sábios22.20. tr in ta d itados. Um a parte do Livro de Pro­vérbios (22.17-24.22) parece imitar, ao menos em par­te, a estrutura literária do texto egípcio Instrução de Amenemope. Ambos contêm uma introdução geral se­guida por trinta ditados ou unidades, com conselhos bastante parecidos sobre o comportam ento correto. Existe certa controvérsia entre os eruditos a respeito da identificação dessas trinta unidades no texto bíbli­co, visto que há intervalos nas seções que podem indicar segmentos não relacionados (ver as divergên­cias em 23 .15 ,19 e 26). Também argumentando con­tra essa relação está o fato de que a NVI teve de fazer ligeiras correções ao texto para chegar a trinta unida­des. A lém dessa dificuldade está o fato de que as trinta partes em Provérbios seriam formadas por al­gumas poucas linhas de texto (de quatro a seis), en­quanto o tamanho dos trinta capítulos em Amenemope varia de doze a dezesseis linhas. Os paralelos mais próximos entre Amenemope e Provérbios terminam em 23.11 e as unidades remanescentes têm ligações íntimas com outras obras da literatura sapiencial, in­clusive os ensinos de Ahiqar. Isso pode indicar que o escritor bíblico ou a escola sapiencial tinha um a certa fa m ilia r id a d e com A m en em op e e o u tro s te x to s sapienciais, mas tam bém evidencia uma certa medi­da de independência literária.22.26. penhor e fiador. Ver o comentário em 6.1.22.28. m arcos. Os lotes de terra no antigo O riente Próximo eram m arcados com pedras de divisas em cada canto. Era comum na M esopotâm ia que essas pedras ou kudurrus contivessem um a inscrição amal­diçoando todo aquele que ousasse remover ou desvi­ar o marco. Os símbolos da divindade também eram esculpidos nas pedras como um sinal da proteção di­vina ao proprietário da terra. Diversas obras da sabe­doria antiga e da legislação contêm orientações contra

a adulteração de marcos de divisas, inclusive o Livro dos Mortos, os ensinos de Amenemope e Deuteronômio

19.14 (ver o comentário em Pv 15.25).

23.10. terras dos órfãos. H á uma admoestação geral na lei israelita a não aproveitar-se do pobre e oprimi­do, tais como órfãos e viúvas (Êx 22.22; Dt 27.19). No

en tanto, tal abuso às vezes ocorria. P or exem plo, M iquéias 2.2 acusa os m alfeitores de tom ar terras e

defraudar a herança de seus compatriotas israelitas. Preocupação com dependentes de prisioneiros de guer­

ra ou com as viúvas também pode ser vista nas leis

m édio assírias, segundo as quais era possível recorrer ao governo para que suprisse as necessidades dessas pessoas.

23.13, 14. d iscip lina da criança. A disciplina, inclu­

sive o castigo corporal, era considerada uma atitude sábia e essencial para o bem -estar das crianças. Os

provérbios aramaicos de Ahiqar incluem frases quase

idênticas a essas encontradas aqui: "N ão retenhas a vara a seu filho ou não serás capaz de salvá-lo. Se eu

o disciplinar, m eu filho, você não m orrerá, m as se

perm itir que você siga seu coração [você não viverá]".23.21. glutonaria. A glutonaria era condenada com

freqüência na literatura sapiencial egípcia. Bem se­

melhante a este versículo é a instrução encontrada no Papiro Insinger: "N ão sejas um glutão para que não te

tom es o companheiro da pobreza".

23.30. bebida misturada. O nível de álcool do vinho, norm alm ente m isturado com água, era aum entado

pela adição de mel ou pimenta para gerar um tipo de

"vinho temperado". Assim como em Provérbios 20.1, o tolo é aquele que é dominado pelo vinho. A embri­

aguez vai no sentido contrário à tradição sapiencial.

Por exemplo, no costume grego dos "sim pósios" ou

festas regadas a muita bebida, a quantidade de vinho consum ida era controlada, de m odo a perm itir que

conversas racionais fossem mantidas, bem como uma

atmosfera em que os celebrantes pudessem se livrar de seus cuidados e exibir seus talentos na m úsica e na

poesia. Ver o comentário em Eclesiastes 9.7.23.31. vinho quando está verm elho. Não fica claro se

há um fascínio na cor vermelha que funciona como mais um a sedução da bebida forte que leva à em briaguez

(como sugerido pela interpretação da Septuaginta) ou se existe um p roblem a de tradução neste trecho. A

natureza cintilante do vinho pode indicar um a safra

particularm ente forte, m as suave ao paladar (ver Ct7.9) ou pode estar relacionada ao termo para vinho no épico ugarítico de Baal. O texto egípcio Instrução deA ny

igualmente inclui alertas contra a bebedeira por resultar

em palavras impensadas, prejuízo ao corpo, rejeição de am igos e perda dos sentidos.

24.13. m el e favo. O escritor sapiencial aqui acompa­

nha uma tradição encontrada em Salmo 19.10 e Eze- quiel 3.3 em que as palavras/leis de Deus são iguala­

das à sabedoria e, portanto, são desejáveis. Na maio­ria dos textos do Antigo Testamento o mel representa

um produto natural, provavelmente xarope da tâma­

ra e não mel de abelhas. Não há evidências da domes­ticação de abelhas em Israel, em bora os h ititas te­

nham sido capazes de tal feito e tenham usado mel de

abelha em seus sacrifícios (tal como os cananeus). Na Bíblia, o m el é alistado juntam ente com outros produ­

tos agrícolas (ver 2 Cr 31.5). Aqui a referência ao favo deixa claro que se trata de mel de abelha. Observe

também que o mel direto do favo seria m ais fresco e

saboroso. Textos acadianos também usam o mel com sentido figurado para falar do louvor sendo mais doce

que o m el ou o vinho.

2 5 .1 - 2 9 .2 7

Outros provérbios de Salomão compilados pelos servos de Ezequias25.1. servos de Ezequias. Não se sabe ao certo quem

teriam sido esses conselheiros ou oficiais escribas. Di­

versos conselheiros de Ezequias, rei de Judá, são m en­cionados em 2 Reis 18.18, mas não há como igualá-los

aos compiladores dos "provérbios de Salom ão". Uma

crise nacional, porém, é época propícia para reflexões e talvez Ezequias tenha tentado obter o favor de Deus

m andando que tradicionais ditados sapienciais fos­

sem registrados e divulgados (compare com os ensi­nos de Ahiqar, um guia ao comportamento adequa­

do, que foram apresentados ao rei da A ssíria como

um recurso para que ele fosse aceito novamente pelo favor real). Certamente o texto sugere que Ezequias

tinha sábios m antidos pela corte que se reuniam e

compilavam ditados sapienciais.25.4. refino da prata. Para que a prata possa tomar a

form a de jóias ou adereços de decoração ela deve ser purificada do óxido de ferro que naturalmente tam­

bém ocorre no veio, do contrário ela será corroída ou se tornará quebradiça demais quando esfriar. É preci­

so também tomar cuidado para que nenhum elemen­

to estranho seja misturado com a prata durante o pro­cesso de fundição. Esse processo exige uma tempera­tura de 773,5 graus centígrados para a liga de prata

(contendo 7,5 partes de liga de cobre) e um cadinho

de grafite. O refino adequado do metal, portanto, é apresentado como paralelo a um rei que procura lim­par sua corte do mal, removendo os conselheiros des­

leais e tolos. O camponês eloqüente da sabedoria egíp­cia também admoesta o faraó a ser justo, um "gover­nante sem cobiça" e um "destruidor de m entiras".

25.11. frutas de ouro em escultura de prata. Como em15.23, um a afirmação bem feita ou sábia é considera­da de grande valor. O escritor aqui usa a metáfora da jóia finamente trabalhada, cujo artesão teve a habili­dade de incrustar uma peça de fruta dourada em uma escultura de prata ricamente decorada. A delicadeza desse objeto decorativo atrai o olhar, assim como um ditado inteligente toca a m ente. A lguns estudiosos sugeriram que a fruta mencionada aqui é um damas­co e não um a maçã (como aparece em algumas tradu­ções), em bora a fruta não altere o sentido da figura de

linguagem .25.13. neve na época da colheita. De acordo com o calendário de trabalho delineado no Calendário de Gezer (inscrição hebraica do final do século dez), as atividades de colheita ocorriam na prim avera e na metade para o final dos meses de verão. Logo, o so­nho de uma brisa fresca ou até mesmo da neve estaria na mente dos trabalhadores que labutavam sob o sol escaldante. U m a interpretação alternativa entende a menção à "nev e" como a água da neve derretida e, portanto, fria e refrescante. Outros consideram o ter­mo uma referência a gelo e neve sendo cuidadosa­

m ente em balados e trazidos m ontanha abaixo. De qualquer forma, a referência serve como um a m etáfo­ra apta para o alívio trazido pelo m ensageiro cujas notícias renovam e tranqüilizam a mente (os ensinos de Ptá-Hotep também expressam o valor das palavras de um mensageiro).25.20. vinagre na soda (N VI: ferida). Esse versículo apresenta problemas textuais num erosos e complexos demais para ser discutido aqui e há um desacordo nas traduções antigas (LXX, Siríaca) quanto aos seus deta­lhes. O vinagre é um produto ácido, enquanto a soda é básica. A combinação de ambos resultaria imediata­m ente em um a reação quím ica bastante evidente. T irar a roupa num dia de frio igualmente provocaria um a reação extrema (tremer de frio). Historicamente, cantar para alguém deprimido também provocou uma reação exagerada quando Saul tentou matar Davi.25.22. am ontoar brasas vivas sobre a cabeça. A ins­trução de Amenemope também aconselha o sábio a en­vergonhar os tolos ou seus inimigos retirando-os de águas profundas ou alimentando-os com pão até fica­rem tão saciados que sintam-se envergonhados. Igual­m en te, os preceitos e adm oestações na literatu ra sapiencial babilónica afirmam que o sábio não deve­ria "pagar com o mal ao homem que contende com você" e na, verdade, deveria "sorrir para seu adver­sário". Essa é certamente a direção que esse provérbio segue, mas a metáfora de amontoar brasas vivas na cabeça permanece difícil de entender. Sugestões ofe­recendo explicações culturais incluem as seguintes:

(1) há um ritual egípcio (m encionado em um texto demótico tardio do terceiro século a.C.) em que um homem aparentemente deu evidência pública de seu arrependim ento carregando um a panela de carvão incandescente em sua cabeça quando foi pedir perdão a quem ele tinha ofendido; (2) nas leis médio assírias, há um exemplo de castigo em que betum e quente era derramado na cabeça do ofensor. Ambas interpreta­ções apresentam problemas. A prim eira encontra-se em um texto tardio e a ação descrita tem sido interpre­tada de várias maneiras. A segunda fala de piche e não de carvão e é um castigo bastante parecido com a prática de derramar alcatrão quente sobre alguém e cobrir de penas, presente na história m ais recente. Paulo cita esse provérbio em Romanos 12.20.25.23. vento norte. Em Israel, o vento norte não traz chuva e sim bom tempo. Portanto, acredita-se que esse provérbio tenha sua origem no Egito onde o vento norte traz chuva do Mediterrâneo (13 a 25 cen­tímetros por ano no delta).

25.24. canto sob o telhado. Ver o comentário em 21.9.26.1. ciclos do clim a n a Palestina. A neve nunca ocor­re durante o verão na Palestina, e a chuva é extrem a­m ente rara na época das colheitas da primavera e do verão. O clim a m editerrâneo da Siro-Palestina traz chuva e temperaturas m ais amenas (abaixo de zero nas maiores altitudes, em Jerusalém) durante o inver­no (outubro a fevereiro) e no restante do ano o clim a é seco apenas com chuvas ocasionais. Logo, essa afirma­ção é com o m uitas da literatura sapiencial antiga (Amenemope e Ankhsheshonqy) em que o tolo é descrito como "incorrigível" e para quem o ensino é im pró­prio. Como observa Ahiqar, não há razão em enviar o beduíno para o mar, visto que ali não é seu habitat.26.16. sete. R. Clifford sugeriu que essa é um a refe­rência aos famosos sete sábios que, segundo a tradição mesopotâmica, trouxeram a civilização e a sabedoria ao mundo. Os sete apkallu vieram antes do dilúvio e seus pares, os sete ummanu, vieram após o dilúvio. Essa explicação é possível, mas nesse caso, seria espe­rada a presença do artigo definido (os sete).26.23. cerâm ica e esm alte. Em bora o esmalte possa ser aplicado à cerâm ica como decoração, pode também esconder defeitos e, portanto, enganar a pessoa que adquire o vaso. Igualmente, um revestimento feito de escória de prata ou de m etal adulterado, oxidado, pode inicialmente ter boa aparência, m as em pouco tempo perde o brilho (embaça) ou com eça a lascar. Logo, os lábios ferventes ou como "fogo devorador"

(ver 16.27) de um salafrário pode tentar esconder seu ódio e malícia com palavras mentirosas.26.24. lábios/coração. Um provérbio acadiano faz a mesma distinção, observando que um homem pode

falar palavras agradáveis com seus lábios, mas ter um coração cheio de ódio. A série de encantamentos Shurpu fala daquele cu ja fala é direta, m as cujo coração é enganoso.27.9. perfum e e incenso. Diversos odores fortes fazi­am parte da vida cotidiana israelita. Para disfarçar alguns desses cheiros mais desagradáveis, para real­çar a atração sexual (Et 2.12; Ct 1.13; ver as canções de am or egípcias do século treze a.C.) e para servir como oferta a Deus (ver o comentário em Êx 30.34-38), os perfum es eram preparados e incenso era queimado. Dentre os m ais comuns estavam o incenso, a mirra, o

açafrão e misturas de canela, cássia e azeite. Fragrân­cias tão agradáveis são um paralelo apropriado para o conselho sábio de um amigo.27.13. fiad or e penhor. Ver o comentário em 6.1.27.21. refino de m etais preciosos. Ver o comentário em 17.3.

28.8. ju ros exorbitantes. A lei proibia cobrar juros de dinheiro ou bens emprestados a compatriotas israelitas (ver o comentário em Êx 22.25). Era legal cobrar juros em transações com estrangeiros (Dt 23.20), e existem am plas evidências de juros que chegavam a 20 por cento no Código de Hamurabi (ver o comentário em Êx 22.25). A usura como m eio de fazer fortuna era considerada inadequada para os israelitas, visto que os empréstimos tinham como objetivo ajudar alguém e não aproveitar-se das dificuldades financeiras do outro (ver o comentário em Ne 5.7).

30.1-31.9 Ditados de Agur e do rei Lemuel30.25. form igas. Ver o comentário em 6.6.30.26. coelhos. O hírax sírio ou texugo é um mamífe­ro ungulado que vive no relevo rochoso de penhascos e regiões inacessíveis. Como resultado, por viver de forma isolada (ver SI 104.18), ele está protegido. Além disso, a simplicidade necessária para viver em luga­res aparentemente inabitáveis aponta para a adapta­ção e a desenvoltura dessa criatura.30.27. gafanhotos. Ver os comentários em Amós 4.9 e Joel 1.4-7 acerca do poder destrutivo dos gafanhotos. O fato de que se deslocam em nuvens sem um líder evidente faz deles uma força ainda mais agourenta de contemplar.30.28. lagartixa. A habilidade da lagartixa em mover- se rapidamente pelo solo (Lv 11.29) entrando nos luga­res mais bem guardados, inclusive o palácio real, pode despertar a inveja de alguns humanos que desejam tais residências importantes. A lém disso, embora esses pe­quenos animais não tenham defesas naturais e possam ser capturados com a mão, eles fazem o melhor uso das habilidades que possuem para sobreviver.

31.4-7. em briaguez no m undo antigo. A fabricação de diversos tipos de cerveja e a fermentação do vinho de tâmaras e uvas existia na Mesopotâmia e no Egito desde os tem pos anteriores à escrita (c. 4000 a.C.). Cenas de banquetes são comuns na arte assíria e ilus­tram grupos de hom ens e m ulheres com endo em

m esas forradas de comida e bebendo em taças através de canudos. O épico babilónico da criação, Enuma Elish, descreve como os deuses festejavam em ban­quetes, bebendo "o doce licor através de tubos" (uma necessidade, visto que a bebida apresentava um a con­sistência tão esp essa). U m h ino sum ério à deusa Ninkasi celebra o processo de fermentação e dá graças pela bebida que abranda a sede e jorra em abundân­cia nos rios Tigre e Eufrates. Os males da embriaguez são narrados em Salm o 69.12, Provérbios 20.1 e na descrição de Daniel 5.1-4 e Ester 1.3-8. Também eram bastante reconhecidos em todo o antigo Oriente Próxi­mo. A literatura sapiencial egípcia alerta contra o al­

coolism o e sua conseqüente perda do controle que resulta na rejeição social. Há evidências nos textos de M ari em que o alcoolismo era visto como um a condi­ção favorável para receber oráculos divinos.

31.10-31 A mulher exemplar31.10. rubis. Ver o comentário em 3.15.31.13. seleção da lã e do linho. A m ulher ideal descri­ta neste provérbio tem a habilidade de escolher sabi­amente os m elhores fios d e lã e linho para seus tecidos (observe a proibição quanto a tecer lã e linho juntos, em D t 22.11). O linho era cultivado por causa de suas sementes e fibras e podia ser usado na confecção de roupas, cintos e pavios de lâmpadas. A lã e o linho também são colocados lado a lado em Oséias 2.9, junto com os cereais e o vinho, como dádivas de Deus, o m arido de Israel, em conseqüência da prom essa da aliança (alistados também no Código de Hamurábi e nas leis médio-assírias como parte da responsabilida­de do marido para com sua mulher).3 1 .16 -24 . m u lh e re s n o s n e g ó c io s . O C ód ig o de Hamurabi contém diversas leis regulando as ativida­des das mulheres babilônias que administravam es­

talagens ou tavernas. Porém , essas atividades não podem ser interpretadas como a habilidade de com­prar um campo ou vender vestes finam ente tingidas e tecidas por um a costureira profissional. A imagem idealizada da "esposa perfeita" neste provérbio ultra­passa qualquer coisa que o texto bíblico, em outras passagens, sugeria como atividade perm itida a m u­lheres. De m odo geral, elas não tinham direito legal para adquirir terras, em bora certam ente trabalhas­sem pesado com suas famílias no cultivo dos produtos agrícolas. A única indústria mencionada em textos do antigo Oriente Próximo aberta à participação das mu­lheres era a tecelagem, e talvez fosse o modelo para todas as outras atividades.31.19. fuso e roca. Os termos traduzidos como fuso e roca aparecem apenas aqui. Porém, o contexto sugere que a tradução é apropriada e que trata-se apenas de termos técnicos relacionados à tarefa de fiar e tecer. Está im plícito um significado de atividade intensa realizada por essa mulher determinada e disposta a "cingir os lom bos" (i. e. arregaçar as mangas) e pro­duzir grandes quantidades de tecido, tanto para sua fam ília quanto para a revenda a mercadores.31.21. agasalhos (roupas verm elhas). Ver os comentá­rios em Êxodo 25.4 e 25.5 para um a descrição dos diversos tipos de tinturas usados para tingir tecidos, especialmente o linho. O corante verm elho ou púrpu­ra era caro e reservado para os mais ricos.31.22. linho fino e púrpura. Um tecido de linho fino era um bem valioso e desejável, usado como coberta para a cam a ou cortado em pedaços m enores para fazer roupas (ver Jz 14.12 e Is 3.23). O corante púrpu­ra, feito do fluido glandular de m oluscos marinhos, era m uito caro e, neste contexto, é um sím bolo do quanto a m ulher exemplar faz sua casa prosperar.31.23. autoridad es à porta da cidade. O lugar tra­dicional onde as autoridades da cidade se reuniam para fazer negócios (ver Ló, à porta de Sodoma, em G n 19.1) e ouvir as causas legais era a porta da cidade (ver Rt 4.14). Antigos registros babilónicos destacam o papel legal das autoridades no julgam ento de dis­putas de terras, na audiência de juram entos e como testemunhas de diversas transações (ver Jr 32.12).

E C L E S I A S T E S

1.1. "f ilh o " de D avi. O termo "filh o" pode significar um a relação política ou de parentesco (qualquer des­

cendente do sexo masculino podia ser cham ado de " filho"). N este contexto, o mestre é associado a um dos

descendentes reais de Davi, sendo Salomão o candi­dato mais óbvio que vem à mente.1.2. inutilidad e. Remontando à literatura sum éria e passando pelas tradições do antigo Oriente Próximo,

a inutilidade da vida e particularmente, da condição hum ana, tem sido reconhecida: desde os primórdios,

quanta vaidade (vento)!

1.9. nada novo debaixo do Sol. Já em inscrições reais assírias parece que constantem ente os reis estavam em busca de feitos e realizações a fim de que pudes­sem vangloriar-se de terem feito algo nunca alcança­do antes. Dessa forma, o rei podia incluir-se entre os

"criad ores" ou "fu n d ad ores" - aqueles que deram origem a algo novo. Tais feitos incluíam explorações ou conquistas; construções de estradas, palácios, tem­

plos ou cidades; ou a introdução de um a nova técnica ou celebração.1.13. papel do sábio . Os sábios form avam um a guil- da diferente da dos escribas, em bora sua função e ati­vidade exatas sejam obscuras. Certamente eram mes­

tres, m as não se sabe se passavam por uma educação formal ou se transmitiam seus conhecimentos em esco­las ou inform almente. Os sábios eram conhecidos em

outras culturas do antigo Oriente Próximo e às vezes atuavam como conselheiros da realeza. Para m ais in­form ações, ver o com entário em Provérbios 1.1.2.5. jard ins e pomares. Era freqüente os palácios se­rem cercados de jardins particulares com árvores fru­tíferas e outras que proporcionavam sombra, riachos, lagos e caminhos - algo semelhante a um parque. O bosque com freqüência continha diversas árvores e

plantas exóticas. Jardins como esses foram escavados em Pasárgada, a capital de Ciro, o Grande.2.6. sistem as de irrigação. Messa, rei de Moabe (nono século a.C.) tam bém afirm a em sua lista de realiza­ções ter construído reservatórios de água na casa real.

O historiador judeu Josefo afirma em sua obra Guerra Judaica que o Açude do Rei, em Jerusalém, foi cons­truído por Salomão.2.7. escravidão em Israel. Certos indivíduos em Israel

haviam sido privados de parte de sua liberdade e podiam então ser com prados e vendidos. O termo

m ais com um para escravo na Torá era ‘ebed. Esse termo, porém, era vago (semelhante ao seu correlato acadiano, wardu), visto que era usado para qualquer pessoa em uma posição subordinada a alguém supe­

rior; era, portanto, um termo que denotava subm is­são genérica. Tem sido traduzido com freqüência como "servo". Até mesmo patriarcas e monarcas eram ser­vos de D eus e todos os habitantes de Israel e Judá

eram servos ou súditos do rei, inclusive os membros da fam ília real. Por algum tempo, D avi foi escravo (vassalo) do rei filisteu Aquis, e Acaz, rei de Judá foi servo do rei assírio Tiglate-Pileser III. Uma das princi­

pais fontes da escravidão eram os prisioneiros de guer­ra, que eram vendidos como escravos. Entretanto, na Lei M osaica, um israelita não podia ser forçado a fazer

o trabalho de um escravo. A única m aneira de um israelita ser reduzido à servidão era por causa de sua própria pobreza ou por ter sido entregue como pe­

nhor ou garantia pela pobreza de um parente. Essa escravidão terminava assim que a dívida fosse paga. Há escassos registros acerca do núm ero de servos e

escravos dom ésticos no antigo Israel. Por exemplo, um censo feito após o exílio (quinto século a.C.) regis­trou mais de sete mil escravos, em relação a m ais de quarenta m il cidadãos livres. U m a fam ília bem de

vida provavelmente possuía um ou m ais servos do­mésticos. Em bora um escravo fosse considerado pro­priedade, era tam bém considerado hum ano e, por­tanto, tinha certos direitos. O escravo era considerado parte da família, como evidenciado pela exigência da circuncisão. Em bora não houvesse predominância do trabalho escravo na agricultura, nas atividades arte­sanais ou nos ramos da economia, parece que durante a m onarquia o Estado fez uso de escravos (c. 1000-586

a.C.). D avi colocou a população para trabalhar na fabricação de tijolos, enquanto Salomão usou "escra­vos" para trabalhar nas m inas de Arabá, nas fábricas de Eziom-Géber e na construção do palácio real e do

templo. A m aior parte desses escravos era de cananeus e não israelitas.2.8. cantores. Os m úsicos eram mantidos para o entre­tenim ento do governante ou para participação em cerimônias rituais. Visto que tanto cantores como can­toras são incluídos aqui, é m ais provável que se trate da últim a alternativa. A M esopotâm ia e o Egito ti­

nham longa tradição na m úsica popular e religiosa,

provavelmente conhecidas dos israelitas. A ntigas pin­turas de túmulos egípcios exibem passos de dançari­nos e também um a grande variedade de instrumen­tos musicais. M úsicos da corte, tanto homens quanto m ulheres, são confirmados em todo o antigo Oriente Próximo. Existe evidência deles em textos (inclusive, por exem plo, de U ruk e M ari) do vale do T igre e Eufrates, da Anatólia hitita e do Egito. Esses músicos faziam parte da equipe de funcionários permanente do palácio, como demonstram as listas de rações.2.8. harém . O termo aqui geralm ente é considerado uma designação para concubinas, m as a palavra ocor­re apenas aqui e seu significado é obscuro. Certamen­te, tom ar para si concubinas fazia parte do padrão comum de comportamento dos reis. Outros estudiosos sugeriram que a palavra deveria ser traduzida como "baús de tesouro".3.5. espalhar e ajuntar pedras. As pedras de um cam­po eram retiradas para que o agricultor pudesse usá- lo com objetivos agrícolas (ver Is 5.2). Costumava-se atirar pedras no campo de um inim igo para que as plantações fossem prejudicadas (2 Rs 3.19, 25; Is 5.2).3.16. corrupção do ju d iciário . O escritor lam enta o fato de que em lugar da justiça havia impiedade. Em outras palavras, o curso normal do mundo fora inver­tido, um tema comum na literatura m esopotâm ica,

especialmente na obra literária cham ada de o Jó Babi­lônio. Para m ais informações, ver os comentários em Isaías 5.23.

4.12. cordão de três dobras. Essa expressão evidente­mente era bastante conhecida no antigo Oriente Pró­ximo. Na história sum éria de Gilgamés e a Terra dos Viventes, G ilgam és encoraja Enkidu nos m om entos ansiosos que antecedem sua batalha com o temível Huwawa. Ele sugere que os dois poderiam defender um ao outro e assim, seriam vitoriosos.5.1. opções no tem plo. A literatura do antigo Oriente Próximo apresenta alertas semelhantes. O texto egíp­

cio Instrução para M eríkare aprova o caráter de alguém de coração reto em detrimento do sacrifício de uma pessoa m á. Um a inscrição de Ugarit comenta sobra as ações de um tolo que se apressa a oferecer orações para aplacar seu deus, mesmo sem estar se sentindo arrependido. As opções mencionadas no texto bíblico

contrastam a direção da comunicação. O sacrifício do tolo geralm ente acompanha uma petição dirigida à divindade em busca de favor ou da resposta do pedi­do. O que ouve no templo geralmente seria o receptá­culo de um oráculo em que a divindade expressaria seu favor ou desagrado. O texto egípcio Ensinos de Ptá-Hotep gasta quase cinqüenta linhas exaltando as virtudes de quem ouve, em relação à tolice daquele que fala precipitadamente.

5.2. fazer prom essas. É m ais provável que esse versí­culo se refira a prom essas, visto que prom essas feitas sem pensar eram consid erad as um problem a. Um a promessa ou um juramento era considerado algo muito sério no antigo Israel. Os juram entos sem pre eram fei­tos em nom e de um deus. Isso colocava um a grande responsabilidade na pessoa que havia jurado, no sen­tido de cumprir as condições estipuladas, um a vez que estaria vulnerável à retribuição divina e hum ana se não as cumprisse. Os juram entos eram usados em pro­cedimentos legais e em tratados e alianças políticas. Reis vassalos e reis dom inadores igualm ente tinham de cum prir suas prom essas de apoiar-se m utuam ente.5.3. sonhos. No mundo antigo, acreditava-se que os sonhos trouxessem m ensagens divinas e, portanto, eram levados m uito a sério. Considerava-se que al­guns sonhos, dados a reis e profetas, fossem um meio de revelação divina. A maioria deles, porém, até mes­mo os sonhos de pessoas comuns, eram considerados presságios que comunicavam m ensagens sobre as ati­vidades dos deuses. Os sonhos que continham reve­lações, geralm ente envolviam a divindade e ela era identificada; já os sonhos de presságio, geralm ente não faziam nenhum a referência à divindade. Como eram cheios de simbolismos, com freqüência, os so­nhos precisavam ser interpretados, embora às vezes, os sím bolos fossem relativam ente auto-explicativos. As informações recebidas em sonhos podiam ser alte­radas, m as um sonho podia ser motivo de preocupa­ção, e até mesmo de alarme. A m elhor tradução para este versículo, então, seria: "A ssim como um sonho pode trazer m uitas preocupações, a fala de um tolo é acompanhada de muitas palavras".5.4. votos. Os votos eram acordos voluntários, condi­cionais, feitos com a divindade, bastante com uns na maioria das culturas do antigo Oriente Próximo, inclu­

sive na hitita, na ugarítica, na m esopotâm ica e, com m enos freqüência , na eg ípcia. No m undo antigo, o contexto m ais com um para um voto era quando um pedido era dirigido à divindade. Eram compromissos cultuais feitos com D eus em que o adorador prometia tom ar determinada atitude ou fazer algo, se Deus res­pondesse favoravelmente seu pedido. Foram encontra­dos artefatos em diversos sítios arqueológicos do Le­vante que eram usados como ofertas votivas. Além do mais, esteias votivas da Fenícia e a literatura (textos de orações e ações de graças) da Mesopotâmia, do Egito e da Anatólia evidenciam a prática dos votos. Para mais inform ações, ver o com entário em 1 Sam uel 1.11.5.6. m ensageiro de D eus (do tem plo). Os eruditos não sabem ao certo quem exercia essa função de men­sageiro do templo, visto que não há nenhuma outra referência bíblica a esse ofício. A partir deste versículo,

pode-se presumir que havia um oficial do templo cujo papel era certificar-se de que os adoradores haviam cumprido seus votos. Funcionários com papéis seme­lhantes são citados em inscrições fenícias.5.8. governo corrupto. No antigo Oriente Próximo o rei tinha a obrigação de proteger os direitos legais do povo. O governo era, portanto, responsável pela ju s­tiça e pela retidão. Com m uita freqüência, porém, a

realidade era muito mais dura. Depois que todos os funcionários (oficiais locais, do templo e do palácio) recebiam sua parte da produção dos campos (na for­m a de impostos), tudo que era possível ao restante do povo era uma parca subsistência.5.17. passa a vida (come) nas trevas. Se uma pessoa trabalha nos campos desde o nascer do Sol até o anoi­tecer, então, tanto o café da manhã quanto o jantar são comidos no escuro. Por isso, quem deseja as riquezas não terá realização, e sim frustração.6.3. im portância do enterro digno. Na M esopotâm ia o espírito de quem não tivesse um enterro digno esta­va cond en ad o a v ag ar p ela te rra sem ru m o, in co­m odando os v iv en tes. E ssa id éia está im p líc ita no h orror observado em textos bíblicos relacionados a p essoas que m orreram de form a v io len ta sem um enterro decente. A m aioria dos povos antigos acre­ditava que um enterro adequado, decente, no m omen­to apropriado, afetava a qualidade da vida após a mor­te. Ver o com entário em 1 Reis 16.4. N o Épico de Gil- gamés, Ehkidu, ao retom ar do m undo inferior, relata a G ilgam és que qu en v não fosse en terrad o , após a morte não tinha descanso e quem não deixasse paren­

tes vivos para cuidar dos rituais, comia apenas o que era jogado nas ruas. Um a m aldição babilónica relaci­ona o enterro com o encontro do espírito do morto com seu s en tes q u erid o s. S ab em o s que a té m esm o os israelitas acreditavam que um sepultam ento adequa­do afetava a vida no além, porque eles, assim como seus vizinhos, enterravam seus entes queridos com pro­visões que lhes serviriam na vida após a m orte: com freqüência vasilhas de cerâm ica (cheias de comida) e jóias (para afastar o m al), além de utensílios e objetos de uso pessoal que às vezes eram acrescentados.6.6. todos vão para o m esm o lugar. Na visão israelita (presente também em muitas das culturas vizinhas), a escolha não era céu ou inferno, mas vida ou morte. Este versículo fala sobre o destino humano e, portan­

to, o lugar aonde todos iam era o Sheol, a habitação dos mortos. Para m ais informações a respeito das cren­ças na vida após a morte, ver os comentários em Jó3.13-19 e a nota de rodapé em Isaías 14.7.1. perfum e fin íssim o. No mundo antigo, os convi­dados de um banquete muitas vezes eram recebidos por um anfitrião generoso com finos óleos com os

quais tinham suas frontes ungidas. Além de dar-lhes um a aparência brilhante, acrescentava ao ambiente e à sua pessoa um odor agradável. Por exemplo, um texto assírio do reinado de Esar-Hadom descreve como ele "encharcou a fronte" de seus convidados num banquete real com os m ais "seletos óleos".7.6. estalo de espinhos debaixo da panela. A lenha fino de arbustos espinhosos, ao pegar fogo rapidam ente, p rod uz bastan te baru lh o que cham a a atenção. Na verdade, porém , é um a lenha bastante inadequada, visto que sua cham a é pobre e seu calor dura pouco.7.7. suborno em Israel. Dar presentes era uma práti­ca comum no antigo Israel. Sacrifícios e outras ofertas eram considerados presentes dedicados a Deus. A troca de presentes entre as pessoas também era im­portante, embora em alguns casos fosse considerada imprópria (por causa da motivação de quem presen­teava), por ser considerada suborno. É nesse contexto que os israelitas foram ordenados a não aceitar presen­tes (i. e., subornos) visto que eles "cegavam o sábio" (ver o comentário em Êx 23.8). Como fica evidente no prefácio do Código de Hamurabi (c. 1750 a.C.) e nas afirmações feitas pelo camponês eloqüente, na litera­tura sapiencial egípcia (c. 2100 a.C .), o padrão de

comportamento para as autoridades era proteger os direitos dos pobres e oprim idos na sociedade. Um govem o bem administrado no antigo Oriente Próxi­mo dependia do respaldo e do cumprimento da lei. Com esse fim, todo Estado organizado havia estabele­cido uma estrutura formada por juizes e oficiais locais que tratavam de causas civis e crim inais. Era tarefa deles ouvir depoimentos de testemunhas, investigar acusações, avaliar e exam inar as provas e executar juízo (detalhes nas Leis M édio-assírias e no Código de Hamurabi). Em todas as épocas e lugares é possível encontrar juizes e funcionários do govem o sendo ten­tados a aceitar subornos. No antigo Oriente Próximo, os subornos se tom aram um a prática quase institucio­nalizada, considerada aceitável em ambientes adm i­nistrativos, à medida que partidos rivais procuravam prejudicar uns aos outros. Entretanto, pelo m enos idealm ente, na tentativa de m inorar esse problem a, impunham-se punições e conduziam-se debates. A s­sim, o código de Hamurabi 5 estabelecia severas pu­nições a qualquer ju iz que alterasse suas decisões (presumivelmente devido a um suborno), inclusive pesadas multas e afastamento permanente do cargo.7.12. dinheiro como proteção. A palavra que a NVI traduz como "proteção" geralmente é traduzida como "som bra". É um a m etáfora para a proteção e o confor­to provenientes do alívio proporcionado pela sombra num dia quente. Talvez esse tenha sido um provér­bio bem conhecido, m as não foi encontrado em ne­

nhum outro material. Provavelmente, a "som bra" do dinheiro, assim como a sabedoria, é a proteção que o dinheiro proporciona aos indivíduos.7.13. endireitar o que está torto. No antigo Oriente Próximo, os devotos ficavam constantemente perple­xos em relação ao que os deuses estavam fazendo e por que estavam agindo de determ inada m aneira. Em um hino sumério a Enlil, o poeta diz "Seus feitos trem endam ente inteligentes são assombrosos, o sig­nificado deles é um fio emaranhado que não pode ser desfeito" (ANET, 575).8.2. conduta do cortesão. E de se esperar que con­selhos sobre como o cortesão deve comportar-se este­jam presentes na literatura sapiencial, visto que seu principal objetivo era preparar futuros funcionários para o palácio. O texto egípcio Ensinos de Ptá-Hotep dirige muitos de seus parágrafos às pessoas em diver­sas posições de liderança. A Instrução de Ankhsheshonqy aconselha de form a bastante parecida, como este tre­cho de Eclesiastes: "N ão faça um julgam ento em que você está errado" (116.17); "N ão se apresse a falar quando estiver diante de seu senhor" (17.10). O con­selho ao cortesão descrito aqui também é semelhante ao contido no texto Palavras de Ahiqar, um conselheiro da corte assíria durante o sétimo século a .C .8.11 ,12 . castigo aos crim es em Israel. Israel compar­

tilhava de um a tradição legal com o restante do antigo Oriente Próximo em relação às punições para crimes.

Os castigos mais comuns na Bíblia eram o apedreja­mento, a morte na fogueira e a mutilação. As fontes do antigo Oriente Próximo (p. ex., o Código de Hamu- rabi e as Leis Médio-Assírias) ocasionalmente m enci­onam os métodos de aplicação de pena que incluíam o afogamento, a mutilação e o empalamento. O encar­ceram ento não era usado como castigo por crimes, em bora existissem prisões para quem não saldasse

suas dívidas e para prisioneiros políticos. Além disso, as prisões eram usadas para deter os crim inosos à espera de julgamento.9 .5 ,10 . recom pensa. O termo "recom pensa" aqui pro­vavelmente se refere aos benefícios da vida, dos quais o morto não pode mais tomar parte. Os mortos não podem desfrutar de nenhuma das coisas consideradas uma bênção aqui nesta vida. Além disso, o conteúdo desses versícu los tam bém é um indício da crença israelita de que não havia recom pensa celestial por um a vida de fé ou de boas obras. Eles acreditavam que a justiça de Deus era executada aqui m esmo nesta vida e não depois da morte.9.7-10. com er, beber e alegrar-se. O filósofo grego Epicuro não foi o primeiro a recom endar essa atitude diante da vida. Até mesmo Gilgamés foi aconselhado a encher sua barriga, usar vestes limpas e perfuma­

das e ter seu corpo banhado. Ele foi exortado a deliciar- se com seus filhos e esposa. N a literatura egípcia o Cântico do Harpista, da primeira metade do segundo milênio, aconselha que se tenha um a vida de regozijo e busca do prazer. Isso inclui ungir a cabeça e vestir finas roupas.9.7. vinh o. H avia um a série de tipos diferentes de vinho no antigo Israel. A form a mais comum do vi­nho era o da uva Vitus v inifera L. G eralm ente era verm elho (Gn 49.11, 12; Pv 23.31); o vinho branco é m encionado apenas em fontes rabínicas). O Antigo Testam ento faz m enção à existência de um "vinho doce", provavelmente produzido pela exposição das uvas ao Sol pelo menos por três dias antes de serem espremidas. O vinagre (i. e. vinho azedo) era usado como tempero e por seu valor medicinal. A mistura m ais comum era o vinho diluído com água, embora tem peros tam bém fossem acrescentados à bebida. Como no resto do Oriente Próximo, o vinho não era a bebida m ais comum, mas era usado em ocasiões espe­ciais, inclusive em banquetes, coroações e casamen­tos. Certas restrições bíblicas ao consum o do vinho eram primordialmente cultuais (p. ex., Lv 10.9) e de­dicatórias (i. e. o voto do nazireu). O vinho também era usado no culto israelita (p. ex., nas libações). O vinho aparentemente era um importante produto co­mercial, visto que Salomão forneceu vinho a Hirão, rei de Tiro, em troca de material e homens habilitados para a construção do templo (2 Cr 2 .10,15).9.8. rou pas de fe sta (vestido de branco). Eruditos interpretam a cor branca com o sím bolo de pureza, festividade ou posição social elevada. No Egito (Histó­ria de Sinuhe) e na Mesopotâmia (Épico de Gilgamés) vestes limpas ou brilhantes transmitiam um a sensa­ção de bem-estar. Além do mais, o clima quente do Oriente Médio favorece o uso de roupas brancas para refletir o calor.9.8. ungir a cabeça. O óleo preservava o aspecto da pessoa no clim a quente do O riente M édio. O texto egípcio "A Canção do H arpista" e o épico mesopotâ- mico de Gilgam és descrevem indivíduos vestidos em linho fino e com m irra espalhada na cabeça.9.11. conceito de destino. O destino, um a força im­pessoal, controlava o futuro das coisas. Eriki, o deus da sabedoria, usava um chapéu de feiticeiro, demons­trando que ele procurava controlar e predizer o desti­no, de forma bastante parecida a um feiticeiro hum a­no. O destino estava escrito em tabletes, e quem os controlava tinha em mãos o destino do Universo. Se caíssem em m ãos erradas, haveria caos no mundo. Em um mito, vima divindade-pássaro (Anzu) roubou

os tabletes do destino, causando um verdadeiro alvo­roço na comunidade divina, até ser m orto. O conceito

israelita de destino ou acaso era diferente do conceito m esopotâmico. Em vez de enxergar algo com o um acontecimento aleatório (destino), eles o consideravam um evento inesperado (serendipism o). "T em p o " e "acaso" são apresentados aqui não como duas contin­gências distintas, mas como um único fator. Uma "co ­incidência" pode ocorrer em qualquer situação e alte­rar o que seria considerado um acontecimento garan­tido ou previsível.9.12. caça/ pesca. Embora Ismael e Esaú fossem conhe­cidos como caçadores, a caça não era uma prática típi­ca em Israel, exceto em períodos de fom e ou com o objetivo de livrar-se de animais selvagens que colo­cavam em risco os rebanhos. N a Assíria e no Egito, porém, existem inúmeros relevos de parede ilustran­do cenas de caçadas reais. A caça tam bém está im plí­cita na corte de Salomão (1 Rs 4.23). Essa atividade era

bastante conhecida em Israel a ponto de ser base para algumas metáforas. A pesca, assim como a caça, não é m encionada como uma atividade recreativa no antigo Israel. O Livro de Jó descreve a pesca com lança ou arpão (41.7) ou com anzol (41.1, 2; Is 19.8). A ssim como a caça, a pesca muitas vezes era a base de m etá­foras, prim ordialm ente para a figura do julgam ento de Deus sobre indivíduos ou nações.

10.1. m oscas no perfum e. Essa expressão é de certa forma parecida com a atual "um a única maçã podre no cesto estraga todas as boas". Algo tão insignifican­te quanto uma m osca estraga até m esm o o m elhor perfume tom ando-o tão asqueroso que todo o frasco tem de ser jogado fora.

10.2. para o bem ... para o m al (para a direita... para a esquerda). Embora não haja dúvida de que a direita era considerada o lugar de honra e a posição de maior proteção, não há indícios de que houvesse qualquer coisa negativa ou inerentemente fraca ou ruim relaci­onada ao lado esquerdo, no antigo Oriente Próximo ou em Israel. A esquerda era secundária quanto à honra e uma direção inesperada para desferir ataque. O tolo escolhe o cam inho da vulnerabilidade e da posição inferior.10.8, 9. perigos de algumas atividades. (1) Cavar um poço era uma atividade cujo objetivo era apanhar um animal de grande porte. Com esse objetivo em m en­te, o poço era disfarçado, podendo levar acidental­mente alguém a tropeçar e cair nele. (2) Quando um muro de pedras era desmanchado, ou quando uma brecha era aberta em um m uro para colocar um a porta, era possível involuntariamente perturbar uma cobra que havia feito sua toca entre as pedras frias. (3) A atividade de arrancar pedras citada aqui provavel­m ente não se trata daquela feita por profissionais, uma vez que as outras atividades m encionadas são

atividades norm ais da vida rural. O verbo é usado

para arrancar, m as tam bém é usado em contextos mais gerais que dizem respeito a desarraigar ou tirar

algo do lugar. A interpretação alternativa então é que essa expressão poderia referir-se a um agricultor que

limpava seu campo, tirando as pedras dele. Alguns ferimentos podiam resultar dessa atividade por causa

da queda de pedras, hérnias ou arranhões nos braços.

(4) Finalm ente, os perigos inerentes a rachar lenha são facilmente identificáveis. O machado podia esca­

par da mão ou do cabo, e em vez de atingir a madei­

ra, provocar ferimentos graves.10.11. encantadores de cobras. As cobras eram animais

bastante tem idos no m undo antigo por serem consi­

derados seres mágicos e também por causa de seu ve­

neno. A profissão de encantador de serpente era uma

habilidade conhecida em todo o antigo O riente Pró­xim o. Os encantadores de serpente parecem ser re­presentados em amuletos egípcios de escaravelhos (ver o com entário em Êx 7 .11 ,12). As literaturas egípcia e

m esopotâm ica contêm exem plos de encantam entos

contra serpentes e suas mordidas. A palavra traduzida como "encantadores" aqui não deve evocar imagens de

desenho animado de serpentes hipnotizadas subindo

em espiral, controladas por tocadores de flauta. Em vez d isso, a referência é a cobras contra as quais os en­

cantamentos são ineficazes. Textos acadianos também

falam de serpentes que são "d esconjuráveis".

10.20. aves com o m exeriqueiras. Histórias de "passa­rinhos" que contaram segredos podem ser encontra­

das na obra de Aristófane intitulada Os Pássaros, uma

comédia grega clássica, e na lenda hitita de Elkuhirsa.

Os provérbios de Ahiqar afirmam que uma palavra é como uma ave e é falto de senso quem a liberta.11.1. pão sobre as águas. Esse provérbio foi encontra­do na fonte egípcia A Instrução de Ankhsheshonqy ("faça

algo bom e lance-o no rio; quando secar, você o encon­

trará") e em provérbios arábicos. Se Eclesiastes acom­panha o sentido de Ankhsheshonqy, o texto sugere

que uma boa ação espontânea não é garantia de reci­procidade, mas o "qu e vai, sempre volta".

11.2. repartir o que se tem. Repartir o que se tem ge­ralmente pressupõe uma situação em que alimentos ou

bens estão sendo distribuídos (não apenas investidos). Poderia encaixar-se ao contexto de distribuição de uma herança ou de generosidade.

12.1-8. efeitos da velhice. U ma corrente interpretativa vê um a alusão fisiológica em cada um dos versículos:

verso 2: visão diminuída, limitada

verso 3: m ãos trêm ulas, postura encurvada, perda dos dentes, catarataverso 4: perda da audição, acordar cedo

verso 5: temores aumentados, cabelos brancos/grisa­lhos, movimentos lentos, desejo sexual diminuído verso 6: debilidade da coluna vertebral, faculdades mentais deterioradas, incontinência urinária, parada cardíaca verso 7: morteAlgumas dessas relações remontam aos Targuns (tra­duções judaicas interpretativas para o aramaico que datam do primeiro século d .C ), mas as relações são difíceis de fundamentar, visto que muitas delas não são confirm adas em outras passagens. A ssim , por exemplo, enxergar "a taça de ouro" como uma refe­rência ao cérebro seria improvável, visto que no mun­do antigo eles não tinham conhecimento sobre o fun­cionamento e a função do cérebro. Poderia o cordão de prata (v. 6) ser a aorta e a taça de ouro, o coração? O fato que não se pode afirm ar com certeza demonstra a natureza especulativa dessa linha de interpretação. O texto egípcio Ensino de Ptá-Hotep do Reinado Médio (primeira metade do segundo m ilênio a.C.) começa com doze linhas descrevendo os efeitos da velhice (tais como olhos que não enxergam bem, ouvidos que ficam surdos, dores nos ossos, perda da m em ória e das faculdades mentais), mas fala em termos diretos e não através de metáforas.12.3. guardas da casa. Os "guardas da casa" podiam ser servos ou escravos domésticos comuns em todo o antigo O riente Próxim o, que com freqüência eram pessoas investidas de autoridade (como José, na casa de Potifar).

12.3. m oedores. Os moedores eram servos ou prisio­neiros que executavam a tarefa diária de m oer cereais para fornecer pão para todo o Estado. A m oagem dos cereais em farinha geralmente era feita em moinhos e era um trabalho destinado aos m em bros das classes mais baixas da sociedade. Uma das "instalações" mais básicas de qualquer casa antiga era o moinho de mão com duas pedras para m oer (ver com entário em Jz 9.53). M oinhos maiores geralmente funcionavam como prisões de trabalhos forçados na M esopotâm ia, mas cada prisioneiro também usava um moinho de mão. Nas casas de m oinho havia prisioneiros de guerra, criminosos e endividados.

12.3. aqueles que olham pelas janelas. Uma mulher olhando pela janela era uma temática fam iliar repre­sentada de forma muito bela em entalhes de marfim encontrados em Ninrode, Samaria e Arslan Tash (em que a m ulher está adornada com um a peruca egíp­cia). Na literatura, a m ulher é descrita contemplando o horizonte à espera de notícias do marido ou do filho que teriam partido para a guerra (ver o comentário em Jz 5.28). Essa é provavelmente a base da metáfora usada aqui.12.4. sons de atividades. As portas sendo fechadas são portas duplas e portanto devem referir-se à porta da cidade onde todo o alvoroço das atividades acontecia. Nem o barulho da cidade, nem o barulho dos traba­lhadores (dos m oinhos) é m ais ouvido. Esses sons morriam ao final do dia.12.5. am endoeira. As flores da amendoeira aparente­mente representam os cabelos brancos da velhice. A

amendoeira era a prim eira árvore a florescer no final de janeiro/ inicio de fevereiro, chegando a atingir de4,5 a 9 metros de altura. A flor da amendoeira é branca com manchas rosas; as amêndoas aparecem cerca de dez semanas após a floração. Outras metáforas anti­gas p ara a velhice incluem a gipsita branca num a m ontanha preta.12.6. cordão de prata/ taça de ouro. A palavra para taça aqui tam bém é encontrada em Zacarias 4.2, 3, onde se trata de uma taça que contém os pavios das velas. Alguns supõem que o cordão de ouro está pre­so à taça de ouro, que ao se partir, derrubaria a taça deixando-a em pedaços. Isso simboliza o processo de envelhecimento e a morte. Josefo descreve uma lâm­pada de ouro presa a um a corrente de ouro no templo judeu, em Leontópolis, no Egito.12.6. cântaro na fonte/ roda no poço. Ambos objetos estão associados a um poço ou fonte. Acredita-se que a roda represente a roldana que puxa o jarro para fora do poço, em bora esses instrumentos não fossem am ­plamente usados. A alternativa é que a palavra tradu­zida como "rod a" (galgai) possa referir-se a um a pane­la, com base em um termo semelhante em acadiano (gulgullu, que, talvez não coincidentemente também significa "crânio").

C Â N T I C O D O S C Â N T I C O S

V1.2. beijo . Um beijo nos lábios era usado como expres­são apaixonada em todo o Oriente Próximo, embora os egípcios, nos primórdios, com freqüência tocassem o nariz.1.3. perfum es. U m a série de perfum es feitos à base de óleos ou resinas era usada para perfumar o corpo ou para serem queimados como incenso. Dentre essas fragrâncias estavam a mirra, o incenso e o bdélio (ver Is 60.6; Jr 6.20). O açafrão, o cálam o e o aloé eram importados da índia, a canela do Sri Larika e o nardo do Nepal. Quanto a outros usos bíblicos dos perfu­mes, ver a receita de incenso no comentário de Êxodo 30.34-38 e os perfumes mencionados nos comentários de Provérbios 7.17 e 27.9.1.5. Quedar. Quedar era um dos mais poderosos gru­pos tribais de beduínos do norte da Arábia no período entre o oitavo e o quarto séculos a.C.. São menciona­dos nos anais assírios e neo-babilônicos e estão ligados à genealogia de Ism ael em Gênesis 25.13 (ver os co­m entários em G n 25.12-16; Is 21,16 e 42.11). Suas tendas eram feitas de pele de animais ou de tecidos estendidos em estacas form ando um a cobertura de três lados. A cor negra das tendas seria por causa do uso de pele de bode preto (ver o comentário em Êx26.7-13).1.7. m ulher coberta com véu. Em bora não se saiba ao certo a que se refere essa expressão, ela pode ser decorrente das diferenças de costumes exigidos em contextos sociais distintos. De acordo com as Leis Mé- dio-Assírias, as esposas, viúvas e moças solteiras fi­lhas de cidadãos eram obrigadas a usar véu quando estivessem em público (observe como Rebeca se co­bre com o véu antes de encontrar Isaque, em G n 24.65). N o interior da casa ou em um cenário onde apenas m em bros da fam ília ou servos estavam pre­sentes (ou no aprisco onde o marido guardava seus rebanhos) o véu seria desnecessário. O bserve tam ­bém o uso do véu por Tamar, em Gênesis 38.14, 15. Talvez seja um indício de que no contexto cananeu o véu era usado como sinal de prostituição cultual ou possivelmente por prostitutas que trabalhavam junto com os pastores.1.9. égua das carru agens do faraó . Um a tática de batalha atestada na literatura egípcia era soltar uma égua nas proximidades das carruagens a fim de que os garanhões que puxavam os carros ficassem distra­ídos e confusos. '

1.11. brincos de ouro com incrustações de prata. Como em Provérbios 25.11 o escritor bíblico usa a imagem de um a jó ia finam ente trabalhada para demonstrar devoção e afeição. Nesse caso, os brincos provavel­m ente tinham pingentes de prata ou incrustações no ouro (ver o comentário em Is 3.18-23).1.13. pequ en in a bo lsa de m irra. A m irra cresce na região árida bem ao norte das montanhas costeiras do Iêm en e de Omã, na área chuvosa da monção sudoes­te. A resina da m irra verm elha, extraída através de talhos nos caules espinhosos e da exposição do córtex interno, aparece como drupas suculentas. Esses frutos eram , então, esm agados para uso na fabricação de perfum es ou com o-um ingrediente m edicinal. Sua fragrância natural, parecida com a terebintina, era bastante duradoura podendo ser colocada em um sa­quinho a fim de estimular o prazer sexual ou servir como um aroma desinfetante para os odores com fre­qüência presentes nas casas da Antigüidade. Peque­nas bolsas usadas em volta do pescoço contendo vári­os elementos eram usadas como amuletos no Egito.1.14. ram alhete de flores de hena. Hena é um arbus­to, Lawsonia inermis L., com flores brancas perfuma­das. Cresce em muitas áreas do Oriente Médio e foi descoberto na tumba do faraó Tutancâmon. As folhas e ramos produzem um corante vermelho, amarelo ou laranja que pode ser usado para tingir os cabelos e

outras partes do corpo. A fragrância é semelhante à de rosas.1.14. En-G edi. Trata-se de um oásis localizado 56 qui­lômetros a sudeste de Jerusalém e aninhado por um desfiladeiro na costa ocidental do m ar Morto. O nome significa "fonte do cabrito" e a escavação de um tem­plo do quarto milênio dentro de seus limites atesta a existência das águas refrescantes desse oásis, desde a Antigüidade. N essa m etáfora a localização peculiar do oásis entre os vales dos montes que o circundam faz dele um paralelo apropriado para a pequena bol­sa de mirra e o ramalhete de flores de hena colocados entre os seios da "am ada".1.15. o lhos são pom bas. A s pom bas figuram com certo destaque em selos e outras representações icono- gráficas como um símbolo do amor e da sedução. Às vezes, são consideradas mensageiras do amor. Nesse caso, a m etáfora refere-se ao poder sedutor dos olhos.2.1. flo r (rosa) de Sarom . Em bora não se saiba ao certo a que flor se refere essa citação, o uso da palavra

hebraica shushan para "lír io " neste versículo indica

uma planta com seis pétalas. Uma escolha provável,

portanto, seria o narciso-romano-dobrado que cresce

nas colinas e vales úmidos da planície de Sarom. Flo­

resce durante o inverno e tem pétalas brancas e um

cálice ou corola laranja aumentando a beleza de cada

cacho. Os narcisos foram encontrados como oferendas

em tumbas helenistas do Egito.

2.4. estandarte sobre m im é o amor. A tradução de

degel como "estandarte" é incerta. M urphy e Fox fa­

zem referência a um cognato acadiano, diglu, "o lhar"

ou "intenção", e Fox escolhe a tradução: "suas inten­

ções para comigo eram o am or". De qualquer manei­

ra, colocar um estandarte como símbolo de posse ou

ter a intenção de fazer algo chegam à m esm a con­

clusão: fazer amor com a amada (ver Jr 2.33).

2.5. passas /maçãs como afrodisíacos. A mulher pede

passas e m açãs como um remédio restaurador para

sua "doença de am or" (semelhante ao homem doente

de amor nas canções de amor do Egito), que só pode

ser curada com a volta de seu amado. E possível que

as passas estejam associadas aos bolos de passas rela­

cionados ao culto à deusa Istar (ver o comentário em Jr

7.18). As maçãs também eram consideradas afrodisía­

cas nos encantamentos assírios.

2.7. gazelas e corças. Gazelas e corças com freqüência

são retratadas como acompanhantes da deusa do amor

na arte do antigo Oriente Próximo.

2.9. espiar pelas grades. M arfins ricamente entalhados

encontrados em escavações de Sam aria e Ninrode, nos

sedim entos da Idade do Ferro, incluem o m otivo da

"m ulh er à jan ela". A lguns associam esse tem a com a

deusa fenícia Astarte que era identificada com um culto

de prostituição sagrada (ver a adúltera espiando pelas

grades em P v 7.6). A qui neste contexto, porém , é o

homem im paciente que às vezes espia para ver quan­

do sua am ada estará pronta para recebê-lo.

2.13. prim eiros frutos da figueira. A palavra usada

para figo aqui, paggâ, não é encontrada em outras

passagens da Bíblia, mas existem cognatos em aramaico

e árabe que se referem aos prim eiros frutos verdes

que aparecem num a figueira. Geralmente a figueira

produz duas vezes ao ano. Os primeiros frutos ama­

durecem em junho e os outros em agosto ou setembro

{ver Jr 24.3; Os 9.10).

2.15. raposas. Na poesia amorosa egípcia as raposas

representam homens sexualmente agressivos, como os

termos "lobo" ou "garanhão" na língua portuguesa.

2.16. lírios. Alguns tradutores consideram os lírios

mencionados aqui como flores-de-lis que eram símbo­

los da sensualidade e da fertilidade no Egito e em

Canaã.

3.2. procurar pela cidade. Ver o comentário em Jere­

m ias 5.1 que com p ara Jerem ias ao filósofo grego

Diógenes em sua busca por um "hom em honesto" em

toda a cidade. A temática de "procurar pela cidade"

também está presente na visão que Ezequiel teve dos

executores e do escriba descrita em Ezequiel 9. Existe

um a intensidade neste versículo ligada ao desespero

e à ansiedade da mulher por seu amado, a ponto de

levá-la a um a busca potencialmente perigosa. Geral­

mente, um a mulher decente não sairia sozinha pelas

ruas (compare com a adúltera em Pv 7.6-20). A litera­

tura mitológica também ilustra a mulher em busca de

seu amante. Na mitologia cananéia, Anat sai em bus­

ca de Baal; na literatura egípcia Isis vai à procura de

Osíris.

3.4. casa da mãe. Como acontece na história de Rebeca,

em G ên esis 24.28, e em Rute 1.8, quando N oem i

instrui sua nora a voltar para a "casa de sua m ãe", a

METÁFORAS SEXUAISA natureza explícita de trechos do Cântico dos Cânticos pode ser um pouco chocante para alguns leitores. Entretanto, a literatura erótica metafórica não era rara no antigo Oriente Próximo, como pode ser visto especialmente nas Canções de Amor do Egito. A fertilidade era um tema fundamental para os povos dessas culturas, visto que suas vidas giravam em tomo das colheitas e delas dependiam. A maior parte de suas festas religiosas e feriados se centrava no calendário agrícola, e era natural que as imagens de arar, semear, cultivar e colher fossem usadas para descrever as relações humanas. Como resul­tado, as metáforas sexuais que aparecem no texto expressam as intensas emoções de um par amoroso que encontra dificul­dades em estar separado um do outro e que, às vezes com termos extravagantes, descrevem os méritos e beleza do outro. Seria impossível, à luz de sua paixão, falar de outra maneira a não ser através de termos sensuais e íntimos.

Existe uma celebração da vida aqui, tanto na natureza como entre os humanos. Então, quando a "am ada" fala de seu amado descrevendo-o gracioso como uma gazela, saltando pelas colinas (2.17) demonstrando sua energia e atributos atléticos, é fácil entender a referência ao contexto da paixão. Ele a compara com tudo que é belo, "a uma égua das carruagens do faraó" (1.9), com olhos de pomba (1.15; 4.1) e lábios como "um fio vermelho" (4.3). Ela, por sua vez, o descreve como uma pequena bolsa de mirra em volta do pescoço e perto do coração (1.13, 14). Tais comparações disfarçam os espinhos da vida cotidiana e, por um tempo, restauram o significado da essência idílica do Éden.A maioria das traduções procura ocultar parte das imagens eróticas mais explícitas com eufemismos e metáforas apropri­adas, considerando-se a natureza poética da literatura e a necessidade de preservar uma certa adequação para os leitores em geral.

expressão "casa da m ãe" é indício tanto de um espaço físico quanto social. A expressão bêt ‘em em cada um desses textos deve ser comparada com bêt 'ab ou "casa do pai". Enquanto a maioria dos textos, talvez devido a questões legais de herança e posse de terra, empre­ga a expressão "casa do pai" (ver G n 38.11; Lv 22.13), a importância das mulheres num a família em relação à procriação, bem como à adm inistração doméstica (ver Pv 31.10-31), atribuía a ambas as expressões um igual valor social na cultura israelita.3.6. especiarias dos m ercadores. As caravanas de mer­cadores transportavam quantidades de incenso e mir­ra das regiões desérticas do sul da Arábia e da Somália. Esses itens caros não apenas formavam um a nuvem de fragrância envolvendo a procissão descrita aqui m as também despertavam o desejo sexual da mulher. As canções de amor egípcias repetidamente referem- se a "beleza ungida com m irra" e outros aromas como inebriantes sexuais.3.9. lite ira de m adeira. Os amantes com param seus aposentos à liteira do rei Salomão, confeccionada com a m ais nobre m adeira do Líbano e decorada com ouro e prata. O term o traduzido como "lite ira" tem tido muitas interpretações, com base em cognatos egípcio, aramaico e grego. As idéias variam de liteira ou car­ruagem até sala de trono ou "prédio m agnífico". A idéia de Fox de que se trata de um pavilhão coberto com toldo em um jardim (ver Et 1.6) ou de um quios­

que de jardim como aqueles encontrados em textos m esopotâmicos e em pinturas de tum bas egípcias é uma sugestão provável.3.11. coroado pela m ãe no casamento. Grinaldas ou coroas de casamento eram usadas pelo casal durante a cerimônia nupcial (Is 61.10; compare com o rei persa colocando uma coroa na cabeça de Ester quando ela se torna rainha, em Et 2.17). Não há evidências em ou­tras passagens de um a mãe coroando seu filho como rei, embora considerando-se o tema do reinado sábio de Salomão, pode ser uma referência à "coroa de es­plendor" que a Senhora Sabedoria coloca na cabeça de seu escolhido (Pv 4.9). A mãe desempenhava uma função prim ordial na fam ília em relação a questões amorosas.4.1-7. descrição do corpo da amada. Como Keel apon­ta, as descrições se concentram em características e não em formas. Assim, os olhos não têm a form a de pombas, m as agem como pombas (ver o comentário em 1.15).4.3. faces como as m etades de um a romã. Em vez de"m etades" de uma rom ã, Keel sugere de forma bastan­te plausível que se trata de um corte na romã, reve­lando a fruta vermelha e tenra. Essa descrição se en­caixaria m elhor ao paralelo para lábios mencionado

anteriormente no verso. Se for esse o caso, a palavra traduzida como "faces" deveria ser traduzida como "bochechas".4.4. torre de Davi. De acordo com o estilo descrito nas canções de amor egípcias e ilustrado na arte (busto de Nefertiti), um pescoço longo era traço de beleza na mulher. Por isso, a comparação com uma torre alta e

bem construída é bastante adequada (ver 7.4 e a com­paração com a "torre de m arfim "). Porém, a estrutura

arquitetônica aqui descrita é desconhecida pelos ar­queólogos e não fica claro se estava situada em Jerusa­lém ou em alguma outra cidade. Mais importante que o form ato, porém , era o fato de que a torre repre­sentava o orgulho e a glória da cidade. Essa imagem também é usada para pescoço em outras passagens da Bíblia (por exemplo, SI 75.5).

4.4. escudos pendurados n a torre. A m etáfora do pes­coço adornado da m ulher continua através da compa­ração com os escudos usados na decoração de torres (compare com 1 Rs 10.16, 17) com os colares e jóias usadas por mulheres amadas ou ricas (ver Pv 1.9; Ct 1.10; Ez 16.11). Em seu "Lam ento por Tiro", Ezequiel descreve como os escudos pendiam dos muros da ci­dade aumentando sua beleza (Ez 27.10, 11).4.8. alto do Amana. Agora o amante chama sua ama­da para juntar-se a ele descendo de suas alturas ina­cessíveis e terras distantes. Essa é uma m etáfora de seu desejo pela presença dela e não à sua localização geográfica. O Amana é um dos picos da cadeia Anti- Líbano, perto da nascente do rio Amanus.4.8. Senir/ H erm om . Esses são nom es alternativos para o mesmo pico, o m onte H erm om (ver o comentá­rio em D t 3.9). R egistros assírios citam o Senir na cadeia montanhosa do Líbano, no norte da Transjor- dânia. A canção aqui sim plesm ente usa essa região metaforicamente inacessível como sinônimo do senti­mento de isolamento do amante quando está distante de sua amada.4.8. leões e leopardos. Esses animais selvagens mui­tas vezes são retratados acompanhando deusas, parti­cularmente lstar, a deusa mesopotâmia do amor. Keel afirm a que essa im agem esten d e-se desde a arte neolítica até o período clássico grego e romano.4.12. ja rd in s . Os jardins eram lugares de delícia e descanso e, portanto, servem como metáfora para os amantes. A literatura sum éria usava essa m etáfora para descrever a amante como um jardim bem guar­dado e provérbios acadianos descrevem uma mulher com o um jardim de delícias. N as canções de amor egípcias a m ulher descreve a si m esm a com o um campo com todo tipo de plantas.4.13,14. especiarias. Como é freqüente nas canções de am or egípcias, a beleza e a sensualidade da m ulher

são comparadas à fragrância de frutas, árvores e espe­ciarias (ver o comentário em Pv 7.17 e 27.9). O exage­ro do núm ero e da variedade de plantas exóticas alis­tadas aqui simplesmente reflete o "lisonjeio do aman­te". N ove tipos de especiarias são alistados, e três deles na, verdade, crescem em Israel (bálsamo, hena e açafrão). O açafrão verm elho produz quantidades tão insignificantes de especiaria que é preciso m ais de quatro m il flores para produzir 30 gramas. O incenso, os aloés e o nardo eram im portados da Arábia, da índia, do Nepal e da China, por isso, eram extrema­mente caros. O nardo é obtido de um a erva existente nos desertos da Arábia e norte da África, mas tam ­bém é descrito como "nardo puro" (ver M q 14.3). É feito com as flores de um a planta que cresce na encos­ta do Him alaia (quase quatro mil metros de altitude) e era considerado afrodisíaco. A m irra, a canela e o cálamo também eram importados. O cálamo é extraí­do de um a erva aromática encontrada na índia, que hoje é usada para produzir óleos de citronela.5.7. sentinelas. É possível que os sentinelas tenham achado que uma jovem desacompanhada andando à noite fosse um a prostituta. Eles tiraram seu véu ou manto (ver Is 3.18, 23), talvez em concordância com a lei m édio-assíria que perm itia apenas a "m ães de fam ílias, viúvas e outras m ulheres livres" a usar o véu em público. E possível que em sua pressa para sair em busca do amado, a m ulher estivesse apenas vestida com parte de suas roupas, assim como a m u­lher doente de amor nas canções de amor do Egito.5.15. colunas de m ármore. Agora é a vez da mulher descrever seu amado com palavras extravagantes. A comparação que faz de suas pernas com um par de colunas de mármore finamente esculpidas e firmadas em bases de ouro puro é semelhante à descrição que Ben Sira usa para as pernas e pés bem torneados de um a m ulher (Eclesiástico 26.18). U m retrato sem e­lhante de perfeita simetria física pode ser encontrado na descrição do deus babilônio M arduque, no épico da criação Enuma Elish.6.4. Tirza. Embora a capital do reino do norte, Israel, tenha sido transferida de Tirza (Tell el-Far'ah) duran­te o reinado de Onri, isso não significa que a cidade tenha sido totalmente abandonada. É possível que o escritor aqui queira evitar comparações com Jerusa­lém e Sam aria, rivais políticas, então, Tirza seria uma substituta. O nome também serve como um trocadi­lho, com base no radical hebraico rsh, "agradável" ou "beleza". O jogo de palavras perm ite ao amante in­tensificar sua afirmação de que ela é tão "linda como Tirza".6.8. harém . Um harém real era formado por (1) m u­lheres designadas como "rainhas" e cujos filhos au­

tomaticamente faziam parte da linhagem de sucessão ao trono; (2) concubinas que tinham um a posição infe­rior e cujos filhos podiam ser excluídos da herança a

não ser por um a ordem expressa do rei; e (3) virgens que podiam ser m oças que ainda não tinham sido

form alm ente apresentadas ao rei (ver Et 2.8-14) ou que ainda não tinham gerado filhos. N esse caso, o

am ante gaba-se de que sua amada é m ais bela que qualquer núm ero (sessenta e oitenta é igual a uma

infinidade) de mulheres do harém do rei.6.11. nogueiras. Em bora pistaceiras e pinheiros fos­

sem comuns na antiga Palestina, não havia "nozes"

nativas, com o as das nogueiras (Juglans regia L ) . O termo 'egoz, que aparece apenas neste versículo da

Bíblia, foi traduzido como "nogueira" e sugere que a

árvore pode ter sido introduzida na Palestina, trazida de seu habitat natural na Pérsia e na índia, antes do

período helenista.

6.13. Su lam ita. Visto que o artigo definido precede esse nom e, trata-se provavelm ente de um epíteto,

com o por exemplo "a perfeita", e não de um nome próprio. O nome pode estar baseado na forma femini­

na do nome Salomão, ou possivelmente há uma rela­ção com a deusa m esopotâmia Shulmanitu ou Sala. É

improvável que o nome se refira a uma pessoa natu­

ral de Suném, visto que a m ulher é descrita nas can­ções tendo uma relação muito íntima com Jerusalém.

6.13. dança de M aanaim . N enhum a dança específica

tem sido associada a Maanaim, um a localidade situa­da na Transjordânia, às m argens do rio Jaboque (ver

2 Sm 2.9). O nome significa "d ois acam pam entos", por

isso, alguns estudiosos têm interpretado a m enção a essa dança, como o estilo em que hom ens e m ulheres

se separam e dançam em filas opostas. A dança, com

freqüência, é associada à celebração da vitória (1 Sm18.6,7) e como expressão de alegria (Êx 15.20; Jz 11.34).

7.2. vin ho m isturado. D urante o período helenista,

com freqüência o vinho era diluído com água a fim de que um a m aior quantidade da bebida pudesse ser

consumida permitindo que uma conversa inteligível e sóbria fosse m antida durante as refeições. Entretan­

to, em períodos anteriores, o vinho m isturado ou tem­

perado era comum. Era um a bebida de teor alcoólico

m ais forte, por isso tinha de ser consumida com mais

m oderação (ver Jz 9.13; Pv 9.2). N a M esopotâm ia, onde o vinho era menos comum até a época do im pé­

rio assírio, seu consumo era reservado a ocasiões espe­ciais. Às vezes apenas um xarope ou suco de uvas era

servido, misturado com o m el para produzir um licor.

7.4. torre de m arfim . Ver o comentário em 4.4 a res­peito da comparação entre o pescoço bem feito de uma

mulher e um a estrutura elevada.

7.4. açudes de H esbom . Visto que açudes de água

refletem a luz, servem como um a excelente metáfora

para os olhos brilhantes da amada. Escavações em

Hesbom, 16 quilômetros ao norte de Madaba, na Trans-

jordânia, desenterraram um a grande cisterna ou re­

servatório do oitavo século a.C. que poderia ser a base

para essa imagem. Os longos meses quentes e secos

do verão exigiam o armazenamento de água em cis­

ternas e esses açudes seriam belos aos olhos dos habi­

tantes da cidade, à medida que a luz refletia na super­

fície das águas.

7.4. porta de Bate-Rabim . Esse lugar não foi localiza­

do, embora se suponha que seja a entrada do reserva­

tório da cidade. Pode haver tam bém um trocadilho

com o significado da expressão "filha de m uitos", com

base na sonoridade sem elhante do título bat naâib,

"filha do n obre", conferindo à am ada um título de

honra.

7.4. torre do L íb an o . U m a m ontanha elevada, tal

como o monte Hermom, no sul do Líbano, pode ser o

significado implícito aqui. No entanto, a sugestão de

Fox de que se trata de um jogo de palavras entre o

termo Lbonah, "incenso", e Líbano é bastante plausí­

vel. O nariz da m ulher é perfumado e desejável como

uma pilha alta desse caro incenso.

7.13. m andrágoras. O fruto da m andrágora também

é citad o nas can ções de am or eg íp cias com o um

afrodisíaco. Raquel rapid am ente se m obiliza para

encontrar uma m andrágora quando Rúben, o filho de

sua irmã Lia, encontra um a no campo (ver o comentá­

rio em G n 30.14, 15). A planta tem folhas largas e

flores violetas com um a forte fragrância e um peque­no fruto amarelo.8.2. vinho aromatizado. V er o comentário sobre vinho misturado em 7.2. Em alguns casos o vinho era feito de sucos de frutas como a romã. Fontes egípcias registram o uso de seiva de palm eira, xarope de tâm ara e figos para produzir vinhos. O doce sabor dessas bebidas é comparado à doçura de um beijo (1.2; 5.16).8.6. m etáfora do selo. Essa metáfora reflete a intimi­dade do contato íntimo e constante representado pelo anel-selo (ver Jr 22.24) ou selo cilíndrico usado ao redor do pescoço como um amuleto e, portanto, perto do coração (ver o comentário em G n 38.18, 25). Um a das canções de am or de Cairo (Grupo B, conhecido como os "sete desejos") contém um a frase parecida: "A h, se eu fosse seu pequeno anel-selo, o guardador de seu dedo!".8.11. Baal-H am om Essa localidade não foi identificada e aparece somente neste versículo. U m nome seme­lhante, Belam om , aparece em Judite 8.3, m as pode tratar-se de mera coincidência. O nome pode ter sido escolhido sim plesm ente porque significa "o possui­dor de riquezas" e, portanto, um sinônimo da nature­za frutífera da vinha e, por extensão, do harém de Salomão que tinha m il mulheres.8.14. m ontes cobertos de especiarias. Esses montes podem ser comparados às "colinas escarpadas" men­cionadas em 2 .17 .0 convite em ambos os casos é para que o jovem venha usufruir dos prazeres perfumados oferecidos pela jovem , sim bolizados nos m ontes ou colinas. A im agem é sem elhante àquela do am ante de Istar, Tammuz, que tal como um pastor "salta pe­las colinas".

Livros proféticos

IntroduçãoUma vez que, como cristãos, cremos que há um só Deus e entendemos que a profecia contém mensagens desse Deus, muitas vezes somos inclinados a pensar que a profecia bíblica é um fenômeno único. Embora se justifique pensar que toda profecia fora da Bíblia é falsa, perma­nece o fato de que a profecia bíblica está incluída em uma longa tradição de profecias no antigo Oriente Próximo. Até mesmo a Bíblia esclarece esse fato nas narrativas sobre Balaão e os profetas de Baal mantidos por Acabe e Jezabel.

A adivinhação está relacionada a qualquer processo que busca obter mensagens que ultrapassam o mundo dos humanos. No mundo antigo, a adivinhação assumia muitas formas distintas (ver o comentário em Dt 18), mas a maioria delas era proibida em Israel porque envolviam uma visão inferior da divindade (manipulação). A profecia era uma forma de adivinhação praticada legalmente pelos israelitas. Não se tratava de adivinhação mântica que exigia conhecimento de livros especializados (p. ex., feitiços ou textos de presságios) ou o uso de rituais mágicos mas, sim, era resultado da comunicação direta com a divindade. Textos que falam de profetas e apresentam as mensagens deles estão espalhados em toda literatura do antigo Oriente Próximo. Em alguns desses textos os profetas usam outras formas de adivi­nhação para receber suas mensagens.

A coletânea mais importante de mensagens proféticas encontra-se em cerca de cinqüenta cartas preservadas em tabletes encontrados nos arquivos reais da cidade de Mari. São datadas do início do segundo milênio a.C. (contemporâneas aos eventos do Gênesis). As cartas rela­tam aos reis profecias que tinham por objetivo chamar a atenção de oficiais locais. As profecias são provenientes de diversas divindades e orientam o rei em questões militares e outros assuntos da política governamental. Ocasionalmente elas determinam que certos rituais se­jam realizados. _

Uma segunda coletânea de quase trinta oráculos provém do período neo-assírio (sétimo século). A divindade principal é Istar de Arbela e as profecias tipicamente prevêem vitória e prosperidade para o rei em seus diversos empreendimentos. Alguns dos oráculos estão registrados em grandes tabletes que serviam como cópias de arquivo, enquanto outros são textos menores contendo oráculos individuais. Os oráculos são relativamente curtos, varian­do de uma frase a um parágrafo ou dois, no máximo.

Na literatura egípcia não existem textos que afirmam conter oráculos das divindades, mas obras tais como as Exortações de Ipuwer e As Visões de Neferti (ambas datadas do início do segundo milênio) de fato contêm observações relacionadas ao estado caótico da sociedade e avisos do julgamento vindouro. Elas também fazem algumas referências a uma iminente restauração da ordem. Esse material, portanto, inclui os mesmos tipos de mensagens encon­tradas na literatura profética de Israel. Apesar dessa semelhança, não há instituição profética comprovada no, Egito, como se encontra no restante do antigo Oriente Próximo. A razão mais óbvia para essa diferença é que no Egito a divindade estava encarnada na pessoa do faraó. Não havia, portanto, necessidade de um porta-voz que falasse em nome da divindade, visto que a divindade já estava no meio deles.

Os oráculos proféticos do antigo Oriente Próximo são semelhantes a uma fase inicial da profecia israelita. Os profetas escritores de Israel foram designados "profetas clássicos", e os primeiros deles aparecem no início do oitavo século. Antes desse período, profetas como Natã, Elias, Eliseu e muitos outros são mencionados na literatura histórica, mas não há com­pilações de seus oráculos. São chamados de "profetas pré-clássicos" e são eles que apresentam

a maior semelhança com os profetas do restante do mundo antigo. Suas mensagens eram dirigidas ao rei e diziam respeito à política pública ou outras questões de importância nacional. Nesse sentido, os profetas eram conselheiros oficiais, e com mais freqüência, não oficiais do rei. Em contraste, os profetas clássicos muitas vezes dirigem-se ao povo ao transmitir suas mensagens de caráter social e espiritual. Apesar de suas mensagens incluírem proclamações de bênção ou reprovação, eram dirigidas à sociedade como um todo e não exclusivamente ao rei. Como resultado, os profetas escritores transmitiam alertas em relação ao cativeiro, à destruição e ao exílio que eram novidade nesse período e para a instituição profética.

Os profetas com freqüência eram considerados loucos - uma conseqüência do fato de que não era raro receberem suas mensagens em estado de transe ou êxtase. Um dos títulos usados na literatura acadiana para profeta é mubhu, que geralmente é traduzido como "extático". Não obstante, os profetas eram levados muito a sério. O próprio ato de proferir as palavras era considerado determinante na concretização de sua mensagem. Isso acontecia indepen­dente da posição que o profeta ocupava na sociedade. Alguns profetas faziam parte dos funcionários do templo ou do concílio de conselheiros do rei, mas não era raro haver profetas leigos ou plebeus. Na Babilônia ou na Assíria a palavra do profeta estava sujeita à confirmação feita através de procedimentos de adivinhação. Apresentava-se a pergunta se a mensagem profética deveria ou não ser aceita favoravelmente e o sacerdote adivinho buscava a resposta "escrita" nas entranhas do animal sacrificado.

Fica claro que todas as culturas do mundo antigo acreditavam que os deuses se comunica­vam através de indivíduos escolhidos. Em grande parte do antigo Oriente Próximo parece que os profetas serviam como apoio à ideologia imperial. Já em Israel, eles representavam com mais freqüência um movimento de contracultura. Por causa disso, os profetas tendiam a aglomerar-se em períodos de grandes turbulências. Durante o período pré-clássico os profe­tas Moisés, Débora, Samuel, Elias e Eliseu cumpriram seu papel em tempos difíceis. Durante o período clássico, a atividade profética girou em torno de três momentos cruciais:

1. A crise assíria que provocou a queda do reino do norte e o cerco a Jerusalém (760­700: Amós, Oséias, Miquéias e Isaías)

2. A crise babilónica que resultou na queda da Assíria e na queda de Judá e Jerusalém (650-580: Habacuque, Sofonias, Naum, Jeremias e Ezequiel)

3. O período pós-exílico com o governo persa e a crise de identidade (530-480: Ageu, Zacarias, Joel, Obadias, Malaquias; Daniel poderia ser incluído entre esses, embora tenha cumprido seu papel como profeta no exílio).

Os oráculos dos profetas escritores podem ser divididos em quatro categorias gerais. Os oráculos de acusação notificavam o povo quanto ao que haviam feito de errado. Os oráculos de juízo descreviam a ação que Deus pretendia tomar em resposta às ofensas do povo. Os oráculos de instrução (relativamente poucos até o período pós-exílico) diziam ao povo o que precisa­vam fazer e como deveriam agir e pensar. Os oráculos futuros informavam o povo sobre os planos de Deus após a vinda do juízo. Todos, exceto o último grupo, também estão represen­tados nas profecias do antigo Oriente Próximo, embora não tenham sido nunca coletadas, "publicadas" e canonizadas como o foram em Israel.

I S A Í A S

V1.1-31 Acusação de Rebeldia1.1. cronologia. Em 6.1 o chamado de Isaías é situado no ano em que morreu o rei Uzias, por volta de 739a.C.. Aqui, há um indício de que seu ministério pro­fético continuou até os dias de Ezequias, pelo menos até depois do cerco de Jerusalém por Senaqueribe, em 701. Essa metade de século foi bastante tumultuada e testemunhou o surgimento e domínio do império neo- assírio que mais tarde foi responsável pela invasão do reino do norte, pela queda de Samaria e pela destrui­ção m aciça de Judá. A cham ada de Isaías coincidiu com o início dessa renovada ameaça assíria (para de­talhes a respeito dessa ameaça no século anterior, ver os comentários em 1 Rs 22.1 e 2 Rs 9.14), à medida que Tiglate-Pileser III conduzia sua primeira campa­nha no ocidente, em 740-738. Essa cam panha tinha como alvo Arpade, no norte da Síria, mas resultou no pagamento de tributos por algumas nações do sul tais como Damasco, Tiro, Sidom e Samaria.1.2. dirigindo-se aos céus e à terra. Em outros textos da literatura do antigo Oriente Próxim o, os deuses eram invocados como testemunhas de eventos importantes. Aqui, o Senhor está fazendo um a acusação formal con­tra Israel e o cosmos não-deificado é convocado como testemunha. Em um tratado hitita, após uma longa lista de testemunhas divinas, as montanhas, os rios, o mar, o Eufrates, o céu e a terra, os ventos e as nuvens tam ­bém são alistados. N a aliança que Deus fez com Israel (ver o comentário em D t 4.26) os céus e a terra haviam sido convocados com o testem unhas, por isso é apro­priado que sejam chamados para ouvir a acusação que detalha a violação dessa m esm a aliança.1.4. pecado nacional. O M ito de Erra e Ishum (Babilônia do oitavo século) fala da destruição justificada de cida­des porque o povo abandonara a justiça e a retidão, cometera atrocidades e planejara intentos malignos. Não obstante, a destruição de cidades famosas no mun­do antigo geralm ente era vista com o resultado do abandono divino. O abandono era decorrente de vio­lações praticadas pelo rei ou simplesmente se baseava na idéia de que o destino havia assim determinado.1.7. terra devastada, cam pos tom ados. A devastação da terra era uma conseqüência natural das invasões. Os exércitos invasores m uitas vezes não recebiam provi­sões de alimentos para suas tropas, por isso, tinham de extrair o necessário para sua sobrevivência da terra

que estavam invadindo. O que não usavam com esse objetivo era destruído. Não só as plantações eram quei­madas, como tam bém a terra era pisoteada, arruinan­do o ciclo agrícola por diversas estações posteriores. As vezes, as pessoas que estavam sendo atacadas ateavam fogo a suas próprias plantações a fim de que o inimigo não pudesse usar o alim ento que elas haviam traba­lhado tanto para cultivar. Os elem entos contidos nes­sa ameaça de destruição divina são típicos. Um trecho bastante conhecido do M ito de Erra e Ishum descreve as intenções destrutivas de Erra em devastar cidades e transformá-las em desertos; destruir montes, juntamen­te com o gado e sua produção; devastar a população; colocar um tolo no trono; provocar um a praga de ani­m ais selvagens; e reduzir o palácio real a pó.1.8. cidade (filha) de Sião. Sião é o nome do monte sobre o qual Jerusalém está situada e representa o lugar cósmico de onde o Senhor domina e reina. Por­tanto, também está associada à aliança davídica e ao reinado estabelecido por Deus. A filha de Sião seria a cidade em si.1.8. comparação. Pequenas cabanas eram construídas nos campos para que os guardas pudessem vigiar os frutos que já haviam sido colhidos. No final da colhei­ta, essas cabanas eram destruídas ou deixadas nos campos despidos de sua produção. Assim, Jerusalém é retratada vazia ou deserta, sem nada para proteger.1.9. comparação. No relato de Sodoma e Gomorra, de Gênesis 19, essas cidades não são destruídas por exér­citos invasores, m as não é a isso que a comparação se refere. A ênfase do texto está na totalidade e amplitu­de da destruição como resultado do castigo de Deus. Uma vez que essa relação é sugerida, o versículo 10 dá o próximo passo deixando implícito que o grau de impiedade tam bém serve como parâmetro de compa­ração. Um Deus justo castigaria de form a semelhante crimes tão parecidos.1.11. holocaustos (sacrifícios queim ados). Os holo- caustos geralm ente acom panhavam as petições. No m undo antigo a maioria das pessoas achava que os sacrifícios eram um meio de alimentar os deuses. Se alguém tinha um pedido especial para fazer a um deus, considerava-se apropriado providenciar uma refeição. Em Israel, em bora os holocaustos estivessem associados a petições, a concepção de "refeição para os deuses" teoricamente era descartada. Como Isaías e outros profetas demonstram, porém, esse conceito não

havia sido totalmente elim inado e havia lapsos fre­qüentes de sincretismo por parte do povo. O proble­m a com o conceito de "alim entar os deuses" era que pressupunha que D eus tinha necessidad es que os adoradores podiam satisfazer e conseguir em troca seu favor.1.12. pôr os pés nos átrios. N o mundo antigo os tem­plos eram considerados espaços sagrados cujo acesso restrito era protegido e m onitorado de perto. A ad­missão para o público em geral era permitida apenas quando um sacrifício precisava ser oferecido e ainda assim, apenas no átrio externo. A entrada ao recinto sagrado por qualquer outro motivo senão o cultual e santo era considerada invasão sacrílega.1.13. incen so . No m undo antigo o incenso era um importante item que acompanhava os sacrifícios. Seu aroma adocicado na mascarava os odores desagradá­veis que resultavam da realização dos rituais. O incenso era caro (ver o comentário em Lv 2.1), mas acreditava- se que agradava os deuses.1.13. luas novas e sábados. D evido ao uso de um calendário lunar, no antigo Israel o primeiro dia do mês era marcado pela fase da "lua nova", quando era celebrada um a festa (a cada vinte e nove ou trinta dias). Assim como no sábado, nenhum trabalho podia ser feito nesse dia (ver A m 8.5) e sacrifícios tinham de ser oferecidos (Nm 28.11-15). Durante a m onarquia o rei assumiu um papel de destaque nessas celebrações (ver Ez 45.17). A festa da lua nova continuou a ser observada no período pós-exílico também (Ed 3.5; Ne10.33). Esse tipo de festa também era bastante proe­m inente na M esopotâm ia, desde o final do terceiro m ilênio até o período neo-babilônico, na m etade do prim eiro m ilênio a.C..1.13. 14. reuniões, assem bléias, festas fixas. Havia três festas principais que envolviam peregrinações a Jerusalém e diversas outras que se caracterizavam mais como reuniões locais. As festas religiosas propor­cionavam a oportunidade de celebrações, refeições comunais e ajuntamentos sociais. O que fora projetado como um meio de render louvor e honra a Deus, no entanto, não estava lhe dando nenhum prazer.1.15. esten d er as m ãos em oração. Em 2 Crônicas6.12, quando Salom ão dirige-se à assem bléia e faz uma oração de dedicação para o templo, ele é descrito como estando de pé com os braços levantados e a palm a das m ãos virada para cima. As orações de en­cantamento de fontes mesopotâmicas, como as dirigidas a Istar, exigem que o suplicante se prostre e cum pra o ritual levantando as m ãos. Fontes h ititas sugerem posições e gestos semelhantes. A literatura acadiana apresen ta um a form a de encantam ento cham ad a shuilla ("levantar a m ão"). Para mais informações, ver o comentário em 2 Rs 5.11.

1.15. d ivindades ignorando as orações. O tema do suplicante cuja petição não é atendida é bastante co­mum na literatura antiga. Por exemplo, na "O ração a Todos os D euses" encontrada na biblioteca de Assur- banipal, em N ínive, o suplicante pede perdão por toda e qualquer ofensa imaginável, a todas as divin­dades. Em seguida, ele lam enta que, apesar de sua contrição, nenhuma divindade está disposta a tomá-lo pela mão ou a colocar-se ao seu lado - ninguém lhe dá ouvidos. Assumindo o ponto de vista da divindade, o Lamento pela Destruição de Ur relata que Anu e Enlil haviam decidido não atender as petições de livra­mento, m as estavam determ inados a executar seus planos de destruição.1 .16 ,17 . dim ensão ética da religião. Fazer justiça era uma exigência básica de qualquer deus para qualquer povo. N a verdade, a instrução dada aqui não poderia ser mais padronizada. Essas são consideradas as res­ponsabilidades de qualquer sociedade civilizada. Es­tabelecer a justiça e defender os fracos e oprimidos eram as m arcas de um rei bem -sucedido. A única diferença entre Israel e o restante do mundo antigo nesse aspecto era em relação às responsabilidades li­gadas às obrigações espirituais. No antigo O riente Próxim o, os deuses tinham a responsabilidad e da manutenção da justiça. Parte dessa responsabilidade era baseada em razões pragmáticas: um povo oprimi­do se inclinaria a perturbar os deuses com seus pedi­dos ininterruptos (incômodos?) por livramento. Acre­ditava-se que a justiça era produzida na estrutura do cosmos e suas leis estavam sob a guarda dos deuses. A diferença na cosmovisão israelita era a crença de que a justiça se originava no caráter de Deus e era um atributo seu. Os m esopotâm ios tinham a obrigação espiritual de agradar os deuses. Isso era feito primor­dialm ente através de rituais, m as também evitando agitar o barco da civilização. Os israelitas tinham a obrigação espiritual de serem como Deus. Tal objeti­vo era alcançado através de um comportamento ético e da santidade pessoal. Para os mesopotâmios a puri­ficação era algo concreto, que se atingia através de rituais; para os israelitas esse estado só era atingido em term os espirituais, através de arrependim ento e regeneração.1.18. comparação. Os corantes mencionados aqui são os mais duráveis e vibrantes, capazes de produzir as cores mais vivas e permanentes. Em nenhuma outra passagem do Antigo Testamento nem na literatura do antigo Oriente Próximo o verm elho é símbolo de pe­cado, em bora o branco seja símbolo de pureza.1.22. prata e escória. No m undo antigo a prata era extraída e refinada através de um processo chamado copelação. No processo inicial de fundição, ela era extraída de m inérios de chum bo (galena) contendo

menos de 1% de prata em cada amostra. O chumbo era derretido em vasilhas rasas feitas de substâncias porosas como cinzas de ossos ou argila. Um fole era usado para soprar através do chumbo fundido, pro­duzindo óxido de chumbo (litargírio). Parte do óxido de chum bo era absorvida pela vasilha porosa, en­quanto outra formava uma camada na superfície. Te­oricam ente a prata era o que sobrava. Infelizmente, esse processo apresentava muitos problemas potenci­ais. Se a temperatura estivesse elevada demais ou se a amostra contivesse outros metais (cobre ou estanho eram comuns), a copelação não teria êxito. N esse caso, quando o litargírio formava uma camada na superfí­cie, em vez de prata, restava um a prata m isturada com outros m etais e, portanto, inutilizável. Talvez esse seja o produto descrito como "escória" pela tradu­ção. O utra possibilidade é que o texto se refira ao processo de refinação que envolvia aquecer uma amos­tra de prata com grandes quantidades de chumbo a fim de extrair as impurezas. Um dos resultados possí­veis desse processo era que a quantidade de chumbo seria insuficiente para extrair as im purezas, inu ti­lizando a prata. Em vez de ser purificada, então, a prata ficava em piores condições que antes do proces­so. Talvez o texto tenha em mente esse processo e a prata se transform e nesse lixo inútil. O processo de refinação pode ser repetido e em, algum momento, dar resultado positivo (ver v. 25).1.22. licor (vinho escolhido). M uitos estudiosos con­sideram que a bebida mencionada aqui seja cerveja e não vinho por causa do term o relacionado em aca- diano. O tipo m ais com um de cerveja era feito de malte de cevada, mas outros tipos eram feitos de trigo ou até mesmo tâmaras. Havia muitas variedades de vinho e alguns eram mais apreciados que outros. A biblioteca de Assurbanipal continha um texto que cita os dez m elhores vinhos (o vinho puro de Izalla era considerado o melhor).1.23. órfãos e viúvas nos tribunais. Um aspecto fun­damental da tradição legal israelita envolvia garantir o sustento dos grupos classificados como fracos ou oprimidos: viúvas, órfãos e estrangeiros (ver Êx 22.22; D t 10 .18 ,19 ; 24.17, 21). A preocupação com os caren­tes é evidente nas coleções de leis da Mesopotâmia já na metade do terceiro milênio, mas esse cuidado ge­ralm ente estava relacionado à proteção de direitos e garantia de justiça em julgamentos e não a um susten­to financeiro. Com base nas afirmações dos prólogos dos Códigos de Ur-Nam mu e de Hamurabi, fica claro que os reis consideravam parte de seu papel, enquan­to "sábios governantes", proteger os direitos dos po­bres, das viúvas e dos órfãos. Igualm ente, no texto egípcio A Lenda do Camponês Eloqüente, o querelante começa identificando seu juiz como "o pai dos órfãos,

o esposo das viúvas". Esses dados refletem a preo­cupação e o cuidado existentes em todo o antigo Ori­ente Próximo de que as classes m ais vulneráveis fos­sem assistidas.1.25. escória. A respeito do uso dessa imagem e seu significado, ver o comentário em 1.22.1.26. juizes/conselheiros. Visto que este trecho tem a ver com a justiça na sociedade e no sistema judiciário, é m ais provável que o texto esteja referindo-se aos juizes como funcionários judiciais e não aos libertado­res do período dos juizes. Essa interpretação também teria base por causa do uso do termo paralelo "conse­lheiros", que nunca é usado para descrever os liber­tadores do Livro de Juizes. Os conselheiros eram res­ponsáveis por ajudar o rei a elaborar e executar as políticas governamentais, enquanto a função dos juizes era ajudar o rei a elaborar as leis e colocá-las em prá­tica. A política nacional e o sistema judicial estão sen­do alvos de acusações neste versículo.1.29. carvalhos e jard in s sagrados. O s jardins no an­tigo O riente Próxim o, m uitas vezes, eram bosques com árvores frutíferas, arbustos e árvores que ga­rantiam sombra. Eles funcionavam como santuários externos ou serviam como arredores agradáveis para construções sagradas. As árvores sagradas tinham um papel im portante na religião popular da época. Es­sas crenças populares consideravam as árvores e as pedras como uma habitação divina em potencial. Na religião cananita acreditava-se que eram símbolos de fertilidade (ver D t 12.2; Jr 3.9; Os 4.13), embora haja poucos vestígios arqueológicos ou literários que es­clareçam o papel dessas árvores sagradas. As esca­vações em Kition da Idade do Bronze M oderna de­senterraram um tem plo com um bosque sagrado e sessenta covas de árvores.

2.1-5 Jerusalém nos dias vindouros2.2. m onte do tem plo. Em term os topográficos, Je­rusalém fica num nível acima de seus arredores, de modo que é preciso subir para chegar até a cidade. Além disso, o templo fica localizado no nível mais alto da cidade, logo, de qualquer outra parte de Jerusalém é preciso subir para chegar ao templo. Este oráculo recorre a um dado topográfico para proclamar a futu­ra ascensão política da cidade. A Crônica de W eidner declara que a cidade de Babilônia crescerá e será exal­tada em todas as terras. E ainda, inscrições de prédios assírios com freqüência fazem m enção a elevar o tem­plo restaurando-o e aumentando sua altura. Na litera­tura babilónica, a profecia de M arduque (diversos séculos antes de Isaías) prediz a ascensão futura da Babilónica cujo templo terá o dobro da altura. Esse texto também cita o retom o dos espalhados (aludindo

às estátuas dos deuses que haviam sido removidas de seus templos); continua descrevendo um período de paz, ju stiça e prosperidade, inclusive de fortalezas sendo desmanchadas. Portanto, essa imagem da res­tauração e elevação da cidade é bastante fam iliar na retórica do antigo Oriente Próximo.2.2. tod as as n ações correrão para ele. Textos que rem ontam ao ano 2000 a.C. já falam da atração uni­versal exercida por um novo templo. Ao construir um templo em hom enagem a N ingirsu, Gudea fala dos povos que serão atraídos de terras distantes e estran­geiras para honrar a divindade. Era nos templos que os oráculos eram transmitidos pela divindade resol­vendo disputas legais e oferecendo respostas quanto ao que fazer em determinadas situações. Não era raro que estrangeiros, e até mesmo reis, viajassem gran­des distâncias para consultar um a divindade. O rei persa Cambises, por exemplo, recebeu um oráculo no famoso santuário egípcio de Leto, em Buto.2.4. farão de suas espadas arados. Em vez de ser uma referência ao "arado" que revolve a terra, esse termo pode referir-se à ponta de metal do arado que perfura a terra abrindo sulcos. Essa ponta tem cerca de 17 centímetros de comprimento. No entanto, essa m es­ma palavra hebraica é usada em 2 Reis 6.5 onde se refere a um tipo de machado. Visto que no original a espada é "q u eb rad a" e transform ada em arado, é possível que o resultado seja pontas de m etal que poderiam ser usadas para diversos fins.2.4. lanças em foices. As foices aqui descritas são pe­quenas facas usadas para remover folhas e novos bro­tos em vinhas. As amostras arqueológicas encontra­das são sim plesm ente pedaços pequenos e finos de metal com um gancho na extrem idade, com o lado cortante na parte interna, semelhante a uma foice. A forma lembra as agudas pontas de lanças populares na Idade do Bronze.

2 .6-22 O dia do Senhor2.6. superstições, adivinhações. A cosmovisão antiga era fortemente permeada de todo tipo de superstição. Durante séculos, presságios que identificavam m ui­tas ocorrências ou circunstâncias como favoráveis ou desfavoráveis haviam sido observados e registrados. A disposição dos deuses para com um indivíduo só podia ser conhecida a partir das coisas boas ou ruins que lhe aconteciam. Acreditava-se que as forças de­moníacas estavam espalhadas e ativas, por isso rituais p ro filá ticos e ap otrop aicos eram rea lizad os para combatê-las. Especialistas em m agia lançavam feiti­ços e rogavam maldições e acreditava-se que o espíri­to dos mortos vagava pela terra. A adivinhação era a ciência de interpretar presságios e formular encanta­

mentos que teriam eficácia em afastar os poderes que ameaçava as pessoas. Para m ais informações, ver os comentários em Deuteronômio. 18.2.7. terra cheia de cavalos e carros. Os carros assírios eram grandes, capazes de transportar quatro homens, e puxados por quatro cavalos. Os batalhões de cavala­ria e carros de guerra representavam o maior avanço da tecnologia militar. Era preciso investir vastos re­cursos econômicos para importar animais, construir os carros e treinar os cavaleiros e condutores dos carros (para ter idéia dos custos, ver 1 Rs 10.29). A supremacia m ilitar assíria dependia dos cavalos e até mesmo os reis se preocupavam com a forragem para o supri­mento e cuidado desses animais. Registros detalha­dos e cuidadosos eram mantidos sobre o tipo de cava­los existente e era freqüente esses animais serem reco­lhidos como pagamento de tributos ou capturados em invasões. Relevos mostram o grande cuidado que se tinha com eles. O exército em campanha viajava com montarias principais e secundárias para a cavalaria.2.8. ídolos. Os ídolos eram feitos numa variedade de formas e tamanhos, no antigo Oriente Próximo. Essas imagens eram entalhadas na madeira, recobertas por lâminas forjadas de prata ou ouro e, então, adornadas de ricas vestimentas. Com uma aparência basicamen­te hum ana (exceto os deuses do Egito, cujas caracterís­ticas humanas eram mescladas às de animais), esses deuses tinham porte, vestim entas e corte de cabelo distintivos, até mesmo padronizados. A imagem não era a divindade, e sim sua habitação, por m eio da qual manifestava sua presença e vontade. No antigo Oriente Próximo, era nas imagens que as divindades se faziam presente de form a especial, a ponto de a estátua de culto tom ar-se no próprio deus (quando os adoradores eram assim agraciados), em bora essa não fosse a única manifestação da divindade. Rituais eram realizados para dar vida à estátua da divindade, ou seja, ao ídolo. Como resultado dessa ligação, feitiços, encantamentos e outros atos mágicos podiam ser exe­cutados diante da im agem a fim de ameaçar, intimi­dar ou obrigá-la a fazer algo. Em contraste, outros ritos relacionados à im agem tinham com o objetivo ajudar ou cuidar da divindade. A ssim , as im agens representavam um a visão de mundo, um conceito de divindade incompatível à form a como Yahw eh se re­velara. O ídolo não era a divindade em si, mas acredi­tava-se que era sua morada e que, por meio da im a­gem, a divindade m anifestava sua presença e vonta­de. Os arqueólogos encontraram poucas imagens de tamanho natural, como o texto descreve, mas existem versões delas que permitem um conhecimento acurado de detalhes.2.10. esplendor da m ajestade da divindade. No m un­do antigo, a divindade era sempre retratada circun­

dada por uma aura brilhante ou flamejante. Na litera­tura egípcia, essa aura é ilustrada pelo disco solar alado acompanhado de nuvens de tempestade. Em acadiano o term o mélammu é usado para descrever essa representação visível da glória da divindade, que por sua vez é envolta por fumaça ou nuvens. A majestade da divindade fica especialm ente evidente na temática do guerreiro divino em que toda a glória e o resplendor são revelados ao lutar para defender seu povo (para m ais inform ações sobre o guerreiro divino, ver os comentários em Êx 15.3; Js 3.17; 6.21­24; 10.11; 1 Sm 4.3, 4; 7.10). A literatura acadiana ocasionalm ente evidencia a mesma relação presente neste texto, em que a palavra para tem or ou pavor é associada à mélammu da divindade.2.12. D ia do Senhor. Ver a nota em Joel 2.2.13. cedros do Líbano, carvalhos de Basã. Esses eram dois tipos de árvore valorizados por seu tam anho, beleza, robustez e durabilidade. A madeira extraída dessas árvores era usada em m onum entais projetos de construção (em portas e palácios) que representa­vam a fonte de orgulho para as nações e nos quais depositavam sua confiança.2.15. torre e m uro. Os m uros desse período eram sólidos (em contraste com os m uros de casamata da idade anterior) e eram feitos de tijolos, pedras ou pe­dras de silhar. Em bora as torres e muros fossem carac­terísticos de cidades fortificadas, havia também m ui­tas fortalezas de guarnições construídas ao longo de rotas comerciais e nas fronteiras. Em Israel, tanto as fortalezas quanto as torres eram retangulares. Exem­plos em Cades Barnéia e H orvat Uza medem entre 6 mil e 7.500 metros quadrados. Visto que os muros das cidades não foram preservados em seu tamanho ori­ginal, é difícil dizer que altura tinham. Um a largura de quatro metros e meio a seis metros era comum e a julgar-se pelos alicerces enormes e pelo comprimento das escadas utilizadas para escalar os muros, não seria estranho que tivessem de nove a doze metros de altu­ra. Os muros em Láquis tinham quase quinze metros de altura. As inscrições assírias geralmente dão a altu­ra dessas muralhas em termos de fileiras ou camadas de tijolos. O muro da cidade de Senaqueribe, Nínive, teria sido construído com 180 camadas de tijolos (18 a 21 metros de altura?). Na época de Isaías, a capital de Sargão, K horsabad tinha m uros com quase trinta metros de espessura e 150 torres englobando a área da cidade de 750 acres.2.16. navios. O transporte m ercantil feito através de navios já existia na prim eira m etade do terceiro m i­lênio a.C.. Por volta da m etade do segundo m ilênio, Ugarit contava com uma frota de 150 navios. Escava­ções de um navio m ercan te afu nd ado (na costa de U luburun, Turquia) nesse período dão um a idéia da

variedade de mercadorias que eram transportadas. Os navios do prim eiro m ilênio tinham um único mastro com um cesto na ponta e contavam com um a ou duas file iras de rem os. O tam anho m édio era de quinze m etros de com prim ento, mas havia barcos maiores.2.19. efeitos da teofania. N o antigo Oriente Próximo, o tremor da terra é um indício do envolvimento divi­no na batalha. Além disso, acreditava-se que o terror infundido pelo guerreiro divino antecedia um exérci­to poderoso e vitorioso na batalha. Textos egípcios atribuem esse terror a Am om -Rá nas inscrições de Tutm és III e textos hititas, assírios e babilónicos tam ­bém fazem m enção a seus guerreiros divinos que infundem terror no coração dos inimigos.2.20, 21. ratos e m orcegos, fu ga para as cavernas. Um hino sumério de Enheduanna à deusa Inanna, do terceiro milênio, ilustra os deuses esvoaçando agita­dos como morcegos quando dirigem-se a suas caver­nas, por causa da presença da terrível deusa. Isso sugere a possibilidade que nestes versículos os ídolos estão sendo carregados para as cavernas e brechas dos penhascos pelos ratos (a fuga dos homens já foi relata­da no v. 19). Assim como os homens fugiram da gló­ria do Senhor, também os ídolos fogem, mas como são incapazes de se m over sozinhos, são transportados pelas criaturas m ais vis.

3.1-4.1 Julgamento de Judá e de Jerusalém3.1. a realidade de um cerco. A estratégia de cerco tinha por objetivo isolar a cidade e criar um bloqueio que com o tempo forçaria a rendição. Com o inimigo acampado em volta da cidade, não era possível colher os campos, por isso, as provisões alimentares iam se tom ando cada vez mais escassas. Ninguém podia en­trar levando comida, logo, os m oradores tinham de sobreviver com as reservas que haviam sido armaze­nadas na cidade. Se o reservatório de água era uma fonte ou poço localizado fora da cidade, o cerco seria breve, uma vez que as cisternas rapidamente se seca­riam . Jerusalém tinha um suprim ento de água ao qual era possível ter acesso por dentro da cidade (ver o comentário em 2 Cr 32.3). A palavra traduzida como "sustento" geralmente é entendida em termos de lí­deres humanos. Os "suprim entos" para sobreviver a um cerco seriam providos por um líder capaz de man­ter a moral alta e de administrar com sucesso o racio­namento de comida.3.2, 3. categorias de líderes. A lista de líderes aqui é bastante longa, cobrindo os m ilitares, a liderança dos clãs, os religiosos (tanto os legítimos como os ilegíti­mos) e os conselheiros políticos.3.5. posição dos idosos. Na sociedade israelita o homem m ais idoso era o chefe da família. Ele tom ava as deci­

sões da fam ília e a representava perante a comunida­de. Como resultado, os m em bros idosos geralm ente desfrutavam de um alto grau de respeito e honra.3.6. m anto de liderança. O m anto era uma peça tão básica do vestuário que até os mais pobres a usavam. Era considerado tão essencial que era proibido ficar com o m anto penhorado de um homem por uma noite (ver o comentário em Êx 22.26, 27). Embora essa pas­sagem sugira que a situação piorara tanto que quase ninguém tinha m antos (e, portanto, a posse de um tom ava a pessoa distinta), também existe algo espe­cial em relação ao manto de um rei. Em textos assírios dessa época o m anto do rei figurava com destaque em certos rituais, especialm ente o ritual de substituição do remado. Quando um m au agouro ou presságio indicava que a vida do soberano estava correndo pe­rigo, um "rei substituto" era designado para assumir o lugar dele. Esse substituto era vestido com o manto real e geralm ente assumia para si as conseqüências por estar naquela posição. Embora não haja indício de que se trate desse ritual aqui, é provável que o manto tivesse um a importante função.3.16. en feites nos calcanhares. Esses enfeites eram anéis sólidos geralmente de bronze. A palavra tam­bém é usada para os ferros que prendiam camelos. Algumas sepulturas da Idade do Ferro ainda eviden­ciam braceletes e enfeites nos tornozelos dos corpos enterrados.3.17. rapar a cabeça e expor as vergonhas. A tradução "expor as vergonhas" é bastante incerta. Talvez seja um a expressão alternativa para rapar a cabeça. Em­bora muitas traduções indiquem que se trata de rapar toda a cabeça, o termo hebraico parece sugerir especi­ficamente a fronte. Na M esopotâmia, rapar metade da cabeça era um castigo que tinha por objetivo causar hum ilhação pública. A lém disso, usava-se um tipo específico de corte de cabelo para escravos.3.18-23. acessórios da A ntigüidade. O termo usado pela NVI, "testeira" (v. 18), foi identificado como or­namentos solares, enquanto os colares em form a de crescente eram ornamentos lunares. Muitos dos ter­m os usados adm item diversas interpretações. Por exemplo, os "frascos de perfum e" (NVI, "talism ãs", v. 20) são altamente interpretativos e embora frascos de perfum e tenham sido encontrados por arqueólogos, dificilm ente seriam usados com o jó ias ou enfeites. Outros estudiosos sugeriram que se tratava de um tipo de amuleto, para estar em paralelo ao termo se­guinte. O s dados sobre jó ias e en feites no m undo antigo provêm de uma série de fontes diferentes. Al­gum as obras literárias fazem referência ao uso de diversos ornamentos. Outras fontes escritas incluem inventários (como aquele encontrado em Mari) e listas de presentes ou tributos. As peças m encionadas às

vezes se encaixam às representações pictóricas de re­levos e pinturas ou a achados arqueológicos. M as m uitos termos não se encaixam à ilustração de objetos.4.1. oferta de sete m ulheres. Supõe-se que essas m u­lheres teriam perdido seus m aridos e filhos e, portan­to, ficaram socialmente indefesas, ainda que não des­providas de recursos para se m anter. Essa era uma conseqüência comum da guerra. Era responsabilida­de legal e contratual do marido prover comida e ali­mento para a esposa. Essas mulheres não estavam em busca de sustento financeiro e certam ente estavam dispostas a deixar de lado as convenções usuais de preço da noiva. Sua necessidade de fazer parte de um a fam ília pode sim plesm ente ter origem em exi­gências sociais ou, na pior das hipóteses, pode refletir o desejo de ter uma família para os filhos que foram gerados como fruto de estupro praticado por soldados inim igos.

4.2-6A glória futura4 .5 ,6 . imagem. A nuvem de fumaça e de fogo remete à coluna que garantia aos israelitas orientação e prote­ção no deserto. N o m undo antigo, a divindade era sempre retratada circundada por uma aura brilhante ou flamejante. Na literatura egípcia, essa aura é ilus­trada pelo disco solar alado acompanhado de nuvens de tempestade. Em acadiano o termo melammu é usa­do para descrever essa representação visível da glória da divindade, que por sua vez é envolta por fumaça ou nuvens. Tem sido sugerido que na m itologia cana- néia, o conceito de melammu é expresso pela palavra anan, o mesmo termo hebraico traduzido como "n u ­vem ", m as as ocorrências são m uito raras e obscuras para se ter certeza. De qualquer m aneira, a coluna aqui seria um sinal; a fumaça seria visível durante o dia, enquanto o clarão de fogo, encoberto no interior da nuvem, brilharia à noite.

5.1-7A parábola da vinha5 .1 ,2 . parábolas e alegorias no antigo O riente Próxi­mo. Existe um a perm anente controvérsia quanto à classificação deste texto como parábola ou alegoria, dependendo da amplitude da comparação que se pre­tende com a história. A s parábolas estavam presentes na literatura do antigo Oriente Próximo desde o pe­ríodo sumério e algumas poucas desde o período neo- assírio. A metáfora de uma cidade como uma planta im produtiva está presente no M ito de Erra e Ishum (cópias remontam ao oitavo século), em que Marduque lam enta-se dizendo ter enchido a Babilônia de se­m entes como um a pinha e tê-la plantado como a um pomar, mas nenhum fruto foi produzido nem nunca

foi provada nenhuma de suas frutas. Para mais infor­mações, ver o comentário em Ezequiel 17.1.5.1-6. o preparo e a m anu ten ção da v in h a. As uvas eram um dos principais produtos da economia do an­tigo Oriente Próxim o, portanto, o cuidado necessário para o cultivo de uma vinha era bastante conhecido. No terreno rochoso e montanhoso de Israel, cuidados espe­ciais tinham de ser tom ados a fim de preservar o solo e a um idade necessária para a produção de bons fru­tos. A medida que as rochas eram tiradas das encostas, as pedras eram usadas para fazer aterros nivelando o terreno. Essa medida evitava a drenagem da água e a erosão do solo. Outras pedras eram usadas na constru­ção de cabanas e torres usadas para proteger e vigiar a produção na época de colheita. Era preciso carpir as ruas entre as fileiras da plantação para evitar que er­vas daninhas crescessem e roubassem o suprimento de água do solo. Diversas técnicas de irrigação eram usa­das para garantir a água necessária ao terreno. Se o solo não tivesse um idade adequada ou se as vinhas não fossem podadas, os frutos ficavam pequenos e azedos. E, por último, parte das pedras também era usada para construir lagares e cisternas no local para que as uvas pudessem ser processadas sem o risco de estragarem durante o transporte.

5 .8 -3 0Ais e julgamentos5.8. sistem a opressivo de posse da terra. A expansão de propriedades no m undo antigo geralm ente era feita às custas do prejuízo alheio. Um a seqüência de colheitas ruins podia obrigar alguém a abrir mão de sua propriedade a fim de quitar ou dim inuir um a dívida. Em Israel, essa era um a questão teológica e, ao mesmo tempo, econômica. Visto que Deus havia dado a terra como benefício da aliança, cada família considerava suas terras como sua pequena porção na aliança. Portanto, a perda da propriedade, além de ser uma tragédia financeira (muitas vezes com uma dimensão opressiva) também privava os membros da fam ília de sua parte na aliança. Para m ais inform a­ções, ver os comentários em Levítico 25. Além disso, o conselho responsável pela tom ada de decisões em qualquer comunidade era formado por proprietários de terras. A pessoa que obtivesse direitos sobre todas as terras da comunidade tinha poder para fazer o que quisesse.5.10. n íveis norm ais de produção. Uma vinha geral­m ente produziria pelo m enos quatro m il litros de vinho por acre. As colheitas de cereais em áreas irriga­das em todo o antigo Oriente Próximo normalmente produziam na proporção de dez para cada uma usada no plantio (embora produções mais altas sejam atesta­das na literatura). Portanto, um hômer (barril) de se­

m ente geralm ente produziria dez hôm eres (barris) de cereais. Aqui, a proporção está invertida de dez para um (um efa é cerca de um décimo de um hômer). Logo, os núm eros representados aqui são frações in­significantes da produção normal esperada.5.12. instrum entos m usicais. Os instrumentos musi­cais descritos nesta passagem eram típicos da época e são atestados em textos, relevos e pinturas do antigo Oriente Próximo desde o terceiro milênio a.C.. Ainda existe certa discordância entre eruditos quanto a qual das palavras hebraicas nessa passagem deveria ser traduzida como "harpa" e qual como "lira". O termo que a NVI traduz como "lira" refere-se a um instru­mento de dez cordas, enquanto a palavra traduzida por "harpa" seria um a referência a um instrumento com um núm ero menor de cordas. Ambos eram segu­rados nas mãos através de estruturas feitas de madei­ra. O tamborim foi identificado em relevos arqueoló­gicos como o tambor, um pequeno pandeiro (couro esticado sobre um aro) que não tinha o som dos pe­quenos guizos dos pandeiros modernos. O instrumento traduzido como flauta provavelmente refere-se a uma flauta dupla feita de bronze ou junco.5.14. Sh eo l (sepultura). A m orte ou a sepultura era consid erad a a porta de acesso ao m undo inferior (Sheol). Por ser a entrada, fazia parte do Sheol, logo, o contexto deve determinar se o autor está se referindo ao túmulo ou ao m undo dos espíritos. O Sheol não era um lugar agradável; ali não havia posses, lem bran­ças, conhecimento nem alegria. Não era considerado um lugar de julgam ento ou castigo, em bora ser envi­ado para lá em vez de perm anecer vivo fosse conside­rado um ato da justiça de Deus. Logo, é inexato tradu­zir Sheol como "inferno", visto que este é por defini­ção um lugar de castigo. A compreensão israelita do mundo inferior era m ais parecida com os conceitos encontrados na Mesopotâmia do que com a visão pre­sente no Egito. Para m ais informações, ver o comentá­rio em 14.9. A idéia do Sheol engolindo ou devorando os ím pios também está presente no livro egípcio dos Mortos. Enquanto o coração da pessoa m orta é pesado na balança, o m onstro caótico com cabeça de crocodilo fica de pé aguardando ansiosamente, pronto para de­vorar aqueles que são reprovados no teste.5.22. bebid a alcoólica. Havia uma grande variedade de bebidas alcoólicas no mundo antigo. O vinho (de mel, tâm aras ou uvas) e a cerveja eram as mais co­muns. O que é classificado hoje como "lico r" (que exige um processo de destilação) ainda não era conhe­cido. Os dois term os usados neste versículo podem referir-se respectivamente ao vinho de uvas e ao vi­nho de tâmaras, mas é difícil ter certeza. A mistura mencionada aqui envolve o acréscimo de ervas, espe­ciarias, condimentos ou óleos.

5.23. ju izes subornados no antigo O riente Próximo.Como fica evidente no prefácio do Código de Hamurabi (c. 1750 a.C.) e nas afirmações feitas pelo camponês eloqüente, na literatura sapiencial egípcia (c. 2100 a.C.), o padrão de comportamento para as autorida­des era proteger os direitos dos pobres e oprimidos na sociedade. Esperava-se que os reis, os oficiais e os magistrados executassem a verdadeira justiça (ver Lv 19.15). De fato, a temática do "mundo de cabeça para baixo", encontrada no Livro de Juizes e na literatura profética (1.23), descreve uma sociedade em que "as leis existem, mas não são cumpridas" (por exemplo, no texto egípcio Visões de Neferti [c. 1900 a.C.]). Um governo bem administrado no antigo Oriente Próxi­mo dependia do respaldo e do cumprimento da lei. Com esse fim, todo Estado organizado havia estabele­cido uma estrutura formada por juizes e oficiais locais que tratavam de causas civis e criminais. Era tarefa deles ouvir depoimentos de testemunhas, investigar acusações, avaliar e examinar as provas e executar juízo (detalhes nas Leis Médio-assírias e no Código de Hamurabi). Havia casos, porém, que exigiam a aten­ção do rei (ver 2 Sm 15.2-4) e apelos ocasionalmente eram dirigidos a esse supremo tribunal (como se vê nos textos de Mari). Em todas as épocas e lugares (ver Pv 6.35; Mq 7.3) é possível encontrar juizes e nários do governo sendo tentados a aceitar subo:Essa acabou tornando-se uma prática quase institucio­nalizada em ambientes burocráticos, à irtedída que partidos rivais procuravam prejudicar ujnsaos) outros (ver Mq 3.11; Ed 4.4,5). Entret^mt/^ mente, na tentativa de minojm.efe^proyema, impu­nham-se punições eQn^ím a^J^\^bates. Assim, o Código de HamurahhSuestabejecwseveras punições a qualquer juiz quç^em ste suas decisões (presumivel­mente devi^^a\mi sutòhio), inclusive pesadas mul­tas <é^as{a](ne2ito\)eraianente do cargo. Em Êxodo

nos e perverter a justiça são práticas consideradas uma ofensa contra Deus,

teonfra^ fracos e inocentes e contra toda a comunida- dèjver Am 5.12).5.26. bandeira, assobio. A bandeira ou estandarte era um recurso para convocar um exército de determina­do território ou para indicar o local onde um ajunta­mento de tropas aconteceria ou ainda para demarcar o acampamento. Com freqüência continha uma insíg­nia da tribo ou da divisão militar. A palavra tradu­zida como "assobio" também pode referir-se a um silvo. Para o significado, ver o comentário em 7.18.5.27. significado do cinto e das correias das sandáli­as. O uniforme militar neo-assírio consistia de uma saia até o joelho presa por um largo cinto de couro. Muitos da infantaria não usavam calçados, mas a ca­valaria era equipada com botas de couro macio que

iam até o joelho e eram amarradas com longas correi­as cruzadas.5.28. arcos, flech as , cascos dos cavalos, carros. Oscavalos não eram calçados com ferraduras pelos assí­rios, por isso animais com cascos duros eram os mais cobiçados, especialmente por causa do terreno rocho­so da Siro-Palestina. O arco era a principal arma de ataque do exército assírio. As flechas eram feitas de diversos materiais, inclusive de osso, chifre e diversos metais. Os carros podiam transportar quatro pessoas e tinham pesadas rodas com seis ou oito raios.5.29. comportamento dos leões. O rugido do leão geralmente é um aviso de confronto territorial^tXros- nado geralmente é apropriado para quando aoresk é apanhada. Ambas as imagens estão refletiaa&aquQ

6.1-13 A visão do trono e o chi6.1. cronologia. Supõe- ano 739, um mt 740-738, oj-ei ra campa!

asleria morrido no

ftória israelita. Em ílèser UI fez sua primei-

o início de uma sériaculminou na queda do reino do

íl^a^estruição da capital, Samaria (junta- tras cidades de Israel e de Judá), e na

:ão de grandes segmentos da população. Os sírios estavam prestes a estabelecer o império que ominaria o antigo Oriente Próximo por mais de um

século. Para mais informações a respeito do reinado de Uzias, ver os comentários em 2 Crônicas 26.6.1. trono. O Santo dos Santos foi visto como a sala do trono do Senhor, logo, é óbvio que o cenário da visão é o templo. A arca é retratada como o estrado de seu trono que geralmente é ladeado por querubins. Tra­ta-se, é claro, do trono invisível da divindade invisí­vel. Para mais informações sobre tronos, ver os co­mentários em 2 Crônicas 3.10-13; 9.17-19.6.1. a aba da veste enchia o templo. A palavra tradu­zida como "aba" em outras passagens (e provavel­mente aqui) refere-se à bainha. Era a borda distintiva e ricamente decorada em toda a volta da veste sacer­dotal (ver comentários em Êx 28.31-35). A bainha era usada como uma marca de identidade para pessoas importantes como reis e sacerdotes. Na iconografia do antigo Oriente Próximo as divindades também eram retratadas usando tais vestimentas. A aba do tecido era bordada e uma franja de 7 a 10 centímetros de largura adornava a saia na altura do tornozelo. O tamanho enorme da divindade era comum no antigo Oriente Próximo. Por exemplo, no templo sírio em 'Ain Dara, pegadas com mais de 90 centímetros de comprimento foram entalhadas nas placas de pedra no piso que indicava a entrada do átrio.

6.2. serafins. Esse é o único trecho das Escrituras em que um a criatura sobrenatural é descrita como um "serafim ". As serpentes que provocaram a morte de muitos israelitas no deserto, porém, tam bém são as­sim designadas e Isaías refere-se duas vezes a serpen­tes voadoras (NVI, "velozes": 1429 ; 30.6). Visto que as criaturas sobrenaturais com freqüência são retrata­das como figuras compostas (ver o comentário em Gn3.24), existe, portanto, um bom m otivo para pensar que os serafins são, de fato, serpentes aladas. Visto que o radical hebraico sarap geralmente é associado a "queim ar", também há boas razões para associar es­sas criaturas ao fogo. A literatura do antigo Oriente Próximo fornece alguma base que sustenta essas figu­ras. Serpentes ferozes são bem conhecidas na arte e na literatura egípcia em que a serpente, ou uraeus, é um símbolo de realeza e autoridade. O uraeus adornava a coroa do faraó e, às vezes, é retratado com asas (geralmente duas ou quatro). Não era raro essas ser­pentes terem m ãos, pés ou rostos. Serpentes aladas na posição vertical também decoram o trono de Tutan- câmon. M uitos selos decorados com uraei alados foram encontrados em escavações na Palestina que datam desse período, por isso, sabemos que os israelitas esta­vam fam iliarizados com esse motivo. Exem plos de criaturas com seis asas não são tão amplamente confir­mados. Um relevo de Tell Halaf, no entanto, que data aproximadamente desse período, retrata um a figura de forma hum ana com seis asas.6.4. efeito s das vozes dos serafin s. Em textos aca- dianos e também em Amós 9.1 o tremor de batentes ou soleiras das portas indica o início da demolição. Se for esse o caso aqui, a fumaça seria o resultado das forças destrutivas em ação. Os gritos dos serafins, po­rém, não podem ser facilm ente interpretados como avisos de destruição iminente (uma conseqüência da santidade de Deus sendo ameaçada?). Provavelmen­te é m elhor enxergar a fumaça e o tremor dos batentes das p ortas com o um elem ento que acom p anha a teofania. O m esm o term o usado aqui para fum aça aparece em 4.5.6.7. purificação dos lábios. Em rituais m esopotâmicos muitas vezes a purificação dos lábios era um símbolo da purificação da pessoa. Era visto como um pré-re­quisito, especialmente para sacerdotes adivinhos, an­tes de terem permissão para estar diante do concílio divino e relatar o que haviam visto ali.6.7. rem issão. As traduções têm tido muita dificulda­de com este termo (por exemplo, algumas escolhem traduzi-lo como "perdoado"). Para informações sobre o conceito, ver o comentário em Levítico 1.4. O mes­mo verbo aparece na literatura acadiana ritual refe­rindo-se a "esfreg ar" a im pureza ritual e é usado especificamente em relação à purificação da boca. Em

um a oração da Antiga Babilônia o adivinhador esfre­ga sua boca com resina preparando-se para aparecer diante da assembléia dos deuses. Em textos de encan­tamentos babilónicos o fogo geralmente é visto como um elemento purificador. Um a série de encantamen­tos é intitulada Shurpu ("queim ar") e está relacionada à remoção de ofensa ou impureza ritual.6.8. nós. A imagem familiar de um trono rodeado por um concüio celestial está presente em textos ugaríticos (com bastante destaque no Épico de Keret), embora o concílio cananeu seja formado pelos deuses do pan­teão. H á exemplos também de inscrições em prédios que remontam ao décimo século, como a de Yehimilk, em Biblos e a esteia de Azitawadda, em Karatepe. No texto acadiano Enuma Elish a assembléia dos deuses nomeia Marduque como seu cabeça. Cinqüenta deu­ses form aram essa assembléia, com sete no concílio interno. Na crença israelita, os deuses eram substitu­ídos por anjos ou espíritos - os filhos de Deus ou o exército celestial que ficavam ao redor do trono.6.9-10. papel do profeta. A descrição de olhos e ouvi­dos que não funcionam com o deveriam ou de um coração que é duro ou insensível encaixa-se à descri­ção que ocorre em textos m édicos ou em contextos de medo. Em 1 Samuel 25, Nabal sofre um tipo de para­lisia, derrame ou ataque do coração e seu coração fica duro como um a pedra. Em um hino sapiencial babi­lónico, um sofredor descreve sua paralisia provocada pelo medo como olhos que não vêem e ouvidos que não ouvem. É difícil saber se a paralisia provocada pela m ensagem de Isaías resulta de enfermidade es­piritual ou do m edo. O papel do profeta era transmitir a mensagem independente da reação que geraria. Se a mensagem não trouxesse resultado, ao menos dei­xaria evidente a culpa do povo.

7.1-25 Emanuel7.1. cronologia. A cronologia dos reinados de Jotão, Acaz e Ezequias é bastante complexa. Não obstante, a invasão mencionada neste versículo pode ser datada com certa segurança no ano de 735. Por volta de 734, Tiglate-Pileser III iniciara uma reação aos problemas que aconteciam no ocidente e a coalizão não teria se sentido à vontade para uma ação tão agressiva.7.1. situação política. O rei assírio Tiglate-Pileser III estava ocupado com Urartu e a M édia entre os anos de 737 e 735. Durante esse período as nações ocidentais se empenhavam em formar uma coalizão que pudes­se resistir às incursões assírias. É provável que Rezim (ver o próximo comentário) tenha desempenhado um importante papel em conduzir Peca ao trono de Sa­m aria (ver os com entários sobre Peca em 2 Rs 15). Suspeita-se que o ataque contra Jerusalém estivesse

relacionado à posição pró-Assíria (ou pelo menos neu­tra) de Acaz. O cerco tinha como objetivo substituir Acaz por um representante anti-Assíria no trono, que então se uniria à coalizão.7.1. Rezim . Conhecido pelos assírios como Raqianu, que provavelm ente representava o nom e aram aico Radyan, Rezim governou em Dam asco pelo m enos desde 738 (quando é citado por pagar tributo a Tiglate- Pileser III) até a queda de D amasco, em 732.7.3. localização. O túnel de Ezequias ainda não fora construído nessa época. A água era conduzida da fon­te de Geom (no vale de Cedrom, a leste da cidade) para o sul, por um aqueduto que levava a água até um reservatório na extremidade sudoeste da cidade. Esse aqueduto é conhecido como o Canal de Siloam e nos tempos bíblicos tinha o nome de Siloé (ver 8.6). Provavelm ente as águas do reservatório (Poço de Siloam) eram periodicamente escoadas para uma área abaixo onde eram usadas pelas lavadeiras. A estrada para o campo do Lavandeiro provavelmente passava pelo vale de Cedrom. Esse seria um bom lugar para encontrar Acaz, caso ele estivesse inspecionando o suprim ento de água da cidade para ver se poderia assegurar seu uso dentro da cidade na eventualidade de um cerco.7.6. filh o de T abeel. Embora não exista nenhum dado histórico sobre esse indivíduo, o nom e Tabeel é ara­m aico e, p o rtan to , su g ere a lgu ém da fam ília real (provavelmente da linhagem de Davi) cuja m ãe talvez fosse um a princesa da região da Síria. Tal indivíduo provavelmente seria um sim patizante das causas dos arameus. Outra possibilidade sugerida é que essa se­ja um a referência a Tubail (= Etbaal), o rei de Tiro, que tam bém havia pago tributo a Tiglate-Pileser em 738.7.8. cronologia. Contando 65 anos a partir de 735, a data desses eventos, seria o ano de 670 a.C.. Essa data parece estranha para alguns intérpretes, visto que Efraim sofrera um a significativa redução territorial em 733 e Samaria fora destruída e seu povo deportado em 721. O reinado de Esar-Hadom estava próximo de seu fim em 670. Ele invadira o Egito com êxito em 671 e conduzira um a série de outras campanhas no oci­dente nesse período. Até hoje, porém, não há indícios de deportações para fora ou para dentro de Israel durante seu reinado.7.11. s in al d ivino. H á diversos casos de sinais envia­dos por D eus no Antigo Testamento. O s exemplos mais p arecid os en contram -se em 1 Sam uel 2 .34 e 2 R eis19.29. Nesses casos, o sinal está relacionado ao início do cum prim ento da profecia. O s sinais dados pela di­vindade no contexto mais amplo do antigo Oriente Pró­ximo geralmente estavam ligados a presságios. Por trás dos presságios havia a crença de que uma interligação ultrapassava todas as fronteiras. Os presságios eram re­

lacionados a eventos históricos, da mesma maneira que os sintomas são relacionados à origem de uma doença. Os eventos históricos, portanto, eram considerados re­lacionados a acontecim entos ou fenôm enos corres­pondentes no m undo natural. Por exemplo, os deuses escreviam seus sinais nos céus ou nos rins ou fígado de animais sacrificados. Esses sinais não apenas prognos­ticavam eventos vindouros m as tam bém eram consi­derados parte desses eventos.7.11. profundezas e alturas. Textos babilónicos tam­bém falam da amplitude de sinais (presságios) no céu e na terra, à m edida que seus adivinhos tentavam fazer uso do todas as fontes possíveis de informações relacionadas aos planos que os deuses intentavam executar.7.14. nom es portentosos. Acreditava-se, em geral, que os nomes estavam relacionados ao caráter e ao destino do indivíduo. No Egito, os faraós recebiam nomes (ge­ralm ente cinco) que personificavam suas conquistas, esperanças e sonhos. À s vezes, os bebês recebiam no­m es que refletiam um a determinada situação do con­texto de seu nascim ento (Gn 29, 30; 1 Sm 4.21).7.15. coalhada e m el. A m elhor tradução para "coa­lhada" seria algo sem elhante à m anteiga, visto que Provérbios 30.33 mostra que era batida e não produ­zida através da coagulação ou fermentação. Em textos assírios e babilónicos, a palavra usada aqui no texto hebraico é identificada como um produto chamado de "m anteiga líqu id a"- uma forma refinada de gordura de manteiga - que é doce e não estraga tão facilmente como outros produtos derivados do leite. É o líquido produzido quando a manteiga do leite de vaca é der­retida, fervida e peneirada. Em textos mesopotâmicos esse produto é m ais freqüentemente colocado ao lado do m el em diversos tipos de textos, inclusive textos rituais, m édicos e descrições de produtos alimentares. Era um dos m uitos produtos usados para ofertas de libação aos deuses. O mel com freqüência é uma refe­rência ao xarope de tâmaras ou figos. O mel de abe­lhas era disponível quando encontrado, m as as abe­lhas não haviam sido dom esticadas para que o mel fosse produzido. M el e manteiga líquida eram produ­tos nutritivos que podiam ser transportados com facili­dade e atendiam as necessidades de alguém que vives­se em circulação e não lavrando a terra. Eram mistu­rados e usados como condimento na confecção de bo­los de tâmaras ou nos bolos de trigo m ais comuns.7.16. destino de dois reis. A terra de Peca era Israel, o reino do norte. Em 733 os assírios reduziram gran­demente o território de Israel, deixando apenas a ca­pital, Samaria, e seus arredores. O restante do país foi anexado e mais de treze m il pessoas foram deporta­das. O próprio Peca foi morto num a conspiração lide­rada por Oséias, seu sucessor, e apoiada pelos assírios

(como as inscrições de T iglate-Pileser m ostram ). O pró-Assíria Oséias pagou tributo a Tiglate-Pileser e aceitou sua posição como vassalo. Ele reinou até a derrubada final do reino do norte, em 721 - a prová­vel data para ser considerada em que o menino m en­cionado neste versículo saberia a diferença entre o certo e o errado (por volta dos treze anos). A terra de Rezim era Aram , com sua capital, Damasco. O estado arameu foi anexado pela Assíria em 732, D amasco foi tomada e Rezim foi executado.7.17. im pério neo-assírio. O im pério neo-assírio foi inau gu rad o pou co tem po depois da ascensão de Tiglate-Pileser III ao trono, em 745. Esse império só foi derrubado em 612, quando Nínive sucumbiu à alian­ça dos m edos e dos babilônios. Embora um declínio significativo possa ser visto já em 630, ainda represen­ta m ais de um século de dominação em uma grande extensão do O riente Próxim o. Por um a década ou quase isso, esse domínio incluía até mesmo o Egito. Os principais reis assírios, Tiglate-Pileser III, Salma- n eser V , Sarg ão II, Se n aq u e rib e , E sar-H ad o m e Assurbanipal, são citados no texto bíblico e também em m uitos documentos do período, inclusive em anais e crônicas reais de diversos deles. O império expan­diu-se nas quatro direções: absorvendo U rartu, no norte, os medos, no leste, a Babilônia e Elão, no sul, e a Siro-Palestina, no oeste. Em seu ápice incluiu gran­de parte (senão a totalidade) do território dos atuais países do Irã, Iraque, Turquia, Síria, Líbano, Jordânia, Israel e Egito. A fam a da A ssíria com o um regim e m ilitar é sustentada por am pla documentação e resta como seu legado histórico. Sua estratégia de guerra psicológica incluía retórica de terrorismo, destruição brutal e exem plos cuidadosam ente selecionados de tortura cruel. Sua expansão era motivada pelo poten­cial de ganho econôm ico, que viria através dos sa­ques, recolhimento de tributos e tarifas que resulta­vam do controle do comércio e das rotas comerciais. Sobre a atividade assíria nesse período, ver os comen­tários em 1.1; 6.1 e 7.1.7.18. figu ra de m oscas e abelhas. A palavra tradu­zida como "assobiará" também pode referir-se a um silvo. Parte da tradição de criação de abelhas afirma­va que um enxame podia ser atraído para fora de sua colmeia até outro local através do som de um assobio. Os exércitos invasores são comparados a m oscas ou abelhas também na Ilíada de Homero.7.19. im agem . Este versículo simplesmente dá conti­nuidade à figura das abelhas, alistando os lugares em que tendem a construir suas colmeias.7.20. rapar a cabeça e a barba dos cativos. Na nomen­clatura assíria, o term o "barbeiro" podia ser usado como um título divino. Aqui, a função é atribuída a Yahweh. Embora muitas traduções indiquem que se

trata de rapar toda a cabeça, o termo hebraico parece sugerir especificam ente a fronte. N a M esopotâm ia, rapar metade da cabeça era um castigo que tinha por objetivo causar humilhação pública. Além disso, usa­va-se um tipo específico de corte de cabelo para escra­vos. M uitos comentaristas acreditam que "os pêlos de suas pernas" é um eufemismo para pêlos púbicos.7.23. valor das vinhas. É difícil determinar se o texto faz referência a m il vinhas que seriam compradas ou vendidas por um siclo cada (um preço exorbitante) ou, mais razoável, a uma vinha que tivesse mil par­reiras cujo produto anual seria o equivalente a mil siclos. A últim a interpretação encontra respaldo em Cântico dos Cânticos 8.11.7.24, 25. campos transform ados em pastos. O gado e os rebanhos de ovelhas podiam causar danos terríveis a terras cultiváveis. Os animais pisoteavam o solo e o desfolhavam por pastarem ali, provocando com o tem­po uma erosão generalizada no solo e o esgotamento das fontes de água.

8 .1-10 A invasão Assíria8.1. placa. Se o instrumento de escrita usado é uma ferramenta de entalhe (ver o próximo comentário), o material devia ser algo que exigia gravação ou inci­são, sugerindo que se tratava de uma placa de pedra ou argila. O termo usado para descrever o material de escrita é usado apenas um a outra vez no Antigo Tes­tam ento, em Isaías 3.23, onde a NVI traduz "esp e­lh os", em m eio a um a lista de vestuários e outros acessórios. Textos acadianos alistam selos cilíndricos (usados em volta do pescoço) dentre outros itens da indumentária feminina. Eram usados como amuletos para afastar forças demoníacas. Tinham uma inscrição com o nome da pessoa e muitas vezes eram adorna­dos com m otivos artísticos. Em Israel os selos eram usados com freqüência, m as não há indícios de qual seria o termo para selo cilíndrico, em bora esses obje­tos tenham sido encontrados na Siro-Palestina e fos­sem bastante conhecidos ali. Visto que selos cilíndri­cos eram gravados com o nome do indivíduo e aqui um documento oficial está sendo gravado com o nome de um a pessoa (inclusive a preposição, ausente na tradução da NVI, que geralmente precede o nome em selos e também cilindros aramaicos), é possível que se trate de um selo cilíndrico, embora a palavra hebraica não possa ser identificada com segurança (não se sabe de nenhum termo técnico sem ita ocidental para selo cilíndrico). No período neo-assírio grandes selos cilín­dricos (um, por exemplo, com 19 centímetros de com­primento) eram usados como selos dos deuses. Toda essa inform ação encaixa-se ao uso de 3.23 e com a ênfase de Isaías nos nomes importantes. Textos assírios

oníricos mostram uma interessante relação entre um selo entregue em um sonho e inform ações sobre a futura descendência. U m a linha diz que se alguém receber um selo inscrito em um sonho, terá um "nom e" ou um filho.8.1. caneta comum (N V I "escreva de form a legível").

O term o para esse instrum ento aparece apenas em outra passagem do Antigo Testam ento, Êxodo 32.4, onde é usado na confecção do bezerro de ouro. Portan­to, presume-se que seja algum tipo de broca ou cinzel. Êxodo 32.16 usa o radical do verbo relacionado a esse substantivo para descrever a inscrição dos Dez M an­dam entos nas tábuas. Os artesãos que trabalhavam com selos cilíndricos usavam brocas, inclusive um a

"broca fina". A palavra traduzida com o "com u m ", quando qualifica uma pessoa, refere-se à frágil m orta­lidade da hum anidade. Talvez aqui, o uso de uma broca m ais delicada intente deixar implícito um tra­balho de arte refinado de alta qualidade.8.1, 2. documento. A presença de testemunhas indica que um documento oficial está sendo redigido. Embo­ra alguns estudiosos tenham sugerido que se trate de um contrato de casamento (por causa do v. 3), conside­rando-se a im portância que se dá à escolha de um nome, é m ais provável que se refira a um documento de nascimento ou registro de nome.8.3. profetisa. O título "profetisa" nunca é usado sim­plesmente para indicar a esposa de um profeta, mas sim uma m ulher que exerce a função de profeta. Em­bora não haja dúvidas de que essa m ulher era a espo­sa de Isaías, ela deve ser considerada como alguém

que exercia o ofício profético por seu próprio mérito. Em bora fossem raras, havia profetisas tam bém na Mesopotâmia. Os textos de M ari na Síria do início do segundo m ilênio a.C. apresentam evidências de ho­m ens e mulheres nessa posição. Sabe-se tam bém de m ulheres que falaram com o profetisas no reinado de Esar-Hadom, rei da Assíria. Parece que as mulheres desempenhavam o mesmo papel que os profetas.8.3. nomes portentosos. Ver o comentário em 7.14.8.4. saque de D amasco e Sam aria. Certamente, a ri­queza de Damasco foi saqueada e levada em bora na queda da cidade, em 732. É m ais difícil determinar quando o saque de Samaria aconteceu. Segundo Reis17.3 relata que Oséias pagou tributo a Salm aneser, mas isso não poderia ser descrito como a pilhagem de Samaria. É m ais provável que a pilhagem deva ser associada à queda de Samaria em 721.8.6. águas de S iloé. O túnel de Ezequias ainda não fora construído nessa época. A água era conduzida da fonte de Geom (no vale de Cedrom, a leste da cidade) para o sul, por um aqueduto que levava a água até um reservatório na extremidade sudoeste da cidade.

Esse aqueduto é conhecido como o Canal de Siloam e nos tempos bíblicos tinha o nom e de Siloé.8.6. Rezim . Ver o comentário em 7.1.8.7. águas que transbordarão em todos os seus ca­nais. Essa metáfora comum é conhecida desde a Len­da Cutéia de N aram -Sin (início do segundo milênio), em que o inimigo invasor é comparado a um a inun­dação, um dilúvio que transborda pelas margens dos canais e destrói as cidades.8.8. o tratam ento de T iglate-Pileser a Judá. Nos regis­tros de Tiglate-Pileser não consta nenhuma ação con­tra Judá nas campanhas de 734-732. Talvez esse regis­tro não tenha sido preservado ou o versículo oito ofe­rece um a visão m ais am pla da eventual invasão assíria de Judá por Sargão e especialm ente Senaqueribe. A visão m ais am pla é preferida, visto que o povo de Judá só se "alegraria com R ezim " (v. 6) após a campa­nha de 732, quando Damasco foi destruída.8 .9 ,1 0 . am eaça contra as nações. Embora muitos in­térpretes tenham atribuído essas palavras a Judá, é mais provável que a ameaça parta dos assírios. Era um a estratégia com um dos assírios afirm ar que as divindades dos vassalos rebeldes os tinham abando­nado porque haviam rompido os juram entos que se­lavam sua lealdade aos assírios. Há exemplos desde Tukulti-Ninurta até Esar-Hadom.

8.11-22 Resposta à mensagem profética8.14. figuras. As figuras do santuário e da rocha apa­recem juntas tam bém nos Salmos (por exemplo, em SI18.1, 2). O templo garantia santuário para pessoas em dificuldade, e era construído sobre o alicerce de uma rocha. Em termos espirituais os israelitas tam bém se referiam a Deus como sua rocha, seu alicerce. A arma­dilha e o laço eram usados para caçar pássaros e pe­quenos anim ais, em bora seja m ais provável que o último refira-se a um bastão de atirar, talvez como um bum erangue.8.16. docum entos selados no m undo antigo. Rolos podiam ser selados amarrando um cordão em volta deles e selando o nó com argila ou colocando-os em um jarro e selando a tampa. A argila ou o selo em volta da tampa recebia um a impressão com o selo do proprietário. A M esopotâm ia usava selos cilíndricos, o Egito, selos de escaravelhos e a Siro-Palestina, selos estampados. Os tabletes eram selados dentro de um envelope de argila, impresso com o selo do proprietá­rio. Os selos tinham como objetivo garantir a integri­dade do conteúdo do material escrito. Eles alertavam contra a violação e a adulteração e, se intactos, atesta­vam a autenticidade do documento. Para mais infor­mações, ver Neemias 9.38.

8.19. consulta aos mortos. Por causa da importância dada ao culto aos ancestrais, que perm eava grande parte do antigo Oriente Próxim o (talvez um reflexo da ênfase no papel do herdeiro do sexo m asculino, responsável pelo santuário do pai, como consta em documentos ugaríticos), considerava-se que os mortos tivessem algum poder de afetar os vivos. Acreditava- se que se libações fossem derramadas em favor dos ancestrais mortos, seus espíritos ofereceriam proteção e ajuda aos membros da família que ainda estivessem vivos. N a Babilônia, o espírito desencarnado (:utukki) ou o fantasma (etemmu) podiam tom ar-se muito peri­gosos se não recebessem os devidos cuidados e, mui­tas vezes, se transform avam em objetos de encanta­mentos. O cuidado com os mortos começava com o sepultam ento adequado e teria continuidade com a dedicação posterior de presentes em honra da memó­ria e do nom e do falecido. O filho prim ogênito era responsável pela manutenção dessa adoração ances­tral e, sendo assim, era quem herdava os deuses da família (muitas vezes, imagens dos ancestrais já mor­tos). Esse cuidado tinha como base a crença, como fica evidente na consulta de Saul à m édium de En-Dor, de que os espíritos dos m ortos podiam se comunicar com os vivos e tinham inform ações sobre o fu turo que poderiam ser úteis. Esses espíritos eram consultados através de sacerdotes, m édiuns e necromantes. A con­sulta aos mortos podia ser um a prática perigosa, visto que alguns espíritos eram considerados demônios, e portanto, poderiam causar m uitos danos fazendo o mal. Em bora seja difícil reconstruir totalmente as cren­ças israelitas dessa época sobre ancestrais falecidos e a vida após a morte, parece possível que antes do exílio existisse uma forma de culto aos mortos ou adoração aos ancestrais. Essa hipótese tem o respaldo de algu­mas evidências em vestígios arqueológicos: (1) uten­sílios, vasilhas e objetos para comer e beber encontra­dos em tumbas de Israel da Idade do Ferro, (2) refe­rências a entregas de ofertas de alimentos e bebidas para os mortos (ver D t 26.14; SI 106.28) e (3) a impor­tância dada às tum bas das fam ílias (ver o túm ulo ancestral de Abraão e seus descendentes em Hebrom) e os rituais de luto realizados nessas tumbas (ver Is57.7, 8; Jr 16.5-7). O culto a ancestrais era condenado pelos profetas e pela lei.

9.1-7Esperança futura9.1. tratam ento dado a Z ebu lom e N aftali. A s tribos de Zebulom e N aftali estavam entre as m ais atingidas pelos assírios na campanha de 733 (ver 2 Rs 15.29, con­firmado nas inscrições de Tiglate-Pileser). Seus territó­rios com preendiam a m aior parte do que se tornou a província assíria de M agidu (ver o comentário abaixo).

9.1. três regiões. Quando a Assíria dirigiu-se ao oci­dente, em 733, para punir a Israel, o reino do norte, por sua participação em atividades anti-Assíria, um dos resultados foi a redução do território de Israel. Exceto pelas colinas de Efraim , todo o restante foi anexado como território assírio. Esse território foi esta­belecido em três distritos administrativos citados nos registros assírios como D u'ru, M agidu e GaTaza, re­fletidos nas três regiões m encionadas por Isaías. A Galiléia dos gentios é a província M agidu (Megido - do vale de Jezreel, ao norte, até o rio Litani); o cami­nho do m ar é a província D u'ru (Dor - as planícies costeiras de Jope até Haifa) e a área junto ao Jordão é a província Gal'aza (Gileade - a região da Transjordân- ia, desde o m ar Morto até o m ar da Galiléia). Escava­ções recentes em Dor dem onstraram um a presença assíria significativa nesse período.9.2. luz de esperança e libertação. Em textos m esopo- tâmicos logicamente é o deus-sol, Shamás, quem forne­ce a luz. Ele é louvado por afastar as trevas e trazer a luz para a humanidade. Como um rei que reina com justiça, Hamurabi afirma trazer luz para as terras da Suméria e Acad.9.4. derrota de M idiã. A opressão midianita na m eta­de do período dos juizes acontecera aproximadamen­te quinhentos anos antes, mas ainda continuava a ser o exemplo m ais evidente da capacidade de Deus em promover libertação em situações adversas e opressi­vas. Fica claro que a referência é àquela derrota espe­cífica de M idiã por causa da citação em 10.26.9.4. figura do ju go. M uitas vezes, as profecias refe­riam-se ao peso do domínio político como a um jugo. N as cartas de A m arna os governantes das cidades- estado cananéias dizem ao faraó como eles volunta­riamente se colocaram sob o jugo do Egito para servi- lo fielmente. A literatura sapiencial acadiana mostra que suportar o jugo de um deus é desejável por causa dos benefícios decorrentes. N o Épico de Atrahasis os deuses consideram o jugo de Enlil insuportável e se rebelam. Inscrições assírias descrevem sua conquista de outras terras como a im posição do jugo do deus Assur sobre os povos e a rebelião era retratada pelo jugo sendo arrancado. É desnecessário dizer que o profeta está usando uma imagem que era fam iliar em todo o antigo Oriente Próximo.9.5. bota de guerreiro. Essa é a única ocorrência da palavra para bota no Antigo Testamento, mas é equi­valente a um dos termos acadianos comuns para san­dália ou calçado. No exército assírio, m uitos da infan­taria não usavam calçados, m as a cavalaria era equi­pada com botas de couro m acio que iam até o joelho e eram am arradas com longas correias cruzadas. Os oficiais também eram equipados com botas. Esse tipo de calçado era um dos principais itens saqueados dos inimigos mortos.

9.5. veste revolvida em sangue. N a Assíria, era retó­rica comum falar de cidades e países tingidos de ver­melho, banhados pelo sangue dos inimigos e do exér­cito atravessando em marcha esse m ar de sangue. Na literatura ugarítica, a deusa da guerra Anat é descrita na batalha caminhando no sangue dos guardas e mer­gulhando sua saia no sangue coagulado de guerrei­ros. Pinturas em Til-Barsip mostram assírios em uni­formes verm elhos e fontes clássicas descrevem solda­dos desse período usando túnicas vermelhas ou de cor púrpura. Embora não haja paralelos para a expressão "revolver vestes no sangue", existe um texto assírio que fala de mergulhar as armas no sangue.9.6. prodígio do nascim ento de um herdeiro ao tro­no. No antigo Oriente Próximo, o nascimento de um herdeiro ao trono era uma ocasião significativa. Um exemplo pode ser visto no mito egípcio do N ascimen­to do Faraó. Forjado como um oráculo profético do deus Amom, o nascimento de H atsepsut é anunciado com uma proclamação de tudo que ela realizaria. Seu nom e é decretado e ela desfruta da proteção e da bênção do deus. A inda que esse texto represente a tentativa arquitetada de H atsepsut de legitim ar seu direito ao trono, ilustra o tipo de proclam ação que seria adequada em uma cerimônia de nascimento.9.6. nom es e títu los no antigo O riente Próxim o. Era comum no mundo antigo que o rei que ascendesse ao trono assumisse um nome para si. Não devemos ima­ginar que o nom e Sargão , que sign ifica "O R ei é Legítim o" simplesmente foi dado a uma pessoa que um dia chegou a ser rei. M as além disso estava a questão de títulos que atribuíam ao rei diversas qua­lidades e feitos. No Egito era um a prática formal, de idade venerável conceder um título de cinco nomes para o faraó que ascendesse ao trono, como parte da cerim ônia de ascensão. Esses nomes eram um a ex­pressão das crenças egípcias na divindade do faraó. Talvez ainda m ais curioso seja o título de Niqmepa, rei de Ugarit (metade do segundo milênio) que inclui títulos tais como Senhor da Justiça, M estre da Casa Real, Rei que Protege e Rei que Edifica.9.6. nom es-frases no antigo O riente Próximo. A mai­oria dos nomes do mundo antigo continha afirmações, ou seja, continha em si frases. A maioria das afirma­ções diz respeito à divindade. Pode-se facilmente re­con h ecer o nom e da d iv ind ad e em n om es com o Assurbanipal, Nabudoconosor ou Ramsés. Qualquer pessoa com um pouco de fam iliaridade com a Bíblia percebe que m uitos nomes israelitas terminam com - ias ou -el ou começam com Jeo- ou E1-. Todos esses elementos representam o Deus de Israel. Esse tipo de nome é chamado de teofórico e afirma a natureza da divindade, proclam a seus atributos ou pede a sua bênção. Um a form a de interpretar os títu los deste

versículo é entendê-lo como um reflexo de importan­tes afirm ações teofóricas: O Guerreiro Divino é um Planejador Sobrenatural, O Soberano do Tem po é o Príncipe da Paz (observe que a palavra "é " não apa­rece nessas construções, como os nomes demonstram ).9.6. nom es compostos no antigo O riente Próxim o. O nom e M aher-Shalal-H ash-Baz, em 8.1, é um nome composto formado por duas afirmações paralelas. Vis­to que 9.6 apresenta o nome dessa criança (singular) e não os nomes (plural; na NVI, em vez de "seu nome será", a tradução ficou "e ele será cham ado"), uma opção possível é considerar que também esses nomes sejam , na verdade, apenas um (longo e com plexo) nome teofórico composto. Em bora esses nomes com­postos não fossem a norma no antigo Oriente Próxi­mo, Isaías não os está apresentando como comuns. O uso assírio de nomes compostos pode ser observado nos nom es que Tiglate-Pileser III dá aos palácios e portas por ele construídos em Calá. Estas últimas rece­bem o seguinte nome: "Portas da Justiça que Dão o Julgam ento Correto para o Governante dos Quatro Quadrantes, que Oferece a Renda das M ontanhas e dos Mares, que Admite o Produto da Humanidade Diante do Rei, Seu Senhor".9.7. conceito da vinda do rei em um reinado ideal.Em um a obra intitulada "A Profecia de M arduque" (do ano 1100 a.C., aproximadamente) consta a profe­cia de um rei que reconstruirá os templos e restabele­cerá as prerrogativas da Babilônia. Seu reinado é ca­racterizado pelas reformas, estabilidade e prosperida­de. Sua posição de favorecido pela divindade m an­terá a porta do céu permanentemente aberta. A paz e a justiça serão o resultado do governo da divindade através desse rei ideal. Em bora possa ter sido escrita para prom over o rei, que esperava que as profecias fossem aplicadas a ele, a Profecia de M arduque de­monstra que a retórica usada em Isaías seria familiar no aspecto em que descreve um reinado futuro ideal.

9.8-21A ira do Senhor contra Israel9.10. tijo los por pedras lavradas, figueiras bravas por cedros. O tijolo secado ao sol era um m aterial de cons­trução comum na Palestina. Seu custo era baixo, esta­va disponível com facilidade e era razoavelm ente re­sistente. O sicômoro (figueira brava) era um a das ár­vores m ais comuns da região. Por ser um a árvore que crescia rápido, sua característica de arbusto e m adeira m acia a tornava inadequada para o uso em postes e vigas; apesar disso, era usada em construções. O con­traste entre pedras lavradas e madeira de cedro impor­tada sugere luxo extravagante e estabilidade.9.11. inim igos de Rezim . Os mais notáveis inimigos de Rezim eram os assírios e é deles que parte o castigo.

9.12. aram eus e filisteu s. Os aram eus e os filisteus eram os outros dois principais alvos dos assírios nas cam panhas de 734-732. Seria estranho, em bora não impossível, vê-los sendo devorados juntam ente com Israel pelos inimigos de Rezim. Visto que Rezim é o rei dos arameus, é difícil vê-lo como inimigo de seu próprio povo. A outra possibilidade é que arameus e filisteus derrotados tivessem sido forçados a servir nas fileiras do exército assírio à medida que este se deslo­cava para atacar Israel. Existem am plas evidências dessa prática durante a época de Tiglate-Pileser.9.14. palm a e junco. O texto não se refere à palmeira sendo cortada pela raiz, m as aos galhos e folhagens que crescem no topo do tronco. A cabeça e a cauda, por serem inseparáveis, vão sempre na mesma dire­ção. A palma e o junco são iguais porque se curvam na direção que o vento sopra. Essas plantas não têm capacidade de agir com autonomia.9.20. canibalism o. N ão se sabe ao certo se esse texto se refere a canibalismo ou não. Não obstante, o caniba­lismo é um elemento padrão presente nas maldições dos tratados assírios do sétimo século. Era o último recurso em tempos de fom e extrema. Chegava-se a esse n ível de desespero em épocas de grave fom e (como ilustra o Épico de Atrahasis) ou como resultado de cercos (como durante o cerco de Assurbanipal à Babilônia, por volta de 650 a.C.) quando o suprimen­to de comida se esgotava, conforme previsto nos tex­tos de tratados. A guerra de cercos era com um no mundo antigo, portanto, é _provável que essa prática não tenha sido tão rara como se supõe.

10.1-34Ais sobre Judá e Assíria10.1. le is opressivas no antigo O riente Próxim o. Otexto não está se referindo à criação de um sistema judicial e sim à promulgação de decretos ou leis que dizem respeito a questões específicas. No contexto po­lítico da época de Isaías uma das principais questões que tinha de ser prevista pela lei era o levantamento de fundos para o pagamento de tributos. Isso geral­mente era conseguido através da cobrança de impos­tos especiais, embora sempre houvesse isenção para classes de pessoas ou cidades que haviam recebido o status de sagradas. Outras possíveis questões incluem a alforria de escravos por dívidas ou o confisco de propriedades. Geralmente a acusação de leis injustas era feita contra um governante por seu sucessor. O Texto de Reforma de Uruinimgina identifica práticas opressivas do passado às quais ele havia colocado um fim . U r-N am m u afirm a não ter "im posto ord ens", m as eliminado a violência e o clamor pela justiça.10.2. v iú vas e órfãos com o vítim as. Com base nas afirmações dos prólogos dos Códigos de Ur-Nam mu e

de H am urabi, fica claro que os reis consideravam parte de seu papel enquanto "sábios governantes" proteger os direitos dos pobres, das viúvas e dos ór­fãos. Igualmente, no texto egípcio A Lenda do Campo­nês Eloqüente, o querelante começa identificando seu ju iz como "o pai dos órfãos, o esposo das viúvas". Estatutos individuais (vistos em diversas leis médio- assírias) protegiam o direito de uma viúva casar-se de novo e lhe garantiam o sustento quando seu marido era levado com o prisioneiro ou dado com o morto. Desse modo, as classes oprimidas eram assistidas em todo o antigo Oriente Próximo.10.9. lista de cidades. As primeiras duas cidades re­presentam a Síria, com a cidade ao sul (Calno) que recebeu o m esm o tratam ento da cidade situada ao norte (Carquem is). A segunda dupla representa a médio Síria, novam ente com a cidade ao sul (Hamate) recebendo o mesmo tratamento dado à cidade do nor­te (Arpade). A últim a dupla de cidades representa o sul da Síria e a Palestina, com a cidade ao sul (Sama­ria) sendo alvo do mesmo tratamento que a do norte (Damasco). Essa descrição apresenta uma seqüência geográfica e não cronológica, chegando a uma última seqü ên cia n o rte -su l, com Je ru sa lém ju stap o sta a

Samaria, no versículo 11.10.9. Calno. Também conhecida como Calné, ou nos textos assírios, como Kullani, essa cidade foi subju­gada pelos assírios em 738. O local ainda não foi iden­tificado com certeza, mas fica nas redondezas de Ar­pade, em um território conhecido com o U nqi, nos textos assírios. Foi considerada uma importante vitó­ria de Tiglate-Pileser que incluiu um relevo nos anais de Calá ilustrando os deuses da cidade sendo levados cativos e o rei prostrado em submissão a Tiglate-Pile­ser cujos pés estão em seu pescoço. Kullani foi iden­tificada como o principal alvo da campanha de 738.10.9. Carquem is. Carquemis provavelmente era uma das aliadas de Urartu, sob Sarduri, na coalizão de 743 contra a Assíria. Carquem is não se opôs de form a ativa contra Tiglate-Pileser na coalizão de 738. A con­trário, seu governante, Pisir, é alistado entre aqueles que pagaram tributo naquele ano. A cidade só foi anexada em 717. Ficava localizada na margem oeste do Eufrates, no território da atual Turquia, cerca de 80 quilômetros a nordeste de Arpade.10.9. Hamate. Depois que Arpade e sua coalizão su­cum biram em 740, outra coalizão foi formada, inclu­indo muitas das cidades do sul da Síria. Ham ate esta­va entre elas e pagou tributo quando a coalizão foi dissolvida por Tiglate-Pileser, em 738. Hamate (atual H am a, quase 160 quilôm etros ao sul do A leppo e cerca de 208 quilômetros ao norte de Damasco) fica localizada às margens do rio Orontes.

10.9. Arpade. Arpade (atual Tel Rifaat), cerca de 32 quilômetros ao norte de Aleppo, no norte da Síria, foi um a das prim eiras cidades a posicionar-se contra Tiglate-Pileser e a sentir o resultado de sua determi­nação. Em 743 M ati'el, rei de Arpade, form ou uma coalizão com o rei urartiano Sarduri e seus aliados para tentar conter os assírios fora do norte da Síria. Tiglate-Pileser destruiu a coalizão em 743, m as ainda levou três anos para finalm ente subjugar e anexar Arpade, em 740.10.9. Sam aria e D amasco. Essas cidades foram, é cla­ro, subjugadas nas campanhas de 733-732, à medida que Tiglate-Pileser estendia seu controle mais e mais ao sul.10.10. im agens m ais num erosas. N ão há distinção nessa fala entre as práticas religiosas de Israel e de Judá e das outras cidades do ocidente. Não há adjetivo explícito neste versículo, apenas implícito pela sinta­xe. Os ídolos das nações são portanto identificados como excedendo em núm ero os ídolos de Jerusalém e Samaria. Se a NVI estiver certa, a comparação pode estar relacionada à quantidade de adom os com que eram manufaturados ou vestidos. Outras versões pre­ferem "m aiores", em vez de "m ais num erosas", suge­rindo talvez que fossem capazes de demonstrações mais impressionantes de poder e força. Um a terceira possibilidade refere-se ao grande núm ero de ídolos que havia nas outras cidades. Um dos m omentos mais grandiosos da conquista de uma cidade era quando seus ídolos eram levados cativos pelo dominador.10.11. im agens e ídolos em Israel. A religião israelita era idealm ente iconoclasta (não havia imagens). Na prática, porém, não era bem assim. Isaías, bem como a m aioria de outros profetas pré-exílicos, condenavam o povo por causa de seus ídolos. Quanto ao emprego que A caz fez de íd olos, ver 2 C rônicas 28.2. Esse retrato textual não encontra tanto respaldo no registro arqueológico quanto se esperaria. A ausência de ído­los datando da monarquia, no entanto, pode ser devi­da à diligência em destrui-los por parte de reforma­dores como Ezequias e Josias, e à eficácia de saquea­dores como os reis assírios e babilônios.10.13, 14. afirm ações de inscrições reais. As afirma­ções arrogantes colocadas na boca do rei assírio por Isaías não são exagero. As inscrições desses reis con­têm afirm ações extrem as atribuídas ao rei. Tiglate- Pileser afirm a ser amado dos deuses, a luz de todo seu povo e o pastor de toda a hum anidade, aquele que domina m uitos reis, despoja as cidades e impõe tribu­tos. Ele afirma considerar seus inimigos meros fantas­mas. Um de seus predecessores, A ssum asirpal, de­m onstra um a grande propensão para títulos em pro­fusão, com freqüência, mais de um a dezena. Dentre eles estão incluídos "dragão feroz, pastor m aravilho­

so, criatura santa, soberano belicoso, destem ido na batalha, pisoteador de inim igos, herói im piedoso e onda im petuosa que não encontra oponente e que através de seu conflito soberano subjugou reis ferozes e impiedosos, desde o oriente até o ocidente" (excertos de Grayson, Inscrições Reais Assírias 2).10.16-19. castigo sobre a A ssíria . Em bora o rei da Assíria se apresentasse como a luz de seu povo, Yah- weh, a Luz de Israel, brilharia mais que ele. Os reis assírios se vangloriavam da destruição que provo­cavam em campos e pomares e do incêndio de cida­des - agora teriam um destino semelhante. Os exérci­tos que eram o poder e o orgulho desses reis seriam dizimados por doenças (epidemias eram um a ameaça constante nos acampamentos militares), se o exército estiver sendo m encionado aqui (ver o próxim o co­mentário). Um a devastação do exército assírio aconte­ceu fora dos muros de Jerusalém, em 701, embora não por destruição em massa (NVI, "enferm idade devas­tadora"; ver 2 Rs 19.35). A derrubada da Assíria só foi alcançada oitenta e cinco anos m ais tarde quando os medos e os babilônios derrotaram Assur e Nínive.10.16. enferm idade devastadora. H á poucas razões para aceitar a tradução da NVI para "fortes guerrei­ros" neste versículo (no contexto não há m enção a soldados ou a exército). A palavra refere-se àquilo que é rico ou luxuoso e em D aniel 11.24 refere-se a território. A explicação preferida aqui seria a idéia de que D eus transformaria as regiões m ais exuberantes da Assíria em improdutivas.10.22, 23. decreto d iv ino de destruição. O decreto divino de que uma cidade seria destruída é um tema fam iliar no antigo O riente Próxim o. No Lam ento Sumério, o concílio divino decretou a destruição da cidade de Ur. Ali, porém, lamenta-se que o decreto de Enlil não tenha nenhum motivo ou explicação. Na Profecia de M arduque, a divindade decreta sua pró­pria remoção para Hatti. A Crônica de W eidner relata que M arduque decretou a destruição da cidade de B abilônia pelas m ãos dos gutianos. N essa obra, o motivo foi as ofensas de Naram-Sin. Istar ficou irada e levantou um inim igo contra a cidade de U ruk, no M ito de Erra e Ishum. Embora nem sempre o motivo que causou a destruição dessas cidades possa ser defi­nido como "ju sto", o conceito apresentado aqui é bas­tante familiar.10.24. papel do Egito. O Egito tinha pouco envol­vimento nos assuntos da Siro-Palestina durante o rei­nado de T iglate-Pileser III, visto que essa foi um a época de divisão e disputas entre o Egito, Núbia, ao sul e Líbia, a oeste. Um único incidente relata que H anum, rei de Gaza, fugiu para o Egito em busca de proteção quando Tiglate-Pileser avançou contra sua cid ad e em 734. Som ente a p artir da ascen são de

Salm aneser V ao trono da Assíria em 727 que, é Oséias, rei de Israel, sentiu-se encorajado para recorrer aos egípcios em busca de ajuda (ver o comentário em 2 Rs17.4). A referência ao Egito aqui diz respeito ao êxodo.10.26. rocha de O rebe. Essa é um a referência à li­bertação de Israel prom ovida pelo Senhor sob a li­derança de Gideão, a despeito da situação desfavorá­vel. O governante midianita Orebe foi m orto na ro­cha de O rebe (não localizada), incidente registrado em Juizes 7.25.10.27. figura do ju go. Ver o comentário em 9.4.10.28-32. itinerário. As doze cidades mencionadas aqui desenham um a rota do norte diretamente para Jeru­salém. Não foi esse o itinerário que Senaqueribe se­guiu quando avançou contra Jerusalém, em 701. Na­quela campanha ele passou por todas as cidades da Sefelá, a sudoeste de Jerusalém , sendo Láquis a úl­tima, e aproximou-se de Jerusalém por esse lado. Aia te geralmente é identificada com Ai, cerca de dezesseis quilôm etros ao norte de Jerusalém. Acredita-se que Migrom seja o uádi Sw enit que form a uma profunda fenda entre M icm ás e Geba (ver o comentário em 1 Sm 14.2). Como o exército acampou em Geba, não se sabe ao certo qual das três estradas que saem de Geba foi usada. Uma estrada vai para o oeste até Ram á (cerca de três quilômetros); uma outra vai no sentido sudo­este, até Gibeá (cerca de cinco quilômetros e meio) e uma terceira vai para o sul, até Anatote (cerca de seis quilômetros). A estrada de Anatote passava por Galim (localização incerta) e dali j>ara o sul de Anatote, pas­sava por Laís até Nobe. Acredita-se que N obe estives­se localizada no que hoje é chamado de m onte Scopus, diante da cidade de Jerusalém, a partir do noroeste. M adm ena e Gebim perm anecem não identificadas. 10.34. L íbano. Ver o comentário em 2.13.

