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"Decrescimento": uma etnografia de conflitos no capitalismo contemporâneo

Date post: 28-Jan-2023
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"Decrescimento": uma etnografia de conflitos no capitalismo contemporâneo 1 Ana Flávia P. L. Bádue (USP - São Paulo) Resumo Este trabalho parte de uma pesquisa etnográfica sobre o movimento de Decrescimento em Lyon, que nasceu nessa cidade no começo dos anos 2000 questionando o crescimento econômico em função da destruição do meio ambiente por ele ocasionada. Produtores de alimentos orgânicos, coletivos de cicloativistas, meios de comunicação alternativos aproximaram-se do debate. Hoje, o decrescimento existe como nebulosa, uma espécie de rede descentrada, sem hierarquias. Defende-se que esta seria a forma pela qual se coloca em xeque o crescimento econômico, o neoliberalismo e o capitalismo já que trata-se de uma maneira de restituir relações sociais para além da esfera econômica. Ao mesmo tempo, não são anuladas os potenciais conflitos, que devem ser geridos e organizados justamente na forma nebulosa, sem que um ponto de vista se sobreponha a outros, mas sem transformar todos em um movimento de decrescimento unívoco. Os militantes dizem que diante dos problemas ambientais de dimensão global, decorrentes da lógica do crescimento econômico, a luta de classes deixa de fazer sentido pois todos os cidadãos estariam igualmente submetidos à tecnocracia - um dos novos alvos da luta. A partir do debate sobre os sentidos da militância e da política, argumento que o tema dos estilos de vida e da organização em “nebulosa” joga luz à questão da configuração dos conflitos no capitalismo contemporâneo, sendo esta a forma ambígua por meio da qual existem, são questionadas e repostas as contradições do capitalismo. Palavras-chave: decrescimento, mobilizações sociais, capitalismo "Aquele que crê que o crescimento pode ser infinito num mundo finito é um louco ou um economista". A frase do economista americano Kenneth Boulding e suas variações (como "o crescimento infinito num mundo finito é impossível") tornaram-se referência para aqueles que defendem o decrescimento, termo que designa tanto um movimento político-ecológico, quanto um princípio de vida, como ainda um conjunto de teorias sociais, econômicas e políticas. O ponto comum entre as diversas formulações do decrescimento é a constatação da insustentabilidade ecológica e social do crescimento econômico que, mensurado por índices de produção de bens e serviços e de consumo, encontraria seus limites últimos na exploração da natureza, já que um mundo de recursos naturais finitos parece dar sinais de esgotamento frente a níveis de crescimento cada vez maiores. A problematização do crescimento econômico é sempre complementada pela problematização dos padrões de consumo dos países industrializados do Norte. Opor-se ao crescimento passa, inevitavelmente, por fazer 1 Trabalho apresentado na 28ª. Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 02 e 05 de julho de 2012, em São Paulo, SP, Brasil. 1
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"Decrescimento": uma etnografia de conflitos no capitalismo contemporâneo1

Ana Flávia P. L. Bádue (USP - São Paulo)

Resumo

Este trabalho parte de uma pesquisa etnográfica sobre o movimento de Decrescimento em Lyon, que nasceu nessa cidade no começo dos anos 2000 questionando o crescimento econômico em função da destruição do meio ambiente por ele ocasionada. Produtores de alimentos orgânicos, coletivos de cicloativistas, meios de comunicação alternativos aproximaram-se do debate. Hoje, o decrescimento existe como nebulosa, uma espécie de rede descentrada, sem hierarquias. Defende-se que esta seria a forma pela qual se coloca em xeque o crescimento econômico, o neoliberalismo e o capitalismo já que trata-se de uma maneira de restituir relações sociais para além da esfera econômica. Ao mesmo tempo, não são anuladas os potenciais conflitos, que devem ser geridos e organizados justamente na forma nebulosa, sem que um ponto de vista se sobreponha a outros, mas sem transformar todos em um movimento de decrescimento unívoco. Os militantes dizem que diante dos problemas ambientais de dimensão global, decorrentes da lógica do crescimento econômico, a luta de classes deixa de fazer sentido pois todos os cidadãos estariam igualmente submetidos à tecnocracia - um dos novos alvos da luta. A partir do debate sobre os sentidos da militância e da política, argumento que o tema dos estilos de vida e da organização em “nebulosa” joga luz à questão da configuração dos conflitos no capitalismo contemporâneo, sendo esta a forma ambígua por meio da qual existem, são questionadas e repostas as contradições do capitalismo.

Palavras-chave: decrescimento, mobilizações sociais, capitalismo

"Aquele que crê que o crescimento pode ser infinito num mundo finito é um

louco ou um economista". A frase do economista americano Kenneth Boulding e suas

variações (como "o crescimento infinito num mundo finito é impossível") tornaram-se

referência para aqueles que defendem o decrescimento, termo que designa tanto um

movimento político-ecológico, quanto um princípio de vida, como ainda um conjunto

de teorias sociais, econômicas e políticas. O ponto comum entre as diversas formulações

do decrescimento é a constatação da insustentabilidade ecológica e social do

crescimento econômico que, mensurado por índices de produção de bens e serviços e de

consumo, encontraria seus limites últimos na exploração da natureza, já que um mundo

de recursos naturais finitos parece dar sinais de esgotamento frente a níveis de

crescimento cada vez maiores. A problematização do crescimento econômico é sempre

complementada pela problematização dos padrões de consumo dos países

industrializados do Norte. Opor-se ao crescimento passa, inevitavelmente, por fazer

1 Trabalho apresentado na 28ª. Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 02 e 05 de julho de 2012, em São Paulo, SP, Brasil.

1

uma crítica feroz ao modelo da sociedade de consumo e à publicidade.

Os pontos de convergência são, contudo, provisórios: não são núcleos ou centros

em torno dos quais se organizam associações e coletivos do decrescimento, mas são

como pontos de contato entre coletividades distintas. A crítica à sociedade do consumo,

por exemplo, pode ser o ponto de partida de certos grupos decrescentes mas ser o ponto

de chegada de outros. Uma pessoa que se diga afeita ao decrescimento define a causa

pela qual se mobiliza mas complementa sua descrição dizendo que, para entender o

decrescimento, é preciso conhecer outros coletivos e/ou associações. Estas seriam mais

do que “pontos de vista” sobre o decrescimento, seriam o decrescimento propriamente

dito. É por isso que se costuma dizer que o decrescimento é uma “nebulosa”2. Não se

trata de um conjunto determinado de conceitos, ou um movimento social organizado; o

decrescimento, no limite, não existe se transcender os coletivos, os grupos e as pessoas

que compõem a nebulosa. Não estamos diante de um coletivo bem definido ou de uma

rede que se forma a partir do problema da sociedade do consumo. Não há nada além (ou

aquém) da rede, e é assim que se constitui o decrescimento. Em outras palavras, existe

algum sentido mínimo compartilhado que faz com que a palavra “decrescimento” faça

parte de um vocabulário específico3, mas há uma recusa de fazer com que a

inteligibilidade do termo seja efeito de sua univocidade.

