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EFK KOERNER Quatro décadas de historiografia linguística

Date post: 07-Jan-2023
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Quatro décadas de historiografia linguística: estudos selecionados

E.F.K. KOERNER

Quatro décadas de historiografia linguística: estudos selecionados

PREFÁCIOCarlos Assunção

SELEÇÃO E EDIÇÃO DE TEXTOS DE Rolf Kemmler e Cristina Altman

COLEÇÃO LINGUÍSTICA 11

CENTRO DE ESTUDOS EM LETRAS

UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

VILA REAL • M M X I V

Título: Quatro décadas de historiografia linguística: estudos selecionados

Autor: E.F.K. Koerner

Editores: Rolf Kemmler e Cristina Altman

Prefácio: Carlos Assunção

Tradutores: Cristina Altman, Sónia Coelho, Susana Fontes, Rolf Kemmler, Marlene Loureiro, Felicidade Morais, Lineide Mosca, Teresa Silva

Revisores: Mónica Augusto, Sónia Coelho, Gonçalo Fernandes, Susana Fontes, Marlene Loureiro, Felicidade Morais, Teresa Moura

Edição: Centro de Estudos em Letras Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Coleção: LINGUÍSTICA 11

ISBN: 978-989-704-187-7

Depós. Legal: 378824/14

Data: agosto de 2014

Impressão: Publito,EstúdiodeArtesGráficas–Braga

Índice

Prefácio 7

Artigos programáticos

A importância da historiografia linguística e o lugar da história nas ciências da linguagem 9

Historiografia linguística 17

Ainda sobre a importância da historiografia linguística 29

Questões que persistem na historiografia linguística 45

Linguística e filologia: o eterno debate 65

O problema da metalinguagem na historiografia linguística 75

O problema da ‘influência’ na historiografia linguística 91

Estudos sobre questões específicas

Georg von der Gabelentz e Ferdinand de Saussure: o problema da ‘influência’ 103

William Labov e as origens da sociolinguística na América 117

Observações sobre as origens da morfofonémica na linguística estruturalista americana 139

Linguística e revolução: com referência especial para a ‘revolução chomskyana’ 175

Referências bibliográficas 221

Índice onomástico-biográfico 275

Prefácio Conhecer a evolução do pensamento linguístico ao longo da história,

devidamente integrada no contexto histórico-filosófico-intelectual, de cada época e de cada país, e assente numa visão integradora da epistemologia e da metalinguagem utilizadas ao longo dos séculos que nos permite uma cada vez melhor e mais profunda compreensão dos estudos linguísticos é uma das tarefas fundamentais da historiografia linguística.

Esta disciplina tem encontrado no Professor E. F. Konrad Koerner um dos mais profícuos cultores em todo o mundo. Com efeito, o investigador alemão foi, desde cedo, um dos principais ideólogos da historiografia linguística, ao defender “[...] an approach to History of Linguistics which is conscious of methodological and epistemological requirements in adequate history-writing in linguistics as one would expect in any science» (Koerner 2006: 2805), estabelecida «[...] as an activity founded on well-defined principles which can rival, in terms of soundness of method and rigour of application, those of linguistics itself» (Koerner 2006: 2814).

Com o presente volume Quatro décadas de historiografia linguística: estudos selecionados, do Prof. Koerner, pretende o Centro de Estudos em Letras (CEL), da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, também ela a celebrar o seu quadragésimo aniversário, prestar uma tríplice homenagem ao distinto linguista, a quem se agradece, desde já, a autorização para a tradução e divulgação de algumas das suas publicações em língua portuguesa.

Em primeiro lugar, o Centro de Estudos em Letras visa homenagear o seu mais ilustre colaborador por ocasião do septuagésimo quinto aniversário do seu nascimento, que se celebrou em 5 de fevereiro de 2014. Homenagear o aniversa-riante mas fundamentalmente parabenizar o homem e o intelectual que, passadas muitas décadas, continua imbrincado no seu labor editorial e intelectual com grande energia e acutilância.

Em segundo lugar, pretende homenagear-se a atividade editorial do Prof. Koerner que, com a publicação do primeiro número da revista Historiographia Linguistica e a série de livros Studies in the History of the Language Sciences (SiHoLS), marca o início de quatro décadas de atividade editorial na área das ciências da linguagem - historiografia linguística. Com efeito, se a revista e a série de livros editados pelo Prof. Koerner constituíram as primeiras publicações que se dedicaram, com regularidade, a aspetos da história da linguística, foram surgindo outras revistas e outras séries de livros ao longo das mesmas décadas. Para além da atividade editorial, destaca-se, também, a organização, de 28 a 31 de agosto de 1978, da primeira edição do International Conference on the History of the Language Sciences (ICHoLS), realizada na Universidade de Ottawa. De organização trienal, as subsequentes edições tiveram lugar em Lille (1982),

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Princeton (1984), Trier (1987), Galway (1990), Washington (1993), Oxford (1996), Fontenay-St. Cloud (1999), São Paulo-Campinas (2002), Urbana-Champaign (2005), Potsdam (2008), Sankt-Peterburg (2011) e Vila Real (2014), esta com organização do Centro de Estudos em Letras da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

Em terceiro lugar, e na consideração de que a maioria das publicações do Prof. Koerner é publicada em língua inglesa, quis o Centro de Estudos em Letras presentear o autor com uma seleção dos seus estudos traduzidos para a língua de Fernando Pessoa e Manuel Bandeira, a língua portuguesa, editados por Rolf Kemmler, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, e Cristina Altman, da Universidade de São Paulo, que reunindo as traduções portuguesas já publicadas quer no Brasil, quer em Portugal, as reviram e a que acrescentaram a tradução de mais cinco artigos de relevo, traduzidos especialmente para o presente volume.

O livro Quatro décadas de historiografia linguística: estudos selecionados apresenta-se dividido em duas partes: artigos programáticos e estudos sobre questões específicas. Todos os textos incluídos nesta obra são marcantes e deter-minantes na afirmação da historiografia linguística quer do ponto de vista teórico-metodológico que enforma todo o pensamento linguístico do autor quer, ainda, do seu profundo conhecimento histórico e de uma visão muito alargada da cultura.

Sob orientação dos editores, Quatro décadas de historiografia linguística: estudos selecionados constitui, também, um trabalho coletivo da equipa de historiografia linguística do Centro de Estudos em Letras. Assim, e em nome dos editores, agradece-se aos membros do CEL – Mónica Augusto, Sónia Coelho, Gonçalo Fernandes, Susana Fontes, Marlene Loureiro, Felicidade Morais, Teresa Moura e Teresa Silva – o empenho na elaboração das novas traduções e na revisão e atualização das traduções já publicadas.

Vila Real e Centro de Estudos em Letras, julho de 2014

Carlos Assunção Diretor do Centro de Estudos em Letras

A importância da historiografia linguística e o lugar da história nas ciências da linguagem*

1 Introdução O ponto em questão neste trabalho não é se a história da linguística chega a

entediar o linguista até à morte, como pode muito bem ser o caso com uma série de investigadores envolvidos naquilo que Thomas S. Kuhn (1922-1966) acertadamente chamou as ‘operações quebra-cabeças’ da ‘ciência normal’ (Kuhn 1962). Na verdade, raramente cheguei a conhecer um linguista que não estivesse de uma forma ou de outra interessado na história das ideias linguísticas. Na minha opinião, isso tem pouco a ver com a questão de saber se a linguística é uma ciência exata, uma ciência empírica, ou meramente uma ciência especulativa; talvez seja simplesmente porque a linguística é essencialmente uma ciência humana e social, em todo o caso uma Geisteswissenschaft, servindo como ponto de origem das investigações a curiosidade do ser humano sobre si mesmo, a sua intelectualidade.

Se, portanto, a maioria dos estudiosos que trabalham em linguística estiver realmente interessada na história da sua disciplina, a questão a que, julgo, deveríamos dirigir-nos diz respeito à relevância essencial da história da linguística para a disciplina como um todo – uma questão que sinto que requer uma discussão urgente atendendo ao facto de que o número de pessoas que dedicaram a sua atenção ao estudo de temas específicos, temas recorrentes, ou épocas em estágios iniciais da linguística, tem vindo a crescer de forma constante ao longo das últimas décadas, apesar de a história da linguística ainda não ter vindo a ser integrada como uma parte regular da formação dos estudantes em linguística.

Para colocar a questão em termos negativos e de uma forma algo mais franca: será que – como os historiadores das ciências se têm vindo a perguntar em várias ocasiões – o estudo da sua história chega a travar o progresso da própria ciência (cf. Synge 1958), na medida em que, como sugeriu o físico S. G. Brush em 1974, deveria ser atribuído um certificado ‘X’ à história da ciência, devendo ser disponibilizada exclusivamente a estudantes maduros e investi-gadores experientes?

Antes de abordar esta questão e a fim de oferecer aquilo que acredito ser uma resposta viável, deixe-me primeiro tentar esboçar o tipo de história da linguística que tenho em mente.

* [Observação sobre a tradução: a presente tradução foi elaborada por Rolf Kemmler e Maria da Felicidade Morais com base no artigo “The Importance of Linguistic Historiography and the Place of History in Linguistic Science” (Koerner 1974b, 1978), publicado pela primeira vez em língua portuguesa em Koerner (2012b).]

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2 Os três tipos de estudo histórico de Nietzsche Há mais de cem anos, na segunda parte intitulada “Vom Nutzen und

Nachtheil der Historie für das Leben”1 das suas Unzeitgemäße Betrachtungen (Nietzsche 1874), o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) partiu da suposição geral de que o homem, o animal pensante, estava a precisar de algum tipo de história. De facto, Nietzsche considerou uma correlação entre os vários tipos de disposição humana e o tipo de tratamento histórico escolhido, o que o levou a distinguir entre três abordagens distintas no estudo da história (Nietzsche 1874, 254ss.): (1) a monumental (‘monumentalisch’), (2) a antiquária (‘antiquarisch’) e (3) a abordagem crítica (‘kritisch’) – que servem para entender a história em relação a) àquele que é ativo e que se esforça (‘Thätiger und Strebender’), b) àquele que é conservador e reverente (‘Bewahrender und Verehrender’) e c) àquele que sofre e necessita de libertação (‘Leidender und der Befreiung Bedürftiger’), respetivamente.

Nietzsche achava que o grande homem, por exemplo, iria procurar o tipo monumental da história, uma abordagem que está essencialmente relacionada com os acontecimentos do passado como uma sucessão de grandes homens e do modo como eles fizeram o seu caminho através da história – na história da linguística vêm à mente os ‘trailblazers’ de Jakobson, ou seja, os linguistas polacos Jan-Baudouin de Courtenay (1845-1929) e Mikołaj Kruszewski (1851-1887). Embora possa ser verdade, como Nietzsche (1882, I, § 34) sugeriu noutro lugar, que todo o grande homem tem a sua influência retrospetiva, isto é, que a história é reescrita em vista do seu impacto presente, não posso concordar com este tipo de tratamento histórico, que, curiosamente, parece ser aceite por um número considerável de linguistas modernos que sentem que a caça de Chomsky aos antepassados é legítima. Assim, pode citar-se um ilustre estudioso que não pode ser considerado como pertencendo ao campo gerativo:

[...] as a progenitor of a new scientific view, he [Chomsky, EFKK] must seek ancestors; furthermore, Thomas S. Kuhn (The Structure of Scientific Revolutions, Chicago, 1962) has forewarned us that, after any scientific revolution, scholars will set about rewriting history so as to make it lead inevitably to the new faith (Moulton 1970: 284).

Quem já trabalhou na história da linguística durante uns anos, mantendo

uma mente bastante aberta, vai reconhecer que uma abordagem nestes moldes é questionável.

No entanto, devo admitir que também não estou inteiramente satisfeito com o segundo tipo de escrever história mencionado por Nietzsche, um tipo que aparentemente pensava ser de importância para o bem-estar do ‘homem médio’. Na verdade, a natureza deste tipo de atividade histórica é essencialmente a 1 ‘Sobre a utilidade e desvantagem da história’ [isto é, do estudo da história, EFKK] para a vida”. Cf. as Considerações Extemporâneas do autor (Nietzsche 1999).

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reverência aos antepassados, sendo conservadora no sentido original da palavra: todas as coisas antigas e passadas serão aceites como igualmente veneráveis, na medida em que a inovação e o crescimento serão rejeitados, ou pelo menos objeto de resistência. Nietzsche (1874: 264) observou isso como o possível perigo do tratamento antiquário da história.

Eu próprio (Koerner 1974b) distingui noutro âmbito entre quatro formas de lidar com a história da linguística e parece que, provavelmente, dois deles podem ser subsumidos no tipo antiquário ou conservador, ao procurar tentativamente caraterizar as atividades de Chomsky e dos seus seguidores – tanto quanto o tratamento do nosso passado linguístico está em causa – como o tipo propagandístico de escrever história.

Sem dúvida, o tipo conservador de escrever história (que até hoje tem sido o tipo predominante) tem os seus inconvenientes, talvez porque os seus autores compartilham o otimismo subconsciente de que a delimitação do desen-volvimento de uma dada disciplina envolve a ilustração de um crescimento constante de conhecimento, um aumento de sofisticação, etc., naquela área de estudos, muitas vezes juntamente com a tendência de manter o que até ao momento foi alcançado, em vez de tentar abrir-se para uma possível rutura com a tradição. A este respeito, a abordagem propagandística da história da linguística pode ter os seus benefícios, desde que a sua natureza liberal (‘whiggish’) seja reconhecida. Um tal estudo do passado com referência ao presente foi adequadamente caraterizado por Herbert Butterfield (1900-1979) há uns 80 anos, nos seguintes termos:

Through this system of immediate reference to the present-day, historical personages can easily be classed into the men who furthered progress and the men who tried to hinder it; so that a handy rule of thumb exists by which the historian can select and reject, and can make his points of emphasis (Butterfield 1931: 11).

Não são necessários mais comentários a esta ‘interpretação Whig da

história’ (Butterfield)2, a referência às atividades contemporâneas na história da linguística parece bastante clara.

Não quero sugerir, no entanto, que o trabalho de estudiosos que classifiquei entre os do tipo ‘antiquário’ ou ‘conservador’ tenha sido de nenhuma importância para o assunto. Por uma questão de facto, as histórias mais informativas da linguística foram escritas mais ou menos dentro deste tipo de quadro.

E mesmo assim, a menos que queiramos que a história da linguística venha a tornar-se ‘a discipline apart’ (cf. Kuhn 1971: 272), uma empresa por si mesma, como alguns historiadores da ciência tendem a acreditar que deveria ser o seu trabalho, devemos insistir que a forma tradicional de escrever a história da

2 Veja-se o título Whig interpretation of history da obra de Butterfield (11931).

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linguística seja, pelo menos, cuidadosamente revista, a fim de contribuir significativamente para a própria disciplina.

Eu, por exemplo, tenho defendido outra aproximação à história da linguística (cf. Koerner 1972c), para a qual optei pelo termo ‘historiografia’. O que entendo por este termo parece estar em linha com o terceiro método de Nietzsche de tratar a história, o crítico, apesar de não achar que o significado de ‘urteilend’ (crítico) deva ser estendido para incluir a implicação de ‘verurteilend’ (condenando), como sugeriu Nietzsche (1874: 265). No entanto, ‘verurteilend’, no sentido de ‘passar julgamentos’, teria de ser incluída na abordagem crítica, como pode tornar-se evidente a partir da minha argumentação abaixo.

3 Rumo a uma historiografia linguística Numa declaração programática (Koerner 1972c), indiquei quais deveriam

ser as linhas através das quais o historiador da linguística deve proceder a fim de estabelecer uma verdadeira historiografia linguística, ou seja, a atividade científica fundamentada em termos bem definidos e em princípios metodológicos que podem rivalizar com os da própria disciplina, pelo menos em relação à pertinência descritiva. Além disso, tentei demonstrar num estudo sobre o desenvolvimento das ideias estruturais e procedimentos de análise linguística (Koerner 1975a) de que forma essas propostas podem ser postas em prática.

Não tenciono repetir aqui o que já referi sobre os pré-requisitos por parte do historiador das ideias linguísticas. Basta lembrar que deve estar familiarizado tanto com aquilo a que Thomas S. Kuhn chamou de ‘ciência normal’,3 como com a atmosfera intelectual geral, os fatores extralinguísticos, a situação socioeconómica, etc., que, juntos, podem ter tido, de uma forma ou de outra, um impacto sobre as ideias acerca da linguagem e sobre as teorias linguísticas e métodos de análise que são caraterísticos de um determinado período no desenvolvimento da ciência linguística. A noção paradigmática de Kuhn e o conceito de Carl Becker dum ‘clima de opinião’4 – se redefinidos com o propósito de escrever a história da linguística – parecem-me ser os pilares sobre os quais uma historiografia linguística pode repousar.

A historiografia linguística que proponho tem uma missão importante a realizar dentro da disciplina como um todo. O facto de a história da linguística poder perfeitamente constituir uma chave muito valiosa para uma melhor compreensão e apreciação da história das ideias em geral só pode reforçar o seu significado.

Três razões, se não quatro, podem ser dadas para explicar porque a história da linguística deve ter um lugar dentro da própria disciplina.

3 O termo original empregue pelo teórico americano da história das ciências é ‘normal science’ (Kuhn 1962: 10). 4 O termo ‘climate of opinion’ vem do historiador americano Carl Lotus Becker (1873-1945).

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Em primeiro lugar, a historiografia linguística, na medida em que é orientada para a teoria, fornece ao cientista a perspetiva e a distância que lhe permitirão distinguir ganhos significativos dentro da disciplina de ‘teorias’ imaturas e alegações infundadas (que este conhecimento histórico possa impedi-lo de dogmatismo na teoria linguística e levá-lo à moderação e à aceitação de uma diversidade de pontos de vista possíveis parece-me um produto secundário que dificilmente pode ser sobrevalorizado no atual debate linguístico).

Em segundo lugar, a historiografia linguística fornece ao linguista praticante material para obter conhecimento sobre o desenvolvimento do seu próprio campo. Esse conhecimento constitui a diferença entre o cientista e o assistente de laboratório: o cientista sabe de onde vieram as técnicas e quais são as suas limitações; o assistente de laboratório, dominando somente a arte do ofício, não o sabe (além disso – como demonstrou Benware (1974) em relação à tríade vogal de Grimm –, o linguista vai estar ciente de que a adesão estrita a um credo particular e a aceitação das teorias com base em autoridade podem de facto colocar um travão ao desenvolvimento da disciplina).

Em terceiro lugar – em conjunto com os dois argumentos acima mencionados a favor do estabelecimento da história das ideias linguísticas como parte da formação geral de um linguista –, a historiografia linguística, ao proporcionar a experiência do desenvolvimento da própria disciplina em que se inscrevem os linguistas, promove a habilidade no julgamento de teorias novas ou opostas, e, assim, ao mesmo tempo, protege-nos contra a aceitação de forma acrítica de reivindicações excessivas a favor de uma determinada teoria linguística.

Finalmente, embora este aspeto possa ter pouca influência sobre o ponto em questão, a historiografia linguística permite ao estudioso participar em esforços científicos que se encontram fora de sua própria vida, pois passam desta forma a ampliar a sua experiência pessoal: se lermos a Memoire de 1878 (Saussure 1879) com o espírito apropriado, ficamos realmente a experienciar a luta de Saussure com as perplexidades da inflexão vocálica indo-europeia.

A reivindicação de que uma historiografia da linguística assim concebida merece um lugar seguro dentro da ciência da linguagem será o assunto da parte final deste artigo.

4 Um apelo para o estabelecimento da história da linguística como parte da formação geral dos linguistas Num comentário sobre a relação entre a ciência e a arte, Kuhn (1969: 407-

408) notou que “[...] science destroys its past”, ou seja, que o trabalho de Einstein e Schrödinger, por exemplo, tornou o de Galilei e Newton em grande parte irrelevantes, tendo o ‘paradigma de Einstein’, por assim dizer, substituído o quadro de referência definido por Newton e outros. Em contrapartida, observamos que a arte de Picasso não tornou a pintura de Rembrandt obsoleta. Se aceitarmos a exatidão geral desta observação, podemos perguntar-nos que

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função a história da ciência, uma área bem estabelecida nas universidades, tem para o avanço da ciência, e na verdade podemos questionar a sua relevância até mesmo para uma melhor compreensão da história, se a queixa de Kuhn (1971: 271-272) de os estudantes de história raramente terem assistido aos seus cursos é aplicável para a disciplina em geral. Há, no entanto, em muitas universidades, cátedras não só para a história da ciência, mas também para a história da economia, a história da medicina, e aquelas dedicadas a outras disciplinas – algo que pode parecer surpreendente, atendendo ao facto de que as antigas teorias em economia foram substituídas por outras novas e mais adequadas e as novas descobertas na medicina, por exemplo, terem feito com que os manuais de medicina de há duas ou três décadas pareçam antigos e de pouco mais interesse do que outras curiosidades que se encontram nas feiras de velharias.

A linguística pode ser uma ciência exata com respeito a certas questões metodológicas e procedimentos de análise. No entanto, não se pode argumentar que uma determinada teoria torna geralmente outras teorias concorrentes obsoletas, no sentido de ocorrer uma mudança de paradigma, uma ‘revolução’ percebida no sentido kuhniano do termo, que exige justamente a adesão estrita de todos os membros da comunidade científica que querem permanecer dentro da disciplina (que a adesão ou não adesão a uma determinada visão específica tem frequentemente exercido uma influência sobre a carreira de um indivíduo é um problema diferente e não pode ser considerado como relevante para a presente argumentação). Na realidade, estamos todos a testemunhar uma diversidade de pontos de vista em questões relacionadas com a teoria linguística geral e o tratamento de determinados aspetos de análise gramatical que não teria sido possível há uns cinquenta anos.

Mesmo se recuarmos o início da linguística como ciência para somente há 190 anos, o estudo da linguagem pode orgulhar-se de uma tradição tão longa como o da química ou o da biologia, por exemplo. É, por isso, curioso verificar que, enquanto estas ciências naturais têm gozado da criação de cursos dedicados à história da sua própria disciplina, não existe nenhum procedimento semelhante em relação à linguística, uma disciplina em que a coexistência de visões teóricas divergentes e procedimentos metodológicos opostos constitui possivelmente o elemento mais importante.

Tendo em conta este estado de coisas, podemos perguntar-nos se o trabalho dos historiadores da ciência tem uma base científica mais sólida, ou de que outra forma pode ser explicada a aparente prosperidade da história da ciência (o facto de as ciências em geral receberem mais apoio governamental e de outras partes pode ser considerado como apenas um dos fatores envolvidos, e não necessariamente um fator determinante).

A minha intuição é que a história da linguística ainda não se desenvolveu suficientemente para ser reconhecida a nível geral como um contributo significativo para o universo de conhecimentos. Mesmo dentro da própria

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disciplina, os estudantes da linguística geralmente não consideram a história da linguística como um campo viável de atividade académica séria.

Aqueles que concordam comigo, que um relato de como chegámos aonde estamos hoje, deveria desempenhar um papel essencial na formação de um linguista, são convidados a entrar na discussão sobre o ‘estado da arte’ na história da linguística e como esta poderá ser remediada, de modo a que a historiografia linguística seja um dia capaz de desempenhar o seu devido papel no âmbito das ciências da linguagem.

Historiografia linguística* 1 Definições Ao olhar para a história da linguística – agora também designada de ‘história

das ciências da linguagem’ numa tentativa de alargar a área de estudo – como uma disciplina de estudo académico sério desde o ponto de vista dos inícios do século XXI, é óbvio que o desenvolvimento conseguido nos últimos cerca de 30 anos tem sido encorajador. Hoje em dia, o que é normalmente referido como ‘historiografia linguística’ (forma abreviada da designação mais precisa ‘historiografia das ciências da linguagem’, em que o termo ‘ciência’ no sentido estrito da ‘ciência natural’ é claramente evitado) constitui uma investigação metodologicamente informada e a apresentação de acontecimentos passados na evolução da disciplina designada de ‘linguística’ ou ‘ciências da linguagem’. Se a atividade de estabelecer as res gestae do estudo da linguagem é chamada de ‘historiografia linguística’, o seu resultado deveria ser designado de ‘história da linguística’. Por outras palavras, a ‘história da linguística’ é o produto e não a atividade de a estabelecer. A permanente discussão em torno de questões relativas ao método, à filosofia e à epistemologia é chamada de ‘meta-historiografia’. Esta tripla distinção entre a história da linguística, historiografia linguística e meta-historiografia parece já ter sido aceite atualmente (para uma descrição detalhada sobre este assunto, veja-se Hüllen 2002: 16-42). Discussões acerca de outros metaníveis (p. ex., Schmitter 2003b) são contraproducentes, especialmente porque tantos detalhes do passado linguístico ainda precisam de ser revelados, tantos mitos e fables convenues expostos e a verdade (tanto quanto possível) sobre eles estabelecida.

O conceito atual de ‘historiografia linguística’ distingue-se da compreensão tradicional do termo, que simplesmente se referia à narração de acontecimentos passados. Assim, a maioria das contribuições para a obra de dois volumes intitulada Historiography of linguistics (1975), editada sob a direção geral de Thomas A. Sebeok, foi constituída por pouco mais do que relatos baseados em investigações anteriores, sendo aqui a ‘historiografia’ usada no tradicional sentido do termo. Atualmente, a ‘historiografia linguística’ deve ser entendida como uma atividade consciente metodológica e epistemologicamente da escrita da história, como a esperaríamos da historiografia de qualquer outra ciência. A história da linguística amadureceu, tendo-se consolidado como uma disciplina bona fide de interesse académico. Neste sentido, surgem teses de doutoramento, são organi-zados congressos especializados na área, a investigação passou a ser financiada e são oferecidos cursos nos departamentos de Estudos Germânicos, Românicos, ou

* [Observação sobre a tradução: a presente tradução elaborada por Susana Fontes com base no manuscrito fornecido pelo autor, baseia-se na entrada “Historiography of Linguistics” em The Encyclopedia of Language and Linguistics (Koerner 1994b).]

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Eslavos e obviamente linguísticos, para não mencionar outras atividades (veja-se abaixo) que apontam para uma profissionalização da área.

2 Motivações para escrever a história da linguística Ao olhar para os últimos cerca de 125 anos de escrita da história sobre a

linguística, é possível reconhecer três tipos distintos, dos quais cada um deles apresenta diferentes motivos para os autores se dedicarem a esta atividade, para além de ocorrerem num período específico do desenvolvimento desta disciplina. Um quarto tipo (defendido por Koerner 1972c, 1976, por exemplo) desenvolveu-se apenas nas últimas quatro décadas e considero que deveria ser chamado de ‘historiografia linguística’, em contraste com a designação não descritiva ‘história da linguística’, para assinalar um importante desenvolvimento na escrita da história sobre a linguística.

2.1 Compilar histórias da linguística Há um tipo de história que surge num momento em que uma geração

particular ou um indivíduo, que representa as ideias, convicções e compromissos da sua geração, está convencido de que uma meta desejada – uma espécie de patamar – foi alcançada e de que o trabalho que se segue nessa área estará largamente relacionado com ‘mopping up operations’ (Kuhn 1962: 24). Estes relatos pressupõem que o quadro teórico já tenha sido suficientemente delineado para que um membro ordinário da comunidade científica possa conduzir as suas investigações, para além de significar que já não há qualquer necessidade de uma revisão essencial da metodologia ou da abordagem ao tema em análise. O resultado destas considerações pode ser descrito, com mais precisão, como a compilação de histórias que consideram a evolução da área como tendo decorrido de uma forma essencialmente unilinear, com os desenvolvimentos mais recentes a representarem um avanço relativamente a atividades anteriores.

Esta ideia ou o motivo para escrever tal tipo de história parece ter a sua melhor expressão na volumosa Geschichte der Sprachwissenschaft und orientalischen Philologie (1869) de Benfey, que apareceu um ano depois da morte prematura de Schleicher. No entanto, outros trabalhos neste período, como por exemplo a Geschichte der germanischen philologie (1870), de Raumer, poderia ser citada como uma obra que reflete um Zeitgeist similar.

Hoje em dia, torna-se difícil recriar o ambiente dos finais da década de 1860, mesmo que nos limitemos a assuntos linguísticos, deixando fora de consideração as correntes externas, como por exemplo as sociopolíticas, as histórias disponíveis atualmente fornecem-nos muito pouca, ou nenhuma informação, acerca deste período pré-neogramático. Basta relembrar que as obras de Bopp, Rask, Grimm, e outros foram suficientemente sintetizadas e metodologicamente desenvolvidas pela geração de Georg Curtius (1820-1885) e, especialmente, August Schleicher (1821-1868), a ponto de podermos dizer que ocorreu naquele tempo uma mudança de ‘paradigma’, da qual os princípios neogramáticos da investigação linguística

Historiografia linguística 19

histórica, associados aos nomes dos seus antigos alunos, nomeadamente Karl Brugmann (1849-1919) e August Leskien (1840-1916), constituiriam, ainda que um pouco exagerado, o resultado lógico.

Uma observação semelhante acerca dos motivos da escrita da história poderia ser feita relativamente à história de 1924 de Holger Pedersen (1867-1953), que se debruça sobre os resultados dos indo-europeístas do século XIX e que foi precedida de um relato semelhante e mais reduzido da sua primeira história, publicada em 1916, ano da conclusão da segunda edição da obra Grundriss der vergleichenden Grammatik der indogermanischen Sprachen de Brugmann (e também de Delbrück na primeira edição) e da publicação do Cours de linguistique générale, obra póstuma de Saussure. A necessidade de uma tal compilação da história talvez esteja expressa, mais claramente, no empreendimento volumoso de Wilhelm Streitberg (1864-1925), intitulado Geschichte der indogermanischen Sprachwissenschaft seit ihrer Begründung durch Franz Bopp. No entanto, esta é mais uma síntese do trabalho desenvolvido nos vários ramos da filologia indo-europeia até àquele tempo do que uma verdadeira ‘história da linguística’ (para mais detalhes, leia-se Koerner 1978d: 16-17). Tendo começado em 1916, este empreendimento seria abandonado depois de 1936.

Após a Segunda Guerra Mundial, parece que as histórias de Malmberg (1964 [original sueco 11959]), Ivić (1965 [original servocroata 11963]), Leroy (1963) e outros cumpriram uma função semelhante de compilar os resultados alcançados anteriormente na ciência linguística. Porém, nesta altura, o foco da atenção situava-se no período da história da linguística do pós-1916, seguindo-se à história de sucesso do Cours de Saussure, com a sua ênfase numa abordagem não-histórica à linguagem. O quadro neogramático de investigação linguística foi proposto nas histórias de Pedersen, nos esforços organizacionais de Streitberg a partir de 1916 e noutros livros menos influentes. Poder-se-á acrescentar que Pedersen, um neogramático da segunda geração, reflete a orientação positivista daquela escola mais enfaticamente do que o grupo original de investigadores (note-se que nem o Einleitung de Delbrück, nem o Prinzipien de Paul são mencionados no seu estudo de 300 páginas de 1931). Foi apenas recentemente que os neogramáticos receberam um tratamento mais adequado (por exemplo, Einhauser 1990, Morpurgo Davies 1999: 226-278). Do mesmo modo, as histórias de Malmberg, Ivić, Leroy e outros estudos semelhantes dos anos sessenta apresentam as tendências pós-saussureanas como os feitos mais significativos da disciplina até hoje, quer sejam da escola de Copenhaga, Praga ou de Bloomfield. Eles esforçaram-se por apresentar, tal como Benfey, Raumer, Pedersen, Streitberg e outros pertencentes a uma fase inicial do desenvolvimento da linguística, um quadro de investigação, no qual eles próprios cresceram, e concomitantemente tentaram manter a força e o impacto do modo estruturalista de pensamento.

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2.2 Histórias da linguística comemorativas ou propagandísticas O segundo tipo de atividade de escrita da história pode ser caraterizado pela

intenção, por parte de um indivíduo normalmente nos seus trinta anos (não com quarenta ou mais, como geralmente acontece no primeiro tipo: Benfey tinha sessenta anos quando apareceu o seu livro), novamente representando um grupo particular, em lançar uma campanha para se opor a visões anteriormente apreciadas e a doutrinas ainda em vigor.

Deste modo, em contraste com Benfey (1869), por exemplo a obra Einleitung de 1880 (6.ª e última edição em 1919), de Berthold Delbrück (1842 -1922), juntamente com a obra Prinzipien de Paul, do mesmo ano (quinta e última edição em 1920), serviram para dar voz a uma nova geração de investigadores, ansiosos por demonstrarem que as suas conquistas ultrapassaram significativamente as ante-riores e que as suas teorias substituíram legitimamente as ensinadas pela geração anterior de linguistas. A reivindicação a favor da descontinuidade é o que carateriza este tipo de atividade e o livro de Delbrück é o melhor exemplo deste esforço. Normalmente, Schleicher era descrito por Delbrück (1882: 55) como representando a conclusão da fase da gramática histórico-comparativa, inaugurada por Franz Bopp em 1816, e os Junggrammatiker, com os quais se associou nos inícios da sua carreira (logo depois de ter recebido a cadeira de Schleicher na Universidade de Jena em 1873), como marcando uma nova viragem decisiva na área.

Nenhuma história comparável da linguística foi escrita nas décadas de 1930 ou 1940 no que respeita ao estruturalismo, mas um olhar sobre a obra Language (1933: 3-20) de Bloomfield ou sobre Foundations of language (1939: 419-460) de Louis Herbert Gray (1875-1955) claramente sugere que os capítulos dedicados à história da linguística foram uma tentativa de corrigir o desenvolvimento da disciplina e de documentar a superioridade da abordagem estruturalista em relação a qualquer outra teoria ou método que surgiu até agora. Este esforço para provar que as abordagens anteriores seriam insuficientes e inadequadas não foi de forma alguma esquecido pelos seguidores de uma visão atual do pensamento linguístico. Pelo contrário, pode facilmente ser mostrado que os seus defensores não só estavam ansiosos por reavivar o interesse pela história da linguística, mas também por reescrevê-la de forma a que as ideias da geração anterior à atual parecessem menos dignas de atenção.

De facto, o que Voegelin / Voegelin, em 1963, felizmente denominaram de ‘eclipsing stance’, aspeto que a gramática gerativa-transformacional já tinha iniciado, foi ilustrado de melhor forma pelo próprio Noam Chomsky, por exemplo na sua conferência plenária em 1962, no Ninth International Congress of Linguists, realizado em Cambridge, Massachusetts, no ano de 1962 (Chomsky 1964a). Pouco tempo depois, muitos dos seus seguidores empenharam-se ardentemente em escrever a sua visão particular da história (compare-se os artigos de Dingwall 1963, Bach 1965 ou Bierwisch 1966a). Mais recentemente, em 1980, Frederick Newmeyer publicou um livro que constitui o melhor exemplo, até à data, deste tipo “whiggish” de escrita da história pro-domo. A obra seleciona e

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reinterpreta a investigação linguística passada com o intento de provar a sua ideia de que a linguística só se constituiu enquanto ciência em 1955 ou em 1957, e por Chomsky, e que o trabalho anterior era totalmente inadequado, exceto algumas abordagens menos importantes que anunciavam uma ‘revolução’ na área (para uma avaliação crítica deste tipo de atividade, cf. Koerner 1983b e, mais recentemente, 2002: capítulo 8).

Enquanto o primeiro tipo de escrita da história, isto é, o tipo que pretende compilar, pode parecer mais benigno, uma vez que parece representar relatos objetivos (embora não devêssemos estar muito seguros sobre isto), o segundo tipo de História da linguística poderá ser mais bem descrito pela sua natureza propagandística, sendo o melhor exemplo deste tipo a obra Cartesian linguistics (1966) do próprio Chomsky.

Este livro apresenta o ponto de vista do autor relativamente às origens das suas próprias teorias de forma tão brilhante que muitos jovens estudantes da linguagem foram levados por esta nova visão da história. Hoje em dia, ainda podemos descobrir uma considerável quantidade de informação útil nas histórias escritas com a finalidade de resumir o trabalho anterior desenvolvido na área, como por exemplo os trabalhos de Benfey, Raumer, Pedersen e outros – se bem que tenhamos bastante consciência dos seus preconceitos e das suas imperfeições (para uma avaliação destes trabalhos, cf. Hoenigswald 1986 e Koerner 1990a/b). Por sua vez, as histórias da segunda categoria, embora escritas muito mais recentemente, já estão ultrapassadas. Parece que, conseguido o propósito propagandístico de alcançar seguidores para a nova ideologia, estes trabalhos rapidamente perdem o seu impacto inicial e o valor informativo. Depois da publicação da segunda edição de Language and mind (Chomsky 1972), raramente vemos qualquer referência histórica no seu trabalho, exceto quando se refere às ideias de Saussure e Jespersen (cf. Koerner 1994a). Os comentários mais recentes sobre o assunto (Chomksy 1997a e 1997b) não podem ser levados a sério e foram alvo de crítica em Joseph (1999a).

2.3 Histórias isoladas da Linguística (Problemgeschichte) Há, possivelmente, um terceiro tipo de história da linguística que nem

pretende defender um quadro específico ou ‘paradigma’, nem tenta apresentar um argumento a favor de uma revolução científica dentro da disciplina. Este tipo pode ocorrer em qualquer momento do desenvolvimento de um campo específico de investigação, uma vez que a sua intenção final é menos partidária do que nos outros dois casos e tem frequentemente uma atitude mais holística, embora a motivação para o trabalho possa ser bastante pessoal. Na minha opinião, o melhor exemplo é a obra Sprachwissenschaft (1955) de Arens (2a edição aumentada, 1969), na qual foi feita uma tentativa de delinear o desenvolvimento do pensamento linguístico ocidental desde o início das discussões entre os gregos acerca da natureza da linguagem, até ao trabalho linguístico contemporâneo, certamente para demonstrar que a nossa disciplina não só percorreu um longo

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caminho para consolidar os conhecimentos agora apreciados e os métodos desenvolvidos, mas também que todos nós nos baseamos, conscientemente ou não, nos resultados das gerações anteriores de linguistas e que devemos muito mais a estes estudiosos do que temos consciência.

Se esta terceira forma de apresentar a história da linguística poderia ter sido o resultado de uma escolha individual, na verdade, parece expressar o esforço de uma geração inteira de investigadores, particularmente na reconstrução de uma disciplina depois da sua quase total destruição após uma guerra mundial. Deste modo, o livro de Pedersen, de 1931, poder-se-á incluir na terceira categoria, na medida em que procurou restabelecer uma tradição linguística que, na sua opinião, deveria ter continuado a servir como uma base sólida para o trabalho subsequente no campo da linguística histórico-comparativa depois da Primeira Guerra Mundial. Mas a visão que Pedersen tem da linguística não pode ser comparada à visão muito mais isolada de Arens relativamente à evolução da linguística durante os séculos XIX e princípios do século XX.

Indubitavelmente, outros motivos, frequentemente não-linguísticos, de uma maneira ou de outra, desempenharam um papel na apresentação da história da disciplina. Assim, deveria ser recordado que determinadas condições socioeconómicas, acontecimentos históricos ou situações políticas frequentemente tiveram uma influência considerável na motivação de escrever a história de uma disciplina específica ou na aceitação de um quadro teórico de investigação ou modo de pensamento aparentemente novos – e, a este nível, as histórias da linguística não conseguiram consciencializar-nos do impacto de assuntos ou acontecimentos fora da área. As obras de Benfey e Raumer, por exemplo, foram altamente motivadas pela ascensão do nacionalismo alemão (como sugerem os respetivos prefácios) e pela aspiração a uma unidade nacional, se não superioridade, da Alemanha entre os poderes europeus. O facto de estes sentimentos poderem ter desempenhado um papel quando, depois da Primeira Guerra Mundial, a ciência linguística alemã já não dominava em muitas partes do mundo, foi salientado por Malkiel (1969b: 557), que observou que o sucesso do Cours de Saussure

[...] cannot be properly measured without some allowance for the feelings of that time: The acceptance of the leadership of a French-Swiss genius connoted for many Westerners then opposed to Germany a strongly desired, rationalized escape from the world of Brugmann, Leskien, Osthoff, and Paul.

2.4 Historiografia linguística Apesar do respeito que os investigadores podem ter por obras do terceiro tipo,

como exemplificado pela Problemgeschichte de Arens, alguns sentiram a necessidade de um quarto tipo de escrita da história (cf. Koerner 1972c, 1976 e Simone 1975 para manifestações precoces desta perspetiva), que consistia na apresentação do nosso passado linguístico como uma parte integrante da própria disciplina e, ao mesmo tempo, como uma atividade fundada em princípios bem

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definidos, que pode competir, em termos de solidez do método e rigor de aplicação, com os da própria linguística. Este quarto tipo, hoje normalmente designado de ‘historiografia linguística’, reivindica que a história da linguística não deveria ser meramente subserviente à disciplina, mas deveria assumir uma função comparável à da história da ciência para o cientista das ciências naturais. Em síntese, ao re-conhecer a importante distinção entre crónica e história, os recentes investigadores que contribuíram para a história da linguística deram um passo à frente ao distinguir história e historiografia. Esta é, em parte, uma tentativa para deixar claro o afastamento relativamente ao trabalho anterior desenvolvido na área, que muito frequentemente tendiam a ser histórias partidárias ou aquilo que Herbert Butterfield denominou de ‘Whig-histories’, e em parte porque as histórias anteriores não proporcionavam um guia útil para o tratamento adequado de acontecimentos passados na história das ciências da linguagem, não conseguindo, por isso, oferecer uma melhor perceção do rumo para onde as teorias atuais nos podem levar.

Os anos 1980 viram surgir uma variedade de estudos que oferecem linhas alternativas de conduta historiográfica, debatem sobre a abordagem adequada à história da linguística e sugerem formas que poderiam levar a um tratamento mais apropriado (por exemplo, Schmitter 1982, Grotsch 1982, Christmann 1987). No entanto, ainda não se estabeleceu consenso relativamente à forma de proceder na historiografia linguística e há indicações de que o debate irá continuar durante algum tempo. Talvez seja bom sinal.

3 Esforços na história da linguística de meados do século XX Surgiram, nos anos 1960, novas publicações e, por vezes, alguns estudos

esclarecedores na história da linguística, talvez a começar com o trabalho de 1960 de Paul Diderichsen (1905-1964), acerca do seu compatriota Rasmus Rask (tradução alemã, Diderichsen 1976b). Seguiram-se obras como as de Ivić (1963; tradução inglesa, 1965), Leroy (1963; tradução inglesa, 1967), Tagliavini (1963), Malmberg (1964), Lepschy (1966; tradução inglesa, 1970), Mounin (1967), Robins (1967), Coseriu (1969, 1972), Helbig (1970), Szemerényi (1971), Jankowsky (1972) e outras (veja-se Koerner 1978d, para uma lista exaustiva até 1976).

No entanto, a maioria deles baseou-se, sem uma perspetiva crítica, em relatos anteriores e raramente se aventurou em questões de método historiográfico ou tocou em assuntos relacionados com a filosofia da ciência, excetuando-se talvez um aceno popular à Structure of scientific revolutions (1962) de Kuhn. A maior parte destes livros é hoje largamente esquecida, sendo, por vezes, citada para crítica. Muitos deles foram produzidos a seguir ao ‘big splash’ de Chomsky com a sua conferência plenária, em 1962, no Ninth International Congress of Linguists, realizado em Cambridge, Massachusetts (Chomsky 1962a, 1964a), no qual ele se referiu, pela primeira vez, aos seus antepassados recentemente descobertos. Estas obras seguiam a tendência passageira da época. Entre os livros deste período, a Short history (1967) de R. H. Robins mostrou um ‘staying power’ enorme. Penso que parte da sua popularidade se deve ao facto de ter sido a única obra escrita por

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um falante nativo de inglês e, por isso, ficou à parte de qualquer crítica à obra de Chomsky, incluindo as suas últimas incursões pela história da linguística, sendo que era de uma dimensão que a pudesse tornar útil como um manual de ensino. Como todas as outras obras do seu tempo, a sua narrativa elegante não pode disfarçar as suas falhas científicas. Acredito que hoje já nos apercebemos do grau de complexidade da disciplina de modo que nenhuma pessoa razoável se aventurará a empreender uma tentativa semelhante a cobrir 2500 anos de história ocidental da linguística em apenas 200 páginas. A tentativa do falecido Bertil Malmberg de 1991 pode ser descrita de forma mais carinhosa como um Alterswerk, a obra de alguém demasiadamente velho para ler os sinais dos tempos, para não mencionar a investigação dos últimos vinte ou mais anos. Uma obra destas, baseada em pouca investigação original, pertence justamente aos anos 1960 (a este nível, considera-se mais bem sucedido o esforço levado a cabo por Swiggers, em 1997, realizado por um investigador que nasceu cerca de 40 anos mais tarde).

No que diz respeito à investigação individual, verificou-se que a concentração num tema específico, em vez da tentativa de abordar muitos assuntos e muitos séculos, foi mais bem conseguida, como por exemplo, a reabilitação dos gramáticos bizantinos por Robins (1993); a monografia de Morpurgo Davies, dedicada à linguística histórico-comparativa do século XIX (1999); a investigação de Graffi (2000) relativamente ao trabalho desenvolvido na área da sintaxe nos séculos XIX e XX; ou a primeira parte de uma história da linguística românica, de Coseriu e Meisterfeld (2003).

4 Os estudos mais recentes da história da linguística Durante os anos 1960, a seguir a várias reivindicações feitas por Chomsky de

que as suas teorias tiveram pouco a ver com as atividades dos seus antecessores imediatos e dos seus contemporâneos, mas, em vez disso, seguiam tradições bastante diferentes, tais como as da gramática de Port Royal, e de Wilhelm von Humboldt, a maior parte das teses de doutoramento desenvolvidas no âmbito da história da linguística era dedicada somente a estas áreas de interesse, distorcendo, por vezes, seriamente a verdadeira intenção e propósito destes autores anteriores. Por exemplo, a Minerva de Sanctius era estudada por causa de uma recente recu-peração do interesse por parte dos gerativistas pelo fenómeno da elipse, um assunto para o qual Sanctius deu um importante contributo (cf. Breva-Claramonte 1983).

Só desde os anos 1970 – e, poderei dizer, de forma bastante independente da obra Cartesian linguistics de Chomsky, – a seguir à criação da primeira revista desta área, em 1973, intitulada Historiographia Linguistica, e na sequência de várias séries de monografias compiladas sob a designação abrangente de ‘Amsterdam Studies in the Theory and History of Linguistic Science’, começaram a surgir obras sérias que desafiavam este tipo pro-domo de escrita da história. Estas e outras atividades organizadas (veja-se abaixo) conduziram ao muito mais recente campo de estudos, agora geralmente chamado de ‘historiografia linguística’ (cf. Koerner 1995a), uma abordagem da história da linguística que tem consciência das

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exigências metodológicas e epistemológicas que estão presentes numa escrita da história adequada em linguística, como acontece em qualquer outra disciplina (cf. ‘Desafios remanescentes em historiografia linguística’ para ver o resultado de décadas mais recentes).

5 A consolidação da historiografia linguística Outro sinal de que a história da linguística se tornou uma área de atividade

científica mais madura é a sua geral profissionalização. Em 1978, o primeiro International Conference on the History of the Language Sciences (ICHoLS) teve lugar em Ottawa, Canadá, no mesmo ano em que a Société d’Histoire et d’Épistémologie des Sciences du Langage (S.H.E.S.L.) foi fundada em Paris. Em 1984, a Henry Sweet Society for the History of Linguistic Ideas (HSS) foi estabelecida em Oxford e desde então surgiram várias sociedades semelhantes internacionais e regionais, como por exemplo, a sociedade holandesa Geschiedenis van de Taalwetenschap (Amsterdão) e a alemã Arbeitskreis Geschichte der Sprachwissenschaft (Münster).

A North American Association for the History of the Language Sciences (NAAHoLS) foi criada em 1987, seguida pelo estabelecimento, na Itália, da sociedade de orientação histórica Società di Filosofia del Linguaggio (SFL), em 1994, e a Sociedad Española de Historiografía Lingüística (SEHL), fundada em Espanha em 1995. Até mesmo fora da Europa, em finais da década de 1990, foram criadas sociedades de história da linguística, fundadas, por exemplo em São Paulo e na Cidade do México. Estas associações e muitas outras organizaram e continuam com alguma regularidade a organizar encontros científicos, a nível nacional e internacional. Vários deles realizam-se de uma forma regular, com participantes vindos de muitos países.

Entretanto, outros encontros do ICHoLS decorreram com uma periodicidade trienal: em 1981 (Lille, França), 1984 (Princeton, NJ), 1987 (Trier, Alemanha), 1990 (Galway, Irlanda), 1993 (Washington, DC), 1996 (Oxford), 1999 (Fontenay, perto de Paris) e 2002 (São Paulo), 2004 (Urbana Champaign, E.U.A.), 2008 (Potsdam, Alemanha) e 2011 (St. Petersburg, Rússia), com a 13.ª edição programada para 2014 (Vila Real, Portugal). Estes encontros do ICHoLS têm normalmente atraído mais de 100 participantes de uns 20 países diferentes, mostrando-se úteis ao facultar a ligação entre os vários membros das sociedades nacionais ou regionais. Desde o seu início, as atas do ICHoLS têm sido publicadas de uma forma regular, pelo que estas refletem o progresso que se fez sentir na área (cf. p. ex. Koerner 1980a, Aarsleff / Kelly / Niederehe 1987, Niederehe / Koerner 1990, Ahlqvist 1992, Jankowsky 1995, Cram / Linn / Nowak 1999; Auroux / Arpin / Lazcano / Léon 2002).

Para além de fornecer fóruns para intercâmbios viva voce numa escala mais ampla, convém não nos esquecermos da importância de periódicos especializados e séries de monografias, que facultam meios de divulgação à investigação na disciplina. Além da Historiographia Linguistica, surge em Paris, em 1979, uma

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segunda revista com objetivos semelhantes, intitulada Histoire - Épistémologie - Langage, sendo lançada, em 1991, em Münster, Alemanha, uma terceira revista designada Beiträge zur Geschichte der Sprachwissenschaft. Em suma, se a profissionalização desta área se constituir como indicador, a história da linguística passou a tornar-se um campo de investigação científica amplamente reconhecido e praticado. No que diz respeito às monografias em história da linguística, todos concordarão que o seu número tem vindo a aumentar continuamente, como se pode confirmar pela secção “Publications Received” da Historiographia Linguistica, que ilustra claramente este desenvolvimento.

No seu prefácio, de 1978, à minha primeira coletânea de artigos, R. H. Robins identificou três “types of writing required in the history of linguistics,” para além de “most primary stage of research,” nomeadamente a edição e a publicação de textos que ainda não tinham sido editados. Este tipo de trabalho já tinha sido feito em vários lugares, por exemplo, na série ‘Grammatica Speculativa’, publicada pela editora Frommann-Holzboog de Stuttgart (mais recentemente, Kelly 1996), para além de muitos outros. De acordo com Robins (in Koerner 1978a: xii–xiii), estes três ‘tipos’ são:

1 General theoretical and methodological essays on the historiography of linguistics: what should the history of an academic discipline such as linguistics set out to achieve and how should it be undertaken for this purpose? Opinions, of course, differ on both these questions; a case in point is the applicability or nonapplicability of the Kuhnian concept of a scientific paradigm to the history of linguistic science.

2 Studies more restricted in their time and place, devoted to particular trends and movements of thought on language and the development of particular linguistic concepts.

3 Biographical accounts of the work of individual scholars who have been influential in the course taken by linguistic science during some part of its history.

Quem conhece os meus trabalhos dedicados à história da linguística nas

últimas quatro décadas ou mais pode concordar que tentei contribuir para todas as três áreas. Se fui bem sucedido ao fazê-lo, compete aos outros julgar. No entanto, penso que, em muitos lugares do mundo, incluindo vários países não mencionados no presente trabalho, podemos seguramente referir que todos estes três tipos de trabalho historiográfico – se não quatro, incluindo a edição de textos anteriormente inéditos – foram amplamente desenvolvidos.

Esta pode ser uma rápida tour d’horizon pela nossa área, sempre a falar em termos gerais e sem fazer reclamações em particular sobre a investigação nas várias áreas específicas de investigadores individuais, quer seja o Siglo de Oro espanhol, o século XVII na Grã-Bretanha, le siècle des Lumières, os princípios da Idade Média, o período clássico ou qualquer outro, seja na tradição ocidental ou não. Pela minha parte, só posso reivindicar conhecimento da linguística europeia e norte-americana dos séculos XIX e XX (por exemplo, Koerner 2002) e normalmente não me aventuro muito fora deste território. Acredito que todos os

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historiógrafos atuais concordam que uma investigação mais eficaz, mesmo em áreas como os clássicos (por exemplo, Taylor 1987), os inícios ou finais do período medieval (por exemplo, Law 1993 e Ebbesen 1995, respetivamente) ou qualquer outro período na história do pensamento linguístico, seja mais bem desenvolvida por uma equipa de especialistas do que por um investigador a trabalhar individualmente.

6 Desafios remanescentes em historiografia linguística Apesar de todos os resultados referidos até agora – e sei que apenas toquei a

superfície daquilo que, na verdade, tem sido feito em historiografia linguística, especialmente durante os últimos 20 ou mais anos – penso que não há muitas razões para estar satisfeito. Embora saiba que tenho de deixar à próxima geração o papel de assegurar a continuidade e a qualidade de investigação na área, sinto que temos de nos manter vigilantes, não nos acomodarmos e lembrarmo-nos de que a história da linguística deve permanecer uma parte integrante das ciências da linguagem e não uma secção em separado, quer organizacionalmente, quer filosoficamente. Em geral, devemos atender à recente observação de Raffaele Simone “Purus historicus est asinus” (Simone 1995, cf. também Koerner 2003a).

No lado prático, existem algumas obras de grande envergadura, tais como a Geschichte der Sprachtheorie de Peter Schmitter (1987, vários volumes até 2007), a Histoire des idées linguistiques de Auroux (1989, 1992, 2000), e a Storia della linguistica de Lepschy (1994-1998). Neste contexto, estou inclinado a chamar um Jahrhundertwerk na nossa área, o manual trilingue History of the language sciences / Histoire des sciences du langage / Geschichte der sprachwissenschaften editado por mim, em conjunto com Hans-Josef Niederehe, Kees Versteegh, e Sylvain Auroux (Auroux / Koerner / Niederehe / Versteegh 2000-2006, 3 volumes). Os editores e cerca de 250 autores individuais trabalharam aplicadamente para tornar realidade esta primeira ‘world history of the language sciences’. Até à altura, a Concise history of the language sciences: From the Sumerians to the cognitivists, editada por mim e por Ron Asher, terá servido para satisfazer as necessidades de aqueles que estavam interessados na história mais recente da linguística (Koerner / Asher 1995: 221-368).

Mas há também outras preocupações. Não penso que os receios expressos por Frederick Newmeyer, em 1996, na sua coletânea de textos sobre a história do gerativismo no Norte da América, se apliquem necessariamente a nós, mas é de suspeitar que parte deles possa. Na sua introdução, referiu que muitos dos seus colegas “[...] feared that I would become tarred with the brush of being an ‘historian of linguistics’, who, [...], occupy a status level even lower than that of a ‘semiotician’” (Newmeyer 1996a: 2). Pouco mais adiante, o autor explica

That this attitude results from the belief that most people who write on the history of linguistics have only the most minimal training in modern linguistics and devote their careers to attempting to demonstrate that their pet medieval

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grammarian or philosopher thought up some technical term before somebody else’s pet medieval grammarian or philosopher (Newmeyer 1996a: 2).

Não acredito que devemos encarar esta aparente caricatura de uma forma muito séria. Por um lado, estou de acordo com Newmeyer, nomeadamente no que respeita ao facto de que um historiador da linguística também devia ser um linguista. Isto pode não se aplicar, com o mesmo rigor, à linguística pré-oitocentista (embora não só à linguística ‘moderna’, isto é, à linguística gerativa), mas não posso imaginar ninguém a perceber a obra de Pāṇini, por exemplo, sem que tenha trabalhado arduamente como gramático de Sânscrito. É também de referir que outros autores, mais recentemente, expressaram a sua preocupação relativamente ao estatuto da historiografia linguística e ao seu impacto na linguística propriamente dita (Schreyer 2000, Schmitter 2003a), preocupações estas que merecem a nossa atenção (Koerner 2005g).

Há outros assuntos de historiografia linguística – para além da batalha contínua para a legitimação e o apoio institucional – com os quais continuo preocupado. Estes dizem respeito a questões de metodologia e epistemologia, mas também ao que pode ser chamado de ‘quality control’ (cf. Koerner 2005g). Já abordei algumas destas questões metodológicas em artigos dedicados ao conceito de ‘metalanguage’ (cf. capítulos em Koerner 1989a e 1995a), ao argumento frequentemente descuidado de ‘influence’ (por exemplo, Koerner 1987b) e a outros assuntos, tentando apresentar uma síntese dos potenciais problemas de discordância em questões de método no âmbito de ICHoLS VI, em 1993 (Koerner 1995b).

Parece-me que um consenso mais alargado sobre estas questões seria desejável para um desenvolvimento complementar da disciplina e não só relativamente à linguística no Terceiro Reich (veja-se, por exemplo, Hutton 1999, Hausmann 2000, Knobloch 2004). Mas isto implica a vontade da comunidade científica, de modo a fazer face a estes desafios (cf. Koerner 2005h, para um estudo mais detalhado). Um assunto importante na historiografia linguística que requer mais atenção do que tem recebido é o assunto da ideologia na argumentação linguística (por exemplo, Koerner 2000, 2001a, 2004b).

Ainda sobre a importância da historiografia linguística*

Como pode ser mostrado na história, aqueles

que não têm nenhum passado, normalmente também não têm qualquer futuro.

Manfred Fuhrmann1 1 Observações introdutórias Já lá vão uns quarenta anos que tenho estado a argumentar sobre a

importância da história da linguística, e mesmo que nem toda a gente tenha ficado convencida pelos argumentos, o clima de opinião realmente chegou a mudar. Durante os inícios dos anos 1970, nas fases iniciais do esforço de institucionali-zação da história da linguística como uma disciplina bona fide da instrução dentro da própria linguística, parecia natural fazer-se um apelo forte à exatidão metodológica da historiografia linguística para tornar a disciplina respeitável aos olhos de 'verdadeiros' linguistas para quem linguística significava 'teoria' (veja-se Koerner 1972c, 1976 como exemplos desta abordagem). Esta atitude original em relação aos assuntos históricos pode, pelo menos inicialmente, ter estado relacionada com o êxito de Cartesian Linguistics (1966) de Chomsky, uma vez que Chomsky estava de certo modo a combinar a teoria com um interesse de encontrar antecedentes para o que estava a fazer. Mesmo que este tipo de persegui-ção ao antepassado, uma abordagem essencialmente presentista e anti-histórica, foi desacreditado de imediato, as incursões de Chomsky no passado linguístico permitiram que uma ocupação com este tipo de atividade parecesse legítima para vários norte-americanos durante finais dos anos 1960 e inícios dos anos 1970.2

Na Europa, como também entre os linguistas nascidos na Europa a viver na América, uma aproximação histórica a muitos assuntos teve uma longa tradição e isto pode explicar o facto de as reações dos estudiosos às Cartesian Linguistics de Chomsky serem quase universalmente críticas, às vezes bastante asperamente assim (cf. Koerner / Tajima 1986: 24-26 que lista umas 30 resenhas só do original inglês). Este interesse europeu de longa data pela história da linguística também explicaria o grande número de manuais nesta área que tinham sido escritos antes de 1966, desde Delbrück em 1880 até Leroy (1963), Malmberg (1964), ou Ivić * [Observação sobre a tradução: a presente tradução foi elaborada por Rolf Kemmler e Susana Fontes com base no artigo “In Lieu of a Conclusion: On the importance of the history of linguistics” (Koerner 2005e) que constitui o último texto da coletânea Toward a History of American Linguistics (Koerner 12002, 22005a).] 1 “Wie sich durch Beispiele aus der Geschichte belegen läßt, pflegt derjenige, der keine Vergangenheit hat, auch keine Zukunft zu haben” (Fuhrmann 2001: 111). 2 Para uma crítica desta abordagem ingénua ao assunto, vejam-se as minhas resenhas de Peter H. Salus sobre On Language: Plato to von Humboldt (1969; cf. Koerner 1970b) e do mesmo autor Pāṇini to Postal: A Bibliography in the History of Linguistics (1971; cf. Koerner 1973d).

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(1965). Estes dois últimos já tinham sido escritos antes de 1959 em sueco e servo-croata, respetivamente, isto é, vários anos antes do Ninth International Congress of Linguists, realizado em Cambridge (Massachusetts), em agosto de 1962, onde Noam Chomsky se aventurou pela primeira vez na linguística anterior ao século XX (Chomsky 1962a, 1964a, 1964b).

No entanto, desde finais dos anos 1970, a história da linguística passou a ser uma disciplina reconhecida como atividade científica séria, sobretudo na Europa, mas também noutras partes, e parece a muitos no campo que uma discussão da raison d’être da disciplina não é requerida (dada a minha experiência norte-americana de longa data no que respeita a assuntos históricos, talvez me seja permitido manifestar uma opinião divergente, já que a minha intenção nunca foi a de convencer as pessoas, por exemplo, na Alemanha, Itália ou Espanha, de que uma perspetiva histórica seria desejável para o nosso trabalho em linguística ou filosofia da língua. Isto teria significado levar carvão a Newcastle, já que nestes e em muitos outros países tem havido uma tradição de longa data de ver os assuntos de um modo histórico).

Na América do Norte, a situação não é toda cor-de-rosa. Com o advento do estruturalismo nas suas várias articulações (descritivismo bloomfieldiano, gerativismo chomskyano, etc.), os aspetos históricos geralmente tinham ficado pelo caminho.3 As Cartesian Linguistics de Chomsky deram um aumento inicial à história da linguística e provavelmente motivaram o editor de Current Trends in Linguistics para ter, como a pedra final do seu edifício multi-volume começado em inícios dos anos 1960, uma Historiography of Linguistics em dois volumes (Sebeok 1975). Mas não pode ser dito que qualquer destes empreendimentos produziu muita atividade científica útil no campo, e provavelmente nenhum deles realmente podia fazê-lo: a obra de Chomsky na realidade não era nenhuma história, mas como ele lhe chamaria hoje, uma narração do modo como ele pensa que as coisas deveriam ter acontecido, mas não o fizeram,4 e os volumes de Sebeok contêm contribuições que se debruçam sobre registos passados da história da linguística, mas pouca investigação original – certamente não uma demonstração de como o trabalho nesta área deveria ser levado a cabo.5 Poderia ainda acrescentar que ainda hoje, a North American Association for the History of the Language Sciences (NAAHoLS), fundada em finais de 1987, tem menos de cem sócios, e que não costuma haver mais do que uma dúzia de comunicações a serem apresentadas nas reuniões anuais

3 Isto também afetou grandemente a linguística histórica, notavelmente entre 1933 (o ano de publicação de Language de Bloomfield) e os anos oitenta (gostaria de acreditar que o lançamento de Diachronica em 1984 ajudou no regresso da disciplina, especialmente durante os anos 1990). 4 Veja-se as suas opiniões mais recentemente publicadas sobre a história da linguística (Chomsky 1997). 5 Na realidade, grande parte da discussão metodológica na minha própria contribuição para o projeto (Koerner 1975b) foi apagada do manuscrito pelos editores.

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que regularmente têm lugar junto com aqueles da Linguistic Society of America (que conta “about 4,000 personal members”).6

2 A utilidade da história de uma disciplina para a área em geral Dada a tradição utilitária nos países anglo-saxões, sempre senti, depois de ter

vivido, ao todo, durante mais de trinta anos na América do Norte, que seria bom, senão necessário, demonstrar a utilidade de uma disciplina como a da história da linguística para as ciências que lidam com a linguagem. Hoje em dia, com a redução mundial de instituições académicas, particularmente nas áreas das artes liberais e das ciências sociais, esta tarefa pode ser até mesmo mais difícil de ser levada a cabo, se bem que pareça que aquilo que Richards (1999: 44) identificou como “[...] a probably transient culturally reflective mood obsessed by fin de siècle and a sense of heritage”, pode ter criado a impressão de que existe um entendimento forte de história no ar que poderá beneficiar uma disciplina 'esotérica' como a história da linguística. Se esta avaliação for adequada, parece que podem ser necessários, pelo menos na América do Norte, os esforços continuados para explicar a utilidade da disciplina. Sei que os meus colegas europeus sentem, perante a existência de quatro revistas dedicadas à disciplina e de alguns periódicos secundários adicionais (boletins informativos, blogues, etc.), séries de monografias, muitos congressos especializados de cariz regional e internacional, bem como de sociedades científicas em muitos países, que já não há nenhuma necessidade de fazer lobby para um lugar da história da linguística dentro da linguística tout court. Gostaria de pensar que eles têm razão.

Permanece interessante observar que disciplinas como a história da medicina e a história da ciência, por exemplo, geralmente são disciplinas florescentes na América do Norte; até mesmo a história da psicologia e a história de filosofia são disciplinas bem estabelecidas na investigação e instrução universitária. Assim poder-se-ia perguntar pertinentemente porque a história da linguística tem sido menos bem sucedida. Até mesmo se datarmos o início da linguística como ciência como tendo ocorrido há 200 anos, o estudo da linguagem pode ostentar uma tradição que é tão longa como a da química ou da biologia. É, por isso, curioso observar-se que, ao passo que estas ciências naturais (e algumas ciências sociais) desfrutaram do estabelecimento de cursos dedicados à história da sua própria disciplina, nenhum arranjo comparável existe em relação à linguística. A ciência da linguagem, uma área na qual a coexistência de visões teóricas divergentes e de procedimentos metodológicos possivelmente contrastantes, precisaria, a meu ver, de uma perspetiva mais histórica, não menos do que, digamos, a medicina moderna estaria a precisar da história para guiar a sua compreensão das ciências da saúde na atualidade.

6 Informação fornecida por Margaret W. Reynolds, então Diretora Executiva da LSA (e-mail para o autor de 8 de abril de 1999).

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Devido a este estado das coisas em relação à história da linguística, podemos

ter que perguntar-nos se o trabalho dos historiadores de outras disciplinas tem uma base científica mais sã, ou como a prosperidade aparente da história da ciência pode ser explicada de outra maneira. O facto de as ciências naturais (e a medicina) receberem em geral mais apoio governamental e outros apoios públicos pode ser considerado como um dos fatores envolvidos, mas não necessariamente o único ou o mais importante.

2.1 A introdução à área da linguística através da sua história O uso mais óbvio da história da linguística é o de apresentar ao neófito a

disciplina da linguística propriamente dita, até aos vários modos de pensar sobre o que a área considera como o seu objeto de investigação e os métodos e conceitos que compõem o seu jogo de ferramentas essencial. Quando um estudante acaba de compreender os fundamentos, porém, existe a probabilidade de que a história da disciplina, a génese da sua formação de conceitos, a consciência das metas variáveis da linguística durante o longo desenvolvimento de preocupação humana com a língua tende ser abandonada, se alguma vez chegou a ser discutida. Agora, o estudante será treinado nas ciências da linguagem e nas suas partes componentes como a sintaxe, fonologia, morfologia e várias áreas de especialidade hifenizadas; ser-lhe-ão facultados o pensamento atual naquelas áreas de interesse e as ferramentas para participar no trabalho das subdisciplinas particulares. Talvez o estudante possa nunca vir a ser educado para desenvolver uma consciência da relatividade da sua prática linguística – a não ser, claro, que o instrutor tenha a visão de que um estudante deve ter um fundamento sólido da herança que informa sobre a atividade da atual de investigação.7

Duvido que a questão é se a história da linguística aborrece o linguista comum, como bem pode ser o caso de vários investigadores ocupados com o que o falecido Thomas S. Kuhn (1970: 35) chamara operações ‘puzzle-solving’ de ‘normal science’. Para colocar a questão em termos negativos e de uma forma algo mais franca: será que – como os historiadores das ciências se têm vindo a perguntar em várias ocasiões – o estudo da sua história chega a travar o progresso da própria ciência (cf. Synge 1958), na medida em que, como sugeriu o físico S. G. Brush em 1974, deveria ser atribuído um certificado ‘X’ à história da ciência, devendo ser disponibilizada exclusivamente a estudantes maduros e investigadores experientes?

Admito que pelo que me toca, me desagrada ouvir e ler que Noam Chomsky costuma ser reconhecido por aquilo que Catherine Chvany (1996: 234) chamou a ‘by now swollen notion’ de ‘mark’ e ‘markedness’, pois sinto que seria de esperar que todos os linguistas corretamente educados soubessem que este conceito teve a 7 Com a finalidade de apresentar aos estudantes um leque amplo dos quadros em linguística geral no século XX, como também as teorias de sintaxe, morfologia e outros assuntos, os vários artigos individuais em Koerner / Asher (1995: 221-419) podem revelar-se especialmente úteis. Até ao aparecimento do terceiro tomo de History of the Language Sciences (Koerner / Auroux / Niederehe / Versteegh 2000-2006, 3 vols.), este volume de 1995 serviu como a melhor obra de referência.

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sua origem em Trubetzkoy, nas suas trocas com Roman Jakobson, e que provavelmente foi transmitida à América do Norte por este último.

Se Chomsky não o apanhou diretamente de Jakobson durante os seus quatro anos como investigador de pós-graduação em Harvard (1951-1955), pode deduzir-se que recebeu o conceito através dos seus contactos e da colaboração subsequente com o estudante de doutoramento de Jakobson, Morris Halle, a partir de 1950. Semelhantemente, fiquei perplexo ao ouvir estudantes afirmarem que os conceitos de ‘drag chain’ e ‘push chain’ derivam de William Labov, em vez de recuar pelo menos para o artigo bem conhecido de André Martinet (1908-1999) sobre “Function, Structure, and Sound Change” (Martinet 1952a: 11). Está claro que Labov adquiriu a ideia, se não na leitura direta do artigo de Martinet, então por intermédio de Uriel Weinreich (1926-1967),8 que foi estudante de Martinet durante finais dos anos 1940 e inícios dos anos 1950, assim como professor de Labov durante os inícios dos anos 1960.

Mas não é tanto a ignorância dos estudantes da linguística de tudo que precede o passado mais recente que é assim tão preocupante – se bem que possa ser suficientemente lamentável por si só. O que é preocupante é que as atribuições parecem sugerir que Chomsky, Labov, ou qualquer outro 'grande' na área precisam de ser percebidos como tendo originado quase qualquer ideia que se considera como tendo relevância atual. A sua importância, porém, não reside em terem sido tão inventivos e tão totalmente originais, mas em terem produzido uma síntese do conhecimento linguístico e, às vezes, extralinguístico acumulado, tendo assim estabelecido um quadro próprio, independentemente da proveniência das ideias particulares nelas contida.

2.2 Conhecimento histórico da disciplina como parte da educação de um cientista Durante muitos anos, o meu argumento foi que a história da linguística

deveria fazer muito mais do que servir para fins de inicialização como ficou esboçado anteriormente (cf. Koerner 1972c, 1973b). A meu ver, o que prefiro chamar (ao estender o significado tradicional do termo) a historiografia da linguística, ou brevemente historiografia linguística, termo pelo qual me refiro a uma maneira escrupulosa de lidar com o nosso passado linguístico, fornece aos linguistas praticantes o material para adquirir conhecimento do desenvolvimento do seu próprio campo. Argumentaria que é este conhecimento ou esta conscien-tização informada o que constitui a diferença essencial entre o cientista e o assistente de laboratório: o cientista sabe de onde vieram as técnicas e quais são as suas limitações; o assistente de laboratório, que controla somente a arte mecânica do ofício, não o sabe, e facilmente pode ficar bloqueado, quando um procedimento

8 O artigo de Martinet de 1952 não só é mencionado na bibliografia do livro Languages in Contact (1953) de Weinreich, mas também se encontra referido frequentemente no texto (Weinreich 1953: 16, nota 6; 21, nota 18; 22, nota 20; 24 e nota 24).

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que esperava estar correto para emulá-lo a toda hora não produz o resultado desejado.

Talvez um exemplo da vida real possa explicar o que quero dizer quando estou a argumentar em favor do conhecimento histórico do campo do qual um linguista se ocupa. Há anos, tive um colega no meu Departamento na Universidade de Ottawa que tinha um doutoramento em fonologia pelo MIT; Morris Halle tinha sido o seu orientador. Todos concordavam que era um bom fonólogo. O que me parecia bizarro era que estava constantemente preocupado com o facto de alguém poder ter uma ideia ou encontrar um novo preceito teórico na área da fonologia, sem que ele tivesse recebido a informação dentro do espaço de algumas semanas, pelo que, como resultado, gastou boa parte do seu tempo a vigiar a internet para garantir que não perdia nada. No meu ponto de vista, uma preocupação destas realmente era descabida, se alguém tinha um conhecimento são da evolução do campo desde o tempo de Trubetzkoy, um fundamento nos vários procedimentos de análise de investigadores diferentes, como ainda um conhecimento do que frequentemente aconteceu na linguística americana, pelo menos desde The Sound Pattern of English, quando propostas teóricas na área da fonologia (ou mesmo na área da sintaxe) quase foram abandonadas tão depressa como tinham sido lançadas. Em resumo, pode economizar-se tempo e esforço ao esperar um pouco até as coisas acalmarem.9 Tanto quanto sei, não existe nenhum Prémio de Nobel para Linguística que possa motivar as pessoas para uma preocupação constantemente que alguém algures primeiro possa fazer uma descoberta importante.

Deveríamos lembrar – como Benware (1974) demonstrou com respeito à insistência de Jacob Grimm na tríade vocálica elementar no germânico e no seu impacto na investigação subsequente – o linguista praticante fará bem ao estar atento ao perigo de uma adesão rígida a um determinado sistema de pensamento poder conduzir ao erro e de a aceitação das teorias com base na autoridade poder, de facto, colocar um travão ao desenvolvimento da disciplina (como aconteceu no caso citado na linguística histórica do século XIX).10

2.3 Conhecimento histórico como um meio de avaliar novas hipóteses Já nos anos 1970, tinha discutido que a historiografia linguística, uma vez que

já é orientada para a teoria,11 faculta ao cientista a perspetiva e a distância que lhe permitirá diferenciar ganhos significativos dentro da disciplina de ‘teorias’ e 9 Pelo que saiba, o fonólogo em questão está agora felizmente arraigado na Teoria da Otimalidade (Optimality Theory, OT), um quadro em cujo desenvolvimento lhe coube um papel. 10 Como é bem conhecido, a linguística indo-europeia histórico-comparativa levou até aproximadamente 1875 para derrubar a ideia errónea de que o Sânscrito, e não o grego, latim ou o lituano, representava o sistema vocálico básico mais próximo da Ursprache indo-europeia, e que esta posição tinha sido mantida largamente por causa da autoridade de Bopp, Schleicher, e outros. 11 Admito que passei a ficar menos convencido da importância de debates (meta)metahistóricas do que Peter Schmitter (1943-2006) parecia ser (cf., p. ex., Schmitter 1998).

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reivindicações sem fundamento. Por outras palavras – ao lado dos dois argumentos atrás mencionados em favor do ensino da história das ideias linguísticas como parte da formação geral de um linguista –, ao facultar a experiência do desenvolvimento da própria disciplina, a historiografia linguística promove a habilidade na avaliação de teorias novas ou adversárias e assim, ao mesmo tempo, salvaguarda-nos de aceitar acriticamente quaisquer reivindicações excessivas em defesa de uma teoria linguística particular.

Que este conhecimento histórico pode prevenir o linguista praticante de dogmatismo em termos de teoria linguística, conduzindo-o à circunspeção em relação às ideias aparentemente novas que se oferecem no mercado de ideias e, possivelmente, à aceitação de uma diversidade de visões que dificilmente pode ser sobrestimada no atual debate linguístico. Ou, como sugeriu Klaas Willems (1997), podemos reconhecer que a historiografia linguística realmente é uma ‘therapeutic discipline’ porque apresenta o estudo científico da língua como “[...] an unstable equilibrium between changing argumentation and undeniable historical roots”.

2.4 Conhecimento histórico para conduzir à moderação na teoria linguística Se houve mesmo uma revivificação do interesse pelo nosso passado

linguístico – e há sinais nalguns lugares que este é o caso – isto pode ser tomado como uma indicação de que a própria linguística atingiu a maioridade. Uma disciplina adolescente com certeza não precisa de nenhuma história; uma atividade destas seriamente prejudicaria o seu vigor inicial e refrearia indevidamente a curiosidade. A linguística – e a história da linguística bem pode apoiar a sua verdade essencial – poderá ter que aceitar a validade geral do ditado frequentemente citado de Goethe: “Alles Gescheite ist schon einmal gedacht worden; man muss nur versuchen, es noch einmal zu denken [qualquer coisa inteligente já foi pensada antes; apenas é preciso tentar pensá-la mais uma vez]”; por outras palavras, os principais factos sobre a natureza da língua (a menos que incluamos nas nossas ponderações da linguagem que na realidade são meramente geradas pela teoria, e não factos empíricos) foram há muito tempo percebidos por muitos dos nossos antecessores. A grande tarefa restante (para a linguística propriamente dita) é de os redescobrir, à luz da nossa própria compreensão das coisas e dos desafios e compromissos atuais. Deste modo, a história da linguística bem pode servir como abrigo contra reivindicações exageradas de novidade, originalidade, avanço e revolução nas nossas (re)descobertas e, assim, conduzir a um tipo mais equilibrado do discurso científico, ou, como sugeriu há muitos anos o falecido Paul Garvin (1970), uma ‘moderation in linguistic theory’.

2.5 Conhecimento histórico para avançar a unidade dentro de uma disciplina complexa Podemos acrescentar dois pontos adicionais em favor de estudar a história da

linguística. Ambos podem parecer efémeros a alguns, mas sinto que não deveriam ser simplesmente rejeitados. Um está relacionado com a minha convicção de que

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em certas ocasiões a historiografia linguística pode permitir ao estudioso participar em esforços científicos que se encontram fora da sua própria vida, pois passam desta forma a ampliar a sua experiência pessoal: se lermos a Mémoire de 1878 (Saussure 1879) com o espírito apropriado, ficamos realmente a experienciar a luta de Saussure com as perplexidades da inflexão vocálica indo-europeia.

O outro ponto talvez possa ser mais fácil de aceitar. Numa época em que a especialização é cada vez mais crescente na investigação linguística em diversas subáreas – parece que a linguística chegou mesmo a abandonar a autonomia da disciplina, cujo estabelecimento Saussure estava tão preocupado em inícios do século XX – a história da linguística bem pode servir como um agente abrangente e unificador.

3 Que tipo de história da linguística? Pode perguntar-se de que tipo de história da linguística estamos a falar, o tipo

que vemos nos manuais de ensino regulares que parecem narrar batalhas passadas a partir de uma perspetiva atual, ou será que existem outras aproximações que podem ser de interesse mais genuíno para o linguista praticante?

Há quatro décadas, falei de quatro formas de lidar com a história da linguística (Koerner 1974b). Distingui entre histórias 'summing-up', ou 'de compilação', relatos propagandísticos, padrões possivelmente bastante desprendidos de histórias, e um tipo mais crítico e metodológico que ainda precisava de ser estabelecido. Estes padrões separados foram referenciados mais recentemente por Simone (1995), que concorda com a minha opinião de que os historiadores da linguística também devem ser linguistas se estão dispostos a fazer um trabalho razoavelmente adequado – mesmo que não devam ficar apegados a uma teoria específica.

3.1 Histórias de compilação Primeiro, existe o tipo de história, escrito numa altura quando uma geração

particular ou um indivíduo, que de forma significativa representa as ideias, convicções e compromissos da sua geração, está convencido que uma meta desejada foi alcançada e que o trabalho subsequente na área será dedicado principalmente àquilo que Thomas S. Kuhn (1970: 24) chamou ‘mopping-up operations’. Estes autores acreditam que o quadro para realizar investigação já foi traçado suficientemente para que um membro ordinário da comunidade científica possa levar a cabo as suas investigações, e que já não há qualquer necessidade de uma revisão essencial da metodologia. Este ponto de vista parece ter a sua melhor expressão na volumosa Geschichte der Sprachwissenschaft und orientalischen Philologie (1869) de Benfey, que apareceu um ano depois da morte prematura de Schleicher, mas também é exemplificado pela Geschichte der germanischen Philologie (1870) de Raumer. Sabemos agora que era na realidade um período de estagnação relativa na linguística indo-europeia, e que os meados dos anos 1870 viriam a testemunhar uma reformulação considerável da maneira como a

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investigação histórico-comparativa era feita: refiro-me, evidentemente, ao advento dos Junggrammatiker.

Uma observação semelhante, assim parece, poderia ser feita sobre a história de Pedersen, de 1924, sobre os sucessos dos indo-europeístas do século XIX, precedido por um relato semelhante e um pouco mais breve de 1916 (cf. Pedersen 1931 e 1983, para as respetivas traduções inglesas), o ano da conclusão da segunda edição do Grundriss de Brugmann e Delbrück, como também o aparecimento do Cours póstumo de Saussure. Em finais da Primeira Guerra Mundial, o trabalho dos neogramáticos tinha ficado bastante insípido. Era, por isso, normal que Streitberg produzisse desde 1916 a sua investigação de vários volumes sobre a história da linguística indo-europeia. Estas atividades – convém compará-las com os Current Trends de Sebeok, produzidos em grande parte durante os anos sessenta quando o estruturalismo nas suas várias articulações parece ter perdido força – ocorrem geralmente no final de uma certa fase de desenvolvimento.

Realmente, parece-me que as histórias de Ivić (1965), Leroy (1963), Malmberg (1964), e outros cumpriram uma função semelhante de compilar os resultados prévios na ciência linguística, como também de apresentar-nos as várias escolas estruturalistas.12 Justamente por isso, as histórias de Malmberg, Ivić, Leroy, e outros estudos de inclinação semelhante, apresentaram certas tendências pós-saussureanas como os resultados mais significativos da disciplina até à data, quer tenham emanado de Bloomfield ou Hjelmslev ou do Círculo de Praga. Como o que Benfey, Raumer, Pedersen, Streitberg e outros tinham feito para uma fase anterior no desenvolvimento da linguística, o seu empenho era em larga medida a apresentação de um quadro de investigação no qual eles próprios tinham sido criados, sendo ainda, possivelmente, uma tentativa de reter a força e o impacto da forma de pensamento estruturalista. Por outras palavras, até mesmo essas histórias de compilação não estão de forma alguma inocentes, no sentido de não seguir nenhuma ‘agenda’ específica, tal como de celebrar e manter uma visão particular da disciplina, mesmo que isto não seja imediatamente óbvio ao leitor.13

3.2 Histórias propagandísticas da linguística Sem dúvida, o padrão tradicional e conservador de escrever história (que até

hoje tem sido o tipo predominante) tem os seus inconvenientes, talvez porque os seus autores compartilhem o otimismo subconsciente de que a delimitação do desenvolvimento de uma dada disciplina envolve a ilustração de um crescimento constante de conhecimento, um aumento de sofisticação, etc., naquela área de

12 Selecionei somente algumas histórias para ilustrar os meus argumentos; para uma lista bastante muito mais completa de estudos desta natureza que apareceram entre o século XIX e o século XX até meados dos anos 1970, veja-se Koerner (1978d). 13 Dificilmente menos derivativo do que os outros manuais da época, o de Robins (1967) talvez fosse a obra ideologicamente mais neutra de todos eles (isto é, os manuais escritos por Ivić, Leroy, Malmberg, e outros). Como foi escrita em inglês elegante, provou ser a obra mais próspera.

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estudos, muitas vezes juntamente com a tendência de manter o que até ao momento foi alcançado, em vez de tentar abrir-se para uma possível rutura com a tradição.

A este respeito, a abordagem da história da linguística que chamei ‘propagandística’ pode ter os seus benefícios, desde que a sua natureza liberal (‘whiggish’) seja reconhecida. Um tal estudo do passado com referência ao presente foi há muito adequadamente caraterizado por Sir Herbert Butterfield (1900-1979), nos seguintes termos:

Through this system of immediate reference to the present-day, historical personages can easily be classed into the men who furthered progress and the men who tried to hinder it; so that a handy rule of thumb exists by which the historian can select and reject, and can make his points of emphasis (Butterfield 1931: 11).

Não são necessários mais comentários a esta ‘interpretação Whig da história’,14 a referência às atividades contemporâneas na história da linguística parece bastante clara.

