Design para inovação social como ferramenta para transformação organizacional1
Rita Afonso, Dr.
Universidade Federal do Rio de Janeiro - FACC / Rio de Janeiro, Brasil
Carla Cipolla, Dr.
Universidade Federal do Rio de Janeiro - COPPE / Rio de Janeiro, Brasil
Maíra Prestes Joly, MSc.
Universidade Federal do Rio de Janeiro - COPPE / Rio de Janeiro, Brasil
Resumo:
Este capítulo articula uma relação entre o Investimento social privado e o Design para
inovação social e sustentabilidade como possível abordagem para que empresas colaborem
com casos de inovação social em favelas. Para tanto, desenvolve uma composição teórica com
os conceitos de Responsabilidade Social - RS, Investimento Social Privado - ISP,
Aglomerados subnormais/ favelas, Inovações sociais em favelas e Design para inovação
social e sustentabilidade. O artigo elabora esta co-relação baseado no caso "Ocupa Alemão" -
vivido por jovens do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro - por meio de um estudo
qualitativo com pesquisa documental, observação de campo e entrevistas. Por fim, o capítulo
colabora com a prática de responsabilidade social de empresas, ressaltando como a
abordagem de design para inovação social e sustentabilidade pode ser ferramenta para
analisar e projetar ISP em casos de inovação social que surgem em territórios populares.
Palavras-chave: Responsabilidade social; Investimento social privado, Inovação social;
Design para inovação social e sustentabilidade; Complexo do Alemão.
1 Capítulo 19 do livro “Transformação Organizacional para Sustentabilidade”. Organização: Osvaldo L. G. Quelhas, Marcelo J. Meiriño, Sergio L. B. França e Cid Alledi Filho. Benicio Biz Editores Associados, 2015.
1. Introdução
Este artigo relaciona uma pesquisa de tese de doutorado sobre Responsabilidade Social
(AFONSO, 2012) e pesquisas exploratórias do projeto TRANSIT - Transformative Social
Innovation Theory Project -, que procura elaborar uma teoria global em Inovação Social e
define a inovação social como novas formas de “fazer, organizar, conhecer/aprender e
conceituar” (HAXELTINE et al., 2015, p.22). Dessa forma, o artigo tem como objetivo
apresentar o Design para inovação social e sustentabilidade como possível abordagem para
que empresas acompanhem, analisem e colaborem com casos de inovação social em favelas,
como forma de responsabilidade social junto a comunidades. Dentro desse contexto, é
realizada uma análise do caso Ocupa Alemão, que acontece no Complexo do Alemão no Rio
de Janeiro, pesquisado em 2014.
2. Metodologia
O caso Ocupa Alemão foi pesquisado considerando particularmente como questões de
investigação:
Que papel os laços sociais locais (ou redes sociais locais) desempenharam no
desenvolvimento do caso Ocupa Alemão?
Como esses laços sociais locais são afetados pelas conexões globais facilitadas pelo
uso das Tecnologias da Informação?
A pesquisa qualitativa inclui: (a) pesquisa documental, que abrangeu notícias, relatórios e
comunicações oficiais; (b) entrevistas semi-estruturadas com participantes do grupo; (c)
pesquisa de campo com observação direta; (d) acompanhamento das atividades do grupo em
redes sociais, especialmente no Facebook. As entrevistas foram interpretadas e analisadas
com referência às perguntas da pesquisa.
3. Background teórico
3.1. Responsabilidade social / Investimento social privado
Em linhas gerais, a responsabilidade social empresarial e tida como uma forma de gestao
alinhada com os problemas do planeta e suas formas de vida, tornando-se um meio para a
transformacao social e para o desenvolvimento sustentavel (AFONSO, 2012) e acontece, em
tese, por meio do dialogo, engajamento ou relacao estabelecida com a sociedade, representada
por seus stakeholders (ISO 26000, 2010) . Já o investimento social privado é a parte da
responsabilidade social utilizada para este diálogo/ relação e/ou engajamento com o
stakeholders "comunidade" (NOGUEIRA e SCHOMMER, 2009). Afonso (2012) afirma que
a responsabilidade social realizada especificamente por meio do investimento social privado
ainda precisa considerar mais especificamente os objetivos das comunidades onde atuam.