De acordo com um rapaz engajado há cerca de dez anos no movimento, o

decrescimento se constituiu em meio à retomada das mobilizações sociais do fim dos

anos 1990, sobretudo os movimentos anti-globalização. Naquele momento, os

questionamentos ao neoliberalismo circulavam com força em jornais como no Le

Monde Diplomatique. Paralelamente, a II Conferência das Nações Unidas sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento Humano, em 1992 no Rio de Janeiro, trouxe de volta a

questão ambiental para o debate político e os anos 2000 conheceram uma crescente

mobilização relativa à ecologia4. Estava em curso uma articulação inédita entre críticas

2 Os termos entre aspas referem-se ao vocabulário militante.3 Para ficar mais claro, pensemos em como a palavra decrescimento aparece no Brasil: não a

identificamos com um grupo de pessoas ou um conjunto de ideias. Decrescimento é apenas a palavra que indica o contrário de crescimento, seja econômico, físico, estatístico. Na França, o termo décroissance entrou para o dicionário Petit Larouse em 2009 como "politique préconisant un ralentissement du taux de croissance dans une perspective de développement durable" (Bonal, 2009), mas grande parte dos outros dicionários dão como definição "diminuição".

4 Nos anos 1960 e 70 as questões político-ecológicas eram candentes, mas nas décadas seguintes arrefeceram e voltaram a ter expressão nos anos 2000. Cf. (Dalton, 1994)

2

ao neoliberalismo e questionamentos político-ecológicos, completou o antropólogo –

José Bové é um personagem emblemático desse momento que se tornou referência para

essa articulação ao fazer um desmanche de um McDonald's em agosto de 1999.

Em 2002, foi realizado em Paris um colóquio chamado Refaire le monde, défaire

le developpement sob organização do Le Monde Diplomatique, do projeto MOST da

Unesco e do grupo La ligne d'horizon, uma micro-associação fundada em 1988. A

conferência reverberava as mobilizações anti-globalização, como se pode verificar em

muitas exposições orais. Alain Gresh, jornalista do Le Monde Diplomatique, disse que

tais movimentos abriram a possibilidade de fazer críticas a coisas que antes eram

tomadas como solução, como o desenvolvimento, o neoliberalismo e o progresso. Na

esteira desses debates a Conferência teria dado um passo além ao discutir a viabilidade

de soluções aos problemas levantados em Seattle. Era como se o evento reiterasse as

críticas do movimento anti-globalização, somando a elas o desejo de refazer o mundo

(Gresh, 2002).

Latouche, que logo tornou-se uma sumidade do decrescimento, estava bastante

engajado no evento em defender que o desenvolvimento não seria, em hipótese alguma,

uma solução para os problemas postos pelo neoliberalismo e pela globalização. Muitas

outras falas consistiram em expor dados para defender o argumento de que o

desenvolvimento não trouxera melhorias de fato para as pessoas e para o meio

ambiente. Por essa razão, a solução seria a "descolonização do imaginário" e o

“decrescimento” (Latouche, 2002, p. 22), e não uma transformação ou melhoria do

desenvolvimento (donde as duras críticas ao desenvolvimento sustentável, social,

alternativo, social, humano, local, etc). Naquele momento a palavra decrescimento

nomeou e sistematizou de alguma forma a articulação entre ecologia, política e

economia.

Nesse mesmo ano, Vincent Cheynet, um ex-publicitário que fundou em 1999 a

associação Casseurs de Pub (“Quebradores de Publicidade”), trabalhava na revista

Silence (ambas sediadas Lyon) como voluntário encarregado da editoração. Essa revista

nasceu em 1982, momento em que a ecologia estava em baixa, como constatam tanto

militantes quanto historiadores. O ex-publicitário foi responsável pela organização de

dois dossiês sobre o tema decrescimento5, e em 2003 publicou um livro com artigos que

5 Número 280 de fevereiro de 2002 e 281, de março do mesmo ano.

3

haviam sido publicados na revista6. Autores como Serge Latouche, François Schneider,

Pierre Rhabi, Bruno Clementin e o próprio Cheynet7 escrevem artigos apresentando

temas diversos, como urbanização, transportes, agricultura, ou debates mais abstratos

sobre liberdade, ou sobre a relação entre economia e natureza, para um público mais

amplo. O jornalista Hervé Kempf escreveu um artigo para o jornal Le Monde sobre as

ideias de resistência ao “pensamento monolítico” (Kempf, 2002) apresentadas pela

Silence que mereciam destaque, texto que foi considerado por alguns militantes como

fundamental para a divulgação do decrescimento.

Em 2003, Cheynet organizou o colóquio sobre decrescimento em Lyon, no

Hôtel de Ville, prédio da prefeitura da cidade. Tal colóquio foi responsável por

sistematizar críticas ao crescimento, ao desenvolvimento e à sociedade de consumo

feitas por pessoas distintas em contextos relativamente diversos sob a rubrica do

decrescimento. A sensação dos participantes foi a de encontrar um espaço legítimo para

as críticas que faziam, como se o termo decrescimento tivesse aberto um espaço no

mundo para uma série de discursividades dispersas e desencontradas. "Fundado em

2003 em Lyon, na França, o 'decrescimento' é um movimento que tem acolhido adeptos

nos grupos de altermundialistas, sobretudos ecologistas e decepcionados com a

esquerda" (Thoele, 2005). Como relata Alain Gras: “Eu era anti-progressita, mas agora

sou de maneira legítima. Hoje é legítimo ser anti-progressista”. Serge Latouche dá um

parecer muito semelhante sobre o Colóquio de 2002: “diante do triunfo do

ultraliberlismo e da proclamação arrogante do TINA (“there is no alternative”) de

Margaret Thatcher, o pequeno grupo anti-desenvolvimentista do qual eu fazia parte não

podia mais se contentar com uma crítica teórica quase confidencial” (Duverger, 2011, p.

9).

Em 2005, quando o decrescimento já era um termo que encontrava eco em

várias cidades da França, foi realizada uma marcha, a Marche pour la Décroissance,

organizada também por Cheynet que inseriu o evento na campanha do Casseurs de Pub

contra a Fórmula 1, mas cujo protagonista principal foi François Schneider, conhecido

nesse momento como "mascate" (colporteur) do movimento.