Este segundo tipo de atividade da escrita da história pode ser caraterizado pela intenção por parte de um autor individual, com os seus trinta anos de idade (não com finais dos quarenta anos ou mais velho como é geralmente verdade no caso dos autores tipo ‘summing-up’ de compilação), representando, mais uma vez, um grupo particular, com a intenção de lançar uma campanha que se opõe a visões previamente apreciadas que ainda predominam. Assim, em contraste com Benfey (1869), por exemplo, a Einleitung (1880) de Delbrück (1842 -1922) serviu como porta-voz para uma geração nova de estudiosos, ansiosos por demonstrar que os seus resultados superaram significativamente os êxitos anteriores no campo e que as suas teorias legitimamente substituíram aquelas que eram ensinadas pela geração precedente de linguistas.

A história parece ter estado a repetir-se quando exatamente cem anos depois, em 1980, Frederick J Newmeyer (nascido em 1944) publicou a sua obra Linguistics in America.15 Esta tentativa de provar visões linguísticas anteriores – especialmente as imediatamente anteriores – como totalmente insuficientes e inadequadas para embarcar no que Voegelin / Voegelin (1963) uma vez chamaram o ‘eclipsing stance’, era evidente na apresentação de Chomsky ao Ninth International Congress of Linguists de 1962 (Chomsky 1962a, 1964a, 1964b). Logo a seguir, vários dos seus seguidores dedicaram-se ardentemente a escrever a sua visão particular da história (por exemplo, Dingwall 1963, Bach 1965, Bierwisch 1971 [original alemão 1966a]). Claro que as Cartesian Linguistics (1966) de Chomsky forneceram o melhor modelo para o tipo da escrita pro domo de escrever – ou reescrever – a história da linguística. Hoje, enquanto ainda pudermos descobrir uma quantia 14 Veja-se o título Whig interpretation of history da obra de Butterfield (11931). 15 Uma segunda edição do livro de Newmeyer (1980) apareceu em 1986. A esta obra deveríamos acrescentar a sua coleção de documentos de 1996 (Newmeyer 1996a), na qual defendeu a sua visão das coisas contra a crítica de outros (p. ex., Koerner 1983b, 1984a; Huck / Goldsmith 1995).

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considerável de informações úteis nas histórias escritas com a finalidade de compilar o trabalho prévio no campo, tais como os relatos de Benfey, Raumer, Pedersen e outros – se bem que tenhamos bastante consciência dos seus preconceitos e das suas imperfeições – as histórias da categoria propagandística rapidamente passam a ser ultrapassadas quando a sua 'missão' particular é cumprida.16

3.3 ‘Problemgeschichte’ Existe, talvez, um terceiro tipo de história que se costuma escrever e com o

qual não se prevê defender nenhum quadro ou 'paradigma' específico, nem tentar fornecer um argumento a favor dos vários tipos de ‘revolução científica’ dentro da disciplina. Este tipo de história é menos partidário do que os outros dois exemplos atrás apresentados, uma vez que visa uma aproximação ao assunto sine ira et studio. Para mim, o melhor exemplo deste tipo é o livro Sprachwissenschaft (1969) de Hans Arens, no qual foi feita a tentativa de delinear o desenvolvimento do pensamento linguístico ocidental, desde o início das discussões entre os gregos sobre a natureza da língua, até ao trabalho linguístico contemporâneo, certamente com uma visão de não indicar apenas que a nossa disciplina percorreu um longo caminho para ganhar os ensinamentos que apreciamos agora e os métodos que desenvolvemos, mas também que tudo o que construímos, conscientemente ou não, se baseia nos resultados de gerações prévias de linguistas, e que devemos muito mais aos nossos antecessores do que ao todo talvez nos possamos aperceber.

Enquanto este modo de apresentar a história da linguística possa bem ter sido o resultado de uma escolha muito pessoal, parece que o livro de Arens exprimiu o empenho de toda uma geração de estudiosos para reconstruir uma disciplina que tinha sido desacreditada em grande parte pela infusão da ideologia Nazi. O livro de Pedersen de 1924, que apareceu a seguir à perda de prestígio de grande parte do quadro dos Junggrammatiker, bem pode ser incluído na terceira categoria, uma vez que procurou reafirmar uma tradição linguística que na sua convicção poderia continuar a servir como uma base sã para o trabalho subsequente no campo.

Indubitavelmente, outros fatores, frequentemente não-linguísticos, de uma maneira ou de outra tiveram um papel na apresentação da história da disciplina. Assim também se deveria lembrar que certas condições socioeconómicas, eventos 16 Ainda me lembro como os meus colegas, que trabalham sobre a matriz gerativista, acolheram o livro de Newmeyer durante os anos 1980: finalmente alguém que nos conta o que sempre considerámos ser a verdade, isto é, que o pós-bloomfieldianos, notavelmente Harris e Hockett, não tiveram nenhuma ideia do que era ciência e que Chomsky teve razão desde o princípio. Claro que todos os estudantes tiveram que adquirir um exemplar do livro para saber por quê havia uma 'revolução' chomskyana na linguística. Talvez os estudantes de Brugmann e outros ouvissem uma afirmação semelhante sobre os ‘novos começos’ (o termo de Delbrück depois de ter despachado Schleicher como aderente às visões até lá desacreditadas de Bopp). De facto, a Einleitung de Delbrück teve seis edições entre 1880 e 1919, mais do que os Prinzipien de Hermann Paul, que tiveram cinco edições entre 1880 e 1920. Ambos eram extensamente usados como manuais de ensino; o livro de Paul ainda continua a ser editado hoje.

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históricos ou situações políticas frequentemente tiveram uma influência conside-rável na motivação de escrever a história de uma determinada disciplina ou na aceitação de um quadro teórico de investigação ou modo de pensamento aparentemente novos. As obras de Benfey e Raumer, por exemplo, foram em parte incentivadas pela ascensão do nacionalismo alemão no tempo de Bismarck. Por outro lado, Malkiel (1969b: 557) acertadamente observou que o êxito do Cours de Saussure “[...] cannot be properly measured without some allowance for the feelings of that time: The acceptance of the leadership of a French-Swiss genius connoted for many Westerners then opposed to Germany a strongly desired, rationalized escape from the world of Brugmann, Leskien, Osthoff, and Paul”.

4 A historiografia linguística Ainda apesar do meu respeito pelos trabalhos do terceiro tipo, especialmente

o livro de Arens, acredito fortemente que precisamos de um quarto tipo de registo da história, isto é, um tipo de prestação de contas do nosso passado linguístico como uma parte integrante da própria disciplina e, ao mesmo tempo, como uma atividade fundada em princípios bem definidos que podem rivalizar com os da própria ‘normal science’ (Kuhn), no que diz respeito à solidez do método e ao rigor da sua aplicação. Não defendo que a história da linguística deveria ficar meramente servil à disciplina, mas que teria que estabelecer-se como exercendo uma função comparável com aquela da história da ciência para o cientista natural. Na linguística, uma disciplina intrinsecamente social pela mera natureza do seu objeto de investigação, esta meta bem pode provar ser mais difícil de atingir do que pode ser exigido ao historiador da ciência. Em grande parte, como resultado da sua absorção de princípios de análise derivada de cientistas naturais, especialmente de anatomistas comparativos, biólogos, particularmente de botânicos, e de geólogos, a linguística atingiu o estado de uma ciência durante os últimos 150 anos ou ainda mais. Afinal, talvez haja mesmo um paralelo.

Do que afirmei antes, é óbvio que enquanto as histórias do primeiro e do terceiro tipo têm os seus usos, não estou a pensar que obras escritas da forma das Cartesian Linguistics de Chomsky são verdadeiras histórias. Como resultado do meu descontentamento geral com o estado das coisas que encontrei como estudante de doutoramento durante finais dos anos 1960 e inícios dos anos 1970, gastei grande parte da minha atividade como estudioso em estabelecer – e exemplificar (cf. Koerner 1973b, 1975b) – o tipo de escrita de história de que sentia que era necessário, não só para servir melhor para a nossa compreensão da linguística e da sua evolução, mas também para assegurar que não vamos repetir as deficiências, os erros e as distorções sérias de abordagens prévias. Obviamente, não alinharia com a visão de Brekle (1985), segundo a qual seria de esperar que cada geração viesse a escrever a sua própria história. Uma atitude de tal forma despreocupada conduziria, proponho, para um tipo de história ‘whiggish’, e não para o tipo de história que tenho em mente.

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A historiografia linguística que tenho seguido tem uma tarefa importante por executar dentro da disciplina como um todo. O facto de a história da linguística bem poder constituir uma chave muito valiosa para uma melhor compreensão e avaliação da história das ideias em geral só pode aumentar a sua importância. Por isso, alinhei, logo no início, com a visão de Malkiel (1969b: 532; 1983: 52), de que o historiador de uma determinada ciência deve estar equipado com uma ‘dual expertise’ com a qual, para além de “[...] demonstrate the specialized knowledge of a scientific or artistic domain [...] ought to know a good deal about intellectual history (embedded within the matrix of general history) [...]”. Porém, o historiógrafo da linguística precisa de algo mais para além desta perícia dual, pois deve também ocupar-se com questões de metodologia e mesmo de epistemologia.

Parece-me, às vezes, que tendências na própria linguística são talvez indevidamente motivadas por reivindicações excessivas de originalidade em questões de teoria, lembrando frequentemente o alerta de Troike (1976), nomeadamente, das tentativas de reinventar a roda. Uma maior consciência geral dos antecedentes do nosso pensamento atual parece por isso desejável. Como resultado, não alinharia numa história da linguística que se torna “[...] a discipline apart [...]” (Kuhn 1971: 272), uma atividade em causa própria. Mas então, a linguística não é uma disciplina comparável com, digamos, a física teórica. Evidentemente isso não exclui a legitimidade de um tratamento formal, matemático, estatístico ou lógico de certas componentes separadas da atividade linguística, e até mesmo a tentativa por parte de alguns, no sentido de propor uma teoria geral global da linguística, que é bastante abstrata (por exemplo, Lieb 1984).

Num comentário sobre o relacionamento entre ciência e arte, Kuhn (1969: 407-408) tinha observado que ‘science destroys its past’, isto é, que o trabalho de Einstein e Schrödinger, por exemplo, tornou o de Galilei e de Newton largamente irrelevante, tendo o assim chamado ‘Einsteinian paradigm’ substituído o quadro de referência definido por Newton e outros. Por meio de contraste, observamos que a arte de Picasso não tornou obsoletas as pinturas de Rembrandt. Se aceitarmos a veracidade geral desta observação, podemos perguntar que função a história da ciência, uma disciplina universitária bem estabelecida, tem para o avanço da ciência, e realmente podemos questionar a sua relevância até mesmo para uma melhor compreensão da história, se a queixa de Kuhn (1971: 271-272), de os estudantes das ciências quase nunca terem assistido aos seus cursos se aplica para a disciplina em geral. A linguística pode ser uma ciência exata relativamente a certas questões metodológicas e a certos procedimentos de análise; porém, não se pode afirmar que uma teoria particular geralmente esteja a tornar obsoletas outras teorias concorrentes, na medida em que se passa uma mudança de paradigma, uma ‘revolução’ no sentido kuhnianano do termo, que reclama com toda a justiça a união rígida de todos os membros da comunidade científica que querem permanecer e trabalhar dentro da disciplina. Estamos, de facto, a assistir presentemente a uma diversidade de visões sobre questões que interessam tanto à

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teoria geral como ao tratamento de aspetos específicos da análise linguística que não teria parecido possível na linguística há uns vinte e cinco ou trinta anos.

Ainda em vez de fazer apenas declarações gerais, deveria referir algumas informações relativas ao tipo de historiografia linguística ao qual me dediquei durante as últimas quatro décadas. Não me refiro ao lado organizacional da atividade: as revistas, séries de monografias, sociedades científicas, congressos, etc., que passaram a fazer parte da paisagem profissional ao longo das últimas quatro décadas, mas aos princípios que orientam o historiador, os quais sentia que eram necessários para tornar a investigação nesta área de interesse respeitável e útil, se este é o termo adequado aqui.

Entre outras coisas, a seguir a algumas polémicas contra o que considerava a escrita insatisfatória da história durante os anos 1970 e, às vezes, também durante os inícios dos anos 1980 (Koerner 1983b, 1984a), tratei de questões que acredito serem centrais para a historiografia linguística. Por exemplo, num artigo escrito em 1982 discuti os vários modos nos quais o desenvolvimento de assuntos tende a ser descrito e apresentei argumentos e modelos para ilustrar uma variedade de parâmetros, como ‘progress-by-accumulation’, ‘mainstream’ vs. ‘undercurrent’, ‘epistemological pendulum swings’, ‘discontinuity’ vs. ‘continuity’, considerando ainda fatores externos, por exemplo, com referência para o ‘climate of opinion’ de Becker (Koerner 1984a). Num congresso de história da linguística que teve lugar em 1984, abordei a imprecisão do argumento frequentemente invocado de ‘influence’ e propus critérios para uma definição útil do conceito e a sua própria aplicação (Koerner 1987b). Subsequentemente, discuti em várias ocasiões (Koerner 1987a, 1993a) o que chamava ‘the problem of metalanguage’ na his-toriografia linguística, uma questão sem dúvida deveras importante, quando se tomam em consideração os problemas terminológicos e epistemológicos que o historiador enfrenta ao lidar com teorias passadas, o que faz com que possa ter que agir num nível ‘meta-meta’ do discurso. É evidente que algumas destas questões podem permanecer ‘persistent issues’ (Koerner 1995b), mas o historiógrafo não deveria perdê-los de vista, quando o campo está numa forma muito melhor hoje do que era quando primeiro o encontrei durante a época de 1969-1971, ao escrever a minha tese sobre a origem, desenvolvimento e relevância atual da teoria linguística de Saussure (Koerner 1971a, 1973b).

5 Argumento final para a história da linguística Para resumir, num olhar para trás sobre o desenvolvimento da historiografia

linguística, pode parecer a muitos que a disciplina amadureceu suficientemente e que o campo se tornou tão efetivamente organizado desde o ponto de vista internacional que uma preocupação com a sua continuidade vigorosa já não seria justificada. Os congressos trienais intitulados International Conference on the History of the Language Sciences (ICHoLS), inaugurados em 1978, já contam com a décima-terceira edição em 2014 (Vila Real, Portugal), costumando ser frequentados tipicamente por uma larga centena de estudiosos de

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aproximadamente 20 países, o que por si só pode parecer suficientemente reconfortante. Este otimismo relativo ao estado da historiografia linguística foi manifestado por Schmitter (1997), onde a história da linguística ocupa um lugar no centro do palco da formação linguística geral (ao escrever em 1991, Elffers-van Ketel ainda era muito mais contido a este respeito). No entanto, tal otimismo não parece ser compartilhado pelos historiadores americanos da linguística, se tomarmos em consideração a experiência de Newmeyer (1996a: 2), segundo quem a maioria dos linguistas americanos considera os praticantes no campo como ocupando “[...] a status level even lower than that of a ‘semiotician’”.

Newmeyer possivelmente terá falado com pessoas diferentes daquelas com quem eu próprio falei. Pelo que me toca, não alinho em qualquer uma destas posições extremas, mas defendo uma discussão contínua sobre a posição que a história da disciplina e a história dos seus discursos deveriam ocupar dentro das ciências da linguagem. A meu ver, não há nenhuma razão para complacência.

Permanece, no entanto, verdade, que quase nunca conheci um linguista que não estivesse de uma maneira ou de outra interessado na história da linguística. Na minha opinião isto tem pouco a ver com a questão se a linguística é uma ciência exata, uma ciência empírica, ou somente uma ciência especulativa; talvez seja simplesmente porque a linguística é essencialmente uma ciência humana e social, para todos os efeitos uma Geisteswissenschaft, que tem a curiosidade do homem sobre si e o seu pensamento como a sua verdadeira fonte de investigação. Esta pode bem ser uma boa posição para começar.

Questões que persistem na historiografia linguística* 1 Observações introdutórias1 A historiografia linguística, no sentido de ‘principled manner of writing the

history of the study of language’ (o que naturalmente inclui a discussão de questões de metodologia e epistemologia), e não no (talvez mais tradicional) sentido de “[...] (merely) recording the history (or history writing) of linguistic research” (cf. Sebeok 1975) é de colheita recente. Enquanto tal, deve ser distinguida da História da Linguística (HoL), ou da ‘História das Ciências da Linguagem’, o efetivo registo da res gestae da investigação linguística através dos séculos. Assim, historiografia da linguística – ou ‘historiografia linguística’, como se tornou mais amplamente empregue – é mais do que um termo para descrever a atividade de ‘escrever a História’, embora, com certeza, tenha relação com ela. O seu resultado é, com certeza, História, isto é, o discurso sobre o passado tal como foi produzido pelo historiador, distinto da ‘História’, no sentido de ‘factos do passado’.2 A história da linguística, campo de estudo que trata da descrição do desenvolvimento das ciências da linguagem desde o seu início até aos desenvolvimentos atuais obteve, ao que parece, a fama merecida. O estabeleci-mento de sociedades académicas consagradas à história da linguística, tanto na Europa como na América do Norte, é apenas um sinal desta constatação, à qual se devem acrescentar os vários encontros especializados internacionais que têm acontecido desde finais dos anos 1970, nomeadamente as trienais conferências * [Observação sobre a tradução: a presente tradução foi elaborada por Cristina Altman (USP, São Paulo) com base no artigo “Persistent Issues in Linguistic Historiography” (Koerner 1995b), sendo publicada pela primeira vez em português sob o título “Questões que persistem em historiografia linguística” (Koerner 1996b). A revisão e atualização do presente artigo foi levada a cabo por Teresa Moura.] 1 Este texto é uma versão amplamente revista do texto apresentado no VI ICHoLS, realizado em Washington, D.C., em agosto de 1993 (Koerner 1995b). Devo os meus agradecimentos especiais a John E. Joseph pelos seus comentários sobre a versão anterior do texto, que me conduziram a uma maior precisão em vários pontos. Joseph questiona a utilidade da minha distinção história-historiografia, que tenho feito regularmente desde que entrei pela primeira vez no debate há quatro décadas. Talvez o termo ‘nova história’ pudesse ser outra maneira de exprimir o que tenho feito desde os meus primeiros textos programáticos sobre o assunto (e.g., “Towards a Historiography of Linguistics: 19th and 20th century paradigms”, Koerner 1972c). A expressão ‘nova história’ tem sido usada recentemente para descrever a obra de Robert William Fogel (cf. Fogel / Elton 1983) e Douglass Cecil North (1990), os dois galardoados com o Prémio Nobel de Economia de 1993. Os meus agradecimentos são extensivos a Cristina Altman que, com a presente tradução, me dá a oportunidade de dirigir-me à comunidade académica em português. 2 Outra maneira de explicar ao que me estou a referir é: quando estiver a falar do estabelecimento dos fundamentos de como empreender a tarefa de escrever a história – sem dúvida uma atividade meta-histórica – e de qualquer narrativa que resulte desta atividade, quando bem sucedida, uso o termo ‘historiografia’ Por analogia, ao discutir princípios, pode referir-se a isso como ‘metodologia’, quando esta é efetivamente aplicada, é o ‘método’.

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internacionais das ciências da linguagem (International Conference on the History of Language SciencesICHoLS): Ottawa, Canada (1978), Lille, França (1981), Princeton, E.U.A. (1984), Trier, Alemanha (1987), Galway, Irlanda (1990), Washington, D.C. (1993), Oxford, Inglaterra (1996), Fontenay/Saint-Cloud, França (1999), São Paulo-Campinas, Brasil (2002), Urbana-Champaign, E.U.A. (2005), Potsdam, Alemanha (2008), São Petersburgo, Rússia (2011). A décima terceira conferência está programada para 2014, em Vila Real, Portugal.

Outras indicações de que o assunto se está a aproximar da maturidade são o número de investigadores que começaram a interessar-se seriamente pelas questões do método e da epistemologia da historiografia linguística, cuja primeira discussão organizada se deu em finais da década de 1960, quando o livro de Thomas S. Kuhn, The Structure of Scientific Revolutions (1962), começou a exercer influência sobre a história da linguística (Hymes 1974a). Aos esforços individuais de alguns autores (Koerner 1978a; Grotsch 1982; Schmitter 1982) sucederam-se colóquios e volumes coletivos dedicados ao assunto (Dutz / Kaczmarek 1985; Schmitter 1987; Hüllen 1990). Seria desejável que este debate continuasse, já que ainda não se pode dizer que haja, num grau satisfatório, uma única forma de proceder na investigação historiográfica na linguística, ou cânones estabelecidos que sejam amplamente aceites pela comunidade académica. Enquanto tal não acontece, é legítimo que o historiógrafo procure diretrizes e modelos a imitar para além do seu próprio campo. É importante compreender, entretanto, que devido à natureza particular do objeto de investigação, nomeadamente, as teorias da linguagem (bem como as teorias da linguística), a sua aplicação e a sua evolução através do tempo, os historiadores da linguística devem insistir em procurar o seu próprio quadro, a sua própria metodologia e epistemologia, e não podem ficar à espera e aplicar os métodos e os ensinamentos de outros campos diretamente ao seu objeto de investigação, como procurarei esclarecer a seguir.

Devemos a Croce (1915) a distinção entre crónica e história. A primeira consiste em registar meramente os acontecimentos do passado, sem oferecer qualquer tentativa de distinguir entre um acontecimento significativo e outro insignificante. É importante dar um passo mais além e procurar distinguir história de historiografia, parcialmente para tentar deixar claro o afastamento de trabalhos anteriores no campo que, muito frequentemente, tenderam a ser histórias partidárias, o que Butterfield (1931) chamou de ‘Whig histories’. Poucos tratamentos históricos da linguística, produzidos até hoje, chegaram a esboçar, para não dizer nada de o terem desenvolvido, um guia útil segundo o qual o investigador na área devesse e pudesse operar sem repetir as deficiências, os erros ou as distorções sérias de relatos anteriores. Para o estabelecimento de um ideário na historiografia linguística, é preciso começar por admitir que não basta de modo algum ser um conhecedor profícuo em assuntos relativos à linguística para se qualificar como historiador da disciplina. Aliás, até hoje, a história da linguística tem sofrido consideravelmente com o trabalho amador realizado por eminentes estudiosos da linguagem que concentraram a sua atenção neste aspeto particular da

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disciplina. Malkiel (1969b: 532; 1983: 52) pronunciou-se a respeito da ‘dupla perícia’ de que o historiador de uma determinada ciência deve estar munido, isto é, além de “[...] demonstrate the specialized knowledge of a scientific or artistic domain [...] ought to know a good deal about intellectual history (embedded within the matrix of general history) [...]”. O historiógrafo da linguística, entretanto, precisa de mais do que desta dupla perícia, que deve ser vista como conditio sine qua non para qualquer investigador empenhado na investigação de acontecimentos passados no desenvolvimento da linguística.

Sem dúvida, a construção das verdadeiras bases da historiografia linguística – campo de investigação cujos preconceitos deveriam consistir apenas em favorecer o restabelecimento dos factos mais importantes do nosso passado linguístico sine ira et studio ao explicar, tanto quanto possível, as razões das mudanças de orientação e de ênfase e da possível descontinuidade que pode ser observada – impõe grandes exigências à atividade académica individual, amplitude de escopo e profundidade de aprendizagem, pois exige um conhecimento quase que enciclopédico da parte do investigador, dada a natureza interdisciplinar desta atividade. Além disso, requer, ainda, a capacidade de síntese, isto é, a faculdade de separar o essencial da massa dos factos empíricos coligidos a partir das fontes primárias. Por outras palavras, e para usar uma distinção contemporânea, a historiografia linguística tem que ser ‘orientada para a teoria’ e não ‘para os dados’, embora não haja dúvida de que muitas leituras das fontes originais ainda tenham que ser feitas, a fim de se estabelecer adequadamente os factos básicos do desenvolvimento da disciplina. Esta tarefa ainda não foi levada a cabo numa extensão satisfatória, nem mesmo para o século XIX, no qual grande parte da linguística ocidental moderna foi construída, quer falemos dos neogramáticos e do seu trabalho, quer das tendências linguísticas que se seguiram às ideias humboldtianas sobre linguagem e mente, uma tradição cuja amplitude real é pouco reconhecida pelas histórias da linguística contempo-râneas. Na prática, a maior parte do trabalho de apresentação da história da linguística de uma maneira científica ainda está por fazer, não obstante os muitos esforços, individuais ou coletivos sobretudo dos últimos vinte anos (p. ex., Schmitter 1987-2007; Auroux 1989-2000; Lepschy 1994-1998; Auroux / Koerner / Niederehe / Versteegh 2000-2006).

Já desde inícios dos anos 1970, vários investigadores interessados pela história da linguística como uma especialidade académica esforçaram-se por propor diretrizes para uma conduta apropriada da investigação historiográfica (p. ex., Hymes 1974a, Simone 1975, Koerner 1976) Na época, o livro The Structure of Scientific Revolutions (1962; 1970) de Kuhn teve um impacto considerável no debate, à proporção que a discussão se centralizava na questão sobre até que ponto a morfologia kuhniana das revoluções científicas poderia fornecer um guia útil para o historiador da linguística. Esta discussão parece ter decaído em finais da década de 1970, possivelmente como resultado do artigo de Percival (1976), que questionou a procura de ‘paradigmas’ na linguística sem, entretanto, oferecer um caminho alternativo. Houve, claro, várias razões para que Kuhn tivesse sido tão

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entusiasticamente acolhido por vários cientistas sociais e comportamentais, embora o seu livro visasse as ciências naturais, em particular, a física teórica. De entre elas, a falta de conhecimento do trabalho de outros filósofos da ciência e de historia-dores, anteriores e contemporâneos, a falta de precisão de muitas das definições de Kuhn (o que permitia diferentes interpretações do seu argumento) e a sua ênfase na dinâmica social que envolvia tais mudanças, que agradavam especialmente aos cientistas sociais. Por outras palavras, pode ter sido o caráter aberto do livro de Kuhn que fez com que este ficasse, por sua vez, paradigmático (outra razão para o sucesso do livro nas ciências sociais parece dever-se ao facto de Kuhn ter derivado várias componentes da sua obra, inclusive o conceito de ‘paradigma’, das chamadas disciplinas ‘intelectuais’, das Humanidades – não há palavra em inglês satisfatoriamente equivalente ao termo alemão Geisteswissenschaften).

Os anos 1980 assistiram a um conjunto de estudos que ofereciam linhas alternativas de conduta historiográfica que entraram no debate sobre a abordagem histórica na linguística (p. ex., Bahner 1981; Bokadorova 1986; Christmann 1987). No entanto, não foi ainda estabelecida nenhuma base comum sobre como proceder na historiografia linguística, e há indícios de que o debate irá continuar por algum tempo (p. ex., Elffers-van Ketel 1991: I). Nos capítulos seguintes, analiso algumas das posições e propostas relativas à historiografia, feitas por vários autores fora do campo da linguística e da sua história. A seguir, tenciono apresentar algumas considerações, relacionadas com a realização da investigação sobre a história das ciências da linguagem e a apresentação dos desenvolvimentos anteriores na área.

2 Abordagens na historiografia linguística A procura dos fundamentos específicos da historiografia linguística conduziu a

várias propostas diferentes. Estas podem ter tido origem tanto na área particular de estudo escolhida pelo investigador – não há dúvida de que faz diferença se alguém está a estudar os registos linguísticos da Idade Média ou os do século XIX – como no ‘interesse pelo conhecimento’ (Erkenntnisinteresse), resultante do ponto de vista do investigador. Aqueles que entraram para a história da linguística pelo estudo do texto literário, é de se esperar, oferecem perspetivas diferentes de alguém que veio da filosofia, da história, ou da linguística propriamente dita, para não mencionar aqueles que entraram para a linguística advindos da matemática ou das ciências ‘duras’ A posição que aqui defendo é a de que o historiador da linguística deve possuir preparação em linguística, a fim de ter uma compreensão adequada de quais são as questões específicas da área, embora, novamente, esta situação se possa aplicar muito mais à linguística dos dois últimos séculos do que à de períodos anteriores. Claro que isto não é suficiente. É demasiadamente frequente os linguistas atuais tenderem a projetar os seus interesses e o entendimento atual nas teorias do passado, pelo que são capazes, por conseguinte, de distorcer as questões e os compromissos teóricos de períodos anteriores. Por isso, o historiógrafo da linguística deve familiarizar-se com mais do que o esboço da transmissão da teoria e da prática linguística e das suas mudanças através do tempo.

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Do ponto de vista metodológico, pode perguntar-se o que é que os outros campos da investigação histórica, já estabelecidos, têm a oferecer ao historiógrafo da linguística, sem deixar de ter em mente, ao mesmo tempo, que o seu objeto de estudo, isto é, as ideias sobre a linguagem e propostas para a sua descrição e explicação, deve impor um tratamento particular ao investigador.

2.1 História da linguística e história intelectual Parece que vários investigadores consideram a história da linguística parte de

uma história geral das ideias. Esta impressão é reforçada pelo facto de que a Henry Sweet Society, de Oxford, criada em 1984, inclui “the History of Linguistics Ideas” como parte do seu nome. É uma trivialidade dizer que a história da linguística não pode ser estudada no vazio, simplesmente como uma sucessão de teorias sobre a linguagem, separadas do clima geral de opinião no qual foram formuladas. O seu contexto deve também incluir o conhecimento de como as outras disciplinas, tanto as vizinhas como as afastadas, estavam naquele determinado período. Em suma, estreitar demais o alinhamento da história da linguística com a História das Ideias, ou comum campo de estudo similar, não parece ser uma solução para o problema de encontrar uma metodologia própria para a investigação historiográfica na linguística. Por exemplo, parece revelador que ainda em 1977, uns quarenta anos após a publicação do influente livro de Arthur O. Lovejoy (1873-1962), The Great Chain of Being (1936), um artigo tenha sido publicado no Journal of the History of Ideas, fundado por Lovejoy em 1940, cujo autor afirma:

On the whole, the methodology of the history of ideas is in its infancy. The field is in this respect behind general history, of which it is a part. One may therefore suggest that the interest of historians of ideas should be more directed towards the methodological problems of their field than has hitherto been the case. The reason is that when the foundation of a house is shaky, it does not make much sense continuously to add new stories to it (Kvastad 1977: 174).

Infelizmente, as próprias propostas de Kvastad estão longe de serem

satisfatórias: o aparato pseudo-formal e as definições ‘lógicas’ que ele oferece não levam a quaisquer ensinamentos ou princípios de investigação úteis (tão-pouco o faz no seu artigo “Method” de 1979). Mas a discussão relativa aos pontos em contacto – e às diferenças epistemológicas – entre a história da linguística e a História das Ideias, seja no sentido de Lovejoy (1936), seja no sentido de ‘história intelectual’ (Mandelbaum 1965) não deve ser definitivamente abandonada. De facto, alguns podem argumentar que certos trabalhos mais recentes como Rethinking Intellectual History (1983) de Dominick LaCapra, e muitos outros textos seus, poderiam despertar no historiador da linguística novos discernimentos. Entretanto, se o diálogo entre um dos seus resenhadores (Pagden 1988) e o próprio LaCapra (1988) serve de guia, parece que esta linha de trabalho avançou pouco além do estágio da discussão. Quando exemplificada – pelo menos no caso de

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LaCapra (cf. pág. 680 e nota 3) – acabou por produzir análises literárias ou filosóficas, e não análises de história intelectual. Como concede o próprio LaCapra (1988: 678), o seu estilo é ‘often polemical’, e o seu objetivo é “[...] to lay the groundwork for a more fruitful interchange among intellectual, cultural, and social history [...]", ao proteger a “[...] intellectual history against misguided attacks [...]” (LaCapra 1988: 679). Em suma, parece que o foco ainda está mais nos problemas epistemológicos e ‘atitudinais’ do que nos metodológicos. É, portanto, de se imaginar, o quanto um historiador pode aprender com estes projetos imbuídos do pensamento pós-estruturalista francês, sobretudo do trabalho de Jacques Derrida, que pretendem entrar no ‘discurso dialógico’ com ‘vozes do passado’, sem compreender “[...] that to converse with the past one must first attempt to reconstruct it [...]” (Pagden 1988: 526). É bastante interessante que, ao mesmo tempo que ataca o trabalho daqueles que seguem o programa francês da histoire des mentalités – que, por enfatizar a ‘mentalidade’ como determinadora de uma dada cultura, leva o analista a recorrer a pressões externas não especificadas, se quiser dar conta das mudanças – o trabalho de LaCapra e outros parecem conduzir mais a um relato presentista do que a uma análise histórica.

A natureza da linguística como um campo com um objeto de estudo bem definido – a linguagem humana em todas as suas manifestações – talvez requeira mais do que uma associação com ou uma inspiração pela história das ideias, ou mesmo pela ‘história da filosofia’. Passmore (1967) expressa-se contra a ideia, defendida também por Kristeller (1964), de que historiadores, mais do que os filó-sofos, escrevam a história das ideias filosóficas, e argumenta que “[...] the pure historian with no philosophical enthusiasm is almost certain to compose a doxography [...]” (Passmore 1967: 229), isto é, um relato inteiramente desvin-culado, cronológica e biograficamente das escolas passadas do pensamento filosófico. Neste aspeto, Passmore está plenamente de acordo com a visão expressa por Malkiel, citado anteriormente, e cuja opinião compartilho.

No meu próprio trabalho (p. ex., Koerner 1978a), considerei o conceito de ‘clima de opinião' de Carl Lotus Becker (1873-1945) particularmente útil para traçar a atmosfera intelectual de um dado período em que certas ideias floresceram, foram recebidas ou rejeitadas. Becker (11932, 351971) exemplificou este termo da seguinte maneira:

Whether arguments command assent or not depends less upon the logic that conveys them than upon the climate of opinion in which they are sustained. What renders Dante's argument or St. Thomas's definition meaningless to us is not bad logic or want of intelligence, but the medieval climate of opinion – those instinctively held conceptions, in the broad sense, that Weltanschauung or world pat tem – which imposed on Dante and St. Thomas a peculiar use of the intelligence and a special type of logic. To understand why we cannot easily follow Dante or St. Thomas it is necessary to understand (as well as may be) the nature of this climate of opinion (Becker 1971: 5).

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Aqueles que trabalham na história da linguística terão certamente aprendido a ter em conta a observação de Becker, embora também tenham aprendido que não é apenas o clima de opinião de um período que deverá ser reconstruído, mas muitos outros fatores para que possamos obter uma compreensão mais fidedigna do contexto intelectual geral em que as teorias particulares se desenvolveram, então uma história amplamente definida de ideias que pode ser útil, mas que não será uma panaceia.

2.2 História da linguística e da filosofia, teoria e prática da história Como foi sugerido por Malkiel, a investigação geral em história e as

discussões que a orientam podem ter algo a oferecer aos historiadores da linguística. Neste campo de estudo, a obra de Hayden White tem sido frequentemente citada nas últimas décadas (ainda que não por historiógrafos da linguística, tanto quanto sei) como influente no debate do método histórico propriamente dito. No seu livro Metahistory (1973), White celebra o trabalho de quatro historiadores do século XIX – Jules Michelet, Leopold von Ranke, Alexis de Tocqueville, Jacob Burckhardt – que “[...] represent not only original achievements in the writing of history but also alternative models of what a ‘realistic’ historiography might be” (White 1973: 141). Ao mesmo tempo, White (1973: 433) propõe que “[...] we are free to conceive ‘history’ as we please, just as we are free to make of it what we will”, sugerindo, desta maneira, ao que parece, não haver critérios disponíveis para definir o assunto. Numa coletânea de artigos publicados cinco anos mais tarde, surpreendemo-lo numa ‘reviravolta linguística’ semelhante a LaCapra e outros. Aqui ele reivindica que “[...] the conventional distinctions between ‘history’ and ‘historism’ are virtually worthless” (White 1978: 101); pelo contrário, “[...] seek to show that in the very language that the historian uses to describe his object of study, [...] he subjects that object of study to the kind of distortion that ‘historicists’ impose upon their materials in a more explicit and formal way” (White 1978: 102).

Por outras palavras, White não está muito interessado em escrever realmente a história, mas em analisar e criticar os ‘discursos’ dos outros historiadores ou teóricos da história, nomeadamente Michel Foucault (1926-1984) – daí a sua predileção pela ‘metahistória’ Na sua coletânea de ensaios mais recente, com o subtítulo de Narrative discourse and historical representation, White (1987: 107) carateriza o discurso de Foucault como de “[...] ‘positively’ wide (if seemingly capricious) erudition [apresentada como, EFKK] solemn disclosures of the ‘way things really were”, aggressive redrawings of the map of cultural history, confident restructurings of the of the chronicle of ‘knowledge’”. Não se aventura a discutir como Les Mots et les Choses (1966) de Foucault, por exemplo, poderia ter contribuído para a discussão da filologia histórico-comparativa do início do século XIX, enquanto uma nova ‘episteme’ na história da linguística.

Mais de uma vez, julguei as observações de historiadores ‘tradicionais’ às vezes mais esclarecedoras do que os ‘discursos’ teóricos de teorizadores modernos

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com aspirações literárias. Por exemplo, ao discutir os desenvolvimentos na linguística do século XX e a maneira pela qual são apresentados, a descrição que Sir Herbert Butterfield (1900-1979) faz da interpretação Whig da História é particularmente adequada:

Through this system of immediate reference to the present-day, historical personages can easily be classed into the men who furthered progress and the men who tried to hinder it; so that a handy rule of thumb exists by which the historian can select and reject, and can make his points of emphasis (Butterfield 1931:11).

Embora alguns possam pensar que histórias do tipo whiggish e ‘presentismo’

sejam fenómenos modernos, podemos encontrar ocorrências desde que a história começou a ser escrita. Mais uma vez, do ponto de vista metodológico, não parece haver muita orientação da parte dos historiadores regulares, ou dos filósofos ou dos teóricos da análise histórica, que esteja à disposição do historiógrafo da linguística, em parte porque o assunto sob investigação, teorias sobre a linguagem e a própria linguística, são epistemologicamente bastante distintas dos acontecimentos históricos, da sua descrição, interpretação, e explicação.

Muito mais recentemente, o filósofo Richard Rorty (1984) propôs quatro ‘géneros’ para a historiografia da filosofia. No seu ensaio, distinguiu entre ‘reconstrução racional’, que é essencialmente presentista, a ‘reconstrução histórica’, que seria grosso modo aquilo com que tenho lidado, a Geistesgeschichte, que é essencialmente uma história intelectual amplamente concebida (embora o autor a trate como “[...] a richer and much more diffuse genre – one which falls outside this triad”; cf. Rorty 1984: 68), e a ‘doxografia’, que consiste na formação de cânones e sustentação de uma posição particular.

Enquanto Rorty acredita que os três primeiros tipos têm os seus usos – e seria difícil discordar da sua sugestão –, o quarto deveria ser abandonado como atividade académica. Nas suas próprias palavras, o seu tipo de ‘historical reconstruction’ “[...] works to keep Geistesgeschichte honest, just as historical reconstruction operates to keep rational reconstruction honest [...]” (Rorty 1984: 71). Anteriormente, Rorty (1984: 56) tinha contrastado ‘historical reconstuction’ como “[...] contextualist accounts which block off later developments from sight [...]” e ‘rational reconstuction’, como “‘Whiggish’ accounts which draw on our better knowledge”. Não é de admirar que, se o primeiro é tão estreitamente concebido, o último possa ser visto de forma tão benigna como Rorty sugere. Ao menos na historiografia linguística, tornou-se claro que uma abordagem contextualizada não pode ser bem sucedida se o foco for demasiadamente estreito, ao passo que a atividade presentista da ‘reconstrução racional’, para todos os efeitos, absolutamente não corresponde a fazer história.

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2.3 Historiografia linguística e história e filosofia da ciência Em contraste com a história intelectual e as várias abordagens do tratamento

da história geral – embora a historiografia linguística tenha que ter em conta as correntes intelectuais de um período dado que possam ter causado impacto sobre o pensamento linguístico – a história e a filosofia da ciência parecem ter mais a oferecer ao historiador da linguística, parcialmente por causa dos seus avanços em epistemologia e metodologia. Evidentemente, a morfologia das revoluções científicas de Kuhn (1962) contribuiu com uma parte importante na discussão (cf. Lakatos / Musgrave 1970). Entretanto, parece amplamente consensual que a natureza e a conduta da ciência e da filosofia da ciência, seja em termos do paradigmatismo mais recente (cf. Laudan 1977), ou do indutivismo tradicional e da sua filosofia da ciência oposta, o refutacionismo (Popper 1959, 1962), fizeram propostas interessantes ao historiador da linguística. De interesse particular são as feitas por investigadores tais como Foucault (1966), Hesse (1963, 1980), Kuhn (1977), Lakatos (1974,1978), Pandit (1983), Sneed (1971), e outros (p. ex., Krige 1980). Mas, mais uma vez, o historiógrafo da linguística não deve esperar receber um quadro teórico pré-fabricado de qualquer que seja a filosofia da ciência.

Como exemplo de como certas observações feitas pelos historiadores da ciência podem oferecer matéria de reflexão aos historiadores da linguística, cito a afirmação, feita há uns trinta e cinco anos, por Martin Rudwick, um historiador da ciência inglês, que, referindo-se a Hesse (1963), observou o seguinte sobre a necessidade de investigar o que chama ‘creative analogies’ no desenvolvimento de um campo de investigação, especialmente no estágio de formação:

It is at least arguable that major cognitive innovation is most likely to emerge in the scientific work of individuals who choose to employ analogies that in this sense are strongly ‘external’: that is, analogies that are furthest removed from the ‘normal practice’ of the discipline concerned. This may happen when a scientific field scarcely yet deserves the name of ‘discipline’, because its practice is not yet strongly insulated and institutionalized (Rudwick 1979: 67).

Rudwick estava a escrever sobre o papel de Charles Lyell no desenvolvi-

mento da geologia como ciência, mas a sua observação poderia bem ter caraterizado a situação que enfrentaram os primeiros linguistas histórico-comparativos de inícios do século XIX. O ‘deslocamento de conceitos’ deve ser levado em conta cada vez que um investigador ou cientista está envolvido com o desenvolvimento de alguma coisa como um ‘programa de investigação’ (Lakatos 1978). Como poderia expressar-se de um modo novo sem recorrer a analogias, metáforas, e empréstimos de outros campos de conhecimento?

Há, com certeza, muitos outros exemplos de como os historiadores da linguística podem tirar proveito da leitura de historiadores e filósofos da ciência. De facto, especialmente para os séculos XIX e XX, muitas das suas descobertas podem oferecer conceitos úteis, instrumentos de investigação para o efetivo escrever a História. Como já foi observado anteriormente, The Structure of Scientific Revolutions de Kuhn tem sido particularmente influente, não apenas na linguística,

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mas também na antropologia e na sociologia. Em observações programáticas feitas nos anos 1970, referi-me frequentemente às ideias de Kuhn, mas em lugar nenhum sugeri a aplicação acrítica das suas propostas à história da linguística. Conceitos como ‘paradigma’, seguindo a própria sugestão de Kuhn 1970, ‘matriz disciplinar’; ‘ciência normal’; ‘revolução científica’; e ‘operação-limpeza’ ainda podem revelar-se “[...] ‘useful to the historian of linguistics’ if he does not press the argument to a point where it no longer makes sense” (Koerner 1989a: 50). Desnecessário será dizer que o mesmo se aplicaria, mutatis mutandis, a conceitos e noções encontradas em trabalhos de outros historiadores e filósofos da ciência, sejam eles da linha do refutacionismo de Popper ou de qualquer outro quadro teórico, como por exemplo, a abordagem epistemológica de Mario Bunge (1984).

2.4 Historiografia linguística e sociologia da ciência Há alguns anos, Roger Chartier queixou-se da “[...] almost tyrannical

preeminence of the social dimension [...]” nos estudos históricos (citado por Pagden 1988: 520). Parece, portanto, inevitável, que o historiador da linguística preste atenção ao trabalho na sociologia da ciência (p. ex., Merton 1973; Mullins 1973; Amsterdamska 1987; Murray 1994) e, possivelmente, mesmo às descobertas da ‘sociologia do conhecimento’ (Wissenssoziologie; Mannheim 1968). Igualmente, o conceito de ‘acumulação’ de Bourdieu (1975) e, suspeita-se, o esbanjamento de ‘capital’, tanto social como científico, e noções tais como ‘dominação’ (científica), ‘valor’, ‘interesse’, ‘visibilidade’, ‘legitimidade’ e outras mais merecem ser mais exploradas pelo historiógrafo da linguística. A distinção de Bourdieu entre ‘estratégia de subversão’ e ‘estratégia de sucessão’, isto é, possíveis estratégias de discurso seguidas por jovens cientistas tentando estabelecer-se num determinado campo, mas também a sua referência às estratégias de ‘exclusão’ e ‘rejeição’, empregues por todos aqueles interessados em manter – e em aumentar – o seu ‘capital científico’ poderiam muito bem ser úteis na análise das ‘revoluções’ em Linguística (vem-me à mente a carreira de Chomsky).

Novamente a ênfase de Kuhn na natureza social das revoluções científicas teve um papel importante no estudo da formação de grupos em ciência – Kuhn (1970: 176) falou sobre ‘invisible college’ (Crane 1972) – tal como foi analisado por Mullins (1973) para a biologia e, da mesma maneira, por Murray (1994) para a antropologia e a linguística. Entretanto, o relato de Amsterdamska (1987) dos cem anos de linguística de Bopp a Saussure, do ponto de vista da sociologia da ciência mertoniana, ainda que não sem mérito, pouco acrescentou ao que já era conhecido – e relatado – por historiadores da linguística do século XIX, tal como o papel importante do sistema de educação superior na Prússia para a institucionalização do campo da linguística (como evidentemente também para outras áreas).

É verdade que o êxito dos Junggrammatiker – ou aquele dos seguidores de Chomsky – não pode simplesmente ser explicado em termos de vitória de uma abordagem linguística particular, supostamente nova, sobre outra, embora não se possa negar que a troca de uma visão ‘sânscrito-cêntrica’ da Ursprache indo-

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europeia por uma atenção maior à reconstrução fonológica da antiguidade greco-latina clássica teve um papel importante na mudança entre a posição sustentada por Schleicher durante a década de 1860 e o quadro teórico defendido por Brugmann e os seus colegas, de 1876 em diante (cf. Mayrhofer 1983). Por outras palavras, embora certas propostas no interior de uma disciplina tenham tido méritos intrínsecos, a sua difusão nos limites de uma comunidade de investiga-dores foi auxiliada por fatores externos, tais como a expansão considerável da educação pós-secundária depois da guerra Franco-Prussiana de 1870. Uma expansão similarmente drástica da educação universitária nos Estados Unidos e também na Europa durante a década de 1960 teve um efeito significativo na ampla aceitação das teorias de Noam Chomsky neste período e nas décadas subsequentes. Mas, mais uma vez, parece não haver um quadro metodológico específico para a historiografia linguística que possa ser obtido a partir das abordagens sociológicas da ciência, além de ficarmos conscientes do facto de que fatores extradisciplinares frequentemente exercem um efeito na evolução de uma dada disciplina, quer aparentemente exata, quer menos rigorosamente definida.

2.5 Para uma síntese das diferentes abordagens As incursões acima referenciadas noutros campos históricos, história geral,

história intelectual, história e filosofia da ciência, e abordagens sociológicas da história sugerem que a história da linguística tem alguma coisa a aprender com todas estas disciplinas e subdisciplinas. No entanto, nenhuma delas, por si só, pode servir de guia para o historiógrafo da linguística na sua investigação. De facto, em última análise, os historiadores da ciência linguística deverão desenvolver o seu próprio quadro teórico, tanto do ponto de vista metodológico, como filosófico. Para realizar esta tarefa, um amplo conhecimento da teoria e da prática noutros campos revela-se verdadeiramente muito útil, mesmo se o resultado for negativo, isto é, se o historiador da linguística descobrir que este ou aquele campo de investigação histórica tem de facto pouco a oferecer em matéria de método historiográfico.

Como propus anteriormente, parece que a história das ideias oferece poucos ensinamentos ao historiógrafo da linguística, que este não pudesse encontrar por iniciativa própria: oferece um reconhecimento generalizado de que as teorias linguísticas não se desenvolvem num total isolamento do clima intelectual geral do período ou das atitudes particulares mantidas pela sociedade que promoveu a atividade científica. Num filão similar, podemos admitir que, pelo menos um conhecimento superficial da sociologia da ciência e, talvez mais importante, uma compreensão da dinâmica das redes sociais dentro de qualquer organização científica, fariam algum bem ao historiador da linguística (Murray 1994).

Resultados mais promissores podem advir das revelações das discussões conduzidas pelos filósofos e historiadores da ciência. O influente livro de 1962 de Kuhn foi várias vezes invocado antes, mas as várias reações e contraposições a essa obra merecem igual atenção. A história da linguística não deve ser tratada como um ramo da história das ideias, pelo menos não a partir do advento da

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filologia histórico-comparativa de inícios do século XIX. Isto, porque a linguística, diferentemente da filosofia por exemplo, é uma ciência e porque tem a ver com factos (normalmente) empiricamente verificáveis, assim como com teorias (frequentemente bastante complexas) e, por vezes, com práticas de investigação bastante rigorosas, e não meramente com ideias gerais sobre a natureza da linguagem. Esta afirmação pode exigir ao historiador da linguística que entre no debate sobre o estatuto científico da linguística, pelo menos no que diz respeito aos séculos XIX e XX sem, entretanto, consumir a maior parte das suas energias (para períodos anteriores do estudo da linguagem, que precederam a era científica introduzida pela ciência natural do século XIX, outros critérios podem ter que ser desenvolvidos. A aplicação dos princípios modernos da filosofia da ciência a estes períodos mais antigos é, sem dúvida, arriscada. De facto, o entendimento do que é ‘científico’ e do que constitui ‘ciência’ pode ter que ser redefinido em diferentes períodos na história da disciplina sob escopo).

Os outros caminhos abertos para o historiador da linguística, possivelmente complementares, são os princípios derivados da sua prática histórica. Estou a pensar no desenvolvimento de modelos particulares que podem guiar a sua investigação, na análise crítica do trabalho dos nossos predecessores, vários dos quais moldaram muito da nossa visão do passado, e na discussão dos problemas particulares que enfrenta o investigador, tais como a ideia da ‘influência’, o debate sobre a descontinuidade/continuidade ou a questão da ‘metalinguagem’ na historiografia linguística, para citar só alguns exemplos. Em suma, há ainda muito trabalho a ser feito até que a história da linguística venha a tornar-se a historiografia das ciências da linguagem.

3 A desenvolver princípios para a historiografia linguística A década dos anos 1980 testemunhou um animado debate sobre metodologia

historiográfica na história da linguística (vejam-se os artigos reunidos nas coletâneas de Dutz / Kaczmarek 1985 e Schmitter 1987); muitas das discussões anteriores e controvérsias foram levantadas por Ayres-Bennett (1987). Não obstante a ausência de guias aceites para o tratamento da história da linguística (notem-se, entretanto, propostas anteriores feitas por outros, por exemplo, Simone 1975), a tentativa de desenvolver princípios de investigação e procedimentos para o trabalho historiográfico em linguística deve ser feita. Entretanto, conceitos tais como ‘matriz disciplinar’ e ‘clima de opinião’, ‘continuidade’ vs. ‘desconti-nuidade’, ‘evolução’ vs. ‘revolução’, ‘corrente principal’ vs. ‘corrente secundária’, ‘orientação para os dados’ vs. ‘orientação para a teoria’, e outros acabaram por tornar-se termos mais amplamente aceites, mesmo que não haja sempre unanimidade no que diz respeito ao seu sentido e escopo da sua aplicabilidade.

Há vários problemas metodológicos – e epistemológicos – que enfrenta o historiógrafo da linguística. Estes incluem questões de periodização, contextuali-zação e, geralmente, procedimentos de investigação, assim como questões relativas às mudanças de ênfase na prática linguística atual, a identificação de diferentes

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fases de desenvolvimento num quadro teórico particular, ou em períodos de tempo mais amplos, e no papel de fatores externos, por exemplo, os sócio-políticos, na aceitação ou rejeição de um referencial teórico. É preciso um livro inteiro para a discussão adequada destas questões. Sendo assim, os poucos tópicos selecionados apresentados a seguir devem ser simplesmente tomados como exemplos da complexidade e da extensão dos assuntos com os quais o historiógrafo da linguística deve estar familiarizado. Ao mesmo tempo, podem sugerir que o tratamento da história da linguística cientificamente orientado – a historiografia linguística – está ainda longe de ter um quadro prático de conduta de investigação estabelecido e suficientemente amplo.

3.1 A questão da metalinguagem O uso da terminologia atual na descrição de fases anteriores do

desenvolvimento do pensamento linguístico conduziu a uma variedade de problemas na nossa compreensão de teorias do passado. A Cartesian Linguistics (1966) de Chomsky é o exemplo mais conhecido de distorções efetuadas por um linguista do século XX de ideias sobre linguagem, manifestadas por eruditos dos séculos XVII, XVIII e XIX. O que tinha sido encobrido pelo alvoroço dos anos 1960 e 1970 pela interpretação chomskiana, tornou-se logo evidente para qualquer historiógrafo sério da linguística: as distorções de Chomsky eram devidas, e não em pequena proporção, à identificação imprópria de termos e de conceitos de séculos anteriores com definições e conceitos atuais. Por exemplo, podemos facilmente reconhecer que o uso particular de Chomsky de ‘(to) generate’, que tem a sua origem na matemática e na teoria da tradução dos anos 1950, tem pouco a ver com a ideia humboldtiana de erzeugen que, embora advindo da psicologia e da filosofia da linguagem do século XVIII, é amplamente original em Humboldt. Diferentemente de Chomsky, Humboldt não viu a fala como a produção mecânica de frases, feita por uma máquina cujo ‘poder’ precisasse de ser ‘restringido’ (não obstante o frequente repúdio de Chomsky), mas como um esforço verdadeiramente criativo do indivíduo (na verdade, Humboldt tinha em mente a criação intelectual do artista e do pensador, e não o output do falante médio comum). Ao considerar os 150 anos ou mais que separam Humboldt de Chomsky, esta divergência de visão não é absolutamente fora do comum. Mas o historiógrafo da linguística deve não apenas entendê-la, mas deve até dar conta dela. Sem dúvida, há problemas epistemológicos envolvidos aqui, mas o ponto mais óbvio que proponho está ligado ao que tenho chamado ‘a questão da metalinguagem’, isto é, a linguagem empregue para descrever ideias do passado sobre a linguagem e a linguística e, no caso de Chomsky em particular, ao seu esforço retórico de distanciar-se dos seus predecessores imediatos.

Nenhum escritor consegue escapar à questão ao discutir teorias de períodos passados, na medida em que deve tentar, ao mesmo tempo, torná-las acessíveis ao leitor do presente, ao passo que tenta não distorcer a intenção e significado origi-nais. A menos que o único objetivo do historiógrafo seja antiquário, isto é, descre-

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ver conceitos desenvolvidos há muitos anos apenas nos próprios termos utilizados, será tentado a usar um vocabulário técnico moderno na sua análise. Este procedimento ‘modernizante’, porém, tem levado a inúmeras e sérias distorções na história da linguística, e qualquer historiógrafo perspicaz deve perceber as armadilhas e voltar-se para este problema potencial do uso da ‘metalinguagem’

Há muitos exemplos nos relatos históricos modernos sobre as ideias dos séculos passados, em que ideias, conceitos e procedimentos foram mal compreendidos, deturpados, e distorcidos devido à falta de cuidado do autor no uso da ‘metalinguagem’ As noções de Saussure sobre a arbitrariedade do signo têm sido usadas em demasia para discutir a ‘semiótica’ dos estoicos (como se aqueles pensadores gregos tivessem lido o Curso e os artigos de Charles S. Peirce, postumamente publicados ainda por cima). Da mesma maneira, os autores (anónimos) do acordo sobre a reforma ortográfica do islandês dos séculos XII e XIII foram vistos à luz da fonologia estrutural (como se eles tivessem tido acesso aos Grundzüge de Trubetzkoy); e os objetivos pedagógicos e a sustentação lógica do argumento dos gramáticos de Port-Royal foram interpretados como os primeiros exemplos de uma abordagem ‘gerativa’ na sintaxe (como se eles tivessem acedido aos Aspects, de Chomsky), para mencionar apenas alguns exemplos mais famosos (para maiores detalhes, ver Koerner 1993a).

A solução para o problema dos possíveis abusos da linguagem técnica por parte do historiógrafo da linguística pode estar na adoção dos três princípios que se seguem e que, se bem que admitidamente ultrapassem a questão da metalingua-gem, deveriam ter uma aplicação muito mais ampla na historiografia linguística.3

1.º O primeiro princípio para a apresentação das teorias linguísticas propostas em períodos mais antigos tem a ver com o estabelecimento do ‘clima de opinião’ geral do período em questão. As ideias linguísticas nunca se desenvolveram independentemente de outras correntes intelectuais do período em que surgiram. Na verdade, o que Goethe chamou de Geist der Zeiten sempre deixou as suas marcas no pensamento linguístico. Por vezes, a influência da situação socioeconómica, e mesmo política, deve igualmente ser tida em conta (considere-se a discussão sobre a ‘ordem natural’ da organização sintática, na França do século XVIII, na qual o francês foi apresentado como uma língua superior às outras, e as aspirações de supremacia política da França no mesmo período). Esta primeira diretriz pode ser chamada de ‘princípio da contextualização’.4

2.º O próximo passo que o historiógrafo da linguística deveria dar consiste em tentar estabelecer uma compreensão completa do texto linguístico em questão, tanto do ponto de vista histórico como crítico, talvez até mesmo filológico. É desnecessário dizer que se deve abstrair da sua própria formação linguística e dos

3 Para completar o meu argumento, estou a retomar os aspetos principais dos pontos que levantei no artigo “O problema da metalinguagem na historiografia linguística” no presente volume. 4 Para outros exemplos deste tipo na história da linguística, ver as contribuições Joseph / Taylor (1990).

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compromissos atuais na linguística. O quadro geral da teoria a ser investigada, assim como a terminologia usada no texto, devem ser definidos internamente e não em referência à doutrina linguística moderna. Esta consideração pode ser chamada de ‘princípio da imanência’.

3.º Só depois de terem sido concisamente seguidos os dois primeiros princípios, de forma a que uma dada manifestação linguística tenha sido compreendida no seu contexto histórico original, o historiógrafo pode aventurar-se a introduzir aproximações modernas do vocabulário técnico e do quadro conceptual apresentado na obra em questão. Talvez possamos chamar a este último passo de ‘princípio da adequação’. Claro que é necessário que o investigador explique porquê e até que ponto o conceito tardo-medieval de ‘significatio vocis’, por exemplo, pode ser traduzido como ‘significado’, ou até que ponto a distinção saussuriana entre ‘sincronia’ e ‘diacronia’ pode ser aplicada a propostas teóricas anteriores, que têm a ver com a relação entre a linguística ‘descritiva’ e ‘histórica’. Como regra, o historiógrafo da linguística deve alertar o leitor para o facto de as aproximações terminológicas terem sido introduzidas por ele; por outras palavras, deve ser explícito e preciso no que respeita àquilo que na realidade está a fazer.

Se, e somente se, estes três princípios, isto é, a contextualização histórica e intelectual, a análise do texto no seu próprio quadro teórico (compare-se a tradição alemã na história literária de ‘interpretação imanente’ ou werkimmanente Interpretation) e uma descrição clara das ferramentas empregues na tentativa de tornar o texto mais facilmente acessível ao linguista moderno, estão a ser adequadamente tidos em conta, é que se pode esperar que distorções sérias das ideias e intenções dos linguistas, dos filósofos da linguagem, ou dos gramáticos do passado possam ser evitadas.

Propor ao historiógrafo da linguística os três princípios acima referidos não implica que não possa haver outros interesses legítimos nas teorias do passado. Por exemplo, não faço objeções a alguém interessado em estudar as obras dos Modistae do período medieval, porque estes podem ter sido os primeiros a conferir um estatuto teórico à gramática e porque “[...] their Speculative Grammar seems to satisfy the modern request of explanatory adequacy” (Benedini 1988: 135), pelo menos enquanto isto não é apresentado como história. Na verdade, fico aliviado pelo facto de a autora assegurar que “the necessary methodological reserve is not to identify the ancient definitions with modern ones but only to consider the significant affinity underlying both definitions” (Benedini 1988: 135).

3.2 O argumento da ‘influência’ De entre as várias outras questões de natureza metodológica na historiografia

linguística, tais como aquelas que dizem respeito à inovação vs. continuidade, evolução vs. revolução no estudo da linguagem (para estas questões ver Koerner 1987, 1989a cap. 6-8), há o problema eterno da ‘influência’, termo amplamente usado e, frequentemente, de forma indiscriminada. Raramente é feita uma dis-tinção entre um tipo de influência que diz respeito a experiências compartilhadas,

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educação e ao Zeitgeist geral, por um lado, e a influência direta que pode ser documentada com base em referências explícitas, comparação de textos, agradecimentos públicos, e assim por diante. A armadilha do uso descuidado do argumento da ‘influência’ pode ser ilustrada pela referência a um número consi-derável de relatos recentes (supostamente) históricos. Acontece, com demasiada frequência na linguística moderna, que o proponente de uma análise fonológica ou sintática tenha que reivindicar a originalidade a fim de ser notado; a seguir, os detratores apontam para os antecedentes, factuais ou hipotéticos, numa tentativa de invalidar tais reivindicações. Esta tendência penetrou na redação da história da linguística, ainda que seja de se esperar que um historiador encontre mais exemplos de evolução e continuidade do que de revolução e descontinuidade de ideias através dos séculos, pontuados por mudanças de ênfase, incluindo movi-mentos pendulares, às vezes causados pelo afluxo de fatores extralinguísticos, tais como avanços na tecnologia, mas também acontecimentos sociopolíticos.

Deixando de lado os muitos exemplos bona fide em que um autor se refere diretamente à obra de outros, criticando-o ou aprovando-o, e talvez alguns outros menos óbvios, em que tais influências podem ser comprovadas através de análise textual (e contextual), encontram-se muitas alegações de influência baseadas em similaridades superficiais entre autores, em interpretações erróneas dos textos em questão, ou em tentativas de reduzir a importância de uma figura maior na história da teoria linguística. Isto tem acontecido frequentemente com as obras de Humboldt e Saussure, ambos, sem dúvida, foram pensadores particularmente originais. Deixando de lado as alegações de Hans Aarsleff (1982a: 335-355) de que Humboldt estaria a dever muito mais a Condillac e aos Idéologues do que a Kant e a Herder, uma posição que somente alguns consideraram válida (cf. Koerner 1989a: 33-35), há pelo menos duas alegações frequentemente repetidas de ‘influência’ que têm persistido na literatura, apesar das provas em contrário, nomeadamente, o assim chamado darwinismo de August Schleicher e a suposta influência da sociologia durkheimiana em Saussure.

Schleicher é bem conhecido pelo seu argumento de que a linguística deveria fazer parte das ciências naturais; e também por ter combinado as primeiras correntes da linguística comparativa, histórica e tipológica de inícios do século XIX para formar uma nova síntese da análise e reconstrução linguísticas, avançando igualmente a sua metodologia (baseada na ideia da árvore genealógica ou Stammbaum) e terminologia (p. ex., o uso de formas asteriscadas). Ambas têm antecedentes na linguística, mas Schleicher foi o primeiro a extrair delas princípios metodológicos. Quando leu uma tradução alemã da Origin of Species de Darwin, em 1863, e observou, num ensaio do mesmo ano, que tinha visto as suas próprias ideias sobre linguagem confirmadas pelas descobertas de Darwin, muitos escritores subsequentes, sem ler o que Schleicher tinha frequentemente afirmado anteriormente a 1863 (e sem dar-se conta de que já tinha publicado duas Stammbäume indo-europeias já em 1853, por exemplo; seis anos antes da primeira publicação da Origin of Species), interpretaram que Schleicher fora ‘influenciado’

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no seu pensamento linguístico por Darwin (cf. Koerner 1989a: 35-37, entre outros). A ideia de Schleicher como um linguista darwinista continua ainda hoje uma ideia fixa em muitos manuais correntes, embora seja demonstradamente falsa.

Da mesma maneira, a caraterização da linguagem como um fait social, feita por Saussure, tem sido tomada como um indicador de que ele desenvolveu o seu conceito de langue sob a influência dos princípios sociológicos de Émile Durkheim (1858-1917), embora, até ao presente momento, ninguém tenha realmente fornecido uma prova convincente desta relação. Porém, o facto de eles terem sido contemporâneos, ambos escritores de língua francesa, e expressarem ideias compatíveis, parece ser suficientemente sugestivo para muitos reiterarem esta sugestão, feita pela primeira vez no Second International Congress of Linguists (Genebra 1931), isto apesar de ninguém menos do que Antoine Meillet, aluno de Saussure durante os seus anos em Paris e o seu posterior correspondente e amigo durante o período de Genebra, ter enfaticamente negado tal conexão (como documentam as atas na pág. 147). Deve acrescentar-se que Meillet, por seu lado, tinha colaborado com Durkheim a partir de 1901. Investigadores atuais, entretanto, tendem a perpetuar o mito, apesar de o nome de Durkheim nunca ter aparecido nos escritos de Saussure, publicados e inéditos, ao passo que Saussure regularmente se refere ao trabalho de Whitney, onde quer que fale sobre a linguagem como uma instituição social. Para um verdadeiro historiógrafo da linguística, tal falta de cuidado com a prova disponível é inaceitável, onde quer que estes argumentos sejam propostos. Talvez deva, como regra geral, ter em consideração o famoso adágio de Roman Jakobson: “What is commonly accepted as a fact is probably untrue” (para detalhes relativos às fontes sociológicas de Saussure, veja-se Koerner 1989a: 37-40).

Diferentemente do Code Napoléon, na historiografia linguística, a procura da paternidade não é proibida. Pelo contrário, é de se esperar que muitas ideias nos tenham sido transmitidas pelos nossos antepassados e, se existe mudança e inovação de facto, normalmente assume a forma da variação de temas, da seleção dentro do conhecimento acumulado, e de desvios do clima intelectual que tendem a induzir maneiras diferentes de encarar as coisas. Compete ao historiógrafo detetar, analisar, e explicar estas mudanças, não ser iludido por reivindicações de novidade, originalidade e criatividade, habitualmente feitas pela geração a seguir.

3.3 Outras considerações Sem dúvida, ainda há outras questões de ordem metodológica – e mesmo

epistemológica – para a escrita da história da linguística. Talvez o facto de me ter concentrado nos desenvolvimentos dos séculos XIX e XX me tenha tornado imune a algumas delas. Mesmo assim, a nossa proximidade relativa a estes eventos passados pode sugerir uma falsa segurança. Quando Herman Paul, por exemplo, na segunda edição (1886) dos seus Prinzipien, afirma que ‘empírico’ e ‘histórico’ são uma e mesma coisa, o historiador da linguística deve compreender que o entendimento de ‘histórico’ de Paul era provavelmente bastante diferente do nosso.

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Da mesma maneira, o debate sobre ‘narratividade’ na historiografia linguística, resumido em Schmitter (1992), é um assunto ao qual não me referi até agora. De novo esta opção deve-se às minhas áreas de investigação e à escolha particular de temas para tratamento histórico. Peter Schmitter tinha uma formação sólida em filosofia e um grande interesse nos textos dos filósofos da linguagem (p. ex., Platão, Humboldt) em detrimento dos textos dos linguistas; parece que estas tendências metateóricas têm a sua fonte no seu Erkenntnisinteresse. Como os meus esforços nas últimos quatro décadas, ou mais, mostraram, tenho tido maior interesse por considerações de ordem prática ou metodológica, pelo desmascaramento de mitos e pelo estabelecimento de um quadro teórico que deveria ajudar-nos a evitar as armadilhas da investigação histórica que, frequentemente, é motivada por outros interesses que não os de repor a verdade. Esta posição é assumidamente ‘positivista’, guiada mais pela inclinação de deixar os factos falarem por si mesmos (tanto quanto eles podem ser reconstruídos) do que pela tendência de oferecer especulações tentadoras. Se a história da linguística ainda se encontra num ‘estágio descritivo’ (em vez de ter alcançado o ‘estágio teórico'), parece desejável manter os pés no chão. Se esta atitude geral faz de mim um positivista, então, que seja. Acontece que acredito (pace Mackert 1993) que alguns relatos históricos são mais verdadeiros do que outros; o uso de dados históricos e de provas textuais para estabelecer uma interpretação particular de um documento tem alguma validade e não é simplesmente o resultado da fantasia de um historiador.

É muito interessante, se olharmos para o trabalho historiográfico empreendido por aqueles que esposaram determinado tipo de abordagem – e isto inclui, por exemplo, Schmitter (1993) – que as perspetivas epistemológicas e filosóficas anunciadas nas suas afirmações introdutórias habitualmente parecem evaporar-se e o resultado das suas investigações, de facto, acaba por tornar-se, frequentemente, um trabalho historiográfico de um tipo bastante tradicional. Isto é válido tanto para a história da linguística norte-americana de Stephen O. Murray (1994), inspirada nas obras de Mullins sobre a formação de grupos nas ciências (p. ex., Mullins 1973, 1980), como para a de Randy Allen Harris (1993a), sobre a batalha entre os semanticistas ‘interpretativistas’ e os ‘gerativistas’ durante meados dos anos 1960 até finais dos anos 1970, ainda que o autor tenha iniciado a sua investigação destas lutas a partir do ponto de vista de um retórico. De facto, a atenção para o detalhe no esforço de estabelecer os verdadeiros factos deste debate, nomeadamente no livro de Harris, lembra o trabalho dos historicistas do século XIX, se ignorarmos o facto de estes escritores modernos parecerem incapazes de manter os seus egos fora das suas narrativas.

4 Conclusões: tarefas da historiografia linguística Nos capítulos anteriores, ficou sugerido que ainda é preciso muito trabalho para

que se estabeleça uma historiografia linguística que conduza à adoção de um quadro teórico de aceitação generalizada que oriente a investigação histórica num assunto tão amplo como o estudo linguístico. Ao mesmo tempo, com a disponibilidade de

Questões que persistem na historiografia linguística 63

pelo menos cinco periódicos com peer review que são explicitamente devotados à história da linguística, Historiographia Linguistica (Amsterdam 1973/1974-), Histoire Epistemologie Langage (Paris 1979-), Beiträge zur Geschichte der Sprach-wissenschaft (Münster, 1991-) Boletín de la Sociedad Española de Historiografía (Espanha, publicada pela SEHL, 1998-) e, mais recentemente, Language and History (Inglaterra, editada pela HSS, 2009-),5 assim como encontros anuais das várias sociedades regionais e internacionais que se seguiram à fundação da Société d'Histoire et d'Epistemologie des Sciences du Langage, (S.H.E.S.L), em março de 1978 (em antecipação ao ICHoLS I), o estabelecimento da Henry Sweet Society for the History of Linguistic Ideas (HSS), em Oxford, em inícios de 1984, e da North American Association for the History of the Language Sciences (NAAHoLS), em finais de 1987, e desde então vários outros agrupamentos na Europa e na América Latina,6 há toda a razão para acreditar que o nível académico na história da linguística continuará a crescer e que os vários problemas e princípios na historiografia linguística se tornarão uma parte e uma parcela do conhecimento geral e da prática de investigação da maioria dos participantes deste empreendimento.

Ao mesmo tempo, acredito que tenha ficado claro a partir do que afirmei anteriormente que não estou a pensar num sistema complexo de regras epistemológicas, filosóficas, metodológicas, e, finalmente, práticas para a ativi-dade historiográfica. Mais do que estabelecer um método que possa favorecer a ideia enganadora de que tal quadro teórico possa ser aplicado rigorosamente a todas as situações com as quais o historiador pode vir a ser confrontado, o meu objetivo é muito mais modesto: o estabelecimento de uma lista de princípios práticos e teóricos que sejam suficientemente amplos para encontrar larga aceitação entre os historiógrafos da linguística, porque podem ser adaptados a períodos diferentes da história das ciências da linguagem e a aspetos particulares de investigação, sendo, no entanto, diretrizes que podem tornar a nossa inter-pretação do passado mais transparente para colegas que não compartilhem necessariamente da mesma formação, perícia e interesse.

5 Desnecessário será dizer que os historiógrafos da linguística deveriam empreender todos os esforços para publicar o seu trabalho em periódicos gerais de linguística, pelo menos por duas razões: primeira, para procurar conquistar o seu espaço em periódicos académicos bem estabelecidos e, segunda, para garantir que a história da linguística não se venha a desenvolver como especialidade fora do domínio da Linguística, mas permaneça como uma parte da educação profissional de todo linguista sério. 6 [Observação da tradutora: por exemplo, o holandês Werkverband Geschiedenis van de Taallkunde, fundado em Amsterdam em 1987 e, mais recentemente, a Societa di storia della filosofia di linguaggio, em Roma, na primavera de 1994, a Sociedad española de historiografia linguistica, criada em Valladolid em janeiro de 1995, com cerca de cinquenta membros iniciais e, acrescente-se, fora da Europa, a Sociedade Mexicana de Historiografia Linguística, criada em 1999, além de outros grupos de trabalho no Brasil e na Argentina.]

Linguística e filologia: o eterno debate* 1 Observações introdutórias Quando em 1981, os organizadores do Fifth International Conference on

Historical Linguistics decidiram promover um painel especial para a discussão sobre filologia e linguística histórica (cf. Ahlqvist 1982: 394-459, com contribuições de Henning Andersen, Lyle Campbell e muitos outros), a maioria de nós pensava há muito que as relações entre ‘filologia’ e ‘linguística’, uma questão controversa no estudo da linguagem há mais de 150 anos, tivesse sido colocado ad acta. A batalha, pensava eu, tinha sido ganha pela ‘linguística’ por ser a disciplina verdadeiramente científica das duas, pelo que só mentes mais fracas é que podiam pensar em enveredar pelo outro campo chamado ‘filologia’. Voltar a tal questão naquele momento era sinal de que alguma coisa na linguística tinha mudado, sobretudo na linguística histórica. Ao mesmo tempo que repensávamos essas relações, tomávamos consciência do facto de que o ressurgimento do interesse pela questão estava ligado a certos avanços no campo da linguística diacrónica. Não se tratava apenas de voltar às velhas controvérsias.

Para compreender melhor os avanços recentes, porém, especialmente nos países anglo-saxónicos, é preciso saber algumas coisas sobre os antecedentes históricos da relação tradicional entre ‘filologia’ e ‘linguística’, assim como os significados associados aos termos, nas diversas etapas de desenvolvimento do estudo da linguagem, enquanto ciência. A divulgação do painel de discussão nas três línguas oficiais da associação deixou óbvio para mim que, enquanto as versões francesa e alemã do termo inglês ‘historical linguistics’ (‘linguística histórica’), ‘linguistique historique’ e ‘historische Sprachwissenschaft’, não pareciam problemáticas, os equivalentes francês e alemão, sugeridos para o termo inglês ‘philology’, tradicionalmente não abrangem a mesma matéria. Bloomfield (1933: 512, nota 2.1) observou o seguinte – o que pode, aliás, ser considerado paradigmático da atitude dos linguistas para com a filologia durante a maior parte do século XX:

The term philology, in British and in older American usage, is applied not only to the study of culture (especially through literary documents), but also to linguistics. It is important to distinguish between philology (German

* [Observação sobre a tradução: a presente tradução, elaborada por Cristina Altman e Lineide do Lago Salvador Mosca, foi elaborada com base numa versão abreviada de um trabalho apresentado na Mesa Redonda sobre ‘Linguística e Filologia’, promovido pelo Grupo de Trabalho em ‘Historiografia da Linguística Brasileira’ durante o XI Encontro Nacional da Anpoll (Associação Nacional de Pós-Graduação em Letras e Linguística), realizado em João Pessoa, de 2-6 de junho de 1996. Em 1997, foi publicada uma versão inglesa “Linguistics vs philology: Self-definition of a field or rhetorical stance?” (Koerner 1997a), bem como o original da presente tradução portuguesa (Koerner 1997b). A revisão e atualização do presente artigo foi levada a cabo por Teresa Moura e Rolf Kemmler.]

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Philologie, French philologie) and linguistics (German Sprachwissenschaft, French linguistique), since the two studies have little in common.

Como sabemos, o significado original de ‘filologia’ nas três línguas era ‘amor pelo estudo e pela literatura’, um sentido que parece ainda estar presente em todas as culturas ocidentais. Tanto o francês como o alemão retiveram muito do sentido original do termo, juntamente com um sentido mais especializado de ‘estudo dos textos literários’. No entanto, em inglês, o termo ficou bastante associado ao ‘estudo histórico de textos’, uma vez que era tradicionalmente usado com o sentido de ‘linguística histórico-comparativa’, o que, pelo menos nos países de língua alemã, tinha acabado por ser designado ‘Sprachvergleichung’ (comparação das línguas), e depois simplesmente ‘Sprachwissenschaft’, especialmente durante o último quartel do século XIX até meados do século XX.1

Nos capítulos que se seguem, tentarei esboçar parte das origens do debate entre filologia e linguística. Ao mesmo tempo, procurarei apontar algumas das razões de certas diferenças terminológicas nos usos das tradições anglo-saxónica e continental europeia. Convém ter em mente que todas as disciplinas que pretendem alcançar o estatuto de disciplina autónoma têm que desenvolver a sua própria metalinguagem, as suas próprias ferramentas terminológicas, e que o estudo da linguagem passou por fases de desenvolvimento paralelas àquelas que se deram noutros campos (cf. Koerner 1980b).

2 Os inícios do século XIX A linguística, do modo como viemos a entender hoje o seu objeto,

desenvolveu-se durante o século XIX. Não é fácil determinar o seu início, como parece sugerir a maior parte dos manuais de história da linguística.2 Mas se o desenvolvimento de um certo número de termos técnicos serve de guia, podemos localizar o seu surgimento na primeira década do século XIX. Em 1803, o termo ‘gramática comparativa’ (vergleichende Grammatik) foi usado pela primeira vez por August Wilhelm Schlegel (1767-1845), provavelmente por analogia com o termo ‘anatomia comparativa’. Por volta de 1808, o termo ‘Linguistik’ apareceu como parte de um periódico efémero (mas provavelmente já tinha sido usado anteriormente),3 e vários anos antes de Thomas Young ter estabelecido o termo 1 Estudos de inclinação mais teórica ou filosófica e não exclusivamente voltados para o indo-europeu agruparam-se sob o termo ‘linguística geral’ (allgemeine Sprachwissenschaft). 2 O início da linguística como ciência costuma normalmente estar associado à publicação do Conjugationssystem de Bopp (1816), uma data que parece ter sido reforçada pela decisão de publicar o Cours de Saussure exatamente 100 anos mais tarde (Lausanne; Paris: Payot, 1916 e não ‘Genève, 1915’ como às vezes ainda se encontra na literatura). 3 Não seria, porém, correto argumentar que a linguística não teria começado antes de 1808, o ano em que o termo ‘Linguistik’ parece ter sido usado pela primeira vez no sentido de ‘ciências da linguagem’, nomeadamente no título do volume único de um periódico intitulado Allgemeines Archiv für Ethnographie und Linguistik (1808), editado pelo teólogo, bibliotecário e linguista Johann Severin Vater (1771-1826), e pelo editor e filólogo Friedrich Justin Bertuch (1747-1822). No entanto, é de notar que o

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‘indo-europeu’ (Indo-European) (1813), o composto ‘indo-germânico’ (indo-germanique) já estava em uso (cf. Shapiro 1981), tendo sido introduzido em 1810 por Conrad Malte-Brun, o geógrafo de origem dinamarquesa. Outros termos e conceitos foram desenvolvidos logo depois, mas os três mencionados são de particular interesse para a presente discussão.

O estabelecimento de uma nova terminologia sugere o desejo de instituir um novo campo de estudo, mas não significa necessariamente que estes neologismos consigam de imediato transformar o campo numa disciplina autónoma. De facto, foram necessários os esforços conjuntos de duas gerações de investigadores, para que o estudo da linguagem se estabelecesse em terrenos firmes. Apesar de haver indícios de que a primeira geração dos linguistas históricos ou histórico-comparativos (Bopp, Rask, Grimm e outros, por exemplo) tivesse consciência de que estavam a caminhar para outras direções que os afastavam de grande parte da tradição filológica de orientação literária, não fizeram nenhuma tentativa para se separarem dela abertamente. De facto, possivelmente ao ampliar o sentido habitual do termo, consideravam-se como ‘filólogos’. Como consequência, embora o termo Sprachwissenschaft tenha estado ao dispor desses estudiosos desde o início, não parece que o tenham usado de uma forma significativa. Jacob Grimm, por sua parte, dava-se por satisfeito em denominar o seu trabalho linguístico histórico neue Philologie (nova filologia).

August Friedrich Pott (1802-1887), um antigo discípulo de Bopp e grande admirador de Humboldt (que viveu tempo suficiente para ver esquecido o trabalho da sua vida por duas gerações subsequentes de linguistas, primeiramente por Curtius e Schleicher e, a seguir, pelos neogramáticos) não fez muito uso do termo ‘Sprachwissenschaft’. Em vez disso, usava expressões como ‘Sprachforschung’, ou ‘Sprachkunde’, nos seus escritos (e ‘Sprachlehre’ para ‘gramática’). Parece que Pott começou a usar o termo Sprachwissenschaft mais regularmente a partir de meados dos anos 1840, depois de se ter associado entusiasticamente à Zeitschrift für die Wissenschaft der Sprache de Albert Hoefer (1812-1883), que entre 1846-1853 teve 4 volumes, sendo logo esquecida graças à Zeitschrift für vergleichende Sprachforschung de Adalbert Kuhn (1812-1881), a partir de 1852, publicação que existe ainda hoje.4

Como Pott, Hoefer estava interessado em promover uma abordagem mais geral e humboldtiana da linguagem, facto que não foi bem recebido pela maioria

termo já tinha aparecido vinte anos antes como composto, nomeadamente, na famosa resenha que Christian Jacob Kraus (1753-1807) fez à obra Linguarum totius orbis vocabularia comparativa (1787) de Peter Simon Pallas, e onde fala em várias ocasiões do estabelecimento de uma Universallinguistik (Kraus 1787: cols. 27, 28). Podemos, por isso, assumir que o simples termo Linguistik na época já tenha existido há algum tempo (cf. Moldenhauer, 1957 para usos anteriores do termo). 4 Desde o volume 100 (1988), a revista ficou rebatizada Historische Sprachforschung / Historical Linguistics, o que significa um alargamento do escopo da revista, se não mesmo uma mudança de rumo que a afasta da linguística tradicional histórico-comparativa de cariz indo-europeísta, possivelmente mais em linha com a cobertura de Diachronica: International journal for historical linguistics (1984-).

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dos linguistas da segunda metade do século XIX, de orientação positivista mais acentuada.5 Parece que Hoefer se pronunciou em vão em favor de um tipo global de ‘Sprachforschung’ quando explicou da seguinte maneira o objetivo e a filosofia geral da sua Zeitschrift:

Es mag nicht überflüssig sein, ausdrücklich hinzuzufügen, dass uns Forscher jeder Sprache willkommen sind, und dass wir uns so wenig auf die neuere Wissenschaft der Sprachvergleichung beschränken werden, dass wir, überzeugt von der Unzulänglichkeit einer ausschliesslichen Methode, unsere Zeitschrift vielmehr als ein Organ zur Vermittelung und Versöhnung der verschiedensten Richtungen anbieten (Hoefer 1846: 3).

Em virtude da sua posição a respeito das ‘correntes divergentes’ na ciência da linguagem, não é de surpreender que o próprio Hoefer (1846: 3) se pronunciasse a favor de uma colaboração entre os ‘classische Philologen’ (os ‘filólogos clássicos’) e os ‘Indogermanisten’ (‘indo-europeístas’) no parágrafo subsequente ao seu editorial. Procedendo desta forma, Hoefer alinhou-se com muitas das mais antigas autoridades da disciplina, assim como com uma bastante mais jovem: Georg Curtius (1820-1885). Curtius, ao perceber uma possível rota de colisão entre as abordagens divergentes no estudo da linguagem, publicou uma monografia, em 1845, aos 25 anos, na qual tentou demonstrar a utilidade da ‘Sprachwissenschaft’ (isto é, da gramática histórico-comparativa) para a filologia clássica. De facto, Curtius passou a vida a procurar uma reconciliação entre os dois campos, conforme fica evidente a partir das suas muitas afirmações programáticas, da publicação de gramáticas do grego e do latim, da criação de revistas (por exemplo, os Studien zur griechischen und lateinischen Grammatik Leipzig, 1868-1877), etc. Parece que a fidelidade de Curtius à ‘filologia’, a abordagem mais tradicional acerca da linguagem, e a sua filosofia geral da ciência linguística o distanciaram cada vez mais dos avanços da linguística feitos durante as décadas de 1870 e 1880 (cf. Wilbur 1977, para uma análise perspicaz e documentação da época em questão). Perto do fim da sua vida, praticamente chegou a repudiar os seus antigos estudantes.