3.2. Aglomerados Subnormais / Favelas
Favelas são ecossistemas sociais complexos, caracterizados pela sua falta de acesso a serviços
básicos e pela densidade de formas específicas de laços sociais - como os da família e da
vizinhança (LOMNITZ, 2009). O termo "favela" pode disfarçar variações significativas nos
contextos sócio-políticos e econômico-culturais que caracterizam essas comunidades. Estas
comunidades estão geralmente - mas não exclusivamente - situadas em assentamentos
informais, que são definidos como áreas urbanas que funcionam fora ou nos limites dos
regulamentos que governam a sociedade nas cidades e suas áreas vizinhas. Sejam favelas
brasileiras, sul-africanas, indianas ou as do norte-africano, todas tratam-se de bairros sem as
condições infraestruturais dos centros urbanos.
Para o IBGE , o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica, "uma favela é um
assentamento de 50 unidades habitacionais ou mais, localizado em propriedade pública ou
privada e caracterizado pela ocupação desordenada , sem os benefícios dos serviços públicos
essenciais" (DYMSKI , 2011, p. 10).
Olhando mais de perto esta realidade complexa, é evidente que o capital social e humano
existente dentro dela poderia ser utilizado para resolver problemas específicos e concretos de
sua vida cotidiana, de uma forma mais aberta, flexível e transparente. Novos arranjos de
atores sociais são formados a partir de redes sociais locais, o que lhes permite encontrar novas
maneiras de resolver seus problemas diários e promover qualidades de seu território. A
hipótese de trabalho assumida aqui é que estas redes sociais são um dos principais fatores que
promovem o desenvolvimento de inovações sociais nestas comunidades.
3.3. Inovações sociais em favelas
Dentro do contexto da cidade do Rio de Janeiro, favelas são comumente referidas como
"comunidades". Diferentes redes sociais formam esses espaços populares, o que facilita as
relações entre os seus atores na busca de benefícios individuais e coletivos. Larissa Lomnitz
(2009), pensadora latino-americana que pesquisa o papel central das redes sociais dentro de
estudos urbanos, afirma que as organizações surgidas de comunidades informais usam
instituições tradicionais para sobreviver. Estas instituições são "a família, a amizade, a adesão
a um grupo étnico ou um sistema de crenças" e se baseiam em uma "definição cultural de
confiança e lealdade, que são elementos centrais para o trabalho de redes informais"
(LOMNITZ , 2009, p . 19). Para esta autora "uma rede social é um campo de relações entre os
indivíduos" e estabelece "relações complexas dentro de um espaço social específico"
(LOMNITZ, 2009, p. 19). Tais relações permitem a formação de redes de solidariedade, o
que "implica em um sistema de troca de bens, serviços e informações que ocorre dentro da
sociabilidade" (LOMNITZ, 2009, p. 19).
Arranjos sociais de atores são formadas a partir dessas redes, o que lhes permite encontrar
novas maneiras de resolver seus problemas cotidianos. Estes grupos de pessoas podem ser
identificadas como comunidades criativas (MERONI, 2007), porque "eles estão
profundamente enraizados em um lugar , eles fazem bom uso dos recursos locais e, direta ou
indiretamente, promovem novas formas de intercâmbio social" (MERONI, 2007, p. 14) .
Vários casos revelam essa realidade. Temos exemplos de jovens que se reúnem para criar
blogs com notícias de suas comunidades; adultos que se organizam para cozinhar e vender
refeições no local; pessoas que se juntam para cuidar das crianças enquanto os pais trabalham;
atores locais que criam estações de rádio; crianças e adultos que encontram novas maneiras de
separação e descarte de resíduos direcionados para práticas artesanais ou adubo para as
plantas. Em todos esses casos, é claro o papel da liderança e das relações sociais nas
atividades.
Esses novos arranjos de atores sociais geram oportunidades para o surgimento de inovações
sociais. Identificar inovações sociais em favelas significa reconhecer novas atividades ou
novas ideias, que foram geradas por novas estratégias para formar relações sociais entre os
atores, motivados pelo objetivo de encontrar bens comuns para satisfazer as necessidades
sociais não satisfeitas (MULGAN, 2007; KLEIN e HARRISON, 2007; PHILLS, 2008). Isto
promove o empoderamento local (MULGAN, 2007) e um processo capaz de ser replicado em
outras comunidades, a fim de criar cenários de uma vida mais sustentável (MANZINI, 2008).
