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É a ética, estúpido!

Date post: 24-Jan-2023
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É a ética, estúpido! O fundamento da sociedade é a Ética. Todas as relações sociais estão estabelecidas pela ética, foi assim que a sociedade teve o seu primeiro estatuto, não escrito, baseado nos costumes sociais, que foi o primeiro contrato social que fundou a sociedade familiar e clânica. São encontradas estas normas éticas em quaisquer grupos sociais primitivos como as tribos, as castas sociais e entre os mais antigos grupamentos humanos. A ética é diretamente reconhecida e aplicada dos costumes que surgiram em momentos e lugares desconhecidos e incrustadas nas regras que determinam, por exemplo, o lugar para se assentar com os filhos na roda do encontro familiar, o respeito aos mais velhos, as regras para as relações sexuais, a divisão das tarefas por idade, sexo e função, o reconhecimento e o respeito pelos guias curandeiros, pelos guias religiosos, pelos chefes guerreiros, pelos caçadores, pelos provedores enfim por todas as funcionalidades sociais decorrentes da divisão do trabalho social. Esta estrutura social foi passando de uma geração para a geração seguinte pela força da tradição que foi por meio deste processo cultural ir-se aperfeiçoando a instituição social que permitiu a sobrevivência e garantiu a perpetuação da espécie inteligente dos sapiens na Terra. A partir do estatuto social consuetudinário pioneiro firmamos o segundo contrato que foi o contrato jurídico escrito que fundou a nação e as normas orgânicas que fundaram o Estado civil, também chamado Estado de Direito.
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É a ética, estúpido!

O fundamento da sociedade é a Ética.

Todas as relações sociais estão estabelecidas pela ética, foi

assim que a sociedade teve o seu primeiro estatuto, não escrito,

baseado nos costumes sociais, que foi o primeiro contrato social que

fundou a sociedade familiar e clânica.

São encontradas estas normas éticas em quaisquer grupos sociais

primitivos como as tribos, as castas sociais e entre os mais antigos

grupamentos humanos.

A ética é diretamente reconhecida e aplicada dos costumes que

surgiram em momentos e lugares desconhecidos e incrustadas nas regras

que determinam, por exemplo, o lugar para se assentar com os filhos

na roda do encontro familiar, o respeito aos mais velhos, as regras

para as relações sexuais, a divisão das tarefas por idade, sexo e

função, o reconhecimento e o respeito pelos guias curandeiros, pelos

guias religiosos, pelos chefes guerreiros, pelos caçadores, pelos

provedores enfim por todas as funcionalidades sociais decorrentes da

divisão do trabalho social.

Esta estrutura social foi passando de uma geração para a geração

seguinte pela força da tradição que foi por meio deste processo

cultural ir-se aperfeiçoando a instituição social que permitiu a

sobrevivência e garantiu a perpetuação da espécie inteligente dos

sapiens na Terra.

A partir do estatuto social consuetudinário pioneiro firmamos o

segundo contrato que foi o contrato jurídico escrito que fundou a

nação e as normas orgânicas que fundaram o Estado civil, também

chamado Estado de Direito.

Sendo o final do processo da fundação da sociedade concluído

pela fundação do Estado de Direito representado pela lei maior, a sua

constituição, todo o resto depende do primeiro passo fundamental, que

o antecedeu das leis constitucionais, que são os fundamentos éticos.

Todas as constituições são fundamentadas diretamente e indiretamente

na ética e é o que devemos demonstrar.

A Ética não é apenas um eixo principiológico religioso ou

filosófico, é a razão de ser da possibilidade da vida social em sua

plenitude.

A vida poderia existir sem a ética, mas, a sociedade nunca. Sem

a ética não existiria a vida social, ela ficaria inviável sem os

princípios fundamentais da convivência humana que são: garantias

recíprocas do direito à vida, direito à liberdade, direito à

propriedade, o direito à privacidade e o respeito ao próximo.

Estes direitos são inalienáveis, são também direitos

insubstituíveis e inegociáveis, não podem ser compensados, não podem

ser limitados e não podem ser suprimidos.

Não existe punição suficiente para coibir a violação de

quaisquer deles, ou compensá-los.

Portanto, a perda de cada um deles importa em um dano

irreparável, nenhuma sanção poderá restituir a perda ou a restrição

de quaisquer deles, portanto as leis seriam insuficientes para punir

e reparar quaisquer danos ou lesões destes direitos quais sejam: a

perda da vida, perda da liberdade, perda da propriedade e a perda da

privacidade.

Como se pode reparar a perda de uma vida? Como se pode compensar

a perda de liberdade? Como se podem compensar a perda da propriedade

e a perda da privacidade depois de se produzirem os seus danosos

efeitos no tempo, alterando a vida das pessoas, se o tempo que passou

não pode ser restituído no usufruto da propriedade e da privacidade

conspurcadas, que são direitos justamente caracterizados pela

oportunidade de fruição no tempo e no espaço; sabemos do tempo da sua

irreversibilidade e das oportunidades serem aleatórias ou ocasionais?

A única maneira de se coibir estes crimes irreparáveis é impedir

que eles ocorressem, e não puni-los através da lei.

Evita-se o cometimento de delitos pela contenção individual,

pelo convencimento e pelo condicionamento comportamental.

Conhece-se o mecanismo próprio extralegal para condicionar o

comportamento social e este mecanismo sempre existiu acima e fora das

leis, na verdade este princípio foi o preceito que fundou as

primeiras leis que constituíram os direitos fundamentais do ser

humano. Este princípio que nasceu antes das leis fez parte do acervo

cultural das tribos, clãs e dos grupamentos comunitários mais

primitivos baseados nos princípios da solidariedade, na confiança e

da reciprocidade: chama-se a ética.

Este princípio primitivo fundou a tradição e as religiões. Então

fomos buscar nas tradições e nas religiões os fundamentos para

constituirmos as primeiras leis costumeiras não escritas para que o

passo seguinte no estado de direito o formalizar-se da constituição,

criando o contrato social fundador da nação e do estado civil.

Os princípios primitivos do convívio social eram fundamentados

na ética. Os primeiros princípios primitivos visavam primeiramente a

manutenção da ordem social baseada nas divisões das tarefas sociais

em conformidade com os critérios de idade, do sexo, e firmado nos

costumes.

A sociedade moderna escrutinada pelos ensaios sociológicos de

Maximiliam Carl Emil Weber acreditava na eficiência e na eficácia dos

instrumentos burocráticos normativos, que incluem todos os

procedimentos normativos, leis e regras, no princípio da autoridade

legalmente constituída e no cumprimento de todas as normas.

Não é suficiente para manter a ordem social. A saída de Max

Weber foi editar o princípio da dominação legal racional burocrática,

ou seja, todos se submetem às regras inclusive quem aplica as regras.

É um princípio formal, de impossível efetivação sem a cooperação

da sociedade. Este princípio foi intuído do confucionismo chinês

baseado ali naquela religião e cultura cinco vezes milenar; Max Weber

acreditava poder transplantar para o Ocidente europeu um

comportamento social extraído de outra cultura alienígena oriental

chinesa sem as devidas vênias desprezando o fator mais importante que

é a religião confucionista. Não foi uma transposição adequada. Não se

pode copiar uma cultura. Ela sempre será adaptada a despeito de

qualquer cuidado que se coloque. Este é um destes casos.

A população chinesa estava devidamente adaptada dentro dos

princípios milenares da disciplina confucionista para adequar-se

àquelas regras rígidas cujo comportamento faz parte da ética e

cultura confucionista.

A nossa confiança no sistema burocrático normativo por

excelência a democracia liberal ocidental despreza o fator essencial

sobre a qual se baseia implicitamente: ignora formalmente a questão

fundamental da ética, mas não prescinde da ética no cumprimento e na

formalização das normas e no comportamento social em que estão

alicerçadas as suas instituições, indiretamente, então voltamos à

questão da ética.

Então em seu outro livro “A ética protestante e o espírito do

capitalismo” Max Weber retoma o caminho da primazia da ética sobre a

primazia das normas burocráticas abandonado na obra referida

anteriormente chamada a Estado e Sociedade onde aborda a Teoria da

Burocracia.

Em sociologia das organizações, burocracia é uma organização ou estrutura organizativacaracterizada por regras e procedimentos explícitos e regularizados, divisão deresponsabilidades e especialização do trabalho, hierarquia e relações impessoais.1 Emprincípio, o termo pode referir-se a qualquer tipo de organização - empresas privadas,públicas, sociais, com ou sem fins lucrativos.

O modelo weberiano

De acordo com Max Weber, os atributos da burocracia moderna incluem aimpessoalidade, a concentração dos meios da administração, um efeito de nivelamentoentre as diferenças sociais e econômicas e a execução de um sistema da autoridade que épraticamente indestrutível.1

A análise weberiana da burocracia relaciona-se a:1

As razões históricas e administrativas para o processo da burocratização(especialmente na civilização ocidental).

O impacto do domínio da lei no funcionamento de organizações burocráticas. A orientação pessoal típica e a posição ocupacional dos oficiais burocráticos como

um grupo de status. Os atributos e as consequências mais importantes da burocracia na organização

burocrática no mundo moderno

Princípios da burocracia

Uma organização burocrática é governada por sete princípios:

1. O negócio oficial é conduzido em uma base contínua de conhecimento empírico2. O negócio oficial é conduzido estritamente de acordo com as seguintes regras:

1. O dever de cada funcionário ao fazer certo tipo de trabalho é delimitado emtermos de critérios impessoais

2. O funcionário tem a autoridade necessária para realizar suas funções talcomo definidas

3. Os meios de coerção à sua disposição são estritamente limitados e seu uso éestritamente definido

3. A responsabilidade e autoridade de cada funcionário são partes de uma hierarquiade autoridade vertical, com respectivos direitos de supervisão e apelação.

4. Os funcionários não são proprietários dos recursos necessários para desempenhodas funções a eles atribuídas mas são responsáveis pelo uso desses recursos

5. A renda e os negócios privados são rigorosamente separados da renda e negóciosoficiais;

6. O escritório não pode ser apropriado pelo seu encarregado (herdado, vendido, etc.).7. O negócio oficial é conduzido na base de documentos escritos.

Um funcionário burocrático:

é pessoalmente livre e nomeado para sua posição com base na sua habilitação parao cargo;

exercita a autoridade delegada a ele de acordo com regras impessoais, e sualealdade é relacionada à execução fiel de seus deveres oficiais;

sua nomeação e a designação de seu local de trabalho dependem de suasqualificações técnicas;

seu trabalho administrativo é uma ocupação de tempo integral; seu trabalho é recompensada por um salário regular e a perspectiva de avanço em

uma carreira por toda a vida.