Contrariamente a Curtius, August Schleicher (1821-1868), o seu contem-porâneo e amigo de longa data, assumiu uma posição muito diferente. De facto, Arbuckle (1970: 18) considera Schleicher o responsável pela distinção ‘gratuita’ entre ‘linguística’ e ‘filologia’. Chegamos agora a meados do séc. XIX.

3 Meados do século XIX: Schleicher Costuma ser geralmente consensual hoje em dia que Schleicher foi o mais

influente teórico da linguagem de meados do século XIX. De facto, há boas razões

5 A Internationale Zeitschrift für Allgemeine Sprachwissenschaft (1884-1890) de Friedrich Techmer (1843-1891), publicada inicialmente em Leipzig e mais tarde em Heilbronn, reeditada com um prefácio de E.F.K. Koerner (1973a), também não teve melhor destino. A seguir à sua morte, não havia ninguém por perto para prosseguir e continuar a revista. Parece mesmo que a história se repetiu quando observamos que outra revista de linguística geral (com uma ampla visão humboldtiana sobre a linguagem), Lexis, dificilmente sobreviveu durante quatro volumes (1948-1952).

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para crer que a doutrina dos neogramáticos é, em grande parte, pouco mais do que a extensão dos ensinamentos de Schleicher (cf. Koerner 1981 para detalhes). De 1850 em diante (cf. Schleicher 1850a), Schleicher posicionou-se enfaticamente a favor de uma nítida distinção (e divisão de trabalho) entre linguística (mais tarde preferiu o termo ‘Glottik’6 para se referir à ‘ciência linguística’) e ‘Philologie’.

Para Schleicher, a ‘Philologie’ é uma ‘disciplina histórica’ que considera a linguagem como um meio para investigar o pensamento e a vida cultural de um povo. Por contraste, a ‘Linguistik’ – e parece que o termo aqui é usado de maneira bastante forte, se não mesmo polémica – é um campo que se ocupa da ‘história natural do homem’. De facto, a linguística (no modo schleicheriano de compre-ender a disciplina) é uma ciência natural por duas razões: porque o seu objeto de investigação é acessível à observação direta e porque a linguagem está fora do domínio da livre vontade do indivíduo. Na visão de Schleicher, a linguagem está sujeita a leis naturais, inalteráveis (daí: Lautgesetze). Admite que isto se aplica especialmente à ‘Formenlehre’ (Schleicher introduziu o termo ‘Morphologie’ na nomenclatura linguística apenas em 1859), e muito menos ao domínio da sintaxe e, menos ainda, no que se refere à estilística (Schleicher 1850b: 4).

Ao passo que ‘Philologie’ tem que ver com “Kritik”, com interpretações individuais de textos (predominantemente) históricos, ‘Linguistik’ (observe-se que Schleicher não usa o termo muito mais comum ‘Sprachwissenschaft’) atinge a sua plenitude quando tem que lidar com línguas tais como as línguas ameríndias, que não têm tradição escrita. Schleicher concorda que o linguista, especialmente no que concerne às línguas clássicas que já não são faladas, necessita às vezes da filologia como disciplina auxiliar e que também a filologia requer informação linguística de vez em quando. Entretanto, trata-se fundamentalmente de dois objetos distintos de investigação, na medida em que um linguista não precisa, afinal, ser filólogo. Em oposição ao filólogo, que poderia trabalhar com base no conhecimento de uma única língua (por exemplo, o grego), um linguista, na visão de Schleicher (1850b: 4), precisa de conhecer muitas línguas, na medida em que a ‘Linguistik’ se torna sinónimo de ‘Sprachvergleichung” (Schleicher 1850b: 5).

Fica claro a partir do capítulo introdutório do seu livro de 1850, “Linguistik und Philologie”, que Schleicher tinha uma intenção polémica por trás da sua argumentação: estava preocupado em estabelecer a linguística como uma disciplina autónoma e não simplesmente como um apêndice da filologia clássica, da literatura ou do estudo do sânscrito (que tradicionalmente estava mais ligado à filosofia,

6 ‘Glottik’, sendo (ao contrário de ‘Linguistik’) inteiramente derivado do grego e de estrutura similar a ‘Botanik’, ‘Physik’ e 'Mathematik’, naturalmente era bastante mais atraente para Schleicher do que qualquer outro termo, incluindo o de ‘Sprachwissenschaft’. No entanto, é interessante que o termo de Schleicher ainda estivesse bem vivo na linguística brasileira durante os anos 1950. Assim, por exemplo, o Dicionário de fatos gramaticais (1956) de Joaquim Mattoso Câmara Jr. (1904-1970), publicado a partir de 1964 sob o título Dicionário de filologia e gramática: referente à língua portuguêsa oferece Glótica e Glotologia como ‘termos equivalentes’ a Linguística (Mattoso Câmara: 1964: 216).

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teologia e cultura geral do que ao estudo da língua per se). Nos seus escritos sub-sequentes, Schleicher continuou a enfatizar a dicotomia entre ‘filologia’ e ‘linguís-tica’ e a ciência linguística; a partir de então, procurou sempre deixar clara tal distinção (cf. a citação de Bloomfield atrás mencionada como um exemplo típico).

4 A linguística depois de Schleicher Pelo menos no que diz respeito ao método linguístico histórico-comparativo,

permanecemos dentro do quadro teórico que foi amplamente estabelecido por Schleicher. Foi em grande parte devido ao seu trabalho que a ‘ciência linguística’ (termo que se tornou popular no mundo anglo-saxónico através de Max Müller, nos anos 1860) se tornou uma disciplina profissionalizada logo após a sua morte, tendo sido criadas cátedras nos ramos individuais da família linguística indo-europeia em muitas universidades da Europa Central (por exemplo, a cátedra de línguas eslavas em Leipzig, em 1870, tendo August Leskien como primeiro catedrático;7 a cátedra de línguas germânicas em Jena, em 1876, de Eduard Sievers, etc.).8 A influência de Schleicher pode também ser percebida no modo como as gerações posteriores de linguistas encararam a filologia em contraste com a linguística.

Parece-nos, por isso, estranho que Berthold Delbrück, na sua Einleitung in das Sprachstudium (1880; Delbrück 1882: 55), tenha apresentado Schleicher como sendo, ‘na essência do seu ser’, um filólogo, já que trinta anos antes fora o próprio Schleicher (e mais ninguém) que contrastara claramente o seu trabalho do dos filólogos (clássicos). Contudo, se lembrarmos a ‘atitude eclipsante’ que assumiram os ‘jovens turcos’ na Universidade de Leipzig e noutras partes da Alemanha face à geração precedente de meados dos anos 1870 até meados da década de 1880, não ficaremos tão surpreendidos pelo facto de Delbrück (1842-1922) ter distorcido os factos para que se adequassem à sua argumentação, ou seja, de que a ‘junggrammatische Richtung representava muito mais ‘rumos novos’ (Delbrück 1882: 55) do que uma continuação da investigação segundo linhas já estabelecidas. Já em 1885, quando era óbvio que estava perdida a ‘guerra das monografias’,9 travada por Curtius e outros estudiosos da sua geração, Karl Brugmann (1849-1919) assumiu uma postura divergente.

No seu discurso inaugural como primeiro professor catedrático de ‘vergleichende Sprachwissenschaft’ na Universidade de Freiburg, intitulada “Sprachwissenschaft und Philologie”, Brugmann (1885: 1-41) apresentou a sua

7 Talvez devesse ser lembrado que Leskien (1840-1916), reputado como o líder dos Junggrammatiker, foi um antigo discípulo de Schleicher, tal como o eram Hugo Schuchardt (1842-1927), Johannes Schmidt (1843-1901) e Jan Baudouin de Courtenay (1845-1929). 8 Aquelas cátedras eram então (e frequentemente ainda continuam a sê-lo hoje) chamadas ‘Lehrstuhl für slavische Philologie’, ‘Lehrstuhl für deutsche Philologie’, etc. 9 [Nota das tradutoras: a expressão ‘guerra das monografias’, de Kurt Jankowsky, refere-se aos livros e panfletos mutuamente críticos que circularam entre os neogramáticos e os seus oponentes durante o conturbado ano de 1885.]

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opinião segundo a qual os dois campos são complementares e não opostos (Brugmann 1885: 7 ss.). De facto, chegou ao ponto de afirmar que:

In der That hat denn auch noch niemand eine begriffliche Grenze zwischen Linguistik und Philologie zu ziehen gewusst, deren Unhaltbarkeit sich nicht leicht darthun liesse. [...]. Nicht in den Sachen liegt eine Discrepanz, erst der Mensch, der einseitig urtheilende, trägt sie hinein (Brugmann 1885: 17).10

O autor oferece uma explicação histórica para o facto de se ter estabelecido uma distinção entre as duas áreas de investigação, nomeadamente, esta deveria ser explicada “[...] aus dem Entwicklungsgange, den die wissenschaftliche Forschung genommen hat [...]” (Brugmann 1885: 17). Por outras palavras, entendia que tinha sido importante em determinado momento do desenvolvimento da ciência linguística traçar tal distinção (provavelmente para afirmar a sua identidade). Em 1885, Brugmann não sente nenhuma necessidade de manter a separação dos dois campos, mas faz um apelo a favor da sua íntima colaboração. Nesta altura, contudo, a linguística já se tinha tornado uma disciplina autónoma e não tinha necessidade de se defender de intromissões de campos vizinhos. Como resultado, encontramos poucas discussões acerca das relações entre filologia e linguística a partir dessa época, até aos últimos anos da década de 1960, quando novas batalhas foram travadas na linguística.

5 Variantes modernas do debate entre filologia e linguística Como podemos inferir da citação de Bloomfield no início do presente artigo,

a relação entre filologia e linguística passou a ser uma ‘não questão’ na ciência linguística (observe-se que a citação foi retirada de uma nota de rodapé, não de uma afirmação geral do corpo do texto). De facto, dado o rumo que tomou a linguística depois do surgimento do Cours de linguistique générale de Saussure e a posição de destaque que a ‘linguistique sinchronique’ passou a ocupar no trabalho de muitas escolas do pensamento linguístico de 1920 em diante, o debate centralizou-se logo em torno da relação entre a linguística ‘tradicional’, isto é, ‘histórico-comparativa’ (indo-europeia), ou ‘diacrónica’ em termos saussurianos, e uma linguística ‘sincrónica’, ‘descritiva’, ou ‘estrutural’, uma abordagem na análise linguística que se abstrai do fator temporal e encara uma dada língua como uma rede de relações sistemáticas entre as partes que constituem o todo. Muitos países, especialmente aqueles com uma longa tradição de estudo na linguística histórico-comparativa indo-europeia, como os de língua alemã ou a Itália (mas nalguma medida também a França e outros países), não aceitaram com entusiasmo a ‘linguística sincrónica’ antes de meados da década de 1960, uma época em que uma então nova geração de linguistas norte-americanos distinguia o seu campo de trabalho do dos seus predecessores como sendo ‘meramente estruturalista’ 10 [De facto, até agora ninguém foi capaz de traçar uma linha conceptual entre a linguística e a filologia, cuja insustentabilidade não se poderia demonstrar com facilidade. [...]. A discrepância não se encontra nas coisas, só o ser humano, que julga unilateralmente, é que a introduz.]

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‘taxonómico’, ou pior, ‘desinteressante’. A sua abordagem de análise linguística (igualmente a-histórica) foi chamada ‘transformacional’ e – para enfatizar o que se alegava ser uma componente ‘criativa’ da linguagem – ‘gerativa’, embora seja evidente que o seu trabalho pode ser igualmente bem descrito como ‘estrutural’ (com algumas exceções bastante reduzidas, o interesse dos gramáticos gerativo-transformacionais na linguística histórica manteve-se bastante marginal, apesar das repetidas afirmações de Chomsky de que teria derivado a sua inspiração para as regras transformacionais da linguística histórica).

Como resultado da tentativa visivelmente polémica da geração mais jovem da linguística estruturalista de separar as suas contribuições das dos seus predecessores imediatos – um fenómeno que encontramos mais bem ilustrado pela batalha dos Junggrammatiker contra os seus professores, especialmente Curtius e Schleicher, há mais de cem anos – parece que certos linguistas (alguns deles com inclinações filológicas) sentiram que a relação entre ‘linguística’ e ‘filologia’ deveria ser debatida novamente.

Enquanto Arbuckle (1970) considerou a distinção ‘gratuita’, outros autores tiveram uma visão bastante diferente da questão. Jankowsky (1973), sob a influência do tradicional sentido anglo-saxónico de ‘filologia’, sugere uma distinção tripartida entre, nomeadamente, ‘Philologie’, ‘Linguistik’ e ‘Literaturwissenschaft’. Esta divisão separa a literatura da filologia, que frequentemente concorrem nos países de língua alemã em que o termo ‘filologia’ representa ‘filologia clássica’ ou ‘língua e literatura de uma determinada língua’.

Anttila (1973), sendo antes de mais um estudioso de linguística histórica (embora nunca tenha negligenciado questões teóricas gerais), procura conciliar a dicotomia tradicional ao reivindicar uma orientação filológica mais forte da linguís-tica. Afinal, os linguistas deveriam conhecer línguas – e não unicamente (e muitas vezes imperfeitamente) a sua língua materna. No mesmo volume em que se publi-cou a contribuição de Anttila, porém, os editores Bartsch e Vennemann propuseram uma dicotomia bastante diferente, e aqui regressamos ao tipo de argumentação polémica, semelhante à que encontramos pela primeira vez em Schleicher (1850a), se bem que agora numa situação diferente no desenvolvimento da linguística.

Bartsch / Vennemann (1973) usam os dois termos coexistentes (geralmente sinónimos) do alemão ‘Linguistik’ e ‘Sprachwissenschaft’ para sustentar o seu argu-mento a favor da seguinte ‘new speak’: enquanto ‘Sprachwissenschaft’ seria o termo geral (incluindo tanto a investigação sincrónica como a diacrónica), ‘Linguistik’ deveria representar a parte essencialmente teórica das ciências da linguagem.

Esta não foi uma proposta isolada mas a expressão de uma ‘nova fé’ da parte de vários outros linguistas da mesma geração que sentiam necessidade de distinguir o seu trabalho do dos seus predecessores e de colegas que porventura pensassem de forma diferente. ‘Sprachwissenschaft’, nos países de língua alemã, (assim como ‘glottologia’ em Itália, por exemplo) acabou por significar uma perspetiva de estudo considerada antiquada, incompatível com as modernas ‘descobertas’ sobre a natureza da linguagem. Já ‘Linguistik’ (em italiano: ‘linguistica’) – geralmente

Linguística e filologia: o eterno debate 73

equacionada com ‘teoria linguística’ na linguística mainstream – sugere as aquisições científicas mais recentes da nova geração no estudo da linguagem.11 Hildebrandt (1975) é só mais um exemplo da polémica entre ‘linguística’ (‘Sprach-wissenschaft’) e a ‘linguística moderna’ (‘Linguistik’), que era bastante típica da década de 1970, tanto na América do Norte como na Europa.

Deixando de lado as fortes polémicas em certas áreas, outras vozes no debate consideram que as controvérsias estruturalistas / transformacionalistas, e outras com elas relacionadas, pouco mais fizeram do que disfarçar questões mais fundamentais, tais como a relação (redefinida) entre ‘linguística’ e ‘filologia’ (cf. Hofmann 1973) e a medida em que a linguística pode tirar benefício do trabalho filológico (cf. Anttila 1973).

6 Observações conclusivas Do diálogo entre os investigadores que participaram do painel sobre

‘Filologia e Linguística Histórica’ em Galway (Irlanda) em 1981, ficou claro que havia um consenso geral sobre as vantagens de se estar familiarizado com a prática filológica quando se está interessado em questões que dizem respeito à mudança linguística. De facto, sem uma boa base filológica, adequadamente adquirida, uma pesquisa neste campo não representa um avanço de conhecimento. A preocupação contínua dos gerativistas com a teoria – em detrimento de um saudável respeito por dados – explica porque contribuíram tão pouco para “[...] an inquiry into the mechanism and causes of the still puzzling phenomenon of language change [...]” (Chomsky / Halle 1966: X) desde o momento em que Chomsky e Halle anunciaram pela primeira vez este desideratum no seu prefácio em conjunto à Cartesian Linguistics, em 1966 (a prática filológica, na medida em que não se reporta à língua mas à análise de textos para fins literários ou não linguísticos, é, com certeza, uma questão diferente, que não nos diz respeito aqui).

No entanto, parece que a questão ainda não está morta, e talvez nunca o esteja. Como nos lembrou recentemente Richard Hogg, haverá formas diferentes de dividir o território, e estudiosos diferentes poderão assumir posições diferentes nas ciências da linguagem. Para Hogg (1994: 3), é claro que a diferença crucial entre os dois é que “[...] a linguistic approach is theory-oriented, whilst a philological approach is data-oriented” e, como demonstra na sua análise de diferentes abordagens ao inglês antigo, as deficiências podem ser encontradas entre os expoentes de ambas as posições. Podemos, portanto, concluir que a linguística, nomeadamente a linguística histórica, poderia realmente lucrar com a gegenseitige Erhellung der Gegenstände, a iluminação recíproca dos objetos de investigação. Então, conquanto duvide que muitos sigam a caraterização dos dois campos nestes termos 'fáceis' de Hogg, não vejo (pace Jäger 1987) que a sua relação tenha que ser problemática.

11 Não deixa de ser interessante do ponto de vista dos filólogos que a linguística ou glotologia podia ser encarada como “[...] uma ciência puramente especulativa [...]” em contraste com a filologia bastante mais ‘prática' (Melo 1951: 24-25).

O problema da metalinguagem na historiografia linguística*

[...] toute langue est une méthode analytique, et toute méthode analytique est une langue.

Condillac (1949: 149) 1 Introdução Desde que a história da linguística se tornou um genuíno tema de investigação

académica, as questões de metodologia têm recebido alguma atenção nos últimos anos (p. ex., Grotsch 1982; Schmitter 1982, 1987; Christmann 1987), embora não tanto quanto fosse desejável. Uma das questões na historiografia linguística que tende a ser varrida para debaixo do tapete pertence ao que eu chamaria de ‘a questão da metalinguagem’ (cf. as contribuições para questões específicas em Auroux 1979 e Baratin / Desbordes 1982), que, mesmo nos limites do campo da linguística, não é um assunto tão frequentemente tratado como era de se esperar (cf. Hsieh 1980, Harweg 1981; Dillinger 1983 e Lara 1989 para notáveis exceções). Na verdade, parece que os linguistas tenderam a deixar o problema para ser resolvido pelos filósofos da linguagem ordinária (p. ex., Tarski 1956; Carnap 1958).

O termo ‘metalanguage’1 em si, pelo menos no campo da linguística, é de colheita positivamente recente. Historicamente, teve origem na discussão, entre filósofos e matemáticos, acerca da possibilidade de provar as propostas formuladas por Alfred North Whitehead (1861-1947) e Bertrand Russell (1872-1970), no seu monumental Principia mathematica (1910-1913). Assim, o lógico austríaco Kurt Gödel (1906-1978) mostrou, num artigo publicado em 1931, que qualquer sistema lógico formal, como aquele desenvolvido nos Principia mathematica, deve conter proposições que não podem ser provadas nos limites daquele sistema (Gödel 1931: 182ss.). Como resultado, seria necessário um sistema de ordem superior para estabelecer a validade ou ‘verdade’ de tais proposições. Dada tal condição para os sistemas formalizados, talvez não seja surpreendente descobrir, entre os especialistas que trataram das regras gramaticais altamente estruturadas e dos conceitos lógicos encontrados na literatura sânscrita

* [Observação sobre a tradução: tendo o artigo “The Problem of 'Metalanguage' in Linguistic Historiography” anteriormente sido publicado em língua inglesa (Koerner 1993), a tradução portuguesa como versão revista “O problema da metalinguagem em Historiografia da Linguística” foi publicada como Koerner (1996a). A tradução foi feita por Cristina Altman (USP, São Paulo), sendo a revisão da tradução do alemão e do inglês feita pelo próprio autor; a revisão final da versão brasileira do texto e as traduções do latim devem-se ao Prof. Miguel Salles. Os agradecimentos da tradutora vão para Luciana Cunha, do Grupo de Estudos em Historiografia da Linguística da Universidade de São Paulo pelo paciente trabalho de revisão da digitação e das normas de publicação. A revisão e atualização do presente artigo foi levada a cabo por Sónia Coelho.] 1 [Observação dos revisores: de aqui em diante será utilizado o equivalente português ‘metalinguagem’ para todas as ocorrências do termo inglês ‘metalanguage’.]

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clássica e sintetizados no trabalho de Pāṇini (V séc. a.C.), tais como Scharfe (1961: 25) e Staal (1961: 123), os primeiros linguistas a usarem o termo e, ao que parece, independentemente (em 1971, Scharfe dedicou uma monografia inteira à metalinguagem de Pāṇini; cf. também Staal 1975). Mais recentemente, historió-grafos da linguística árabe clássica também dirigiram a sua atenção para as questões de metalinguagem (p. ex., Larcher 1988; Ryding 1992).

Quando trata de determinado assunto no âmbito da história da linguística, o historiógrafo não pode fugir à questão, especialmente quando, ao discutir teorias de períodos passados, estiver ao mesmo tempo a tentar torná-las acessíveis ao leitor do presente e a tentar não distorcer a intenção e significado originais. A menos que o único objetivo do historiógrafo seja colecionar antiguidades, isto é, descrever conceitos desenvolvidos há muitos anos atrás unicamente nos próprios termos utilizados, ele será tentado a usar um vocabulário técnico moderno na sua análise. Este procedimento, entretanto, tem levado a inúmeras sérias distorções na historiografia linguística e qualquer historiógrafo perspicaz deve perceber as armadilhas e voltar-se para a questão da ‘metalinguagem’, isto é, a linguagem empregue para descrever ideias passadas sobre linguagem e linguística. Embora não exista uma solução fácil para o problema – de uma maneira geral, não se pode esperar que o historiógrafo fuja completamente ao presente e ainda tenha uma audiência garantida –, é importante que ele considere a forma como aborda o assunto. Este artigo apresenta vários exemplos de como historiógrafos da linguística falharam ao lidar com o problema e, como resultado, forneceram avaliações desadequadas acerca de teorias do passado.

1.1 O termo ‘metalinguagem’ (polaco: metajęzyk) parece ter sido proposto

pela primeira vez pelo lógico e filósofo polaco Stanisław Leśniewski (1886-1939), embora se possa dizer que a ideia já circulava no pensamento linguístico ocidental pelo menos desde Sextus Empiricus (séc. II d.C.), que fez a distinção entre diferentes níveis de linguagem, a fim de eliminar sofismas. O termo foi retomado pelo aluno de Leśniewski, Alfred Tarski (1902-1983), ocorrendo pela primeira vez num texto apresentado em 21 de março de 1931, na Sociedade Científica de Varsóvia (Tarski 1931).2 O texto foi publicado como monografia dois anos mais tarde (Tarski 1933), mas não se tornou amplamente acessível até 1935, altura em que uma versão alemã, significativamente revista, foi publicada (Tarski 1935). Em 1956, surgiu uma tradução inglesa. Como resultado, atribui-se frequentemente a Tarski a primazia pelo uso do termo, ainda que em nenhum lugar dos seus escritos esteja indicado que ele o tenha efetivamente cunhado, embora use ‘metateoria’ (1956: 167, 210, 251) e ‘metadisciplina’ (Tarski 1956: 280) nas mesmas passagens em que ‘metalinguagem’ é empregue (Tarski 1956: 167). Mesmo que não forneça 2 De acordo com Lara (1989: 387), presume-se que o conceito e o termo Metasprache foi criado pelo matemático alemão David Hilbert (1862-1943) em 1934. É, entretanto, óbvio, pelo contexto em que a ideia de metalinguagem emergiu, que Tarski estava a par das discussões entre os matemáticos e lógicos na Alemanha e na Áustria da época.

O problema da metalinguagem na historiografia linguística 77

uma definição formal do termo, fica claro pelo seu artigo (dedicado a “The Concept of Truth in Formalized Languages”) que Tarski está a pensar num tipo mais técnico, mais coerente e mais abstrato de linguagem do que aquele a que nós frequentemente nos referimos (embora de forma não bastante satisfatória)3 como ‘linguagem natural’. Tarski, seguindo o ‘método axiomático’ de David Hilbert (1862-1943) para a matemática, lógica e ciências naturais, entendeu que

[...] we must always distinguish clearly between the language about which we speak and the language in which we speak, as well as between the science which is the object of our investigation and the science in which the investigation is carried out (Tarski 1956: 167).

Nesta citação de Tarski, já está sugerido o termo complementar que Rudolf Carnap (1891-1970) – que usou ‘metalinguagem’ pelo menos já em 1942 no seu Introduction to Semantics (cf. Carnap 1942: 3-4) – e outros começaram a usar nos anos 1930 e 1940, isto é, o termo ‘Objektsprache’ ou ‘linguagem-objeto’ (cf. Kubczak 1975: 315ss., para uma discussão detalhada), que nós poderíamos chamar de ‘o objeto da investigação’. Na linguística, este objeto normalmente seria uma língua, um aspeto particular ou uma parte de um sistema linguístico, etc., embora também possamos analisar uma linguagem formalizada, tal como é a usada em matemática, em que os objetos são números, classes, configurações geométricas, etc. (cf. Staal 1975: 316). O historiógrafo da linguística, que lida com teorias do passado, pode ser obrigado, num sentido estrito, a estabelecer uma metalinguagem para decidir acerca da validade ou adequação de uma teoria determinada. Entretanto, tal nível de abstração não é usualmente necessário, já que a sua tarefa é descrever e explicar tais teorias, não validá-las.

1.2 Na linguística, investigadores de orientação teórica notaram que o uso de

uma língua ‘natural’, normal, para descrever e analisar línguas ‘naturais’ pode acarretar o perigo de uma subtil confusão entre estes dois níveis, o da ‘linguagem-objeto’ e o da ‘metalinguagem’ (cf. Kubczak 1975: 318ss.). Em 1978, a lexicóloga francesa Josette Rey-Debove dedicou uma monografia inteira ao problema da metalinguagem em que mostrou que a proposta de Tarski, Carnap e outros, segundo a qual a ‘metalinguagem’ deveria ser ‘mais rica’ do que (e realmente abranger) a ‘linguagem-objeto’, não pode ser razoavelmente aplicada a um assunto como a linguística, dada a riqueza de qualquer língua natural. Assim, podemos concluir que o conceito de ‘metalinguagem’ muda a sua natureza ao transferir-se da lógica para a linguística, como tem sido o caso de muitos outros exemplos na historiografia da linguística. Note-se a génese de conceitos tais como ‘lei’, ‘análise’ ‘assimilação’, ‘morfologia’ e muitos outros que os linguistas tomaram emprestados das ciências naturais, durante o século passado (para mais detalhes, cf. Koerner 1993a). 3 Louis Hjelmslev (1899-1965), um dos linguistas do século XX de maior inclinação teórica, sugeriu o termo ‘linguagens chave-mestra’ (‘pass-key languages’) em contraposição a ‘linguagens restritas’ (‘restricted languages’), em 1947 (cf. Hjelmslev 1973: 122).

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Aqueles que se dedicaram a escrever a história das teorias linguísticas não podem escapar às dificuldades de aplicação adequada do conceito de metalinguagem. Ao contrário, um historiógrafo que não deseja escrever para fins antiquários, mas para servir aos interesses do linguista praticante, pode encontrar-se numa encruzilhada. Por um lado, espera-se que torne o seu assunto relevante para o cientista ‘normal’, o que implica encontrar os meios para apresentar teorias ‘obsoletas’, de modo a facilitar o seu acesso ao linguista moderno. Por outro lado, como historiógrafo, espera-se que apresente teorias anteriores do campo, inseridas no clima intelectual do período em que foram formuladas e se desenvolveram.

Por outras palavras, o historiógrafo da linguística parece viver um dilema: ou reapresenta descobertas anteriores numa terminologia atual, à luz das conceções e dos interesses de investigação atuais (cf. Stocking 1965), correndo o risco de distorcer teorias linguísticas do passado, a ponto de, para citar Zellig S. Harris (1909-1992), “One wonders at such an odd activity as attacking the past for not being the present” (Harris 1973: 254); ou, inversamente, engaja-se, na análise final, numa atividade meramente positivista que, por causa de um historicismo excessivo, traz pouco resultado e pode custar à historiografia linguística o lugar recentemente conquistado entre as ciências da linguagem. Parece-me que pelo menos uma parte do sucesso ou fracasso do historiógrafo da linguística depende de como lida com o problema da ‘metalinguagem’, isto é, da maneira através da qual empreende a descrição e apresentação de teorias da linguagem do passado aos investigadores do campo no presente.

1.3 O presente artigo apresenta três exemplos de como investigadores da

atualidade foram vítimas da sua visão atual e investigação especializada, na medida em que tenderam a distorcer as suas análises das ideias do passado no estudo da linguagem. Refiro-me, nas secções seguintes, a teorias relacionadas com o período medieval,4 mas tenho certeza que todos poderiam citar exemplos mais próximos das preocupações do século XX. Talvez devesse deixar claro que estou a pensar especialmente no vocabulário técnico aplicado na descrição de teorias do passado e que quero significar ‘linguagem terminológica’ quando estiver a falar de ‘metalinguagem’, e não o que Rey-Debove chama (1978: 9ss.), provavelmente ao referir-se à proposta expressa por Jakobson (1976) e outros, ‘metalinguagem natural’, isto é, um uso irrefletido da linguagem com função comunicativa. Ao invés disto, adoto ‘metalinguagem’ de acordo com o conceito de Rey-Debove de ‘metalinguagem formalizada’ ou ‘linguagem científica’.

4 Uma parte significativa do presente artigo refere-se a uma apresentação feita na International Conference on Medieval Grammar, organizada por James J. Murphy, na Universidade de California, Davis, de 19 a 20 de fevereiro de 1976 – daí a preponderância de exemplos do período medieval. Os textos desta conferência permanecem inéditos.

O problema da metalinguagem na historiografia linguística 79

2 Ilustração de armadilhas no manejo da ‘metalinguagem’ Em anos recentes, muitos de nós testemunhámos sérias distorções na

apresentação de épocas passadas no estudo da linguagem, por exemplo: o retrato de Humboldt como um racionalista cartesiano feito por (1966), a caraterização dos Modistas do período tardo-medieval como ‘pré-pré-cartesianos’ feita por Salus (1969), ou a interpretação que Tanner (1970) faz de Aristóteles, nada menos como a de um estruturalista. Com as incursões de Chomsky na historiografia linguística a abrir caminho para seguidores pouco críticos, talvez não seja nada surpreendente que se tenha instaurado a atividade de reescrever a história das teorias pré-transformacionalistas (p. ex. Gardner 1973). De facto, há exemplos marcantes de historiografias ‘em proveito próprio’,5 se não mesmo de hagiografia, referentes ao assim chamado ‘paradigma gerativo-transformacional’ (p. ex. Newmeyer 1980).

Entretanto, não estou aqui preocupado com estudos que não fizeram uma séria tentativa de entender períodos anteriores na história da linguística. Será fácil para investigadores bem informados refutar as suas, por vezes, abusivas pretensões de ‘originalidade’, ‘descontinuidade’, ou ‘revolução’. Estou interessado é nos estudos, sérios na intenção, em que investigadores foram induzidos em erro pela desatenção ao significado específico de conceitos e termos particulares e sucumbiram à tentação de ler conceitos e noções contemporâneos em textos anteriores, um perigo subtil que George Mounin (1910-1992) caraterizou da seguinte maneira:

Il est difficile en effet, quand on relit aujourd’hui la linguistique du passé, d’échapper à l’éclairage que les connaissances actuelles projettent à renvers sur les formulations d’autrefois; difficile de résister à cette impression saisissante des vieux textes apparaissant comme “prémonitoires”, difficile de combattre le sentiment qu’on aperçoit partout des précurseurs (Mounin 1959: 8).

No que se segue, ilustrarei com exemplos, como eminentes investigadores

foram traídos pelo tipo de formação que tiveram e pelos seus próprios interesses e tentarei sugerir meios pelos quais o historiógrafo da linguística pode evitar tais armadilhas.

2.1 Em 1958, Hans-Georg Koll publicou um estudo dedicado ao campo

semântico de ‘língua’ e ‘linguagem’ no período medieval, incluindo a sua ‘pré-história’, em Latim. O autor de uma resenha observou justamente que talvez fosse “unwise [...] to use these Saussurean distinctions of reference for earlier usage at some points [...], since Saussure was formulating a theory of language rather than observing French usage” (Spence 1959: 159). De facto, parece que Koll foi influenciado na sua compreensão da forma latina lingua pelo uso do termo ‘langue’ 5 [Nota da tradutora: ‘Whig-history’, no original, no sentido de uma historiografia pro domo, em que o historiógrafo faz uma história ufanista da teoria/tradição em que trabalha como linguista, ou da teoria/tradição que lhe interessa promover.]

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de Saussure, isto é, o sistema subjacente à produção da fala e o código embutido nas mentes de todos os membros de uma determinada comunidade de falantes. Similarmente, Koll foi levado a ver sermo e, talvez em grau menor, locutio, oratio e vocábulos similares, à luz do conceito ‘parole’ de Saussure, o ato de fala concreto em que uma determinada parte do sistema linguístico é ativado. É verdade que Koll está ciente de que a comparação entre estas palavras latinas (que, aliás, nos textos que Koll investigou não estão definidas em nenhum lugar como termos técnicos!) e os conceitos saussurianos só pode ser feita com reserva, uma vez que

Die ‘langue’ ist für De Saussure in erster Linie (wenn auch nicht nur) das grammatikalische System, das notwendigerweise vollständig und in sich geschlossen ist (Koll 1958: 22).6

À parte o facto de que Koll já tinha, além disso, reconhecido que, de acordo com a informação fornecida pelos textos que estudou, as suas opiniões não são sempre confirmadas pelo uso efetivo – sermo parece mais próximo da ‘parole’ saussuriana numa ocasião (cf. Koll 1958: 23, nota 28), e mais próximo da ‘langue’ noutra (Koll 1958: 31) –, ele foi frequentemente tentado a distorcer os seus dados por nutrir ideias preconceituosas sobre o que as palavras latinas ou as palavras francesas medievais devem ter significado. A sua conclusão no que diz respeito ao uso comum de lingua e sermo no período latino torna curiosa a sua interpretação (como resultado da sua preconceção):

Nun sehen wir, dass diese Verwirrung sich auch auf die durch die betreffenden Wörter ausgedrückten Vorstellungen erstreckt wenigstens, wenn man den Masstab [sic!] der modernen Sprachwissenschaft anlegt: einerseits unterscheiden die Franzosen des 12. und 13. Jh. noch nicht die Begriffe “langue” und “langage” im saussureschen Sinne (“sprechbares Material” – “das Sprechen selbst”), während das Lateinische eine ähnliche Unterscheidung macht, wenn auch lingua und sermo sich nicht genau mit langue und langage (im saussureschen Sinne) decken” (Koll 1958: 112)7

Para começar, Saussure definiu ‘langue’, ‘langage’ e ‘parole’ para servirem

de termos técnicos no quadro geral de uma teoria da linguagem. Então atribuiu-lhes definições particulares, em vez de fazer uso de distinções já inerentes ao léxico francês (como acreditaram alguns críticos dos seus ensinamentos). Como resultado, as interpretações de Koll, no que se referem à teoria linguística moder-na, isto é, a uma metalinguagem particular, estavam destinadas ao fracasso pelo

6 [A ‘langue’ é, para De Saussure, em primeiro lugar (ainda que não exclusivamente) o sistema gramatical que necessariamente é completo e autossuficiente.] 7 [Vemos agora que esta confusão também se estende aos conceitos que são expressos por estas palavras, pelo menos, quando se considera o padrão da linguística moderna: por um lado, os franceses do século XII e XIII não distinguem ainda entre os termos ‘língua’ e ‘linguagem’ no sentido saussuriano (“material que pode ser usado na fala” – “falar em si”), ao passo que o latim faz uma distinção parecida, mesmo que lingua e sermo não correspondam exatamente com langue e langage (no sentido saussuriano).]

O problema da metalinguagem na historiografia linguística 81

menos em dois pontos: 1) usos mais antigos de palavras específicas foram investi-gados em relação com os seus usos modernos; 2) ocorrências lexicais simples em textos medievais, que não faziam parte de teorias linguísticas, foram tomadas por, ou, pelo menos, contrastadas com termos que adquiriram as suas caraterísticas no quadro de uma teoria geral da linguagem (o facto de Koll ter mal interpretado as intenções de Saussure não torna o seu argumento mais convincente).8

2.2 Talvez mais próximo da questão seja o meu segundo exemplo de incorreta

aplicação de conceitos modernos a um termo aparentemente idêntico, já que ambos, tanto o texto moderno como o mais antigo, dizem respeito a enunciados linguísticos. Hoje, é lugar-comum que a ciência da etimologia se desenvolveu no século XIX. O dictum de Voltaire, segundo o qual a etimologia era uma atividade para a qual as consoantes são de pouca importância e para a qual as vogais, ou melhor, as suas identidades, não têm qualquer valor particular a elas ligado, diz respeito ao século XVIII e a prática etimológica anterior.9

Os investigadores do século XIX, orgulhosos da sua conquista, estavam bastante conscientes da differentia specifica que os separava do trabalho etimológico anterior, como fica evidente pelo prefácio de Friedrich Diez (1794-1876) ao seu Etymologisches Wörterbuch der romanischen Sprachen:

Die aufgabe der etymologie ist, ein gegebenes wort auf seinen ursprung

zurückzuführen. Die zur lösung dieser aufgabe angewandte methode ist aber nicht überall dieselbe: leicht läßt sich eine kritische und eine unkritische wahrnehmen. Die unkritische nimmt ihre deutung auf gut glück aus einer äußerlichen ähnlichkeit der form, oder erzwingt sie bei geringerer ähnlichkeit [...]. Im Gegensatze zur unkritischen methode unterwirft sich die kritische schlechthin den von der lautlehre aufgefundenen principien und regeln, ohne einen fußbreit davon abzugehen, sofern nicht klare thatsächliche ausnahmen dazu nöthigen (Diez 1869: vii).10

8 A parte principal do estudo de Koll, deve-se acrescentar, não diz respeito a estas questões terminológicas. De facto, uma vez que estas considerações da terminologia saussuriana (especialmente Koll 1958: 12, 14, 22, 23) são postas de lado, o seu trabalho merece ser visto como uma peça de valor da investigação filológica tradicional. 9 Léon Vernier (1970: 32) cita esta famosa declaração atribuída a Voltaire, na qual a etimologia é caraterizada como uma ciência “[...] où les voyelles ne font rien et les consonnes fort peu de choses”, sem entretanto fornecer a sua fonte. Na verdade, até onde eu saiba, este bon mot não foi traçado em nenhum dos escritos de Voltaire. 10 [É tarefa da etimologia traçar o caminho de uma palavra dada de volta à sua origem. O método aplicado a este fim não é o mesmo em todos os casos, entretanto; pode-se facilmente discernir um método crítico e outro não crítico. O não crítico retira a sua interpretação à sorte com base numa similaridade superficial da forma, ou força o seu argumento no caso de uma similaridade menor [...]. Em contraste com o método não crítico, o crítico sujeita-se simplesmente aos princípios e às regras descobertas pela fonologia, sem afastar-se delas nem por uma polegada, a não ser que claras exceções factuais o obriguem a fazê-lo.]

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Como resultado do estabelecimento do então chamado ‘método histórico-crítico’ da análise etimológica, o trabalho anterior neste campo foi desprezado como ‘pré-científico’. É interessante observar que, como mostrou O’Neill (1976), muito da etimologia do século XIX nem sempre foi baseado em métodos seguros. Não é, portanto, nada surpreendente que August Schleicher (1821-1868), o mais importante linguista histórico-comparativo da metade do século XIX, tenha escrito o seguinte na margem do Handexemplar11 do seu livro Die Deutsche Sprache de 1860: “Inserir aqui uma palavra grosseira sobre a etimologia. Cartomancia e astrologia” (Schleicher 1869: 128, nota).12

Quando Ernst Robert Curtius (1886-1956), ao escrever 75 anos mais tarde, alude à possibilidade de que a etimologia na Idade Média (assim como na Antiguidade) pode ser vista como uma “brincadeira mais ou menos apetecível” (“[...] mehr oder minder genießbare Spielerei [...]”; Curtius 1954: 487), ele está a julgar a et(h)imologie medieval do ponto de vista da nossa compreensão moderna de ‘etimologia’.13 Mas esta aproximação de termos aparentemente idênticos baseia-se numa falta de ‘contextualização’, isto é, a interpretação de um termo dentro dos limites do uso linguístico medieval (para uma análise cuidadosa da etimologia na Idade Média, cf. Klinck 1970).

Na historiografia linguística, associa-se usualmente a Isidoro de Sevilha (Isidorus Hispaliensis, ca. 560-636) a primeira grande contribuição para a ‘etimologia’, embora outros (p. ex., Pfaffel 1981) possam reivindicar a mesma posição para Marcus Terentius Varro (116-27 a.C.). A Etymologiae sive origines de Isidoro foi particularmente influente na Idade Média. Desta forma, a sua definição de etimologia também convém ser mencionada:

Etymologia est origo vocabulorum, cum vis verbi vel nominis per interpretationem colligitur. Hanc Aristoteles symbolon, Cicero adnotationem nominavit, quia nomina et verba rerum nota facit exemplo posito; ut puta ‘flumen’, qui fluendo crevit, a fluendo dictum” (Isidoro, citado em Schweickard 1985: 2; Amsler 1989: 137).14

11 [Observação da tradutora: Handexemplar ou ‘cópia pessoal do autor’ corresponde a uma prática que já não subsiste no seu sentido original. No século XIX, muitos filólogos utilizavam uma cópia dos seus livros com algumas páginas em branco, inseridas na encadernação (manual) do volume, nas quais faziam observações e correções para uma edição seguinte.] 12 “Ein derbes Wort über Etymologie hier einzuschalten. Kartenschlägerei und Astrologie” (Schleicher 1869: 128 nota). 13 Curtius (1954: 487) refere-se em particular ao importante e influente Etymologiarum libri de Isidoro de Sevilha, em que vários tipos de técnicas etimológicas são propostos, por exemplo, ex origine, ex causa, ex contrariis, etc.. 14 [Etimologia é a origem dos vocábulos, quando a força expressiva de um verbo ou de um nome é apurada através da interpretação. Aristóteles chamou-a symbolon, e Cícero adnotatio, porque, a partir de um exemplo, ela torna conhecidas as denominações e as palavras que designam as coisas; por exemplo, flumen (rio), deriva de fluere (fluir), porque cresce a fluir.]

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A partir desta e de outras passagens, torna-se óbvio que Isidoro, com o termo, se referiu a algo próximo à nossa compreensão moderna de ‘morfologia derivacional’ ou ‘etimologia sincrónica’ (Untermann 1975) e, certamente, não ao nosso conceito de etimologia (cf. Schweickard 1985, para uma análise detalhada). Aliás, a análise de textos medievais dedicados à gramática e, em particular, à ‘etimologia’ era bastante distinta da definição atual do termo. Assim, encontramos na Magnae derivationes de Uguccione de Pisa (m. 1210) a seguinte afirmação (que, como demonstrou Riessner 1965: 44, remete para o comentário de Petrus Helias sobre Prisciano):

ethimologia est expositio vocabuli unius per aliud vocabulum, unum sive plura magis notum vel magis nota in eadem lingua vel diversis secundum rerum proprietatem et litterarum similitudinem, ut lapis ledens pedem, piger pedibus eger” (Uguccione de Pisa, citado em Riessner 1965: 43; itálicos do autor – KK).15

É fácil determinar que lapis não pode ser derivado propriamente de ledens pedem, ou piger de pedibus eger, e que os princípios da ‘proprietas rerum’ e ‘similitudo litterarum’ têm pouco em comum com as noções modernas de etimologia e com os seus princípios de análise. Além do mais, se se observa que o próprio Uguccione designou o seu tratado de Magnae derivationes e não de Magnae etymologiae, pode questionar-se até que ponto ‘etimologia’ exercia um papel comparável a ‘derivatio’ na análise linguística do período. De facto, na muito influente obra lexical Summa grammaticalis valde notabilis, quae Catholicon nominatur de Giovanni Balbi (morto em 1286), que é aproximadamente do mesmo período, encontramos a seguinte afirmação no que diz respeito à distinção entre os dois termos:

Quero etiam an etymologia sit species deriuationis, vt cadauer quasi caro data vermibus; videtur quod non, quia si hoc esset, tunc omnis dictio potest dici deriuatiua qum omnis dictio etymologizari possit dummodo velit aliquis meditari. Ad hoc dico quod etymologia non est species deriuationis, sed quasi species. Alludit enim significationi trahendo argu-mentum per litteras vel syllabas aliunde, vt bos quasi bonus operator soli, et mons quasi, moles opposita nascenti soli, et taurus quasi tuens agmina vacarum robore virium suarum, et deus quasi dans eternam vitam suis et roma quasi radix omnium malorum auaricia et homo quasi habens omnia manu omnipotentis, quia omnipotens omnia propter hominem creauit, et sinceris quasi sine carie et sic de similibus. Non est tamen dicendum quod ab illis deriuantur vel componantur per que etymologizantur” (citado em Niederehe 1975: 174; itálicos do autor – KK).16

15 [Etimologia é a explicação de um vocábulo por outro, seja por um, seja por vários mais conhecidos, ou na mesma língua, ou em diversas línguas, de acordo com a propriedade das coisas e a semelhança das letras. Assim: lapis (pedra) vem de ledens pedem (o que magoa o pé), piger (preguiçoso), de pedibus eger (agradável aos pés).] 16 [Pergunto-me ainda se porventura etimologia é uma espécie de derivação, de maneira que cadaver seja explicado como caro data vermibus (carne dada aos vermes); parece que não, porque, se assim

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A partir desta citação, podemos concluir que ‘etimologia’ representa uma espécie particular de explicação (semântica) de palavras, bastante distinta da atividade designada ‘derivatio’, que obviamente é uma parte da gramática, já que diz respeito a uma explicação do léxico que distingue entre ‘primitiva’, isto é, palavras originais que designam as formas básicas da língua, e ‘derivativa’, aquelas que são morfologicamente derivadas da primeira. ‘Etimologia’ não é uma parte da ‘derivatio’; antes devemos considerá-la um tipo de jogo intelectual com os sentidos das palavras (allusio), que opera de acordo com o duplo critério da ‘rerum proprietas’ e ‘litterarum similitudo’ (cf. Niederehe 1983). Claro que esta não é toda a verdade sobre o assunto. Houve ao longo dos períodos clássico e medieval diferentes linhas de ‘etimologia’ (para mais detalhes, cf. Herbermann 1981 e Amsler 1989).

Vários outros termos precisariam de ser explicados, a fim de formar um quadro razoavelmente adequado acerca do que os gramáticos medievais quiseram significar por ‘etimologia’ (para o uso mais antigo em Varrão, cf. Schröter 1960, Pfaffel 1981). Para o presente objetivo, basta ter chamado a atenção para o perigo de qualquer conclusão baseada no nosso entendimento moderno de um termo (e a sua etimologia!), que deve ter tido um princípio ou um objetivo geral similar, senão idêntico, subjacente à atividade que parece implicar. Termos individuais devem ser observados nos limites do seu contexto histórico, assim como nos limites do quadro técnico de trabalho do período, antes que o seu verdadeiro valor possa ser adequadamente determinado.

2.3. Um exemplo ainda melhor daquilo que acontece quando linguistas

modernos se arriscam a interpretar textos medievais, ou quaisquer outros textos linguísticos do passado, sem a devida atenção ao problema da metalinguagem, pode ser visto em recentes reedições do antigo manuscrito islandês do século XIII geralmente apontado pela literatura, embora bastante erroneamente, como o First Grammatical Treatise (FGT). Primeiramente, é altamente duvidoso que o assim chamado FGT constitua de facto o trabalho de um investigador individual. Recentemente, Federico Albano Leoni (1975: 33ss.) não só lançou a dúvida sobre

fosse, então toda a palavra poderia ser chamada derivativa, desde que pudesse ser etimologizada e alguém quisesse refletir sobre ela. A propósito afirmo que etimologia não é uma espécie de derivação, mas é como se fosse uma espécie. Faz alusão, pois, à significação, trazendo de outro lugar um argumento através das letras ou das sílabas: por exemplo, bos (boi) é como se fosse bonus operator soli (o bom cultivador do solo); mons (montanha) como se fosse moles opposita nascenti soli (massa em posição oposta ao sol nascente); taurus (touro) como se fosse tuens agmina uacarum robore virium suarum (aquele que protege os rebanhos de vacas com o vigor das suas forças); deus (Deus) como se fosse dans eternam vitam suis (aquele que dá vida eterna aos seus [súbditos]); Roma (como se fosse radix omnium malorum avaricia (a avareza é a raiz de todos os males); homo (homem) como se fosse habens omnia manu omnipotentatis (o que tem tudo pelas mãos do poderoso), porque o todo poderoso criou todas as coisas por causa do homem, e sinceris como se fosse sine carie (sem podridão) e assim por diante. Não se pode, todavia, dizer que são derivadas ou compostas a partir daquela palavras pelas quais são etimologizadas.]

O problema da metalinguagem na historiografia linguística 85

esta visão tradicional ao mostrar que o texto apresenta evidências filológicas suficientes de que resulta de várias mãos e provavelmente de vários autores, como também sugeriu (Albano Leoni 1975: 40) que o assim chamado Second Grammatical Treatise pode mesmo ser mais velho do que o FGT. Embora o próprio Albano Leoni tenda a seguir a interpretação de importantes termos técnicos, sugerida pelos seus colegas escandinavos, ele acumulou uma quantidade suficiente tanto de crítica textual como de ponderações teóricas, capazes de questionar seriamente a validade do tributo que Hreinn Benediktsson (1972: 81) prestou ao chamado First Grammarian, como “[...] a distinguished, if isolated, precursor of twentieth-century theoretical linguistics”.

Este texto medieval islandês, que desde a edição de Rasmus Rask (1787-1832) tem recebido considerável atenção dos investigadores, é claramente dedicado à então urgente questão da reforma ortográfica do islandês. É compreen-sível que o autor de um texto desta natureza estivesse preocupado em tornar o seu argumento claro a um leitor culto, usando o mínimo possível de termos técnicos e empregando palavras e frases que fossem de uso corrente entre a sua audiência. É de se esperar, acredito, que tenha procurado usar somente os termos em que pudesse confiar, cujas implicações os seus contemporâneos não tivessem dificuldades de compreender. A intenção do assim chamado First Grammarian era essencialmente um argumento a favor da introdução de sinais gráficos adicionais para facilitar o uso do alfabeto latino na codificação da ortografia islandesa. Embora considerações ‘fonológicas’ fizessem, possivelmente, parte da argumentação do First Grammarian, é duvidoso que estivesse a tentar desenvolver uma teoria fonológica e, desse modo, a oferecer um sistema desenvolvido de termos técnicos para a análise linguística.

Neste capítulo, quero simplesmente destacar dois exemplos que demonstram que investigadores modernos se equivocaram na sua avaliação do FGT, simplesmente porque não puderam, ou não conseguiram, despojar-se da sua própria formação estruturalista, e que, como resultado, afirmações diretas e razoavelmente claras, feitas no texto medieval islandês, foram mal lidas, distorcidas ou, pelo menos, mal interpretadas.

Provavelmente na tentativa de demonstrar que a fonologia da Escola de Praga não foi tão nova e revolucionária quanto os expoentes dos anos 1930 e 1940 quiseram fazer crer aos seus contemporâneos (cf. as reivindicações de Trubetzkoy 1933), Sveinn Bergsveinsson (1907-1988) publicou um artigo, em 1942, no qual defendeu a ideia de que um islandês do século XII já tinha desenvolvido uma teoria fonológica, na qual, inter alia, um dos conceitos usados poderia facilmente ser comparado ao conceito de ‘oposição’. Em 1950, quando publicou a sua primeira edição do FGT, Einar Haugen (1906-1994) apoiou-se nas reivindicações de Bergsveinsson ao levar Hreinn Benediktsson (o seu antigo estudante), em 1961 e 1972, os debates adicionais destas interpretações. Uma vez que uma análise detalhada dos equívocos de Haugen e Benediktsson sobre passagens essenciais do FGT já foi publicada (Ulvestad 1976), basta discutir aqui somente duas expressões

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do texto, que parecem ter levantado mais especulação, notadamente a palavra grein (pl. greinir) e a frase (provavelmente jurídica) skipta máli.

Tanto Haugen (1972: 17) como Benediktsson (1972: 215) traduziram grein como ‘distinction’ ou ‘distinção’, embora pudessem ter encontrado, em qualquer dicionário do islandês antigo (p. ex. Zoëga 1910: 171), que o sentido básico da palavra é ‘galho (de uma árvore)ֹ’ ou ‘divisão’. De facto, parece que Haugen (1950) introduziu esta tradução e Benediktsson debate-a da seguinte forma:

Haugen has translated grein by ‘distinction’ (i.e. in the sense of modern technique) [...]. This translation represents a distinct advance beyond the different translations of this term by Dahlerup-Jónsson (‘forskel, nuance, forskellighed, vokal, slags’). However, the term is used in two slightly different ways: either to designate the relationship between two units (or two groups of units), which are contrasted with one another in a significant way, or sometimes to indicate the end points of these relations, or the distinctive units themselves, where, in modern terminology, we should often simply use the term phoneme [...]. This double use of the term ‘distinction’ is no doubt very fortunate, emphasizing as it does the negative, relational or contrastive, nature of the phonemes as elements composing linguistic signs (Benediktsson 1961: 240-241; cf. Benediktsson 1972: 68-69).

Mais do que questionar se o uso do termo ‘fonema’ neste contexto foi uma escolha terminológica feliz ou perguntar se os obscurecimentos teóricos de Benediktsson fazem sentido ao linguista de hoje, vamos considerar uma passagem do FGT – na tradução de Benediktsson – na qual ocorre o termo grein. Aqui, o First Grammarian formula o seu argumento a favor de representações gráficas adicionais para as vogais, que ocorrem em islandês da seguinte maneira:

Now I shall take these eight letters – since no distinction has yet been made for the i – between the same two consonants, each in its turn, and show and give examples how each of them [...] makes a discourse of its own [...]: sar: sǫr, ser: sęr, sor: sør, sur: syr (Benediktsson 1972: 215-216; cf. também a tradução de Haugen 1972: 17).

A frase intercalada, “[...] since no distinction has yet been made for the i [...]”, parece ter sido fonte de confusão e interpretações erradas por parte de linguistas modernos, como por exemplo Haugen (1950: 32-33; 1972: 37) e Benediktsson (1961: 238-239; 1972: 215), e isto pelas seguintes razões: 1.º interpretaram a lista de palavras contrastantes do First Grammarian como uma tentativa do autor de estabelecer uma lista de comutações ou um arranjo de pares mínimos, na base dos quais o número de fonemas de uma determinada língua estaria estabelecido; 2.º as suas ideias preconcebidas sobre as intenções do First Grammarian impediram-nos de ver que a única razão pela qual deixou o i fora da sua lista se deve ao simples facto de que o islandês não possuía uma forma *sír. Consequentemente, como argumenta Benediktsson (1972: 215), a frase em questão deve referir-se à série de palavras contrastantes na oração subsequente, “[...] or, more accurately, to his [i.e., the FG’s] inability to produce a more complete series”.

O problema da metalinguagem na historiografia linguística 87

Na verdade, o que o First Grammarian estava a tentar fazer era demonstrar que havia necessidade de quatro carateres adicionais para vogais no sistema ortográfico do islandês. Ao tomar as cinco vogais do alfabeto latino como o ponto de partida do seu argumento, o First Grammarian mostra que quatro delas teriam de ser divididas ou teriam que dar origem a quatro vogais adicionais, a fim de permitir uma representação mais adequada das nove vogais do islandês. O uso, por parte do First Grammarian, da palavra stafr (pl. stafir) para as quatro vogais latinas, das quais afirma que se ‘bifurcaram’ as outras quatro (cf. Benediktsson 1972: 206), em contraposição a grein ou greinir para as vogais ‘bifurcadas’, poderia ter dado a pista aos leitores modernos do texto, preparados a tomar as palavras à letra e ver que o First Grammarian estava a ‘derivar’ – provavelmente ao ter em mente a imagem de uma árvore (genealógica) – as oito ou nove vogais básicas do islandês das quatro ou cinco vogais do latim. Traduzir grein por ‘distinção’ ou ‘distinção opositiva’, em vez de ‘bifurcação’, ‘subdivisão’ ou semelhantes, como propuseram Haugen e Benediktsson, é, na melhor das hipóteses, uma interpretação equivocada daquilo que me parece um argumento direto e uma intenção pedagógica do First Grammarian.

No entanto, parece que, a partir do momento em que o estatuto de termo técnico é atribuído a um item lexical, sendo, adicionalmente, interpretado como um termo chave de uma teoria para poder compará-lo à doutrina linguística moderna, outras expressões acabam por ser elevadas ao mesmo nível de importância teórica. Assim, quando o First Grammarian fala sobre as vogais nasalizadas do islandês, faz a seguinte afirmação:

But now each of these nine letters [i.e., as nove vogais estabelecidas para o islandês, EFKK] will produce a new one if it is pronounced through the nose, and this distinction [grein] is in fact so clear that it can change the discourse [máli skipta] (Benediktsson 1972: 217).

A tradução de Benediktsson de skipta máli como ‘mudança de discurso’ é lida por Haugen (1950: 39; 1972: 34) como ‘mudança de sentido’. Nenhum dos dois investigadores encara esta frase de uma forma problemática, antes parecem considerá-la como um termo técnico central do argumento teórico do First Grammarian (cf. Benediktsson 1972: 80). Que as suas traduções desta frase estão de facto erradas torna-se óbvio pela sua primeira ocorrência no texto (veja-se FGT 85, linhas 9-10). Nelas, o First Grammarian fala da ambiguidade que pode surgir se uma letra alfabética representar mais de uma pronúncia. Na tradução de Haugen (1950: 14-15), a passagem relevante lê-se como se segue:

[...] it is not to be expected that I [...] shall be able to read well and to make out which path to take where more than one course is possible because it is written one way, but not clearly, and we then have to guess [...] But even though everyone can make something out of it, it is practically certain that everyone will not arrive at the same result when it changes the meaning [ef máli skiptir], particularly in the laws.

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Na segunda edição do FGT, Haugen (1972: 15) traduz a frase em questão como “[...] quando o sentido é desse modo mudado [...]”, e traduções semelhantes podem ser encontradas em Benediktsson (1961: 244; 1972: 215), assim como em Albano Leoni (1975: 85), embora talvez com reservas (cf. Albano Leoni 1975: 27). É bastante interessante que tradutores anteriores da passagem tenham preferido dar a “[...] se é de alguma importância [...]”, ou algo semelhante, uma versão que é sustentada pelos dicionários comuns e identificada como uma expressão jurídica, algo que a frase intercalada poderia ter sugerido aos tradutores modernos. Além do mais, ef máli skiptir, no sentido de ‘se (ou quando) muda o sentido’, se tomado como um argumento linguístico, é, na melhor das hipóteses, redundante; dificilmente faz sentido. Soa, portanto, irónico ler em Haugen (1972: 10; cf. 1950: 11) que especial atenção foi dada “[...] to the grammatical terms in an effort to avoid interpolating modern concepts”, quando, na verdade, na sua tradução do FGT há provas abundantes da sua inabilidade em despojar-se da sua formação estruturalista, que o levou a uma interpretação equivocada do texto islandês do século XIII.

3 Para um tratamento adequado da ‘metalinguagem’ Os pré-requisitos da parte do historiógrafo da linguística (que deve possuir

tanto a perícia da prática linguística como o conhecimento do historiador) foram discutidos noutra ocasião (p. ex. Koerner 1976), e não precisam de ser repetidos aqui. No que respeita ao problema do uso da metalinguagem pelo historiógrafo da linguística, parecem-me de importância fundamental os três princípios seguintes:

1.º O primeiro princípio para a apresentação das teorias linguísticas propostas em períodos mais antigos (anteriores ao século XX) tem a ver com o estabelecimento do ‘clima de opinião’ geral do período em questão. As ideias linguísticas nunca se desenvolveram independentemente de outras correntes intelectuais do período em que surgiram. Na verdade, o que Goethe chamou de Geist der Zeiten sempre deixou as suas marcas no pensamento linguístico. Por vezes, a influência da situação socioeconómica, e mesmo política, deve igualmente ser tida em conta (considere-se a discussão sobre a ‘ordem natural’ da organização sintática, na França do século XVIII, na qual o francês foi apresentado como uma língua superior às outras, e as aspirações de supremacia política da França no mesmo período). Esta primeira diretriz pode ser chamada de ‘princípio da contextualização’.

2.º O próximo passo que o historiógrafo da linguística deveria dar consiste em tentar estabelecer uma compreensão completa do texto linguístico em questão, tanto do ponto de vista histórico como crítico, talvez até mesmo filológico. É desnecessário dizer que se deve abstrair da sua própria formação linguística e dos compromissos atuais na linguística. O quadro geral da teoria a ser investigada, assim como a terminologia usada no texto, devem ser definidos internamente e não em referência à doutrina linguística moderna. Esta consideração pode ser chamada de ‘princípio da imanência’.

O problema da metalinguagem na historiografia linguística 89

3.º Só depois de terem sido concisamente seguidos os dois primeiros princípios, de forma a que uma dada manifestação linguística tenha sido compreendida no seu contexto histórico original, o historiógrafo pode aventurar-se a introduzir aproximações modernas do vocabulário técnico e do quadro conceptual apresentado na obra em questão. Talvez possamos chamar este último passo de ‘princípio da adequação’. Claro que é necessário que o investigador explique porque e até que ponto o conceito tardo-medieval de significatio vocis, por exemplo, pode ser traduzido como ‘significado’, ou até que ponto a distinção saussuriana entre ‘sincronia’ e ‘diacronia’ pode ser aplicada a propostas teóricas anteriores, que têm a ver com o relacionamento entre a linguística ‘descritiva’ e ‘histórica’.17 Como regra, o historiógrafo da linguística deve alertar o leitor para o facto de as aproximações terminológicas terem sido introduzidas por ele; por outras palavras, deve ser explícito e preciso no que respeita àquilo que na realidade está a fazer.

Se, e somente se, estes três princípios, isto é, a contextualização histórica e intelectual, a análise do texto no seu próprio quadro teórico (compare-se a tradição alemã na história literária de ‘interpretação imanente’ ou werkimmanente Interpretation) e uma descrição clara das ferramentas empregues na tentativa de tornar o texto mais facilmente acessível ao linguista moderno, estão a ser adequadamente tidos em conta, é que se pode esperar que distorções sérias das ideias e intenções dos linguistas, dos filósofos da linguagem, ou dos gramáticos do passado possam ser evitadas.

Propor ao historiógrafo da linguística os três princípios acima referidos não implica que não possa haver outros interesses legítimos nas teorias do passado. Por exemplo, não faço objeções a alguém interessado em estudar as obras dos Modistae do período medieval, porque estes podem ter sido os primeiros a conferir um estatuto teórico à gramática e porque “[...] their Speculative Grammar seems to satisfy the modern request of explanatory adequacy” (Benedini 1988: 135), pelo menos enquanto isto não é apresentado como história. Na verdade, fico aliviado pelo facto de a autora assegurar que “the necessary methodological reserve is not to identify the ancient definitions with modern ones but only to consider the significant affinity underlying both definitions” (Benedini 1988: 135).

Como muitos de nós sabemos, a mesma advertência não foi observada durante os anos sessenta e setenta, quando os gramáticos transformacionalistas dedicaram um interesse especial ao conceito de ‘elipse’. Como resultado, o trabalho dos autores do século XVI, tais como Sanctius, retirados dos seus respetivos contextos epistemológicos, tornaram-se ‘precursores’ do trabalho sintático moderno, algo que

17 Menciono esta equação terminológica frequente na literatura linguística, muita da qual deriva de uma interpretação errada das intenções de Saussure, especialmente porque há sérias distorções produzidas na historiografia linguística, tais como quando um tradutor de um texto de finais do século XIX fez uso da terminologia saussuriana, ex., ao falar de ‘estado sincrónico’ para traduzir uma formulação muito menos precisa, tendo reivindicado, na introdução ao volume, que o autor tinha antecipado as observações teóricas de Saussure. Para detalhes, veja-se a minha resenha a A Baudouin de Courtenay Anthology (Koerner 1973e: 45-50, especialmente págs. 47-48).

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nenhum historiógrafo da linguística contemplaria seriamente. A discussão da ‘metalinguagem’ ou do vocabulário técnico não pode, ou não deveria poder, ser separada daquilo que estes conceitos e termos realmente querem dizer no seu quadro cognitivo e no seu ambiente histórico-epistemológico (cf. Bartlett 1984, para uma discussão sobre o assunto).

Tendo citado Condillac no princípio, posso concluir o presente artigo com uma citação atribuída ao mesmo autor: “Une science n’est qu’une langue bien faite”.18 Esta observação pode ser particularmente adequada para a ciência da linguagem e a sua historiografia.

18 Citado por John Rupert Firth (1890-1960) em relação a uma discussão sobre ‘the restricted language of linguistics’, evidentemente indicando ‘metalinguagem’, sem fornecer a fonte. Veja-se Palmer (1968: 202, nota 5).

O problema da ‘influência’ na historiografia linguística*

Qualquer grande homem possui força retrospetiva Friedrich Nietzsche1

1 Circunscrição do problema Os últimos anos têm testemunhado o surgimento de uma variedade de estudos

voltados para questões de metodologia e de epistemologia, que dizem respeito à escrita da história da linguística (p. ex. Schmitter 1987, Hüllen 1990, Elffers-van Ketel 1991). Isso pode ser um sinal de amadurecimento da historiografia linguística. Mas há ainda várias outras questões relativas ao método e à filosofia da ciência que não foram estabelecidas (cf. Koerner 1995b: 3-26) e outras que apenas foram levantadas, embora, sem dúvida, quase todos os envolvidos na investigação histórica já se tenham deparado pelo menos com uma dessas questões de uma forma ou de outra.

Uma delas tem a ver com o que chamei ‘o problema da metalinguagem’ na historiografia linguística (Koerner 1993a), isto é, o uso da linguagem para a descrição de conceitos, ideias ou teorias linguísticas de períodos anteriores de estudo, de forma tal que não traia o sentido ou a intenção do seu autor. Ao mesmo tempo que procura tornar as reflexões sobre épocas passadas acessíveis ao linguista contemporâneo em atividade. Outra questão, aparentemente menor, diz respeito à datação correta das referências citadas nos relatos históricos (cf. Brozek 1970, Vande Kemp 1984) mas que, sem dúvida, é importante no contexto do presente artigo, que trata do problema da ‘influência’, real ou provável, sugerida ou alegada, no desenvolvimento de uma ideia linguística, ou de um conceito particularmente central, quando não de todo um quadro de trabalho na investigação científica.

De qualquer maneira, o termo ‘influência’, tal como é frequentemente empregue nos escritos que tratam de história da linguística, é, na melhor das hipó-teses, um termo mal definido e, na pior das hipóteses, um argumento conveniente que pode apanhar um opositor desprevenido: pode haver uma desconfiança encoberta de que não se trabalhou bem e de que outros descobriram alguma relação em que não se tinha pensado antes. Na verdade, a maior parte dos autores não chega a definir o termo ‘influência’, simplesmente o usa como se houvesse um acordo tácito acerca do significado do termo. Mesmo assim, em vez de propor * [Observação sobre a tradução: tendo a comunicação inglesa sido apresentada no ICHoLS III (1984), o artigo original “On the Problem of ‘Influence’ in Linguistic Historiography” foi publicado pela primeira vez em Koerner (1987b). A tradução portuguesa, elaborada por Cristina Altman (USP, São Paulo), foi publicada sob o título “O problema da ‘influência’ em historiografia linguística” (Koerner 1998b). A revisão e atualização do presente artigo foi levada a cabo por Sónia Coelho.] 1 “Jeder grosse Mensch hat eine rückwirkende Kraft [...]” (Nietzsche 1900: 73).

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uma definição, gostaria de discutir aqui três exemplos típicos da historiografia linguística, em que este assunto provocou debates acalorados para, em seguida, tentar alguns esclarecimentos metodológicos.

Os três casos que constituirão a parte central do presente artigo são os seguintes: a questão da ‘influência’ de Herder sobre Humboldt (2.1); a suposta ‘influência’ de Darwin sobre Schleicher (2.2), e a chamada ‘influência’ de Durkheim sobre Saussure (2.3). Dos três, só o último será discutido com maior detalhe, uma vez que se trata do caso mais recorrente na historiografia linguística. Entretanto, espero apresentar os restantes casos com clareza suficiente para que se possa, também deles, tirar conclusões (se não, espero, pelo menos, ter fornecido as bases para uma posterior elaboração),

2 Três exemplos de ‘influência’ na historiografia linguística Os três exemplos escolhidos para ilustrar o problema da ‘influência’ na

história do estudo da linguagem estão ligados a fases importantes no desenvolvi-mento da linguística, enquanto ciência, no século XIX e na passagem para o século XX. De facto, pode afirmar-se que o começo do século XIX marcou uma coupure épistémologique no sentido de Bachelard (cf. Foucault 1966: 13 ss.), que Schleicher produziu a ‘matriz disciplinar’ ou o ‘paradigma científico’ da filologia histórico-comparativa indo-europeia na segunda metade do século XIX (cf. Koerner 1982a), e que Saussure, por sua vez, dotou a linguística geral de um quadro de referência de que ainda se fala nas discussões teóricas sobre a natureza da linguagem e da linguística de hoje. Já a posição de Humboldt na linguística do século XIX é mais difícil de definir. Só recentemente é que um quadro completo da sua investigação linguística e da sua filosofia da linguagem começou a emergir (cf. Mueller-Vollmer 1993). Durante a sua vida, o impacto de Humboldt no estabelecimento de uma gramática comparativa terá sido mais institucional do que metodológico, mas no que diz respeito a questões de tipologia linguística e de filosofia da linguagem, pelo menos, a sua influência foi mais amplamente re-conhecida. São essas observações e assunções, já tradicionais, que tornam tão atraentes a investigação das possíveis fontes de Humboldt, Schleicher e Saussure, desses importantes, e de facto inovadores, pensadores do estudo linguístico. Os historiadores estão interessados não só em descobrir as suas fontes de inspiração, mas também em determinar o que tornou as suas propostas diferentes das que os antecederam e tão importantes para as gerações de investigadores subsequentes. Que os historiógrafos da linguística foram, por vezes, demasiado rápidos a apontar os precursores e as ‘influências’ dos seus escritos e que vários detalhes ainda estão à espera de elaborações sine ira et studio é o que fica aqui sugerido, na abertura desta pequena discussão.

2.1 A Questão da ‘influência’ de Herder sobre Humboldt Recentemente, Hans Aarsleff (1977, 1982a) desafiou a visão amplamente

aceite de que Wilhelm von Humboldt (1767-1835) absorveu muitas das ideias de

O problema da ‘influência’ na historiografia linguística 93

Herder sobre a natureza da linguagem, especialmente as avançadas no seu premiado ensaio de 1770 sobre glotogénese, Ueber den Ursprung der Sprache (Herder 1772). Aarsleff dirigiu a sua crítica especialmente ao estudo de 1975 de Gipper / Schmitter, no qual a vasta literatura sobre a ‘linguística na época do Romantismo’ é examinada e o ponto de vista sobre a importância de Herder, Humboldt e outros, na primeira metade do século XIX, é mantido. Aarsleff argu-menta que as fontes primárias disponíveis não foram cuidadosamente estudadas e que as principais escolas de pensamento foram ignoradas pelos investigadores (na sua maioria alemães). No quadro reivindicado por Aarsleff, Humboldt situa-se na tradição de Condillac, em particular tal como desenvolvida pelos Idéologues, com quem Humboldt teve contacto durante a sua estadia em Paris, como embaixador da Prússia, entre 1798 e 1801.

É interessante observar que os estudiosos do século XIX divergiam sobre esta questão da ‘influência’ das ideias de Herder acerca da filosofia da linguagem de Humboldt. Assim, Rudolf Haym (1821-1901), na sua biografia de 641 páginas de Humboldt, defendia que:

Von dem Boden der kritischen Philosophie und des ästhetischen Humanismus ausgehend, erweisen sich die Humboldtschen Ansichten fast durchweg als Läuterung, Ausführung und Rechtfertigung dessen, was zuerst in poetischer Intuition ergriffen zu haben das unbestreitbare Verdienst Herders ist (Haym 1856: 494).2

Heymann Steinthal (1823-1899), contemporâneo de Haym e provavelmente o mais influente defensor de Wilhelm von Humboldt no século XIX, contrapôs-se mais tarde a esta visão (Steinthal 1858: 12), depois de Haym ter reafirmado a sua posição, na biografia de dois volumes que fez de Herder:

Er wiederholt die Gedanken Herders – er vertieft, er verfeinert, er bestimmt, erklärt sie, erdenkt das von jenem gleichsam atemlos Gedachte mit ruhig verweilender Umsicht zum zweiten Male nach und durch (Haym 1880: 408).3

Entretanto, quando se lê a quarta edição ampliada do livro Der Ursprung der Sprache de Steinthal, a sua oposição à visão de Haym não soa tão forte quanto Aarsleff (1982a: 339) parece sugerir. Assim, após negar que Humboldt tenha aprendido e continuado as ideias de Herder e Hamann – amigo de Herder e, em certa medida, o seu oponente – Steinthal afirma:

2 [A partir da base da filosofia crítica e do humanismo estético [kantianos, presumo eu, KK], as visões de Humboldt revelam-se quase sempre como purificação, execução e justificação daquilo de que cabe a Herder o inegável mérito de o ter originalmente captado com intuição poética.] 3 [Ele [i.e., Humboldt, EFKK] reitera o pensamento de Herder – aprofunda, refina, define e explica-o; repensa e aprofunda com circunspeção contemplativa o que antes tinha sido sofregamente pensado por aquele [i.e., por Herder, EFKK].]

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Humboldt ist nur aus sich und aus seiner Zeit zu begreifen. Der Geist seiner Zeit aber wurde vorbereitet durch Männer wie die genannten [i.e. Herder e Heumann]. Diese bilden also bloß ideell die Vorstufe zu Humboldt’s Sprachwissenschaft, ohne daß sie darum in thatsächlichem Zusammenhange mit derselben stehen (Steinthal 1858: 12).4

Esta declaração não pode ser interpretada, creio, como uma posição estritamente oposta à de Haym. Com efeito, não é senão uma versão mais fraca dela, ou seja, que Humboldt não estaria em débito direto para com Herder, mas sim para com todo o ‘clima de opinião’ do período, no qual Herder exerceu um papel importante. Na sua volumosa introdução à edição póstuma de Ueber die Verschiedenheit des menschlichen Sprachbaues de Humboldt, August Friedrich Pott (1802-1887), um grande admirador de Humboldt, alinhou com a visão de Steinthal sobre este assunto (Pott 1876). No entanto, não há nenhuma indicação de que Pott tenha conduzido uma investigação independente acerca da questão (cf. Lauchert 1893: 762). Edward Sapir (1884-1939), ao escrever no início do século XX, toma o partido de Haym (e de Lauchert, cujo artigo parece ter sido amplamente ignorado pela literatura mais recente, mas que serviu a Sapir como principal fonte secundária), “[...] in view of the greater probability of the continuity of ideas [...]” (Sapir 1907: 141).

Nos últimos anos, mesmo um acérrimo defensor da filiação Herder-Humboldt, como Helmut Gipper (1981: 108), concede que, na ausência de declarações explícitas de Humboldt a este respeito e na ausência de provas na sua correspondência (grande parte da qual parece ter-se perdido durante a Segunda Guerra Mundial), tornou-se muito difícil confirmar com segurança a influência de Herder sobre o pensamento linguístico de Humboldt. Entretanto, estudos que analisaram cuidadosamente a obra de Humboldt (e que, tipicamente, não estão mencionados na crítica de Aarsleff), tais como o de Brown (1967: 65) e o de Heeschen (1972: 31), encontraram provas suficientes para sustentar a interpretação tradicional de Humboldt ser devedor de Herder, assim como de muitos outros, incluindo Hamann e Locke (veja-se ainda Manchester 1985: 10-11).

Mais importante para o presente debate é o facto de que Aarsleff, em vez de fornecer argumentos contra o que entende como uma séria distorção da história das ideias linguísticas, se refere principalmente a passagens selecionadas da correspondência existente de Humboldt. Para Aarsleff, estas passagens sugerem que Humboldt não tinha uma opinião muito favorável de Herder, pelo que sentiu, em vez disso, que os contactos com os Idéologues teriam sido cruciais para moldar a da linguagem de Humboldt. Como prova, o leitor fica com a garantia de que o artigo de Aarsleff constitui um “[...] abrégé d’une monographie en projet, ce qui explique que ne soit utilisée qu’une partie des très nombreux documents dont nous 4 [Humboldt só pode ser compreendido por si mesmo e através do seu tempo. O espírito do seu tempo, porém, foi preparado por homens como aqueles que acabam de ser mencionados. Estes formam, portanto, meramente o patamar preliminar da linguística humboldtiana, sem que por isso necessariamente haja uma relação concreta entre eles.]

O problema da ‘influência’ na historiografia linguística 95

disposons” (Aarsleff 1977: 233, nota 1; na versão de 1982 esta declaração foi convenientemente omitida).5 Não se faz qualquer tentativa de uma análise textual dos escritos linguísticos e/ou filosóficos de Humboldt (ou de Herder) para sustentar a contraproposta.

Tendo em conta as fortes críticas repetidamente lançadas por Aarsleff contra outros estudiosos, desde a sua polémica de 1970 contra o tratamento que Chomsky imprimiu à história da linguística, é de surpreender que o cuidadoso estudo de Wulf Oesterreicher sobre a questão demonstre que Aarsleff acabou por ser vítima exatamente das mesmas deficiências que ele próprio denunciou no trabalho de outros (Oesterreicher 1981: 124-130 passim). Estas incluem postura retórica, em vez da argumentação baseada em prova textual, seletividade e a deturpação subsequente das fontes verdadeiramente citadas; e uma incapacidade generalizada de compreender que o início do século XIX testemunha mais uma rutura com a tradição do que uma continuidade das doutrinas do século XVIII. O movimento romântico, poderíamos lembrar, que foi inspirado por Rousseau e, na Alemanha, especialmente por Herder, encarava-se a si próprio como uma reação contra o Iluminismo, particularmente contra aqueles aspetos que se originaram na França e, portanto, também contra a ‘École de Condillac’ (Bréal 1897: 277).

Mesmo se não encontrarmos prova textual suficiente para provar, sem qualquer sombra de dúvida, que o pensamento linguístico de Humboldt deve muito a Herder, creio podermos ter a certeza de que as ideias de Herder sobre a origem da linguagem (cf. os agradecimentos de Jacob Grimm de 1852, também citados em Sapir 1907: 140) e o seu desenvolvimento histórico exerceram, de facto, um impacto sobre o estudo da linguagem em inícios do século XIX. Não nos deveria surpreender que as ideias de Herder somente despertaram interesse histórico em meados do século XIX (cf. Steinthal 1888: 10): compare-se os trabalhos de Schleicher e de outros, desde 1850, período em que a linguística se tornou um campo de estudo autónomo.

Por outras palavras: se hesitamos em manter a forte reivindicação tradicional da ‘profunda influência’ de Herder sobre Humboldt, é bastante seguro afirmarmos

5 Parece, no entanto, que a curiosa introdução de Aarsleff, de 1988, à tradução inglesa da opus magnum de Humboldt constitui a parte principal da sua ‘monographie en projet’. Também não oferece qualquer análise linguística, mas em vez disso, Humboldt é, contrariamente ao que o próprio afirma no corpo da obra traduzida, cunhado de ‘racista’. A maior parte da introdução de Aarsleff (1988: xxxii-lxv) é uma ampliação dos seus argumentos anteriores, temperada com ataques adicionais a estudiosos que mantêm a visão tradicional a respeito do impacto de Herder sobre o pensamento linguístico alemão, acrescida de uma linha adicional de ‘influência’ sobre Humboldt, advinda, desta vez, do enciclopedista Denis Diderot (1713-1784). Se a erudição de Aarsleff for tomado como um modelo de história intelectual, não há dúvida de que os historiógrafos da linguística podem concluir que um relato sobre o desenvolvimento do ‘estudo da linguagem’, desde o livro Ueber die Sprache und Weisheit der Indier de Friedrich Schlegel (1808), pode seguramente ignorar este tipo de obras.

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que Herder fazia parte do ambiente intelectual do período no qual as ideias de Humboldt tomaram forma (cf. Marchand 1982).6

2.2 A Questão da ‘Influência’ de Darwin sobre Schleicher O nosso próximo exemplo difere do anterior em muitos aspetos. O que os

dois têm em comum é que ambos se tornaram lugares-comuns nas assim chamadas histórias da linguística. Mas é aqui que acabam as semelhanças, porque, neste caso, temos disponíveis amplas provas que contrariam a fable convenue.

Para falar sem rodeios, a teoria da linguagem de August Schleicher (1821-1868) e o seu desenvolvimento são retratados como um desvio do idealismo hegeli-ano para o materialismo darwiniano. Por outras palavras, tem-se afirmado em muitos manuais e artigos dedicados à linguística do século XIX em geral, ou a Schleicher em particular, que este abandonou as suas primeiras ideias sobre a linguística como parte das ciências humanas (Geisteswissenschaft), em favor de uma ciência da linguagem que pertenceria ao domínio das ciências naturais (Naturwissenschaft), a seguir ao surgimento da Origin of Species de 1859, de Charles Darwin (1809-1882), e que as suas ideias posteriores sobre a evolução da linguagem tinham sido moldadas a partir da teoria de Darwin.7

Em 1966, J. Peter Maher fez uma tentativa de corrigir essa imagem ampla-mente divulgada de Schleicher num artigo importante, mas, muitos anos depois, ainda encontramos traços desta interpretação distorcida em vários lugares. Dinneen (1967: 189), chega mesmo a associar a biologia darwiniana ao postulado neogramático da não-excecionalidade das leis fonéticas e atribui a famosa declaração “[...] wenn wir nicht wissen, wie etwas geworden ist, so kennen wir es nicht” (Schleicher 1863: 10)8 a Darwin! Leroy (1971: 22) relaciona a rigorosa aplicação das leis linguísticas por Schleicher com as ‘novas’ teorias de Darwin (como se Darwin não tivesse precursores). Arbuckle (1970: 28) mantém a imagem tradicional, segundo a qual Schleicher “[...] must be read within the context of the idealist philosophy of his student days, and the positivism or Darwinism of his maturity”. Mesmo Robert Henry Robins, que num estudo anterior (Robins 1973: 42) tinha observado que a interpretação schleicheriana da história das línguas originalmente não tinha sido influenciada por Darwin, mas que Schleicher considerava Darwin como apoio para as suas próprias ideias, após ter sido introduzido à sua obra por Ernst Haeckel (1834-1919), o seu colega em Jena, não alterou a sua declaração anterior, na sua Short History de 1967, de que

6 A importância geral de Herder na história das ideias foi reiterada no artigo de Luanne Frank (1984), em que todos os assuntos que eram de interesse para Humboldt são tratados, isto é, salvo a linguística, que é abordada no livro de Alfons Reckermann (1979). 7 Diderichsen (1976a: 236) é muito mais prudente ao argumentar que o livro de Darwin provavelmente conduziu Schleicher mais longe no seu caminho da filosofia especulativa (à la Hegel) para a posição positivista. 8 [Se não sabemos como algo foi feito, então não o conhecemos.]

O problema da ‘influência’ na historiografia linguística 97

“Schleicher’s theory of linguistic history, [...], was in line with Darwinian ideas prevalent in the second half of the century” (Robins 1979a: 181).

Há exceções a esta imagem comum de Schleicher como um darwinista (p. ex. Andersen / Bache 1976). Mas, dada a recente reafirmação e ampliação das correções à imagem tradicional e inteiramente errónea de Schleicher, feita por Maher (1983),9 não preciso de alongar-me extensamente sobre uma refutação destas aqui e posso ainda remeter o leitor para outros tratamentos do assunto, bem como de outros estudos relacionados da minha autoria (Koerner 1982a, 1983c). Os historiógrafos da linguística falharam em duas coisas: em primeiro lugar, não leram muitos dos escritos do próprio Schleicher, se é que o fizeram, mas confiaram apenas e demasiadas vezes nos relatos de outros (p. ex. Whitney 1871). Em segundo lugar, falharam em estabelecer as verdadeiras fontes da inspiração teórica de Schleicher, em particular a sua familiaridade com a botânica, com a teoria evolucionista pré-darwiniana, com o princípio do uniformitarismo na geologia, e assim por diante. Ambas as linhas de investigação teriam estabelecido uma variedade de factos e observações importantes, que só poderiam ter conduzido a uma revisão considerável da imagem distorcida de Schleicher nos anais da ciência linguística.