3.4. Design para inovação social e sustentabilidade
Organizações que têm interesse em identificar inovações sociais em comunidades devem
compreender a forma como os seus atores locais se organizam, a fim de encontrar alternativas
táticas para projetar atividades que promovam a geração de renda, o descarte adequado de
resíduos, atividades de educação, cuidados com as crianças e assim por diante. O Design para
inovação social e sustentabilidade é uma ferramenta capaz de identificar e desenvolver, em
co-produção estas atividades e, considerando os valores locais, criar novos serviços
relacionais (CIPOLLA e MANZINI, 2009) e colaborativos (MANZINI, 2008b).
Nestas situações, o esforço social é direcionado para resolver problemas sociais geralmente
reconhecidos e que governos, empresas existentes e soluções tecnológicas falharam em
encontrar soluções (MULGAN, 2007).
Design para inovação social e sustentabilidade é uma abordagem de projeto desenvolvida em
duas direções: (1) monitorar e empoderar casos existentes de inovação social; ou (2) projetar
soluções capazes de gerar novas inovações sociais.
No primeiro caso, a atividade de monitoramento e empoderamento de casos de inovação
social, usa a habilidade de design (CROSS, 2007) para identificar e descrever inovações
sociais como soluções, projetadas por pessoas locais ou não-designers. Aqui, a habilidade de
design é entendida como "uma habilidade cognitiva multi-facetada, possuída em algum grau
por todos" (CROSS, 2009, p. 115). Nesse sentido, considera-se que designers, profissionais e
pesquisadores têm muito a aprender com casos de inovação social e também que o design
pode ter um papel importante no empoderamento, multiplicação, visão e conexão de casos de
inovação social (CIPOLLA e MOURA, 2011).
A segunda direção está relacionada à concepção de soluções que sejam capazes de promover
inovações sociais. Sob essa perspectiva, a abordagem de design considera pessoas e
comunidades não como problemas, mas como um capital social, e que suas capacidades e
cultura local podem ser aproveitados como recursos de projeto. (MANZINI, 2007).
Além disso, essa abordagem tem como visão a sustentabilidade. Para Manzini e Jégou (2003),
a atividade de design que busca criar sistemas mais sustentáveis não é unilateral, pois depende
de sistemas complexos de aprendizagem em que atores sociais estão envolvidos e em que
participam ativamente do processo de mudança. Quanto mais essa capacidade de aprendizado
voltada para a mudança em torno de sistemas mais sustentáveis for desenvolvida e guiada,
mais rápido e menos traumático será a mudança de comportamento em torno da
sustentabilidade. A definição de sustentável está relacionada à possibilidade de continuidade
dos aspectos econômicos, sociais e ambientais dentro da sociedade humana, preservando
condições viáveis e dignas de sobrevivência às gerações futuras (BRUNTLAND, 1988).
Esse processo de aprendizado voltado para a sustentabilidade acontece quando as pessoas
criam soluções gradualmente, por tentativa e erro, às suas necessidades. Da mesma forma,
esse processo de mudanca acontece por uma descontinuidade sistêmica: “uma forma de
mudança, onde, no final, o sistema em questão (no nosso caso o sistema sócio-técnico
complexo em que se baseiam as sociedades industriais) será diferente, estruturalmente
diferente do que nós conhecemos” (MANZINI e JÉGOU, 2003, p. 37). Em outras palavras,
localmente grupos de pessoas inventam novas formas de lidar com sistemas de vida (ligados a
alimentação, roupas, transporte, energia, educação, etc.) e promovem a mudança em seus
contextos. As ideias bem sucedidas são replicadas a outros contextos e de forma sistêmica,
mas descontínua, a sociedade desenvolve seu potencial de transformação para estilos de vida
mais sustentáveis.
Este capítulo coloca seu foco na primeira direção da abordagem de Design para inovação
social e sustentabilidade, mais precisamente, através da análise de um caso inovação social, o
"Ocupa Alemão". O caso acontece no conjunto de favelas do Complexo do Alemão, no Rio
de Janeiro, e sua análise tem como interesse demonstrar lições que organizações podem ter ao
aproveitar soluções surgidas de maneira bottom-up - de baixo para cima - em comunidades.
4. Estudo de caso
O Ocupa Alemão é uma inovação social que reinventa positivamente os territórios de favelas,
considerados como espaços de falta de acesso e urbanidade (BARBOSA e SILVA, 2013, p.