Um funcionário deve exercitar seu julgamento e suas habilidades, colocando-os, porém, aserviço de uma autoridade mais elevada. Em última instância, é responsável somente pelaexecução imparcial de tarefas atribuídas e deve sacrificar seu julgamento, caso esteja emconflito com seus deveres oficiais.

A ética protestante no capitalismo segundo Weber

Em “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo’, Weber discorre sobre a relevância dareforma protestante para a formação do capitalismo moderno, de modo que relaciona asdoutrinas religiosas de crença protestante, para demonstrar o surgimento de um modusoperandi de relações sociais, que favorece e caracteriza a produção de excedentes,gerando o acúmulo de capital.

Há de se dizer, então, que o mundo outrora dominado pela religião católica, era tambémconcebido a partir da cultura por ela promulgada. Isso quer dizer que o modo de vidapregado no catolicismo, era propagado para além dos limites da Igreja, perpassando avida dos sujeitos. Entretanto, o catolicismo condenava a usura, e pregava a salvação dasalmas através da confissão, das indulgências e da presença aos cultos.

Desta forma, o católico enxergava o trabalho como modo de sustentar-se, mas não viaprescrição em também divertir-se, buscando modos de lazer nos quais empenhava seudinheiro, e produzindo apenas para seu usufruto. Menos temerário ao pecado que o

protestante, e impregnado pela proibição da usura, o católico pensava que pedir perdão aseu Deus seria suficiente para elevar-se ao “reino dos céus”. Assim, seguindo esta culturareligiosa, a acumulação de bens não encontrou caminhos amplos, e permaneceuadormecida.

Contudo, com o advento do protestantismo, a doutrina – e portanto, a cultura – católicamodificou-se, e a salvação passou a ser para alguns, não mais passível de ser conquistada,mas sim uma providência divina, onde o trabalho era meio crucial para glorificar-se. Parao protestante, o trabalho enobrece o homem, o dignifica diante de Deus, pois é parte deuma rotina que dá às costas ao pecado.

Durante o período em que trabalha, o indivíduo não encontra tempo de contrariar asregras divinas: não pratica excessos, não cede à luxúria, não se dá a preguiça: não hácomo fugir das finalidades celestiais. E, complementando toda a doutrina protestante,ainda é crucial pontuar que nesta religião não há espaço para sociabilidade mundana,pois todo o prazer que se põe a parte da subserviência a Deus, fora considerado errado eabominável. Assim, restava a quem acreditava nestas premissas, o trabalho e aacumulação, já que as horas estendidas na produção excediam as necessidades destesreligiosos, gerando o lucro.

Portanto, quando se fala em uma concepção tradicional de trabalho, trata-se daconcepção católica, que não acumulava e pensava o trabalho como meio de garantirsubsistência. Já a concepção que vê o trabalho como fim absoluto, é a protestante, queenxerga no emprego de esforços produtivos a finalidade da própria existência humana,interligada com os propósitos providenciais de Deus.

Esta mudança no comportamento social, além do choque de culturas exposto nosparágrafos acima, suscita uma abrupta mudança no cenário econômico. Isso decorre doseguinte ciclo: O católico trabalha para viver, o protestante vive para trabalhar. Oprotestante gera excedente, e o acumula, investindo-o em cadernetas de poupança,gerando lucro. A finalidade protestante é salvar-se, e se o trabalho é salvador, empregaroutros auxilia na salvação alheia. Logo, o protestante é dono dos meios de produção,detém os funcionários e acumula cada dia mais excedentes, gerando mais capital. E assim,a gênese do capitalismo moderno é concebida.

Conclui-se, portanto, que a cultura – segundo Weber um modo de ser que detém aspráticas -  ao ser modificada, gera novos costumes, um comportamento inusitado, queembora não tivesse como objetivo estabelecer uma nova ordem econômica, e sim moral,passa a sustentar a essência do sistema.

A ética protestante e o "espírito" do capitalismo (no original em alemão Dieprotestantische Ethik und der 'Geist' des Kapitalismus) é um livro escrito por Max Weber,um economista e sociólogo alemão. Escrito entre 1904 e 1905 com uma série de ensaios

que foram, mais tarde, em 1920 - ano de sua morte - complementados pelo autor epublicados em um livro, no qual ele investiga as razões do capitalismo ter sidodesenvolvido inicialmente em países como a Inglaterra e a Alemanha, concluindo que issose deve à mundividência e hábitos de vida instigados ali pelo protestantismo na época. Olivro foi traduzido pela primeira vez para o ingles por Talcott Parsons em 1930.1

É argumentado frequentemente que esta obra não deverá ser vista como um estudodetalhado do protestantismo, mas antes como uma introdução às suas obras posteriores,especialmente no que respeita aos seus estudos da interação de ideias religiosas comcomportamento econômico.

Neste livro, Weber avança a tese de que a ética e as ideias puritanas influenciaram odesenvolvimento do capitalismo. Tradicionalmente, na Igreja Católica Romana, a devoçãoreligiosa estava normalmente acompanhada da rejeição dos assuntos mundanos,incluindo a ocupação econômica. Tais conflitos eram baseados na luta ascética - nãovalorização do corpo e desprendimento material. Por que não foi o caso com oProtestantismo? Weber aborda este paradoxo nesta obra.

Ele define o espírito do capitalismo como as ideias e hábitos que favorecem, de formaética, a procura racional de ganho econômico. Weber afirma que tal espírito não élimitado à cultura ocidental mas que indivíduos noutras culturas não tinham podido por sisó estabelecer a nova ordem econômica do capitalismo.

Como ele escreve no seu ensaio: "Por forma a que uma forma de vida bem adaptada àspeculiaridades do capitalismo possa predominar sobre outras (formas de organização), elatinha de ter origem algures, e não pela acção de indivíduos isolados mas como uma formade vida comum aos grupos de homens".

Após definir o espírito do capitalismo, Weber argumenta que há vários motivos paraprocurar as suas origens nas ideias religiosas da Reforma Protestante. Muitosobservadores como William Petty, Montesquieu, Henry Thomas Buckle, John Keats e outrostinham já comentado a afinidade entre o protestantismo e o desenvolvimento do espíritocomercial.

Weber mostrou que certos tipos de Protestantismo (em especial o Calvinismo) favoreciam ocomportamento econômico racional2 e que a vida terrena (em contraste com a vida"eterna") recebeu um significado espiritual e moral positivo.

O Calvinismo trouxe a ideia de que as habilidades humanas (música, comércio etc.)deveriam ser percebidas como dádiva divina e por isso incentivadas. Este resultado não erao fim daquelas ideias religiosas, mas antes um subproduto ("byproduct"). A lógica inerentedestas novas doutrinas teológicas e as deduções que se lhe podem retirar, quer direta ou

indiretamente, encorajam o planejamento e a abnegação ascética em prol do ganhoeconômico.

Deve-se notar que Weber afirmou que apesar de as ideias religiosas puritanas terem tidoum grande impacto no desenvolvimento da ordem econômica na Europa e nos EstadosUnidos, eles não foram o único fator responsável pelo desenvolvimento. Outros factores,relacionados, seriam o racionalismo na ciência, a mistura da observação com amatemática, a jurisprudência, a sistematização racional da administração governativa e oempreendimento econômico.

Em conclusão, o estudo da ética protestante, de acordo com Weber, explorava meramenteuma fase da emancipação da magia, o desencantamento do mundo, uma característicaque Weber considerava como uma peculiaridade que distingue a cultura ocidental.

Weber afirmou ter deixado a pesquisa do protestantismo porque o seu colega ErnstTroeltsch, um teólogo profissional, tinha iniciado o trabalho no livro "Os ensinamentossociais das igrejas e seitas cristãs". Outra razão para a decisão de Weber foi que esteensaio providenciava uma perspectiva para a comparação mais larga de religiões esociedades, que ele continuou em suas obras posteriores (estudos da religião na China,Índia, Judaísmo).

A obra é considerada por muitos intelectuais contemporâneos como o livro do século. Em1998 a International Sociological Association listou esta obra como o quarto livro sobresociologia, mais importante do século XX.3 Nesta obra seu autor, o sociólogo alemão MaxWeber, versa em seu corpo sobre a cultura de frugalidade - simplicidade de costumes devida; temperança - propagada pela ideologia da Igreja Católica da época, e que foireproduzida no Brasil desde o descobrimento, em oposição à valorização da santificaçãoda vida diária pregada especialmente pelos protestantes da doutrina Calvinista.

Da análise de seu texto se evidencia a correlação com a temática abordada por EmileDurkheim, a temática religiosa, contudo devido a análise de suas peculiaridades, a obra deWeber se distância da obra de Durkheim, principalmente devido a realidade vivida pelasociedade alemã do século XIX e da defesa do autor sobre a importância do papel dapolítica na vida social, sendo esta realizada através de uma burocracia eficiente econtrolada pela democracia, condição que justifica a origem de um sistema legal voltadopara o capitalismo.

O livro "A ética protestante e o Espírito do Capitalismo", se origina da união de dois longosartigos publicados pelo autor nos anos de 1904 e 1905, sendo que no artigo intitulado"Espírito do Capitalismo", o autor retrata suas observações quanto ao fato de em suamaioria, os homens de negócio, os grandes capitalistas, os operários de alto nível e opessoal especializado do período pertencerem a religião protestante (calvinista), e através

do isolamento de suas características em comum e estabelece um "tipo ideal de condutareligiosa", que consiste na elaboração limite de algo, vazio a realidade concreta.

Com a publicação da Ética Protestante, o criador da obra literária expõe suas observaçõesvisando explicar a existência de algo em quem professa o protestantismo, em particular adoutrina protestante de linha calvinista, que se distingue por santificar a vida diária emcontraposição à contemplação do divino, condição que favorece o espírito capitalistamoderno, notoriamente o alemão, ou seja, o autor busca idealizar, identificar, o tipo idealde conduta religiosa, em oposição ao conceito pregado pela Igreja Católica, que na épocapor meio do conceito da piedade popular e da espera da recompensa na vida após amorte; e a mensagem protestante de linha luterana, que acredita que o homem já nascepredestinado a salvação, condutas que repugnavam a obtenção do lucro e que deste modoiam de encontro ao ideal burguês.

Ao definir propriamente o que seria a ordem econômica capitalista Weber afirma que talordem "é um imenso cosmos em que o indivíduo já nasce dentro e que para ele, ao menos,enquanto indivíduo, se dá como um fato, uma crosta que ele não pode alterar e dentro daqual tem que viver. Esse cosmos impões ao indivíduo, preso nas redes do mercado, asnormas de ação econômica. O fabricante que insistir em transgredir essas normas éindefectivelmente eliminado, do mesmo modo que o operário que a elas não possa ou nãoqueira se adaptar é posto no olho da rua como desempregado."