6 Cf. Bernard et al., 2003.7 Quase não havia mulheres entre os especialistas no assunto, embora hoje seja comum a incorporação

do feminismo como pauta do decrescimento. No site do Parti Pour la Décroissance, por exemplo, no setor das eleições legislativas de 2012, está escrito: “O programa dos objecteurs de croissance, apoiado por Paul Ariès, é radicalmente anti-capitalista, anti-produtivista, ecologista, feminista e internacionalista” (“Décroissance-Elections”).

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Schneider partiu da pequena cidade Luc-en-Diois em julho de 2004,

acompanhado apenas de uma mula chamada Jujube. Em junho chegou a Lyon, de onde

sairia a marcha até a cidade de Magny-Cours, sede do Grande Prêmio da França de

Fórmula 1. O trecho foi percorrido ao longo de um mês, com um número variável de

pessoas em cada parte do trajeto. Na época, foram publicados diversos relatos que

enfatizavam o caráter “concreto” do decrescimento, que consistia em

Simplicidade, frugalidade, solidariedade; marcha, descanso, música, canto, alimentação saudável e natural (ervas e plantas colhidas ao longo do caminho, produção local orgânica, etc), ateliês-debates sobre temas diversos (software livre, mídias alternativas, agricultura biodinâmica, política, técnicas de relaxamento, etc). Tempo para viver, para (re)encontrar uma felicidade simples, para contemplar, para (re)encontrar, construir e renovar relações... Um funcionamento de auto-gestão democrática; cada dia uma ou mais associações com regras simples [se formavam], onde eram tomadas decisões coletivas. Uma autonomia individual, solidariedade simples e compreensão...

Hugues, 2005.

Durante esse período, a organização promoveu debates, discussões,

conferências, festas e noites musicais. O objetivo era envolver grupos locais

(associações e coletivos organizados com atuação nas cidades), como se a marcha fosse

uma forma de colocar em contato grupos e pessoas (já) envolvidas e/ou engajadas de

alguma forma com questões que parecessem afinadas com a proposta dos organizadores

do evento, mais do que um evento para divulgar o decrescimento pelo país. No final,

chegaram cerca de 500 pessoas em Magny-Cours, entre elas personalidades como José

Bové. Enquanto nos dois colóquios o decrescimento era como uma linha que costurava

anti-globalização e questionamentos ecológicos, na marcha, o decrescimento conectava

iniciativas locais (como agricultores orgânicos e biodinâmicos, associações de temas

diversos, etc).

Entre tantos outros, os eventos acima se tornaram referência por criarem e

consolidarem novos sentidos para a palavra “decrescimento” e expandi-los para

diversos horizontes. Até então, essa palavra não fazia sentido como nome de qualquer

mobilização político-ecológica, tal como verificamos hoje na França. Sob a etiqueta

“decrescimento”, conjugaram-se críticas herdeiras do movimento anti-globalização e

questões colocadas pela ecologia política dos anos 1960 e 70 (como a problematização

da sociedade do consumo e a politização de problemas ambientais), bem como grupos,

coletivos, associações e pessoas engajadas de alguma forma com essas questões.

5

Duverger (2011) defende que a sistematização conceitual feita pelas revistas, pelos

colóquios e pelos jornais (em suma, pela produção textual do decrescimento)

possibilitou a identificação de “práticas” de decrescimento entre si e a constituição de

um movimento.

Paralelamente, o decrescimento não apenas reorganizou grupos, pessoas e ideias

já existentes. A própria reorganização deu ensejo à construção de novos coletivos, novas

reflexões e novas ações, como o jornal La Décroissance, criado em 2004 por Cheynet,

ou os diversos grupos locais espalhados pela França, como o Les décroisseurs

berrichons, ou o já extinto Décroissance et Politique. Logo, a história do decrescimento

não é uma apenas a história de criação de confluências, e se considerarmos a forma dos

eventos e dos meios de comunicação responsáveis pela elaboração do decrescimento, já

esteva presente a preocupação de serem eles próprios espaços de debates nos quais

diferentes perspectivas seriam confrontadas. Não se buscava uma definição unívoca ou

exclusiva de decrescimento; ao contrário, é como se a palavra decrescimento fosse

apenas uma mediadora de debates.

A história do decrescimento é muito semelhante à história do movimento anti-

publicidade francês. Yvan Gradis tornou-se uma referência entre os críticos do

consumismo porque foi responsável por criar um jornal que operava como um criador

de vínculos entre associações e pessoas contrárias à publicidade e à sociedade do

consumo (inclusive em nível internacional). Além disso, caracterizou práticas

individuais8 como “anti-publicitárias”, atribuindo um sentido político específico a ações

cujas motivações poderiam ser as mais diversas. Em suma, Gradis conseguiu

"transformar, re-etiquetar esses gestos singulares em ações do repertório anti-

publicitário" (Dubuisson-Quellier & Barrier, 2007, p. 215).

Assim como a cunhagem do decrescimento acarretou em uma reorganização

mais ampla nos meios das mobilizações político-ecológicas, a etiqueta “anti pub” não se

limitou a sistematizar o que já existia. A forma que o movimento anti-publicidade

assumiu dali em diante é muito próxima do que verificamos no decrescimento. A

expressão “anti-publicidade” deu corpo à difusão de repertórios por diversos

movimentos, de modo que a mobilização “anti pub” não se define apenas pela sua

8 Práticas individuais são aquelas realizadas por uma pessoa, independentemente da presença (ou respaldo) de um grupo constituído. Essas práticas podem ser, por exemplo, escrever mensagens em propagandas afixadas na rua ou no metrô, ou arrancar anúncios, sem identificar tais ações com qualquer coletivo, mesmo que a pessoa faça parte de um.

6

motivação política ou por seus métodos de ação. Sua existência está na articulação do

repertório, no mapeamento, sistematização e difusão de práticas. Mais precisamente, a

crítica à publicidade só poderia ser feita através da mobilização, do levantamento, do

estabelecimento de relações e da reorganização de uma série de atividades e grupos. É o

trânsito desses repertórios que define um novo registro de ação contestatária.

A noção de repertório deixou, assim, de fazer parte apenas do vocabulário do

analista para entrar para o centro da existência do analisado, de forma revisitada.

Charles Tilly (2004) usava a palavra “repertório” para indicar um conjunto de

características culturais de longa duração a partir do qual os movimentos se organizam;

agora, a palavra repertório parece indicar uma forma de existência dos movimentos. A

atribuição da etiqueta “anti-publicidade” a uma série de ações não resultou em um

movimento coeso ou engessado, mas sim reorganizou ações pontuais distribuídas por

todo o país e deu margem a novas mobilizações, tal como na nebulosa do

decrescimento.