Por exemplo, Schleicher publicou dois desenhos de uma árvore genealógica (Stammbaum) em 1853 e mais meia dúzia dessas árvores genealógicas em 1860, vários anos antes de deparar com a segunda tradução alemã revista (1863) do livro de Darwin, que marcou a época. Consequentemente, não há dúvida de que as suas ideias devem ter advindo de outras fontes anteriores. Já por volta de 1850, Schleicher tinha abandonado a sua posição anterior segundo a qual a linguística seria uma disciplina histórica como a filologia ou os estudos literários. Em suma, o retrato tradicional de Schleicher, como tendo desenvolvido o seu modelo naturalista da estrutura da linguagem e da evolução linguística sob a influência de Darwin (cf. Jacob 1973: 25), pode ser facilmente refutado e deveria ser substituído por uma apresentação das ideias de Schleicher que fosse baseada na leitura direta e na análise cuidadosa tanto das fontes primárias como das secundárias.

2.3 A Questão da ‘Influência’ de Durkheim sobre Saussure Como nos outros dois casos, a afirmação de que Ferdinand de Saussure

(1857-1913) desenvolveu a sua conceção de linguagem e de linguística ‘sob a influência’ das teorias sociológicas de Émile Durkheim (1858-1917) tem sido uma das ideias mais largamente aceites na história da linguística. Como nos dois casos anteriores, há boas razões para se questionar a adequação desta opinio communis, como espero mostrar a seguir.

9 Maher (1983: xix-xxi) é particularmente crítico com o texto de Aarsleff sobre o ‘darwinismo’ de Schleicher, mas também cita outros autores (Maher 1983: xxii-xxiv), como A. L. Kroeber, Joseph Greenberg, J. R. Firth, e René Wellek, que tiveram uma ideia muito mais satisfatória do que a teoria de Darwin realmente significava. Além disso, e talvez mais importante, tanto Kroeber como Firth chamaram a atenção para o facto de que a teoria evolucionista já tinha dado entrada na linguística três gerações antes do surgimento da Origin of Species.

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A história desta alegada ‘influência’ é uma história que tem mais de oito décadas. Começou verdadeiramente no Second International Congress of Linguists, ocorrido em 1931, em Genebra, quando Witold Doroszewski (1899-1976) propôs que Saussure tinha desenvolvido a sua distinção ‘langue’ / ‘parole’ em analogia com os conceitos desenvolvidos por Durkheim e pelo seu rival, o sociólogo Gabriel de Tarde (1843-1904), respetivamente (Doroszewski 1933a). Dois anos mais tarde, Doroszewski (1933b) publicou outro artigo no qual tratou da questão da ‘influência’ de Durkheim sobre Saussure, especialmente no que diz respeito ao conceito de ‘langue’ como ‘facto social’. A proposta essencial de Doroszewski foi que as ideias de Saussure sobre a natureza da linguagem seriam ‘de provenance extralinguistique’, uma afirmação que refutei em diversas ocasiões, mais extensiva-mente no meu livro sobre Saussure (Koerner 1973b: 48-49, 226-227, 230-231, 239 nota 12, e noutros lugares). Entretanto, parece que as propostas de Doroszewski terão sido consideradas irresistíveis pelos autores de manuais, uma vez que encontramos a reivindicação da influência de Durkheim repetida em muitos relatos históricos sobre o estudo da linguagem (p. ex. Jacob 1973: 255; Robins 1979a: 200) e discutida noutros (p. ex., Dinneen 1967: 192-195; Bierbach 1978: 153-176 et passim). Mais recentemente, Geoffrey Sampson (1980: 48) censurou-me por negar “[...] that Saussure was influenced by Durkheim, arguing that his intellectual forebears should rather be sought exclusively among linguists such as the American W. D. Whitney”. Embora nunca tenha dito ‘exclusivamente’, pode dizer-se que Sampson resumiu os princípios básicos da minha posição, mas que falhou ao mencionar Washabaugh (1974) que, independentemente da minha própria investigação, chegou à conclusão de que não houve influência da sociologia durkheimiana sobre Saussure.

Limitações de espaço não me permitem apresentar as ideias do próprio Sampson sobre o assunto, mas pode dizer-se que se apoia fortemente em fontes secundárias e que não consultou nem as Sources manuscrites de Godel (1957), nem a ‘edition critique’ de Engler (Saussure 1968, 1974), que deveriam ser a base textual de qualquer investigação séria sobre o pensamento linguístico de Saussure. Ao referir a autoridade de Doroszewski (1933a: 90-91; 1958: 544, nota 3), Sampson (1980: 48) afirma que: “We know that Saussure followed the Durkheim / Tarde debates with interest [...]”. Doroszewski afirmara, no seu artigo de 1931, que sabia disso ‘d’une source certaine’, fonte essa que em 1957 finalmente identificou como sendo Louis Caille (1884-1962), um antigo estudante de Saussure em Genebra. Isto parece um detalhe interessante. Curiosamente, entretanto, não se tem conhecimento de nenhum outro estudante de Saussure que tenha feito semelhante observação, ainda que Charles Bally (1865-1947), Albert Sechehaye (1870-1946), Léopold Gautier (1884-1973), Albert Riedlinger (1883-1978) e possivelmente outros tenham sido muito mais próximos de Saussure do que Caille. Com efeito, já no Congresso de Genebra (como documentam as atas na pág. 147), Antoine Meillet (1866-1936), estudante de Saussure em Paris entre 1885 e 1891 e, em seguida, o seu amigo e regular correspondente, contradisse a

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afirmação de Doroszewski. Mas, este facto tem sido convenientemente ignorado pelos historiógrafos da linguística até aos dias de hoje.

A refutação de Meillet não foi uma observação acidental. Assim, a 25 de novembro de 1930, nove meses antes do Congresso de Genebra, Meillet escreveu a Trubetzkoy, provavelmente em resposta a uma questão do investigador vienense: “J’ai été bien étonné quand j’ai vu F. de Saussure affirmer le caractère social du langage: j’étais venu à cette idée par moi-même et sous d’autres influences [...]” (Hagège 1967: 117). Esta observação não deixa de ser interessante, se nos lembrarmos de que o próprio Meillet conhecia bem Durkheim (a quem foi dada uma cátedra em Paris, em 1902) e que contribuiu para a sua revista Année sociologique durante vários anos. Meillet parece dizer que Saussure não falou sobre a natureza social da linguagem durante a sua estadia em Paris. Mas não parece excluir a possibilidade de Saussure ter adotado as ideias que ele lhe teria comunicado em artigos de 1905 e 1906, pouco tempo antes de Saussure começar o seu curso de linguística geral, artigos esses de que Meillet tinha enviado separatas ao maître de Genève (cf. Koerner 1984b: 33 nota 12). Foi por causa dos contactos regulares de Saussure com Meillet que levantei a possibilidade de uma mediação das ideias durkheimianas para Saussure através de Meillet (Koerner 1973b: 230-232, 379), embora a minha própria investigação, seguindo as sugestões de Godel (1957: 282), não tenha revelado nada que pudesse ser tomado como prova da dependência de Saussure em relação a Durkheim (cf. Koerner 1973b: 45-60 e 62-66, notas). Rijlaarsdam (1978: 264), depois de ter investigado detalhadamente a ‘conexão durkheimiana’, admitiu que nem Meillet nem Saussure estavam mais do que parcialmente familiarizados com a sociologia de Durkheim. Talvez isso não possa ser encarado como satisfatório perante os argumentos muito mais poderosos de Hiersche (1972), Bierbach (1978) e outros, que alegam a dependência clara de Saussure em relação a Durkheim.

Na teoria de Saussure, a natureza social da linguagem parece exercer um papel secundário, particularmente na definição do seu conceito de ‘langue’. A dis-tinção entre ‘langue’ e ‘parole’ não é feita estritamente com base na distinção entre ‘fait social’ / ‘fait individuel’, como sugere Bierbach (1978: 165-166), e, certa-mente, não foi feita no sentido durkheimiano da coletividade que exerce coerção social sobre o indivíduo.10 É geralmente sabido (p. ex. Sampson 1980: 47), embora não frequentemente reconhecido, que o nome de Durkheim não surge mencionado em qualquer lugar nos escritos de Saussure, publicados ou inéditos. Ao mesmo

10 O conceito de ‘contrainte sociale’ é essencial na teoria de Durkheim, já que é com a ajuda desta ‘force’ que espera estabelecer a realidade psicológica do que chama um ‘fait social’ (cf. Koerner 1973b: 50-51, para detalhes). Onde se lê ‘la contrainte de l’usage collectif’ no texto da vulgata (cf. Saussure 1931: 131), na edição crítica (Saussure 1968: 206) fala-se de ‘un caractère impératif du langage’. Fica claro por esta passagem e por muitas outras do Cours que os editores procuravam ‘melhorar’ as anotações dos alunos que tinham em mãos, ao acrescentar ideias, conceitos e interpretações que refletiam a sua própria experiência e preocupações intelectuais e não necessariamente as de Saussure.

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tempo, é evidente, mesmo na versão vulgata do Cours, que Saussure está a referir-se á obra de William Dwight Whitmey (1827-1894), de quem ele próprio se assume grande admirador, em 1908 (cf. Godel 1957: 51) e quem tinha encontrado pessoalmente em Berlin, em 1879 (cf. Joseph 1988). No seu livro Language and the Study of Language de 1867 (traduzido para o alemão em 1874 e, deste modo, certamente lido por Saussure durante os seus estudos na Alemanha), Whitney tinha observado o seguinte:

Speech is not a personal possession, but a social: it belongs, not to the individual, but to the member of society. No item of existing language is the work of an individual: for what we may severally choose to say is not language until it be accepted and employed by our fellows. The whole development of speech, though initiated by the acts of individuals is wrought out by the community (Whitney 1867: 404).

Lida com base o nosso conhecimento atual dos ensinamentos de Saussure, esta citação soa bastante ‘sedutora’. Não pode, no entanto, ser usada como argumento para excluir a influência das ideias durkheimianas sobre o pensamento de Saussure durante a primeira década do século XX, quando os preceitos sociológicos de Durkheim parecem ter sido amplamente discutidos, especialmente após a segunda edição da sua obra Les règles de la méthode sociologique (11895, 21901, 61919), à qual Durkheim tinha acrescentado um extenso “Preface de la seconde édition” (Durkheim 1901: IX-XXIV) que esclarece o seu conceito de ‘fait social’. Na verdade, deveríamos supor que Saussure, como qualquer outro intelectual do período, estivesse de alguma maneira informado acerca do intercâmbio entre Durkheim e Tarde e amplamente familiarizado com alguns dos seus princípios. Por exemplo, o primo de Saussure, Adrien Naville (1845-1930), professor de filosofia em Genebra, publicou uma segunda edição ‘entièrement refondue’ da sua Nouvelle classification des sciences (11888. 21901),11 no mesmo editor e no mesmo ano em que saiu a segunda edição das Règles de Durkheim. Deve ser mencionado ainda que, durante a maior parte do tempo em que Saussure ministrou os seus agora famosos cursos de linguística geral (1907-1911), também trabalhou na biblioteca da Universidade, onde classificava cuidadosamente os livros para a Faculdade de Letras e Ciências Sociais que davam entrada (cf. Muret 1915: 46). É, portanto, bastante razoável assumir que Saussure teria uma ideia geral do que se estava a passar naquele tempo na filosofia, psicologia, sociologia e noutros campos, incluindo a economia política, um assunto ao qual se referiu em diversas ocasiões nas suas aulas. No entanto, a probabilidade de que Saussure tenha tomado conhecimento da obra de Durkheim (assim como de outras) não deveria ser interpretada como uma indicação de que Saussure tivesse sido influenciado por, ou que fosse particularmente devedor a Durkheim ou a qualquer outro sociólogo. Por este motivo, estou bastante inclinado a falar de noções ‘durkheimianas’, pelo

11 Com efeito, Saussure contribuiu com algumas ideias sobre a natureza semiótica da linguagem nesta nova edição (Naville 1901: 104).

O problema da ‘influência’ na historiografia linguística 101

menos em territórios de fala francesa, como parte do ‘clima de opinião’ de inícios do século XX, isto é, ideias que não podiam deixar de ser discutidas nos círculos intelectuais do tempo de Saussure. Sugiro que tal visão deveria ser mantida enquanto não possuirmos (pace Bierbach, Sampson, e outros) nenhuma prova convincente, textual e concreta, de que Saussure incorporou conceitos sociológicos durkheimianos na sua argumentação teórica.

3 Observações finais Como se afirmou no início do presente artigo, muito parece depender do

sentido e da importância que atribuímos ao termo ‘influência’. Se queremos dizer com ele que certas ideias faziam parte da bagagem intelectual de um determinado período, poderíamos facilmente concordar que Humboldt, por exemplo, não poderia ter escapado às ideias apresentadas por Herder, mesmo que não tenhamos nenhum testemunho do próprio Humboldt neste sentido. Algo parecido pode ser dito no caso de Saussure em relação a Durkheim. No entanto, uma interpretação tão ampla de ‘influência’ pode não ser muito satisfatória e provavelmente não será muito significativa. Em consequência, faríamos bem em estabelecer uma definição mais clara deste termo demasiadamente utilizado, assim como em desenvolver critérios para a sua aplicação adequada. Os seguintes pontos podem servir como uma contribuição para a discussão, uma vez que não penso que o assunto esteja encerrado.

3.1 O ‘background’ do autor Os antecedentes de um autor em particular, a sua tradição familiar,

escolaridade, primeiros estudos e os interesses pessoais e as ocupações durante os seus anos de formação podem ser importantes para estabelecer conexões que po-dem conduzir a provas (frequentemente inconscientes) de empréstimo, integração e assimilação de particulares ideias, conceitos ou teorias. Papéis de família, corres-pondência, currículos escolares, cursos universitários frequentados por um dado autor podem servir como fontes para o historiógrafo. A obra de Paul Diderichsen (1905-1964) sobre o seu ilustre compatriota Rasmus Kristian Rask (1787-1832) pode ser considerada como uma espécie de modelo do que tenho em mente (Diederichsen 1976a: 259-270 passim e, mais completamente, Diderichsen 1976b).

3.2 Prova textual A prova pode ser mais forte se paralelos textuais entre uma dada teoria ou

conceito e as suas supostas fontes puderem ser estabelecidos. Para a descoberta de uma fonte ou de fontes de inspiração, a informação biográfica fornecida por 3.1 pode ser útil. Por exemplo, o facto de o pai de Schleicher ter sido médico e de ele ter crescido numa área de florestas, com muita vida vegetal, pode ajudar a explicar o seu interesse vitalício pela botânica e a abordagem posterior à linguagem e ao seu estudo, como ainda a introdução na linguística de termos tirados das ciências naturais (por exemplo, morfologia). Deveríamos igualmente observar a afirmação

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de Schleicher de que ele, em questões de método e de observações minuciosas, tinha aprendido muito com o trabalho de Mathias Jacob Schleiden (1804-1881) e os seus Grundzüge der wissenschaftlichen Botanik (Schleiden 1842/1843, cf. a tradução inglesa Principles of Scientific Botany; Schleiden 1849). Schleiden foi professor de botânica em Jena de 1839 até 1863, onde o próprio Schleicher viria a ser professor universitário em 1857.

3.3 Reconhecimento público Provavelmente a prova mais importante a favor de uma reivindicação de

influência pode resultar de referências diretas de um autor às obras de outros. Por exemplo, nas suas aulas, Saussure referiu-se as obras de Whitney, Hermann Paul, Baudoin de Courtenay e Kruszewski, mas não de Georg von der Gabelentz, Tarde ou Durkheim. Ainda que estas referências diretas por si só não provem muito, a não ser que sejam fundamentadas através da comparação textual (3.2), parece mais apropriado investigar os estudiosos e as obras mencionadas por um determinado autor, antes de atribuir uma existência real de um impacto sobre o seu pensamento por aqueles aos quais nunca se referiu nos seus escritos, publicados ou não.

Em suma, acredito que, se esses três critérios forem tidos em conta de modo gradual, estaremos muito mais próximos de responder satisfatoriamente se Herder influenciou Humboldt, se Darwin forneceu um modelo a Schleicher, ou se Durkheim conduziu Saussure a uma conceção social da linguagem.

Georg von der Gabelentz e Ferdinand de Saussure: o problema da ‘influência’*1

Il est difficile en effet, quand on relit aujourd’hui la linguistique du passé, d’échapper à l’éclairage que les connaissances actuelles projettent à renvers sur les formulations d’autrefois; difficile de résister à cette impression saisissante des vieux textes apparaissant comme “prémonitoires”, difficile de combattre le sentiment qu’on aperçoit partout des précurseurs (Mounin 1959: 8)

Georges Mounin (1959: 8)2 1 Introdução No seu quase célebre artigo de 1967,3 Eugenio Coseriu (1921-2002) afirmou

que, até aquele momento, Saussure tinha sido considerado principalmente de forma a-histórica no que diz respeito à sua relação com os desenvolvimentos linguísticos pós-saussurianos, que tinha sido percebido mais como o ponto de partida de uma nova linguística, do que como o ponto de chegada de uma longa tradição, isto é, de correntes linguísticas anteriores (cf. Coseriu 1967: 100). Parece-me que uma observação de tal natureza acarreta pelo menos dois mal-entendidos. Primeiro, já deveria estar sobejamente claro que o Cours marca o início de uma nova era na teoria linguística geral, mais o início de um novo paradigma, para usar um termo moderno, do que a compilação de ideias que prevaleceram num determinado período – como pode ser dito, sem associações * [Observação sobre a tradução: a presente tradução elaborada por Cristina Altman (USP, São Paulo), com base no manuscrito fornecido pelo autor foi publicada pela primeira vez em português sob o título “Georg von der Gabelentz e Ferdinand de Saussure: O problema da ‘influência’” (Koerner 2012a).] 1 O tema deste artigo remonta à época em que eu estava a trabalhar na minha dissertação Ferdinand de Saussure: Origin and Development of His Linguistic Thought in Western Studies of Language: A contribution to the history and theory of linguistic, submetida à Simon Fraser University, em Burnaby / Vancouver, B.C., Canadá, em novembro de 1971 (Koerner 1971a). Uma versão levemente revista, acrescida de um índice de autores (págs. 419-428), foi publicada dois anos mais tarde (Koerner 1973b). Sobre Georg von der Gabelentz, veja-se Koerner (1973b: 166-194). O texto original foi publicado como “Animadversions on Some Recent Claims regarding the Relationship between Georg von der Gabelentz and Ferdinand de Saussure” (Koerner 1974c). Quando o reimprimi em 1988, numa seleção de artigos previamente publicados em Saussurean Studies / Études saussuriennes (Koerner 1988a), escolhi o título da presente versão do artigo “Georg von der Gabelentz and Ferdinand de Saussure: The problem of ‘influence’” (Koerner 1988b). À exceção de modestos retoques de estilo e de acréscimos de biodados de autores que acredito que sirvam para alguma orientação histórica, deixei o texto tal e qual. Acrescentei títulos às secções para dar uma estrutura adicional ao argumento. 2 Citado in Koerner (1971b: 159) a partir de Mounin (1959: 8). 3 [Observação da tradutora: publicado em língua portuguesa sob o título “Georg von der Gabelentz e a linguística sincrônica” (Coseriu 1980).]

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pejorativas, dos Prinzipien de Hermann Paul. Segundo, é curioso observar que esta afirmação tenha sido feita justamente por Coseriu, já que ele é visto como uma autoridade no pensamento linguístico saussuriano. É simplesmente incorreto afirmar que Saussure não tinha sido frequentemente relacionado com vários estudiosos contemporâneos e com várias tradições linguísticas desde o aparecimento do Cours em 1916 (cf. Koerner 1972a: 69-88). Pelo contrário, parece que vários dos mais destacados contemporâneos de Saussure, incluindo Hugo Schuchardt (1842-1927) e Otto Jespersen (1860-1943), ficaram curiosos com a questão das possíveis fontes da inspiração linguística de Saussure. Com efeito, desde aquela época, raramente se passou um ano sem que uma observação anterior neste sentido fosse reiterada, ou sem que fosse anunciado um novo ‘predecessor’ das ideias contidas no Cours.

Este não é o lugar para se discutir os motivos que estão por trás dessas múltiplas tentativas de rastrear as fontes a partir das quais Saussure pode ter desenvolvido as suas teorias, embora pareça duvidoso que a maioria dessas investigações tenha sido conduzida como uma tentativa de perceber melhor o impacto revolucionário de Saussure e assim apreender o fenómeno enigmático do surgimento de um génio, cujos ensinamentos transcenderam as especulações alimentadas pelos seus contemporâneos e sucessores. O ponto que gostaria de enfatizar aqui é que a impressão, à qual o leitor destas propostas frequentemente infundadas não pode escapar, é que os seus autores não estão tão interessados em escrever a história da linguística, mas sim em reescrevê-la na sua interpretação própria, às vezes muito pessoal, de como os factos deveriam ter acontecido. Para citar um exemplo simples, refiro-me ao facto historicamente verificável de que o jovem Ferdinand de Saussure (1857-1913) passou os seus anos académicos de 1876-1878 e 1879-1880 em Leipzig (com um intervalo de um ano durante o qual estudou na Universidade de Berlin), ao passo que Georg von der Gabelentz (1840-1893) foi nomeado para ocupar a cátedra de línguas do leste asiático, recentemente estabelecida na mesma Universidade em 1878, provavelmente na mesma altura em que Saussure se mudou para Berlim, de onde retornaria somente para a conclusão da tese de doutoramento, que defendeu em fevereiro de 1880. Ainda assim, Eberhard Zwirner (1967: 2442), ao entender que Saussure se associou fortemente à junggrammatische Richtung nos seus primeiros anos, afirmou que Gabelentz também tomou parte ativa neste movimento – algo que nenhum leitor atento da Sprachwissenschaft de Gabelentz afirmaria – sugerindo, assim, que Saussure já deveria ter estabelecido contacto com o estudioso durante a sua estada em Leipzig. Essa sugestão parece ter-se tornado um facto histórico, com seguidores acríticos (por exemplo, Stötzel 1970: 17), que afirmaram que Gabelentz foi de facto um dos professores de Saussure.

Qualquer um empenhado em tornar a história da linguística uma atividade séria dentro da área poderia citar outros exemplos de distorções de factos passados no desenvolvimento da ciência linguística. O assunto que será discutido no presente artigo somente deveria ser visto como mais uma instância que reflete o

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deplorável ‘estado da arte’. No entanto, parece que a relação entre Gabelentz e Saussure veio a assumir grandes proporções, a julgar pelo número daqueles que aceitaram totalmente as afirmações de certos estudiosos de que a Sprachwissenschaft de Gabelentz, que apareceu pela primeira vez em 1891, teve um impacto importante na argumentação teórica de Saussure e que de facto propõe conceitos cruciais que antecipam aqueles esboçados no Cours. Na verdade, a história recente da alegada importância de Gabelentz para Saussure põe a descoberto os verdadeiros pontos da questão, quando se trata de apresentar a história da linguística de maneira séria.

No presente artigo, não repetirei a argumentação relacionada com os vários conceitos genuinamente linguísticos que diz que terão sido propostos por Gabelentz cerca de uma geração antes de Saussure. Acredito que tanto a minha refutação de Coseriu 1967 (cf. Koerner 1971b; 1972d), como a prova que apresentei (Koerner 1972b) de que não foi o livro de 1891 de Gabelentz, mas sim os Prinzipien (1880) de Hermann Paul, que constituíram a maior fonte daquilo que Karl Bühler (1879-1963) chamou a Bewusstseinsklärung cartesiana de Saussure. Em vez disso, no que se segue, vou tentar 1) delinear a curiosa história da afirmação relativa à influência importante de Gabelentz sobre o pensamento linguístico de Saussure (1918-1972); 2) propor sugestões para a condução apropriada da investigação na história da linguística, e 3) demonstrar, através da apresentação de uma questão particular do alegado impacto de Gabelentz sobre Saussure, que argumentos recentes nessa direção são insustentáveis.

2 A ‘tradição’ da suposta antecipação de Gabelentz em relação a Saussure Já em 1918, Leo Spitzer (1887-1960) observou o que acreditava serem

paralelos óbvios entre as ideias de Gabelentz sobre ‘Sprache’ e ‘Rede’ (cf. Gabelentz 1969: 59)4 e a importante dicotomia de Saussure ‘langue’ / ‘parole’ (cf. Saussure 1931: 36-39; Saussure 1968: 321-370).5 Mas a observação ainda muito inespecífica de Spitzer permaneceu despercebida na literatura por algum tempo, sendo apenas mencionada numa nota de rodapé por Iorgu Iordan (1888-1986), na tradução autorizada de John Orr (1885-1966) (Iordan / Orr / Posner 1970: 283), em que, a rigor, apenas afirmou que Gabelentz tinha estabelecido “[..] a similar distinction between ‘Rede’, [...], and ‘Sprache’ [...]” e, mesmo assim, só depois de se ter referido no mesmo lugar à “[...] twofold conception [i.e., ‘langue’ vs. ‘parole’, EFKK] of the phenomenon of language [...]” de Paul, nomeadamente, à distinção entre ‘(Sprach-)Usus’ e ‘(individuelle) Sprechtätigkeit’, uma referência 4 [Observação da tradutora: os termos utilizados por Gabelentz ‘Sprache’ e ‘Rede’ equivaleriam, aproximadamente, aos termos ‘linguagem’ e ‘discurso, fala’, em português. A dicotomia saussureana ‘langue’ / ‘parole’, mais familiar ao leitor brasileiro, equivale ao português ‘língua’ e ‘fala’, respetivamente. A seguir, esses e todos os demais termos técnicos serão mantidos na sua língua original, conquanto seguindo a opção do autor no seu texto em inglês.] 5 Cf. Spitzer (1918: 345). Veja-se Coseriu (1967: 75), para a citação da passagem em questão. Quanto às siglas e outras abreviações utilizadas no presente texto, veja-se a bibliografia final.

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que Coseriu (1967: 75) preferiu manter em silêncio. Curiosamente, Jespersen (1922: 98), que reconheceu a sua dívida particular para com Gabelentz, foi criticado por Coseriu por não ter feito essas observações na sua resenha do Cours de Saussure, de 1916 (Coseriu 1967: 75). Outro estudioso que Coseriu não mencionou no seu artigo, mas que conhecia amplamente a Sprachwissenschaft de Gabelentz, foi Louis Hjelmslev (1899-1965). Ainda que, no seu frequentemente negligenciado, mas verdadeiramente fascinante Principes de grammaire générale, talvez tenha feito tantas referências ao livro de Gabelentz (cf. Hjelmslev 1928: 11, 39, 43, 67, 76, 84, 91, etc.) quantas ao Cours, não foi levado a argumentar, por semelhanças aparentes de termos ou de ideias, que elas não seriam simplesmente o resultado de uma “[...] coïncidence, mais d’une véritable influence de Gabelentz sur Saussure [...]”, como Coseriu (1967: 76) e outros nos quiseram fazer crer.6

Independentemente de interpretações anteriores, outros estudiosos referiram-se a Gabelentz como um precursor das ideias estruturalistas de Saussure. Friedrich Kainz (1897-1977) sentiu ser um ‘Akt geschichtlicher Gerechtigkeit’ (1941: 20) chamar a atenção para o facto de a distinção entre ‘langage’, ‘langue’, e ‘parole’ ter sido feita anteriormente na Sprachwissenschaft de Gabelentz. Anton Reichling (1898-1986), ao citar (1948: 13) a agora famosa passagem de Gabelentz (1969: 481), que foi acrescentada à segunda edição da Sprachwissenschaft, entendeu que, no que diz respeito ao conceito de língua como um sistema de partes interdependentes, que Saussure “[...] had an almost visionary person as his predecessor” (Reichling 1948: 14), mas concede que Saussure desenvolveu consideravelmente as ideias enunciadas pelo seu predecessor. Leonardus Cornelius Michels (1887-1984) escolheu outro aspeto da teorização de Gabelentz, e afirmou que foi, de facto, um precursor do estruturalismo moderno e da fonologia (Michels 1952). Coseriu (1967: 76) defende que chamou a atenção para a antecipação de Gabelentz da distinção ‘langue’ / ‘parole’ de Saussure já em 1958, ao passo que Serafim da Silva Neto (1917-1960) parece (Silva Neto 1960: 29) dever as suas opiniões à alegação inicial de Coseriu, como sugere a sua nota bibliográfica (Silva Neto 1960: 38). Mas parece que não foi senão em 1964, no Fifth International Congress of Phonetic Sciences, em Münster/ Westfalen (Alemanha), que a alegada influência de Gabelentz sobre Saussure se tornou uma questão académica entre linguistas.

Naquela ocasião, Eberhard Zwirner (1899-1984) afirmou que Gabelentz tinha antecipado tanto as distinções ‘langue’ e ‘parole’ e sincronia e diacronia de Saussure, como o conceito de sistema em língua (cf. Zwirner 1965: 7-9),

6 Isto é particularmente interessante se observarmos que Hjelmslev (1928: 215), curiosamente ao ignorar o Mémoire de Saussure (1878), fez a seguinte afirmação: “A notre connaissance, G. v. d. Gabelentz est le premier qui ait formulé explicitement l’idée dont il est question, [...], le mot système”, referindo-se ao Sprachwissenschaft (cf. Gabelentz 1969: 76, 385, 481), sem, entretanto, afirmar que Saussure, com cujas ideias Hjelmslev (1928: 214-295) estava particularmente preocupado no capítulo “Le système grammatical”, estaria dependente de Gabelentz.

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alegações que Zwirner sustentou repetidamente depois,7 apesar das intervenções de Piero Meriggi (1899-1982) e Eric Buyssens (1900-2000), na discussão que se seguiu à sua apresentação no Congresso, em que o primeiro chamou a atenção para os Prinzipien de Paul, como fonte da conceção ‘langue’ / ‘parole’ de Saussure, e o último para o princípio de sistema que inspirou o Mémoire de Saussure, de 1878, muitos anos antes do surgimento do trabalho de Gabelentz. Mas nem o próprio Zwirner, nem o seu discípulo Karl Heinz Rensch (cf. Zwirner / Rensch 1968: 91) estiveram dispostos a considerar essas objeções. Este último procurou fundamentar as alegações do seu mestre (cf. Koerner 1971c: 249-250) num artigo que contém tais afirmações como a que a distinção de Saussure entre a abordagem sincrónica e diacrónica da língua ‘findet sich bereits’ (já se encontra) no livro de Gabelentz de 1891 (Rensch 1966: 36). Neste ponto, ignorou a clara separação que Paul fizera entre ‘descriptive Grammatik’ e ‘historische Grammatik’, ou ‘Sprachgeschichte’, feita já em 1880 (cf. Koerner 1972b: 283-290), e o próprio conhecimento de Saussure, durante o seu magistério em Paris (1881-1891), do duplo aspeto do estudo linguístico, como o seu discípulo Antoine Meillet (1866-1936) lembrou no obituário de Saussure, de 1913, três anos antes do primeiro aparecimento do Cours, nota bene:

F. de Saussure voulait surtout bien marquer le contraste entre deux manières de considerer les faits linguistiques: l’étude de la langue à un moment donné, et l’étude du développement linguistique à travers le temps (Meillet 1913, citado em Koerner 1972b: 282).

Enquanto Rensch repetia as suas afirmações anteriores (1967: 78-79), Coseriu estava a preparar a sua tentativa mais sugestiva e ampla de fundamentar o seu argumento de que a influência de Gabelentz era comparável à que Whitney parece ter exercido sobre Saussure (cf. Saussure 1931: 18, 26, 110; Saussure 1968: 87, 166-176, 1264-1267; Godel 1957: 32, 43-46, 51, etc.). O ‘êxito’ das afirmações de Coseriu pode ser medido pelas várias referências laudatórias ao seu artigo na literatura que se seguiu. Enquanto as reiteradas observações de Zwirner receberam pouca atenção e o texto de 1966 de Rensch foi mencionado em Szemerényi (1971: 43) e criticado por Godel (1968: 116-117), o artigo de Coseriu foi aceite por um número considerável de eminentes estudiosos. Com efeito, o leitor que se aproxima do artigo de Coseriu sem profundo conhecimento do desenvolvimento do pensamento linguístico europeu durante as últimas décadas do século XIX e sem conhecimento direto das fontes do Cours (especialmente as constantes de Godel 1957 e Saussure 1968) não pode deixar de ficar com a impressão de que a Sprachwissenschaft de Gabelentz de facto incorpora as ideias ‘saussurianas’. O próprio Coseriu tentou reforçar a sua afirmação anterior nas suas lições universitárias de 1967-1968. É assim que 1891, o ano da publicação do livro de Gabelentz, passou a tornar-se o ponto de partida do estruturalismo (cf. Coseriu 7 Cf. Zwirner (1966a: 189-90; 1966b: 81, 101-103, 109, 166; 1967: 2445-2446; 1968a: 448, 449, 452; 1968b: xiv; 1969a: 31, 35-36; 1969b), para mais referências.

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1969: 24, 36-37); mais adiante na mesma página, alega-se que a tripartição de Saussure ‘parole’, ‘langue’, e ‘faculté du langage’ correspondia exatamente, (‘genau’), à distinção de Gabelentz ‘Rede’ / ‘Einzelsprache’ / ‘Sprachvermögen’ e que Saussure tinha adotado a sua dicotomia sincronia / diacronia do mesmo linguista, enquanto Hermann Paul, por exemplo, figurou exclusivamente como aquele que identificou a linguística com a linguística histórica (Coseriu 1969: 55), como passou a moda nos manuais modernos de história da linguística.

Certamente não se deve culpar Coseriu pela aceitação acrítica das suas opiniões por contemporâneos, tais como Klaus Baumgärtner (1931-2003) que, numa resenha à reimpressão do livro de Gabelentz (1969), afirmou expressamente: “Man braucht auf das Buch nicht einzugehen [...]”, ou seja, não há necessidade de debruçar-se sobre o livro, já que a investigação de Coseriu, “[...] die bei fachgeschichtlicher Ignoranz der Linguistik ansetzt, arbeitet akribisch, streckenweise im Paralledruck Gabelentz-Saussure heraus, wo die Quellen der strukturalistischen Dichotomien und Trichotomien zu suchen wären” (Baumgärtner 1972: 247). Uma confiança bastante semelhante na palavra do estudioso eminente pode ser observada em Szemerényj (1971: 42-43), onde a questão colocada por Coseriu (1967: 99) se as reflexões de Saussure sobre problemas de linguística geral em 1894, como atestadas em Godel (1957: 26-27, 31-32, 37-39), tinham sido desencadeadas pelo livro de 1891 de Gabelentz, passa a tornar-se uma afirmação de facto: “Es dürfte ziemlich klar sein, dass die Wende in den 90er Jahren durch das Buch von Gabelentz (siehe S.42) herbeigeführt wurde” (Szemerényi 1971: 39, nota 17; cf., criticamente, Godel 1971). Também Gheorge Ivănescu (1912-1986), em 1972, como Bernhard Rosenkranz (1970: 3) antes dele, afirma que o artigo de Coseriu “[...] a le mérite d’avoir vu la grande influence de G. von der Gabelentz sur F. de Saussure en ce qui concerne la distinction entre la linguistique synchronique et la linguistique diachronique” (Ivănescu 1972: 70), criticando-o somente por ter excluído a influência de Jan Baudouin de Courtenay (1845-1929) e de Mikołaj Kruszewski (1851-1887) sobre Saussure, ao concluir que a distinção de Saussure foi o resultado de uma “[...] synthèse personnelle entre la conception de Baudouin de Courtenay et celle de von der Gabelentz” (Ivănescu 1972: 72). A súmula dessa atitude em relação às “descobertas” de Coseriu parece-me estar na afirmação de Hans-Helmut Christmann (1929-1995): “Auf Grund von Coserius Demonstration kann man Gabelentz’ Buch mit Fug und Recht [!] als die wichtigste [!] Quelle für Saussures Cours ansehen” (Christmann 1971: 245). De facto, Christmann (1971: 246-252) sente que poderia acrescentar ainda outros ‘paralelos’ aos que Coseriu sugeriu, no que diz respeito à relação entre Gabelentz e Saussure. Voltarei a esta questão mais tarde. Basta por ora observar que Christmann (1971: 245, nota 15) obviamente argumenta ad auctoritatem diante do seu colega mais velho na Universidade de Tübingen, deixando de lado tanto as Sources manuscrites (Godel 1957), editadas por Robert Godel (1902-1984), como a edição crítica do Cours (Saussure 1968) de

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Rudolf Engler (1930-2002), por exemplo, por não fornecerem qualquer material que sustentasse a sua posição.

Entretanto, é gratificante ver que pelo menos um estudioso não concorda com a tese da influência substancial, direta e indireta, de Gabelentz sobre a argumentação linguística de Saussure. Rolf Hiersche (1924-1996), ao rever as propostas de Zwirner, Rensch, e Coseriu (Hiersche 1972: 21-24), apresenta pelo menos duas críticas importantes aos procedimentos deles, nomeadamente: a confiança exclusiva no Cours, tal como compilado por Charles Bally (1865-1947) e Albert Sechehaye (1870-1946), e a preocupação com a (nem sempre muito confiável) cronologia externa que sustenta uma alegada dependência de Saussure em relação a Gabelentz, em vez de tentarem investigar “[...] die innere Geschichte der Begriffsbildung” Hiersche 1972: 23). Em vez disso, Hiersche acredita ter convincentemente demonstrado que a fonte importante da inspiração linguística saussuriana, em particular no que diz respeito à distinção ‘langue’ / ‘parole’, deve ser procurada no trabalho sociológico de Émile Durkheim (1858-1917), uma posição que também não me convence completamente (cf. Koerner 1971a: 45-60, 67-69, 226-227, 379).

3 Tratamento superficial de textos na investigação histórica e alguns remédios Parece-me que nenhum dos estudiosos atrás mencionados demonstrou

convincentemente a sua habilidade em conduzir investigações sem preconceitos no campo do nosso passado linguístico. Várias razões contribuíram para esse deplorável estado de coisas. Acima de tudo, prevalece a impressão de que linguistas que se distinguiram no campo da linguística geral julgam ser igualmente capazes de escrever a história da linguística, sem treino ou preparação adicionais. Esta suposição vem reforçada por outros que cegamente aceitam as suas descobertas como declarações de facto, e não acreditam ser necessário investigar a base das afirmações feitas por eles. Como resultado, os argumentos apresentados por Zwirner, Rensch e Coseriu foram aceites acriticamente pela literatura e deram entrada nos manuais de histórica da linguística (p. ex., Szemerényi 1971: 42; Leroy 1971: 63, nota 2). Vejo as razões para as inadequações e distorções factuais na redação da história do pensamento linguístico na supervalorização da autoridade, associada à preguiça intelectual, em particular quando os argumentos apresentados por outros coincidem com os próprios preconceitos. Enquanto as fontes primárias não forem lidas, ou, se lidas, não o forem com a atitude apropriada, isto é, de estudar os textos dentro do seu direito próprio, não haverá história da linguística, nem mesmo crónica. Critiquei Coseriu em três pontos (cf. Koerner 1971n: 158-159), e vou discorrer sobre eles aqui, já que parece que não foram completamente compreendidos na época (cf. Narr / Petersen 1972).

Primeiro, Coseriu, assim como todos os outros estudiosos atrás mencionados, retirou Gabelentz do seu contexto histórico, do clima intelectual geral em que desenvolveu as suas ideias. Este aspeto inclui não apenas a avaliação das ideias, tanto linguísticas como extralinguísticas, correntes na Europa ocidental entre os anos 1880 e 1890, mas também o estabelecimento da formação específica de

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Gabelentz, inclusive a sua tradição familiar e educação. Aqui, e o leitor atento da Sprachwissenschaft de Gabelentz não pode ignorar essa impressão, diferenças importantes entre Gabelentz e Saussure podem ser detetadas, o que poderia explicar bem o simples, mas muito significante facto (geralmente posto de lado por aqueles que defendem a dependência de Saussure em relação a Gabelentz), de que Saussure, de facto, possuía um exemplar da primeira edição da Sprachwissenschaft de Gabelentz (cf. Godel 1968: 117), mas nunca fez qualquer referência ao livro, quer nas suas lições sobre a linguística geral, quer nas suas notas pessoais, muitas das quais foram descobertas recentemente. A mim parece que este facto comprovável deveria, pelo menos, ter acautelado aqueles que assumiram rapidamente que Saussure foi particularmente inspirado pelas ideias de Gabelentz. Além disso, é surpreendente que Coseriu (1967: 100) simplesmente se tenha referido a William Dwight Whitney (que Saussure de facto elogiou em várias ocasiões), ao afirmar a sua importância para Saussure como um facto bem estabelecido, sem oferecer, porém, qualquer prova para isso. Com efeito, são de mencionar somente dois artigos sobre o assunto (veja-se Popa-Tomescu 1970; Sljusareva 1972). Hermann Paul não se encontra mencionado nos artigos de Zwirner, Rensch, Coseriu, Christmann, Ivănescu, e outros, apesar de Saussure se ter referido explicitamente a ele tanto nas suas lições (cf. Saussure 1968: 90),8 como nas suas notas pessoais (cf. Godel 1957: 51; cf. também pág. 30).

Segundo, e esta observação pertence a princípios processuais na investigação das teorias linguísticas e das suas relações, Coseriu e outros não tentaram, no que diz respeito ao ponto atrás referido, elucidar as ideias linguísticas de Gabelentz à luz da sua formação geral e do seu próprio quadro de referência, mas foram enganados por semelhanças superficiais quando equipararam, ou pelo menos quando tentaram aproximar os termos de Gabelentz aos de Saussure. Assim, o simples facto de Saussure (1931: 31) ter afirmado que “Rede correspond à peu près a ‘parole’ [...]” foi tomado por defensores das afirmações de Coseriu (Narr / Petersen 1972: 461) como um forte argumento a favor do impacto de Gabelentz sobre Saussure. Mas deveriam ter sido alertados pela leitura do trecho completo do Cours, que segue de perto as fontes (cf. Saussure 1968: 249):

[...] les distinctions établies [entre langue e parole EFKK] n’ont donc rien à redouter de certains termes ambigus qui ne se recouvrent pas d’une langue à l’autre. Ainsi en allemand Sprache veut dire ‘langue’ et ‘langage’; Rede correspond à peu près à ‘parole’, mais y ajoute le sens spécial de ‘discours’ (Saussure 1995: 31).

Esta semântica evidentemente ambivalente da palavra alemã Rede não resultou de uma investigação mais cuidadosa da relação entre o conceito de Gabelentz de ‘Rede’ e o uso particular de Saussure de ‘parole’. Pelo contrário, uma vez feita a suposição de que os termos de Gabelentz e de Saussure eram 8 Observe-se que as referências à edição crítica de Engler não se referem a páginas, mas sim à numeração das secções estabelecidas pelo editor.

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muito próximos, com respeito ao seu sentido e à sua implicação teórica, tornou-se demasiado fácil estabelecer outras ‘correspondências’, baseadas largamente em Vorverständnis, ou seja, pré-conceções, segundo as quais Rede e parole, Einzelsprache (assim como Sprache) e langue são epistemologicamente idênticas. Daqui, só se pode avançar para a única conclusão lógica de que a conscience collective (cf. Saussure 1968: 1661) de Saussure ‘correspondeֹ’ ao Volksgeist (cf. Gabelentz 1969: 385), se devemos fazer fé em Coseriu (1967: 87), ou que a referência de Gabelentz (1969: 61) a ‘aufeinanderfolgende Tatsachen’ ‘corresponde’ aos termes successifs (cf. Saussure 1968: 1451) de Saussure, embora Coseriu devesse ter notado que Gabelentz fez uma observação do senso comum, ao passo que Saussure estava a falar de assuntos com consequência teórica. Observações semelhantes poderiam ser feitas sobre as demais alegadas correspondências entre as teorias de Gabelentz e Saussure (se é que o termo ‘teoria’ se aplica apropriadamente no caso dos esboços perspicazes, porém assistemáticos, de Gabelentz; cf. Coseriu 1967: 91); uma delas será o assunto do capítulo conclusivo deste artigo.

Finalmente, mas não menos importante, nem Coseriu nem nenhum outro estudioso se perguntou por que razão a maioria das declarações teoricamente significantes da Sprachwissenschaft de Gabelentz foram acrescentadas por Albrecht Conon Graf von der Schulenburg (1865-1902), um sobrinho de Georg von der Gabelentz, à segunda edição de 1901, “[...] wo der Fortschritt der Wissenschaft es dringend verlangte [...]”, como Schulenburg afirma no seu prefácio (cf. Gabelentz 1969: vii).9 Por outras palavras, as ideias de Gabelentz foram retiradas do seu contexto histórico (assim como do seu contexto imediato), como se os Prinzipien (11880, 21886) de Paul e as Untersuchungen über die Grundfragen des Sprachlebens (1885) de Philipp Wegener, por exemplo, não tivessem sido publicados vários anos antes da Sprachwissenschaft de Gabelentz. Além do mais, no que diz respeito às ideias de Saussure, nenhum dos estudiosos atrás mencionados fez um esforço para estabelecer quais são as passagens do Cours que se baseiam nas suas lições (tal como anotadas pelos seus alunos), ou nas notas pessoais, e quais foram acrescentadas pelos editores, nem muito menos qual era a tradição intelectual geral que seguia o ‘maître de Genève’, tradição essa que, com certeza, era bastante diferente da de Gabelentz, como indicarei no capítulo que se segue.

4 Questões sobre diferentes forças na tradição intelectual Klaus Müllner deu um exemplo notável de até onde a confiança acrítica nas

fontes secundárias e terciárias pode levar, evidentemente ao seguir a referência feita pelos editores no seu prefácio da reimpressão do livro de Gabelentz (1969), 9 Devido a mudanças na disposição e no tamanho, o leitor pode não ter reparado que Schulenburg de facto acrescentou o equivalente a 80 páginas impressas (tomando-se por base a primeira edição), sem alterar quase nada e mal omitindo uma linha ou mais do texto de 1891 (cf. para detalhes Koerner 1971a: 192 nota 11).

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assim como também as sugestões de Coseriu, quando fez a seguinte afirmação a respeito da distinção ‘langue’ / ‘parole’ de Saussure:

Diese Unterscheidung wurde von Ferdinand de Saussure [...] vulgarisiert [!], erschien aber schon früher bei F. Hegel [!] und Wilhelm von Humboldt [!], in der Sprachwissenschaft (Müllner 1971: 81).10

É verdade que Hegel fez, na sua Encyclopädie de 1817, uma referência de passagem a ‘die Rede, und ihr System, die Sprache’, ou seja, a fala e o seu sistema, a linguagem (cf. Koerner 1971a: 226), que, quando citada fora de contexto (Gabelentz 1969: [3]), pode parecer muito sugestiva. No que diz respeito a Humboldt e à sua alegada antecipação da distinção ‘langue’ / ‘parole’ de Saussure (assim como de outros conceitos), cabem algumas observações, especialmente desde que não apenas Coseriu (1967: 100) propôs essa ideia, mas outros, em particular Christmann (1971), incluíram Saussure na tradição humboldtiana, algo que acho totalmente falacioso. Coseriu (1969: 98) queixou-se de que Saussure tivesse sido geralmente visto como o iniciador da linguística estrutural e que as suas fontes tivessem sido omitidas. Nenhuma destas alegações é sustentável. Os fonólogos de Praga referiram-se a Jost Winteler (1846-1929), Jan Baudouin de Courtenay (1845-1929) e outros, como tendo proposto ideias estruturais, e observações semelhantes foram feitas por Hjelmslev nos seus Prolegomena. No que diz respeito às fontes da inspiração linguística de Saussure, tem sido sugerida, ao longo dos últimos sessenta anos ou mais, uma série de estudiosos do século XIX, vários sem qualquer justificação. A esses pertence todo o grupo do que chamei vagamente de ‘corrente humboldtiana’ (cf. Koerner 1973c), incluindo o próprio Humboldt, Steinthal, Misteli, Gabelentz, Finck, e muitos outros. Este facto parece estranho apenas para aqueles que abordam a questão das fontes de Saussure com ideias preconcebidas e que não consideram necessário consultar o magistral livro de Godel (1957), ou a edição crítica do Cours feita por Engler (Saussure 1968). Com efeito, ao passo que Gabelentz menciona Lucien Adam (1833-1918), Curt Bruchmann (1851-1928), James Byrne (1820-1897), o seu pai Hans Conon von der Gabelentz (1807-1874), Raoul de La Grasserie (1839-1914), Franz Misteli (1841-1903), Heymann Steinthal (1823-1899), e Friedrich Techmer (1840-1891), os quais todos se associaram às ideias humboldtianas da linguagem (e do pensamento), nenhum desses autores é mencionado nos trabalhos publicados, ou ainda não publicados, de Saussure. A rigor, o próprio Humboldt é mencionado uma vez nas lições de Saussure (cf. Saussure 1968: 19), e a única declaração completa que Saussure fez sobre Humboldt parece ser a seguinte (que o seu aluno Louis Caille taquigrafou em 1907 e que Engler teve a gentileza de me fornecer em forma manuscrita):

10 [Esta distinção popularizou-se com Saussure, mas já apareceu mais cedo na linguística em F. Hegel [!] e Wilhelm von Humboldt.]

Georg von der Gabelentz e Ferdinand de Saussure: o problema da ‘influência’ 113

C’est presque à ce point de vue ethnolinguistique que G. de Humboldt se place dans ses idées philosophiques sur la structure des langues du globe. Le fond de ses travaux a pour but d’établir les rapports de la linguistique avec la logique. Mais l’impulsion a été donné par ses études ethnologiques (Saussure, citado em Koerner 1971a: 173, nota 18).

Por outras palavras, Humboldt foi para Saussure um estudioso de intenções e interesses consideravelmente diferentes dos seus e, como consequência, de nenhum interesse particular para ele. Não é de admirar que o termo ‘etnolinguística’ não apareça no índice de termos do Cours (cf. Saussure 1931: 319-326), e que os aspetos antropológicos da linguagem recebam pouca, ou nenhuma atenção no volume de 300 páginas (cf. Saussure 1931: 304-306), parte do qual foi acrescentado pelos editores (cf. Saussure 1968: 3182, 3184-3185). Mesmo assim, um distinto estudioso diz-nos que existe uma “Filiation Humboldt-Gabelentz-Saussure, und sie umfasst nicht nur einzelne Gedanken, sondern entscheidende Züge” (Christmann 1971: 246). No bem informado artigo de Johannes Lohmann (1899-1983) “Über das Verhältnis der Sprachtheorien von Humboldt, de Saussure und Trubetzkoy” (1967), em que se demonstra, entre outras coisas, que dificilmente poderia haver uma maior diferença entre as teorias de Humboldt e as de Saussure, no meio de referências a estudos de Coseriu (cf. Christmann 1971: 252, nota 52) que, como sabe um conhecedor da sua obra, sempre tendeu a fundir as ideias linguísticas de Humboldt e Saussure, um curioso contraexemplo é relegado para uma nota de rodapé, uma observação que pode ser feita em relação a muitos estudiosos cujo primeiro interesse foi Humboldt e que, mais tarde, se interessaram pelo Cours (p. ex. a obra de Karl Bühler).11 Uma vez que parece que o peso do argumento repousa na questão se os conceitos ‘langue’ e ‘parole’ de Saussure constituem de facto uma adhésion humboldtienne, o que é particularmente óbvio na Sprachwissenschaft de Gabelentz (cf. Reichling 1948: 13, nota 19), consagrarei algumas considerações a essa questão a seguir.

No seu artigo de 1966, Hugo Mueller (1909-2002) deixou claro de uma vez por todas, penso eu, que não há correspondência entre os conceitos ‘langue’, ‘langage’, ou ‘parole’ de Saussure e o entendimento de Humboldt da linguagem como energeia (Mueller 1966: 99-102); é gratificante ver que Christmann (1971: 247) concorda com essa visão, embora goste de sugerir semelhanças entre o uso

11 Christmann lança sérias dúvidas sobre a sua familiaridade com a linguística indo-europeia do século XIX, quando aceita acriticamente a distinção de Vilém Mathesius (1882-1945) entre as duas seguintes correntes: uma histórica, associada a Bopp [!], e uma ‘estática’, associada a Humboldt [!] (cf. Christmann 1971: 253, nota 56). Com efeito, apesar das diferenças ideológicas, os laços pessoais e académicos entre Bopp e Humboldt eram muito estreitos (cf. Mueller 1966: 98, para uma citação relevante); mas, para além disso, caraterizar a teoria de Humboldt como ‘estática’ é uma interpretação seriamente errada, especialmente porque não foi outro senão Humboldt que afirmou repetidas vezes que a língua não é ergon (produto), mas energeia (atividade). Mas como Christmann (1971: 245) quer fazer o leitor acreditar que o conceito saussuriano de sincronia (que Saussure frequentemente descreveu como estático) se deve a ensinamentos particulares de Humboldt ou Gabelentz, tal rótulo deve ter sido mesmo muito sugestivo.

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que Humboldt faz de ‘Sprache’, ‘Sprechen’ e ‘Rede’, ideias que ele, convincentemente, pensa que estão mais claramente definidas no livro de Gabelentz, mas não no Cours de Saussure. Aparentemente porque não encontrou nenhuma citação adequada para provar essa tese, Christmann preferiu não citar o Cours, mas, em vez disso, afirmou que Saussure pertence, juntamente com Gabelentz, à corrente linguística humboldtiana. Contrariamente a Narr / Petersen (1972), Christmann (1971: 252-253) sublinha a dívida de Gabelentz para com Humboldt, que é de facto muito visível na Sprachwissenschaft, embora certas passagens (cf. Gabelentz 1969: 327-334) tenham sido acrescentadas na segunda edição de 1901 por Schulenburg.

Acredito que já mencionei suficientemente as provas externas para a minha visão de que Saussure não estava efetivamente associado à tradição linguística humboldtiana que, de facto, foi muito mais forte no século XIX e no século XX do que é comummente reconhecido (cf. Koerner 1973c). Vou agora aventurar-me a investigar as implicações de algumas teorias de Gabelentz no que diz respeito aos conceitos de Saussure de ‘langue’ e ‘parole’.

Coseriu (1967: 76ss.) dedicou um espaço considerável a este aspeto da teoria de Gabelentz: sucintamente estabeleceu que ‘Sprache’ foi usado por Gabelentz como um termo geral que abrange três factos, nomeadamente, ‘Rede’ como um fenómeno concreto, ‘Einzelsprache’, a língua que pertence a uma comunidade particular e que permite ao indivíduo fazer-se entender, e, finalmente, ‘Sprachvermögen’, a língua como uma faculdade humana (cf. Gabelentz 1969: 2). Se ‘Rede’, ‘Einzelsprache’, e ‘Sprachvermögen’ constituem termos técnicos no argumento de Gabelentz, é bastante seguro concluir que ‘Sprache’ não é um termo técnico, embora Gabelentz (1969: 3, 81) a defina como “[...] der gegliederte Ausdruck des Gedankens durch Laute”. Além disso, e isto fica óbvio no livro de Gabelentz como um todo, as declarações de senso comum sobre a língua como um sistema (cf. Gabelentz 1969: 9, 63, 385, e as acrescentadas por Schulenburg em 1901: 76, 481) permanecem sem efeito teórico para o argumento como um todo, conquanto seja certamente o conceito de língua como um sistema, mais corretamente, como um sistema de termos mutuamente inter-relacionados (isto é, de valores), que está na essência da teoria de Saussure sobre a linguagem (cf. Koerner 1971a: 180, para desdobramentos). Embora Saussure reconheça a faculdade da fala como um pré-requisito para a linguagem (cf. Saussure 1931: 29-30), não a encarava como um objeto para ser investigado pelo linguista (Saussure 1931: 25). Gabelentz (1969: 10-11, 302), por sua vez, argumentava que ‘Sprachvermögen’ constitui o campo próprio de investigação da linguística geral, provavelmente porque é comum a todas as línguas individuais (cf. Gabelentz 1969: 12, 58).

Wilhelm Grube (1855-1908), um sinólogo como Gabelentz e o seu contemporâneo, escreveu uma detalhada narrativa biobibliográfica de Gabelentz (Grube 1905), que Christmann (1971: 252, nota 54) refere numa nota de rodapé. Grube (e o próprio Gabelentz apontou para isso no prefácio da primeira edição; cf. Gabelentz 1969: v) assinalou que o livro de Gabelentz foi o resultado de muitos

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anos de ensino e reflexão, e que os capítulos não aparecem no livro na ordem em que foram compostos, o que resultou na desigualdade na sua apresentação. Este facto pode bem dar conta das vacilações, (para não dizer contradições) que o leitor atento da Sprachwissenschaft pode descobrir em quase todo o livro, muito contrariamente à impressão de rigor e de argumentação que o leitor não iniciado pode ter a partir do artigo sugestivo de Coseriu (1967). Referi-me anteriormente à divisão tripartida de Gabelentz de ‘Sprache’. Uma vez que ‘Sprache’ é definida como uma “Verständigungsmittel, Mittel des Gedankenverkehrs” (Gabelentz 1969: 55); na sua conceção como ‘Einzelsprache’ está a ‘Rede’, uma vez que é expressa pelo indivíduo (Gabelentz 1969: 58). Schulenburg inseriu então, numa tentativa de esclarecer as visões de Gabelentz, que o lado expressivo da linguagem, isto é, a ‘Rede’, é o objeto da ‘einzelsprachliche Forschung’ (Gabelentz 1969: 59), muito em contraste com Saussure que, antes de mais nada, não estava obviamente interessado no output linguístico individual, mas na ‘langueֹ’ como um sistema subjacente, isto é, um código linguístico socialmente motivado. Além do mais, nenhum paralelo convincente pode ser traçado entre o conceito saussuriano de sincronia e a ‘einzelsprachliche Forschung’ de Gabelentz, já que a linguística sincrónica diz respeito à ‘langue’, e não à ‘parole’, e à linguagem em geral, não uma em particular, enquanto no entendimento de Gabelentz (1969: 302), linguística geral serve para explorar a faculdade humana da fala enquanto tal, um programa que soa muito mais chomskyano (e não acidentalmente, acrescentaria) do que saussuriano.

A Sprachwissenschaft de Gabelentz contém várias ideias importantes, como pode ser visto a partir dos trabalhos de Franz Nikolaus Finck (1867-1910), Heinrich Winkler (1848-1930) e Ernst Lewy (1881-1966), e parece que muitas delas são merecedoras de uma reavaliação. Há, no entanto, pouca razão para ver Saussure como um membro, quer da corrente humboldtiana em geral ‒ uma corrente que se carateriza por um interesse particular pelas línguas não indo-europeias, pela tipologia linguística, questões que pertencem à linguagem e à mente, especialmente as que concernem à ‘innere Sprachform’, ‒ quer das ideias de Gabelentz em particular. Se há semelhanças superficiais, estas são, talvez, o resultado do clima geral de opinião da época, mas, certamente, não de uma influência direta. Não é necessário assumir que Saussure foi um “selbständiger Entdecker” (cf. Gabelentz 1969: v) de qualquer das propostas que compõem seu Cours de linguistique générale para reconhecer que a sua teoria levou a uma revolução na linguística. De facto, considero a citação abaixo, originalmente feita em 1937 (há quase oito décadas), que continua singularmente apropriada para concluir a presente argumentação:

Saussure’s ideas are to be met with in the writings of a number of other scholars, particular in those of Bréal, Henry, and Darmesteter, and, as all of these were his seniors, one might be tempted to speak of Saussure as their debtor. But, as a similar kinship is to be detected between certain of Saussure’s doctrines and the teachings of the neo-grammarians, it is therefore appropriate to consider him as having focused a number of ideas which were

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taking shape in the linguistic world, and which were, in a sense, common property. His originality, which is indisputable, would thus consist of having evolved a complete and coherent system, all his own, irrespective of any particular ingredient (Iordan / Orr /Posner 1970: 294, nota 1).

William Labov e as origens da sociolinguística na América* 1 Observações introdutórias Parece ser habitual na cultura norte-americana que, quando algo é declarado

como sendo inovador, poucas pessoas se preocupam em questionar o que efetivamente distingue esta ideia, este projeto ou este produto supostamente inovador do antigo. Esquece-se depressa o passado e as pessoas ficam contentes por fazer parte de uma prenda elegante que oferece a promessa de tornar-se o futuro. Há razões históricas, sociopolíticas e económicas para este fenómeno, mas não é aqui o meu intento uma análise destas razões. Estou simplesmente a tentar explicar a mim próprio por que razão, neste continente, os linguistas carecem frequentemente de uma consciência histórica que considera o próprio campo de estudo deles, podendo, como resultado, facilmente ser levados a acreditar em reivindicações de inovação, descontinuidade, descoberta e revolução, feitas por alguém em favor de uma nova aproximação ou, para essa questão, uma nova posição teórica. Lembro-me ainda da minha própria surpresa perante o entusiasmo de alguns dos meus professores acerca de ‘sociolinguistics’ (ou ‘sociolinguística’) durante finais da década de 1960, que então era, tal como ainda o é hoje, largamente associada ao nome de William Labov (cf. Macaulay 1988: 154-157 et passim),1 pelo menos na América do Norte. Realmente, a communis opinio relativa às origens da sociolinguística ainda hoje parece ser aquilo que afirmou Rajend Mesthrie (2001: 1), o editor da Concise Encyclopedia of Sociolinguistics de 1 000 páginas: “[...] Sociolinguistics as a specially demarcated area of language study only dates to the early 1960s [...]”.2

No presente artigo, refiro-me principalmente a este tipo de sociolinguística em vez da linha de pesquisa normalmente seguida por investigadores vindos da sociologia, tais como Basil Bernstein (1924-2000)3 na Grã-Bretanha (p. ex. Bernstein 1971) e Joshua A. Fishman (nascido em 1926) nos Estados Unidos (p. ex. Fishman 1972), que talvez seja definida com mais propriedade pelo termo ‘sociology of language’, ou ainda aos programas de investigação elaborados por outros com base numa formação antropológica, como a ‘ethnography of speaking’ * [Observação sobre a tradução: a presente tradução foi elaborada por Rolf Kemmler e Sónia Coelho com base no artigo “William Labov and the Origins of Sociolinguistics in America” (Koerner 2005d) que, tendo sido publicado pela primeira vez em Koerner (2001b), constitui parte da coletânea Toward a History of American Linguistics (Koerner 12002, 22005a).] 1 Para uma crítica interessante – e bastante detalhada – das teorias de Labov, que não foi tentada no presente artigo, veja-se Figueroa (1994: 69-110). 2 As únicas referências de Mesthrie relativas à história do campo são Shuy (1989) e Paulston / Tucker (1997). Neste livro volumoso de formato in-quarto não há qualquer capítulo sobre o assunto. 3 Para uma análise interessante e completa da obra de Bernstein – e do seu êxito fora dos Estados Unidos – veja-se Hasan (2000).

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(p. ex. Hymes 1974b) de Dell Hymes (1927-2009) e por investigadores como John Gumperz (1922-2013), que favorecem uma abordagem interacionista e de análise de discurso (p. ex. Gumperz 1971).4

Admito ter ficado perplexo ao ouvir estudantes, que tiveram aulas com um antigo estudante doutoral de Labov, quando me disseram que os conceitos de ‘drag chain’ e ‘push chain’,5 por exemplo, derivam de William Labov (nascido em 1927), em vez de recuar pelo menos ao artigo de André Martinet (1908-1999) sobre “Function, Structure, and Sound Change” (Martinet 1952a: 11), em que estes termos são usados e explicados, por exemplo, com referência a fenómenos de palatalização em línguas românicas. Também é digno de nota que numa resenha à volumosa Dialectologie (1950) de Sever Pop (1901-1961), publicada no mesmo ano na mesma revista científica, Martinet tece a seguinte observação:

This is only a sampling of all the possible socio-linguistic patterns in connection with which the word ‘dialect’ is actually used [...]. Therefore we may expect to come accross socio-linguistic situations which we may hesitate to class in one or another of our four categories [...] (Martinet 1952b: 261).

Assim, para qualquer pessoa que esteja a par da carreira de Labov, torna-se evidente que este adquiriu a ideia de ‘drag chain’ por oposição a ‘push chain’ (e muitas outras ideias), se não diretamente da leitura da obra de Martinet,6 então por intermédio de Uriel Weinreich (1926-1967), que foi aluno de Martinet durante os finais dos anos 1940 e inícios dos anos 1950, tendo posteriormente sido professor de Labov durante os inícios e meados dos anos 1960.7 4 Sobre os seus vários programas de investigação, tradições, forças organizacionais, etc., vejam-se os estudos por Stephen O. Murray (1994, capítulos 10-14) e Murray (1998, uma re-elaboração mais focalizada das respetivas partes do trabalho precedente que trata da sociolinguística no sentido mais alargado possível). 5 Em Labov (2001a: 463), os termos usados são ‘pull chains’ e ‘push chains’, respetivamente. 6 Veja-se também o influente livro Économie des changements fonétiques (1955) de Martinet, no qual os termos são chamados ‘chaîne de traction’ e ‘chaîne de propulsion’, respetivamente. Desde que o artigo de Martinet (1952a) surgiu em Word, isto é, bem em frente ao nariz de Labov, por assim dizer, uma vez que a revista na altura foi editada por Martinet junto com Weinreich, seria forçado acreditar que Labov não tivesse qualquer conhecimento deste artigo, mesmo que este não esteja referenciado dentro da ‘Bibliography’ da coletânea de 1972 que reúne os seus artigos principais de 1963-1970, incluindo, porém, uma referência à Économie (Labov 1972a: 334). Num trabalho anterior (Labov 1964), que corresponde à tese de doutoramento do autor de 1964, tanto o artigo de 1952 como o livro de 1955 são reconhecidos devidamente como “Martinet’s theories of the internal economy of phonological structures (1952, 1955) were more comprehensive and systematic than any published previously” (Labov 2006b: 13). Claro que o mesmo se deveria aplicar a Martinet (1952b). 7 Deveria ser notado que o próprio Labov nunca teria feito uma reivindicação dessas e que realmente, pelo que se pode julgar pelas suas publicações, foi muito mais generoso quando se tratava de reconhecer a sua dívida para com outros, do que, por exemplo, Noam Chomsky. A sua tese de doutoramento de 1964 (Labov 1966a) é uma boa fonte para a localização de referências a trabalhos anteriores. Nesta obra encontramos, inter alia, reconhecimentos como o seguinte: “Many of Martinet’s ideas have found application in the present study” (Labov 1966a: 26, nota 7; cf. também Labov 2001a: 262, 498, etc.).

William Labov e as origens da sociolinguística na América 119

Tendo em consideração o que observei no início, provavelmente não deveria ter ficado muito surpreendido quando não encontrei quase nada sobre a história de ‘sociolinguistics’ ao aventurar-me pela primeira vez no empreendimento de uma investigação sobre a história do assunto há quase três décadas (cf. Koerner 1986).8 Com efeito, esperava de um investigador como Dell Hymes, que durante vinte e cinco ou mais anos escreveu sobre outros aspetos da história da linguística (para uma coleção dos seus estudos nesta área, cf. Hymes 1983) e que publicou, entre outras coisas, um livro sobre as Foundations of Sociolinguistics (Hymes 1974b), que nos tivesse iluminado sobre as origens, fontes e o desenvolvimento do campo. É, porém, em vão que se procura um relato desta natureza dentro da bibliografia deste escritor prolífico. O artigo de Yakov Malkiel (1976) constitui uma contribuição precoce para a história da sociolinguística, localizando o seu desenvolvimento nos estudos da Filologia Românica através do trabalho dialetológico. Evidentemente, é possível encontrar alguns relatos da ‘história’ da sociolinguística em manuais de ensino claros e concisos (p. ex., Wolfram / Fasold 1972: 26-32; Bell 1976: 28-29; Milroy 1987: 5-11), mas estes são bastante sucintos e totalmente inadequados, não indo geralmente além de reconhecer a existência de uma ligação entre o trabalho em dialetologia e a sociolinguística. Vários livros de ensino de sociolinguística (p. ex., Fasold 1984; Wardhaugh 11986; Romaine 11994; Holmes 11992, 42013) tratam do assunto sem qualquer perspetiva histórica.

Por outras palavras, numa medida considerável (pace Murray 1998), a história da sociolinguística na América ainda deverá ser escrita.9 Pelo menos na Europa, esta situação insatisfatória foi algo remediada com a publicação do primeiro tomo do manual Sociolinguistics, que contém uma secção bastante elaborada sob o título “History of Sociolinguistics as a Discipline / Wissenschaftsgeschichte” (Ammon / Dittmar / Mattheier 1987: 379-469),10 se 8 Pelo menos não da parte de linguistas. Vejam-se os relatos do sociólogo Stephen O. Murray, tais como a sua obra Theory Groups and the Study of Language in North America, cujo capítulo 10, “Language contact and early sociolinguisics” (Murray 1994: 249-287), é dedicado à obra de Haugen, U. Weinreich, Fishman e outros. Semelhantemente, o capítulo 11, “The ethnography of speaking” (Murray 1994: 289-340), ocupa-se da obra de Ferguson, Gumperz, Dell Hymes e outros, sendo Labov colocado no capítulo 12, “Related Perspectives” (Murray 1994: 341-389), junto com sociólogos e antropólogos, mas não linguistas. 9 Este capítulo omite toda uma vertente do trabalho sociolinguístico que deveria fazer parte de uma história global do assunto, mas da qual acredito que os investigadores norte-americanos, com a inclusão de Labov, na altura não tiveram consciência (continuando provavelmente até hoje sem a mesma): refiro-me em particular à obra de John Rupert Firth (1890-1960), mas também à de Bronislaw Malinowski (1884-1942), (Sir) Alan Henderson Gardiner (1879-1963) e possivelmente a outros na Grã-Bretanha durante as décadas de trinta e cinquenta do século XX (p. ex., Abercrombie 1948; cf. Aarts 1976: 240-244), uma tradição que inspirou a obra de M.A.K. Halliday (p. ex., Halliday 1975) e, especialmente, Ruqaiya Hasan (p. ex., Hasan 1973). 10 Esta secção inclui um artigo de Michael Clyne (2004: 799-805) sobre a história do contacto linguístico, seguido por outro de Ian Hancock (2004: 806-817) acerca da investigação sobre Pidgins e Crioulos, aumentando efetivamente a compreensão do conceito de ‘sociolinguística’ para além do que se entende pelo mesmo termo no presente âmbito.

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bem que, na medida em que me é possível julgar, somente a contribuição de Hagen (1987) se aproxima de alguma forma do que tento fazer aqui.11 Os finais dos anos oitenta do século XX também viram surgir pelo menos duas contribuições modestas sobre o assunto (Koerner 1986; Shuy 1989, tendo este último sido escrito ignorando do anterior). Os anos noventa começaram de forma mais esperançosa com uma série de artigos um pouco mais detalhados (Shuy 1990, Koerner 1991b, Joseph 1992), seguidos por várias publicações de extensão quase monográfica. O primeiro contributo surgiu através de cinco capítulos, incluídos no volume de 594 páginas sobre a ‘social history’ da linguística norte-americana (Murray 1994). Nesta obra, os capítulos 10-14 (Murray 1994: 249-429) ocupam-se de vários programas de investigação, tradições, forças organizacionais de áreas como contacto linguístico e bilinguismo (com Haugen 1953 e Weinreich 1953 como ‘modelos’ principais), ‘ethnography of speaking’ (representada especialmente pela obra de John Gumperz, Dell Hymes e os seus colegas; cf. Gumperz / Hymes 1964, 1972), e o capítulo 14 “The Sociology of Language” (Murray 1994: 419-429), no qual procuramos em vão qualquer tratamento acerca do contributo de Joshua A. Fishman, considerando que o próprio Fishman descreveu a sua área de investigação como tal.12 Curiosamente, apesar de ter poucos estudantes e quase nenhum seguidor digno de nota,13 Fishman recebe o tratamento na tabela de Murray (1994: 268) no que respeita à análise sociológica em termos de liderança, ‘paradigm statement’, ‘exemplars’, e critérios semelhantes, algo que o autor nega a William Labov, que se vê relegado ao Capítulo 12, “Related Perspectives” (Murray 1994: 341- 389), juntamente com, inter alios, o antropólogo britânico Gregory Bateson (1904-1980) e o sociólogo canadiano Erving Goffman (1922-1982), não sendo nenhum dos dois linguista (Murray 1994: 374-389). Isto é ainda mais surpreendente como Murray (1994: 389) conclui o relato bastante detalhado sobre a obra de Labov ao afirmar que “in Kuhnian terms, Labov produced exemplary research that others could emulate”. Quase ninguém na área da sociolinguística do século XX duvidaria de que The Social Stratification of English in New York City de Labov (1966a) constitui tal modelo, seguido por vários outros trabalhos fulcrais (p. ex., Labov 1969, 1972c). Os dois volumes de Sociolinguistics foram reeditados recentemente em três volumes (Ammon / Dittmar / Mattheier / Trudgill 22004-2006). A secção intitulada «The History of Sociolinguistics / Geschichte der Soziolinguistik» foi consideravelmente aumentada em relação à primeira edição (Ammon / Dittmar / Mattheier / Trudgill 2004, I: 684-854). 11 Como no caso de Malkiel, é esclarecedor que aqueles que se debruçam sobre a história são, na maioria dos casos, europeus, e não americanos. 12 No entanto, a obra e a importância de Fishman são discutidos demoradamente no capítulo 10 (“Language Contact and Early Sociolinguistics”) em Murray (1994: 259-268), devido à razão de Fishman, tal como Haugen e U. Weinreich, ter um “[...] interest in bilingualism and language maintenance [...]” (Murray 1994: 259). Mas, ao contrário do anterior, Fishman era essencialmente um sociólogo e não um linguista, pelo que tinha uma aproximação e prática de investigação bastante diferentes. 13 De acordo com Murray (1994: 265, nota 12), “Robert Cooper is a very notable exception”.

William Labov e as origens da sociolinguística na América 121

A próxima publicação, The Early Days of Sociolinguistics: Memories and reflections, editada por Paulston / Tucker (1997), não se compara minimamente em termos de meticulosidade à obra de Murray. Contém uma série de recordações individuais, inclusive um capítulo intitulado “Early Institutional Supporters for the New Field”, que consiste numa entrevista a Rudolph C. Troike (nascido em 1933), anteriormente do Center for Applied Linguistics (Washington, DC), feita pelo primeiro editor que igualmente se recorda de Einar Haugen na secção “Remembrances”. A contribuição mais substantiva para este volume é a republicação de um artigo de Roger W. Shuy (nascido em 1931) “A Brief History of American Sociolinguistics, 1949-1989” (1990) (Paulston / Tucker 1997: 11-32), que se concentra principalmente nos trabalhos em torno do ‘Black English’ dos anos sessenta e setenta do século XX.14

O esforço mais abrangente rumo a uma história da sociolinguística até finais do século XIX é o volume American Sociolinguistics (1998) de Stephen O. Murray, que é, porém, segundo a descrição do próprio autor, um “[...] study of postwar anthropological linguistics” (Murray 1998: 1). Na verdade, este livro constitui essencialmente uma seleção e uma ligeira modificação de cinco capítulos de Murray (1994).15 Como resultado, a obra de Labov, certamente o principal motor e agitador neste campo, não merece mais espaço aqui do que no relato anterior. O facto de Murray ser sociólogo e não linguista pode ajudar a explicar as suas escolhas, interpretações e a ênfase. Permanece, assim, o desafio para que um sociolinguista venha pelo menos complementar a obra de Murray.

Parece evidente que não se deveria esperar que William Labov, o líder desta área de investigação linguística, se tenha empenhado em escrever a história da sociolinguística. Nos seus primeiros trabalhos, revela muitas das fontes do seu pensamento linguístico e da sua abordagem, nomeadamente na sua tese de doutoramento (1964; cf. Labov 1966a: 8-41), como veremos a seguir.16 14 As contribuições do volume são divididas em seis áreas temáticas principais: “Sociolinguistics: A Personal View” de Basil Bernstein é uma das contribuições do capítulo “Pioneers”. Neste capítulo, outros artigos são de William Labov, Joshua Fishman (quem também contribui no capítulo intitulado “Journal Editors”), o psicólogo montrealense Wallace Earl Lambert (1922-2009) e Carol Myers-Scotton, entre outros. 15 A secção sobre Labov (Murray 1998: 167-179) é quase idêntica àquela em Murray (1994), observando-se que somente algumas notas de rodapé foram reduzidas ou apagadas. Esta secção certamente merece ser lida, particularmente o subcapítulo intitulado “Prestige dialects” (Murray 1998: 170-177; corresponde a Murray 1994: 378-382). 16 Publicamente, sabe-se muito menos acerca da sua biografia do que de várias outras figuras importantes na sociolinguística que são amplamente definidas (cf. Haugen 1980, Hymes 1980, McDavid 1980a, Fishman 1991, Ferguson 1998). Na minha experiência, Labov mostrava-se bastante reservado quando dizia respeito a escrever um relato autobiográfico. Daí resulta que quaisquer informações se deverão obter, tanto quanto isso seja possível, de entre as observações tecidas nas suas publicações científicas. As entrevistas referidas em “Published Interviews” por Guy / Feagin / Schiffrin / Baugh (1996, II: 352), para além de Rosen (1979), que nada contém sobre a biografia de Labov, são de difícil acesso por terem aparecido em publicações de bastante difícil acesso. Tipicamente, não há nenhuma entrada relativa a ele na nona edição do Directory of American

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Evidentemente, o organizador pioneiro da área moderna da sociolinguística não precisa de envolver-se na escrita da história (que o pode ter feito, não obstante disso, através da maneira como representava e criticava obras anteriores, ora igno-rando ora rejeitando outros escritos importantes, é outra questão).17 Na verdade, podemos estar gratos pelo facto de Labov, ao contrário do seu contemporâneo próximo Noam Chomsky, não ter tido qualquer interesse pessoal em escrever a história da sua área de estudo. Sendo verdade que a obra Cartesian Linguistics (1966) de Chomsky deu, na altura, um impulso inicial à história da linguística, na realidade não conduziu à realização de trabalho historiográfico sério por parte daqueles que seguiram o seu exemplo, mas encorajou outros a produzirem relatos ‘whiggish’ sobre o desenvolvimento da linguística gerativa (cf. Newmeyer 1980, 1996a, para os exemplos mais bem sucedidos18 deste tipo de escrita).

Continua, no entanto, a ser verdade que um campo científico somente alcança a sua maturidade quando se dá conta da sua própria história, mostrando-se um sério interesse em tê-la documentada. O presente relato dificilmente é mais do que uma tentativa de apresentar as fontes e o desenvolvimento inicial da sociolinguística, uma área de investigação que geral e erroneamente foi consi-derada como tendo surgido em meados dos anos sessenta do século XX, talvez como resultado da publicação dos artigos da San Francisco Conference on the Ethnography of Communication de novembro de 1963 (Gumperz / Hymes 1964), bem como, mais provavelmente, das atas do encontro de 1964 da UCLA – Lake Arrowhead –, conferência dedicada expressis verbis à sociolinguística (Bright 1966),19 que sem dúvida serviu como um ponto de encontro para esta linha de investigação. É interessante notar que William Labov teve, nos inícios da sua carreira (Labov 1964a, 1966a), ampla oportunidade para apresentar os resultados das suas investigações e para discutir as suas opiniões nestas reuniões, um

Scholars (DoAS 1999, III). Só muito recentemente (1997) é que ficamos com um testemunho mais pessoal de Labov no que respeita às razões pelas quais decidiu voltar à vida universitária em 1961 e sobre o que resultou desta decisão (Labov 2001b). 17 Como exemplo, pode questionar-se por que razão Labov limitou a três linhas apenas o seu comentário ao artigo programático de Stanley M. Sapon (nascido em 1924), um autor que tinha feito o seu doutoramento em linguística românica na University of Columbia em 1949. Tendo Martinet como um dos seus orientadores, Sapon “[...] was working on a larger study of socioeconomic variables in Mexico City that was never published”, como relata Joseph (1992: 121). O artigo de Sapon (1953) encontra-se simplesmente descrito como “A methodology for studying socio-economic differentials in language [...]”, da qual “[...] no results seem to have appeared” (Labov 1966a: 21), mas resta a curiosidade se Labov não poderá ter tido acesso ao trabalho inédito de Sapon durante os anos passados na mesma universidade (1961-1969). 18 Se tomamos em consideração, a este respeito, aquilo que Herbert Butterfield (1931: 2) afirmou em The Whig Interpretation of History sobre a “[...] tendency in many historians [...] to produce a story which is the ratification if not the glorification of the present”. 19 Ao celebrar este último como um tipo de grande inovação para a sociolinguística, Calvet (1999: 34-41) dedica-lhe um “analyse interne” que constitui uma leitura interessante. Labov (1972a: 296), porém, considera Ferguson / Gumperz (1960) como a publicação crucial.

William Labov e as origens da sociolinguística na América 123

verdadeiro feito se nos lembrarmos de que Labov só tinha entrado na linguística em 1961, tendo completado a tese de mestrado em 1963, e que a sua tese de doutoramento estava a ser redigida na altura (sendo publicada, com mudanças de importância secundária, como Labov 1966a). O seu mentor, Uriel Weinreich, a quem os convites originalmente tinham sido estendidos, fez com que Labov parti-cipasse no seu lugar, certamente não apenas por causa da sua saúde em declínio.20

2 As fontes da sociolinguística moderna A minha própria investigação sugere que deveríamos encarar o amplo tipo

laboviano de sociolinguística como sendo a confluência, senão a síntese, de várias linhas de investigação que remontam pelo menos a numerosas gerações de investigadores em linguística. No entanto, continua a ser verdade que o campo se foi formando durante os anos cinquenta do século XX e essencialmente em terras americanas. A ligação entre a geografia dialetal e a sociolinguística, que é bastante óbvia nos escritos de Labov logo desde os inícios, foi estabelecida por vários estudiosos (p. ex., Grassi 1980, Trudgill 1983). Provavelmente, é demasiado óbvia para ser negligenciada e também pode explicar porque não chegou a ser mencionada tão frequentemente como se poderia esperar.

Outra linha de pensamento linguístico remonta a finais do século XIX, quando estudiosos como William Dwight Whitney (1827-1894) na América, Michel Bréal (1832-1915) em França, Hermann Paul (1846-1921) na Alemanha, Jan Baudouin de Courtenay (1845-1929) na Rússia21 e outros reagiram contra a opinião, normalmente associada a opiniões manifestadas por August Schleicher (1821-1868), Max Müller (1823-1900) e outros, de acordo com a qual a linguística deveria ser pensada como uma ciência e que seria necessário que a língua fosse tratada como um organismo vivo, devendo a linguística, por conseguinte, ser enquadrada entre as ciências naturais e não entre as sociais.22 Esta mudança na 20 Weinreich morreu de leucemia em inícios de 1967, com a idade de 41 anos “[...] not suddenly, of cancer, at the age of 39 [...]”, como Labov referiu na versão de 1997 de Labov (2001b). A ascensão meteórica de Labov à posição de destaque até quando terminou o seu doutoramento é uma história que não tem uma explicação fácil. Por uma coincidência curiosa, Zellig S. Harris (1909-1992), o (mais do que meramente nominal) orientador de Chomsky tanto da tese de mestrado (1951) como da tese de doutoramento (1955) na University of Pennsylvania, cedeu ao seu aluno a provavelmente ainda mais importante oportunidade de apresentar as suas visões no mesmo ano, isto é, no Ninth International Congress of Linguists em Cambridge, Massachusetts, em 1962. Calvet (1999: 47, a seguir a Murray 1994: 377) acredita que Weinreich parece ter sido na altura a única pessoa que tinha uma estratégia para fazer avançar a sociolinguística e, em particular, a carreira de Labov. 21 Ao passo que Bréal e Baudouin não são mencionados em Labov (1972a), Hermann Paul é censurado pelas suas visões sobre a mudança linguística em Labov (1972a: 261-263; 1972c). Consta, porém, que as opiniões de Paul tinham sido anteriormente discutidas de maneira muito mais minuciosa por Uriel Weinreich (em Weinreich / Labov / Herzog 1968: 104-129). 22 Surge então como uma surpresa a seguinte observação tecida por um autor de um artigo sociolinguístico: “Languages are, in fact, remarkably stable organisms, transmitting their essential characteristics from one generation to the next” (Macaulay 1988: 156-157). Noutro lugar do seu artigo, este queixa-se da falta de rigor metodológico no campo científico.