Mais adiante em seu livro, Weber cita Pieter de la Cour para exemplificar o raciocínio dopovo naquela época em que vivia: " [...] o povo só trabalha porque é pobre, e enquanto forpobre." Nesta breve citação, extrai-se algo extraordinário, que é dito por Weberanteriormente. Se o indivíduo tiver que trabalhar mais para poder ganhar mais, ele preferetrabalhar o mesmo tanto para continuar ganhando aquilo que ele já ganhava. Ou seja, apessoa vai procurar trabalhar o mínimo possível para garantir o seu bom sustento e tercomo comer e dormir. A ética protestante veio mudar este raciocínio, dizendo que asalvação do indivíduo estaria relacionada com o quanto que ele ganhava, o tanto dedinheiro que possuía, instruindo assim a relação com o capitalismo.

Max Weber defende o estabelecimento de um raciocínio lógico capitalista, que o mesmodenomina racionalismo; sendo esta leitura realizada através da comparação da Alemanhado período com outros países civilizados do planeta em condição de desenvolvimentosemelhante, ou seja, com existência do capitalismo e de empresas capitalistas, sendoidentificado na primeira uma estrutura social, política e ideológica ímpar, que pode seditar como a condição ideal para o surgimento do capitalismo moderno, que no seuinterior defende a paixão pelo lucro como demonstração de prosperidade, fé e salvação.Neste contexto o autor expõe através do emprego do método e da pesquisa científica umadas várias facetas do capitalismo, o capitalismo ocidental, apresentando em sua obracientífica como as principais características do Sistema Capitalista a organizaçãocapitalista racional do trabalho livre, a separação dos negócios da moradia da família e a

implementação da contabilidade racional; da qual se origina a classe burguesa ocidentalligada estreitamente à divisão do trabalho.

Referências

1. The Protestant ethic and the "spirit" of capitalism and other writings. [S.l.]: Penguin, 2002.ISBN 978-0-14-043921-2 Página visitada em 21 August 2011.

2. Kim, Sung Ho (Fall 2008). Max Weber. The Stanford Encyclopedia of Philosophy. MetaphysicsResearch Lab, CSLI, Stanford University. Página visitada em 21 August 2011.

3. ISA - International Sociological Association: Books of the Century. International SociologicalAssociation (1998). Página visitada em 25-07-2012.

4. (Disponível em Wikipédia)

O confucionismo (儒儒, ? Rúxué) ou confucianismo é um sistema filosófico chinês criadopor Kung-Fu-Tzu (儒儒儒). Entre as preocupações do confucionismo estão a moral, a política,a pedagogia e a religião. Conhecida pelos chineses com "ensinamentos dos sábios".Fundamentada nos ensinamentos de seu mestre, o confucionismo encontrou umacontinuidade histórica única. Além de tradição religiosa, o confucionismo é consideradouma filosofia, ética social, ideologia política, tradição literária e um modo de vida.Confúcio, forma latina de Kung Fu Tsé, filósofo chinês do século VI a.C, compila e organizaantigas tradições da sabedoria chinesa e elabora uma doutrina assumida como oficial naChina por mais de 25 séculos. Combatido como reacionário durante a Revolução Culturalchinesa (1966-1976), o confucionismo toma novo impulso após as recentes mudançaspolíticas no país. Atualmente, 25% da população chinesa declaram-se adeptos doconfucionismo.

Temas do pensamento confucionista

A humanidade é o núcleo no confucionismo. Uma maneira simples de apreciar opensamento de Confúcio é considerá-lo como sendo baseado em diferentes níveis dehonestidade, e de uma forma simples de entender o pensamento de Confúcio é examinar omundo usando a lógica da humanidade. Na prática, os elementos do confucionismoacumularam-se ao longo do tempo.

Existe o clássico Wuchang (儒儒), constituído por cinco elementos: Ren (儒, a Humanidade), Yi(儒, justiça), Li (儒 , ritual), Zhi (儒 , conhecimento), Xin (儒, integridade), e há também o Siziclássico (儒儒) com quatro elementos: Zhong (儒, lealdade), Xiao (儒 , a piedade filial), Jie (儒,continência), Yi ( 儒 , justiça). Há ainda muitos outros elementos, tais como o Cheng ( 儒 ,honestidade), Shu (儒, bondade e perdão), Lian (儒, honestidade e pureza), Chi (儒, vergonha,juízo e senso de certo e errado), Yong (儒, bravura), Wen (儒, amável e gentil), Liang (儒, bom,bom coração), Gong (儒, respeitoso, reverente), Jian (儒, frugal), Rang (儒, modéstia, discrição)

. Entre todos os elementos, o Ren (Humanidade) e o Yi (Justiça) são fundamentais. Às vezes,a moralidade é interpretada como o fantasma da Humanidade e da Justiça.1

Ver agir em relação aos outros, mas de uma atitude subjacente da humanidade. Oconceito de Confúcio de humanidade (儒, ren) é provavelmente melhor expresso na versãoconfucionista de Ética da reciprocidade, ou a Regra de Ouro: "não faça aos outros o quevocê não gostaria que fizessem a ti".

Confúcio nunca disse se o homem nasce bom ou mau,2 observando que "Naturalmente, oshomens são semelhantes; Na prática, os homens são diferentes'3 , o que implica que sejabom ou mau, Confúcio percebeu que todos os homens nascem com semelhançasintrínsecas, mas também que o homem é condicionado e influenciado pelo estudo eprática. A opinião de Xunzi é que os homens originalmente só querem o que elesinstintivamente querem, apesar dos resultados positivos ou negativos que aquilo podetrazer; por isso o desenvolvimento é necessário. Do ponto de vista de Mencius, todos oshomens nascem para compartilhar a bondade, como a compaixão e o bom coração,embora possam se tornar malignos. O texto Clássico dos Três Personagens começa com"As pessoas no momento em que nascem são naturalmente boas (bondosas)", que decorreda idéia de Mencius. Todos os pontos de vista, eventualmente, levam ao reconhececimentoda importância da educação humana e desenvolvimento.

O Ren também tem uma dimensão política. Se o governante não tem o Ren, oconfucionismo diz que será difícil, se não impossível, para os seus súditos comportarem-sehumanamente. O Ren é a base da teoria política confuciana: pressupõe um governanteautocrático, exortado a não agir desumanamente com seus súditos. Um governantedesumano corre o risco de perder o "Mandato dos Céus", o direito de governar. Umgovernante sem tal mandato não precisa ser obedecido. Mas um governante que reina deforma humana e cuida do povo deve ser obedecido rigorosamente, pois a benevolência deseu governo mostra que ele foi incumbido pelo céu. O próprio Confúcio tinha pouco a dizersobre a vontade do povo, mas seu principal seguidor, Mêncio, disse em uma ocasião que aopinião das pessoas sobre certos assuntos importantes devem ser consideradas.

Ritual

No Confucionismo, o termo "ritual" logo foi estendido para incluir o comportamentocerimonial secular e, eventualmente, refere-se também ao decoro ou polidez que se vê nodia a dia. Rituais foram codificados e tratados como um sistema completo de normas. Opróprio Confúcio tentou reanimar a etiqueta das dinastias antigas. Após sua morte, aspessoas o viam como uma grande autoridade sobre os comportamentos dos rituais.

É importante notar que o "ritual" desenvolveu um significado específico no confucionismo,ao contrário de seus significados religiosos usuais. No confucionismo, os atos da vidacotidiana são considerados rituais. Os rituais não são necessariamente regimentados ou

práticas arbitrárias, mas sim as rotinas em que muitas vezes as pessoas se inserem,consciente ou inconscientemente, durante o curso normal de suas vidas. Moldar os rituaisde uma forma que leve a uma sociedade saudável e satisfeita e a um povo saudável esatisfeito é um objetivo da filosofia confucionista.

Lealdade

A lealdade ( 儒 , zhong) é equivalente à piedade filial em um plano diferente. Éparticularmente relevante para a classe social a que a maioria dos alunos de Confúciopertencia, porque a única maneira de um jovem estudioso e ambicioso fazer o seucaminho no mundo confuciano chinês era entrar em um serviço civil no governo. Como apiedade filial, no entanto, a lealdade era frequentemente subvertida pelos regimesautocráticos da China. Confúcio defendia uma sensibilidade à realpolitik das relações declasse na sua época. Ele não propôs que "o poder dá a razão", mas que um ser superiorque recebeu o "mandato do céu" (儒儒) deveria ser obedecido devido a sua retidão moral.

Anos mais tarde, no entanto, a ênfase foi colocada mais sobre as obrigações dosgovernados para o governante, e menos nas obrigações do governante para osgovernados.

A lealdade era também uma extensão dos deveres do indivíduo com os amigos, cônjuge efamiliares. A lealdade para com a família vinha primeiro, em seguida para o cônjuge,depois para o governante, e por último aos amigos. A lealdade era considerada uma dasgrandes virtudes humanas.

Confúcio também percebeu que a lealdade e a piedade filial podem entrar em conflito.

História

Dos seguidores de Confúcio, o século I A.C. encontrou em Meng Zi (儒儒)(Mêncio, e Xun Zi (儒儒 ) um grande desenvolvimento e expansão na sociedade. Esses dois autores buscaramcompreender o confucionismo dentro de um pensamento natural, recorrente nas forçasque atuavam na sociedade em seus períodos de vida.

Mêncio

Mêncio acreditava na importância da educação para retificar a boa natureza humana, queteria sido depravada em função dos conflitos e das necessidades impostas pela vida. O serhumano possuiria a capacidade de desenvolver um espírito de ajuda mútua de modo aevitar os conflitos interpessoais inerentes à existência humana.

Xun Zi

Já Xun Zi recorreu ao verso da moeda para compreender o papel de Confúcio. Eleacreditava numa natureza perversa do homem, derivado dos mesmos instintos depreservação dos animais. Talvez pensando nos rituais propostos para a sociedade, e pelanecessidade de ordenação, tal como no maior fundamento das lendas de fundaçãochinesas e na influência jurista, Xun Zi via no interior do homem uma inteligência capaz dearticular meios pelo qual poderia evitar sua condição natural de forma arbitrária, mas quepara isso haveria de ter criado uma escala de valores delimitantes da ação humana.

Mêncio conseguiu uma boa repercussão popular por sua abordagem otimista da vida, masas classes altas da sociedade viram em Xun Zi uma explicação razoável para suas dúvidas.Assim ao menos deixam transparecer algumas biografias de Sima Qian (II a. C.).

Império chinês

O Confucionismo se tornaria a doutrina oficial do império chinês durante a dinastia Han( séculos III a. C. - III d. C.), encontrando continuadores ao longo deste período que sedestacaram em vários campos diferentes. Donz Zhong shu, por exemplo, buscou revigorare re-interpretar o confucionismo através das teorias cosmológicas dos [cinco elementos](Terra, Madeira, Fogo, Metal e Água); Wang Chong utilizou-se de um ceticismo lógico paracriticar as crenças infundadas e os mitos religiosos.