11 .1-6 O futuro rei Davídico e seu reinado11.1. oráculo sobre um governante futuro ideal. Vero comentário em 9.7. Textos do Egito e da Mesopo- tâm ia predizem a vinda de reis ao poder que terão êxito em trazer a paz, a justiça e a prosperidade, ape­sar de essas predições serem escritas geralmente de­pois que o rei já estava no trono, como uma form a de legitimar seu governo. Um oráculo desse tipo na épo­ca de A ssurbanipal inclui os famintos sendo alimenta­dos, os nus sendo vestidos e os presos sendo liberta­dos. Tiglate-Pileser III é descrito como o rebento ou descendente da cidade de Baltil (Assur) que traz justi­ça a seu povo.11.2. capacitação com o esp írito d iv ino n o antigo O riente Próximo. No período dos juizes, o Espírito do Senhor capacitava um indivíduo dando-lhe autori­dade central que apenas o Senhor possuía (ver o co­

m entário em Jz 6.34, 35). O papel do rei, por sua vez, representava um a autoridade central m ais permanente e igualmente dependia da capacitação e legitimação do Senhor. O rei era um agente da divindade e um funcionário celestial, assim como os juizes e os profe­tas. O Espírito conferia às pessoas atributos positivos de coragem, carisma, percepção, sabedoria e confian­ça. Na M esopotâm ia, o rei recebia a mélammu (a re­presentação visível da glória da divindade) dos deu­ses, sendo designado com o representante divino e servindo com o um indício de que seu reinado era legítim o e ap rovado pelos deuses. Em inscrições assírias essa aura é ilustrada pairando sobre o rei. Um correlato adicional pode ser encontrado no term o acadiano bashtu. Refere-se geralmente a um senso de dignidade e com, freqüência, é concedido pelos deu­ses, m as tam bém é personificado como um espírito protetor. O bashtu confere diversos atributos e, como aqui, dá autoridade a quem o recebe.11 .3 ,4 . o desafio do ju iz . A principal responsabilida­de de um rei no m undo antigo era estabelecer a justi­ça. Portanto, a retórica dos reis presente em suas ins­crições e anais declara seu êxito nessa empreitada. A sabedoria de um rei era demonstrada através de sua inteligência e percepção na resolução de casos com­plexos e sua adequação para ocupar o trono era avali­ada por seu grau de compromisso em suprir e assistir as classes oprimidas da sociedade. Acreditava-se que a habilidade de solucionar causas difíceis era uma capacidade dada por D eus (compare com Salomão; ver os com entários em 1 Rs 3.16-28 e 2 Cr 1.12) e, portanto, não dependia exclusivamente de evidênci­as que eram apresentadas no tribunal (ver Pv 16.10).11.5. fa ixa do peito/ cinturão. A m esm a palavra é usada em ambas as frases deste versículo, mas uma dessas peças envolvia as coxas, enquanto a outra era enrolada entre elas. Eram os itens m ais básicos de vestuário e sem eles um indivíduo estaria nu.11.6-8. com portam ento dos an im ais em condições utópicas. D esde a época dos sumérios, o mito chama­do Enki e N inhursag descreve um a situação utópica em que o leão não m ata e o lobo não arrebata o cordei­ro. Outras obras utópicas descrevem a ausência de predadores (não existem cobras, escorpiões, leões e lobos no relato de Enmerkar e o Senhor de Aratta).11.10. ban d eira . A bandeira ou estandarte era um recurso para convocar um exército de determinado território ou para indicar o local onde um ajuntamento de tropas aconteceria ou ainda para demarcar o acam­pamento. Com freqüência continha um a insígnia da tribo ou da divisão militar. No exército egípcio cada divisão recebia o nome de um deus (p. ex., a divisão de Amom, a divisão de Seth) e os estandartes identi­ficavam o destacam ento m ilitar através de alguma representação do respectivo deus.

11.11. lugares de exílio. Os lugares mencionados aqui não têm necessariam ente o objetivo de representar localidades conhecidas de exílio dos israelitas. Ao con­trário, equivalem aos quatro cantos da terra citados no versículo seguinte. A Assíria é mencionada primeiro como o local onde havia exilados no momento, mas também como representante da área nordeste. O Egi­to, no sudoeste, é identificado em três segmentos aci­m a do Nilo, inclusive o reino de N úbia (NVI, Etiópia ou Cuxe). Elão e Sinear (Babilônia) representam a extrem idade sudeste, enquanto H am ate representa as regiões ao norte. Por último, as "ilhas do m ar" é uma forma de representar áreas que avançam mais a ocidente.11.12. quatro cantos. Era com um no m undo antigo referir-se às quatro regiões do m undo habitado. A literatura acadiana fala de reis que governam os qua­tro cantos, provavelmente fazendo referência às cos­tas ou extremidades mais distantes dos quatro princi­pais pontos cardeais. Nesse aspecto, refere-se não a quatro "pedaços da torta geográfica", mas às quatro extrem idades, incluindo assim tudo que está entre esses pontos.11.14. povos vizinhos. Assim como o versículo ante­rior enfocou a perspectiva universal, este verso trata dos povos vizinhos situados a leste, a oeste e ao sul.11.15. golfo do m ar do Egito. Essa é a única ocorrên­cia na Bíblia de uma m assa de águas cham ada m ar Egípcio e, portanto, é difícil localizá-lo com seguran­ça. A m aioria dos comentaristas o identifica com o golfo de Suez.11.15. Eufrates dividido em sete riachos. Na Meso- potâm ia, o suprim ento de água era controlado por irrigação feita através de comportas que separavam e desviavam a água através de canais que escoavam a partir do leito dos rios. Como a água era desviada, os diversos canais reduziam o fluxo da água.

12.1-6 Cântico de vitória12.1-6. cânticos de vitória. O conceito de um Deus irado que agora concluiu seu justo castigo sobre a nação se repetirá m ais tarde em Isaías (40.1, 2). O chamado para louvar o nome de D eus encontra-se em muitos Salm os, inclusive 2222-25 e 116.12, 13. Essa teodicéia da ira divina acompanhada da mudança do destino e restauração também está presente na inscri­ção m oabita de M essa. A li o rei observa como seu deus Quem ós perm itiu que fossem derrotados por um período, m as depois escolheu dar-lhes a vitória contra seus inimigos. Igualmente, os anais assírios de Esar-H adom , Salm aneser I e Tukulti-N inurta I lou­vam seu triunfante deus Assur, que é "soberano so­bre o universo" e lhes deu autoridade para subjugar todas as nações.

1 3 * 1 -2 2Profecia contra a Babilônia13.1. oráculos contra as nações estrangeiras. V er ocomentário em Jerem ias 46.1.13.1. Babilôn ia nos tempos de Isaías. Na época em que Isaías atuava como profeta (segunda metade do oitavo século a.C.), o império neo-assírio, sob os go­vernantes sargonidas, Sargão II e Senaqueribe, era a mais poderosa associação política do mundo já vis­ta. Estendia-se por todo o Oriente Próximo e chega­ria até a incluir o Egito, ainda que por um curto pe­ríodo. Durante essa época a Babilônia e seus gover­nantes caldeus foram subjugados pelos assírios, as­sim como todas as outras nações. Entretanto, tal como os medos, no oeste do Irã, os babilônios periodica­m ente testavam a hegem onia assíria através de re­voltas ou procurando subverter aliados da Assíria e seus Estados vassalos. Particularm ente perturbador foi Merodaque-Baladan, que espoliou os governantes assírios pelos m enos em duas ocasiões. Finalmente, em 689 a.C. Senaqueribe saqueou a cidade e assu­m iu o título de rei da Babilônia. Pouco tempo depois de 660, quando o im pério assírio com eçou a ruir, a Babilônia e a M édia uniram -se para aumentar a pres­são sobre o últim o dos grandes reis assírios, Assur- banipal. Sua morte, em 627, marcou o fim do pode­rio assírio no mundo e o surgimento de Nabucodo- nosor e o império neo-babilônico.13.10. constelações. As constelações, de acordo com o épico mesopotâmico da criação, Enuma Elish, forma­vam a assembléia divina do grande deus Marduque, colocadas no firmamento para supervisionar as forças da natureza e ajudá-lo a adm inistrar a criação. Visto que acreditava-se que o movimento dos corpos celes­tes eram presságios de eventos que aconteceriam na terra, as observações astronômicas eram feitas cons­tantem ente e registradas (como a coleção de registros em Enum a A nu Enlil). Com o tem po, essa prática também passou a ser aplicada na elaboração de horós­copos na M esopotâmia, no Egito e na Grécia. Dessa maneira, os dias de sorte e de azar podiam ser deter­minados consultando-se as guildas de mágicos e as­trólogos. As constelações mesopotâmicas incluem fi­guras de anim ais com o o bode (Lira) e a serpente (Hidra); objetos como um a flecha (Sírio) e um carro (Ursa Maior) e personagens como Anu (Órion). As constelações mais populares eram a Plêiade, com fre­qüência retratada em selos até na Palestina e na Síria. Textos neo-assírios preservam esboços de estrelas em constelações.13.10. estrelas, sol e lua perdendo sua luz. Ao decla­rar que no "d ia do Senhor" os céus e todos seus corpos celestes perderiam sua luz, Isaías está afirmando que a glória de Yahw eh ofuscaria e encobriria o brilho de

todos os outros supostos deuses (compare com a ex­pressão de SI 104.19-22, em que Yahw eh é descrito controlando o sol e a lua). V isto que a Assíria e o Egito adoravam o deus-sol (Shamás e Am om , respectiva­mente) como sua principal divindade e o deus-lua, Sin, era de grande importância na Babilônia, o profe­ta atinge esses deuses e essas arrogantes nações inimi­gas. Tais presságios de escuridão, como na inscrição de Deir 'Alla, de Balaão, geralmente previam tempos de grande desastre, mas a mensagem de Isaías é de triunfo em que "luzes m enores" são extintas para que Yahw eh brilhe com mais intensidade.13.12. ouro de O fir. A pureza particular do ouro de Ofir é a medida para a limpeza da humanidade por m eio da intervenção de Yahw eh. A localização de O fir ainda é desconhecida, em bora localidades na Arábia e no leste da África (Zimbábue ou Somália) sejam as mais prováveis (1 Rs 9.28). Um a inscrição do oitavo século a.C., em Tell Qasile, faz menção ao ouro de O fir e sustenta a idéia de que o nom e O fir se tom ara sinônimo de pureza.13.13. trem or nos céus e n a terra. Isaías usa um a linguagem semelhante à que é usada na teofania do "deus da tem pestade", comum no ciclo ugarítico do Épico de Baal. O guerreiro divino se manifesta atra­vés de fenômenos da natureza, ventos impetuosos e um estrondo pelos céus que quase rom pe a própria estrutura da terra dividindo-a em duas. Um exemplo parecido encontra-se no cântico de louvor de Davi, em 2 Samuel 22.8-16 (ver o comentário lá).13.17. m edos. As tribos e os reis m edas com eçam a surgir em textos assírios no final do nono século a.C., especialmente associados à aquisição de cavalos e ao controle de rotas comerciais nas m ontanhas Zagros. T iglate-Pileser III e Sargão II invadiram a área di­versas vezes, cobrando tributos e deportando grupos da população (2 Rs 17.6). Os m edos habitavam na região centro-oeste do Irã com sua capital em Ecbatana. O reinado iraniano de Elão governava a área até o sul. Parece que só a partir do sétimo século eles se unificaram como nação, quando o rei Cyaxares uniu forças com Nabucodonosor e com os caldeus da Babi­lônia para atacar e destruir Nínive (612 a.C.). Subse­qüentemente, os m edos foram conquistados ou absor­vidos pelo império Aquemênida, por Ciro II, em 550 a.C. (Et 1.3).13.17. não se interessam pela prata nem pelo ouro.Como atestam os anais assírios de Senaqueribe, era possível a um a cidade resgatar a si m esm a durante um cerco pagando um elevado preço (2 Rs 18.13-16). Porém, a fama dos m edos é que eram guerreiros tão ferozes que não podiam ser subornados ou comprados depois de terem iniciado um a campanha (ver Sf 1.18).13.19. queda da Babilônia. Apesar do fato de a Assí­

ria ser a origem da destruição de Israel nos dias de Isaías, esse império é visto como a "vara do furor de D eus" (Is 10.5), embora Deus garanta que seu castigo acabará por vir (14.25). Logo, a eliminação da m onar­quia caldéia de Merodaque-Baladan, de tão curta du­ração, serve de exem plo inicial do plano m aior do "d ia do Senhor" que irromperá em uma nova era. A tribo Bit Yakin dos caldeus, que anteriormente havi­

am habitado na área sul da Babilônia, estabeleceu seu dom ínio sobre a B ab ilôn ia em 722 a.C .. Prim eiro Sargão II, depois Senaqueribe avançaram contra eles, mas foi somente em 689, após um a série de revoltas e contra-revoltas, que o conflito foi resolvido, quando Senaqueribe arrasou a cidade e muitas de suas cons­truções monumentais. As ruínas da cidade subjugaram os caldeus por um século e é possível que a lembran­ça, bem como a visão da destruição, tenham sido com­paradas ao destino de Sodom a e Gom orra. Apesar disso, o envolvimento dos medos sugere que o desti­no final da Babilônia foi o cumprimento final dessa profecia, quando os m edos e os persas invadiram e tom aram a cidade em 539.13.20. destino da Babilônia. A descrição da devasta­ção total da Babilônia que passaria a ser um lugar desabitado para sem pre acom panha um padrão de lamento pela cidade encontrado nos lamentos sumérios por causa de U r (c. 2000 a.C.). Em um exemplo seme­lhante de um oráculo de "a is" o texto egípcio intitulado Visões de Neferti descreve o final do Antigo Reinado, deixando o povo sem rum o, os canais secos e o Egito vulnerável a invasões de asiáticos e pastores do deser­to. O golpe final à Babilônia não veio pelas mãos de um inimigo destruidor, mas através de sua deteriora­ção gradual por causa do desvio do curso do rio Eufrates que tran sfo rm o u a fam osa c id ad e em um lu g ar

desértico e abandonado.

14.3-23Zombaria contra o rei da Babilônia14.4. cântico de zombaria. Essa canção usa a métrica de um hino fúnebre, m as parodia o gênero zomban­

do e não elogiando a pessoa morta.14.8. lenhador. As florestas do Líbano eram conside­radas um tesouro pelos reis do mundo antigo. A m a­deira dos cedros era essencial para templos e palácios. Os reis se gabavam de ter estendido suas conquistas até essas florestas e de ter extraíd o m adeira dali. Nabucodonosor a chama de floresta de M arduque, e o Épico de Gilgamés retrata as florestas de cedro como propriedade divina guardada pelo temível Huwawa, Invadi-las e apropriar-se de seus recursos era o maior feito de todos. Isaías 37.24 e Ezequiel 31 retratam um conceito semelhante.

14.9-11. reis mortos. No mundo antigo acreditava-se que os espíritos dos mortos eram capazes de voltar para assombrar os viventes. A posição que a pessoa ocupava na vida ou o poder que tinha enquanto vivo, muitas vezes era transferido para a existência no m un­do inferior, talvez dando a idéia de que, dessa forma, o espírito estaria contente em perm anecer ali. Na des­crição que Isaías faz aqui, porém, não é a volta do espírito que está em foco. O rei da Babilônia é retrata­do despojado de todo seu poder e de sua grandeza. Na mitologia cananéia o deus M ot é o governante do m undo inferior e é retratado com características reais. Mas é Baal que desce ao m undo inferior para ser o líder de todos os heróis caídos e ancestrais honrados. N a literatura ugarítica, esses espíritos são chamados de Rapiuma, a mesma palavra que a NVI traduz como "espíritos dos m ortos", no versículo 9.14.12. estrela da m anhã. A palavra hebraica por trás dessa tradução, helel, não é usada em nenhuma outra passagem do Antigo Testamento. Muitos intérpretes, antigos e m odernos, a consideram um a designação para Vênus, a estrela da manhã. Essa era a interpreta­ção que estava por trás da tradução grega do termo, e tam bém da versão Latina Vulgata, lu á feros (aquele que brilha, i.e., Vênus). Intérpretes m ais m odernos acreditam que Isaías esteja usando uma lenda m itoló­gica bastante conhecida como um a analogia para a queda e as conseqüências da rebelião e arrogância do rei da Babilônia, m as nenhum m aterial literário en­caixa-se aos detalhes da rebelião de Helel.14.12. filh o da alvorada. A alvorada (shahar) com fre­qüência era personificada no A ntigo Testam ento e nas inscrições fenícias e ugaríticas. Era uma divinda­de conhecida.14.13. rebelião no céu no antigo O riente Próxim o.Alguns estudiosos encontraram semelhanças entre a história de Helel e um a lenda ugarítica sobre o deus Athtar. Na ausência de Baal, Athtar tentou assentar- se em seu trono (governar em seu lugar), m as des­cobriu que não estava à altura para a tarefa e voltou para seu lugar no mundo inferior. Em bora o nome de A thtar possa ter um significado parecido com o de Helel, ele não é o filho de Shahar (como Helel é descri­to), nem é atirado à terra por causa de sua tentativa de assentar-se no trono de Baal. O tema da revolta contra os deuses, entretanto, é fam iliar. Um dos m elhores exemplos da literatura antiga é o M ito de Anzu, em que uma criatura pássaro/leão tenta roubar o Tablete dos D estinos com os quais os deuses governam o mundo. Anzu decide assumir a supremacia do m un­do e dos deuses roubando o tablete do deus principal, Enlil. Ele profere uma série de afirmações semelhan­tes às que o rei faz aqui: "E u mesmo tomarei o Tablete dos Destinos dos deuses. A s responsabilidades dos

deuses tomarei para mim. Estabelecer-me-ei no trono e prom ulgarei os decretos. Assumirei o comando so­bre todos os deuses-Igigi". Esse tipo de arrogância era comum e freqüente por parte do antagonista nesse tipo de relato.14.13. estrelas de D eus. A palavra usada para Deus aqui é El. Embora às vezes seja usada na Biblia para referir-se ao Deus de Israel, também é conhecida como o nom e do deus principal do panteão cananeu. No A ntigo Testam ento, a palavra "estre las" ocasional­m ente refere-se a anjos da corte celestial (Jó 38.7), enquanto em textos ugaríticos e m esopotâmicos é usa­da para descrever divindades astrais.14.13. m onte da assem bléia. Visto que acreditava-se que os deuses da m itologia cananéia vivessem nos altos m ontes (ver o próximo comentário), é compreen­sível que seu lugar de assem bléia também estivesse localizado em um lugar elevado. De fato, El é retrata­do conduzindo a assem bléia divina do panteão nas alturas de Zafom . Em bora a expressão "m on te da assem bléia" não tenha sido encontrada, o concílio da assembléia se reunia no m onte de El.14.13. m onte santo. O pensamento do antigo Oriente Próximo, semelhante aó da conhecida mitologia gre­ga, visualizava um monte como o lugar da m orada dos deuses. Segundo essa visão, havia pouca diferen­ça entre o topo das montanhas e os céus. N a literatura ugarítica a casa de Baal figurava como o monte Zafon

(geralmente identificado como o monte Casius, Jebel aTAqra, na Síria, 1770 m etros de altitude). A palavra hebraica záfon significa "n o rte " e é traduzida aqui pela NVI como "m onte santo" (ver SI 48.2).14.14. A ltíssim o (E liom ). N o Antigo Testam ento, o termo Eliom normalmente é um título para Yahweh. Entretanto, visto que também ocorre como um título divino (e talvez até como o nom e de um a divinda­de) em outros textos do antigo Oriente Próximo (lite­ratura ugarítica, aramaica e fenícia), seu uso em um contexto como esse pode ser ambíguo. É m ais conhe­cido fora da B íblia como um título para Baal, nos textos ugaríticos.14.15. levado às profundezas do Sheol. Em um m ito sumério que compartilha alguns trechos com o M ito de Anzu (ver o comentário em 14.13), o deus Ninurta der­rota a criatura Anzu, m as am biciosam ente deseja ob­ter poder para si m esm o. Quando Enki descobre seu plano, Ninurta é atirado em um abismo e Enki o repre­ende por ser um pretensioso jactante que incansavel­m ente tentou obter o poder que não lhe pertencia.14.19. atirado fora do seu túm ulo. A metáfora mitoló­gica dos versos 12-15 faz um a divisão entre a reação do m undo inferior (v. 9-11) e a reação da terra, nos versos 16 e 17. Visto que o corpo mutilado do líder

inim igo com freqüência era exposto em um lugar público (ver o comentário em 1 Sm 31.10), as pessoas passavam e olhavam. A frase usada aqui, cuja melhor tradução seria "jogado fora, sem um túm ulo", indica que o rei será privado de um enterro digno. Não ter o corpo enterrado, permanecendo exposto, representa­va uma última humilhação e um a profanação, visto que a maioria dos povos antigos acreditava que um enterro adequado, decente, no momento apropriado, afetava a qualidade da vida após a morte. Ver o co­m entário em 1 R eis 16.4. N o Ép ico de G ilgam és, Enkid u, ao re to rn ar do m undo in ferio r, re la ta a Gilgamés que quem não fosse enterrado, após a mor­te não tinha descanso e quem não deixasse parentes vivos para cuidar dos rituais, comia apenas o que era jogado nas ruas. Uma maldição babilónica relaciona o enterro com o encontro do espírito do m orto com seus entes queridos. Sabemos que até mesmo os israelitas acreditavam que um sepultamento adequado afetava a vida no além, porque eles, assim como seus vizi­nhos, enterravam seus entes queridos com provisões que lhes serviriam na vida após a m orte: com fre­qüência vasilhas de cerâm ica (cheias de com ida) e jóias (para afastar o mal), além de utensílios e objetos de uso pessoal que às vezes eram acrescentados.14.19. destino dos mortos. Quando os cadáveres não eram expostos em praça pública, havia outras alterna­tivas para humilhação como acabar jogado num a pi­lha de m ortos ou ser pisoteado ficando irreconhecível. A referência a "pedras da cova" é obscura.14.20. nunca se m encione. A m enção do nom e de um morto era uma forma de lhe conceder honra (exemplos em Gn 48.16; Rt 4.14). Essa expressão poderia também referir-se ao nome sendo invocado ou tom ando-se fa­moso. De qualquer maneira, fica claro que esse rei não ocupará um lugar de destaque na história.

14.24-27 Oráculo contra a Assíria14.25. A ssíria. O castigo proferido contra a Assíria novam ente parece referir-se à destruição do exército de Senaqueribe fora de Jerusalém, em 701 (ver o co­m entário em 10.16-19).14.26, 27. p lanos da div ind ade. Em bora houvesse decretos fixos que os deuses dirigiam, a idéia de que um a divindade tinha planos que ultrapassavam o tempo e o espaço não era facilmente aceita no politeís­mo do mundo antigo. Segundo a crença da época, os deuses não eram imunes às mudanças no tempo, nem havia uma divindade com jurisdição universal. Man­ter um plano como esse atribuído a Yahw eh aqui e em outros trechos de Isaías limitaria demais a capaci­dade de um deus, até mesmo de um poderoso chefe de panteão como Assur ou Marduque. Não obstante, os reis assírios afirmam que o estabelecimento de seu trono, suas conquistas e a expansão de seus impérios faziam parte do plano dos deuses. Muitas vezes, no entanto, esses planos divinos parecem ser elaborados num cronograma em curto prazo. Acreditava-se que os deuses se reunissem no Ano Novo para elaborar seus planos para o próximo ano. Seus decretos eram registrados em tabletes do destino a fim de serem executados ao longo do ano. A adivinhação era o meio geralmente usado quando as pessoas queriam saber mais acerca desses planos.

14.28-32 Oráculo contra os Filisteus14.28. cronologia. A cronologia desse período é bas­tante complicada e não é fácil determinar o ano da morte de Acaz. Alguns sistemas cronológicos sobre­põem os governos de Acaz e de seu filho Ezequias em uma co-regência (talvez devido à força do contingente

CRENÇAS A RESPEITO DA VIDA APÓS A MORTE EM ISRAEL E NO ANTIGO ORIENTE PRÓXIMO Sheol é a palavra hebraica para mundo inferior. Embora a transferência de uma pessoa da vida para o Sheol possa ser considerada um ato de juízo, o Sheol em si não é considerado um lugar de castigo, em oposição a um destino celestial de recompensas. A palavra, às vezes, é usada como sinônimo de sepultura por ser esta o portal de acesso ao mundo inferior. Os israelitas acreditavam que os espíritos dos mortos continuavam a existir nesse mundo de trevas. Não era uma existência agradável, mas nunca é associada ao tormento do inferno no Antigo Testamento (a imagem descrita em Is 66.24 não é associada ao Sheol). Não fica claro se na visão israelita havia alternativas ao Sheol. As pessoas que eram poupadas do Sheol eram mantidas vivas e não sendo enviadas a algum outro lugar. Havia pelo menos uma vaga idéia de algum outro lugar aonde ir, vista nos exemplos de Enoque e Elias, que não passaram pela morte e presumivelmente não foram ao Sheol. Mas esses textos não deixam claro qual seria a outra alternativa. Na ausência de uma revelação específica, as crenças israelitas se adequavam aos conceitos vigentes entre seus vizinhos cananeus e mesopotâmicos.Segundo as crenças mesopotâmicas os mortos precisavam atravessar um deserto, montanhas e um rio e depois descer, passando pelas sete portas do mundo inferior. Embora descrito na literatura mesopotâmica como um lugar de escuridão onde os habitantes se vestiam de penas de aves e comiam terra, relatos mais amenos também eram comuns. Os habitantes desse mundo de sombra também eram sustentados pelas ofertas dedicadas pelos viventes e desfrutavam de alguma luz quando o sol passava pelo mundo inferior (quando era noite na terra dos viventes) para nascer no leste novamente na manhã seguinte. Os governantes do mundo inferior, Nergal e Ereshkigal, eram assistidos por um grupo chamado os Anunnaki. Apesar das descrições sombrias, ninguém queria afastar-se das portas do mundo inferior porque a alternativa era ser um espírito vagante sem acesso a ofertas funerárias.

anti-A ssíria na adm inistração). Sua m orte pode ter acontecido entre os anos de 726 e 715. A primeira data é sustentada pelo sincronismo de 2 Reis 17.1.14.29. filis te u s no oitavo século. A Filístia estivera sob o controle de Judá durante o reinado de Uzias que durou toda a primeira metade do oitavo século. Ela reconquistou sua independência durante o reinado de Acaz e passou a ser o agressor. Com o surgimento do império neo-assírio, a Filístia ficou sob ataque como o restante das outras nações. Tiglate-Pileser alvejou G aza em sua cam panha de 734 e assim as cidades filistéias se tom aram vassalas pagadoras de tributo. Quando Sargão subiu ao trono, os filisteus tentaram libertar-se da Assíria, mas em 720 a Filístia foi atacada novamente e Gaza renovou seu juram ento de lealda­de. Em 712, Sargão teve de dirigir-se outra vez para o oeste a fim de su focar um a revo lta lid erad a por Asdode. Ecrom e Gate tam bém foram alvos de ata­ques nessa época. A cam panha de Senaqueribe, no ano de 701, provocou mudanças no trono de diversas cidades filistéias, mas apenas Ecrom teve de ser cerca­da. Praticamente na m aior parte dos séculos oitavo e sétimo os filisteus tiveram o mesmo destino de seus vizinhos de Judá.14.31,32. destino da Filístia. Com o tempo os filisteus foram derrotados e deportados por Nabucodonosor, assim como o povo de Judá. As cinco cidades filistéias m antiveram algum grau de im portância, m as por volta do período persa, os filisteus haviam gradual­mente sido assimilados pela população heterogênea do império.

15.1-16.14 Oráculo contra Moabe15.1. M oabe no oitavo século. Assim como m uitas das pequenas nações siro-palestinas do oitavo século a.C., M oabe foi dominada pela hegemonia assíria na região. Diversos textos assírios alistam reis moabitas pagando tributos ou envolvidos em revoltas periódi­cas conduzidas por coalizões dessas pequenas nações (a revolta de Asdode, em 713, registrada em um pris­ma do reinado de Sargão II). V isto que Isaías pro­vavelmente proferiu suas profecias no início do reina­do de Ezequias, a destruição das cidades m oabitas talvez tenha sido decorrente de incursões de tribos do deserto e não provocada pelos assírios. Parece claro a partir dos anais de Senaqueribe que M oabe tentou aliar-se aos assírios durante a campanha de 701 em que grande parte de Judá foi devastada e Jerusalém foi cercada. Como resultado, os profetas israelitas (Am2.1-5 e Jr 48) geralm ente alistam M oabe como uma nação inimiga.15.1-4. cidades. As cidades aqui alistadas, destruídas ou atingidas pelos ataques, situavam-se na área norte

de M oabe: Q u ir (Q u ir-H aresete, em 16.7) ficava na parte alta do uádi el-Kerak e era a capital do distrito de A r; N ebo e M ed eba estavam lo calizad as a leste da extrem idade norte do m ar M orto, cerca de 32 quilô­m etros ao norte de Dibom. H esbom e Eleale tam bém foram atacadas, situadas a nordeste de Nebo. As cida­des m ais ao sul, D ibom (32 quilôm etros ao norte de Q uir) e Jaaz aparentem ente não foram diretam ente afetadas pelas invasões, m as temiam incursões futuras.15.2,3. práticas de lam ento. Lamentos comunitários e individuais em todo o antigo Oriente Próximo incluí­am o pranto, rapar a cabeça e a barba, usar pano de saco e deitar-se ou rolar no chão. Todas essas atitudes ilustram a dor, o luto e tam bém a identificação tempo­rária (geralmente de sete dias) com o morto. Ver os comentários em M iquéias 1.8 e 1.16 para uma discus­são sobre essas práticas e as evidências extrabíblicas em textos ugaríticos e assírios.15.5. itinerário de fuga. A chave para a rota de fuga dos moabitas é Zoar, visto que as outras localidades m encionadas não podem ser identificadas (apenas m encionadas no texto paralelo de Jr 48.3, 5, 34). De acordo com Gênesis 14 .2 ,3 , Zoar era uma das cidades da planície. Especulações sobre sua localização exata, porém, a situam próxima do monte Nebo (Dt 32.1-3), perto da ponta norte do m ar M orto, e tam bém na área da extremidade sul do mesmo mar. Considerando a aparente direção do ataque em Isaías 15.1-4, ao redor de Quir e Nebo, parece que situar Zoar e essas outras cidades ao sul seria m ais apropriado em se tratando de um a fuga por segurança em direção a Edom.15.6. águas de N inrim . Seguindo o mesmo raciocínio em relação à fuga dos m oabitas para o sul, parece que Ninrim (Jr 48.34) identifica-se com o uádi en-Numeirah que corre para oeste, em direção à extremidade sul do mar Morto. Existe também um local nas proximidades, Numeirah, que pode estar associado a essa fonte de água e ter servido como um posto avançado m oabita.15.7. riacho dos Salgueiros. Supondo que os fugitivos tenham tomado uma rota para o sul, esse riacho m ar­geado por salgueiros seria o uádi el-Hesa (rio Zered), que delim ita a fronteira entre M oabe e Edom. Esse amplo vale (mais de 6 quilômetros de largura) esten­de-se por 56 quilôm etros e termina na extremidade sudeste do m ar Morto (Nm 21.12).15.8. Eglaim . O oráculo de Isaías dá indícios de que Eglaim seria um a localidade ao sul, m as nenhum a identificação exata foi feita. Dentre as possibilidades estão a ind icação de A galim , ao sul de Rabá, por Eusébio, e a sugestão de A haroni de M azra', um a localidade a leste da península Lisan.15.8. Beer-Elim . Essa localidade não foi identificada com segurança. Alguns eruditos especulam que seja a mesma Beer de Números 21.16, mas o grande núm e­

ro de lugares que começam com esse nome, que sig­nifica "fonte", dificulta a identificação. Acom panhan­do a linha de raciocínio usada em relação a outros lugares citados nesta profecia, supõe-se que seja uma localidade ao sul, próxim a ao m ar Morto, possivel­mente na região de el-Kerak.15.9. águas de D im om . Por causa de sua proximidade com o uádi Ibn-Hammad, no platô moabita, Dimom foi identificada com Khirbet Dim neh, quatro quilô­metros a noroeste de Rabá. Não foi encontrada cerâ­mica da Idade do Ferro nos achados de superfície, mas escavações ainda não foram conduzidas no local.16.1. cordeiros como tributo. Grande parte do platô moabita é adequada para a criação de rebanhos de ovelhas e bodes (Nm 32.4), devido às pastagens. Uma vez que esses rebanhos representavam uma impor­tante parte de sua economia, seria uma forma apro­priada de tributo (2 Rs 3.4). Os anais assírios com freqüência alistam enorm es quantidades de m etais preciosos, escravos e produtos caros e luxuosos como forma de pagamento de tributo (provavelmente des­pojos de guerras). No entanto, em relação aos impos­tos que norm almente eram cobrados dos povos domi­nados, os rebanhos serviriam melhor às necessidades cotidianas dos oficiais (Assurnasirpal II alista mil ca­beças de gado e dez mil ovelhas pagas como tributo pelo amedrontado governante de Hattina).16.1. Selá. Essa palavra, que significa "rocha", apare­ce apenas algum as vezes com o nom e de lugar. O m elhor uso encontra-se em 2 Reis 14.7, referindo-se a uma fortaleza edomita conquistada por Amazias, rei de Judá, e identificada como Petra ou a atual Sela', cerca de três quilôm etros a noroeste de Buseira. O local mencionado no oráculo de Isaías não foi identifi­cado. É im provável que seja a localidade edom ita porque todos os outros lugares citados neste texto fi­cam a uma pequena distância de Edom.16.2. p assag en s do A rnom . O vale de A rnom em alguns pontos tem cinco quilômetros de largura e é um obstáculo natural importante ao tráfico que escoa no sentido norte-sul. Os lugares de passagem refe­rem-se ao ponto onde a estrada norte-sul cruza o uádi, em Dibom (como citado por Messa, na inscrição da Pedra moabita). Seria um lugar natural para a passa­gem dos fugitivos moabitas e também um ponto ex­tremamente estratégico (compare com a importância m ilitar dessas vaus de passagem, em Jz 12.5; Jr 51.32).16.7-9. cidades. Cobrindo toda a área de devastação, a profecia descreve a ruína econômica e física da área norte de Moabe. Isso inclui as cidades situadas no planalto, Hesbom e Quir-Haresete (Quir; ver 15.1-4) e Jazar (Khirbet Gazzir, na extremidade norte do mar Morto). Sibm a e Eleale são alistadas como parte do distrito de Hesbom e durante algum tempo fizeram

parte do território de Rúben (Nm 32.3, 37; Js 13.19). A localização de Sibma ainda é desconhecida, enquanto Eleale geralm ente é identificada com Khirbet el-'Al, quase dois quilômetros a nordeste de Tell Hesban.16.14. o destino de M oabe. Embora nenhum evento histórico preciso possa ser sugerido como cumprimen­to do oráculo do profeta contra Moabe, é concebível que invasões por tribos do deserto ou talvez algum reforço do exército assírio que tenha passado pela re­gião sejam a causa de sua destruição.

17.1-14 Profecia contra Damasco17.1. D amasco. A guerra siro-efraimita (ver comentá­rios em 7.1) que estourou em meados de 730, termi­nou com a invasão da Síria e de Israel pelo rei assírio Tiglate-Pileser III e com a devastação dessas duas na­ções rebeldes (734-732). O reinado sírio, governado por Rezim, em Damasco (ver 7.1-9), fora o principal rival político e econômico de Israel. Esse reinado ha­via ingerido em questões internas de Israel e de Judá e invadido seus territórios por mais de uma década. Parece, no entanto, que Rezim excedeu seus limites liderando um a coalizão anti-Assíria. A A ssíria não recepcionou bem uma "Grande Síria" rival, e a des­truição de Damasco em 732, conforme registros nos anais assírios, foi completa, deixando centenas de lo­calidades "com o colinas varridas por um dilúvio". Essa destruição abrangente tam bém incluiu a redu­ção de grande parte da cidade de Damasco a ruínas e a redistribuição de seus territórios na Síria e também na Transjordânia e na Galiléia.17.2. A roer. A cam panha assíria na Transjordânia teria naturalmente incluído a captura de Aroer, uma fortaleza estratégica no A rnom ('A ra 'ir, cerca de 5 quilôm etros a sudeste de D ibom e 4 quilôm etros a leste da Estrada do Rei). Ela vigiava a passagem pelo vale do Arnom e controlava a fronteira entre Moabe e Amom. É possível que a cidade anteriormente ficasse localizada em Tel Esdar (dois quilômetros e meio ao norte) e que o nome tenha sido modificado p ara' Ara'ir, após sua destruição no oitavo século.17.3. destino de D amasco. Os anais de Tiglate-Pileser III descrevem como ele destruiu com pletam ente os dezesseis distritos e a maioria das cidades de Aram, em 732, deportou segmentos da população e passou o controle de muitas cidades e territórios da Síria para outros vassalos m ais leais (a lista inclui 591 cidades destruídas). Damasco foi gravemente arruinada, mas sobreviveu à experiência e tom ou-se a capital de uma província assíria recém constituída. Mais tarde, Da­masco uniu-se ainda a outra coalizão anti-Assíria, li­derada pelo Estado sírio de H am ate, em 720. Essa rebelião foi esmagada por Sargão II, em 720, e daí por

diante D am asco foi governada por governadores assírios até 609. A cidade reconquistou sua indepen­d ência tem p orariam en te quando o im p ério n eo- babilônico a absorveu, em 604.17.5. figura do ceifeiro. A ceifa é descrita em pinturas de tumbas egípcias como um processo em que o cei­feiro segurava com a m ão esquerda as espigas de cereal e com a direita as cortava com um a foice (SI129.7). Desta m aneira ele conseguia amarrar os feixes que eram então levados para uma eira. O que sobras­se nos cam pos após esse corte era recolhido pelos respigadores (Rt 2.3, 7).17.5. vale de Refaim . Esse vale e suas plantações se estendiam a sudoeste de Jerusalém. Grande parte dos alimentos consumidos pelos habitantes da cidade pro­vinha dessa área e é provável que seus campos fos­sem respigados por um grande núm ero de pessoas necessitadas. Um a seca ou um cerco à cidade esgota­ria o suprimento de comida, criando a imagem encon­trada na profecia de Isaías. O projeto Ein Yael tem pesquisado intensam ente os vestígios arqueológicos da atividade agrícola praticada nesse vale. Os resulta­dos da pesquisa têm dem onstrado o amplo uso de aterros, um indício da necessidade de utilizar o máxi­mo de terra possível para alimentar a população cres­cente de Jerusalém e suas redondezas.17.6. sacudir um a oliveira. Assim como os ceifeiros de cereais, os trabalhadores que sacudiam os galhos das oliveiras para colher o fruto, tinham a ordem de dei­xar uma parte "para o estrangeiro, para o órfão e para a viúva" (Dt 24.20). Suas varas com pridas derruba­vam a m aior parte das azeitonas, m as aquelas que estavam nos galhos mais altos deviam ser deixadas (Is24.13). Essa é um a excelente imagem de um remanes­cente que sobreviverá para restaurar o relacionamen­to de aliança com Yahweh.17.8. postes sagrados. Ver os comentários em Deute- ronômio 7.1-26 e Juizes 2.13 acerca desses símbolos cultuais de Aserá, a deusa da fertilidade dos cananeus.17.8. altares de incenso. Escavações arqueológicas têm trazido à tona um a am pla variedade de altares de incenso em todo o antigo Oriente Próximo. Eles vão desde grandes suportes elaborados e decorados com ricos detalhes (ver o suporte de Taanaque) até pedes­tais simples usados no culto doméstico e tam bém para defumar casas, desinfetar odores desagradáveis e re­pelir insetos. Embora haja um a longa tradição no uso do incenso na adoração israelita (Êx 3 0 .7 ,8 ; N m 16.46­48), também tem uma íntima relação com os deuses de outros povos e com a magia (Is 65.3; Jr 19.13).

18.1-7Profecia contra a Etiópia18.1. terra do zum bido de insetos. É possível que essa seja um a referência à m ultidão de insetos que

infestam o vale do Nilo (Dt 28.42 faz uso semelhante da palavra hebraica). Entretanto, considerando-se o contexto da expressão "a o longo dos rio s", é m ais provável que se refira às em barcações m uito leves, feitas com feixes de papiro, que deslizavam rapida­mente pelas águas do Nilo, rio acima e rio abaixo.18.1. rios da Etiópia. Cuxe (hebraico) pode referir-se a diversos lugares diferentes no Antigo Testam ento, embora com m ais freqüência seja traduzida como a designação para a "E tiópia". Essa tradução pode pro­vocar confusão, visto que a área de Cuxe não equivale à atual Etiópia (Abissínia), mas à área situada ao lon­go do Nilo, ao sul do Egito, a antiga N úbia (no atual Sudão). A fronteira entre o Egito e Núbia nos tempos antigos geralmente era a primeira ou a segunda cata­rata do Nilo. É improvável que Núbia se estendesse m uito além da sexta catarata em Khartoum. O perío­do de 730 a 715 foi de fluxo nessa área. D urante o Terceiro Período Intermediário, a 25a D inastia estava com eçando a em ergir, encabeçada pelos m onarcas etíopes Pianchia e seu sucessor Shabaka. Eles perma­n eceram por um tem po no reinado de Cuxe, m as estavam avançando a fim de obter o controle sobre todo o Egito e unir os dois países sob seu governo. Para isso foi preciso lutar contra os reis egípcios nati­vos que controlavam a área do Delta, conter as amea­ças da Líbia, à oeste, e negociar tratados m útuos de defesa com o crescente império assírio, a leste.18.2. m anda em barcos de papiro. Certamente havia uma grande quantidade de atividades diplomáticas em andam ento nesse período. Não se sabe, porém, quem estava enviando esses m ensageiros e a quem eram designad os. C on sid eran d o-se o d esejo dos dinastas etíopes em conseguir total controle sobre o Baixo Egito e o Delta, é possível que estivessem envi­ando m ensageiros à A ssíria em busca de ajuda ou pelo menos do reconhecimento desse im pério para a legitimidade de seu governo no Egito (ver a visão de boas relações entre o Egito e a Assíria em 19.23-25). O uso de barcos de papiro no Nilo, ao invés de grandes embarcações associadas a nobres e carregamento de tropas, sugere que era preciso m anter a operação em segredo. Essas balsas feitas de papiro navegavam com relativa facilidade pelas corredeiras ao longo do Nilo ou podiam passar desapercebidas por áreas perigosas ou densamente habitadas.18.2. povo alto e de pele macia. Embora pareça evi­dente que a Etiópia estava enviando propostas diplo­m áticas para a Assíria, os m ensageiros não fariam a viagem toda em barcos de papiro. Essas balsas leves eram adequadas apenas para o Nilo. V isto que os assírios não eram altos nem tinham pele m acia (exis­tem m uitas representações de hom ens baixos e de barba em relevos assírios), então é possível que os

enviados estivessem tam bém espalhando a noticia entre os etíopes para que se unissem no esforço de unificar o Egito. A descrição feita por Heródoto dos etíopes como o povo mais alto entre os africanos encai­xa-se a essa imagem.18.2. fa la estranha. Apesar da tradução dessa expres­são, a form a hebraica é um adjetivo duplicado (qazv- qaw) que quer dizer "poderoso". O som onomatopaico poderia caracterizar a cadência rítm ica de um exército em m archa e o tem or resultante do som das vozes misturadas ou distorcidas dessa multidão.18.2. terra dividida por rios. Essa é uma boa descrição da M esopotâmia, a "terra dos dois rios", o Tigre e o Eufrates. Porém, visto que os enviados do faraó etíope Shabaka, pelo menos inicialmente, são enviados pelo Egito, os "rio s" nesse caso podem ser uma referência aos afluentes e canais ligados ao rio Nilo.18.5. figu ra da colheita de uvas. O agricultor sábio sabe as épocas certas do ano para cuidar de suas vi­nhas e podá-las, garantindo assim o m áximo de fru­tos. As vinhas florescem primeiro em maio e as uvas começam a amadurecer em agosto. H á duas florações previstas: (1) como se observa no calendário Gezer, no outono, antes de as vinhas ficarem inativas, os ramos im produtivos do ano anterior são cortados e removidos e (2) quando as uvas brotam, folhas e ga­vinhas em excesso são cortadas para m otivar uma prod ução m aior e o am adu recim ento dos frutos. Yahw eh, portanto, vincula seu tempo ao m omento apropriado para podar as. nações da terra.18.6. castigo pela ação dos anim ais. Os galhos corta­dos das vinhas muitas vezes eram usados como com­bustível (Ez 15.2-4), mas nesse exemplo são deixados como comida e ninhos para aves e outros animais. Os ramos podados, assim como as nações despedaçadas, transforma-se em pouco mais que gravetos dispersos, usados aleatoriamente pelos animais ao longo da es­tação vindoura, mas não representando nenhuma ame­aça a Yahw eh ou a Judá.

19.1-25Profecia contra o Egito19.1. Egito n o oitavo século. Durante grande parte do oitavo século o Egito foi um a nação dividida. O governo nominal dos sucessores de Sheshonq em Tânis foi totalmente ignorado pelos dinastas de Tebas e pela m iscelânia de reis e líd eres do D elta. A crescente am eaça ao Egito rep resen tad a p ela exp ansão da Assíria, sob o domínio de Tiglate-Pileser III após 745, pode ter abastecido o surgim ento dos reis cuxitas Pianchia e Shabaka. Seus esforços para unificar o Egi­to foram protelados por cerca de vinte anos pelos governantes de Sais, que haviam conseguido fundir todos os nomes do norte sob sua liderança. O sucesso

saíta teve a ajuda do crescente comércio com os filisteus e com o resto do Levante. Provavelm ente foi ao rei saíta Tefnakhte que m uitas das nações da fronteira assíria (Filístia, Israel, Transjordânia) recorreram em busca de auxílio para suas tentativas de rebelião. Fi­nalm ente, em 712, o rei sudanês Shabaka derrotou todo o Baixo Egito e mais um a vez unificou o país sob o único governo da 25a Dinastia.19.1. cavalga num a nuvem. A imagem de um Deus im petuoso cavalgando pelos céus num a nuvem era com um (SI 68.4; 104.3; Jr 4.13). Tais descrições de teofania podem ser encontradas nos textos que falam do deus ugarítico Baal. No épico de Aqhat e no ciclo de histórias de Baal e Anat, Baal é descrito como o "cavaleiro das nuvens". Os atributos de Baal, coman­dando as tem pestades, soltando relâm pagos e diri­gindo-se à guerra como um guerreiro divino apare­cem até mesmo nos textos egípcios de El Amarna. As características de Yahw eh como o Criador, doador da fertilidade e guerreiro divino têm muito em comum com os deuses desses épicos antigos. Um a das formas em que Yahw eh se apresenta aos israelitas como o único poder divino é assumindo para si os títulos e poderes de outros deuses do antigo Oriente Próximo.19.1. ídolos trem em . Os deuses/ídolos e o povo do Egito são colocados lado a lado aqui em seu assombro diante do dom ínio que Yahw eh tem sobre toda a natureza e sobre toda criatura e nação. A im agem antropomórfica de ídolos "trem endo" é comparada ao pavor dos deuses mesopotâmicos que, através de seu esforço coletivo, criaram o dilúvio (Épico de Gilgamés e o Épico de Atrahasis). Eles foram tomados pela feroci­dade das forças que haviam liberado e são descritos a esconder-se como vira-latas açoitados atrás de uma parede. A entrada m agistral de Y ahw eh no Egito pode ser comparada ao desprezo aos ídolos descrito em Salmo 96 .4 ,5 e com a atitude geral de Isaías diante das nações que estão "cheias de ídolos", mas a quem falta o real poder divino (Is 2.8; 10.10, 11; 31.7).19.3. consultar ídolos e necrom antes. Dando conti­nuidade à sua descrição semelhante das práticas egíp­cias de adivinhação em 8.19, Isaías zom ba dessa na­ção por sua dependência inútil dos ídolos e médiuns (ver, no entanto, os com entários em 1 Sm 28.7-11). Existe um a grande quantidade de inform ações so­bre o uso da magia no antigo Egito por sacerdotes e praticantes profissionais. Eles usavam ervas, cantos, rituais e sangue para curar enferm idades, exorcizar dem ônios, am aldiçoar nações inim igas e seus líde­res e influenciar a ação dos deuses. Uma parte des­ses textos de magia tratava de como apressar a jor­nada dos espíritos dos mortos que passavam pelo pro­cesso de julgam ento e dali iam para um a vida aben­çoada no além. Supunha-se que esses espíritos tam ­

bém podiam ser consultados acerca de diversos as­suntos. U m a série de "cartas aos m ortos" pedindo informações foi recuperada.19.4. destino do Egito . U m a am eaça im ediata aos

governantes egípcios foi o rei etíope Shabaka. Seu reinado núbio eventualm ente derrotaria as estados do D elta egípcio em 716 a.C. e se encaixaria a esse período descrito na profecia. Também é possível que Isaías esteja se referindo à Assíria. Os reis do Delta haviam se unido à revolta filistéia liderada por Gaza contra a Assíria e Sargão II em 720. Seria fácil supor que, com o passar do tempo, a Assíria desejasse con­quistar o Egito e anexá-lo ao seu império. Tanto Tiglate- Pileser IH como Sargão II fizeram acordos com as tri­bos árabes ao longo das fronteiras do Sinai e da Filístia para conter o Egito. As tensões continuaram a crescer entre essas nações até que em 663 Assurbanipal m ar­chou vitorioso para o sul pelo vale do Nilo e saqueou Tebas.

19.5-7. a dependência do Egito no N ilo. Assim como a Mesopotâmia dependia dos rios Tigre e Eufrates, a agricultura e o comércio egípcios dependiam total­mente do sistema fluvial do Nilo. Para sua felicidade, o Nilo era um rio relativamente previsível e controlá­vel. Suas inundações aconteciam num a base regular (a freqüência delas era cuidadosamente registrada por escribas e mantidas em arquivos oficiais). A ausência das enchentes do Nilo im plicava em colheitas ruins e na ruína de suas indústrias (especialm ente a do li­nho). As margens do Nilo eram cortadas por canais e sistem as de irrigação para expandir o tamanho dos campos e permitir o aumento do fluxo de em barca­ções leves. A lém disso, as enchentes controladas do Nilo levavam um rico lodo aos campos egípcios, ga­rantindo p lantações abundantes e m inim izando a necessidade de fertilização ou rotação de culturas. As viagens também eram baseadas no fluxo rio acima e rio abaixo, ao longo do Nilo. H avia um constante e pesado tráfico de barcaças que transportavam cereais e outros itens de matéria-prima, produtos m anufatu­rados e pedras usadas na construção. M ensageiros reais, funcionários do governo e sacerdotes de muitas comunidades dos templos navegavam pelo N ilo, visi­tando e supervisionando campos e recolhendo impos­tos. Na verdade, o próprio tamanho do domínio egíp­

cio foi possível porque as tropas podiam locomover-se rapidam ente de um a extrem idade do reino para a outra.

19.9. indústria do linho e do algodão. O clima quen­te e úmido do Egito tornava necessário o uso de rou­pas leves. O linho, cultivado desde os tempos neolí­ticos, foi um a resposta para essa necessidade. Além de fornecer alimento (sementes e óleo), produzia uma

fibra que podia ser transformada em tecido. No Egito, o linho era plantado de form a bem compacta (para aum entar a altura e evitar que se espalhasse em ra­mos) no final de outubro e era colhido em abril ou maio, quando atingia uma altura de quase um metro. Esse tipo de plantação era bastante vulnerável a tem­pestades de granizo (Êx 9.23-25). As plantas m ais jo­vens eram arrancadas pela raiz para confeccionar o linho fino, enquanto as plantas m ais velhas eram usa­das para fabricar cordas e cintos. Os talos eram m er­gulhados em tanques com água parada (maceramento) e depois eram estendidos para secar antes de as fibras serem separadas (Js 2.6). Os talos secos eram batidos e as fibras separadas para formar fios; os fios mais lon­gos eram usados na fabricação de roupas e os mais curtos (fibra bruta ou estopa), reservados como pavios de lâm padas (1.31). H avia diversas qualidades de linho produzido. O m elhor era reservado para o faraó, a nobreza e os sacerdotes. Qualquer interrupção na produção teria um efeito em cadeia, destruindo o meio de subsistência de inúmeros trabalhadores nos cam­pos e fábricas.19.11. líderes de Zoã. O mais alto escalão dos m em ­bros da corte do faraó e do clero era de representantes das famílias nobres do Egito. Aqueles que eram asso­ciados a Zoã, situada no alto do Delta, 46 quilômetros ao sul da costa mediterrânea, se consideravam os des­cendentes diretos dos mais antigos clãs da nobreza do país. Sua impotência para lidar com essa crise ressalta a falta de importância que tal linhagem passara a ter. Zoã se tornara a capital do Egito no início da 21a D inastia (1176-931 a.C.), o mesmo período em que a m onarquia israelita se desenvolveu. Lembranças de negócios oficiais da corte entre Jerusalém e Zoã po­dem ser a base para essa referência, visto que a capi­tal do Egito havia sido transferida para Sais e Napata após 873 a.C..19.11. discíp ulo dos reis da antigüidade. Devido à sua longa e quase ininterrupta tradição, os oficiais egípcios que enfrentavam crises ou presságios inex­plicáveis repetiam as antigas orações e encantamen­tos mágicos (como os encontrados nos textos de exe­cração). Ou então consultavam os registros de gover­nos anteriores e as instruções de oficiais modelos. As memórias culturais, registradas em papiros por gera­ções, tinham grande autoridade, e os descendentes desses oficiais tinham grande orgulho em ser os her­deiros de tal sabedoria (inclusive o texto do século 25 a.C., Ensinos de Ptá-Hotep e a obra do século 22 a.C., intitulada Instruções de Merikare). Porém, essa atitude também podia im pedir que se tomassem decisões cri­ativas e inovadoras. Isaías ridiculariza esses homens que se orgulham tanto de sua sabedoria, m as não são

capazes de encontrar um m eio de lidar com a crise atual (compare com 43.8, 9).19.13. líderes de M ênfis. Antes de 715 a .C , a região do Delta do Egito foi governada por pelo menos quatro faraós rivais. A área foi dividida na região de Tânis (delta oriental), na região de Leontópolis (delta cen­tral) e na região saíta (delta ocidental). Havia também muitos reinos insignificantes reivindicando indepen­dência e um a porção no legado do antigo Egito. A m enção feita a M ênfis aqui (em hebraico, Nofe) sim­plesmente atrela o caos administrativo do Egito à sua antiga capital. Essa é uma relação que ironiza o con­traste entre a atual anarquia e a grandeza do passado. Somente após o surgimento da 25a Dinastia Núbia o Egito é unificado novam ente debaixo de um único governante, Shabaka.19.15. palm a ou ju nco . Ver o comentário em 9.14 a respeito dessa m etáfora contrastante. Os líderes do Egito estão tão confusos que não conseguem distin­guir entre cabeças e caudas ou entre os poderosos (para quem as palmas são agitadas) e os fracos, que se curvam como juncos diante dos grandes (58.5).19.18. cinco cidades. É im possível identificar essas cidades com base em algum evento histórico. Jeremias 44.1 menciona quatro (Migdol, Tafnes, M ênfis e Patros) onde os israelitas habitaram , m as pode ser que não haja nenhuma relação entre elas e esse versículo. Cer­tamente existe evidência a partir da época de Salomão (colônia elefantina, Leontópolis) de um a presença israelita no Egito (diplomática e comercial). O que pa­rece m ais im portante nessa afirm ação é a idéia do culto a Yahw eh no Egito e talvez até mesmo em uma importante cidade associada a um deus egípcio.19.18. língua de Canaã. Normalmente, quando uma comunidade estrangeira se fixa em uma nação, espe­ra-se que aprenda a falar a língua daquele país, exceto entre seus conterrâneos. Do contrário, é difícil fazer negócios ou envolver-se em atividades diplomáticas. Portanto, seria estranho que as línguas dos israelitas (hebraico ou aramaico) fossem faladas no Egito. É mais provável que essa seja uma referência ao estudo dos escritos sagrados dos seguidores de Yahw eh e das orações dirigidas a Yahweh. Isso sugere, como o fa­zem os versículos 19-21, um a conversão dos egípcios a Yahw eh.19.18. Cidade do S o l (ou Cidade da D estruição). O significado dessa expressão é incerto. As diversas fon­tes não concordam se o texto original fala de heres, "destruição", ou heres, "so l". A Septuaginta acrescen­ta outra interpretação, ‘ir hassedeq, "cidade da ju stiça". Se "cidade do sol" é o significado, poderia referir-se a Heliópolis, a cidade do deus-sol Rá. Se for um a das cidades onde o hebraico era falado, então um a revolu­ção religiosa estaria prestes a acontecer.

20.1-6 Asdode, Egito e Etiópia20.1. a cam panha de Sargão contra Asdode. Essa é um a das raras vezes em que o relato bíblico da revol­ta de Asdode em 713-711 a.C., os registros assírios e os vestígios arqueológicos todos corroboram um com o outro. A cidade filistéia rebelou-se, instigada pelo rei Azuri, talvez com a expectativa do apoio egípcio. Os Anais Assírios o acusam de recusar-se a pagar tributo e de fomentar a rebelião entre seus vizinhos. O im pe­rador assírio Sargão II respondeu com uma campanha expressa que rapidamente sufocou qualquer esperan­ça de independência. Ele colocou Ahim eti, o irmão mais novo de Azuri, no trono, m as ele foi quase ime­d iatam ente deposto por um u su rp ad or cham ado Yam ani. Sargão enviou outra expedição em 712 e Yamani fugiu para o Egito. Um assírio foi então no­meado para administrar Asdodè em nome do impé­rio assírio. Escavações no sedimento 8 da cidade reve­laram um a série de túmulos debaixo dos pisos. Diver­sos fragmentos de esteias m onum entais assírias tam ­bém foram encontrados. São cópias de um a coluna erigida em Khorsabad, que alista as conquistas de Sargão, inclusive Asdode.20.2. a encenação de Isaías. A profecia encenada por Isaías foi chocante. Esse homem idoso (que fora cha­mado para ser profeta trinta anos antes, em 742 a.C.) recebe a ordem de Deus para despir-se e ficar nesta situação vergonhosa, ou seja nu, diante das pessoas. Seu objetivo é demonstrar-lhes de form a clara o desti­no que elas teriam se escolhessem unir-se à revolta de Asdode. Elas tam bém seriam despidas e levadas como escravas (compare com M q 1.8; Na 3.5). Visto que o estilo e a qualidade das vestes era um indicador de status no mundo antigo, os criminosos também eram exibidos nus, com o sinal da perda de sua posição social (Leis Médio-Assírias).20.3. papel do Egito e da Etiópia na cam panha de Asdode. Os registros assírios (Prisma de Sargão em Ninrode) m encionam o estabelecimento de um porto mediterrâneo mantido conjuntamente pelo Egito e pela Assíria. Tal cooperação pode ter sido forçada ao Egito por causa do controle assírio de Chipre e da paci­ficação das tribos árabes ao longo da fronteira do Sinai. Os reis do Delta, temendo outras incursões, tentaram livrar-se de parte dessa pressão apoiando primeiro a revolta de Hanno, rei de G aza e depois a de Aziru, rei de A sdode. P or causa desse apoio cland estino , o usurpador Yamani fugiu para o Delta quando o exér­cito de Sargão se aproximava em 712. Porém, o povo ali recusou-se a abrigá-lo ou a dar-lhe qualquer tipo de apoio militar. Yam ani então, tentou obter ajuda da dinastia núbia de Shabaka. Sua tentativa foi em vão; Shabaka estava m ais interessado em conquistar os

remados do Delta e não queria despertar a ira assíria. Sendo assim , Yamani foi enviado aos assírios preso em correntes como um a oferta de paz. Os anais de Sargão registram isso como um sinal do quanto sua "glória que inspira assom bro" tinha se espalhado.20.4. tratam ento dado aos cativos. Os prisioneiros de guerra eram considerados despojos a ser divididos entre os conquistadores. Eles se tom avam escravos e era necessário imediatamente quebrantar seu espírito e humilhá-los e, ao mesmo tempo, usá-los como uma forma de envergonhar seus países ou cidades natais. Os anais assírios incluem nas listas de itens tomados como espólio, os cativos levados para Ashur ou em alguns casos em palados, para servir de exem plo a outros rebeldes. Pinturas de tum bas reais egípcias com freqüência ilustram filas de prisioneiros, presos juntos pelo pescoço, marchando em direção ao cativei­ro. Embora essas figuras não estejam completamente nuas, foram despidas de todos seus objetos valiosos e dos símbolos de sua posição social (ver o comentário em 2 Sm 10.3).

21.1-10 Profecia contra a Babilônia21.1. deserto ju n to ao m ar. Um a m elhor tradução para a expressão hebraica aqui seria "terra alagadiça ou pantanal". A descrição se encaixaria à parte sul da M esopotâmia, uma área de pântanos e charcos à me­dida que se aproxima do golfo Pérsico. O que está em questão é a preocupação com a captura da Babilônia pelos assírios em 703 a.C. e a expulsão do líder babilônio M erodaque-Baladan. O partido anti-Assíria dentro da corte de Ezequias tinha esperança de que a Babilônia seria capaz de desafiar a Assíria, perm itindo assim que as províncias remotas como Judá, tivessem uma oportunidade de reconquistar sua independência. Essa esperança foi eliminada com o ressurgimento da po­tência assíria, sob Senaqueribe. Logo, o oráculo de advertência reflete essa frustração.21.2. papel de Elão e M édia. Em bora o versículo 9 deixe claro que Babilônia é a cidade a ser atacada, fica menos claro o papel que Elão e a M édia desempenha­riam nesses eventos. Esses dois povos iranianos do leste do Tigre haviam sido úteis a M erodaque-Bala­dan quando ele se estabelecera na Babilônia em 720, e depois que Sargão II o depôs, ele fugiu para Elão, em 710. É possível que o profeta esteja exortando Elão e a M édia a novam ente ajudar M erodaque-Baladan contra seu inimigo comum, a Assíria. Entretanto, as condições caóticas do período, com saques iminentes e traições, podiam prever mudanças nas alianças ante­riores. De qualquer maneira, Elão deixou de ser um elemento na política do Oriente Próximo após 680 e isso pode ter sido o resultado do crescimento da potên­

cia dos m edos como também das pressões da Assíria.21.5. põem as m esas, estendem a toalha. A cena apa­rente de um banquete retratada aqui pode sugerir que a Babilônia não estava preparada para o ataque que iria capturar a cidade. Também pode referir-se aos preparativos para a batalha (como Anat no épico ugarítico m onta barracas e põe m esas para que seus guerreiros possam assistir dali à m atança de seus ini­migos) ou possivelmente a um levantamento das de­fesas da Babilônia ou de seus vários distritos antes de um cerco.21.5. escudos. A prática de untar os escudos antes das batalhas pode ter como base o desejo de tornar o couro m ais flexível e menos quebradiço (2 Sm 1.21). Fontes clássicas (A charnianos , de A ristófanes e Eneida , de Virgílio) sugerem que um escudo untado com óleo era m ais elástico e podia desviar um a flecha. O brilho de um escudo untado recentemente também poderia ser útil para cegar um oponente.21.7. carros no oitavo século. O s assírios usavam uni­dades em carros, divididas em esquadrões de cin­qüenta homens, como o cerne das forças de campanha de seu exército. Eles m antinham destacam entos de dois, três ou quatro homens, com um atuando como condutor da carruagem e os outros como flecheiros ou escudeiros. Em períodos anteriores (Assum asirpal), um terceiro cavalo era preso ao lado do carro, para ser usado caso um dos outros animais fosse ferido ou se o condutor precisasse fugir de um veículo danificado. Ilustrações de carros em relevos assírios demonstram que inicialm ente tinham rodas de tam anho m édio com seis raios e uma única viga que se estendia até a frente para engatar dois cavalos. Mais tarde, durante o reinado de Salm aneser III, os carros se tornaram m ais pesad os, com en orm es rod as de oito raios. Senaqueribe também acrescentou um a dupla de ca­valos para ajudar a puxar esses carros m ais pesados.21.7. cavalaria no oitavo, século. Grande parte do que sabem os hoje acerca do uso de cavalaria no oitavo século origina-se de ilustrações em relevos assírios. Elas m ostram que em áreas escarpadas e montanho­sas ou em florestas, onde os carros eram ineficazes e os exércitos no antigo Oriente Próximo em pregavam a cavalaria. A lguns desses homens eram equipados com arcos, enquanto outros atuavam como lanceiros, por­tando uma comprida lança. Esses últimos eram usa­dos como tropas de choque, atacando em conjunto com os carros no confronto com um grande inimigo, abrindo brechas em suas fileiras de modo que a infan­taria assíria pudesse penetrar (ver 1 R s 20.21). Os arqueiros da cavalaria muitas vezes lutavam em du­plas: um usava o arco enquanto o outro segurava um escudo para proteger seu companheiro (ver 2 Rs 9.25). Os cavaleiros também eram usados para levar m en­

sagens no campo de batalha e para prestar relatório sobre os acontecimentos nas fortalezas e cidades pró­ximas (ver a fuga de Ben-Hadade com a cobertura da cavalaria em 1 Rs 20.20).21.9. queda da B abilônia. Com a morte de Sargão II em 705, Merodaque-Baladan mais uma vez estabele­ceu-se como governante da Babilônia. Isso sinalizou uma série de revoltas em todo o império assírio (den­tre elas as das províncias Que, Tabal e Hilakku, na Anatólia). Os anais de Senaqueribe descrevem como ele sistem aticam ente subjugou cada região rebelde. A Babilônia e o Elão foram controlados primeiro por sua proximidade com o coração do império assírio. A luta aconteceu em Quis e depois nos pântanos do sul da M esopotâmia, quando Merodaque-Baladan fugiu da Babilônia. Ainda assim, o líder babilônio foi capaz de m anter controle sobre um a parte do sul e de causar contínuos problemas a Senaqueribe, apesar das tenta­tivas assírias de conciliar o povo caldeu. A Babilônia finalm ente foi cercada em 689 e quando os assírios abriram brechas nos muros, invadiram a cidade m a­tando a população e destruindo as muralhas, os tem­plos e todas as casas da cidade. Eles até mesmo cava­ram canais para levar água do Eufrates até a cidade a fim de inundá-la, varrendo assim os alicerces das cons­truções e o que sobrara das obras de alvenaria.

21.9. im agens despedaçadas. O s anais de Senaque­ribe contêm relatos claros da captura da Babilônia em

689. Em seu frenesi de destruição, os soldados assírios não tiveram respeito pelos deuses de seus inimigos, quebrando em pequenos pedaços as imagens sagra­das da Babilônia. Em meio a essa destruição, porém, os soldados conseguiram resgatar duas estátuas de seus próprios deuses nacionais, Adad e Shala, que haviam sido capturados 480 anos antes pelo rei babi­lônio M arduque-Nadin-Ahe.

21 .11, 12Profecia contra Edom21.11. D um á. Esta cidade fica num oásis no norte central da Arábia Saudita, perto da extremidade sul do uádi Sirhan. Sua associação com a confederação qued arita das tribos beduínas daquela região (Gn25.13) pode explicar o nome do lugar atrelado a Edom. Pode ser tam bém que haja um trocadilho expresso aqui na palavra hebraica (duma), que significa "silên­cio" e Edom.21.11. Seir. Essa parte do território de Edom incluía uma área de florestas que estendia-se desde o planal­to da Transjordânia, ao sul do uádi aVA rabah, talvez incluindo Petra (ver Jz 5.4). O termo aparece em tex­tos egípcios do século 14 alistando nomes de pessoas e cidades como o "país dos nômades de Seir".

21.11. Edom no oitavo século. Durante o oitavo sécu­lo Edom estava lutando para manter sua independên­cia. O país fora enfraquecido pelo interesse de Judá em expandir-se na região: Amazias (801-787 a.C.) li­derou um a invasão na virada do século (ver 2 Rs 14.7) e seu sucessor, Uzias, reconstruiu o porto de Elate, no golfo de Acaba (2 Rs 14.22). Outro sinal da fraqueza de Edom foi o pagamento de tributos ao rei assírio Adad-Nirari III (809-782 a.C.). Quando a guerra siro- efraim ita causou tum ulto em Judá nos anos 730, os edomitas reconquistaram Elate (2 Rs 16.6). Entretan­to, foram forçados à vassalagem por Tiglate-PileserIII, após 732 a.C. e se transformaram num a ligação da rota comercial do império assírio de Damasco até Ácaba, a Estrada do Rei. Listas de tributos assírios também demonstram que, pelo resto do século, Edom perma­neceu leal ao im pério, dando pouco ou quase ne­nhum apoio a outros vassalos palestinos que se rebe­laram contra a Assíria.

21.13-17Profecia contra a Ajrábia21.13. Arábia. Compreendendo territórios reivindica­dos por diversos grupos tribais de beduínos, a Arábia era uma área alistada pelos assírios como parte de seu império, mas nunca de fato dominada. As tribos ára­bes ocupavam a região entre o sul do Neguebe e a parte norte central da península Árabe. Isso sugere a tradução de "terra desértica" em vez de Arábia, em paralelo com "pântanos" em 21.1. Alguns grupos ára­bes estavam engajados no com ércio em caravanas, transportando incenso e m irra, escravos e tinturas para o Egito e a M esopotâmia. O núm ero de ataques men­cionado em diversos textos antigos tam bém confirma sua prática ocasional como predadores de rotas de caravanas. O s árabes aparecem nos registros de Salma- neser III negociando com a aliança formada contra ele na Batalha de Qarqar, em 853 a.C.. Eles continuam a aparecer em registros assírios até o reinado de Assur- banipal, no final do sétimo século. Observa-se tam ­bém nos anais de Sargão II que alguns árabes foram forçados a estabelecer-se novamente na Palestina, após a queda da Samaria em 722 a.C..21.13. dedanitas. As tribos dedanitas usavam Khu- raybah (atual al-HJla) no noroeste da Arábia como sua base de operações. Escavações trouxeram à tona um grande grupo de pequenas aldeias satélites no vale do uádi al-Qura, que ficava nas proximidades. Eles atuavam como caravaneiros fazendo contatos com a Síria, a Fenícia e a Palestina. Durante o sétimo século é provável que tenham feito parte da esfera de influ­ência de Edom e estavam sujeitos ao controle da Assíria.21.14. Tem á. Com base em sua menção em inscrições aramaicas e assírias, Tem á tem sido identificada com

a cidade de Taym a, um oásis localizado na fronteira oeste do deserto norte da Arábia. Ficava no cruzamento de três importantes rotas comerciais ("rota do incen­so") que ligavam o sul da Arábia até a Síria, a Meso- potâm ia e o leste da Arábia. As riquezas de Tem á foram escoadas pelos impérios mesopotâmicos emer­gentes do primeiro m ilênio a.C.. O rei assírio Tiglate- Pileser III alista a cidade como um a das que pagaram tributo em 734 a .C . Juntam ente com Dedã, Tem á foi um importante centro urbano para essa região duran­te o sétimo e o sexto século. O monarca caldeu Nabo- nido fez dela seu quartel-general por dez anos (553­543), quando tentou conquistar o controle da rota do incenso.21.16. Quedar. Textos assírios e neo-babilônicos refe­rem-se a essas tribos árabes do norte como Qidr ou Qadr. L igadas aos ism aelitas em G ênesis 25.13, os quedaritas atuaram como criadores de ovelhas e cara­vaneiros pelo m enos até o período helenístico. Sua menção neste versículo juntam ente com Temá pode referir-se à expedição de Nabonido para conquistar a área em 553 a.C... Existe evidência clara de ligações en tre Q u ed ar e T em á em tex to s eco n ô m ico s da Babilônia.

22.1-25Profecia contra Jerusalém22.1. vale da Visão. Com base em 22.5, essa é prova­velmente um a referência a Jerusalém e talvez ao vale de Hinom (ver seu uso em Jr 7.31-34 acerca de rituais de adivinhação). Isaías condena o povo que buscara orientação em outros deuses e assim, apesar de sua localização física no monte Sião, não tinham uma vi­são verdadeira dos eventos.22.1. refugiarem nos terraços. Essa também pode ser uma referência a adivinhações ou adoração falsa. Exis­tem amplas evidências nos livros proféticos dos israe­litas da prática de queim ar incenso nos telhados das casas (Jr 19.13; S f 1.5). Pode referir-se tam bém aos "terraços" simbólicos dos pedestais de incenso como o de um exemplar desenterrado em M egido. Ele tem a forma de um a casa, com cornijas em cima e continha vestígios carbonizados no topo. A prim eira alternati­va encontra base em evidências do antigo O riente Próximo. Ofertas feitas em terraços de telhados apare­cem tanto em narrativas da M esopotâmia (Gilgamés) quanto de Ugarit (Keret).22 .2 ,3 . contexto histórico. Esses eventos aconteceram durante a campanha de Senaqueribe, no ano de 701a.C. (ver os com entários em 2 Rs 18.1-20.21). O rei assírio liderou um imenso exército de mercenários e homens recrutados em todo o seu império. Durante a invasão da Palestina, eles iriam , segundo os anais Senaqueribe, "cercar 46 cidades fortificadas, fortes

murados e incontáveis povoados". O rei Ezequias fi­cou acuado em Jerusalém "com o um pássaro numa gaiola". Qualquer de seus oficiais que tentou escapar foi capturado e muitos foram executados. A cidadela estratégica situada na fronteira ocidental, em Láquis, foi capturada e incendiada. Evidências arqueológicas de um túmulo coletivo indicam que suas guarnições foram massacradas e os relevos assírios do palácio em Nínive ilustram prisioneiros sendo levados ao exílio. Senaqueribe afirm a ter tom ado 200.150 prisioneiros de guerra - um núm ero tão exagerado que literal­mente não teria sobrado ninguém em Judá. Tanto o relato bíblico quanto os registros assírios concordam em que houve um a am pla destruição, mas os invaso­res com o tempo recuaram depois que Ezequias pa­gou um a enorme quantia como tributo e resgate pela cidade de Jerusalém (2 Rs 18.13-16).22.6. E lão. V er o com entário em 21.2. Senaqueribe regularmente recrutava levas de soldados de povos subjugados ou aliados. Embora Elão houvesse previa­mente apoiado a Babilônia e se oposto à Assíria, nessa campanha de 701 parece claro que forneceu um con­tingente de arqueiros para o exército de Senaqueribe.22.6. Quir. Não há consenso sobre a localização exata de Quir. Por ser associada aos arameus em Amós 9.7, diversas tentativas foram feitas de situá-la no norte da Síria ou no deserto ocidental (oeste do Eufrates). Sua menção aqui ao lado de Elão também sugere proximi­dade com esse país que ficava a leste do rio Tigre.22.8. palácio da Floresta. Ver o comentário em 1 Reis7.1-12 a respeito desse arm azém que fazia parte do complexo do palácio. O povo tinha esperança de re­correr ao arsenal que ele continua para defender-se dos invasores assírios.22.9. arm azenaram água no açude inferior. Com base no com entário de 2 Reis 20.20 e na descoberta da inscrição do túnel de Siloam, parece claro que Eze­quias construiu um canal de mais de quinhentos metros de comprimento de dentro dos muros de Jerusalém até a fonte de Geom, no vale de Cedrom. Desse modo, ele pôde garantir um abastecimento seguro e contí­nuo de água para Jerusalém durante o cerco assírio. O "açude inferior" era um dos dois reservatórios usados para arm azenar e canalizar água (ver 7.3). Tinha o objetivo de fornecer água para a irrigação de áreas em aterro ao longo da encosta do vale de Cedrom e com o tempo escoava para o poço de Selá, atual Birket el- Hamra.22.9-11. Jerusalém se prepara para o cerco. As defe­sas de Jerusalém tinham de ser consertadas e reforça­das antes das tentativas assírias de tom ar a cidade. Havia também a necessidade de equilibrar a deman­da de m ais m oradias para as pessoas de Judá que haviam fugido para Jerusalém em busca de proteção

e reforçar a im portante defesa da cidade. Como resul­tado, a área entre o sistema duplo de muros da cidade foi evacuada de casas provisórias para garantir um "terreno de m atança", caso os assírios penetrassem as defesas externas. Essa área também foi parcialmente inundada para d ificultar a travessia e aum entar a reserva de água da cidade.22.15. adm inistrador do palácio. A posição de "ad m i­nistrador do palácio" pode ter evoluído de um posto relativamente insignificante para o de um mordomo encarregado de todos os assuntos do palácio, na época de Uzias. Existe precedente para esse título em textos ugaríticos e fenícios, e poderia ser comparado à posi­ção do vizir na corte egípcia. Tem sido argumentado que o administrador em questão aqui trata-se de Sebna, mencionado como escriba ou secretário em 2 Reis 18.18. Existe a possibilidade de Sebna ter recebido diversos títulos durante sua carreira, dependendo do cargo que ocupasse no m om ento. Espera-se, porém , que como administrador do palácio ele teria sido o princi­pal conselheiro e mediador do rei. Se foi citado com um título inferior no reino de Ezequias, então pode-se presumir que ele foi deposto.22.16. túm ulo lavrado na rocha. Os vales e encostas ao redor de Jerusalém contêm um grande núm ero de túmulos escavados nas escarpas da pedra calcária na­tiva. Dentre eles, na encosta de Silwan, encontra-se um túmulo que contém uma inscrição parcial e o títu­lo 'asher 'al habbayit, a m esm a expressão usada no versículo 15 para descrever a posição ocupada por Sebna. A ausência do nom e nessa inscrição impede que se faça um a ligação conclusiva entre o túmulo e Sebna. A acusação de Isaías contra esse oficial é base­ada na extravagância de construir um túmulo indivi­dual em vez de utilizar um a sepultura coletiva ou câmara mortuária dentro dos limites da propriedade de sua família. Esses túmulos mais tradicionais inclu­íam abrigos para a introdução dos corpos e nichos de lâmpadas, bem como uma reentrância para o depósi­to de ossos sempre que fosse preciso usar as pratelei­ras para novos enterros. Apenas os muito abastados podiam bancar um a tum ba individual escavada na rocha, talvez até ao estilo fenício ou egípcio (pirâmi­des ou fachadas elaboradas).22.20. E liaquim . O nom e desse oficial que significa "Q u e El estabeleça", foi encontrado em impressões de selos em Tell Beit M irsim, Bete-Semes e Ramat-Rahel. Ele era 'asher 'al habbayit, administrador do palácio, no reinado do rei Ezequias (ver 2 Rs 18.18; 19.2; ís 36.3) e, portanto, é natural que seu selo oficial esteja estam ­pado em m uitos docum entos. A im pressão de selo contendo o nome Eliaquim aparece em uma grande coleção de cabos de jarras que datam do reinado de Ezequias. O sedimento 3 de Láquis, que rem onta à

Idade do Ferro, datado de 701 a.C. é o local m ais im portante onde esses cabos foram encontrados. É provável que o selo de Eliaquim apareça nesses jarros por fazer parte de suas obrigações regulares: o contro­le dos estoques e a distribuição de azeite e vinho para fortalezas reais como Láquis.22.22. chave do reino de Davi. As fechaduras relati­vam ente reduzidas usadas para garantir a segurança de nossas portas hoje em dia necessitam de chaves bastante pequenas. Porém, no período bíblico, as fe­chaduras eram enormes e era preciso uma chave de bronze ou ferro, bastante grande e pesada, que cor­respondesse ao tamanho da fechadura (ver Jz 3.25; 1 Cr 9.27). Quando Eliaquim recebe essa chave, o tama­nho e provavelm ente a elaborada decoração desse objeto serviria como um símbolo visível de sua auto­ridade para abrir e fechar os quartos e as portas do palácio de Jerusalém. Essa também era uma das fun­ções do vizir egípcio.22.23-25. figuras. As figuras aparentemente domésti­cas retratadas aqui, um a estaca em terreno firm e ou pregos em paredes de tijolos para sustentar pratelei­ras ou pendurar utensílios de cozinha, funcionam como parte de um ritual para a posse de Eliaquim. As ori­gens de tais figuras provavelmente remontam à cul­tura aldeã do antigo Israel e sua fam iliaridade lhes deu a autoridade que se compara ao comissionamento de Jerem ias: "para arrancar, despedaçar, arruinar e destruir; para edificar e plantar" (Jr 1.10). Um a das cerim ônias de posse m ais conhecidas na literatura antiga é a posse de M arduque como a principal divin­dade babilónica no Enuma Elish. Ali proclama-se que suas ordens não podem ser alteradas e que os limites estabelecidos por ele (para os deuses) são invioláveis.

23.1-18 Profecia contra Tiro23.1. Tiro no oitavo século. O oitavo século a.C. foi um período de expansão comercial e política para os fenícios. U m im pério colonial foi estabelecido, com Cartago como a principal cidade no oeste do M editer­râneo (fundada por Dido por volta de 814 a.C.). O grau de autonomia que as cidades fenícias de Tiro e Sidom tinham nesse período dependia da dimensão da influência assíria sobre elas. Adadnirari III (810­783) recebeu tributo dessas cidades, m as nenhum a pressão assíria significativa foi aplicada a não ser a partir do reinado de Tiglate-Pileser III (744-727). O rei assírio habilmente jogou com o medo inspirado pelo im pério com ercial de Tiro em expansão, a fim de conseguir alianças com as cidades-estado de Chipre. Ele também forçou Tiro a pagar uma enorme quantia de impostos anualmente (evidências encontram-se nas listas de tributos assírios) a fim de poupá-la de inva­

são militar. A riqueza de Tiro era legendária (ver Ez28.4, 5; Zc 9.3) e para defendê-la, o rei de Tiro, Lulli, obrigou os estados cipriotas a se submeter a ele. Isso provocou um cerco de cinco anos à cidade de Tiro por Salmaneser V (726-722) e por seu sucessor Sargão II (721-705). Lulli fez algumas tentativas de negociar o fim das hostilidades, uma vez que os assírios haviam ocupado toda a terra de Tiro no continente. Porém, quando ele rebelou-se novamente na época da ascen­são de Senaqueribe, os assírios forçaram Lulli a fugir para Chipre e instituíram Ittobaal como governante do reinado sidônio.23.1. Tiro no sétimo século. Tiro e Sidom continua­ram a vacilar em sua lealdade para com a Assíria ao longo do sétimo século. Em resposta à aliança fenícia com o etíope Tirhakah, da 25a Dinastia, os exércitos assírios repetidamente invadiram a região costeira ao redor de Tiro e Sidom, devastando cidades e povoa­dos e aumentando a pressão nas cidades portuárias para que se subm etessem ao governo assírio. Final­m ente, em 677 a.C. Esar-Hadom destruiu Sidom por completo, desfilando com a cabeça de seu governan­te, Abdimilkutte, em Nínive. Restrições diplomáticas severas foram im postas a Baal I, rei de Tiro, num esforço de impedi-lo de ajudar os egípcios. Assurbani- pal (667-627) também registra medidas tomadas con­tra os governantes anti-Assíria da Siro-Palestina. Após esmagar os egípcios e destruir sua capital, Tebas, em 663 a.C.., Assurbanipal colocou no trono um egípcio n ativo, Psam m eticus I, com o governante do baixo Egito. D epois conduziu seu exército de volta até a costa para punir Baal I e os fenícios. Ele arrancou a autonomia de Tiro por completo e transformou toda a Fenícia em uma província assíria, assumindo o con­trole total da navegação mercantil que fora a base da riqueza e da independência fenícia. Porém , após a morte de Assurbanipal, Tiro reconquistou sua supre­macia no comércio mediterrâneo.23.1. navios de Társis. Para que um navio mercante fosse lucrativo e com condições de navegar nas águas do m ar Mediterrâneo e do mar Morto, sua tonelagem exigia hábeis técnicas de construção. Visto que os "n a ­vios de Társis" são mencionados com freqüência em relação ao transporte m ercantil (ver 1 Rs 22.48; 2 Cr 9.21), é provável que trata-se de um tipo específico de navio. Talvez fossem construídos em Társis, m as é provável que recebessem esse nom e por sua habili­dade de navegar em águas tão distantes, chegando até Társis no oeste do Mediterrâneo. Relevos assírios e as folhas de bronze que revestem as portas de Salma­neser III, em Balaw at, ilustram esses navios sendo usados para o transporte m ilitar e tam bém como car­gueiros, levando tributos tomados de m uitos vassalos. Um relevo encontrado no palácio de Nínive ilustra a

fuga de Lulli, rei de Sidom, para Chipre. Dentre os navios de sua frota há mercadores roliços com uma fileira de escudos ao longo do casco e duas ordens de remadores de cada lado para ajudar o movimento do navio quando os velas panejassem. Navios como esse com duas fileiras de remadores eram cham ados de birrem es.23.2. m ercadores de Sidom . O silêncio dos ricos mer­cadores sidônios, geralm ente barulhentos, pode ter como base a extensão da hegemonia assíria sobre aque­la área, que começou na m etade do oitavo século e cortou parte de seus lucros. Ou refere-se à crescente pressão colocada naquela área por Senaqueribe (após 701) e terminando em 677 com a destruição da cidade de Sidom por Esar-Hadom. Um a nova cidade assíria foi construída em cima das ruínas de Sidom por levas de tropas provenientes de toda a esfera de influência assíria e recebeu o nom e de Kar-Esar-Hadom.23.3. o trigo de Sior. Os m ercadores fenícios transpor­tavam produtos de todo o Mediterrâneo. O trigo de Sior, possivelm ente em egípcio p shhr, em que Sior seria traduzido como "açude de H órus". Representa as colheitas férteis do Egito, transportadas pelo Nilo, rio acima, e dali para a costa pelo uádi el-Arish (Ribei­ro do Egito em 1 Rs 8.65) ou pelo braço pelusíaco do Nilo. O canal tam bém pode ser com parado à uma porção do "Cam inho de H órus" que ligava a Palesti­na ao Egito.23.3. papel econôm ico de Tiro. A cerca de 500 metros do continente, a cidade da ilha de Tiro e seu porto estavam protegidos de qualquer coisa, exceto de um cerco prolongado. As águas tam bém eram profundas o bastante para permitir que navios com cargas pesa­das se aproximassem e descarregassem seus carrega­mentos. Dedicada à atividade comercial, o abasteci­mento de comida e outros itens essenciais de Tiro era fornecido pela cidade irmã de Ushu. A s frotas de Tiro estabeleceram colônias, inclusive algum as em Chi­pre, em Cartago, cidade no norte da África, e ao redor do M editerrâneo para extrair os recursos dessas áreas, especialm ente metais, e para canalizar m ercadorias entre o Mediterrâneo oriental e ocidental. Evidências arqueológicas de trabalhos fenícios em cerâm ica e metais nessa região indicam a extensão e a longevi­dade das relações comerciais. Seus principais produ­tos de exportação incluíam o cedro, tecidos e tinturas e vidro. A parceria econômica entre Salomão e Hirão I (969-936) que estendeu os interesses fenícios e israelitas para o sul, até a Somália, podem ter sido apenas um desses empreendimentos. A expansão da hegemonia assíria na costa do Levante forçou Tiro e Sidom a cooperar com a potência mesopotâmica. Esforços de rebelar-se ou não pagar tributos resultaram em inva­sões e redução da atividade econôm ica. Porém , os

assírios também precisavam do conhecimento m aríti­mo especializado dos fenícios, por isso é provável que os negócios continuaram ininterruptos apesar de hos­tilidades ocasionais.23.4. fortaleza do mar. Tiro originalmente foi funda­da por volta de 2750 a.C. num recife de arenito a cerca de quinhentos metros da costa sul do Líbano. Sua área ocupada foi ampliada no século dez quando Hirão I preencheu um trecho intermediário para unir a anti­ga cidade a um recife próximo. Para marinheiros que se aproximavam, a cidade parecia estar flutuando no mar. N enhum exército teve êxito em conquistar a cidade até a época de Alexandre da M acedônia, que construiu um passadiço do continente até a ilha em 332 a.C.. No entanto, Tiro não era totalmente auto- suficiente. Sua vulnerabilidade ficou evidente quan­do a cidade irmã de Ushu foi capturada pelos assírios. Como resultado, um tratado de vassalagem foi assina­do na época de Esar-Hadom demonstrando a capitu­lação de Tiro a ponto de até m esm o ter um oficial assírio presente sempre que o rei lia a correspondên­cia diplomática.23.5. novidades de Tiro. O período ou evento exato descrito aqui não está claro. Pode referir-se a qual­quer série de eventos que teria angustiado os egíp­cios, representando o término do comércio e a elimi­nação de um importante aliado político. Os possíveis eventos incluem a incursão assíria na Fenícia, lidera­da por Senaqueribe, em 701, e a destruição de Sidom em 677 por Esar-Hadom. Alguns comentaristas suge­rem também um período bem posterior quando Sidom foi conquistada pelo rei persa Artaxerxes III (343 a.C.) ou até mesmo a captura de Tiro por Alexandre, em 332. Uma data tão posterior, porém, exige um a visão profética de um evento muito tempo depois da época de Isaías ou a remoção dessa passagem completamen­te do contexto de Isaías, constituindo-se na interpreta­ção de algum copista ou editor futuro.23.6. T á rs is . A am bigü id ad e de fon tes b íb licas e extrabíblicas apenas indica que Társis encontrava-se a oeste de Israel, perm itindo que fosse identificada com Cartago, no norte da África e com outras localida­des na costa sudestes da Espanha, inclusive Tartessos. Existe até m esm o certa base para identificá-la com Eziom -Geber, no golfo de Ácaba. Após derrotar os egípcios em 677, Esar-Hadom afirm a em seus anais ter a soberania sobre o Chipre, a Grécia e Társis, em outras palavras, sobre todo o império comercial fenício.23.10. porto de T iro . A cidade original de Tiro foi construída sobre dois grandes recifes aproximadamen­te a quinhentos metros da costa. Visto que a área da ilha era limitada, as casas eram construídas com vá­rios andares e bem próximas umas das outras (com base em cenas de relevos assírios). Havia um porto de

cada lado da ilha para acomodar o grande núm ero de navios que constantemente chegavam e partiam dali. Havia um porto natural na extremidade norte prote­gido por um dique e ancoradouro, abrigado por uma cadeia de ilhas m enores. Um porto artificial também foi construído na extremidade sul da ilha. Essa área a sudeste com o tempo foi modificada, depois que A le­xandre da M acedônia construiu uma plataforma para conectar a cidade ao continente e sedimentação poste­rior criou uma península m ais larga. É difícil condu­zir escavações no local, visto que atualm ente uma cidade ainda ocupa grande parte da antiga Tiro.23.11. Fenícia. O texto hebraico aqui fala de "Canaã". A escolha para traduzir por "Fenícia" ajuda o leitor a manter seu foco na destruição de Tiro. Porém , essa destruição é (1) baseada na cultura cananéia dos fenícios, condenada por Yahw eh e (2) exemplificada pela mão estendida de Yahw eh sobre o m ar para demonstrar que essa fonte de sobrevivência dos mercadores fení­cios não os salvaria. Essa terminologia remete à temática do combate entre Baal e Yamm nos épicos ugaríticos em que o deus-mar é derrotado.23.12. Chipre. Chipre fica apenas a 120 quilômetros da costa síria. Serviu como um lugar de refúgio para os reis fenícios (Lulli, de Tiro, fugiu para Chipre quando pressionado pelos exércitos assírios de Sargão II). Essa profecia desconsidera Chipre como um porto seguro. Se os fenícios perdessem o controle de Tiro e de Sidom, sua frota de navios m ercantes se tom aria órfã. Seus carregam entos iriam estragar ou seriam devolvidos para os assírios.23.13. Babilôn ia castigada pelos assírios. Ver os co­mentários em 13.1 e 13.19 a respeito do contexto histó­rico da captura da Babilônia por Senaqueribe, em 689a.C. e acerca do exílio do líder babilônio Merodaque- Baladan. Nessa passagem, a destruição da principal cidade mesopotâmica do sul é citada como um exem­plo do destino final de Tiro nas m ãos dos assírios.23.13. torres de vigia. Relevos assírios do palácio em Nínive e os anais de diversos reis ilustram uma série de diferentes tipos de máquinas de cerco. Um a das mais comuns era a torre de vigia, que subia o mais próximo possível das muralhas de um a cidade. Dali de cima os arqueiros podiam alvejar os soldados ini­migos e pontes de assalto podiam estender-se delas até as trincheiras. Na base da torre, protegidos da chuva de pedras, óleo quente e flechas, engenheiros e sapadores podiam trabalhar para abalar as estruturas dos m uros ou utilizar aríetes (ver 29.3; Ez 21.22).23.15. T iro , no fim dos seten ta anos. H á diversos contextos nos textos proféticos em que a expressão "setenta anos" representa exílio ou castigo (Jr 25.12; D n 9.2; Zc 1.12). Existe tam bém um significado de completude neste núm ero, sugerindo que Tiro e os

fenícios estão nas m ãos de Deus e não poderão pros­perar de novo até que o julgam ento divino se cum ­pra. N a verdade, durante grande parte do sétim o século, quando uma sucessão de fortes governantes assírios controlou a cidade e suas atividades comerci­ais, Tiro ficou estagnada. Houve um curto ressurgi­mento após a destruição de Nínive em 612, mas logo depois a cidade foi cercada durante treze anos pelo governante babilônio Nabucodonosor, limitando se­riamente seu contato com o continente. Os persas exer­ceram controle sobre os portos fenícios também, com Artaxerxes m incendiando Sidom em 345 após essa cidade ter se unido a uma revolta inspirada pelo Egi­to. A destruição de Tiro por Alexandre, da Macedônia, em 332 seguiu-se a um cerco de sete meses e efetiva­mente encerrou a independência da cidade.23.15 ,16 . canção da prostituta. A condição miserável de Tiro após o julgamento de Yahw eh é comparada a um a prostituta idosa que agora precisa caminhar pe­las ruas cantando para divulgar seus serviços e atrair fregueses que não mais desejam vir até sua porta. A melodia e a letra emparelhada provavelmente faziam parte da cultura rouquenha dos portos mediterrâneos apreciada pelos marinheiros em seus m om entos de folga.

24.1-23 A devastação do Senhor na terra24.1-13. descrição da desolação da cidade. A litania da destruição encontrada no lamento desta cidade com­para-se ao estilo contido no texto sumério Lamento pela Destruição de Ur, bem como em outras expressões de lamento por cidades invadidas no antigo Oriente Pró­ximo. As comparações incluem as descrições de deso­lação extrema, o fato de que nenhuma pessoa de ne­nhuma classe foi poupada e a incapacidade da nature­za em fornecer o que anteriormente alimentara e su­prira o povo. O lamento sumério fala de ventos de­vastadores, de seca, fom e e de corpos expostos em ­pilhados pelas ruas. O texto egípcio do século vintea.C. intitulado Visões de Neferti tam bém ilustra uma terra desolada e amaldiçoada por causa do desapare­cimento do sol e por terem se secado os canais que sustentavam a vida. As profecias de Balaão (encontra­das em D eir 'A lla e que datam de 700 a.C.) descre­vem deuses irados que "fecham os céu s", transfor­mando todas as criaturas vivas em carniceiros e for­çando até mesmo príncipes a vestir trapos e sacerdo­tes a "cheirar a suor".24.18. comportas dos céus. Ver o comentário de G ê­nesis 7.11 acerca dessa expressão metafórica que des­creve os efeitos catastróficos de um dilúvio, cujas águas descem dos céus e sobem do m undo inferior. A cena é de extrema destruição.

24.22. p rision eiros num a m asm orra. Por causa do caráter apocalíptico dessa passagem é mais provável que o autor esteja descrevendo o aprisionamento de outros poderes (anjos) que tentaram competir com o poder de D eus, e não reis terrenos. C ertam ente o padrão em grande parte do Antigo Testam ento era que os reis fossem executados (ver Jz 8.21; 1 Sm 15.33) ou forçados a negociar os termos da rendição (2 Sm 10.9). Textos m esopotâm icos de M ari, bem com o o Cilindro de Ciro, nos registros persas, descrevem o "aprisionam ento" de im agens sagradas. A idéia de m anter prisioneiros por longos períodos debaixo da terra com o tempo é desenvolvida nas visões apocalí­pticas de Apocalipse 10.20-20.15 e em Enoque 18.16.

25.1-12 Banquete da vitória25.6. banquete servido pelos deuses. Banquetes ser­vidos pelos deuses eram comuns em contextos de co­roação - quando uma divindade cerimonialmente as­cendia no trono de sua esfera de domínio. Esse é o caso quando El chama o Refaim (ver o comentário em14.9-11) para um banquete em honra a Baal. Embora esses banquetes fossem p_ara os deuses, o povo podia participar da festa quando a entronização era celebra­da anualmente.25.7, 8. destru ição do véu e da m orte. No Antigo Testamento, às vezes a morte é personificada (Os 13.14), m as na mitologia ugarítica, M ot ("m orte") é uma di­vindade do m undo inferior, inim iga de Baal. Visto que Baal é o deus da fertilidade, a derrota de M ot é um símbolo cíclico da vida que retom a ao mundo a cada primavera. M ot é retratado com freqüência como aquele que devora sua presa. Rituais dirigidos a M ot têm como objetivo dar um fim a suas atividades des­trutivas. Aqui é Yahw eh quem engole a m orte (Mot) e o contexto é político (nações) e não agrícola. São os implacáveis e devoradores impérios que am eaçam as nações de morte que estão sendo destruídos, de modo que as máscaras de morte (véu e cortina) são removi­das daqueles que estavam tão perto da extinção.

26.1-21 Cântico de Judá26.19. ressurreição n o antigo O riente Próxim o. Osconceitos de vida após a m orte estão definidos de form a bastante clara nos textos egípcios. O Livro dos Mortos apresenta um guia que aborda as perguntas feitas a cada alma que adentrar as regiões inferiores. A mumificação, a construção de túmulos, os ricos ob­jetos enterrados ao lado dos corpos e o culto fam iliar e sacerd otal que dedicava oferendas de alim entos e bebidas aos mortos, todos testificam quanto a elabora­dos preparativos para a vida no além. Mesmo nesta

rica doutrina da vida após a morte, porém, a ressur­reição se reflete na crença de que os ju stos podem ressuscitar. Os conceitos mesopotâmicos são mais pes­simistas. Gilgamés, o herói que cruza o "m ar da m or­te" e procura o herói do dilúvio, Utnapishtim, é infor­m ado pela deusa Siduri de que os hum anos estão destinados a morrer desde sua concepção. Ela aconse­lha a um a vida plena de prazer e realização pessoal, visto que não há alegria depois da morte. Daniel 12.2, assim como outras referências bíblicas, refere-se de forma clara à ressurreição corporal. M as essa passa­gem (26.19), a exem plo de Ezequiel 37 .4-14, pode estar falando apenas do poder de Deus em ressuscitar uma nação morta, reviver uma comunidade da alian­ça. O "orvalho" é uma expressão do poder de Deus. Os textos egípcios descrevem o orvalho como as " lá ­grimas de Hórus e T ot", que contêm o poder da res­surreição. O orvalho é a única um idade disponível para m anter as p lantas vivas durante os longos e secos meses de verão, portanto, é um símbolo apro­priado da ressurreição (para um a discussão m ais aprofundada, ver o comentário em Dn 12.2).

27.1-13 O ajuntamento de Israel27.1. serpente veloz, serpente tortuosa. Essa mesma im agem está presente no Ciclo ugarítico de Baal para descrever seus oponentes sobrenaturais: "Q uando m a­taste Litan (Leviatã), a serpente que foge, aniquilaste a serpente que se contorce, o potentado com sete cabe­ças" ("que foge" é a mesma palavra para "veloz" na N YI; "qu e se contorce" é a mesma palavra traduzida como "tortuosa" pela NVI). A respeito das sete cabe­ças, ver o comentário em Salmo 74.14 em diante.27.1. Leviatã. Os m itos ugaríticos e cananeus contêm descrições detalhadas de uma fera do caos represen­tando os mares ou a anarquia aquática na form a de uma serpente de muitas cabeças que se contorce. Há uma íntima relação e afinidade entre a descrição do Leviatã em Isaías como uma "serpente tortuosa" e o épico ugarítico de Baal, que fala de como o deus da tempestade "golpeou Litan, a serpente que se contor­ce". Em ambos os casos há o significado do Deus da ordem e da fertilidade aniquilando um m onstro do caos. Diversas outras passagens do Antigo Testam en­to m encionam Leviatã, m as a m aioria delas, como Salmo 74.14 e Jó 41.1-34, fala em termos da ação cria­tiva de Deus que estabeleceu o controle sobre o caos (personificado pela serpente do m ar). Em 27.1, po­rém, essa luta entre a ordem e o caos ocorre no fim dos tempos. Pode ser que a queda de Satanás, retratado como um dragão de sete cabeças em Apocalipse 12.3­9, tam bém remeta à figura ugarítica de Litan, "o tira­no de sete cabeças".

27.1. m onstro do mar. O conflito físico óbvio entre o m ar e a terra, bem com o a energia aparentem ente inesgotável exibida pela fúria do m ar deu origem a mitos cósmicos no antigo Oriente Próximo. O épico da criação Enum a Elish, da B abilônia, descreve com o M arduque destrói T iam at, enquanto essa deusa do caos aquático está na form a de um dragão. Grande parte do ciclo de histórias sobre Baal na lenda ugarí­tica envolve a luta de Baal contra seu rival Yamm , o deus do mar. Igualmente, no épico ugarítico, Anate e Baal afirm am ter derrotado L itã, o dragão de sete cabeças, tendo portanto conquistado o domínio sobre os mares. Em Salmo 104.26, Yahw eh é descrito brin­cando com o Leviatã e em Jó 41.1-11 Deus desafia Jó a mostrar seu controle sobre o Leviatã, como ele o faz. Em bora o texto não explicite aqui se o monstro repre­senta uma nação ou cidade, pode ser que se trate de uma referência ao Egito ou a Tiro, visto que ambos tinham ligações com o mar.27.9. pedras como pó de giz. A pedra calcária é esma­gada para produzir uma substância semelhante ao pó de giz que pode ser usada como argamassa, um tipo de "pintura de cal" usado em fossas e para selar pare­des de pedra. Em se tratando de altares sendo esm a­gados dessa maneira significa a destruição completa de sua natureza sagrada. Isaías neste passagem des­creve as m edidas tom adas por Ezequias em 2 Reis 18.4 e profetiza as reformas de Josias, narradas em 2 Reis 23.12.27.9. postes sagrados. V er o com entário em Deute- ronômio 7.5 a respeito da descrição desses objetos sa­grados associados ao culto da deusa cananéia.27.9. altares de incenso. O termo hebraico pode refe­rir-se a pequenos altares de incenso, geralmente com a forma de casas, em que era queimado continuamen­te incenso ou algum tipo de especiaria sem elhante para honrar os deuses de Canaã. Também foi sugeri­do que a palavra usada aqui, hammamim, é um termo para "colunas", outro objeto cultual dos cananeus (ver o comentário em Dt 7.5).27.12. figu ra da debulha. H á um engenhoso duplo sentido na palavra traduzida nessa passagem como "ribeiro [shibbolet]". Isaías está falando de Yahweh reu­nindo todo o povo da área entre o "ribeiro do Egito" (o uádi el-Arish) e o Eufrates. Porém , há um outro senti­do para shibbolet, "espigas". Logo, fica clara também a imagem das espigas recolhidas na eira onde os grãos são separados da palha e dos talos.27.12. território desde o E u frates até o rib e iro do Egito. Uma forma tradicional de falar de toda a exten­são da área onde os exilados foram espalhados é dizer desde o rio Eufrates, na Mesopotâmia, até o uádi el- Arish, na fronteira com o Egito (ver G n 15.18; 2 Rs24.7). Ver o comentário em 1 Reis 4.21 em que essa

área geográfica é usada para descrever os limites do reinado de Salomão. O ribeiro do Egito é citado nos anais assírios de Tiglate-Pileser III (744-727 a .C ). Esse foi o limite da expansão assíria até que Assurbanipal finalmente conquistou Tebas em 663 a.C..27.13. grande trombeta. Talvez por causa de seu uso para sinalização nas batalhas (como m ostram os re­levos do oitavo século, em Carquemis, que ilustram músicos militares), o sopro da trombeta passou a ser um a im agem com um n a literatu ra escato lóg ica e apocalíptica como um sinal para o fim dos tempos (ver Zc 9.14 e Ap 8.6-12). Aqui, desperta os exilados para o m omento em que voltarão do exílio assírio e dos lugares no Egito para onde haviam fugido em busca de refúgio.

28.1-29 Ai de Efraim!28.1. coroa. A grinalda usada por libertinos geral­mente é um sinal de alegria e felicidade (ver Pv 4.9; Is 61.10). Nesse contexto, porém, a coroa rapidamente se esvanecerá à medida que a festa se transforma em amargura e a bebedeira é um presságio da destruição da cidade de Samaria pelos assírios em 722 a.C..28.2. características da teofania. Um a teofania é a apa­rição de um ser divino para um humano. Para indicar o poder da divindade, esse encontro geralm ente in­clui elem entos como fum aça e fogo, fortes ventos e tempestades e terremotos (ver os comentários em Js 10.11 e 1 Rs 19.11-13). A manifestação da presença de Deus, é claro, é feita com um propósito, geralmente de convocar um líder ou profeta para um trabalho ou para executar o julgam ento contra um a nação inimiga (Hc 3.13) ou contra os ímpios (SI 94.1-3). As teofanias também são comuns no épico ugarítico (Anat e Keret, ambos recebem visitas divinas) e em textos mesopo- tâm icos elas ocorrem com freqüência em sonhos a sacerdotes ou a reis.28.7. em briaguez no m undo antigo. A fabricação de diversos tipos de cerveja e a fermentação do vinho de tâmaras e uvas existiam na Mesopotâmia e no Egito desde os tem pos anteriores à escrita (c. 4000 a.C.). Cenas de banquetes são comuns na arte assíria e ilus­tram grupos de hom ens e m ulheres com endo em mesas forradas de comida e bebendo em taças através de canudos. O épico babilónico da criação, Enuma Elish, descreve como os deuses festejavam em ban­quetes, bebendo "o doce licor através de tubos" (uma necessidade, visto que a bebida apresentava uma con­sistência tão esp essa). U m h ino sum ério à deusa Ninkasi celebra o processo de fermentação e dá graças pela bebida que abranda a sede e jorra em abundân­cia nos rios Tigres e Eufrates. Os m ales da em bria­guez eram bastante reconhecidos em todo o antigo

Oriente Próximo e são narrados em Salmo 69.12, Pro­vérbios 20.1, na descrição de Daniel 5.1-4 e em Ester1.3-8. A literatura sapiencial egípcia alerta contra o alcoolismo e sua conseqüente perda do controle que resulta na rejeição social. Há evidências nos textos de M ari em que o alcoolismo era visto como um a condi­ção favorável para receber oráculos divinos.28.15. pacto com a morte. É tentador ver nesta pas­sagem um acordo ou ato de subm issão ao deus ca- naneu M ot ("m orte") ou ao deus egípcio da morte, Osíris (ver 30.1-2). A m bos representariam alianças políticas com diversas nações siro-palestinas ou com o Egito, contra a Assíria. O profeta alerta os israelitas, porém, que isso é loucura e um sinal de sua impieda­de (ver Jó 8.5-21). Como o herói mesopotâmio Gilga- m és aprendera, nenhum hum ano, exceto em raros casos (Enoque, Elias, Utnapishtim) escapa da morte (Jó 30.23).28.16. fu nção arqu itetônica da pedra angular. Nosprojetos arquitetônicos israelitas da Idade do Ferro, era cada vez m ais crescente o uso de alvenaria de pedras lavradas em oposição às construções feitas de pedras brutas em períodos anteriores. A fim de ga­rantir estabilidade e unir duas paredes adjacentes, um bloco de pedra finam ente talhada era inserido como pedra angular, a fim de amarrar as paredes. Era um a pedra de tam anho m aior que as norm almente usadas e sua inserção muitas vezes exigia um esforço especial ou rituais. Sua superfície larga e lisa era o local ideal para inscrições de frases religiosas, do nome do arquiteto ou rei responsável pela obra e da data da construção. É possível que a pedra angular também fosse a pedra fundam ental. Para inform ações sobre esta última, ver os comentários em Esdras 3.3 e 3.10.28.21. m onte Perazim . Conhecido como Baal-Perazim em 2 Sam uel 5.18-20, dom ina as alturas do vale de R efaim (Js 15.8). Em bora sua localização exata seja desconhecida, o texto sugere que esteja situado a no­roeste de Belém, perto de Jerusalém.28.21. vale de G ibeom . G ibeom (el-Jib) está locali­zado cerca de dez quilômetros a noroeste de Jerusa­lém. É associado ao local onde Josué fez uma aliança com os gibeonitas (Js 9.3-10.15) e para onde expulsou um exército cananeu de Gibeom até o vale de Bete- H oron (Js 10.9-11). Nesse caso, porém, Yahw eh rever­terá seu papel com o G uerreiro D ivino e perm itirá que os israelitas sejam derrotados neste lugar de vitó­rias passadas.28.25. m étodo de semeadura. Dois métodos de seme­adura são empregados aqui. O endro, um condimen­to, e o cominho, um tempero e fonte de óleo, eram semeados com a mão. Isso era feito no terreno recém- arado após as primeiras chuvas. O trigo, a cevada e o trigo duro tinham de ser tratados com mais cuidado

para evitar que as sementes se m isturassem. Parece que os israelitas usavam um a sementeira para fazer buracos nos sulcos abertos no terreno pelos bois que puxavam o arado pelos campos. Um homem ia atrás mantendo a sementeira cheia de sementes que eram derrubadas nas covas já preparadas. A ação do arado então cobria a semente. Representações de sementei­ras são encontradas na arte cassita e assíria.28.27. debulha do endro e do com inho. As sementes desses dois condimentos são muito frágeis para usar os instrumentos mais pesados de debulha. Uma vara ou um pedaço de pau seriam ideais para fazer a debu­lha sem causar danos às sementes.28.28. seqüência de produção da farinha. Não é pos­sível fazer pão se o agricultor executa apenas um a etapa de suas tarefas. É necessário levar o cereal colhi­do para a eira onde é debulhado debaixo dos pés do boi (Dt 25.4) e mais tarde processado através de uma debulhadeira que passa por cima dos grãos. A trilha- deira m encionada aqui era um instrumento comum feito de m adeira com duas ou mais fileiras de rodas. Depois que o trigo era separado dos talos, tinha de ser escolhido, peneirado e depois as mulheres o m oíam em pedras de moinho para fazer a farinha usada na confecção de pães.

29.1-24 Ai da cidade de Davií29.1. Ariel. Este é um termo descritivo para a cidade de Jerusalém. O nom e em si refere-se à "fornalha de altar" (traduzido dessa form a no final do v. 2; ver tam bém Ez 43.15). Esse oráculo fala de um a cidade que será destruída como os sacrifícios que são trazidos ao altar.29.1. ciclo de festas. Ver os com entários em Êxodo 23 .15 ,16 e Deuteronômio 16.9-17 para descrições da festa do pão sem fermento, festa da colheita e Festa das cabanas, que eram as principais festas agrícolas do calendário israelita. O calendário de Gezer, o exercí­cio escolar de um estudante do século dez a .C , feito num pequeno tablete de pedra calcária, tam bém apre­senta um a análise do ano a partir do plantio, das colheitas e das festas.29.2. fornalha de altar. A fornalha era a parte superi­or do altar onde o sacrifício era queimado (Lv 6.9) e de onde os chifres se projetavam em cada canto (1 Rs2.28). Em Ezequiel 43.15, a fornalha do altar na visão do templo reconstruído de Jerusalém é descrita tendo cinco metros quadrados.29.3. torres e obras de cerco. V er o com entário em 23.13 para um a descrição de torres erigidas por um exército quando atacava uma cidade m urada. Rele­vos assírios ilustram essas torres móveis bem como engenheiros cavando túneis para abalar a estrutura

dos muros, aríetes sendo usados nos m uros e portas das cidades e rampas de cerco feitas para facilitar o movimento das torres (Jr 32.24). Havia tam bém acam­pamentos no cerco para abrigar o exército e evitar que os habitantes da cidade fugissem (ver 2 Rs 25.1; Jr52.4). Um dos exemplos mais impressionantes ainda preservado são os vestígios do primeiro século d.C. dos acampamentos romanos e dos muros que cerca­vam a fortaleza judaica de Massada.29.6. características da teofania. Ver o comentário em28.2.29.10. cabeças cobertas dos videntes. Fechar os olhos e cobrir as cabeças provavelm ente são im agens da morte aqui, visto que estão em paralelo com o sono profundo do início do versículo. Ambas as frases, po­rém, foram usadas apenas aqui e, portanto, são difí­ceis de decifrar.29.11. palavras seladas num livro (rolo). Documentos oficiais eram escritos em rolos de papiros ou pergami­nhos e, depois, quando armazenados ou enviados por um mensageiro, enrolados com um cordão e selados (ver 1 Rs 21.18; Jr 32.10, 11). O selo, de um anel ou sinete, era im presso em cera ou em um a pelota de argila conhecido como bula (Jó 38.14). Os arqueólogos encontraram muitas dessas bulas de argila com o nome de oficiais israelitas.29.17. Líbano. Usando a m esma figura da natureza in­vertida encontrada em 32.15, o profeta descreve como as montanhas do Líbano, citadas no épico de Gilgamés e na Lenda Egípcia de W enam om por suas florestas de cedro, se transform arão em um campo fértil. Os cam­pos do Carmelo se transformarão em floresta. O senti­do é do cumprimento da aliança e a ampliação da fer­tilidade que restaurará a sorte a Israel.

30.1-33 Ai da nação obstinada!30.1. acordo. Ver o comentário em 28.15 e a exortação contra fazer "pacto com a m orte", referindo-se a acor­dos políticos com os egípcios.30.2. o papel do Egito. D urante o reinado de Eze- quias, a 25a Dinastia egípcia de origem núbia e o faraó Shabaka continuamente tentaram fomentar a revolta entre os povos siro-palestinos contra a Assíria. O rela­to de Senaqueribe de sua campanha em 701 a.C. con­tra um exército egípcio o levou até Eltekeh, a apenas cerca de 160 quilômetros da fronteira do Egito. Nos dias de Josias foi o faraó Psammeticus I quem aprovei­tou-se do crescente enfraquecim ento da Assíria, no fim do reinado de Assurbanipal (627 a.C.). Ele tam ­bém esperava expandir a influência do Egito, mas foi impedido pela potência que surgia na Babilônia.30.4. Z oã e H anes. Isaías enfatiza a fu tilidade das propostas diplomáticas de Ezequias ao Egito. Ele diz

que, apesar de embaixadores terem viajado até a ca­pital egípcia em Zoã (Tânis, no alto do Delta, 46 qui­lômetros ao sul do Mediterrâneo) e até Hanes (Hera- cleópolis Magna, 72 quilômetros ao sul do Cairo, na m argem oeste do N ilo), sua m issão seria em vão. Hanes foi uma importante capital regional sob o go­vernante Shabaka, da 25a Dinastia, e também duran­te o reinado de Psammaticus I (663-609), da 26a Dinas­tia. Teria sido necessário que Ezequias enviasse re­presentantes para encontrar-se com os líderes egípci­os dessas duas importantes cidades, a fim de iniciar acordos de aliança ou planejar estratégias contra a Assíria.30.6. anim ais do N eguebe. Os perigos de viajar pelo terreno difícil do árido Neguebe são ampliados pela referência a anim ais selvagens que atacam os desa­percebidos e incautos. Vestígios de carnívoros como leões e leopardos aparecem em escavações desde o Calcolítico até a Idade do Ferro. Serpentes venenosas, inclusive víboras e cobras, tam bém existem na área. Os anais do rei assírio Esar-Hadom descrevem uma "serpente voadora" que destruiu sua campanha (ver N m 21.8; Is 14.29).30.6. caravana do N eguebe. A caravana descrita aqui provavelmente trata-se dos embaixadores de Ezequias. A rota que tom aram evitava a estrada costeira normal que fora bloqueada pela Assíria durante o reinado de Senaqueribe. A alternativa foi seguir para o sul até Áca- ba e cruzar o Sinai até o Egito. É possível que na ba­gagem houvesse todo tipo de m ercadorias caras cujo objetivo era induzir o Egito a envolver-se: incenso, re­sinas para cosméticos e embalsamamento, barras de co­bre ou ferro fundido, índigo, m arfim e lápis-lazúli.30.7. R aabe. Em bora não seja m encionado em n e­nhu m outro texto fora da Bíblia, o term o Raabe é comparável ao monstro do caos, Leviatã, que também assume a forma de uma serpente que se contorce (Jó26.12, 13; ver o com entário em Is 27.1). Raabe tam ­bém é usado como sinônimo para Egito. Por exemplo, em Salmo 87.4 as principais nações são alistadas como subjugadas pelo poder de Yahw eh. Raabe, o nome metafórico do Egito, é colocado ao lado da Babilônia em termos de importância. O sinal futuro do caráter duplo de Raabe pode ser visto em 51.9-11, uma passa­gem que se refere à destruição do monstro por Yahweh (ver SI 89.10) bem como à ação de Deus que "seca o m ar", um a referência clara à tradição do êxodo e à derrota do Egito. Em 30.7, o profeta zom ba de um Egito/Raabe impotente, incapaz de ajudar Israel ou im pedir o avanço da Assíria.30.8. tábua, livro (rolo). Embora a menção a tábua e livro possa simplesmente ser um paralelismo, escre­ver uma profecia em um tablete de argila (ou possi­velmente um óstraco) e em um rolo pode ser um sinal

de d e stru içã o im in en te . P or ex e m p lo , no texto pseudepígrafo do primeiro século, A Vida de Adão e Eva, Eva orienta seu filho Sete a escrever seu "testa­m ento da queda" em tabletes de pedra e de argila para assegurar que algum desses registros sobreviva a um dilúvio ou a um incêndio. Essa ordem de escre­v er tam bém se en con tra em 8.1, Je rem ias 30 .2 e Habacuque 2.2. Assim como a palavra falada, o pro­cesso de escrita legaliza a profecia e também a preser­va para que gerações futuras possam vê-la.30.10. profetas m anipulados. Era comum Deus acu­sar os israelitas de terem ignorado os profetas ou lhes m andado profetizar apenas palavras e visões agra­dáveis (ver Jr 7.25, 26; A m 2.12). Em todo o mundo antigo acreditava-se que os profetas não apenas pro­clam avam a m ensagem da divindade, m as no pro­cesso, liberavam a ação divina. Não é de se espan­tar que houvesse tentativas de controlar um profeta cujos oráculos fossem negativos. N as instruções do rei assírio Esar-Hadom a seus vassalos, ele exige que façam relatórios de qualquer afirmação imprópria ou negativa proferida por qualquer pessoa, mas especi­ficam ente por profetas, intérpretes de sonhos e pra­ticantes de adivinhação estática. Pode-se entender por que as pessoas estariam inclinadas a desencorajar profetas cujas palavras poderiam provocar desgraça ou destruição.30.13, 14. im agem de desm oronam ento de m uros.Considerando-se o amplo uso de tijolos de barro na arquitetura do antigo O riente Próxim o, é provável que a queda de muros fosse um a ocorrência bastante comum. Pinturas de túmulos egípcios ilustram o proces­so de m isturar argila, água e palha para fabricar tijo­los em m oldes (ver Êx 5 .7 ,8 ). Com o passar do tempo, os tijolos começavam a partir-se, esfarelar e a perder estabilidade. Se os tijolos tivessem sido apenas se­cados ao sol e não queimados em fornos, o que au­m entava sua durabilidade, estavam sujeitos a ruir sob o peso de um a parede alta. Esse desmoronamento se manifestava inicialmente em rachaduras e abaula- mentos e, com o tempo, toda a estrutura viria abaixo, num a verdadeira avalanche de alvenaria (ver 9.10). Para evitar construções mal feitas e aum entar a vida útil dos muros de tijolos, o Código deHam urabi estabe­lecia severas punições para construtores descuidados.30.22. profanação de íd olos. N ão existia nenhum a substância mais profana do que o sangue menstrual (Lv 15.19-23) e, para o povo, nenhum objeto m ais profano do que um ídolo (Dt 4.15-19). Aqui, então, os ídolos, geralmente dentre os m ais preciosos objetos da cultura, seriam tratados como o mais asqueroso trapo imundo.30.24. forragem e sal espalhados com forcado e pá.Por causa do retom o do povo à obediência da aliança,

até m esm o seus anim ais de carga desfrutariam da abundância providenciada por Deus. A forragem para animais geralmente era constituída de restos dos cere­ais que sobravam no processo de debulha. O signifi­cado comum para forragem é "pequenos pedaços de palha" que podiam ser misturados com cevada. Aqui, porém, o gado é engordado com alimento especial­mente preparado para ele usando um a pá de madeira e um forcado. Esses dois im plem entos ajudavam a separar os cereais da palha e eram usados para fazer montes.30.28. peneira da destruição. Os dois tipos de peneira usados pelos agricultores israelitas conseguiam dife­rentes resultados. A kébara (Am 9.9) tinha buracos m aiores que retinham pedras e outros objetos, à me­dida que o trabalhad or peneirava o cereal para a frente e para trás. A peneira nesta passagem, a napa, tinha buracos menores e o objetivo de separar a sujei­ra m enor do cereal através de um m ovim ento para cima e para baixo. Essas imagens servem como uma ótima metáfora da ação do julgam ento de Deus.30.30. características da teofan ia. Ver o comentário em 28.2.30.33. T o fete . Essa é a única ocorrência na Bíblia hebraica em que a palavra Tofete é usada como um substantivo, significando "crem atório" ou "p ira". A ira de D eus literalm ente queim aria o rei assírio de forma bastante semelhante à que os sacrifícios eram oferecidos ao deus Moloque, no lugar cultual do vale de Hinom, perto de Jerusalém (2 Rs 23.10). De fato, o rei assírio Sin-Shar-Ishkun m orreu nas chamas de seu palácio quando a cidade de Nínive foi destruída em 612 a.C..30.33. enxofre ardente. Enxofre moído bem fino pode aum entar a intensidade e o brilho de um a cham a. Talvez por causa dessa propriedade, esse elem ento tornou-se um símbolo da ira divina. N essa imagem da pira funeral da Assíria, a imagem do enxofre en­grandece o poder de Deus para punir a nação inimi­ga. Misturado com sal, o enxofre também pode sugar a fertilidade do solo, novamente um sinal do extremo descontentamento de Deus.

31.1-9 Ai dos que confiam no Egito!31.1. papel do Egito. Ver o comentário em 30.2.31.8. destino da A ssíria. O destino final da Assíria é sua aniquilação enquanto nação por uma coalizão de Estados encabeçada pelos caldeus da Babilônia e pe­los medos. A Crônica Babilónica descreve como Nínive cai diante de um exército aliado liderado por Nabo- polassar, rei da Babilônia, e pelo governante medo, Cyaxares, em 612. A batalha final de Carquemis, em 605 d em on strou a h ab ilid ad e do líd er bab ilôn io

Nabucodonosor de desmoralizar totalmente as tropas de choque assírias, anteriormente invencíveis, e seus aliados egípcios. Portanto, a mão de Yahw eh e a per­da da forte liderança assíria após a morte de Assurba- nipal, em 627, significou a elim inação da influência daquele povo no antigo Oriente Próximo.

32.1-8 O reino de justiça32.1-5. visões de m elhores dias. Esses versículos apre­sentam o oposto da situação vivida por Isaías na nar- ativa de seu chamado em 6 .9 ,10 . O que muda a sorte de Israel é o surgimento de um rei justo que garante o cumprimento da lei e mantém a ordem. Afirmações como essas fazem parte da tradição sapiencial do an­tigo Oriente Próximo que inclui obras do Egito e da M esopotâm ia sobre o "justo re i". Dentre elas encon­tra-se a Lenda do Camponês Eloqüente, um texto egípcio que descreve um rei justo como o "p ai e a m ãe do órfão". Igualmente, o sábio egípcio do oitavo século, Ankhsheshonqy, afirm a que "abençoada é a cidade cujo governante é justo".

32.9-20A s m u lh e r e s d e Je r u s a lé m32.11. pano de saco em volta da cintura (vestes de lam ento). U m dos rituais associados ao luto e à súplica era vestir pano de saco (Gn 37.34; 1 Rs 20.31, 32). A representação pictórica dessa prática é encontrada no sarcófago do rei fenício Airão (c. 1000 a.C.) que ilustra duas mulheres e outras figuras realizando atos simbó­licos associados ao passamento dos falecidos.32.14. cidadela e torre. As Cartas de Láquis, que da­tam do início do sexto século e da invasão de Judá por Nabucodonosor, descrevem sinais de fogo que eram acesos nas torres de cada um a das im portantes ci­dades situadas nas fronteiras. O escritor dessa pas­sagem pode estar se referindo a essas torres de defe­sa/sinais, ou é possível que a palavra para cidadela ('ophel) refere-se a uma parte de Jerusalém onde havia uma torre de vigia (ver o comentário em N e 3.26).

33.1-24Aflição e auxilio33.4. gafanhotos. A imagem de gafanhotos como um exército invasor varrendo a terra e acabando com suas plantações e riquezas é desenvolvida de form a mais completa em Joel 1.4-12 e Amós 7.1, 2. A ironia dessa passagem de Isaías é que a antiga destruidora, Assí­ria, agora será atingida de forma m ais devastadora do que o foram suas vítimas.33 .9 . L íb a n o , Saro m , B a sã , C arm e lo . O abalo n as funções normais da natureza, aliado ao triste lamento de áreas conhecidas por sua fertilid ad e, m ais um a

vez refletem o descontentam ento de D eus em ação (ver 24.4-7; o comentário em 24.1-13). O itinerário vai de norte a sul: das florestas exuberantes do Líbano e das vinhas do vale de Beqa' (SI 72.16; Os 14.7) para o sul até a fértil planície de Sarom e a planície costeira (Ct 2.1), para o leste da Galiléia até o planalto de Ba- sã e suas excelentes áreas de pastagens (SI 22.12) e dali novam ente para o sul, até a cadeia m ontanhosa do Carmelo, conhecida por seus rebanhos (1 Sm 25.2; Jr 50.19).33.18. o ficia is . Todo governo precisa de burocratas para conduzir seus negócios. Nessa visão do futuro, quando o rei de D eus reinará de novo, o povo se lembrará dos "terrores passados" quando suas vidas e destinos estavam presos às atividades de homens que registravam o pagamento de impostos, calcula­vam os valores recolhidos e determinavam ("encarre­gado das torres") quantos soldados seriam necessários para suprir as guarnições assírias (para as quais devi­am fornecer tropas). Os textos de M ari contêm uma série de cartas enviadas a oficiais locais remetidas por governadores das províncias e pelo rei, orientando-os na execução dessas tarefas. Caso falhassem no cum ­primento dessas tarefas (recolher impostos ou recrutar trabalhadores e soldados), esses oficiais seriam tão severamente castigados que a simples ameaça recebi­da garantia que eles, por sua vez, fossem um "terror" para o povo que oprimiam.33.19. lín g u a estran ha. O s co letores de im postos assírios, alguns dos quais podem ter vindo de diver­sas partes do império, falavam aramaico, enquanto a m aioria dos israelitas falava apenas hebraico (ver 36.11). É provável que eles tam bém tivessem estra­nhos sotaques, o que aumentava a sensação de contro­le estrangeiro e opressão que o povo de Judá experi­mentava (ver Jr 5.15 a respeito da mesma reação de­baixo do domínio babilónico).33.22. papel do legislador. Um dos atributos reivin­dicados por todos os reis era o de ser "legislador". Por exem plo, desde o final do terceiro m ilênio , o rei sum ério U rukagina, de Lagas, e o rei neo-sumério, Ur-Nammu, se comprometem em suas inscrições re­ais a "não entregar a viúva e o órfão aos poderosos". Nessa mesma linha, o prólogo do século dezoito a.C. do código de leis de H amurabi contém uma afirmação de que ele havia sido nom eado pelos deuses para "fazer com que a justiça prevalecesse na Terra" de modo que "o s fortes não oprim issem os fracos". A sem elhança das expressões nesses textos, somada à linguagem de 2 Samuel 8.15 em que Davi é descrito como "adm inistrando o direito e a justiça sobre todo o seu povo" sugere um a tradição com um no antigo Oriente Próximo sobre o "rei justo". Porém, quando o monarca falhava em executar essa tarefa básica, Deus

entrava em cena para restaurar a ordem e a justiça (ver Ez 34.7-16).33.23. m etáfora do barco. Uma metáfora semelhante encontra-se em um a elegia assíria a respeito de uma mulher que morreu em trabalho de parto. Ela é des­crita como um barco que está à deriva com sua corda cortada e o assento do remador quebrado.

34.1-17 Julgamento contra as nações34.4. figu ra das estrelas desaparecendo. Sempre no controle de toda a criação, Yahw eh dem onstra seu senhorio sobre os céus e os corpos celestes fazendo com que o brilho deles se apague, numa inversão da criação. Importantes temas astrais da religião mesopotâ- mica incluíam a idéia de que os deuses tinham postos fixos nos céus e suas "sem elhança astral" demarcava as zonas do ano no calendário (por exemplo, no épico da criação babilónico, Enuma Elish). Nos presságios celestiais, o desaparecim ento de um a estrela ou de um planeta sempre sugeria que a divindade relacio­nada fora derrotada na batalha. As divindades astrais eram consideradas os deuses mais poderosos e proe­minentes. A dissolução das estrelas e a queda do exér­cito celeste, portanto, estão relacionadas. Tanto a m a­nifestação natural como a divindade atrelada a ela são subjugadas nesse ato de julgamento. Além disso, os sonhos de presságios da M esopotâm ia afirmam que ver uma estrela caindo é um mau agouro. N a des­truição descrita em Erra e Ishum, Erra diz que fará os planetas perder seu esplendor e arrancará as estrelas do céu.34.4. os céus se enrolando como um pergam inho. Oscéus são comparados com mais freqüência a uma ten­da (Is 40.22; SI 104.2) estendida sobre a Terra. Essa im agem em Isaías de todo o firmamento sendo enro­lado como um pergaminho é única na Bíblia hebraica (ver o paralelo do N ovo Testam ento, em Ap 6.14). Além disso, os três principais deuses babilónicos não são representados por estrelas e sim pelo próprio céu. Anu é o deus-céu e o horizonte é dividido em três caminhos (relacionados aos deuses Anu, Enlil e Ea). Portanto, enrolar os céus é um ato de julgam ento con­tra as três principais divindades do mundo antigo.34.5. papel de Edom. Visto que a m aior parte dessa passagem (ver v. 1-4) está relacionada ao castigo de D eus sobre as nações, pode ser que a descrição de Edom como uma vítim a sacrificial seja simplesmente um exemplo do que acontecerá a todas elas (compare com 63.1-6). Certamente Edom serve em muitos casos como o protótipo do "in im igo" de Israel (ver Ob 5-9; M l 1.2-4). A ausência de um a ação específica de Edom no final do oitavo/início do sétimo século contra Jeru­salém (ver, no entanto, 2 Cr 21.8-10) convenceu m ui­

tos eruditos de que essa passagem é uma referência ao papel de Edom como aliado da Babilônia em 587a.C. (ver Ez 35.2-15).34.6. Bozra. Essa é a capital do antigo Edom e deve ser identificada com Buseirah, na região norte do país. Ela guarda uma parte da Estrada do Rei e é relativa­mente próxim a às m inas de cobre encontradas oito quilômetros a sudoeste do uádi Dana. Escavações de­m onstraram que os sedimentos do sétimo e do sexto século contêm vestígios das maiores e mais fortificadas ocupações da área.34.9. piche e enxofre. Em bora muitas vezes mencio­nado como um material selante para barcos (ver Gn 9.14; Êx 2.3), o piche ou betum e fervente aparece em textos da Antiga Babilônia como uma form a de casti­go. Ao lado do cheiro repugnante de enxofre ardente, am bos m ateriais estavam disponíveis na região do mar Morto e poderiam facilmente ser associados à ira de Deus (ver G n 19.24).34.11. coru jas e corvos. O símbolo m áximo de des­truição aqui é que aves conhecidas como carniceiras e habitantes de lugares desolados (Jó 38.41; SI 102.6) fizeram ninho nas ruínas das cidades (ver Is 13.22). Um paralelo dessa imagem encontra-se no texto egíp­cio Visões de Neferti (c. 2000 a.C.) que descreve o Egito tão fraco como um "pássaro estranho que faz seu ni­nho perto das pessoas" e "rebanhos do deserto bebe­rão das águas do Nilo".34.13-15. chacais, h ienas, falcões. A visão que Isaías tem da desolação de Edom se encerra com a descrição de uma terra entregue a carniceiros e fantasmas (ver Jr 9.11). É fácil im aginar como o grito de chacais e hienas soaria proveniente dos demônios para pessoas que temiam por suas vidas (Mq 1.8). Alguns comen­taristas interpretam Lilit, o demônio feminino notur­no da M esopotâmia, como uma das criaturas noturnas (v. 14) que habitam esse m undo de pesadelo.

35.1-10A alegria dos redimidos35.2. Carmelo e Sarom. Com a eliminação de Edom, as regiões ao norte daquela terra são libertadas da opressão e sua fertilidade e prosperidade são restau­radas. Isso inclui Carmelo e Sarom (ver o comentário em 33.6, onde a im agem é oposta), a área ao longo do norte da planície costeira de Israel. Até m esm o partes desérticas da Arabá (no vale do Jordão; Jr 17.6) se tom arão ricas e exuberantes de vida, tal como essas áreas norm almente férteis.35.7. contraste entre chacais e relva, ju nco e papiro.Os chacais são criaturas de estepes e regiões desérticas, vagando num cenário árido e desabitado (Ml 1.3). Na visão de Isaías de um jardim substituindo o que outro- ra fora deserto, esses antros de predadores selvagens

se transformarão em terras úmidas como as do vale de H ulá (ver 43.20). A área pantanosa permanecerá úmi­da o ano todo, permitindo o crescimento de relva e de papiro (ver Jó 8.11-13 e Is 19.5, 6).

36.1-37.38O cerco de Senaqueribe a JerusalémV er os comentários em 2 Reis 1 8 ,1 9 e 2 Crônicas 32.

38.1-8A doença de EzequiasVer os comentários em 2 Reis 20.

38.9-20A oração de Ezequias38.9. a carta de Ezequias. Um salmo de gratidão como esse, relacionado a uma situação que ameaçara a vida do rei, geralm ente seria inscrito em um a esteia de pedra. Um exemplo disso encontra-se na inscrição de Sin-Iddinam, que foi rei na cidade de Larsa, no século dezenove a.C.. Em um a carta endereçada ao deus Nin-Isina (conhecido como "aquele que cura") o rei apresenta sua piedade, benevolência e retidão como razões para que o deus lhe estenda sua cura miseri­cordiosa, o que lhe é concedido.38.11. ver o Senhor. Ezequias não encara "ver o Se­nhor" como uma experiência na vida após a morte. Ver o Senhor envolvia cultuar no templo e desfrutar do favor de Deus nesta vida. Os versículos 18 e 19 continuam a deixar claro que o rei não previa nenhu­ma experiência positiva no além. Ver o com entário em 14.9 para m ais informações sobre as crenças israe­litas sobre a vida após a morte.38.12. m etáforas. O pastor se deslocava com freqüên­cia de um lugar para outro e, portanto, era capaz de desmontar seu acampamento rapidamente. O tecelão trabalhava num tear horizontal cujos fios ficavam es­ticados em barras entre estacas. Quando o trabalho precisava ser rem ovido, as barras podiam sim ples­mente ser tiradas das estacas e enroladas (ver o co­mentário em Jz 16.13 ,14). Quando o tecelão termina­va um pedaço de tecido, os fios que conectavam o material ao tear tinham de ser cortados. O tecido da vida de Ezequias havia se com pletado e agora ele seria cortado da terra dos viventes. A vida ou a histó­ria como um pedaço de pano sendo tecido existe na mitologia grega, mas não foi identificada na literatura do antigo Oriente Próximo.38.20. cantar com instrum entos de corda. O envolvi­m ento do rei na com posição de salm os é bastante conhecido particularm ente por causa de D avi, mas não começou nem terminou com ele. Desde o final do terceiro m ilênio, Shulgi, rei de Ur, era fam oso por seus hinos em que orações eram feitas pela saúde e

pelo bem -estar do rei. M ais tarde, no período romano, Nero foi patrono das artes e se considerava um com­positor de primeira categoria. O rei ideal era um rei sábio e a música era uma das áreas da sabedoria.

40.1-31Consolo para o povo de Deus40 .3 ,4 . construção de estradas no antigo O riente Pró­ximo. A maior parte das estradas do antigo Oriente Próximo não era pavimentada (exceto algumas estra­das no final do período assírio). Embora não fossem pavimentadas, as estradas usadas para o transporte em veículos de rodas (chamadas de "estradas de car­ros", nos textos de Nuzi) tinham de ser demarcadas, aplainadas e passavam por m anutenção periódica. Porém, poucos textos descrevem a construção e a ma­nutenção dessas estradas. As estradas para o transpor­te pesado eram raras e acompanhavam as rotas co­merciais. Por isso, um rei vassalo queixou-se ao rei de Mari por ter que chegar à capital síria por um a rota alternativa ao longo de uma estrada principal. Os reis assírios raramente se gabavam de suas construções de estradas, um a vez que parece que elas eram de res­ponsabilidade das populações locais. Em um texto de tratado, Esar-Hadom ordena que, quando seu filho o sucedesse, o vassalo deveria submeter-se a ele e "aplai­nar seu caminho em todos os aspectos".40.3-9. voz no deserto, portador de notícias. O s men­sageiros eram conhecidos no mundo do antigo O rien­te Próximo. Eles desempenhavam um a função essen­cial como portadores de notícias políticas e cívicas aos habitantes de um a cidade. Praticam ente todas as cida­des tinham um porta-voz que anunciava importantes notícias aos habitantes. Invasores estrangeiros com freqüência enviavam um arauto a uma cidade para discutir os term os de rendição. U m exemplo sem e­lhante à visita de Rabsaque a Jerusalém é quando os assírios enviaram um arauto à Babilônia para discutir as condições de negociação durante um ataque no sétimo século no sul da Mesopotâmia.40.6, 7. m ortalidade hum ana. A consciência da exis­tência fugaz e da mortalidade hum ana não é exclusi­va ao antigo Israel. D e acordo com o épico mesopo- tâmico de Gilgamés, os deuses decretaram a mortali­dade aos hum anos, enquanto a imortalidade foi re­servada para os próprios deuses. Não obstante, o rei sumério Gilgamés partiu em muitas aventuras a fim de obter a im ortalidade. Prim eiro, ele tentou obter um tipo de imortalidade através da procriação, depois tom ando-se famoso através da destruição de inimigos não humanos e, por último, indo em busca de Utna- pishtim, o herói do dilúvio, que recebera a imortali­dade dos deuses. Embora Gilgamés tenha sido bem- sucedido em encontrar o herói do dilúvio e em locali­

zar a "planta da vida", altruisticamente ele quis levar a planta consigo para sua cidade (Uruk), para que todos os cidadãos pudessem compartilhar das propri­edades daquela planta. Infelizmente a planta foi rou­bada por um a cobra e Gilgamés voltou para casa de m ãos vazias. Porém , o leitor é relem brado de que G ilgam és constru iu os m uros de U ruk, que ainda existiam e, portanto, havia conquistado uma forma de imortalidade. Assim, o épico era em parte uma expli­cação para algo que todo mesopotâmio sabia: a vida é curta e na morte o ser humano ficava confinado a uma existência terrível no mundo inferior.40.8. o que perm anece para sem pre no antigo O rien­te Próxim o. O conceito de "para sem pre" no antigo Oriente Próximo tinha a conotação de tempo contínuo e p erm an en te e não de tem p o sem fim . O s re is

mesopotâmios esperavam que seus nomes se estabe­lecessem "para sem pre". Os reis doavam proprieda­des para indivíduos e suas fam ílias "p ara sem pre" (i.e., perpetuamente). De acordo com o épico de Gil­gam és, apenas os dias dos deuses eram "para sem ­pre" (contínuos), enquanto os dias dos hum anos eram "contados". O conceito de um a palavra que permane­ce para sempre tem paralelo na determinação de des­tinos. No épico de Gilgamés, Enkidu usa uma maldi­ção para "d eterm inar o destino" de Sham hat para sem pre. Inscrições assírias tam bém referem -se aos deuses cujas ordens não podem ser modificadas e cujas palavras são válidas para sempre. No Enuma Elish, o líder rebelde Kingu e M arduque têm seus destinos determinados para que seu domínio não seja alterado e sua palavra seja eterna.

40.10. recom pen sa do re i no retorno da batalh a. Ostermos para recompensa e pagamento são palavras téc­nicas para tributo ou despojos levados para casa pelos guerreiros e reis vitoriosos nas batalhas. Os reis assírios faziam menções específicas aos grandes despojos obti­dos dos povos conquistados. Por exemplo, Senaqueribe con stru iu um quarto de L áqu is em seu p alácio de Nínive para abrigar todos os despojos recolhidos des­sa cidade fortificada de Judá, quando foi destruída em 701 a.C.. A volta para casa após uma batalha bem -su­cedida era um a oportunidade para distribuir recom ­pensas àqueles que eram os favoritos do rei.40.11. rei como pastor. A ideologia do rei como pastor

ao seu povo encontra-se em Lugalzagessi, de Sumer, desde c. 2450 a.C.. O rei contemporâneo Urukagina, de Lagash, afirmava que o deus Ningirsu possuía seu Estado e que o rei fora escolhido como um "pastor" para administrar a cidade em nome dos deuses e do povo. Durante muito tempo essa ideologia continuou no antigo Oriente Próximo até o período da m onar­quia israelita.

40.12. ordem no cosm os. Era tarefa da divindade principal colocar ordem no cosmos. No Enuma Elish (épico babilónico da criação), a divindade Marduque, após ter derrotado a deusa Tiam at, "atravessou os céus e vistoriou as regiões; ajustou o abrigo de Apsu, a morada de N udimm ud e mediu as dim ensões de A psu ". Ele continuou a organizar as constelações, imagens astrais divinas e outros corpos celestes.40.13,14 . concílio dos deuses no antigo O riente Pró­ximo. No antigo Oriente Próximo as principais deci­sões eram tomadas no concílio divino. Lá os deuses se consultavam e compartilhavam informações e opini­ões. No épico babilónico da criação, Apsu e Tiamat, os deuses que geraram todas as criaturas viventes, ti­nham como seu conselheiro de confiança M ummu, que muitas vezes os repreendia. Quando o alto concí­lio dos deuses se reuniu para determinar como atacar Tiam at, eles se em bebedaram e subseqüentem ente escolheram M arduque como seu rei, aceitando suas duras exigências de controle absoluto. Isaías insiste que Yahw eh não tem conselheiros nem trabalha em conjunto com uma assembléia de deuses (embora acre­ditava-se que um concílio divino semelhante estives­se em funcionamento; ver o comentário em Ex 20.3 e 2 Cr 18.18).40.15. pó qu e resta na balança. O pó da terra era usado para expressar humilhação, pequenez e insig­nificância no Antigo Testamento. Nessa passagem, o pó das nações não faz diferença nas balanças. Os babilô­nios não levavam em conta um pouco de poeira que ficava nas balanças quando carne ou frutas estavam sendo pesadas.40.16. florestas e vida selvagem no L íbano. Os is­raelitas consideravam que a terra com as maiores flo­restas e com m aior variedade de espécies animais era o Líbano. Além de fornecer madeira para o templo de Salomão, os cedros do Líbano foram usados para fa­bricar barcaças sagradas no Egito e os navios de Tiro. E, ainda, os assírios cobravam um tributo sobre a madeira do Líbano para construção de templos.40.19. confecção de ídolos. A s imagens no antigo Ori­ente Próximo eram fundidas ou entalhadas. ídolos de m adeira eram confeccionados por um escultor que es­tendia um a linha sobre a madeira para m edir o com­prim ento e a largura da imagem. Depois ele fazia um esboço do ídolo com seu estilo, e com o cinzel desbas­tava o excesso de madeira e dava form a à imagem, co­locando cada parte do corpo na proporção certa. Aqui, porém, a referência é claram ente a imagens fundidas. Elas tinham de 10 a 25 centímetros de altura. O molde era feito revestind o pequenas estátuas de cera com argila, derretendo a cera e assando a argila. O bronze então era derramado no m olde através de um tubo na base dos pés que m ais tarde serviria com o um pino

para fixar o íd olo n um a base de m adeira. O m etal fundido era então revestido de lâmina de ouro ou prata usando um pequeno martelo para prendê-lo às pontas que tinham essa finalidade. Havia também encaixes ou ranhuras no m etal fundido para que os fios de ouro ou prata (NVI: "correntes") pudessem ser introduzidos. Depois um a sólida madeira era escolhida como base. Sugestões recentes identificaram a madeira como sissó, parecida com a teca, árvore originária da índia. Lite­ralm ente m ilhares de ídolos foram desenterrados por arqueólogos em todo o Oriente Próxim o.40.22. cúpula da Terra. A imagem do Universo des­crita aqui é a visão cosm ológica com um do antigo Oriente Próximo. O céu era uma cúpula que formava uma abóbada sobre o disco da Terra, que por sua vez se assentava sobre o oceano primevo. Debaixo desse oceano ficava o m undo inferior, literalm ente um a im agem em espelho do espaço em cim a da Terra. P ortanto, todo o U niverso era um a enorm e esfera, cortada ao m eio pela terra. Não obstante, aqui é o próprio planeta que é descritao como circular. N a lite­ratura babilónica, Shamás é louvado como aquele que suspende dos céus o círculo das Terras. Igualmente, em uma oração a Sham ás e Adad, Adad faz chover sobre o círculo da Terra. O círculo simplesmente refle­te a curvatura do horizonte (portanto, em form a de disco) e não uma esfera (para a qual existe outra pala­vra no hebraico). No mundo antigo, a Terra era consi­derada circular.40.26. deuses criadores. Existem muitas tradições a respeito da criação em todo o antigo Oriente Próximo. Poucas delas, porém, falam da criação dos céus ou das estrelas. No prólogo a um tratado astrológico sumério, os três grandes deuses An, Enlil e Enki, são reconhe­cidos por estabelecer os céus e os deuses astrais e decretar o curso deles. Marduque, no épico babilónico da criação, recebe da assembléia dos deuses o poder de criar e faz um teste destruindo e recriando uma constelação. Após derrotar Tiamat, ele estabelece as posições dos grandes deuses e fixa as constelações.40.26. nom es dos exércitos celestiais. No épico babi­lónico da criação, M arduque construiu estações para os deuses nos céus e fixou sua semelhança astral (i.e., corpos celestes) como suas imagens. Logo, apesar de não ter de fato dado nom e às estrelas, ele nom eou um a divindade para cada respectiva estrela.40.27. 28. deuses desinteressados ou cansados. No mundo antigo, os deuses eram vistos com fraquezas hum anas e com freqüência não estavam atentos ou simplesmente desconheciam eventos que estavam em andam ento. U m resultado disso era que o panteão dos deuses estava constantemente logrando ou enga­nando uns aos outros. Por exemplo, quando Enlil cau­sou um dilúvio para destruir a humanidade, Enki o

logrou salvando um rem anescente de hum anos. É provável que Enki, por sua vez, foi enganado quan­do aconselhou o humano Adapa a rejeitar o "pão da m orte" na presença de Anu, o sumo deus. Em vez do "pão da m orte", Anu ofereceu a A dapa o "p ão da vid a", aparentem ente apanhando Enki de surpresa. Os deuses não eram infatigáveis. Eles tinham necessi­dades de alimento, bebida e abrigo. Na verdade, os humanos foram criados para fazer o trabalho pesado que os deuses não queriam fazer.

41.1-29O ajudador de Israel41.1. ilhas. As ilhas são uma referência às terras dis­tantes do Mediterrâneo. A palavra descreve qualquer lugar que pode ser alcançado através de viagem por m ar.41.7. artesão/ourives. Ver o comentário em 40.19. Nes­te versículo, o artesão é quem prepara o m olde e cria a estátua de metal fundido. O ourives fixa as lâminas e incrustações de ouro e de prata depois o que traba­lha com o martelo aplaina (alisa) e lustra (dá polim en­to) ao revestimento. O último passo é difícil de tradu­zir porque está cheio de termos técnicos, m as parece referir-se à introdução do prego (pino) no buraco da base de madeira.41.11, 12. sem elhança entre oráculos proféticos do antigo O riente Próxim o. Os oráculos proféticos não eram exclusivos em Israel. Eram um tema comum em certos períodos da Mesopotâmia. O maior acervo de oráculos proféticos encontra-se na cidade de M ari no médio Eufrates (c. 1800 a.C.). Em sua maioria esses oráculos tratam de um plano mundano, apresentando exigências (geralmente de natureza material) ao rei e seus conselheiros. M uitas vezes tam bém estão relaci­onados ao bem-estar do rei. Mais próximo à época de Isaías, os reis assírios Esar-Hadom e Assurbanipal re­ceberam oráculos relacionados à responsabilidade do rei de apascentar seu povo e agir de form a ju sta. Assim como os versículos aqui em Isaías, eles prom e­tem vitória contra os inim igos. Em um a profecia a Esar-Hadom, Istar afirma que seus inimigos rolarão diante de seus pés "com o maçãs m aduras".41.15. debulhador. O debulhador era uma grande pá de madeira com dentes de pedra ou ferro. Era usado para separar o cereal da palha antes de ser peneirado.41.16. peneira. O processo de peneira geralmente era feito no topo de montes, onde o vento levava a palha e perm itia que os grãos caíssem no solo. O cereal era jogado para cima com pás de madeira ou peneiras. Existem inúmeras ilustrações desse processo em rele­vos de paredes funerárias no Egito.41.19. reflorestam en to . O reflorestam ento de áreas era feito em pequena escala no mundo antigo. Os reis

assírios plantaram m uitos "jard ins" em suas princi­pais cidades, inclusive centenas de árvores, mas isso não pode ser considerado um reflorestamento em ter­mos integrais.41.25. paralelo entre norte e nascente. Não há contra­dição aqui, visto que ambas as afirmações dizem res­peito a Ciro, rei da Pérsia, que era do oriente mas pisou nos "governantes" (Babilônia) do norte, con­quistando a Armênia e o norte da Mesopotâmia pri­meiro. O m esm o Ciro é descrito vindo do leste (41.2).

42.1-25O servo do Senhor42.5. criador dos Céus, da Terra e das pessoas. Os deu­

ses criadores do antigo Oriente Próximo eram mais li­mitados na sua abrangência da criação. Com freqüên­cia os elementos cósmicos são gerados pela procriação dos deuses, em bora em algumas versões esse proces­so pode ter sido supervisionado por um a divindade criadora. Especialmente nas tradições m esopotâmicas, as pessoas são criadas por uma divindade distinta. As tradições egípcias apresentam a tendência de fundir a atividade criadora em um a única divindade.42.9. proclam ando o passado e o futuro. Os deuses do antigo Oriente Próximo não eram capazes necessa­riam ente de predizer o futuro. O futuro estava nas m ãos do Destino, uma força impessoal que controlava a sorte das coisas. Enki, o deus da sabedoria, usava um chapéu de feiticeiro, mostrando que tentava con­trolar e predizer o destino, tal como um feiticeiro hu­mano. O futuro estava escrito em tabletes e quem os controlava tinha em mãos o destino do Universo. Se caíssem em m ãos erradas, haveria caos no mundo. Em um mito, uma divindade-pássaro (Anzu) roubou os tabletes do destino, causando um verdadeiro alvo­roço na comunidade divina, até ser morto. De qual­quer maneira, não era da natureza dos deuses predi­zer o futuro, ao contrário, era um atributo que eles desejavam possuir e controlar.42.11. Quedar e Selá. Quedar era uma tribo nômade árabe que vivia no norte da Arábia entre Edom e a Babilônia, enquanto Selá era um a capital edom ita, possivelmente localizada na área que mais tarde seria Petra. Ambos representam áreas remotas do deserto e das montanhas, convidadas a adorar a Yahweh.42.13. gu erreiro d iv ino . N a tem ática do guerreiro divino, a divindade luta contra as divindades do ini­

migo, derrotando-as nas batalhas travadas. N a Assíria, Nergal é o rei da batalha e Istar é considerada a deusa da guerra. O deus cananeu Baal e o babilônio M ar- duque tam bém são guerreiros divinos. Esses duelos entre os deuses não devem ser encarados como uma "guerra santa", já que no antigo Oriente Próximo não

havia outro tipo de guerras. Na m aioria das situações, faziam -se orações e consultavam-se presságios a fim

de assegurar a presença da divindade nas frentes de

batalha. Imagens ou símbolos (bandeiras e estandar­tes) da divindade eram carregados para representar

sua presença com o exército. Os reis assírios dos sécu­

los oitavo e nono referem-se regularmente ao símbolo divino que vai à frente deles. Os assírios acreditavam

que os deuses concediam poderes às armas do rei e

lutavam adiante dele ou ao seu lado.

42.22. paralelo entre cavernas e prisões. Quando não

havia prisões ou ficavam distantes, cavernas ou fossos eram utilizados com freqüência para m anter prisio­

neiros temporariamente. Na verdade, tanto em Israel

com o n a B a b ilô n ia , as p risõ es ex istiam p rim o r­

dialmente para a detenção de indivíduos à espera de julgam ento ou para manter presos políticos.

43.1-28 A misericórdia de Deus para com Israel43.3. Egito, Etiópia (Cuxe) e Sebá. Os persas invadi­ram com êxito o Egito e obtiveram o controle da Etiópia

durante o reinado de Cambises, sucessor de Ciro. A localização de Sebá ainda causa controvérsias.

43.14. b ab ilôn io s com o fu g itiv os nos navios. Essa

passagem está descrevendo a derrota e a captura da

Babilônia (i.e., caldeus) por Ciro. Em bora esse inci­dente não seja citado em outras fontes, aparentemente

os caldeus tentaram em vão fugir em seus próprios

navios, navegando pelo Eufrates em direção ao golfo

Pérsico.43.15. divindade como rei. M uitas nações do antigo

Oriente Próximo consideravam o deus como o verda­

deiro rei da Terra; o governante terreno era um mero "vice-rei" da divindade. Por exemplo, os reis assírios

eram regentes em nome do deus Ashur. M arduque

era rei na Babilônia, assim com o Baal, em m uitos Estados cananeus. Até mesmo na antiga Suméria, Enlil

era o rei dos deuses. De fato, o reinado em si era

descrito em sumério como o "Enlilado" (Enlilutu).43.24. cana arom ática. A cana arom ática ou cálamo

(conhecido como acorus calamus na Botânica) era usada

na fabricação do incenso. É uma cana com forte aroma que crescia nos pântanos da Síria e era importada da

índia para o ocidente.43.24. gordura. As partes gordas do animal também

deviam ser incluídas no sacrifício. N em a gordura nem o sangue podiam ser com idos. O sangue era

escoado e depois aspergido sobre o altar. A gordura era sempre queim ada sobre o altar como parte essen­

cial do sacrifício. Para mais informações, ver o comen­tário em Levítico 3.4.

44.1-5 Israel, o escolhido do Senhor44.2. Jesurum . Jesurum era um nome carinhoso para Israel (ver Dt 32.15; 33.5, 26). O significado do nome é de certa forma obscuro, mas alguns estudiosos acre­ditam que seja derivado de um radical hebraico que significa "justo, honesto, direito".44.5. escrever na m ão. Escrever na m ão provavel­mente se refere à marca do senhor que um escravo levava na mão (ver 49.16). A s m arcas em escravos eram comuns em todo o Oriente Próximo. Por exem­plo, em muitos períodos na M esopotâm ia o escravo era obrigado a identificar-se como tal, rapando meta­de dos cabelos. A m arca na m ão por tatuagem ou ferro quente também significa posse. Geralmente era o nome do proprietário que era gravado na mão direi­ta. Centenas de cabos de jarros foram encontrados em Israel que remontam à Idade do Ferro, com inscrições 1'mlk, "pertence ao rei".

44.6-20 A insensatez da idolatria44.10-14. ferreiro e carpinteiro n a confecção de im a­gens. Ver os comentários em Isaías 40.19 e 41.7. Em cópias do épico de Erra e Ishum , do oitavo século, M arduque fala da confecção de sua imagem. O pro­cesso começa com a madeira de um a árvore sagrada cujo topo toca os céus e cujas raízes alcançam o mundo inferior. O papel do habilidoso carpinteiro e do ferrei­ro manuseando ferramentas é retratado e os artesãos são louvados por sua habilidades.44 .17 ,18 . como as im agens "ganham vid a". Os anti­gos não acreditavam que o ídolo era a própria divin­dade, mas sim um a representação dela. Porém , eles criam que o espírito da divindade vinha habitar na imagem e, portanto, dirigiam suas orações à imagem como se fosse o próprio deus. Os deuses do antigo Egito eram consagrados em um ritu al cham ado a Abertura da Boca. A vida era simbolicamente conce­dida a eles de m odo bastante semelhante ao ritual da Abertura da Boca que dava vida a uma múmia. Ha­via um ritual com o esse na M esopotâm ia também, realizado para purificar e introduzir no templo a im a­gem divina. O m esm o ritual era repetido quando a imagem entrava em contato com algo impuro ou com pessoas impuras.

44.21-28 Jerusalém será habitada44.24. sozinho estendi os céus. O fato de que a Bíblia retrata Yahw eh sem um panteão de deuses à sua volta significa que todas as atividades divinas são feitas exclusivamente por Ele. Essa visão é contrastante com muitas tradições do antigo Oriente Próximo, em

que diversas divindades estavam envolvidas com di­ferentes aspectos da criação. Outra crença comum nas tradições da criação do antigo Oriente Próximo é que os elementos cósmicos passaram a existir através do nascimento de deuses associados a esses elementos, e não pela ação criativa de uma divindade. Esse concei­to de criação através de procriação defende que a cosm ogonia (origem do cosmos) está relacionada à teogonia (origem dos deuses). Tal conceito é rejeitado

neste texto. Yahw eh não tem consorte e, portanto, nem Ele nem o cosmos são resultado de procriação. Tampouco Ele executa sua atividade criadora através da procriação. (Algumas inscrições encontradas na Pa­lestina dão a entender que alguns israelitas acredita­vam que Aserá, uma deusa cananéia, era a consorte de Yahweh. Esses textos contradizem frontalmente os escritos do Antigo Testamento).44.25. faz de tolos os adivinhadores. Esse versículo está ligado ao anterior pelo fato de que os presságios consultados pelos adivinhadores assírios e babilônios eram provenientes do Céu e da Terra. N a verdade, prognósticos importantes tinham de ser confirmados por presságios de ambos esses domínios. Como o Céu e a Terra foram criados por Yahw eh, está implícito que Ele controla qualquer sinal dessas duas esferas. Os profetas supostamente estariam dando mensagens oriundas da divindade e os adivinhadores, usando suas artes para determinar o que os deuses estavam planejando fazer, o que era feito através da leitura dos presságios e sinais dos céus e da Terra. Esses profissi­onais, portanto, teoricamente ofereciam a constante transmissão dos planos divinos quanto ao curso dos eventos políticos. Quando os planos de Yahw eh con­cretizaram eventos completamente imprevistos, aque­les que eram considerados sábios foram desmascara­dos como farsantes.

44.28. Ciro. Ciro nasceu por volta de 590 a.C. na atual província iraniana de Fars. Q uase nada se sabe a respeito dele até ascender ao trono da Pérsia em 559a.C., exceto por algum as lendas sobre sua infância, escritas por Heródoto, o historiador grego.44.28. alicerces do tem plo. Todos os templos do anti­go Oriente Próximo eram construídos em alicerces. A construção de templos na M esopotâm ia era acompa­

nhada de certas cerimônias que não são plenamente com preendidas. Uma série de itens era depositada nos alicerces das construções. Essa é um a informação presente em inscrições de prédios e textos rituais e também nos próprios depósitos de alicerces encontra­dos por arqueólogos. Os depósitos incluíam objetos com forma de pino ou prego, sacrifícios animais, co­nes, cilindros e tabletes. Um dos principais objetivos desses depósitos era fazer um memorial da construção

do edifício (para mais informações, ver os comentáriosem Ed 3.3 e 3.10).

45.1-25 A redenção de Israel45.1. os fe itos de Ciro. Ciro, rei da Pérsia, foi um dos m aiores conquistadores da história do mundo. Ele herdou o trono da Pérsia de seu pai, Cambises I, em 559. Em 556 o rei babilônio Nabonidu, motivado por um sonho, abandonou o tratado que seu país tinha mantido com os medos por mais de m eio século e fez um tratado com Ciro. Isso garantiu a Ciro a liberdade de avançar contra os medos (governados por seu avô Astyges), por ele derrotados em 550. O novo Império Medo-Persa foi assim formado, com controle sobre a totalidade do Irã. P or volta de 546, ele derrotou o reinado anatólio de Lídia e Iônia. Nos cinco anos se­guintes consolidou o controle das tribos do nordeste do Irã. Todo seu sucesso abriu caminho para seu feito mais honroso, a conquista da Babilônia em 539 a.C.. Todo o Oriente Próximo (exceto o Egito) estava debai­xo do controle dos persas quando Ciro foi morto na batalha de 530.45.2. portas de bronze, trancas de ferro. O historia­dor grego Heródoto descreveu a Babilônia com "cem portas no circuito completo dos m uros, todas de bron­ze com batentes e vergas de bronze". Enormes portas de bronze do período assírio foram desenterradas em Balaw at, dando um a idéia de como os m uros babi­lónicos teriam sido. As portas eram trancadas por meio de barras que cruzavam a entrada e o ferro obvia­m ente seria o material mais difícil de quebrar (ver o comentário em Dt 33.25).45.4. relig ião de Ciro. É quase certo que Ciro não era um adorador de Y ahw eh. Em suas inscrições seu politeísm o fica evidente. Em um caso, ele pede que todos os deuses intercedam por ele a Nabu e Mardu- que, seu senhor e a quem afirma adorar. Outros indí­cios sugerem que Ciro era um zoroastriano (religião baseada nos ensinos de Zaratustra, um santo iraniano que viveu em algum tem po no início do prim eiro m ilênio a.C.). O zoroastrianismo floresceu durante o império Aquemênida no Irã (para mais informações, ver o comentário em Ed 1.2). Em bora não haja nenhu­m a evidência concreta do zoroastrianismo até os rei­nados de Dario I e seu sucessor Xerxes I, os nomes dos filhos de Ciro demonstram a influência zoroastriana, e afirma-se que ele teria erigido um pedestal de fogo (importante no culto zoroastrista) para o ritual diário do rei.45.13. a política de Ciro de retom o e reconstrução.Judá não foi a única terra que se beneficiou da política de Ciro de retom o dos exilados ao seu lugar de ori­gem e reconstrução das principais cidades de uma

área destruída. Por exemplo, ele afirma ter restaura­do Marduque à sua posição de direito como deus da Babilônia. Ele afirm a ter enviado m uitos povos de volta à sua terra natal (inclusive deportados babilô­nios) e restaurado seus templos e outros prédios pú­blicos (para mais informações, ver o comentário em Ed 1.2-4). Muitas estruturas babilónicas foram recons­truídas durante o reinado de Ciro.45.14. Egito, Etiópia (Cuxe), sabeus. Um importante canal foi construído no m ar Verm elho pelos persas durante o reinado de Dario I ligando as culturas ao redor do Nilo (Egito e Etiópia) com a Arábia (sabeus). Esse canal facilitava o fluxo de navios entre os dois continentes. Ver também o comentário em 43.3.

46.1-13 Os deuses da Babilônia46.1. Bei. Bei não era um nome próprio na Babilônia, m as era o equivalente acadiano de "senhor" (hebraico, B áa l). A divindade suméria Enlil, de Nipur, era cha­m ada "senhor", um título dado também a Marduque, o deus da Babilônia em períodos posteriores. Mardu­que era o deus principal da Babilônia, seu padroeiro e o chefe do panteão. O épico babilónico da criação, Enuma Elish, na verdade é um m ito que narra Mardu­que sendo elevado a essa posição, o que acredita-se teria acontecido no final do segundo milênio. Ele era considerado o filho de Enki, o padroeiro de Eridu e um dos m em bros da m ais augusta tríad e antiga. Embora com freqüência vejam os Baal na Bíblia como o principal rival de Yahweh, nenhuma divindade no primeiro milênio teve o impacto político de Marduque. Seu principal santuário era o templo Esagila ("templo com a cabeça exaltada"), na Babilônia, relacionado ao famoso zigurate, Etem enanki ("alicerce do céu e da terra").46.1. N ebo. N ebo (acadiano, N abu) era o deus de Borsippa, um a cidade perto da Babilônia. Ele era o deus da sabedoria, a divindade padroeira dos escribas e o filho de Marduque. Sua importância no período neo-babilônico é demonstrada pelo fato de que a mai­oria dos reis tinha nom es que faziam referência a N abu (p. ex., Nabucodonosor, Nabonidu). Ele já era proeminente n a época de Isaías, como é demonstrado no fato de Sargão ter feito de seu santuário o mais importante de sua nova capital, a cidadela chamada Dur-Sharruken (Khorsabad). Um a inscrição do oitavo século exorta os adoradores a confiar em Nabu e em nenhum outro deus.46.1. 2. ídolos levados cativos. As festas babilónicas costumavam ser ocasiões em que os ídolos dos deuses eram carregados em grandes procissões. M as essa pas­sagem não se refere a um desfile de vitória. Existem muitos exemplos de imagens de divindades mesopo-

tâmicas levadas cativas durante batalhas. Marduque, o deus da Babilônia, foi levado cativo e removido da Babilônia em diversas ocasiões. O s hititas em 1595a.C., Tukulti-Ninurta I, rei da Assíria (1244-1208 a.C.) e Senaqueribe (705-681 a.C.) saquearam a Babilônia e levaram a estátua de Marduque, que nos três casos, após algum tempo, acabou sendo devolvida.46.6. uso de ouro e prata na confecção de im agens. Ver as notas em 40.19 e 41.7.46.7. tratam ento e uso dos íd olos. As im agens das divindades na Mesopotâmia eram alimentadas, vesti­das e até mesmo lavadas diariamente. Todos os dias sacrifícios de comida eram oferecidos à divindade (e sem dúvida, comidos pelos funcionários do templo). A lguns criados tinham de vestir e despir a estátua enquanto a tarefa de outros era lavar e transportar a estátua em tempos de celebração.46.10. divindade com propósito. Os deuses do antigo Oriente Próximo não eram capazes de controlar o des­tino do mundo sem ajuda. Na Mesopotâmia existiam os "tabletes do destino", textos que continham o des­tino de todas as coisas que há no Universo (inclusive dos deuses). Quem controlava esses tabletes tinha em mãos o destino do Universo. Ocasionalmente eles iam parar em "m ãos erradas", ocasionando caos. Alguns deuses, inclusive Enki, usavam chapéu de feiticeiro, demonstrando que tinham a habilidade de controlar e prever o futuro, m as apenas através de feitiços e encantamentos. Ao contrário deles, Yahw eh controla­va todas as coisas sem ter de recorrer a meios super­ficiais como tabletes ou feitiços (ver o comentário em14.26, 27).

47.1-15 A queda da Babilônia47.1. virgem cidade de Babilônia. Os escritores bíbli­cos, assim como seus colegas da escrita cuneiforme, com freqüência descrevem as cidades com caracterís­ticas femininas. O termo "virgem cidade" era usado para dirigir-se a um a comunidade que enfrentara o desastre e a ruína. N o antigo Oriente Próxim o nin­guém era considerado um a vítim a de guerra m ais desamparada do que a jovem solteira. A derrota mui­tas vezes implicava na perda de um marido pretendi­do, bem como da virgindade, nas m ãos dos saquea­dores vitoriosos. A Lamentação por causa da Destruição de Ur, um texto literário do início do segundo milênioa.C., descreve a queda da cidade de Ur usando essa m esm a im agem .47.2. m oer o trigo como um a ocupação vil. O proces­so de m oagem do trigo para fazer farinha era um a das tarefas m ais servis, com freqüência feita por jovens escravas, tanto no Egito como na M esopotâmia (ver os comentários em Êx 11.4 e Jz 16.21).

47.2. véu. Na maior parte das culturas do antigo Ori­ente Próximo, um a m ulher casada andava em públi­co parcialmente coberta por um véu e essa era a mar­ca de seu estado de m ulher casada. Essa prática é en contrada nas Leis M éd io-A ssírias. Escravas ou concubinas não tinham condições de adquirir um véu e de qualquer m aneira não tinham o direito legal de usá-lo.47.2. atravessar riachos. Praticamente não havia pon­tes no mundo antigo, logo, rios e riachos tinham de ser atravessado nas vaus. U m escravo tinha de atra­vessar um curso de água a pé, em contraste com a pessoa rica que era carregada num a carruagem ou cadeira por criados.47.5. cidade (filha) dos babilôn ios. Essa terminologia é usada na literatura acadiana para referir-se aos ha­bitantes do sexo feminino de um a região, cidade ou povo. Aqui a referência é à cidade da Babilônia, per­sonificada, um uso não observado na literatura babi­lónica que foi preservada.47.8. "Som ente eu, e m ais n in gu ém ". O uso da ex­pressão "som ente eu " ou "e u sou " im ediatam ente teria lem brado o público israelita de algo em sua história (ver Êx 3.14). Não havia afirmação mais arro­gante a ser feita por esses reis. U m rei assírio do século nono, Assumasirpal, tinha um a lista de onze títulos "E u sou" para si mesmo.47.9. fe itiçarias e palavras de encantam ento. A Ba­bilônia era famosa no m undo antigo por suas práticas de m agia e adivinhação. Literalm ente m ilhares de textos foram descobertos, abordando inúmeros temas, inclusive encantamentos que ajudavam a aliviar uma dor de dente, um bebê entalado a sair do ventre e uma m ulher estéril a ter filhos. Parece que a pessoa comum contratava um sacerdote de encantamentos até m esmo para as questões m ais m undanas do cotidi­ano. O sacerdote então vinha e recitava um feitiço para exorcizar o demônio que estava causando o pro­blema ou aplacar alguma divindade irritada. Os ba­bilônios tam bém recorriam a esses sacerdotes para evitar desastres que tinham sido ameaçados ou iden­tificados em presságios. O s encantamentos tinham o objetivo de amarrar magicamente as forças sobrena­turais que representavam uma ameaça.47.11. m eios de evitar catástrofes prognosticadas. Exis­tem m ilh ares de textos de p resság ios em que os babilônios tentavam prever e controlar eventos futu­ros. A pessoa comum recorria a um sacerdote prog- nosticador antes de tom ar qualquer decisão importan­te. O sacerdote recitava o presságio apropriado, que dizia ao indivíduo o que esperar no curso de determi­nada ação. Os presságios estavam relacionados a even­tos históricos, da mesma forma que os sintomas são relacionados ao surgimento de doença. Sendo assim,

o indivíduo que temesse uma catástrofe prognostica­da tentava evitá-la não participando de uma ativida­de específica que pudesse ser maléfica. Por exemplo, havia certos dias em que marido e m ulher não devi­am praticar relações sexuais, visto que esses dias pres­sagiavam desgraças (inclusive a m orte). Em outras situações, o indivíduo contratava o sacerdote para pro­ferir feitiços e encantam entos que neutralizariam o evento catastrófico. São bastante conhecidos os rituais nam burbu para ev itar o m al em que além de atos rituais, orações padronizadas eram dirigidas aos deu­ses. Não era permitido recorrer a tais procedimentos se não houvesse nenhum indício de perigo iminente.47.13. astrólogos e fitad ores de estrelas. Na M eso­potamia, um meio de ler a sorte que competia com a adivinhação era a astrologia. No final do Período Assí­rio (c. 900-612 a.C.) regularmente prestava-se relatóri­os ao rei acerca da aparição da lua e dos planetas, com comentários sobre o que esses sinais prediziam. Pare­ce que os babilônios inventaram os doze signos do zodíaco por volta de 500 a.C., quase na m esma época que Ciro, rei da Pérsia. Para mais informações, ver os com entários em Isaías 2.6; Deuteronôm io 18; Josué10.12. 13; 2 Reis 23.4.