É como se uma linha tivesse costurado pessoas e coisas que antes eram ligadas a

outras redes (como eram as críticas ao desenvolvimento), resultando tanto no

esgarçamento como no reforço de antigos pontos de conexão entre coletivos, ideias,

conceitos e ações, sem, por fim, fazer dos pedaços uma superfície lisa, homogênea e

inteiriça. A história do decrescimento é marcada por cruzamentos forjados entre temas,

questões, associações, coletivos e iniciativas individuais, sendo os pontos de fusão os

temas da insuficiência da noção de desenvolvimento, do progresso e do crescimento

econômico, bem como dos perigos ambientais e sociais do sobre-consumo.

Simultaneamente, a fusão não conduziu à constituição de um movimentos social único,

de massa, cujo nome fosse “decrescimento”, mas sim a uma espécie de canalização por

onde transitam coisas, pessoas, ideias e práticas, chamada de “nebulosa”.

Assim como o movimento anti-publicidade, o decrescimento é experimentado,

vivenciado no (e analiticamente concebido como) trânsito de pessoas, ideias e ações por

grupos e coletivos diversos. A nebulosa é uma forma de realizar a recusa a um centro

(um núcleo de reflexões, por exemplo) a partir do qual se constrói um movimento

social; o decrescimento é um ponto de chegada, entre outros possíveis, a depender dos

caminhos que percorremos no interior das redes militantes. Isso não quer dizer que uma

nebulosa seja um mosaico harmonioso de pequenos grupos e associações que abordam

7

diferentes aspectos do tema. A questão não é suprimir os conflitos mas transformá-los

em potências criativas, donde os investimentos cada vez maiores em formas de

comunicação “não violenta” que deem espaço para a diversidade9. Os conflitos são

reelaborados no interior de uma nebulosa em termos de diferenças e até de

complementaridade em alguns momentos, sem que seja tratado como um meio que deve

ser superado para se chegar ao decrescimento. É como se o decrescimento estivesse em

cada uma das partes da nebulosa (nos grupos que realizam agricultura orgânica, nos

coletivos anti-publicidade, nos jornais e revistas, etc) e também (sobretudo?) nas

relações entre elas – inclusive relações tensas.

Entre as tensões da nebulosa, as mais expressivas delas dão-se em torno da

personagem de Vincent Cheynet e seu jornal La Décroissance. Ao mesmo tempo em

que este homem teve um papel importante e ainda hoje é reconhecido como um dos

precursores do atual movimento na França, há uma resistência muito grande face a seu

jornal, como uma recusa em conferir-lhe o lugar de centro do decrescimento. O papel

que lhe cabe hoje, na opinião de muitos militantes, é o da crítica e do estranhamento de

coisas que nos parecem naturais; o La Décroissance faz rir pela ironia desfilada nos

textos e nas imagens, que escancaram as ambiguidades do crescimento, do consumo de

massas e da publicidade. Na capa da edição de junho de 2009 o desenho de uma ema

com a cabeça enfiada em um amontoado de produtos que seriam tomados como

necessários em uma sociedade do crescimento (como Coca-Cola, McDonalds,

embalagem de cereais, relógio de pulso, carro, máquina fotográfica, computador, etc)

ilustra a manchete “A recusa da realidade”. Em poucas palavras e com uma imagem, o

jornal quer dizer: tudo aquilo que parece ser nossa felicidade, todas as mercadorias de

aparência agradável são, na verdade, uma forma de aniquilar o pensamento e de

esconder os malefícios que trazem consigo, como a pobreza e a destruição do meio

ambiente.

As páginas no jornal seguem uma estética do choque, como efeito de inversões

inesperadas. Quadrinhos que narram a história de um militante chato, pequenas crônicas

sobre um psicanalista maluco, reportagens sobre a vida ecologicamente incorreta de

9 São inúmeras as técnicas de “não-violência” desenvolvidas para mediar reuniões, plenárias e assembleias. Em pequenos grupos, pode-se usar cartões coloridos (cada cor representa uma reação, como aprovação, dúvida, recusa ou pedido de esclarecimento), objetos que dão voz (quem segura o objeto é que está com a voz; os demais devem esperar que o objeto chegue em suas mãos para falar). Em grandes assembleias, há um leque de sinais com as mãos para evitar que gritos e conversas atrapalhem quem está à frente da plenária.

8

personalidades que se dizem ecologicamente corretas (os chamados écotartufes) são

todas tentativas de subverter até mesmo o subversivo. Na capa do número 86 (fevereiro

de 2012), a manchete “Nós somos 1%, eles são 99%” é acompanhada pelo desenho de

uma mulher remando um pequeno barco com a palavra “Decrescimento” escrita no

casco, em uma maré de carros que vai na direção contrária10.

Em todo número, há uma seção intitulada "As porcarias que não compraremos

esse mês", na qual um pequeno texto desfila os problemas ou as consequências sociais e

ambientais negativas de determinado objeto. Até mesmo aquilo que seria mais

elementar precisa ser questionado, como a bicicleta (meio de transporte por excelência

dos defensores do decrescimento). O banho também foi caricaturado como porcaria

quando um dos jornalistas do La Décroissance começou a fazer esportes antes do

trabalho e, como a sede do jornal não tinha chuveiro, passou a usar um balde para se

lavar todos os dias. Em tom jocoso, a coluna concluía que era possível ter higiene sem

chuveiro ou água corrente e que o banho era contrário ao decrescimento.

Cheynet e o jornal assumem o papel da crítica, da acidez e do questionamento.

Não se medem esforços para criar recursos textuais e imagéticos irônicos nem mesmo

para abordar polêmicas entre o editor chefe e algum outro participante do jornal que lhe

pareça contraditório com o decrescimento11. Ao mesmo tempo, o jornal é muito mal

visto porque muitas pessoas acreditam que a ênfase nas denúncias e nos

questionamentos acabaria reduzindo o projeto de decrescimento à crítica e à censura.

Quem adota essa posição afirma que o decrescimento tal como apresentado pelo La

Décroissance é muito limitado se comparado com uma infinidade de alternativas que

não são contempladas nas páginas da publicação. Em outras palavras, o papel que ele

assume no interior da nebulosa pode acabar, contraditoriamente, colocando-a em

cheque.

Esse tipo de crítica é elaborado por grupos e pessoas que se definem como

libertárias. De seu ponto de vista, o engajamento de Cheynet e seu jornal é pouco

significativa porque não parte da “auto-gestão” e de formas de ação “horizontais”.

Vincent Cheynet, desde o início do La Décroissance, tem uma atuação política

10 A referência é aos slogans das mobilizações contrários às políticas de austeridade na Europa (algo como “somos 99% da população que sofremos com as decisões do 1% que detém o capital e o poder político”).