Embora tivesse perdido um certo vigor após a dinastia Han, o confucionismo serianovamente desenvolvido no movimento conhecido como neoconfucionismo, datado doséculo X d.C., através da figura de personagens como os irmãos Cheng e Zhuxi, o grandecomentador confucionista.

Antiguidade

De qualquer modo, já na antiguidade o confucionismo atingiu um pleno sucesso,tornando-se uma filosofia moral de profundo impacto na estrutura social e cotidiana dasociedade. O valor ao estudo, à disciplina, à ordem, à consciência política e ao trabalhosão lemas que o confucionismo introjetou de maneira definitiva na vida da civilizaçãochinesa da antiguidade aos dias de hoje. Note-se que, ao contrário do que muitosafirmam, o confucionismo não se trata de uma religião. Não possui um credo estabelecido,mas apenas determinações rituais de caráter social, que permitem a um adepto doconfucionismo a liberdade de crença em qualquer tipo de sistema metafísico ou religiosoque não vá contra as regras de respeito mútuo e etiqueta pessoal.

Dias de hoje

O confucionismo é ainda praticado em vários países. Apesar da sua origem asiática,diversos países incorporam alguns conceitos do sistema em suas práticas notadamenteurbanas. No Brasil, o confucionismo não é visto em nenhum segmento da sociedade.

Ditos do Confucionismo

Mesmo nas situações mais pobres uma pessoa que vive corretamente será feliz.Coisas mal adquiridas sempre trarão tristeza.

Ética

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Ética é a parte da filosofia dedicada aos estudos dos valores morais e princípios ideais docomportamento humano perante a sociedade.1 A palavra "ética" é derivada do gregoἠθικός (ethos), e significa aquilo que pertence ao ἦθος2 , que significava "bom costume","costume superior", ou "portador de carácter"3 .

Diferencia-se da moral, pois, enquanto esta se fundamenta na obediência a costumes ehábitos recebidos, a ética, ao contrário, busca fundamentar as ações moraisexclusivamente pela razão.4 5

Na filosofia clássica, a ética não se resumia à moral (entendida como "costume", ou"hábito", do latim mos, mores), mas buscava a fundamentação teórica para encontrar omelhor modo de viver e conviver, isto é, a busca do melhor estilo de vida, tanto na vidaprivada quanto em público. A ética incluia a maioria dos campos de conhecimento que nãoeram abrangidos na física, metafísica, estética, na lógica, na dialética e nem na retórica.Assim, a ética abrangia os campos que atualmente são denominados antropologia,psicologia, sociologia, economia, pedagogia, às vezes política, e até mesmo educação físicae dietética, em suma, campos direta ou indiretamente ligados ao que influi na maneira deviver ou estilo de vida. Um exemplo desta visão clássica da ética pode ser encontrado naobra Ética, de Spinoza.

Porém, com a crescente profissionalização e especialização do conhecimento que se seguiuà revolução industrial, a maioria dos campos que eram objeto de estudo da filosofia,particularmente da ética, foram estabelecidos como disciplinas científicas independentes.Assim, é comum que atualmente a ética seja definida como "a área da filosofia que seocupa do estudo das normas morais nas sociedades humanas"6 e busca explicar ejustificar os costumes de um determinado agrupamento humano, bem como fornecersubsídios para a solução de seus dilemas mais comuns. Neste sentido, ética pode serdefinida como a ciência que estuda a conduta humana e a moral é a qualidade destaconduta, quando julga-se do ponto de vista do Bem e do Mal.

A ética também não deve ser confundida com a lei, embora com certa frequência a leitenha como base princípios éticos. Ao contrário do que ocorre com a lei, nenhum indivíduopode ser compelido, pelo Estado ou por outros indivíduos, a cumprir as normas éticas, nem

sofrer qualquer sanção pela desobediência a estas; por outro lado, a lei pode ser omissaquanto a questões abrangidas no escopo da ética.

Definição e objeto de estudo

O estudo da ética dentro da filosofia, pode-se dividir em sub-ramos, após o advento dafilosofia analítica no séc XX, em contraste com a filosofia continental ou com a tradiçãofilósofica. Estas subdivisões são:

Metaética, sobre a teoria da significação e da refêrencia dos termos e proposições morais e como seus valores de verdade podem ser determinados

Ética normativa, sobre os meios práticos de se determinar as ações morais Ética aplicada, sobre como a moral é aplicada em situações específicas Ética descritiva, também conhecido como ética comparativa, é o estudo das visões,

descrições e crenças que se tem acerca da moral

Termo

Em seu sentido mais abrangente, o termo "ética" implicaria um exame dos hábitos daespécie humana e do seu caráter em geral, e envolveria até mesmo uma descrição ouhistória dos hábitos humanos em sociedades específicas e em diferentes épocas. Umcampo de estudos assim seria obviamente muito vasto para poder ser investigado porqualquer ciência ou filosofia particular. Além disso, porções desse campo já são ocupadaspela história, pela antropologia e por algumas ciências naturais particulares (como, p. ex.,a fisiologia, a anatomia e a biologia), uma vez que os hábitos e o caráter dos homensdependem dos processos materiais que essas ciências examinam. Até mesmo áreas dafilosofia como a lógica e a estética seriam necessárias em tal investigação, seconsiderarmos que o pensamento e a realização artística são hábitos humanos normais eelementos de seu caráter. No entanto, a ética, propriamente dita, restringe-se ao campoparticular do caráter e da conduta humana à medida que esses estão relacionados acertos princípios – comumente chamados de "princípios morais". As pessoas geralmentecaracterizam a própria conduta e a de outras pessoas empregando adjetivos como "bom","mau", "certo" e "errado". A ética investiga justamente o significado e escopo dessesadjetivos tanto em relação à conduta humana como em seu sentido fundamental eabsoluto.2

Outras definições

Já houve quem definisse a ética como a "ciência da conduta". Essa definição é imprecisapor várias razões. As ciências são descritivas ou experimentais, mas uma descriçãoexaustiva de quais ações ou quais finalidades são ou foram chamadas, no presente e no

passado, de "boas" ou "más" encontra-se obviamente além das capacidades humanas. E osexperimentos em questões morais (sem considerar as consequências práticasinconvenientes que provavelmente propiciariam) são inúteis para os propósitos da ética,pois a consciência moral seria instantaneamente chamada para a elaboração doexperimento e para fornecer o tema de que trata o experimento. A ética é uma filosofia,não uma ciência. A filosofia é um processo de reflexão sobre os pressupostos subjacentesao pensamento irrefletido. Na lógica e na metafísica ela investiga, respectivamente, ospróprios processos de raciocínio e as concepções de causa, substância, espaço e tempo quea consciência científica ordinária não tematiza nem critica. No campo da ética, a filosofiainvestiga a consciência moral, que desde sempre pronuncia juízos morais sem hesitação, ereivindica autoridade para submeter a críticas contínuas as instituições e formas de vidasocial que ela mesma ajudou a criar.2

Quando começa a especulação ética, concepções como as de dever, responsabilidade evontade – tomadas como objetos últimos de aprovação e desaprovação moral – já estãodadas e já se encontram há muito tempo em operação. A filosofia moral, em certo sentido,não acrescenta nada a essas concepções, embora as apresente sob uma luz mais clara. Osproblemas da consciência moral, no instante em que essa pela primeira vez se tornareflexiva não se apresentam, estritamente falando, como problemas filosóficos.2

Ela se ocupa dessas questões justamente porque cada indivíduo que deseja agircorretamente é constantemente chamado a responder questões como, por exemplo, "Queação particular atenderá os critérios de justiça sob tais e tais circunstâncias?" ou "Quegrau de ignorância permitirá que esta pessoa particular, nesse caso particular, exima-sede responsabilidade?" A consciência moral tenta obter um conhecimento tão completoquanto possível das circunstâncias em que a ação considerada deverá ser executada, docaráter dos indivíduos que poderão ser afetados, e das consequências (à medida quepossam ser previstas) que a ação produzirá, para então, em virtude de sua própriacapacidade de discriminação moral, pronunciar um juízo.2

O problema recorrente da consciência moral, "O que devo fazer?", é um problema querecebe uma resposta mais clara e definitiva à medida que os indivíduos se tornam maisaptos a aplicar, no curso de suas experiências morais, aqueles princípios da consciênciamoral que, desde o princípio, já eram aplicados naquelas experiências. Entretanto, há umsentido em que se pode dizer que a filosofia moral tem origem em dificuldades inerentes ànatureza da própria moralidade, embora permaneça verdade que as questões que a éticaprocura responder não são questões com as quais a própria consciência moral jamaistenha se confrontado.2

O fato de que os seres humanos dão respostas diferentes a problemas morais quepareçam semelhantes ou mesmo o simples fato de que as pessoas desconsideram, quandoagem imoralmente, os preceitos e princípios implícitos da consciência moral produzirãocertamente, cedo ou tarde, o desejo de, por um lado, justificar a ação imoral e pôr em

dúvida a autoridade da consciência moral e a validade de seus princípios; ou de, por outrolado, justificar juízos morais particulares, seja por uma análise dos princípios moraisenvolvidos no juízo e por uma demonstração de sua aceitação universal, seja por algumatentativa de provar que se chega ao juízo moral particular por um processo de inferência apartir de alguma concepção universal do Supremo Bem ou do Fim Último do qual sepodem deduzir todos os deveres ou virtudes particulares.2

Pode ser que a crítica da moralidade tenha início com uma argumentação contra asinstituições morais e os códigos de ética existentes; tal argumentação pode se originar daatividade espontânea da própria consciência moral. Mas quando essa argumentaçãotorna-se uma tentativa de encontrar um critério universal de moralidade – sendo que essatentativa começa a ser, com efeito, um esforço de tornar a moralidade uma disciplinacientífica – e especialmente quando a tentativa é vista, tal como deve ser vista afinal, comofadada ao fracasso (dado que a consciência moral supera todos os padrões de moralidadee realiza-se inteiramente nos juízos particulares), pode-se dizer então que tem início a éticacomo um processo de reflexão sobre a natureza da consciência moral.2

A ética, independente da dimensão em que se apresenta social ou individual, tem comoobjetivo, servir à vida, sua razão é o ser humano, seu bem estar, de forma que provenha afelicidade.2

História da ética

Ética na filosofia pré-socrática

A especulação ética na Grécia não teve início abrupto e absoluto. Os preceitos de conduta,ingênuos e fragmentários – que em todos os lugares são as mais antigas manifestações danascente reflexão moral –, são um elemento destacado na poesia gnômica dos séculos VIIe VI a.C. Sua importância é revelada pela tradicional enumeração dos Sete Sábios doséculo VI, e sua influência sobre o pensamento ético é atestada pelas referências de Platãoe Aristóteles.