48.1-22 A libertação de Israel48.10. refino da prata. A prata no mundo antigo era refinada por um processo em que era derretida a fim de extrair dela componentes básicos. Artesãos da pra­ta bem como ourives usavam foles para ventilar suas fornalhas e fundiam seus produtos com a ajuda de esteatita ou moldes de argila. Para m ais informações, ver o comentário em 1.22.48.13. céus e terra. V er os com entários em 40.12 e42.5.48.14. cam panha de C iro contra a B ab ilô n ia . Ciro deu início a um a campanha contra Nabonido, rei da Babilônia, uma ação confirmada em fontes babilónicas posteriores. O rei persa avançou contra a Babilônia em 539 a.C. e lutou um a batalha vitoriosa em Opis, oitenta quilômetros ao norte-nordeste da Babilônia, às m argens do Tigre, no início de outubro. No dia onze de outubro, Sippar (quarenta quilómetros ao norte da Babilônia) sucumbiu. No dia treze de outubro, o exér­cito persa entrou marchando pacificamente na Babi­lônia, recepcionado pela população local. O próprio Ciro entrou na cidade no dia trinta de outubro e foi proclamado seu libertador.

49.1-26 O servo do Senhor traz libertação e restau­ração49.1-7. reis com tarefas de libertação por ordens divi­nas. Embora no antigo Oriente Próximo os reis rece­

bessem responsabilidades dos deuses, geralmente eles encaravam sua principal tarefa a de conquistar e não a de libertar. Ciro, rei da Pérsia, foi considerado pelos sacerdotes de M arduque e pela cidade da Babilônia como um salvador do regime opressivo. No prólogo de suas leis, Hamurabi afirma ser aquele que ajunta o povo espalhado da cidade de Isin e dá abrigo ao povo da cidade de Malgium.49.2. boca como espada afiada. A figura da espada também é usada para referir-se à palavra do profeta (ver Jr 23.29) e, no Novo Testamento (p. ex., G1 6.17), à Palavra de Deus. Visto que a espada era um a arma de ataque, a im plicação é que a palavra é de certo m odo agressiva. U m a das palavras hebraicas para boca (péh) também significa gume, como em "gum e da espada". Portanto, pode ser que haja um jogo de palavras neste versículo.49.9, 10. características da restauração. Na literatura assíria, o reinado justo de um rei é caracterizado pela prosperidade, adoração diligente, regozijo, libertação de prisioneiros, cura de enfermidades, unção com óleo e suprim ento de comida e roupas aos necessitados. Elementos semelhantes são projetados na restauração de Yahw eh a seu povo e se tornaram característicos do perfil messiânico.49.11. construção de estradas. Ver o comentário em40.3.49.12. Assuã (Sinim ). Sinim era a cidade da primeira catarata do Nilo, a antiga fronteira entre o Egito e Núbia, no sul. O local mais tarde foi citado em fontes gregas como Elefantina e é a atual cidade de Assuã.49.16. gravar n as palm as das m ãos. O significado dessa figura é que Jerusalém seria gravada (ou tatua­da, embora isso fosse proibido; ver Lv 19.28) na carne de Deus e portanto estaria em sua mente permanen­temente. Ver o comentário em 44.5.49.16. ornam entos da noiva. A noiva israelita às ve­zes usava vestes bordadas, jóias, uma grinalda espe­cial e um véu. N essa passagem , a noiva veste um cinto ornamental. H á m uitos textos da Mesopotâmia que descrevem a troca de presentes entre duas famí­lias por ocasião de um casamento, mas pouco se diz a respeito da indum entária da noiva ou da cerimônia em si.49.26. im agem . As expressões "com erem sua própria carne" e "ficarão bêbados com seu próprio sangue" provavelmente são metáforas cujo significado é que serão reduzidos ao m áximo (ver comentário em 9.20).

50.1-11 O pecado de Israel50.1. filh os vendidos aos credores. Quando alguém fazia um empréstimo ou uma hipoteca no antigo Ori­ente Próxim o, a garantia do pagam ento era através

do penhor de algum objeto pessoal. Quando não ha­via bens para serem confiscados, os devedores ou membros de sua fam ília podiam ser vendidos como escravos. Por exemplo, as Leis M édio-Assírias regula­vam a fiança de filhos para saldar as dívidas. Natural­mente, os fam iliares faziam grandes sacrifícios para garantir que os membros da família permanecessem dentro da estrutura familiar. Ver comentário em Êxodo2 1 .2 - 6 .

51.1-23 A salvação eterna para Sião51.6. fim dos céus e da terra. Esse não é um versículo apocalíptico que descreve o fim do mundo. O escritor pretende enfatizar a permanência da salvação de Deus, que é mais duradoura que a própria criação em si. No antigo O riente Próxim o, o U niverso (ou m elhor, a matéria) era uma entidade não criada. N o épico babi­lónico da criação, a m atéria aparentem ente sempre existira e, mais tarde, através dela M arduque formara os céus, a Terra e o mundo inferior. Não se trata da discussão concernente ao fim do mundo material.51.9. M onstro dos M ares (Raabe). Em bora não seja mencionado em nenhum outro texto fora da Bíblia, o termo Raabe é comparável ao monstro do caos, Leviatã, que também assume a forma de uma serpente que se contorce (Jó 26.12, 13; ver o comentário em Is 27.1). Raabe tam bém é usado como sinônim o para Egito. Por exemplo, em Salmo 87.4 as principais nações são alistadas como subjugadas pelo poder de Yahw eh. Raabe, o nome metafórico do Egito, é colocado ao lado da Babilônia em termos de importância. Ver o comen­tário em 30.7.51.14. prisioneiros libertos das m asm orras. Embora a m aioria dos deportados para a Babilônia não fosse m antida presa, alguns eram prisioneiros políticos. Fos­sos eram usados como prisões em grande parte do antigo Oriente Próximo. A idéia moderna de prisão onde os detentos são reabilitados à sociedade como bons cidadãos era totalmente estranha ao mundo an­tigo. Os prisioneiros, fossem eles devedores, crimino­sos à espera de julgam ento ou presos políticos, eram todos mantidos em confinamento.51.18. im agem dos filh os cuidando dos pais idosos. N a M esopotâm ia e tam bém em Israel o filho m ais velho recebia um a parte m aior da herança do que os outros filhos com o objetivo de cuidar dos pais em sua velhice. A imagem aqui mostra Jerusalém como uma m ãe sem nenhum filho para cuidar dela no fim de seus dias.51.20. in ício de cada rua. Algumas cidades no antigo O riente Próxim o dão evidências de ter sido gran­demente planejadas. A regra, porém, especialmente em cidades pequenas, era um a formação bastante ca-

suai e "caótica", sendo que não havia muitas ruas de fato m as muitas passagens ou áreas abertas em que não existiam casas construídas. O "início de cada rua" refere-se a um a esquina ou cruzam ento. A maioria das cidades e vilas era formada por blocos de casas com vielas e becos sem saída abertos aleatoriamente, sem ruas que se cruzavam. As interseções aconteciam quando chegava-se a uma praça aberta.51.23. andar sobre cativos. Os reis egípcios do início do terceiro m ilênio a.C. são retratados pisando nos corpos de inimigos derrotados. Por exemplo, Narmer, possivelm ente aquele que unificou o Egito, é visto com um bastão esmagando inimigos e andando sobre eles. Igualmente, os reis sumários de Lagash são ilus­trados m archando sobre os cadáveres de seus inim i­gos. A tradição de pisar sobre o inimigo continuou até o primeiro milênio na Assíria e na Babilônia.

52.1-12 Sião é libertada52.11. u tensílios do Senhor. Os utensílios do Senhor eram os utensílios do templo que foram transportados para a Babilônia durante a conquista de Jerusalém (acerca dos utensílios, ver os comentários em 2 Cr 4). Foram devolvidos a Jerusalém durante o período persa. N o palácio de Senaqueribe, em Nínive, havia inúm eros objetos e artefatos da fortaleza judaica de Láquis.

52.13-53.12 O sofrimento e a glória do servo do Senhor52.14. re i desfigurado. Durante o festival babilónico de Akitu (no Ano Novo), o rei tinha de "tom ar a mão de Bei" (Marduque) e proclamar sua inocência como um monarca justo. No quinto dia dessa festa que du­rava onze dias, o rei era levado diante do sumo sacer­dote que despia o m onarca de suas insígnias reais (bastão, laço e cetro) e lhe batia na face. O sacerdote então puxava o rei pelas orelhas e o forçava a prostrar- se no chão diante de Marduque, novamente procla­mando sua inocência.53.4-10. ritos vicários no antigo O riente Próxim o. Orito do rei substituto era usado na Assíria quando maus presságios (especialmente um eclipse) sugeriam que a vida do rei estava em perigo. Esse rito é confir­mado principalmente no reinado de Esar-Hadom, no início do sétimo século, mas havia sido praticado por mais de mil anos. Era baseado no princípio de que o mal podia ser transferido de um a pessoa para outra. Quando o período perigoso estava prestes a aconte­cer, o rei era trocado por um substituto sobre quem o mal recairia. Em alguns casos, esse substituto era con­siderado sem importância ou talvez fosse uma pessoa m ental ou fisicam ente lim itada. Ela era exaltada a

um a elevada posição por até cem dias, em bora às vezes, por um período m ais curto. Durante esse tem ­po o rei verdadeiro era mantido em isolamento relati­vo (um exílio) e participava de inúm eros rituais de purificação. Enquanto isso, o substituto passava pelos passos de tornar-se rei e assentar-se no trono. Era descrito como um pastor (um título comum para os reis mesopotâmios), mas talvez acreditava-se que ele era simplesmente uma ovelha prestes a ser sacrificada. N o final do período, o substituto era m orto para que o desígnio prognosticado dos deuses fosse cumprido. Os presságios haviam sugerido que era desejo dos deuses que ele morresse. Como um texto coloca, ele m orria para salvar o rei e o príncipe. Ele recebia um rico funeral oficial, uma oferta era dedicada e rituais de exorcismo executados (inclusive abluções e asper­sões) para que os presságios fossem anulados e os dias do rei prolongados.53.4. cura de enferm idades. O mito ugarítico da luta entre Baal e M ot contém a história dos Rapiuma (sal­vadores ou curadores), liderados por Baal, que ressur­giram dos mortos. Acreditava-se que esses venerados ancestrais agissem em favor dos viventes. Eles cura­vam doenças fatais, ajudavam em questões de fertili­dade e protegiam os hum anos contra os m ales da sociedade. Os Rapiuma, porém, não levavam sobre si as enfermidades dos mortais.53.7. ovelha calada diante dos tosquiadores. Textos do antigo Oriente Próximo muitas vezes descrevem a tosa de ovelhas, que se subm etiam em silêncio. A tosquia era feita anualm ente na prim avera, usando tesouras, que foram inventadas por volta do ano 1000a.C.. Um indivíduo podia tosquiar de vinte a trinta ovelhas em um dia.53.10. oferta pela culpa. A oferta de reparação tradi­cionalm ente era cham ada de oferta pela culpa. Em­bora o term o usado com freqüência seja traduzido como "cu lp a", é um a palavra que tem uma função m ais técnica no sistema sacrificial. Essa oferta tinha como objetivo reparar um tipo específico de ofensa - uma brecha na fé ou um ato de sacrilégio. A brecha na fé seria um a violação da aliança, enquanto o sacri­légio seria uma referência à profanação de áreas ou objetos sagrados. Ver o comentário em Levítico 5.14­16. Nesse contexto, a violação da aliança por parte de Israel seria a causa m ais provável para um a oferta pela culpa ser necessária.

54.1-17 A futura glória de Sião54.2. alargar as tendas. Sião é vista aqui pela imagem patriarcal da tenda. Como uma mãe que fora abenço­ada com muitos filhos, Sião teria necessidade de uma tenda espaçosa. As tendas eram feitas de tiras de lã de

cabritos de pêlo escuro, tecidas à mão, com 90 centí­m etros de largura. Quando mais membros da família precisavam ser acomodados, faixas adicionais eram costuradas. As cordas que eram esticadas das estacas do centro até as estacas dos cantos tinham que ser maiores e as estacas tinham de ser mais fortes, com madeira mais grossa para sustentar o peso.54.4. vergonha da ju ventu d e, hum ilhação da v iu ­vez. A metáfora aqui é esclarecida no versículo 6. No m undo antigo, um a m ulher que não tivesse gerado filhos era considerada castigada pela divindade, in­capaz de servir para a função para a qual se casara e, portanto, sujeita a ser rejeitada e abandonada pelo marido. A palavra traduzida como "juventude" aqui refere-se àquela que ainda não deu à luz filhos. Sua vergonha é sua esterilidade. Ela é um a viúva porque seu marido a abandonou (como a maioria dos contra­tos de casamentos permitia) e, portanto, é objeto de desprezo, com pouca esperança de casar-se de novo. Logo, ela é privada do sustento do marido e do cuida­do que os filhos deviam dar aos pais na velhice.54.11. ed ificar com turquesas, alicerces com safiras. Um a tradução alternativa da palavra "tu rq u esa" é antimônio, que era usado como argamassa, especial­mente para mosaicos. A palavra traduzida como "sa­fira" geralm ente é considerada o lápis-lazúli, um a bela pedra azul de elevado valor no m undo antigo. O passeio da fam osa porta de Istar, na Babilônia, era contornado de intricados padrões com o fundo de tijo­los azuis esmaltados que davam o efeito dessa pedra. Em um a obra conhecida como a Profecia de Uruk, afirma-se que um futuro rei construiria as portas de Uruk com lápis-lazúli.54.12. descrição da porta. A descrição do versículo anterior encaminha a abordagem deste verso. A pala­vra traduzida como "escudos" na verdade é "só is" e provavelmente refere-se aos escudos redondos, poli­dos usados com o guarnições ao longo do topo das torres que flanqueavam as portas. Eles são visíveis ao longo de todo o muro no retrato que Senaqueribe faz das fortificações de Láquis (ver também SI 84.11 para a associação entre o sol e o escudo). A escolha pela pedra "ru bi" feita pela NVI é uma conjectura; outras versões preferem jaspe. A palavra é usada apenas aqui e em Ezequiel 27.16, onde é alistada dentre os produtos exportados pela Síria. O cobre avermelhado e polido era popular para as portas e seria plausível para esses escudos com aparência de sol. O trabalho com as pedras na porta apresenta um tipo de pedra cintilante. A palavra traduzida como "m uros" é um termo técnico para paredes baixas que contornavam a passagem interior da porta (ver Ez 40.12). São descri­tos aqui como feitos de "pedras preciosas" - pedras de excelente qualidade, talvez com mosaicos.

54.17. invencibilidade. Desde o ataque assírio em 701a.C. havia uma tradição em Judá de que Jerusalém era invencível aos ataques de invasores. Essa idéia caiu por terra diante da conquista e destruição da cidade pela Babilônia (605-587 a.C.). A gora Isaías afirm a que no futuro a cidade será absolutam ente invencível.

55.1-13Convite aos sedentos56.8, 9. distinção entre o cam inho dos deuses e dos m ortais. No antigo Oriente Próxim o, havia um a se­m elhança considerável entre as esferas divina e hu­m ana. H avia um a h ierarqu ia das divindades. Por exemplo, o panteão mesopotâmico era composto por um concílio de sete deuses no topo da hierarquia, seguido por inúmeros outros deuses, e m ais abaixo ficavam os deuses pessoais, anjos, demônios, heróis (humanos que haviam adquirido um status de semi­deuses) e por último vinham os humanos. Até mesmo os m ais elevados deuses se assemelhavam aos hum a­nos em seu caráter e comportamento, e estavam sujei­tos a muitas das mesmas leis e limitações que os hu­manos. Eles não estavam acima do m undo natural, nem transcendiam a ele da forma como Yahw eh era considerado. Ao contrário, faziam parte da ordem natural. Não obstante, afirm ações como essas feitas aqui tam bém estão presentes na literatura m esopo- tâmica. A literatura sapiencial considera os caminhos dos deuses inescrutáveis. No Enuma Elish a proclama­ção dos cinqüenta nom es de M arduque serve para traçar seus caminhos.55.11. palavra não voltará vazia. A afirmação da so­berania representada em ordens e comandos que não podem ser contrariados e são efetivos sem exceção é feita a respeito dos deuses do antigo Oriente Próximo tam bém . D esde o m ito sum ério Lugal-e, N inurta é louvado como aquele cujas ordens não são alteradas e cujas decisões são verdadeiramente executadas.55.13. reflorestam ento. Ver o comentário em 41.19.

56.1-57.21Salvação para os gentios56.2. a guarda do sábado. A guarda do sábado não tem paralelo em nenhum a das culturas do antigo Oriente Próximo e é distinta por não estar atrelada a nenhum padrão ou ritmo da natureza, tais como os ciclos lunares. Um term o sem elhante era usado em textos babilónicos para referir-se a um dia de lua cheia em que o rei oficiava ritos de reconciliação com a divindade, m as não era um dia de descanso e tinha pouco em comum com o sábado israelita. Na M eso- potâmia, dias específicos do mês eram considerados agourentos e com freqüência aconteciam a cada sete dias (ou seja, o sétimo dia do mês, o décimo quarto

etc.). O sábado israelita não era celebrado em certos dias do mês; simplesmente era observado a cada sete dias. Durante o cativeiro babilónico, o sábado passou a ser o indicador m ais notável dos adoradores de Yahw eh que compunham a comunidade da aliança. Portanto, tom ou-se um dos temas centrais no judaís­mo pós-exílico (inclusive na época de Jesus).56.4, 5. eunucos no trabalho do tem plo. Esse termo hebraico às vezes refere-se simplesmente a um oficial da corte, mas m ais tarde passou a referir-se especifica­mente a eunucos. Os eunucos eram altamente valori­zados no serviço do governo em m uitos diferentes papéis durante os períodos neo-assírios e neo-bai- lônicos. A grande demanda de eunucos fazia com que os jovens fossem incluídos no pagamento de tributos à Pérsia a fim de serem castrados e treinados para o serviço no governo. Eles não tinham fam ílias para que não tivessem a atenção distraída de suas tarefas. Com freqüência eram encarregados do cuidado e da supervisão do harém real. Por serem castrados, não apresentavam risco às mulheres do harém e não po­diam ter filhos com elas que viessem a ser confundi­dos como herdeiros reais. A probabilidade de se en­volverem em conspirações seria menor, porque não teriam herdeiros para colocar no trono. A A ssíria, Urartu e M édia faziam uso de eunucos em funções do governo. Os eunucos (ou melhor, os castrados) ori­ginalm ente haviam sido proibidos na com unidade israelita (Dt 23.1). O contexto aqui deixa claro que esses oficiais não tinham filhos, no entanto, o Senhor cuidava deles.56.9. an im ais selvagens com o castigo. O s anim ais selvagens eram uma permanente fonte de medo para os habitantes das cidades do antigo Oriente Próximo. N aturalm ente, nessa passagem os anim ais são uma metáfora para as "bestas" humanas que saqueiam e pilham os moradores das cidades. Em textos e relevos assírios desse período, os reis são ilustrados caçando leões para simbolicamente livrar a cidade da ameaça de feras selvagens. Em um dos exemplos, foi sugeri­do que a m atança de dezoito leões representa as de­zoito portas de Nínive e as estradas que conduziam até elas.56 .10 ,11. cães na sociedade israelita. No antigo Ori­ente Próxim o, os cães viviam como carniceiros, ali­mentando-se de lixo e animais mortos. Com freqüên­cia perambulavam em bandos pela periferia da cida­de (às vezes na cidade) e onde quer que encontrassem refugos (SI 59.6,14). M uitas vezes eram um a fonte de insulto m ordaz (2 Sm 3.8). No entanto, os cães tam­bém eram freqüentemente associados à cura, usados em ritos de purificação e exorcismos e como ofertas tanto na Mesopotâmia como na Anatólia. O termo cão era usado para certos funcionários cultuais em Israel

(Dt 23.19), na Fenícia e na Anatólia. Alguns estudio­sos acreditam que esses "cães" eram prostitutos. Bas­tante curiosa e estranha foi a descoberta de um cemi­tério de cães com mais de setecentas covas rasas, em Asquelom, na Filístia, durante o período persa. Não há evidência de qualquer atividade cultual (embora os cães fossem reverenciados pelos zoroastristas persas).57.1. morte dos ju stos como recom pensa e não como castigo. Esse versículo im plica que houve uma com­pleta inversão na sociedade, uma vez que os justos perecem. Um a série de textos sapienciais babilónicos discutem esse tema. Por exemplo, a Teodicéia Babi­lónica (um texto semelhante ao Livro de Jó) apresenta a queixa de que o justo sofre todo tipo de injustiça, enquanto o ím pio está livre para praticar suas malda- des. O escritor tam bém se queixa de que seu deus pessoal não fez nada para aliviar o problem a. Este versículo oferece a explicação de que os justos não estão sendo punidos com a morte, ao contrário, estão sendo poupados de dias maus.57.2. vida de paz e descanso após a morte. A expres­são é obscura, mas o sentido é que a morte do justo o leva a um estado de paz e tranqüilidade. Isso não oferece a esperança de estar no Céu, mas um escape da turbulência. Até mesmo o Sheol é preferível a um contexto de impiedade na Terra.57.3. adivinhas. A feitiçaria e o adultério colocados lado a lado apontam para ritos politeístas de fertilida­de. Na Mesopotâmia a feitiçaria geralmente era proi­bida. Os mesopotâmios e os hititas faziam uma dis­tinção entre m agia negra (que causava o mal) exe­cutada por um feiticeiro ou feiticeira e a magia branca (que causava o bem ), executada por um exorcista le­gítimo. A feitiçaria era passível de m orte pelas Leis Médio-Assírias. Sua prática envolvia o uso de poções, pequenas estátuas e m aldições cujo objetivo era trazer morte, doença ou azar à vítima. Parece que para os egípcios não havia distinção entre m agia negra e bran­ca. Os poucos textos m ágicos ugaríticos, aramaicos e fenícios mostram que esses povos encaravam a magia e a feitiçaria de form a sem elhante a seus vizinhos mesopotâmios.57.5. arder de desejo entre os carvalhos. Os jardins no antigo O riente Próxim o, na m aioria das vezes, eram parques ou bosques com árvores e plantas ou pom ares com árvores frutíferas que serviam como santuários ao ar livre ou garantiam arredores agradá­veis e confortáveis para recintos sagrados. As árvores sagradas desem penhavam um papel im portante na religião popular da época. Segundo a crença popular, as árvores e pedras eram habitações divinas em po­tencial. Na religião cananéia, eram consideradas sím­bolos de fertilidade (ver D t 12.2; Jr 3.9; Os 4.13), em­bora os vestíg ios arqu eológicos ou literários dos

cananeus esclareçam m uito pouco o papel que essas árvores sagradas tinham. Não é coincidência que a palavra para carvalhos Çelim) também signifique "d eu­ses". A deusa cananéia da fertilidade era A será e essas árvores (ou postes de madeira) eram o símbolo do culto a ela. Um pedestal cultual de Taanaque ilus­tra uma árvore sagrada flanqueada por leões, tal como a deusa Aserá geralmente era retratada. A fertilidade da terra era simbolizada pela união fértil dos hum a­nos, sarcasticamente descrita aqui por Isaías como "a r­der de desejo entre os carvalhos".57.5. sacrifício de crianças. O s escritores bíblicos atri­buem o sacrifício de crianças aos adoradores fenícios de M oloque (ver os comentários em Lv 18.21 e 2 Cr 28.3). D escobertas arqueológicas em Cartago (uma localidade fenícia no norte da África) oferecem evi­dências de sacrifício infantil, visto que centenas de urnas contendo os restos carbonizados de crianças fo­ram encontradas. Esteias m emoriais descrevem o pa­pel das crianças como vítim as sacrificiais, denomina­das em púnico como ofertas mlk (i.e., a M oloque). Fora das Escrituras, porém, as evidências de sacrifício hu­m ano na Siro-Palestina são escassas. H á um a possível referência do nono século a.C., em Tell H alaf e nas cláusulas de punição presentes em contratos jurídicos do final do período assírio.57.6. pedras lisas dos vales. O s vales ou uádis eram lugares onde os sacrifícios de infantes aconteciam, sendo o mais conhecido o vale de Hinom, do lado oeste de Jerusalém . Esses uádis eram os lugares de sepulta- mento preferidos em Israel e, portanto, também ser­viam como os locais ideais para rituais usados no culto aos mortos. Se "pedras lisas" for a tradução correta, o texto pode estar se referindo aos túmulos talhados na rocha encontrados nesses uádis que se confundiam de tal m odo a eles a ponto de a palavra para uádi tam­bém ter o significado de túmulo ou sepultura. Uma sugestão alternativa se baseia na identificação desse mesmo radical (traduzida como "pedras lisas"), cujo significado é "m orrer, perecer" em diversas línguas sem itas parentes próxim as do hebraico. Essa então seria um a referência aos mortos que haviam sido en­terrados nos uádis e haviam se tom ado objetos de adoração. O culto aos mortos é citado na parte final do versículo.57.6. ofertas de bebidas, ofertas de cereal. Por causa da im portância dada ao culto aos an cestrais, que perm eava grande parte do antigo O riente Próximo (talvez um reflexo da ênfase no papel do herdeiro do sexo m asculino, responsável pelo santuário do pai, como consta em documentos ugaríticos), considerava- se que os mortos tivessem algum poder de afetar os vivos. Acreditava-se que se libações fossem derrama­das em favor dos ancestrais m ortos, seus espíritos ofe­

receriam proteção e ajuda aos m em bros da fam ília que ainda estivessem vivos. Na *Babilônia, o espírito desencarnado (utukki) ou o fantasma (etemmu) podiam tom ar-se muito perigosos se não recebessem os devi­dos cuidados e, muitas vezes, se transformavam em objetos de encantamentos. O cuidado com os mortos começava com o sepultamento adequado e teria conti­nuidade com a dedicação posterior de presentes em honra da m em ória e do nom e do falecido. O filho primogênito era responsável pela manutenção dessa adoração ancestral e, sendo assim, era quem herdava os deuses da família (muitas vezes, imagens dos an­cestrais já mortos). Esse cuidado tinha como base a crença, como fica evidente na consulta de Saul à mé­dium de En-Dor, de que os espíritos dos mortos podi­am se comunicar com os vivos e tinham informações sobre o futuro que poderiam ser úteis. Esses espíritos eram consultados através de sacerdotes, m édiuns e necrom antes. A consulta aos m ortos podia ser uma prática perigosa, visto que alguns espíritos eram con­siderados dem ônios, e portanto, poderiam causar m uitos danos fazendo o mal. Em bora seja difícil re­construir totalmente as crenças israelitas dessa época sobre ancestrais falecidos e a vida após a morte, pare­ce possível que antes do exílio existisse uma forma de culto aos mortos ou adoração aos ancestrais. Essa hipó­tese tem o respaldo de algumas evidências em vestí­gios arqueológicos: (1) colunas de pedra (massebot), (2) canais cavados nos túm ulos para o depósito de ofertas de alimentos e bebidas aos mortos (ver Dt 26.14; SI106.28) e (3) a importância dada às tum bas das famí­lias (ver o túmulo ancestral de Abraão e seus descen­dentes em H ebrom ) e os rituais de luto realizados nessas tum bas (Jr 16.5-7). O culto a ancestrais era con­denado pelos profetas e pela lei.57.7. le ito num a colina. O leito num a colina prova­velmente é uma referência aos lugares altos cananeus (cf. Jr 2.20) onde a fornicação cultual era praticada. Seu duplo significado como "lugar para deitar-se" tam ­bém traz a imagem da morte e da sepultura.57.8. sím bolos de fertilidade. Não há nenhuma indi­cação clara do significado desses símbolos. Poderia se tratar de símbolos dos deuses da família (estatuetas de fertilidade?) ou símbolos fálicos de fertilidade. A últi­m a alternativa é provável por causa da últim a linha do versículo que tam bém faz referência à genitália m asculina (NVI "n u d ez"). Os israelitas tam bém ti­nham um m emorial atrás das portas, que consistia em um pote de metal contendo uma porção da Escritura (Dt 6.9; 11.20).57.8. prostituição cultual. Grande parte da chamada prostituição sagrada no antigo Oriente Próximo pode ter sido prostituição ocasional para o pagamento de um voto (ver o comentário em D t 23.17,18). Os textos

que descrevem a prostituição cultual em fontes cana- nitas ou m esopotâm icas são no m ínim o am bíguos. Pode-se concluir que a prostituição era ocasionalmen­te prom ovida pelos templos. O Antigo Testam ento apresenta amplas evidências de festas que levavam a excessos sexuais, mas isso não significa que a pros­tituição cultual tenha sido institucionalizada nessas regiões.5 7 .9 . M o lo q u e . O A n tig o T estam en to d e screv e M oloque como uma divindade cananéia a quem crian­ças eram oferecidas em sacrifício. Existe evidência li­terária no antigo O riente Próxim o desde o terceiro milênio a.C. de um deus M alik ou M ilki/u que era adorado em Ebla e M ari, na Síria. E le tam bém era adorado na Assíria, na Babilônia e em Ugarit (onde era conhecido como Mlk). A partir desses textos, pare­ce que M oloque era uma divindade do mundo inferi­or envolvida no culto aos ancestrais mortos. O termo M oloque provavelmente está relacionado ao radical semáta que significa "rei". Ver o comentário em Isaías 57.6 a respeito da idéia de M oloque envolvido no sacrifício de infantes, em Cartago, no norte da África (Lv 18.21).57.9. azeite de oliva e perfum es. Não se sabe ao certo para que o azeite e os perfumes eram usados. Talvez o azeite fosse derramado em libações e os perfumes usados nas ofertas de incenso. Outra sugestão é que fossem usados para ungir as crianças que seriam ofe­recidas a Moloque.57.9. embaixadores/ desceu ao fundo do poço (Sheol).Esses em baixadores são aqueles que praticavam a necromancia, a consulta aos mortos em nome dos vi­ventes. Os embaixadores provavelmente iam aos san­tuários onde os poderes do m undo inferior (Sheol) eram venerados a fim de consultar a vontade dessas divindades através de oráculos. M oloque era o deus do mundo inferior.57.13. coleção de íd o los . N a literatura ugarítica, o termo que ocorre aqui é usado para fazer referência a espíritos de pessoas falecidas.57.14. construção de estradas. Ver o comentário em40.3.

58.1-14O verdadeiro jejum58.2. buscar inform ações através de oráculos. A adi­vinhação oracular era em pregada em toda a M eso- potâmia, Anatólia e Egito desde 2000 a.C. para comu­nicar-se com as divindades. A adivinhação intuitiva envolvia oráculos, profecias e sonhos. As cartas de M ari descrevem o relacionamento entre D agom e seus adoradores, que falavam através de oráculos, sonhos, possessão extática e declarações verbais. Ele transmi­tia m ensagens a profetas e profetisas, bem como a

pessoas comuns. Por exemplo, uma m ulher chamada Yanana afirm ava que D agom teria aparecido a ela em um sonho dizendo que somente Zinri-Lim (o rei de Mari) seria capaz de salvar uma garota seqüestra­da que estava viajando com ela.58.3-7. je ju m . H á poucas evidências da prática do je jum no antigo Oriente Próximo fora da Bíblia. Ge­ralm ente era feito em contextos de luto. No Antigo Testam ento, o uso religioso do jejum com freqüência está relacionado a um pedido dirigido a Deus. O prin­cípio é que a im portância do pedido levava o indi­víduo a preocupar-se tanto com sua condição espi­ritual que as necessidades físicas eram relegadas a segundo plano. N esse aspecto o ato de je juar serve como um processo de purificação e humilhação diante de Deus (SI 69.10; 102.4). O jejum não era um fim em si mesmo, m as um preparo disciplinado para um even­to importante.58.9. dedo acusador. No mundo antigo apontar o dedo fazia parte de um a acusação form al (como nas leis de Hamurabi). A literatura de presságios atrela o gesto ao poder de um a m aldição. Aqui indica difamação m alévola.58.12. reconstrução de velhas ruínas. M uitas cidades antigas foram reconstruídas após terem sido destruídas. Por exemplo, a Babilônia foi invadida e saqueada pe­los assírios pelo menos três vezes; por Tukulti-Ninurta I, no século treze a.C., por Senaqueribe, em 689 a.C. e por Assurbanipal, em 648 a.C.. Após cada invasão, as ruínas da Babilônia foram reconstruídas, com fre­qüência tom ando a cidade ainda mais esplêndida do que antes.58.13. significado do sábado. De acordo com os escri­tos rabínicos posteriores, o sábado no período pós- exílico tinha a idéia de reservar o dia para cultuar a Deus. O sábado passou a ser um dos principais meios de demonstrar lealdade a Deus e a seus estatutos. Em um hino sapiencial babilónico, o adorador afirma que o dia de adorar a divindade era um prazer e que ele se deleitava e se alegrava em fazer música em honra à divindade.58.13. sábado no antigo O riente Próxim o. A guarda do sábado não tem paralelo em nenhuma das culturas do antigo O riente Próxim o e é distinta por não estar atrelada a nenhum padrão ou ritmo da natureza. Isto é, não era celebrada em certos dias do mês e não esta­va ligada a ciclos da lua ou a outros ciclos da natureza; simplesmente era observada a cada sete dias. Embora os mesopotâmios não dividissem o tempo em períodos de sete dias, certos dias específicos do mês eram con­siderados agourentos e com freqüência aconteciam a cada sete dias (ou seja, o sétimo dia do mês, o décimo quarto etc.). A lém disso, um term o sem elh an te era usado em textos babilónicos para referir-se a um dia de

lua cheia em que o rei oficiava ritos de reconciliação com a divindade, m as não era um dia de descanso e tinha pouco em comum com o sábado israelita. A legis­lação bíblica não exige outra coisa além da interrupção das atividades norm ais de trabalho.58.14. cavalgar nos altos da terra. As cidades eram geralmente construídas em montes por serem defesas naturais e os exércitos escolhiam as colinas como pon­

tos estratégicos de controle. A metáfora de cavalgar nos altos, portanto, fala de vitória e segurança. Assim com o Israel cavalga nas alturas, D eus cavalga nas nuvens. A imagem de um Deus impetuoso cavalgan­do pelos céus num a nuvem era comum (SI 68.4; 104.3; Jr 4.13). Tais descrições de teofania podem ser encon­tradas nos textos que falam do deus ugarítico Baal. No épico de Aqhat e no ciclo de histórias de Baal e Anat, Baal é descrito como o "cavaleiro das nuvens". O s atributos de Baal, comandando as tempestades, sol­tando relâmpagos e encaminhando-se para a batalha como um guerreiro divino aparecem até mesmo nos textos egípcios de El Am am a.

59.1-21Yahweh como redentor59.17. tra je do guerreiro . Yahw eh novam ente está assumindo aqui o papel de guerreiro divino e vestin­do a indum entária para a batalha. N a tem ática do guerreiro divino, a divindade luta contra as divinda­des do inimigo, derrotando-as nas batalhas travadas. Na Assíria, Nergal é o rei da batalha e Istar é consi­derada a deusa da guerra. O deus cananeu Baal e o babilônio M arduque também são guerreiros divinos. Quando M arduque se prepara para a batalha contra Tiam at, no épico Enuma Elish, ele se equipa basica­mente com armas de ataque e não com os equipamen­tos de defesa descritos aqui. Ele é descrito sendo ves­tido com um m anto assombroso de armadura e coroa­do com um terrív el brilho. E scu ltu ras de deuses engajados em batalhas às vezes os retratam com cou­raça e capacete, m as com freqüência eles portam ape­nas armas.

60.1-22A glória de Sião60.6. cam elos de M idiã e de Efá. Os camelos eram os anim ais de carga dos m ercadores; portanto, quem tinha muitos camelos era considerado rico. Midiã era um a tribo árabe nômade que tinha relações com Isra­el desde os tempos mosaicos. Efá aparece apenas em outros dois contextos da Escritura (Gn 25.4; 1 Cr 1.33) e está associada a Midiã, possivelmente um clã dessa tribo. Tam bém é m encionada nos anais assírios de Tiglate-Pileser III.

60.6. Sabá. O reinado de Sabá era um grande centro comercial no sudoeste da Arábia que exportava pe­dras preciosas, ouro e incenso. É conhecido como Saba nas fontes nativas e nos anais assírios. Tinha um a civilização urbana bastante avançado no primeiro m i­lênio a.C.. Para mais informações, ver 2 Crônicas 9.1.60.7. Quedar. Quedar era um a tribo árabe nômade.

T am bém é m en cion ada em textos assírios e neo- babilônicos. A tribo é citada em um texto de Tell el- M askhuta, em escritos apócrifos, e até m esm o pelo escritor latino, Plínio, o Ancião.60.7. N ebaiote. Nebaiote era uma tribo nômade cita­da nos anais do rei assírio Assurbanipal. São m encio­nados também nas inscrições taimanitas, datadas do sexto século a.C.. Essa tribo foi precursora dos nabae- tanos, uma tribo árabe conhecida no período helenís- tico e romano.60.9. navios de Társis. Os navios de Társis eram gran­des embarcações construídas com capacidade para lon­gas viagens. Társis era considerada uma colônia fenícia na Espanha.60.13. g lória do L íbano . A "g ló ria " do Líbano era

suas florestas de cedro (ver 35.2), mas outros tipos de m adeira também eram exportados.

60.16. figura da am am entação. Os reis egípcios eram retratados com freqüência em representações icono- gráficas sendo amamentados pelos deuses. Por exem­plo, a monarca Hatsepsut é mostrada mamando nos seios de H athor, a deusa bovina das m ulheres, da dança, da embriaguez, da sexualidade e dos mortos.

Ela geralmente era ilustrada como uma mulher com os chifres de um a vaca. A figura da am am entação representa que Sião será alvo do m ais especial cuida­do e atenção pessoal.60.19, 20. escurecim ento do sol e da lua. Tanto o sol como a lua eram importantes divindades no panteão babilónico. O deus-sol era Shamás, deus da justiça e filho do deus-lua. Como deus da justiça, Shamás deu a Hamurabi, o legislador babilônio, a autoridade de fazer leis. Sin, o deus-lua, era o senhor do calendário e deus da vegetação. Sua consorte era Ningal, a mãe de Shamás. Embora seus principais centros fossem Ur e Harran, ele desem penhou um papel fundamental na Babilônia durante o período do últim o rei babi­lônio, Nabonido. Visto que esses deuses eram tão cen­trais no sistem a religioso do m undo antigo, não há indícios em outros textos de que se escureceriam ou deixariam de existir.

61.1-11O ano da bondade do Senhor61.1. libertar p risioneiros com o ato de ju stiça . Noantigo Oriente Próxim o, a libertação de prisioneiros

(da prisão dos credores) era um ato de justiça que com freqüência acontecia no primeiro ou no segundo ano do reinado de um novo rei (e depois, periodicamente a partir de então). Por exemplo, o rei da Antiga Babi­lônia, Amisaduqa (século dezessete a.C.) cancelou dí­vidas em nome de Shamás. Portanto, o "jubileu" nes­se caso dizia respeito primordialmente a endividados (por questões financeiras ou legais) e aos escravos por causa de dívidas. Ao contrário da lei de Israel, esse edito babilónico dependia exclusivamente do capri­cho do monarca e não há evidências de que era sanci­onado pela divindade. Para um exem plo desse ato sendo realizado por um rei ideal, ver o comentário em 11.1. Historicamente, um a proclamação de liber­dade é registrada pelo últim o rei de Judá, Zedequias (Jr 34.8-10). A respeito dessas e outras características do rei justo, ver o comentário em 49 .9 ,10 .61.4. reconstrução de velhas ruínas. Ver o comentário em 58.12.

61.10. adornos do noivo e da noiva. As evidências para vestes relacionadas a casamento na Ásia Ociden­tal baseiam -se grandem ente em im agens iconográ- ficas. Parece que no antigo Israel, tanto o noivo como

a noiva eram vestidos cerim onialm ente. A s noivas israelitas e babilônias às vezes usavam vestes borda­das (51 45.13 ,14), um cinto especial (JI 2.32) e um véu (Gn 24.65). Aqui, o noivo adorna a cabeça com uma

grinalda. O tipo de vestes especiais provavelm ente dependia da situação econômica dos noivos.

62.1-12O novo nome de Sião62.10. construção de estradas no antigo O riente Pró­xim o. Ver o comentário em 40.3.

62.10. bandeira para as nações. No antigo Israel, as bandeiras eram usadas para demarcar as tribos. Pare­ce que eram usadas com mais freqüência em contex­

tos militares, para convocar um exército de determi­nado território ou para indicar o local onde um ajunta­mento de tropas aconteceria ou ainda para identificar regim entos ou tropas. Nesse aspecto, é quase certo que Israel estava imitando seus vizinhos. Os assírios usavam estandartes para identificar regimentos espe­cíficos de suas tropas.62.11. recom pensa do rei que retorna da batalha. Vero comentário em 40.10.

63.1-10O dia da vingança e da redenção63.1. Edom, Bozra. Ver o comentário em 34.5, 6.63.3-6. guerreiro d ivino. N a tem ática do guerreiro divino, a divindade luta contra as divindades do ini­migo, derrotando-as nas batalhas travadas. N a Assíria,

Nergal é o rei da batalha e Istar é considerada a deusa da guerra. O deus cananeu Baal e o babilônio Mardu-

que tam bém são guerreiros divinos (para m ais infor­mações, consulte os comentários em Êx 15.3; Js 3.17;6.21-24; 10.11; 1 Sm 4.3, 4; 7.10). Na Assíria era retó­

rica comum falar de cidades e países tingidos de ver­

melho, banhados pelo sangue dos inimigos e do exér­cito atravessando em m archa esse m ar de sangue.

Isaías 9.5 faz menção a um a prática dos guerreiros de

revolver as vestes no sangue. No épico Enuma Elish, após ter derrotado Tiamat e seu general Kingu, Mar-

duque pisa sobre os cadáveres de seus inimigos, in­clusive a parte de baixo do corpo de Tiamat.

64.1-12Oração pela libertação de Yahweh64.4. d iferen ça en tre Y ahw eh e os outros deuses.

Yahw eh era diferente dos outros deuses do antigo

Oriente Próxim o em diversos aspectos. A diferença fundamental era que Yahw eh era considerado trans­

cendente, ou seja, não estava sujeito ou preso às leis

do universo material. Essa característica contrastava

visivelmente com os deuses da M esopotâm ia que ha­bitavam no mundo material. Ele era um Deus único,

sem consorte ou panteão, ao contrário dos deuses das

outras nações que se dividiam em múltiplos poderes.

A questão específica neste versículo é a disposição de Deus em agir em favor de seus fiéis seguidores. A

chave aqui é aquilo que m otiva Yahw eh a agir. Ele

não pode ser subornado ou coagido a fazer algo. Se­

gundo as crenças politeístas do mundo antigo, a fide­

lidade a um a divindade era expressa através de dádi­vas e presentes que lhe eram ofertados - presentes

que tinham o objetivo de cuidar da divindade (p. ex.,

alimento). Se esses presentes não motivassem a bon­

dade ou a ação dos deuses, então ritos mágicos podi­am ser usados para obrigar ou forçar a divindade a

fazer aquilo que se desejava. Ver o comentário em 1

Sam uel 15.23.

65.1-25Novos céus e nova terra65.3. sacrifícios em jardins. Os jardins no antigo Ori­

ente Próximo na maioria das vezes eram parques ou bosques com árvores e plantas ou pomares com árvo­

res frutíferas que serviam como santuários ao ar livre

ou garantiam arredores agradáveis e confortáveis para recintos sagrados. As árvores sagradas desempenha­

vam um papel im portante na relig ião popular da

época. Segundo a crença popular, as árvores e pedras eram habitações divinas em potencial. N a religião

cananéia, eram consideradas símbolos de fertilidade

(ver D t 12.2; Jr 3.9 ; O s 4.13), em bora os vestígios

arqueológicos ou literários dos cananeus esclareçam m uito pouco o papel que essas árvores sagradas ti­

nham. Escavações na Q uitiom da Idade do Bronze M oderna desenterraram um tem plo que tinha um

bosque sagrado com sessenta covas de árvores. Esses

jardins provavelmente eram os bosques sagrados do

culto a Aserá, a deusa da fertilidade cananéia.65.3. altares de tijo los. A m aioria dos altares de incen­

so era feita de pedra calcária. Isso nos leva à sugestão

bastante plausível de que a expressão que a NVI tra­

duz como "altares de tijolos" também pode significar "altares de incenso" (como ocorre na inscrição de um

altar de pedra calcária, do século quinto, em Láquis).

Esses altares eram característicos dos lugares altos onde adoração ilegítima era praticada. Outra possibilidade

é que rituais babilónicos dirigidos a divindades celes­

tiais incluíam sacrifícios feitos sobre tijolos.

65.4. à n o ite se oculta nas covas. No antigo O riente

Próxim o, m uitos indivíduos que praticavam a necro- m ancia (contato com os espíritos dos mortos, ver co­

mentário em 57.6) passavam a noite entre as sepulturas,

aguardando alguma comunicação dos mortos. Trata-se

de uma prática semelhante aos rituais de incubação (ver os com entários em 1 Sm 3.3 e 2 Cr 1.7-12).

65.4. com e carne de porco. A literatura *assíria de

sabedoria descreve o porco como um animal impuro, que não serve para o templo e uma abominação aos

deuses. Existe também um texto do livro de sonhos

em que comer porco é um mau agouro. Entretanto, a

carne de porco fazia parte da dieta regular na Meso-

potâmia. Alguns rituais hititas exigiam o sacrifício de um porco. Milgrom observa, porém, que nesses ritu­

ais, o porco não era colocado no altar como alimento

para os deuses, mas absorvia as impurezas e depois era queimado ou enterrado como uma oferta às divin­

dad es do m undo in ferio r . S em elh an tem en te , na

M esopotâm ia, o porco era oferecido em sacrifício a demônios. Existem provas no Egito de porcos sendo

usados como alim ento e H eródoto afirm a que tam ­

bém eram usados em sacrifícios. Fontes egípcias fa­lam de manadas de porcos sendo mantidas na propri­

edade de tem plos e freqüentem ente constavam de doações aos templos. O porco era especialmente sa­

grado ao deus Seth. Grande parte das provas referen­

tes a sacrifícios de porcos, porém, origina-se na Grécia e em Roma, onde também eram dedicados aos deuses

do mundo inferior. Em assentamentos urbanos, m ui­

tas vezes os porcos, juntam ente com os cães, peram­bulavam pelas ruas vasculhando lixo, o que fazia

deles animais repulsivos. Em Israel, a atitude em re­lação ao porco fica bastante clara aqui em Isaías que

evidencia uma íntima relação entre os porcos e a ado­ração aos mortos. É bastante possível que sacrificar

um porco era sinônimo de sacrificar aos demônios ou

aos mortos.65.10. Sarom . Sarom era um a planície costeira na

divisa da região montanhosa da Judéia, a leste, e do

m ar Mediterrâneo, a oeste. O vale era conhecido por sua beleza, desolação e pastagens. Tinha cerca de 50

quilômetros de comprimento e um a média de 17 qui­

lômetros de largura.

65.10. vale de Acor. O vale de A cor provavelmente ficava localizado na fronteira norte de Judá e é identi­

ficado com a atual El Buqe'ah, uma pequena planície

no norte do deserto da Judéia, nas proximidades de

Jericó. Três ocupações da Idade do Ferro foram desco­bertas em El Buqe'ah.

65.11. Sort€/ D estino. Os nomes próprios (divinos?) usados aqui, Gad (NVI "Sorte") e M eni (NVI "D es­

tino") são obscuros. Gad é confirmado em textos cana­

neus e fenícios e é considerado um a divindade da

sorte. M eni pode ter algo a ver com porção e portanto, alguns estudiosos acharam que podia estar relaciona­

do a destino. Pode se tratar da deusa árabe M anat

mencionada no Qu'ran. No panteão babilónico, o deus N amtar ("D estino") era o vizir do mundo inferior. A Sorte também era personificada e deificada às vezes.

65.17-25. visões utópicas. Embora praticam ente não

existisse quase nada parecido com as visões utópicas

encontradas na Bíblia, há visões apocalípticas (futuris­

tas, proféticas) encontradas na literatura acadiana do segundo e do primeiro milênios a.C.. Os textos aca-

dianos são pseudo-proféticos, ou seja, eram predições

feitas após o evento em questão. Parece que foram

escritas para justificar um evento particular que havia acontecido ou a criação de um a determinada institui­

ção. Uma expressão típica é "surgirá um príncipe". O príncipe geralmente é anônimo, mas facilmente iden­

tificável. Em uma dessas obras, a Profecia de Marduque, Marduque projeta um rei que surgirá e "desenhará os

planos do céu e da terra" no santuário de Ekursagil.

Ele reunirá os povos espalhados, trará prosperidade à Terra, demonstrará compaixão ao povo e a sociedade funcionará de forma adequada. Em 66.1, porém, fica

claro que os céus e a terra, o cosmos, é o templo de

Deus. A criação de novos céus e nova terra pode ser igualada à construção de novos santuários ou à reno­

vação de santuários no antigo Oriente Próximo. Essa era uma atividade bastante comum. A Nova Jerusa­

lém é a nova capital, que também representa o lugar

escolhido por Deus como sua habitação. Igualmente,

Marduque ordena que a nova cidade santa dos deu­ses, Babilônia, seja reconstruída.

66.1-24Julgamento e esperança66.1. casa para a divindade. No Ciclo ugarítico de

Baal, Baal quer construir uma casa para si, a fim de ter um lugar de repouso. Igualm ente Ningirsu faz um

pedido a Gudea para que lhe construa uma casa de descanso. O primeiro é m ais pertinente ao contexto em questão aqui porque Baal constrói para si mesmo

a casa, assim como Yahw eh o faz. Em Enuma Elish, após ter derrotado seu inim igo Tiam at, M arduque

proclama que fará vima casa para si, chamada por ele

de Babilônia, que servirá como lugar de repouso para os deuses. No final do tablete cinco um trecho incom­pleto relaciona isso à criação da terra por M arduque e à sua autoridade sobre ela.

66.3. quebrar o pescoço de um cachorro. O cachorro não era um animal sacrificial em Israel, em bora fosse usado para esse fim na Anatólia hitita.

66.3. sangue de porco. Porcos e cães figuram com

destaque nos rituais dos hititas na Anatólia da Idade do Bronze Moderna. Quando confrontados com uma

im pureza ritual, os hititas com freqüência m atavam

um porco (geralmente cortando-o ao meio). Os porcos

e os cães eram particularmente proeminentes no culto a divindades ctônicas (que tinham a ver com o mundo

inferior ou com a fertilidade da terra). Para m ais infor­

mações, ver os comentários em 56.10, 11 e 65.4. Al­guns estudiosos sugeriram que o tratamento dado aos

porcos nesse tipo de ritual pode ter sido um a das

razões por que o porco era considerado impuro.

66.15. fogo, carros, turbilhão. No imaginário do anti­go Oriente Próximo, as principais divindades às ve­

zes eram acompanhadas de cocheiros. Uma divinda­

de conhecida como Rakib-El, era o condutor da carru­

agem do deus cananeu El. N a literatura acadiana, Bunene, o conselheiro do deus sol Shamás, é designa­

do como o condutor da carruagem. O cocheiro seria o

resp onsável p elo transp orte da d iv ind ade, esp e­cialmente nas batalhas. Na crença religiosa israelita,

Yahw eh às vezes é retratado ou manifesto de manei­ras sem elhantes ao pensam ento do antigo O riente

Próximo. Por exemplo, no contexto de Elias com os profetas de Baal, Yahw eh é apresentado com o um

Deus que controla a fertilidade e responde mandando fogo do céu, além disso, a linguagem figurada com

freqüência o associa com o sol (SI 84.11). Aqui, o retra­to que se tem dele pode apresentar elementos comuns com Hadade, o deus da tempestade, que é acompa­nhado de um condutor de carruagem . Essas sem e­lhanças sugerem a possibilidade de que conceitos fa­m iliares do imaginário popular estavam sendo usa­dos para esclarecer o envolvimento da divindade nes­te evento sem precedentes.66.17. rituais em jardins. Ver o comentário em 65.3.66.17. com er carne de porco e ratos. Essa é outra descrição de ritos estrangeiros, provavelmente de ori­gem cananéia (ver o com entário em Lv 11.7). Não existe evidência extrabíblica que esclareça esse costu­me. A palavra traduzida como "ratos" aqui pode refe­rir-se a uma ampla variedade de roedores.66.19. Társis. Társis representava a terra mais distan­te além do mar, a oeste. Ver o comentário em 23.1.66.19. líb ios. Aqui, Líbia é um a tradução de "P u l", m as em N aum 3.9 trata-se de duas entidades dis­tintas. Grande parte da antiga Líbia ficava ao longo da costa oeste de A lexandria, m as incluía o longo trecho de deserto a oeste do vale do Nilo. Pul é mais difícil. A conclusão mais provável é que Pul seja um nom e alternativo p a ra ã Líbia e que juntos referem-se à área a oeste do antigo Egito, representada pelo atual país da Líbia. Era a terra mais distante em direção a sudoeste.66.19. líd ios. Lud provavelmente era a área da Lídia no centro-oeste da Turquia. Os lídios falavam uma língua anatólia sem elhante ao hitita. Eles formaram um grande império na Turquia durante o sexto séculoa.C., mas foram derrotados e conquistados por Ciro, rei da Pérsia. Essa era a terra mais distante para além do noroeste.66.19. T ubal. Tubal provavelmente era uma área ao sul do m ar Negro. É mencionada nos anais assírios como Tabal e nas Histórias de Heródoto como Tibera- noi. Representava a terra mais distante a nordeste.66.19. G récia. Javan provavelmente representa o nome grego de Jônia, a região grega da costa ocidental da Turquia e as ilhas do Egeu. Os gregos jónicos se esta­beleceram nessa área antes do primeiro m ilênio a.C.. Existem evidências de contato entre eles e os assírios, por volta do oitavo século a.C.. A literatura e a filoso­fia grega clássica (p. ex., Homero) parecem ter inicia­do em Jônia.

J E R E M I A S

V1.1-19O chamado de Jeremias1.1. Anatote. A localização precisa de Anatote, uma cidade sacerdotal no território de Benjamim, há muito tem sido debatida. Ficava situada na elevação de Ras el-Kharrubeh, ao sul do povoado de Anata ou no vale adjacente a Anata (o historiador judeu Josefo identifi­cou Anatote com Anata). A idéia m ais recente é a de que Ras el-Kharrubeh era inicialmente Anatote, mas a c id a d e d e slo co u -se p ara A n ata , ap ós o ex ílio babilónico no final do sexto século a .C . O registro arqueológico parece confirmar essa hipótese. A cida­de é mencionada primeiro como o lar de alguns dos guarda-costas de Davi, e mais tarde o sacerdote Abiatar foi exilado lá. De acordo com Isaías 10.30, a cidade estava na rota da invasão assíria na Palestina, mas não foi destruída.1.2. cronologia. O ministério de Jeremias teve início no ano treze do reinado de Josias (c. 627 a.C.) e conti­nuou até o ano décimo primeiro ano de Zedequias e a segunda deportação (c. 587 a.C .). A parentem ente Jeremias estava na ativa por alguns anos após o exílio (ver 42-44). O ano inicial foi significativo pelo fato de coincidir com um ano após o início das reformas de Josias e um antes da declaração de independência da Babilônia em relação à Assíria. Tanto o m undo políti­co com o o m undo religioso estavam prestes a ver mudanças drásticas.1.2. Josias. Durante os primeiros anos do ministério de Jeremias, Josias era o rei de Judá (640-609 a.C.). O Livro da Lei (uma parte não identificada das Escritu­ras) foi encontrado no início de seu reinado, e depois disso Josias decretou muitas reformas culturais e reli­giosas. Talvez ele tenha aproveitado essa oportunida­de por causa de um a catastrófica guerra civil na Assíria (c. 631-626 a.C.). Quando o Im pério Assírio começou a ru ir um a década m ais tarde, Josias ficou contra os aliados egípcios e foi morto em combate ou assassina­do em Megido, no ano 609 a.C..1.3. Jeoaqu im . Jeoaquim foi colocado no trono de Judá pelos egípcios, que haviam invadido a área vulnerá­vel da Palestina após o término do Império Assírio (c. 608 a.C.). Seu nome era Eliaquim, mas os egípcios o mudaram para Jeoaquim. Ele foi vassalo do Egito até 605 quando os babilônios, sob N abucodonosor II, der­rotaram o Egito em Carquemis e subseqüentemente assumiram o controle do Levante. Quando os babi­

lônios recuaram na fronteira do Egito, quatro anos m ais tarde, Jeoaquim rebelou-se contra eles e mais um a vez ficou do lado do Egito. Porém , Jeoaquim sofreu represálias quando os babilônios capturaram Jerusalém em 598-597 e foi m orto ou deportado (o historiador judeu Josefo afirma que Nabucodonosor o matou em Jerusalém).1.3. cron ologia . Jerem ias continuou seu m inistério até o décimo primeiro ano de Zedequias (c. 587 a.C.).1.3. ex ílio . Jerem ias evidentem ente estava na ativa após a segunda deportação em 587 a.C. (ver 42-44). Os babilônios exilaram os cidadãos de destaque. Esca­vações na Sefelá, no Neguebe e no deserto da Judéia apresentam sinais da destruição babilónica. Fontes babilónicas descrevem o cerco a Jerusalém e a depor­tação de m uitos prisioneiros para a Babilônia.1.5. exem plos no antigo O riente Próximo da divin­dade conhecendo e escolhendo antes do nascim ento. H á um paralelo egípcio para a idéia da divindade conhecendo um indivíduo antes de seu nascimento. O deus Am om conhecia Pianki (um monarca egípcio da 25a Dinastia, no oitavo século a.C.) enquanto "esta­va no ventre de sua m ãe", onde sabia que seria o governante do Egito. O épico de Gilgam és diz que o papel de Gilgamés como rei foi destinado a ele "quando seu cordão umbilical foi cortado".1.5. profeta às nações. O termo traduzido como "n a­ções", quando usado no plural, geralmente significa nações estrangeiras. Portanto, não havia limites ao alvo do m inistério profético de Jeremias. Suas m ensa­gens não eram destinadas apenas a Judá, m as tam ­bém às nações que fossem aliadas em potencial, bem como às inimigas.1.9. m ão na boca como com issionam ento no antigo O riente Próxim o. Ritos reais de purificação da boca no Egito dão a idéia da boca sendo preparada para falar. Nos rituais m esopotâm icos freqüentem ente a purificação dos lábios era um símbolo da purificação da pessoa. Era considerada um pré-requisito, especi­almente para sacerdotes adivinhos, antes que pudes­sem aparecer diante do concílio divino e relatar o que haviam testemunhado. Em contraste, Yahw eh coloca palavras na boca de seu profeta, sem qualquer ritual de purificação.1.11. am endoeira. A am endoeira chegava a atingir de quatro metros e meio a nove metros de altura. Era a prim eira árvore que florescia no final de janeiro/

início de fevereiro. A flor da am endoeira é branca com manchas cor-de-rosa, desenvolvendo-se em amên­doas cerca de dez semanas mais tarde.1 .14 .15 . reinos do norte. Trata-se de uma referência à Babilônia ou à Cítia ou dos ecos de um futuro onde todas as nações se colocarão contra Jerusalém (ver Ez 38, 39; J1 3; Zc 12-14). O norte, com freqüência, era símbolo de potestades das trevas, tais como os filisteus, assírios e aram eus. Os inim igos não tinham outra escolha a não ser chegar a Jerusalém pelo norte, visto que essa era a rota da maioria das estradas. Desde 627, havia pouca evidência de que a Babilônia tinha capacidade de iniciar um a invasão no Levante. Os citas, porém, invadiram o oeste da Ásia nessa época, de acordo com o historiador grego Heródoto.1.15. tronos diante das portas. A porta da cidade era o lugar onde norm alm ente o rei se assentava para publicamente executar seus deveres como governante. Essa área era usada em eventos cerimoniais ou diplo­máticos ou para procedimentos legais. O épico ugarítico

de A qhat descreve o rei D anilo assentado ju nto à porta julgando as causas de viúvas e órfãos. U m rei conquistador se assentaria nesse trono público diante da porta a fim de ju lgar a cidade e seus líderes. Esca­vações recentes em Tel Dan revelaram algo que pare­ce ser uma plataforma de pedra na parte interna da porta da cidade, onde haveria um trono e um a cober­tura com um toldo.

1.16. o b je tiv o de qu eim ar incen so . O incenso era uma mistura de especiarias que produziam um odor agradável quando queimadas. As ofertas de incenso eram comuns no Oriente Próximo e em Israel. Eram usadas em conjunto com os sacrifícios (ver o comentá­rio em 44.18). Uma das especiarias m ais caras era o olíbano, uma resina branca importada de Sabá, no sul da Arábia. Escavações trouxeram à tona uma grande variedade de altares de incenso em todo o Israel, in­clusive dois em Arade e dez em Micne/Ecrom.1.18. m etáforas da co lu n a de ferro e do m uro de bronze. O ferro e o bronze sim bolizam a força em m uitas passagens bíblicas (ver o com entário em Is 45.2). Foram encontradas portas de bronze construí­das pelos assírios em Balawat. Figuravam como deco­

rações em muralhas fortes. Tutmés III, faraó do Egito, descreve a si m esm o com o um muro de ferro e de bronze para o Egito, significando que ele era como uma cidade fortificada impenetrável.

2.1-3.5A infidelidade de Israel2.8. profetizavam em nom e de Baal, seguindo deu­ses inúteis. Apesar das reformas de Ezequias e Josias, o povo de Ju dá com freqüência se voltava para o

sincretismo religioso, realizando rituais e adorando as divindades de Canaã. Os profetas associados a esse sincretismo profetizavam em nome de Baal e consul­tavam oráculos diante dos ídolos de Baal.2.10. ilhas de Q u itim (litoral de Chipre). Quitim é mencionado no quadro de origem das nações (Gn 10)

como descendente de Javã (grego, Jônia), associado ao m ar Egeu e ao leste do Mediterrâneo. Quitim prova­velmente é o termo hebraico para Quitiom, perto da atual Lanarca, no litoral centro-sul de Chipre, m as é m ais provável que designasse a ilha toda. Era uma localidade da Idade do Bronze. N a época de Jeremias, o termo Quitim provavelmente era um a referência à Grécia ou a um lugar distante, de modo geral. Ostracos de Arade que remontam ao sétimo século a.C. citam indivíduos de Quitim que tinham nomes gregos. Pro­vavelmente tratava-se de comerciantes cipriotas.2.10. Quedar. Quedar, o segundo filho de Ismael (Gn25.13), era o nome de uma tribo ismaelita que flores­ceu do oitavo ao quarto século a.C.. A tribo é mencio­nada em textos assírios e babilônios como Qadar. Os nomes próprios dos quedaritas parecem estar relacio­nados ao ram o sul das línguas semitas. Esses povos tribais estavam radicados na península arábica e com freqüência dirigiam-se ao Levante passando pelo Sinai. O s quedaritas viviam no deserto leste, enquanto o povo de Quitim habitava os limites ocidentais do mar.2.11. nações trocando seus deuses no O riente Próxi­mo. Devido à infiltração de elem entos estrangeiros, muitas nações acrescentavam deuses ao seu panteão. Além disso, o nome dos deuses sofria ligeiras altera­ções com o passar do tempo. M as o conceito de uma nação trocando seus deuses por outros era uma idéia estranha no antigo Oriente Próximo. O verbo possi­velmente traz a idéia de "barganhar"; nesse caso, não se refere a uma simples troca, mas a um a negociação por algo de m aior valor.2.13. cisternas rachadas. Geralmente, as cisternas eram construídas com pedra calcária em colinas. As pessoas revestiam o interior delas com uma massa de gesso calcinado e arm azenavam ali a água das chuvas. Mas muitas vezes essas cisternas rachavam e a água aca­bava vazando, ficando o agricultor sem acesso a esse

bem essencial à vida.2.15. m etáfora do leão . Provavelm ente essa figura represente os assírios que, como leões, devoravam cidades e terras. Q ualquer núm ero de cam panhas militares assírias está sendo aludido aqui. Os assírios tinham estátuas de leões alados com cabeça de ho­m em nas portas de muitas de suas cidades.2.15. queim aram as suas cidades. Essa é uma referên­cia a campanhas específicas de diversos governantes assírios que dirigiram-se ao Levante, inclusive Tiglate-

Pileser III (745-727 a.C.), Salmaneser V (727-722 a.C.), Sargão II (721-705 a.C.), Senaqueribe (705-681 a.C.) e Esar-Hadom (681-668 a.C.). Visto que os assírios não tinham intenção de ocupar essas cidades, sua prática era queimá-las a fim de dar um alerta sobre o preço que pagava quem não se dispunha a cooperar.2.16. M ên fis. M ênfis era a residência dos primeiros reis egípcios. Muitos judeus (bem como fenícios, de acordo com Heródoto) fugiram para lá durante a inva­são babilónica de 587 a.C.. Tem sido identificada com a atual localidade de M itrahineh, cerca de 24 quilô­metros ao sul de Cairo, na margem oeste do rio Nilo. A cidade havia estado em declínio desde 1000 a.C.. Entretanto, foi restaurada pela 25a Dinastia e tomou- se a principal residência dos reis egípcios no sétimo século a.C.. Provavelm ente tam bém foi a residência dos reis da 26a Dinastia. Para mais informações, ver o comentário em 46.19.2.16. T afnes. Tafnes era um posto avançado na região leste do Delta do Nilo, na fronteira com o Sinai. Era conhecida como D afne pelos gregos que habitaram no posto avançado como m ercenários até o sétimo século a.C.. O historiador grego Heródoto afirma que

Dafne era um dos três postos avançados estabelecidos pelos egípcios para frear a invasão assíria. Talvez os judeus que fugiram dos babilônios tenham feito uma parada ali, no início do sexto século a.C..2.16. rapar o crânio. Ter a cabeça rapada no antigo Oriente Próximo (embora nem sempre) indicava que se tratava de um escravo ou subordinado. Porém, o termo hebraico traduzido aqui como "rap ar" é pro­blemático e há pouco acordo sobre seu significado.2.18. Sior (Nilo). Sior provavelmente é o nome hebraico para "águas de H órus", a divindade-falcão do Egito. Embora provavelmente fosse um braço na região nor­deste do Delta do Nilo, sua localização é incerta. Al­guns estudiosos têm associado Sior com o ribeiro do Egito, o primeiro braço de água que se via, seguindo para o sul, da Palestina para o Egito.2.18. E u frates. N as Escrituras, m uitas vezes, o rio Eufrates é designado como "o Rio".2.20. m onte elevado e árvore verdejante como lugar de prostituição. Parte dos ritos de fertilidade dos san­tuários cananeus locais eram executados no alto dos montes ou debaixo de diversos tipos de árvores (car­valhos, álamos e terebintos). Os rituais sexuais dedi­cados aos deuses da fertilidade também são mencio­nados em Oséias 4.13. Aserá é retratada na iconografia israelita como um a árvore estilizada.2.22. soda, sabão. O term o traduzido como "sod a" refere-se a um derivado do carbonato de sódio, prova­velmente importado do Egito. O sabão era feito com as cinzas de uma planta nativa.

2.23. baalins. O emprego do plural para Baal refere- se aos m uitos centros cultuais de Baal existentes na prática cananéia. Em outras palavras, havia um Baal para cada cidade (p. ex., Tiro, Sidom e Gade). Um a série de nomes de lugares do Antigo Testamento con­tém o elemento Baal (p. ex., Baal-Zafom e Baal-Peor). Supõe-se que signifiquem "B aal de Peor" ou "B aal de Z afom ". Baal, que significa "sen h o r", ocorre como um nome divino desde o século dezoito a.C. em no­

mes próprios am orreus de Mari. Alguns estudiosos apresentam exem plos de nom es que rem ontam ao final do terceiro milênio. Por volta do século catorze, o título era usado pelos egípcios para referir-se ao deus da tempestade. O nome também é evidente em textos de Alalakh, Am am a e Ugarit como nome próprio do deus da tempestade, Adad. Baal era uma divindade da fertilidade e era um deus que m orria (no inverno) e ressuscitava (na primavera). Na mitologia de Ugarit, ele é retratado em combate com Yam m (o mar) e M ot (a morte). Suas consortes são Anat e Astarte.2.23, 24. m etáfora da cam ela e da jum enta. Camelas jovens não são animais confiáveis e trotam agitadas e ariscas de form a desordenada. A jum enta, quando está no cio, age de forma quase violenta e persegue o

macho, assim como Israel corria atrás dos baalins.2.27. madeira/pai, pedra/mãe. N esse caso, a árvore era uma im agem de Aserá, uma divindade feminina e o símbolo masculino é "o que deu à luz". Portanto,

os israelitas estão completamente confusos em relação a seu culto. É difícil determ inar se o texto está se referindo de modo geral ao culto politeísta ou especi­ficamente a símbolos de fertilidade.2.28. deuses tão num erosos como as cidades. Os diver­sos panteões da maioria dos povos do antigo Oriente Próximo incluíam centenas e às vezes até milhares de deuses. Jerem ias está afirm ando que os judeus não são diferentes de seus vizinhos politeístas. Também era comum que as cidades tivessem divindades pa­

droeiras, de modo que os deuses se multiplicavam à medida que as cidades se desenvolviam.2.32. jó ias. O termo para jóias aqui é traduzido em ou­tros contextos como "jó ia", no singular, m as aqui pro­vavelm ente denota um enfeite ou alguma peça que era exclu siv a da noiva. V er o com entário em Ezequ iel 16 .11 ,12 para um a descrição dos ornamentos.2.36. decepcionada com o Egito e com a A ssíria. Não se sabe ao certo se Jerem ias está se referindo a eventos específicos ou a essas nações de m odo geral. Por volta de 732 a.C. tanto Judá quanto Israel haviam entrado em um relacionamento de vassalagem com a Assíria. Porém, no final, a Assíria não protegeu seus vassalos mas os destruiu, como fez com Israel, em 721 a.C., e com ^u dá, em 701 a.C.. O Egito, por sua vez, fora

incapaz de proteger seus vassalos do poder da Assíria ou de outros reinados do oeste asiático. Sendo assim, nenhum reinado pôde oferecer a segurança ou a pro­teção que Judá estava buscando.2.37. m ãos na cabeça. O gesto de colocar as "m ãos na cabeça" era um sinal de tristeza e luto no antigo Ori­ente Próximo. Foi ilustrado por figuras de mulheres de luto no sarcófago fenício de A irão, rei de B iblos no século treze. A Lenda Egípcia dos Dois Irmãos também descreve esse gesto como um a demonstração de luto.3.1. le is do d ivórcio . Existem inúm eros textos da Mesopotâmia e do Egito que descrevem as leis acerca do divórcio. Em bora as leis geralmente favorecessem os homens, em ambas as culturas, era permitido que as m ulheres, em determinadas circunstâncias e condi­ções, obtivessem o divórcio. N este contexto, Jerem ias está fazendo menção a uma lei específica do divórcio do Antigo Testamento, em Deuteronômio 24.1-4, que afirm a que um hom em não pode se casar de novo com sua ex-esposa se ela tiver se casado com outro

homem nesse ínterim. Logo, a resposta à pergunta de Jerem ias é não, o m arido não poderia casar-se de novo com ela.

3.3. chuva na primavera. Os dois tipos de chuva des­critos aqui são os aguaceiros que geralm ente caíam em março e as chuvas temporãs da prim avera, que norm alm ente desciam em abril.

3.6-4.4 A infidelidade de Israel3.6. práticas de adoração. Ver o comentário em 2.20.3.8. certidão de divórcio. A s certidões de divórcio eram bem conhecidas no antigo Oriente Próximo. Na verdade, até mesmo uma certidão de divórcio da rea­leza, escrita num tablete de argila em Ugarit, da Ida­de do Bronze Moderna, foi encontrada. Muitos textos contendo leis a respeito do divórcio foram encontra­dos em escrita cuneiforme na Mesopotâmia e em pa­piros, no Egito.3.9. adultério com ídolos de pedra e m adeira. Come­ter adultério com ídolos de pedra e m adeira refere-se ao "ad ultério esp iritual" de seguir após os aserins (árvores sagradas, i. e., idolos de madeira) e aos baalins (ídolos de pedra).4.4. m etáfora da circuncisão do coração. A circunci­são não era um a prática exclusiva de Israel como evi­dencia a iconografia encontrada no Egito. Mas o signi­ficado por trás dela era único, visto que era um sinal de que o povo de Israel pertencia a Yahweh. A circun­cisão norm al colocava de form a simbólica o órgão de reprodução debaixo do controle de Yahweh, como um

lembrete da promessa de que Israel seria uma grande nação. O conceito da circuncisão do coração significa­

va colocar de forma simbólica o órgão da volição de­baixo do controle de Yahw eh, como um reconheci­mento da submissão à lei.

4.5-31 A invasão que vem do norte4.5. principais cidades fortificadas de Judá. De acor­do com Senaqueribe, rei da A ssíria (705-681 a.C.), Judá tinha 46 cidades fortificadas (i. e. cidades mura­das), que ele havia invadido e inúm eras pequenas cidades ou aldeias. Portanto, havia um determinado núm ero de cidades com importantes sistemas de defe­sa. O sistema de defesa de Láquis, uma das principais fortalezas de Judá, foi am plamente escavado no sécu­lo passado. Continha duas cam adas de m uralhas e fortes torres.4.6. tipo de sinal. O toque da trombeta anunciava um estado de em ergência (ver A m 3.6). A o ouvi-lo os ci­dadãos que viviam em povoados ou que estavam nos campos trabalhando fugiam para o interior das cidades muradas. Nesse caso, a trombeta foi tocada em toda a terra, por tratar-se de um a em ergência nacional.4.6. desgraça do norte. Ver o comentário em 1.14 ,15 .4.8. vestes de lam ento. As vestes de lamento ou pano de saco eram vestim entas rústicas (geralmente feitas de lã de carneiro) usadas pelas pessoas de luto em tempos de sofrimento (morte de um ente querido) ou grande desgraça. Também eram usadas pelos pasto­res palestinos porque eram baratas e duráveis.4.11. vento para peneirar e lim par. O vento quente e escaldante do deserto era provavelmente o siroco, um vento que era forte demais para peneirar os cereais na eira, visto que carregava tanto a palha como os grãos. A m etáfora portanto é clara: o castigo de Deus será como o vento quente, que engolirá tanto os bons quanto os maus. A palavra traduzida como "lim par" aqui é usada nos M anuscritos do M ar M orto para referir-se à limpeza que se fazia no cereal, separando a palha, e provavelm ente tem esse significado aqui também.4.15. proclam ação desde D ã. A cidade de Dã (a atual Tel el-Qadi) era o limite norte de Israel. Escavações têm demonstrado que era um a importante cidade na época de Jeremias. Essa cidade teria percebido a che­gada dos invasores primeiro. Portanto, um m ensagei­ro de Dã correria para o sul, "proclam ando a todo o Israel" as m ás notícias.4.15. m ontes de Efraim . De Dã, o invasor desceria as montanhas de G olã até chegar aos montes de Efraim, a região m ontanhosa no centro do antigo reino do norte, que se estendia desde Siquém até Betei.4.23-26. tem a do m undo de cabeça para baixo. Jere­m ias tom ou essa im agem do relato da criação em G ênesis 1.2. E le descreve com im agens poéticas a

inversão da criação, de volta a seu estado caótico, antes de Deus ter feito sua obra. O texto babilónico M ito de Erra e Ishum apresenta certa sem elhança ao descrever a inversão da criação, quando M arduque promove a ordem no caos primevo. Na temática do mundo invertido tudo que é considerado confiável e seguro é ameaçado. O conceito pode ser aplicado à esfera cósmica (o sol se escurecerá), à natureza (mon­tes sendo aplainados), à política (impérios sendo de­postos), à sociedade (pobres tom ando-se ricos) ou ao mundo animal (leão e cordeiro juntos). Com freqüên­cia esse tema é usado na literatura profética atrelado ao Dia do Senhor e ao julgam ento vindouro.4.28. o céu se escurecerá (eclipse). Nessa im agem po­ética a terra é personificada (como são m uitos dos objetos inanim ados no hebraico) e descrita como se estivesse de luto e "se escurecendo". N ão se deve supor que Jerem ias esteja tentando descrever um fe­nômeno celestial, tal como um eclipse, embora a m es­ma terminologia pudesse ser usada nesse caso.4.30. se veste de vermelho/ pinta os olhos. Um a rou­pa verm elha representava o m ais alto requinte no vestuário feminino. O corante vermelho era feito dos ovos de um inseto coletado nas folhas de carvalho. A m aquiagem para os olhos (antimônio) era usada (e ainda é usada no atual Oriente Médio) para fazer os olhos parecerem maiores, destacando assim, a beleza da m ulher. N em a roupa verm elha, nem a pintura nos olhos eram especificamente associadas a prostitu­tas, m as eram simplesmente usadas por uma mulher que desejasse tom ar-se mais atraente.

5.1-31A falsidade de Israel5.1. comparação com D iógenes. De certa form a como Diógenes, o filósofo grego cínico do quarto século a.C., o povo de Judá recebe a sugestão de percorrer a cida­de e procurar por um homem honesto (ou nesse caso, justo). A comparação com Diógenes termina, um a vez que os judeus estão à procura de alguém que aja com ju stiça e seja fiel a Yahw eh. D iógenes por sua vez procura alguém que se conforme à sua idéia secular de justiça, uma idéia não necessariamente atrelada a um a divindade.5.6. até que ponto eram comuns os ataques de preda­dores? Os leões e outros predadores eram m ais co­muns no Oriente M édio do que são hoje. U m ataque de um predador não era considerado um aconteci­mento raro ou surpreendente. Por isso, os judeus esta­riam bem familiarizados com essa metáfora.5.8. m etáfora do garanhão. Os garanhões eram co­nhecidos por sua forte inclinação sexual e obediência cega a seus instintos. De forma bastante parecida, o

povo de Judá dava vazão à sua promiscuidade, fosse ela na forma de adultério espiritual ou na participação em atividades sexuais do culto da fertilidade.

5 .12 ,13 . profetas m entirosos. Certamente um profeta que oferecesse ao povo a esperança de paz, segurança e resolução dos problemas seria popular. Do mesmo m odo não havia escassez de profetas que considera­vam o benefício próprio apoiavam os desejos do trono nessas questões e estavam, portanto, desejosos de re­

presentar os interesses do rei e a im agem que queria divulgar para o povo. O termo literal para esses pro­fetas é que "não passam de vento", em outras pala­vras, sacos cheios de ar cujas palavras não têm ne­nhum valor.5.24. chuvas do outono e da prim avera. As chuvas

do outono e da prim avera eram sim plesm ente cha­m adas de "prim eiras e últim as" chuvas. Israel tem um a estação chuvosa (nos meses de inverno) e uma estação seca (nos meses de verão). A estação chuvosa

com eça com as chuvas do outono ("prim eiras chu­v as", outubro a novembro) e termina com as chuvas da primavera ("últim as chuvas", início de abril). Elas são importantes porque contribuem para o aumento da um idade na terra e para afofar o solo que será arado. Baal era considerado o senhor da natureza e quem controlava as chuvas, de acordo com os cultos cananeus da Palestina. Porém , Jerem ias argum enta que é Yahw eh quem deve ser adorado como aquele que dá a chuva na estação própria.

6.1-30Jerusalém é sitiada pelo exército do norte6.1. T ecoa. Tecoa (K hirbit Tequa) era um a cidade situada na região m ontanhosa de Judá, 16 quilôm e­tros ao sul de Jerusalém , na fronteira entre a terra cultivável e o deserto. U m refugiado de Jerusalém podia chegar até essa cidade dentro de um dia.6.1. Bete-H aquerém . Bete-H aquerém estava relacio­nada a Tecoa e Belém, m as sua localização precisa é incerta. U m dos pais da igreja prim itiva, Jerônim o, afirmava que podia ser vista de Belém e talvez por isso tenha sido identificada com 'A in Karim, cerca de seis quilômetros a oeste de Jerusalém, ou com Ramath Rahel, quatro quilôm etros ao sul de Jerusalém , que seria um local ideal para se colocar um sinal.6.6. ram pas de cerco. Os antigos eram notáveis por sua habilidade de conduzir guerras de cerco. A cons­trução de um a rampa de cerco era um a estratégia útil, mas bastante precária, visto que os defensores da ci­dade faziam o possível para atrapalhar seu progresso. Normalmente as rampas eram feitas em aclive, cons­truídas com alicerce de árvores e grandes pedras e misturadas com barro e outros elementos disponíveis.

Inúmeros relevos de parede da Assíria ilustram ram ­pas de cercos assírios empregadas em todo o Oriente Próxim o. Tam bém foram encontrados vestígios de ram pas de cerco na cidade judaica de Láquis (para mais inform ações, ver o comentário em 32.24), cuja fortaleza os assírios tiveram êxito em conquistar e destruir.6.20. incenso de Sabá. Um a das especiarias mais ca­ras era o olíbano, um a resina branca im portada de Sabá, um centro do comércio de especiarias no sul da Arábia. O incenso acompanhava as ofertas sacrificiais (ver o comentário em Lv 2.1).6.20. cálam o arom ático. O cálam o arom ático (cana aromática) provavelmente era originário da índia. Fi­gurava entre os ingredientes alistados em Êxodo 30.23 no preparo do óleo de unção. Era um a planta que crescia nos pântanos, usada como tônico ou estimulan­te. Não deve ser confundida com a cana de açúcar, que espalhou-se no oriente após o período do Antigo Testamento.

6.23. unidades de cavalaria no sétim o século. Os car­ros de guerra e a cavalaria eram usados primordial­mente como tropas de choque no sétimo século a.C.. Porém, com as reformas de Tiglate-Pileser III, rei da A ssíria (745-727 a.C.), cavalos e carros também passa­ram a desempenhar um papel na artilharia leve, uma vez que flechas eram atiradas de carros puxados por cavalos. M ais tarde, um carro mais pesado com quatro hom ens surgiu com Assurbanipal (668-627 a.C.). A cavalaria (sem estar atrelada a carros) foi desenvolvi­da em Urartu (bíblica Ararate), que forneceu quase mil unidades especializadas ao exército assírio na época de Sargão II (721-705 a.C.). Fazendas de haras foram form adas em diversos pontos do im pério, especial­mente na Síria e nas capitais assírias. Toda essa tradi­ção da cavalaria foi herdada pelos caldeus no final do

sétimo século a.C.. Para mais informações, ver o co­mentário em Habacuque 1.8.6.26. revolva-se em cinza. Rolar ou revolver-se no pó ou em cinzas era um sinal de luto no antigo Oriente Próximo.6.27. exam inador de m etais. O examinador ou refi- nador de metais aqui m encionado era um metalúrgico cuja tarefa era examinar a qualidade do minério que era refinado, ou seja, extirpado de seus elem entos impuros. Quando, porém, havia uma grande quanti­dade de im pureza no m etal, a peça era totalmente descartada.6.28. m etáfora do bronze e do ferro. No mundo an­tigo a prata era extraída e refinada através de um processo chamado copelação. No processo inicial de fundição, a prata era extraída de minérios de chumbo (galena) contendo menos de um porcento de prata em

cada amostra. O chum bo era derretido em vasilhas rasas feitas de substâncias porosas com o cinzas de ossos ou argila. Um fole então era usado para soprar através do chum bo fundido, produzindo óxido de chum bo (litargírio). Parte do óxido de chum bo era absorvida pela vasilha porosa, enquanto outra parte formava uma camada na superfície. Teoricamente a prata era o que sobrava. Infelizmente, esse processo apresentava muitos problemas potenciais. Se a tem ­peratura estivesse elevada dem ais ou se a am ostra contivesse outros metais (cobre ou estanho eram co­muns), a copelação não teria êxito. Nesse caso, quan­do o litargírio formava uma camada na superfície, em vez de prata, restava uma prata m isturada com outros m etais e, portanto, inutilizável. Talvez esse seja o produto descrito como "escória" ou "prata rejeitada" pela tradução. Outra possibilidade é que o texto se refira ao processo de refinação que envolvia aquecer um a amostra de prata com grandes quantidades de chumbo a fim de extrair as impurezas. Um dos resul­tados possíveis desse processo era que a quantidade de chumbo seria insuficiente para extrair as impure­zas, inutilizando a prata. Em vez de ser purificada, então, a prata ficava em piores condições que antes do processo. Talvez o texto tenha em mente esse processo e a prata se transforme nesse lixo inútil.

7.1-29 A inutilidade da falsa religião7.2. proclam ações ju n to à porta do tem plo. As pro­clamações geralmente eram feitas em lugares públi­cos onde um grande trânsito de pessoas era esperado. As portas eram pontos de intensa atividade nas ci­dades antigas. Pela porta do templo passavam todos aqueles que tinham negócios a resolver no templo, inclusive quem se dirigisse ali para oferecer algum sacrifício. Esse é o público-alvo da proclam ação de Jerem ias.7.2. tipo de adoração. Os dois term os em hebraico usados aqui para adorar significam "servir" e "pros­trar-se" (reverenciar). O último é usado aqui e geral­m ente representa um ato de hum ilhação, com fre­qüência associado a um a petição. O templo era primor­dialm ente um santuário e era considerado parte da propriedade da coroa. O templo era a "casa de D eus", ou seja, sua residência. Não era um lugar de adoração coletiva e os adoradores eram admitidos aos átrios do templo, m as não nos recintos interiores propriamen­te. Os rituais sacrificiais eram feitos nos pátios e outras áreas externas. Embora haja muitos textos que descre­vem tem plos no antigo O riente Próxim o, nenhum descreve em detalhes o tipo de adoração individual que era feita dentro dos m uros do templo. Sabemos

que os adoradores recebiam sonhos da divindade (p. ex., em M ari) quando contem plavam sua im agem , mas a entrada de fato no templo deve ter sido rara.7.4. ideologia do templo. As pessoas neste contexto passaram a acreditar que o templo era tão importante para Deus que protegia as pessoas. No antigo Oriente Próximo, a cidade inteira era considerada sob a prote­ção de sua divindade padroeira. N esse aspecto, Je ­rusalém se considerava impenetrável porque abriga­va o templo de Yahweh, ou seja, a m orada de Deus. Certamente esse conceito ganhou peso durante o rei­nado de Ezequias, um século antes. De forma seme­lhante, os templos na antiga Ásia ocidental eram des­critos como a "casa do deus". Os reis mais justos eram aqueles que m antinham a casa de deus em ordem e prom oviam constantes reform as nela. A divindade habitava no templo, assim como o rei e as pessoas habitavam em suas próprias casas. O templo tinha de ser mantido de forma bastante semelhante ao cuidado que se destinava à imagem do deus, que era alimen­tada, lavad a e vestida diariam ente. Essas eram as necessidades dos deuses. A divindade "precisava" de um a casa, por isso acreditava-se que ela protegeria a casa e a cidade que supriam sua necessidade de abri­go. Pensando de form a bastante parecida à de seus vizinhos, os israelitas estão transformando o templo em um talismã protetor.

7.6. pessoas vulneráveis no antigo O riente Próximo.A Lei Mosaica tinha um a profunda preocupação com o bem-estar do ser humano, especialmente por razões históricas. Visto que os israelitas haviam sido escravos no Egito, eram sensíveis às necessidades de escravos, viúvas, órfãos e outros grupos menos favorecidos. Exis­tem inúmeros textos legais na Mesopotâmia que tra­tam dos oprimidos, tais como viúvas, órfãos e enjeita­dos. No entanto, esses textos geralmente tratam dos direitos legais (ou ausência deles) e não da assistência a essas pessoas. Por exemplo, as viúvas do período neo-babilônico estavam sob a proteção legal de seu pai, irmão ou cunhado. Entretanto, aquelas que tives­sem auto-suficiência financeira após a morte do m a­rido, não tinham necessidade da tutela de um prote­tor e, portanto, não eram consideradas legalm ente viúvas. Para m ais informações, ver o comentário em Êxodo 22.22-24.7.9. responsabilidad e ética e relig iosa. As religiões praticadas pelas nações vizinhas de Israel previam um comportamento ético das pessoas, mas talvez se baseassem em uma lógica ligeiramente diferente. Na Babilônia, por exem plo, Sham ás, o deus-sol, era o deus da justiça. Shamás era responsável por garantir que a justiça fosse mantida no mundo, uma vez que a justiça fazia parte da ordem que era sustentava o cos­

mos. De forma bastante semelhante, o proprietário de

uma loja pode exigir honestidade de seus emprega­

dos porque ele sabe que isso contribuirá para o suces­so de seus negócios, ainda que ele mesmo talvez não

seja tão honesto. Em Israel não era o bom funciona­mento do cosmos que motivava Yahw eh a insistir no

comportamento m oral de seu povo. A lei se originava em seu caráter e a santidade que ele exigia era um

reflexo dele.7.10. tem p lo que leva o m eu n om e. O tem plo é o

lugar onde D eus escolhera colocar seu nome ou em

outras palavras, onde estabelecera seu direito legal, logo, era sua propriedade particular. O tem plo no

antigo Oriente Próximo era considerado a residência

privada da divindade, ou seja, sua propriedade parti­cular. O rei era m eram ente o zelador do prédio e

responsável por sua manutenção.

7.10. tem plo garantindo proteção. Na Mesopotâmia e

em Israel o templo garantia proteção porque a divin­

dade habitava ali e por isso o adorador tinha mais acesso

à proteção do deus. Ao contrário do que acontecia na Grécia antiga, porém, não havia nenhuma lei especial

de proteção para um indivíduo, apenas porque estives­

se nos lim ites da propriedade de um templo.7.12. S iló . Siló (atual K hirbit Seilun), no coração das m ontanhas efraim itas, era o lugar onde Israel convo­

cava suas assem bléias sagradas antes de usar Jerusa­

lém. Escavações conduzidas ali desenterraram ampla

arquitetura do século onze a .C . O lugar existiu durante

a Idade do Ferro, m as as estruturas sagradas estavam praticamente em ruínas na época de Jeremias. Acredita-

se que tenha sido invadida pelos filisteus em decorrên­

cia de sua vitória na Batalha de A feque (1 Sm 4).7.18. bo los para a R ainh a dos Céus. O term o para

bolos descrito aqui é um empréstimo do acadiano. Os babilônios usavam bolos doces no culto à deusa Istar.

É possível que tam bém aqui o título "R ain ha dos

Céus" seja um a menção a Istar, mas algumas evidên­cias apontam para uma deusa-mãe sem nom e ou para

Aserá. Os bolos eram assados diretamente sobre bra­sas de fogo e não em fom os. Conforme descrito nessa

passagem, toda a família participava dos rituais cul­tuais. Oferecer bolos às divindades era bastante co­

m um na Babilônia. Quarenta e sete formas de bolo representando uma deusa (algumas com form a fem i­

nina, outras com forma de estrela) foram encontradas

na cozinha real do início do segundo milênio a.C., em Mari, no nordeste da Síria.

7.18. derramam ofertas. As ofertas líquidas ou libações

eram comuns em Israel, mas a expressão usada aqui,

"derram am ofertas", normalmente refere-se a ofertas descritas em outros contextos como ofertas dedicadas a

outros deuses nos telhados das casas (ver o comentário em 32.29), sugerindo adoração astral.7.20. ardente ira derramada sobre anim ais, árvores e produto do solo . O paralelo entre "hom ens e ani­m ais" é com um n a Escritura (por exemplo, Êx 8.13, 14). Porém, a adição de árvores e produto do solo não é vista em nenhum outro contexto. Quando Enlil, o rei dos deuses na Mesopotâmia, provocou o dilúvio, atingiu toda a carne indiscrim inadam ente. O m ito babilónico de Erra e Ishum tam bém descreve a de­vastação que recaiu sobre homens e animais. Por ou­tro lado, estratégias de guerra com freqüência tinham como alvo o produto dos cam pos e as árvores. As árvores eram cortadas para atender as necessidades do exército sitiante ou simplesmente para arrumar as florestas. Parte do produto dos campos era usado para su p rir o ex é rc ito , o u tra p arte sim p lesm en te era pisoteada pelos soldados em m archa ou intencional­m ente destruída a fim de acabar com a economia.

7.21. com er a carne dos holocau stos. V isto que os holocaustos eram totalmente consumidos sobre o al­tar, supostam ente não restava nenhum a carne que pudesse ser ingerida pelos adoradores. Porém , visto que D eus não tinha intenção nenhum a de ouvir as petições que acompanhavam os holocaustos, os israe­litas poderiam ter comido a carne do sacrifício que não teria feito diferença.

7.29. cortar os cabelos e jog á-los fora. O corte dos cabelos norm almente era um gesto de luto. Porém, o

objeto do verbo aqui freqüentemente era usado para a consagração de sacerdotes e nazireus, que faziam voto de não cortar o cabelo. Yahw eh está ironicamen­

te mandando o povo cortar seus cabelos consagrados, visto que seus votos não serviriam de nada.

7.30-8.3Morte no vale de Ben-Hinom7.31. alto de T ofete no vale de Ben-H inom . "T ofete”

era o altar cultual onde crianças eram oferecidas ao deus M oloque. Acredita-se que a palavra signifique o forno onde a vítima era depositada. O termo hebraico tem paralelos em ugarítico e aramaico com o significa­do de "fornalha" ou "fogueira". Eruditos acreditam que Tofete ficava na junção do vale de Ben-Hinom com o vale de Cedrom. O vale de Ben-H inom tem sido identificado com o uádi er-Rahabi, a sudoeste da

Cidade de Davi. Muitos consideram que Moloque era um a divindade do m undo inferior cujos rituais ti­nham origens cananéias e focalizavam os ancestrais mortos. U m a inscrição fenícia do oitavo século a.C.

fala de sacrifícios feitos a M oloque antes da batalha entre cilicianos e seus inim igos. O nom e M oloque parece estar relacionado ao termo hebraico mlk ("go­

vernar"). Os sacrifícios a M oloque eram oferecidos no altar de Baal, o que pode significar que o termo era um epíteto do próprio Baal, bem como de outras di­vindades (32.35).7.31. queim ar em sacrifício seus filh o s e filh as. Asevidências para essa prática fora das Escrituras são de fato raras. Textos legais assírios descrevem um a cláu­sula punitiva que diz "terá de queimar seu filho a Sin (uma divindade lunar) e sua filha a Belet-seri". Ver também o comentário em 2 Crônicas 28.3.8.2. exposição de ossos. Os ossos das sepulturas eram considerados sagrados. A ligação entre a vida e a mor­te no antigo Oriente Próximo era diferente da nossa. Acreditava-se que os indivíduos tinham um a consci­ência após a m orte enquanto seus corpos (i.e., ossos) ainda existissem e permanecessem enterrados de for­m a adequada. Com freqüência a profanação de tú ­m ulos não tinha o objetivo de m eram ente tirar tesou­ros dali e sim de perturbar os ossos do morto. Assur- barnpal, rei da A ssíria, atacou a capital elam ita de Susa e levou dali os ossos dos m ortos a fim de "im por

desassossego sobre seus espíritos e privá-los de ofer­tas de comida e libações". O s cultos aos mortos abun­davam em todo o Oriente Próximo. Em Israel, os cor­pos dos mortos também recebiam tratamento cuida­doso e a violação de túm ulos era vista com horror. Deve-se lembrar que tanto Jacó como José demonstra­ram o desejo de que seus ossos fossem levados à Terra Prom etida quando os israelitas voltassem para lá.8.2. culto aos astros do céu. As "hostes do céu" (NVI

"astros") eram o exército celestial formado pelos pla­netas e estrelas habitados pelos espíritos divinos que controlavam o destino da humanidade. Os babilônios eram especialistas em matéria de adivinhação astral, tentando predizer e controlar o destino através do uso

de presságios e exame das estrelas. A astrologia m o­derna tem suas raízes na Babilônia do período helerús- tico (após 331 a.C.), séculos depois de Jeremias. Selos israelitas do sétimo século m ostram que os símbolos astrais para as divindades eram muito populares na­quele período. Para mais informações, ver os comen­tários em Deuteronômio 4.19; 17.3; 2 Reis 23.4; 2 Crô­nicas 33.5.

8.4-9.26Castigo iminente8.7. m etáfora da migração de aves. Embora a identi­ficação exata das aves mencionadas aqui seja incerta, fica claro que elas obedeciam à vontade de Yahweh (m igrando para o lugar certo, na época certa), en­quanto seus filhos não lhe obedeciam.8.14. m etáfora da água envenenada. Era crucial para um a cidade sitiada ter acesso a um suprim ento de

água protegido. Se o suprimento tivesse sido envene­

nado, a cidade ficaria literalm ente indefesa e seria obrigada a render-se aos invasores. Logo, essa é uma metáfora para a abreviação do cerco.8.16. D ã como direção do ataque. Ver o comentário em 4.15.8.17. serpentes n a Palestina. As serpentes aqui prova­velmente são um a metáfora para o exército caldeu. As serpentes descritas nas Escrituras parecem ser vene­nosas, em bora nenhuma espécie particular possa ser determ inada. Isaías 11.8 faz m enção ao "n inho da víbora" e os comentaristas sugeriram que trata-se de um a referência às cobras, visto que elas geralmente vivem em ninhos ou esconderijos. Outras serpentes venenosas provavelm ente eram a víbora da relva (conhecida por atacar sem provocação) e a víbora do deserto.8.17. encantar serpentes. As serpentes eram grande­mente temidas no mundo antigo por serem conside­radas seres mágicos e também por causa de seu vene­no. Tanto a literatura egípcia quanto a mesopotâmica contêm exem plos de encantam entos usados contra serpentes e suas mordidas. A palavra traduzida como "encan tar" aqui não deve evocar im agens de dese­

nho animado de serpentes hipnotizadas subindo em espiral controladas por tocadores de flauta. Ao contrá­rio, a referência é a serpentes contra as quais os encan­tamentos são ineficazes. Textos acadianos também fa­lam de serpentes que são "desconjuráveis".8.20. relação entre as estações e a libertação. Uma vez que a época da colheita de cereais e frutas e a estação de crescimento e amadurecimento das plantações ha­viam terminado, não havia nada nos celeiros. Essa é uma descrição de tempos de fome; por causa dos exér­citos invasores não havia como colher os campos e a perspectiva era de um inverno sem alimentos.8.22. b álsam o de G ilead e. Em bora o bálsam o esteja associado a G ilead e, não há nenhum a evidência de um a árvore ou planta que produzisse bálsam o nesse lugar, se bem que as divisas de Gileade nunca foram bem definidas. Existem duas possibilidades: ou a re­ferência é a algo distinto do bálsam o (ver o com entá­rio em 46.11) ou Gileade na verdade importava bálsa­mo, em vez de produzi-lo. A Estrada do Rei, a princi­pal rota com ercial na região, passava por Gileade e o bálsam o era um dos principais produtos de troca. As caravanas de especiarias vindas do leste seguiam essa rota e sem dúvida o bálsam o era vendido ali (ver Gn 37.25). O bálsam o provavelm ente era a resina da ár­vore do estoraque, obtida através de um a incisão no caule da árvore. Acreditava-se que tivesse proprieda­des m edicinais. Josefo afirm a que En-G edi, perto do m ar M orto, era um im portante centro do cultivo de

plantas produtoras de perfume (inclusive do bálsamo), um fato confirmado por arqueólogos, que descobriram em Tel G oren e En-Gedi, no litoral oeste do m ar M or­to, algo que parece ser um a fábrica de bálsam o.9.15. com ida amarga. O termo aqui para comida amar­ga é absinto (o nom e de diversas plantas do gênero Artemísia), um arbusto rasteiro cujas folhas são amar­gas e cujo fruto é usado na m edicina popular, espe­cialm ente para problem as intestinais. É comido por bodes e camelos e atualmente os beduínos secam as folhas para fazer um forte chá arom ático. O termo absinto nas Escrituras é usado de m aneira figurada para am argura e tristeza.

9.17-20. pranteadoras p rofissionais. Essa é a única referência n a Bíblia a carpideiras profissionais, embo­ra fosse um costume divulgado em todo o antigo Ori­ente Próximo. Pranteadores profissionais (em quase

todos os casos, mulheres) são ilustrados em inúmeros relevos de parede em pinturas de túmulos egípcios.

Também são mencionados com freqüência na Meso- potâmia e n a Síria lamentando não apenas pelos mor­tos humanos, mas também pelos deuses que morriam e ressuscitavam (p. ex., Dumuzi ou Tammuz). O cos­tum e tam bém predom inava no leste do M editerrâ­neo, especialmente na Grécia clássica, e continua em algumas partes do Oriente Médio ainda hoje.9.26. incircunciso de coração. V er o comentário em4.4.

10.1-25 Deus e os ídolos10.2. sinais no céu. Os deuses celestiais (deus-sol, deus- lua e Vênus particularm ente; na Babilônia, Shamás, Sin e Istar, respectivamente) eram os mais importan­tes na maioria das religiões antigas. No controle do calendário e do tempo, das estações e do clima, eram vistos como os m ais poderosos dos deuses. Eles da­vam sinais nos quais presságios eram lidos e despre­zavam a todos. No final do segundo m ilênio, uma coletânea de presságios celestiais, os setenta tabletes da obra conhecida como Enuma Anu Enlil, havia sido compilada e fora consultada por quase mil anos. H a­via muitas constelações identificadas pelos astrólogos mesopotâmios (muitas, embora não todas, as mesmas que conhecemos hoje, conhecimento transmitido pe­los gregos), m as o Zodíaco ainda não existia.10.3, 4. confecção de ídolos. Ver os comentários em Isaías 40.19; 41.7; 44.10-14.10.5. crença no antigo O riente Próxim o acerca do tratam ento dado aos deuses. Os ídolos eram feitos num a variedade de form as e tam anhos, no antigo Oriente Próximo. Essas imagens eram entalhadas na madeira, recobertas por lâminas forjadas de prata ou

ouro e então, adornadas de ricas vestim entas. Com um a aparência basicamente hum ana (exceto os deu­ses do Egito, cujas características hum anas eram mes­cladas às de anim ais), esses deuses tinham porte, vestimentas e corte de cabelo distintivos, até mesmo padronizados. A imagem não era a divindade, e sim sua habitação, por meio da qual manifestava sua pre­sença e vontade. No antigo Oriente Próximo, era nas im agens que as divindades se faziam presente de forma especial, a ponto de a estátua de culto tom ar-se no próprio deus (quando os adoradores eram assim agraciados), embora essa não fosse a única manifesta­ção da divindade. Rituais eram realizados para dar vida à estátua da divindade, ou seja, ao ídolo. Como

resultado dessa ligação, feitiços, encantamentos e ou­tros atos m ágicos podiam ser executados diante da im agem a fim de am eaçar, intim idar ou obrigar a divindade a fazer algo. Em contraste, outros ritos rela­cionados à imagem tinham como objetivo ajudar ou cuidar da divindade. Assim, as imagens representa­vam uma visão de mundo, um conceito de divindade incom patível à form a como Yahw eh se revelara. O ídolo não era a divindade em si, m as acreditava-se que era sua morada e que, por m eio da im agem , a

divindade m anifestava sua presença e vontade. Os arqueólogos encontraram poucas im agens de tam a­

nho natural, como o texto descreve, mas existem ver­sões delas que permitem um conhecimento acurado

de detalhes. A s im agens das divindades na M eso- potâmia eram alimentadas, vestidas e até mesmo la­vadas diariamente. Todos os dias sacrifícios de comi­da eram oferecidos à divindade (e sem dúvida, comi­dos pelos funcionários do templo). Alguns criados ti­nham de vestir e despir a estátua enquanto a tarefa de outros era lavar e transportar a estátua em tempos de celebração.10.5. im potência dos ídolos. A palavra traduzida como "espantalho" ocorre apenas aqui no Antigo Testam en­to. Esse objeto era o máximo que Israel tinha perm is­são de fazer, em term os de im agens. Portanto, os ídolos "sagrados" são rebaixados à posição de espan­talhos, não m ais poderosos que galhos de palm eira retorcidos em volta de um a estaca. Eles certamente não inspiravam medo.10.9. prata de T ársis , ouro de U faz. Em bora U faz fosse conhecida por seu ouro (Dn 10.5), sua localização precisa é desconhecida. Um targum aramaico a locali­za em Ofir, um a reserva de ouro no sul da Arábia. U faz tam bém pode ser um adjetivo que significa

"pu ro". H á uma série de referências a Társis no con­texto de pedras preciosas. Essas referências parecem relacionar Társis a Eziom-Geber, na área do m ar Ver­m elho, o que correlaciona U faz a O fir. Em outras

passagens, porém, Társis claramente denota uma lo­calidade ocidental.10.9. vestir os ídolos de azul e verm elho. Os termos antigos para cores são de difícil interpretação. Esses termos indicam tonalidades de azul/ púrpura e eram cores da realeza e das divindades (para m ais deta­lhes, ver o comentário em Nm 4.6). M uitas imagens no antigo Oriente Próximo eram de ouro ou revestidas de ouro e eram vestidas nessas cores.10.12.13 . D eus criador/ D eus cósm ico. Essa descrição do Deus de Israel o retrata como uma divindade cria­dora e cósm ica ao m esm o tempo. Ele estabeleceu a ordem no cosm os e mantém essa ordem controlando o funcionamento do m undo criado. Essas duas áreas de atuação não coexistiam com freqüência em uma única divindade do m undo antigo. M arduque, a principal divindade da Babilônia, no entanto, tinha o controle sobre os raios e trovões e tam bém era considerado o deus criador.10.13. vento dos seus depósitos. Os cananeus e os babilônios atribuíam as m anifestações das tem pes­tades a Adade, o deus da tempestade e dos ventos. Jeremias, no entanto, afirma que apenas Yahw eh está no controle dos fenôm enos atm osféricos. Ele usa a imagem de Yahw eh tendo depósitos de chuva, sarai­va e neve, que são colocadas em m ovim ento pelo vento, provavelm ente instigado por seu sopro (ver tam b ém D t 2 8 .12 ; Jó 38 .22 e SI 33 .7 ). A p alav ra traduzida como "depósitos" pode ser usada para refe­

rir-se a casas de tesouro onde eram guardados objetos preciosos, bem como as armas da coroa. Granizo, neve,

vento, trovão e relâmpagos com freqüência são vistos como armas que Deus usa para derrotar seus inimi­gos. Igualm ente esses depósitos podiam servir como arm azéns de cevada, tâmaras, cereais ou dízimos em geral. Do mesmo modo, Deus recorre aos "produtos" em seu estoque, conforme se faz necessário. O s depó­sitos cósmicos não eram uma figura comum no antigo Oriente Próximo.

11.1-17A aliança é quebrada11.4. fornalha de fund ir ferro. No mundo antigo não havia o alto-fom o, usado em nossos dias para produ­zir ferro fundido. O ponto de fundição do ferro é 1.537 graus centígrados, um a tem peratura im possível de atingir com a tecnologia antiga. No entanto, quando aquecido a menos de 1.100 graus centígrados, o ferro tom a um a forma esponjosa, semi-sólida que pode ser forjada. A fornalha geralm ente era alimentada com carvão, a fim de produzir o carbono necessário para o processo químico. A resistência do aço depende da quantidade de carbono que é capaz de absorver. Quan­

to m ais baixa a temperatura, maior o núm ero de ve­zes o processo precisa ser repetido a fim de livrar-se das escórias e alcançar um produto adequado para o uso. Embora a fornalha certamente seja uma metáfora negativa, significando a opressão do Egito, o signifi­cado do fogo, em vez de destrutivo, é construtivo. A alta tem peratura da fornalha transform a o m inério maleável no produto final, que é o ferro duro e resis­tente. A experiência do êxodo, embora difícil, trans­formou Israel no povo da aliança de Deus.11.5. terra onde m anam leite e m el. A expressão "onde manam leite e m el" era um clichê comum nas Escritu­ras para designar a fertilidade de uma área. Os cana- neus descreviam a terra em textos rituais de forma sem elhante, assim como o texto literário egípcio de Sinuhe (início do segundo m ilênio a.C.). Para mais informações, ver o comentário em Êxodo 3.7-10.11.13. os altares de B aal são tantos quantas são as ruas de Jerusalém . A frase está enfatizando a enorme

quantidade de ídolos e altares a Baal em Jerusalém. Um a cidade típica no antigo Oriente Próximo tinha dezenas de esquinas em bairros residenciais. O texto não dá a entender que em cada esquina havia um altar a Baal. Não obstante, textos babilónicos falam de pequenos santuários ou nichos ao ar livre situados em esquinas ou praças. Um texto diz que na cidade de Babilónia havia 180 deles dedicados à deusa Istar. Esses santuários tinham uma estrutura elevada com um altar no topo e parece que eram freqüentados principalmente por mulheres.11 .15 . carn e co n sag rad a . G rand e p arte da carne consum ida em Israel estava relacionada ao sistema sacrificial e, portanto, era comida em áreas específicas do templo. A carne consagrada refere-se à carne usa­da nessas circunstâncias. A ironia aqui é que mesmo que se assentassem nos recintos do templo e partici­passem de um a refeição sagrada, os israelitas expres­savam sua impiedade nas conversas à mesa.11.16. estrondo (tempestade) como castigo da divin­dade. A imagem do deus da tempestade já foi usada diversas vezes no Livro. O estrondo do castigo de D eus é acom panhado por relâm pagos e raios que incendeiam a árvore que simboliza Israel. Para mais informações, ver o comentário em 1 Samuel 7.10.

11.18-23A conspiração contra Jeremias11.21. Anatote. Ver o comentário em 1.1.11.21. profetizar como crim e capital. Em outras pas­sagens da Escritura aqueles que profetizavam falsa­mente eram legalmente condenados à morte. A pro­fecia era um a vocação em pregada em todo o antigo Oriente Próximo, mas a pena capital para falsa profe­

cia é vista principalmente em Israel. Não obstante, os homens de Anatote não estavam sugerindo que as profecias de Jeremias eram falsas; eles simplesmente tentavam silenciá-lo com suas ameaças. Proferir uma profecia era um meio de concretizá-la (do mesmo modo que escrevê-la; ver o comentário em 36.23), por isso aqueles homens acreditavam que ao silenciar Jeremias (por ameaça ou assassinato), eles poderiam evitar que as desgraças anunciadas por ele acontecessem.

12.1-17A queixa de Jeremias e a resposta de Deus12.4. base do cinism o. N o antigo O riente Próxim o uma catástrofe sobrevinha quando a divindade ficava irada e afastava sua proteção. O povo então ficava sujeito a todo tipo de problemas, m uitos dos quais, acreditava-se, eram perpetrados pelos demônios. Em Deuteronômio 32.20, Deus diz que responderá à im­piedade de Israel escondendo seu rosto. Ele então "veria o fim que teriam ", isto é, como iriam sobrevi­ver sem sua bênção e proteção. Aqui em Jerem ias, Deus escondeu seu rosto (evidente na seca e na fome), mas os m alfeitores estão convencidos de que D eus não "verá o fim que os espera" (mesma expressão de Deuteronômio) porque estão determinados a sobrevi­ver sem a ajuda dele.12.5. m atagais ju n to ao Jordão. Os "m atagais junto ao Jordão" é uma expressão que se refere à área onde o rio Jordão transborda em um m atagal de junco, arbustos e árvores, m uitas vezes transform ando-se em um covil para leões. Era um lugar perigoso e de difícil navegação.12.9. pairam as aves de rapina. Essa expressão é usa­da som ente neste contexto e m uitos estudiosos acre­ditam que não se refere a um a ave e sim a uma hiena que está cercada por aves de rapina. Esse significado encontra sup orte na interpretação da Septuaginta e também pelo seu uso em línguas semitas aparentadas, m as o texto continua sendo de difícil entendimento.

13.1-14O cinto de linho e as vasilhas de couro13.1. identificação da veste. Existem duas descrições distintas do cinto. Um a é a descrição cananéia de uma faixa de tecido torcida que não passava entre as per­nas, enquanto a outra é um a descrição egípcia dos sírios, cuja peça do vestuário era composta de faixas estreitas de tecido sobreposto que também não passa­va pelo meio das pernas. Alguns desses itens do ves­tuário eram feitos de couro, mas outros eram feitos de linho, como esse do versículo em questão.13.4. Perete. Perete é um termo usado com freqüência para o rio Eufrates, que ficava mais de 560 quilôme­

tros ao norte de A natote, o que equivaleria a duas longas viagens de ida e volta! Outros estudiosos suge­

riram que trata-se do uádi Fará (simbolicamente cha­

mado de Perete?), pouco m ais de seis quilômetros a nordeste de Anatote (mencionado em Js 18.23).

13.12. encher de vinho as vasilhas de couro. A inter­

pretação dessa frase tem sido particularmente difícil. É possível que Jerem ias esteja citando um provérbio

da época a respeito do uso que cada coisa tinha; as vasilhas de couro cumpririam seu propósito estando cheias de vinho, da m esm a form a que um chapéu

cumpre seu propósito estando na cabeça de alguém. É

provável que Jeremias esteja fazendo um a afirmação irônica citando um provérbio simples, semelhante a Isaías 28.23-29.

13.15-14.12Ameaça de cativeiro, seca, fome, espada13.18. rainha-m ãe. A rainha-mãe era um título oficial

no antigo Israel. Era uma posição com prerrogativas oficiais do alto escalão, especialmente quando o mo­

narca era m enor de idade (e o m arido da rainha, o

antigo rei, tinha morrido). Ela não apenas tinha influ­ência sobre seu filho, o rei, como também desfrutava de grande autoridade. Atalia conseguiu usurpar o

poder do trono (2 R s ll) . Visto que a rainha-mãe tinha

um a posição oficial no reinado, o escritor dos livros

dos Reis quase sempre a menciona associada ao filho.

P rovavelm ente era-lhe perm itido assu m ir algum a

posição de distinção na ascensão de seu filho como rei. Existem paralelos em textos hititas e ugaríticos que

descrevem o papel da rainha-mãe. Não há evidência

direta desse cargo em Israel, o reino do norte. Para

mais informações, ver o comentário em 1 Reis 2.19. A

rainha-mãe mencionada aqui provavelmente é Neusta, m ãe de Jeoaquim , que sentou-se no trono por um

curto período, em 597, até ele ser levado cativo para a

Babilônia.13.18. coroas. A coroa real em Judá provavelm ente

era um diadema de ouro usado sobre um turbante

(ver SI 21.3; Ez 21.26). Os reis do Egito usavam uma

ampla variedade de coroas, enquanto os reis da Assíria usavam um chapéu cônico cortado com bordados ou

aplicações de pedras preciosas e os reis babilónicos usavam um chapéu curvo que ficava pontudo.

13.19. cidades do N eguebe. O termo N eguebe nor­

malmente se refere à grande área desértica do sul de Judá. Nesse contexto, porém, provavelmente denota

a parte sul de Judá, pontilhada de cidades e guarni­

ções, desde Belém até Berseba, com H ebrom no meio.

Não fica claro até que ponto essas cidades estiveram sob o ataque da Babilônia em 597, m as os óstracos de

Arade sugerem que Edom representou um a ameaça para elas.13.23. etíope, leopardo. No texto egípcio Instrução de

Ankhsheshonqy, um dito semelhante ocorre ("N enhum núbio pode trocar sua pele") num a seqüência de fei­tos inconcebíveis (p. ex., "N enh u m tolo se benefi­cia"). No texto aram aico Palavras de A hiqar há uma conversa entre um leopardo e um bode em que o primeiro oferece ao último sua pele para que o bode possa se aquecer. O bode replica que o leopardo só quer tirar sua pele, fazendo uma troca.13.26. vestes cobrindo o rosto. Essa im agem não des­creve m ulheres sendo levadas cativas, mas soldados inimigos invadindo as cidades, estuprando e pilhan­do. Judá aqui é retratada de form a metafórica sofren­do um destino semelhante.14.12. je ju m . O jejum era a abstenção total de alimen­to por um determinado período. O Dia da Expiação era o único dia de jejum nacional alistado na Escritura, embora jejuns públicos fossem convocados em ocasi­ões especiais, principalm ente em tempos de luto e penitência. Há poucas evidências da prática do jejum no antigo Oriente Próximo fora da Bíblia. Geralmente era feito em contextos de luto. No Antigo Testamento, o uso religioso do jejum com freqüência está relaciona­do a um pedido dirigido a Deus. O princípio era que a importância do pedido levava o indivíduo a preocu­par-se tanto com sua condição espiritual que as neces­sidades físicas eram relegadas a segundo plano. Nes­se aspecto o ato de jejuar serve como um processo de purificação e hum ilhação diante de Deus (SI 69.10). Em contextos de arrependimento, os israelitas jejua­vam para remover qualquer pecado ou obstáculo que pudesse ter provocado sua sujeição.

14.13-15.21Falsas esperanças e única esperança14.22. meteorologia israelita. Assim como a maioria dos povos do antigo O riente Próxim o, os israelitas consideravam as alterações clim áticas provenientes dos quatro ventos que sopravam dos quatro cantos da Terra. Deus não apenas controlava os ventos, como os criara. O vento do norte era associado ao clima frio, à neve e à dispersão de chuvas. O vento do sul às vezes era o portador do siroco. O vento do leste trazia um vento seco do deserto. O vento do oeste vinha do mar Mediterrâneo e era descrito como o "p ai da chuva". Fica claro neste versículo que o israelita comum teria achado absolutamente ridículo imaginar que os céus davam a chuva por si mesmos. O clima não era algo

independente da divindade.15.4. ações de M an assés. Segundo R eis 21.3-7 e 2 Crônicas 33.3-7 descrevem os atos ímpios de Manassés,

que incluem adoração aos astros e a edificação de altares de Baal até mesmo dentro do templo. Ele foi considerado o que m ais fez para m isturar a adoração a Yahw eh com o ritual cultual cananeu. Em bora te­nha se arrependido mais tarde (2 Cr 33.12), seus peca­dos eram tão grandes que as conseqüências dos mes­m os não foram eliminadas por Deus.15.7. espalhar com o palha. Depois que o cereal era trilhado, era separado da palha com o garfo de joeira, sendo o restante da palha rem ovida com a peneira. Essa atividade não acontecia às portas da cidade e sim nas eiras, em um a área aberta. Aqui, porém, penei­rar ou espalhar como palha é uma metáfora para cas­tigo (visto que nesse processo o bom era separado do mau) e os julgam entos eram feitos nas áreas próximas às portas. Talvez esse versículo seja uma referência às decisões que o conquistador fazia à porta da cidade, determinando quem seria morto, quem seria depor­tado e quem permaneceria no lugar. E ainda, o termo traduzido como "terra" às vezes é uma referência ao mundo inferior. Nesse caso, a im agem ainda seria do julgam ento de Deus junto à porta do mundo inferior destinando as pessoas à morte.15.8. destruidor. Meio-dia era considerada a hora mais segura do dia, por isso, o horário para ataques de sur­presa. O destruidor aqui representa o exército caldeu que está sendo preparado por D eus para atacar seu povo. O termo aqui não é o m esm o usado para o anjo destruidor por ocasião da institu ição da Páscoa (Êx 12.23), m as é usado para descrever as operações mili­tares conduzidas pelo Senhor em 47.4 e 51.55.15.20. m etáfora da muralha de bronze. Foram encon­tradas portas de bronze construídas pelos assírios em Balaw at. Figuravam como decorações em muralhas fortes. Tutm és III, faraó do Egito, descreve a si mesmo com o um m uro de ferro e de bronze para o Egito, significando que ele era como um a cidade fortificada im penetrável.

16.1-17.18A v id a s o litá ria d e Je re m ia s16.4. não serão sepultados. O sepultamento era um dever que devia ser cumprido no antigo Israel. Não ser sepultado e ter o corpo exposto e vulnerável aos elementos da natureza e aos animais era a pior m aldi­ção imaginável. Além disso, como na visão hebraica não havia um a distinção clara entre corpo e alma, a m orte não era considerada a separação desses dois elementos. Portanto, acreditava-se que quem não fos­se enterrado, ainda tinha consciência (em algum ní­vel) de seu destino. No antigo O riente Próxim o, as pessoas que não fossem sepultadas não tinham des­canso enquanto um enterro digno não fosse feito.

16.5. apresentar condolências (refeições funerais). Otermo hebraico para apresentar condolências é usado apenas aqui e em Am ós 6.7 ("ban q u ete"), em bora seja bem conhecido em muitas outras tradições semitas.

Informações extrabíblicas quanto a essa prática foram encontradas em textos ugaríticos, aramaicos e elefan- tinos (Egito) e em inscrições em púnico, nabateu e palmireno. Nesses exemplos, as refeições funerais eram oferecidas em um salão de banquete com excesso de bebida e comportamento inadequado. O contexto em Am ós 6.7 sugere o m esm o tipo de atmosfera. Qual­quer que fosse o costume israelita, Jeremias foi proibi­do de participar (como também foi proibido de fre­qüentar cerimônias de casamento).16.6. ritos de luto. O s ritos mencionados aqui eram proibidos n a tradição israelita (ver os comentários em Lv 19.28 e Dt 14.1). O autoflagelo também é m encio­nado em 5.7 no contexto de adoração a Baal.16.20. ídolos que não são deuses. Ver os comentários em 10.5.17.1. tábuas gravadas. A ferram enta de ferro (NVI "estilete") mencionada aqui é usada para gravar ins­crições na pedra, enquanto a ponta de diamante era usada para gravar pedras preciosas. Seus corações são

retratados aqui como um material extremamente duro sobre o qual é possível escrever.17.1. pontas dos altares. As pontas dos altares eram protuberâncias nos quatro cantos do altar. Embora a função dessas pontas fosse m anter a m adeira e os animais no altar, era nelas também que o sangue do anim al sacrificado era esfregado para purificar o altar de impurezas. A im agem sugere que os pecados de Judá serão permanentemente gravados ali, e o resul­tado é que os sacrifícios não poderão apagá-los.17.2. postes sagrados e árvores verdejantes. Ver o comentário em 2.20.17.3. m ontanhas do campo. Ver o comentário em 1 Sam uel 9.12.17.6. terra salgada. A presença do sal na terra era uma maldição. Existem diversos textos da Mesopotâmia que descrevem um a salinidade progressiva no solo do sul do Iraque, no terceiro e no segundo milênio. Quando atingia certo grau de salinidade, a terra tor­nava-se imprópria para o uso da agricultura e, por­tanto, era abandonada, às vezes, por um período de séculos.17.11. comportam ento da perdiz. A perdiz põe seus ovos em ninhos rasos em áreas abertas. Apesar de os ovos ficarem vulneráveis a predadores e acidentes, a ave põe m uitos ovos e tanto o macho como a fêmea os chocam . A analogia de pôr ovos aqui que não irá chocar refere-se a esperanças e planos que nunca são usufruídos. Não há evidências de perdizes que cho-

cam ovos de outras aves, como a tradução da NVI sugere.17.13. nomes escritos no pó. Essa passagem proble­mática dá a idéia de um nome escrito no pó e que por isso desaparecerá rapidamente ou de um nome escri­to na terra (ou mundo inferior). Essa palavra não é a m esm a geralm ente traduzida com o "p ó " , mas é a m esma palavra usada em 15.7, cujo significado é terra ou m undo inferior. O últim o significado faria mais sentido ao contexto. Ter o nom e escrito no m undo inferior significava ser destinado à morte; ao passo que ter o nome escrito em lápides celestes significava ser destinado a continuar a viver. Ser apagado desse livro da vida e ter o nome registrado nas lápides do m undo inferior significava desgraça. O Salm o 88.4 expressa o mesmo conceito usando uma terminologia diferente.

17.13. divindade com o fonte de água viva. Água "v iv a" refere-se à água corrente em contraste com água estagnada ou contaminada que era armazenada em cisternas ou poços.

17.19-27 A guarda do sábado17.19. porta do Povo. A "porta do Povo" (literalmen­te "porta dos filhos do povo") é desconhecida. Parece que ficava no muro norte da cidade, por onde os reis entravam e saíam da cidade.17.19. número de portas em Jerusalém . Havia inú­meras portas externas e internas em Jerusalém duran­te o período da monarquia dividida. Havia pelo me­nos seis portas externas e diversas portas que protegi­am o templo e o palácio. As portas eram áreas onde proclamações públicas geralmente aconteciam. 17.22-24. levar carga. Em Isaías 46.1, 2 o "fard o " é fe ito de im agens carregad as em p rocissões , m as Neemias 13.15 usa a m esma palavra para referir-se a produtos agrícolas que eram levados por mercadores no sábado. Qualquer dos dois pode estar sendo men­cionado aqui.

18.1-19.15 Na casa do oleiro18.2. a casa do oleiro. A casa do oleiro, ou sua oficina, tinha de ser próxima às fontes de argila e onde hou­vesse água disponível. Precisava de espaço para a roda do oleiro, para um forno, um a área para armaze­nar os vasos e outra para refugo. Depois de ter sido queimado o pote era pintado. A roda movida à mão típica da época era feita de duas pedras. A pedra de cima tinha um a protuberância em forma de cone que se encaixava a um orifício correspondente na pedra de baixo e servia como um pivô.

18.3, 4. m oldando o vaso na roda. H avia dois tipos de roda de oleiro, um a lenta ou m ovida à mão (ou

com um a manivela) e a roda rápida, que era girada com o pé. O oleiro moldava o vaso de argila com a

mão na pedra menor de cima que girava. A pedra de baixo era responsável pela cinética e acelerava o giro.

O oleiro girava o disco de baixo com o pé. Isso gerava um a força centrífuga na argila que era moldada pelas

mãos do oleiro à medida que ele exercia pressão con­tra a força da argila, dando assim forma a ela.

18.13. virgem , Israel. O termo traduzido como "v ir­

gem " aqui refere-se a um a m ulher que ainda está legalmente sob a tutela de seu pai. A infidelidade de

Israel é comparada a um a moça que trai a confiança e

a honra do pai, figura essa freqüentemente descrita

no Antigo Testamento como "prostituir-se". Em textos ugaríticos essa m esm a palavra é usada como título

para a irmã de Baal, a virgem Anat, cujo comporta­

m ento é pouco recom endável e considerado por al­guns como promíscuo (embora a evidência não seja

tão forte quanto anteriormente se pensava).

18.14. neve do Líbano. A neve do Líbano provavel­m ente refere-se às m ais altas m ontanhas do Líbano

(p. ex., Q um at as-Sawda), onde a neve está presente

até o final de agosto. De qualquer m aneira, m uitos

dos picos dessas montanhas ficam cobertos de neve durante a m aior parte do ano.

18.15. estradas não aterradas. Um a estrada pavimen­

tada era aterrada. A pavim entação de estradas era

um a benfeitoria cara. N a Babilônia terra e cascalho eram usados para aterrar as estradas. Depois tijolos

eram assentados no asfalto para formar um a base. Por

último, blocos de pedra calcária eram depositados por

cima e os vãos eram preenchidos com asfalto. Esse processo só era acessível para as ruas mais importan­

tes da cidade. H á exemplos de ruas pavim entadas na Palestina, desenterradas em escavações que rem on­

tam à Idade do Bronze M édia. Ruas pavim entadas

com seixos e cacos de cerâm ica sobre argila eram a

regra. As vezes essas ruas eram revestidas com uma m assa de cal. N ão há evidências de estradas pavi­

mentadas durante esse período. Mesmo um a estrada

não pavimentada, porém, podia ser aterrada aumen­

tando seu nível para que a água escoasse dos lados. Além dessas estradas, havia outras que simplesmen­

te eram abertas devido às constantes viagens. Forma­

vam sulcos no solo e tendiam a empoçar água trans­formando-se em verdadeiros atoleiros.

18.20. cavar um a cova. As covas eram cavadas no

antigo Oriente Próximo por diversas razões. Um gran­

de núm ero de covas encontradas em escavações ar­queológicas era para armazenagem de cerâmicas, para

enterrar lixo ou, com m enor freqüência, para servir

de prisão a crim inosos. A term inologia aqui é em ­

prestada das práticas de caça e arm adilhas, em que

covas e laços eram usados.

19.1. vasos de barro. O tipo de cerâmica aqui descrito

é um "v aso", palavra usada duas vezes em Jeremias

19 e em 1 Reis 14.3 (onde refere-se a um pote de mel)

descrevendo um utensílio para arm azenar líquidos.

O termo hebraico, baqbuq, sugere o som feito por uma

garrafa bojuda com um gargalo estreito. Por causa do

gargalo estreito, não podia ser consertada. Esse tipo

de vasilha era usado em toda a Palestina na Idade do

Ferro.

19.2. vale de Ben-H inom . O vale de Ben-H inom fi­

cava do lado sul de Jerusalém e se unia ao vale de

Cedrom no canto sudeste da cidade. Tornou-se infa­

me devido ao culto a Baal ali promovido por Acaz e

Manassés. Josias profanou a região a fim de evitar que

ali fossem praticados futuros atos idólatras.

19.2. porta dos Cacos. A localização da porta dos Ca­

cos, mencionada apenas aqui na Escritura é desconhe­

cida. Talvez seja a porta do Esterco (citada em diver­

sas passagens de N eem ias), visto que tanto esterco

quanto vasos de cerâmica estavam entre os itens que

compunham o lixo jogado no vale de Ben-Hinom. Se

a porta dos Cacos fosse adjacente ao vale, ficava no

lado sudeste de Jerusalém.

19.5. queim ar os filh os a Baal. Ver o comentário em

7.31. -

19.9. canibalism o no antigo O riente Próxim o. O ca­

nibalism o era praticado no antigo O riente Próximo

em tempos de fome extrema ou cerco. As cidades de

Sam aria (2 Rs 6.24-31) e Jerusalém (Lm 4.10 e mais

tarde durante a guerra com Roma, segundo Josefo)

experimentaram o canibalismo. Além disso, "com er a

carne dos seus filhos e das suas filhas" era uma m aldi­

ção típica da Mesopotâmia. Existem raras referências

em fontes m esopotâm icas ao canibalism o praticado

pela m esma razão que a Bíblia cita (condições de fome

extrema, cidade sob cerco).

19.10, 11. q u ebrad os com o vasos. Essa im agem é

conhecida desde tempos sumérios. O Lamento -pela Des­

truição da Suméria e de Ur afirma que o povo de Ur foi

esmagado como se fosse pote de barro.

19.13. queim aram incenso a todos os corpos celestes.

Os sacrifícios aos deuses astrais pagãos geralm ente

eram oferecidos nos telhados das casas (ver 2 Rs 23.12;

Sf 1.5). Ninsun, a m ãe de Gilgamés, subia ao telhado

para oferecer incenso a Shamás, o deus-sol. O mesmo

ritual é descrito no épico de Keret, de U garit (ver

tam bém o comentário em 8.2).

20.1-18A queixa de Jeremias20.2. tronco junto à porta Superior. O significado do termo traduzido como "tronco" não é certo. Também aparece em Jerem ias 29.26 e 2 Crônicas 16.10 ("m an­dou prendê-lo"). Provavelmente era um instrumento que m antinha o corpo num a posição imóvel ou talvez sim plesm ente um a m asm orra ou cadeia. De qual­quer maneira, fica claro que Jerem ias foi encarcerado.20.11. gu erreiro d iv ino . A idéia de D eus lutando como um parceiro na batalha era um tema comum no

antigo O riente Próxim o. Tanto no Egito quanto na M esopotâmia, as vitórias militares eram atribuídas às divindades. O confronto era iniciado pela própria di­vindade, que depois lutava ao lado do monarca (ver o comentário em 1 Sm 4.3-7). No Egito os regimentos recebiam o nome do deus sob cujo estandarte luta­vam. Em Canaã, o guerreiro divino era identificado como aquele que devastava a natureza. Porém, essas sociedades entendiam que os deuses também partici­pavam das guerras através de agentes humanos que haviam sido com issionados para executar a ordem divina na batalha.20.12. rins como sede da inteligência. A expressão da NVI "o coração e a m ente" traduz a expressão hebraica

"os rins e o coração". No mundo antigo um a série de órgãos humanos representava funções psíquicas, inclu­

sive os rins, que eram vistos como o centro das afei­ções, emoções e motivações veladas. Os rins podiam ficar perturbados (Jó 19.27; SI 73.21), ser "provados" por D eus (Jr 11.20) e alegrar-se (Pv 23.16). O s rins tam bém ensinavam (SI 16.7), um conceito presente em textos ugaríticos. Textos acadianos tendem a rela­cionar essas noções abstratas ao fígado e não aos rins.20.14-18. am aldiçoar o nascim ento. No M ito de Erra e Ishum o governador da cidade que está sendo des­truída é retratado expressando à sua mãe o desejo de ter nascido morto ou de ter sido impedido de sair do ventre, a fim de não ter nascido para tal destino.

21.1-14Deus rejeita o pedido de Zedequias21.2. N abucodonosor ataca Jerusalém . Em 589 Zede­quias decidira não pagar mais tributos, confiando no novo faraó egípcio, Hofra, que se opunha à Babilônia, como apoio contra os babilônios. Em 15 de janeiro de 588 (de acordo com o calendário Tishri, 587 pelo calen­dário Nisã), as tropas de Nabucodonosor chegaram a Jerusalém e bloquearam a cidade, ao mesmo tempo eliminando qualquer acesso de ajuda potencial, inclu­sive dos egípcios (ver o comentário em 34.21). Outras cidades fortificadas foram destruídas e então teve iní­cio um cerco fechado a Jerusalém , à medida que os

babilônios trabalhavam para abrir brechas nos muros do norte. Em meados de agosto de 586 a cidade foi invadida.

21.7. devastação do cerco. As dificuldades causadas pelo cerco eram significativas. Toda a idéia do cerco em si era levar os habitantes aos extremos da fome e da sede, de m odo que se rendessem sem lutar. A fom e nesse caso não era uma condição ambiental, mas resultante do cerco, que impedia que os suprimentos de alimento da cidade fossem reabastecidos. As con­dições de superpopulação da cidade pesavam em sua infra-estrutura e quando a água rareava, as pessoas com eçavam a beber até m esm o água contaminada. Como resultado, certas doenças com freqüência atin­giam proporções epidêmicas durante cercos.21.7. o destino de Z edequ ias. V er a nota em 32.4. Parece que Zedequias m orreu no cativeiro após ter sido entregue a Nabucodonosor.

21.14. flo restas de Jeru salém . Em vez de ser um a referência às florestas que cercavam a cidade, o termo

é uma expressão usada em relação ao palácio real (ver o comentário em 1 Rs 7.1-12) devido à enorme quan­tidade de madeira de cedro usada em sua construção.

22.1-30Juízo sobre os reis maus22.5, 6. transform ar o palácio em ruína. No M ito de Erra e Ishum a destruição de cidades e do palácio real é tratada de forma semelhante. Erra expressa sua in­tenção de perm itir que feras selvagens das m onta­nhas e dos campos invadam a cidade e devastem as áreas públicas. Ele especificamente afirma que trans­formará o palácio em ruínas.22.6. G ileade e o topo do Líbano. Gileade ficava na m argem leste do rio Jordão. Os limites ao norte de G ilead e eram vagos, e o leste era m argeado pelo deserto. O topo do Líbano refere-se a suas florestas (ver tam bém Zc 10.10). Tanto Gileade quanto o Líba­no eram fam osos pela exuberância e produtividade de suas florestas.

22.10. rei exilado. O rei que vai para o exílio mencio­nado aqui provavelm ente era Salum, o quarto filho de Josias, que o sucedeu em 609/8 a.C.. Ele assumiu o nom e de Jeoacaz. Após de ter sido rei de Judá por três meses, foi exilado no Egito por Neco II, onde mais tarde morreu. Foi acusado pelo(s) escritor(es) de Reis de ser um governante ímpio.22.13. trabalho forçado para a construção de palácio.Essa pode ser um a referência à reconstrução e ampli­

ação do palácio de Salomão por Jeoaquim ou de al­gum outro palácio. Em Ram at Rahel, um a série de estruturas foi encontrada e possivelmente data da época de Jeoaquim, junto com uma grande coleção de cabos

de jarros com a frase inscrita "pertence ao rei". Visto que o rei precisava pagar um pesado tributo ao Egito,

é possível que ele tenha se envolvido em um projeto

de trabalhos forçados. O trabalho forçado sem com­pensação rem ete às práticas do tem po de Salom ão (ver comentário em 1 Rs 11.28) e à práticas periodica­

mente observadas no Egito e na Babilônia. Era uma forma de cobrar impostos.

22.14. p ain éis de cedro. Os painéis de cedro eram

considerados o material mais luxuoso e caro que po­dia ser usado. Era usado quase que de forma exclu­

siva em palácios e templos. A pintura de paredes não

é amplamente atestada em escavações israelitas, mas

é bastante conhecida no contexto m aior do Oriente

Próximo. Afrescos, tais como a cena de coroação em Mari, atestam a preferência para o verm elho e o la­

ranja na decoração interior. Essa característica tam ­bém é citada na descrição de decorações de paredes

em Ezequiel 23.14.

22.18. Jeoaquim . Ver comentário em 1.3.

22.20. Líbano, Basã, Abarim . Essas são três áreas mon­

tanhosas; o Líbano ficava no norte; Basã, na Transjor- dânia, a nordeste, e A barim em M oabe, a sudeste.

Não se sabe ao certo se essas montanhas representam

lugares de luto, casa de aliados ou centros de reservas naturais.

22.24. anel de selar. O termo "sinete" provavelmente refere-se a um selo, que podia ser um selo cilíndrico

usado num cordão em volta do pescoço ou um selo

incrustado em um anel, como é descrito aqui. O pri­

meiro era bastante comum na M esopotâmia, enquanto o último era usado em Israel. Milhares de selos cilín­

dricos e selos de estampa foram encontrados na M eso­

potâm ia e na Siro-Palestina, respectivamente. Eram

um sinal de autoridade, identificação e posse. Ao ar­rancar o anel de selar (i. e., Jeoaquim), Yahw eh esta­

va efetivamente rejeitando seu reinado.

22.25. o fim de Jeoaquim . Jeoaquim permaneceu no

trono apenas por três meses antes de ser forçado a render-se a Nabucodonosor. Foi levado para o exílio

na Babilônia, onde passou o resto de sua vida (ver 2

Rs 25.27-30). Ele é citado na lista de rações da Babilônia,

confirmando a informação bíblica de que foi alimen­tado à m esa do rei.

23.1-8O renovo justo23.5. renovo com o herd eiro real. O term o "ren ov o"

aparece em passagens m essiânicas tais como Zacarias 3.8 e 6.12, onde é atribuído a Zorobabel. A maioria dos

estudiosos o considera um termo técnico que se refere ao genuíno herdeiro de um a dinastia - em Israel, um

futuro rei da linhagem de Davi que restauraria a m o­

narquia. Igualm ente, no início do terceiro século a.C.,

um a inscrição fenícia votiva em honra a M elqart, en­

contrada em C hipre, cita um legítim o "ren ov o " da dinastia ptolemaica do Egito. Os Rolos do M ar M orto

(Q um ran) não fazem uso do term o em um sentido m essiânico, m as o significado de reinado ocorre em

textos ugaríticos e assírios. Por exemplo, Tiglate-Pileser

III é descrito como o broto ou rebento da cidade de Baltil

(Assur), que traz justiça a seu povo. A afirmação de que

faria o que é certo e justo na Terra tam bém tem para­lelo nas declarações de reform a geralm ente feitas por

reis babilônios. Zedequias fez uma proclamação como

essa em 588 (ver o com entário em 34.8-11).

23.9-40Profetas mentirosos23.13. profetizar por Baal. Os profetas de Baal havi­am encontrado apoio em Sam aria desde a metade da

nona dinastia (Acabe e Jezabel). Dois séculos haviam

se passado e em bora a dinastia de Acabe tivesse sido

destruída, o sincretism o nunca fora com pletam ente elim inado. Q uando o reino do norte sucum biu em

721, a política assíria de deportação levou estrangei­

ros para misturar-se com a população remanescente de Israel. Segundo Reis 17.24-34 descreve o sincretismo

resultante que alastrou-se na área. Sem dúvida, esses profetas estavam espalhando falsas esperanças de que

Baal, um deus da fertilidade, poderia interrom per a

seca (v.10) e restaurar a produtividade da terra.

23.18. estar no conselho do Senhor. O conselho do

Senhor provavelmente era a assembléia de seres que

se estavam diante dele na corte celestial, semelhante ao concílio dos santos de Salmo 89.7. As divindades

de outras culturas do mundo antigo tinham concílios divinos onde diversos deuses e deusas se reuniam

para discutir seus negócios. Acreditava-se que os pro­

fetas tinham acesso às decisões dessas assem bléias

(como em 2 Cr 18.18). Para mais informações, ver os

comentários em Isaías 6.8; 40.13, 14.

23.19. tem pestade do Senhor. Ver o comentário em

11.16.23.23. D eus de perto, D eus de longe. N esta passa­

gem, Yahw eh está afirmando sua transcendência (aci­ma e abaixo do mundo criado) e sua imanência (inte­

gralmente envolvido no mundo criado). Além do mais,

ele está afirm ando sua onipresença, visto que n in­guém pode esconder-se dele, e ele sabe todas as coi­

sas, mesmo as m ais obscuras e veladas. No prism a

religioso mais amplo dessa época ocorrera uma trans­ferência da visão das divindades associadas ao sol,

distantes e indiferentes, para divindades associadas

às estrelas e planetas, que eram mais próximas e en­volvidas. Outra possibilidade é que "perto e longe" podem combinar aspectos de um a divindade padro­eira local com os de um a poderosa divindade cósmica. Poucos deuses no mundo antigo se encaixariam nesse perfil.23.25. sonho com o form a de revelação. Os sonhos eram um dos principais meios de recepção de mensa­gens oriundas dos deuses no antigo Oriente Próximo (ver Jacó em G n 28.12; José em G n 37.5-11; Nabuco- donosor em D n 2; 4). Eles aparecem em textos de presságios da Antiga Babilônia, juntam ente com rela­tos do exam e de fígado de ovelhas, anom alias no clima e no nascimento de animais e outros supostos sinais da vontade divina. Um dos m ais famosos é o sonho de Gudea, de Lagash (c. 2150 a.C.), que rece­beu a ordem em um sonho de construir um templo de uma figura que rem ete às figuras apocalípticas dos sonhos de Daniel e da narrativa do chamado de Eze- quiel (Dn 7; Ez 1.25-28). A correspondência real de M ari (c. 1750 a.C.) contém cerca de vinte profecias que envolvem sonhos, sempre relacionados a pessoas lei­gas. Esses presságios eram levados m uito a sério e estudados. A formação do clero tanto na Mesopotâmia como no Egito incluía a interpretação de sonhos e outros presságios (ver o comentário em D n 2.4).

24.1-10Duas cestas de figos24.1. circunstâncias do exílio de Jeoaqu im . Ver oscomentários em 22.5 e 2 Reis 24.12.24.1. N abucodonosor. N abucodonosor II (605-562 a.C.) foi o segundo governante caldeu que reinou no anti­go Oriente Próximo por quase um século. Era filho de

Nabopolassar, um caldeu que declarou independên­cia da Assíria em 626 a.C.. Em seu longo reinado de 43 anos, N abucodonosor pacificou o Egito (embora não tenha tido êxito em conquistá-lo) e literalmente reconstruiu a Babilônia. De fato, grande parte da ci­dade da Babilônia, desenterrada pelos escavadores da atualidade, data do reinado de Nabucodonosor. O reinado caldeu foi basicam ente criação desse rei e ruiu somente uma geração depois de sua morte. Esse grande rei foi lembrado em muitas tradições cultu­rais, inclusive em fontes da Grécia (onde era conhe­cido como um grande edificador) e Israel (não apenas no material bíblico, mas também em fontes rabínicas

posteriores).24.2. figos que am adurecem no princípio da colhei­ta. Os ramos da figueira do ano anterior davam fruto no final de maio/início de junho, mesmo antes de as folhas brotarem. Os novos ramos davam figos no mí­nimo três meses mais tarde.

25.1-38Setenta anos de cativeiro25.1. cronologia. O quarto ano de Jeoaquim e o pri­meiro ano de nabucodonosor II, rei da Babilônia, coin­cidiram com o ano de 604 a.C.. O rei babilônio acaba­ra de derrotar os egípcios em Carquemis e se prepara­v a para transformar Judá em seu vassalo.25.9. N abucodonosor como servo de Y ahw eh. Os reis das nações que avançavam contra Israel com freqüên­cia eram descritos como servos de Deus, no sentido de que por m eio d eles a von tad e de Y ahw eh era exe­cutada. Visto que Yahweh não pode ser derrotado, qual­quer conquistador estaria cum prindo suas ordens e desem penhando o papel de vara de castigo. Isso não sig n ifica qu e o re i b ab ilôn io era um ad o rad o r de Yahweh. Ciro é descrito de forma semelhante, embora não haja evidência de que ele adorasse a Y ahw eh (Is44.28-45.1). Nos tratados do antigo Oriente Próxim o, o vassalo se tom ava servo do suserano e seus exércitos ficavam à disposição do suserano. Eles tinham de obe­decer às suas ordens e cum prir sua vontade.25.10. som do m oinh o e lu z das cand eias. Com a

interrupção das atividades diárias m ais familiares não restava nada além de um silêncio lúgubre, escassez de alimento e uma escuridão assustadora e terrível.

25.11. setenta anos. Em bora a expressão "setenta anos" pudesse denotar de modo geral a duração da vida de uma pessoa, como de fato ocorre em um a afirmação de Esar-H adom , rei da Assíria, tam bém pode fazer referência a um período específico de tempo. O perí­odo de setenta anos estendeu-se aproximadamente da destruição do templo, em 587 a.C., até sua rededicação, por volta de 515 a.C.. Tam bém representa o tempo desde a subjugação inicial de Israel sob N abucodo­nosor, em 605, até o retom o do exílio pelo decreto de Ciro, em 535.

25.12. setenta anos de exílio . Quando Esar-Hadom, rei da Assíria, trata da destruição da Babilônia por seu pai Senaqueribe, ele a considera o castigo de Mardu- que sobre sua própria cidade. A ira de M arduque contra o povo da Babilônia o levou a decretar para si mesmo um período de setenta anos em que se exilaria da cidade. Esar-Hadom reconstrói a cidade uma déca­

da apenas depois de sua destruição e anuncia que M arduque reduziu o exílio para apenas onze anos. Pouco se sabe a respeito da Palestina durante o exílio e parcial reocupação da terra. A deportação se seguiu à destruição de Jerusalém , em 586 a.C.. A penas os cidadãos mais importantes foram exilados. Sinais de destruição foram encontrados em toda a Judéia, mas nem tudo foi destruído. Os camponeses continuaram sua vida nas áreas rurais e alguns até mesmo adora­vam em meio às ruínas do templo (ver 41.4, 5). Judá

tom ou-se uma província da Babilônia, com o quartel­general em Mispá, norte de Jerusalém.25.15. vinho da ira. A im agem do vinho como um cálice de castigo é encontrada com freqüência no An­tigo Testamento (Sl 11.6; 75.8; Jr 49.12; 51.17; Hc 2.15,16). Fica especialm ente claro em Isaías 51.17 que o cálice resulta em embriaguez (torpor) e não em m or­te. Aqueles que são forçados a beber dele perdem o controle e toda a habilidade de se defender (v. 27). Tom am -se como que anestesiados.25.19-26. área geográfica. O contexto geográfico des­sas áreas é bastante amplo. Do Egito, no nordeste da África, Jerem ias alista os reis de Uz (provavelmente o N eguebe, as cidades filistéias ao longo da costa, as nações da Transjordânia (Edom, M oabe, Am om ) e retom a às regiões costeiras do norte (Fenícia). As ilhas e terras além m ar referem-se a Chipre e outras ilhas. Jeremias então passa para o sul, pelo norte da Arábia (Dedã, Temá, Buz; Bazu acadiana, na Arábia). Pula a Mesopotânria (terra da Babilônia), vai para o sudoeste do Irã (Elão e Média) e depois resume acrescentando a expressão "todos os reinos da face da terra". Todas as áreas específicas mencionadas estavam sob o terror de Nabucodonosor.25.26. Sesaqu e e o uso de criptogram as. Sesaque é um "atbash" para Babilônia. O atbash era um código em que as letras de um nom e contadas a partir do início do alfabeto hebraico eram substituídas por le­tras contadas a partir do fim (ver tam bém o comentá­

rio em 51.1). Em português, o A seria representado pelo Z, o B pelo X e assim por diante. Na passagem anterior, Elão passa a ser Zinri, em hebraico e a Ba­bilônia (bbl) transforma-se em Sesaque (shshk). O atbash era usado para disfarçar a identidade do adversário. Esse recurso não existe em acadiano, visto que a escri­ta cuneiforme usa sílabas e não um alfabeto.25.30. gritos daqueles que pisam uvas. Os gritos m en­cionados aqui eram um a prática daqueles que pi­savam uvas e dos que lutavam em um a batalha. O rugido de Yahw eh é como o grito dos primeiros. Pisar uvas era uma atividade que m arcava o final da esta­ção da colheita e era usada como uma oportunidade para a comunidade celebrar antes da chegada do in­verno. Era caracterizada por um burburinho de ale­gria, às vezes exaltada pelo abuso no consum o do vinho que estava sendo produzido.25.34-38. m etáfora do pastor/chefe do rebanho. A metáfora de líderes nacionais como pastores sobre o povo (ovelhas) era bastante comum no antigo Oriente Próximo. Retratava a responsabilidade do governante e sua autoridade. Assim como o proprietário das ove­lhas chamava seus pastores para prestar contas das ovelhas, também a divindade responsabilizava os reis

pelo bem -estar de seu povo. Aqui não sao m ais as ovelhas que são mortas, mas os pastores.

26.1-24Jeremias é ameaçado de morte26.1. cronologia. A expressão usada aqui refere-se tecnicam ente ao que é descrito com o o ano da as­censão. Era a parte inicial do ano quando um rei ascendia ao trono que ficava entre o ano novo, quan­do seu primeiro ano no reinado oficialmente começa­va. O período do ano da ascensão de Jeoaquim foi por volta de setembro de 609 a.C. a abril de 608 a.C..26.6. Siló . Ver o comentário em 7.12.26.8, 9. p ro fecia com o traição. Em todo o m undo antigo acreditava-se que os profetas não apenas pro­clamassem a mensagem da divindade, mas também desencadeassem, no processo, a ação divina profetiza­da. Nas instruções do rei assírio Esar-Hadom a seus vassalos, ele exige que façam relatórios de qualquer afirmação imprópria ou negativa proferida por qual­quer pessoa, mas especificamente por profetas, intér­pretes de sonhos e praticantes de adivinhação extática. Pode-se entender por que um rei estaria inclinado a aprisionar um profeta como esse, cujas palavras pode­riam incitar uma insurreição ou provocar a ruína de seu reinado.26.10. top og rafia de Jeru salém . Jerusalém situa-se num planalto de pedra calcária cerca de oitocentos metros acima do nível do mar, na região montanhosa central da Judéia, na fronteira com o deserto. E form a­da por duas serras principais cercadas pelos vales H inom e C ed rom , e p ela p equ en a d ep ressão de Tiropeom. A serra a leste incluía a cidade de Davi e o complexo do templo, que ficava na parte norte e mais alta dessa serra, portanto, era necessário subir do pa­lácio para o templo. A porta Nova também é mencio­nada em 36.10, mas sua localização exata é desconhe­cida. Especulações a situam no lado sul do pátio, como uma passagem entre o recinto do templo e o palácio real que ficava ao sul.26.18. cronologia. Ezequias governou um século an­tes, no final do oitavo século. Aqui, é evidente que as mensagens proféticas haviam sido registradas e eram lem bradas.

27.1-22A profecia favorável a Nabucodonosor27.1. cronologia. H á um grande problema neste versí­culo porque o texto hebraico identifica o contexto como o ano da ascensão de Jeoaquim, no entanto, nos versos seguintes, identifica o rei como Zedequias. A maioria dos intérpretes acredita que essa expressão pertence à passagem de 26.1 e foi colocada erroneamente aqui.

Os dados cronológicos que deveriam constar aqui são "o quarto ano de Zedequias, 594" (ver 28.1).27.2. confecção de um ju go . Os jugos usados para puxar anim ais geralm ente eram feitos de m adeira. Eram feitos de uma estrutura de madeira que ficava em cima da nuca, ao redor do pescoço; as peças ti­nham cavilhas posicionadas embaixo, dos dois lados da cabeça do animal. Por baixo do pescoço as cavilhas eram presas com correias. Os jugos eram usados por humanos para certas tarefas, bem como por animais

que puxavam o arado. Inscrições assírias dos séculos nono e oitavo ilustram cativos sendo transportados ou trabalhando debaixo de tais jugos. As barras de cada lado do pescoço ficavam claramente visíveis. Para mais informações sobre a figura do jugo, ver o comentário em Naum 1.13.27.3. ocasião para reunião de em baixadores. Os em­baixadores de Edom , M oabe, Am om , Tiro e Sidom haviam conspirado com Zedequias para rebelar-se contra a Babilônia em 594 a.C.. O encontro provavel­mente fora um a reação a uma rebelião doméstica na Babilônia contra N abucodonosor, em dezem bro de 595 e janeiro de 594, descrita em um a das crônicas babilónicas.27.6. su jeição de anim ais selvagens. Assim como o

jugo simbolizava a sujeição de animais domésticos, a profecia continua sugerindo que os anim ais selva­gens da m esma forma se submeteriam à m ão do Se­nhor. Existem inúm eras ilustrações em relevos de paredes em que reis assírios estão caçando animais selvagens, tais como leões e outros carnívoros de gran­de porte. A domesticação de animais selvagens tam­bém às vezes era incluída em visões utópicas de um reino controlado e pacífico (ver o comentário em Is11 .6-8).

27.7. visão geral do Im pério N eo-Babilônico. O Im­pério Neo-Babilônico foi fundado pelo pai de N abu­codonosor II, Nabopolassar, um caldeu que se liber­tou do domínio assírio em 626 a.C.. O fundador rei­nou até 605 a.C. e contribuiu para o fim da Assíria. Ele supervisionou a grande vitória dos babilônios so­bre os egípcios, em Carquemis, fazendo com que gran­de p arte da Á sia ocid en ta l ca ísse n as m ãos dos babilônios. Nabucodonosor herdou essa poderosa na­ção em 605 a.C., tom ando-se seu mais famoso rei. Ele literalmente reconstruiu a cidade da Babilônia e soli­dificou o controle babilónico em todo o Oriente Próxi­mo e até mesmo atacou o Egito (embora sem êxito). Seu longo reinado durou até 562 a.C.. Foi sucedido por três descendentes que reinaram por curtos perío­dos totalizando seis anos. O último rei da dinastia foi Nabonido, que aparentemente fora um alto oficial do reinado de Nabucodonosor. Reinou até 539 a.C. quan­

do a Babilônia foi conquistada pelos m edos e os persas, liderados por Ciro, o Grande. Em bora Nabonido não seja mencionado nas Escrituras, seu filho Belsazar fi­gura com destaque no Livro de D aniel como rei. Visto que Nabonido abandonou a Babilônia e viveu na Ará­bia por cerca de dez anos, Belsazar assumiu o lugar de seu pai durante aquele período.27.8-11. p rofetas aconselhando subm issão. Apesar de os profetas bíblicos aconselharem as nações a se submeterem à Babilônia, tal conselho não se confirma em textos proféticos do antigo Oriente Próximo. Os reis do mundo antigo geralmente tinham opinião ele­vada a respeito de si m esm os e os profetas tinham fam a de dizer aos reis o que eles queriam ouvir. Se era preciso aconselhar no sentido de submissão, seria subm issão a um deus através de certos rituais, mas não subm issão política. Em contraste, havia adivi­nhos que aconselhavam a favor ou contra determina­da ação política com base em presságios que não eram favoráveis a um a ação naquele momento específico.27.9. categorias de profissionais. Cinco categorias de especialistas são identificadas aqui. Os profetas rece­biam mensagens da divindade e as transmitiam. Os adivinhos liam e interpretavam presságios, a maioria a partir do exame das entranhas de animais sacrifica­dos (ver o comentário em D n 18.11). Em todo o Orien­te Próximo, os sonhos eram considerados um impor­tante meio de revelação divina. Os intérpretes usa­

vam uma variedade de recursos acadêm icos (ver o comentário em Dn 2.4). Os médiuns faziam contato com os mortos e transmitiam os conselhos que eles davam. A última categoria, os feiticeiros, era de espe­cialistas em feitiços e encantam entos. Em cartas do sétimo século aos reis assírios as cinco principais clas­ses de eruditos especialistas que serviam ao rei eram os astrólogos/escribas, os adivinhos, os exorcistas, os médicos e os lamentadores.27.16. u ten sílio s da casa do Senh or. Os utensílios aqui mencionados provavelmente se referem aos ob­jetos m óveis do templo, inclusive vasilhas. Nabuco- donosor levou embora m uitos dos tesouros do templo n a prim eira conquista de Jerusalém em 597 a.C., mas ainda restaram alguns acessórios que foram levados onze anos mais tarde. Para mais informações, ver os comentários em Daniel 1.2 e 5.2. Para um a descrição desses utensílios, ver os comentários em 2 Crônicas 4.27.19. colunas. As colunas de bronze (ver o comentá­rio em 1 Rs 7.15-22) ficavam do lado de fora do átrio situado no pátio do templo. Receberam nomes (Jaquim e Boaz) e evidentem ente o rei ficava de pé diante delas em ocasiões especiais (2 Rs 11.14; 23.3).27.19. tanque. O tanque fundido (ver o comentário em 2 Cr 4.2-5) era um a grande bacia de bronze com 4

metros e meio de diâmetro e mais de dois metros de altura. Ficava no dorso de doze bois de bronze, dis­postos em grupos de três, cada grupo olhando para direções diferentes. O tanque continha cerca de 35 m il litros e era usado para banhos rituais.27.19. suportes. Os suportes eram dez tigelas meno­res usadas para lavar animais sacrificiais. Essas vasi­lhas eram sustentadas por suportes decorados sobre quatro rodas de bronze. Cada bacia tinha a capaci­dade para 750 litros. Arqueólogos encontraram um suporte de bronze que serviria de apoio para um a dessas bacias datando do século doze a.C.. O suporte tinha rodas e era decorado com criaturas compostas (ver 1 Rs 7.29).27.20. exílio de Joaquim . Ver a nota em 2 Reis 24.12. Um texto administrativo babilónico descreve tributo de Iakukinu (Jeconias ou Joaquim) a Nabucodonosor.27.22. utensílios sagrados levados para o exílio e de­volvidos. Jerusalém não foi o único templo do mundo antigo cujos utensílios foram levados e devolvidos num a data posterior. Por exemplo, a estátua de Mar- duque foi saqueada da Babilônia em diversas ocasiões (p. ex., pelos hititas em 1595 a.C., por Tukulti-Ninurta I, rei da Assíria, c. 1235 ã.C. e por Senaqueribe em 689a.C.). Com o passar do tem po a estátua da divindade foi devolvida a seu lugar original na Babilônia.

28.1-17 O falso profeta Hananias28.1. cronologia. Considerando-se o tem po necessá­rio para que o rei Zedequias organizasse seu governo (ver 27.3; 51.59) após a conquista de Jerusalém em 597 por Nabucodonosor, parece mais provável que a lei­tura "o quarto ano" esteja correta. Isso situaria o even­to em 594-593 a.C.. A proxim idade do encontro dos embaixadores para planejar um a reação à revolta con­tra a Babilônia em dezem bro de 595 tam bém argu­menta a favor dessa data.28.1. G ibeom . Ver o comentário em Josué 9.3. Assim como Anatote, Gibeom (el-Jib) ficava localizada no terri­tório de Benjamim (cerca de dez quilômetros a noroes­te de Jerusalém), indicando que provavelmente Hana­nias e Jerem ias se conheciam antes desse incidente.28.10. quebrar o ju go. Alguns comentaristas acham mais provável que as cavilhas que prendem o jugo no lugar, em cada lado do pescoço, é que foram quebra­das e não propriamente a trave (a respeito da confec­ção de um jugo, ver o comentário em 27.2). Essa inter­pretação faz sentido, considerando-se a escolha dos termos usados ao longo da passagem.

28.13. contraste en tre ju g o de m ad eira e ju g o de ferro. N ovam ente é provável que a im agem visua­lizada seja a de cavilhas de ferro. Evidentemente, um

jugo de m adeira poderia ser quebrado, servindo como uma demonstração dramática da libertação da opres­são; um jugo de ferro, porém, não poderia ser facil­mente quebrado.28.14. sujeição de anim ais selvagens. Ver o comentá­rio em 27.6.

29.1-32A carta aos líderes exilados29.1. carta aos exilados. Existem evidências de corres­pondência entre Jerusalém e os exilados deportados em 597 nesta carta, supostam ente entregue por um m ensageiro babilônio ou um m ercador em viagem para a M esopotâm ia. O envio de correspondência particular e oficial em todo o período do Antigo Testa­m ento encontra am plos precedentes. As Cartas de Láquis representam o tipo de com unicação interna em pregada no reinado de Judá durante a invasão assíria de 701. Para evidências de que essa carta foi recebida e respeitada, ver D aniel 9.29.2. rainha-m ãe. Aparentemente em Judá a rainha- m ãe gozava de um a elevada posição e não apenas exercia influência sobre seu filho, o rei, como também desfrutava de grande autoridade (ver o comentário em 1 Rs 2.19 e a necessidade de depô-la na época de Asa, em 1 Rs 15.13). Nesse caso, sabemos que a mãe de Jeoaquim se cham ava N eusta (ver 2 Rs 24.8; Jr 13.18) e que ela tam bém foi deposta de sua posição e perdeu seu poder quando foram ambos levados para o exílio.29.2. exílio de artesãos e artífices. Ao escolher os re­féns que seriam levados ao exílio em 597, Nabuco- donosor naturalmente tomou m embros da família real e seus conselheiros dentre a nobreza e o clero. Artesãos (ver 10.3) e hábeis artífices podiam ser úteis aos ambi­ciosos projetos de construção que o rei tinha, mas tam ­bém representavam a classe m édia relativam ente abastada de Judá. Mais importante, as habilidades de artesãos e artífices eram transmitidas geralmente atra­vés das famílias, de geração a geração, e com freqüên­cia envolviam segredos do ofício. Os babilônios teri­am interesse em preservar esse conhecimento e tirar proveito dele. Esse m esm o respeito para com essa classe é visto quando Utnapishtim inclui artesãos em sua arca, na história do dilúvio de Gilgamés.29.10. período de setenta anos. Existem diversas m a­neiras de calcu lar esse período de setenta anos. A capital da Assíria, Nínive, sucumbiu em 612; em 605 os babilônios conquistaram o controle de toda a Siro- Palestina. Por duas vezes os exércitos babilónicos in­vestiram contra Jerusalém e foram embora com exila­dos, em 597, quando Jerusalém foi destruída e em 586, quando o templo foi destruído. Qualquer desses

quatro eventos podem ser considerados pontos de

partida. No outro extremo, a Babilônia caiu em 539 e

o primeiro retom o dos deportados aconteceu em 538. O templo foi reconstruído em 515. Em bora não seja

difícil recom por um cenário que envolva a duração literal de setenta anos, tam bém deve-se reconhecer

que setenta com freqüência é um núm ero simbólico

que representa um período de castigo divino. Quan­

do a Babilônia foi destruída no sétimo século por Sena- queribe, afirmou-se que Marduque, o deus da Babilô­

nia tinha decretado setenta anos como o período em

que perm aneceria em ruínas. Porém , Esar-H adom , filho de Senaqueribe, usou um artifício de interpreta­

ção para reduzir esse núm ero para onze anos, quando

deu inicio à reconstrução da cidade.

29.26. tronco com correntes de ferro. A palavra usa­

da para "tronco" aparece apenas em outras duas pas­sagens (2 Cr 16.10 e Jr 20.2) e em nenhum a delas o

significado é claro. Alguns estudiosos sugeriram que

se trata de um a cela estreita ou baixa de prisão, mas a

adição de "correntes de ferro" nesta passagem sugere

que se trata de algum tipo de instrumento em que o profeta seria mantido im óvel e exposto num a posição

hum ilhante e desconfortável (ver a queixa de Jeremias

em 20.7, 8). Para que se faça um a identificação precisa

será preciso esperar por descobertas futuras.

30.1-24A restauração de Israel30.2. livros. O Livro de Jerem ias é um dos poucos

livros proféticos da Bíblia que faz menção explícita a

escrever as palavras que Yahw eh transmitiu para o

profeta. Jeremias foi auxiliado nessa tarefa por Baruque, um escriba profissional (ver 36.2-4). Nesta passagem

a palavra traduzida como "livro" é um termo genéri­co para qualquer documento escrito e naquela época

significava um rolo. Rolos de papiro eram usados no

Egito desde o terceiro m ilênio, e o clim a do Egito perm itiu a preservação e recuperação de inúm eros

documentos. Na M esopotâmia, onde o meio preferido há m uito tempo eram os tabletes de argila, os rolos

são atestados a partir do período neo-assírio (oitavo

século). Os israelitas provavelm ente usaram rolos durante grande parte do período veterotestamentário,

m as poucas evidências foram recuperadas antes dos Rolos do M ar Morto, que remontam ao segundo sécu­

lo (desses, mais de 90 porcento são pergaminhos). O exemplar m ais antigo tem poucas linhas de uma carta

datada do sétimo século a.C. encontrada nas cavernas

perto do uádi M uraba'at. U m rolo m édio de papiro

continha cerca de vinte páginas de papiro coladas juntas. O rolo resultante tinha cerca de quatro metros

e meio de comprimento e cerca de trinta centímetros de altura. O pergam inho (de pele de anim ais) era

muito m enos usado durante o período do Antigo Tes­tamento, m as era conhecido.

30.14. situação dos aliados. Jeoaquim, rei de Judá, fora

colocado no trono pelos egípcios em 609 e permaneceu leal a eles até que o dom ínio de N abucodonosor pas­sou a im pedi-lo. Após a queda de A scalom a N abu­

codonosor, em 604, Jeoaquim pagou tributo à Babilônia

durante alguns anos. Mas quando Nabucodonosor fra­cassou em sua tentativa de invasão ao Egito, em 601,

Jeoaqu im n ovam en te aliou -se ao Egito e parou de enviar o tributo anual para a Babilônia. Por isso, em

597, quando Nabucodonosor empreendeu sua invasão punitiva contra Jerusalém, o Egito foi o principal alia­

do com quem Judá contava. M ais tarde naquele ano, Nabucodonosor colocou Zedequias no trono. Quase que

im ediatam ente ele com eçou a encontrar-se com uma coalizão das pequenas nações ocidentais para juntas

opor-se a Nabucodonosor (ver o comentário em 27.3). Em 595, um novo faraó, Psameticus II, assumiu o tro­

no do Egito. Ele desfrutou de um sucesso militar inici­

al contra os núbios do sul e um papiro relata que seu

sucesso foi celebrado com um a viagem de v itória à

Palestina. Portanto, em bora o Egito não fosse o insti­gador da aliança, havia motivo para esperar seu apoio

contra a Babilônia. Não se sabe ao certo que nações de

fato faziam parte dessa aliança, quando finalmente ga­

nhou forma. O resultado foi que o exército do Egito foi

completam ente derrotado e desbaratado em seu con­

fronto com os babilônios, em 588 (ver 37.5-7), e pare­ce, com base no Salmo 137.7, que aliados como os edo-

m itas, transferiram seu apoio para a Babilônia quan­

do ficou claro que Jerusalém estava prestes a sucumbir.

Apenas Amom e Tiro, das nações ocidentais, tomaram- se objeto da ira de Nabucodonosor.

30.23. tem pestade do Senhor. O estilo poético destes

versículos assem elha-se àquele encontrado no texto sum ério intitulado Lamento pela Destruição de Ur (c.

2000 a.C.). Em ambos os textos a devastação é atribu­ída a um a tem pestade ou um vend aval. Em um a

estrofe do texto sumério, o vento "sopra pela porta da cidade" como um exército invasor, enquanto em ou­

tra, o autor se desespera pelo "d ia que a tempestade m e atingiu". M ais perto da época de Jeremias, uma

lamentação do primeiro milênio intitulada "E le é uma

Tem pestade, na C u ra" retrata a ira dos deuses na forma de tempestade varrendo as nações. Essa é uma

de m ais de trinta com posições identificadas como lamentações balag que fazem uso freqüente da m etá­

fora da tempestade. A função original desses lam en­

tos era apaziguar a divindade cujo tem plo fora ou

estava sendo destruído. Para mais informações sobre os elem entos da tem pestade que acom panhavam a ação divina, ver o comentário em 1 Reis 19.11-13.