11 Polêmicas envolvendo Pierre Rhabi e Paul Ariés, nomes muito conhecidos nos meios do decrescimento, foram publicadas nas primeiras páginas (e no caso do último, transformada em uma irônica história em quadrinhos)

9

partidária, antes apoiada por Paul Ariés, cientista político que contribuía com a

publicação. Ambos viam na militância partidária-institucional um dos meio de ação pelo

decrescimento. Os partidos são muito questionados pelos setores da esquerda libertária

em geral, e nos circuitos do decrescimento isso apenas se reforça. Em 2012, o Parti

Pour la Décroissance, que se aproximara de Cheynet para lançar um candidato à

presidência no ano anterior, publicou um artigo em seu site oficial rompendo com o

jornal. As divergências diziam respeito ao modo como Cheynet enfrenta as eleições e a

démarche partidária de modo geral. Segundo o documento, o editor-chefe estava mais

preocupado com iniciativas eleitorais individuais do que com construções coletivas;

além disso, em artigos do La Décroissance criticava os colegas e desrespeitava a

“diversidade” entre objetores de crescimento (Parti Pour la Décroissance, 2012).

Essa crítica traz consigo tons das propostas libertárias de ação política, no

sentido de que é possível fazer política sem recorrer às formas “tradicionais” de

organização coletiva, como os partidos, mediadas por hierarquias, núcleos de poder

centralizado, etc. Por essa razão, Cheynet é pejorativamente considerado favorável a um

“republicanismo legalista” (Bayon et al., 2010) e há até quem diga que ele seria capaz

de chamar a polícia em uma manifestação porque é adepto do legalismo e do Estado, o

que se comprovaria por sua atuação como candidato em eleições e pela participação em

ações de desobediência civil com vistas a mudar a legislação e não subvertê-la.

Consequentemente, quando se diz que o La Décroissance poderia dedicar mais

espaço às ações concretas de decrescimento, o que está em jogo é a própria definição de

ação política. Cheynet e seus companheiros estão (e estiveram) engajados com partidos,

logo o problema não é que eles “apenas falam e não fazem nada”, mas que aquilo que

“fazem” não é considerado interessante porque foge da lógica da auto-gestão e da

horizontalidade12.

Essa tensão desdobra-se em outra, sobre o engajamento pessoal e sobre a

politização da vida cotidiana. A transformação de dimensões da vida cotidiana em

campo de batalha tornou-se uma condição sine qua non das mobilizações político-

ecológicas em geral, e no decrescimento não poderia ser diferente. Mas não há consenso

sobre o papel que esse engajamento deve assumir em um projeto mais geral de

12 A problematização da concepção de política explodiu na França com os movimentos de maio de 1968, quando diversos setores que se diziam de esquerda colocaram em xeque a mediação institucional das mobilizações políticas e sociais, defendendo a autonomia (por oposição à heteronomia operante em movimentos institucionalizados como partidos políticos) Cf. Kitschelt, 1990.

10

transformação social. Entre os escritores que contribuem com o La Décroissance, o

exercício diário de viver de outra maneira é chamado de simplicidade voluntária e, nas

palavras de Paul Ariès (2005), é apenas um dos níveis do decrescimento, o nível da ação

individual. A adesão a uma vida simples seria um requisito mas não esgotaria o

decrescimento, nem se converteria no principal meio para se transformar a sociedade.

Seria como uma dimensão paralela à ação política e à ação coletiva (Ariès, 2005). Já

entre os chamados libertários, há muita discussão sobre a passagem imediata entre o

nível de ação local e transformações globais13, mas há um consenso sobre a centralidade

da vida cotidiana na luta política. O pressuposto é que, por meio de transformações nas

práticas mais imediatas, transforma-se o mundo em que vivemos.

Entre os adeptos do decrescimento, há portanto um consenso de que a vida

cotidiana deve ser problematizada e convertida em arena de ação política; as

divergências dizem respeito à passagem da esfera cotidiana para dimensões mais amplas

de transformação social14. Enquanto para alguns a vida cotidiana é como o locus de

transformações sociais, políticas e ecológicas, para outros, ela é uma das frentes que

deve ser complementada por outras. De qualquer maneira, essas relações que devem ser

estabelecidas e a nebulosa é a forma de fazê-lo, como veremos a seguir.

A pequena mercearia 3 p'tit pois foi inaugurada em março de 2010 a fim de

oferecer aos habitantes de Lyon uma alternativa ao mercado de orgânicos existente. Ali

são vendidos produtos (1) orgânicos, (2) com pouca ou nenhuma embalagem, (3) de

produção local e (4) socialmente justa. Cada produto é avaliado de acordo com as

quatro variáveis e um gráfico com o resultado final é estampado na etiqueta de preço de

todo produto. As notas variam de produto para produto mas jamais o comprador

encontrará algum com as quatro notas baixas, afinal se não são nem orgânicos, nem

locais, nem socialmente justos e com muita embalagem, não há razões para serem

comercializados ali, explica um dos criadores da loja.

A etiqueta sistematiza graficamente as "reivindicações" ou "causas" pelas quais

13 No acampamento de Lyon na ocasião do 15M em 2011, as plenárias das assembleias muitas vezes dividiam-se entre aquelas pessoas que achavam necessário dedicar tempo e recursos materiais na elaboração de textos críticos ao capitalismo e ao sistema financeiro (os marxistas, trostskistas e leninistas se encaixam deste “lado”) e aqueles que defendiam que era mais interessante fazer do acampamento uma forma de organização coletiva auto gerida, descentralizada, horizontal e autônoma.

14 Como veremos adiante, se não se estabelecem quaisquer relações entre ações pessoais ou individuais e preocupações mais gerais, as primeiras não são consideradas politizadas.

11

se mobilizam as pessoas engajadas com o decrescimento: decrescer não é apenas

consumir orgânicos (afinal já há um grande mercado para isso em grandes redes como o

Carrefour!), é preciso comprar produtos que respeitem o meio ambiente de forma geral

e que sejam produzidos e distribuídos de forma socialmente justa, como produtos de

cooperativas e de sistemas de economia solidária. Grande parte dos alimentos – grãos,

queijos, legumes e verduras – é produzida em pequenas cidades próximas de Lyon,

favorecendo tanto deslocamentos menos poluentes quanto a possibilidade de travar

relações sociais entre a equipe da mercearia e os produtores. Isso garantiria, na visão da

equipe e dos consumidores, tanto a "humanização" da produção quanto a segurança de

ter produtos de qualidade e verdadeiramente orgânicos.