Mas, desde tais pronunciamentos não-científicos até à filosofia da moral, foi um longopercurso. Na sabedoria prática de Tales, um dos Sete, não conseguimos discernir nenhumateoria da moralidade. No caso de Pitágoras, que se destaca entre os filósofos pré-socráticos por ser o fundador não apenas de uma escola, mas de uma seita ou ordemcomprometida com uma regra de vida que obrigava a todos os seus membros, há umaconexão mais estreita entre as especulações moral e metafísica.

A doutrina dos pitagóricos de que a essência da justiça (concebida como retribuiçãoequivalente) era um número quadrado indica uma tentativa séria de estender ao reino daconduta sua concepção matemática do universo; e o mesmo se pode dizer de sua

classificação do bem ao lado da unidade, da reta e semelhantes e do mal ao lado dasqualidades opostas. Ainda assim, o pronunciamento de preceitos morais por Pitágorasparece ter sido dogmático, ou mesmo profético, em vez de filosófico, e ter sido aceito porseus discípulos, numa reverência não-filosófica, como o ipse dixit do mestre.

Portanto, qualquer que tenha sido a influência da mistura pitagórica de noções éticas ematemáticas sobre Platão, e, por meio deste, sobre o pensamento posterior, não podemosver a escola como uma precursora de uma investigação socrática que buscasse uma teoriada conduta completamente racional. O elemento ético do "obscuro" filosofar de Heráclito(c. 530-470 a.C.) – embora antecipasse o estoicismo em sua concepção de uma lei douniverso, com a qual o sábio buscará se conformar, e de uma harmonia divina, noreconhecimento da qual encontrará sua satisfação mais verdadeira – é mais profunda,mas ainda menos sistemática.

Apenas quando chegamos a Demócrito, um contemporâneo de Sócrates e último dospensadores originais que classificamos como pré-socráticos, encontramos algo que sepode chamar de sistema ético. Os fragmentos que permaneceram dos tratados morais deDemócrito são talvez suficientes para nos convencer de que reviravolta da filosofia gregaem direção à conduta, que se deveu de fato a Sócrates, teria ocorrido mesmo sem ele,ainda que de uma forma menos decidida; mas, quando comparamos a ética democriteanacom o sistema pós-socrático com o qual tem mais afinidade – o epicurismo – descobrimosque ela exibe uma apreensão bem rudimentar das condições formais que o ensinamentomoral deve atender antes que possa reivindicar o tratamento dedicado às ciências.

A verdade é que nenhum sistema de ética poderia ter sido construído até que sedirecionasse a atenção à vagueza e inconsistência das opiniões morais comuns dahumanidade. Para esse propósito, era necessário que um intelecto filosófico de primeiragrandeza se concentrasse sobre os problemas da prática. Em Sócrates, encontramos pelaprimeira vez a requerida combinação de um interesse proeminente pela conduta com umdesejo ardente por conhecimento.

Os pensadores pré-socráticos devotaram-se todos principalmente à pesquisa ontológica;mas, pela metade do século V a.C. o conflito entre seus sistemas dogmáticos havia levadoalgumas das mentes mais afiadas a duvidar da possibilidade de se penetrar no segredo douniverso físico. Essa dúvida encontrou expressão no ceticismo arrazoado de Górgias, eproduziu a famosa proposição de Protágoras de que a apreensão humana é o únicopadrão de existência.

O mesmo sentimento levou Sócrates a abandonar as antigas investigações físico-metafísicas. Essa desistência foi incentivada, sobretudo, por uma piedade ingênua que oproibia de procurar coisas cujo conhecimento os deuses pareciam ter reservado apenaspara si mesmos. Por outro lado, (exceto em ocasiões de especial dificuldade, nas quais se

poderia recorrer a presságios e oráculos) eles haviam deixado à razão humana aregulamentação da ação humana. A essa investigação Sócrates dedicou seus esforços.2

Ética sofistica

Embora Sócrates tenha sido o primeiro a chegar a uma concepção adequada dosproblemas da conduta, a ideia geral não surgiu com ele. A reação natural contra odogmatismo metafísico e ético dos antigos pensadores havia alcançado o seu clímax comos sofistas. Górgias e Protágoras são apenas dois representantes do que, na verdade, foiuma tendência universal a abandonar a teorização dogmática e estritamente ontológica ea se refugiar nas questões práticas – especialmente, como era natural na cidade-estadogrega, nas relações cívicas do cidadão.

A educação oferecida pelos sofistas não tinha por objetivo nenhuma teoria geral da vida,mas propunha-se ensinar a arte de lidar com os assuntos mundanos e administrarnegócios públicos. Em seu encômio às virtudes do cidadão, apontaram o caráterprudencial da justiça como meio de obter prazer e evitar a dor. Na concepção grega desociedade, a vida do cidadão livre consistia principalmente em suas funções públicas, e,portanto, as declarações pseudoéticas dos sofistas satisfaziam as expectativas da época.

Não se considerava a ἀρετἠ (virtude ou excelência) como uma qualidade única, dotada devalor intrínseco, mas como virtude do cidadão, assim como tocar bem a flauta era avirtude do tocador de flauta. Vemos aqui, assim como em outras atividades da época, adeterminação de adquirir conhecimento técnico e de aplicá-lo diretamente a assuntospráticos; assim como a música estava sendo enriquecida por novos conhecimentostécnicos, a arquitetura por teorias modernas de planejamento e réguas T (ver Hipódamo),o comando de soldados pelas novas técnicas da "tática" e dos "hoplitas", do mesmo modoa cidadania deve ser analisada como inovação, sistematizada e adaptada conformeexigências modernas. Os sofistas estudaram esses temas superficialmente, é certo, masabordaram-nos de maneira abrangente, e não é de se estranhar que tenham lançado mãodos métodos que se mostraram bem-sucedidos na retórica e tenham-nos aplicado à"ciência e arte" das virtudes cívicas.

O Protágoras de Platão alega, não sem razão, que ao ensinar a virtude eles simplesmentefaziam sistematicamente o que todos os outros faziam de modo caótico. Mas noverdadeiro sentido da palavra, os sofistas não dispunham de um sistema ético, nemfizeram contribuições substanciais, salvo por um contraste com a especulação ética.Simplesmente analisaram as fórmulas convencionais, de maneira bem semelhante a decertos moralistas (assim chamados) "científicos".

Ética Socrática e seus discípulos

A essa arena de senso-comum e vagueza, Sócrates trouxe um novo espírito crítico, emostrou que esses conferencistas populares, a despeito de sua fértil eloquência, nãopodiam defender suas suposições fundamentais nem sequer oferecer definições racionaisdo que alegavam explicar. Não só eram assim "ignorantes" como também perenementeinconsistentes ao lidar com casos particulares. Desse modo, com o auxílio de sua famosa"dialética", Sócrates primeiramente chegou ao resultado negativo de que os pretensosmestres do povo eram tão ignorantes quanto ele mesmo afirmava ser, e, em certa medida,justificou o encômio de Aristóteles de ter prestado o serviço de "introduzir a indução e asdefinições" na filosofia.

No entanto, essa descrição de sua obra é muito técnica e muito positiva, se a avaliamoscom base nos primeiros diálogos de Platão, em que o verdadeiro Sócrates encontra-semenos alterado. Sócrates sustentava que a sabedoria preeminente que o oráculo de Delfoslhe atribuiu consistia numa consciência única da ignorância. No entanto, é igualmenteclaro, com base em Platão, que houve um elemento positivo muito importante noensinamento de Sócrates, que justifica afirmar, junto com Alexander Bain, que "o primeironome importante na filosofia ética antiga é Sócrates".

A união dos elementos positivo e negativo de sua obra tem causado não poucaperplexidade entre os historiadores, e não podemos salvar a consistência do filósofo amenos que reconheçamos algumas doutrinas a ele atribuídas por Xenofonte como merastentativas provisórias. Ainda assim, as posições de Sócrates mais importantes na históriado pensamento ético são fáceis de harmonizar com sua convicção de ignorância e tornamainda mais fácil compreender sua infatigável inquirição da opinião comum.

Enquanto mostrava claramente a dificuldade de adquirir conhecimento, Sócrates estavaconvencido de que somente o conhecimento poderia ser a fonte de um sistema coerente davirtude, assim como o erro estava na origem do mal. Assim, Sócrates, pela primeira vez nahistória do pensamento, propõe uma lei científica positiva de conduta: a virtude éconhecimento. Esse princípio envolvia o paradoxo de que a pessoa que sabe o que é o bemnão pratica o mal. Mas esse é um paradoxo derivado de seus truísmos irretorquíveis: "Todaa pessoa deseja o seu próprio bem e obtê-lo-ia se pudesse" e "Ninguém negaria que ajustiça e a virtude em geral são bens; e entre todos, os melhores".

Todas as virtudes, portanto, estão sintetizadas no conhecimento do bem. Mas esse bem,para Sócrates, não é um dever que se opõe ao interesse próprio. A força do paradoxodepende de uma fusão do dever e do interesse numa única noção de bem, uma fusão queera prevalecente no modo de pensar da época. Isso é o que forma o núcleo do pensamentopositivo de Sócrates, segundo Xenofonte. Ele não podia oferecer nenhuma abordagemsatisfatória do Bem em abstrato, e esquivava-se de qualquer questão sobre esse pontodizendo que não conhecia "nenhum bem que não fosse bom para alguma coisa emparticular", mas esse bem particular é consistente consigo mesmo.

Quanto a si, estimava acima de todas as coisas a virtude da sabedoria; e, no intuito dealcançá-la, enfrentava a penúria mais severa, sustentando que uma vida assim seria maisrica em satisfação que uma vida de luxo. Essa visão multidimensional é ilustrada pelacuriosa mistura de sentimentos nobres e meramente utilitários em sua abordagem sobre aamizade: um amigo que não nos traga benefícios não vale nada; no entanto, o maiorbenefício que um amigo pode nos trazer é o aperfeiçoamento moral.

As características historicamente importantes de sua filosofia moral, se tomarmosconjuntamente (como devemos) seus ensinamentos e o seu caráter pessoal, podem sersintetizados da seguinte maneira: (1) uma busca apaixonada por um conhecimento quenão está disponível em lugar algum, mas que, se encontrado, aperfeiçoará a condutahumana; (2) simultaneamente, uma exigência de que os homens deveriam agir na medidado possível conforme uma teoria coerente; (3) uma adesão provisória à concepçãorecebida sobre o que é bom, com toda a sua complexidade e incoerência, e uma prontidãopermanente em sustentar a harmonia de seus diversos elementos, e em demonstrar asuperioridade da virtude mediante um apelo ao padrão do interesse próprio; (4) firmezapessoal em adotar essas convicções práticas. É só quando temos em vista todos essespontos que podemos compreender como, das conversações socráticas, brotaram asdiferentes correntes do pensamento ético grego.