31.1-40 Nova aliança31.4. virgem Israel. Ver o comentário em 18.13.31.8. reunidos dos confins da terra. Essa expressão é sem elhante à de Isaías 11.11, onde Israel é reunido dos quatro cantos da Terra. A literatura acadiana fala de reis governando os quatro cantos, mais provavel­mente fazendo referência às terras m ais distantes nos quatro principais pontos cardeais. Nesse aspecto, em vez de referir-se aos quatro "pedaços da torta geográ­fica", refere-se às quatro extremidades, incluindo as­sim tudo que está entre esses pontos.31.9. conduzir às correntes de água. Em uma terra onde a chuva é sazonal (basicam ente de outubro a fevereiro), os uádis (riachos ou ribeiros) com freqüên­cia estão secos. Eles eram úteis como caminhos (por exemplo o uádi Kelt, que corre de Jericó a Jerusalém), m as a im agem deles cheios de água traz à m ente outros exem p los de água refrescan te , até m esm o miraculosa, no deserto (Nm 20.1-13) e da promessa de fertilidade da aliança (acerca desse tema, ver o co­m entário em D t 8.7). Como havia feito no deserto, Deus cuidaria deles quando os trouxesse de volta para sua terra.

31.10. ilhas distantes. Ver 2.10 a respeito do uso desse termo para terras distantes. Ali, a expressão refere-se à Fenícia, Chipre e às ilhas gregas. N este contexto, é um termo genérico para terras distantes ou para os confins da terra.31.12. cereal, vinho novo, azeite puro. Os principais produtos do mundo Mediterrâneo eram os cereais (tri­go ou cevada), o vinho e o azeite de oliva (Os 2.5, 8). Eram a expressão concreta da fertilidade na aliança com Yahweh. Nos antigos códigos de lei da Mesopo- tâmia, a obrigação do marido para com sua esposa ou concubina era definida em term os de supri-la com cevada, azeite e roupas (Código de Lipit-Istar, Leis de Esnuna e Código de Hamurabi).31.15. Ram á. Essa localidade provavelmente deva ser identificada com er-Ram, cerca de cinco quilômetros ao norte de Jerusalém. O nome em si significa "altu­ra" e portanto é aplicado para muitas cidades da Pa­lestina, visto que um a cidade situada num lugar alto seria mais fácil de defender. A referência de Jeremias ao lam ento de Ramá pode estar baseada no uso do local como uma área de concentração para o embar­que e despacho de exilados para a Babilônia, após a queda de Jerusalém, em 587 (ver 40.1). A ligação com Raquel provavelm ente baseia-se na proximidade de

Ramá a Zelza, o lugar onde está o túmulo de Raquel (ver o comentário em 1 Sm 10.2).31.21. marcos e sinais nas estradas do m undo antigo. Embora não haja m enção a sinais formais nas estradas no período anterior ao romano, a orientação de Jeremias aos exilados que partiam , no sentido de m arcar o caminho com pedras ou marcos, sugere que essa não era um a prática nova. Além disso, as estradas eram distinguidas por m arcos (ittu, no épico de Gilgamés e em Enum a Elish) ou placas indicando seu destino (Estrada do Rei, em N m 20.17).31.21. virgem , Israel. Ver o comentário em 18.13.31.23. m onte sagrado. O m odo de pensar do antigo Oriente Próximo, semelhante ao da mitologia grega, considerava a m ontanha um lugar de habitação da divindade (ver o comentário em Is 14.13). Uma vez que Jerusalém , a m orada de Yahw eh, ficava num a área elevada, é descrita com o o m onte sagrado de Deus.31.33. escrever no coração. Os adivinhos tinham como prática apresentar uma pergunta à divindade e bus­car a resposta examinando as entranhas de animais sacrificados. Quando esse ritual era praticado, os sa­cerdotes encantadores pediam à divindade que escre­vesse a revelação nas entranhas do animal sacrifica­do, a fim de que sua vontade ou instrução pudesse ser conhecida e compreendida. Outra oração freqüente dos adivinhos era que a verdade fosse colocada nas v ísceras d esses an im ais. A m bos os verb o s deste versículo {porei, escreverei) e os substantivos ("ín ti­m o" = entranhas, especificamente intestinos; corações) são as mesmas palavras usadas em presságios da lite­ratura acadiana. Mas se Jerem ias está usando a lin­guagem e conceitos de presságios, é apenas para fa­zer um a ponte conveniente com sua m ensagem. Os decretos e a vontade de Deus serão conhecidos atra­vés do cuidadoso exame do coração de seu povo. O acadiano também usa os substantivos coração e mente como paralelos, para referir-se à sede da razão e da emoção.31.36. decretos cósm icos. N a Mesopotâmia os Tabletes do Destino continham os decretos que eram a base de tudo que acontecia na Terra. O povo levava m uito a sério sinais e presságios, visto que acreditava que tais decretos se refletiam nos corpos celestes, no comporta­m ento dos anim ais e até m esm o nas entranhas de animais. A premissa era que havia um decreto divino atuando todo tempo. Por exemplo, no épico babilónico da criação, Enuma Elish, os deuses, proclamam que a "palavra de Marduque não será alterada". Igualmen­te os provérbios sapienciais do egípcio Am enem ope a respeito de justiça afirmam que "o julgam ento perten­ce à assembléia divina, os veredictos estão selados por

decreto divino". No épico ugarítico de Baal, a deusa Anat, em sua tentativa de agradar o deus principal El, lhe diz que seus "decretos são sábios" e que sua "sabedoria dura para sem pre". Ocasionalm ente um texto refere-se ao decreto de algum deus como "m a­ligno", como na história do dilúvio de Atrahasis. Mas ainda assim, tais ordens são executadas por causa da soberania que os deuses da Antigüidade teriam sobre a criação. Para informações a respeito do reinado dos monarcas em relação à permanência do cosmos, ver o comentário em Salmo 89.35-37.3 1 .37 . lu g a re s in s o n d á v e is do co sm o. E m b ora Yahw eh seja capaz de m edir os céus (ver o comentário em Is 40.12) e conheça profundamente os alicerces da Terra, isso está além da capacidade humana. Os di­versos épicos de criação da Mesopotâmia (Atrahasis, Enuma Elish) descrevem o estabelecimento dos céus e da Terra, a organização do Universo e as responsabi­lidades atribuídas a cada deus para controlar sua esfe­ra de influência. Portanto, o conhecimento dos céus e das regiões inferiores pertence somente aos seres di­vinos. Em nenhum a instância nenhum ser humano obtém êxito em disputas para conseguir tal conheci­mento (os heróis Gilgam és e A dapa chegam perto, mas também são limitados por causa de sua m ortali­dade). Os mistérios e as prerrogativas da eleição são exclusivos de Yahweh, assim como o são os mistérios e as prerrogativas do cosmos.31.38. desde a torre de H ananeel até a porta da Esqui­na. Ver os comentários em Neemias 3.1 e 2 Crônicas25.23. A referência provavelmente é à parte ocidental do m uro norte onde acred ita-se que os exércitos babilônios teriam aberto brechas e por aí entrado na cidade. O lado norte da cidade era o mais vulnerável, visto que os outros lados eram protegidos por profun­dos vales.31.39. G arebe e Goa. A localização exata dessas duas colinas perto de Jerusalém é desconhecida. Elas fazem parte da Jerusalém restaurada na visão de Jeremias. Garebe geralmente é identificada com a colina sudo­este da cidade, a oeste do vale de Tiropeom e ao norte do vale de Hinom (atualm ente cham ado de m onte Sião). Se essa informação estiver correta, Goa ficaria ao sul ou a leste de Garebe.31.40. topografia de Jerusalém . N essa visão da res­tauração dos recintos sagrados de Jerusalém, Jeremias refere-se a diversas áreas adjacentes. Prim eiro é o vale do H inom (uádi er-Rababi, a oeste de Jerusa­lém), lugar de culto a Baal e sacrifício humano. O vale do Cedrom fica a sudeste da cidade. Terraços (aterros) nas encostas das colinas a fim de providenciar espaço para a plantação de vinhas e oliveiras são comuns em toda a Palestina. Naturalmente, as áreas agrícolas não

estariam no interior dos m uros da cidade, mas sua importância fez com que fossem descritas como parte dos recursos de Jerusalém. A porta dos Cavalos ficava no lado leste de Jerusalém, perto da extremidade nor­te do vale do Cedrom (ver o comentário em Ne 3.28).

32.1-44Jeremias compra um campo32.1. cronologia. Havia dois sistemas diferentes para a contagem do reinado de um m onarca em uso por Israel e seus vizinhos. Um deles calculava os anos de nisã a nisã (nisã é m arço/abril) de acordo com o calen­dário religioso, enquanto o outro contava os anos de tishri a tishri (setembro/outubro), seguindo o calen­dário civil. Se o calendário israelita começava na pri­mavera, o décimo ano de Zedequias teria se estendi­do de março de 588 a março de 587. O décimo oitavo ano do rei babilônio Nabucodonosor estendeu-se de março de 587 a março de 586 (sabe-se que usavam o sistema nisã). Por essa e outras razões, foi argumenta­

do que Israel usava o sistema tishri nessa época; nesse caso o décimo ano de Zedequias não coincidiria com o décimo oitavo de Nabucodonosor por seis meses. Exis­tem problemas nesse esquema e a esta altura as difi­culdades não são facilmente solucionadas.32.2. cerco de Jerusalém . Os eventos descritos aqui se relacionam à descrição m ais detalhada do cerco a Jeru­salém nos capítulos 37 e 38 (sendo que provavelmente o cerco iniciou em 15 de janeiro de 588; a data alter­nativa é 5 de janeiro de 587). Houve uma breve tré­

gua na intensidade do cerco quando as forças babiló­nicas tiveram de recuar parcialmente para o confronto com o exército egípcio que se aproximava (37.5). Uma das Cartas de Láquis menciona negociações entre um oficial judeu e o Egito. Essa negociação pode ter inci­tado um ataque surpresa por parte dos egípcios, na esperança de evitar um a invasão babilónica em seu

próprio território. Assim que o contingente dos alia­dos egípcios foi devidamente recuado, Nabucodonosor pôde concentrar toda sua atenção em Jerusalém.32.4. o fim de Zedequias. Ver os comentários em 39.4­7. A profecia de Jerem ias quanto ao destino de Zede­quias tem um tom irônico, visto que descreve o con­fronto "olho no olho" com o rei babilônio. Como casti­go por sua rebeldia, Zedequias seria forçado a assistir à execução de seus filhos e depois teria seus olhos fu­rados. Essa idéia do perigo de estar frente a frente com o re i tem p arale los em exp ressões sem elh an tes de medo e perigo nas aparições teofânicas de Deus (ver a reação de Jacó em G n 2 8 .16 ,17 e o grito assustado de Isaías em Is 6.5). Os A nais A ssírios de Senaqueribe

contêm um exemplo parecido da "glória" m anifesta do rei. Esta inscrição que relata um cerco anterior a Jeru­

salém, afirma que Ezequias "foi esmagado por meu [de Senaqueribe] esplendor aterrorizador".

32.7. resgate da terra. Na tradição israelita a posse da terra é atrelada à m embresia na comunidade da ali­ança (ver a rejeição de N abal diante da proposta de Acabe, que tentou adquirir sua vinha em 1 Rs 21.3).

Quando o parente de Jeremias é forçado a vender a propriedade, o profeta tem a obrigação de "redim ir" o cam po, a fim de que perm aneça no clã daquela fam ília (ver Lv 25.25-31). Não há indicação clara do porquê Hanameel sentiu-se forçado a vender a terra.

Pode ser que ele sim plesm ente quisesse escapar da invasão babilónica e levar consigo algo para ter um novo começo. Ou pode ser um reflexo de suas enor­mes dívidas em um a época em que seria difícil fazer as colheitas e vender os produtos no mercado.32.8. pátio da guarda. Jerem ias foi confinado, sob custódia, num a área do palácio do rei conhecida como o pátio da guarda (ver Jr 37.21). Supõe-se que ele teria ficado aquartelado com membros da guarda real. Es­

sas eram acomodações muito mais confortáveis do que a "cela subterrânea" de Jeremias 37 .15 ,16 e a cisterna vazia de 38.6.

32.9. dezessete peças de prata pela propriedade. Cada peça (siclo) pesando 11,4 gramas, o preço da proprie­dade de Hanam eel teria sido cerca de 194 gramas de prata. Seria o equivalente a um ano e meio de salário para o trabalhador médio. Considerando-se o perigo iminente da ocupação babilônia em toda a área, pare­ce que os preços de terras teriam caído. Porém, sem outro exemplo para comparar, e sem informações so­bre o tamanho da propriedade, não é possível dizer se foi um preço justo.32.10. escritura. Transações de propriedades são en­contradas em alguns dos m ais antigos tabletes de ar­gila mesopotâmicos. Os documentos que registravam as condições de compra e venda eram colocados em um envelope de argila que tam bém tinha os detalhes da transação escritos nele. O Código de H am urabi tam bém contém restrições à venda de propriedades feudais visto que eram concedidas apenas temporari­amente aos soldados. Para outros exemplos de escritu­ras de terras, ver Gênesis 23.16-18 e 33.19.32.10. pesar prata na balança. O procedimento comer­cial padrão exigia que o preço pago pela propriedade fosse pesado publicam ente diante das testem unhas para assegurar a satisfação de am bas as partes (ver G n 23.16; Is 46.6). Esse procedimento era necessário, visto que dinheiro cunhado, com peso e valor pa­dronizados, só passou a circular a partir do final do sexto século.32.11. cópias selad a e não selada. Os papiros ele- fantinos contêm escrituras sem elhantes a esta que

registrou o negócio entre Jeremias e Baruque. A prá­tica de fazer duas cópias em um único pedaço de papiro ou pergaminho permitia que uma ficasse aberta e disponível para a inspeção pública. A outra metade, contendo a mesma inscrição, servia como um registro de arquivo para evitar alterações nas condições da transação. Era enrolada e selada com os nomes das testemunhas inscritas nela.32.12. acordos legais no pátio . Os negócios geral­mente eram feitos em lugares públicos como a porta da cidade, onde as autoridades e os líderes do povo ficavam assentados (Rt 4.1; Pv 32.23). O acréscimo da informação que Jeremias assinou e selou sua escritura de compra do campo de Hanam eel diante das teste­m unhas e "d e todos os judeus que estavam sentados no pátio da guarda" pode ser uma tentativa de apon­tar esse lugar como um lugar adequado para transa­ções legais. Também pode estar relacionado à acusa­ção feita contra Jeremias em 37.12-15 de que ele esta­va tentando desertar a cidade. Ele respondeu que apenas planejara viajar para ver seu cam po recém adquirido, m as o capitão da guarda, que provavel­mente fora uma testemunha da transação, recusou-se a dar ouvidos e o prendeu.32.14. escritura selad a em jarro de barro. Conside­rando-se o futuro incerto de Jerusalém, Jeremias que­ria fazer o possível para preservar sua escritura por bastante tempo. Colocar o documento em um jarro de barro selado é sem elhante ao que os habitantes de Qumran, do primeiro século d .C , fizeram para guar­dar os Rolos do M ar Morto, em face da ocupação roma­na em seu povoado.32.17-20. relação entre criador, ju iz e p lanejador. Apassagem de um tema para outro na oração de Jere­m ias dem onstra a visão integrada que se tinha da divindade, comum em Israel e no m undo antigo. O papel da divindade era visto em termos de prom o­ver a ordem no caos. No passado primevo, isso fora realizado em escala cósmica, através da criação e or­ganização do Universo. Não importa como o caos era visualizado: se como m onstros que precisavam ser dominados ou como um vazio sem form a que preci­sava ser preenchido e colocado em funcionamento; o papel da divindade criadora era prom over ordem ao cosmos. Na esfera do dia-a-dia, esse papel era re­alizado na sociedade através do estabelecimento da justiça. O caos da anarquia tinha de ser controlado na vida do indivíduo, na fam ília, na comunidade e no país. E, por ú ltim o, em sua capacid ade com o planejador, D eus organizara a direção da história. À m edida que o futuro se desenrola sob sua orienta­ção, significado e propósito são trazidos ao que com freq ü ên cia p arece ser um a seq ü ên cia a leatória e desordenada de eventos.

32.21. o pavor da teo fan ia do guerreiro d ivino. Opavor, neste caso, é infundido nos inimigos de Israel (ver o comentário em Êx 15.13-16). O esplendor ou "g lória" de Deus sobrepujava o inimigo, derrotando- o. Em textos m esopotâmicos, o poder dos deuses é descrito pelo termo melammu, ou seja, "glória e brilho divino". São os deuses que incutem nos reis o conhe­cimento sobre a guerra, dando-lhes força para derro­tar o inimigo como "u m dilúvio devastador" (Sargão II) ou a "fú ria de um a tem pestade" (Senaqueribe). D iante de tam anho poder divino, tanto os deuses quanto as forças de outras nações são completamente derrotados e forçados a submeter-se à divindade su­prem a.32.22. le ite e m el. V er o com entário em N úm eros13.27.

32.24. ram pas de cerco. As evidências do uso de ram­pas de cerco em meados do primeiro milênio incluem a arqueologia, relevos e m aterial escrito. A ram pa construída pelos assírios no cerco de Láquis, em 701, ainda pode ser v ista hoje. Estim a-se que sua cons­trução tenha exigido cerca de 25 toneladas de terra e pedra e o trabalho de m il hom ens durante três a quatro semanas. A ilustração de Senaqueribe desse cerco também mostra rampas sendo usados para aríetes e máquinas de cerco. Referências literárias incluem a descrição de Tiglate-Pileser III de aclives artificiais e obras de cerco que ele usava para conquistar as cida­des. Para m ais informações, ver o comentário em 6.6.32.29. queim ar incenso nos terraços. Ver o comentá­rio em Isaías 22.1 para informações acerca de altares de incenso. Ofertas em terraços eram feitas às divin­dades celestiais e são confirm adas na M esopotâm ia (mãe de Gilgamés, no épico de Gilgamés) e em Ugarit (Keret).

32.34,35. práticas repugnantes e profanas. Essa litania de ofensas relaciona-se à apostasia de Acaz e Manassés, conforme narram os livros de Reis e Crônicas. Para detalhes, ver os comentários em 2 Crônicas 28 e 33. Ver o comentário em Deuteronômio 12 .2 ,3 para infor­mações sobre santuários ao ar livre. Ver o comentário em Deuteronômio 18.10 acerca da prática do sacrifício de crianças associada ao deus Moloque. Ver o comen­tário em 1 Reis 11.5, 7 acerca de Moloque/ Milcom, uma divindade amonita também mencionada nos tex­tos de Mari, da Antiga Babilônia. Textos fenícios tam ­bém fazem menção ao sacrifício de crianças a Moloque.

33.1-26Promessa de restauração33.4. prédios derrubados para servir de defesa con­tra as rampas de cerco. O hebraico nesta passagem é difícil e pode ser devido ao uso de termos técnicos que

se referem à construção de muros de defesa, durante o cerco de Jerusalém. Em tempos de cerco, as residên­cias junto aos muros (comuns ou da coroa) eram toma­das para uso m ilitar. A lgum as eram usadas como quartéis-generais ou alojam entos do exército; algu­

mas eram desmanchadas e o material era usado para fortalecer as muralhas; algumas eram usadas como hospitais e necrotérios provisórios; e outras ainda eram derrubadas para abrir espaço a torres adicionais, ram­pas e contra-rampas. Em Láquis, existe evidência de uma contra-rampa construída no interior dos muros da cidade para fortalecer a m uralha contra a ram pa construída pelos assírios do lado de fora. Escavações arqueológicas na encosta leste de Jerusalém , diante do vale do Cedrom, desenterraram enorm es blocos de alvenaria que podem ser ev idência do ataque babilónico e da demolição de casas particulares que ficavam situadas em terraços junto às m uralhas da cidade. M as se é disso que trata este versículo, é difícil entender a que se refere o versículo 5 quando diz que "ficarão cheias de cadáveres".33.15. Renovo. Ver o comentário em 23.5.

34.1-22Advertência a Zedequias34.1. cronologia. Um a descrição mais detalhada das

datas em que aconteceu o cerco a Jerusalém aparece em 2 Reis 25.1 e Jeremias 52.4, o nono ano do reinado

de Zedequias e o décimo dia do décimo mês (janeiro de 588). Os eventos descritos em Jeremias 34.1-7 pro­

vavelm ente aconteceram no início da prim avera de 588, antes da invasão egípcia que por pouco tempo

aliviou o cerco.34.5. pira funerária. Esses ritos funerários eram bas­tante elaborados e incluíam a queim a de especiarias, bem como lamentos e introdução na tumba da fam í­lia. O fogo não implica em cremação do cadáver nem na tentativa de disfarçar os odores liberados pelo cor­

po, m as sim na exibição luxuosa da riqueza do rei. A prática era bem conhecida entre os reis assírios, onde era usada como um ritual apotropaico.34.7. Láqu is e A zeca. Essas duas fortalezas judaicas guardavam a fronteira da Sefelá e eram as duas últi­mas cidades que sucumbiriam aos babilônios invaso­res. C ontrolando a Sefelá e o oeste de Ju dá, Láquis servia como um ponto central da linha de defesa para os reis de Judá. localizada entre Jerusalém e cidades- estado filistéias, Láquis guardava as principais estra­das da costa para o interior. Sua localidade, Tell ed- Duweir, mostra evidência de ocupação desde o perío­do Calcolítico, com construção maciça de defesas e uma im pressionante porta da Idade do Bronze M édia II (quando era um a im portante cidade cananéia) e da Idade do Ferro II (quando foi estabelecida com o um baluarte ocidental, após a divisão dos reinos; 2 Cr 11.5­10). A pesar de sua posição im ponente (um tell a 45 m etros de altu ra), a cidade caiu após o cerco do rei assírio Senaqueribe, em 701 a.C. (Anais de Senaque- ribe; para m ais informações, ver 2 Cr 32.9). Evidências da ferocidade desse cerco encontram -se em relevos assírios no palácio real de Nínive que ilustram os even­tos e os vestígios de um a enorm e ram pa de cerco do

lado sudoeste do tell. Uma sepultura coletiva, com apro­ximadamente m il e quinhentos corpos, tam bém pode ter sido resultado da queda da cidade. A cidade foi reconstruída por volta do final do sétimo século, mas nunca recuperou a importância que teve na época dos assírios. Existem registros escritos do cerco babilónico na época de Jeremias na form a de vinte e um óstracos de cartas, descobertos em um a gu arita, na porta da cid a d e (v er o p ró x im o co m e n tá rio ). A zeca (T ell Zakariya) ficava pouco m ais de dezessete quilômetros

ao norte de Láquis e quase 29 quilômetros a sudoeste de Jerusalém. É uma área de apenas um acre diante do vale de Elá, mas visto que fica a cerca de quatrocentos metros acima do nível do mar, tinha valor estratégico

SELOS E BULASSelos eram pequenas pedras ovais (às vezes semipreciosas) gravadas com nomes ou figuras que identificavam o proprietá­rio. Eram estampados em argila ou cera, como uma assinatura. A pelota de argila ou cera era chamada de bula. Documentos oficiais ou legais eram selados para mostrar sua autenticidade. Milhares de selos e bulas foram encontrados por arqueólo­gos, a maioria datando dos séculos oitavo ao sexto a.C.. Esses selos de estampa eram populares em Israel, em contraste com os selos cilíndricos usados na Mesopotâmia (ver os comentários em Is 8.1 e 8.16). Os selos, com freqüência, tinham o nome do proprietário gravado, acompanhado do nome do pai ou de sua posição. Selos de muitos períodos tinham algum tipo de decoração. Muitos nomes gravados nesses selos aparecem na Bíblia, mas a maioria deles não se refere à personagem bíblica, e sim a alguma outra pessoa com o mesmo nome. Existem, porém, alguns personagens bíblicos cujos nomes estão inscritos em selos ou bulas. A lista inclui reis como Jeroboão II, Uzias, Jotão, Peca, Acaz, Ezequias e talvez Jeoacaz e Manasses. Outro selo contém o nome Jezabel, que pode ser a rainha que perseguia Elias. Outros oficiais do alto escalão incluem Eliaquim (Is 22.20), Baruque (nesta passagem), Jerameel (Jr 36.26), Gedalias (40.5), Jaazanias (40.8) e talvez Pelatias (Ez 11.1, 13). O selo de Baalis, o rei amonita do sexto século (ver 40.14), também foi encontrado. O maior significado dos selos reside na capa­cidade que têm em ajudar a identificar crenças populares dos diversos períodos da história, visto que as imagens represen­tadas na arte e nos nomes divinos usados nos nomes próprios são dados autênticos daquilo que tinha o máximo de impor­tância para as pessoas.

como uma fortaleza (mencionada nos registros assírios de Sargão II). As Cartas de Láquis descrevem quando o sinal de fogo em Azeca se apagou - um sinal muito agourento para Láquis e Jerusalém .34.7. Cartas de Láquis. As Cartas de Láquis consistem em vin te e um fragm en tos de cerâm ica in scritos (óstracos - apenas doze deles são de fato cartas), en­contrados em Tell ed-Duweir, em escavações britâni­cas conduzidas por J. L. Starkey, entre 1932 e 1938. As cartas foram escritas em uma forma cursiva de hebraico com um a caneta de junco e tinta preta à base de fuli­

gem. Foram encontradas nos vestígios da guarita da cidade e podem ter sido cópias de cartas enviadas a Jerusalém pelo comandante da guarnição, durante a invasão de Judá por Nabucodonosor, em 589-587. As cartas refletem o colapso na disciplina m ilitar durante

esse período de emergência; descrevem a negociação com o Egito para que enviasse reforços a Judá e o

desespero dos defensores da cidade à m edida que percebem que os sinais de fogo na vizinha Azeca se apagam .34.8-11. proclam ação de liberdade. A extraordinária proclamação de libertação de todos os escravos hebreus p or Z ed e q u ias aco n tece ap ós o in íc io do cerco babilónico a Jerusalém (janeiro de 588) e antes da invasão egípcia da Palestina, que tem porariam ente deu fim ao cerco (verão de 588). Não fica claro se a libertação foi apenas um m eio de acrescentar o núm e­ro de homens na defesa da cidade ou se estava associ­ada de algum a form a à legislação sobre escravidão en con trad a em Êxod o 21 .2 -6 , L evítico 25.39-55 e Deuteronômio 15.2, 3. No antigo Oriente Próximo a libertação de prisioneiros (das prisões de seus credo­res) como um ato de justiça, com freqüência acontecia no prim eiro ou no segundo ano do reinado de um novo m onarca (e depois disso, periodicamente). Por exem plo, o rei da A ntiga Babilônia, A m m isaduqa (século dezessete a.C.) cancelou dívidas em favor de Shamás. Portanto, o "jubileu", neste caso, era basica­mente em favor dos endividados (por questões finan­ceiras ou legais) ou escravos por causa de dívidas. Ao contrário da lei israelita, esse edito babilónico depen­dia inteiram ente do capricho do m onarca e não há evidências de que fosse sancionado pela divindade.34.14. ano sabático de libertação. Ver os comentários em Êxodo 21.2-6; Levítico 25.39-55 e D euteronôm io15.2, 3. Cada um a dessas passagens aborda a questão da libertação de escravos a cada sete anos ou no ano do Jubileu.34.18. cortar o bezerro em dois. O ritual de dividir ao meio o corpo do animal como parte da cerim ônia de realização de um pacto aparece apenas aqui e em Gênesis 15.9, 10 (ver o comentário nessa passagem).

Paralelos do antigo O riente Próxim o, nas cartas de Mari da Antiga Babilônia e no texto aramaico do Tra­tado de Sefira (oitavo século) entre A bban e Yarimlim, descrevem um anim al partido ao m eio. O aspecto simbólico desse tipo de sacrifício é dar um a imagem clara do que aconteceria àquele que rompesse o pacto.

Quando os proprietários de terra de Judá tomaram de volta seus escravos, após a invasão do Egito que tem­porariamente aliviou o cerco a Jerusalém, eles rom pe­ram o juram ento solene feito a Yahw eh e se colocaram à mercê de terrível castigo.34.21. retirada babilónica. O faraó egípcio Psamme-

ticus II havia investido grande parte de seu reinado tentando reconquistar o território da Fenícia e da Pa­lestina que Nabucodonosor tomara de seu antecessor, Neco II. Judá dependia grandemente das promessas

egípcias de auxílio, em troca de rebeldia contra os babilônios (como se observa nas Cartas de Láquis). A esperança de Judá e dos hebreus exilados aparente­

m ente se concretizou quando o faraó Apries (que as­cendera ao trono em 589) finalmente invadiu o sul da Palestina, no início do verão de 588 (ver Ez 30.20-26). Essa invasão, somada a uma frota egípcia que nave­gou para Tiro e rapidamente assumiu o controle ali (mencionado pelo historiador grego Heródoto), forçou Nabucodonosor a recuar de Jerusalém. Os egípcios, porém, foram rapidamente derrotados (possivelmen­te perto de Gaza), e o cerco foi retomado no final do verão de 588.

35.1-19 Os recabitas35.2. recabitas. Esse clã associado aos queneus (1 Cr 2.55), tinha uma característica peculiar, visto que fora fu nd ado com o um a ordem ou guilda nôm ade de artesãos por um membro do nono século, Jeonadabe (ou Jonadabe), filho de Recabe (2 Rs 10.15-23). Mais de dois séculos depois, os homens desse clã disseram a Jerem ias que continuavam a viver de acordo com a ordem de seu antepassado, levando uma vida nôma­de, sem cultivar os campos, nem plantar vinhas ou beber vinho.35.6-10. o estilo de vid a dos recabitas. Tudo que se sabe a respeito dos recabitas encontra-se apenas nesta passagem. Eles afirmam seguir a ordem de seu fun­dador, Jonadabe, filho de Recabe, que orientara a comunidade a ter um a vida nômade, habitando em tendas. Eles não deveriam construir casas, ter planta­ções nem beber vinho. Segundo Frick, esse grupo não pode ser classificado como os fundamentalistas relig iosos que haviam rejeitado a religião corrupta das cidades de Judá. Em vez disso, ele os considera um grupo de artesãos itinerantes, que desenvolvia

trabalhos em metal, consertavam carros e armamen­

tos bélicos. Isso se baseia em parte em textos ugaríticos

e aram aicos que associam o nom e de R ecabe aos

artesãos que construíam carros ou aos condutores de carros de guerra (ver o convite de Jeú a Jonadabe, em

2 Rs 10.15). M antendo um a vida independente, às

m argens das cidades, os recabitas tinham liberdade para se locom over aonde houvesse trabalho e não

tinham problemas com jurisdições locais ou impostos. Sua recusa em beber vinho pode ser um a m edida

defensiva estipulada para evitar que segredos de sua guilda fossem revelados por um membro embriaga­

do. Sua lealdade às regras de seu fundador contrasta com a ruptura do pacto por parte do povo nos dias de Zedequias.

35.11. exército dos sírios. A amplitude do perigo que os habitantes de Judá corriam está evidenciada pelo

fato de os recabitas terem buscado refúgio em Jerusa­lém e na inclusão do exército arameu na coalizão das

forças de Nabucodonosor. Esses eventos na verdade

acon tecem du ran te o re inad o de Jeo aqu im , e os recabitas estão falando com Jerem ias durante o pri­

m eiro cerco a Je ru sa lé m em 600-597 . A C rôn ica Babilónica alista uma série de campanhas conduzidas

por Nabucodonosor na Síria e na Palestina entre 601 e

598. Como resultado dessas incursões m ilitares, legi­

ões de tropas de vassalos teriam sido acrescentadas às fileiras babilónicas. Em bora estejam os m ais acostu­

m ados aos aram eus sendo relacionados ao estado

aram eu do norte de Israel, tam bém havia arameus

orientais, um povo de língua sem ita que habitava em

grande parte do vale do Tigre e do Eufrates. Com

freqüência eles aparecem lado a lado com os caldeus.

Parece que os caldeus eram um grupo urbano, en­quanto os arameus eram seminômades.

36.1-32Jeoaquim queima o rolo de Jeremias36.1. cronologia. O quarto ano do rei Jeoaquim foi

605-604 (segundo o calendário tishri, ver o comentário

em 32.1). O prim eiro ano com pleto do reinado de

Nabucodonosor tinha começado na primavera de 604

(ver os comentários em Dn 1.1, 2). Embora Jeoaquim fosse a favor do Egito, é provável que tenha pagado

tributo a Nabucodonosor n a Síria, no início de 604. O

ditado das palavras registradas no rolo provavelmen­te aconteceu no final do quarto ano de Jeoaquim (agos­

to/ setem bro de 604), porque só é lido a partir do quinto ano (v. 9). Por volta do final de 604, N abu­

codonosor desceu a costa da Palestina e capturou a cidade filistéia de Ascalom. Houve um a destruição

em grande parte da cidade e deportação significativa.

A m archa de Nabucodonosor para o sul foi um a oca­sião de muito m edo para Judá.36.2* ro lo . O hebraico neste caso sugere um term o técnico para um rolo especial ou de excelente qualida­de, ideal para uso oficial por um escriba do governo. Esse material de escrita era usado apenas para as mais importantes proclamações do rei. Para m ais informa­ções sobre rolos, ver o comentário em 30.2.36.4. escriba copiando ditado. A natureza pública do oráculo ditado por Jerem ias exigia que um a cópia cuidadosa fosse fe ita , portanto, as habilidad es de Baruque como escriba profissional, foram em prega­das. Muitas pinturas de túmulos egípcios bem como o texto Ensinos de Khety atestam a importância de escribas na sociedade antiga. Os escribas, naturalmente, podi­am ser usados por qualquer pessoa, m as a evidência arqueológica (impressões de selos contendo seu nome) sugere que Baruque era um escriba da corte real.36.6. dia do je ju m . Baruque é instruído a ler o rolo no dia do je jum quando um a grande m ultidão estaria reunida em Jerusalém. U m "d ia de je jum ", que não estivesse associado ao Dia da Expiação, não fazia par­te do calendário religioso norm al, mas ao contrário, era convocado diante de alguma emergência que exi­gia o envolvim ento total das energias religiosas do povo. Provavelm ente esse je jum foi m otivado pela chegada das forças babilónicas na Palestina (dezem­bro de 604).

36.9. cronologia. O nono mês do quinto ano era no­vem bro/dezem bro de 604. Em dezem bro de 604, o exército babilónico marchou pela costa filistéia e con­quistou a cidade de Ascalom. A probabilidade de que esse inimigo "vindo do norte" se voltasse para o leste, em direção a Jerusalém , seria um m otivo plausível para a instituição de um dia de jejum em que Baruque d evia ler o ro lo . N a b u co d o n o so r v o lto u p ara a Babilônia em janeiro/fevereiro de 603.36.10. topografia. O templo do período monárquico tinha três andares com salas que cercavam o templo em três lados. Pode-se presum ir que a sala de Ge- marias fosse um a delas. O Antigo Testamento oferece pouca descrição das câmaras do templo. E provável que o pátio superior refira-se ao que deva ser conside­rado o pátio "in terno" de 1 Reis 6.36, a área ao redor do templo em si. Essa seria a área m ais elevada do recinto do templo. A porta Nova também é menciona­da em Jerem ias 26.10, m as sua localização exata é desconhecida. Especula-se que ficasse situada do lado sul do pátio, servindo como uma passagem entre o templo e o palácio real, ao sul.36.12. sala do secretário. O salão de audiências do rei devia ser cercado por pequenas salas onde grupos podiam se reunir para discutir questões oficiais ou

com partilhar inform ações do governo. U m sinal de autoridade para o conselheiro do rei ou escriba da corte seria ter uma dessas salas designadas como "seu escritório". Parece que os conselheiros de Jeoaquim se reuniram na "sala do secretário E lisam a", antes de levar o rolo de Jeremias ao rei porque ali era o lugar onde norm almente se reuniam.36.16. obrigação de relatar palavras proféticas ao rei. Segundo os textos de M ari do século dezoito, era de­ver de todo conselheiro ou oficial real relatar qual­quer mensagem profética ao rei. Diversos desses do­cum entos registram advertências de profetas; em um caso, sobre uma possível revolta, em outro orientando a oferecer um sacrifício, enquanto outro ainda alerta o rei a não sair em campanha. A natureza enfática do hebraico neste versículo reforça a urgência associada a essa notificação tão alarmante. Esses oficiais estão atemorizados com a mensagem, m as tam bém sabem como é importante avisar o rei do perigo potencial do oráculo de Jeremias.36.18. tinta. A composição da tinta usada por escribas no antigo Oriente Próximo variava, embora todas fos­sem à base de carbono. No Egito, era comum misturar um a resina com cinza. A análise quím ica da tinta usada para escrever as Cartas de Láquis mostrou que tinta de ferro foi criada através da m istura de carbono com galhos de carvalho e azeite.36.22. braseiro aceso. Visto que esse evento ocorreu em dezem bro, o rei teria necessidade de diversos braseiros acesos em seu apartam ento de inverno, a fim de mantê-lo aquecido. Portanto, não é surpreen­dente que houvesse um braseiro perto para m anter o calor e talvez para queim ar um incenso defumador. É possível que fosse um a lareira perm anente em seu "apartam ento de inverno", m as a narrativa parece sugerir que se tratava de um braseiro portátil em que os pedacinhos do rolo foram dramaticamente lança­dos para ser queimados.36.23. escrito em colunas. A palavra usada para "co ­luna" neste versículo geralm ente é traduzida como "porta". Pode indicar que as folhas do rolo estavam unidas ou talvez que o tamanho de cada página fosse aproxim adam ente o m esm o dos tabletes de escrita. Esses tabletes, geralmente de madeira, cobertos com cera de abelha, foram encontrados em naufrágios an­tigos bem como em um contexto neo-assírio (dezesseis quadros de m arfim encontrados no fundo de um poço em Ninrode).36.23. faca de escrivão. É possível que Jeoaquim te­nha emprestado a faca do escrivão para cortar o rolo ou que simplesmente tenha ordenado ao escriba essa tarefa. Porém, se fosse um rolo de pergaminho, teria sido mais fácil cortar as tiras de couro onde as partes

eram ligadas para formar o rolo. O pergaminho tam­bém teria queimado lentamente, liberando um odor repugnante. Se fosse um rolo de papiro, o texto pode­ria ter sido facilmente rasgado e queimado.36.23. cortar e queim ar como form a de anular. Em um sentido, ao cortar e queimar o rolo de Jeremias, o rei estava executando um ritual de execração. No irú- cio do segundo milênio, os egípcios tinham a prática de escrever os nomes de cidades a serem atacadas em tigelas ou pequenas estátuas de barro. Após recitar feitiços adequados, quebravam em pedaços tais obje­

tos. O ato de registrar por escrito um a profecia, como Jerem ias fizera, era um a form a de efetivá-la (assim como o ato de proferi-la). Ao queimar o rolo, Jeoaquim esperava desfazer ou anular o efeito daquela profecia.36.30. corpo exposto. O que está mesclado nessa frase é o ato físico da desonra de um cadáver, ficando ex­posto, sem ter um enterro digno e a afirmação divina de que a família de Jeoaquim não teria mais direito a governar em Judá. Um a m aldição sem elhante foi lançada sobre Jeroboão pelo profeta Aias, em 1 Reis14.10 ,11 e sobre Acabe, por Elias, em 1 Reis 21.21-24. Em um período posterior, os ju deu s de Elefantina am aldiçoaram seu governador regional, V idranga,

que havia ordenado a destruição do templo. Eles ora­ram a D eus pedindo que seu corpo fosse devorado por cães, ficando exposto aos elementos da natureza,

em vez de receber o sepultamento adequado. A res­peito da im portância de um enterro decente, ver o comentário em 1 Reis 16.4.

37.1-21 Jeremias na prisão37.1. cronologia. Joaquim sucedeu seu pai Jeoaquim, durante o cerco babilónico a Jerusalém, em dezembro de 598. Seu reinado durou apenas até que a cidade foi tomada, três meses m ais tarde. A essa altura, seu tio Matanias (ver 2 Rs 24.17) foi colocado no trono pelo vitorioso Nabucodonosor e seu nom e foi m udado para Zedequias.37.5-8. m ovim ento de tropas egípcias. Durante o cer­co de Jerusalém em 588, o faraó egípcio Apries enviou um exército para a Palestina. O avanço dos egípcios obrigou os babilônios a temporariamente suspender o cerco (ver os comentários em Jr 32.2 e 34.21). Essa ação dos egípcios talvez tenha sido m otivada por com prom issos de tratado feitos entre Zedequias e Psam m eticus II, quando esse faraó fez um a rápida visita à Palestina, em 592 (com base no papiro Rylands IX). Não existe nenhum documento de tratado e não está claro se Zedequias pessoalm ente encontrou-se com o faraó ou se (de acordo com as Cartas de Láquis) uma delegação de embaixadores hebreus foi enviada

ao Egito. Referências em H eródoto indicam que as tropas egípcias estavam m ais preocupadas em resta­

belecer seu controle nos portos fenícios de Tiro e Sidom

e não há indícios de um a batalha entre egípcios e babilônios na Palestina, antes de sua retirada para o Egito.

37.13. porta de Benjam im . Das m uitas portas de Jeru­salém, a porta de Benjamim dava para o nordeste e

teria sido a mais conveniente para Jerem ias usar quan­do quis visitar Anatote. Sua importância e a quantida­de de tráfico que passava por ali são atestados em

Jeremias 17.19 e pelo fato de que o rei Zedequias ali se assentava para governar, conforme Jerem ias 38.7.

37.15. prisão. No antigo Oriente Próximo, as prisões

eram usadas para confinam ento temporário, geral­mente durante um julgam ento ou antes da execução

de um a sentença. Por exemplo, a prática mesopotâ- mica incluía prisão em uma cela de um templo (Hino

a Nungal) ou prisão domiciliar (cartas de Mari). O fato

de Jerem ias ser preso na casa de Jônatas, o secretário,

sugere que prisões form ais tam bém eram raras na Jerusalém do período m onárquico. A s prisões rara­

mente são mencionadas na literatura bíblica. Apenas

José é descrito (Gn 39.20) sendo m antido com outros prisioneiros em um a casa de detenção. O profeta

Micaías é preso em um local não especificado durante

o julgam ento em que se aguardava o cum prim ento

de suas profecias contra Acabe (1 Rs 22.27). Outros

exemplos de prisões incluem casas de trabalho força­

do, como aquela em que Sansão, m esm o com os olhos furados, foi forçado a moer cereais (Jz 16.21).

37.16. cela subterrânea da prisão. Visto que Jeremias

foi acusado de tentar desertar para o lado inim igo,

pode-se presum ir que sua cela ficasse num a parte

indesejável da casa de Jônatas, o secretário. Provavel­

mente a arquitetura de um a casa construída junto à porta da cidade ou perto do complexo do templo in­

cluiria algumas pequenas alcovas no sótão. Esses es­paços restritos provavelmente eram pequenos demais

para que um homem pudesse ficar de pé e eram mal ventilados.

37.21. pátio da guarda. Ver o comentário em Jeremias

32.8 a respeito dessa área de segurança m ínima onde Jeremias foi preso em seguida.

37.21. pão da rua dos padeiros. Diversas referências nos profetas sugerem que a cidade de Jerusalém tinha

bairros onde havia lojas, mercados e fábricas (ver Is 7.3 ~ lavandeiros; Jr 18.2 - oleiros). Estabelecimentos

semelhantes são m encionados no texto egípcio Ensi­

nos de Khety, que descrevem uma tecelagem, onde os trabalhadores ficavam confinados em um quarto aba­

fado o dia todo. O pátio da guarda ficava localizado

perto do palácio (Jr 32.2) e, portanto, a rua dos padei­ros devia ficar ali perto.

38.1-13Jeremias confinado numa cisterna38.6. preso num a cisterna. Uma área de ajuntamento

de tropas teria usado um a cisterna para arm azenar água de chuva durante os meses secos. V isto que esse

estágio do cerco a Jerusalém aconteceu durante os meses normalmente chuvosos de inverno de 588-587, o fato de que uma cisterna cavada em pedra calcária

de abertura estreita estivesse disponível como prisão

e não contivesse água confirma o aumento da popula­ção da cidade e a situação desesperadora enfrentada

pelos m oradores. A lama no fundo da cisterna, po­

rém , não perm itiria que Jerem ias dormisse ou des­

cansasse e seria um am biente extrem am ente insa­lubre. V isto que o rei estava com m edo de executar

Jeremias, talvez ele tenha contado com um a doença ou

desnutrição que o livrassem do profeta (ver SI 79.11).

38.7. o f ic ia l etío p e no p a lácio . V isto que Ebede- M eleque tinha um nome hebreu (que significa "servo

do re i"), é provável que fosse um escravo etíope ou

um homem livre que entrara para o serviço na corte real. A m aneira à vontade com que ele confrontou os

guardas de Jerem ias e o rei Zedequias, enquanto es­

tava sentado junto à porta da cidade, sugere que tinha

fam iliaridade com o rei e que seu conselho foi consi­derado em elevada estima. A designação "eunuco"

pode indicar sua capacidade como oficial real e/ou sua condição física (ver o comentário em Is 56.4, 5).

38.7. rei sentado ju nto à porta de Benjam im . Existem amplas evidências bíblicas e arqueológicas disponí­

veis a respeito de reis assentados junto à porta da

cidade conduzindo julgamentos. Por exemplo, a porta da Idade do Ferro em Tell Dan contém uma platafor­

m a elevada com pedestais de pedra para uma cober­

tura que servia como um tribunal. A bsalão acusou

Davi de incapacidade política por não estar assentado à porta ouvindo as causas de seu povo (2 Sm 15.2-6).

38.14-28Jeremias é interrogado novamente38.14. terceira entrada do tem p lo do Senh or. Essa

"terceira" entrada do templo é m encionada apenas

neste texto. Entretanto, visto que Zedequias desejava ter um a audiência bastante privada com Jerem ias,

não haveria outro lugar m ais seguro que a entrada particular do rei ao templo.

38.23. m ulheres e filhos levados aos babilônios. Quan­

do um a cidade era tom ada e o rei subjugado, sua

família e funcionários também eram tomados. Era um

período de terror, visto que as perspectivas, na me­lhor das hipóteses, eram de exílio e cativeiro e, na

pior, de estupro, tortura e m orte. Sabe-se m enos a

respeito do tratamento dado aos cativos pelos babilô­nios do que sobre as práticas assírias.

39.1-18A queda de Jerusalém39.1, 2. cronologia. O cerco a Jerusalém teve início

em janeiro de 588 e terminou quando os muros foram

p en etrad os, em 18 de ju lh o de 586; o tem p lo foi

destruído em m eados de agosto desse m esm o ano. Ver os comentários em 2 Reis 25.1-12.

39.3. se assentaram ju nto à porta do M eio. O lugar

onde os oficiais babilônios tom aram assento após a invasão em Jerusalém é atestado apenas nesta passa­

gem. Escavações arqueológicas recentes por Avigad,

no Quarteirão Judaico da Cidade Velha, revelaram

uma parte norte do muro e uma área junto à porta que

mostra sinais de ataque e incêndio. Outros estudiosos acreditam que esse fragm ento dos m uros deva ser

identificado com a porta do Peixe, em Neemias 3.3.

39.4. fu ga de Z edequias. Ao perceber que a cidade sucumbira, Zedequias e sua corte fugiram pela porta

sul (o ataque babilónico tinha como alvo o norte das

muralhas; ver o comentário em 31.38), localizada per­to do "jardim do rei". Essa propriedade real provavel­

mente era um pomar irrigado pelas águas das fontes

do vale do Cedrom (ver N e 3.15). A referência aos

dois muros pode ser à parte do m uro reconstruído por Ezequias quando ele reforçou as defesas da cidade

contra a ameaça assíria (ver 2 Cr 32.5).

39.5. Jericó, a cam inho da Arabá. A Arabá refere-se ao vale do Jordão, onde Zedequias esperava atraves­

sar as passagens do rio Jordão, perto de Jericó, e fugir

para Moabe ou Am om em busca de asilo. A estrada

de Jerusalém até as planícies de Jericó tem cerca de 24 quilômetros, um declive acentuado por entre colinas

rochosas e áridas. Não há lugares para se esconder,

nem rotas alternativas ou fortalezas de defesa no ca­minho - o rei simplesmente contava com uma vanta­

gem que o ajudasse a fugir. Ele quase conseguiu -

estava a poucos quilômetros do rio quando os babilônios o alcançaram.

39.5. R ib la , na terra de Hamate. A localidade de Ribla fica na ampla planície da Síria. Estava sendo usada

por N abucodonosor como o quartel-general de seu exército. A atual cidade de Rible situa-se às margens

do rio Orontes, ao sul do lago Homs (ver o comentário

em 2 Rs 23.33). Neco II usara o mesmo local como sua área de reu nião de trop as, d u ran te a bata lh a de Carquemis. H am ate refere-se à cidade síria de Hamate

e também ao distrito, que inclui toda a área do vale do Orontes.39.7. reis cativos tinham os olhos furados. Ver o co­mentário em 2 Reis 25.7. O tratado assírio de vassalo entre Assur-Nirari V e Matti-Ilu, rei de Arpad, inclui a m aldição de que aquele que rom pesse o tratado teria seus olhos arrancados. O rei assírio Esar-Hadom gabava-se de deixar seus inimigos sem orelhas, nariz e olhos. Outros exemplos da prática de furar os olhos

dos reis inim igos com o um castigo para a rebelião encontra-se no destino que Sansão teve (Jz 16.21) e na ameaça amonita de cegar o olho direito de todos os homens em Jabes-Gileade (1 Sm 11.2).39.7. correntes de bronze. Há evidência em baixo- relevos assírios, no palácio de Assurbanipal, de prisi­oneiros sendo acorrentados em grupos ao ser envia­dos para o cativeiro. D esde Tiglate-Pileser III, gri­lhões de ferro começaram a ser usados, e certamente seriam com uns no período neo-babilônico. Não há razão para imaginar, porém, que correntes de bronze não continuassem a ser usadas também.

39.9. política bab ilón ica de deportação. Os neo-ba­bilônios continuaram a política de deportar popula­ções rebeldes, em pregada pela prim eira vez pelos reis assírios Assurnasirpal II e Tiglate-Pileser III. Tra­tava-se de um estratagema político e econômico. T i­nha como objetivo m anter uma parte do povo como refém , enquanto um a dinastia nativa continuava a governar o Estado vassalo. Por isso, em 597, Zede­quias foi colocado no trono de Jerusalém , enquanto Jeoaquim , grande parte da fam ília real, sacerdotes do alto escalão, nobres e artesãos haviam sido leva­dos para a Mesopotâmia. Até mesmo após a revolta de Zedequias e a queda de Jerusalém, Nabucodono­sor tentou m anter um governo hebreu nativo, no­m eando Gedalias como rei. Entretanto, seu assassi­nato resultou na nomeação de um governador babi­lônio. D eve-se observar que apenas um a parte da população era deportada. Os babilônios ainda que­riam ter lucro com Judá, por isso a terra foi redistri­buída aos pobres, com a expectativa de que a econo­m ia da região fosse restabelecida.39.10. vinhas e campos aos pobres. N em todo o povo de Judá foi deportado após a queda de Jerusalém em 586. M uitos, inclusive Jerem ias, na verdade tinham um a posição a favor dos babilônios ou no mínimo, contra Jerusalém (compare com a condenação de Mi- quéias, na época de Ezequias - M q 3.8-12). Ao redistri­buir a terra que pertencia às pessoas agora exiladas, os babilônios criavam laços com os pobres e também

lançavam os fundamentos para um a restauração da economia e da agricultura, num a terra que fora de­vastada por anos de guerra.

40.1-6 A libertação de Jeremias40.1. guarda im perial. Em bora Nebuzaradã literal­mente signifique "m ordom o-m or", trata-se claramen­te do título de um cargo tradicional que evoluíra para

a posição de comandante de um contingente direta­

m ente sob as ordens imperiais. Ele e a companhia de soldados sob seu comando recebiam tarefas específi­

cas (ver Jr 39.10, onde ele está no comando da depor­tação de prisioneiros, e 2 Rs 25.8-11, em que sua com­

panhia destruiu o templo de Jerusalém). Tarefas deli­cadas, com o a libertação de Jerem ias do cam po de

prisioneiros de guerra, em Ram á, após a queda de Jerusalém, também faziam parte das responsabilida­des desse extraordinário oficial.

40.1. Ramá. Ver o comentário em Jeremias 31.15. Essa localidade ao norte de Jerusalém estava sendo usada

como um a área de espera para a deportação de prisi­oneiros de Judá.

40.5. G edalias. Após a queda de Jerusalém, em 586,

e a prisão de Zedequias, Nabucodonosor colocou Ge­

dalias, filho de Aicam, da im portante casa de Safã (linhagem não-davídica), como governador de Judá.

Durante aproximadamente um ou dois meses de tra­

balho, ele deu início à restauração da economia do

país a partir de seu novo centro adm inistrativo, em

M ispá (ver 2 Rs 25.22-26). U m a im pressão de selo com o nom e de Gedalias foi encontrada em Láquis,

sugerindo que esse hom em tinha alguma experiên­cia administrativa. Também é possível que ele fosse

o "chefe do palácio" sob Zedequias, um posto que justifica sua nomeação pelos babilônios. Suas tentati­

vas de conseguir um a safra m otivou alguns dos re­

fugiados a retom ar para Judá (Jr 40.12), mas foi im­pedido ao ser assassinado por Ismael, filho de Neta-

n ias, m em bro da casa real que não queria que se

estab elecesse o p reced en te de um govern o n ão-

davídico.

40.6. M isp á. A pós a destruição de Jerusalém e da maioria das cidades do sul de Judá, Gedalias foi força­

do a transferir sua capital administrativa para a forta­

leza de M ispá, na fronteira. A localização m ais aceita para esse lugar é Tell en-Nasbeh, treze quilôm etros

ao norte de Jerusalém, na fronteira com Israel. Escava­ções arqueológicas desenterram fortificações da Idade

do Ferro em Tell en-Nasbeh e nenhum sedimento de

destruição desse período foi encontrado, sugerindo as condições adequadas da cidade para uso imediato por

um governador recém nom eado. Tam bém existem

im portantes m ud anças arqu itetôn icas no período babilônio que evidenciam a transformação da fortale­za em um centro governamental.

40.7-41.18 O assassinato de Gedalias40 .11 ,12 . refugiados no antigo O riente Próxim o. Operíodo quase ininterrupto de guerras no antigo Ori­

ente Próximo, do oitavo até o sexto século, gerou m ui­tos refugiados. Em bora famílias inteiras fizessem par­

te desse grupo, muitas vezes homens sozinhos esca­pavam, talvez para formar bandos de guerrilheiros

(como aqueles comandados por Jefté e Davi em perío­

dos anteriores) ou camuflar-se em uádis e cavernas isoladas, à espera da retirada dos invasores. Os me­

nos afortunados são ilustrados nos m uros do palácio da capital assíria, em Nínive. Esses relevos mostram

alguns dos refugiados da cidade destruída de Láquis

(principalmente mulheres e crianças), caminhando ao

lado de carroças contendo seus poucos pertences. Os anais assírios e babilónicos contêm relatos do número

de prisioneiros levados das cidades saqueadas da Siro- Palestina, mas pode-se presum ir que m uitos outros

fugiram dos exércitos, escondendo-se em colinas, cruzando o rio Jordão até Moabe ou unindo-se a gru­

pos beduínos.

40.14. Baalis. Esse rei amonita talvez apoiasse a reivin­dicação da linhagem davídica ao trono de Jerusalém ,

ou ta lv e z fo sse s im p lesm en te u m m o n a rca an ti-

babilônico que desejava desestabilizar o governo no­

vato de Gedalias. Ele não é mencionado em nenhuma outra passagem bíb lica , m as um selo recentem ente

descoberto pode oferecer evidência extrabíblica de seu

reinado. Esse selo, que data de aproxim adamente 600a. C., foi encontrado em Tell el-'Umeiri, ao sul de Amã,

n a Jordânia. A inscrição contém os nom es de Baal-

Yasha, "B aal salva" e M tíkom 'or, "M ilcom é luz". Re­

centem ente, o selo de Baalis tam bém foi encontrado.

41.1. cronologia. Embora alguns comentaristas tenham sugerido que o governo de Gedalias tenha durado

cinco anos, a maioria considera que seu assassinato

aconteceu em 586, apenas um mês após a destruição do templo. O sétimo mês teria coincidido com a Festa

das cabanas, quando muitos peregrinos estariam nas

estradas, o que ajudou o grupo liderado por Ismael a

passar desapercebido.

41.5. rapar a barba. Ver os comentários em Levítico

19.28; Isaías 7.20 e Ester 4.1 a respeito dessa prática comum de luto e sua proibição. Claramente, a prática

popular, especialm ente durante esse período após a

destruição de Jerusalém, ainda incluía rapar a barba, mas há pouca confirmação disso em textos extrabíblicos.

41.5. trazer sacrifícios a um santuário destruído. Uma

vez que Jerusalém e o tem plo estavam destruídos, parece curioso que houvesse peregrinos a caminho

dali para oferecer sacrifícios. Considerando o lugar

de onde esses peregrinos provinham (Siquém , Siló

e Sam aria), outrora centros cultuais e políticos, sua

viagem pode ter nuanças da tentativa de restaurar Jerusalém. Pode ser que estivessem planejando rea­

lizar rituais cultuais para purificar o templo destruído, restaurando-o assim ao seu uso (comparar a restau­

ração promovida por Josias, em 2 Cr 34.8 e ver o co­

mentário lá). Considerando o núm ero de santuários

destruídos em todo o antigo Oriente Próximo, é pro­

vável que houvesse rituais de purificação prescritos com o objetivo de prepará-los para uso novamente.

Evidência disso encontra-se nos anais assírios de Esar- H adom , que descrevem como M arduque perm itiu

que a Babilônia e seus templos fossem destruídos e

restaurados.41.9. re ferên cia h istórica . V isto que M ispá não foi

destruída pelos babilônios, os vestígios arquitetônicos

da cidade daquele período estão mais intactos do que

os de muitas outras localidades. Esses vestígios inclu­

em casas de am plos côm odos e possivelm ente um pequeno palácio, talvez usado como centro adminis­

trativo de Gedalias. Também havia uma série de cis­

ternas sem tampa cavadas na rocha, talvez uma delas sendo citada aqui como a cisterna construída pelo rei

Asa, trezentos anos antes (ver o comentário em 2 Cr

16.6). Naquela época o rei de Judá recebeu ajuda de Ben-H adade, rei da Síria, na guerra contra o rei de

Israel, Baasa. Uma parte do m aterial de construção

saqueado, tomado da fortaleza de Baasa, em Ramá, foi usada para fortificar Mispá.

41.10-12. distância e localização. Se o grupo estivesse

tentando chegar ao território am onita, G ibeom está

na direção errada. De Mispá, os viajantes geralmente

iriam alguns quilômetros ao norte até Betei ou alguns quilôm etros ao sul até Ram á, para seguir por uma

estrada principal que ia sentido leste até Jericó e o Jordão. Pode-se apenas supor que talvez, quando che­

garam a Ramá descobriram que estavam sendo per­

seguidos pelo norte, ou talvez foram confrontados pela

tropa de Joanã que atalhou pela estrada leste. Tais circunstâncias podem explicar sua decisão de seguir

para o oeste até G ibeom em vez de continuar em

direção ao leste. Gibeom (el-Jib, cerca de dez quilô­m etros a noroeste de Jerusalém ) ficava quase cinco

quilômetros a sudoeste de Mispá.

41.17. Gerute-Q uim ã. Essa localidade perto de Belém provavelmente é a propriedade tradicional de Quimã

(2 Sm 19.37). Agregados à corte, como esse homem, geralm ente recebiam um pedaço de terra em troca

de seus serviços (uma prática também encontrada em textos de Mari). G erate é uma palavra desconhecida e pode significar "feudo" ou "propriedade rural".

42.1-22A decisão do Egito42.10. D eus lam enta pelo castigo enviado. No M ito de Erra e Ishum, M arduque abandona seu santuário na Babilônia para permitir que Erra, um deus destrutivo, traga ju lgam ento sobre o povo da cidade. A pós a destruição ter sido executada, M arduque ficou cheio de pesar por causa da cidade que era sua m orada. Yahw eh lamenta pela destruição que Jerusalém acar­retou sobre si mesma, mas não se arrepende desejan­do não ter agido como agira. Existe muita diferença entre o material israelita e babilónico, m as o tema da divindade lamentando pela destruição que ela mes­ma trouxe ou permitiu é um elemento comum a am­bos. Na literatura sum éria antiga, um tem a sem e­lhante aparece quando as divindades abandonam uma cidade à qual o concílio divino decretara destruição.

43.1-13A fuga para o Egito43.7. ocupações dos h ebreu s no Egito . A fuga de refugiados hebreus para Tafnes, após o assassinato de Gedalias, simplesmente inchou a população israelita já existente no Egito. Isaías 11.11, datando do período assírio, menciona remanescentes de israelitas no Alto e no Baixo Egito. O próprio Jeremias dirige-se a po­voados judaicos no Baixo Egito, em M igdol e Mênfis (44.1 e 46.14), e em Patros, no Alto Egito. Papiros en­contrados em algumas dessas localidades contêm no­mes obviamente judaicos. A comunidade judaica mais conhecida no Egito era a colônia m ilitar na ilha de Elefantina, fundada antes de 525 e m encionada na "Carta a A risteas", de Josefo, como a terra de tropas m ercenárias à serviço do faraó Psammeticus I. Cartas e documentos legais de Elefantina falam de uma cul­tura transplantada tentando manter costumes e tradi­ções mesmo diante de alguma hostilidade por parte do governo e da população egípcios. Por exemplo, um pequeno templo foi construído em Elefantina, mas foi destruído posteriorm ente. N essas cartas existem comunicações com a comunidade judaica que retomara a Jerusalém na época de Neemias.43.7. Tafnes. Essa fortaleza egípcia ficava situada na região leste do Delta, na fronteira com o Sinai. Tem sido identificada com Tell ed-Defenna, com sua mais antiga ocupação remontando ao sétimo século, quan­do Psam m eticus I posicionou ali uma guarnição de mercenários gregos. Sua proximidade a uma impor­tante estrada que seguia até a Siro-Palestina fazia da cidade um lugar provável onde os refugiados hebreus procurariam proteção.43.9. palácio do faraó, em Tafnes. As escavações em Tell ed-Defenna concentram-se em um grande prédio

retangular que data do período saíta (séculos sétimo e

sexto a.C.) e provavelm ente serviu como residência

do governador e centro adm inistrativo. É possível que esse seja o prédio descrito como o "palácio do

faraó", visto que todos os burocratas eram um a exten­são do poder da coroa. As grandes pedras enterradas

nesse ponto poderiam facilm ente sim bolizar um a

m udança de governantes, à m edida que o profeta enterra as pedras no pavimento de tijolos de barro (a palavra hebraica usada aparece apenas aqui, e a tra­

dução se baseia num termo relacionado que aparece em 2 Sm 12.31 e Na 3.14).

43.10. tenda real. Para que o rei Nabucodonosor se assentasse, seria necessário construir um trono provi­

sório, coberto por uma tenda. Esta servia como abri­go, para proteger o rei do sol e tam bém funcionava

como um símbolo de seu governo universal (compare

com a glória de Deus manifestada por uma tenda de fumaça e nuvem em Is 4.5).

43 .11 ,12 . a invasão babilón ica no Egito. Era inevitá­

vel que, com o tempo, Nabucodonosor invadisse e

tentasse conquistar o Egito. Os m edos haviam unifica­do o território a leste do Tigre, efetivamente cortando

a Babilônia do comércio direto com o leste e os egípci­

os, com seus aliados fenícios, estavam constantemente

causando problemas políticos e econômicos no ociden­te e ao longo das rotas de comércio árabes. Um longo

cerco (treze anos, de acordo com o historiador grego

do quarto século, Menander) bloqueou Tiro e devas­

tou grande parte da Fenícia (584-571). Um fragmento

dos anais de Nabucodonosor, datado do ano trinta e sete de seu reinado, H eródoto e Ezequiel 29.19-21

referem-se à invasão do Egito, em 568, mas nenhum

detalhe é dado além da vitória sobre as tribos do

deserto. É provável que algumas guarnições babiló­nicas tenham sido instaladas nas fortalezas do Sinai,

após essa campanha.43.13. tem plo do sol. Jeremias aplica o nom e hebraico

"Bete-Sem es" (NVI, "tem plo do sol") para designar a

cidade egípcia de Heliópolis. O nom e geralmente usa­do para essa cidade localizada perto de Cairo é O m (Gn

41.45), m as o profeta aparentemente deseja enfatizar o

culto ao deus-sol Am om -Rá, que era praticado ali.

43.13. colunas sagradas. O termo hebraico usado aqui refere-se a pilares ou colunas de pedra erigidas em

comemoração a um evento, como marco na conclusão

de algum acordo ou pacto ou à entrada de um santu­ário, ou ainda como im agem de um deus (ver Gn28.18-22; Êx 31.49-32; 1 Rs 14.23). No contexto egípcio,

essas colunas m onum entais geralm ente são cham a­das de obeliscos, e eram edificadas normalmente para

comemorar importantes vitórias ou na dedicação de

um tem plo. Por exem plo, a entrada do tem plo de Amom-Rá, em Heliópolis, era ladeada por duas filei­ras de obeliscos.

44.1-30A desgraça causada pela idolatria44.1. território geográfico. A mensagem de Jeremias aos povoados israelitas do Egito engloba a área geral

ao redor de Tafnes, na região do D elta, inclusive Migdol (localizada 32 quilômetros a nordeste; ver Êx 14.2 e N m 33.7) e Mênfis. Patros é uma designação de lugar que se refere à área sul do Delta, no Alto Egito, entre Mênfis e Assuã. Inscrições assírias usam termi­nologia semelhante e a terminologia egípcia apóia tal identificação. Escavações num local agora identificado como Migdol têm desenterrado cerâm ica do período saíta e uma fortaleza cujas muralhas estendem-se por m ais de 180 m etros de cada lado.44.15. alto (N VI: Patros) e baixo Egito. A área geo­gráfica onde os refugiados hebreus se estabeleceram é descrita em term os gerais nessa referên cia . O s israelitas estavam basicam ente situados no D elta e não espalhados em toda a extensão do território egíp­cio. Visto que o Nilo corre para o norte, o Alto Egito é a parte sul. O Baixo Egito, no norte, inclui a região do

Delta e estende-se até Mênfis.44.17. Rainha dos Céus. Ver o comentário em 7.18.44.18. incen so e ofertas de beb id as. O incenso era muito valorizado no mundo antigo como um elemen­to que acompanhava os sacrifícios. Seu odor adocica­do na verdade m ascarava qualquer cheiro desagra­dável que resultava da realização dos rituais. Era caro (ver o comentário em Lv 2.1), m as acreditava-se que agradava os deuses. Na Mesopotâmia, o incenso era usado em ofertas dedicatórias e propiciatórias. O povo acreditava que o incenso ajudava a transportar as orações até a divindade, que então inalaria o per­fum e do incenso (para m ais inform ações, ver o co­m entário em Êx 30.7, 8). Derramar libações ou ofer­tas líquidas era comum em toda a história mesopotâ- mica, inclusive ofertas de água, vinho e sangue (com­pare com a ação de D avi em 2 Sm 23.16). A arte assíria estilizava as ofertas de bebidas em diversas classes, dependendo do tipo de líquido e de onde e sobre o que era derramado.44.19. bo los na form a da im agem dela. É provável que o uso de ofertas de bolos com a form a da imagem da deusa era uma prática emprestada da Mesopotâmia. A palavra hebraica kawwanim é um em préstim o do acadiano kamanu, um tipo de bolo doce associado ao culto de Istar. Esses bolos eram assados sobre cinzas e com freqüência adoçados com m el ou figos. Os textos rituais que descrevem festivais eshsheshu em cidades

mesopotâmicas fazem menção a ofertas de cam e e de bolos.

44.30. destino de Hofra. Assim como em Isaías 7, o profeta Jeremias aqui dá um sinal do que Deus inten­ta fazer com pessoas desobedientes. Hofra (conhecido

em grego, nos textos de Heródoto, como Apries) era o quarto rei da 26a Dinastia, sucessor de Psammeticus I, em 589. Ele enviou um exército com reforços para a Palestina durante o cerco de Nabucodonosor a Jerusa­lém , m as rapidam ente teve de recuar (ver Jr 37.5). Sua expedição naval que flanqueou as forças babiló­

nicas em terra foi parcialm ente bem -sucedida, con­quistando o Chipre. Após a queda de Jerusalém, Hofra providenciou para que refugiados hebreus se fixas­sem no Egito, na região do Delta. Seu fim foi decor­rente de sua confiança demasiada em tropas m ercená­rias e de sua incapacidade de controlar a colônia gre­ga em Cirene. Tanto H eródoto como o fragmento de uma esteia do período relatam que ele foi morto em um golpe liderado por seu sucessor, Amasis, por vol­ta de 570.

45.1-5 Mensagem a Baruque45.1. cronologia. O quarto ano do reinado de Jeoa- quim teria sido em 605-604 a.C.. Foi o ano em que Nabucodonosor derrotou os assírios em Carquemis. A essa altura, Jeoaquim ainda era um vassalo dos egíp­cios, m as seus senhores políticos estavam prestes a mudar. Ver o comentário em 36.1.

46.1-28 Mensagem acerca do Egito46.1. mensagens acerca das nações. Existe um gênero literário distinto dentro da literatura profética conhe­cido como oráculos contra as nações estrangeiras. En­co n tram -se em Isa ía s 1 4 -2 1 , 23; E zequ iel 2 5 -3 0 ; Jeremias 46-51; Amós 1 e 2; Sofonias 2 e os Livros de

O badias e Naum. Em bora todas elas condenem os inimigos de Israel, zombando deles, de seus deuses e governantes, cada profecia é um a unidade distinta, autônom a em condições de cumprir sua missão sem ser obrigada a obedecer uma estrutura ou esboço pré- estabelecidos. Pelo fato dessas m ensagens aparece­rem no capítulo 25 de Jeremias, na versão da Septua­ginta, tem sido sugerido com freqüência que se trata­va de um a unidade diferente daquela que circulou como um a obra literária independente, antes de ser acrescentada ao Livro de Jerem ias. Na maioria dos casos, os oráculos não eram entregues aos países a quem eram dirigidos, um a vez que o público que se desejava atingir era Israel. Existem breves exemplos desse gênero nos textos de Mari. Em um a dessas pro­

fecias, o deus Dagan envia uma m ensagem a Zinri- Lim, rei de Mari, concernente a seu inimigo, a Babilô­nia: "Ó , Babilônia, o que estás tentando fazer? Eu a apanharei em um a rede".46.2. Neco. Governando de 609 a 595 a.C., Neco II foi um membro da 26a Dinastia do Egito. À medida que a influência assíria entrava em declínio, esse faraó expandiu seus negócios comerciais com a Palestina e

conquistou a antiga cidade filistéia de Gaza (ver Jr47.1-7). A Crônica Babilónica descreve como ele se aproveitou da nação assíria m ortalmente ferida, ali­ando-se com eles pouco antes da batalha de Carquemis, em 605. Sua expedição para o campo de batalha no norte da Síria para ajudar Assuruballit o levou a pas­sar pela Palestina. Ele derrotou o rei de Judá, Josias, em 609, na batalha de M egido e depois reivindicou todo o território que havia atravessado ao rum ar para o norte (ver os comentários em 2 Rs 23.33; 2 Cr 35.20; D n 1.1, 2). Após a derrota assíria em Carquem is, a Crônica Babilónica detalha como o exército egípcio foi subjugado e completam ente destruído. A Babilônia estendeu sua soberania sobre Judá em 604, confinan­do os egípcios a seu próprio território pelo resto do reinado de Neco.46.2. batalha de Carquem is. A pós a destruição de

Nínive, em 612, por um exército misto de babilônios e medos, liderado por Nabopolassar, o último dinasta assírio, Assuruballit II, transferiu sua capital para Harã. Essa fortaleza foi então capturada em 610. Assuruballit pôde garantir uma aliança com Neco II, rei do Egito, e continuou a reivindicar território ao longo do Alto do Eufrates pelos próxim os anos. Porém , foi apenas o remanescente do outrora "invencível" exército assírio que foi derrotado na batalha de Carquemis, em 605. A vitória foi conseguida sob a liderança do príncipe, Nabucodonosor. Carquemis pode ser considerado um importante ponto de m udança na história do antigo O riente Próxim o. Sinaliza o colapso final do m aior império da época e preparou o cenário para um im­pério ainda maior (Persa) que sucederia o curto perí­odo neo-babilônico. Em bora o Egito tivesse obtido parte do domínio da Palestina e Fenícia, os exércitos babilónicos de N abucodonosor rapidam ente deram continuidade à cam panha de Carquem is, estabele­cendo sua possessão em toda a Siro-Palestina por volta de 604.46.3. escudos grandes e pequenos. U m a vez que am aioria dos guerreiros do antigo O riente Próxim o não usava armamento pesado, era preciso suprir com escudos que os protegessem de flechas e dos golpes de espadas ou punhais (ver o equipamento do exérci­to de Asa, em 2 Cr 14.8). O escudo pequeno (;magen) servia como um broquel, e era segurado na mão es-

querda ou preso ao braço esquerdo. Seu fácil manu­seio ajudava no combate corpo-a-corpo. O escudo maior (sinna), que podia ser retangular ou em forma de oito, era feito de material m ais pesado - metal, couro ou m adeira - e tinha o objetivo de resistir a lanças ou flechas que eram atiradas. Porém , era desajeitado e talvez fosse difícil de carregar em combate corporal. Alguns guerreiros eram auxiliados por um escudeiro (ver 1 Sm 17.7).

46.4. uso da cavalaria no Egito do sétim o século.Visto que a cavalaria não aparece em ilustrações da arte egípcia e os textos egípcios não fazem nenhuma menção à cavalaria na época da batalha de Carque- mis, provavelmente seja justo afirmar que ela não era um a parte importante do exército egípcio nessa era. Porém, os m edos e os babilônios faziam uso de cava­leiros como m ensageiros, batedores e guerreiros m on­tados (arqueiros e também tropas de choque) havia pelo menos dois séculos antes de Carquemis. Por exem­plo, um relevo do século dez, na localidade hitita de Tell Halaf, ilustra cavaleiros em trajes de batalha. A m obilidade que a cavalaria perm itia, em contraste aos carros m ais pesados, teria dado um a vantagem aos babilônios na batalha e na comunicação nos cam­pos. As observações de Jerem ias podem então ser tão irônicas quanto as de Rabsaque, que oferecera a Eze- quias dois m il cavalos se ele tivesse hom ens para

m ontá-los (2 Rs 18.23). É possível que o profeta esteja zom bando do exército egípcio pela sua escassez de homens "para m ontar seus cavalos".46.9. Etiópia (Cuxe), L íb ia (Fute) e Lídia. O exército egípcio incluía contingentes de mercenários e tropas aliadas que remetem a eventos políticos da história egípcia. A lista incluída neste versículo e a ordem em que cada lugar aparece, pode ser comparada à lista de filhos de Cam em Gênesis 10.6. Um a dinastia etíope governou o Egito de 711 até 593 a.C.. Sua glória re­cente, portanto, lhe dá lugar de destaque na lista. A Líbia representa uma dominação estrangeira bastan­te anterior no Egito, durante a 22a e 23a Dinastias (950­720 a.C.). Os m ercenários gregos de Jônia tam bém faziam parte do exército egípcio. Um escudo grego encontra-se dentre os artefatos desenterrados no local da batalha de Carquemis.

46.11. bálsam o de G ileade. Como parte do escárnio de Jerem ias sobre as forças egípcias derrotadas, ele sugere que curem suas feridas com o bálsamo medici­nal de G ileade, em bora ele não lhes dê esperança nenhuma de alívio. A palavra hebraica sori, com base na tradução grega da Septuaginta, rhetine, "resina de pinheiro", aparentemente é um ungüento feito dessa resina e m isturada com azeite de oliva. É um produto da alta Galiléia e da região da Transjordânia e citado

pelo antigo botanista grego, Teofrastus (ver Jr 8.22; 51.8). A inda continua sendo um a questão que gera polêm ica qual árvore ou arbusto seria a fonte dessa resina.46.13. invasão de N abucodonosor ao Egito. V er o

comentário em 43.11, 12.46.14. território geográfico. Ver o comentário em 44.1.46.18. comparação com T abor e Carmelo. Talvez brin­cando com a arte egípcia que sempre retratava o faraó m uito m ais alto do que o restante dos homens, o pro­feta agora prediz a vinda de um (Nabucodonosor) cuja altura e poder eram comparados aos picos das montanhas (Tabor - 548 metros; monte Carmelo - 518 metros). Tam bém poderia ser uma referência à rota de fuga tomada pelos egípcios. O m onte Tabor fica na extremidade leste do vale de Jezreel e o monte Carmelo forma parte da cadeira de m ontanhas que seguem em direção ao sul, descendo pela costa palestina.46.19. destruição de M ên fis. Durante os séculos séti­mo e sexto a.C., M ênfis (hebraico: Nofe, 24 quilôme­tros ao sul da atual Cairo) era a capital política e cultu­ral do Egito. D urante o período assírio (674 a.C.), Esar-Hadom fora bem-sucedido em conquistar Mênfis (ver o com entário em 2 Rs 19.9), m as isso foi bem antes da época de Jeremias. Nabucodonosor avançara contra o Egito em 601, m as não obtivera êxito na invasão de seu território. As forças babilónicas foram repelidas na fortaleza egípcia de M igdol, na estrada de Gaza e forçadas a bater em retirada. Existem algu­m as evidências de N abucodonosor em preendendo uma segunda invasão, no ano 37 de seu reinado (568), m as não há informações quanto ao sucesso que obte­ve, nem quanto ao envolvim ento de M ênfis. Essa cidade foi tomada pelo rei persa, Cambises, em 525, e o faraó, Psaimneticus H, foi levado cativo.46.20. m etáfora da m utuca. Esse inseto aparece ape­nas nesta passagem , logo, qualquer identificação só pode ser feita com a informação fornecida pelo contex­to. Sendo o Egito apresentado como um a novilha nes­ta metáfora, é fácil ver a aplicação do ataque dos babi­lônios com o um a m utuca ou qualquer outro inseto

parecido que pica.46.22. m etáfora da serpente que silva. O texto hebraico fala da "voz" da serpente, em vez de fazer m enção ao silvo, especificamente. Não obstante, pode-se imaginar um a serpente silvando seu alerta contra um provável atacante. A serpente era um elemento importante da religião egípcia e um símbolo da autoridade real.46.22. m achados, derrubar árvores. A destruição pro­m ovida por um conquistador com freqüência incluía a derrubada de árvores e bosques (ver o comentário em 2 Rs 19.28). A lém disso, às vezes, a conquista tinha o objetivo de obter o acesso e o controle das

reservas naturais do país derrotado (ver comentário

em Is 14.8), embora, é claro, o Egito não fosse famoso

por suas florestas.46.25. Amom, de Tebas. O nome grego "T ebas" refe­

re-se à cidade chamada pelos egípcios de W aset, 520

quilôm etros ao sul de Mênfis. O grande tem plo de

Cam ac em Tebas era dedicado a Amom-Rá, o princi­pal deus do panteão egípcio, começando com os faraós

da 18a Dinastia (séculos 16 e 15). Associado ao vento ou "sopro da vida", Am om era fundido ao deus-sol,

Rá, um a vez que o culto a esse deus era praticado em

todo o Egito. O destaque desse deus aum entava à

m edida que as fortunas do Império Egípcio se expan­

diam. Como resultado, ele era considerado o deus criador e a cidade de Tebas, o lugar da criação. Tebas

fora saqueada pelo exército assírio de Assurbanipal,

em 663 a.C. e grande parte de sua riqueza fora pilha­da. Assim como Mênfis, Tebas também foi invadida

por Cambises, em 525.

47.1-7M e n s a g e m a c e rc a d o s F ilis te u s47.1. ataque do faraó a Gaza. Nabucodonosor começou

suas manobras de invasão ao Egito no início de 601.

Porém, o cerco à Palestina, incluindo a submissão de Jeoaquim ao domínio babilónico, resultou em alguns

atrasos que impediram uma ação mais direta contra o

território egípcio até novembro daquele ano. Talvez o

rei esperasse conquistaro Egito tão facilmente quanto

Assurbanipal o fizera em 663. D esde aquela época, porém, os faraós saítas da 26a Dinastia haviam con­

centrado seus esforços e riquezas na construção de

diversas linhas de defesa ao longo da estrada de Gaza e também no sul. Essas medidas tinham o objetivo de

evitar que um exército marchasse diretamente ao lon­go do Sinai, na costa Mediterrânea, ou pelo interior,

através do deserto. Q uando, segundo H eródoto, o exército de Nabucodonosor foi derrotado na fortaleza

de Migdol, no braço leste do Delta do Nilo, as forças de N eco II o perseguiram no norte e capturaram Gaza.

Os egípcios a controlaram por dois anos, até que

N abucodonosor novam ente em preendeu campanha na Palestina.

47.4. situação dos filisteus no final do sétimo século.As cidades-estado filistéias haviam estado sob o domí­

nio assírio durante a m aior parte do sétimo século.

Ecrom, por exemplo, servia como um importante cen­tro de produção e distribuição de azeite, sustentando

as riquezas assírias na região. Com o declínio dos assírios, após a m orte de Assurbanipal, em 627, os

faraós egípcios Psammeticus I e N eco II dirigiram-se à Filístia. Escavações em Ascalom revelaram evidênci­

as (estatuetas em bronze de divindades egípcias, pe­sos de bronze, cerâmica) de um comunidade egípcia

nessa cidade filistéia portuária. Sua influência durou

apenas algumas décadas, até a campanha de Nabuco­donosor, no outono de 604. A Crônica Babilónica des­

creve um a investida em novembro/ dezembro para

capturar Ascalom sinalizando um a política de devas­tação que com o tempo arrasou completamente Judá e

a Filístia, acompanhada pela deportação de grande

parte da população dessas áreas. Os babilônios esta­vam preocupados principalmente com o Egito e não

queriam ter de estabelecer um governo para manter

sua presença na Filístia, como os assírios haviam feito.47.4. relações dos filisteus com Tiro e Sidom. Embo­

ra possa ter havido alguns laços políticos entre a Filístia

e a Fenícia, grande parte de suas relações se baseava

no comércio e em interesses econômicos mútuos. Os

portos fenícios de Tiro e Sidom enviavam seus navios

pelo m ar M editerrâneo. Os carregamentos de "m er­cadorias de luxo", barras de metal e ânforas de azeite

e vinho vinham de portos em Jônia, na Grécia e em

C hipre. Os filisteu s, esp ecialm en te de A scalom e

Asdode, eram um dos mercados desses produtos e

também distribuidores aos clientes do Egito, Arábia e Palestina. Os egípcios também exploravam os portos

fenícios (ver os comentários em Jr 37.5-8), competindo

com Nabucodonosor para o controle dele. A compe­

tição acabou deixando a Filístia em ruínas e Tiro e Sidom nas mãos dos babilônios.

47.4. ilha de Caftor. Esse lugar de origem dos filisteus

com freqüência é identificado como a ilha de Creta. O

nom e khtyw aparece em textos egípcios, ugaríticos, gregos e acadianos. Em bora algum as tentativas te­

nham sido feitas no sentido de identificar essa ilha

com Chipre, as evidências arqueológicas e geográfi­cas apontam para Creta.

47.7. ataque em Ascalom . A Crônica Babilónica, em­

bora seja um relato fragmentado, vangloria-se de que o exército babilónico de Nabucodonosor atacou Ascalom

no mês de quislev (novem bro/dezem bro). Isso era raro, visto que era a estação chuvosa, um a época em

que a m aioria dos exércitos não partia em importantes campanhas (comparar com 2 Sm 11.1). A Crônica ob­

serva que não apenas os muros foram penetrados e a cidade foi tomada, como também os soldados incendi­

aram e arrasaram o interior da cidade, transforman­

do-a em "u m monte de escombros e ruína". Escavadores

modernos têm encontrado amplas evidências dessa destruição em todas as partes da cidade. Dentre os

artefatos encontram-se pilhas de cerâmica quebrada, restos de esqueletos indicando ferim entos traum áti­

cos, cereais queimados e casas derrubadas.

48.1-47Mensagem acerca de Moabe48.1. situ ação m oabita no f in a l do sétim o século.Assim como a Filístia, Moabe foi um Estado vassalo dos assírios durante o sétimo século a.C.. Textos assí­rios alistam quatro reis moabitas que pagaram tributo ao reinado de Assurbanipal. Heródoto observa que os reinados transjordânicos de M oabe e Am om sucumbi­ram ao domínio dos babilônios pouco depois da que­da de Jerusalém . Esse foi um passo além dado por Nabucodonosor a fim de excluir o Egito da Siro-Pales- tina e controlar a im portante rota de caravanas na Transjordânia. Os egípcios tinham tido um a longa história de atividade econômica e política em Moabe, datada do reinado de Tutmés III (c. 1479-1425) e evi­denciada na esteia de Shihan, do oitavo século, que ilustra o deus Cam os usando um a túnica ao estilo egípcio.

48.1. N ebo e Q uiriataim . O local da cidade de Nebo, identificado com Khirbet el-Mekhayyat, a quase dois quilômetros do mais alto pico do monte Nebo, é m en­cionado na esteia m oabita do rei M essa, com o um povoado moabita e portanto, apropriado a essa men­sagem. M essa afirma em sua esteia comemorativa ter construído Quiriataim. A localização exata ainda per­m anece indefinida, em bora diversas localidades te­nham sido sugeridas.48.2. H esbom . Ver o com entário em Deuteronôm io 2.26 acerca desta cidade moabita.48.3. Horonaim . A localização estratégica desses lu­gares, ao longo da Estrada do Rei que atravessa o planalto moabita deve ter sido um a necessidade para os governantes moabitas. A Esteia de M essa mencio­na H oronaim como um desses im portantes postos. Provavelmente estava localizada perto da atual cida­de de Kathrabba, na parte sudoeste do planalto - de

onde se tem um a clara visão, tanto do vale do mar Morto como da Estrada do Rei.48.5. Luíte. Fontes extrabíblicas, inclusive um a inscri­ção nabatéia de M adeba e um contrato escrito em hebraico datando da revolta de Bar Kochba (132-135 d.C.), indicam que Luíte ficava localizada na parte sudoeste do planalto moabita. H á um a estrada roma­na nesse ponto que parte do planalto e desce para a extremidade sul do m ar Morto. Achados de cerâmica na superfície do terreno sugerem ocupação durante a Idade do Ferro e posteriormente em diversas localida­des a sudoeste de Kerak e perto da atual cidade de Kathrabba.48.7. Camos. Ver o comentário em Juizes 11.24 a res­peito desta divindade dos moabitas. Um a esteia dedi­catória que ilustra Camos e data do nono ou oitavo século a.C. foi encontrada em Shihan. Assim como é

descrito na inscrição moabita de M essa, essa esteia de um metro de altura retrata Camos como um guerreiro divino, segurando um a lança e de pé, pronto a defen­der o povo moabita.48.8. vale e planalto, topografia de M oabe. O planal­to moabita estende-se aproximadamente por cem qui­lômetros de norte a sul, sendo limitado pelo vale do m ar Morto, a oeste, e pelo deserto árabe, a sudoeste. Estende-se por 24 quilômetros no sentido leste/oeste, com um a elevação de cerca de 900 metros. Esse pla­nalto é cortado no sentido leste/oeste, pelo uádi el- Mujib, que resulta do rio Arnom. O limite sul é mar­

cado por outro canyon profundo, o uádi el-Hesa (rio Zered). Há um a extensão do planalto conhecida como "planalto de M edeba" ao norte, que é mais acessível, visto que não contém os profundos canyons que carac­terizam o sul.48.9. pôr sal sobre M oabe. Ver o comentário em Juizes 9.45 quando Abim eleque jogou sal sobre o chão da cidade destruída de Siquém. Os Anais do rei assírio Tiglate-Pileser I registram como ele capturou a forta­leza inimiga de H unusa e semeou sal sobre suas ruí­nas enquanto proferia uma maldição sobre todo aque­le que ousasse reconstruir a cidade (comparar com Js6.26). A tradução do hebraico sits como "sa l" é basea­da em um paralelo ugarítico.48.11. resíduos de vinho. Após as uvas terem sido pisadas, o suco resultante era despejado em grandes jarros de armazenagem (37 litros), que eram selados com argila, ficando apenas um pequeno orifício para ventilação e escape dos gases de fermentação. O pro­cesso de fermentação acontecia durante quarenta dias, à medida que se formavam os depósitos ou borra do vinho. A m etáfora de Jerem ias aqui relaciona-se ao fato de que os moabitas nunca haviam sido deporta­dos, por isso sua "ferm entação" não tinha terminado.48.11, 12. m udada de vasilh a em vasilha. A fim de term inar o processo de fabricação do vinho, o suco fermentado era despejado das primeiras vasilhas em outras. Nesse processo os depósitos também eram co­ados para que a fermentação terminasse e o sabor do vinho pudesse envelhecer em adegas subterrâneas, onde era possível m anter uma temperatura constante de 20 graus centígrados. A degas desse tipo foram descobertas em G ibeom e Tell Qasileh. Finalmente, partes do vinho eram despejadas em vasilhas meno­res para transporte e consumo imediato.48.13. confiança em Betei. É provável que essa refe­rência seja à divindade semita do noroeste, Betei, con­firm ada em nomes próprios e em textos por mais de m il anos, inclusive nos tratados de vassalagem de Esar-Hadom (c. 675 a.C.) e na colônia judaica militar de Elefantina (sexto século a.C.). A comparação entre

Camos e Betei dá m ais peso à hipótese de que este últim o se trate do nome de um a divindade. Porém, tam bém pode servir como um a referência dupla ao santuário de Jeroboão na cidade de Betei (ver 1 Rs13.26-33; Am 7.13).48.15-16. invasão de M oabe. A única fonte atualmen­te disponível sobre a invasão babilónica de Moabe é Josefo. Ele observa que cinco anos após a destruição de Jerusalém, no ano 23 do reinado de Nabocodonosor (582-581), o rei babilônio fez campanha na Transjor- dânia, sujeitando M oabe e Am om ao seu dom ínio. Visto que praticamente nenhuma das Crônicas Babi­lónicas foi preservada além de 594, isso não pode ser confirmado.48.18. D ibom . Ver o comentário em Números 21.30.

Essa cidade ao norte do vale do A m om foi a capital moabita durante o nono século, no reinado de Messa.

48.19. Axoer. Ver o comentário em Deuteronômio 2.36, 37 acerca desta cidade localizada a sudeste do Dibom e na beira do estreito do Arnom.48.20. Arnom . Ver o com entário em D euteronôm io 2.24 sobre esse profundo canyon que corta Moabe no sentido leste/oeste.

48.21-24. cidades de M oabe. As cidades do planalto mencionadas, destinadas à destruição, incluem locali­dades não identificadas (Holom) e algumas cuja loca­lização é incerta. Jaza (provavelmente Khirbet Medei- niyeh, na parte leste do planalto m oabita), Bete-Meom (Ma'in, cerca de seis quilômetros a sudoeste de Me- deba), Queriote (possivelmente Khirbet Aleiyan, nor­deste de Dibom), Dibom, Quiriataim (possivelmente

el-Q ereiyat, oito quilôm etros ao norte de D ibom ), B ozra (p ossiv elm ente U m m el-'A m ed , a leste de Hesbom) todas são mencionadas na inscrição de Messa. Bete-Gamul aparece somente neste texto e pode ser identificada com Khirbet el-Jemeil, cerca de treze qui­lômetros a leste de Dibom.48.25. poder (chifre). Na M esopotâmia, as coroas dos deuses e reis com freqüência tinham chifres, como sinal de seu poder e autoridade, particularmente em se tratando de ferocidade na guerra. Isso explicaria porque a palavra chifre, muitas vezes, é sinônimo de força. Outra explicação é que aqui a palavra significa "a rco " . Essa alternativa se fundam enta no tipo de m aterial usado para confeccionar o arco (descrito no épico ugarítico de Aqhat) e na expressão "quebrar o arco" encontrada em Jerem ias 49.35 e Oséias 1.5. Exis­te base possível para esse uso na literatura grega e egípcia.48.28. com portam ento da pom ba. A fuga dos m oa- bitas é comparada ao hábito das pombas em construir seus ninhos nas rochas. Ao depositar seus ninhos nas bordas e nas reentrâncias de precipícios inacessíveis

como no estreito do A m om , essas aves confiavam que seus filhotes estariam protegidos. A sombra também ajudaria os filhotes até que a plumagem se formasse.48.31. Q uir-H eres. Identificada com a atual Kerak (27 quilômetros ao sul do A m om e cerca de 17 quilôme­tros a leste do mar Morto), essa era uma importante localidade moabita. Protegia uma parte da Estrada do Rei e controlava as caravanas que passavam pelo pla­nalto moabita no sentido leste/oeste.48.32. Jazar e Sibm a. Ver o comentário em Números 21.32 a respeito de Jazar. Sibma não foi identificada com certeza, em bora Khirbet Q arn el Qibsh e Bete- Baal-Meon tenham sido sugeridas. Devia ficar na re­gião com andada por H esbom e aparentem ente era conhecida por suas vinhas (ver Is 16.8-13).

48.34. cidades de M oabe. A respeito de Hesbom, ver o comentário em Números 21.25-28. Acerca de Jaaz, ver o comentário em Números 21.23. Para Horonaim, ver Jerem ias 48.3. Eleale ficava localizada dois quilô­metros e meio a nordeste de Tell Hesban, em Khirbet el-'Al. Eglate-Selisia não foi identificada (ver Is 15.5).

Zoar (possivelm ente Safi, na m argem sul do uádi Zered) é o ponto m ais ao sul desse oráculo e ficaria perto do mar Morto. As águas do Ninrim geralmente são identificadas como o uádi en-Numeirah, um ribei­ro que desemboca no m ar Morto, na extremidade sul.48.37. práticas de luto. Cada uma das ações descritas aqui era práticas de luto comuns no antigo Oriente Próximo. V er os comentários em Levítico 10.6-7, Isaías15.2, 3; 32.11 e Jerem ias 41.5 para informações adicio­nais sobre esses rituais e estilo de vestimenta.48.40. m etáfora da águia. Essa é a im agem de uma ave de rapina (Babilônia) atacando, talvez uma águia ou abutre. O "p lan ar" não é um deslizar tranqüilo, mas um a arremetida para atacar a presa (nesse caso, Moabe) e arrebatá-la (compare com Ez 17.3, 4).48.41. Q ueriote. Essa cidade m oabita é mencionada na inscrição de M essa e também no oráculo de Amós2.2. Sua localização exata ainda não foi determinada, em bora algumas possibilidades sejam el-Q ereiyat e Khirbet Aleiyan, ambas no planalto moabita.48.45. H esbom , Seom . Acerca de Hesbom, ver o co­mentário em Núm eros 21.25-28 e sobre Seom, ver o comentário em Números 21.24-30. Visto que Seom era um rei am orreu da região de M oabe e sua capital ficava em Hesbom, a referência aqui pode ser ao ter­ritório por ele governado durante algum tempo.

49.1-6Mensagem acerca de Amom49.1. situação dos am onitas no fin a l do sétim o sé­culo. Em bora o reinado amonita, centrado ao redor da capital em Rabá, estivesse prestes a sucumbir ao con­

trole dos babilônios, não há registro de um exílio generalizado de seu povo (v. 3), Evidências de inscri­ções em Tell el-'U m eiri e H esbom m ostram que a língua amonita continuou a ser usada no período persa. Existe tam bém um a continu id ade n o estilo arqui­tetônico, com nenhum sedimento significativo de des­truição e a existência de instalações adm inistrativas que evidenciam uso contínuo. A lém disso, não há interrupção no estilo de cerâmica da Idade do Ferro II produzida até mesmo durante o período persa.49.1 . M o lo q u e. V er o com entário em 1 Rs 11.5, 7 acerca desse deus amonita, "M ilcom " em hebraico, e não M oloque. Como deriva da palavra para "re i" , esse nome provavelmente se refere a esse deus como o chefe do panteão amonita. Ele é associado com fre­

qüência ao sacrifício infantil, m as neste versículo refe­re-se à tom ada, por parte dos amonitas, do território controlado antes pela tribo israelita de Gade.49.1. território de Gade. Ver o comentário em N úm e­ros 32.34-42 acerca da extensão do território de Gade

na Transjordânia. Essa tribo concentrava-se principal­mente em Gileade e em Basã.49.2. R abá. A capital dos am onitas ficava em Jebel Q al'a. Atualm ente fica no m eio da cidade de Amã, m as tem sido pesquisada e parcialmente escavada. A ocupação dessa localidade e de seus arredores remon­ta a tempos paleolíticos. Embora ocasionalmente esti­vesse sujeita ao domínio israelita (ver 2 Sm 12.26-31), durante o sexto século, os amonitas tentaram expan­dir sua influência para o norte, após a destruição de Jerusalém .49.3. relação entre H esbom , A i e R abá. A relação

entre Am om e M oabe nesse oráculo é clara: ambos reinados e suas capitais são avisados da destruição iminente. Porém, a menção a Ai parece deslocada. A cidade de Ai (geralmente identificada como et-Tell)

ficava localizada perto de Betei em Israel e não tem relação direta com Hesbom, nem com Rabá. É possí­vel, visto que o nome da cidade significa "a ru ína", que outra A i seja o objeto do alerta de Jeremias.

49.7-22Mensagem acerca de Edom49.7. situação dos edom itas no fin a l do sétimo sécu­lo. Edom se tom ara um Estado vassalo assírio no rei­nado de Tiglate-Pileser III e continuou sob o domínio assírio até a morte de Assurbanipal, um século mais tarde. É provável que os edomitas tenham se subme­tido ao governo de Nabucodonosor em 605 a .C . Em­bora alguns refugiados hebreus talvez tenham en­contrado refúgio e abrigo em Edom, aparentemente perm aneceram passivos visto que Jerusalém havia sido destruída (ver SI 137.7 e Ob 11). A campanha

babilónica contra Am om e Moabe em 594 parece não ter afetado Edom. É provável que tenha permanecido

ileso até a época da campanha de Nabonido, em 552.49.7. Tem ã. Esse é um nome geográfico sinônimo de

Edom (Ob 9) ou da parte norte desse reinado ao sul da Transjordânia, com sua capital em Bozra (ver Am

1.12). É provável que a nação de Edom tenha se origi­

nado nessa região e com o tempo conseguiu expandir- se em direção ao sul (ver Ez 25.13).

49.7. tradição de sabedoria em Tem ã. Ver o comentá­rio em Obadias 8. Em bora diversos tipos de sabedoria

sejam atribuídos aos povos antigos, é possível que a

sabedoria dos edomitas fosse fruto de sua habilidade

de adaptar-se ao ambiente físico hostil e inóspito onde

viviam (ver o comentário em O b 3) ou de sua facilida­de em negociar e lidar com os caravaneiros que regu­

larmente cruzavam suas terras.49.8. D edã. Esse oásis do noroeste da Arábia (atual al-

'Ua) foi um importante ponto de parada para as cara­

vanas, durante o sexto século a.C.. Embora seja men­

cionado ao lado de Temã, em Ezequiel 25.13, não há evidência do controle de Edom no extrem o sul do

território. Entretanto, evidências em cerâmicas e ins­

crições indicam que atividades comerciais contínuas, mercadores residentes e possíveis laços políticos po­

dem ter existido. Também é possível que Edom e os

árabes fossem citados de forma coletiva pelos profetas (ver Is 21.13).

49.13. Bozra. Localizada a oeste da Estrada do Rei e à margem da rota comercial ocidental que seguia para

o uádi Arabá, Bozra (atual Buseirah) era a capital de

Edom. Escavações confirmam que não houve destrui­

ção durante o reinado de N abucodonosor, quando Edom pôde ficar fora dos conflitos que arrasaram Jeru­

salém. H á evidências, no entanto, de uma transição cultural após 550, devido à campanha de Nabucodo­

nosor e a transferência do domínio para os persas.

49.23-27Mensagem acerca de Damasco49.23. situação dos dam ascenos no fin a l do sétimo

século. Após o colapso do Império Assírio, pode-se

presumir que Aram (Síria, cuja capital era Damasco) obteve novamente independência temporária. Porém,

como todas as outras pequenas nações, teve de sub­

meter-se ao domínio babilônio após 605. Não existe evidência extrabíblica quanto ao papel ou posição de

Damasco ou da Síria durante o período subseqüente,

e nenhum a grande escavação foi possível na atual

cidade. O fato de que apenas cidades sírias sejam mencionadas neste oráculo sugere que a nação fora

fragmentada e que contingentes de tropas dessas lo-

calidades haviam despertado a ira do profeta e de Yahw eh contra eles.49.23. Hamate e Arpade. A localidade de Ham ate fica na Síria central, às m argens do rio Orontes, cerca de 208 quilômetros ao norte de Damasco. Tem um a lon­ga história como centro comercial e adm inistrativo, que remonta aos textos de Ebla do terceiro milênio. Arpade (Tell Rifaat), era um centro regional no norte da Síria, e como Hamate tinha um a história de influ­ência, até a conquista assíria. Ambas localidades são mencionadas com freqüência nos anais assírios, mas seu poder e revoltas intermitentes foram sufocados no final do oitavo século. Para m ais informações, ver os comentários de Isaías 10.9.49.27. fortalezas de Ben-H adade. Como acontece com O nri em relação ao reinado de Israel (Inscrição de M essa e Anais Assírios) e com Davi, em relação ao Reino Unido e m ais tarde em relação a Judá (Inscrição de H azael, em Tell Dã), o nom e de Ben-H adade é associado à fam ília governante de Aram. Nenhum rei com esse nome de fato governou durante o sétimo ou o oitavo século, no entanto, fazia parte da tradição continuar a usar o nome do fundador da dinastia ao referir-se a um a nação ou às suas riquezas.

49.28-33Mensagem acerca de Quedar e de Hazor49.28. Quedar. Quedar era um dos grupos tribais do norte da Arábia. O nome aparece em textos assírios e neo-babilônicos sugerindo que tratava-se de um gru­po particularmente forte. A referência aqui pode ser à campanha de Nabucodonosor à Arábia em 599-598 e pode de fato referir-se tanto ao limite geográfico da m archa de seu exército, quanto ao povo contra o qual os babilônios tiveram de lutar.

49.28. Hazor. Esse nom e refere-se ao país haserim e não à cidade de H azor na região da alta Galiléia. Os homens das tribos do deserto, talvez associados àque­les m encionados com o habitantes do N eguebe em Josué 15.23-25, estariam entre os alvos de Nabucodo­n osor em sua cam panha para pacificar e anexar o norte da Arábia.49.33. chacais. É bastante comum, especialmente em Jerem ias (ver 9.11; 10.33), referir-se a áreas desoladas ou inabitadas como habitação de chacais (ver SI 44.19; Is 34.13). Esses carniceiros costumavam perambular por áreas desérticas. O que é particularmente impres­sionante neste versículo é que a campanha de Nabuco­donosor transformaria regiões já desoladas em luga­res totalm ente inabitáveis. D escrições sem elhantes ocorrem na literatura do Egito e da M esopotâmia, nas visões de Neferti e no texto sumério Lamento pela Des­truição de Ur, respectivamente.

49.34-39Mensagem acerca de Elão49.34. situação dos elam itas no fin a l do sétim o sécu­lo. Ocupando grande área do planalto iraniano a leste do rio Tigre, os reis elamitas se aliaram aos babilônios durante grande parte do sétimo século, lutando con­tra os assírios. A Crônica Babilónica detalha muitos exemplos de sua ajuda, começando com o reinado de M erodaque-Baladã. Os anais de Assurbanipal descre­vem a captura de Susa, a capital elamita, em 640, a pilhagem sistemática de seus tesouros e a apreensão

de seus deuses. A ira dos assírios é vista no tratamen­to dado ao corpo do rei elamita. Ele foi preservado em sal e levado a Nínive, onde foi cremado e suas cinzas foram espalhadas ao vento. A pesar da hostilidade assíria, outra dinastia elamita foi estabelecida após a m orte de Assurbanipal e continuou a governar em Susa até a fusão de seu território com o dos m edas e dos persas, sob Ciro, na m etade do sexto século. Essa

ú ltim a situ a çã o fo i p ro m o v id a p ela a lia n ç a de N abopolassar com os m edos, antes da batalha de Carquemis e pelo afrouxamento resultante de antigos laços com Elão.

50.1-51.64Mensagem acerca da Babilônia50.2. queda da B abilônia. A queda da Babilônia pre­dita por Jerem ias na verdade aconteceu apenas em 539, quando Ciro, o rei persa, conquistou a cidade. Heródoto registra que os persas desviaram as águas do Eufrates e assim entraram na cidade através de um de seus m uitos canais. Mesmo então, a cidade não foi destruída ou saqueada, visto que Ciro recebeu ajuda de sacerdotes do deus M arduque descontentes e de outros cidadãos babilônios que estavam insatisfeitos com o governo de N abonido. (O Cilindro de Ciro preserva a versão persa desses eventos; ver os comen­tários em Is 45.1; 48.14). Visto que Jerem ias não faz m enção direta a Ciro nesse oráculo, pode-se supor que esse material foi escrito e editado antes da queda da Babilônia. Certamente ele profetizara a destruição dos babilônios e o retorno dos exilados em outras ocasiões (ver Jr 27.7; 29.10). Portanto, é apropriado que nessa série de m ensagens contra as nações, a destruição da Babilônia seja descrita como o m aior feito de Yahw eh e o m aior bem para o povo de Judá.50.2. B e i e M arduque. O título Bei era aplicado ao deus supremo do panteão acadiano, que até o início do segundo m ilênio a.C. era Enlil (o padroeiro da cidade de Nippur). Após o surgimento da Babilônia como a principal cidade da M esopotâmia, o título foi transferido para sua divindade padroeira, Marduque. Evidência dessa sucessão da supremacia divina pode

ser vista no lugar de destaque que M arduque ocupa no épico babilónico da criação, Enuma Elish, e no pró­

logo ao Código de Ham urabi. Em am bos os casos, afirma-se que M arduque atingiu o posto de deus prin­cipal através de seus poderes combativos e pela von­tade dos outros deuses. O nome Bel-M arduque conti­nuou a ser usado pelos assírios e neo-babilônios e sua festa de A no Novo continuou a ser celebrada pela renovação da vida e da fertilidade (ver o comentário em Is 46.1). Até mesmo Ciro, o rei persa, considerou sua ascensão ao poder e a captura da cidade de Babi­lônia como um feito alcançado através da ajuda de Bel-M arduque. Referências a Bei no panteão semita do noroeste encontram-se com o nome Baal, também traduzido como "senhor".50.9. coalizão das nações do norte. Essa é um a refe­rência irônica que remete à narrativa do chamado de Jerem ias (Jr 1 .14 ,15 ), onde a Babilônia era a ameaça vinda do norte, destinada a subjugar Jerusalém. Ago­ra, neste oráculo que prediz a destruição da Babilônia,

é a sua vez de ser destruída por um a coalizão do norte. De fato, isso aconteceu na form a de uma aliança entre os m edos e os persas que tomara forma por mais de vinte anos, através de Ciro.

50.19. designações geográficas. A restauração dos exi­lados que retom ariam a Israel incluía a retomada de

suas atividades econômicas básicas, no pastoreio e na agricultura, e a restauração da prom essa contida na aliança que garantia fertilidade à terra prom etida. Basã e Carm elo eram fam osas por suas pastagens, enquanto os montes de Efraim tinham ricas vinhas e

campos férteis e Gileade servia tanto como uma área agrícola quanto de pastagem. Essas áreas englobam totalmente as fronteiras de Israel, o reino do norte.50 .21 . M era ta im . O term o em p reg ad o a q u i por Jerem ias é um jogo de palavras para Babilônia. Ba­

seia-se em um termo acadiano, marratum, usado para referir-se à área de pântanos no sul da Mesopotâmia, onde o delta do Tigre e do Eufrates se misturam às águas salgadas do golfo Pérsico. Portanto, essa pala­vra acadiana, que na verdade significa "am arg o ", encaixa-se bem ao oráculo do profeta contra um povo que havia amargurado os israelitas e agora eles mes­mos teriam de enfrentar rebelião e amargura.50.21. Pecode. Novamente, Jerem ias está usando um termo acadiano sinônimo de Babilônia. Dentre os gru­pos tribais arameus que habitavam a Babilônia, ha­via um denominado Pucudu. O profeta faz referência a esse vínculo e ao mesmo tempo faz um trocadilho com a palavra hebraica para "castigar", paqad. É pos­sível que a escolha feita por Jerem ias do termo Pucudu, que habitavam principalm ente nas terras marítimas do sul da Mesopotâmia e a leste do rio Tigre, é mais

um a zom baria dirigida a uma nação outrora poderosa que se tom ara fragmentada e sujeita às rebeliões de grupos tribais dentro de seu território.50.38. ídolos enlouquecendo de terror. O escárnio a ídolos inúteis encontra-se em outras passagens dos p rofetas (ver Is 40.18-20; Os 8.4). Entretanto, per­sonificá-los a ponto de lhes atribuir emoções e estados como medo e loucura é menos comum (ver Is 19.1). Pode ser que Jerem ias esteja fazendo alusões ao épico de Gilgamés sobre o dilúvio, onde os próprios deuses que eram responsáveis pelas águas do dilúvio fica­ram com m edo delas e "se esconderam como cachor­ros acuados contra um m uro".50.39. h istória da B ab ilôn ia após 539. Após a captura da Babilônia por Ciro, rei da Pérsia, em 539, a dinas­tia nativa da cidade, encabeçada por Nabonido e seu filho Belsazar, foi erradicada e um administrador persa foi nomeado para governar ali. Textos econômicos do ano da conquista indicam pouca interrupção no co­mércio e nas atividades normais, visto que os persas fizeram uma transição suave. Cada rei persa posterior incluiu dentre seus títulos o de "re i da Babilônia" e usou a cidade como uma de suas residências oficiais (segundo Xenofonte). Entretanto, houve revoltas pe­riódicas na Babilônia que tiveram de ser sufocadas

(522-521 e novam ente em 482-481). Tem endo insur­reições futuras, Xerxes removeu a estátua de ouro de M arduque, com cinco metros e meio de altura, e des­truiu o templo de Esagila. O insulto final aconteceu quando a cidade foi fundida à província da Assíria por razões políticas. Quando Alexandre tomou o Ori­ente M édio do dom ínio persa, a Babilônia abriu-se para o jovem conquistador e a restauração do templo de Esagila começou. A cidade não teve a mesma sorte sob os sucessores de Alexandre. Seleuco tinha uma nova cidade, Selêucia, às margens do Tigre, construída ao norte da Babilônia. Essa nova cidade competiu com a Babilônia e em 275 a.C. foi declarada a cidade real. A população da Babilônia foi transferida à força para a Selêucia e a Babilônia transformou-se em nada mais

que um local sagrado arcaico. Por volta do primeiro século a.C. estava completamente desolada.50.43. N abonido em 540-539. Tem endo a aproxima­ção dos persas, em 543 Nabonido voltou de sua capital árabe, em Temã, para a Babilônia. Ele reuniu as ima­gens dos deuses de seu império (relatado no Cilindro de Ciro) e pela primeira vez em dez anos conduziu a festa de Ano Novo em honra ao deus Marduque. De acordo com suas próprias crônicas, Nabonido também restaurou o templo de seu deus pessoal, Sin. Porém, o preço de sua longa ausência da cidade e a negligência do sacerdócio e deuses por parte de Nabonido e de seu co-regente Belsazar foi alto. Ele não pôde prever a

queda da cidade da Babilônia. Ciro avançou contra a Babilônia em 539 a.C. e lutou um a batalha em que foi vitorioso em Opis, cerca de oitenta quilômetros a nor- te-nordeste da Babilônia, às m argens do Tigre, no inicio de outubro. No dia onze de outubro, Sipar (56 quilôm etros ao norte da Babilônia) rendeu-se, apa­rentemente sem lutar. No dia 13 de outubro, a cidade da Babilônia sucum biu e o exército persa m archou pacificamente até a Babilônia. Relatos persas afirmam que foram bem -vindos pela população local e que quando o próprio Ciro entrou na cidade, no dia 30 de outubro, foi aclamado seu libertador. Isso, porém, faz parte da retórica padrão dos conquistadores e pode ocultar outros fatos. Fontes clássicas sugerem que após a cidade ter sido conquistada, o rei foi levado como refém e morreu na Pérsia.51.1. criptogram a de Lebe-Cam ai. A expressão usada aqui é um criptograma. Esse recurso literário substi­tuía as letras da palavra com outras correspondentes, contadas a partir do fim do alfabeto (outro exemplo ocorre em Jr 25.25, 26, onde Babilônia, bbl, transfor­m a-se em Sesaque, shshk). Em português, o A seria

representado pelo Z, o B pelo X e assim por diante. Nesta passagem o nome Caldéia é disfarçado usando as consoantes Ibqmy (Lebe-Camai) em vez de ksdym (Caldéia). Possivelmente isso era feito por causa dos perigos envolvidos em falar o nom e do inimigo, mas é mais provável que fosse uma form a de zombaria.51.8. bálsam o como rem édio. Ver os comentários em

8.22 e 46.11. Existem textos acadianos de prescrição em que há uma descrição de sintomas e uma lista de ervas e instruções sobre como administrá-las. Ao refe­rir-se a esses bálsam os e ungüentos m edicinais, no entanto, Jerem ias pode estar zombando dos remédios e aludindo ao poder curador de Deus.51.11. medos. Durante o oitavo e o sétimo século, as tribos dos medos começaram a se organizar como re­sultado de seu conflito com o Império Assírio. Com o tempo, conseguiram formar um reinado identificável, no noroeste do Irã. O reinado da Média, liderado por seu rei Cyaxares, aliou-se depois com os neo-babilônios para eliminar a última possessão do Império Assírio na M esopotâm ia. Essa aliança perm itiu aos m edos expandir seu território de forma significativa. A Crô­nica Babilónica e Heródoto registram a m aior parte do que se sabe sobre o conflito entre os m edos e os persas. Parece que começou com uma revolta por Ciro contra seu senhor, Astyages, rei da Média. Após ter derrota­do o rei dos medos, em 550, Ciro conseguiu aprovei­tar-se das vitórias da M édia, criando um império ain­da maior para os persas, quase que imediatamente.51.17. não há fô leg o de v id a nas im agen s. V er o comentário em 10.14. Assim como Isaías zom ba da­

queles que confiam nas imagens de madeira, ouro e prata, feitas por mãos hum anas (ver o comentário em

Is 44 .17 ,18), Jerem ias as ridiculariza por serem frau­

des sem vida. Isso é exatam ente o oposto ao Deus israelita, cujo fôlego dá vida aos hum anos e restaura a

nação de "ossos secos" (Ez 37.5-10). Rituais mesopo- tâmicos para dar vida a uma imagem cultual incluí­

am o ritual da lavagem da boca, um restabelecimento

do nascim ento da divindade e o uso de água santa para abrir a boca e os olhos e permitir que a estátua se movesse, mas nada tinha o objetivo explícito de dar- lhe fôlego de vida.

51.27. Ararate. A região geográfica citada aqui é U rar­tu, uma grande área no leste da Ásia Menor, perto do

lago Van. Form ou um reinado no início do século

nono e continuou a aparecer em registros assírios e babilónicos até o século sexto. Os urartiam os fizeram

tentativas de expandir-se para o sudoeste e ampliar

seus contatos comerciais até o Mediterrâneo. Durante

grande parte do início de seu reinado, os urartianos

construíram muitas cidades, e seus produtos manufa­turados eram transportados até a Grécia. Finalmente

foram subjugados pela coalizão dos medos e dos citas

em uma campanha em 585 que varreu seu território.

Posteriormente, seu território foi anexado ao Império Persa.

51.27. M ini. Os minuanos, que viviam na região ao

sul do lago Urmia, na parte norte do oeste da Ásia, faziam parte da nação convocada por Yahw eh para

castigar a Babilônia.. Esse povo ficou acuado entre as

am bições territoriais e econôm icas de U rartu e da Assíria. Textos assírios fazem menção a eles a partir

do início do oitavo século. Por serem aliados da Assíria

na época da batalha de Carquemis em 605, seu terri­tório foi entregue aos medos e acabou sendo absorvi­do pelo Império Persa.

51.27. A squenaz. O povo de Asquenaz é mencionado

como Ishkuza nos anais assírios de Sargão II e daí por diante, são citados por Heródoto como os citas. Eles

ocupavam a região ao redor dos m ares Negro e Cáspio no noroeste do Irã, a partir do oitavo século. Das três

nações mencionadas neste versículo, é provável que esses pastores que m ontavam cavalos fossem a amea­

ça mais real para a Babilônia no sexto século. São men­

cionados em textos babilónicos e persas como solda­dos aguerridos, até mesmo selvagens, que ocasional­

m ente aliavam -se às principais potências, m as que com freqüência tam bém as invadiam. A escavação de

suas sepulturas mostra contato amplo com fontes gre­

gas e do Oriente Próximo, bem como exibe um estilo

de arte nativa conhecido como "estilo anim al".51.28. m edos. Ver o comentário em 51.11.

51.32. os vaus dos rios foram tom ados. O bjetivos

m ilitares sem pre incluem o controle das passagens em riachos e rios (ver Jz 3.28; 12.5). D essa form a, a

comunicação era interrompida e os exércitos não podi­

am m ais tom ar rotas diretas e evitava-se que flan­queassem as forças inimigas. Um dos principais vaus

do Tigre passou para o controle dos persas quando eles tom aram a cidade de Opis, poucas semanas antes da queda da Babilônia. Eles tom aram Sipar, no Eu-

frates, poucos dias m ais tarde. De posse dessas duas cidades, os persas podiam efetivamente cortar os su­

primentos que vinham pelo Tigre ou pelo Eufrates. A

notícia de que a cada dia ficavam mais isolados teria causado um impacto extremamente negativo na mo­

ral dos babilônios, que não teriam m ais contato com

seus aliados, nem suas cidades e povoados teriam acesso a comida e produtos de matéria-prim a. Esse

relatório pode ser comparado aos relatos progressiva­m ente negativos registrados n as Cartas de Láquis

durante a campanha de Nabucodonosor em Judá, no ano de 598.

51.32. a vegetação dos pântanos fo i incendiada. Além

do sistema de m uralhas, torres e outras instalações de

defesa, a Babilônia tam bém era protegida por um a

série de fossos e trincheiras com água, cujo objetivo

era retardar ou impedir o avanço inimigo até a cida­

de. Dentro desses fossos ou à beira deles havia uma

vegetação de bambus ou taquaras. Se fosse incendiada, aumentaria o senso de perigo aos habitantes da cida­

de e a fumaça podia m ascarar os movimentos do ini­

migo além de intensificar a dificuldade de respiração

de pessoas que estivessem a favor do vento. O fogo também teria expulsado qualquer sentinela ou tropas

que os babilônios tivessem posicionado ao longo des­

ses obstáculos de água.

51.41. Sesaque. Ver o comentário em 25.26 a respeito deste criptograma.51.44. B ei. V er o com entário em 50.2 acerca deste título divino.51.58. m uralhas desm anteladas, portas incendiadas.As principais defesas de um a antiga cidade eram as m uralhas e a área fortificada das portas. A Babilônia tinha um sistema de defesa formado de dois muros que cercavam a cidade. A parede interna tinha seis metros e meio de largura, enquanto a parede externa tinha m ais de três m etros e m eio. Escavações não foram capazes de desenterrar evidências das portas n a parede externa, m as havia nove enorm es portas n a parede interna, cada um a com o nom e de um deus. A porta de Istar foi escavada e restaurada e agora encontra-se no m useu de Berlim. E decorada com leões e dragões e dá um a idéia da grandeza da cidade antiga. Essas m uralhas e portas eram cons­truídas com um a combinação de pedras e tijolos de barro. Entretanto, nas portas havia cômodos que exi­giam o uso de madeira como vigas e andaimes para o movimento das tropas. Quando as portas eram incen­diadas, as pedras perdiam a sustentação e caíam (ver Jz 9.42-49). Com as muralhas praticamente derruba­das e as portas em ruínas, o poder físico e simbólico da cidade evaporava. N a conquista persa, porém, a cida­de foi tomada sem luta, um a vez que os babilônios se subm eteram pacificam ente ao exército persa (ver o comentário em 50.43).

52.1-34A queda de Jerusalém52.1-27. a queda de Jerusalém . Ver os comentários em2 Reis 25.1-26.52.31-34. Joaquim . Ver os comentários em 2 Reis 25.27­30.

L A M E N T A Ç Õ E S

V1 .1-22 Desespero e aflição: primeiro lamento em acrósticoacróstico. "A cróstico" é um a forma literária em que as prim eiras letras de linhas consecutivas form am um

padrão. Em acrósticos alfabéticos, o padrão é o alfabe­to (a primeira linha começa com a primeira letra do alfabeto, a segunda linha, com a segunda letra e as­sim por diante). Outras formas de acróstico podem

soletrar uma mensagem ou um nome (por exemplo, o escriba que compôs a obra ou a divindade sendo hon­

rada). Existem diversos acrósticos no Livro de Salmos. O Salmo 119 é o mais complexo, visto que cada letra do alfabeto hebraico é representada por oito linhas

consecutivas. Todos os acrósticos hebraicos da Bíblia são alfabéticos. Em Lamentações os primeiro quatro capítulos são todos acrósticos alfabéticos. Nos capítulos um e dois cada versículo começa com a letra apropri­

ada e contém três linhas. N o capítulo três, há três linhas que começam com um a letra do alfabeto. No capítulo quatro, cada versículo começa com uma letra

e tem duas linhas. O capítulo cinco tem o núm ero adequado de versículos para um acróstico, m as não

form a um acróstico. Os sete exemplos de acrósticos na literatura mesopotâmica formam nomes/frases (visto

que o acadiano é uma língua silábica, não havia alfa­beto, portanto, não havia acrósticos alfabéticos) e ge­ralm ente rem ontam à prim eira m etade do primeiro milênio. Os exemplos egípcios oferecem seqüências num éricas ou m ensagens complexas que envolvem

desenhos horizontais e verticais. Para atingir seu ob­jetivo estilístico, os acrósticos se baseiam em jogos de palavras e trocadilhos. Os acrósticos dependem da

escrita e portanto não podiam ser compostos oralmen­te. Tinham o objetivo de ser lidos, não apenas ouvi­dos, devido à im portância do elem ento visual. Isso fica especialmente evidente nos exemplos babilónicos, em que um sinal variável precisa ser lido com um

determinado valor num poema, m as com um valor diferente num acróstico. Alguns dos exemplos babi­lónicos também contêm um padrão no último caracter de cada linha. Outra variação encontra-se nos exem­plos em que o acróstico é repetido em cada estrofe.1.3. cronologia. Em bora a deportação dos hebreus

tenha iniciado uma década antes, o evento enfocado pelo Livro é a destruição do templo e da cidade de

Jerusalém, junto com a deportação geral e o exílio que ocorreu em 586 a.C..

1.4. festas de peregrinação. Havia três festas de pere­grinação no calendário israelita: a festa do pão sem

fermento, a festa das semanas e a Festa dos taberná­culos. Em circunstâncias normais, nessas ocasiões as estradas estariam cheias de peregrinos em viagem para Jerusalém. Eram momentos de alegria e celebra­

ção. Em tempos de dificuldades, poucos corriam o risco e agora não havia cidade nem templo para onde dirigir-se.

1.10. pagãos no santuário. H avia regras rígidas sobre o acesso a não israelitas aos recintos do templo (ver Dt 23). Apenas sacerdotes tinham acesso ao santuário, e ainda assim era um acesso limitado. O cuidado em

preservar a santidade da m orada de Deus fora frus­trado por causa de profanação.

2.1-22A ira de Yahweh: segundo lamento em acrós­tico2.1. estrados dos pés. O estrado do trono de Deus era

a arca da aliança (ver o com entário em 1 Cr 28.2). Como a relíquia mais sagrada da fé dos israelitas, era considerado aquilo que Yahw eh protegeria com mais zelo e ciúme. Se nem m esmo a arca foi poupada, nada poderia estar a salvo de sua ira.

2.3. poder (chifre). Os chifres simbolizavam força, mas tam bém representavam a capacid ade de liderança, que se encaixa m elhor ao final do versículo dois. Era comum na Mesopotâmia os reis e deuses usarem coro­as com chifres. À s vezes file iras de ch ifre eram so­

brep ostas em cam adas. O leão alado do palácio de Assurnasirpal tinha uma coroa cônica em sua cabeça hum ana com três pares de chifres trabalhados em re­levo. N o texto su m ério L am ento -pela D estru ição da Suméria e de Ur, o trono da divindade continha a se­guinte frase: "Su as vacas poderosas com chifres bri­

lhantes foram capturadas, seus chifres foram serrados".2.8. trena de destruição. A trena era usada para me­dir a área de propriedades, definir os limites do terri­tório que pertencia a cada proprietário (particular ou do governo), m as nada disso explica a relação entre

m uros e paredes neste versículo. A partir do uso des­sa m etáfora em 2 Reis 21.13 e Isaías 34.11, pode-se presum ir que a figura da trena representa um a ação

típica relacionada à conquista m ilitar. Um exército cercando um a cidade não teria condições de fazer es­sas medições durante as batalhas, logo, deve ser uma referência à fase da demolição. Era raro que os muros de uma cidade fossem totalmente demolidos e, a par­tir de Neemias, sabemos que restou algo dos muros de Jerusalém . Entretanto, m uitas partes dos m uros tinham sido danificadas devido ao uso de máquinas de cerco, aríetes e operações de trincheiras que visa­vam enfraquecer os alicerces. Prumos teriam sido usa­dos para ajudar a determinar quais segm entos dos m uros não eram m ais estáveis, e a trena teria sido usada para delinear quanto dessas partes teria de ser derrubada e reconstruída.2.9. portas e trancas. Nos lamentos sumérios, são as portas e trancas do templo que são derrubadas como parte da profanação. Aqui, são as portas e trancas da cidade. Para uma discussão m ais aprofundada sobre a função das trancas na estrutura das portas, ver o co­mentário em Juizes 16.3.2.15. bater palm as. Gestos e linguagem corporal ga­nham diferentes significados em diferentes culturas. Na sociedade ocidental atual, as palm as podem ser usadas para demonstrar apreciação, chamar subordi­nados ou crianças, chamar a atenção de alguém, acom­panhar uma m úsica ou expressar frustração (uma pal­ma). A s palmas também tinham diversas funções no mundo antigo. Elas podiam ser usadas no louvor (SI 47.1) ou aplauso (2 Rs 11.12), mas nesses versículos um verbo diferente é usado que denota um gesto de raiva ou escárnio (Nm 24.10; Jó 27.23). Talvez houves­se variações no movimento preciso envolvido: com­pare os diferentes sentidos na cultura ocidental de (1) bater palm as com as m ãos paralelas ao corpo num nível horizontal (aplauso); (2) bater palmas num mo­vim ento ligeiramente vertical (frustração) e (3) bater palm as perpendiculares ao corpo alternando um a mão por cima e outra por baixo (como se estivesse limpan­do a poeira das mãos). Não fica claro qual m ovimento precisamente está sendo retratado aqui.

2.19. derram ar o coração com o água. Seus opresso­res batem palm as (spq happayim , v. 15), m as aqui Israel é encorajado a derramar seu coração como água (shpk kammayim). Derramar água era um ato de cul­to (libação).2.20. canibalism o. O canibalism o era um elem ento padrão de maldições, presente em tratados assírios do sétim o século. Era o últim o recurso em tem pos de fome extrema. Podia-se chegar a esse nível de deses­pero em períodos de fom e intensa (como ilustra o Épico de Atrahasis) ou como resultado de cerco (como durante o cerco de Assurbanipal à Babilônia, por vol­ta de 650 a.C.), quando os suprimentos de alimento se esgotavam. A guerra de cercos era comum no mundo antigo, logo, não se deve supor que o canibalism o tenha sido uma prática tão rara.

3.1-66 Esperança na fidelidade de Deus: terceiro la­mento em acróstico3.15. ervas amargas e fe l. O fel (absinto) era uma erva de sabor amargo usada com fins m edicinais e tam ­bém ocasionalm ente usada para fazer um chá bem forte. A palavra traduzida como "ervas am argas" ocor­re apenas na passagem da Páscoa. Está relacionada à palavra acadiana para alface, m as visto que o subs­tantivo simplesmente deriva do termo "am argo", exis­tem inúmeras outras possibilidades.3.16. dentes quebrados com pedras. A segunda ex­pressão sugere que os dentes foram quebrados por bater o rosto com força nas pedras e não por ter força­do alguém a mastigar pedras.

4.1-22 Resultados do pecado: quinto lamento em acróstico4.3. avestruzes. A inda há controvérsia se "avestru­zes" seria a m elhor tradução para essa palavra he­braica. As avestruzes aparecem em cenas de caça em

LAMENTOS POR CAUSA DE CIDADES CAÍDAS NO MUNDO ANTIGOQuando a queda de Jerusalém, tomou-se um ponto crucial na história, teologia e literatura de Israel, a queda de Ur (conquis­tada por um exército do oriente), no final da Terceira Dinastia de Ur (por volta do ano 2000), serviu como ilustração no antigo Oriente Próximo de uma cidade abandonada pela divindade, resultando em sua destruição. As Lamentações que registram o luto e a reflexão teológica como um memorial dessas duas grandes quedas são preservadas em suas respectivas literaturas. Duas obras distintas lamentam a queda de Ur (conhecidas como O Lamento pela Destruição àe Ur e O Lamento pela Destruição da Suméria e de Ur). Existem outros lamentos em relação à cidade de Nippur, Uruk, Eridu e Ekimar (embora haja apenas fragmentos desses três últimos) que datam do século doze a.C.. Ao contrário das lamentações bíblicas, cada obra do antigo Oriente Próximo inclui a decisão dos deuses em restaurar a cidade. Literalmente eles tiveram um papel decisivo na tentativa de legitimar uma nova dinastia.

O principal tema dessas obras é o abandono das cidades pelos deuses, que as expunham assim à destruição pelas mãos do inimigo. A aflição da população é descrita com detalhes poéticos - perda da terra e das casas, morte dos entes queridos, exílio e cativeiro. O desespero se reflete em perguntas que buscam o porquê foram tratados desse modo pelos deuses e por quanto tempo permanecerão nessa situação. Quando as explicações são dadas, a queda da cidade não é apresentada como resultado de pecado, mas simplesmente reflete o fato de que mudança no poder político é algo inevitável.

pinturas egípcias e tam bém em selos cilíndricos e habitavam m uitas regiões do antigo O riente Próxi­

mo. A alternativa preferida seria o "b u fo". A imagem

da avestruz corresponderia com a falta de atenção para com sua prole que lhe é atribuída em Jó 39.16

(palavra diferente). A observação casual e desatenta

levaria alguém a pensar que a avestruz é sem cora­

ção, visto que põe seus ovos na areia e com freqüência

abandona o ninho para sair em busca de alimento.4.5. com idas finas. Devido à raridade dessa palavra,

deve-se concluir provisoriamente que se refere não a

um tipo específico de comida ou prato, m as às delicias

em geral que compunham o cardápio da m esa real.4.5. adornar-se de púrpura. Novamente a alusão é à

realeza, como indica a cor das vestes. O azul/púr­

pura era um corante bastante caro (ver o comentário em Nm 4.6 e Et 8.15), e seu uso era restrito às vestes

cerimoniais apenas de líderes religiosos e oficiais do alto escalão.

4.10. canibalism o. Ver o comentário em 2.20.4.17. espera de ajuda de estrangeiros. Em 597 quan­

do Nabucodonosor conduziu sua invasão punitiva a

Jerusalém, o Egito era o principal aliado com quem

Judá contava. M ais tarde naquele ano, Nabucodonosor pôs Zedequias no trono. Quase que im ediatamente

ele começou a encontrar-se com um a coalizão das pe­

quenas nações ocidentais para juntas opor-se a N abu­codonosor (ver o comentário em Jr 27.3). Em 595, um

novo faraó, Psametiçus II, assumiu o trono do Egito.

Ele desfrutou de um sucesso militar inicial contra os

núbios do sul e um papiro relata que seu sucesso foi

celebrado com um a viagem de vitória à Palestina. Portanto, em bora o Egito não fosse o instigador da aliança, havia motivo para esperar seu apoio contra a Babilônia. Não se sabe ao certo que nações de fato faziam parte dessa aliança, quando finalm ente ga­

nhou forma. O resultado foi que o exército do Egito foi

completamente derrotado e desbaratado em seu con­fronto com os babilônios, em 588 (ver Jr 37.5-7), e

parece, com base no Salmo 137.7, que aliados como os

edom itas, transferiram seu apoio para a Babilônia

quando ficou claro que Jerusalém estava prestes a sucumbir.

4.21. papel de Edom . Edom se tornara um Estado vassalo assírio no reinado de Tiglate-Pileser III e con­

tinuou sob o domínio assírio até a morte de Assurba-

nipal, um século mais tarde. É provável que os edo­mitas tenham se submetido ao governo de Nabuco­

d onosor em 605 a .C.. Em bora algu ns refu g iad os hebreus talvez tenham encontrado refúgio e abrigo

em Edom, aparentem ente perm aneceram passivos visto que Jerusalém havia sido destruída (ver SI 137.7

e Ob 11). A cam panha babilónica contra A m om e

Moabe em 594 parece não ter afetado Edom. É prová­

vel que tenha permanecido ileso até a época da cam­panha de Nabonido, em 552.4.21. Uz. Uz, a terra natal de Jó, é identificada com

Edom e o noroeste da Arábia na genealogia de Esaú

(Gn 36.28).

5.1-22A alegria perdida: lamento sem acróstico5.6. Egito e A ssíria. Desde o início do sétimo século, Judá havia estado sob o controle assírio. M anassés fora

um leal vassalo durante a maior parte de seus 55 anos de reinado. Na época de Josias, Judá experim entou

um vislumbre de independência à medida que o po­der era transferido da Assíria para a Babilônia. Nesse

ínterim, o Egito começou a exercer maior controle na

região. Jeoaquim, filho de Josias, fora colocado no tro­no pelos egípcios em 609 e permaneceu leal a eles até que o domínio de Nabucodonosor passou a impedi-lo.

Após a queda de Ascalom a Nabucodonosor, em 604,

Jeoaquim pagou tributo à Babilônia durante alguns

anos. M as quando Nabucodonosor fracassou em sua tentativa de invasão ao Egito, em 601, Jeoaquim nova­

mente aliou-se ao Egito e parou de enviar o tributo

anual para a Babilônia. Por isso, em 597, quando Na­

bucodonosor empreendeu sua invasão punitiva con­

tra Jerusalém, o Egito foi o principal aliado com quem

Judá contava. Pode-se dizer que Judá havia estado

totalmente dependente do Egito e da Assíria por um século ou mais.

5.12. líd eres pendu rad os por suas m ãos. O texto

hebraico é ambíguo quanto aos líderes serem pendu­rados "pelas mãos do inim igo" ou serem pendurados

"por suas próprias m ãos". Não existe precedente para essa últim a alternativa. Pendurar envolvia execução

e geralmente era um a prática usada após a execução. As vítimas geralmente eram enforcadas ou empaladas.

A prática era utilizada com mais freqüência em líde­

res de revoltas ou membros da casa real (1 Sm 31.10). A prática de empalar os cadáveres de inimigos derro­

tados era bastante usada pelos exércitos no antigo

Oriente Próximo. Por exemplo, os assírios considera­vam o empalamento uma estratégia psicológica e táti­

ca de terror (como ilustram as paredes de seus paláci­os reais). Ver tam bém o comentário em Ester 2.23.

5.13. trabalhar nos m oinhos. Transform ar os grãos

em farinha geralmente era um trabalho feito em mo­inhos e era função dos membros das classes m ais bai­

xas da sociedade. Uma das "instalações" mais básicas

de qualquer casa antiga era o m oinho de mão com duas pedras para moer: a pedra de baixo com a su­

perfície curva e uma pedra m enor que se encaixava na reentrância. A tarefa diária de m oer o cereal era feita deslizando a pedra de cima sobre os grãos que eram espalhados na pedra maior de baixo. Moinhos maiores geralmente funcionavam como prisões de tra­balhos forçados na M esopotâmia, m as cada prisionei­ro tam bém usava um moinho de mão. Os moinhos maiores puxados por jum entos ou m ão-de-obra escra­va foram inventados somente após o período do Anti­go Testamento. O palácio em Ebla tinha um cômodo com dezesseis moinhos de m ão, presumivelmente um lugar onde prisioneiros m oíam cereais. Nas casas de m oinho havia prisioneiros de guerra, crim inosos e endividados.

5.13. fardo de lenha. A lenha era um a necessidade

constante para m anter o fogo das cozinhas aceso. O

palácio, o templo e as classes abastadas faziam uso de

trabalho escravo para m anter o sistem a abastecido.

A té mesmo crianças eram capazes de ajudar a trans­

portar e distribuir a lenha.

5.16. coroa. As coroas eram usadas pela realeza como

um símbolo de sua posição e autoridade. Como resul­

tado, o significado da palavra estendia-se para referir-

se ao conceito abstrato de dignidade e honra que na­

turalmente acompanham uma posição de autoridade.

Nessa passagem, a referência não é a um a coroa usa­

da de fato por Israel, mas à sua dignidade e honra.

E Z E Q U I E L

v1.1-28Os seres viventes e a glória do Senhor1.1. 2. cronologia. O quinto ano do reinado de Joa­quim teria sido o ano 593 a.C., no final do m ês de ju lho (o quarto mês). Essa data leva em consideração a

ascensão de Joaquim ao trono de Judá durante o cerco a Jerusalém que, de acordo com a Crônica Babilónica, teve início em novembro/dezembro de 598. Bastante se especulou a respeito do significado do "trigésim o

ano", visto que 593 não é o trigésim o ano de nada. U m a sugestão comum é que seja uma sim ples refe­

rência à data de nascimento de Ezequiel que o quali­fica para falar dessas questões, visto que oficialmente alcançara a idade exigida para a admissão no serviço sacerdotal (Nm 4.30).

1.1. rio Q u ebar. Em vez de ser um rio de fato, o Q uebar era um canal que saía do rio Eufrates, no

norte da Babilônia, e continuava por 96 quilômetros a sudeste, até alcançar o Eufrates, perto de Ereque. A

rede de irrigação e canais de transporte eram conhe­cidos como "águas da Babilônia" (SI 137.1). Era um

recurso que ampliava as terras cultiváveis do sul da M esopotâmia e fornecia água para pequenos povoa­dos ao longo de seu curso (ver o comentário em 3.15).

1.1. v isões apocalípticas. A literatura apocalíptica é caracterizada por visões repletas de imagens associa­das aos múltiplos poderes de Deus como Criador. Um m ensageiro divino geralm ente interpreta a m ensa­

gem que é transmitida ao profeta (ver A p 1.1-3). Exis­tem algumas obras da literatura acadiana que m os­

tram protótipos de algum as das características da escatologia bíblica, mas nada que se aproxime muito (para relações, ver a nota de rodapé sobre apocalipses

acadianos, em D n 11). A literatura apocalíptica carac­teriza-se pelo uso de rico sim bolism o derivado de

temas m itológicos. N a literatura profética, os símbolos raramente são interpretados. Com freqüência, as v i­

sões em si não representam simbolicamente um acon­tecim ento predito, mas servem como pretextos para um a mensagem concernente ao que Deus está prestes a fazer. A m aioria dos eruditos agora considera que as

visões proféticas de Ezequiel influenciaram a literatu­ra apocalíptica posterior (ver Dn 7-12 e Zc 8-14). Por

exemplo, sua visão de Deus entronizado em um carro relu zen te foi incorporad a em D aniel 10 .5 , 6 e no pseudepígrafo 1 Enoque 14.18.

1.2. exílio de Joaquim . Juntamente com grande parte

da corte real e muitos dos membros influentes e abas­tados da sociedade judaica, Joaquim foi levado ao exí­

lio quando Jerusalém sucumbiu ao exército de Nabu- codonosor, em 597 (ver 2 Rs 24.8-17). As listas de

ração da Babilônia incluem quantidades de azeite sen­do destinadas ao "rei de Ju dá", bem como a outros

prisioneiros de guerra do alto escalão e dependentes da casa real. Com o passar do tempo, em 561 a.C., durante o reinado do sucessor de N abucodonosor,

Amel-Marduque (na Bíblia, Evil-Merodaque), Joaquim foi libertado de sua prisão (provavelmente domicili­

ar) e a corte do rei foi libertada (ver 2 Rs 25.27-30). Ele morreu no exílio, oficializando o fim da m onarquia judaica.

1.3. com unidade no exílio. A comunidade do exílio, da qual Ezequiel fazia parte, era um grupo relativa­

mente pequeno em 593 a.C. - talvez dez mil pessoas. Porém , olhando para a lista de deportados de Nabu­

codonosor, em 2 Reis 24.14-16, parece que estavam

incluídos os líderes m ilitares, políticos e religiosos, bem como artesãos que podiam ser usados nos inú­meros projetos de construção do rei babilônio. O s sol­

dados treinados tam bém foram provavelmente força­dos a servir ao exército babilónico. Foi somente após 587 que uma grande parte da população de Judá uniu­

se a seus compatriotas na M esopotâmia. Essa política de deportar reféns e grandes segmentos de uma na­ção rebelde era amplamente usada tanto pelos assírios quanto pelos babilônios. A prática babilónica de esta­

belecer os exilados em povoados fechados é demons­trada em textos de Nipux. Em bora o exílio fosse um evento traumático para o povo de Judá, foram encora­jados a adequar-se a essa nova situação (ver Jr 29.4­23). Evidência textual do período persa (quinto século

a.C., textos de M urashu) sugere que eles seguiram esse conselho e m ontaram negócios, deram início a plantações e criaram um a identidade para si mesmos no exílio.

1.4. elem entos da teofania. U m a teofania é a aparição de um ser divino para um hum ano (ver o exemplo

clássico da teofania no Sinai para M oisés, em Êx 3). Essa aparição podia acontecer em pessoa, embora Deus

nunca seja descrito com detalhes e existe sem pre um enorme senso de pavor por parte do humano que é

alvo da teofania (ver G n 28 .16 ,17 ; 32.24-30). O medo

é gerado pelo poder evidenciado na "glória" de Deus (kaboã), um atributo divino tam bém encontrado em

épicos m esopotâmicos (onde é chamado de melammu).O objetivo da teofania, com freqüência, é convocar um ser humano para o serviço da divindade. Logo, em bora Elias já servisse a Yahw eh como profeta, é chamado para tarefas maiores em seu encontro com Deus no m onte Horebe (1 Rs 19). Cada um dos prin­cipais profetas relata uma teofania que marca o início de seu ministério. Por exemplo, a visão de Isaías (Is 6) envolve o templo de Jerusalém e remete à experiên­cia de M oisés, e a narrativa da cham ada de Jeremias tem m atizes de coroação (Jr 1). No caso de Ezequiel, a aparição de D eus é descrita de form a m isteriosa e esm agadora. Existem sím bolos do poder de D eus implícitos na imagem da carruagem divina, nas cria­turas que o acompanham e no domínio de todas as forças da natureza. Naturalm ente, um a vez escolhi­dos, os profetas deviam aceitar sua missão, em bora geralm ente tentassem apresentar desculpas.1.5. criaturas aladas, eretas, como guardiãs do trono no antigo O riente Próximo. Existem inúmeros exem­plos na arte do antigo Oriente Próximo de criaturas aladas com rostos humanos, especialmente nos palá­cios e templos assírios em Ninrode e Nínive, m as a m aioria delas são quadrúpedes. D entre elas encon­tram-se enormes figuras guardiãs desenterradas nos vestígios no palácio do rei assírio Senaqueribe, em Ninrode. Um a dessas figuras é um touro com asas e cabeça hum ana e outra tem corpo de leão e rosto humano. O palácio de Assumasirpal em Kalhu con­tém figuras desse tipo que eram estrategicam ente posicionadas à entrada dos palácios e templos e em salões do trono. O enorme tamanho (quase dois metros e meio de altura) tinha o objetivo de intimidar quem por ali entrasse. A arte siro-fenícia contém imagens

semelhantes de esfinges aladas (corpo de leão, asas de águia e cabeça hum ana). Figuras com postas de pé (bípedes) são menos confirmadas. H á evidências de figuras humanas com cabeça de águia e quatro asas no templo de Ninurta, em Ninrode. A iconografia do

Im pério Persa Aquem ênida ilustra criaturas eretas com quatro asas, cabeça humana e patas de touro.1.6, 10. seres com quatro rostos. Parece não existir nenhum paralelo exato no Oriente Próximo para es­

ses seres com múltiplos rostos. Embora rostos de águia, boi e leão fossem com uns em seres com postos (na verdade, esses são os únicos animais assim retratados na arte mesopotâmica), existem alguns poucos exem­

plos de m últiplos rostos em um a única criatura. Há um exemplo em que uma cabeça hum ana cabeça se

sobrepunha a um a cabeça de leão. Som ente o deus romano Janus oferece um fraco modelo, com um rosto

olhando para a frente e outro, para trás. O objetivo desses seres também é multifacetado. Por serem capa­zes de olhar nas quatro direções, os seres desempe­nham a mesma função das rodas de um carro (v. 17), que podiam seguir em qualquer das quatro direções. Am bos representam o poder da divindade de estar presente em qualquer lugar e conhecer todos os even­tos da terra. Além disso, todos os corpos de animais representados aqui (leão, águia, boi/ touro) têm para­lelos na arte do Oriente Próximo, e cada um simboliza poderes ou atributos específicos que significam a oni­potência de Deus: o leão simboliza a força (2 Sm 1.23); a águia denota velocidade e graça (Is 40.31); o boi representa fertilidade (SI 106.19, 20).1.15-18. tecnologia da roda. N aturalm ente uma car­ruagem com rodas que se m oviam nas quatro dire­ções não poderia deslocar-se efetivamente em qual­quer direção. Entretanto, o objetivo da imagem está em seu valor simbólico da atenção aos quatro cantos do m undo, ou seja, da onipresença de Deus. Além disso, o carro na verdade está sobre as asas estendidas dos seres com quatro rostos, e voa pelo ar. Existe, porém, um senso de m obilidade implícito na posição das quatro rodas. Essa im agem se baseia em um a comparação com figuras aladas de touro que guarda­vam a entrada dos palácios assírios. M uitas delas ti­nham um a quinta perna sugerindo que, embora esti­vessem fixas no relevo, na verdade eram dinâmicas e estavam em movimento. A arte assíria também for­nece exemplos de carros com rodas com aros altos e múltiplos raios que podem ser a origem dessa im a­gem em Ezequiel. As rodas às vezes tinham aros grossos feitos de faixas concêntricas, e de raios. A descrição "cada roda parecia estar entrosada na outra" pode representar m aior estabilidade para a carrua­gem, assim como eixos m últiplos e pneus em cami­nhões m odernos. A descrição de "o lh os" nas rodas tem uma explicação na term inologia babilónica em que o termo "olhos" é usado para pedras preciosas ovais. Pedras semipreciosas estavam incrustadas nos aros para reluzir e ofuscar os observadores.

1.22. abóbada sobre as cabeças. Acima das cabeças dos quatro seres havia um a plataforma brilhante como cristal ou gelo. A arte e a escultura glíptica do antigo Oriente Próximo contêm imagens de criaturas aladas sustentando uma coluna, um trono ou uma platafor­ma. Por exemplo, no palácio assírio do sétimo século em Nínive, esfinges de m iniatura serviam como ba­ses de colunas. Igualmente, um pedestal cultual fenício com rodas, do século doze, retrata um ser alado com corpo de leão e rosto hum ano. Suas asas e cabeça parecem estar sustentando um a parte do pedestal. De form a m ais significativa, textos m esopotâm icos do

primeiro m ilênio falam de três níveis dos céus, cada um pavimentado com pedras de cores diferentes. Os céus inferiores são descritos com o um a plataform a de jaspe, geralm ente associado a um a aparência vítrea, translúcida ou opaca. Nesses textos, o pavimento dos céus interm ediários é feito de lápis-lazúli (ver o co­mentário em Êx 24.10) e sustenta o estrado do deus Bei (Mar duque).

1.26. trono. V isto que os deuses no antigo O riente Próxim o com freqüência participavam de procissões,

havia veículos usados para seu transporte. Selos cilín­dricos entali i 1 j f i 1 do terceiro milênio, mos­

tram um a divindade de pé em um carro/carroça de quatro rodas, puxado por um quadrúpede com cabe­ça de leão e asas. Relevos assírios m ostram tronos com rodas, tanto para reis quanto para deuses, que tam ­bém tinham varas para serem puxados.1.26-28. aparência do trono e da figu ra. O aspecto ofuscante dessa visão pode apenas ser comparado a

um arco-íris ou a um rosto flam ejante. Isso estaria dentro do conceito m esopotâmico de mélammu ("vesti­do com poder") como regularmente aparece na des­crição dos d eu ses m esop otâm icos (p or exem p lo , Marduque, n a história da criação do Enuma Elish). Em textos m esopotâmicos desse período geral, havia un plataforma nos céus intermediários feita de lápiz-1

(uma interpretação m ais adequada da palavra tra'Hu-< zida com o safira no v. 26) que sustentava um aposen\ to e uma plataforma do deus Bei. O aposerrfü^nlhava como vidro ou cristal. A descrkão á r^ í^ m e n to s des­sa visão encaixa-se à padroniza^o(de\tesj\as comunsda Mesopotâmia. cx

e-

2 .1 - 3 .1 5 O c h a m a d a2.6. S^ça^s^ihH feiiíps^ escorpiões. A s narrativas de cha\nados\aos-p^círetas geralm ente seguem um pa­

decido. Quando o profeta escolhido apre-i desculpas e demonstra apreensão, Deus lhe for­

; garantias (ver Jr 1.7, 8). N o caso de Ezequiel, o uso de term os inusuais (essas palavras específicas traduzidas com o espinheiros aparecem apenas aqui em Ezequiel) é de certa form a confuso. N o entanto, o que pode estar im plícito é que D eus está construindo um m uro protetor em volta do profeta, feito de espi­nhos pontiagudos. Tem sido sugerido de form a plau­sível que "escorp iões" aqui refere-se a um tipo de arbusto e não à criatura peçonhenta.3.1-3. com er um rolo . A im agem associada a Eze­quiel comendo o rolo apresentado a ele por D eus faz parte de sua narrativa de cham ado e da aceitação de sua missão. A s palavras do rolo tinham de ser inter­nalizadas. Tam bém lh e transferiam poder e capaci­

tação, da m esm a form a que o toque de D eus na boca de Jerem ias o capacitou para falar suas profecias (Jr1.9). N ão existem paralelos diretos no antigo Oriente Próximo. É possível que com er um pedaço de perga­minho ou de papiro contendo um encantamento ou o nom e de um deus fosse parte de práticas rituais do Egito ou da M esopotâmia. O term o asakku, que signi­

fica "separado para os deuses" ou tabu, é usado nos textos de M ari e outros textos da A ntiga Babilônia fazendo referência a não "consum ir" o que pertence aos deuses.3 9 * nagem da ' ?sta (’ ra. A comparação com o uso acadiano do m esm o termo sugere que a testa dèxEze- quiel está sendo com parada à pedra m ais du m \É im provável que seja o diam ante, visto quCTs^ctó mantes são atestados n o antigo OrientCÇ? nas u m século depois de Ezequigl. í

3.14. transportado pelo Espú^ .^ m / hebraiéo , a pala­vra para espírito pode taífltòn^sògmficar vento. Des­de o uso su m é r j^ Ju e is ^ í^ a d a ^ a la v r a para vento/ espírito o term o^a\u^ado4^m >ém em relação a so­nhos e v i§ o ^ ^ rf d^á\dgg~spnhos era cham ado "o s

ventos'/^pmN̂ac^m^no/ o nom e do deus que trazia sopiiQs v erç j^ o iq u , que deriva da palavra para ven-

/eàp^irOr-Além disso, em um sonho ou visão, acre-p e que o "esp írito" da pessoa saía e podia mo­

er-se por diversos lugares. N a literatura posterior, o livro pseudepígrafo de 1 Enoque descreve o patriarca pré-diluviano sendo transportado pelos anjos até o jardim do Éden, onde serviu como um "espectador" dos feitos da humanidade e os registrou em um livro.3.15. T e l-A b ib e . Tecnicam ente, o n om e T el-A bibe (babilónico til abubi) significa "lugar criado pelos res­tolhos de um dilúvio". Um " te ll" é o term o usado para qualquer lugar onde se encontram as ruínas de uma cidade. Logo, as fam ílias exiladas de Judá talvez tenham sido colocadas em um lugar que fora destruído, pela guerra ou por um a inundação, a fim de recons­trui-lo e fazer com que a área de N ippur perto do canal Q uebar voltasse a ser produtiva. Tam bém há um excelente duplo sentido, visto que o povo de Judá fora arrastado até ali pelas ondas impetuosas do vito­rioso exército da Babilônia.

3 .1 6 -2 7Advertência a Israel3.22-26. resultados da m ão de Y ahw eh (m utism o).Alguns estudiosos sugeriram limitações físicas de afasia a esquizofrenia com o a causa dos problemas de Eze­quiel. Diversos comentaristas tam bém sugeriram um a decisão consciente de Ezequiel em lim itar seu papel como m ediador entre D eus e o povo ou uma restrição divina sobre sua capacidade de falar (de qualquer

m odo, um a im p osição d ivina). A exp eriên cia de Ezequiel é com parável ao que é descrito em textos acadianos de encantamento, que falam sobre ser "to­cado por um deus" e ficar mudo. É provável que o profeta estivesse familiarizado com esse material, que servia como um excelente paralelo da natureza de seu estado profético e não com o diagnóstico de algum problema físico. O senso de paralisia (cf. 4.8) e a inca­pacidade de falar eram sintomas bem conhecidos da capacitação demasiada de poder sobrenatural no mun­do antigo. Encantamentos tentavam impor essas con­dições e a opressão demoníaca era caracterizada por elas. Em uma obra da literatura babilónica sapiencial (Ludlul Bei Nemeqi), um indivíduo que não conseguia entender por que estava sofrendo descreve seus lábi­os estando mudos e seus braços e pernas, paralisados e rígidos. Seu sofrimento é todo atribuído à "pesada mão de M arduque".

4.1-5.17 Cerco simbólico de Jerusalém4.1. sinal. Nos textos de Mari datados de m ais de um milênio antes de Ezequiel, os profetas já usavam ações simbólicas e encenações como um recurso para trans­mitir sua mensagem profética. Em um caso, um pro­feta devorou um cordeiro cru para anunciar um peri­go im inente que podia devorar a terra. Recursos de teatro de rua são empregados por Isaías (Is 20 - an­dando nu pelas ruas) e por Jeremias (Jr 19 - ritual de execração seguido por uma procissão) a fim de envol­ver seu público e evidenciar através daqueles atos a seriedade da ameaça que pairava sobre o povo.4.1. tijo lo usado como mapa. Embora seja raro encon­trar um tijolo ou tablete de argila que contenha a figura de um mapa, existe um m apa do período cassita

(século quinze a.C.) da cidade de Nippur. Ele mostra canais partindo do rio Eufrates e sugere que esses canais de água dividiam a cidade em bairros. O mapa mostra duas linhas paralelas e indica três portas e os muros da cidade. Templos e armazéns também estão marcados no desenho. Um mapa-múndi foi encontra­do perto do local de Sipar, datado do século sétimoа.C.. Um rio cerca o disco circular do mundo e m onta­nhas são desenhadas na parte superior da figura. A Babilônia, a Assíria e outras cidades, regiões e nações são identificadas no mapa.4.2. estratégias de cerco. Todas as estratégias descritas aqui eram típicas das m áquinas e técnicas de cerco utilizadas pelos assírios e babilônios. Essa tecnologia é retratada com freqüência nas paredes do palácio de N ínive e da Babilônia. Ver os comentários em Jeremiasб.6 e Isaías 29.2 a respeito de cercos e rampas. Aríetes às vezes eram anexados a torres portáteis que eram

puxadas até os muros e portas das cidades. Uma la­deira ou aclive construído em diagonal contra o muro evitava o uso efetivo do aríete. O s acam pam entos eram m ontados em volta da cidade para evitar que os habitantes fugissem. Um dos exem plos m ais claros desses métodos ainda existentes são os vestígios dos acampamentos romanos construídos ao redor da forta­leza de M assada durante a revolta do ano 70 d.C.4.3. função da panela de ferro. O s israelitas assavam seus pães e preparavam ofertas de cereais em formas colocadas sobre o fogo ou num forno de barro. O s ricos tinham condições de adquirir essas formas de ferro ou cobre, enquanto os pobres usavam discos de cerâmica.4.3. sim bolism o do muro de ferro. Em períodos ante­riores o ferro era considerado um m etal precioso.

Embora fosse m ais usado no sexto século a.C., ainda era considerado um material de valor devido à sua força e du rabilidade. V isto que Ezequ iel está en­cenando um cerco sim bólico, ele deve representar Deus. O muro de ferro deve ser entendido como a barreira entre Deus e o povo de Jerusalém. Ele mostra que os israelitas não deviam esperar pela ajuda de Yahw eh, o G uerreiro D ivino, durante o cerco que estava por vir.

4.9. ingredientes do pão. Os itens alistados aqui com os quais Ezequiel devia fazer seu pão incluem alguns cereais comuns (trigo, cevada e espelta). Esses cereais faziam parte da dieta de todos os povos do antigo Oriente Próximo e existem palavras cognatas em aca- diano e ugarítico para cada um deles. Os ingredientes inusuais dessa receita são o feijão e a lentilha. Embora

esses vegetais fossem usados no preparo de sopas e ocasionalm ente m oídos e m isturados ao trigo para fazer pão integral, seriam bastante incomuns. D. Block sugere que a m istura de Ezequiel é o símbolo de um pão feito durante o cerco com quaisquer restos de ingredientes que pudessem ser raspados do fundo de todas as vasilhas de mantimentos.4.10. quantidade de comida. O fato de que a comida de Ezequiel devia ser pesada e comida em horas de­terminadas simboliza o rígido racionamento necessá­rio durante o cerco. Vinte siclos seria o equivalente a 240 gramas de comida. Essa quantidade de calorias o manteria vivo, m as também o debilitaria bastante. A fraqueza resultante de um a dieta de fome espelha as condições de Jerusalém.4.11. quantidade de água. Racionamento de água tam ­bém seria necessário durante o cerco, visto que o povo dependeria do suprimento de cisternas (ver o comen­tário em Jr 38.6) e do poço abastecido através do túnel de Siloé. A parte de Ezequiel era de m eio litro de água por dia. A s condições extrem am ente quentes durante o verão e o outono de 588 teriam sobrecarre­

gado severamente o povo sitiado de Jerusalém. Uma ração tão pequena de água teria aum entado ainda m ais seu desespero.4.12, 15. fezes hum anas com o com bustível. O com­bustível típico em áreas como a Mesopotâmia e a Pa­lestina era esterco anim al seco ou bolotas feitas de resto de polpa de azeitonas esm agadas. A s árvores eram preciosas dem ais para serem cortadas e sua m adeira usada para cozinhar e para se aquecer. Eze- quiel, porém, fica horrorizado quando Deus lhe orde­na que cozinhe usando como combustível fezes hu­m anas, uma substância impura que tinha de ser en­terrad a longe da habitação hum ana (D t 23.12-14). Ele era um sacerdote e esse ato o tom aria impuro; ele sim plesm ente não podia obedecer. Portanto, Deus perm ite que ele cozinhe usando esterco animal.5.1. espada com o navalha. Uma espada seria um ins­trumento estranho para rapar a barba e o cabelo. Em­bora "espada" seja a tradução comum para essa pala­vra do hebraico, ela pode ser usada tam bém para ou­tros instrumentos cortantes, tais como, machados, pu­n h ais e cin zéis (cf. 26.9 e Js 5 .2). Em u g arítico , um im plem ento descrito por essa palavra é usado para cortar carne assada. A tradução que usasse um termo genérico com o "lâm in a" seria preferível. A escolha dessa palavra pode ter sido m otivada pelo desejo de fazer referência ao uso da espada por parte dos babi­lônios que envergonhariam e conquistariam Jerusalém.5.2. uso de cabelo em ofertas. Cortar ou rapar o cabe­lo era uma prática cõm freqüência associada a rituais de luto (ver o comentário em Is 15.2). Entretanto, quan­do um voto de nazireu havia terminado, a lei deter­minava que o cabelo dedicado durante o período do voto fosse cortado e depositado como sacrifício no fogo (Nm 6.18). N a m aneira de pensar do mundo antigo, os cabelos (juntamente com o sangue) eram um dos principais representantes da essência da vida da pes­soa. Como tal, sem pre eram um ingrediente usado em simpatias. Isso fica claro, por exemplo, na prática de enviar um a m echa de cabelos supostam ente do profeta, juntam ente com as profecias destinadas ao rei de M ari. O cabelo era usado em adivinhações para determ inar se a m ensagem do profeta seria aceita como válida.5.10. canibalism o. Um dos resultados terríveis de um longo cerco a uma cidade murada era a escassez de

alimentos. Às vezes essa situação se agravava tanto que os habitantes da cidade recorriam ao canibalismo (ver o comentário em 2 Rs 6.29). Por exemplo, os anais assírios de Assurbanipal descrevem o cerco à Babilônia em 650-648 a.C. e o desespero das pessoas famintas que apelavam para o canibalism o. Existe tam bém uma série de tratados mesopotâmicos que contêm uma

m aldição a qualquer que violasse as condições do tratado rogando que tal pessoa se alimentasse de sua própria família e seu próprio povo (como no tratado de A ssurnirari V com M atfilu , rei de A rpade). As versões bíblicas desse tipo de maldição encontram-se em Levítico 26.29 e Deuteronômio 28.53-57.5.17. fom e e anim ais selvagens. Esses dois castigos estão relacionados apenas como parte de uma série de punições que a divindade costumava enviar (outros dois, a peste e o derramamento de sangue, aparecem no final do versículo). No épico mesopotâmico de Gil- gamés, o deus a repreende Enlil por não enviar leões para despedaçar o povo, em vez de usar algo tão dramático como um dilúvio. Os deuses usavam ani­mais selvagens juntam ente com doenças, seca e fome para reduzir a população dos humanos. Um a ameaça comum no período assírio relacionada a m aus pressá­

gios era que leões e lobos assolariam toda a terra. De maneira semelhante, a devastação através de animais selvagens era um a das maldições invocadas em viola­ções de tratados (ver tam bém D t 32.24).

6 .1 - 7 .2 7

Profecias contra os montes de Israel6.3. m ontes. V er o com entário em 1 Sam uel 9.12 a respeito desses locais de culto com freqüência associa­dos aos cananeus ou às práticas de religiões falsas.6.5. ossos espalhados diante dos altares. Existem três significados im plícitos nessa ação. O prim eiro diz respeito à exposição de cadáveres. Sobre a importân­cia de um enterro adequado, ver os comentários em Josué 8.29 e 1 Reis 16.24. O segundo está relacionado a lugares sagrados. N a maneira de pensar israelita, quando alguém ou algo tinha contato com os mortos ficava impuro. Portanto, lugares sagrados podiam fi­car permanentemente contaminados se fossem trans­formados em depósitos daquilo que era impuro (ver o comentário em 2 Rs 10.27). O terceiro significado diz respeito a atribuir a responsabilidade pelo destino dos israelitas que haviam perecido. A m orte deles recai sobre esses ídolos e altares que nada haviam feito para salvá-los. Para um outro significado, ver o comentário no versículo 13.6.11. linguagem corporal. Gestos e linguagem corpo­ral ganham diferentes significados em diferentes cul­turas. N a sociedade ocidental atual, as palmas podem ser usadas para demonstrar apreciação, cham ar su­bordinados ou crianças, chamar a atenção de alguém, acompanhar uma música ou expressar frustração (uma palma). A s palmas também tinham diversas funções no mundo antigo. Elas podiam ser usadas no louvor (SI 47.1) ou aplauso (2 Rs 11.12) ou como um gesto de raiva ou escárnio (Nm 24.10; Jó 27.23). Talvez houves­

se variações no movimento preciso envolvido: com­pare os diferentes sentidos na cultura ocidental de (1) bater palm as com as m ãos paralelas ao corpo num nível horizontal (aplauso); (2) bater palmas num mo­vim ento ligeiramente vertical (frustração) e (3) bater palmas perpendiculares ao corpo alternando uma mão por cima e outra por baixo (como se estivesse limpan­do a poeira das mãos). Ezequiel é orientado por Deus para realizar tuna série de gestos simbólicos (esfregar as mãos, bater os pés e gritar) que expressariam a ira de Deus. Bater o pé geralmente é um sinal de frustra­ção ou raiva, como no épico ugarítico de Aqhat. Nessa lenda, o herói se recusa a entregar seu arco à deusa Anat, dizendo que armas de caça são para homens. Ela fica tão irada que bate os pés violentamente e sai rapidam ente em busca de vingança dos deuses. A exclamação usada (NVI "A i!") indica que alguém vai receber o que m erece, dando ênfase a essa cena de castigo divino iminente.

6.13. m orto ao redor dos altares (sem proteção). Alta­res falsos não oferecem proteção. Assim como Deus zomba daqueles que confiam em outros deuses como sua rocha de "refúgio" (Dt 32.37), agora Yahweh lhes

nega a segurança geralmente estendida àqueles que se aproximavam do altar ou se agarravam a uma de suas pontas (compare 1 Rs 1.50, 51).

6.13. árvore frondosa e carvalho viçoso. O ponto a que chegara a idolatria do povo é enfatizado nessa

referência a santuários cultuais debaixo dos galhos de toda árvore frondosa (ver o comentário em Dt 12.2, 3 sobre os "santuários externos" dos cananeus). Oséias 4.13 também usa essa im agem dos montes e sombras frondosas como lugares de culto aos ídolos.6.14. deserto até D ib la. Essa descrição geográfica, tal como a expressão m ais conhecida "d e D ã a Berseba", expressa a capacidade de Deus em punir os israelitas de uma extremidade à outra de seu território. O de­serto refere-se à região árida ao redor de Berseba. D ibla aparece na Septuaginta e é um a variante de Ribla, que ficava na terra de Siro-Hamate, ao sul de Cades (2 Rs 23.33). Sua menção aqui pode referir-se ao fato de que a cidade foi usada por Nabucodonosor. Era o quartel-general de seu exército durante o cerco

a Jerusalém em 588-586 a .C .7.2. quatro cantos. A idéia de englobar toda a terra está im plícita nessa referência aos "quatro cantos". Um a expressão semelhante encontra-se em Malaquias1.11 e na inscrição real fenícia de Azitiw adda (730-710 a.C.), em Kareteppe. Esses textos expressam o gover­no e o poder universal ao referir-se à terra "d o oriente ao ocidente". O s anais assírios de Salm aneser HE afir­m am que a "totalidade dos países" havia sido deposi­tada em suas m ãos. A expressão usada aqui e em

outros textos assírios, assim como em Ezequiel, refere- se ao domínio do rei sobre os quatro cantos da terra.7.13. vendedor não recuperará sua terra. A extensão

da desgraça proferida contra a nação era tam anha que nem mesmo o ano do Jubileu seria celebrado (ver o

com entário em Lv 25.8-55). Geralm ente, proprieda­

des que haviam sido vendidas para saldar dívidas

podiam ser resgatadas durante o Jubileu, restabele­cendo assim a posse das terras que foram distribuídas

após a conquista de Canaã (o Código de Hamurabi contém cláusulas semelhantes concernente à recupe­

ração de terras). Agora o "arrendam ento divino" fora revogado e não haveria vantagem econôm ica para

compradores ou vendedores na época de destruição prestes a vir.

7.18. vestes de luto (pano de saco). O pano de saco,

um dos sinais tradicionais de luto e arrependimento,

era feito de pêlo de bode ou camelo e era rústico e desconfortável. Em m uitos casos, o pano de saco era

apenas um a cobertura para o lombo. Esse costum e

não apenas destacava a pessoa, separando-a da vida

norm al, m as também, uma vez que o pano de saco

esfolava a pele, servia como um constante lembrete da dor da perda.

7.18. cabeça rapada. Em bora essa prática seja conde­

nada em Deuteronômio 14.1 (talvez por ser parte do

culto aos ancestrais - ver o comentário em Dt 14.2), rapar a cabeça como sinal de luto era bastante comum

(ver Jó 1.20 e Jr 48.37). Também ocorre como parte do

ritual de purificação pelos mortos (Lv 14.8, 9) e da lei do nazixeu (Nm 6.9). Na M esopotâmia, rapar metade

da cabeça era um castigo que tinha com o objetivo

hum ilhar publicam ente.7.23. correntes. Os cativos geralmente são ilustrados

na arte egípcia e mesopotâmica presos em correntes. Esse é o caso de um relevo encontrado no Ramesseum,

em Tebas, ilustrando cativos asiáticos, etíopes e da Africa central, desfilando diante de Ramsés II. Uma

cena semelhante de prisioneiros cananeus e filisteus

está entalhada na parede do tem plo m ortuário de Ramsés III, em Medinet-Habu.

7.24. santuários profanados. Menção à profanação do

templo de Jerusalém (SI 74.7) e à destruição sistemática

dos altares feita por Josias em todo seu domínio e em Betei (2 Rs 24.8-15) indicam que os santuários não es­

tavam a salvo da m ão de governantes vingadores ou

conquistadores. Textos antigos da A ntiga Babilônia (M ari) e do C ilindro de C iro do período persa des­

crevem a destruição de templos e a captura de imagens

sagradas como "refén s". N a visão de Ezequiel, os al­

tares e santuários falsos erigidos pelos israelitas agora

serão arrasados e destruídos por um D eus vingador.

7.26. visão, le i, conselho com o m eio de libertação.As vezes, a visão profética continha uma m ensagem de D eus que trazia encorajam ento ou esperança de livramento. O ensino por parte do sacerdote aqui é possivelm ente orientação ritual com o objetivo de mostrar o caminho no sentido de apaziguar a ira divi­na. O conselho das autoridades era considerado um canal da sabedoria divina que conduzia a decisões acertadas. Em uma época de sublevações e destrui­ção, a terra é abandonada sem a direção de Deus. Todos os meios tradicionais de conseguir orientação são perdidos ou se tom aram ineficazes (ver esses gru­pos de conselheiros em Jr 26.7-17). Assim como as Visões de Neferti, um vidente egípcio do século vinte a.C., descrevem como "os oficiais não mais adminis­tram a terra" e "aqueles que podiam falar foram ex­pulsos", agora Judá enfrenta um futuro sem o conse­lho necessário para planejar e tom ar decisões (compa­re com o dilema de Saul em 1 Sm 28.6).

