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DECOMPOSIÇÃO DA ENTOAÇÃO FRASAL EM COMPONENTES ESTRUTURAIS E SEMÂNTICO-FUNCIONAIS: UM TESTE COM...

Date post: 12-Jan-2023
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Daniel O. PERES –USP [email protected] Fernanda CONSONI USP/Capes [email protected] Waldemar FERREIRA NETTO USP [email protected]
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Daniel O. PERES –[email protected]

Fernanda CONSONI USP/[email protected]

Waldemar FERREIRA NETTO [email protected]

50

100

150

200

250

300F0 valores válidos

TM

HIPÓTESE 1HIPÓTESE 1

A produção da fala exige esforço para sustentar a voz com uma freqüência relativamente estável, definida aqui como tom médio ideal (TM) de F0, que se repete nos momentos mensurados de F0.O tom médio ideal é a frequência média acumulada no tempo de todos os valores válidos obtidos de F0

HIPÓTESE 2HIPÓTESE 2

(desenvolvimento de Xu e Wang (1997):fatos prosódicos decorrem de restrições

mecânico-fisiológicas e outros decorram das necessidades expressivas dos falantes)

componentes estruturadoras

finalização (F)

sustentação (S)

componentes semântico-funcionais

foco/ênfase (E)

acento lexical (A)

A entoação da fala pode decompor-se:

Finalização (F) decorre da supressão do esforço inicial (TM) desencadeando uma declinação pontual que exige a retomada da tensão inicial.

Sustentação (S) é consequência do esforço que se acrescenta a cada um dos momentos da fala, incluindo-se o inicial, para compensar a declinação pontual de finalização.

Z1 Z2 Z3 Z4 Z5 Z6 Z7 Z8 Z9

Tom médio

Tom final

sustentaçãodeclinação pontual

Hz

ms

Acento lexical (A), especialmente nas línguas tonais ou de pitch accent, as quais não abordaremos nesse modelo de análise, reporta-se às variações de entoação decorrentes da seleção lexical feita pelo falante.

Foco/ênfase (E) decorre das necessidades expressivas do falante, que estabelece variações na entoação frasal.

Esta componente associa-se a

— fatos gramaticais — topicalização, mudança dos modos interrogativo e assertivo, fronteiras oracionais, dentre outros — e a

— fatos que marcam a ênfase, por necessidades expressivas do falante em algum elemento da oração.

DECOMPOSIÇÃODECOMPOSIÇÃOA série temporal proposta se configura aditivamente como

Zt=St+Ft+Et (+At).

Sendo que, a partir de TMt-1 :

Ft = TMt-1-7st

Se Zt > TMt-1 ==> Et = Zt-1 - TMt-1+1,5st Se Zt < TMt-1 ==> Et = Zt-1 - Ft-1+1,5st

St = Zt-1 - Ft - Et

Com ponentes sem ântico-funcionais:foco/ênfase (e acento lexical)

50

100

150

200

250

300

Com ponentes estruturadoras: finalização e sustentação

50100150

200250300

É normalmente aceito que o aumento da média da freqüência fundamental (F0) seja uma característica distintiva entre as vozes femininas e masculinas.

Estudos como os de Spencer (1988), Wolfe et alii (1990), Dacakis et alii (2000) e Gelfer et alii (2005) atestam que o aumento de F0 é essencial para que a fala de informantes masculinos seja percebida como feminina.

Borsel et alii (2007) afirmam que, após testes em ouvintes, a aspiração é um fator importante para a atribuição de maior feminilidade em locutores do sexo feminino.

Andrews & Schmidt (1996) conduziram experimento de percepção entre informantes masculinos.

Este estudo tem como objetivo verificar se a variação de uso da entoação na fala de língua portuguesa relaciona-se com a variação de gênero.

Foram analisadas 90 frases de fala espontânea gravadas de 30 sujeitos, tomadas da internet

Nenhum tipo de filtro de tons graves (abaixo de 100 Hz).

H – voz masculina sem entoação claramente marcada

He – voz masculina homossexual com entoação claramente marcada

M – voz feminina, sem levar em conta marcas entoacionais.

Aplicação da rotina ExProsodia limites de 100 rms para a intensidade mínima

50 Hz para a freqüência mínima 250Hz para a freqüência máxima de voz masculina

500 Hz para a freqüência máxima de voz feminina

Limiar inferior de duração: 20 ms; Limiar superior de duração: 150 ms;

Para a definição da freqüência média de cada sujeito, seguiu-se a análise da rotina ExProsodia, que tomou a média geral acumulada no tempo de todos os momentos extraídos da série principal (F0).

Para a interpretação da variação da entoação significativa, partiu-se do princípio proposto em Ferreira Netto (2006) da decomposição da série principal (F0)

Para que as amostras tivessem o mesmo tamanho, foi realizada uma reamostragem dessa componente, tomando-se aleatoriamente 10 momentos de cada frase de cada sujeito, somando-se 30 medições para cada um dos 30 sujeitos analisados

Primeira análise freqüência média de cada sujeito (Tabela 1)

aplicou-se o teste ANOVA, obtendo uma variação significativa (Fo(15,3)>Fe(3,4), P<0,001)

Tabela 1Tabela 1

Um teste F, considerando duas amostras em pares, apontou diferenças significativas somente entre os grupo H e He (Fo(8,6)>Fe(3,18), P<0,01).

O par H e M apesar de ter apontado um P<0,001 apresentou F não-significativo. O par He e M não apresentou diferenças que pudessem ser consideradas significativas.

0

50

100

150

200

250

fm -H fm -M fm -He02004006008001000120014001600

M édiaVariância

A Figura 1 mostra que as diferenças significativas obtidas entre H e He decorrem especialmente da análise da

variância, o que aponta para uma dispersão maior em relação à mesma média.

A diferença entre as médias obtidas, por sua vez, foi significativa entre todos os pares. O teste-t de amostras em par para médias mostrou que, para uma estatística t crítica bicaudal de 2,26, entre H e He to=2,35 e P<0,05; entre H e M to=10,34 e P<0,001; e entre He e M to=16,3 e P<0,001 (cf. Figura 1).

eliminando a variação da freqüência média, os resultados foram semelhantes aos que foram obtidos com o teste F das amostras em pares.

somente a comparação entre H e He apresenta diferenças significativas (Fo(5,10)>Fe(3,18); P<0,01).

Componente semântico-funcional foco/ênfase

componentes estruturadoras finalização e sustentação

enquanto a comparação entre H e He não apresenta diferenças significativas, as comparações entre He e M (to(5,40)>te(2,26); P<0,01) e entre H e M (to(6,07)>te(2,26); P<0,01) apresentam variações significativas.

A variação de F0 tomada por sua média aponta diferenças significativas entre os gêneros analisados.

A análise da dispersão de F0, por sua vez, permite-nos verificar que o gênero H pode ficar isolado numa categoria.

A aplicação do modelo proposto em Ferreira Netto (2006), por sua vez, possibilitou verificar que H e He agrupam-se numa mesma categoria, quanto à variação das componentes estruturadoras.

Foi possível verificar, quanto à análise da componente foco/ênfase, que H e M agrupam-se numa mesma categoria em relação à He

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