Quatro escolas diferentes têm sua origem imediata no círculo que se reuniu em torno deSócrates – a escola megárica, a platônica, a cínica e a cirenaica. A influência do mestremanifesta-se em todas apesar das grandes diferenças que as separam; todas concordamem sustentar que a possessão mais importante do homem é a sabedoria ou oconhecimento, e que o conhecimento mais importante a ser adquirido é o conhecimentodo Bem. Aqui, no entanto, termina a concordância.

A parte mais filosófica do círculo socrático constituiu um grupo do qual Euclides de Mégarafoi provavelmente o primeiro líder. Esse grupo admitia que o Bem era objeto de umainvestigação ainda inconclusa e foram levados a identificá-lo com o segredo do universo e,desse modo, a passar da ética à metafísica. Outros, cujas exigências por conhecimentoeram mais facilmente satisfeitas e estavam ainda sob a impressão causada pelo ladopositivo e prático dos ensinamentos do mestre, tornaram a busca um assunto bem maissimples.

Consideraram que o Bem já era conhecido e sustentaram que a filosofia consistia naaplicação rígida desse conhecimento às ações. Entre esses estavam Antístenes, o cínico, eAristipo de Cirene. Em virtude de ambos terem admitido o dever de viver consistentementeconforme a teoria, em vez de conduzi-la por impulso ou pelo costume, em virtude de suanoção de um novo valor conferido à vida por meio dessa racionalização, e em virtude deseus esforços em manter uma firmeza inabalável, calma e tranquila, de têmpera socrática,é que reconhecemos Antístenes e Aristipo como "homens socráticos", apesar de teremdividido a doutrina positiva do mestre em sistemas diametralmente opostos. Acerca de

seus princípios conflitantes, podemos dizer que, enquanto Aristipo efetivou a transiçãológica mais óbvia para reduzir os ensinamentos de Sócrates a uma clara unidadedogmática, Antístenes certamente extraiu a inferência mais natural que se poderia tirar davida socrática.

Aristipo argumentava que, se tudo o que é belo ou admirável no comportamento derivaessas qualidades de sua utilidade, isto é, de sua aptidão em produzir um bem maior; e, sea ação virtuosa é essencialmente uma ação realizada com previsão – com a apreensãoracional de que a ação é o meio adequado para a aquisição daquele bem –; então aquelebem só pode ser o prazer. Aristipo sustentava que os prazeres e dores corporais são osmais incisivos, mas não parece ter defendido essa ideia em termos de uma teoriamaterialista, pois admitia a existência de prazeres exclusivamente mentais, tais comoalegrar-se com a prosperidade da terra natal.

Admitia plenamente que esse bem poderia se realizar apenas em partes sucessivas, e deuênfase até exagerada à regra de buscar o prazer do momento e não se preocupar com ofuturo. Para Aristipo, a sabedoria manifestava-se na seleção tranquila, resoluta ehabilidosa dos prazeres que as circunstâncias ofereciam de momento a momento, sem sedeixar perturbar pela paixão, pelo preconceito ou pela superstição; e a tradiçãorepresenta-o como alguém que realizou esse ideal em grau impressionante.

Entre os preconceitos dos quais o homem sábio estaria livre, Aristipo inclui a obediência àsconvenções ditadas pelo costume que não tivessem penalidades vinculadas à suatransgressão; no entanto, sustentava, assim como Sócrates, que essas penalidadestornavam razoável adotar uma postura de conformismo. Assim, logo nos primórdios dateoria ética, já aparecia uma exposição completa e minuciosa do hedonismo.

Bem diferente era a compreensão de Antístenes e dos cínicos a respeito do espíritosocrático. Eles igualmente sustentavam que nenhuma pesquisa especulativa serianecessária à descoberta do bem e da virtude, e defenderam que a sabedoria socrática nãose exibiu numa busca habilidosa pelo prazer; mas, ao contrário, numa indiferença racionalem relação ao prazer – numa nítida compreensão de que não há valor algum no prazernem em outros objetos dos desejos mais comuns acalentados pelos homens. Antístenes,com efeito, declarou taxativamente que o prazer é um mal: "É melhor a loucura que cederao prazer".

Ele não desconsiderou a necessidade de complementar o insight meramente intelectualcom a "força de espírito socrática"; mas parecia-lhe que, por uma combinação de insight eautocontrole, a pessoa poderia conquistar uma independência espiritual absoluta quenada deixaria faltar a um perfeito bem-estar (ver também Diógenes de Sínope). Pois,quanto à pobreza, à labuta extenuante, ao desapreço e aos outros males que apavoram oshomens, esses seriam úteis, argumentava ele, como meios de avançar na liberdade evirtude espiritual.

Entretanto, na concepção cínica de sabedoria, não há um critério positivo além da merarejeição dos preconceitos e dos desejos irracionais. Vimos que Sócrates não alegava terdescoberto uma teoria abstrata sobre a boa ou sábia conduta; ao mesmo tempo, entendiaessa falta, em sentido prático, como motivo para a execução confiante dos deverescostumeiros, sustentando sempre que sua própria felicidade estava condicionada a essaprática. Os cínicos, de modo mais ousado, descartaram tanto o prazer como o merocostume por considerarem ambos irracionais; mas, ao fazerem isso, deixaram a razãoliberada sem nenhum objetivo definido além de sua própria liberdade. É absurdo, tal comoPlatão apontou, dizer que o conhecimento é o bem e, depois, quando nos indagam"conhecimento de quê?" não ter outra resposta positiva senão "do bem"; mas os cínicosnão parecem ter feito nenhum esforço sério de escapar a esse contrassenso.2

As concepções mais extremas dessas duas escolas socráticas serão retomadas quandochegarmos às escolas pós-aristotélicas; mas antes devemos esboçar o modo como a teoriasocrática foi elaborada por Platão e Aristóteles.

Platão

A ética de Platão não pode ser adequadamente tratada como um produto acabado, masantes como um movimento contínuo, a partir da posição de Sócrates, em direção aosistema mais completo e articulado de Aristóteles, exceto por sugestões de teor ascético emístico em algumas partes dos ensinamentos de Platão que não encontramcorrespondência em Aristóteles, e que, de fato, desaparecem da filosofia grega logo após amorte de Platão, para bem mais tarde ressurgirem e serem entusiasticamentedesenvolvidas pelo neopitagorismo e pelo neoplatonismo.

O primeiro ponto em que podemos identificar uma concepção ética platônica distinta dade Sócrates está presente no Protágoras. Nesse diálogo, Platão envida esforços genuínos,embora nitidamente tenteadores, em definir o objeto daquele conhecimento que ele e seumestre consideravam ser a essência de toda a virtude. Esse conhecimento seria na verdadeuma mensuração de prazeres e dores por meio da qual o sábio evita erroneamentesubestimar as sensações futuras em comparação com o que se costuma chamar de "cederao medo e ao desejo".

Esse hedonismo tem intrigado os leitores de Platão. Mas não há razão para perplexidades,pois (como dissemos ao tratar dos cirenaicos) o hedonismo é o corolário mais óbviodaquela doutrina socrática segundo a qual cada uma das diferentes noções de bem – obelo, o prazeroso e o útil – deve ser de alguma forma interpretada em termos das outras.No que diz respeito a Platão, no entanto, essa conclusão só podia ser mantida enquantoele não tivesse executado o movimento intelectual de levar o método socrático para alémdo campo do comportamento humano e desenvolvê-lo num sistema metafísico.

Esse movimento pode ser expresso da seguinte maneira. "Se soubéssemos", dizia Sócrates,"o que é a justiça, seríamos capazes de apresentar uma definição da justiça"; o verdadeiroconhecimento deve ser um conhecimento do fato geral, comum a todos os casosindividuais aos quais aplicamos a noção geral. Mas isso também é verdade em relação aoutros objetos de pensamento e discurso; a mesma relação entre noções gerais e exemplosparticulares se estende por todo o universo físico; só podemos pensar e falar sobre ele pormeio de tais noções.

O conhecimento verdadeiro ou científico, portanto, deve ser um conhecimento geral,relacionado primariamente não aos indivíduos, mas aos fatos ou qualidades gerais que osindivíduos exemplificam; de fato, a noção de um indivíduo, quando examinada, mostra-secomo um agregado daquelas qualidades gerais. Mas, novamente, o objeto do verdadeiroconhecimento deve ser o que realmente existe; assim, a realidade do universo deve seapoiar em fatos ou relações gerais, e não nos indivíduos que exemplificam tais fatos erelações.

Até aqui os passos são suficientemente claros; mas ainda não vemos como esse realismológico (como foi posteriormente chamada essa posição) resulta no caráter essencialmenteético do platonismo. A filosofia de Platão está voltada para o universo inteiro do ser; noentanto, o objeto último de sua contemplação filosófica ainda é "o bem", agoraconsiderado como o fundamento último de todo o ser e de todo o conhecimento. Ou seja, aessência do universo é identificada com esse fim – a causa "formal" das coisas éidentificada com a sua causa "final", conforme a posterior terminologia aristotélica. Comoisso ocorre?

Talvez a melhor maneira de explicá-lo esteja num retorno à aplicação original do métodosocrático aos assuntos humanos. Uma vez que toda a atividade racional tem em vistaalguma finalidade, as diferentes artes e funções da indústria humana são naturalmentedefinidas por uma declaração sobre seus usos ou finalidades; analogamente, ao ofereceruma explicação sobre os vários artistas e funcionários, apresentamos necessariamente assuas finalidades – "aquilo em que eles são bons".

Numa sociedade organizada segundo os princípios socráticos, todos os seres humanosseriam designados para alguma utilidade; a essência de suas vidas consistiria em fazeraquilo em que são bons (o seu εργον próprio). Mas, novamente, é fácil estender essaconcepção para todo o campo da vida organizada; um olho que não alcança a suafinalidade de enxergar está destituído da essência do olho. Em resumo, podemos dizeracerca de todos os órgãos e instrumentos que eles são o que pensamos deles à medidaque cumprem a sua função e alcançam sua finalidade.

Assim, se concebermos organicamente todo o universo como um arranjo complexo demeios para fins, entenderemos por que Platão pode sustentar que todas as coisasrealmente são, ou (como diríamos) "realizam sua ideia", à medida que alcançam o fim ou

o bem especial para o qual foram dispostas. Mesmo Sócrates, apesar de sua aversão àfísica, foi levado pela reflexão piedosa a expor uma visão ideológica do mundo físico, ummundo organizado em todas as suas partes pela sabedoria divina para a realização dealguma finalidade divina; e a viragem metafísica que Platão imprimiu a essa visão foiprovavelmente antecipada por Euclides de Mégara, que sustentava que o único ser real é"aquilo que chamamos por diversos nomes: Bem, Sabedoria, Razão ou Deus", aos quaisPlatão, alçando a identificação socrática da beleza com a utilidade a um significado maiselevado, acrescentou o nome do Belo Absoluto, ao explicar como o amor à beleza mostra-se em última instância como um anseio pela finalidade e pela essência do ser.