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perspetiva filosófica entre os linguistas generalizou-se bastante após a publicação de obras, tais como a Einleitung in die Geisteswissenschaften (1883) de Wilhelm Dilthey (1833-1911), e o debate subsequente sobre as diferenças essenciais entre Naturwissenschaft (Ciências naturais) e Geisteswissenschaft (Humanidades) na Alemanha e em outra parte (cf. Koerner 1982b: 187-188). Esta referência sobre a mudança no clima intelectual é importante, já que oferece o fundo para uma melhor compreensão do estabelecimento de uma linha específica de investigação. Assim, para além da dialetologia, podemos ter ainda que reconhecer um tipo particular de aproximação à língua em geral e a questões de mudança linguística, cuja orientação é sociológica. Finalmente, podemos tomar conhecimento, na investigação sociolinguística, de uma afluência algo mais tardia de trabalhos sobre bilinguismo e multilinguismo, assim como, muito mais recentemente, de questões relacionadas com contacto linguístico, planeamento linguístico e conflito linguístico.23

A influência de Whitney, Paul, Baudouin de Courtenay e outros sobre Saussure está bem estabelecida (cf. para detalhes Koerner 1973b); o que sugere ao mesmo tempo que Saussure não precisava de Durkheim para poder caraterizar a língua como um ‘fait social’ (pace Bierbach 1978). Para ilustrar este ponto, basta uma passagem de Language and the Study of Language de Whitney, uma obra à qual Saussure recorreu frequentemente nas suas aulas sobre linguística geral no início do século XX:

Speech is not a personal possession, but a social; it belongs, not to the individual, but to the member of society. No item of existing language is the work of an individual; for what we may severally choose to say is not language until it be accepted and employed by our fellows. The whole development of speech, though initiated by the acts of individuals, is wrought out by the community (Whitney 1867a: 404).24

Voltarei à importância de Whitney no capítulo 2.2 (adiante). O papel que este

teve na linguística europeia durante o último quarto do século XIX já foi discutido noutro lugar (Koerner 1980c).

2.1 Da geografia dialetal à sociolinguística Como mencionado anteriormente, Malkiel (1976) estabeleceu uma linha

regular de conexão entre o trabalho dialetológico em línguas românicas e os esforços sociolinguísticos. Em outras palavras, convém voltar atrás, aos inícios do trabalho de campo em geografia dialetal durante as últimas décadas do século XIX, para ver a componente sociológica que lentamente foi infiltrando a geografia

23 Isto é, se estas áreas de investigação não devem ser atribuídas mais corretamente aos programas de ‘sociologia da linguagem’, e não ‘sociolinguística’ como aqui ficou definido. 24 Labov (1972a: 261) apenas cita a primeira frase, mas reproduz na mesma página outro trecho de Whitney (1867a: 404) para ilustrar a ênfase do autor na função social e comunicativa da língua: “Man speaks, then, primarily not in order to think, but in order to impart his thought. His social needs, his social instincts, force him to expression”.

William Labov e as origens da sociolinguística na América 125

linguística. Ao contrário de Malkiel, penso particularmente na Marburger Schule, a escola estabelecida por Georg Wenker (1852-1911), que ainda hoje está ativa (cf. Knoop / Putschke / Wiegand 1982), bem como na escola criada algo depois pelo suíço Jules Gilliéron (1854-1926) em Paris (cf. Jaberg 1908), cujos alunos Jacob Jud (1882-1952) e Karl Jaberg (1877-1958), com a ajuda de Paul Scheuermeier (1888-1973), Gerhard Rohlfs (1892-1984) e Max Leopold Wagner (1880-1962), compilaram o volumoso Atlas linguistique et ethnographique de l’Italie et de la Suisse méridionale (Jaberg / Jud 1928-1940). Os empreendimentos alemão e suíço são de interesse particular no presente contexto, como indicarei no que segue.25

Para começar, Max Weinreich (1894-1969), o pai do bastante mais bem conhecido Uriel Weinreich (1926-1967), fez a sua tese de doutoramento sobre o iídiche, a sua língua e a sua literatura, tendo sido orientado por Ferdinand Wrede (1863-1934), o sucessor de Wenker na Universidade de Marburg (Weinreich 1923).26 Talvez até seja mais interessante que Wrede – citado por Meillet no seu famoso artigo de 1905 (cf. Meillet 1921: 255) – tenha estabelecido muito cedo os paralelos entre a etnografia e a dialetologia, distinguindo as vertentes individual-linguística (‘individuallinguistisch’) e social-linguística (‘soziallinguistisch’) no empréstimo entre as línguas (Wrede 1902).27

No presente contexto, o facto mais importante talvez seja o de que, em 1931, os dialetólogos suíços Jud e Scheuermeier foram trazidos aos Estados Unidos para treinar os estudantes americanos durante o verão, de modo a que aqueles empreendessem o trabalho de campo dialetológico. Natural da Áustria, Hans Kurath (1891-1992) conseguiu uma bolsa do American Council of Learned Societies para este propósito. Sabemos, por exemplo, que Raven I. McDavid (1911-1984) era um desses jovens aprendizes (McDavid 1980b: 8), que depois viriam a participar na investigação que conduziu ao Linguistic Atlas of New England, editado por Kurath / Hansen / Bloch / Bloch (1939-1943). É por isso interessante notar no presente contexto que McDavid publicou já em 1946 um artigo intitulado “Dialect Geography and Social Science Problems”. Mais importante ainda, a sua ‘social analysis’ de 1948 sobre “PostVocalic /-r/ in South Carolina” foi considerada um exemplo pioneiro de ‘variation study’ (Shuy 1989: 297).28 Na altura, quando McDavid e o seu aluno Raymond O'Cain publicaram o 25 O facto de Labov não parecer mencionar estes esforços nos seus escritos (p. ex., Labov 1972a) não constitui nenhuma razão para omitir a referência a estas investigações. Na realidade, as tradições e práticas dialetológicas têm dominado a obra de Labov. 26 A partir de 1926, Wrede passou a publicar os volumes maciços do atlas linguístico alemão Deutscher Sprachatlas, que muitos anos antes havia sido começado por Wenker. 27 É seguro presumir que os Prinzipien de Paul (que tiveram a sua terceira edição em 1894) exerceram uma influência sobre o ideário de Wrede em relação à natureza social da língua. 28 É bastante curioso que, na bibliografia de Sociolinguistic Patterns (Labov 1972a), se procura em vão qualquer entrada referente a McDavid. Será que a recensão crítica de McDavid na revista American Anthropologist (McDavid 1968) pode ter algo a ver com isto? Neste texto, o resenhador manifesta a sua curiosidade relativamente ao facto de “certain groups are not represented – notably the old stock white Protestants, who still make up a very large portion of the New York upperclass

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artigo de 1973 sobre “Sociolinguistics and Dialect Geography”, a ligação entre a dialetologia e a sociolinguística tinha sido largamente reconhecida, no entanto talvez mais de forma implícita do que de forma expressamente admitida.

Mesmo fora das escolas estabelecidas, foi realizado algum trabalho dialetológico de importância em finais do século XIX. Dois exemplos dignos de nota são o estudo pouco conhecido que Schleicher (1858) fez do seu dialeto nativo, bem como aquele de Jost Winteler (1846-1929) sobre a Kerenzer Mundart (1875). Que o componente social na variação da língua era reconhecido antes do fim do século XIX pode ser concluído graças ao artigo de Richard Löwe (1863-ca. 1942) de 1882, que Hagen (1987: 408) chamou o “only [...] known early study on social dialect variation in cities”. Semelhantemente, é de considerar o trabalho dialetal de Philipp Wegener (1848-1916), outro estudioso do tempo que, ao ocupar-se da mesma área geográfica como Löwe, anotou o seguinte na sua contribuição de 1891 ao Grundriss de Hermann Paul:

In der Magdeburger Gegend gehen die ländlichen Arbeiter in grosser Zahl in die Städte, um hier als Maurer, Handlanger oder in den Fabriken zu arbeiten. Die gemeinsame Arbeit bringt diese in steten Verkehr mit den städtischen Arbeitern; der niederdeutsche ländliche Arbeiter lässt sich durchweg von der städtischen Vulgärsprache beeinflussen, und zwar um so mehr, je grösser der Abstand derselben von der ländlichen Mundart ist und je höher die Schätzung der städtischen Vorzüge (Wegener 1901: 937).29

Resistirei à tentação de dar a esta declaração uma interpretação moderna.

Acredito, porém, que em observações como esta podemos discernir uma consciência da ‘sociologia da língua’ avant la lettre, e estou convencido de que muitas outras declarações semelhantes podem ser encontradas no trabalho precoce de dialetólogos (cf. também Olmsted / Timm 1983 sobre Baudouin de Courtenay que, como antigo aluno de Schleicher, realizou um trabalho de campo considerável desde a década de 1870). Sem dúvida, nestas investigações linguísticas o contacto real com falantes de variedades distintas da língua em circunstâncias socioeconómicas diferentes terá nutrido tal consciência, de modo que por vezes se torna difícil distinguir nitidamente entre dialetologia e

[...] and have other prestige models than Labov’s” (McDavid 1979: 379). Na realidade, a ‘social stratification’ de Labov (1966a) tinha completamente omitido as classes altas. Em Labov (1963), o nome de McDavid aparece numa referência a Kurath / McDavid (1951), cf. Labov (1972a: 11). O artigo de McDavid (1948) é incluído na bibliografia da tese de 1964 (Labov 1966a: 586), mas ocupa apenas duas linhas no corpo da mesma (Labov 1966a: 22). O artigo de 1946, enfim (McDavid 1946), não é incluído. Será somente uma omissão? 29 [Na região de Magdeburg, os trabalhadores rurais entram nas cidades em grande número para trabalhar lá como pedreiros, servidores ou nas fábricas. O trabalho em comum trá-los em contacto constante com os trabalhadores urbanos; o trabalhador rural baixo-alemão deixa-se influenciar inteiramente pela língua coloquial urbana, isto é, tanto mais quanto maior seja a distância entre a mesma e o dialeto rural, e quanto maior seja a estima das vantagens da vida urbana.]

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sociolinguística no trabalho destes estudiosos, especialmente nas áreas de investigação que hoje são chamadas ‘dialetologia urbana’.

Para estabelecer uma ligação mais óbvia entre as diferentes linhas de desenvolvimento na história da sociolinguística, convém esboçar algo como uma genealogia. Antes de podermos fazer isso, porém, terão de ser estabelecidas algumas ligações adicionais. Já mencionei a alta estima de Saussure por Whitney, que provavelmente remonta aos seus estudos nas Universidades de Leipzig e Berlin (1876-1880).30 Durante os seus anos em Paris, o estudante de Saussure que mais se distinguia era Antoine Meillet (1866-1936),31 que, por sua vez, teve como aluno André Martinet (1908-1999). Menciono este facto porque Martinet escreveu um estudo monográfico sobre o seu dialeto nativo quando se encontrava num campo alemão de prisioneiros de guerra, que foi publicado logo a seguir à Segunda Guerra Mundial (Martinet 1946), e também porque Labov, tal como Meillet e Martinet, sempre esteve particularmente interessado em questões de mudança linguística.32 É ainda mais importante que Martinet, enquanto professor na Columbia University em New York City de 1948 até 1955, teve como aluno Uriel Weinreich, nos graus de M.A. e Ph.D.33 Foi a tese de doutoramento de 568 páginas de Weinreich, de 1951, sobre “Research Problems in Bilingualism with Special Reference to Switzerland” que formou a base para o seu breve livro que o tornou famoso, isto é, Languages in Contact (Weinreich 1953). Trata-se de um estudo sociogeográfico do bilinguismo, cujo título o autor reteve de uma série de 30 Graças à investigação diligente entre o espólio documental de Whitney na Sterling Library da Yale University por John E. Joseph, sabemos que Saussure escreveu uma carta a Whitney em 7 de abril de 1879, na qual se refere à sua reunião “[...] il y a quelques jours [...]” (cf. o artigo “Saussure’s Meeting with Whitney, Berlin, 1879” de Joseph 1988). Whitney tinha regressado à Alemanha para acompanhar a impressão, em Leipzig, da sua Sanskrit Grammar (Whitney 1879a) e da tradução alemã paralela por Heinrich Zimmer (1851-1910) de Berlin, um dos professores de Saussure (Whitney 1879b). 31 Labov (1966a: 10) cita a versão publicada de uma comunicação apresentada por Meillet em 1906 – e não em 1905 –, na qual Meillet argumentava que porque a língua é uma ciência social “[...] et le seul élément variable auquel on puisse recourrir pour rendre compte du changement linguistique est le changement social dont les variations du langage ne sont que les conséquences parfois immédiates et directes, et le plus souvent médiates et indirectes” (Meillet 1921: 17). Labov oferece uma tradução inglesa – nem sempre muito feliz – do original francês. Parece que se pode simpatizar com as suas dificuldades, já que até mesmo os falantes nativos do francês por vezes consideram Meillet algo impenetrável. 32 Realmente, considero a sua contribuição para esta disciplina como o elemento central do seu trabalho, como o próprio Labov admitiria se fosse questionado (cf. a sua resposta a Rosen 1979: 19). 33 Na sua autobiografia Mémoires d’un linguiste: Vivre les langues (Martinet / Kassaï / Martinet 1993), Martinet reivindicou mais tarde ter sido instrumental no estabelecimento de uma cadeira de iídiche para o seu antigo estudante. Não deixa de ser interessante que Murray (1994: 256) atribua a Roman Jakobson (1896-1982) o mérito de ter sido o orientador da tese de Weinreich, uma atribuição que aparentemente se baseia em Malkiel (1969a), em que Martinet é pelo menos reconhecido pela sua “major influence” sobre Weinreich durante o seu “training period” (Malkiel 1969a: 128, citado em Murray 1994: 257). Será que o facto de Jakobson ter escrito um prefácio para o College Yiddish (1949) de Weinreich pode ter conduzido a esta confusão?

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conferências dadas por Martinet (tal como Weinreich indica nos seus agradecimentos, página x). Acresce que Weinreich também estudou sob orientação de Jakob Jud – o mesmo estudioso que tinha treinado os linguistas americanos em trabalho de campo dialetológico, em 1931 – em Zürich, durante o ano letivo 1948-1949, pelo que Weinreich, ao fazer trabalho de campo para a sua tese de doutoramento, ainda estabeleceu outra ligação suíça nos inícios da história da sociolinguística. Finalmente, só precisamos de recordar o facto de William Labov ter adquirido ambos os graus académicos (Mestrado e Doutoramento) com Weinreich (cf. Labov 1963, 1966a), o que permite estabelecer uma espécie de linha genealógica que conduz de Whitney a Labov e à sociolinguística contemporânea – se é admissível desenhar um quadro tão unilinear que admitidamente constitui uma simplificação excessiva da dívida intelectual de qualquer natureza:34

Whitney ↓

Saussure ↓

Meillet ↓

Martinet ↓

Weinreich ↓

Labov Fig. 1: De Whitney a Labov

Esta é, sem dúvida, uma ‘linhagem’ demasiadamente simplista e muito mais

provas, textuais como também biográficas, deveriam ser fornecidas para oferecer um quadro mais adequado. O próximo capítulo aumentará este relato composto. Mas os que estão a par da obra de Labov estão cientes do seu frequente reconhecimento de dívida para com o seu professor Uriel Weinreich35 e das referências que faz às obras de Meillet, Saussure, Hermann Paul e de outros36 para tornar esta genealogia pelo menos um pouco mais realística.37

34 É desnecessário acrescentar que todos estes estudiosos são referidos, às vezes criticamente, por Labov (cf. Labov 1972a: xiii, 185-186, 266-267 [Saussure]; 185, nota 2, 263, 266, 318, 319 [Meillet]; xiv, 2, 181, 185, 262 265. 266, 271 [Martinet], etc.). Já mencionámos (cf. nota 22, acima) a aprova-ção de Labov a Whitney; Sociolinguístic Patterns é expressamente dedicado a Uriel Weinreich. 35 O reconhecimento de Labov (1982a: iii): “When I entered the field, I had my own ideas about contributing an empirical foundation to linguistics. But I find that Weinreich had anticipated me, and many of the ideas I thought were my own were undoubtedly a reorganization of my thinking under the influence of one of the most profound and powerful linguists of our time”. Labov (2001b) é dedicado adequadamente a Uriel Weinreich. 36 Escusado será mencionar os estudos de Gauchat (1905) e Hermann (1929) que já são ‘clássicos’ e que de alguma forma apadrinharam a sua tese de mestrado sobre Martha’s Vineyard (cf. Labov 1972a: 15, notas 25 e 23), desde que Labov se ocupou de uma situação e de um lapso de tempo

William Labov e as origens da sociolinguística na América 129

Que a transição do trabalho dialetológico para a investigação sociológica seja parte de um desenvolvimento natural também pode ser demonstrado através da referência a obras realizadas, por exemplo, sobre o holandês (e baixo alemão) durante as primeiras décadas do século XX. Ao notar que ‘a abordagem sociológica mal tinha encontrado o seu caminho para a linguística’, Jacobus van Ginneken (1877-1945) tentou estabelecer exatamente este tipo de abordagem no seu Handboek der Nederlandse taal (Van Ginneken 1913-1914) de dois volumes, como ficou indicado no subtítulo da sua obra: “De sociologische structuur van het Nederlands” (cf. Hagen 1988: 271-272, para detalhes). A década seguinte viu surgir a publicação de um trabalho que Hagen (1988: 273) acertadamente carateriza como “[...] a very advanced socio-linguistic study”, ou seja, De Hollandsche expansie (1927) de Gesinus Gerhardus Kloeke (1877-1963), uma obra que Bloomfield (1933: 328-331), no capítulo sobre dialetologia de Language, tratou como paradigmática para a discussão de isoglossas (Bloomfield 1933: 328-331).38 Como indica o título completo do seu livro (cf. as referências bibliográficas), na sua investigação o autor combina a geografia, a dialetologia e a história. A mudança linguística – um dos seus exemplos famosos é o desenvolvimento divergente do par germânico comum hŭs / mŭs (“casa” / “rato”) em neerlandês – na sua obra é demonstrada como ocorrendo através de um

semelhante entre a análise de Guy Lowman de inícios dos anos 1930 e a sua própria de inícios dos anos 1960. 37 Calvet (1999), que reproduz uma versão anterior deste diagrama (Koerner 1991b: 27), discorda disto e quase constrói a totalidade do seu artigo de 30 páginas ao redor desta crítica, sem oferecer um cenário mais convincente, em parte porque a sua base bibliográfica (Calvet 1999: 55-57) é demasiadamente limitada. 38 Porém, como mostrou Gerritsen (2001), a ideia de ‘expansion’ ou (ou ‘expansão’, no original alemão: ‘Ausbreitung’), com a qual Kloeke frequentemente é creditado, deriva da investigação realizada por Theodor Frings (1886-1968) e publicada em 1926, um ano antes da publicação da obra magistral de Kloeke. Como Gerritsen (2001: 1545) ilustra, Kloeke estava bem informado acerca do trabalho de Frings:

In the 1920s Frings worked at the university of Bonn. This job gave him plenty of time to do research but due to strong inflation not enough money to support his family. In the same period, Kloeke worked as teacher of German at the Leiden gymnasium, spending long hours, but making lots of money. Being a bachelor at that time Kloeke could afford to wish more for research time than money. In light of their respective circumstances, the two arranged to switch places in ’21-’22. In his new situation in Bonn period Kloeke became well acquainted with expansions as an explanatory device (W. U. S. Kloeke personal communication).

Veja-se também Frings / van Ginneken (1919) e a obra de Jozef van den Heuvel (1889-1966) de 1921, que, de acordo com Gerritsen (2001: 1541), constitui “the most scientific publication of Dutch dialect texts of this period [...], in which we find among other things the 40 sentences that Wenker used for the first dialect survey in the world [Wenker 1877]. They are translated and phonetically described in 56 southern dialects”.

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processo de adaptação social ou de empréstimo da fala das classes altas por parte de falantes das classes socioeconomicamente inferiores.39

2.2 Linguística histórica, mudança linguística e sociolinguística Enquanto a conexão dialetologia-sociolinguística parece bastante óbvia (cf.

Grootaers 1982), a ligação que existe entre certas tradições no trabalho linguístico histórico e a sociolinguística talvez não o seja. É bastante interessante que Labov (1966b: 102), desde muito cedo na sua carreira, tenha tornado claro que o foco da sua investigação “[...] has always been on the understanding of linguistic change [...]”. Não surpreende, por isso, que nós, ao percebermos de onde ele veio, possamos encontrar a conexão entre a sociolinguística e os primeiros trabalhos sobre a mudança linguística na obra de Labov. Começou cedo nos seus estudos linguísticos, ao trabalhar os materiais para a sua tese de mestrado (Labov 1963), a qual constituiu o primeiro capítulo da sua monografia Sociolinguistic Patterns (1972), ano em que escreveu o que parece ser a primeira crítica minuciosa da linguística histórica tradicional (Labov 1972c), inspirada sem dúvida pela sua estreita colaboração com Uriel Weinreich no artigo ora clássico “Empirical Foundations for a Theory of Language Change” (Weinreich / Labov / Herzog 1968). Já na sua tese de mestrado, notamos a oposição de Labov face à abordagem positivista ao assunto que este ainda encontrou em Lehmann (1962), ao passo que a obra Économie des changements phonétiques (1955) de Martinet é encarada como tendo recebido confirmação empírica no trabalho dialetológico de William G. Moulton (1914-2000) de 1962 (Labov 1963, 1972a: 2). Também Edgar H. Sturtevant (1875-1952) recebe elogios tanto em 1963 como em 1972, devido ao seu reconhecimento dos fatores sociais, tais como o prestígio (Sturtevant 1947: 80-81,40 citado em Labov (1972a: 3 e 263). Sturtevant encontrar-se-ia num grupo de estudiosos louváveis, juntamente com Whitney e Meillet, conquanto apenas ao representar “a late survival of Meillet’s fading notion that we might search for an explanation of the fluctuations of linguistic change in the fluctuation course of social events” (Labov 1972a: 263-264). No seu importante artigo “The Social Setting of Linguistic Change”, que originalmente havia sido encomendado por Thomas A. Sebeok para Current trends in linguistics, Labov (1972c: 267) constata:

In 1905, Meillet predicted that this century would be devoted to isolating the causes of language change within a social matrix in which language is embedded. But that did not happen. In fact, there were almost no empirical

39 Enfatizo o trabalho alemão e neerlandês em dialetologia porque, quando muito, é sub-representado na investigação de Labov, isto apesar de ter sido este trabalho, juntamente com a investigação suíça organizada por Jaberg e Jud (que por si era um rebento da ‘Escola de Marburg’), que chegou a ser ‘transplantado’ para a América do Norte e que era tão importante, e não o trabalho do suíço Jules Gilliéron (1854-1926) e do seu único e enérgico investigador de campo, o ciclista Edmond Edmont (1849-1926) em França com o Atlas linguistique de la France (Paris, 1902- 1910). 40 Labov não parece ter referido o livro anterior de Sturtevant (1917; reeditado em 1961) que se dedicou expressamente à mudança linguística.

William Labov e as origens da sociolinguística na América 131

studies of language change in its social context in the 50 years following Meillet’s pronouncement.

Labov parece estar a referir-se ao célebre artigo de Antoine Meillet,41

“Comment les mots changent de sens”, que este publicou no volume 9 do periódico Année sociologique de Émile Durkheim (1858-1917) e que ainda hoje é considerado exemplar no que concerne ao debate da mudança semântica (cf. Arlotto 1972: 163- 183 passim; Lehmann 1962: 198-199; 21973: 212-213). Poder-se-ia presumir que Labov (cf. 1963, 1972a: 23; também Labov 1966a: 11, 2001a: 279) teria usado os trabalhos hoje ‘clássicos’ de Louis Gauchat (1866-1942) de 1905 e de Eduard Hermann (1869-1950) de 1929 sobre a mudança linguística numa comunidade linguística específica como exceções para a sua constatação (cf. Lehmann 21973: 163-164);42 mas não se pode deixar de sentir a falta de uma referência à obra de Kloeke, por exemplo, nos capítulos de Labov sobre a mudança histórica em Sociolinguistic Patterns.43 Anteriormente, Labov (1966a: 263) citou na sua obra, com aprovação, a seguinte passagem de Le Langage: Introduction linguistique à l’histoire de Joseph Vendryes (uma obra, cujo manuscrito, de acordo com o autor, já tinha sido completado em 1914, mas que só chegou a ser publicada em 1921, sendo traduzida para o inglês por um antigo estudante de Franz Boas em 1925):

Language is [...] the social fact par excellence, the result of social contact. It has become one of the strongest bonds uniting societies, and it owes its development to the existence of the social group (Vendryes 1925: 11).

Vendryes (1875-1960), inicialmente aluno e depois colaborador de longa data de Meillet, compartilhou inteiramente as visões do seu mestre sobre a natureza social da língua e sobre a conveniência de ser estabelecida uma linguística sociológica. O seu objetivo, como o de Meillet e da sua escola (cf. Bolelli 1979), era localizar as causas da mudança linguística e não simplesmente descrever o mecanismo da evolução linguística, como era prática comum entre os linguistas mais tradicionais de cariz indo-europeu histórico do século XIX e de inícios do século XX. Enquanto Meillet se aventurou pouco além da área da mudança lexical

41 Digo ‘parece estar’, uma vez que Labov não fornece nenhuma referência; na realidade, a julgar pelas outras referências a Meillet no mesmo volume (Labov 1972a: 185 nota 2, 263, 318), parece que se estaria a referir de facto ao artigo de Meillet que corresponde ao discurso inaugural de 1906 (como em Labov 1966a: 10). 42 É interessante que nem Gauchat (1905) nem Hermann (1929) sejam mencionados em Lehmann (1962); mas os seus resultados são discutidos em Weinreich / Labov / Herzog (1968) e provavelmente noutros textos linguísticos históricos. Na sua edição de 1973 de Historical Linguistics (pág. 163), Lehmann refere-se ao artigo de Sommerfelt de 1930 (mencionado em Labov 1972a: 335, mas somente criticado por falta de clareza terminológica na pág. 277) como um estudo que chegou a resultados semelhantes (àqueles de Gauchat) no que respeita à diferença entre falantes de diversas idades em comunidades de fala galesa e irlandesa. 43 O nome de Kloeke também não ocorre na imensa bibliografia de Weinreich (1953: 123-146).

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(que em muitos aspetos se oferece melhor a uma interpretação sociológica, no que respeita às razões da mudança semântica, perda de palavras e semelhantes), Vendryes, tal como sugere o título do seu livro – apesar de também ele dedicar dois capítulos inteiros à mudança semântica (Vendryes 1925: 192-211 e 212-230) –, tentou argumentar que a evolução linguística é apenas uma reflexão da evolução social (Vendryes 1925: 352 e seguintes).

Ainda enquanto outros estudantes de Meillet, como Alf Sommerfelt (1892-1965) desde os anos trinta (p. ex., Sommerfelt 1932) e Marcel Cohen (1884-1974) mais tarde na sua carreira (p. ex., Cohen 1956a), trabalharam a área de uma sociologia da linguagem, é justo dizer que poucos avanços concretos foram encetados na explicação da mudança linguística com base em fatores sociais (cf. as observações de Labov 1972a: 267). Mas André Martinet, outro aluno de Meillet, incutiu no seu estudante Uriel Weinreich um forte interesse pela linguística histórica e pela explicação das causas da mudança linguística (cf. Martinet 1955), um interesse que Weinreich, por seu turno, passou ao seu aluno William Labov (cf. Weinreich / Labov / Herzog 1968), como pode ser concluído a partir de grande parte da sua investigação desde meados dos anos 1960 em diante (p. ex., Labov 1982a, para um relato em formato de monografia; Labov 1992 1994). Pode-se afirmar, assim, que a obra de Labov constitui uma síntese de tentativas anteriores de uma aproximação sociológica a questões de mudança linguística, a começar com o artigo de Meillet de 1905 (se não muito mais cedo) e com a investigação dialetológica realizada nos Estados Unidos desde os anos trinta, que, como vimos, tem a sua origem nas tradições europeias estabelecidas durante o último quarto do século XIX. Até mesmo Whitney, que fez observações aparentemente modernas como a seguinte, era em larga medida de formação europeia:

We regard every language, [...], as an institution, one of those which, in each community, make up its culture. Like all the constituent elements of culture, it is various in every community, even in the different individuals composing each (Whitney 1875: 280).

2.3 Bilinguismo, multilinguismo e línguas em contacto Existe ainda uma terceira linha identificável na investigação mais recente

(ignorando o debate de finais do século XIX sobre ‘Mischsprachen’ e semelhantes), a qual acredito que deixou vestigios em grande parte do trabalho moderno na sociolinguística. Estou muito menos interessado aqui no tipo de investigação de bilinguismo levado a cabo por Werner F. Leopold (1896-1984) nos anos 1930 e 1940 (Leopold 1939-1950),44 que está associado mais diretamente à ‘psicolinguística, especialmente na aquisição da primeira e da segunda língua, do que com a investigação de bilinguismo que mostra consciência do ambiente

44 No entanto, a obra de Leopold serviu de fonte valiosa para o trabalho de Roman Jakobson (1896-1982) sobre a linguagem infantil, por exemplo.

William Labov e as origens da sociolinguística na América 133

sociopolítico no qual ocorre. Estou a pensar especialmente na obra de Einar Haugen (1906-1994) desde inícios dos anos 1950 em diante, mais especificamente no seu extraordinário estudo sobre a língua norueguesa nos Estados Unidos (Haugen 1953). Neste contexto, é de interesse notar que Max Weinreich, tal como o seu filho um falante fluente de iídiche, já publicara artigos sobre o bilinguismo em 1931 (Weinreich 1931a, b). É fácil imaginar que a seguir à chegada dos Weinreich ao continente norte-americano durante a Segunda Guerra Mundial e dadas as situações multilíngues que devem ter encontrado em New York City, o seu interesse pelo plurilinguismo e pelo contacto linguístico terá aumentado (neste sentido, a influência de Martinet sobre Uriel Weinreich deverá ter sido singularmente importante).

Por outras palavras, as fontes da sociolinguística dos dias de hoje são diversas e complexas e todas elas tiveram importância para o desenvolvimento dos vários programas de investigação desde os anos 1960. No contexto norte-americano, onde acima de 10% da população são de ascendência africana, não deveríamos esquecer a importância que era atribuída pelos governos Kennedy e Johnson ao estudo do que foi chamado desde logo ‘Black English’, o ‘inglês preto’ (cf. Drake 1977: 78-106, para detalhes); investigação esta na qual Labov era muito proeminente (cf. Labov 1966a, 1972a; também cf. Wolfram / Fasold 1972), aliás sem ser o pioneiro (p. ex., Stewart 1957).45

No entanto, há uma linha de investigação nos Estados Unidos – convenientemente cedo descartada por Labov, de forma que foi ignorada por completo pelos seus seguidores – que justamente deveria ter sido acrescentada a uma história adequada da ‘sociolinguística’. Refiro-me ao trabalho pioneiro desde os anos trinta para a frente de Paul Hanly Furfey (1896-1991), um sociólogo na Catholic University of America em Washington, D.C., e o trabalho de campo levado a cabo no interior da cidade de Washington, D.C., por dois dos seus estudantes doutorais, George Nelson Putnam (1909-1991) e Edna M.O'Hern (nascida em 1919), cujos resultados foram publicados num trabalho conjunto na série de monografias da Linguistic Society of America (Putnam / O'Hern 1955),46 anos antes de estar na moda estudar o ‘Black English’ e de combinar dialetologia urbana com teoria sociológica.

Um resenhador do trabalho de Putnam / O'Hern em Language foi muito crítico daquilo que considerava a pobre metodologia dos autores (Evans 1956)47 e parece que Labov ecoa este julgamento ao notar que: 45 Não abordei a questão do financiamento maciço que Labov e os seus colegas receberam, um assunto do qual pelo menos os americanos sabem quão crucial é quando se trata de desenvolver um séquito. Até quando o Congresso estabeleceu o National Defence Education Act (NDEA) em 1958, não havia nenhuma generosidade semelhante para a investigação linguística. 46 Na verdade, Pickford (1956: 223) considera o estudo dos autores “[...] remarkable for its sociological awareness [...]” e “[...] a significant attempt to establish the importance of speech as a mark of social status”. 47 Evans (1956: 825) conclui a sua resenha da seguinte maneira:

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The work suffered from a number of limitations: the selection of informants was totally unsystematic, and from the occasional background information which was collected, it appears that only a minority of informants had any connection with the neighborhood or Washington during their formative years. The speech of the informants was judged as a whole, and it is not clear what the judges were reacting to, or how representative their judgments were (Labov 1966a: 19).

Realmente, o leitor fica a pensar se Labov fundou a sua crítica severa no seu próprio estudo deste trabalho bastante compacto de 32 páginas ou se simplesmente foi conduzido pela resenha crítica de Evans. Como Joseph (1992) mostrou na sua análise cuidadosa da contribuição de Monsenhor Furfey para a sociolinguística, o trabalho dos seus estudantes era tudo menos um esforço descuidado para estudar a fala de um grupo de pessoas socialmente desfavorecidas, mas um esforço compreensivo que visava o que Labov (1966a: 9, 25, nota 5) gosta de chamar uma ‘socially realistic description’. Como evidencia Joseph (1992: 120-121), Putnam / O'Hern (1955) empreenderam um grande número de entrevistas ao confrontar os seus informantes com várias tarefas, transcreveram as respostas de imediato, como também as gravaram para a subsequente análise espectográfica. Adicionalmente, ofereceram uma descrição das caraterísticas morfológicas e sintáticas não padrão que tinham observado, isto antes de empreender uma análise social da fala de uma dúzia de informantes selecionados, tomando em consideração o estado social que outros associariam com a mesma. Foram apresentadas fitas com gravações a um total de setenta outras pessoas para obter as reações e as classificações destas no atinente aos posicionamentos em termos de classe social. Estes posicionamentos, por sua vez, foram comparados com o estatuto atual destes falantes em termos do Índice de Caraterísticas de Estatuto (Index of Status Characteristics, I. S. C.), que tinha sido desenvolvido por W. Lloyd Warner (1898-1970) durante os anos 1940 (veja-se Warner / Meeker / Eels 1949), e ao qual Labov se refere no seu trabalho, p. ex., no seu capítulo “Class Differentiation of the Variables” (Labov 1966a: 207-268, a pág. 236 e nota 10 e pág. 268; cf. também Labov 2001a: 60).

Putnam / O'Hern informaram que somente as avaliações de dois entre os doze falantes tinham sido avaliadas por estes juízes “above other speakers whose I. S. C. scores were higher” (pág. 26). Salientaram que, na sua visão, (Putnam / O'Hern 1955: 27): “these results bear out the hypothesis of this study, that the dialect of Columbus Court residents does reflect low socio-economic status”. Também consideraram ‘most remarkable’ que o seu estudo tivesse demonstrado “[...] that untrained judges could rate the social status of speakers so accurately after

Interesting as it is, the Putnam-O’Hern study is almost completely vitiated, [...], by the absence of an adequate methodology, both in obtaining and analyzing the data. Any subsequent investigations in sociolinguistics ought rather to profit by its mistakes than to repeat them.

A resenha de Cohen (1956b) do mesmo estudo de 32-páginas é muito mais generosa, se bem que menos completa.

William Labov e as origens da sociolinguística na América 135

listening to a very short speech selection in the absence of all irrelevant cues” (Putnam / O'Hern 1955: 29).

Na avaliação de Joseph (1992: 120-121), vemos no estudo de Putnam / O'Hern a junção de “[...] phonetics, the distributional method, dialect geography, highly organized sociological investigation, formal scientific method [...]”, isto para além do ativismo social pelo qual o seu mentor era conhecido, quando concluem o seu trabalho com a seguinte observação:

The importance of speech as a mark of social status (at least in the case of this particular group) is a matter of great social significance [...]. Persons who grow to adulthood as members of an underprivileged social group may carry a mark of their origin through life and suffer from the various forms of discrimination which society imposes on members of the lower socioeconomic classes (Putnam / O’Hern 1955: 29).

Parece que o resultado do juízo negativo de Labov, como o primeiro assunto na ordem do dia da sua secção “Studies of subjective evaluation of language” (Labov 1966a: 19-23), era que os esforços pioneiros de Putnam / O'Hern estariam escritos efetivamente fora do registo histórico.48 Joseph (1992: 123) encontrou apenas uma outra referência ao seu trabalho, feita pela psicóloga social Susan Ervin-Tripp (nascida em 1927; sobre ela, cf. Murray 1998: 98-99), que mencionou os autores ao descrever o seu trabalho da seguinte maneira:

Another kind of participation-form study is illustrated by Putnam and O’Hern (1955) of the relation between social status, judged by sociological indices, and linguistic features of speech in a Negro community in Washington, D. C. This study has many similarities in method to dialectology, but adds a procedure of judges’ blind ratings of status from tapes, to make a three-way comparison possible between objective status, perceived status, and specific features (Ervin-Tripp 1964: 92).49

Mas a seguir, a autora acrescenta: “Labov (1964) gives a sophisticated analysis of a status-form relation” (Ervin-Tripp 1964: 92), sugerindo assim que, de agora em diante, a começar com a tese de Labov na University of Columbia, o trabalho de Putnam / O'Hern seguramente poderia ser ignorado, o que efetivamente aconteceu. Como sugere Joseph (1992: 122), a obra de Labov foi logo aproveitada pela geração mais nova de linguistas, por exemplo Ralph W. Fasold (nascido em 1940) e Walter A. Wolfram (nascido em 1941), como o início de um novo campo de investigação com “[...] tremendous potential for generating grant support”.

48 Não há nenhuma referência ao seu trabalho nos Principles of Linguistic Change: Volume II, Social factors de 572 páginas (Labov 2001a). 49 A localização correta desta citação encontra-se em Murray (1998: 56, nota 11), que ainda observa que Labov também tinha ignorado completamente a obra de Furfey, nomeadamente o seu livro (Furfey 1926) sobre gangues e o seu artigo (Furfey 1944) sobre o inglês ‘substandard’ (Murray 1998: 56).

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3 Observações finais Ao escrever no início do século sob a influência da sociologia durkheimiana,

Meillet (1905, 1906) não teve nenhum nome para a nova abordagem da linguagem e especialmente da mudança linguística. No entanto, apenas poucos anos depois, em 1909, o seu compatriota Raoul de la Grasserie (1839-1914) falou de ‘sociologie linguistique’ num artigo programático.50 Contudo o termo ‘sociolinguistics’ – pelo menos na America do Norte – não surgiu nos meios regulares de divulgação impressa antes de aproximadamente 1950, sendo ainda aparentemente muito recente para ser utilizado nos (títulos dos) estudos de Haugen ou de Weinreich de 1953.

Supostamente cunhado por Haver C. Currie (1908-1993) e utilizado num artigo programático que lida com aquilo que identificaríamos como ‘(social) register’ ou ‘registo (social)’ da fala, o termo ‘sociolinguistics’ foi aproveitado por Ethel Wallis51 em 1956, no mesmo ano em que Glenna Pickford52 ofereceu um ‘sociological appraisal’ – e, na verdade, trata-se de uma visão muito crítica do tra-balho dialetológico de Kurath e dos seus colegas.53 Mas parece que passaram quase

50 O “Essai de sociologie linguistique” de Leo Jordan (1929) tem pouco a ver com o assunto. É essencialmente um artigo filológico, dedicado ao tratamento da história de uma seleção de elementos léxicos do francês através de referências à mistura de dialeto e à estratificação social. 51 Ethel Emily Wallis (nascida ca. em 1920), ainda hoje associada ao Summer Institute of Linguistics, a filial de Arizona em Tucson, publicou um livro de 146 páginas, intitulado God Speaks Navajo (Wallis 1968). Os seus trabalhos prévios (1951-1963) encontram-se referidos na Bibliography of the Summer Institute of Linguistics 1935-1972, compilada por Alan C. Wares (1974: 93-94, 149-150 e 152). 52 Como a autora teve a amabilidade de me informar (e-mail de 30 de março 2001), este artigo “was written as [her] thesis for a Master’s degree in English at Fresno State College, now California State University, Fresno” sob orientação de Earl D. Lyon e em consulta ao antropólogo William Beatty e ao sociólogo Wendell Bell. A senhora Pickford (nascida em 1921) é a esposa do famoso aguarelista americano Rollin Pickford e não seguiu uma carreira académica. O seu artigo é uma crítica severa da metodologia, do treino, do provincialismo e da falta de confiança dos dados colecionados por Kurath e pelos seus colegas para o projeto do American Linguistic Atlas (cf. Kurath 1949; Kurath / Hansen / Bloch / Bloch 1941). Pickford (1956) conclui o seu artigo com a seguinte observação:

The relative insignificance of a geographical study causes the Atlas project to be ignored by the very social scientists whose cooperation would be most salutary. It is hoped that future research in American speech will be used to determine the more significant questions and will bring the professedly sociological branch of linguistics up to date on social theory and scientific method.

Um leitor desta passagem marcou “Labov” na margem da página no exemplar da revista Word que pertence à Perry-Castañeda Library da University of Texas em Austin. O artigo de Pickford não é mencionado em Labov (1972a). 53 Assim Shuy (1989: 298) está provavelmente bastante errado ao afirmar que o uso do termo ‘sociolinguistics’ por Currie em 1952 era “[...] the only extant use preceding the Lake Arrowhead and the 1964 UCLA Institute”. Por exemplo, Paul Friedrich (1961: 163), na resenha a Ferguson / Gumperz (1960), falou bastante liberalmente de ‘sociolinguistics’, como se já fosse um termo amplamente estabelecido. Realmente, Joseph (1992: 125, nota 1) refere vários outros lugares onde o termo ‘sociolinguistics’ era utilizado, como por exemplo, por Eugene A. Nida (1914-2011) em 1949,

William Labov e as origens da sociolinguística na América 137

outros dez anos para que ‘sociolinguistics’ passasse a ser o nome geralmente aceite para um subcampo importante da investigação linguística (p. ex., Bright 1966).

Ao considerar as fontes diferentes da sociolinguística moderna que são localizadas neste artigo, poderíamos descrever a evolução do campo com a ajuda do seguinte diagrama (obviamente incompleto) – deixando de lado, assumidamente, vários estudos verdadeiramente pioneiros que não chegaram a fazer parte do ‘cânone’ laboviano:

DIALETOLOGIA

(COM UM ENFOQUE SOCIAL)ESTUDOS EM LINGUÍSTICA

HISTÓRICA TRABALHO EM BI- E MULTILINGUISMO

│ │ │ e.g. Wrede (1902) Gauchat (1905) Jaberg (1908)

Hermann (1929) McDavid (1946, 1948)

Gumperz (1958)

e.g. Meillet (1905) Vendryes (1921)

Sommerfelt (1930) ↓

Martinet (1952b, 1955) ↓

U. Weinreich (1953) ↓

Labov (1963, 1965) ↓

e.g. M. Weinreich (1931) U. Weinreich (1951)

Haugen (1953) Ferguson (1959) Friedrich (1961)

SOCIOLINGUÍSTICA Fig. 2: As fontes da sociolinguística

Mais especificamente, o diagrama exclui trabalhos extralinguísticos, em especial trabalhos sociológicos e psicológicos54 que exercitaram uma influência sobre a teoria e prática sociolinguísticas, pelo que pelo menos um exemplo deste tipo deveria ser mencionado.55 Devido ao facto de a obra do sociólogo francês Jean Gabriel de Tarde (1848-1904) ser quase esquecida (cf. o relato “psychologies sociales perdues” de Lubek 1981), sendo em grande parte posta de lado por Durkheim e pelo trabalho do seu sobrinho e sucessor Marcel Mauss (1872-1950),

com a segunda edição da sua influente Morphology (Nida 1949), Einar Haugen (1906-1994) em 1951 (o texto impresso do seu discurso presidencial na LSA de dezembro de 1950), para citar pelo menos dois predecessores de Currie (1952). A referência mais fascinante, porém, parece ser o uso do termo hifenizado por Thomas Callan Hodson (1871-1953), já em 1939. Hodson tinha-se aposentado da administração civil britânica na Índia antes de ser nomeado o primeiro ocupante da cadeira de Antropologia em Cambridge, em 1932 (pergunto-me se não houve qualquer ligação entre Hodson e J.R. Firth no decurso dos anos trinta, tendo em conta a permanência de Firth na Índia durante os anos 1920 e a sua própria perspetiva sociolinguística). 54 Carateristicamente, Labov tinha dado pouca atenção ao trabalho em ambas as áreas da sua tese, pois afirmava: “In general, it may be said that psychologists and sociologists have lacked the linguistic training required to isolate particular elements of structure, and have worked primarily with vocabulary in content analysis” (Labov 1966a: 23). Não se cita nenhum trabalho particular, mas consta que esta afirmação entrou logo na história dos manuais sociolinguísticos (p. ex., Wolfram 1969: 7). 55 Notavelmente, na tese de 1964 de Labov, alguns trabalhos de sociólogos estão listados na bibliografia relativamente sucinta (1966a: 583-588), sendo apenas discutidos muito brevemente (Labov 1966a: 23).

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é refrescante ver algumas das suas ideias reabilitadas na obra de Labov (na qual a obra de Durkheim é posta de lado). Em vários lugares dos seus escritos, Labov recorre àquilo que ele chama ‘Tarde’s Law’,56 no entanto sem explicá-la. Resumindo, Tarde argumentou que a imitação (“l’amant imite l’aimé”) está no fundo da mudança social e que a língua pode cair debaixo de um feitiço semelhante, o que Labov e outros chamaram ‘prestige’.

Sendo verdade que o aparecimento de um termo-chave para um campo específico de investigação não assinala necessariamente o início de uma disciplina, pode, no entanto, ser encarado como uma marca do ponto a partir do qual a identificação profissional com um empreendimento específico é considerada desejável pelo menos por alguns dos seus praticantes. O próprio Labov (1972a: xiii, 183-184), hesitando inicialmente, acabou por adotar ‘sociolinguistics’, que passou a ser o termo amplo que também viria a incluir a ‘sociology of language’, ou seja, a ‘sociologia da linguagem’ na maioria dos exemplos. Labov (1972a: 296) celebra o volume Linguistic Diversity in South Asia de Ferguson / Gumperz (1960) como “the beginning of the current interest in sociolinguistic studies [...]”. Mas, como acabamos de demonstrar, Labov tinha absorvido muitas das ideias de trabalhos linguísticos bastante anteriores quando elaborou o seu próprio programa de um ‘socially realistic linguistics’ (Labov 1972a: xiii), ou seja, de uma ‘linguística socialmente realística’.

O tipo laboviano de sociolinguística foi encarado, com alguma justificação, como um antídoto para o tipo de trabalho socialmente infrutífero e linguisticamente não-empírico que derivou da linguística de tipo chomskyano durante os passados cinquenta e mais anos. O seu regresso dedicado aos assuntos simultaneamente internos e sociais na investigação da mudança linguística (Labov 1994, 2001a) promete vir a ser o seu legado.

56 Ao falar de “Tarde’s law” em Sociolinguistic Patterns, Labov (1972a: 286, nota 11) fala de “[...] his Lois de l’imitation in 1890 [...]”; na pág. 308, menciona “[...] Tarde’s law (1913) [...]”, e na bibliografia (pág. 335) a entrada é simplesmente: “Tarde, Gabriel. 1873 [sic], Les lois d’imitation” – sem informação sobre o lugar de publicação e o editor. Vejam-se as referências bibliográficas do presente volume para uma entrada correta e completa da obra de Tarde (1890). Não há nenhum lugar no livro onde a ‘lei’ de Tarde se encontre explicada.

Observações sobre as origens da morfofonémica na linguística estruturalista americana*

1 Introdução Tão recentemente quanto em 1997, Noam Chomsky repetiu o que já tinha

afirmado muito anteriormente, nomeadamente que quando estava a elaborar as suas ideias sobre as regras de ordenação para a sua tese de mestrado em Morphophonemics of Modern Hebrew (1951), não tinha tido acesso ao artigo “Menomini Morphophonemics” (1939) de Bloomfield, sugerindo ao mesmo tempo que o modelo gerativo de análise linguística que desenvolveu durante os seus anos de estudante era mais ou menos original dele. No presente artigo, discute-se que a memória dos primeiros trabalhos de Chomsky e daquilo que leu na altura, na melhor das hipóteses, é incompleta, e que, com efeito, mesmo se não tivesse acesso direto a um exemplar dos Travaux du Cercle Linguistique de Prague vol. 8, antes da conclusão da sua tese de mestrado, ele muito provavelmente teria absorvido a essência das ideias de Bloomfield sobre as regras de ordenação, entre outros, através da leitura das provas da principal obra teórica do seu orientador, os Methods in Structural Linguistics de Zellig S. Harris. Neste livro, que tinha circulado em forma de manuscrito desde 1946, Harris discute os pontos mais salientes da argumentação de Bloomfield de 1939 num capítulo intitulado “Morphophonemics”. Mesmo que o livro de Harris não tenha sido publicado até 1951, o seu prefácio, assinado em janeiro de 1947, agradece a ninguém mais do que a Noam Chomsky, por este ter ajudado com as provas tipográficas. Por isso pode-se destacar que a obra Methods de Harris contém a essência da abordagem gerativa da linguagem que até agora vem quase exclusivamente associada ao nome de Noam Chomsky, para não mencionar o facto de os artigos de Harris (1941a) e (1948) sobre o hebraico terem fornecido mais do que simplesmente os dados dos quais a tese de mestrado de Chomsky (1951) constitui, em grande parte, uma ‘reabordagem’ de uma forma muito mais abstrata, técnica da sua própria criação. Por outras palavras, este artigo tem por objeto demonstrar que existe muito mais continuidade e avanço acumulado na linguística americana do que temos sido levados a acreditar, tanto pelos participantes ativos na ‘revolução’, como pelos seguidores e os historiadores da corte.

Quando se dedica ao trabalho historiográfico, um investigador sério averigua todas as possíveis fontes para a documentação de um determinado assunto, nomeadamente materiais escritos, publicados ou inéditos. Certamente prestará particular atenção ao trabalho publicado e a qualquer texto disponível escrito pelos autores, cuja publicação está sob escrutínio em questões de foro educacional,

* [Observação sobre a tradução: a presente tradução foi elaborada por Marlene Loureiro com base nos artigos “On the Origins of Morphophonemics in American Linguistics” (Koerner 2005c) e “Remarks on the origins of morphophonemics in American structuralist linguistics” (Koerner 2003b).]

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influências de formação e de gosto. Se um determinado autor ainda estiver vivo, o historiógrafo poderia tentar contactá-lo e perguntar-lhe questões específicas consideradas pertinentes para a investigação. No caso de Noam Chomsky, os materiais a que o investigador pode aceder são imensos, senão mesmo esmagadores (cf. Koerner / Tajima 1986, que também enumeram um grande número de entrevistas publicadas e outros dados biográficos). Também podem ser encontradas informações adicionais em relatos históricos que contêm excertos de entrevistas e cartas trocadas com Chomsky (por exemplo, Newmeyer 1980, 1996b; Harris 1993; Murray 1994; Barsky 1997). Em resumo, não há, ao contrário de muitos outros casos, falta de informações disponíveis no que concerne a Chomsky, quer no que ao homem diz respeito quer ao seu trabalho.

2 O tratamento do assunto em relatos históricos Dada esta aparente abundância de informações sobre Noam Chomsky

(nascido em 1928), o investigador histórico pode confrontar-se com algumas encruzilhadas relativas à biografia intelectual de Chomsky. Um assunto enigmático diz respeito ao papel exato que Zellig Sabbettai Harris (1909-1992), o professor de linguística que Chomsky conheceu na Universidade de Pennsylvania durante os anos 1946/1947-1951, teve no desenvolvimento das ideias de Chomsky sobre a gramática gerativa, uma vez que o próprio Harris parece ter sido bastante reticente sobre o que considerava como assuntos pessoais ou privados.1 Como resultado, o historiógrafo está deveras entregue às declarações de Chomsky, feitas muitos anos depois, sobre a relação aluno-mentor entre eles. Felizmente, há vários exemplos disponíveis de tais reconhecimentos, nomeadamente a introdução de Chomsky na publicação de uma versão – na verdade, em partes grandemente – editada (e nalguns lugares fortemente reduzida) da sua obra The Logical Structure of Linguistic Theory (1975), um manuscrito que data de 1955-1956. Aí podemos ler a seguinte importante passagem com relevo para o tema do presente artigo:

My formal introduction to the field of linguistics was in 1947, when Zellig Harris gave me the proofs of his Methods in Structural Linguistics to read. I found it very intriguing and, after some stimulating discussions with Harris, decided to major in linguistics as an undergraduate at the University of Pennsylvania (Chomsky 1975: 25).

Por outro lado, uma parte dificilmente não menos importante da narrativa do historiógrafo teria de ser o de mapear o ambiente geral da época, para fornecer uma ideia sobre o que estaria disponível em termos de publicações para um estudante universitário de linguística, as correntes de pensamento dominantes e os debates realizados nos estabelecimentos de ensino regulares. Isto conduzir-nos-ia, entre outras coisas, a perceber que, para além de vários periódicos filológicos com 1 A este propósito veja-se Harris (1990), onde ele narra o desenvolvimento da gramática transformacional, que os seus contemporâneos próximos frequentemente associavam com o seu trabalho dos anos 1940.

Observações sobre as origens da morfofonémica na linguística estruturalista americana 141

estudos na linguística histórico-comparativa indoeuropeia, só havia na época três revistas regulares de linguística: Language, o órgão oficial da Linguistic Society of America (LSA), publicada desde 1925; International Journal of American Linguistics (acrónimo: IJAL), primeiramente lançada em 1917 por Franz Boas (1858-1942), desaparecida em 1939 e relançada em 1944 por Charles Frederick (“Carl”) Voegelin (1906-1986); e Word, a revista criada em 1945 pelos linguistas europeus emigrados residentes na área da cidade de New York, sob a liderança intelectual de Roman Jakobson (1896-1982).2 Ao contrário de finais dos anos 1960 e 1970, que viram o surgimento de um grande número de revistas de linguística em ambos os lados do Atlântico, o estudante norte-americano dos anos 1940 e 1950 conseguia ler tudo da área que tivesse sido publicado desde os anos 1930, incluindo todos os livros, pelo menos tudo o que tivesse aparecido nos Estados Unidos.

Nos relatos históricos sobre a linguística norte-americana, nomeadamente no influente livro de 1980 de Frederick Newmeyer, encontramos pouco sobre ‘morfofonémica’. Nem a primeira nem a segunda edição revista de 1986 têm qualquer entrada no índice sobre isso. O artigo de 1939 de Bloomfield aparece referenciado em ambas as edições (Newmeyer 1980: 253; 1986c: 234) e é mencionado de forma sucinta no subcapítulo “2.5.3 Early Generative Phonology” (Newmeyer 1980: 39-42), que é essencialmente um enaltecimento do artigo “Phonology in Generative Grammar” (1962) de Morris Halle. O artigo de Bloomfield (1939) é considerado como tendo sido o primeiro a observar que “[...] the synchronic order of rules characteristically mirrors their relative chronology [...]” (Newmeyer 1980: 41; 1986: 35). Já antes, Newmeyer (1980: 36) tece a seguinte observação (aliás não conservada na segunda edição de 1986) em que reconhece o ‘espírito’ gerativista daquele artigo: “Likewise, the spirit of Bloomfield’s treatment of Menomini morphophonemics (1939b) and Jakobson’s of Russian conjugation (1948) is clearly that of a generative phonology, although their rules are not treated formally”.

Em 1976, no seu trabalho de investigação The Development of Morpho-phonemic Theory,3 James Kilbury – aliás, um antigo discípulo do falecido Charles Hockett – menciona o artigo de Bloomfield (1939) no capítulo 4, “American

2 Talvez devêssemos acrescentar a existência de uma espécie de Studies in Linguistics, uma revista para ‘artigos em desenvolvimento’ publicada por George Leonard Trager (1906-1992) entre 1942 e 1975, e que, na verdade, publicou uma plêiade de artigos interessantes, incluindo alguns de Charles F. Hockett, dos quais é de esperar que Chomsky os terá lido na ocasião, dado que, ao contrário de hoje em dia, havia na altura uma certa carência de periódicos de linguística. De modo interessante, um dos cinco itens (incluindo um artigo inédito dele próprio) citado por Chomsky na sua tese de mestrado (Chomsky 1951: 74) é a nota da página 5 do texto de Hockett “Which Approach in Linguistics is ‘Scientific’?” (Hockett 1950a: 5), sobre a qual Chomsky fez uma referência positiva (Chomsky 1951: 3, nota 4, e 67), quando a discussão diz respeito a “[...] explicit considerations of simplicity imposed on the grammatical statement”. Sobre a distribuição dos artigos da geração de Harris nas revistas Word, Studies in Linguistics e Language, veja-se a tabela em Murray (1994: 218). 3 Kilbury (1976), curiosamente, não é referenciado em Newmeyer (1980, 1986c, 1996).

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Linguistics through Bloomfield” (Kilbury 1976: 39-53) só muito brevemente (Kilbury 1976: 51-52), e argumenta:

It seems reasonable to conclude that Bloomfield’s choice of the title “Menomini Morphophonemics” [...] was explicitly intended to honor Trubetzkoy and recognize his theoretical contributions. But neither this nor Bloomfield’s earlier works give a picture of the position of morphophonemics within his own framework (Kilbury 1976: 51).

Esta é uma avaliação bastante justa, mas o resto do relato de Kilbury não contém uma discussão desse artigo, a não ser a sua referência juntamente com o artigo “Morpheme Alternants” (1942) de Harris (Kilbury 1976: 87). No capítulo conclusivo, intitulado “American Linguistics since Generative Grammar” (Kilbury 1976: 103-119), que começa com a apresentação das ideias principais da tese de mestrado de Chomsky (1951), o artigo de Bloomfield (1939) simplesmente é mencionado como um exemplo para apoiar o argumento de que “[...] earlier descriptions in terms of ordered morphophonemic rules [...] had been content merely to specify sufficient conditions of ordering [...]” (Kilbury 1976: 106; itálico no original). Não há, contudo, qualquer referência à possível influência que o artigo de Bloomfield possa ter tido em Chomsky.

Na obra Phonology in the Twentieth Century (1985), de Stephen Anderson, podemos encontrar um capítulo intitulado “Morphophonemics and the description of alternations” (Anderson 1985: 270-276) dentro do capítulo dedicado a Bloomfield (Anderson 1985: 250-276), mas só uma pequena parte é dedicada ao seu artigo de 1939. Anderson repete a declaração de Chomsky (1962a) de que o “[...] classic 1939 paper on Menomini” de Bloomfield constitui “the first systematic treatment of morphophonemics [...]” (Anderson 1985: 271), só para advertir o leitor contra o anacronismo:

While Bloomfield was certainly one of the most noteworthy early practitioners of the morphophonemic method of description [...], we should not therefore make the anachronistic assumption that he understood such descriptions in the same way linguists do today (Anderson 1985: 271).

Mais à frente no seu livro, Anderson descreve os ‘first substantial results’ de Chomsky no campo da fonologia gerativa, na sua tese de mestrado em 1951, como tendo sido “[...] achieved without substantial reference to structuralist assumptions” (Anderson 1985: 315-316). No capítulo “The antecedents of generative phonological theory” (Anderson 1985: 322-327), o artigo de Bloomfield (1939) só é mencionado como uma referência para os escritos de Halle e de Chomsky dos anos 1950. Na essência, Chomsky é apresentado como um pensador independente que não foi significativamente influenciado pelos seus antecessores estruturalistas.4

4 É bastante curioso que a obra Grammatical Theory in the United States from Bloomfield to Chomsky (1993), de Matthews, somente menciona o uso das ‘morphonological rules’ por Chomsky e

Observações sobre as origens da morfofonémica na linguística estruturalista americana 143

Por último, mas não menos importante, o tratamento mais específico do tema central deste artigo, ou seja, se (os principais princípios) o artigo “Menomini” de Bloomfield teve ou não impacto no trabalho sobre a morfofonémica de Chomsky durante os anos 1949-1951, é encontrado em Newmeyer (1996b: 12-14). Avaliarei então as observações, as reivindicações e as deduções de Newmeyer mais à frente neste artigo (veja-se também nota 6).

3 Um regresso às fontes da morfofonémica Muito foi afirmado na literatura sobre a ‘revolução de Chomsky’. Se

tomarmos a deposição comunista do regime czarista na Rússia, em 1917, como exemplo, detetamos algumas semelhanças entre a revolução social e política e o que aconteceu na linguística americana durante os anos 1960. Estou a pensar particularmente na maneira como os representantes do ancien régime foram tratados (eles podem não ter perdido as suas vidas, mas aconteceu que muitas carreiras académicas daqueles que não queriam juntar-se à nova fé foram negativamente afetadas, algumas até foram arruinadas) e, o que é de especial interesse no presente contexto, na maneira como a história foi reescrita, sendo a memória do passado imediato obliterada e substituída por outra coisa. A natureza desta coisa ficará evidente pelo fim do presente artigo.

Para o investigador familiarizado com a literatura da época, especificamente com o trabalho de Trubetzkoy e Jakobson, no lado da Europa, e com o trabalho de Bloomfield, Sapir e outros linguistas dos anos 1930 e 1940, no lado norte-americano, algumas das conexões parecem bastante óbvias, uma vez que se tem posto de lado a visão errónea de que não houve qualquer contacto entre as correntes linguísticas da Europa e o estruturalismo norte-americano durante os anos da pré-guerra. Aqueles que viveram nos Estados Unidos durante os anos 1960 terão testemunhado, se não foram varridos pelo fervor revolucionário do período, aquilo que Encrevé (1997) chamou a ‘slash-and-burn strategy’,5 em que estavam envolvidos Noam Chomsky (nascido em 1928) e Morris Halle (nascido em 1923), o seu colega desde os anos 1950 em diante, bem como logo a seguir um número considerável dos seus discípulos, uma estratégia virada contra o trabalho dos antecessores imediatos e dos professores de Chomsky (e até certo ponto também de Halle). Em vez disso, podemos ver Chomsky a construir uma história

o seu argumento a favor do estabelecimento de um ‘morphonological level’ (Chomsky 1975), mas não menciona a sua tese de mestrado de 1951 (que não é mesmo incluída na lista de textos de Chomsky; Matthews 1993: 255-256), embora o artigo de Bloomfield (1939) seja pelo menos mencionado (Matthews 1993: 93) pela sua referência à ‘morpholexical variation’ (Bloomfield 1970: 352). Isto é tanto mais surpreendente quanto Matthews (1993: 86-87) traça um longo argumento para demonstrar que “Chomsky and his colleague Halle [...] did not abandon Bloomfieldian ideas“ e “with some qualifications, [...] retained the morpheme unit, much as the Post-Bloomfieldians had conceived it“. 5 Encrevé (1997: 101) fala de “[...] une politique délibérée de la ‘terre brûlée’ [...]”, e, mais adiante na mesma página, a sua ilustração deste tipo de atividade é resumida da seguinte forma: “Un bon stucturaliste est un structuraliste mort”.

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alternativa sobre a sua suposta inspiração linguística durante o mesmo período (cf. Chomsky 1964b, 1966).

Espero mostrar, no decorrer desta investigação, que a ideia das regras ordenadas desempenhou um papel central na ‘revolução’ da linguística americana. Como resultado, é com respeito aos antecedentes desta ideia que algumas das reivindicações revolucionárias de Chomsky e dos seus colegas podem permanecer ou cair. Se esta avaliação estiver correta, a ênfase na parte dos protagonistas será de descontinuidade, possivelmente mesmo de rutura (Michel Foucault a seguir a Bachelard), com o passado imediato. Por outras palavras, o suposto primeiro trabalho que continha in nuce o conceito de gramática gerativa – a tese de mestrado de Chomsky, Morphophonemics of Modern Hebrew (1951), feita sob orientação de Harris na Universidade de Pennsylvania – deve ser vista como totalmente original e de modo nenhum como em dívida para com os seus antecessores estruturalistas. Para os ‘revisionistas’, caber-lhes-á demonstrar que as ideias de Chomsky tinham de facto antecedentes e que se pode assumir seguramente que ele estava familiarizado com eles quando escreveu a sua tese de mestrado.6

3.1 A ideia das regras ordenadas em Bloomfield Os linguistas a ensinar no Massachusetts Institute of Technology durante os

‘revolucionários’ anos 1960 são relatados como tendo desencorajado ativamente os estudantes de ler o trabalho dos chamados bloomfieldianos, exceto aquilo que Postal (1988: 134) mais tarde chamou ‘the right of salvage’ (cf., p. ex., Langendoen 1968; Bever 1967). A ideia que lhes foi passada era que o trabalho deles era ‘pré-científico’, mal alcançando a ‘adequação observacional’, e, portanto,

6 Nos seus mais recentes relatos sobre o desenvolvimento da linguística gerativa, Frederick Newmeyer defendeu, entre outras coisas, que, antes de escrever a sua tese de mestrado, Chomsky já tinha elaborado as suas ideias num ensaio de licenciatura em 1949. Tendo compilado, com o aval de Noam Chomsky e o apoio da sua secretária, uma bibliografia mais detalhada dos seus escritos até 1986 (Koerner / Tajima 1986), eu não tinha conhecimento deste trabalho que, de acordo com Newmeyer (aparentemente a seguir o próprio relato de Chomsky 1979b: 111), tinha o mesmo título. Quando perguntei a Newmeyer, em dezembro de 1988, quando o artigo foi originalmente apresentado no primeiro encontro anual da NAAHoLS, realizado na Universidade de Tulane, em Nova Orleans, se ele tinha um exemplar do ensaio, ele admitiu que não tinha qualquer cópia nem nunca o tinha visto, mas que Chomsky lhe tinha contado tudo sobre ele. Pode muito bem ser o caso de que a tese de mestrado de Chomsky tenha começado por ser um trabalho de conclusão de curso, mas não conheço nenhum local onde Chomsky apresente o seu ensaio de 1949, nem mesmo na sua tese de mestrado, onde poderia fazer todo o sentido, especialmente devido ao facto de ele apresentar entre os cinco itens (!) da sua bibliografia (Chomsky 1951: 74) um texto inédito (e sem data), que parece ser uma recensão do artigo de Nelson Goodman “On the Simplicity of Ideas” (1943) (Não nos esqueçamos que, na altura, Chomsky era tanto aluno de Goodman como de Harris, e que foi o último que o levou a conseguir uma bolsa júnior de 4 anos em Harvard). No entanto, dada a falta de prova fidedigna, parece justo pensar que a data de 1949 foi mencionada a fim de reforçar a afirmação de originalidade por parte de Chomsky, sugerindo que este, em 1949, ainda não poderia ter conhecido Jakobson (1948). Com efeito, Newmeyer (1996b) faz esta constatação. Seja como for, vamos ver no que se segue, que isso pouco importa para a presente argumentação, se Chomsky tinha ou não estabelecido as suas ideias sobre gramáticas gerativas em 1949 ou em 1951.

Observações sobre as origens da morfofonémica na linguística estruturalista americana 145

de pouco valor. Escusado será dizer que os estudantes avidamente seguiram os conselhos dos professores, especialmente porque lhes tornavam a vida mais fácil. Como resultado, poucos na altura leram atentamente o livro Language de Bloomfield e ainda menos com a intenção de reconhecer o seu relevo para o desenvolvimento da linguística norte-americana para mais do que uma geração ou para as discussões linguísticas dos anos 1950 e 1960.

Embora seja difícil de acreditar, tendo em conta a prova circunstancial (veja-se abaixo) que Chomsky não tinha visto, ou melhor, não tinha tido conhecimento das ideias apresentadas no artigo de 10 páginas “Menomini Morphophonemics” (1939) de Bloomfield, aquando da redação da sua tese de mestrado Morphophonemics of Modern Hebrew, em 1951, deixa-nos supor por momentos que ele não tinha conhecimento. Para alguém que disse que ele ‘decided to enroll in linguistics’ em 1947, seria seguro supor que adquiriu logo – ou pediu emprestado da biblioteca principal da Universidade de Pennsylvania – um exemplar de Language, de Bloomfield, a referência principal em qualquer discussão linguística na América até inícios dos anos 1960. Aí, no capítulo sobre morfologia (Bloomfield 1933: 207-226), que, como observa Encrevé (1997: 112), Harris estava preocupado em reescrever durante os anos 1940, encontramos Bloomfield a discutir a formação do plural em inglês, em particular “[...] some instances of the constituent form [...]” e posteriormente como diferindo foneticamente “[...] the underlying singular form[s] [...]”, como em knife / knives, mouth / mouths, house / houses (Bloomfield 1933: 213). Aí propõe:

We can describe the peculiarity of these plurals by saying that the final [f, Ɵ, s] of the underlying singular is replaced by [v, , z] before the form [i.e., {-s}] is added. The word “before” in this statement means that the alternant of the bound form is the one appropriate to the substituted sound; thus, the plural of knife adds not [-s], but [-z]: “first” the [-f] is replaced by [-v], and “then” the appropriate alternant [-z] is added. The terms “before, after, first, then”, and so on, in such statements, tell the descriptive order. Their actual sequence of constituents, and their structural order (§ 13.3) are a part of the language, but the descriptive order of grammatical features is a fiction and results simply from our method of describing the forms; it goes without saying, for instance, that the speaker who says knives, does not “first” replace [f] by [v] and “then” add [-z], but merely utters a form (knives) which in certain features resembles and in certain features differs from a certain other form (namely, knife) (Bloomfield 1933: 213).

Na secção referida por Bloomfield neste âmbito, observa, entre outras coisas: The principle of immediate constituents leads us to observe the structural order of the constituents, which may differ from their actual sequence; thus, ungentlemanly consists of un- and gentlemanly with the bound form added at the beginning, but gentlemanly consists of gentleman and -ly with the bound form added at the end (Bloomfield 1933: 210).

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É óbvio a partir desta discussão que Bloomfield estava bastante consciente da importante distinção entre ‘descriptive order’ (estabelecida pelo linguista) e ‘structural order’ (que este observa ou ‘descobre’). Dado o interesse, senão a pre-ocupação com a estrutura do inglês, por parte dos chamados pós-bloomfieldianos, durante a década de 1940, é difícil imaginar que estas passagens num capítulo de vinte páginas pudessem ter escapado à atenção dos jovens linguistas, tais como Noam Chomsky; quem, de facto, em 1962, no Ninth International Congress of Linguists, realizado em Cambridge, Massachusetts, refutou a referida passagem textual de Bloomfield (1933: 213) da seguinte maneira:

He regarded ordering of rules as an artifact – an invention of the linguist – as compared with order of constituents, which is “part of language”. But this depreciation of the role of order of synchronic processes is just one aspect of the general antipathy to theory (the so-called “anti-mentalism” that Bloomfield developed and bequeathed to modern linguistics) (Chomsky 1964b: 70, nota 8).

À parte da afirmação de Chomsky sobre a falta de interesse na teoria por parte de Bloomfield e dos seus seguidores – o que poderia ser refutado facilmente – é significativo que Chomsky continua as suas observações ao dizer que “Harris showed (1951: 237) that some of Bloomfield’s examples of ordering can be handled by unordered rules that state the phonemic composition of a morphophoneme in a strictly morphophonemic context. But his method does not generalize to such examples as the one given below; [...]” (Chomsky 1964b: 70, nota 8; itálico no original), e ele continua a criticar Harris essencialmente por não ter esclarecido a “[...] italicized condition on morphophonemic rules”, como ele, Chomsky, achava que deveria ter feito.

O que pode ser mais interessante é o que Chomsky afirmou no decurso do texto da mesma página (uma vez que as observações feitas em notas de rodapé geralmente não são lidas em voz alta durante as apresentações orais). Aí, Chomsky faz um apelo a favor da importância do ‘ordering of rules’ em fonologia, nomeadamente a importância de “[...] a fairly strict ordering must be imposed on phonological processes [...]” (Chomsky 1964b: 70). Depois, começa a falar sobre dois artigos importantes dos anos 1930, nomeadamente o célebre “La réalité psychologique des phonèmes” (1933), de Edward Sapir (publicado em inglês apenas em 1949), e o artigo de Bloomfield “Menomini Morphophonemics” (1939), afirmando que

[...] most of the examples in Sapir (1933) involve ordering, though he does not mention the fact. Bloomfield was much more concerned with questions of ordering and his Menomini morphophonemics (1939) is the first modern example of a segment of a generative grammar with ordered rules (Chomsky 1964b: 70).

Observações sobre as origens da morfofonémica na linguística estruturalista americana 147

Chomsky continua a observar que “Bloomfield does not discuss the extent or depth of ordering7 in this grammar [...]” e que, provavelmente, “[...] does not exceed five [...]”, enquanto ele, em 1951, na sua tese de mestrado sobre o hebraico moderno, tinha chegado a “[...] a depth of ordering that reaches the range of twenty to thirty [...]”,8 apontando que “[...] recent work [a nota apresentada não indica nada disso, EFKK] gives strong support to the belief that ordering relations among phonological processes are quite strict [...]” (Chomsky 1964b: 71).

Não há dúvidas de que os importantes avanços na teoria fonológica tinham sido feitos entre 1939 e 1962; pode ser apenas mais uma questão de saber se estes eram simplesmente devido ao trabalho de Chomsky sozinho. Desde que ele se refere a uma passagem de Zellig Harris, em Methods in Structural Linguistics, publicado em 1951, onde Harris discute “[...] some of Bloomfield’s examples of ordering [...]” na mesma nota que já citámos, pode ser útil examinarmos a página 237 em questão, para além de outras passagens no Methods.

3.2 A ideia de regras ordenadas em Harris Numa história adequada da linguística gerativa ainda a ser escrita, o papel de

Zellig S. Harris (1909-1992) dificilmente poderia ser subestimado. Juntamente com Charles F. Hockett (1916-2000), Harris foi a principal força motriz nas discussões teóricas sobre a linguística norte-americana nas décadas de 1940 e 1950. Não admira que Chomsky inclua, na ‘bibliography’ da sua tese de mestrado (Chomsky 1951: 74), o texto Methods de Harris e um pequeno artigo, mas bastante perspicaz, de Hockett (1950a).9 Uma vez que a sugestão foi feita de que o livro de Harris, ou, talvez mais corretamente, o seu conteúdo não teria estado à disposição do jovem Chomsky quando desenvolveu as suas ideias, digamos, de 1949 em diante, duas afirmações podem ter que ser rebatidas em primeiro lugar. Ou seja, a indisponibilidade da obra antes da sua publicação, em 1951, e a sugestão (recente-mente repetida por Newmeyer 1996b: 14) de que a versão manuscrita de Methods não continha as partes relevantes para a presente discussão.10

7 Por ‘depth of ordering’ entende-se o número de sequências de regras ordenadas na descrição gramatical. Jensen (1999: 82) não é, portanto, muito correto quando sugere que Chomsky e Halle introduziram o conceito em The Sound Pattern of English, embora seja verdade que eles consideravam “the hypothesis that rules are ordered [...] to be one of the best-supported assumptions of linguistic theory” (Chomsky / Halle 1968: 342). 8 Apenas cinco anos mais tarde, Thomas Gordon Bever (nascido em 1939), estudante de doutoramento em Halle, tinha aumentado a contagem de sequências de ordenação de Bloomfield para onze e reduzido consideravelmente a dimensão das reivindicações anteriores de Chomsky (Bever 1967; cf. Chomsky / Halle 1968: 18, nota 4) – depois de ter exagerado a distância das suas próprias sequências de ordenação (cf. Bever 1963). 9 Os outros dois, ao lado de um artigo inédito e, para além disso, desconhecido do próprio Chomsky sobre “Some Comments on Simplicity and the Form of Grammars”, foram Goodman (1943) e Greenberg (1950). 10 Quando desafiado pelo presente autor para revelar a base da sua afirmação, Newmeyer admitiu: “Unfortunately, I never did see the ms version of Harris. Everything that I know/think about it comes

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No seu livro American Structuralism, Hymes / Fought (1981) fazem a seguinte interessante declaração:

By 1946 a full-scale treatment of language structure as a whole in such terms [distintamente bloomfieldianos? EFKK] existed in the form of the manuscript of Harris’ Methods in descriptive (later: structural) linguistics, recommended for publication by the LSA’s committee on such matters, but languishing for lack of funds (Hymes / Fought 1981: 136).

Num artigo baseado numa entrevista concedida a Anne Daladier, em Paris, perto do fim da sua vida, podemos ler a própria afirmação do autor de que Methods “[...] était rédigé et circulait en 1946 mais n’est paru qu’en 1951” (Harris 1990: 10). De facto, Hockett, no seu artigo “Problems of Morphemic Analysis” (1947), refere-se à obra (sem mencionar o seu título) da seguinte maneira:

In his unpublished material, Harris shows how this [exigência teórica, EFKK] can be handled. His example is English /tuw/ (to, too, two), which in the absence of semantic criteria first appears as a single morph (Hockett 1947a: 331, nota 25).

Martin Joos (1907-1978), quando reeditou o artigo na sua revista Reader de 1957, identificou a referência como se segue: “See now his Methods in Structural Linguistics, p. 202” (Joos 1957: 235). Que Harris apresentou o seu texto manuscrito à LSA para uma possível publicação na sua série de monografias, em 1947, pode ser recolhido a partir do seguinte excerto, referenciado por Hymes / Fought (1981: 9-10) e, com mais detalhe, em Murray (1994: 164), que também observa (com referência ao LSA Bulletin 22/4 (1949: 13-14) que a publicação do livro de Harris foi recomendada por Bernard Bloch (1907-1965), o editor de Language desde 1942, com ainda por Charles C. Fries (1887-1967), Robert A. Hall (1911-1997), Hockett, e Hans Kurath (1891-1992).11

Mr. Cowan12 read the following report for Mr. Hans Kurath, chairman of the Standing Committee on Research.

from word of mouth (mouths, actually, since I had input from several people)” (mensagem de e-mail do autor de 8 de outubro de 2000). 11 Isto é baseado em informação impressa no LSA Bulletin 22/4 (1949: 13-14), onde Kurath, como presidente do ‘Standing Committee on Research’, refere o seguinte, depois de ter afirmado que o livro de Hall era para ser publicado em breve:

As far as the Committee knows, no arrangements have as yet been made for publishing Harris’s book. It is to be hoped that this important contribution to the methodology of descriptive linguistics can be published soon. The manuscript was read not only by the members of the Committee [que na altura consistiu de Kurath, Hoenigswald e do indo-europeísta George S. Lane (1902-1981), EFKK], but also by Bernard Bloch, [...], who unanimously support the recommendation of the Committee.

12 J Milton Cowan (1907-1993), o então secretário da LSA.

Observações sobre as origens da morfofonémica na linguística estruturalista americana 149

Two manuscripts have been considered by the Committee; their publication under the auspices of the Linguistic Society of America has been recommended:

1. Robert A. Hall Jr., Descriptive Italian Grammar 2. Zellig S. Harris, Methods in Descriptive [sic!] Linguistics

Hall’s manuscript is ready for the printer. Harris’ manuscript should be carefully edited before it goes to press.

Both books are important. Hall’s is the first detailed grammar of a well-known language prepared in accordance with the new descriptive technique. Harris’ book represents the first consistent exposition of the technique (or one technique) of analyzing and describing languages from a structural point of view (LSA Bulletin 21/3 1948: 15).

Parece, contudo, que, apesar da sugestão de Kurath, o manuscrito de Harris

não foi substancialmente revisto, embora seja justo supor que, pelo menos, alguma intervenção editorial, algumas alterações e mesmo adições tenham sido feitas antes de Methods ter sido publicado pela Universidade de Chicago, em 1951.13 As razões para o atraso na publicação do livro de Harris são, provavelmente, muitas, inclusive, como aqueles que conheciam Harris pessoalmente na Universidade de Pennsylvania podiam atestar, que ele não era pessoa que se incomodasse para ter uma obra sua publicada de forma expedita;14 uma vez que sentisse que tinha feito a

13 Por exemplo, ao fazer a verificação de todas as muitas notas bibliográficas de rodapé em Methods, observa-se que, especialmente no primeiro capítulo, “Methodological Preliminaries”, Harris acrescentou referências a estudos de Martin Joos sobre acústica, de 1948 e 1950 (Harris 1951a: 4, nota 1 e pág. 16, nota 17, respetivamente), bem como ao volume dos escritos de Sapir de 1949 (pág. 22, nota 24; veja-se também pág. 59, nota 1 e pág. 226, nota 17), sobre o qual publicou um artigo de resenha muito perspicaz (Harris 1951b). Finalmente, há referências a um artigo de 1949 de Einar Haugen (1906-1994) sobre “Phoneme or Prosodeme?” (pág. 47, nota 2) e, perto do final do seu livro (pág. 359, nota 19), a dois textos menores, uma nota de três páginas e, ainda mais curto, uma adenda de 1950 e 1951, respetivamente, publicados pelo seu colega da Universidade de Pennsylvania, Henry M. Hoenigswald (1915-2003), evidentemente adicionado à última da hora para uma lista muito mais longa de referências. Além disso, pode imaginar-se que o “Appendix to Chapters 7-9: The Phonemes of Swahili. A Sample Phonemic Analysis prepared with the collaboration of Nathan Glazer” (Harris 1951a: 97-124) como uma adição pós-1947, embora eu duvide que o mesmo é verdadeiro para os outros apêndices que se encontram no final da cada um dos 19 capítulos. Estes são tipicamente ilustrações, com dados de uma variedade de línguas, embora alguns deles estejam direcionados para determinadas questões teóricas, como por exemplo “Appendix to 12.41: The Criterion of Meaning” (pág. 186-195), onde se poderia supor – desde que não se tenha sido capaz de verificar a cópia do manuscrito de 1947 – que havia sido adicionado como resultado das críticas que Harris tinha recebido de colegas. No entanto, não se pode ter certeza, a menos que um exemplar do manuscrito de 1946 seja localizado. Numa mensagem de e-mail (de 2 de dezembro de 1999) para o autor do presente artigo, Geoffrey J. Huck, da editora da Universidade de Chicago escreveu: “I did search the University of Chicago Press files on Harris’s, which are in the archives in Regenstein Library on the University of Chicago campus. Alas, it was a sparse file and I could find nothing there which touched on the matter either way [i.e., se certas passagens no livro foram adicionadas mais tarde ou não, EFKK]”. 14 Um exemplo da desatenção de Harris pelo destino do seu trabalho pode ser visto com base numa nota de rodapé, inserida por Bloch no fim de Harris (1965: 401, nota 56): “[This article has not been

150 E.F.K. Koerner

sua parte, os outros poderiam esperar para ver isso ser publicado. Ainda assim, a razão mais importante para o atraso pode simplesmente ter sido económica. Ao contrário do texto bastante sucinto e direto de Robert A. Hall, que costumava preparar um exemplar cuidadosamente datilografado, muitas vezes pronto para a reprodução, o livro de Harris era muito mais longo, mais técnico, e mais complexo. Tal como Norman A. McQuown (1914-2005) afirmou no início da sua resenha de Methods:

This epoch-making book was much read in manuscript before publication, and the author’s influence was patent in many articles and reviews long before this summation appeared (McQuown 1952: 495).

Face à posterior ignorância – sentimo-nos quase tentados a acrescentar estudada – do livro, vamos ler um pouco mais sobre o que o antropólogo de Chicago tem mais para dizer sobre Methods nesses parágrafos introdutórios:

[...] Not since Bloomfield’s Language has there been such an ambitious attempt to cover the whole field. Unlike Bloomfield’s, however, this book is limited to the presentation of one principle and one method of linguistic analysis and description. [...]

The book follows out these basic methodological assumptions [explicadas pelo resenhador no parágrafo anterior, EFKK] to their logical conclusion, exploiting every extension, every parallelism, every implication. The field of linguistic analysis is covered. The methodological assumptions are followed even where they prove ‘cumbersome’; indeed, we are warned (p. 371) that we must not stray from their rigorous application, no matter how we may be tempted: ‘The utility of these operations is compromised, however, if any results are recognized other than those obtained by means of the stated operations.’ Stated in the simplest terms, you must know what you are doing and why you are doing it, and be able to tell someone else how. There is a high premium on responsibility.

proofread by the author.]”. O artigo tinha sido apresentado muito antes; Harris simplesmente contou com Bloch para fazer o resto (observe-se que esta nota desapareceu nas reimpressões de 1970, 1972 e 1981). Curiosamente, nenhuma outra publicação de Harris apareceu na revista Language depois deste artigo “Transformational Theory” de 40 páginas; pode especular-se sobre as razões para isso, uma vez que Harris permaneceu academicamente produtivo até ao fim da sua vida, em 1992. Sem dúvida, a mudança de editor, depois da morte prematura de Bloch de cancro em 1965, também teve algo a ver com isso. De facto, Harris não tinha publicado nada em Language entre 1957 e 1965. Matthews (1999: 114) comenta: “I have not thought it my business to inquire into the circumstances [...]”, mas os historiadores poderiam desejar fazê-lo. Ao ler a última contribuição de Harris para a Language, em particular a nota de rodapé que anexou ao seu comentário, “To interrelate these analyses, it is necessary to understand that these are not competing theories, but rather complement each other in the description of sentences”, parece que Harris estava a dar o seu tiro de partida – nos termos mais fortes que alguma vez parece ter usado em forma impressa:

The pitting of one linguistic tool against another has in it something of the absolutist post-war temper of social institutions, but it is not required by the character and range of those tools of analysis (Harris 1965: 365, nota 6).