8.1-11.25 O profeta é transportado a Jerusalém em uma visão8.1. cronologia. Quatorze meses após a visão inicial que o convocou ao serviço de profeta, Ezequiel agora experim enta outra visão que demonstrará de forma dramática a decadência da situação religiosa de Jeru­salém. Com base no calendário usado em Ezequiel1.1. a data dessa visão poderia ser 17-18 de setembro de 592 a.C..8.2. figu ra de m etal e fogo. U m a aparição divina que confronta Ezequiel é semelhante em seu resplendor à da narrativa de seu chamado (Ez 1.26, 27). Em ambos os casos ele usa adjetivos e a com binação de fogo ofuscante e m etal brilhante. É a magnificência de Deus ou a glória de um mensageiro divino que está sendo comunicada aqui. Essa imagem acompanha o padrão do perigo envolvido no contato com o divino presente em toda a literatura do antigo Oriente Próximo (ver o comentário em Ez 1.26-28).8.3. transportado em visões. Visto que Ezequiel não deixaria fisicamente o exílio, era necessário que fosse levado numa visão a Jerusalém, onde testemunharia as abominações da cidade. Existem poucas informa­ções na literatura do antigo Oriente Próxim o sobre visões ou experiências de transporte em visões. Em um texto interessante, Uma Visão do M undo Inferior (sétimo século), um príncipe assírio vê Nergal, o rei do m undo inferior, assentado em seu trono, com relâmpados e raios saindo dele. O texto não diz como o príncipe foi levado até ali, m as m enciona que foi arrastado por seus cabelos até Nergal. U m paralelo de transporte espiritual pode ser encontrado no herói mesopotâmico Adapa que aparece diante da assem ­

bléia divina. Seu deus padroeiro, Ea, faz com que ele "tom e a estrada para o céu" e Adapa tem a oportuni­dade de fitar a partir daquela posição privilegiada "desde o horizonte até o zénite do céu".8.3-16. topografia do tem plo. A estrutura retangular do templo (de frente para o leste) era cercada por um pátio interno murado. Fora desse muro ficava o pátio externo. O muro era alinhado com cômodos usados para diversos fins. Ezequiel primeiro é colocado em sua visão diante da porta norte, por onde é possível passar do pátio externo para o pátio interno. Desse pátio externo, Ezequiel podia olhar pela porta e ver o altar que ficava no centro do pátio interno. As portas que davam acesso ao recinto do templo foram acres­centadas posteriormente à construção original do tem­plo de Salom ão (2 Rs 15.35). A abertura perto da

entrada das portas (v. 7) talvez desse para um daque­les côm odos que acom panhavam o muro do pátio,

talvez um depósito que fora transformado em santuá­rio onde as setenta autoridades, cada um a em seu próprio nicho adorava imagens de ídolos. A cena se­guinte (v. 14) é do lado de fora da porta, no mesmo muro um pouco m ais para o oeste, onde era permitido o acesso a mulheres. Então, no versículo 16 Ezequiel é levado ao pátio interno do tem plo onde verá uma abom inação ainda m aior na área entre o pórtico do templo e o altar.

8.5. ídolo que provocou o ciúm e. A imagem de Aserá que M anassés colocou no templo é descrita de forma semelhante (2 Cr 33 .7 ,15). Embora essa imagem não deva ser considerada a mesm a, é bem possível que

fosse outra im agem de Aserá. Essa possibilidade é sugerida m ais adiante pelo fato de que a palavra usada para "im agem " aqui é um termo inusual que se acred ita seja um em préstim o do fenício ou do cananeu. De acordo com o segundo mandamento do

Decálogo, qualquer im agem que fosse objeto de culto provocaria o ciúme em Yahweh.

8.10. desenhos na parede como o b je to de culto. O texto esp ecifica esses desenhos com o im agens es­culpidas em relevo nas paredes. Essa forma de arte era bastante conhecida na Assíria e na Babilônia. O verso 12 sugere adicionalm ente que cada um a das setenta autoridades estava adorando diante de um nicho específico onde havia uma imagem esculpida. O fato de que eram imagens de animais sugere algu­m a relação com as práticas m ortuárias egípcias. Os animais não eram os objetos de culto comuns na prá­tica cananéia ou mesopotâmica. M as os egípcios usa­vam rituais apotropaicos para afastar diversas criatu­ras dos túm ulos de seus ancestrais, e o incenso era usado em todo o antigo Oriente Próximo em contextos apotropaicos. A decoração das paredes de casas na

Mesopotâmia contendo desenhos de formigas e bara­tas também pode ser de natureza apotropaica.8.14. chorar por Tam uz. Tal como outros deuses da fertilidade, o semideus sumério Tam uz passava parte do ano no m undo inferior (representando a estação seca, improdutiva) e depois voltava à vida durante a época das chuvas, da plantação e da colheita. N o ritu­al mesopotâmico que fazia parte do culto a essa divin­dade, implorava-se aos deuses que Tamuz fosse trazi­do de volta e com ele a fertilidade da terra. O ritual incluía um a série de lamentos (com base naqueles da história épica, iniciados por sua esposa Inanna e por sua mãe e irmã). As mulheres que encenavam esses lamentos gritavam e derramavam lágrimas (um ges­to sim bólico da necessidade de chuva). O fato de Ezequiel descrever m ulheres realizando tais rituais diante das portas do templo em Jerusalém pode refle­tir a adoção desse deus da fertilidade como um subs­tituto de Yahw eh ou o uso da liturgia de lamentação de Tamuz para chorar por Yahweh, como se fosse um

deus da fertilidade que também m orria e ressuscita­va. Essa prática acrescenta uma heresia mesopotâmica às heresias ao estilo cananeu e egípcio já apresentadas nas duas cenas anteriores.

8.16. adoração ao Sol. A evidência de culto ao Sol no antigo Israel parece estar ligada primordialmente ao reinado de Manassés. Os cavalos e carros do Sol colo­cados no tem plo por esse rei foram destruídos por Josias quando tentou purificar o templo da influência religiosa estrangeira (ver o comentário em 2 Rs 23.11).

O nom e de lugares com o Bete-Sem es, Ein-Sem es e monte H eres (Js 15.7; Jz 1.35) tam bém atesta a popula­ridade da adoração ao Sol. Talvez não seja coincidên­cia que o capítulo data da época do equinócio do outo­no, quando o Sol estaria em um ângulo em que, ao nascer, brilharia diretam ente no tem plo. Em bora o Egito, Canaã e a Mesopotâmia, todos tivessem deu- ses-sol (Amom-Rá, Shemes e Sham ás respectivamen­te), é m ais provável que a atitude descrita neste versí­culo fosse a adoração sincretista de Yahw eh como um deus-sol. Essa seria a última das cenas que retratavam a adoração cananéia (v. 5), egípcia (v. 10 ,11), m esopo­tâmica (v. 14) e o culto sincretista de Yahw eh (v. 16).8.17. ram o perto do n ariz . Existe um a expressão acadiana (laban appi) que se refere a um gesto de humilhação usado para achegar-se com contrição di­ante da divindade e fazer um a petição. Quando esse ato é retratado na arte, o adorador tem a m ão posicio­nada na frente do nariz e da boca e, às vezes, segura um objeto cilíndrico na mão. Na lenda suméria intitu­lada Gilgamés na Terra dos Viventes, há evidências de que o que o adorador segura é um pequeno galho cortado de uma árvore. Isso sugere que em Ezequiel

as pessoas estão tentando demonstrar sua hum ilha­ção. D eve-se reconhecer, porém , que essas relações são bastante nebulosas e o significado pode ser algo completam ente diferente.9.2. seis hom ens com armas m ortais. Embora exista um paralelo óbvio entre essa visão de executores obe­decendo ordens divinas e o "D estruidor" da narrativa da Páscoa (Êx 12.23), o tema de sete destruidores en­contra um exemplo m elhor no texto neo-babilônico do século oitavo, M ito de Erra e Ishum. Nesse antigo poe­ma, o deus Anu cria sete divindades (Sebitti, associa­das à Plêiade) e as entrega a Erra para que lhe sirvam como "su as arm as ferozes". Esses seres impiedosos não poupam ninguém, m atando todos que se colocam em seu caminho, funcionando assim como instrumen­tos do caos e da violência. O poema, tal como a visão de Ezequiel, apresenta uma explicação religiosa para a destruição e a humilhação de uma importante cida­de (Babilônia), m as aqui há apenas seis e não sete destruidores, sendo que o sétimo foi substituído por um escriba (ver o próximo comentário).9.2. anotador. O tema de um anotador divino aparece no épico de Gilgamés onde Belet-Seri se ajoelha dian­te de Ereshkigal (a rainha do m undo inferior na cren­ça acadiana) e lê o nome dos mortais que morrerão. Mas o estojo de anotações carregado pelo hom em aqui evoca a im agem de Nabu, o deus dos escribas e o escriba dos deuses. N abu era um dos deuses babilônios m ais populares do período, como se constata por sua aparição em muitos nomes (p. ex., Nabucodonosor). Ele é aquele que m antém um registro do livro da vida, assim como o personagem do escriba faz aqui em Ezequiel.9.2. estojo de anotações. O escriba antigo geralmente carregava consigo um estojo que servia de apoio quan­do ele escrevia e também onde guardava suas canetas e frascos de tinta (geralmente um frasco de tinta preta e outro com tinta vermelha). Nessa passagem, o ter­mo usado para o estojo incluía um a palavra empresta­da do egípcio (qeset) que identificava o objeto como um tipo específico de apoio, com encaixes para as canetas e dois lugares côncavos para colocar tinta. Esses esto jos aparecem em inúm eras p inturas de túm ulos egípcios. A caneta era um bambu ou junco cortado em um ponto que podia servir como pincel ou como uma ponta, dependendo da forma da letra que seria desenhada. A tinta era feita de um a m istura de carbono e resina. A tinta vermelha continha também óxido de ferro para dar a cor necessária às assinaturas ou às linhas do rolo. Completando esse estojo havia um a faca para apontar as canetas (Jr 36.23).9.2. altar de bronze. O altar de bronze fazia parte dos m óveis do templo original criado por Salomão (ver o

comentário em 2 Cr 4.1). Ficava à frente do templo "entre o altar novo e o tem plo" e fora removido para a ala norte para abrir espaço ao altar idólatra erigido por Acaz (2 Rs 16.14).9.3. g lória do Sen h o r acim a do q u eru bim . Existe uma relação entre a "glória" de Deus e a arca da alian­ça desde as narrativas de Samuel (ver o comentário em 1 Sm 4 .3 ,4 ). Em Ezequiel, a presença de Deus está ligada à "g lória" - um a manifestação física que tam­bém se relaciona com a im agem apresentada da arca de D eus entronizada entre as asas do querubim (a respeito da iconografia da arca, ver o comentário em Êx 25.10-22).9.4. sinal n a testa. A ação do escriba remete a diversos paralelos. A m arca é a letra hebraica taw, a últim a letra do alfabeto hebraico, que era usada como assina­tura em alguns períodos da história israelita (Jó 31.35). N a escrita usada durante a época do Antigo Testa­m ento essa letra tinha o formato de um X ou de um sinal de +. Pode representar a posse de Deus do rema­nescente do povo que m erecia sobreviver à destrui­ção im inente (um sentim ento tam bém expresso no texto egípcio Visões de Neferti). A tradição judaica con­tinuou a empregar esse sinal como marca dos justos nos Rolos do M ar M orto, em todo o período inter­testam ental e nas tradições rabínicas. Certam ente, m arcar aqueles que sobreviveriam à ira de D eus é comparável ao sangue colocado nos batentes das por­tas durante o evento do Êxodo (Êx 12.11). A mesma m arca usada em Ezequiel antes era associada à marca de sangue nos um brais das portas durante a Páscoa, mas sua semelhança com uma cruz tornou essa rela­ção impopular entre os rabinos na era pós-cristã.10.1. trono de safira (lápis-lazúli). A m enção ao trono de Deus é uma reiteração de 1.26. Pelo menos desde

os tempos romanos, com base nos escritos de Plínio, safira significava lápis-lazúli. Continuou a ser comum até o final do período medieval o emprego do termo safira para referir-se ao tom azul escuro do lápis-lazúli. A palavra safira vem do sânscrito e foi em prestada para o latim. O lápis-lazúli, um m ineral constituído de um silicato de sódio alum inífero, origina-se nas montanhas do Afeganistão. É uma pedra frágil e era usada em jóias, mosaicos e na decoração de móveis. Sua característica brilhante, uma qualidade desejável para fins decorativos, é o resultado de fragmentos de pirita m isturados à pedra. Em textos acadianos essa pedra era comum ente associada ao lugar de habitação do deus supremo.10.1. querubim . Ver o comentário em Êxodo 25.18-20 e 26.1-6 a respeito do querubim como elem ento de decoração no tabernáculo e na tampa da arca da alian­ça. N o tem plo de Jerusalém havia dois querubins

feitos de madeira de oliveira e revestidos de ouro (ver

1 Rs 6.23-28). O significado da iconografia em cada um desses casos reside na idéia da presença de Deus

sendo sustentada pelas asas do querubim. Pode ser

criado um paralelo representativo entre a íntim a rela­ção de Deus e o querubim com a imagem dos deuses

cananeus e m esopotâm icos m ontando ou de pé no

dorso de animais (i.e., Baal m ontado em um touro)

nessas civilizações, denotando uma essência do que é a verdade bíblica. N o capítulo 1 esses seres não são

identificados como querubins, mas aqui são incluídos

nessa categoria. Isso é lógico, visto que os querubins

eram retratados com mais freqüência como guardiães da presença ou dos pertences divinos.

10.2. rodas. Ver o comentário em 1.15-18.

10.4. resplendor da glória do Senhor. Ver os comen­

tários em Ezequiel 1.4 e 1.26-28 para uma discussão sobre a kabod ou "g lória" de Deus e como se compara

ao conceito do melammu, "brilho divino", que aparece na literatura m esopotâm ica. Para um a com paração

com textos religiosos acadianos e egípcios que tratam

do resplendor dos deuses e do perigo para humanos que viam essa luz d ivina, ver os com entários em Êxodo 13.21, 22 e 33.18-23.

10.9. berilo . Como em 1.16 a pedra semipreciosa men­

cionada é tarshish. A maioria dos intérpretes a identi­

fica com o berilo ou topázio, ambos capazes de refletir

a luz e dar um aspecto de brilho translúcido descrito nesse texto.

10.12. cheios de olhos. Ver o comentário em 1.15-18 a respeito das rodas "cheias de olhos".

10.14. quatro rostos. Ver o comentário em 1.6.

10.15. rio Q uebar. Ver o comentário em 1.1.10.18. im portância do pórtico. Os pórticos de entrada

tinham grande significado simbólico no m undo bíbli­

co. Serviam como lugar de tribunais (Dt 22.20,21) e a área oficial onde atos de subm issão e culto podiam

acontecer (1 Sm 5.4; Ez 46.1, 2). Tam bém delim ita­vam o ponto de entrada e saída de uma casa ou, como

em Ezequiel, o limite entre o espaço sagrado e o mun­do secular.

10.19. porta oriental. Essa seria a porta do pátio exter­

no do templo. Em bora a disposição do templo fosse no sentido leste-oeste, não fica claro até que ponto os

prédios e pátios do palácio real estavam ligados a esses recintos sagrados. É possível que a porta à qual

Ezequiel se refere nesse caso seja uma daquelas que

fazia a conexão entre templo e palácio. Se for esse o caso, então seu significado é am pliado pelo fato de

Yahw eh se preparar para abandonar ao seu próprio

destino tanto a comunidade religiosa quanto as auto­

ridades seculares.

11.1. líderes. Todos esses nomes aparecem em selos do período, mas com exceção de Pelatias, é imprová­vel que os selos tenham relação com os indivíduos

mencionados neste versículo. O selo de Pelatias pro­vavelm ente se refere a esse indivíduo, mas não se pode afirm ar com certeza. Para m ais inform ações a respeito de selos com nomes gravados, ver a nota em Jerem ias 32.11.3, 7 ,1 1 . m etáfora da panela e da carne. Ezequiel refuta a afirmação dos novos governantes de Jerusa­lém de que teriam criado um lugar seguro na cidade para o povo. Ele apresenta exatam ente o contrário, transformando a panela (Jerusalém) de um jarro her­meticam ente selado em um a panela em que o povo (ver M q 3.3) e seus falsos governantes seriam cozidos no fogo da ira de Yahw eh (compare com Ez 22.18-22).11.18. im agens e íd olos. V er os com entários sobre imagens em 8.5 e 8.10.11.19. coração de pedra. O conceito de um coração de pedra tem diversas associações no mundo antigo, prin­cipalmente no Egito. Em primeiro lugar, segundo a crença egípcia, após a morte, o coração do indivíduo era pesado numa balança diante de um tribunal para determinar se tal pessoa obteria ou não a vida etem a. O resultado podia ser desastroso, caso suas culpas e pecados desequilibrassem a balança (ver o comentá­rio em Êx 8.11). Um coração de pedra era um coração pesado. Mais importante é a imagem relacionada ao processo de mumificação. A partir do período do Novo Reinado em diante, o coração (bem como outros ór­gãos importantes) era removido da m úm ia e deposi­tado em um vaso canópico. Isso era feito porque os egípcios acreditavam que o coração podia trair o indi­víduo quando estivesse no julgam ento, ameaçando e colocando em risco sua vida no além. O coração era substituído por um a pedra esculpida na forma de um besouro. No Egito, esse inseto era o símbolo da vida etem a. Ao transplantá-lo no interior da m úm ia, no lugar do coração, os egípcios acreditavam que estari­am assegurando a renovação da vida e da vitalidade da pessoa. Em contraste, Yahw eh traria seu povo à vida dando-lhes corações de carne que não os engana­riam. A im agem de um coração amolecido se encaixa­ria ao contexto dos versos 17-20 que sugerem um novo êxodo e um a nova aliança.11.23. m on te à leste da cid ad e. O m onte à leste do templo seria o m onte das Oliveiras. Dali era possível olhar lá embaixo e ver o templo e a cidade. Estando em um ponto de visão privilegiada em Jerusalém, o mon­te seria o limite mais distante que podia se observar a leste. A implicação dessa imagem é que Deus se assen­taria fora da cidade e assistiria à sua ruína (compare com Jn 4.5) ou que seria dali que ele voltaria ao céu (é o local

considerado tradicionalmente como o monte da ascen­são de Cristo, embora haja poucos dados no Novo Testa­m ento para sustentar essa hipótese).

12.1-28O exílio simbolizado12.5. fazer um buraco no m uro. Como ilustram os relevos assírios, uma série de medidas era usada para penetrar as defesas de um a cidade sitiada. Dentre essas m edidas estavam a perfuração dos m uros da cidade ou a escavação de túneis que abalavam seus alicerces. Visto que Ezequiel estava cavando de fora para dentro, desem penhou o papel dos babilônios que estavam trabalhando sob o com ando de Deus para invadir a cidade.12.6. cobrir o rosto. H á contextos que descrevem o rosto sendo coberto por causa de luto ou vergonha, m as nesses casos um verbo diferente é usado. E pro­vável que cobrir o rosto aqui simbolize o destino que o rei teria, encenado por Ezequiel (v. 12 ,13).12.6. sinal para a nação de Israel. A profecia encena­da de Ezequiel era o sinal de D eus da destruição im inente de Jerusalém e do exílio do povo. Ao ence­nar essa seqüência d ê ações, Ezequiel encarnou a

m ensagem . M uitas vezes os sinais iam m ais além , um a vez que a própria vida do profeta passava a ser um sinal (ver Is 8.18; Jr 16.2; Os 1).12 .10 . p rín c ip e de Je ru sa lé m . N a ép oca em que Ezequiel profetizava, Zedequias era o governante de Jerusalém. Ele era o terceiro filho de Josias a ocupar o trono, em bora seu poder de governar estivesse bas­tante limitado e sob a supervisão de Nabucodonosor (ver 2 Rs 24.15-17). O fato de Ezequiel referir-se a Zedequias como "príncipe" (hebraico nasi') enão como "re i" (hebraico melek) é um indício de que ele não o considerava como genuíno sucessor de Davi.

12.13. rede, laço. A imagem de uma divindade pren­dendo os inimigos em um a rede era comum na arte do antigo Oriente Próximo. A m ais evidente é a Esteia dos A butres, que ilustra o deus sum ério N ingirsu segurando em sua mão esquerda um a rede trançada com fios de junco. Presos nessa rede estão os soldados de Um m a que haviam atacado Eannatum , o rei de Lagash. A arte egípcia do reinado de Neco II retrata o faraó recolhendo seus inimigos em um a enorme rede (ver H c 1.14, 15).12.13. terra dos caldeus. Os caldeus são mencionados pela prim eira vez em fontes mesopotâmicas do nono século a.C.. Em bora etnicam ente relacionadas a ou­tras tribos araméias do sul da Babilônia, tinham uma estrutura tribal distinta. Assim que o Império Assírio começou a se enfraquecer, líderes caldeus, inclusive N abopolassar e N abucodonosor, conquistaram sua

in d ep e n d ên cia e es ta b e le ce ra m a d in a stia n eo-

babilônica após 625 a.C.. As áreas que controlavam e onde fixaram os exilados de Judá estendiam -se por

todo o sul da M esopotâmia até a região oeste de Harã,

nos limites mais altos do rio Eufrates.

12.13. ele não a verá e a li morrerá. Essa afirmação se cumpriu quando o rei Zedequias teve seus olhos fura­

dos após a captura de Jerusalém, pelas tropas de Nabu-

codonosor. Embora tenha sido levado ao exílio e te­

nha passado o resto de sua vida como prisioneiro, após ser forçado a testem unhar a execução de seus

filhos, Zedequias foi privado de sua visão (ver 1 Rs

25.7). A prática de furar os olhos de prisioneiros apa­rece nos Anais Assírios de Assumasirpal II, do nono

século e nos de Sargão II, do oitavo século. Essa era

um a das m uitas táticas de terror em pregadas para assustar e hum ilhar os inimigos.12.18. ansiedade enquanto come e b ebe. Visto que

comer e beber são as atividades mais básicas da vida

cotidiana, o ambiente à mesa com freqüência reflete

as condições vividas no momento. Durante a Páscoa, os israelitas tiveram de comer sua refeição "às pres­

sas", como um reflexo de sua prontidão para deixar o Egito. A qui, a ansiedade e o desespero retratam a

ameaça sob a qual estavam vivendo.

12.24. adivinhações baju ladoras. A tarefa do adivi­

nho era descobrir a vontade dos deuses através de diversos rituais - a análise das vísceras de ovelhas, a

consulta aos mortos (1 Sm 28.8) ou o estudo de confi­

gurações astrológicas. Todas essas práticas eram proi­

bidas pela lei israelita (ver o comentário em Dt 18.10­

13) por causa de sua associação com deuses falsos e

falsas religiões. Naturalmente, um adivinho desejaria agradar seus clientes (que pagavam por seus servi­

ços) e assim estaria inclinado a bajulá-los ou seduzi-los

com sua postura e afirmações (compare com Pv 26.24­26). Essas predições não eram cabíveis e semelhantes

às condenadas por Jeremias (ver Jr 27 .9 ,10).

13.1-23A condenação dos falsos profetas13.10. muro frágil caiado. Ezequiel usa um a analogia

semelhante à de Jeremias em 6.14 e 8.11. Em ambos

os profetas a realidade é m ascarada e o povo se ilude acreditando que a ferida não é tão grave ou que o

muro é resistente. Isso reflete a tendência de esconder

problemas estruturais com soluções paliativas. Os có­digos de lei mesopotâmicos também tratam de cons­

trutores inescrupulosos e proprietários de casas que negligenciam consertos e reparos ou tentam esconder

um a obra m alfeita e sem segurança (ver as Leis de Esnuna e o Código de Hamurabi).

13.11. forças destrutivas de D eus. Os muros frágeis, cimentados com camadas de gesso, não poderiam re­sistir às forças da natureza enviadas por Deus. Como em Isaías 28.2 e 30.30, a chuva acompanhada de fortes ventos e granizo eram considerados a voz de Deus, trovejando uma resposta e acusação sobre Judá. Uma imagem semelhante encontra-se no texto sumério La­mento pela Destruição de Ur. Nessa declamação de des­graça, o poeta descreve como o deus Enlil reteve os ventos mansos que traziam a chuva necessária às plan­tações e em seu lugar enviou o siroco (vento do deser­to) que evaporava toda a um idade da terra e trazia tempestades e ventos, destruindo prédios e assobian­do pelas portas de cidades abandonadas.13.14. desnudar o alicerce. A ira de Deus é tão intensa

que o muro simbólico feito de profecias enganadoras será completamente arrasado e exposto até seu alicer­

ce, mostrando do que é feito: de interesses e benefíci­os próprios, em vez da Palavra de Deus. Os alicerces geralmente eram feitos de diversas camadas de pedra depositadas em valas.

13.18. costurar berloqu es de fe itiços nos pulsos. Aprática descrita aqui não fica tão clara visto que o termo hebraico kesatot aparece somente neste capítulo (v. 18 e 20). É p ossível que esteja relacionado ao

acadiano kasitu , "m agia que prend e". Textos babi­lónicos de encantamento descrevem como as pessoas que queriam am arrar outras à sua vontade faziam faixas que usavam no pulso e as enfeitiçavam com um juram ento. Talvez essas falsas profetisas estivessem empregando algo semelhante ou talvez Ezequiel es­teja simplesmente comparando a influência delas com uma prática conhecida na Babilônia.13.18. véus de vários com prim entos. Novamente, uma palavra acadiana, possivelmente sapahu ("soltar") pode ser a base para o item mencionado aqui. Se são um paralelo para as pulseiras mencionadas anteriormen­te, então os "v éus" talvez fossem usados em volta do pescoço, como outro adereço mágico para prender as pessoas à vontad e da m ulher. Certam ente, algum tipo de "am arra" era pretendido. Qualquer que seja o objeto m encionado neste versículo, geralmente se acei­ta que indica a presença de um tipo comum de bruxa­ria que tinha por objetivo controlar suas vítimas.

14.1-23A condenação dos idólatras14.1-3. autoridades foram consultar. Esses líderes atu­avam como autoridades entre os exilados. Foram a Ezequiel como suplicantes em busca de conselho e de um oráculo. O gesto de assentar-se diante dele (a seus pés) indica seu papel com o m estre e porta-voz de Deus. Não é possível afirmar com certeza se sincera­

m ente aceitavam sua autoridade ou sim plesm ente estavam curiosos acerca do que ele podia lhes trans­mitir como um a palavra vinda de Deus.

14.14. N oé, D aniel, Jó . Em bora Noé e Jó sejam facil­mente identificados como sábios justos da antigüida­de, parece im provável para m uitos intérpretes que Ezequiel incluísse nesse grupo um profeta contempo­râneo, Daniel. Esse capítulo, porém, provavelmente date do final dos anos 590. Nessa época Daniel teria estado na Babilônia por quase quinze anos e estaria com quase trinta anos ou pouco m ais de trinta. Seu sucesso fora precoce (ver o com entário em D n 2.1), logo, ele estaria ocupando um alto posto na corte por um a década. N ão obstante, D aniel não se encaixa facilmente ao perfil dos outros dois. Primeiro, tanto Noé quanto Jó não eram israelitas. Noé viveu durante o dilúvio e antes de Abraão. Jó era de Uz, geralmente localizada ao redor de Edom. Um documento babi­lónico sapiencial que contém argumentos sobre sofri­mentos semelhantes aos narrados no Livro de Jó suge­re a existência de uma longa tradição para sua perso­

nagem . Em busca de um a personagem fam osa na Antigüidade, alguns estudiosos consideraram a pos­sibilidade de que o Daniel m encionado aqui se refira a Danilo, o sábio rei da antiga Ugarit, que foi o pai do

herói Aqhat. Tal como Débora (Jz 4.5), Danilo se as­sentava debaixo de uma árvore para ouvir as causas de seu povo, fazendo justiça a viúvas e órfãos. Uma vez que não é associado ao culto a Yahweh, porém, seria difícil visualizar Ezequiel colocando Danilo em um a posição tão elevada. Como no caso da m arca colocada sobre os inocentes, em Ezequiel 9, esses três grandes sábios, conhecidos por sua retidão, poderiam apenas salvar a si m esm os durante a catástrofe im i­

nente. A implicação de que um determinado número de justos seria necessário para que a cidade fosse salva

da ira de Deus, (ver Gn 18.23-32; Jr 5.1), portanto, é desconsiderada, diante da violação da aliança pratica­da por Judá.14.15. anim ais selvagens como castigo. Na passagem dos versículos 15-20, D eus apresenta um a série de maneiras de castigar o povo de Judá por seus pecados, limpando assim a terra de sua impureza. Em relação a usar animais selvagens como instrumento da ira de Deus, ver o comentário em 5.17.

15.1-8 Analogia da vinha15.2-7. parábolas e m etáforas de vinhas. Assim como Isaías, na "canção da vinha" (Is 5.1-7), Ezequiel usa essa figura como metáfora para Judá (ver também Ez17.5-10). Em ambos os casos a inutilidade da videira é a justificativa para sua destruição. Uma imagem se­

melhante aparece em uma obra egípcia sapiencial, a Instrução de Amenemope. AH também um a planta que serve com o m etáfora para os tolos que falam sem pensar é arrancada, queim ada e destruída porque rapidamente murcha e não tem valor após ser arran­cada. A m etáfora de um a cidade como um a planta improdutiva encontra-se no M ito de Erra e Ishum (cópi­as conhecidas datam do oitavo século), em que Mar- duque lamenta pela Babilônia. Ele afirma tê-la enchido de sementes como uma pinha e tê-la cultivado como a um pom ar, m as nenhum fruto foi produzido, nem nunca provou de nenhuma de suas frutas.

16.1-63 A alegoria da Jerusalém infiel16.3. origem n a terra dos cananeus. As referências bíblicas a Jerusalém a descrevem originalmente como uma cidade dos jebuseus (Js 18.28). Davi a conquistou e transformou-a na capital israelita (2 Sm 5.6-10). A m enção a Jerusalém encontra-se tam bém em docu­mentos de execração dos séculos dezenove e dezoito a.C., no Egito, e em textos de El A m am a (século cator­ze). Ao fazer essa identificação, Ezequiel tenta colocar de lado o orgulho que õ povo tinha de Jerusalém como sua cidade, à medida que Deus expõe a acusa­ção contra Judá.

16.3. pai amorreu, m ãe hitita. Essa passagem funcio­na em dois níveis. Primeiro, é correto associar Jerusa­lém , pelo menos a cidade jebusita, a origens políticas

dos amorreus e hititas do norte da Síria. Essa relação é estabelecida a partir de sua menção nos textos de El Am am a. Porém, em um nível simbólico, ao confron­tar Jerusalém com sua ascendência mista (conectando- a a três dos sete principais povos que habitavam Canaã, alistados em Êx 3.8), D eus identifica tanto a cidade quanto seus habitantes como extrem am ente corrup­tos. Quando a terra foi conquistada, era responsabi­lidade dos israelitas expurgá-la de suas tradições idó­

latras (Dt 7.1-5), mas em vez disso o povo tornou-se exatam ente com o as nações que eles deveriam ter expulsado.16.4. tratam ento dado ao recém -nascido. Todas as ações descritas aqui norm alm ente eram atribuições da parteira. Ela cortava e am arrava o cordão umbili­cal, tirava vestígios da placenta do corpo do recém- nascido, limpava a pele do bebê com água salgada e finalm ente o enrolava em cobertas. A criança então era apresentada aos pais para receber o nome. Porém, nesse caso, a criança não é aceita como um m em bro da fam ília; ao contrário, é abandonada em um campo, onde seu destino é deixado nas m ãos de D eus. No m undo antigo, o papel da parteira no preparo do quarto onde se faria o parto e no cuidado com o recém-

nascido com freqüência era atribuído à divindade, especialmente em metáforas. Em um trecho do texto babilónico Épico de Atrahasis, a deusa da fertilidade

M ami é a parteira dos deuses que geram a hum anida­de. No texto egípcio Hino a Áten, o deus-sol atua como parteira nas terras do Egito todas as manhãs. Os ritu­ais das parteiras envolviam suprir as necessidades físicas da criança e tam bém fazer uma transferência simbólica do ventre para o mundo dos viventes.16.5. abandono de criança. Tanto fontes clássicas quan­to antigas do antigo Oriente Próximo fazem menção ao infanticídio. Evidência dessa prática no período rom ano-bizantino foi encontrada em escavações re­centes em Ascalom, onde foram encontrados os restos de centenas de infantes que haviam sido lançados em um cano de esgoto. O infanticídio geralm ente era em pregado como m eio de livrar-se de m eninas ou crianças com malformações. Isso era feito como um meio de controle de natalidade ou por necessidades econômicas, visto que muitos povoados mal consegui­am alimentar e cuidar de crianças e adultos saudá­veis. O fato de que os pais da criança a "jogaram fora" em um cam po aberto, tem im plicações legais tam ­bém. Eles estão renunciando a quaisquer direitos le­gais sobre a criança e deixando para Deus e/ou outra pessoa "ad otar" e assim salvar a vida da criança. Den­tre os exem plos dessa prática estão o abandono de M oisés no rio Nilo (embora nesse caso não foi um abandono de fato; sua irmã foi instruída a acompa­nhar e ver o que aconteceria; Êx 2.1-10) e o nascim en­to legendário de Sargão, rei de Acade.16.8. cobrir a nudez com a capa. Esse era um gesto simbólico do marido mostrando que pretendia suprir as necessidades da esposa. Era confirmado m ais tarde por um juram ento (berit). Outro exemplo dessa práti­ca é a atitude generosa de Boaz em cobrir Rute na eira, concordando em ser seu defensor e tutor diante das autoridades da aldeia (Rt 3.9).16.9. ungüentos. Como parte do ritual de casamento, havia um "d ia de banho" e unção que simbolizava a transferência do cuidado da jovem , que passava dos pais para o marido. Documentos da Antiga Babilônia confirm am essa cerim ônia, que tam bém pode ser o cerne da lei médio-assíria em que um homem derra­mava óleo sobre a cabeça da mulher que estava pres­tes a entrar para sua família. Esse gesto contrasta dras­ticamente com a falta de cuidado dispensada à criança em Ezequiel 16.4.16.10. vestido bordado. Dentre os presentes da noiva estava um tecido bordado para suas vestes. Apenas o tecido mais fino era bordado e era considerado uma recompensa nas guerras (Jz 5.30), bem como um item de luxo adequado para o comércio com outros países

(Ez 27.16). Em um nível m ais prático, o Código de Hamurabi e o Código de Lipit-Istar da Mesopotâmia alistam azeite, cereais e roupas com o itens que os maridos tinham de providenciar para suas esposas.16.10. sand álias de couro. Sandálias com uns eram feitas de fibras, presas com tiras de couro (Is 5.27). Um calçado feito inteiramente de couro era luxuoso e sig­nificava riqueza e poder. Sandálias finas de couro são rep resen tad as n os p ain éis de Sa lm an eser III, no Obelisco Negro (nono século a.C.) e em pinturas de parede da época do rei assírio Sargão II (721-705 a.C.).16.11, 12. jó ias. O conjunto completo de jóias provi­denciado pelo m arido consiste de m uitos tipos de jóias usadas regularmente para adornar o corpo e a cabeça da mulher (compare com um a lista mais completa em

Is 3.18-23). Assim como os presentes de noivado ofere­cidos a Rebeca (Gn 24.22), são mencionados bracele­

tes, possivelmente com cabeças de animais em cada extremidade. A gargantilha podia ser um cordão de

contas ou argolas de m etal unidas (corrente) seme­lhante àquelas retratadas em relevos assírios ou nos marfins de Ninrode, ilustrando mulheres assírias da realeza. O pendente do nariz novamente acompanha

os adornos ao estilo de Rebeca (Gn 24.22) e os brincos provavelm ente eram argolas ovais introduzidas em orelhas furadas. O item mais impressionante é a coroa ou tiara de ouro que completava a aparência harm o­niosa da m ulher de um governante e tem paralelos tanto na arte egípcia quanto na assíria.16.13. com ida fina. Assim como Yahw eh providen­

ciara o alimento aos israelitas ao longo de sua história, agora, nessa metáfora do casamento, Yahweh, como noivo e marido, supre Jerusalém , a noiva e esposa, com a farinha, o mel e o azeite de m elhor qualidade. Esses produtos são alistados nos códigos de leis meso- potâmicos como os itens que a esposa devia receber diariamente para seu sustento diário. Nesse caso, po­rém , um a garantia especial é feita a fim de que ela receba os m elhores produtos para fazer pão - algo que seria usado contra ela, se oferecesse tais produtos a outros deuses (Ez 16.19).16.15. prostitu ição no m undo antigo. Na M esopo­tâmia antiga, é possível fazer uma distinção entre a prostituição comercial e o "serviço sexual sagrado" (como G. Lem er denomina). Em textos cuneiformes o term o harim tu é usado para am bas as práticas (por exemplo, é uma harimtu que "educa" Enkidu no épi­co de Gilgamés), embora haja uma diferença na posi­ção social e no objetivo de cada uma. O serviço sexual sagrado oferecido no templo estava ligado ao ritual sagrado do casam ento que assegurava a fertilidade da terra. Havia diversos níveis de sacerdotisas, desde sumo sacerdotisas, que representavam a deusa Istar/

Inana, que recebia a "v isita" do deus M arduque todas as noites, até ordens enclausuradas e figuras m ais públicas como as naditu, que podiam ter proprieda­des, conduzir negócios e até se casar. O fato de que a

prostituição com ercial acontecia perto dos tem plos baseia-se nas mesmas considerações que levavam as prostitutas a freqüentar tavernas e a porta da cidade - eram áreas de tráfico intenso que significavam mais fregueses. Tanto as servas cultuais do templo quanto as prostitutas tinham de dedicar ofertas aos deuses. O que é particularmente incoerente a respeito da noiva Jerusalém é que, em vez de receber por seus serviços, era ela quem pagava a seus amantes, uma referência óbvia à idolatria e à rejeição da aliança com Yahweh. Para informações adicionais, ver o comentário em Deu- teronômio 23.17, 18.16.16. roupas para adornar altares idólatras. M ais uma vez o duplo sentido no texto refere-se tanto aos altares (bam ôt) onde o culto idólatra era realizado, quanto às camas das prostitutas, feitas sobre platafor­mas elevadas e enfeitadas de form a espalhafatosa. Igualmente, Isaías 57.7 descreve um a cama arrumada num a colina elevada onde sacrifícios eram oferecidos a ídolos. Provérbios 7 .1 6 ,1 7 alerta a respeito da cama da prostituta, coberta com tecidos coloridos e caros (compare com Ez 23.17) - linho fino de diversas cores como aqueles que Deus dera à noiva Jerusalém, em

Ezequiel 16.10.16.17. ídolos em form a de hom em . Textos sagrados mesopotâmicos contêm descrições exatas sobre a con­fecção da imagem de um deus. Havia rituais adicio­nais, inclusive a cerim ônia da "abertu ra da boca",

que dava vida à im agem para que se transformasse no recipiente do poder e da presença da divindade. Visto que se trata especificamente de um ídolo (mas­culino) em Ezequiel, é possível que esteja em mente uma réplica exata de um deus (geralmente com uma

coroa ou um a lança levantada). Porém , tam bém é possível que fosse um touro (compare com o bezerro de ouro em Êx 32.2-4) ou que um símbolo fálico tives­se sido criado. Usar metais preciosos para fazer um ídolo tam bém está presente na história de M ica em Juizes 17.4, 5.16.20. sacrifícios hum anos. Para uma discussão ante­rior a respeito do sacrifício de crianças a Moloque, ver os comentários em Levítico 18.21 e Deuteronômio 18.10. Neste caso, os filhos, presentes de Yahw eh como parte do pacto feito com os israelitas, estão sendo servidos como "com ida" aos ídolos que se tom aram os amantes

de Jerusalém. Isso segue a linha de raciocínio a respei­to do tratamento dispensado à imagem, que começara

com sua confecção, somada à prática de vesti-la, ungi- la e finalmente alimentá-la. Todos esses rituais encon­

tram paralelos m esopotâmicos na descrição dos cultos em seus templos, onde duas refeições por dia eram servidas às imagens dos deuses. Oferecer os filhos em sacrifício aos deuses, porém, era uma prática reconhe­cidamente fenícia e cananéia.16.24. construiu altares. Para demonstrar o desejo de desem penhar seu papel com o prostituta, Jerusalém construiu altares (hebraico geb) em lugares elevados. Talvez fossem representações estilizadas de camas das prostitutas (ver Pv 7 .16 ,17) que serviriam como "ta ­buletas com letreiros" das prostitutas, divulgando sua presença e seus serviços.16.24, 25. santuário em cada praça pública. O termo empregado aqui, ramâ, não é a palavra comum ente usada para santuário. Aparece em outros contextos como plataforma (1 Sm 22.6) e, tal como o termo géb,

pode sim plesm ente ter sido o sím bolo usado para divulgar a presença de uma prostituta naquele local. O fato de ser construído em uma praça pública sim­plesmente faz sentido por se tratar de um negócio. A m ulher desejaria o máximo possível de fluxo de pes­soas a fim de garantir seu sucesso comercial. Aplican­do a figura à metáfora da idolatria de Jerusalém, ela remete aos inúmeros altares e santuários erigidos por Salomão aos deuses de suas esposas estrangeiras (1 Rs

11.4-8). A respeito de santuários em todas as esquinas das ruas, ver o comentário em 2 Crônicas 28.24.16.27. redução do território. Quando as condições de

um tratado não eram cum pridas por um aliado ou vassalo, era prerrogativa do suserano tomar uma ati­tude punitiva. Por exemplo, quando Ezequias, rei de Judá, recusou-se a pagar os tributos anuais ao rei assí­rio, Senaqueribe (segundo consta em seus anais) re­duziu o território de Ezequias e transferiu-o a outros reis vassalos. Nessa passagem, um duplo sentido está expresso no uso da palavra hoq para "território". Ge­ralm ente o termo refere-se a um a porção regular de alim ento (Pv 30.8), m as aqui, em um contexto da aliança, significa o território considerado pela nação como sua possessão, mas que de fato é um presente de Deus.16.26-29. egípcios, assírios e Babilônia. Uma vez queEzequiel desenvolve o tema do m al proveniente do envolvim ento com nações estrangeiras, ele cita, em ordem cronológica, os países que haviam seduzido e afastado Judá de Yahw eh. Essas alianças posterior­m ente trouxeram ru ína à nação. Fo i em relação à política de m istura do Egito que Basaque (NVI "co ­mandante de cam po") repreendeu Ezequias em Isaías36.6. U m pouco m ais tarde, a aparente aliança de Zedequias com Psammeticus II atrairia os exércitos de

N abucodonosor que cercaram Jerusalém (ver o co­m entário em Jr 37.5-8). Os assírios haviam imposto

vassalagem a Judá, mas Acaz voluntariamente se sub­metera, até m esm o oferecendo assistência política e social à causa assíria (ver 2 Rs 16.3-9). Por último, na época de Ezequiel, o rei de Judá deu continuidade a um a longa relação com os caldeus, que começara no tempo de Ezequias, com os m ensageiros enviados por M erodaque-Baladã (2 Rs 20.12-19). A referência à "ter­ra de comerciantes" pode ser a análise perspicaz de Ezequiel de que m ais um a vez Ju d á era um m ero fantoche no jogo econômico e político das potências do O riente Próximo.16.36. sangue dos filh o s. Essa é um a reiteração da acusação feita no versículo 20 contra Jerusalém, de ter sacrificado seus filhos nos altares a outros deuses. Como se observa no Salmo 106.38,39, essa prática era consi­derada não só um a abominação, mas tam bém o der­ramamento de "sangue inocente", um dos piores pe­cados possíveis (ver 2 Rs 21.16; Jr 26.15).16.45. pai amorreu, m ãe hitita. Ver o comentário em Ezequiel 16.3. A referência feita por Ezequiel é não apenas a esses povos cananeus, m as tam bém ao casa­mento misto que acontecera durante séculos entre eles e os israelitas.16.46. Sam aria e Sodoma. O alerta aqui é claro. Tanto Samaria, a capital de Israel, o reino do norte, quanto Sodoma haviam sido destruídas, tendo sido conside­radas por Deus culpadas de corrupção (ver G n 19.12­15 e 2 Rs 17.5-18). A referência a Samaria como a irmã "m ais velha" pode referir-se à sua importância relati­va como capital das dez Tribos. Foi construída por Onri (1 Rs 16.24) no nono século e portanto era muito m ais "n o v a" até m esm o que a Jerusalém de Davi. Talvez D eus tenha escolhido Sodoma simplesmente por causa da tradição de sua destruição (Am 4.11). Com o cidade, é provável que tenha sido fundada antes de Jerusalém , m as provavelm ente era m enor em termos de tamanho, considerando-se a facilidade com que foi derrotada em Gênesis 14.8-11.16.57. Edom e filisteus. Considerando-se a aparente aliança entre os edomitas e os caldeus, na época do cerco a Jerusalém (ver SI 137.7), eles estariam em uma posição de regozijar-se com a desgraça e até mesmo saquear Judá, uma vez que os babilônios tinham con­quistado a capital (ver o comentário em Jr 49.7). Du­rante o sétimo século, a Filístia oscilou entre oposição e aliança com os babilônios. Ascalom, por exemplo, foi saqueada e incendiada por Nabucodonosor em 604 a .C . De qualquer maneira, a conquista de Jerusalém em 597 e sua destruição em 587 teria sido o argumen­to usado por outras nações para repreender e zombar do povo de Jerusalém, considerando a cidade como a nova Sodoma e o exemplo da justa ira de Deus contra uma nação corrupta e desobediente.

17.1-24 Duas águias e uma videira17.1. a legorias e p arábo las no m undo an tigo . Asalegorias e parábolas eram um recurso retórico co­m um usado na narrativa de histórias antigas para explicar algo ou criar um a im agem que fosse m ais clara ou expressiva para o público. Isso acontecia es­pecialmente na literatura sapiencial e em textos profé­ticos. Por exemplo, no texto egípcio do século 20 a.C. intitu lado A rgum ento Entre um H om em e Sua Ba, a alma de um hom em desacorçoado conta um a parábo­la sobre a m orte e seu caráter im previsível. Outro texto egípcio, Instrução de Ankhsheshonqy (oitavo sécu­lo a.C.), utiliza uma casa vazia e uma m ulher solteira com o alegorias para o desperdício. A s Canções de A m or Egípcias (século treze a.C.) estão repletas de alegorias com parando os diversos atributos de uma m ulher bonita a um pântano viçoso e exuberante, a um botão de lótus e a flores de m andrágora. Nas visões proféticas do sábio egípcio Neferti (século vinte a.C.), ele descreve a invasão do Egito como marcada pelo ninho de um "pássaro estranho" no pântano e a aparência de rebanhos do deserto bebendo nas águas do Nilo. As imagens veiculadas por esses breves con­tos e jogos de palavras proporcionam diversão e ao mesmo tempo comunicam a idéia que o autor quer passar.

17.3. fábu las de anim ais e árvores. Dentre os tipos mais populares de fábulas encontram-se aquelas em que os animais falam (ver o comentário em N m 22.28­31), as árvores dialogam ou ainda realizam alguma ação (ver o comentário em Jz 9.8). Existem diversos exemplos de fábulas na literatura do antigo Oriente Próximo. Um deles é o diálogo entre um arbusto de espinhos e um a romãzeira no texto assírio Palavras de A hiqar (oitavo século a.C.) quanto a seus méritos. No m aterial egípcio do século treze, A Lenda dos Dois Irmãos, a vaca do irmão m ais novo, Anubis, o alerta de que seu irmão invejoso Bata planejara matá-lo.17.4. terra de com erciantes. Ver Ezequiel 16.49 a res­peito da referência anterior à "terra de comerciantes" como uma expressão equivalente a Babilônia. O rei Jeoaquim, talvez o "broto m ais alto" dessa alegoria, fora levado ao exílio em 597, ju ntam ente com sua corte real. A lista babilónica de rações m ostra que foram m antidos em prisão dom iciliar na cidade de Nipur.17.4. cidade de m ercadores. Em bora os fenícios sejam com mais freqüência associados ao comércio, seu papel de fato era m ais como "interm ediários", enquanto os banqueiros e m ercadores que forneciam as m ercado­rias estavam estabelecidos nas cidades da Mesopotâmia (ver Is 23.8). Foi o im pério comercial dos caldeus que,

através dos em preendim entos m ilitares do rei, conse­guiu absorver todo ramo de negócio sob seu controle. Esse tem a está p resen te em m u itos an ais m esopo- tâmicos em que um rei faz uma expedição "para o mar" e obtém controle dos "cedros do Líbano".

17 .6 , 7. p a rá b o la s da v in h a . V er o com en tário em Ezequiel 15.2-7. Os esforços iniciais do jardineiro em cuidar de sua vinha, plantando-a em solo fértil junto a água abundante, são recompensados por crescimen­to exuberante. Porém , ao surgir a segunda águia, a vinha parece rejeitar a atenção dispensada pelo ja r­dineiro e perdeu seu propósito. Lançou suas raízes na direção da segunda ave, com o se estivesse em busca de outra fonte de água, em bora desnecessária. Essa incapacidad e em corresponder à exp ectativa torna essa parábola sem elhante à "C an ção da V inh a", em Isaías 5.1-7.17.12. deportação do rei e seus nobres. A interpreta­ção da parábola da águia e da vinha é a tomada de Joaquim e sua corte como reféns por Nabucodonosor, após a conquista de Jerusalém, em 597 a.C. (2 Rs 24.6­17). Assim como a vinha bem cultivada, Joaquim é

tratado com dignidade, e as listas de ração dos regis­tros oficiais de N abucodonosor com provam que ele era bem alimentado. Se o modelo de Darúel e de seus três amigos pudesse ser usado aqui, parece provável que Joaquim e seus conselheiros foram assimilados à cultura babilónica para que fossem posteriorm ente recolocados em Jerusalém a fim de servirem o rei como leais administradores (Dn 1.3-5).17.13. m em bro da fam ília real. Após conquistar Jeru­salém em 597 a.C., a Crônica Babilónica registra que Nabucodonosor tom ou o rei Joaquim , filho de Jeoa- quim, como refém. Nabucodonosor em seguida colo­cou o tio de Joaquim , o terceiro filho de Josias, no trono de Judá. Seu nom e era originalmente M atanias, mas o rei babilônio o mudou para Zedequias, como um ges­to demonstrando sua posição como títere (2 Rs 24.17).17.15. a rebelião de Zedequias e relações com o Egi­to. A pesar do exem plo de 597 e da deportação de Joaquim , Z edequias alim entava idéias de rebelião

contra os babilônios. Ele encontrou-se com enviados de Edom, M oabe, Amom, Tiro e Sidom no início de seu reinado (Jr 27.3) e aparentem ente tinha relações com o faraó Psammeticus II (ver o comentário em Jr 34.21). V er o com entário em Jerem ias 37.5-8 a res­peito do movimento das tropas dos egípcios. O faraó A pries pelo m enos esboçou um a breve resposta ao pedido de ajuda de Zedequias, m as não evitou a que­da de Jerusalém.17.17. rampas e obras de cerco. Embora o trecho pre­servado da Crônica Babilónica não contenha um a des­crição do cerco a Jerusalém (ver 2 Rs 25.1), um a opera­

ção semelhante é descrita nos Anais Assírios de Sena- queribe, de 701 a.C.. Pode-se supor que um longo cerco foi planejado, visto que se investiu bastante tempo e trabalho na construção de rampas e torres. Ver os comentários em Jerem ias 6.6 e Ezequiel 4.2 para in­formações a respeito da tecnologia de cercos.17.18. juram ento e tratado. O destino de Zedequias é atribuído à sua incapacidade de honrar seu juramento e cum prir as exigências do tratado. Os tratados firma­dos entre nações continham um a lista de maldições que recairiam sobre a parte que violasse o compro­misso assumido. Esses tratados eram assinados sob juram ento às respectivas divindades. Dessa forma, se o tratado fosse rompido, era responsabilidade do pró­prio deus punir o violador.

17.22. p lantar um renovo de cedro. Assim como a prim eira grande águia arrancara o broto m ais alto do cedro, no versículo 4, agora Yahweh (identificado como a águia) tomaria um renovo tenro e o plantaria num monte alto. Seguindo essa linha de raciocínio, a casa davídica teria perm issão de continuar por meio da linhagem de Joaquim. Metáforas semelhantes para o renascimento da Casa de Davi encontram-se em Isaías11.1 e Jerem ias 23.5.17.23. árvore cósm ica onde anim ais encontram abri­go. O conceito da árvore cósm ica ou "a árvore" era comum em m uitos povos e tradições. A árvore cósmi­ca era um a representação da beleza e da fertilidade; tirava sua seiva das águas da terra e providenciava

abrigo e alimento para todas as criaturas que se ani­nhavam em seus galhos. Em fontes do antigo Oriente Próxim o, sua sim etria e estabilidade servem como oposição à morte e como um a promessa da continui­dade da existência. Por isso, na arte assíria existe uma árvore da vida estilizada que pode ter representado o papel do rei no cuidado por seu povo (ver o comentá­rio em Dn 4.10-12).

18.1-32 Aquele que pecar morrerá18.5-9. confissão negativa do Livro dos M ortos. Vis­to que a alma ou ka dos egípcios mortos seria examina­da por O síris, o deus do m undo inferior, foi elaborada um a cartilha que preparava a pessoa para essa "pro­va final", intitulada o Livro dos Mortos. Sua forma,

com freqüência, pintada ou esculpida nas paredes de túmulos, é originária dos primeiros períodos dinásti­cos (2500 a.C .), e continuou a ser m elhorada pelo menos até 500 a.C.. U m dos trechos mais conhecidos era um a declaração de inocência na form a de um a confissão negativa. Dentre os exemplos encontramos:

"não pequei contra m eu próxim o" e "não maltratei o gado". Um documento semelhante aparece em Jó 31.

18.6. com er nos santuários que há nos m ontes. Su­põe-se que essa seja uma acusação de idolatria pratica­da em lugares elevados (bamôt). Porém, não há para­

lelo na lei bíblica ou na lei do antigo Oriente Próximo que ajude a esclarecer essa prática. Pode ser compara­da à dedicação dos filhos de Jerusalém como alimento aos deuses em 16.20 e à acusação de que o povo de Judá desejava "adorar em toda colina" que havia na terra. Um a condenação semelhante do uso de santuá­rios nos montes encontra-se em Oséias 4.13.18.6. ídolos da nação de Israel. Parece que Ezequiel está usando uma expressão lugar com um cunhada durante o final da m onarquia ou talvez durante o exílio para referir-se à extrema impureza associada à adoração de ídolos. A terminologia que Ezequiel usa é intencionalmente vulgar e caracteriza os ídolos da form a m ais grosseira possível - são com parados a fezes ou a excremento.18.8. usura no antigo O riente Próximo. Em coerência com a lei bíblica, Ezequiel considera a prática de co­brar juros de empréstimos um ato de injustiça. Ver o comentário em Êxodo 22.25 para explicações adicio­nais sobre as práticas de empréstimo de dinheiro no antigo Oriente próximo e o comentário em Deutero- nômio 15.1-11 sobre o sistema financeiro que existia nessas áreas do mundo antigo.18.20. responsabilidade individual no antigo O rien­te Próxim o. Em bora a estrutura social do antigo Ori­ente Próximo fosse prim ordialm ente voltada para a coletividade (tribo,“clã, fam ília), existe um a parcela de responsabilidade individual em obras literárias e filosóficas. Dentre os exemplos disso está a afirmação do épico de Gilgamés. O deus mesopotâmico Ea re­preende severamente o deus principal Enlil por pro­vocar um grande dilúvio sem um motivo justo: "So­bre o pecador imponha seu pecado, sobre o transgres­sor, sua transgressão".18.31. coração novo, espírito novo. Ver o comentário em 11.19.

19.1-14Lamento pelos príncipes de Israel19.1. lam entos no antigo O riente Próximo. Os lam en­tos podiam ser afirmações pessoais de desespero, tais como as encontradas em Salmo 22.1-21, cantos fúne­bres pela morte de uma pessoa im portante (elegia de D avi por Saul em 2 Sm 1.17-27) ou clam or com u­nitário em tem pos de crise, com o o Salm o 137. O lamento m ais famoso da antiga M esopotâm ia é o La­mento pela Destruição de Ur, que relembra a captura da cidade em 2004 a.C., pelo rei elamita Kindattu. Con­tém onze estrofes, cada um a descrevendo um aspecto da destruição da cidade e o fim da dinastia governante

(com pare com Lm 2.9). Subseqüentem ente, a obra teria sido empregada antes e durante a reconstrução dos m uros e dos prédios públicos da cidade. Para mais informações, consulte a nota de rodapé no Livro de Lamentações.19.1-9. caça ao leão, sim bolism o do leão. Devido às m uitas referências em textos israelitas (Is 5.29; Na2 .11,12), egípcios e assírios da associação de reis com leões, não é surpreendente ver Ezequiel empregando essa imagem. Existem inúmeros exemplos de caça a leões. Era um esporte praticado pela coroa e também uma necessidade quando um desses animais se tom a­va um devorador de homens (como na placa assíria de A ssum asirpal II, do século nono, que ilustra um núbio sendo devorado) ou uma ameaça a povoados (como no texto de Mari, onde uma cova foi usada para apanhar o anim al). O sim bolism o desse "lam en to" refere-se a dois dos últim os reis de Judá (provavel­m ente Jeoacaz e Jeoaquim ). Provavelm ente se trata de um trocadilho com a bênção de Jacó a seu filho Judá, em Gênesis 49.8-12, em que ele é descrito como um "leão novo".

19.10-14. analogia da vinha. Existe um forte parale­lo entre esse sím bolo em Ezequiel e a "C anção da V inha" em Isaías 5.1-7. Em ambos os casos, a ira de Deus contra a vinha é resultado de expectativas frus­tradas. Nenhum a das plantas desempenhou seu pa­pel devido. A vinha de Isaías produziu "frutas aze­

das", enquanto a vinha de Ezequiel cresceu "e su­biu m uito, sobressaindo à folhagem esp essa", m as não se faz quase nenhum a m enção a frutos. Toda sua energia fora investida em estender seus galhos mais e mais, um símbolo para a nação de Judá e seus reis (Jeoaquim e Zedequias). O destino é o m esm o para am bas as vinhas. A m bas são arrancadas não restando nenhum a raiz ou galho e se transform am em áreas desérticas e secas pela ação dos ventos. Eze­quiel, dessa forma, apresenta a base do lamento pelo fim da independência da nação e a exclusão da ali­ança de Deus com a Casa de Davi. Ver o comentário em Ezequiel 15.2-7.

20.1-49Acusação, julgamento e restauração20.1. cronologia. Com base no ano em que Joaquim e sua corte foram levados ao exílio babilónico, essa data corresponderia ao dia 15 de agosto de 591 a.C.. É possível que se refira a 593, se a contagem for feita a partir do início do ano em que Joaquim tom ou-se rei em Jerusalém.20.1. con su lta através de um profeta. O s oráculos eram consultados em tempos difíceis. Na prática reli­giosa babilónica, a ocorrência de um presságio podia

levar alguém a consultar um profeta ou sacerdote em busca de uma interpretação. Um evento histórico tam­bém poderia levar a pessoa a buscar um a palavra vinda de Deus. Pode ser que os líderes de Israel espe­ravam dem onstrar sua confiança em Yahw eh com essa atitude. Entretanto, existe evidência também em Jerem ias de representantes do rei (Jr 21 .1 ,2 ) recorren­do ao profeta e virtualmente ordenando-lhe que pro­ferisse um a palavra de salvação para Jerusalém. Não há indício no texto do que poderia ter motivado essa visita ao profeta. Visto que a fala de Ezequiel remete à situação no deserto e faz referência à história inicial de Israel no Egito, pode ser que um acordo potencial entre o faraó Psammeticus II e o rei Zedequias teria causado preocupação entre as autoridades israelitas. A cre d ita -se qu e P sa m m eticu s fe z p ro p o sta s a Zedequias em 592.20.5. ju rar com m ão erguida. Existem muitas referên­cias na Bíblia quanto a fazer um juram ento com a m ão levantada para o céu (ver D t 32.40; D n 12.7). Ezequiel usa a expressão dez vezes, sendo Deus aquele que faz o juram ento com a m ão erguida. Dentre os exemplos

extrabíblicos desse gesto encontram -se os textos de M ari que fazem menção a "tocar a garganta" e uma

inscrição aram aica do oitavo século de Panam m u I, em que um a pessoa acusada recebe a ordem de jurar e erguer as mãos para a divindade.20.6. leite e m el. Essa descrição remonta às narrativas

do Êxodo e refere-se à exuberância da terra prometi­da, propícia para um estilo de vida pastoril, m as não

necessariamente para a agricultura. O leite é o produ­to dos rebanhos, enquanto o mel representa um re­curso natural, provavelm ente o xarope da tâm ara e não mel de abelhas. Os textos egípcios antigos, como o da História de Sinuhe, descrevem a terra de Canaã como rica em recursos naturais e tam bém em produ­tos cultivados.20.12. sábado como sinal. Embora o sinal da partici­pação do indivíduo na aliança fosse a circuncisão, o sinal coletivo da participação de Israel na aliança era a guarda do sábado. Assim como a circuncisão, a guar­da do sábado era uma obrigação permanente exigida a cada geração. Ao contrário da circuncisão, não era um ato praticado uma única vez pelo indivíduo, mas uma atitude que devia ser m antida e expressada pe­riodicam ente. Em vez de repetir a lógica dos dez mandamentos - o sábado devia ser celebrado em co­memoração à criação de Deus - os sábados (o plural talvez signifique todos os dias de festas sagradas em Israel) são citados aqui para relembrar o povo de que eram escolhidos. Nenhum outro povo recebera esse sinal e, portanto, juntam ente com as leis se tom aram ao mesmo tempo uma dádiva e um símbolo da mem-

bresia na comunidade da aliança, conforme estabele­cido em Êxodo 31.13.20.25. le is e decretos que não eram b on s. Os termos hebraicos usados aqui são extremamente importantes para uma compreensão correta desta afirmação contro­versa de Ezequiel. N ão se trata de uma referência à Lei entregue no Sinai, e a palavra "T o rá" não é usada. A palavra traduzida pela N VI como "decretos" é a m es­m a do versículo 24, exceto que está no feminino (como de costum e) e no versícu lo 25 está no m asculino. O termo traduzido como "le is" pela NVI é a palavra para as decisões judiciais de Deus. A conseqüência da infi­delidade de Israel, então, era que Deus decretara even­tos que não lhes favoreciam, e tomara decisões judici­ais que ameaçavam sua sobrevivência. Isso resultou no uso de forças que devastaram Israel, tais como guerra, fom e, pestes e exércitos estrangeiros.20.26. sacrifício do prim ogênito. Acom panhando o tema de Ezequiel sobre o poder indiscutível de Deus de controlar a criação, o decreto de sacrificar o filho

mais velho aqui alude à afirmação de Êxodo 13.2 de que todo primogênito, humano e animal, pertencia a Deus. Isso é demonstrado na décima praga do Egito (Êx 13.14-16), mas é amenizado ou "redim ido" atra­vés de um sacrifício (Êx 34.20) e do ato sacrificial da circuncisão (Gn 17.9-14; Êx 22.29). Na religião fenícia e cananéia, porém , o sacrifício do prim ogênito era um a prática comum (ver o comentário sobre "quei­m ar os filhos em sacrifício" como parte da adoração a M oloque em D t 18.10). M ais próxim o à época de Ezequiel, os reis Acaz e M anassés são acusados de oferecer seus filhos em sacrifício (2 Rs 16.3; 21.6). Uma vez que esses homens eram descendentes de Davi e participantes da "aliança eterna" com Yahw eh (2 Sm 23.5), guardiões da Lei e executores do decreto divino e civil, seus atos detestáveis poderiam facilmente se encaixar à im agem de "leis e decretos que não eram bons", de Ezequiel 20.25.20.28, 29. adoração ilícita . Ezequiel continua a con­trastar a fidelidade de Deus em cumprir a promessa

contida na aliança dando aos israelitas "terra e filhos", com o uso indevido que os israelitas fizeram dessas dádivas vindas de Deus. Cada um a das quatro práti­cas de adoração alistadas aqui, com a exceção possível das ofertas de bebidas (libações), reflete atividades associadas ao culto a Yahweh. No entanto, são descri­tas como ilícitas porque claramente eram dedicadas a outros deuses, visando "a lim en tá-los", um aspecto bastante comum da religião mesopotâmica e cananéia. Em vez de oferecer sacrifícios que produzissem um "arom a agradável" (ver G n 8.21) e dem onstrassem

uma atitude correta em relação a Deus, essas ofertas estavam ligadas à crença de que os deuses precisa­

vam de refeições regulares (presente nos deuses fa­

mintos do épico de Gilgam és sobre o dilúvio). Ver os

com entários em Ezequiel 6.13 a respeito de outras condenações de práticas idólatras de adoração e do uso de montes e bosques sagrados.

20.32. servir à m adeira e à pedra. Os profetas regu­larm ente zom bam das outras nações e tam bém dos

israelitas por servirem a deuses feitos de metal, m a­

deira e pedra (ver Jr 51.17, 18; Os 8.4). Arqueólogos

descobriram m oldes de pedra em que m etal derreti­

do era derramado para confeccionar ídolos. Presume- se que essas imagens depois eram levadas à presença

dos deuses que representavam , e dedicadas através

de rituais como o encantamento da "abertura da boca",

encontrado em textos religiosos babilónicos.20.46. floresta do sul. O termo para sul ou terra do sul

usado aqui é Neguebe, geralm ente associado com a

região desértica do sul de Judá. N esse caso, Ezequiel

parece simplesmente estar usando o termo como um

ponto de referência (ver Ez 40.2; 46.9 para outros exemplos). Visto que a área do N eguebe não contém

florestas, a sugestão de que a "floresta" mencionada

aqui seja Jerusalém faz sentido.

21.1-32Babilônia, a espada do juízo divino21.3. exércitos inim igos como castigo divino. Desde

o final do terceiro milênio, a invasão de exércitos era

interpretada como ações intencionais de uma divin­

dade padroeira que estava irada por causa do com­portamento de seu povo (a invasão gutiana que pôs

fim ao império de Agade, na M aldição de Agade). Na

Mesopotâmia, essa teologia tradicional é representa­da tam bém na retórica de Ciro em relação à queda

dos babilônios que teria sido resultado do desconten­tamento de M arduque com Nabonido.21.18-20. estradas para R abá e Jerusalém . Os movi­

m entos do exército babilónico são abordados nessa

ordem de desenhar um m apa na areia. Ezequiel traça

o m ovim ento das tropas até uma bifurcação, parecida

com a de Damasco, e dali a decisão tem de ser feita quanto a dividir o exército em dois grupos ou escolher

uma única direção e prosseguir. Conform e indicas­sem os presságios, seguiriam para o sul pela Estrada

do rei (Nm 20.17) até a capital am onita de Rabá (37

quilôm etros a leste do rio Jordão). Se os presságios fossem outros, virariam para o oeste pela região de

Golã, ao norte do m ar da Galiléia. O exército viajaria pelo sul até Bete-Seã, depois para o oeste, passando

pelo vale de Jezreel até M egido e dali para o sul, ao longo da estrada costeira. Ou pode ser que seguiria

por uma rota mais direta ao longo do rio Jordão, até

Jericó, antes de virar para o oeste na região m onta­nhosa da Judéia para cercar Jerusalém.21.21. presságios em viagens. D ada a gravidade da situação, a decisão de N abucodonosor de buscar a orientação dos deuses é facilm ente com preendida. D iante da bifurcação da estrada, um ponto im por­tante para a ação divina (ver Jr 6.16), ele faz uso de

diversos meios de adivinhação, lançando sortes para determinar qual cidade inimiga (Rabá ou Jerusalém) deveria ser atacada primeiro. Cada técnica tem o ob­jetivo de descobrir a vontade da divindade. Um para­lelo notável aparece em um texto de M ari em que um a consulta é fe ita para determ inar qual de três rotas deveria ser seguida.21.21. sorte com flech as e exam e de fígado. Nabu­codonosor faz uso da belomancia, sacudindo um pu­nhado de flechas e depois escolhendo uma. Ele tam­bém consulta as imagens dos deuses da fam ília que trouxera junto com o exército. O texto aqui se refere aos terafins, que hoje são consideradas as imagens dos ancestrais e não imagens de divindades (ver o comen­tário em G n 31,19). E por último, ele ordena a seus sacerdotes adivinhos que exam inem o fígado de uma ovelha (hepatoscopia). Essa prática era tão comum

que modelos de fígado feitos de argila foram criados como recursos didáticos para a educação de aprendi­zes de sacerdotes.

21.22. aríetes, rampas e obras de cerco. Ver o comen­tário em Ezequiel 4.2 acerca do uso dessas máquinas e métodos de cerco.

21.26. turbante e coroa. Com base em descrições con­tidas em textos mesopotâmicos e representações artís­ticas nas paredes de palácios assírios, parece que a "coroa" do rei de fato era mais parecida com um tur­bante. U m tecido era enrolado várias vezes em volta da cabeça, tinha jóias incrustadas e ornam entos de ouro e era ricamente bordado com símbolos da m ajes­tad e do rei. Ao m andar que Z edequias re tire seu turbante, Ezequiel está ordenando ao rei que renun­cie a seu principal símbolo de poder, visto que não mais m erece usá-lo.

21.28. am onitas. Assim como Judá, A m om estivera envolvido em atividades anti-Babilônia, provavel­mente incitado pelos egípcios. O presságio menciona­do em 21.20 levou Nabucodonosor a atacar primeiro Jerusalém , em vez de atacar Rabá, a capital amonita, atual Jebel Q al'a. Nos dias de hoje fica no m eio da atual cidade de Am ã, mas foi pesquisada e parcial­mente escavada. A ocupação do local e suas redonde­zas remonta aos tempos paleolíticos. Embora ocasio­nalm ente estivessem sujeitos ao governo israelita (ver2 Sm 12.26-31), após a destruição de Jerusalém os amonitas tentaram expandir seu domínio para o nor­

te. Josefo observa que cinco anos após a destruição de Jerusalém , no vigésim o terceiro ano do reinado de Nabucodonosor (582/581 a .C ), o rei babilônio fez cam­panha na Transjordânia, sujeitando M oabe e A m om a seu domínio. Visto que quase nenhuma das Crônicas Babilónicas foi preservada além de 594, não se pode confirmar esse dado.

22.1-31Os pecados de Jerusalém22.6-12. lista de crim es. A lista de acusações lida por Ezequiel condena o povo de Judá e seus líderes por uma série de crimes que violam os elementos básicos do Código de Santidade de Levítico 18-20. O s peca­dos vão desde não honrar aos pais até profanar o sábado e demonstrar diversos comportamentos lasci­vos. Listas como essa também se encontram no ser­mão de Jerem ias no templo (Jr 7.6-11) e na profecia de Amós contra a nação de Israel (Am 2.6-12). O tema da corrupção m oral e religiosa também está presente no texto egípcio do século vinte a.C., Disputa Entre um Homem e Sua Ba, que acusa "todos são ladrões, não há amor entre vizinhos... todos escolhem fazer o m al". M uitas ofensas semelhantes tam bém ocorrem em lis­tas de rituais babilónicos de absolvição (shurpü).22.18. escória na fornalha. No processo de fundição, a prata era separada do chum bo e de outros m etais (cobre, estanho e ferro) através de um processo di­vidido em duas etapas. D urante a segunda etapa, após todos os vestígios de enxofre terem sido removi­dos, a prata era liqüefeita, enquanto a escória de chum­bo flutuava na superfície e podia ser coada. A m etáfo­ra de Ezequiel sugere que Judá teria de passar por uma profunda purificação (a experiência do exílio) a fim de que a escória representada por sua imoralida­de, ausência de lei e rom pim ento da aliança fosse removida por meio da ardente ira de Deus (ver MI

3.14). Ver o comentário em Jerem ias 6.28.22.20. m etalurgia. O processo de fundição continua com D eus colocando na fornalha diversos metais, in­clusive a prata que representa Judá. Para aum entar o nível de oxigênio e a temperatura do fogo, em vez de foles, o sopro divino é usado. O fato de que o ferreiro nem sempre usava foles pode ser visto em um a pintu­ra egípcia que ilustra um metalúrgico soprando o ar no interior de uma fornalha através de um cano. A s­sim como os exilados, cada metal, enquanto está na

fornalha, existe num estado interm ediário , sendo transformado, purificado ou fundido com outro metal. A fornalha aqui e em outros contextos portanto é o cadinho da mudança social e religiosa idealizada como veículo de Deus para purificar um a nação teimosa e desobediente. Para m ais informações sobre as forna­

lhas desse período, ver o comentário em Daniel 3.6.22.28. visões fa lsas e adivinhações m entirosas. Como na condenação anterior dos falsos profetas (Ez 13.6-9), Ezequiel os acusa de inventar visões e revelações de adivinhação para seus próprios interesses. Jerem ias faz a m esma acusação a profetas que profetizam m en­tiras no nom e de Yahw eh (Jr 29.8, 9). V er o comentá­rio em Ezequiel 13.10 para outro exemplo de profetas "caiando" a verdade com suas falsas afirmações. Os sacerdotes babilónicos baru eram responsáveis pela leitura de presságios, mas eram hum ilhados ou dis­pensados se fizessem um a falsa predição. Caso não cumprissem os procedimentos rituais adequados tam ­bém podiam ser acusados.

23.1-49As duas irmãs adúlteras23.3. prostituição no antigo O riente Próximo. Ver ocomentário em Ezequiel 16.15 para informações sobre a prostituição no m undo antigo. O com entário em Deuteronômio 23.17, 18 oferece uma descrição mais com pleta da prostituição cultual. A s referências de Ezequiel, porém, são à idolatria de Israel e de Judá, por terem tomado "am antes" (i.e., outros deuses) do Egito da Assíria (compare com a m etáfora do casa­mento de Oséias com sua esposa Gômer, em Os 1-3).23.3-5. referências histórias ao Egito e à A ssíria. As manobras políticas em busca de poder entre o Egito e a Assíria significavam que tanto Israel quanto Judá

tinham de m anter relações com essas potências. Os flertes condenados por Ezequiel eram reflexos de aco­

modações políticas impostas a nações menores. Hou­ve inúmeros contatos entre Israel, Judá e os faraós da 25a Dinastia do Egito, inclusive negociações diplomá­ticas e possíveis alianças (tais como a que temporaria­mente levou as tropas egípcias ao auxílio da Jerusa­lém sitiada, em 597). Evidência dos laços de Israel com a Assíria pode ser vista na ilustração de Jeú cur­vando-se diante de Salm aneser III, no Obelisco N e­gro, e na inscrição dos anais de Tiglate-Pileser III em que M enaém paga tributo. Judá tam bém teve de sub­meter-se ao poder assírio, como é possível constatar no grito de ajuda de Acaz durante a G uerra Siro- Efraimita (2 Rs 16.7-9) e no resgate pago por Ezequias ao exército de Senaqueribe (2 Rs 18.13-16). Além dis­so, a m aior parte dos m ais de cinqüenta anos do reina­do de Manassés foi gasta em submissão aos suseranos assírios.23.6. vestidos de verm elho. Evidências arqueológi­cas têm demonstrado que um molusco marinho (Murex trunculus) era coletado em grandes quantidades na costa da Fenícia como fonte do precioso corante púr­pura (ver Ez 27.7). Visto que era necessário um gran­

de número de moluscos para extrair corante suficiente de suas glândulas hipobranquiais, a fim de que fosse viável comercialmente, o custo do corante era muito alto (para mais informações, ver o comentário em Nm4.6). Logo, o fato de esses oficiais m ilitares estarem usando roupas dessa cor é um indício de alta patente e ao mesmo tempo de riqueza.23.6. cavaleiros. As unidades de cavalaria eram em­pregadas pelos exércitos da A ssíria e da Babilônia (mencionadas nos anais assírios de Tukulti-Ninurta II, do nono século). Porém, o termo hebraico usado aqui é m ais sugestivo para condutores de carros, devido ao p ara le lo do term o acad iano (h ebraico p arasim e acadiano Parassannu). Observe a contribuição do rei Acabe com dois mil carros para a força que enfrentou o rei assírio Salm aneser III, na batalha de Qarqar, em 853 a.C..

23.14. hom ens desenhados num a parede. Uma dasmaneiras padronizadas de decorar paredes e portas de palácios mesopotâmicos era com figuras de solda­dos, reis e animais simbólicos (tais como os dragões da Porta de Istar da Babilônia). Por exemplo, o palácio assírio de N ínive tem preservadas cenas de guerra, caça e de figuras divinas e reais. M uito do que sabe­mos a respeito da aparência e vestim enta dos solda­dos e também de técnicas m ilitares e armas origina-se desses relevos. Em bora grande parte da pintura já tenha se esvaído, é evidente que essas figuras em algum momento tinham cores, eram vivas e vibran­tes, em alguns casos eram de tamanho maior que o natural, e, sem dúvida, amedrontadoras para os po­vos dominados. Por associação é possível que tal po­der tam bém fosse sedutor para os líderes de Judá, como Ezequiel sugere.23 .14 .15 . caldeus em verm elho. Infelizmente grande parte das pinturas de parede e relevos é assíria ou persa, nos deixando com pouca informação a respeito dos detalhes das vestes babilónicas. A partir dos dese­nhos que existem, esses homens deviam usar cinturões bordados e ornamentados (ver Is 5.27). Os soldados babilónicos são retratados com chapéus e turbantes com longas borlas na ponta.23.15. o ficia is responsáveis pelos carros. Os carros assírios e babilónicos geralmente transportavam três homens: um condutor, o comandante que empunha­va arco e lança e um escudeiro, que tam bém dava as armas ao comandante, conforme se fazia necessário. O term o acadiano para esse indivíduo era salsu, e pode ser um cognato para a palavra hebraica salisim usada aqui (o radical hebraico dá algum indício de que existia algum a relação com "trê s"). Tem sido sugerida a alternativa de que o termo refere-se a um oficial do terceiro escalão ou patente.

23.15. Caldéia. Durante o sexto século a Babilônia foi governada por um a dinastia não nativa de caldeus. Eles haviam aparecido inicialm ente no nono século em áreas ao sul da Babilônia. Embora sua estrutura tribal fosse semelhante à dos arameus vizinhos, for­m avam um grupo distinto. N a época de Ezequiel, cham ar alguém de caldeu (kasàim ) era reconhecer a elevada posição daquela pessoa.23.23. Pecode, Soa e Coa. Em bora esses nomes étni­cos refiram-se a aliados babilónicos que habitavam a região Trans-Tigre, também têm um significado que dá calafrios: "Castigo, Grito de Guerra e Grito Agu­do". Pecode era um a tribo araméia (ver Jr 50.21) men­cionada nos anais de Tiglate-Pileser III. Soa provavel­mente se refere aos suti, que se destacaram como uma tribo difícil de adm inistrar pelos reis am orreus de Mari. Coa atualmente é desconhecida, embora alguns estudiosos a identifiquem com Guti.23.24. arm adura e equipam ento. Os condutores de carros de guerra, conform e retratados em relevos assírios, usavam capacetes pontudos ou turbantes e m alhas de ferro sobre a parte superior do tronco, e eram protegidos por escudos redondos. A infantaria, embora não tão fortem ente equipada devido à neces­sidade de m aior flexibilidade e velocidade, portava grandes escudos redondos. Sua farda era presa por um cinto cruzado e a cabeça era protegida com um capacete cônico. Cada guerreiro lutava com lanças, espadas, machados ou clavas (ver a lista da infantaria de Uzias, em 2 Cr 26.14).23.25. desfiguração do rosto. Embora não fosse raro que os conquistadores desfigurassem o rosto de al­guns de seus cativos, tam bém é possível que a m e­táfora do casamento se aplique aqui como castigo à infiel O olibá/Jerusalém . É provável que Ezequiel conhecesse o Código de Leis da M édio-Assíria ou al­guma legislação semelhante relacionada aos direitos que o m arido tinha de castigar sua esposa. D e acordo com essas leis assírias, o marido podia cortar fora o nariz da esposa e m utilar a face da adúltera e transfor­mar-se em eunuco.23.37. filh o s oferecidos em sacrifício aos íd olos. Arespeito dessa acusação de sacrifício humano, ver o comentário em 16.20.23.38. contam inar o santuário. O sacrifício de crian­ças, o derramamento de sangue inocente haviam con­taminado as mãos do povo de Jerusalém e ainda as­sim tinham a audácia de fazer essas ofertas a outros deuses e entrar no santuário de Yahw eh (compare com Jr 7.9-11). A contaminação do santuário era uma acusação muito grave. Colocava em risco o indivíduo e a cidade (visto que ficavam à mercê de uma divin­dade ofendida), e, além disso, podia afastar a divin­dade dali. Ao levar sua im pureza ao santuário de

Yahw eh teriam contaminado o lugar sagrado, tornan­do impossível que a presença santa de Deus ali per­manecesse (ver Ez 10).23.38. profanar os sábados. Ver o comentário em 20.12 a respeito do significado do sábado como um sinal da aliança. Assim como a violação do recinto sagrado do templo poderia resultar na perda da presença de Deus, a violação de datas sagradas poderia colocar em risco o equilíbrio mantido pela presença de Deus. O tem ­plo era o lugar onde Deus repousava; era um lugar de equilíbrio perfeito. O sábado era um dia reservado para que o povo espelhasse esse equilíbrio em suas vidas e refletisse na origem dele. A incapacidade de guardar o sábado significava ameaçar desfazer esse equilíbrio e caminhar em direção ao caos. A profana­ção desses dias e eventos sagrados violava o cerne do pacto da aliança e, como em qualquer tratado do anti­go Oriente Próxim o, ativava a cláusula de maldição ou castigo.23.40. olhos pintados. Em todo o mundo antigo, as mulheres costumavam delinear e acentuar o formato dos olhos com um cosmético em pó (galena [preto] ou malaquita [verde]) misturado com óleo ou água (ver o comentário em 2 Rs 9.30). Fontes babilónicas mencio­nam a pintura dos olhos que incluía estíbio (trisulfeto de antimônio). Paletas ou estojos decorados eram usa­dos para moer o minério e misturá-lo para aplicação. Esses estojos foram encontrados em muitas localida­des da Idade do Ferro II em Israel, inclusive Megido.23.41. belo sofá. A Jerusalém adúltera é retratada de forma bastante semelhante à prostituta de Provérbios7.10-23. Ambas seduzem seus amantes com um sofá convidativo, incenso e palavras persuasivas. Antes do período helenístico, todas as referências a sofá são associadas a quartos de dormir (ver 2 Sm 4.7; SI 6.6) e não a salas de jantar.23.41. incenso e óleo sobre a m esa. A ntecipando a atividade sexual, a Jerusalém adúltera havia perfu­mado seus aposentos com incenso (ver Ct 1.3; 4.10) e tinha à mão óleos perfumados para o cabelo e o corpo (Et 2.12). Imagens semelhantes encontram-se nas can­ções de amor do Egito, descobertas por arqueólogos no templo de Carnac, em Luxor.23.42. sabeus. Não se sabe se o texto se refere ao gru­po tribal árabe conhecido com o sabeus (ver Jó 1.14, 15; J1 3.8) ou aos líd eres em briagad os de pequenas tribos nômades; a questão principal é enfatizar a indi­gnidade de um a adúltera cujos am antes são bader­neiros e estrangeiros.

24.1-27 A panela24.1. cronologia. Com base no ano da ascensão de Zedequias (596 a.C.), a data do início do cerco a Je­

rusalém pelo exército de Nabucodonosor seria 5 de janeiro de 587 a.C. (o décimo dia do décimo mês [tebet] do nono ano de Zedequias; essa data tem sido calcula­da também como 15 de janeiro de 588).24.3. panela. As panelas geralm ente eram vasilhas de cerâmica de boca larga, em bora nesse caso fosse um a panela de bronze (v. 11). Quando confecciona­das para uso no tem plo, as vasilhas eram feitas de prata ou ouro. D isponíveis em diversos tam anhos, podiam ser usadas sobre o fogo se colocadas sobre um a plataforma ou tripé de pedras como na narrativa de 2 Reis 4.38. Acerca do uso de um a panela como parte de um oráculo profético, ver a "panela ferven­do" em Jeremias 1.13.24.6. panela e sorteio. Ezequiel provavelm ente está descrevendo o conteúdo da panela (os m elhores peda­ços de carne, v. 4) e não a panela em si, como suja ou encardida. O sorteio seria feito para decidir que peda­ços seriam reservados para uso especial (talvez como

dádivas ao templo). Mas nessa analogia, embora fos­sem os melhores pedaços de carne, tinham se estraga­do e não eram qualificados para o uso sagrado.24.7. derramar sangue. Por ser a essência da vida, o sangue não devia ser consumido pelos israelitas. Ver os comentários em Deuteronômio 12.16 e Levítico 17.11, 12. Aqui, porém, a questão não é o consumo do san­gue, e sim a exposição dele. Quando o sangue de um animal era derramado, tinha de ser coberto com terra (Lv 17.13). O sangue exposto "pediria" vingança (Gn37.26).

24.10. tem peros. Em receitas babilónicas do século dezoito a.C. os tem peros para carnes e cozidos in­cluíam sal, cebola, alho-porro, hortelã e alho. Nesses preparados antigos, os cozinheiros acrescentavam sa­bores especiais com eiva-doce, coentro, com inho e endro. Considerando a natureza metafórica dessa re­feição, a carne bem cozida pode até mesmo se referir a corpos sendo preparados com especiarias para o

sepultamento.24.10. carbonizar os ossos. A carne era tão bem cozi­da que se soltava dos ossos. Os ossos então eram que­brados para que o tutano se misturasse aos ingredien­tes e desse mais sabor ao ensopado. Quando isso era despejado, o que sobrava era virtualmente uma m as­sa inútil de pedaços carbonizados. Para serem jogados fora eram queimados tão completamente que literal­m ente se dissolviam e podiam ser espalhados por

cima do monte de lixo (compare com Ez 22.15). Um trabalho completo de purificação ou destruição pode ser extraído dessa metáfora.24.17. atos de luto. Para outros exemplos de práticas de luto, ver os comentários em Levítico 19.28 e Deu­teronôm io 14.1, 2. Assim como Jerem ias (Jr 16.5-7),

Ezequiel recebe a ordem de não envolver-se em ex­pressões costumeiras de luto e pranto. N a verdade, ele deve vestir um turbante festivo e usar suas sandá­lias como se nada anormal tivesse acontecido.

25.1-7Profecia contra Amom25.1. profecias contra nações estrangeiras. Ver o co­m entário em Jeremias 46.1.25.2. am onitas no in íc io do sexto século. Em bora A m om se sentisse à vontade para zom bar de Jerusa­lém por causa do cerco e destruição sofridos (ver Ez 21.28) pelos israelitas, Nabucodonosor eventualmen­te conduziria suas forças contra esse reinado transjor- dânico. De acordo com Heródoto, a campanha contra Am om ocorreu em 582 a.C. e resultou na devastação

completa da área. A descoberta de impressões de selo que datam do período persa levantou a questão agora

se houve deportação significativa de sua população. Esses selos indicam um a continuidade da cultura amonita e de sua existência política até o quarto século a.C.. Ver o comentário em Jeremias 49.2.25.4. povo do oriente. Como em Jerem ias 49.28, esse grupo nômade é associado aos povos da região desér­tica de Midiã (ver Jz 6.3). Suas caravanas transportavam mercadorias de diversas nações da Transjordânia e da Palestina, e eram um alvo de exércitos invasores (Is11.14). Nesse caso, porém, esse povo tribal habitaria as terras dos amonitas. Isso remete ao texto egípcio Visões de N eferti que tam bém m enciona as "tribos do deser­to" assentando-se em áreas anteriorm ente ocupadas.25.4. fru tas e le ite . A bênção-padrão dizia que al­guém devia desfrutar do fruto de seu trabalho e de suas vinhas (SI 128.2; Is 3.10). Nesse caso, no entanto, o fruto do trabalho seria tomado por invasores (com­pare com Ez 23.29). Tanto os produtos agrícolas quan­to a produção dos rebanhos seriam confiscados e toda a economia ficaria arrasada.25.5. Rabá. V er os com entários em Jerem ias 49.2 e Ezequiel 21.18-20.

25.8-11Profecia contra Moabe25.8. M oabe no início do sexto século. Moabe estava entre as nações representadas no encontro estratégico de Zedequias, em 597 a.C. (Jr 27.3). Embora aparen­temente tenha sobrevivido e servido como um lugar de refúgio para os judeus que fugiram da destruição de Jerusalém , em 587, seu papel como perturbador potencial na região não foi esquecido. Josefo registra um a campanha posterior conduzida pelo rei babilônio em 582-581 para conter tanto Am om quanto Moabe. Não há evidências suficientes que demonstram o quan­

to essa campanha foi eficaz de fato, mas, assim como Am om , Moabe provavelm ente sobreviveu para tor­nar-se parte do Império Persa no final do sexto século.25.9. cidades. Todas essas cidades compunham a li­nha ocidental de defesa de M oabe. Bete-Jesimote (Tell 'Azeim eh) ficava no vale de Sitim , ao norte do m ar Morto. Baal-Meom, mencionada na Esteia de Messa, geralm ente é identificada com Khirbet M a'in, cerca de seis quilômetros a sudoeste de M adaba e 21 quilô­m etros a sudeste de Bete-Jesimote. Quiriataim tam ­bém é alistada na Esteia de M essa e provavelmente ficava no planalto moabita (Js 13.19). Foi identificada com diversas localidades, inclusive el-Qereiyat e Jalul, mas não há consenso acerca de sua localização.

25.12-14Profecia contra Edom25.12. Edom no in ício do sexto século. Edom aparen­temente permaneceu neutro ou a favor da Babilônia

(SI 137.7) durante os conflitos que culminaram na des­truição de Jerusalém. Jeremias 40.11 indica que Edom não aceitou refugiados judeus após 587 a.C.. Nabu­codonosor aparentem ente não estendeu sua campa­nha na Transjordânia, em 582, até Edom , m as seu

sucessor Nabonido registrou em sua Crônica um cerco à cidade edomita de Bozra, em 552 a.C.. Escavações arqueológicas em Buseira e Tell el-Kheleifeh indicam sedimentos de destruição durante esse período segui­dos por uma rápida reconstrução e retomada da ativi­dade econômica ao longo da cadeia ao sul da Estrada do rei.

25.13. Tem ã e D edã. Para descrições dessas cidades, ver o comentário em Jeremias 49.7 e 49.8.

25.15-17Profecia contra a Filístia25.15. F ilístia n o in ício do sexto século. A omissão de cidades da Filístia na lista de nações representadas no encontro de Zedequias em 597 (Jr 27.3) sugere que essa área estava debaixo do forte controle dos babilônios naquela época. Essa região fora severam ente enfra­quecida pelas campanhas do faraó Psammeticus I, no final do sétimo século, à medida que o controle assírio se enfraquecia ali (ver Jr 25.20; S f 2.4). Os filhos do rei de Ascalom são registrados na lista de rações da Ba­bilônia que datam de 592, indicando que eram re­féns. Quando os filisteus juntaram -se à revolta judaica de 588, Nabucodonosor os deportou e aparentemente os assentou perto de Nipur. No período persa, uma pequena parcela da população filistéia nativa perma­neceu na Filístia.25.16. queretitas. Ezequiel cria um paralelismo poéti­co entre os filisteus e os queretitas, embora ainda não

fique claro se esses dois povos de fato estavam rela­cionados étnica ou historicamente. Os queretitas são associados com freqüência à ilha de Creta, e parece que se transformaram em mercenários pouco depois de sua migração para a costa sul da Palestina, perto de Gaza (ver 1 Sm 30.14; 2 Sm 8.18).

26.1-28.19 Lamento e profecia contra Tiro26.3. Tiro no in ício do sexto século. Após a derrota do Egito em 605 a .C , Tiro era o principal inimigo da Babilônia no oeste da Ásia. Era a cidade m ais im por­tante da Fenícia e famosa por seu comércio marítimo. A fastada da costa aproxim adam ente 550 m etros, a cidade de Tiro e seu porto estavam protegidos de tudo, exceto de um cerco prolongado. As águas tam ­bém eram profundas o bastante para perm itir que navios com cargas pesadas se aproximassem e descar­regassem seus carregamentos. Dedicada à atividade comercial, o abastecimento de comida e outros itens essenciais de Tiro eram fornecidos pela cidade irmã de Ushu. A s frotas de Tiro estabeleceram colônias, inclusive algumas em Chipre, em Cartago, cidade no norte da África, e ao redor do Mediterrâneo para ex­

trair os recursos dessas áreas, especialmente metais, e para canalizar mercadorias entre o Mediterrâneo ori­

ental e ocidental. Evidências arqueológicas de traba­lhos fenícios em cerâmica e metais nessa região indi­

cam a extensão e a longevidade das relações comerci­ais. Seus principais produtos de exportação incluíam o

cedro, tecidos e tinturas e vidro. De acordo com Josefo, Tiro e seu rei Etbaal III estiveram envolvidos em inú­meras coalizões e conspirações contra os babilônios.26.7. o cerco de N abu cod on osor a T iro . Segundo Josefo, o cerco babilónico a Tiro durou treze anos (c. 586-573 a.C.). Um texto babilónico afirma que Nabu­codonosor esteve presente no cerco. Aparentemente o longo cerco terminou com um tratado estipulando que a casa real de Tiro seria deportada para a Babilônia. Em bora o rei de Tiro tivesse permissão de ficar, ele ficou sob o controle de um comissário babilônio. A resistência de Tiro foi inteiramente esgotada após esse longo cerco.

26.8. obras de cerco e rampa. O escritor tem um co­nhecimento íntimo das técnicas de cerco que envolvi­am a construção de aclives e ram pas ao redor dos m uros da cidade a ser sitiada. Existem amplas evi­dências de ram pas de cerco em relevos de paredes assírios e um a ram pa usada pelos assírios em sua bem-sucedida conquista de Láquis que foi desenter­rada nessa fortaleza judaica. Tiro era especialm ente difícil de invadir porque grande parte da cidade fica­va num a ilha afastada da costa.

26.8. arm ar b arreira de escud os. U m a barreira de escudos era armada em cima dos aríetes para prote­ger os atacantes quando essa estrutura se aproximava dos muros da cidade.26.9. aríetes. Aríetes eram ilustrados com freqüência pelos assírios como grandes estruturas de madeira com rodas usadas para derrubar as portas de uma cidade.26.10. cavalaria e carros de guerra usados pelos bab i­lônios. Os caldeus eram famosos pelo uso de cavala­ria e carros de guerra, uma herança dos assírios (ver o com entário em Jr 6.23). Os assírios com freqüência ilustravam carros puxados por cavalos em m eio a ba­talhas em seus relevos de parede.26.11. resistentes colunas. A s resistentes colunas pro­vavelm ente são uma expressão simbólica para o fim da resistência. Porém, Heródoto menciona colunas de ouro e esmeralda que adornavam o templo de Heracles (Melqart) em Tiro. Relevos de paredes assírios ilus­tram duas colunas externas em um templo de Tiro.

27.3. posição de T iro com o cidade m ercantil. Tiro tinha dois importantes portos marítimos: um natural, ao norte, e um artificial, ao sul. N essa época, Tiro funcionava como um revendedor para o mundo me­diterrâneo, levando e trazendo produtos de portos distantes por m ais de meio milênio.27.5. p inheiros de Senir. O tipo de árvore menciona­do provavelm ente é da variedade dos juníperos, a sabina oriental. De acordo com Deuteronômio 3.9, o monte Senir era o nome amorreu do monte Hermom, na parte sul da cadeia Anti-Líbano, a leste do vale de Baca. Os assírios o chamavam de Saniru.27.5-7. m aterial para construção de navios. O materi­al alistado aqui era de excelente qualidade no leste do M editerrâneo. Pinheiro e abeto eram preferidos pelos egípcios para mastros e vergas. Os remos de madeira alinhados dos dois lados dos birremes fenícios (barcos com duas fileiras de remos) eram feitos da madeira mais resistente. M arfim incrustado era importado de Quitiom, na ilha de Chifre. Diversos tipos de linho do Egito eram produtos muito procurados nessa região. Os corantes usados para os toldos eram os m ais caros.27.7. Elisá. A localização das ilhas de Elisá é incerta. Elisá era um dos filhos de Javã (Gn 10.4). O nome era aplicado a uma colônia de Tiro, fam osa por seus co­rantes. Elisá provavelmente é a Alashiya dos tabletes de A m am a, geralmente designada como Chipre. Sete tabletes de A m am a m encionam um rei de Alashiya que escreveu cartas aos monarcas egípcios no século treze a.C..27.8. Sidom e Arvade. Sidom e Arvade eram cidades fenícias que ficavam na costa do M editerrâneo, ao norte de Tiro. Arvade ficava 176 quilômetros ao nor­

te, enquanto Sidom ficava a cerca de 40. Parece que nessa época eram subordinadas a Tiro. Ambas as ci­dades são mencionadas com freqüência nas cartas de A m am a e nos anais assírios.27.9. G ebal. Assim como Sidom e Arvade, Gebal (ou

Biblos) era um a cidade fenícia da costa mediterrânea, ao norte de Tiro, a cerca de 96 quilômetros. Aparente­mente estava num a posição subordinada à sua vizi­nha do sul. Biblos foi um parceiro comercial do Egito no terceiro m ilênio a.C. e figurou com destaque nos textos de A m am a e nos anais assírios.27.10. os persas, os líd ios e os hom ens de Fute. Ao alistar a Pérsia, Lídia e Fute, Ezequiel queria dizer os povos que viviam nas partes m ais remotas do mundo conhecido de então. A Pérsia ficava no oeste do Irã e a Lídia no centro da Turquia, enquanto Fute pode ser um a referência aos líbios, a oeste do Egito.27.11. Arvade, H eleque e Gam ade. A cidade de A r­vade já apareceu no versículo 8. Heleque (hebraico, "seu exército") não é confirmada em nenhuma outra passagem do Antigo Testam ento como um topónimo. No entanto, tem sido associada a Hilakku (Cilicia, no sudeste da Turquia) nos anais assírios. A localização de Gam ade é incerta, m as pode ser identificada com Q um idi, nos tabletes de A m am a, possivelm ente ao norte de Tiro, na costa mediterrânea.27.12. Társis. Társis era associada à indústria de me­tais. O s anais do rei assírio Esar-Hadom associam um lugar chamado Társis com Chipre e outras ilhas. Ha­

via tam bém um a Tartessus m encionada em fontes clássicas como uma colônia ferúcia no oeste da Espanha.27.13. Javã, T u b al, M esequ e. Jav ã (ou Jônia) era a designação bíblica para a Grécia. Tubal (Taballu) era a designação assíria para um reinado no centro da Anatólia. Assim como Tubal, M eseque (Mushku) era alistado nos anais assírios como um reinado do centro da A natólia. A m bos tinham relações ru ins com a Assíria.27.14. Bete-Togarm a. É provável que Bete-Togarm a fosse a capital de Kammanu, um reinado do centro da Anatólia. Era citado em fontes hititas como Tegara- mara, e em fontes assírios como Til-Garimmu.27.15. Rodes. A menção a Rodes aqui é problemática nos primeiros m anuscritos do Antigo Testamento. Em outros aparece Danuna, uma região ao norte de Tiro m encionada nas cartas de Amar na.

27.16. Arã. Arã refere-se ao interior da Síria, desde a Alta M esopotâmia, no norte, até D amasco, no sul.27.17. M in ite . M inite era um a região am onita da Transjordânia mencionada em Juizes 11.33. Eusébio, o historiador da igreja do século quatro d.C., a identi­ficou com a cidade de Maanite, a cerca de seis quilô­m etros de Hesbom.

27.18. H elbom , Zaar. H elbom é identificada com a cidade assíria de Hilbinu, a atual Helbun, dezesseis quilômetros ao norte de Damasco. Zaar (ou Saar) pro­vavelm ente era o deserto de es-Sahra, a noroeste de Damasco.27.19. gregos de U zal. U zal provavelm ente seja Iza- 11a, um a localidade no sopé das m ontanhas da Cilicia, na A natólia. Os gregos (ou jón icos) podem ter tido um a relação com a cidade, m as não há dados que a confirmem.

27.19. cássia e cálamo. A cidade de Damasco comer­cializava qiddu (provavelmente cássia), um perfume nativo m uito caro originário do leste da Ásia. O cálamo era um a erva aromática usada em perfumes, cosméti­cos, temperos e remédios. Esse tipo particular de cálamo provavelmente vinha da índia.

27.20. D edã. D edã era um oásis no centro da Arábia onde Tiro recebia suas vestes especiais de montaria. É identificado com a atual localidade de al-Ula, situada

na estrada do olíbano, desde o Iêmen até a Palestina.27.20. m antos de sela. O termo traduzido aqui como "m an tos de sela" provavelm ente deriva de um ra­dical acadiano que se refere a "u m a cobertura para cavalos".

27.21. Quedar. Ver o comentário em Isaías 42.11.27.22. Sabá e Raam á. A respeito de Sabá, ver o co­m entário em Isaías 60.6. Raam á é citada no Antigo Testamento apenas em conexão a Sabá. Pode ser asso­ciada a Rgm t (não se sabe ao certo as vogais do nome antigo), um a cidade no distrito de Najran, no centro da Arábia.

27.23. Harã, Cane, Éden, Sabá, A ssur e Q uilm ade. Todas essas áreas ficavam ao norte e a leste de Tiro. Harã estava situada às margens do rio Balikh, na Alta

Mesopotâmia. Cane provavelmente é a Kannu assíria, cuja localização é desconhecida. Éden é Bit Adini, um estado aram eu a oeste do rio Balikh, na Síria. Assur era o nom e da antiga capital da Assíria, e tam bém o nome do principal deus da Assíria. Quilmade é des­conhecido.

27.24. m ercadorias. A s m ercadorias alistadas aqui eram m uito raras e exóticas. M uitas das palavras são hapax legomena, ou seja, palavras que aparecem ape­nas neste contexto das Escrituras. Cognatos em aca­diano ajudaram de certa forma a lançar luz ao signifi­cado desses termos. As "lindas roupas" eram algum tipo de vestes especialmente confeccionadas. Depois delas vinham tecidos ou capas azuis e bordadas. Em seguida, são m encionados tapetes m ulticoloridos com cordéis retorcidos.27.25. navios de Társis. Embora o versículo 12 denote um a região específica para Társis (i.e., Espanha), a designação "navios de Társis" parece simplesmente

implicar a procedência fenícia, semelhante ao que se encontra em Isaías 23.1-18. Portanto, podiam ser na­

vios com destino a Társis.

28.2. governante de Tiro. O rei de Tiro nesse período era Etbaal III, em bora não haja nada nesta profecia

especificamente sobre ele. O texto afirma que o prín­

cipe está exigindo ser equiparado à divindade padro­eira de Tiro, M elqart, um fato não confirm ado na

literatura extrabíblica.

28.3. D aniel. Alguns estudiosos acreditam que esse Daniel na verdade seja Danei, uma personagem famo­

sa do épico ugarítico de Keret. M as o Danei ugarítico não era conhecido particularm ente por sua grande

sabedoria. O D aniel bíblico provavelm ente era bem conhecido de Ezequiel devido a seus dons excepcionais.

Para mais informações, ver o comentário em 14.14.

28.12. lam ento. Existem inúmeros lamentos ou cantos

fúnebres no A ntigo Testam ento e na literatura do antigo Oriente Próximo. Com freqüência eram dirigi­

dos a cidades ou nações, m as havia também lamentos

pela morte de indivíduos. Neste caso, o "lam ento" é

uma composição sarcástica da literatura de zombaria. Ver o comentário em 19.1.

28.12. m odelo da perfeição. Os epítetos reais assírios

incluíam títulos tais com o "hom em perfeito" e "rei

perfeito". O termo também era usado para atributos

divinos. Aqui, o rei é igualado a um modelo de selo

finamente entalhado (ver a nota de rodapé em Jr 32).

Com freqüência esses selos eram feitos de pedras se­

mipreciosas e serviam ao m esm o tempo como uma marca de identidade e como um amuleto protetor.

28.13. lista de pedras preciosas. Em Êxodo 28.17-20 e

39.10-13 o peitoral do sum o sacerdote contém doze

pedras preciosas, muitas das quais são mencionadas

também aqui. Uma veste engastada com pedras pre­

ciosas seria uma demonstração clara da grandeza do rei de Tiro, mas aqui não há indício de que se trate de um peitoral. Os reis às vezes usavam turbantes engas­

tados com pedras preciosas. Peitorais enfeitados com

jóias também existiam no mundo antigo. A identifica­ção de um a série das pedras mencionadas aqui é pro­

blem ática. Por isso, as traduções atuais não entram

em acordo a respeito das nove pedras. A com alina é

preferível ao rubi; o topázio possivelmente é a olivina

amarelo-esverdeada chamada peridoto; a terceira não é diamante (NVI), e sim algum outro tipo de pedra

dura; a quarta provavelm ente seja algum a ped ra am arela (D. Block sugere o topázio dourado espa­

nhol); para a quinta, ônix é a mais provável; a sexta é

considerada algum tipo de jaspe; a sétima é o lápis-

lazúli; a oitava é bastante incerta e a últim a é conside­rada pela maioria como a esmeralda.

28.14. querubim . O termo querubim aparece mais de noventa vezes no Antigo Testam ento em relação a criaturas celestes. Parece que são seres alados, e a variedade deles é enorme. H á exemplos de querubins com muitos rostos, com rosto bovino, eqüino e huma­no. São descritos de form a a corresponder a diversas formas de anim ais compostos ilustrados na arte do antigo O riente Próxim o, especialm ente da A ssíria. Por causa de suas características mistas de animais e seres humanos, eram símbolos aptos da presença di­vina, tanto em Israel como nas regiões vizinhas. Aqui, sem dúvida, é uma referência ao guardião da árvore da vida, de Gênesis 3.24 (ver o comentário ali). Igua­lar o príncipe de Tiro a um querubim sugere que aquele recebera a responsabilidade de cuidar da pro­priedade divina. Os recursos naturais dessa região, especialmente as florestas de cedro, eram muitas ve­zes considerados propriedade dos deuses em fontes mesopotâmicas (por exemplo, no Épico de Gilgamés). A rtefatos tam bém sustentam a figura apresentada aqui. O s querubins são retratados freqüentem ente em marfins entalhados desse período, e às vezes o rei

é retratado como um querubim. Os entalhes podiam ser engastados com jóias, e as decorações contêm ilus­trações de flores e montanhas. Para mais informações sobre querubins, ver os comentários em 10.1 e Êxodo25.18-20.28.14. m onte santo. O conceito de montanhas sagra­das era comum no m undo antigo. O pensamento do antigo Oriente Próximo, semelhante ao da conhecida m itologia grega, visualizava um monte como o lugar da m orada dos deuses. Segundo essa visão, havia pouca diferença entre o topo das montanhas e os céus. Na literatura ugarítica a casa de Baal figurava como o monte Zafom. Para os israelitas, as duas montanhas sagradas m ais im portantes eram o m onte Sinai e o m onte do Tem plo, em Jerusalém . Em bora não haja paralelo na maneira de pensar do antigo Oriente Pró­xim o, sugerindo a existência de um paraíso sobre uma montanha, o jardim do Éden funciona como um paraíso, principalm ente porque era o lugar da pre­sença de Deus, um Santo dos Santos cósmico. O monte santo portanto é bastante apropriado como um parale­lo para Éden, visto que ambos dizem respeito à pre­sença de D eus. Em Ezequiel 31.16, as florestas do Líbano e o jardim do Éden novamente são associados.28.14. pedras fulgurantes. Existem inúmeras relações possíveis que serviriam como explicação para essas "pedras fulgurantes". N a esfera da iconografia as pe­dras eram representadas como ornamentos em algu­mas peças de marfim (ver o comentário acima a res­peito de "querubim "). N a m itologia, deve-se obser­var que há um palácio de pedras preciosas fundidas,

descrito em textos ugaríticos. N as lendas, Gilgam és encontra em suas jornadas um bosque onde as árvo­res e os arbustos são cheios de pedras preciosas. Qual­quer desses contextos poderia encaixar-se à imagem apresentada aqui pelo texto.28.16, 17. re lação com Satanás. D esde o in ício da história da igreja essa passagem tem sido tradicional­mente interpretada como um relato da queda de Sata­nás. Em bora esse m esm o tipo de interpretação de Isaías 14 tenha sido fervorosamente negado por exe­

getas reconhecidos e respeitados, tais como João Cal- vino (que a ridicularizava com aspereza), ela persis­tiu até os tempos atuais. A partir do contexto, deve-se observar que Satanás nunca foi retratado como um querubim ou estando com o querubim no jardim , em nenhum a passagem da Escritura. A lém do m ais, a compreensão que Israel tinha de Satanás era muito m ais limitada do que a encontrada no Novo Testa­mento. M esm o em Jó, Satanás não é um nome pró­prio, m as uma função (ver o comentário em Jó 1.6). "Satan ás" só passa a ser identificado como o nom e próprio do chefe dos demônios a partir do segundo século a .C , e ele só assum e a posição de origem e causa de todo o mal com o desenvolvimento da dou­

trina cristã. Conseqüentemente, os israelitas não po­deriam ter entendido essa passagem desta maneira, e nenhuma passagem do Novo Testamento oferece qual­quer base que parta da interpretação israelita desse trecho. No contexto, é um a descrição metafórica da elevada posição de mordomo confiada ao príncipe de Tiro (tão im portante quanto o papel do querubim no jardim ). Em vez de tratar essa responsabilidade sa­grada com reverência e respeito, ele a explorou v i­sando a seus próprios interesses - como se o querubim do jard im tivesse m ontado um a banca de frutas à beira da estrada. Portanto, foi deposto de sua função, desobrigado de sua responsabilidade e hum ilhado publicam ente.28.18. santuários profanados. Em Ezequiel, o templo de Israe l é pro fan ad o qu an d o é saqu ead o p elos babilônios (Ez 7.21, 22). Algo também pode ser "p ro ­fanado" quando não é tratado como santo. Visto que é im provável que Ezequiel considerasse os santuários de Tiro como santos, é m ais provável que nesta passa­gem o príncipe esteja sendo acusado de pilhar tesou­ros de santuários ou apropriar-se de forma indevida do dinheiro do templo.

28.20-26Profecia contra Sidom28.21. S id om n o in íc io do sexto sécu lo . A grande cidade com ercial de Sidom fora derrotada pelo rei assírio Senaqueribe, em 701 a.C., que depôs o rei Luli

por ter aderido a um a coalizão anti-A ssíria. Sob o governo de A bdim ilikutti, Sidom novam ente se re­belou contra Esar-Hadom, rei da Assíria, em 677 a.C.. A cidade foi destruída até seus alicerces e seu rei foi decapitado. Os assírios reconstruíram a cidade, de­ram-lhe o nome de Kar-Asarhaddon, e ela tom ou-se o centro da adm inistração assíria naqu ela área. Em Jerem ias 27.3 enviados de Sidom estavam incluídos entre os conspiradores que se reuniram em Jerusalém em 594. Poucos anos m ais tarde, Sidom foi forçada a subm eter-se a N abucodonosor, rei da Babilônia, e muitos de seu povo foram deportados. Não há relato dos detalhes, m as alguns exilados de Sidom apare­cem na cidade de Uruk, na Babilônia desse período. Heródoto relata que em 588 os egípcios lutaram con­

tra Sidom num a tentativa de obter controle da costa fenícia, m as é provável que Sidom já fosse um vassalo babilônio nessa época.

29.1-32.32Profecias e lamentos pelo Egito29.1. cronologia. Apesar de parecer ser um ano mais tarde (em relação à data apresentada em 24.1), foi concluído com freqüência pelos comentaristas que a notação em 24.1 não foi feita em concordância com um sistema de ano de ascensão (ver os comentários em 24.1; Jr 26.1 e Dn 2.1). Se estiver correto, essa profecia foi dada apenas dois dias após o início do cerco a Jerusalém. Essa alternativa é m ais provável, visto que a resposta dos egípcios ao cerco aconteceu naquele prim eiro verão.29.2. Egito no in íc io do sexto século. No início do sexto século a.C. o Egito estava sob o domínio da 26a Dinastia saíta. Com a queda da Assíria, o Egito tentou controlar o Levante como havia feito em séculos pas­sados. Porém , Nabucodonosor, rei da Babilônia, con­seguiu preencher a lacuna de poder na área, derro­tando de form a decisiva o Egito na batalha de Carque- mis, em 605 a.C.. O faraó Psam m eticus II (595-589) passara grande parte de seu reinado tentando recon­qu istar o território da Fenícia e da P alestin a que Nabucodonosor tomara de Neco II (610-596) em Car- quem is. Apries (Hofra) ascendeu ao trono em 589. Durante o início do verão do primeiro ano do cerco a Jerusalém , ele enviou um exército para a Palestina. Isso obrigou os babilônios a temporariamente suspen­der o cerco. O envio dessas tropas, m ais um a frota egípcia que navegou para Tiro e rapidamente assu­m iu o controle ali (mencionado pelo historiador grego Heródoto), forçou Nabucodonosor a recuar de Jerusa­lém. Os egípcios, porém, foram rapidamente derrota­dos (possivelmente perto de Gaza) e o cerco foi reto­mado no final do verão.

29.3. id en tid ad e do faraó . O m onarca reinante no Egito nessa época era Apries (Hofra), que governou de 589-570 a .C . Entretanto, é m ais provável que Eze- quiel esteja referindo-se à posição do faraó em geral, e não a um m onarca em particular.29.3. m onstro deitado em m eio a seus riachos. Acer­ca da metáfora do Egito como um monstro do caos, ver o comentário em Isaías 30.7. M ais concretam ente, a palavra usada aqui poderia facilmente ser usada em referência a um crocodilo. Provavelm ente haja ele­mentos de ambos envolvidos aqui.29.4. m etáfora do peixe. O historiador grego H eró- doto descreveu o procedimento de captura de crocodi­los no Nilo. O caçador preparava um anzol com isca de carne de porco, deixando-o flutuar no meio do rio. Nas m argens do rio, o caçador começava a bater em um porco vivo. Ao ouvir os gritos do porco, o crocodi­lo ia atrás do som, encontrando a isca com a carne, que engolia. N esse ínterim, o caçador puxava a linha, que havia fisgado o crocodilo.

29.6. m etáfora do bordão de ju nco . Se usado como um bastão ou uma bengala, em vez de oferecer su­porte confiável, o junco se quebraria e provocaria dano físico. Os assírios afirmavam o mesmo a respeito do faraó, em Isaías 36.6. A abundância de junco no Egito fazia dessa imagem uma metáfora apropriada para a dependência no Egito. M ais especificamente, o faraó em punhava diversos cetros que representavam seu poder e sua posição. O cetro was era bifurcado na base e o cabo em cim a era entalhado na form a de um a cabeça de cachorro. O cetro heqa tinha o formato de um cajado de pastor. Embora esses cetros não fossem

geralm ente feitos de ju n co , d escobertas fe itas em túm ulos confirm aram que pelo menos em um caso um bastão de junco foi incluído entre as coisas do faraó.29.10. desde M igdol até Sevene. M igdol ("torre") era o nome de diversas bases m ilitares na fronteira nor­deste do Egito. Em bora não possam os ter certeza a qual delas o texto aqui se refere, o termo demarca a fronteira nordeste do Egito. Sevene (atual Assuã) fica­va ao norte da primeira catarata do Nilo, a tradicional fronteira sul do Egito (a fronteira de Cuxe/Núbia). Portanto, "desde M igdol até A ssuã" era um a expres­são que designava a extensão completa do Egito.29 .11 ,12 . quarenta anos de desolação e exílio. Qua­renta anos era o período em que um a geração flores­cia e desaparecia. Portanto, era um período de castigo n acion al tem p orário . Em um a inscrição m oabita, Messa, rei de M oabe, afirmava que Israel ocupara sua terra por quarenta anos. Existem evidências de N abu- codonosor conduzindo uma invasão ao Egito em seu trigésimo sétimo ano (568), m as não há informações

de que houve deportação da população. M ênfis foi capturada pelo rei persa Cambises em 525, e o faraó Psammeticus II foi levado cativo. O Egito então ficou sob o domínio persa durante a maior parte do Império Aquemênida, com um curto período de revolta e in­dependência por volta de 460.29.14. alto Egito. O alto Egito (ou a terra de Patros) designava todo o Egito ao sul de Mênfis. Um a antiga tradição egípcia afirmava que a nação se originara no sul do alto Egito. Esar-Hadom, rei da Assíria, afirma­va ser o rei de M usur (norte do Egito) e de Paturisi (Patros).29.14 ,15 . reino hum ilde. A expressão "o mais humil­de dos reinos" parece denotar que o Egito seria rele­gado à posição de vassalo. Embora o texto não diga a que nação ele teria de sujeitar-se, o registro histórico é bastante claro. Conquistado por Cambises em 525, o Egito tom ou-se um vassalo persa pelos próximos du­zentos anos.

29.17. cronologia. A data é 26 de abril de 571, um ou dois anos após o final do cerco de Tiro.29.18. o cerco de N abucodonosor a T iro . Ver o co­m entário em 26.7.

29.18. cabeça esfregada até não ficar cabelo algum e om bro esfolado. Os soldados de Nabucodonosor teri­am cabeças calvas e ombros esfolados devido aos far­dos colocados sobre eles a fim de construir rampas de

cerco e atacar a cidade de Tiro. Eram necessárias tone­ladas de terra para construir aclives até a altura dos muros. A lém disso, houve uma tentativa de construir um passadiço até a parte da cidade que ficava na ilha. A terra era carregada em cestos colocados na cabeça ou nos ombros dos soldados.29.18. nenhum a recom pensa. Os soldados geralmen­te recebiam despojos na forma de pessoas, animais e bens. Entretanto, Tiro conseguiu ser poupada da des­truição ao render-se à Babilônia. Portanto, a cidade não foi saqueada.29.19. N abucodonosor e Eg ito . Era inevitável que Nabucodonosor em algum momento invadisse e ten­tasse conquistar o Egito. Os medos haviam unificado o território a leste do Tigre, efetivamente isolando a Babilônia do comércio direto com o oriente, e os egíp­cios, com seus aliados fenícios, estavam constantemente causando problemas políticos e comerciais no ociden­te e ao longo das rotas comerciais árabes. U m cerco prolongado (de treze anos, segundo o historiador gre­go Menander, do quarto século) acuou Tiro e devas­tou grande parte da Fenícia (584-571). Três fontes fa­zem menção à invasão do Egito em 568 (um trecho fragmentado dos anais de Nabucodonosor, do trigési-

mo-sétimo ano de seu reinado, o historiador Heródoto e Ezequiel 29.19-21), porém nenhum detalhe é dado

além da descrição de vitórias contra tribos do deserto. É provável que algum as guarnições babilónicas te­

nham sido instaladas nas fortalezas do Sinai após essa campanha.29.21. m etáfora do poder (chifre). Os chifres de um anim al eram considerados sím bolos de seu poder e portanto eram um a figura que representava força. M uitas das divindades da M esopotâmia eram ilustra­das com chifres. Logo, fazer brotar um chifre (NVI: "farei crescer o poder") significa o retorno da força de Israel. Além disso, deve-se notar que as coroas de reis muitas vezes tam bém tinham chifres e um chifre po­dia portanto referir-se de form a mais específica a um rei (ver o comentário em D n 7.7).30.4. Egito relacionado à Etiópia (Cuxe). Cuxe, o país vizinho ao sul do Egito, conhecido como Núbia, tivera relações com os egípcios desde o início da história registrada. O Egito tivera fortes relações comerciais com Cuxe durante m uitos séculos e ocasionalmente conquistara a área. Por volta da m etade do oitavo século, porém, os cuxitas conquistaram o Egito e go­vernaram essa terra por quase um século.30.5. g eo g ra fia . A s p rim eiras três áreas alistad as (Etiópia [Cuxe], Fute e Lude) também são menciona­das em Ezequiel 27.10. Cuxe (Núbia) fazia fronteira com o Egito ao sul; Fute (Líbia), a oeste. Lídia ficava ao norte, além do M editerrâneo e era um freqüente

aliado dos egípcios contra diversos inimigos do orien­te. A A rábia podia ser um a referência à península árabe, a sudeste, mas não era com um essa palavra hebraica ser usada com esse sentido. Era usada com

mais freqüência para referir-se a uma miscelânea de grupos étnicos. Sabe-se que os egípcios durante esse período usaram m ercenários de todo o oeste da Ásia e do leste do M editerrâneo. Cube (NVI: Líbia) é uma área desconhecida, provavelm ente tam bém dentro da atual lib ia . A "terra da aliança" é um a referência a soldados de um país cujo nome não aparece, prova­velm ente Ju dá, que tinha relações m ilitares com o Egito nessa época e provavelm ente forneceu tropas de mercenários, como todas essas outras terras. Jere­m ias sabia da existência de um povoado ju deu no Egito (ver o comentário em Jr 44.1).30.6. desde M igdol até Sevene. Ver o comentário em29.10.30.9. m ensageiros a Cuxe, em navios. O termo aqui para "navios" (um empréstimo do egípcio) refere-se a barcos m ilitares e não a barcos de junco ou navios mercantes. N úbia achava que ter o Egito como uma zona receptora de impacto oferecia um a certa proteção contra qualquer das potências do oriente que pudessem emergir. Em bora o faraó Psamm eticus II tenha feito campanha contra Núbia, em 593, não é a um a ameaça

de ataque do Egito que esta passagem se refere. O rei persa Cambises invadiu N úbia em 525 que a partir dessa data passou a ser considerada parte do Império Persa. Os núbios serviram como mercenários no exér­cito persa.30 .10 ,11. N abucodonosor e Egito. Ver o comentário em 29.19.30.12. vender a terra. No mundo antigo o conceito de

vender algo não enfatizava "ob ter dinheiro" como denota na economia atual. Ao contrário, a ênfase esta­va na transferência da posse. Em acadiano, a palavra para vender é a mesma palavra para dar. Rute 4.3-5 mostra essa m esm a flexibilidade no term o hebraico usado aqui também. Como resultado, não é pertinen­te perguntar o que Yahw eh estaria recebendo em troca. Não é essa a questão. Ele está transferindo a posse da terra do Egito para a Babilônia.30.13. im agens de M ênfis. Mênfis foi a residência real durante esse período e o centro do culto ao deus Ptah. Era a cidade onde os reis eram entronizados. Ptah era um a das poucas divindades que não tinha cabeça de animal. Era um a divindade criadora e padroeira das guildas dos artesãos.30.14. Patros. Trata-se de uma referência ao alto Egi­to; ver o comentário em 29.14.30.14. Zoã. Zoã (Tânis) era um a cidade no leste do delta do Nilo, um importante centro administrativo nos séculos oitavo e sétimo a.C..30.14. T ebas. Tebas (ou N o-Am on, em egípcio) era a principal cidade do alto Egito e fora a capital da nação por séculos durante o Novo Reinado. Era cerca­da por um a série espetacular de m onum entais re­cintos sagrados.30.15. Pelúsio. Sim era um a importante fortaleza na fronteira nordeste da região do D elta geralm ente identificada como Pelúsio. Ocupava uma posição es­tratégica na defesa do Egito contra os invasores do oeste da Ásia.30.17. H eliópolis. Á ven (grego, H eliópolis, "cidade do deus-sol") ficava no ponto m ais alto do delta do Nilo, bem ao norte da cidade do Cairo. Normalmente aparece em hebraico como O n (ver Gn 41.45, 50).30.17. B u bastis. P i-Beset (grego, Bubastis) era uma cidade no delta do Nilo. É a atual Tell Basta, localiza­da 56 quilômetros ao sul do Cairo na ramificação do Nilo próxim a a Tânis. Era a residência de Sheshonq (Sisaque), um poderoso m onarca da 22a Dinastia, no

século dez a.C..30.18. Tafnes. Tafnes era um posto avançado no Delta leste do N ilo, na fronteira com o Sinai. M ais tarde passou a ser conhecida como Dafne pelos gregos, que habitaram no posto avançado como mercenários por vo lta do sétim o século a.C .. O h istoriad or grego

H eródoto afirm a que D afne era um dos três postos avançados estabelecidos pelos egípcios para frear a invasão assíria. É possível que os israelitas que fugi­ram dos babilônios tenham parado ali no início do sexto século a.C..30.20. cronologia. A data é 29 de abril de 587 a.C., ape­nas alguns m eses após a data apresentada em 29.1. A interferência egípcia é im inente, m as Ezequiel alerta que não resultará em nada.30.21. o braço do faraó . N as Escrituras, o braço é sím bolo de poder agressivo, e, portanto, quebrar o braço significa tom ar o indivíduo em questão impo­tente (ver SI 10.15; 37.17). A im agem de um braço estendido ou mão poderosa é comum nas inscrições egípcias para descrever o poder do faraó. É usada nas narrativas do Êxodo para descrever o poder de Deus acima do faraó. N as cartas de Am arna do século cator­ze a.C., Abdi-Heba, o governador de Jerusalém, refe­re-se ao "forte braço do rei" como a base de sua nom e­ação ao governo. Igualmente, o hino a Osíris, da 18a D inastia, compara sua chegada à maioridade com a expressão "quando seu braço tom ou-se forte" e o Hino de Haremhab a Toth descreve o deus-lua guiando a barca divina pelos céus com seus "braços estendidos".30.23. d ispersar os eg ípcios. V er o com entário em29.11, 12.

31.1. cronologia. A data é 21 de junho de 587 a.C., quase dois meses após a data m encionada em 30.20.

V isto que não há inform ação segura concernente à data da interferência egípcia, é difícil relacionar essa profecia ao evento.31.2. identid ade do faraó. Como em 29.3, Ezequiel provavelm ente está se referindo à posição do faraó em geral. Hofra era o m onarca em exercício no ano 587 a.C. (ver a nota em 29.3).31.3-7. extensão, duração e poder da Assíria. O poder da nação assíria aumentou e diminuiu por quase três séculos (c. 900-612 a.C.). Em seu ápice a extensão ge­ográfica de seu im pério era enorm e, estendendo-se do Irã, no leste, até o centro do Egito, centro da Anatólia e Chipre, no oeste. Cobria grande parte do deserto da Arábia, no sul, e estendia-se ao norte até a atuai A r­mênia. Na época de Ezequiel, a Assíria saíra de cena recentem ente (cerca de vinte anos atrás), por isso,

servia como um a im agem perfeita de um a superpo­tência que fora reduzida a nada.

31.3-14. m etáfora da árvore. A árvore usada como m etáfora aqui é o cedro, um sím bolo de m ajestade bastante conhecido no antigo Oriente Próximo. Sua madeira era usada na construção de m uitos palácios e tem p los im p ortan tes. Os reis eg íp cios, assírios e babilônios todos relatam como cortaram os cedros do Líbano a fim de construir seus poderosos edifícios. O

mito de um a árvore cósmica também se encontra em textos mesopotâmicos. Suas raízes são alimentadas pelo grande oceano subterrâneo e o topo de seus galhos alcança as nuvens, de modo que une os céus, a terra e o m undo inferior. O re lato sum ério do Ép ico de Gilgam és contém o tema de um a grande árvore que oferece abrigo aos animais. A deusa suméria Inanna descobriu a árvore cósm ica sagrada às m argens do Eufrates e a transplantou em seu jardim sagrado, em Uruk (bíblica Ereque), para onde atraiu o m ítico Anzu (uma divindade-pássaro), uma serpente e Lilite (um demônio maligno). No M ito de Erra e Ishum, Marduque fala da árvore meshu cujas raízes atravessavam o oce­ano alcançando o mundo inferior e cujo topo ficava acima dos céus. Em contextos assírios, o tema da árvo­re sagrada tam bém é bem conhecido. Alguns a cha­

m am de árvore da vida, e outros a associam com essa árvore universal. Com freqüência é ladeada por ani­m ais ou por figuras hum anas ou divinas. Um disco alado geralmente é localizado no centro, no topo da árvore. O rei é representado como a personificação hum ana dessa árvore. A árvore é considerada a re­presentação da ordem divina no m undo, m as falta fundamentação textüàl para essa hipótese. Como é o caso com freqüência em Ezequiel, esse tema mítico é transformado em um a imagem política.31.8, 9. jard im de D eus. O jardim de Deus em Eze­quiel é identificado como o Éden. Aqui, porém, não evoca a im agem de um lar utópico de onde os hum a­nos foram expulsos. Ao contrário do tema do paraíso na Bíblia, o jardim m esopotâmico dos deuses era a bela e protegida propriedade dos deuses que os hu­manos invadiam por sua conta e risco. Assim era a floresta de cedros à qual Gilgamés e seu companheiro Erikidu tiveram acesso quando derrotaram Huwawa, o guardião divinam ente nom eado para protegê-la. Esses jardins, tais como os jardins reais desse período, eram bosques que continham belas e exóticas árvo­res. Essa descrição também é apropriada para o Éden bíblico.

31.12. a queda da A ssíria. O Império Assírio atingiu seu ápice no início do sétimo século a.C., quando foi

bem-sucedido em conquistar o Egito. No entanto, uma grande guerra civil em 652-648 a.C. expôs a fragilida­de ineren te da enorm e nação. A pós a devastação provocada pela guerra civil, a Assíria rapidamente se enfraqueceu. Por volta do final do reinado de Assur- banipal (em 631 ou 627 a .C ) todos os recursos econô­m icos desapareceram de Nínive, a capital assíria. Em 626 a.C. os caldeus da Babilônia declararam sua inde­pendência. Dentro de catorze anos todas as principais cidades assírias foram destruídas, a m onarquia fugiu para Harran, na Síria, e o exército tom ou-se caótico.

Os assírios podem ter participado da batalha de Car- quem is contra N abucodonosor, m as nunca m ais se teve notícia deles novamente. Portanto, quarenta anos após a grande guerra civil, a Assíria fora relegada ao esquecim ento.31.16. com paração en tre o Éd en e o L íbano . Essa comparação aproxima o tema bíblico do Éden como propriedade protegida de Yahw eh do tem a m eso- potâmico da floresta de cedros como propriedade pro­tegida dos deuses. Ver o comentário em 31.8, 9.31.18. incircuncisos. Há evidências de que sacerdotes e reis do Egito passavam por algum tipo de circun­cisão. Em geral, os israelitas desprezavam os incir­cuncisos e possivelmente a realeza egípcia os encara­va da m esma maneira. Desprezo pelos incircuncisos aparece tanto na prática egípcia quanto na israelita de

cortar fora o pêrús incircunciso dos inimigos.32.1. cronologia. A data é 3 de março de 585 a.C., pou­cos m eses após ter chegado a Ezequ iel o re lato da

queda de Jerusalém .32.2. m onstro nos mares. O monstro nesse caso não está no rio Nilo, m as "n os m ares". Essa referência provavelm ente diz respeito aos m onstros cósm icos destruídos por D eus (ver Is 51.9, 10; SI 74.13). Na Bíblia, bem como na literatura do antigo Oriente Pró­ximo, o m ar e os monstros que ali vivem representam o caos e a desordem. O conflito físico óbvio entre o m ar e a terra, bem com o a energia aparentem ente inesgotável exibida pela fúria do m ar deu origem a mitos cósmicos no antigo Oriente Próximo. O épico da criação Enum a Elish, da B abilônia, descreve com o M arduque destrói Tiam at, enquanto essa deusa do caos aquático está na form a de um dragão. Grande parte do ciclo de histórias sobre Baal na lenda ugarítica envolve a luta de Baal contra seu rival Yamm, o deus do mar. Igualmente, no épico ugarítico, Anate e Baal afirmam ter derrotado Litã, o dragão de sete cabeças, tendo portanto conquistado o domínio sobre os mares. Em Salmo 104.26, Yahw eh é descrito brincando com o Leviatã e em Jó 41.1-11 Deus desafia Jó a mostrar seu controle sobre o Leviatã, como ele o faz. O reinado representado por essas feras, portanto, é associado às forças do caos que promovem desordem no mundo de Deus e precisam ser contidas (ver os comentários em D n 7).32.2. leão/ m onstro. O paralelo entre leão e monstro (dragão) parece estranho a nós, m as não era raro no mundo de Ezequiel. A famosa porta de Istar, na Ba­bilônia, e o caminho que chegava até ela era feito de tijolos brilhantes que form avam im agens alternadas de leões e dragões. A lém disso, na tradição m itológica da Mesopotâmia era comum uma criatura composta que m isturava características de leão e de dragão. É

esse o caso de Labbu, no m ito de Labbu. D esde o

início do segundo milênio, os reis usavam a figura do

leão e do dragão juntas para descrever a si mesmos.

32.2. agitando e enlam eando as águas. Essa descrição indica um a cena mítica típica em que a agitação do

oceano cósmico perturba as criaturas (com freqüência

os monstros marinhos) que representam as forças do caos e da desordem. No texto Enuma Elish, o deus-céu,

Anu, cria os quatro ventos que agitam as profundezas

do abismo e sua deusa, Tiam at. Aqui, é o m onstro que agita o mar, com a ameaça de que o caos provoca­

rá desordem no mundo.

32.3. capturar com a rede. Tanto no épico de Erra

como no Enuma Elish, a criatura que representa as

forças do caos (Anzu e Tiam at, respectivam ente) é capturada em um a rede.

32.4. aves e anim ais o devorarão. No mito de Labbu, Labbu é descrito como um monstro de oitenta quilô­

metros de comprimento e quase dois de largura.

32.6. encharcar com sangue. No m ito de Labbu, o

sangue do monstro morto escorre por três anos e três meses.

32.7, 8. e fe ito s cósm icos. Esses efeitos cósm icos re­fletem a temática do mundo de cabeça para baixo, tão

conhecida no m undo antigo (ver o com entário em Jr

4.23-26). Além disso, atingem o cerne da religião egíp­

cia, em que o deus-sol era a divindade mais importante.

32.11. espada do rei da Babilônia. Ver o comentário em 29.19.

32.14. riachos flu in d o como azeite. As águas barren­tas se assentaram no fundo do rio e deram lugar a

águas claras que corriam suavem ente como azeite.

Expressão semelhante ("céus chovendo como azeite")

encontra-se em textos ugaríticos de Baal, m as ali, como em outras passagens bíblicas, evoca um a im agem de

prosperidade. N o contraste apresentado aqui, fluir como azeite significa tranqüilidade, e as águas estão

tão serenas porque a terra está deserta e desolada.

32.17. cronologia. A data é 17 de março de 585 a.C., duas semanas após a data mencionada em 32.1.

32.21, 22. A ssíria com seus m ortos no Sheol. As na­

ções alistadas em 22-30 todas sofreram séria devasta­ção. Ezequiel provavelmente tem em mente a derrota final e a destruição do Im pério A ssírio, no final do

sexto século a.C.. É provável que o exército assírio

tenha sido finalm ente destruído na batalha de Car- quemis, onde o Egito foi decisivamente derrotado por

Nabucodonosor, rei da Babilônia. Portanto, a imagem

mostra que o final da Assíria é no Sheol, a m orada dos mortos.32.24. Elão. Elão era uma im portante nação no sudo­

estes do Irã (atual Cuzistão). Sua principal cidade era

Susa, que tinha uma história bastante antiga e é men­

cionada em registros sum érios e proto-elam itas, do

início do terceiro m ilênio a.C. Elão foi devastado pelos

assírios no final do sétimo século a.C.. Foi invadido

por Nabucodonosor em 596 e tom ado pelos m edo-

persas m ais tarde no sexto século a.C..

32.26. M eseque e T ubal. No final do oitavo século,

esses dois reinados anatólios foram assolados por guer­

ras internas, conquistados por Sargão II, rei da Assíria,

e invadidos pelos cimérios, do sul da Rússia. Infeliz­

mente, pouco de sua história referente ao sétimo sécu­

lo e início do sexto século foi preservada. Acredita-se

que tenham sido incorporados sob o domínio lídio,

após a conclusão das guerras cimérias. Na primavera

de 585, os lídios estavam em guerra com os medos

(ver a cronologia no v .l e o comentário em 38.1). São

m encionados novamente no período persa como iden­

tidades étnicas distintas. Eram conhecidos pelos assírios

como Mushku (centro da Anatólia) e Tabal (leste da

Anatólia) e por Heródoto como os Moschi e os Tibarenoi

(estados submissos ao Império Persa). No final do oita­

vo século, o rei de Mushku era Mita, conhecido pelos

gregos como Midas, o rei que transformava em ouro

tudo que tocava. Seu túm ulo foi id entificad o em

G oidion e escavado.

32.29. Edom. Edom era um reinado de fala semita,

v izinho de Judá, ao sul e leste do m ar M orto. No

oitavo século a.C. Edom sucum biu ao controle dos

assírios, como se observa nos anais de Tiglate-Pileser

III (745-727 a.C.) e continuou sob seu domínio até a

morte de Assurbanipal, um século m ais tarde. Du­

rante esse período, os edomitas com freqüência eram

convocados para servir nos exércitos assírios e, por

isso, aparecem m uitas vezes nos anais. D urante o

período babilónico, Edom evidentemente ficou do lado

do grande império, em bora não haja registros extra-

bíblicos que confirmem isso. É provável que tenham

se submetido ao governo de Nabucodonosor em 605

a.C.. Em bora alguns refugiados ju deu s possam ter

encontrado abrigo em Edom, aparentemente esse rei­

no perm aneceu indiferente enquanto Jerusalém era

tomada e destruída (ver SI 137.7 e Ob 11). A campa­

nha babilónica contra Am om e Moabe em 594 parece

não ter afetado Edom. É provável que tenham perma­

necido ilesos até a época da campanha de Nabonido,

em 552 a.C..

32.30. príncipes do norte. Os príncipes do norte pro­

vavelm ente são os governantes ou xeiques arameus.

H avia um a série de reinos arameus hostis ao norte

de Israel/Judá, o maior deles centrado em Damasco.

32.30. sidônios. Ver o comentário em 28.21.

33.1-20 Ezequiel, a sentinela33.2-6. papel da sentinela . A sentinela ficava posi­cionada num lugar da cidade onde fosse possível ter a

visão m ais estratégica dos arredores e observava a

aproximação de qualquer exército inimigo. Ela dava o alerta através de palavras ou toques de trombeta.

Sua tarefa era simplesmente soar o alarme avisando que o inimigo estava se aproximando. Caso os mora­

dores da cidade se recusassem a dar atenção a seus

avisos, a sentinela ficava isenta de culpa e responsabi­lidade. A sentinela aparece em todo o antigo Oriente

Próximo. O sentido espiritual usado aqui não se en­

contra no antigo Oriente Próximo, mas é extraído (pro­

vavelmente de Ezequiel) de documentos sectários dos Rolos do M ar M orto, onde o líder da comunidade está

à espreita do castigo de Deus.

33.3. s in al de trom beta. A trombeta aqui é o chifre

de carneiro, que tinha uma extensão limitada de no­tas musicais. O termo (hebraico shopar) provavelmen­

te é relacionado ao acadiano shapparu, que, por sua

vez, é um em préstim o do sum ério e significa um

bode selvagem ou íbex. Essa. trom beta era im por­

tante não apenas por seu uso na guerra (para pro­clam ar a v itória, anunciar a retirada do exército e

reunir as tropas para ataque), mas também nos ritos

cultuais de Israel (ver SI 81.4 e Lv 25.9). N a verda­

de, é o instrum ento m usical m ais citado no Antigo

Testamento. Para mais inform ações, ver o comentá­rio em Josué 6.4, 5.

33.7. profeta como sentinela. O retrato que Ezequiel

apresenta de si mesmo como um a sentinela profética

é sem elhante à responsabilidade atribuída a Isaías

(21.6-9) e a Jerem ias (6.17). Em bora nenhum rótulo

parecido tenha sido dado a profetas do antigo Oriente Próximo, o conceito é bastante familiar. Os profetas

tinham o papel de alertar o rei a respeito de situações

iminentes (na esfera m ilitar e cultual) que pudessem

colocar em risco sua pessoa ou a estabilidade de seu reino.

33.15. penhor de um em préstim o. Penhores de em­

préstim os eram com uns em todo o antigo O riente

Próximo. M ilhares de contratos de empréstimos de­

senterrados na M esopotâm ia m ostram que esse era um procedimento bastante comum. Por exemplo, em

Terqa, na Síria da Idade do Bronze M édia, um certo

Puzurum fez um empréstimo no templo local do deus- sol, Sham ás. Ele ficou de posse da m etade de um

contrato cuneiform e, enquanto o templo (funcionando

nesse caso como um banco) guardou a outra metade.

Logo, as duas metades funcionavam como um recibo.

Quando Puzurum pagasse o em préstim o, o templo

lhe devolveria a parte que faltava do contrato. A de­

volução de um penhor por um ím pio arrependido

sugere que uma situação de dívida opressiva havia

sido resolvida e a dívida fora perdoada.

33.21-33O destino de Jerusalém33.21. cronologia. A data é 19 de janeiro de 585 a.C.,

cerca de cinco meses após a queda de Jerusalém . A

maioria dos comentaristas concorda que o hom em ci­

tado neste versículo não era nem um fugitivo, tampouco um refugiado, m as um dos sobreviventes que fora

levado cativo para a Babilônia com a primeira leva de

exilados.

33.25. com er carne com sangue. A expressão literal­mente significa "com er sobre sangue". Levítico 19.26

associa essa prática com as formas banidas de adivi­

nhação. Textos rabínicos m edievais identificam essa prática com a dos sabeus, uma seita do norte da Arábia

que tinha uma refeição comunal em que os humanos

com iam carne cujo sangue fora derram ado no chão para atrair seres espirituais. Práticas semelhantes eram

comuns em todo o Oriente Próximo. A terra de Israel

era descrita teologicamente como o acampamento ou

arraial que cercava o templo. As violações alistadas

aqui são do tipo que resultariam na expulsão da pes­soa do arraial.

33.27. an im ais selv agen s com o castigo . Os anim ais

selvagens eram uma_permanente fonte de medo para

os habitantes das cidades do antigo O riente Próximo.

Em textos e relevos assírios desse período, os reis são ilustrados caçando leões para sim bolicam ente livrar a cid ad e da am eaça de feras selv agen s. Em um dos exemplos, foi sugerido que a m atança de dezoito leões

representa as dezoito portas de Nínive e as estradas que conduziam até elas. Ver o com entário em 5.17.

33.32. cânticos de am or para divertim ento. Cânticos

de am or (ou eróticos) há m uito eram um a diversão para os moradores da cidade. Os cantores itinerantes

viajavam de cidade em cidade, divertindo o povo.

M uitas dessas canções foram registradas em escrita

cuneiform e. Por exem plo, é bem provável que tre­chos do Épico de Gilgam és fossem cantados aos m ora­

dores de Sumer, assim como a Ilíada e a Odisséia de Homero eram cantadas por poetas viajantes, antes de

serem escritas séculos mais tarde. Os cânticos de amor

estavam relacionados aos textos de Rituais de Casa­mento (a liturgia do Tammuz) nos tempos sumérios e

eram populares no Egito durante a segunda metade do segundo m ilênio (18a e 19a Dinastias). É uma acu­sação grave de que o povo havia restringido o papel

do mensageiro de Deus a mera diversão.

34.1-31Oráculo contra os pastores34.3. pré-requisitos de líderes. Os três principais pro­dutos de ovelhas e cabras (leite de cabra, lã das ove­lhas, carne) são usados aqui como uma metáfora para líderes que usufruíam dos benefícios de sua posição, sem assum ir sua responsabilidade. Os funcionários da coroa e o clero tinham de ser sustentados pela população através de impostos de diversos tipos, mas esperava-se que em troca, o povo seria beneficiado e não explorado.34.3, 4. tarefas do pastor. A ssim com o a m etáfora anterior diz respeito aos privilégios do pastor, a aten­

ção agora é voltada para as responsabilidades negli­genciadas. A m etáfora vai além das responsabilidades normais de garantir que as ovelhas estejam protegi­das e alimentadas. Ao contrário, concentra-se nos de­veres relacionados a cuidados médicos, de tratar das feridas e doentes e procurar as perdidas. Essa ima­gem seria com parada à obrigação dos reis de fazer

justiça para com os excluídos e menos favorecidos (tais como a viúva e o órfão).34.7-16. m etáfora do pastor/ re i no antigo O riente Próximo. A ideologia do rei como um pastor de seu povo encontra-se em Lugalzagessi, da Suméria, por volta de 2450 a.C.. O rei contem porâneo Urukagina de Lagás afirmava que o deus Ningirsu era o dono da nação e que o rei fora escolhido como um pastor para adm inistrar a cidade em nome dos deuses e do povo. Deuses responsáveis por manter a justiça (Shamás, na M esopotâm ia, Am om , no Egito) tam bém são repre­sentados através dessa imagem. Essa ideologia con­tinuou no antigo Oriente Próximo até o período monár­quico, sendo usada para referir-se a Assurbanipal, rei da Assíria, (sétimo século) e a Nabucodonosor (sexto século).

35.1-15Profecia contra Edom35.2. m onte Seir. O monte Seir era o nome antigo da região m ontanhosa ao sul do m ar Morto, em ambos os lados do vale do Desfiladeiro que seguia pelo sul até o golfo de Ácaba. O nom e Seir aparece nos textos de A m arna, no Egito (século catorze a.C.). De acordo com as Escrituras, as montanhas de Seir foram ocupa­das prim eiro pelos horreus (D t 2.12, 22) que m ais tarde foram expulsos dali pelos edomitas. Seir passou a ser sinônimo de todo o país de Edom.35.5. o papel de Edom na queda de Jerusalém . Este versículo trata da hostilidade de longa data entre Edom e Israel. Outras passagens da Escritura dizem que os edomitas se alegraram quando N abucodonosor II des­truiu Jerusalém (p. ex., SI 137; J1 3.19; Ob 1-14). Este é

o único texto que dá a entender que tiveram um papel ativo na conquista.

36.1-38Profecia para os montes de Israel36.5. a conduta de Edom. Ver o comentário em 35.5.36.25. aspergir água pura. Em bora a aspersão com água para purificação fizesse parte dos rituais de ablu- ções usados pelos sacerdotes, a expressão "água pura" não aparece em nenhum outro contexto do Antigo Testamento.36.26. m etáforas. O coração era considerado a sede do intelecto e da volição, ou m otivações. Para m ais infor­mações a respeito do coração de pedra ou pesado, ver os comentários em 11.19; Isaías 6 .9 ,1 0 e Êxodo 8.11.

37.1-28O vale dos ossos secos37.1. transportado em visões. Ver o comentário em8.3.

37.2. vale cheio de ossos. A grande quantidade de ossos descrita aqui implica que esse era o cenário de um a grande catástrofe. A descrição de um grande núm ero de cadáveres que haviam sido privados de um enterro digno remete a muitas cenas de batalhas encontradas nos primeiros períodos da história m eso- potâmica e egípcia. Além disso, os anais assírios des­crevem a destruição de seus inimigos, de forma seme­lhante. Uma maldição típica do antigo Oriente Próxi­

mo era que o cadáver da vítim a amaldiçoada ficasse exposto às intempéries e elementos da natureza.37 .12 ,13 . ressurreição no antigo O riente Próxim o. O

conceito de ressurreição era conhecido em algumas partes do antigo Oriente Próximo. Os egípcios criam que parte dos mortos "renascia" como estrelas e tom a­

vam seu posto nos céus. Entretanto, o único despertar de mortos que fazia parte da cosmovisão antiga era a chamada dos espíritos dos mortos (que não era per­manente, tampouco em presença corporal) ou a res­surreição dos deuses da fertilidade dos ciclos da natu­reza. Esses morriam anualmente quando o ciclo agrí­cola chegava ao fim e "invem avam " no mundo infe­rior. Depois, eram ritualmente despertados na prima­vera. Nada disso apresenta qualquer semelhança com a doutrina teológica da ressurreição. Revivificações ocasionais ou indício de retom o de um a nação à vida, como nessa passagem, não são elementos que repre­

sentam um a doutrina da ressurreição. Ver o comen­tário em Isaías 26.19. A lguns estudiosos sugeriram que é bastante provável que Ezequiel tenha sido trans­portado para o oriente desta vez. A prática zoroastrista era deixar os corpos expostos, na esperança de que algum dia fossem unidos e revividos. O empecilho a

essa hipótese é que a divulgação da cultura e dos con­ceitos persas datam de algumas décadas após Ezequiel, e o zoroastrismo só ganhou destaque no Império Persa a partir do final do sexto século.38 .15 ,16 . escrever na m adeira. E provável, v isto que o m aterial de escrita é a m adeira, que Ezequiel esteja usando dois tabletes de madeira. Era comum usar pla­cas de madeira revestidas de uma m istura de cera de abelhas para a escrita de m ensagens que eram formais, mas não precisavam ser arquivadas e preservadas.

38.1-39.29 Gog^ie e Magogue38.2. G ogue. A identificação de Gogue tem confundi­do comentaristas durante séculos. A explicação mais provável é que o nom e seja um derivado de Giges, um rei lídio m encionado em fontes assírias e gregas. N aquelas ele é cham ado de G ugu e governa sobre mat Gugu, que em acadiano significa "a terra de Gugu". Seu reinado, porém, foi cinqüenta anos ou m ais antes da época de Ezequiel, por isso, alguns estudiosos têm argumentado que o nom e tom ou-se um título dinásti­co usado por seus descendentes reais. O rei de Lídia na época de Ezequiel era Alyattes. Não há evidências de que Lídia jam ais tenha am eaçado Judá, m as os lídios estavam envolvidos em uma séria guerra con­tra Cyaxares e os m edos em 585. Gogue parece seme­lhante aos nomes Agague e Ogue, dois famosos ini­migos de Israel.38.2. M agogue. Provavelm ente M agogue é a forma hebraica do acadiano M at Gugu, "a terra de G ogue", que Josefo identificou como Lídia, no oeste da Anatólia.38.2. M esequ e e T u b al. No final do oitavo século, esses dois remados anatólios foram assolados por guer­ras internas, conquistados por Sargão II, rei da Assíria,

e invadidos pelos cimérios, do sul da Rússia. Infeliz­mente, pouco de sua história referente ao sétimo sécu­lo e início do sexto século foi preservada. Acredita-se que tenham sido incorporados sob o domínio lídio, após o término das guerras cimérias. Na primavera de 585, os lídios estavam em guerra com os medos. São mencionados novam ente no período persa como identidades étnicas distintas. Eram conhecidos pelos assírios como M ushku (centro da Anatólia) e Tabal (leste da Anatólia) e por Heródoto como os M oschi e os Tibarenoi (estados submissos ao Império Persa). No final do oitavo século, o rei de Mushku era Mita, conhe­cido pelos gregos como Midas, o rei que transformava em ouro tudo que tocava. Seu túmulo foi identificado em Gordion e escavado.38.4. anzóis em seu queixo. Os assírios costumavam colocar ganchos ou anzóis no queixo dos inim igos derrotados, tanto com o objetivo de humilhá-los, quanto

de transportá-los para outras terras. Essa prática é descrita com freqüência em seus anais e ilustrada de form a clara em seus relevos de parede. Esar-Hadom é ilustrado em um a esteia de Zinjirli, na Síria, condu­zindo Baal, rei de Tiro, e Tirhakah, rei do Egito, por uma corda presa a uma argola introduzida nos lábios desses reis derrotados. Assurbanipal afirma ter fura­do as bochechas de U ate' (rei de Isam el) com um instrum ento pontiagudo e colocado um a argola em seu queixo.38.4. escudos grandes e pequenos. Eram escudos que protegiam o corpo todo e escudos de mão, respectiva­mente. Ver o comentário em 23.24.38.5. P érsia, E tióp ia e Líd ia. V er o com entário em27.10.38.6. Gôm er. Gôm er tem sido comparado aos "gim i- rrai" dos anais assírios e aos cimérios, das fontes gre­gas. N a Odisséia de H om ero, eles viviam no litoral norte do m ar Morto. Atacaram o reinado de Urartu a partir do norte e causaram problemas para os assírios no oitavo século. Sargão m orreu em batalha contra eles em Tubal. Parece que foram expulsos das monta­nhas do Cáucaso para a Anatólia, segundo Heródoto. Envolveram -se com o reinado anatólio de Lídia, no sétimo século a.C.. Subjugaram os frígios e saquea­ram a capital em Gordion, a sede real do famoso rei M idas, em 676. Em 644 derrotaram Sardes, a capital da nação lídia. Foi quando Gyges encontrou-se com a morte. Durante a época de Ezequiel, os cimérios havi­am sido expulsos da Lídia por Alyattes. M ais tarde foram dominados pelos medos.38.6. Bete-Togarm a. É provável que Bete-Togarm a era a capital de Kam m anu, um reinado do centro da Anatólia. Citado em fontes hititas como Tagaramara e em fontes assírias como Til-Garimmu.38.11. cidades sem m uros. As cidades sem m uros (mencionadas aqui, em Zc 2.8 e em Et 9.19) normal­mente são definidas como aldeias rurais sem muros ou portas, em oposição a cidades fortificadas. Eram indefesas e vulneráveis.38.13. Sabá e Dedã. O reinado de Sabá era um gran­de centro comercial no sudoeste da Arábia que expor­tava pedras preciosas, ouro e incenso. Esse reinado é conhecido como Saba em fontes nativas e nos anais assírios. Tinha uma civilização urbana bastante avan­çada no primeiro milênio a.C.. Para informações adi­cionais, ver 2 C rônicas 9.1. D edã era um oásis no centro da Arábia, onde Tiro recebia suas vestes espe­ciais de montaria. É identificado com a atual localida­de de al-Ula, situada na estrada do olíbano, desde o Iêm en até a Palestina.38.13. m ercadores de Társis. N este contexto, parece que os m ercadores de Társis representam os povos

m ercantis que com ercializavam nas rotas que atra­vessavam o deserto da Arábia, passando por Sabá e

Dedã, até o m ar Mediterrâneo.

38.14. Gogue. Ver o comentário em 38.2.38.19. terrem oto em Israel. Parece que se trata de um

terremoto cósmico, semelhante àqueles descritos em

Êxodo 19, Juizes 5.4, 5, Isaías 30.27, 28, Habacuque3.3-7 e Salmo 68.8, 9 e 114 (ver o comentário em 1 Sm

14.15). Esse tipo de imagem também se encontra nos

anais de Esar-Hadom, rei da Assíria. O Levante era propenso a terremotos, mas Israel fica na margem da

zona cujo ep icentro é na A natólia. Os terrem otos registrados na história ocorreram em 760 e 31 a.C.. Na

era cristã a região teve uma média de um terremoto

de grandes proporções por século.38.22. saraiva e enxofre ardente. A ocorrência de sa­

raiva como castigo divino em relatos de conquista não é exclusiva do texto bíblico. Em uma carta ao seu deus

(A ssur), Sargão, rei da A ssíria, re lata que em sua campanha contra Urartu (714 a.C.) o deus Adade man­

dou uma tempestade contra os inimigos, com "pedras

do céu", aniquilando-os por completo. Essa batalha

incluía uma coalizão que fugiu pelos desfiladeiros e

vales, perseguida por Sargão, com o rei inimigo es­

condendo-se nas fendas de sua montanha. O enxofre

ardente é uma substância amarela cristalina que pega

fogo em contato com o ar, muitas vezes encontrada

em regiões vulcânicas. Não tem relação com a sarai­va, exceto por se tratar também de uma catástrofe que

sobreviria àquela área.

39.1. Gogue. Ver o comentário em 38.1.

39.4. com ida para aves e anim ais do cam po. Ter o

corpo exposto, em vez de enterrado, vulnerável aos elem entos da natureza e aos animais, era a pior mal­

dição imaginável. Além do mais, visto que não havia um a distinção clara entre corpo e alma na mentalida­

de hebraica, a morte não era considerada a separação

desses dois elem entos. Portanto, acreditava-se que quem não tivesse um enterro digno permanecia cons­

ciente (em algum nível) de seu destino. No antigo Oriente Próxim o, acreditava-se que a pessoa só en­

contraria descanso quando seu corpo fosse devida­

mente enterrado.39.6. M agogue. Ver o comentário em 38.2.39.9. armas como com bustível. Passagens que falam

da destruição de armas geralmente enfocam o seu uso

para fins práticos e benéficos. As partes de madeira podiam ser queimadas no lugar da lenha, como aqui

(às vezes essa prática se estendia até para peças do

vestuário, como em Is 9.5) e as partes de metal podi­am ser recicladas e transform adas em ferram entas

para uso agrícola (Is 2.4 e M q 4.3).

39.11. túm ulo. A identificação absoluta do túm ulo ('oberim) tem sido contestada. Eruditos o identificaram como o "v ale dos V iajantes" ou, com base em um paralelo ugarítico, o vale "daqueles que passaram ". Esta definição faz m ais sentido. Gogue tinha almejado ser identificado com os grandes reis do passado, e agora conseguira isso, visto que todos estavam mor­tos. Textos ugaríticos referem-se a um grupo chamado de "refains", seres do mundo inferior (ver o comentá­rio em is 14.9-11).

40.1-48.35O novo templo e a terra restaurada40.1. décim o dia do prim eiro mês. A época é descrita como "início do ano", semelhante à expressão equiva­lente em acadiano. Essa visão, portanto, acontece no dia 10 de nisã, no vigésimo quinto ano do exílio ou 28 de abril de 573 a.C .. N o calendário israelita era o início das atividades da Páscoa. O cordeiro devia ser escolhido nesse dia e morto no dia 14.40.3. corda de lin h o e vara de m edir. A corda de linho pode ser parecida com a trena usada em Za­

carias 2.5 para medir a cidade. Parece que era usada para medir grandes distâncias. A vara de m edir era

para curtas distâncias. Alguns argum entaram que a esteia de Ur-nammu, na cidade suméria de Ur, exibe

um a representação semelhante.40.5. côvado longo, extensão da vara. O cúbito nor­

mal é estimado em cerca de 40 centímetros e o côvado longo, em cerca de meio metro. A vara mencionada por Ezequiel tinha cerca de seis côvados longos ou três metros.

40.6. significado da porta que dá para o oriente. Aporta oriental era a porta por onde a glória de Yahw eh adentraria (Ez 43.1-5). A glória de Deus havia deixa­do o templo passando por essa m esma porta (10.9).

Visto que os templos tendiam a ter a fachada voltada para o leste, essa seria a porta m ais importante.40.7-16. arquitetura da porta. O tamanho e o desenho da porta demonstram sua grande importância no com­plexo do templo. Os batentes eram decorados com ramos de palmeira, supostamente semelhantes aos do templo de Salomão (1 Rs 6.29-36). Esse tipo de instala­ções fortificadas era construído para fins m ilitares e não religiosos. Mais à frente Ezequiel diz que as por­tas deviam ser vigiadas pelos levitas, que guarda­

vam os lugares sagrados do templo. O desenho geral das portas é típico de um a série de portas de cidades palestinas do período pré-exílico em Megido, H azor e Gezer. A s portas descritas nesta passagem se encaixam melhor ao perfil de portas encontradas em muralhas de cidades, visto que ultrapassam bastante o tamanho das portas geralmente encontradas em templos.

40.7-16. medidas comparadas a portas conhecidas pela arqueologia. Essa estrutura é claramente um a guarita ou quartel e m edia cinqüenta por vinte e cinco côvados (25 por 13 metros). Seria equivalente à sala da guarda do templo de Salomão (1 Rs 14.28), embora o tamanho desta não seja mencionado. Dos quase vinte sistemas de portas da Idade do Ferro escavados em Israel, esse seria m aior do que a maioria. As portas de Dã, Megido e Láquis tinham entre 25 e 30 metros de largura (em relação aos 13 metros dessa porta). Mas elas são m aio­res que a maioria e a média aproxima-se da largura da porta descrita aqui. A espessura dessa porta, po­rém, (26 metros) é de tamanho grande. Um a das por­tas m ais espessas escavadas em Láquis tinha quase 25 metros. As descrições e medidas das salas adjacentes são comparáveis às portas da Idade do Ferro.40.17-19. descrição e dim ensão do pátio externo. Com o acréscimo da informação de Ezequiel 42.6, o pátio externo tinha um conjunto de salas que talvez fossem usadas pelos adoradores como locais de encontro e onde tomavam as refeições durante períodos de even­tos religiosos. As salas eram pórticos com colunas. O núm ero de salas e seu tamanho não é dado. A área continha um piso superior de cem côvados. O termo para piso é um a palavra rara. Em Ester 1.6 o termo representa um piso de mosaico incrustado com pedras preciosas.40.20-27. dim ensões das portas norte e sul e descrição com paradas à porta oriental. As portas norte e sul têm as mesmas características da porta oriental: sali­ências, nichos, batentes, um vestíbulo e decoração de tam areiras. A s m edidas dessas três portas tam bém são idênticas.40.26. decoração de tamareiras. A s decorações de tama­reira não eram apenas artisticamente belas, mas rem e­tiam ao templo de Salomão (1 Rs 6.29-36). Esse tipo de decoração era comum na Palestina da Idade do Ferro, particularm ente em relação a fachadas de templos. 40.28-37. portas para o pátio interno (e ausência de portas no oeste). As portas do pátio interno eram imagens em espelho das portas externas. O pátio in­terno tinha ao fundo o muro do lado oeste, com uma estrutura entre o muro e a parte de trás do templo. É por isso que não havia portas do lado oeste.40.39. ofertas. Para informações sobre os diversos ti­pos de ofertas, ver os comentários nos capítulos inici­ais de Levítico.40.43. função dos ganchos de duas pontas. Os gan­chos de duas pontas nas paredes tradicionalm ente têm sido interpretados como usados para pendurar utensílios. Um a interpretação mais recente argumen­ta que eram nichos ou saliências para guardar uten­sílios, parecido com o que é descrito no Rolo do Tem­plo (30.13).

40.47. tam anho do pátio interno. O pátio interno era quadrado, com cem côvados ou cerca de cinqüenta metros de cada lado.41.1. descrição e dim ensão do santuário externo. Osantuário externo apresenta vagas influências babi­lónicas e paralelos específicos com as antigas portas da cidade de Megido, Hazor e Gezer, estruturas que pos­sivelmente foram construídas por Salomão (1 Rs 9.15). Por exemplo, a porta norte de M egido tinha na passa­gem três salas idênticas às descritas em Ezequiel. Aqui em 41.1 é descrito o saguão de entrada, isto é, a sala entre o vestíbulo e o Santo dos Santos. Inúmeros tem­plos mesopotâmicos foram construídos a partir desse modelo (ver os comentários em Êx 26 e 1 Rs 7).41.5-11. desenho arqu itetôn ico . Ezequiel descreve aqui as estruturas secundárias do templo. Neste tre­cho há um a série de expressões técnicas arquitetô­nicas, cujo significado é incerto. Grande parte da des­crição, porém, remete ao que encontramos em 1 Reis6.5-8, em relação ao tem plo de Salom ão. Em bora Ezequiel delineie as estruturas secundárias que cerca­v am o tem p lo , e le não d escrev e a fu n ção delas, tampouco o faz o autor de 1 Reis. Salas semelhantes, dispostas em um piso ou diversos andares, em centros religiosos egípcios, dão a entender que eram usadas como depósitos de tesouros dos templos. Por exemplo, templos construídos por M erenptah e Ram sés II (sécu­lo treze a.C.) tinham depósitos três ou quatro vezes maiores que o templo em si. Isso tam bém era comum na M esopotâmia. "

41.13, 14. d im ensões comparadas com o tem plo de Salom ão. Tanto o templo de Salomão quanto o tem­plo de Ezequiel eram com postos de três salas. As dimensões do santuário externo, do santuário interno e do pórtico em ambos os templos são idênticas.41.15. identificação do segundo prédio e de suas ga­lerias. A identificação e função do segundo prédio mencionado aqui é primordialmente determinada pela compreensão do termo obscuro usado para "galerias" ou "saliências". Essas galerias ficavam na parte exter­

na da estrutura. Eram em grupos de três ou em três níveis. Podiam ser vistas tanto do pátio externo, quanto do interno. Alguns estudiosos concluíram que funcio­navam como galerias ou passagens (ou ambas).41.16. janelas estreitas. A s janelas estreitas provavel­mente ficavam no alto das paredes acima do nível das

salas anexas, semelhante ao templo de Salomão (1 Rs 6.29-35). Correspondem ao desenho de filetes triplos do entalhe da "M ulher à Janela" encontrado na cida­de assíria de Ninrode, datando do início do primeiro m ilênio a.C..41.17-20. im agem de tam areiras e querubins. As fi­guras das tam areiras e dos querubins rem etem de

form a clara ao templo de Salomão (1 Rs 29.36). Entre­tanto, esses querubins têm apenas dois rostos (um de leão e outro hum ano), ao contrário das figuras do tem plo de Salom ão, que tinham quatro rostos. As figuras não eram estruturas autônomas, e sim esculpi­das nas paredes, o que provavelm ente explica por que tinham menos rostos. As imagens eram ladeadas por tamareiras, um tema comum em marfins e outras representações artísticas. As mesmas figuras podem

ser vistas em entalhes de marfim de Arslan Tash, na Síria do primeiro milênio a.C. e em um a cena pintada em jarros de armazenamento da Idade do Ferro, em Kuntillet 'Arjud, na Palestina.42.13.14 . quartos reservados para o uso dos sacerdo­tes no tem plo. Em bora pouco se saiba a respeito dos quartos dos sacerdotes no templo de Salomão, eram bem conhecidos na Babilônia. O bit pirishti era um quarto no templo babilónico em que as vestes sacer­dotais e as roupas caras das estátuas das divindades ficavam guardadas.42.14. vestes santas. O quarto babilónico pit pirishti estava associado com o guarda-roupa dos sacerdotes, pelo menos durante a era Selêucida (após 330 a.C.). Essas vestes eram de m uito valor por causa dos obje­tos de ouro e prata usados para decorá-las. Ourives recebiam permissão oficial para entrar nesses quartos a fim de trabalhar nas vestes dos sacerdotes e das im agens divinas.43.3. rio Q uebar. Ver o comentário em 1.1.

43.7. ídolos sem vid a de seus reis. Esses "ídolos sem vid a" provavelm ente não se referem a cadáveres e sim ao culto pagão dos mortos, semelhante à citação de Levítico 26.30. Ezequiel provavelm ente tinha em m ente um a veneração dos espíritos dos ancestrais re­ais de Israel, algo bastante parecido com o culto aos mortos da realeza em Ugarit. Não fica claro se os reis eram deificados ou não nesses lugares.43.8. so leira e batentes. A afirm ação contida neste versícu lo corresp on d e à d escrição do tem p lo de Salomão em 1 Reis 6 -7 .0 templo original foi construído como um a parte do palácio de Salomão. Apenas uma parede separava o tem plo do palácio e eles faziam divisa "soleira com soleira, batente com batente".43.13. côvado longo. Ver o comentário em 40.5.43.13-17. arquitetura do altar. Em bora o vocabulário técnico para altar seja sem elhante àquele encontrado em acadiano, o altar de Ezequiel é m ais parecido com o do templo de Salom ão (2 Cr 4.1; 1 Rs 2.28). O com ­primento de cada lado é sem elhante em ambos os ca­sos, ao passo que as pontas (chifres) eram um tem a com um de altares no Levante. Em bora o altar fosse grande, não era tão grande quanto o de Salomão e é com­parável aos altares desenterrados pelos arqueólogos.

43.19. fam ília de Zadoque. Zadoque era o represen­tante da linhagem de Arão que serviu como sum o

sacerdote durante os reinados de Davi e Salomão. Na comunidade pós-exílica, os filhos de Zadoque tinham as responsabilidades do altar reservadas a eles, en­quanto aos levitas eram atribuídas tarefas menos im­portantes do que antes. Os zadoquitas mantiveram o sum o sacerdócio até a época do governante grego Antíoco IV (175-163 a .C ). De fato, alguns estudiosos supuseram que a comunidade do m ar M orto pode ter sido criada em resposta ao fim do sacerdócio zadoquita.43.24. sal. A referência aqui é à "aliança de sal" (ver comentários em Lv 2.13 e N m 18.19). As qualidades de preservação do sal faziam dele um sím bolo da perm anência do relacionamento da aliança. Logo, a adição do sal era um lembrete do pacto com Deus.43.25,26 . dedicação durante sete dias. No antigo Ori­ente Próximo em geral, e particularmente em Israel, o

preparo e a dedicação de ofertas duravam sete dias.44.1, 2. porta oriental perm anentem ente trancada. A Porta Sagrada da cidade de Babilônia era por onde a procissão de M arduque (o principal deus da cidade) e outras divindades passavam. Assim como a porta ori­ental descrita por Ezequiel, parece que a Porta Sagra­da era aberta para que a divindade passasse e ficava trancada o resto do tempo.

44.3. príncipe. O príncipe, nesse contexto, é um a figu­ra religiosa responsável por comer as refeições sacri­ficiais diante do Senhor, junto à porta sagrada. Em passagens anteriores de Ezequiel, esse termo foi usa­do para referir-se a uma figura davídica (p. ex., 34.24; 37.25). Aqui, ele não desem penha papel político ou real, apenas um papel nos recintos sagrados do tem­plo. Ele não tem acesso irrestrito à porta oriental, que é reservada para o uso divino; ele apenas tem uma função a desempenhar ali. Fica claro que ele não está incumbido de um a função sacerdotal, visto que não tem permissão para de fato pisar no pátio interno.

44.3. pórtico da entrada. O príncipe podia entrar na estrutura da porta pelo pórtico (ou vestíbulo) da entra­

da, significando que ele já passara pelo pátio por uma outra porta e entrava na porta oriental pelo lado de dentro. Ele ficava de pé junto ao batente da porta, o que

lhe perm itia ver a atividade cultual dos sacerdotes.44.8. encarregaram outros. Estrangeiros haviam sido

recrutados para trabalhar no templo provavelmente como guardas, desde a época de Manassés e Amom. A lém do m ais, registros neo-babilônicos e fenícios parecem afirmar a probabilidade do uso de estrangei­ros nesse tipo de trabalho no templo.44.14. deveres do tem p lo . A tarefa de guardar as portas do tem plo envolve não apenas o santuário, mas todo o complexo do templo. Os levitas também

eram responsáveis por zelar pelo templo e por toda a propriedade, e supervisionavam atividades nas de­pendências do templo. Para m ais informações sobre a im portância dessa tarefa, ver o comentário em 1 Crô­nicas 9.22-27.44.17. linh o , não lã. Uma possível razão para a proi­bição do uso da lã talvez fosse prática. É m ais prová­vel que a lã fizesse a pessoa suar. Visto que muitas secreções expelidas pelo corpo provocavam a conta­minação, era preciso tomar certas medidas para evitar que elas ocorressem no templo. Parece que o mesmo acontecia no Egito também, onde segundo Heródoto e o escritor rom ano Luciano, o linho era usado como tecido para a confecção das vestes sacerdotais. Heródoto acrescenta que os sacerdotes egípcios tinham que cons­tantemente lavar suas vestes de linho.