29). O projeto foi concebido como uma resposta aos problemas enfrentados localmente,
incluindo a persistência de problemas sociais e os limites impostos pela polícia.
O caso será apresentado em detalhes a partir de sua metodologia, evidenciando como as bases
teóricas escohidas fazem sentido neste território.
4.1 Complexo do Alemão
Figura 1: Localização da comunidade e de suas UPPs.
Fonte: SABREN/ IPP, 2011, ISP 2011
O Complexo do Alemão é composto por 15 favelas (UPP SOCIAL, 2014), com quatro UPPs,
localizadas na zona norte do Rio de Janeiro, sendo já considerada como a região da cidade
mais violenta, em função de seu território ser disputado por traficantes. A Figura 1 mostra a
localização das comunidades e das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora). A sua população
total é de 160 mil habitantes em 18.000 domicílios (UPP SOCIAL, 2014).
Em função de investimentos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento2) para a
construção de um sistema de teleférico, o mesmo é usado por moradores e turistas, o que
simbolicamente transformou o lugar: da favela mais violenta para um cartão postal da cidade.
Em 2012, o Governo do Estado proporcionou um serviços de Internet sem fio gratuito em
todo o complexo, permitindo o acesso a computadores, laptops, smartphones e tablets
(ORTIZ, 2011; TECNOBLOG, 2012). Jovens da comunidade relataram que 48,9% têm a
Internet como um dos "espaços culturais" mais frequentados; 8,4% usam a internet "sempre",
20,2% "às vezes", 11,4% "raramente" e 60% "nunca". Entre as principais dificuldades para
participar de atividades culturais, 13,5% afirmaram "constrangimento pela origem social" e
24,2% apontam o custo do transporte (alto) como impedimento. 62% dos jovens relataram o
uso da Internet para entrar em redes sociais e 42,5% disseram que usam telefones celulares
para navegar na Internet (BARBOSA e DIAS, 2013).
Neste contexto, grupos de jovens do Alemão estão ligados ao ativismo político e cultural.
Exploraremos este aspecto.
4.2 Ocupa Alemão
O Ocupa Alemão é um projeto concebido por sete jovens moradores da comunidade que
tiveram como inspiração as mobilizações internacionais após o Occupy Wall Street. Tal
projeto trata-se de uma resposta aos limites colocados pela ocupação da polícia, a qual eles
consideram violenta. Barbosa e Dias (2013) explicam essa visão:
"(...) A pacificação também representa o período de fechamento de vários espaços de
sociabilidade juvenil dentro das favelas; por ordem do comando da UPP foram
proibidas as atividades escolares de samba, bares e salas de show foram fechados; foi
proibido o fechamento de ruas que eram usadas como espaço recreacional, e foram
proibidos os bailes funk. Um participante relatou que onde ele vive as pessoas não
podem ficar na rua depois das dez horas da noite... "(BARBOSA e DIAS, 2013, p.
120).
2 Mais informações em: http://dados.gov.br/dataset/obras-do-pac-programa-de-aceleracao-do-crescimento
Para estes jovens, a favela passou do controle do tráfico de drogas para o controle da polícia,
com o mesmo, segundo eles, autoritarismo. Eles acreditam que as soluções para os problemas
que eles vivem podem e devem vir deles mesmos, em um movimento de baixo para cima. O
movimento Ocupa Alemão desenvolveu e publicamente entregou uma carta ao comando da
polícia em repúdio de suas ações. Eles afirmam que o movimento foi criado pela
descriminalização do espaço público na favela. O grupo se reúne autonomamente e de forma
sistemática, projetando ações que tentam resgatar o caráter público dos territórios da favela.
Nesse sentido, o termo "ocupar" do projeto traz à tona a discussão sobre o que é, de fato,
público nestes territórios.
Desde 2012, o projeto reunia os jovens do Alemão e de outras favelas, no intuito de promover
uma ocupação política, cultural e afetiva dos espaços públicos locais. Eles queriam que a
favela fossem reconhecida como "parte da cidade", tendo como principais temas de ação o
"direito à cidade" e a "democracia do acesso aos direitos." Estes jovens afirmam que desde a
ocupação policial e projetos de mobilidade na favela, que são exógenos (de cima para baixo
ou top-down), os becos e praças, lugares originalmente ligados à cultura local, tornaram-se
cada vez mais espaços de proibição, repressão e arbitrariedade.