Observações sobre as origens da morfofonémica na linguística estruturalista americana 151

The reviewer finds this emphasis wholly admirable, and looks forward to the day when similar descriptive systems will be applicable with equal rigor to all aspects of human behavior. He considers Harris’ contribution epoch-marking in the double sense: first in that it marks the culmination of a development of linguistics away from a stage of intuitionism, frequent ly culture-bound; and second in that it marks the beginning of a new period, in which the new methods will be applied ever more rigorously to ever widening areas in human culture (McQuown 1952: 495).

Afirmações similares foram feitas por outros colegas de Harris (cf. Koerner

1993c: 513, para localizar os comentários).15 Por exemplo, Stanley S. Newman (1905-1984), um ex-aluno de Sapir, observou que “there will be little disagreement among linguists that this book is the most important contribution to descriptive linguistics since [...] Bloomfield’s Language” (Newman 1952: 404).16

Este é também o livro sobre o qual Noam Chomsky afirmou em 1973 – este testemunho vale a pena ser repetido aqui:

My formal introduction to the field of linguistics was in 1947, when Zellig Harris gave me the proofs of his Methods in Structural Linguistics to read. I found it very intriguing and, after some stimulating discussions with Harris, decided to major in linguistics as an undergraduate at the University of Pennsylvania (Chomsky 1975: 25).

Efetivamente, deve sublinhar-se aqui a palavra “formal” na declaração de Chomsky, uma vez que – como ele próprio reconheceu em nota de rodapé (Chomsky 1975: 50, nota 44) – ele tinha “lido provas tipográficas” da edição Hebrew Grammar de David Kimḥi (1160-1235?) através do seu pai William Chomsky (1896-1977), professor no Gratz College, em Philadelphia (mais tarde também no Dropsie College), publicada em 1952 “muitos anos antes”, ou seja, antes de 1947, e que tinha estado “[...] studying Arabic with Giorgio Levi Della Vida” (Chomsky 1975: 25).

O relato de Chomsky sobre como começou a partir das sugestões de Harris e desenvolveu as suas próprias ideias, primeiro em 1949, com uma ‘undergraduate thesis’, depois na sua tese de mestrado de 1951 (Chomsky 1975: 25ss.) lê-se bastante bem, e ao livro Methods de Harris é-lhe dado um papel importante na narrativa, mas é preciso perceber que Chomsky está a reconstruir o que aconteceu na sua mente teórica há mais de vinte anos e do ponto de vista do incrível sucesso de seu próprio pensamento linguístico.

15 Cf. também a resenha de Householder (1952: 462) com a sua proverbial distinção ‘verdade de Deus’ versus ‘abracadabra’ no que respeita a duas possíveis atitudes do teórico. 16 Newman (1952: 405) também observou que “Harris’ use of compact statements, particularly in the form of an algebraic type of descriptive notation, required concentrated attention”. Ele elogia Harris por se referir “[...] more frequently to the contributions of European linguists than has been the custom in recent American books on linguistics” (Newman (1952: 405). De facto, encontram-se frequentemente em muitas notas bibliográficas de Harris referências ao trabalho de Trubetzkoy, Jakobson, Jespersen, Saussure e outros.

152 E.F.K. Koerner

Embora possa ser compreensível que Chomsky reconheça menos do que poderia ter sido devido ao seu antigo professor Harris, os leitores podem surpreender-se ao ler que estava confrontado com um “almost total lack of interest” pela sua tese de 1951 (Chomsky 1975: 30), “with the exception of Henry Hoenigswald, who read the work carefully and made helpful comments” (Chomsky 1975: 51, nota 51).17 Tendo em conta que certos relatos do desenvolvi-mento da linguística gerativa, nomeadamente os de Newmeyer, a começar em 1980, tendem a reconhecer Chomsky por ter desenvolvido as ideias básicas praticamente sozinho, pode ser útil lembrar ao leitor que a noção de uma gramática gerativa foi nitidamente esboçada no capítulo final de Methods, onde Harris resume os resultados da sua argumentação (Harris 1951a: 261-378), mesmo que o termo ‘generative’ não seja mencionado:18

The work of analysis leads right up to the statements which enable anyone to synthesize or predict utterances in the language. These statements form a deductive system with axiomatically defined initial elements and with theorems concerning the relations among them. The final theorems would indicate the structure of the utterances of the language in terms of the preceding parts of the system.

There may be various ways of presenting this system, which constitutes the description of the language structure. The system can be presented most baldly in an ordered set of statements defining the elements at each successive level or stating the sequences which occur at that level. Compactness, inspectability, and clarity of structure may be gained at various points by the use of symbols for class, variable member, and relation, or by the construction of geometric models (diagrams).

Other types of presentation which have frequently been used have depended ultimately on moving-parts models such as machines or historical sciences. In using such models, the linguistic presentation would speak, for example, of base forms (e.g. in morphophonemics, where the observed forms are obtained from the base form by applying a phonemic substitution), of derived forms (e.g. stems plus those affixes which are added in the descriptive order might be called derived stems), or processes which yield one form out of another. In all these types of presentation, the elements are

17 Pelo menos na versão revista da tese de mestrado de Chomsky, de dezembro de 1951, onde se poderia esperar isso, tal reconhecimento não se encontra. 18 Para contrariar a sugestão de que estas declarações foram acrescentadas muito mais tarde e que não faziam parte do manuscrito que Harris submeteu à LSA, posso citar uma mensagem de e-mail do Professor Chomsky com o Dr. Bruce E. Nevin, de 28 de junho de 2001 (citada aqui com permissão concedida por Chomsky em 23 de julho de 2001), onde escreveu:

You asked about the status of the Methods ms. My information is limited. I read proofs – I think page proofs, but can’t be sure after all this time – in 1947; my understanding was that that was the final proof-reading. I assumed that the ms. had been circulated in 1946 or even before, and though I don’t recall, I presume the Preface was signed before the ms went to the publisher, so January 1947 is not at all surprising. I doubt that substantive changes would have been introduced after proofreading of the proofs. I never noticed any, and wouldn’t have been able to check anyway, since I did not have the proofs available after I finished with them in 1947 and gave them back to Zellig.

Observações sobre as origens da morfofonémica na linguística estruturalista americana 153

seen as having histories, so that the relation of an element to sequences which contain it becomes the history of the element as it is subjected to various processes and extensions (Harris 1951a: 372-273).19

Ao ler estas passagens, é-se tentado a sublinhar várias observações ou a

acrescentar outros meios de ênfase, mas deve ser suficiente consignar relatos da ‘revolução de Chomsky’, como se encontra em Newmeyer (1980, 1986c, 1996a), e emuladores de algo diferente do que é história. O próprio Chomsky reconheceu que “[...] the concept of ‘grammatical transformation’ developed out of Harris’s work on discourse analysis” (Chomsky 1975: 41), mas, quando recua a data para depois da conclusão de Methods e liga isso com a mudança dos interesses de investigação de Harris para a ‘discourse analysis’, como se isso fosse um assunto não relacionado com o que ele próprio estava a investigar, a citação atrás, pelo menos, enfraquece o seu reconhecimento, uma vez que, sem dúvida, Harris tinha refletido sobre essas ideias bem antes de 1951.20

No entanto, uma vez que o presente artigo se preocupa essencialmente com a genealogia da ideia de ‘morfofonémica’ e o conceito de ‘regras ordenadas’ na linguística norte-americana, devemos voltar a centrar-nos nele.

3.3 Possíveis linhas de transmissão: Bloomfield → Harris → Chomsky Mesmo no próprio trabalho inicial de Chomsky, se for lido com atenção, a

impressão que prevalece é que estaria a ocorrer mais evolução do que revolução na linguística norte-americana durante os anos 1940 e 1950.21 Com o fim de 19 Parte da nota 18 que Harris acrescentou à referida citação lê-se: “In such presentations, a relation between two elements a and b is essentially the difference between two historical or otherwise derivational paths: that from A to a and that from A to b. A is set up as a base from which both a and b have, by different paths, been derived”. 20 Isto é também verdade para as ideias de ‘transformação’ de Charles Hockett, que remontam pelo menos a 1949 (cf. Koerner 1989b: 126-128). Curiosamente, Katz / Bever (1976: 17) afirmaram que “contrary to popular belief, transformations come into modern linguistics, not with Chomsky, but with Harris’s rules relating sentence forms. These are genuine transformations, since they are structure-dependent mappings of phrase markers onto phrase markers. That this is so can be seen from the examples of transformations Harris gives”. Vinda de pessoas com laços estreitos com Chomsky, esta declaração deve contar para alguma coisa. De facto, uma lista de ‘transformações gramaticais’ do inglês foi incluída no relatório apresentado à LSA em 1950, e publicada no capítulo 2.33 do artigo “Discourse Analysis” de Harris (1952a: 1-30). 21 No que se segue, bem como em outras partes deste artigo, agradeço o duro trabalho e a variedade de sugestões feitas por Pierre Encrevé (1997), que, ao contrário de mim, é um fonologista e está muito mais familiarizado com a história interna da fonologia ‘gerativa’, depois de ter traduzido as partes teóricas de Chomsky / Halle (1968) como Principes de phonologie générative (Chomsky / Halle 1973). Deve-se salientar, pelo menos nesta fase da discussão, que o artigo de Encrevé é uma tentativa impressionante para descrever o estado anterior, o impacto de The Sound Pattern of English, e a história da fonologia gerativa posterior a esta obra (veja-se especialmente Encrevé 1997: 100-102, 107-113, e 114-120 passim), ao passo que o meu artigo foca o tema da transmissão das ideias em torno do conceito (e termo) de ‘morfofonologia’ / ‘morfofonémica’ – observe-se que a distinção fonologia / fonémica logo seria usada para distinguir fonologia ‘gerativa’ da fonologia ‘bloomfieldiana’ (cf. Chomsky 1964b) – e a ideia de ‘ordered rules’, enquanto ao mesmo tempo tenta

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colocar todas as peças juntas, provavelmente seria necessária uma monografia, mas talvez até mesmo um esboço venha sugerir que a transmissão de ideias na linguística durante esse período foi muito facilitada pela pequena dimensão da comunidade de estudiosos e do número relativamente pequeno de publicações: a maioria dos linguistas norte-americanos da época conhecia-se pessoalmente. Eles reuniam-se regularmente nos encontros anuais da LSA, sempre realizados na última semana de dezembro em cidades como Philadelphia, New York, ou Chicago, e durante os Institutos anuais de Verão, a maioria realizada na Universi-dade de Michigan em Ann Arbor durante esse período. Houve colaboração (e co-publicação) entre esses linguistas e eles fizeram circular entre eles manuscritos, às vezes durante vários anos antes de serem publicados.

Embora as informações pessoais sobre Harris não estejam disponíveis em versão impressa,22 podemos recolher algumas informações sobre a sua biografia intelectual ao olhar para a sua produção académica. A partir daí, pode concluir-se que a sua formação foi em línguas semíticas num sentido bastante amplo, tanto filológico como linguístico, e desde a sua tese de mestrado em 1932 até à publicação da sua monografia Development of the Canaanite Dialects (1939), não o vemos como como um teórico e generalista (cf. Koerner 1993c: 510-511, para mais detalhes). O seu foco da atenção parece ter mudado por volta de 1939, como podemos ver a partir da sua lista de publicações, a começar com uma edição de Hidatsa Texts, recolhidos por Robert H. Lowie (1883-1957), um discípulo de Boas e amigo de Sapir, com notas gramaticais e transcrições fonográficas feitas por ele e por Charles F. (“Carl”) Voegelin, um antigo discípulo de Sapir. Com este empreendimento, Harris abre o seu horizonte de estudo para as línguas ameríndias e dados linguísticos não históricos, e, dada a complexidade de muitas dessas línguas indígenas (assim como as suas diferenças estruturais relativamente às línguas semíticas e indoeuropeias), foram necessárias técnicas especiais para analisar e para as descrever adequadamente. Por exemplo, a Biblioteca da American Philosophical Society, em Philadelphia, detém “Cherokee Materials” de

oferecer, pelo menos, sugestões, para o que poderia ser chamado de ‘external history‘, que julguei que faltava em Encrevé. 22 Além dos obituários de Harris, que são curtos em pormenores biográficos (para além da sugestão de que o nome de Harris pode ter sido inventado por ele próprio – veja-se Nevin 1992: 60), só sei de Barsky (1997: 47-93), que contém um capítulo, que, no entanto, apenas trata de passagem questões linguísticas (Barsky 1997: 49-72), mas principalmente das crenças sociais e políticas de Harris, atividades e da sua influência sobre Chomsky durante finais dos anos 1940 e início dos anos 1950 (cf. Harris 1997, sobre as suas opiniões políticas; as de Chomsky são suficientemente conhecidas para exigir uma referência especial aqui; cf. Koerner / Tajima 1986: 91-162, para uma lista detalhada, parcialmente anotada, das publicações de Chomsky sobre questões políticas). Parece que Harris era um homem bastante reservado. Curiosamente, não se encontrou nenhum americano para escrever o obituário oficial que todos os outros ex-presidentes falecidos da LSA (Harris serviu nessa capacidade em 1955) recebiam na revista Language. O que eventualmente foi encomendado a P.H. Matthews de Cambridge constitui, possivelmente, uma avaliação mais justa do trabalho de Harris do que qualquer linguista americano de hoje poderia ter escrito (Matthews 1999).

Observações sobre as origens da morfofonémica na linguística estruturalista americana 155

cerca de 575 fichas e 10 discos que datam de 1941-1946, que servem como prova do trabalho de Harris com informantes durante esse período. No seu pequeno prefácio de Methods, assinado em Philadelphia, janeiro de 1947, Harris reconheceu, entre outras coisas, a amizade que tinha com Sapir e Bloomfield, os quais tinham estudado línguas ameríndias extensivamente.

É por volta de 1939/1940 que Harris parece ter começado a ficar especialmente interessado em questões de linguística geral e assuntos de teoria e metodologia.23 Não é por acaso que nos seus seminários, como lembra Leigh Lisker (1918-2006), as transformações foram mencionadas entre 1940 (talvez já em finais de 1939, quando Lisker frequentava o seu primeiro curso de linguística) e o período que terminou em junho de 1941, quando se formou com o seu B.A. (assim Lisker numa mensagem de e-mail para Bruce Nevin, 1 de março de 2000). Os artigos influentes dos anos 1940, como “Morpheme Alternants in Linguistic Analysis” (Harris 1942), “Simultaneous Components in Phonology” (Harris 1944), e “Discontinuous Morphemes” (Harris 1945), já tinham sido publicados quando Chomsky, com 17 anos de idade, se matriculou na Universidade de Pennsylvania, bem antes de conhecer Harris, possivelmente no final de 1946, embora o ano, frequentemente mencionado por Chomsky, em que ele decidiu estudar seriamente a linguística com Harris foi 1947 (p. ex., Chomsky 1975: 25; cf. Barsky 1997: 51). De facto, há provas contundentes de que as questões de fonologia e morfologia e as suas inter-relações foram muito discutidas no momento pelos principais representantes dos chamados pós-bloomfieldianos, além de Harris, tais como Bloch, Hockett, Nida, Swadesh, Trager, Voegelin, e Wells (cf. Joos 1957, para a reedição de muitos dos artigos destes autores), quando o jovem Chomsky entrou em cena. Havia poucos indícios de uma falta de interesse pela ‘teoria’ durante os anos 1940 e 1950, como Chomsky, em 1962, e, posteriormente, com frequência tentou descrever essas décadas. Os próprios textos de Chomsky da altura (por exemplo, Chomsky 1955b, 1955-1956) são bastante representativos do que foi, então, dito e feito, e as ideias de Harris sobressaem.

Antes de tentarmos uma discussão das questões com que muitos dos descritivistas americanos dos anos 1940 e 1950 estavam preocupados, seja-me permitido citar uma passagem de Barsky sobre a biografia de Chomsky, na qual o autor desenha um retrato interessante dos hábitos sociais e intelectuais de Harris (o que corrobora o que ex-colegas e alunos de Harris me têm dito ao longo dos anos):

Harris encouraged the kind of unstructured, lively, and creative debate that had been the mainstay of Chomsky’s early education and upon which he had thrived [...]. Course requirements, formal relationships, and scholarly

23 Uma indicação é que, além de uma resenha de uma página de um volume na sua área de interesse original na revista Language (Harris 1935), Harris começa a sua série de contribuições para a mesma revista em 1940, com uma resenha de um livro sobre linguística geral (Harris 1940), seguido por Harris (1941a, 1941b, 1942, 1944, etc.) e uma variedade de outros artigos até 1957, após o qual apenas Harris (1965) apareceu nessa revista. Matthews (1999: 112) também se refere a 1940 como o ano em que Harris “[...] had already turned to general linguistics [...]”.

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hierarchies were rejected in favor of informal gatherings, broad-based discussions, and intellectual exchange. The University of Pennsylvania’s linguistics department comprised, at that time, a very small group of graduate students who shared an enthusiasm not only for linguistics, but also for politics. They shunned the classroom, and met either at the nearby Horn and Hardart Restaurant or at Harris’s apartment in Princeton or New York. The discussions could last for days, and Chomsky remembers them as being “intellectually exciting as well as personally very meaningful experiences” (Barsky 1997: 51).24

A forma de Harris se referir a si mesmo sugere uma generosidade geral, o que

certamente inclui a sua disponibilidade para partilhar as suas ideias com as partes interessadas, e não reivindica a posse, como muitos professores fazem, das suas descobertas particulares, descobertas teóricas, ou escolhas terminológicas.25 Ainda assim, parece que, a partir do que me foi dado a entender por aqueles que o conheceram, Harris era uma pessoa que muitas vezes seguiu o seu próprio percurso e deixou para trás aqueles que não seguiram o percurso geral do seu pensamento. Numa tentativa de completar o quadro da personalidade enigmática de Harris, gostaria de adicionar uma declaração dele próprio. Ao caraterizar tanto Bloomfield como Sapir em 1973, Harris observou o seguinte, que pode muito bem aplicar-se ao seu próprio credo profissional e, possivelmente, significa um golpe no que ele observou na linguística americana desde os anos 1960 em diante:

Neither competed, or saw his scientific achievement as a matter of personal aggrandissement. And this was not for lack of a sense of history about their work. Both men knew that they were creating – or rather participating centrally in the creation of – a science. There was an excitement around them, in their ideas among their students and colleagues. Each of them pushed for his ideas – Bloomfield by incisive argument, Sapir by brilliant exposition – though without seeking to pre-empt the field (Harris 1973: 255).

Muito tem sido feito pelos linguistas do MIT (ver capítulo 3, adiante) e pelos

seus ‘historiadores’ (ver capítulo 1, atrás) sobre a questão se sim ou não o jovem Noam Chomsky, quando trabalhava as suas ideias a partir de 1949, que levaram à sua tese de mestrado Morphophonemics of Modern Hebrew (Chomsky 1951), teve acesso a um exemplar de Travaux du Cercle Linguistique de Prague, volume 8 (Praga, 1939), que continha o artigo posteriormente famoso “Menomini 24 Esta última citação foi retirada de The Chomsky Reader (Peck 1987: 8). 25 Aqueles que conheciam bem Harris – como Bruce E. Nevin (nascido em 1945), que foi o seu estudante de 1966 até 1970 – podem sentir que, na seguinte caraterização que Harris deu de Bloomfield e Sapir, ele revela muito de si próprio:

Each [Bloomfield e Sapir, EFKK] were, to the good fortune of those who knew him and I hope of themselves, an extremely decent person of high integrity; each had utter and explicit contempt for the posturings and status in this society as well as for its vast injustice and inequality. They were people not with ambition, least of all with ambition in the terms of this society, but with satisfaction in what he was producing. Those who remember Bloomfield and Sapir know this about them (Harris 1973: 255; cf. Nevin 1992: 63).

Observações sobre as origens da morfofonémica na linguística estruturalista americana 157

Morphophonemics” de Bloomfield, de dez páginas e meia, (que este tinha apresentado como um tributo a Nikolay Sergeyevich Trubetzkoy, que tinha falecido em Viena, em agosto de 1938). Na verdade, o facto de a Biblioteca da Universidade de Pennsylvania ter adquirido cedo um exemplar desta Gedenkschrift,26 ou que Harris (1941b) dois anos mais tarde fez a resenha dos Grundzüge de Trubetzkoy (que tinham aparecido na mesma série, no mesmo ano), pode pelo menos servir como prova circunstancial de que o artigo de Bloomfield estaria, com toda a probabilidade, disponível para qualquer estudante curioso da mesma universidade nos anos 1940.

No entanto, antes de entrar nessa discussão, seja-me permitido citar algumas passagens do artigo de Bloomfield, que não pode deixar de impressionar até mesmo o leitor de hoje, como tendo sido cuidadosa e sucintamente elaborado. Dedicado a ‘Menomini’, uma língua algonquina falada de um número reduzido de pessoas (Bloomfield refere cerca de 1700 falantes maioritariamente bilingues, a residir no estado de Wisconsin), que tinha estudado cuidadosamente ao longo de muitos anos (veja-se Bloomfield 1962), o artigo trata do “[...] internal sandhi or morphophonemics of the language” (Bloomfield 1939: 105; itálicos no original), proporcionando assim um aceno tanto na direção de Trubetzkoy (1929, 1931, 1934) como da gramática tradicional do tipo da de Pāṇini.27 Perto do início do seu artigo, Bloomfield descreve a sua abordagem ao tema nos seguintes termos:

The process of description leads us to set up each morphological element in a theoretical basic form, and then to state the deviations from this basic form which appear when the element is combined with other elements. If one starts with the basic forms and supplies our statements (§§ 10 and following) in the order in which we give them, one will arrive finally at the forms of words as they are actually spoken. Our basic forms are not ancient forms, say of the Proto-Algonquian parent language, and our statements of internal sandhi are not historical but descriptive, and appear in a purely descriptive order (Bloomfield 1939: 105-106; itálicos no original).

Contudo, como se para antecipar as críticas de comentadores posteriores,

Bloomfield (1939: 106) aponta para o facto de que a maioria dessas ‘theoretical basic forms’ e os processos aplicados a elas “[...] approximate the historical development from Proto-Algonquian to present-day Menomini”. O resultado do seu tratamento ‘morfolexical’ da língua é que “the forms now arrived at are phonemic forms of the actual Menomini language. Menomini phonetics, however, allows a great deal of latitude to some of its phonemes and of some overlapping between phonemes” (Bloomfield 1939: 115; itálicos no original). Charles Voegelin, que em 1940 fez a resenha do volume memorial de Trubetzkoy em 26 De acordo com C. Thomas Mason III de Tucson, Arizona (e-mail para o autor de 6 de março de 2000): “UPenn’s Franklin Library owns a copy of TCLP 8; it’s shelved in High Density Storage and carries a Dewey call number, suggesting that the volume has probably been there for the past 60 years”. 27 O facto de Bloomfield ter visto Pāṇini como uma grande influência tem sido demonstrado por Rogers (1987); veja-se também Cardona (1965).

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Language, gastando cerca de 30%28 das mais de seis páginas a discutir “[...] unrestricted description of a sound system [em comparação a outras contribuições, nomeadamente as dos conterrâneos americanos Morris Swadesh e George L. Trager, EFKK]” de Bloomfield, responde à sua própria pergunta retórica sobre as vantagens da abordagem morfofonémica de Bloomfield, como segue:

Bloomfield’s Menomini may be distinguished from Nootka, Tübatulabal, and Potawatomi studies in that it alone is good to the reader: it gives him few theoretical forms and only single rules to remember (Voegelin 1940: 257).29

Dois anos depois do aparecimento desses comentários sobre o artigo de Bloomfield, temos o pequeno artigo programático de Harris na mesma revista, que, como mencionado anteriormente, levou a um debate animado. Em “Morphe-me Alternants in Linguistic Analysis”, Harris carateriza o objetivo do seu trabalho como não fazer mais nada do que

[...] to suggest a technique for determining the morphemes of a language, as rigorous as the model used now for finding its phonemes. The proposed technique differs only in details of arrangement from the methods used by linguists today. However, the small differences suffice to simplify the arrangement of grammars (Harris 1942: 169; itálicos meus: EFKK).

Sem surpresa, talvez – devemos lembrar-nos de que o artigo foi publicado

quatro anos antes do AVC debilitante de Bloomfield, em 1946 – a primeira referência (Harris 1942: 169, nota 1) é para o livro de Bloomfield de 1933,30 mas, na construção da sua técnica nas páginas subsequentes, Harris refere-se ao todo seis vezes de forma explícita ao artigo de 1939 de Bloomfield, a começar pela menção de que “some linguists have called such pairs [de formas alternantes, EFKK] morpholexical alternants of one morpheme” (Harris 1942: 170). A sua declaração “the difference between those two cases [de alternantes em hebraico, EFKK] is seen again in the Menomini e, which is an alternant of the morpheme juncture /-/” (Harris 1942: 175) merece menção especial por causa dos dados citados. Além disso, quando se fala em ‘external sandhi’ e fenómenos semelhan-tes, Harris (1942: 176, notas 18-20) refere-se três vezes a exemplos da análise de Bloomfield, e, finalmente, ao fornecer exemplos para morfemas alternantes em

28 Dentro de um total de 31 contribuições (sem contar um par de artigos póstumos do próprio Trubetzkoy) das quais todas se encontram referidas, algumas delas, especialmente na área da fonologia, são discutidas. 29 Entre as línguas mencionadas por Voegelin, a língua ‘Nootka’ foi descrita detalhadamente por Sapir / Swadesh (1939), ‘Tübatulabal’ por Swadesh / Voegelin (1939) e ‘Potawatomi’ foi objeto da tese de doutoramento de Hockett (1939) sob orientação de Bloomfield. 30 Seguido por outra (Harris 1942: 171, nota 7), para não mencionar uma discussão não referenciada de Bloomfield sobre knife / knives, etc., exemplos (Harris 1942: 173) citados no capítulo 3.1 do presente artigo.

Observações sobre as origens da morfofonémica na linguística estruturalista americana 159

ambientes únicos (Harris 1942: 178, nota 22), Harris cita novamente a partir do artigo ‘Menomini’ de Bloomfield.

Dada a forma de Harris se comportar como um mentor e o entusiasmo de Chomsky para fazer linguística com ele durante finais dos anos 1940 e início dos anos 1950 – para não falar do hábito voraz de leitura de Chomsky, então, como ainda hoje, seria difícil de acreditar que, quando ele estava a escrever a tese para o seu B.A. em 1949, Chomsky não tivesse conhecimento das propostas de Bloomfield, referentes às regras ordenadas e à análise morfofonémica, quer tenha lido na altura, ou não, o livro Language de Bloomfield e o seu artigo ‘Menomini’ (1939). Como ficou sugerido anteriormente, o artigo de Harris de 1942 iniciou uma discussão que inclui a maior parte dos principais intervenientes do debate descritivista sobre fonologia, morfologia e a sua interação.31 Bernard Bloch estabelece o quadro teórico:

To describe the structure of a language as a whole, the linguist must be able to describe also the structure of any single sentence or part of a sentence that occurs in the language. He does this in terms of constructions – essentially in terms of MORPHEMES and their ORDER (Bloch 1947: 399; ênfase no original).

O capítulo 7, intitulado “Morphophonemics” (Bloch 1947: 414-418), discute o tratamento das diferentes formas que ocorrem no mesmo meio, mas que não estão inteiramente em variação livre entre si. O artigo de Hockett, do mesmo ano de Bloch (e publicado primo loco na mesma edição da Language), anuncia que “[...] develops further the morphemic analysis presented by Zellig S. Harris in 1942” (Hockett 1947a: 321). Hockett (1947a: 332, nota 22) não se refere ao artigo de 1939 de Bloomfield, mas, quando ilustra os seus procedimentos, observa: “I choose Fox [outra língua algonquina estudada por Bloomfield, EFKK] rather than Menomini because the examples are a bit easier to cite, the same principles apply”. Eugene A. Nida, ao referir-se tanto a Harris (1942) como a Hockett (1947a), não se refere similarmente ao artigo “Menomini” de Bloomfield,32 mas às páginas do capítulo sobre a morfologia no livro Language de Bloomfield. Curiosamente, numa nota de rodapé em que se alarga numa referência biblio-gráfica de Bloomfield (1933: 217), o autor observa: “William L. Wonderly has proposed in discussion that these French forms [i.e., os morfemas subtrativos que 31 Que os (pós-)bloomfieldianos consideraram esta área de interesse como a mais representativa do seu trabalho pode ser concluído a partir das reimpressões na Readings in Linguistics “edited for the Committee on the Language Program by Martin Joos” (Joos 1957, rosto). Para além do facto de que 28 artigos, de um total de 43, foram originalmente publicados (com poucas exceções em Language) entre 1941 e 1951, a grande maioria foi dedicada às áreas de estrutura linguística, a sua análise e descrição. 32 No entanto, como documentou Encrevé (1997: 105), há outros sítios onde o artigo de Bloomfield (1939) é referido e / ou citado; por exemplo, no artigo de resenha de Harris de Selected Writings de Sapir de 1949 (Harris 1951a: 291, nota 7: 292, nota 8: 293), no capítulo de metodologia do livro Oneida Verb Morphology (1953) de Floyd G. Lounsbury, e no Manual of Phonology (1955), de Hockett, que Chomsky resenhou em 1957 (Chomsky 1957b). Entretanto, o meu foco principal no presente artigo concentrou-se em publicações pré-1949, em que foram discutidas as ideias morfofonológicas de Bloomfield.

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tomam a forma feminina como básica, EFKK] might be most economically handled morphophonologically” (Nida 1948: 441, nota 51; ênfase minha), acrescenta-se uma referência para Trager (1940).

Que a suposta falta de referências explícitas ao artigo de Bloomfield de 1939 não seja realmente uma indicação de negligência pode ser aferida a partir do facto de que, mesmo no seu artigo em Language, intitulado “Peiping Morpho-phonemics”, Hockett (1950b) não faz qualquer menção a ele, mas, por sua vez, refere-se a Harris (1942) e à sua posterior revisão de alguns dos pressupostos de Harris (Hockett 1947a), bem como à base de tratamento do chinês (Hockett 1950b: 63, nota 1). Parece compreensível que, uma vez que os pontos essenciais das propostas de Bloomfield se tinham tornado parte integrante do debate em curso, uma tal menção explícita deixou de ser considerada necessária. Estes linguistas certamente não viram uma mudança de posição de Bloomfield (1933) para Bloomfield (1939), mas justamente viram a sua análise posterior como em plena sintonia com o seu trabalho anterior.

Outros artigos publicados durante os anos 1940, nomeadamente em Language, embora não exclusivamente, poderiam ser referidos, a fim de documentar que, quando Noam Chomsky entrou na área, a linguística era tudo menos do que terreno baldio de teoria (cf., p. ex., Bloch 1941, 1948). O livro Methods de Harris de 1947, no qual há um capítulo inteiro dedicado aos “Morphophonemes” (Harris 1951a: 219-242), apresenta duas referências explícitas ao artigo “Menomini” de Bloom-field (Harris 1951a: 231, nota 29 e pág. 237, nota 42,33 e uma terceira referência num capítulo posterior sobre “Constructions” (Harris 1951a: 325-348), onde o autor discute os ‘zero morphemes’ (Harris 1951a: 336, nota 22, referindo-se a Bloomfield 1939: 108). É difícil acreditar que essas passagens (e referências explícitas) não estavam na versão manuscrita de 1946, cujas provas o próprio Chomsky confirma ter lido (Chomsky, 1975: 25; 1979a: 196, nota 5). Harris (1951a: 231) discute “a slightly different type of regularity [...] in Menomini, where every morpheme ending in a non-syllabic [estrutura?, EFKK] has a member with added /e/ when it occurs before a consonant [...]”, evidência de que cita diretamente de Bloomfield (1939: 109). Mais adiante, aborda a questão de “Morphophonemic Equivalent for Descriptive Order of Alternation”, onde acrescenta em nota de rodapé ao fornecer a referência bibliográfica completa: “Bloomfield calls the necessary order of the statements [...] ‘descriptive order.’ See also in his Language 213” (Harris 1951a: 237, nota 42; veja-se também a nota 39 na página 236). Depois de ter discutido exemplos retirados do artigo de Bloomfield, Harris (1951a: 237) conclui: “The effect of this descriptive order of the statements about alternation can

33 Para citações extensas de Harris (1951a: 231: 237), veja-se Fought (1999b: 315-316), que conclui, depois de ter citado passagens relevantes de Bloomfield (1933, 1939): “Together, then, these excerpts from Harris (1951a) cover the essential elements of Bloomfield’s morphophonemics: dual levels of representation, the need to use knowledge of morphological boundaries, and the principles of conversion from basic to phonemic forms using rules ordered for that purpose”.

Observações sobre as origens da morfofonémica na linguística estruturalista americana 161

be obtained alternatively by an exact statement of the representation of the morphophonemes”.

A seguir, o conceito e a importância de ‘descriptive order’ são tratados de-talhadamente no capítulo de Harris (1951a: 243-261 e na pág. 246 e ss.) sobre “Morpheme Classes”. Provavelmente não é por acaso que apresenta exemplos de ‘descriptive order’ do hebraico moderno (Harris 1951a: 246-248), uma vez que era um semiticista, um falante da língua, e já tinha publicado anteriormente um artigo sucinto sobre “Componential Analysis of a [Modern] Hebrew Paradigm” (1948) em Language, que começa com a afirmação de que: “the linguistic structure of an utterance is presumed to be fully stated by a list of the morphemes which constitute it, and by their order” (Harris 1948: 87). Não é isto que Chomsky estava a trabalhar para o seu B.A. em 1949 e para a sua tese de mestrado em 1951? Mais cedo, Harris (1941a) já tinha publicado um artigo muito detalhado sobre “Linguistic Structure of Hebrew” [i.e., hebraico clássico, EFKK], que afirma ser “[...] an attempt to state the structure of Hebrew (of 600 B.C.) in terms of a formal method, which asks only what forms exist and in what combinations” (Harris 1941a: 143). Mais adiante, Harris (1941a: 153-154) observa que: “the phoneme, or phoneme combination, or absence of a phoneme, which is replaced by other phonemes in the variants of a morpheme-unit may be called a morphophoneme”. Em suma, tanto em termos de dados do hebraico como de ideias sobre a análise morfofonológica, havia uma infinidade de materiais e sugestões disponíveis a partir do trabalho de Harris para montar a plataforma para os esforços linguísticos iniciais de Chomsky.34

3.4 Declarações metodológicas em Chomsky (1951) Para não deixarmos o tertium comparationis fora da presente discussão, pelo

menos algumas passagens das declarações introdutórias da tese de 1951 de Chomsky deveriam ser fornecidas, para oferecermos uma ideia do seu raciocínio. Se assumirmos que Chomsky transformou uma tese de licenciatura numa tese de mestrado, algo que acontece com bastante regularidade, é compreensível que não tenha feito uma referência a ela na bibliografia de The Morphophonemics of Modern Hebrew, se bem que talvez se pudesse esperar uma menção dela em “0. Introduction” (Chomsky 1951: 1-6), tal como é habitual. Em vez disso, o texto revisto de dezembro 1951, que dispensa qualquer tipo de conversa tradicional sobre a origem ou motivo para a tese, aborda o assunto desde o início de uma maneira surpreendentemente autoconfiante:

A grammar of a language must meet two distinct kinds of criteria of adequacy. On the one hand it must correctly describe the ‘structure’ of the language (i.e., it must isolate the linguistic units, and, in particular, must distinguish and characterize just those utterances which are considered ‘grammatical’ or ‘possible’ by the informant), including as a special subclass those of the analyzed corpus. On the other hand it must meet requirements of adequacy

34 Ou deveríamos supor que já o termo ‘morphophonemics’ em si foi uma criação independente de Noam Chomsky em 1949?

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imposed by its special purposes (e.g., pedagogical; as a basis for comparative study, etc.), or, in the case of a linguistic grammar having no such special purposes, requirements of simplicity, economy, compactness, etc. Thus the linguistic analysis of a language L can be described as the process of determining the set of ‘grammatical’ or ‘significant’ sentences of L (i.e., of determining the extension of the predicate ‘grammatical in L’), or, in other words, it is the process of converting an open set of sentences – the linguist’s incomplete and in general expandable corpus – into a closed set – the set of grammatical sentences – and of characterizing this latter set in some interesting way. Accordingly we might distinguish and consider separately two aspects of the linguistic analysis of a language, a process of ‘discovery’ consisting of the application of the mixture of formal and experimental procedures constituting linguistic method, and a process of ‘description’ consisting of the construction of a grammar describing the sentences [p. 2] which we know from step one to be grammatical, and framed in accordance with the criteria related to its special purposes (Chomsky 1951: 1-2).35

Por outras palavras, Chomsky vai imediatamente medias in res, por assim

dizer, e o seu raciocínio torna-se cada vez mais técnico. Muito é feito do que ele chama ‘certain criteria of simplicity’ (Chomsky 1951: 4), e “[...] any relatively precise notion of simplicity [...]” (Chomsky 1951: 5),36 para ser mantido “[...] from reducing to an absurdity, the notations must be fixed in advance [...]” (Chomsky 1951: 5). Ao referir-se ao seu artigo inédito (Chomsky 1951: 9), vem a definir “[...] the criteria of simplicity governing the ordering of statements [...] as follows: that the shorter grammar is the simpler, and that among equally short grammars, the simplest is that which the average length of derivations of sentences is least”.

Tendo lido, pelo menos, parte do que Harris, Hockett e outros tinham escrito durante os anos 1940 e inícios dos anos 1950, as declarações de Chomsky não parecem assim tão inovadoras e estão certamente em linha com o discurso do tempo e do espaço. Ainda assim, pode detetar-se uma vantagem para a argumentação, indicativa de alguém que se esforça para desenvolver uma voz própria. O argumento a favor da ‘simplicity’ (que parece ser um precursor do termo ‘idealization’ (cf. Chomsky 1979a: 55-58 passim), de que é feito uso desde o início parece ser feito de forma a diferenciar-se dos seus antecessores – mas não é esse conceito o mesmo que falar de “[...] the saving in work [...]” quando ignoramos “[...] the very small classes which are included in some general class [...]” na análise morfológica (Harris 1951a: 251), para citar apenas uma breve observação a partir de Methods?37 35 A nota de rodapé 1 refere-se a Goodman (1943); a nota de rodapé 2 (ambas em Chomsky 1951: 67) especifica: “Though not necessarily finite. Thus the resulting grammar will in general contain a recursive specification of a denumerable set of sentences”. 36 Cf. Harris, quando se fala de ‘morphemic long components’: “the criteria for selecting a basic alternant are not meaning or tradition, but descriptive order, i.e. resultant simplicity of description in deriving the other forms from the base” (Harris 1951a: 308, nota 14; itálicos meus: EFKK). 37 É claro que termos como ‘simplicity’, ‘economy’ e semelhantes apareceram bastante frequentemente nos textos dos descritivistas americanos, bem antes de Chomsky fazer uso deles; veja-se algumas das citações no início deste artigo, nomeadamente de Harris (1942), artigo no qual ele comenta Bloomfield (1939), mas também a resenha de McQuown (1952) de Harris (1951a).

Observações sobre as origens da morfofonémica na linguística estruturalista americana 163

O resto de Morphophonemics of Modern Hebrew de Chomsky é uma verda-deira obra-prima, repleta de um enredado mecanismo técnico, para configurar as diversas regras fonológicas, morfológicas e, parcialmente, sintáticas, necessárias para produzir um corpo relativamente pequeno de material do hebraico moderno. Ao comentar sobre o que estava a tentar fazer na sua tese de mestrado, Chomsky 1979a: 112) admitiu vinte e cinco anos mais tarde:

Reading back into this work the explicit concerns of a later period, one might say, then, that the goal was to show exactly how this grammar with its empirical consequences would be constructed by someone initially equipped with the framework for rules and the definition of simplicity [...], and given a sufficient sample of the data. Actually, this was done in far greater detail and scale than anything I’ve attempted since, and was far too ambitious, I suppose.

Pode imaginar-se que a filosofia geral de ciência de Harris – e o que Hockett,

em 1968, chamou, talvez não com toda a justiça, mas ainda assim com respeito a uma tendência por parte de Harris, de ‘theoretical nihilism’ – não poderia satisfazer um jovem estudante que mais provavelmente estaria à procura de certezas, não de uma variedade de soluções possíveis. Ainda assim, é pelo menos óbvio para mim que Chomsky recebeu muito mais do que alimento para o pensamento do seu mentor do que tem sido reconhecido a Harris. No entanto, como veremos a partir do que se segue, esta influência tem sido sucessivamente minimizada por Noam Chomsky e pelo seu colaborador próximo, Morris Halle.

4 Uma contra-história vinda do MIT O que pode ter parecido como um desenvolvimento bastante gradual, em

termos científicos, das teorias linguísticas na linguística americana na parte anterior do presente artigo não era do interesse dos estrategistas do Departamento de Línguas Modernas do MIT, que rapidamente se tornou o Departamento de Linguística a tempo do Ninth International Congress of Linguists, realizado em Cambridge, Massachusetts, em agosto de 1962, no qual Chomsky teve a sua primeira exposição internacional e, pode acrescentar-se, o seu grande triunfo. Os alemães têm uma expressão que caraterizaria a sua atitude na altura: Es kann nicht sein, was nicht sein darf (‘Não pode ser o que não deve ser’). O que quero dizer com isto é que no momento em que o Ninth Congress estava no horizonte, que foi habilmente preparado e eficazmente executado por Halle,38 a estratégia foi a de vender as ideias de Chomsky como tendo pouco a ver com a linguística dos seus professores e antecessores americanos, mas como sendo o resultado de uma abor-dagem radicalmente diferente, que supostamente remete para as ideias encontradas

38 Para obter detalhes sobre os eventos antes e depois do Congresso, e o que aconteceu com Joshua Whatmough (1897-1964), de Harvard, que “[...] was the chief figure in securing the invitation for the 9th International Congress to meet in the United States, and who was instrumental in obtaining two substantial grants for support of that congress” (como relata Eric P. Hamp 1966: 622), cf. Koerner (1989b: 116-117).

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na linguística ‘cartesiana’ dos gramáticos de Port-Royal do século XVII e dos tratados do início do século XIX de Wilhelm von Humboldt (1767-1835). A fim de fazer valer este raciocínio, não só as conexões deviam ser atraídas para o trabalho destes pensadores anteriores ao século XX, mas também as ligações com o trabalho dos antecessores imediatos de Chomsky tiveram que ser minimizadas, senão mesmo apagado. Como sabemos, essa estratégia foi bastante bem sucedida e a história da natureza não cumulativa, verdadeiramente ‘revolucionária’, da linguística “gerativa” foi reproduzida nos manuais e nos relatos históricos, na medida em que esse plano se tornou aceite como facto histórico por muitos seguidores. O presente artigo trata somente do primeiro aspeto da estratégia, que, como Sydney M. Lamb (nascido em 1929) descreveu, levou à seguinte situação:

Older-generation linguists, upon encountering some of these pages [in Chomsky 1964, 1965], will stare with incredulity and no little irritation at the distortions and misunderstandings of their ideas and practices and those of their colleagues; while students who never knew what neo-Bloomfiedian linguistics was really like, [...], are led to the false impression that all linguists before Chomsky (except, of course, Humboldt, Sapir, and a few other candidates for canonization) were hopelessly misguided bumblers, from whose inept clutches Chomsky heroically rescued the field of linguistics (Lamb 1967: 414).

Todos nós sabemos pela história que os revolucionários direcionam sempre as

gerações mais jovens, como são também eles que definem imediatamente a agenda, uma vez que os mais velhos são postos de lado. Como no sistema eleitoral norte-americano, é o vencedor quem leva tudo.

4.1 Afirmações de Morris Halle sobre a ‘morfofonologia’ de Bloomfield O papel importante de Halle como político e estrategista académico não pode

ser subestimado. Na verdade, acho duvidoso que o sucesso de Chomsky nos anos de 1960 pudesse ter sido tão grande sem a ajuda do seu colega, claramente comprometido desde por volta de 1953 ou, pelo menos, desde 1955, ano em que tanto ele como Chomsky concluíram os seus doutoramentos e Chomsky recebeu a sua primeira nomeação no Laboratório de Eletrónica do MIT. No entanto, o presente artigo trata apenas de um ingrediente particular de toda a estratégia, ou seja, o que Barsky (1997: 55), a seguir a Harold Bloom, chamou de ‘the anxiety of influence’, que envolve pelo menos a minimização do impacto que os seus professores imediatos poderiam ter tido, isto é, Roman Jakobson (1896-1982), no caso de Halle, e Harris, no caso de Chomsky, por vezes em face da impressionante evidência do contrário. Encrevé (1997: 111-114 passim) dedica muito espaço à maneira como o artigo “Russian Conjugation” (1948) de Jakobson, foi tratado por Halle e também por Chomsky, ou seja, como foi ignorado, embora pudesse ser demonstrado que tinha tido influência sobre ambos os linguistas. Mas Jakobson representa no seu todo a tradição estruturalista europeia e não a tradição ‘descritivista’ norte-americana, que é o foco do presente artigo.

Observações sobre as origens da morfofonémica na linguística estruturalista americana 165

Pelo menos para os leigos, no tempo em que apareceu Sound Pattern of Russian (1959) de Halle, os leitores do prefácio do autor não poderiam deixar de perceber que tinha efetivamente passado a engatar a sua carruagem da fonologia ao comboio sintático de Chomsky (ver Halle 1962), e era óbvio que Halle se tinha tornado, nessa altura, um promotor determinado da causa de Chomsky. Que ele deveria desamarrar a sua carruagem trinta anos depois, não foi feito para prejudicar o seu relacionamento com Chomsky, que não tinha trabalhado em fonologia desde o seu trabalho conjunto The Sound Pattern of English (1968), e em 1988 estava rumar na direção de abandonar todos os pensamentos de regras ordenadas, tão caras a Halle. Que isso seja assim fica evidente pelo artigo conjunto de Halle com Sylvain Bromberger (nascido em 1924), outro membro sénior do Departamento de Linguística e Filosofia de Chomsky, que foi apresentado pela primeira vez no simpósio The Chomskyan Turn, realizado em Jerusalém, em abril de 1988, e para o qual os autores anexaram uma “Note on Recent History” (Bromberger / Halle 1989: 65-69), o que confirma o compromisso contínuo de Halle com Chomsky. Nele, os autores dão ao leitor o benefício de uma longa citação do artigo “Menomini Morphophonemics” de Bloomfield (1939: 105-106; cf. capítulo 3.1 atrás, para o texto em causa), mas apenas para concluir que Bloomfield erroneamente mantinha uma crença que foi normalmente compartilhada por linguistas dos anos 1930, a saber, “[...] that principles operative in languages conceived as synchronic systems functioning autonomously were totally different from the principles operative in the historical evolution of languages” (Bromberger / 1989: 66). Além do facto de que Bloomfield – mesmo na citação fornecida – não usa a palavra ‘totalmente’, mas admite que as regras sincrónicas que ele tinha estabelecido para o atual Menomini “[...] approximate the historical development from Proto-Algonquian [...]”, os historiadores da linguagem concordaram durante muito tempo em que a mudança linguística envolve uma mudança de regras; eles, porém, não fundamentaram que essas regras são recuperáveis na análise sincrónica (cf. Hoenigswald 1946, para uma declaração precoce sobre a mudança diacrónica).

Em seguida, Bromberger / Halle (1989: 66) fornecem uma citação de Language de Bloomfield, onde este afirmou que “[...] the descriptive order of grammatical features is a fiction [...]” (Bloomfield 1933: 213), com a intenção de provar que, quando escreveu o seu artigo,

[...] Bloomfield had changed positions. The fact that he had done so, how-ever, was totally ignored by the American linguistic community in the 1940s and 1950s (Bromberger / Halle 1989: 66).

Eles citam o facto de que Hockett não se tenha referido a ele nem no artigo de 1948 numa edição de Language em honra de Bloomfield, nem no seu muito citado artigo “Two Models of Grammatical Description”, que contém uma passagem (Hockett 1954: 211), “[...] which echoes the passage from Bloomfield (1933) almost verbatim [...]” (Bromberger / Halle 1989: 66) – mas não o artigo de 1939!

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Semelhantemente, os autores vêm no facto de o artigo de Bloomfield (1939) não ser incluído na coletânea de Joos (1957) outra prova para essa negligência, acrescentando em nota de rodapé (Bromberger / Halle 1989: 68, nota 16) que “[...] Bloomfield’s paper was treated as a curious experiment – not to say, indiscretion – that did not merit extensive discussion”. De facto, Bromberger / Halle (1989: 67) até vão tão longe que afirmam que “[...] the article was so unknown in America that Chomsky tells us39 that he had not read ‘Menomini Morphophonemics’ until his attention was drawn to it by Halle in the late 1950s”.

Nos parágrafos seguintes, os autores expandem a sua alegação de que esta “[...] alternative approach to phonological description [...] tested successfully by Bloomfield was hardly known at the time” (Bromberger / Halle 1989: 67) e que, como consequência, Chomsky teve que desenvolver o seu desafio a ‘the prevailing wisdom’ na ignorância deste trabalho anterior. Embora Chomsky não faça referência na sua tese de 1951 ao facto de que “[...] some of the synchronic rules of Modern Hebrew are identical with well-known sound changes [...]”, Bromberger / Halle (1989: 67) corajosamente afirmam que ele “[...] was of course fully aware of these parallels between synchronic and diachronic rules”, e acrescentam

Unlike most linguists of that period he was not concerned about confusing synchronic and diachronic descriptions and viewed parallels between the two types of rules as evidence in support of his proposed analysis (Chomsky (personal communication)) (Bromberger / Halle 1989: 67-68).

Bem, se era esse o pensamento de Chomsky na época, este poderia ser expli-cado pela sua falta de formação em linguística histórica; certamente não é um argu-mento suficientemente forte. Os autores passam a resumir a sua história ao afirmar:

In 1951 Chomsky thus was independently led to the same conclusions that Bloomfield had reached twelve years earlier.40 It is a matter of puzzlement that none of Chomsky’s teachers at the University of Pennsylvania drew his attention to Bloomfield’s paper and suggested that he take account of it at least by including it in his bibliography. It is idle at this distance in time to speculate about the reasons for this oversight. In any event, as noted above, Chomsky learned of the existence of Bloomfield’s paper only in the late 1950s, many years after submitting his Master’s thesis (Bromberger / Halle 1989:68).

Encrevé (1997: 105), ao referir-se a estas afirmações, está bastante

surpreendido, para dizer o mínimo, já que, segundo ele, Chomsky e Halle se

39 Observe-se que a alegação vem do próprio Chomsky e não parece basear-se na investigação independente de Bromberger / Halle (1989). 40 Observe-se que não é feita qualquer referência à tese B.A. / tese de licenciatura / artigo / ensaio de 1949; as referências à sua própria existência parecem todas ter origem unicamente nas próprias afirmações de Chomsky. Não levaram a nada os vários esforços para obter informações junto da administração da Universidade de Pennsylvania sobre se, naquela altura, existiu qualquer requisito formal ou se a apresentação de tal ensaio ou tese tinha sido registada ou se foi mantido um exemplar do documento.

Observações sobre as origens da morfofonémica na linguística estruturalista americana 167

tinham tornado amigos íntimos desde 1953, pelo que seria de esperar que Halle na altura tivesse lido a tese The Logical Structure of Linguistic Theory (1955-1956), de Chomsky, considerando que nela podem ser encontradas referências explícitas a Bloomfield (1939). Eu próprio estou inclinado a acreditar que Halle pode não ter lido o manuscrito bastante volumoso e que terá, como vimos a partir das citações atrás, simplesmente confiado na palavra de Chomsky sobre o assunto. Seja como for, é seguro assumir que Chomsky tenha visto o artigo em questão, pelo menos em inícios dos anos 1950, se não antes.41

4.2 As afirmações do próprio Chomsky relativas a Bloomfield (1939) Enquanto alguns podem encontrar os argumentos de Halle em pontos

diferentes na evolução da linguística gerativa, nomeadamente na fonologia gerativa, suficientemente transparentes e ‘politicamente’ motivados, as observações de Chomsky em relação ao desenvolvimento das suas ideias linguísticas parecem ser mais complexas, se não difusas, e por vezes contraditórias, se seguirmos a cronologia real do seu trabalho.

Por exemplo, numa carta para Robert Barsky, datada de 31 de março de 1995, Chomsky escreve:

Hoenigswald and Harris were very close to Bloomfield, and certainly knew his work. But neither of them mentioned to their only [?!, EFKK] undergraduate student that he was rediscovering, more or less, what Bloomfield had just done eight years before. It’s not surprising in Harris’s case, because he didn’t know what I was doing. But Hoenigswald read it [i.e., o que viria a ser Chomsky (1951), EFKK], and must have recognized the similarities, back to classical India. I learned nothing of this [i.e. Bloomfield (1939), EFKK] until the 1960s, when Morris Halle found out about Bloomfield’s work (Barsky 1997: 55).

Nas palavras de Barsky (1997: 55) o artigo “Menomini” de Bloomfield “[...] is

an extraordinary text, completely inconsistent with Bloomfield’s other writings about language and how research should be done. This, Chomsky believes, was one of the reasons Bloomfield decided to publish it in Europe”.42 Pessoas familiarizadas com o trabalho publicado pelos linguistas norte-americanos 1940 e 1950 (veja-se capítulos 3.2 e 4 atrás para ilustração) vão achar estas reivindicações difíceis de engolir. Que Chomsky ‘descobriu’ o artigo de Bloomfield (1939) apenas na década de 1960 é claramente contradito pelo próprio Chomsky. Na versão impressa de The

41 Numa troca de e-mails com o presente autor, Thomas G. Bever, que terminou a sua tese de doutoramento em 1967, mas que tinha trabalhado com o artigo de Bloomfield (1939) vários anos antes (cf. Bever 1963) escreveu (ortografia normalizada): “My [...] cher maître would be Morris not Noam, but Noam claims that he was directed to B[loomfield]’s Menomini morphophonemics paper by Harris, could have been very early fifties at the latest. For a long time I had a xerox of Noam’s own copy, but it was not dated” (e-mail de 1de dezembro de 1999). 42 Há muitas afirmações no livro de Barsky que estão baseadas no que Chomsky lhe tinha dito, e não na investigação do próprio autor.

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Logical Structure of Linguistic Theory – e devo acrescentar que todas as referências ao trabalho de Hjelmslev, por exemplo, que se encontram na versão de 1955-1956, foram expurgadas da versão publicada em 1975 (cf. Koerner 1995c: 98-99, para mais detalhes) – ainda há três referências explícitas a esse artigo (incluindo a referência na bibliografia: Chomsky 1975: 571). A referência mais interessante pode ser encontrada no Capítulo IV, “Simplicity and the Form of Grammars” (Chomsky 1975: 113-128), onde podemos ler numa longa nota de rodapé:

Note that phonemes can often be “embedded” in the morphophonemic level as primes of this level. English, in fact, is a poor source for interesting morphological examples, and the simplification effected by morphophonemic analysis in this case is rather small. But in many languages where such morphophonemes have wide distribution and are complexly interrelated, such analysis can lead to very great economy. See Bloomfield, “Menomini morphophonemics”, my Morphophonemics of Modern Hebrew, and many other linguistic studies (Chomsky 1975: 115 nota 5).

Tanto a ordem das referências como o reconhecimento de que ‘many other

linguistic studies’ terem tratado este assunto até pelo menos 1954 são importantes aqui. Na verdade, convém lembrar que Chomsky tinha estado a trabalhar sobre estas questões, eventualmente combinadas em The Logical Structure of Linguistic Theory, pelo menos desde a sua tese de mestrado,43 por isso poderíamos esperar que (outros) escritos anteriores a 1951 (para além do de Bloomfield) fossem incluídos aqui.

A outra referência – não menos importante, uma vez que sugere, entre outros, que ao escrever Methods, Harris fez uso delas – é para “several methods of presenting grammars of the first type [...; i.e., uma forma ‘operacional’, EFKK] are discussed by Harris, Methods in Structural Linguistics, Section 20.3;44 cf. Bloomfield, “Menomini morphophonemics”, Jakobson, “Russian conjugation”, as examples of this general form” (Chomsky 1975: 78, nota 2). Embora não haja nenhuma referência explícita ao artigo de Jakobson (1948) em Methods, Harris

43 No manuscrito original de The Logical Structure of Linguistic Theory, Chomsky incluiu tudo o que tinha escrito naquela época, com a exclusão das suas resenhas e artigos publicados em inícios dos 1950; por exemplo, a sua tese de mestrado foi adicionada como um apêndice ao capítulo VI, “Lower Levels of Grammatical Structure” (cf. Chomsky 1975: 169, onde um breve resumo é oferecido em seu lugar). A sua tese de doutoramento, submetida em 1955 na Universidade de Pennsylvania, formou o capítulo VIII (e o capítulo IX na publicação de 1975). Sem dúvida, na sua forma de 1955-1956, The Logical Structure of Linguistic Theory era impublicável (para obter detalhes sobre o destino das três versões da obra de mais de 750 páginas cada, veja-se Murray, 1999). Em 1973, o próprio Chomsky (1975: 1) admite que o “[...] manuscript was never actually prepared for publication”. Veja-se também Koerner / Tajima (1986: 3-5: 56) para alguns detalhes sobre as diferentes versões e, para uma análise mais aprofundada, Ryckman (1986, capítulo 3), nomeadamente a nota 1, que se estende por quatro páginas (Ryckman 1986: 143-147). 44 Isso está em Chomsky (1975: 372-373) (“Description of the Language Structure”), donde citei passagens no capítulo 3.2 (atrás).

Observações sobre as origens da morfofonémica na linguística estruturalista americana 169

(1951a: 334, nota 19) refere-se a artigos anteriores dele;45 além disso, no seu prefácio, Harris (1951a: V) reconhece ‘important criticisms’ de Jakobson e de dois linguistas americanos,46 e bem pode ter visto em forma manuscrito o artigo de Jakobson, que foi inspirado no trabalho de Bloomfield.

Como vimos a partir do artigo de Chomsky (1962a), apresentado no Ninth International Congress of Linguists, do qual uma pré-impressão esteve disponível com muitos meses de antecedência (cf. Koerner / Tajima 1986: 14, 18-19 para detalhes), ficava a impressão que ele teria estado bem consciente do artigo “Menomini” de Bloomfield por algum tempo (cf. capítulo 3.3 atrás). No entanto, no início dos anos 1970, por razões difíceis de entender, Chomsky mudou o seu modo de discutir o artigo. Em 1973, quando escreveu a sua Introdução a The Logical Structure of Linguistic Theory, Chomsky (1975: 47 nota 16) afirmou que a sua tese de mestrado de 1951 tinha sido escrita “[...] in ignorance of Bloomfield’s (1939) study” e, nas suas conversas de janeiro 1976 com uma jovem seguidora francesa, Mitsou Ronat (1946-1984), ele reiterou a sua alegação da seguinte forma, em resposta à pergunta “When did you think for the first time of proposing an explanatory theory in linguistics?”:

That was what interested me about linguistics in the first place. As an undergraduate at the University of Pennsylvania in the late 1940s I did an undergraduate thesis called “Morphophonemics of Modern Hebrew”, later expanded to a master’s thesis with the same title in 1951. That work, [...], was a “generative grammar” in the contemporary sense; its primary focus was what is now called “generative phonology”, but there was also a rudimentary syntax.47 I suppose one might say that it was the first “generative grammar” in the contemporary sense of the term. Of course there were classical precedents: Panini’s grammar of Sanskrit is the most famous and important case, and at the level of morphology and phonology, there is Bloomfield’s Menomini Morphophonology, published a few years earlier, though I did not know about it at the time (Chomsky 1979b: 111-112).48

45 Numa carta pessoal para Newmeyer (1996: 14), de 17 de novembro de 1988, Chomsky foi tão longe como afirmar que “[...] in an American linguistics programme such as that at Penn, no one ever read a word of Jakobson’s, on any topic”. 46 Trata-se de um linguista bastante desconhecido William D. Preston (falecido em 1954), que publicou alguns comentários e pequenos artigos entre 1946 e 1949 (p ex., “Problems in Text Attestation in Ethnography and Linguistics”; Preston 1946) e Fred Lukoff (1920-2000), que era conhecido pelo seu trabalho sobre o coreano. 47 Alguns anos antes, Chomsky (1975: 26) tinha referido que “the syntactic component was rudimentary. It consisted of phrase structure rules modeled on Harris’s morpheme-to-utterance formulas (cf. Methods, chapter 16)”, o que parece sugerir que teve acesso à versão manuscrita nessa altura, embora também poderíamos referir Harris (1946), onde esta abordagem foi trabalhada em detalhe. Curiosamente, na Bibliography para Chomsky (1975), não há quaisquer referências a publicações de Harris sejam anteriores a 1951 (cf. Chomsky 1975: 572). 48 Curiosamente, a referência ao artigo de Bloomfield (1939) foi acrescentada na versão em inglês.

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Há provavelmente outros lugares onde Chomsky disse o mesmo ou fez afirmações bastante similares. Duas mais recentes, publicadas em 1996 e 1997, respetivamente, podem ser suficientes. Numa carta de 17 de novembro de 1988 a Frederick Newmeyer, Chomsky diz quase a mesma história e discorre sobre “o estado de espírito dos tempos” desta forma:

It is rather astonishing that no one at Penn suggested to me that I look at the Bloomfield article. It is not surprising that Harris didn’t, given his theoretical outlook. But more surprising that Henry Hoenigswald49 never mentioned it. He must have known about Bloomfield’s article as well as the Paninian tradition on which it was based. The fact that none of this was ever brought to my attention in a department consisting of Bloomfield’s students and close friends is quite remarkable, [...] (Newmeyer 1996b: 14).

Na década de 1990, esta visão do seu próprio passado no que diz respeito ao trabalho de Bloomfield e o fracasso dos seus professores para chamar a sua atenção para o artigo, parece ter-se tornado a posição fixa de Chomsky. Já citámos atrás, a partir da sua carta de 1995 ao seu biógrafo Barsky, e vou citar apenas uma outra passagem em que o essencial é repetido – dentro do contexto de uma palestra pública sobre a história da linguística, curiosamente trinta anos após Cartesian Linguistics. Nessa ocasião, a linha da história foi contada assim:

In 1939, Bloomfield wrote a generative grammar of Menomini, an American Indian language, very much in the style of Panini. That work, even though he was the leading American linguist, was not known in the United States, except to his immediate students. In fact, when he died a few years later and there was a comprehensive study of his work on Algonkian languages, done by one of his main students, this was omitted.50 It wasn’t even listed. He actually published that article in the Travaux du Cercle Linguistique de Prague, in Czechoslovakia (Bloomfield 1939).

I didn’t know Bloomfield personally. But in retrospect what I would have liked to ask him is whether he published it in Prague because it was not the kind of work hard-headed linguists did in the United States. If you look at the ideas, you will see that his schizophrenia is rather deepág. In his [...] major text of modern American linguistics [i.e., Bloomfield 1933], he is very critical of the concept of hidden structures, ordered rules, and that sort of thing: “this is old fashionable mentalism, we want to get rid of this crazy ideological baggage”.51 On the other hand, if you look at his grammar of

49 Noutra parte do livro, Hoenigswald foi apontado como o único linguista, além de Bernard Bloch, “[...] the well-known Yale phonologist [...]”, que tinha demonstrado interesse pela tese de Chomsky de 1951 (Chomsky 1979b: 130). 50 A nota refere-se ao artigo de Hockett (1948a) e à sua posterior admissão, quando o reimprimiu, que o tinha (inadvertidamente, disse ele) negligenciado na época (cf. Bloomfield 1970: 495). 51 Observe-se que esta frase não é uma citação de uma fonte existente, mas um exemplo típico da descrição que Chomsky e os seus seguidores divulgaram regularmente durante a década de 1960 até que a próxima geração de linguistas a tomou como verdade. Toda a campanha contra os bloomfieldianos na altura estava cheia dessas meias verdades, senão falsidades, sobre a natureza ‘taxonómica’, estúpida, ateorética, indutiva, positivista, etc. da sua abordagem da linguagem e análise

Observações sobre as origens da morfofonémica na linguística estruturalista americana 171

Menomini, his generative grammar in the Paninian tradition, it is full of hidden structures and ordered rules. [...]

Even more striking was that no one pointed out to me, a young undergraduate doing some work, that just a few years earlier, the leading figure of American Linguistics had done something very similar, on another language. I found out about it almost twenty years later, when I had become interested in History of Linguistics (Chomsky 1997: 108).

Ao ler este relato, não se sabe ao certo o que fazer com ele, especialmente se

já se leu pelo menos os poucos pedaços de Bloomfield que realmente importavam, como as passagens citadas no início do presente artigo (capítulo 3.1). Paul Postal (nascido em 1936), que nos anos 1960 trabalhou bem de perto com Chomsky, adotou posteriormente uma visão bastante crítica desse ‘princípio’ de como construir fortes argumentos sem fornecer as provas. Este sugere ‘simply assert’ e com a maior coragem possível, de modo que poucos se atrevam a questionar a afirmação. A título de ilustração, Postal (1988: 133) cita Chomsky, ao dizer:

Suppose that counter evidence is discovered – as we should expect and as we should in fact hope, since precisely this eventually will offer the possibility of a deeper understanding of the principles involved (Chomsky 1982b: 76).

Chomsky está, naturalmente, a referir-se a questões de argumentação teórica nesta citação, mas pode perguntar-se se a mesma abordagem também não se aplica à maneira como vê o seu próprio desenvolvimento intelectual.

4.3 Algumas conclusões preliminares Ao ler as declarações de Chomsky sobre o desenvolvimento da linguística

gerativa – e também a propagação por Halle de alguns desses pontos de vista – pode chegar-se à conclusão de que eles serviram em muito a mesma finalidade, pelo menos superficialmente. Porquê algumas das afirmações – contraditórias na melhor das hipóteses – face às provas que espero ter fornecido no presente artigo, chegaram a ser feitas quando foram feitas, não pode ser tarefa do historiógrafo. Idealmente, ele quer ser visto como tendo meramente deixado os factos (na medida em que eles podem ser estabelecidos) falar por si próprios. As provas parecem sugerir que, no caso de Halle, estas afirmações foram feitas em apoio ao seu amigo Noam Chomsky e, é claro, como parte da ‘eclipsing stance’ de longa data (Voegelin / Voegelin 1963) do ‘projeto chomskiano’, que Chomsky tinha iniciado em meados dos anos 1950. Que muitas dessas afirmações foram feitas muitos anos após a ‘revolução’ ter acontecido – na maioria dos casos a partir dos meados dos anos 1970 em diante – deve ser motivo de perplexidade para o historiador, uma vez que elas não parecem servir qualquer propósito político.

No caso de Chomsky, os historiadores da linguística norte-americana maioritariamente parecem ter a visão de que, quando se trata da representação do linguística, e mesmo nos anos 1990 os manuais da linguística ‘moderna’ ainda continham muitas dessas distorções. Para saber como isso é feito em manuais pró-gerativistas, cf. Lawson (2001: 8-14).

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seu passado linguístico, Chomsky foi menos do que sincero. A maioria dos semanticistas gerativos entrevistados por R. A. Harris (1993b) expressa o sentimento de que a auto-história de Chomsky foi desonesta e manipuladora, e em 1998 ele manifestou-se e afirmou o mesmo. Huck / Goldsmith (1995), na sua análise em busca do confronto entre os semanticistas gerativos e os semanticistas interpretativos, liderados por Chomsky durante finais dos anos 1960 e inícios dos anos 1970 (que foi protegido por R. A. Harris em 1993a, mas talvez com um rigor não comparável), tiveram cuidado para não fazer um julgamento semelhante, mesmo que alguns dos seus achados possam ter sugerido isso.52 Tomando o caminho principal,53 eles só foram tão longe como dizerem que a afirmação de Chomsky e dos seus associados de que a semântica gerativa foi falsificada era “[...] essentially ideological in character and scientifically unjustifiable” (Huck / Goldsmith 1995: 93). Stephen Murray, cujo bem documentado artigo de 1980, “Gatekeepers and the ‘Chomskian Revolution”’, perturbou tanto os historiadores da marcha da vitória da linguística gerativa, como Newmeyer, fez uma investigação mais séria nesta área de interesse do que qualquer outra pessoa (por exemplo, Murray 1994, especialmente os capítulos 8 e 9; Murray 1999) e caraterizou Chomsky como sendo ‘delusional’ (Murray 1994: 246). No entanto, John E. Joseph (1999a: 421-422), familiarizado com as opiniões defendidas pelos estudiosos anteriores, afirma “I am not convinced. My own dealings with Chomsky have strongly suggested that his belief in this view of his history is genuine and absolute”, e acrescenta “to affirm the sincerity of Chomsky’s interpretation of his own past is by no means to say that I agree with it”. Acho que é seguro concordarmos com a seguinte conclusão tirada por John Fought, que fez uma análise cuidadosa da matéria discutida no presente artigo:

[...] I believe that the similarities between the strategy and techniques of Bloomfield’s Menomini Morphophonemics and the architecture of early Chomskyan generative phonology are most plausibly explained by Chomsky’s prior acquaintance with the Bloomfield paper, either directly or through summaries in Harris (1951a). I regard Chomsky’s denial of any such influence by Bloomfield as another example of his solipsism, though perhaps a less glaring one than his failure even to mention Harris in this connection54 (Fought 1999b: 316).

52 Incluindo a sua observação de que muitos ingredientes do argumento da semântica gerativa, que tinham sido atacados e demitidos por Chomsky, posteriormente encontraram o caminho para o seu próprio argumento. Compare-se, apenas como exemplo, como se sentiu o lado perdedor, com a resposta de Paul Postal à pergunta se tinha havido ‘an intellectual battle or a social battle [com Chomsky, EFKK] or both?’: “Mostly a propaganda battle” (Huck / Goldsmith 1995: 137). 53 Afinal, o seu livro foi dedicado a Chomsky, Halle, e muitos outros estudiosos. 54 No mais recente período da linguística de Chomsky, um catálogo de casos em que tanto as alegações de Chomsky como de Halle [e do seu coautor] colidem com factos bem documentados em Pullum (1996: 139-144 passim). De facto, Chomsky é acusado de ser ‘disingenuous’ (Pullum 1996: 142) e, ao comentar sobre a contribuição conjunta de Halle e de Alec Marantz (PhD, MIT, 1981),

Observações sobre as origens da morfofonémica na linguística estruturalista americana 173

Seja como for, parece-me que Chomsky está, pelo menos, a fazer o que a maioria de nós faria, e na maior parte das vezes não inconscientemente, ou seja, a reinterpretar o nosso próprio passado à medida que envelhecemos, enquanto ao mesmo tempo a nossa memória desse passado tem-se tornado muito menos confiável do que podemos acreditar que ela seja. Ao ler os relatos de Chomsky sobre o seu próprio desenvolvimento intelectual – que é sempre dado como uma declaração de facto – fica-se com a impressão de que ele realmente acredita que o que está a dizer é verdade no momento em que o está a dizer (também parece estar demasiadamente ocupado para verificar o que disse sobre o mesmo assunto em ocasiões anteriores).

Para o, admitidamente, tremendo sucesso da história do ‘chomskyan paradigm’, quando a história do século XX está a ser escrita, os relatos do próprio Chomsky sobre o seu desenvolvimento provavelmente não contam muito. O historiógrafo vai contar com o que foi realmente escrito pelos diversos participantes do empreendimento, e não com a forma como as discussões são lembradas e muitas vezes mal recordadas pela figura central na história. Não pode haver dúvidas de que qualquer que seja a formação que Chomsky recebeu e quanta atenção os seus professores deram ou não deram aos seus primeiros trabalhos, temos de admitir que, com base no que ele aprendeu (em casa, na faculdade e com os outros, mais velhos ou colegas), Chomsky – em grande parte sozinho – desenvolveu um programa de investigação que muitos homens e mulheres jovens achavam atraente, especialmente durante os anos 1960 e 1970. Que este programa acabou por ser verdadeiramente estruturalista na conceção – mais como o epítome do que os seus mentores não conseguiram realizar55 – e muito bloomfieldiano em perspetiva, pode ser visto como a ironia da sua carreira e mais frequentemente do que não uma ocorrência regular na história como na vida humana: depois de todos esses esforços da nossa adolescência e do início da idade adulta para sermos diferentes dos nossos pais, acabamos por ser muito semelhantes a eles.56

Pullum (1996: 144) observa: “Halle and Marantz argue not like scientists interested in theory improvement but like crusaders defending a faith against a minor heresy”. 55 Encrevé (1997: 108) argumentou que “le ‘génie’ du jeune Chomsky, entre 1947 et 1951, a été de la [i.e., a ideia das regras ordenadas, EFKK] reprendre, à sa manière, la mettant au service de simplicité [...] [Chomsky 1951: 4], et ce à l’encontre de son directeur de thèse [i.e., Harris, EFKK]”, que não tinha ignorado, mas abandonado essa ideia. Que esta leitura de Harris não pode ser sustentada pode ser recolhido em Nevin (1993), onde o autor não só oferece algumas referências sobre a simplicidade em Harris, mas também mostra que a questão da sequência de passos derivacionais se manifesta em todo o trabalho transformacional e na gramática de operadores. 56 John Lyons (nascido em 1932), que em 1970 publicou um livrinho de sucesso comercial sobre Chomsky e a sua linguística, observou dez anos mais tarde que “there is far less difference between Bloomfield’s and Chomsky’s views of the nature and scope of linguistics than one might expect” (Lyons 1981: 23).

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5 Epílogo Ao olhar para trás sobre o desenvolvimento da linguística norte-americana

dos últimos 50 anos, podemos perguntar-nos até que ponto o campo realmente progrediu, quantos verdadeiros novos conhecimentos sobre a natureza da linguagem foram adquiridos desde os anos 1950. As opiniões sobre este tema podem diferir, mas deve ter ficado evidente a partir da presente incursão na história da morfofonémica que houve muitas descobertas importantes nesta área que são anteriores a 1951. O grande desafio para o escritor da história de qualquer disciplina científica encontra-se em conciliar as reivindicações retóricas dos seus praticantes de reviravoltas revolucionárias e incomensurabilidades paradigmáticas com provas que, em retrospetiva, sugerem mais continuidade e avanço acumulado (ou, nalguns casos, até mesmo de regressão) ao nível substancial da metodologia e da compreensão genuína. O presente estudo sugere como o esquecimento coletivo de certas obras, possivelmente como resultado de terem estado à frente do seu tempo, mas mais provavelmente devido a outros fatores disciplinares, institucionais e sociais, ou mesmo pessoais, que levaram à retórica da revolução, trouxe uma distorção da história, cuja correção é de interesse de todos nós.

Linguística e revolução: com especial referência à ‘revolução chomskyana’*

1 Observações iniciais Começo este artigo por dizer que me vou dedicar aqui à linguística, a ciência

da linguagem, não à linguagem e revolução. A diferença é importante, pois tratarei um meta-nível, se não, ao discutir os pontos de vista de outros sobre o assunto, com um meta-meta-nível. É bem conhecido que as transformações sociais, políticas e ideológicas afetam o uso da linguagem, mas não é esse o tema do presente trabalho.

Num artigo de resenha, carateristicamente intitulado “The structure of linguistic revolutions”, John E. Joseph analisou criticamente estudos recentes na historiografia da linguística americana do século XX, em particular os livros de Harris (1993a) e Murray (1994). Joseph (1995) sugere, ainda – sem dúvida, a falar contra os historiadores conservadores da linguística, como eu próprio (p. ex., Koerner 1989b; cf. Joseph 1991) – que o conceito de ‘revolução’ pode ter que ser visto não só como fulcral para a história linguística, mas também que teria que ser tomado como algo que ocorre com muito mais frequência no desenvolvimento da linguística do que eu teria assumido, embora talvez numa escala muito mais modesta. Como resultado, pode haver uma série de revoluções em pequena escala a terem que ser contabilizadas, ‘contra-revoluções’ contra as revoluções anteriores, e até mesmo, ‘revoluções em série’, como se testemunhou na obra de Chomsky ao longo dos últimos cinquenta anos ou mais. De facto, Joseph sugere que, no entendimento da natureza das revoluções linguísticas, pelo menos, podem muito bem existir quatro fases distintas na nossa avaliação de tais mudanças, ou seja, as do tipo popperiano, do tipo kuhniano, e foram expostos de algum modo nos dois livros que ele estava a analisar, ou seja, Murray (‘Sociology of Science’) e Harris (‘Rhetoric of Science’).

No presente artigo, vou falar relativamente pouco sobre o conceito de ‘revolução’ dentro dos termos das várias filosofias da ciência (Kuhn, Popper, etc.). Aqui, vou considerar, no entanto, a posição de John Joseph que afirma que “most revolutions are essentially rhetorical, with the substantive change being one of personnel” (Joseph 1995: 384, nota 5), sem, no entanto, ignorar os ‘três fatores’ de Stephen Murray que definem aquilo que ele acredita serem todos os grupos científicos coerentes: boas ideias, liderança intelectual e liderança organizacional (cf. Murray 1994: 22-23). No entanto, vou em primeiro lugar tecer alguns comen-tários acerca da questão das ‘revoluções’ em geral e da linguística em particular

* [Observação sobre a tradução: a presente tradução foi elaborada por Maria Teresa Vieira da Silva com base no artigo “Linguistics and Revolution: With Particular Reference to the ‘Chomskyan Revolution’” (Koerner 2004c).]

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(capítulo 2) e referir-me, também, a alguns momentos da história da linguística do século XIX e XX para fins ilustrativos (capítulo 3). A questão sobre o(s) tipo(s) de ‘revolução’ produzida pela obra de Noam Chomsky parece ser um problema complexo (veja-se capítulo 4), e que será mais seguro deixar o leitor tirar as suas próprias conclusões, ao contrário de tentar impor uma determinada interpretação.

2 Observações sobre o termo ‘revolução’ no sentido geral e específico Como seria de esperar, há uma variedade de fatores que indicam se é

reconhecida e amplamente aceite uma determinada ‘revolução’ na teoria e na prática linguística. Frequentemente, certas obras são consideradas como pontos de viragem post rem (por exemplo, Bopp 1816; Chomsky 1957a), o que constitui uma dificuldade e obrigação em descobrir o locus de tal afirmação, quer por meio da análise do próprio texto ou da sua receção inicial. Fatores extralinguísticos, tanto sociais como políticos, teriam que ser tomados em consideração para expli-car o sucesso ou o fracasso das propostas importantes e, até, dos avanços feitos por um autor. Como mostra o registo, aspetos retóricos e, por vezes, até mesmo polémicos têm desempenhado um papel fundamental na aceitação ou rejeição de um ‘paradigma’ específico e isso não se dá apenas na ‘linguística moderna’.

Neste artigo, tratarei a questão da ‘revolução’ na linguística; não tanto do ponto de vista da filosofia da ciência ou dentro de qualquer outro quadro em particular – presumo que deveria prestar atenção ao conselho de John Joseph (1991) de tratar do ‘uso comum’ –, mas mais do ponto de vista do que realmente aconteceu na linguística ao longo dos últimos duzentos anos. Devo acrescentar que aqui vou limitar-me às principais correntes da linguística dos séculos XIX e XX, ou seja, a gramática comparativa-histórica e o estruturalismo, respetivamente, pois devemos lembrar-nos que a linguística não se esgota nessas correntes principais: muito do trabalho linguístico continua a ser feito fora destas, quiçá, preocupações mais gerais, quer se trate de preocupações lexicográficas, fonéticas, didáticas, dialetológicas, ou qualquer outro trabalho; ainda que, mesmo dentro dessas correntes, também possam ocorrer mudanças bastante bruscas de método, avanços importantes e outros eventos, que os seus praticantes compararão com as revoluções dentro daquele domínio particular.

3 Ilustrações de continuidades, descontinuidades e possíveis revoluções Quando comparado com o caso da descoberta ou descobertas associadas ao

nome de Noam Chomsky, as instâncias anteriores parecem ter sido muito menos complexas, mas isso pode ser devido à nossa ignorância sobre muitas das circunstâncias que nos explicariam os sucessos ou insucessos de certas publicações nos períodos anteriores da linguística. Estas circunstâncias certamente implicaram mudanças na metodologia da investigação, diferenças geracionais e, também, troca de informação algo polémica (cf. Koerner 1999b, para detalhes).

Linguística e revolução: com especial referência à ‘revolução chomskyana’ 177

3.1 Considerações metodológicas iniciais Ao escrever em 1980, István Bátori sugeriu que ainda era muito cedo para

avaliar a contribuição de Chomsky para a linguística numa perspetiva histórica, em grande parte, porque ‘as ondas da sua revolução (no sentido de Thomas Kuhn) ainda não tinham chegado a um impasse’ (Bátori 1982: 103).1 Um sentimento semelhante foi expresso cinco anos mais tarde por Herbert Penzl (1987: 418). No entanto, tendo em conta que a história da escola associada ao nome de Chomsky está a ser redigida de uma forma pouco objetiva, parece desejável levantar, agora, a questão quanto ao método correto de tratar o assunto, antes que alguns equívocos e, até, mitos sejam cimentados como factos. Estou a pensar em afirmações erróneas como a de que o Syntactic Structures de Chomsky foi ‘rejeitado por numerosos e conceituados editores’ (como encontrado por exemplo, no “Geleitwort der Herausgeber” N.º 95 do Linguistische Berichte de fevereiro de 1985, pág. 1),2 ou que “the publication of Syntactic Structures radically changed the goals, the methodology, and the research questions of the field” (Fromkin 1991: 78).

Idealmente, o historiador deveria estar a uma certa distância do seu objeto de estudo, no sentido de que não deveria ter nenhum interesse pessoal no resultado da sua investigação, mas ser guiado por um desejo de esclarecer.3 É claro que este não é o único pré-requisito para um historiador, mas parece que um dos principais pré-requisitos para qualquer obra histórica é não abordar um assunto com ideias pré-concebidas, tentando estabelecer um conceito particular apenas porque será de importância para seus objetivos imediatos. Em suma, podemos dizer que um historiógrafo deve manter-se tão imparcial quanto possível. No entanto, nem o distanciamento do assunto nem a imparcialidade implicam, necessariamente, a exclusão daquilo a que Kuhn (1977: 149), ao invocar Bertrand Russell, chamou de ‘simpatia hipotética’.

Não estou, com certeza, a defender uma estreita abordagem positivista, interessada em pouco mais do que aquilo a que Comte chamou ‘les petites choses vraies’. Na verdade, não sou nada a favor de uma preocupação, unilateral, com meros ‘factos’, já que, como ficou claro há muito tempo até mesmo para 1 [Observação da tradutora: uma vez que o próprio autor prescindiu de oferecer as citações originais (p. ex. em língua alemã), mas forneceu traduções inglesas de alguns trechos, optou-se por fornecer uma simples tradução portuguesa em todos aqueles casos.] 2 Parece que o próprio Chomsky pode ter tido algo a ver com esse mito. Por exemplo, em conversa com Herman Parret, ele afirmou que “Syntactic Structures was not written for publication. It is basically a set of lecture notes for an undergraduate course at M.I.T.” (Chomsky 1974: 27). Custa a crer quando se estuda a própria obra. Mais importante ainda, referências à publicação de Syntactic Structures sugerem que o texto datilografado foi entregue por Morris Halle a C. H. Van Schooneveld (nascido em 1921), o editor da série da Mouton, precisamente para esse fim. Foi de facto cuidadosamente preparado para publicação (cf. Murray 1999; Noordegraaf 2001). 3 Parece claro deste ponto de vista que explicações como as encontradas em Hymes (1972, 1974a) possam ser vulneráveis a críticas. No entanto, se o historiador afirma o seu compromisso de forma clara, permitindo ao leitor tirar as suas próprias ilações, estaremos ainda assim muito melhor do que com explicações partidárias que se apresentam como história objetiva.