Platão, portanto, aderiu a essa vasta orientação filosófica, e identificou as noções últimasda ética com as da ontologia. Temos de ver agora que atitude adotará em relação àsinvestigações práticas que foram o seu ponto de partida. Quais serão agora suasconcepções de sabedoria, virtude, prazer e de suas relações com o bem-estar?

A resposta a essa questão é algo complicada. Em primeiro lugar, temos de observar que afilosofia, agora, saiu da praça do mercado e entrou na sala de aula. Sócrates buscava umaarte de se conduzir que seria exercida num mundo prático e entre semelhantes. Mas, se osobjetos do pensamento abstrato constituem o mundo real, do qual esse mundo de coisasindividuais é apenas uma sombra, é evidente que a vida mais elevada e mais real seráencontrada naquela primeira região, não nessa última.

A verdadeira vida do espírito deve consistir na contemplação da realidade abstrata que ascoisas concretas obscuramente representam – na contemplação do arquétipo ou ideal queos indivíduos sensíveis imitam imperfeitamente; e, como o homem é mais verdadeiramentehomem à medida que se identifica com a sua mente, o desejo pelo bem de si mesmo, quePlatão, seguindo Sócrates, sustentava ser permanente e essencial em todas as coisas vivas,revela-se em sua forma mais elevada como o anseio filosófico por conhecimento.

Esse anseio surge – assim como a maioria dos impulsos sensuais – com uma percepção deque nos falta alguma coisa anteriormente possuída, alguma coisa da qual mantemos umamemória latente na alma. No aprendizado de uma verdade abstrata por demonstraçãocientífica, simplesmente tornamos explícito o que já sabíamos implicitamente; trazemos àclareza da consciência as memórias ocultas decorrentes de um estado anterior em que aalma contemplava diretamente a Realidade e o Bem, antes de ela ser aprisionada numcorpo estranho e antes da mistura de sua verdadeira natureza com os sentimento eimpulsos carnais.

Chegamos assim ao paradoxo de que a verdadeira arte de viver é, na verdade, uma "artede morrer" para os sentidos, a fim de existir em estreita união com a bondade e a belezaabsoluta. Por outro lado, dado que o filósofo deve ainda viver e atuar no mundo sensível, aidentificação socrática entre sabedoria e virtude é plenamente mantida por Platão.Somente aquele que capta o bem em abstrato pode reproduzi-lo como bem transitório e

imperfeito na vida humana, e é impossível que, dispondo desse conhecimento, não aja deacordo com ele, seja em assuntos privados, seja em assuntos públicos. Assim, noverdadeiro filósofo, encontraremos necessariamente o homem bom em sentido prático, etambém o estadista perfeito, caso a organização da sociedade permita-lhe exercer a suahabilidade estadística.

Os traços característicos dessa bondade prática no pensamento maduro de Platão refletemas noções fundamentais de sua concepção de universo. A alma do homem, em seu estadobom e normal, deve estar organizada e harmonizada conforme a orientação da razão.Surge então a questão: "Em que consiste essa ordem ou harmonia?" Para esclarecer aresposta elaborada por Platão, convém notar que, embora mantivesse a doutrina socráticade que a virtude mais elevada é indissociável do conhecimento do bem, Platão reconheciauma espécie inferior de virtude, possuída por homens que não eram filósofos.

É evidente que, se o bem a ser conhecido é o fundamento último de todas as coisas, ele sópode ser alcançado por um restrito e seleto grupo. No entanto, não podemos restringir avirtude apenas a esse grupo. Que abordagem, então, devemos dar às virtudes "cívicas"ordinárias – coragem, temperança e justiça? Parece claro que os homens que cumprem osseus deveres, resistindo às seduções do medo e do desejo, devem ter, se não conhecimento,ao menos opiniões corretas quanto ao bem e ao mal na vida humana; mas de onde viriamessas "opiniões" corretas?

Vêm em parte, diz Platão, da natureza e da "alocação divina"; mas, para seu adequadodesenvolvimento, são necessários "o costume e a prática". Daí a importância basilar daeducação e da disciplina para a virtude cívica; e mesmo para os futuros filósofos éindispensável essa cultura moral, em que também cooperam o treinamento físico e estético(uma preparação apenas intelectual não basta). O conhecimento perfeito, por outro lado,não pode ser implantado numa alma que não tenha passado por uma preparação queinclui bem mais que o treinamento físico.

O que é essa preparação? Um passo importante na análise psicológica foi dado quandoPlatão reconheceu que o efeito dessa preparação era produzir a "harmonia" acimamencionada entre as diferentes partes da alma, de modo que os impulsos sesubordinassem à razão. Platão distinguiu esses elementos não-racionais num componenteconcupiscível (το επιθυµητικον) e num componente irascível (το θυµοειδες ou θυµος) – eafirmou que a separação entre esses dois elementos, e entre esses e a razão, é estabelecidapela experiência que temos de nossa vida interior.

Nessa tripartição da alma, Platão encontrou uma concepção sistemática das quatroespécies de virtudes reconhecidas pela moral estabelecida da Grécia – mais tardechamadas de Virtudes Cardinais. Dessas, as duas mais fundamentais eram a sabedoria –que em sua forma superior identifica-se com a filosofia – e aquela atividade harmoniosa eregulada de todos os elementos da alma, que Platão toma como a essência da retidão nas

relações sociais (δικαιοσινη). O sentido desse termo é essencialmente social; e só podemosexplicar o uso desse termo por Platão numa referência à analogia que ele traça entre ohomem individual e a comunidade.

Numa polis justamente ordenada, tanto o bem-estar social como o bem-estar individualdependeriam da interação harmoniosa daqueles diversos elementos, cada um delesdesempenhando a sua função própria, a qual, em sua aplicação social, é maisnaturalmente denominada δικαιοσινη. Vemos, além disso, como na concepção platônicaas virtudes fundamentais da Sabedoria e da Justiça estão interconectadas. A sabedoriamantém necessariamente a atividade ordenada, e essa última consiste na regulação pelasabedoria; enquanto que as duas outras virtudes especiais – a Coragem (ανδρεια) e aTemperança (σωφροσινη) – são apenas lados ou aspectos diferentes dessa açãosabiamente regulada de uma alma composta.

Essas são as formas como o bem essencial se manifesta na vida humana. Resta saber se aapresentação dessas formas fornece uma explicação completa do bem-estar humano ou setambém se deve incluir o prazer. Nesse ponto, o pensamento de Platão parece ter sofridovárias oscilações. Depois de aparentemente sustentar que o prazer é o bem (Protágoras),ele passa para o extremo oposto, rejeitando qualquer assimilação entre bem e prazer(Fédon, Górgias); pois (1), sendo algo concreto e transitório, o prazer não é o bemverdadeiramente essencial que o filósofo está a buscar; (2) as sensações que maisprontamente reconhecemos como prazeres estão associadas à dor, num vínculocompletamente estranho à natureza do bem, uma vez que esse último jamais se associa aomal.

No entanto, essa era uma concepção que discordava tanto do socratismo que Platão nãopoderia permanecer nela. Que o prazer não fosse um bem absoluto não era justificativapara não incluí-lo entre os bens da vida humana concreta; além disso, somente os prazeresbrutos e vulgares estão indissociavelmente ligados às dores da carência.

Desse modo, na República, ele não receia tomar o prazer como parâmetro para responderà questão sobre a superioridade intrínseca da vida filosófica ou virtuosa, e argumenta quesó o homem filosófico (ou bom) desfruta o prazer genuíno, ao passo que o sensualistagasta a sua vida oscilando entre a carência dolorosa e o estado neutral de falta-de-dor,que ele equivocadamente toma por prazer positivo.

Ainda mais enfaticamente, declara-se nas Leis que, quando estamos "dissertando parahomens, não para deuses", devemos mostrar que a vida que estimamos como a melhor emais nobre é também aquela em que o prazer supera em maior proporção a dor. Mas,embora Platão mantenha que essa conexão inquebrantável entre o melhor e o maisprazeroso seja verdadeira e importante, é apenas em benefício do vulgo que ele dá essaênfase ao prazer; pois, na comparação mais filosófica apresentada no Filebo entre asalegações do prazer e as da sabedoria, as primeiras são completamente subjugadas.

Aristóteles

Aristóteles, em sua obra Ética a Nicômaco, afirma que a felicidade (eudemonia) nãoconsiste nem nos prazeres, nem nas riquezas, nem nas honras, mas numa vida virtuosa. Avirtude (areté), por sua vez, se encontra num justo meio entre os extremos, que seráencontrada por aquele dotado de prudência (phronesis) e educado pelo hábito no seuexercício.

Para Epicuro a felicidade consiste na busca do prazer, que ele definia como um estado detranquilidade e de libertação da superstição e do medo (ataraxia), assim como a ausênciade sofrimento (aponia). Para ele, a felicidade não é a busca desenfreada de bens e prazerescorporais, mas o prazer obtido pelo conhecimento, amizade e uma vida simples. Porexemplo, ele argumentava que ao comermos, obtemos prazer não pelo excesso ou peloluxo culinário (que leva a um prazer fortuito, seguido pela insatisfação), mas pelamoderação, que torna o prazer um estado de espírito constante, mesmo se nosalimentarmos simplesmente de pão e água.7

Para os estóicos, a felicidade consiste em viver de acordo com a lei racional da natureza eaconselha a indiferença (apathea) em relação a tudo que é externo. O homem sábioobedece à lei natural reconhecendo-se como uma peça na grande ordem e propósito douniverso, devendo assim manter a serenidade e indiferença perante as tragédias ealegrias.

Para os céticos da antiguidade, nada podemos saber, pois sempre há razões igualmentefortes para afirmar ou negar qualquer teoria, além do que toda teoria é indemonstrável(um dos argumentos é que toda demonstração exige uma demonstração e assim adinfinitum). Defender qualquer teoria, então, traz sofrimentos desnecessárias e inúteis.Assim, os céticos advogavam a "suspensão do juízo" (epokhé). Por exemplo, aquele quenão imagina que a dor é um mal não sofre senão da dor presente, enquanto que aqueleque julga a dor um mal duplica seu sofrimento e mesmo sofre sem dor presente, sendo amera ideia do mal da dor às vezes mais dolorosa que a própria dor.8

Ética na Idade Média, no Renascimento e no Iluminismo

Enquanto na antiguidade todos os filósofos entendiam a ética como o estudo dos meios dese alcançar a felicidade (eudaimonia) e investigar o que significa felicidade, na idademédia, a filosofia foi dominada pelo cristianismo e pelo islamismo, e a ética se centralizouna moral como interpretação dos mandamentos e preceitos religiosos.