44.19. quartos sagrados. Ver o comentário em 42.14.44.20. regras a respeito do cabelo. Era proibido rapar a cabeça e deixar o cabelo comprido provavelmente por causa dos costum es pagãos associados a cultos cananeus dos mortos. O tabu se origina em Levítico 21.5 (ver o comentário ali).44.21. proibição a respeito do vinho. Essa proibição tem paralelo em Levítico 10.9. Em bora fosse conheci­da a em briaguez ritual, por exem plo, presente no épico babilónico da criação, Enuma Elish, é provável que essa proibição tinha como objetivo garantir que o sacerdote tivesse controle de suas faculdades mentais (ver o com entário em Is 28.7) no exercício de suas funções.44.22. regras a respeito do casam ento. A s restrições a

respeito do casamento do sacerdote originam-se em Levítico 21.7, 10-14 (ver os com entários ali). Parece que a preocupação era m anter a pureza da linhagem sacerdotal, embora Ezequiel não m encione a razão da proibição.44 .29 , 30. p orção dos sa cerd o tes . A p esar desses versículos tratarem do sustento físico dos sacerdotes, há algo m ais implícito nessas orientações. Os sacerdo­tes literalmente eram convidados a comer da comida de Yahweh. Para m ais informações, ver os comentári­os em Números 18.12-19. Eles também tinham autori­zação para com er o herem ou "d e tudo que fosse dedi­

cado e não pudesse ser resgatado". Esses itens evi­dentem ente eram para qualquer uso, exceto os que eram prescritos para o culto.45.1. conceito do distrito sagrado. O distrito sagrado era terra reservada para o uso de D eus na área do tem plo. Ezequiel retrata a terra com o um a dádiva que era devolvida ao benfeitor divino. Desde o início do quarto milênio a.C., a cidade de U nik, no sul da M esopotâm ia tinha distritos sagrados no centro da cidade. N a Mesopotâmia antiga os distritos sagrados

eram separados por muros de arrimo que davam sus­

tentação à estrutura ou eram cercados por um grande

muro de cidadela. O acesso aos recintos sagrados era

restrito e regras rígidas eram mantidas em relação a quem podia entrar e em que ocasiões. Esse conceito é

uma continuidade da idéia do compasso sagrado que foi estabelecido em Israel quando o tabernáculo foi

montado durante a peregrinação no deserto (ver os

comentários em Lv 10.10 e N m 18.1-7).

45.2-6. dim ensões do distrito sagrado. A área maior consagrada tinha cerca de doze quilômetros e meio de

comprimento e dez quilômetros de largura, perfazen­

do uma área de 80 quilôm etros quadrados. Pode-se

comparar essa área com os 990 quilômetros quadra­

dos do distrito inteiro de Yehud, sob o governo persa. M etade dessa área era reservada para os sacerdotes é

o santuário, que ficava no centro. O utra área, com

doze quilômetros e meio de comprimento e cinco de

largura, era reservada para a cidade, que provavel­mente era Jerusalém, embora o nome não seja m enci­

onado. Se essas dimensões foram sobrepostas à terra de Israel, englobaria um a grande parte central do

território de Judá. O esquem a territorial mostra a im­

portância dos oficiais do Estado, que eram posicionados próxim o ao centro, onde o acesso a D eus era m ais

direto.

45.7. príncipe. Ver o comentário em 44.3.

45.10. balanças honestas. Em uma economia que não

tinha pesos e medidas padronizados, os comerciantes

m uitas vezes eram tentados a adulterar as balanças e medidas, com freqüência usando pesos incorretos e

fundos falsos e outras maneiras de alterar o tamanho

das vasilhas.

45.10-12. m edidas. A s balanças com duas bandejas eram usadas para pesar mercadorias em Israel. O efa

era uma unidade de medida de capacidade para secos usada na pesagem de cereais e as estimativas variam

entre 20 e 40 litros. O bato era um a m edida para

líquidos, de cerca de 20 litros. Era usado para m edir

azeite, vinho e água. Tanto o efa quanto o bato equi­valiam a um décimo de um ômer.

45.17. contribuições do príncipe. Aqui o príncipe é

m ostrado em um papel real. G eralm ente no antigo Oriente Próximo, era o rei quem fornecia os sacrifícios

para os rituais e festas religiosas. Isso pode ser obser­

vado nos textos bíblicos e tam bém nas nações que circundavam Israel. Nas grandes festas em que todo o

povo participava, a população em geral muitas vezes

desem penhava o papel de m eros espectadores, en­quanto os líderes do povo (coroa e templo) eram os

protagonistas. Essas festas costumavam ter muita pom ­pa e a generosidade do rei ficava evidente.

45.18-20. festa inaugural. O ritual descrito aqui tem todos os traços de uma cerimônia de purificação para dedicar um santuário novo. Eram atividades que ge­ralm ente duravam sete dias e garantiam que o lu­gar sagrado e os objetos do santuário estariam pron­tos para uso. M arcava o início do funcionamento do santuário.45.21-25. a nova Páscoa. Na formulação de Ezequiel, a Páscoa assume um aspecto diferente da observância tradicional estabelecida em Êxodo 11-12 . O riginal­mente fora estabelecida como uma festa voltada para a fam ília em que o chefe da casa desempenhava um papel sacerdotal e a casa era o local das festividades. A festa do pão sem fermento gradualm ente se mistu­rara à Páscoa, como o texto aqui indica. Nas celebra­ções da Páscoa executadas por Ezequias (2 Cr 30) e Josias (2 Cr 35), havia um aspecto m ais nacional e centralizado na observância, ainda m ais acentuado aqui em Ezequiel.46.1. significado da Lua nova. Atrelado ao calendário lunar, o antigo Israel marcava o prim eiro dia do mês com a fase da "L ua nova", celebrado como um dia de festa (a cada v in te e nove ou trinta d ias). Com o no sábado, todo trabalho devia ser interrompido nesse dia (ver A m 8.5) e certos sacrifícios deviam ser oferecidos (Nm 28.11-15). No período monárquico, o rei passou a assum ir um papel de destaque nessas celebrações. A festa continuou a ser observada no período pós-exílico (Ed 3.5; N e 10.33). A s festas de Lua nova também eram proeminentes na M esopotâmia desde o final do tercei­

ro milênio até o período neo-babilônico, na m etade do primeiro milênio a.C.. O culto à Lua era difundido em

todo o antigo Oriente Próximo e as divindades da Lua figuravam com destaque em textos mitológicos. Embo­ra os israelitas fossem proibidos de adorar qualquer corpo celeste (inclusive a Lua: p. ex., D t 23.5 e Jr 8.2), tinham perm issão de celebrar o prim eiro dia do mês lunar com trombetas e holocaustos.46.2. entrada do príncipe. V er o comentário em 44.3.46.3. adoração no sábado ju nto à porta. Esta é uma

das poucas referências explícitas no Antigo Testam en­to à adoração no sábado, que geralmente era descrito apenas em term os de atividades proibidas. M uitas festas de Israel incluíam "convocações santas", mas nunca eram ordenadas no sábado. Aqui é interessan­te notar que o templo é o lugar central da adoração no

sábado. Os templos serviam como locais de ajunta­m ento quando os rituais sagrados eram realizados (em eventos designados como assembléias solenes ou convocações sagradas). Deve-se ter cuidado para não

associar demais nosso culto aos domingos nas igrejas com os atos de culto de Israel no templo ao sábado. As diferenças são ao m esmo tempo profusas e profundas.

46.9. entrada e saída por portas opostas. Essa restrição parece simplesmente regulamentar o fluxo das pesso­as em ocasiões de grandes ajuntam entos no templo e assegurar a ordem. A área do templo devia representar

o exemplo m áximo da ordem, inclusive na questão do fluxo de pessoas. Qualquer coisa descontrolada ou que refletisse confusão não devia ter lugar no templo.46.19-24. cozin h as para o preparo das ofertas. Um bom núm ero de templos no antigo Oriente próximo tinha cozinhas anexas. Elas foram encontradas em Ur, Tell Asm ar e Terqa, na M esopotâm ia e em Karnak, no Egito. M uitas cozinhas eram maiores que o próprio tem plo a que serviam . Segundo Crônicas 35.11-13 deixa implícito que havia cozinhas associadas ao tem­plo de Salomão.47.1. água saindo do tem plo. A associação entre os

tem plos do antigo O riente Próxim o e as fontes de água é bastante atestada. De fato, considerava-se que alguns templos na Mesopotâmia, no Egito e no mito ugarítico de Baal haviam sido fundados sobre fontes (comparadas às águas primevas), que às vezes fluíam do próprio prédio. Logo, a montanha cósmica simbó­

lica (o templo) estava sobre as águas primevas simbó­licas (fonte).

47.8. água do m ar saneada. A dessalinização (ou sa­neamento) da água do m ar Morto seria uma transfor­mação miraculosa. O m ar Morto fica quase 400 metros abaixo do nível do mar, sendo o ponto m ais baixo da terra. O alto índice de minerais do m ar M orto é resul­tado do fato de não ter saída. As águas de diversas fontes escoam até ele carregando consigo diversos m inerais a níveis de sete m ilhões de toneladas por dia. Depois a água evapora, deixando os m inerais ali. A salinidade chega aos 26-35 porcento (comparados aos 3 p porcento da média de salinidade dos oceanos).47.15-17. fron teira norte . Em bora a fronteira norte seja descrita com muitos detalhes, nenhum dos nomes

foi identificado com segurança. Portanto, não é possí­vel traçar as linhas da fronteira para o norte de Israel.

Existem, no entanto, algumas afinidades com a lista em Números 34.7-9, uma fronteira que coincidia com os limites do norte da terra de Canaã, que era o nome da área S iro -P alestin a contro lad a p elos eg ípcios. Ezequiel usa termos gerais aqui para descrever um território e não um a linha de fronteira.

4 7 .18 . fr o n te ira le s te . Com o N ú m eros 34 .10 -12 , Ezequiel exclui de sua descrição a fronteira leste das regiões da Transjordânia que haviam sido ocupadas por G ade, Rúben e m etade da tribo de M anassés.

Portanto, a principal divisa era o rio Jordão que corria

para o sul desde o m ar da Galiléia, até o m ar Morto.47.19. fro n te ira su l. A fronteira sul com eçava em Tamar, o ponto m ais distante da fronteira leste, e ia até o m onte H alaque e M eribá-C ad es, ou C ades- Barnéia (atual 'A in el-Qudeirat), um oásis na frontei­ra sul do deserto de Sim. Dali, a fronteira seguia pelo ribeiro do Egito (não o Nilo), que cortava o deserto do Sinai e formava um a divisa natural entre o Egito e a Palestina.47.20. fro n te ira oeste. A fronteira oeste, com o em Números 34.6 era o m ar Mediterrâneo.48.1-7. território das tribos comparados à divisão origi­nal da terra. A divisão dos territórios tribais aqui em Ezequiel segue a ordem pré-monárquica que excluía os levitas e dividia em duas a tribo de José (Efraim e M anassés), a fim de m anter o núm ero dos lotes em doze. Entretanto, essa divisão demonstra pouca preo­cupação com a realidade histórica. Como em Ezequiel 47, o território a leste do Jordão é ignorado. M ais adiante, as fronteiras leste-oeste contrastam com o re­levo físico natural, que é definido em term os de li­nhas norte-sul. Os lotes de cada tribo são idênticos em tamanho e tam bém respeitam as relações tradicionais genealógicas entre as tribos, discrim inando entre os descendentes das esposas de Jacó e das concubinas. Ju d á e Benjam im , porém , detêm sua parte na área mais próxima ao santuário.48.9-14. tam anho da porção aos sacerdotes e levitas.A porção de terra para os levitas está menor, m ostran­do a diminuição de sua importância. Tanto os sacerdo­tes zadoquitas quanto os levitas receberam lotes idên­ticos de cerca de doze quilômetros por cinco.48.15-20. tam anho dos lotes para o povo. A cidade recebeu uma área murada de cerca de dois quilôme­

tros e meio de largura e doze quilômetros e meio de comprimento. Era m argeada em cada lado por áreas abertas retangulares com cerca de oito quilôm etros quadrados cada.48.21. 22. terras do príncipe. As terras do príncipe ficavam em ambos os lados da praça central, tendo cada área cerca de doze quilômetros e meio de largu­ra. Era um a área considerada exclusiva para o uso do príncipe e separada do povo e dos levitas.48.23-28. restante dos lotes das tribos. Ver o comentá­rio em 48.1-7.48.31. portas com nom e das tribos. Nas cidades do m undo antigo, como a Babilônia, as portas geralmen­te recebiam o nome de deuses. Não era raro, porém, que portas recebessem o nom e do lugar para onde conduziam. Essa era a prática m ais comum em Israel.

D A N I E Lv1 .1-21 Daniel e seus amigos na corte de Nabuco- donosor1.1. Nabucodonosor. Nabucodonosor II (605-562 a.C.) foi o segundo governante do reinado caldeu centrado na Babilônia que dominou o antigo Oriente Próximo

por quase um século. Ele era filho de Nabopolassar, um caldeu que declarou a independência do jugo assírio em 626 a.C.. Em seu reinado de quarenta e três

anos, Nabucodonosor pacificou o Egito (embora não tenha obtido êxito em conquistá-lo) e literalmente re­construiu a Babilônia. N a verdade, grande parte da

cidade da Babilônia desenterrada por escavadores de nossos dias data do reinado desse monarca. Assim, o reinado caldeu foi sua principal criação e sucumbiu

somente uma geração após sua morte. Esse grande rei é mencionado em muitas tradições culturais, inclusi­ve em fontes da G récia (onde era conhecido como um

grande edificador) e de Israel (não apenas no material bíblico, mas também em fontes rabínicas posteriores).1 .1 ,2 . cronologia. O terceiro ano de Jeoaquim foi 606­

605 a.C. (com base no calendário tishri, ver o comen­tário em Jr 32.1, e_com base no sistem a do ano da

ascensão ao trono, ver o comentário em 2.1). A essa altura N abucodonosor ainda era o príncipe conduzin­

do campanhas militares para seu pai, Nabopolassar, que m orreu em meados de agosto desse mesmo ano. No início do verão de 605, Nabucodonosor, juntam en­

te com seus aliados, os medos, conquistaram o último b astião da re sistên cia a ssíria em C arqu em is. Os

babilônios e os m edos então deram continuidade à divisão do Im pério Assírio entre eles. Nabucodonosor

tom ou posse da Síria e estabeleceu sua base em Ribla (ver o com entário em 2 Rs 23.33), onde com eçou a recolher tributo de seus novos súditos. Judá foi desti­nado como parte do território concedido aos babilônios,

e Nabucodonosor retom ou à área no final de 604. Não há registro de nenhum cerco direto a Jerusalém con­

duzido pelos babilônios, a não ser a partir de 597, mas a expressão no final do versículo 1 é genérica o bas­tante para adm itir uma série de possibilidades.1.1, 2. Jeoaquim . Jeoaquim era filho de Josias que foi

colocado no trono pelo faraó Neco, quando este tentou estender seu controle sobre a Siro-Palestina. Quando Josias foi m orto em batalha, o povo entronizou seu filho, Jeoacaz, que representava um a facção contrária

aos egípcios. Essa situação durou por apenas três me­ses (enquanto N eco estava ocupado em Harã). Em

seguida, Neco depôs Jeoacaz e o enviou como cativo ao Egito. Jeoaquim, que era a favor dos egípcios, foi então colocado no trono em lugar de Jeoacaz, com a

expectativa de que se fosse um vassalo leal ao Egito. A situação mudou radicalmente quando Nabucodo­nosor conquistou o controle da região, após a queda

de Carquem is. Jeoaquim desem penhara o papel do vassalo babilónico relutante por diversos anos, mas

após o fracasso de N abucodonosor em invadir o Egito em 601, novam ente rompeu com a Babilônia e buscou o apoio do Egito em sua rebelião. Com o passar do

tempo, essa mostrou-se fatal e levou os babilônios a sitiar Jerusalém em 597 (ver o com entário em 2 Rs24.10, 11).

1.2. u tensílios do tem plo. Esses utensílios eram consi­

derados despojos cobiçados não apenas por serem de m etais preciosos, mas por terem sido dedicados ao Deus Yahw eh para uso nos rituais do templo. Demons­

trava-se ter o controle da divindade cujos objetos im ­portantes eram tomados. Para descrição desses utensí­lios, ver o comentário em 2 Crônicas 4.

1.2. levou para o tem plo. Como sabemos a partir de referências nos textos de M ari e também no Cilindro

de Ciro, objetos sagrados, inclusive ídolos e os diver­sos tipos de vasilhas usadas na adoração eram levados como reféns quando um povo era conquistado. Uma

forma de demonstrar a superioridade do deus da na­ção vitoriosa sobre os deuses dos povos conquistados era profanar seus objetos e lugares sagrados, colocan­do-os em um a posição de submissão.

1.2. seu deus. M arduque era o principal deus da Babilônia, a divindade padroeira e o chefe do pan­teão. O épico babilónico da criação, Enuma Elish, na

verdade é um m ito que narra sua ascensão a essa elevada posição, que teria acontecido no final do se­gundo m ilênio. Era considerado o filho de Enkidu, pad roeiro de E ridu e um dos m em bros da m ais augusta tríade antiga. Embora muitas vezes vejamos Baal na B íb lia com o o principal rival de Yahw eh,

nenhum a divindade no primeiro m ilênio teve o im ­pacto político de M arduque. Seu fam oso tem plo, Esagila, juntam ente com seu zigurate, Etem enanki,

eram os principais prédios que se destacavam na bela cidade da Babilônia.

1.3. a posição de Aspenaz. O título traduzido como "chefe dos oficiais da corte" também é atribuído a um dos três representantes de Senaqueribe enviados para confrontar Ezequias (ver o comentário em 2 Rs 18.17). O termo hebraico traduzido como "oficial da corte" às vezes se refere a eunucos (ver o com entário em Is56.4, 5), em bora seja difícil dizer quando tem esse significado específico.1.4, 5. servir no palácio do rei. O treinamento que os jovens deveriam receber tinha como objetivo prepará- los para o serviço real. Como cortesãos, poderiam ser­vir como escribas, conselheiros, sábios, diplom atas, governadores provinciais ou assistentes de membros da casa real. Nas cartas do sétimo século aos reis assírios as cinco principais classes de eruditos que serviam ao rei são mencionadas como astrólogos/escribas, adivi­nhos, exorcistas (esse termo é usado para descrever o grupo em que Daniel e seus amigos foram incluídos, no v. 20), médicos e lamentadores. Não era raro que um indivíduo fosse educado em um a série dessas

disciplinas. Preparar estrangeiros para esses cargos e posições tinha como finalidade promover a absorção

dos melhores e mais brilhantes m em bros da geração seguinte. D este m odo, suas habilidades beneficiari­am mais aos babilônios que a seus inimigos.1.4. língua dos b ab ilôn ios (caldeus). A língua tradici­onal da Babilônia era o acadiano, um a língua antiga e complexa de escrita cuneiform e (um estilo ou buril era usado para cunhar os caracteres), em que cada sím bolo representava um a sílaba. G rande parte da literatura canônica dos babilônios foi escrita em aca­diano. Portanto, era necessário que eruditos fossem instruídos nessa língua. Além disso, havia inúmeros dialetos de acadiano, em bora talvez, muitos dos docu­

m entos antigos tenham sido reescritos nos dialetos correntes. A dinastia reinante, porém, não era babi­

lônia nativa, mas de origem caldéia (ver o comentário em Is 13.19). Sua língua e a língua diplom ática da época eram o aramaico, que fazia uso de um a escrita alfabética, sem elhante à utilizada pelo hebraico. O uso difundido do aram aico no m undo dessa época possibilitou que Daniel e seus amigos tivessem uma certa fluência nessa língua. Tam bém é possível que, ao referir-se à língua dos caldeus, o texto não esteja falando dos caldeus étnicos, mas sim da guilda sacer­dotal de adivinhos que, de certa maneira, haviam se tom ado conhecidos como caldeus. No Livro de Daniel o termo é usado com os dois sentidos (grupo étnico e guilda profissional).1.4. literatura dos bab ilôn ios (caldeus). É difícil ter certeza se o treinamento que receberiam incluía um a am pla bibliografia, como a educação geral e dos es­cribas, ou se esse treinamento se concentraria na lite­

ratura especializada usada pelos adivinhos. As prin­cipais obras que compunham a literatura dos adivi­nhos eram os textos de presságios. As credenciais alis­tadas por diversos eruditos indicam que eles domina­vam a coletânea de presságios. Essa literatura repre­

sentava mais de um m ilênio de observações de diver­sos fenômenos seguidos da análise do presságio favo­rável ou desfavorável que representavam. Além dis­so, havia manuais de instrução e correspondência em que os relatórios desses especialistas eram apresenta­dos ao rei. Alguns desses presságios registrados, tais como sonhos ou observações astronômicas, simples­m ente eram observados e preservados na escrita. Outras vezes, algum mecanismo era usado para pro­duzir o presságio (adivinhação através das entranhas de animais sacrificados) ou um médium humano era envolvido. Os presságios em si começaram a ser cole­tados desde o período da Antiga Babilônia (início do segundo m ilênio) e geralm ente eram apresentados na form a "se-então". Os exorcistas (ver o comentário em 1.20), em cujo grupo D aniel parece ser incluído, tinham sua literatura específica também. Esses profis­sionais se especializavam em identificar o perigo de diversos agouros (acontecim entos astronôm icos, so­nhos, nascimentos anômalos) e providenciar os rituais de proteção contra os mesmos. A literatura dessa m a­gia protetora é representada nos textos namburbu.1.5. porção da m esa do rei. H avia muitos indivíduos que recebiam o direito de receber porções da mesa do rei. A inclusão nesse grupo não sugere que desfruta­vam de saraus aconchegantes, íntimos com o rei, mas que sim plesm ente dependiam da coroa. D entre os

que recebiam tais porções no período neo-babilônico estão incluídos certos membros do alto escalão admi­nistrativo, artesãos (nativos ou estrangeiros), diplo­matas, homens de negócios e artistas, bem como refu­giados políticos e membros da família real que havi­am sido deportados ou estavam sendo m antidos como reféns na Babilônia. Dependendo de sua posição, es­ses indivíduos recebiam porções de cevada e azeite ou alimentos mais requintados. Roupas e abrigo tam­bém estavam incluídos no seu sustento.1.5. com ida real. O termo (patbag) usado aqui (e ao longo do capítulo) é conhecido em persa e acredita-se que seja um empréstimo. Refere-se a porções de comi­da enviadas pelo rei a amigos da coroa. Não há razão para pensar que se trate de um prato de com ida. Quando mais tarde os gregos se referiram a descri­ções desse alimento na literatura persa à qual tiveram

acesso, foi descrito como pão assado feito de cevada e trigo, acompanhado de vinho.1.5. três anos de treinam ento. O treinamento normal para um escriba era de três anos. Na literatura dispo­

nível do período da Antiga Babilônia, o treinamento incluía áreas da língua e da literatura m encionadas acim a e tam bém m atem ática e m úsica. É provável que o período de treinamento para um adivinho fosse m ais longo, mas não há indicações precisas da dura­ção no material preservado.1.7. novos nomes. Mudar o nome de alguém era uma form a de exercer autoridade sobre a pessoa e seu destino. Governantes estrangeiros demonstravam essa propensão no período bíblico. Visto que a assimilação cultural era um dos objetivos ostensivos de todo o processo a que Daniel foi submetido, um nome babi­lónico seria m ais apropriado. Igualm ente, visto que os nomes geralm ente continham afirmações sobre a divindade, os nomes babilónicos imporiam sobre os jovens um nível mínimo de reconhecimento dos deu­ses babilónicos.1.8. contam inação com a com ida real. Tem havido amplos debates e diversas sugestões quanto às razões pelas quais Daniel e seus am igos se recusaram a co­m er a comida real. A maioria se baseia na premissa

da oposição entre carne e vegetais (ver os comentários em 1.5 e 1.12 acerca dos problemas). É verdade que compartilhar da comida do rei implicava certo nível de submissão ao rei, m as nesse caso não faria diferen­ça o que os jovens iriam comer. Segundo as leis da dieta judaica (kosher) provavelmente a carne era consi­derada im pura, m as a arm azenagem ou o preparo incorretos dos alimentos tam bém tom ava a comida impura. A lém do mais, as leis da dieta judaica não proibiam o consumo do vinho. A s carnes de melhor qualidade sem dúvida eram fornecidas aos palácios pelos templos, onde haviam sido oferecidas diante de ídolos (e o vinho derramado como libações diante dos deuses), m as qualquer comida podia facilm ente se­guir esse mesmo percurso. A decisão certamente não tinha nada a ver com vegetarianismo ou evitar comi­das calóricas com objetivos nutricionais (ver 10.3). Existem inúmeros exemplos na literatura intertesta­mental de judeus vendo a necessidade de abster-se da comida servida por gentios (Tobias, Judite, Jubiles). Não é tanto a com ida em si que tom aria os jovens impuros, mas sim todo o program a de assimilação da cultura babilónica. A essa altura, o governo babiló­nico demonstrou exercer controle sobre todos os as­pectos da vida deles. Eles tinham poucos recursos para resistir às pressões e influências culturais que os controlavam. Por isso, se agarraram às poucas áreas em que ainda podiam exercitar escolha, como uma oportunidade de preservar sua identidade.1.12. vegetais. A palavra usada aqui geralm ente se refere às sementes destinadas à alimentação de ani­m ais, à forragem ou ao plantio. Nem em acadiano,

nem em hebraico é usada para descrever alimento

humano. M as o texto não sugere que recebiam uma comida preparada e servida ao estilo de restaurante. Como explicado acim a (1-5), com er da m esa do rei significava apenas receber porções de alimento às cus­tas da coroa. As porções dos m ilitares, por exemplo, consistiam de quantidades calculadas de cereais que os soldados então usavam para preparar suas refei­ções. Os grãos de cereais podiam ser moídos, tritura­dos e cozidos em água para preparar um mingau. Portanto, no caso dos vegetais, trata-se da m esm a quantidade de ração mencionada em 1.5, m as seriam preparados por eles e não pela cozinha real.1.17. visões e sonhos. D esde o terceiro m ilênio a.C., acreditava-se que os sonhos eram importantes meios de revelação da ação dos deuses. Eram considerados comu­nicações vindas dos deuses, levadas por um espírito mensageiro. Em acadiano, esse mensageiro era chama­do Zaqiqu. Às vezes, as inform ações eram buscadas através de sonhos (ver o com entário em 2 Cr 1.7-12).

1.20. m agos e encantadores. O primeiro termo refere- se aos intérpretes egípcios de sonhos. É a mesma pa­lavra usada em G ênesis 41.8 e Êxodo 7.11. Sabe-se

que os babilônios incluíam intérpretes egípcios de sonhos entre os conselheiros da corte. O segundo ter­mo refere-se aos especialistas mesopotâmicos em exor­cismo que protegiam contra mensagens ameaçadoras contidas em sonhos ou presságios. A s habilidades destes incluíam identificar o sinal de ameaça, deter­minar um curso de ação para evitar o mal e executar

rituais apotropaicos e recitar encantamentos para afas­tar o perigo. As doenças eram incluídas com freqüên­cia na classe de sinais ameaçadores, por isso o exorcista era considerado um "profissional da saúde e medici­na" na sociedade babilónica. O uso desses dois termos deixa claro que as habilidades de Daniel ultrapassa­vam a dos especialistas estrangeiros bem como a dos praticantes nativos.1.21. p rim eiro ano de C iro. Provavelm ente esta é um a referência ao primeiro ano do reinado de Ciro na Babilônia, que teve início em outubro de 539 a.C.. Isso significa que a duração dos serviços de Daniel naquela corte estendeu-se por um período de m ais de 65 anos.

2.1-49 O sonho de Nabucodonosor2.1. cronologia. Na contagem babilónica, a partir do momento em que o rei assumia o trono até o dia de Ano Novo (em nisã, março/abril) era considerado o "ano da ascensão". Seu primeiro ano começava com o início do Ano Novo (um ano completo). Nabucodonosor ascendeu ao trono em 6 de setem bro de 605. Seu

primeiro ano foi da prim avera de 604 até a primavera de 603. A Crônica Babilónica que registra os eventos deste ano está fragmentada em pontos cruciais, mas os trechos preservados são suficientes para mostrar que N abucodonosor enfrentou alguns im portantes desafios m ilitares. Seu quarto ano trouxe a fam osa tentativa, em bora frustrada, de invadir o Egito.2.2. con selh eiros. A literatura acadiana refere-se a essa categoria geral de especialistas como ummanu mudu, mestres do conhecimento esotérico. Os primei­ros dois term os são os m esm os usados em 1.20. O terceiro termo é usado no Antigo Testam ento como um termo geral para praticantes da magia designa­dos "feiticeiros". No uso babilónico o termo refere-se esp ecificam en te àqueles que lançavam feitiços. O quarto term o, "astró logos", é a palavra geralm ente traduzida como "caldeu s" e aqui refere-se à guilda sacerdotal de adivinhos. Em épocas m ais recentes eles se especializaram em astrologia.2.3. son hos que pertu rbam . V er o com entário em1.17. Visto que os sonhos eram considerados m en­sagens vindas dos deuses, com freqüência causavam preocupação, quando não agitação. A própria natureza do sonho do rei indicava que as notícias não eram boas. Ele sentiu aquela ansiedade que sente um em ­pregado quando é chamado na sala do patrão em um momento em que a empresa está passando por m u­danças que afetam o quadro de funcionários.2.4. aramaico. Era normal que os especialistas se diri­gissem ao rei em aramaico, porque essa era a língua da área. A partir desse ponto, até o final do capítulo sete, o Livro de Daniel está escrito em aramaico e não em hebraico. A s duas línguas usavam as m esm as letras, por isso as páginas nas línguas originais não pareceriam diferentes ao leitor falante de português.2.4. interpretação de sonhos. A interpretação de so­nhos geralmente era feita por especialistas que havi­am sido treinados na literatura onírica disponível. H á m ais informações sobre essa prática na Mesopotâmia do que no Egito. Tanto os egípcios quanto os babilônios compilavam o que cham am os de livros dos sonhos. Eles continham amostras de sonhos juntam ente com a

chave para sua interpretação. Visto que os sonhos com freqüência estavam baseados em simbolismos, o in­térprete tinha de ter acesso a esses documentos que preservavam os dados em píricos concernentes a so­nhos passados e sua interpretação. Geralmente, po­rém , apenas o tema central do sonho era objeto de interpretação, e não todos os detalhes envolvidos. A interpretação de sonhos incluía a identificação do sig­nificado dos símbolos contidos no sonho, a declaração

de seu significado, as conseqüências e a data dos even­tos a que se referiam, e a elaboração de um a resposta

adequada ao sonho. A resposta ou atitude podiam incluir rituais apotropaicos para defender-se de maus presságios ou ações que o rei deveria praticar.

2.5-9. a exigência do rei. Se o rei tivesse esquecido o

sonho, ele não queria adm itir, porque esquecer um sonho era um m au agouro que indicava que a divin­

dade estava irada com ele. Além do mais, tal esqueci­m ento logicam ente resultaria no pedido de que os

deuses enviassem o sonho novamente. Sonhos impor­tantes geralmente eram repetidos duas ou três vezes

(observe que o v. 1 sugere m ais de um sonho pelo uso

do plural). U m a alternativa é que N abucodonosor

teria sentido tratar-se de um sonho tão agourento que poderia facilmente ser usado como um mecanismo de

subversão contra o trono. Mensagens divinas há m ui­

to haviam servido aos propósitos de conspiradores e

usurpadores do trono (ver 2 Rs 8.8-15 e o comentário em 2 R s 9.6-10). Ao exigir que os deuses revelassem o

sonho aos intérpretes, o rei procurou certificar-se de

que a interpretação do sonho representaria de fato a

m ensagem dos deuses e não os planos ou interesses humanos.

2.11. a queixa dos sábios. Acreditava-se que os deu­

ses se comunicavam através de sonhos e os especialis­

tas criam que os deuses podiam revelar-lhes a inter­

pretação dos sonhos através do uso de recursos dispo­

níveis. No entanto, não havia nenhum recurso que os capacitasse a descobrir o sonho. Não havia preceden­

tes de os deuses revelando esse tipo de informação.

2.12. execução de tod os os sáb io s. A execução de

grupos inteiros suspeitos de conspiração ou incompe­tência é bastante comum no m undo antigo. Heródoto

registra um a série de instâncias durante o período

persa. Um a delas envolve os m agos, um dos quais

havia de fato usurpado o trono, sendo executado por Dario I. U m segundo exemplo é a execução por Xerxes

dos engenheiros que haviam construído um a ponte

que ruíra numa tempestade. U m exemplo bíblico acon­teceu no reinado de Saul, que quase eliminou todos os

sacerdotes ao suspeitar que estavam conluiados com Davi (1 Sm 22.13-19).

2.14. com andante da guarda do rei. Esse é o título

oficial de um importante funcionário cujas obrigações eram às vezes repulsivas. Quando Jerusalém sucum­

biu diante dos babilônios, o comandante encarregado

de destruir sistem aticam ente a cidade e dispor dos

cativos, executando-os ou deportando-os, tinha esse título. É similar ao título de Potifar, em Gênesis 37.36.

A terminologia sugere algo do tipo "cozinheiro-che-

fe", m as assim como alguns dos títulos governamen­

tais de nossos dias, o cargo deve ser entendido a partir da função desempenhada e não pelo título em si.

2.19. "D eu s dos céus". Esse título para a divindade

tom ou-se comum a partir do século sexto em diante.

Em documentos persas, era usado com freqüência para Ahura M azda, a principal divindade do Zoroastrismo (ver o comentário em Ed 1.2 e Ne 1.4). Os israelitas

tam bém o consideravam um título aplicável a seu

D eus, Yahw eh.2.31. estátua em sonho. O faraó M erenptá (século treze a.C.) relata ter visto em um sonho uma enorme

imagem do deus Ptá. O deus lhe deu permissão para

sair em guerra contra os líbios. Em um sonho relatado

durante o reinado de Assurbanipal, um a inscrição na base da estátua do deus Sin prevê o fracasso da rebe­lião na Babilônia.

2.32. estátua com m istura de m ateriais. A s estátuas feitas da m istura de diversos m ateriais não eram raras

no mundo antigo. Visto que as imagens dos deuses

geralmente eram vestidas, o material m ais caro e va­

lioso era usado nas partes que ficavam à mostra. As­sim , por exem plo, um a oração hitita da m etade do

segundo milênio contém um a promessa de providen­

ciar um a estátua do rei em tam anho natural, com

cabeça, m ãos e pés de ouro e o restante de prata.

Outro exemplo de como diversos metais podiam ser usados é a estatueta de um bezerro, feita de bronze,

encontrada em Ascalom. O corpo foi fundido em bron­ze, cobre forjado foi usado para algumas das extremi­

dades, e toda a imagem foi revestida de prata. Inúm e­

ras imagens de deuses do segundo milênio que foram

desenterradas também são feitas de bronze e cobertas de ouro ou prata. Até mesmo pequenas estátuas com

freqüência não eram fundidas em um a única peça, mas feitas em partes e unidas com encaixes ou rebites.

A m aioria dos detalhes do sonho de Nabucodonosor é

realista, não surrealista. A cabeça era a parte m ais importante da imagem e logicamente seria revestida

de ouro. Os braços e o peito às vezes ficavam visíveis,

logo, a lâmina de prata seria apropriada. O tronco não precisava de nenhum revestimento por cima do bron­

ze, visto que ficava sem pre coberto por roupas. O

ferro ainda não era produzido nessa época, embora um papiro egípcio faça m enção a estátuas de ferro

(provavelmente ferro forjado). A única forma de mis­

turar barro com ferro seria se o barro fosse usado como um a liga, m as a palavra usada no texto para barro

favorece o sentido de barro queimado. Um a sugestão

tem sido a de que os pés de ferro teriam incrustações de terracota. A s estátuas dos períodos neo-babilônico

e persa são praticamente inexistentes e nenhuma im a­gem importante dos deuses da Mesopotâmia (primei­

ro milénio) foi recuperada. O rei assírio Esar-Hadom se vangloriava de uma im agem de si mesmo feita de

prata, ouro e cobre que seria colocada diante dos deu­ses para apresentar petições em seu favor.

2.34, 35. pedra. A única ocorrência de algo apenas

vagam ente parecido com essa im agem aparece no Épico de Gilgamés. Gilgam és relata um sonho sobre

a vinda de Erikidu em que este é representado como

um meteoro que aterriza aos pés de Gilgamés. Mas, neste caso, não há destruição provocada pela rocha.

2.36-40. quatro reinos. Os reinos não são identificados

no texto, exceto pela cabeça de ouro, que é identificada por N abucodonosor. A lguns estudiosos sugeriram

um a seqüência da Babilônia, M édia, (Medo)-Pérsia,

Grécia, enquanto outros preferem a Babilônia, (Medo)-

Pérsia, Grécia e Roma. A m aior parte das evidências

que sustentariam o primeiro ou o segundo esquema

parte de Daniel 7 e é examinada ali.2.36-40. padrão dos quatro reinos. A idéia de apre­

sentar a história em term os de quatro im périos ou eras encontra diversos paralelos na literatura antiga e

clássica. N a literatura acadiana, a Profecia Dinástica

(período selêucida, terceiro século a.C.?) cita quatro

reinos sucessivos (Assíria, Babilônia, Pérsia, Grécia) em um texto fragmentado. Os Oráculos Sibilinos (cujas

fontes datam do segundo século a.C.) contêm um es­

quem a de quatro im périos (assírios, medos, persas,

macedônios; um a série de exemplos do período roma­

no acrescentam Rom a à lista para chegar a cinco im­périos). Sérvio, o autor romano do século quinto d.C.,

afirma que Sibilo retratou as épocas comparando-as a

metais, m as nenhum a comparação desse tipo foi pre­

servada nos Oráculos Sibilinos. A caracterização das épocas através da imagem dos m etais tem sido consi­

derada correspondente à representação zoroastrista dos quatro períodos da história da humanidade. Tex­

tos zoroastristas avestas identificam épocas (não impé­rios), às vezes como galhos de um a árvore, respecti­

vam ente de ouro, prata, aço e m istura de ferro (uma

designação obscura). Os textos em que esse material está registrado são posteriores, mas preservam mate­

rial que alguns acreditam datar do segundo ou tercei­ro século a.C.. Talvez a comparação m ais significativa

das idades com m etais encontra-se no autor grego Hesíodo (Obras e Dias, oitavo século a.C.), que identi­

fica cinco eras, quatro das quais são representadas por metais (ouro, prata, bronze e ferro).

2.44. re in o que durará para sem pre. Em um a obra

conhecida como Profecia de Uruk, do século doze a.C., há quatro reis que surgem e fracassam, seguidos por

um rei que levaria de volta a estátua de Istar, da

Babilônia para Uruk. A profecia diz que seu filho o sucederia e que seu reinado se estabeleceria para sem­

pre (uma interpretação alternativa situa o cum pri­

mento da profecia no sétimo século e identifica o filho como Nabucodonosor).2.46. o tratam ento de N abucodonosor a D aniel. Overbo traduzido pela NVI como "apresentada" geral­mente é usado no hebraico para derram ar libações. M as nem a oferta (cereais) nem o incenso que são mencionados aqui podem ser derramados em libações. O texto aqui, no entanto, continua a ser em aramaico, em que o verbo significa "prover". Isso ajuda a enten­der o tratam ento dispensado por N abucodonosor a Daniel, um a vez que o rei fornece a Daniel o material com que ele poderia fazer uma oferta apropriada a seu Deus.2.47. aquele que revela os m istérios. O papel "d a ­quele que revela os m istérios" é destacado aqui, uma vez que Daniel superara o que normalmente era feito pelos sábios da Babilônia. Acreditava-se que os deu­ses se revelavam através de presságios (tais com o sonhos) e que transmitiam a interpretação dos pressá­gios através da sabedoria interpretativa que concedi­am aos sábios à medida que estes recorriam aos meios e literatura disponíveis. Mas Daniel recebera a reve­lação adicional com o conteúdo do sonho, o que au­m entara sua fama.

2.48. governante de toda a província da B abilônia. Oimpério era dividido em províncias ou satrapias, sen­do a Babilônia um a delas. D aniel é designado ao posto mais elevado da província, mas essa descrição vaga fica mais clara na afirmação seguinte que espe­cifica sua função: ficar encarregado de todos os sábios. Trata-se de um a função muito mais relacionada à che­fia dentro de sua guilda do que de um posto adminis­trativo no governo civil.

3.1-30 A fornalha ardente3.1. im agem . A imagem não é identificada afirmati­vamente como a imagem de uma divindade, embora o versículo 28 possa sugerir essa possibilidade. Se

fosse a im agem de um deus, seria estranho o fato do nome dessa divindade não ser mencionado e ainda mais inusual ser erigida num a área aberta e não em um local associado a um templo. Parte do cuidado destinado aos deuses era abrigá-los em tem plos e alimentá-los com sacrifícios, e não seria fácil prestar esse tipo de serviço em uma área aberta. Não se tra­tando da imagem de um deus, fica ainda mais difícil entender a recusa dos três amigos em participar da cerimônia (para um a compreensão da implicação do segundo mandamento, ver o comentário em Êx 20.4). A outra principal alternativa é enxergá-la como uma imagem do próprio rei. M as não havia proibição con­tra prostrar-se diante de reis em sinal de respeito.

Além disso, nos períodos assírio e babilónico, as ima­gens de reis geralmente eram colocadas em templos, diante da divindade a fim de interceder pelo bem - estar do rei. Sendo assim, elas representavam o rei diante da divindade e não diante do povo.Talvez a melhor alternativa seja entender o evento no contexto da prática assíria de erigir esteias ou estátuas (com freqüência em lugares inacessíveis) em honra a seus governantes. Em bora estas tivessem o objetivo de exaltar o rei, os relevos das portas de Balaw at demonstram que ofertas eram dedicadas diante des­sas representações. Na cena retratada nas portas, o próprio rei está presente, m as as ofertas são dedicadas à esteia. D esse m odo, o rei recebia as honras que

geralm ente eram destinadas aos deuses, m as ao dis­tanciar-se pessoalm ente, ele evitava igualar-se aos deuses. Tais rituais eram usados como ocasiões para que os territórios das províncias prestassem seu jura­mento de lealdade. Isso faria sentido neste contexto, à luz da sugestão do sonho de D aniel 2 de que o reina­do babilónico teria um período limitado de governo. N a prática assíria, a arma de Assur (talvez um estan­darte de batalha) era levantada em cerim ônias em que reis vassalos faziam juram entos de lealdade. Não participar dessas cerimônias im plicava insubordina­ção, ao passo que a participação significaria o reconhe­cimento da soberania da divindade (e do rei). Os três amigos não tinham de adorar um a divindade, mas tinham de participar de rituais que honravam o rei de form a sem elhante a como os deuses eram tratados, em bora o rei não fosse encarado como um a divinda­de. A ausência de Daniel poderia ser explicada facil­mente por se tratar de um evento ocorrido em apenas um a província.3.1. dim ensões. Heródoto descreve duas grandes es­tátuas do templo de M arduque na Babilônia, ambas de ouro maciço. Uma é de Bei assentado em um trono dourado. Afirma-se que a im agem e a mesa de ouro próxim a pesariam vinte e duas toneladas de ouro. A segunda é descrita com o a estátua de um homem. Heródoto diz que tinha quatro metros e m eio, embora

outros relatos a descrevam com cinco metros e meio. O rei persa, Xerxes, a derreteu em 482 a.C. e a barra resultante pesou 360 quilos. Afirma-se que o Colossos, em Rodes, teria pouco m ais de trinta m etros de altura, logo, uma estátua de 27 metros de altura não está fora da realidade, em bora seja possível que os 27 metros incluíssem um pedestal. Algo inusual é que a largura era de apenas dez porcento da altura. A largura de um a imagem hum ana dentro das proporções adequa­das seria de 25 porcento da altura. Se a estátua fosse uma imagem humana e tivesse dois metros e setenta de largura, esperaríamos que a estátua tivesse cerca

de dez a doze metros de altura. Para se chegar aos 27 metros descritos no versículo, o pedestal teria que ter m ais de 15 metros. Ainda assim, imagine a instabili­dade de algo com essas dimensões.3.1. Dura. Existem diversas cidades chamadas Der, e Dura (área murada) é um elem ento com um em no­mes de lugares (p. ex. Dur-Kurashu, Dur-Sharruken, Dur-Kurigalzu, Dur-Katlimmu). Portanto, é im possí­vel localizar essa planície com segurança.3.2. m otivo para convocação. Como mencionado em3.1, é provável que o motivo dessa convocação fosse um juram ento de lealdade. Um século antes, sabe-se que o rei assírio Assurbanipal reuniu seus principais oficiais na Babilônia para que fizessem um juram ento de lealdade. Foi preservada um a carta de um dos

oficiais que estava fora da cidade e que, portanto, teve de fazer acertos para prestar o juram ento na presença do supervisor do palácio. A carta especificamente men­ciona que ao fazer o juram ento ele estava cercado pelas imagens dos deuses.3.2. lista dos presentes. A lista dos oficiais inclui dois títulos semitas (prefeitos, governadores), sendo os cin­co restantes persas. A lista parece estar em ordem de graduação. Os primeiros três termos são bastante co­nhecidos, sendo o primeiro um termo persa empres­tado para o aramaico, desde o sexto século, para refe­rir-se ao governante da província. Os dois seguintes são termos semitas para os dois níveis de subordina­dos. Os últim os quatro são empréstimos do persa cuja tradução é apenas uma tentativa.3.5. instrum entos m usicais. O nom e de diversos des­ses instrumentos é grego, mas o contato com a Grécia no sexto século fora suficiente, de m odo que isso não é inusual. Sabe-se que Nabucodonosor fazia uso de mú­

sicos estrangeiros, como evidenciam as listas de ra­ções. Essas listas tam bém atestam a presença de al­guns gregos na Babilônia. Os primeiros dois instru­m entos são de sopro. A ju lgar pela palavra usada para trombeta, trata-se de um instrum ento feito de chifre de animal e não de metal. A flauta é do tipo que se toca soprando em uma das extremidades. Os três instrumentos seguintes são de corda. Dois deles têm nomes emprestados do grego e o do meio ocorre como um a palavra estrangeira em grego. O primeiro apa­rece nos escritos de Homero (oitavo século a.C.) e é um tipo de lira. Havia uma ampla variedade de liras no mundo antigo, mas nenhuma confirmação da cítara ou do saltério. O segundo da lista é provavelmente uma harpa, e o terceiro é um estilo diferente de lira. O últim o é o m ais difícil. Sugestões têm variado desde gaita de foles, flauta dupla até instrumentos de per­cussão. E um empréstimo do grego para o aramaico, e acontece tam bém no português como "sinfonia".

3.6. fornalha. As fornalhas eram usadas para assar cerâmicas ou tijolos em projetos de construção e tam ­bém para fabricar m etais (forja, fusão e fundição). N ão há m uita informação a respeito de fornalhas no antigo Oriente Próximo, mas muitas fornalhas antigas eram fechadas, tinham uma cobertura côncava e aberturas nas laterais para ventilação. Eram feitas de tijolos ou de argila, embora a câmara interna fosse revestida de pedras especialmente selecionadas. E lógico presumir que a fornalha estava naquele lugar servindo a um propósito (talvez a confecção da própria imagem) e não que fora colocada ali para ser usada com o um instrumento de castigo. H á poucos dados na literatura antiga indicando que as fornalhas eram especifica­mente usadas para punição. Uma exceção possível é do ano 1800 a.C., quando Rim-Sin decretou que quem tivesse empurrado um escravo em um forno teria um de seus escravos jogados em uma fornalha. De modo geral, porém , a fogueira era usada com o form a de execução desde o Código de Hamurabi. Na Pérsia do quinto século (durante o reinado de Dario II, filho de Artaxerxes) e no segundo século (2 Macabeus 13.4-8), existem exemplos de execução em que o condenado é empurrado em um receptáculo de cinzas.

3.19. aquecida sete vezes mais. Soprar o ar com foles era um a p rática geralm ente usada p ara elevar a tem p e­ratura de fornalhas. "A quecida sete vezes m ais" é ape­nas um a expressão. D ependendo do tipo de fornalha usado, a tem p eratu ra ficaria en tre 900 e 1100 graus centígrados. Com a tecnologia que tinham , não teriam

sido capazes de ultrapassar os 1500 graus centígrados.3.25. filh o dos deuses. Essa expressão é proferida por Nabucodonosor, por isso não é possível afirmar

que rep resente nenhu m a p ercep ção p rofu n d a ou sofisticada da teologia. A frase "filho dos deuses" era um a expressão sem ita com um para identificar um ser sobrenatural.

4.1-37 Outro sonho de Nabucodonosor4.1, 2. proclam ações de reis. Uma proclamação como essa geralmente era registrada em um a esteia e colo­cada em um local de destaque. Às vezes, faziam-se cópias para circulação, como aconteceu com a Inscrição de Dario de Behistun. Muitos elementos dessa procla­mação são comuns a inscrições reais ou a cartas ara- maicas, embora seja raro um rei mostrar-se tão vulne­rável como aqui.4.10-12. árvore universal. O conceito da árvore cósmi­ca no centro do m undo era um tema comum no antigo O riente Próxim o. Tam bém aparece em Ezequiel 31. As raízes da árvore são alimentadas pelo grande oce­ano subterrâneo e o topo de seus galhos alcança as

nuvens, de modo que une os céus, a terra e o mundo inferior. No M ito de Erra e Ishum, M arduque fala da árvore meshu cujas raízes atravessavam o oceano al­cançando o m undo inferior e cujo topo ficava acima dos céus. No épico sumério Lugalbanda e Enmerkar a "árvore-águia" tinha um papel semelhante. Alguns a denom inam de árvore da vida, e outros a associam com essa árvore universal. Com freqüência é ladeada por animais ou por figuras hum anas ou divinas. U m disco alado geralmente é localizado no centro, no topo da árvore. O rei é representado como a personificação hum ana dessa árvore. A árvore é considerada a re­presentação da ordem divina no m undo, m as falta fundamentação textual para essa hipótese.4.13. sen tin elas. As sentinelas são bem conhecidas como um a classe de seres sobrenaturais em uma vasta gam a de literatura intertestam ental, especialm ente nos livros de Enoque, bem como nos Rolos do M ar Morto. Em bora o term o com freqüência seja usado nessa literatura para referir-se a anjos caídos, não se limita a esse grupo. Ainda não foi encontrada confir­mação do termo sendo usado dessa form a especializa­da antes do terceiro século a.C., mas os m esopotâmios reconheciam um a variedade de espíritos protetores e de demônios. Talvez o paralelo m ais próximo se en­contre em referências ocasionais aos sete sábios anti­gos como sentinelas. Além disso, às vezes são retrata­dos como zeladores da árvore sagrada, por isso, encai­xam-se bem a este contexto.

4.15. p ren d er o toco . É difícil d eterm inar se um a parte da árvore deveria ser presa com ferro ou se o rei. Se fosse a árvore, o texto indica que as raízes (e não o toco) deveriam ser presas. Em bora às vezes árv ores fossem en feitad as com tiras de m eta l na M esopotâm ia antiga, não há razão para tratar um toco dessa forma, muito menos as raízes.4.15. orvalho do céu. Em textos babilónicos, o orva­lho era considerado proveniente das estrelas e às ve­zes era visto como um mecanismo através do qual as estrelas enviavam doença ou cura.4.16. sete tem pos. Não se deve supor que essa situa­ção de Nabucodonosor tenha durado sete anos. A pa­lavra aram aica usada aqui e traduzida como "tem ­p os" é interessante. O cognato em acadiano significa "períodos específicos" e pode referir-se a estágios de um a doença ou a um a seqüência de períodos. Quan­do presságios aconteciam, com freqüência tinham efei­to em um tempo estipulado. A lguns "tem p os", tais como as fases da lua, ou dias favoráveis, podiam ocor­rer mensalmente. Outros ocorriam anualmente. Ou­tros, ainda, tais como equinócios ou solstícios, ocorri­am algumas vezes ao ano. As possibilidades de inter­pretação aqui são muitas.

4.16. a loucura do rei. Ver o comentário em 4.33.4.29. palácio real da Babilônia. Os projetos de constru­ção de Nabucodonosor na Babilônia eram grandiosos. O Eufrates foi canalizado em diversos canais que pas­savam pela cidade. Seu palácio, no lado norte da cida­de, perto da porta de Istar, foi luxuosamente instalado com m aterial de m elhor qualidade. Os jardins do pa­lácio tinham terraços e ganharam fam a internacional, sendo com o passar do tem po considerados um a das sete maravilhas do mundo antigo (jardins suspensos da Babilônia). Esses jardins eram uma área semelhante a um bosque com árvores exóticas. O utros projetos de edificação incluíam os templos e as ruas.4.33. o estado de N abucodonosor. Ao buscar doenças às quais esses sintomas se aplicam, os intérpretes iden­tificaram a licantropia, uma enfermidade depressiva em que o paciente se acredita transform ado em um animal selvagem. M as as características tam bém coin­cidem com a descrição típica do homem primitivo, a quem falta o domínio da razão (compare com a NVI: "entend im ento", v. 34, 36) e tem aspecto e hábitos semelhantes aos dos animais (v. 16). Em mitos mais antigos, esse estado é característico do hom em pré- civilizado. M ais tarde, é aplicado a Enkidu, a criatura primitiva do Épico de Gilgamés. Depois é usado para referir-se àqueles que foram expulsos da civilização, após suas cidades terem sido destruídas. Desde textos antigos sobre o aventureiro sumério Lugalbanda, até textos posteriores concernentes ao cortesão assírio Ahiqar, certos indivíduos são descritos desenvolven­do alguns desses hábitos e características após terem sido excluídos do convívio com a sociedade. Como resultado, é possível que pelo menos alguns dos sin­tomas de Nabucodonosor descrevam não uma doença psíquica, mas o exílio da civilização (sem casa, sem higiene pessoal e alimentando-se de capim). U m tex­to cuneiforme fragmentado sugere a possibilidade que N abucodonosor tenha tido algum problem a que o levou a desvincular-se de suas responsabilidades por um período, durante o qual seu filho, Amel-Marduque, talvez tenha assumido o controle. Mas o texto é muito

incerto para chegar a qualquer conclusão segura.4.34. Oração de N abonido. U m dos documentos en­co n tra d o s em Q u m ran (4Q 242 ou 4Q O rN ab ) é intitulado Oração de Nabonido. Nessa obra, é o últi­mo rei da Babilônia, Nabonido, e não seu mais famo­so predecessor, N abucodonosor, é quem é afligido. As sem elhanças incluem um a doença que dura sete anos e a restauração por um adivinho judeu (anôni­mo). U m sonho também está envolvido e a adoração à divindade correta é o resultado. O rolo não faz m en­ção à comparação com um animal selvagem, embora alguns intérpretes tenham reconstruído um a linha a

fim de incluir tal referência. O rolo conecta a enfermi­dade de sete anos com a conhecida estadia de Nabonido em Teima.

5.1-31 O banquete de Belsazar5.1. B e lsazar. Belsazar era o filho e co-regente de Nabonido, o último rei da Babilônia. Nabonido pas­sou dez anos em Teima, enquanto seu filho desempe­nhava todas as obrigações da coroa na Babilônia. Uma série de documentos encontrados o mencionam pelo nome. Cerca de trinta anos haviam se passado desde o incidente narrado no capítulo 4. N abucodonosor morreu em 562, e o banquete deste capítulo acontece em outubro de 539.5.1. o banquete. O banquete acontece em meados de outubro (15 de tashritu) de 539. Pouco tempo antes os persas haviam tomado a cidade de Opis (80 quilôme­tros ao norte do Tigre) em uma batalha sangrenta e

depois atravessado o Eufrates, onde a cidade de Sippar rendeu-se sem lutar, no dia catorze de tashritu. É pro­vável que a Babilônia tenha recebido notícia desses eventos e que Belsazar sabia que o exército persa estava a cam inho da Babilônia. N abonido estivera com o exército em O pis e havia fugido quando a cidade sucumbiu. Ao ser capturado, estava na Babi­lônia, m as os textos não deixam claro quando teria chegado ali. Berossus (historiador caldeu do terceiro século a.C., citado por Josefo) afirma que foi encurra­lado na cidade de Bõrsippa (cerca de 27 quilômetros ao sul da Babilônia). À luz de tudo isso, parece que o banquete representa a última confraternização antes dos sérios eventos prestes a sobrevir. Heródoto refere- se a um a celebração festiva que estava acontecendo quando a cidade foi tomada. Não há razão para pen­sar, porém, que o banquete refletia o pessimismo de Belsazar sobre o que aconteceria. A Babilônia era uma cidade bem protegida e eles acreditavam que seus deuses eram fortes.

5.2. taças tom adas de Jerusalém . Ver o comentário em1.2. Todos no m undo antigo entendiam o significado de utensílios sagrados. O fato de essas taças não terem sido fundidas sugere que foram preservadas por cau­sa de seu caráter sagrado. Visto que o deus da Babi­lônia era considerado o conquistador, as coisas que pertenciam ao deus "conquistado" eram levadas como despojos para o templo de M arduque. Talvez o uso dessas taças era um a form a de trazer à lembrança as vitórias anteriores do deus babilônio (ver o comentá­rio em 5.4).5.2. relação com N abucodonosor. Belsazar era co­nhecido como o filho de Nabonido, o últim o rei da Babilônia, com quem era co-regente. Nabonido não

tinha qualquer relação com Nabucodonosor. Desde

H eródoto (quinto século a.C., ver nota em Ester 1), Nabucodonosor e Nabonido tinham o m esm o nome

(Labynetos) e às vezes eram confundidos. Além dis­so, porém , no m undo antigo, m onarcas sucessivos

com freqüência eram identificados como filhos de seus

antecessores m esm o quando não havia relações di­násticas ou genealógicas. A ssim , por exem plo, no

obelisco negro de Salm aneser III, Jeú, rei de Israel, é

identificado como "filho de O nri", embora tenha sido

o responsável por eliminar a linhagem de Onri e com quem não tinha nenhum grau de parentesco (um fato

provavelmente conhecido pelos assírios).

5.4. louvavam os deuses. Belsazar e toda sua corte

estavam bem conscientes de que o império estava por um fio e que os dias seguintes seriam de importância

máxima. Eles esperavam que seus deuses lhes des­sem a vitória, como nos dias das grandes conquistas

de Nabucodonosor. Com esse objetivo, eles "faziam

brindes" aos deuses e celebravam suas vitórias passa­das. Também é possível, em bora o texto não afirme

explicitamente, que libações fossem derramadas aos

deuses com essas taças. Eles não estavam dirigindo

suas súplicas apenas a Marduque, o padroeiro da Ba­bilônia, m as também aos deuses de outras cidades da

região, cu jas im agens h aviam sido reco lh id as na

Babilônia nesse período de dificuldades.

5.5. a mão. Uma m ão sem vida, solta, teria sugerido

um inim igo derrotado. A contagem de baixas era

feita cortando a m ão direita de todos os m ortos (ver de novo as m ãos quebradas da estátua de Dagom, em 1

Sm 5.3, 4). Ao beber nessas taças, os babilônios esta­vam trazendo à lembrança a derrota de Yahw eh (tal­

vez juntam ente com a de outros deuses e nações), m as em hipótese alguma se trata de a m ão sem vida de

um deus morto. E bastante viva e tem uma m ensa­gem a transmitir. O efeito talvez fosse semelhante ao

da cabeça de um a vítim a decapitada que começasse a falar.

5.5. local da escrita. A afirmação de que a escrita foi

feita no reboco da parede, perto da lâm pada, é um detalhe curioso, um a vez que todo o salão provavel­

mente seria rebocado e iluminado com m uitas lâmpa­das. A escavação da sala do trono na Babilônia pode oferecer alguma explicação. Era um salão de 50 por 17

m etros ao qual se chegava por três pátios amplos, cuja entrada era na porta de Istar. Parte das paredes eram

cobertas com tijolos azuis esmaltados, enquanto ou­

tras partes eram rebocadas. A palavra usada para

"lâm pada" não é comum e talvez seja um emprésti­mo do persa. N esse caso, representa um a lâmpada distinta, singular, talvez de um tipo especial.

5.7. recom pensas oferecidas. O manto vermelho era feito com corante caríssimo (ver o comentário em N m4.6 e Et 8.15) e era usado apenas pela realeza. A cor­rente de ouro seria a insígnia de um a posição de destaque. Esses itens são vistos como presentes reais em Heródoto, onde Cambises os envia ao rei etíope. Ser o terceiro no reino pode dar a entender que Daniel seria colocado apenas depois de Belsazar e seu pai, Nabonido.5.8. não conseguiram ler a inscrição. Embora alguns estudiosos tenham sugerido que a inscrição estava escrita em uma língua desconhecida (como a escrita cuneiforme do antigo persa), o texto não dá indícios de que fosse outra língua diferente do aramaico. O aramaico, assim como o hebraico, é escrito com vogais e às vezes sem separação entre as palavras, ficando assim a expressão (mrítqlprs). A confusão a respeito de onde seria a divisão das palavras e quais vogais inserir foi suficiente para m inar a confiança dos adivi­

nhos, impedindo-os de fazer a leitura das palavras e encontrar uma interpretação. Em outro caso de uma m ensagem inscrita e talvez críptica, o rei lídio do sétim o século, G yges, viu o nom e "A ssu rban ip al" escrito em um sonho acompanhado de uma voz que o instava a lutar contra os cimérios.5.10. rainha-m ãe. A mãe de Nabonido, Adad-Guppi, era um a pessoa bastante influente e a requintada ra­inha-mãe. No entanto, seus 104 anos de vida haviam chegado a um fim por volta de 546, portanto ela não

estaria viva nessa época. E m ais provável que a espo­sa de N abonido, m ãe de Belsazar, identificada por Heródoto como Nitocris, seja a rainha m encionada aqui.

5.25-28. a inscrição. As palavras podem ser tomadas como os verbos "pesar e calcular" ou como substanti­vos para os diversos pesos usados nas balanças e m e­dições que eram os caixas registradores do m undo antigo - necessárias em qualquer negócio. Os arque­ólogos descobriram m uitos desses pesos, às vezes ins­critos com essas legendas em aramaico. A s balanças e os pesos também eram usados para ilustrar o julga­m ento divino pelo qual todos passariam (como des­creve o Livro dos Mortos egípcio). Daniel parece ter

usado ambos, substantivos e verbos, em sua interpre­tação. O jogo de palavras era um m eio com um de interpretar presságios nessa época. U m exemplo dis­so é a interpretação de Nabonido de um eclipse lunar como uma ordem para instituir sua filha como uma sacerdotisa.5.27. balança. A. W olters m ostrou que a figura das balanças também pode ter alguma relação astronómi­ca com a constelação de Libra, representada na astro­nom ia babilónica por um a balança. A Babilônia su­

cumbiu no dia 16 de tashritu (setembro/outubro), 12 ou 13 de outubro de 539, logo o banquete aconteceu na noite do 15 de tashritu/ 11 ou 12 de outubro. Os babilônios tradicionalm ente relacionavam o m ês de tashritu à constelação de Libra e o surgimento anual de Libra era associado nos m anuais com o dia quinze daquele mês. Isso era do conhecimento dos astrólogos da corte babilónica, especialistas em adivinhação ce­leste, que eram contados entre os sábios. Esse dado teria im portância, visto que os babilônios com fre­qüência buscavam a relação entre esse tipo de pressá­gio para confirmar uma mensagem.5.30. a queda da B abilôn ia . Existem diversas tradi­ções antigas quanto à queda da Babilônia representa­das em fontes persas e gregas. Heródoto (ver a nota em Ester 1) fala de um cerco à Babilônia pelos persas que terminou quando Ciro desviou o Eufrates e en­viou um pelotão para dentro dos m uros da cidade pelo canal onde o rio passava. O relato de Ciro no Cilindro de Ciro diz que M arduque permitiu que ele entrasse sem lutar na Babilônia, onde foi recebido como um libertador. A Crônica de Nabonido, um relato contemporâneo favorável aos persas, apresenta uma visão semelhante. —

6 .1-28Daniel na cova dos leões6.1. D ario , o m edo. N ão há personagem histórico conhecido pelo nom e de Dario, antes de Dario, o Gran­de, que aparece bem m ais tarde na história para en­caixar-se aqui. Visto que Ciro tom ou-se o governante quando a Babilônia caiu, alguns estudiosos têm iden­tificado Dario, o medo, e Ciro, como a mesma pessoa (ver 6.28). O utros sugerem que D ario é um nom e alternativo (ou nom e real) para Ugbaru, o comandan­te que liderou o exército persa até a Babilônia. Ele era governador de Gutium e portanto poderia ser facil­mente conectado aos m edos (apesar de ter morrido três semanas após a queda da Babilônia). Alguém de nom e Gubaru foi nomeado governador da Babilônia e também é indicado por alguns como um provável candidato. H á razão para questionar que ninguém além de Ciro pudesse ser cham ada de rei (v. 6) e ele tinha sessenta e dois anos quando a Babilônia caiu. Mas Ciro era persa, e não medo, e era filho de Cam­bises (não de Assuero, ver 9.1). Será preciso ter acesso a m ais Informações antes de chegar a um a identifica­ção segura.6.1. cento e vinte sátrapas. A principal divisão geográ­fica administrativa no im pério persa era a satrapia. O núm ero delas variava de 20 a 31, por isso o texto deve estar se referindo a níveis inferiores de governadores (para quem esse termo era usado em fontes históricas gregas).

6.7. o decreto do rei. Os reis persas não eram propen­sos a auto-deificação. Além do mais, os deuses eram considerados importantes demais para serem ignora­dos. Até mesmo na religião tradicional iraniana, orar três vezes ao dia era a regra, e o Zoroastrismo aumen­tou o núm ero para cinco. É provável que Dario tenha sido convencido a prom ulgar um decreto a fim de tratar de algum problema religioso/político, sem nunca ter a intenção de proibir a prática de D aniel (e de grande parte da população do império). Heródoto des­creve o ritual persa relatando que nem altar, nem fogo eram usados. Mais importante, ele diz que quan­do a oferta era feita, o adorador não podia pedir nada pessoal, mas podia apenas invocar as bênçãos sobre o rei ou a comunidade.

6 .7 ,17 . cova dos leões. Sabe-se que leões eram captu­rados e mantidos em jaulas para depois serem soltos durante caçadas, mas não há exemplos na literatura persa a que se tem acesso do castigo de lançar alguém em uma cova de leões. Em textos assírios anteriores, aqueles que rom piam juram entos eram colocados em jaulas de animais selvagens, em praça pública, para serem devorados à vista de todos. A lém disso, na literatura assíria do sétim o século, a cova de leões aparece como uma metáfora para cortesãos maldosos e ad v ersários do rei. Em um a obra da literatu ra sapiencial babilónica, M arduque metaforicamente fe­cha (amordaça) a boca do leão (o opressor) para pôr fim a suas táticas devoradoras.6.8. leis dos m edos e dos persas. Não há registro do conceito de que "a lei dos m edos e dos persas não pode ser revogada" fora dos Livros de D aniel e Ester. Não obstante, uma tradição que remonta pelo menos à época de H amurabi (século dezoito a.C.) reconhecia que um juiz não podia modificar a decisão que toma­ra. Mas nesse aspecto, tratava-se de uma decisão judi­cial e não de uma lei. Fontes gregas se contradizem, uma vez que H eródoto indica relativa liberdade por parte dos reis persas para mudar de idéia, enquanto Diodoro Siculus cita um a instância em que Dario III não podia voltar atrás. Certam ente nenhum oficial poderia anular os decretos de um rei persa e o próprio rei poderia considerar hum ilhante voltar atrás e re­considerar algo que já fora decretado. O código real de honra consideraria fora de questão a possibilidade do rei revogar uma ordem.6.10. orar três vezes ao dia, voltado para Jerusalém .Orar voltado para Jerusalém era um a prática esta­belecida desde a construção do templo de Salomão (1 Rs 8.35). A freqüência da oração na prática israelita não estava determinada pela lei. Nem o Antigo Testa­mento, nem os Rolos do M ar Morto apresentam qual­quer norma, além do padrão estabelecido pelos sacri­

fícios da manhã e da tarde regularmente oferecidos no templo. Como mencionado no comentário de 6.7, a prática persa norm al exigia que os fiéis orassem três ou cinco vezes ao dia.6.17. anel-selo. Evidências encontradas recentemente sugerem que os primeiros reis persas usavam selos cilíndricos nos negócios do império e selos de estampa ou anéis-selo em negócios particulares, embora o uso destes estivesse crescendo naquela época. Um anel- selo tinha o selo oficial do rei através do qual ele autorizava as questões do im pério. Apenas poucos desses anéis foram encontrados pelos arqueólogos. Os selos geralmente eram feitos de calcedônia e tinham figuras do rei realizando feitos heróicos (como matar animais selvagens) sob a proteção do disco solar alado (que representava o deus A hura M azda). M uitos tabletes encontrados na fortificação de Persépolis con­tinham impressões de selos.

6.19-23. considerado inocente. "S e r considerado ino­cente" é um a expressão que descreve uma situação judicial em que o acusado era colocado nas mãos de

D eus através de algum m ecanism o, geralm ente al­gum a situação de perigo extrem o. Se a divindade interviesse para proteger o acusado do mal, o veredic­

to era inocente. A maioria dos julgam entos através de provas no antigo Oriente Próximo envolvia perigos como água, fogo ou veneno. Quando o acusado era

exposto a essas am eaças, na verdade estava sendo considerado culpado até que a divindade declarasse o contrário.6.24. m ulh eres e filh o s in clu íd os no castigo. Essa punição é m ais severa do que qualquer lei encontra­da nas coleções da M esopotâm ia. No Antigo Testa­

mento, quando a fam ília é incluída no castigo, geral­m ente denota que toda a linhagem da fam ília está sendo eliminada, ou seja, o castigo está estendendo-se para as gerações seguintes como herança (ver o co­mentário em Js 7.25). Heródoto conta que, durante o reinado de Dario, um oficial do alto escalão e do círcu­lo íntimo do rei foi ju lgado por estar envolvido em uma revolta. Como resultado, quase toda sua família foi executada.6.28. Dario/Ciro. Para aqueles que identificam esses dois como um só rei, a tradução "o remado de Dario, isto é, o reinado de Ciro, o Persa" é aceitável (ver o comentário em 6.1).

7.1-28O sonho de Daniel: os quatro animais7.1. cronologia. Essa visão acontece antes dos eventos narrados nos capítulos cinco e seis. E difícil dizer qual foi o primeiro ano de Belsazar. Não deve ser igualado ao prim eiro ano de seu pai, N abonido (556), e sim

provavelmente ao início de sua co-regência, quando Nabonido se estabelece em Teim a (552). Não se sabe, entretanto, se Belsazar tornou-se im ediatamente co- regente. A Crônica de N abonido faz m enção pela primeira vez à corregência de Belsazar no sétimo ano de N abonido (549), m as as Crônicas referentes aos anos quatro, cinco e seis não foram preservadas. Foi no sexto ano de N abonido, 550, que a sucessão do im pério ganhou contornos definidos, quando Ciro derrota os m edos e o Império Medo-Persa é formado. A penas a títu lo de interesse, um texto onírico de Nabonido, de seu primeiro ano, prevê que Ciro con­quistaria os medos.7.2. ventos do céu agitando o grande mar. Essa des­crição denota um a cena mítica típica em que a agita­ção do oceano cósmico perturba as criaturas (com fre­qüência monstros marinhos) que representam as for­ças do caos e da desordem. No Enuma Elish, o deus- céu, Anu, cria os quatro ventos que agitam as profun­dezas do abismo e sua deusa, Tiamat. Tanto naquele, quanto neste texto, é um vento rompente que provoca inquietação.7.3. anim ais com características estranhas. Na série de presságios babilónicos intitulada Shumma Izbu, que D aniel provavelm ente conhecia bem por causa da educação que recebera na Babilônia, diversas anoma­lias de nascença são registradas, juntam ente com o tipo de evento que prognosticavam . D iversas das descrições dos animais nas visões de D aniel também podem ser encontradas na série Summa Izbu. Alguns dos elem entos comuns nessas descrições incluem a criatura sendo erguida por um a extrem idade e exi­bindo suas múltiplas cabeças ou chifres. A m aior par­te das observações de anomalias era referente a espé­cies domésticas, sendo um a grande proporção de ove­lhas e bodes. Algum as das anom alias são descritas em comparação a diversos anim ais selvagens. Exis­tem exemplos de ovelhas dando à luz carneiros que (de certa forma) se parecem com lobos, raposas, ti­gres, leões, ursos ou leopardos. Neste capítulo, as ano­malias que D aniel está observando não são reais, mas fazem parte de um sonho, portanto, há a combinação de dois m ecanism os im portantes de presságios (so­nhos e anomalias de nascença). Os livros dos sonhos com freqüência contêm informações agourentas (pres­ságios) transmitidas em sonhos, cujo significado é o mesmo se fossem vistas na realidade. Por estar fami­liarizado com ambas literaturas, D aniel estaria incli­nado a interpretar o sonho pela linha sugerida nos presságios izbu. As interpretações com freqüência di­ziam respeito a eventos políticos do tipo "o príncipe tomará a terra de seu inim igo". N ão obstante, o sonho de D aniel vai m uito além dos presságios izbu. As

descrições sugerem que ele vê terríveis anim ais do

caos e não simplesmente ovelhas ou bodes com carac­terísticas anôm alas. A lém disso, m uitos traços dos

animais da visão de D aniel (tais como asas e dentes de ferro) não são encontrados nem esperados nos pressá­

gios izbu. Por essa razão, também é importante enten­

der a natureza de algum as figuras m itológicas que

dizem respeito ao sonho.7.3. figuras de anim ais. U m a série de fontes mitológi­cas distintas apresenta semelhanças com as figuras de

anim ais usadas por D aniel. U m a obra acadiana do

século sétimo intitulada Uma Visão do M undo Inferior inclui quinze seres divinos na forma de diversos ani­

m ais híbridos. Em seguida, Nergal, o rei do mundo

inferior, é visto assentado em seu trono, e se identifica

como o filho do rei dos deuses. Existem muitas dife­renças significativas entre essa visão e a de Daniel,

m as as semelhanças são úteis como pano de fundo.7.3. subiram do mar. Na Bíblia e também no antigo

Oriente Próximo, o mar, bem como as criaturas m ari­

n has que ali vivem , representam o caos e a desor­dem. O conflito físico óbvio entre o m ar e a terra, bem

com o a energia aparentem ente inesgotável exibida

pela fúria do m ar deram origem a mitos cósmicos no

antigo O riente Próxim o. O épico da criação Enuma

Elish, da Babilônia, descreve como M arduque destrói

Tiam at, essa deusa do caos aquático em form a de dragão. Grande parte do ciclo de histórias sobre Baal

na lenda ugarítica envolve a luta de Baal contra seu

rival Yam m , o deus do m ar. Igualm ente, no épico ugarítico, Anate e Baal afirmam ter derrotado Litã, o

dragão de sete cabeças, tendo portanto conquistado o

domínio sobre os mares. Em Salmo 104.26, Yahw eh é

descrito brincando com o Leviatã e em Jó 41.1-11 Deus desafia Jó a m ostrar seu controle sobre o Leviatã, como

ele o faz. Os reinados representados por esses ani­

mais, portanto, são associados às forças do caos que

prom ovem desordem ao m undo de Deus e precisam

ser derrotadas.7.4. sím bolo do leão com asas. Figuras aladas são

com uns na arte e na escultura da Mesopotâmia. Os

touros e leões alados, com cabeça humana, ladeavam

tronos e pórticos de entradas na Assíria, Babilônia e

Pérsia. Figuras hum anas aladas (usando coroas com chifres) existiam desde o oitavo século e faziam guar­

da no palácio de Ciro, em Pasárgada. Criaturas com

asas também figuram em sonhos. Heródoto relata um sonho que Ciro teve poucos dias antes de sua morte,

em que viu Dario (na época um jovem) com asas que

cobriam a Ásia e a Europa. No M ito de Anzu (ver o comentário seguinte), Anzu é derrotado por ter suas

asas arrancadas. Esse tema também é significativo na

história de Etana, que ajuda um a águia cujas asas

haviam sido arrancadas.

7.7. o quarto anim al. No M ito de Anzu, uma criatura

composta (Anzu) rouba o Tablete dos Destinos, que continha um a espécie de constituição do cosmos. A

deusa M am i, que criara todos os deuses e a m ais

antiga das divindades, é convocada. Pede-se a ela que envie seu filho, Ninurta, para lutar contra Anzu.

O deus Ninurta derrota o m onstro e recupera o tablete.

Ninurta (que também é conhecido por ter derrotado

outras feras tais como o homem-touro do mar, o car­

neiro de seis cabeças e a serpente de sete cabeças) recebe então o dom ínio e a glória. C ertam ente há

m uitas diferenças entre esse mito e o relato de Daniel

7, e não se deve pensar que o Mito de A nzu esteja sendo retratado aqui. Quem estivesse fam iliarizado

com o mito, porém, provavelmente veria reflexos dele

nessa visão. A lenda rem onta ao início do segundo

milênio, mas é conhecida principalmente a partir de

textos babilónicos da m etade do prim eiro m ilênio.

Um a inscrição de relevo do nono século em Ninrode apresenta Ninurta lutando com um anim al que tinha

patas de leão e pés de águia. Era coberto de penas e

tinha duas asas, patas de leão com garras afiadas no

lugar das mãos, um a boca escancarada com dentes ferozes e dois chifres. Acredita-se que seja um retrato

de Anzu.

7.7. dez chifres. Era comum na M esopotâm ia que reis

e deuses usassem coroasxom chifres salientes ou em

relevo. Às vezes, os chifres eram sobrepostos em ca­madas. O leão alado do palácio de A ssum asirpal ti­

nha uma coroa cônica em sua cabeça hum ana, com

três pares de chifres enfileirados em relevo. Outra interessante relação é que no Enuma Elish Tiam at é a

fera terrível que o herói dos deuses tem de derrotar.

Para ajudá-la, Tiam at cria onze monstros que também precisam ser derrotados. Aqui também o quarto ani­

mal é associado a onze chifres (os dez, m ais o chifre

pequeno, v. 8).7.9. ancião. Na mitologia cananéia o chefe do panteão é El, um a divindade idosa designada pelo título de "pai dos anos". No texto mesopotâmico M ito de Anzu,

o m ais antigo é a deusa M ami, cujo filho derrota o

monstro (Anzu) e recebe domínio.7.9. trono com rodas. Um trono com rodas em cha­

mas tam bém é descrito na visão que Ezequiel tem do

trono (Ez \, 10). O s protótipos de tronos com rodas remontam ao final do terceiro m ilênio, como ilustram

os selos cilíndricos. Esses tronos eram simplesmente

carros ou carroças usadas em procissões para transpor­tar a im agem da divindade. Alguns selos até mesmo ilustram criaturas compostas puxando o veículo. O

uso contínuo de tronos com rodas pode ser visto em relevos até os séculos nono e oitavo.

7.10. livros abertos. Toda corte real no m undo antigo

mantinha registros das atividades cotidianas e relatos detalhados dos eventos ocorridos. As ações do ani­

mal/ rei teriam sido gravadas e aquele registro seria

aberto para oferecer provas, enquanto estava diante da corte divina para ser julgado.

7 .1 3 ,1 4 . filh o de hom em . A expressão "filho de ho­

m em " é simplesmente um a expressão semita comum

para descrever alguém ou algo hum ano ou, ao me­

n os, de ap arên cia hum ana. N a teo log ia israe lita , Yahw eh é o D eus altíssim o e tam bém é retratado

cavalgando nas nuvens. Na m itologia cananéia, os

papéis descritos aqui são preenchidos pelo deus El, o

sum o deus ancião (ver o com entário em 7.9) e seu

filho, Baal, o que cavalga sobre as nuvens. Em um dos mitos de Baal, Yamm, que representa o caos do mar, é derrotado e Baal é declarado rei e recebe domí­

nio perpétuo. Nos m itos de conflitos cósm icos da

M esopotâm ia (como no Enuma Elish e no M ito de Anzu)

um a divindade (Marduque e Ninurta respectivamen­te) derrota o caos ameaçador e reconquista autoridade

e dom ínio para os deuses e para si mesm a. D aniel fora educado nessa literatura e suas revelações são

construídas a partir dessas imagens, em bora os temas

comuns venham com um a roupagem totalmente nova.

A literatura intertestamental, como o livro de 1 Enoque,

bem com o o N ovo Testam ento e a literatura cristã inicial identificam o filho do hom em como o Messias.

7.16. um dos que ali estavam. Anjos intérpretes estão

presentes em Ezequiel e Zacarias e são com uns na

literatura apocalíptica do período do Antigo Testa­mento em diante. Não se sabe da existência de figuras

como essas na literatura mesopotâmica.7.17. os quatro reinos. Para informações a respeito do

padrão dos quatro reinos na literatura antiga, ver o

comentário em 2.36-40. A identificação dos quatro rei­nos tem gerado bastante controvérsia. O texto não

oferece interpretação a respeito de qualquer das ca­racterísticas dos animais do sonho, exceto que os chi­

fres representam reis. É difícil saber se as característi­cas (p. ex., três costelas na boca) sim bolizam eventos

históricos ou se serviam a outro propósito (ver o co­m entário em 7.3). Pode ser tam bém que servissem

apenas para dar mais colorido às imagens. Se repre­

sentassem realidades históricas, ainda assim as associ­ações seriam apenas fruto de especulação. Por exem­

plo, as três costelas na boca do segundo animal repre­

sentam Lídia, Babilônia e Egito, as três principais conquistas do Im pério M edo-Persa? O u seriam os

urartianos, m aneanos ou citas conquistados pelos

m edos (Jr 51.27-29)? A s quatro cabeças e as quatro asas do terceiro animal seriam os quatro generais que

dividiram entre si o império de Alexandre? Ou seri­

am os quatro reis da Pérsia aludidos em D aniel 11.2? Os dez chifres do quarto anim al seriam um reino

futuro? Ou seriam os dez Estados independentes em

que o império de Alexandre se transformou, por volta do final do terceiro século a .C ? O texto não responde

a essas questões, tampouco informações de contexto oferecem soluções.7.18. santos. O texto se refere aos "santos" que são não só os que receberão o reino (v. 18, 22, 27), m as tam ­bém as vítim as da opressão (v. 21, 25). Embora m ui­

tos intérpretes acreditem que seja uma referência às pessoas justas, o termo é usado com mais freqüência

para descrever seres sobrenaturais (isso também acon­tece em re lação ao uso do term o equiv alen te em ugarítico e aramaico, bem como na literatura dos Ro­los do M ar Morto). Essa alternativa encontra suporte m ais adiante, visto que é o exército dos céus que está sob ataque na visão relacionada do capítulo seguinte (8 .10).7.24. os dez reis. Ao menos nessa questão, o texto deixa claro que os dez chifres representam dez reinos/reis. O s dez reinos que derivam do im pério de Alexandre são o Egito Pto lem aico , a Selêu cia , a M acedônia, o Pérgam o, o Ponto, a Bitínia, a Capadócia, a Arm ênia, a Pártia e a Bactria. Outros ainda acreditam que os dez são sucessores do império romano e, portanto, trata-se de reinos futuros.

7.25. m udar os tem pos e as leis. N a maneira de pen­sar m esopotâmica, os tempos e as leis são governados por decretos cósmicos reunidos no Tablete dos Desti­nos. Normalmente ficavam sob a responsabilidade da assembléia dos deuses ou do chefe do panteão. Em

um a série de lendas antigas esses decretos são rouba­dos e usados de forma errada. Em Enuma Elish, Kingu, amigo íntimo de Tiamat, se apropria deles. No M ito de Anzu (ver o comentário em 7.7), um monstro (Anzu)

os rouba e ameaça controlá-los, colocando em perigo todo o cosmos.

7.25. um tem po, tem pos e m eio tem po. A palavra "tem po" usada aqui é a m esma usada em 4.16 (ver o comentário ali). A palavra "tem pos" simplesmente é a form a p lural e não necessariam ente sugere dois tempos. Os babilônios eram matemáticos bastante so­fisticados, e desde cedo os deuses eram representados numericamente (Sin = 30, Istar - 15). Além do mais, os deuses, com seus valores num éricos e associações planetárias, figuravam na term inologia astronômica em que os movimentos cíclicos dos céus eram usados

nos cálculos dos calendários. Todos esses fatores difi­cultam m uito a explicação do significado dessa frase.

8.1-27A visão do carneiro e do bode8.1. cron ologia . A s dificuldades para especificar a que ano se refere a data aqui mencionada são as m es­

mas do comentário em 7.1. O terceiro ano de Belsazar provavelm ente foi 550 ou 547. N a visão descrita no

capítulo sete, apenas um império (Babilônia) foi iden­

tificado por nome. Agora, dois anos m ais tarde, dois outros impérios são citados por nome.

8.2. geografia. O canal Ulai ficava nas proximidades de Susã, a capital do território de Elão, a cerca de 320

quilôm etros da Babilônia. A cidade m ais tarde tor­

nou-se a residência real dos reis da Pérsia Aquemê-

nida, logo era um local propício para a visão. O canal

artificial, no lado norte da cidade, aparece intim a­

mente ligado a Susã, em fontes cuneiformes e clássi­cas. D aniel poderia ter viajado até lá, m as é m ais

provável que ele tenha sido transportado em uma visão como Ezequiel às vezes experimentou.

8.3. carneiro como signo astral da Pérsia. N a literatu­

ra m ais recente (nos primeiros séculos d.C.), os signos

do zodíaco são associados a países e o carneiro é asso­

ciado à Pérsia. Não há eyidências, porém, de que tal associação tenha sido feita num período tão anterior

como no Livro de Daniel. O conceito do zodíaco tem

origem no período intertestamental.

8.9. ch ifre pequeno. Parece ser uma referência ao rei

selêucida, Antíoco IV Epifânio, cujas atividades no se­

gundo século serão detalhadas em notas posteriores.8.9. Terra M agnífica. A partir de 11.16, 41, fica claro

que essa é uma referência à terra de Israel. Antíoco III

m archou para o leste contra a Pártia, a Arm ênia e a

Bactria, de 212 a 205, e em 200 conseguiu o controle da

Palestina na batalha de Panias. Ele e seu filho, Antíoco IV, não foram bem- sucedidos em suas tentativas de

obter controle do Egito (no sul). Antíoco IV também

fez campanhas no oriente (contra a Arm ênia e o Elão)

e tom ou-se conhecido por suas ações contra Judá e Jerusalém (ver os comentários abaixo e em 11.21-39).

8.10. atirou na Terra parte do exército das estrelas. O

exército dos céus no antigo Oriente Próximo refere-se

à assembléia dos deuses, muitos dos quais eram re­

presentados por corpos celestes (planetas ou estrelas). A Bíblia às vezes usa a expressão para referir-se ao

culto ilegítim o dessas divindades (ver o comentário

em Dt 4.19). Em outras ocasiões, a expressão é usada

para descrever o concílio dos anjos diante de Yahw eh (ver o comentário em 2 Cr 18.18). Um terceiro tipo de

uso trata o termo como um a referência a anjos rebel­des (talvez em Is 24.21; com um na literatura inter­

testamental). Finalmente, a expressão pode referir-se

simplesmente às estrelas, sem nenhuma personalida­

de atrelada a elas (Is 40.26). Na destruição descrita em Erra e Ishum, Erra diz que faria os planetas caírem em

seu esplendor e arrancaria as estrelas do céu. Aqui, o exército das estrelas representa um aspecto da batalha

cósmica e cai temporariamente como vítim a do chifre

maligno, sugerindo então que são alguns dos favori­tos de Deus.

8.11. sacrifício diário. O sacrifício diário era um ho­

locausto que ocorria todas as m anhãs e todas as tardes

(ver os comentários em Êx 29.38 e N m 28.1-8). Repre­

sentava o sustento básico do santuário e era funda­mental para preservar a presença de Yahw eh no meio

do povo.

8.14. duas m il e trezentas tardes e m anhãs. Se dois mil e trezentos sacrifícios deixassem de ser oferecidos, sen­

do que eram dois ao dia, 1150 dias (aproximadamente três an os e d o is m eses) se p assariam . A n tíoco IV

Epifârúo instituiu sacrifícios a seus deuses no templo no

dia 25 de kislev (dezembro), no ano 167 a .C., colocan­

do um fim aos rituais judeus pouco tempo antes naque­

le m esm o ano (relatado em 1 M acabeus 1.44-51), em­

bora não se saiba a data exata da proclamação e execu­ção desse decreto. A rededicação do templo, após a re­

volta dos M acabeus, aconteceu três anos após o dia da

profanação do tem plo, no dia 25 de kislev de 164.8.16. G abriel. Essa é a prim eira referência ao nome de

um anjo na Bíblia. O único outro anjo cujo nom e é

mencionado na Bíblia é M iguel (ver 10.13). N a litera­

tura intertestamentalr-(2 Enoque), Gabriel está no co­

mando do Paraíso. No Rolo da Guerra, de Qumxan, ele é um dos arcanjos que cercam o trono de Deus. Ele

é aquele que leva a m ensagem a M aria, anunciando

o nascimento de Jesus (Lc 1.19). Os anjos não apenas levavam m ensagens da divindade, m as explicavam

o significado das mesmas e respondiam a perguntas relacionadas a elas. Logo, Gabriel é visto aqui como

alguém que pode interpretar a visão. No contexto

politeísta do mundo antigo, os m ensageiros dos deu­ses geralmente eram deuses também (ocupavam po­

sições inferiores). Na Mesopotâmia encontramos Nuska e Kakka nessa função de mensageiros, o mesmo pa­

pel desem penhado por H erm es na m itologia grega.

Em um sonho de Nabonido, um jovem aparece para

oferecer a interpretação de um presságio celestial que fora observado.

8.22. reinos. O rei representado pelo chifre grande é indiscutível: Alexandre, o Grande, cujo exército gre­

go varreu o Império Persa entre 335 e 331 a.C.. Quan­

do Alexandre m orreu repentinamente em 323, com 33 anos, os dois que podiam reivindicar direitos an­

cestrais ao reinado (seu m eio-irmão ilegítimo, Filipe Arrideo, e o filho de Alexandre com Roxane, Alexan­

dre IV, nascido dois meses após a m orte de seu pai)

foram colocados como figuras m eramente representa­tivas sem autoridade de fato, enquanto a direção do

reino foi confiada a três oficiais experientes, Antípater

(vice-rei da M acedônia), Perdicas (chefe dos exércitos)

e Cratero (responsável pelo tesouro e conselheiro de Arrideo). P or volta de 321, esses três regentes opu­nh am -se o bastan te p ara qu e um a ba ta lh a fosse

instigada por uma quarta figura, Ptolomeu, que rece­

bera uma posição de autoridade no Egito. Cratero foi

m orto em batalha e P erd icas, assassinado em um motim, por diversos de seus generais, um dos quais

era Seleuco. Enquanto isso, Antípater assumiu a lide­

rança e colocou um am igo, A ntígono, no lugar de

Perdicas. Em 319 Antípater morreu idoso e apesar de ter nomeado outro sucessor, dentro de dois anos, seu

filho, Cassandro, conquistou o controle da M acedônia

e de grande parte do território da Grécia. No verão de 317, os que se opunham a Cassandro executaram Fili­

pe Arideo. Alexandre IV e sua m ãe Roxane foram

colocados em prisão domiciliar e efetivamente depos­

tos, em bora só tenham sido executados em 310. Os

três que governavam agora eram Cassandro no oeste,

Ptolomeu no Egito e Antígono no leste. Buscando so­lidificar seu controle no oriente, Antígono tentou do­

m inar Seleuco (governador da Babilônia), que em 315 expôs os planos em busca do poder aos outros líderes,

P to lom eu , C assandro e L isím aco (governad or da Trácia). A s batalhas continuaram até 311 quando An­

tígono negociou a paz com Ptolom eu, Cassandro e Lisímaco, deixando Seleuco isolado, mas no controle

da Babilônia. P or volta de 309, Ptolom eu decidira avançar contra Antígono, m as foi longe demais e aca­

bou em 306 sob ataqu e de A n tígono e seu filh o,

D emétrio. A invasão de Antígono, no Egito, fracassou e em 305 Ptolomeu, juntamente com Cassandro, Seleuco

e Lisím aco (provavelm ente os governantes que po­dem ser identificados como os quatro chifres) se decla­

raram sucessores de Alexandre. Passaram -se m ais quatro anos até que Antígono fosse m orto na batalha

de Ipsus, em 301. Cassandro morreu apenas três anos mais tarde (298) e Demétrio continuou a causar pro­

blemas, mas a divisão do im pério em quatro partes

representa o término dessa luta de sucessão que du­rou vinte anos.

8.23. re i de duro sem blante. A descrição nos versí­

culos 23-25 remete a Antíoco IV Epifânio, que reinou

de 175 a 164 a.C.. Sua sabedoria foi corrompida sendo usada em hipocrisia, intrigas, enganos e traição. Para

um resum o de suas ações, ver os com entários em11.21-39.

8.26. selar a visão. Ver o comentário em 12.4.

9.1-27A oração de Daniel e as setenta semanas9.1. cronologia. Considerando a hipótese de que o reinado de Dario, o medo, tenha coincidido com o de Ciro, seu primeiro ano teria sido 539. Novamente, as datas são importantes, visto que um a mudança signi­ficativa de impérios está em andamento (ver o comen­tário em 7.1).9.2. profecia de Jerem ias. Em 597 o profeta Jeremias escreveu uma carta aos exilados (Jr 29) informando-os de que a duração do exílio seria de setenta anos. Pro­vavelm ente esse é o tema de interesse de Daniel, à medida que ele reflete se chegou a hora certa para o retom o.9.3. je ju m , pano de saco e cinza. No Antigo Testa­mento, o uso religioso do je jum com freqüência está relacionado a um pedido dirigido a Deus. O princípio é que a importância do pedido levava o indivíduo a preocupar-se tanto com sua condição espiritual que as necessidades físicas eram relegadas a segundo plano. N esse aspecto o ato de jejuar serve como um processo de purificação e hum ilhação diante de Deus (SI 69.10; 102.4). A prática de rasgar as vestes e colocar terra ou cinzas na cabeça era considerada sinal típico de luto em todo o Antigo Testamento, até o período do Novo Testam ento. H avia tam bém o m esm o costu m e na

M esopotâmia e em Canaã. M uitos ritos de luto eram um m eio de os vivos se identificarem com os mortos.

E fácil perceber como as cinzas sobre a cabeça e as roupas rasgadas serviam como representações simbó­licas de sepultamento e decomposição. O pano de saco era feito de pêlo de camelo ou de bode e era rústico e desconfortável. Em m uitos casos, era apenas uma co­bertura para o lombo.

9 .17 ,18 . desolação da cidade e do santuário. A cida­de de Jerusalém fora destruída pelos babilônios em 586 e não passava de ruínas. Cinqüenta anos haviam se passado desde que o templo havia sido desman­chado e arrasado.9.21. G abriel. Ver o comentário em 8.16.9.21. voando rapidam ente. Em Isaías 6, as criaturas chamadas de serafins voam e em Zacarias 5 há uma visão de mulheres com asas que voam, m as esta é a única ocorrência em que um ser identificado como anjo voa. A pesar de outras criaturas sobrenaturais (as listadas acima e também querubins) serem retra­tadas com asas, os anjos (mensageiros) não são, ape­sar das representações artísticas dos últimos 1500 anos. Na arte mesopotâmica espíritos protetores e diversos demônios são retratados com asas. Na literatura inter­testamental a referência mais antiga a anjos que voam encontra-se em 1 Enoque 61.1 (embora nessa época, os querubins e serafins tam bém fossem incluídos na

categoria). A construção hebraica usada é complexa e muitos comentaristas concluíram (com bastante fun­damento) que o texto expressa fadiga (y'p) e não vôo( 'wp).9.21. hora do sacrifício da tarde. A partir da perspec­tiva israelita, o dia term inava por volta das seis da tarde (não à m eia-noite, como nos dias de hoje). Como resultado, o sacrifício tinha de ser oferecido no meio da tarde, entre três e quatro horas.9.24. setenta sem anas. Um período de sete anos com­pletava o ciclo do ano sabático (ver especialm ente Lv 26.34, 35 e a referência a ele em 2 Cr 36.21). Sete ciclos do ano sabático form avam um ciclo do Ju bi­leu, quando os escravos eram libertados e a terra

era devolvida ao seu proprietário original (Lv 25). Setenta ciclos sábaticos equivalem a dez ciclos do Ju ­bileu. O primeiro e últim o ciclos do Jubileu são des­tacados aqui (sete e setenta semanas, no v. 25). Fica claro, então, que esses núm eros são carregados de significado teológico que lhes dão um a aparência esquemática. N a M esopotâmia os números sete e se­tenta representavam uma medida completa de tem­

po. O uso esquemático do termo "sem anas" pode ser visto na literatura judaica no livro de 1 Enoque (no Apocalipse das Semanas) e o período de setenta se­m anas tam bém aparece em Qum ran. O uso esque­mático do tempo tem sido designado "cronografia" que é diferente de "cronologia".9.24. cum prir a visão e a profecia. Ver o comentário em 12.4. O selo diz respeito à autenticação. A profecia de Jeremias e a visão de Daniel só serão autenticadas quando se cum prir o período designado de tempo.9.24. ungir o Santíssim o. A cerimônia de consagração que envolve a unção e a purificação do Santo dos Santos em Êxodo 29 (especialmente v. 36, 37) é pano de fundo suficiente para entender essa afirmação. A profanação do santo lugar exigia sua purificação. Ins­crições em templos assírios também se referem à un­ção de um templo que deveria ser reparado e restau­rado por um príncipe futuro.9.25. m anda restaurar e reconstruir. A NVI apresenta neste versículo o termo "decreto", mas neste caso não se refere a um decreto real, e sim a um oráculo profé­tico. Esse significado do termo "decreto" é ainda mais provável à luz do fato de que Daniel está partindo dos escritos de Jerem ias, que proclamara o oráculo profé­tico a respeito do retom o e da restauração de Jeru­salém e do templo em sua carta aos exilados (ver o comentário em 9.2). Observe especialmente Jeremias29.10. Essa palavra teria sido proferida em algum momento entre 597 e 594.9.25,26. o Ungido. É importante observar que o subs­tantivo aqui é indefinido, logo se trata de um messias

(um ungido) e não o M essias. A literatura profética ainda não havia adotado esse termo como um termo técnico para o rei ideal, futuro, da linhagem davídica (além deste capítulo, o termo é usado apenas nos pro­fetas em Is 45.1, referindo-se a Ciro, e em H c 3.13, de forma genérica). Sacerdotes e reis eram ungidos para assum ir suas funções em Israel. A lguns estudiosos afirm am que as duas referências a ungidos dizem respeito a dois indivíduos distintos: um, após o pri­meiro ciclo de 49 anos (possivelmente Ciro, visto que já recebera o status de ungido nos profetas, em bora fosse possível tratar-se de líderes como Zorobabel ou Josué, que conduziram os exilados de volta a Israel); o segundo seria morto antes da últim a sem ana. Essa visão é defendida pela interpretação hebraica que sugere que um período deve ser colocado entre os

dois núm eros e não após as sessenta e duas semanas. Foram quarenta e nove anos entre a queda de Jerusa­lém (586) e o decreto de Ciro (538).9.25. ruas e m uros (trincheiras). "R uas" refere-se aos quarteirões e praças da cidade que são os principais traços do planejamento da cidade. É onde as funções públicas da cidade acontecem , desde as atividades mercantis até o funcionamento do governo. "M uros" (ou trincheiras) pode apenas referir-se ao fosso seco que era um elemento comum da defesa das cidades. A combinação indica que Jerusalém seria novamente um lugar de segurança e prosperidade, oferecendo todas os serviços civis de um centro urbano em pleno e tranqüilo funcionamento.9.26. o Ungido será morto. A identificação mais co­mum da m orte do ungido é O nias III, o sumo sacerdo­te assassinado por Antíoco Epifânio em 171 (aludido em 11.22). Muitos estudiosos consideram essa opção irresistível porque a morte desse sumo sacerdote m ar­cou o início de um período de sete anos de perse­guição em Jerusalém que incluiu a profanação do tem­plo em 167.9.27. sacrilégio terrível. O uso freqüente do substan­tivo traduzido como "desolação" (shmm , ver também 8.13) é bastante intencional. O deus sírio Baal Shamem ("Senhor dos Céus") era a divindade cuja adoração fora instituída no templo, sobre o altar de sacrifícios, pelos cidadãos sírios levados a Jerusalém por Antíoco e seu comandante militar, Apolônio. Antíoco adorava essa divindade como o Zeus Olímpico. Essa profana­ção perpetrada por Antíoco serviu como um protótipo de todas as profanações futuras. Ainda no sexto sécu­lo, porém , esse conceito tinha precedente. Em uma obra intitulada O Relato em Verso de Nabonido, os sacer­dotes de M arduque alistam as ofensas de Nabonido que supostam ente teriam levado M arduque a des­troná-lo, favorecendo o rei persa, Ciro. Dentre as acu­

sações estão a de que ele construíra uma abominação, um a obra de contam inação (um a estátu a do deus Nanna colocada no templo de Marduque) e ordenara o fim dos rituais mais importantes.

10 .1-21 A visão do homem vestido de linho (a visão final)10.1. cronologia. O terceiro ano do governo de Ciro na Babilônia foi 537/536. Foi bastante próximo à épo­ca em que a prim eira leva de ju deu s retornou do cativeiro e deu início à reconstrução do templo (regis­trado no primeiro capítulo de Esdras). O versículo 4 indica que a visão aconteceu no dia 24 do primeiro mês (nisa). Seria no início de abril, segundo o nosso calendário. A celebração da Páscoa e da festa do pão

sem fermento (14-21 de nisã) já teria acontecido duran­te as três semanas de preparo de Daniel.

10.1. C iro. Ciro, rei da Pérsia, foi um dos m aiores conquistadores da história m undial. Ele herdou o tro­no da Pérsia de seu pai, Cambises I, em 559. Em 556 o rei babilónico, Nabonido, motivado por um sonho, abandonou o tratado que seu país havia mantido com os medos por m ais de meio século e fez um tratado

com Ciro. Isso deu a Ciro a liberdade de avançar contra os m edos (governados por seu avô, Astyges), a quem ele derrotou em 550. O novo Im pério M edo- Persa foi então formado, com controle sobre a totalida­

de do Irã. Por volta de 546 ele derrotou o reinado anatólio da Lídia e de Iônia. Nos cinco anos seguintes ele consolidou seu controle sobre as tribos do nordeste do Irã. Tudo isso preparou o caminho para seu maior feito, a conquista da Babilônia em 539 a.C.. Todo o Oriente Próximo (exceto o Egito) estava sob o domínio dos persas quando Ciro foi morto em com bate, em 530. Para mais inform ações, ver os comentários em Esdras 1.10.3. com ida saborosa. N a literatura apocalíptica ju ­daica extrabíblica o jejum com freqüência é um prepa­ro essencial para receber uma visão. Daniel não está fazendo um jejum absoluto, mas abstendo-se de m as­sas, carne e vinho - logo está voltando a um a dieta m ais sim ples. D eve-se observar que em bora este versículo não utilize a mesma terminologia do texto em 1.5, fica claro que naquele episódio D aniel não havia assumido o compromisso de manter por toda a vida um a dieta m ais leve.10.3. essência arom ática. N a ausência de banhos e desodorantes, a higiene pessoal incluía o uso de óleos aromáticos. Privar-se desses prazeres era uma carac­terística de quem estava de luto (2 Sm 12.20; 14.2).10.5, 6. descrição. O linho branco era a roupa típica para sacerdotes e tam bém para seres sobrenaturais

(Ez 9-10). O cinto de ouro é deveras impressionante, m as a m aior parte da descrição se concentra nas carac­terísticas físicas do homem (geralmente identificado como Gabriel). Os cinco aspectos descritos ([1[ corpo/ berilo; [2] rosto/relâmpago; [3] olhos/tochas acesas; [4] braços e pernas/bronze polido; [5] voz/multidão)

também podem ser encontrados na descrição das cri­aturas que carregavam o trono, em Ezequiel 1. A aparência geral do veículo é comparada a um a tocha e a relâmpagos, as rodas são comparadas ao berilo e as pernas das criaturas são como o bronze polido. Os m esm os termos hebraicos são usados. Em Ezequiel 1 o som das asas das criaturas é como o de um exército, enquanto o anjo em Daniel tem uma voz como o som de uma multidão. Daniel deixa claro, no entanto, que seu visitante tinha a aparência de homem e não dos anim ais com p ostos v isto s por E zequ iel. N a obra sapiencial babilónica intitulada Ludlul Bei Nemecji o

sofredor, após um longo período de sofrimento e luto, tem um sonho em que vê um impressionante jovem (tanto no físico, quanto na aparência do rosto) diante dele, que o deixa estarrecido. A m ensagem do indiví­duo não é preservada, m as geralmente se supõe que tinha a ver com uma libertação iminente.10.13. príncipe do reino da Pérsia. O contexto exige que esse oponente de M iguel seja um ser sobrena­tural e não um ser hum ano m em bro da realeza. A literatura de Qumran também usa o termo "príncipe" para referir-se a anjos de destaque. Não há evidência m ais clara que este capítulo sobre o conceito bíblico de que os conflitos na história humana têm paralelos no m undo sobrenatural. Indícios desse conceito ficam evidentes no conceito do guerreiro divino (ver os co­mentários em 1 Sm 5.2; 17.27; 17.45-47). Assim como os israelitas tinham uma assembléia divina repleta de anjos em vez de deuses, com o passar do tempo eles também trocaram o conceito das divindades padroei­ras pelo conceito de criaturas sobrenaturais que repre­sentavam o interesse das nações. Isso reflete o proces­so em andamento de esvaziar os céus eliminando as divindades rivais e ao m esm o tem po m anter um a visão sobrenatural da realidade.10.13. M iguel. Como indicado no comentário a res­peito de Gabriel (em 8.16), não há nomes de anjos na literatura anterior. M iguel tom a-se um a figura muito m ais fam iliar na literatura de Qumran e na literatura intertestamental, principalmente no livro de Enoque. Ele é considerado o guardião do povo de Israel.10.20. Pérsia, G récia. Como no capítulo 8, a referência aqui é à seqüência de im périos, em que o Im pério Grego de Alexandre assume o lugar do Império Persa.10.21. Livro da V erdade. Esse livro tem sido com ­parado ao Tablete dos Destinos Babilónicos, que, se­

gundo a crença, continha toda a história e determina­va o curso da m esm a e do cosm os (ver o comentário em 7.25). Isso não apenas se encaixa à natureza do conteúdo revelado no capítulo 11, como tam bém está em sintonia com a introdução desse material em 11.2, onde a informação a ser transmitida é especificamente

classificada como "a verdade".

11.1-45Os reis do sul e os reis do norte11.2. quatro reis persas. Ciro já era rei quando isso aconteceu, logo ele não poderia ser contado entre os quatro. Seus sucessores im ediatos foram Cam bises, Sm erdis (Bardiya/G aum ata), D ario, Xerxes e Arta- xerxes. Sete outros reis se seguiram na linhagem real antes de Alexandre, o Grande, provocar a queda do império. O último foi Dario III. Apesar de discutível, Xerxes foi considerado o m ais rico dos reis e o que mais se envolveu em batalhas contra os gregos. Isso cobre cerca de setenta anos da história persa.11.3. rei guerreiro. O rei guerreiro não é outro senão Alexandre, o Grande. O texto omite 130 anos desde o final do reinado de Xerxes até 336, quando Alexandre tomou o trono da Macedônia. Dentro de cinco anos seu poderio m ilitar derrubou o Império Pérsia e apre­sentou ao m undo os gregos.11.4. repartido para os quatro ventos. Alexandre mor­reu em 323 e um a batalha pela sucessão que durou vinte anos com o tempo provocou a divisão do impé­rio em quatro partes (ver o comentário em 8.22). Duas delas ficaram na região do Egeu (Cassandro ficou com a Grécia e a M acedônia; Lisímaco ficou com a Trácia), enquanto os outros dois dividiram o Oriente Próximo (Ptolomeu ficou com o Egito e a Palestina e Seleuco, com a Síria, a M esopotâm ia e a Pérsia). A linhagem ptolem aica será representada pelo "re i do su l" en­quanto a linhagem selêucida, pelo "rei do norte".

11.5. Ptolom eu I Soter (305-285). O texto passa a foca­lizar os dois reinos (Egito ptolemaico e Selêucia) que m argeavam a Palestina. Ptolomeu desestabilizou as potências e instigou revoltas durante grande parte da batalha de sucessão que durou vinte anos (desempe­nhando um importante papel desde 321), m as Seleuco emergiu como a parte mais forte, de posse do reino maior. A ação m ilitar de Ptolomeu em 321 dissolveu o grupo original que assumira o poder após a morte de Alexandre. U m a de suas poucas derrotas aconteceu em 309, quando ele tentou opor-se à Antígono (prede­cessor de Seleuco). Por volta de 306, ficou claro que ele se superestimara e teve de recuar e reagrupar. Ainda em 306 conseguiu declarar-se rei do Egito.11.5. Seleuco I N icator (312-280). Após a m orte de Alexandre, Perdicas assumiu o comando dos exérci­

tos, e Seleuco era um de seus generais e fazia parte do grupo que assassinou P erdicas. Em pouco tem po Seleuco conquistou o controle da Babilônia, m as foi forçado a fugir quando o sucessor de Perdicas, Antí­gono, avançou contra ele em 316. Ele então passou a servir como general para Ptolomeu, de 316 a 312. Eles lutaram juntos contra Antígono na batalha de Gaza.

Após a derrota de Antígono em Gaza, Seleuco reobteve o controle da Babilônia, que se tom ou o centro de seu poder. O s versículos quatro e cinco cobrem o período da morte de Alexandre até os reinados dos primeiros reis dos dois impérios, cerca de quarenta anos.11.6. aliança frustrada entre ptolem aicos e selêucidas (246). O texto vai quarenta anos à frente. Esses anos testem unharam a prim eira e a segunda guerra síria (274-271; 260-253), basicamente pelo controle das ro­tas comerciais, portos e recursos naturais da Síria. Após a segunda guerra, havia interesse em manter a paz, e o texto agora concentra-se nesse momento crucial da história. Por volta de 252, Ptolomeu II Filadelfo (285­246) enviou sua filha, Berenice, acompanhada de seu séquito, para casar-se com o rei selêucida, Antíoco II Téo (261-246), e estabelecer assim um a aliança entre os dois reinos. A aliança daria a Ptolomeu o controle da Síria e a Antíoco o controle da Ásia Menor. A frágil relação foi m antida por alguns anos e Berenice teve um filh o , m as um a esp osa an terio r de A n tíoco , Laodicéia, cujos filhos haviam sido excluídos da suces­são, supostamente envenenou Antíoco e conseqüen­temente teria mandado assassinar Berenice e seu filho (juntamente com muitos que compunham seu séqui­to). Ptolomeu II também havia morrido naquele ano. Não é preciso dizer que a aliança desintegrou-se e os cinqüenta anos seguintes foram repletos de guerras turbulentas entre os dois reinos.11.7. Ptolom eu III Euergetes (246-221). Ao saber da morte de Antíoco, Berenice apelou a seu irmão (que

ascendera ao trono do Egito) para intervir na Síria, a fim de defender o direito de seu filho ao trono. Ele não foi capaz de garantir o controle da Síria antes do assas­sinato de seu sobrinho e sua irmã. Em 245 (Terceira G uerra Síria), ele forçou um a invasão na Selêucia e atacou com sucesso as capitais sírias de Antioquia (no Orontes) e Selêucia (Selêucia Pieria, na Síria), tom an­do m uitos despojos. As cidades foram rapidamente recuperadas por Seleuco II após Ptolomeu ter voltado para o Egito.

1 1 .9 . S e le u c o I I C a lín ic o (2 4 6 -2 2 6 ). O filh o de Laodicéia, Seleuco II, herdou toda a traição e intrigas de sua m ãe. Em 243 ele tentou obter o controle do sul da Síria e da Palestina. Não só fracassou, como a situ­ação voltou-se contra ele e acabou perdendo território.11.10. Seleuco III (226-223). Durante os últimos quin­ze anos de seu reinado, Seleuco II esteve envolvido em um conflito com seu irm ão, Antíoco H ierax. Am bos m orreram na m esm a época e Seleuco III assum iu o trono. O versículo dez resum e os eventos dos dez anos seguintes. Seleuco III foi morto em uma campanha con­tra P érgam o, na Á sia M enor. Foi sucedido por seu irmão, Antíoco III, que começou a reunir tropas para a Quarta G uerra Síria (221-217) contra Ptolomeu IV.11 .10 . A n tío co I I I , o G ran d e (223-187). Os nove versículos seguintes tratam dos feitos de Antíoco III e cobrem cerca de trinta anos. Seu reinado é considera­do importante para o texto de Daniel porque foi res­ponsável por tirar a Palestina do controle ptolemaico e incorporá-la ao reino selêucida, encerrando um século de dom ínio ptolemaico sobre Israel. Isso teve início em 218, quando ele invadiu com êxito a Galiléia e a Sam aria.11.11. Ptolom eu IV Filopator (221-203). Durante vá­rios anos da Quarta Guerra Síria, Ptolom eu IV teve pouco sucesso militar contra Antíoco, o Grande, e ape­nas evitou (ou frustrou) seu progresso para o sul atra-

APOCALIPSES ACADIANOSNa literatura acadiana algumas obras (datando do século doze até o terceiro ou quarto século) foram classificadas como apocalipses (a Profecia de Marduque, a Profecia de Shulgi, a Profecia de Uruk, a Profecia Dinástica e o Texto A). Foi demons­trado que existe uma relação literária entre algumas dessas obras e os textos de presságios (astrológicos), colocando-as assim na área de especialidade de Daniel. Uma característica predominante dessas obras é que ostensivamente predizem uma série de reis, que surgiriam, sem mencionar o nome deles, apresentando um resumo de suas ações. Com freqüência essas ações são negativas e a intenção da obra é condená-los. Invariavelmente, a seqüência termina com um rei que surgiria e acertaria as coisas (a Profecia Dinástica talvez seja uma exceção, mas o final está tão fragmentado que é difícil dizer com certeza). Essas obras têm sido consideradas material de propaganda composto durante o reinado do último rei alistado, que estaria usando esse gênero literário para acusar seus predecessores e legitimar seu próprio reinado. Nesse caso, deveriam ser chamadas de "pseudo-profecias", uma vez que suas "predições" na verdade são proferidas após a ocorrência dos fatos. O capítulo 11 de Daniel inegavelmente compartilha algumas dessas características comuns desse gênero, ao apresentar uma seqüência de reis anônimos e um resumo de alguns eventos em seus reinos. Daniel, porém, não apresenta nenhum rei nem um resumo de eventos no final da seqüência, com o objetivo de promovê-lo. O oposto é verdade, visto que o último, Antíoco Epifânio, é o pior de todos. Como em todo o Livro, então, Daniel usa um tema conhecido, mas lhe dá uma roupagem total­mente nova para o uso distinto que faz. Para mais informações a respeito da literatura apocalíptica em geral, ver a nota em Zacarias 1.

vés de repetidas iniciativas diplomáticas. Muitos dos sucessos de Antíoco foram conseguidos com a ajuda de traidores e não através de poderio m ilitar ou ta­lento. Na verdade, suas táticas vagarosas permitiram que Ptolom eu reunisse, treinasse e enviasse para o campo de batalha uma força armada significativa em 217.

11 .11-13. Q u arta e Q u in ta G u erra S ír ia . Em 217, Ptolomeu IV enfrentou Antíoco III, na batalha de Rafia, no que se tornou o clím ax da Q uarta G uerra Síria. Rafia era uma linha divisória tradicional entre a Pa­lestina e o Egito, cerca de 32 quilômetros a sudoeste de Gaza, na costa do Mediterrâneo. Antíoco afirmava ter um exército de setenta mil homens, mas, mesmo

com a superioridade numérica de seu exército, ele foi derrotado pelos egípcios. Essa vitória devolveu ao controle ptolemaico a Siro-Palestina. Essa situação foi m antida até a m orte de Ptolom eu IV , em 204. As circunstâncias suspeitas da morte de Ptolomeu IV (com pouco mais de trinta anos) levaram seu filho de seis anos, Ptolomeu V Epifânio (204-180) ao trono do Egito. Antíoco aproveitou a oportunidade do conflito sobre quem estava no comando para iniciar a Quinta Guer­ra Síria (202-200), aliado com Filipe V, da Macedônia.

11.14-16. ocupação da P alestina por A ntíoco III. A batalha de G aza em 201 garantiu a Antíoco o controle temporário da Palestina, mas ele foi novamente força­do a recuar pelas forças egípcias sob o comando de Escopas. No ano seguinte, porém, na batalha de Panias (uma das nascentes do Jordão; a Cesaréia de Filipos do Novo Testamento, atual Banias), Antíoco derrotou os egípcios e assum iu o controle da Palestina pela últim a vez. Enquanto isso, os romanos estavam con­quistando a Grécia na Segunda Guerra Macedônica.11.14. hom ens violentos. O livro de 3 Macabeus re­gistra um a visita de Ptolomeu IV a Jerusalém após a batalha de Rafia em que foi tratado m uito mal quan­

do desejou entrar no templo. Existe controvérsia quanto à historicidade desse relato. H avia na Judéia, nesse período, facções pró-selêucidas (liderada por Onias II, o sumo sacerdote) e pró-ptolemaicas (da poderosa fa­m ília Tobíades, que com petia pelo cargo de sumo sacerdote). As fontes não oferecem informações sufi­cientes para determinar qual desses partidos está sen­do aludido neste versículo.11.17-19. a derrota de A ntíoco III por Rom a, Scipio (191,190). O controle crescente dos romanos na Grécia foi estabelecido por um acordo de paz em 196. Os gregos que estavam insatisfeitos com a nova situação fizeram contato com Antíoco, insistindo em que fosse ao auxílio deles. Nessa época, Antíoco, prevendo que teria que neutralizar o Egito, fez um a aliança de casa­m ento, enviando sua filha, Cleópatra, para ser a noi­

va de Ptolom eu V. Ele esperava usá-la com o um a eficaz espiã, mas foi desapontado nesse aspecto, visto

que a lealdade da filha passou a ser para com seu

novo marido. Não obstante, ele avançou em direção à Grécia em 192. A mudança constante de aliados com

o tempo voltou-se contra ele, e ele perdeu um a gran­de parte de seus dez mil homens em Termópilas, em

191. Antíoco então voltou-se para a batalha no m ar

tentando m anter os romanos fora da Ásia M enor, mas novam ente não foi bem-sucedido. Por volta de 190, o

exército selêucida de setenta mil homens chegara para reforçar as posições de Antíoco. As tropas rom anas

lideradas por Scipio eram apenas metade desse con­

tin gen te quando os exércitos se en contraram em

M agnésia (cerca de 80 quilômetros ao norte de Éfeso).

A inda assim , devido à fa lta de treinam ento e aos erros táticos por parte do exército selêucida, Antíoco

foi derrotado e grande parte de seus homens foi mor­ta. Os termos de rendição foram humilhantes, devas­

tadores e aceitos sem questionamento.

11.20. Seleuco IV Filopator (187-175). Esse filho de

Antíoco III teve um reinado relativamente pacífico e

parece ter m antido relações favoráveis com Jerusa­lém. A exceção citada no versículo foi quando ele

enviou a Jerusalém um de seus oficiais, Heliodoro,

para arrecadar im postos que foram descritos como

pesados demais ou escondidos pelas facções contrárias aos selêucidas. Antes que o sumo sacerdote, Onias III,

pudesse chegar a Antíoco para apelar da decisão e

oferecer explicações, Seleuco foi assassinado em uma conspiração executada por Heliodoro, sendo Antíoco

IV suspeito de cumplicidade pelos historiadores.

11.21. Antíoco IV Epifânio (175-164). Antíoco IV, ir­

m ão de Seleuco, estivera em Rom a como um refém político e estava retornando (alcançara Atenas) quan­

do seu irmão foi assassinado. Seus alvos incluíam trans­

formar Jerusalém no centro da cultura grega e ajudar

os judeus a fazer a transição para tom ar-se cidadãos gregos, com costumes gregos. As intrigas em que se

envolveu foram muitas, mas certamente a principal

em relação a Jerusalém foi com o ele lidou com os

sum os sacerdotes (ver o comentário abaixo). O texto

bíblico o chama de "desprezível" e de fato ele o era.

Seu título, "Epifânio" significa "deus m anifesto", mas o povo se referia a ele como "Epim ânio", que significa

"louco". Apesar de ser um membro da linhagem real,

o trono deveria ter ficado com o filho de Seleuco, Demétrio (que em vez disso estava tomando o palácio

de Antíoco como refém, em Roma). Outra intriga di­

zia respeito ao trono. Ele estabeleceu uma co-regência com seu sobrinho (um menor), que poucos anos mais

tarde foi assassinado.

11.22. príncipe da aliança. Onias III foi detido por Antíoco e nesse ínterim, Jason, seu irmão, conspirou para usurpar sua posição. Ele pagou uma soma consi­derável a Antíoco e ofereceu cooperação na helenização da Judéia (promoção da cultura grega em detrimento dos costumes judaicos). Três anos m ais tarde, Menelau, com o provável apoio de Tobíades, pagou uma gran­de soma e, tendo já sido estabelecido um precedente, foi recompensado com o cargo de sumo sacerdote, em lugar de Jason. De acordo com 2 Macabeus, Onias foi assassinado em 171. Muitos estudiosos o identificam como o príncipe da aliança citado neste versículo, m as outros associam esse título a Ptolomeu V I (ver abaixo). O exército avassalador, em certo sentido, representa os oponentes ao reinado de Antíoco. Poderia incluir oponentes políticos internos, adversários judeus ou oposição estrangeira como a que se desenvolveu no Egito.11.25. Prim eira G uerra Egípcia, 169. Os sonhos de

Antíoco de anexar o Egito a seu reinado finalmente se concretizaram em 169. Sua invasão foi im pelida pela crescente anim osidade dos egípcios e talvez tenha sido uma resposta à ação m ilitar do Egito, uma vez que o prim eiro confronto (novembro de 170) foi entre Pelúsio e Gaza. Não obstante, Antíoco teve êxito em capturar a cidade de M ênfis e garantiu a rendição de Ptolomeu VI.

11.26-28. Ptolom eu V I Filom etor (181-146). Ptolomeu VI era jovem quando assumiu o trono e foi auxiliado por dois oficiais, Euleu e Leneu, que incitaram a opo­sição contra a Síria. Acredita-se que a hum ilhação de Ptolom eu na Prim eira Guerra Egípcia foi resultado dos maus conselhos que esses dois assistentes lhe de­ram com a intenção de prejudicá-lo.11.27. cerco frustrado de Alexandria. Após o cerco bem-sucedido a Mênfis, os cidadãos de Alexandria o desafiaram coroando o irm ão mais novo de Ptolomeu. Antíoco tomou medidas imediatas para suprimir essa revolta, m as não conseguiu tom ar a cidade. Assim que A ntíoco voltou à Síria, Ptolom eu V I repudiou qualquer lealdade a ele e reinstalou a co-regência com seu irmão.11.28. ação contra a san ta a liança. Fontes rom anas, gregas e judaicas diferem quanto aos detalhes dessa questão. Não há dúvidas de que ao retornar do Egito, Antíoco saqueou o tesouro do templo, provavelmente a fim de garantir fundos para a continuidade de suas atividades militares. Não há concordância entre as fon­tes em relação a esse incidente, se aconteceu após a P rim eira (se tem bro de 169) ou a Segu n d a G u erra Egípcia.11.29. 30. Segunda Guerra Egípcia, 168. Na primave­ra de 168 Antíoco novam ente teve de sitiar Mênfis, e

foi tão bem-sucedido que conseguiu assumir o contro­le do baixo Egito. Ao preparar-se para novam ente sitiar Alexandria, agora enfraquecida, ele se procla­m ou rei do Egito. M as desta vez havia um a diferença. O Egito apelara a Rom a em busca de ajuda e os navios rom anos chegaram quando ele se aproxim ava de Alexandria. O cônsul romano Gaio Popílio Lenas en­controu-se com ele nos muros de Alexandria e orde­nou a Antíoco que deixasse o Egito. Quando Antíoco replicou que teria de consultar seus conselheiros, o cônsul romano desenhou um círculo no chão ao redor do rei e insistiu que ele desse uma resposta antes de pisar fora do círculo. Humilhado, Antíoco submeteu- se à autoridade romana e dirigiu-se para casa procu­rando um meio de vingar sua derrota. Provavelmen­te isso aconteceu em julho de 168.11.30. fú ria contra a santa aliança. As notícias em Jerusalém eram que Antíoco fora morto em combate. Jason, que fora deposto como sumo sacerdote, apro­veitou a oportunidade para liderar um a rebelião con­tra M enelau, que a essa altura era o sumo sacerdote (ver o comentário em 11.22). Quando Antíoco ficou sabendo dos tumultos, é provável que tenha ido pes­soalm ente a Jerusalém para sufocar a rebelião. No processo, dez mil judeus foram massacrados, e o tem­plo foi saqueado (aparentemente com a cooperação de M enelau). Outro relato (talvez de um a ação subse­qüente) diz que Apolônio, juntam ente com um con­tingente de soldados, teria sido enviado por Antíoco para subjugar os cidadãos rebeldes de Jerusalém. Se­gundo os livros dos M acabeus, isso foi alcançado atra­vés da estratégia de aparentar que haviam ido a Jeru­salém em paz, m as depois atacando de surpresa e m atando a muitos. Talvez essa seja um a ocasião dis­tinta e é difícil dizer qual a relação entre esses eventos e aqueles relatados no com entário em 11.28. É pro­vável que a essa altura a cidadela (a Acra) dos solda­dos sírios tenha sido erguida na encosta do monte do Templo.11.31. profanação do santuário. De acordo com o livro dos M acabeus, um indivíduo cham ado Geron foi en­viado por Antíoco para acabar com a prática religiosa judaica. E possível que o contingente m ilitar sírio, em busca de acomodação para sua própria prática de ado­ração, tenha sido parcialm ente responsável por algu­mas das m udanças descritas no templo. Em dezembro de 167 um programa sistemático de instituição das prá­ticas religiosas gregas em detrimento das judaicas teve início. O sistema sacrificial e a observância do sábado e das festas foram interrompidos. Foram instituídos lo­

cais de culto em todo o país e a circuncisão foi proibi­da. O tem plo foi consagrado a Zeus e tom ou -se um centro do politeísmo e de prostituição.

11.31. sacrilégio terrível. Geralmente essa expressão

é entendida como uma referência a um ídolo do Zeus Olímpico que foi colocado no templo. Antíoco identi­

ficara esse seu deus favorito com o deus sírio Baal-

Sham em , a principal divindade da parcela síria da população (ver o comentário em 9.27).

11.32-35. com lison jas corrom perá aqueles que tive­rem violado a aliança. Muitos judeus haviam apoiado

o processo de helenização e, portanto, se recebessem a prom essa de algum benefício pessoal, prontam ente se aliariam às novas políticas. Dentre esses se destaca

Menelau, o sum o sacerdote, que dependia totalmente de Antíoco para sua lucrativa posição.

11.32-35. Judas M acabeu. Em contraste, m uitos dos

judeus lutaram energicam ente contra a helenização

da Judéia - com m uito sofrimento e a m orte de m uitos mártires. A principal revolta organizada foi liderada

pela fam ília dos asmoneus, iniciada por seu patriarca, Matatias, um sacerdote. N o início de 166, quando o

enviado de Antíoco chegou ao seu povoado para fazer

cum prir os novos regulamentos, Matatias e seus cinco

filhos, João, Simão, Judas, Eleazar e Jônatas, respon­deram pegando nas arm as e m atando-o. A fam ília,

então, fugiu da cidade e a rebelião teve início. Com

Judas como o comandante m ilitar, começaram assu­m indo o controle de pequenas cidades, com a inten­

ção de isolar todas as estradas para Jerusalém . Isso

criou um bloqueio efetivo que ocasionou a retomada

de Jerusalém e a purificação do templo, em dezembro

de 164, exatam ente três anos após sua profanação,

m as Daniel 11 não faz menção a esse evento. Ainda há controvérsia se nesse trecho os macabeus são cita­

dos de forma favorável ou desfavorável.11.36-39. Se esses versículos ainda estiverem se refe­

rindo a Antíoco IV, apresentam uma descrição geral

do difícil período que envolveu a profanação do tem­

plo. As referências à arrogância de Antíoco, seu gene­roso apoio a alguns templos e redistribuição da terra

àqueles que o apoiavam são facilmente reconhecidos

como características desse período.

11.37. os d eu ses. Os p red ecessores selêu cid as de

Antíoco haviam elevado o deus Apoio, enquanto os ptolomeus haviam mostrado preferência por Adónis

(possivelmente citado aqui como o preferido das m u­

lheres). Antíoco os negligencia (embora de forma al­guma os rejeite), favorecendo o Zeus Olímpico. O fato

de ter se autodenominado "deus m anifesto", expres­

são cunhada em suas moedas é suficiente para expli­

car o comentário deste versículo.11.38. deus das fortalezas. A fortaleza a que se faz men­

ção aqui geralm ente é considerada a Acra, guarnição dos soldados sírios, adjacente ao m onte do Templo.

11.40-45. batalha final. Não se sabe de nenhuma se­qüência de eventos históricos que corresponda ao que

é descrito nesses versículos. Antíoco IV foi morto na batalha da Pérsia, em dezembro de 164. M uitos intér­

pretes de Daniel consideram que esse trecho (talvez começando no v. 36) contenha uma referência a um

futuro m ais distante.

12.1-13 Os tempos do fim12.1. M iguel. Ver o comentário em 10.3.

12.1. o livro. Parece ser um a referência ao livro da

vida. Em Êxodo 32.32-34, Moisés está disposto a ser riscado do livro, uma ação que resultaria em sua m or­

te. Yahw eh replica que aquele que peca é riscado do

livro. A metáfora é de um a lápide que contém uma

lista dos viventes. É comparável ao livro que contém o nom e daqueles destinados a morrer, que Enkidu vê

em seu sonho do mundo inferior. Quando os pecados

de alguém exigem julgamento, o nom e dessa pessoa é riscado, resultando assim em sua morte. Isso traça

um a relação entre o livro da vida e o livro do julga­

mento (ver o comentário em 7.10). Aqui, o livro ainda

diz respeito à continuação da vida, uma vez que aque­

les que estão registrados nele serão libertos da perse­

guição. N o entanto, ainda não é considerado como um livro de vida eterna.12.2. ressu rreição n o antigo O rien te Próxim o. H á

diversos conceitos distintos de vida após a morte evi­

dentes no antigo Oriente Próximo. O mais fundamen­

tal deles é a continuação da existência num mundo inferior de sepulturas onde não há diferenciação no

tratam ento dado ao justo e ao ím pio. Os israelitas

cham avam esse lugar de Sheol (ver os comentários

em Is 14.9), e acreditavam que não perm itia nenhu­ma interação com Deus. Em Canaã e na Mesopotâmia

havia divindades do m undo inferior que governa­

vam essa dimensão. No Egito, a existência no mundo inferior era m ais congenial para aqueles que passa­

vam pelo julgam ento e adentravam em seus limites.

Q uem não fosse aprovado era devorado. Nenhum

desses conceitos inclui a idéia de ressurreição. De modo

geral, o único despertar que acontecia na visão de

mundo antigo era a invocação dos espíritos dos m or­tos (que não era perm anente, nem num a presença

corporal) ou o levantar dos deuses da fertilidade nos

ciclos da natureza. Estes morriam anualm ente quan­do o ciclo agrícola terminava e "passavam o inverno"

no m undo inferior. Depois eram ritualmente desper­

tados na primavera. Nada disso apresenta qualquer semelhança com a doutrina teológica da ressurreição.

Do mesmo modo, não são comparáveis as revivificações

ocasionais (quando um indivíduo é trazido de volta à

vida) ou os indícios de um retom o nacional à vida (os

ossos secos de Ezequiel). Um a doutrina da ressurrei­ção inteiramente desenvolvida e elaborada no senti­

do atual inclui seis elementos: (1) é individual, não nacional; (2) é material, não espiritual; (3) é universal,

não isolada; (4) acontece fora do mundo inferior; (5)

conduz à imortalidade permanente e (6) envolve dis­

tinções entre o justo e o ímpio. O zoroastrismo parece conter todos esses elementos, mas a natureza das fon­

tes não permite identificar o período a partir do qual os persas passaram a desenvolver esses conceitos (para

m ais informações, ver o comentário em Is 26.19).

12.3. reluzirão como as estrelas. Estrelas e anjos são associados pelo fato de que am bos são designados

como exércitos dos céus (ver o comentário em 8.10).

Segundo a maneira de pensar grega contemporânea

e a literatura apocalíptica intertestamental, os justos se

tom avam estrelas ou anjos. Daniel fala apenas em

termos de comparação, não de transformação.12.4. feche com um selo as palavras. D esde o século

oitavo, textos assírios de natureza esotérica eram pre­

servados. As anotações (chamadas cólofons) no final

de tais obras indicavam que continham conhecim en­

tos secretos a serem compartilhados apenas aos inicia­dos. Os rolos podiam ser selados amarrando um cor­dão em volta deles e selando o n ó com argila ou colocando-os dentro de um jarro e selando a tampa. A argila ou o selo ao redor da tampa recebiam a impres­são com o selo do proprietário. A M esopotâmia usava selos cilíndricos, o Egito selos de escaravelho, e a Siro- Palestina, selos de estampa. Os tabletes eram selados dentro de um envelope de argila, que recebia a im ­pressão do selo do proprietário. O s selos tinham o objetivo de autenticar a integridade do conteúdo. Eles alertavam contra adulteração e se intactos, atestavam a autenticidade do documento. Para m ais inform a­ções, ver N eemias 9.38.12.7. um tem po, tempos e m eio tempo. Ver o comen­tário em 7.25.12 .11 ,12. 1290/1335 dias. O calendário lunar era usa­do em grande parte do mundo antigo, resultando em anos de 354 dias. Há m uito fora reconhecido que o ano solar tinha 365 dias, assim ajustes periódicos eram feitos acrescentando um determinado número de dias aos m eses. A prática grega fazia uso do padrão de m eses de trinta dias, que tam bém eram periodica­mente ajustados ao ciclo solar. M il e duzentos e no­venta dias são três anos e sete meses de trinta dias.

O S É I A S

1.1-11 A família de Oséias1.1. cronologia. As profecias de Oséias abrangem o oitavo século, do início do reinado de Uzias em Judá até o término do reinado de Ezequías. O único rei de Israel citado nesse sobrescrito é Jeroboão II, cujo reina­do basicamente cobre a primeira m etade daquele sé­culo. A m aior parte das m ensagens de Oséias trata primordialmente de eventos no período caótico após a morte de Jeroboão, quando houve uma sucessão de reis fracos e ineficazes, pouco antes da conquista assíria de Israel e da destruição de Sam aria em 721 a.C..1.2. ordem div ina de tom ar m ulher. O casam ento por ordem divina é uma metáfora para a aliança de Israel com Yahweh. Ezequiel demonstrou isso no orá­culo da "criança enjeitada" (Israel) que com o tempo tom ou-se a esposa infiel de Yahw eh (Ez 16.1-43). Um exemplo extrabíblico de casamento ordenado por um deus encontra-se nos Anais H ititas de Hattusilis, m ui­tos séculos antes de Oséias. Hattusilis declara que a deusa Istar lhe apareceu em um sonho instruindo-o a tom ar Puduhepa, filha do sacerdote de Istar, como sua esposa. Esse endosso divino teria silenciado qual­quer crítica dirigida a essa união e dado à esposa o direito de participar de atividades cultuais, bem como da realeza.1.4. o m assacre de Je ú em Jezreel. Eliseu original­mente havia sancionado a revolução política que trou­xera Jeú ao trono (ver 2 Rs 9.6-10). A fala proferida pelo "filh o do profeta" que unge Jeú o convoca a vingar o sangue dos profetas mortos, exterminando toda a casa de Acabe, inclusive sua esposa Jezabel. Jeú obedece, m atando primeiro o rei Jorão em comba­te (2 Rs 9.24) e tam bém A cazias, rei de Judá (2 Rs 9.27). Após m archar até a cidade de Jezreel, ele con­voca a população para escolher de que lado ficará e Jezabel é atirada de uma sacada, encontrando assim sua morte (2 Rs 9.32, 33). Acontece então uma limpe­za geral da "casa" de A cabe, que é um eufem ism o para aqueles que o apoiavam politicam ente e seus oficiais do governo. Sob as ordens de Jeú, os oficiais aterrorizados em Jezreel decapitam setenta "filhos da casa de A cabe" (2 Rs 10.6-8). No dia seguinte Jeú publicam ente nega qualquer responsabilidade pela morte daqueles setenta homens e usa o incidente como pretexto para executar todos aqueles oficiais (2 Rs 10.9­11). Foi esse massacre, que varreu a dinastia e elimi­

nou os que apoiavam a Acabe, a base para o nome simbólico do primeiro filho de Oséias. O nome, por­tanto, passa a ser um lembrete ao governante vigen­te, descendente de Jeú, de que sua dinastia seria res­ponsabilizada pelos atos assassinos de Jeú. Também pode estar prenunciando um fim sangrento para essa dinastia, diante da invasão síria e da expansão da hegemonia assíria na região.1.5. vale de Jezreel. Esse vale extremamente fértil (o nome significa "D eus sem eia") e estratégico permite a locomoção de leste a oeste pela região montanhosa do norte da Samaria e pela baixa Galiléia, desde Bete- Seã, no leste, até Aco, na costa do Mediterrâneo. Onri e A cabe haviam estabelecido um a segunda capital em Jezreel devido à sua im portância estratégica e econômica. N aturalm ente o vale tam bém tornou-se campo de batalha para exércitos que desejavam con­trolar a região. Um a série de batalhas fam osas aconte­ceu ali, a primeira delas está registrada nos anais do faraó Tutm és III (1504-1450). Para m ais informações, ver o comentário em Juizes 6.33.

2.1-23Israel como esposa e mãe2.3. nua e expulsa. Diversos docum entos, inclusive testam entos encontrados na cidade de N uzi, referem- se a esse tipo de tratamento dado a uma esposa que abandonava seu m arido para viver com outro ho­m em . G eralm ente eram os filhos quem aplicavam esse ato legal. Tinha o objetivo de humilhar e talvez servisse como um instrum ento de divórcio, em bora em casos em que o marido já tivesse morrido, estava relacionado a direitos sobre a herança.

2 .5 ,8 . principais produtos da terra e fertilidade. Tan­to o Código de H am urabi quanto o Código de Lei M édio-Assírio contêm listas de itens que o m arido tinha de prover para o sustento diário da esposa. Es­ses itens incluíam cereais, azeite, lã e roupas. Esses produtos eram a base da economia do antigo Oriente Próximo e eram o símbolo da fertilidade prometida ao povo por D eus (ver Jr 31.12). Logo, na m etáfora do casamento empregada por Oséias, o suprimento des­ses itens representava o cum prim ento da promessa de Deus na aliança. Entretanto, Israel escolhera tomar para si "am antes" (outros deuses), adorá-los e ofere­cer-lhes presentes de ouro e prata, em vez de reco­nhecer as dádivas vindas de Yahw eh (compare com

Ez 16.13-19). Israel creditava o suprim ento de suas necessidades a deuses da fertilidade como Baal.2.8. o culto a Baal. Os povoados agrícolas, cuja produ­ção alimentava seus moradores e os de centros urba­nos, como Jerusalém , predom inavam no m undo do antigo Israel. O clim a mediterrâneo trazia chuva ape­nas durante o inverno e os primeiros m eses da prima­vera (outubro - abril), e um a seca significava que sua subsistência estaria seriamente ameaçada. Não é de se espantar, portanto, que o deus cananeu da tempes­tade, Baal, fosse um a figura tão difundida na adora­ção dos antigos e tam bém nos textos religiosos de Ugarit e da Fenícia. A chuva significava vida, fertili­dade, prosperidade econôm ica e poder para quem era por ela abençoado. A tarefa dos profetas israelitas, portanto, passou a ser o esforço de demonstrar que Yahw eh era o provedor da fertilidade, inclusive da chuva, e que Baal era um deus falso (ver Jr 2.8; 23.13). Mais freqüente do que se imagina, porém, os aldeões combinavam o culto a Yahw eh com o culto a Baal a fim de m aximizar suas chances de conseguirem uma boa colheita (ver Jz 2.11; 6,25-32). Igualmente, os reis de Israel, como Acabe, ao fazer casamentos diplomá­ticos, aceitavam a introdução de Baal e Aserá, ao lado de Yahweh, nos centros oficiais de adoração (ver 1 Rs16.31-33). Somente após o exílio, o culto a Baal seria suplantado pela adoração fiel exclusiva a Yahweh entre os israelitas.2.11. festas relig iosas e Baal. A s práticas religiosas sincretistas dos israelitas são expostas aqui em suas folias (parte da metáfora do comportamento infiel de Gômer) na adoração a Baal durante as festas de Luas novas e das colheitas (ver a lista semelhante de cele­brações cultuais em Ez 45.17). A Páscoa, a Festa das cabanas e a festa das sem anas eram as celebrações anuais que marcavam o ano agrícola (ver os comentá­rios em Êx 12.19 e 23 .15 ,16 para uma descrição dessas festas). A s festividades de Lua Nova pareciam estar ligadas aos sábados, um a vez que as celebrações acon­teciam no contexto fam iliar (ver 1 Sm 20.5) e havia um a interrupção no trabalho (ver A m 8.5). Os israelitas não faziam distinção entre as dádivas de Yahw eh e as supostas dádivas enviadas pelo deus cananeu da chu­va e da fertilidade, Baal. Como resultado, o verdadei­ro provedor de toda a abundância e fartura iria retirar sua generosidade a fim de que os israelitas enxergas­sem seu erro.2.12. videiras e figueiras como pagam ento recebido dos am antes. As canções de am or egípcias do Papiro Harris 500 fazem menção a um jarro de vinho doce de mandrágoras como presente de um amante. Tais pre­sentes eram com uns com o expressão de estim a ou afeição, m as o termo para pagamento aqui é usado

como valor cobrado por uma prostituta e não como oferta a uma amante. Isso traz novamente o enfoque para a metáfora da infidelidade de Israel/Gômer. O

uso das videiras e figueiras também atinge outra fon­te de riqueza e festas no antigo Israel. Não era possí­

vel haver celebrações sem esses importantes produtos que eram colhidos em agosto e setembro. A ameaça

de D eus em transform ar o lugar em um deserto é semelhante àquela expressa em Isaías 5.6.

2.12. castigo através de anim ais selvagens. A inscri­

ção aramaica em Deir'Alla, datada do oitavo século, que contém a profecia de Balaão e o texto egípcio do

século vinte a.C. intitulado Visões de N eferti descre­

vem um a terra abandonada em que animais ferozes e estranhos vasculham em busca de alimento. Animais

selvagens eram considerados um dos flagelos típicos en viad o pela d iv in d ad e com o castigo . No ép ico

m esopotâm ico de G ilgam és (2000 a.C .), o deus Ea repreende Enlil por não enviar leões para despedaçar

o povo, em vez de usar algo tão dramático como um

dilúvio. O s deuses usavam animais selvagens junta­mente com doenças, seca e fome para reduzir a popu­

lação dos humanos. Uma am eaça comum no período assírio relacionada a maus presságios era que leões e

lobos assolariam toda a terra. De maneira semelhan­

te, a devastação através de anim ais selvagens era

um a das maldições invocadas em violações de trata­dos. A imagem aqui é de caos que acomete uma terra

q u an d o a c iv iliz a ç ã o ru i. V e r o c o m e n tá rio em

Deuteronômio 32.23-25 para outro exemplo de Deus amaldiçoando a terra e sua produção.

2.13. incen so aos baalins. Considerando-se o grande núm ero de pequenos altares de incenso descobertos

por arqueólogos, tais como os de Láquis e Tel-Miqne/

Ecrom , parece que o incenso queim ado em oferta a Yahw eh ou a outros deuses era com um tanto nas casas,

quanto nos locais oficiais de culto (ver Is 17.8; Jr 19.13).

O s israelitas haviam recebid o a ordem de queim ar incenso diante do altar de Yahweh (Êx 30.7,8), mas essa

forma correta de culto fora corrompida, quando as ofer­

tas passaram a ser dedicadas a Baal. O incenso ge­

ralm ente era usado para acom panhar petições.

2.15. vale de Acor. Quando Acã violou o herem du­rante a conquista de Jericó, ele e toda sua fam ília

foram apedrejados até a morte no lugar que passou a

ser conhecido como o vale de Acor (Js 7 .25,26). O local

fica situado na fronteira norte da tribo de Judá (Js 15.7), atual El Buqê'ah. A menção de Oséias ao "vale

dos problem as" é uma tentativa de demonstrar que,

se até mesmo um lugar tão desgraçado poderia ser transformado, também poderia a relação entre Gômer/

Israel e Oséias/Yahweh.

3.1-5 A reconciliação de Oséias com sua mulher3.1. bolos sagrados de uvas passas. Ver o comentário

em Jeremias 44.19 a respeito dos bolos (feitos de figos ou tâmaras) dedicados aos deuses da Mesopotâmia. Há certa dúvida quanto à tradução do termo hebraico

aqui. Alguns comentaristas sugerem que se trata de

jarros de vinho e não de bolos feitos de uvas esmagadas

ou uvas passas. De qualquer maneira, é o produto da

videira que está sendo usado como oferta.

3.2. detalhes sobre o valor da aquisição. Consideran­do-se o valor da cevada, acrescido de quinze siclos de

prata, estima-se que o total pago por Oséias teria sido

de aproximadamente trinta siclos. Essa quantia é igual ao valor pago como indenização pela perda de um

escravo em Êxodo 21.32. V isto que não se sabe ao

certo qual era a situação de Gôm er, não é possível

definir o porquê Oséias teria pago esse valor. Com base nas Leis M édio-assírias, porém, é provável que

ele a estivesse redim indo de um a situação legal da

qual ela não conseguiria se livrar (como por exemplo,

pagando uma dívida que ela contraíra).

3.4. sacrifício ou colunas sagradas. Ver o comentário em Êxodo 23.24 e Deuteronômio 7.5 a respeito do uso

de colunas sagradas e postes de Aserá como parte da

adoração cananéia e das práticas idólatras de Israel.

Colunas sagradas faziam parte do culto legítim o a Yahw eh, ao menos até o período da m onarquia di­

vidida (ver Is 19.19). Na época de destruição iminen­

te, porém, esses símbolos cultuais, bem como os reis,

não receberiam aprovação ou apoio de Yahw eh (ver Dt 16.22).

3.4. colete sacerdotal ou ídolo. Sacrifícios e colunas sagradas representam m eios de adorar a divindade

enquanto o colete sacerdotal ou o ídolo referem -se a meios de consultar a divindade. O colete sacerdotal

fazia parte das vestes usadas pelos sacerdotes (ver o

comentário em Êx 28.6-14) e no Egito e na M esopo­

tâmia era restrito para vestir as imagens da divinda­de e os sacerdotes do alto escalão. Ver o comentário

em Êxodo 28.6-14 para um a descrição do colete e de seu uso como um instrumento para descobrir a vonta­

de de Deus. As pessoas que queriam receber alguma m ensagem da divindade iam até o templo (onde pa­

gavam um a taxa) e recebiam a resposta (através da

m ediação dos esp ecialistas). Os íd olos de fam ília (terafins) mencionados aqui (ver o comentário em Gn

31.19) estavam entre as ferramentas ou substitutos de consulta aos deuses no antigo Oriente Próximo. No

entanto, da m esm a m aneira que D eus rejeitaria os

sacrifícios e as colunas sagradas, Ele não daria respos­tas a esses adivinhos.

4.1-19 A acusação contra Israel4 .10 ,14 . prostituição. Na Mesopotâmia antiga, é pos­sível fazer um a distinção entre a prostituição comer­cial e o "serv iço sexual sagrado" (com o G. Lerner denomina). Em textos cuneiformes o termo harimtu é usado para am bas as práticas (por exemplo, é uma harimtu que "educa" EnJddu no épico de Gilgamés), em bora haja um a diferença na posição social e no objetivo de cada uma. O serviço sexual sagrado ofere­cido no tem plo estava ligado ao ritual sagrado do casamento que assegurava a fertilidade da terra. Ha­via diversos níveis de sacerdotisas, desde sum o sacer­dotisas, que representavam a deusa Istar/Inana, que recebia a "visita" do deus M arduque todas as noites, até ordens enclausuradas e figuras m ais públicas como as n aãitu , que podiam ter propriedad es, conduzir negócios e até se casar. O fato de que a prostituição comercial acontecia perto dos templos baseia-se nas m esm as considerações que levavam as prostitutas a freqüentar tavernas e a porta da cidade - eram áreas de tráfico intenso que significavam m ais fregueses. Tanto as servas cultuais do templo quanto as prostitu­tas aceitavam pagamento por seus serviços, m as aque­las tinham de dedicar essas ofertas aos deuses.Além disso, é possível traçar algumas distinções entre a prostituição "sag rad a" e a prostituição "cu ltual". Naquela, como já foi mencionado, os lucros eram en­cam inhados ao templo. É bastante possível que as prostitutas fossem contratadas como um meio de le­vantar recursos para os templos, sem que tivessem um a posição oficial como sacerdotisas. Na prostituição "cultual", o objetivo era assegurar a fertilidade atra­vés do ritual sexual. É preciso diferenciar tam bém entre a prostituição sagrada/cultual ocasional (como em G n 38) e a profissional (como em 2 Rs 23.7). Não

há provas conclusivas que confirm em a existência de prostituição cultual no antigo Israel ou em outras par­tes do antigo Oriente Próximo. Em textos cananeus, as prostitutas são alistadas como funcionárias dos tem ­plos e a literatura acadiana atesta que algumas eram dedicadas ao serviço do templo por toda a vida. Além disso, como as m ulheres não tinham posses nem fonte de rend a, geralm ente a única m aneira de ganhar algum dinheiro para pagar um voto era a prostitui­ção. A ordem para não trazer os ganhos de um a pros­tituta ao tem plo pode, no entanto, ser um a reação contra as práticas realizadas no templo de Istar (perí­odo neo-babilônico) pelos devotos que contratavam mulheres de sua comunidade como prostitutas.4.11. v in h o v e lh o , v inh o novo. Os term os usados aqui para vinho são paralelos, m as representam dife­rentes graus de ferm entação. No texto ugarítico in­

titulado "A Lenda de A qhat" (VI: 7, 8) os m esm os termos são usados em paralelo, mas o texto está m uito fragmentado e não oferece informações adicionais. O sentido da expressão é demonstrar que o abuso do vinho entorpece a razão. A m ente dessas pessoas está enevoada por suas práticas religiosas falsas assim como os bêbados ficam anestesiados por seu vinho (ver o comentário em Is 28.7).4.12. íd o lo de m adeira. Em bora seja possível que Oséias esteja se referindo à prática de rabdomancia (arte de adivinhar a vontade dos deuses através do uso de varas ou condões; ver o com entário em Ez 21.21 a respeito de diversas formas de adivinhação), é provável que essa seja um a referência a bosques sa­grados ou a colunas de Aserá (ver Êx 34.13). Os ídolos com freqüência eram esculpidos em madeira (ver Jr 10.3-5; H c 2.18, 19) e essa prática era tão comum na M esopotâmia que textos sumérios referem-se a certos tipos de m adeira como a "carne dos deuses".4.13. adoração no alto dos m ontes. Lugares altos e o topo dos montes havia m uito eram associados à adora­

ção divina (ver o comentário em 1 Sm 9.12). Por exem­plo, alguns dos eventos mais importantes da história israelita estão associados a montanhas (Moisés no mon­te Sinai; Elias no monte Carmelo). Igualmente, o monte Zafom era identificado como a casa ou a sede do poder dos deuses cananeus, com o Baal e El, nos épicos ugaríticos. Visto que os israelitas pareciam tão pro­pensos a m isturar o culto a Yahw eh com a adoração de

outros deuses, Oséias condena as atividades sacrificiais nesses santuários externos (assim como são condena­dos em D t 12.2, 3), encarando-os como terreno fértil que poderiam corromper as gerações futuras.4.13. árvores sagradas. D esde os tempos remotos, as árvores sempre foram associadas à justiça popular e a atividades religiosas (ver o comentário em G n 35.4).

Dentre as referências a árvores sagradas ou im portan­tes estão a tam areira de D ébora em Ju izes 4.5 e a árvore sob a qual o rei ugarítico Danil ouvia as causas de seu povo. Essas árvores ou bosques sagrados tam­bém eram associados à adoração de Aserá (ver o co­mentário em D t 12.3) e como tais eram um a armadi­lha para os israelitas. Aserá é ilustrada na iconografia israelita como um a árvore estilizada.4.15. G ilgal. A localização exata desse espaço perto de Jericó ainda não foi determinada (ver Js 4.19). Dentre as sugestões mais prováveis, com base nos sedimen­tos da Idade do Ferro, desenterrados na área pesqui­sada, ficam as localidades perto de Khirbet el-Mefir, quase dois quilômetros a nordeste de Jericó. Seu nome,

que significa, "anel de pedras", sugere sua importân­cia como centro cultual. Tanto Amós (4.4; 5.5) quanto Oséias (9.15; 12.11) condenam Gilgal por suas trans­

gressões religiosas e sacrifícios inadequados ofereci­dos ali. A natureza das atividades religiosas ali prati­cadas não é explicitada, mas pode-se supor que envol­vessem a adoração a outros deuses, além de Yahweh.4.15. Bete-Á ven. Em bora não seja possível determi­nar se O séias era um levita, seu conhecim ento de

temas sapienciais e questões sacerdotais no mínimo sugere que tinha fortes vínculos com a família levita. Isso pode explicar a forma como ridiculariza o santuá­rio real de Betei e o trocadilho que faz com o nome do lugar (ver A m 5.5). Ele refere-se à cidade efraimita de Betei ("casa de D eus") como Bete-Áven ("casa da im­piedade"), declarando ser um lugar ilegítimo de culto e um a fonte de m al na sociedade israelita (compare com 5.8).

5.1-15 Julgamento contra Israel5.1. arm adilha e rede. A imagem bastante familiar de caçadores apanhando aves em arm adilhas e redes pode ser a origem dessa m etáfora comum (ver Js 23.13; SI 69.22; Is 8.14). Existem inúmeros exemplos dessa

atividade em pinturas de túm ulos egípcios, e tam ­bém serve como base para a Esteia suméria dos Abu­

tres (ver o comentário em Ez 12.13).5.7. festas de Lua nova. Em bora Oséias possa estar se referindo novam ente às festas de Lua nova que ha­viam sido corrompidas pelo culto a Baal (ver Os 2.11), o termo usado aqui pode sim plesm ente significar a chegada da nova fase do mês, no ciclo do ano. Portan­to, é possível que o profeta esteja denunciando em termos gerais a autodestruição contínua (de um ciclo para outro) dos israelitas.5.8. G ibeá, Ram á, Bete-Á ven. H á um a alusão aqui ao confronto m ilitar entre os reinos do norte e do sul

(Efraim e Judá) em relação à fronteira de ambos. A referência é às três cidades em Benjam im (Gibeá = Jeba'; Ramá = Er-Ram; Bete-Áven = Khirbet el-'Askar) sugerindo que estão sendo invadidas por Efraim (tal­vez o início de um ataque a Jerusalém) ou que seus homens estão sendo convocados à batalha por Judá (talvez para invadir Efraim ). Cada um a dessas lo­calidades guardava a estrada norte para a capital de Judá. O alerta sendo dado provavelmente está associ­ado a um a fase da Guerra Siro-efraimita dos anos 730 (ver os comentários em 2 Cr 28.5 e Is 7.1).5.10. mudar os m arcos dos lim ites. Ver o comentário em Deuteronômio 19.14 a respeito desse crime.5.13. Efraim se voltou para a A ssíria. Os efeitos des­

trutivos da G uerra Siro-efraim ita deixariam Israel (Efraim) e Judá exaustos e ainda mais vulneráveis à hegemonia política dos assírios. Percebendo que sua posição como vassalos estava se deteriorando, dois

reis israelitas - M enaém em 738 (2 Rs 15.19, 20) e Oséias em 732 - foram forçados a pagar grandes so­m as para im pedir que os assírios devastassem ainda m ais seu país. Os Anais Assírios de Tiglate-Pileser III registram o pagam ento desses tributos, juntam ente com o de muitas outras nações pequenas que estavam sendo sugadas economicamente para suprir as neces­sidades de recursos que o Império Assírio tinha.

6 .1 - 7 .1 6Israel obstinado6.3. chuvas de inv erno , chuvas de prim avera. Combase no clim a m editerrâneo do O riente M édio, Israel recebe suas chuvas duas vezes ao ano. As chuvas de "in v ern o " caem de dezem bro a fevereiro . Com o se observa no calendário de Gezer (século dez), essa umi­dade fofa a terra e a prepara para a aragem e sem ea­dura do trigo, da cevada e da aveia. As chuvas de "p ri­m avera" vêm nos m eses de m arço e abril e trazem a água que garante a vida para a sem eadura do m ilho e plantações de legumes e hortaliças. É a época dessas chuvas que faz a diferença entre uma boa colheita e a escassez e conseqüente fome. Atrelar Yahw eh às chu­vas anula o papel de Baal com o deus da chuva e da fertilidade e ligá-lo ao Sol anula os deuses-sol que com freqüência eram associados à justiça.

6.7. Adão. Visto que o final do versículo sugere um lugar (NVI "na cidade de A dão") e visto que há um paralelo com G ileade, a m aioria dos com entaristas presume que se trata de uma cidade e não do primei­

ro homem. Esse lugar geralmente é identificado com Tell ed-Damiyeh, na Transjordânia, ao sul do rio Jabo- que e ao norte do uádi Far 'ah , em um ponto que dom ina as passagens do rio Jordão. É m encionada como uma das cidades conquistadas pelo faraó Sisaque durante sua campanha no século dez na região.6.8, 9. v io lên c ia em G ilea d e e S iq u ém . O evento narrado aqui pode ser a rebelião de Peca contra o rei israelita Pecaías, em 736 (2 Rs 15.25). Aparentemente, a luta começara em Adão com a ajuda de um grupo de gileaditas e se espalhara pelo oeste, ao longo do uádi Far'ah, até Israel, chegando à cidade de Siquém. Apa­rentem ente, os aliados de Peca foram ajudados por sacerdotes de Betei em seus esforços de elim inar os oficiais do rei.7.4-8. m etáfora do padeiro. À luz do tumulto presen­te no cenário político de Israel nos anos 730, essas metáforas relacionadas às atividades do padeiro en­caixam -se bem . O forno ilustrado aqui era feito de argila e tinha form a cilíndrica. Exemplos desse ins­trum ento foram escavados em Taanaque e Megido. Era embutido no piso ou ficava sobre o chão. A parte superior era arredondada como uma cúpula onde havia

uma grande abertura coberta por uma porta; através dela o padeiro primeiro adicionava combustível (ma­deira, gram a seca, esterco ou bolotas de bagaço de azeitonas esmagadas). As chamas escapavam por essa abertura até que restasse apenas uma camada de car­vão aquecido. A porta então era fechada e o calor era mantido ali dentro por muitas horas (tempo suficiente para preparar a m assa do pão e deixá-la crescer). En­tão o padeiro colocava o pão ligeiram ente crescido nas paredes internas do forno ou sobre o carvão. A m etá­fora é baseada nessas tarefas seculares e imagens bas­tante conhecidas na época. As forças rebeldes de Peca "qu eim aram " furiosam ente no forno das questões políticas de Israel e destruíram o reinado de Pecaías em 735. O ressentimento causado por essa ação quei­

m ou lentam ente com o um forno que m antém seu calor e esperou para queimar aqueles que estavam no comando. Então, em 732, Oséias assassinou Peca e imediatamente inverteu as alianças políticas de Israel (2 Rs 15.30), voltando-se para a Assíria em busca de ajuda, e três anos m ais tarde buscou novam ente uma aliança com o Egito (ver Os 7.11). Essa política confusa deixou Israel "m eio-assado", como um pão que nunca foi virado e ficou esquecido na grelha de um forno: ficou queimado de um lado e mal cozido do outro.7.11. com portam ento da pom ba. A política oscilante dos reis de Israel é comparada à ingenuidade (ver Pv 14.15 para essa figura aplicada aos tolos) das pombas, que são uma presa fácil para a arm adilha do caçador. Além disso, a falta de cuidado da pomba para com seus filhotes perdidos pode ser comparada à amnésia política de Israel em relação às políticas da Assíria (ver Os 5.13).7.11. Egito/Assíria. Ao longo de quase todo o seu curto reinado, Peca praticou uma política de oposição aos assírios e buscou ajuda dos egípcios. Isso culminou na campanha de Tiglate-Pileser III descrita em 2 Reis 15.29 que resultou na conquista de grande parte da região da Galiléia e na deportação de israelitas para a Assíria (ver o comentário em 2 Rs 15.25-31). Assim que Oséias assumiu o trono, inicialmente teve de pa­gar tributo aos assírios, m as depois enviou embaixa­dores ao Egito (ver o comentário em 2 Rs 17.4). Essa duplicidade enfureceu o rei assírio Salm aneser V que sitiou a Samaria por três anos. Seu sucessor, Sargão II, então tomou a cidade em 721 e deportou grande parte da população israelita (ver o comentário em 2 Rs 17.6).7.12. caçar pássaros. Havia uma série de técnicas dife­rentes para caçar pássaros. Embora os caçadores pu­dessem sim plesm ente usar um a funda, atirar paus (como na pintura da tumba de Beni Hasan) ou flechas para derrubar um a ave individual, na m aioria das vezes o texto bíblico e a arte antiga ilustram grandes

bandos de pássaros sendo capturadas em redes ou gaiolas. P or exem plo, a tum ba de K a-G em m i, em Saqqarah (6a Dinastia do Egito) retrata um caçador usando um a rede. Aparentemente, alguns caçadores também usavam de artimanhas em suas armadilhas para atrair os pássaros com comida servindo como isca (confirmado em Eclesiástico 11.30). Claramente, os reis de Israel haviam sido atraídos e apanhados na rede das ambições políticas armadas pelas duas superpo­tências antigas, o Egito e a Assíria.7.16. arco defeituoso. O arco composto, feito de uma combinação de m adeira, chifre e ligamentos (tendões) de anim ais (mostrado na Lenda ugarítica de Aqhat), estava sujeito a alterações climáticas e à umidade. Se não fosse m antido em um estojo, podia perder sua força e era descrito como inseguro ou frouxo (ver SI 78.57). Os ditos de Ahiqar da sabedoria assíria falam do arco do ímpio se voltando contra ele e essa imagem talvez faça parte da acusação que Oséias faz contra os líderes de Israel (ver SI 64.2-7).

8.1-14 O castigo de Israel8.1. sinais de trombeta. Como em Oséias 5.8, o soar da trombeta ou do chifre de carneiro era um sinal de perigo iminente. Esse sinal teria mobilizado as pesso­as que conduziriam seus animais para a proteção dos m uros da cidade (ver A m 3.6). Para m ais informações concernentes a sinais de trombeta, ver os comentários em Núm eros 31.6 e Josué 6.4, 5.8.1. águ ia (abu tre). O séias em prega a im agem de

um a ave de rapina arrem etendo em queda rápida para apanhar sua vítima. Parece m ais provável que ele esteja se referindo à Assíria, m ais uma vez usada como um instrum ento da ira de Deus. A águia ou abutre provavelmente era um a im agem fam iliar que com freqüência era usada em épicos e mitos do Orien­te Próximo (como na Lenda ugarítica de Aqhat e no mito acadiano de Etana; ver o comentário em D t 32.11).8.5, 6. ídolo em form a de bezerro. Existe ampla evi­dência da associação do culto a Baal com im agens cultuais bovinas ou figuras de touros (tais com o a ilustração zoomórfica de Tell el-Asch'ari). Ver os co­m entários em 1 Reis 12.28-30 para detalhes sobre as tentativas do rei Jeroboão de criar seus próprios santu­ários em Dã e Betei, como rivais ao de Jerusalém, com bezerros de ouro servindo como representações do

trono de Deus. Oséias agora condena os bezerros de ouro colocados nesses santuários como fonte de adora­

ção falsa e reflexo do culto sincretista a Baal e a Yahweh praticado em Israel. Na época de Oséias apenas Betei havia permanecido, visto que Tiglate-Pileser III con­quistara D ã em 733 e teria destruído o santuário ali.

8.6. bezerro de Sam aria. O uso de Sam aria em vez de Betei como lugar do bezerro é um eufem ism o para todo o Israel (ver Os 10.5). Era uma prática comum

nos Anais Assírios referir-se a uma província inteira

citando o nome de sua capital (ver 2 Rs 23.19).8.14. p alácios . O term o hebraico hêkal, talvez um

cognato do acadiano ekallu (do sumério E.GAL), "gran­de casa", pode significar templo ou palácio. Ao menos

durante o início do reinado de Jeroboão II, houve um

empenho em construir cidades fortificadas e prédios monumentais em Samaria e outras importantes cida­

des (ver 2 Cr 26.9, 10 para construções sem elhantes

em Judá). Esforços como esses podem ser considera­

dos símbolos de poder real e, portanto, merecedores

da acusação de Oséias de que haviam "se esquecido"

de Deus (ver D t 32.15-18).

9.1-10.15 O castigo de Israel9.1. prostituição na eira. U m a das m ais importantes

instalações nas áreas rurais de Israel era a eira. O

cereal colhido era colocado ali para ser processado e

distribuído (ver R t 3.2, 7). Também era um local ade­quado para ajuntamentos públicos (compare com 1 Rs

22.10) e para festas relacionadas à colheita (Dt 16.13). Entretanto, Israel recebe a ordem de não regozijar-se

mais visto que o povo demonstrara sua infidelidade

expressando sua fé na capacidade de Baal de prover seu sustento e garantir a abundância e a fertilidade da

teria (ver O s 2.7, 8). Aparentem ente prostitutas co­muns bem como prostitutas cultuais freqüentavam as

áreas onde as festas de colheita e tosquia aconteciam

(ver o comentário em G n 38.15-23). Logo, Israel faz o

papel de prostituta em meio aos cereais, recebendo o salário dos deuses a quem dera crédito pelas colhei­

tas, em vez de reconhecer a ação de Yahweh.9.4. pão dos pranteadores. U m a casa em luto, que

tivesse tido contato com um cadáver, era considerada im pura durante sete dias e tinha de ser ritualmente

purificada a fim de retom ar as atividades sociais e

religiosas normais (ver o comentário em N m 19.11). Durante o período em que era considerada impura,

toda sua comida, por extensão, estava igualmente con­

tam inada. Em bora essa com ida pudesse ser usada para alim entar os m em bros da fam ília, as refeições eram sem alegria e não podiam ser oferecidas em

sacrifício a Deus (ver Jr 16.7; Ez 24.17). É assim que

Oséias descreve a vida no exílio vindouro.

9.6. M ên fis. Durante grande parte da história do Egi­to, M ênfis (atual M itrainé) serviu como capital do Bai­

xo Egito. Ficava localizada cerca de 20 quilômetros ao

sul da atual Cairo, na margem oeste do rio Nilo.

9.7. profeta considerado tolo. Em alguns momentos

era bastante tênue a linha divisória entre uma pessoa

investida do Espírito de Deus (1 Sm 9.6) e outra consi­derada louca (ver 1 Sm 21.13-15; 2 Rs 9.11). N esse

caso, porém, os inimigos de Oséias tentam desaboná-

lo afirmando que suas profecias na verdade não pas­sam de desvarios de um louco (compare com acusa­

ções semelhantes em Am 7.10 e Jr 29.25-28).

9.9. dias de G ibeá. Para uma descrição dos eventos

terríveis que aconteceram em Gibeá, ver os comentá­rios em Juizes 19.12-14 e 19.25. Claramente essa histó­

ria era bem conhecida nos dias de Oséias, visto que

ele sim plesm ente m enciona o nom e da cidade para

trazer à tona o cenário de com portam ento ilegal e

escandaloso.9.10. m etáfora das frutas. Há um sentido de prazer

inesperado em uvas encontradas no deserto ou figos maduros no início do verão. Evidências de "cachos de

uva" no Negueve indicam que é possível praticar a

viticultura ali e que os cachos pequenos são particu­larm ente doces. Também há exemplos de pequenas

figueiras que dão fruto em m aio/junho. Esses figos

são considerados uma guloseima que devem ser co­midos imediatamente após serem apanhados (ver Is

28.4; Na 3.12).

9.10. Baal-Peor. V er os comentários em Números 25.1­18 a respeito do incidente em Baal-Peor quando os

israelitas foram tentados a envolver-se com idolatria

pelas mulheres de Moabe, perto de Sitim.

9.13. entregar os filh os ao matador. É possível que essa seja uma alusão às turbulências políticas em que

os líderes de Israel haviam envolvido o povo, deixan­

do assim suas famílias vulneráveis aos violentos exér­

citos assírios (ver o comentário em Os 7.11). O texto

sumério Lamento pela Destruição de Ur descreve even­tos semelhantes durante épocas de cerco, quando os

pais abandonavam seus filhos. Outra possibilidade é

que o "m atador dos filhos" seja um demônio. Dentre

os demônios babilónicos estava Pashittu, que era con­siderado um raptor de bebês. Essa seria outra m anei­

ra de referir-se ao abandono de crianças. Para mais

inform ações sobre esse tem a, ver o com entário em Ezequiel 16.5.

9.15. im p ied ad e em G ilg a l. V er o com entário em

Oséias 4.15. Em bora a condenação de Oséias possa estar baseada nos eventos acontecidos durante o perí­

odo da conquista ou na época de inauguração da mo­narquia, com Saul como rei (1 Sm 11.12-15), também

é possível que ele esteja se referindo a um evento

contemporâneo que não é registrado em nenhum outro lugar e permanece desconhecido.10.1. colunas sagradas. Ver o comentário em 3.4.

10.4. ervas venenosas. O termo hebraico rosh neste contexto pode ser o m eimendro rajado (Hyoscyamus reticu latus), que aparece em cam pos arados, espe­cialmente perto de estepes e regiões desérticas. Cres­ce até pouco mais de meio metro, tem folhas peludas e uma flor amarelada raiada de rosa. Outra candidata é a escabiosa síria (Cephalaria syriaca), que tem semen­tes venenosas. As plantações rasas na verdade aju­dam a proliferar essas plantas, visto que apenas os talos são cortados, enquanto suas profundas raízes permanecem incólumes (ver Jó 31.40).10.5. Sam aria, Bete-Á ven. Ver o comentário em 4.15.10.11. trilhar e arar como m etáforas. Pode ser que os jovens bois fossem primeiro treinados para aceitar o jugo que os colocava para trabalhar na eira. Essa tare­fa relativamente simples, durante a qual eram recom­pensados com a liberdade de alim entar-se também (Dt 25.4), tom ava os animais mais dóceis (ver Jr 50.11).