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empiristas teóricos da linguística, como Hermann Paul (1880: 6), que quase nunca lidamos com os factos sem uma certa dose de – o que ele chamou de – ‘especulação’. O ideal do historiógrafo, a meu ver, pode ser apelidado de ‘amplo positivismo’, uma abordagem que tem o compromisso de analisar, descrever e apresentar eventos históricos em linha com o programa de Leopold von Ranke (1795-1886), anunciado pela primeira vez na sua Geschichten romanischen der und germanischen Völker (1824) – vários anos antes do aparecimento dos seis volumes do Cours de philosophie positive (Paris, 1830-1842) de Auguste Comte (1798-1857). Que este ideal quase nunca é alcançado pode ser evidente para o leitor do presente artigo como na maioria dos outros casos, incluindo o próprio trabalho pós-1824 de Ranke. Ainda assim, gostaria de referir a afirmação frequentemente citada de Ranke – geralmente associada à sua volumosa obra de anos posteriores –, a saber, que a história não é nem deveria julgar o passado nem instruir o presente sobre a forma de agir em benefício do futuro, mas sim, descrever o modo como as coisas realmente aconteceram.4 Para alguns, esta sugestão pode parecer excessivamente conservadora, mas aqueles que estão interessados na história da linguística no século XX não podem fugir à conclusão de que, na esteira de afirmações partidárias publicadas ao longo dos anos, parece necessário um retorno aos princípios historiográficos básicos.

3.2 Alguns pré-requisitos adicionais Tenho discutido, em várias outras ocasiões, os pré-requisitos para a

historiografia linguística (por exemplo, Koerner 1972c, 1976, 1982a) e não pretendo repeti-los aqui. Dificilmente se tem que realçar que a familiaridade com as diferentes teorias linguísticas em questão é de primordial importância: um historiador da linguística deve ter formação na linguística. Menos óbvio, talvez, mas de igual importância, é o conhecimento geral dos vários fatores extralinguísticos, intelectuais, sociológicos e, possivelmente, políticos, que possam ter tido um impacto no decorrer dos acontecimentos num determinado campo da investigação científica em determinados períodos do seu desenvolvimento. Sem esse conhecimento extralinguístico do ‘contexto da situação’ seria difícil compreender as mudanças de ênfase na teoria linguística ou ‘revoluções’ dentro da disciplina (como a crescente importância atribuída à sintaxe, acima e para além da morfologia e fonologia no início dos anos 1960). É importante que façamos a distinção entre a evolução intralinguística (ou seja, aquelas específicas de uma determinada disciplina e que tendem a ser reavivadas em gerações posteriores às

4 Uma vez que esta declaração é geralmente citada fora de contexto e sem referência adequada à sua fonte original, forneço ambos: “Man hat der Historie das Amt, die Vergangenheit zu richten, die Mitwelt zum Nutzen zukünftiger Jahre zu belehren, bey gemessen: so hoher Aemter unterwindet sich gegenwärtiger Versuch nicht: er will bloß sagen wie es eigentlich gewesen.” (veja-se a “Vorrede” de Leopold von Ranke (1824: v-vi). [Foi atribuída à história a tarefa de julgar o passado e de ensinar o mundo contemporâneo em benefício de anos futuros: o presente ensaio não tem a pretensão de servir tais altos cargos: simplesmente pretende mostrar como realmente aconteceu.]

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dos últimos investigadores, muitas vezes aliadas ao desejo de superar o problema permanente de lidar com a semântica de forma adequada (cf. Seuren 1998: 474-527, para mais detalhes), e vários fatores extralinguísticos. Estes últimos, nada tendo a ver com a operacionalidade do ofício, a sua metodologia, os seus dados específicos, ou as suas conclusões per se, no entanto, podem ter, e em muitos casos têm tido, um impacto significativo na aceitação generalizada de uma estrutura ou filosofia da ciência específica, bem como sobre os focos de atenção da investi-gação, e isto muitas vezes com ramificações sociais de alguma importância.

3.3 Outras considerações metodológicas Até aqui, referi as atitudes gerais por parte do historiógrafo (ou seja, que

deveria ser capaz de tratar o seu objeto de estudo com um certo distanciamento) e a distinção fundamental entre o que podem ser nomeados os requisitos intradisciplinares e as influências extradisciplinares na área. Para quem estiver interessado em realizar investigação histórica, estas generalidades apenas podem ser vistas como as diretrizes mais rudimentares. O historiógrafo deve saber como verificar os dados relevantes, material que não pode simplesmente ser obtido através da consulta dos livros de um determinado período ou escola de pensamento. Indubitavelmente, esses textos também têm o seu valor; costumam apresentar a doutrina aceite de uma forma pragmática (por exemplo, o número de edições de qualquer livro pode dar uma indicação quanto à sua popularidade, e quanto à dimensão que está a receber a atenção de estudiosos da linguística). No entanto, os livros didáticos constituem apenas fontes secundárias, pois tendem a diluir as questões teóricas para torná-las mais acessíveis ao público em geral. Mais importante ainda, os seus autores tentam descrever o que acreditam ser do consenso geral e, normalmente, não tomam uma posição crítica: afinal, o que querem é vender o máximo de cópias possível.

Num dos primeiros relatos do estado da arte da história da linguística, Yakov Malkiel forneceu uma lista daquilo que considerava serem as fontes essenciais para o historiador da ciência linguística. A lista inclui autobiografias, memórias, prefácios, correspondência, Festschriften, resenhas de livros, somatórios de simpósios, registos institucionais e outros materiais (Malkiel 1969b: 641-643). Além dessas fontes, tornou-se mais amplamente aceite que material não publicado e especialmente correspondência entre académicos sem terem o público geral em mente, poderia muito bem constituir prova documental importante para determinados eventos. Assim, Stephen Murray (1980) foi capaz de estabelecer – algo que muitos poderiam suspeitar, mas não foram capazes de provar sem sombra de dúvida – que Bernard Bloch, editor da revista Language, da Linguistic Society of America (LSA), desde 1941 até à sua morte em 1965, desempenhou um papel importante, se não mesmo decisivo, na promoção de Noam Chomsky e das teorias linguísticas deste durante os finais da década de 1950 e inícios da década de 1960. O papel de Bloch foi certamente muito mais crucial do que os cronistas do ‘paradigma chomskyano’ (p. ex., Newmeyer 1980: 47-48) estão dispostos a

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admitir.5 Talvez esse lapso se deva simplesmente ao facto de o espólio de Bloch, depositado na Biblioteca Sterling da Universidade de Yale, não ter sido consultado. No entanto, a julgar pelas publicações mais recentes (Newmeyer 1986a, 1986b, 1996a), a impressão causada pelo seu livro de 1980 confirma nomeadamente que Newmeyer não parece interessado em apresentar algo próximo da história objetiva (cf. Murray 1989; Huck / Goldsmith 1998).

Uma outra fonte, no que respeita à historiografia linguística contemporânea, ficou, até hoje, largamente inexplorada. Refiro-me às entrevistas diretas com pessoas que participaram nos eventos e, de uma forma mais geral, àquilo a que nos dias de hoje se denomina história oral (cf. Davis / O'Cain 1980, pelo primeiro empreendimento efetuado na linguística norte-americana). Murray (1980, 1994), um sociólogo, fez um uso extensivo das entrevistas bem como da correspondência com Chomsky e os seus colegas e com estudiosos que não seguiam ou se opunham às teorias transformacionais, enquanto Newmeyer (11980, 21986c) parece ter só comunicado com os simpatizantes e firmes defensores de uma só fação.6 Newmeyer (1980: xii), no entanto, sustenta que a sua própria participação nos eventos da década de 1960 e início de 1970 lhe deu ‘a real advantage’ e que lhe permitiu “[...] an inside view of the field that would be denied to the more displaced historian”. Permanece, no entanto, a necessidade de confirmar através de uma leitura crítica da sua obra se tal é verdade.

4 A ‘revolução chomskyana’ na linguística Tornou-se um lugar-comum falar de uma ‘revolução chomskyana’ no estudo

da linguagem, com o resultado que poucos, se houver alguns, parariam para pensar sobre o que o termo ‘revolução’ implica ou é levado a implicar. É interessante notar que são os não-linguistas em particular (por exemplo, Sklar 1968; Searle 1972)7 que se referiram a ‘Chomsky’s revolution in linguistics’. Curiosamente, o termo não pode ser encontrado, por exemplo, em Bierwisch (1971), um linguista notável e muito cedo firme defensor da gramática transformacional-gerativa. Isto parece tanto mais surpreendente quando notamos que Malkiel (1969b: 539) falou de The Structure of Scientific Revolutions (1962) de Kuhn como um ‘sensationally successful book’. Assim, a ausência do termo nas obras acerca da teoria transformacional feitas pelos seguidores de Chomsky durante os anos 1960 e 1970 não implica a rejeição destes quanto ao uso da morfologia kuhniana de revoluções científicas. Bach (1965: 123), curiosamente, refere-se a ‘revolução’ sem mencionar Kuhn, cujo nome também está conspicuamente ausente do livro de Newmeyer 5 Ainda em 1998, Julia S. Falk (1998: 446), ela própria uma gerativista de ‘la première heure’, concluiu na resenha de Murray (1994) que “there is no evidence that he [Bloch] did anything more than any reasonable and responsible editor and teacher might do”. 6 McCawley (1981: 911), que é, por outro lado, bastante crítico do relato de Newmeyer, dá a impressão errónea de que este tenha, de facto, feito muito uso de entrevistas. 7 Uma declaração bastante precoce sobre uma ‘transformationalist revolution in Linguistics’ partiu, obviamente, de participantes na ‘revolução’ (veja-se Katz / Bever 1976: 11).

Linguística e revolução: com especial referência à ‘revolução chomskyana’ 181

(1980; mas compare-se a segunda edição de 1986c: 38-39, onde são feitas referências explícitas a Kuhn). Outros, geralmente linguistas formados na Europa, embora expostos diretamente à gramática transformacional (p. ex., Meisel 1973; Anttila 1975; Weydt 1976), lançam dúvidas sobre a ocorrência, no sentido geral do termo, de uma ‘revolução chomskyana’ no estudo da linguagem.

4.1 Breves observações sobre o conceito de ‘revolução’ A nossa primeira associação ao termo ‘revolução’ é de natureza política;

pensamos em governos a serem derrubados por um golpe de Estado e um sistema de governo a ser substituído por outro. Herbert Izzo (1976: 51) deu a seguinte caraterização daquilo a que se refere como ‘revoluções sociais bem sucedidas’:

[They] rewrite history for their own justification [...]. The Soviet example, though not the first, is the most familiar and one of the most thorough. First the old order must be condemned en bloc; everything about it must be shown to have been bad to justify its overthrow and prevent its return. Then any changes of direction of the new order must be consigned to oblivion. [...] Finally, it becomes desirable to show that the new order is in reality not so much new as a return to the correct, traditional ways, from which only the immediately preceding regime had been a deviation and a usurpation. Along the way there may have been a return to many features of that same preceding regime. These will not, however, be represented as regressions but as new developments.

Para aqueles que observaram a história da linguística transformacional-gerativa na América do Norte a desenrolar-se nos meados dos anos 1960 e inícios de 1970, a descrição de Izzo de uma ‘revolução social’ parece aplicar-se muito bem àquilo que realmente aconteceu (para alguns exemplos de propaganda que emanaram dos centros deste movimento, veja-se adiante).

4.1.1 Moda? Hymes (1974a: 48-49) e outros (p. ex., Murray 1980) sugeriram que a chama-

da ‘revolução chomskyana na linguística’ pode ser em grande parte devido a fato-res sociais que pouco teriam a ver com a teoria e o seu valor inerente, a sua ‘adequação explicativa’, o ‘poder’ do seu dispositivo ‘gerativo’, etc. Maher (1982: 3ss.) associa a história de sucesso da Gramática Gerativa Transformacional (doravante: GGT) com o mundo da moda, referindo-se à seguinte declaração feita por Bertrand Russell – no seu prefácio de 1959 à crítica feita por Ernest Gellner aos wittgensteinianos em Oxford – segundo a qual “the power of fashion is great, and soon the most cogent arguments fail to convince if they are not in line with the trend of current opinion” (Gellner 1959: 13). Para apoiar a sua afirmação, Maher (1982: 4) refere-se a observações feitas mais de cinquenta anos antes pelo sociólogo americano William Graham Sumner (1840-1910) que observou, no início do século XX:

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Fashion is by no means trivial. It is the form of the dominance of the group over the individual, and it is quite often as harmful as beneficial. There is no arguing with fashion. [...] The authority of fashion is imperative as to everything which it touches. The sanctions are ridicule and powerlessness. The dissenter hurts himself [...] (Sumner 1906: 194).

Enquanto uma consideração sobre os efeitos da moda na linguística (como em qualquer outro caso humano) não deve ser ignorada, acredito que esse aspeto pode ofuscar algumas das questões ao contrário de as elucidar. É certamente difícil acreditar que foram exclusivamente as propostas teóricas da GGT que apelaram aos então jovens estudantes da linguagem que chegaram às universidades durante os anos 1960 e inícios dos 1970. Newmeyer (1980: 52ss.) apresenta estatísticas, das quais, uma em particular, a tabela que mostra o crescimento da afiliação dos membros na LSA, indicam um enorme crescimento da população académica no período em questão: 1950: 829 membros; 1960: 1 768 membros, e 1970: 4 383 membros, com o pico a ser alcançado em 1971 (4 723 membros). Para Newmeyer, este crescimento reflete o apelo e a força do ‘paradigma chomskyano’; no entanto, quando o nível de desenvolvimento esmorece e mostra declínio, ele explica isso como resultado da imagem sombria da empregabilidade na linguística (Newmeyer 1980: 53). Aqui somos forçados a perguntar: ‘Por que não um reflexo de um desencanto generalizado com a GGT?’, uma vez que anteriormente Newmeyer (1980: 52) considerava o aumento de participação na LSA como sendo “[...] considerably above the average [comparado com que outra disciplina?, EFKK], suggesting that it was the appeal of transformational generative grammar rather than economic growth”. Murray (1981: 109) viu as razões para esta expansão dramática (para além do crescimento generalizado de instituições de ensino secundário e pós-secundário), naquilo que ele descreve como

[...] the zeitgeist of a rebellious generation coming along at the time of rapid expansion of the academic sector in North America. The channeling of so much of the available money to an institution [i. e., o Massachusetts Institute of Technology, e particularmente o Linguistics Department, EFKK] where it was astutely used by accomplished academic warriors further enhanced the attractiveness of a perspective in which the elders were dismissed just when generational rebellion was particularly prominent in the general culture.

Por outras palavras, a GGT não iria e não poderia ter ganho força da forma como aconteceu durante a década de 1960 e inícios de 1970, se não tivesse havido outros, e mais significativos, fatores a concretizar a ‘revolução chomskyana’.

4.1.2 Financiamento? Mencionamos a questão do financiamento, que Newmeyer (1980: 52, nota 8)

reduziu a algumas linhas numa publicação de 250 páginas dos primeiros 25 anos (1955-1980) da GGT, mas que, creio eu, teve uma importância diferenciada na promoção da causa transformacionalista. Ao escrever sobre os efeitos significativos que o investimento governamental teve na investigação e educação

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para difusão desta doutrina particular da linguística, James McCawley, que fez o seu doutoramento com Chomsky no MIT, em 1965, e que se manteve sempre adepto do gerativismo – ainda que apresentando um ponto de vista crítico em relação a questões específicas, filosóficas ou outras (cf. Koerner 2005f) –, observou o seguinte:

I maintain that government subsidization of research and education, regardless of how benevolently and fairly it is administered, increases the likelihood of scientific revolutions for the worse, since it makes it possible for a subcommunity to increase its membership drastically without demonstrating that its intellectual credit so warrants. The kind of development that I have in mind is illustrated by the rapid growth of American universities during the late 1950s and 1960s, stimulated by massive spending by the federal government. This spending made is possible for many universities to start linguistics programs that otherwise would not have been started or would not have been started so early, or to expand existing programs much further than they would otherwise have been expanded. Given the situation of the early 1960s, it was inevitable that a large proportion of the new teaching jobs in linguistics would go to transformational grammarians. In the case of new programs, since at that time transformational grammar was the kind of linguistics in which it was most obvious that new and interesting things were going on, many administrators would prefer to get a transformational grammarian to organize the new program; in the case of expansion of existing programs, even when those who had charge of the new funds would not speculate their personal intellectual capital on the new theory, it was to their advantage to speculate their newfound monetary capital on it, since if the new theory was going to become influential, a department would have to offer instruction in it if the department was to attract students in numbers that were in keeping with its newfound riches. And with the first couple of bunches of students turned out by the holders of these new jobs, the membership of the transformational subcommunity swelled greatly (McCawley 1976a: 25).

Esta extensa citação justifica-se por uma série de razões, principalmente porque fornece aos leitores não familiarizados alguma informação acerca da mentalidade e dos modos de operacionalização dos administradores das universidades norte-americanas. Naturalmente, o leitor informado gostaria de sublinhar determinadas passagens na citação, comentar certos detalhes e retirar mais conclusões a partir das observações feitas; mas, em geral, carateriza bem tanto a mentalidade dos administradores (frequentemente ‘académiques manqués’, ansiosos por serem vistos como progressistas, pelos seus superiores e os seus ex-colegas) como a situação particular em que se encontravam, no momento em que as ideias de Chomsky começaram a ganhar terreno, senão a fama – embora não exclusivamente por razões diretamente relacionadas com a linguística, como tentarei argumentar neste artigo. No relato de McCawley parece haver a suspeita de que o rápido crescimento da GGT pode ter tido algo a ver com uma moda passageira (cf. as observações de Maher no capítulo 4.1.1 atrás), uma suspeita que tive durante os meus anos de pós-graduação em linguística numa universidade norte-americana em finais dos anos 1960.

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4.1.3 Ideologia? Robert A. Hall, ele próprio um firme ‘estruturalista’ bloomfieldiano, ao

examinar o livro de Newmeyer (1980), menciona outra razão para o aparente sucesso da GGT, ou seja, que tinha mais a ver com ideologia e menos com a tentativa honesta de um grupo de linguistas de fornecer uma teoria da LINGUAGEM mais adequada – em contraste com uma teoria da LINGUÍSTICA. Hall (1981: 185) observa a escolha específica do vocabulário por parte de Newmeyer, por exemplo quando este relata, no capítulo 2, intitulado “The Chomskyan revolution” (Newmeyer 1980: 19-60), como decorreram os eventos. Abundam expressões que sugerem o conflito militar e político, como, por exemplo, ‘campaigner’, ‘old guard’, ‘rebellion’, ‘revolution’, ‘struggle’, ‘tactic’, ‘defend’, ‘confront’, e ‘win victories’. Termos político-religiosos não são mais raros, como, ‘charisma’, ‘convert’, ‘hegemony’, ‘win over’ (cf. Newmeyer 1980: 45 e em outras referências). O capítulo de Newmeyer adequa-se muito bem na caraterização de Maurice Cranston (1974: 196) para ‘ideologia’:

It is characteristic of ideology both to exalt action and to regard action in terms of a military analogy. Some observers have pointed out that one has only to consider the prose style of the founders of most ideologies to be struck by the military and warlike language that they habitually use, including words like struggle, resist, march, victory and overcome; the literature of ideology is replete with martial expressions. In such a view, commitment to an ideology becomes a form of enlistment so that to become the adherent of an ideology is to become a combatant or partisan.

Em especial durante os primeiros anos da década de 1970, muitos entusiastas da GGT falavam de uma revolução na linguística (cf., para além dos mencionados no início do capítulo 4 atrás: Dingwall 1971: 759; Greene 1972: 189; Yergin 1972). É interessante notar que as publicações mais recentes, que mantêm o mesmo argumento (p. ex., Smith / Wilson 1979: 10; Newmeyer 1980: 20) já não fazem uma referência explícita ao livro de Kuhn (1962) sobre as revoluções científicas, talvez porque as ideias nele contidas aparentavam uma ‘chose acquise’ que já não necessitava de ser demonstrada. Por um acaso, sugeri a existência de algo como um ‘paradigma chomskyano’ já em 1972 (cf. Koerner 1976: 703), porque tinha a opinião (e ainda a tenho) de que, com Chomsky e o seu círculo, fora provocada uma definitiva mudança de ênfase nos objetivos da teoria linguística, que, pelo menos superficialmente, parecia dramática o suficiente para se assemelhar aos conceitos disciplinares de ‘paradigma’ e ‘revolução’ de Kuhn. Estas mudanças na abordagem geral da linguagem e, concomitantemente, da filosofia da ciência, provavelmente não eram em todos os seus aspetos benéficas para os estudos linguísticos como um todo. No entanto, não se pode negar que uma série de propostas, procedimentos de análise e conceitos de argumento teórico se transformaram em ferramentas do linguista e da perspetiva geral, que ninguém seriamente interessado na construção de teoria poderá continuar a

Linguística e revolução: com especial referência à ‘revolução chomskyana’ 185

ignorar8 (contudo, estudiosos linguistas, isto é, aqueles que fazem investigação empírica em vez de selecionar os dados do trabalho de outras pessoas para poderem confirmar as suas afirmações teóricas, muito bem puderam trabalhar sem elas). Por outras palavras, quer queiramos quer não, teremos de concordar que mudanças notáveis, na atitude do linguista em relação à linguagem e dentro da própria disciplina da linguística, tiveram lugar durante os últimos cinquenta anos ou mais, mudanças que um número de pessoas tem comparado a uma ‘revolução’ no sentido kuhniano do termo (cf. Pearson 1978, para uma discussão).

Todavia, podemos perguntar-nos se tais alterações de foco e ênfase, esta introdução de nova terminologia (muitas vezes ao substituir termos tradicionais que descrevem o mesmo fenómeno), e esta ‘idealização’ – que Newmeyer (1980: 250) invoca para sustentar a afirmação de que “[...] more has been learned about the nature of language in the last 25 years [i. e., de 1955 até 1980, EFKK] than in the previous 2500” – produziram de facto algo como uma revolução na área que obrigaria, por assim dizer, não apenas a uma nova ferramenta de estudo para cada linguista, mas também a uma reaprendizagem da ciência. Na verdade, uma análise mais detalhada do que foi realmente feito por profissionais linguistas (não por teóricos de poltrona que tendem a ignorar os dados que poderiam refutar as suas hipóteses) na América do Norte e na Europa durante o mesmo período pode muito bem trazer à luz o seguinte:

(1) Um número de escolas linguísticas continua a sobreviver (por exemplo, a Tagmémica, em grande parte associada ao trabalho de Kenneth Lee Pike e os seus colaboradores, e a Gramática Sistémica, uma abordagem neo-firthiana, liderada por Michael A. K. Halliday, bem como a Gramática Estratificacional-Cognitiva, introduzida por Sydney M. Lamb durante a década de 1960); na verdade, várias dessas escolas têm prosperado nos últimos anos, o que sugere que não tem havido apenas um quadro teórico abrangente a operar na linguística norte-americana durante os últimos 50 ou mais anos (como Newmeyer e outros gostariam que acreditássemos), mas também que o PARADIGMA promovido pela GGT há muito perdeu a sua atração por, e em, as mentes de muitos dos linguistas atuais.

(2) A GGT proporcionou a grande nível o desenvolvimento de abordagens para a linguagem que tentam explicar especificamente aqueles aspetos do estudo da linguagem (por exemplo, a comunicação humana, o condicionamento social e uso real da linguagem – não obstante a palestra de Chomsky sobre o último item), e que o modelo de Chomsky consistentemente eliminou da sua lista de fenómenos ‘interessantes’. Assim, o renascimento do interesse pela análise do discurso, a teoria dos atos de fala, a pragmática, e várias abordagens sociolinguísticas desde finais da década de 1960 provavelmente não teriam sido tão acentuados não fosse o facto de o ‘paradigma’ chomskyano se ter centrado tanto em ‘dados’ abstratos

8 Sobre isto, cf. o conselho de Neil V. Smith (nascido em 1939) no seu Prefácio duma recente coletânea de artigos de Chomsky “You may not agree with Chomsky’s work, but it would be short-sighted and unscholarly to ignore it” (Chomsky 2000: v).

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(geralmente inventados pelo analista para apoiar um argumento teórico) distantes do discurso real, ou o que Labov chamou da ‘linguística realista’.

Em suma, como vai ficar ainda mais evidente com o que se seguirá, parece que, após uma inspeção mais minuciosa, o termo ‘revolução’ não se aplica adequa-damente à GGT, se significar que um quadro teórico de como realizar investigação substitui os quadros anteriores ou concorrentes, como, por exemplo a nova química de Lavoisier a substituir a teoria do flogisto de Stahl. Apesar de muitas retratações, a GGT é basicamente um estruturalismo pós-Saussuriano,9 ainda que Joos (1961: 17) tivesse caraterizado o movimento, que associou ao trabalho de Harris e Chomsky, “[...] as a heresy within the neo-Saussurean tradition rather than a competition to it”. A GGT está ainda, do ponto de vista de Joos, excessivamente preocupada com a ‘langue’, o sistema gramatical subjacente, em detrimento da ‘parole’, o ato de fala real; ou, por outras palavras, com um formalismo abstrato que diz representar a essência da estrutura de linguagem em vez da análise da função e utilização da linguagem humana (muitas vezes é esquecido que a formalização por si só não leva a novas perceções sobre a natureza da linguagem). No entanto, não se pode negar que muitos e muitas jovens da linguística durante os anos 1960 e 1970 ACREDITAVAM que estavam a testemunhar uma revolução na área, e parece que essa crença generalizada (e o entusiasmo associado que os jovens tendem a gerar) tem sido, como eu defendo, a razão de base para a ‘revolução chomskyana’ (alguns dos participantes nesta ‘revolução’ com quem tenho falado ao longo dos últimos trinta ou mais anos ainda hoje ficam com um brilho no olhar enquanto contam as suas recordações da linguística na década de 1960).

Para fazer jus ao acontecimento histórico, deve lembrar-se que – como Curtius, que, em 1885, SENTIU que os neogramáticos tinham embarcado num percurso que constituiria uma rutura com o passado (cf. Koerner 1981: 168-169) – havia estudiosos da geração pós-bloomfieldiana que, pelo menos durante os primeiros anos da década de 1960, consideraram a GGT como um ‘avanço’ (Hockett 1965: 196; embora também o tivesse associado ao nome de Sydney M. Lamb!). Anteriormente, em 1963, Rulon S. Wells (1919-2008) expressara uma similar apreensão de mudança quando falou de “some neglected opportunities in descriptive linguistics”. Wells (1963: 48), porém, dirigiu-se ao assunto com um pouco mais de cautela:

Whether the change that actually took place – the advent of and eager reception of the approach called transformation-theory – should be described as internal or external, as a revision and rehabilitation of D[escriptive] L[inguistics] or as a displacement of it, is no simple one, for which reason I save it for another day. Some major change did take place; the episode ended; and the present paper is a historian’s attempt to explain the change. It does not, however, purport to explain the advent of transformation-theory (TT), but only the reception of it. Given the TT-approach was put forward when it was, why was it taken up in the way it was?

9 De facto, Joseph (1999a) sugeriu que o verdadeiro estruturalismo começa com o trabalho de Chomsky.

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It would be laborious beyond the ambitions of my paper to describe this way with any great accuracy; it must suffice to say that there arose a very widespread belief that TT, the successor to DL, could lead linguistics to fruitful successes where its predecessor had proved unable to do so. My own judgment as a linguist about such a belief is that mixed in with a solid core of truth there is much that is false, gratuitous, or misleading. But in the present paper I try to set aside my own views as a linguist, and to speak only as a historian of linguistics, without taking sides.

Wells, cujo próprio artigo sobre ‘constituent analysis’ de 1947, pode ser creditado por ter ido além da mera fase descritiva da linguística pós-bloomfieldiana, sente que a “[...] norm of pure description [which] was the Zeitgeist in the thirties and forties” (Wells 1963: 49) é responsável pelo abandono do meramente descritivo em favor de uma abordagem mais explicativa nos anos 1950 e 1960, e o ponto de viragem da linguística descritiva (DL) para a GGT. Sydney M. Lamb (nascido em 1929), um linguista teórico da idade de Chomsky, descobriu que uma das desvantagens dos pós-bloomfieldianos era a excessiva preocupação destes “[...] with trying to specify procedures of analysis” (Lamb 1967: 414) – Methods in Structural Linguistics (1951a) de Zellig Harris vem de imediato à mente. Parece, porém, que as questões extralinguísticas (isto é, o que pode ser chamado de mudanças no clima intelectual) estiveram mais em consonância com o crescimento da GGT no período do que com os problemas que afligiam, por vezes, a tendência positivista extrema de análise linguística entre os sucessores de Bloomfield (veremos no capítulo 4.4 exemplos de como vários linguistas pós-bloomfieldianos anteciparam muitas ideias básicas mais tarde associadas exclusivamente a Chomsky).

4.2 Fatores concretos contribuindo para a ‘revolução’ chomskyana Já referi o ‘clima de opinião’ durante os anos 1960 e os aspetos sociológicos

da relação entre a ‘velha guarda’ e os ‘jovens turcos’. O conflito ocorre normalmente entre as gerações mas pode ser aumentado e intensificado devido a causas socioeconómicas e políticas. Por exemplo, o movimento dos direitos civis dos anos das presidências de Kennedy e Johnson, a oposição ao envolvimento americano na guerra do Vietname, e outras questões polarizaram as opiniões divergentes dos mais velhos e dos mais jovens. Estes são fatores externos que merecem a atenção do historiador de qualquer disciplina, embora provavelmente mais ainda nas ciências humanas e sociais do que nas chamadas ciências ‘duras’, ou seja, as ciências naturais, bem como na matemática (embora a introdução da ‘nova matemática’ no sistema educacional nos anos 1960, provavelmente, não tivesse sido motivada exclusivamente pela superioridade da nova abordagem sobre a tradicional). No entanto, acredito que as Geisteswissenschaften são geralmente mais influenciadas por correntes intelectuais de qualquer tipo do que as Naturwissenschaften, como Dilthey, Rickert e outros notaram há mais de cem anos. Não obstante ser impossível mapear todas essas esferas de influência dentro dos limites de um ensaio exploratório, esses fatores externos têm, até agora, sido

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largamente negligenciados pelos historiadores da maioria das disciplinas e, certamente, aqueles que lidam com a história da linguística.

Há, porém, pelo menos, um fator que pode ser facilmente identificado. Está relacionado com a aceitação generalizada da GGT durante a década de 1960 e inícios da década de 1970 – o financiamento de programas universitários durante esse período. Este assunto já foi referido (veja-se 4.1.2 atrás) e citada uma declaração feita por James McCawley em 1976 sobre o impacto da National Defense Education Act (a lei nacional da defesa da educação, aprovada pelo governo dos Estados Unidos em finais de 1958) sobre a linguística (cf. também Mildenberger 1962). Por sinal, Newmeyer – que tende a minimizar o papel que tiveram as grandes somas de dinheiro injetadas em todos os tipos de investigações linguísticas durante a década de 1960 – documentou, num trabalho feito com o seu colega Joseph Emonds em 1971, que estas verbas, com efeito, constituíram “[...] a great shot-in-the-arm to the field of linguistics” (Newmeyer / Emonds 1971: 287). Mas já que Newmeyer quer que acreditemos que o sucesso da linguística de Chomsky esteja exclusivamente ligado aos seus méritos científicos, a questão do financiamento surge apenas numa única nota de rodapé dentro das 250 páginas do seu livro Linguistic Theory in America.10 No seu livro The Politics of Linguistics (Newmeyer 1986b), não se encontra nenhuma referência a este artigo bastante revelador.

De seguida, vou tentar demonstrar a minha questão com a ajuda de apenas três exemplos, embora possam ser multiplicados quase ad libitum. Um desses é a declaração feita pelo próprio Chomsky numa entrevista em 1971; os outros dois são reconhecimentos públicos de financiamento. Todos três sugerem o extenso papel que o aspeto financeiro desempenhou na difusão da linguística em geral e no sucesso da GGT em particular.

Quando questionado sobre a questão do financiamento e a razão pela qual Syntactic Structures e muitas outras das suas obras continham reconhecimentos pelo apoio de agências do Departamento de Defesa dos EUA, Chomsky respondeu:

Ever since the Second World War, the Defense Department has been the main channel for the support of the universities, because Congress and society as a whole have been unwilling to provide adequate public funds [...]. Luckily, Congress doesn’t look too closely at the Defense Department budget, and the Defense Department, which is a vast and complex organization, doesn’t look closely at the projects it supports – its right hand doesn’t know what its left hand is doing.11 Until 1969, more than half the

10 Cf. Newmeyer (1980: 52, nota 8): “Newmeyer and Emonds 1971 have discussed at length the funding of linguistic research in the United States. The point is made that while, of course, the source of funding is irrelevant to the ultimate CORRECTNESS of a theory, this is by no means irrelevant to a (partial) explanation of one’s ACCEPTANCE. It is tempting to speculate on the speed with which transformational grammar would have won general acceptance had Chomsky and Halle’s students had to contend with today’s more austere conditions, in which not just military, but ALL sources of funding have been sharply curtailed, and the number of new positions has been declining yearly.” 11 Pode duvidar-se desta suposição e estar inclinado a acreditar que a abordagem reducionista de Chomsky em relação à linguagem e a natureza altamente operacional da sua teoria podem ter apelado

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M.I.T. budget came from the Defense Department, but this funding at M.I.T. is a bookkeeping trick. Although I’m a full-time teacher, M.I.T. pays only thirty or forty per cent of my salary. The rest comes from other sources – most of it from the Defense Department. But I get the money through M.I.T. (Mehta 1971: 193).

Não estou a citar Chomsky para ‘levantar o dedo indicador moral’ (como dizemos em alemão), mas para dar uma ideia do enorme envolvimento não-académico no financiamento da investigação, incluindo o trabalho não visível (pelo menos para um estranho à causa) ligado aos interesses militares (curiosamente, Newmeyer / Emonds 1971: 301 observaram que o “[...] result of the reliance on outside funding agencies is the occasional deliberate falsification of the nature of linguistic work”). Convém lembrar que um dos principais projetos do Departamento de Defesa durante a década de 1950 foi a tradução automática e o MIT tinha grande interesse nele (cf. Locke / Booth 1955; Yngve 2000). Morris Halle, apoiante e aliado de longa data de Chomsky, por exemplo, reconheceu o tipo de apoio que existia nessa altura:

During the past eight years [i. e., desde 1951, EFKK] it has been my great and good fortune to be associated with the Research Laboratory of Electronics, M.I.T. This unique research organization has been an ideal environment in which to carry on investigations that overlap a number of traditional boundaries between disciplines (Halle 1959: 15).

Escusado será acrescentar que Halle, tal como Chomsky, estava numa posição relativamente protegida durante os anos 1950 (quem, com apenas um grau de Mestrado como referência, conseguiria nos dias de hoje obter uma bolsa de estudos de quatro anos, sem amarras, para prosseguir uma investigação independente, e quem estaria empregado, vários anos antes de completar o seu doutoramento, num cargo de investigador no MIT?). Que os fundos que foram recebidos pelo Laboratório de Pesquisa de Eletrónica e mais tarde também pelo Departamento de Linguística, fundado no MIT em 1961, também foram utilizados para fins de proselitismo, pode ser deduzido a partir do número de agradecimentos ao apoio por parte dos funcionários na linguística. Que pelo menos parte desses recursos era destinada a converter os jovens estudantes à nova fé pode ser inferido a partir do reconhecimento impresso na parte inferior da aclamada ‘crítica’ de Syntactic Structures feita por Robert Lees (1957: 375), escrita e publicada enquanto Lees era colaborador próximo e, para todos os efeitos, ainda doutorando de Chomsky no MIT (em 1960 Lees concluiu a sua dissertação, publicada logo após a sua conclusão). Devido ao apadrinhamento de Bernard Bloch (cf. Murray 1980), o artigo promocional feito por Lees para divulgar as ideias de Chomsky apareceu em Language (ainda hoje a revista linguística de maior circulação do mundo), quase ao mesmo tempo que foi publicado o próprio livro Syntactic

a certos administradores no Pentágono (e em outros lugares) que preferem lidar com diagramas e folhas de programa do que com o desleixo de grande parte do trabalho linguístico regular.

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Structures.12 Em circunstâncias normais, uma revisão crítica levaria pelo menos um ano para aparecer na imprensa, após a publicação de um livro; também se pode colocar a questão se Lees terá sido de facto o único autor da ‘crítica’, se considerarmos a sua situação de emprego no MIT à data. Mas, mesmo que os argumentos tivessem sido todos do próprio Lees, como Chomsky enfatiza numa carta ao presente escritor ao comentar Koerner (1984c), pode pelo menos assumir-se que Chomsky – e, provavelmente, Halle também – tenham visto e aprovado o texto antes de este ser enviado para Bloch (que Lees tinha publicado um artigo na Language já em 1953, e, assim, estabeleceu um contacto prévio com Bloch, não pode servir de contra-argumento convincente para o conluio).

A questão da ‘retórica revolucionária’ ocupar-nos-á no capítulo 4.3 (adiante); no entanto, no presente contexto, pode referir-se nesta área um artigo experimental de Jerrold J. Katz intitulado “Mentalism in linguistics” (1964). Juntamente com Constituent Structure de Paul M. Postal do mesmo ano, preparou o palco para a polémica dos gerativistas contra os ditos taxonomistas (um termo criado por Chomsky 1964b: 11), ou, como Voegelin / Voegelin (1963: 12 -13) caraterizaram o fenómeno, o artigo de Katz embarcou na ‘posição controversa’ com vista a estabelecer a ‘postura de eclipse’. Chomsky tinha dado o sinal para este tipo de ataque em 1957 (cf. Voegelin 1958: 229). É interessante notar que, na peça de Katz não era a LINGUÍSTICA dos estudiosos anteriores que era atacada, mas sim o que Katz achava ser a visão da ciência destes. Por outras palavras, questões ideológicas parecem ter oferecido um fórum mais promissor para o seu ataque do que propriamente as análises linguísticas dos bloomfieldianos com quem o próprio Chomsky tinha aprendido a sua arte.13 O trabalho de Katz sobre “Mentalism in linguistics”, que Bloch, o fiel bloomfieldiano, aceitara para publicação na Language, embora contivesse muito pouco de investigação, tem o seguinte agradecimento:

This work was supported in part by the U.S. Army, Navy, and Air Force under Contract DA36-039-AMC-03200(E); in part by the U.S. Air Force, ESD Contract AF 19(628)-2887; and in part by the National Science Foundation (Grant G-16526), the National Institutes of Health (Grant MH-04737-03), and

12 O próprio Chomsky (1975: 3) observou que “there would have been little notice in the profession if it had not been for a provocative and extensive review article by Robert Lees that appeared almost simultaneously with the publication of S[yntactic] S[tructures]” (ênfase adicionado: EFKK). Naturalmente, Chomsky não indica como isso aconteceu; para mais detalhes, veja-se Murray (1980: 79-81, e, especialmente nota de rodapé 55 na pág. 87). 13 Neste contexto, é quase curioso ver a dívida de Chomsky ao trabalho de Harris reconhecida numa história da linguística feita por um antigo adepto da GGT (cf. Sampson 1980: 134-138 passim). Na verdade, Chomsky (1975: 41-45), ao escrever sobre o conceito de ‘transformação gramatical’ de Harris e as suas tentativas de análise do discurso, reconhece a sua aproximação à linguística através de Harris nesta e noutras situações (por exemplo, Mehta 1971: 187-188), embora sempre ao enfatizar as diferenças entre o seu ponto de vista e o ponto de vista de Harris. Noutra entrevista (Sklar 1968: 215), Chomsky indicou que a sua aproximação à linguística tinha começado ao rever a obra Methods of Structural Linguistics de Harris, uma edição manuscrita que estava em circulação pelo menos desde 1946 (tinha sido concluída no início de 1947, mas só fora publicada, em Chicago, em 1951).

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the National Aeronautics and Space Administration (Grant NsG-496). This paper, although based on work sponsored in part by the U.S. Air Force, has not been approved or disapproved by that agency (Katz 1964: 124, nota *).

Além de agradecimentos públicos, como estes, outros documentos (por exemplo, o relatório anual da National Science Foundation, em Washington D.C.) poderiam ser citados para mostrar a magnitude do apoio financeiro recebido pelas principais universidades e, em particular, pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), que construiu o seu brilhante Departamento de Linguística com base num modesto Departamento de Línguas Modernas, graças às grandes somas de dinheiro que fluíram aos seus cofres durante os anos 1960 e inícios de 1970. Embora seja injusto dizer que o dinheiro por si só tornou possível a história de sucesso da GGT – manter esse ponto de vista significaria negar a existência do engenho e da criatividade humana (não no sentido chomskyano, nota bene!) – todos os investigadores sabem da importância do financiamento para qualquer projeto que ele / ela possa conceber.

4.3 A retórica da revolução Todos os que viveram a linguística norte-americana no período da década de

1960 e inícios da década de 1970 vão recordar casos – em encontros profissionais, congressos nacionais e internacionais, nos institutos de linguística, patrocinados pela LSA, bem como as de outras associações e instituições – onde a propaganda de um tipo ou outro foi feita em favor da abordagem ‘radicalmente nova’ à análise linguística da GGT. Na verdade, acredito que muitos estudantes da linguística, senão a maioria, ficaram contentes por ver os ditos estudiosos canónicos a serem atacados por membros da geração mais jovem (veja-se a ilustração abaixo). Muitos estudantes, provenientes da Europa em meados ou finais dos anos 1960, geralmente, depois de lá terem obtido pelo menos o primeiro diploma universitário, optaram pela nova teoria; nunca poderiam ser cativados pelos modelos de análise da linguagem fornecidos por Bloch, Harris, Trager, Smith e outros. Mas sentiam que poderiam associar-se facilmente às ideias que pareciam remontar a Descartes, Port-Royal, e Humboldt. Pode duvidar-se que estes jovens europeus tenham considerado a GGT particularmente revolucionária; na verdade, muitos deles depressa se aperceberam que a alegada visão ‘mentalista’ da linguagem teve pouco efeito sobre a prática real, que mantinha muito do anterior tipo de manipulação de dados em conformidade com a regra prescrita. Para eles, provavelmente, não terá parecido muito diferente dos procedimentos anteriormente estigmatizados como ‘taxonómicos’, ‘mecanicistas’ e ‘desinteressantes’. Muitos deles abandonaram a GGT poucos anos depois de voltarem à Europa. A atitude mais crítica de muitos estudantes europeus (por exemplo, Anttila 1975; Meisel 1973) sugere que, para entender a história de sucesso da GGT, durante os anos 1960 e 1970, será preciso ir além do quadro de referências técnico da teoria e recapturar, tanto quanto possível, o ambiente geral em que esta foi proposta (Sobre a ‘retórica linguística’ veja-se também a análise bastante reveladora de Paul Postal 1988).

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A fim de traçar este clima intelectual na sua totalidade, o historiógrafo teria que entrevistar os participantes das discussões realizadas durante o período (como foi feito por R. A. Harris 1993b; Murray 1994 e Huck / Goldsmith 1995), especialmente, nas reuniões públicas que foram consideradas como mais importantes pelos estrategas de ‘modern linguistics’ (um termo querido ao discurso da GGT (cf. Smith / Wilson 1979). Estas reuniões profissionais incluem o Ninth International Congress of Linguists, realizado em Cambridge, Massachusetts, em agosto de 1962, e vários outros encontros na América do Norte a partir daí, especialmente as reuniões semestrais/ semianuais da LSA (até à década de 1980), que, como sabemos, forneceu fóruns úteis para debates públicos e, até mesmo, para ataques contra as opiniões dos que não se curvavam perante a nova teoria. Isto é admitido pelos adeptos da escola de Chomsky (cf. as referências aos relatos de Newmeyer), e não precisa documentação adicional no presente trabalho. Em vez disso, gostaria de levantar algumas questões relativamente ao Ninth International Congress de 1962, realizado em Harvard e no MIT (e, pela primeira vez na história desta organização, fora da Europa).

Terá sido realmente “sheer coincidence”, como afirma Newmeyer (1980: 51), que o Congresso teve lugar em Cambridge, Massachusetts, com Morris Halle e William N. Locke, o então presidente do Departamento de Línguas Modernas do MIT, na comissão organizadora local? (aliás, Locke também ocupou o cargo de secretário geral do Congresso e Halle o cargo de secretário da comissão executiva, de acordo com as informações fornecidas em Lunt 1964: v). E o que aconteceu com Joshua Whatmough (1897-1964), de Harvard, que “[...] was the chief figure in securing the invitation for the 9th International Congress to meet in the United States, and who was instrumental in obtaining two substantial grants for support of that congress” (como relata Eric P. Hamp 1966: 622)?14 E porque é que Zellig Harris recusou o convite feito para efetuar uma das cinco principais apresentações a serem feitas nas sessões plenárias do Congresso? (os outros quatro intelectuais, Jerzy Kuryłowicz, Émile Benveniste, André Martinet e Nikolaj D. Andreev, tinham entre 52 e 66 anos de idade). O facto é que Chomsky, com menos de 35 anos de idade e sem qualquer exposição internacional anterior, recebeu a posição não ocupada pelo seu antigo professor. Foi acidental ser Roman Jakobson, com quem Halle tinha colaborado na investigação fonológica desde finais da década de 1940 e completado o seu doutoramento em Harvard em 1955, quem apresentou Chomsky aos participantes do Congresso como uma estrela em ascensão?15 (uma indicação de

14 Por acaso, Whatmough, professor de filologia comparativa em Harvard, tinha sido originalmente escolhido como Presidente do congresso, mas, como indicam os Proceedings (1964), acabou por ser substituído por Einar Haugen (que na época ainda estava na Universidade de Wisconsin). O nome de Whatmough nem sequer aparece na lista dos participantes do congresso (cf. Lunt 1964: 1145-1171). Ficou, assim, efetivamente eliminado do registo histórico. 15 O Professor Johann Knobloch, que participou no Congresso de 1962, contou-me quando apresentei um trabalho sobre o presente tema, em 1982, na Universidade de Bonn, que, naquela altura, sentira que estava a testemunhar a ‘entronização’ de Noam Chomsky.

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quanto Chomsky devia a Jakobson pode ser concluída a partir do seu próprio testemunho em A Tribute to Roman Jakobson, publicado em 1983).

A “Logical basis of linguistic theory” de Chomsky foi de longe a mais longa das cinco plenárias. Foi colocada na quinta e última das plenárias (aparentemente por respeito pela posição internacional dos outros quatro oradores), mas tinha 62 páginas na publicação dos Proceedings em comparação com as 22 (do artigo de Kuryłowicz) e 10 páginas (de cada uma das apresentações dos restantes três oradores). De igual forma, a discussão em torno do artigo de Chomsky ocupou 30 páginas em contraste com as 5 a 10 páginas para os outros quatro oradores (a com-paração entre os Preprints do Congresso – editados pelo próprio Morris Halle – e os Proceedings editados por outro ex-aluno de Jakobson, Horace Gray Lunt (1918-2010), revela que foi dada uma oportunidade ilimitada a Chomsky subsequente ao Congresso para expandir os seus pontos de vista e para responder a qualquer das objeções levantadas nas discussões e por ele consideradas relevantes).16

Também é interessante observar que foi neste Congresso que contou com a participação de cerca de 950 investigadores de todo o mundo, especialmente da Europa,17 que Chomsky falou pela primeira vez sobre Saussure, Humboldt e da gramática de Port-Royal, sempre ao tentar demonstrar o quanto a sua própria teoria tinha em comum com essas tradições consagradas na Europa dos séculos XVII ao XIX. Acredito que foi neste bem orquestrado Congresso que o apelo de Chomsky à tradição ‘racionalista’ subjacente às suas ideias linguísticas atraiu pela primeira vez a atenção de muitos europeus para a sua obra (antes de 1962 – o ano em que o Syntactic Structures foi reeditado pela primeira vez, evidentemente, para o International Congress – poucos europeus conheceriam Chomsky). Murray (1980) parece ter sido um dos primeiros estudiosos a dedicar especial atenção às manobras político-sociais do grupo da GGT em torno de Chomsky e do seu primeiro e duradouro aliado, Morris Halle. Foi dele (Murray 1980: 88, nota 85) que eu tirei a ideia de ‘retórica da revolução’, sobre a qual gostaria de dizer algumas coisas a seguir. Na verdade, o papel de Halle na promoção de Noam Chomsky e da GGT deve ser cuidadosamente examinado (cf. Koerner 2005c); o seu talento como organizador e administrador são reconhecidos por Newmeyer (1980: 39), que, infelizmente, não diz nada sobre Halle enquanto político académico. No entanto, enquanto professor visitante no MIT, na altura, recorda que, na primavera e início

16 Note-se que o artigo de Chomsky no Congresso não era de forma alguma o único a promover a GGT; as apresentações de William S.-Y. Wang, Samuel R. Levin, Paul M. Postal, Emmon Bach, Paul Schachter, e os outros também o fizeram (cf. Lunt 1964: 191-202, 308-314, 346-355, 672-677, 692-692, por esta ordem). 17 Depois da minha apresentação sobre este assunto na Universidade de Viena em 16 de dezembro de 1982, o Prof. Wolfgang U. Dressler, que foi o presidente do International Congress de 1977, comentou que, de acordo com as suas informações, nunca tinha havido tanto dinheiro disponível para um congresso como para aquele realizado em Cambridge, Massachusetts, em 1962, e que provavelmente nunca mais haveria tanto dinheiro disponível no futuro. Segundo ele, foram pagas as despesas de viagem a centenas (!) de estudiosos estrangeiros pelos organizadores do congresso.

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do verão de 1962, antes da realização do International Congress (que teve lugar de 27 a 31 agosto), ele estava “watching Morris Halle plot as if he were Lenin in Zurich” (John Gumperz numa entrevista de 1977 com Stephen Murray).

Podemos prescindir aqui de uma análise do que Murray apelidou de as ‘publishing woes’ de Chomsky (sobre isto, veja-se Murray 1999) e o mito generalizado sobre o isolamento intelectual do jovem Chomsky na década de 1950, uma afirmação que não se cansa de reiterar (cf. Sklar 1968: 214; Chomsky 1979b: 131; 1982b: 42-43). Por acaso, e ao contrário do que têm dito Newmeyer (1980: 34-35) e outros, Murray (1980, 1981) estabeleceu de forma convincente que apenas um único artigo de Chomsky foi rejeitado, e este por André Martinet (1908-1999), o então editor da revista Word, isto apesar da firme recomendação de Uriel Weinreich (1926-1967), o editor associado da revista na época (cf. Murray 1980: 77) e das súplicas de Jakobson para Martinet recuar na sua decisão.18 Mas então nem a revista nem o editor alinharam com o modelo bloomfieldiano do estruturalismo que é a pedra angular da linguística de Chomsky. Language, o órgão oficial da LSA, e com esta, o seu editor de longa data, Bernard Bloch (1907-1965), apoiaram Chomsky de todas as maneiras possíveis. Observações semelhantes poderiam ser feitas acerca da publicação dos livros de Chomsky; considere-se a publicação de Murray (1980: 76-77; 1999) sobre o destino do livro The Logical Structure of Linguistic Theory, que o autor entregou para publicação cerca de vinte anos depois de ter sido escrito, embora tivessem sido feitas ofertas anteriores para publicá-lo (veja-se também o relato do próprio Chomsky sobre isto 1975: 3). Como pode ser visto na bibliografia de Chomsky, publicou artigos e críticas em todos os meios de publicação reconhecidos da área, especialmente em Language e no International Journal of American Linguistics (acrónimo: IJAL), mas também em Word (cf. Chomsky 1961) de 1954 a 1961 (cf. Koerner / Tajima 1986: 3-13 para mais informação).

Outro aspeto importante da história de sucesso da GGT, durante a década de 1960 teve pouco a ver com erudição. Newmeyer (1980: 50), que considerou o zelo

18 O espólio de Roman Jakobson no MIT (Caixa 44, pasta 12) contém uma cópia da carta de Jakobson a Martinet, datada de 28 de outubro de 1953, que traz a seguinte passagem (Jakobson era editor associado da Word na altura):

I’d like also to bring to your attention Noam Chomsky, who has the high tribute of being Junior Fellow of Harvard. Both Harris and the outstanding logician Goodman (Penn), as well as our Quine, consider him as a remarkable thinker in linguistics and logic. He was very unhappy about your rejection of his paper, which on my recommendation he submitted to you for Word. I think, however, that for the sake of understandability to the average linguist, it was useful, as you suggested, to retouch this indeed valuable piece of work. Now that he has done it, may I again bring his study to your attention. I am sure that Quine and Harris will fully support my recommendation and I know that you in your turn find these problems as important to be raised.

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uma caraterística admirável por parte dos jovens adeptos da GGT, descreve-o nos seguintes termos:

The missionary zeal with which “the other guys”19 were attacked may have led some linguists, along with Wallace Chafe (1970), to be “repelled by the arrogance with which [the generativists’] ideas were propounded [p.2],” but overall the effect was positive. Seeing the leaders of the field constantly on the defensive at every professional meeting helped recruit younger linguists far more successfully and rapidly than would have been the case if the debate had been confined to the journals. [Robert Benjamin] Lees and [Paul Martin] Postal, in particular, became legends as a result of their uncompromising attacks on every structuralist [i.e., non-GGT]-oriented paper at every meeting. [parênteses retos no original, EFKK]

Newmeyer sugere que tanto Chomsky como Morris Halle incentivavam os estudantes a este tipo de atividade agressiva e claramente polémica que frequente-mente se transformava em ataques ad-hominem (cf. também Chomsky / Halle 1965); mas admite que poderá ter havido alguns excessos:

The combative spirit may have gotten a bit out of hand at times, as even undergraduate advocates of the theory such as Thomas Bever and James Fidelholtz got into the act, embarrassing their teachers as they ruthlessly lit into linguists old enough to be their grandparents (Newmeyer 1980: 50-51).

Foi nas publicações e, em particular, nos debates públicos dos seguidores da GGT que a retórica da revolução, a pretensão da novidade, ‘criatividade’ e originalidade vieram à superfície, juntamente com a alegação de falta de compreensão e apoio por parte da geração mais antiga de linguistas. Murray (1980; 1994: 228-235) mostrou, pelo contrário, que o apoio dos académicos mais velhos era na verdade acessível. Por exemplo, Chomsky foi convidado duas vezes, em 1958 e 1959, para expor as suas teorias em congressos sobre a estrutura do inglês, realizados na Universidade do Texas em Austin. Se, no entanto, acreditarmos em Newmeyer (1980: 46), Archibald Hill (1902-1992), o organizador e anfitrião destes congressos, convidou Chomsky somente para “[...] confronting it [i.e., a GGT, EFKK] directly with the intent of snuffing it out before any serious damage could be done [...]” ao estruturalismo bloomfieldiano. Qualquer um familiarizado com Hill como pessoa achará isto difícil de acreditar, e todos os interessados em verificar o que aconteceu no Congresso de 1958 poderão ler o debate fielmente transcrito após a apresentação de cada comunicação. De acordo com Newmeyer (1980: 35):

19 Sampson (1980: 252, nota 12) relata que “the course which Halle’s and Chomsky’s department offers on non-Chomskyan linguistics [...] is popularly known, by staff and students alike as ‘The Bad Guys’. Obviously the name is not intended [to be taken] too seriously, but it is indicative [of their general attitude towards the ideas of others displayed at MIT]” [completo aqui a frase elíptica de Sampson, EFKK].

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Here we can see the history documented as nowhere else – Chomsky, the enfant terrible, taking on some of the giants of the field and making them look like rather confused students in a beginning linguistics course.

Pessoalmente, não observei qualquer ‘gigante’ na lista de oradores, mas fica claro pelos Proceedings (Hill 1962) que Chomsky estava pouco interessado em acordo; em vez disso, procurou maneiras de tornar as suas ideias controversas, porque, nas suas palavras “they go to the root of the problem and give radical answers”, como mais tarde afirmou numa entrevista onde expôs a sua atitude geral da seguinte forma:

Even before I came to M.I.T. [i.e., em 1955, EFKK], I was told that my work would arouse much less antagonism if I didn’t always couple my presentation of transformational grammar with a sweeping attack on empiricists and behaviorists and on other linguists. A lot of kind older people who were well disposed toward me told me I should stick to my own work and leave other people alone. But that struck me as an anti-intellectual counsel (Mehta 1971: 190-191).

É evidente a partir desta declaração (bem como de outras feitas por Chomsky tanto em público como em privado) que a nova teoria era para ser apresentada de uma forma polémica. No entanto, durante os anos 1950 e mesmo até meados dos anos 1960, a maioria dos linguistas americanos da geração mais velha aceitavam bem não só Chomsky como pessoa como também a sua teoria. Os descritivistas bloomfieldianos sentiam que a teoria sintática de Chomsky aumentava os seus próprios esforços, e o facto de ele ter feito o seu doutoramento com Zellig Harris,20 na Universidade de Pennsylvania persuadiu-os a acreditar que ele era um deles. Não obstante os ataques de Chomsky e dos seus colegas à Velha Guarda, a atitude bastante positiva da velha geração de estudiosos (que incluía não só os ‘bloomfieldianos mas também os ‘sapirianos’) não mudou visivelmente até Halle e Chomsky começarem a atacar o trabalho destes sobre fonologia, uma área

20 Na verdade, esta afirmação requer alteração. Chomsky tinha ido para Harvard logo após a conclusão do seu mestrado em 1951, e não se pode propriamente dizer que Harris tivesse supervisionado a sua tese de doutoramento. O que realmente aconteceu foi recentemente narrado pelo próprio Chomsky. Em abril de 1955, foi recrutado para o Exército dos EUA:

I was 1-A. I was going to be drafted right away. I figured I’d try to get myself a six-week deferment until the middle of June, so I applied for a Ph.D. I asked Harris and Goodman, who were still at Penn, if they would mind if I re-registered – I had not been registered at Penn in four years. I just handed a chapter of what I was working on for a thesis, and they sent me some questions via mail, which I wrote inadequate [sic] answers to – that was my exams. I got the six-week deferment, and I got my Ph.D. (Hughes 2001: 41).

Como resultado, Chomsky foi dispensado do serviço militar. O tratamento diferenciado da defesa da tese de Chomsky também explica porque a dissertação traz apenas a assinatura de Zellig Harris, tanto como orientador como presidente da comissão, e não de outra pessoa como seria o procedimento regular.

Linguística e revolução: com especial referência à ‘revolução chomskyana’ 197

tipicamente ignorada na investigação sobre a GGT feita por Newmeyer (1980).21 Podemos referir a troca de opiniões entre Householder (1965) e Chomsky / Halle (1965), bem como o veredicto de Hockett (1968a: 3) sobre a “Chomskyan-Hallean ‘phonology’”, que, na sua opinião, estava “completely bankrupt”. Já anteriormente, Hockett tinha indicado as suas reações ao estilo dos ‘jovens turcos’ como Lees:

We do not enjoy being told that we are fools. We can shrug off an imprecation from a religious fanatic, because it does not particularly worry us that every such nut is sure he holds the only key to salvation. But when a respected colleague holds our cherished opinions up to ridicule, there is always the sneaking suspicion that he may be right (Hockett 1965: 187).

Embora Hockett se estivesse a referir à revisão crítica de Lees de Syntactic Structures e às observações introdutórias que Lees tinha feito na sua Grammar of English Nominalizations (1960), o principal ponto de discórdia foi a fonologia e o conceito de fonema, como destacou Murray (1981: 110-111); compare-se a observação de Archibald A. Hill:

I think that if one can speak of partial survival [in the revolution of Chomskyan and post-Chomskyan linguistics], I have partially survived it. [...]. I could stay with the Transformationalists pretty well, until they attacked my darling, the phoneme. I will never be a complete transformationalist because I am still a phonemicist (Hill 1980: 75).

A declaração de Hill é um documento importante para o historiador da linguística, pois dissipa o mito amplamente aceite de que foi o trabalho inicial sobre a sintaxe que tinha revolucionado a linguística (e antagonizado a geração mais velha). Note-se a afirmação de Bierwisch (1971: 45): “When Chomsky published Syntactic Structures in 1957, structural linguistics entered a new phase”22. Newmeyer vai mais além, ao tentar estabelecer que, de facto, uma revolução estava em curso e que tinha começado em 1955, quando Chomsky completou o seu “[...] truly incredible work of the highest degree of creativity [...]”, ou seja, o seu estudo The Logical Structure of Linguistic Theory, que “[...] completely shattered the prevailing structuralist conception of linguistic theory” 21 No prefácio do seu livro, Newmeyer (1980: xi) afirma: “In fact, there is no discussion of developments in phonology since the early 1960s”. Para além da sugestão de um dos seus colegas (da Universidade de Washington, Seattle) de que Newmeyer não saberia o suficiente sobre a matéria para escrever sobre a sua evolução, é um facto consumado que os volumes de artigos coletivos sobre a ‘linguística gerativa’, pelo menos os que foram publicados durante a década de 1970, se inclinam fortemente na direção da fonologia, com poucas contribuições dedicadas à sintaxe. Isto pode ter mudado um pouco desde o início dos anos 1980, quando a abordagem Government-and-Binding se popularizou entre a nova geração de linguistas preparados pelo MIT, Amherst, UCLA, USC, e outros lugares (p. ex., a Universidade do Arizona). – A história da fonologia de Anderson (1985), embora não isenta de preconceitos gerativistas, foi considerada muito mais equilibrada do que o tratamento que Newmeyer (1980) dá à sintaxe (cf. Howell 1986). 22 Tendo em vista a tentativa de alguns no sentido de caraterizar Syntactic Structures como a obra que inaugurou a revolução de Chomsky na área científica, esta observação de Bierwisch é importante.

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(Newmeyer 1980: 35). Newmeyer não apresenta muitas provas para sustentar a sua alegação, algo que seria difícil de fazer, já que este trabalho volumoso foi publicado apenas vinte anos mais tarde (Chomsky 1975). No seu artigo sobre a ‘revolução chomskyana’, Newmeyer (1986a: 8) admite que Bernard Bloch tinha sido, “[...] arguably the most influential linguist of the period, concretely abetted Chomsky and his theory in a number of ways”, como Murray (1980) tinha claramente documentado anteriormente (veja-se também Newmeyer 1980: 47-48, para uma anterior indicação do apoio de Bloch à GGT).

De facto, em meados dos anos 1960, os meandros da linguística norte-americana eram muito parecidos com a caraterização que Sydney Lamb deu na sua revisão crítica de Current Issues in Linguistic Theory (Chomsky 1964b) e Aspects of the Theory of Syntax (Chomsky 1965):

The prevailing attitudes are of two different types. Older-generation linguists, upon encountering some of these pages, will stare with incredulity and no little irritation at the distortions and misunderstandings of their ideas and practices and those of their colleagues; while students who never knew what neo-Bloomfieldian linguistics was really like, and those from fields outside linguistics, are led to the false impression that all linguists before Chomsky (except, of course, Humboldt, Sapir, and a few other candidates for canoni-zation) were hopelessly misguided bumblers, from whose inept clutches Chomsky has heroically rescued the field of linguistics (Lamb 1967: 414).

Sem dúvida um grande número, se não a maioria, dos doutorandos que chegaram ao MIT durante a década de 1960 vieram de áreas fora da linguística, tais como a química (por exemplo, Robert B. Lees, James A. Foley), a matemática (por exemplo, James D. McCawley, Barbara Hall Partee, Joseph Emonds) e outras ciências (por exemplo, D. Terence Langendoen, Sc.B., MIT, 1961) e, como resultado, não teriam tido nenhuma exposição prévia nem nenhum compromisso teórico prévio dentro da linguística, para promover esta visão das coisas, como descrita por Lamb.

4.4 Continuidade e / ou descontinuidade É interessante notar que Newmeyer, que tentou tão arduamente estabelecer

algo como uma ‘rupture épistémologique’ (Bachelard) entre as teorias de Chomsky e as dos seus antecessores imediatos, refere-se a dois artigos de Harris e Hockett, publicados em 1954, que contêm declarações que me parecem muito ‘chomskyanas’. No entanto, de acordo com Newmeyer (1980: 37), essas declarações devem ser consideradas como incaraterísticas do trabalho desses dois teóricos. Presumo que ele quereria dizer que eles eram Entgleisungen intelectuais, um deslize acidental da pena, que, como Newmeyer mantém, “[...] clashed head-on with their usual methodological assumptions” e que, portanto, “it is not surprising that they did not develop them”. Embora seja verdade que nem Harris nem Hockett desenvolveram o modelo gerativo agora associado ao nome de Chomsky, o contexto em que essas ideias foram apresentadas indica claramente

Linguística e revolução: com especial referência à ‘revolução chomskyana’ 199

que eram tudo menos lapsos mentais. É óbvio, porém, que aqueles que sublinhavam a descontinuidade em vez da continuidade no desenvolvimento da linguística americana durante os finais da década de 1950 gostariam de ver a situação dessa forma. Para responder a esta questão da visão teórica destes, inspecionaremos os dois artigos de 1954 de Harris e Hockett separadamente, bem como as declarações prévias desses dois estudiosos, à luz da tentativa de Newmeyer de fixar a data da origem da GGT por volta do ano 1951, i.e., a data da tese de mestrado de Chomsky (Newmeyer 1986a: 5, nota 4). Neste sentido, poderá ser interessante ler que o George Lakoff (1971: 267-268), ele próprio um dos primeiros aderentes à ‘linguística moderna’, considerava pelo menos a fase inicial da GGT como “[...] a natural outgrowth of American structural linguistics”.

4.4.1 Harris O artigo de Zellig S. Harris de 1954 é intitulado “Transfer grammar” (a

alteração terminológica de ‘gramática transferencial’ para ‘gramática transformacional’ parece-me comparável ao par terminológico de ‘teoria da evolução’ e ‘teoria evolucionária / evolucionista’; Wells, ao escrever em 1963, ainda utiliza ‘teoria de transformação’). No seu artigo, Harris estava preocupado com o desenvolvimento de um modelo de transferência de linguagem, ou seja, a construção de métodos pelos quais estruturas fonológicas, morfológicas, e também sintáticas de uma língua poderiam ser transferidas para as de outra língua. Em suma, Harris estava a trabalhar numa teoria de tradução que poderia ser utilizada por uma máquina. Como mencionei no início deste trabalho, a tradução automática / mecanizada era um dos principais interesses dos linguistas teóricos da época (cf., por exemplo, Bar-Hillel 1954; Casagrande 1954; Locke 1955) e recebia considerável apoio financeiro de várias agências governamentais dos E.U.A., incluindo a C.I.A. (cf. Hutchins 2000, para detalhes). Harris (1954a: 259) acreditava que se deveria começar a tarefa de tradução mecânica por

[...] defining difference between languages as the number and content of the grammatical instructions needed to generate the utterances of one language out of the utterances of the other [itálicos meus: EFKK].

Subsequentemente define ‘gramática’ como “[...] a set of instructions which generates the sentences of a language” (Harris 1954a: 260), e esta definição repete-se no artigo – por outras palavras, não era para ser uma observação à part, mas uma definição, pelo menos uma definição operacional. O capítulo 5 do artigo de Harris (1954a: 267-270) é dedicado à sintaxe, uma área de que se costuma afirmar que tenha sido negligenciada, se não totalmente ignorada, pelos linguistas anteriores a Chomsky (cf., no entanto, Bloomfield 1942b, b; Nida 1966; Bloch 1946). Curiosamente, Harris propõe uma transferência de frases de inglês para o hebraico moderno, uma língua cujo sistema morfofonémico tinha ocupado Chomsky durante

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vários anos (1949-1951; cf. Koerner 2005c para mais detalhes).23 O gráfico na página 268 do artigo de Harris, a sua explanação e o debate merecem uma atenção especial, pois mostram claramente a sua tendência para a formalização. Esta propensão para fórmulas matemáticas e expressões de álgebra, que carateriza a abordagem de Chomsky à sintaxe em Syntactic Structures vários anos mais tarde, também é muito óbvia em Methods in Structural Linguistics de Harris, um livro que Chomsky terá lido ainda em provas tipográficas em 1947. Chomsky (1975: 25) reconheceu que essa leitura fora a sua “[...] formal introduction to the field of linguistics [...]”. No início dos anos 1950, Chomsky (1975: 29), estava “[...] firmly committed to the belief that the procedural analysis of Harris’ Methods and similar work should really provide complete and accurate grammars if properly redefined and elaborated”. Mas antes de citar uma passagem interessante do livro Methods de Harris, que Norman McQuown (1914-2005) chamou ‘epoch-making’ na sua revisão crítica de McQuown (1952: 495), referir-me-ei a uma importante declaração de Harris no seu artigo de 1954 (que Chomsky pode muito bem ter visto em forma manuscrita um ou dois anos antes da sua publicação), pois mostra que Harris tinha um propósito definido quando distinguiu entre ‘transfer grammar’ (‘gramática transferencial’) e ‘transformational grammar’ (‘gramática transformacional’):

Even in the grammar of a single language by itself, it is possible to generate some of the sentences of the language out of other sentences of the same language by particular grammatical transformations. However the conditions for these grammatical transformations are quite different from those that carry us from the sentences of one language to those of another [como na ‘transfer grammar’, EFKK] (Harris 1954: 260, nota 2).

Afirmações como esta falam por si mesmas e refutam sugestões de que “such views clashed headon with (Harris’) usual methodological assumptions [...]” e que teria sido necessário Chomsky aparecer para as desenvolver (Newmeyer 1980: 37). Observe-se também a formulação, por Harris, de um princípio de regras de formação no seu livro Methods, concluído em 1947, se não antes:

The work of analysis leads right up to the statements which enable anyone to synthesize or predict utterances in the language. These statements form a deductive system with axiomatically defined initial elements and with theorems concerning the relations among them. The final theorems would indicate the structure of the utterances of the language in terms of the preceding parts of the system (Harris 1951a: 372-373).

Que uma abordagem como esta foi importante para o desenvolvimento da sua teoria da gramática transformacional é reconhecido por Chomsky, quando ele recorda a sua investigação inicial:

23 Sugerir, como o faz Newmeyer (1980: 34), que Harris nunca “[...] even looked at it [i.e., Chomsky (1951)]”, é, no mínimo, injustificado.

Linguística e revolução: com especial referência à ‘revolução chomskyana’ 201

When I began to investigate generative syntax more seriously a few years later [i.e., a seguir ao acabamento de Chomsky (1951), EFKK], I was able to adopt for this purpose a new concept that had been developed by Zellig Harris and some of his students, namely, the concept of “grammatical transformation”. It was quickly apparent that with this new concept, many of the inadequacies of the model that I had used earlier could be overcome (Chomsky 1975: 40-41).

Visto por este prisma, não é surpreendente quando McQuown de Chicago declarou a insistência de Harris em seguir pressupostos metodológicos básicos até uma conclusão lógica ‘wholly admirable’, e considerou a contribuição de Harris para a linguística como

[...] epoch-marking in the double sense: first in that it marks the culmination of a development of linguistic methodology AWAY from a stage of intuitio-nism, frequently culture-bound; and second in that it marks the beginning of a new period, in which the new methods will be applied ever more rigorously to ever widening areas in human culture (McQuown 1952: 495).

Chomsky foi indubitavelmente o mais importante fomentador das ideias-chave, inicialmente formuladas por Harris (cf. também Seuren 1998: 248-249). Em relação a isto, temos o relato de Chomsky (1975: 41-45), onde traça em linhas gerais a argumentação feita no discurso presidencial de 1955 à LSA, de Harris, “Transformation in linguistic structure” – publicado dois anos mais tarde com um título diferente (Harris 1957).24 Mais ou menos as mesmas ideias foram publicadas num artigo publicado muito mais tarde (Harris 1965), altura em que os pontos de vista de Chomsky e Harris eram visivelmente divergentes. No entanto, não deve-mos esquecer que Chomsky também estava familiarizado com os trabalhos anterio-res de Harris sobre a ‘análise do discurso’, o que traçou claramente o caminho para o estudo da sintaxe (Harris 1952a, 1952b – mencionado apenas em nota de rodapé na obra de Chomsky 1975: 46, nota 6). Poderíamos destacar declarações anteriores feitas por Harris (especialmente o seu livro Methods, cujo prefácio é datado de ‘January 1947’; cf. Harris 1951a: v) para mostrar que a sua preocupação com o tema da sintaxe não ocorre apenas a partir de 1951. Opinião contrária seria ignorar que os pós-bloomfieldianos já estavam a tratar desta problemática há algum tempo, pelo menos ao nível daquilo que mais tarde foi considerado ‘phrase structure’ (veja-se o extenso artigo de Rulon Wells sobre os ‘constituintes imediatos’ de 1947, como prova desse esforço). Neste contexto, é interessante notar que Daladier (1980: 59, nota 1), que, embora se esforce para demonstrar que Chomsky e Harris vivem em mundos à parte, afirma que Chomsky se inspirou em Harris para obter a distinção entre ‘aceitabilidade’ e ‘gramaticalidade’.

24 Não deixa de ser interessante, que, em 1964, três artigos de Harris, incluindo este discurso presidencial da LSA foram republicados num volume editado por Fodor / Katz, sendo evidentemente destinados a promover a GGT.

202 E.F.K. Koerner

Em suma, parece que quanto mais perto analisamos o debate em torno da linguística americana durante a década de 1940 e inícios dos anos 1950, mais óbvio se torna que o que muitas pessoas hoje querem chamar de ‘revolução’, ou seja, o movimento dito como tendo início com a publicação de Syntactic Structures de Chomsky, era, quando muito, uma evolução do trabalho em curso na altura (cf. Anders 1984). Ao fazer uma revisão crítica do volume de artigos selecionados de Leonard Bloomfield, preparado por Hockett, Harris (1973: 255) aponta para esta continuidade na linguística americana, quando afirma:

The work of Bloomfield can be looked at as paving the way for the later methods of transformational analysis. But his work is not only of historical relevance. It created the apparatus for a certain type and degree of linguistic analysis, and the body of analytic concepts which are a necessary part of any theory of grammar.

Pode ver-se que as tentativas de Newmeyer para estabelecer a prioridade de Chomsky sobre Harris (e Hockett, veja-se 4.4.2 adiante) ao referir-se à “Chomsky’s 1949 undergraduate thesis and his 1951 master’s thesis [...]” como tendo antecedido “[...] the [1954] Harris and Hockett papers by several years” (Newmeyer 1986a: 5, nota 4) não são fundamentadas em factos. Na verdade, no seu livro anterior, Newmeyer (1980: 36) mencionou o artigo de Bloomfield sobre “Menomini morphophonemics” (1939) bem como o trabalho de 1948 de Roman Jakobson sobre a conjugação russa como exibindo claramente o espírito ‘of a generative phonology’. Portanto, não é surpreendente encontrar referências a estas duas publicações na versão impressa de The Logical Structure of Linguistic Theory de Chomsky de 1955 (Chomsky 1975: 571, 572), ainda que uma série de referências reveladoras contidas no texto datilografado original, nomeadamente aquelas que Hjelmslev faz no Prolegomena (1953), tenham sido removidas. Também digna de nota é a afirmação de Henry Kučera (1983: 878) que o artigo “Russian conjugation” (1948) de Jakobson constitui “[...] a full generative description on the morphological level”. A publicação do mesmo na Word, a única outra revista de linguística de renome na altura, além da Language e do International Journal of American Linguistics, faz com que seja altamente improvável que Chomsky não soubesse deste artigo em 1949.

Pelo menos até aos anos 1960, quando Chomsky começou a introduzir os conceitos de ‘deep’ ou ‘underlying structure’ em contraste com o de ‘surface structure’ – cf. Chomsky (1965: 198-199, nota 12) para os antecedentes desta distinção –, a diferença na abordagem de Chomsky à sintaxe conforme The Logical Structure of Linguistic Theory e Syntactic Structures (em comparação com a abordagem de Harris no seu artigo de 1954, por exemplo) faz parecer que Chomsky estava preocupado com transferências (e transposições) dentro de uma só língua (p. ex., Chomsky 1957a: 61-84 passim).

Revendo o pano de fundo do seu trabalho de uma forma mais geral, é interessante notar que Chomsky sempre negou que isto tivesse alguma coisa a ver com ‘attempts to use electronic computers’ (p. ex., Chomsky 1964b: 25; cf.

Linguística e revolução: com especial referência à ‘revolução chomskyana’ 203

também Chomsky 1982b: 63). Parece-me, porém, que Chomsky está envolvido em reescrever o seu próprio passado, aparentemente numa tentativa de ampliar a diferença entre o seu trabalho e o de Harris e sugerir a descontinuidade e a novidade da sua própria abordagem. Assim, numa entrevista em 1979, Chomsky tentou explicar que Syntactic Structures continha um debate sobre automatismo apenas como uma concessão em relação à norma predominante (Chomsky 1982b: 63). Dado que estava empregado desde o outono de 1955, no Research Laboratory of Electronics do MIT, tais referências contemporâneas seriam expectáveis. Assim, num documento de 1958 (não mencionado em Newmeyer 1980 ou na edição revista de 1986), Chomsky sugeriu, entre outras coisas, que

[...] the study of this intermediate area between full scale Turing machines [cf. Turing 1950; EFKK] and absolutely bounded automata is however quite important, not only for linguistics (it is, in a good sense, the general theory of grammar), but also ... of intellectual processes (Chomsky 1958: 437; também citado em Maher 1980: 18).

Que a referência ao trabalho de computador não possa ser considerada como uma observação de passagem, verifica-se numa entrevista de 1971 (Mehta 1971, citada em Maher 1982: 17), na qual Chomsky disse praticamente a mesma coisa. Isso não é de todo surpreendente, quando observamos o que o seu colaborador Morris Halle afirmou no prefácio à publicação da versão revista, em 1959, da sua tese de 1955:

I have assumed that an adequate description of a language can take the form of a set of rules – analogous perhaps to a program of an electronic computing machine – which when provided with further special instructions, could in principle produce all and only well-formed (grammatical) utterances in the language in question. This set of rules, which we shall call the grammar of the language and of which phonology [i. e., o interesse especial de Halle, EFKK] forms a separate paper, embodies what one must know in order to communicate in the given language [...] (Halle 1959: 12-13).

A declaração de Halle, na qual alinha claramente com o trabalho de Chomsky (como é evidente a partir dos dois primeiros parágrafos do seu prefácio) leva-nos de volta a outro importante artigo de 1954, ou seja, o célebre “Two models of grammatical description” de Charles Hockett, a que Chomsky se refere frequentemente na sua escrita durante o período 1955 até 1964, e para o qual o seu trabalho de 1956 é uma espécie de resposta.

4.4.2 Hockett Dado que Newmeyer (1980: 37) se refere a “Two models of grammatical

description” de Charles F. Hockett como um dos dois artigos de 1954 que ‘uncharacteristically’ continham a semente da gramática gerativa, este reconhecido e programático artigo merece uma inspeção mais minuciosa. O próprio Hockett (1954: 210) afirmou que “the bulk of the present paper was written between 1949 and 1951 [...]”, mas, porque reconhecia, em 1951, que este

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daria a “[...] erroneous impression that there were principally just two archetypes [de descrição gramatical, EFKK] to be dealt with”, retivera-o de publicação durante vários anos. Porém, a versão original datilografada já circulava entre os colegas de Hockett desde 1951 (cf. Voegelin / Voegelin 1963: 25) e parece que Hockett fez uso dela quando os editores da Word, especificamente André Martinet, lhe pediram uma contribuição para um volume especial comemorativo do décimo aniversário da revista e que intitularam Linguistics Today (o volume contém, entre outros, um artigo escrito por Benoît Mandelbrot sobre “Structure formelle des textes et communication”, um de Zellig Harris sobre “Distributional structure” e um de Rulon Wells sobre “Meaning and use”). No seu artigo, Hockett apresenta, conforme a minha interpretação, um forte argumento a favor de uma abordagem dinâmica – na sua terminologia ‘Item and Process’ (IP) – em contraste com a abordagem mais usual de ‘Item and Arrangement’ (IA), caraterística da maior parte do trabalho feito até então na linguística norte-americana, embora, como observou Hockett (1954: 210-211), o modelo IP era o mais antigo, em grande parte confinado à linguística histórica.

O artigo de Hockett pretende ser uma declaração teórica importante; de facto, vemo-lo às voltas com problemas que Chomsky atacou logo depois com muito mais sucesso, e não é difícil verificar a importância que o artigo teve para Chomsky (cf. também o seu artigo de 1956, cujo título ecoa o de Hockett). No seu argumento, Hockett (1954: 211-227) traça uma série de declarações e definições teóricas, primeiro em relação à análise IA, dando particular atenção aos problemas decorrentes de variadas definições. Depois, em paralelo com o debate anterior, apresenta as várias definições básicas para uma análise descritiva dentro de um quadro de referência processual (Hockett 1954: 227-228), antes de fazer uma com-paração entre as duas abordagens (Hockett 1954: 229-232). A página final consiste numa discussão de considerações mais generalizadas da ‘grammatical description’ (Hockett 1954: 232-233). Voltarei em breve a esta última questão; antes de fazer isso, no entanto, gostaria de citar uma das declarações feitas por Hockett que diz respeito à análise IP, aquela pertencente às ‘derived forms’. Hockett afirma:

A derived form consists of one or more UNDERLYING FORMS to which a process has been applied. The underlying forms and the process all recur (save for occasional uniqueness) in other forms. The underlying form or forms is (or are) the IMMEDIATE CONSTITUENT(S) of the derived form, [...] (Hockett 1954: 227-228; maiúsculas pequenas no original).

Quando Chomsky nos diz que o seu primeiro interesse pela linguagem se deve ao convívio durante a infância com o trabalho histórico do seu pai em torno do hebraico medieval e que o seu “[...] original interest in generative grammar was based on a perfectly conscious analogy to historical Semitic linguistics” (Chomsky, citado em Koerner 1978a: 44; veja-se também Yergin 1972: 112), não é surpreendente encontrar termos e conceitos como ‘derivation’ e ‘underlying form’ nos trabalhos não-históricos de Chomsky. De facto, como indica Hockett

Linguística e revolução: com especial referência à ‘revolução chomskyana’ 205

(1954: 210-211), o professor de Chomsky, Harris, tinha-se referido a esta analogia histórica na sua obra já em 1944.

Se as considerações teóricas acima são pouco mais do que o conhecimento geral dentro da área naquela altura, uma série de cláusulas gerais de Hockett quanto aos critérios ‘for the evaluation of a grammatical description’ provavelmente não o eram. Para além dos critérios de generalidade, de especificidade e aquilo que denomina de ‘efficiency’ de um modelo, o requisito da ‘productivity’ merece uma especial atenção, nomeadamente porque está relacionado com uma outra observação à qual me referirei brevemente:

(4) A model must be PRODUCTIVE: when applied to a given language, the results must make possible the creation of an indefinite number of valid new utterances. This is the analog of the ‘prescriptive’ criterion for descriptions (Hockett 1954: 232-233; itálicos meus: EFKK).

Este critério é precedido por outro de ‘inclusiveness’, com o qual Hockett pretende afirmar que, quando um modelo é “[...] applied to a given language, the results must cover all the observed data and, by implication, at least a very high percentage of all the not-yet-observed data.” (Hockett 1954: 232). Que esta não é simplesmente uma observação de passagem sem importância fica evidente pelo requisito geral de uma descrição gramatical satisfatória:

The description must also be prescriptive, not of course in the Fidditch sense, but in the sense that by following the statements one must be able to generate any number of utterances in the language, above and beyond those observed in advance by the analyst – new utterances most, if not all, of which will pass the test of casual acceptance by a native speaker (Hockett 1954: 232; itálicos meus: EFKK).

É claro que Hockett pretende dizer algo como ‘predictive’ quando utiliza o termo ‘prescriptive’ (veja-se também a citação anterior). Além disso, o artigo de Hockett (1954) foi o resultado de uma série de anos de reflexão, especialmente sobre a importância da ‘prediction’ na teoria linguística.

Que estas observações não são de forma alguma isoladas no pensamento de Hockett durante finais dos anos 1940 e inícios dos anos 1950, quando Chomsky era um jovem estudante de linguística, pode ser visto através de outros dois importantes enunciados teóricos da sua autoria, publicados em 1948 e 1950 (não mencionados por Newmeyer no seu livro de 1980 sobre a história da GGT, nem na segunda edição em 1986). Ambos os artigos são breves; o primeiro foi republicado por Martin Joos em Readings in Linguistics (1957), incluído na bibliografia de Newmeyer (1980: 263) e, portanto, do seu conhecimento; o outro apareceu em Studies in Linguistics (1943-1973), a revista científica do tipo ‘working-paper’ de George L. Trager. Sinto-me tentado a simplesmente reproduzir na íntegra a “A note on ‘structure’” (1948b) de Hockett, mas algumas passagens marcantes serão suficientes aqui para mostrar o quanto o linguista da Universidade de Cornell – sem dúvida o teórico generalista mais interessante da sua geração –

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estava à frente do seu tempo. Ao delinear a “[...] task of the structural linguist, as a scientist [...]”, Hockett (1948b: 269) enfatiza que esta tarefa deve ir muito além da classificação e simples contabilização de todos os enunciados que compõem o corpus de uma língua em um determinado momento e afirma,

[...] the analysis of the linguistic SCIENTIST is to be of such a nature that the linguist can account also for utterances which are NOT in his corpus at a given time. That is, as a result of his examination he must be able to predict what OTHER utterances the speakers of the language might produce [...] (Hockett 1948b: 269; maiúsculas pequenas no original).