O próprio funcionamento da mercearia a diferencia das demais lojas de

orgânicos da cidade. A 3 p'tit pois é uma "cooperativa auto-gerida" na qual os dois

rapazes responsáveis encarregam-se de tudo: desde a procura de fornecedores (que

envolve buscar conhecimento sobre as formas de produção dos produtos) até a

organização do espaço da loja. Até mesmo o meio de pagamento estaria de acordo com

os princípios defendidos pela loja: como a mercearia não funciona para obter lucro, os

preços não são negociados com os produtores e não se aceita cartão de crédito ou débito

como meio de pagamento ("para não dar dinheiro para os bancos", estão de acordo os

consumidores finais).

A 3 p'tit pois surgiu também, como relatou um dos responsáveis pela loja, com o

objetivo de facilitar a vida das pessoas que consomem esse tipo de produtos. Por toda a

França há muitos pontos de venda de cestas de alimentos que funcionam no sistema de

AMAPs (“Associations pour le maintien d'une agriculture paysanne”): associações que

fazem a mediação entre uma rede de produtores locais e consumidores levando kits de

frutas, verduras, legumes, ovos, pães, queijos e geleias para pontos pré-estabelecidos da

cidade (como um cinema de filmes alternativos, ou uma biblioteca) onde os assinantes

pegam semanalmente seus alimentos. O pagamento é semestral e o valor varia de

acordo com a quantidade e o tipo de produtos que se quer. O sistema de assinatura

permitiria um planejamento dos produtores, evitando desperdício e também garantindo

a sustentação da agricultura local. Entretanto, alguns militantes preferem a mercearia

porque, além dos preços mais baixos, se não há possibilidade de estar presente no dia e

na hora marcada para retirar a cesta da AMAP, não se pode adquiri-la em outro

12

momento e nem reaver o dinheiro.

Há uma outra pequena mercearia em Lyon chamada De L'Autre Cotê de la Rue

que funciona seguindo os mesmos princípios da 3 P'tit Pois embora não tenha uma

etiqueta. Não aceita cartão, dá preferência a produtos locais e com pouca embalagem;

cobra os saquinhos para colocar os produtos a granel ou deixa podes de vidro vazios à

disposição dos clientes; acrescenta ao preço dos produtos que chegam diariamente

apenas o valor necessário para a manutenção do espaço e pagamento de funcionários.

Por fim, a semana de trabalho dos responsáveis pelas duas mercearias é menor do que as

35 horas do restante do comércio15.

Os produtos dessas mercearias não são vendidos apenas para consumo próprio.

Assim como essas lojas se constituem como alternativa ao mercado de orgânicos que

cresce cada vez mais na França, alguns bares-restaurantes foram criados com a mesma

finalidade. O Le Court-Circuit e o De l'Autre Côté du Pont são dois espaços que

oferecem refeições no horário do almoço e petiscos e bebidas à noite, preparados com

ingredientes oriundos das duas mercearias. O De l'Autre Côté du Pont é um espaço

escuro, as paredes e as mesas são forradas de posteres de movimentos sociais atuais e

antigos, reportagens de jornal, imagens e fotos de manifestações. Além de oferecer

refeições, petiscos e bebidas, o local funciona ainda em horários extras caso haja

alguma programação especial, como projeção de filmes organizada por alguma

associação, ou um show de alguma banda16.

O nome Le Court-Circuit, o curto circuito em português, é uma forma de

explicar como funciona o bar-restaurante. Além de comprar produtos produzidos no

entorno de Lyon, conseguiu cativar um público do bairro17 e os os funcionários ficaram

amigos dos vizinhos. Além de dar uma opção para os amigos antigos, os cooperados do

Le Court Circuit tinham a finalidade de estabelecer ligações mais profundas com o

bairro. O lugar escolhido para instalar a cooperativa fica ao lado de um terreno que foi

15 Os funcionários são também militantes: optam por trabalhar com “profissões alternativas” (cf. AlteR IniTiativEs !, 2009)  , por jornadas reduzidas porque essa é uma forma de realizar a recusa da sociedade do consumo: trabalha-se menos porque não não é preciso ganhar tanto dinheiro para comprar produtos que não são verdadeiramente necessários. Para uma discussão sobre a profissionalização da militância, cf. Ollitrault, 2001.

16 Voltada para a difusão de alternativas sociais, a revista Silence publicou uma matéria sobre um bar-restaurante que funciona da mesma forma em Paris (Colloghan, 2008).

17 Guillotière é um bairro relativamente simples, habitado em grande parte por franceses descendentes de árabes e negros. Os baixos preços dos apartamentos (e a facilidade de locomoção na região) acabam também atraindo estudantes e jovens já formados que se mudam para Lyon para trabalhar

13

parcialmente ocupado pelo Jardin des Amaranthes, um jardim coletivo, gerido por

associações diversas que atuam no local, entre elas a Les Compostiers, uma associação

dedicada à educação ambiental e compostagem urbana. Entre o bar e o jardim, são

colocadas mesinhas e cadeiras coloridas durante o dia e à noite as pessoas ficam dentro

do estabelecimento. As pessoas que frequentam o espaço à noite para ouvir a variada

programação musical e beber cerveja se conhecem, e mesmo quem está chegando pela

primeira vez já cruzou em algum momento com alguém que está no bar. Durante o dia,

algumas voltam para tomar café da manhã e conversar sobre as últimas notícias que

saíram no jornal, ou sentam-se para almoçar o cardápio orgânico.

Um dos cooperados dizia que o bar localizava-se em um dos poucos pontos da

cidade onde se podia conhecer quem mora no entorno, sobretudo pessoas mais pobres e

mais velhas. Para expressar essa "diversidade", o Studio Kobra foi convidado para

pintar a parede externa do Le Court Circuit em abril de 2011. Um arquiteto francês que

viajara a São Paulo a trabalho conheceu o trabalho de grafitti da equipe de Eduardo

Kobra. Como Lyon é uma cidade conhecida pelas pinturas na empena cega, esse

arquiteto e outras pessoas envolvidas com projetos de urbanismo na cidade acharam que

seria interessante trazê-los para produzir um mural no bairro em que o bar se localiza. O

Le Court-Circuit, recém-inaugurado, acatou imediatamente a ideia, ofereceu

hospedagem (nas residências dos cooperados ou de amigos), forneceu o material e o

muro – a parede voltada para o jardim onde ficam as mesas e cadeiras.