U m a vez que atingiam o estágio em que era m ais fácil dirigi-los, uma prancha de m adeira era acrescen­tada ao jugo para que pudessem puxar um a carga (2 Sm 24.44). Essa estratégia, por sua vez, preparava os animais para a tarefa mais disciplinada de puxar um arado num cam po virgem (1 Rs 19.19; Jr 4.3). De maneira sem elhante, Deus escolhe usar o robusto e dócil Israel para cumprir o plano divino.10.14. Salm ã em Bete-A rbel. Esse evento é desconhe­cido dos historiadores modernos. Oséias rem ete a esse evento como um referencial de destruição total, de modo bastante semelhante à referência que Jeremias faz de Siló, chamando a atenção do povo para o ocor­rido ali (Jr 7.12-14; 26.6). D iversas sugestões foram feitas em relação ao nome Salmã, inclusive Salmaneser EI, que pode ter feito cam panha em Israel durante suas incursões à capital síria de Damasco, em 841, ou Salm aneser V, que sitiou Samaria em 722. Outra pos­sibilidade é o antigo rei m oabita Salm anu, alistado como um dos monarcas títeres que pagou tributo ao

rei assírio Tiglate-Pileser Hl, na metade do oitavo sé­culo. A menção a invasores moabitas em Israel em 2 Reis 13.20 pode apoiar essa identificação. Em relação a Bete-Arbel, o local dessa horrenda destruição tem sido identificado com Irbid, perto da cidade de Pella (que fazia parte da Decápolis) e do outro lado do rio Jordão, a partir de Bete-Seã.

11.1-11O amor de Deus por Israel11.6. trancas das portas. Geralmente as portas tinham duas folhas que eram fixadas em encaixes de pedra enterrados no solo. Os batentes flanqueavam as por­tas, um de cada lado; eram feitos de madeira e fixados à parede. U m a porta externa da Idade do Ferro esca­

vada em Tell en-Nasebeh tinha aberturas na pedra ao lado da porta, onde as trancas podiam ser posicionadas. As portas eram trancadas através da introdução des­sas barras de m adeira nos encaixes que havia nos muros.

11.8. Admá e Zeboim . Essas duas cidades, que ainda não foram identificadas com certeza pelos arqueólo­gos, tradicionalmente são ligadas a Sodoma e Gomorra, com o locais de destruição com pleta e evidência do castigo de D eus (ver o com entário em G n 19.1). É provável que essas cidades ficassem localizadas no vale do Jordão, a sudeste do m ar M orto. Dentre as localidades m ais importantes descobertas nessa área estão as cidades da Idade do Bronze Antiga, Bab edh D ra'e Numeira.

12.1-14 O pecado de Israel12.1. tratado com a Assíria. Tal como seu predecessor Menaém, o rei Oséias foi inicialmente forçado a pagar tributo ao rei assírio T ig late-P ileser III. Os A nais A ssírios até m esm o vangloriam -se de que quando Oséias assassinou Peca a fim de assumir o trono de Israel, o rei assírio "co locou Oséias como rei sobre

eles". O texto tam bém m enciona que Oséias pagou "d ez talentos de ouro [e] mil (?) talentos de prata"

como tributo, provavelmente para confirmar sua po­sição como rei, em 732.12.1. m anda azeite para o Egito. Pouco tempo depois

de Oséias ter aceitado o papel como rei vassalo da Assíria em Israel, ele transferiu sua lealdade envian­do para o Egito uma grande quantidade de azeite de oliva (uma das principais riquezas de Israel). O azeite era um produto muito valioso, especialmente no Egi­to, onde as oliveiras não eram cultivadas. Essa oscila­ção entre as duas superpotências, porém, logo desper­taria a ira assíria e provocaria em 722 a invasão de Israel por Salmaneser V.12.4. lutou com o an jo . Ver diversos com entários a respeito da luta de Jacó com um anjo em Gênesis 32 (embora o termo para anjo seja claramente usado aqui, ele não aparece na narrativa de G n 32). Oséias remete à fam a que o patriarca tinha de ambicioso e engana­dor. Fica claro que o profeta acredita que Jacó ultra­passara os limites em que os humanos devem situar- se, ao lidar com Deus. Esse tema de colocar limites no comportam ento hum ano tam bém pode ser visto na história de Adapa, um antigo herói sumério e sacer­dote do deus Ea. Ele é levado diante da assembléia divina por ter ousado quebrar a asa do vento sul, provocando assim um a seca.

12.7. balança desonesta. Essa mesma acusação é feita contra m ercadores sem escrúpulos em Amós 8.5. A

p alavra trad u zid a com o com erciantes é o term o hebraico "C an aã", que ao m enos evoca a idéia da influência cananéia. A acusação parece ser baseada na idéia de que Israel e sua comunidade econômica haviam sido corrom pidos pelas práticas imorais de seus vizinhos. Em um a economia que não tinha pesos e m edidas padronizadas, os com erciantes com fre­qüência eram tentados a enganar, adulterando as balanças e as m edidas e usando pesos errados, fundos falsos e outros recursos para alterar o tamanho das vasilhas usadas nas medições.12.10. parábolas dos profetas. Um a das m aneiras usa­das pelo profeta para transmitir a m ensagem de Deus eram as analogias ou histórias comparativas. A pará­

bola, portanto, era um meio de apresentar um duplo sentido, usando cenas ou imagens do cotidiano e for­necendo um a interpretação da vontade ou do castigo de Deus. Para exemplos, ver o comentário em Isaías5.1, 2 e a parábola de Natã a respeito da ovelha, no comentário de 2 Sam uel 12.2-4.12.11. G ilead e, G ilgal. A respeito da associação de Gileade com a revolta de Peca, ver o comentário em6.8, 9. A respeito das atividades cultuais em Gilgal, ver o comentário em 4.15.12.11. altares com o m ontes de ped ra num cam po arado. Os montes de pedra espalhados aleatoriamen­

te nos campos arados podiam dar um a im agem de altares que haviam sido derrubados. M as por estar no

m eio de um a acusação, o contexto pode na verdade dar a imagem de altares tão numerosos quanto o nú­m ero de montes de pedras num campo arado. Além disso, há um jogo de palavras aqui, uma vez que a palavra hebraica traduzida como "m ontes" é gallim, cuja sonoridade é bastante sem elhante a elem entos presentes no nom e de ambas as cidades (Gileade e G ilgal).

12.12. a fuga de Jacó. Oséias retoma o tema usado no início do capítulo 12, partindo da tradição existente sobre Jacó e fazendo um paralelo com a desgraça imi­nente da nação de Israel e sua redenção possível. Logo, da m esma forma que o Jacó sem escrúpulos fora forçado a fugir da Palestina até H arã para fugir da ira de Esaú (ver os com entários em G n 27-28 ), agora Israel mais uma vez seria forçado a "m orar em ten­das" (Os 12.9). A nova vida e família que Jacó/Israel encontra em Arã, porém, o conduz de volta à Palesti­na e dá origem ao povo israelita.

13.1-16 A ira do Senhor contra Israel13.2. habilidades de confeccionar ídolos. Ver os co­mentários em Juizes 17.3, Isaías 40.19 e 44 .17 ,18 para informações sobre técnicas empregadas na confecção

de ídolos no antigo Oriente Próximo. A aquisição e o uso das habilidades necessárias para fazer essas ima­gens é apenas mais um exemplo, segundo Oséias, da

intenção que Israel tinha em corromper sua adoração com falsos deuses ou transformar o culto a Yahw eh

em um culto sincretista.13.2. beijam os ídolos fe itos em form a de bezerro. Naesteia n egra de Salm aneser III, o re i israe lita Jeú é retratad o beijan d o o chão diante do re i assírio . No

Enum a E lish , o tribu n al dos deuses b eija os pés de

M arduque após este ter sufocado a rebelião e se es­

tabelecido como chefe do panteão. Esse era um ato co­

m um de subm issão dedicado a reis e deuses. Igual­mente, beijar o ídolo envolvia beijar seus pés num ato

de honra, submissão e lealdade. Nas cartas de M ari, o

governador de Terqa, Kibri-D agan, aconselha Zinri- Lim, rei de M ari, a ir até Terqa e beijar os pés da está­

tua do deus Dagom.

13.3. palha na eira. Novamente Oséias usa uma série

de im agens que facilm ente poderia ser visualizada

na mente de seu público-alvo - cenas da vida cotidia­na. Dentre essas imagens está a eira aonde os agricul­

tores levavam seus cereais para serem trilhados sob

as patas dos bois ou por um a debulhadeira (ver o comentário em Os 10.11). O refugo que sobrava após

esse processo era soprado pelo vento. Essa ilustração, combinada com a neblina da manhã e com a fumaça,

fala de aspectos temporais da vida - um a comparação

adequada entre a eternidade de Yahw eh a efemeridade dos outros deuses e seus ídolos.

13.7. leopardo. A idéia do leopardo como um caçador silencioso, à espreita de sua presa encaixa-se ao papel

de Deus como destruidor do Israei despreparado e

desatento (ver Jr 5.6). O astuto leopardo aparece na literatura sapiencial também. Por exemplo, há um a

pequena fábula sobre o leopardo no texto assírio Pala­

vras de Ahiqar. Ali, o leopardo tenta enganar um bode

oferecendo emprestar-lhe sua pele para abrigá-lo do

frio. O bode escapa e retruca que o que o leopardo de fato estava querendo era sua pele. Os leopardos ainda

vivem em algumas regiões de Israel (En Gedi), mas

na Antigüidade não eram tão comuns como os leões.13.16. castigos horríveis. Oséias prediz que a guerra

iminente destruirá as cidades e povoados dos israelitas,

e sequer m ulheres e crianças seriam poupadas da violência dos exércitos em seus saques e estupros. Parece que essa expressão é uma descrição padroni­

zada da devastação provocada pela guerra. Relatos

de conquista assíria do século nono falam de meninos e m eninas sendo queim ados. A prática de rasgar o

ventre de m ulheres grávidas é raram ente m encio­nada. É atribuída ao rei assírio Tiglate-Pileser I (cerca

de 1100), em um hino que louva suas conquistas. Também é mencionada de passagem em um lamento

neo-babilônico.

14.1-9 As bênçãos do arrependimento14.5, 6. m etáfora das plantas. O relacionamento entre

Yahw eh e Israel é comparado ao orvalho que provê a

única umidade disponível para as plantas e árvores

durante os meses secos do verão (ver Is 26.19). O lírio não é com um na Palestina hoje, em bora possa ser

encontrado em algum as áreas. H á controvérsias se

era mais comum na Antigüidade ou não. Além disso,

a essência doadora de vida proveniente de D eus asse­

gura a fertilidade e a virilidade da nação para que

continue a crescer e se expandir, como as raízes da

oliveira. A comparação estende-se também aos enor­mes cedros do Líbano - considerada a mais útil das

árvores de grande porte no antigo Oriente Próximo. O cedro era valorizado por sua madeira (1 Rs 6.9 ,10),

amplamente usado em construções e considerado um símbolo de riqueza na literatura m esopotâm ica, in­

clusive no épico de Gilgamés e nos anais de muitos

reis, desde os sumérios até os assírios.

J O E L

V /1 .1-12A praga dos gafanhotos1.2. palavra d irig id a aos anciãos. O fato de que a palavra aqui é dirigida aos anciãos tem levado m uitos intérpretes a inferir que não havia rei a essa altura. Alguns, portanto, dataram o Livro na metade do no­no século, quando Judá era governado pela im pie­dosa rainha Atalia (ver os comentários em 2 Cr 21-22) e os justos da terra teriam se recusado a reconhecer a legitim idade de seu reinado. O problem a com essa visão é que o Livro de Joel é um representante claro da profecia clássica, que só começou a partir do oitavo século (ver o comentário em 2 Rs 14.27). Se de fato a palavra dirigida aos anciãos sugere que não havia rei, é provável que o Livro deva ser datado no perío­

do pós-exílico. Essa hipótese é fundamentada m ais à frente em 3.3, que fala da dispersão no tempo pretéri­to. Não obstante, a datação do Livro é bastante contro­versa e complicada.1.4. nuvens de gafanhotos. Os gafanhotos eram bas­tante comuns no antigo Oriente Próximo e conhecidos pela devastação e ruína que provocavam . Os gafa­nhotos se reproduzem na região do Sudão. Sua mi­gração tem início em fevereiro ou m arço e acompanha os ventos predom inantes rum o ao Egito ou à Palesti­na. Um gafanhoto consome o equivalente a seu pró­prio peso diariam ente. H á registros de nuvens de gafanhotos cobrindo m ais de 640 quilômetros quadra­dos e em apenas um quilômetro quadrado fervilha­vam mais de 50 milhões de insetos. Se os gafanhotos

pusessem seus ovos antes de serem soprados pelo vento até o mar, o problema aconteceria de novo em ciclos. Um a única fêmea que pusesse seus ovos em junho poderia potencialmente produzir 18 milhões de insetos dentro de quatro meses.

1.4. tipos de gafanhotos. Visto que os gafanhotos eram muito comuns na economia agrícola do Oriente Próxi­

mo, diversas línguas tinham termos específicos para cada tipo de gafanhoto. O s quatro termos diferentes neste versículo (nove termos em todo o Antigo Testa­mento) em palidecem ao lado dos dezoito termos co­n hecid os em acadiano. Os intérpretes se dividem quanto à possibilidade de essas quatro palavras se referirem a quatro estágios diferentes do desenvol­

vim ento no ciclo de vida do gafanhoto ([1] estágio de larva: preto, saltitante, sem asas; [2] preto e amarelo

com asas e mandíbulas; [3] amarelo e completamente desenvolvido; [4] adulto maduro sexualmente), ou a espécies distintas (gregaria e solitaria).1.6. m etáfora do gafanhoto. Não é raro na literatura do antigo Oriente Próximo os exércitos serem compa­rados a gafanhotos. Tais m etáforas são encontradas em textos sumérios como o da maldição de Acade, na lenda ugarítica de Aqhat, em textos egípcios da 19a

D inastia e em textos neo-assírios. A qui a figu ra é oposta: os gafanhotos é que são comparados a exérci­tos invasores (como fica claro em 2.4, 5). A compara­ção com o leão é comum na literatura do antigo Orien­te Próximo por causa da cor do gafanhoto e a form a de sua face e boca.

O DIA DO SENHORTodo ano na Mesopotâmia (com freqüência duas vezes ao ano) havia um festival de entronização para o rei dos deuses. Durante esse festival akitu, a divindade determinava o destino de seus súditos e restabelecia a ordem, como fizera havia muito tempo quando derrotara as forças do caos. De fato, o relato da criação Enuma Elish, que conta a derrota de Tiamat por Marduque e a elevação deste como chefe do panteão, era lido durante essa festa. Embora os textos nunca se refiram ao festival akitu como "O Dia de Marduque", existem algumas semelhanças. O Dia do Senhor refere-se à ocasião em que Yahweh ascenderia ao seu trono com o objetivo de amarrar as forças caóticas e trazer justiça e ordem ao mundo. O destino de seus súditos seria determinado, à medida que os justos seriam recompensados e os ímpios sofreriam as conseqüências de sua rebeldia e pecado. Não há evidências de que o "Dia do Senhor" fosse representado em rituais regulares em Israel, ao contrá­rio, refletia a expectativa histórica de um evento vindouro. Como acontece com freqüência, então, Israel parece ter dado um caráter histórico a algo que pertencia à esfera do mito e do ritual. O Dia do Senhor também tem elementos de teofania, geralmente relacionados ao guerreiro divino que derrota os poderes destrutivos (ver o comentário em 1 Sm 4.3-7). Tais teofanias são acompanhadas de efeitos cósmicos (ver o comentário em 1 Rs 19.11-13) que com freqüência retratam um mundo às avessas (ver o comentário em Jr 4.23-26). O Dia do Senhor era um dia significativo, e esse é o tipo de ocorrência que caracteriza dias de tamanha importância. Tudo isso ajuda a entender o Dia do Senhor, mostrando que a maneira de pensar israelita e a comunicação profética se cruzavam com uma ampla gama de idéias vigentes na cultura. A originalidade da literatura israelita não reside na criação de novas matrizes, mas sim na combinação e aplicação de idéias já conhecidas de maneiras exclusivas e inusitadas.

1.7. videira e figueira. Os gafanhotos não davam pre­ferência a essas árvores, por isso, elas só eram ataca­das quando não havia restado nenhuma outra planta. Isso é um indício da extensão do prejuízo. Além disso, a videira e a figueira são símbolos da segurança e da prosperidade, logo, sua destruição representa o senti­mento predom inante entre a população. A imagem idílica de paz e prosperidade no antigo Oriente Próxi­mo era poder sentar-se debaixo de sua própria videi­ra ou figueira. Pinturas de túmulos egípcios, relevos assírios e os escritores bíblicos usam a expressão para referir-se a um povo que controla suas próprias vidas, sem interferência estrangeira e são capazes de culti­var a terra que os deuses/ Deus lhes deram/deu (1 Rs 4.25; Is 36.16). Além dos frutos, a videira e a figuei­ra davam um pouco de sombra e desfrutar delas en­

volvia perspectivas a longo prazo, visto que am bas levavam diversos anos para se tom arem produtivas.1.7. arrancar a casca. Os gafanhotos são conhecidos não apenas por devorar a vegetação, m as tam bém por quebrar galhos e arrancar a casca de árvores. Se o dano causado à casca fosse grande demais, a árvore poderia não sobreviver, e, mesmo que sobrevivesse, o processo de cura reduziria em grande escala sua capacidade de produzir frutos.1.8. m etáfora da virgem . A palavra traduzida como "v irgem " aqui se refere a uma m ulher que não havia deixado oficialmente a casa de seu pai. Ela podia ter

um "m arido" por contrato (o rapaz com quem estava comprometida), caso o preço da noiva já tivesse sido pago, mesmo que o casamento ainda não tivesse sido consumado. A metáfora aqui se refere ao luto de uma

mulher que estivera noiva e muito perto de se casar, mas que havia perdido seu marido.

1.9. o fertas foram elim inad as. U m hino assírio da época de Sargão II (final do oitavo século) pede à divindade (Nanaya) que traga um fim a uma praga de gafanhotos. Assim como Joel, a oração menciona

diversas categorias de gafanhotos e lamenta que esses insetos estivessem impedindo que as ofertas fossem oferecidas aos deuses.1.10-12. im pacto da invasão dos exércitos na agricul­tura. A destruição ecológica podia arruinar a econo­m ia durante anos. À s vezes, os campos ficavam tão danificados que a fertilidade era grandemente redu­zida. A destruição das árvores podia ter efeitos ainda mais devastadores no equilíbrio ecológico. Não ape­nas a sombra e a m adeira que forneciam deixavam de existir, como a erosão do solo aumentava e o desma- tamento contribuía para acelerar o processo de trans­formação de certas áreas em deserto. Algumas árvo­res frutíferas (como a tamareira) levavam vinte anos para se tom arem produtivas. A devastação agrícola e

o desmatamento eram táticas comuns de exércitos in­vasores que tinham como objetivo castigar os povos conquistados e acelerar sua rendição. Os registros e relevos assírios detalham medidas punitivas que in­cluem a derrubada de árvores, a devastação de pra­dos e a destruição de sistemas de canais usados na irrigação.

1.13-20 Chamada ao arrependimento1.13. vestes de luto. As vestes de luto ou pano de saco eram feitas de pêlo de camelo ou bode, e eram rústi­cas e desconfortáveis. Em muitos casos, essas vestes eram apenas uma cobertura para o lombo. O sarcófago de Airão ilustra mulheres de luto vestidas com o que parece ser pano de saco, enrolado em volta dos qua­dris, por cima das saias.1.14. je ju m santo. H á poucas evidências da prática do je jum no antigo Oriente Próximo fora da Bíblia. Ge­ralm ente era feito em contextos de luto. No Antigo Testamento, o uso religioso do jejum com freqüência está relacionado a um pedido dirigido a Deus. O prin­cípio era que a importância do pedido levava o indi­víduo a preocupar-se tanto com sua condição espiritu­al que as necessidades físicas eram relegadas a segun­do plano. Nesse aspecto o ato de jejuar serve como um processo de purificação e humilhação diante de Deus (SI 69.10). No contexto da chamada ao arrependimen­to, Joel convoca um je jum a fim de remover qualquer pecado ou obstáculo que pudesse ter causado a devas­

tação da qual os israelitas haviam sido vítimas.1.14. assem bléia sagrada. Assembléias sagradas eram ocasiões para adoração coletiva. Com freqüência acon­teciam durante as festas anuais regulares, mas podi­am ser convocadas em tempos de necessidade. Neste contexto, parece ser uma convocação dos anciãos e talvez envolvesse alguma tom ada de decisão, além da realização de rituais.

2.1-27 Exército de gafanhotos e arrependimento2.17. entre o pórtico do tem plo e o altar. A área que ficava entre o pórtico e o altar era um lugar de acesso lim itado. Som ente o sacerd ote teria m otivos para adentrar além do altar em direção ao templo. M as era um a área também usada como cenário de importan­tes atos públicos. Em Ezequiel 8.16, foi ali que a ado­ração sincretista ao Sol aconteceu, praticada por vinte e cinco hom ens. Em 2 Crônicas 24.21 foi ali que o profeta Zacarias, filho de Jeoiada, foi apedrejado até a morte (ver M t 23.35).

2 .20. inv asor qu e vem do n orte . O norte era um sím bolo de poderes das trevas. Os inim igos não ti-

nham muita escolha além de aproximar-se de Jerusa­lém vindo do norte, devido ao acesso que as princi­pais estradas permitiam.2.20. m ar orien tal e m ar ocid ental. O m ar oriental seria o m ar M orto que servia com o um a fronteira natural do lado leste da terra. A fronteira a oeste era o M editerrâneo.2.23. chuvas de outono e de prim avera. Israel tem uma estação chuvosa (meses de inverno) e uma seca (meses de verão). A estação chuvosa começa com as

chuvas de outono ("prim eiras chuvas", outubro/no­vembro) e termina com as chuvas de primavera ("úl­timas chuvas", início de abril). Elas são importantes porque contribuem para o nível de umidade do solo e para o afofamento da terra a ser arada e cultivada. Os cereais são colhidos na prim avera (cevada em maio, trigo em junho) e os meses de verão (julho e agosto) são reservados para a debulha e a moagem. As uvas são colhidas no outono, enquanto a colheita das olivei­ras estende-se até o inverno.

2.28-32 O dia do Senhor2.28. o derram ar do E spírito resultando em profe­

cias, sonhos e visões. Na prática israelita, a unção era um sinal de eleição e com freqüência estava intima­mente relacionada a uma capacitação do Espírito. Por­tanto pode-se falar de ser ungido pelo Espírito, ou do Espírito sendo "derram ado". Na Mesopotâmia, o rei era considerado capacitado pela mélammu (represen­tação visível da glória da divindade) dos deuses. Em hebraico, a palavra para espírito pode tam bém signi­ficar vento. No antigo Oriente Próximo a palavra para vento/espírito era usada em relação a sonhos e vi­

sões, desde os tempos sumérios. O deus dos sonhos era chamado de "o s ventos". Em acadiano, o nome do deus que enviava sonhos era Zaqiqu, que deriva da palavra para vento/espírito. Portanto, existe uma lon­ga tradição da associação entre espírito e revelação através de sonhos e visões que, com freqüência, resul­tavam em profecias.2.30. sangue, fogo, nuvens de fum aça. Esses geral­mente são os elementos que acompanham os horrores da guerra. O sangue escoa pelas ruas, as casas são incendiadas fazendo subir da cidade uma fumaça que pode ser vista a quilômetros de distância. São sinais de crise e castigo na terra, exatamente como o versí­culo seguinte fala de sinais e maravilhas no céu.2.31. S o l transform ado em trevas, Lua em sangue. Essa é a descrição de eclipses solar e lunar. Em um eclipse solar, o Sol escurece à m edida que a Lua se posiciona entre ele e a Terra. Esse fenômeno só pode acontecer na fase da Lua nova. Em um eclipse lunar,

a Lua é escurecida pela Terra que se posiciona entre o Sol e a Lua. Em um eclipse lunar, o m omento máximo de interferência resulta em um espectro verm elho de luz, de m odo que a Lua brilha com um a coloração vermelha-alaranjada em vez de escurecer. Esse fenô­

meno ocorre apenas na fase da Lua cheia.2.31. eclipses no antigo O riente Próximo. No período neo-assírio, os eclipses representavam os presságios mais poderosos e terríveis, sendo considerados a "su ­prema revelação". Eram a causa m ais freqüente para

a invocação do ritual do rei substituto (ver o comentá­rio em Is 53.4-10). A natureza da ameaça que signifi­cavam era avaliada pelo tempo preciso de sua ocor­rência e pela posição e direção do fenômeno no céu, no m omento em que aconteciam. A combinação de sinais no céu e na Terra servia como confirmação do

agouro e m ostravam que as conseqüências seriam ainda mais drásticas.

3.1-21 O julgamento das nações3.2. vale de Josafá. Não há nenhum vale conhecido por esse nome em Israel, na Bíblia ou em outras fon­tes, ou m esmo na tradição. As alternativas são (1) que o texto faz referência a um vale que tinha algo a ver com o rei de Judá, do nono século, cujo nom e era Josafá (a única m enção de um vale em seu relato fica em 2 Rs 3); ou (2) que o nome do vale representa o que acontecia ali (o nome Josafá significa "Yahw eh ju lga"). Se for este o caso, como muitos comentaristas concluíram, a localização provável seria um dos vales ao redor de Jerusalém.3.3. comércio de escravos. Um dos aspectos mais lucra­tivos da guerra e invasão de fronteiras era o comércio de escravos. Os cativos eram vendidos a negociantes que os levavam para longe de sua terra natal. O nú­mero de pessoas nessa situação não se compara com o enorme contingente de escravos encontrados nas cida­des gregas e romanas. O comércio de escravos existia desde os tempos remotos no antigo Oriente Próximo. Os escravos geralmente eram prisioneiros de guerra ou pessoas apanhadas em invasões. Era freqüente os co­m erciantes aceitarem escravos com o m ercadoria, os quais transportavam para outras áreas e os vendiam. Essas pessoas raram ente obtinham sua liberdade. A am pla maioria de pessoas que acabava fazendo parte do grupo de escravos era vendida por suas próprias fam ílias ou eram prisioneiros de guerra.3.4. T iro , Sidom , F ilístia com o opressores. Essas re­giões costeiras do leste do Mediterrâneo serviam como portos por onde o comércio m arítimo passava. A par­tir dos versículos seguintes pode-se inferir que essas ci­dades atuavam como revendedores ou intermediários

de cativos (nesse caso de Judá) que seriam vendidos como escravos. Em relação a uma certa porcentagem da­queles tomados em batalhas talvez não valesse a pena toda a dificuldade ou custo envolvidos na deportação. Uma solução rápida era transferi-los a comerciantes de escravos, que cuidariam dos detalhes.3.6. gregos. O term o hebraico usado aqui, "Jav an ", provavelmente era o nom e grego para Jônia, a região grega da costa ocidental da Turquia e das ilhas do m ar Egeu. O s gregos jónicos se fixaram nessa área antes do primeiro m ilênio a.C.. Há evidências de con­tato entre eles e os assírios por volta do oitavo séculoа .C ..

3.8. sabeus. Existem três grupos de sabeus nas Escri­turas. Um deles é de Sabá, atual Iêmen, uma área que era altam ente urbanizada e atingira um com plexo nível de civilização nesse período (1 Rs 10). M uitas inscrições dos sabeus foram encontradas nessa área. Existiam também os sabeus da Etiópia (Is 43.3). Em Jóб.19 os sabeus são identificados com Temá, no norte da Arábia, e provavelm ente com a Sabá das inscri­ções assírias de Tiglate-Pileser III e Sargão II, no final

do oitavo século. É difícil determinar qual desses gru­pos está sendo mencionado aqui, em bora a maioria

dos comentaristas defenda a prim eira opção.3.10. conversão de m etais. Em vez de ser um a re­ferência ao "arad o" que revolve a terra, esse termo pode referir-se à ponta de metal do arado que perfura a terra abrindo sulcos. Essa ponta tem cerca de 17 centímetros de comprimento. No entanto, essa m es­m a palavra hebraica é usada em 2 R eis 6.5 onde parece referir-se a um tipo de machado. As foices aqui descritas eram pequenas facas usadas para remover folhas e novos brotos em vinhas. As amostras arque­ológicas encontradas são sim plesm ente pedaços pe­quenos e finos de m etal com um gancho na extremi­dade, com o lado cortante na parte interna, semelhan­te a um a foice. A forma lembra as agudas pontas de lanças populares na Idade do Bronze. Esses im ple­mentos agrícolas podiam ser derretidos em tempos de guerra e transformados em armas.3.15. Sol, Lua e estrelas escurecerão. Ao declarai que no dia do Senhor os céus e todos os seus corpos celestes seriam escurecidos, Isaías afirm ou que a glória de Yahw eh ofuscaria o brilho de todos os supostos deuses (Is 13.10; ver também o uso de linguagem semelhan­

te em Sal 104.19-22, em que Yahw eh controla o Sol e a Lua). Visto que a Assíria e o Egito adoravam o deus- sol (Shamás e Amom, respectivamente) como sua prin­cipal divindade e o deus-lua Sin era de grande impor­tância na Babilônia, o profeta visa atingir esses deuses e suas respectivas nações arrogantes e inim igas de Israel. Tais predições de escuridão, como na inscrição de Balaão, em Deir 'Alia, geralmente eram pressági­os de épocas de grande catástrofe.3.18. colinas que m anam leite. Esse paralelo do vinho com o leite é único. A combinação bastante conhecida de leite e m el era uma forma de falar do potencial que determinada região tinha para sustentar uma econo­mia pastoril (ver o comentário em Êx 3.7-10). A pala­vra usada aqui para vinho refere-se ao suco espremi­do e ferm entado recentem ente. Am ós 9.13 também retrata o vinho fluindo das colinas, o que é uma ima­gem lógica, um a vez que as vinhas com freqüência eram plantadas nas encostas das colinas.3.18. fonte flu indo do tem plo. A associação entre os tem plos do antigo O riente Próxim o e as fontes de água é bastante confirmada. Na verdade, considera­va-se que alguns templos na M esopotâmia, no Egito e no m ito ugarítico de Baal tivessem sido edificados sobre fontes (comparadas às águas primevas), que às vezes fluíam do próprio prédio. Logo, a m ontanha cósmica simbólica (templo) ficava em cima das águas primevas simbólicas (fonte).3.18. vale das Acácias. As acácias geralmente crescem em condições secas do deserto. O ribeiro que corre do vale de Cedrom, a leste de Jerusalém, em direção ao mar M orto, ainda é caracterizado por suas acácias que fazem do local a escolha m ais lógica.3.19. Egito e Edom como opressores. Essas duas na­ções eram renom ados inim igos de Israel, tanto nos tempos antigos como nos eventos próximos ao exílio. Edom se tornara um vassalo assírio no reinado de Tiglate-Pileser III e continuou sob o domínio da Assíria até a morte de Assurbanipal, um século m ais tarde. É provável que os edomitas tenham se subm etido ao governo de Nabucodonosor em 605. Em bora alguns refugiados de Judá possam ter encontrado abrigo em Edom, aparentemente esse povo permaneceu passivo

quando Jerusalém foi destruída (ver SI 137.7 e O b 11). Am bos países são objetos de oráculos de julgamento em Jerem ias e Ezequiel.

A M Ó S

v y1.1-2.5Julgamento dos povos vizinhos de Israel1.1. Tecoa. O povoado de Tecoa tem sido identificado

com Khirbet Tequ'a, cerca de onze quilômetros ao sul

de Jerusalém e oito quilômetros ao sul de Belém. De­

vido à sua localização às margens de terra cultivável, seus habitantes trabalhavam duro para m anter sua

subsistência como agricultores e pastores (ver 2 Cr

20.20). Para informações adicionais sobre essa peque­

na aldeia na região montanhosa da Judéia, ver o co­mentário em 2 Sam uel 14.2.

1.1. terremoto. As atividades sísmicas são ocorrências comuns na Siro-Palestina. A região fica sobre a Fenda do Jordão, que se estende desde Damasco até o golfo

de Ácaba, e, portanto, está sujeita a movimentos peri­ódicos da terra. Há evidências de um terremoto de

grandes proporções no sedimento 6 das escavações em Hazor, datando aproximadamente de 760 a.C.. É

possível que se trate do terremoto mencionado aqui, m as é preciso encontrar m ais evidências em outras

localidades, como Betei e Sam aria, que corroborem com essa hipótese._0 fato de que esse terrem oto é

usado para situar no tempo tanto a atividade profética

de Amós quanto o reinado do rei Uzias (ver Zc 14.4, 5) sugere que deve ter sido um fenômeno de grandes

dimensões e, portanto, um evento que ficou gravado na m ente das pessoas. Se Am ós de fato predisse o

terremoto (como fica implícito em Am 9.1), isso teria confirmado e autenticado seu papel como verdadeiro

profeta de Yahweh.

1.1. cronologia. Os reis citados na datação de Amós

situam sua m issão profética. U zias, rei de Ju dá, e Jeroboão II, rei de Israel, governaram durante grande

parte da prim eira m etade do século oitavo a .C.. O

terremoto citado aqui pode ser o mesmo confirmado por escavações em Hazor (sedimento 6) datando de

aproxim adam ente 760. Visto que Am ós afirm a não

ser um profeta profissional, m uitos intérpretes acre­ditam que os oráculos deste Livro cobrem um curto

espaço de tempo em vez de estender-se por diversas

décadas.1.2. topo do Carm elo. Do m onte Carmelo, na costa

norte de Israel, era possível avistar o M editerrâneo. A brisa m arinha e um ín d ice anual de chuva de 71

centímetros fazia dessa região uma das m ais exube­rantes do país. Na Antigüidade suas encostas viçosas

eram cobertas de oliveiras, vinhas e ricas pastagens (ver Jr 46.18). Amós e outros profetas criam uma ima­

gem contrastante entre a fertilidade normal dessa área

e a seca causada pela ira de Deus. O profeta também

apresenta uma noção da extensão geográfica do de­sastre, que se espalha desde Jerusalém, no sul, até o

Carmelo, no norte.

1.3. profecias contra nações estrangeiras. A respeito

desse tema nos profetas, ver o comentário em Jeremias

46.1.

1.3. D am asco no in íc io do oitavo século. O oitavo século começou de form a desastrosa para o remado de

Arã, e sua capital, Damasco. O rei assírio Adad-Nirari

III sitiou Damasco com êxito em 796. Segundo os Anais

Assírios, o rei sírio Bir-Hadad (Mari, em assírio) foi

forçado a submeter-se à vassalagem. Ele tam bém foi

obrigado a fazer pagamento de pesados tributos, in­

clusive 2300 talentos de prata e cinco m il talentos de ferro, para salvar a cidade. Existem até alguns indíci­

os de que a enfraquecida m onarquia síria e seu terri­

tório teriam se sujeitado ao rei israelita Jeroboão II,

durante a m etade do oitavo século (ver 2 Rs 14.28).

1.3. tr ilh ou G ilead e. Os A nais A ssírios de Tiglate-

Pileser III apresentam uma descrição completa de como

uma nação derrotada era deixada como se tivesse sido varrida por uma "debulhadora". O evento menciona­

do aqui por Amós pode estar relacionado à invasão de Gileade e da região da Galiléia, na metade do nono

século, pelo rei sírio H azael (ver 2 Rs 9.12 e a inscrição

de Hazael, recentemente descoberta em Tel Dã). Para outros exem plos da figura da debulhadora, ver os

comentários em Deuteronômio 25.4; 2 Sam uel 24.22 e Isaías 28.28.

1.4. casa de H azael. Devido às conquistas e feitos de

H azael no nono século (ver 2 Rs 10.32, 33), a dinastia real de Arã/Síria passou a ser conhecida como "casa

de H azael" . Essa expressão aparece nos anais de

Tiglate-Pileser III (744-727 a.C.), que reinou um sécu­lo depois de Hazael. Logo, A m ós não está se referindo

a um rei específico, mas a um a dinastia, e por exten­

são, ao próprio país de Arã.1.4. fortalezas de Ben-Hadade. Ver o comentário em Jerem ias 49.27.

1.5. vale de Áven. U m a vez que aven significa "im pi­edade" ou "idolatria" em hebraico, é bastante prová­

vel que A ven n ão fo sse um a cidade, m as sim um a

região onde Baal era adorado (compare com Bete-Áven = Betei, em Os 10.8). É possível que a região fértil do vale de Beqa' seja o alvo da palavra do profeta.1.5. Bete-Éden. Os anais assírios do nono século, da época de Assurnasirpal II e Salm aneser III m encio­nam Bete-Éden (Bit Adini) como um reinado arameu rebelde, localizado 320 quilôm etros a nordeste da Palestina, entre os rios Eufrates e Balikh. Visto que foi su b ju g ad o e receb eu outro nom e n o re in ad o de Salmaneser III, a aparição de Bete-Éden em profecias de Amós no oitavo século levanta a questão se de fato trata-se do mesmo lugar. Entretanto, os anais de Tiglate- Pileser III continuam a usar o nom e Bete-Éden para referir-se a um a área que continha cidades sírias, e Amós pode simplesmente estar usando essa designa­ção geográfica tradicional. O governante, na época de Amós, era Shamshi-Ilu.1.5. Quir. V er os comentários em Isaías 22.6 e Amós9.7 a respeito desta localidade designada como terra natal dos arameus. Também é mencionada em 2 Reis16.9.1.6. G aza no in ício do oitavo século. Considerando que Am ós usa G aza com o sinônim o para todas as cidades-estado filistéias, é provável que ela fosse a mais importante daquela época. Devido a suas alian­ças com as tribos árabes que controlavam as rotas comerciais do sul até a Arábia, G aza era um dos prin­cipais rivais comerciais de Judá durante o reinado do rei Jeorão (ver 2 Cr 21.16 ,17). Após os assírios terem

começado a expandir sua influência na Siro-Palestina, porém , a situação política ficou m ais com plicada. Amazias e Uzias conseguiram derrotar os edomitas e reconquistar o controle do principal porto no golfo de A caba (Elate) nas primeiras décadas do século (ver 2 Rs 14.7,22). Uzias também conquistou vitórias contra cidades filistéias e contra os árabes durante esse perí­odo (2 Cr 26.6, 7). É possível que Amós esteja refletin­do a inim izade entre G aza e Judá nesse oráculo. De qualquer m aneira, os Anais Assírios de Tiglate-Pileser III (campanha de 734 contra os filisteus) mostram que, à medida que o século passou, a cidade de G aza foi forçada a pagar pesados tributos e a servir como um Estado vassalo aos assírios.1.6. venda de cativos. Um dos aspectos mais lucrati­vos da guerra e invasão de fronteiras era o comércio de escravos. Os cativos eram vendidos a negociantes, que os levavam para longe de sua terra natal (ver Ez 27.13; J13.6, 7). Observe que os textos administrativos mesopotâmicos que remontam aos tempos anteriores a Sargão (início do terceiro milênio) contêm listas de rações descrevendo pessoas "q u e pertencem a" ou "agregadas a" famílias ou estabelecimentos comerci­ais (tecelagens). O núm ero de pessoas nessa situação,

cuja melhor descrição talvez seja "servos ou trabalha­dores", não era grande. Certamente não se compara com o enorme contingente de escravos encontrados nas cidades gregas e romanas.1.8. Asdode n o in ício do oitavo século. O tamanho da cidade baixa e de suas fortificações, construídas durante o século dez, ao estilo salomônico encontrado em G ezer e H azor, sugere que essa cidade-estado filistéia experimentou a prosperidade durante os sé­culos nono e oitavo. Escavações no sedimento 9 de­

monstram que a enorme porta da cidade de Asdode foi parcialmente destruída por volta de 760. Isso pode ser atribuído à campanha de Uzias, rei de Judá, con­tra os filisteus (2 Cr 26.6, 7). Antes do controle assírio sobre a Siro-Palestina, as nações menores (Filístia, Judá, Israel e Transjordânia) disputavam o controle das ro­tas com erciais e periodicam ente prom oviam cam ­panhas m ilitares com o m eio de conquistar a hege­monia política na região. Após 750, porém, a Assíria e o Egito passam a usar essas nações menores como parte de suas próprias manobras políticas.1.8. Ascalom no in ício do oitavo século. Como A s­

dode, Ascalom era uma das principais cidades-estado filistéias (ver os comentários em Jz 1.18 e 14.19). Gran­de parte do que se sabe a respeito dessa localidade durante o oitavo século encontra-se nos Anais Assírios e em listas de tributo. Entretanto, Ascalom é pouco mencionada antes da campanha de Tiglate-Pileser III, em 734. A natureza exótica de alguns dos tributos pagos por Ascalom ao governante assírio (inclusive rolos de papiro e peles de elefante) sugere que tinha vínculos comerciais com a Arábia e o Egito.1.8. Ecrom no in ício do oitavo século. A localidade de Ecrom encolheu de tamanho durante os primeiros dois séculos do primeiro milênio. Talvez isso se deva ao dom ínio de Israel na Filístia que teve início no reinado de Salomão. Algumas novas construções fo­ram feitas no oitavo século, inclusive um a torre de fortaleza, sugerindo um ressurgimento durante o pe­ríodo em que Ezequias, o rei de Judá, controlou a região (2 Rs 18.8). Escavações não demonstraram ne­nhuma riqueza ou prosperidade notável nessa época e é provável que a menção de Ecrom neste oráculo seja simplesmente por fazer parte das cidades filistéias (ver Jr 25.20).1.9. T iro no in ício do oitavo século. Durante o pri­meiro quarto do oitavo século, o rei Pigmalion gover­nou em Tiro. Foi um a época de grande prosperidade para os fenícios, que controlavam a m aior parte da atividade com ercial no M editerrâneo. Eles haviam expandido sua presença nas colônias fundando Car- tago, no norte da África, em 815. Interessantemente, a lista de tributo assírio de Adad-Nirari III desse perío­

do inclui o rei de Sidom, mas não o de Tiro. Aparen­

temente Tiro, da mesma form a que o próspero Israel (ver A m 3.15; 6.4), conseguira evitar com plicações com os assírios até o momento.1.11. Edom no in ício do oitavo século. Após ser ane­xado ao reinado de Davi (2 Sm 8.11-13), com o passar do tempo, Edom rebelou-se e conquistou sua inde­pendência de Judá, durante o reinado de Jeorão (2 Rs8.20-22). Am azias conseguiu recapturar pelo menos uma parte do território de Edom (2 Rs 14.7) na batalha de Sela (es-Sela, na fronteira norte de Edom), e até o reinado do rei israelita Jeroboão II (789-749) continuou a ter conflitos e tensões na fronteira entre Edom e seus vizinhos.1.12. Tem ã, Bozra. V er os comentários em Jerem ias

49.7 e 49.13 respectivamente a respeito dessas locali­dades edomitas.1.13. Am om no in ício do oitavo século. Assim como Edom , a nação transjord ânica de A m om p eriod i­camente se rebelava contra o domínio israelita (2 Cr20.1) e durante o oitavo século foi forçada a pagar tributo a Judá (no remado de Uzias, ver 2 Cr 26.8). A mudança nos destinos políticos é evidenciada em fon­tes assírias que se referem a embaixadores amonitas enviados a Calá (Ninrode) no oitavo século para ofere­cer tributo. Entretanto, o primeiro rei de A m om a ser alistado em textos assírios é Shobi, filho de Hahash (lista de Tiglate-Pileser III, de 733).

1.13. tratam ento dado às m ulheres grávidas. A práti­ca de rasgar o ventre de m ulheres grávidas é m en­cionada m uito raramente. É atribuída ao rei assírio Tiglate-Pileser I (por volta de 1100) em um hino que louva suas conquistas. Tam bém é citada apenas de passagem em um lam ento neo-babilônico.1.14. Rabá. Ver o comentário em Jerem ias 49.2 a res­peito dessa cidade, que era a capital de Amom.2.1. M oabe no in ício do oitavo século. A inscrição m oabita de M essa, da m etade do século nono, é a única evidência documental extrabíblica (compare com 2 Rs 3.4-27) atualmente disponível sobre essa nação da Transjordânia, anterior à cam panha de Tiglate- Pileser na área, em 734. Pode-se apenas especular a respeito das hostilidades que teriam existido entre Moabe e as nações de Judá e Israel, um a vez que não há evidências concretas. O crime de profanar os ossos do rei de Edom pode ser um indício da aliança de Edom com Judá. Porém , sem um contexto histórico em que o evento possa ser situado, perm anece um mistério.2.1. queim ou os ossos. O ultraje m aior desse ato resi­de não apenas no fato de profanar as sepulturas dos reis de Edom, m as tam bém no passo além de quei­m ar os ossos para fazer cal (ver Is 33.12). Dessa forma,

toda honra e respeito é rem ovido dos corpos, e os

m oabitas podiam apontar para m uros e casas que tivessem sido pintados com a m istura resultante da­

quele cal. A respeito da exumação de restos mortais, ver o comentário em 2 Reis 23.16.

2.2. Q ueriote. Também mencionada na inscrição de

M essa com o a cidade onde o deus m oabita Cam os

tinha um santuário, Queriote tem sido identificada

com el-Qereiyat e Khirbet Aleiyan (ver Jr 48.41).

2.6-16Os pecados de Israel2.8. tipo de ironia. A grande ironia das acusações de

Amós contra os ricos é que eles exibiam seus excessos

diante de altares sagrados em um santuário dedicado

a Deus. É possível que fosse parte de seus direitos legais tom ar um a veste diante do não-pagam ento de um a

dívida ou comprar vinho com dinheiro que fora obti­

do através de m ultas aplicadas aos pobres por alguma

ofensa praticada. Entretanto, Yahw eh havia dito (Êx

22 .25 ,26) que os lam entos agudos dos pobres seriam

ouvidos, "pois sou misericordioso". Como no caso do trabalhador, na inscrição de Y avneh Yam , o cred or

devia não apenas obedecer à lei, como também devia

lev ar em co n sid eração qu e p arte da p ro p ried ad e confiscada impediria o devedor de trabalhar pelo seu

susten to (ver o Código de H am urabi, que p roíbe o

confisco do boi de um trabalhador endividado).

2.9. destruí os am orreus. Israel é lem brado acerca dos

feitos do Guerreiro Divino. Antes do início da con­quista de Canaã, Yahw eh dera aos israelitas um a vi­

tória contra os reis dos amorreus, Seom e O gue (ver os

comentários em N m 21.21; 21.24-30). Posteriormente,

os m esm os amorreus se tom aram sinônimos dos habi­tantes de Canaã (ver Jz 1.34-36 e 7.14).

2.9. frutos em cim a, raízes em baixo. Am ós usa um recurso literário (em que se utiliza a imagem de pares

opostos ou polarizados) para ilustrar a destruição total

dos am orreus. Essa era um a prática com um na lin­guagem profética (ver Is 37.31; Os 9.6). Tam bém é

encontrada na fórmula de maldição fenícia (inscrição de Eshmun 'asor, quinto século): "Q u e eles não te­

nham tronco embaixo, nem ramos em cim a".

2.11. nazireus. Ver os comentários em Números 6.1­21 acerca dessa categoria especial de israelitas que

im punham a si m esm os um juram ento de purificação.

3.1-15O julgamento de Israel3.2. escolher fam ília. O verbo usado no texto hebraico é "conhecer". A m esm a expressão a respeito de um

deus conhecendo um a fam ília é u sad a em textos

acadianos para descrever o cuidado que os deuses do

clã garantiam a seus adoradores.

3.4. com p ortam ento do leão. D urante a caçada, o

leão ruge para paralisar de medo sua presa e assim

poder atacar. A pós um a caçada bem -sucedida, um

leão pode arrastar um a porção do animal abatido até

sua toca para comer mais tarde. Enquanto está ali ele pode rugir como sinal de prazer por seu êxito ou como

um alerta para que outros predadores não se aproxi­

mem. Ver exemplos semelhantes do comportamento

do leão em Isaías 5.29 e Ezequiel 22.25.

3.5. pássaro caindo na armadilha. Ver o comentário em

O séias 7.12 para m ais detalhes sobre a caça de pássa­

ros através de laços e armadilhas. S. Paul tem argumen­

tado de forma persuasiva que a palavra traduzida pela

NVI como "arm adilha" deveria na verdade ser "isca", demonstrando assim o que todos sabem, que um pás­

saro deve ser atraído até a arm adilha.

3.9. m ontes de Sam aria. Embora a cidade de Samaria

ficasse localizada em um único m onte, era cercada por

um a série de colmas que eram de fato mais altas que a capital (ver o comentário em 1 Rs 16.24). Se o profeta

está falando de um ponto de observação de onde fosse

possível assistir à destruição de Samaria, então essas

colinas seriam o local m ais adequado.

3.11. tempo entre a profecia e seu cumprimento. Amós, falando nos anos 760, pode ter suposto que os assírios

acabariam sendo usados como instrumentos de Deus

para castigar a Israel, m as ele não afirm a isso explici­

tamente. De qualquer maneira, Samaria e a nação de

Israel cairiam diante dos exércitos assírios de Sargão

II, em 722, e grande parte da população seria deporta­da para outras partes do Império Assírio.3.12. responsabilidade do pastor. Os códigos legais da antiga M esopotâm ia (inclusive o Código de Lei Sum éria, o Código de H am urabi e as Leis Hititas) continham cláusulas cujo objetivo era ajudar os pasto­res que tivessem perdido um animal para um leão ou outro predador. O pastor dava seu testemunho e fazia um juram ento diante dos deuses. Se houvesse algu­m a evidência física para demonstrar, como "u m pe­daço da orelha", então essa prova era apresentada. D essa m aneira o pastor ficaria acima de suspeita de roubo. Os pedaços que ele apresentava não indica­vam sobrevivência e sim serviam como prova da des­truição do animal desaparecido do rebanho.3.12. cama/sofá. Em m eio à destruição im inente, as casas dos ricos mercadores e nobres de Samaria seri­am saqueadas. O s refugiados em fuga conseguiriam carregar consigo apenas parte de sua riqueza. Amós satiriza seu sofrimento ao descrevê-los se agarrando a

pedaços (a cabeceira ou os pés) de suas cam as. A ironia dessa im agem encontra-se em Amós 6.4, onde o profeta condena os ricos por desfrutarem do luxo de camas de m arfim e sofás.3.14. altares de Betei. Ver os comentários em 1 Reis12.29, 30 a respeito do estabelecimento dos santuários

reais de Jeroboão em D ã e Betei, na época do reino dividido. Apesar da associação de Betei com os altares dos patriarcas Abraão e Jacó (Gn 12.8; 35.7), essa cida­de funcionava como rival de Jerusalém no tempo de Amós, e, portanto, seus altares deviam ser condena­dos como parte da apostasia de Israel.

MUDANÇAS ECONÔMICAS E CLASSES SOCIAIS NO ISRAEL DO OITAVO SÉCULOA luz das mudanças políticas ocorridas no início do oitavo século (expansão assíria e captura de Damasco), Israel conseguiu ampliar seus interesses econômicos e recuperar sua hegemonia em grande parte da Transjordânia. Além disso, tanto Israel como Judá foram governados, durante a primeira metade do século, por reis fortes (Jeroboão II e Uzias, respectivamente) cujos reinados foram longos e estáveis. Isso tomou mais fácil o estabelecimento de uma política econômica abrangente que se concentrou na produção maciça de itens de exportação, tais como cereais, azeite de oliva e vinho. Grandes áreas da Sefelá e as terras baixas dos vales já haviam sido tomadas pelo cultivo do trigo (2 Cr 26.10). Agora, no oitavo século, a elite conseguira impor sua política econômica nas pequenas aldeias e áreas agrícolas da região montanhosa. Como resultado, estratégias anteriormente aplicadas à agricultura, que tentavam dividir os riscos potenciais entre o pastoreio e o cultivo das terras, foram substituídas e a terra passou a ser tomada pelo cultivo de produtos especificamente rentáveis. As propriedades menores de agricultores e camponeses sobrecarregados de dívidas foram incorporadas a grandes propriedades. Esse uso bastante eficiente da terra, porém, eliminou as culturas mistas que no passado eram a base da cultura aldeã, o que exauriu rapidamente o solo. Deixar áreas dos campos em pousio e utilizar campos já colhidos como áreas de pastagens eram práticas que haviam sido eliminadas ou eram rigidamente controladas. Sob essa nova política, foi feita uma tentativa de aumentar de tal maneira as exportações, a ponto de haver uma verdadeira escassez para a classe camponesa, enquanto a nobreza e os mercadores tinham condições de deliciar-se com os produtos luxuosos fornecidos por seus parceiros fenícios. Assim, além de enfrentar a alta nos preços de produtos básicos nativos, tais como o trigo e a cevada, os miseráveis agricultores e campo­neses viam-se forçados a submeter-se à servidão ou ao trabalho como diarista. Sendo oprimidos por empregadores explo­radores e enganados por negociantes gananciosos que lhes vendiam cereais adulterados ou de qualidade inferior para seu consumo, não é de espantar que Amós dirigisse longos discursos aos ricos por sua falta de consideração para com os pobres. Nessa atmosfera de injustiça social, especialização agrícola e especulação econômica, o profeta relembra os israelitas de seu compromisso com a aliança. Tal como o "camponês eloqüente" do século vinte a.C., no Egito, Amós os alerta que juizes corruptos e homens de negócio desonestos não devem esperar nenhum tipo de misericórdia de um Deus irado.

3.14. cortar as pontas dos altares. As pontas do altar representavam o lugar do santuário (Êx 21.13, 14) e

tam bém eram associadas à absolvição e purificação

(Lv 16.18). Cortar essas pontas suprim ia o altar de qualidades especiais, o profanava e o transform ava

em nada mais que uma pedra danificada. Diante da

destruição vindoura, portanto, Israel será privado de qualquer esperança de asilo ou expiação de pecados.3.15. casas de inverno e de verão. Um dos sinais de

suntuosidade exibidos pelas riquezas de Salomão eram

suas duas residências. U m a casa de verão em Samaria

aproveitava o clima mais fresco da região montanho­sa central de Israel, e outra, de inverno, possivelmen­

te no quente vale de Jezreel, permitia que os residen­tes escapassem das temperaturas muito baixas. Exis­

tem diversos exemplos de reis que podiam usufruir

das diferenças climáticas migrando de um a residên­

cia para outra, inclusive Barrakub, de Sam 'al, o rei

arameu do oitavo século, e Ciro, o rei da Pérsia.

3.15. en fe itad as de m arfim . Escavações na antiga Sam aria revelaram quantidade relativam ente gran­

de de marfim usado na decoração de móveis e pare­

des do palácio de Onride (ver o comentário em 1 Rs 22.39). Tanto o estilo egípcio quanto o fenício/sírio

eram empregados, inclusive representações do deus

Hórus, flores de lótus e o tema da "m ulher à janela".

Marfins da Idade do Ferro diferem daqueles da Idade do Bronze M oderna (mais bem representados pelos

exemplares encontrados em Megido) com a adição de pasta de vidro e incrustações de pedras semiprecio­

sas. E possível que algumas dessas peças de marfim

fossem entalhadas e decoradas por artesãos israelitas,

m as é mais provável que fossem caríssimos produtos importados.

4 .1 -1 3

Is r a e l m a n te v e -s e r e b e ld e

4.1. vacas de Basã. M ais uma vez demonstrando suas

origens como criador de gado, Amós usa as vacas de Basã, animais de excelente qualidade, como metáfo­

ra. Esses animais valiosos pastavam no capim exube­rante dessa região da Transjordânia, às duas margens

do rio Iarmuque (ver Dt 32.14). Amós compara essas

vacas com as auto-indulgentes esposas de nobres e mercadores abastados da Samaria. N em as vacas, nem

aquelas mulheres eram capazes de enxergar além de suas próprias necessidades e desejos (compare com Is

3.16). As m ulheres, como vacas pastando completa­

mente absortas, não conseguiam sequer imaginar que

o povo podia estar morrendo de fome enquanto elas pediam outro cálice de vinho ou m ais uma refeição extravagante. E difícil dizer com segurança se a refe­

rência é ao gado criado domesticamente ou ao gado

selvagem, não domesticado. Ambos podiam ser en­

contrados em Basã e ambas as imagens fariam sentido

na analogia.4.1. m u lh eres da c lasse a lta . A prosperidade que

adviera à classe da nobreza e de mercadores de Israel

durante a primeira metade do século oitavo a.C. era o resultado direto da proliferação da hegemonia assíria.

Em 802, o rei assírio A dad-N irari III conquistou a

cidade de D amasco e efetivam ente removeu a Síria

de sua posição como principal rival político e econô­m ico de Israel. P or um breve período, portanto, a

cidade de Samaria e o restante de Israel desfrutaram

de paz e prosperidade que geraram riqueza e permi­

tiram o usufruto de produtos luxuosos e novos proje­

tos de construção. A m ós deseja atingir as esposas des­ses prósperos indivíduos, destacando-as como causa

básica da opressão dos pobres. A aliança impunha

obrigações aos israelitas p ara que cu idassem dos

desfavorecidos, m as o que Amós vê são pessoas que

não avaliavam o preço que seus compatriotas paga­

vam para que mantivessem sua vida de privilégios.

4.2. ganchos, anzóis. O termo hebraico aqui é bastan­te incerto. Tem sido sugerido que o versículo descre­

ve não o instrumento com que se apanha o peixe, mas

os cestos e vasilhas onde são transportados. Essa metá­fora está presente na literatura profética de Mari, onde

os inimigos do rei são retratados contorcendo-se como

peixes em um cesto. A pesca em rios e riachos meso-

potâmicos era feita com cestas trançadas (às vezes fei­

tas de arbustos de espinho). De fato, não há evidência do uso de anzóis na Mesopotâmia após 3000. A me­

lhor tradução para a metáfora de Amós descrevendo a

captura dos israelitas após o cerco de Sam aria seria "cestos de pesca". Se o profeta tinha em mente de fato

"an zóis", então é possível que estivesse se referindo aos ganchos que costumavam ser usados para perfu­

rar e puxar prisioneiros durante os cercos.

4.3. Harmom. Visto que esta é a única ocorrência da palavra, foram feitas diversas sugestões acerca de seu

significado. Alguns eruditos a consideram um nome de lugar e, portanto, o lugar onde os cativos foram

exilados. Dentre as sugestões estão o monte Minni, na

Assíria (ver Jr 51.27) ou Herm al, perto de Cades, no rio O rontes. P ara aqueles que corrigem o texto, a

tradução de "m onte de esterco" (NVI: "m ontanha de

opressão") para o termo haãm on (substituindo uma única letra por outra parecida) é a m ais provável,

visto que se trata de um local adequado para dispor-

se do corpo de prisioneiros.4.4. locais de culto em Betei e G ilgal. Betei tinha uma

longa tradição de atividade cultual, rem ontando à

edificação de um altar por A braão (Gn 12.8) e ao

sonho de Jacó ali (Gn 28.10-22). Am ós passou a atri­

buir a Betei um aspecto ominoso, ao designá-la como

um dos principais centros cultuais da época de Jeroboão

(1 Rs 12.29, 30). A atividade cultual em Gilgal apare­

ce na narrativa da conquista quando os israelitas atra­

vessaram o Jordão e Josué erigiu um m emorial para

comemorar o evento (Js 4.19, 20). É possível que após

a divisão dos reinos, Gilgal fosse considerado local de

adoração do norte, devido à sua associação com Saul (ver 1 Sm 11.15 e 15.21). Oséias também condena esse

lugar por sua corrupção (Os 4.15 e 9.15).

4.4. d ízim os no terceiro dia (a cada três anos). A

melhor tradução do hebraico para essa expressão se­

ria "n o terceiro d ia" ou "a cada três dias" (e não a cada

três anos). É possível que Amós esteja satirizando um

aspecto da prática cultual no reino do norte. H á uma

possibilidade que essas ofertas e dízimos voluntários

(compare com G n 14.20) fossem oferecidos assim que

chegavam no santuário ou que estivessem ligados a

algum evento iminente ou voto. Para Amós, porém,

tal freqüência de ofertas não era capaz de substituir a

verdadeira piedade ou obediência à aliança.

4.9. pragas e ferrugem . Os agricultores estavam bem

conscientes do que as forças da natureza podiam fazer

a suas plantações. Aqui, Deus tenta cham ar a atenção

de Israel destruindo as colheitas. Primeiro, o vento

siroco afasta toda a umidade do ar, secando a vegeta­

ção. Depois, chove demais e os campos ficam amare­

lados e m urcham nos campos. Ver o comentário sobre

maldições em Deuteronômio 28.22.

4.9. gafanhotos. Esses insetos podem causar estrago

nas plantações e tam bém nas folhas de oliveiras e

figueiras. P ara outro exem plo de nuvens de gafa­

nhotos e sua relação com a ira de Deus, ver Joel 1.4-7.

Textos acadianos de Mari relatam que os gafanhotos

invadiam um a cidade e explicam que a colheita não

podia ser terminada por causa das nuvens de insetos.

Para informações a respeito da destruição causada por

gafanhotos, ver o comentário em Êxodo 10.1-20.

4.13. relação entre vento e pensam entos. No hebraico,

a palavra traduzida como "v en to" é a mesma muitas

vezes traduzida como "espírito". Não é que a palavra

tivesse dois significados, mas sim que no mundo an­

tigo, não era muito fácil fazer a distinção entre vento

e espírito. Na m aneira de pensar m esopotâmica, os

deuses revelavam seus planos e pensamentos através

de sonhos. O mensageiro que trazia esses sonhos era

chamado Zaqiqu. A palavra zaqiqu refere-se a espíri­

to ou fantasma. Deriva do verbo zaqu, que se refere ao

vento sendo soprado, ou ao fôlego de um deus.

5.1-27Lamento pelo castigo do povo (a busca pelo Senhor)5.5. Betei, G ilgal. Ver o comentário em 4.4.5.5. santuário em Berseba. A descoberta de um gran­

de altar com pontas nas escavações de Tell es-Saba',

datando da Idade do Ferro II fornece evidências que confirm am a atividade cultual nessa localidade do

sul. Berseba é citada em narrativas ancestrais (Gn

21.33) e é o local onde os filhos de Sam uel atuavam como juizes (1 Sm 8.1, 2). A destruição de santuários

fora de Jerusalém pelo rei Ezequias (Arade, Berseba;

2 Rs 18.4) pode ser um reflexo da condenação dessas localidades por parte de Amós.5.8. Plêiades e Ó rion, constelações no m undo antigo.

Evidências textuais da Babilônia, inclusive o "tablete

de V ênus" de Am m isaduqa (c. 1650 a.C.), indicam

que estudos astronômicos eram conduzidos com habi­lidade e precisão. Embora a astrologia tam bém fosse

predom inante nos últim os períodos do Egito e na

Mesopotâmia do período persa, parece que essa ativi­

dade de adivinhações, interpretação de presságios (ver

Is 47.13) era apenas uma-extensão do trabalho de uma ciência verdad eira, a astronom ia. H á registros do

m ovim ento dos planetas, da posição das principais

estrelas e constelações fixas, bem como de descrições das fases da Lua e de eclipses solar e lunar. Conside­rando-se o conhecimento difundido acerca das estre­

las e dos planetas nas culturas mesopotâmica e egíp­

cia, era necessário que os escritores e profetas bíblicos

atribuíssem esses corpos celestes à criação de Yahweh

(ver Jó 9.9). As constelações mesopotâmicas incluem: figuras de animais como bode (Lira) e serpente (Hidra);

objetos como um a flecha (Sírio) e um carro (Ursa M ai­

or) e personagens como A nu (Órion). A constelação m ais popular era Plêiades, com freqüência retratada

em selos até na Palestina e na Síria. Textos neo-assírios

preservam esboços de estrelas em constelações. Uma

oração aos deuses da noite de 1700 a.C. invoca as

constelações por nome pedindo-lhes que respondam

ao adivinho que buscasse um presságio.5.11. m ansões de pedra. Essa expressão refere-se a

casas feitas de pedra bruta (chamadas de "silh ar"),

um a vez que muitas casas em Israel eram construídas com esse material. Com freqüência o alicerce era de

pedra, enquanto a estrutura das paredes era de tijolos de barro, secados ao sol. A penas os m ais ricos das

classes altas podiam bancar casas de alvenaria tão

bem feitas. A pedra calcária utilizada nessas constru­ções era extraída em pedreiras perto de Samaria. A

maldição usada aqui é chamada de "m aldição da inu­

tilidade" porque tom a inútil todo seu esforço e traba­

lho e pode ser com parada a um a inscrição em um

marco de divisa babilónico que invoca os deuses a

atentarem para aquele que constrói uma casa em ter­ra roubada, para que sua casa lhe seja tirada.

5.12. subornos e opressão ju dicial. Um dos principais

temas de Amós é a crítica sobre a injustiça social (ver

Êx 23.6-8; Dt 16.19 e o Código de Hamurabi acerca de leis que condenam o suborno). H á uma longa tradição

na literatura sapiencial ou camponesa exigindo justiça

da lei e de reis e oficiais. Por exemplo, em uma cole­ção de provérbios babilónicos, o "ju iz sem escrúpu­

los" é aquele que aceita um presente e "perm ite que

a justiça seja m alograda". Igualm ente, o "cam ponês eloqüente" da literatura egípcia do século 21 acusa os "legisladores que aprovam o roubo" e "os inspetores

de aceitarem a corrupção". A Teodicéia babilónica do

século dez censura pessoas que "enchem de ouro os

depósitos do opressor" enquanto "esvaziam a des­pensa do mendigo".

5.20. dia do Senhor. Ver a nota em Joel 2.

5.21. festas relig iosas e assem bléias solenes. O ata­que de Amós é dirigido às hagim - termo técnico para

as três principais festas de peregrinação (festa do pão

sem fermento, festa da colheita e Festa das cabanas;

ver os comentários em Êx 23.15,16) - vazias e celebra­

das mecanicamente. As festas religiosas eram oportu­nidades freqüentes para celebrações, refeições comu­

nais e ajuntamentos sociais. O que fora instituído como

um m eio de louv ar e h onrar a D eus, porém , não estava lhe trazendo nenhum prazer.

5.23. música na adoração. A Mesopotâmia e o Egito tinham longa tradição de música religiosa e popular

que provavelmente eram conhecidas pelos israelitas.

M úsicos profissionais, como o harpista kalu, tão bem atestado em textos antigos de M ari (Babilónia Antiga)

e da Uruk suméria, podem ter sido o modelo para os

m úsicos levitas no tem plo de Jerusalém e tam bém

para os m úsicos dos santuários no norte, em D ã e Betei. Os tipos de instrumentos, cantos litúrgicos, ora­

ções e lamentos penitenciais, e hinos de louvor cria­

dos por essas antigas civilizações serviam de modelo no estilo e na composição para todo o Oriente Próxi­

mo. Pinturas em túmulos egípcios exibem a postura

de dançarinos e tam bém um a am pla variedade de instrumentos musicais. Um exemplo da técnica em­

pregada na m úsica sacra encontra-se nos Salmos asso­

ciados à recitação da história da criação - Salmos 8, 189, 104 e 139. Eles contêm elem entos literários e

musicais (com base em sobrescritos, marcadores para coral e assonâncias ou rimas toantes no texto) necessá­

rios para um a execução adequada da música durante a adoração e a encenação do drama sacro.

5.26. re i Sicute. Devido a uma crença equivocada de

que o deus Sicute foi introduzido somente após a con­

quista assíria (ver 2 Rs 17.30), algumas versões ten­tam corrigir o hebraico traduzindo o termo como "san ­

tuário" ou "m orada" do rei. Na verdade, a afirmação de Amós provavelmente reflete o grau da influência

cultural exercida por m ercadores aram eus e outros viajantes sobre os israelitas. Sicute ou SAG .KU D é

associado a Ninurta em fontes ugaríticas e especifica­mente ao planeta Saturno.

5.26. im agens dos deuses astrais. Essa tradução tam ­

bém é uma tentativa de remover do texto o nome de

um a divindade astral, corrigindo a palavra kiyyun. O deus-estrela m esopotâm ico, Saturno, ocorre como

kajamanu em textos acadianos e tem o significado de

"o im utável", um título adequado para a órbita lenta

do planeta Saturno. A s im agens dessas divindades

astrais eram carregadas em procissões nos dias de festas religiosas. Conforme a nota da NVI, a Septuaginta

diz "levantaram o santuário de M oloque e a estrela do seu deus Renfã, ídolos que fizeram para adorar!".

Visto que ambos os deuses mencionados nesse versí­culo são associados ao deus Saturno, a expressão "es­

trela do seu deus" na verdade é um a referência à adoração de divindades astrais praticada pelo povo.

As procissões sagradas levavam imagens e símbolos

desses deuses pelas ruas da cidade até seus santuári­

os, onde sacrifícios, danças sacras e outras atividades

rituais eram realizados. Am ós, no entanto, satiriza

essas práticas. Em vez de simplesmente descrever o que estivera acontecendo, ele agora prediz uma "ú lti­

m a procissão", m as desta vez o povo carregará seus

ídolos para o exílio (compare com Is 46.1).

5.27. exílio para além de Damasco. Visto que os assírios

nunca são diretamente citados em Amós, não fica cla­ro o que ele quis dizer quando falou do exílio iminen­

te do povo de Israel. U sar um a expressão tão vaga como "além de Damasco" remete à ameaça de Jeremias,

com a expressão "d o norte" (Jr 1.14) e ambos simples­m ente indicam a direção da Mesopotâmia como fonte da destruição vindoura.

6.1-14 A destruição de Israel6.1. m onte de Sam aria. Para que o paralelism o de

Am ós funcione m elhor, o m onte Sam aria tam bém

teria de conter um centro de adoração, como o monte Sião, em Jerusalém. É provável que seja uma referên­cia à acrópole da cidade onde o templo e o palácio

ficavam localizados. Considerando a condenação de

M iquéias à Sam aria e suas im agens (M q 1.6, 7) e a

referência de Isaías a "Sam aria e seus ídolos" (Is 10.11),

parece provável que a capital de Israel tinha um im­

portante santuário durante o reinado de Jeroboão II.6.2. Calné e Hamate. Embora não se saiba ao certo a

localização exata de Calné, capital do antigo Estado de

Unqi, provavelm ente estava situada na planície da

A ntioquia, perto de Aleppo. H am ate (atual Ham a, cerca de 160 quilômetros ao sul de Aleppo e 208 qui­

lômetros ao norte de Damasco) ficava localizada às margens do rio Orontes (para mais informações, ver

os com entários em Is 10.9). Em bora am bas tenham

sido destruídas pelas mãos dos assírios em 738, Israel tam bém pagava tributos naquela época, logo Amós

não pode estar tão atrasado. Sabemos muito pouco a respeito da história do norte da Síria nas décadas que

precedem o profeta para identificar a que Amós está

se referindo.

6.2. G ate. G ate tem sido identificada com o Tell es- Safi, oito quilôm etros ao sul de Tell M iqne/Ecrom. Das cinco principais cidades dos filisteus, era a que

ficava mais próxima a Judá. Poucas escavações foram

conduzidas no local, em bora tenha sido confirmado

que há ali vestígios da Idade do Ferro. A cidade fica­

va localizada perto do vale de Elá, um a das principais

vias de passagem da planície costeira para a região

montanhosa ao redor de Jerusalém. Foi alvo de um

ataque de Uzias, rei de Judá (citado em 2 Cr 26.6) na época de Amós.

6.4. camas de m arfim . A idéia de uma cama feita de

material exótico ou luxuoso remete à cama de ferro do

rei Ogue, em Deuteronômio 3.11 (ver tam bém o tro­

no de marfim de Salomão, em 2 Cr 9.17-19). Os Anais Assírios de Senaqueribe m encionam que Ezequias,

rei de Judá, incluiu entre os itens pagos como tributo u m sofá com engastes de marfim. A decoração com

m arfim era muito popular nessa época, tanto em mó­

veis como em painéis de parede. Uma das principais

fontes de m arfim eram as presas de elefante, que eram importadas de Arã (onde os elefantes ainda não haviam sido extintos nessa época). As peles e as pre­

sas de elefante, bem como elefantes vivos, às vezes eram incluídos como itens em pagamentos de tribu­

tos. Escavações no palácio de Assumasirpal, em Kalah,

trouxeram à tona belíssim os entalhes de m arfim deco­

rando as paredes. Mais de quinhentos fragmentos de marfim tam bém foram encontrados nas escavações de

Sam aria, datando dos séculos nono e oitavo a .C..

M uitos exibem temas artísticos egípcios e fenícios.

6.4. m elhores cordeiros, novilhos m ais gordos. Para quem tinha condições, as carnes de m elhor qualidade

eram provenientes de ovelhas e bois m antidos em

estábulos (ver M l 4.2) e engordados com cevada, an­

tes do abate. Provavelmente, esses alimentos dos an­

tigos podiam custar muito caro e eram bem conheci­dos (ver a m etáfora de Jerem ias para m ercenários

gordos, em Jr 46.21). Há evidência dessa form a de criar ovelhas (acadiano, kirru) nos textos econômicos

de U r III que datam do século vinte a.C..

6.6. v inho em grandes taças. O term o usado para taça

geralm ente é associado à atividade cultual (ver Ex24.6-8; N m 7.13). Isso sugere que Amós os está acusan­

do não apenas de beber em excesso, m as talvez de

estarem profanando objetos sagrados. Observe que os arqueólogos encontraram um a série de taças de ouro

em túmulos de Ninrode que datam do final do perío­

do assírio, algumas das quais continham nomes de rainhas assírias gravados na lateral.

6.6. fin os óleos. No mundo antigo, os convidados de

um banquete muitas vezes eram recebidos por um

anfitrião generoso com finos óleos com os quais ti­

nham suas frontes ungidas. Além de dar-lhes uma aparência brilhante, acrescentava ao ambiente e à sua

pessoa um odor agradável. Por exem plo, um texto

assírio do reinado de Esar-Hadom descreve como ele

"encharcou a fronte" de seus convidados num ban­

quete real com os m ais "seletos óleos". Um a vez que,

neste versículo, é provável que Am ós esteja conde­nando o povo por usar de form a errada os utensílios

sagrados, talvez ele tam bém os esteja repreendendo

por usarem óleos que deveriam fazer parte do culto

(ver Êx 30.31, 32).6.7. banquetes. A palavra traduzida como "banque­

te " aqui é um term o técnico para refeição funeral

(algo como um a refeição memorial; por isso o uso de

utensílios e óleos que geralmente relacionados a ritos

cultuais). O term o aparece apenas aqui e em Jeremias16.5, em bora seja bastante conhecido em outras tradi­

ções semitas. Referências extrabíblicas à refeição fu­

neral foram encontradas em textos ugaríticos, textos aram aicos de Elefantina (Egito) e em inscrições em

púnico, nabateu e palmireno. Todos os elementos alis­

tados nos versículos 6 e 7 estão relacionados a essas

festas: carne, vinho, música, unções e ócio.

6.10. queim ar os corpos. A cremação de corpos não

era um a prática comum (ver os comentários em 1 Sm 31.12 e 2 Cr 16.14), e o verbo utilizado é bastante raro.

Isso levou diversos intérpretes a um a interpretação

alternativa, ou seja, a de que o texto na verdade não

está falando de "queim ar os corpos" e sim "em bal­

samá-los com especiarias para sepultamento".6.10. não m en cionar o nom e do Senh or. A ira de

D eus era tam anha que a população da cidade de

Samaria seria reduzida a um décimo e os sobreviven­tes estavam tão assustados com o que Yahw eh fizera

que tinham m edo até de pronunciar o nome de Deus,

o que cham aria a atenção da divindade irada sobre eles. Nesse sentido, então, a ordem "Calado!'7 é um tipo de feitiço para evitar que os incautos invocassem a Deus (compare com Êx 23.13 e Js 23.7). Documentos assírios do reinado de Enlil-Nirari (1326-1317) ofere­cem um pouco de luz aqui. Em um texto, o rei clama "Q u e de forma alguma a divindade fale!" quando a m orte de um membro da fam ília real era anunciada na corte. Su a intenção era pedir ao deus que não agisse (falasse) contra nenhuma outra pessoa.

6.13. Lo-Debar. Essa localidade, um a das cidades cap­turadas por Jeroboão durante sua campanha na Trans- jordânia (2 Rs 14.25), é identificada com m ais freqüên­cia com Tell 'el-H amm eh, ao norte do rio Jaboque, no território amonita. Amós parodia essa vitória alteran­do a vogal do nom e da cidade para Lo-dabar, que significa "n ad a". Ele zom ba do orgulho que tinham em seus feitos insignificantes, que nada eram compa­rados às vitórias de Deus.6.13. Carnaim . Essa importante localidade está situa­da em Basã, em Tell es-Sa'ad, um afluente norte do rio Iarmuque (ver G n 14.5 e 1 Macabeus 5.26). Tiglate- P ileser III fez dela a capital da província assíria de Q am ina, quando conquistou a região em sua campa­nha de 738-737.

6.14. desde Lebo-H am ate até o vale da Arabá. Ver ocom entário em 2 Reis 14.25 acerca da tentativa de Jeroboão II de recuperar as fronteiras de Israel.

7.1-9 As três visões de Amós7.1. gafanhotos. Ver o comentário em 4.9.7.1. colheita do rei. Embora essa seja a única ocorrên­cia no texto bíblico, essa referência indica que o rei tinha direito, com o um a form a de im posto, a um a parte das plantas colhidas. Talvez isso fosse um a me­dida instituída para garantir que os cavalos do rei tivessem forragem suficiente. U m exemplo oposto disso encontra-se na doação de terra feita pelo rei assírio Assurbanipal a um de seus oficiais. Esse decreto isen­tava as novas terras do oficial de ter de pagar taxas por feno, cereais ou parte de seus rebanhos.7.7. prumo. Essa tradução tradicional não é mais acei­tável, com base no reconhecimento de que a palavra hebraica 'anak é um cognato da acadiana annaku, que significa "estanho". U m a linha de prum o tinha um

peso de chumbo ou ferro preso à sua extremidade a fim de determinar se a parede estava perpendicular à construção. S. Paul sugere que essa expressão signifi­ca "parede de folha de estanho", um símbolo da fra­queza ou fragilidade das defesas de Israel (compare com as em Jr 1.18; Ez 4.3). Até o m omento, o significa­do exato dessa expressão permanece incerto.

7.10-17 O confronto entre Amós e Amazias7.10. m ensagem profética com o traição. Em todo o m undo antigo, acreditava-se que os profetas não só

proclam avam a m ensagem da divindade, m as, no

processo, liberavam a ação divina. Nas instruções do

rei assírio Esar-Hadom a seus vassalos, ele exige que prestem relatório de qualquer afirm ação im própria

ou negativa feita por qualquer pessoa, especificamen­

te os profetas, adivinhos extáticos e intérpretes de

sonhos. Não é de se espantar, portanto, que o profeta

que se dispusesse contra o rei tinha de ser controlado a fim de não causar toda sorte de estrago. É possível

entender por que um rei seria inclinado a prender

um profeta cujas palavras pudessem incitar rebeliões ou provocar danos.7.13. santuário do rei. Betei era um dos dois santuários

reais estabelecidos pelo rei Jeroboão para funcionar como centros de adoração alternativos para o povo do

reino do norte (1 Rs 12.26-30). O posto de Am azias era

um a nomeação política, um a vez que o sacerdócio em Betei era estabelecido pela coroa e não estava atrelado

à linhagem tribal, como os levitas (1 Rs 12.32). É eviden­

te que, sendo assim, sua lealdade era para com o rei e

ele ficaria muito ofendido com qualquer crítica dirigida ao rei ou ao santuário em Betei. N esse templo "estatal"

o próprio rei participava das atividades rituais.7.14. pastor. Nenhuma aldeia na região montanhosa

central de Judá podia manter-se apenas com uma ati­

vidade econômica. Toda fam ília tinha pequenos cam­

pos de trigo e cevada, além de um a pequena vinha, algumas figueiras e oliveiras em sua terra. Desse m o­

do, podiam esperar que pelo m enos algum de seus

investimentos agrícolas trouxesse alguma compensa­ção. De m aneira sem elhante, algum as ovelhas, ca­

bras e gado davam um a certa segurança econômica.

Era simples m anter esses animais pastando nas encos­

tas das colinas, acom panhados por um jovenzinho (ver a ocupação de Davi, em 1 Sm 16.11). U m paralelo

m esopotâmico dessa prática encontra-se na palavra acadiana naqiãu, um termo usado para o criador de

gado, ovelhas e cabras.7.14. colheita de figos silvestres. O figo silvestre (Ficus

sycomorus L.) originou-se no centro-leste da África e espalhou-se para o Egito e o Oriente Próximo durante

a Idade do Ferro. Essas árvores são capazes de produ­

zir até seis vezes ao ano. Visto que seu fruto é inferior ao figo comum (Ficus carica L.), é consumido princi­

palmente pelos pobres. Pom ares de tamareiras levam

vinte anos para atingir seu potencial produtivo com­pleto. Elas exigem m uita atenção porque precisam ser

polinizadas m anualm ente. Já em relação à figueira

silvestre, seus frutos precisam receber talhos ou furos

para estimular o aumento do gás etileno que acelera o

processo de amadurecimento. A faca usada para ta­

lhar o fruto é ilustrada em pinturas de túmulos egíp­cios em Tebas.

8 .1 -1 4A visão de um cesto de frutas maduras8.5. conflito entre questões econôm icas e religiosas.Como N eemias descobriu diversos séculos mais tarde

na Jerusalém do período persa, o desejo de mercado­res em fazer negócios às vezes transform ava a lei

religiosa e as regulamentações acerca do sábado em m otivos de queixa e até m esm o de burla (ver o co­

m entário em N e 10.31). H avia festas religiosas nas culturas vizinhas (ver o comentário em Êx 20.8-11),

mas apenas Israel recebera a ordem de obedecer à lei

do sábado e interrom per todo o trabalho nesse dia (ver o comentário em Ex 31.12-17). Essa restrição no

comércio causava atritos e aparentemente contribuía para práticas corruptas e desonestas nos negócios, como

um a form a de "com pensar" as perdas.

8.5. desonestidade no mercado. Certamente, a quei­

xa de Amós contra os mercadores israelitas não era

exclusiva. P or exemplo, a acusação contra balanças

adulteradas encontra-se também no texto egípcio Ins­trução de Amenemope e em um a cláusula da literatura

sapiencial babilónica. Igualmente, o Código de Hamu-

rabi contém um a afirmação a respeito de banqueiros

que "u sam um a balança leve para m edir os cereais ou

a prata que vendem e outra pesada, para m edir os

cereais ou a prata que recebem ".

8.6. vendendo palha com trigo. Em seus esforços para

conseguir o máximo de lucro possível, comerciantes

gananciosos enganavam os pobres vendendo a "cas­ca" do trigo m isturada com os grãos. U m a acusação

semelhante é feita no texto egípcio Lenda do Camponês

Eloqüente contra aqueles que "substituem bons pro­

dutos por outros inferiores". A palavra traduzida como

"palha" ocorre apenas aqui, mas está relacionada ao verbo "ca ir" e reflete o que é de péssim a qualidade

ou o que é refugado.

8.8. levantando-se como o N ilo. O rio Nilo passa por

um ciclo de três meses de cheia (de agosto a outubro).

O aumento no volume de suas águas é resultado das chuvas de monção na Etiópia que elevam o nível do Nilo e de seus tributários. Embora o nível da enchen­te seja irregular, cedo em sua história os egípcios apren­deram a fazer uso eficiente dele através de canais de

irrigação e outros recursos.

8.9. o S o l se pôr ao m eio-dia. Visto que um eclipse

lunar ou solar era considerado um presságio maligno

ou um sinal da ira dos deuses no antigo Oriente Pró­xim o, há m uitas citações na literatura. D entre elas

encontra-se a predição do profeta Balaão, na inscrição de D eir 'Alla, de que a assembléia divina havia deci­

dido "trazer trevas em vez de luz". Os sacerdotes do deus-lua Sin, na Babilônia, vestiam roupas rasgadas e

cantavam cantos fúnebres durante um eclipse. Tam­

bém há inúm eras cartas e textos de presságios em registros babilónicos e assírios que fazem menção a

eclipses. Muitos foram escritos a reis, alertando-os de um eclipse im inente ou assegurando o m onarca de

que seria mantido informado a respeito de ocorrênci­as prováveis. Para exemplos bíblicos, ver Joel 3.15 e

Zacarias 14.6.

8.10. práticas de luto. Ver os comentários em Gênesis

37.34, 35, Levítico 19.28 e Deuteronômio 14.1, 2.8.12. de um m ar a outro. Em sua busca errante por

água durante a seca, o povo a buscaria de uma extre­

m idade a outra do reinado. De "u m m ar a outro" é um a expressão para distinguir o leste do oeste (desde

o Mediterrâneo, no oeste, até o m ar Morto ou rio Jordão)

usada com certa freqüência pelos escritores bíblicos (ver SI 72.8; Zc 9.10). Uma_expressão semelhante ocorre

na inscrição Karatepe do rei aram eu Azitawada: "d o

nascente ao poente" (ver Is 45.6) para referir-se a leste

e oeste ou a um sentido de universalidade. Visto que

aqui é combinado com a expressão "d o Norte ao Ori­ente", é possível que defina a fronteira latitudinal do

reino do norte.8.12. do N orte ao O riente. A fronteira sul já foi deli­

m itada na frase anterior e a fronteira oeste é óbvia. De

Betei ainda era possível vagar em busca de água até a região da Galiléia, ao norte, dirigindo-se a lugares como Samaria ou Dã, e a até o leste, até Bete-Shan ou

o território transjordânico de Gileade.

8.14. vergonha/Asima. Em bora a incerteza a respeito

dessa palavra tenha levado a ser traduzida por "ver­

gonha", parece mais provável que seja uma referên­cia ao deus sírio Asim a (nota da NVI). O título dessa

divindade vem do termo aramaico para "o nom e" e

portanto é um a taquigrafia para qualquer núm ero

dos deuses e deusas sem itas (Baal, A nat, A starte).

Embora a introdução oficial do culto a Asim a só tenha

ocorrido a partir de 722, isso não elimina a possibili­dade de que esse deus fosse adorado na Sam aria antes

dessa data. Evidências m ais recentes da adoração a

Asima encontram-se nas cartas de Elefantina.8.14. deus de D ã. V isto que Jeroboão I instituíra a

adoração a Yahw eh em Dã, criando ali um santuário

real (1 Rs 12.28-30), é apropriado que Amós se refira

ao deus de D ã. P rovavelm ente ele tam bém esteja referin d o-se ao bezerro de ouro colocad o ali por

Jeroboão como um símbolo de Yahw eh e como substi­tuto da arca da aliança. Dã continuou a ter significado

cultual por muitos séculos. Evidência disso encontra-

se em uma inscrição bilíngüe (grego e aramaico) do final do terceiro século que continha a frase "ao deus

de D ã".

8.14. deus de Berseba. Amós completa sua condena­

ção contra as p ráticas de adoração fa lsa en tre os

israelitas fazendo referência ao "d eu s de Berseba". "D e Dã a Berseba" era um a expressão comum para

toda a extensão da terra (Jz 20.1; 1 Sm 3.20) e Amós a

usa p ara d em on strar a abran gência da apostasia israelita (ver A m 5.5).

9.1-15 A destruição e a restauração de Israel9.1. topo das colunas. A fim de descrever a amplitu­de da destruição vindoura, Amós novamente em pre­

ga um recurso literário que apresenta uma imagem

polarizada, desde o topo até a base do santuário de

Betei, a capital que decorava desde o topo das colunas

até os umbrais (ver Sf 2.14). É possível comparar esse

trem or de terra com a narrativa do chamado de Isaías (Is 6.4), m as ali é apenas um reflexo da presença m a­

jestosa de Deus. Exemplos do antigo Oriente Próximo

de destruição semelhante mencionam paredes, portas

e umbrais sendo despedaçados ou demolidos (inclu­sive no Épico de Gilgamés e na inscrição de Tukulti- Ninurta I).

9.2. contraste profundezas/céus. Amós emprega essa

im agem que contrasta as distâncias cósmicas entre os

céus e as p rofu nd ezas do Sheol (ver SI 139.8). A

vanglória de M ot no texto ugarítico Hino a Baal e Anat também apresenta esse contraste entre os poderes do

mundo inferior ou da m orte e aqueles do céu e da

vida. No m undo antigo, os céus e o m undo inferior

não eram considerados lugares "espirituais" fora do cosmos. Ao contrário, representavam as extrem ida­

des do cosmos.

9.3. top o do C arm elo. Com o parte dessa série de

expressões alertando os israelitas de que não poderi­am esconder-se da ira de Deus, Amós usa a imagem

do ponto mais elevado no território israelita. O monte Carmelo fica 550 metros acima do nível do m ar e tem

um a presença imponente, com densas florestas e m ui­

tas cavernas que alguns poderiam considerar exce­

lentes esconderijos (ver o comentário em Am 1.2).9.3. serpente no fu nd o do m ar. D esde o topo das

montanhas até o fundo do oceano, não haveria lugar para se esconder. A té m esm o nessas profundezas,

Deus poderia ordenar à serpente do m ar que obede­cesse ao seu com ando (com pare com Jn 1.17). Os

israelitas conheciam bem a tradição de Yahw eh domi­

nando as grandes criaturas do m ar (ver o comentário

em SI 74.14 e 104.26). Em bates sem elhantes podem

ser vistos no épico babilónico da criação, Enuma Elidi,

e no hino egípcio ao deus-sol, Rá, que deve expulsar

repetidas vezes o dragão Apófis a fim de terminar seu

circuito pelos céus. Para m ais informações, ver os co­

m entários em Gênesis 1.20, Êxodo 7.1 e Isaías 27.1.

9.6. tem plo cósm ico. A tentativa de Amós em expres­

sar o controle total de Deus sobre toda a criação come­

ça com a descrição de um santuário ou palácio nos

céus repleto de câm aras (com pare com SI 78.69; Is

66.1). Essas "câm aras altas" ligam os aposentos dos

céus e ao m esm o tempo descansam sobre as águas

(ver SI 104.3). U m precedente para essas câmaras ele­

vadas encontra-se no Enuma Elish. Contém uma des­

crição da construção do templo de Esagila a Marduque,

na Babilônia, em que os deuses "edificaram uma tor­

re tão alta quanto A psu (águas sobre os céus)". Na

visão bíblica e do antigo Oriente Próximo, o cosmos

era um templo e o templo era um microcosmos.

9.7. etíopes (cuxitas). Ver o comentário em Números

12.1 para uma descrição desse povo da antiga Núbia,

atual Sudão, ao sul do Egito.

9.7. filisteu s de Caftor. A respeito da relação entre os

filisteu s e C aftor (Creta), ver o com entário em Je re ­

mias 47.4. Ezequiel 25.16 os conecta a outro grupo dos

Povos M arítim os, os queretitas. Ver o comentário em

D eu tero n ô m io 2 .23 acerca de su a re lação com os

aveus. O profeta usa o tem a da universalidade para

mostrar a preocupação de Deus com todas as nações e

povos. O s filisteus e aram eus, assim com o os israe­

litas, haviam sido levados à Palestina, m as a aliança

entre Israel e Yahw eh exigia que estes fossem puni­

dos como exemplo.

9.7. arameus de Quir. Amós refere-se a Quir como a

terra natal das tribos dos aram eus, m as 2 Reis 16.9

fala de Quir como o lugar onde os assírios conquista­

dores exilaram os arameus, após o rei Rezim ter sido

executado. Isaías 22.6 parece apoiar esta última refe­

rência, vista que fala de Quir em relação a Elão, sul e

leste do rio Tigre. Registros assírios do reinado de

Tiglate-Pileser I (1115-1107) falam da migração dessas

tribos na Assíria durante o século doze. O que Amós

pode estar fazendo aqui e em 1.5 é m ostrar que, assim

como os arameus haviam sido enviados de volta ao

seu local de origem, Deus poderia facilmente expul­

sar os israelitas da terra de Canaã.

9.9. trigo num a peneira. O trabalho de processamento

dos cereais colhidos incluía a debulha na eira, a sele­

ção dos grãos (ver Jr 4.11) e finalmente o uso de uma

peneira para limpar o cereal, tirando pedriscos e ou­tros refugos. A peneira mencionada aqui (kebarah) ti­

nha orifícios grandes e funcionava m elhor quando

agitada para os lados em um movimento circular, o

que forçava o refugo a perm anecer nas laterais da peneira, enquanto os grãos caíam no chão de onde

podiam ser recolhidos (ver Eclesiástico 27.4). A NVI mantém a tradução do termo seror como "grão", quando

de fato deveria ser "p e d ra " , p ara refletir o que a peneira de fato fazia.

9.12. rem anescente de Edom. Amós emprega o termo

"rem anescente" em dois outros contextos (1.8, para os filisteus e 5.15 para José). Nesse caso, ele pode estar se

referindo a uma parte do terrritório de Edom e não a todo ele. O rei Uzias capturara o porto edomita em

Elate (2 Rs 14.22), que foi novamente perdido no rei­

no de Acaz (2 Rs 16.6), tomado pelos sírios e edomitas. Na restauração eventual do reinado davídico, é pos­

sível que A m ós tivesse em m ente essa im portante cidade portuária.

O B A D I A S

w1. Edom. O principal tema do Livro de Obadias é a

acusação de Edom por seus crimes contra Judá. Essa nação, localizada ao sul e leste do m ar Morto, tinha

um a tradição m ista entre os israelitas. Assim como Jacó e Esaú, os tradicionais fundadores dessas duas nações, tinham um a relação am bivalente, tam bém

Edom às vezes é visto como um amigo e aliado (Dt2.2-6; 2 Rs 3.9) e em outras ocasiões como um terrível

inimigo (Nm 20.14-21; Am 1.11-15). Durante o perío­do do Império Neo-Assírio e do Império Neo-Babilônico (734-586), Edom foi um Estado vassalo. É bastante

provável que a queixa de Obadias contra Edom esteja relacionada à participação desta nação na destruição de Jerusalém e no exílio dos israelitas por Nabuco-

donosor, rei da Babilônia, em 587-586 a .C , mas os registros não são claros a respeito do papel específico

que Edom teve nesses eventos.I . m ensageiro enviado às nações. Quando as nações iam à guerra no antigo Oriente Próximo, era necessá­rio convocar parceiros e estados vassalos para que

enviassem tropas e suprimentos em um esforço con­

junto. Os mensageir-os eram enviados para chamá-los a honrar o compromisso que haviam firmado no trata­do e recrutar o número especificado de soldados (1 Sm

I I .3 ,4 e pacto recíproco de defesa presente no tratado entre o faraó Ramsés II e o rei hitita Hattusilis III). Os textos de M ari até m esm o descrevem a prática de

enviar embaixadores ao templo de um deus para in­formar a divindade acerca da situação militar e invo­car sua ajuda no conflito iminente.

3. top og rafia de Edom . A região de Edom é um a terra montanhosa, dominada por desfiladeiros que se estendem desde o rio Zered, ao sul, até Acaba. A área

é repleta de montanhas que atingem até 1700 metros acima do nível do mar, rochedos íngremes, cavernas e penhascos onde os exércitos podiam se esconder. Um a série de cidades edomitas ficava localizada nes­ses lugares quase inacessíveis, tais como Bozra e o

pico rochoso conhecido como Umm el-Biyara, em Petra, que alguns identificam como Sela.5. significado das uvas. Edom era conhecido por seus excelentes vinhedos nas encostas das montanhas. A destruição do país é comparada à ação dupla de la­

drões e respigadores. O que os ladrões ou ceifeiros deixassem, os respigadores levariam. Som ente o fruto podre ou esmagado seria deixado no chão.

6. relação entre Esaú e Edom. O uso do nome Esaú

em vez de Edom baseia-se na compreensão de que Esaú era o ancestral dessa nação, conforme Gênesis36.31-39 (ver M l 1 .2 ,3 ). Ali, encontramos uma lista de oito reis que governaram em Edom antes do estabele­

cimento da monarquia israelita.6. tesouros ocultos. Essa expressão é a única ocorrên­

cia no Antigo Testamento e não pode ser adequada­mente traduzida devido à sua forma rara e à ausência

de outros usos que ajudem a determinar o contexto. Palavras semelhantes em Isaías 45.3 e Jeremias 49.10

dão a base para a tradução vigente. O uso da expres­são no texto serve para dar idéia da dim ensão dos espólios praticados em Edom. Tesouros escondidos de

fato existiam no m undo antigo e isso era especial­mente apropriado em relação a Edom, onde, devido

ao relevo, cidades inteiras podiam ser mantidas em segredo.

7. brechas no protocolo internacional. Os tratados entre as nações, tais como aquele entre o Egito e o Império Hitita (Ramsés II e Hattusilis III) ou os Trata­

dos de Vassalos do sétimo século a.C. do rei assírio Esar-H adom , funcionavam com o pactos de defesa

mútua e exigiam que os signatários fornecessem ar­mas, informações e reciprocidade legal. Edom é víti­

ma aqui de um completo descumprimento desses acor­dos: refugiados são empurrados para suas próprias fronteiras sem trégua; cláusulas de não-agressão por parceiros da aliança são violadas e costumes de hospi­talidad e, em que com partilhar um a refeição era a

base de acordos de paz (visto em SI 41.9 e expressões nos textos de M ari e de El A m arna referindo-se a refeições comunais de pacto), são totalmente ignora­dos. O rompimento de acordos quando conveniente ou benéfico para um a das partes também é bem con­

firm ado no m undo antigo. Os exem plos incluem a incapacidade do Egito de fornecer tropas necessárias

para os reis cananeus durante o período Amarna e o rei babilônio, Nabonido, rompendo seu tratado com os medos a fim de firm ar outro com os persas, que ele

considerava uma ameaça maior.8. fam a que Edom tinha de sabedoria. A tradição da sabedoria edom ita pode ser de certa form a subs­

tanciada pela associação dessa nação com Jó (de Uz, que alguns estudiosos consideram estar situada em Edom) e com o amigo de Jó, Elifaz, o temanita. Locali­

zado na borda do deserto árabe, ao norte, e benefi­

ciando-se do comércio das caravanas e de jazidas de cobre, é possível que Edom tenha se tom ado conheci­

do por sua argúcia nos negócios e esperteza diplomá­tica (ver a afirmação paralela em Jr 49.7).

9. Tem ã. Existe certa dificuldade em apontar a locali­zação exata do território tribal de Temã. Alguns eru­

ditos a vinculam a Bozra, identificada como a capital,

após o oitavo século a.C., e situam Tem ã na região norte de Edom. O utros estudiosos, porém, usando

referências de Eusébio, historiador do quarto século d.C., localizam Tem ã na parte sul de Edom e a vincu­lam ao antigo rei Husã (Gn 36.34). A s inscrições de

Kuntillet 'A jrud tam bém citam "Yahw eh de Tem ã" e

sugerem um a localização ao sul para essa região. Nesta passagem, é sinônimo da nação de Edom.

10. violenta m atança contra Jacó. A menção ao rela­cionamento fraternal entre Edom /Esaú e Jacó/Judá é

comum em Obadias (ver o comentário no v. 6) e por­

tanto não deve denotar um acordo de tratado. Esse

dado tom a ainda m ais chocante e vergonhoso a vio­lência praticada contra um vizinho com quem Edom

tinha laços tradicionais de parentesco. A palavra usa­

da aqui para a expressão "violenta m atança" tem di­versos significados, desde assassinato e estupro até

impiedade e derramamento de sangue. Neste contex­to funciona como um "term o chocante" para enfatizar

o grau da violência praticada e para justificar o castigo

a ser aplicado a Edom. Os anais neo-assírios fazem

afirmações semelhantes expressando raiva e espanto quando um aliado se rebela e descumpre os termos

do acordo, tom ando-se necessária a represália militar.11 . lançaram sortes sobre Jeru salém . A prática de

lançar sortes na Babilônia e na Assíria, como parte do

processo de adivinhação, é descrita no comentário acer­

ca do Urim e do Tumim, em Êxodo 28.30. A ganância

e a cobiça com que os invasores olharam para Jerusa­

lém sugere que esperavam obter grandes riquezas e saques valiosos como resultado da destruição da cida­

de (ver Is 17.14). Geralmente os exércitos estabeleci­

am critérios para a divisão dos despojos (podem ser

vistos nas punições descritas nos textos de Mari, im ­

postas a oficiais que não repartiam com os soldados as

riquezas obtidas nos saques). Lançar sortes pode ter sido um método de distribuição de bens e escravos, visto que implicava a intervenção divina.16. beb er no santo m onte. Edom inicialm ente bebeu para celebrar a queda de Jerusalém e de seus aliados. No final, porém, seria Edom , juntam ente com as na­ções que participaram da destruição de Jerusalém, que seriam forçados a beber perpetuam ente do "cálice da ira" de Yahw eh (ver SI 75.8; Is 51.17; Jr 25 .15 ,16 ).19. m udanças territoriais. O que se visualiza aqui é a retribuição contra os inimigos de Israel e a reivindica­ção da posse de todos os territórios que tradicional­m ente pertenciam a Israel. Portanto, o Neguebe, sinô­nim o da área ao redor de Berseba e a parte baixa do m ar Morto, se apropriaria do território de Edom. A Sefelá, um a faixa estreita de terra entre a planície costeira e a região m ontanhosa, se estenderia até as cidades-estado filistéias. Efraim e Sam aria, a região conquistada pelos assírios em 721, seria apossada pelo povo de Judá. E, por último, Gileade, na Transjordânia (estendendo-se desde a baixa Galiléia até o rio Amom) seria novamente dominada por Benjamim (o territó­rio tribal entre Betei e Jerusalém).20. Sarepta. Localizada na estrada costeira entre Tiro e Sidom, n a Fenícia, Sarepta é descrita como a frontei­ra norte restaurada de Israel. Um centro com ercial especializado no processamento de corante púrpura e na manufatura de cerâmicas, essa cidade é menciona­da nos registros egípcios do século treze e é incluída na lista de cidades que se renderam ao rei assírio Senaqueribe em 701 (ver 1 Rs 17.9).20. Sefarade. As possíveis localizações dessa cidade vão desde a Espanha até o oeste da M édia. Essas identificações têm como base nomes e algumas evi­dências textuais do período neo-assírio. Entretanto, o local mais provável para Sefarade é Sardes, na Ásia Menor, a capital lídia durante o período persa. Uma inscrição bilíngüe encontrada ali cita a cidade em aram aico com as m esm as consoantes que o nom e hebraico, como é citado em Obadias. Esse seria um local bastante distante para os exilados de Jerusalém, mas o texto deixa im plícito que até m esm o os que estavam m ais longe voltariam para reivindicar uma parte da terra.

J O N A S

1.1-17 A fuga de Jonas1.1. cronologia. Jonas é mencionado em 2 Reis 14.25 como profeta na época de Jeroboão II, que reinou na

primeira metade do oitavo século a .C (ver os comen­tários em 2 Rs 14).1.2. N ínive. Nínive é a atual Tell Kuyunjik, localiza­da às margens do rio Tigre, rio acima a cerca de 960

quilômetros do golfo Pérsico, no norte do Iraque. No oitavo século, N ínive ainda não adentrara em seu

período de glória. No início do sétimo século Sena- queribe transform ou esse antigo centro cultual da

deusa Istar na capital e a em belezou, am pliando-a para quase duzentos acres. Os arqueólogos escavaram

com êxito o fam oso "p a lácio sem riv a l" de Sena- queribe, com seus relevos de parede ilustrando o cer­

co de Senaqueribe a Láquis, em Judá. O templo de Istar, m antido por reis desde 2400 a.C., tam bém foi identificado. Na época de Jonas, Nínive era uma das principais áreas metropolitanas na Assíria, com uma

circunferência de quase 5 quilômetros.

1.2. A ssíria e Israel na prim eira m etade do oitavo século. A Assíria representara um a ameaça significa­tiva para Israel no nono século. Israel fizera parte da

coalizão ocidental que se opunha às tentativas de Salm aneser III de expandir seu império até a região m editerrânea (ver o com entário em 1 R s 22.1). Em

841, o rei israelita Jeú submeteu-se ao controle assírio e pagou tributo (ver o comentário em 2 Rs 10.34). Nas décadas seguintes, porém, a Assíria havia enfraque­

cido consideravelm ente e, na época de Jeroboão II, m u itas d écad as h av iam se p assad o sem qu e os israelitas sofressem oposição da Assíria.

1.3. Társis. Társis era o ponto geográfico conhecido mais remoto. Em bora sua localização exata seja desco­nhecida, a maioria dos estudiosos acredita que ficava no sul da Espanha, em bora outros argum entem a favor de Cartago, no norte da Africa. Podem os ter

certeza de que era um porto no oeste do Mediterrâ­neo, conhecido por seu comércio de exportações.1.3. Jope. Jope ficava localizada bem ao sul da atual Tel Aviv, no Mediterrâneo. Essa cidade portuária é mencionada em textos egípcios e fenícios e também

em textos de Canaã (tabletes de Am am a). Durante a monarquia, com freqüência esteve sob o controle da cidade filistéia de Ascalom.

1.3. n avio . Os navios m ercantis eram de diversos

tamanhos e a velocidade variava de dois a quatro nós. Nos dias de Salomão, os navios que iam a Társis só voltavam dentro de três anos. Um navio deste tama­

nho teria um a tripulação de mais ou menos dez pesso­as. A carga geralm ente consistia de cereais, vinho e azeite de oliva.1.3. passagem . A partir da linguagem u sad a aqui

m uitos estudiosos concluíram que o valor pago por

Jonas perm itiu que se alugasse o navio inteiro para seu uso. Se isso aconteceu de fato ou não, o valor da

"passagem " teria sido bastante substancial.

1.5. cada um clamava ao seu próprio deus. As divin­dades padroeiras raramente eram divindades cósmi­

cas, por isso, os marinheiros não teriam pensado que seus deuses particulares ou ancestrais teriam enviado

a tempestade. No contexto politeísta do mundo anti­go, era possível identificar um a atividade divina com

certa segurança, mas descobrir que deus estava agin­do e por que, já era um a outra questão. Os m arinhei­ros clamaram a seus deuses na esperança de que um

deles fosse capaz de exercer algum a influência em qualquer divindade que fora incomodada a ponto de

enviar aquela tempestade. Eles estavam pedindo aju­

da, não pedindo perdão ou demonstrando arrependi­mento. Quanto mais pessoas tentassem invocar seus respectivos deuses, melhor, por isso o capitão do na­vio acordou Jonas a fim de que ele também pudesse invocar sua divindade padroeira.1.7-10. lançar sortes. Em bora a prática de lançar sortes

às vezes fosse usada para perm itir que a divindade se comunicasse, em muitas situações, era considerada mais semelhante a jogar um a moeda para cima ou a "tirar um palitinho". Como resultado, as sortes não foram lançadas para determinar quem era o culpado, mas para decidir quem seria o primeiro a dar infor­

mações a respeito de si mesmo, que pudessem envol­ver alguma ofensa contra os deuses. É compreensível que ninguém estivesse ansioso por ser o prim eiro. Para que as sortes fossem lançadas, cada indivíduo

entregava algo que lhe identificasse. O s pequenos iten s eram co locad os em um recip ien te , que era chacoalhado até que um dos objetos saísse.

1.9. d ivindade cósm ica. A resposta de Jonas à per­gunta dos hom ens identifica apenas sua associação étnica (hebreu) e o Deus a quem servia. Mais impor­

tante é sua descrição do Senhor como uma divindade cósmica, criadora - exatamente o tipo de Deus capaz de enviar uma tempestade como aquela.1.10. e le já lh e s tin h a dito. Ele já contara àqueles hom ens anteriorm ente que estava fugindo de seu Deus, m as aquilo não lhes dizia respeito - era proble­m a de Jonas e provavelm ente um a atitude não tão rara assim. Seu terror agora aum enta à m edida que percebem que Jonas está fugindo de um a divindade cósmica que colocara a todos em perigo, vulneráveis à ira do Deus de Jonas.1.11-16. o que devemos fazer com você? A pergunta seguinte dos m arinheiros está relacionada ao apazi­guamento da divindade enfurecida. N a m aneira de pensar religiosa do m undo antigo, as pessoas rara­mente pensavam em termos de arrependimento, por­que as m otivações dos deuses não eram facilm ente entendidas. V isto que os deuses não eram m orais, tampouco coerentes, sua ira podia ser completamente excêntrica e fruto de capricho e seus atos de castigo, arbitrários ou infantis. Portanto, os adoradores busca­vam apaziguar a ida dos deuses. Deuses diferentes eram apaziguados de formas diferentes, por isso Jonas foi consultado.

1.12. joguem -m e ao mar. Os homens estavam relu­tantes em seguir o conselho de Jonas porque acre­ditavam que as divindades protegiam a vida de seus adoradores. Provocar a m orte de Jonas, lançando-o ao mar, poderia expô-los à vingança do Deus de Jonas.1.16. oferecendo-lhe sacrifício. Quando o m ar se acal­mou, os homens adoraram a Yahweh. É provável que o sacrifício tenha sido uma oferta de cereais, provavel­m ente não queim ada (uma vez que o navio era de madeira), m as talvez lançada ao mar. Outra possibili­dade (visto que toda sua carga fora atirada ao m ar), é que o texto pode estar se referindo a um sacrifício feito em seu retom o à terra seca (não havia m ais motivo para continuarem a viagem até Társis).1.16. fazend o-lhe votos. Os votos no Antigo Testa­mento e no m undo antigo geralmente estavam relaci­onados a sacrifícios. Por exemplo, os marinheiros po­dem ter feito o voto de, todo ano, no aniversário da­quele evento, oferecer a Yahw eh um sacrifício m e­

morial de algum tipo. Os votos eram o reconhecimen­to de que os marinheiros haviam experimentado um ato do poder divino. O texto não sugere de form a alguma que aqueles homens teriam abandonado seus respectivos deuses e aceitado a fé m onoteísta em Yahweh. Reconhecer o poder de um deus não excluía a adoração a outros.

1.17. grande peixe. Jonas foi engolido por um animal descrito no texto como um "grande peixe" - provavel­m ente a descrição m ais geral que poderia ser ofereci­

da. Não há nada que defina a questão se era tecnica­

mente um peixe ou um mamífero, porque o hebraico usa esse term o para qualquer criatura m arinha. A

identificação da espécie, portanto, é um a tarefa im ­possível. Embora estudos possam ser feitos quanto ao

tamanho dos esôfagos das diversas espécies que regu­

larm ente vivem no M editerrâneo, a insistência do texto em m ostrar o envolvim ento direto do Senhor

sugere que não se deve esperar que esse fosse um peixe comum ou normal. Nas crenças do mundo anti­

go, grandes criaturas marinhas representavam as for­

ças do caos que eram dominadas pela divindade cria­dora no ato da criação. Aqui, como sempre, Yahw eh é

retratado no controle total das criaturas marinhas -

esse "p e ix e" está sim plesm ente obedecendo a um a ordem sua.

2 .1-10 A oração de Jonas2.1-6. a oração de Jonas. Essa oração talvez fosse um

hino bem conhecido ou um trecho adaptado de algum m aterial conhecido. O peixe não é m encionado e a

ameaça das águas era um a metáfora comum em tex­

tos de hinos. O m ar era considerado o reino amea­

çador do caos, e a morte era tudo que alguém poderia

esperar dele. Por mais intimidante que o peixe fosse,

Jonas interpretou sua aparição como uma libertação enviada por Deus.

2.7-10. o relacionam ento de Jonas com D eus. A pre­

sença de Deus estava no templo, por isso, a oração de

Jonas o alcança ali. Embora Jonas estivesse consciente de sua desobediência, ele ainda se considerava fiel ao

Senhor. Ele não abandonara Yahweh, passando a ado­

rar a ídolos.

2.9. o voto de Jonas. A oração não especifica que voto Jonas fez, m as a maioria dos votos no mundo antigo

estavam relacionados a rituais a serem feitos em hon­

ra à divindade. Levítico fala de ofertas de votos na

descrição de diversos sacrifícios (ver os comentários

em Lv 3.1-5 e 27.2-13). Não sendo especificado o tipo de voto, é provável que Jonas cumpriria seu voto com

um sacrifício de ação de graças. Não há indícios de

que ele fizera o voto de obedecer à ordem de Deus,

indo voluntariamente a Nínive. Em um hino a Shamás,

o deus-sol é identificado como aquele que salva aque­

les que são cercados pelas ondas poderosas e em troca

aceita libações.

3.1-10 Jonas e os Ninivitas3.1-4. fo i para N ínive. A viagem de Jope até Nínive

(onde se supõe que o peixe tenha deixado Jonas) era

de cerca de 880 quilômetros. As caravanas geralmen­

te viajavam de 32 a 40 quilômetros por dia, fazendo

esse percurso em mais ou menos um mês.

3.3. cidade m uito grande. O tam anho de N ínive é expressado em term os do tem po que Jonas levaria

para cum prir sua missão. Ele não estava circulando os

muros, mas indo a todos os lugares públicos da cidade para proclam ar sua m ensagem . Seu itinerário teria

incluído muitas das doze áreas próximas às portas da

cidade, bem como diversas áreas do templo. Havia

certas horas do dia em que importantes anúncios po­

diam ser feitos.3.3. a m en sagem de Jo n as. A m ensagem de Jonas

é de castigo im inente, com o seria com um para um

p rofeta . N ão devem os confu n d ir o papel de um

p ro feta com o de um m issio n ário . O p ro feta no

m undo antigo tinha a tarefa de transm itir a m en­

sagem de D eus para um destinatário específico. O m issionário tem a tarefa de transm itir a m ensagem

de salvação de D eus, que é dirigida a todos. A m en­

sagem do profeta raram ente era agradável com o a do m issio n á rio . N a m en sag em de Jo n a s n ão há

indícios de um a cham ada ao arrependim ento ou de um a cham ad a p ara afastar-se dos falsos deuses.

N ão h avia instru ção quan to ao que D eus queria

deles, nem acusação de seus atos de m aldade. O

profeta no m undo antigo não transm itia um a teo­logia com p reen sível, ou que tiv esse o objetivo de

conv erter os ouvintes a um a visão re lig iosa esp e­

c ífica ; e le sim p lesm en te tran sm itia a m ensagem

de D eus.

3.4. profetas no antigo O riente Próxim o. A profecia era bem conhecida no m undo antigo, por isso, esse

tipo de situação não seria estranho aos assírios. Há um a série de referências a profetas assírios e a suas

m en sagen s em d ocu m en tos da ép o ca de A ssu r-

banípal, cerca de um século depois de Jonas. Os pro­

fetas atuavam como conselheiros oficiais e não-ofici- ais do rei. N as profecias preservadas da época de

Assurbanípal, as m ensagens são quase sem pre posi­

tivas, apoiando as ações, decisões e política do rei. Exem plos anteriores de M ari, no século dezoito a.C.,

com m ais freqüência, continham m ensagens negati­vas, m as ainda m ostram que os profetas dirigiam

suas m ensagens ao rei.3.5-10. acreditaram na profecia. Os ninivitas acredita­

ram que a m ensagem de Jonas era um a m ensagem vinda de um Deus que estava disposto a cum prir a

ameaça que fizera. Teriam chegado a essa conclusão comparando a mensagem de Jonas com a mensagem de presságios. O s presságios eram observações do

mundo natural que, acreditava-se, estavam relacio­

nadas ao que os deuses estavam fazendo na história. Um a das oportunidades m ais com uns de observar

presságios era examinando as entranhas de animais

sacrificados diariamente. Acreditava-se que, depen­dendo da configuração de órgãos como o fígado e os

rins, os presságios eram favoráveis ou desfavoráveis.

Outros presságios eram registrados a partir do com­portamento de animais, vôo de pássaros, movimento

de corpos celestes e m uitos outros fenômenos da natu­

reza. Se os presságios tivessem sido desfavoráveis

poucos dias ou semanas antes da proclamação de Jonas,

o povo teria prontamente aceitado sua mensagem como

verdadeira. Se as entranhas de animais oferecidos em sacrifício tivessem exibido um agouro de desgraça

iminente, a palavra de Jonas teria sido levada muito a

sério.3.5. recepção da p rofecia de um estrangeiro. Não

teria im portado que Jonas era um forasteiro repre­sentando outro país ou outra divindade. As crenças

politeístas do mundo antigo permitiam que centenas de deuses fossem considerados legítimos e qualquer

deles poderia trazer algum im pacto em suas vidas,

fosse ele maléfico ou benéfico. Delegações estrangei­

ras às vezes incluíam profetas em seu grupo a fim de saber se as principais divindades envolvidas aprova­

vam ou desaprovavam as negociações. Se as próprias

adivinhações dos ninivitas haviam apoiado a mensa­

gem de Jonas, eles não teriam razões para suspeitar

de traição ou embuste. O fato de Jonas ser um estran­

geiro teria servido como uma evidência da veracida­de de sua m ensagem , já que alguém viajaria toda aquela distância a não ser se fosse impelido pela di­

vind ad e? L em bre-se de que Jon as não ped iu aos

ninivitas que mudassem de religião, nem tentou des­

tronar seu deus nacional.3.5-10. reação. A reação dos ninivitas foi ao mesmo

tempo típica e atípica. Atípica no sentido de que há pouca evidência de jejum como prática religiosa en­

tre os assírios ou babilônios. H á exem plos de reis vestidos de pano de saco "com o apropriado a um pecador arrependido" (Esar-Hadom, Assurbanípal).

A abordagem normal seria tentar apaziguar a divin­dade através de certos rituais (sacrifícios, libações etc.)

ou de encantam entos a fim de evitar a ação da di­

vindade. Portanto, é provável que os ninivitas esti­vessem tentando uma abordagem israelita diante da

ira divina. O que é típico na reação deles é a tenta­tiva de apaziguar a divindade. Eles não tinham idéia

do que despertara a ira de Yahweh, mas um conhe­

cimento mínimo da religião israelita teria mostrado que Deus estava interessado na justiça e que o arre­

pendim ento envolvia je jum e vestir pano de saco,

atitudes que regularm ente acom panhavam o luto. Seus rituais (pano de saco e jejum) e suas mudanças

na esfera m oral e ética dem onstram que levaram

Jonas a sério, em bora não sejam evidências de con­

versão à religião israelita. O politeísm o da A ssíria não concebia a idéia de monoteísmo, pacto ou lei. A

única conversão conhecida nesse sistema era a alte­ração na posição que os deuses ocupavam no panteão.

Os ninivitas não se livraram de seus ídolos, nem de­monstraram qualquer inclinação para substituir seus

deuses pelo Yahw eh de Israel. Reconhecer o poder

de um deus não é o m esm o que aceitá-lo com o o

único deus verdadeiro.3.6. ele se levantou do trono. N a Assíria, quando um presságio ou profecia sugeria que o rei estava em perigo, era comum que um rei substituto fosse nome­ado. Esse indivíduo se assentava no trono real e pas­sava a usar as vestes reais. Enquanto isso, o rei parti­cipava de atos de purificação. Com freqüência, após um determinado tempo, o rei substituto seria morto. Esperava-se com isso que o perigo fosse afastado para longe do rei. Nesse texto, não há menção de um subs­tituto, m as as ações do rei podem refletir que esse procedimento estava sendo usado.3.8. an im ais cobertos de pan o de saco. V estir até m esm o os anim ais de pano de saco (m aterial rústico feito de pêlo de bode) expressa ainda m ais a falta

de entendim ento dos n inivitas em relação ao Deus de Israel. Em sua m aneira de pensar, os anim ais tam bém pod eriam ter ofend id o a div ind ade, por isso, tinham de ser incluídos no ritual de apazigua­m ento.

4.1-11 A ira de Jonas4.1-14. a ira de Jonas. Jonas está irado pelo fato de Deus ter cedido tão rapidamente às táticas pagãs de apaziguamento. Ele está envergonhado e teologica­m ente escandalizado por Yahw eh ter oferecido sua com paixão tão prontam ente, visto que isso poderia sugerir que Yahw eh podia ser comprado. Os nini­vitas não o veriam de forma diferente de como enca­ravam seus próprios deuses.4.5-9. p lanta e lagarta. A planta que deu som bra a Jonas é descrita com um termo genérico geralmente associada à fam ília das cabaças ou abóboras. Assim como em relação ao peixe, a terminologia não permite uma identificação mais específica. O inseto que des­truiu a planta provavelmente era algum tipo de afídio

(pulgão).4.8. vento oriental m uito quente. O vento oriental aqui não seria um hamsin (siroco) porque o sol não seria um fator relevante. O vento oriental era um problem a na Palestina, devido ao deserto situado a leste, m as para N ínive, um vento oriental poderia resultar em chuva. Aqui se trata de um tipo particular de vento oriental (NVI: "m uito quente"), mas essa palavra é usada apenas aqui, por isso é difícil enten­der seu significado preciso.4.11. população de N ínive. Eruditos assírios estima­ram a população de Nínive (cidade e zona rural) quan­do era a capital do império em cerca de trezentas mil pessoas, logo as cento e vinte m il pessoas citadas aqui em um período anterior não seriam um número im­provável.

M I Q U É I A S

1 .1-16 O julgamento de Samaria e de Jerusalém1.1. M oresete. Localizado aproximadamente dez qui­

lôm etros a nordeste de Láquis, na Sefelá, M oresete (Tell el-Judeideh, cerca de 32 quilômetros a sudoeste de Jerusalém) seria um dos subúrbios da cidade filistéia

de Gate (Tell es-Safi). Após o estabelecimento do rei­nado de Davi, serviu, juntam ente com Láquis, Adulão e M aressa, como uma fortificação (2 Cr 11.8). Todas

essas localidades, juntam ente com "incontáveis" al­d eias, foram d estru íd as p elo exérc ito assírio de Senaqueribe, em 701 a.C..

1.1. cronologia. Visto que a introdução do Livro apre­senta os nomes dos reis de Judá que reinaram durante

o ministério de Miquéias como profeta, podemos da­tar esse m aterial da última metade do oitavo século. O

prim eiro oráculo de M iquéias (1.2-7), que fala de Samaria, a capital de Israel (o reino do norte), seria

datado de pouco antes da destruição dessa cidade pe­los assírios, em 722 a.C..

1.3. pisa os lugares altos da terra. O sentido de m ajes­tade inerente a um a teofania é m agnificado aqui pela

descrição de Yahw eh "sain d o" de sua "habitação". O poder implícito de "pisar" é usado com freqüência para referir-se a inim igos derrotados (Dt 33.29; SI 108.13).

Entretanto, neste caso, a im agem é de D eus dem ons­trando seu controle sobre a criação, usando os montes da terra como degraus (Am 4.13). Um a imagem seme­lhante descrevendo os m ovim entos rápidos dos men­

sageiros divinos, como montanhas que saltam, apare­ce no texto ugarítico Épico de Baal e Anate. As cidades ge­ralmente eram construídas sobre colinas ou montes por

servirem como defesas naturais e os exércitos escolhi­am m ontes com o pontos estratégicos de controle. A metáfora de pisar nos lugares altos da terra, portanto, tam bém fala de vitória e segurança.1.5. Sam aria. Foi Onri quem construiu Sam aria e a instituiu como capital do reino do norte, Israel, no início do nono século. Cerca de vinte quilômetros a oeste de Tirza, a antiga capital, Samaria se localizava em um im portante entroncam ento de estradas que

perm itia fácil acesso ao vale de Jezreel, no norte, a Siquém, no sudeste e à costa, no oeste. Ficava perto de duas importantes rotas que seguiam de norte a sul, a oeste do Jordão. As escavações no local desenterraram o que se acredita seja o palácio de Onri, na acrópole,

bem como partes do m uro que separava a acrópole da cidade baixa. O muro tinha cerca de um metro e meio

de espessura e foi construído com a melhor alvenaria da época (pedras de ashlar, colocadas em um). Acabe

m elhorou essas fortificações acrescentando um muro com casamata de m ais de nove metros de espessura.1.6. a queda de Sam aria. As fontes assírias descrevem a "devastação" de Samaria (c. 724-721 a.C.) que pode

denotar toda a terra. Algumas evidências arqueológi­cas da destruição foram encontradas na cidade israelita de Siquém. Esse dado está em sintonia com a estraté­

gia típica dos assírios de destruir o território de uma

determinada nação e depois cercar a principal cidade, que estaria isolada. Senaqueribe e Nabucodonosor II

usaram essa política contra Jerusalém. O cerco à Sa­

maria que durou três anos demonstra que a cidade era bastante fortificada, uma vez que os assírios eram

incomparáveis em guerras de cerco. A cidade sucum­

biu em 722/721. Em bora Salm aneser III tenha recebi­

do o crédito pela conquista de Samaria na Bíblia, seu sucessor Sargão II afirma o mesmo nos anais assírios. Sargão também afirma ter reconstruído a cidade.

1.6. atirarei as suas pedras no vale. O ímpeto da ira de Y ahw eh contra Sam aria é com parado ao poder

destrutivo de um terremoto. Visto que as cidades ge­ralmente eram construídas sobre m ontes, a destruição de um a cidade era conseguida rolando os muros de pedra morro abaixo até o vale que a cercava.

1.7. ganho/salário da prostituição. M uitos presentes dedicados ao templo eram dados em troca dos servi­ços das prostitutas cultuais (ver os comentários em Dt 23 .17 ,18). Esses presentes podiam ser prata ou ouro (que, nesse caso, seriam usados para confeccionar ído­los) ou cereais e animais. Outra possibilidade, porém,

é que M iquéias, assim como Oséias (Os 4.10-15) esteja simplesmente igualando a idolatria à prostituição. Sus­tentar a adoração falsa nos templos idólatras seria um ato de infidelidade a Yahw eh. O s ídolos que eram

adorados nesse santuário seriam destruídos juntamente com seus adoradores, e o saque do templo daria a seus conquistadores os fundos necessários para continua­

rem sua m archa devastadora.1.8. descalço e nu. Diversos rituais de luto eram em­

pregados no antigo Oriente Próxim o. Alguns exigi­am sacrifícios, como os atestados nos tabletes de Ebla, e faziam parte do culto aos mortos. Em outros, o pran-

to constante e a lamentação marcavam o luto (como mostra o Épico ugarítico de Keret). Quando os pran-

teadores choram (Lm 2.10) ou rasgam suas vestes e

andam descalços (compare com a profecia de Isaías em Is 20.2), estão abrindo mão de sua posição, simbo­

lizando derrota (compare com a restrição feita a Ezequiel

para que não pranteasse, em Ez 24.17). Desse modo, estão reconhecendo, tal como Jó , que vieram a este

mundo nus (Jó 1.21).1.8. chacal e coruja. As vozes de anim ais descritas aqui com freqüência são ouvidas em lugares áridos e

desérticos (Is 34.13; Jr 50.39; "profecia de Balaão" de Deir 'Alla). Ambos animais citados no versículo pro­

duzem um som estridente que aterroriza a alm a e aludem à morte (observe o uso do chacal como uma

imagem do deus egípcio Anubis, cuja responsabilida­de era guardar os mortos e suas tumbas).

1.10-15. itinerário. Todas as localidades alistadas nes­

ses versículos ficam no oeste de Judá, na região mon­tan h o sa co n h ec id a com o S e fe lá . O re la tó rio de

Senaqueribe acerca de sua campanha oferece informa­

ções detalhadas das batalhas contra os filisteus, mas

pouco a respeito da Sefelá. No relato filisteu, Elteque,

Tim na e Ecrom são citadas. Isso significa que o exérci­

to foi posicionado apenas alguns quilômetros ao norte de Gâte, à medida que se preparava para invadir Judá.

S e a seq ü ên cia de c id a d e s m en cio n a d a s n e sses versículos representa uma linha de m archa, fica im plí­

cito que os assírios passaram pelo sul de Gâte e segui­

ram pela estrada poucos quilômetros a oeste de Láquis

(a mais im portante fortaleza da região), depois circu­

laram em direção ao sul para chegar até Láquis pelo

sudeste. Após Láquis, a rota aponta para Jerusalém , a nordeste, estando apenas M aressa fora de ordem. Essa

descrição sugere que toda a região da Sefelá foi com­

pletamente devastada. Pesquisas arqueológicas iden­

tificaram um a redução no núm ero de localidades ocu­

padas na região, de quase trezentas no início do sécu­lo oitavo para menos de cinqüenta no sétimo século. A

população fo i igu alm ente reduzid a para m enos de quinze por cento do que fora. G ate provavelm ente

estava situada em Tell es-Safi. M uitos dos nomes das

cidades são usados para gerar um jog o de palavras

exclusivo a esse texto: Bete-Ofra (significa "p oeira"), Safir ("ch ifre"; localidade desconhecida, em bora uma

a ltern ativa seja T ell 'E itu n ), B ete-E zel (" lu g a r que

p erm anece"; localização desconhecida); Zaanã ("ela sairá"; possivelm ente a Zenã da área de Láquis, cita­

da em Js 15.37) e Marote ("am arga"; localidade desco­nhecida). Láquis é a mais importante das cidades des­

se itinerário e será com entada separadam ente. M o- resete-Gate é o povoado de origem de Miquéias e pro­

vavelm ente deva ser identificado com Tell el-Judeideh (ver o comentário em 1.1). Fica no centro de um raio de

dezesseis quilômetros em que todas essas localidades

parecem estar situadas. O trocadilho com o nom e su­gere a fuga de seus cidadãos. Aczibe (possivelm ente

T el el-Beida, nordeste de Láquis) é com parada a um "engano", que aqui equivale a um a fortaleza que não

protegeu a linha de defesa do rei. Maressa, a nordeste de Láquis, é um trocadilho com a palavra que signifi­

ca "h erd eiro" (NVI: "con qu istad or"), sugerindo um

país sem futuro. A dulão (Tell esh-Sheik M adhkur)

igualmente não tem perspectiva de futuro diante do ata­que inim igo.

1.13. Láquis. Destacando-se na Sefelá e no oeste de

Judá, Láquis era o centro da linha de defesa dos reis de Judá. Localizada na metade do caminho entre Jeru­

salém e as cidades-estado filistéias, Láquis guardava

as principais rotas do litoral para o interior. Sua loca­

lidade, Tell ed-Duweir, apresenta evidências de ocu­

pação desde o período Calcolítico, com enormes cons­

truções de defesas e impressionantes portas da Idade do Bronze M édia 13 (quando era uma das principais

cidades cananéias) e da Idade do Ferro II (quando foi

estabelecida como a fortificação ocidental, após a divi­

são dos reinos; 2 Cr 11.5-10). Apesar de sua im ponen­te posição (um tell de 45 metros de altura), a cidade

sucumbiu após o cerco do rei assírio Senaqueribe em

701 (Anais de Senaqueribe; para mais inform ações,

ver 2 Cr 32.9). Evidências muito claras da ferocidade desse cerco encontram-se nos relevos assírios do palá­

cio real em N inrode que ilustram os eventos e nos

vestígios de um a enorme rampa de cerco, situada no

canto sudoeste do tell. Um sepultamento em massa com aproximadamente mil e quinhentos corpos tam­

bém pode ter sido o resultado da queda da cidade.

Existem também registros escritos de um cerco poste­rior pelo rei babilônio Nabucodonosor, em 586, em 21

cartas contidas em fragmentos de cerâm ica (óstracos),

descobertas em um quarto da guarda na porta da

cidade. Elas descrevem o desespero dos defensores, que ficaram aterrorizados ao perceber que os sinais

de fogo das cidades vizinhas foram se extinguindo.

1.16. rapem a cabeça. Existem diversos rituais associ­

ados ao luto, inclusive rasgar as próprias vestes, lan­

cetar-se (ver o comentário em Lv 19.28), je juar (ver o

comentário em 2 Sm 12.16) e jogar terra ou cinzas na cabeça (ver o com entário em 2 Sm 13.19). Rapar a

cabeça também era um sinal de luto (Jr 41.5) e fazia

parte dos rituais de purificação (Lv 14.8, 9; Nm 6.9). Por exem plo, sacerdotes assírios rapavam a cabeça

quando tom avam posse de seu cargo. Igualm ente,

um homem que se apresenta como médico no texto O

Pobre Homem de Nippur (Tabletes de Sultantepe) rapa

sua cabeça. Esse ato pode estar associado à sua purifi­

cação ou a um a m edida sanitária, visto que, como m édico, estava sem pre em contato com cadáveres,

moribundos e enfermos.

2.1-13 O castigo dos opressores2.2. apoderar-se de propriedades. A aquisição de pro­priedades através da opressão dos pobres e mais fra­cos violava tanto a lei contra a cobiça quanto a regra de não desrespeitar a divisão da terra, distribuída às

famílias dos israelitas após a conquista. Apesar dessas leis, as dívidas de agricultores, donos de pequenos lotes, e o poder político exercido por grandes proprie­tários de terra conduziam a abusos (ver o comentário em Is 5.8), m encionados na literatura egípcia sapiencial (Instrução de Amenemope).2.5. a ssem b lé ia do Senh or. V er o com entário em Deuteronôm io 23.1-8 a respeito deste termo técnico para descrever o grupo de homens que tinha direitos de tom ar decisões na comunidade israelita e servir ao exército.

2.5. divisão da terra por sorteio. Quando um pai de fam ília morria, suas posses eram divididas entre os filhos por sorteio. As Leis de Esnuna, o Código de H amurabi e as Leis M édio-Assírias fazem referência a essa situação. Textos de Tell Siír especificamente men­

cionam a divisão~de propriedades através de sorteio. A qui M iquéias está sugerindo que aquele que acu­m ulou bens de form a opressiva não terá nenhum herdeiro.

2.11. aceitação de profetas otim istas. Na Assíria, es­perava-se que os profetas apoiassem o rei e suas polí­ticas. Os profetas israelitas tinham um a tendência m aior a atuar como oposição e com freqüência critica­vam os reis que estavam no poder. Como Jerem ias28.8, 9 observa, o povo deveria ficar atento com o "profeta que profetiza prosperidade". O papel dos profetas no antigo Israel era repreender e alertar o povo sempre que violasse suas responsabilidades na aliança. Isso difere dos profetas do antigo Oriente Pró­ximo, tais como os mencionados nos textos de Mari, que geralmente estavam relacionados com violações cultuais (incapacidade de oferecer um sacrifício ou construir um templo prometido) ou com questões de guerra.

3.1-12 Repreensão aos líderes e aos profetas3.2, 3. analogia do canibalism o. A avidez e a ganân­cia dos líderes e ju izes de Judá é com parada a um banquete canibal em que o povo tom a-se vítim a das

facas e apetite voraz desses oficiais corruptos, refleti­

dos na economia e política vigentes. A descrição rea­

lista do preparo da carne e ossos sendo despedaçados em busca do tutano pode m uito bem ter origem nas

necessidades de sobrevivência que surgiam durante

períodos longos de fom e ou cercos m ilitares (ver o

comentário em 2 Rs 6.29).3.5-7. profetas sem êxito. U m profeta incapaz ou sem

êxito era aquele que não m ais recebia qualquer co­

municação de D eus (ver a "fom e da palavra do Se­

nhor", descrita em Am 8.11,12). Isso aconteceria como

resultado da ganância de profetas que vendiam suas profecias enganosas ao invés de proferir os oráculos

em obediência à ordem de Deus. Através da comer­

cialização das profecias, os profetas garantiam "paz e prosperidade" aos m ercadores e à nobreza que os

sustentavam, dando-lhes "p ão ", mas ameaçavam com "guerra" ou desgraça aqueles que não aceitavam seus

subornos. M iquéias que não era m em bro da guilda

de profetas, mas como Amós, era simplesmente um

hom em escolhido por D eus para falar (Am 7.1-15), substitui seus rituais e práticas de adivinhação fracas­

sados pela genuína palavra de Deus. Os profetas des­

se período na Assíria, com freqüência, estavam a ser­

viço da corte real e esperava-se que apoiassem a legi­

tim idade do regim e. Poderíam os usar a expressão que era importante para eles "não cuspir no prato que os alim entava".

3.12. arada com o um campo. Um a área tinha de ser

totalm ente lim pa de entulhos antes de ser arada e cultivada. Essa m etáfora demonstra a dim ensão da

destruição que se abateria sobre a cidade e seus alicer­

ces. Os exércitos da Assíria iriam arar a cidade, fazen­do-a voltar ao seu estado original de terra cultivada (compare com Is 5.6). Embora isso não tenha aconteci­

do durante a vida de M iquéias, Jerem ias usa o oráculo e ele é citado pelas autoridades durante seu ju lga­

mento (Jr 26.18), demonstrando que as predições dos profetas foram compiladas e eram estudadas.

4.1-5.15 O plano do Senhor4.3. das espadas farão arados. Em vez de ser umareferência ao "arado" que revolve a terra, esse termo pode referir-se à ponta de metal do arado que perfura

a terra abrindo sulcos. Essa ponta tem cerca de 17

centímetros de comprimento. No entanto, essa mes­

ma palavra hebraica é usada em 2 Reis 6.5 onde se

refere a um tipo de machado. Visto que no original a espada é "q u eb rad a" e transform ada em arado, é

possível que o resultado sejam pontas de metal que poderiam ser usadas para diversos fins.

4.4. sua videira e sua figueira. As videiras e figueiras

produziam os elementos básicos da dieta e da econo­

m ia da cultura camponesa do antigo Israel e sua per­

da deixaria o povo arrasado (J1 1.6, 7). A im agem idílica de paz e prosperidade no antigo Oriente Próxi­

mo era poder sentar-se debaixo de sua própria videi­

ra ou figueira. Pinturas de túmulos egípcios, relevos assírios e os escritores bíblicos usam a expressão para

referir-se a um povo que controla suas próprias vidas, sem interferência estrangeira e são capazes de culti­

var a terra que os deuses/ D eus lhes deram/deu (1

Rs 4.25; Is 36.16). Além dos frutos, a videira e a figuei­ra davam um pouco de sombra e desfrutar delas en­

volvia perspectivas em longo prazo, visto que ambas levavam diversos anos para se tom ar produtivas.

4.8. torre/fortaleza. Embora Migdal Eder (NVI: "torre

do rebanho") seja um nome de lugar em outras passa­gens (Gn 35.21), neste contexto é comparado a Ofel,

uma parte da antiga cidade de Davi na colina leste da

cidade de Jerusalém. Nesse caso, ambas as imagens

são de um a cidade ou torre protegendo o "rebanho" e servindo como um ponto de ajuntamento onde Deus

faria a restauração futura da nação e do povo (compa­

re com a im agem oposta em Is 32.14). Se o term o

refere-se de fato à torre de um a cidadela, poderia ser a torre central da Ofel em Jerusalém (filha de Sião).

4.10. B ab ilô n ia . Seria m ais lógico, nos dias de M i-

quéias, se ele tivesse designado Assur ou Nínive como

local do exílio. M as nem sempre um a profecia acom­

panha a lógica. N a época de Miquéias, o Império Neo-

Assírio, sob os governantes sargonidas, Sargão II e Senaqueribe, era a m ais poderosa estrutura política

que o mundo já vira. Estendia-se por todo o Oriente

Próximo e acabaria incluindo o Egito, apesar de por

um breve período de tempo. O exército invasor de Senaqueribe foi responsável pela destruição de m ui­

tas cidades e aldeias de Judá durante suas duas inva­

sões. Os relevos assírios até mesmo ilustram os cativos sendo levados de Láquis. D urante esse período, a

Babilônia e seus governantes caldeus foram domina­dos pelos assírios, como todas as outras nações. Entre­

tanto, assim como os medos no oeste do Irã, periodica­m ente os babilônios testavam a hegem onia assíria

com revoltas ou tentativas de subverter os aliados e

estados vassalos da Assíria. Particularmente inopor­tuno foi Merodaque-Baladã, que expulsou os gover­

nantes assírios da Babilônia pelo menos em duas oca­siões. Finalmente, em 689 a.C. Senaqueribe saqueou

a cidade e assumiu o título de rei da Babilônia. Pouco tempo depois de 660, quando o Império Assírio come­

çou a entrar em declínio, a Babilônia e a M édia uni­

ram-se a fim de exercer pressão ainda m aior sobre o

últim o dos grandes reis assírios, Assurbanipal. Sua m orte em 627 m arcou o fim do poderio assírio e o

surgim ento de N abucodonosor e do Im pério Neo-

Babilônico.4.12. fe ixes para a eira. Uma das principais instala­

ções agrícolas da cultural aldeã em todo o antigo Ori­ente Próxim o eram as eiras. Feixes de cereais eram levados a esse lugar central, onde eram trilhados e

peneirados. Devido à importância da agricultura e da

fertilidade, a eira com freqüência era um lugar de

valor ritual. As eiras, com freqüência, eram grandes áreas abertas, planas e certam ente eram úteis para

outros propósitos além da debulha dos cereais. Não é

surpresa, portanto, que fosse usada tam bém como

um a instalação ao ar livre quando os recintos do palá­

cio eram pouco apropriados, devido a limitações no espaço e desejo de visibilidade pública. Conseqüente­

m ente, as eiras passaram a ser usadas como local de assem bléias onde questões legais eram resolvidas e

tran sações com erciais eram rea lizad as. No épico

ugarítico de Aqhat, o rei Danil julga as causas diante

do povo, na eira, fora da porta da cidade. Era um lugar onde os bons eram separados dos maus.

4.13. chifres de ferro e cascos de bronze. Em bora não

haja referências diretas a animais puxando debulha-

deiras no texto bíblico (ver, porém, o comentário em 2 Sm 24.22), M iquéias claram ente está descrevendo o

fu n cion am en to-p ad rão de um a eira. P in tu ras de

túmulos egípcios ilustram bois e burros puxando pás

de debulhadeira com lascas de pedra e pedaços de

m etal por cima do cereal, um costume ainda praticado por agricultores do Oriente Médio. Também há algu­

m as evidências do uso de ferraduras nas patas desses

animais para que as espigas dos cereais fossem corta­

das de form a mais eficiente.

5.1. ferido na face com um a vara. Ser ferido na face geralm ente é considerado um gesto de hum ilhação

(ver 1 Rs 22.24; Jó 16.10). O Código de H am urabi

apresenta um a série de punições para a pessoa que

batesse no rosto do outro - desde açoites e mutilação até pesadas m ultas. Bater no "líd er" de Israel significa

o desprezo das nações e também a incapacidade do

governante de Judá em reagir. N a festa de Ano Novo

(akitu) celebrada na Assíria e na Babilônia, o sacerdote batia no rosto do rei em um ritual em que este afirma­

va ser inocente de qualquer injustiça.

5.2. B elém . O nom e duplo de Belém -Efrata reflete

uma distinção tribal entre a comunidade de Belém e também reforça o laço dessa localidade com a família

de D avi (ver o com entário em Rt 1.1; 1 Sm 16.4;

17.12). Atrelar o rei messiânico futuro às origens da

casa de D avi e não a Jerusalém remete à forma como

D avi foi escolhido diretamente por Yahw eh para ser

rei e rompe com o padrão de sucessão hereditária. Isso

sugere a expectativa de um novo Davi.

5.2. governante com origens desde tempos antigos. A maioria dos reis neo-assírios afirm ava que sua rea­

leza fora determinada pelos deuses desde o passado. A ssurbanipal afirm ava ter sido criado por A ssur e

Ninlil e proclamado rei desde os tempos passados por

Assur e Sin, criado para ser rei desde o ventre de sua

m ãe.5.5. invasão assíria. Os assírios invadiram Judá em

713 (embora o principal objetivo dessa campanha te­

n ha sido a Filístia) e, em 701, sob a liderança de Senaqueribe. É mais provável que este texto refira-se

a essa segunda invasão. Para informações detalhadas,

ver o com entário em 2 C rônicas 32. G eralm ente o

termo "pastores" era usado para referir-se a reis, por

isso sete/ oito pode ser um a alusão à coalizão que seria organizada contra a invasão. As inscrições de Sena­

queribe mencionam Sidom, Ascalom e Ecrom (com a

ajuda do Egito e de Núbia) como alvos de batalhas e conquistas. Outras cidades-estados e territórios tam ­

bém se subm eteram e pagaram tributo (A rvade e

Biblos, no norte e Asdode, Amom, M oabe e Edom, no

sul). Não se sabe quantas dessas cidades teriam de

fato feito parte da coalizão anti-Assíria.5.6. terra de N inrode. A única ocorrência de Ninrode,

o "v alen te caçador diante do Senh or", aparece em

G ênesis 10.8-11 (ver o com entário ali), no período

anterior ao dilúvio. A li, ele é identificado com o o

fundador de muitas cidades mesopotâmicas, inclusi­

ve a Babilônia e Nínive, por isso seu nome representa de forma apropriada qualquer império mesopotâmico.

5.12. feitiçaria. Literalmente milhares de textos foram descobertos, abordando inúmeros temas, inclusive en­

cantamentos que ajudavam a aliviar uma dor de den­

te, um bebê entalado a sair do ventre e uma mulher

estéril a ter filhos. Parece que a pessoa comum contra­

tava um sacerdote de encantamentos até mesmo para as questões mais m undanas do cotidiano. O sacerdote

então vinha e recitava um feitiço para exorcizar o

demônio que estava causando o problema ou aplacar algum a divindade irritada. Os babilônios tam bém

recorriam a esses sacerdotes para evitar desastres que tinham sido ameaçados ou identificados em pressági­os. Os encantamentos tinham o objetivo de amarrar

magicamente as forças sobrenaturais que representa­vam uma ameaça. A prática da magia e da adivinha­

ção era com um na M esopotâm ia e no Egito, onde exorcistas, adivinhos e mágicos eram figuras sempre

presentes na corte, interpretando presságios e reali­zando rituais. Além desses profissionais, havia feiti­

ceiras que praticavam formas maléficas de magia e

bruxaria. O texto bíblico condena am bas as formas, visto que envolviam a invocação de divindades além

de Yahw eh e eram um a tentativa de manipulação da

divindade.5.13. colunas sagradas. As colunas sagradas ou massebot

aparentem ente eram um a característica com um da

religião cananéia e também aparecem como memoriais em diversos contextos israelitas relacionados à aliança

(ver Êx 24.3-8; Js 24.25-27). Sua associação com Aserá,

Baal e outras divindades cananéias é a base por serem condenadas como rivais e ameaças ao culto a Yahweh.

O s arqueólogos descobriram colunas sagradas em

Gezer, Siquém, Dã, Hazor e Arade. Nas três últimas,

tais colunas claram ente estavam no interior de um

recinto sagrado e faziam parte de práticas cultuais

realizadas nesses lugares. As colunas de Hazor con­têm representações entalhadas de braços levantados e

de um disco solar.5.14. ídolos (postes de Aserá). Em alguns contextos a

expressão traduzida como poste sagrado ou ídolo apa­

rece com o "A se rá ", que pode ser o nom e de uma deusa da fertilidade ou o nom e de um objeto de culto

(como é o caso nesta passagem). Essa deusa era popu­lar nos desvios politeístas de Israel e às vezes era

considerada a consorte de Yahweh. Um indício dessa

crença encontra-se nas inscrições de Kuntillet Ajrud e

K hirbet el-Q om . N a m ito logia canan éia ela era a consorte de El, o deus principal. Ela aparece também

n a literatura m esopotâmica já no século dezoito, onde

é a consorte de A m urru, o deus amorreu. O poste sagrado, que era um símbolo de sua adoração, pode­

ria ou não portar um a representação da divindade. Talvez representasse um a árvore artificial, visto que

a Aserá muitas vezes é associada a bosques sagrados e é retratada como um a árvore estilizada. As vezes, o

objeto de culto era confeccionado, enquanto em outras

ocasiões era plantado. Temos poucas informações so­bre a função desses postes na prática ritual. O escritor

de Reis aponta para a veneração de postes de Aserá

como um a das razões para a derrota de Israel (ver o comentário em 2 Rs 17.10). As reformas de Ezequias e

Josias foram tentativas de banir essas imagens sagra­das da deusa cananéia Aserá.

6.1-16A acusação do Senhor contra Israel6.1, 2. violação da aliança. A m aioria dos profetas

hebreus (ver Is 1.2-4; Jr 2.4-9) fazia uso de fórmulas de

acusação legal presentes em tratados do antigo Orien­te Próxim o, tais com o o acordo entre Ram sés II e

Hattusilis III. Como neste caso, toda a criação é con­

vocada a testemunhar a violação da aliança firmada com Yahweh, praticada por Israel (ver o comentário

em Is 1.2) e o juízo é declarado uma punição justificada

para o parceiro de Deus.6.5. Balaque/Balaão. O profeta traz à mente de seus

ouvintes o fam oso incidente quando um a nação es­

trangeira e um renomado vidente são impedidos de fazer o mal contra Israel. Em vez da m aldição en­

com endada, um a bênção é pronunciada a favor de

Israel. Em Números 22.6 Balaão é descrito como um homem cujas bênçãos e m aldições tinham efeito. Ele

era da região da alta M esopotam ia, perto de Car-

quemis e tinha fama internacional como um profeta verdadeiro. Balaque era o rei de Moabe, na época do

êxodo. Seu interesse em Balaão parece ser devido à habilidade deste em invocar bênçãos ou m aldições -

não importando o deus a quem invocasse. Em 1967,

uma expedição arqueológica holandesa, liderada porH. J. Franken, descobriu alguns pedaços de gesso

com inscrições, em uma localidade da Jordânia conhe­

cida como D eir 'A llah. A parentem ente escritos em

aramaico, os fragmentos datam de cerca de 850 a .C , e m encionam Balaão, filho de Beor, a m esm a figura

descrita como "vidente" em Núm eros 22-24. Embora

o texto esteja bastante fragmentado, com m uitas lacu­

nas e palavras incertas, pode-se afirmar que (1) Balaão

era um vidente, (2) ele recebeu uma mensagem divi­na durante a noite e (3) sua m ensagem não foi o que

seus vizinhos esperavam ouvir. Se esse texto refere-se aos eventos descritos na Bíblia, não se pode afirmar

categoricamente, m as com certeza ele estabelece uma

tradição não-bíb lica , corrente um século antes de

M iquéias, de um profeta chamado Balaão.

6.5. desde S itim até G ilgal. Ver os comentários em

Josué 2.1 e 4.19. Sitim era onde ficava o acampamento

de Josué, a leste do rio Jordão, e G ilgal foi o lugar onde os israelitas m iraculosam ente atravessaram o

Jordão e armaram um acampamento de onde deram

início à conquista de Canaã. Um itinerário tão resum i­

do como esse é típico de anais reais mesopotâmicos que incluem listas de cidades ao longo do percurso

vitorioso do rei.

6.6. bezerros de um ano. A nim ais com um ano de

idade eram m ais valiosos que os recém-nascidos. Por­tanto, oferecer um bezerro de um ano em holocausto

representava um importante ritual de purificação ou iniciação. O cerne dessa prática, porém, é uma polê­

mica contra os rituais religiosos da Mesopotâmia e do

Egito em que o processo transcendia o significado. O profeta tenta estabelecer exatam ente o que Yahw eh

exigia e com o Sam uel (ver o com entário em 1 Sm

15.22) determina que a obediência e o am or são mais

importantes que simplesmente realizar os rituais en­volvidos na oferta de sacrifícios.

6.7. h ip érbo le . H á um crescente na dim ensão e no valor das ofertas alistad as por M iquéias. A penas

Salomão pôde oferecer milhares de animais em sacri­fício (1 Rs 8.63). O azeite era usado para libações (ver

o comentário em Lv 14.15). O sacrifício humano era

abom inável para os israelitas, que o consideravam

um ritual exigido pela religião fenícia e cananéia (ver o comentário em G n 22.1, 2). Na verdade, apesar de

Yahw eh ter direito sobre o primogênito de todas as famílias, a Lei exigia que os filhos fossem redimidos e

substituídos através do sacrifício de um animal (ver o

com entário em N m 3.12, 13). D eus não queria ser

apaziguado através de dádivas extravagantes. A oferta

m ais excelente que os israelitas poderiam dedicar-lhe era sua obediência.

6.10. tesouro da im piedade. M iquéias condena os mer­

cadores corruptos que enganavam seus fregueses vi­

sando seu próprio enriquecimento. Embora essas prá­

ticas devessem ser condenadas sempre que ocorres­sem , eram especialm ente m aléficas em tem pos de

guerra, quando os especuladores se aproveitavam da

escassez de produtos para aumentar os preços (2 Rs

6.25). Esse é um tema abordado tam bém por Amós (8.5, 6) e Oséias (12.7, 8). O Código de Ham urabi e as

Leis de Esnuna tam bém contêm diversas leis que

regulam a prática ju sta dos negócios, estabelecendo

preços e padrões de comportamento.6.10. m edida falsificada. A ssim como Amós critica os

com erciantes desonestos que dim inuíam a "m edida

(efa)" e aumentavam o "preço (siclo)" (Am 8.5), M i­

quéias tam bém os repreende por enganar seus fre­

gueses com medidas falsas de cereais. O efa e o him eram usados como as principais medidas para secos e

líquidos e equivaliam 37 e 6 litros respectivam ente

(Lv 19.36). Um a das ofensas alistadas nos encanta­

mentos Shurpu era usar medidas diferentes na com­pra e na venda de produtos.

6.11. balanças desonestas/pesos falsos. Uma socieda­

de justa era aquela em que o governo padronizava e

garantia pesos e medidas honestas. O prólogo do có­

digo de leis de U r III, rei de Ur-N am m u (c. 2100),

inclui um a lista das m edidas tom adas por ele para assegurar o cumprimento da justiça e da verdade em

seu reino. Essas medidas incluíam a padronização de

todos os pesos de cobre e de pedra usados no comér­cio. O texto egípcio Instrução de Amenemope alerta con­

tra adulterar balanças ou pesos usados na compra e

venda de produtos. U m hino babilónico a Sham ás,

deus da justiça, descreve como essa divindade puni­ria o comerciante que usasse práticas enganosas em

relação a balanças e pesos. O fato de que M iquéias queixa-se dos pesos falsos indica um período sem lei em que não havia um governo forte, tampouco uma

preocupação com os deveres da aliança (ver Pv 11.1;

20.23).6.14, 15. castigo. Essas m aldições de infertilidade e perda são semelhantes às encontradas em textos egíp­cios de execração e em textos encontrados em túmulos. Representam a justiça de Yahw eh contra as violações

de Israel para com a aliança (ver a série de maldições

em D t 28.15-44). Diversos outros profetas fazem uso desse tipo de maldição (ameaça de insucesso em de­

terminadas ações: Os 4.10; Sf 1.13).6.16. decretos de Onri. Assim como os "pecados de Jeroboão" muitas vezes são citados como o ápice da maldade de um rei (2 Rs 13 .2 ,11), os nomes de Onri

e Acabe também servem como m odelos de monarcas acusados de idolatria (a respeito dos crimes de Acabe,

ver o comentário em 1 Rs 18.4). A dinastia de Onri chegou ao fim com a morte de Zacarias em 753, uma

geração antes de Miquéias.

7.1-20Da ruína para a restauração7.1. referência à agricultura. Segundo o Almanaque de Gezer, uma inscrição datada de 925 a.C., a colheita

das frutas de verão era a últim a do ano, acontecendo no final de agosto e setembro. Era quando acontecia a segunda colheita de figos (os primeiros frutos am adu­

reciam em junho) que seriam desidratados para o consumo durante os meses de inverno (ver Is 16.9; Jr 48.32). Após essa colheita de todos os frutos remanes­centes, durante m uitos m eses não se podia esperar

outros frutos além desses.7.2. caça com um a arm adilha. A caça de pássaros e a pesca eram as formas mais comuns de caça, visto que exigiam apenas redes e armadilhas. Pinturas em tum­

bas egípcias ilustram a caça de pássaros feita com

redes (ver Pv 1.17). O uso da rede na caça remonta ao

período sumério, evidenciado na palavra para caça

que era representada por um ideograma com formato

de rede. Isaías 51.20 descreve o uso da rede, possivel­

m ente um a rede de curral, para caçar antílopes que

talvez fossem conduzidos até a armadilha por batedo­

res. De fato, era um período sem lei em que os ho­

mens eram ao mesmo tempo caçadores e caçados (ver

SI 10.9).

7.14. geografia. Basã e G ileade são regiões férteis a

leste do rio Jordão. O riginalm ente faziam parte da

divisão da terra (ver o com entário em Js 13.24-29 e

13.30,31 a respeito do território designado a Gade e a

Manassés), mas foram tomadas pela Assíria durante o

oitavo século. A expectativa aqui é de que no dia do

triunfo de Yahweh, todos os territórios tomados por

outras nações seriam devolvidos a Israel (ver Jr 50.19).

7.17. lam ber o pó com o a serpente. Assim como a

serpente foi am aldiçoada no jardim do Éden (ver o

comentário em G n 3.14), as nações inimigas também

seriam humilhadas (ver SI 72.9). Visto que as nações

estrangeiras com freqüência são descritas como ser­

pentes (Is 14.29; Jr 8.17), essa figura pode ser mais

uma condenação do uso de serpentes como símbolos

de fertilidade e divindades na arte religiosa egípcia e

mesopotâmica. Nos textos de A m am a, comer pó ou

terra é uma metáfora para ser derrotado.

7.19. pisarás as m aldades. O perdão de Yahw eh dado

a Israel permite que o pecado seja derrotado de forma

bastante semelhante à de um monarca que triunfava

sobre seus inimigos, pisando neles ou colocando o pé

sobre o pescoço do inimigo derrotado (ver os comentá­

rios em Js 10.24; SI 60.12). Imagens semelhantes das

atividades do "guerreiro divino" encontram-se no epi­

sódio da deusa Anate destruindo seus inimigos, nar­

rado no épico ugarítico, e nas façanhas militares do

deus babilônio M arduque e do deus hitita Teshub.

N A U M

V1.1. Nínive. Essa profecia contra a capital assíria, Nínive, provavelmente data do período entre 663 a.C. (quan­

do a cidade egípcia de Tebas foi capturada pelos assírios - N a 3.8) e a queda da cidade diante de um exército unificado de babilônios e m edos em 612 a.C.. Nínive,

situada à m argem leste do rio Tigres (antiga Kuyunlik e atual M onsul), ficava a 960 quilôm etros do golfo

Pérsico (rio acim a) e apenas a 400 quilôm etros da Babilônia. Foi um a das mais importantes cidades da

Assíria durante grande parte de sua história - serviu às dinastias acadiana antiga, aos amorreus e aos mitani,

antes do estabelecimento do reino m édio-assírio em meados do quarto século a.C.. No ápice da expansão do poder desse império, no reinado de Senaqueribe

(705-681 a.C.), tornou-se a capital da Assíria. Escava­ções em seus palácios trouxeram à tona relevos de pedra que retratam a invasão e saque de Judá em 701. A biblioteca do último grande rei assírio, Assurbanipal

(668-627 a.C .), oferece aos eruditos exem plares de m uitas obras cien tíficas e da literatu ra da antiga

Mesopotâmia.

1.1. H istória assíria_do período. O últim o grande rei assírio, Assurbanipal, reinou de 668 a 635, quando se acredita que teria abdicado. Parece que só m orreu em

627. Após seu reinado, a história assíria tom a-se con­fusa e às vezes é difícil determinar quem estava no comando, embora os dois principais governantes te­nham sido Assur-Etil-Ilani e Sin-Sharra-Ishkun. D u­

rante o reinado de A ssurbanipal, grande parte da Siro-Palestina aceitou passivamente o domínio assírio (em bora Tiro representasse constantes problem as).

Manassés, rei de Judá, durante a maior parte do tem­po, foi um vassalo cooperativo. Entretanto, de 652 a 648, uma rebelião foi liderada pelo irmão de Assur­b an ip a l, S h a m á s-S h u m -U k k in (n o m ead o re i da

Babilônia), que parece ter conquistado o apoio de M a­nassés (ver o com entário em 2 Cr 33.11). A últim a revolta da Babilônia aconteceu em 626, quando o caldeu N abopolassar declarou-se rei e estabeleceu um a li­nhagem dinástica que se transformou no Império Neo-

Babilônico. Esses babilônios, aliados aos medos, pro­vocaram a queda do Império Assírio, começando com a destruição de Assur, em 614, seguida de Nínive, em 612, Harã, em 610, e, finalmente, Carquemis, em 605.1.1. Elcós. O lugar chamado Elcós aparece apenas no Livro de Naum. N enhum a localidade específica foi

apontada como lugar da aldeia de Naum. Jerônimo a situa na Galiléia (possivelmente el-Kauzeh ou Cafar- naum) e tradições posteriores a situam perto de Nínive ou na Síria. N enhum a dessas sugestões atualmente

encontra evidências suficientes para fazer uma identi­

ficação segura.1.2. d ivind ade zelosa. O tema de Yahw eh com o um deus zeloso aparece primeiro nos D ez M andam entos (Êx 20.5), é repetido na oração de Josué, de renovação da aliança após a conqu ista (Js 24 .19), e é refletid o

novam ente na visão de Ezequiel da "im agem do ciú­

m e de D eu s" (Ez 8.5), que b loqueia sua entrada ao templo de Jerusalém. A palavra representa uma deter­m inação em defender zelosa e agressivam ente algo

que lhe pertence por direito, de qualquer que queira apoderar-se disso. Esse atributo de D eus servia para

evitar comparações com outros deuses ou qualquer tipo de subordinação de Yahw eh no culto ou ritual a outras divindades. Não reconhecer a posição única e exclusiva

de Yahw eh seria justificativa para vingança.

1.3. vendaval e tem pestade. Com o em H abacuque1.3. Yahw eh é retratado como senhor da tempestade e

aquele que controla os ventos que podem trazer vida e destruição. Esse tipo de linguagem figurada, de­monstrando a majestade de Deus, também se encon­tra na teofania descrita em Jó 38.1 (ver tam bém o

comentário em 1 Rs 19.11-13) e era uma característica comum na poesia época do antigo Oriente Próximo. Por exemplo, no épico ugarítico de Baal e Anate, o deus Baal é descrito como o "Cavaleiro das N uvens", e sua "v oz" tem o som e a fúria do trovão e dos relâm­pagos. Igualmente, na história babilónica da criação,

Enuma Elish, o deus da tempestade, Marduque, der­rota a deusa do caos aquático, Tiamat, através do con­trole dos ventos e do uso dos relâmpagos.