No renascimento e nos séculos XVII e XVIII, os filósofos redescobriram os temas éticos daantiguidade, e a ética foi entendida novamente como o estudo dos meios de se alcançar obem estar, a felicidade e o bom modo de conviver tendo por base sua fundamentação pelopensamento humano e não por preceitos recebidos das tradições religiosas.

Espinoza, em sua obra Ética, afirma que a felicidade consiste em compreender e criar ascircunstâncias que aumentem nossa potência de agir e de pensar, proporcionando o afetode alegria e libertando-nos das determinações alheias (paixões), isto é, afirmando anecessidade de nossa própria natureza (conatus). Unicamente a alegria nos leva ao amor("alegria que associamos a uma causa exterior a nós") no cotidiano e na convivência comos outros, enquanto a tristeza jamais é boa, intrinsecamente relacionada ao ódio ("tristezaque associamos a uma causa exterior a nós"), a tristeza sempre é destrutiva.9 10 Espinosadizia, quanto aos dominados pelas paixões: "Não rir nem chorar, mas compreender."11

Visão

A ética tem sido aplicada na economia, política e ciência política, conduzindo a muitosdistintos e não-relacionados campos de ética aplicada, incluindo: ética nos negócios eMarxismo.

Também tem sido aplicada à estrutura da família, à sexualidade, e como a sociedade vê opapel dos indivíduos, conduzindo a campos da ética muito distintos e não-relacionados,como o feminismo e a guerra, por exemplo.

A visão descritiva da ética é moderna e, de muitas maneiras, mais empírica sob a filosofiaGrega clássica, especialmente Aristóteles.

Inicialmente, é necessário definir uma sentença ética, também conhecido como umaafirmativa normativa. Trata-se de um juízo positivo ou negativo (em termos morais) dealguma coisa.

Sentenças éticas são frases que usam palavras como bom, mau, certo, errado, moral,imoral, etc.

Aqui vão alguns exemplos:

“Salomão é uma boa pessoa” “As pessoas não devem roubar” “A honestidade é uma virtude”

Em contraste, uma frase não-ética precisa ser uma sentença que não serve para umaavaliação moral. Alguns exemplos são:

“Salomão é uma pessoa alta” “As pessoas se deslocam nas ruas” "João é o chefe".

Ética nas ciências

A principal lei ética na robótica é:

o Um robô jamais deve ser projetado para machucar pessoas ou lhes fazer mal. Na biologia:

o Um assunto que é bastante polémico é a clonagem: uma parte dos ativistasconsidera que, pela ética e bom senso, a clonagem só deve ser usada, com seudevido controle, em animais e plantas somente para estudos biológicos - nunca paraclonar seres humanos.

Na Programação o Nunca criar programas (softwares) para prejudicar as pessoas, como para roubar

ou espionar.

Referências

1. Dicionário Priberam da Língua Portuguesa2. Ethics, in The Encyclopaedia Britannica: a dictionary of arts, sciences, literature and general

information. 11.ª ed. New York, 1911. pp. 808-845.3. Que é Ética, Clóvis de Barros Filho, Espaço Ética4. Gilles Deleuze, Espinosa: Filosofia Prática, p.23-35. Editora Escuta5. O que é Ética. Página visitada em 11 de abril de 2008.6. Ethics: an overview (em inglês). Cornell University of Law School. Página visitada em 11 de

abril de 2008.7. Carta a Meneceus (em inglês).8. Os Céticos Gregos, Victor Brochard, pág 338, Odysseus Editora, 20099. Wolfgang Bartuscha, Espinosa, ARTMED EDITORA SA, 201010. Gilles Deleuze, Espinosa, Filosofia Prática11. Tratato Político, coleção Os Pensadores12. (Disponível em Wikipédia)

A sociedade da multimídia

Tem-se presente na era contemporânea que a maior de todas asliberdades é a liberdade de se quebrar todas as regras e se podereliminar todas as restrições às liberdades sem limites para se impor osdesejos humanos, como se fosse a maior conquista de todas dascivilizações. Vivemos a era do hedonismo, como se a humanidade estivessese livrando dos últimos grilhões de opressão.

Nem se percebe a contradição em que se encontram os apologistas daliberdade total, quando encontram barreiras legais e morais para imporemo seu modo de fruição desta pletora de liberdade.

Somos ao mesmo tempo patrulhados pelo politicamente correto, pelossustentabilistas, pelos ismos e anti-fóbicos de todo o gênero. Onde estáa liberdade? Sempre do lado dos militantes da onda anticonservadora.

O multiculturalismo e a preservação da liberdade exige o respeitoaté mesmo daquele que não preza a liberdade, por coerência ideológica, nolimite, apenas para argumentar, a liberdade é o direito de avançar até ealém dos limites das proibições. Por consequência, a liberdade somentepode ser exercida contra os limites impostos a ela, liberdade e limitessão mutuamente dependentes. Portanto, o máximo de liberdade seria acapacidade de não exercê-la quando se pode usufruir dela, pois não épossível a existência da liberdade sem a contraposição dos limites àliberdade, pois a liberdade não existe no vazio de normas para seremvioladas.

A lberdade exige a repressão à liberdade para tê-la e sê-la efetiva.A partir da contradição entre a liberdade e a repressão é que se expressao direito do possuí-la, a liberdade total.

Não existe rebeldia sem se quebrarem as normas. São dialeticamentedependentes uma depende da outra para existirem: liberdade e repressão.

O mundo civilizado depende da moeda do crédito.

Quando se faz um depósito bancário não se cogita do banqueiro fugircom o nosso dinheiro e patrimônio ali confiados. O argumento formal paraesta confiança é que as instituições fiscais e policiais do Estado nosdão a garanatia de que não seremos enganados. É pura ilusão. O nome deinstituição de crédito significa que confiamos nos bancos, e o bancoconfia em nós.

Todo devedor inadimplente apenas conseguiu o crédito ou o avalfinanceiro porque no momento da firmação do crédito o seu passadoindicava completa segurança e a expectativa de que teria capacidade ereputação para honrar o crédito agora frustrado, seja por motivo de forçamaior ou não.

Todos os devedores atingiram esta condição porque na obtenção docrédito estavam aptos a fazê-lo, e formalmente o banco ou a instituiçãocreditícia acreditando poder confiar nos seus mecanismos de avaliação ede triagem formais dos clientes aprovou a sua ficha financeira pregressaprojetando as boas expectativas do passado do cliente para ocomportamento futuro.

Um dia o devedor de hoje foi um bom cliente no passado. Acreditarque se pode confiar nos mecanismos institucionais formais como condiçãosuficiente para julgar a honestidade de comportamento dos clientes no

futuro é subestimar a condição sine qua nom do funcionamento da sociedadeque é a ética individual.

Nenhum sistema de avaliação bancário tem como impedir e substituir aética dos seus clientes.

Vivemos na sociedade, independentemente de nossas crenças e de nossavontade, submetidos a um sistema de solidariedade orgânica, segundo Mausse Durkheim. Os mecanismos de solidariedade mecânica foram introduzidospelas normas formais, mas não eliminam a necessidade da confiança entreos cidadãos e entre os indivíduos para a coalescência social.

Porque vive-se atentando para destruir os valores morais dasociedade por se presumirem que são imprestáveis, vetustos,desatualizados, e obstáculos à realização plena da liberdadecontemporânea?

Os agentes que assim raciocinam estão utilizando do mesmo mecanismoque desprezam, a solidariedade e a tolerância da sociedade para atentarcontra a sua própria liberdade. Não percebem que sem estes mecanismosinvisíveis das regras não escritas que regulam e regem o comportamentosocial, baseados em etiquetas sociais e protocolos atentam contra a sualiberdade igualitária, ou democrática de poderem agir dentro dos próprioslimites e além, os mesmos que desejam agora violar com os seus atosliberalistas.

Segundo outro filósofo inglês do século XVI, Thomas Hobbes, numapréssociedade onde quem manda é que tem mais força uma guerra de todoscontra todos logo se espalha, e as alternativas para se recobrar a mínimaordem social, segundo Hobbes é ou se estabelecer uma tirania ou formarem-se alianças entre os mais fracos para se defenderem em grupo da tiraniado mais forte.

Assim, estabelecem-se os governos. Fora a situação excepcional daanarquia social não existe alternativa senão um governo construído econstituído pela via do contrato social onde todos aderem ao mesmo porexigência da sujeição à vivência coletiva, por adesão, ao contrário dassociedades précontratuais, a sansão para a violação do contrato é amarginalização, ou no caso da sociedade firmada no contrato social, asnormas e regras institucionais prevêm a coação e a coerção do marginal.

De todas as normas sociais a única que garante a sua vigência em100% é a norma ética, por que ela se dirige à consciência do indivíduo, eé fiscalizada pelo próprio sujeito, e as sansões são de cunho pessoal esubjetivo. Esta é a pior de todas as censuras, o pior de todas apunições, a autossansão.

A mesma força e os mesmos mecanismos do individualismo utilitaristae da prática da ética não precisam ser negados para fortalecer o conceitoda solidariedade em seus fundamentos ontológicos e epistemológicos, poisnão existe contradição entre eles a não ser a contradição dialética queexigida pelo método que é a condição lógica para a construção da sínteseque é a combinação de interesses coletivos opostos que superem asatisfação dos interesses individuais antagônicos por sinestesiasistêmica, e somente podem ser percebidos estes efeitos no sistema sociala partir da experiência social experimentada pelas sociedadesconsolidadas nestas experiências, uma vez quebrada esta expectativa deconfiança nas forças sociais muito tempo se consome para se construirnovamente esta sutuação especial de maturação das relações desolidariedade orgânica.

Só se pode atentar contra a liberdade em um ambiente onde se podeexercer a liberdade. Só se pode destruir a ética em um ambiente socialonde se preservam o direito e as garantias individuais demulticulturalismo. Os rebeldes e reformadores sociais devem à ética aomulticulturalismo que pretendem destruir o seu direito de atentar contraela.

Ao destruírem a ética social vai embora junto a última oportunidadede realizarem quaisquer mudanças sociais renunciando ao uso da violência.Sem a sociedade baseada na ética a única alternativa de ordem social é atirania do hegemon. É o fim da rebeldia.

No Brasil a falta do processo histórico de construção de uma sociedadecivil democrática tem impedido que o governo encontre interlocutoressociais fora das elites, ensejando que as alocações de valores políticossejam conduzidas de acordo com os interesses de atores e agentesespecíficos que têm acesso à arena decisória restrita a estes círculos dopoder, com isto a sociedade civil fica alijada do processo de elaboraçãodas agendas do governo, do processo de encaminhamento das leis, dasdecisões e não-decisões do governo. Assim o conflito entre Estado esociedade civil acirra-se ou mascara-se, o que suscita o surgimento dasalternativas ensaiadas ao longo da História política do Brasil para amediação destes conflitos que foram: ditadura populista, autoritarismoinstitucional, autoritarismo desenvolvimentista, corporativismo,patrimonialismo e clientelismo.


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