No dia da inauguração, Eduardo Kobra e seu companheiro de trabalho Agnaldo

Brito não só estavam satisfeitos com o trabalho mas, também, encantados com o modo

como foram recebidos. Ali tudo era diferente do que estavam acostumados a fazer: não

foram pagos, ficaram hospedados em aparamentos de amigos das pessoas que lhes

convidaram, o bar ofereceu os materiais para pintar e conheceram uma equipe de

profissionais em pintura de muros. Nada ali se parecia com uma situação de trabalho

comum, havia gente disponível o tempo todo para resolver problemas que surgissem e

todos os recebiam bem. "Em São Paulo, a gente fica sozinho pintando em avenidas

grandes, ninguém nem olha para nossa cara", disse Kobra. Ali não só olhavam como

conversavam e festejavam e, até mesmo quando a comunicação verbal era impossível ,

todos pareciam se entender (eles não falavam francês e apenas uma arquiteta que não

estava sempre presente falava português) e o muro ficou pronto em menos de duas

14

semanas. A pintura não foi autorizada pela prefeitura, lembrando ainda os tempos em

que Kobra e seus companheiros pintavam muros clandestinamente. Tudo se passava

como se a realidade tivesse sido suspensa por um momento para os brasileiros. O que

soava a eles como exceção, interrupção do cotidiano, era a concretização de projetos de

vida de muitas das pessoas que acompanharam de perto todo o processo de elaboração e

execução do mural: projetos de estabelecer relações de sociabilidade que extravasem as

relações econômicas e mercantis.

Dessa maneira, a politização do consumo não passa apenas pelo produto

consumido. A escolha por orgânicos, por exemplo, é necessária mas não suficiente na

visão dos militantes do decrescimento. Sem dúvida o consumo é importante, dirão os

militantes do decrescimento: por meio dele incorpora-se a reflexão e o engajamento em

favor de um certo tipo de agricultura (Faucher, 1998); além disso o consumo daria o

tom da produção – consumindo-se menos, as empresas produziriam menos e assim a

sociedade do crescimento seria atingida em seu cerne. Mas é preciso levar em conta

outros fatores para fazer com que o consumo seja potencialmente transformador de

relações sociais, políticas, econômicas e ecológicas.

Estudos sobre “consumo político” deixam de lado essas questões e restringem-se

ao objeto do consumo propriamente dito (Boström et al., 2004). Os “demais” elementos

com os quais nos deparamos são tratados como expressões de “valores extra-

econômicos” mobilizados na hora de escolher os produtos (Stolle et al., 2005). Já as

análises que buscam associar o consumo final com seu processo produtivo dão um

passo além ao mostrar que o consumo envolve também a produção e a distribuição, mas

não conseguem ir adiante porque, assim como os estudos de “consumo político”, estas

defendem que o consumo é politizado quando o consumidor faz suas escolhas por

critérios políticos. Em outras palavras, por mais que levem em consideração todas as

relações sociais envolvidas, só há politização no pólo do consumo, mais precisamente,

no ponto de vista de quem consome.

A socióloga Claire Lamine, por exemplo, define três níveis de engajamento entre

consumidores de produtos orgânicos de AMAPs (Association pour le maintien d'une

agriculture paysanne) na França. Primeiramente, há o engajamento mínimo, quando a

pessoa escolhe os orgânicos por sua qualidade; em segundo lugar, há quem busque um

consumo local e mediado por relações interpessoais entre consumidor e produtor; por os

15

“mais engajados” são aqueles para quem os produtos são ao mesmo tempo uma forma

de se colocar “do lado” dos agricultores e um ato de “consumo cidadão” (Lamine,

2008).

Muitos militantes enfatizavam a insuficiência de aderir a um estilo de vida new

age sem se postular qualquer relação deste com a realidade mais ampla na qual se

insere. A maneira de restituir essas relações, sem ser necessário passar por antigas

instituições totalizantes (como partidos políticos, por exemplo), é a nebulosa, uma rede

descentrada, desterritorializada, que funciona perspectivamente. Ela é a “nova” resposta

para a pergunta: diante da politização dos pequenos gestos, como traduzi-los em

grandes ações? É como se a nebulosa fosse o meio pelo qual amplia-se (novamente) a

noção de política ao realizar a passagem do local para o global.

A querela em torno do jornal expressa uma preocupação a respeito do modo de

formular a passagem do individual para o coletivo por meio da nebulosa. É preciso que

a totalidade seja um produto de relações sociais autonomamente orientadas e não

heteronomamente instituídas. Quando o La Décroissance e Cheynet são chamados de

“legalistas”, estão sendo acusados de operarem no registro da heteronomia através dos

antigos aparatos estatais (como o partido). Isso significa que a nebulosa não é edificada

e mantida por intermédio de instituições ou entidades; cabe apenas às pessoas que a

compõem decidirem sobre seus rumos18. Consequentemente, o indivíduo militante acaba

tendo um papel muito importante na nebulosa do decrescimento já que lhe cabe

estabelecer as conexões que corporificam a totalidade de acordo com as suas

necessidades. Só assim a formação coletiva conseguiria ser autônoma19.

A emergência de uma área de estudos na sociologia dedicada à militância

propriamente dita20 não parece, portanto, ser um exagero, considerando que a militância

tornou-se uma das principais preocupações e tema de reflexões e debates no universo da

mobilização política e social. Em outras palavras, o engajamento militante torna-se o

meio a partir do qual pode-se acessar e compreender analiticamente as mobilizações

sociais contemporâneas porque tornou-se o meio de se edificar as mobilizações

18 Vemos que há aqui uma proximidade muito grande com a discussão sobre imanência e transcendência na antropologia social contemporânea.

19 Há toda uma linhagem composta por intelectuais franceses entre os anos 1950 e 70 em que reconhecemos esse vocabulário e essas reflexões. Muitas vezes, esse autores são evocados como inspirações dos movimentos contemporâneos, como Pierre Clastres, André Gorz e Cornelius Castoriadis.

20 Para uma breve revisão bibliográfica do tema, cf. (Sawicki & Siméant, 2011).

16

políticas. A noção sociológica de multi-militância (Dubuisson-Quellier & Barrier, 2007)

chama a atenção para o fato de que um militante não circula para construir uma

militância coesa, mas que a circulação é o elemento mais importante para a ação

política.

A perspectiva de promover mudanças sociais passa pelas relações que os

militantes traçam em seus caminhos. A articulação entre feminismo, ecologia e crítica à

publicidade não é evidente nem imediata: precisa ser construída dia a dia, cabendo a

cada militante articular conhecimentos, saberes, repertórios de ação, pessoas e

associações. É como se a dimensão “coletiva” ou “social” estivesse na articulação,

podendo ser transformada a partir do momento em que os militantes se reorganizam e

dão outro "tom" a todas essas questões. Consequentemente, é como se qualquer

totalidade fosse perspectiva, uma vez que o global não é algo que pode ser totalmente

controlável e só se realiza e é apreendida por meio dos pontos de vista de indivíduos

autônomos.