1.4. seca de m ares e rios. A imagem de D eus contro­lando a força dos rios e m ares era comum no mundo antigo (compare com o episódio em que Jesus acalma

as águas do m ar da Galiléia em Mc 4.39). O exemplo m ais forte do Antigo Testamento é a abertura do mar Vermelho. O ciclo ugarítico das histórias de Baal re­

trata o deus da tem pestade em um em bate terrível com o deus Yamm, o m ar - um a imagem cuja origem pode estar na observação dos m ares tempestuosos da costa mediterrânea perto de Ugarit. O "dom ínio" de

Yahw eh sobre as águas tam bém é m encionado em

Isaías 50.2 e Salmo 104.7. Em cada passagem a m ajes­tade de Deus sobre as forças da natureza é evidencia­da de form a clara, bem como sua habilidade de pro­vocar seca em áreas geralmente férteis.1.4. Basã e C arm elo. Dentre as áreas m ais exuberan­tes e férteis da Siro-Palestina estavam Basã e a cadeia montanhosa do Carmelo. Essas áreas compreendiam a parte norte do planalto da Transjordânia, a leste do m ar da Galiléia, e a região m ontanhosa estendendo-se a noroeste em direção à Baía de Aco, na costa m editer­rânea, bem ao sul do Líbano. Tanto o Carmelo quanto a região de Basã eram conhecidos por suas pastagens e gado. Vê-los transform ados em terras secas e arrui­nadas seria uma inversão de seu papel tradicional como lugares abençoados e caracterizados por sua prosperi­dade e abundância. Esse tipo de fala profética faz par­te do "m undo invertido" encontrado fora da Bíblia nas profecias de B alaão (inscrições de D eir 'A lla) e nas visões de N eferti (Reinado do Antigo Egito).1.5. efeitos da teofania. Os efeitos da voz e da presen­ça poderosa de Yahw eh assemelham-se aos abalos de terra provocados por um terrem oto. Entretanto, as referências aos montes e colinas e o controle sobre as forças da tempestade sugerem que essa teofania se­gue o modelo dos assustadores ventos, trovões e re­lâmpagos característicos de um a tempestade no m on­te. U m exemplo semelhante dessa figura encontra-se em Salmo 29.3-9 onde a "voz do Senhor" despedaça os cedros do Líbano e faz o "Líbano saltar como um bezerro". Os m itos ugaríticos (ciclo de Baal) e hitita (Cântico de Ullikummis) descrevem o deus da tempes­tade usando ventos e relâmpagos de forma igualmen­te assustadora.1.13. ju g o e algem as. A s profecias com freqüência referem -se à dom inação política com o um jugo ou algemas. N as cartas de A m am a, os governantes das cidades-estado cananéias falam ao faraó como estão dispostos a se submeter ao jugo egípcio para servi-lo fielmente. A literatura sapiencial acadiana indica que suportar o jugo de um deus é desejável devido aos benefícios decorrentes. No Épico de Atrahasis, os deu­ses consideram o jugo de Enlil insuportável e por isso se rebelam. As inscrições assírias descrevem suas con­quistas de outras terras como a imposição do jugo do deus Assur sobre o povo e a rebelião é retratada como arrancar fora esse jugo. O profeta, portanto, está usan­do um a im agem bastante fam iliar em todo o antigo Oriente Próximo.1.14 ,15. história de N ínive após sua queda. Segundo a Crônica Babilôica, Nínive foi destruída pelo exército unificado dos medos e caldeus (babilônios), liderado por Nabopolassar (625-605 a.C.) na primavera de 612 a.C., após três meses de cerco. A profanação ritual e completa do local aconteceu com as cinzas de Nínive

sendo levadas para a Babilônia. A inundação da cida­de (relatada em fontes clássicas por Diodoro Siculus e Xenofontes) provavelmente teria sido o resultado do represamento do rio Khosr que transbordou entre as duas cidadelas de N ínive, na m argem leste do rio Tigre (Kuyunjik e Nebi Yunus). A cidade nunca recu­p erou sua grand eza orig in al, em bora tenh a sido reconstruída e existam vestígios helenistas, partos e romanos no local.1.14. T em p los e deuses assírios. D esde a época de Shamshi-Adad I (c. 1813-1781 a.C.), os principais deu­ses do panteão assírio eram Assur, o rei dos deuseus, e Istar, a deusa do amor e da guerra. Havia também outros deuses: Ninurta (guerra e caça), Adad (deus da tempestade), Sin (deus-lua) e Shamás (deus-sol), bem como muitas outras divindades inferiores, cada qual com seu centro cultual servido por uma comunidade sacerdotal. Esses templos eram amplamente subsidia­dos pela monarquia, cujos fundos provinham dos sa­ques de países vizinhos durante os períodos quase ininterruptos de guerra. Grande parte de seus rituais e festas religiosas era emprestada de antigas religiões sum érias e babilónicas. Quase todo anal real assírio que descreve campanhas militares inclui a afirmação "por ordem de Assur" como a justificativa para a guer­ra. A "Esteia Banquete" no palácio de AssumasirpalII, em Ninrode, que relata suas vitórias m ilitares, dei­xa claro que os deuses da Assíria habitavam em seu palácio. Igualmente, as faixas de texto que decoravam as paredes do palácio de Sargão II, em Córsaba, inclu­em o convite para que "A ssur, o pai dos deuses, o grande senhor, e Istar, que habitam na Assíria" pas­sassem a residir ali. Senaqueribe transferiu a capital da A ssíria para Nínive e reconstruiu o enorme templo dedicado à deusa Istar como parte de suas campanhas de construção para restaurar os centros cultuais aos deuses e um "palácio sem igual". Era procedimento norm al no m undo antigo destruir as im agens dos deuses e profanar os templos de cidades derrotadas. As im agens eram derrubadas e desfiguradas e ti­nham a cabeça e os membros arrancados.1.15. H istória de Judá sob o dom ínio assírio. Desde 734 a.C. até a queda de Nínive, em 612, Judá foi um estado vassalo do Império Assírio. O rei Acaz pagou tributo a Tiglate-Pileser III e ficou fora das conspira­ções em busca de independência que levaram Israel,o reino do norte, e muitas nações vizinhas à ruína. Ezequias tentou obter certo grau de independência (lim pando o tem plo, destruindo os altos), m as sua política provocou a invasão de Judá por Senaqueribe (ver os comentários em 2 Rs 18), a destruição de m ui­tas cidades, como Láquis, a deportação de parte da população e um cerco a Jerusalém que empobreceu a nação. O longo reinado de M anassés (ver os comentá-

rios em 2 Cr 33) foi m arcado por uma completa sub­m issão ao controle assírio. A lém de inúm eras condi­ções estipuladas com o objetivo de prom over e de­m onstrar a lealdade política, os tratados de vassalo de Esar-H adom exigiam respeito ao deus A ssur, como rei dos deuses e a adoção do culto a essa divindade pelos povos dominados. A cooperação de Manassés perm itiu que houvesse um período de paz e recons­trução, m as representou um comprometimento políti­co e teológico que o marcou, aos olhos dos escritores bíblicos, como o pior rei de Judá. Foi somente durante o caos político que se instaurou a ós a morte do último grande rei da Assíria, Assurbanipal (ver o comentá­rio em 1.1), que Judá pôde temporariamente garantir sua liberdade, sob o rei Josias.2.3. uniform es verm elhos dos soldados. Ainda semestarem sujos do sangue das batalhas, os uniformes verm elhos dos soldados podem indicar que eram um a unidade profissionalm ente equipada e bem treinada (ver os soldados vestidos de verm elho, em Ez 23.6). Na Grécia, os espartanos eram conhecidos por usarem túnicas verm elhas debaixo de suas armaduras, como um indicador de sua patente e como um a tentativa a m ais de intimidar seus oponentes. N a Assíria era co­mum usar essa figura na retórica para falar de cidades e regiões m anchadas de sangue dos inim igos,. exército marchando no rio de sangue dos inim í§ Além disso, Isaías 9.5 refere-se à prática de guerreiros, que revolviam suas vestes no sangue. /Sea^/lógico,' portanto, que os exércitos escoU^ss^m^^akui)ifdrmes verm elhos para sugerir que já estaxfam\àbertos com o sangue de seus in im ig o £fT ^ tu r^ s em Til-Barsip m ostram uniformes clássicas des­crevem soldados dêâs\ ^X oH p usando túnicas ver­m elhas ou ]2.3. m etal itcp^cairosl ÕHÍamentos de m etal nos carros vis^n&o fori^leçê^jbs para abrir cam inho pelos bata-

i são atestados no período dos juizes, cos decorados foram encontrados em

yàssírios e em pinturas de túm ulos egípcios. 2 .M in h a de proteção. Essa expressão ocorre apenas aqui na Bíblia e possivelmente é emprestada da língua acadiana usada p elos assírios e nações vizinhas. Em acadiano o term o refere-se a um tam pão ou algo usa­do para im pedir algu m a coisa de subir. V isto que o versículo seguinte fa la de com portas de canais sendo abertas na tentativa de fazer o palácio desabar, é pos­sível que um tam pão tenha sido usado p ara bloquear a água que teria inundado as ruas da cidade, após o rio te r sido represado no reservatório criado por Sena- queribe, cerca de três quilômetros acima do rio Khosr.2 .6 . com p ortas dos canais em Nínive. Senaqueribe havia criado um a elaborada rede de canais e compor­tas para controlar as águas do rio Khosr e para fornecer

canais de irrigação à cidade de Nínive e às áreas agrí­colas que a cercavam. Em bora a linguagem desse tre­cho seja difícil, a cena seria do rio sendo represado, depois as paredes sendo escaladas enquanto era m an­tido na represa algum tipo de tampão, impedindo que a água entrasse na cidade. Q uando as com portas se abrissem , o volu m e de águ as bateria nas p aredes e provocaria seu desabamento. A Crônica Babilónica não menciona o uso de enchentes como um dos métodos de conquista de cidades, em bora as fontes clássicas façam referência a elas. Evidências arqueológicas em Nínive sugerem um grande incêndio, m as não dão indícios de danos provocados por um a inundação.2.6. palácio de N ínive. O "palácio sem igual"\)us,0 "Palácio Sudoeste", como é conhecido hojcL foLepra1̂ traído por Senaqueribe entre 703 e 6 9 T ^ o n s ís le ) de um enorm e complexo de cômodps e M p í^ in ten ig a- dos (estim ado em um a área^ e^ O S por_240 metros, grande o suficiente p a ra ^ h t^ 2 ^ ç k m p o s de futebol). As áreas mais p^^irm s^^Ih^atH TO no eram decora­das com fach ad a^ d ^ W W a^ lcária entalhadas, enor­mes e s t á m ^ & f c ^ ^ a ^ ^ ^ i g a n t e s com escamas de peixeT^in^m chdos relevos de campanhas milita­res, enquWitp o^ pátios externos, com funções m ais lííilil^ ia V ^ a m privados de desenhos elaborados ou estátuas. O palácio foi escavado por um período de

S t lo s , tendo iniciado n os anos 1850 por A. H. Cáyard, não tendo ainda sido completamente desen­terrado. Seu projeto foi im posto pelo já existente tem­plo e zigurate de Istar, no ponto m ais alto do Kuyunjik e perto dos rios Khosr e Tigre, a sudeste e oeste.2 .1 1 ,1 2 . m etáfora do leão. A iconografia dos deuses assírios ilustra Istar, a deusa padroeira de N ínive, acompanhada de um leão e o deus-sol Sham ás que é com freqüência retratado como um leão alado. O s reis assírios, como Esar-Hadom (680-669), descreviam a si m esm os como leões em sua fúria e ferocidade na bata­lha. A qui, porém , os leões que tão orgulhosam ente haviam tomado o que desejaram e levado para suas tocas estão se escondendo e não m ais estão no coman­do. D essa form a, o profeta atira no rosto da Assíria uma de suas metáforas prediletas, zombando dela.3.4. pecados de Nínive. O s eventos por trás dos cri­m es de N ínive m encionados aqui são desconhecidos. Porém, a prostituição e a feitiçaria são metáforas bas­tante conhecidas, usadas para descrever uma cidade ou nação que subjuga outras, visto que tanto a feiticei­ra quanto a prostituta exercem seu poder sobre os m ais fracos, vulneráveis ou incautos. Outras instân­cias dessa im agem sedutora da prostituta incluem a Babilônia em Apocalipse 18.3 e Jerusalém, em Ezequiel16.15-22 e 23.2-8. Tam bém pode ser um a referência a Istar, a deusa padroeira de N ínive, cu jos ritu ais e histórias sagradas com freqüência continham ativida­

des sexuais explícitas. Pode de fato ser um a referência à rede de intrigas políticas gerada pelos assírios, à m edida que expandiam seu controle sobre grande parte do antigo Oriente Próximo. A zombaria dirigida a E zequ ias, p elo re p rese n ta n te de S en aq u erib e , Rabsaque (Is 36), inclui referência às m anobras do Egito e da Assíria em busca do poder (Is 36.4-6), en­quanto as nações menores eram obrigadas a se sub­meter a tratados de vassalagem responsáveis por seu em pobrecim ento e ruína. C ertam ente a exploração econômica dos recursos naturais da Siro-Palestina pe­los assírios também se encaixava à lista de acusações que Naum faz contra Nínive (ver Ap 18.14-17).3.7. n inguém que a console. Um erudito (Becking), observando a semelhança entre um a série de anúnci­os de castigo em Naum e as maldições de tratados de vassalos, identificou nesta parte do versículo a m aldi­ção assíria de que os mortos não teriam ninguém para cuidar de seu espírito, através de libações.3.8. T ebas. A o zom bar de N ínive, N aum relem bra seus m oradores que outra cidade fortificada, Tebas (conhecida como "N o A m om " pelos gregos e assim denominada também em hebraico), não fora capaz de enfrentar os exércitos assírios de A ssurbanipal em 663. O governante cuxita, Tantamani, assumira o con­trole de Tebas e Mênfis, em 664, atraindo uma reação dos assírios, que apoiavam o regime de Neco (a quem Tantamani executou), no norte. Sob violento ataque assírio, Tantamani assumiu o governo por um breve espaço de tempo em Tebas, antes de abandoná-la aos invasores e fugir para Napata. Tebas, localizada cerca de 520 quilômetros ao sul de Mênfis (cerca de 24 qui­lômetros ao sul de Cairo) na m argem leste do rio Nilo, tinha, assim como Nínive, um elaborado sistema de fossos e outras defesas que lhe davam a ilusão de invulnerabilidade. Tam bém como N ínive, era um a cidade sagrada, dedicada ao deus Am om e continha os magníficos templos do complexo de Kam ak.3.9. Etiópia (Cuxe), Egito, Fute e L íb ia como aliados. Quando Tebas foi conquistada pelos assírios, ela e o Egito estavam sendo governados por uma dinastia (25a Dinastia) cuxita (núbia). A capital de N úbia era Napata (entre a terceira e a quarta cach oeira do N ilo, 1280 quilôm etros ao sul de Tebas, no atual Sudão). A anti­ga Líbia ficava basicamente ao longo da costa oeste de Alexandria, mas incluía a longa faixa de deserto a oeste do vale do Nilo. E m ais difícil situar Fute. A conclusão m ais provável é que Fute seja um nom e alternativo para Líbia e que juntos refiram -se à área oeste do an­tigo Egito, representada pelo atual país da Líbia.3.10. lançar sortes para decidir o destino dos nobres. À medida que os líderes do Egito eram forçados a se render, eram distribuídos como escravos entre os co­m andantes assírios, juntam ente com o restante dos

despojos. A divisão dos saques, inclusive através de sorteios, é citada na Ilíada, de Homero, nos textos de M ari e em Joel 3.3.3.14. preparação para o cerco. As fortificações para as cidades no antigo Oriente Próximo eram constituídas de rampas de terra, aclives, portas com torres e muros (às vezes com 7,5 a 9 metros de espessura) construídos sobre um alicerce de pedra e feitos de tijolos de barro. O vento e a chuva, porém, estragavam esses muros, que necessitavam de constantes reparos. M ilhares de tijolos eram necessários e incontáveis horas eram gas­tas em sua fabricação. M uitos anais e inscrições reais fazem menção à construção ou à reforma de muros das cidades como um feito importante, especialmente quando era possível prever um cerco. Os m uros da cidade de Nínive, construídos por Senaqueribe, atin­giam cerca de 12 quilômetros de circunferência. Tam ­bém era necessário assegurar um suprimento de água adequado durante o cerco. A água de Nínive provi­nha basicam ente do rio e do sistem a de aquedutos ligados a ele, m as esse abastecimento podia ser com­prometido pelo inimigo, do lado de fora dos muros. A ordem de "reservar água" m encionada neste versículo pode ser uma referência à atividade de encher enor­mes cisternas dentro da cidade.3.15-17. m etáfora do gafanhoto. Nuvens de gafanho­tos periodicam ente invadiam o Oriente Próximo ao longo de sua história. Esses insetos se reproduzem no deserto e nas regiões de estepes, e, à medida que seu número aumenta, eles se transformam em gafanhotos com asas, capazes literalmente de bloquear a luz do Sol. Eles consomem tudo à sua frente e infestam enor­mes áreas, visto que se reproduzem rapidamente (ver o comentário em Êx 10.1-20).3.17. guardas e o fic ia is . N aum está usando títulos assírios bastante conhecidos para referir-se a cortesãos e escribas (provavelmente um título mais geral para oficiais do governo). Registros do período m ostram que alguns funcionários, liderados por Assur-UbalitII, conseguiram fugir para o oeste, até Harã, quando a queda de Nínive era iminente.3.18. identidade do rei da A ssíria. Visto que a data do Livro de Naum é incerta, não é possível determinar a que rei da Assíria se refere no final deste oráculo. A maioria dos eruditos diria que a data m ais anterior seria pouco tempo depois da captura de Tebas, em 663, e que a data m ais antiga seria propriam ente a queda de N ínive, em 612. Pode ser que o Livro de N aum tenha sido escrito como um encorajamento para que o povo de Ju d á se rebelasse, um a vez que o Im pério A ssírio com eçava a ruir, após a m orte de Assurbanipal, em 627. A referência também pode ser a Sin-Shar-Ishkun, que era o rei assírio quando Nínive foi tomada.

H A B A C U Q U E

V1 .1-11 A primeira queixa de Habacuque1 .2 -4 . q u e ix a s so b re a in ju s t iç a so c ia l. Em bora H abacuque esteja falando ao povo de Judá no final do sétimo século a.C., suas afirmações quanto à injustiça

social são bastante sem elhantes àquelas feitas por Amós, no oitavo século, em relação a Israel, o reino do norte. Ambos os profetas condenam os líderes auto­

indulgentes e corruptos de sua época (ver a nota em Amós 2.6-8 que trata das condições econômicas e soci­

ais do oitavo século e o com entário em Am ós 5.12 sobre o sistema judicial corrupto). Acusações de injus­tiça so c ia l são um p ad rão com u m n a lite ra tu ra

sapiencial egípcia. Os escritores tentam manter a lide­rança da nação em um padrão elevado e sentem que

é essencial para a sobrevivência de sua cultura que a corrupção seja desm ascarada e exposta pelos detento­res do poder. Por isso, no período do Reinado Médio

(2050-1800), o Debate sobre o Suicídio foi composto a fim de expor as feridas sociais que haviam quase destruído

a sociedade egípcia durante o Primeiro Período Inter­m ediário (2258-2050), encerrado havia pouco tempo.

O homem que pede a libertação promovida pela morte através do suicídio queixa-se de que "todos são la­drões", que "os corações são gananciosos" e que "os

crimes não afrontam a ninguém ". Também durante esse tempo de instabilidade, a Lenda do Camponês Elo­qüente fala da necessidade dos adm inistradores do Egito em fiscalizar as ações dos legisladores que "apro­

vavam os roubos" e de inspetores que "tratavam a corrupção com indulgência". Esse texto conclama os juizes a não aceitar subornos, nem a tolerar o peqúrio.

No antigo Oriente Próximo, a justiça era a característi­ca mais básica e necessária da sociedade. Era função do rei m anter a justiça. Num nível ainda mais amplo,

a aliança exigia de Israel que a justiça fosse mantida de form a rígida tanto no âm bito pessoal quanto no

social.1.6. cronologia. Se a profecia de Habacuque deve ser entendida como palavras que causaram espanto e pas­

mo (1.5), então deve ter sido proferida antes da devas­tação causada pela Babilônia em toda a terra. Portan­to, parece necessário concluir que o Livro deva ser datado antes da Batalha de Carquemis, em 605. Ao con trário , a p red ição fe ita por H abacu qu e sobre Yahw eh "levantando os babilônios" não teria feito

sentido. Os babilônios se tom aram um a ameaça sig­nificativa para Judá apenas a partir de 605. Em 597 já haviam capturado Jerusalém e tomado o rei Jeoaquim como refém (ver os comentários em 2 Rs 24.10-14). A Babilônia tornou-se um a nação independente em 625 e iniciou suas atividades de expansão em 620. É im­possível oferecer um a datação m ais precisa para os oráculos de Habacuque.1.6. babilôn ios (caldeus). Os caldeus são menciona­dos pela prim eira vez em fontes m esopotâmicas do nono século a.C.. Em bora relacionados etnicamente com outras tribos de aram eus do sul da Babilônia, tinham uma estrutura tribal distinta. Quando o Impé­rio A ssírio com eçou a enfraquecer, líderes caldeus, inclusive Nabopolassar e Nabucodonosor, acabaram conquistando sua independência e estabeleceram a dinastia neo-babilônica, após 625. N abucodonosor herdou essa poderosa nação em 605, tornando-se seu mais famoso rei. Ele literalmente reconstruiu a cidade de Babilônia, solidificou o controle babilónico em todo o Oriente Próximo e até mesmo atacou o Egito (embo­ra sem sucesso). Seu longo reinado durou até 562. Ele foi sucedido por três descendentes que reinaram por um curto período, totalizando seis anos. O último rei da dinastia de N abonido, que aparentem ente havia sido um oficial do alto escalão durante o reinado de Nabucodonosor, reinou até 539, quando a Babilônia foi capturada pelos medos-persas sob Ciro, o Grande.1.8. cavalaria babilónica. Considerando-se a descrição dada aqui de um a cavalaria veloz, parece mais pro­vável que se tratava de cavaleiros empunhando lan­ças do que de arqueiros m ontados. Relevos assírios do palácio de Senaqueribe, em Nínive, m ostram como esses soldados montados eram capazes de atravessar colinas e florestas. Sua aparição súbita teria aterroriza­do os habitantes locais. No campo aberto, as corporações em carros funcionavam como infantaria m ontada e plataformas para os arqueiros, que.serviam como uma força de ataque frontal, enquanto a infantaria ia atrás deles. Arqueiros e lanceiros m ontados, lutando em duplas para sua própria proteção, permaneciam nos flancos para dar cobertura ao exército evitando que fosse apanhado num a m anobra por trás e tam bém para evitar a fuga de soldados inimigos.1.10. ram pas de terra. Ver os comentários em Isaías 20.2 e Jeremias 32.24; 33.4 sobre o uso de rampas de terra na guerra de cercos.

1 .12 - 2.20A segunda queixa e a resposta do Senhor1.12. Rocha. A metáfora comparando a divindade a

uma rocha destaca primordialmente o sentido de pro­teção e abrigo. Um a grande rocha podia dar sombra e

às vezes cavernas eram encontradas em áreas rocho­

sas. Essa não é um a m etáfora com um nas culturas fluviais do Egito ou da Mesopotâmia, com sua abun­

dância de planícies aluviais (ver a nota sobre metáfo­ras no início de Salmos). É possível que o termo seja

m ais que um a m etáfora porque aparece com o um nome próprio, assim como um nom e divino norm al­

m en te ap a re ce ria (p o r e x e m p lo , E lia s s ig n ifica

"Y ahw eh é m eu D eus", logo, por comparação Elizur

[Nm 1.5] significaria "Z u r [Rocha] é o m eu D eus"). Essa denom inação tam bém aparece em nom es pró­

prios aramaicos e amorreus da Síria, como um nome divino.

1.15, 16. equipam entos de pesca. Ao menos em ins­

crições e arte real, a pesca é retratada sendo feita em

cestos e não através do uso de anzóis (ver os comentá­

rios em Ez 12.13 e Am 4.2). Naturalmente, nesse caso

a questão é política, visto que o profeta quer ilustrar a

força de um governante que será capaz de apanhar seus inimigos como se apanham peixes ou pássaros

(ver o comentário em Os 5.1) em uma rede.

2.2. arauto correndo com tábuas. A idéia de correr

com um a m ensagem su g ere sua urgên cia ou im ­

portância. O que não fica claro é se aquele que lê a

mensagem é um arauto cuja tarefa era ir de um lugar

para outro lendo-a em voz alta, ou se refere-se a qual­quer que lesse a mensagem. Naquele caso as tábuas

inscritas seriam confiadas a um profissional; neste, a inscrição seria colocada num lugar público e à medida

que as pessoas a lessem, divulgariam as notícias. A

primeira opção é a interpretação preferida, visto que

o texto aqui fala de tábuas. Inscrições expostas publi­

camente geralmente eram feitas em colunas de pedra (esteias). M ensageiros profissionais eram figuras co­

muns nas cortes reais das antigas M ari e Babilônia.

Eram usados como "corredores" que levavam as or­

dens de seu senhor (ver também Jr 36.4 e a m issão de

Baruque como escriba e mensageiro de Jeremias).

2 .1 7 . L íb a n o . De aco rd o com seu s a n a is re a is , Nabucodonosor ordenou a seu exército que construís­

se uma estrada para "o transporte de cedros" do Líba­no. Ele descreve como "cortaram as montanhas, fen­deram rochas, [e] abriram passagens" para construir

essa estrada comercial de transporte de madeira. Tudo isso foi feito com a justificativa de que a terra ficaria

protegida de seus inim igos estrangeiros, porém, es­sas árvores na verdade foram usadas para construir o

palácio de Nabucodonosor e para ampliar o templo de M arduque, na Babilônia. Pode-se supor que os traba­

lhadores tam bém tenham caçado nas áreas m onta­nhosas do Líbano a fim de complementar suas própri­

as reservas alimentares.2.18. íd o lo que en sin a m en tiras. A inutilidade de

adorar ou consultar ídolos é mais uma vez declarada aqui (ver Is 46.7 e Os 4.12 para outros exem plos).

Isaías aplicou a expressão usada aqui para um falso

profeta (Is 9.15), m as H abacuque está se referindo aos

sacerdotes que manipulavam o povo "fazendo o ídolo falar" ou proferir um oráculo. Os sacerdotes babilônios

baru atuavam como adivinhos, interpretando pressá­

gios, sinais e realizando rituais cujo objetivo era bus­

car respostas dos deuses.

2.19. dar vida à m adeira. Ver o comentário em Isaías44.17, 18. O ritual de "abrir a boca" era empregado

na Babilônia para transform ar uma im agem de m a­

deira, decorada com ouro e pedras preciosas, na per­sonificação física do deus. Os encantamentos dos sa­

cerdotes proclam avam à divindade "a partir deste

m omento, estarás diante de teu pai Ea". Procissões

cerimoniais eram feitas,, a boca da im agem era lavada repetidam ente (catorze vezes ao todo), e comidas e

bebidas eram oferecidas. Após uma noite de sacrifíci­os, o sacerdote abria os olhos da im agem com uma

vara de tamargueira e então o "d eus" era entronizado no templo e vestido com os símbolos de sua posição.

3.1-19A oração de Habacuque3.1. confissão (sh ig io n o th ). Este versículo funciona

como um sobrescrito ao terceiro capítulo, de modo bastante semelhante aos sobrescritos ou introduções

do Livro de Salmos. Shigionoth aparece na forma sin­

gular em Salm o 7.1. Provavelm ente se refere a um tipo específico de canção. No caso de haver um a cone­

xão lingüística com o termo acadiano shigu, então se

refere a um lam ento. Porém , seu significado exato

ainda é desconhecido. Acerca deste e de outros termos

musicais, ver a nota em Salmos.

3.2-19. o salm o e a m itologia de H abacuque. Como pode ser visto freqüentemente em Isaías e Ezequiel,

os profetas com freqüência fazem uso do imaginário mitológico conhecido como um veículo para a trans­

missão de sua m ensagem. Isso pode acontecer de duas

maneiras: (1) a história pode ser narrada usando te­mas m itológicos e (2) lendas mitológicas podem ser

utilizadas fazendo a substituição dos elementos len­

dários por elem entos históricos. O prim eiro caso é

ilustrado quando o êxodo e especialmente a travessia do m ar Vermelho são narrados usando o tema m itoló­

gico do combate divino com o mar (ver o comentário

em Êx 15.3). O segundo pode ser visto em Isaías 27 ou

Ezequiel 32, onde mitos familiares são transformados

em oráculos contra nações em contextos históricos re­ais. Habacuque usa esses dois recursos à medida que

entrelaça elementos da mitologia babilónica e cananéia

em seu hino. O fluxo geral deste capítulo mostra certa semelhança com o texto babilónico Enuma Elish. N es­

te material, M arduque é louvado, adquire armas (lis­

ta parecida), cavalga na tempestade com seus assis­

tentes e atravessa e esmaga o inimigo. Essa seqüência

não é exclusiva ao Enuma Elish, mas mostra a intenção

de Habacuque em adotar esses temas bastante conhe­

cidos e transformá-los, dando-lhes um novo uso.

3.3. Tem ã. Ver os comentários em Obadias 9 e Jere­m ias 49.7 a respeito dessa localidade que é menciona­

da na inscrição de Kuntillet 'A jrud e pode ser uma

cidade ou uma região do território de Edom.

3.3. m onte Parã. A área ou "deserto" de Parã geral­

mente é considerada uma região no sul da Palestina,

em bora haja divergências quanto à sua posição, se no

lado oeste em direção à península do Sinai ou no lado leste da A rabá, nas proxim idades de Tem ã (ver os

comentários em Nm 10.12 e D t 33.2).

3.4. m etáfora do Sol. Hinos ao deus babilónico Shamás

usam terminologia semelhante. U m encantamento re­fere-se a Sham ás brilhando e enchendo a terra com

seu esplendor celestial. Yahw eh ocasionalmente é lou­

vado com expressões que tam bém eram usadas na

adoração ao Sol e em alguns períodos, provavelmen­

te, tenha sido confundido com o deus-sol (ver o co­m entário em 2 Rs 23.11). As evidências oficiais de

adoração ao Sol no antigo Israel parecem estar ligadas primordialmente ao reinado de M anassés. Os cavalos

e carros do Sol erigidos por esse rei foram destruídos por Josias quando procurou limpar o templo das influ­

ências de religiões estrangeiras (ver o comentário em

2 Rs 23.11). Nomes de lugares como Bete-Semes, Ein-

Semes e monte Heres (Js 15.7; Jz 1.35) também confir­mam a popularidade do culto ao deus-sol.

3.4. raios lam pejavam de sua mão. Um retrato típico

dos deuses da tempestade no antigo Oriente Próximo

é atuando como guerreiros divinos, tendo raios e re­

lâmpagos nas mãos levantadas.3.5. pragas, doenças terríveis. Os term os são perso­nificados aqui como auxiliares de Yahw eh na batalha.

A palavra hebraica traduzida como "d oenças terrí­

veis", resheph, é o nom e do deus cananeu da peste. Ele aparece bastante em inscrições ugaríticas, fenícias

(identificado com o Apoio) e aram aicas. Tam bém é associado ao deus babilónico Nergal, que era relacio­nado a pragas. Na mitologia do antigo Oriente Próxi­m o os deuses freqüentem ente dirigiam -se para as batalhas acompanhados de dois ajudantes.3.7. tendas de Cuchã. Não há nenhuma outra ocorrên­cia na Bíblia desse termo étnico, provavelm ente de um grupo tribal nômade. Visto que aparece em para­lelismo com Midiã, pode-se presumir que seu territó­rio tam bém ficava nas estepes do sul. Talvez fosse de fato um subgrupo dos midianitas.3.7. tendas de M idiã. Sobre M idiã e os midianitas, ver os com entários em Êxodo 2.15 e N úm eros 22.4-7. H abacuque aqui prediz a rota do guerreiro divino que desce de seu m onte santo para atacar os babi­lônios. Aparentemente isso assustará, mas não causa­rá dano aos habitantes das regiões do sul.3.8. conflito com rios/mar. Na literatura cananéia de Ugarit, há um mito extenso dedicado à guerra entre Baal e Yam m (mar) e seu ajudante N ahar (rio), que representam as forças do caos e da destruição. Haba­cuque indica que a ira de Y ahw eh não era contra esses inimigos mitológicos, m as sim contra os inimi­

gos de seu povo (v. 13).3.9-11. efeitos cósm icos do guerreiro divino. A idéia de um guerreiro divino que lidera seu povo às bata­lhas é bastante desenvolvida nas narrativas de con­quista israelitas (ver os comentários em Js 2.11 e 3.17).

Também aparece na inscrição moabita do rei M essa e nos profetas (ver o comentário em Jr 32.21). Um exem­plo particularmente espetacular encontra-se na "C an­ção de Guerra de Yahw eh", em Isaías 34 (ver os co­mentários em Is 34.4). Essa temática pode ser compa­rada tam bém com um trecho do épico ugarítico de Baal em que a aproximação da divindade é marcada pela "destruição dos céus" e cuja voz é descrita na lenda de Aqhat como um "som grave profundo", o ribombar dos trovões que antecedem as chuvas. F. M. Cross cita um texto de EI Amarna em que um prínci­pe sú d ito , A b im ilk i de T iro , re fe re -se ao faraó A quenáten com o aquele "q u e profere seu grito (de guerra) nos céus, como Haddu, de modo que toda a terra treme com sua voz". Um lamento mesopotâmico do primeiro m ilênio usa terminologia do castigo divi­no semelhante à de Habacuque, quando fala dos céus bramindo, a terra tremendo, o Sol se pondo no hori­zonte, a Lua parando no céu e as tempestades varren­do a terra. Para informações mais específicas sobre os movimentos dos corpos celestes relacionados à guer­

ra, ver os comentários em Josué 10 .12 ,13.

S O F O N I A S

w1.1-13 Julgamento contra Judá1.1. cronologia e ascendência do profeta. Esse so­brescrito situa o Livro no reinado de Josias (640-609a.C.). U m a vez que Josias ascendeu ao trono, quando ainda era menino, Judá foi governado até 622 (ver 2 Rs 22.1) por um a regência de sacerdotes e oficiais da corte. Pelo fato de haver diversas pessoas com o nome de Sofonias no período anterior e durante o exílio, acrescentar um a breve genealogia ajudava a indicar que pessoa era responsável pelos oráculos (compare com a prática semelhante de acrescentar o nom e do profeta a um a lista de profecias nos textos de M ari e nos anais assírios de Esar-Hadom).1.4. a reform a de Josias. Os abusos cultuais e a idola­tria descritos neste versículo antecipam as ações toma­das por Josias após 622 a.C. (ver os comentários em 2 Cr 34). Quando Josias conseguiu realizar sua "faxina" no tem plo e elim inar os deuses estrangeiros, seus ídolos e sacerdotes, ele o fez em nom e de uma restau­ração das condições da aliança (ver 2 Rs 23.24, 25). Uma reforma semelhante fora executada por Ezequias cerca de oitenta anos antes (2 Rs 18.4). Em ambos os casos, a aparente fraqueza da m onarquia assíria con­tribuiu para que pequenos reinos como Judá tentas­sem afirm ar sua independência política e religiosa.1.5. adoram o exército de estre las. A adoração aos exércitos de estrelas re fere-se aos deuses celestia is (deus-sol, deus-lua e Vênus particularmente; na Babi­lônia, Shamás, Sin e Istar, respectivamente), que eram os principais na m aioria das religiões antigas. No con­trole do calendário e do tempo, das estações e do clima, eram considerados os m ais poderosos deuses. Forneci­am sinais através dos quais presságios eram lidos e desprezavam a todos. Por volta do final do segundo milênio uma importante coletânea de presságios celes­tiais, os setenta tabletes da obra conhecida como Enuma A nu Enlil, fo i com pilada e consultada por quase m il anos. Selos de Israel desse período m ostram que as di­vindades astrais eram bastante populares. Havia m ui­tas constelações reconhecidas pelos astrólogos meso- potâmicos (muitas, em bora não todas, são as m esmas que identificam os hoje, transm itid as pelos gregos), m as o zodíaco ainda não era conhecido. Para m ais in­form ações, ver o com entário em 2 Crônicas 33.5.1.5. M oloque. Ver os comentários em Levítico 18.21 e Deuteronômio 18.10. M uitos consideram Moloque uma

divindade do m undo inferior presente em rituais de origem cananéia, com ênfase em ancestrais mortos. U m a inscrição fenícia do oitavo século a.C. fala de sacrifícios feitos a M oloque antes da batalha, pelos cilicianos e seus inimigos.1.8. vestidos com roupas estrangeiras. Visto que Judá estivera sob o dom ínio estrangeiro (assírio, egípcio e babilônio) por m ais de cem anos, não é surpreenden­te que os oficiais e aqueles que desejassem lisonjear seus senhores adotassem seu estilo de vestuário, bem como outros costum es e traços culturais. A indum en­tária judaica e a babilónica deste período não são bem docum entadas, logo não é possível estabelecer um a comparação detalhada. As diferenças talvez incluíssem as peças de roupas usadas ou o estilo, material, tecido ou corantes utilizados. Um exemplo posterior da ado­ção de estilos estran geiros en contra-se no período helenístico, quando Jason, o sumo sacerdote, obrigou a nobreza de Jerusalém a usar um chapéu de aba lar­ga associado ao deus grego H erm es (2 M acabeus 3.12).1.9. pisar a soleira. A típica soleira era feita de uma única pedra que abarcava a entrada, um pouco acima do nível do piso. Havia encaixes nas beiradas da so­leira onde os portões ou portas giravam. A altura da soleira evitava que as portas abrissem para fora. As passagens ou entradas com freqüência eram conside­radas sagradas e locais vulneráveis. A superstição sustentava que pisar na soleira permitia que os demô­nios que assombravam a entrada tivessem acesso ao lugar. Crenças semelhantes continuaram a existir no antigo Oriente Próximo e no Extremo Oriente, desde a Síria até o Iraque e a China, m as não há informações antigas em relação a essa superstição.1.10. porta dos Peixes. Jerusalém tinha m uitas portas que davam acesso a seus diversos bairros. A porta dos Peixes era a entrada pelo m uro norte a oeste da torre de H ananel (Ne 12.38, 39). Escavações arqueológicas confirm am que ela abria sobre um desfiladeiro que ia do templo até o planalto benjamita. Seu nome provavel­m ente deriva da presença de um m ercado de peixe estabelecido ali pelos m ercadores de Tiro (ver N e 3.3).1.10. novo distrito. Essa parte de Jerusalém foi criada quando Ezequias construiu a primeira muralha de de­fesa ao redor das colinas a oeste da cidade (2 Cr 32.5). Manassés aparentemente consertou esses muros duran­te seu reinado (2 Cr 33.14). A s escavações de A vigad trouxeram à tona um muro do sétimo século com qua­

se setenta metros de comprimento e sete de espessura. É possível que cercasse toda a colina ocidental, garan­tindo proteção extra à parte norte da cidade.1.11. distrito com ercial (N VI "cidad e baixa"). À m edi­da que cada distrito de Jerusalém é convocado a lamen­tar-se, a cidade baixa ou distrito com ercial, na parte oeste da cidade, passa a prantear. Com base na pala­vra hebraica maktesh (tigela ou pilão; ver Pv 27.22), pro­vavelm ente esse bairro ficava localizado em um a das reentrâncias ou depressões do vale de Tiropeon e fica­va no interior dos m uros da cidade no sétim o século.

1.14-2.15O grande dia do Senhor contra as nações1.14. dia do Senhor. V er a nota em Joel 2.2.4. cidades filisté ias no fin al do sétim o século. Após as cam panhas de Sargão II e Senaqueribe, no final do oitavo século e a captura e destruição de muitas cida­des filisté ias, essas localidades foram reconstruídas pelos assírios e diversas delas (particularmente Timna e Ecrom) prosperaram com o centros de produção de azeite de oliva. Evidências arqueológicas identificaram distritos industriais onde o azeite de oliva era proces­sado e tecidos eram fabricados (com base no grande número de pesos de tear encontrados nesses sedimen­tos). Há indícios de presença egípcia n a Filístia após o colapso do Im pério A ssírio (ver o com entário em Ez 25.15). Essas cidades foram destruídas em 600 a.C. nas campanhas do governante babilônio Nabucodonosor.2.8, 9. M oabe e A m om no fin a l do sétim o século. Com o todos os reinos pequenos da Siro-Palestina, M oabe e A m om foram vassalos dos assírios durante o oitavo e sétimo séculos. H á evidências disso na m en­ção aos quatro reis moabitas nos Anais Assírios (desde a época de Tiglate-Pileser III até Assurbanipal). Pode- se esperar que obtiveram algum nível de indepen­dência cam inhando para o final do sétim o século, quando o caos imperava na Assíria (ver o comentário em Ez 25.8). Entretanto, Josefo registra que foram subjugados pelos babilônios pouco tempo depois da queda de Jerusalém (ver o comentário em Ez 25.2).2.12. cuxitas (etíopes) no fin al do sétim o século. Não fica claro o que m otivou esse oráculo contra a Etiópia. Os cuxitas não m ais governavam o Egito desde a suplantação de sua dinastia em 664 pelo dinasta saíta Psammeticus I. Em bora esse faraó egípcio nativo te­nha se aliado com os assírios após 616, nenhum even­to ou campanha específica na Palestina é citado em sua inscrição ou na de seus sucessores antes da campa­nha de Neco II, em 609. Algumas sugestões têm sido feitas de que essa referência a Cuxe deva ser entendi­da em relação à Mesopotâmia (como é possível em Gn 10.8), visto que antecede o oráculo sobre a Assíria.

2.13. A ssíria no fin a l do sétim o século. Após a m orte de Assurbanipal em 627, as disputas entre seus her­deiros e sucessores em potencial enfraqueceram tanto o Im pério A ssírio que rapidam ente se desintegrou. Esse colapso foi acelerado por dois fatores. Primeiro, as duras políticas administrativas. O ódio gerado con­tra os assírios era acentuado pelo uso que faziam de táticas de terror na guerra (ver a nota sobre o cerco de Láquis em 2 Cr 32.9). O surgimento de um a coalizão entre babilônios e m edos deu origem a um páreo para o exército da Assíria e em 612 a capital assíria, Nínive foi capturada e destruída (ver o comentário em Is 13.1). O último passo na eliminação completa de todos os vestígios do poderio assírio veio com a bata­lha de Carquemis em 605. O Império Assírio sucum­biu aos egípcios e neo-babilônios que o dividiram (ver o comentário em Is 31.8).

3.1-20O futuro de Jerusalém3.3. líd eres como leões. A analogia do profeta entre

os líderes de Judá e leões ferozes pode ser comparada ao lamento do Salmo 22.12-21, onde o sofredor é ame­açado por leões que rugem e pede que seja salvo de suas bocas abertas (ver também Jr 2.30). Na literatura

assíria do sétimo século a cova dos leões aparece como um a m etáfora para cortesãos m aldosos que se opu­nham ao rei.3.9. p u rificar os láb ios. Em rituais m esopotâm icos com freqüência a purificação de lábios era um símbo­lo da purificação da pessoa. Era considerada um pré- requisito, especialm ente para sacerdotes adivinhos, antes que pudessem com parecer diante do concílio divino e relatar o que haviam testemunhado ali.3.10. rios da Etiópia. Conforme mencionado em 2.12, Cuxe pode ser uma referência a diversos lugares dife­rentes no Antigo Testamento, embora com m ais fre­qüência seja a designação que as traduções utilizam para referir-se à Etiópia. Essa opção, porém , pode

causar confusão, um a vez que a área de Cuxe não equivale à atual Etiópia (Abissínia), m as à área ao longo do Nilo, no sul do Egito, a antiga N úbia (no atual Sudão). A fronteira entre o Egito e N úbia nos tempos antigos geralmente ficava na prim eira ou se­gunda cachoeira do Nilo. É im provável que N úbia

tenha se estendido muito além da sexta cachoeira, em Khartoum. Este versículo, então, seria um a referência à região dos Nilos Azul e Branco, no A lto Egito. Outra possibilidade, visto que não se sabe de israelitas que tenham sido espalhados na região de N úbia, é que este versículo se refira aos rios da M esopotâm ia (ver G n 2.13).

A G E Uv1.1-15 A ordem para a reconstrução do templo1.1. cronologia. O uso de um a data precisa para in­troduzir uma narrativa profética específica é comum nos escritos pós-exílicos. O monarca mencionado aqui é Dario I, que assum iu o trono da Pérsia em 29 de setembro de 522 a.C.. Isso aconteceu logo após sete meses de dificuldades no império, começando com a revolta de Gaumata em 11 de m arço e sua subseqüen­te usurpação do trono em 1 de julho do mesmo ano, assim que Cambises morreu. Mesmo depois de Dario ter conquistado o trono, as revoltas continuaram, con­forme registrado na famosa Inscrição de Behistun. A data apresentada por Ageu é 29 de agosto de 520.1.1. Z o ro b a b e l. Z orobabel era h erd eiro do trono davídico (neto de Jeoaquim; ver o comentário em 2 Rs 24) e serviu como governador de Judá sob o rei persa Dario I. Havia uma certa expectativa de que ele teria um papel messiânico. Sem dúvida alguns esperavam que ele estabelecesse o reino prometido e os libertasse da escravidão (debaixo dos persas). Embora suas fun­ções fossem primordialmente seculares, ele é descrito em Esdras, juntam ente com o sacerdote Josué, como a força por trás da reconstrução do templo de Jerusalém. Governando sob o controle do rei persa, Zorobabel era responsável por m anter a lei e a ordem e pela cobrança de impostos. Embora fosse o último herdeiro da linhagem de Davi, que serviu como governador, arqueólogos encontraram um selo de Selomite (alista­da como filha de Zorobabel em 1 Cr 3.19), onde é designada como esposa ou oficial de Elnatã, o gover­nador que, acredita-se, teria sucedido Zorobabel.1.1. Josu é. Josué foi o sumo sacerdote no início do período pós-exílico. Seu avô, Seraías, fora executado por Nabucodonosor quando Jerusalém foi tomada pelos babilônios (2 Rs 25.18-21; observe que Esdras tam ­bém descende da linhagem de Seraías, ver 7.1). O herdeiro ao trono de Judá, Zorobabel, era o governa­dor, m as um a vez que Judá ainda estava sob o contro­le persa, havia restrições quanto à extensão de seu governo (para que não rivalizasse com o rei persa). Conseqüentemente, o governo na comunidade ficava dividido entre o governador e o sumo sacerdote, ten­do este um papel de maior destaque. Pouco se sabe a respeito de Josué, exceto que foi um dos líderes que ajudaram a reconstruir o templo. Não há referências extrabíblicas em relação a ele.

1.4. casas de fin o acabam ento. O term o traduzido como "fino acabamento" pode significar "cobertas", "com telhas" ou "com painéis", mas a questão é que representa o acabamento de uma casa. Suas casas não estavam "em construção", m as estavam plenamente terminadas e mobiliadas, enquanto o templo perma­necia em ruínas. O termo não im plica luxo ou itens caros, em bora os painéis pudessem ser incluídos nes­ta categoria. Painéis de madeira não eram comuns em residências particulares, embora o trono de Salomão tivesse "painéis" (1 Rs 7.7).1.7. papel profético na reconstrução do tem plo. Nosétimo século, os profetas assírios ofereceram enco­rajamento aos reis Esar-Hadom e Assurbanipal para reconstruir os templos de divindades particulares. Essa mensagem dos deuses era considerada essencial para os reis se sentirem à vontade e dar continuidade às preparações para a construção. A divindade que ha­bitaria no templo era a única que podia autorizar o em preendim ento.1.15. cronologia. A data aqui é cerca de 15 de setem­bro de 520 a.C., três semanas e m eia depois da pri­m eira profecia.

2.1-9 O esplendor do novo templo2.1. cronologia. Isso teria acontecido em 17 de outu­bro de 520, cerca de sete sem anas após a prim eira profecia.2.3, 4. o esplendor do tem plo e a presença de D eus. A principal razão de todo o esplendor de um templo era tom á-lo digno da presença da divindade. A honra era garantida através da riqueza e do luxo do prédio e de seus móveis e utensílios. Alguns talvez acredi­tassem que tudo isso era necessário para induzir a divindade a fazer do templo sua habitação. Aqui Ageu os tranqüiliza assegurando que o Senhor pretendia habitar naquela casa e conseqüentem ente trazer es­plendor a ela.

2.10-23 Promessa de bênçãos2.10. cronologia. A data equivalente é 18 de dezem­bro de 520, mais de três meses e meio desde a primei­ra profecia.

2.12. transm issão de pureza. A "carne consagrada" tom ava santo tudo que tocasse (p. ex., a borda de uma

veste), m as nada que tocasse a barra dessa roupa poderia, por sua vez, tom ar-se consagrado. A situa­ção retratada aqui talvez fosse bastante com um na época. O altar fora reconstruído poucos anos depois do retorno do exílio (535), mas o templo ainda não fora reconstruído. Isso significa que a carne dos sacrifícios não podia ser comida nos recintos normais do templo, como era a regra. Ao contrário, a comida teria de ser transportada a um lugar específico. Os regulamentos que estipulavam a transferência de santidade não se encontram na Escritura, portanto, deviam fazer parte da tradição oral israelita. A lei em Levítico 6.27 afirma que qualquer que tocasse a cam e de uma oferta pelo pecado seria consagrado, e, quando o sangue espirrasse em um a roupa, aquela roupa teria de ser lavada.2.13. transm issão de im pureza. A profanação ritual, porém, era transmitida pelo contato, de form a seme­lhante a uma doença contagiosa (ver os comentários em Lv 11.8; 22.3-9). De fato, o contato com um cadá­ver representava o m aior grau de impureza. Quem estivesse cerimonialmente impuro por causa do con­tato com um cadáver não podia participar do culto coletivo (p. ex., Nm 9.6; ver também o comentário em

N m 19.11) e com freqüência era levado para fora do acam pam ento (N m 5.2). Logo, a com ida que fosse tocada por alguém nesse estado de impureza ficava contaminada.

2.17. m ofo, ferru gem e granizo com o castigo d iv i­no. Os três castigos descritos aqui, mofo, ferrugem e

granizo, eram formas típicas da disciplina divina no

antigo Israel (ver o comentário em Am 4.9). O mofo

deriva de um termo hebraico que significa um vento

muito quente. O termo geralmente se refere ao vento

oriental escaldante que sopra pela terra, vindo do

deserto. O termo "m ofo" refere-se aos efeitos devasta­

dores do vento, que murchava e destruía as plantas e

os cereais. A ferrugem é um term o que se refere a

um a doença dos cereais provocada por um fungo.

Acreditava-se que essa doença era causada pela seca e

chuvas excessivas. Um a terceira condição clim ática

adversa é o granizo que, se acom panhado de um

vento forte, causava estragos nas plantações. Assim

como os outros termos, o granizo muitas vezes é visto

como um castigo divino (ver o comentário em Js 10.11).

2.18. cronologia. Dezoito de dezembro de 520 (a mes­

ma data mencionada em 2.10) é descrito aqui como a

data da fundação do templo do Senhor. Logo, essa

data era de grande importância para Ageu.

2.23. anel de selar. O termo "anel de selar" provavel­

mente se refira a um selo que podia ser cilíndrico e

usado num cordão em volta do pescoço ou um selo de

estampa incrustado em um anel, que é o tipo citado

aqui. Aquele era m uito comum na M esopotâmia, en­

quanto este era usado em Israel. M ilhares de selos

cilíndricos e selos de estampa foram encontrados na

M esopotâm ia e na Siro-Palestina, respectivam ente.

Eram um sinal de autoridade, identificação e posse.

Z A C A R I A S

V1.1-6 Chamado ao arrependimento1.1. cronologia. Zacarias data seus oráculos de forma

bastante precisa, assim como seu contemporâneo Ageu. Seu m inistério teve início em novem bro/dezem bro

de 520 a.C., coincidindo com o de Ageu por um mês.1.1. Ido. Quando diversos ancestrais são m encionados em um a genealogia, o últim o geralm ente é o m ais

im portante. Em N eemias 12.4 um certo Ido é m en­cionado entre os sacerdotes que voltaram do exílio com Zorobabel na primeira leva, em 538. Se for esse

m esm o Ido, indica que Z acarias provinha de uma família de destaque com linhagem sacerdotal.

1.7-17A visão dos cavalos1.7. cronologia. Essa visão ocorre vários meses após o

prim eiro oráculo. Data de 15 de fevereiro de 519 a.C.. Visto que a próxima nota cronológica só aparece após

essa seqüência de visões, deve-se considerar que ser­ve de moldura para as visões, cuja atenção central é a

reconstrução do templo. Provavelmente não se trata de coincidência, então, que a visão aconteça exatam ente um a sem ana antes do dia de A no N ovo, quando os projetos de construção e reforma de templos geralmente

eram iniciados no m undo antigo. A lém disso, alguns eruditos acreditam que Dario marchou para o Egito em 519 para garantir que a lealdade deles fosse m antida

e que as p reparações do exército para essa m archa foram uma fonte de inquietação para o povo de Judá. É possível que os israelitas tenham se sentido bastan­

te inseguros quanto a que exigências lhes seriam im ­postas e como seriam tratados.1.9. an jo dirigindo a visão. Os anjos não apenas trans­m itiam m ensagens da divindade, mas explicavam o

conteúdo das mesmas e respondiam a perguntas re­lacionadas a elas. Por isso, Gabriel é visto em Daniel 8.16 como aquele que pode interpretar a visão. No contexto politeísta do mundo antigo os mensageiros dos deuses geralmente eram deuses também (de po­

sição inferior no panteão). Na M esopotâmia, encontra­mos m ensageiros como Nusha e Kakka, enquanto o bastante conhecido Hermes desem penhava esse pa­pel na mitologia grega. Em um sonho de Nabonido, um jovem aparece para oferecer uma interpretação de um presságio celestial que fora observado.

1.10. enviou por toda a terra. Os persas eram bas­tante conhecidos por seus m ensageiros m ontados, que

viajavam diariamente por todo o império garantindo o m ais eficiente sistema de comunicação do mundo antigo. As murtas evocam a im agem de jardins pala­cianos. Os reis persas apreciavam os bosques que

cercavam os salões de audiência, onde recebiam visi­tantes e relatórios.

1.11. paz persa. A ssim como os m ensageiros reais trariam notícias ao seu superior de que tudo estava

em paz, tam bém esses m ensageiros angelicais tra­zem seu relatório ao anjo do Senhor. O fato de que

Dario agora estava assentado no trono e incipientes revoltas haviam sido sufocadas seriam boas notícias para o im pério, porém más notícias para os judeus.

Sua esperança da restauração e restabelecim ento da monarquia davídica, despertada diante da perspecti­

va do colapso do Império Persa, agora recebera um duro golpe. A lém do m ais, se o exército de Dario estava a caminho do Egito, passando por Judá (ver o

comentário em 1.7), o relatório do cavaleiro garantia que não haveria problem as à medida que os persas passassem por ali.

1.16. situação da reform a. Esdras 3 relata que a obra foi feita no templo antes de 520. Certam ente o altar

havia sido erigido de novo e estava em pleno funcio­namento, mas a nota cronológica que introduz a cons­trução do alicerce em Esdras 3.10 não é tão clara quan­to poderia ser (ver o comentário em Ed 3.8). Não é

impossível que um alicerce tenha sido lançado uma segunda vez.

1.18-21A segunda visão: quatro chifres e quatro artesãos1.18. quatro chifres. Era comum na M esopotâmia que reis e deuses usassem coroas com chifres salientes ou em relevo. Às vezes, os chifres eram sobrepostos em camadas. O leão alado do palácio de Assurnasirpal tinha um a coroa cônica em sua cabeça humana, com

três pares de chifres enfileirados em relevo. É difícil determinar o significado do núm ero quatro. Algumas

sugestões incluem a apresentação de um esquema de quatro im périos (ver o com entário em D n 7.17) ou talvez um a referência aos quatro cantos da terra, de onde esses inimigos viriam (ver o comentário em Ez

7.2). Considerando-se o contexto de reconstrução do

templo, uma sugestão bastante convincente é que o

sim bolism o dos chifres aludia às quatro pontas do altar. U m altar fora erigido no tem plo logo após a

chegada dos exilados (ver o comentário em 1.16), mas

provavelmente teria de ser removido dali para que a

obra de reconstrução tivesse continuidade.1.20, 21. artesãos. Dentre as muitas categorias de fun­

cionários de templos babilónicos no final do sexto sé­culo encontravam -se os "artesãos" (ummanu). Um a

série de guildas compunham esse grupo (aqueles que

trabalhavam com m adeira, metal, couro, ouro, tecido, pedra e pedras preciosas, além daqueles que executa­

vam tarefas de lavanderia). Esse m esm o term o era

usado também como título dos conselheiros reais que, acreditava-se, tinham poderes sobrenaturais. Indiví­

duos com esse título também são identificados como sábios que compuseram obras famosas de literatura.

Em resumo, esse termo referia-se aos vários especia­listas a serviço do palácio e do templo. O Épico de Erra

deixa claro que os ummanu eram responsáveis pela confecção das imagens divinas. O termo hebraico usa­

do aqui pode também referir-se a uma ampla gama

de trabalhadores, inclusive os que confeccionavam

imagens e serviam nos templos, mas nunca é aplica­

do de form a clara a sábios ou conselheiros reais. No

panteão cananeu, a importante divindade Kothar-wa- Hasis é a artesã dos deuses. Essa divindade confeccio­

nava as armas dos deuses e foi responsável pela cons­

trução da casa de Baal. No panteão egípcio, Ptá de

Mênfis era a divindade artesã, considerada portanto

um deus criador e padroeiro dos artesãos. Se estiver

correto que se tratam de artesãos que estão desman­chando o altar (ver o comentário anterior), então são

trabalhadores a serviço do tem plo executando uma tarefa sagrada e cerimonial.

2.1-13A te rc e ira v isã o : c o rd a d e m e d ir2.2. m edir Jerusalém. A localização e a posição de um

templo eram consideradas extrem am ente im portan­tes (ver o comentário em Êx 26.1-36). Isso também é

confirmado em textos mitológicos e históricos que des­

crevem construções de templos na Mesopotâmia. No Enuma Elish, quando M arduque está se preparando

para construir seu templo cósmico, ele m ede o Apsu

(a área onde o alicerce do templo será lançado). Desde os tempos sumérios até os períodos assírios e babi­

lónicos, a posse de um equipamento de medição era

sinal da aprovação divina para o projeto de constru­ção. Era através dessa ferram enta que o líder recebia orientação divina. Além disso, esse equipamento era usado para determinar a localização exata do alicerce

anterior do templo.

2.5. glória dentro dela. D esde a literatura sum éria pode-se observar que a presença da divindade em

uma cidade representava a proteção daquela cidade.

Por exemplo, na M aldição de Agade, os deuses abando­

nam a cidade tom ando-a portanto vulnerável a seus

inim igos.2.6. terra do n orte . E specialm ente em Jerem ias, o

norte era a direção de onde o inim igo viria (ver o

comentário em Jr 1.14, 15). Com o tempo tom ou-se

claro que a Babilônia era esse inimigo do norte. Em­bora a Babilônia estivesse localizada a leste de Jerusa­

lém , todo o tráfico flu ía em um arco em volta do deserto sírio. Logo, os babilônios chegariam a Judá

pelo norte e os israelitas iriam para a Babilônia tam-

LITERATURA APOCALÍPTICA"Apocalíptico" é o nome tradicionalmente dado a uma categoria (gênero) literária específica. Esse gênero é definido por algumas características. Pode-se traçar algumas origens fora da Bíblia (ver a nota sobre apocalipses acadianos em Dn 11), apesar de seus mais antigos membros genuínos estarem em livros do Antigo Testamento, tais como Daniel e Zacarias. Na Bíblia, a literatura apocalíptica está intimamente interligada com a literatura profética. Há mais de uma dúzia de obras apocalípticas judaicas do período intertestamental; as mais importantes são 1 Esdras e os livros de Enoque. O livro do Apocalipse é a contribuição do Novo Testamento a esse gênero literário. Outros apocalipses cristãos começaram a surgir à margem do Novo Testamento, inclusive obras como O Pastor de Bermas, o Apocalipse de Pedro e a Ascensão de Isaias. O gênero era o favorito dos gnósticos, cuja literatura contém inúmeros exemplos. Os Apocalipses apresentam uma estrutura narrativa e com freqüência retratam um intérprete angelical ou guia, juntamente com o profeta. O anjo pode levar o profeta por um passeio pelas esferas celestiais ou transmitir certas realidades e atividades. Ele pode também desvendar uma época futura de dificuldades e libertação. Essa literatura funciona a partir de uma ampla gama de símbolos através do uso de imagens mitológicas e números carregados de significados. Tem como origem a literatura bíblica e extrabíblica e tende a fazer uso de esquemas. Ao ler textos apocalípticos, é importante ter em mente uma série de diretrizes. Primeiro, nem todo detalhe está necessariamente carregado de significado simbólico. Até mesmo detalhes que contêm significados simbólicos podem não ser tão claros para nós e especular a respeito da interpretação não traz muito resultado. Segundo, é importante lembrar que a visão apocalíptica não é a mensagem em si, mas sim o veículo ou a ocasião para a mensagem. Assim, por exemplo, a mensagem da primeira visão de Zacarias (1.7-17) não é que hão de surgir quatro cavalos de cores diferentes em um bosque de murtas. A mensagem é apresentada de forma bastante evidente nos versículos 14.17; o gênero apocalíptico é apenas o meio utilizado para transm iti-la.

bém pelo norte. Aqui Zacarias está exortando-os a

fugir das terras de seus dominadores.2.6. quatro ventos. Na m aneira de pensar m esopo-

tâm ica, às vezes havia sete ventos, mas o m ais co­

mum eram os quatro ventos. Estes estavam relaciona­

dos aos pontos cardeais conforme a direção de onde

sopravam, como nos nossos dias.

3.1-10Vestes limpas para o sumo sacerdote3.1. Satanás. A qui e no Livro de Jó a palavra satan

aparece acompanhada de um artigo definido ("o "), deixando claro que o term o não se tratava de um nom e próprio. A palavra hebraica satan é usada para

descrever um adversário e pode referir-se a seres

humanos ou sobrenaturais. Até mesmo o anjo do Se­

nhor pode desem penhar essa função (Nm 22.22). O

termo só passa a representar claram ente o papel de

nom e próprio a partir do período intertestam ental

(especificamente no segundo século a.C.). Em bora o adversário de Josué possa ser aquele que mais tarde é

chamado de Satanás, não se pode concluir isso com

certeza. Aqueles que serviam como adversários ge­ralm ente desempenhavam o papel de dar crédito às

ações e decisões de Deus.3.3. Josu é. Josué foi o sum o sacerdote no início do

período pós-exílico. Seu avô, Seraías, fora executado

por Nabucodonosor quando Jerusalém foi tomada pelos

babilônios (2 Rs 25.18-21; observe em 7.1 que Esdras tam bém é identificado como descendente da linha­

gem de Seraías). O herdeiro ao trono de Judá, Zo- robabel, era o governador, m as um a vez que Judá

ainda estava sob o controle persa, havia restrições

quanto à extensão de seu governo (para que não riva­lizasse com o rei persa). Conseqüentemente, o gover­

no na comunidade ficava dividido entre o governa­

dor e o sumo sacerdote, tendo este um papel de m aior

destaque. Pouco se sabe a respeito de Josué, exceto que foi um dos líderes que ajudaram a reconstruir o

templo. Não há referências extrabíblicas em relação a

ele.3.4. os que estavam diante dele. A cena que inclui

um acusador e outro de pé no banco dos réus evoca a

im agem de um tribunal divino. Tal conceito tinha um a longa tradição tanto em Israel quanto no antigo

Oriente Próximo. No antigo Oriente Próximo, as prin­

cipais decisões eram tomadas no concílio divino. Ali os deuses se consultavam e compartilhavam informa­

ções e opiniões. A im agem fam iliar de um trono celestial cercado por um a assembléia aparece com fre­

qüência nos textos ugaríticos (com destaque no Épico

de Keret), em bora esse concílio cananeu fosse form a­

do pelos deuses do panteão. Há exemplos também na

inscrição de Yehim ik (décimo século) em Biblos e na esteia Karatepe, de Azitaw adda. No texto acadiano

Enuma Elish, é a assembléia dos deuses que nomeia M arduque como seu chefe. Cinqüenta deuses forma­

vam essa assembléia, com sete no concílio interno. Na

crença israelita, os deuses eram substituídos pelos anjos

ou espíritos - os filhos de Deus ou o exército celestial.

3.5. investidura. Esse trecho não faz menção às peças

mais importantes da indumentária do sacerdote (éfode, peitoral, veste de linho), apenas ao turbante. Isso su­

gere que a posição sacerdotal de Josué não é a questão

em pauta. Em um relevo de A ssurbanipal (sétim o

século), o rei está usando um turbante especial en­quanto carrega o tijolo do alicerce em um a cesta em

cima da cabeça. É possível, então, entender que Josué

está sendo preparado para sua função na reconstrução

do templo.3.8. Renovo. A maioria dos estudiosos acredita que a

palavra "R enovo" é um termo técnico que se refere ao herdeiro de um a linhagem dinástica estabelecida -

em Israel, um rei davídico futuro que restauraria a

monarquia. Um uso sem elhante foi encontrado em um a inscrição fenícia votiva, em Chipre, honrando

M elqart e que data do início do terceiro século a.C..

Ali, o texto refere-se a um legítimo "renovo" da di­

nastia ptolemaica do Egito. Os Rolos do M ar Morto,

encontrados em Qum ran, não fazem uso do termo

num sentido messiânico, mas o significado de reinado

aparece em textos ugaríticos e assírios. Por exemplo,

Tiglate-Pileser III é descrito como o rebento ou descen­dente da cidade de Baltil (Assur), que traria justiça a

seu povo.3.9. sete pares de olhos. Costuma-se afirmar que os

sete pares de "olhos" são sete faces ou superfícies da

pedra. O problema é que no mundo antigo as pedras preciosas eram trabalhadas em diversas formas mas

não cortadas em faces. Considerando-se o contexto, é preferível associar essa pedra com um a nova pedra

fundamental para o templo (ver o comentário em 4.7). Na Mesopotâmia, contas ou fieiras de pedras precio­

sas dedicadas ao templo eram entalhadas com o for­mato de olhos e tinham os nomes dos doadores grava­

dos. Os reis assírios e babilônios incluíam pedras pre­ciosas nos depósitos colocados no alicerce dos templos.

N abopolassar relata ter espalhado ouro, prata e pe­

dras importadas em alicerces. As pedras fundamen­

tais às vezes eram revestidas de metais preciosos e portanto podiam ser incrustadas de pedras preciosas.

Se Zacarias está refletindo essa prática, os sete pares

de "o lh o s" na verdade estão sendo incrustados na pedra e não gravados nela.

4.1-14 O candelabro de ouro e as duas oliveiras4.1. an jo dirigindo a visão. Ver o comentário em 1.9.4.2. descrição do candelabro. Esse candelabro de ouro maciço tinha um pedestal com um grande recipiente em cima. Dispostas ao redor desse recipiente havia sete lâmpadas. Essas lâmpadas eram pequenos reci­pientes rasos que continham o azeite. Esse tipo de lâmpada era comum em todo o período bíblico, em­bora em cada época tivessem form atos diferentes. Geralmente tinham uma área estreita onde um pavio era introduzido, ficando a parte inferior submersa no óleo. O pavio absorvia o óleo que queimava produ­zindo a luz. Cada um a das sete lâmpadas tinha sete canos estreitos na borda, como confirmam alguns exem­plares de lâmpadas encontradas em escavações. Sen­do assim , a lâm pada m aior tinha quarenta e nove luzes. O recipiente m aior provavelmente continha o azeite que, de alguma forma, escoava até as lâm pa­das menores. Não foram encontrados exemplares que

apresentassem semelhanças com esse complexo can­delabro descrito aqui. U m m odelo alternativo que tem m ais respaldo da arqueologia é o kernos, que continha um a argola de cerâmica onde as sete lâmpa­

das eram colocadas. Foram encontrados kem oi na Pa­lestina do período persa que eram usados como lâm­padas.4.3. posição do candelabro. O. Keel demonstrou que, na iconografia de selos dos séculos oitavo e sétimo,

com freqüência a divindade era representada de for­m a estilizada. Im agens astrais geralm ente represen­tavam a divindade, principalm ente a Lua crescente

com suas pontas voltadas para cima. Tanto a forma como o fato de que a luz está envolvida podem facil­m ente ser um paralelo ao candelabro dessa visão. Além disso, esse símbolo é ladeado por adoradores, às vezes representados por árvores, com freqüência ciprestes. N ão é im possível que, com o B. H alpem sugeriu, a visão do candelabro forneça um a descrição do que seria inscrito na pedra fundamental. A princi­pal vantagem dessa alternativa é que estabelece uma conexão entre os sete olhos da pedra em 3.9 e os sete olhos representados pelas sete lâm padas em 4.10, dando a entender que o candelabro e a pedra seriam

representações da mesma coisa.4 .6 . Z o ro b a b e l. Z orobabel era h erd eiro do trono davídico (neto de Jeoaquim; ver o comentário em 2 Rs 24) e serviu como governador de Judá sob o rei persa Dario I. Havia um a certa expectativa de que ele teria um papel messiânico. Sem dúvida alguns esperavam que ele estabelecesse o reino prometido e os libertasse

da escravidão (debaixo dos persas). Embora suas fun­ções fossem primordialmente seculares, ele é descrito

em Esdras, juntam ente com o sacerdote Josué, como a

força por trás da reconstrução do templo de Jerusalém. Governando debaixo do controle do rei persa, Zoro­

babel era responsável por m anter a lei e a ordem e pela cobrança de im postos. Em bora fosse o últim o

herdeiro da linhagem de Davi, que serviu como go­

v ern ad o r, arq u eó lo g o s en co n traram um selo de

Selomite (alistada como filha de Zorobabel em 1 Cr 3.19), onde é designada com o esposa ou oficial de

Elnatã, o governador que, acredita-se, teria sucedido Zorobabel.

4.7. pedra fundam ental. É provável que essa "pedra

fu nd am ental" na verdade seja aquela que sem pre

tinha um significado importante na construção e re­forma de templos. Um dos relatos mais detalhados da

construção de templos, na literatura do antigo Oriente

Próxim o, descreve a construção de um templo dedica­

do a Ningirsu, feita por Gudea, por volta do ano 2000a.C.. A cerim ônia de lançam ento da pedra funda­

m ental m ostra a im portância da m esm a em todo o

processo de construção. Em textos neo-assírios Esar-

Hadom pessoalmente remove a antiga pedra funda­m ental do templo para que a reforma possa ser inici­

ada. A referência à planície aqui sugere que Zorobabel

está cerimonialmente retirando a pedra fundamental

do templo anterior para indicar que a reforma pode ser iniciada.

4.9. Zorobabel term inará o tem plo. No texto Autobi­

og ra fia d e A âad -G u p p i, A d ad -G u p p i, m ãe do re i Nabonido (poucas décadas antes de Zacarias), recebe

um a mensagem em um sonho de que seu filho cons­

truiria o templo do deus Sin, em Harran. Ele termina­ria a obra e traria um novo esplendor para Harran e

sua divindade padroeira.

4.10. pedra principal. O hebraico fala apenas de vima

pedra de estanho. Em alguns projetos de restauração de templo no m undo antigo havia um bracelete de

estanho que era usado pela pessoa que rem ovia a

pedra principal (ver o comentário em 4.7 acima). O

estanho também era ocasionalmente usado como um

tablete para a inscrição do alicerce.4.10. olhos do Senhor. As lâmpadas representam os

sete "olhos" do Senhor. Se as relações entre 3.9 e 4.3

sugeridas acima estiverem corretas, esses sete "olhos"

tam bém são os m esm os m encionados em 3.9 e são

incrustados na pedra fundamental como parte da ima­gem do candelabro.

4.12. tubos de ouro. N os selos descritos no comentário

em 4.3 também está retratado aquilo que Keel identi­fica como "borlas" que partem da Lua crescente. Nes­

sa visão, essas borlas assumem a form a de tubos por

onde o azeite escoava das árvores até o candelabro.

4.14. s ig n ificad o do azeite. A palavra usada para azeite (ou óleo, conform e nota na NVI) em 12 e 14 refere-se à matéria-prima ou óleo não processado. Esse óleo não seria usado para unção (a NVI traduz o termo em hebraico "filhos do azeite" como "ungid o"). Por ser um produto bruto, muitas vezes é relacionado à prosperidade, m as é d ifícil saber que relação teria aqui. Considerando-se o contexto de reconstrução do templo, um dado im portante é que a cerim ônia de lançam ento do alicerce m uitas vezes era feita com argamassa misturada com azeite e não água. Se essa relação for válida, novam ente identificaria Josué e Zorobabel como aqueles que executaram o projeto de reconstrução. Senaqueribe afirm a ter aspergido um alicerce com óleo como se fosse água fluvial.

5.1-4A visão do pergaminho que voava5.1. pergam inho que voava. A descrição do pergami­nho que voava sugere que, ao menos parcialmente, estava desenrolado. Apesar de no português ser pos­sível usar o verbo voar para descrever outros objetos, além de seres que voam, no hebraico este é o único caso (embora clarões de luz e nuvens também sejam descritos "voando"). Isso é confirmado no versículo 4, onde o pergam inho é enviado para entrar em algu­mas casas. Não há paralelo de pergaminhos que voam na literatura extrabíblica.5.2. dim ensões comparadas. A s dimensões do perga­minho são as m esmas do pátio do templo de Salomão, mas é difícil identificar qualquer significado para essa relação. Não era raro que um pergaminho antigo ti­vesse nove metros de comprimento, mas a largura de quatro metros e meio era extraordinária e despropor­cional. A preocupação com a proporção entre compri­mento e largura levou alguns estudiosos a considerar os nove metros de comprimento como uma referência apenas a algumas colunas que ficavam visíveis quan­do o pergaminho era desenrolado apenas parcialmente. Seria bastante improvável que um pergam inho fosse totalmente desenrolado. A prática convencional era desenrolar am bas as extrem idades do pergam inho sim ultaneam ente, m antendo a visibilidade de ape­nas algum as colunas de texto. Se som ente a parte aberta tivesse nove metros de comprimento, seria mais compatível com a imensa largura de quatro metros e m eio. V isto que a largura de um a coluna de texto num pergaminho geralmente tinha a metade da altu­ra do pergaminho, provavelmente duas colunas fica­riam visíveis, com as partes ainda enroladas em cada extremidade, completando o restante da largura.5.3. m aldição no pergam inho. A palavra usada aqui para maldição refere-se às terríveis conseqüências que

recairiam sobre aquele que violasse um juram ento ou

a uma intimação pública cujo objetivo era reunir da­

dos referentes a um crime que fora cometido (ver Lv 5.1). A sonegação de informação implicaria em cum ­

plicidade por parte da pessoa, que se tom aria sujeita à mesma punição do perpetrador do crime.

5.3. escrito em am bos os lados. Apesar de geralmen­te pergam inhos serem escritos apenas de um lado,

não era sem precedentes a escrita feita tam bém do

outro lado (ver Ez 2.10). Sendo dito isso, porém, não

fica claro que o texto esteja se referindo a um pergami­

nho escrito dos dois lados. Em quase todos os usos dessa expressão, os dois lados são esquerda e direita e

não frente e verso. Se o pretendido era "frente e ver­

so", a mesma expressão usada em Ezequiel 2.10 teria

sido a escolha óbvia. Portanto, é mais provável que

duas colunas estivessem expostas no pergaminho (ver

o comentário em 5.2), um a delas tratando do castigo para roubo e a outra para quem jurasse falsamente.

5.3. ladrão e o que ju ra falsam ente. O texto sugere uma relação entre o ladrão e o que jura falsamente.

Que juram ento poderia ser feito que, ao ser quebra­

do, se constituiria em roubo? Um a possibilidade é a

de indivíduos que faziam penhores de fundos para

realizar a construção do templo e voltavam atrás em

seus juram entos. Nesse caso, seriam culpados de rou­

bo (algo fora penhorado, portanto, não m ais lhes per­tencia) e de rom per um juramento. As sanções (repre­

sentadas no pergam inho) agora se aplicavam a eles expulsando-os de suas casas e trazendo sobre eles as

conseqüências de seus atos. O problema da maldição

ser lançada contra suas próprias casas e não contra o tem plo é citada em A geu 1.4; a acusação de roubo

quanto a apropriar-se de algo penhorado é visto como

um problema pós-exílico em Malaquias 3.8-10.5.4. m aldição que entra na casa e ali fica. Se, confor­

me sugerido nos comentários acima, os ofensores ha­

viam renegado a promessa de contribuições ao tem­plo, é apropriado que essa atitude de impedimento

da construção da casa do Senhor resultasse na destrui­

ção de suas próprias casas. Era outra m aneira de dizer que sua infidelidade voltaria para eles, na form a de um castigo equivalente à ofensa praticada.

5.5-11A mulher dentro de um cesto5.6. vasilha. Recipientes especiais cerim oniais eram usados para transportar a pedra principal e também

os depósitos que eram colocados no alicerce. Esse reci­

piente é descrito apenas por seu tam anho, um efa,

que geralmente é considerado equivalente a 37 litros. Não há indícios do material de que a vasilha era feita.

N a M esopotâm ia, o recipiente usado para carregar ofertas depositadas no alicerce era chamado de quppu

e podia ser um cesto de vim e ou um baú de madeira. A ju lgar peio que era colocado neles, seu tam anho podia variar bastante.5.7. chum bo. Apesar de a NVI interpretar o term o como uma tampa de chumbo, no versículo 7 o texto originai refere-se a um "talento" de chumbo (um peso específico, geralmente no formato de um disco conve­xo) e no verso 8, a uma pedra de chumbo. As dádivas depositadas no alicerce de templos com freqüência incluíam peças de m etal (ouro, prata, ferro, bronze, chumbo), às vezes pequenos fragm entos, outras ve­zes grandes blocos ou ainda tabletes ou tijolos quadra­dos convexos.5.7. m ulher dentro. O pequeno tamanho da vasilha levou à conclusão de que a m ulher sentada em seu interior refere-se na verdade a um a estatueta. A re­lação disso com a construção do templo pode ser que estatuetas eram enterradas com freqüência perto das oferendas depositadas no alicerce ou debaixo da pe­dra que servia de eixo ou pino para o encaixe das portas. Tais estatuetas podiam indicar dedicação a uma divindade específica ou representar um a divindade apotropaica (protetora). É bastante tentador encarar essa visão vinculada a uma caixa de oferendas deposi­tadas em um alicerce tirada das ruínas do templo e que continha uma estatueta e um a peça de chumbo.5.9. m ulheres com asas. No Antigo Testamento os anjos não são do sexo feminino e não são retratados com asas (embora em D n 9.21 Gabriel talvez apareça em um vôo rápido; mas ver o comentário ali). Na literatura ugarítica a irm ã de Baal, A nat, é retratada com asas. N a arte

m esopotâmica criaturas aladas geralmente são espíri­tos protetores ou demônios. A deusa Istar ocasional­

m ente tam bém é retratada com asas. D ois esp íritos

femininos alados são retratados ladeando um a árvore estilizada em um relevo do nono século.

5.11. constru ir um santuário para ele. O pronom e

traduzido com o "e le " no texto original é fem inino,

como são as mulheres e o efa. Visto que a segunda

parte do versículo faz referência à vasilha e não à

mulher, considera-se que o santuário seria construído

para aquela e não para esta. Isso confirm aria que a

vasilha deva ser identificada como um a oferenda de

alicerce que seria depositada em um tem plo ali. A

palavra "casa" (NVI "santuário) com freqüência é usa­

da para templo.

6.1-8 Quatro carruagens6.1-5. condutores de carruagens, m ensageiros da di­

vindade. Esses são cham ados de quatro espíritos, o

mesmo termo para os quatro ventos em 2.6. O Salmo

104 .4 re fere-se aos v en to s com o m en sageiros de

Yahweh, e é essa a função que estão desempenhando

aqui. Os cavaleiros do capítulo 1 são comparáveis aos

m ensageiros do serviço de comunicações persa, ape­

sar de carruagens não serem usadas para esse fim,

uma vez que, em vez de agilizar o trabalho do men­sageiro, apenas o retardaria e cansaria seus cavalos

desnecessariamente. No antigo Oriente Próximo, um

ser sobrenatural em uma carruagem geralmente era

o cocheiro de um a divindade e não seu mensageiro

(ver o comentário em 2 Rs 2.11).

RESUMO DAS RELAÇÕES ENTRE A CONSTRUÇÃO DO TEMPLO E AS VISOES DE ZACARIAS A série de visões é iniciada com a afirmação de que Yahweh ainda cuida de seu povo, apesar do firme domínio do Império Persa. A primeira visão indica que seu plano para o futuro seria cumprido através da reconstrução do templo. A segunda visão dá início ao processo de preparação do terreno para a reconstrução. O altar sendo desmanchado representa o terror das nações. A terceira visão continua os preparativos através da medição da cidade (1.16 mostra que a medição da cidade fa z parte dos preparativos para a construção do templo) que tinha como objetivo determinar a posição correta do templo. Esse processo não seria produtivo nesse caso, porém, porque a cidade não teria muros a partir de onde se fariam os cálculos. Seria bastante raro que um templo não fosse protegido por muros, tanto por causa de todos os itens valiosos ali armazenados quanto pela necessidade de preservar a santidade da área. Em um preâmbulo à quarta visão, Josué se prepara para desem­penhar seu papel; ele é purificado para os rituais da pedra principal e recebe o turbante cerimonial sobre o qual a pedra é carregada. Essa pedra fundamental é ornamentada com sete pedras semipreciosas que representem as sete lâmpadas na decoração inscrita. A inscrição na pedra é uma cena típica de um candelabro (representando o templo e indiretamente, Yahweh, que habita ali) ladeado por árvores estilizadas. Neste caso são oliveiras que fornecem o azeite para manter as lâmpadas/o templo funcionando. O azeite também é usado para ser derramado no alicerce e misturado com a argamassa no assentamento da pedra principal cerimonial. Nessa visão, Zorobabel é o responsável pela remoção cerimonial da pedra principal anterior para que o terreno pudesse ser aplainado. A quinta visão representa uma tentativa de cobrar os penhores feitos no levantamento de fundos para o projeto de construção. Os malandros são culpados de romper seus juramentos e, de fato, de roubar porque haviam se apropriado daquilo que fora penhorado como verba para a reconstrução do templo. A sexta visão remove uma imagem idólatra que teria sido depositada no alicerce em uma reforma anterior. A estatueta é devolvida à Babilônia, de onde vinha e onde um templo poderia ser construído para conter essa oferenda de alicerce. A seqüência se encerra com o templo desempenhando sua função como uma base de operações de onde Yahweh poderia executar seus planos militares e políticos.

6.9-15A coroa de Josué6.11. a coroa do sumo sacerdote. A coroa citada aqui era um diadema e, apesar de ocasionalmente ser usa­da pela realeza, com mais freqüência adornava uma pessoa que estava sendo honrada ou celebrada. Podia ser feita de metais preciosos, como aqui, ou de flores ou ainda de folhagens.

7.1-14A questão do jejum7.1. cronologia. A data equivalente é 7 de dezembro de 518 a .C.. É quase dois anos após a últim a data apresentada no capítulo 1 e é a última data do livro. Não há relação evidente com nenhum evento particu­lar no calendário judaico nem com as atividades de Dario que atribuiriam alguma importância a essa data.7.2. povo de Betei. A cidade de Betei ficava cerca de vinte quilômetros ao norte de Jerusalém e na borda norte da província persa conhecida como Yehud (Judá).7.3. je ju m no q u in to m ês. N abucodonosor havia destruído o templo no quinto mês (ver 2 Rs 25.8). É lógico que um dia de je jum fora estabelecido nessa data. A delegação enviada ao sacerdote sem dúvida se perguntaria se os israelitas deveriam continuar a observar o je jum na data da destruição do templo, agora que ele fora reconstruído. Zacarias responde perguntando se o jejum estava centrado em uma peti­ção pela reconstrução do templo ou em uma petição relacionada a arrependimento pelos pecados que ha­viam provocado a destruição.7.5. je ju m no sétim o m ês. O único evento que teria acontecido no sétimo mês e poderia ser considerado um motivo para jejum é o assassinato de Gedalias 0 r 41). Ele fora nomeado governador de Jerusalém por Nabucodonosor após a queda de Jerusalém.7.5. propósito do je ju m . H á poucas evidências da prática do je jum no antigo Oriente Próxim o fora da Bíblia. Geralmente era feito em contextos de luto. No Antigo Testamento, o uso religioso do jejum com fre­qüência está relacionado a um pedido dirigido a Deus. O princípio era que a importância do pedido levava o indivíduo a preocupar-se tanto com sua condição espi­ritual que as necessidades físicas eram relegadas a segundo plano. Nesse aspecto o ato de jejuar servia como um processo de purificação e humilhação diante de Deus (SI 69.10; 102.4). O jejum não era um fim em si m esm o, m as sim o treinam ento disciplinado no preparo para um importante evento.

8.1-23Oráculos de restauração8.19. diversos je ju n s. Os jejuns do quinto e do sétimo mês já foram abordados nos comentários do capítulo

7. Os outros dois tam bém aparecem relacionados a eventos durante o cerco de Jerusalém. O quarto mês rep resentou o fim da d in astia dos reis davíd icos ocupando o trono. Foi no quarto mês que o último rei de Judá, Zedequias, fugiu secretam ente da cidade, após um ano e meio de cerco. O décimo m ês foi m ar­cado pelo início do cerco a Jerusalém pelos exércitos babilônios.

8.22. nações poderosas buscando o Senhor. Esse já era um tema da profecia pré-exílica. Ver o comentário

em Isaías 2.2.8.23. agarrar firm em ente a barra. Agarrar a barra de uma veste era uma expressão comum encontrada em ugarítico, aramaico e acadiano (línguas relacionadas ao hebraico bíblico). Em acadiano, a expressão era "segurar na barra". Em Israel e na Mesopotâmia, agar­rar a barra da veste de alguém era um gesto de súpli­ca e submissão. Em sua última súplica por misericór­dia, Saul agarrou-se à túnica de Samuel. Isso também é descrito no ciclo ugarítico de Baal, em que Anat segura a barra da veste de M ot ao im plorar por seu irmão Baal.

9.1-17Julgamento dos inimigos de Israel9.1. Hadraque/Damasco. H adraque não aparece em nenhum a outra referência bíblica, m as é citado em

fontes neo-assírias a partir de meados do oitavo século como o distrito de Hatarikka. Ficava localizado no alto

rio O rontes, entre Alepo e Ham ate. Era o extrem o norte da satrapia persa conhecida como Abam ahara

(terra além do rio) que dom inava a região entre o O rontes e o Eufrates. D am asco dom inava a região nordeste da satrapia entre o Orontes e o deserto da Síria. Durante esse período era uma província, assim como Hadraque.9.2. Ham ate no início do quinto século. Hamate é um term o que pode referir-se ao m esm o tem po a uma região e a uma cidade. Ficava localizada 208 quilôme­tros ao norte de Damasco, ao longo do rio Orontes. Se era um a província nessa época, com o alguns suge­rem , seu território provavelmente ficaria na área en­tre o Orontes e o M editerrâneo. As fontes arqueológi­cas e literárias não oferecem m uitos dados sobre Hamate durante os séculos sexto e quinto.9.2. T iro e Sidom no início do quinto século. Essas cidades representavam as províncias da Fenícia entre o rio Litani e o M editerrâneo. A pesar dessas duas cidades portuárias serem importantes para os esforços militares persas no ocidente, há poucas informações sobre elas durante esse período.9 .5 ,6 . cidades filisté ias no início do quinto século. A área da antiga F ilístia agora é identificada com o a

província de Asdode. G aza serviu como base para as operações militares persas contra o Egito, e Ascalom

era um a próspera cidade portuária. Escavações em

Asdode sugerem que era uma cidade florescente du­

rante o período persa, mas os documentos históricos

fornecem poucas informações.9.7. sangue, com ida proibida. Esse versículo fala de

uma mudança na dieta dos filisteus de m odo a ade­quar-se à lei judaica. Os israelitas não podiam comer

carne sem derramar o sangue (ver os comentários em Lv 17.11, 12) e havia regulam entações quanto aos

animais que podiam ou não ser consumidos (ver os

comentários em Lv 11).9.7. Ecrom como os jebuseu s. Os jebuseus eram na­

tivos da região de Jerusalém na época da conquista

da terra, sob a liderança de Josué. Continuaram a controlar Jerusalém durante séculos, desde o perío­

do dos juizes até a conquista de Jerusalém por Davi.

H á alguns indícios textuais de que teriam sido ab­sorvidos por Israel, em vez de serem expulsos (ver

o comentário em 2 Sm 24.18). Ecrom tem sido iden­

tificada como Tell M iqne, no vale de Soreque, cerca

de 32 quilôm etros a sudoeste de Jerusalém e a 24

quilômetros do Mediterrâneo. Tinha um a cidade bai­xa de 40 acres, um a parte elevada (tell) de dez acres

e uma acrópole de dois acres e meio. Escavações des­

de o início dos anos 1980 deram uma boa visão des­

sa cidade. Era conhecida por sua produção de azeite

de oliva e tinha m ais de cem fábricas de processa­

m ento de óleo. Um a inscrição encontrada no local

em 1996 que datava do século sétimo a.C. forneceu

o primeiro exemplo do dialeto filisteu do sem ita oci­

dental usando a escrita fenícia. Após a destruição de Ecrom por N abucodonosor, em 603, houve pouca

ocupação no local.

9.9. rei m ontado num jum ento. Era comum no antigo

O riente Próxim o um rei m ontar um a m ula (ver o

comentário em 1 Rs 1.33), mas aqui a referência é a um jum ento comum. Em bora textos acadianos confir­

m em um rei montado num jumento, de forma algu­

m a esse animal era considerado um a m ontaria real. A

palavra traduzida como "cria " na NVI refere-se ao

mesmo animal que era m ontado pelos filhos de juizes

em Juizes 10.3. É mais provável que usar um jumento como montaria esteja relacionado à humildade que à

realeza.

9.10. arcos de batalha. Em textos assírios do sétimo século (Esar-Hadom), dizer que uma divindade que­

brava o arco do inimigo era um a form a de descrever

a vitória. N essa passagem , a ação parece ter como objetivo prevenir batalhas futuras. Em outros textos

bíblicos o m esm o conceito é expresso pela idéia de

transformar espadas em arados (ver o comentário em

Is 2.4).9.10. de um m ar a outro. Ao invés de referir-se a

mares específicos, como por exemplo o Mediterrâneo e o m ar M orto, o sentido universal da passagem suge­

re que a expressão é uma referência aos m ares cósmi­

cos que abrangem todas as terras habitadas.9.10. do Eufrates até os confins da terra. No hebraico,

quando o termo "R io " é usado com o artigo definido,

geralm ente é um a referência ao Eufrates. Aqui po­rém, não aparece o artigo definido, sugerindo que se

trata de um a referência cósm ica m ais abstrata. N a

literatura acadiana o grande rio cósmico é conhecido como apsu e seria um contraste com patível com os

coníins da terra. "O s confins da terra" era um a ex­pressão usada para referir-se aos lugares mais remo­

tos do mundo conhecido de então.

9.13. G récia n o in íc io do q u in to sécu lo . O term o hebraico usado aqui, "Jav an ", provavelm ente era o

nom e grego Jônia, a região grega da costa oeste da

Turquia e das ilhas do m ar Egeu. Os gregos jónicos se

fixaram nessa área pouco antes do primeiro milênio

a.C.. N a época de Zacarias, os gregos haviam se en­volvido em guerras com os persas (ver o comentário

em Et 2.1).

9.14. guerreiro divino. N a temática do guerreiro di­

vino, a divindade luta contra as divindades do inimi­go, derrotando-as nas batalhas travadas. N a Assíria,

Nergal é o rei da batalha e Istar é considerada a deusa

da guerra. O deus cananeu Baal e o babilônio Marduque

também são guerreiros divinos. De acordo com essa cosmovisão, as guerras humanas são consideradas sim­plesm ente um a representação das guerras travadas entre os deuses; o deus m ais forte sem pre vence, a

despeito da força ou fraqueza dos combatentes huma­

nos. Acreditava-se que relâmpagos e trovões acompa­nhassem a presença da divindade no campo de bata­

lha. No texto sum ério Exaltação de Inana, nos mitos

hititas sobre o deus da tempestade e nas mitologias

acadiana e ugarítica, os deuses eram vistos como tro­

vões no julgam ento contra seus inimigos. Baal é retra­tado segurando raios nas m ãos. A term inologia do

trovão está presente na retórica real à medida que reis

hititas e assírios se apresentam como os instrumentos dos deuses, trovejando contra aqueles que haviam

violado tratados ou obstruído o caminho da expansão

do império.9.15. bacia usada para aspergir água nos cantos do

altar. As pontas do altar eram aspergidas com o san­

gue dos sacrifícios, por isso essas bacias estavam chei­as de sangue. A analogia da bacia, portanto, sugere

derramamento de sangue em grandes proporções.

10.1-11.3Judá é libertado dos pastores opressores10.1. Y ahw eh como divindade da fertilidade. Há umalonga tradição no antigo O riente Próxim o do culto

específico oferecido ao deus da tempestade que leva­

va chuva e fertilidade aos campos. Baal era esse deus

no sistema religioso cananeu. Os israelitas do período pré-exílico tendiam a atribuir a Baal a fertilidade dos

cam p os, apesar de recon h ecerem com satisfação

Yahw eh como seu D eus nacional (ver o comentário

em Os 2.1).10.2. íd olos e adiv inh os. A palavra traduzida com o

"íd o lo s" é terafim , que não eram representações de

deuses, m as sim dos ancestrais (ver o comentário em

G n 31.19). Era bastante provável que essas im agens

"fa lassem " através de presságios ou de necrom antes

que afirmavam ser capacitados na comunicação com os espíritos dos mortos. Especialistas em adivinhação não

apenas interpretavam sonhos (ver o comentário em Dn

1.17; 2.4), m as tam bém eram peritos em produzir so­

nhos de revelação (ver o com entário em 1 Sm 3.3).10.3. líd eres como pastores. A ideologia do rei como

um pastor de seu povo encontra-se em Lugalzagessi, da Suméria, por volta de 2450 a.C.. O rei contemporâ­

neo Urukagina de Lagás afirmava que o deus Ningirsu

era o dono da nação e que o rei fora escolhido como um pastor para adm inistrar a cidade em nom e dos

deuses e do povo. D euses responsáveis por m anter a justiça (Shamás, na Mesopotâmia, Am om , no Egito)

também são representados através dessa imagem. Essa

ideologia continuou no antigo Oriente Próximo até o

período m onárquico, sendo usada para referir-se a Assurbanipal, rei da Assíria, (sétimo século) e a Nabu-

codonosor (sexto século).

10.4. pedra fundam ental. Nos projetos arquitetônicos israelitas da Idade do Ferro era cada vez m ais crescen­

te o uso de alvenaria de pedras lavradas em oposição

às construções feitas de pedras brutas em períodos

anteriores. A fim de garantir estabilidade e unir duas

paredes adjacentes, um bloco de pedra finamente ta­lhada era inserido como pedra angular, a fim de amar­

rar as paredes. Era uma pedra de tamanho m aior que as normalmente usadas e sua inserção muitas vezes

exigia um esforço especial ou rituais. Sua superfície

larga e lisa era o local ideal para inscrições de frases religiosas, do nom e do arquiteto ou rei responsável

pela obra e da data da construção. É possível que a pedra angular também fosse a pedra fundamental.

10.4. estaca da tenda. Pode-se dizer que a estaca da

tenda está para a tenda assim como a pedra funda­mental está para uma construção. Outra possibilidade

é que uma antiga inscrição assíria de Irishum sugere

que uma estaca era introduzida na parede do templo

como símbolo do término da obra. Nesse caso a pedra

fundamental m arcaria o início do projeto e a estaca, o final. A m bos os termos passaram a ser usados metafo­

ricamente como aquilo que é fundamental (como em

Is 22.23; Ed 9.8). Essas estacas às vezes eram incluídas em oferendas depositadas nos alicerces de templos

mesopotâmicos.

10.10. lugares do exílio. Em bora a Assíria seja o local

mais conhecido como exílio para os israelitas do reino do norte e tam bém para grupos do reino do sul (ver o

com entário em Is 22.2, 3), é evidente que tam bém

havia colônias de israelitas que haviam fugido para o

Egito ou tinham sido levadas para lá, talvez desde o

oitavo século, e com certeza no sétimo século (ver o comentário em Jr 43.7).

10.10. G ilead e e L íb an o . Fazer m enção a G ileade

(planalto a leste do Jordão) e ao Líbano (vale de Beqa, ao longo do rio Litani, entre as cadeias de montanhas

do Líbano e do Anti-Líbano) evocava em Israel ima­

gens de am plas áreas abertas, habitadas de form a esparsa.

11.1-3. destruição de florestas e pastagens. As flores­

tas e os pastos eram recursos valiosos num a terra que

tinha pouco a oferecer. Vastas faixas de terra poten­

cialmente produtivas transformam-se em solo impres­tável quando o verde é destruído. Os invasores anti­

gos estrategicamente destruíam áreas agrícolas, pas­

tos e florestas quando alm ejavam arruinar um a nação

a longo prazo (ver o comentário em 2 Rs 3.25). Atual­

mente o Estado de Israel está buscando novamente a

produtividade da terra introduzindo o reflorestamen- to de áreas desmatadas.

11.4-17 Dois pastores11.4. rebanho destinado à matança. O templo manti­nha enormes rebanhos de animais que haviam sido

dados como primícias (e também por outras razões) e

que estavam destinados à matança, visto que haviam sido prometidos ao Senhor. Portanto, é possível que houvesse m uitos pastores a serviço do templo para

cuidar desses rebanhos.

11 .6 . en tregar as p essoas ao p róx im o. A palavra hebraica para próximo é bastante semelhante à pala­

vra para pastor. O paralelo com a palavra "re i" neste

versículo levou alguns estudiosos a concluir que o termo "pastor" seria a leitura original. Outra possibi­

lidade é que se trate apenas de um jogo de palavras.

11.12. trinta m oedas de prata. A partir do versículo 12

é difícil saber se Zacarias ainda está desempenhando

seu papel como pastor e está recolhendo seu salário de

pastor ou se está recolhendo o salário de seu trabalho como profeta (última linha do v. 11). Informações dos

códigos de leis do segundo milênio a.C. indicam que

o salário anual de um pastor era de dez siclos. Por outro lado, um profeta podia esperar receber paga­

mento por suas habilidades. O fato de que um escra­

vo valia trinta siclos não ajuda m uito aqui, visto que

Zacarias não está sendo comprado como escravo. No uso sumério "valer trinta siclos" era uma expressão

que tinha um significado idiom ático equivalente a "d ois vinténs" ou "alguns trocados", ou seja, algo de valor insignificante. Apesar desse significado encai­

xar-se ao contexto aqui, o salto do período sumério

para o período hebraico pós-exílico é bastante grande e não pode servir de base para essa interpretação.11.13. atirar para o oleiro. Três explicações possíveis

foram dadas aqui, e é d ifícil decid ir entre elas. A prim eira é que provavelm ente havia um a loja de

cerâmica nas proximidades do templo que atendia às necessidades do templo. M as por que esse dinheiro

seria atirado ali? A segunda é que a palavra para oleiro significa simplesmente "aquele que confeccio­

n a", logo, alguns sugeriram que refere-se a um arte­

são de m etal que talvez faria um a estatueta com a

prata atirada. Essa possibilidade pode servir de expli­

cação do porquê a prata é jogada ali, m as exige um

significado inusual a ser aplicado para um substanti­vo bastante comum. A terceira explicação é que foi

observado que a palavra traduzida com o "o le iro "

pode, com pouca mudança, ser entendida como "te ­

souro". Algumas traduções m ais antigas seguem por

esse caminho e encontram algum respaldo no Novo

Testamento também (Mt 27.5, 6, embora Mateus tam­

bém se refira ao oleiro). Cada interpretação apresenta suas dificuldades, e não há inform ações do antigo

Oriente Próximo que possam trazer luz às ações do

profeta.

11.16. arrancar as patas. Rebanhos de ovelhas rara­

mente eram usados para o consumo de carne. A lã era

m uito m ais valiosa, logo, a principal responsabilidade do pastor era preservar a vida e a saúde das ovelhas

a fim de garantir a continuidade de sua produtivida­

de. Comer a carne seria um a referência à auto-indul-

gência por trás de uma visão limitada e de apetites

indisciplinados e não à sábia administração de recur­sos, considerando-se os resultados a longo prazo. A r­

rancar as patas pode representar um a tentativa de

persuadir o proprietário de que a ovelha fora devora­da por um animal feroz e assim o pastor não seria

considerado responsável pela perda. Outra possibili­

dade é que o pastor estivesse procurando vender as

patas a fim de obter um pequeno retom o.

12.1-14 A libertação de Jerusalém12.2. taça que em briague. A expressão "taça que em­

briague" é usada tam bém em Isaías 51.17, 22, m as aqui o texto literalmente fala de uma tigela (saph) e

não de uma taça. É possível que o autor tenha escolhi­

do a palavra "tigela" a fim de fazer um jogo de pala­vras. A palavra hebraica saph tam bém significa "so ­

leira". Assim como a bebida de uma vasilha podia

causar embriaguez e fazer um a pessoa tropeçar, uma soleira podia facilmente fazer alguém tropeçar, por­

que parte dela ficava acima do nível do chão. A solei­ra era feita de um a placa de pedra com encaixes nas

extremidades onde os pivôs da porta eram introduzi­

dos (embora portas grandes tivessem encaixes sepa­

rados enfiados no chão). A porta era fechada contra a soleira saliente. Essa placa da soleira também poderia

ser a pedra pesada citada no versículo seguinte.

12.3. pedra pesada. Se a palavra traduzida como "taça"

no últim o versículo está cumprindo uma tarefa dupla

como um a referência à soleira, então o termo traduzi­

do como "pedra pesada" provavelm ente seria uma referência à placa da soleira. Por ser parte integrante

da estrutura da porta, a pedra da soleira provavel­

m ente seria retirada quando as portas fossem destruí­

das. Esse seria um objetivo prioritário para o exército sitiante. Derrubar portas é algo m encionado em tex­

tos neo-babilônicos, apesar da soleira não ser citada

especificamente. Um lamento sumério por Eridu rela­

ta que o batente foi arrancado. Textos acadianos des­crevem a qualidade elevada das pedras utilizadas e a

função dessas placas que serviam como alicerce tanto

para portas quanto para muros. Quando Senaqueribe

destruiu Babilônia, ele derrubou os alicerces de tem­

plos e muros e os atirou no canal. As soleiras de tem­plos com freqüência tinham inscrições com orações

pedindo proteção.

12.11. choro em Hadade-Rim om . Esta é a única ocor­

rência desse nom e no A ntigo Testam ento, em bora cada parte que o compõe seja conhecida. Hadade era

o nom e do deus cananeu da tempestade, o chefe do

panteão arameu, geralmente designado com o título

de "B aal". Um templo de Rimom é citado por Naamã

em 2 Reis 5.18. Acredita-se que Rimom (ou Ramam,

"o que troveja") seja um título de Hadade, o deus da tempestade. Em bora essa associação seja feita com cer­

ta segurança, não há ocorrência desse título fora da

Bíblia. Apesar de alguns intérpretes terem considera­do que o choro aconteceu em um lugar conhecido

como Hadade-Rimom, é m ais provável que a referên­

cia seja a um festival de luto ou ritual relacionado à divindade Hadade-Rimom. Quando as chuvas espe­

radas não caíam na época certa, o luto pelo deus da

tempestade era um dos passos dados a fim de trazer

as chuvas necessárias para a estação do plantio.

12.11. vale de M egido. O vale de M egido é o vale de Jezreel. Se o texto está fazendo referência a rituais de

luto dirigidos a um deus da tem pestade, o vale de

Jezreel, a terra mais fértil de Israel, seria o local mais provável para o ritual. Se Hadade-Rimom é um lugar

no vale de Jezreel, pode indicar o local de um evento

devastador. Foi na planície de Megido, por exemplo,

que o promissor e piedoso rei Josias perdeu sua vida

tentando im pedir os egípcios de ajudar o Im pério

Assírio em 609 a. C. (ver os comentários em 2 Cr 35.20,

22). Essa perda foi sentida de forma tão contundente que um dia costum eiro de luto foi instituído (2 Cr

35.24, 25).

12.12, 13. significado h istórico das fam ílias citadas

nom inalm ente. Davi e Levi eram reconhecidos como famílias de linhagem real e sacerdotal. Natã e Simei

são m ais difíceis, visto que há inúm eros indivíduos

na Bíblia com esses nomes. Visto que N atã era um dos

filhos de Davi (2 Sm 5.14) e Sim ei era um dos netos de

Levi (Nm 3.21), m uitos estudiosos consideram nesses

versículos uma referência a clãs e sub-clãs. Também de interesse é a possibilidade de que todas essas famí­

lias tivessem uma relação com Zorobabel. Ele descen­

dia de Davi através de N atã e de Levi e o irmão de

Zorobabel chamava-se Sim ei (1 Cr 3.19).

13.1-9 A eliminação dos profetas13.4. m anto de profeta fe ito de pele. O manto distin­

tivo do profeta provavelm ente era feito de pêlo de

anim al e por isso tinha o aspecto peludo, em bora nem todos os m antos fossem feitos desse m aterial.

Pouco se sabe a respeito da indumentária do profeta

no antigo Oriente Próximo, por isso é difícil estabe­lecer comparações. Pode ser de interesse que as ins­

crições assírias desse período retratem alguns indi­

víduos usando m antos com cabeça de leão. Esses in ­

divíduos parecem estar envolvidos em atividades ri­tuais (danças) e acom panhar a divindade. Supõe-se

que eram exorcistas.13.6. feridas no corpo do profeta. A auto-laceração é evidente em 1 Reis 18.28 como parte do ritual realiza­

do pelos profetas de Baal. Na literatura ugarítica os deuses são retratados se lacerando quando ouvem a

respeito da m orte de Baal. A lém disso, um texto

sapiencial acadiano de U garit compara o derram a­

mento de sangue de ritos de pranto e lamento àquele praticado por profetas extáticos. Marcas de auto-flagelo

seriam indícios de profetas em exercício.

14.1-21 A vinda do reino do Senhor14.3. guerreiro divino. Ver o comentário em 9.14. A imagem da divindade de pé sobre um monte é bas­tante conhecida no antigo Oriente Próximo (ver o co­m entário em M q 1.3), especialm ente em selos cilín­dricos. N essas figuras, acredita-se que o monte repre­sentava o centro da terra.14.4. m onte das O liv eiras. O m onte das O liveiras recebe essa denominação apenas aqui no Antigo Tes­tam ento. E um a cadeia de quatro quilôm etros que atravessa de norte a sul o vale de Cedrom no lado leste, desde Jerusalém.14.4. divisão do m onte das O liveiras. N a literatura acadiana nivelar montes é um ato de destruição, mas

não há referência a m ontanhas sendo divididas ao meio para permitir fugas. A subida até o monte das Oliveiras desde o vale de Cedrom é bastante íngre­m e, por isso um vale no sentido leste-oeste certamen­

te facilitaria a fuga dos refugiados.14.5. Azei. N ão há um consenso claro sobre a localiza­ção de Azei. Em outros versículos é o nome de uma pessoa na genealogia de Saul. Se o nom e do território estiver relacionado à pessoa, ficaria a noroeste de Je­rusalém, no território de Benjamim, mas é difícil en­tender o que o texto pretende dizer ao descrever que o vale se estendeu até lá.14.5. terrem oto nos dias de Uzias. A s atividades sís­micas são ocorrências comuns na Siro-Palestina. A re­gião fica sobre a Fenda do Jordão, que se estende desde Damasco até o golfo de Ácaba, e, portanto, está sujeita a movimentos periódicos da terra. H á evidên­cias de um terremoto de grandes proporções no sedi­mento 6 das escavações em Hazor, datando aproxima­damente de 760 a .C . É possível que se trate do terre­moto mencionado aqui, m as é preciso encontrar mais evidências em outras localidades, como Betei e Samaria, que confirmem essa hipótese. O fato de que esse ter­remoto é usado para situar no tempo tanto a atividade profética de Amós quanto o reinado do rei Uzias su­gere que deve ter sido um fenôm eno de grandes dimensões e, portanto, um evento que ficou gravado na mente das pessoas.14.7. e fe ito s cósm icos. A interrupção da ação dos m arcadores do tempo significa o m ais dram ático e im aginável efeito de inversão nas leis naturais do mundo (ver o comentário em Jr 4.23-26). E acompa­nhada de amplas m udanças topográficas (v. 8 ,10 ), de um extensa alteração na esfera política (v. 12 ,13) bem como de uma redistribuição de riquezas (v. 14) e de um redirecionamento na adoração (v. 16).14.8. Jerusalém banhada por águas correntes. "Á guas correntes" refere-se a uma fonte de água (em contras­

te com água m antida em reservatórios ou água de chuva recolhida em recipientes). Em Jerusalém, o abas­

tecim ento de água provinha da fonte de Geom , no

lado sudeste da cidade, perto do vale de Cedrom. Em bora haja elevações ao sul de Jerusalém (de Belém

a Hebrom), o relevo vai entrando em declive tanto a oeste (pela Sefelá, descendo até a costa mediterrânea)

quanto a leste (descendo até Jericó, vale do Jordão e m ar Morto). Muitos uádis em Israel contêm água ape­

nas durante a estação chuvosa (inverno), m as esse versículo fala de um fluxo contínuo. A Fonte de Geom

jorra diariamente o ano todo (ver o comentário em 2 Sm 5.8).

14.10. desde G eba até Rim om . Geba está localizada

oito quilômetros ao norte de Jerusalém. Ela controlava

o uádi Swenit, perto do que era a fronteira norte da província persa de Yehud. A identificação de Rimom

é um pouco mais difícil. Há uma localidade m encio­

nada em outras passagens como En-Rimom, na extre­midade sul da Sefelá (cerca de 16 quilômetros ao norte

de Berseba), m as ela não poderia estar situada no

território de Yehud e parece longe demais para ser colocada lado a lado com Geba.

14.10. terra sem elh an te à A rabá. O term o "A rab á" pode ter ao m esm o tempo um significado específico e

geral. Como designação geográfica específica refere-se

à região árida ao redor do m ar Morto e ao sul do golfo

de Ácaba. Como designação topográfica geral refere-

se a uma estepe plana. O contexto deste versículo dá a entender que se trata deste últim o significado.

14.10. topografia de Jerusalém . A porta de Benjamim

(outras vezes chamada de porta das Ovelhas), ao nor­

te do monte do Templo, saía da área do Poço de Betesda

(conhecido nesse período como o Poço das Ovelhas) no vale de Cedrom. Ficava no lado norte do muro

leste (perto da atual porta do Leão) e dava acesso à

estrada para Jericó. Se a prim eira porta é o nom e de

um a porta, provavelmente deveria estar associada à

porta Velha (ver o comentário em N e 3.6). A porta da Esquina ficava localizada no canto noroeste da parte

oeste da cidade. Ficava nas proxim idades da atual porta de Jaffa. As portas mencionadas, portanto, en­

globam a cidade de leste a oeste ao longo dos muros

do norte. A torre de Hananeel ficava posicionada no

lado noroeste da cidade, perto do monte do Templo.

Era quase o m esm o local da Fortaleza A ntonio, na

Jerusalém de H erodes. F inalm ente, os tanques de

prensar uvas do rei provavelmente ficavam na área do jardim do rei (ver o comentário em N e 3.15), na

extremidade sul da cidade. Esses lagares, somados à

torre de Hananeel, abrangem toda a cidade de norte a sul.

14.12. descrição da praga. Dentre os tratamentos mais

com uns dirig idos a inim igos de destaque no antigo Oriente Próximo estava a prática de esfolar a pele, furar

os olhos e cortar a língua. Aqui, tudo isso é atingido

através da "praga". Não há comprovação desses sinto­m as relacionados a nenhum a praga específica no an­

tigo O riente Próximo.

14.16. festa das cabanas como festa de entronização.Em bora a festa de entronização em si não seja confir­

mada na prática israelita, com freqüência se presume

que ela existia e, se de fato existiu, estaria mais logi­

camente relacionada à festa das cabanas (ver os co­mentários em 1 Rs 12.32, 33 e Ed 3.4). Isso seria espe­

cialmente significativo nesse contexto em que as na­

ções deviam participar da festa a fim de reconhecer o reinado de Yahweh.

14.18. chu va n o Egito . O índice pluviom étrico no Egito é bastante baixo e as chuvas que caem ali não

são suficientes para garantir sua produtividade. Por

isso, a agricultura no Egito depende quase que intei­ram ente das enchentes anuais do rio Nilo.

14.20. sinetas penduradas nos cavalos. Quando algo

é designado "Separado para o Senhor" é considerado

sagrado como parte daquilo que era purificado para o

serviço no recinto sagrado do templo, onde a presença de Yahw eh habitava. Em Êxodo 28.36-38 essa frase

estava inscrita no diadema dourado usado pelo sumo

sacerdote. Embora os sacerdotes usassem sinos na borda de suas vestes (Êx 28.33), um a palavra hebraica dife­

rente é usada para designá-los. A palavra usada aqui

pode sim plesm ente se referir a discos de m etal que

tilintavam em contato uns com os outros.

14.20. caldeirões e bacias sagradas. As bacias sagra­

das eram usadas para as m ais importantes atividades rituais, tais como transportar o sangue dos animais

sacrificados. Os caldeirões, ao contrário, eram as vasi­

lhas m ais com uns do templo. A m bos utensílios ti­

nham diferentes formas e tamanhos.

MA L A Q U I AS

1.3. M ontanhas de Esaú. "M ontanhas de Esaú" pro­vavelmente era um a designação para a região monta­nhosa de Seir (Gn 36.8, 9, 21), que ficava no leste do Neguebe. As montanhas de Seir são mencionadas nas Escrituras (p. ex., G n 14.6; D t 2.1). E m ais provável que seja um a designação para a parte sul do território edomita, entre o uádi al-Ghuwayr e Ras en-Naqb.1.4,5. Edom no quinto século. Embora Edom não pare­ça ter se unido à rebelião contra o dom ínio babilónico, no sexto século a.C ., a região parece ter sido atacada pelo últim o monarca babilônio, Nabonido. Referências em O badias, Jerem ias 49 e Ezequiel 25 citam sua des­truição, m as, aqui, M alaquias dá a entender que o ter­ritório não havia ainda sido abandonado pelos edo- mitas. Sabe-se pouco, porém, sobre o destino de Edom no quinto século a.C.. Parece que houve alguma ativi­dade econômica entre Edom, o Levante e o leste do Me­diterrâneo, bem com o há evidência de novos grupos de população na área. Os quedaritas, que ocupavam o deserto da Síria, a sudeste de Damasco, teriam invadido e m igrado para o sul, até M oabe e Edom . Tam bém é possível que os nabateanos, que conquistaram a área de Edom, no final do terceiro século a.C., tenham começa­do a migrar do deserto árabe para o norte, até essa área.1.8. oferta de anim ais defeituosos. Com o fim das verbas que provinham do governo Persa (ver o co­m entário em 3.10), diversas medidas foram tomadas para cortar gastos. Aparentemente um a delas se cons­tituiu no relaxam ento das regulam entações quanto aos animais que podiam ser oferecidos em sacrifício.1.12. A m esa do Senhor. Essa é a única ocorrência da expressão "m esa do Senhor" no Antigo Testamento. O termo traduzido com o "m esa" era um term o co­mum usado de forma literal e figurada para denotar um a mesa (p. ex., Is 65.11). As m esas eram usadas em Ezequiel 40.39-43 próximo às portas do pátio interno do templo para m atar os animais ou para depositar utensílios. N o contexto de Malaquias 1.12, a mesa do Senhor parece ser sinônimo de altar, que fora profa­nado pelos israelitas. É descrito de form a figurada como mesa, por causa da im agem dos sacrifícios como "com id a" aos deuses. Para m ais inform ações sobre essa figura, ver o comentário em Levítico 1.2.2.5-7. papel do sacerdote no período pós-exíÜco. Mais de quatro m il m em bros das fam ílias sacerdotais e levitas voltaram à Palestina após o exílio, sob a super­visão de Zorobabel e Josué. Ambos os grupos se en­volveram em diversas ativ idades, inclusive na re ­

construção dos m uros de Jerusalém, no ensino da lei e na liderança da nação em cumprir as obrigações reli­giosas. Entretanto, a prática sacerdotal deve ter se deteriorado nessa época (especialmente na ausência de N eem ias), visto que um estrangeiro (Tobias, o amonita) recebeu permissão para ter acesso ao tem­plo. N a verdade, os levitas abandonaram o templo por um período (Ne 13.10,11). Malaquias 2 se encaixa a esse contexto, visto que o sacerdócio da época havia ignorado suas responsabilidades. O sum o sacerdócio continuou a existir como ofício, tendo continuidade na linhagem de Zadoque. O Livro de Zacarias indica que muitas responsabilidades civis executadas pelo rei ou governador haviam sido transferidas ou sim­plesmente absorvidas pelos sacerdotes a fim de evitar que o governador acumulasse m uitos poderes, com­petindo com a autoridade do rei Persa.2.11. casam ento com m u lh eres que adoram deuses estrangeiros. Em bora não se saiba com certeza o sig­nificado dessa expressão, "hom ens casaram-se com mu­lheres que adoram deuses estrangeiros" provavelmente se refira a casamentos mistos entre judeus e não-judeus. As mulheres que se casavam com judeus permaneciam fiéis aos ídolos que adoravam, sendo assim os judeus eram introduzidos na fam ília de deuses estrangeiros, aum entando as chances de praticarem a idolatria. Es­ses casam entos foram condenados por Esdras e N ee­mias. Para inform ações adicionais sobre a prática de endogamia (casamento entre pessoas de um a mesma com unidade), ver o com entário em Esdras 9.10-12. 2.14-16. casam ento e divórcio no quin to século. O que se sabe sobre casam ento e divórcio no período persa encontra-se em documentos judeus de Elefan- tina. Contratos de casamento com freqüência incluí­am condições quanto à disposição do dote, preço da noiva, propriedade e filhos, na eventualidade de um divórcio. Parece que o divórcio era comum e simples, sendo as implicações econômicas a m aior preocupa­ção. Em Elefantina, não era preciso apresentar ne­nhum motivo para justificar o divórcio.3.1. papel preparatório do m ensageiro. A idéia de preparar o caminho do Senhor tam bém se encontra em Isaías 40.3. Esse conceito provavelmente tinha ori­gem no costume do antigo Oriente Próximo de enviar mensageiros à frente de um rei em visita a um local para informar os habitantes de sua chegada, a fim de que pavim entassem o cam inho (retirando todos os obstáculos) por onde o monarca passaria.

3.2. sabão do lavandeiro. O sabão do lavandeiro era usado para rem over im purezas e lim par roupas e outros itens que tivessem manchas ou sujeira. O sa­bão descrito aqui é o álcali extraído de uma planta encontrada na Babilônia, mas não na Siro-Palestina. O termo ocorre também em Jeremias 2.22.3.3. re finad or e purificador de prata. No m undo an­tigo a prata era extraída e refinada através de um pro­cesso chamado copelação. No processo inicial de fun­d ição , a p rata era extra íd a de m inérios de chum bo (galena) contendo menos de um porcento de prata em cada am ostra. O chum bo era derretido em vasilhas rasas feitas de substâncias porosas como cinzas de os­sos ou argila. U m fole então era usado para soprar através do chu m bo fu nd ido, prod uzind o óxido de chum bo (litargírio). P arte do óxido de chum bo era absorvida pela vasilha porosa, enquanto outra parte form ava um a cam ada na superfície. Teoricam ente a prata era o que sobrava. Outra possibilidade é que Ma- laquias esteja se referindo ao processo de refinação que envolvia aquecer uma am ostra de prata com grandes quantidades de chumbo a fim de extrair as impurezas.3.5. fe itice iro s . O term o técnico aqui se refere aos especialistas em encantamentos e feitiços. Esses espe­cialistas tinham familiaridade com a literatura de pres­ságios e de sonhos. Eles praticavam magia e simpati­as (com base na idéia de que há um a relação entre um objeto e o que ele sim boliza; por exem plo, o que é feito à imagem de uma pessoa acontecerá à pessoa) e usavam suas artes para m anipular os deuses e os espíritos. A magia era o fio que sustentava a criação e era usada por seus praticantes (humanos ou divinos) tanto para fazer o bem , quanto para causar o mal.3.8-10. dízim os garantindo alim ento. Há pouca dife­rença entre os dízimos e os impostos no antigo Orien­te Próximo. Ambos eram cobrados dos aldeões como pagam ento ao governo e geralm ente arm azenados nos templos, de onde os cereais, o azeite e o vinho eram redistribuídos para sustentar os oficiais reais e religiosos. Na arrecadação e distribuição do dízimo, a distinção entre o sagrado e o profano é obscurecida. O dízimo (literalmente, a "décim a parte") mencionado aqui era tuna contribuição compulsória para a manu­tenção do culto e da administração no antigo Israel. Também era usado por diversos outros povos do anti­go Oriente Próximo, inclusive os fenícios e cananeus. Israel tinha a ordem de entregar o dízimo a Deus e "com er diante do Senhor", provavelmente uma refei­ção comunal. É improvável que ao entregar o dízimo a pessoa comesse todo o "d ízim o", um a vez que isso frustraria o objetivo de suprir as necessidades da co­m unidade sacerdotal e de servir como um a reserva para os desfavorecidos. A ordenança provavelmente tinha mais a ver com levar o dízimo (ou o valor equi­valente em prata) ao santuário de D eus em Jerusa­

lém, demonstrando assim devoção. Ver o comentário em Números 18.21-32 para mais informações.3.10. escassez nas reservas do tem plo. Apropriar-se daquilo que por direito pertencia ao templo para uso particular foi logo identificado como um problema no antigo Oriente Próxim o. Em um a oração sum éria a Enki, um adorador nega ter saqueado as ofertas da divindade. D urante o reinado de Xerxes, as verbas destinadas ao templo pelo Império Persa foram corta­das. Isso significou que um fardo ainda maior foi colo­cado sobre o povo para que suprisse as necessidades dos sacerdotes, as atividades de culto e a manutenção do templo. Essa responsabilidade financeira adicional gerou dificuldades e resultou em racionamentos a fim de cortar gastos do templo.3.16. livro com o m em orial. A expressão "livro como m em orial" aparece apenas aqui, em bora a idéia de Deus ter um livro em que registra dados encontra-se em outras passagens da Escritura (p. ex. Êx 32.32; SI 139.16; Is 4.3; 65.6; Ez 13.9). Os reis do antigo Oriente Próximo muitas vezes tinham um registro escrito dos eventos mais importantes de seu remado (ver o comen­tário em Et 2.23). Tanto em Israel quanto no antigo Oriente Próximo acreditava-se que a divindade m an­tivesse livros também. Em Êxodo 32.32-34 M oisés está disposto a ter seu nome apagado do livro da vida, uma ação que resultaria em sua m orte. Yahw eh responde que somente aquele que peca tem seu nome tirado do livro. A m etáfora é de um livro de registros que con­tém um a lista dos viventes. Essa im agem é compará­vel ao livro que Enkidu vê em um sonho do m undo inferior e que continha o nome daqueles destinados à morte. A literatura m esopotâmica contém referências a tab le tes qu e re g istra v a m m ás ações (nos textos Shurpu) e a tabletes que registravam boas ações. Ver o com entário em Salm o 56.8.4.2. So l da ju stiça trazendo cura em suas asas. O Solda justiça aqui traz justiça. Em todo o antigo Oriente Próximo divindades solares estão relacionadas à justi­ça. Não é raro no Antigo Testamento que a ação de Yahw eh seja retratada através da metáfora solar. "Cura em suas asas" é um uso sim bólico das asas de um pássaro comparadas aos raios do Sol. As asas denotam cuidado e proteção (conseqüentemente, a cura). Um tema das religiões astrais do antigo Oriente Próximo apresenta o Sol ilustrado como um disco alado. Isso era especialmente difundido no período persa.4.4. H orebe. H orebe era outro nom e para o m onte Sinai, o lugar onde D eus se revelou a M oisés e lhe entregou os D ez M andamentos. Não se sabe ao certo sua localização precisa e há pelo menos quatro possi­bilidades no sul do Sinai, defendidas pelos eruditos: Jebel M usa, Ras es-safsafeh, Jebel Serbal e um a mon­tanha perto de al-Hrob. Para uma discussão sobre a localização, ver o comentário em Êxodo 19.1, 2.

Glossário

Muitos termos que surgem com freqüência em nossas discussões são explicados neste glossário. Para auxiliar o leitor colocamos asteriscos (*) ao longo do texto antes de termos que podem ser encontrados aqui. Nem todos os term os aparecem aqui exatam ente conforme constam no texto dos comentários.

A cadiano: term o que se aplica à cultura e à língua mesopotâmica de 2500 a 500 a.C..Adapa: um sacerdote do deus Ea na cidade suméria de Eridu. A história sobre ele conta como foi enganado e perdeu a chance de adquirir a im ortalidade, quando foi aconselhado a não com er o alim ento divino. Adivinhação: processo de determinar a vontade dos deuses através do exam e de fenômenos da natureza (formações de nuvens, vísceras de animais sacrifica­dos) ou lançando sortes.A h iqar: um conselheiro do rei assírio Senaqueribe (704-681 a.C.) que foi exilado e escreveu uma série de ensinos sobre o "sábio" e o "to lo " que são paralelos a alguns dos dizeres do Livro de Provérbios.A lalakh: um a cidade do norte da Síria na parte sul da planície de Antioquia e que floresceu no início do se­gundo m ilênio a.C.. A cidade produziu inúm eros re­gistros que descrevem a política e a economia da área e é citada em textos de Mari, Nuzi e do reinado hitita. A liança: um acordo contratual associado na Bíblia ao acordo entre Yahw eh e os israelitas que prometia ter­ra e descendência em troca de adoração exclusiva e obediência.A m arna: ver El-Am am a.Amorreu/amurru: um grupo de povos sem itas que viveu em um a área a oeste da M esopotâmia, inclusi­ve no litoral mediterrâneo, durante o segundo m ilê­nio a.C..A m uleto: um ornamento entalhado usado em volta do pescoço cujo objetivo era afastar o mal, curar enfer­midades ou trazer sorte ao proprietário. A nacronism o: um detalhe ou palavra em uma histó­ria que não se encaixa ao período em que o texto foi produzido. Com freqüência os anacronismos podem ser entendidos como explicações ou ajustes feitos ao texto em um a época posterior.A nat: deusa da fertilidade e da guerra e principal consorte do deus Baal nas religiões cananéia e ugarítica. A natólia: equivalente aproxim adam ente à área co­nhecida no Novo Testamento como Ásia M enor e atu­al Turquia. Era a terra dos hititas na m etade do se­gundo milênio.A nunciação: o anúncio de um nascimento. A pócrifos: livros escritos no período helenista entre os Testamentos. Esses catorze livros não fazem parte

do cânon judaico nem do cânon protestante, m as são m antidos pela tradição católica.A postasia: qualquer ação que perm ite ou trata com indulgência a falsa adoração.Apotropaico: ação realizada ou símbolo usado para afastar o mal.A qhat: filho de Danil. H erói do épico ugarítico em que é retratado como um poderoso caçador e é assas­sinado pela deusa Anat quando se recusa a lhe entre­gar seu arco. A história apresenta paralelos com as narrativas ancestrais e com o Livro de Juizes.Arã: m etade noroeste da Mesopotâmia e costa do M e­diterrâneo que serviu de lar aos arameus no final do segundo e início do primeiro milênio a.C..Aserá: deusa da fertilidade cananéia, consorte de Baal, associada com freqüência a bosques sagrados ou re­presentada por postes ou colunas sagradas na Bíblia. A ssíria: área do norte da Mesopotâmia centrada no rio Tigre. Teve diversos períodos de proeminência, o mais importante indo de 1000 a 612 a.C., quando conquis­tou todo o Oriente Próximo e produziu um código de lei (Código Médio-Assírio) paralelo à lei bíblica. A starte: deusa cananéia e fenícia, consorte do deus Baal, associada à fertilidade e conhecida como deusa da guerra.Atos rituais: um a série de ações prescritas e tomadas para fins religiosos, como por exemplo, o sacrifício. Baal: deus cananeu e ugarítico das tempestades e da fertilidade.B abilônia: principal cidade mesopotâmica localizada na junção dos rios Tigre e Eufrates, que dominou a história daquela área durante diversos períodos. B ab ilôn ia Antiga: período da história mesopotâmica de 2025 a 1595 a.C. cu jo ápice foi n o re in ad o de Ham urabi (1792-1750 a.C.) que elaborou um código de leis e unificou as cidades-estados sob seu domínio. Bula: selo de argila usado para selar um documento de papiro. A impressão do selo evitava que o docu­m ento fosse adulterado e tam bém fornecia o nome ou o escalão do oficial que o escrevera.C alcolítico : era de 4300 a 3000 a.C. e caracterizada pelo uso da tecnologia do cobre.Caldeu: período da história m esopotâmica de 700 a 540 a.C. associado aos neo-babilônios e ao rei Nabuco- donosor.

Cam os: deus nacional moabita, com freqüência asso­ciado à guerra.Cassitas: povo originário da região m ontanhosa do norte da Mesopotâmia que conquistou o reinado da Antiga Babilônia em 1595 a.C. e governou na Babi­lônia até 1157 a.C..C ircuncisão: ritual religioso de remoção do prepúcio do pênis. Era empregado pelos israelitas para marcá- los como membros da comunidade da aliança. Cognatas: línguas que fazem parte da família semita e compartilham de vocabulário e inúmeras caracterís­ticas gramaticais com o hebraico. As principais lín­guas cognatas são o acadiano, o aramaico e o ugarítico. Dentre diversas outras cognatas menos importantes estão o árabe, o m oabita, o am onita, o am orreu, o etíope e o siríaco. A literatura escrita nessas línguas é denominada literatura cognata.Cólofon: afirmação ou expressão colocada no final de um documento ou um trecho literário que pode servir de resumo ou simplesmente de nota final. Concubina: esposa secundária que geralmente ingres­sava na fam ília sem um dote e cujos filhos não herda­vam os bens do pai, a menos que ele publicamente os declarasse seus herdeiros.Culto à fertilid ad e: prática religiosa predom inante em grande parte do m undo antigo. O s principais deu­ses formavam pares (masculino e feminino) e os ritos tinham por objetivo garantir chuva abundante, cres­cim ento das plantas, colheitas prósperas e grandes rebanhos. Esse culto às vezes incluía sacrifícios e pros­tituição sagrada. Em uma sociedade dominada pela agricultura e criação de rebanhos, a fertilidade era de suma importância.C u neiform e: escrita silábica gravada em form a de cunha, inventada pelos sumérios e usada por todas as civilizações subseqüentes na Mesopotâmia até a che­gada dos gregos.D em ótico: versão da língua egípcia que data de 700 a.C., conhecida como hierática, cuja escrita cursiva era mais prática que sua precursora, hieróglifos picto- gráficos.P ilm u n : terra paradisíaca na mitologia mesopotâmica. Utnapishtim, o herói do Épico de Gilgamés, foi levado ali para viver eternamente após o dilúvio. Dumuzi/Tammuz: deus m esopotâmico, consorte da deusa Istar, cuja morte e aprisionamento no mundo inferior representavam as mudanças das estações.Ea: deus mesopotâmico dos rios e riachos que aparece na história do dilúvio narrada no Épico de Gilgamés e na história babilónica da criação, Enuma Elish.El: o deus supremo no panteão ugarítico e também um term o genérico para deus. Era acrescentado ao nome de um lugar (i.e., Betei ou El Eloí-Israel) para distingui-lo como um lugar onde um deus m anifestou seu poder.

E l Amarna: a capital do faraó Aquenaton (século ca­torze a.C.) em que os arqueólogos descobriram cente­nas de notas reais descrevendo eventos bastante caó­ticos em Canaã durante esse período.Elão: país a leste do rio Tigre, no atual Irã.E loh im : um dos nomes do deus israelita, geralmente traduzido como "D eu s" em português, mas ocasional­mente usado para referir-se a outros deuses ou a seres sobrenaturais.Em ar: cidade da Idade do Bronze (Tell M eskene/ Balis) localizada na extremidade norte do rio Eufrates, na Síria. Textos encontrados ali da idade do Bronze Moderna fornecem informações da vida diária desde o século catorze até o século doze a.C..E nki e N inhursag: mito sumério que apresentava uma explicação sobre as propriedades geradoras de vida das águas do rio (Enki) e sobre os tipos de vegetação que crescia à medida que as águas fluíam e nutriam a terra (Ninhursag e seus filhos).En lil: deus m esopotâmico da tem pestade, chefe da assembléia divina e instigador do dilúvio no Épico de G ilgam és.Enum a E lish : história babilónica da criação.Esnuna: cidade m esopotâm ica na região D iyala, a leste da atual Bagdá, que teve um curto reinado entre 2100 e 2000 a.C. e elaborou um código de lei que contém alguns paralelos ao Código de Hamurabi e à lei bíblica.Etana: antigo rei mesopotâmico, protagonista de uma lenda em que se obtém um a planta do céu que garan­te fertilidade sendo assim capaz de gerar um filho a fim de dar continuidade ao seu governo. Sua subida até o céu é feita no dorso de uma águia e é assim que ele é retratado em selos antigos.Etiologia: história que tenta explicar a origem de um nome, um costume ou um fato da realidade, tal como a morte ou um parto doloroso.Execração: método de amaldiçoar um inimigo confec­cionando um boneco ou vasilha de encantamento con­tendo o nome da pessoa amaldiçoada.Exorcism o: ritual, incluindo feitiços e encantamentos, cujo objetivo é expulsar ou remover demônios de pes­soas ou lugares.Funerário: rituais e objetos relacionados ao enterro dos mortos. Ritos funerários também faziam parte de um sistema mais amplo de adoração aos ancestrais. Gilgam és: rei sumério de Uruk, protótipo do herói na literatura mesopotâmica. Seu épico contém um a bus­ca pelo segredo da imortalidade e uma narrativa do dilúvio.G líp tica : tipo de arte entalhada, presente especial­mente em selos onde o desenho era gravado do lado inverso para que, ao ser impresso em argila ou cera, apresentasse a figura do lado certo.

Habiru: termo usado em textos mesopotâmicos para referir-se a pessoas sem pátria.Ham urabi: rei babilônio (1792-1750 a.C.) que compi­lou um código de leis contendo uma série de paralelos com a lei bíblica.H enoteísm o: religião que reconhece a existência de outros deuses, mas com freqüência insiste na supre­m acia de seu próprio deus.Heretn: "guerra santa" ou "aniquilação" que requeria a destruição completa de todas as pessoas, animais e propriedades como um sacrifício dedicado a Yahweh. Heródoto: historiador grego que viveu no quinto sé­culo a.C.. E conhecido por suas H istórias (445 a.C.), que documenta a história das Guerras Persas contra os gregos, tais como as batalhas de Maratona, Termó- pilas e Salamina.H esíodo: filósofo grego do oitavo século a.C.. Sua principal obra foi Teogonia, o relato grego conhecido m ais antigo sobre a criação e a origem dos deuses. H ieróglifo: escrita silábica, pictográfica desenvolvida pelos antigos egípcios.Hititas: povo indo-europeu que migrou para a Anatólia após 2000 a.C. e criou um im pério que desafiou o Egito no controle da Siro-Palestina durante a metade do segundo milênio. Também produziram um códi­go de leis com paralelos à lei bíblica.H icsos: um a aliança de povos semitas, talvez de cida­des que ressurgiam em Canaã na Idade do Bronze M édia, que se estabeleceram no Egito e obtiveram o controle de importantes regiões do país em 1750 a.C.. Com o passar do tempo passaram a governar a maior parte do Baixo Egito, com a capital em A varis, até 1570 a.C..H u m anos: povo não-sem ita que criou um reino em M itani, M esopotâm ia central, durante a m etade do segundo milênio.Iconografia: m ensagens pictóricas inscritas em arte­fatos antigos. Essas imagens incluem objetos tridimen­sionais, relevos, pinturas, selos e até figuras em pare­des. São uma im portante fonte de inform ações que complementa os dados textuais existentes.Idad e do Bronze: a era (dividida em A ntiga, M édia e Moderna) que se estendeu aproximadamente de 3000 a 1200 a.C. e foi caracterizada pela tecnologia do bronze. Id ad e do B ronze A ntiga: era de 3300 a 2300 a.C., caracterizada pelo surgimento de cidades, da civiliza­ção do Egito da Antiga Dinastia e da Suméria, bem como da tecnologia do bronze.Idade do Bronze M édia: era cronológica de 2300 a 1550 a.C. que inclui o período dos ancestrais de Israel,o período da Antiga Babilônia e o controle egípcio da Siro-Palestina.Idade do Bronze M oderna: era cronológica de 1550 a 1200 a.C ., m arcada pela Era A m arna e pelo Novo

Reinado no Egito, pelo im pério hitita na Anatólia e pela invasão dos Povos Marítimos.Id ad e do Ferro: era na h istória do antigo O riente Próximo de 1200 a 300 a.C. e caracterizada pelo uso da tecnologia do ferro.Identidade coletiva: um grupo é tratado como uma unidade. Esse conceito se refletia no princípio legal que recompensava ou punia toda uma família pelos acertos ou erros do chefe da casa.Im pureza: estado em que um indivíduo, grupo ou ob­jeto tom a-se impuro pela prática de um a transgressão da lei ou pelo contato com pessoa ou coisa impura. O resultado é a im pureza ritual, que proíbe a pessoa ou grupo de participar de atividades religiosas e pode (no caso de lepra) exigir a expulsão. Rituais de purificação eram exigidos para rem over esse estigm a e restaurar a pessoa ou grupo à participação na comunidade.In s itu : termo aplicado para o local de origem onde um artefato foi achado e registrado por arqueólogos. Istar: deusa mesopotâmica do amor, consorte de Dumu- zi, que aparece na narrativa do dilúvio de Gilgam és. Josefo: historiador judeu do primeiro século d.C. Suas duas grandes obras, Antigüidades dos Judeus e Guerras Judaicas, oferecem uma visão detalhada da perspecti­va judaica a respeito de suas épocas e história.Keret: rei herói de uma lenda ugarítica o qual recebe instruções dos deuses de como adquirir uma esposa e um herdeiro ao trono. Essa crise fam iliar é apenas um a de uma série que inclui enfermidade e rebelião por parte de um de seus filhos.Lagash: cidade-estado sum éria (el-Hiba) da metade do terceiro milênio contendo diversos centros urba­nos, que disputou com Ur, Uruk e Kish pelo controle da região.Larsa: cidade suméria do início do segundo milênio, dezesseis quilômetros a leste de Uruk e 32 quilôme­tros ao norte de Ur.Lei apodíctica: um tipo de afirm ação legal na form a de ordem, sem explicação.Lei casuística: afirm ação legal baseada na estrutura "se-então".Levante: área do leste do Mediterrâneo também de­signada como Siro-Palestina.Leviatã: serpente m arinha associada aos poderes caó­ticos do mar. O nome encontra-se em textos mitológi­cos ugaríticos e também em Jó, Salmos e Isaías. Lipit-Istar: rei da terceira dinastia de Ur, na M eso­potâm ia, que elaborou um código de lei paralelo a alguns aspectos da lei bíblica.M arduque: principal deus da Babilônia que derrotou Tiam at na história da criação intitulada Enuma Elish e tom ou-se o chefe da assembléia divina.M ari: cidade mesopotâmica na extremidade norte do rio Eufrates que floresceu de 2500 a 1700 a.C. e produ­

ziu milhares de documentos cuneiformes descreven­do eventos políticos, atividade profética e os povos nômades pastoris do norte da Síria.M itani: reinado dos hurrianos na Mesopotâmia cen­tral durante a metade do segundo milênio a.C.. M onolatria: situação em que uma pessoa ou grupo determ ina adorar apenas um D eus, a despeito da existência ou não de outros deuses.Nazireu: israelita (homem ou mulher) que fazia um juram ento de abster-se de consumir qualquer produ­to da uva, de ter contato com os mortos e de cortar os cabelos.Nínive: capital do Império Assírio no alto do rio Tigre. Nuzi: cidade hurriana dos séculos dezesseis e quinze a.C. que forneceu documentos relacionados à família e negócios, registrando costumes de casamento e he­rança semelhantes aos das narrativas ancestrais. Oráculo: profecia (na forma oral ou escrita) que revela a vontade divina através de adivinhações.O síris: deus egípcio do mundo inferior.Povos M arítim os: grupo miscigenado de povos em toda a área m editerrânea que atuaram como m erce­nários nos exércitos egípcio e hitita até 1200 a.C. quando fizeram um ataque coletivo às principais civilizações do O riente Próxim o desestabilizando-as o bastante para permitir o surgimento de novos povos em Canaã. Profanação (impureza): impureza ritual causada por contato com ou consumo de coisas impuras, tal como o sangue, e só poderia ser rem ovida através de atos rituais cujo objetivo era transferir a pessoa de um estado de impureza para o de pureza.Prostituição ritual: prática de atos sexuais como parte de uma cerimônia religiosa para promover a fertilida­de ou enriquecer um santuário.Pseudepígrafes: literatura produzida sob a persona de um indivíduo respeitado e bem conhecido. A s obras pseudo-epigráficas do Antigo Testam ento são atribu­ídas a pessoas como Enoque e Esdras, e datam do período intertestamental ou posterior.Pureza: estar em subm issão à lei e livre para par­ticipar de atividades religiosas e sociais. Esse estado podia ser alcançado através de ações corretas, purifi­cação ritual ou sacrifícios.Seita: organização e atividades de um grupo religioso que incluíam sacrifícios e outros rituais.Sim patia: representação ritualística da realidade atra­vés de um objeto. O nome, o cabelo ou o sangue de uma pessoa podia ser usado ou podia-se confeccionar imagens da pessoa ou coisa a ser atingida. A idéia era que a essência da pessoa estava ligada ao objeto que a representava ou era transferida para ele. Sincretism o: o empréstimo de idéias, práticas, cren­ças e costumes de uma cultura sendo combinados com outra.

Sinuhe: oficial do faraó Am enem hat I (1991-1962 a.C.) que foi exilado em Canaã por muitos anos antes de ser perdoado e de receber permissão para voltar ao Egito. Sua história contém alguns paralelos com a dos ances­trais em Gênesis, bem como com a história de Moisés. Sum éria: área no extremo sul da antiga Mesopotâmia. Foi a primeira verdadeira civilização naquela região em 3500 a.C., inventou a escrita cuneiform e e criou muitos dos mitos que serviram de base para a religião por diversos milênios seguintes.Tell: monte artificial criado pelas sucessivas camadas de ocupações em um determinado lugar.Teofania: aparição de Deus a um ser humano, como na "sarça ardente".Teofórico: nom e próprio que contém uma referência ao nom e de uma divindade. Nomes teofóricos como Isaías, Ezequiel, Jerubaal e Nabucodonosor com fre­qüência contêm afirmações a respeito da divindade. T ia m a t: deusa m esop otâm ica prim ev a dos m ares, consorte de A psu, deus dos rios. E la é a opositora a M ard uque na h is tó ria da criação in titu lad a Enum a Elish.Toth: deus-lua egípcio.Ugarit: cidade portuária do norte da Síria que contro­lou o transporte mercantil de aproximadamente 1600 a 1200 a.C., quando foi destruída pelos Povos M aríti­mos. Diversas histórias épicas ugaríticas foram desco­bertas a que ajudam a entender as histórias bíblicas dos períodos ancestrais e de ocupação. A credita-se que a cultura ugarítica tenha se aproximado da cultu­ra cananéia.Ur III: período da história m esopotâmica de 2120 a 1800 a.C. fundado por Ur-Nammu, centrado na cida­de de U r e caracterizado por um breve ressurgimento da cultura suméria.Ur-Nammu: rei de U r III, pai de Shulgi, que criou um código de leis que apresenta alguns paralelos com a lei bíblica.Uruk: cidade suméria do terceiro milênio e início do segundo milênio, governada por Gilgamés. Utnapishtim : herói da narrativa do dilúvio no Épico de Gilgam és.W enam om: sacerdote do deus egípcio A m om (c. 1100 a.C.), enviado como em baixador a fim de conseguir madeira para a barcaça real dos governantes da Síria e da costa fenícia. Sua m issão foi retardada pela fragi­lidade do Egito naquela época e pelas condições polí­ticas caóticas que se seguiram à invasão dos Povos M arítimos.Xenofonte: historiador grego que escreveu no início do quarto século a.C.. Sua obra histórica m ais famosa, A nabasis, focaliza a batalha entre Ciro, o Jovem , e Artaxerxes n.Yahw eh: um dos nomes do Deus de Israel, às vezes transliterado como "Jeová" e traduzido como "Senhor".

Quadros e Mapas

Principais tabletes de importância para o Antigo Testamento

NOME NÚME­RO DE

TABLETES

LÍNGUA DESCO­BERTO POR

LOCALDA DESCOBERTA

DATADADESCOBERTA

TEMA DATADE

ORIGEM

IMPORTÂNCIA PARA A BÍBLIA

Ebla 17.000 Ebíaíta Matthiae Tell-Mardikh

1976 Arquivos reais contendo diversos tipos de texto

Séc.24 Fornece dados sobre o contexto histórico da Síria no final do terceiro milênio

Atrahasis 3 Acadiano Diversas pessoas encontra­ram partes distintas

Diferentes partes em localidades diferentes

1889 a 1967 Relato da criação, cresci­mento da população e dilúvio

Cópia de 1635

Paralelos aos relatos do Gênesis

Mari 20.000 Acadiano(antigobabilónico)

Parrot Tell-Hariri 1933 Arquivos reais de Ziinri-Lim contendo diversos tipos de textos

Séc. 18 Fornece dados sobre o contexto histórico do perío­do e é a maior coleção de textos proféticos

EnumaElish

7 Acadiano(neo-ssírio)

Layard Nínive (biblioteca de Assurbanipal)

1848-1876 Relato da ascensão de Marduque como chefe do panteão

Cópiadosétimoséculo

Paralelos aos relatos da criação de Gênesis

Gilgamés 12 Acadiano(neo-ssírio)

Rassam Nínive (biblioteca de Assurbanipal)

1853 Feitos de Gilgamés e de Enkidu e a busca pela imortalidade

Cópiadosétimoséculo

Paralelos aos relatos da criação de Gênesis

Boghaz-Kôy

10.000 Hitita Winckler Boghaz-Köy 1906 Arquivos reais do Império Neo-Hitita

Séc. 16 História hitita e ilustrações de tratados interna­cionais

Nuzi 4.000 Dialeto hurriano do acadiano

UueraeSpeiser Yorghum

Tepe1925 a 1941 Arquivo

contendoregistrosfamiliares

Séc. 15 Fonte sobre costu­mes contemporâne­os da metade do segundo milênio

Ugarit 1.400 Ugarítico Schaeffer Ras Shamra 1929 a 1937 Arquivos reais de Ugarit

Séc. 13 Religião e literatu­ra cananéia

Amarna 380 Acadiano(dialetosemita-ocidental)

Camponêsegípcio Teil

el-Amama1887 Correspondên­

cia entre o Egito e seus vassalos em Canaã

1370 a 1340

Reflete as condições da Palestina na metade do segundo milênio

CrônicasBabiló­nicas

4 Acadiano(neo-babilônico)

Wiseman Babilônia 1956 Registros da corte do Império Neo- Babilônico

626 a 594

Registro da con­quista de Jerusalém em 597 e história do período

Emar800 Acadiano Margueron Tell-

Meskene1975 Arquivos do

Templo Real e familiares

Séc. 13 Costumes das famílias; rituais religiosos

Alalakh500 Acadiano Wooley T ell-Atchana 1939 Arquivo do

Templo Real; Estatuto de Idrimi

Séc.18-17

Tratados e contra­tos fornecendo dados sobre o contexto cultural

Principais inscrições de importância para o Antigo Testamento

NOME LÍNGUA DESCOBERTOPOR LOCALDADESCOBERTA

DATADADESCOBERTA

TEMA DATA DE ORIGEM

(a.C.)

IMPORTÂNCIA PARA A BÍBLIA

PinturanoTúmulo de Beni Hasan

Hieróglifoegípcio

Newberry Beni Hasan 1900 Pintura de Khnumhotepn

1920 Retrata semitas no Egito

Leis de Hamurabi

Acadiano(antigobabilónico)

DeMorgan Susã 1901 Coleção de leisbabilónicas

1725 Exemplifica a lei no antigo Oriente Próximo

Esteia de Merenptá

Hieróglifoegípcio

Petrie Tebas 1896 Feitosmilitares de Merenptá

1207 Primeira menção ao nome de "Israel"

InscriçãodeSheshonq

Hieróglifoegípdo

Templo em Karnak

1825 Feitosmilitares de Sheshonq

920 Confirmação de invasão contra Roboão

Inscrição da "Casa de Davi"

Aramaico Biran Dã 1993 Conquista síria da região

Nonoséculo

Primeira menção de Davi em registros da época

Inscrição de Messa

Moabita Klein Dibom 1868 Feitos milita­res de Messa, rei de Moabe

850 Relações entre moabitas e israelitas no nono século

EsteiaNegra

Acadiano(neo-assírio)

Layard Nínive 1845 Feitos milita­res deSalmaneser III

840 Ilustra israelitas pagando tributos

Textos de Balaão

Aramaico Franken Deir Alia (Sucote)

1967 Profecia de Balaão sobre o descontenta­mento do concílio divino

Oitavoséculo

Relacionados a um famoso vidente citado na Bíblia

Pergami­nhos de Prata

Hebraico Barkay Túmulo no Vale de Hinom

1979 Amuleto contendo o texto de Números 6.24-26

Sétimoséculo

Mais antiga cópia de uma porção da Bíblia

Inscrição de Siloé

Hebraico Rapaz camponês Jerusalém 1880 Comemora­ção do térmi­no do túnel de água de Ezequias

701 Exemplo contempo­râneo da língua hebraica

Prisma de Sena- queribe

Acadiano(neo-assírio)

Taylor Nínive 1830 Feitos milita­res deSenaqueribe

686 Descreve o cerco a Jerusalém

Ostracos de Láquis

Hebraico Starkey Teil ed- Duweir

1935 18 cartas do capitão do forte de Láquis

588 Condições durante o último cerco à Babilônia

Cilindro de Ciro

Acadiano Rassam Babilônia 1879 Decreto de Ciro permi­tindo a cons­trução de templos

535 Ilustra a política que favoreceu Judá

Textos legais do Antigo Oriente PróximoNOME SÉCULO a.C. DESCRIÇÃO

SUMÉRIOS Reforma de Uruinimgina (rei de Lagash)

24Início da Dinastia III

Reforma social

Leis de Ur-Nammu (rei de Ur) 21 (Ur III) Ainda existem cerca de 31 leis (frag­mentadas)

Leis de Lipit-Istar (rei de Isin) 19 (Isin-Larsa) Trechos de 38 leis com prólogo e epílogo: apenas leis civis

ACADIANOS Leis de Esnuna 18 (Babilônia Antiga) 60 parágrafos de leis civis e criminais

Leis de Hamurabi (rei da Babilônia) 18 (Babilônia Antiga) 282 leis ainda existem (35-40 foram apagadas) mais prólogo e epílogo

Leis Médio-Assírias (Tiglate-Pileser I?) 12 (Médio-Assíria) Cerca de 100 leis e 11 tabletes com leis civis e criminais

HITITAS Leis Hititas (Mursilis I ou Hattusilis I) 17 (Antigo Hitita) Cerca de 200 leis civis e criminais

Literatura do Antigo Oriente Próximo Que contém paralelos com o Antigo Testamento

OBRA LITERÁRIA LÍNGUA DATA LIVRO DO AT PARALELO

Épico de Atrahasis Acadiano -1635 Gênesis Criação, crescimento da população e dilúvio com arca

Enuma Elish Acadiano -1100 Gênesis Relato da criação

Épico de Gilgamés Sumério Acadiano -2000 Gênesis Relato completo do dilúvio com arca e pássaros

Teologia de Mênfis Egípcio -séc. 13 Gênesis Criação por meio da palavra falada

Leis de Hamurabi Acadiano -1750 Êxodo Leis semelhantes às entregues no Sinai, na forma e no conteúdo

Hino a Áten Egípcio -1375 Salmo 104 Expressões e termos usados nos temas e analogias

Ludlul bei Nemeqi Acadiano -séc. 13 Jó O sofredor questiona a justiça da divindade

Teodicéia Babilónica Acadiano -1000 Jó Diálogo entre o sofredor e amigo quanto à justiça da divindade

Instrução de Amenemope

Egípcio -1200 Provérbios 22.17 - 24.22

Vocabulário, imagens, tema, estrutura

Tratados Hititas (36) Hitita 2“ milênio Deuteronômio; Josué 24

Forma e conteúdo

Lamentação pela Queda das Cidades Sumérias (5)

Sumério Séc. 20 Lamentações Expressões, linguagem, imagens etema

Canções de Amor Egípcias (54)

Egípcio 1200-1150 Cântico dos Cânticos

Conteúdo e categorias literárias empregadas

Textos com Profecias de Mari (~50)

Acadiano Séc. 18 Profecia Pré-clássica Abordagem de temas semelhantes (feitos militares e atividade cultual)

Cronologia comparativa doAntigo Oriente Próximo 1 0 .0 0 0 - 2 . 1 0 0 a.C.

ANATÓLIA/ SÍRIA

MESOPOTAMIA patestina EGITO

H

A

T

T

I

A

N

T

I

G

O

Jarmo

HassunaSamarraHalaf

10000

8000

5000

4300

Ubaid (4300-3500) |

Sul: Norte: 3300Uruk Tepe Gawra

(3500-3100) (3500-2900)

Anterior à escrita

Jemdet Nasr (3100-2900)

Antiga Dinastia I

Antiga Dinastia II

Antiga Dinastia Hl

PeríodoAcadiano

3000

2900

2800

2700

2600

2530

2400

2300

Dinastia de Ur III

Isin-Larsa

Invasões de Elamitas e Amorreus

Mesolítico

Neolítico: anterior à cerâmica

Neolítico: período da cerâmica

Calcolítico

Bronze Antiga I

Bronze Antiga n

Período Gutian: 2200Dinastia de jLagash |

------------------ 2100

2000

1900

Bronze Antiga III

BronzeAntigaIV

Bronze Média I e Patriarcas

Período Pré-dinástico:Fayyum A, Deir Tasa Badarian, Amratian Gerzean

Período Protodinástico: Dinastia I e II (3000-2700)

Antigo Reinado Idade da Pirâmide Dinastias III - V (2700-2350)

Dinastia VI (2350-2160)

Primeiro Período Intermediário (2160 - 2010)

Reinado Médio: Dinastias XI - XII (2106-1786)

1800 Bronze Média IIA

ANATÓUA/ SÍRIA

MESOPOTAMIA PATESTINA EGITO

Antigo Império Hitita (1800­1600)

ImpérioMitani-Hurriano(1500-1350)

ImpérioNeo-Hitita(1460-1200)

Neo-Hi ti tas do norte da Síria duranteo oitavo século

Resistência síria até a Queda de Damasco (732)

Período da Antiga Babilônia: Idade de Hamurabi

1700

PeríodoCassita

Ascensão dos Assírios ao poder

Império Assírio

ImpérioNeo-Babilônico

Bronze Média B e C

1600!

1500

1400

1300

1200I

1X00

I1000

I900

I800

700

600

Bronze Moderna I Êxodo e Conquista

Bronze Moderna II Juizes a Débora

Ferro I Juizes e Monarquia Unificada

Ferro IIMonarquiaDividida

Segundo Período Intermediário: Hicsos (1786-1550)

Novo Reinado (1550-1069) Dinastia XVIII (1550-1295)

Dinastia XIX Idade do Império (1295-1186)

Dinastia XX (1186-1069)

Dinastia XXI (1069-945)

Último Período: Dinastias XXII-XXVI (945-525)

CONTROLE PERSA (539-332)

índice Temático

1. ... no antigo Oriente Próximo2. Cultura material3. Povos4 . Lugares5. Religião6. Sociedade e instituições7. Questões da vida8. Miscelânea de assuntos9. Lista alfabética de tópicos

1. . . . no antigo Oriente Próximoadoração astral, Dt 4.19

árbitro, Jó 9.33bênçãos, N m 6.24-26

capacitação pelo espírito divino, Is 11.2

castigo divino, Dt 32.23-25

cidades de refúgio, Dt 19.2-3comércio de escravos, Dt 24.7

concílio dos deuses, Is 40.13-14construção de estradas, Is 40.3-4consulta aos mortos, 1 Sm 28.8-11

controle cósmico, Jó 9.5-9

crenças na vida após a morte, Is 14

criação do ser humano, G n 1.26-31

discurso persuasivo, 1 Sm 25.23-31divórcio, Dt 22.29

dízimo, N m 18.21-32

eclipses, J1 2.31

educação formal, Jó 8.8-10

eleição antes do nascimento, Jr 1.5em briaguez, Is 28.7espiões, Js 2.2

estrutura judicial, Dt 1.16

expectativa de vida, D t 31.2; SI 90.10; Is 40.6-7

festas e dias sagrados, Nm 28.1-30fonte de sabedoria, Jó 28.20-17

guardiães alados, Ez 1.5ideologia do templo, 2 Cr 7.16ídolos, Jr 10.5

juizes subornados, Is 5.23

julgam ento através de teste, N m 5.23-24lamentos, nota em Lamentações; Ez 19.1leis opressivas, Is 10.1leis sobre escravos, Ex 21.2-6listas de fronteiras, Js 13.1

maldições e bênçãos em tratados, Dt 28.2-11métodos dos médicos, Jó 13.4mineração, Jó 28.11monoteísmo, Dt 6.4

narrativas da conquista, Js 10.16-43oferta das primícias, D t 26.1-15onipresença divina, SI 139.8-12onisciência divina, SI 139.2-4

parábolas e alegorias, Is 5.1-2patologia, Dt 28.22

predições através de sonhos, D t 13.1-5preferência pela morte, Jó 7.15-16profecia, Dt 18.14-22; Jn 3.4refugiados, Jr 40.11-12rei escolhido pela divindade, D t 17.14-20rei pastor, Ez 34.7-16reinado, 1 Sm 8.6

responsabilidade individual, Ez 18.20 ressurreição, Is 26.19; Dn 12.2 restauração do templo, 2 Cr 24.4 restrições alimentares, Lv 11.2

ritos de substituição, Is 53.4-10 sábado, Is 58.13 sábios, Pv 1.1sistema financeiro, Dt 15.1-11

sonhos de incubação, 1 Sm 3.3

usura, Ez 18.8veredicto através de presságios, Dt 17.8-13

2 . Cultura materialamuletos, D t 6.8

arquitetura das casas, Js 2.6; 6.1arquitetura dos templos, Jz 16.29carros, 2 Sm 8.4escrita, Ex 24.4ferro, 1 Sm 13.19-20fortificações, Is 2.15instrumentos musicais, G n 4.21; 1 Sm 10.5; 2 Sm 6.5;2 Cr 20.28; SI 150; Dn 3.5lançadeira, Jz 16.13-14metalurgia, Is 1.22m oinho, Jz 16.21portas e trancas, D t 3.5; Jz 16.3

rampas de cerco, Jr 6.6; 32.24selos, Ne 9.38; Jr 32shofar, Ex 19.13

sinais de trombeta, Nm 31.6; Js 6.4-5

3. Povosamalequitas, Gn 36.12; Nm 24.20amonitas, Dt 2.19amorreus, N m 21.21; Dt 1.19árabes, Is 21.13

arameus, Gn 28,5; 2 Sm 8.5assírios, Is 7.17

cuxitas, Is 18.1edomitas, Is 21.11egípcios, Is 19.1filisteus, Jz 13.1; Is 14.29

heveus, G n 34.2; Js 9.7hititas, Gn 23.2-20jebuseus, Jz 1.21midianitas, Jz 6.1moabitas, Is 15.1queneus, Jz 1.16refains, Dt 2.11; Js 12.4

4 . LugaresAi, Js 7.2Arade, Nm 21.1-3; Js 12.14; Jz 1.16Arpade, Is 10.9Ascalom, Jz 1.18; 14.19Asdode, 1 Sm 5.1Berseba, G n 22.19Betei, Js 8.9; Jz 1.22-23

Bete-Seã, Js 17.16; Jz 1.27; 1 Sm 31.10-12 Bete-Semes, Js 21.16; 1 Sm 6.9 Calno, Is 10.9 Carquemis, Is 10.9 Dã, Jz 18.29

Damasco, 2 Sm 8.5; Is 17.1Ecrom, Jz 1.18; 1 Sm 5.10Gate, 1 Sm 5.8Gaza, Jz 1.18Gezer, Js 10.33; 21.21Gibeom , Js 9.3

Hamate, Is 10.9Hazor, Js 11.1; Jz 4.2Hebrom, Gn 13.18; Nm 13; Js 10.3Hesbom, Dt 2.26Jericó, Js 2.1Jerusalém , Js 10.1; 2 Sm 5.6Láquis, Js 10.3; 2 Cr 32; M q 1.13Libna, 2 Cr 21.10Maanaim, 2 Sm 2.8

Megido, Js 12.21Micmás, 1 Sm 13.2Nínive, Jn 1Quiriate-Jearim, 1 Sm 6.21 Ramá, 2 Cr 16.1 Ramote-Gileade, 2 Cr 18.2

Samaria, 1 Re 16.24 SUó, 1 Sm 1.3Siquém, G n 12.6; 33.18-19; Js 24.1; Jz 9.1 Susã, Et 1.2Tiro, 2 Sm 5.11; Is 23.1,3

Tirza, 1 Re 16.6 Ziclague, 1 Sm 27.6

5 . Religiãoadivinhação, Lv 19.26; Dt 18.10-13; Gn 30.27adoração astral, Dt 4.19; 17.3; 2 Re 23.4; 2 Cr 33.5adoração, Salmos: Conceitos Básicosarca, Ex 25.10-22assembléia divina, Is 40.13-14

Astarote, Jz 2.13Baal, Jz 2.11-13Camos, Jz 11.24castigo divino, Dt 32.23-25

colunas sagradas (de Aserá), Ex 34.13; Dt 7.5; 12.3; Jz 6.25

colunas sagradas, G n 28.18-19compasso sagrado, Lv 10.10; 16.2; Nm 18.1-7consulta aos mortos, 1 Sm 28.8-11contaminação com cadáver, Nm 19.11culto aos ancestrais, Nm 3.1; Dt 18.11; 1 Sm 28.8-11Dagom, Jz 16.23

destruição divina, Is 10.22-23 divindades iradas, D t 9.28 El Shadai, G n 17.1-2 feitiçaria, Dt 18.10 Festa da Lua Nova, 1 Sm 20.5 gordura, Lv 3.1-5

guerreiro divino, 1 Sm 4.3-7; Salmos: Conceitos Básicosholocausto (oferta queimada), Lv 1.3-4ídolos, Lv 26.1; D t 4.15-18; Is 2.8; 40.19; 44.17-18impureza, Lv 12.1incenso, Ex 30.7-8; Jr 44.18jejum , 1 Sm 7.6

mágicos/ sábios, Gn 41.8-16M arduque (Bei), Is 46.1médiuns/espiritualistas, Lv 19.31; Dt 18.11Milcom, 1 Re 11.5, 7Moloque, Lv 18.21; Dt 18.10monoteísmo, Dt 6.4monte, 1 Sm 9.12Nebo, Is 46.1oração, 1 Sm 1.13

presságios, D t 18.10profeta, D t 18.14-22prostituição cultual, Dt 23.17-18querubim, Ex 25.18-20

remado divino, Ex 15.3; 1 Sm 8.7sacerdotes, Ex 28.1; Nm 3.7-10; 18.1-7

santuários exteriores, D t 12.2sonhos, G n 37.5-11; 40.5-18; Dt 13.1-5; 1 Sm 3.3; D n 2.4teofanias, 1 Re 19.11-13

terafins (ídolos do clã), G n 31.19terremoto, 1 Sm 14.15trovão, 1 Sm 7.10vendaval, Na 1.3

vida após a m orte, Salmos: Conceitos Básicos; Is 14.9 visões, Gn 15.1

6 . Sociedade e instituiçõescasamentos políticos, D t 17.17; Jz 12.8; 1 Sm 25.39-44;1 Re 11.1censo, Ex 30.11-16

classes desfavorecidas, Ex 22.22-24escravidão por dívida, Ex 21.2-6escravidão, Lv 25.39-55; Dt 23.15-16; Ec 2.7escribas, 1 Cr 24.6; N e 8.1eunucos, Is 56.4-5; Et 1.10exogamia, Ed 9.10-12guerra de cerco, 2 Cr 32.9; Jr 32.24guerra, Dt 20.10-15impostos, 2 Cr 24.5julgam ento através de teste, Nm 5.23-24 juros e empréstimos, Ex 22.24; Lv 25.38; Dt 15

mercenários, 2 Cr 25.6 pergam inhos, Jr 30.2 porta da cidade, G n 34.20 primogenitura, 1 Re 1.5-6 prostrar-se em honra, G n 43.26 rainha-mãe, 1 Re 2.19 reinado, 1 Sm 8.6

sistema judiciário, Ex 18.13-27; Dt 1.9-18; 16.18-20; 17

7 . Questões da vidacasamentos arranjados, Jz 14.2 concubinas, G n 16.2; 25.1-4

costumes de casamento, G n 29.21-24; Dt 22.23, 25; Jz 14.10; 15.1

direito de primogênito, Dt 21.15-17 divórcio, Dt 22.29

doença, G n 12.17

esterilidade, G n 11.30 expectativa de vida, Dt 31.1

exposição de cadáver, Js 8.29; 1 Re 16.4; 21.19; 2 Re9.36; Is 14.19

genealogias, G n 5.1-32

papel das m ulheres, N m 30.3-15

patologia, Dt 28.15-68

poligamia, G n 4.19; 1 Sm 1.2

práticas de luto, G n 37.34-35; Lv 10.6-7; 19.28; Dt14.1-2; Et 4.1

práticas de sepultamento, G n 23.4-5

preço da noiva/dote, G n 29.18-20 Sheol, Is 14.9

viúvas, Gn 38.11; Ex 22.22-24

8 . Miscelânea de assuntosabominações dos cananeus, Lv 18.24-28 alma, SI 42.2anjo do Senhor, N m 22.22-35; Jz 6.11 bênção, N m 6.22calendário religioso, Lv 23.1^4; Nm 28.1-30camelos, G n 24.10-11canibalismo, Is 9.20cânticos de vitória, Jz 5.1-3cavalaria, Jr 6.23constelações, Is 13.10; A m 5.8criação, Salmos: Conceitos BásicosDia d o Senhor, J1 2.1dízimo, Nm 18.21-32; D t 14.22-29espírito do Senhor, Jz 6.34-35; 1 Sm 10.6; 11.6; 16.13-14estações, D t 11.11-15imagem do jugo, Na 1.13mármore, 1 Cr 29.2

mundo às avessas, Jr 4.23-26números, Js 8.3; Jz 20.2; 2 Cr 11.1; 13.2-20; Ex 12.37pedras preciosas, 2 Cr 9.9

princípio da retribuição, Salmos: Conceitos Básicosrestauração do templo, 2 Cr 24.4Terra de Deus, Lv 25.23unção/azeite, Lv 8.1-9; 1 Sm 16.1valores em ouro, 1 Cr 22.14vinhas, Is 5.1-6

votos, lv 27.2-13; 1 Sm 1.11

9 . Lista alfabética de tópicosabominações dos cananeus, Lv 18.24-28 adivinhação, Lv 19.26; Dt 18.10-13; G n 30.27 adoração astral, Dt 4.19adoração astral, Dt 4.19; 17.3; 2 Re 23.4; 2 Cr 33.5 adoração, Salmos: Conceitos Básicos Ai, Js 7.2 alma, SI 42.2

amalequitas, Gn 36.12; N m 24.20 amonitas, D t 2.19

amorreus, Nm 21.21; Dt 1.19 amuletos, D t 6.8

anjo do Senhor, Nm 22.22-35; Jz 6.11 árabes, Is 21.13

Arade, Nm 21.1-3; Js 12.14; Jz 1.16 arameus, G n 28.5; 2 Sm 8.5 árbitro, Jó 9.33

arca, Ex 25.10-22 Arpade, Is 10.9

arquitetura das casas, Js 2.6; 6.1arquitetura dos templos, Jz 16.29Ascalom, Jz 1.18; 14.19

Asdode, 1 Sm 5.1assembléia divina, Is 40.13-14assírios, Is 7.17Astarote, Jz 2.13

Baal, Jz 2.11-13bênção, Nm 6.22

bênçãos, N m 6.24-26Berseba, Gn 22.19Betei, Js 8.9; Jz 1.22-23Bete-Seã, Js 17.16; Jz 1.27; 1 Sm 31.10-12Bete-Semes, Js 21.16; 1 Sm 6.9calendário religioso, Lv 23.1-44; Nm 28.1-30Calno, Is 10.9camelos, Gn 24.10-11Camos, Jz 11.24canibalismo, Is 9.20cânticos de vitória, Jz 5.1-3capacitação pelo espírito divino, Is 11.2Carquemis, Is 10.9

carros, 2 Sm 8.4

casamentos arranjados, Jz 14.2casamentos políticos, Dt 17.17; Jz 12.8; 1 Sm 25.39-44;1 Re 11.1

castigo divino, Dt 32.23-25castigo divino, Dt 32.23-25cavalaria, Jr 6.23censo, Ex 30.11-16cidades de refúgio, Dt 19.2-3classes desfavorecidas, Ex 22.22-24colunas sagradas (de Aserá), Ex 34.13; Dt 7.5; 12.3;Jz 6.25

colunas sagradas, Gn 28.18-19comércio de escravos, Dt 24.7

compasso sagrado, Lv 10.10; 16.2; Nm 18.1-7concílio dos deuses, Is 40.13-14concubinas, Gn 16.2; 25.1-4constelações, Is 13.10; A m 5.8construção de estradas, Is 40.3-4consulta aos mortos, 1 Sm 28.8-11consulta aos mortos, 1 Sm 28.8-11contaminação com cadáver, N m 19.11controle cósmico, Jó 9.5-9costumes de casamento,-Gn 29.21-24; D t 22.23, 25; Jz 14.10; 15.1

crenças na vida após a morte, Is 14criação do ser humano, Gn 1.26-31criação, Salmos: Conceitos Básicosculto aos ancestrais, N m 3.1; D t 18.11; 1 Sm 28.8-11cuxitas, Is 18.1Dã, Jz 18.29

Dagom, Jz 16.23Damasco, 2 Sm 8.5; Is 17.1destruição divina, Is 10.22-23D ia do Senhor, J1 2.1direito de primogênito, D t 21.15-17discurso persuasivo, 1 Sm 25.23-31divindades iradas, Dt 9.28divórcio, D t 22.29divórcio, D t 22.29dízimo, Nm 18.21-32

dízimo, Nm 18.21-32; D t 14.22-29doença, Gn 12.17eclipses, J1 2.31Eciom , Jz 1.18; 1 Sm 5.10edomitas, Is 21.11

educação formal, Jó 8.8-10egípcios, Is 19.1El Shadai, Gn 17.1-2

eleição antes do nascimento, Jr 1.5em briaguez, Is 28.7escravidão por dívida, Ex 21.2-6escravidão, Lv 25.39-55; Dt 23.15-16; Ec 2.7

escribas, 1 Cr 24.6; Ne 8.1 escrita, Ex 24.4

espiões, Js 2.2espírito do Senhor, Jz 6.34-35; 1 Sm 10.6; 11.6; 16.13-14estações, D t 11.11-15esterilidade, G n 11.30estrutura judicial, Dt 1.16eunucos, Is 56.4-5; Et 1.10exogamia, Ed 9.10-12

expectativa de vida, D t 31.2; SI 90.10; Is 40.6-7 expectativa de vida, Dt 31.1exposição de cadáver, Js 8.29; 1 Re 16.4; 21.19; 2 Re

9.36; Is 14.19feitiçaria, Dt 18.10ferro, 1 Sm 13.19-20Festa da Lua Nova, 1 Sm 20.5festas e dias sagrados, N m 28.1-30filisteus, Jz 13.1; Is 14.29fonte de sabedoria, Jó 28.20-17fortificações, Is 2.15Gate, 1 Sm 5.8

Gaza, Jz 1.18genealogias, G n 5.1-32Gezer, Js 10.33; 21.21Gibeom , Js 9.3gordura, Lv 3.1-5guardiães alados, Ez 1.5guerra de cerco, 2 Cr 32.9; Jr 32.24guerra, Dt 20.10-15

guerreiro divino, 1 Sm 4.3-7; Salmos: Conceitos BásicosHamate, Is 10.9Hazor, Js 11.1; Jz 4.2Hebrom, Gn 13.18; N m 13; Js 10.3Hesbom, D t 2.26

heveus, G n 34.2; Js 9.7hititas, G n 23.2-20

holocausto (oferta queimada), Lv 1.3-4 ideologia do templo, 2 Cr 7.16 ídolos, Jr 10.5

ídolos, Lv 26.1; Dt 4.15-18; Is 2.8; 40.19; 44.17-18imagem do jugo, Na 1.13impostos, 2 Cr 24.5im pureza, Lv 12.1

incenso, Ex 30.7-8; Jr 44.18instrumentos musicais, G n 4.21; 1 Sm 10.5; 2 Sm 6.5;2 Cr 20.28; SI 150; Dn 3.5jebuseus, Jz 1.21jejum , 1 Sm 7.6Jericó, Js 2.1Jerusalém, Js 10.1; 2 Sm 5.6 juizes subornados, Is 5.23 julgam ento através de teste, Nm 5.23-24 julgam ento através de teste, N m 5.23-24

juros e empréstimos, Ex 22.24; Lv 25.38; Dt 15lamentos, nota em Lamentações; Ez 19.1lançadeira, Jz 16.13-14Láquis, Js 10.3; 2 Cr 32; M q 1.13

leis opressivas, Is 10.1leis sobre escravos, Ex 21.2-6Libna, 2 Cr 21.10listas de fronteiras, Js 13.1M aanaim, 2 Sm 2.8mágicos/sábios, G n 41.8-16

maldições e bênçãos em tratados, Dt 28.2-11M arduque (Bei), Is 46.1mármore, 1 Cr 29.2m édiuns/espiritualistas, Lv 19.31; Dt 18.11Megido, Js 12.21mercenários, 2 Cr 25.6metalurgia, Is 1.22métodos dos médicos, Jó 13.4M icmás, 1 Sm 13.2

midianitas, Jz 6.1M ilcom, 1 R e 11.5, 7

mineração, Jó 28.11moabitas, Is 15.1moinho, Jz 16.21Moloque, Lv 18.21; D t 18.10monoteísmo, Dt 6.4monoteísmo, Dt 6.4monte, 1 Sm 9.12

mundo às avessas, Jr 4.23-26narrativas da conquista, Js 10.16-43Nebo, Is 46.1Nínive, Jn 1

números, Js 8.3; Jz 20.2; 2 Cr 11.1; 13.2-20; Ex 12.37oferta das primícias, Dt 26.1-15onipresença divina, SI 139.8-12onisciência divina, SI 139.2-4oração, 1 Sm 1.13

papel das m ulheres, Nm 30.3-15parábolas e alegorias, Is 5.1-2patologia, Dt 28.15-68patologia, Dt 28.22pedras preciosas, 2 Cr 9.9pergam inhos, Jr 30.2poligamia, G n 4.19; 1 Sm 1.2porta da cidade, G n 34.20portas e trancas, Dt 3.5; Jz 16.3

práticas de luto, G n 37.34-35; Lv 10.6-7; 19.28; Dt14.1-2; Et 4.1

práticas de sepultamento, G n 23.4-5 preço da noiva/dote, G n 29.18-20 predições através de sonhos, Dt 13.1-5 preferência pela morte, Jó 7.15-16 presságios, D t 18.10

primogenitura, 1 Re 1.5-6princípio da retribuição, Salmos: Conceitos Básicosprofecia/ D t 18.14-22; Jn 3.4profeta, Dt 18.14-22prostituição cultual, Dt 23.17-18prostrar-se em honra, Gn 43.26queneus, Jz 1.16querubim, Ex 25.18-20Quiriate-Jearim, 1 Sm 6.21rainha-mãe, 1 Re 2.19Ramá, 2 Cr 16.1Ramote-Gileade, 2 Cr 18.2rampas de cerco, Jr 6.6; 32.24refains, Dt 2.11; Js 12.4refugiados, Jr 40.11-12rei escolhido pela divindade, Dt 17.14-20rei pastor, Ez 34.7-16reinado divino, Ex 15.3; 1 Sm 8.7reinado, 1 Sm 8.6reinado, 1 Sm 8.6responsabilidade individual, Ez 18.20 ressurreição, Is 26.19; Dn 12.2 restauração do templo, 2 Cr 24.4 restauração do templo, 2 Cr 24.4 restrições alimentares, Lv 11.2 ritos de substituição, Is 53.4-10 sábado, Is 58.13 sábios, Pv 1.1sacerdotes, Ex 28.1; N m 3.7-10; 18.1-7 Samaria, 1 Re 16.24

santuários exteriores, Dt 12.2 selos, N e 9.38; Jr 32 Sheol, Is 14.9 shofar, Ex 19.13 Siló, 1 Sm 1.3sinais de trombeta, N m 31.6; Js 6.4-5Siquém, G n 12.6; 33.18-19; Js 24.1; Jz 9.1sistema financeiro, Dt 15.1-11sistema judiciário, Ex 18.13-27; D t 1.9-18; 16.18-20; 17sonhos de incubação, 1 Sm 3.3sonhos, Gn 37.5-11; 40.5-18; D t 13.1-5; 1 Sm 3.3; Dn 2.4Susã, Et 1.2teofanias, 1 Re 19.11-13terafins (ídolos do clã), Gn 31.19Terra de Deus, Lv 25.23terremoto, 1 Sm 14.15Tiro, 2 Sm 5.11; Is 23.1,3Tirza, 1 Re 16.6trovão, 1 Sm 7.10unção/azeite, Lv 8.1-9; 1 Sm 16.1usura, Ez 18.8valores em ouro, 1 Cr 22.14vendaval, Na 1.3veredicto através de presságios, Dt 17.8-13vida após a morte, Salmos: Conceitos Básicos; Is 14.9vinhas, Is 5.1-6visões, G n 15.1viúvas, G n 38.11; Ex 22.22-24votos, Lv 27.2-13; 1 Sm 1.11Ziclague, 1 Sm 27.6


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