E como para antecipar muito do posterior argumento de Chomsky acerca de (a aversão dos bloomfieldianos a) o ‘mentalismo’ e a sua proposta de um (bastante abstrato) ‘language acquisition device’, Hockett continua no parágrafo seguinte:

The analytical process thus parallels what goes on in the nervous system of a language learner, particularly, perhaps, that of a child learning his first language. The child hears, and eventually produces, various utterances. Sooner or later, the child produces utterances he has not previously heard from someone else (Hockett 1948b: 269-270).

A diferença essencial entre a aquisição de uma língua por parte da criança e o procedimento do analista é descrita por Hockett nesse mesmo artigo da seguinte forma:

[...] the linguist has to make his analysis overtly, in communicable form, in the shape of a set of statements which can be understood by any properly trained person, who in turn can predict utterances not yet observed with the same degree of accuracy as can the original analyst. The child’s ‘analysis’ consists, on the other hand, of a mass of various synaptic potentials in his nervous system. The child in time comes to BEHAVE the language; the linguist must come to STATE it (Hockett 1948b: 270; maiúsculas pequenas no original).

Em última análise, um ‘linguistic scientist’ deve “[...] determine the structure actually created by the speakers of the language [...]”, não a impor, pois “[...] a language is what it is, it has the structure it has, whether studied and analyzed by a linguist or not” (Hockett 1948b: 270-271).

Ao referir-se ao que acredita ser a promessa inquestionável de uma análise do ‘immediate constituent’, no seu outro artigo Hockett (1950: 56) observa que não é “[...] an analytical technique, but a hypothesis about the nature of talking and hearing language”; ao mesmo tempo, admitiu o seguinte:

The problem is to develop techniques by which the hierarchical structure of the utterances of a language can be revealed and stated. A child learning to speak has such a technique; our objective techniques are as yet quite faulty, but at least they are good enough to reveal this very important feature of linguistic structure (Hockett 1950: 56).

Linguística e revolução: com especial referência à ‘revolução chomskyana’ 207

4.4.3 Conclusões preliminares Pelo que foi apresentado nos dois subcapítulos anteriores, poderemos ter a

permissão de questionar, após mais de seis décadas, até que ponto a nossa perceção em relação à linguagem humana avançou desde então. Visto desta forma, o que é frequentemente descrito como uma ‘revolução’ na linguística, após uma inspeção mais minuciosa das provas, parece muito mais uma consequência natural, uma ‘evolução’, dos debates teóricos e dos compromissos metodológicos caraterísticos do período imediatamente após o fim da Segunda Guerra Mundial. Na verdade, nem Harris nem Hockett continuaram a desenvolver várias das suas propostas, mas o posterior desenvolvimento de certos aspetos das suas afirmações teóricas por outra pessoa, e especialmente por alguém que cresceu dentro das suas tradições, não faz da teoria dessa pessoa uma teoria revolucionária – e não foi certamente visto dessa forma pela geração de Harris (1909-1992) nem pela de Hockett (1916-2000), nem durante a década de 1950, nem ainda em inícios dos anos 1960 – a não ser que façamos concessões em relação a uma variedade de fatores não-linguísticos, geracionais, ideológicos e políticos, que teriam desempenhado um papel no impulsionamento dessa opinião.

4.5 Reescrever a história da GGT Em paralelo com a “eclipsing stance” (Voegelin / Voegelin 1963: 12) que

Chomsky e os seus companheiros tinham adotado relativamente cedo no desenvolvimento da GGT, vários esforços foram feitos desde o início da década de 1960, para reescrever a história da linguística norte-americana. Tentativas de outros (p. ex., Hymes / Fought 1981: 154-157) que visavam corrigir a imagem unilateral foram “categorically rejected” (Newmeyer 1980: 5, nota 4). Tal atitude, que se recusa à leitura de fontes primárias – e às interpretações destas – de uma forma imparcial, não pode resultar num relato histórico adequado. O que daqui resulta pode ser exemplificado por dois casos na forma de apresentação de Newmeyer, embora muitos outros casos pudessem ser citados.25

Newmeyer (1980: 46) afirma que Hockett (1965: 185), no seu discurso presidencial da LSA, em 1964, “[...] actually characterized the publication of Syntactic Structures as one of ‘only four major breakthroughs’ in the history of modern linguistics”. É claro que, naquele momento, Hockett, ciente de uma possível separação entre os mais velhos e os mais jovens, estaria a fazer um compromisso amigável para com Chomsky e os seus seguidores. No entanto, no parágrafo de abertura do seu discurso, Hockett não diz exatamente o que Newmeyer afirma que ele terá dito. Em vez disso, quando chega a pronunciar-se sobre aquilo a que chama de ‘the accountability hypothesis’, Hockett (1965: 196), de facto, afirma o seguinte:

25 Cf. a troca de correspondência entre Newmeyer e o seu revisor, Stephen Murray, em Historiographia Linguistica, nomeadamente “Reply to Murray's Review” (Newmeyer 1982) e “The Reviewer responds”(Murray 1982), para exemplos adicionais e também o que disse no capítulo 4.4.

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We are currently [i.e., em 1964, EFKK] living in the period of what I believe is our fourth major breakthrough; it is therefore difficult to see the forest for the trees, and requires a measure of derecthesis on my part to say anything not wholly vague. Instead of a long list of names, I shall venture only the two of which I am sure; and since the two are rarely linked I shall carefully put them almost a sentence apart. I mean Noam Chomsky on the one hand and, on the other, Sydney M. Lamb. The order is intentional: Chomsky is unquestionably the prime mover.

Não há dúvida de que esta afirmação é muito mais comedida do que Newmeyer nos quer levar a crer; na verdade, Sydney Lamb não é mencionado apenas de passagem no artigo de Hockett, mas é referido várias vezes depois disso, juntamente a (morfo)fonologia de Chomsky e Halle (cf. Hockett 1965: 200). A afirmação de Newmeyer citada anteriormente pode simplesmente ter sido o resultado da impaciência de um jovem escritor com a observação judiciosa de um intelectual. No entanto, quando se encontram mais algumas dessas extrapolações das declarações de outros que tendem a dizer mais do que aquilo que foi realmente dito, já não se poderá ter a certeza da fiabilidade dos relatos de Newmeyer. Para citar mais um exemplo do seu livro de 1980. Quando começa a falar sobre a ‘revolução chomskyana’, Newmeyer, depois de ter mostrado a importância da ‘crítica’ de Lees ao trabalho de Chomsky (1957a), procura mais apoio para a sua visão de que uma revolução tinha ocorrido na linguística, na altura, referindo-se a uma declaração feita por um estudioso da geração mais velha, Charles ('Carl') Frederick Voegelin (1906-1986), um ex-aluno de Alfred Louis Kroeber (1876-1960) e também de Edward Sapir (não de Bloomfield) e, na verdade, um bom amigo de Zellig Harris. Newmeyer (1980: 19) escreve:

And C. F. Voegelin (1958), in another review, noted that even if Syntactic Structures managed to accomplish only part of its goals, “it will have accomplished a Copernican revolution [p. 229]”.

Infelizmente, é impossível reproduzir o argumento de Voegelin, na íntegra, algo que seria desejável numa história detalhada da GGT, mas vou citar, pelo menos, duas passagens da sua crítica de duas páginas, uma a partir da qual Newmeyer redigiu a frase que cita, e outra que permite uma interpretação bastante diferente do desempenho de Chomsky.

Tendo afirmado que “immediately after reading Chomsky [...]” ele “[...] had formed a rather strong positive impression, and developed an equally strong negative bias”, Voegelin (1958: 230) observou sobre ‘the negative side’:

I would not accept the strategy of criticism adopted by Chomsky and his explicator [i.e., Robert Lees na sua ‘resenha’ de Syntactic Structures, EFKK] – putting the burden of justification on anyone who would maintain the validity of pre-transform grammar. Some would (almost) accept this; thus, one of my western friends says that Chomsky (almost) convinced him that morphemics was a poor old dead dog. And if transform grammar also persuades linguists to relegate phonemics to a preliminary stage of analysis (called ‘discovery’), and

Linguística e revolução: com especial referência à ‘revolução chomskyana’ 209

to operate in final analysis (called ‘description’) exclusively with morphophonemics, it will have accomplished a Copernican revolution.

Admito que isso soa muito diferente da interpretação que Newmeyer tenta oferecer. Como sabemos, Chomsky tinha mudado da morfofonémica26 (Chomsky 1951) para a sintaxe em 1955, o mais tardar. Além disso, é claro para Voegelin que Zellig Harris fora o inventor desta abordagem e que a “[...] application of the principle of transformation to grammar [...]” era “[...] certainly not new” (Voegelin 1958: 230, nota 1). Por fim, é na seguinte nota de rodapé que Voegelin responde à sua própria pergunta retórica “Will they [i.e., Chomsky, Lees, e talvez outros, EFKK] start a Copernican revolution within linguistics?”:

A palace revolution, perhaps, in contrast to the interdisciplinary revolutions plotted by David Bidney, Six Copernican Revolutions, Explorations I: Studies in Culture and Communication pp. 6-14 (1953) (Voegelin 1958: 230, nota 2).

Pouco há a acrescentar para sugerir que as citações de Newmeyer não são, na melhor das hipóteses, confiáveis e, na pior das hipóteses, o oposto do que os autores disseram. A referência de Voegelin a uma ‘revolução palaciana’, no entanto, traz-nos de volta ao nosso tema, ou seja, à tentativa de os adeptos da escola da GGT reescreverem e, eventualmente, cimentarem uma história da linguística americana a corresponder às vantagens que viam nela para a sua própria corrente (veja-se a posterior defesa de Newmeyer 1986a: 9-10, nota 11 em relação à sua interpretação ‘seletiva’ da resenha de Voegelin).

Já mencionámos a reivindicação reiterada de Noam Chomsky que não tinha sido compreendido pelos seus colegas mais velhos durante a década de 1950. A sugestão, que claro não foi em vão na sua audiência, é que haveria uma espécie de fenómeno kuhniano de incomensurabilidade de pontos de vista teóricos sobre a linguagem na linguística americana que, em última análise, finalmente teve que levar a efeito uma ‘revolução científica’. Já nos referimos aos comentários repetidos de Chomsky, pouco ‘francos’ sobre a falta de possibilidades de publicação dos seus pontos de vista ‘radicais’ da teoria linguística – observe-se que não fez chegar ao público nenhum dos seus pontos de vista políticos antes de 1966 (cf. Koerner / Tajima 1986: 91), ou seja, depois de Aspects (1965) e The Sound Pattern of English27 terem sido de facto escritos.28 26 Sobre este assunto, e da forma em que Chomsky e Halle se envolveram na reescrita da história, veja-se Koerner (2003b). 27 Esta obra, embora publicada apenas em 1968, estava disponível em formato datilografado em 1964, dois anos após Halle (1962) ter ‘aberto o campo’ à inclusão de fonologia na GGT. Não é propriamente correto afirmar, como o faz Newmeyer (1980: 40), talvez em retrospeção, que The Sound Pattern of Russian de Halle, publicado em 1959, embora em grande parte derivado da sua dissertação concluída sob a supervisão de Jakobson, em 1955, constituía o “first major work of generative phonology”. 28 Uma seleção recente da escrita política de Chomsky contém apenas alguns artigos de jornais que datam de finais dos anos 1960 (veja-se Chomsky 1980).

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No início deste artigo, referi as tentativas de Chomsky (a partir de 1962) para reescrever a história da GGT ao alegar, por um lado, a ascendência ‘cartesiana’ da sua teoria da linguagem. Em relação a isto, seja-me permitido citar apenas um exemplo. A ausência de “[...] any discussion of mentalism in Syntactic Structures” foi apontada a Chomsky por entrevistadores em 1979, mas – como as transcrições publicadas indicam, Chomsky não deu nenhuma resposta exceto uma referência ao ‘MIT-context’ e ao propósito do livro (isto é, para servir como material didático para uma licenciatura no MIT) que, supõe-se, Chomsky terá considerado suficiente para explicar a omissão (cf. Chomsky 1982b: 63). No entanto, outras fontes sugerem que as declarações sobre a ideia do mentalismo – retocadas no seu ataque a Skinner (Chomsky 1959) – foram realçadas só a partir de inícios dos anos 1960 (cf. Katz 1964).29 No entanto, Chomsky, concentrado em reescrever o seu desenvolvimento intelectual, não quer que os outros vejam as coisas dessa forma. Assim, Iain Boal, um linguista, (que ensinava história da ciência em Harvard e que, mais tarde, foi trabalhar para a California University Press), ao comparar a versão impressa de The Logical Structure of Linguistic Theory (1975) com o manuscrito de 1955-1956, no qual não encontrou “[...] no claims about making grammars psychologically valid”,30 observou o seguinte sobre Chomsky e a sua obra:

Indeed, in the original mimeograph he said that “the introduction of dispo-sitions (or mentalistic terms) [e.g., mind, belief, meaning – IAB] is either irrelevant or trivializes the theory”, and he ruled out all talk of mind for “its obscurity and general uselessness in linguistic theory”. In the version published in 1975, these passages are expunged and he writes that the “psychological analogue” (i.e., the radical idea that a grammar models knowledge that is actually incorporated in our heads) “is not discussed but it lay in the background of my thinking. To raise this issue seemed to me, at the time, too audacious.” This has brought from an old colleague of Chomsky the wry comment that “it is hard not to be skeptical about Chomsky’s claim that timidity prevented a thought of his from becoming known (Boal 1984: 15).

Não tenho dúvidas nenhumas de que uma comparação cuidadosa da publicação de The Logical Structure of Linguistic Theory (1975) com o texto datilografado original poderia produzir muitos mais casos destes em que Chomsky reconsidera o seu passado intelectual (já mencionei a eliminação de todas as referências aos Prolegomena de Hjelmslev – cuja tradução para o inglês tinha aparecido em inícios de 1953 – onde há muitas considerações metalinguísticas que encontramos na obra de Chomsky a partir de 1955, e que será de esperar descobrir 29 Sobre esta questão, compare-se Steinberg (1999) com uma revisão devastadora das teorias de Chomsky e as suas aplicações a partir do ponto de vista de um psicólogo da linguística. Ele mostra primeiro que Chomsky era um formalista anti-mentalista antes de 1959 e que, quando adotou o mentalismo, em 1965, as suas gramáticas eram inúteis para fins psicolinguísticos, porque centravam-se na sintaxe em vez de na semântica. 30 Para uma análise aprofundada de transição de Chomsky de uma posição fervorosamente formalista e anti-mentalista durante os anos 1950 para uma defesa mentalista em Aspects, consulte-se Steinberg (1999).

Linguística e revolução: com especial referência à ‘revolução chomskyana’ 211

outros tais casos de exclusão, bem como revisão de posições anteriores em The Logical Structure of Linguistic Theory). No entanto, os escritores de histórias partidárias da GGT, dos quais Linguistic Theory in America de Newmeyer de 1980 é o exemplo mais bem sucedido, tendem a depender da opinião pessoal de Chomsky sobre as origens e o desenvolvimento da GGT como se esses relatos pudessem ser tomados pelo seu valor nominal sem qualquer outra corroboração. Noutras ocasiões, Newmeyer trata as suas fontes muito mais seletivamente,31 e

31 Na sua resenha de Newmeyer (1980), Fought (1982: 317) observou que o tratamento do papel de Zellig Harris no desenvolvimento da GGT por Newmeyer era insuficiente e deficiente. É verdade que Newmeyer, muito em linha com a sua tentativa de enfatizar a natureza ‘revolucionária’ das propostas de Chomsky, praticamente tinha eliminado a questão da influência de Harris em Chomsky, sugerindo em vez disso que Chomsky fez exatamente o que o professor lhe tinha tentado persuadir a não fazer. Normalmente, procuraríamos em vão em Newmeyer por referências a documentos que pudessem enfraquecer a imagem da GGT como a teoria que ‘conquistaria’ (termo de Newmeyer) os linguistas mais brilhantes do período ‘revolucionário’ Refiro-me ao debate de 1962 sobre “The advantages and disadvantages of transformation grammar” realizado no âmbito do 13th Annual Round Table Meeting at Georgetown University, Washington, D.C., e publicado no ano seguinte (Woodworth / DiPietro 1963: 3-50), como um dos exemplos. O debate foi presidido por Eric P. Hamp; Paul M. Postal foi o orador principal (Postal, embora oficialmente matriculado na Universidade de Yale para o doutoramento, na verdade trabalhava no Laboratório de Eletrónica do MIT na época, e servia desde 1961 como paladino da causa da GGT, especialmente nas reuniões de verão e de inverno da LSA). Quem ler as 48 páginas dos Proceedings do debate entenderá porque Newmeyer convenientemente ignorou esta importante prova histórica. O que é certo é que este encontro não mostra a GGT a vencer da forma como Newmeyer retrata a marcha da revolução na linguística: cada nota ou alegação teórica feita por Postal no simpósio foi eficazmente rebatida por Paul Garvin – um estudioso cuja carreira possivelmente não foi mais bem-sucedida, senão provavelmente, porque viu muito cedo as falhas da teoria transformacional e não se deixou conquistar pela GGT (como Sol Saporta ou Robert Stockwell). Daí não ser surpreendente que o nome de Garvin não apareça uma única vez nas 250 páginas que Newmeyer dedica à linguística norte-americana. Desta troca de opiniões entre Postal e Garvin, apresentarei apenas um trecho para ilustrar ao limite que os gerativistas iriam se fossem pressionados a dar explicações. Postal acabara de descrever o que uma gramática gerativa poderia fazer na análise de frases de uma determinada língua, quando Garvin apresentou as suas objeções (Woodworth / DiPietro 1963: 36-37):

MR. GARVIN: I would disagree for one very serious reason. One way of verifying the validity of a theory is by writing a recognition routine based on this allegedly correct, and allegedly only correct grammar, and then by seeing whether it indeed does “recognize”. I deliberately mentioned the Washington Post and Times Herald, because to a large number of speakers of English, it contains grammatical sentences. MR. POSTAL: Most of the sentences would not be sentences at all. MR. GARVIN: What a preposterous claim! On behalf of the Washington Post I protest! This is a very common brand of English. MR. POSTAL: I would say it is a very common brand of non-English, that is, not complete English sentences. MR. GARVIN: Then, of course, you are in the marvelous position where whenever you can’t analyze something you simply say, “this is not English.”

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apresenta uma linha particular de pensamento da linguística americana como se esta refletisse todo o desenvolvimento da disciplina. Para ele, a natureza paradigmática de Syntactic Structures continua em vigor: “A truly alternative theory with any credibility has yet to emerge” (Newmeyer 1980: 20).

Um historiador da linguística, no entanto, sabe que, apesar de certas pistas poderem aparecer (geralmente em retrospetiva) nos primeiros trabalhos de um estudioso ou cientista que seja importante no ramo, que é normalmente o trabalho posterior que passa a ser considerado como paradigmático para investigações subsequentes. Podemos mencionar, por exemplo, o Conjugationssystem (1816) de Bopp, que as histórias tradicionais da linguística consideram como o início da linguística comparativa (como se a obra de Schlegel de 1808 não tivesse traçado as linhas gerais do campo, de onde Bopp e outros mais tarde iriam colher os frutos); no entanto, foi, ao aparecer em volumes sucessivos de 1833 em diante, a Vergleichende Grammatik (11833-1842, 21857-1861, 31868-1871) de Bopp, que forneceu a estrutura para a geração posterior de linguistas histórico-comparativos. Da mesma forma, foi com o seu Compendium der vergleichenden Grammatik (11861-1862, 21866, 31873, 41876), e não com os seus primeiros livros, que o trabalho de Schleicher se tornou o ponto de referência para a investigação linguística da maior parte das duas ou mais décadas seguintes (cf. Koerner 1982a). No caso de Saussure, a situação é um pouco mais complicada porque o Cours foi publicado postumamente e não tinha o imprimatur do autor.32Além disso, uma série de fatores externos (mas também internos) à linguística atrasaram o impacto da sua teoria sincrónica da linguagem.

A partir destas observações, não é surpreendente que a ‘revolução’ na linguística ‘moderna’ seja associada à síntese posterior de Chomsky ao invés dos seus primeiros escritos. Neste contexto, posso referir a opinião de James McCawley. Na sua opinião (note-se que McCawley toma como facto consumado a morfologia kuhniana das revoluções científicas), foi antes o livro Aspects of the Theory of Syntax (1965), em vez de Syntactic Structures (1957a), que forneceu a base para uma ‘revolução’, por várias razões: 1) Aspects “[...] brought semantics out of the closet [...]” (McCawley 1976b: 6), o que “[...] increased the inherent interest in doing transformational syntax, as well as making it relatively easy to come up with analyses that stood a chance of being right [...]” (McCawley 1976b: 7); 2) a sua ‘greater systematicity’ tornou a teoria mais atraente e “[...] relatively easy to determine what the grosser implications of a given analysis were”

Observadores da atmosfera linguística dos anos 1960 e de inícios dos anos 1970 lembrar-se-ão, sem dúvida, do debate sobre ‘grammaticality’ (cf. crítica inicial de Hill de 1961 e refutação agressiva de Chomsky no mesmo ano) e noções relacionadas, e aperceber-se-ão que os palpites de Garvin estavam corretos. 32 Curiosamente, Calvert Watkins disse-me que, na sua opinião, os estudiosos que não compreendiam plenamente o significado da Mémoire (1878) de Saussure seriam incapazes de compreender o significado do seu Cours. Veja-se o seu artigo “Remarques sur la méthode de Ferdinand de Saussure comparatiste” (Watkins 1978).

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(McCawley 1976b: 7-8); e 3) a separação da categoria sintática dos ‘‘various factors that affect what co-occurs with what’ (McCawley 1976b: 7) fez dele “[...] relatively easy to formulate transformational analyses in general terms without any loss of precision, and to start dealing seriously with syntactic universals” (McCawley 1976b: 8).

McCawley tinha em mente a ideia de Kuhn de um ‘scientific paradigm’ quando formulou a sua visão sobre o estatuto do Aspects, especialmente a sugestão de Kuhn (1970: 10) sobre o caráter relativamente aberto daqueles trabalhos ‘paradigmáticos’ que “[...] leave all sorts of problems for the redefined group of prac-titioners to resolve”. Por outras palavras, se vamos falar de algo semelhante a uma revolução na sintaxe durante estas últimas décadas, esta deve ser associada ao trabalho de Chomsky da década de 1960, e, em particular, à introdução do conceito de ‘deep strucure’ e noções associadas, que estavam ausentes dos seus primeiros trabalhos, isto é, com Aspects em vez de Syntactic Structures, apesar da impressão que Chomsky e os seus colegas tentaram criar, e que às vezes conseguiram impressionar determinados pós-bloomfieldianos do princípio dos anos 1960. Como podemos presenciar com a história da escola neogramática (cf. Koerner 1981), a propaganda distribuída pelos adeptos de uma visão particular da teoria linguística e a impressão que esta produz nas mentes de muitos dos contemporâneos é uma coisa; a história real é outra – “wie es eigentlich gewesen” (Ranke 1824: vi) – completamente diferente.

5 Outros aspetos de uma historiografia da linguística americana A discussão anterior sugere que ainda estamos muito longe de obter uma

história adequada da linguística na América do Norte durante os últimos cinquenta ou mais anos, em particular no que diz respeito às fontes e ao desenvolvimento da gramática gerativa-transformacional. Um esforço foi feito para identificar várias questões que necessitam de esclarecimento e de áreas que deveriam ser investigadas com mais minúcia. Na minha opinião, a tarefa não é fácil por uma série de razões, incluindo a dos interesses manifestos naquilo que foi chamado ‘institutional linguistics’ em manter a área unida e em libertar-se das ‘heresias’, bem como das ‘contra-revoluções’ (cf. o relato de Newmeyer 1980: 167ss. sobre o ‘collapse of generative semantics’). Mas há também problemas básicos de cultura, incluindo o de delinear uma cronologia exata de trabalho – que numa história da GGT é de vital importância se for para surgir um retrato exato da discussão teórica em curso – o que Newmeyer, talvez por razões de conveniência, optou por ignorar. Qualquer pessoa, ainda que superficialmente familiarizada com a GGT e o comportamento dos gramáticos gerativistas, sabe, entre outras coisas, que muitos dos seus produtos circulam internamente apenas entre os membros íntimos do grupo, com muitos artigos a nunca serem publicados ou a sê-lo apenas muitos anos mais tarde, altura em que muitas das posições neles defendidas já foram há muito discretamente abandonadas (cf. a opinião de Grunig de 1982: 290 sobre essa

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estratégia tradicional).33 No entanto, Newmeyer (1980: xii-xiii), por sua vez, anuncia: “Throughout the text, I cite books and articles by the year of their first publication, not by the year that they were written”. Por exemplo, a edição de McCawley de um número significativo de trabalhos datados entre 1960 e 1967, publicado sob o título de Notes from the Linguistic Underground (1976a) está escondida na bibliografia de Newmeyer (1980: 268), sob o título inócuo da série Syntax and Semantics, vol. 7; além disso, não há mais qualquer indicação de que os artigos aí publicados constam de facto na história da GGT de Newmeyer.

A situação é bastante frustrante para o historiógrafo da linguística que tenta estabelecer o que realmente aconteceu para apresentar um quadro adequado da história da linguística na América do Norte durante os últimos cinquenta ou mais anos. Polemics, ainda que escrito da forma magistral com a perspicácia e humor com que Maher (1982) o faz, prova ser ineficaz. Aqueles que acreditam que Maher está correto não pertencem à GGT, e aqueles que pertencem a ela, desafiam-no: recusam-se a ler a sua obra (ou de qualquer outra pessoa) – a menos que subscreva os princípios básicos da GGT –; há um consenso geral entre eles para se manterem em silêncio sobre trabalhos que não sejam da GGT, e os estudantes são alertados pelos seus professores a ignorá-los. Trocas polémicas, ao que parece, são valiosas somente quando ambos os lados estão em busca da verdade, mas há poucos indícios de que aqueles que se associam à ‘revolução chomskyana’ estão de alguma forma, ainda que não trivialmente, interessados nisso. Newmeyer não o está e Chomsky e os seus colegas têm consistentemente mostrado que apenas querem ganhar a luta, e de tal forma que não seja possível uma desforra.34

5.1 Linguística organizacional nos E.U.A. Algo deve ser dito sobre aquilo que é referido como ‘linguística

organizacional’, isto é, a influência sobre, se não o controlo sobre, o acesso aos pontos de venda de publicações e de financiamento para a investigação, por exemplo. Parece que desde cedo os líderes do movimento gerativista garantiram 33 Que esta técnica de se referir a trabalhos inéditos ou trabalhos ou dissertações de difícil acesso (tão bem apresentada em Syntactic Structures de Chomsky) para apoiar uma sua teoria ou reivindicação específica ainda é praticada entre os adeptos da GGT, testemunhei pessoalmente na primavera de 1982, quando um doutorando do MIT apresentou uma comunicação na Universidade de Ottawa (aliás, um evento semelhante ocorreu aqui mais recentemente, em novembro de 1987, aquando da apresentação por outro doutorado do MIT). Para um exemplo apenas de uma fonte impressa, basta ver o artigo “Advances in linguistic rhetoric” de Postal (1988), onde ao todo 14 referências bibliográficas podem ser encontradas, das quais sete se referem a escritos inéditos (na sua maioria dissertações e teses do MIT) e um oitavo – pelo próprio autor do artigo – refere-se a outro artigo do autor que estaria no prelo. 34 Como exemplo típico das táticas empregues pelos colegas de Chomsky, pode referir-se a troca bem documentada entre Uriel Weinreich e Jerrold J. Katz. O último incorporou muitas correções a falhas na sua teoria para as quais Weinreich o alertou na sua crítica, fingindo que tinham sido da sua própria iniciativa. Cf. “Recent issues in semantic theory” de Katz (1967), e a breve resposta de Weinreich, em que expressou o seu espanto sobre tal procedimento, “On arguing with Mr. Katz” (Weinreich 1967). Para o modo da conduta de Chomsky quando desafiado, veja-se Koerner (2005f).

Linguística e revolução: com especial referência à ‘revolução chomskyana’ 215

que este tipo de apoio estivesse sempre a postos. De que outra forma se poderia explicar, por exemplo, que em menos de um ano após a publicação do livro de 1980 de Newmeyer, uma revisão brilhante apareça em Language (apenas, o jornal com a maior circulação de todos os periódicos da linguística no mundo). A resenha foi escrita por Donna Jo Napoli, que, como Newmeyer, era editora associada de Language, na época, já agora. Napoli vê um benefício particular de Linguistics in America porque “[...] the structuralist [!] who stopped reading generative work sometime soon after Chomsky’s Aspects can [now] follow more recent developments [...]” (Napoli 1981: 456).35 Sem dúvida, que a questão de ‘The Politics of Linguistics’ precisa de ser tratada; mas de uma forma muito diferente do recente livro de Newmeyer com o mesmo título (Newmeyer 1986b; cf. Murray 1989). Nesse livro não é feita nenhuma tentativa de pôr a nu a operação das redes sociais na forma que, por exemplo, Murray (1983) o faz. Ao invés, Newmeyer publicou um artigo a defender a ‘Chomskyan Revolution in Linguistics’ (Newmeyer 1986a), onde argumenta que esta ocorreu ‘sociologicamente’ e ‘intelectualmente’, ao mesmo tempo, isto ao negar que tenha havido qualquer ‘tomada de poder’ (Newmeyer 1986a: 9) por parte da escola da GGT, alegando inesperadamente que “their influence [in American linguistics] is disproportionately small” (Newmeyer 1986a: 12). Em nota de rodapé (Newmeyer 1986a: 12, nota 14) Newmeyer reconhece que “Paul Chapin, the National Science Foundation Director for linguistics, has a doctorate from MIT”, mas que o “[...] 1983 advisory panel contained only one generativist”. O que não menciona é o facto importante de Chapin – o sétimo doutorando de Chomsky (cf. Koerner / Tajima 1986: 196) – ser o primeiro titular nesta posição, que foi criada em 31 de outubro de 1975,36 e que se manteve no cargo cerca de 25 anos, aposentando-se apenas em 1999, embora ainda associado à fundação National Science Foundation (NSF), até ao início de 2001 noutro cargo.37 Embora não haja nenhuma sugestão que Chapin possa ter agido incorretamente no cargo, é natural supor que terá olhado favoravelmente para os pedidos de subvenção de pessoas com credenciais gerativistas. Continua a ser verdade que, dos muitos milhões de dólares 35 Para selecionar apenas algumas declarações adicionais da resenha: “This book is astounding for its information, intelligence and insight” (Napoli 1981: 456); “[...] the greatest value of LTA [= Newmeyer 1980] lies not so much in the material it covers, but how it covers that material” (Napoli 1981: 457), “This is a major contribution to our knowledge of the history of linguistic theory [as if there was only one on the market of ideas]” (Napoli 1981: 459). Apenas se pode concordar com a autora quando esta afirma que o livro é dedicado à história da “syntactic theory” – de um tipo particular, é claro – e não à história da linguística americana em geral (Napoli 1981: 456). 36 Antes desta data, o Special Projects Program da Division of Social Sciences da NSF teria processado os pedidos de bolsas; a partir do verão de 1973 em diante, Alan E. Bell do Departamento de Linguística da Universidade do Colorado atuou como associado dos recursos humanos para lidar com esses pedidos. 37 No seu e-mail detalhado que me dirigiu em 15 de janeiro de 2002, Dr. Chapin gentilmente me facultou esses (e outros) detalhes; o seu último cargo no NSF foi o de ‘Senior Program Director for Cross-Disciplinary Initiatives’.

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distribuídos pelo programa de linguística da Agência, o MIT e as suas instituições associadas receberam – e refiro-me especialmente aos anos 1960 e 1970 – um valor considerável, e por vezes bastante desproporcional (como informam os relatórios anuais da NSF).38

Outro aspeto importante não mencionado por Newmeyer no seu artigo de 1986 sobre a ‘revolução chomskyana’ é o facto de que o primeiro doutorando (oficial) de Chomsky, D. Terence Langendoen, ocupou o cargo de Secretário-Tesoureiro da LSA por um mandato de cinco anos (1984-1989),39 e que tinha sido precedido por Victoria A. Fromkin (desde 1979), que certamente também pode ser incluída no campo da GGT. Se na realidade tivéssemos de aceitar a reivindicação de Newmeyer (1986a: 12) de que havia “[...] many major universities [...] dominated by non-generativists”, sugerindo assim que o número de gerativistas na época era bastante pequeno, não podemos deixar de notar que eles estavam desproporcionalmente, por excesso, representados nas importantes comissões da LSA. Por exemplo – como se pode supor a partir do LSA Bulletin 117 (outubro de 1987) – o comité de nomeação propôs dois candidatos para o comité executivo de 1988-1990, um doutorado do MIT e o outro, um gerativista distinto, com um terceiro candidato, que tinha feito o seu doutoramento no MIT em 1976; todos a serem nomeados por mais de dez membros da LSA.

Ao contrário do presidente da LSA (observe-se, por exemplo, que a terceira doutoranda de Chomsky, Barbara Hall Partee, foi presidente em 1986, precedida por Victoria Fromkin em 1985, e seguida por Elizabeth Traugott, também uma adepta bem cedo da escola da GGT, em 1987), que geralmente não exerce muita influência durante o seu primeiro ano de mandato, o Secretário-Tesoureiro, que é um membro ex officio de uma das comissões mais importantes (por exemplo, aqueles que distribuem bolsas de viagem, bolsas de estudo, posições de delegado), desempenha um papel importante na linguística americana. Além disso, não devemos esquecer que a LSA é de longe a maior organização profissional de linguistas do mundo. Mas ‘linguística organizacional’, ou seja, o poder e a

38 Recordo-me que, tendo sido convidado pelo Dr. Bell naquele ano, para servir como uma das referências para o projeto da LSA para organizar o Third Golden Anniversary Symposium (1974), desta vez dedicado à ‘The European Background of American Linguistics’ (cf. Koerner 2005a, capítulo 1, para mais detalhes), obtive o relatório anual emitido pelo Programa de Linguística do NSF no início de 1974. Daí deduzi que, enquanto os principais estudiosos da época (como Charles Ferguson de Stanford para o Arquivo Fonológica) recebeu uma bolsa de $30 000 ou $40 000, o próprio Morris Halle, do MIT, recebeu uma quantidade muito maior, $120 000 ou mais, para um projeto intitulado ‘The study of language’. Seria interessante verificar todos esses relatórios anuais, a fim de obter uma ideia da forma como projetos do tipo da GGT foram fortemente financiados (Paul Chapin, no seu e-mail para mim em 17 de janeiro de 2002, prometeu “the next time I have occasion to go through the boxes in my storeroom, I’ll keep an eye out for the lists, and will let you know promptly if I find them”, mas ainda não o tinha feito até finais de maio de 2002). 39 Pode parecer irónico para alguns que não tenha sido mais ninguém senão Newmeyer a ser escolhido na reunião de dezembro de 1988 da LSA para substituir Langendoen, que renunciou ao cargo após a sua contratação pela Universidade de Arizona em 1988.

Linguística e revolução: com especial referência à ‘revolução chomskyana’ 217

influência exercida por pessoas que, sempre que um associado do ‘paradigma da GGT’ é criticado, correm na sua defesa, não fica por aí. Seria interessante descobrir quantas outras organizações linguísticas que lidam com bolsas de estudo e decidem sobre bolsas de viagem e similares são efetivamente controladas por pessoas que, pelo menos num sentido amplo pertencem a este movimento gerativista. Da mesma forma, gostaria de saber quantos deles estão em posições de poder político nas universidades como presidentes, reitores, etc. Além disso, se não houve ‘tomada de poder’, como alguém pode alegar que se deu uma ‘revolução’? Porém, este é apenas mais um aspeto (embora, provavelmente, um muito importante) que exige uma análise aprofundada.

5.2 O acesso efetivo a e o controlo sobre as revistas de linguística Já mencionei o tema do acesso à publicação como uma parte importante da

linguística organizacional. Após a morte de Bernard Bloch (que já vimos ter sido um simpatizante e apoiante de Noam Chomsky), em 1965, William Bright, um linguista antropológico da Universidade de California em Los Angeles (UCLA), foi escolhido como editor de Language, em grande parte como resultado da recomendação de Robert Stockwell, que desde 1961 tinha estado ocupado em consolidar um incipiente programa de linguística num forte departamento da GGT com uma agenda claramente gerativista (cf. Hill 1991: 128 e a nota de Martin Joos; Stockwell 1998: 236-239). Bright, que serviu como editor da Language durante cerca de vinte anos (1966-1987), não era de modo algum um adepto da GGT, mas depressa se mudou do Departamento de Antropologia da UCLA para o Departa-mento de Linguística (que provavelmente era o maior departamento nos E.U.A. na altura) e, obviamente, tornou-se apoiante desta escola.40 A sucessora de Bright até 1996, Sarah Grey Thomason, também não era, de forma alguma, uma seguidora da 40 Como exemplo disso, posso referir uma experiência pessoal. No verão de 1982, apresentei a Bright o que viria a ser Koerner (1983b) para uma possível publicação em Language. Era em traços gerais uma crítica à maneira como Newmeyer (1980) tinha apresentado a história da linguística americana. Recordo que no International Congress of Linguists, realizado em Tóquio naquele ano, anunciei que tinha apresentado um trabalho sobre o tema da ‘revolução chomskyana’ para a revista Language, mas que esperava que fosse rejeitado. Na sequência desse anúncio, fui interpelado no corredor por Victoria Fromkin do Departamento de Linguística da UCLA, que me garantiu que Bright lhe daria um tratamento justo. Bright escolheu três árbitros, Charles Hockett (que me tinha incentivado anteriormente a enviar o artigo para Language), Dell Hymes (que reclamou que não tinha considerado suficientemente o seu trabalho sobre o tema) e quem mais se não o próprio Frederick Newmeyer (cuja bolsa de estudos eu tinha questionado). Essencialmente a conselho deste último, o artigo acabou por ser rejeitado. Mas a história não termina aqui. Vários anos mais tarde, Newmeyer obteve uma oportunidade para responder ao meu artigo em Language, embora o artigo nunca tivesse sido publicado naquela revista (Newmeyer 1986b: 159, nota 18 tenta fazer com que os seus leitores acreditem que o artigo seria uma resposta ao artigo de Murray de 1980, o que pode ser facilmente refutado por simplesmente contar as frequentes referências ao meu artigo de 1983 no seu artigo de 1986). O facto de ele referir, no mesmo artigo, que o editor da Language seria “[...] scrupulously fair in his handling of submissions to the journal [...]”, ao acrescentar que sabia “[] from personal experience that he [William Bright, EFKK] is a model of impartiality [...]” (Newmeyer 1986a: 14, nota 17), deforma o credível.

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linguística de Chomsky, mas a evidência mostra que ela cedeu consideravelmente para acomodar o trabalho dos linguistas desta fação. A viragem em direção à linguística gerativista tornou-se mais evidente durante o mandato de cinco anos (1997-2001) de Mark Aronoff (Ph.D., MIT, 1976) como editor de Language.

No entanto, focarmo-nos em Language dá uma imagem distorcida da situação norte-americana, no que concerne à publicação de artigos em revistas de linguística, como me apercebi quando tentava publicar um artigo que viria a publicar na Europa (Koerner 1983b), por causa da garra que a GGT tinha sobre os vários meios de publicação de maior importância, Linguistic Inquiry (lançada no MIT, em 1970), Linguistic Analysis (1976-), Linguistics and Philosophy (1977-), e outros periódicos. Não muito diferente dos neogramáticos durante a década de 1870, que ou começaram novos periódicos (Beiträge zur Geschichte der deutschen Sprache em 1874 e Morphologische Untersuchungen em 1878) ou redefiniram as metas dos já estabelecidos (como Zeitschrift für Vergleichende Sprachforschung em 1876), uma vez que obtiveram controlo editorial sobre as publicações, os linguistas do MIT e os seus aliados fizeram essencialmente o mesmo, acrescentando ao seu arsenal a revista Natural Language and Linguistic Theory (que foi lançado no MIT em 1983).

6 Observações finais Voltando às observações feitas por Stephen Murray e John Joseph no início

deste artigo, podemos tentar uma espécie de resumo. Se aceitarmos os ‘three factors’ de Murray (1994: 22-23) com os quais se definem os grupos científicos que, em última instância, decidem quem lidera a agenda – boas ideias, liderança intelectual e liderança organizacional – não podemos negar que a GGT, desde finais dos anos 1960, e mais claramente durante os anos 1970, poderá reivindicar todos os três: as ideias de Chomsky, nomeadamente, a partir de Aspects, em relação ao que pode ser considerado ‘boas ideias’, junto com Morris Halle, forneceu a ‘liderança intelectual’, e pode dizer-se que Halle providenciou a ‘liderança organizacional’, pelo menos aquando do início dos preparativos para o International Congress de 1962. Se, de facto, “most revolutions are essentially rhetorical, with the substantive change being one of personnel – who is in charge of the government, who defines the mainstream”, como Joseph (1995: 384, nota 5) nos quer fazer crer, teríamos chegado à conclusão de que tinha havido uma ‘revolução chomskyana’.

Que esta revolução não ocorreu do dia para a noite, e que demorou cerca de uma década após a publicação de Syntactic Structures para vencer, pode ser confirmado a partir do facto de que, mesmo em departamentos com uma tendência gerativa bastante forte como da UCLA, testemunharíamos o seguinte cânone da literatura pós-bloomfieldiana, a fazer parte da leitura obrigatória:

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Prior to the mid-1960s, the typical MA student, [...], was required to have a “theoretical” background based on Joos’s (1958 [recte: 1957]) Readings in Linguistics, including Bloomfield’s (1939) Linguistic Aspects of Science and Bloch’s (1948) Postulates. A major topic in seminars concerned “item and arrangement”: vs. “item and process” [Hockett 1954] analysis. Bloomfield’s (1933) Language and Hockett’s (1958) A Course in Modern Linguistics were the texts for the prerequisite courses for graduate study (Fromkin 1991: 78).41

Não é só por causa disso, mas também por causa da evidência documentada que se oferece neste artigo (e também em Koerner 2005c) sobre o endividamento de Chomsky para com os seus antecessores que me levam a argumentar em favor de uma ‘evolução’ em vez de ‘revolução’ quando se refere às mudanças que ocorreram na linguística americana durante os anos de 1960 e 1970.

Mas talvez devêssemos dar a última palavra a Noam Chomsky. Tanto quanto sei, ele nunca alegou ter produzido uma revolução na linguística, pelo menos não nos seus escritos ou entrevistas durante os anos 1960 até aos anos 1980, embora não se tivesse oposto a que outros lhe tivessem dado esse atributo. Isto parece ter mudado durante os anos 1990. Enquanto, numa entrevista, em 1994, a um dos editores dos Linguistische Berichte, ele apenas deu a entender que a sua teoria ‘Government & Binding’ (GB), também conhecida como a teoria dos ‘Principiples & Parameters’ (P&P), constituiu uma mudança significativa em relação aos quadros anteriores que tinha proposto (Grewendorf 1994), manifestou-se muito mais agressivamente numa entrevista, no Brasil, em novembro de 1996. Lá, afirmou, sobre a teoria GB primeiramente delineada por Chomsky (1981a):

It was the first genuine theory of language that had ever been produced in 2500 years because it showed how you could, in principle and to some extent even in practice, overcome the conflict between descriptive and explanatory adequacy (Chomsky 1997: 169-170).

Chomsky (1997: 171) acrescentou com toda a seriedade (e como se para ecoar, a declaração final de Newmeyer 1980: 250, verbatim): “Probably more was learned about language in the 1980s than in the entire preceding 2500 years”.

Embora Chomsky não utilize o termo, certamente quis dizer que a abordagem GB / P&P teria produzido de facto uma revolução, até uma de proporções vertiginosas. Parece, pois, no mínimo, irónico que um quadro teórico tão perspicaz para a análise e a compreensão da linguagem viesse a tornar-se obsoleto depois de uma vida útil de apenas uma década. Como Chomsky (1997: 171) explica, ainda, aos seus entrevistadores:

41 Quando entrei na escola de pós-graduação, na Universidade Simon Fraser, em Vancouver, em setembro de 1968, a listagem das leituras obrigatórias de Fromkin ainda era aplicada, juntamente com os trabalhos de Sapir, apesar do facto de vários membros da equipa defenderem já arduamente as convicções da GGT.

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That brings us to the Minimalist Program [Chomsky 1992, 1995, EFKK], which is an attempt to try to show that these great successes [of BG/P&P, EFKK] are based on sand. That is, they are based on descriptive technology that works but is wrong because it is unmotivated and should be taken apart.

Visto à luz destas declarações, não se pode deixar de concordar com Joseph (1995: 380), quando fala de “Noam Chomsky, Serial Revolutionary”.42

42 É interessante que o filósofo de Berkeley, John R. Searle (nascido em 1932), que, em 1972 saudou “The Chomskyan Revolution”, agora passou a falar de “End of the Revolution”, isto é, 30 anos após a sua revisão de Chomsky (2000). Aí Searle (2002a: 33) escreve:

After such a long time it would seem appropriate to assess the results of the revolution. This article is not by itself such an assessment, because to do an adequate job one would require more knowledge of what happened in linguistics in these years than I have, and certainly more than is exhibited by Chomsky’s new book. But this much at least we can say. Judged by the objectives stated in the original manifestoes, the revolution has not succeeded. Something else may have succeeded, or may eventually succeed, but the goals of the original revolution have been altered and in a sense abandoned. I think Chomsky would say that this shows not a failure of the original project but a redefinition of its goals in ways dictated by new discoveries, and that such redefinitions are typical of ongoing scientific research projects.

É notório ver o colega de Chomsky no MIT, Sylvain Bromberger (nascido em 1924), a sair em defesa de Chomsky numa carta ao editor do periódico The New York Review of Books (Bromberger 2002: 60), onde caraterizou a resenha de Searle como “[...] seriously misleading” e afirmou, face às provas apresentadas pelo próprio Chomsky, que “none of these ‘revolutionary’ conjectures have been abandoned by Chomsky or by those who work within the framework he created”. Veja-se também a resposta de Searle (2002b: 60-61) na mesma edição.

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1 Conforme constatado em Koerner (1974b: 541), este artigo constitui uma “Revised version of a paper presented at the Joint Annual Meeting of the Linguistic Association of Great Britain and the Societas Linguistica Europaea in Nottingham, England, on 8 April 1975”.

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Índice onomástico-biográfico

A Aarsleff, Hans (1925-) 25, 60, 92, 93, 94,

95, 97 Aarts, Flor G. A. M. 119 Abercrombie, David (1909-1992) 119 Adam, Lucien (1833-1918) 112 Ahlqvist, Anders (1944-) 25, 65 Albano Leoni, Federico (1941-) 84, 85, 88 Ammon, Ulrich (1943-) 119, 120 Amsler, Mark Eugene (1949-) 82, 84 Amsterdamska, Olga (1953-2009) 54 Anders, Georg 202 Andersen, Flemming Gotthelf (1950-) 97 Andersen, Henning (1934-) 65 Anderson, Stephen Robert (1943-) 142,

197 Andreev, Nikolaj Dmitrievitch (1920-

1997) 192 Anttila, Raimo (1935-) 72, 73, 181, 191 Arbuckle, John 68, 72, 96 Arens, Hans (1911-2003) 21, 22, 39, 40 Aristóteles (ca. 384 a.C.-322 a.C.) 79, 82 Arlotto, Anthony 131 Arnauld, Antoine (1612-1694) 24, 191 Aronoff, Mark (1949-) 218 Arpin, Jocelyne 25 Asher, Ronald Eaton (1926-) 27, 32 Auroux, Sylvain (1947-) 25, 27, 32, 47,

75 Ayres-Bennett, Wendy 56

B Bach, Emmon (1929-) 20, 38, 180, 193 Bache, Carl (1953-) 97 Bachelard, Gaston (1882-1962) 92, 144,

198 Bahner, Werner (1927-) 48 Balbi, Giovanni (?-1286) 83 Bally, Charles (1865-1947) 98, 109

Baratin, Marc (1950-) 75 Bar-Hillel, Jehoschua (1915-1975) 199 Barsky, Robert Franklin (1961-) 140, 154,

155, 156, 164, 167, 170 Bartlett, Barrie Everdell (1932-) 90 Bartsch, Renate (1939-) 72 Bateson, Gregory (1904-1980) 120 Bátori, István S. (1935-) 177 Baugh, John (1949-) 121 Baumgärtner, Klaus (1931-2003) 108 Beatty Jr., William C. (1911-1990) 136 Becker, Carl Lotus (1873-1945) 12, 42,

50, 51 Bell, Alan E. 215 Bell, Roger T. 119 Bell, Wendell (1924-) 136 Benediktsson, Hreinn (1928-2005) 85, 86,

87, 88 Benedini, Paola 59, 89 Benfey, Theodor (1809-1881) 18, 19, 20,

21, 22, 36, 37, 38, 39, 40 Benveniste, Émile (1902-1976) 192 Benware, Wilbur Alan (1937-) 13, 34 Bernstein, Basil (1924-2000) 117, 121 Bertuch, Friedrich Justin (1747-1822) 66 Bever, Thomas Gordon (1939-) 144, 147,

153, 167, 180, 195 Bidney, David (1908-1987) 209 Bierbach, Christine (1950-) 98, 99, 101,

124 Bierwisch, Manfred (1930-) 20, 38, 180,

197 Bismarck, Otto Eduard Leopold von

(1815-1898) 40 Bloch, Bernard (1907-1965) 125, 136,

148, 149, 150, 155, 159, 160, 170, 179, 180, 189, 190, 191, 194, 198, 199, 217, 219

Bloch, Julia Evelyn (-1960) 125, 136 Bloom, Harold (1930-) 164

276 E.F.K. Koerner

Bloomfield, Leonard (1887-1949) 19, 20, 30, 37, 65, 70, 71, 129, 139, 141, 142, 143, 145, 146, 147, 150, 151, 155, 156, 157, 158, 159, 160, 162, 165, 166, 167, 168, 169, 170, 171, 172, 173, 187, 199, 202, 208, 219

Boal, Iain 210 Boas, Uri Franz (1858-1942) 131, 141,

154 Bokadorova, Natalija Juri'evna (1948-) 48 Bolelli, Tristano (1913-2001) 131 Booth, Andrew Donald (1918-2009) 189 Bopp, Franz (1791-1867) 18, 19, 20, 34,

39, 54, 66, 67, 113, 176, 212 Bourdieu, Pierre (1930-2002) 54 Bréal, Michel Jules Alfred (1832-1915)

95, 115, 123 Brekle, Herbert Ernst (1935-) 40 Breva-Claramonte, Manuel (1942-) 24 Bright, William Oliver (1928-2006) 122,

137, 217 Bromberger, Sylvain (1924-) 165, 166,

220 Brown, Roger Langham (1936-) 94 Brozek, Josef Maria (1913-2004) 91 Bruchmann, Curt (1851-1928) 112 Brugmann, Karl (1849-1919) 19, 22, 37,

39, 40, 55, 70, 71 Brush, Stephen George (1935-) 9, 32 Bühler, Karl (1879-1963) 105, 113 Bunge, Mario (1919-) 54 Burckhardt, Jacob (1818-1897) 51 Butterfield, Herbert (1900-1979) 11, 23,

38, 46, 52, 122 Buyssens, Eric (1900-2000) 107 Byrne, James (1820-1897) 112

C Caille, Louis (1884-1962) 98, 112 Calvet, Louis-Jean (1942-) 122, 123, 129 Campbell, Lyle (1942-) 65 Cardona, George (1936-) 157 Carnap, Rudolf (1891-1970) 75, 77 Casagrande, Joseph Bartholomew (1915-

1982) 199 Chafe, Wallace Lambert (1927-) 195 Chapin, Paul Gipson (1938-) 215, 216

Chartier, Roger (1945-) 54 Chomsky William (1896-1977) 151 Chomsky, (Avram) Noam (1928-) 10, 11,

20, 21, 23, 24, 29, 30, 32, 33, 38, 39, 40, 54, 55, 57, 58, 72, 73, 79, 95, 118, 122, 123, 138, 139, 140, 141, 142, 143, 144, 145, 146, 147, 151, 152, 153, 154, 155, 156, 159, 160, 161, 162, 163, 164, 165, 166, 167, 168, 169, 170, 171, 172, 173, 175, 176, 177, 180, 183, 184, 185, 186, 187, 188, 189, 190, 192, 193, 194, 195, 196, 197, 198, 199, 200, 201, 202, 203, 204, 205, 206, 207, 208, 209, 210, 211, 212, 213, 214, 215, 216, 217, 218, 219, 220

Christmann, Hans-Helmut (1929-1995) 23, 48, 75, 108, 110, 112, 113, 114

Chvany, Catherine Vakar (1927-) 32 Clyne, Michael George (1939-2010) 119 Cohen, Marcel Samuel Raphael (1884-

1974) 132, 134 Comte, (Isidore) Auguste Marie Xavier

(1798-1857) 177, 178 Condillac, Étienne Bonnot de (1714-1780)

60, 75, 90, 93, 95 Cooper, Robert Leon (1931-2012) 120 Coseriu, Eugenio (1921-2002) 23, 24,

103, 104, 105, 106, 107, 108, 109, 110, 111, 112, 113, 114, 115

Courtenay, Jan-Baudouin de (1845-1929) 10, 70, 102, 108, 112, 123, 124, 126

Cowan, J Milton ‘Milt’ (1907-1993) 148 Cram, David Francis (1945-) 25 Crane, Diane (1933-) 54 Cranston, Maurice William (1920-1993)

184 Croce, Benedetto (1866-1952) 46 Currie, Haver C. (1908-1993) 136, 137 Curtius, Ernst Robert (1886-1956) 82 Curtius, Georg (1820-1885) 18, 67, 68,

70, 72, 186

D Daladier, Anne (1952-) 148, 201 Darmesteter, Arsène (1846-1888) 115

Índice onomástico-biográfico 277

Darwin, Charles (1809-1882) 60, 61, 92, 96, 97, 102

Davis, Boyd Harriet (1940-) 180 Delbrück, Berthold (1842-1922) 19, 20,

29, 37, 38, 39, 70 Derrida, Jacques (1930-2004) 50 Desbordes, Françoise (1944-1998) 75 Descartes, René (1596-1650) 191 Diderichsen, Paul Henrik Krag (1905-

1964) 23, 96, 101 Diderot, Denis (1713-1784) 95 Diez, Friedrich Christian (1794-1876) 81 Dillinger, Michael L. ‘Mike’ (1955-) 75 Dilthey, Wilhelm (1833-1911) 124, 187 Dingwall, William Orr (1934-2004) 20,

38, 184 Dinneen, Francis Patrick (1923-1994) 96,

98 DiPietro, Robert Joseph (1932-1991) 211 Dittmar, Norbert (1943-) 119, 120 Doroszewski, Witold Jan (1899-1976) 98,

99 Drake, Glendon Frank (1933-) 133 Dressler, Wolfgang Ulrich (1939-) 193 Durkheim, (David) Émile (1858-1917)

61, 92, 97, 98, 99, 100, 101, 102, 109, 124, 131, 137, 138

Dutz, Klaus (1953-2006) 46, 56

E Ebbesen, Sten (1946-) 27 Edmont, Edmond (1849-1926) 130 Eells, Kenneth 134 Einhauser, Eveline (1960-) 19 Einstein, Albert (1879-1955) 13, 41 Elffers-van Ketel, Els (1946-) 43, 48, 91 Elton, Rudolph Geoffrey (1921-1994) 45 Emonds, Joseph Embley (1940-) 188,

189, 198 Encrevé, Pierre (1940-) 143, 145, 153,

154, 159, 164, 166, 173 Engler, Rudolf (1930-2003) 98, 109, 110,

112 Ervin-Tripp, Susan Moore (1927-) 135 Evans, Robert (1930-) 133, 134

F Falk, Julia Salebski (1941-) 180 Fasold, Ralph William August (1940-)

119, 133, 135 Feagin, Crawford 121 Ferguson, Charles Albert (1921-1992)

119, 121, 122, 136, 137, 138, 216 Fidelholtz, James (1941-) 195 Figueroa, Esther 117 Finck, Franz Nikolaus (1867-1910) 112,

115 Firth, John Rupert (1890-1960) 90, 97,

119, 137 Fishman, Joshua Aaron (1926-) 117, 119,

120, 121 Fodor, Jerry Alan (1935-) 201 Fogel, Robert William (1926-2013) 45 Foley, James Addison (1938-) 198 Foucault, (Paul)-Michel (1926-1984) 51,

53, 92, 144 Fought, John Guy (1938-) 148, 160, 172,

207, 211, 224 Frank, Luanne Thornton 96 Friedrich, Paul W. 137 Fries, Charles Carpenter (1887-1967) 148 Fromkin, Victoria Adelina (1923-2000)

177, 216, 217, 219 Fuhrmann, Manfred (1925-2005) 29 Furfey, Paul Hanly (1896-1991) 133, 134,

135

G Gabelentz, (Hans) Georg Conon von der

(1840-1893) 102, 103, 104, 105, 106, 107, 108, 109, 110, 111, 112, 113, 114, 115

Gabelentz, Hans Conon von der (1807-1874) 112

Galilei, Galileo (1564-1642) 13, 41 Gardner, Thomas J. 79 Garvin, Paul Lucian (1919-1994) 35, 211,

212 Gauchat, Louis (1866-1942) 128, 131,

137 Gautier, Léopold (1884-1973) 98 Gellner, Ernest André (1925-1995) 181

278 E.F.K. Koerner

Gerritsen, Marinel (1949-) 129 Gilliéron, Jules (1854-1926) 125, 130 Gipper, Helmut (1919-) 93, 94 Glazer, Nathan (1923-) 149 Gödel, Kurt (1906-1978) 75 Godel, Robert (1902-1984) 98, 99, 100,

107, 108, 110, 112 Goethe, Johann Wolfgang von (1749-

1832) 35, 58, 88 Goffman, Erving (1922-1982) 120 Goldsmith, John A. (1944-) 38, 172, 180,

192 Goodman, (Henry) Nelson (1906-1998)

144, 147, 162, 194, 196 Graffi, Giorgio (1949-) 24 Gray, Louis Herbert (1875-1955) 20 Greenberg, Joseph Harold (1915-2001)

97, 147 Greene, Judith 184 Grewendorf, Günther (1946-) 219 Grimm, Jacob (1785-1963) 13, 18, 34, 67,

95 Grootaers, Willem A. (1911-1999) 130 Grotsch, Klaus (1940-) 23, 46, 75 Grube, Wilhelm (1855-1908) 114 Grunig, Blanche-Noëlle (1939-2013) 213 Gumperz, John Joseph (1922-2013) 118,

119, 120, 122, 136, 137, 138, 194 Guy, Gregory R. 121

H Haeckel, Ernst Heinrich (1834-1919) 96 Hagège, Claude (1936-) 99 Hagen, Antonius Maria (1936-) 120, 126,

129 Hall Jr., Robert Anderson (1911-1997)

148, 149, 150, 184 Halle, Morris (1923-) 33, 34, 73, 141,

142, 143, 147, 153, 163, 164, 165, 166, 167, 171, 172, 177, 188, 189, 190, 192, 193, 194, 195, 196, 197, 203, 208, 209, 216, 218

Halliday, Michael Alexander Kirkwood (1925-) 119, 185

Hamann, Johann Georg (1730-1788) 93, 94

Hamp, Eric Pratt (1920-) 163, 192, 211

Hancock, Ian (1942-) 119 Hansen, Marcus Lee (1892-1938) 125,

136 Harris, Randy Allen (1956-) 62, 140, 172,

175, 192 Harris, Zellig Sabbetai (1909-1992) 39,

78, 123, 139, 140, 141, 142, 144, 145, 146, 147, 148, 149, 150, 151, 152, 153, 154, 155, 156, 157, 158, 159, 160, 161, 162, 163, 164, 167, 168, 169, 170, 172, 173, 186, 187, 190, 191, 192, 194, 196, 198, 199, 200, 201, 202, 203, 204, 205, 207, 208, 209, 211

Harweg, Roland (1934-) 75 Hasan, Ruqaya (1931-) 117, 119 Haugen, Einar Ingvald (1906-1994) 85,

86, 87, 88, 119, 120, 121, 133, 136, 137, 149, 192

Hausmann, Franz Josef (1943-) 28 Haym, Rudolf (1821-1901) 93, 94 Heeschen, Volker (1940-) 94 Hegel, Georg Wilhelm Friedrich (1770-

1831) 96, 112 Helbig, Gerhard (1929-2008) 23 Helias, Petrus (ca. 1100-1166) 83 Henry, Victor (1850-1907) 115 Herbermann, Clemens-Peter (1941-2001)

84 Herder, Johann Gottfried von (1744-1803)

60, 92, 93, 94, 95, 96, 101, 102 Hermann, Eduard (1869-1950) 128, 131,

137 Herzog, Marvin Irwin ‘Mendele, Mikhal’

(1927-) 123, 130, 131, 132 Hesse, Mary Brenda (1924-) 53 Hiersche, Rolf (1924-1996) 99, 109 Hilbert, David (1862-1943) 76, 77 Hildebrandt, Reiner 73 Hill, Archibald Anderson (1902-1992)

195, 196, 197, 212, 217 Hjelmslev, Louis (1899-1965) 37, 77,

106, 112, 168, 202, 210 Hockett, Charles Francis (1916-2000) 39,

141, 147, 148, 153, 155, 158, 159, 160, 162, 163, 165, 170, 186, 197, 198, 199, 202, 203, 204, 205, 206, 207, 208, 217, 219

Índice onomástico-biográfico 279

Hodson, Thomas Callan (1871-1953) 137 Hoefer, Albert Karl Gustav (1812-1883)

67, 68 Hoenigswald, Henry Max (1915-2003)

21, 148, 149, 152, 165, 167, 170 Hofmann, Dietrich (1923-1998) 73 Hogg, Richard Milne (1944-2007) 73 Holmes, Janet (1947-) 119 Householder, Fred Walter (1913-1994)

151, 197 Howell, Kenneth J. 197 Hsieh, Hsin 75 Huck, Geoffrey J. (1944-) 38, 149, 172,

180, 192 Hüllen, Werner (1927-2008) 17, 46, 91 Hughes, Samuel 196 Hugutius Pisanus (fl. século XI) 83 Humboldt, Wilhelm von (1767-1835) 24,

29, 57, 60, 62, 67, 79, 92, 93, 94, 95, 96, 101, 102, 112, 113, 114, 164, 191, 193, 198

Hutchins, William John (1939-) 199 Hutton, Christopher M. (1958-) 28 Hymes, Dell Hathaway (1927-2009) 46,

47, 118, 119, 120, 121, 122, 148, 177, 181, 207, 217

I Iordan, Iorgu (1888-1986) 105, 116 Isidorus Hispaliensis (560-636) 82, 83 Ivănescu, Gheorge (1912-1986) 108, 110 Ivić, Milka (1923-2011) 19, 23, 29, 37 Izzo, Herbert John (1928-) 181

J Jaberg, Karl (1877-1958) 125, 130, 137 Jacob, André (1921-) 97, 98 Jakobson, Roman (1896-1982) 10, 33, 61,

78, 127, 132, 141, 143, 144, 151, 164, 168, 169, 192, 193, 194, 202, 209

Jankowsky, Kurt Robert (1928-) 23, 25, 70, 72

Jensen, John Tillotson (1944-) 147 Jespersen, Otto (1860-1943) 21, 104, 106,

151

Johnson, Lyndon Baines (1908-1973, 36.º Presidente dos EUA 1963-1969) 133

Joos, Martin George (1907-1978) 148, 149, 155, 159, 166, 186, 205, 217, 219

Jordan, Leo (1874-1940) 136 Joseph, John Earl (1956-) 21, 45, 58, 100,

120, 122, 127, 134, 135, 136, 172, 175, 176, 186, 218, 220

Jud, Jakob (1882-1952) 125, 128, 130

K Kaczmarek, Ludger (1953-) 46, 56 Kainz, Friedrich (1897-1977) 106 Kant, Immanuel (1724-1804) 60 Kassaï, Georges 127 Katz, Jerrold Jacob (1932-2002) 153, 180,

190, 191, 201, 210, 214 Kelly, Louis Gerard (1935-) 25, 26 Kennedy, John Fitzgerald (1917-1963,

35.º Presidente dos EUA 1961-1963) 133

Kilbury, James S. (1946-) 141, 142 Kimḥi, David ben Josef (1160-ca. 1235)

151 Klinck, Roswitha 82 Kloeke, Gesinus Gerhardus (1877-1963)

129, 131 Knobloch, Clemens (1951-) 28 Knobloch, Johann (1919-2010) 192 Knoop, Ulrich (1940-) 125 Koll, Hans-Georg 79, 80, 81 Kraus, Christian Jacob (1753-1807) 67 Krige, John (Gerhard Jean Marie John) 53 Kristeller, Paul Oskar (1905-1999) 50 Kroeber, Alfred Louis (1876-1960) 97,

208 Kruszewski, Mikołaj (1851-1887) 10,

102, 108 Kubczak, Hartmut (1941-) 77 Kučera, Henry (1925-2010) 202 Kuhn, Adalbert (1812-1881) 67 Kuhn, Thomas Samuel (1922-1966) 9, 10,

11, 12, 13, 14, 18, 23, 32, 36, 40, 41, 46, 47, 53, 55, 175, 177, 180, 184, 213

280 E.F.K. Koerner

Kurath, Hans (1891-1992) 125, 126, 136, 148, 149

Kuryłowicz, Jerzy (1895-1978) 192, 193 Kvastad, Nils Bjørn (1938-) 49

L La Grasserie, Raoul de (1839-1914) 112,

136 Labov, William (1927-) 33, 117, 118,

119, 120, 121, 122, 123, 124, 125, 126, 127, 128, 130, 131, 132, 133, 134, 135, 136, 137, 138, 186

LaCapra, Dominick (1939-) 49, 50, 51 Lakatos, Imre (1922-1974) 53 Lakoff, George P. (1941-) 199 Lamb, Sydney MacDonald (1929-) 164,

185, 186, 187, 198, 208 Lambert, Wallace ‘Wally’ Earl (1922-

2009) 121 Lancelot, Claude (1615-1695) 24, 191 Lane, George Sherman (1902-1981) 148 Langendoen, Donald Terence (1939-)

144, 198, 216 Lara, Luis Fernando (1943-) 75, 76 Larcher, Pierre (1948-) 76 Lauchert, Friedrich (1863-1944) 94 Laudan, Larry (1941-) 53 Lavoisier, Antoine Laurent de (1743-1796)

186 Law, Vivien Anne (1954-2002) 27 Lawson, Aaron 171 Lazcano, Elisabeth 25 Lees, Robert Benjamin (1922-1996) 189,

190, 195, 197, 198, 208, 209 Lehmann, Winfred Philipp (1916-2007)

130, 131 Lenin (Ulyanov), Vladimir Ilyich (1870-

1924) 194 Léon, Jacqueline 25 Leopold, Werner Friedrich (1896-1984)

132 Lepschy, Giulio Ciro (1935-) 23, 27, 47 Leroy, Maurice (1909-1991) 19, 23, 29,

37, 96, 109 Leskien, August (1840-1916) 19, 22, 40,

70 Leśniewski, Stanisław (1886-1939) 76

Levi Della Vida, Giorgio (1886-1967) 151 Levin, Samuel R. (1917-2010) 193 Lewy, Ernst (1881-1966) 115 Lieb, Hans-Heinrich (1936-) 41 Linn, Robert Andrew (1967-) 25 Lisker, Leigh (1918-2006) 155 Locke, John (1632-1704) 94 Locke, William, Nash (1909-1980) 189,

192, 199 Lohmann, Johannes (1899-1983) 113 Lounsbury, Floyd Glenn (1914-1998) 159 Lovejoy, Arthur Oncken (1873-1962) 49 Löwe, Richard (1863-ca. 1942) 126 Lowie, Robert Harry (1883-1957) 154 Lowman Jr., Guy Sumner (1909-1941)

129 Lubek, Ian 137 Lukoff, Fred (1920-2000) 169 Lunt, Horace Gray (1918-2010) 192, 193 Lyell, Charles (1797-1875) 53 Lyon, Earl D. 136 Lyons, John (1932-) 173

M Macaulay, Ronald K. S. (1927-) 117, 123 Mackert, Michael (1958-) 62 Maher, John Peter (1933-) 96, 97, 181,

183, 203, 214 Malkiel, Yakov (1914-1998) 22, 40, 41,

47, 50, 51, 119, 120, 124, 125, 127, 179, 180

Malmberg, Bertil (1913-1994) 19, 23, 24, 29, 37

Malte-Brun, Conrad (1775-1826) 67 Manchester, Martin L. 94 Mandelbaum, Maurice (1908-1987) 49 Mandelbrot, Benoît B. (1924-2010) 204 Mannheim, Karl (1893-1947) 54 Marantz, Alec (1959-) 173 Marchand, James Woodrow (1926-) 96 Martinet, André (1908-1999) 33, 118,

122, 127, 128, 130, 132, 133, 137, 192, 194, 204

Martinet, Jeanne (1920-) 127 Mason III, Charles Thomas (1954-) 157 Mathesius, Vilém (1882-1945) 113 Mattheier, Klaus J. (1941-) 119, 120

Índice onomástico-biográfico 281

Matthews, Peter Hugoe (1934-) 142, 143, 150, 154, 155

Mattoso Câmara Jr., Joaquim (1904-1970) 69

Mauss, Marcel (1872-1950) 137 Mayrhofer, Manfred (1926-2011) 55 McCawley, James David (1938-1999)

180, 183, 188, 198, 212, 213, 214 McDavid, Raven Ioor (1911-1984) 121,

125, 126, 137 McQuown, Norman Anthony (1914-2005)

150, 151, 162, 200, 201 Meeker, Marchia 134 Mehta, Ved Parkash (1934-) 189, 190,

196, 203 Meillet, Antoine (1866-1936) 61, 98, 99,

107, 125, 127, 128, 130, 131, 132, 136, 137

Meisel, Jürgen Michael (1944-) 181, 191 Meisterfeld, Reinhard 24 Melo, Gladstone Chaves de (1917-2001)

73 Meriggi, Piero (1899-1982) 107 Merton, Robert King (1910-2003) 54 Mesthrie, Rajend 117 Michelet, Jules (1798-1874) 51 Michels, Leonardus Cornelius (1887-

1984) 106 Mildenberger, Kenneth W. 188 Milroy, (Ann) Lesley (1944-) 119 Misteli, Franz (1841-1903) 112 Moldenhauer, Gerhard (1900-1980) 67 Morpurgo Davies Anna (1937-) 19, 24 Moulton, William Gamwell (1914-2000)

10, 130 Mounin, Georges (1910-1993) 23, 79, 103 Müller, (Friedrich) Max (1823-1900) 70,

123 Mueller, Hugo (1909-2002) 113 Mueller-Vollmer, Kurt (1928-) 92 Müllner, Klaus 111, 112 Mullins, Nicholas Creed (1939-1988) 54,

62 Muret, Ernest (1861-1940) 100 Murphy, James Jerome (1923-) 78 Murray, Stephen Omar (1950-) 54, 55, 62,

118, 119, 120, 121, 123, 127, 135, 140, 141, 148, 168, 172, 175, 177,

179, 180, 181, 182, 189, 190, 192, 193, 194, 195, 197, 198, 207, 215, 217, 218

Musgrave, Alan (1940-) 53 Myers-Scotton, Carol (1934-) 121

N Napoli, Donna Jo (1948-) 215 Narr, Gunter 109, 110, 114 Naville, Adrien (1845-1930) 100 Nevin, Bruce Edwin (1945-) 152, 154,

155, 156 Newman, Stanley Stewart (1905-1984)

151 Newmeyer, Frederick (Fritz) Jaret (1944-)

20, 27, 28, 38, 39, 43, 79, 122, 140, 141, 143, 144, 147, 152, 153, 169, 170, 172, 179, 180, 182, 184, 185, 188, 189, 192, 193, 194, 195, 197, 198, 199, 200, 202, 203, 205, 207, 208, 209, 211, 212, 213, 214, 215, 216, 217, 219

Newton, Isaac (1642-1727) 13, 41 Nida, Eugene Albert (1914-2011) 136,

155, 159, 160, 199 Niederehe, Hans-Josef (1937-) 25, 27, 32,

47, 83, 84 Nietzsche, Friedrich (1844-1900) 10, 11,

12, 91 Noordegraaf, Jan (1948-) 177 North, Douglass Cecil (1920-) 45 Nowak, Elke 25

O O’Neill, Michael Thomas 82 O'Cain, Kenneth Raymond (1940-) 125,

180 Oesterreicher, Wulf (1942-) 95 O'Hern, Edna M. (1919-) 133, 134, 135 Olmsted, David Lockwood (1926-2014)

126 Orr, John (1885-1966) 105, 116 Osthoff, Hermann (1847-1909) 22, 40

282 E.F.K. Koerner

P Pagden, Anthony (1945-) 49, 50, 54 Pallas, Peter Simon (1741-1811) 67 Palmer, Frank Robert (1922-) 90 Pandit, Giridhari Lal (1945-) 53 Pāṇini (ca. 520-460 a.C.) 28, 29, 76, 157 Parret, Herman (1938-) 177 Partee, Barbara Hall (1940) 198, 216 Passmore, John (1914-2004) 50 Paul, Hermann (1846-1921) 19, 20, 22,

39, 40, 61, 102, 104, 105, 107, 108, 110, 111, 123, 124, 125, 126, 128, 178

Paulston, Christina Bratt (1932-) 117, 121 Pearson, Bruce L. 185 Pedersen, Holger (1867-1953) 19, 21, 22,

37, 39 Peirce, Charles Santiago Sanders (1839-

1914) 58 Penzl, Herbert (1910-1995) 177 Percival, Walter Keith (1930-) 47 Petersen, Uwe 109, 110, 114 Pfaffel, Wilhelm 82, 84 Picasso, Pablo (1881-1973) 13, 41 Pickford, Glenna Ruth (1921-) 133, 136 Pickford, Rollin (1912-2010) 136 Pike, Kenneth Lee (1912-2000) 185 Platão (ca. 428/427-348/347 c.C.) 62 Popa-Tomescu, Teodora 110 Popper, Karl Raimund (1902-1994) 53,

54, 175 Port Royal – veja-se Arnauld, Antoine e

Lancelot, Claude 24, 191 Posner, Rebecca (1929-) 105, 116 Postal, Paul Martin (1936-) 29, 144, 171,

172, 190, 191, 193, 195, 211, 214 Pott, August Friedrich (1802-1887) 67, 94 Preston, William D. (-1954) 169 Priscianus Caesariensis (fl. século VI) 83 Pullum, Geoffrey Keith (1944-) 172 Putnam, George Nelson (1909-1991) 133,

134, 135 Putschke, Wolfgang (1937-) 125

Q Quine, Willard Van Orman (1908-2000)

194

R Ranke, Leopold von (1795-1886) 51, 178,

213 Rask, Rasmus Kristian (1787-1832) 18,

23, 67, 85, 101 Raumer, Rudolf von (1815-1876) 18, 19,

21, 22, 36, 37, 39, 40 Reckermann, Alfons (1947-) 96 Reichling, Anton Joannes Bernardus

Nicolaas (1898-1986) 106, 113 Rensch, Karl-Heinz M. (1936-) 107, 109,

110 Rey-Debove, Josette (1929-2005) 77, 78 Reynolds Margaret W. 31 Richards, Graham 31 Rickert, Heinrich John (1863-1936) 187 Riedlinger, Albert (1883-1978) 98 Rijlaarsdam, Jetske C. 99 Robins, Robert Henry (1921-2000) 23,

24, 26, 37, 96, 97, 98 Rogers, David E. 157 Rohlfs, Gerhard (1892-1984) 125 Romaine, Suzanne (1951-) 119 Ronat, Mitsou (1946-1984) 169 Rorty, Richard McKay (1931-2007) 52 Rosen, Lois Matz 121, 127 Rosenkranz, Bernhard (1959-2010) 108 Rousseau, Jean-Jacques (1712-1778) 95 Rudwick, Martin John Spencer (1932-) 53 Russell, Bertrand (1872-1970) 75, 177,

181 Ryckman, Thomas Alan (1949-) 168 Ryding, Karine Christina (1942-) 76

S Salus, Peter Henry (1938-) 29, 79 Sampson, Geoffrey (1944-) 98, 99, 101,

190, 195 Sánchez de las Brozas, Francisco (1523-

1600) 24, 89

Índice onomástico-biográfico 283

Sapir, Edward (1884-1939) 94, 95, 143, 146, 149, 151, 154, 155, 156, 158, 159, 164, 198, 208, 219

Sapon, Stanley M. (1924-) 122 Saporta, Sol (1925-2008) 211 Saussure, Ferdinand de (1857-1913) 13,

19, 21, 22, 36, 37, 40, 42, 54, 58, 60, 61, 66, 71, 79, 80, 81, 89, 92, 97, 98, 99, 100, 101, 102, 103, 104, 105, 106, 107, 108, 109, 110, 111, 112, 113, 114, 115, 124, 127, 128, 151, 193, 212

Schachter, Paul (1929-2012) 193 Scharfe, Hartmut (1930-) 76 Scheuermeier, Paul (1888-1973) 125 Schiffrin, Deborah 121 Schlegel, (Wilhelm) Friedrich von (1772-

1829) 95, 212 Schlegel, August Wilhelm von (1767-

1845) 66 Schleicher, August (1821-1868) 18, 20,

34, 36, 39, 55, 60, 61, 67, 68, 69, 70, 72, 82, 92, 95, 96, 97, 101, 102, 123, 126, 212

Schleiden, Mathias Jacob (1804-1881) 102

Schmidt, Johannes (1843-1901) 70 Schmitter, Peter (1943-2006) 17, 23, 27,

28, 34, 43, 46, 47, 56, 62, 75, 91, 93 Schreyer, Rüdiger (1941-2013) 28 Schrödinger, Erwin (1887-1961) 13, 41 Schröter, Robert (1921-) 84 Schuchardt, Hugo (1842-1927) 70, 104 Schulenburg, Albrecht Conon Graf von

der (1865-1902) 111, 114, 115 Schweickard, Wolfgang (1954-) 82, 83 Searle, John Rogers (1932-) 180, 220 Sebeok, Thomas Albert (1920-2001) 17,

30, 37, 45, 130 Sechehaye, Albert (1870-1946) 98, 109 Seuren, Pieter A. Marie (1934-) 179, 201 Sever Pop (1901-1961) 118 Sextus Empiricus (séc. II d.C.) 76 Shapiro, Michael (1939-) 67 Shuy, Roger W. (1931-) 117, 120, 121,

125, 136 Sievers, Eduard (1850-1932) 70 Silva Neto, Serafim da (1917-1960) 106

Simone, Raffaele (1947-) 22, 27, 36, 47, 56

Skinner, Burrhus Frederic (1904-1990) 210

Sklar, Robert (1936-2011) 180, 190, 194 Sljusareva, Natalija Aleksandrovna (1918-

2000) 110 Smith, Henry Lee (1913-1972) 191 Smith, Neilson Voyne (1939-) 184, 185,

192 Sneed, Joseph Donald (1938-) 53 Sommerfelt, Alf Axelsøn (1892-1965)

131, 132, 137 Spence, Nicol Christopher William 79 Spitzer, Leo (1887-1960) 105 Staal, Johan Frederik ‘Frits’ (1930-2012)

76, 77 Steinberg, Danny David (1931-) 210 Steinthal, (Chajim) Heymann (1823-1899)

93, 94, 95, 112 Stewart, William A. (1930-2002) 133 Stocking Jr., George Ward (1928-2013)

78 Stockwell, Robert Paul (1925-2012) 211,

217 Stötzel, Georg (1936-) 104 Streitberg, Wilhelm (1864-1925) 19, 37 Sturtevant, Edgar Howard (1875-1952)

130 Sumner, William Graham (1840-1910)

181, 182 Swadesh, Morris (1909-1967) 155, 158 Swiggers, Pierre (1995-) 24 Synge, John Lighton (1897-1995) 9, 32 Szemerényi, Oswald John Louis (1913-

1996) 23, 107, 108, 109

T Tagliavini, Carlo (1903-1982) 23 Tajima, Matsuji (1942-) 29, 140, 144,

154, 168, 169, 194, 209, 215 Tanner, Robin G. 79 Tarde, Gabriel de (1843-1904) 98, 100,

102, 137, 138 Tarski, Alfred (1902-1983) 75, 76, 77 Taylor, Daniel Jennings (1940-) 27 Taylor, Talbot J. (1952-) 58

284 E.F.K. Koerner

Techmer, Friedrich Heinrich Hermann (1843-1891) 68, 112

Thomason, Sarah ‘Sally’ Grey (1940-) 217

Timm, Lenora A. (ca. 1945-) 126 Tocqueville, Alexis de (1805-1859) 51 Trager, George Leonard (1906-1992) 141,

155, 158, 160, 191, 205 Traugott, Elizabeth Closs (1939-) 216 Troike, Rudolph Charles (1933-) 41, 121 Trubetzkoy, Nikolai Sergeyevich (1890-

1938) 33, 34, 58, 85, 99, 113, 142, 143, 151, 157, 158

Trudgill, Peter John (1943-) 120, 123 Tucker, G. Richard (1942-) 117, 121 Turing, Alan Mathison (1912-1954) 203

U Ulvestad, Bjarne (1922-2004) 85 Untermann, Jürgen (1928-2013) 83

V Van Ginneken, Jacobus (1877-1945) 129 van Rijn, Rembrandt Harmenszoon (1606-

1669) 13, 41 Van Schooneveld, Cornelis Hendrik

(1921-2003) 177 Vande Kemp, Hendrika 91 Varro, Marcus Terentius (116-27 a.C.) 82,

84 Vater, Johann Severin (1771-1826) 66 Vendryes, Joseph Jean Baptiste Marie

(1875-1960) 131, 132, 137 Vennemann, Theo (1937-) 72 Vernier, Léon 81 Versteegh Kees = Cornelis Maria Henricus

(1947-) 27, 32, 47 Voegelin, Charles (‘Carl’) Frederick

(1906-1986) 20, 38, 141, 154, 155, 157, 158, 171, 190, 204, 207, 208, 209

Voegelin, Florence Margaret (1927-1989) 20, 38, 171, 190, 204, 207

Voltaire – pseudónimo de François-Marie Arouet (1694-1778) 81

W Wagner, Max Leopold (1880-1962) 125 Wallis, Ethel Emily (ca. 1920-) 136 Wang, William William Shi-Yuan (1933-)

193 Wardhaugh, Ronald 119 Wares, Alan Campbell 136 Warner, William Lloyd (1898-1970) 134 Washabaugh, William 98 Watkins, Calvert (1933-2013) 212 Wegener, Philipp (1848-1916) 111, 126 Weinreich, Max (1894-1969) 125, 133,

137 Weinreich, Uriel (1926-1967) 33, 118,

119, 120, 123, 125, 127, 128, 130, 131, 132, 133, 136, 137, 194, 214

Wellek, René (1903-1995) 97 Wells III, Rulon Seymour (1919-2008)

186, 187, 199, 201, 204 Wenker, Georg (1852-1911) 125, 129 Weydt, Harald (1938-) 181 Whatmough, Joshua (1897-1964) 163,

192 White, Hayden (1928-) 51 Whitehead, Alfred North (1861-1947) 75 Whitney, William Dwight (1827-1894)

61, 97, 98, 100, 102, 107, 110, 123, 124, 127, 128, 130, 132

Wiegand, Herbert Ernst (1936-) 125 Wilbur, Terence Harrison (1924-2000) 68 Willems, Klaas 35 Wilson, Deirdre Susan Moir (1941-) 184,

192 Winkler, Heinrich (1848-1930) 115 Winteler, Jost (1846-1929) 112, 126 Wolfram, Walter A. ‘Walt’ (1941-) 119,

133, 135, 137 Wonderly, William Lower (1916-1988)

159 Woodworth, Elizabeth 211 Wrede, Ferdinand (1863-1934) 125, 137

Índice onomástico-biográfico 285

Y Yergin, Daniel 204 Yergin, Daniel Howard (1947-) 184 Yngve, Victor Huse (1920-2012) 189 Young, Thomas (1773-1829) 66

Z Zimmer, Heinrich (1851-1910) 127 Zoëga, Geir Tómasson (1857-1928) 86 Zwirner, Eberhard (1899-1984) 104, 106,

107, 109, 110


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