O movimento do decrescimento se organiza mobilizando noções, conceitos e

práticas para lidar com os conflitos e com as contradições do capitalismo, como o

consumo de massas, a publicidade, a produção de alimentos envenenados, etc. O modo

como esses problemas são abordados, no esteio dos movimentos anti-globalização21,

atualiza os questionamentos das novas esquerdas herdeiras de Maio de 68 na França e

suas críticas à esquerda marxista tradicional. No pós-guerra, houve todo um

investimento para “superar” o marxismo nos países de capitalismo avançado porque

este teria sido insuficiente para explicar a nova realidade socio-econômica do consumo

de massas e da melhoria das condições de vida generalizadamente. Posta essa “nova

realidade” os movimentos das novas esquerdas tiveram que reorganizar seu aparato

político e conceitual para explicitar quem eram os novos inimigos (a tecnocracia) e

quem eram os novos sujeitos históricos da mudança (daí os “novos” atores, como

estudantes, cientistas engajados, as “minorias”, etc).

21 Nos primeiros Fóruns Sociais Mundiais em Porto Alegre o acampamento Intergaláctico tornou-se o espaço mais celebrado do evento: sem orientações preestabelecidas, sem gestão centralizada, sem demarcações territoriais e temporais, qualquer manifestação poderia construir-se, no espaço que encontrasse (ou que negociasse), como quisesse e quando fosse mais interessante do seu ponto de vista. Tamanha foi a repercussão do acampamento que acabou tornando-se mais importante do que as palestras e seções proferidas por figurões no salão nobre. No acampamento estabeleciam-se relações entre pessoas, entre ideias, entre coisas, e por meio dessas relações é que se concretizava o “outro mundo possível” (cf. Di Giovanni, 2008; Loureiro et al., 2002).

17

A organização em rede, por sua vez, também opõe-se às teorias e aos

movimentos sociais que concebem e experimentam o mundo através das contradições

de classe. Contudo, uma vez que defrontam-se com conflitos e com um mundo que

continua cindido, esses movimentos precisam elaborar maneiras de trabalhar com as

divergências sem ser pelo registro das contradições. A aparente extinção das

contradições sociais é recolocada (ou suplementada) em termos rizomáticos (como

sugerem muitos pensadores na filosofia e nas ciências sociais) ou como nebulosa, no

caso do decrescimento.

No polo “oposto”, o capitalismo se reorganizou sob as mesmas diretrizes. Como

apresentam Boltanski & Chiapello (2009), a literatura de gestão empresarial dos anos

1990 é tomada pelo vocabulário da “auto-gestão”, dos “projetos”, do indivíduo gestor

de sua própria vida, da extinção das fronteiras entre público e privado e entre trabalho e

lazer. As relações de trabalho são travestidas de relações de cooperação garantindo por

um lado a “liberdade” para os trabalhadores “investirem” em suas próprias redes e

assegurando, por outro, a descentralização e a impossibilidade de qualquer pessoa

acessar e controlar a totalidade das relações de trabalho. O vocabulário das redes, as

relações descentradas, a recusa em apreender univocamente tais relações, tudo isso é

muito afinado com a forma nebulosa por meio da qual existe um movimento político

ecológico cujo alvo é justamente o capitalismo, o neoliberalismo e o crescimento

econômico.

Frente a essas convergências, não é tão simples tratar o movimento do

decrescimento como uma mobilização de resistência pura e simples. É preciso levar em

conta que, apesar de haver toda uma preocupação em construir “alternativas” às

sociedades de crescimento por meio da formação nebulosa, descentrada e não

hierarquizada dos grupos, coletivos e associações autogeridas, tais alternativas se

erigem no seio das contradições do capitalismo. Consequentemente, fazer uma

etnografia de um movimento como esses exige algo além de transformar as categorias

nativas em ontologia social. Ou seja, é preciso explorar os sentidos na nebulosa de

maneira mais ampla, apontando as ambiguidades de tal projeto político – sendo a

etnografia um instrumento interessante para mapear relações e seus sentidos.

Herbert Marcuse e sua teoria da sociedade unidimensional nos parecem ser

bastante interessantes para refletir sobre as ambiguidades decorrentes das convergências

18

entre o funcionamento do capitalismo e um movimento social que se lhe opõe. Marcuse

diagnosticou, entre as sociedades de capitalismo avançado, um achatamento de todas as

dimensões, como se as contradições tivessem se conciliado. As contradições são

tratadas como “lados opostos” de modo que não mais carregam uma potência

transformadora, como se não houvesse mais espaço para a recusa.

A nebulosa parece ser um modo de organização social (da socidade de

decrescimento) em que pessoas, grupos, pontos de vista, mercadorias, produtos,

relações de produção, relações sociais e natureza, tudo coexiste lado a lado. Os conflitos

que podem existir entre eles aparecem como pontos de uma nebulosa maior, como

constitutivos de um social múltiplo. Podemos dizer, assim, que a ambiguidade de um

movimento como o decrescimento, consiste em ser uma mobilização crítica que parte

das contradições do capitalismo mas cuja forma de existência nega as contradições em

seu interior, transformando-as em redes.

A ambiguidade não aparece na crítica ou na recusa da sociedade de crescimento,

mas nas concretização de propostas de formações sociais alternativas, pois ao

concretizar uma nebulosa, não deixam espaço para o negativo. A diferença de um

movimento como o decrescimento e a literatura de gestão empresarial, por exemplo, ou

qualquer outra dimensão do capitalismo que opera por redes é que o primeiro tem como

ponto de partida justamente da negação, mas não consegue lidar com ela em seu seio.

Já a segunda parte da total supressão da possibilidade de transcendência e transformação

social. Essas ambiguidades, no fundo, são vivenciadas pelos próprios militantes, sendo

os conflitos entre o jornal “muito crítico e pouco propositivo”, de um lado, e as

“propostas pouco politizadas” de outro uma expressão disso.

A etnografia da nebulosa do decrescimento, bem como as questões que

perpassam-na, recortam-na e a definem, tudo isso nos colocou questões que nos

permitiram pensar o “dentro” e o “fora” não em termos de oposição, mas de

contradições que permeiam relações. Procedimentos etnográficos que propõe a

descrever e refletir sobre o capitalismo precisam, assim, ser sensíveis a ambiguidades

como estas que o movimento de decrescimento ilumina para conseguir pensar sobre o

próprio sistema (ou como quer que se queira chamá-lo) e sobre as tensões, resistências

que colocam em questão uma série de elementos que lhe são constitutivos, evitando de

cair apressadamente em ingênuas louvações ou em denúncias.

19

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