A ocupação do espaço público foi inspirada no Ocupy Wall Street, assim como a plenária
(onde discutem os temas que lhes interessam) aberta e o espaço web (neste caso no
Facebook), mas a reinvenção das intervenções foi transformada pela vida local. Para cada
atividade cultural destinada para a ocupação, os jovens imediatamente ativam suas redes de
amigos e é a partir deles que recursos para realizá-las são obtidos.
Eles têm as seguintes atividades principais:
• Bibliotecas livres - espaço para intercâmbio de conhecimentos administrados pelos
próprios moradores, incorporado à arquitetura e geografia da comunidade.
• Rolezinhos - andar pelas favelas e conversar com os moradores e demais
interessados sobre os direitos da comunidade.
• Cine-muro - filmes projetados nas paredes das favelas.
• Grafite político - arte nas paredes das favelas sobre questões relacionadas com os
direitos da comunidade.
Laços sociais e motivações favorecem redes conectadas na favela, como afirmado pelos
membros do movimento:
"É uma relação de amizade e afinidade como um princípio básico. A maior afinidade
que temos é a vontade de mudar o mundo" (LIMA, 2013).
"O que nos une é a amizade e o vínculo com o território."
"Depois de pensar sobre o que nós fazemos, nós ativamos nossos amigos da rede para
a ação".
"Nós todos vivemos no mesmo lugar, alguns na mesma rua, essa proximidade e
amizade torna mais fácil."
"Nós usamos as redes sociais como uma ferramenta, mas somos amigos."
Nas favelas do Rio de Janeiro, as comunidades são comumente representadas como algo
homogêneo, identificando neste espaço popular uma "estigmatização sócio-espacial forte,
especialmente inferida por moradores de outras partes da cidade" (SILVA, 2009, p . 22-23).
Observa-se que é precisamente esse estigma que faz com que as pessoas se reúnam para
trabalhar de forma colaborativa em torno de benefícios sociais e econômicos comuns.
5. Aprendizados
Empresas podem desenvolver programas de responsabilidade social junto a favelas
identificando as redes sociais locais, no intuito de integrá-las e promover um trabalho em
conjunto. A análise do caso Ocupa Alemão nos permite observar que comunidades locais vêm
desenvolvendo projetos próprios, de maneira informal, que promovem benefícios relacionais
e de desenvolvimento local entre seus habitantes.
A partir dessa abordagem, empresas podem direcionar sua prática de responsabilidade social,
especificamente de investimento social privado, para monitorar casos de inovação social
surgidos dentro de favelas. Para além de monitorá-los, podem desenvolver projetos junto com
moradores locais, no intuito de gerar benefícios sociais e econômicos a estas comunidades.
O que une o grupo para a ação são os laços de amizade, o sistema de crença similar - eles
querem mudar o mundo ao seu redor -, o que leva ao projeto da troca de bens, serviços e
informações no território, ativando um conjunto de redes. No caso, as redes sociais (TICs) são
utilizadas como uma ferramenta para ativar redes pessoais tradicionais, promovendo a
inovação social no território.
O "Ocupa Alemão" é também uma forma de projeto relacional entre os seus membros e entre
estes e a favela (LOMNITZ, 2009), confirmando as hipóteses que levaram à pesquisa.
Referências
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Currículo resumido dos autores:
Rita Afonso é doutora em Engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ, professora Adjunta
da FACC/UFRJ- Faculdade de Administração e Ciências Contábeis, Pesquisadora Associada
do LTDS/COPPE - Laboratório de Tecnologia e Desenvolvimento Social e pesquisadora do
projeto TRANSIT - Transformative Social Innovation Theory.
Carla Cipolla é doutora em Design pelo Politecnico di Milano, professora adjunta do
Programa de Engenharia de Produção da Universidade Federal do Rio de Janeiro
COPPE/UFRJ, Pesquisadora do LTDS/COPPE - Laboratório de Tecnologia e
Desenvolvimento Social e, no Brasil, lider da equipe de TRANSIT - Transformative Social
Innovation Theory.
Maíra Prestes Joly é mestre em Engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ, com foco nas
áreas de Design de Serviços e Inovação social. Pesquisadora Associada do LTDS/COPPE -
Laboratório de Tecnologia e Desenvolvimento Social e pesquisadora do projeto TRANSIT -
Transformative Social Innovation Theory.